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O QUE FREUD NOS ENSINA SOBRE

A PESQUISA EM PSICANÁLISE?
Lygia Maria Bessa TITARA¹; Laéria Beserra FONTENELE ²
¹Bacharelado em Psicologia; ²Professora Adjunta do departamento de Psicologia, Universidade Federal do Ceará

RESUMO
tábuas da lei foram representadas, indaga se teria sido arbitrário e indiferente que algo tão sagrado tenha sido representado dessa
forma ou se o artista quis com isso efetivar um fator formal. Na percepção de Freud, as tábuas chegaram à posição em que estão devido
a um movimento iniciado que dependia da definitiva mudança de lugar da mão direita, mas que as tábuas, por sua vez, impulsionaram
A pesquisa tem por inspiração a prática docente, junto à disciplinas que versam sobre a metodologia e a elaboração de projetos de essa mão rumo ao posterior movimento de contenção. Dessa maneira, os procedimentos com as mãos e as tábuas formam uma unidade.
pesquisa de cunho psicanalítico, na qual depara-se a dificuldade dos alunos em apreenderem o que esse tipo de pesquisa porta de Na perspectiva do psicanalista, a concepção segundo a qual Moisés estaria representando sob o efeito da visão de que seu povo teria
singular em sua relação com seu objeto de estudo. Pretende contribuir para a reflexão acerca da realização dessa modalidade de decaído e dançava em torno da imagem de um ídolo poderia ser abandonada por encontrar sua continuidade na expectativa de que ele
pesquisa no âmbito da Universidade, contexto no qual não se encontram as condições da autêntica pesquisa psicanalítica que, para fosse saltar, destruir as tábuas e completar a obra da vingança. Para nosso pesquisador, isso contraria a caracterização da estátua como
Freud, é o próprio tratamento e que subverte a relação clássica que a Ciência estabelece entre a indução e a dedução e da qual temos parte do sepulcro de Júlio II, ao lado de outras três ou cinco figuras que estavam sentadas. Portanto, o pesquisador conclui que esse não
como modelos seus clássicos estudos de casos. Foram selecionados textos do psicanalista vienense que não se originaram a partir da é o Moisés da Bíblia, que realmente sucumbiu à ira e jogou fora as tábuas, que se quebraram. Foi o Moisés que surgiu da sensibilidade
clínica, mas que a investigação possibilitou a construção de algum saber que pode se integrar e fazer avançar a teoria psicanalítica. do artista que, segundo Freud, “emendou o texto sagrado e falseou o caráter do homem divino” (p. 208). A representação de um Moisés
sentado não encontra nenhum apoio no texto bíblico e parece, ao ver de Freud, que Michelangelo não teve a intenção de fixar nenhum
momento importante da vida do herói. Para nosso pesquisador, a fidelidade ao texto sagrado foi bem menos importante do que a
OBJETIVOS metamorfose que o caráter de Moisés sofreu em sua interpretação. 
Segundo a tradição, Moisés era um irritadiço e dominado pela exaltação das paixões. Para Freud, Michelangelo inscreveu no
Possibilitar novas ferramentas para o ensino sobre a pesquisa em psicanálise na Universidade. Visa realizar um estudo sistemático sepulcro do papa um outro Moisés que reconsiderou o Moisés histórico ou tradicional. Assim, o artista retrabalhou o tema da destruição
de obras de Freud onde o ponto de partida e/ou as fontes de suas investigações não se originam diretamente de sua experiência clínica, das tábuas da lei: estas não foram destruídas pela fúria de Moisés, mas esta irascibilidade, devido à ameaça de que as tábuas poderiam se
mas que de algum modo, contribuíram para as reflexões sobre a clínica psicanalítica. Objetiva, assim, demonstrar os caminhos quebrar, se acalmou e, no mínimo, foi inibida em meio ao caminho que o levaria à ação. Na opinião do psicanalista, com isso, o artista
tomados pelo próprio Freud como pesquisador e o que eles podem ensinar sobre as versões com que se dá a sua utilização do método acrescentou algo de novo, além-do-humano [Übermenschliches], à figura de Moisés. Sua violenta massa corporal e forte musculatura
psicanalítico em pesquisas em extensão. tornaram-se apenas o meio de expressão corpóreo do que Freud considerou o mais elevado trabalho psíquico que o homem é capaz em
prol do rebaixamento de sua própria paixão e do cumprimento de uma determinação para a qual ele foi consagrado.

