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EDITORA DA PUC-SP
Direção: Miguel Wady Chaia
Conselho Editorial
Anna Maria Marques Cintra (Presidente)
Cibele Isaac Saad Rodrigues
Ladislau Dowbor
Mary Jane Paris Spink
Maura Pardini Bicudo Véras
Norval Baitello Junior
Rosa Maria B. B. de Andrade Nery
Sonia Barbosa Camargo Igliori
Copyright © 2013. Eloisa M. D. Penna. Foi feito o depósito legal.
Penna, Eloisa M. D.
Epistemologia e método na obra de C. G. Jung / Eloisa M. D. Penna. - São Paulo:
EDUC: FAPESP, 2013.
Bibliografia.
ISBN 978-85-283-0472-5
Direção
Miguel Wady Chaia
Produção Editorial
Sonia Montone
Preparação e Revisão
Sonia Rangel
Editoração Eletrônica
Gabriel Moraes
Waldir Alves
Capa
Waldir Alves
Administração e Vendas
Ronaldo Decicino
Produção do ebook
Waldir Alves
INTRODUÇÃO
Sobre paradigma
Psiquiatria dinâmica
Psicologia
Psicologia profunda: a psicologia do inconsciente
O inconsciente mitológico
Divergências com a psicanálise (1909-1913): método associativo e comparativo
PARADIGMA JUNGUIANO
Perspectiva ontológica
Totalidade, unidade – diversidade, complexidade
Concepção de mundo
Concepção de ser humano
Realidade psíquica
Psique e alma
Inconsciente coletivo e arquétipo. Inconsciente pessoal e complexo
Dimensão simbólica
Perspectiva epistemológica
Sobre conhecimento
Origem, limites e funções da consciência
Processo de individuação, conhecimento e autoconhecimento
Possibilidades e limites do conhecimento do inconsciente
Símbolo: a ponte epistemológica para o inconsciente
Função transcendente, função criadora de símbolos
Causalidade, finalidade e sincronicidade
Relação eu—outro, sujeito—objeto
Perspectiva metodológica
Apreensão do símbolo
Meios de captar os símbolos
Sobre observação
Das particularidades do objeto de investigação
Da equação psíquica do sistema observador
Da dinâmica entre o sistema observado e o sistema observador
Considerações sobre a apreensão do fenômeno/símbolo
Considerações sobre o contexto do símbolo
Compreensão do fenômeno/símbolo
Pensamento simbólico: caráter hermenêutico do método
Os parâmetros de causa e finalidade: caráter sintético construtivo do método
O parâmetro da sincronicidade: caráter hermenêutico construtivo do método
Tradução, interpretação e elaboração dos símbolos
Sobre amplificação simbólica, método e técnica
Perspectiva simbólico-arquetípica
UM PARADIGMA CONTEMPORÂNEO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANEXOS
Obras de C. G. Jung
pelo magnífico rigor da mente de Jung. No próprio limiar da morte, ele ainda
buscava e ainda esperava acreditar; mas sua objetividade científica impediu-o de
pronunciar uma só palavra que não correspondesse a experiências demonstráveis.
(McGuire e Hull, [1977]1993, p. 46)
O melhor que o médico pode fazer nesses casos é dispensar todo seu equipamento
de métodos e teorias e confiar, velando unicamente por sua personalidade, para
que ela tenha firmeza suficiente para servir de ponto de referência ao paciente. (vol.
16; 11)
alguns exemplos (exemplares) que incluem, ao mesmo tempo, lei, teoria, aplicação
e instrumentação, proporcionam modelos dos quais surgem as tradições coerentes
e específicas de pesquisa científica. ([1970]2001, p. 30)
Psiquiatria dinâmica
O modelo proposto por Jung resgata concepções de
saúde/doença e cura, vigentes na Antiguidade, atualizando-os para
o panorama científico atual. A psicoterapia como tratamento da alma
é uma atividade da qual já se ocuparam nossos antepassados, em
consonância com as circunstâncias culturais de cada período da
história da humanidade. “Os cuidados com a alma estiveram
historicamente a cargo das religiões e somente há cerca de 300
anos é que esta situação vem sofrendo mudanças” (De Marco,
2003, p. 19).
Na mitologia, na religião e na filosofia, observam-se inúmeras
indicações da preocupação dispensada aos padecimentos
espirituais do ser humano. A necessidade de compreender o
sofrimento humano e as tentativas de cuidar e tratar de sua saúde
acompanham toda a história da humanidade. Assim sendo, esse
tema tem um caráter arquetípico que se atualiza a cada momento
histórico.
Na Antiguidade grega, o Oráculo de Delfos tratava os
padecimentos do corpo e da alma como uma coisa única. A Grécia
Antiga não fazia distinção entre os males do corpo e os do espírito.
Ars curandis (artes curativas) se referia a todos os procedimentos
aplicados aos padecimentos dos homens; incluía conhecimentos
médicos, religiosos, mágicos e principalmente mistérios; congregava
saber, arte e fé; resultava de uma cosmovisão que ultrapassava os
limites do corpóreo, abrangendo o ser humano como um todo.
A separação entre psique e corpo é relativamente recente na
história da humanidade. Historicamente, é a medicina de Hipócrates
que inicia, no mundo ocidental, a caminhada rumo à distinção entre
os padecimentos do corpo e os da alma, tendo a medicina se
ocupado daqueles e a religião, destes.
Na Idade Média, a Europa opera uma restauração da
demonologia com uma aparente integração das esferas corporal e
espiritual. O que se observa, no entanto, é a hegemonia da
dimensão anímica, em que a esfera orgânica não só é secundária,
como determinada pelo aspecto espiritual, reafirmando a separação
corpo/espírito. Os males do espírito na Europa medieval são
atribuídos à possessão pelo demônio. Sua terapêutica consiste na
expulsão do mal por procedimentos exorcistas.
À óptica religiosa, prevalecente na Idade Média, sucede, na
modernidade, uma medicina rudimentar, que começa a considerar a
necessidade de um tratamento em outros moldes para a loucura,
que passa a ser considerada doença mental. A hipótese medieval
de castigo divino ou possessão pelo demônio ainda não é
completamente descartada, embora a ela se acrescente a hipótese
de causalidade orgânica.
Sob a designação de “primeira psiquiatria dinâmica”,
Ellenberger (1970) situa um movimento da medicina, que se
estende de 1775 a 1900, em que a atenção às doenças mentais
promove o desenvolvimento de um corpo de conhecimentos bem
estruturado, com a finalidade de compreender e tratar o doente
mental, na perspectiva dos pressupostos epistemológicos e
procedimentos baseados numa concepção de ser humano e de
mundo calcados mais na filosofia romântica do que no iluminismo e
no empirismo, característicos da ciência moderna. Ellenberger
destaca o período de 1880-1900 como uma “nova psiquiatria
dinâmica”.
O surgimento de uma psiquiatria dinâmica, de acordo com
Ellenberger, remonta ao ano 1775, com um confronto entre o
médico Franz Anton Mesmer (1734-1815), adepto do iluminismo, e o
famoso exorcista Johann Joseph Gassner (1727-1779).
