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Depressão sob a perspectiva Fenomenológica-Existencial

Fernanda Gabriela dos Santos1


fernandasantos104481@soumaissantissimo.com.br

Raíssa Oliveira Paolilo1


raissapaolilo@soumaissantissimo.com.br

Marcio Santos da Conceição 2


docente.marcioconceicao@fsssacramento.br

RESUMO:

Os transtornos depressivos se caracterizam por um rebaixamento de humor, com tristeza


grave ou persistente, diminuição da motivação e interesse em quase todas as atividades a
maior parte do tempo, diminuição ou aumento de apetite, insônia ou hipersonia, que são
resultado de desapontamentos, perdas, gatilhos estressores, desmoralização e/ou desolamento.
As causas são multifatoriais, desde desequilíbrios químicos e de neurotransmissores, à
alterações endócrinas, hereditariedade, fatores cognitivos/psicológicos e contexto ambiental.
Fatores psicossociais também estão envolvidos, como por exemplo a vulnerabilidade
socioeconômica, abuso e violação de direitos e a violência sexual, urbana, institucional. O
diagnóstico da depressão é feito por psicólogos e/ou psiquiatras que baseiam-se na
identificação dos sinais e sintomas e nos critérios diagnósticos. O indicador da patologia, é o
nível de sofrimento e a deficiência no funcionamento ocupacional, social e de outras áreas da
vida do sujeito e o tratamento geralmente é medicamentoso, com psicoterapia. Este artigo tem
como objetivo, analisar os desdobramentos internos e externos da depressão no indivíduo à
luz das escolas de pensamento da Abordagem Centrada na Pessoa, de Carl Rogers e a
Fenomenologia Existencial. Quanto à natureza da pesquisa, a mesma é de caráter qualitativo
e utilizou-se como método a revisão bibliográfica.

Palavras-chave: Transtornos depressivos. Depressão. Abordagem Centrada na Pessoa.


Fenomenologia Existencial

1
1 Discente do curso de Psicologia da Faculdade Santíssimo Sacramento
2
2 Docente da Faculdade Santíssimo Sacramento
2

1. INTRODUÇÃO

A depressão é o transtorno mental que assola o século XXI. Para o DSM V, “um
transtorno mental é uma síndrome caracterizada por perturbação clinicamente significativa na
cognição, na regulação emocional ou no comportamento de um indivíduo”.
A etiologia desta patologia envolve fatores psicológicos, hereditários, ambientais, de
idade e gênero. A gravidade, frequência e duração dependem da individualidade de cada
pessoa. Enquanto a epistemologia, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) cerca de
300 milhões de pessoas sofrem com este transtorno mental. Cerca de 800 mil pessoas morrem
por suicídio a cada ano - sendo essa a segunda principal causa de morte entre pessoas com
idade entre 15 e 29 anos. É uma doença que afeta várias áreas do sujeito como o trabalho, os
relacionamentos amorosos, os vínculos interpessoais, a família, a comunidade e a relação
consigo mesmo. De acordo com a base de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística IBGE (2019) houve um expressivo aumento em relação ao percentual de
brasileiros que declararam ter recebido diagnóstico de depressão por um profissional de
saúde mental, os índices subiram cerca de 34,2% em seis anos. (DIETRICH, 2022)
Dados do Ministério da Saúde (2019) mostram um aumento de 115% no número de
atendimentos de jovens de 15 a 29 anos, no Sistema Único de Saúde (SUS) com queixa
principal de depressão, entre 2015 e 2018, o que reforça o papel das políticas públicas de
saúde na promoção, prevenção e tratamento de transtornos mentais. É importante se atentar,
que muitos destes dados foram coletados antes da Pandemia do COVID-19. Hoje, muitas
pesquisas buscam compreender as consequências psicológicas que esta crise sanitária causou
em todo o mundo. Muitas das contingências em que a população mundial foi obrigada a
vivenciar como o luto de entes queridos, isolamento social, trabalho em modalidade home
office, e o aumento das redes sociais como uma ferramenta de vínculo emocional e familiar,
são algumas manifestações que sugestiona quadros de disforia de humor e melancolia.
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019)
Historicamente, a etiologia da depressão foi descrita conforme a evolução das
civilizações e as influências atuais daquele momento histórico, começando desde a uma
intoxicação por bile negra na percepção grega até a influência religiosa de demônios e
espíritos malignos do século XVIII e XIX. Os pensamentos e crenças disfuncionais, a questão
química e sua sintomatologia, foram sendo de maior importância para explicar as causas com
o decorrer do desenvolvimento da Psicologia como ciência na área do saber da psique.
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A Psicologia Fenomenológica-Existencial possui um olhar profundo a respeito das


