Você está na página 1de 6

Questões para estudo - Psicoterapias: Abordagens Psicodinâmicas

Professora: Veridiana Canezin Guimarães

1. O que é psicanálise? Quais são as três referências fundamentais da


psicanálise?
A Psicanálise é uma abordagem teórica e terapêutica criada por Sigmund
Freud no final do século XIX. Tem como objetivo buscar compreender a
estrutura do funcionamento psíquico e seus processos inconscientes que
influenciam os pensamentos, emoções e o comportamento humano.
Seus principais conceitos, pelos quais se diferencia das demais teorias,
incluem o Inconsciente (parte da mente que contém conteúdos psíquicos
inacessíveis à consciência, como desejos reprimidos, memórias traumáticas,
impulsos instintivos e pensamentos recalcados), o Complexo de Édipo (que
aborda a existência da sexualidade infantil) e o conceito de Mecanismos de
Defesa (estratégias psíquicas que o indivíduo utiliza para lidar com conflitos,
ansiedades e ameaças emocionais, como a repressão, negação, projeção e a
sublimação).

2. Como se deu o surgimento da psicanálise?


Como médico neurologista, Freud tinha interesse em compreender os
distúrbios mentais e as causas físicas por trás deles. No entanto, ao tratar de
pacientes com histeria, percebeu que muitos sintomas não tinham uma
explicação puramente orgânica. Essa constatação levou Freud a investigar os
processos mentais inconscientes, ou seja, os pensamentos e emoções que não
eram acessíveis à consciência.

3. Qual a importância de Charcot para Freud?


Charcot utilizava-se da hipnose em suas pesquisas sobre a histeria,
provando que, através da sugestividade da prática, os sintomas poderiam ser
aprendidos ou desaprendidos. Através dessa observação, ficava claro que a
histeria era uma questão psíquica e não orgânica, e que por se tratar de ser um
produto do trauma, a histeria não se restringia apenas as mulheres, como
acreditava-se na época. Além disso, Freud percebeu que a hipnose não era
eficiente como tratamento, já que os sintomas retornavam depois de um tempo.
Isso fez com que Freud despertasse o interesse em desenvolver a psicanálise não
só como método de investigação, mas também como método terapêutico,
substituindo a hipnose pelo método de associação livre.

4. O que é sexualidade infantil?


A teoria Freudiana entende a sexualidade infantil como uma expressão
própria de energia sexual que não está relacionada com a prática sexual adulta,
mas sim aos prazeres e sensações experimentadas pela criança em diferentes
partes do corpo, ao longo do seu crescimento, passando pelas chamadas fases de
desenvolvimento psicossexual, que são elas a fase oral, anal, fálica, período de
latência e a fase genital.

5. Como se caracteriza a fase oral, a fase anal, a fase fálica, latência e genital
do desenvolvimento psicossexual?
A fase oral ocorre de 0 a 1 ano de idade e se caracteriza pela
concentração do prazer e energia libidinal na boca. A amamentação e a
alimentação são fontes de satisfação.
A fase anal ocorre entre 1 e 3 anos. O foco do prazer e da energia
libidinal é deslocado para a região anal e se satisfaz no controle do esfíncter anal
e na eliminação das fezes.
A fase fálica, que ocorre entre os 3 e 6 anos, tem a atenção voltada para
os órgão genitais. É o período em que ocorre o complexo de Édipo, o complexo
de castração.
A fase latente corresponde ao período do 6º ano à puberdade. Nesta fase,
a energia libidinal se retrai temporariamente. As pulsões sexuais estão menos
ativas e o foco principal é o desenvolvimento de habilidades cognitivas, sociais e
intelectuais.
A fase genital se inicia a partir da puberdade em diante. Nesta fase,
ocorre a maturação sexual. O interesse sexual desviado do próprio corpo e
direcionado para outras pessoas. O foco principal é o estabelecimento de
relacionamentos íntimos e a expressão saudável da sexualidade adulta.

6. O que podemos caracterizar como formações do inconsciente?


Freud estabeleceu três formações do inconsciente, sendo elas o Id, o Ego
e o Superego. O Id seria a parte mais primitiva e impulsiva da mente, onde
residem as pulsões sexuais e agressivas. Ele é regido pelo princípio do prazer e
satisfação, sem preocupação com a realidade ou com as consequências.
O Ego é a parte da mente que lida com a realidade e atua no nível
consciente, pré-consciente e inconsciente. Ele age como um mediador entre as
demandas do Id e as restrições do mundo externo. O Ego busca equilibrar as
pulsões do Id com a realidade, levando em conta as normas sociais, as
consequências e a busca de satisfação adaptativa.
O Superego é a instância moral da mente, incorporando os valores e
normas internalizados da sociedade e da família. Ele opera no nível consciente e
pré-consciente, representando o senso de certo e errado, os ideais e os padrões
éticos. O Superego é formado a partir do complexo de Édipo e internaliza as
regras e expectativas sociais.