Na passagem da mentalidade medieval, com sua ênfase na
concepção religiosa da vida e do conhecimento, para a mentalidade
moderna, em que a ênfase recai na concepção racionalista do
mundo e do conhecimento, instala-se um vácuo epistemológico. As
perturbações ou os sofrimentos da alma, antes atribuídos a
instâncias transcendentes, passam a ser considerados problemas
de ordem orgânica. A possessão por espíritos malignos constituía a
base da epistemologia da loucura na Idade Média; na modernidade,
o mesmo fenômeno será denominado doença mental ou nervosa,
assentada na hipótese epistemológica de uma afecção orgânica. No
entanto, sua etiologia e terapêutica se revestem ainda de uma aura
de mistério. Parece, portanto, que a mentalidade cristã medieval
ainda está presente no racionalismo organicista moderno.
Jung, em 1908, faz uma avaliação bastante interessante
sobre esse tema.
Psicologia
A psicologia como ciência moderna surgiu em meados do
século 19. Entretanto, como na medicina, observa-se que a preo-
cupação com o aspecto psicológico do ser humano pode ser
observada desde os primeiros registros históricos da humanidade.
Assim, cabe mais uma vez a suposição de que o ser humano tenha
se ocupado com as questões relativas ao espírito e à alma desde os
tempos mais remotos, mesmo que delas não se tenha registro. “É
sabido que durante dois milênios a psicologia foi inseparável da
filosofia, tanto assim que não existia termo que desta a distinguisse”
(Mueller, 1978, p. xvii). O termo psicologia, de acordo com Mueller,
foi criado, no século 16, pelo professor de lógica Rodolfo Goclenius,
mas, até o século 18, foi muito pouco empregado na literatura.
O campo epistemológico da psicologia moderna remonta às
mais antigas religiões do totemismo, e o animismo às religiões
monoteístas, assim como em menor escala às concepções míticas e
filosóficas da tradição oriental e ocidental. A vastidão de suas raízes
obriga necessariamente uma delimitação. Conforme disse Paul
Masson-Oursel (apud Mueller, 1978, p. xviii), apenas a Europa
adotou a concepção de psicologia como “ciência dos fenômenos
psíquicos em paralelo às ciências da natureza”. Muller considera a
psicologia científica como uma criação da mentalidade ocidental
moderna.
A partir da segunda metade do século 19, observa-se na
Europa Central o surgimento de uma preocupação crescente com
os aspectos psicológicos em várias áreas. Na medicina, essa
tendência vai se manifestar na psiquiatria dinâmica, como já foi
visto. Na fisiologia, aparecem estudos integrando o aspecto
psicológico e o fisiológico, resultando na psicofisiologia. Na filosofia,
o movimento romântico enfatiza o aspecto psicológico do ser
humano, o liberalismo ressalta a noção de individualidade e o
positivismo, herdeiro do iluminismo, destaca a disciplina e o
racionalismo como determinantes do comportamento. Cada uma
dessas vertentes filosóficas e biológicas influencia a estruturação de
diferentes correntes psicológicas na passagem do século 19 para o
20.
Segundo Woodworth e Marquis (1965), a psicologia científica
funda-se no conhecimento e na compreensão do ser humano em
seu aspecto psicológico. Ele qualifica a psicologia como uma ciência
intermediária que focaliza a atenção nas atividades dos indivíduos.
Wertheimer (1972), por sua vez, afirma que a psicologia surgiu da
confluência de dois grandes rios – da ciência e da filosofia. Na
psicologia experimental, a margem científica era composta pela
fisiologia, biologia e abordagem atomista, com grande interesse pela
quantificação, incentivando pesquisas de laboratório e treinamento.
A margem filosófica dessa psicologia derivava do empirismo crítico,
do associacionismo e do materialismo científico.
“Até meados do século XIX a psicologia foi cultivada por
pensadores capazes que, entretanto, não compreenderam a
necessidade de trabalhar com fatos cuidadosamente observados”,
relatam Woodworth e Marquis (1965, p. 5). Por não estar afinada
com o método positivista considerado científico na época, até
meados do século 19 não era considerada ciência, mas um tipo de
saber filosófico. A adoção do método experimental aplicado aos
fenômenos estudados pela psicologia passa a lhe conferir a
qualificação de ciência. “Finalmente os psicólogos se convenceram
de que também eles precisavam seguir o caminho tomado pelos
físicos, químicos e fisiólogos e transformar a psicologia em ciência
experimental” (ibid., p. 6).
As formulações da psicologia científica se concentram em
descrever e compreender, assim como discriminar e classificar os
elementos e as características psíquicas humanas em geral. Daí
resultam extensos estudos sobre a inteligência humana, que se
desdobram em pesquisas acerca de capacidades como memória,
atenção e percepção; dos processos mentais, da associação de
ideias, dos atos reflexos; estudos sobre aprendizagem,
desenvolvimento e, principalmente, sobre as características e os
padrões de comportamento humano. Conforme Hilgard e Atkinson
(1976), antes do aparecimento da psicologia experimental havia
duas teorias da mente: a teoria das faculdades inatas (pensamento,
sentimento e vontade) e a teoria associacionista, para a qual o
conteúdo mental resultava das associações realizadas pelos
sentidos. Ambas as teorias influenciaram o desenvolvimento das
diversas correntes psicológicas posteriores no século 20.
O objetivo principal da psicologia, nessa época, está voltado
para os padrões de comportamento. O ponto focal dos estudos
psicológicos concentrava-se em torno do ser humano em geral e
comum. Aquilo que se localizava fora do espectro da normalidade
ainda não se constituía seu alvo. Os desvios em relação à média se
remetiam à medicina, não constituindo assunto da psicologia nesse
momento.
A psicologia aplicada dedica-se à educação – aprendizagem
– e ao aconselhamento. A psicoterapia tem origem na psicologia
profunda. O interesse e a necessidade de desenvolver
procedimentos terapêuticos localizam-se na psicologia médica. As
doenças nervosas, as demências e a loucura eram da alçada da
medicina, mais especificamente da neurologia e da psiquiatria. A
neurologia se ocupava das doenças nervosas; a psiquiatria, das
doenças mentais. A psicologia reconhece tais eventos como
alterações significativas de comportamento, com comprometimento
das faculdades ou capacidades cognitivas, e também da
sociabilidade, mas não se ocupa deles.
O método experimental domina em todas as áreas do
conhecimento. Assim, também a psicologia vai seguir esse
parâmetro. Objetividade, observação, comprovação empírica e
estatística são as práticas mais valorizadas pela concepção de
ciência positivista.
Gustav Fechner (1801-1887) é um nome importante nos
primórdios da psicologia experimental como ciência do
comportamento. Embora fosse oficialmente um físico, tinha muito
mais de filósofo e místico do que de cientista, e lutava contra o
materialismo de seu tempo em prol do espiritualismo. Contudo, foi
sua abordagem psicofísica que o notabilizou e influenciou outros
pesquisadores, como Wundt, que se tornou o principal nome na
psicologia, uma ciência emergente nessa época.
Wilhelm Wundt (1832-1920) tem papel importante na
psicologia experimental na segunda metade do século 19. Segundo
Wertheimer (1972), ele personificou o espírito da psicologia alemã
pós-fechneriana. Em 1875, fundou o primeiro laboratório de
pesquisa psicológica na Universidade de Leipzig. Um dos primeiros
e mais importantes experimentos do laboratório foi sobre tempo de
reação, realizado em 1888. Wundt despreza a definição de ciência
da mente ou da alma por considerá-las excessivamente metafísicas.
