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DIÁRIO PARCIAL

Aluna: Gabriela Soares de Souza Santos

SOBRE O CONCEITO DE EPISTEMOLOGIA

A psicologia é uma ciência separada da filosofia, mas a filosofia faz parte da formação da
psicologia.
A metafísica já não está mais tão ligada à psicologia.
A psicologia é resultado do esforço de um grupo de pessoas para entender a psique?
A psicologia nem sempre foi como ela é hoje. Essa disciplina é um produto histórico, uma
ciência fabricada e formada ao longo de um processo histórico.
A psicologia não é resultado apenas do acúmulo de conhecimento sobre a psiquê.
Qual a diferença entre mente e corpo?
Seria a mente aquilo que nos dá a capacidade de distinguir o bom e o ruim, o certo e o errado,
o verdadeiro e o falso?
O corpo seria a parte mecânica? Seria aquilo que nos dá a possibilidade de movimento?
Hoje, há diversas psicologias. Há, inclusive, oposições entre essas psicologias, e eu preciso
me posicionar diante das oposições entre as psicologias e não ficar à mercê dessa disputa.
A palavra "epistemologia" se refere ao estudo das ciências em geral. É o estudo da condição
do conhecimento, isto é, como é possível conhecer alguma coisa?
Como é possível conhecer a minha mente, por exemplo?
Eu tenho uma mente, e essa mente está em mim. Para que eu entenda a minha mente, eu
preciso me dar conta de que estou inserido em um espaço e em um tempo?
O entendimento sobre a mente é universal? Vale para todos os indivíduos?
Para conhecer ou entender a mente, preciso entender que somos seres que fazemos parte de
uma história, de um contexto histórico e social, de uma cultura, e que estamos em um
determinado espaço e em um determinado tempo ou período.
Sou um ser histórico, e pertenço a um determinado tempo e a uma determinada cultura.
O que eu sei da minha mente vale para a mente de outras pessoas?
O que eu digo sobre mim não pode ser válido para todos os outros indivíduos.
"Eu sei quem sou porque não sou o outro".
Ainda assim, a mente não é tão subjetiva, nós podemos estudá-la de forma exposta e
compartilhada.
A mente é algo compartilhado o tempo todo.
A mente é algo imaterial? Ela é corporificada?
Nós temos que olhar para a unidade da multiplicidade, olhar para "quantas coisas" há em
"uma coisa".
A mente é algo não-dual, tudo é relativo.

FILOSOFIA DA PSICOLOGIA

A Psicologia faz parte da nossa cultura.


Todos somos psicólogos em alguma medida.
A psicologia é um conhecimento de senso comum.
Alguns dizem que a psicologia, como ciência, deve se afastar do senso comum. Entretanto,
esse afastamento deve se dar apenas até um certo limite, visto que, de certa forma, o senso
comum está inserido no campo da psicologia, no dia a dia das pessoas.
Deve-se estabelecer um equilíbrio entre o que deve participar do campo da psicologia e o que
não deve. Por exemplo, dizer para alguém que para que ela consiga conquistar os seus sonhos
e objetivos, só o que ela precisa fazer é trabalhar muito, não é atuar como psicólogo. Isso não
é psicologia.
Ainda nessa linha de raciocínio, dizer a alguém que ela se encontra em uma onda de azar por
causa do alinhamento de Mercúrio ou por causa dos astros, também não é psicologia, é
puramente senso comum.
Ainda assim, vale reforçar que a psicologia não deve se afastar totalmente do senso comum e
não deve lidar com as questões humanas apenas sob um viés científico.
As experiências humanas e o senso comum fazem parte, até certo ponto, do campo da
psicologia, pois os indivíduos estão inseridos nesse senso comum e têm experiências
baseadas em seu sistema cultural.
Tendo em vista esses aspectos, seria possível considerar a psicologia como uma ciência e
ainda abarcar o senso comum como parte de seu objeto de estudo?
Em que tipo de ciência a psicologia se enquadra?
O que a psicologia, de fato, estuda?
A despeito do fato de que o senso comum faz parte do objeto de estudo da psicologia, esse
fenômeno social não é o ponto de estudo principal.
Se disséssemos que a psicologia estuda a mente, seria válido perguntar: o que é a mente?
A mente é imaterial? É algo abstrato?
Usando o exemplo do giz e do gato: o que acontece com o giz se eu o jogar em uma fogueira?
E o que acontece com o gato nessa mesma situação?
Esses dois diferentes corpos (giz e gato) jogados na fogueira me causam diferentes reações e
sensações. O giz não é um ser vivo, ele não tem consciência de que está sendo jogado em
meio ao fogo e que isso lhe causará sua destruição.
De forma contrária, a ideia de um gato ser jogado em uma fogueira nos causa angústia e
comoção, pois sabemos que o gato é um ser vivo, ele tem consciência da situação que está
vivendo, de que estaria sendo jogado numa fogueira e que isso lhe machucaria, lhe causaria
dor e sofrimento. Além disso, nós, seres humanos, também teríamos consciência dos
sentimentos de dor e sofrimento que o gato sentiria caso fosse jogado em uma fogueira.
Nossa mente pensa, questiona, deseja, nos proporciona sentimentos, sensações, pensamentos,
comanda ações e reações.
Então, a mente é o corpo? Ou é algo diferente do corpo?
Minha mente é o meu cérebro ou minha mente usa o meu cérebro?
O que eu sou? Sou o meu corpo? Sou o meu cérebro? Sou o conjunto de corpo e cérebro?
A minha mente usa o meu corpo?
A minha mente é produto do meu cérebro?
Mente e alma são coisas diferentes?
Com o tempo, o nosso corpo muda, mas o que é aquilo que permanece imutável em nós?
Seria a mente?
O que acontece com a mente quando morremos?
A mente é algo além do corpo?
O que acontece com o meu cérebro depois que eu morro?
A alma é a mente?
A alma e a mente são imortais?
O corpo é a dimensão física da mente?
Quanto ao comportamento, ele está ligado à mente?
Há um comportamento comum entre os seres humanos?
O comportamento humano tem semelhanças com o comportamento animal?
A consciência é parte da mente?
O inconsciente realmente existe ou é apenas um termo inventado para demonstrar a
incapacidade de explicar alguns fenômenos da mente?
A expressão dos meus fenômenos mentais se dá através do corpo. Por exemplo: para
expressar que eu achei graça de alguma coisa, eu preciso rir.
Eu só posso conhecer a mente dos outros? A minha mente eu só posso viver?
O cérebro comanda o corpo através da mente?
Se eu olho para algo, eu sei, eu conheço. E se eu sei, é porque eu penso. Então meu corpo
está conectado à minha mente?