METODOLOGIA  O INFAMILIAR (1919)


A metodologia utilizada ocorreu mediante a exegese das referidas investigações em que se buscou descrever e analisar: como se
deu seu diálogo com os preceitos científicos; como os estudos científicos que confluem com os seus são trabalhados; a motivação das Das Unheimliche é uma investigação de cunho estético na qual o autor busca compreender o domínio do “infamiliar” enquanto
pesquisas; a problematização dos temas e o seu recorte; como se deu o emprego do método psicanalítico e como expõe seus algo que suscita angústia e horror, busca-se verificar como é possível e em que condições o que é íntimo torna-se infamiliar,
resultados. Para esse fim, foram utilizados quatro textos do pai da psicanálise: Totem e Tabu (1912), O Moisés, de Michelangelo aterrorizante. Por meio da investigação etimológica dessa palavra, o pesquisador avalia que familiar [heimlich] é uma palavra cujo
(1914), O Infamiliar (1919) e, por fim, Moisés e o Monoteísmo (1937-1939). significado se desenvolveu segundo uma ambivalência, até se fundir, enfim, com seu oposto, o infamiliar [unheimlich]. Assim,
“Infamiliar é, de certa forma, um tipo de familiar”. Como é possível e em quais condições o que é íntimo torna-se infamiliar é algo
que Freud empenhou-se em demonstrar.
RESULTADOS Com a apresentação do conto de Hoffmann, “O Homem da Areia”, o psicanalista observou que sentimento do infamiliar está
diretamente associado à representação de que os olhos devem ser roubados e que uma incerteza intelectual - no sentido de Jentsch -
nada tem a ver com esse efeito. Para nosso pesquisador, apesar da boneca aparentemente viva que figura no conto, o fator que está no
• TOTEM E TABU (1912) centro do conto e que sempre retorna em passagens decisivas é o tema do título, o Homem da Areia, aquele que arranca os olhos das
crianças. A partir da experiência psicanalítica, o pesquisador relaciona o medo de machucar ou de perder os olhos como sendo um
A partir da bibliografia de diversos etnógrafos e estudiosos, Freud encontra nos primitivos uma enorme sensibilidade ou horror ao substituto do medo de castração, como foi com Édipo. No modo de pensar racionalista, rejeita-se ativamente a relação da angústia
incesto, a tal ponto que esses povos substituem o casamento individual pelo casamento grupo, uma rigorosa medida contra o incesto vinculada aos olhos à angústia de castração. Essa rejeição diminui quando, mediante a análise dos neuróticos, conhecemos os detalhes
de grupo. O que Freud percebe é que nas relações afetivas entre eles, coexistem componentes que se acham em oposição entre si, ou do “complexo de castração” e seu extraordinário papel na vida anímica. Para Freud, rejeitando a relação entre a angústia dos olhos e a
seja, uma relação ambivalente, feita de impulsos conflitantes, ternos e hostis. Dessa forma, em todas as proibições, o que se tenta angústia de castração, determinados traços do conto pareceriam arbitrários e sem significação, mas que estes se tornam plenos de
proibir é algo que também se deseja. Também nas neuroses há a escolha por objetos proibidos (mãe, irmã) dos quais os neuróticos sentido quando se substitui o Homem da Areia pela figura temida do pai, de quem se espera a castração.
