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O CONCEITO DE CULTURA

(Roque de Barros Laraia – Professor da UNB)

- Qual o significado antropológico do conceito de cultura?

- Sabemos que a palavra cultura é de origem latina. Deriva do verbo


colere (cultivar ou instruir) e do substantivo cultus (cultivo, instrução).

-Etimologicamente tem muito a ver com o ambiente agrário, com o


costume de trabalhar a terra para que ela possa produzir e dar frutos.
Ainda hoje se costuma usar a palavra cultura para designar o
desenvolvimento da pessoa humana por meio da educação e da
instrução.
 
- Disso vêm os termos culto e inculto, usados no jargão popular com
uma carga de preconceito e de discriminação, considerando uma
cultura (especialmente a letrada) superior às outras.
- Não existe ainda um consenso entre antropólogos acerca do que seja a
cultura.
 
- A cultura, para os antropólogos em geral, constitui-se no “conceito
básico e central de sua ciência”.

- Para os antropólogos, cultura é tudo o que o homem aprende e faz


como membro de uma determinada sociedade. Este conceito vem desde
a obra de Edward Tylor, quando escreveu a cultura primitiva em 1871.
 
- Assim, o conceito de cultura abrange tanto as artes (música, pintura,
escultura, teatro, literatura, etc), quanto os costumes (modo de andar,
sentar, de vestir-se, de rir, etc), incluindo inclusive aqueles tidos como
antissociais, como o uso de palavrões.

- Enfim: todas as ações que permitem identificar seus atores como


membros de uma sociedade.
- Cultura é diferente de comportamento:
- Comportamento: quando coisas e
acontecimentos dependentes de simbolização
são considerados e interpretados face à sua
relação com organismos humanos – contexto
somático – relativo ao organismo humanos
(Psicologia).
- Cultura: as coisas e acontecimentos
dependentes de simbolização são considerados
e interpretados num contexto extra somático –
relação que tem entre si – independentes do
organismo humano. (Antropologia).
- A Cultura pode ser analisada sob vários enfoques:
• Ideia (conhecimento e filosofia) – língua, arte ,
mitologia;
• Crenças (religião e superstição);
• Valores (ideologia e moral);
• Atitude (preconceito e respeito ao próximo);
• Padrões de conduta (monogamia, tabu);
• Abstração de comportamento (símbolos e
compromissos);
• Instituições (família e sistema econômico);
• Técnicas (artes e habilidades);
• Artefatos (machado de pedra, telefone).
Ex: CRUZ
a) ideia: quando se formula a imagem na mente.
b) abstração: do comportamento: representa, na
mente, um símbolo cristão.
c) Comportamento apreendido: quando os católicos
fazem o sinal da cruz.
d) Coisa extrasomática: quando é vista tanta imaterial
quanto material.
e) Mecanismo de Controle: quando a Igreja a utiliza
para obter reverência dos fiéis ou para afastar o
demônio.

 
Classificação da Cultura:
 
• Cultura Material (Ergologia): consiste em coisas materiais,
bens tangíveis, incluindo instrumentos, artefatos e outros
objetos materiais, fruto da criação humana e resultante de
determinada tecnologia. Ex: machados de pedra, vasos de
cerâmica, alimentos, máscaras, vestuário, habitações,
máquinas, navios, satélites, cachimbo da paz, cruz, etc.
 
•-Cultura Imaterial (Aspectos Animológicos): refere-se a
elementos intangíveis da cultura, que não têm substância
material. Crenças, conhecimentos, aptidões. Ex: crença na
existência de seres sobrenaturais com deuses, espíritos,
fantasmas.
 
• Cultura Real: é aquela que, concretamente, todos os
membros de uma sociedade praticam ou pensam em
suas atividades cotidianas. Não é percebida em sua
totalidade, apenas parcialmente.
 
• -Cultura Ideal: conjunto de comportamentos que,
embora expressos verbalmente como bons,
perfeitos, para o grupo, nem sempre são
frequentemente praticados. Ex: casamento
indissolúvel seria o desejável pela sociedade
ocidental cristã.
 
-Obras importantes publicadas sobre estes estudos:

a) O direito antigo (1861) – Henry Maine – 


- Para ele as sociedades humanas evoluíram a partir do momento em que as relações
deixaram de ser reguladas por papéis sociais atribuídos pelo parentesco e passar a se
dar por meio de ações contratuais firmadas entre homem de grupos familiares ou
sociais diferentes.
 
b) O direito materno (1861) – Jahann Jakob Bachofen – para ele as primeiras
sociedades humanas eram matriarcais. Conta que as mulheres haviam sido usadas
arbitrariamente pelos homens, revoltaram-se e surgiu uma sociedade em que o poder
concentrou-se em mãos femininas.
 
