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Psicopatologia geral II

Prof.Maria Antónia Carreiras

8º Aula Prática – 27/3

Funcionamento Psicossomático

Introdução

- Uma pessoa que está doente, se tiver uma moral alta, é natural que recupere melhor

- Quando nós não estamos bem, no ponto de vista do ânimo, mais facilmente adoecemos. Os
bebes adoecem com muita facilidade, pode ser devido ao facto de não terem adquirido
determinada imunidade nem um aparelho psíquico desenvolvido.

- O termo psicossomático, é atribuído a um Senhor chamado Heinroth, no séc 19, é um homem


que fala do impacto da moral no corpo

- F. Alexander (1950), no seguimento do trabalho de Freud, tenta descobrir um perfil


psicológico de pessoas com determinadas doenças psicossomáticas → Esta forma de pensar
caduca nos dias de hoje.

- F. Dubar (1940), avança a hipótese que haverá um funcionamento psicológico de base de


determinadas pessoas que depois adoecem com aquilo que são chamadas as psicopatologias
somáticas

- Há um terreno psicológico que promove o adoecer psicossomático

- No seguimento destes trabalhos surge a obra de P. Marty (1963), que se dedica à escola
psicossomática de Paris. Pode-se pensar que há um aparelho psíquico que se construiu de uma
certa maneira, que favorece a quando o sujeito vive dramas, o corpo descarrega este
sofrimento. E porque é que se pensa isto? Porque muito dos indivíduos que adoecem com
doenças psicossomáticas, do ponto de vista comportamental, parecem apresentar
determinados comportamentos (é como se estes sujeito tivessem dificuldade em utilizar frases
no pessoal, e utilizar ressonância emocional).

Características Principais

- Expressam-se no geral, de forma desprovida de afeto. Por ex: Vamos a um restaurante


almoçar, o restaurante apresenta uma ementa com vários pratos, se se colocar de lado a
vertente económica, escolhe-se aquilo que dentro daquilo que gostamos, o que nos apetece…
é como se o indivíduo, não fosse capaz de fazer esta escolha, ou seja, como se não pudesse
sentir aquilo que lhe apetece. AUSÊNCIA de ressonância emocional – o seu discurso é banal.

- P.s.: Não existem hoje em dia determinadas doenças que se classifiquem como
psicossomáticas, tudo pode ser psicossomático, depende do aparelho psíquico

- Funcionamento operatório: é o nome dado a esta forma de estar (P. Marty). São indivíduos
com dificuldade de expressar o seu vivido emocional, dificuldade em usar o pronome pessoal,
dificuldade em falar de dentro de si, dificuldade em sentir-se, em refletir-se. O que é que pode
resultar daqui? Indivíduos, aparentemente, extremamente adaptados, hiper-adaptados. Se
não encontram o seu desejo, os seus sonhos, imaginam o que os outros querem dele, a
maneira de se organizarem baseia-se naquilo que o mundo social espera deles → daqui surge a
sua hiper adaptabilidade, e que terão (apesar da discussão de determinados autores)
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dificuldade em sonhar (sonhar a dormir… não sonham)!

- Já Sami Ali, considera que estes sujeitos têm grande atividade onírica, mas que há períodos
onde domina o recalcamento da função do imaginário, e é nesses períodos que vem a doença.

- Paciente restringido aos fatos e objetos. Não há libido (sem desejo). Está preso no factual e
no acontecimento. Aparentemente são muito adaptados e conformistas. Esta super boa
adaptação, mostra possuírem identificações superficiais com o outro (não há afetos, P. Marty,
fala numa relação branca – sem expressão de afetos, sem desejos). P. Marty tb levanta a
hipótese de estar subjacente uma depressão, mas uma depressão que não é expressa pelo
sujeito – ele não diz que está triste e que lhe falta algo – é como se ele próprio não tivesse
consciência, P. Marty diz que estes sujeito apresenta uma depressão essencial (não é uma
depressão normal).

- (base disto) É como se o sujeito não tivesse sido mobilizado na relação com o outro, como se
ele próprio não tivesse sido chamado pelo afeto do outro.

- “eu sou um sem nome, eu sou para ser, eu era sem nome até que falasses comigo (até que o
sujeito lhe entoa uma interioridade, o sujeito não tem nome)”

- O mais comum nas mães à nascença é dizer: “O que é bebe?” → Quando uma mãe diz isto,
ela está a perceber o seu bebe como uma outra, que não é ela, se eu não me visse diferente do
meu bebe eu não lhe perguntava isto.

- Se eu imponho o meu ritmo, ao ritmo da criança, eu não lhe estou a dar voz.

