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CURSO DE PSICOLOGIA
Salvador - Bahia
2022
BRUNA MARIA DE OLIVEIRA CAMPINHO
Salvador - Bahia
2022
Dedico este trabalho a Fernando Gonçalves da Silva Campinho (in memoriam)
RESUMO
Este foi um trabalho que propôs analisar a minissérie WandaVision e estabelecer um diálogo
entre os conceitos fundamentais da psicologia analítica, estabelecidos por Carl G. Jung, e o
luto, com o objetivo de compreender os impactos que o enlutamento pode causar no processo
de individuação por meio da minissérie WandaVision. A análise se dirigiu à personagem
central da série e se desdobra nos moldes do conceito de individuação numa proposta da
evidência desse no processo do luto, que permitiu estabelecer considerações sobre o
desenvolvimento do luto na psique e suas consequências. Na mídia analisada, a personagem
passou por um processo difícil de descobrimento de si mesma após uma perda traumática e
entrando em confronto com a realidade na qual não existia mais a pessoa amada. Assim, esse
estudo partiu do detalhamento sobre a compreensão da psicologia analítica do processo de
morte e do luto e a conexão com a mídia fílmica supracitada, concluindo a discussão com a
análise do processo de individuação. O caminho feito foi uma revisão bibliográfica de
publicações disponíveis nos indexadores SciELO, PePsic, PsychoInfo, Google Acadêmico e
Periódicos de Psicologia, além de livros acadêmicos e da própria minissérie. Por fim, esse tema
possui relevância por ser um discurso atual e pertinente na contemporaneidade, refletindo sobre
os lutos presentes no cotidiano e na clínica psicoterapêutica, assim ampliando a compreensão
e os estudos sobre o assunto.
Palavras-chave: Luto. WandaVision. Psicologia Analítica. Processo de individuação. Análise
Fílmica.
ABSTRACT
This was a work that proposed to analyze the miniseries WandaVision and establish a dialogue
between the fundamental concepts of analytical psychology established by Carl G. Jung, and
mourning, with the objective of understanding the impacts that bereavement can cause in the
individuation process through from the WandaVision miniseries. The analysis addressed the
central character of the series and unfolds along the lines of the concept of individuation in a
proposal of its evidence in the grieving process, which allowed us to establish considerations
about the development of grief in the psyche and its consequences. In the analyzed media, the
character went through a difficult process of discovering herself after a traumatic loss and
coming into confrontation with the reality in which the loved one no longer existed. Thus, this
study started with a detailed understanding of the analytical psychology of the process of death
and mourning and the connection with the film media, concluding the discussion with the
analysis of the individuation process. The path followed was a bibliographic review of
publications available in SciELO, PePsic, PsychoInfo, Google Scholar and Psychology
Journals, in addition to academic books and the miniseries itself. Finally, this theme is relevant
because it is a current and relevant discourse in contemporary times, reflecting on the mourning
present in everyday life and in the psychotherapeutic clinic, thus expanding the understanding
and studies on the subject.
1 Introdução ............................................................................................................................. 6
2 Metodologia ........................................................................................................................... 7
3 Nos Capítulos Anteriores… A Morte .................................................................................. 8
4 A Individuação Na Psicologia Analítica............................................................................ 10
5 De Wanda Maximoff a Feiticeira Escarlate ..................................................................... 11
5.1 O mundo preto e branco .............................................................................................. 11
6 Considerações finais............................................................................................................ 21
6
1 Introdução
“Mas o que é luto, senão amor que perdura?” (Personagem Visão, Walt Disney: EUA,
2021)
Este trabalho tem a intenção de analisar a minissérie WandaVision (2021), sob a ótica
da psicologia analítica proposta por Carl G. Jung. Considerando a narrativa da série, que
procura abordar o tema de perdas simbólicas e físicas, e suas consequências na saúde mental,
dando maior ênfase ao processo de luto e uma possibilidade para trabalhar tal assunto. Foi
escolhido tratar a partir dos aspectos teóricos da Individuação, desenvolvidos pelo próprio Jung.
