Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
A psicologia é uma ciência separada da filosofia, mas a filosofia faz parte da formação da
psicologia.
A metafísica já não está mais tão ligada à psicologia.
A psicologia é resultado do esforço de um grupo de pessoas para entender a psique?
A psicologia nem sempre foi como ela é hoje. Essa disciplina é um produto histórico, uma
ciência fabricada e formada ao longo de um processo histórico.
A psicologia não é resultado apenas do acúmulo de conhecimento sobre a psiquê.
Qual a diferença entre mente e corpo?
Seria a mente aquilo que nos dá a capacidade de distinguir o bom e o ruim, o certo e o errado,
o verdadeiro e o falso?
O corpo seria a parte mecânica? Seria aquilo que nos dá a possibilidade de movimento?
Hoje, há diversas psicologias. Há, inclusive, oposições entre essas psicologias, e eu preciso
me posicionar diante das oposições entre as psicologias e não ficar à mercê dessa disputa.
A palavra "epistemologia" se refere ao estudo das ciências em geral. É o estudo da condição
do conhecimento, isto é, como é possível conhecer alguma coisa?
Como é possível conhecer a minha mente, por exemplo?
Eu tenho uma mente, e essa mente está em mim. Para que eu entenda a minha mente, eu
preciso me dar conta de que estou inserido em um espaço e em um tempo?
O entendimento sobre a mente é universal? Vale para todos os indivíduos?
Para conhecer ou entender a mente, preciso entender que somos seres que fazemos parte de
uma história, de um contexto histórico e social, de uma cultura, e que estamos em um
determinado espaço e em um determinado tempo ou período.
Sou um ser histórico, e pertenço a um determinado tempo e a uma determinada cultura.
O que eu sei da minha mente vale para a mente de outras pessoas?
O que eu digo sobre mim não pode ser válido para todos os outros indivíduos.
"Eu sei quem sou porque não sou o outro".
Ainda assim, a mente não é tão subjetiva, nós podemos estudá-la de forma exposta e
compartilhada.
A mente é algo compartilhado o tempo todo.
A mente é algo imaterial? Ela é corporificada?
Nós temos que olhar para a unidade da multiplicidade, olhar para "quantas coisas" há em
"uma coisa".
A mente é algo não-dual, tudo é relativo.
FILOSOFIA DA PSICOLOGIA
Essa psicologia é a ciência da alma que inaugura, no século XVIII, uma tradição de estudo
desse objeto, dando o contorno que serve de base para o desenvolvimento da psicologia
científica.
Essa psicologia do século XVIII tem diferenças da psicologia que conhecemos hoje.
Qual é a natureza dessa disciplina/ciência? Qual o conteúdo que deveria fazer parte da
história da psicologia?
Análise internalista da psicologia do Wolff:
Essa psicologia é uma parte da Metafísica, e cobre os assuntos: alma, o mundo em geral,
Deus e características gerais de todas as coisas (Psicologia, Cosmologia Geral, Teologia
Natural e Ontologia).
A Psicologia dá início à Metafísica do Wolff:
1) Somos conscientes de nós e de coisas fora de nós e, portanto, nós existimos.
2) Aquilo em nós que é consciente de si e de coisas fora de si é a alma.
3) Quando a alma é consciente de coisas, isso é o pensamento. Se a alma não é consciente de
nada, ela não pensa. Se ela não é consciente de alguma coisa, ela não pensa a respeito dessa
coisa.
4) O pensamento da alma acontece em diferentes níveis de profundidade: o quanto ela
consegue distinguir certas coisas de outras coisas, o quanto ela consegue distinguir as coisas.
Nós sabemos que há objetos porque conseguimos distinguir esses objetos.
5) Eu posso aprofundar essas distinções e ter uma consciência/conhecimento cada vez maior
desses objetos.
6) Nós damos diferentes nomes aos pensamentos de acordo com a razão que eles têm.
Sensações: pensamentos da alma/mudanças no estado da alma que têm como fundamento as
mudanças/alterações que corpos provocam nos nossos corpos.
7) A alma não é capaz de ser consciente apenas sobre coisas que estão presentemente
modificando nosso corpo. Ela também é capaz de pensar em coisas que em algum momento
já modificaram nosso corpo.
Imaginação: toda vez que uma parte de uma sensação presente é também parte de uma
sensação passada, essa sensação passada volta inteira para o campo da consciência.
8) Isso implica que nós não podemos pensar nada "do nada". Tudo o que nós pensamos está
ligado ao nosso estado presente.
Memória: capacidade da alma de se dar conta de que algo que ela representa agora, já foi
representado no passado. A memória não é um armazém que pode ser acessado conforme
nossas necessidades, para Wolff.
