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FORMAS ESTRUTURAIS DA PSIQUE FEMININA

Um Esboço (1)
Toni Wolff
Tradução: Cristina C. M. Jorge

Para o autoconhecimento e auto realização da mulher moderna pode não ser importante apenas
estar consciente da atitude (introversão ou extroversão) e a função psicológica básica
(pensamento, sentimento, sensação ou intuição) (2), mas também entender qual forma estrutural
da psique corresponde melhor a sua personalidade (3). Esta forma estrutural não deve
necessariamente coincidir com a forma externa da vida, nem implica em nada relativo ao caráter
ou ao nível cultural e humano. A forma externa da vida pode ser escolhida por outras razões
além de puramente constitucionais (por exemplo, influências do tempo e ambiente externo,
circunstâncias sociais, habilidades específicas) e mais frequentemente que não a forma
estrutural da psique se encaixará na forma externa da vida apenas com dificuldade, resultando
em insegurança e conflitos.
Os problemas do homem são diferentes, à medida que são mais dualistas por natureza
(habilidades coordenativas ou formativas e instintivamente), suas realizações culturais são
determinadas pelo espírito. Consequentemente sua atitude consciente e seu modo de lidar com a
realidade são geralmente baseados na função mais diferenciada.
A mulher, por outro lado, é por natureza condicionada pela alma, e ela é mais consistente no
sentido que seu espírito e sexualidade são mais coloridos pela psique. Assim a sua consciência é
mais compreensível mas menos definida (4). O Elemento psíquico tende a se manifestar em
tantas formas de vida quanto possam corresponder à forma estrutural feminina e ao período
cultural considerado. Nem todos os períodos oferecem possibilidades ótimas para isso; mas não
podemos entrar aqui em todas estas causas históricas, sociais, econômicas e religiosas que hoje
em dia obstruem a realização da forma estrutural inerente na mulher. Uma revisão deste tipo
também seria de pouco proveito, já que poderia apenas demonstrar por meio de quais fatores
psicológicos o problema é determinado. O que é de importância prática é a existência deste
problema e a tentativa de resolver os estados de confusão interna através da obtenção de mais
consciência (5).
Um fato histórico será apenas mencionado aqui como sendo exemplo simbólico dos problemas
da mulher moderna: a insegurança de muitas mulheres modernas relativa a si mesma e à
essência do feminino é menos frequentemente encontrada no catolicismo. Aqui, no símbolo de
Maria, o culto a essência do feminino como tal foi não somente associado à divindade
masculina por eras e não apenas recentemente proclamado um dogma (como visto por Goethe
no final de “Fausto”), mas seus vários aspectos são representações simbólicas de maneiras de
existência essencialmente femininas: donzela do Senhor, virgem, noiva do Espírito Santo, mãe
de Deus, guerreira contra os infiéis, mediadora, rainha dos céus, etc. (6). Do ponto de vista
histórico a insegurança da mulher protestante (e Judia) se deve à ausência de seu princípio
dentro da divindade exclusivamente masculina – o paralelo metafísico da civilização patriarca
masculina. Mas simbolismos religiosos devem abraçar um indivíduo em sua totalidade. No
entanto, em vista do fato que um retorno ao passado é impossível, aqueles relacionados podem
apenas avançar no caminho de uma diferenciação intensificada e uma apreciação mais profunda
dos problemas psicológicos envolvidos.
O desaparecimento da essência do feminino (Chinês “Yin") no Protestantismo, incluindo a
figura de Maria, assim como o significado e misticismo no culto e mito e a dependência
exclusiva na “palavra” como princípio fundamental resultaram na promoção de ciência e
técnica, mas também no desenvolvimento do “logos” em um instrumento puramente racional,
com a exceção do fator psicológico. (Os exponentes dessa tendência na psicologia são Freud e
A. Adler, enquanto na sociologia e política é o Marxismo). A “eliminação do fator psicológico”
da consciência necessariamente leva a exteriorização e coletivização, pois a psique é a vida
interna e a base da individuação (7). No misticismo medieval a alma é o órgão da experiência de
Deus e o “nascimento de Deus”; assim o homem atinge o centro de si mesmo e ao mesmo no
“solo primitivo”. A ânsia “mística” moderna não busca pela “alma”, mas por “gnose”, por
“conhecimento superior”, e, portanto a imitação de “sabedoria oriental” de todos os tipos está
consequentemente em oscilação. A “alma”, por exemplo, a psique, é a essência feminina, o
principio da relatividade, enquanto o “logos” abstrai e generaliza o indivíduo (8). A valorização
da alma corresponde á da mulher, como pode ser visto, por exemplo, durante o florescer da Era
Medieval, por exemplo, a era “minne” (n.t.1) e “cours d´amour”. Dante se encaixa aqui, assim
como as lendas do rei Artur e o Graal, nos quais a “minne encantadora” (Dama Venus, Fada
Morgana, etc.) tem seu próprio lugar (9).
n.t.1 – Minne é um termo originário do Alemão, utilizado para designar um “amor cortês”,

