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CURSO DE PSICOLOGIA
Ao Ms. Francis, orientador da minha escrita, que mesmo não dominando o tema
proposto, acolheu a minha escolha e se dispôs a fazer esta longa caminhada ao meu
lado, me amparando e acolhendo nos momentos mais duros, permitindo que esse
desafio fosse enfrentado da maneira mais leve possível. Agradeço ao empenho, à
dedicação e ao cuidado comigo neste percurso que fizemos juntos, compondo minha
formação e servindo de referência no curso de Psicologia.
À banca que aceitou o convite para auxiliar nesse processo de formação, em
especial, à Ms. Gisela, analista junguiana em formação, que se prontificou a vir da
Universidade de Caxias do Sul para compor esta banca. À coordenadora do curso de
psicologia, Ms Gisele, referência importante no curso desde o segundo semestre,
quando percebi que nossas ideias se encontravam dentre tantas teorias.
Aos meus colegas e amigos, tarefa difícil para citar todos que contribuíram para
minha formação, apenas no espaço de um artigo. Em especial à minha amiga e colega
Raquel Bergamaschi que esteve comigo desde o início do curso, no qual vivemos
momentos únicos para sempre na memória. E ao meu eterno companheiro Mateus
Marmitt, a “dupla” de todos os trabalhos durante o curso, entre as tristezas
compartilhadas pela nossa inexperiência e alegrias quando conseguíamos acertar.
Acredito que, através das nossas trocas, crescemos no curso passando por uma constante
transformação.
Mais que especial, à minha terapeuta Patrícia Medeiros, meu guia durante todo
esse processo de formação, sendo ela uma das primeiras professoras que me deparei no
início do curso e seguimos juntas até o momento, produzindo saberes e olhares novos.
Aos meus filhos, Gabriela e Martín, pelos nossos atrasos nas andanças da vida,
pelos passeios e brincadeiras que não podemos ficar juntos, mas que com certeza foram
as escolhas mais difíceis que tive que fazer na minha vida. Principalmente pelo cuidado
e afeto que me dispensaram em momentos duros, vindo de duas crianças que
compreenderam o sentido de não ter a mãe sempre presente.
Ao meu companheiro, Alexandre, pelas batalhas que enfrentamos nesses anos
juntos e o quanto desenhamos a nossa trilha que hoje nos permite percorrer quilômetros.
In memorian da minha mãe e ao meu pai que me ensinaram a lutar e buscar
meus ideais, enfatizando sempre a educação como um processo de crescimento. Mesmo
com pouca escolaridade foram sábios e responsáveis pela minha constituição enquanto
ser humano.
APRESENTAÇÃO
RESUMO
O presente artigo faz um breve histórico sobre a arte e as mandalas e suas relações com a clínica
junguiana enquanto dispositivos para a escuta na psicologia analítica. Chega ao encontro de Jung com
Nise da Silveira através da imaginação ativa, utilizada por ambos como uma técnica auxiliar para o
desencadeamento do processo de individuação. O trabalho tem como objetivo discutir o que a técnica da
mandala nos oferece para pensar a clínica analítica. Para a realização deste estudo utilizou-se d a
abordagem qualitativa através da pesquisa bibliográfica, levantando e analisando materiais teóricos
embasados na teoria de Carl Gustav Jung referentes à temática da clínica e das mandalas. Como
conclusão, é possível salientar o quanto a produção de mandalas, na clínica de base junguiana, pode
favorecer a imaginação ativa no sujeito em análise para o seu percurso de individuação, isto é, tal técnica
auxiliaria o analisando em sua busca de amadurecimento em torno do si mesmo – Self.
Palavras-Chave: Clínica, Jung, Nise da Silveira, Mandala, Individuação.
Abstract
The present article brings a brief history of art and mandalas, and its relation to the Jungian clinic, as a
device to listening in Analytic Psychology. It meets both Jung and Nise da Silveira, through the technique
of active imagination, a concept used by both, with their patients to initiate the individuation process. This
work has as its objective to discuss what the mandala technique can offer us as means of thinking the
clinic in its current state, while immersed in Analytic Psychology. The method of approach that was
utilized was qualitative, done trough bibliographic research, by reviewing and analyzing theoretical
materials grounded on Jung’s theory, related to the thematic of clinic and mandalas. In conclusion, it’s
possible to stress how much the making of mandalas, in Jungian clinic, can produce active imagination to
the subject in analyses, in benefit of its individuation, that is, such technique helps the analyzed in its
search for self growth.
