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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO

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Sousa, Cláudio Guida.


Psicologia da educação [e-Book]. / Cláudio Guida
Sousa. – São Luís: UEMA; UEMAnet, 2019.
44 p.
ISBN:
1. Psicologia. 2. Educação. 3. Desenvolvimento
humano. 4. Psicologia do aprendizado. I. Título.
CDU: 37.015.3:159
APRESENTAÇÃO

Caro(a) estudante,

Este e-Book é da disciplina Psicologia da Educação, para o curso de Licenciatura


em Música e está estruturado em três Unidades.

Na primeira Unidade será definido o que é Psicologia, sua evolução histórica


e abordagens psicológicas, obviamente faremos apenas uma sinopse,
lhe provocando assim, a se aprofundar mais no conteúdo, finalmente
desenvolveremos nesta Unidade a Psicologia da Educação propriamente
dita, o que é, como se processou e como deve ser aplicada nos contextos
educacionais. Esta é marcada por relações intrapessoais e interpessoais com
todos os sujeitos envolvidos, vale dizer professores, alunos e todo o corpo
técnico de uma dada instituição.

Na segunda Unidade, discorreremos sobre um tema extremamente interessante:


Os Processos do Desenvolvimento Humano. Afinal de contas quais os limites do
Homem? Até onde ele pode ir, enquanto ser humano? Vamos abordar Identidade
e Adolescência, enfatizando as mais diversas crises, que marcam a idade da
puberdade; logo depois estaremos trazendo à baila As oito Idades do Homem
segundo Erikson, será interessante, pensar e analisar sobre essas idades, ainda
nesta Unidade destacaremos as Relações Modais, que envolvem as relações
intrapessoais e interpessoais nos processos educacionais.

Na Terceira Unidade, estaremos aprofundando a relação Psicologia e


Aprendizado. Traremos para a discussão: Teorias do Desenvolvimento e Teorias
do Aprendizado. Neste momento, visitaremos as ideias e os conceitos dos
psicólogos da educação Rogers e Vygotsky. Encerraremos, a terceira Unidade,
abordando a Aprendizagem e Desenvolvimento, nas mais diversas interações,
inclusive, apresentando os quatro pilares da programação neurolinguística
aplicados nos processos de aprendizado.

Psicologia da Educação
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO

1 PSICOLOGIA E PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO ......................... 5


1.1 Conceito de Psicologia ................................................................. 5
1.2 Evolução histórica e abordagens psicológicas ............................. 7
1.3 Psicologia da Educação ............................................................... 12
Referências .................................................................................. 15

2 OS PROCESSOS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO ............ 16


2.1 Identidade e adolescência ........................................................... 17
2.2 Distúrbios no desenvolvimento humano e aprendizado .............. 19
2.3 As oito Idades do Homem segundo Erikson .............................. 24
Referências .................................................................................. 28

3 PSICOLOGIA DO APRENDIZADO ............................................. 30


3.1 Psicologia da Educação e Aprendizado ....................................... 30
3.2 Contribuições de Carl Rogers e Vygotsky .................................... 32
3.3 Aprendizagem e Desenvolvimento: interações sociais ................ 39
Referências .................................................................................. 43

Psicologia da Educação
UNIDADE

1
PSICOLOGIA E PSICOLOGIA
DA EDUCAÇÃO

Objetivos
Compreender o conceito da Psicologia, enquanto ciência do comportamento;
Conhecer uma sinopse da evolução histórica da Psicologia e suas abordagens;
Compreender a aplicação da Psicologia na Educação.

Fonte: http://solariodeletras.blogspot.com/2017/03/as-politicas-higienistas-na-educacao.html

1.1 Conceito de Psicologia

Q
uando pensamos em Psicologia, trazemos à baila as mais diversas formas
de relacionamentos humanos, sejam eles intrapessoais ou interpessoais.
As relações intrapessoais envolvem a relação com o próprio ser, vale dizer,
a relação com nossos próprios conflitos, sonhos, expectativas, tristezas, alegrias
e as mais diversas sensações interiores. Já as relações interpessoais envolvem o
outro, a família, os amigos, a escola, enfim a sociedade como um todo.
Em todos os momentos estamos nos relacionando, seja com o nosso eu, seja
com o outro. Ambos os relacionamentos são complexos e extremamente
desafiadores.
A Psicologia tem como objetivos, fazer com que os seres humanos se conheçam
com mais profundidade e por uma ação reflexa, conheça também o outro. Essas

Psicologia da Educação 5
relações entram em conflito, às vezes olhamos muito para nós mesmos, dando
assim, vazão para um sentimento egocêntrico, narcisista, assim como também
olhamos muito para o outro, esquecendo de nós mesmos, desenvolvendo assim,
uma empatia desregrada e causando uma baixa autoestima.
O objeto de estudo da Psicologia é o comportamento do ser humano, e este
jamais poderá ser sistematizado, sendo apenas estudado de forma teórica e
empírica. Em outras palavras, os comportamentos humanos serão sempre
imprevisíveis e polimodais.
A matéria-prima da Psicologia é o ser humano, seu comportamento, sua vida
a partir do seu ser e a partir do outro. A Psicologia tem uma identidade própria,
isto é, estuda os fenômenos psicológicos para uma profunda compressão da
totalidade da vida humana.
Os fenômenos psicológicos acontecem dentro de cada ser humano, são
construídos durante toda a nossa vida. Cada experiência, cada aprendizado,
cada decepção, entre outras sensações interiores e exteriores, vão construindo
uma estrutura emocional que norteará o comportamento do ser humano.
Afinal de contas, como podemos definir a Psicologia enquanto ciência? A
Psicologia é a ciência que estuda os mais diversos processos mentais, com a
seguinte tríade: pensamento, comportamento e emoções.
Quem primeiro definiu o termo Psicologia, foram os gregos, nas palavras de
Ana M. Bahia Bock, temos:
É entre os filósofos gregos que surge a primeira
tentativa de sistematizar uma Psicologia. O
Próprio termo ‘Psicologia’, vem do grego psyche,
que significa alma e de logos, que significa
razão. Portanto, etimologicamente, Psicologia
significa ‘estudo da alma’. A alma ou espírito era
concebida como a parte imaterial do ser humano
e abarcaria o pensamento, os sentimentos
de amor e ódio, a irracionalidade, o desejo, a
sensação e a percepção. (BOCK, 2015, p. 28).

O conceito de Psicologia é, de forma direta e objetiva: o estudo do comportamento


humano em todas as suas dimensões, sejam elas intrapessoais ou interpessoais.
Pensar a Psicologia é analisar a complexidade das sensações humanas, que
vale dizer, são cíclicas e não lineares.
A psicóloga Dinah Martins de Sousa Campos, em seu livro, Psicologia e
Desenvolvimento, escreve um conceito interessante e didático sobre Psicologia:

Psicologia da Educação 6
A psicologia pode ser entendida como a
análise científica do comportamento dos seres
animados, tanto do homem como dos animais,
possibilitando a compreensão e predição de
suas reações ao ambiente ou mudanças em sua
maneira de reagir. (CAMPOS, 2011, p. 15).

O conceito da renomada autora, nos faz lembrar que, em regra, o meio ambiente
influencia nossos comportamentos. Este é um aspecto bastante peculiar dos
processos psicológicos do ser humano. Onde vivemos, como vivemos e com
quem vivemos, interfere na formação de nossa personalidade.

1.2 Evolução histórica e abordagens psicológicas

O fundo Histórico de uma determinada área do saber é extremamente importante,


uma vez que possibilita ao leitor entender os mais diversos processos dialéticos
de uma dada ciência. Na Psicologia, enquanto ciência, não foi diferente, houve
todo um processo historiográfico para sua consolidação como ciência. Vamos
fazer uma pequena sinopse desse processo histórico.
Como de praxe, a história do pensamento humano, em regra, perpassa pelo
pensamento dos gregos. Os gregos não se dedicaram apenas à política, à
Matemática, à mitologia, à Arte e a Filosofia, mas também ao comportamento
humano. Sócrates, Platão e Aristóteles se dedicaram a compreender o espírito
grego, através da Filosofia, a ideia dos pensadores era compreender a
interioridade do homem.
Figura 1 - Os gregos e a sensação do EU

Fonte: https://jornalhumanitas.blogspot.com/2014/02/o-que-e-paideia.html

Psicologia da Educação 7
Os filósofos pré-Socráticos, preocupando-se em definir as sensações humanas,
se ocupavam em explicar a relação do homem com o mundo através da
percepção. Realizavam exaustivos debates para responder a seguinte questão:
o mundo existe por que o homem o vê, ou o homem vê o mundo que já existe?
A discussão era entre os idealistas, que diziam que as ideias formam o mundo e
pelos materialistas, que ao contrário dos idealistas, diziam que a matéria, dada
pela percepção, é que formaria o mundo.
Sócrates (469-399), Platão (427-347) e Aristóteles (384-322), que viveram antes
de Cristo, teorizaram de forma lógica e didática a Psicologia. O primeiro pensador
grego consegue diferenciar o animal racional e o irracional, para Sócrates,
apenas o homem é detentor da razão, em outras palavras, apenas o homem
tem consciência de ser homem, diferentemente de um leão, por exemplo, que
não tem consciência de que é um leão.
Nosso segundo pensador, Platão, teve a responsabilidade de descobrir onde
fica a razão no homem. No coração? No Espírito? Na Alma? Nas palavras de
Ana M. Bahia Bock:
O passo seguinte é dado por Platão (427-347
a.C.), discípulo de Sócrates. Esse filósofo
procurou definir um ‘lugar’ para a razão no nosso
próprio corpo. Definiu esse lugar como sendo a
cabeça, onde se encontra a alma do homem. A
medula seria, portanto, o elemento de ligação
da alma com o corpo. Este elemento de ligação
era necessário porque Platão concebia a alma
separada do corpo. Quando alguém morria,
a matéria (o corpo) desaparecia, mas a alma
ficava livre para ocupar outro corpo. (BOCK.
2015, p. 28).

Finalmente, nosso terceiro pensador, provavelmente o mais importante


para a compreensão da unidade do corpo e da alma nos processos
comportamentais, Aristóteles, afirmava que a alma é a causa de todos
os processos do corpo. Aqui temos a relação entre razão e percepção
humana, considerada o primeiro tratado de Psicologia, propriamente dito.
Após os estudos dos gregos, veremos como os romanos, após a cristianização
do Império, elaboraram suas análises comportamentais e transcendentais a
partir do cristianismo. A percepção do ser humano sobre o mundo, era norteada
pelos aspectos religiosos, fala-se de uma visão panteísta, vale dizer, Deus é
tudo e tudo é Deus.