- As pessoas funcionam num registo psicossomático, que funcionam como pessoas sem
subjetividade, se calhar todos nós em determinados momentos da nossa vida funcionamos
neste registo. A que P. Marty chama registo operatório – comportamentos que nós
imaginamos que subjacente a isto não há mais subjetividade investida e desenvolvida. Pode
haver indivíduos que funcionam dominantemente neste registo, e há outros que não
funcionam dominantemente neste registo, mas em períodos da sua vida têm de recorrer a
este registo. Este registo pode ser chamado de Registo de sobrevivência.

- Provavelmente todos nós já vivemos situações mais prolongadas e intensas (ou não), que nós
não podemos sentir, se sentimos, não sobrevivemos.

- A fala destes sujeitos é quase sempre sobre o corpo: o corpo tem voz, a alma não tem voz!
Pode-se pensar que isto também tem haver com a cultura – A cultura disponibiliza
instrumentos para nos expressarmos, um deles é a linguagem. Podemos imaginar a cultura
como uma “mãe” – a nossa cultura é uma cultura onde os males e os espíritos não são muito
bem aceites, se eu estou infeliz e me sinto mal para trabalhar, pergunto-me porquê. Também
a nossa cultura, não valoriza muito os estados de espírito, se não valoriza, eu ao falar de mim
vou recorrer aos instrumentos da própria cultura – nomeadamente a linguagem. Ex: Num
centro de saúde, dominantemente vemos pessoas de uma certa idade a queixarem-se do seu
corpo.

- As pessoas com doenças crónicas, ex: cancro, este diagnóstico é muito forte, tem de fazer
tratamentos, cirurgias, etc – durante um período prolongado. Durante este tempo, a pessoa
não pode sentir, e por isso, a pessoa tem é que cumprir os tratamentos, não manifestar a
menor falta de esperança, tem de agir… tem de ir para a frente… muitas vezes, é só quando o
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drama está ultrapassado é que a pessoa volta a sentir – “não quero sentir”! Se começa a sentir
antes da recuperação, pode não se tratar → Estratégia de sobrevivência. Os próprios familiares
de quem vivencia esta luta, tb podem usar esta estratégia.
Funcionamento dominante vs funcionamento não dominante

- Funcionamento dominante – onde surge uma depressão essencial, como se o sujeito não
tivesse encontrado situações ideais para construir a sua subjetividade, que tem relação com o
investimento pelo qual a pessoa foi alvo, que vai desencadear o seu investimento nos outros.

- Funcionamento não dominante - onde encontramos estratégias de sobrevivência,


nomeadamente em situações extremas, ou em casos de excesso de angústias.

- Ex: clínica que tinha vários médicos; um médico tava a fazer a sua tese de doutoramento, e
montes de vezes, tinha queixas psicossomáticas. E de vez em quando, ele dizia que se sentia a
adoecer.

Porque surge o funcionamento psicossomático? - hipótese: incapacidade de construir e


desenvolver a nossa subjetividade

- “Os nosso desejos são a nossa estrela polar” – é aquilo que nos norteia, são os nossos desejos
que nos fazem sair da cama. Se não temos um norte interno, temos de ter um norte externo –
que consiste na aderência às regras sociais (aderência de superfície).

- O sujeito não foi reinvestido e por isso, não se pode construir enquanto sujeito. É como se eu
não tivesse desejos nem sonhos. Se eu não tenho desejos nem sonhos, eu não tenho norte
interno.

- Ex: Nós estamos num banco de hospital, somos médicos, e vemos entrar um indivíduo a
entrar com as tripas de fora e todo a sangrar, se eu me identificasse com um tipo semelhante a
mim eu caia para o lado… para eu o poder ajudar, tenho de o ver como um corpo e não como
um indivíduo semelhante a mim, tenho de pôr de lado a minha identificação que tenho
enquanto ser humano. Eu tenho o socorrer e por isso tenho de olhar para ele como se ele
fosse uma pedra, e não olhar para ele através dos afetos.

- Se um indivíduo entra em contacto com as suas inquietações não faz nada! Como estratégia
de sobrevivência tenho de pôr em marcha um funcionamento operatório.

