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PSICOPATOLOGIA

GABRIELLE INOJOSA FERREIRA


AULA 1
 Por que diagnosticar?

 Quais são os prós e contras dos manuais de classificação?

A criação de diagnóstico na psiquiatria contemporânea.


 Thomas Szasz afirma que “a psiquiatria é, entre outras coisas, a
negação institucionalizada da natureza trágica da vida”

 Para ele, “doença mental” era nada mais que uma metáfora, um
mito, criado para tornar mais palatáveis certos problemas da
existência individual e justificar controle e intervenção sobre
experiências e comportamentos desviantes ou socialmente
indesejados numa determinada época;
“Se você falar com Deus, você está rezando; se Deus falar com você,
você tem esquizofrenia. Se os mortos falarem com você, você é um
espírita; se você falar com os mortos, você é um esquizofrênico.”
(SZSAZ, 1973: 101)
 Qual o objetivo da psicologia e da psiquiatria?

 A psicologia e a psiquiatria têm como objetivo diminuir o


sofrimento que é próprio da condição humana, e portanto, muito se
questiona a classificação do sofrimento que seria natural da
existência humana.
 Sigmund Freud defendia uma psiquiatria da mente.

 Emil Kraepelin se opôs a essa ideia, sugerindo um tratamento


biológico e “cerebralizado”, ou seja, voltando para descobrir as
disfunções biológicas do transtorno mental.

 A dicotomia entre o biológico e o existencial também está nas


discussões da psiquiatria.
 É do encontro com “a natureza trágica da vida”, e dos afetos que esse
encontro suscita, que nasce a necessidade de nomear, descrever,
classificar, distinguir normativamente e tratar condições existenciais
que nos causam dor e angústia.

 Canguilhem, ao examinar como se formam nossas concepções de


normalidade e patologia, resume essa tese geral afirmando “O pathos
precede o logos”
Pathos (doença/sofrimento) e Logos (estudo)
 Teorias psiquiátricas e categorias diagnósticas não apenas
descrevem os sintomas dos pacientes, eles os moldam, ao criarem
roteiros de identificação e designação das experiências de
sofrimento, além de indicar modos de responder, técnica e
socialmente, a elas.
 O encontro com o diagnóstico modifica sensivelmente a maneira
como o sujeito pensa a si próprio, a maneira como interpreta as
próprias emoções, o modo de se conduzir na relação com os outros.

 A tentativa de nomear e categorizar o comportamento desviante e


o sofrimento humano é a tentativa de compreender o fenômeno, já
que para estudarmos e entendermos algum objeto de estudo é
necessário anteriormente classifica-lo.
 Os diagnósticos psiquiátricos alcançaram uma importância cultural
inquestionável, estando presentes não só na prática psiquiátrica
strictu sensu, mas em todo o campo da assistência à saúde, na
educação, na linguagem cotidiana, nas múltiplas plataformas de
comunicação etc.
 Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM)
 Classifica transtorno mental como uma disfunção prejudicial, onde
a pessoa não consegue desempenhar uma função natural, conforme
designado pela evolução, trazendo consequências negativas para a
própria pessoa ou para a sociedade na qual ela está inserida.
 Um transtorno mental é uma síndrome caracterizada por
perturbação clinicamente significativa na cognição, na regulação
emocional ou no comportamento de um indivíduo que reflete uma
disfunção nos processos psicológicos, biológicos ou de
desenvolvimento subjacentes ao funcionamento mental. Transtornos
mentais estão frequentemente associados a sofrimento ou
incapacidade significativos que afetam atividades sociais,
profissionais ou outras atividades importantes. (DSM V)
 Uma resposta esperada ou aprovada culturalmente a um estressor
ou perda comum, como a morte de um ente querido, não constitui
transtorno mental.

 Desvios sociais de comportamento (p. ex., de natureza política,


religiosa ou sexual) e conflitos que são basicamente referentes ao
indivíduo e à sociedade não são transtornos mentais a menos que o
desvio ou conflito seja o resultado de uma disfunção no indivíduo,
conforme descrito.
 O DSM V compreende que os transtornos mentais são
multifatoriais. O conceito de multifatorialidade considera que muitas
variáveis influenciam no surgimento e na manutenção de um
transtorno mental.