Psicologia da Educação 8
Dois pensadores são importantes para explicar esse conturbado período que
durou cerca de 1000 anos, são eles: Santo Agostinho (354-430) e Tomás de
Aquino (1225-1274). Nesse período, todos os comportamentos humanos, sejam
eles políticos, religiosos, familiares, sexuais, bélicos e sociais, eram norteados
pelos critérios religiosos determinados pela Igreja Medieval.

Figura 2 - Agostinho e Tomás

Fonte: https://i.ytimg.com/vi/c1xziYwzLW4/hqdefault.jpg

Foi nesse período que o homem entrou em um processo de degeneração moral


Segundo a percepção da Igreja Romana, o homem era visto como um ser pecador
e sem nenhum valor diante de Deus. Para resolver essa crise existencial, a igreja
cria as famosas indulgências e as relíquias. As indulgências tinham o objetivo
de perdoar os pecados e garantir a salvação dos pecadores, as relíquias, por
sua vez, eram a sacralização de objetos para garantir a salvação das almas.
Estas foram uma fonte de riqueza da igreja, e serviram para resolver as crises
comportamentais e existenciais dos homens da Idade Média.
Pois bem, Santo Agostinho deu continuidade ao pensamento de Platão, que
fazia a separação entre o corpo e a alma. Entretanto, para o nosso ilustre
pensador, a alma não era apenas a fonte da razão humana, mas também, a fonte
transcendente do homem, ele dizia que alma liga o homem a Deus. A Psicologia
do século XXI colabora veementemente com o pensamento de Agostinho, uma
vez que a transcendentalidade do homem o ajuda a lidar com as mais diversas
crises comportamentais, pois a oração, o devocional e a obediência aos princípios
de uma dada religião fazem bem ao emocional do homem, dando a este maior
equilíbrio, em meio às crises emocionais e sociais.

Psicologia da Educação 9
É pela alma que sentimos as mais diversas sensações, sejam elas somáticas,
emocionais ou espirituais. Agostinho resgata o pensamento cristão, o qual afirma
que somos seres profundamente espirituais, vale dizer, existe uma necessidade
do homem em se religar ao mundo metafísico.
Dando um salto de quase 1000 anos, vamos dialogar com o pensamento do
famoso teólogo católico, Tomás de Aquino. Nosso pensador vive nos primeiros
sinais da ruptura da Igreja Católica com a Reforma Protestante, encabeçada por
Martinho Lutero, no século XVI.
Aquino resgata o pensamento de Aristóteles para diferenciar entre a essência e
a existência. Aristóteles dizia que o homem, na sua essência, busca a perfeição
por meio de sua existência. Entretanto, Tomás de Aquino afirma que somente
Deus tem a capacidade de reunir a essência e a existência, em termos de
igualdade. Portanto, a busca de perfeição pelo homem seria a busca de Deus.
No renascimento, o homem volta a ter o seu devido valor. Muitos pensadores
começam a escrever diversas obras que exaltam o valor e a capacidade do
homem, dentre eles: Dante, que escreve A Divina Comédia, entre 1475 e 1478;
Leonardo da Vinci, que pinta o quadro Anunciação; em 1484, Boticelli pinta o
Nascimento de Vênus; em 1501, Michelangelo esculpe o Davi; e, em 1513,
Maquiavel escreve O Príncipe, obra clássica da política.
Figura 3 - Descartes: separação Descartes (1596-1659), um dos grandes pensadores
da alma
da chamada modernidade, passou a discutir a
separação entre alma, espírito e corpo, a chamada
visão tricotômica. Dizia que o corpo sem a alma
não tem nenhum valor, seria uma máquina sem
vida. Esse pensamento ajudou diversas pesquisas
fisiológicas do corpo humano.
A origem da Psicologia moderna foi na Alemanha
do final do século XIX. Wundt, Weber e Fechner,
que trabalharam juntos na Universidade de Leipzig.
Seguiram para aquele país muitos estudiosos dessa
nova ciência, como o inglês Edward B. Titchner e o
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ren%C3
%A9_Descartes americano William James.
Seu status de ciência é obtido à medida que se afasta da Filosofia, que marcou
sua história até aqui, e atrai novos estudiosos e pesquisadores, sob os novos
padrões de produção de conhecimento.

Psicologia da Educação 10
A seguir, um quadro sinótico dos cinco movimentos da psicologia, para que
tenhamos uma visão mais objetiva e didática.

Quadro 1 – Quadro Sinótico: pensadores da Psicologia

AUTOR

CORRENTE Associacionismo Estruturalismo Funcionalismo Behaviorismo Gestaltismo Psicanálise Interacionismo

Comportamento
Consciência
Consciência Consciência (estudo
(previsão e controle
(determinação das
(determinação dos elementos
pela determinação
leis de associação Consciência
Estrutura e
da estrutura constituintes: Estruturas
dos elementos
que regem a (modus operanti
OBJETO funcionamento
da consciência as percepções); intelectuais
constituintes:
organização dos processos
DE ESTUDO psíquico (o
pelo estudo pensamento, (inteligência)
movimentos
dos elementos conscientes)
inconsciente)
dos elementos comportamento e
musculares
constituintes da
constituintes) aprendizagem
e secreções
consciência)
gladulares)

Introspecção ou
Introspectivo Experimental e Experimental e Psicanalítico
MÉTODO apercepção (relatos Experimental Método clínico
(relatos subjectivos) introspecção informal introspecção informal Método clínico
objectivos)

Fonte: http://psicofadeup.blogspot.com/2011/03/

Figura 4 - Relação da Emoção e da Razão

Fonte: http://www.galaxcms.com.br/imgs_redactor/327/files/seventhheartmind.jpg

Psicologia da Educação 11
1.3 Psicologia da Educação

Após enfrentar os aspectos Históricos da Psicologia, vamos entender como esse


ramo do saber pode contribuir para a educação.
Nós, seres humanos, somos detentores de quatro recursos naturais: o cognitivo,
o emocional, o somático e o transcendente. Todos os quatro recursos são
delineadores para uma aprendizagem eficiente e eficaz.
O recurso cognitivo é a capacidade de aprender, de saber, de adquirir novos
conhecimentos, seja através dos aspectos empíricos, seja dos aspectos da
ciência propriamente dita. A cognição é uma conquista do homem, requer deste,
esforço, dedicação, disciplina e decisão. Não adquirimos conhecimento por
osmose, mas por conquista e essa conquista é processual.
O emocional é tão importante como o cognitivo, o psicólogo humanista Carl
Rogers (1902-1987) dizia que a emoção é um aspecto preponderante para
o processo ensino-aprendizagem, segundo ele, só há um verdadeiro ensino
na escola, em regra, se o aluno conseguir se identificar com o professor
emocionalmente, qualquer tipo de ruído emocional na sala de aula pode
bloquear o processo de ensino.
Quando falamos em recurso emocional, falamos de pulsão de vida, de bem-
estar, consigo mesmo e com os outros. Isto envolve relacionamentos saudáveis
na família, nas amizades, na relação afetiva, na escola e, por que não falar, nas
chamadas redes sociais?
O livro mais lido e pesquisado da história, a Bíblia, mostra através do sábio
Salomão a importância da emoção na vida do ser humano, então vejamos:
“Sobre tudo que deves guardar, guarda o teu coração, porque dele procede
as fontes da vida”. (Pv. 23:7). Metaforicamente, a palavra coração significa
emoção. Guardar a nossa emoção implica decisivamente em qualidade de vida.
Um outro recurso que temos é o somático, isso mesmo, nosso corpo. Podemos
gerar por meio de nosso corpo, os chamados “neurotransmissores do bem”,
por meio de atividades físicas prazerosas, atividades esportivas, uma boa
noite de sono, uma vida sexual saudável, por exemplo. Os mais conhecidos
são: dopamina, quando vivemos situações de recompensa e de conquistas;
serotonina, quando nos sentimos significativos e importantes; noradrenalina,
nos traz animação, energia e bem-estar e, por último, a ocitocina, que nos ajuda
a lidar com o estresse e as relações sociais.

Psicologia da Educação 12
Por fim, nosso último recurso é a transcendentalidade, vale dizer nossa
espiritualidade. Ter uma relação metafísica ajuda o ser humano nos momentos
de crises. A história comprova essa realidade fática, a religião, digamos que seja
um refúgio para as grandes injustiças dessa vida.
Harmonizar esses quatro recursos, oferece ao ser humano um estado de controle
existencial. Mas o que isso tem a ver com a Psicologia da Educação? Tudo, uma
vez que os processos educacionais perpassam por estas quatro áreas do ser
humano.
A Psicologia da Educação se propõe a estudar os processos intrínsecos e
extrínsecos, para a formação educacional do ser humano. Para isso, muitas
etapas acontecem: a relação do sujeito com ele mesmo, com a família, com o
meio social e com a escola.
A Psicologia da Educação tem sua origem na fase do Funcionalismo, nos Estados
Unidos, em função das características próprias da sociedade americana, em
especial o pragmatismo, uma corrente de ideias em que só se valoriza aquilo
que realmente era utilizado para a vida. Psicologia da Educação surge, a priori,
para resolver as demandas da educação nos Estados Unidos, por volta de 1894.
No final do século XIX, o interesse pela Psicologia da Educação cresce de forma
exponencial. Alguns pensadores começam a fazer as primeiras abordagens
teóricas. Stanley Hall (1844-1924) e Edward Thorndike (1874-1949) aparecem
com destaque nas suas contribuições para o desenvolvimento da Psicologia
da Educação. A partir de 1905, começam os testes de inteligência para aferir
o desempenho dos alunos. O teste criado por Alfred Binet (1857-1911) e
Théodore Simon (1873-1961) tinha a proposta de conseguir separar os alunos
que tinham um bom desempenho, daqueles que apresentavam dificuldades de
aprendizagem.
Muitos problemas de ordem social, provocaram o surgimento de Psicologia
Educacional nos Estados Unidos, como a crise de 1929, a Segunda Guerra
Mundial, a Guerra Fria, entre outros fenômenos, que afetaram emocionalmente
os estudantes norte-americanos e, consequentemente, prejudicaram a qualidade
do processo ensino-aprendizagem.
A Psicologia da Educação tem por objeto de estudo todos os aspectos das
situações da educação, sob a ótica psicológica.
Paulo Roberto Moreira, no livro Psicologia da Educação diz que:

Psicologia da Educação 13
A Psicologia voltada para a Educação reproduz
algumas das dificuldades de definição da
Psicologia. Como, por exemplo, o fato de a
Educação ter como centro o educando que é, ao
mesmo tempo, o sujeito e objeto de sua própria
formação. Como Objeto da ação educacional,
o aluno se constitui como sujeito capaz de
reelaborar a realidade interna e externa. Sem o
reconhecimento da subjetividade não é possível
a objetividade. (MOREIRA, 2006, p. 17).