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sendo geralmente designado por um amor secreto entre nobres da sociedade.

Esta forma de cultura também desapareceu e para a mulher moderna, contida como ela é no
processo histórico, dois fatores são de importância particular: a liberdade de escolher sua
profissão e o conhecimento de métodos anticoncepcionais (embora o último possa já ser
encontrado em povos primitivos). Na Era Medieval duas maneiras reconhecidas de vida se
abriram para a mulher: a de esposa e de freira. A última oferecia a possibilidade de manifestação
de diversas formas estruturais: caridade (caritas), “minne” divida, visionária e batalha espiritual.
Nesta conexão é também necessário mencionar a bruxa como expressão psíquica, independente
de qualquer forma de vida ou confissão – uma combinação herética de magia e demônio.
Com o renascimento da antiguidade clássica durante a Era Renascentista, Olimpo e suas
divindades surgem novamente na consciência – uma imagem de alma de muitas figuras para o
homem e, para a mulher, uma expressão simbólica de feminilidade de muitos desdobramentos:
Hera, cônjuge e rainha; Demeter- Perséfone, a mãe; Afrodite, a amante; Palas Atena, portadora
da cultura e protetora dos heróis; Artemis, a caçadora donzela; Hecate, soberana do submundo
da mágica (10). No entanto, a essência da Renascença não é um retorno da religião antiga, mas
a descoberta da natureza do homem (11); é o expoente espiritual da tendência desde então
irresistível de sair daquele mundo apara esta terra, uma tendência que eventualmente, mas
erroneamente levou ao materialismo. Seguramente, considerando positivamente, este mundo é
de fato a realidade no mais verdadeiro dos sentidos, e sua investigação empírica estava
compelida a resultar na redescoberta de certos fatos conhecidos, embora não necessariamente
óbvios: por exemplo o conceito energético da matéria em física e, na psicologia, a psique como
origem da consciência e a matriz criativa de todas as ruas realizações e manifestações na vida. O
quanto a psique da mulher, além da inconsciência do homem, contribuiu para este conhecimento
é brevemente descrito por C.G. Jung em “Die Frau in Europa” (A Mulher na Europa) e por
Linda Fierz-David em Frauen als Weckerinnen seelischen Lebens (Mulheres como
Despertadores da Vida Psíquica) em “Die kulturelle Bedeutung der komplexen Psychologie”,
Rascher, Zurique.

Estes poucos detalhes históricos foram necessários como base para uma representação
esquemática das formas estruturais da mulher moderna. Em seu livro “Die Rolle der Erotik in
der mannlichen Gesellschaft” (O Papel do Erótico na Sociedade Masculina) Diederichs, 1910,
Hans Bluher postulou duas formas estruturais femininas, a cônjuge (Penelope) e a “mulher
livre” (Calypso). Edouard Schuré apresenta uma terceira em seu “Femmes inspiratrices et
poetes annonciateurs” Perrins & Co., Paris 1907. De fato, provavelmente existem quatro
formas. Elas devem ser caracterizadas por nomes, mas eu tenho total consciência do caráter
questionável da terminologia. Elas podem ser referidas como as formas psíquicas da mãe e
esposa, a Hetaria (companheira, amiga), a Amazona e a mulher medieval. Em comum com os
tipos de função psicológica está a reação contrária de seus eixos (por exemplo relacionadas
pessoal ou impessoalmente) e o fato que, por regra, uma forma é predominante e deve estar
unida a outra, enquanto a terceira e quarta estão inicialmente inconscientes e podem se tornar
conscientes somente com dificuldade e durante a parte mais tardia da vida. Diante do fato que
todas as formas podem ser rastreadas na história da cultura, elas são provavelmente de natureza
arquetípica (12). Elas também correspondem aos aspectos da Anima masculina.
As representações estruturais são as seguintes:

