Este documento discute a compatibilidade entre a Teoria do Apego de John Bowlby e a Psicologia Analítica de Carl Jung. A Teoria do Apego foca nas primeiras relações de apego de uma criança, que formam a base para o desenvolvimento do self e das relações futuras, enquanto Jung também enfatizou a influência das experiências infantis precoces. Embora Bowlby não tenha mencionado Jung, suas ideias são consistentes com conceitos-chave da psicologia analítica. O documento pretende analisar como os vínculos
Este documento discute a compatibilidade entre a Teoria do Apego de John Bowlby e a Psicologia Analítica de Carl Jung. A Teoria do Apego foca nas primeiras relações de apego de uma criança, que formam a base para o desenvolvimento do self e das relações futuras, enquanto Jung também enfatizou a influência das experiências infantis precoces. Embora Bowlby não tenha mencionado Jung, suas ideias são consistentes com conceitos-chave da psicologia analítica. O documento pretende analisar como os vínculos
Este documento discute a compatibilidade entre a Teoria do Apego de John Bowlby e a Psicologia Analítica de Carl Jung. A Teoria do Apego foca nas primeiras relações de apego de uma criança, que formam a base para o desenvolvimento do self e das relações futuras, enquanto Jung também enfatizou a influência das experiências infantis precoces. Embora Bowlby não tenha mencionado Jung, suas ideias são consistentes com conceitos-chave da psicologia analítica. O documento pretende analisar como os vínculos
O objetivo central deste trabalho consiste na apresentação de
conceitos e estudos advindos da Teoria do Apego (criada pelo psicanalista inglês John Bowlby e seus seguidores) e na discussão dessas idéias à luz do corpo teórico da Psicologia Analítica. A escolha da Teoria do Apego e de John Bowlby como objeto de estudo desta monografia se deve às seguintes razões: 1ª A Teoria do Apego é uma teoria arquetípica, que supõe a existência de estruturas psíquicas inatas; propõe a predisposição intrínseca da espécie humana para perceber, sentir e agir dentro de padrões, através das gerações e culturas. Além disso, Bowlby, assim como Jung, sempre distinguiu entre causa e função, tendo se rebelado contra posições redutivistas da psicanálise e contra a primazia da sexualidade como motivador primário dos comportamentos. Suas idéias, ancoradas num ponto de vista evolucionista e etológico, são compatíveis com a noção de um inconsciente coletivo que se constitui em um plano de ação e em uma sabedoria instintiva, os quais norteiam o comportamento humano, mas que, para se revelar, necessita da interação com outros seres humanos. (Conceito de humanização do arquétipo) Samuels (1989, pág.27) classifica John Bowlby na categoria "Junguianos sem o saberem", ao defender a idéia de que Jung antecipou e previu, de modo surpreendente, os caminhos que o pensamento psicológico e psicanalítico viria percorrer durante o século XX. Embora Bowlby em sua obra não mencione Jung, seu raciocínio desenvolveu-se de maneira compatível com propostas centrais da Psicologia Analítica, ao longo de trilhas já abertas há décadas pela intuição notável de Jung. Sob certos aspectos, nem o próprio Jung nem nenhum de seus seguidores estudou, documentou e circunscreveu tão exaustivamente algum arquétipo quanto os seguidores da Teoria do Apego têm feito com os processos de vinculação afetiva e sua influência recíproca em outros fenômenos arquetípicos. 2ª A Teoria do Apego tem como objetivo central descrever e explicar fenômenos da psicologia do desenvolvimento e, em particular, como as primeiras relações de um bebê e de uma criança são a origem da percepção de si próprio e do outro, assim como de um estilo e capacidade de amar e relacionar-se com a vida. Esses fenômenos, concebidos na psicologia analítica como sendo do domínio do arquétipo da Grande Mãe, não têm sido suficientemente estudados nem por Jung nem por seus seguidores, mais interessados nos fenômenos da vida adulta.