7. Qual mecanismo de defesa presente na neurose? Qual o conflito psíquico


fundamental?
O mecanismo de defesa presente na neurose é a repressão. O conflito
psíquico acontece no choque entre as pulsões do ID e a realidade, o EGO
entende que existe uma impossibilidade de satisfação e recalca a pulsão gerando
assim a estrutura neurótica.

8. Discorra sobre o conceito de sonho para a psicanálise.


Para a psicanálise, o sonho é visto como uma alucinação. Uma expressão
simbólica de um desejo inconsciente e reprimido. Seria uma tentativa de
descarga da pulsão e satisfação do desejo de uma maneira disfarçada e
inofensiva.

9. Como se dá a formação do sonho para a psicanalise freudiana? Qual o


nome desse processo?
Durante o sono, quando a censura do Superego é enfraquecida, os desejos
inconscientes emergem simbolicamente nos sonhos. Esses desejos são
transformados e distorcidos por mecanismos de defesa, como o deslocamento
(transferência dos desejos para outros objetos ou pessoas) e a condensação
(combinação de vários elementos em um único símbolo).

10. Qual o trabalho prático da psicanálise? Discorra acerca da psicose onírica


inofensiva.
Segundo Freud, “um sonho, então, é uma psicose, com todos os
absurdos, delírios e ilusões de uma psicose. Uma psicose de curta duração, sem
dúvida, inofensiva, até mesmo dotada de uma função útil, introduzida com o
consentimento do indivíduo e concluída por um ato de sua vontade” (Freud,
1974, p. 123).

11. Qual a diferença entre a neurose e a psicose?


A neurose acontece no conflito do desejo com a realidade, sendo
reprimido o ID e prevalecendo a realidade, fazendo com que o sujeito
experimente conflitos internos e sintomas ansiosos ou disfuncionais. Já a psicose
é a organização psíquica na qual o EGO, a serviço do ID, rompe com a realidade
e recria o mundo externo com conteúdos internos.

12. Qual a primeira e segunda fase da neurose?


A primeira fase da neurose é o recalque e a segunda é o retorno do
recalcado em forma de sintoma.

13. Qual a primeira e segunda fase da psicose?


Na primeira fase da psicose o sujeito experiencia um rompimento com a
realidade e recria o mundo externo com conteúdos internos (foraclusão). Na
segunda fase o sujeito experiencia os delírios e as alucinações.

14. O que é transferência?


A transferência é um fenômeno na psicanálise em que os pacientes
desenvolvem sentimentos, emoções, desejos e padrões de comportamento em
relação ao outro, muitas vezes o terapeuta, que são semelhantes aos que
experimentaram em relacionamentos passados, especialmente em relação a
figuras de autoridade, como pai e mãe. É uma forma de reviver e elaborar esses
sentimentos e relações.

15. O que é a cura para a psicanálise a partir do texto A cura, de Fabio


Hermann?

A cura psicanalítica, para Hermann, é o processo de experimentação de


diversas possibilidades de ser, que se dá no campo transferencial, ou seja, no
contexto da terapia, a fim de harmonizar as potencialidades características de
cada pessoa. É o processo de desatar os nós das neuroses.
A cura seria então, não uma extirpação de sintomas, mas sim um
processo de transformação psíquica no qual o sujeito entende o funcionamento
dos seus conflitos internos, elabora-os junto com o analista e a partir disso
desenvolve uma melhor capacidade de lidar com seus desejos e limites.

16. Qual a relação entre transferência e compulsão à repetição?

Em um contexto clínico, é na transferência que o paciente projeta seus


sentimentos, emoções e desejos, de acordo com padrões de relacionamentos
passados, no terapeuta. A compulsão à repetição é um impulso inconsciente que
leva o sujeito a repetir esses padrões de comportamento, cabendo ao terapeuta
ajudar o paciente a tomar consciência desses padrões repetitivos, explorar suas
origens e buscar uma resolução saudável.

17. Como se dá o complexo de Édipo e o complexo de castração na menina e no


menino?