Keywords: Clinic, Jung, Nise da Silveira, Mandala, Individuation.
RESUMEN
El presente artículo hace un breve histórico sobre el arte, los mandalas y sus relaciones con la clínica
junguiana en cuanto a los dispositivos de escucha en la psicología analítica. Se llega al encuentro de Jung
con Nise da Silveira, a través de la imaginación activa, utilizada por ambos como técnica auxiliar para
desencadenar el proceso de individuación. El trabajo tiene como objetivo discutir lo que nos ofrece la
técnica del mandala para pensar la clínica analítica. Para la realización de este estudio se utilizó la
investigación de carácter cualitativa a través de la consulta bibliográfica, levantando y analizando
materiales teóricos basados en la teoría de Carl Gustav Jung referente a las temáticas de la clínica y los
mandalas. Como conclusión, es posible destacar cómo la producción de mandalas, en la clínica junguiana,
puede favorecer la imaginación activa del sujeto en análisis para su camino a la individuación, esto
significa que tal técnica auxiliaría al analizando en la búsqueda de la madurez en torno a si mismo – Self
Palabras clave: Clínica, Jung, Nise da Silveira, Mandala, Individuación.
curiosidade e a admiração pela mesma foram fatores responsáveis pelo interesse em ler,
Nesse sentido, comecei a buscar, junto ao meu percurso profissional e pessoal, formas
atenção pela beleza, pelos detalhes, pela visão proporcionada através delas e o que
representavam dentro de cada contexto. As cores, as formas, os traços tão singulares, tão
E nessa curiosidade de ver através das mandalas, de poder se conectar com suas
formas e cores, ao mesmo tempo, reingressei na academia para cursar psicologia. Neste
processo de estudo iniciei uma psicoterapia junguiana, teoria da qual tinha pouco
conhecimento e que até então não sabia de sua forte ligação com as mandalas. A
produção de mandalas foi uma das técnicas que conheci e experimentei através da
momentos de olhar para si mesmo, pois na escolha das cores para colorir, o sujeito se
junguiana e, através dela, das técnicas utilizadas para se abordar o mundo dos símbolos.
simbólico, dizem dele? A partir dessa prática, tornou-se mais evidente o sentido da
sujeito; conteúdos esses considerados como difíceis de suportar, mas que, a despeito
psicológico.
tradição oriental introduzida na psicologia por Carl Gustav Jung com a intenção de
círculo, ainda que seja entendida como “o que contém a essência” ou “a esfera da
este tema bastante relevante, no que se refere à clínica, tenho como objetivo neste
estudo amadurecer as práticas de cuidado que envolve esse processo. Nesta composição
segue com base na questão: como a mandala, à luz da teoria junguiana, pode auxiliar na
METODOLOGIA
de Carl Gustav Jung referentes à temática da clínica e das mandalas. Segundo Gil
fenômenos, tendo esse fato como principal vantagem. Ainda, para este mesmo autor, a
tema estudado. Segundo Minayo (2010), a pesquisa qualitativa trabalha com o universo
espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser
portanto, com aspectos da realidade que não podem ser quantificados, centrando-se na
dessa prática utilizada. Da mesma forma, utilizamos o trabalho da Dra. Nise da Silveira,
imaginação ativa, seu encontro com Jung, a arte e as mandalas como processo
terapêutico.
