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Hey! Prometo que não vai ser uma história chata. Até já te adianto um
spoiler bem interessante sobre ela: o criador da Terapia Cognitivo-
Comportamental era psicanalista! Segue na thread para saber mais sobre ele,
Aaron T. Beck:
Na década de 60, nos EUA, como bom Psicanalista que era, Beck estava
buscando o suporte empírico para o modelo psicodinâmico da
depressão... ele queria "provar cientificamente" um pressuposto da
Psicanálise.
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Beck, então, tentou buscar o apoio empírico para essa afirmação (já que
ele era psicanalista e queria provar isto). Na ocasião, ele selecionou um
“n” de pesquisa significativo (amostragem) e começou, então, a analisar
o discurso de cada paciente com diagnóstico de depressão.
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- Cognição: “ufa! Eu não queria sair hoje mesmo!”
• Emoção: tranquilidade, alívio…
• Comportamento: distrai-se assistindo séries…
Na TCC, a ideia central é que há uma relação muito forte entre essas três
instâncias - pensamento, comportamento e emoção - de modo que não
conseguimos separá-las. Somos seres racionais e, nossas interpretações da
realidade determinam tudo que sentimos e fazemos!
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Para ajudar, trago um pequeno estudo de caso para você.
Vou contar para vocês a história da Sofia, uma paciente fictícia que te
procura em seu consultório (sim! Você terá que conceituar seu caso, fazer
seu plano de tratamento e executá-lo da melhor forma possível, na TCC).
A bolsa, tem a ver com a nossa bagagem, ou seja, com tudo aquilo que
carregamos conosco ao longo das nossas vidas (inclusive o que nos
constitui antes mesmo de nascermos – como nossa biologia e nossas
vulnerabilidades genéticas). Nossas cognições (que são a base para entender
e "mudar" o paciente) estão, também, inerentemente ligadas à essa
bagagem.
Sofia é uma estudante universitária de 20 anos que procurou terapia após a morte de sua
mãe. Marcou uma consulta com você, um terapeuta cognitivo.
Durante a sessão inicial, o psicólogo trabalhou com ela para reunir informações sobre sua
condição clínica, e aspectos significativos de sua história de vida, a fim de lançar luz sobre
possíveis eventos que se relacionavam às queixas e ao sofrimento atual…
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Sofia relatou que, desde o falecimento de sua mãe, que havia cometido suicídio há
cerca de um ano, ela não se sentia mais como alguém normal…sentia-se “no limite”
e “para baixo” a maior parte do tempo. Parou de praticar esportes, vivia isolada e
sentia-se cansada o tempo todo, mesmo dormindo cerca de 10 horas por dia. Suas
notas na faculdade também estavam ruins - ela sentia dificuldade de se concentrar,
tinha sonhos perturbadores com frequência e bebia todas as noites para adormecer.
Ela também contou que, quando tinha 7 anos de idade, perdeu sua irmã de apenas
9 anos. Seus pais e ela sofreram um acidente de carro (fatal para a irmã pequena)
enquanto Sofia estava sob os cuidados da avó.
“Eu estaria no mesmo carro que meus pais no dia em que ela se foi, mas preferi
ficar na casa da avó brincando…era pra ter sido eu!”
Para ter uma ideia de suas reações atuais a estímulos e a eventos específicos, o
terapeuta pediu a Sofia que pensasse sobre o momento em que geralmente se sentia
pior. A paciente relatou que se sentia pior à noite, quando estava sozinha em seu
apartamento.
O psicólogo perguntou também quais pensamentos específicos passavam por sua
cabeça durante esse período.
Sofia contou a ele que pensava coisas como: “nunca serei feliz de novo…”, “sou
sozinha, não tenho ninguém na vida…”, “não há sentido em se aproximar das
pessoas…”, “sou culpada pela morte de minha mãe, eu deveria saber que ela queria
cometer suicídio…”
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Capítulo 2 - As distorções cognitivas
Neste capítulo do nosso e-book, vamos focar nas distorções cognitivas, ou
seja, nos pensamentos automáticos e os diferentes tipos de distorções
cognitivas.