Assim, o objetivo geral foi compreender os impactos que o enlutamento pode causar no
imediatamente introduzida como órfã e, posteriormente, se confronta com outra perda, a do seu
irmão gêmeo, Pietro. Então, é plausível observar, diante disso, que a personagem é oblíqua a
Marvel no mesmo filme que a personagem, como uma mistura entre máquina e humanoide. E
acaba se tornando um objeto de acolhimento para a dor dela, pois era alguém que não tinha
término, no filme Vingadores: Guerra Infinita (2018), quando o vilão Thanos, que deseja acabar
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com metade da vida no universo, vai atrás das joias do infinito, sendo que uma delas é o que
mantém o Visão “ativo” e “vivo”. Assim, Wanda acaba matando-o numa tentativa de impedir
o vilão, porém Thanos volta no tempo e arranca a peça do personagem, matando-o novamente
na frente dela. Após esses eventos resumidos, e a derrota de Thanos no filme Vingadores:
A narrativa se passa quando o casal se muda para a cidade de Westview, para viver
uma vida pacata, normal e perfeita, como sempre quiseram. Com problemas cotidianos como
Porém, nem tudo é o que parece ser e, no decorrer dos episódios, vemos que a Wanda
criou uma realidade através do formato de episódios de sitcom (séries de comédias, que
retratam a vida de famílias de classe média), para poder lidar com a morte do parceiro.
Gostaríamos de, com as observações levantadas neste estudo, possibilitar uma reflexão
sobre a questão. E, assim, despertar o interesse sobre um assunto que não pode ser relegado a
segundo plano, devendo estar presente de maneira contínua nos bancos das universidades
brasileiras e nos consultórios clínicos de psicólogos, uma vez que passamos por constantes e
vários lutos.
2 Metodologia
trabalho, esta pesquisa qualitativa tem como método a análise fílmica da minissérie
WandaVision que, segundo Lurdanelli & Pimenta (2020, p.2), numa perspectiva junguiana: "a
tela do cinema deve refletir [...] uma imagem-arquétipo coerente em si mesma, contendo sua
própria lógica, sem referenciais de espaço e tempo, capaz de criar uma experiência mitológica”.
Ademais, constitui-se, também, por meio de análise de materiais que compõem a pesquisa, no
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caso livros acadêmicos, além de artigos e dissertações encontrados através das plataformas
caráter qualitativo.
Para concluir, Penna (2005, p. 91) defende que: “o método de investigação da psique
na obra de C. G. Jung é definido pela perspectiva simbólica arquetípica que norteia o tratamento
períodos, que são relacionados à dita pré-história, a temática é trazida nas vivências e nas
tentativas de decifrá-lo, dessa forma, a morte possui uma história tão velha quanto a da
humanidade.
história da morte no Ocidente”, retrata essa estrutura. Começando pela idade medieval e
chegando até a idade moderna, Áries propõe pensar o simbolismo dos rituais, signos e
elaboração do enlutamento, percebendo como cada contexto visibiliza essa questão através das
demandas apresentadas. Sejam guerras, revoluções, doenças, repressões etc. Até que a atitude
atravessado pelo capitalismo e racionalização, passou a produzir mais meios para tentar se
Tantos atravessamentos acabaram, inclusive, criando uma área de estudo própria para
Além disso, para pensar sobre a morte, se deve ter em vista que ela comporta vários
palcos de interpretação e estudo. Desde um olhar biomédico até numa perspectiva simbólica e
sociocultural, pois, parafraseando Jesus, Bof, Bolzani & Dornelas (2020, p.56): “o ser humano
tem por característica enxergar o mundo também pelos aspectos simbólicos, ou seja, pelos
significados e valores que ele imprime às coisas; por isso o significado da morte varia
Sob a ótica junguiana, segundo Moraes (2011): “A morte representa um polo dessa
dinâmica arquetípica. De outra forma, podemos dizer que a vida e a morte constituem as faces
de uma mesma e única moeda, não podemos perder de vista que a morte é parte da vida. Não
Hillman (2021, p.25) relata que qualquer discurso ou discussão a respeito da vida
Portanto, é possível imaginar que todos os conflitos da vida estão entrelaçados com o problema
da morte.
morte do outro é a morte do Eu que existia com aquela pessoa, ou seja, o sujeito que eu sou
naquela relação morre simbolicamente junto com o indivíduo. Em um funeral, ocorrem dois
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enterros, duas despedidas, aquele que teve a morte orgânica e aquele que encontra o morrer
simbólico, que pode ser cruel e sofrido. E assim, a morte continua um tabu na sociedade, sendo
Nunca estamos tão convencidos desta marcha inexorável do que quando vemos uma
vida humana chegar ao fim, e nunca a questão do sentido e do valor da vida se torna
mais premente e mais dolorosa do que quando vemos o último alento abandonar um
corpo que ainda há pouco vivia (Jung, 2013, p. 361).
e o caminho trilhado para o desenvolvimento deste trabalho. São eles: a psique, que é a
e coletivas (Jung, 2008), os arquétipos, segundo Jung em sua obra, psicologia do inconsciente
primordiais hereditárias que são universais e originárias, que aparecem como pares de
emaranhados de conteúdos, de ordem pessoal, que estão no inconsciente e que foram adquiridos
durante a existência do indivíduo e são associados ao inconsciente pessoal (Jung, 1978, p. 16).
segunda, por sua vez, “[...] uma faceta inconsciente e reprimida, onde são depositadas as
experiências traumáticas do indivíduo” (Jorge & Gagliardi, 2015, n. p.). Firmados na alteridade,
masculino, no inconsciente.