Sugere, então, que a psicologia seja definida como a ciência da
consciência.
Baseado nos experimentos de Wundt, Jung organiza, em
1904, o laboratório experimental de psicopatologia no Bürgholzli, e
realiza seu experimento de associação de palavras. Esse
experimento constitui a primeira pesquisa do inconsciente nos
moldes experimentais. Interessante notar que, com Wundt, a
psicologia é definida como ciência da consciência, e por meio de
seu experimento de associação Jung comprova, experimentalmente,
a hipótese do inconsciente.
Muitos dos pioneiros da psicologia europeia e norte-
americana estudaram no laboratório de Wundt, dentre os quais se
destacam: G. Stanley Hall, Cattell, Titchener, Emil Kraepelin, William
James, entre outros.
A psicologia norte-americana é fortemente influenciada e
apoiada nos princípios de Wundt, por intermédio de William James
(1842-1910), que se torna o pioneiro da ciência do comportamento
na América do Norte. Crítico de Wundt, James prioriza a observação
como método para compreender o funcionamento da consciência,
sendo considerado o fundador do funcionalismo (Davidoff, 2001).
Stanley Hall (1844-1924), o primeiro doutor em psicologia nos
Estados Unidos (Marx e Hillix, 1974), é outro grande nome no
panorama norte-americano. Foi o fundador do American Journal of
Psychology e da Associação Psicológica Americana, ambos órgãos
importantes de pesquisa, estudo e divulgação da psicologia até
hoje. Em 1909, como diretor da Clark University, ele convida Freud,
Jung e Ferenczi para uma série de conferências na universidade
que dirige. Notabilizado por suas pesquisas sobre associação de
palavras, Jung apresenta seus estudos sobre complexos.
Reconhecido por seus estudos sobre histeria e sonhos, Freud
apresenta sua teoria sobre histeria e o método psicanalítico. Esse
evento marca a entrada da psicologia do inconsciente na América
do Norte. A psicanálise e a psicologia analítica têm grande
repercussão na psicologia norte-americana, até então fortemente
influenciada pela psicologia experimental.
Embora a psicologia do inconsciente provoque grande
impacto no início do século 20, em toda essa área, e exerça forte
influência no desenvolvimento posterior de diversas tendências e
abordagens psicológicas, sua aceitação como científica ainda vai
demandar muito tempo no panorama mais amplo da psicologia.
Alguns autores são ambivalentes em relação à proposta da
psicologia profunda: por um lado, sentem-se atraídos pela inovação
apresentada, mas, por outro, são cautelosos quanto à sua
credibilidade científica.
Thorpe afirma que:
A psicologia clínica é uma forma de psicologia aplicada que tenta definir
capacidades e características de um indivíduo pelo uso de vários métodos de
medida, análise e observação, e que, baseando--se numa integração desses
aspectos com dados seguros de exame físico e história social, faz recomendações
para o reajustamento do indivíduo. (1950, p. 22)
Freud possui méritos singulares que só podem ser postos em dúvida por aqueles
que se deram ao trabalho de analisar experimentalmente o curso de suas ideias.
Quando eu falo em “mérito”, não quero dizer que subscrevo incondicionalmente
todos os teoremas de Freud. Mas um de seus méritos – e não menores – foi o de
levantar problemas geniais. (vol. 4; 2)
Longe estou de acreditar que com este trabalho tenha conseguido um resultado
definitivo ou cientificamente satisfatório. (...) Espero que meu trabalho ajude à
ciência encontrar caminhos que a levem a compreender e assimilar sempre mais a
psicologia do inconsciente. (vol. 1; 150)
Em 1949, ele ressalta a inevitabilidade de os sistemas
teóricos serem hipóteses que se constroem necessariamente na
intersecção do temperamento subjetivo de seu autor e dos dados
objetivos, sendo, portanto, a validade e a fidedignidade científicas
fruto da cooperação entre vários pontos de vista: “Este fator é da
maior importância em psicologia, pois a ‘equação pessoal’ dá cores
ao modo de ver. A verdade última, se é que existe tal coisa, exige
um concerto de muitas vozes” ([1949]1989, p. xiv).
Em 1950, é possível constatar que sua atitude se mantém
quanto ao papel do cientista em relação à transitoriedade da
verdade e à importância da comunicação das pesquisas para a
continuidade do processo de acumulação de conhecimento.
Estou plenamente consciente de que este trabalho está longe de ser completo,
constituindo apenas um esboço (...) não há dúvida de que qualquer pesquisador
deve documentar, tanto quanto possível, os resultados a que chegou e suas
opiniões; mas pode aventurar-se ocasionalmente a emitir alguma hipótese, mesmo
com o risco de errar. Afinal de contas, são os erros que nos proporcionam os
fundamentos da verdade (...). (vol. 9/2; 429)
Quem houver penetrado mais fundo na essência da psicologia e exigido que seja
considerada ciência, sem depender, em sua existência, dos limites impostos pela
metodologia das ciências naturais, terá percebido que jamais haverá um “método
experimental” que satisfaça à essência da alma humana ou que trace uma imagem
bastante fiel dos complicados fenômenos anímicos. (vol. 6; 741)
Contudo, achava que Freud apenas poderia ser refutado por alguém que tivesse
utilizado amplamente o método psicanalítico e realmente houvesse investigado
como Freud investiga, isto é, empreendendo uma longa e minuciosa análise da vida
diária, da histeria e do sonho a partir de seu ponto de vista. Quem não procede
assim ou não pode proceder assim, também não pode julgar Freud, pois se
comporta como os famosos cientistas que por desprezo se recusaram a olhar pelo
telescópio de Galileu. (vol. 3, p. xiii)
O inconsciente mitológico
Divergências com a psicanálise (1909-1913): método associativo e
comparativo
Principais obras desse período:
Transformações e símbolos da libido (vol. B, 1912)
Conferências na Fordham University (vol. 4, 1912)
Novos rumos na psicologia (vol. 7, 1912)
O senhor reduziu uma boa quantidade de resistência com suas modificações, mas
não o aconselharia a contar isso como crédito, porque, como sabe, quanto mais a
gente se afasta do que é novo na psicanálise mais certeza se tem do aplauso e
menos resistência se encontra. (Ibid., p. 523)
Como ambas as teorias [Freud e Adler] são amplamente certas e, ao que parece,
explicam a matéria, é óbvio que a neurose deve ter dois aspectos contraditórios, um
dos quais é apreendido pela teoria de Freud, e o outro, pela teoria de Adler. Como é
que um cientista só vê um lado e um outro só o outro? Por que cada um pensa que
a sua posição é a única válida? (vol. 7; 57) (...) essa disparidade não pode ser outra
coisa senão uma diferença de temperamento, (60) (...) observando o dilema, eu me
pergunto: será que existem pelo menos dois tipos diferentes de pessoas, um dos
quais se interessa mais pelo objeto e o outro por si-mesmo? (61) (...) essa questão
constituiu minha grande preocupação durante muito tempo. Finalmente,
fundamentado em muitas observações e experiências, cheguei a apresentar dois
tipos básicos de atitude, ou seja, a introversão e a extroversão. (62)
Fui muito combatido pela crítica por causa da ideia de arquétipo. Não hesito em
concordar que a ideia é controversa e causa perplexidade. Mas sempre tive
curiosidade de saber que conceitos os meus críticos teriam para exprimir o material
experimental em questão. (vol. 7; 118)
A psicologia não pode provar quaisquer verdades metafísicas nem tenta fazer isso.
