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EDGAR RICE BURROUGHS
TARZAN - O Destemido
Tradução de
BASILIO DE MAGALHÃES
Do original norte-americano: TARZAN THE UNTAMED
ÍNDICE
Matança e pilhagem
A caverna do leão
Nas linhas germânicas
Quando foi que o leão comeu
O broche de ouro
Vingança e compaixão
Quando o sangue falou
Tarzan e os grandes macacos
Caído do céu
Em poder dos selvagens
Achando o aeroplano
O aviador negro
A recompensa de Usanga
O leão preto
Pegadas misteriosas
O ataque noturno
A cidade murada
Em poder dos loucos
A história da rainha
Chegou Tarzan
Na alcova
Fora do ninho
Fugindo de Xuja
Os “Tommies”
Nota do revisor:
A obra apresenta várias palavras e termos que não são mais
utilizados na língua portuguesa atual, porém para manter a
originalidade da obra a maioria dessas palavras foram
conservadas.
CAPITULO I
Matança e pilhagem
CAPÍTULO II
A caverna do leão
CAPITULO III
Nas linhas germânicas
CAPÍTULO IV
Quando foi que o leão comeu
CAPITULO V
O broche de ouro
CAPITULO VI
Vingança e compaixão
CAPITULO VII
Quando o sangue falou
CAPITULO VIII
Tarzan e os grandes macacos
CAPITULO IX
Caído do céu
CAPITULO X
Em poder dos selvagens
CAPITULO XI
Achando o aeroplano
CAPITULO XII
O aviador negro
CAPITULO XIII
A recompensa de Usanga
Durante dois dias, Tarzan dos Macacos tinha estado
caçando vagarosamente ao norte, e, girando em um largo
círculo, achava-se, de volta, a uma curta distância da clareira
onde deixara Bertha Kircher e o jovem tenente. Passara a noite
em uma copada de árvore que pendia sobre o riacho, somente
a poucos passos da clareira, e agora, às primeiras horas da
manhã, estava acocorado à beira da água, aguardando a
oportunidade de pegar Pisah, o peixe, e certo de que o levaria
para a cabana, onde a rapariga o prepararia, para comê-lo com
seu companheiro.
Imóvel, qual uma estátua de bronze, estava o homem-
macaco, porque, atilado, bem sabia quão esquivo era Pisah, o
peixe. O mais ligeiro movimento assustá-lo-ia, e só com infinita
paciência é que poderia ser pegado. Tarzan jogava apenas com
a sua ligeireza, com a rapidez do seu ataque, porque não
dispunha nem de rede, nem de anzol. Conhecendo os caminhos
dos habitantes da água, sabia onde é que devia esperar Pisah.
Poderia passar um minuto ou poderia passar uma hora,
até*que o peixe chegasse ao pequeno charco, sobre o qual
estava Tarzan agachado, porém, mais cedo ou mais tarde, viria
ter ali. Isso o homem-macaco bem sabia, de sorte que esperava
pacientemente a sua presa.
Afinal, percebeu o fulgor de escamas cintilantes. Era
Pisah que estava chegando. Dentro de um instante, poderia ser
alcançado, e, então, com a rapidez do raio, duas fortes mãos
morenas mergulhariam no charco e o agarrariam. Mas,
precisamente no momento em que o peixe ia ser capturado,
houve um grande rumor no matagal que ficava atrás do
homem-macaco. Imediatamente Pisah foi-se embora, e Tarzan,
rosnando, rodou nos calcanhares, a fim de enfrentar quem
quer que o ameaçasse. Ao voltar-se, viu que o autor daquele
distúrbio era Zu-tag.
— Que é que Zu-tag quer? perguntou-lhe o homem-
macaco.
— Zu-tag vem beber água, respondeu-lhe o macaco.
— Onde está a tribo? indagou Tarzan.
— Está caçando aí atrás, na floresta, replicou Zu-tag.
— E os Tarmanganis, a mulher e o homem, inquiriu
Tarzan, estão salvos?
— Foram-se embora, redargüiu Zu-tag. Kudu saiu duas
vezes do seu covil, desde que eles partiram.
— Não foi a tribo que os expulsou? interrogou Tarzan.
— Não, respondeu o macaco. Nós nem os vimos irem-se
embora. Nem sabemos porque foi que partiram.
