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AULA 1
CONTEXTUALIZANDO
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consideração a relação entre seres humanos e tecnologia desde a ideia grega
de tekhnè, analise por que não faz mais sentido separar a vida em on-line e off-
line.
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noções que perduram desde a Grécia Antiga, que tinham em Aristóteles sua
principal referência.
O filósofo defendia que a ciência deve servir ao homem, permitindo-o
controlar a natureza a partir da constituição do imperium hominis, ou “império do
homem”. Ele busca sistematizar as formas de investigação científica por meio de
tratados que compõem a obra Instauratio magna (Grande Restauração), que não
chegou a ser completamente terminada. Em 1620, publica Novum organum sive
Indicia de interpretatione naturae (Novo método ou Indicações sobre a
interpretação da natureza), considerado seu principal trabalho, no qual lança as
bases do método indutivo, que consta, basicamente, de comparação entre casos
diferentes, interpretação, construção de uma hipótese e experimentação.
Fonte: Shutterstock.
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conhecimento científico que, então, começava a se expandir pelo
Ocidente. (Rüdiger, 2011, p. 91)
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o estabelecimento da interação que o pesquisador chega a afirmar que “o meio
é a mensagem” (uma de suas frases mais conhecidas). Com essa ideia,
McLuhan defende que o “meio” – efetivamente, o elemento técnico – é tão
importante quanto a informação que se quer comunicar: não é apenas uma
ferramenta, em sentido simplista, mas um âmbito complexo, ativo na formação
de sentidos. Nesse encadeamento, a tecnologia tem o poder de influenciar no
conteúdo, visto que diferentes meios implicam distintas formas de recepção da
mensagem pelos indivíduos; meio e mensagem contêm um ao outro, e o
conteúdo se converte em mensagem do meio que o transmite. Assim, o avanço
tecnológico significa também novos horizontes de interpretação, forjados na
relação entre as dimensões social e técnica.
McLuhan define quatro fases da história humana: Agrícola, Mecânica,
Elétrica e Tecnológica, sendo esta última o momento contemporâneo. A
tecnologia, na consideração do pesquisador, compreende de forma geral toda
produção humana: linguagem, ferramentas, dinheiro etc. Ao longo dos séculos,
as tecnologias constituíram-se como sistemas fechados que permitiam
experiências localizadas. Todavia, com a fase elétrica, as experiências se
entrelaçam, tornando-se coletivas. A simultaneidade dessas ações atingiu níveis
globais, modificando parâmetros individuais e sociais de racionalidade. O teórico
concebe que a comunicação cumpriu três etapas ao longo da humanidade: o
estado tribal, quando o meio de comunicação é puramente a língua falada; o
estado de destribalização, erigido pela abstração, separação tempo-espacial e
constituição de símbolos relacionados ao desenvolvimento da escrita; e o estado
de retribalização, instituído pelo surgimento, no espectro comunicacional, dos
meios tecnológicos – que, para McLuhan, emulam os sentidos humanos (o rádio
como extensão do ouvido, a TV da visão etc.). Ao mesmo tempo em que
recuperam a possibilidade do contato oral imediato que caracterizava a interação
comunicacional no estado tribal, os meios tecnológicos têm a possibilidade de
extrapolar as limitações espaço-temporais, fazendo surgir aquilo que o filósofo
denomina de aldeia global, a interconexão e trocas culturais entre todas as
partes do planeta.
A concepção de McLuhan é, com efeito, uma das metáforas mais
conhecidas sobre o atual panorama da realidade social mundial. Um dos
elementos que compõem a ideia de que nos encontramos em uma vivência tribal
globalizada é a constituição das chamadas redes, fenômeno de grande destaque
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na contemporaneidade. Vamos abordar esse conceito no segundo tema desta
primeira aula.
Saiba mais
Assista ao vídeo com a entrevista de Marshall McLuhan:
<https://www.youtube.com/watch?v=fvRMpS-aGLE>.
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nessa dimensão. Como a presença no ciberespaço se dá por existência
virtualizada, modificando a lógica da interação comunicacional face a face, os
sentidos expressos pelos atores por meio verbal adquirem grande importância
na percepção de seus interagentes, sendo esta construída a partir de referências
que eles apreendem: ideias, ideologias, traços físicos (expostos por meios
audiovisuais e imagéticos) etc.