desenvolvimento teórico deste artigo percorre os seguintes passos: “Sobre a arte e o que
ela inspira a clínica”, no qual se fará uma reflexão sobre a ideia do quanto a arte carrega
sobre seu autor a sua singularidade, a sua marca. Percebendo que cada ser humano tem
por base uma cultura que o introduz num mundo consensual, estabelecendo um modo
qual aborda a forma como o sujeito elabora questões através dos símbolos, permitindo
expressá-las através da sua criação. Seguimos este percurso com “A Clínica Junguiana e
a Imaginação Ativa”, que propõe compreender como a mandala poderia ser utilizada
como dispositivo na escuta do sujeito na clínica. Analisamos, neste último item, a teoria
marco do encontro de Nise e Jung, destacando o poder terapêutico da pintura e das artes
o mundo externo nos traz outra ideia de arte na atualidade, na qual não se atém a uma
artistas através de suas obras, a forma de expressão de cada artista, demonstram que
seu modo de captura, a sua capacidade de ver, processo que se torna inerente aos
atravessamentos que perpassam a arte. Sendo assim, a arte se afasta da realidade tomada
como algo em si, com uma existência independente do sujeito, e passa a se configurar
num encontro entre realidade externa e o mundo interno do artista (Arcuri, 2010).
ser vista como uma área distante desse mundo supostamente ordenado e harmônico
com o que é reproduzido nos movimentos da arte não realista está muito distante do seu
(Arcuri, 2010).
É fato que a arte deixou de ser submetida à realidade. Nos últimos séculos,
subjetivo. O olhar do artista passou a conectar o interior dele mesmo para o que é
seria mais possível ter um domínio total da consciência sobre nossos atos: “O Eu não é
senhor da sua própria casa” (Freud, 1976: 178). A nossa consciência não consegue
controlar todos os comportamentos, muitos escapam, através dos sintomas, sonhos, das
associações livres, dos atos falhos e da própria imaginação que formam um conjunto de
cada um de acordo com as suas condições e história singular. Pensando assim, pode-se
dizer que a arte não é cópia da realidade nem se opõe a ela. A arte evidencia a
encontramos, e participa de nossa própria constituição quando nos afeta com suas
intensidades.
um só, uma malha que cobre ambos em uma conexão que não tem sentido caso não se
tenha uma dessas partes. A arte demonstra como os mais variados potenciais subjetivos
compulsivo e automático não o torna fixo e imutável, pois ligado aos fatores instintivos
artista extrair símbolos do inconsciente coletivo que a consciência desconhece por estar
muito adaptada a um mundo racionalista. Portanto, podemos considerar que cada obra
de arte é uma resposta a uma necessidade coletiva e uma compensação àquilo que falta
Jung entende que a necessidade de criar e fazer arte deriva de adaptações que
possibilitam ao ser humano meios de inventividade para lidar com os recursos naturais
exposto. A dor da alma, por ser tão forte, busca encontrar uma via de compensação, um
Observa-se que a atividade artística exige uma produção que permite ao seu
suportar da tensão que deste encontro se produz. O trabalho criativo exige do artista ou
é algo muito singular. A condição de que algo se situa entre o mundo interno e o mundo
externo, nem objetivo nem subjetivo, apresenta uma realidade existente em um mundo
além de nós. Outro mundo, incapaz de ser percebido concretamente, que se coloca
enquanto passagem inventiva entre um eu passado e um eu em transformação a buscar
Nós, seres humanos, nascemos de uma cultura que nos introduz num mundo
modo específico de ser de cada um, sua singularidade, contribuímos de forma especial
Neste sentido, o indivíduo está sempre convocado a obrar-se como a arte durante
sua vida, e a clínica, a partir das mandalas, não faz algo diferente disso. Desta forma,
desejamos trazer um pouco mais dos sentidos da mandala na teoria junguiana e de como
Silveira.
menos regulares, parecendo irradiada do centro. Jung (2008), a partir de seus estudos,
Partindo de Jung (2008), assim como na cultura oriental que inspira a psicologia
produção de um centro novo nela. Jung recorre à imagem da mandala para designar uma
Self.
