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INTRODUÇÃO DE CONCEITOS PSICANALITICOS

Os psicólogos clínicos estudam a mente, e não o cérebro

Objeto de estudo: mente.

Quando nascemos não temos mente, vai-se desenvolvimento com as relações com os outros, a mente
constrói-se, e a partir desta construção chega-nos o sofrimento, e é disto que vamos falar.
O sofrimento é formado por obstáculos. Necessitamos de recursos criativos para saber lidar com estes
obstáculos, ter saúde é saber ser criativo.

A mente não tem recursos infinitos porque não encontramos apoio para viver as dificuldades em
determinadas instâncias. O cérebro é um órgão subjectivo, já a mente tem determinadas regras e cada um
constrói a sua tendo por base regras gerais do ser humano e incluindo determinadas particularidades, cada
um de nós é único.

A Psicologia clínica é a capacidade de pensar, pensar no outro, no seu vivido … e sem isto não podemos
ajudar o outro! Não podemos ajudar sem ser à luz de nós mesmos.

Como o ser humano sofre? Como adoece? Como se perde? É o que nos mobiliza na vida enquanto psic
clínicos.

Saúde é arranjar soluções através de recursos para solucionar os obstáculos da vida.

(GB) - Seria muito mais fácil se pudéssemos evitar o paciente enquanto exploramos o reino da
psicopatologia; seria muito mais simples se pudéssemos nos limitar ao exame da química e da fisiologia de
seu cérebro e a tratar os eventos mentais como objetos alheios a nossa experiência imediata, ou como meras
variáveis de um a fórmula estatística impessoal. Essas abordagens são muito importantes para a
compreensão do comportamento humano, mas não podem abranger ou explicar todos os fatos relevantes. A
fim de penetrar na mente de outra pessoa, precisamos repetidam ente mergulhar no fluxo de suas
associações e sentimentos; precisamos, nós mesmos, ser seu instrumento de ressonância. John Nemiah
(1961, p.4)

(GB) - O termo psiquiatria psicodinâmica, no geral, refere-se a uma abordagem que tem sua origem na teoria
e no conhecimento psicanalítico.

“A mente é a função geradora de metáfora que usa um grande computador para escrever a sua poesia e
pintar os seus quadros de um mundo cintilante”

O cérebro é a base da mente, mas a mente não é o cérebro.

Todos nós temos uma mente, que se constrói ao longo do desenvolvimento. Esta mente é o produto do
biológico, da cultura, do meio, das relações com os nossos pais, relações que construímos com as pessoas
com significado para nós.

Cada um de nós é exclusivo e lida consigo próprio e com os outros.


O mundo interno que a pessoa foi construindo faz com que a pessoas olhem para si de uma determinada
forma e que olhem para os outros de uma determinada forma também.

O pensamento da criança é egocêntrico, a criança quando reflete sobre si, coloca-se a si como o centro. Este
pensamento também tem uma carga negativa, no ponto de vista da sua culpabilidade – as coisas negativas
também têm a ver com ela (carga muito pesada).

O nosso mundo interno depende do que criámos quando éramos bebés – transportamos dentro de nós um
bebé, uma criança, um adolescente e um adulto. E como estão estes seres? Em conflito? Como se lidam?

A ideia que temos do “Pai” é o pai que construímos dentro de nós que tem a ver com o pai real mas também
com o pai que foi construído pelo sujeito… Por isso quando a criança fala do pai, não está a falar no sentido
real da pessoa; mas sim na construção que tem do pai.

É muito importante em clínica, quando ouvimos o paciente a apresentar o pai, a mãe, o namorado… termos
noção que não estamos a ouvir falar da pessoa, mas sim da representação que o paciente tem da pessoa em
questão, ou seja, na forma como o sujeito apreende estas pessoas!