não conseguem se libertar totalmente, em sua vida psíquica inconsciente encontram-se fixações incestuosas da libido que constituem Acerca do tema do duplo, Freud argumenta que são representações oriundas do narcisismo primário e do ilimitado amor por si
o complexo nuclear das neuroses. mesmo que domina a vida das crianças e dos primitivos. Todavia, a representação do duplo não necessariamente declina juntamente
Comparando tabu e neurose obsessiva, Freud encontra os seguintes pontos de concordância: 1. Ausência de motivos para os com esse protonarcisismo arcaico e pode ganhar novo conteúdo a partir do desenvolvimento posterior do Eu. Para o psicanalista, não
preceitos; 2. Reafirmação por uma necessidade interior; 3. Caráter deslocável e perigo de contágio pelo proibido; 4. Originam ações apenas o conteúdo reprovado pela crítica do Eu pode ser incorporado pelo duplo, também nesse campo pode se encontrar todas as
cerimoniosas, preceitos que advêm das proibições. Em resumo, da investigação sobre o tabu chegou-se à conclusão de que: O tabu é possibilidades pressupostas das formas do destinos, às quais a fantasia ainda se fixa, bem como as aspirações em que o Eu se aferrou
uma proibição antiquíssima, imposta do exterior (por uma autoridade) e voltada contra os mais fortes desejos do ser humano; A mas que não foram realizadas por conta das circunstâncias desfavoráveis. Em vista disso, Freud conclui que o tema do duplo trata de
vontade de transgredi-lo continua a existir no inconsciente; aqueles que obedecem ao tabu têm uma postura ambivalente quanto ao um apego a fases específicas de uma história do desenvolvimento e é explicado como sendo uma formação da mesma família dos
alvo do tabu; A força mágica a ele atribuída remonta à capacidade de induzir em tentação; ela age como um contágio, porque o processos anímicos superados dos tempos primevos que naquela época tiveram sentido amigável. Dessa forma, no modelo do duplo, o
exemplo é contagioso, e porque o desejo proibido desloca-se para outra coisa no inconsciente; Expiar a violação do tabu com uma sentimento de Eu sofre uma regressão aos tempos nos quais o Eu ainda não havia efetivamente se separado do mundo exterior e das
renúncia mostra que na base da obediência ao tabu se acha uma renúncia. outras pessoas. Nesse contexto, o psicanalista observa que todos nós atravessamos uma fase correspondente a esse animismo dos
Freud considerou que o ponto mais sólido da abordagem de comparação entre tabu e sintomas neuróticos é encontrado nas primitivos e que não nos desfazemos dela sem que seus rastros e restos sejam capazes de expressão. Desse modo, Freud conclui que
próprias cerimônias do tabu. Tais cerimônias revelaram inequivocamente o duplo significado e sua derivação de tendências “tudo o que hoje nos aparece como ‘infamiliar’ é a condição para que esses restos da atividade psíquica animista ainda nos toquem e
ambivalentes. Supondo que a vida emocional dos primitivos têm um alto grau de ambivalência, semelhante ao que a psicanálise estimulem sua expressão” (p. 85)
atribui à neurose obsessiva, temos que a hostilidade latente no inconsciente experimenta um processo de defesa que Freud chama de
projeção, que ocorre quando ela é deslocada de objeto. Segundo Freud, os sentimentos díspares em relação ao falecido - ternos e • MOISÉS E A RELIGIÃO MONOTEÍSTA (1937-1939)
hostis - procuram ambos vigorar, por ocasião da perda, como luto e satisfação. Há, então, um inevitável conflito entre as duas
correntes opostas, mas como uma delas, a hostilidade, é inconsciente - total ou grande parte -, o resultado do conflito não pode ser a Para Freud, os fenômenos religiosos podem ser entendidos segundo o modelo dos sintomas neuróticos que nos são conhecidos,
subtração de uma intensidade da outra e a consciente fixação do saldo. O processo se resolve mediante o mecanismo psíquico da tais como o retorno de eventos importantes e há muito esquecidos da pré-história familiar humana, que devem seu caráter compulsivo
projeção, a qual a percepção interna de hostilidade é posta para o mundo externo, desprendida (recalcada) da própria pessoa e jogada justamente por essa origem. Agem sobre os seres humanos graças ao seu conteúdo de verdade histórica. Da investigação do conteúdo
para outra. Com o mecanismo da projeção dos primitivos e dos neuróticos temos a existência de processos psíquicos inconscientes ao dos três ensaios, obteve-se que o fato central do desenvolvimento da religião judaica foi que o deus Jeová perdeu suas características
lado dos conscientes. próprias ao longo do tempo e adquiriu semelhanças cada vez maiores com o antigo deus de Moisés, Aton. O fato notável como o qual
Para Freud, ao juntarmos a concepção psicanalítica do totem com o fato do banquete totêmico e a hipótese darwiniana sobre se depara Freud é que as tradições, em vez de se enfraquecerem, tornaram-se poderosas ao longo dos séculos, penetraram nas
o estado primevo da sociedade humana, há a possibilidade de uma compreensão mais profunda, a perspectiva de uma hipótese que elaborações posteriores dos relatos oficiais e, por fim, mostraram-se suficientemente fortes para influir de maneira decisiva no
oferece a vantagem de produzir uma insuspeitada unidade com séries de fenômenos até então separados. Para construir seu projeto de pensamento e nos atos do povo.ulos, penetraram nas elaborações posteriores dos relatos oficiais e, por fim, mostraram-se
genealogia da Kultur, Freud teoriza que certo dia, os irmãos expulsos se juntaram, mataram e devoraram o pai, assim terminando suficientemente fortes para influir de maneira decisiva no pensamento e nos atos do povo.