Atenção: capacidade da alma de conhecer as coisas. Capacidade de selecionar, entre várias
coisas perceptíveis, uma dessas coisas para aumentar a sua consciência sobre aquela coisa.
Todas essas capacidades são cognitivas, capacidades que nos permitem conhecer as coisas,
ter uma consciência maior e mais profunda sobre as coisas.
Reflexão: é uma espécie de atenção usada sistematicamente, através da qual nós podemos
distinguir muitas características das coisas, adquirindo um conhecimento mais profundo e
distinto das coisas.
Entendimento: capacidade que a alma tem de conhecer as coisas com alta distinção.
Capacidade de distinguir muitas características das coisas, produzindo conhecimento
profundo.
Reparar as características semelhantes entre os diferentes objetos.
Observando as diferenças e semelhanças das coisas, eu consigo colocar essas coisas em
grupos, o que me leva a um conhecimento geral.
Consigo criar categorias.
Consigo atribuir signos às coisas, o que torna meu conhecimento cada vez mais geral, me
ajuda a descolar desse nível intuitivo inferior e me leva a um conhecimento superior.
Consigo formar juízos: operações pelas quais a alma une duas coisas/duas consciências
(exemplo: fogo+ferro= ferro incandescente).
Perceber semelhanças e unir essas semelhanças, formando juízos.
A alma tem uma forma silogística de separar e juntar informações.
Os silogismos são as estruturas básicas por trás de todas as operações da alma.
A alma contém uma regra de funcionamento geral que sugere que tudo nela acontece
sucessivamente, e nada por saltos, assim como a regra da imaginação.
Tudo o que acontece na alma agora, tem fundamentos nas coisas que aconteceram antes.
A alma tem, ainda, a capacidade de notar a conexão entre as verdades.
A alma tem a capacidade de construir conhecimentos cada vez maiores e sobre todas as
coisas.
Razão: capacidade da alma de perceber a interconexão entre os conhecimentos.
A razão se complementa com a experiência, que é a capacidade da alma de perceber
pontualmente as verdades, isto é, a conexão pontual das verdades.
Segundo momento da Psicologia Empírica de Wolff: não se trata mais da dimensão cognitiva
da alma, mas sim da dimensão volitiva da alma.
Nós não só sabemos, conhecemos e pensamos coisas. Uma vez que pensamos e conhecemos
essas coisas, nós gostamos ou não gostamos delas, queremos ou não queremos, nos faz sentir
bem ou mal, felizes ou tristes.
A alma tem a capacidade de querer.
Faculdades volitivas inferiores:
A alma, quando pensa sobre uma coisa, se dá conta das características dessa coisa e do
quanto essas características contribuem para que essa coisa seja o que ela é, ou o quanto essas
características divergem da própria coisa.
Quando a alma tem conhecimento intuitivo (sensível/imediato) da perfeição em uma coisa,
ela sente prazer. E quando ela tem um conhecimento intuitivo da imperfeição em uma coisa,
ela sente desprazer.
Desejo (sensível): tendência da alma de querer se aproximar mais disso que produz prazer
nela.
Aversão (sensível): repulsa da alma a coisas que causam desprazer nela.
Há coisas que produzem perfeição na alma e há coisas que produzem imperfeição na alma.
Quando a alma nota essa produção de perfeição, ela percebe que é uma coisa boa, e quando
ela nota que uma coisa causa imperfeição nela, ela percebe que é uma coisa ruim.
A alma tem uma tendência a se aproximar de coisas que ela vê como boas, e a se afastar de
coisas que ela vê como más.
Vontade: tendência de se aproximar das coisas boas.
Nolontade: tendência de se afastar das coisas ruins.
Quando a alma pensa distintamente sobre as coisas que produzem prazer e desprazer, ela
percebe que essas coisas podem produzir mais perfeição ou menos perfeição na alma.
No nível dos sentidos, existem coisas prazerosas e agradáveis que, na verdade, não são boas,
ou seja, nos fazem mal.
Existem coisas que são desprazerosas, mas são boas.
Há uma disputa entre as tendências provocadas pelos sentidos e as tendências que têm como
fundamento o entendimento/as sensações/a intelecção.
Quando nós só obedecemos aos sentidos e não entendemos bem o que fazemos, nossa alma é
escrava dos sentidos.
Quando a alma age pelo entendimento e pela percepção clara da perfeição contida nas coisas,
e quando ela conhece as perfeições e imperfeições, quando ela conhece os bens e os males
das coisas, quando ela pode eleger a coisa que mais faz sentido pra ela, que mais a agrada,
diz-se que a alma é livre.
Liberdade da alma: capacidade que ela tem de eleger - não pelos sentidos, mas pela própria
capacidade de perceber o bem e o mal nas coisas - aquilo que mais lhe agrada.