Quando trabalhamos com crianças é importante conhecer os pais, pois quando as crianças falam dos
mesmos falam da sua construção do pai e da mãe, e temos de descobrir quem são estes verdadeiros pais.
Ex: Filha única, 4 anos, toda a atenção dos pais. Depois nasce um irmão, e os pais já não vão poder dedicar
tanto de si a esta criança. → Contudo, a criança tem uma PERSPECTIVA EGOCÊNTRICA → E vai viver isto
como se os pais gostassem menos dela (isto vai ficando dentro da criança, e desenvolve-se a pensar que os
pais não gostam dela – apreensão feita por ela.)

A psicologia coloca hipóteses, contudo, se se aplica um acompanhamento prolongado, vai-se reformulando.


Há hipóteses que vão caindo e surgem outras. Nós precisamos de teorias/ modelos teóricos – Estes modelos
são construtos humanos.

Há vários psicanalistas, que introduziram conceitos novos que têm muita relação com a sua própria história.
Quando os psicólogos trabalham, a sua subjetividade está aplicada – e esta implicação tem de estar
presente.

A mente de cada um de nós é absolutamente EXCLUSIVA – não existem mundos internos semelhantes. A
mente é uma jóia altamente preciosa, é o nosso operador com o mundo, é através dele que nos vemos a nós
e aos outros, e é desta forma que nos relacionamos. Ex: se eu vir um filme… e todos virmos um filme… há
coisas que eu descrevo e que outras pessoas não descrevem (a realidade de cada um de nós difere -
SUBJECTIVIDADE).

(GB) - O valor único da experiência SUBJETIVA - Os psiquiatras dinâmicos abordam os seus pacientes
tentando determinar o que é singular em cada um deles - como um dado paciente difere de outros
pacientes, como resultado de sua história de vida sem precedentes. Os sintomas e os comportamentos são
vistos apenas como as vias comuns finais de experiências subjetivas altamente pessoais, que filtram os
determinantes biológicos e ambientais da doença. Além disso, os psiquiatras dinâmicos dão extremo valor
ao mundo interno do paciente - fantasias, sonhos, medos, expectativas impulsos, desejos, auto-imagens,
percepção dos outros e reações psicológicas aos sintomas.
Na atividade clínica quando nos relacionamos com o outro, temos de imaginar o mundo do outro, contudo,
imaginamo-lo sempre à nossa luz (imagem e semelhança). Temos de estar à descoberta daquilo que é o
outro.

Uma parte do nosso mundo interno é acedido por nós – CONSCIENTE

E há outra parte que não acedemos – o INCONSCIENTE – Material recalcado. Hoje em dia, sabemos que o
inconsciente não é apenas o que está recalcado – podemos tentar conhecer este mundo, mas permanecerá
uma grande parte no inconsciente. O que nós somos tem a ver com uma história, que é a história de
construção de nós próprios. Nesta história há determinantes biológicos, mas existem outros contributos
relacionados com a relação do mundo à nossa volta.

(GB) - O INCONSCIENTE - Freud (1915/1963) reconhece dois tipos diferentes de conteúdo mental
inconsciente: 1) o pré-consciente (ou seja, conteúdos mentais que podem facilmente ser trazidos à
consciência, simplesmente deslocando-se a atenção da pessoa), e 2) o inconsciente propriamente dito (ou
seja, conteúdos mentais que são censurados por serem inaceitáveis e, consequentemente, reprimidos, não
sendo tão fácil trazê-los à consciência).

(GB) - O INCONSCIENTE - Freud convenceu-se da existência do inconsciente em função de duas principais


evidências clínicas: os sonhos e as parapraxias. A análise dos sonhos revelou que a força motivadora deles
era habitualmente constituída por um desejo infantil inconsciente (1900/1953). O trabalho do sonho
mascarava o desejo, de forma que a análise do sonho se fazia necessária para discernir a verdadeira
natureza do desejo. As parapraxias consistem em fenómenos como lapsos de linguagem, atitudes
“acidentais” ou o esquecimento, ou a substituição de nomes ou palavras. Um dactilógrafo, por exemplo,
repetidamente escrevia assassino quando, na realidade, queria escrever mãe. Hoje, a ideia de “lapso
Freudiano” constitui parte integrante de nossa cultura, e significa a revelação involuntária dos desejos e dos
sentimentos inconscientes da pessoa. Freud (1901/1960) utilizou esses incidentes embaraçosos para ilustrar
a irrupção de desejos reprimidos e demonstrar o paralelismo entre os processos mentais da vida diária e
aqueles responsáveis pela formação do sintoma neurótico.

