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A História da Psicopatologia no Brasil – Benilton Bezerra Jr.

VÍDEO E
TRANSCRIÇÃO INTEGRAL DA PALESTRA
A HISTÓRIA DA PSICOPATOLOGIA NO BRASIL1

Benilton Bezerra Jr

Eu vou apresentar aqui algumas ideias que eu espero suscite uma conversa entre nós
sobre Psicopatologia e sobre algumas mudanças que no campo da Psicologia vem
acontecendo nos últimos anos e um pouco do horizonte que se prenuncia atualmente. O
primeiro ponto que eu gostaria de comentar é o seguinte: a Psicopatologia é geralmente
entendida como um campo específico do conhecimento: Psico-Pathos-Logos – o estudo
do sofrimento psíquico.

Nesse sentido é uma área especial da Psiquiatria em especial, mas não só da Psiquiatria
e que envolve a definição, concepções do que seja doença mental, descrição do que são
as doenças mentais, delimitação das categorias, montagens de qualificação etc.

Esse é um aspecto importante e sobre o qual eu espero que a gente possa conversar,
porque justamente é uma das coisas mais importantes no campo psi, no campo da
psiquiatria, não só da psiquiatria, no campo social que é impregnado pela presença das
teorias, dos conceitos e da prática psiquiátrica, tem havido o desenvolvimento de uma
mudança muito grande nos últimos 40 anos, ou seja, nos últimos 100 anos a gente viveu
uma mudança drástica, para alguns, uma revolução, para outros um pouco desastrada
mudança na direção de uma psicopatologia que eu vou inventar de escrever daqui a
pouco.

Mas, além disso, e talvez seja esse o aspecto que eu acho mais interessante a gente
discutir. A psicopatologia também diz respeito à vida cotidiana no sentido de que nós
todos e hoje em dia cada vez mais absorvemos conceitos, palavras e que nós usamos nas
nossas relações sociais, o tempo todo. Nós usamos cada vez mais para nos
autodefinirmos, nós usamos para dar nome a certos sentimentos, cada vez mais, isso é
uma característica dessa mudança, nós recorremos ao vocabulário psiquiátrico. Isso não
sem consequências, é sobre isso também que eu gostaria que a gente pudesse conversar.

Então, de certo modo, o primeiro ponto que eu gostaria de dizer, é claro, tudo que eu
vou dizer pode ser contestado por pessoas que pensam de maneira diferente, mas é
assim, é assim que é bom, a gente pode dar as opiniões e vê-las confrontadas por
pessoas que pensam de modo diferente.

A primeira ideia que eu gostaria de acentuar, é o seguinte: embora a psicopatologia


como disciplina, digamos assim, como parte do campo médico pretenda muitas vezes se
apresentar como uma atividade científica, ela não é. A psicopatologia ela é uma
atividade permanente, pelo menos nos últimos 200 anos desde que se criou a ideia
mesmo de doença mental e se criou a psiquiatria e tudo o que gira em torno dela um
exercício constante de demarcação do que é a normalidade do que é a diferença, mas
ainda não patologia e do que é uma diferença que a gente considera patológica e,
portanto que merece e que exige algum tipo de intervenção.

Então, de certa forma, psicopatologia é uma coisa da qual todos nós participamos na
medida em que nós, como membros de uma sociedade caucionamos ou criticamos essas
palavras que apontam, nomeiam, classificam positiva ou negativamente certas
experiências psíquicas e certos comportamentos. O que faz com que uma experiência
que um de nós possa ter ou uma conduta que a gente possa apresentar seja considerada
patológica, não é alguma coisa que se decida cientificamente no sentido de uma
objetividade que não presta nenhum tributo a avaliação subjetiva. Ao contrário, se a
gente pode dizer que o sofrimento psíquico, o sofrimento tout court (00:06:05/09), ele é
inerente à existência humana, e isso Buda já dizia há 2.500 anos atrás: “viver é sofrer”.
Por quê? Porque a vida, ela sempre implica frustrações, implica limites, implica acasos
infelizes e, se há uma coisa que nos caracteriza em relação a outros animais que têm
mentes, é o fato de que nós sofremos, sabendo que estamos sofrendo e nos interrogando
sobre as causas e sofrimentos e agindo de maneiras complexas em relação a ele e não de
maneira meramente automática como qualquer animal pode fazer.

Então, a psicopatologia como exercício da, deixe dizer de outra maneira, a demarcação
das fronteiras entre normalidade, diferença e patologia é um exercício constante de toda
a sociedade e a gente vai, ressalva, de toda a sociedade desde que se constituiu esse
campo específico da psicopatologia e isso tem pouco tempo, 200 anos mais ou menos.

Como exemplo dessas movimentações no campo da psicopatologia, é curioso a gente


lembrar de alguns diagnósticos que foram inventados, utilizados e depois jogados no
lixo, por quê? Porque em grande parte refletiam de maneira muito aguda percepções
contextuais que foram deixadas para trás.

Quando se começou a construir ferrovias nos EUA, surgiu um diagnóstico que era o
diagnóstico da espinha ferroviária railuby spine, era um diagnóstico que era dado para
pessoas que supostamente tinham traumatismos pelo sacolejo dos trens, uma novidade
na época. Durante horas seguidas, os médicos chegaram a conclusão que aqueles
sacolejos produziam uma espécie de traumatismo mínimo que fazia com que o sistema
nervoso central ficasse alterado e as pessoas ficassem nervosas, ansiosas etc e tal. Esse
diagnóstico, ele foi, teve uma presença, evidentemente, sumiu.

Outros diagnósticos surgiram, por exemplo, Kraepelin, que é um grande psiquiatra, o


fundador, digamos da psiquiatria classificatória científica é a grande figura que hoje em
dia influencia a maneira, o olhar psiquiátrico. Emil Kraepelin, no final do século 19,
produziu a primeira grande classificação psiquiátrica. Ele, por exemplo, falava das
parafilias, ou seja, das práticas e excitações, imaginações sexuais parafílicas, significa
fora do que deveria acontecer e ele incluía entre as parafilias a sexualidade na velhice e
na infância.

Kraepelin não tinha a noção de que sexualidade fosse alguma coisa que as crianças
experimentassem e muito menos achava que velhos, e velhos vocês imaginem que no
final do século 19, era a partir dos 50 você já estava mais ou menos candidato a ser
considerado um ancião. A sexualidade era considerada por ele uma estranheza, uma
espécie de conduta fora do normal.

Talvez, o diagnóstico mais extravagante com o qual eu me deparei é o de drapetomania


foi um conceito inventado por um psiquiatra americano no século 19 e que significava
um delírio, ou seja, um impulso irracional, a fuga que era típica de certos grupos de
pessoas, dos escravos. Os certos escravos tinham essa doença, ou seja, tinham um
impulso a fugir e buscar a liberdade. Isso contrariava a natureza do escravo e, portanto
era evidentemente uma patologia. O tratamento da drapetomania, eu não preciso
explicar qual era. Era um tratamento de contenção desse impulso antinatural.

Há outros diagnósticos também que mais recentes a gente está falando que os
psiquiatras e médicos do século 19. Mas, se a gente pensar bem, a homossexualidade
deixou de ser considerada como uma patologia começou a ser considerada como uma
patologia no século 19 deixou de ser considerada como patologia há muito pouco tempo
atrás, em 1974. Foi quando, apenas por pressão dos movimentos “gays”, a
homossexualidade, depois de uma votação e de uma espécie de plebiscito, se decidiu
que a homossexualidade não deveria ser considerada uma patologia.

Há outros casos de diagnósticos que são muito específicos numa certa cultura, por
exemplo, o da personalidade múltipla, um transtorno que é muito típico dos EUA houve
quase uma epidemia durante um tempo e depois sumiu.

A histeria na época de Freud era um diagnóstico bastante comum, era digamos o


sistema da época e hoje em dia em uma presença completamente diferente.

A depressão que nos anos 50, acometia, segundo as estatísticas 2% da população hoje
em dia, aparentemente, segundo as previsões e cálculos epidemiológicos atingirão, um
em cada quatro pessoas ao longo da vida.

Então, vocês veem como o quadro das chamadas doenças mentais ele varia conforme o
contexto. Alguns diagnósticos simplesmente aparecem, desaparecem, outros vão
mudando de nome, é o caso da psicose maníaco depressiva que transformou-se no
transtorno bipolar e a gente vai ver depois, a importância que teve essa transformação
vocabular no lugar que essas pessoas ocupam socialmente da maneira como as pessoas
se identificam e com isso a gente pode começar a pensar na importância que tem o
vocabulário psicopatológico na vida das pessoas, de uma maneira geral, de todos nós,
mesmo aqueles que não temos ainda diagnóstico psiquiátrico, nós o tempo todo usamos,
hoje em dia qualquer pessoa usa a palavra Autista como uma certa liberdade, usa a
palavra bipolar com uma certa liberdade. Todo mundo enxerga crianças com
provavelmente TDAH, a gente vai incorporando esse vocabulário e isso de novo, não
têm poucas consequências.

De todo modo, eu queria falar rapidamente sobre o que foi essa mudança fundamental
que ocorreu em 1980 precisamente com o surgimento da 3ª edição do DSM. O DSM
para quem não sabe é um sistema de classificação diagnóstico de doenças psiquiátricas
criadas pela psiquiatria americana, mais adotada pelo mundo inteiro. Não era pra ser,
transformou-se na bíblia do psiquiatra e essa mudança do DSM III, ela foi fundamental.
Por quê? Até o final da II Guerra Mundial, a psicopatologia ela era fundada numa certa
concepção do sofrimento psíquico, como uma espécie de dilaceração interna, vivido
como um conflito, um enigma a ser decifrado, de tal maneira resumida todo sintoma era
considerado signo de alguma coisa, o sintoma uma depressão, uma fobia, um delírio,
eles tinham alguma significação, aquilo remetia a alguma coisa especial na trajetória
singular daquele indivíduo na sua relação com o meio.