Mãe

Mulher Médium
Amazona
Relacionadas Impessoalmente

Hetaira

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A seguir tentarei delinear as características psíquicas mais importantes das várias formas.
A Mãe é afagadora, alimentadora, ajudante, caridosa, instrutora de modo maternal. Seus
instintos reagem a tudo que no homem está em processo de se tornar, ao que é subdesenvolvido,
necessitando proteção, em perigo ou requer cuidados, zelo e assistência. Sem condescendência,
ela suporta e consolida o que está inacabado e em necessidade de ajuda, providencia espaço
para o desenvolvimento psíquico e maior segurança. A Mãe encontra realização na sua relação
ao que precisa de proteção, ajuda e desenvolvimento através do empenho em fortalecê-lo, para
que em circunstâncias normais ele possa ser liberado de seus cuidados e, se isso não for
possível, pode receber o máximo de segurança.
O aspecto negativo da Mãe é maternagem, amamentação ansiosa e tutelagem do objeto quando
este nunca o necessitou ou já não necessita mais, falta de confiança na força do objeto e sua
independência, bem como a interferência com seu desenvolvimento. O ego é apenas
experimentado em sua função maternal e é vazio sem ela. O perigo específico envolvido é que
aspectos não aceitos de sua própria personalidade podem se infiltrar nos protegidos e tendem a
se realizarem através deles – conscientemente na forma de guia ou, o que é pior,
inconscientemente infectando os objetos e preenchendo-os com uma vida que não é deles.
Quando a mulher está consciente da sua estrutura principal maternal, ela irá organizar sua vida
externa de acordo, seja através do casamento ou através de profissões e atividades maternais. O
casamento se realiza do ponto de vista de garantir condições ideais para um lar: qualidades
paternas do marido, condições familiares e sociais semelhantes, posição social, segurança e
carreira. No caso de profissões maternas, o lar é substituído por instituições ou organizações de
serviço público. Pessoas importantes (Elisabeth Fry, Florence Nightinggale, Mathilda Wrede e
outras) alcançaram realizações pioneiras neste campo. Além do casamento e profissões existe
uma gama de atividades maternais em formas inaparentes de diversas relações humanas.
Sua relação com o masculino é determinada por este aspecto do marido e pai dos filhos ou
protegidos e consequentemente tudo que é relativo à sua posição no mundo – o que é importante
para sua Persona – é protegido e promovido. O que quer que ele seja adicionalmente a isso
geralmente é visto como ameaça ao lar e portanto ignorado ou reprimido, ao ponto que
eventualmente ele se sinta sendo apenas um filho, ou acessório necessário do lar e
provavelmente vá exagerar sua virilidade na profissão, ou em companhia masculina como modo
compensatório. Se seu papel no casamento for de “conter” (13) sua psicologia pessoal se
mantém inconsciente e subdesenvolvida, já que para se desenvolver ele precisaria de espaço de
vida psíquica (14).

A Hetaira ou companheira está instintivamente relacionada ao aspecto psicológico do