(GB) - O INCONSCIENTE - O psiquiatra dinâmico considera os sintomas e os comportamentos como reflexos


de processos inconscientes que visam à defesa contra os desejos e os sentimentos reprimidos

(GB) - O DETERMINISMO PSÍQUICO - A afirmação de que os sintomas e o comportamento são manifestações


externas de processos inconscientes revela um terceiro princípio da psiquiatria dinâmica - o determinismo
psíquico. A abordagem psicodinâmica afirma que somos conscientemente confusos e inconscientemente
controlados. Vivemos nosso dia-a-dia como se tivéssemos liberdade de escolha, mas, na realidade, somos
muito mais limitados do que imaginamos. Em grande parte, somos personagens de um roteiro escrito pelo
inconsciente. A nossa escolha do parceiro conjugal, do nosso interesse vocacional e mesmo de nossas
atividades de lazer não são feitas ao acaso; elas são moldadas por forças do inconsciente que possuem uma
relação dinâmica entre si.

(GB) - Por exemplo, uma jovem mulher aprendeu ao longo de sua psicoterapia que sua escolha da medicina
como profissão foi profundamente determinada por eventos de sua infância e sua reação a eles. Quando ela
tinha oito anos, a sua mãe faleceu de câncer. A menina, testemunhando essa tragédia, sentiu-se
desamparada e impotente naquele momento, e sua decisão de ser médica foi em parte determinada por um
desejo inconsciente de obter domínio e controle sobre a doença e a morte. Num nível inconsciente, ser
médica era uma tentativa de ativamente dominar um trauma vivenciado passivamente. Num nível
consciente, ela simplesmente sentia a medicina como uma área fascinante e irresistível. Quando o
comportamento humano torna-se acentuadamente sintomático, os limites da liberdade tornam-se mais
evidentes. O psiquiatra dinâmico aborda esses sintomas, entendendo que eles representam adaptações às
exigências de um roteiro inconsciente, forjado pela mistura de forças biológicas, problemas precoces de
vínculo, defesas, relações objetais e distúrbios do self. Em resumo, o comportamento tem seu significado

O que somos também tem a ver com a CULTURA que estamos inseridos. Imaginemo-nos filhos do mesmo
pai e mãe, nascidos na mesma data, contudo, se nascêssemos numa tribo em Austrália éramos
completamente diferentes.

Também somos aquilo que construímos na relação com os nossos pais. Ex: HISTÓRIA DO ÉDIPO – o édipo é
um homem que quer saber de si e o destino leva-o a matar o pai, casar com a mãe, e ter 4 filhos com a mãe
– todo o sofrimento que decorrente disto tem a ver com algo que ocorreu antes de ele ter nascido, pois os
pais não o queriam ter e abandonaram-no. Existe uma patologia nos pais, que os levam a querer matar o
filho, ou seja, na história de todos nós existem HISTÓRIAS PASSADAS (a história dos nossos pais… dos nossos
avós…) que pesa e que nos vai conduzir.

Surgiram estudos, que afirmam que violências sociais em gerações genéticas de um sujeito, pode reproduzir-
se nos seus filhos (hist passadas… antes da pessoa nascer).

Todo o sujeito tem uma HISTÓRIA. Toda a manifestação do ser humano tem CAUSAS (não uma única causa,
mas sim várias). Existe determinismo que não conhecemos, pois as variáveis são imensas e que certamente
têm relação com a hist do sujeito. Ex: édipo não consegue escapar ao destino. Temos um determinismo
biológico, psicológico que em grande parte, não conseguimos escapar.