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• Abstração seletiva: focalizar apenas um detalhe do contexto ignorando
aspectos que podem ser importantes. Em graus extremos desse tipo de
distorção, a totalidade da realidade é avaliada apenas com base em um
fragmento dela: “como eu tirei uma nota baixa na minha avaliação [que
também continha várias notas altas], significa que eu estou fazendo um
trabalho mal feito.”
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• Pensamento dicotômico absolutista: tendência a interpretar fatos e
experiências de maneira dicotômica em apenas duas categorias opostas
(o pensamento “tudo ou nada”): “se eu não for um sucesso total, sou
um fracasso.”
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• Falácia da justiça: ficamos ressentidos porque achamos que sabemos o
que é a justiça ou o que é justo, mas as outras pessoas normalmente não
concordam conosco, assim, nesta distorção, tudo aquilo que não
coincide com a nossa visão é “injusto”: “não é justo que o professor me
dê essa nota! Mereço muito mais.”
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Capítulo 3 - A Tríade Cognitiva e as Crenças Centrais
Hey, lembra do exemplo que dei sobre o amigo que cancela o jantar? Você,
por acaso, se perguntou por que as pessoas pensam de formas distintas no
mesmo contexto?
Bem, neste terceiro capítulo, vamos falar sobre as crenças centrais. Estas
crenças são o que determinam a "forma" com que pensamos, as nossas
cognições. As "crenças centrais" (sobre nós, mundo e futuro), são as lentes
que usamos para enxergar o mundo.
• Visão de si
- sou sem valor, frágil, um derrotado!
- sou impotente, não sou respeitado…
• Visão do futuro
- Algo de ruim vai acontecer…
- meu futuro é negativo, incerto…
Note que este indivíduo, neste caso acima, possui estas lentes para enxergar
e interpretar cada situação que se depara em sua vida.
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Segundo Beck, nós temos três grandes categorias de crenças centrais.
São elas:
Desamor: Acredita-se que não é digno de amor por ter algo em si que
impede o recebimento de afeto e dificulta o estabelecimento de intimidade
com outras pessoas. Presume-se ser defeituoso e passível de rejeição. Não
sou capaz de ser amado, sou indesejável, não sou atraente, sou diferente
dos outros…
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Observe aqui como, então, seria o "funcionamento cognitivo", ou a
conceituação, de um indivíduo:
Segue o fio:
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Dica especial da Ane: atenção às estratégias compensatórias! É meu
"segredo" ao fazer a conceituação!
Imagine, então, que esta pessoa sempre recuse convite dos colegas. Sua EC
é a evitação. Recusando convites ela se sente aliviada em um primeiro
momento (não ativa o sofrimento que sentiria na ativação da crença -
"ficando quietinha na minha casa, não vou me sentir estranha ou sem
conexão"). Este alívio é altamente reforçador!
Só que, posteriormente, sua crença vai ser fortalecida por esta ação.
Recusando os convites, ela deixa de criar um repertório adequado para se
relacionar, também deixa de criar evidências de que as pessoas podem
gostar dela e cria uma "prova favorável" à sua crença, que não existiria se
não fosse esta EC (quando ela encontrar seus colegas se sentirá mais alheia
e desconectada, p.ex., pois todos no grupo têm criado uma conexão ao sair
juntos, menos ela que se isolou: "todos falavam sobre algo vivido no
encontro em que não fui. Me senti alheia! Eu não disse que ninguém gosta
de mim? A prova foi estar alheia a tudo!"
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Capítulo 4 - A gênese do desenvolvimento patológico no
cognitivismo
E por que algumas pessoas desenvolverem certas crenças centrais? E por que
outras não? Falaremos, neste capítulo, sobre a "origem" das crenças.
