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Escola E.B.

2,3 de Vila Caiz


Ficha informativa de Língua Portuguesa

Ano lectivo 10/11

A ORIGEM E EVOLUÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA

Cerca de 5000 anos antes de Cristo, viviam, em lugar ainda


desconhecido, uns povos a que se tem chamado INDO-EUROPEUS. Povos
pré-históricos como eram, não possuíam literatura, nem nos legaram obras
em pedra.
Sem comunicações entre si foram-se estes povos diferenciando cada
vez mais entre si: nos usos e nos costumes, na cultura, na língua. Esses
povos e respectivas culturas e línguas evoluíram em sentido divergente,
enriqueceram-se de novos termos, formas e expressões e deram origem a
12 grupos de idiomas, tão distintos uns dos outros que só há um século se
descobriu o parentesco que existe entre alguns deles.
Desses doze grupos destacamos o Grupo Itálico: que se dividiu em
três idiomas principais e depois em três línguas independentes: o sabélico,
o Osco-úmbrio e o LATIM.
Ora o Latim era a língua falada pelos romanos e passou a ser também
a língua oficial de todos os povos que eles foram conquistando. Os
Romanos na sua expansão militar, na Hispânia, na Gália, na Europa
Oriental e nas províncias de África e da Ásia espalharam também a sua
cultura e civilização que os povos conquistados assimilaram. Deu-se o
fenómeno da romanização e com ele o aparecimento das línguas românicas.

No ramo ocidental desta romanização, temos a considerar o Galego-


Português, o espanhol, o Catalão e o Português, na Hispânia; o Provençal
(do sul, língua d’óc), o Francês (do norte, língua d’oil) e o Franco-
Provençal, na França.
No ramo oriental da romanização, referimos, por um lado, o
Italiano e o Sardo (sardenha), por outro lado, o Rético (récia) e o Romeno.

A língua vulgar dos soldados invasores, dos comerciantes, ... isto é, o


sermo vulgaris (rusticus ou plebeius) foi o ramo do latim que deu origem
às línguas românicas ou novilatinas.
Causas da diferenciação das línguas românicas

- a romanização deu-se em tempos diferentes;


- o tipo de romanização variou conforme o predomínio de soldados ou de
comerciantes nas várias regiões;
- as diferenças dialectais dos soldados invasores (fenícios, celtas,
hebreus...);
- os influxos posteriores (superstractos).

No quadro que se segue veremos influências na nossa língua de línguas


anteriores ao latim (substractos) e de línguas posteriores ao latim
(superstractos)

SUBSTRACTOS SUPERSTRACTOS
Celtas Gregos Germânicos Árabes
varanda, Cleptomania, Guerra, guisa, Alface, oxalá,
vasca, barra, antropófago, bode, casa, feltro, guelra, enxovia,
canga,... hipopótamo, blenda, guardar, alraia, arroz,
quiromante, filosofia, valquíria, bolota, açorda,
abúlico, leucemia, Afonso,... arrabalde, adufe,
androceu, ... arratel, azeitona,
regueifa,...

No decurso dos tempos entraram na nossa língua elementos de outras


origens: provençais, espanhóis, franceses, italianos, brasileiros,
ingleses...

Provençais Franceses Ingleses Italianos Castelhanos


Jogral, cortês, Duche, Futebol, Coreto, Salero,
sirventês, chambre, filme, ventarola, disfarçar,
copla, reportagem, flanela, bambino, escabroçar,
dominó, droga, chuto, espadachim, sainete,
dragona, entrevista, .. esboço, escantilhão,
corveta, . escarpar, ... costilha,..
coruché,
cotilhão,...

Alemães Africanos Americanos Asiáticos Russos


Valsa, Cachimbo, Furacão, Chá, charuto, Cossaco ...
vaselina, cacimba, arara, jacaré, pagode, cotia,
enfesto, missanga, jibóia, palanquim,
venda, ... senzala, ... caipora, leque,
cupim, quimono,
xelindró, orangotango,
tocaia, quiosque ...
catinga,
tapioca,
Mocambo, ...

Os factos históricos, nomeadamente os Descobrimentos, estiveram na


origem da formação de várias línguas e do enriquecimento da nossa.

Outra forma de enriquecimento vocabular deu-se nos séculos XV e


XVI, com o estudo dos textos latinos. Os príncipes de Avis são os grandes
pioneiros desta significativa viragem na nossa língua, nos fins da Idade
Média. Mas é no Renascimento e, principalmente, com Camões, que os
clássicos latinos possibilitam a entrada abundante de neologismos.

EVOLUÇÃO FONÉTICA DA LÍNGUA PORTUGUESA

Como já sabes o Português é uma língua que deriva do latim,


portanto uma língua românica. Na passagem do latim para português e
depois ao longo dos tempos, verificaram-se algumas transformações nos
sons (fonemas). A estas modificações damos o nome de fenómenos
fonéticos.
Estas transformações sofreram uma evolução lenta (através dos séculos)
e inconsciente (os falantes não têm consciência imediata das
transformações ocorridas) e resultaram de dois princípios fundamentais:
a) o princípio do menor esforço (tendência para reduzir o esforço
necessário na articulação de certos fonemas);
b) o princípio da evolução (evolução natural de qualquer língua).