Outra ideia que é importante, consiste na forma de apreensão do mundo, do outro e por isso quando nos
relacionamos, vamos provavelmente transportar para essas relações estilos relacionais antigos, ou seja,
provavelmente na nossa infância, construímos determinados estilos relacionais adaptativos que
transportamos para os outros no futuro (estes estilos podem estar adaptados ou não). → TRANSFERÊNCIA.
Ex: Quem faz uma escolha amorosa na vida adulta – porque é que a faz? A verdade é que há determinadas
coisas que nos cativam, que têm haver com a nossa hist.

(GB) - TRANSFERÊNCIA - A persistência de padrões infantis de organizaÇão mental na vida adulta faz com
que o passado seja repetido no presente. Talvez o exemplo mais interessante disso seja o conceito
psicodinâmico central de transferência, que diz que o paciente vivencia o médico como uma figura
significativa de seu passado. Qualidades dessa figura do passado serão atribuídas ao médico, e sentimentos
associados a tal figura serão vivenciados da mesma forma com o médico. O paciente inconscientemente
reenvia as relações do passado, em vez de relembra-las, e, dessa forma, introduz no tratamento uma série
de informações sobre as suas relações passadas

STERN diz que se um bebê tem uma relação com a mãe deprimida, este bebê provavelmente vai criar uma
ideia do que é estar com o outro numa relação de intimidade. Uma hipótese que se levanta é que este bebê
vai perspetivar o outro como alguém que ele tem que reanimar e cuidar – mantendo-se isto para a sua vida
adulta. E por isso, no futuro ele pode procurar uma relação de amor de alguém que precise de ser cuidado e
que ele vai e quer cuidar.

No seio da nossa família nós aprendemos uma língua materna (o português), isto leva a que nós façamos
uma apreensão diferente a um alemão. Coloca-se a hipótese, que se aprendemos uma língua, também
podemos aprender um alfabeto de afetos. Há famílias onde a tristeza é tolerada, outros onde é a violência…
O humano aprende um alfabeto de afetos! Não sabemos aquilo que não temos acesso. No seio da nossa
família aprendemos estes afetos que implica estilos relacionais e utilizamos esta aprendizagem para a nossa
vida social e etc. Esta aprendizagem também nos pode causar imenso sofrimento. – Continuamos na linha da
TRANSFERÊNCIA.

O outro vai sentir-me à sua maneira que também tem haver com a subjetividade do outro. – CONTRA-
TRANSFERÊNCIA – que é o que observamos entre seres humanos. Muitas vezes o que os outros nos fazem
sentir é uma chave para o compreender. Somos seres de relação e relacionamo-nos em função de nós
mesmo.

(GB) - CONTRA-TRANSFERÊNCIA - O médico e o paciente são ambos seres humanos. Assim como os
pacientes apresentam a transferência, os terapeutas apresentam a contratransferência. Pelo fato de cada
relação atual ser um novo acréscimo às relações do passado, passa a ser lógico que a contratransferência do
psiquiatra e a transferência do paciente sejam processos essencialmente idênticos - cada um deles
vivenciando o outro de forma inconsciente como sendo alguém do passado.

No desentendimento é importante focalizar o que se passou naquele momento. E utilizar linguagem como
“fizeste-me sentir abandona” e não “abandonaste-me” – pois o outro pode sentir-se atacado.

Outra ideia importante é que eu construindo-me de uma determinada maneira, constru-o relações de uma
determinada maneira, e isto é aquilo que eu conheço. Se eu sofro como eu sou, posso querer mudar!
Contudo a mudança pode causar sofrimento. Até posso ter relações insatisfatórias, mas estas eu conheço
(daí muitas vezes, a vítima identificar-se com o agressor).

Será que aquilo que eu não conheço será melhor? – RESISTÊNCIA À MUDANÇA. Todos nós temos medo
daquilo que é fora daquilo que conhecemos.