Os indivíduos não desenvolvem as crenças centrais "da noite para o dia". Elas
são formadas pelos itens da bagagem que carregamos ao decorrer da vida e da
interação de certos elementos como os mencionados acima.
• Herança genética (como os genes dos pais contribuem para sua fisiologia);
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Sua personalidade também compõe esta bagagem. Aqui, menciono
o Modelo Fatorial de Personalidades (dos 5 fatores de
personalidade), que é a teoria mais aceita no âmbito das Diferenças
Individuais:
• Amabilidade: a maior expressão deste traço diz respeito à alguém que tende a se preocupar
com a qualidade de suas interações com as outras pessoas, são generosas, confiáveis e preocupadas com
os outros;
• Neuroticismo: diz respeito à instabilidade emocional, as pessoas que são mais facilmente
suscetíveis à raiva, podem expressar hostilidade nas relações, ansiedade, frustração e medo. Sinaliza
propensão a perturbações emocionais.
• Extroversão: indivíduos que são mais atentos ao ambiente externo e mais propensos a “se
energizar" com ele, buscando a interação com os outros (“prestam mais atenção” ao ambiente
externo). Pessoas no outro oposto do traço, que possuem como característica a introversão, geralmente
tendem a apreciar mais atividades introspectivas (como a leitura) e se “energizam” mais com elas do
que com as atividades sociais.
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Agora, vamos voltar a história da paciente fictícia Sofia, que começamos a
ver no primeiro capítulo deste e-book.
O psicólogo também considerou a natureza do foco de Sofia: quais eram suas lembranças
recorrentes, ruminações, seu viés atencional no dia-a-dia…
E ela contou que, além de ser incomodada por sonhos angustiantes recorrentes sobre o
falecimento de sua mãe, ela ainda “passava muito tempo em sua cabeça” pensando em
como se sente mal, sozinha e repassando todos os aspectos do seu sofrimento e perdas…
Sofia perguntou ao psicólogo como ela poderia ter desenvolvido essas crenças…como havia
chegado ali…
O psicólogo contou à Sofia que não era possível estabelecer uma relação de causa e efeito
entre os eventos de nossas vidas e o surgimento do transtorno mental…
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Olha só os itens que foram enchendo a mochila de Sofia ao
longo da vida:
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• Ensino médio: passou a pertencer a um grupo de meninas do colégio e
conheceu a natação - fator de proteção!
• Primeira experiência romântica: relação positiva - fator de proteção;
• Melhora da sua autoconfiança após passar no vestibular;
• Início da idade adulta: faculdade de Direito;
• Mudou da casa dos pais para outra cidade;
• Envolvimento com esportes (deixou de ter hobbies solitários e começou
a se envolver em atividades coletivas);
• Conseguiu se vincular bem às colegas de faculdade;
• Uso recreativo de álcool (início).
Aos poucos Sofia estava manejando cada situação e estava bem. Mas, nunca
deixou os itens de sua bagagem (não há como). E, possivelmente, por isto,
quando sua mãe cometeu suicídio, ela ativou novamente suas crenças
centrais e decaiu (estava tudo lá! Dentro de sua bolsa!). Declinou
profundamente, se deprimiu e começou a fazer uso abusivo de álcool.
Este é o momento em que ela buscou a terapia!
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Capítulo 5 – Alvos do tratamento a partir da
Conceituação Cognitiva
Levando em consideração todos esses aspectos, a conceituação cognitiva de
Sofia, os seguintes alvos
Com a terapia, Sofia reconheceu que tinha várias pessoas próximas em sua
vida que se preocupavam com ela e que era importante para ela manter
esses relacionamentos. Ela também concordou em aumentar lentamente
sua atividade social, o que lhe permitiu avaliar sua crença de que não tinha
ninguém e não valia a pena se relacionar. Ao longo do tratamento, Sofia fez
progressos importantes em relação aos objetivos do tratamento e relatou
uma redução dos sintomas.
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