Interessa-se apenas pela fenomenologia da psique. (vol. 18; 742)
Meu ponto de vista é exclusivamente fenomenológico, ou seja, interessa-se por
ocorrências, eventos, experiências – em uma palavra, por fatos. (vol. 11; 4)
Considero o exercício da ciência não como uma disputa sobre quem está com a
razão, mas como um trabalho que visa aumentar e aprofundar o reconhecimento.
Àqueles que assim pensam sobre ciência destina-se este trabalho. (vol. 5; 685)
E como ele [Deus] quer tornar-se homem, é no homem que deve realizar-se a união
de suas antinomias. Isto constitui uma nova responsabilidade para o homem. Este
não pode mais se escusar, apelando para sua pequenez e nulidade, pois o deus
tenebroso colocou-lhe nas mãos a bomba atômica e o material para uma guerra
química, dando-lhe assim o poder de despejar a taça da ira apocalíptica sobre seus
semelhantes. Como lhe foi posto na mão um poder por assim dizer divino, ele não
pode mais continuar cego e inconsciente. Deve conhecer a natureza de Deus e o
que se passa no interior da metafísica, a fim de compreender-se a si mesmo,
chegando deste modo ao conhecimento de Deus. (vol. 11; 474)
Perspectiva ontológica
Originalmente, o termo ontológico refere-se ao “ser” em geral,
e o termo ontologia designa o estudo do ser. De acordo com a
noção de paradigma de Denzin e Lincoln (1998), a perspectiva
ontológica de um paradigma levanta questões básicas sobre a
natureza da realidade. Por perspectiva ontológica de um paradigma
entende-se, neste estudo, as concepções básicas relativas à
realidade, incluindo o ser humano e o mundo como um todo
integrado, no qual ele está inescapavelmente inserido. A perspectiva
ontológica do paradigma junguiano compreende, então, as
concepções de mundo; de ser humano e psique; de realidade
psíquica e de dimensão simbólica, além da noção de inconsciente.
A psicologia de C. G. Jung é, antes de tudo, uma psicologia
do inconsciente. O inconsciente é, portanto, um postulado de
natureza ontológica na psicologia analítica, por estar na base da
concepção de realidade psíquica e de ser humano. A epistemologia
desse paradigma se desenvolve com a meta principal do
conhecimento do inconsciente. A perspectiva ontológica da
psicologia analítica, de acordo com Jung, traduz-se pela
Weltanshauung (cosmovisão), definida por ele como “uma atitude
expressa em conceitos” (vol. 8).
Ter uma cosmovisão significa formar uma imagem do mundo e de si mesmo, saber
o que é o mundo e quem sou eu. Tomado ao pé da letra, isto seria exigir demais.
Ninguém pode saber o que é o mundo, nem tampouco quem é ele próprio. Mas cun
grano salis, isto significa o melhor conhecimento possível. (vol. 8; 698)
Concepção de mundo
Tanto o mundo como o ser humano são considerados em
termos de totalidade. O termo unus mundus (mundo uno ou unitário)
aparece, na obra de Jung, como um paralelo metafísico de seu
conceito de totalidade e tem alguns propósitos em sua ontologia. O
primeiro deles é buscar uma analogia para facilitar a compreensão
da ideia de totalidade. O segundo pretende ressaltar que cada
aspecto da existência “está intimamente ligado a todos os outros
estratos” (Samuels, Shorter e Plaut, 1988). A terceira função, da
associação da totalidade com o unus mundus, da filosofia medieval,
tem relação direta com a visão não causal de sua epistemologia,
pois o unus mundus é uma cosmovisão que não se encerra na
explicação das causas, mas ressalta sobretudo as relações. O unus
mundus abarca a totalidade cósmica na qual o ser humano está
inserido.
Outro paralelo traçado por Jung para esclarecer o significado
da noção de totalidade é o simbolismo das figuras mandálicas: “Se o
simbolismo da mandala é o correlato psicológico ao unus mundus
dos alquimistas, então a sincronicidade descrita por Jung é seu
correlato parapsicológico” (Wehr, 1988, p. 402).
A totalidade para Jung tem conotação tanto de campo como
de sistema de relações. Como campo, tem caráter “todo
abrangente”, incluindo, na concepção psicológica de ser humano, o
consciente e o inconsciente; a psique e o corpo. O mundo é
considerado em seus aspectos subjacente e manifesto (inconsciente
e consciente). Como sistema de relações, a totalidade implica
relações multivetoriais, em que as partes do todo interagem e se
entrelaçam em processos de diferenciação e integração constantes,
rumo a uma complexidade crescente. Essa dinâmica abarca
relações causais e não causais, isto é, relações contidas na
dimensão espaçotemporal e relações fundadas na dimensão
simbólica de caráter acausal, que se estabelecem por associação
de significado (sincronicidade).
A concepção de mundo na psicologia junguiana, alicerçada
na visão romântica de mundo manifesto e mundo subjacente, e
influenciada pela perspectiva kantiana do ser-em-si e o ser
fenomenológico, pretende buscar as possibilidades de integração
entre esses dois níveis. Em toda psicologia junguiana, a tentativa de
integração dos opostos está presente. Embora o modelo junguiano
tenha sido tradicionalmente classificado como idealista, por sua forte
associação ao pensamento kantiano e romântico, a forma como
Jung considera o mundo material e o mundo espiritual segue na
direção de superar o impasse kantiano. A perspectiva simbólica é a
ponte epistemológica entre os dois mundos (material e imaterial).
Mesmo que Jung tenha se posicionado frontalmente contra o
materialismo, ele jamais negou a importância e a função do aspecto
material na vida psíquica. Sua crítica ao materialismo racional
estende-se igualmente à metafísica transcendental idealista. Ao
discutir a noção de realidade psíquica no paradigma junguiano, mais
adiante, as polaridades idealista e materialista serão novamente
abordadas.
O termo mundo na psicologia junguiana adquire uma
acepção ampla que, dependendo do contexto, pode ser substituído
por realidade, ambiente ou dimensão. Por mundo, entende-se, de
um lado, o ambiente imediato em torno do indivíduo como realidade
fenomenológica vivenciada, estendendo-se no tempo e no espaço
até incluir a história e a cultura em que o indivíduo está inserido;
nesse sentido, o ambiente sócio-histórico-cultural é designado por
Jung de consciência coletiva. Por outro lado, mundo refere-se
também ao inconsciente como ambiente interno ou dimensão
extraconsciente, incluindo o mundo das imagens, da imaginação e
dos sonhos na esfera pessoal, e o mundo arquetípico na esfera
coletiva.