Então, ser tomado por um sintoma, era quase automaticamente interrogar-se sobre o que
está acontecendo comigo, tratar de um sintoma era tentar entender o que na vida
daquela pessoa é engendrou a casos, circunstâncias que levaram aquela pessoa estar
sofrendo daquela forma.

Esse paradigma, digamos assim, se devia a várias razões: a influência de Freud desde
final do século 19, a influência da fenomenologia ao longo dessa primeira metade do
século 19, a ausência de terapias biológicas. Para vocês lembrarem, o primeiro remédio
antipsiquiátrico de fato, surgiu em 1950 e poucos, a clorpromazina. Antes disso,
nenhum tratamento biológico, nenhum medicamento especificamente psiquiátrico
havia, de modo que, a terapia pela fala, a terapia de base psicossocial era basicamente o
que havia no horizonte terapêutico.

Em 1952 com o surgimento da psicofarmacologia, uma coisa mudou radicalmente e de


lá pra cá, o impacto dos psicofármacos só tem feito aumentar. De novo, se nos anos
50/60, tomar um antidepressivo era alguma coisa que as pessoas tendiam a esconder,
hoje em dia as pessoas exibem, dizendo: “meu antidepressivo é melhor do que o seu”,
“qual é o seu?”, “você toma quanto?” etc, “isso aqui eu já tomei”.

A indústria farmacêutica, ela teve um sucesso extraordinário, é uma das áreas da


economia mais lucrativas. Isso teve um impacto poderoso na mudança do paradigma da
psicopatologia, da psiquiatria.

Um outro elemento fundamental foi a crise de legitimidade da psiquiatria nos anos 60,
sobretudo 70, torpedeada de vários lados. De um lado, pelo fato de que os críticos
externos à psiquiatria diziam que o diagnóstico psiquiátrico não tem confiabilidade
nenhuma.

Cada psiquiatra diagnostica de um jeito muito pessoal, era verdade. As escolas francesa,
alemã, inglesa e americana, cada uma tinha um sistema de qualificação e aqui no Brasil,
haviam os discípulos das escolas francesas, americanas, inglesa, da escola alemã,
sobretudo francesa e alemã e, isso fazia com que por exemplo, fosse quase impossível
estabelecer pesquisas multicêntricas.

Foi feito uma pesquisa que se tornou clássica, filmando determinado número de
pacientes que cujos filmes foram apresentados para psiquiatras ingleses e americanos.
Não eram nem franceses e alemães ou franceses ou americanos, eram ingleses e
americanos, ambos anglófanos, da mesma cultura, e os mesmos pacientes eram na sua
maioria diagnosticados como esquizofrênicos nos EUA e deprimidos na Inglaterra, ou
seja, a confiabilidade do diagnóstico psiquiátrico comparado com os diagnósticos
médicos era muito baixa.

Um outro caso rumorozíssimo chamado “O caso Losekam” que era um psicólogo que
juntou umas 12 pessoas e combinou com eles um experimento, muito engenhoso,
simples, mas engenhoso. Ele combinou que num determinado dia todas essas pessoas
que podiam ter sido apanhadas aqui, iriam cada uma para um serviço de emergência
psiquiátrico em um estado americano, iriam dizer apenas uma mentira: que ouviam uma
voz e que essa voz só dizia somente três coisas: oco, vazio e tuti”. A escolha desses
termos era proposital, porque oco, vazio é o tipo da coisa que quando você está
deprimido, entediado, sem muito destino na vida, você tem impressão de que a vida é
vazia etc e tal. Era para diminuir o impacto da voz, a voz não era persecutória, só dizia
isso. E, além disso, somente a verdade, nada mais que a verdade.
Resultado: todos foram internados, todos com diagnóstico de esquizofrenia paranóide,
exceto um com diagnóstico de psicose maníaco depressiva.

Foram internados e continuaram fazendo a pesquisa, escrevendo na frente de todo


mundo os relatórios das pesquisas, ninguém reparou nada.

Os únicos na verdade que repararam foram os próprios pacientes internados que


disseram: você é jornalista, você não é doido, você…

Num determinado dia eles vieram à luz e disseram, isso era um experimento. Enfim, foi
um desastre, teve várias consequências que depois no debate a gente pode voltar. Mas,
esse era o tipo de crítica que se fazia à psiquiatria nos anos 60/70.

Além disso, um outro elemento importante foi o fato de que os psiquiatras que até os
anos 50, apenas, trabalhavam dentro de asilo com condições toscas de tratamento ou em
consultórios fazendo psicoterapia, começaram a sofrer a concorrência de outros
profissionais, psicólogos, assistentes sociais, pessoas que também eram capazes de fazer
psicoterapia, não podiam medicar, mas os médicos também não medicavam muito.

Houve uma espécie de guerra, no fundo de mercado, e os médicos se viram então, os


psiquiatras se viram instados a definir um pouco melhor qual era o seu terreno e uma
das maneiras de fazer isso, foi criar uma, um sistema de classificação de diagnóstico que
fosse mais confiável e que pudesse ser, digamos apropriado para pesquisas, para difusão
do conhecimento diagnóstico entre pessoas da saúde pública, por exemplo.

Vocês imaginem o que era fazer programa de saúde pública mental em lugares onde
havia pouquíssimos psiquiatras e na América Latina havia muito poucos psiquiatras e na
África muito menos ainda. Em muitas regiões não havia, era preciso que enfermeiros,
assistências sociais, psicólogos, outros profissionais pudessem manejar os instrumentos,
eles eram muito complicados.

Então, um conjunto de fatores fez com que os psiquiatras resolvessem mudar e aí


mudaram drasticamente, varrendo a influência da psicanálise e da fenomenologia e
fazendo vir à tona um sistema de classificação que é o que nós temos hoje.

Um sistema de classificação baseado, sobretudo, na ideia de que sintomas são sinais. O


sentido de um sintoma não importa muito. Ele é agrupado num conjunto e esse conjunto
significa uma referência a um diagnóstico, chamado agora de transtorno.

A ideia do DSM era a de permitir que psiquiatras de todas as orientações teóricas


pudessem conversar e isso fez com que eles avançassem na ideia de fazer um sistema
classificatório que não iria perguntar sobre a causa dos transtornos, iria simplesmente
fazer um conjunto de rótulos, o que permitiria em tese que qualquer fenomenólogo,
psicanalista Junguiano, psiquiatra biológico etc, pudesse trabalhar com aquelas
categorias.

O que de fato aconteceu, foi que ao longo dessas décadas, houve uma ênfase cada vez
maior na versão biológica da psiquiatria, ou seja, o diagnóstico que era ateórico. Na
verdade tornou-se uma espécie de fundamento para uma psiquiatria biológica que hoje
é, pelo menos na psiquiatria oficial, a versão hegemônica.

Houve muitas consequências na adoção do DSM III, ele já passou por uma revisão em
87 e depois do DSM IV em 1994, uma revisão em 2000 e agora nós estamos no final da
elaboração do DSM V.

O que aconteceu com o número de diagnósticos psiquiátricos com essa mudança?


Explodiu. O DSM I tinha mais ou menos 160 diagnósticos, o DSM IV esse último agora
tem 374, 375. O número de diagnósticos possivelmente, aumentará com o DSM V, mais
do que isso, a ideia de que a psicopatologia, ou seja, o estudo do sofrimento perdeu
aquela perspectiva fenomenológica, ou seja, o que significa isso? Significa a análise da
experiência de estar deprimido, análise na primeira pessoa.

O que é estar tomado por um delírio de perseguição? O que é estar tomado pela ideia de
ruína? Depressão? De pânico diante de um objeto inofensivo? Fobia? Essa exploração
da experiência na primeira pessoa, hoje em dia com o DSM, foi varrida.

Outra dimensão varrida, a dimensão psicodinâmica. O que passa dentro do indivíduo?


Que tipo de conflito ele tenta resolver com sintoma, que é sempre uma tentativa de
solução, de um conflito difícil de resolver. Essa discussão, ela também foi colocada num
segundo plano, se é que está em algum plano.

O diagnóstico psiquiátrico hoje em dia é tão simples, que não só psiquiatras dão
diagnósticos e, portanto, medicam. Hoje em dia, quem mais medica antidepressivos e
tranquilizantes, não são os médicos em geral, ginecologistas, otorrinolaringologistas,
oftalmologistas. Osteopatas se forem médicos também receitam.

Diagnósticos não apenas médicos psiquiatras dão, os outros médicos também, mas
todos profissionais da área de saúde mais os professores das escolas, mais os pais, ou
seja, a vulgarização e a simplificação do diagnóstico, produziu uma espécie de
enxurrada de diagnósticos na sociedade.

Seu eu pegasse aqui um exercício, se eu tivesse mais tempo eu teria feito isso, um
exercício mostrando a vocês alguns dos diagnósticos mais polêmicos do DSM.
Certamente, a maioria aqui sairia com algum tipo de diagnóstico. Tantos eles são, então
simplesmente você pode ser alocado num.

Isso quer dizer que uma pessoa que tem um diagnóstico desse tem uma doença mental?
É uma boa pergunta. Boa parte dos psiquiatras admite socialmente que não. Ter um
transtorno mental não significa necessariamente que você tenha uma doença, se por
doença você entender algum tipo de entidade anátomo-clínica. Transtorno transformou-
se numa espécie de acordo convencionado de que certas condutas, certas experiências,
elas são estranhas, são esquisitas, elas merecem ser atendidas.