Afetos - como alegria, tristeza, amor, ódio - são graus de desejo sensível.
Essa parte da Psicologia Empírica, que trata da vontade da alma, é a mais importante para o
Wolff, pois é a parte que serve como fundamento para disciplinas como política, moral e
ética (disciplinas da prática das pessoas, como elas devem se portar em sociedade).
Último ponto da Psicologia Empírica:
A minha alma é sintonizada ao meu corpo de tal forma que toda vez que alguma alteração
acontece no meu corpo, a minha alma se torna consciente dessas alterações. E toda vez que
minha alma quer alguma coisa, o meu corpo executa a vontade da minha alma.
A alma comanda o meu corpo.
A alma está unida ao corpo.
Entretanto, a experiência não nos diz como é possível que a alma comande o corpo ou como a
alma e o corpo estão tão unidos.
A experiência não explica a razão dessa sintonia entre meu corpo e minha alma.
Para que nós saibamos a razão dessa sintonia, nós temos que conhecer a essência da alma e
do corpo, o que se enquadra na Psicologia Racional.
Na Psicologia Racional, explora-se a essência da alma e a relação entre corpo e alma.
A Cosmologia explica o corpo:
O corpo é uma coisa composta (de partes).
Os corpos têm uma razão para as suas próprias mudanças, que é a distribuição do movimento:
um certo estado de um corpo muda pelo estado de um outro corpo impresso sobre ele. Os
corpos, ao se moverem, vão produzindo mudanças uns nos outros.
A Psicologia Racional estuda aquelas coisas que estão para além da experiência:
Essência da alma.
Relação entre corpo e alma.
Demonstração de como todas as atividades/experiências da alma derivam da sua essência.
Exploração de outras características da alma que a fazem pertencer ao mundo espiritual,
como a sua imortalidade.
1) Sobre a essência da alma:
Como a alma pode ser consciente? Ela é consciente quando ela repara as diferenças entre as
coisas em si e fora de si.
Os estados das coisas físicas respondem à outros estados de coisas físicas.
O meu corpo assume um certo estado que tem a ver com as alterações que os outros corpos
provocam nele. O meu corpo, de certa forma, representa o mundo externo. O meu corpo tem,
nele, uma coisa que tem a ver com o que está fora dele. Assim como a alma, que tem nela
ideias que representam coisas fora dela.
O que a alma tem, que o corpo não tem? A diferenciação. A alma se sabe diferente das coisas
que ela pensa, das coisas que ela representa. O corpo simplesmente assume estados diferentes
em função dos estados do mundo.
A alma se sabe diferente desse corpo e desse mundo.
O corpo não faz diferenciação entre ele mesmo e o mundo, porque o corpo é parte do mundo.
O corpo é capaz de representar materialmente o mundo, mas não é capaz de estabelecer uma
diferença entre ele e o mundo, entre os próprios estados dele. Logo, o corpo não pensa.
A alma, pelo contrário, pensa. Ela se sabe diferente das coisas que ela representa, e sabe a
diferença entre as coisas.
Então a alma não é o corpo, porque o corpo não tem consciência, e a alma tem.
A alma não é composta, é simples. Não tem partes e nem é parte de outra coisa. Ela é uma
coisa em si mesma, ela é uma substância. A alma tem nela uma força de provocar todas as
suas mudanças sem que ela precise sofrer essas mudanças a partir de outras coisas.
A alma tem a força de representar e de pensar no mundo de acordo com o lugar do corpo no
mundo. É uma capacidade de representar o mundo limitada pelo lugar do corpo no mundo e
pela constituição dos órgãos dos sentidos.
Então, a essência/força da alma é a capacidade de representar o mundo de acordo com o lugar
do corpo no mundo.
Tudo se baseia nas sensações do corpo.
Cada faculdade da alma deriva da essência.
Então, refletindo sobre a experiência, eu chego na essência, e desse ponto eu posso voltar
para a experiência, iluminando a experiência com o conceito da essência.
2) Sobre a relação entre corpo e alma:
Eu posso criar hipóteses sobre essa relação e testá-las na experiência.
Essas hipóteses não podem contrariar a experiência e nem os conhecimentos estabelecidos a
partir da experiência.
Primeira Hipótese - Influência natural do corpo sobre a alma e da alma sobre o corpo:
Da mesma forma que a alma pensa o que o corpo sente e que a alma manda o corpo fazer as
coisas que nós queremos que ele faça, os objetos físicos influenciam uns aos outros por
transmissão de força/energia/movimento.