masculino, assim como a de seus filhos, se for casada. Os interesses individuais, inclinações e
possivelmente também os problemas do masculino estão dentro do seu campo de visão
consciente e são estimulados e promovidos por ela. Ela irá conduzir a ele o senso de valor
pessoal bem aparte de valores coletivos, já que seu próprio desenvolvimento demanda dela
experimentar e realizar uma relação individual com todas as suas nuances e profundidade. As
“femmes inspiratrices” (n.t. = musas inspiradoras) de Schure pertencem principalmente a esta
forma estrutural, mas são exceções assim como o homem criativo (15). O tipo Calypso de
Bluher que pode ser encontrada muito mais frequentemente é uma equivalente razoavelmente
próxima, mas não conta significativamente para os problemas psicológicos envolvidos. A
função da Hetaira é despertar a vida psíquica do indivíduo no homem e liderá-lo através e além
das suas responsabilidades em direção da formação da personalidade total. Geralmente este
desenvolvimento é tarefa da segunda metade da vida, por exemplo, após a posição social é
estabelecida com sucesso.
A Hetaira então afeta a sombra do homem e o lado subjetivo da sua Anima – um problema que
não é livre de perigos. Consequentemente ela deve ser, e no melhor dos casos o é, consciente
das regras da relação. Seu interesse instintivo é direcionado aos conteúdos individuais da
relação nela mesma assim como no homem. Para o homem, a relação em todas as suas nuances
e potencialidades é geralmente menos consciente e menos importante, pois o distrai de suas
tarefas. Para a Hetaira é decisiva. Todo o resto – social, segurança, posição, etc. – não é
importante. Nisso está tanto o significado como o perigo de Hetaira. Se ela olhar além da
Persona do homem (ou de seus filhos) ela se adapta a ele tão cegamente que poderá idealizar o
elemento pessoal, incitá-lo excessivamente e trazer o homem a um ponto onde ele mesmo perca
sua visão da realidade externa: ele pode instintivamente desistir de sua profissão para se tornar
um “artista criativo”, ele pode se divorciar, achando que a Hetaira o entende melhor que sua
esposa, etc. Ela insiste numa ilusão ou contrassenso e se torna a tentadora; ela é Circe ao invés
de Calypso.

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Existe muita confusão hoje em dia como resultado da largamente difundida abolição do tabu
sexual. É ordem do dia ter relacionamentos – vistos do ponto de vista da mulher eles podem ser
devido a desentendimentos eróticos ou necessidade profissional. Para o homem, a sexualidade é
a manifestação auto evidente da relação. Para a mulher, e em especial para Hetaira, é em certas
circunstâncias o seu resultado ou, de acordo com as leis individuais do relacionamento, deve ser
mantido fora dele. De qualquer modo, só é apropriado quando a relação está suficientemente
desenvolvida. Ao invés de começar com a sexualidade, como frequentemente ocorre, deve ser o
resultado eventual, uma vez que a relação atingiu certa profundidade e consolidação psíquica e
pode então representar o equivalente psíquico da segurança oferecida pelo casamento. Mas já
que a segurança oferecida por um casamento ou profissão é de necessidade vital para a mulher,
isso pode se infiltrar inconscientemente na relação de Hetaira e perturbar seu caminho
intrínseco. Um poderá então dizer que, paradoxalmente, a Hetaira ideal é a mulher que no
casamento representa a contida, por exemplo, ela é a que precisa de uma relação pessoal além
do casamento. Deste modo, ela poderá se realizar na relação e assim também na vida de casada,
mais conscientemente e sem motivos secretos. Por outro lado uma mulher casada que não tem
consciência de sua natureza Hetaira, ou a reprime, tende a se tornar amante secreta de seus
filhos e melhor amiga de suas filhas, atando-as exatamente assim como a mãe que é
inconsciente de sua natureza de mãe.
Tudo na vida deve ser aprendido, assim como a relação humana e é portanto apenas natural que
Hetaira não pode começar em seu nível de maior diferenciação. Mas uma vez que ela o perceba,
ela irá cuidadosamente observar as leis das relações individuais e o perceberá o que pertence a
ela ou não, e se necessário irá saber quando uma relação se tornou completa e preenchida.