Ex: crianças maltratadas pelos pais verbalmente, fisicamente… as crianças são retiradas aos pais;
normalmente, estas crianças não querem ser retiradas dos pais! Porque mesmo sendo mal tratadas é aquilo
que elas conhecem. Todos nós temos esta resistência.

(GB) - RESISTÊNCIA - A maneira pela qual o paciente resiste é provavelmente uma recria ção de uma relação
passada que tem influência sobre uma série de relações no seu dia-a-dia. Por exemplo, pacientes que
passam sua infância se rebelando contra seus pais podem inconscientemente rebelar-se contra o terapeuta,
bem como contra outras figuras de autoridade. O terapeuta dinâmico ajuda o paciente a compreender esses
padrões, de modo que eles passem a ser totalmente conscientes.

Na clínica é o sujeito pode querer mudar, mas sem querer fazê-lo. Neste sentido, tem que se ir trabalhando
neste nível. Algumas mudanças só são possíveis quando temos algo na mudança que nos é conhecido, que
acaba por ser o nosso motor de motivação.

A área de trabalho do psicólogo é a mente do outro, isto é que é importante para nós. É com isto que nos
vamos preocupar nas aulas seguintes – a dinâmica interna do outro.

Comportamentos semelhantes podem ter dinâmicas internas diferentes.


Na compreensão do sofrimento psíquico do ser humano é imp termos uma ideia de como o ser humano se
vai desenvolvendo – perspectiva genética, que é discutível. Hoje em dia as técnicas permitem-nos mergulhar
dentro do corpo da mulher – e temos ideia mais concretas acerca do feto. Há vários estudos de observação
do feto através da ecografia.

Os recém nascidos são todos diferentes uns dos outros. Há recém nascidos mais irritáveis do que outros –
mais imaturos do ponto de vista neurológico.

Não nos lembramos de ser bebês, e os bebês não nos respondem. E por isso, o que dizemos acerca dos
bebês é muita invenção nossa.

O feto está dentro de um líquido com uma temperatura constante e há ritmos que constantemente o
bombardeiam – ritmo interior do corpo da mãe, ritmo cardíaco, quando o bebê nasce, respira pela primeira
vez, ouve pela primeira vez, e recebe luz pela primeira vez. Neste sentido, podemos pensar que qnd o recém
nascido nasce o mundo que ele encontra é completamente diferente. É como se nós fossemos neste
momento colocados num mundo totalmente diferente. Há quem diga que um recém nascido sente o mesmo
que um astronauta quando sai da neve para o espaço.

Tem de existir um mundo com uma grande disponibilidade para o bebê se ir integrando. Enquanto feto, o
bebê está intimamente ligado ao corpo da mãe (pelo cordão umbilical). E quando o bebê nasce este cordão
é cortado, mas tem de ser manter outro cordão: o emocional!

A experiência do recém nascido é uma experiência caótica. Primeiro ele tem de se ligar a outros seres
humanos e paralelamente diferenciar-se destes seres humanos – INDIFERENCIAÇÃO do bebê e do ser
humano (sem consc do eu e do outro, do dentro e do fora…) é a pouco a pouco (com a relação com o outro)
que o mundo do bebê se vai diferenciando. Ele e a mãe serão um, e a pouco e pouco… vão-se diferenciando.

Uma criança pequenina não diz eu, fala de si como “o bebe”, ou pelo seu próprio nome. Ela não é capaz de
dizer “eu” – porque ainda não se vê distinto do mundo à sua volta. Não há nada mais angustiante para o ser
humano que a morte e a separação, e para eu dizer “eu” tenho de ver-me diferenciada e distinta do outro.

A ideia central é que nós não nascemos ensinados… e tb não nascemos diferenciados, para o bebê não há
eu, n há mundo interno e externo. Winicott diz que o que existe não é um bebê e a sua mãe, do ponto de
vista do bebê é ele de forma indiferenciada em relação ao meio.

Stern imagina/ fantasia que a vivência de um bebê é:

6 meses: “o bebê sente a luz e fica preso a ela, o espaço fica quente e ganha vida, dentro dele as coisas
começam a entrar como uma dança lenta, a dança fica cada vez mais perto, avança… e nunca chega. A
excitação passa.”