De acordo com Samuels, Shorter e Plaut (1988), mundo
interno e mundo externo, psicologicamente, não se distinguem, uma
vez que ambos na experiência psicológica são vividos no nível
simbólico. No entanto, a objetividade e a concretude do mundo
externo não se confundem com a subjetividade e a imaterialidade do
mundo interno. Ambas as esferas convivem na concepção de
mundo junguiana de modo complementar, sem se anularem
mutuamente.
O homem não nasceu tábula rasa, apenas nasceu inconsciente. Traz consigo
sistemas organizados e que estão prontos a funcionar numa forma especificamente
humana. (...) denominei este modelo instintivo, congênito e preexistente (...) de
arquétipo. Esta é a imagem, carregada com o dinamismo, que não podemos atribuir
a um ser humano individual. (vol. 4; 728-729)
Realidade psíquica
Ideia e coisa confluem na psique humana que mantém o equilíbrio entre elas. Afinal
o que seria da ideia se a psique não lhe concedesse um valor vivo? E o que seria
da coisa objetiva se a psique lhe tirasse a força determinante da impressão
sensível? O que é a realidade se não for uma realidade em nós, um esse in anima?
(vol. 6; 73)
Psique e alma
Em algum lugar a alma é corpo vivo, e corpo vivo é matéria animada; de alguma
forma e em algum lugar existe uma irreconhecível unidade de psique e corpo que
precisaria ser pesquisada psíquica e fisicamente, isto é, tal unidade deveria ser
considerada pelo pesquisador como dependente tanto do corpo como da psique.
(vol. 6; 1031)
Assim como a experiência diária nos autoriza a falar de uma personalidade externa,
também nos autoriza a aceitar a existência de uma personalidade interna. (...)
denomino persona a atitude externa, o caráter externo; e a atitude interna denomino
alma, anima. (vol. 6; 758)
O inconsciente coletivo é uma parte da psique que pode ser negativamente distinta
do inconsciente pessoal pelo fato de que ela não deve sua existência à experiência
pessoal, como este último e, consequentemente, não é uma aquisição pessoal. (vol.
9; 88)
Dimensão simbólica
O caráter simbólico atribuído ao ser humano por Jung está
presente também na concepção de ser e mundo de Ernst Cassirer
(1874-1945). Sua perspectiva simbólica pode ser considerada a
contrapartida filosófica da psicologia de Jung (Clarke, 1993). A
filosofia das formas simbólicas de Cassirer parte do pressuposto de
que, se existe alguma definição da natureza ou essência do homem,
esta só pode ser compreendida como funcional e não substancial. A
marca distintiva do ser humano é sua produção e sua criatividade
incomparáveis. As manifestações humanas expressam a natureza
simbólica do humano. O filósofo e antropólogo alemão,
contemporâneo de Jung, Ernst Cassirer define o ser humano como
“animal symbolicum” que vive num “universo simbólico” – uma nova
dimensão de realidade –, a dimensão simbólica. Ele considera o ser
humano um ser essencialmente simbólico, que, “não estando mais
num universo meramente físico, (...) vive em um universo simbólico”
([1944]1997), p. 48).
Para Jung, como também para Cassirer, o mundo da
experiência humana compartilhada não é um mundo que guarda
verdades à espera de serem descobertas ou mesmo
compreendidas, posto que a realidade é permeada pela dimensão
simbólica e, como tal, pode ser conhecida (Clarke, 1993). A
dimensão simbólica, na psicologia analítica, é a própria realidade
psíquica, pois “tudo aquilo que tocamos ou com que entramos em
contato transforma-se imediatamente em conteúdo psíquico, de
modo que somos isolados por um mundo de imagens psíquicas”
(Jung, Letters 1, 1991, p. 255). Por um lado, o limite do
conhecimento se situa na psique e não no sensível e, por outro lado,
o limite não está estritamente no individual, pois o aspecto
arquetípico coletivo e simbólico da psique torna o mundo
compartilhado por todos os membros da espécie humana. Dessa
forma, não se pode, a rigor, falar em isolamento em mundos
privados individuais, uma vez que o estrato coletivo da psique
proporciona um certo nível de partilha no âmbito coletivo, do
inconsciente e da cultura.
Clarke, ao discutir as denominações tradicionais para as
escolas filosóficas de “idealista” ou “materialista”, pondera que é
possível “perguntar se o mundo fora desse contexto simbólico é
‘realmente’ matéria ou ‘realmente’ espírito” (1993, p. 56). Entretanto,
essas especulações, para Jung, são consideradas totalmente
infrutíferas, uma vez que o mundo e o ser humano são abordados,
em sua psicologia, na perspectiva psicológica que integra espírito e
matéria.
A concepção de mundo e de ser humano da psicologia
analítica é de um ser simbólico que vive numa dimensão simbólica.
Tal dimensão abarca os aspectos biológicos, ambientais, culturais
(sócio-históricos) e psicológicos do ser humano. A concepção do ser
humano como ser simbólico e do mundo humano como a dimensão
simbólica em que este está psicologicamente inserido define a
própria dimensão psicológica do paradigma junguiano. A realidade
psíquica postulada por Jung traduz-se nessa dimensão psicológica
de caráter fundamentalmente simbólico. O valor epistemológico e
metodológico do conceito de símbolo tem alta relevância na
compreensão do paradigma como um todo. A dimensão psíquica
como uma dimensão simbólica integra e sintetiza aspectos coletivos
e individuais do ser humano. “A natureza simbólica do ser humano
já se encontra entre as relíquias do homem pré-histórico” (vol. 6;
449).
Perspectiva epistemológica
Por epistemologia entende-se o estudo crítico dos princípios,
hipóteses e resultados de diversas ciências (Lalande, 1938). Nesse
sentido, é estreita a correlação entre epistemologia, filosofia da
ciência e teoria do conhecimento. De modo geral, a epistemologia
refere-se ao estudo dos fundamentos, origem, natureza, valor e
limites do conhecimento no âmbito de um modelo científico ou
filosófico. A questão epistemológica está intimamente relacionada
às concepções ontológicas do paradigma e mantém ainda estreita
conexão com a proposta metodológica, sendo, às vezes, difícil
distinguir seus limites, exceto pelo aspecto da aplicação dos
pressupostos epistemológicos à prática, esses mais ligados à
metodologia.
Segundo Japiassu metodologia e epistemologia estão
intimamente relacionadas, pois “a metodologia não tem um fim em si
mesma, ela é apenas um meio para se atingir determinado fim”
(1975, p. 22).
A perspectiva epistemológica de um paradigma, segundo
Denzin e Lincoln (1998), discute questões relativas ao valor e aos
limites do conhecimento. De acordo com as considerações atuais
sobre método, este está em associação direta com a epistemologia,
pois, de outra forma, torna-se estéril. A epistemologia pergunta
como o mundo é conhecido e qual é a relação entre o conhecedor e
o conhecido. O processo de produção de conhecimento decorre
diretamente da concepção de mundo assumida pelo paradigma e
encaminha o método de investigá-lo.
No paradigma junguiano, epistemologia e método estão de tal
modo intrincados que é muito difícil discuti-los separadamente. No
entanto, vale a pena tentar, mesmo que se incorra no risco de ser
repetitivo e/ou redutivo. “Jung, embora metafisicamente mais flexível
do que Freud, era epistemologicamente mais exigente; durante toda
sua vida afirmou repetidamente os limites epistemológicos
fundamentais de suas próprias teorias” (Tarnas, 2001, p. 413).
