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Funcionamento Psicossomático
Introdução
- Uma pessoa que está doente, se tiver uma moral alta, é natural que recupere melhor
- Quando nós não estamos bem, no ponto de vista do ânimo, mais facilmente adoecemos. Os
bebes adoecem com muita facilidade, pode ser devido ao facto de não terem adquirido
determinada imunidade nem um aparelho psíquico desenvolvido.
- No seguimento destes trabalhos surge a obra de P. Marty (1963), que se dedica à escola
psicossomática de Paris. Pode-se pensar que há um aparelho psíquico que se construiu de uma
certa maneira, que favorece a quando o sujeito vive dramas, o corpo descarrega este
sofrimento. E porque é que se pensa isto? Porque muito dos indivíduos que adoecem com
doenças psicossomáticas, do ponto de vista comportamental, parecem apresentar
determinados comportamentos (é como se estes sujeito tivessem dificuldade em utilizar frases
no pessoal, e utilizar ressonância emocional).
Características Principais
- P.s.: Não existem hoje em dia determinadas doenças que se classifiquem como
psicossomáticas, tudo pode ser psicossomático, depende do aparelho psíquico
- Funcionamento operatório: é o nome dado a esta forma de estar (P. Marty). São indivíduos
com dificuldade de expressar o seu vivido emocional, dificuldade em usar o pronome pessoal,
dificuldade em falar de dentro de si, dificuldade em sentir-se, em refletir-se. O que é que pode
resultar daqui? Indivíduos, aparentemente, extremamente adaptados, hiper-adaptados. Se
não encontram o seu desejo, os seus sonhos, imaginam o que os outros querem dele, a
maneira de se organizarem baseia-se naquilo que o mundo social espera deles → daqui surge a
sua hiper adaptabilidade, e que terão (apesar da discussão de determinados autores)
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- Já Sami Ali, considera que estes sujeitos têm grande atividade onírica, mas que há períodos
onde domina o recalcamento da função do imaginário, e é nesses períodos que vem a doença.
- Paciente restringido aos fatos e objetos. Não há libido (sem desejo). Está preso no factual e
no acontecimento. Aparentemente são muito adaptados e conformistas. Esta super boa
adaptação, mostra possuírem identificações superficiais com o outro (não há afetos, P. Marty,
fala numa relação branca – sem expressão de afetos, sem desejos). P. Marty tb levanta a
hipótese de estar subjacente uma depressão, mas uma depressão que não é expressa pelo
sujeito – ele não diz que está triste e que lhe falta algo – é como se ele próprio não tivesse
consciência, P. Marty diz que estes sujeito apresenta uma depressão essencial (não é uma
depressão normal).
- (base disto) É como se o sujeito não tivesse sido mobilizado na relação com o outro, como se
ele próprio não tivesse sido chamado pelo afeto do outro.
- “eu sou um sem nome, eu sou para ser, eu era sem nome até que falasses comigo (até que o
sujeito lhe entoa uma interioridade, o sujeito não tem nome)”
- O mais comum nas mães à nascença é dizer: “O que é bebe?” → Quando uma mãe diz isto,
ela está a perceber o seu bebe como uma outra, que não é ela, se eu não me visse diferente do
meu bebe eu não lhe perguntava isto.
- Se eu imponho o meu ritmo, ao ritmo da criança, eu não lhe estou a dar voz.
- As pessoas funcionam num registo psicossomático, que funcionam como pessoas sem
subjetividade, se calhar todos nós em determinados momentos da nossa vida funcionamos
neste registo. A que P. Marty chama registo operatório – comportamentos que nós
imaginamos que subjacente a isto não há mais subjetividade investida e desenvolvida. Pode
haver indivíduos que funcionam dominantemente neste registo, e há outros que não
funcionam dominantemente neste registo, mas em períodos da sua vida têm de recorrer a
este registo. Este registo pode ser chamado de Registo de sobrevivência.
- Provavelmente todos nós já vivemos situações mais prolongadas e intensas (ou não), que nós
não podemos sentir, se sentimos, não sobrevivemos.
- A fala destes sujeitos é quase sempre sobre o corpo: o corpo tem voz, a alma não tem voz!