Interessante o pensamento do autor supracitado, uma vez que, o enfoque na


Psicologia da Educação é a relação do sujeito emocional e do sujeito social. O
meio social é um fenômeno estudado pela Psicologia da Educação, uma vez
que este influencia de forma incisiva os indivíduos.
Infelizmente, por muito tempo, nossas escolas avaliavam o aluno por aspectos
meramente objetivos, analisemos a seguinte citação:
Na escola, a preferência pela objetividade gerou
uma série de experimentos em laboratórios,
centrado na medição, nos testes, e nos planos de
aprendizagem encadeados sequencialmente. Tal
análise do comportamento fragmenta a realidade,
porque a soma dos elementos parciais não é
suficiente para uma compreensão do fenômeno
como um todo. (MOREIRA, 2006 p. 17).

A Psicologia da Educação tem, como escopo, um olhar cabal nos processos


educacionais, ela ajuda o professor a perceber que em poucos casos um aluno
com dislexia, discalculia, dislalia, tem como causa fatores emocionais, gerados
por fatores físicos, pela família, ou gerados pela fome.

No link a seguir, será possível encontrar um texto que mostra


de forma inteligente e didática o desenvolvimento da Psicologia
escolar no Brasil: Disponível em: <https://www.researchgate.net/
publication/37686565_BREVE_HISTORICO_DA_PSICOLOGIA_
ESCOLAR_NO_BRASIL>.

Psicologia da Educação 14
Resumo

Nesta Unidade, iniciamos falando sobre o conceito de Psicologia enquanto ciência.


Percebemos que essa ciência tem como objeto de estudo o comportamento huma-
no, sendo, portanto, assistemática. Em seguida, estudamos os aspectos históricos
e as abordagens psicológicas. Identificamos que a Psicologia por muito tempo foi
confundida com a Filosofia, tornando-se ciência apenas no século XIX. Finalmente,
estudamos sobre a Psicologia da Educação, objeto do presente trabalho, desenvol-
vendo a ideia que esta ajuda a perceber todos os processos de aprendizado, inclu-
sive a relação professor-aluno de forma subjetiva, logo a Psicologia da Educação
nos ajudar a compreender as causas de um processo educacional ineficaz e sem
resultados por meio de um olhar não apenas técnico, mas emocional.

Referências

BÍBLIA SAGRADA. Tradução de João Ferreira Almeida. Revista e Atualizada no


Brasil. 2. ed. 2011.1280p.
BOCK, Ana M. Bahia. Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia.
Ed. Saraiva, 2001.
CAMPOS, Dinah Martins de Souza. Psicologia e Desenvolvimento Humano.
3. ed. Petrópolis: Vozes, 2003.
______. Psicologia da aprendizagem. 30. ed. Petrópolis: Vozes, 2000.
COLL, C. (Org.). Psicologia da Educação. Porto Alegre: Artmed, 2004.
GOULART, Iris Barbosa. Psicologia da Educação: fundamentos teóricos e
aplicações à prática pedagógica. 16. ed. Petrópolis: Vozes, 2010.
JOSÉ, Elisabete da Assunção; COELHO, Maria Teresa. Problemas de
aprendizagem. 12. ed. São Paulo: Ática, 2001.
MOREIRA, Paulo Roberto. Psicologia da Educação: interação e identidade. 4.
ed. São Paulo: FTD, 2006.
PENSADORES DA PSICOLOGIA: Disponível em: < http://psicofadeup.blogspot.
com/2011/03/as-escolas-de-pensamento-da-historia-da_1150.html.>. Acesso
em: 30 jan. 2019.

Psicologia da Educação 15
UNIDADE

2
OS PROCESSOS DO
DESENVOLVIMENTO HUMANO

Objetivos
Compreender os processos comportamentais do adolescente;
Conhecer as teorias psicológicas sobre o desenvolvimento humano;
Analisar as oito idades do homem, segundo Erikson.

N
esta Unidade, vamos abordar os processos do desenvolvimento humano,
pois estes são extremamente complexos. Todos os seres humanos são
detentores de dois construtos, a personalidade e o temperamento.
Sabe-se que a personalidade vai sofrendo mutações ao longo do tempo, uma
vez que as experiências vão formatando a sua desenvoltura. É na construção
da personalidade que em todo tempo estamos desconstruindo, reconstruindo e
construindo valores e hábitos que julgamos importantes.
Já o temperamento, ou humor dos seres humanos, não muda. A Teoria dos
Quatro Temperamentos nasce com o grego Hipócrates, que dizia que existem
quatro temperamentos: Sanguíneo, Colérico, Fleumático e Melancólico. Os dois
primeiros fazem parte do grupo das pessoas que são extrovertidas e os dois
últimos das pessoas que são introvertidas.
Não existe a prevalência de um temperamento sobre o outro, na verdade todos
os quatro temperamentos, são detentores de qualidades e fragilidades. Os
temperamentos, ao longo de nosso crescimento cognitivo, vão melhorando, mas
não se modificando. Podemos ter um temperamento primário e um secundário,
mas sempre teremos um que nos caracteriza nas relações interpessoais.
Tanto a personalidade como os temperamentos fazem parte da construção de
nossas crenças nucleares, vale dizer da construção de nosso ser, de nossos
valores e estilos de vida. Falar dos processos do desenvolvimento humano é
falar de estudos assistemáticos, em regra, uma vez que a personalidade humana
não obedece um padrão, ela é imprevisível.
Vamos começar a falar sobre Identidade e Adolescência, para podermos entender
de forma objetiva e didática a desenvoltura emocional e cognitiva do ser humano.

Psicologia da Educação 16
2.1 Identidade e adolescência

A adolescência é marcada pelas mais diversas mudanças. São mudanças


somáticas e emocionais. Fala-se muito nesse período, na chamada puberdade.
Mas afinal de contas o que é a adolescência?
Matheus (2007) faz a seguinte contribuição para o conceito de adolescência:
Etimologicamente, adolescência vem de
adolescere, que significa desenvolver-se, ou
crescer, entretanto, também guarda relação com
addolescere, que significa adoecer. É devido a
isso que se tem a ideia de crise para definir a
adolescência. (MATHEUS, 2007, p. 21).

Definir o conceito de puberdade e adolescência se tornou algo extremamente


desafiador para os estudiosos do comportamento, temos aqui um caso de
conceitos que mudam de acordo com os contextos sociais.
Em tempos de pós-modernidade e mundo virtual, as relações interpessoais
e intrapessoais se tornaram mais precoces. Talvez o conceito de puberdade
precise ser redefinido, uma vez que uma criança de 12 anos, em alguns
casos no Brasil, já teve sua primeira experiência sexual, provavelmente pela
influência dos dois paradigmas supracitados, estamos falando da relatividade
dos valores e verdades, e do complexo emocionante, excitante e perigoso do
mundo virtual.
A identidade é um construto que tem sua formação condicionada às nossas
experiências sociais e emocionais. Isso envolve a família, a religião, a escola,
enfim as mais diversas relações consigo mesmo e com o outro.
Erikson (1976) fez uma definição de adolescência bem interessante, então vejamos:
A transição da infância à vida adulta
basicamente marcada por uma moratória
psicossocial, ou seja, pela liberdade para
experimentar livremente papéis sexuais,
sociais e ocupacionais até definir-se. Constitui-
se como uma crise normativa que ocorreria
entre os 12 e 18 anos, em que a pessoa em
desenvolvimento teria de resolver o dilema
central entre construir uma identidade e viver
uma difusão de papéis, sendo o modelo de
construção identitária marcado pela escolha e
a reprodução de referências sociais (identidade
como reprodução). (ERIKSON, 1976, p. 43).

Psicologia da Educação 17
Fala-se de um mito na Grécia Antiga, Figura 5 – Édipo e a Esfinge: o enigma
havia uma esfinge que devorava os
passantes que não decifrassem o
seguinte enigma: qual o ser que pela
manhã, anda com quatro pés, ao meio
dia, com dois, e ao entardecer com
três; e que contrariamente à lei, é mais
fraco quando tem mais pernas?
Segundo os relatos gregos, o famoso
Édipo desvenda o mistério pondo a
mão no peito e dizendo: é o homem,
claro! Mas, que é o homem? Quem
sou eu? Questão decisiva, desafio
presente quando nascemos, nos
movemos até a maturidade e depois Fonte: https://www.factum.edu.br/files/curso/banner/51/
psicologia.jpg
morremos.
A construção de nossa identidade, que em regra se desenvolve mais
incisivamente na adolescência, envolve obrigatoriamente essas questões
existenciais que deram muito trabalho para os filósofos. Quem sou eu?
Fazemos essa pergunta de forma habitual. A nossa vida tem fases, tanto no
aspecto emocional como no físico.
Caracterizar no século XXI, a personalidade dos adolescentes tem sido algo
profundamente desafiador para os estudiosos do comportamento. Marcelo
Afonso Ribeiro no artigo intitulado Ser adolescente no século XXI, diz que:
Ser adolescente no século XXI tem se
mostrado um desafio importante para todos:
para o mundo adulto, no qual é necessário
lidar com padrões de referência e modelos
de ação no mundo muito distinto dos seus;
para o Estado, que tem no adolescente um
problema central em termos de formação,
inserção no mercado de trabalho, sexualidade,
saúde, segurança, consumo e família; e para o
próprio adolescente, que tem de lidar com um
mundo adulto que lhe dá poucas referências
e modelos, que, muitas vezes, são confusos,
ambíguos e contraditórios, e se vê compelido
a praticamente criar referências e construir
formas de ser em um mundo contemporâneo
caracterizado como complexo, heterogêneo e
flexibilizado. (RIBEIRO, 2014, p. 13).

Psicologia da Educação 18
São muitos os problemas emocionais e existenciais que o adolescente
enfrenta em nossos dias, podemos citar as crises na família, uma vez que a
maioria são criados por mães solteiras ou pelos avós, esclarecendo que esses
fatores não são determinantes para as crises, mas contribuem; experiências
sexuais precoces pelo advento da pornografia na Internet e sua acessibilidade;
envolvimento com drogas, talvez uma função de aspectos econômicos, entre
outras questões.
Hoje, os professores devem aprofundar seus estudos em Psicologia da
Educação, uma vez que os processos educacionais, como temos falado
exaustivamente, envolvem aspectos subjetivos. O professor deve perceber em
profundidade as crises emocionais dos alunos em sala de aula, em especial
dos adolescentes, uma vez que as emoções instáveis bloqueiam o processo
de ensino-aprendizagem.