Em uma das passagens da obra de Stein (2006), ele conta que Jung quando
estava no exército e era oficial médico, fora designado a cumprir serviço administrativo
desenhos converteram-se em pinturas elaboradas que, mais tarde, através dos budistas
ocorreu na viagem à Índia, onde numa proximidade maior com as mandalas, Jung
praticante. Essas imagens são pintadas nas paredes de seus lares ou templos, utilizadas
mandalas, Jung percebeu que em diversas regiões do mundo esses símbolos possuíam o
entre si. Percebendo uma disposição inconsciente para o indivíduo, Jung designou esse
mundo. Da mesma forma, podemos conectar a ideia de mandala trazida por Jung com o
budismo, onde a mandala está baseada em textos sagrados tibetanos e significa roda do
contido na doutrina sagrada. A mandala, neste sentido, seria como um guia imaginário e
2008).
indica a condição humana de tensão e harmonia entre os opostos, porque são imagens
tempo para estabelecer uma ordem interior. Elas se encontram em séries de imagens e
2008).
psique humana. Para ele, o comportamento humano é condicionado de acordo com as duas
geração em geração.
conectado com algo maior, segundo Jung (1991b: 140): “Muitas vezes as mãos
A mandala, criada pelo indivíduo, produz um símbolo pessoal como uma marca
daquele momento que ele está vivenciando. O ato de criar consiste na condição de
arquetípicos desconhecido por parte de seus autores e que a escuta analítica serve para
uma nova ordenação da personalidade, uma nova canalização que empurra o paciente a
estética das fantasias dele, onde descreve o seu processo de imaginação ativa durante
um período de vários anos. Jung atribuiu todo o desenvolvimento de sua psicologia a este
às imagens que seriam apresentadas, passando ser uma tarefa e um conteúdo para a sua
O Livro Vermelho foi concluído por volta de 1930, mas na época Jung optou por
não torná-lo público devido ao seu caráter extremamente pessoal. Mesmo depois da
morte de Jung, a família ainda resistiu à divulgação da obra, preservando a sua vontade.
A obra reúne conteúdos de grandes obras da tradição ocidental que compõem o universo
provinham das fantasias e dos sonhos iniciais de sua vida, apresentados sob a forma de
imagens ou emoções. Jung atribui o fato de não nos relacionarmos com as nossas
significado.
próprias experiências interiores, seguiu seu próprio caminho, elaborando seu próprio
ele. Perto do fim da I Primeira Guerra Mundial, Jung se definia saindo da obscuridade
Guerra, todas as manhãs, esboçava num livro desenhos com formas redondas,
originando-se uma mandala que, segundo ele, identificava-se com sua situação interior.
Através desse exercício diário, pode observar a base dessas imagens que se
para Jung: “Formação – Transformação, eis a atividade eterna do eterno sentido” (Jung,
2000: 233). A mandala, neste caso, ganha sentido à medida que vai se replicando de
interno.
que norteariam o sujeito em seu processo de individuação, uma realidade além do ego
que intui caminhos para a energia libidinal percorrer rumo à totalidade. Sob um olhar
muitas vezes, esquecida no homem, encontro entre sujeito adormecido e sua verdade
transformação da alma.
Percebe-se que as imagens atuam como uma ponte entre o que foi submetido à
consciência num certo momento que não produz nenhum significado, aparentemente.
Mas quando o sujeito permite “escutar-se”, essa mesma imagem, esse conteúdo
imagético produz uma representação, ressignificando o que antes não fazia sentido. A
Essa busca constante pelo Self permitiu que Jung fundamentasse a teoria
partindo não apenas das reflexões, mas ocupando o papel de sujeito e objeto ao mesmo
tempo. Através disso, Jung percebeu que algumas fantasias que nascem do inconsciente
fora da órbita consciente, torna-se difícil por conta de que olhamos o inconsciente a
partir da consciência, que em sua lógica não compreende o que sai de suas vistas. Esse
fato dá-se pela particularidade do inconsciente que em nada se parece com uma história
contada pela mente consciente e linear. O inconsciente tem uma textura diferente, pois
absurdas, onde se perde a noção de tempo e as coisas mais ridículas podem indicar
caminhos a serem desvelados pelo sujeito. Como não fazem sentido nos termos da nossa
perdendo um rico material que nos indica, simbolicamente, o caminho do nosso desejo
vidas diurnas tornam-se cada vez mais vagos à medida que as examinamos mais de
perto. Em função disso, qualquer coisa que ouvimos ou experimentamos pode tornar-se
pode ser reproduzido à vontade adquire um meio-tom inconsciente que dá novo tom à
ideia, cada vez que ela é acessada. Para Jung (2008), as nossas impressões conscientes
assumem rapidamente um elemento de sentido inconsciente que têm para nós uma
expressar o que está difícil de suportar e tentar proporcionar uma compreensão para o
sofrimento.