Pode-se pensar que isto também tem haver com a cultura – A cultura disponibiliza
instrumentos para nos expressarmos, um deles é a linguagem. Podemos imaginar a cultura
como uma “mãe” – a nossa cultura é uma cultura onde os males e os espíritos não são muito
bem aceites, se eu estou infeliz e me sinto mal para trabalhar, pergunto-me porquê. Também
a nossa cultura, não valoriza muito os estados de espírito, se não valoriza, eu ao falar de mim
vou recorrer aos instrumentos da própria cultura – nomeadamente a linguagem. Ex: Num
centro de saúde, dominantemente vemos pessoas de uma certa idade a queixarem-se do seu
corpo.
- As pessoas com doenças crónicas, ex: cancro, este diagnóstico é muito forte, tem de fazer
tratamentos, cirurgias, etc – durante um período prolongado. Durante este tempo, a pessoa
não pode sentir, e por isso, a pessoa tem é que cumprir os tratamentos, não manifestar a
menor falta de esperança, tem de agir… tem de ir para a frente… muitas vezes, é só quando o
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drama está ultrapassado é que a pessoa volta a sentir – “não quero sentir”! Se começa a sentir
antes da recuperação, pode não se tratar → Estratégia de sobrevivência. Os próprios familiares
de quem vivencia esta luta, tb podem usar esta estratégia.
Funcionamento dominante vs funcionamento não dominante
- Funcionamento dominante – onde surge uma depressão essencial, como se o sujeito não
tivesse encontrado situações ideais para construir a sua subjetividade, que tem relação com o
investimento pelo qual a pessoa foi alvo, que vai desencadear o seu investimento nos outros.
- Ex: clínica que tinha vários médicos; um médico tava a fazer a sua tese de doutoramento, e
montes de vezes, tinha queixas psicossomáticas. E de vez em quando, ele dizia que se sentia a
adoecer.
- “Os nosso desejos são a nossa estrela polar” – é aquilo que nos norteia, são os nossos desejos
que nos fazem sair da cama. Se não temos um norte interno, temos de ter um norte externo –
que consiste na aderência às regras sociais (aderência de superfície).
- O sujeito não foi reinvestido e por isso, não se pode construir enquanto sujeito. É como se eu
não tivesse desejos nem sonhos. Se eu não tenho desejos nem sonhos, eu não tenho norte
interno.
- Ex: Nós estamos num banco de hospital, somos médicos, e vemos entrar um indivíduo a
entrar com as tripas de fora e todo a sangrar, se eu me identificasse com um tipo semelhante a
mim eu caia para o lado… para eu o poder ajudar, tenho de o ver como um corpo e não como
um indivíduo semelhante a mim, tenho de pôr de lado a minha identificação que tenho
enquanto ser humano. Eu tenho o socorrer e por isso tenho de olhar para ele como se ele
fosse uma pedra, e não olhar para ele através dos afetos.
- Se um indivíduo entra em contacto com as suas inquietações não faz nada! Como estratégia
de sobrevivência tenho de pôr em marcha um funcionamento operatório.
- Nós podemos reconhecer em nós, aquilo que outros já reconheceram, se outros não
reconheceram em nós, nós tb não podemos reconhecer. Se dominantemente os pais não
reconhecem… a criança não acede.
- Se não houver ninguém na minha vida que se identifica comigo enquanto vítima, eu não vou
ser capaz de me identificar com a vítima que há em mim, e vou-me identificar a vida toda com
o agressor. Mais tarde, a pessoa tem uma filha, e é altamente provável que eu seja incapaz de
me identificar com a criança, e vou-me identificar com o agressor e agredi-la.
- As praxes são exercícios de poder, onde o veterano faz uma reprodução da identificação com
o agressor, e a não identificação com a vítima.
- Os judeus foram extremamente perseguidos e violentados ao longo dos séculos, e têm feito
aos palestinianos, aquilo que eles próprios viveram – identificação com o agressor, e
impossibilidade de identificação com a vítima.
- Mas porque é que há pessoas que foram tão mal tratadas e mesmo assim, são capazes de se
identificar com a vítima? Do ponto de vista social isto é mais saudável, isto acontece porque
foram capazes de encontrar dentro de si a vítima que foram, e são capazes de identificar e
identificando-se depois são capazes de se identificar com quem socorrem.