Em sua obra, Jung discute, extensa e detalhadamente, as
premissas epistemológicas da psicologia analítica. Demonstra preo-
cupação com as especificidades da psicologia como uma ciência
nova e as particularidades de seu objeto de estudo, sobretudo
quanto à necessidade de clareza e precisão conceitual.
Sobre conhecimento
O termo ego refere-se ao eu consciente. Ou seja, diz respeito a tudo que sabemos
sobre nós mesmos; tudo aquilo que consideramos como sendo “eu”. Longe de se
tratar de algo simples, é algo altamente complexo. Entrelaçado com as
possibilidades arquetípicas do inconsciente coletivo e as vivências pessoais
existenciais oriundas do ambiente externo, o ego forma-se, constela-se e funciona”.
(Penna, 1998b)
Por símbolo não entendo uma alegoria ou um mero sinal, mas uma imagem que
descreve da melhor maneira possível a natureza, obscuramente pressentida, de
algo (...) a imagem de um conteúdo em sua maior parte transcendental ao
consciente. (vol. 8; 644)
Não pode haver formação do símbolo, sem que a alma se detenha, por um tempo
bastante prolongado, nos fatos elementares, isto é: até que a necessidade interior
ou exterior do processo vital produza uma transformação na energia. Se o homem
vivesse de modo meramente instintivo e automático, as transformações poderiam
dar-se segundo as leis meramente biológicas. (vol. 8; 47)
No trabalho prático com nossos pacientes topamos, a cada passo, com formações
de símbolos cujo objetivo é a transformação da libido. (vol. 8; 93)
A humanidade se libertou destes temores pelo processo contínuo de formação de
símbolos que leva o homem à cultura. (vol. 8; 95)
O símbolo pressupõe uma função que cria símbolos, e além desta, uma função que
os compreende. Esta última função não participa da criação do símbolo, é uma
função por si mesma, que pode se chamar pensamento simbólico ou entendimento
simbólico. (vol. 6; 171)
Por isso, não se pode falar de causa e efeito, mas de uma coincidência no tempo,
uma espécie de contemporaneidade. Por causa do caráter desta simultaneidade,
escolhi o termo sincronicidade para designar um fator hipotético de explicação
equivalente à causalidade. (vol. 8; 840)
Perspectiva metodológica
A perspectiva metodológica de um paradigma concentra-se
no modo como o conhecimento pode ser adquirido e nos meios
pelos quais as premissas epistemológicas propostas pelo paradigma
podem ser concretizadas na forma de produção de conhecimento
novo e significativo.
Por método, entende-se o modo de produção de
conhecimento; como buscar conhecimento; o caminho a ser seguido
para aquisição de conhecimento. Desse ponto de vista, método
relaciona-se à forma de buscar o conhecimento.
Em psicologia, o método é o meio através do qual se cumpre
a meta da compreensão psicológica do ser humano em sua relação
com o mundo. Os diferentes enquadres teóricos da psicologia, de
acordo com suas concepções ontológicas e premissas
epistemológicas, formulam métodos para acessar um conhecimento
de caráter primordialmente compreensivo, interpretativo e
significativo. Considerando-se o caráter compreensivo do
conhecimento, o método deve ser abordado em dois aspectos,
quais sejam: modos e meios de apreensão do fenômeno a ser
conhecido e formas de compreensão do fenômeno investigado.
Pela análise da construção de seu método e da formulação
de seus conceitos teóricos, fica sempre evidente a preocupação de
Jung em se definir como cientista e abordar a psicologia do
inconsciente do ponto de vista científico. Está claro, para Jung, que
o objeto de estudo da psicologia do inconsciente é muito distinto do
objeto das ciências naturais e exatas; ele é ciente também, de que
tal diferença acarreta particularidades tanto na epistemologia como
no método da psicologia analítica, como foi observado na
construção de seu método e na discussão das perspectivas
ontológica e epistemológica do paradigma junguiano.
Percebe-se, igualmente, que ao distinguir a psicologia
analítica das ciências tradicionais, devido à impossibilidade de
adequar seu método aos mesmos padrões de cientificidade, Jung
viu-se obrigado, muitas vezes, a localizar sua área de pesquisa fora
da ciência, principalmente no que se refere à psicoterapia. “Mas a
ciência termina nas fronteiras da lógica, o que não ocorre com a
natureza, que também floresce onde teoria alguma jamais penetrou”
(vol. 16; 524).
Observa-se, nesse sentido, uma certa ambivalência quanto à
cientificidade que ele pretende alcançar com seu trabalho, quando,
por vezes, denomina a psicoterapia mais como arte do que como
ciência. Percebe-se, contudo, também seus esforços para formular
um modelo científico, assentado em bases distintas da
epistemologia e da metodologia científicas dominantes.
O objeto de investigação da psicologia analítica se define
como a psique humana em suas relações com a vida. Para Jung, o
fato de ser a psique tanto sujeito como objeto do conhecimento
distingue a psicologia de outras ciências e, necessariamente, requer
um método que considere essa particularidade.
A compreensão da psique inconsciente é o desafio inicial e o
alvo principal da psicologia junguiana. O interesse pelo inconsciente
ocupava o primeiro plano dos estudos de Jung. A questão básica
que motivou sua investigação desde o início de sua atividade
profissional era: “o que se passa no espírito do doente mental?”
([1961]1981, p. 108).
A consciência tinha sido alvo de investigações psicológicas
extensas durante o século 19, sobretudo pela psicologia
experimental; o inconsciente, entretanto, carecia de estudo e
pesquisa. Em 1902, com o estudo sobre a psicopatologia dos
fenômenos ocultos (vol. 1), o objetivo do trabalho de Jung é poder
ajudar “a ciência a encontrar caminhos que a levem a compreender
e assimilar sempre mais a psicologia do inconsciente” (vol. 1; 150).
Em 1912, ele conclui sobre a inadequação do método experimental
para a investigação psicológica do inconsciente: “Quem quiser
conhecer a psique humana infelizmente pouco receberá da
psicologia experimental” (vol. 7, p. 112).
O inconsciente, para Jung, estava relacionado,
primeiramente, à espiritualidade e à transcendência da religião;
depois, ao mundo anímico subjacente dos românticos; ao mundo
transcendente intuitivo de Goethe; à realidade imaterial das
categorias a priori do ser-em-si de Kant; em seguida, ao mundo dos
sonhos e das fantasias (inconsciente) de Von Hartmann e
Shopenhauer. O mundo do inconsciente estava associado a suas
vivências pessoais internas, que lhe causavam estranheza, medo e
fascínio, e aos fenômenos paranormais do espiritismo.
Na psiquiatria, Jung buscava encontrar respostas para os
problemas dos doentes mentais. As premissas da psiquiatria
dinâmica se adequavam aos pressupostos filosóficos que
compartilhava. Em seus primeiros trabalhos sobre fenômenos
ocultos, demência precoce e associação de palavras, sua meta é a
investigação do inconsciente à luz da ciência empírica experimental.