2.2 Distúrbios no desenvolvimento humano e aprendizado

De fato, as complexidades do nosso ser e de outros seres humanos são uma


realidade. O Manual de Transtornos Mentais, DSM5, apresenta centenas de
anomalias emocionais, sendo as mais conhecidas, a depressão, a ansiedade, a
bipolaridade, a fobia social, entre outras.
Grande parte das instabilidades emocionais e consequentemente de doenças
mentais têm sua origem nas relações sociais, mais precisamente na família.
Quantas crianças, por exemplo, não conseguem aprender, não por causa da
dislexia ou discalculia, mas por um trauma emocional sofrido na violenta relação
conjugal entre seu pai e sua mãe.
O ser humano cresce biologicamente, psicologicamente, socialmente e
espiritualmente. A família e a escola têm um papel preponderante para esse
crescimento harmônico e saudável. Os professores passam a ser, de uma
certa forma, a ponte entre o conhecimento e uma formação social e cognitiva
saudável, mas a família deve sempre ser a protagonista da educação dos
filhos.
Mesmo nos primeiros momentos do nascimento do ser humano, este pode sofrer
influência da mãe:

Psicologia da Educação 19
Na infância tem sido referido que alterações com
a mãe no período da gestação podem contribuir
para o aparecimento de neuroses posteriormente.
Não se trata de deficiências mentais, síndrome de
Down ou de problemas resultantes de anomalias
nos cromossomos, formação do ovo, mas de
situações ambientais determinando excesso
de emoções e sofrimentos da mãe gestante.
(CAMPOS, 2011, p. 99).

Figura 6 - Crise emocional e solidão

Fonte: https://www.folhape.com.br/obj/1/201407,475,80,0,0,475,365,0,0,0,0.jpg

O problema das instabilidades emocionais, não se limita apenas a fenômenos


interinos, mas principalmente aos aspectos sociais, os relacionamentos com a
família, com a escola e com a sociedade. Em alguns casos, aspectos de limitação
motora e emocional, limitam o processo de ensino-aprendizagem.
Muitos diagnósticos de dislexia TDAH, por exemplo, não estão condicionados
a limitações motoras ou sensoriais, mas a aspectos emocionais. É nesse ponto
que o olhar psicológico do professor deve fazer-se valer, uma vez que ao detec-
tar esse tipo de limitação, deve encaminhar ao psicólogo habilitado para fazer
testes que identifiquem se o aluno tem ou não a dislexia, ou a sua improdutivi-
dade em sala de aula é causada pela fome, pela tristeza, pela angústia, gerados
pelo seu ambiente familiar.
Os distúrbios do ser humano são originados por diversas causas emocionais e
motoras. Se essas anomalias persistem no processo de educação de uma pessoa,
essa, verdadeiramente, não vai conseguir acompanhar as diversas fases da educação.

Psicologia da Educação 20
Os transtornos do desenvolvimento humano, causam obviamente os transtornos
de aprendizagem. O professor deve perceber a limitação do aluno, para tentar
resolver a situação que tem causado o bloqueio do aprendizado.
Se o professor souber como funciona a atenção
e a memória nas diversas fases da vida, com
certeza vai ensinar melhor. A aprendizagem
está ligada ao processo de desenvolvimento
biológico. A evolução é determinada pela
genética da espécie. Nosso cérebro demora
vinte anos para amadurecer. Nossa saúde
mental depende da ampliação de experiências
anteriores e de experiências práticas. A escola
é o lugar de ampliação da experiência humana,
o lugar onde gente como a gente constrói
conhecimentos com o uso de diversas linguagens
e da imaginação. Ela precisa preocupar-se com
a formação humana. A semente da disciplina ou
da indisciplina reside no clima escolar. Se esta
não consegue impor seus valores entre alunos e
professores, conseguir disciplina passa a ser uma
proeza. Na escola em que há mais indisciplina o
rendimento é pior, mas se ela for cativante terá
poucos problemas. (EBAH, 2019, p. 1-2).

Interessante transcrever o que diz o DSM5 (2014, p. 110) sobre distúrbios da


aprendizagem:
Dificuldades na aprendizagem e no uso de habilidades acadêmicas, conforme
indicado pela presença de ao menos um dos sintomas a seguir que tenha
persistido por pelo menos 6 meses, apesar da provisão de intervenções dirigidas
a essas dificuldades:
1 Leitura de palavras de forma imprecisa ou lenta e com esforço (p. ex., lê
palavras isoladas em voz alta, de forma incorreta ou lenta e hesitante,
frequentemente adivinha palavras, tem dificuldade de soletrá-las);
2 Dificuldade para compreender o sentido do que é lido (p. ex., pode ler o texto
com precisão, mas não compreende a sequência, as relações, as inferências
ou os sentidos mais profundos do que é lido);
3 Dificuldades para ortografar (ou escrever ortograficamente) (p. ex., pode
adicionar, omitir ou substituir vogais e consoantes);
4 Dificuldades com a expressão escrita (p. ex., comete múltiplos erros de
gramática ou pontuação nas frases; emprega organização inadequada de
parágrafos; expressão escrita das ideias sem clareza);

Psicologia da Educação 21
5 Dificuldades para dominar o senso numérico, fatos numéricos ou cálculo (p.
ex., entende números, sua magnitude e relações de forma insatisfatória; conta
com os dedos para adicionar números de um dígito em vez de lembrar o fato
aritmético, como fazem os colegas; perde-se no meio de cálculos aritméticos
e pode trocar as operações);
6 Dificuldades no raciocínio (p. ex., tem grave dificuldade em aplicar conceitos,
fatos ou operações matemáticas para solucionar problemas quantitativos).
As habilidades acadêmicas afetadas estão substancial e quantitativamente
abaixo do esperado para a idade cronológica do indivíduo, causando
interferência significativa no desempenho acadêmico ou profissional, ou
nas atividades cotidianas, tudo isso confirmado por meio de medidas de
desempenho padronizadas administradas individualmente e por avaliação
clínica abrangente.
Para indivíduos com 17 anos ou mais, a história documentada das dificuldades
de aprendizagem com prejuízo pode ser substituída por uma avaliação
padronizada.
As dificuldades de aprendizagem iniciam-se durante os anos escolares,
mas podem não se manifestar completamente até que as exigências pelas
habilidades acadêmicas afetadas excedam as capacidades limitadas do
indivíduo (p. ex., em testes cronometrados, em leitura ou escrita de textos
complexos longos e com prazo curto, em alta sobrecarga de exigências
acadêmicas).
As dificuldades de aprendizagem não podem ser explicadas por deficiências
intelectuais, acuidade visual ou auditiva não corrigida, outros transtornos mentais
ou neurológicos, adversidade psicossocial, falta de proficiência na língua de
instrução acadêmica ou instrução educacional inadequada.
Nota: Os quatro critérios diagnósticos devem ser preenchidos com base
em uma síntese clínica da história do indivíduo (do desenvolvimento,
médico, familiar e educacional), em relatórios escolares e em avaliação
psicoeducacional.
Nota para codificação: Especificar todos os domínios e sub-habilidades
acadêmicas prejudicadas.
Quando mais de um domínio estiver prejudicado, cada um deve ser codificado
individualmente conforme os especificadores a seguir.

Psicologia da Educação 22
Especificar se:
315.00 (F81.0) Com prejuízo na leitura:
Precisão na leitura de palavras;
Velocidade ou fluência da leitura;
Compreensão da leitura.
Nota: Dislexia é um termo alternativo usado em referência a um padrão de dificuldades
de aprendizagem caracterizado por problemas no reconhecimento preciso ou fluente
de palavras, problemas de decodificação e dificuldades de ortografia. Se o termo
dislexia for usado para especificar esse padrão particular de dificuldades, é importante
também especificar quaisquer dificuldades adicionais que estejam presentes, tais
como dificuldades na compreensão da leitura ou no raciocínio matemático.
315.2 (F81.81) Com prejuízo na expressão escrita:
Precisão na ortografia;
Precisão na gramática e na pontuação;
Clareza ou organização da expressão escrita.
315.1 (F81.2) Com prejuízo na matemática:
Senso numérico;
Memorização de fatos aritméticos;
Precisão ou fluência de cálculo;
Precisão no raciocínio matemático.
Nota: Discalculia é um termo alternativo usado em referência a um padrão de
dificuldades caracterizado por problemas no processamento de informações
numéricas, aprendizagem de fatos aritméticos e realização de cálculos precisos
ou fluentes. Se o termo discalculia for usado para especificar esse padrão
particular de dificuldades matemáticas, é importante também especificar
quaisquer dificuldades adicionais que estejam presentes, tais como dificuldades
no raciocínio matemático ou na precisão na leitura de palavras.
Especificar a gravidade atual:
Leve: Alguma dificuldade em aprender habilidades em um ou dois domínios
acadêmicos, mas com gravidade suficientemente leve que permita ao indivíduo
ser capaz de compensar ou funcionar bem quando lhe são propiciados adaptações
ou serviços de apoio adequados, especialmente durante os anos escolares.

Psicologia da Educação 23
Moderada: Dificuldades acentuadas em aprender habilidades em um ou mais
domínios acadêmicos, de modo que é improvável que o indivíduo se torne
proficiente sem alguns intervalos de ensino intensivo e especializado durante
os anos escolares. Algumas adaptações ou serviços de apoio por, pelo menos,
parte do dia na escola, no trabalho ou em casa podem ser necessários para
completar as atividades de forma precisa e eficiente.
Grave: Dificuldades graves em aprender habilidades afetando vários domínios
acadêmicos, de modo que é improvável que o indivíduo aprenda essas habilidades
sem um ensino individualizado e especializado, contínuo durante a maior parte
dos anos escolares. Mesmo com um conjunto de adaptações ou serviços de
apoio adequados em casa, na escola ou no trabalho, o indivíduo pode não ser
capaz de completar todas as atividades de forma eficiente.