O fato que o problema da relação pode ser vital, mas certamente não o único vital para o
homem, o permite, especialmente hoje em dia, experimentar sob um aspecto positivo da terceira
forma estrutural do feminino, conhecida por Amazona. Assim como o homem, a mulher sempre
viveu as relações não apenas com objetos humanos, mas também aos valores culturais objetivos.
Nosso tempo que oferece amplo escopo neste sentido é favorável a Amazona que é
independente e autocontida no sentido positivo do termo. Ela é independente do homem, pois
seu desenvolvimento não é baseado em uma relação psicológica com ele. Os valores
conscientes representados por ele são ao mesmo tempo os valores dela. Seu interesse é
direcionado á realização objetiva que ela quer atingir por si mesma. Ser esposa de um homem
notável não significa nada para ela; ela busca conquistar louros por si mesma. As grandes
esportistas e viajantes pertencem a esta categoria, assim como mulheres com vida pública
menos proeminente; por exemplo, aquelas de trabalho científico, serviço civil ou negócios, as
secretárias que se tornam indispensáveis em seus escritórios, as que não se sentem
sobrecarregadas com suas famílias e portanto se ocupam de maneira útil com algum interesse
objetivo ou se dedicam a uma tarefa, as que gerenciam um negócio (do qual muitas vezes o
marido é um empregado) ou simplesmente as que estão “vestindo as calças” em casa e mantém
seus lares e família sob disciplina militar.
O aspecto positivo da Amazona pode ser o de companheiro agradável do homem – um
camarada que não faz demandas pessoais – um competidor e rival que merece ser levado a
sério, que instiga suas ambições e inspira os melhores feitios masculinos (16). Seu aspecto
negativo é o da irmã que, levada pelo “protesto masculino”, quer ser igual ao irmão, que não
reconhece nenhuma autoridade ou superioridade, que ainda não saiu da casca de ovo do voto
feminino, que briga usando armas exclusivamente masculinas e é a Megera em casa. As
“hienas” sociais ou da sociedade também são subespécies desse tipo. Complicações pessoais são
lidadas de forma masculina ou reprimidas. Paciência ou compreensão por qualquer coisa ainda
não desenvolvida ou no processo de desenvolvimento ou desviadas estão ausentes tanto no
respeito a si mesma como pelos outros (“Não vejo a hora dos meus filhos crescerem”). O
casamento e a relação são vistos sob o aspecto de realização, principalmente de suas próprias
realizações; sucesso e eficiência são suas palavras da vez. A Amazona também corre o risco de
abusar das relações humanas como “negócio” ou visando sua carreira.
Heinrich von Kleist em sua “penthesilea” iluminou as profundezas da psicologia Amazona. Um
exemplo histórico instrutivo é Lady Hester Stanhope (17).
Talvez “Amazona”, assim como “Heteria” sejam nomes inapropriados, já que estão associados
historicamente. Mas provavelmente não é fácil achar termo melhor para esta forma estrutural
que é caracterizada pela ênfase colocada na personalidade do próprio indivíduo e no seu
desenvolvimento dentro dos limites dos valores culturais objetivos de nosso tempo, bem
independente de outras pessoas e dos fatores instintivos e psíquicos. Até onde nosso tempo
presente oferece maior escopo a estrutura Amazona, é esta forma que, além da “Mãe”, pode
mais frequentemente ser encontrada na notoriedade da vida pública ou que talvez seja escolhida
como a forma externa de vida sempre que corresponde a uma necessidade ou ideal, mesmo
quando não seja totalmente consistente com a natureza externa.

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O presente contém em si mesmo o passado e o futuro. A lucidez da consciência jaz sobre