4 anos: “esta manhã brinquei com o leão que vive na minha parede, é bom e amarelo. Ele esconde-se nas
grades da minha cama, ele anda muito devagar porque sente-se sozinho, fez música na jaula e na parede…”

4 anos: → Nesta idade a criança já inventa, já imagina… já cria! Coisa que não acontece aos 6 meses. Nesta
altura a criança já é capaz de fazer a diferenciação.

Como é que o mundo interno do bebé se vai desenvolvendo?

Há um outro ser humano que tem que lhe emprestar o seu mundo interno – que vai servir de apoio ao bebê.
O bebê necessita que alguém tenha sonhado (durante algum tempo - gravidez) e que lhe tenha preparado
um berço físico, mas também, que lhe tenha preparado um berço mental. Ou seja, que quem o acolhe… o
queira! Ele precisa de um colo, de braços, de esperar pela chegada dele… é necessário que alguém pense
nele e que lhe ofereça estes braços e colo.

Para que este colo e braços sejam fofinhos, é imp que se tenha pensado nele: com um enxoval, com
brinquedos, roupinhas… É necessário que a mãe sonhe com o seu bebê, é imp que reveja a sua hist… que
pense nela quando ela era pequenina. Ela própria tem de identificar e viajar. Estas viagens têm de ter um
colo rico para oferecer ao bebê.

Winnicott trabalhou mt com mães e bebês e constatou que as mães antes do parto só pensavam no seu
bebê – quem estava de fora, dizia que estas mães estavam loucas. Ele chamou a este estado PREOCUPAÇÃO
MATERNAL PRIMÁRIA – mães que estão apaixonadas pelo seu bebê.

Freud fala da FUNÇÃO PARA EXCITAÇÃO – Capacidade que a mãe deve ter de se aperceber quais são os
níveis de tolerância do bebê para controlar os níveis de excitação interna (ex: fome) e externa (ex: luz e frio)
do bebê.

Um bebê necessita de ser organizado para estar capaz de aprender coisas sobre ele próprio, sobre o mundo
e sobre a mãe. É através da relação com o outro que ele percebe que o que sente é fome… frio… etc.

Dentro deste tema, há um outro autor que desenvolve conceitos que nos ajudam a pensar, que foi o Bion:

Bion diz que o bebê precisa de ser organizado, e é organizado com a ajuda da mãe acolhendo tudo o que o
bebê lhe envia. ex: fralda molhada – a mãe tem de estar disponível para o seu bebê, e acolher dentro dela
tudo o que o bebê lhe envia, através do choro.

A mãe tem de ser capaz de pensar no choro do bebê e saber interpretá-lo, a mãe tem de ficar a pensar sobre
o que será que se está a passar com o seu bebê. A mãe processa o que se está a passar e segue para a ação –
resolução do choro do bebê , ex: dar-lhe comida.

Ou seja, a mãe processou o choro do seu bebê e dá-lhe uma resposta adequada – a mãe processa através da
FUNÇÃO ALFA – Capacidade de TRANSFORMAR. O que permite a mãe transformar o que recebe do seu
bebê.

- ELEMENTOS BETA – elementos desorganizados.

- ELEMENTOS ALFA - A mãe acolhe o mau estar do bebê – e devolve ao bebê coisas boas, suportadas por ele
– e que se chamam elementos alfa.

EX: estou desorganizada, não me consigo organizar (elementos BETA) … preciso de me organizar, eu tenho
de recorrer a um outro que me ajude (porque será que estou tão angustiada?) quando começo a ficar mais
organizada (quer dizer que os elementos BETA transformaram-se em ALFA) se foi o outro que me ajudou a
transformar usei a FUNÇÃO ALFA. Mas também me podia ter organizado sozinha, através das minhas
próprias motivações e poderia dar o nome de FUNÇÃO ALFA à mesma.