A saúde mental é determinada por fatores biológicos, psicológicos,


sociais, econômicos e ambientais que interagem de formas
complexas
Fatores genéticos
Alguns genes podem induzir alterações químicas no cérebro e
influenciar nossos comportamentos, a maneira como vivenciamos
algumas emoções, além da expressão de algumas doenças
psiquiátricas.
Idade
A idade além de um fator epidemiologicamente associado aos transtornos
mentais e também tem mostrado associação com o bem estar. Algumas
pesquisas mostram uma distribuição em que os adultos mais jovens e o mais
velhos tendem a um maior grau de bem estar quando comparados aos
adultos na meia idade.

Segundo a última Pesquisa Nacional de Saúde, realizada em 2019


pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a doença atinge
cerca de 13% da população entre os 60 e 64 anos de idade.
Sexo

Alguns quadros mostram maior prevalência no sexo masculino, como


a esquizofrenia por exemplo, outros mostram maior prevalência no
sexo feminino, como o transtorno depressivo por exemplo, e certas
patologias psíquicas mostram uma distribuição muito semelhante
entre os sexos, como por exemplo o transtorno afetivo bipolar.
Renda

Alguns estudos mostram associação entre transtornos mentais


crônicos graves e tentativas de suicídio com baixa renda familiar e
também uma relação entre redução da renda familiar com aumento
do risco de incidência de distúrbios mentais.
Educação

O acesso à educação durante a vida está associado a melhores níveis


de saúde mental e os baixos índices de alfabetização mostram
relação com precariedade da saúde mental.  Experiências
educacionais positvas e bons resultados acadêmicos contribuem
para a saúde mental e melhor desenvolvimento dos jovens.
Família

A exposição de crianças a ambientes familiares conturbados ou


desestruturados são fatores de risco para diversas doenças
psiquiátricas e comportamentos negativos na vida adulta. Falhas de
comunicação, precariedade de vínculos, abandono, lares inseguros,
ausência de laços afetivos e de suporte são aspectos que mostram
relação com piora da saúde mental e do bem estar.
Relacionamento

Contar com relacionamentos que trazem apoio é um dos maiores


preditores de bem estar e de saúde, não só da saúde mental. Por
outro lado a solidão mostra influência negativa na saúde das
pessoas, está associada com maior risco de transtornos mentais e de
doenças clínicas, bem como piores prognósticos destes.
Trabalho

Em geral o trabalho remunerado contribui para o bem estar e para a


saúde mental individual, não só por compor parte da renda mas
também por promover satisfação, sentido e propósito para alguns.
No entanto, algumas vezes o trabalho pode representar uma
sobrecarga de stress e uma ameaça a saúde mental das pessoas.
 Para a próxima aula iremos estudar a história das classificações dos
manuais;
Retomando...
Quais são os prós e contras dos manuais de classificação?
 Qual o objetivo da psiquiatria e da psicologia?
 Definição de transtorno mental;
História das classificações
 Emil Kraepelin, no fim do século XIX e início do século XX, foi considerado o
grande sistematizador da psicopatologia descritiva, quem consolidou a
propensão nosológica.
 Desde a primeira edição (1883) até a oitava edição (1915) do Manual de
Psiquiatria, o intuito de Kraepelin foi criar classificações de patologias
psiquiátricas de modo que servissem como referência para a formação dos
profissionais.
História das classificações
 Emil Kraepelin, no fim do século XIX e início do século XX, foi considerado o
grande sistematizador da psicopatologia descritiva, quem consolidou a
propensão nosológica.