2.3 As oito Idades do Homem segundo Erikson

Figura 7 - Crise emocional e solidão O Psicanalista Erik Erikson contribuiu


sobremaneira para a sistematização do
desenvolvimento humano, ele escreveu sobre
oito estágios do seu desenvolvimento. Antes de
apresentar as chamadas oito Idades do Homem,
vamos conhecer um pouco de sua biografia.
Erikson nasceu em Frankfurt, Alemanha, em
1902 (vindo a falecer em 1994). No começo
da carreira artística, foi convidado a laborar
em uma escola para pacientes submetidos à
psicanálise, entrando em contato com o grupo
de Anna Freud, a filha mais nova de Sigmund
Freud. Em 1933, quando se casou com uma
canadense, mudou-se para os Estados Unidos,
continuando seus estudos em Psicanálise,
Fonte:http://1.bp.blogspot.com/-M-i3_ysKJpw/ tornando-se o primeiro psicanalista infantil
UwNsRWuYe4I/AAAAAAAAAvQ/C9GoKKD-
NTU/s1600/Erik+Erikson.jpg americano.
Para Erikson, a crise existencial está profundamente condicionada ao
desenvolvimento humano. Em seu diagrama epigenético o autor apresenta sua
teoria, segundo a qual as pessoas passam por quatro estágios de infância antes
da crise de identidade da adolescência e por três estágios posteriores.
Psicologia da Educação 24
Os oito estágios são:
O primeiro estágio – confiança/desconfiança (0 - 18 meses). A idade em
que a criança adquire confiança em si mesmo e no mundo ao redor, através da
relação com a mãe. Se a mãe atende às necessidades do filho, a confiança está
construída. Se não, medo, receio e desconfiança podem ser desenvolvidos pela
criança. Virtude social desenvolvida: esperança;
O segundo estágio – autonomia/dúvida e vergonha (18 meses - 3
anos). A contradição entre o que a criança quer fazer (impulso) e o que as
normas permitem. A criança deve ser estimulada a fazer as coisas de forma
autônoma, para não se sentirem envergonhadas. Os pais devem ajudar
os filhos a terem vontade de fazer as coisas corretamente. Virtude social
desenvolvida: desejo;
O terceiro estágio – iniciativa/culpa (3 anos - 6 anos). Neste estágio, a
criança já tem a capacidade de distinguir, o que pode e o que não pode fazer.
Começando a tomar iniciativas, mas sem sentir culpa. A criança começa a
assumir outros papéis, tendo noção do ‘outro’ e de individualidade, começando
a se preocupar com a aceitação do seu comportamento. Virtude social
desenvolvida: propósito;
O pensamento é um tanto egocêntrico, mas
aumenta a compreensão do ponto de vista
dos outros. A imaturidade cognitiva resulta
em algumas ideias ilógicas sobre o mundo.
Desenvolve-se a identidade de gênero.
(PAPALIA, 2006, p. 40).

O quarto estágio – indústria (produtividade) / inferioridade (6 anos - 12


anos). A criança começa a se sentir como uma pessoa trabalhadora, capaz de
produzir. A resolução positiva dos estágios anteriores é importantíssima, sem
confiança, autonomia e iniciativa, não conseguirá se sentir capaz. O sentimento
de inferioridade pode levar a se sentir incapaz. Este é o momento de relações
interpessoais importantes. Virtude social desenvolvida: competência;
O quinto estágio – identidade/confusão de identidade (adolescência).
Aqui se adquire a identidade psicossocial, o adolescente precisa entender
seu papel no mundo e reconhecer sua singularidade. Há uma redefinição nos
elementos de identidade já adquiridos. Algumas dificuldades desse período
são: falta de apoio no crescimento, expectativas parentais e sociais diferentes,
dificuldades em lidar com as mudanças etc. Virtude social desenvolvida:
fidelidade;

Psicologia da Educação 25
Quando um jovem não consuma essas relações
íntimas com outros – e, acrescentaria eu, com
os seus próprios recursos internos – no final
da adolescência ou início da idade adulta
ele poderá procurar relações interpessoais
sumamente estereotipadas e acabar retendo
um profundo sentimento de isolamento. Se
os tempos favorecerem um tipo impessoal de
padrão interpessoal, um homem pode ir longe na
vida e, entretanto, albergar um grave problema
de caráter, duplamente penoso porque ele
nunca se sentirá realmente ele próprio, embora
todos digam que ele é ‘alguém’ […] Assim a
consequência duradoura da necessidade de
distanciamento é a presteza em fortificar o
território próprio de intimidade e solidariedade
e em ver todos os estranhos com uma fanática
‘supervalorização das pequenas diferenças’
entre o familiar e o desconhecido. (ERIKSON,
1976, p.141).

O sexto estágio – intimidade/isolamento (25 anos - 40 anos). É essencial


estabelecer uma relação íntima durável com outras pessoas, caso não
consiga estabelecer essa relação, se sentirá isolado. Virtude social
desenvolvida: amor;
A condição física atinge o auge, depois
declina ligeiramente. O pensamento e
os julgamentos morais tornam-se mais
complexos. São feitas escolhas educacionais
e vocacionais, após um período exploratório.
Traços e estilos de personalidade tornam-se
relativamente estáveis, mas as mudanças
na personalidade podem ser influenciadas
pelas fases e acontecimentos da vida. São
tomadas decisões sobre relacionamentos
íntimos e estilos de vida pessoais, mas
podem não ser duradouros. (PAPALIA,
2006, p. 41).

O sétimo estágio – generatividade / estagnação (35 anos - 60 anos). A


necessidade de orientar a geração seguinte, uma fase de afirmação pessoal
no trabalho e na família. Podendo ser produtivo em várias áreas. Existe a
preocupação com as gerações futuras, educando e criando os filhos. O lado
negativo é que pode levar a pessoa a parar em seus compromissos sociais.
Virtude social desenvolvida: cuidar do outro;

Psicologia da Educação 26
As capacidades mentais atingem o auge, a
especialização e as habilidades relativas à
solução de problemas práticos são acentuadas.
A produção criativa pode declinar, mas melhor
em qualidade. Para alguns, o sucesso na carreira
e o sucesso financeiro atingem seu máximo,
para outros, poderá ocorrer esgotamento ou
mudança de carreira. A dupla responsabilidade
pelo cuidado dos filhos e dos pais idosos pode
causar estresse. (PAPALIA, 2006, p. 41).

O oitavo estágio – integridade/desespero (após os 60 anos). É a hora da


avaliação de tudo que se fez na vida, em caso de uma negação em relação
ao passado, se sente fracassado pela falta de poderes físicos e cognitivos.
O desespero para pessoas que acham o balanço de sua vida negativa e
integridade para pessoas que sentem o balanço de sua vida positiva. Virtude
social desenvolvida: sabedoria.
Seja qual for o abismo a que as preocupações
fundamentais possam conduzir os homens, […]
o homem, como criatura psicossocial, defrontar-
se-á, no final de sua vida com uma nova edição da
crise de identidade que poderíamos formular nas
seguintes palavras: ‘Eu sou o que sobrevive de mim’.
Das fases da vida, portanto, disposições tais como
fé, força de vontade, determinação, competência,
fidelidade, amor, desvelo, sabedoria – tudo critérios
de força vital individual – também fluem para a vida
das instituições. Sem elas, as instituições definham;
mas sem que o espírito das instituições impregne
os padrões de desvelo e amor, instrução e treino
nenhuma força poderia emergir da sequência de
gerações. (ERIKSON, 1976, p.141).

(Transcrevemos as oito idades do site: www.revistaprosaversoearte.com.)

A leitura vai ajudar você a perceber e entender outros olhares sobre


o tema. Disponível em:<http://www.anped.org.br/sites/default/files/
gt20-3737-int.pdf>.

Psicologia da Educação 27
Resumo

Nesta segunda Unidade, descrevemos sobre os processos do desenvolvimento


humano. Abordamos a identidade e a adolescência, uma vez que o conceito de
“adolescência” se tornou em nossos dias polimodal, isto é, com vários conceitos,
isso por causa dos novos paradigmas que temos enfrentado no século XXI.
Discorremos sobre os distúrbios no desenvolvimento humano e aprendizado,
mostramos que a vida do ser humano tem seus altos e baixos, em função de
relações consigo mesmo e com o outro, inclusive apresentamos o famoso
DSM5, que mostra as mais diversas anomalias mentais, e focamos, entretanto,
nos distúrbios do aprendizado. Encerramos a Unidade destacando as famosas
oito Idades de Erikson, que demonstram as diversas fases que temos em nossa
jornada, e todas as suas peculiaridades.

Referências

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-V. Manual Diagnóstico e


Estatístico de Transtornos Mentais. 5. ed. Porto Alegre : ARTMED, 2014.
AS OITO IDADES DE ERIKSON. Disponível em: <https://www.revistaprosaver
soearte.com/as-oito-idades-da-vida-segundo- sicanalista-erik-erikson-qual-e-a-
sua/>. Acesso em: 30 jan. 2019.
BIOGRAFIA DE ERIKSON. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Erik_
Erikson>. Acesso em: 30 jan. 2019.
COLL, C. (Org.). Psicologia da Educação. Porto Alegre: Artmed, 2004.
CONCEITO DE PUBERDADE. Disponível em:<https://pt.wikipedia.org/wiki/
Puberdade.>. Acesso em: 30 jan. 2019.
ERIKSON, Erik. Identidade, juventude e crise. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar,
1976.
GOULART, Iris Barbosa. Psicologia da Educação: fundamentos teóricos e
aplicações à prática pedagógica. 16. ed. Petrópolis: Vozes, 2010.
JOSÉ, Elisabete da Assunção; COELHO, Maria Teresa. 12. ed. Problemas de
aprendizagem. São Paulo: Ática, 2001.

Psicologia da Educação 28
MATHEUS, T. C. Adolescência: História e política do conceito na psicanálise.
São Paulo: Casa do Psicólogo, 2007.
OS DISTÚRBIOS DO APRENDIZADO. Disponível em: <https://www.ebah.
com.br/content/ABAAAgyyAAB/disturbios-aprendizagem.> Acesso em: 30 jan.
2019.
RIBEIRO, M. A. Carreiras: Novo olhar socioconstrucionista para um mundo
flexibilizado. Curitiba: Juruá, 2014.

Psicologia da Educação 29
UNIDADE

3 PSICOLOGIA DO APRENDIZADO

Objetivos

Analisar conceitos e apontamentos sobre Psicologia do Aprendizado;


Entender as teorias do aprendizado em Rogers e Vygotsky;
Compreender aprendizagem e desenvolvimento nas interações sociais.

