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O que é psicanálise: entenda os conceitos e abordagens

básicas
18 de novembro de 2019
Tempo de leitura: 9 minutos
Psicoterapia

O que é psicanálise? Essa é uma pergunta que recebemos diariamente aqui


na Vittude!

Trata-se de uma abordagem que trabalha profundamente o inconsciente,


responsável pelas nossas atitudes que temos “em modo automático”. Essas
podem chegar a desafiar a lógica e o bom senso.

Para exemplificar, pense em todas as vezes que você disse “a partir de


amanhã não vou mais fazer X coisa” e se pegou repetindo o comportamento
sem perceber.

Ou quando falou algo que não queria e emendou um “é brincadeira” no fim


para não parecer rude. O inconsciente é responsável por isso.

Sigmund Freud (1856-1939) foi fundador dessa abordagem e talvez o


psicanalista mais conhecido, mas há outras escolas de pensamento que
contribuíram para o movimento psicanalítico.

O inconsciente é a chave da psicanálise

Freud descobriu que muitos comportamentos conscientes são influenciados por


forças inconscientes, como memórias, impulsos e desejos reprimidos.

Estes podem ser desagradáveis ou inaceitáveis socialmente, pois podem


causar sofrimento e brigas.

Por exemplo, quando um indivíduo é vítima de um comportamento grosseiro no


trabalho, ele sente raiva e vontade de retrucar ou até de agredir o outro
fisicamente. Em sua mente, cria cenários fantasiosos nos quais pode
responder com grosseria para compensar as emoções negativas geradas pelo
ocorrido.

Porém, não é possível agir conforme deseja, pois isso acarretará em diversas
consequências negativas que poderão prejudicar a carreira. Mesmo assim,
algum dia, ele poderá transformar a fantasia em realidade “sem querer”,
motivado por desejos inconscientes.

Tudo o que está armazenado em nosso inconsciente afeta as nossas vidas. O


modo como pensamos, agimos e expressamos opiniões é resultado de uma
memória, crença ou desejo que não está na superfície do psiquismo.
Por isso, podemos entrar em conflito conosco ou com pessoas sem
compreender exatamente a razão.

A psicanálise, então, busca as causas da infelicidade das pessoas nos


esconderijos do inconsciente.

As principais escolas da Psicanálise

Freud

Você já deve ter ouvido falar sobre o ego, certo?

Na psicanálise freudiana, o ego é a parte do sistema psíquico que lida


diretamente com a realidade. Embora seja visto como um vilão por aí, o ego é
o mediador entre os impulsos do id e as exigências do superego.

Ele nos ajuda a ter um comportamento realista e aceitável de acordo com as


demandas da sociedade. Basicamente, o ego regula o nosso desejo de apenas
satisfazer as nossas necessidades primitivas e alimentar paixões.

O id armazena os desejos inconscientes, os quais não são totalmente lógicos e


às vezes não seguem as regras estabelecidas pela sociedade. É o ego que
coordena o que o id pode ou não fazer, permitindo ou inibindo a sua satisfação.

Enfim, o superpego é o aspecto final da personalidade. Contém nossos


valores e ideias bem como as lições aprendidas com os pais e com a
sociedade. É uma espécie de juiz que determina o comportamento de acordo
com esses aspectos morais. Quando muito severo, o superego anula as
escolhas do ego e causa conflito psíquico.

Além da descoberta desses três elementos da personalidade, Freud


desenvolveu técnicas psicanalíticas à medida que tratava seus pacientes.

Uma delas é a associação livre (método em que o terapeuta fala uma série de
palavras e o paciente responde com o que viver à mente para despertar
memórias reprimidas).

Trabalhou também a análise dos sonhos (Freud acreditava que


os sonhos eram a “estrada para o inconsciente”).

O estudo da sexualidade da criança (complexo de Édipo), o conceito da


dualidade no psiquismo (o conflito resulta de forças contrárias), e o fenômeno
das resistências foram algumas das contribuições de Freud para formar o
alicerce da psicanálise.

Lacan

A abordagem lacaniana enfatiza a estrutura linguística. O indivíduo é formado


através da linguagem. O mundo em que vivemos, de acordo com o
psicanalista, é construído de símbolos e de significantes, conceito que define
que um objeto, imagem ou situação pode representar outra coisa.

O indivíduo, portanto, consegue identificar esses símbolos por conta da


linguagem.

Jacques Lacan (1901-1981) também era filósofo, por isso, seu modo de pensar
a psicanálise tende a se apoiar em conceitos mais filosóficos.

A construção do “eu” é formada no interior. O que reside no íntimo de cada um


tem ligação direta com o exterior. Para compreender uma pessoa como um
todo, é necessário pensar em ambos os aspectos, e não apenas julgá-la sobre
uma única ótica. Caso contrário, a análise do outro fica incompleta.

Neste contexto, Lacan estabelece a relação entre o “eu” e o outro, sendo a


linguagem o instrumento de mediação entre eles.

Winnicott

O foco de Donald Winnicott (1896-1971) é a relação entre a criança e a mãe.


Segundo ele, todos nós nascemos indefesos, porém, com grande potencial.
Para que este possa se desenvolver propriamente, o ambiente precisa ser
acolhedor e garantir a satisfação das necessidades básicas.