mazelas que se lançam ao sujeito. A visão de homem e de patologia, ocorrem a partir de
conflitos existenciais que causam sofrimento. Essa escola de pensamento, cujo Carl Rogers
com a sua Abordagem Centrada na Pessoa, é representante, possui uma visão otimista sobre o
desenvolvimento humano, voltado para a autorrealização e a vida comunitária e não para a
doença. Na visão deste autor, o conflito psicológico leva ao adoecimento, com isso, cada um é
livre para exercer sua liberdade existencial e ser congruente consigo mesmo e seus
fenômenos. Essa liberdade, é a oportunidade do sujeito de expressar suas opiniões,
sentimentos e ideias. Da forma como ela as elabora, portanto, a causa da depressão, estaria na
incongruência, e o desacordo com a sua percepção de mundo e de si mesmo.
(BURLAMAQUI , 2020)
Visto a importância deste estudo profundo sobre a depressão, como uma patologia
multifatorial que atinge milhões de pessoas, o presente trabalho tem por objetivo analisar à
luz da abordagem fenomenológica-existencial, através de suas diversas fontes bibliográficas,
os desdobramentos internos e os impactos contemporâneos deste transtorno mental.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Conceito de Depressão

A depressão é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como o “mal


do século”, é um transtorno psicológico grave que afeta grande parte da humanidade levando
as pessoas a uma tristeza profunda acarretando na perda do prazer na vida, sendo apontada
como a principal causa de incapacitação na população geral.

Os transtornos depressivos podem ser classificados em: transtorno disruptivo de


desregulação do humor, transtorno depressivo maior, transtorno depressivo persistente,
transtorno depressivo disfórico pré-menstrual, transtorno depressivo induzido por
substância/medicamento, transtorno depressivo devido a outra condição médica, outro
transtorno depressivo especificado e transtorno depressivo não especificado. Sendo o
transtorno depressivo maior o que a representa a condição mais clássica da depressão
(DSM-V, 2014).
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Na Abordagem Centrada na Pessoa, o fato de não poder ser livre acarreta a


incongruência que leva a pessoa a um conflito psicológico e ao seu adoecimento. Com isso,
ser livre e exercer sua liberdade experiencial são as mesmas coisas que ser congruente
consigo mesmo (NORONHA, 2018).

Na visão de Carl Rogers, precursor da Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), a


depressão pode ser uma expressão da incongruência que ocorre com o sujeito, essa
incongruência é o desacordo entre a percepção que tem de si e o que faz com ela (BRAZ;
MESQUITA; TABOZA, 2016).

2.2 Causas da Depressão

Para Pereira e Azevedo (2017), uma das causas da depressão está ligada a fatores
neuroquímicos e que a falta dos mesmos altera as emoções, comprometendo o seu estado
afetivo, caracterizado pela dor, tristeza e falta de vontade.
Além dos fatores biológicos, fatores psicológicos e sociais também podem ocasionar
a depressão. Dentre os fatores biológicos podemos destacar algumas alterações químicas no
cérebro do indivíduo que venha ter a doença, nos fatores psicológicos estão alguns traumas,
estresses diários, preocupações, sobrecargas emocionais, entre outros, e os fatores sociais são
caracterizados por situações que colocam o indivíduo em situação de vulnerabilidade, como:
fome, desemprego, abusos e falta de moradia (BRAZ; MESQUITA; TABOZA, 2016).

2.3 Sintomas da Depressão

Este transtorno de acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos


Mentais (DSM-V), é caracterizado por humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de
alterações somáticas e cognitivas que afetam a capacidade de funcionamento do indivíduo em
diversas áreas da vida pessoal, social e profissional.
São listados por Beck e Alford (2011), sintomas da depressão como sentimentos
negativos em relação a si mesmo, redução ou perda da satisfação em atividades antes
prazerosas, perda dos vínculos emocionais, crises de choro, baixa autoestima, autocrítica,
expectativas negativas em relação ao futuro, aumento da dependência, apatia, perturbação do
sono, perda da libido, além de ideação suicida.

2.4 Tratamento para a Depressão com a ACP


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Segundo Guedes (2008), o espaço psicoterapêutico tenta garantir um suporte e


abertura para que o cliente possa entrar em contato, cada vez maior, com seu fluxo de
vivências de forma autêntica e espontânea. A abordagem centrada na pessoa não focaliza os
aspectos estruturais da personalidade ou predeterminações psicopatológicas para acompanhar
um processo depressivo.
O psicoterapeuta que trabalha com a abordagem centrada na pessoa deve utilizar
atitudes básicas facilitadoras que são atitudes de empatia, de autenticidade e de consideração
positiva incondicional para facilitar a fluidez da tendência, atualizando do cliente e ele possa
construir uma vida positivamente (MOREIRA, 2010, SOUZA; CALLOU; MOREIRA, 2013).
Para Yano (2015), o atendimento é pautado no processo-orientado, na relação
terapeuta-cliente, sendo importante o debate entre eles sobre o caminho psicoterápico a ser
percorrido.
Para a maioria dos casos depressivos, é necessário o acompanhamento com um
profissional da psiquiatria e o uso de fármacos para a melhor evolução no tratamento
psicoterápico.