1 Gilda C F Montoro – sbpa 2015
O próprio Jung, embora não tenha trabalhado com crianças,
teve sensibilidade enorme para com a psique infantil; ao longo de sua obra vamos encontrar colocações e insights precisos que anteciparam, em décadas, os caminhos que vieram a ser seguidos pela psicologia infantil. Só para mencionar dois, de extrema relevância: a ênfase na experiência pré edipiana primitiva de ligação e separação com a figura materna (estudadas por Bowlby e Winnicott) e a idéia de que os problemas dos pais, e entre os pais, se expressam nos filhos - que se constitui num dos alicerces de várias correntes de terapia familiar (Samuels, 1989). Em minha opinião, a literatura pós-junguiana sobre desenvolvimento infantil é insuficiente e de pouco valor heurístico; ou seja, não fornece subsídios suficientes para trabalhar com crianças, nem em terapia individual nem em terapia de família. Essa lacuna vem sendo preenchida pela colagem ou integração de modelos psicanalíticos (Samuels, 1989, Schwartz- Salant, 1982, Fordham, 1969, 1993). A obra de Bowlby sintoniza com perfeição e elabora em profundidade, a seguinte proposta de Jung, feita em 1923: "Frequentemente se é tentado a interpretar crianças que são peculiares, obstinadas, desobedientes ou difíceis de lidar como sendo especialmente individualistas ou voluntariosas. Isto é um erro. Nesses casos, deveríamos sempre examinar o contexto dos pais, sua história e suas condições psicológicas. Quase sem exceção, descobrimos nos pais as únicas razões válidas para as dificuldades das crianças" (C.W.17, §107).
3ª "Last but not least", existe uma predileção minha,
pessoal, pela Teoria do Apego, desde o começo de sua divulgação, em 1970; essa predileção deve-se ao fato de a mesma me parecer não só boa e forte, conceitualmente, mas também útil para entender e trabalhar fenômenos clínicos tanto em terapia infantil, em análise individual, quanto nas terapias de vínculos (casal e família). Forte conceitualmente, porque, tendo nascido da intuição e do pensamento privilegiados de John Bowlby, alicerçou-se desde o início tanto em dados originados da clínica (Bowlby foi um psicanalista com treinamento impecável) quanto em pesquisas observacionais e experimentais desenvolvidas com todo rigor científico. Tem sido assim, a Teoria do Apego, capaz de integrar várias áreas de conhecimento em psicologia e psiquiatria com parcimônia, coerência interna e linguagem clara. Nenhuma outra teoria, que eu conheça, tem essa dupla inserção, na clínica e na pesquisa, em nível tão abrangente e profundo. Útil, de grande valor heurístico, porque nos permite não só entender fenômenos clínicos, mas também fazer previsões sobre o 2 Gilda C F Montoro – sbpa 2015
comportamento futuro. É uma teoria que nos possibilita exercer
melhor nosso ofício de psicoterapeuta; também nos capacita a intervir, de maneira preventiva, em diversos pontos do ciclo vital e familiar. Acredito que será um enorme avanço o dia que, além de psicoterapeutas, pudermos também nos considerar psicoprofilatas. Pretendo analisar, ao longo deste trabalho, como os primeiros vínculos afetivos servem de alicerce para: a) a construção da identidade pessoal (self) (N.R.1) e a noção do outro b) o desenvolvimento da personalidade (Ego - Persona e Sombra) c) facilitar ou dificultar a atualização do Self (N.R.2) no processo de individuação. ___________________________________ N.R.1 - Usarei o termo self com minúscula como sinônimo de percepção consciente e inconsciente da identidade pessoal, que fornece ou dá ao sujeito a sensação de permanência e continuidade do ser no mundo. N.R.2 - O termo Self com maiúscula será usado com o significado criado por Jung, que de acordo com Samuels (1989) pode ser entendido como o potencial para a integração da personalidade inteira, que na vida exige ser reconhecido, integrado, realizado. Espero, neste trabalho, ser capaz de demonstrar o quanto as idéias de Bowlby e de Jung são compatíveis e mutuamente enriquecedoras.