O QUE É HISTÓRIA DA PSICOLOGIA

Temos a psicologia como senso comum e a psicologia como ciência.


Por que estudar o passado da psicologia?
As pessoas estudam o passado da psicologia e trazem produtos desse estudo para os dias
atuais.
Quando estudamos a história da psicologia, nós não estamos apenas e simplesmente
estudando o seu passado.
Tudo o que acontece agora, pertence, em alguma medida, ao passado.
Nós temos que fazer reconstruções do passado, conhecê-lo indiretamente.
Conheço o passado pelos traços deixados pelo passado. Se esses traços se perdem, eu perco a
chance de conhecer o passado.
Esses traços são traços de fenômenos físicos.
Como ter acesso às ações das pessoas do passado?
Histórias contadas
Comunicação
Diálogo
Escrita
Artes
As ações das pessoas também deixam traços na natureza.
As artes me dizem a forma como as pessoas pensavam e agiam no passado.
A psicologia não é uma ciência cumulativa.
Nós não temos conhecimento direto dos fenômenos históricos.
Nós estudamos a história da psicologia através de textos, principalmente.
Qual a legitimidade desses textos?
Os textos contém lacunas, imprecisões, incertezas.
Não basta coletar um só traço, eu preciso coletar o máximo de traços possível.
Nem sempre os traços são transparentes.
Nós rearranjamos e ressignificamos os traços do passado.
O texto é um traço das ideias de alguém.
Heurística ou Arqueologia: descoberta de traços históricos.
Há a crítica das fontes dos traços.
Hermenêutica: interpretação dos traços e das fontes.
Interpretação e reconstrução das ideias dos textos.
Observar os traços não é o mesmo que observar os fatos que realmente aconteceram.
A história é inventada/fabricada através dos traços.
As pessoas que reconstroem a história através de traços e textos não estavam lá no momento
em que os fenômenos aconteceram. Por isso, essa reconstrução é passível de imprecisões,
pois está sendo feito a partir da interpretação de uma pessoa.
As pessoas que se referiam à mente, alma e comportamento não entendiam esses conceitos da
mesma forma que nós entendemos hoje.
Questões epistemológicas sobre história: Podemos estudar o passado? Podemos reconstruir o
passado? Como?
Presentismo: é uma característica do trabalho do historiador que significa que ele impõe ao
passado significados do presente.
Em oposição ao presentismo, há o historicismo: tentar conhecer o passado nos próprios
termos do passado.
É impossível querer conhecer o passado como se eu fosse do passado.
Quando eu quero conhecer as ideias de um tempo, basta conhecer apenas as ideias registradas
em texto?
Para alguns historiadores, é assim que conhecemos ideias: analisando os textos.
Para outros, eu precisaria conhecer os termos culturais e o contexto histórico da época para
entender, de fato, as ideias daquele texto.
Não é suficiente apenas ler os textos das pessoas para entender suas ideias, eu preciso
conhecer a cultura, o contexto histórico, social e político.
Internalismo x Externalismo.
História celebratória x História crítica.
História celebratória: organização de uma cadeia de eventos históricos que obtiveram
sucesso.
História crítica: mostra os problemas, as rupturas da história.
Teoria dos grandes homens x Teoria do espírito do tempo
Pessoas que criam materiais semelhantes porque vivem em um mesmo tempo, mesmo
vivendo em lugares diferentes do mundo.
Sempre existe, na história, algum grau de invenção, porque não é possível observar
diretamente o passado.
Estudo da história da psicologia x História da psicologia.
Psicologia: forma de funcionamento mental de uma pessoa ou de uma cultura.
Antes, não chamavam isso de "psicologia".
Como eu delimito o estudo da história da psicologia?
A psicologia pode ser vista como o senso comum ou a cultura de um período histórico.
A psicologia pode ser vista como ciência.
A psicologia pode ser vista como disciplina e profissão.
Antes, não se falava no termo "psicologia", mas se falava sobre os assuntos da psicologia.
Há diversas histórias da psicologia: histórias da psicologia da mente, histórias da psicologia
do comportamento.
Há contradições entre as diversas psicologias.
A história é parcial, porque ela é sempre passível da invenção e da interpretação das pessoas
que escrevem essa história.
Todo mundo escreve a história com intenções.
Uma pessoa escreve história com a intenção de difundir os valores e crenças desse
historiador.
Os estudos sobre a história da psicologia já são realizados há muito tempo.
Há a velha e a nova história da psicologia.
"Quero estudar psicologia" - que história, que período, que psicologia, com quais intenções,
quais contextos históricos, quais interpretações?