Assim, a identificação do ator é de grande importância para sua existência
no entremeado das redes, sendo constituída a partir de perfis em sites de redes
sociais, como Facebook, Twitter ou Instagram, mas também das informações e
textos publicados em blogs e sites próprios, ou da atuação em perfis e páginas
relacionadas a causas, interesses, empresas etc.
O segundo conjunto – conexões – é formado pelos laços e interações
sociais entre os nós. Podemos dizer que as interações propiciam o
estabelecimento dos laços e, por acontecerem em um espaço de CMC,
constituem registros digitais, existindo até serem apagadas. Tendo em
perspectiva o horizonte da comunicação midiática, Jensen (1998, p. 201) afirma
que a interatividade pode ser compreendida como “a medida de uma habilidade
potencial de uma mídia em permitir que o usuário exerça uma influência sobre o
conteúdo e/ou forma da comunicação mediada”. É essencial ter em mente que
o processo interativo é sempre de natureza comunicacional, devendo ser
entendido em âmbito social. Nesse sentido, Primo (2007) adverte que a
interatividade não deve ser abordada por um viés tecnicista, que privilegia as
características tecnológicas em lugar das relações humanas, algo muito comum
no estudo das interações no ciberespaço. Para o autor, essas interações se
constituem no que ele denomina como Interações Mediadas por Computador
(IMC). As IMC são os contatos estabelecidos por interagentes fora da situação
comunicacional de face a face, tendo o meio computacional como elemento
possibilitador.
Partindo de uma perspectiva teórica sistêmico-relacional, Primo (2007)
apresenta dois grandes tipos de interações mediadas por computador: a
interação mútua e as interações reativas. A interação mútua é marcada pelo
interesse dos interagentes em torno de determinadas problematizações, visando
acertos constantes dentro do sistema do qual fazem parte. Constitui um “todo”
global, calcado na interdependência entre as partes, propiciando a criação de
um fluxo dinâmico. Exemplificando: quando um indivíduo interage com outro
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indivíduo via interface computacional, não há garantias acerca das ações que
serão realizadas por este – como no caso de uma postagem no Facebook,
quando uma opinião é exposta e pode ser parabenizada ou rechaçada (ou, como
é comum, os dois casos). A postagem pode ser compartilhada, amplificando os
sentimentos de apoio e/ou indignação, e as consequências desses processos se
tornam imprevisíveis.
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Figura 2 – As relações sociais na internet
Fonte: Shutterstock.
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Saiba mais
Assista ao vídeo de Augusto de Franco no TEDx, em quefalou sobre
redes sociais: <https://www.youtube.com/watch?v=7ofxZHuWz9Q>.
Figura 3 – A famosa casa com a garagem onde Steve Jobs e Steve Wozniak
montaram seu primeiro computador
Fonte: Shutterstock.
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uma centena de sites, foi considerada “operacional”. Na passagem aos anos
1980, a rede adotou o chamado protocolo de comunicação TCP/IP, o que
possibilitou sua expansão. Em 1989, o britânico Tim Berners-Lee cria a World
Wide Web (em português, “Teia Mundial”), um espaço informacional que permite
o acesso a diversos tipos de documentos e recursos digitais localizados em
páginas (websites), o que é realizado por meio de softwares denominados
navegadores. Berners-Lee precisou desenvolver três padrões tecnológicos que,
combinados, possibilitaram o funcionamento da web: URL (Uniform Resource
Locator), sistema de unificação global dos recursos espalhados nas redes (os
endereços das páginas); HTTP (Hypertext Transfer Protocol), protocolo de troca
de dados entre navegadores e servidores de transmissão de dados da rede; e
HTML (HyperText Markup Language), linguagem utilizada para codificar e exibir
as informações. Os dois últimos padrões são baseados em ligações
hipertextuais. Veremos profundamente esses conceitos mais à frente.
Fonte: Shutterstock.
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é processar a virtualidade e transformá-la em nossa realidade,
constituindo a sociedade em rede, que é a sociedade em que vivemos.
(Castells, 2010, p. 287)
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a constituição de imaginários, representações, interpretações míticas e estéticas
próprias – nesse sentido, certamente o melhor exemplo é o chamado movimento
cyberpunk, um caldeirão que mescla elementos das narrativas de ficção
científica, psicodelia, visões políticas (especialmente anarquistas), distopia,
entre outras referências.