Então, se criam, por exemplo, diagnósticos como: Transtorno Explosivo Intermitente


(TEI). Se tiver alguém aqui de cabeça quente, pavio curto, estourado, pode abraçar esse
diagnóstico e dizer que a culpa não é sua, que você é um doente, as pessoas têm que lhe
compreender, bom mas também, talvez você seja obrigado a se tratar.
O Transtorno Desafiador de Oposição (TDO) que é dado para crianças que não
obedecem aos adultos que não gostam de fazer deveres, que botam a culpa nos outros
pelas coisas que elas fazem. Eu não tô brincando! É nesse nível o critério de definição
de um diagnóstico que é dado cada vez mais para crianças em idade escolar.

Em alguns contextos sociais, mais até do que no Brasil, a difusão dos diagnósticos é
muito preocupante. Por exemplo: o uso de diagnóstico de Transtorno Bipolar em
crianças com menos de cinco anos, criança em processo de formação e já alvos desse
tipo de diagnóstico.

Por quê que isso é relevante? Porque um diagnóstico psiquiátrico ele não é apenas uma
espécie, não é como se você ter uma amigdalite, não é como você ter uma fratura, não é
como você ter uma doença qualquer. É você ter um traço seu marcado, no seu olhar
sobre si próprio, no olhar dos outros sobre você. Dependendo do diagnóstico Transtorno
Bipolar numa criança de cinco anos tem um defeito de influir fortemente no
engendramento de um destino, de um destino pessoal, de um destino social.

Esse tipo de fato deveria fazer com que a gente pudesse cada vez mais discutir, nós os
não especialistas sobre a pertinência desses diagnósticos. E a pergunta, bom antes disso,
apenas dar a vocês a importância, o grau da importância dessa discussão eu vou dar
alguns exemplos de diagnósticos que foram propostos para o DSM V. Um deles, o mais
polêmico, talvez foi o de Síndrome de Risco de Psicose.

Era a ideia de você poder flagrar um adolescente que ainda não tinha apresentado os
sintomas psicóticos para intervir mais cedo, medicá-lo e evitar que ele tenha a psicose.

O motivo não é sem interesse, a gente sabe que entre o aparecimento de sintomas e o
tratamento, em média passe-se um ano. O que significa? (isso são pesquisas
internacionais). O que significa é um efeito ruim no prognóstico. Quanto mais cedo o
tratamento, melhor o prognóstico. Entre o surgimento de pródomos, de situações que
parecem indicar que a criança ou adolescente possa ter aquela eclosão de um surto mais
adiante, passam-se quatro anos, ou seja, há um período anterior à presença do surto que
quando o adolescente é acolhido, tratado etc. Esse acolhimento pode mudar o seu
destino, esse é o raciocínio, é o argumento.

O problema qual é? É que a adolescência que é a parte da população para a qual se volta
esse diagnóstico é por natureza turbulenta, o adolescente inquieto, o adolescente
ensimesmado, o adolescente que, se sente esquisito, que tem comportamentos bizarros,
pode ser um adolescente perfeitamente normal, muitos aqui devem ter tido uma
adolescência assim, seriam irreconhecíveis hoje e esses seriam os falsos-positivos.

Alguns críticos chegaram a calcular que, se esse diagnóstico passar, provavelmente não
vai passar, haveria cerca de 70% de falsos-positivos. Significaria que 70% das pessoas,
dos adolescentes com esse diagnóstico, simplesmente, não iriam desenvolver a psicose
mais adiante.

Mas, de novo, quem tem interesse nisso? Interesse direto: a indúsria farmacêutica.
Interesse indireto: todo “Establishment” de assistência à saúde mental, toda a rede de
profissionais, toda a rede de serviços etc e tal.
Há, portanto, na construção da psicopatologia, vocês vejam, muito, muito mais do que
apenas discussão sobre o que é uma doença mental, o que que é a experiência do
sofrimento. Há interesses de toda ordem, corporativos, econômicos, políticos, sociais
etc.

Outro diagnóstico, estranhíssimo sugerido, foi o Transtorno Parafílico Coercitivo.


Alguém pode ter uma ideia do que pode ser isso? Transtorno Parafílifo, ou seja, uma
atividade sexual ao lado (para, desviante) coercitivo. Esse diagnóstico foi bolado para
ser aplicado para certos estupradores que seriam considerados doentes. O estupro sendo
considerado consequência dessa doença mental.

Isso é uma discussão muito importante e muito crucial, por quê? Porque ele é um
exemplo de como na sociedade que a gente vive, cujas características a gente pode
discutir daqui a pouco, a falta da tradição, a falta de agências nômicas que regulam
naturalmente a vida das pessoas, dos conflitos têm feito com que duas agências sociais
sejam cada vez mais convocadas para regular os conflitos da vida normal.

Um é a Justiça, a judicialização da vida cotidiana é cada vez maior. Isso começou nos
EUA, qualquer pessoa que veja filme americano já ouviu essa frase: “…eu vou lhe
processar…nós nos vemos na corte”. É tipo da classe média americana, “nós nos vemos
na corte”. Pois, isso está sendo transportado para o Brasil e vocês abrem os jornais e
veem o juiz determinando soluções para conflitos que antes eram solucionados com
outras maneiras.

E a outra agência é a Medicina, em particular a Psiquiatria. Nem toda conduta é


indesejável. Nem todo crime é expressão de patologia. Nem tudo que a gente diz não
deve ser considerado patologia. Por exemplo, houve um outro diagnóstico sugerido.
Vou dar um outro diagnóstico para terminar essa coisa dos diagnósticos que é muito
preocupante que é o Transtorno Misto de Ansiedade e Depressão (TMAD). O TMAD se
passar, vai fazer com que todos nós em algum momento da vida tenhamos esse
diagnóstico, porque é impossível viver uma vida pelo menos uma vida interessante que
implica riscos, implica ganhos, mas implicam perdas, decepções, frustrações, sem que a
gente atravesse algum período em que você esteja bastante ansioso ou esteja um pouco
deprimido, impossível.

Isso não significa que nós devemos chamar esses períodos de turbulência de doença
mental? De transtorno mental? Eu acho que não. Muita gente acha que sim. São os
promotores dessa proposta. E para finalizar esse tópico, uma outra discussão enorme do
DSM V é a questão do luto. Até agora, o luto era considerado um período em que as
pessoas, evidentemente, iriam sofrer, ou seja, um diagnóstico de Transtorno Depressivo
Maior era dado a uma pessoa que estivesse sem prazer, sem vontade de fazer nada, sem
poder dormir, inapetente, com humor triste, apragmático, desde que isso não fosse
resultado da perda de um filho, de um marido, de um pai, durante um período que, aliás,
era curto, duas semanas.

Pois bem, houve gente que disse que nós devemos retirar essa cláusula de exclusão, ou
seja, o sofrimento natural do luto passaria a ser considerado um transtorno. Qual é a
consequência imediata disso? É a de que, uma coisa é você falar de luto, vestir preto
durante seis meses, chorar de maneira ritual, não se mostrar alegre, cumprir o ritual
social de elaboração da perda.
Outra coisa é dizer: “eu estou com TDM, você está com TDM”. O passo seguinte a isso
é, evidentemente, tratamento e tratamento hoje em dia, muito frequentemente é
medicação, ou seja, o impacto disso sobre a medicalização da vida cotidiana seria
espetacular.

Então, isso são exemplos para mostrar a vocês como a construção das categorias
psicopatológicas, a demarcação do que é patológico e do que não é, depende de um
conjunto de variantes e, deveria, digamos, contar com a participação do público em
geral.

De uma maneira geral, aliás, de uma maneira cada vez maior, isso tem acontecido. O
DSM V é a primeira classificação psiquiátrica que foi colocada na internet para ser
discutida, ou seja, qualquer um de vocês pode entrar fórum da DSM e colocar as críticas
que vocês quiserem. Então, vocês podem intervir, qualquer psiquiatra pode fazer isso,
mas qualquer pessoa faz isso. E muitos grupos têm feito, grupos organizados têm feito
isso, ou seja, um dos efeitos. Eu falei de alguns efeitos negativos dessa virada do DSM
III, expansão diagnóstica, proliferação exagerada de novos diagnósticos, ampliação
excessiva do campo de medicação do sofrimento, apagamento da dimensão experiencial
do sofrimento, da dimensão fenomenológica e psicodinâmica do sofrimento.

Mais houve efeitos também positivos, porque na vida tudo é assim, tudo tem ganhos e
perdas, nada é exatamente bom, exatamente ruim e, entre as coisas positivas decorrentes
do DSM, estão o fato de que o estigma em relação à doença mental baixou bastante, ou
seja, se a Psiquiatria nos anos 50/60, era uma psiquiatria opressora, excludente, hoje em
dia o problema dela não é esse, é o contrário, dela ser inclusiva, todo mundo faz parte
do seu raio de ação. Ela é inclusive, ela mudou inclusive, ou ampliou o seu raio de ação.

O que não é apenas o de tratar o sofrimento é cada vez mais o de promover saúde
mental, promover bem estar social, é de aprimorar as nossas capacidades cognitivas,
afetivas, sensoriais etc, que é uma fronteira com a qual eu vou terminar a conversa
daqui a pouco, que é uma das fronteiras entre normalidade e diferença que é mais
espetacular. Nós estamos avançando para uma psiquiatria, uma medicina do
aprimoramento e não apenas uma medicina, uma psiquiatria que visa tratar o
sofrimento.