A PSICOLOGIA DO SÉCULO XVIII e a PSICOLOGIA EMPÍRICA DE C. WOLFF

Século 19 - proximidade da psicologia com a física e a fisiologia (psicologia científica).


Em que momento a história da psicologia realmente começa?
Cada autor estabelece um momento de nascimento da psicologia, de acordo com os critérios
utilizados.
Os termos "psicologia", "mente", "alma", "psiquê" mudam seus significados no decorrer do
tempo.
A psicologia tem muitos sentidos, os quais mudam frequentemente.
Para C. Wolff, esse início se dá no século XVIII, sob influência do Iluminismo (saída do
pensamento medieval para um pensamento moderno).
Antes, não havia diferenciação entre ciência e filosofia.
Ciência era um "conhecimento organizado", não exigia experimentação: era possível estudar,
por exemplo, a essência das coisas sem utilizar experimentos, por isso a filosofia era
considerada uma ciência.
Metafísica - Ciência não empírica.
Quais são os assuntos das áreas do conhecimento como a ciência e a filosofia?
Questões gerais:
Como uma pessoa poderia se interessar pelo conhecimento? Que tipo de coisa ela
perguntaria?
O que uma pessoa perguntaria sobre o mundo no qual ela vive, considerando que ela possua
capacidades cognitivas?
Há um mundo em minha frente, e há o meu ser, há o "eu", que me une e me separa ao mesmo
tempo.
Há as coisas do mundo, e há as coisas em mim.
Como tudo isso surgiu? Como eu surgi?
São três importantes perguntas, que giram em torno do eu, do mundo, e de como tudo isso
surgiu.
O que sempre existiu antes de agora e depois de agora?
No mundo, tenho as coisas físicas e também tenho o tempo, ou, as coisas físicas no tempo.
Tudo isso é o Universo: todo o tempo e todo o espaço.
Eu penso sobre o tempo e sobre o universo.
Começam, então, os questionamentos sobre a existência de Deus, sobre a alma e sobre a
mente.
Tenho parte do mundo físico exatamente diante de mim, e também tenho parte do mundo
físico que não está diante de mim, não está ao meu alcance. Nesse sentido, surge a
cosmologia, a astronomia, entre outras ciências.
Também posso pensar sobre aquilo que está em mim, vinculado ao meu corpo, ou vinculado
à minha alma e mente, ou vinculado à um meio coletivo e social.
O estudo sobre a origem de todas as coisas é um estudo científico.
O que vem antes, e antes, e antes, e antes, ...?
O que é a causa da causa, da causa, da causa, ...?
Qual é a causa primeira de todas as coisas? Alguns dirão que é Deus, outros dirão que é o Big
Bang.
Para Wolff, o estudo da psicologia é a alma.
Deus também é "parte da coisa"? A resposta é sim.
Precisamos conhecer a fonte de todas as coisas.
Precisamos conhecer essas coisas que são conhecidas por nós (mundo físico, nossa mente e a
origem das coisas).
Todas as coisas físicas à minha frente têm forma, figura, extensão, continuidade, ordem.
Essas coisas não são apreensíveis pelos meus sentidos, mas sim pensadas pelo meu
entendimento.
Conhecimento geral sobre as coisas, que têm a ver com o físico mas estão para além do
físico: Metafísica.
Tudo o que eu posso pensar é uma coisa.
Existem coisas que são mais parecidas com formas, continuidades, ordens e extensões do que
com uma caneca, por exemplo.
Na Metafísica, mescla-se outros assuntos que não estão no mundo físico, mas que nem por
isso são tão genéricos quanto ordens e extensões.
Estudo da alma e o estudo de Deus: Metafísica.
Metafísica wolffiana:
Conhecimento geral sobre todas as coisas/estudo das propriedades das coisas: Ontologia.
Conhecimento de Deus: Teologia.
Conhecimento do mundo: Cosmologia.
Conhecimento da alma/mente humana: Psicologia.
Essa é a primeira aparição da psicologia na história do pensamento ocidental.
Wolff toma uma série de assuntos que já pertenciam à filosofia (as pessoas pensam sobre as
coisas, pensam sobre si mesmas, pensam o que são as coisas nelas mesmas, o que é isso que
pensa, o que é isso que quer, que sabe, que duvida, que se entusiasma - essas questões já
pertenciam ao pensamento humano há muito tempo) e chama esse estudo de psicologia,
dividindo-a em duas partes:
Psicologia Empírica: se dedica ao estudo disso que há em mim, que pensa e etc, apenas
olhando para a experiência.
Psicologia Racional: que se permite sair da experiência.
Kant critica fortemente o pensamento wolffiano.
Wolff é uma figura muito importante para a psicologia.
O conhecimento anterior conduz o conhecimento posterior.
A primeira coisa que o Wolff apresenta na sua investigação metafísica é o conhecimento da
natureza psicológica.
Somos conscientes de nós e das coisas fora de nós.
Eu existo.
Para pensar, eu preciso existir.
Para duvidar da minha existência, eu preciso existir.
Eu existo ao duvidar.
Conhecemos três coisas:
Somos conscientes de nós.
Somos conscientes de coisas fora de nós.
Somos conscientes de que existimos.
Tudo o que é consciente, existe.
O conhecimento muito seguro da nossa existência é um conhecimento demonstrativo, ou seja,
tudo o que eu conseguir falar de forma demonstrativa, vai carregar a mesma certeza que eu