A mãe entende o estado em que o bebê está, processa o que ele sente, e dá-lhe uma resposta organizada.

Imaginemos um bebê que está num berço, mamou há 3 horas e agora chora…. A mãe ouve o choro e deixa-
se tocar pelo choro do bebê…. E fica a pensar: “pq será que ele está a chorar”… e pensa: “já não come há 3
horas… é fome!” …. Vai ter com ele, embala-o e dá-lhe de mamar. Passado 5 min ele volta a chorar, e pensa
que é fome, e dá-lhe mais mama → Mãe pouco rica
Imaginemos outra situação: inicialmente ela pensa que ele está com fome… dá-lhe de mamar, ele fica
sonolento, e passado 5 min ele volta a chorar, e a mãe pensa: “se já lhe dei de mamar, por isso não é fome…
se calhar ele quer estar só ao meu colo” e dá-lhe afeto…. → Mãe rica!

A mãe pode acolher o sofrimento do bebê, mas se a mãe é pouco rica, as hipóteses que ela coloca sobre o
bebê vão ser sempre as mesmas!! Se a mãe for rica, vai ter uma capacidade de colocar várias hipóteses –
CAPACIDADE DE RÊVERIE. Se a mãe não tem esta capacidade o bebê fica inevitavelmente desorganizado.

- Mãe COM capacidade de Rêverie

- 1º O bebê projeta os seus elementos Beta na mãe, tais como angústias, sentimentos com significado
emocional negativo, ansiedade)

- 2º A mãe, que é dotada de capacidade de Rêverie, Holding, vai transformar esses elementos beta que
foram projetados para ela a partir do seu bebê em elementos alfa, e vai devolver ao bebê para que ele se
sinta confortável e interiorize a função relacional ou função alfa - a dinâmica destes elementos termina com
a interiorização dessa função relacional, ou seja, o bebê interioriza o objeto bom e passa a recorrer a si
mesmo aquando das suas angústias, desta forma o bebê ganha autonomia.

- Mãe SEM capacidade de Rêverie

- 1º O bebê aqui projeta na mãe os seus elementos beta, porém, esta é uma mãe que não tem capacidade
de resposta, não é dotada da capacidade de Rêverie, não consegue pensar, amar e ajudar o seu bebê. Posto
isto, a mãe não irá transformar esses elementos beta, ou seja, o bebê terá que lidar ele mesmo com as suas
angústias sem a ajuda da mãe, deste modo, o bebê não irá interiorizar a função relacional/ alfa.

BONS OBJETOS INTERNOS – Representações de relações positivas com os outros.

Só é possível vivermos a separação se tivermos coisas boas dentro de nós que nos permitam estar
separados. Para que surja o símbolo – representação de…/ algo em lugar de… (pq o original não está lá), o
símbolo é algo que representa algo que não está. Ou seja, o símbolo implica uma ausência. Ex: eu estou a
pensar na minha mãe porque ela não está aqui. Para nós sermos capazes de representar temos de ser
capazes de pensar na ausência. O SÍMBOLO pressupõe a ausência (estar no lugar de…). Para ser capaz de
tolerar a ausência, tenho que ter vivido coisas boas.

Se eu imaginar uma escala, de um lado o pior sofrimento… do outro lado a saúde! No polo do pior
sofrimento temos o AUTISMO (falaremos mais detalhadamente noutras aulas).

IDEIA PRINCIPAL: Quando o bebé nasce, o mundo é caótico, não há diferenciação entre o dentro e o fora… é
necessário que haja um ser humano que o imagine e que o vai ajudar a organizar-se. Obviamente que no
meio tem de haver determinadas qualidades que fomentem a organização.
Todos nós temos um bebe dentro de nós e é bom que tenhamos um adulto por é ele que nos salva desse
bebé.