Então, para dar um exemplo clássico do impacto da desestigmatização, vocês não vão
nunca encontrar um vídeo, um filme, um livro escrito ou encenado por um psiquiatra
que, nos anos 60/70 viesse a público dizer: “eu sou um psicótico maníaco depressivo”.
Se eu chegasse aqui hoje e dissesse: “eu sou um psicótico maníaco depressivo”,
provavelmente, as mesas iriam lentamente se esvaziar porque a palavra psicótico-
maníaco-depressiva contém uma carga de dramaticidade e de periculosidade que o
termo Transtorno Bipolar (TB) enxugou completamente.

Primeiro porque a pessoa era um psicótico maníaco depressivo, agora ela tem um
Transtorno Bipolar, ou seja, algo que era inerente à sua, transformou-se numa
particularidade. Com todos os equipamentos e todos os tratamentos que a gente tem
hoje, vocês têm todo mundo aqui deve conhecer pessoas que têm um diagnóstico de TB
com uma vida perfeitamente normal.
Mas, curiosamente, há psiquiatras cujo sucesso se deve ao fato de terem TB, de
escreverem, de pesquisarem, de se apresentarem como uma pessoa com TB. O que antes
era motivo de fuga dos possíveis pacientes, hoje em dia é um motivo de aproximação.
Por quê? Porque o psiquiatra que tem o transtorno conhece por dentro o que é aquela
condição, tem mais a oferecer ao paciente do que outro que não tenha essa experiência.

Então, o DSM produziu também esses efeitos positivos, entre outros efeitos, além da
desestigmatização há o que um sociólogo chamado de Yan Hackmam, chama de efeito
“looping”, o efeito de rebote, que é muito exemplarmente ilustrado pelo caso dos
Autistas.

O Autismo era um diagnóstico terrível nos anos 50/60/70. A partir dos anos 80, o
Autismo virou um diagnóstico cada vez mais comum, talvez até excessivamente
comum. As estatísticas em relação ao Autismo, elas explodem. A quantidade de pessoas
que tem o diagnóstico é cada vez maior, inclusive também porque todos nós usamos a
palavra com muita liberdade. Muita gente diz: “fulano é Autista”, sem que queira dizer
que é um diagnóstico preciso mais qualificando com o vocabulário psiquiátrico que
torna a categoria bastante permeável.

Mas, o mais importante do que isso, foi o fato de que, e esse é o efeito rebote, muitos
Autistas se apropriaram desse diagnóstico e passaram a trabalhar sobre ele, a influir na
maneira como eram tratados, a produzir leis que favorecem mecanismos de facilitação
da sua vida na sociedade, ou seja, tornaram-se um grupo ativo como o movimento “gay”
foi, o movimento negro foi, como o movimento das mulheres foi. Mais do que isso, essa
prática política dos Autistas, transformou-se num elemento de crítica e de renovação do
próprio conhecimento psicopatológico sobre o Autismo.

E há uma quantidade enorme de livros, escritos na primeira pessoa por Autistas. Há


relatos de famílias, há uma quantidade de literatura impressionante. Isso fez com que, de
fato, o conhecimento psicopatológico sofresse uma influência que antes inexistia, que
era dos próprios pacientes serem autores do conhecimento que se volta sobre eles.

Esse foi um aspecto bastante curioso e positivo do DSM nesses últimos 50 anos. De
qualquer maneira, eu queria mencionar antes de fazer a discussão, que eu acho mais
importante que é: qual é a definição que nós podemos ter sobre Normal e Patológico?
Antes disso, eu queria fazer um pequeno comentário sobre o contexto mais geral que eu
mencionei a pouco dessas transformações (00:40:38), ou seja, por que que a psiquiatria
tomou esse rumo?

Além da indústria farmacêutica, além da crise de legitimidade dos diagnósticos, além do


avanço do conhecimento biológico, além do trabalho corporativo dos psiquiatras de se
transformarem médicos respeitados, que outros elementos no nosso contexto social
fazem com que a psicopatologia tenha tomado esse rumo que ela tomou? Se a gente
admite a ideia de que a criação e a circulação dessas categorias não se dá no vácuo, se
dá em certos contextos, é por isso que um psiquiatra americano do século 18 pode criar
um diagnóstico como a drapetomania. Aqui a gente tinha o banzo que era um
diagnóstico dado para os escravos, todo mundo conhece.

Se isso é verdade, então o contexto em que os conceitos psicopatológicos emergem, as


classificações psiquiátricas emergem, são um pano de fundo para essas classificações de
alguma maneira expressam. E qual é esse pano de fundo social que nós vivemos nos
últimos 30/40 anos não mais do que isso? É o cenário que muita gente poderia de forma
resumida classificar de pós-moderno, modernidade tardia, que resumidamente esse é o
nosso assunto, mas resumidamente poderíamos caracterizar como sendo uma sociedade
que perdeu a força simbólica das suas meta-narrativas, onde as grandes agências
nômicas, as agências que organizam o nosso mundo, dizendo o que é certo, o que é
errado, o que é bom o que é ruim, o que é normal e o que não é.

Todas essas agências, elas perderam a sua força de modo que hoje nós somos cada vez
mais autônomos em relação a elas. Não há nenhum valor mais alto que se levante contra
o qual a gente não possa fazer uma objeção. Nós somos, como diz o sociólogo francês
Alain Alemberg, nós somos mais autônomos do que nunca ou na verdade, nós vivemos
na ilusão de que somos mais autônomos do que nunca, por quê? Porque nós não
precisamos nos ajoelhar diante de nenhuma autoridade. Qualquer autoridade hoje é
discutível.

Você pode ser um católico fervoroso e não aceitar mais a ideia de que o Papa é infalível.
Você critica o Papa e continua sendo católico, que é uma ideia impensável nos 40/50.

Hoje em dia a gente discute tudo. Tudo é matéria de escolha pessoal. Até a anatomia
hoje em dia a gente aceita que seja matéria de escolha pessoal, se nasce homem vira
mulher, se nasce mulher vira homem. A única coisa que não se muda, costumo dizer, é
o time de futebol. Não existe vira casaca vira casaca é feito um unicórneo, só existe na
imaginação, porque uma vez que você é marcado por uma adesão a um time ele pode ir
para a segunda divisão, terceira, quarta, como os torcedores do Santa Cruz da minha
terra de Recife são exemplo e você fica ali marcado por aquele laço, ele é inamovível.

Tirando o time de futebol, as outras relações de identidade de pertencimento são todas


friáveis. Isso o que é que produz na nossa vida cotidiana? Nós somos hoje cada vez
mais instados a exercer essa autonomia, a refletir sobre o que é que nós consideramos o
que é certo ou o que é errado assinar em baixo de todos os valores. Eles só prestam se a
gente concorda com eles, ou seja, nós somos cotidianamente instados a pensar quais são
as referências que devem nos nortear. Enquanto que em sociedades anteriores à nossa,
essas referências eram mais ou menos dadas de diante mão. Você entrava, ingressava
naquele regime, sem essa necessidade de refletir individualmente tanto sobre isso. Essa
reflexibilidade junto com essa destradicionalização faz com que o discurso científico
ganhe ou o discurso suavizam científico, ganhe uma espécie de valor que não tinha
antes. Por quê? Porque hoje o discurso científico é o único que de alguma maneira se
pretende portador de uma verdade que não pode ser discutida. Todas as outras obras
são, mas a ciência é um discurso que se apresenta como portador de uma verdade
objetiva e que, portanto, é imune a essa crítica permanente. É claro que isso já é
discutível em si. No campo da psicopatologia mais ainda, mas o caldo de cultura social
que a gente vive, esse foi mais um dos elementos que fez com que a ideia de que nós
devemos classificar cientificamente os nossos comportamentos tenham vingado tanto.
Por isso a gente hesita muito menos em utilizar o diagnóstico por categorias médicas
para classificar dramas e situações existenciais.

Além disso, é preciso, claro, lembrar os avanços da própria tecnologia biológica na


atenção ao sofrimento psíquico. É inegável que com os antipsicóticos dos anos 50 e com
os tranquilizantes nos anos 60 e os antidepressivos dos anos 70, a nossa vida mudou e
em alguns aspectos mudou para melhor.

As pessoas que têm problemas que a gente chama de psicóticos têm hoje uma existência
social que seria impossível sem ajuda dos neurolépticos e dos antipsicóticos.

Todos nós de alguma maneira, podemos recorrer a essas medicações e antes éramos
restritos a formas de tratamento basicamente verbal.

De modo que o fato de que hoje a gente tenha um leque cada vez mais ampliado de um
repertório de psicofármacos, evidentemente, contribui para esse processo de
psicatrização avançada da nossa vida cotidiana.

A difusão do conhecimento mesmo médico é outro elemento dado pela tecnologia, pela
revolução tecnológica, sobretudo pelo que a internet produziu. Qualquer pessoa que
chega hoje para me procurar, já fez uma pesquisa, já chega com o diagnóstico. De certa
maneira, vem me pedir uma segunda opinião. Aliás, eu acho que isso acontece com os
médicos em geral.

Se você tem uma coisa assim, você olha, fotografa se você fotografar e botar na internet
e dizer assim, o que é isso, vocês vão ter milhões de pessoas respondendo e você vai
poder vir com o seu diagnóstico e você discute no final se é um carcinoma epitelial ou
não. Você pode discutir muito. Sobretudo, aqueles que têm acesso, o número é cada vez
maior de pessoas que tem acesso à internet, a informação. E isso faz então, com que
também essas categorias se difundam de maneira muito fácil.