tenho em relação à minha existência.
Tenho que tentar ligar o meu conhecimento de forma demonstrativa, assim, o meu
conhecimento será seguro.
Como sabemos que existimos e para que serve esse conhecimento?
Quais são as propriedades gerais das coisas? O que essas coisas que existem têm em geral?
Todas as coisas físicas, estejam em mim ou fora de mim, são compostas (de partes).
As partes são compostas de partes, que são compostas de partes, que são compostas de
partes... Para solucionar isso, eu preciso postular uma coisa que não tem partes, que é
contrária à coisa composta, ou seja, a coisa simples.
Coisa composta x coisa simples.
Essa coisa que é consciência de si e de coisas fora de si é a alma.
Psicologia Empírica: estudo através dos nossos sentidos, da nossa experiência.
O que está ao alcance dos meus sentidos, eu tenho consciência.
Eu posso não ter consciência de coisas que estão em mim e/ou fora de mim.
Quando a alma tem consciência sobre as coisas, ela pensa.
Pensar é ser consciente.
Quando estamos dormindo, não estamos pensando e, consequentemente, não estamos
conscientes, a não ser que a gente sonhe.
A alma pode ser muito ou pouco consciente sobre uma coisa, eu posso pensar com clareza ou
com obscuridade (graus de clareza do pensamento).
Perceber a diferença entre as coisas, significa que eu tenho uma consciência maior sobre as
coisas.
Eu percebo coisas fora de mim e coisas dentro de mim.
Como eu sou consciente das coisas fora de mim? Eu sou consciente delas toda vez que elas
provocam alguma modificação no meu corpo, e por meio disso, eu me torno consciente delas
na minha alma.
Tenho pensamentos, na minha alma, que são ocasionados pelas mudanças que os corpos fora
do meu corpo provocam no meu corpo.
Esses pensamentos são sensações.
Eu posso pensar em coisas que estão fora do alcance dos meus sentidos.
Minha alma é capaz de pensar em uma coisa que está presente, provocando mudanças no meu
corpo, ou em uma coisa que está ausente e não provoca mudanças no meu corpo.
Quando a alma pensa uma coisa que está ausente, ela está imaginando.
A imaginação segue uma regra: toda vez que uma parte de uma sensação presente é, também,
a parte de uma sensação passada, a sensação passada volta, inteira, para o campo da
consciência.
A imaginação é menos clara e distinta do que a sensação.
Dois processos da alma: sensação e imaginação, são dois nomes diferentes que nós damos
aos pensamentos da alma em função das condições em que esses pensamentos acontecem.
A imaginação sempre provém das sensações.
Para Wolff, a alma é um ser ativo, uma substância. Não depende do corpo e não é ordenada
pelo corpo. Tudo o que ela faz, ela faz por ela mesma. A alma tem sensações, que são
provocadas pelas mudanças do corpo, mas ainda assim ela é ativa.
Eu não posso escolher não ter uma sensação.
A alma comanda nossas ações.
Atividades Cognitivas: como a alma conhece, sabe e é consciente das coisas.
Ainda há o conjunto de coisas que a alma faz.
A alma também gosta ou não gosta, quer ou não quer, prefere uma coisa em relação à outra
(atividades volitivas, ou seja, dizem respeito às vontades da alma).
Nós só fazemos, gostamos ou queremos alguma coisa, se nós conhecemos essa coisa. Por
isso, primeiro estudamos as atividades cognitivas e depois as volitivas.
Nós não podemos pensar nada por "saltos": não podemos pensar nada que não tenha alguma
coisa a ver com as coisas presentes.
Eu não posso pensar em nada que não esteja, de alguma forma, atrelada à realidade.
Poder pensar em uma coisa que não está presente (imaginar), a alma também pode se dar
conta de que isso que ela está pensando agora já foi pensado antes.
Uma coisa é pensar de novo um pensamento do passado, outra coisa é eu me dar conta de que
eu já pensei nessa coisa no passado.
Memória: capacidade que a alma tem de reconhecer um pensamento como algo que já foi
pensado.
Esquecimento: incapacidade da alma de se dar conta de que ela já pensou um pensamento
presente.
Lembrança: a alma se dá conta de que ela já pensou um pensamento presente.
Para Wolff, a memória não é armazenar informações. É a constatação do presente.
A alma tem a capacidade de escolher, entre todas as coisas disponíveis para a consciência,
uma coisa para se concentrar (atenção).
A alma tem maior consciência naquilo que ela escolhe para se concentrar, e tem menor
consciência sobre os restante das coisas ao seu redor. É possível, ainda, fazer uma distinção
comparativa entre aquilo que se está concentrado, e aquilo que não está.
Essa capacidade da alma permite a ela saber cada vez mais sobre uma coisa, ter cada vez
mais distinção e, consequentemente, mais conhecimento. Isso permite a alma sair de um
estado de apenas seguir aquilo que está no presente, e ir para um estado de conhecimento
profundo das coisas.
A alma sai da cognição inferior e vai para a cognição superior. A alma não só sabe ou é
consciente, mas ela entende e raciocina sobre as coisas. A atenção permite essa passagem.