O Complexo de Édipo ocorre em uma fase específica do


desenvolvimento psicossexual da criança, que ele chamou de fase fálica.
Durante essa fase, que ocorre por volta dos três a cinco anos de idade, a criança
experimenta um intenso interesse sexual em seus órgãos genitais e desenvolve
um conjunto de desejos e conflitos em relação aos pais.
No caso dos meninos, eles sentem atração intensa pela mãe e
desenvolvem sentimentos de rivalidade com o pai, a quem percebem como um
rival amoroso. Os meninos temem a castração simbólica, acreditando que o pai
pode puni-los por seus desejos pela mãe. Esse medo da castração o obriga a
recuar, abrindo mão do projeto incestuoso.
No caso das meninas, elas sentem atração pelo pai e experimentam
sentimentos de rivalidade com a mãe. Nesse estágio, as meninas vivenciam a
chamada "inveja do pênis" e experimentam uma sensação de perda, inferioridade
e angústia do complexo de castração ao perceberem que não possuem o órgão
genital masculino.
18. Do que se trata o pacto edípico e seus desfechos no pacto social?

O pacto edípico implica no sujeito a internalização das normas culturais e


sociais, na aceitação dos tabus, na renúncia dos desejos incestuosos e recebe do
genitor do mesmo sexo o conhecimento dos limites da satisfação dos desejos,
aprendendo outras formas de receber a satisfação. Da mesma maneira, na
sociedade estabelece-se um pacto onde o indivíduo abre mão de determinados
desejos e impulsos (agressivos, sexuais), e oferece seu trabalho em troca de uma
convivência harmônica e satisfatória, conforme regras pré estabelecidas e aceitas
socialmente, constituindo-se como sujeito humano que se identifica com sua
cultura e adquire caráter ativo na sociedade.

19. Quais são os fundamentos da civilização de acordo com Freud?

Freud explica que, por causa da insegurança promovida pela natureza ao


sujeito que vivia uma vida individual, os sujeitos foram levados ao convívio em
grupo (pacto civilizatório), onde restringem suas pulsões sexuais e agressivas em
prol da boa convivência em grupo. Sendo assim, a sociedade é construída sobre
a renúncia dessas pulsões, em especial o parricídio e o incesto que são proibidos
em todas as civilizações, sublimando por atividades socialmente aceitas e
reguladas por normas, leis e instituições.

20. Quais são os traços de caráter que Calligaris menciona como importantes
para um futuro psicoterapeuta? Explique.
Alguns dos traços de caráter que Calligaris menciona como importantes
para um futuro terapeuta são: A humildade em reconhecer seus medos,
inseguranças e limitações, não se colocando como autoridade para o paciente; A
empatia para ouvir, compreender emoções e encontrar significado nas diversas
experiências humanas possíveis; A autenticidade para não se prender em a
formatos fixos ou idealizações e se permitir evoluir com o paciente; A
curiosidade e abertura para o novo, para o conhecimento e aprendizado
contínuo; E o compromisso com o autodesenvolvimento dando a devida
importância ao próprio tratamento e autoconhecimento, se permitindo
experienciar e lidar com os próprios conflitosas.

21. Discuta a seguinte afirmação de Calligaris: “A psicanálise (e a mesma coisa


vale para qualquer psicoterapia) não tem, nem quer ter, uma noção
preestabelecida de normalidade”. (p. 72)
Para Calligaris, a normalidade é relativa e depende do contexto cultural,
social e individual. A psicanálise não tem como objetivo enquadrar o sujeito em
uma normalidade, mas sim entender a subjetividade e ajudar os sujeitos a
lidarem com sua singularidade da melhor maneira possível.

22. Qual é o compromisso ético do psicanalista?


O psicanalista deve manter total sigilo e confidencialidade em relação às
informações compartilhadas pelo paciente durante o processo terapêutico.
Adotar uma postura de neutralidade e imparcialidade, evitando influenciar ou
impor suas próprias crenças, valores ou opiniões ao paciente. Evitar qualquer
forma de exploração ou abuso da relação terapêutica. Ter cuidado com os
possíveis danos e trabalhar de forma cuidadosa e responsável para minimizá-los.
Atuar dentro dos limites da competência profissional, reconhecendo e
respeitando os próprios limites de conhecimento e competência, buscando
aprimorar constantemente suas habilidades por meio de formação e supervisão
adequadas e encaminhar um paciente para outros profissionais especializados
quando, e se, necessário.

Você também pode gostar