Outro termo importante é o Self/Si-mesmo, que, segundo Hall & Nordby, é o princípio
personalidade” (Hall & Nordby, 2018, p.43). E, por fim, o Eu, no qual reside a consciência,
sendo uma parte do si-mesmo que em algum momento se tornou autônoma, mas que necessitará
resgatar o equilíbrio com o self pelo processo da individuação, que, segundo Jung:
vários elementos da minissérie que dialogam com o conceito de individuação e associar isso a
Começando pelo próprio título: WandaVision, que pode ser traduzido de duas formas
do inglês para o português. Tanto como Wanda e Visão (que são os dois personagens principais)
ou como a Visão da Wanda. Neste viés, é possível associar com a realidade criada por Wanda
despertar da essência da personagem principal e como ela realiza esse ser, diante do trauma que
representa a estrutura das sitcoms (séries de comédias) dos anos 50-60 (quando os programas
de Tv eram exibidos em preto e branco) que iniciou uma era que continuam a ser celebrada.
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Sitcoms são famosas por serem de conforto para a audiência, algo que pode fazer as
nos personagens e suas relações. Nada acontece que não pode ser consertado.
Levando isso, e sua jornada, em consideração, Wanda faz seu mundo se tornar uma
sitcom. Ela constrói uma realidade misturada com vários sitcoms famosos, como A Feiticeira
(1964-1972), Full House (1988-1993), Modern Family (2009-2020), entre outros clássicos. Em
todas ela tem o controle sobre todos os acontecimentos e é a personagem principal, procurando
dedicada.
tecnológica da televisão, que ela está presa dentro do que o ego permite que seja consciente,
Segundo Marie Louise Von Franz (2016, p.219) “o verdadeiro processo de individuação
inventado, em que a realidade é dominada pelo mundo simbólico. Portanto, ela pode, talvez
falecimento do Visão. Isso sendo viável a partir do fato de que, inicialmente, a personagem não
sabe que aquilo é uma fantasia e que foi criada por ela.
Como exposto, por exemplo, no episódio cinco da série, quando, ao ser confrontada
pelo Visão sobre a situação estranha que a cidade e eles se encontravam, Wanda respondeu:
“em primeiro lugar, eu nem sei como isso começou” (Personagem Wanda, Walt Disney: EUA,
2021).
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casamento, numa leitura no dicionário dos símbolos, Chevalier & Gheerbrant, (2015, p.197)
- sejam os adaptados pela Disney em seus filmes, por exemplo Cinderela, ou na mitologia,
como Eros e Psiquê - o casamento, num ponto de vista da ordem do feminino, segundo Estés
(2018, p.62) “simboliza a procura de um novo status, o desdobramento de uma nova camada
da psique”. Ou seja, é considerado que rompe com a vida passada e ocasiona uma
transformação na proposta de uma nova vida, de solteiro para casado. E essa é uma das formas
do luto, em que a personagem se encontra perdida, confusa, sua psique está em profundo
sofrimento, demonstrado isso no quarto e quinto episódios, quando Mônica Rambeau é expulsa
da cidade ao relembrar Wanda da morte do irmão e ao expor a realidade que a personagem não
deseja reconhecer.
Ela diz que os momentos dentro do hex foram de “dor, e então a voz da Wanda na minha
cabeça, [...] tinha esse sentimento de desespero, me mantendo presa, como se afogar, era luto”
(Personagem Mônica, Walt Disney: EUA, 2021), enquanto no episódio posterior, quando o
Visão entra em contato com o que ele chamou de “personalidade reprimida” do seu colega de
trabalho conhecido como Norm, este diz a ele “é muita dor, você precisa pará-la".
da cidade. O seu parceiro amoroso trabalha em uma empresa que se chama “serviços
computacionais” e ninguém sabe explicar o que fazem lá (Apesar de o colega do Visão dizer
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que desde o começo de seu trabalho na empresa, a produtividade aumentou 300% - isso pode
demonstrar a dependência que Wanda tem dele, em relação a transferência dos seus lutos
Visão (Sr. Hart), este fala: “[...] você mal consegue manter as coisas sob controle, olhe ao redor,
Acrescentando a tudo que foi citado, em partes mais distantes do centro da cidade, do
que seria sua mente, as coisas não funcionam, as pessoas estão perdidas e repetindo
continuamente movimentos sem sentido, com expressões faciais de profunda dor - exposto no
episódio seis.
