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Capitulo VIII – Quimbanda – VI

O Termo “Catiço” pode ser entendido como um sinônimo de esperteza. Numa análise
mais profunda, “Catiço” também é um termo popular para definir tanto crianças
hiperativas, quanto pessoas com má índole. “Catiça” é outra palavra de mesma raiz
que pode ajudar esclarecer outros aspectos, afinal, seu significado assemelha-se a
“mandinga”, “mal-olhado” e azar. Portanto, espíritos “Catiços” são os desencarnados
espertos, rápidos, ativos, com doçura e maldade quando necessário e que possuem a
energia da mandinga, do feitiço, da boa sorte e do azar.
Os Exus-Egúns ou Exus-Catiços, manifestam-se através de evocações e invocações.
Quando invocados dos planos astrais, podem incorporar em determinadas pessoas
que possuem faculdades despertas somadas a um alto grau perceptivo. Tais pessoas
são chamadas de “médiuns”, intermediadores que regulam a descarga energética
entre suas matérias densas e o corpo espiritual de seres falecidos.

Ao longo da era paleolítica (2.500 a.C.), os homens erigiram monumentos em pedra


lascada e, dentre tais, encontram-se os primeiros monumentos fálicos (adoração). Tais
monumentos retratavam a virilidade, força e adoração, haja vista que todo processo
de reprodução era dependente do espírito que mantinha o falo em posição ereta. O
falo representa a energia dinâmica e ativa que capacita a condução da vida produzida
dentro da bolsa escrotal.
Importante salientar que o culto fálico não é patriarcal, haja vista que os totens
sempre exibem falos eretos e aptos à copular. Portanto, o falo depende de uma con-
traparte feminina pronta à receber o sêmen e iniciar a jornada de criação.
No nosso sistema, Exu representa o poder dinâmico. Tudo que é construído no mundo
sobrenatural e no mundo natural está relacionado com a ação de Exu. Sem a
mobilidade desse Rei na vida dos seres humanos tudo ficaria estagnado, preso e sem
circulação. Segundo a cultura Nagô, um indivíduo sem Èsú não existiria de forma
individualizada, ou seja, os seres não poderiam se desenvolver, evoluir, adquirir
libertação e principalmente o direito de seguir pela senda que desejasse.
Portanto, cada pessoa tem seu Exu; um mestre designado para acompanhar a senda
evolutiva individual, cujo poder está dentro de tudo que está no âmbito material e
espiritual. Dessa forma, sendo um mentor e executor, cabe a Exu o direcionamento
dos seus filhos, abrindo ou fechando caminhos, favorecendo, mobilizando e cor-
roborando na evolução.
Em sua essência, Exu é o portador mítico do sêmen e da forma uterina ancestral e sua
força dinâmica sintetiza as uniões. Portador da interação rege as atividades sexuais e
possui como principal símbolo de poder o “Ogo”, a forma fálica em forma de bastão
que carrega em sua mão como cetro de poder e as cabaças pequenas que
representam os testículos. O “Ogo” simboliza um pênis ereto, pronto para ter relações
e apto para descarregar o sêmen que fecundará os caminhos. O pênis também é
chamado de “Okane” pelos adeptos dos cultos afros.
Muito provavelmente, os primeiros cristitas que tiveram contato com tal símbolo fálico
ficaram horrorizados ao deparar-se com o culto ao falo ereto. Esse foi um dos
principais motivos geradores da associação de Èsú com as repudiadas formas
demoníacas cristãs que corromperam lindos seres como “Priapo” e “Pan”.
Na Quimbanda Brasileira, os Exus que se manifestam através da incorporação não
costumam fazer uso dessa ferramenta, pois a mesma pertence ao culto de Èsú Orisá,
todavia, nos assentamentos a forma fálica é usada. A exaltação máxima ao culto fálico
na Quimbanda Brasileira ocorre através do simbolismo nos ritos de sacrifício, onde o
“Ogo” assume a forma de “Obé” (faca ritualística) e o sêmen é o próprio sangue
(Kiday). Ao imolar o pescoço de um animal, o “Obé” reproduz o movimento contínuo
do pênis adentrando na vagina e ao jorrar o sangue, atinge-se o êxtase da relação e a
própria fecundação.
No culto de Èsú, outras representações também simbolizam o totem fálico. A flauta, o
cachimbo e o próprio charuto assumem conotações sexuais. São instrumentos de
deslocação que absorvem e expulsam cujas funções são a descendência (Mestre do
passado, presente e futuro) e invocar a reprodução (que não pode ser confundida com
procriação).