das próprias mandalas, se constituem nas raízes quase invisíveis dos nossos
pensamentos conscientes. Esses aspectos subliminares que parecem não fazer sentido na
nossa vida diária, como objetos ou ideias comuns, podem adquirir uma significação
psíquica tão poderosa que o processo analítico nos provoca diferentes sensações,
perturbadoras ou aliviadoras, de leveza ou de muito peso, todas de acordo com o que tal
inconsciente, perdendo contato com esse plano arquetípico. Há uma diferença entre o
de ser explicada pelo senso comum racional. Diferentemente do homem primitivo, que
imagens e associações análogas a ideias, mitos e ritos primitivos. Contudo, Jung (2008)
considera que associações e imagens são partes integrantes do inconsciente e podem ser
observadas por toda a parte, não podendo ser considerados “resíduos”, sem vida ou
significação, pois têm uma função e são, sobretudo, valiosas devido ao seu caráter
“histórico”. Tais associações e imagens constituem uma ponte entre a maneira pela qual
O homem primitivo era muito mais governado pelos instintos do que o homem
2008).
um diálogo, uma composição que se mistura através do desenho, dos mapas criados de
Neste trabalho da clínica, observa-se que uma das principais tarefas do terapeuta
emocional que está sendo vivenciada pelo sujeito, de tal forma que o processo analítico
possa dar conta de provocar um encontro do sujeito consigo mesmo, provocando uma
transcendente, não definido pelo domínio psíquico, pois não está contido nele, está além
subjetividade do sujeito, é sua essência, que está para além do domínio subjetivo
centro transcendente capaz de governar a psique do lado de fora dela mesma e que
circunscreve a sua integridade. Com este conceito, Jung tentou explicar os fenômenos
indicam direções simbólicas na vida de cada sujeito. O sistema psíquico, para Jung
ainda, todos os complexos que atravessam o sujeito ao longo da vida. Para ordenar todo
esse processo e o manter unido e coeso, proporcionando certo equilíbrio, o si-mesmo
funciona como um centro que tem como tarefa unificar todas essas partes. Neste
sentido, uma das características do trabalho dos desenhos, das mandalas na clínica
Para finalizar esse estudo, desejamos olhar um pouco para o trabalho da Nise da
Silveira no Brasil e como ela desenvolveu sua escuta aos internos do Hospital
Psiquiátrico Dom Pedro II, de maneira a enlaçar sua prática com a teoria junguiana,
sobretudo no que tange ao conceito de imaginação ativa, que pode ser um fator
mandalas.
com a Psicologia de Jung, a paixão pela arte e o diálogo com a crítica, além de tantas
outras relações estabelecidas por ela lhe deram suporte para deslocar a problemática da
campo da cultura.
realizado por ela no Centro Psiquiátrico Dom Pedro II. A obra discute conceitualmente
estrutura que permitisse a prática de tal, bem como enfatizar o modelo junguiano de
manicômio, vemos desenhos das mais variadas formas que Nise analisou, não
das artes plásticas em geral para chegarmos aos conteúdos do inconsciente coletivo e se
seu encontro com Jung corroborou para se expandir nesse sentido, através de seus
loucura e seus estudos para trabalhar com os pacientes do Hospital Psiquiátrico Dom
Pedro II. Nise da Silveira viveu dois anos de sua vida na prisão, devido à ditadura de
Vargas. Neste período a caça aos comunistas fora adotada como uma política que levou
diversos presos políticos que discordavam do sistema vigente, entre eles estava a
Psiquiatra. Após cumprir sua pena, retornou ao Centro Psiquiátrico para reassumir seu
cargo, quando se deparou com uma realidade hospitalar não muito distante do que
o sistema. Os anos de reclusão serviram para ela refletir e se dar conta que todo o ser
humano merecia que o seu tempo fosse aproveitado com algo criativo, lúdico,
trabalhava, estavam ali depositados havia longa data. Além de engessados pela
utilizados na época, fez com que Nise efetivasse novas práticas de tratamento,
reabilitação social.