Este olhar para dentro permite enxergar outras características do movimento primário
do enlutamento. Com a busca pela figura perdida, emitida com manifestações de raiva,
inquietação, desespero e buscas frequentes (Gomes, 2019 citado por Jorge & Gagliardi, 2015).
Então, toda vez que essa informação reprimida no inconsciente procura vir à superfície, Wanda
Sendo a partir da aparição de um avião drone, que, segundo Chevalier & Greencharbt (2015),
de si mesmo”, que pode também representar o self que conduz a evolução - nesse caso, a
Mônica Rambeau toma esse papel de trazer a Wanda para o conflito com a realidade, assim
como o analista no ambiente clínico. “Eu sei o que Wanda está sentindo e não vou parar até
parecer "bêbado" e acaba bagunçando a apresentação no show de talentos (Na qual ele toma o
nome do falso mágico “Ilusão” e Wanda, como sua assistente, chamando-se de Glamour -
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indiretamente retratando os papéis de cada um nesse mundo fantasioso, sendo ela o controle e
apicultor circulado por abelhas, o que, a partir do dicionário de símbolos de Chevalier &
Greenchabt (2015, 605), relata: “mel, tomado como o resultado de um processo de elaboração
Diante de todos esses símbolos supracitados, é perceptível o que Jung traz em relação
ao “primeiro passo” para o processo de individuação. Jung apresenta como primeiro passo para
em sua contraparte denominada sombra. Ocorre que o início deste percurso é normalmente
marcado por conflitos, pois o Eu é obrigado a reconhecer que a persona é uma parte e não o
todo da personalidade, tirando quiçá sua noção de realidade (Jesus, Bof, Bolzani & Dornelas,
2020).
deixam de ser preto e branco e tomam cores, isso logo após Wanda entrar em direto conflito
com a realidade externa (representada pelo apicultor). Portanto é possível assumir que é quando
aspectos sombrios. É quando seria viável o segundo passo tanto da individuação quanto do
processo de luto.
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No terceiro episódio, Wanda está grávida. Sendo revelado, no momento de seu parto,
representa a vida e a simbologia dos gêmeos retrata a dualidade e, por vezes, uma imagem
análoga à encruzilhada.
ao outro (Chevalier & Gheerbrant, 2015). E é nesse momento que Wanda entra em contato com
o que falta nela. Não no sentido maternal, apesar de haver interpretações e análises possíveis a
esse respeito, mas no lugar da persona e da sombra, cuja conjunção precisa ser “parida”.
Isso fica evidente em vários momentos que vão se seguindo desde o começo da
gravidez, nos episódios dois e três. Durante a progressão da gravidez de Wanda, os seus poderes
perdem o controle, bagunçando coisas desde decorações, como as borboletas do móbile - que
A primeira é quando Mônica Rambeau, relembra a Wanda que seu irmão, Pietro, foi
morto por Ultron, ocasionando sua expulsão das barreiras da cidade, em uma troca entre a
persona que é amigável e boa vizinha e o self da feiticeira escarlate - explícito quando ela não
E a segunda é quando, logo depois, ela vê a imagem do Visão após seu falecimento,
“desligado”, apagado e com um buraco na sua cabeça onde antes residia a joia da mente, ou
Por ser um confronto que é um dos primeiros na direção do encontro consigo, pode ser
difícil suportar e reconhecer a sombra, que força o eu a se reconhecer como apenas parte do
sendo mais um passo relevante no processo de individuação (Portela, 2013 citado por Jorge &
Gagliardi, 2015). No caso da Wanda, essas forças residem em elementos como seus filhos,
Tommy e Billy, o Visão, a vizinha Agatha Harkness, a Mônica Rambeau e a própria feiticeira
Por conseguinte, neste momento do luto, é feita a articulação dupla entre o que foi
perdido e aquilo que pode ser flexibilizado. Como disse Hillman (2021, p.75), “a experiência
individualidade”.
animus.