Tarzan correu rapidamente, através das árvores, em
direção à clareira. A cabana e a “boma” estavam como ele as
deixara, mas ali não havia sinal algum nem do homem, nem da
mulher. Atravessando a clareira, entrou na “boma” e na
cabana. Ambas estavam desabitadas, mas suas narinas de
apurado faro lhe indicaram que os moradores as haviam
deixado naqueles últimos dois dias. Estava ele a sair da
cabana, quando viu um papel pendente da parede e seguro por
um graveto, tomando-o em mãos, leu o seguinte:
“Depois do que você me disse a respeito de Miss Kircher,
e sabendo que não gosta dela, sinto que não nos fica bem a ela
e a mim, o continuarmos a importuná-lo. Bem sei que a nossa
presença aqui está impedindo a sua viagem para a costa
ocidental, e, por isso, tive por melhor para nós o tentarmos
alcançar os estabelecimentos europeus imediatamente, sem
mais dependermos de você. Nós ambos lhe agradecemos a
bondade e a proteção. Se algum dia se me deparar um meio de
pagar-lhe esta obrigação, creia que muito júbilo terei em fazê-
lo”.
Estava assinado pelo tenente Haroldo Percy Smith-
Oldwick.
Tarzan sacudiu os ombros, amarrotou o papel com a mão
e arremessou-o longe. Apoderou-se dele um certo sentimento
de alívio de responsabilidade, e estava satisfeito da liberdade
em que ficara com relação a ambos. Tinham-se ido embora, e
ele os esqueceria, embora houvesse algo que não poderia
olvidar. Andou por muito tempo, a passos largos, no recinto da
“boma” e na pequena clareira. Começou a sentir-se
sobressaltado e irrequieto. Chegou a tomar a direção do norte,
em resposta a uma repentina determinação de continuar a
viagem para a costa ocidental. Seguiria, algumas milhas para o
norte, aquele sinuoso riacho, até onde se inclina para oeste o
curso do mesmo, e, em rumo às suas cabeceiras, atravessaria
um planalto coberto de matas, até alcançar a região de colinas
e montanhas. Do outro lado daquele rincão, procuraria beirar
algum outro riacho que corresse para a costa ocidental, pois só
assim disporia de caça e de água em abundância.
Não chegou entretanto a ir longe. Uns doze passos, talvez,
e deteve-se repentinamente.
— Ele é um inglês, murmurou, e a outra é mulher. Sem o
meu auxílio, não poderão alcançar jamais os estabelecimentos
europeus. Não posso matá-la com as minhas próprias mãos,
ainda que o tentasse fazer, e, se os deixo irem-se embora
sozinhos, tê-la-ei matado com tanta certeza, como se eu
próprio lhe cravasse a minha faca no coração. Não! E sacudiu
outra vez a cabeça, — Tarzan dos Macacos é uma velha
mulher, louca e fraca!
E voltou os passos em rumo do sul.
Mtnu, o macaco, tinha visto os dois Tarmanganis
passarem dois dias antes. Tagarelando e careteando, tudo
contou a Tarzan. Tinham marchado em direção à aldeia dos
Gomanganis, — o que Manu vira com seus próprios olhos,
— de sorte que o homem-macaco mergulhou na selva para o
lado do sul, e, ainda que com esforços não concentrados para
descobrir-lhes os traços, teve numerosas provas de que haviam
trilhado aquele mesmo caminho: o cheiro, que ficara nas
folhas, galhos e troncos das árvores, que um ou outro haviam
tocado, ou na terra da estrada que seus pés haviam
perlustrado, e, onde o caminho se inclinava para o denso
aranhol da floresta, o sinal dos sapatos ainda se percebia
ocasionalmente na única massa da vegetação calcada, que
atapetava a vereda.
Um impulso inexplicável aguilhoava Tarzan a apressar-se.
Os mesmos instintos anteriores, que o censuravam por haver
abandonado aqueles seus semelhantes, pareciam
constantemente segredar-lhe que eles o reclamavam em
apertadas conjunturas. A consciência de Tarzan o estava
apoquentando. o que resultava do fato de haver-se comparado
a uma velha mulher louca e fraca, pois que o homem-macaco,
criado na vida selvagem e habituado a ousadias e crueldades,
tinha repugnância em admitir qualquer um dos traços gentis
que lhe constituíam a herança. A vereda bifurcava-se para leste
da aldeia dos Wamabos e para um largo caminho de elefantes,
mais próximo do riacho, onde continuava em rumo do sul por
alguns quilômetros. Ali, chegaram aos ouvidos do homem-
macaco uns sons peculiares, como de palpitação de grandes
asas. Deteve-se um instante, a fim de escutar atentamente
aquele ruído.
— Um aeroplano! murmurou, e arrojou-se para diante,
com uma rapidez grandemente aumentada.