Uma pessoa que após um ‘convívio’ deseja ter uma relação amorosa com essa pessoa e essa diz-lhe que não
quer e após um ano esta continua a pensar nisso e a fantasiar com a pessoa. Qual seriam as hipóteses? Esta
pessoa tem medo de viver uma relação real construindo uma relação com uma pessoa imaginária; ao
estabelecer uma relação adulta quebra as relações infantis, desinvestido dos pais; Enquanto sonha com uma
personagem tem uma companhia interna; Com isto não se coloca na hipótese de suscitar o amor de outra
pessoa – tal está relacionado com a maneira que somos investidos com os pais (investimento narcísico).

O que está antes do bebé nascer, ou seja, a carga emocional que os pais transportam pode influenciar
seriamente o que essa pode ser futuramente. Por exemplo, uns pais que tinham um filho que aos 3 anos o
mesmo é atropelado e morre. Como é que esses pais vão viver? Podemos imaginar que os pais sentiram
culpa e terão de lidar com a perda. Os pais e os filhos são sempre um bocado de ambos e é um pouco
inevitável que os pais não se culpabilizem e o que fizeram que poderiam ter feito para evitar. Desta forma,
os pais encontram uma maneira de minorar esse efeito/sangramento/sofrimento. É possível, em grande
parte dos casos, que rapidamente os pais engravidem como forma de compensar a dor da perda do outro
filho com a função de substituição, evitando o sangramento emocional dos pais e investindo em demasia no
mesmo.

Quando o bebe nasce é necessário um colo emocional muito rico, mas talvez limitado/fechado nas hipóteses
que dão ao filho do que ele pode vir a ser mas sim para acolher o sentimento dos pais. Será isto positivo para
os bebés no futuro? Os pais têm demasiados desejos sobre a mesma aos quais a pessoa não pode responder
dado as pessoas não poderem ser iguais. Esta criança torna-se uma pessoa super investida e vai haver uma
carga pesada para a criança, principalmente se o mesmo for do mesmo sexo (por exemplo, quando os pais
dão o mesmo nome do filho que morreu ao mesmo). Este comportamento pode-se denominar de herança
inconsciente, ou seja, vem compensar a morte que houve.

É bom quando pensamos que viemos do fruto de um amor, sendo isto a base da nossa saúde mental e vir ao
mundo com o objetivo de salvar uma vida ou sem amor é algo que marca a pessoa e que terá influencia nas
suas relações. Nestas situações, também a capacidade de reverie da mãe é afetada.

“Uma pessoa só morre quando já não falada”

O colo mental convém que seja muito rico e flexível no entanto tal tem a ver com a sua história (pré-
história). Por exemplo, uma menina que tem um irmão e com a qual a relação nunca foi boa até cortarem
relações. Esta mulher engravida e tem um bebe e poem neste o irmão e acaba por confundir as posições.
Esta tem muitas vezes desejos agressivos para com o filho-irmão, sonha em fazer mal ao mesmo e sonha em
por os objectos todos maus, como facas, em locais não acessíveis com medo de lhe fazer mal. Nesta relação
não á interacção, há um colo tenso e frio. Aqui é necessário a intervenção de um psicólogo para começar a
conseguir diferenciar a realidade e começa a melhorar o relacionamento com o filho.

A nossa pré-historia é transpostada pelas gerações e projectada nas pessoas (filhos).


Por exemplo pessoas que têm o seu mundo interno muito instável e traumatizado, com figuras não amantes
e tranquilizadoras, sentem-se bem em terem alguém à sua volta em quem investir e proteger, em que há um
investimento nas relações externas.

Relação Bordarline, por exemplo quando alguém não lhe atende o telemóvel, esta pensa que a mesma
estará envolvida sexualmente com outra pessoa.

Este colo mental dado pelos pais vai ser essencial para o desenvolvimento da criança, devendo este ser
rico (várias hipóteses) e flexível (adaptável).

Criança que vai para adopção porque não foi desejada no casal. Esta criança, por muito bem acolhida que
seja, vai sempre ter presente ‘Porque é que não me quiseram?’. Isto pode ter consequências nas crianças
como não falar, atraso no desenvolvimento mental, muito sensível, fora as fantasias que estarão sempre
presentes.

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