PSICOLOGIA EMPÍRICA e PSICOLOGIA RACIONAL em C. WOLFF

Essa psicologia é a ciência da alma que inaugura, no século XVIII, uma tradição de estudo
desse objeto, dando o contorno que serve de base para o desenvolvimento da psicologia
científica.
Essa psicologia do século XVIII tem diferenças da psicologia que conhecemos hoje.
Qual é a natureza dessa disciplina/ciência? Qual o conteúdo que deveria fazer parte da
história da psicologia?
Análise internalista da psicologia do Wolff:
Essa psicologia é uma parte da Metafísica, e cobre os assuntos: alma, o mundo em geral,
Deus e características gerais de todas as coisas (Psicologia, Cosmologia Geral, Teologia
Natural e Ontologia).
A Psicologia dá início à Metafísica do Wolff:
1) Somos conscientes de nós e de coisas fora de nós e, portanto, nós existimos.
2) Aquilo em nós que é consciente de si e de coisas fora de si é a alma.
3) Quando a alma é consciente de coisas, isso é o pensamento. Se a alma não é consciente de
nada, ela não pensa. Se ela não é consciente de alguma coisa, ela não pensa a respeito dessa
coisa.
4) O pensamento da alma acontece em diferentes níveis de profundidade: o quanto ela
consegue distinguir certas coisas de outras coisas, o quanto ela consegue distinguir as coisas.
Nós sabemos que há objetos porque conseguimos distinguir esses objetos.
5) Eu posso aprofundar essas distinções e ter uma consciência/conhecimento cada vez maior
desses objetos.
6) Nós damos diferentes nomes aos pensamentos de acordo com a razão que eles têm.
Sensações: pensamentos da alma/mudanças no estado da alma que têm como fundamento as
mudanças/alterações que corpos provocam nos nossos corpos.
7) A alma não é capaz de ser consciente apenas sobre coisas que estão presentemente
modificando nosso corpo. Ela também é capaz de pensar em coisas que em algum momento
já modificaram nosso corpo.
Imaginação: toda vez que uma parte de uma sensação presente é também parte de uma
sensação passada, essa sensação passada volta inteira para o campo da consciência.
8) Isso implica que nós não podemos pensar nada "do nada". Tudo o que nós pensamos está
ligado ao nosso estado presente.
Memória: capacidade da alma de se dar conta de que algo que ela representa agora, já foi
representado no passado. A memória não é um armazém que pode ser acessado conforme
nossas necessidades, para Wolff.
Atenção: capacidade da alma de conhecer as coisas. Capacidade de selecionar, entre várias
coisas perceptíveis, uma dessas coisas para aumentar a sua consciência sobre aquela coisa.
Todas essas capacidades são cognitivas, capacidades que nos permitem conhecer as coisas,
ter uma consciência maior e mais profunda sobre as coisas.
Reflexão: é uma espécie de atenção usada sistematicamente, através da qual nós podemos
distinguir muitas características das coisas, adquirindo um conhecimento mais profundo e
distinto das coisas.
Entendimento: capacidade que a alma tem de conhecer as coisas com alta distinção.
Capacidade de distinguir muitas características das coisas, produzindo conhecimento
profundo.
Reparar as características semelhantes entre os diferentes objetos.
Observando as diferenças e semelhanças das coisas, eu consigo colocar essas coisas em
grupos, o que me leva a um conhecimento geral.
Consigo criar categorias.
Consigo atribuir signos às coisas, o que torna meu conhecimento cada vez mais geral, me
ajuda a descolar desse nível intuitivo inferior e me leva a um conhecimento superior.
Consigo formar juízos: operações pelas quais a alma une duas coisas/duas consciências
(exemplo: fogo+ferro= ferro incandescente).
Perceber semelhanças e unir essas semelhanças, formando juízos.
A alma tem uma forma silogística de separar e juntar informações.
Os silogismos são as estruturas básicas por trás de todas as operações da alma.
A alma contém uma regra de funcionamento geral que sugere que tudo nela acontece
sucessivamente, e nada por saltos, assim como a regra da imaginação.
Tudo o que acontece na alma agora, tem fundamentos nas coisas que aconteceram antes.
A alma tem, ainda, a capacidade de notar a conexão entre as verdades.
A alma tem a capacidade de construir conhecimentos cada vez maiores e sobre todas as
coisas.
Razão: capacidade da alma de perceber a interconexão entre os conhecimentos.
A razão se complementa com a experiência, que é a capacidade da alma de perceber
pontualmente as verdades, isto é, a conexão pontual das verdades.
Segundo momento da Psicologia Empírica de Wolff: não se trata mais da dimensão cognitiva
da alma, mas sim da dimensão volitiva da alma.
Nós não só sabemos, conhecemos e pensamos coisas. Uma vez que pensamos e conhecemos
essas coisas, nós gostamos ou não gostamos delas, queremos ou não queremos, nos faz sentir
bem ou mal, felizes ou tristes.
A alma tem a capacidade de querer.
Faculdades volitivas inferiores:
A alma, quando pensa sobre uma coisa, se dá conta das características dessa coisa e do
quanto essas características contribuem para que essa coisa seja o que ela é, ou o quanto essas
características divergem da própria coisa.
Quando a alma tem conhecimento intuitivo (sensível/imediato) da perfeição em uma coisa,
ela sente prazer. E quando ela tem um conhecimento intuitivo da imperfeição em uma coisa,
ela sente desprazer.
Desejo (sensível): tendência da alma de querer se aproximar mais disso que produz prazer
nela.