De toda forma, a cibercultura não deve ser pensada como uma forma de
substituição das culturas originadas pelas interações entre grupos humanos
localizados geograficamente, mas como um âmbito distinto que interage com as
culturas institucionalizadas. Para Lemos, o traço fundamental da cibercultura é
o predomínio das tecnologias digitais, presentes no dia a dia de qualquer pessoa,
e sua dimensão comunicacional incorre na flexibilização do contexto espaço-
temporal. Não é exagero pensar a emergência do cibercultural como uma nova
narrativa de significação, um farol de orientação aos homens em meio a um
mundo no qual as referências ainda não são completamente compreendidas.
A construção dessa esfera cultural de experiência acontece
dialeticamente: implica e, ao mesmo tempo, é implicada a/pela constituição de
lógicas próprias, que sustentam o entendimento da realidade. Esse processo de
conhecimento, segundo Lemos (2010), é possível a partir do ciberculturalismo
em decorrência de três de suas prerrogativas, denominadas por ele de “leis”: a
lei da reconfiguração (as práticas e modelos são transformados, não aniquilados
e descartados), a lei da liberação do polo emissor (a pluralização das vozes,
tornadas visíveis) e a lei da conectividade (possibilidade de contato de indivíduos
entre si, destes com máquinas e de máquinas entre si, modificando a relação
espaço-tempo). A universalidade dos paradigmas que compõem a noção de
cibercultura, em geral baseada na interconexão e suas consequências, põe em
marcha alguns dos ideais iluministas, como o avanço tecnológico, permitindo a
concretização da liberdade. Na definição de Lévy,
Saiba mais
A cibernética
A denominação cibercultura vem da junção das palavras cibernética e
cultura. Mas o que significa cibernética? Esta é uma ciência de caráter
transdisciplinar que tem como objeto de pesquisa as estruturas e processos
relativos a sistemas autorregulatórios. Conforme o matemático norte-americano
Norbert Wiener (1968), que cunhou o termo na década de 1940, a origem está
no grego κυβερνητική (kubernetes), cujo significado inicial, “piloto”, implica,
contextualmente, o poder de controlar a navegação e origina a designação
“governador”. Platão utiliza a palavra com referência à possibilidade de
“autogoverno”, uma governança exercida pelo povo. Porém, o próprio Wiener
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comenta que a palavra havia sido usada pelo físico francês André-Marie Ampère,
no século XIX, em seu sentido contemporâneo.
Os estudos que conformariam a área se iniciam no século XVIII, tendo a
invenção do motor a vapor por James Watt como um de seus principais marcos.
Todavia, é o contexto da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) que molda o
surgimento da cibernética delineada por Wiener; à época, o desenvolvimento de
autômatos (máquinas e sistemas de funcionamento autônomo, ancestrais dos
computadores) era uma das principais metas de governos das potências
mundiais (especialmente os EUA). Com a obra Cybernetics: or control and
communication in the animal and the machine, de 1948, o matemático norte-
americano introduz a concepção cibernética como uma forma de entendimento
acerca do funcionamento estrutural de máquinas, seres vivos e da sociedade em
geral. Esses sistemas complexos seriam autorregulados por meio de
mecanismos de feedback (ou retroalimentação) de informações, que permitiriam
o cálculo de probabilidades diante de novas situações – esta medida é
denominada de “entropia”. O objetivo dos estudos cibernéticos é compreender e
produzir tecnologias que reproduzam os sistemas ou sirvam como forma de
controlá-los.
Embora a concepção funcionalista da cibernética tenha caído em desuso
nas ciências sociais e nas humanidades, é importante destacar que as
investigações de Wiener tiveram enorme peso no avanço das tecnologias
eletrônicas e digitais, como os atuais sistemas computacionais e redes. É válido
trazer um excerto “profético” do cientista, parte de seu livro Cibernética e
sociedade: o uso humano de seres humanos, publicado originalmente em 1950
(e revisado em 1954):
Vídeo
Assista ao vídeo “Arte cibernética”:
<https://www.youtube.com/watch?v=TZu9cfH_pDs>.