Finalmente, e isso é verdade mais em outros países, do que no nosso, há o aspecto


econômico do funcionamento da atenção. Vou dar um exemplo: nos EUA, onde não há
uma medicina pública de verdade, o Obama está tentando fazer isso, mas sofre uma
resistência enorme. Basicamente, todo mundo que é atendido tem seguro saúde se você
não é atendido, enfim, a situação é complicada. E os Seguros Saúde foram um dos
elementos que mais forçaram a construção de um sistema de classificação como o DSM.
Pra que? Para poder ter condições de estabelecer uma relação de custo x benefício entre
o atendimento dado, o diagnóstico feito e o dinheiro aplicado.

Aqui no Brasil, onde nós temos o SUS, que apesar de todas as dificuldades, é uma
experiência muito, muito poderosa e o problema que a gente tem em relação ao SUS é
levá-lo mais adiante, é conseguir que ele tenha condições de cumprir a sua missão.
Mesmo o SUS precisa financiar as suas atividades.

Então, um dos embaraços que a gente tem hoje é que muita gente que trabalha nas
equipes de saúde da família, na atenção básica, na periferia das cidades, mesmo aquelas
pessoas que não querem psiquiatrizar problemas da vida, precisam atender pessoas que
estão ali sofrendo nas coisas do dia a dia.

Para que um atendimento seja pago pelo sistema que é público, ele precisa ser
registrado, para ser registrado ele não poder dizer eu fiz um atendimento na pessoa que
estava meio triste. O sistema não vai pagar isso, precisa ter um diagnóstico. Se a pessoa
resistir muito, no mínimo ela vai ter que botar um Transtorno Mental Comum, que é um
diagnóstico de TMC.
Então, isso vocês vejam como uma lógica, o que uma lógica contábil produz como
efeito essa maior permeabilidade de volume de classificação psicopatológica
generalizada.

Bom, eu queria terminar um pouco essas considerações pra gente poder, então, discutir.
Lembrando a vocês, duas coisas: 1º) Se eu conseguir fazer vocês admitir nessa ideia de
que a psicopatologia é uma coisa que, é um exercício cultural, ou seja, toda
classificação psiquiátrica, toda demarcação do que é doença mental depende de um
exercício cultural, reflete o contexto histórico social de um determinado contexto.
Então, a questão fundamental com a qual a gente tem que se a ver é: o que é que a gente
pode definir como sendo critério de normal? O que é, afinal, ser normal? Não é uma
pergunta fácil e espero que a gente possa discutir isso daqui a pouquinho.

Mas, é só adiantando a discussão, existem basicamente duas maneiras de se responder


essa pergunta. A primeira, ela tem uma ambição objetiva, ela quer ser científica, ela
quer ser mais ou menos inequívoca, a gente tem que saber o que é uma pessoa normal
para poder saber o que que é a normalidade (00:51:07). Isso precisa ser uma coisa clara
e objetiva, é uma perspectiva que a gente poderia chamar de naturalista. Como é que ela
alcança a ideia de normal? Basicamente com base na regularidade, na normalidade
estatística e na ideia de função. Então, você mede o comportamento, as experiências de
uma determinada população, seja lá qual for e você têm aquelas que são mais
recorrentes, aquelas que são mais prevalentes e aí você tem o parâmetro de
normalidade.

Esse parâmetro de normalidade, é claro, não é o mesmo para crianças, adultos jovens,
adultos maduros, velhos. Podem não ser o mesmo em determinadas classes que são
metodologicamente estabelecidas. Mas, dentro de uma classe, o que desvia daquela
média, daquele padrão é considerado como fora do campo da normalidade. Esse é
digamos o método, a maneira objetiva de definir o que é ser normal.

A outra maneira pela rapidez e pelo jeito com que eu descrevi, vocês devem ter
percebido que eu não sou muito simpático a essa perspectiva. A perspectiva que me
parece mais interessante, embora seja mais complicada é a que a gente poderia chamar
de Normativista ou Normativa.

O que essa perspectiva preconiza? Ela preconiza a seguinte coisa: Nós, como seres
humanos, somos dotados de um corpo que produz essa capacidade muito especial que é
a de fazer emergir uma mente, uma vida subjetiva que regula a nossa relação com os
outros e com o meio ambiente.

Essa relação como os outros como dizia Freud ela é uma das fontes da nossa inevitável
infelicidade. Por que? Porque os outros nos frustram, nos dão prazer e nos dão
desprazer. O próprio corpo fenece e envelhece, os acasos da vida ás vezes nos
atropelam. Sofrer é inerente à condição humana.

O que que faz então, com o que a gente possa dizer que um sofrimento”x” é patológico?
A chave da resposta a essa pergunta é a diferenciação entre o fato da a Normalidade e o
valor da Normatividade (00:53:30). Deixa eu explicar: a normalidade estatística é
normal porque é comum, é um fato. Boa parte dessas pessoas que estão dentro dessa
Normalidade Estatística, estão bem. Algumas das pessoas que estão dentro dessa
Normalidade, embora estejam normais do ponto de vista estatístico, podem não estar
nada bem do ponto de vista do Valor.

Você não ter sintomas não quer dizer que você não esteja doente. Você pode também
estar fora dessa Normalidade e não estar doente. Você pode ser excêntrico, você pode
ter uma singularidade particular e ser apenas um diferente e não necessariamente um
doente. De modo que, embora para efeitos práticos, essa ideia da Normalidade
Estatística tenha um valor no dia a dia.

Na definição do que é uma patologia, esse valor é muito pequeno. Eu vou me reportar
aqui a um autor clássico nessa discussão que é Georges Canguilhem, um filósofo da
biologia francês que definia o limite entre a Normalidade e a Normatividade com base
na ideia não da Normalidade como um fato, mas da Normatividade como um valor.

O que que ele queria dizer? Ele queria dizer que a vida, viver é o tempo todo valorar, ele
diz: mesmo para uma ameba, viver é preferir ou excluir. Mesmo um ser que não tem
consciência, se ele é vivo, ele não é indiferente às condições da vida. Ele adere ou ele
recua. Um vírus, se você põe um retroviral, ele tenta se modificar para escapar do
retroviral. Uma bactéria tenta criar resistência a um antibiótico. Se uma bactéria é assim,
imagine qualquer ser consciente.

Todos nós o tempo todo, valoramos como positivo ou negativo a vida que nós levamos,
o tipo de contexto em que nós estamos. E, segundo Canguilhem, o que é ser saudável?
O que é ser Normativo é ser capaz de exercer essa potência que todo ser vivo tem de
manter a sua vida, de manter a sua diversidade e de ser reproduzir, ou seja, ser
Normativo e, portanto, ser saudável não é não ter doenças, é poder ao contrário, poder
passar pelo sofrimento, poder passar pela doença e se recuperar.

Ser Normal nesse sentido, é ser Normativo, ou seja, a Normalidade encontra um valor
que não apenas o Normal como um fato estatisticamente mensurável. E quando a gente
começa a discutir isso e eu espero que a gente possa fazer isso depois, a gente começa a
poder, então, admitir que muitas pessoas que podem ter pelos critérios objetivos dados
pelo DSM ou por qualquer classificação diagnóstica um diagnóstico dado, pode de fato
se retrair em relação a ele, pode criticar esse diagnóstico na medida em que ele possa ser
apenas, possa dizer que expressa aquele comportamento aquela experiência, expressa
apenas uma singularidade, uma idiossincrasia, alguma coisa que é apenas uma diferença
e não merece, não precisa, não deve ser considerado como doença.

De novo, há um exemplo clássico, atualmente que é o dos Autistas. Boa parte dos
Autistas que se organiza num movimento de orgulho Autista (00:57:04) defende a ideia
de que os Autistas existem sim, têm características de funcionamento mental diferente,
sim, mas apenas diferentes. São como eles dizem, neurodiversos, enquanto que a
maioria das pessoas é neurotípica.

A maioria de nós gosta de encarar as pessoas nos olhos. Muita gente não gosta de
encarar as pessoas nos olhos. Por que considerar isso como um traço patológico? Muita
gente, latinos em geral, gostam de falar com as pessoas pegando nelas, tem gente que
não gosta desse contato físico. Por que considerar essa pessoa que não gosta desse
contato físico, como isso sendo um traço que evidencia alguma dificuldade? A gente só
pensa assim, segundo esse raciocínio, porque cada classificação de patologia, implica a
adoção às vezes não refletida, de um modelo ideal. E o modelo ideal que nós temos hoje
é de um sujeito que olha nos olhos, que encosta nas pessoas, é um sujeito autônomo que
não depende de ninguém. É um sujeito que é capaz de ser flexível, porque é isso que a
nossa sociedade exige de todos nós. É alguém capaz de mudar de camisa o tempo todo e
isso o mercado de trabalho exige de todo mundo.

Então, o mundo em que a flexibilidade, o mundo em que a pluralidade de relações, ela é


tomada como sendo um traço da vida cotidiana. Isso começa a se transformar num
critério de Normalidade, enquanto que as pessoas que são mais ligadas a outros valores,
facilmente são colocadas como sendo não Normais e não apenas diferentes mais
patológicos.

Então, essa fronteira entre a Normalidade e a patologia, hoje em dia é talvez uma das
áreas mais fascinantes da Psiquiatria e da Medicina, porque ela envolve a todos nós.