Aversão (sensível): repulsa da alma a coisas que causam desprazer nela.
Há coisas que produzem perfeição na alma e há coisas que produzem imperfeição na alma.
Quando a alma nota essa produção de perfeição, ela percebe que é uma coisa boa, e quando
ela nota que uma coisa causa imperfeição nela, ela percebe que é uma coisa ruim.
A alma tem uma tendência a se aproximar de coisas que ela vê como boas, e a se afastar de
coisas que ela vê como más.
Vontade: tendência de se aproximar das coisas boas.
Nolontade: tendência de se afastar das coisas ruins.
Quando a alma pensa distintamente sobre as coisas que produzem prazer e desprazer, ela
percebe que essas coisas podem produzir mais perfeição ou menos perfeição na alma.
No nível dos sentidos, existem coisas prazerosas e agradáveis que, na verdade, não são boas,
ou seja, nos fazem mal.
Existem coisas que são desprazerosas, mas são boas.
Há uma disputa entre as tendências provocadas pelos sentidos e as tendências que têm como
fundamento o entendimento/as sensações/a intelecção.
Quando nós só obedecemos aos sentidos e não entendemos bem o que fazemos, nossa alma é
escrava dos sentidos.
Quando a alma age pelo entendimento e pela percepção clara da perfeição contida nas coisas,
e quando ela conhece as perfeições e imperfeições, quando ela conhece os bens e os males
das coisas, quando ela pode eleger a coisa que mais faz sentido pra ela, que mais a agrada,
diz-se que a alma é livre.
Liberdade da alma: capacidade que ela tem de eleger - não pelos sentidos, mas pela própria
capacidade de perceber o bem e o mal nas coisas - aquilo que mais lhe agrada.
Afetos - como alegria, tristeza, amor, ódio - são graus de desejo sensível.
Essa parte da Psicologia Empírica, que trata da vontade da alma, é a mais importante para o
Wolff, pois é a parte que serve como fundamento para disciplinas como política, moral e
ética (disciplinas da prática das pessoas, como elas devem se portar em sociedade).
Último ponto da Psicologia Empírica:
A minha alma é sintonizada ao meu corpo de tal forma que toda vez que alguma alteração
acontece no meu corpo, a minha alma se torna consciente dessas alterações. E toda vez que
minha alma quer alguma coisa, o meu corpo executa a vontade da minha alma.
A alma comanda o meu corpo.
A alma está unida ao corpo.
Entretanto, a experiência não nos diz como é possível que a alma comande o corpo ou como a
alma e o corpo estão tão unidos.
A experiência não explica a razão dessa sintonia entre meu corpo e minha alma.
Para que nós saibamos a razão dessa sintonia, nós temos que conhecer a essência da alma e
do corpo, o que se enquadra na Psicologia Racional.
Na Psicologia Racional, explora-se a essência da alma e a relação entre corpo e alma.
A Cosmologia explica o corpo:
O corpo é uma coisa composta (de partes).
Os corpos têm uma razão para as suas próprias mudanças, que é a distribuição do movimento:
um certo estado de um corpo muda pelo estado de um outro corpo impresso sobre ele. Os
corpos, ao se moverem, vão produzindo mudanças uns nos outros.
A Psicologia Racional estuda aquelas coisas que estão para além da experiência:
Essência da alma.
Relação entre corpo e alma.
Demonstração de como todas as atividades/experiências da alma derivam da sua essência.
Exploração de outras características da alma que a fazem pertencer ao mundo espiritual,
como a sua imortalidade.
1) Sobre a essência da alma:
Como a alma pode ser consciente? Ela é consciente quando ela repara as diferenças entre as
coisas em si e fora de si.
Os estados das coisas físicas respondem à outros estados de coisas físicas.
O meu corpo assume um certo estado que tem a ver com as alterações que os outros corpos
provocam nele. O meu corpo, de certa forma, representa o mundo externo. O meu corpo tem,
nele, uma coisa que tem a ver com o que está fora dele. Assim como a alma, que tem nela
ideias que representam coisas fora dela.
O que a alma tem, que o corpo não tem? A diferenciação. A alma se sabe diferente das coisas
que ela pensa, das coisas que ela representa. O corpo simplesmente assume estados diferentes
em função dos estados do mundo.
A alma se sabe diferente desse corpo e desse mundo.
O corpo não faz diferenciação entre ele mesmo e o mundo, porque o corpo é parte do mundo.
O corpo é capaz de representar materialmente o mundo, mas não é capaz de estabelecer uma
diferença entre ele e o mundo, entre os próprios estados dele. Logo, o corpo não pensa.
A alma, pelo contrário, pensa. Ela se sabe diferente das coisas que ela representa, e sabe a
diferença entre as coisas.
Então a alma não é o corpo, porque o corpo não tem consciência, e a alma tem.
A alma não é composta, é simples. Não tem partes e nem é parte de outra coisa. Ela é uma
coisa em si mesma, ela é uma substância. A alma tem nela uma força de provocar todas as
suas mudanças sem que ela precise sofrer essas mudanças a partir de outras coisas.
A alma tem a força de representar e de pensar no mundo de acordo com o lugar do corpo no
mundo. É uma capacidade de representar o mundo limitada pelo lugar do corpo no mundo e
pela constituição dos órgãos dos sentidos.
Então, a essência/força da alma é a capacidade de representar o mundo de acordo com o lugar
do corpo no mundo.
Tudo se baseia nas sensações do corpo.
Cada faculdade da alma deriva da essência.
Então, refletindo sobre a experiência, eu chego na essência, e desse ponto eu posso voltar