3.1 Psicologia da Educação e Aprendizado

A Psicologia da Educação é um olhar subjetivo e cabal em todos os processos


que envolvem a dicotomia Ensino e Aprendizado. Esse processo envolve os
alunos, os professores, a instituição e todo o seu corpo técnico.
Silva (2015) descreve os primeiros passos da Psicologia da Educação na
antiguidade:
As bases da Psicologia da Educação que dão
fundamento à tradição ocidental foram consti-
tuídas na Grécia Antiga, cerca de cinco sécu-
los antes de Cristo e continuam fundamentais
até a atualidade. Para se compreender melhor
esses modelos paradigmáticos de Psicologia e
a sua relação com os processos de aprendiza-
gem é necessário conhecer o contexto em que
se começou a teorizar sobre o homem e sua
capacidade de aprender. O mergulho nesse
contexto vai passar pelo modelo de Educação,
pelo modelo de política e pela inauguração do
antropocentrismo filosófico feito por Sócrates,
pois tudo isso está intimamente relacionado
com Psicologia e com aprendizagem. (SILVA,
2015, p. 11).

Como se percebe nas palavras do autor supracitado, o ato de sentir, pensar,


discutir e interagir são vetores que nos fazem compreender os processos
comportamentais do eu e do outro.

Psicologia da Educação 30
O mesmo autor continua dizendo que:
A filosofia de Platão é a referência paradigmática
para uma concepção psicológica de aprendizagem
pautada pelo apriorismo, isto é, pela ideia de que
o conhecimento ocorre previamente e de maneira
natural, no Hiperurânio, e que a aprendizagem é
uma memória de tal conhecimento. Por outro lado,
a filosofia de Aristóteles dá base a uma concepção
de aprendizagem calcada na experiência, a partir
da qual as ideias se aprimoram; a isso chama-
se empirismo (do grego empeiría, que significa
experiência sensorial). (SILVA, 2015, p. 17).

Não temos como exaurir todos os autores da Psicologia da Educação, escolhemos


apenas dois para aprofundarmos nossas discussões, Carl Rogers e Vygotsky,
que discutiremos a seguir, mas antes um quadro sinótico para ser degustado,
com os olhos, a razão e a emoção.
O quadro, a seguir, mostra os vetores sobre Construção do Conhecimento,
Interação Social e Afetividade. Encabeçado por três grandes pensadores, a
saber Jean Piaget, Vygotsky, e Wallon.
Quadro 2 - Construção do Conhecimento
AUTOR JEAN PIAGET VYGOTYSK WALLON

PERÍODO 1896 – 1980 1897 – 1934 1879 - 1962


Construção do
PALAVRA-CHAVE Interação Social Afetividade
Conhecimento
Movimento: Expressão
Assimilação/ Mediação simbólica: Instrumental
Acomodação/ Esquema/ Instrumentos e signos, As emoções: afetividade
VETORES TEÓRICOS
Equilíbrio/Estágios de Zona de Desenvolvimento A Inteligência: Sincrética
Desenvolvimento Proximal A construção do Eu:
Imitação/negação

Do todo para a
Da parte para o todo:
RELAÇÕES Adaptação parte: processo de
processo de socialização
INTERPESSOAIS (conhecimentos prévios) individualização
(Relação com o mundo)
(Construção do indivíduo)

“Desequilibrar” os Intervir na ZDP, ou seja,


Considera: a história do
esquemas dos alunos na distância entre o que o
PAPEL DO PROFESSOR aluno, demandas atuais e
a partir de seus aluno já domina e o que
perspectivas
conhecimentos prévios pode aprender
Participação do processo de construção do conhecimento, coautor, ativo e
PERFIL DO ALUNO
questionador

Fonte: Sousa (2019)

Psicologia da Educação 31
3.2 Contribuições de Carl Rogers e Vygotsky

Figura 8 - Rogers: Carl Rogers, formado em História e Psicologia, foi um


educação não diretiva
desses inquiridores, ele entendia que o aluno deveria
ser centrado no processo de ensino-aprendizagem,
não poderia haver nem um tipo de conhecimento sem
essa premissa. Foi aluno de Kilpatrick que o colocou em
contato com o pensamento de Dewey. Conhecido como
o “pai” da educação não diretiva, enquanto Vygotsky
compreendia que a linguagem e o pensamento não
eram partes, mas o todo ser humano e que aquele era o
efeito deste, ou seja, não se pode ensinar sem conhecer
o que e o porquê se ensina. Começaremos falando
Fonte: https://www.transcend. sobre o pensamento do Rogers e logo em seguida de
org/tms/wp-content/uploads/
2016/01/CARL-ROGERS-PIC.jpg Vygotsky.
Rogers aplicou à educação princípios da Psicologia Clínica. Trabalhou
intensamente a questão da Psicologia aplicada na sala de aula. Para ele, o aluno
deveria ser o centro e o professor um facilitador e bom comunicador, detentor de
simpatia e empatia, além de tudo deveria ser autêntico, Gadotti, citando Rogers
disse que:
Talvez a mais básica dessas atitudes essenciais
seja a condição de autenticidade. Quando o
facilitador é uma pessoa real, se apresenta tal
como é, entra em relação com o aprendiz, sem
ostentar certa aparência ou fachada, tem muito
mais probabilidade de ser eficiente. Isto significa
que os sentimentos que experimenta estão a seu
alcance, estão disponíveis ao seu conhecimento,
que ele é capaz de vivê-los, de fazer deles algo de
si, e, eventualmente, de comunicá-los. Significa
que se encaminha para um encontro pessoal
direto com o aprendiz, encontrando-se com ele
na base de pessoa a pessoa. Significa que está
sendo ele próprio, que não se está negando.
(GADOTTI. 2001, p. 182).

Percebe-se, na dialética de Rogers, que a sua preocupação está, de uma certa


forma, centrada no aluno, pois, ele não é compreendido como um objeto de
estudo, mas como um sujeito e deve ser respeitado e conceituado como tal. As
teorias de Rogers são focadas nas relações intrapessoal e interpessoal para
que se alcance os objetivos propostos pelo processo ensino-aprendizagem.

Psicologia da Educação 32
Os seres Humanos têm natural potencial de
aprender. A aprendizagem significativa verifica-
se quando o estudante percebe que a matéria
a estudar se relaciona com os seus próprios
objetivos; A aprendizagem que envolve mudança
na organização de cada um – na percepção de si
mesmo – é ameaçadora e tende a suscitar reações;
As aprendizagens que ameaçam o próprio ser
são mais facilmente percebidas e assimiladas
quando as ameaças externas se reduzem a um
mínimo; Quando é fraca a ameaça do ‘eu’ pode-
se perceber a experiência sob formas diversas,
e a aprendizagem ser levada a efeito; É por
meio de atos que se adquire aprendizagem mais
significativa; A aprendizagem é facilitada quando o
aluno participa responsavelmente do seu processo;
A aprendizagem autoiniciada que envolve toda
a pessoa do aprendiz – seus sentimentos tanto
quanto sua inteligência – é a mais durável e
impregnante; A independência, a criatividade e
autoconfiança são facilitadas quando a autocrítica e
autoapreciação são básicas e a avaliação feita por
outros tem importância secundária; A aprendizagem
socialmente mais útil, no mundo moderno, é do
próprio processo de aprendizagem, uma contínua
abertura à experiência e a incorporação, dentro de
si mesmo, do processo de mudança. (GADOTTI,
2001, p. 183).

Nestes princípios, é fácil de perceber que os aspectos da razão e da emoção


andam de mãos dadas e que a significância do ato é o precedente absoluto
para a sua grande realização. Existem, nas teorias de Rogers, um profundo
interesse nos aspectos psicológicos e emocionais do aluno, sugerindo mudanças
funcionais e estruturais da aprendizagem.
Estes interesses se assemelham em número, grau e gênero com as propostas
da Psicologia da Educação e da Neurolinguística. A análise da especialista em
educação Yero (2003) foca os componentes de crenças e comportamentos dos
professores na simbiose Educação e Neurolinguística:
As crenças podem ser pensadas como tendo três
componentes. Aqui está um dos muitos enredos
que podem cercar uma determinada crença.
Cognitivo: Um professor diz com convicção que
é importante para os alunos tirarem boas notas.
O professor pode prover diversos argumentos
cognitivos para apoiar sua crença, como a ênfase
forte de que a política de admissão na faculdade
baseia-se nas notas. Afetivo: Quando as notas de
um aluno baixam, o professor sente uma urgência

Psicologia da Educação 33
de fazer algo a respeito. Note a diferença entre
esse sentimento e o exercício mais intelectual de
explicar ao estudante porque é importante estudar
mais. O gatilho para esse componente afetivo
provém do objetivo, necessidade ou valor que a
crença suporta. Um professor pode interpretar
as notas mais baixas em termos pessoais – ela
não está fazendo seu dever. Outro professor pode
preocupar-se com o estudante. Qualquer tipo de
motivação engatilha uma resposta emocional ou
afetiva. Comportamental: O que significa quando
um estudante tira notas baixas? Que razões um
professor pode atribuir àquele comportamento
da parte do aluno? Uma resposta do professor –
comportamento – vai depender das respostas a
essas perguntas. Os conceitos mostram alguns
dos significados possíveis que um professor pode
atribuir as notas baixas é uma maneira possível
do professor poder reagir a esse significado.
(YERO, 2003).