 Desde a primeira edição (1883) até a oitava edição (1915) do Manual de


Psiquiatria, o intuito de Kraepelin foi criar classificações de patologias
psiquiátricas de modo que servissem como referência para a formação dos
profissionais.
História das classificações
Emil Kraepelin queria, a todo custo, que a psiquiatria adquirisse um estatuto
mais científico e sólido;
 O primeiro grande trabalho publicado de Emil Kraepelin foi Compêndio de
psiquiatria. Nele ele revisou centenas de observações clínicas, dos inúmeros
casos que ele havia assistido nos asilos psiquiátricos. Este foi um trabalho
pioneiro em psiquiatria. Ele descreveu a sintomatologia em grande detalhe e
procurou classificar as doenças mentais de acordo com suas manifestações
observáveis.
Dsm I
 A Associação Americana de Psiquiatria (APA) publicou a primeira versão do
DSM I em 1952;
106 categorias;
 pautado em um enfoque predominantemente psicanalítico.
Adolf Meyer (1866 – 1950) psiquiatra suíço que foi presidente da APA,
influenciou o sistema diagnóstico do DSM I, em que predominava categorias
provenientes da psicodinâmica, salientando a oposição entre neurose e psicose
Dsm I
 A Associação Americana de Psiquiatria (APA) publicou a primeira versão do
DSM I em 1952;
106 categorias;
 pautado em um enfoque predominantemente psicanalítico.
Adolf Meyer (1866 – 1950) psiquiatra suíço que foi presidente da APA,
influenciou o sistema diagnóstico do DSM I, em que predominava categorias
provenientes da psicodinâmica, salientando a oposição entre neurose e psicose
Dsm I
 Um distúrbio neurótico pode ser qualquer desequilíbrio mental que causa ou
resulta em angústia. Em geral, as condições neuróticas não prejudicam ou
interferem com as funções normais do dia a dia, porém criar sintomas comuns
de depressão, ansiedade ou stress.

Psicose, ou uma desordem psicótica refere-se a qualquer estado mental que


prejudica o pensamento, percepção e julgamento. Episódios psicóticos podem
afetar uma pessoa com ou sem uma doença mental. A pessoa que experimenta
um episódio psicótico pode ter diversos sintomas, como alucinações, paranoia, e
até experimentar uma mudança na personalidade.
Dsm I
 O primeiro grupo estava voltado, sobretudo, para a ansiedade até a depressão.
Já o segundo grupo estava demarcado pelas alucinações e delírios somados à
perda significativa da realidade.
Dsm II
 O DSM II foi publicado em 1968, apresentando 182 categorias.
 Também foi pautado na teoria psicodinâmica;
 Incluíram um capítulo que foi dedicado a infância e a adolescência;
 Incluíram homossexualidade nos transtornos mentais;
Esta versão do DSM não agradou a comunidade científica;
Dsm III
 Pesquisas como a de Cooper;
60% dos pacientes internados em Nova York eram diagnosticados com
esquizofrenia;
 Em Londres eles representavam apenas 30%; ao passo que 49% dos pacientes
londrinos eram diagnosticados com psicose depressiva, mania ou distúrbios de
personalidade;
 Em Nova York esse número ficava em 10% comprovando a fragilíssima
confiabilidade desses diagnósticos;
Dsm III
 De modo geral, as vantagens do DSM III, foram a expansão e a melhoria na
comunicação de diagnósticos;
O DSM III chega concomitantemente com a desinstitucionalização dos pacientes
crônicos movida pela luta antimanicomial.
A publicação do DSM III ocorre em 1980, com 265 categorias;
 Componente científico; distanciamento da psicanálise;
Dsm III
 Pela primeira vez , a psiquiatria, se posiciona em oposição à psicanálise,
acusando os psicoterapeutas de criarem demandas e serviços para as pessoas
que estavam apenas descontentes e não realmente doentes
Dsm IV
 O DSM IV foi publicado em 1994, com 297 categorias distribuídas em 886
páginas.
 A principal alteração em relação às versões anteriores foi a inclusão de um
critério de significância clínica para praticamente metade das categorias que
tinham sintomas e causavam sofrimento clinicamente importante ou prejuízo no
funcionamento social ou ocupacional, entre outras áreas
Dsm IV
 Os diagnósticos psiquiátricos foram organizados no DSM IV em cinco eixos:
Eixo I: distúrbios clínicos, incluindo os principais transtornos mentais, e
desenvolvimento e distúrbios de aprendizagem;
Eixo II: retardo subjacente penetrante ou condições de personalidade, bem
como mental;
Eixo III: situações clínicas agudas e doenças físicas;
Eixo IV: fatores psicossociais e ambientais que contribuem para a desordem;
e Eixo V: avaliação global de funcionamento.
DSM V
 Esta última edição do DSM foi publicada em maio de 2013, com mais de 300
categorias;
 compondo 947 páginas, organizado em três sessões.
 A seção I apresenta as orientações para o uso clínico e forense.
A seção II descreve os critérios e códigos diagnósticos dos transtornos.
E por fim, na seção III estão os instrumentos para as avaliações dos sintomas, os
critérios sobre a formulação cultural dos transtornos, o modelo alternativo para
os transtornos de personalidade e uma descrição das condições clínicas para
estudos posteriores

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