O caso dos Autistas é um exemplo, mas há outros. A homosexualidade talvez tenha sido
o primeiro dos anos 70. O Movimento “Gay” foi o primeiro a dizer que eles eram
simplesmente diferentes da maioria estatística e isso não tem nada a ver com patologia.
Houve outros movimentos mais curiosos, por exemplo, hoje em dia, você a comunidade
de práticas Sadomasoquistas (BDSM) que também defendem a mesma posição. Aquilo
que era considerado automaticamente como patologia, perversão etc, até há algum
tempo atrás, hoje em dia é reivindicado como uma prática, enfim, esquisita para a
maioria, sem graça para a maioria. Mas, para um grupo de pessoas é uma prática
perfeitamente normal. Por que? Porque ela não fere a Normatividade dos sujeitos, o
sujeito pode ter uma prática sexual completamente distinta da normal, enquanto comum
e ainda assim ser Normativa. E o que significa ter uma prática normativa em relação a
uma pessoa, no fundo no fundo, significa uma coisa simples, você se relaciona
normalmente com alguém, quando você o tempo todo trata aquela pessoa como um
sujeito, como você.

Quando de alguma maneira você destitui aquela pessoa da condição de sujeito e você
passa a tratá-la como instrumento do seu gozo, aí você ultrapassa a fronteira para
alguma coisa que a gente não admite. É isso que a gente chama de perversão (1:00:26)
É isso que é cair para o campo da patologia.

Então, quando a gente toma esse critério Normativo, a maior parte das pessoas que
pratica BDSM é perfeitamente normal, apesar de estar completamente fora da curva de
Gauss, daquela curva na qual todos, todos não sei aqui, mas a maioria não sei, mas a
maioria de nós, provavelmente está incluída.

E para terminar, outro ponto, outro desafio, digamos que nós estamos vivendo no
campo da Psicopatologia, atualmente é um desafio bastante promissor e muito
interessante, é o desafio promovido pelo movimento das deficiências. Por que? Porque
até um tempo atrás, a deficiência era concebida num modelo como eles dizem, o
movimento diz, o modelo da tragédia pessoal, ficar paraplégico, não ter um membro,
perder uma função, era viver uma tragédia, uma perda irreparável, era você se colocar
como um objeto de cuidado, mas um cuidado mediado pela pena, pela piedade, por
alguém estar passando por uma coisa desastrosa.
O movimento da deficiência mudou isso radicalmente. Em que sentido? No sentido de
assumir que a condição humana de todos nós é de dependência. Nós todos somos
deficientes em alguma coisa, por exemplo: eu sempre fui deficiente em esportes. Não há
quem me faça praticar algum esporte com o mínimo de competência. O que que eu fiz?
Bom, comecei a fazer outras coisas. Há pessoas que são desafinadas, há pessoas que não
enxergam, há pessoas que não ouvem, há pessoas que andam de cadeira de rodas.
Qualquer uma dessas pessoas exibe mais ou menos algum grau de deficiência que
aparece como? No contexto em que ela vive, ou seja, no meu contexto de vida, não ser
um bom jogador de futebol, só me deu uns certos aborrecimentos quando eu era criança
porque eu era o último a ser escolhido na divisão dos times, um pouco mais do que isso.
E frustração eu tive quando adolescente e tal.

Todo brasileiro com seis anos quer ser jogador de futebol, eu também quis, foi talvez
uma das primeiras grandes frustrações, mas passou.

Se você tem uma cadeira de rodas e mora na Suécia, você sofre muito menos o
sentimento de deficiência, do que se você mora pelo menos no Rio de Janeiro, não sei
como é Campinas. Mas, no Rio de Janeiro, no prédio onde eu moro, a deficiência
ressaltaria. Por que? Aumentou, diminuiu a deficiência do indivíduo? Não. É o contexto
em que ele se movimenta que não está adaptado para aquela diferença.

Então, o Movimento da Deficiência, ao mostrar que a condição humana é de


dependência permanente, varia é o grau, em certos momentos todos nós se vivermos
muito, seremos muito dependentes dos outros. Então, porque considerar a deficiência
uma tragédia? Ela é uma dimensão da existência humana.

Então, qual é o horizonte para o qual aponta o Movimento da Deficiência? É considerar


que a sociedade tem que admitir essa premissa e se adequar as diferenças o mais
amplamente possíveis, no caso dos cadeirantes, no caso dos cegos.

No Rio de Janeiro eu só conheço um sinal de trânsito para cegos que fica enfrente ao
Instituto Benjamim Constant.

Se você anda em outras cidades do mundo e você nunca viu, você fica um pouco “tec,
tec, tec” no sinal de trânsito, “tec, tec, tec” que diabo é isso? A gente não sabe. Uma
coisa banal em outros países. É um sinal que permite ao cego atravessar uma rua sem
problema nenhum.

O problema da cegueira é em grande parte o contexto em que o cego vive, assim como
todas as outras deficiências. E isso, se a gente toma para o campo da Saúde Mental, é
muito valioso.

Pode ser que significa também que, Caetano Veloso tem razão, de perto ninguém é
normal. Freud dizia a mesma coisa. Todos nós nos arranjamos, fazemos uma equação
que na maior parte do tempo pode funcionar, mas de vez em quando pifa. E o que é que
nós devemos fazer em relação a isso? Aquilo que o Movimento da Deficiência
preconiza acolher, criar condições para que a vida seja o mais razoavelmente organizada
para que a gente possa viver a nossa existência sem nos depararmos com os limites que
nos impedem.
E, se os cadeirantes têm os limites da falta de rampas, as crianças hoje em dia, por
exemplo, têm um limite, uma exigência absurda de performance cognitiva. Todas as
crianças hoje têm uma agenda quase igual à minha, de segunda a sexta uma agenda de
estímulos, estímulos, estímulos (1:05:28) e depois quando elas ficam hiperestimuladas,
vem o diagnóstico e diz elas estão hiperativas. Então, vamos tratar dessa hiperatividade.

Todos nós somos solicitados, exercemos a nossa autonomia e a sermos bem sucedidos,
a sermos lindos, jovens, fortes etc e, quando a gente se depara com isso, a gente na
verdade, se sente insuficiente.

Na primeira metade do século 20 a gente poderia dizer que o paradoxo fundamental que
a gente era obrigado a viver, era digamos, impulsos que esbarravam na repressão
socialmente organizada, hoje em dia é o contrário, hoje em dia nós vivemos numa
sociedade que nos incita digamos, após a permanentemente, nos dá autonomia, nós
podemos gozar do jeito que a gente quiser, praticamente não há proibição alguma.

O que é ser um transgressor, hoje? É difícil. Pensem o que é transgredir hoje? É difícil.
Porque tudo vira viral no “twiter”, passa a ser uma coisa que rapidamente é absorvida,
pode facilmente virar modelo.

O que que é ser subversivo, hoje? É difícil. Dado o tipo de cultura que a gente vive.
Num mundo como esse a gente poderia então imaginar, todos são felizes, podem viver
do jeito que querem. Não, nunca houve tanta depressão, por quê? Porque diante da
possibilidade de tudo fazer, o que a gente sente mais é desorientação e sentimento de
insuficiência por não estar à altura dos ideais aos quais nós nos identificamos.

Então, voltando ao fio da meada, o que o Movimento da Deficiência nos alerta é de que,
é melhor a gente prestar atenção naquelas características que nos definem e que dizem
respeito à nossa intrínseca relação com os outros, a nossa intrínseca relação com o meio
e pensar em psicopatologia, pensar em sofrimento psíquico, pensar em doença mental,
não é pensar apenas no cérebro, não é pensar apenas no inconsciente individual. É
pensar também, sobretudo, nesses aspectos ligados à vida que o sujeito tem no mundo
que ele habita, ou seja, deslocar a deficiência do indivíduo deficiente para a relação com
o mundo. Assim como, deslocar a ideia de doença mental do cérebro, do psiquismo
individual para a relação com o mundo, é digamos uma proposta que eu acho, torna
muito mais interessantes as alternativas que a gente pode construir para lidarmos com o
sofrimento que inevitavelmente nós vivemos e viveremos.

Agora, vou concluir, nós estamos como eu disse, vivendo um umbral do aprimoramento
improvement. Nós já estamos vivendo isso, medicamentos, não são só medicamentos
não, práticas alternativas, muito da cultura oriental, foi digamos incorporado à nossa
cultura ocidental com a desidratação dos aspectos valorativos ou espirituais e apenas a
retenção daquilo que é promessa de aprimoramento cognitivo, aprimoramento
emocional por parte das pessoas, faz meditação para poderem serem mais capazes de
enfrentar o “stress” da vida. Por exemplo, mas também nas práticas medicamentosas
isso está acontecendo, o uso indiscriminado de Ritalina para atenção, de Modafenil®
para ficarem dispertos. O uso de antidepressivos para aumentar, ficar mais do que bem,
como a expressão clássica, faz com que a gente veja no horizonte que essa questão da
Normalidade enquanto Normatividade sofre também um impacto dessa exigência de
permanente aprimoramento que, evidentemente, eu vou fazer um curto circuito, eu acho
que vocês vão entender, tem uma afinidade enorme com o tipo de sociedade, o tipo de
economia que a gente vive hoje, que nos exige de sermos o tempo todo ativos,
consumindo coisas, realizando coisas, buscando um gozo permanente.

Isso está por baixo da produção das nossas doenças mentais mais típicas: as depressões,
as adições, as alterações da relação com o próprio corpo e assim por diante.

Bom, essas eram uma das ideias que eu queria trazer para vocês, na esperança de que
vocês possam debater o que vocês têm a dizer sobre isso, me perguntando, me
contestando ou fazendo comentários.

Abertura para os Debates (1:10:37)

Benilton, boa noite, obrigado pela explanação clara e concisa. Eu também sou
conterrâneo, admito que de fato, mesmo mudando para a região sudeste, aqui a gente
não muda de time, mas não sou Santa Cruz, sou Esporte lá.