A psicanálise de Freud congregava seu interesse sobre o
inconsciente aplicado ao tratamento da doença mental; além disso,
acenava com a possibilidade de um método de investigação mais
adequado do que o empirismo experimental.
Seu método não se limita à pesquisa exclusiva do
inconsciente, pois esse só é passível de conhecimento por
intermédio da consciência, portanto, seus estudos e suas pesquisas
abrangem as duas esferas. O inconsciente é uma dimensão
psíquica extraconsciente, não acessível ao conhecimento por meios
diretos. Assim, a possibilidade de acessar os elementos
inconscientes repousa na hipótese de que estes se expressam na
realidade manifesta. O modo como a realidade inconsciente se
expressa e se dá a conhecer é o desafio epistemológico a que Jung
vai se dedicar na elaboração do modelo teórico da psicologia
analítica.
Apreensão do símbolo
Sobre observação
A apreensão do fenômeno psíquico na psicologia analítica se
dá basicamente pela observação. Da mesma forma que o
conhecimento não se distingue do autoconhecimento na
epistemologia junguiana, a observação também não dispensa a
auto-observação em seu método.
Jung demonstrou aguçada sensibilidade para detectar sinais,
em si mesmo e nos pacientes, de evidências de conteúdos
inconscientes emergentes na consciência, e fez uso dos
conhecimentos de outras áreas de conhecimento para ampliar as
formas de apreensão das manifestações simbólicas da psique
humana.
A observação tem papel relevante em sua finalidade básica:
promover condições minimamente adequadas para que se tenha
acesso aos fenômenos psíquicos e o conhecimento seja viabilizado.
Pode-se resumir a observação como o meio através do qual é
possível captar o material inconsciente que se apresenta à
consciência para a ela ser integrado. De acordo com a concepção
ontológica de totalidade dinâmica e os pressupostos
epistemológicos sobre as relações dialéticas entre as esferas
consciente e inconsciente da psique, do ponto de vista
metodológico, a observação é compreendida como um processo
dinâmico entre sistemas (observador e observado).
Pieri (2002, Cap. 1) distingue dois tipos de observação: a
observação “natural” e a “experimental”, ambas constituídas por um
sistema observante e um sistema observado. As relações de
“indeterminação” da física quântica – ação recíproca entre os dois
sistemas (observador e observado) – apontam para uma distinção
flexível e dinâmica entre as partes envolvidas no processo de
observação. Segundo esse autor, o sistema observado não é
apenas perturbado pelo sistema observante, é também produto
deste. A observação, portanto, é fruto de um interesse, uma questão
ou um problema colocado pelo observador – o pesquisador –; e a
teoria (ontologia e epistemologia) interfere na investigação. Essa
posição coincide com as concepções atuais de método científico.
Jung discute extensamente essa questão e sua visão se
assemelha bastante às premissas da física e da filosofia da ciência
contemporâneas.
O processo de observação na psicologia analítica se define
por suas características:
1. relativa às particularidades do objeto de investigação – a
psique consciente e inconsciente;
2. relativa à equação psíquica (pessoal) do sistema
observador;
3. relativa à dinâmica entre o sistema observado e o sistema
observador.
As implicações discutidas quanto à relação epistemológica eu
—outro (sujeito—objeto) estão diretamente relacionadas à questão
metodológica da observação, embora não se trate exatamente do
mesmo tipo de relação.
A relação que se estabelece entre o sistema observante e o
sistema observado vai além da relação sujeito—objeto (eu—outro).
Entre os dois sistemas, pode se interpor um instrumento (relato,
foto, filme, teste psicológico, técnica expressiva) como equipamento
técnico favorecedor e facilitador da observação do símbolo. A
equação pessoal de ambos os sistemas também se interpõe, tanto
na emissão da imagem a ser observada como na sua captação. O
campo de observação psicológica é um campo simbólico, que
preenche de significados o processo de observação.
O ideal e o objetivo da ciência não consistem em dar uma descrição, a mais exata
possível, dos fatos – a ciência não pode competir com a câmera fotográfica ou com
o gravador de som – mas em estabelecer a lei que nada mais é do que a expressão
abreviada de processos múltiplos que, no entanto, mantêm certa unidade. Este
objetivo se sobrepõe, por intermédio da concepção, ao puramente empírico, mas
será sempre, apesar de sua validade geral e comprovada, um produto da
constelação psicológica subjetiva do pesquisador. Na elaboração de teorias e
conceitos científicos há muita coisa de sorte pessoal. (vol. 6; 8)
Por isto é que a teoria psicológica expressa, antes e acima de tudo, uma situação
psíquica criada pelo diálogo entre um determinado observador e certo número de
indivíduos observados. Como o diálogo se trava, em grande parte, no plano das
resistências dos complexos, a teoria traz necessariamente a marca específica dos
complexos: ela é chocante, no sentido mais geral da palavra, porque atua, por sua
vez, sobre os complexos do público. Por isto, todas as concepções da psicologia
moderna são, não apenas controversas, mas provocantes. Causam no público
reações violentas de adesão ou de repulsa, e, no domínio da discussão científica,
provocam debates emocionais. (vol. 8; 214)
Quero chamar a atenção para o fato de que não é seguro interpretar um sonho sem
percorrer todos os detalhes de seu contexto, com todo cuidado possível. Nunca
aplique nenhuma teoria, mas pergunte sempre ao paciente como ele se sente em
relação às imagens que produz. (vol. 18; 271)
(...) a psicologia em si apresenta dificuldades suficientes quando se trata da
questão de como interpretar os sonhos de outra pessoa ou, em outras palavras, de
como entender símbolos. Nesse empreendimento somos dificultados por nossa
tendência quase insuperável de preencher com projeções as lacunas
inevitavelmente presentes em nossa compreensão: pela suposição de que nossos
pensamentos são também os do nosso interlocutor. Essa fonte de erro é possível
eliminá-la com o meu método de averiguar o contexto das imagens oníricas e de
renunciar a pressupostos teóricos (com exceção da hipótese heurística de que os
sonhos têm algum sentido). (vol. 8; 471)
A psicologia é a única ciência que precisa levar em conta o fator “valor” (isto é, o
sentimento), pois é ele o elemento de ligação entre ocorrências físicas e a vida. Por
isso acusam-na tanto de não ser científica; seus críticos não compreenderam a
necessidade prática e científica de se dar ao sentimento a devida atenção. (Jung,
[1964]1977, p. 99)
Compreensão do fenômeno/símbolo
Quanto à compreensão do fenômeno, a leitura simbólica será
aplicada ao material com o objetivo de elaborar o símbolo e traduzi-
lo para a consciência. Será buscada a melhor forma de
compreender os fenômenos investigados.
A compreensão do fenômeno psíquico diz respeito à
interpretação e à elaboração dos símbolos observados (captados),
tendo por objetivo traduzir os fatos em termos psicológicos e
compreendê-los de tal forma que o material desconhecido
(inconsciente) possa ser integrado à consciência, promovendo sua
ampliação. Esse é o processo de produção e acumulação de
conhecimento (criação e ampliação da consciência) na psicologia
analítica, pois “chamamos tudo que não conhecemos de
inconsciente” (vol. 18; 248).
