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Gilda C F Montoro – sbpa 2015

CAP.I - OBJETIVO DO TRABALHOErro! Indicador não


definido.

O objetivo central deste trabalho consiste na apresentação de


conceitos e estudos advindos da Teoria do Apego (criada pelo
psicanalista inglês John Bowlby e seus seguidores) e na discussão
dessas idéias à luz do corpo teórico da Psicologia Analítica.
A escolha da Teoria do Apego e de John Bowlby como objeto de
estudo desta monografia se deve às seguintes razões:
1ª A Teoria do Apego é uma teoria arquetípica, que supõe a
existência de estruturas psíquicas inatas; propõe a predisposição
intrínseca da espécie humana para perceber, sentir e agir dentro
de padrões, através das gerações e culturas. Além disso, Bowlby,
assim como Jung, sempre distinguiu entre causa e função, tendo se
rebelado contra posições redutivistas da psicanálise e contra a
primazia da sexualidade como motivador primário dos
comportamentos. Suas idéias, ancoradas num ponto de vista
evolucionista e etológico, são compatíveis com a noção de um
inconsciente coletivo que se constitui em um plano de ação e em
uma sabedoria instintiva, os quais norteiam o comportamento
humano, mas que, para se revelar, necessita da interação com
outros seres humanos. (Conceito de humanização do arquétipo)
Samuels (1989, pág.27) classifica John Bowlby na categoria
"Junguianos sem o saberem", ao defender a idéia de que Jung
antecipou e previu, de modo surpreendente, os caminhos que o
pensamento psicológico e psicanalítico viria percorrer durante o
século XX. Embora Bowlby em sua obra não mencione Jung, seu
raciocínio desenvolveu-se de maneira compatível com propostas
centrais da Psicologia Analítica, ao longo de trilhas já abertas
há décadas pela intuição notável de Jung.
Sob certos aspectos, nem o próprio Jung nem nenhum de seus
seguidores estudou, documentou e circunscreveu tão exaustivamente
algum arquétipo quanto os seguidores da Teoria do Apego têm feito
com os processos de vinculação afetiva e sua influência recíproca
em outros fenômenos arquetípicos.
2ª A Teoria do Apego tem como objetivo central descrever e
explicar fenômenos da psicologia do desenvolvimento e, em
particular, como as primeiras relações de um bebê e de uma criança
são a origem da percepção de si próprio e do outro, assim como de
um estilo e capacidade de amar e relacionar-se com a vida. Esses
fenômenos, concebidos na psicologia analítica como sendo do
domínio do arquétipo da Grande Mãe, não têm sido suficientemente
estudados nem por Jung nem por seus seguidores, mais interessados
nos fenômenos da vida adulta.

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O próprio Jung, embora não tenha trabalhado com crianças,


teve sensibilidade enorme para com a psique infantil; ao longo de
sua obra vamos encontrar colocações e insights precisos que
anteciparam, em décadas, os caminhos que vieram a ser seguidos
pela psicologia infantil. Só para mencionar dois, de extrema
relevância: a ênfase na experiência pré edipiana primitiva de
ligação e separação com a figura materna (estudadas por Bowlby e
Winnicott) e a idéia de que os problemas dos pais, e entre os
pais, se expressam nos filhos - que se constitui num dos alicerces
de várias correntes de terapia familiar (Samuels, 1989).
Em minha opinião, a literatura pós-junguiana sobre
desenvolvimento infantil é insuficiente e de pouco valor
heurístico; ou seja, não fornece subsídios suficientes para
trabalhar com crianças, nem em terapia individual nem em terapia
de família. Essa lacuna vem sendo preenchida pela colagem ou
integração de modelos psicanalíticos (Samuels, 1989, Schwartz-
Salant, 1982, Fordham, 1969, 1993).
A obra de Bowlby sintoniza com perfeição e elabora em
profundidade, a seguinte proposta de Jung, feita em 1923:
"Frequentemente se é tentado a interpretar crianças que
são peculiares, obstinadas, desobedientes ou difíceis
de lidar como sendo especialmente individualistas ou
voluntariosas. Isto é um erro. Nesses casos, deveríamos
sempre examinar o contexto dos pais, sua história e
suas condições psicológicas. Quase sem exceção,
descobrimos nos pais as únicas razões válidas para as
dificuldades das crianças" (C.W.17, §107).

3ª "Last but not least", existe uma predileção minha,


pessoal, pela Teoria do Apego, desde o começo de sua divulgação,
em 1970; essa predileção deve-se ao fato de a mesma me parecer não
só boa e forte, conceitualmente, mas também útil para entender e
trabalhar fenômenos clínicos tanto em terapia infantil, em análise
individual, quanto nas terapias de vínculos (casal e família).
Forte conceitualmente, porque, tendo nascido da intuição e do
pensamento privilegiados de John Bowlby, alicerçou-se desde o
início tanto em dados originados da clínica (Bowlby foi um
psicanalista com treinamento impecável) quanto em pesquisas
observacionais e experimentais desenvolvidas com todo rigor
científico. Tem sido assim, a Teoria do Apego, capaz de integrar
várias áreas de conhecimento em psicologia e psiquiatria com
parcimônia, coerência interna e linguagem clara. Nenhuma outra
teoria, que eu conheça, tem essa dupla inserção, na clínica e na
pesquisa, em nível tão abrangente e profundo.
Útil, de grande valor heurístico, porque nos permite não só
entender fenômenos clínicos, mas também fazer previsões sobre o
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comportamento futuro. É uma teoria que nos possibilita exercer


melhor nosso ofício de psicoterapeuta; também nos capacita a
intervir, de maneira preventiva, em diversos pontos do ciclo vital
e familiar. Acredito que será um enorme avanço o dia que, além de
psicoterapeutas, pudermos também nos considerar psicoprofilatas.
Pretendo analisar, ao longo deste trabalho, como os primeiros
vínculos afetivos servem de alicerce para:
a) a construção da identidade pessoal (self) (N.R.1) e a
noção do outro
b) o desenvolvimento da personalidade (Ego - Persona e
Sombra)
c) facilitar ou dificultar a atualização do Self (N.R.2) no
processo de individuação.
___________________________________
N.R.1 - Usarei o termo self com minúscula como sinônimo de
percepção consciente e inconsciente da identidade pessoal, que
fornece ou dá ao sujeito a sensação de permanência e continuidade
do ser no mundo.
N.R.2 - O termo Self com maiúscula será usado com o significado
criado por Jung, que de acordo com Samuels (1989) pode ser
entendido como o potencial para a integração da personalidade
inteira, que na vida exige ser reconhecido, integrado, realizado.
Espero, neste trabalho, ser capaz de demonstrar o quanto as
idéias de Bowlby e de Jung são compatíveis e mutuamente
enriquecedoras.

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