Os antigos livros que relatavam a hierarquia de Exu, sob nosso ponto de vista, são
contaminados pela mentalidade “diabólica cristã” dos escritores umbandistas que
correlacionavam os “Exus-Eguns” com demônios descritos nos “Grimórios Inquis-
itores”. O tempo passou, mas o conceito continua contaminado, afinal, escritores mais
modernos, mesmo tendo acesso a uma gama muito maior de material para estudo,
alegam que os Exus são os mensageiros desses demônios e que possuem livre acesso
pelos domínios dos mesmos.
A Quimbanda Brasileira tem verdadeira quizila de tais escritores pelo retrocesso
espiritual que impingiram na sociedade mundial. O erro está tão entranhado que
dificilmente será revertido, porém, nossa gnose nos permite lutar contra esse absurdo
através da palavra que liberta os homens: A Sabedoria!
Demônios são inteligências que não possuíram existência encarcerada nos invólucros
materiais. Não são “presos” na rede de reencarnações e na sua grande maioria, são
grandes espíritos demonizados pelas igrejas ao longo do processo de conquista
territorial, afinal, um Deus vencido na guerra torna-se o culpado por todo sofrimento
de seu povo e, posteriormente, ocupa lugar nas trevas destinadas aos demônios.
Entendendo esse conceito, fica difícil correlacionar espíritos humanos que se elevaram
nas correntes de Exu e Demônios. Algumas características podem até ser similares,
porque antes dos Exus serem demonizados, erroneamente existiu a classificação dos
Demônios por atributos materiais e esotéricos. Percebemos que o contato com os
demônios pode ocorrer nos planos astrais e, dependendo do grau evolutivo que o
espírito esteja, advém um aprendizado muito valioso. A Quimbanda Brasileira crê que
antigos deuses obscurecidos capacitam os Exus suportarem o acúmulo de matéria
mental negativa e usarem essas energias para a ascensão de seus domínios e poderes.
Antes de adentrar na hierarquia de Exu, devemos compreender a formação e o
funcionamento dos sete primeiros “Tronos” passivos e ativos. Antes de tudo, vale
ressaltar que os Sete Reinos da Quimbanda foram compostos após a formação do
mundo material como figura de embate ao cíclico sistema cósmico de reencarnação e
escravismo das almas ígneas. “Maioral” é um Ser criado a partir de um grande esforço
feito pelos regentes supremos dos quatro elementos que rasgaram e separaram suas
próprias essências para então reuní-las sob a forma de um Grande Imperador. A
função primordial de sua existência é proporcionar o desequilíbrio no frágil or-
denamento através da escalada espiritual dos espíritos obscuros dentro dos espaços
astrais denominados “Sete Reinos da Quimbanda”.
Muitos espíritos já se manifestaram nas correntes espiritualistas com o nome de
Maioral, entretanto, todos esses espíritos são parte de um engendrado sistema
ilusório imposto para fazer o “Sagrado Nome” ser desacreditado e escarnecido pelos
que buscavam forças dentro do culto aos espíritos da noite. Essa estratégia de
contenção fez com que a verdadeira essência de Maioral fosse esquecida e que a
Quimbanda se transformasse em uma religião marginalizada.
Uma informação muito importante a todos os adeptos é que Maioral jamais saiu de
seu Trono! Os que alegam incorporá-lo ou são charlatões ou são esquizofrênicos
alimentados por grupos de analfabetos espirituais.
Como Maioral possui as duas polaridades dentro de sua composição (dinâmica e
receptiva), após um longo tempo de preparo, desdobrou-se como em um processo de
meiose- formando os sete primeiros “Tronos” da Quimbanda. Esses sete primeiro
seres são chamados de “Grandes Reis”. Esses, desdobram-se formando suas
consortes: As sete “Grandes Rainhas”.
Grande Rei e Rainha das Encruzilhadas;
Grande Rei e Rainha do Cruzeiro;
Grande Rei e Rainha das Almas;
Grande Rei e Rainha da Kalunga;
Grande Rei e Rainha das Matas;
Grande Rei e Rainha da Lira;
Grande Rei e Rainha das Praias.

Através dos incessantes impulsos construtivos e destrutivos provindos da consciência


do Imperador Maioral, esses casais foram formando e modelando os Reinos e Sub-
Reinos da Quimbanda. Estabeleceram novos “Tronos” subalternos e iniciaram a busca
pelos espíritos que iriam compor essa armada. Dentro do próprio campo astral, foram
selecionados espíritos que possuíam a chama negra, chamada de “Luz Luciférica”, para
serem os pilares dessa expressão religiosa fragmentada. Esses espíritos receberam
toda gnose que compunha os Grandes Reis tornando-se “Poderosos Mortos”.
Os “Grandes Reis e Rainhas” nomearam os “Poderosos Mortos” para regerem,
evoluírem e prepararem uma “nova religião” que se infiltraria dentro de todas as
vertentes afro que estavam em formação no território brasileiro. A Quimbanda, não é
apenas a corrupção gráfica da palavra “Kimbanda”, derivada do dialeto Quimbundo ou
a decomposição de outra religião, a Quimbanda foi a “Porta Astral” que as forças de
embate encontraram para se infiltrar e exercer seus impulsos visando a libertação das
almas encarceradas.
Alguns umbandistas vislumbraram esse abalo espiritual e tentaram relatar em suas
obras, todavia, com suas visões limitadas pelos véus da cósmica ignorância, não
entenderam a real função dessa corrente libertadora. Um exemplo disso está na obra
de um umbandista que usa a alcunha de “Mestre Itaoman” - “Pemba: a Grafia Sagrada
dos Orixás” que em um dos seus trechos relata:
“Ergueu-se, assim, dos confins do Reino das Sombras, sob o impulso do ódio de uma
das partes e da maldade da outra, do sangue derramado pelos dois lados, uma
“Corrente Maléfica”, que atraiu os piores Magos Negros de todas as épocas,
formando-se a “Kimbanda”, que é o ponto de perversidade das raças martirizadas.”

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