A perspectiva simbólica da realidade e do ser humano é o
ponto de vista desde o qual a compreensão do fenômeno psíquico
se realiza. A visão simbólica dos fenômenos considera o fenômeno
psíquico como uma expressão da conjunção entre o arquétipo e a
experiência existencial.
O símbolo pressupõe uma função que cria símbolos, e além desta uma função que
os compreende. Esta última função não participa da criação do símbolo, é uma
função por si mesma, que pode se chamar pensamento simbólico ou entendimento
simbólico. (vol. 6; 171)
Para que serve este sonho? Que significado tem e o que deve operar? Estas
questões não são arbitrárias, porquanto podem ser aplicadas a qualquer atividade
psíquica. Em qualquer circunstância, é possível perguntar-se “por quê?” e “para
quê?”, pois toda estrutura orgânica é constituída de um complexo sistema de
funções com finalidade bem definida e cada uma delas pode decompor-se numa
série de fatos individuais, orientados para uma finalidade precisa. (vol. 8; 462)
Meu modo de proceder não difere daquele usado para decifrar um texto difícil de
ler. O resultado obtido com este método nem sempre é um texto imediatamente
compreensível, mas muitas vezes não passa de uma primeira, mas preciosa
indicação que comporta numerosas possibilidades. (vol. 8; 542)
A maneira pela qual o sonhador lida com os objetos dessa experiência interior não
pode ser caracterizada senão como um verdadeiro trabalho, devido ao modo exato,
cuidadoso e consciencioso mediante o qual o sonhador colige e elabora o conteúdo
que abre passagem do inconsciente para o consciente. (vol. 12; 219)
(...) eu aproveitava uma imagem onírica ou uma associação do paciente para lhe
dar como tarefa elaborar ou desenvolver estas imagens, deixando a fantasia
trabalhar livremente (...). Em muitos casos, isto produzia um efeito terapêutico
notável, encorajava tanto a mim como o paciente a prosseguir no tratamento,
malgrado a natureza incompreensível dos conteúdos trazidos à luz do dia. Tive
necessidade de insistir em seu caráter incompreensível, para evitar que eu próprio,
baseado em certos pressupostos teóricos, recorresse a interpretações das quais eu
tinha consciência não só de que eram inadequadas, mas podiam levar a prejulgar
as produções ingênuas do paciente (...). Eu me via obrigado a tentar oferecer, na
medida do possível, interpretações pelo menos provisórias, entremeando-as com
muitos “talvez”, “se” e “mas”, sem jamais passar além dos limites da configuração
que se apresentava diante de mim. Eu me preocupava sempre em fazer com que a
interpretação desembocasse em uma questão cuja resposta fosse deixada à livre
atividade da fantasia do paciente. (vol. 8; 400)
Por sobre todo o processo parece que paira uma precognição obscura, não só
daquilo que vai tomando forma, mas também de sua significação. A imagem e a
significação são idênticas, e à medida que a primeira assume contornos definidos, a
segunda se torna mais clara. A forma assim adquirida, a rigor, não precisa de
interpretação, pois ela própria descreve o seu sentido. Assim, existem casos em
que posso simplesmente renunciar à interpretação como exigência terapêutica. (vol.
8; 402)
(...) eu aproveitava uma imagem onírica ou uma associação do paciente para lhe
dar como tarefa elaborar ou desenvolver estas imagens, deixando a fantasia
trabalhar livremente. De conformidade com o gosto ou os dotes pessoais, cada um
poderia fazê-lo de forma dramática, dialética, visual, acústica, ou em forma de
dança, de pintura, de desenho ou de modelagem. (vol. 8; 400)
Perspectiva simbólico-arquetípica
A visão arquetípica faz parte da perspectiva simbólica da
psicologia analítica, pela própria definição de símbolo. Entretanto,
vale enfatizar o ponto de vista arquetípico do método junguiano,
uma vez que o plano arquetípico amplia sobremaneira os horizontes
de possibilidades da investigação psicológica, configurando um
método de abordagem dos fenômenos psíquicos que pode ser
chamado de simbólico-arquetípico.
A perspectiva arquetípica é uma característica distintiva da
psicologia analítica e tem implicações substanciais no método de
Jung. “A perspectiva arquetípica liberta-nos da limitação de
considerar como única a perspectiva do ego. O plano arquetípico é
inerentemente pluralista, politeísta e, desta forma, inevitavelmente
critica a dominação da psique pelo ego” (Downing, 1994, p. 16).
Mais do que uma mudança de eixo do ego para o si-mesmo
(Self), a perspectiva arquetípica amplia os limites da dimensão
psicológica para além do indivíduo e sua subjetividade pessoal. A
psique coletiva (inconsciente coletivo e arquétipos) é denominada
por Jung “psique objetiva”, por seu caráter impessoal. A objetividade
desses elementos se refere a aspectos essencialmente humanos da
psique que transcendem o nível pessoal. A esfera arquetípica trata
do psiquismo humano naquilo em que a individualidade não
participa. Dessa forma, o termo arquetípico indica uma qualidade da
perspectiva simbólica e amplia seu escopo. Por perspectiva
simbólico-arquetípica, entende-se a abordagem arquetípica do
símbolo, e não apenas o seu enfoque pessoal. Tal perspectiva
permite a integração entre subjetividade e objetividade, assim como
entre individualidade e coletividade (cultural e arquetípica).
A conexão epistemológica que o símbolo realiza entre o
arquétipo em si e a manifestação arquetípica é efetivada, no
método, pela forma como tais manifestações serão trabalhadas, isto
é, pela perspectiva simbólico-arquetípica, que norteia o tratamento
(metodológico) dispensado ao material psicológico no paradigma
junguiano.
A investigação psicológica na psicologia analítica abarca a
esfera dos fenômenos individuais (sonhos, fantasias, experiências
pessoais) e dos fenômenos coletivos (mitos, contos de fadas,
acontecimentos sociais e políticos), desde que configurados por seu
valor simbólico, quer seja para o indivíduo, quer seja para a
coletividade que os produz e os vivencia psicologicamente.
Na perspectiva simbólico-arquetípica, o evento simbólico é
compreendido na óptica de suas causas, de sua teleologia
(finalidade) e da sincronicidade; é analisado e compreendido no
entrelaçamento de seus aspectos históricos, atuais e arquetípicos,
buscando sempre situar seu sentido na totalidade de que faz parte.
1 Esse termo me foi sugerido por Ceres Araújo, por ocasião da apresentação da
dissertação de mestrado em 2003. Agradeço a sugestão, que foi por mim adotada desde
então.
UM PARADIGMA
CONTEMPORÂNEO
Não existe nenhuma razão para querer conhecer mais do inconsciente coletivo do
que se consegue por meio de sonhos e intuições. Quanto mais se sabe sobre ele,
maior e mais pesada se torna a carga moral, porque os conteúdos do inconsciente
se transformam em tarefas e responsabilidades individuais tão logo começam a se
tornar conscientes. (Jung, Letters 2, 1991, p. 172)
Obras de C. G. Jung
Os volumes abaixo listados referem-se à edição brasileira da
Editora Vozes, Petrópolis/RJ. As datas entre colchetes indicam o
ano da primeira publicação do texto e as revisões feitas pelo autor e
as datas entre parênteses indicam a edição atual consultada.
5 Idem.