com a horda primeva. A refeição totêmica, talvez a primeira festa da humanidade, seria a repetição e a celebração desse ato Comparando os sintomas neuróticos com os fenômenos religiosos, reconheceu-se os seguintes elementos comuns: por um lado,
memorável e criminoso, com o qual teve início tanta coisa: as organizações sociais, as restrições morais, a religião. Nesse sentido, o fixação na antiga história da família e vestígios dela; por outro, restaurações do passado, retorno do esquecido após longos intervalos.
sistema totêmico foi um contrato com o pai, em que este concedia tudo o que a fantasia da criança podia dele esperar, proteção, Destaca-se que cada parte que retorna do esquecimento se impõe com poder especial, exerce uma influência incomparavelmente forte
cuidado, indulgência, em troca do compromisso de honrar sua vida, ou seja, não repetir contra ele o ato que havia destruído o pai sobre as massas humanas e reivindica a verdade de forma irresistível, diante da qual a oposição lógica é impotente. Essa característica
real. Nisso criaram-se características que foram determinantes para a natureza da religião. A religião totêmica desenvolveu-se a partir notável pode ser compreendida segundo o modelo do delírio psicótico, onde reconhecemos que na ideia delirante há uma parcela de
da consciência de culpa dos filhos, como tentativa de acalmar esse sentimento e de apaziguar o pai ofendido, mediante a obediência a verdade que teve de admitir, em seu retorno, deformações e mal-entendidos. O que Freud sustenta é a possibilidade de que na vida
posteriori. psíquica do indivíduo estejam ativos não somente os conteúdos por ele vivenciados, mas outros conteúdos, inatos, de origem
Todas as religiões subsequentes mostram-se como tentativas de solução do mesmo problema, que variam conforme o estágio filogenética, o que ele chamou de herança arcaica, que consiste em certas predisposições características de todo ser vivo, sua
cultural em que são empreendidas e os caminhos que tomam, mas são todas reações, partilhando uma só meta, ao mesmo grande capacidade e tendência de encetar determinadas direções de desenvolvimento e de reagir de maneira específica a determinadas
evento, com que teve início a cultura e que, desde então, não permitiu que a humanidade sossegasse. A religião do totem não apenas excitações, impressões e estímulos. Nesse viés, os complexos de Édipo e de castração também parecem comportar-se como processos
compreende as manifestações de arrependimento e as tentativas de conciliação, mas serve também à lembrança do triunfo sobre o pai. herdados, injustificados nos indivíduos, mas que tornam-se compreensíveis filogeneticamente pelo nexo com as gerações antigas.
Freud não descreve a evolução posterior das religiões, mas segue duas linhas: o tema do sacrifício e da relação do filho com o pai. O Supondo a sobrevivência de traços mnemônicos provenientes da herança arcaica, acaba-se com o abismo entre psicologia individual e
exame psicanalítico do indivíduo mostra, com toda a ênfase, que para cada pessoa o deus é modelado no pai, que a relação pessoal psicologia das massas, podendo agora tratar os povos como um indivíduo neurótico.