O ambiente familiar, econômico e social influenciam diretamente a formação do


indivíduo. Mas a mãe é o fator principal. O seu relacionamento e interações
com o bebê são essenciais para que ele cresça bem. Assim, nasce o conceito
da “mãe suficientemente boa”, referente à figura que satisfaz todas as
necessidades e carências do bebê.

Consequentemente, os transtornos mentais seriam resultado tanto de um


relacionamento defeituoso com a mãe quanto de um ambiente desfavorável.

A criança não desenvolve apropriadamente o seu lado emocional, resultando


em uma série de complicações na vida adulta. O ambiente deficiente exerce
influência até mesmo em bebês recém-nascidos.

Klein

Melanie Klein (1882-1960) dedicou-se a estudar a mente das crianças para


descobrir seus medos, fantasias e angústias.

Ela desenvolveu a análise do comportamento delas por meio da brincadeira


para ter acesso ao inconsciente da criança já que a associação livre de Freud
dificilmente seria usada com indivíduos de pouca idade.

Diferente de Freud, Klein apontou a agressividade como elemento primordial


no desenvolvimento da criança em vez dos aspectos sexuais. Este é resultante
de um ego primitivo existente desde o nascimento.
Além disso, fundou uma teoria da psicanálise referente às fantasias do
inconsciente. Estas são elaboradas pelas crianças sobre suas mães,
geralmente criando uma imagem mais malvada do que a realidade. As
fantasias são inatas porque representam os instintos mais primitivos da
criança.

Para ter acesso a essas fantasias, o psicanalista precisa inserir o lúdico no


tratamento com a criança e estimular brincadeiras para encorajar determinados
comportamentos.

Bion

Wilfred Bion (1897-1979) desenvolveu a Teoria do Pensar. O ato de pensar


surge como uma forma de lidar com a frustração, criando novas realidades
para satisfazer os desejos não satisfeitos.

Quando o ódio oriundo da frustração é grande demais para a pessoa suportar,


este sentimento encontra alívio na descarga imediata por meio de agitações
motoras.

Segundo ele, o pensar depende de dois fatores: os pensamentos propriamente


ditos e a faculdade de pensar. O pensamento vazio acontece quando uma pré-
concepção do indivíduo não é realizada. Consequentemente, a frustração
aparece, sendo esta definida como uma “ausência”. Logo, a pessoa se abre
para um universo simbólico construído ao longo de sua existência através de
pensamentos e interpretações do mundo, de seus sentimentos e das pessoas.

Neste contexto, o pensamento precede o conhecimento já que o indivíduo cria


o que não existe ou não conhece (pré-concepção).

Bion também desenvolveu a Teoria do Conhecimento a qual afirma que a


formação do conhecimento da criança é proporcional à capacidade do ego de
tolerar a frustração. Desse modo, ela pode criar mecanismos para evitá-la.

O que é psicanálise contemporânea

Há diversas tendências presentes na psicanálise contemporânea. Uma delas


é a investigação das situações clínicas resultantes das regressões para as
etapas primitivas do desenvolvimento emocional, como a primeira infância.

A proposta contemporânea é aquela que vai de encontro às emoções


reprimidas para encontrar caminhos para novos encontros e, eventualmente,
libertá-las. A questão do setting analítico, caracterizado pela relação entre o
analisa e o analisado, é muito evidente nesse modo de pensar.

O paciente pode ser ele mesmo no momento da análise, sem medo de


encontrar julgamentos ou pré-conceitos. O analista, então, desempenha a
escuta analítica para deixar o analisado falar à vontade. Neste caso, a
linguagem não-verbal também é considerada para realizar uma avaliação mais
completa.
Outra tendência é a compreensão dos fatores hereditários no aparecimento
dos transtornos mentais. Sabe-se agora que filhos de
pais depressivos ou ansiosos têm maior chance de desenvolvê-los, portanto,
há uma grande influência genética.

Além disso, a análise das funções do ego abriu-se para outras ciências, como a
neurociência, a linguística e a psicofarmacologia. Um resultado desta expansão
é a noção de que o paciente, através da psicanálise, consegue pensar as
suas experiências emocionais e decide se tornar consciente delas e aceitá-las
ou ignorá-las.

O profissional psicanalista

Psicanalista é o profissional que segue a linha teórica da psicanálise no


trabalho com seus pacientes. Vale destacar que a psicanálise é uma formação,
que não é restrita somente aos profissionais de psicologia.

Uma boa formação em psicanálise tem duração de pelo menos 4 anos e mais
de 700 horas de estudo. Para ser considerado um psicanalista é fundamental
que o profissional tenha um pilar de sustentação formado por terapia ou análise
pessoal, supervisão clínica e estudo constante.

Ou seja, psicanalista é o profissional que concluiu a formação em teoria,


técnica e clínica psicanalítica. Quem deseja atuar nesta área deve
seguir orientações da instituição escolhida e passar pela experiência prática
antes de começar o atendimento terapêutico.

Na Vittude, entendemos que a graduação em psicologia é um elemento


primordial para bom exercício da prática clínica. Compreendemos a psicanálise
como uma abordagem terapêutica, dentre as mais bem sucedidas para
aprofundamento e compreensão de questões existenciais.

Uma vez que outros profissionais, mesmo não sendo da área de saúde, podem
fazer a formação, recomendamos que as pessoas sempre busquem saber a
graduação do psicanalista, sua experiência no atendimento, opinião de outros
clientes, de forma a encontrar um resultado satisfatório para seu processo de
autoconhecimento.

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