- Uma coisa é a identificação com a vítima – identificamo-nos com quem sofre, mas sendo
capazes de não nos confundirmos. Outra coisa é a incapacidade de colocar limites – sobre
proteção.
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Leitura e tópicos do artigo: “Ser único e Ter Rosto: O Binómio Resiliente” – António Coimbra
de Matos
- INTRODUÇÃO:
- Defendemos que o ser/ ter sido único e especial, exclusivo e com rosto, constitui a condição
determinante de uma auto-estima estável, forte, homogénea, ativa e com pressão suficiente.
Donde, o desenvolvimento da resiliência necessária, isto é, de uma apreciável capacidade de
voltar à forma/ estado natural depois de deformado/ alterado pelo impacto de
acontecimentos traumáticos. Daqui decorre o subtítulo: “binómio resiliente”.
- Outra história é a ligação disto, do que acabamos de expor, com a psicossomática. A nossa
hipótese/ tese, que aqui desenvolveremos, é a de que a pessoa predisposta à patologia
psicossomática não foi ou foi insuficientemente investida como indivíduo único e excecional,
desde o princípio, pelos pais. Não esteve no centro da atenção, apreço e estima destes. Não
ficou no foco dos seus olhares. Não recebeu aquele olhar apaixonado que cria a beleza do
rosto, a coesão do self e a intencionalidade do eu.
- A criança, principalmente na fase genital infantil, precisa do olhar de alguém que confira
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beleza ao seu corpo; assim como o/a adolescente vai precisar de alguém que confirme a
beleza desse mesmo corpo.
- À míngua e sem investimento narcisante e isolado que estão fica do corpo erótico – desde
logo, do afeto
– o bebe vai crescer, por um lado, anónimo, sem identidade valorizante, e por outro,
deslibidinizado, sem uma sexualidade viva e um erotismo global, que se estenda da ponta dos
pelos à medula dos ossos, difundido também por toda a mente e funções do aparelho psíquico
– um ser pragmático com uma sexualidade funcional, sem fantasia e sem emoção.
- É somente o ser exclusivo e com um rosto apreciado e amado aquele que tem acesso, não só
à identidade – diferença, como ao estatuto de alguém, a dignidade sem a qual se é apenas
ninguém. Um rosto que define e distingue, um rosto que valoriza e promove – um rosto que dá
unidade, coesão, equilíbrio e força à mente e ao corpo, um rosto que contém e ostenta a
pessoa.
- Sem essa unicidade e brilho, a pessoa não existe. Está aquém do sentimento de abandono,
antes da depressão, da perda/ carência de afeto. Ultrapassou o caos psicótico, mas não atingiu
o limiar da depressão.
DO NARCISISMO ESSENCIAL:
- O bebe/ adolescente e até adulto necessita do olhar do outro que ateste o seu valor e
competência.
- A fonte de vida humano que é o olhar amante do outro está para o sujeito como o Sol para a
Terra. Sem Sol não haveria vida biológica. Sem o olhar apaixonado do objeto não existe vida
mental.
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- Além disso, estes fatores causais derivam, emergem da relação. A relação inter-subjetiva (que
se estrutura ou não como intra-subjetiva) é que pode ser sadia, sanígena e desenvolutiva; ou
patológica, patogénica e regrediente. Pese embora, os fatores morbígenos resultem mais –
consoante os contextos e circunstâncias – da necessidade, desejo ou apelo do sujeito; ou da
atração, estímulo ou resposta do objeto.
- Há, porém, variáveis mais ou menos específicas para certos quadros clínicos ou nosológicos
dependentes da época desenvolvimental (períodos sensíveis, de janela), do estado mental de
base (psico-estática), da conflitualidade predominante (psicodinâmica), das funções mentais
em vigência, da conjuntura situacional, etc.
- O CONFORMISMO E A SOBRE-ADAPTAÇÃO
- Submissão e conformismo, por um lado, e por outro, adaptação ao real servida por uma
lógica da razão, conveniência e utilidade; vale dizer, sendo o servo e o seguidor do objeto-lei/
normal/ modelo, abdicando de qualquer autonomia (norma própria), e o certo e correto,
preciso e conciso, adequado e oportuno, objetivo.