uma pulsão configuradora de imagens estava muito presente. E, tendo como base essas
produzidas, Nise foi construindo seu conhecimento científico e criando seu método
O respeito às diferenças individuais sempre foi regra básica para Nise, sendo
assim, criou um potente método terapêutico capaz de obter melhoras clínicas através de
Nise constatou que as imagens produzidas não tinham nada de patológico. Percebia
doente o ego do indivíduo que se desestrutura pela sua frágil construção, e que se
sociais são atributos à causa do ego frágil aos conflitos e ao isolamento, na visão de
Nise. Numa sociedade tomada de exigências e padrões, onde tudo é avaliado, é fácil
estigmatizar aquele que não se adapta. O diferente passa a ser excluído e condenado por
Percebe-se, neste sentido, o delírio como sendo a única saída quando a pressão é
ser”, Nise definia as misteriosas vivências nas quais o indivíduo estaria mergulhado,
psiquiatria. Encontrou na arte, nos mitos, nas religiões, na literatura, o que considerava
relevante nessas áreas que sempre encontraram nas formas de expressão as mais
prática: a arte, bem como a cultura em geral, é um dispositivo que abre as portas para o
inconsciente coletivo e toda a sua potência de guiar o indivíduo a se relacionar com seu
verdadeiro Self.
Através dos monitores que auxiliavam Nise nas atividades do ateliê, constatou
que havia influência dos mesmos na afetividade e produção criativa dos frequentadores.
com alguém como pressuposto para a volta à realidade, confirmando como base
criar, não existindo aulas de como fazer arte. A proposta era ser espontâneo,
a sua dor. Modelos estéticos e julgamentos são fatores que não existem nesse processo,
utilizando-se como guia a inspiração e os rancores, as dores e angústias da alma. O
realizado nos ateliês, através do convívio com o conhecimento sobre a história de vida
O cotidiano do ateliê que Nise coordenava mostrava como essa prática passou a
ser espontânea para os usuários dos serviços, pois mesmo as pessoas que conquistaram
realizavam seu tratamento neste espaço onde encontravam acolhimento e refúgio para
1982), mas que a partir do desenrolar das confecções de mandalas, pinturas e outras
estimulava à individuação.
junguiana, seja ela feita por Jung ou por Nise, ou por qualquer clínico que possa se
atual com seu lado primitivo, inventivo, selvagem e não regrado pela lógica racionalista.
A potência ofertada pela clínica junguiana se passa, justamente, no encontro com essas
forças selvagens esquecidas, tão importantes para não sermos escravos reprodutores de
uma vida racional que tenta a todo o momento livrar-se dos sofrimentos, das angústias,
maturidade psicológica é uma tarefa individual cada vez mais ameaçada pelo
conformismo difundido nos dias de hoje, colocando em risco a potência de angariar
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Jung, denota-se o quanto o estudo sobre as mandalas direcionou caminhos que levaram
espécie de alívio ao sujeito, permitindo que ele possa dar conta do que lhe atordoa.
Através dos estudos realizados que partiram da ideia da mandala à aproximação com
Nise da Silveira pelo conceito de Jung (o qual refiro neste artigo), foi possível
compreender outras possibilidades como forma de expressão daquilo que não consegue
ser verbalizado.
Nesse preâmbulo agradável pela obra de Jung, imbuída pela curiosidade sobre as
mandalas que me serviram como dispositivo para entrar na clínica e chegar ao conceito
de imaginação ativa que ampara a técnica utilizada por Nise da Silveira com seus
pacientes. Buscando uma forma de expressão que possa dar conta da angústia do sujeito
que não consegue permitir que esses conteúdos tornem-se conscientes, vindo à tona.
conteúdo simbólico.
