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28702/2024

CHARLES
PATO

Apresentação da disciplina:

C1:
 1 questão ao final de cada capítulo, realizada em sala (4 questionários. 1 para cada
aula)
 Total 10 pontos

C2: Prova Psi

C3:
 Questionário ao final de cada capítulo, valendo 5 pontos.
 5 pontos: apresentação (encenação)

Resumo do vídeo

 Psico / Patos / Logos: estudo do sofrimento psíquico


 Vocabulário psiquiátrico: temos recorrido cada vez mais a ele
 Psicopatologia como uma atividade permanente, não como ciência
 Se podemos dizer que o sofrimento psíquico é inerente à existência humana, pois o
fato de que sofremos sabendo que estamos sofrendo e nos interrogando sobre suas
causas e agindo sobre ele é o que nos diferencia dos demais animais.
 Esse é um exercício de toda a humanidade
 Diagnósticos surgem e somem o tempo todo: railroad spine, por exemplo. Outro
exemplo: parafilias na infância e entre idosos (séc. XIX idoso era alguém com 50 anos).
Dreptomania: “impulso de fuga” atribuído a pessoas negras escravizadas.
Homossexualidade também. Transtorno de personalidade múltipla, muito comum nos
EUA. Histeria na época de Freud. Depressão, nos anos 80 acometia 2% das pessoas,
hoje já mudou. O maníaco depressivo tornou-se o bipolar. Tudo isso denota a
importância do vocabulário psicopatológico na vida das pessoas, independente de
terem ou não uma patologia.
 O que foi essa mudança fundamental que ocorreu em 1980, com a 3ª edição do DSM?
Não era para ser, mas tornou-se a bíblia dos psiquiatras. Até o final da II Guerra
Mundial, a psicopatologia era vista como um enigma, um conflito, uma dilaceração
interna. Uma depressão, por exemplo, era vista como um significado de algo interno,
um símbolo. Tratar o sintoma era entender o que ocorreu na vida da pessoa para levá-
la a se sentir daquela forma. Isso sofreu influência de Freud, da fenomenologia, da
ausência de medicamentos. 1952, com o surgimento da psicofarmacologia, houve um
impacto que continua crescente até hoje. Outro fator que mudou o paradigma, foi a
crise da psiquiatria. Não se atribuía confiabilidade aos diagnósticos, pois cada
psiquiatra diagnosticava de um jeito. Era quase impossível fazer pesquisas
multicêntricas. Daí surge o DSM como um terreno comum entre eles, auxiliando a
difusão do conhecimento diagnóstico psiquiátrico.
 Assim, varreram a influência da psicanálise, baseando-se na ideia de que sintomas são
sinais. O sentido do sintoma não importa, o sintoma e seu conjunto forma o chamado
transtorno. O sistema classificatório não se ocupa da causa dos sintomas. Isso impede
que psicólogos trabalhassem nesse terreno.
 Com isso, o número de diagnósticos explodiu. E continua aumentando a cada nova
versão do DSM.
 A análise fenomenológica se perdeu. O que é estar sob pânico? Esse tipo de pergunta,
que se ocupa com o que se passa dentro do indivíduo, como ele se sente, são
discussões colocadas fora de plano. A vulgarização e a simplificação do diagnóstico
produziram essa explosão de diagnósticos.
 Uma pessoa com um diagnóstico desses tem um transtorno mental? Ter um transtorno
não significa ter uma doença. Transtorno se tornou um acordo que certas condutas e
experiências merecem ser atendidas. Daí se criam coisas como “transtorno explosivo
intermitente”, para tratar alguém que simplesmente fala alto e contesta. Da mesma
forma o transtorno de oposição nas crianças. É preocupante a profusão de
diagnósticos. Isso é preocupante, pois uma amigdalite não causa a mesma marca social
que um diagnóstico de transtorno de oposição, por exemplo.
 O motivo dessa profusão de diagnósticos acaba favorecendo a criação de uma
sociedade cada vez mais “medicada”. E de quem é o interesse, quem é o grande
beneficiário disso? A indústria farmacêutica, os institutos de tratamento.
 Outro exemplo: transtorno parafílico coercitivo – certos estupradores receberiam esse
diagnóstico.
 Outra questão: o luto sempre foi considerado um período em que a pessoa sofreria,
naturalmente, pelas condições ali colocadas. Retirou-se o período de duas semanas
como excludente da aplicação do diagnóstico. Agora, qualquer pessoa em luto pode
receber um diagnóstico. Com isso, a pessoa passa a receber medicação.
 Atualizações do DSM: (nos últimos 50 anos)
o Pontos negativos: Expansão diagnóstica, proliferação, expansão do campo de