- Esta fase, contudo, foi transitória, e possibilitou o surgimento de outra sociedade mais
avançada, ou seja, que se baseia no patriarcado.
 
c) A cidade antiga (1864) – Fustel de Coulanges (França) – buscou compreender nossa
própria sociedade à luz das sociedades grega e romana. Com base nessa leitura é
possível compreender muito de nossos ritos matrimoniais e funerários. É um livro
muito utilizado nos cursos jurídicos.
 
d) O casamento primitivo (1865) – John Ferguson McLennan – tentou demonstrar
que o casamento por rapto, isto é, aquele que o noivo captura sua futura esposa em
outro grupo, teria correspondido à forma inicial de união entre homens e mulheres. 

e) Sistemas de consanguinidade e afinidade da família humana (1871) – Lewis


Morgan – jurisconsulto americano – estabeleceu contato com os índios iroqueses no
Estado de nova York. 

- Chamou atenção para o fato, até então praticamente desconhecido, de os sistemas


de parentesco variarem de sociedade para sociedade
 
f) A cultura primitiva (1871) – Edward Tylor: traz o primeiro conceito de cultura:
 
“Cultura, ou Civilização, tomara em seu amplo sentido etnográfico, é este todo
complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer
outra capacidade ou hábitos adquiridos como membro de uma sociedade”.
 
- Reafirmou a ideia de Locke (Ensaio acerca do entendimento humano): o homem
nasce com uma mente vazia, dotada apenas da capacidade ilimitada de obter
conhecimento, por meio do processo que hoje chamamos de endoaculturação.
BRASIL: PAÍS MULTICULTURAL

• País de culturas totalmente diferentes. Por isso é importante que


ampliemos o conceito de cultura. Vejamos alguns exemplos que
demonstram isto.

• Ex1: Comunidade Camponesa no sul de MG.


• Ex2: Herança da terra entre colonos de origem alemã no Rio Grande
do Sul.
• Ex3: O sistema da herança entre colonos; em seu caso, de origem
nipônica, em Marília/SP. 
• Ex4: temos em torno de 220 sociedades indígenas, e uma diversidade
de sistema de parentesco.
- Os Tupi admitem casamento entre meios-irmãos, desde que não sejam
filhos de um mesmo pai. Filhos de uma mesma mãe com homens
diferente não são considerados parentes, uma vez que a mãe não passa
de um parente afim.
 
 
- ENTÃO, a antropologia cultural tem seu campo
de alcance muito grande, englobando a
linguística, a arqueologia e a etnologia
(descrição ou crônica da cultura de uma tribo ou
povo), estudos esses que referem-se ao
comportamento do homem, particularmente no
que diz respeito às atitudes padronizadas,
rotineiras, que genericamente chama-se de
cultura.
 O ESTUDO DO HOMEM E DA CULTURA

- A sobrevivência do homem depende mais do


aprendizado do que do instinto. As ações consideradas
irracionais semelhantes às orientações e reações de
abelhas, aranhas e outros insetos as quais   se dá o
nome de instinto são inatas, herdadas, nascem com o
indivíduo.

- Símbolos, informações herdadas e aprendidas, na


maioria das vezes passadas de pai para filho
caracterizam a cultura, ou seja, o saber e o poder que
modificam a natureza. Onde há homem há cultura, há
linguagem desenvolvida essa é a essência do humano.
 
COMPONENTES DA CULTURA

- De um modo geral, a cultura se constitui dos seguintes elementos:


conhecimentos, crenças, valores, normas e símbolos.

Conhecimentos – todas as culturas, sejam elas simples ou complexas,


possuem grande quantidade de conhecimentos que são cuidadosamente
transmitidos de geração em geração. Os conhecimentos geralmente são
práticos.
 
Crenças – crença é a aceitação como verdadeira de uma proposição
comprovada ou não cientificamente. Ex: acreditar em lobisomem; acreditar
em reencarnação).

Valores – o termo valor, de um modo geral, é empregado para indicar


objetos e situações consideradas boas, desejáveis, apropriadas, importantes,
etc. objetos e situações consideradas boas, desejáveis, apropriadas,
importantes, etc.
 Normas – são regras que indicam os modos de
agir dos indivíduos em determinadas situações.
Consistem, pois, em um conjunto de ideias, de
convenções referentes àquilo que é próprio do
pensar, sentir e agir em dadas situações.
 
Símbolos – são realidades físicas ou sensoriais às
quais os indivíduos que os utilizam lhes atribuem
valores ou significados específicos. Eles
resguardam os valores considerados básicos para
a perpetuação da cultura e da sociedade (ex:
gestos, cerimônias, hinos, bandeiras, textos
sagrados, esculturas).

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