sementes escuras e inconscientes das quais cresceram ou crescerão os objetos de valores
culturais. É sob este fundo inconsciente que é percebida a forma estrutural Médium. Nesta
conexão, um não deve pensar em parapsicologia, embora o médium comum represente seu
aspecto mais inferior, por exemplo o nível mais inconsciente (18). Incidentalmente, é
interessante notar que a aparição dos primeiros médiuns conhecidos em tempos recentes,
sabidamente Fox e sua irmã, quase coincidem com o início da emancipação feminina em 1848
que foi resultante da revolução industrial (19). No mesmo ano revolucionário de 1848 o
“Manifesto Comunista” foi publicado por Marx e Engels e o Papa Pio IX começa a preparar o
dogma da Concepção Imaculada de Maria. A história de ideias segue as leis da compensação.
Médium significa: no meio, nem isso ou aquilo, algo intermediário, geral, neutro, no centro, um
meio, agente, mediador, transportador. A mulher Médium está inserida na atmosfera psíquica de
seu ambiente e espírito de seu tempo, mas acima de tudo no inconsciente coletivo (impessoal).
O inconsciente, uma vez que é constelado, pode se tornar consciente, exerce um efeito. A
mulher Médium que se torna dominada por este efeito é absorvida e moldada por ele e às vezes
representa a si mesma. Ela deve, por exemplo, expressar ou agir o que “está no ar”, o que o
ambiente não pode, ou não vai admitir, mas que é assim mesmo parte dele. É o aspecto mais
escuro da situação ou ideia predominante e portanto ela ativa o que é negativo e perigoso. Deste
modo ela se torna a carregadora do mal, mas por fazê-lo não é exclusivamente seu problema
pessoal. Uma vez que os conteúdos envolvidos são inconscientes, ela carece das faculdades
necessárias de discriminação para perceber e a linguagem para expressá-los adequadamente. A
força esmagadora do inconsciente coletivo varre pelo ego da mulher médium e o enfraquece,
enquanto por outro lado o Ego da Amazona é forte, apenas porque ela se mantém fora desse
abismo de fundo. Por sua natureza o inconsciente coletivo não é limitado à pessoa relacionada –
mais razão pelo qual a Mulher Médium se identifica e aos outros com conteúdos arquetípicos.
Mas lidar com o inconsciente coletivo demanda uma consciência sólida do ego e uma adequada
adaptação da realidade. Por regra, a Mulher Médium não tem nenhum dos dois e
consequentemente ela irá criar confusão na mesma medida em que ela é confusa. Consciente e
inconsciente, eu e você, conteúdo psíquico pessoal e impessoal se mantém indiferenciados. Isso
pode inicialmente parecer inspirados para os outros, em especial para o homem, já que a Mulher
Médium, que sente as fundações arquetípicas do seu espírito irá ativar, talvez, até mesmo
representá-los para ele. Ela irá frequentemente personificar o lado impessoal de sua Anima e
assim sabidamente atraí-lo ao tumulto caótico pelo qual ela mesma será levada. Ela sente e da
vida aos conteúdos psíquicos que não pertencem ao ego do parceiro e não pode portanto serem
assimilados sem preparação adequada. Neste caso, sua influência é destruidora e “encantadora”.
Como o conteúdo psíquico objetivo nela mesma e nos outros não é compreendido, ou são
levados pessoalmente, ela experimenta um destino que não é dela como se fosse seu e se perde
nas ideias que não lhe pertencem. Ao invés de se tornar mediadora, ela é apenas um meio e se
torna a primeira vítima da própria natureza. Mas se ela possui as faculdades de discernimento e
o senso de entendimento para valores específicos e os limites do consciente e inconsciente, do
pessoal e impessoal, do que pertence ao ego e o que pertence ao ambiente, então sua faculdade
de se deixar ser moldada pelos conteúdos psíquicos objetivos irá permiti-la exercer influência
cultural positiva, comparável aquela da Amazona. Neste caso, ela se consagra ao serviço do
novo, talvez ainda encoberto, espírito da sua era, assim como os primeiros mártires Cristãos
(20), as mulheres místicas da Idade Média (21) ou, dentro de uma esfera menor, ela se dedica ao
projeto de vida de um homem específico, como Gottliebin Dittus que, além de ser possuída, se
tornou colaboradora de Blumhardt, cuja vitória sobre seus demônios liberaram suas melhores
forças (22). Sempre que as bruxas médiuns não eram apenas vítimas de projeções masculinas e
ganância, elas representavam a dicotomia do mal e heresia inaceitável de seus tempos.
Nossa era com seus muitos desdobramentos de interesse irracional oferece á Mulher Médium
muitas possibilidades de expressão, como por exemplo grafologia, astrologia, quirologia, etc.
Mas estas artes ou até mesmo profissões não são adequadas para quem não tem talento especial
algum. Consequentemente ainda é mais imperativo para a Mulher Médium que para as outras
formas estruturais se tornar consciente de sua psicologia característica e adquirir discernimento,
pata se tornar a mediadora ao invés de simples meio. Ao invés de se identificar e identificar aos
outros com os conteúdos do Inconsciente coletivo – em nada relacionados com a realidade – ela
deve apreciar sua faculdade mediúnica como instrumento e receptáculo para a recepção destes
conteúdos. Mas para atingir isso, ela deverá ter função social como vidente, profeta, curandeira
ou xamã em culturas prévias – e ainda o tem em povos primitivos. Hoje, ao menos, nós temos a
linguagem da psicologia na qual o inconsciente é um fator importante e comumente vital cuja
inclusão na vida de alguém pode ter não só um efeito de cura, mas também levar a maior
consciência e estar enraizada significativamente nas leis da psique. Deve-se mencionar nesta
conexão com os livros de Stewart White sobre sua esposa Betty. É verdade que Betty ainda se