3. METODOLOGIA

Pesquisa descritiva e qualitativa realizada por meio de busca bibliográfica


exploratória nas bases de dados do Google Acadêmico e Scielo, bem como em livros,
dissertações e teses, a partir das palavras chave: Transtornos depressivos. Depressão.
Abordagem Centrada na Pessoa. Fenomenologia Existencial.
Estabeleceram-se critérios para refinar os resultados: a abrangência temporal dos
estudos definida nos anos de 2011 a 2020.
Deste modo, foram obtidos o total de 6 artigos e 2 livros que foram submetidos a
releituras, com a finalidade de realizar uma análise interpretativa direcionada pelos objetivos
deste projeto.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo teve o objetivo de contextualizar, através de revisão bibliográfica, os


prejuízos cognitivos, emocionais, sociais e laborais do sujeito, cujos sintomas, caracterizam a
depressão. A abordagem escolhida para embasamento teórico, foi a Fenomenologia
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Existencial, com atenção a Abordagem Centrada na Pessoa, de Carl Rogers. Enfim, as


propostas de analisar de modo profundo a patologia que marca a atualidade, seus
comportamentos mantenedores e as consequências à pessoa com depressão, foi cumprido.
A depressão é um transtorno mental de múltiplas causas, cujos critérios diagnósticos
são identificados por milhões de pessoas. No último século, houve um aumento significativo
no número de diagnósticos de depressão, o que lança luz sobre esta patologia de saúde mental.
Cresceu a quantidade de informação sobre a sintomatologia e também, os mecanismos de
buscar ajuda. A humanidade sofreu grandes transformações em um período curto de tempo, as
inovações, as modificações organizacionais, o uso exacerbado de tecnologia e o surgimento
das redes sociais, causaram mudanças culturais irreversíveis. Essas mudanças impactam a
saúde mental das pessoas, que atualmente, vivem suas vidas de modo mais complexo, com
mais responsabilidade, mais restrições, mais comparativos e mais cobranças de produtividade
e felicidade.
As causas da depressão, além de genéticas, químicas e orgânicas, levam em
consideração o meio em que aquela pessoa está inserida. Sendo assim, culturas de extrema
evolução tecnológica e baixa vulnerabilidade social, apresentam altos índices de depressão
entre seus moradores. A Fenomenologia Existencial percebeu este construto psicológico, e
por muitas vezes alertou ao mundo, que o vazio existencial, uma das principais
sintomatologias dos transtornos depressivos, iria assolar as comunidades, se suas intenções e
valores não forem transferidos para um propósito e a busca de sentido de viver de uma forma
melhor, no sentido de buscar a autorrealização e com isso alcançar o bem-estar. Do ponto de
vista dessa escola psicológica, o ser humano foi feito para o crescimento e não para a
patologia; esse olhar otimista sobre as pessoas, em contraponto à outras escolas de
pensamento análogo, lançam luz de que o homem é, aquilo que ele decide tornar-se.
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REFERÊNCIAS

American Psychiatric Association (APA). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos


mentais: DSM-5.. 5 Porto Alegre: Artmed, 2014.

BECK, A, T.; ALFORD, B, A. Depressão, causas e tratamento. 2° ed. Porto Alegre:


Artmed, 2011.

BRAZ, A. L. S; MESQUITA, E. de A.; TABOZA, S. L. WebArtigos, 10 de nov. de 2016.


Publique artigos e monografias em minutos. Disponível em: . Acesso em: 30 maio. 2023.

BURLAMAQUI. Carla, S. DEPRESSÃO: uma apresentação da sua evolução conceitual e


formas de tratamento na perspectiva humanista. João Pessoa. 2020.

DIETTRICH. (VI)VIDA NO QUE SE TEM DE MAIS PROFUNDO: A DEPRESSÃO


NA ADOLESCÊNCIA E UM OLHAR DE ENFRENTAMENTO À LUZ
DAABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA. Revista Ibero Americana de Humanidades,
Ciências e Educação - REASE. São Paulo. 2022. Disponivel em: periodicorease.pro.br

GUEDES, Dilcio Dantas; MONTEIRO-LEITNER, Julieta; MACHADO, Karine Cardozo


Rodrigues. Rompimento amoroso, depressão e auto-estima: estudo de caso. Rev. Mal-Estar
Subj.,Fortaleza,v.8,n.3,p.603-643,set.2008.http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_artt
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MINISTÉRIO DA SAÚDE. Depressão: causas, sintomas, tratamentos, diagnóstico e


prevenção. 2019. Disponível em: http://portalms.saude.gov.br/saude de a a z/saude
mental/depressao

NORONHA, S. A. Aproximações das ideias de Martin Buber e Carl Rogers no processo


psicoterapêutico. Revista IGT na Rede, v. 15, n 28, 2018, p. 39 – 49. Disponível em: , ISSN:
1807-2526. Acesso em: 30 de maio. 2023.
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ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Classificação Estatística Internacional de


Doenças e Problemas Relacionados à Saúde. Disponível em:
http://www.datasus.gov.br/cid10/V2008/WebHelp/cid10.ht m

PEREIRA, M. B. M.; AZEVEDO, J. M. De. Depressão e angústia: modos de expressão na


contemporaneidade. Pretextos - Revista da Graduação em Psicologia da PUC Minas, v. 2, n.
3, p. 198 - 216, 28 fev. 2017.

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