com Deus depende de sua relação com o pai carnal, que oscila e se transforma com ela, e que Deus, no fundo, nada mais é que um Para alcançar efeitos psíquicos duradouros num povo não basta lhes assegurar que foram eleitos pela divindade. Isso precisa ser
pai elevado.. comprovado de algum modo. Na religião mosaica, o êxodo do Egito serviu como prova. Investigando de onde vem o caráter peculiar
Concluindo a pesquisa que o próprio autor considera "extremamente abreviada”, seu resultado seria que no complexo de do povo judeu e como ele foi conservado. Descobrimos que Moisés forjou esse caráter, dotando os judeus de uma religião que eleva
Édipo reúnem-se os começos da religião, moralidade, sociedade e arte, em plena concordância com a verificação psicanalítica de que seu amor próprio e considera-se superior a outros povos. Eles se conservaram mantendo-se apartados de outros, as miscigenações não
esse complexo forma o núcleo de todas as neuroses, até onde elas foram acessíveis ao nosso entendimento. Surge como uma surpresa atrapalhavam isso pois o que os unia era um fator ideal, a posse de bens intelectuais e afetivos. A religião de Moisés produziu esse
que também esses problemas da vida psíquica dos povos permitam uma solução a partir de um único ponto concreto, que é a relação efeito porque: 1) fez o povo participar da grandiosidade de uma nova concepção de Deus; 2) Afirmava que esse povo fora escolhido
com o pai. E talvez um outro problema psicológico esteja ligado a isso. Com frequência demonstrou-se que a ambivalência afetiva no por esse grande deus e teria provas de seu favor especial; 3) impunha ao povo um avanço na espiritualidade, algo que, já importante
sentido exato, isto é, a coexistência de amor e ódio ao mesmo objeto, está na raiz de importantes instituições culturais. Nada sabemos em si mesmo, também abria o caminho para a elevada estima do trabalho intelectual e para novas renúncias pulsionais.
sobre a origem dessa ambivalência. Pode-se supor que é um fenômeno fundamental de nossa vida afetiva. Mas também a outra A psicanálise de indivíduos nos ensinou que as primeiras impressões infantis em algum momento manifestam efeitos de caráter
possibilidade parece digna de nota: que ela, originalmente estranha à vida afetiva, tenha sido adquirida pela humanidade no complexo obsessivo, sem que elas sejam lembradas conscientemente. Freud acredita-se autorizado a supor que os mesmos processos ocorram
• O MOISÉS,
paterno, DE MICHELANGELO
onde a investigação (1914)ainda hoje encontra sua mais forte expressão.
psicanalítica do indivíduo com as primeiras vivências da humanidade. Um desses efeitos trata da ideia de um único grande deus, que devemos conhecer como
lembrança deformada. Essa ideia tem caráter obsessivo, necessita que creiam nela e, na medida em que é deformada, pode ser
A partir da apreciação de diversos autores, Freud expõe quais dúvidas se acoplam às interpretações da figura de Moisés, caracterizada de delírio. Nele, há o retorno do passado, uma verdade cuja convicção do paciente se estende dela ao invólucro
buscando evidenciar que o essencial para o entendimento dessa obra de arte se encontra escondido, por trás dela. Seguindo essas delirante.
considerações, o pesquisador encontrou observações muito díspares conferidas por cada autor. Nessa querela, são destacados o Depois de romper os limites do judaísmo, a doutrina cristã acolheu elementos de muitas outras fontes, abandonou vários traços do
julgamento de Thode e de Knackfuß. Este observou que o segredo principal do efeito da escultura consiste na oposição artística monoteísmo puro e se adaptou aos rituais de demais povos em diversos pormenores. É digna de nota a maneira como a nova religião
entre a chama interior e a atitude externamente tranquila. À vista disso, Freud busca explicitar o vínculo mais íntimo entre o estado lidou com a antiga ambivalência na relação com o pai. Seu conteúdo principal era, sem dúvida, a reconciliação com Deus-pai, a
de alma do herói e a oposição entre a “tranquilidade aparente” e o “movimento interno” expresso na atitude de Moisés. expiação do crime cometido contra ele, mas o outro lado da relação afetiva se mostrou no fato de o filho, que tomou sobre si a
Em seguida, lembrando-se dos primeiros artigos de Morelli, um conhecedor de arte, compara sua técnica com a técnica expiação, se tornar ele próprio deus ao lado do Pai e, verdadeiramente, no lugar do Pai. Tendo se originado de uma religião do pai, o
psicanalítica, pois ambas têm a característica de intuir o misterioso e o escondido a partir de traços subestimados ou não observados. cristianismo se tornou uma religião do filho. Não escapou à fatalidade de ter que eliminar o pai.
Pressupondo que os detalhes possuem um significado, após sua descrição, Freud deduz um movimento regressivo da mão direita
que inevitavelmente o força a uma hipótese da qual sua fantasia completa o processo. Atentando-se à forma especial como as tão
sagradas tábuas

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