Quando Tarzan dos Macacos alcançou finalmente a borda
da clareira, onde havia aterrado o avião de Smith-Oldwick,
compreendeu imediatamente o que ali havia ocorrido, embora
mal pudesse acreditar no que seus olhos lobrigaram.
Amarrado, o oficial inglês jazia em terra, em um dos ângulos
da planície, cercado por grande número de desertores negros
do comando germânico. Tarzan já tinha visto antes aqueles
homens e bem os conhecia. Vindo em direção a ele, através da
clareira, começava a erguer-se do chão um aeroplano, pilotado
pelo negro Usanga, atrás de
quem estava sentada a rapariga branca, Bertha Kircher.
Como é que aquele negro ignorante podia manejar o aparelho,
— não podia Tarzan conjeturá-lo, nem teve tempo, então, de
pensar nisso. Sabendo quem era Usanga, logo viu que o
sargento preto estava tentando apoderar-se da moça branca.
Porque estava ele assim procedendo, quando a tinha em seu
poder, e além disso, havia amarrado o único homem que,
naquela selva, poderia defendê-la, — Tarzan não logrou
também descobrir, porquanto nada sabia do sonho das vinte e
quatro mulheres de Usanga, nem do terror que a este chefe
negro inspirava Naratu, sua atual esposa. Ele não sabia, então,
que Usanga deliberara fugir com a rapariga branca, para não
mais voltarem, e a colocar-se a uma tão grande distância de
Naratu, que esta nunca mais pudesse encontrá-lo, mas tudo
isto estava apenas na mente do negro, de sorte que nem os
seus próprios companheiros de armas suspeitavam de tais
resoluções. Ele lhes havia explicado que ia levar a cativa a um
sultão do norte, o qual daria por ela boa quantia, e que, quando
regressasse, repartiria com eles uma grande parte do que
recebesse.
Estas coisas, Tarzan ignorava-as. Tudo que sabia era o
que estava vendo ali: um negro tentando fugir com uma
rapariga branca. Já o avião começava a erguer-se lentamente
do solo. Dentro de mais alguns momentos, estaria o aparelho
completamente fora de alcance. A princípio, pensou Tarzan em
meter uma flecha no arco e matar Usanga, mas abandonou
prontamente semelhante idéia, porque ponderou que, no
mesmo instante em que o piloto fosse lançado fora da máquina,
esta, continuando a mover-se, lançaria fatalmente a moça à
morte entre as árvores.
Não havia mais do que um meio de socorrê-la, um meio
que poderia acarretar a ele próprio uma morte instantânea, e,
entretanto, não hesitou em pô-lo em execução.
Usanga não podia vê-lo, tão atento estava aos seus
inabituais deveres de piloto, mas os negros, que vagavam pela
planície, avistaram Tarzan e correram em direção a ele,
soltando gritos selvagens e apontando-lhe carabinas minazes.
Pois eles viram um branco gigante saltar dos ramos de uma
árvore em terra e correr rapidamente em direção do
aeroplano. Viram-no tirar das costas uma comprida corda de
embira, enquanto corria. Viram o giro da corda acima de sua
cabeça. Viram a rapariga branca, que estava no avião, olhar
para baixo e avistar aquele homem.
Vinte pés acima do Tarmangani, que corria, voava o
enorme aparelho. O laço aberto da corda visava alcançá-lo, e a
rapariga, percebendo as intenções do homem-macaco,
conseguiu, estendendo os braços, segurar com ambas as mãos
o nó corredio, firmemente. Ao mesmo tempo, Tarzan era
levantado da terra pela corda, e o aeroplano adernava para o
seu lado, em correspondência a esse novo esforço. Usanga
agarrou-se fortemente ao controle, e a máquina continuou o
seu movimento de ascensão. Pendurado na ponta inferior da
corda, Tarzan girava, como um pêndulo, no espaço. O jovem
oficial inglês, que jazia amarrado ali na planície, tinha sido
testemunha de todos esses acontecimentos. Seu coração
palpitou desmesuradamente, quando viu o corpo de Tarzan
girando no ar, em rumo às copas das árvores, entre as quais
parecia que ia ficar esmagado, mas o aparelho estava a erguer-
se tão rapidamente, que o homem logo ficou acima dos galhos
mais altos. Então, lentamente, pondo uma sobre a outra as
mãos, com admirável agilidade, atingiu a fuselagem. A
rapariga, segurando desesperadamente o nó, inteiriçava todos
os músculos, a fim de agüentar o grande peso que pendia da
extremidade inferior da corda.