As crenças apresentadas por Yero estão relacionadas com o perfil do professor


e do aluno na sala de aula, pois o que é colocado em foco é exatamente a
reação dos professores e dos alunos diante de uma determinada situação na
sala de aula, seja ela boa ou não. A ação cognitiva, afetiva e comportamental,
vai, em última instância, determinar o valor de cada situação. Quando um desses
elementos não são bem compreendidos, a didática em questão não alcança os
seus verdadeiros interesses. É preciso muita sensibilidade e compromisso para,
de fato, produzir e gerir uma didática eficiente. O aspecto tecnicista da didática
não deve ser encarado como um fim, mas como um meio.
Rogers (apud GADOTTI, 1995, p. 82) diz que: “o facilitador deve envolver o
aprendiz numa trilogia que implica profundamente no aspecto motivacional, isto
é, apreço, aceitação e confiança.”
Rogers entende, que o aluno é o personagem principal em uma sala de aula,
todavia, o facilitador deve ter uma visão holística do mesmo, para que não tome
julgamento precipitado. A grande questão a ser refletida é como perceber as
diferentes personalidades e os diferentes temperamentos em uma mesma sala
de aula, para que o aprendizado se torne mais eficaz e significante? Pressupõe-
se que a Psicologia da Educação, por meio das teorias comportamentais, pode
oferecer uma direção aos facilitadores.
Enquanto Rogers se interessou sobre como o professor deve entender e tratar o
aluno, Vygotsky pesquisou quais são as causas e os efeitos do pensamento e da
linguagem no processo ensino-aprendizagem. A sua teoria teve como fundamento

Psicologia da Educação 34
o desenvolvimento do indivíduo, como resultado de um processo sócio-histórico,
enfatizando o papel da linguagem e da aprendizagem nesse desenvolvimento,
sendo essa teoria considerada histórico-social. São apresentados na teoria de
Vygotsky alguns elementos que fazem com que se reflita a fundo uma didática
muito mais consciente e diretiva.
Para Vigotsky (1993), as origens da vida consciente e do pensamento abstrato
deveriam ser procuradas na interação do organismo com as condições de vida
social e nas formas histórico-sociais de vida da espécie humana e não, como
muitos acreditavam, no mundo espiritual e sensorial dos homens, somente.
Sendo, portanto, necessário analisar o reflexo do mundo exterior no mundo
interior dos indivíduos a partir da interação destes com a realidade.
O pensamento e a linguagem, para o autor, devem processar a aprendizagem
harmonicamente, já que para este, a linguagem age decisivamente na
organização do raciocínio, sendo que, a partir do momento em que ela assume
a função planejadora, age decisivamente sobre a organização do raciocínio,
reestruturando diversas funções psicológicas, como a memória, a atenção e a
formação de conceito.
Rego faz a seguinte referência sobre o pensamento de Vigotsky nos parâmetros
da linguagem e comportamento:
Vigotsky se dedicou, dentre outros aspectos,
ao estudo das chamadas funções psicológicas
superiores, que caracterizam o modo de
funcionamento psicológico tipicamente humano, tais
como o controle consciente de comportamento, a
capacidade de planejamento e previsões, atenção e
memória voluntária, pensamento abstrato, raciocínio
dedutivo, imaginação etc., esses processos mentais
são considerados superiores e sofisticados porque
se referem aos mecanismos intencionais, ações
conscientes controladas, processos voluntários que
dão ao indivíduo a possibilidade de independência
em relação às características do momento e espaço
presente. Segundo Vigotsky, estes processos
psicológicos complexos se originam nas relações
entre indivíduos humanos e se desenvolvem ao
longo do processo de internalização de formas
culturais de comportamentos. Vigotsky esclarece
ainda, que a relação do homem com o mundo não é
uma relação direta. São os instrumentos técnicos e
os sistemas de signos, construindo historicamente,
assim como todos os elementos presentes no
ambiente humano impregnados de significados
cultural, que fazem a mediação dos seres humanos

Psicologia da Educação 35
entre si e eles com o mundo. A linguagem é signo
mediador por excelência, pois ela carrega em si os
conceitos generalizados e elaborados pela cultura
humana que permitem a comunicação entre os
indivíduos, o estabelecimento de significados
comuns aos diferentes membros de um grupo
social, a percepção e interpretação dos objetos,
eventos e situações do mundo circundante. (REGO,
1995, p. 92).

No entendimento de Vigotsky, tanto os comportamentos como as linguagens


são extremamente essenciais para a qualidade do ensino e da aprendizagem. A
Psicologia da Educação trata de forma analítica e dialética estes dois focos que
se tornaram objetos de estudo de Vigotsky, pois é de preocupação desta que
todos campos das relações humanas sejam precedidos por estes dois princípios
necessários para atingir alvos direcionados e específicos na educação.
Sua questão central é a aquisição de conhecimentos pela interação do sujeito
com o meio. Para Vygotsky, o cérebro é a base biológica, suas peculiaridades
definem limites e possibilidades para o desenvolvimento humano. Esse discurso
fundamenta sua ideia de que as funções psicológicas superiores (linguagem e
memória) são construídas ao longo da história social do homem, em sua relação
com o mundo. Desse modo, as funções psicológicas superiores referem-se aos
processos voluntários, ações conscientes, mecanismos intencionais e dependem
de processos de aprendizagem significativas para o indivíduo.
Sem uma linguagem adequada não se concebe o conhecimento, haja vista, que
a mesma está profundamente relacionada ao aspecto cognitivo. É imprescindível
que os professores ofereçam uma linguagem atingível para os alunos, caso
contrário, o processo ensino-aprendizagem falhará na sua missão. Diga-se, de
passagem, que essa linguagem deve ser verbal e não-verbal.
Problematizando a questão da relação do pensamento e da linguagem, Vygotsky
faz o seguinte comentário:
O estudo do pensamento e da linguagem é uma
das áreas da psicologia em que é particularmente
importante ter-se uma clara compreensão
das relações interfuncionais. Enquanto não
compreendermos a inter-relação de pensamento e
palavra, não poderemos responder, e nem mesmo
colocar corretamente qualquer uma das questões
mais específicas desta área. Por estranho que
pareça, a psicologia nunca investigou essa relação
de maneira sistemática e detalhada. As relações
interfuncionais em geral não receberam, até agora
a intenção que merecem. (VYGOTSKY, 1993 p. 1).

Psicologia da Educação 36
Em seu livro, ao falar sobre “Pensamento e Linguagem”, o autor enfoca uma
sensível preocupação com relação à linguagem e ao pensamento, afirmando com
bases experimentais que existe uma interdependência de tanto um quanto outro.
Para alguns teóricos esses elementos estariam separados. Em contrapartida, é
feito um arcabouço neste trabalho de Vygotsky, provando com bases teóricas
e empíricas que não passam de especulações tais afirmações. É interessante
analisarmos que a Programação Neurolinguística (PNL) trabalha o ser humano
como um todo, não há elementos separados, tanto a palavra como o tom de voz
e a fisiologia estão intimamente ligados.
A linguagem reflete elementos culturais que fornecem ao indivíduo os sistemas
simbólicos de representação da realidade, ou seja, o universo de significações
que permite construir a interpretação do mundo real. A linguagem dá o local de
negociações no qual seus membros estão em constante processo de recriação
e reinterpretação de informações, conceitos e significações.
Para Vygotsky, o processo de internalização é a causa de uma boa linguagem,
além de ser fundamental para o desenvolvimento do funcionamento psicológico
humano. A internalização envolve uma atividade externa que deve ser modificada
para tornar-se uma atividade interna, é interpessoal e se torna intrapessoal.
Ele usa o termo função mental para referir-se aos processos de pensamento,
memória, percepção e atenção. Coloca que o pensamento tem origem na
motivação, interesse, necessidade, impulso, afeto e emoção.
Tanto a afetividade como a intelectualidade são dois fatores preponderantemente
eficazes para o processo ensino-aprendizagem. Sem a ação dos dois não há
significância no processo.
A fertilidade de nosso método pode ser
demonstrada também em outras questões
concernentes às relações entre as funções,
ou entre a consciência como um todo em suas
partes. Uma breve referência a pelo menos uma
destas questões indicará a direção que nossos
estudos futuros poderão tomar, e demonstrar a
importância do presente estudo. Referimo-nos à
relação entre intelecto e afeição. A sua separação
enquanto objetos de estudo é uma das principais
deficiências da psicologia tradicional, uma vez
que esta apresenta o processo de pensamento
como um fluxo autônomo de ‘pensamento que
pensam a si próprios’, dissociado da plenitude
da vida, das necessidades e dos interesses
pessoais, das inclinações e dos impulsos daquele
que pensa. Esse pensamento dissociado deve

Psicologia da Educação 37
ser considerado tanto um epifenômeno sem
significado, incapaz de modificar qualquer coisa
na vida ou na conduta de uma pessoa, como
alguma espécie de força primeira a exercer
influência sobre a vida pessoal, de um modo
misterioso e inexplicável. Assim, fecham-se as
portas à questão da causa e da origem de nossos
pensamentos, uma vez que a análise determinista
exigira o esclarecimento das forças motrizes que
dirigem o pensamento para esse ou aquele canal.
Justamente por isso, a antiga abordagem impede
qualquer estudo fecundo do processo inverso, ou
seja, a influência do pensamento sobre o afeto e
a volição. (VYGOTSKY, 1993, p. 7).

Entender os aspectos subjetivos do ser humano é, de fato, um grande desafio


que deve perpassar por análises teóricas e empíricas, e foram exatamente essas
análises que Vygotsky usava para chegar a essas conclusões, que de uma certa
forma demonstram a existência de um sistema dinâmico de significados em que
o afetivo e o intelectual se unem. Mostra que cada ideia contém uma atitude
afetiva transmutada com relação ao fragmento de realidade ao qual se refere.
A aprendizagem interage com o desenvolvimento, produzindo abertura nas zonas
de desenvolvimento proximal (distância entre aquilo que o aluno faz sozinho e
o que ele é capaz de fazer com a intervenção do facilitador; potencialidade para
aprender, que não é a mesma para todas as pessoas; ou seja, a distância entre o
nível de desenvolvimento real e o potencial) nas quais as interações sociais são
centrais, estando então, ambos os processos, aprendizagem e desenvolvimento,
inter-relacionados. Assim, um conceito que se pretenda trabalhar, como por
exemplo, a história requer sempre um grau de experiência anterior para o aluno.
A zona proximal fornece subsídios para reforçar o papel de desafiador que o
professor deve exercer em seu trabalho com os alunos. Diante de situações em
que precisa-se trabalhar conceitos e realidades que se conhecem para chegar a
saberes até então ignorados, o aluno sugere respostas e chega a resultados que
lhe permitem alcançar novos níveis de conhecimento, informação e raciocínio. É
na interação entre as pessoas que em primeiro lugar se constrói o conhecimento
que depois será intrapessoal, ou seja, será partilhado pelo grupo junto ao qual
tal conhecimento foi conquistado ou construído.
Para Vygotsky, os aspectos intrapessoal e interpessoal devem ser inteiramente
relacionados para que se alcance um ensino muito mais envolvente e direcionado.
Para ele, o sujeito não é apenas ativo, mas interativo. É na troca com outros
sujeitos e consigo mesmo que os conhecimentos vão internalizando papéis

Psicologia da Educação 38
e funções sociais, o que permite a formação de conhecimentos e da própria
consciência. Trata-se de um processo que caminha do plano social.
Quando se imagina uma sala de aula em um processo interativo, acredita-se que
todos terão possibilidade de falar, levantar suas hipóteses e, nas negociações,
chegar a conclusões que ajudem o aluno a se perceber parte de um processo
dinâmico de construção.
É nesse contexto, que a Psicologia da Educação faz uma leitura dos alunos por
meio das leituras comportamentais, haja vista que o professor é o mediador do
processo e como tal deve exercer uma congruência comunicativa, para que a
zona proximal do aluno seja desenvolvida naturalmente.
Assim, a escola é o lugar onde a intervenção pedagógica intencional desencadeia
o processo ensino-aprendizagem. O professor tem o papel explícito de interferir no
processo, diferentemente de situações informais nas quais os alunos aprendem por
imersão em um ambiente cultural. Portanto, é papel do docente provocar avanços
nos alunos e isso se torna possível com sua interferência na zona proximal.
O aluno não é tão somente o sujeito da aprendizagem, mas aquele que aprende
junto ao outro o que o seu grupo social produz, tais como: os valores, a linguagem
e o próprio conhecimento.
A formação de conceitos espontâneos ou cotidianos desenvolvidos no decorrer
das interações sociais, diferenciam-se dos conceitos científicos adquiridos pelo
ensino que é parte de um sistema organizado de conhecimentos.
Em síntese, para Vygotsky a prática didática deve ter uma visão holística do
processo ensino-aprendizagem, isto é, tanto o aspecto afetivo como o intelectual
devem ser observados pelo facilitador, pois a este cabe o papel de inferir na
zona proximal do aluno, como também fazer a relação entre o pensamento e a
linguagem, para que se tenha respostas para determinados comportamentos e
personalidades, implicando, assim, na desenvoltura dos processos internos na
interação com outras pessoas. Esses fatores aplicados em sala de aula irão criar
um ambiente muito mais favorável, tanto para o facilitador como para os alunos.