Os arquétipos anima e animus são importantes elementos estruturais para o que se pode
ser chamado de terceira etapa da individuação, o relacionamento entre ambos está ligado à
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terceira fase do luto, pois, para o encontro entre eles, antes há processos contraditórios que
coletivo, logo, são características, que o consciente reputa incômodas para uso externo e,
É importante ressaltar que para Jung a Anima/us possuem uma função similar e oposta
a da persona. Esta última tem a função de possibilitar uma adaptação mais adequada ao mundo
exterior, já a anima/us teriam a função de viabilizar o contato mais adequado com o mundo
primordiais presentes na alma dos arquétipos da anima e do animus, pois as projeções feitas
não se sustentam, não tem como fazer com que o outro vá atender as nossas expectativas e
fantasias, querendo que reaja a nossa própria ressonância e projeção da anima, ou seja, o destino
dessa interação sempre será a morte simbólica. Na procura por preencher uma imagem interna
sentimentos por parte dos enlutados, pelo choque que causa o fim da ilusão/fantasia criada
ser marcada pelo medo, desespero, desvalorização das relações afetivas e pela coexistência de
Esse momento, na minissérie, ocorre a partir dos conflitos entre Wanda e Visão,
iniciados no episódio cinco, marcado quando a Wanda fala para seus filhos "às vezes, seu pai
Ela vai atravessando a performance a partir do momento em que não lhe cabe mais o
papel de dona de casa amável, gentil e atendente dessa encenação. Ela expõe esses momentos
ao se recusar a esconder mais seus poderes em frente aos outros da cidade. Quando enfrenta os
agentes da S.W.O.R.D e depois ao entrar em confronto direto com o Visão, ao ser questionada
Parafraseando Portela (2013, p. 76-77 citado por Jesus, Bof, Bolzani & Dornelas, 2020):
“reconhecendo-os como parte da psique coletiva e não do eu, surge a possibilidade de diálogo
psique, do qual emana todo o potencial energético. Também chamado de Si-mesmo. Segundo
Franz (2016), o centro interior da psique total muitas vezes se personifica como um ser superior.
No caso da Wanda, é simbolizado pela feiticeira escarlate, atravessada pelo arquétipo da bruxa.
Este último tópico de análise do corpus sob a ótica da psicologia junguiana também faz
menção à última fase do luto. Trata-se da fase da reorganização, marcada por uma aceitação da
perda do ente querido, além da percepção da necessidade de reconstrução da vida, ainda que
esta resolução ocorra de forma diferente para cada pessoa, é uma grande jornada que se realiza
no corpo/alma do sujeito (Cândido, 2011 citado por Jorge & Gagliardi, 2015).
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É a partir dessa vivência que se pode construir um novo centro da personalidade, entre
o ego e o self. É a descoberta do inconsciente não mais como um dragão ameaçador, mas como
luto, o inconsciente foi exposto para ela a partir do “porão/caverna” no subterrâneo da casa da
naquele local que Agatha - sendo representação da irmã da psique ou da Baba Yaga, que seria
a Mãe Selvagem, a representação da bruxa - leva a personagem para uma jornada para decifrar
e libertar o self da Wanda e passar pela sua história de luto, perda e traumas (sombra),
A personagem é colocada no papel de guia quando fala “eu fui tão paciente, esperando
você revelar a sua verdadeira forma” e ainda “eu tentei ser gentil, te cutucar para acordar dessa
fantasia ridícula, mas prefere desmoronar do que encarar a sua verdade”. É a forma que a psique
horror.
A bruxa é aquela que ameaça, que caça, é tentadora e demoníaca. Segundo Azevedo
(2014, n.p.), “Do lugar de reconhecimento natural nos mistérios femininos, esse arquétipo foi
derivado do termo wit em inglês que forma a palavra witch que significa bruxa, em tradução
literal. É aquela que submete e molda as forças da natureza de forma externa e interna, ou seja,
nascimento e morte.
Azevedo (2014, n.p.) escreve, “Por meio da bruxa, a mulher abraça melhor seus
conteúdos psíquicos nas sombras, aceita sua condição humana dual e se une ao Self pela
caminho psíquico até a bruxa/deusa que é incorporada pela feiticeira escarlate - que antes não
era permitido, pela própria personagem, para que se revelasse e fosse reconhecida. Dessa forma,
atualizado pelos processos de individuação, assim como o luto, são contínuos nos conteúdos
6 Considerações finais
Este estudo nos mostrou ser vital a importância da atuação do profissional ao conferir
aporte psicológico para aqueles que estão passando por um processo de luto. Como observado
durante a análise da série em que existe uma representação do analista (Mônica Rambeau e
Agatha Harkness) que procuram orientar a personagem em sua jornada. Assim, tendo uma visão
Por fim, o tema tem sua importância considerando a formação generalista do psicólogo
e a preparação para tratar morte e luto na clínica psicoterápica. Propondo um novo olhar e
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