Sou profissional de saúde aqui na região de Campinas e enfrento um pouco de


dificuldade no sentido de aceitação social daqueles que convivem com os portadores de
alguns transtornos mentais.

Quando você traz aí uma proposta de a história da Psicopatologia, sobretudo de forma


evolutiva, digamos assim, a gente fica pensando um pouco que de fato a gente tem
muito a evoluir ainda e quando a gente vê, por exemplo, que antigamente na proposta de
tratamentos no caso com hospícios que era proposto aí uma técnica de reclusão social,
marginalização, isolamento social. Hoje a gente, pós a Reforma Psiquiátrica, a gente vê
aí uma proposta um pouco diferente, um pouco mais de reinserção social.

Um exemplo aí é o CAPS – Centro de Atenção Psicossocial que propõe aí um


tratamento de fora mais aberta com a sociedade. Mas, eu vejo que existe ainda um
pouco de dificuldade das pessoas conviver com esses portadores de transtornos mentais.

Então, assim, na tua opinião qual que seria uma fonte mais produtiva de conscientização
social e, sobretudo, de aceitação e convivência para que a gente possa conviver melhor
com essas pessoas. Como que você propõe, qual seria a fonte, mídia, uma
conscientização, através de política etc. Qual que é a tua opinião nesse sentido?

BB: Certo. Qual é o seu nome?

PS: Mariavel. (profissional de saúde).

BB: Mariavel, essa tua pergunta é muito pertinente e, eu acho que tá digamos assim. É o
desafio com o qual a Reforma Psiquiátrica mais tem que se haver, uma vez que ela já
virou Política de Saúde Mental, apesar das críticas que têm sido feitas a ela. Mas, a ideia
de que o asilo é uma coisa do passado, é ótimo.

Diga-se de passagem, nem todo mundo aqui é da área psi. Não deve saber disso, quando
o asilo foi inventado, ele foi uma ideia revolucionária porque Pinel, Esquirol que
fundaram o asilo no século 19, eles tinham a ideia de que para tratar da loucura, era
preciso criar um ambiente que não tivesse os problemas que a sociedade francesa da
época tinham. Então, o asilo foi criado como uma espécie de uma sociedade ideal, com
mais liberdade onde eles eram atendidos de maneira…..O Hospício Pedro II que foi
criado em 1852 no Rio de Janeiro, eu não sei se vocês conhecem, é o prédio da Reitoria
da UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro na Urca, no Rio de Janeiro, era um
palácio belíssimo. E, é claro, a proposta do asilo degenerou, virou o que nós
conhecemos como manicômio, mais do que isso, criou-se em torno do asilo, a chamada
cultura manicomial.

O maior desafio da reforma não é tanto a mudança na política de assistência, por


exemplo, acabar com esses macro-hospitais e criar CAPS e criar ambulatórios etc e tal.
O maior desafio é a cultura manicomial é essa coisa que você vê quando você sai com
pacientes e vê o olhar das pessoas, a dificuldade de interação, o medo. Como é que você
combate isso? É criando mais interação. E você tem razão, é a mídia, é a televisão, que
são as novelas quando numa novela aparece um esquizofrênico que não é um monstro,
isso produz um efeito. Quando você circula com as pessoas pela cidade e elas podem
interagir, isso produz um efeito (1:14:50). É, do ponto de vista da política eu acho que a
interação entre a assistência e o resto das atividades da prefeitura, seria fundamental só
quando a gente começa a conviver com o diferente, você quebra aquele preconceito que
havia.

Eu vou dar um exemplo, assim, um exemplo pessoal. Uma das coisas que eu achei mais
interessantes que a Gol fez. No Brasil já há uma legislação que obriga as empresas
depois de um certo número a terem uma cota de pacientes com deficiência. A Gol em
algum tempo atrás, ela fez isso e fez um gesto, acho muito interessante, colocar muitas
pessoas com deficiências na linha de frente da atenção ao público. Então, pela primeira
vez você via pessoas, com sei lá, com braços diferentes, com pernas diferentes, pessoas
com corpos diferentes, atendendo a você numa boa, coisa que de uma maneira geral se
esconde.

A Gol naquela ocasião botou na frente. Isso eu tenho certeza que chocou muita gente,
porque eu me lembro do impacto que eu tive quando eu vi e depois o sentimento de
satisfação que eu tive de ver que aquilo é claro, era um passo de Normalização.
Curiosamente, eu não sei se estou enganado, mas eu não vejo mais essas pessoas. Não
sei o que foi que aconteceu, mas isso eu achei um gesto muito importante. A mesma
coisa como eu estava te contando antes, eu acho que vale para a Saúde Mental. A gente
criar maneiras de fazer com que as diferenças emerjam, foi assim também com os
negros, foi assim também com os gays, será assim sempre com qualquer categoria, né.
Com as mulheres também, o Brasil até poder ter uma mulher presidente teve que ter
uma trajetória nisso, né. A gente simplesmente não imaginava isso. Como você ainda
não vê, sei lá, negros neurocirurgiões no Brasil. Uma das razões pelas quais eu, com
todas as considerações críticas que podem ser feitas, sou adepto à política de cotas, é
por isso.

Nós temos 500 anos de escravidão nas costas e isso marca a gente de uma maneira que a
gente não é capaz de rapidamente sacar, somente quando a gente tiver. Aqui por
exemplo, quantos negros tem? Reflete a realidade do Brasil? Não. Não reflete. Qualquer
estrangeiro vê isso. Recentemente houve um, agora não vou me lembrar quem foi, um
americano, um negro americano, veio para o Festival de Paraty, ótimo Festival de
Paraty, maravilhoso, ele chegou, levou um choque. Cadê os negros? Não tem. Então, é
esse tipo de coisa que a gente vê nos loucos, a gente também vê. Se aqui tivesse 50% de
negros, garanto que todo mundo que entrasse aqui ia achar estranho, não ia ser contra,
mas por quê? Porque a gente não está acostumado.

Então, eu acho que, assim como as pessoas com doenças mentais crônicas e graves e tal,
pra todo tipo de traço diferente, eu acho que essa é a política, a visibilidade, é ganhar o
espaço público, é ganhar o direito de cidadania (1:18:00).

Boa noite, professor.

Pergunta via chat. A pergunta de Luisa é a seguinte: muitas pessoas são acometidas por
psicopatologias e as famílias não sabem como lidar, acham que é frescura, falta de
religiosidade. Como explicar a sociedade que esses problemas são reais?

BB: Acho que a pergunta tem duas dimensões, a primeira é a seguinte: muita gente,
crianças, adultos, adolescentes sofrem muito sem que esse sofrimento seja reconhecido,
isso é um fato. Melhorar esse quadro significa fazer as pessoas se tornarem mais
permeáveis na presença do outro, mais acolhedor em relação ao sofrimento. E isso é
uma coisa que independe da necessidade de a gente classificar como Psicopatologia o
sofrimento. Não sei se estou me fazendo claro. Uma coisa é reconhecer que existe por
exemplo, muita violência nas famílias no Brasil, muito mais do que a gente imagina.

Quando acontece um quadro rumoroso que vai para os jornais, a gente se escandaliza,
mas a quantidade de violência contra crianças, contra mulheres no Brasil, é
impressionante, contra negros, contra pobres, a gente sabe disso. Então, isso é um traço
da cultura brasileira. Nós somos muito violentos, nós produzimos muito sofrimento e ao
mesmo tempo nos consideramos pessoas cordiais. E, somos. Esse é um dos traços
paradoxais da cultura brasileira.

O homem cordial brasileiro é o homem do coração. É o homem que ao mesmo tempo é


afetuoso e é capaz de fazer tudo pelos amigos e nós somos alegres e pegamos nas
pessoas etc, conversamos. No Rio de Janeiro então, você vai ao supermercado você
pode bater papo com 10 pessoas que lhe perguntam qualquer coisa. Nós somos assim.

Mas, também somos às vezes muito indiferentes ao sofrimento, por exemplo, de pessoas
subalternas somos mais sensíveis ao sofrimento dos nossos iguais, mas aos subalternos
a gente vê menos. Então, essa pergunta, ela tem uma dimensão universal, ou seja, o
sofrimento precisa ser acolhido. De novo, uma dúvida que eu quis instalar em vocês.
Todo sofrimento para ser acolhido, precisa ser reconhecido como psicopatologia? Eu
hesitaria em dizer que sim, aliás, é ao contrário. Eu diria francamente que não. Talvez,
essa necessidade de classificar como psicopatologia para então acolher, seja então mais
um problema do que uma solução. Por quê? Porque a gente vai considerar que a
solução, o acolhimento, o tratamento, vai ter que ser feito de modo técnico pelo sistema
de atenção à saúde etc.

A gente delega para o discurso técnico e para os profissionais aquilo que deveria ser
uma tarefa, um desafio de todos nós. Não tenho certeza se respondi a pergunta como a
pessoa que fez a pergunta imaginava, mas.

Boa noite, meu nome é Sara.


E aí quando você começou a dizer do Autismo. Eu sou psicóloga. Trabalho na ONG que
trabalha com Autismo e depois você disse na área da deficiência. E eu trabalho numa
outra entidade que trabalha com deficiência múltipla. E a sua fala me fez pensar assim,
né, quando você até deu o exemplo do seu prédio, dá importância que muitas vezes eu
vivo e aí assim, parece que agora ficou mais clara, no sentido que a deficiência que a
pessoa tem, a limita. Mas, a deficiência do social, da falta dos recursos do transporte, da
saúde, faz com que aquela deficiência fique muito mais do que realmente aquele
indivíduo tem, como no corpo, como na mente. E isso é uma coisa assim que a gente
não consegue, enquanto trabalhador ultrapassar em muitos momentos esses limites, né,
da acessibilidade e da falta de medicação nos centros de saúde e aquela pessoa fica com
uma deficiência muito maior do que necessariamente ela tem como primária, vamos
dizer assim.