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expressa até certo ponto na língua dos espiritistas, mas como ser humanos ela foi uma pessoa
excepcionalmente vital, com uma visão positiva da vida, que se prestou apenas hesitantemente e
com sólido criticismo para as mensagens do inconsciente. Elas são portanto fáceis de traduzir
para a linguagem da psicologia moderna (23).
Outro exemplo de Mulher Médium, neste caso uma criativa, é Ricarda Huch, cuja mediunidade,
apoiada extensivamente em conhecimento histórico e qualidades poéticas, evoca situações e
personalidades históricas. Entre as grandes atrizes pode-se mencionar Eleonora Duse.
Estranhamente, pintoras mulheres que se pode acreditar qualificadas a dar expressão para as
imagens do inconsciente coletivo estão faltando. Elas provavelmente dependem demais no
espírito da era e consequentemente imitam um estilo prevalente; e assim permanecem na
superfície e dentro da esfera pessoal. Os conteúdos psíquicos coletivos e objetivos, no entanto,
podem apenas ser expressos adequadamente numa linguagem objetiva que, a parte da arte, teria
que ser simbólicas ou psicológicas. Assim como a Amazona absorve os valores culturais
impessoais de sua era e forma seu ego de acordo, a Mulher Médium percebe e é formada pelos
elementos de fundo germinativo inconscientes de uma pessoa, situação ou era. E assim como a
Amazona moderna inicialmente de forma concreta se equivoca entre comportamento masculino
e atividade masculina, também a Mulher Médium se equivoca entre espíritos e espírito
inconsciente. Inserida como ela é no inconsciente coletivo, seria sua tarefa cultural encontrar e
expressar sentido, deste modo atingindo uma função compensatória de promoção de vida.

Semelhante ás quatro funções psicológicas básicas, todas as formas estruturais são inerentes de
todas as mulheres. Se possível, ela irá perceber qual é mais consistente com sua natureza. Aos
poucos, uma segunda forma se afirma de dentro. Este processo também corre paralelo á
diferenciação gradual das quatro funções básicas, à medida que a segunda forma não é oposta
em nossa representação esquemática, exceto nos casos onde o oposto pressiona do inconsciente.
Consequentemente, para a Mãe, por exemplo, a segunda forma será a Amazona ou a Mulher
Médium; a relação pessoal é então unida por uma impessoal ou vice versa, por uma pessoal no
caso de uma mulher inicialmente relacionada impessoal (24). Se a integração gradual da
próxima forma estrutural não acontece, a originária será exagerada ou se tornará negativa. Ao
longo da vida, uma terceira forma terá que ser confrontada, geralmente que está no mesmo eixo
da segunda, mas que tem mais característica de sombra e pode ser facilmente reconciliada com
a primeira. Novamente semelhante às quatro funções, a quarta forma causa grande dificuldade.
A quarta forma estrutural não pode por regra ser vivida concretamente, representando um
contraste muito grande com o caráter original e com a realidade. Como a quarta função
“inferior” básica, ela deve portanto ser expressa no nível simbólico. E assim como a
reconciliação com a quarta função é o caminho para a totalidade psíquica, a integração da quarta
forma estrutural para a mulher é a aproximação ao Self.
Esta tarefa também requer uma vida inteira – inteira tanto em relação ao tempo assim como no
significado intrínseco do processo de mudança que não pode ser descrito aqui. A mulher que
pode se submeter inteligentemente a isso irá encontrar seu lugar adequado neste mundo
moderno e irá cumprir sua tarefa cultural, assim atingindo a segurança interna que se alcança
quando os conteúdos psíquicos individuais – a Sombra, o Animus, a “Grade Mãe” e a “Mulher
Sábia” e até mesmo o Self (25) – não são mais projetados para o ambiente. Assim como a
mulher se relaciona com a vida, é sua tarefa envolver o homem na vida e formar ideias para a
vida. Mas envolvimento e realização podem ocorrer positiva ou negativamente, consciente ou
inconscientemente, com ou sem responsabilidade.

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