Completamente alheio ao que se estava passando, Usanga
fazia o avião erguer-se cada vez mais no espaço.
Tarzan olhou para baixo. As copas das árvores e o riacho
corriam rapidamente para trás, e só uma delgada corda de
embira e os músculos de uma fraca mulher o separavam da
morte certa, pois que estava guinando ali a uns quinhentos
metros, ou mais, acima da superfície da terra.
Bertha Kircher tinha a impressão de que os dedos de suas
mãos estavam mortos. O torpor descia-lhe dos ombros até os
cotovelos. Quanto tempo mais poderia agüentar aquele peso,
não saberia calcular. Parecia-lhe que os seus dedos sem vida
poderiam relaxar-se a qualquer momento, e, então, quando
estava quase a perder a esperança de salvação, viu uma
robusta mão agarrar-se a um dos lados da fuselagem. Deixou,
imediatamente, de sentir o peso da corda, e um momento após,
Tarzan dos Macacos erguia o corpo e lançava uma das pernas
por sobre a borda do aparelho. Olhou primeiro para Usanga e,
em seguida, colando a boca ao ouvido da rapariga, perguntou-
lhe:
— Já pilotou alguma vez um aeroplano? Ela sacudiu a
cabeça afirmativamente.
— Tem a coragem necessária para saltar ali ao lado do
negro e segurar o controle, enquanto eu agarro a Usanga?
Ela disse que sim, mas acrescentou:
— Veja que eu trago os pés amarrados.
Tarzan tirou da bainha a sua faca de caça e, curvando-se,
cortou as correias que prendiam as pernas de Bertha, fazendo
o mesmo à corda que a ligava ao banco. Com uma das mãos,
Tarzan segurou o braço da moça e amparou-a, até que
transpusessem vagarosamente, de rastos, os poucos passos
que havia entre os dois assentos. Uma ligeira pancada do
aeroplano tê-los-ia precipitado na eternidade. Tarzan calculou
que, só por um milagre, alcançariam Usanga e efetuariam a
troca de pilotos, e, entretanto, sabia não poder agir de outra
maneira, porquanto, desde o primeiro momento em que
avistara o aparelho dirigido pelo preto, imaginara que este,
quase de todo sem experiência para o que estava fazendo,
marchava com a rapariga para uma morte inevitável.
O primeiro sinal, que teve Usanga, de que algo de
anormal havia ali com relação a ele, foi quando Bertha saltou
repentinamente ao seu lado e segurou o controle, ao mesmo
tempo em que dedos rijos como o aço estrangulavam a
garganta do aviador negro. A mão morena de Tarzan levou
abaixo a lâmina afiada da faca e cortou a correia que ligava
Usanga ao assento por baixo da cintura. Músculos titânicos
arrancaram dali o corpo do preto. Usanga comeu ar e gritou,
qual uma criança miserável. Lá embaixo, na planície, os seus
guerreiros podiam ver o aeroplano querenando no espaço,
porquanto a mudança do controle o fizera tomar um repentino
mergulho. Viram-no endireitar-se e, fazendo um pequeno
círculo, retornar ao ponto de partida, mas o aparelho estava
tão alto e a luz do sol era tão forte, que nada puderam ver do
que se passara dentro da fuselagem. Só o que aconteceu foi
que o tenente Smith-Oldwick quase desmaiou, quando viu um
corpo humano tombar do avião. Girando e contorcendo-se no
ar, desceu com velocidade cada vez maior, e o oficial inglês
mal respirava, quando viu que aquele corpo caía sobre o
mesmo ponto em que ele próprio se encontrava.
Com um som abafado, o corpo achatou-se em terra, quase
no centro da clareira, e, quando o oficial inglês teve coragem
de lançar-lhe um olhar, ergueu a Deus uma fervente oração de
reconhecimento, pois verificou que aquela massa informe, que
ali perto ensangüentava o solo, era coberta por uma pele
negra. Usanga obtivera a sua recompensa.
O aeroplano continuava a girar sobre a planície. Os
negros, a princípio desalentados pela morte de seu chefe,
pareciam agora tomados de um frenesi de raiva e de ímpetos
de vingança. A rapariga branca e o homem-macaco viram-nos,
como um confuso enxame, reunidos em redor do cadáver de
Usanga. Viram-nos circular na clareira, ora erguendo para o
aeroplano punhos negros fechados, ora brandindo para o alto
os seus fuzis ameaçadores. Tarzan continuava inclinado para a
fuselagem, imediatamente atrás do assento do piloto. Seu rosto
quase tocava o de Bertha Kircher, e, alteando a voz o mais que
pôde, a fim de vencer o ruído do motor, gritou ao ouvido dela
algumas palavras.