BB: É. Você reforçou um ponto que eu acho, é fundamental. A gente tem que e a gente
eu digo, não é só o movimento da deficiência já faz isso, né? Mas nós, na área da Saúde
Mental e nós na população em geral, precisamos reter essa ideia, como eu disse:
deficiência é uma coisa que algumas pessoas portam de maneira mais longa, às vezes a
vida inteira. A maioria de nós, todos nós, algum dia portaremos em algum momento da
vida, ou seja, enquanto isso não se entranhar na gente como uma percepção do que é ser
humano, a gente vai olhar os outros e esperar que eles sejam como nós os que andamos
com as duas pernas, que temos olhos para ver, temos ouvidos para ouvir etc.

A gente não vai ser sensível às, eu diria, menos do que as limitações, as especificidades
dos corpos e mentes que são diferentes da maioria de nós. Poder insistir nessa ideia de
que todos nós temos diferenças, nós temos deficiências, todos nós temos sintomas,
todos nós podemos em algum momento, atravessar um período de grande turbulência
emocional e precisar da ajuda do outro. Insistir nisso, eu acho que é uma tarefa
fundamental para que a gente se torne sensível.

Um outro elemento é o da militância que permite que a gente produza leis, obrigações
que por exemplo, impeçam que prédios sejam construídos, prédios nos quais por
exemplo, onde eu moro, onde nenhum cadeirante pode se movimentar facilmente. E
isso nós temos avançado bastante no Brasil. O movimento das deficiências no Brasil,
ele ainda está em processo de crescimento. Mas, do ponto de vista legal a gente já
avançou bastante.

Mas o problema do Brasil é que as leis as vezes precisam mais do que a sua existência
para de fato funcionarem, né?

Leis existem, mas às vezes não colam, não pegam. Então, a gente já tem legislação
bastante boa, se ela fosse aplicada, o país seria outro em relação a esse aspecto das
deficiências.

Boa noite.

A minha pergunta é a seguinte: eu sou advogado de profissão e queria fazer uma ligação
entre a Psicopatologia com o Direito Criminal.

Um dos conceitos no Direito Criminal é que a pessoa tenha a entender o caráter


criminoso do ato que ele estaria praticando, teria praticado. É justamente aí nesse
sentido, têm dois tratamentos distintos. Quando se reconhece que o ato foi cometido por
uma pessoa que tenha um tipo de transtorno mental, tem um tipo de tratamento pela lei,
seria a internação no caso de manicômio e quando tem o entendimento que a pessoa
tinha um entendimento daquele ato criminoso, vai para a prisão, pena privativa de
liberdade.

A pergunta é a seguinte: Para definir essa linha divisória entre esse lado da patologia e o
lado do entendimento de um crime com clareza. A ciência da psicopatologia, como é
que definiria? Existe essa linha clara ou não?

BB: Ângelo, essa pergunta além de ser muito interessante, ela é muito atual, porque
uma das novidades que vem aparecendo nos tribunais, aqui no Brasil ainda de maneira
insipiente, mas em outros lugares de maneira muito cada vez mais intensa. É o uso de
argumentações e de tecnologias que tentam provar a existência de um estado patológico
às vezes no cérebro a partir de neuroimagens para por em questão exatamente a
capacidade do indivíduo naquele momento de saber que estava agindo em
desconformidade com a lei.

E aí, esse é um terreno muito complicado, muito pantanoso, porque, digamos, uma coisa
é alguém ser tomado por um ciúme enlouquecido e matar num momento de violenta
emoção. Transitoriamente, aquela violenta emoção foi maior que o raciocínio dele. Ele
se arrepende, mas, o mal está feito. Isso tem um valor atenuante.

Outra coisa é você mostrar uma imagem cerebral e dizer: essa imagem cerebral mostra
que certos circuitos neurais funcionam ou não funcionam e é a esses circuitos neurais
que se deve atribuir o fato daquela pessoa ter agido dessa maneira ou não.

No fundo, no fundo, está em questão um tema que é o do livre arbítrio. Nós temos livre
arbítrio ou não? E a resposta não é simplesmente, claro que temos. Porque muita gente
acha que não. Há pessoas que defendem progressivamente a ideia de que nós, na
verdade, nos iludimos de que decidimos coisas quando de fato o cérebro decide por nós,
milissegundos antes de nós tomarmos consciência da decisão.

Existe um trabalho famosíssimo – Libet que tratou exatamente disso. Ele mostrou como
a decisão de eu fazer isso aqui, a consciência de eu pegar esse copo é precedida
milissegundos pelo acionamento neural, que me fará pegar o copo. Isso desmonta a
ideia de livre arbítrio? É uma discussão complexa.

Então, eu não vou te dar uma resposta pra isso. Porque as respostas podem ser
múltiplas, mas o que eu digo é que, cientificamente, é difícil de você responder essa
pergunta. Eu diria até que de certo modo, impossível. Porque você sempre encontrará
argumentos pró e contra. No fundo, o que está em jogo é a nossa visão do que é ser um
humano, do que é ser um sujeito racional, do que é ter liberdade de escolha. E, portanto,
o debate entre aqueles que acham que a ciência, no caso a biologia, poderia explicar e os
que acham que não, a biologia explica como nós somos capazes de fazer coisas, mas
não explica porque é que eu faço isso ou aquilo.

Uma coisa é explicar como é que o meu cérebro está no momento em que eu estou
tomado por uma ira de ciúmes ou porque eu estou deprimido ou quando eu delirando.
Uma coisa é encontrar correlação biológica sem a qual evidentemente não ocorrerá nada
disso.

A mente só funciona quando o cérebro torna isso possível. Mas, admitir que a mente é a
expressão do cérebro funcionando, não é a mesma coisa que dizer o que a mente faz é
causado, exclusivamente, pelo cérebro. Por quê? Porque um cérebro só produz uma
mente humana e, portanto, decisões humanas como essa de matar ou de roubar ou sei lá
o que for. Num contexto o qual o cérebro está incrustado num organismo, ele não
funciona sozinho. Nenhum cérebro humano, jamais funcionou desincorporado.

Toda vez que a gente fala de cérebro e vê a imagem do cérebro, a gente naturalmente,
tende a supor meio intuitivamente que ele pode funcionar ali como órgão separado. Não
pode. O cérebro humano para funcionar como um cérebro, verdadeiramente humano,
precisa estar inscrito no corpo. E esse corpo precisa interagir com outros humanos.

Se um indivíduo humano não interagir com outros, ele simplesmente não vira um
sujeito. Ele não produz uma mente como a nossa. Há exemplos clássicos, um exemplo
clássico talvez, seja o de Kaspar Hauser que foi um jovem que, desde pequeno, foi
tratado, um caso real foi tratado numa cabana até os 18 anos. Ele não tinha contato com
ninguém. Era alimentado por baixo da porta, de vez em quando botavam ópio, ele
dormia. Então, iam lá davam banho, trocavam de roupa. Até os 18 anos, ele nunca tinha
visto falando com ninguém.

Aos 18 anos ele é solto e vai para uma cidade e tem um fim trágico. E, há um filme
sobre Kaspar Hauser do Werner Herzog, o que é muito interessante e que demonstra
essa tese. Ele fez um filme. Hoje em dia é a neurociência quem diz, não é um
psicanalista que está dizendo, é a neurociência quem diz.

O cérebro humano para fazer as redes neurais, construir as redes neurais, de modo que
apareçam um sujeito, ele precisa interagir com outros humanos.

Portanto, se é verdade que sem cérebro, não há mente, sem vida social também não há
mente. Por mais que a gente tenha um cérebro muito bem formado.

Quando a gente começa a deslocar o centro de gravidade do indivíduo, do interior do


indivíduo para a relação do indivíduo com o mundo em que ele vive, as coisas mudam
de figura. Então, as coisas mudam de figura. Então, nem a ciência não tem explicação
para tudo.

A ciência tem explicação para certas coisas. Há outras para as quais a gente precisa
aduzir outros elementos que não são, por exemplo, da ciência biológica.

Para compreender porque é que as pessoas agem de determinadas maneiras, é preciso à


gente lembrar de que aquela pessoa é um efeito, aquela subjetividade individual, é o
efeito, é como se fosse um holograma que emerge da interação entre cérebro, corpo e
mundo. Mundo físico e mundo simbólico. A gente pode mudar as…

Publicado em 17/04/2013
O que é ser “normal”? O que significa “patologia mental”? Qual o limite entre uma
diferença extravagante e a expressão de uma doença da mente? Como lidar com os que
rotulamos como sendo loucos ou portadores de transtornos mentais? Estas e outras
questões contextualizam a história da psicopatologia no Brasil, tema deste Café
Filosófico CPFL, que terá a participação de Benilton Bezerra, psicanalista, psiquiatra e
professor do Instituto de medicina social da UERJ. “Uma das maneiras de refletir sobre
a cultura brasileira, passada e atual, é explorar as maneiras como o olhar psiquiátrico e o
imaginário social lidaram, e lidam, com essas questões”, afirma Bezerra. Segundo ele, a
“ainda pouco conhecida história psiquiátrica brasileira tem capítulos tristes e outros
vigorosamente estimulantes. A cultura brasileira atual é atravessada pela expansão
aparentemente ilimitada dos transtornos mentais. Este encontro visa abordar alguns dos
tópicos centrais desse universo temático.

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