para a experiência, iluminando a experiência com o conceito da essência.
2) Sobre a relação entre corpo e alma:
Eu posso criar hipóteses sobre essa relação e testá-las na experiência.
Essas hipóteses não podem contrariar a experiência e nem os conhecimentos estabelecidos a
partir da experiência.
Primeira Hipótese - Influência natural do corpo sobre a alma e da alma sobre o corpo:
Da mesma forma que a alma pensa o que o corpo sente e que a alma manda o corpo fazer as
coisas que nós queremos que ele faça, os objetos físicos influenciam uns aos outros por
transmissão de força/energia/movimento.
Wolff diz que a experiência não comprova que exista uma influência do corpo sobre a alma e
da alma sobre o corpo, pois:
Quando o corpo informa a alma sobre alguma coisa, há uma certa energia motriz no meu
corpo, a matéria física do meu corpo está em movimento, e esse movimento iria para o nível
da alma, e como a alma não é corpórea, a energia se perderia: viraria energia espiritual e
diminuiria a energia motriz do Universo.
Quando a alma quer alguma coisa e o corpo executa a vontade dela, se a alma mandasse uma
energia espiritual para o corpo e no corpo essa energia virasse energia motriz, a energia do
Universo aumentaria a cada momento que a alma quisesse alguma coisa.
Isso implica acidentes sobrenaturais o tempo todo na natureza, e isso não pode ser aceito, por
isso Wolff descarta essa hipótese.
Segunda Hipótese - Causas ocasionais ou intervenção imediata de Deus:
Corpo e alma não influenciam um no outro diretamente.
Corpo e alma dão ocasiões para que Deus provoque mudanças na alma, que beneficiam o
corpo e mudanças no corpo que beneficiam a alma.
Wolff considera essa hipótese melhor, mas ainda há um problema: Deus teria que ficar o
tempo todo intervindo na direção da força entre corpo e alma, e isso iria contra a ideia de que
nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.
Terceira Hipótese (aceita por Wolff) - Harmonia pré-estabelecida entre corpo e alma:
Corpo e alma têm suas regras e sucessões estabelecidas.
Através da experiência, vimos que sempre o que acontece na alma combina com o que
acontece no corpo, e vice-versa.
Deus, no ato da criação, colocou uma espécie de "ponto zero" de um certo corpo (ou do
mundo físico) ligado ao "ponto zero" da alma, e fez com que correspondesse o estado do
corpo com o estado da alma, estabelecendo a harmonia/sintonia entre eles. Assim, alma e
corpo não interferem um no outro e funcionam de formas diferentes.
Essa hipótese é aceita porque não contraria a experiência, que é a harmonia; não contraria
nenhuma lei natural, porque continua existindo a conservação do movimento; e ajuda a
explicar como é possível que tudo aconteça no corpo de forma independente do que acontece
na alma e, assim, eu conservo a liberdade e a racionalidade da alma, mesmo o corpo sendo
irracional e determinado pelo movimento de outros corpos.
Estudo da espiritualidade da alma:
Wolff vê que há níveis inferiores de almas (como as almas dos animais) e níveis mais
superiores de almas (como a dos seres humanos). Então ele supõe que haja um nível de alma
superior à nossa alma.
Esse nível superior de alma, essa plena perfeição seria Deus.
As coisas simples que não têm entendimento (como os animais), até podem ter almas, mas
não têm espírito.
As coisas simples que têm entendimento e, por isso, têm liberdade (não são escravas dos
sentidos), são espíritos.
Todas as coisas simples têm algo em comum: como as coisas simples não são compostas,
mesmo que não estejam ligadas a corpos, quando os corpos morrem e se decompõem, as
almas permanecem como são, permanecem íntegras, sejam elas simples ou espíritos. Essa é a
incorruptibilidade das almas, tanto humanas, como animais.
Como a alma humana tem entendimento e liberdade, ela tem também a capacidade de
entender que umas coisas levam às outras e que existem certos caminhos que são melhores do
que outros, é o que se chama de sabedoria.
A alma tem um acompanhamento contínuo do seu próprio estado. Ela se sabe, a cada
momento, aquilo que ela foi no momento anterior. A alma do presente sabe ser a mesma alma
de 10 ou 20 anos atrás. Isso se chama personalidade.
Apesar da morte do corpo, a alma conserva o seu estado de consciência sobre si mesma,
sabendo ser aquilo que era.
A alma é não só incorruptível, mas também é imortal.
Então a imortalidade da alma é a capacidade dela de não se corromper com a decomposição
do corpo (porque ela não é uma coisa composta), e também dela manter sua consciência em
relação a si mesma, manter a sua personalidade.
Imortalidade: incorruptibilidade associada à personalidade.
Será que, depois da morte do corpo, a alma alcança um estado mais avançado de existência,
por não estar mais limitada pelos limites do corpo? Antes ela só podia sentir o que o corpo
sentia. Será que agora ela pode sentir mais? Ou ela vai para um estado inferior? Porque não
vai poder sentir nada, afinal, ela só podia sentir o que o corpo sentia.
Wolff se pergunta como era o primeiro estado da alma. Será que ela já existia antes do corpo
(ao qual ela se conecta) existir? Será que ela existia como partículas diferentes naqueles
corpúsculos dos quais o corpo foi formado? Como a alma vem ao corpo? E como ela fica
depois que o corpo vai? Como a alma, que é simples, se associa a essa coisa composta, que é
o corpo?