Mal a rapariga apanhou o sentido de tais palavras,
empalideceu, seus lábios, porém, contraíram-se numa linha
ousada e seus olhos brilharam com um repentino fogo de
determinação, quando ela fez descer o aparelho a poucos
passos acima da terra e no extremo da planície em frente aos
pretos, e, então, a toda velocidade, o dirigiu sobre os
selvagens. O aeroplano vinha tão depressa, que os homens de
Usanga não escapariam dele, caso tentassem realizar as
ameaças feitas pouco antes. O avião aterrou no meio deles e
moveu-se por sobre eles, qual um verdadeiro “jaggernat” de
destruição. Quando, afinal, o aparelho se deteve num dos
cantos da planície, o homem-macaco saltou rapidamente em
terra e correu para o jovem tenente, nessa marcha, lançou um
olhar para o ponto onde tinham estado os guerreiros negros,
pronto e defender-se, se necessário fosse, mas ali não havia
mais inimigos. Mortos e moribundos, os negros jaziam
esparsos, por mais de vinte metros ao longo do chão.
Apenas Tarzan havia desamarrado o inglês, Bertha
Kircher chegou junto deles. Ela quis exprimir os seus
agradecimentos ao homem-macaco, mas este, com um gesto, a
fez calar-se.
— A senhora salvou-se a si mesma, insistiu ele, porque, se
não fosse bastante hábil para pilotar o aeroplano, eu não
poderia tê-la socorrido. E agora, acrescentou, dispõem os dois
de meios para voltar aos estabelecimentos europeus. O dia está
apenas em começo. Poderão vencer a distância em algumas
horas, se tiverem bastante gasolina.
E olhou interrogativamente para o aviador. Smith-Oldwick
sacudiu afirmativamente a cabeça:
— Tenho bastante.
— Então vão-se embora quanto antes, disse-lhes o homem-
macaco. Nenhum dos dois gosta da selva.
E, ao falar assim, um ligeiro sorriso aflorou-lhe aos lábios.
A rapariga e o inglês também sorriram.
— Em verdade, disse-lhe Smith-Oldwick, esta selva não é
própria para nós, como não é para nenhum outro homem
branco. Por que você não volta conosco para a civilização?
Tarzan sacudiu negativamente a cabeça e replicou-lhe:
— Prefiro a selva.
O aviador, baixando os olhos ao chão, murmurou algo que
ele, evidentemente, tinha repugnância em dizer:
— Se é um meio de ganhar a vida, velho chefe, se é para
ganhar dinheiro, você bem sabe que eu...
Tarzan soltou uma risada e ponderou-lhe:
— Não! Eu bem sei o que você está querendo dizer. Não é
o que você pensa. Eu nasci na selva. Tenho vivido toda a minha
vida na selva, e quero morrer nela. Não quero viver, nem
morrer, em nenhuma outra parte.
O tenente e Bertha sacudiram a cabeça. Não podiam
compreendê-lo.
— Vão-se embora, disse-lhes o homem-macaco. Quanto
mais cedo partirem, tanto mais depressa estarão salvos.
Dirigiram-se todos juntos para o aeroplano. Smith-
Oldwick apertou a mão do homem-macaco e galgou o assento
de piloto.
— Adeus, disse a rapariga, no momento em que estendia a
mão a Tarzan. Antes que me vá embora, poderá o senhor dizer-
me que não me odeia mais?
O rosto de Tarzan anuviou-se. Sem dizer palavra, ele
suspendeu a moça nos braços possantes e colocou-a no banco,
detrás do oficial inglês. A face de Bertha Kircher foi ombreada
por uma expressão de imenso pesar. O motor começou a
trabalhar, e, um momento depois, estavam os dois sendo
arrastados rapidamente para leste.
No centro da planície, ficou o homem-macaco a espiá-los.
— Que pena seja ela uma alemã e espiã! exclamou ele. A
mim também muito me custa odiá-la!
CAPÍTULO XIV
O leão preto
CAPITULO XV
Pegadas misteriosas
CAPITULO XVI
O ataque noturno
CAPITULO XVIII
Em poder dos loucos
CAPITULO XIX
A história da rainha
CAPITULO XX
Chegou Tarzan
CAPITULO XXI
Na alcova
CAPITULO XXIII
Fugindo de Xuja
CAPITULO XXIV
Os “Tommies”
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