3.3 Aprendizagem e Desenvolvimento: interações sociais

O desenvolvimento humano é um contínuo processo que envolve atos de


reconstruções, desconstruções e construções, todos voltados a construtos

Psicologia da Educação 39
emocionais e cognitivos. Os seres humanos, no decorrer da história, não foram
apenas objetos dos processos transformacionais, não obstante, foram sujeitos
desses processos, nos mais diversos campos do saber.
Então levantamos a seguinte questão: até aonde o homem pode ir no que pese
a sua capacidade cognitiva e criativa? Para essa questão, ainda não há uma
resposta definitiva, uma vez que o conhecimento humano, após a Revolução
Industrial na Inglaterra no século XVIII, se desenvolveu demasiadamente.
Hoje, as descobertas humanas à época da Idade Média, por exemplo, eram
inimagináveis. O desenvolvimento da biologia, medicina, engenharia, espacial,
robótica e comunicação são imensuráveis.
Sabe-se que a aprendizagem e o seu desenvolvimento perpassam por aspectos
biológicos, emocionais e culturais. Campos (2011), em seu livro Psicologia do
Desenvolvimento Humano, demostra a égide do desenvolvimento humano:
O desenvolvimento de cada ser humano inicia-se
no momento em que o óvulo materno é fecundado
pelo espermatozoide paterno, sendo formada uma
célula única que imediatamente começa a subdividir-
se. Num processo contínuo são formadas milhões
de células, que assumem funções altamente
especializadas, convertendo-se em parcelas
dos vários sistemas do corpo – nervoso, ósseo,
muscular ou circulatório. (CAMPOS, 2011, p. 55).

Hughes e Noppe (1990), citados por Campos (2011), nos oferecem uma cabal
definição do desenvolvimento humano:
[...] O estudo do desenvolvimento de um
indivíduo desde a concepção até a morte,
em uma perspectiva interdisciplinar. Também
previnem contra a aplicação de normas que a
sociedade criou para dirigir o comportamento de
cada um que podem ser inteiramente sem valor.
(CAMPOS, 2011, p. 55).

Os aspectos do desenvolvimento humano envolvem dois modais psicológicos,


a relação intrapessoal, que é a relação do sujeito com ele mesmo, isso envolve
valores, crenças, verdades e princípios que refletem nas chamadas Crenças
Nucleares, algo que poderíamos chamar de o DNA comportamental do indivíduo.
O segundo modal são as relações interpessoais, que envolvem a relação com
os demais indivíduos, ou seja, a família,os amigos e a escola.
Entendemos que esses dois modais são eixos norteadores para o desenvolvimento
humano, uma vez que as emoções e os mais diversos aspectos da cognição,

Psicologia da Educação 40
são condicionados a eles, nós entendemos, ou pelo menos tentamos entender,
o mundo e as sensações do mundo interior para podermos nos explicar e nos
comunicar com o mundo exterior, como também queremos, a todo tempo, entender
e infundir o mundo exterior, com suas informações e sensações para o nosso
mundo interior.
Sousa (2010), em sua dissertação de mestrado, apresenta os quatro pilares
da Programação Neurolinguística (PNL), para demostrar o valor dos processos
intrapessoais e interpessoais no desenvolvimento cognitivo e emocional do
homem.
Os quatro pilares da PNL refletem a qualidade do
processo ensino-aprendizado do professor em
sala de aula, tendo em vista, que esses pilares
proporcionam situações que vão ao encontro de
cada aluno, independentemente de seu Sistema
Representacional. O primeiro é o outcome ou
resultados que são adquiridos mediante um ato
ou uma atitude. Este pilar implica em uma ação
desprovida de inseguranças ou fobias, que, de
certa forma inibem a capacidade do professor
em sala de aula. Mesmo quando seus resultados
não são atingidos a sua atitude perpassa por um
sentimento não de fracasso, mas de resultados
que não foram inerentes a sua perspectiva inicial.
A ideia, em outras palavras, é que não existem
fracassos, mas resultados que vão de encontro
com aquilo que se pensava que iria acontecer,
mas por algum motivo interno ou externo não
aconteceu. A PNL é uma âncora tecnológica que
estabelece essa reciprocidade de sentimento,
pensamento e ação. O segundo é o Rapport
que é a facilidade de sincronizar uma pessoa ou
grupo, mediante alguns atributos carismáticos.
Para a PNL, é a relação de mútua confiança e
compreensão entre duas ou mais pessoas,
sendo ainda a capacidade de provocar reações
positivas nas mesmas. Também chamado de
empatia, ou seja, é a capacidade de maximizar as
similaridades e minimizar as diferenças entre as
pessoas em um nível inconsciente. Esta é a ideia
central de uma comunicação eficaz, sem ela, a
comunicação pode falhar, conflitos podem surgir e
todos tendem a perder. Com ela, a comunicação
é positiva e harmoniosa, a satisfação é maior e
tende a levar-nos a alcançar os nossos resultados.
O terceiro pilar é a acuidade sensorial que é
perceber o que a outra pessoa está comunicando
– frequentemente não conscientemente – ou
não verbalmente. Tem a ver com a observação

Psicologia da Educação 41
cuidadosa e não tirar conclusões ou julgamento
precipitados para que se possa responder
apropriadamente e com o máximo de empatia,
que é, em outras palavras, o estudo do Sistema
Representacional usado pelo interlocutor que já
fora comentado no primeiro capítulo. E finalmente
o quarto pilar que é a flexibilidade. Que significa
fazer algo diferente, se o que se está fazendo
não funciona. É ter um rol de habilidades e
técnicas para fazer algo diferente se aquilo não
funcionar. O professor deve insistir sem desistir
até que se estabeleça aquilo que a PNL chama
de congruência. (SOUSA, 2010, p. 53).

Falar em desenvolvimento humano é falar em uma comunicação saudável, tanto


no aspecto do eu, como no aspecto do outro. A Psicologia da Educação só terá
razão de ser, se analisar com profundidade esses modais em profundidade na
práxis educacional. Os quatro pilares nos ajudam a desenvolver a capacidade
de ensinar e aprender.
Figura 9 - Os quatro pilares da Programação Neurolinguística

Fonte: Programação Neurolinguística aplicada ao Ensino (SOUSA, 2010)

As interações em sala de aula, não devem ser apenas verbais, mas também
não-verbais. Os seres humanos são comunicativos sob dois focos: o verbal e o
não-verbal. Não se comunica apenas por meio da fala, mas também, dos gestos
e da postura. O importante na comunicação em sala de aula não é simplesmente
conhecer todo o conteúdo programático, mas saber como aplicá-lo a partir do
contexto dos alunos e do estilo comunicativo de cada um.
Através de sensibilidades a partir dessa compreensão, o aspecto da comunicação
em sala de aula pode se tornar mais eficaz, uma vez que haverá uma sincronia
comunicativa, tanto do emissor como do receptor. Geralmente, apenas a
linguagem verbal é focalizada pelo emissor e a não-verbal passa despercebida,

Psicologia da Educação 42
fazendo com que o processo comunicativo seja ofuscado para o receptor que
não consegue fazer uma leitura harmônica e holística da comunicação, por
causa da ausência da linguagem não-verbal.

O texto a seguir, levanta questões interessantes sobre a Psicologia


Educacional nos processos de aprendizagem e comunicação.
Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1414 -69752009000200003>.

Resumo

Nesta última Unidade, estudamos sobre a Psicologia da Educação e o


aprendizado, instigando os educadores a terem um olhar mais subjetivo nos
processos em sala de aula. Convidamos para a nossa discussão dois grandes
pensadores, o psicólogo alemão Carl Rogers e o grande pensador russo
Vygotsky. O nosso primeiro pensador centrou suas pesquisas na relação do
professor com o aluno em sala de aula e o segundo com a linguagem, que
focava a famosa Zona Proximal. Por fim, debatemos sobre aprendizado e
desenvolvimento nas interações sociais, discorrendo sobre esse tópico com
alguns princípios e uma análise da PNL.

Referências

CAMPOS, Dinah Martins de Souza. Psicologia e Desenvolvimento Humano.


3.ed. Petrópolis: Vozes, 2003.
CONCEITO DE PSICOLOGIA EDUCACIONAL. Disponível em: <https://
pt.wikipedia.org/wiki/Psicologia_educacional>. Acesso em: 30 jan. 2019.
GADOTTI, Moacir. História das ideias pedagógicas. 14. ed. São Paulo: Ática, 2014.

Psicologia da Educação 43
REGO, Tereza Cristina R. A indisciplina e o processo educativo: uma análise
na perspectiva vygotskiana. São Paulo: Summus, 1996.
SILVA, Adnilson José da. Psicologia e educação: fundamentos para a
aprendizagem. Guarapuava: Ed. Unicentro, 2009. (Coleção História em
construção)
SOUSA, Cláudio Guida de. A programação Neurolinguística Aplicada ao
Ensino de História na Educação Fundamental. Dissertação Mestrado.
Uninorte, 2010.
VIGOTSKY, L. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
YERO, Judith Lloyd. PNL e educação uma mudança de foco. Disponível em:
<https://golfinho.com.br/artigo/pnl-e-educacao-1-uma-mudanca-de-foco.htm>.
Acesso em: 30 jan. 2019.

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