KANT E A CRÍTICA À PSICOLOGIA CIENTÍFICA

Kant se forma na matriz wolffiana


Há a fase pré-crítica e a fase crítica
Obra importante de Kant: "Crítica da razão pura"
Quando buscamos a causa, da causa, da causa, da causa, tentamos chegar à uma causa
primeira constitutiva de todas as coisas. No século XVIII, essa causa primeira seria Deus. E
se esse Deus foi o ser que tudo criou, depreende-se que é um Deus poderoso, de bondade,
onipotente, onisciente, etc.
Como a alma pode ser livre se ela está sempre ligada a um corpo, e esse corpo está preso no
mundo sensível e sujeito às leis do Universo?
O que acontece com a minha alma depois que o corpo morre? Eu posso conhecer a minha
alma depois que ela desencarna ou reencarna?
Em que momento a alma foi criada? Ela já existia antes do meu corpo?
Wolff defendia uma harmonia pré-estabelecida, por Deus, entre corpo e alma.
Havia muitas discordâncias sobre a relação entre alma e corpo, sobre Deus e sobre essa
possível harmonia pré-estabelecida.
Para Wolff, corpo e alma são independentes, mas são sintonizados e funcionam naturalmente
e sucessivamente de forma sintonizada.
Kant, na "Crítica da razão pura", se propõe a resolver esses conflitos filosóficos.
Ele não oferece uma "certeza inicial".
Kant faz uma análise sobre como é possível que a gente conheça as coisas.
De onde vem o nosso conhecimento? Qual é a fonte racional e abstrata de todo o
conhecimento?
Como é possível que nós conheçamos qualquer coisa?
Kant sugere que a razão encontra questões que ela não pode evitar, mas que ela nunca pode
responder. Essa é a natureza da razão.
A razão formula questões que ela nunca pode responder, isso acontece naturalmente.
Por que ela nunca pode responder essas questões?
Kant faz uma análise transcendental.
Coisas transcendentais são coisas que estão além do mundo físico, mas que constituem parte
do meu conhecimento.
É feito um estudo sobre a natureza do espaço e do tempo, isto é, estudar as coisas que estão
no tempo e no espaço.
Para Kant, espaço e tempo não são coisas para serem conhecidas.
Espaço e tempo são coisas que existem em nós.
Eu não conheço nenhum material físico, extenso ou não-extenso, que não se dê no espaço e
no tempo.
Tudo se dá em algum tempo, porém nem tudo se dá no espaço.
Quando eu observo a natureza, eu percebo que algumas coisas acontecem, e que outras coisas
acontecem devido a esses acontecimentos iniciais.
As coisas acontecem de forma inter-relacionadas.
Algumas coisas parecem condições para outras coisas acontecerem.
Nós vemos causas e efeitos no mundo, porque existem na natureza.
O mundo é um monte de formas físicas se movendo e se relacionando.
O mundo é um monte de movimentos físicos.
O que eu tenho na natureza são estados e mudanças de estados, e não causas e efeitos.
A percepção das causas e efeitos estão em mim, e não na natureza: eu olho para os
fenômenos em mudança e sou eu quem conheço a causa e o efeito.
A relação que existe entre as coisas (causa e efeito) está em mim, e não nas coisas.
Causa e efeito não é uma relação que existe na natureza, mas sim na minha capacidade de
conhecer essa relação, no meu conhecimento de natureza.
Essa intuição leva Kant a perceber que o meu conhecimento pode até depender das coisas que
eu vejo na natureza, mas não começa na natureza.
A forma como a minha razão está estruturada é que constitui a fonte do meu conhecimento.
Na nossa estrutura racional, nós já temos o espaço e o tempo.
Quando eu conheço, eu já conheço - a priori e transcendentalmente - as coisas em relação de
tempo, espaço, causa e efeito.
Para entender uma coisa, precisamos entender a estrutura da nossa razão.
Espaço, tempo, causa, efeito e substância já estão na estrutura da razão, já estão em mim.
É da minha estrutura racional que eu consigo distinguir as coisas que existem no mundo e na
natureza.
A nossa percepção sensível é de apenas três dimensões. Podem ter objetos com muito mais
dimensões, mas nós não somos capazes de captar.
O nosso conhecimento se dá dentro de um certo formato e condição, que é diferente para
outros seres, como gatos e cachorros.
Existem formas puras do conhecimento, dentro das quais outras formas de conhecimento se
dão.
Há a intuição, que é o conhecimento puro, e há o meu entendimento sobre as coisas, a partir
desse conhecimento intuitivo.
Minha estrutura racional é a condição de existência dos meus outros conhecimentos.
Existem coisas que eu acho que são objetos de conhecimento, mas que na verdade são coisas
que já estão em mim, como Deus, o Universo e a alma.
Nossa razão cria naturalmente a ideia de Deus, Universo e alma.
A mente é uma ideia que minha razão criou para dar conta do entendimento dos fenômenos
que acontecem no mundo e em mim.
Deus, Universo e alma são ideias que a razão cria para dar conta daquilo que ela conhece.
Não são objetos de conhecimento.
Mente, Deus, Universo e alma são ideias criadas pela razão pura.
Kant vai contra aquelas ideias da Psicologia Racional, retratadas por Wolff.
O que está para além do mundo sensível, para além daquilo que eu posso conhecer, não é
objeto de conhecimento.
Com isso, eu não posso dizer, por exemplo, quais as propriedades da alma, porque eu não
posso conhecer a alma, ela não é um objeto de conhecimento.
Kant não defende a Psicologia Racional, apenas a Psicologia Empírica.
Ciência: possibilidade de aplicação da matemática, capacidade de análise, capacidade de
experimentação, presença de um objeto concreto e sensível, possibilidade de manipulação. O
objeto de estudo deve ter, no mínimo, duas dimensões.
Para Kant, a física é uma ciência propriamente dita, e a Psicologia Empírica não é uma
ciência.
Os fenômenos mentais existem apenas no tempo, e não no espaço. Existe em apenas uma
dimensão.
O grande problema: o método da introspecção.
A introspecção é um fenômeno mental que tenta entender e estudar os fenômenos mentais.
Para Kant, o objeto da psicologia seria apenas uma ideia criada pela razão.

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