Wolff diz que a experiência não comprova que exista uma influência do corpo sobre a alma e
da alma sobre o corpo, pois:
Quando o corpo informa a alma sobre alguma coisa, há uma certa energia motriz no meu
corpo, a matéria física do meu corpo está em movimento, e esse movimento iria para o nível
da alma, e como a alma não é corpórea, a energia se perderia: viraria energia espiritual e
diminuiria a energia motriz do Universo.
Quando a alma quer alguma coisa e o corpo executa a vontade dela, se a alma mandasse uma
energia espiritual para o corpo e no corpo essa energia virasse energia motriz, a energia do
Universo aumentaria a cada momento que a alma quisesse alguma coisa.
Isso implica acidentes sobrenaturais o tempo todo na natureza, e isso não pode ser aceito, por
isso Wolff descarta essa hipótese.
Segunda Hipótese - Causas ocasionais ou intervenção imediata de Deus:
Corpo e alma não influenciam um no outro diretamente.
Corpo e alma dão ocasiões para que Deus provoque mudanças na alma, que beneficiam o
corpo e mudanças no corpo que beneficiam a alma.
Wolff considera essa hipótese melhor, mas ainda há um problema: Deus teria que ficar o
tempo todo intervindo na direção da força entre corpo e alma, e isso iria contra a ideia de que
nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.
Terceira Hipótese (aceita por Wolff) - Harmonia pré-estabelecida entre corpo e alma:
Corpo e alma têm suas regras e sucessões estabelecidas.
Através da experiência, vimos que sempre o que acontece na alma combina com o que
acontece no corpo, e vice-versa.
Deus, no ato da criação, colocou uma espécie de "ponto zero" de um certo corpo (ou do
mundo físico) ligado ao "ponto zero" da alma, e fez com que correspondesse o estado do
corpo com o estado da alma, estabelecendo a harmonia/sintonia entre eles. Assim, alma e
corpo não interferem um no outro e funcionam de formas diferentes.
Essa hipótese é aceita porque não contraria a experiência, que é a harmonia; não contraria
nenhuma lei natural, porque continua existindo a conservação do movimento; e ajuda a
explicar como é possível que tudo aconteça no corpo de forma independente do que acontece
na alma e, assim, eu conservo a liberdade e a racionalidade da alma, mesmo o corpo sendo
irracional e determinado pelo movimento de outros corpos.
Estudo da espiritualidade da alma:
Wolff vê que há níveis inferiores de almas (como as almas dos animais) e níveis mais
superiores de almas (como a dos seres humanos). Então ele supõe que haja um nível de alma
superior à nossa alma.
Esse nível superior de alma, essa plena perfeição seria Deus.
As coisas simples que não têm entendimento (como os animais), até podem ter almas, mas
não têm espírito.
As coisas simples que têm entendimento e, por isso, têm liberdade (não são escravas dos
sentidos), são espíritos.
Todas as coisas simples têm algo em comum: como as coisas simples não são compostas,
mesmo que não estejam ligadas a corpos, quando os corpos morrem e se decompõem, as
almas permanecem como são, permanecem íntegras, sejam elas simples ou espíritos. Essa é a
incorruptibilidade das almas, tanto humanas, como animais.
Como a alma humana tem entendimento e liberdade, ela tem também a capacidade de
entender que umas coisas levam às outras e que existem certos caminhos que são melhores do
que outros, é o que se chama de sabedoria.
A alma tem um acompanhamento contínuo do seu próprio estado. Ela se sabe, a cada
momento, aquilo que ela foi no momento anterior. A alma do presente sabe ser a mesma alma
de 10 ou 20 anos atrás. Isso se chama personalidade.
Apesar da morte do corpo, a alma conserva o seu estado de consciência sobre si mesma,
sabendo ser aquilo que era.
A alma é não só incorruptível, mas também é imortal.
Então a imortalidade da alma é a capacidade dela de não se corromper com a decomposição
do corpo (porque ela não é uma coisa composta), e também dela manter sua consciência em
relação a si mesma, manter a sua personalidade.
Imortalidade: incorruptibilidade associada à personalidade.
Será que, depois da morte do corpo, a alma alcança um estado mais avançado de existência,
por não estar mais limitada pelos limites do corpo? Antes ela só podia sentir o que o corpo
sentia. Será que agora ela pode sentir mais? Ou ela vai para um estado inferior? Porque não
vai poder sentir nada, afinal, ela só podia sentir o que o corpo sentia.
Wolff se pergunta como era o primeiro estado da alma. Será que ela já existia antes do corpo
(ao qual ela se conecta) existir? Será que ela existia como partículas diferentes naqueles
corpúsculos dos quais o corpo foi formado? Como a alma vem ao corpo? E como ela fica
depois que o corpo vai? Como a alma, que é simples, se associa a essa coisa composta, que é
o corpo?