medicamentos, apagamento da psicodinâmica do sofrimento.
o Pontos positivos: o estigma em relação à doença mental baixou.
 Ser um maníaco depressivo é diferente de ter um transtorno maníaco depressivo. O
primeiro diz respeito à pessoa, a quem ela é. O segundo é algo incidente sobre a
pessoa, de caráter temporário.
 Por que a psiquiatria tomou esse rumo? Além da industria farmacêutica, que outro
contextos influenciaram? O contexto em que as classificações emergem é o contexto
expressado por elas. O contexto atual pode ser caracterizado: as agências nômicas
perderam sua força e hoje somos mais autônomos em relação a elas sem um valor
mais alto em relação a elas que possamos usar para fazer objeção (vivemos numa
ilusão de autonomia, mas qualquer autoridade é discutível). As relações de
pertencimento são todas mutáveis. Hoje somos cada vez mais instados a exercer essa
“autonomia”. As pessoas, coisas, etc., só servem se nós assinarmos em baixo, se
concordarmos. Tudo isso leva a um valor maior ao discurso científico, à medida em que
é o único portador de uma verdade que não pode ser discutida, que é objetiva. Isso em
relação ao “caldo de cultura em que vivemos”. E isso fez com que a ciência chancelasse
os nossos dramas existenciais por meio de tantos diagnósticos.
 Os remédios psicofármacos não são necessariamente um vilão. Em muitos aspectos
eles melhoraram a vida de pessoas em sofrimento.
 Aspecto econômico do financiamento da atenção em saúde: os planos de saúde foram
os que mais forçaram a criação de um sistema como o DSM. Aqui no Brasil, no SUS,
ainda há a necessidade de financiamento, uma lógica contábil. Uma pessoa que atua
na comunidade, na saúde da família, precisa colocar um CID no relatório para que o
aparelho estatal direcione recursos a ajudar a pessoa, e não colocar no relatório
apenas que a pessoa “está triste”.
 É preciso ter objetividade: precisamos saber o que seria uma pessoa “normal” para
então saber o que é uma pessoa fora dessa normalidade. Há uma métrica que gera um
parâmetro de normalidade.
 Há uma outra maneira de definir o que é uma pessoa normal: a normativista ou
normativa. Ela preconiza que nós, seres humanos, somos dotados de um corpo que
produz uma capacidade especial que é a de fazer surgir uma mente, que regula nossa
interação com o outro e com o ambiente. Ela gera infelicidade tb, pois o outro nos
adoece. Sofrer faz parte da condição humana. O que torna um sofrimento patológico
então? A diferença entre o fato da normalidade e o valor da normalidade. A
normalidade estatística é um fato. Algumas pessoas dentro dessa massa considerada
normal pode ter sintomas e não ter uma patologia, ser apenas uma pessoa diferente.
Na definição de uma patologia, entretanto, esse valor é muito pequeno. O limite entre
normalidade e anormalidade não como um fato, mas como um valor, se afigura como
bem mais adequado. Mesmo para um ser sem consciência, se ele é vivo, ele não é
indiferente às condições da vida. Até uma bactéria pode evitar entrar em contato com
algo que lhe cause mal. Ser saudável e normativo é s capaz de exercer essa potência de
poder passar pelo sofrimento, pela doença, e se recuperar. A normalidade como um
valor e não como um fato mensurável, apenas. Assim, muitas pessoas que têm
diagnósticos pelo DSM podem expressar apenas uma singularidade, e não ter uma
doença. O caso clássico atualmente é o dos autistas. Eles existem, tem peculiaridades,
e apenas são neurodiversas. Cada adoção de patologia implica uma noção de um
modelo ideal exigido pela sociedade. Nem todos são iguais, e é necessário manter isso
em mente sempre.
 Outro desafio da psicopatologia atualmente: movimento das deficiências. Até pouco
tempo, via-se a deficiência no campo da tragédia pessoal, de pena, de piedade.
 Hoje ser um transgressor é difícil. Qualquer coisa pode viralizar e virar modelo. Ser
subversivo é difícil. Entretanto, nunca houve tanta depressão, pois diante da
possibilidade de tudo fazer, surgiu o sentimento de insuficiência em relação aos ideais
que pairam na sociedade.
 Vivemos o umbral do enhancement, mas desprovido de valores. As pessoas buscam
ser ativos, conseguir coisas, buscar um gozo cada vez mais permanente, ter um corpo
“melhor”, mas tudo isso desprovido de valor.

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