tranquilidade, pois acredita-se que, através das mandalas, o sujeito possa redirecionar
seu olhar para pontos que, talvez, em sua tranquilidade não conseguiria perceber. Sendo
indivíduo possa não ter condições de entrar em contato com esse material. A
compreensão de que a única pessoa que pode dar significado à mandala é o seu próprio
autor é fundamental. Este é o processo que faz parte do indivíduo, sendo como função
processo pode ser percebido no trabalho com as mandalas na clínica que foi
prática do estágio que este pesquisador realiza como componente obrigatório para
Sendo assim, reitero meu profundo sentimento de satisfação (assim como fiz no
projeto deste), por ter vasculhado a teoria junguiana, pois isso me levou a aprofundar
meu conhecimento, assim como tornar meu olhar ainda mais amplo, visando à futura
Enfim, baseada nessa teoria complexa, mas tão instigante, considero que a
permeou todo esse estudo: como a mandala, a luz da teoria junguiana, pode auxiliar na
expressão que não seja verbalizada permite ao sujeito poder se aliviar do que mais lhe
aflige, lhe corrói. Percebe-se que cada sujeito possui sua própria forma de expressão,
ter concluído mais esta etapa e o desejo de continuar buscando novas lacunas que se
passagem pela teoria junguiana, a qual despertou outras possibilidades como práticas
para trabalhar na clínica. Até o encontro com Nise da Silveira, num momento em que
está em cartaz no filme sobre sua vida em todo o país (conexão com o inconsciente
coletivo), posso me considerar escolhida para realização deste estudo que contribuiu
para novos olhares sobre o sujeito diante de suas possíveis formas de expressar-se.
REFERÊNCIAS
ARCURI, Irene Gaeta (2004). Arteterapia de corpo e alma. São Paulo: Casa do
Psicólogo.
GAMBINI, Roberto (2008). A voz e o tempo: reflexões para jovens terapeutas. São
Paulo: Ateliê Editorial.
GREEN, Shia (2005). El livro de lós mandalas del mundo. Santiago, Chile: Oceano
Âmbar.
GIL, Antonio Carlos (2010). Como elaborar projetos de pesquisa. 5ª ed. São Paulo:
Atlas.
STEIN, Murray (2006). Jung: o mapa da alma: uma introdução. 5ª ed. São Paulo:
Cultrix.
4
ANEXO A
Cadernos Junguianos
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junguiana, sua prática clínica e reflexão teórica, assim como resenhas de livros, filmes
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itálico; e) títulos de artigos entre aspas (“ ”); f) a palavra Self (com letra maiúscula) e
em itálico e as palavras anima e animus em itálico; g) uso de minúsculas para os
termos da psicologia (psicologia analítica, sombra, persona, arquétipo, complexo, ego,
psique, etc ).
4.Citações de até três linhas devem aparecer entre aspas (“ ”) no corpo do texto, com
o sobrenome do autor, data de publicação e o número da página ou parágrafo entre
parênteses ( ). Para citações com mais de duas linhas mudar de parágrafo, dar espaço
e usar corpo 10, sem aspas, indicando no final, entre parênteses ( ) o sobrenome do
autor, data de publicação e número da página ou parágrafo. Ex: (Bachelard, 1990: 75).
5.Não inserir notas de rodapé. As notas devem ser numeradas no final do texto.
6.Os artigos devem ser acompanhados de referências bibliográficas completas ao final
do texto, com a lista dos autores em ordem alfabética pelo sobrenome do autor.
Conferir exemplos abaixo.
41 Em várias culturas o Mandala foi símbolo de expressão religiosa ou artística. A arte rupestre, o símbolo
taoísta Taiji, do yin e yang, o calendário Maia, os yantras indianos, os Mandalas tibetanos, as rosáceas da
Catedral de Chartres, o Mandala cabalístico da Árvore da Vida, o Mandala alquímico, A Conjunção, A
Gênese são exemplos de Mandalas de diversos povos em diferentes épocas. Os Mandalas, assim como
são conhecidas na cultura oriental, principalmente na Índia, também fizeram parte da expressão artística
cristã dos séculos XVI, XVII e XVIII, além dos escritos herméticos, da alquimia e da cabala. Percebe-se
que na Índia o símbolo Mandala significa círculo, considerada uma palavra masculina, assim referido O
Mandala, no entanto no decorrer deste trabalho utilizarei o termo a Mandala, assim como foi encontrado
nas fontes desta pesquisa.
7.Gráficos e ilustrações (no máximo três por artigo) podem ser incluídos apenas se
estritamente necessários, e devem ser enviados em mídia eletrônica de alta resolução
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9.A Comissão Editorial reserva-se o direito de aceitar, recusar ou reapresentar o
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