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5.1 Tecnoutopia
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Tomados simplesmente como realidade, nenhum desses pressupostos
pode ser considerado verdadeiro aprioristicamente (quer dizer: antes de
acontecerem ou de serem percebidos). De maneira geral, a visão tecnoutópica
tem no chamado wishful thinking sua principal questão: o termo em inglês é
utilizado para expor a formação de crenças e tomadas de decisões guiadas por
aquilo que se deseja ter como resultado, deixando de lado evidências em
contrário. Ou seja, os teóricos dessa vertente, em nome do idealismo na relação
entre sociedade e tecnologia, deixam de perceber aspectos fundamentais que
estruturam ou são consequência das NTCs em seu entrelaçamento à existência
humana.
5.1 Tecnoapocalipse
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processo de perda de controle da técnica, o que deverá levar a terríveis
consequências para a humanidade.
O pessimismo tecnológico é representado por diversos autores. Os
filósofos franceses Jean Baudrillard e Paul Virilio, por exemplo, trazem
preocupações acerca da própria realidade diante do real construído pela
tecnologia, principalmente pelo excesso de informações veiculadas pelos meios
de comunicação, o que dificulta a compreensão das pessoas diante desse novo
mundo. De maneira bastante resumida, podemos dizer que, segundo
Baudrillard, a cultura de massa se reverte em institucionalização da virtualização,
de uma realidade virtual, e esta se forma como simulação da realidade entendida
como verdadeira; o excesso de informação leva à não comunicação/interação,
visto que é criado um efeito de saturação. Como resultado, tem-se a produção
de simulações de interação, o que o teórico denomina de “simulacros”: do latim,
simulacrum (similaridade) seriam as cópias de elementos que nunca realmente
existiram, em um mundo regido por signos. As reflexões de Baudrillard
adquiriram grande visibilidade após o lançamento do filme Matrix (1999), visto
que os diretores disseram ter se inspirado na obra Simulacros e simulação.
Virilio, por sua vez, observa que passamos a viver em um sistema
dromológico – dromos, em grego, significa corrida –, no qual a velocidade se
torna a medida de todas as coisas, a lógica que guia a humanidade. As NTCs,
atreladas ao movimento de globalização, reformularam a experiência do espaço-
tempo e, nesse panorama, a velocidade se torna riqueza, potência de ação. Ao
mesmo tempo, para o filósofo, cada tecnologia resulta na programação de uma
nova forma de acidente, o que sublinha o caráter destrutivo do desenvolvimento
técnico. É necessário apontar que a velocidade é um processo violento, contrário
ao tempo de reflexão, e uma sociedade baseada nessa perspectiva termina por
deixar de lado a razão ao dar primazia ao reflexo instantâneo. Uma das principais
consequências dessa formulação, para Virilio, é a irrupção do pensamento
transpolítico, no qual não há espaço para discussão ou debate racional sobre as
temáticas políticas (que demandam análise profunda). Substitui-se razão por
rapidez, borrando a percepção da realidade. Assim, para Virilio, de acordo com
Lemos (2010, p. 73), “com os computadores, é a informação que é transportada,
mas não as sensações”.
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5.2 Tecnorrealismo
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Saiba mais
Vamos entender um pouco mais sobre as ideias de utopia e distopia, que
são apropriadas na cibercultura pelos tecnoutópicos e tecnoapocalípticos?
Assista ao vídeo: <https://www.youtube.com/watch?v=ryW0sFHK3_4>.
NA PRÁTICA
FINALIZANDO
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Nesse sentido, a cibercultura é uma forma de pensar a nossa existência
em um mundo no qual quase tudo é instantâneo, fugaz, virtualizado, automático,
e que as limitações parecem quase não existir. Apesar desse painel, ainda
somos homens e mulheres guiados por sentimentos como paixão, ódio, tristeza,
alegria, indiferença, ansiedade. Parece ser a mistura dessas duas dimensões (a
tecnológica, que inventamos, e a pessoal, que não conseguirmos controlar
completamente) que alimenta sonhos e pesadelos.
No próximo encontro, vamos abordar temas como os conceitos básicos
relacionados à cibercultura, além das principais teorias sobre a área e questões
como interface e convergência.
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REFERÊNCIAS
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RESPOSTAS
a. Leitura do caso.
b. Identificação do que deve ser feito.
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verdadeiras amparadas na realidade virtual, sem base na verdadeira realidade
– substancialmente, a esfera humana.
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