Os fenómenos fonéticos podem agrupar-se do seguinte modo:

1) Fenómenos de queda ou supressão de fonemas


2) Fenómenos de adição ou acrescentamento de fonemas
3) Fenómenos de permuta ou mudança de fonemas

I) Queda ou supressão de
fonemas 2. síncope: no interior do
vocábulo
1. aférese: no início do vocábulo ex. calidu > caldo ; boroa > broa
ex. avantagem > vantagem
3. apócope: no fim do vocábulo
ex. amore(m) > amore> amor ; 2. epêntese: no interior do
freire>frei vocábulo
ex: humile > humilde; vena > vea
> veia;
II) Adição ou acrescentamento de
fonemas 3. paragoge: no fim do vocábulo
1. prótese: no início do vocábulo ex: ante > antes; Artur > Artúrio
ex: sentar > assentar (via (via popular)
popular); lembrar > alembrar (via
popular)

III) Permuta ou mudança de fonemas

1. Assimilação: fonemas diferentes e contíguos tornam-se iguais.


Ex. latim: ad sic > assi

A assimilação pode ser:


a) regressiva: quando o fonema assimilador está depois do fonema
assimilado (a assimilação exerce-se para trás):
ipsu > isso
b) progressiva: quando o fonema assimilador está antes do fonema
assimilado (a assimilação exerce-se para a frente):
amam-lo > amam-no

NOTA: no primeiros exemplo verifica-se a assimilação completa (o


fonema assimilador e assimilado tornam-se iguais) , no segundo exemplo
regista-se a assimilação incompleta (o fonema assimilador e assimilado
tornam-se semelhantes).

2. Dissimilação: fonemas iguais Ex: lana > lãa > lã ; bonu > bõo >
ou semelhantes tornam-se bom; leones > leões; mihi > mi >
diferentes: mim
Ex. rotondu > redondo
Fantasia > fantesia (vv. 88 do NOTA: apesar de este ser o
Auto da Barca do Inferno); fenómeno de nasalação mais
formosa > fermosa (vv. 396 do frequente podem verificar-se
Auto da Barca do Inferno); dizia > outros, devido a uma causa
dezia (vv.161 do Auto da Barca diferente: a analogia:
do Inferno). Ex: sic > si > sim por analogia
com mim; ad sic > assi > assim
3. Nasalação: um fonema oral por analogia com sim
torna-se nasal por influência do
m ou n sobre as vogais com
que se encontram em contacto:
4. Desnasalação: um fonema Egreja > erguja (vv. 613 do
nasal perde essa qualidade e Auto da Barca do Inferno)
torna-se oral: Inter > entre
Ex: luna > lua; bona > bõa > boa
9. Palatalização: passagem de
5. Vocalização: um fonema um grupo fonético a um som
consonântico torna-se palatal (os sons ch, lh, nh não
vocálico: existem no latim)
Ex: nocte > noite
Pectu > peito CH: pode resultar de grupos
Multu > muito consonânticos latinos cl, fl, pl:
Absente > ausente
Regnu > reino Ex: clamare > chamar
Flamma > chama
6. Sonorização: uma consoante Plumbu > chumbo
surda intervocálica toma a
forma da consoante sonora Nh: podem proceder de consoante
correspondente: p p > b ; t > latina n seguida de i ou e surdo:
d;c>g
Ex: lupu > lobo ; amicu > Ex. ciconia > cegonha
amigo ; lacu > lago Aranea > aranha

7. Contracção: fusão de duas Lh: podem resultar de grupos


vogais de sílabas diferentes: consonânticos latinos cl, gl ou de
 numa só vogal: crase consoante latina l seguida de i ou
Ex: tibi > tii > ti; dolore > door > de e surdo:
dor; pede > pee > pé; tomarees > Ex. filiu > filho
tomarês * Palea > palha
 num ditongo: sinérese Genuclu >giolho (vv. 537 do
Ex: lege > lee > lei; tomarees > Auto da Barca do Inferno)
tomareis *
NOTA: É também palatal a
* Em Gil Vicente podem ocorrer consoante portuguesa j, que, em
os dois fenómenos porque a certos casos proveio do grupo
língua se encontra numa fase de latino di precedido de vogal:
transição. hodie > hoje.

8. Metátese: transposição de um
fonema dentro da sílaba ou do
vocábulo.

Ex: primariu > primairo


>primeiro
Feria > feira
Ficha de Exercícios – Evolução fonética

1 –Identifica os fenómenos fonéticos presentes nas seguintes palavras:

- avantagem > vantagem

- ante > antes

- amore(m) > amore> amor

- tibi > tii > ti

- inda > ainda

- humile > humilde

- nostrum > nostro > nosto > nosso

- ego > eu

- mi > mim

- amicum > amico > amigo

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