- Há um psicanalista Francês, que fala de um conceito chamado: “assassinato da alma”; ele


contou uma cena que observou várias vezes no bosque de Bolonha, que chegou a descrever.
Os pais que vão com um menino passear para o bosque, e a dada a altura o menino vê umas
folhas e uma formiga e põe-se a olhar para aquilo, e os pais acham que ele está distraído,
então os pais escondam-se por trás das árvores, e o menino continua a brincar, a dada altura
acaba, olha, não vê os pais e fica muito aflito! Os pais ficaram a ver a aflição do filho, e depois
aparecem de trás das árvores a rirem-se e a dizer: “então filho, nós estamos aqui…” → Coisas
deste tipo, chamam-se assassinatos da alma, consiste neste estado de aflição; quando os pais
reencontram a criança, os pais não reconhecem a aflição do filho e ridicularizam, o miúdo
tinha um determinado estado de alma que viveu, mas os pais não o reconheceram → A criança
viveu coisas, e isso não foi reconhecido, como se este lado dele não tivesse direito à existência.
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- Nós podemos reconhecer em nós, aquilo que outros já reconheceram, se outros não
reconheceram em nós, nós tb não podemos reconhecer. Se dominantemente os pais não
reconhecem… a criança não acede.

- Por ex: No mecanismo defensivo – identificação com o agressor – eu sou pequenina e


dominantemente o meu pai bate-me, porque está chateado e etc, se eu pensar que do ponto
de vista cognitivo o pensamento da criança é egocêntrico, do ponto vista emocional também é
assim. Por isso, se eu sou pequenina o meu pai me bate e eu não sei porquê, a criança vai
pensar que ela é a culpada! Porque a criança no geral, idealiza os pais, e por isso atribui-lhes
sempre a razão. Portanto se o pai lhe bate, o pai tem razão! E nisto, a criança identifica-se com
o pai! A criança identifica-se com o agressor, e não é capaz de se identificar com a vítima que
eu sou.

- Se não houver ninguém na minha vida que se identifica comigo enquanto vítima, eu não vou
ser capaz de me identificar com a vítima que há em mim, e vou-me identificar a vida toda com
o agressor. Mais tarde, a pessoa tem uma filha, e é altamente provável que eu seja incapaz de
me identificar com a criança, e vou-me identificar com o agressor e agredi-la.

- As praxes são exercícios de poder, onde o veterano faz uma reprodução da identificação com
o agressor, e a não identificação com a vítima.

- Os judeus foram extremamente perseguidos e violentados ao longo dos séculos, e têm feito
aos palestinianos, aquilo que eles próprios viveram – identificação com o agressor, e
impossibilidade de identificação com a vítima.

- A nossa subjetividade constrói-se e desenvolve-se porque outros nos imaginaram e


contribuíram para a construção e desenvolvimento da nossa subjetividade e isto é um longo
processo. A nossa subjetividade pode estar em constante desenvolvimento. Em todos nós há
áreas não nascidas, à espera de nascer.

- Mas porque é que há pessoas que foram tão mal tratadas e mesmo assim, são capazes de se
identificar com a vítima? Do ponto de vista social isto é mais saudável, isto acontece porque
foram capazes de encontrar dentro de si a vítima que foram, e são capazes de identificar e
identificando-se depois são capazes de se identificar com quem socorrem.

- Uma coisa é a identificação com a vítima – identificamo-nos com quem sofre, mas sendo
capazes de não nos confundirmos. Outra coisa é a incapacidade de colocar limites – sobre
proteção.
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Leitura e tópicos do artigo: “Ser único e Ter Rosto: O Binómio Resiliente” – António Coimbra
de Matos

- INTRODUÇÃO:

- Da ausência de rosto à depressão falhada:

- O rosto é, de facto, o que socialmente nos identifica. É a fotografia do rosto – e de face – a


que se apõe no Bilhete de Identidade; assim como é o rosto aquilo que se esconde quando não
queremos ser reconhecidos.

- “Dar a cara” quer dizer expormo-nos e assumir a responsabilidade. Os traços e expressões do


rosto evidenciam a nossa personalidade própria; pois o processo de personalização deixa a sua
marca na face, dizendo quem somos. Por isso, vamos afirmar, em determinada altura da nossa
conferência, que “temos cara e não focinho (como os bichos)”.

- Defendemos que o ser/ ter sido único e especial, exclusivo e com rosto, constitui a condição
determinante de uma auto-estima estável, forte, homogénea, ativa e com pressão suficiente.
Donde, o desenvolvimento da resiliência necessária, isto é, de uma apreciável capacidade de
voltar à forma/ estado natural depois de deformado/ alterado pelo impacto de
acontecimentos traumáticos. Daqui decorre o subtítulo: “binómio resiliente”.

- Outra história é a ligação disto, do que acabamos de expor, com a psicossomática. A nossa
hipótese/ tese, que aqui desenvolveremos, é a de que a pessoa predisposta à patologia
psicossomática não foi ou foi insuficientemente investida como indivíduo único e excecional,
desde o princípio, pelos pais. Não esteve no centro da atenção, apreço e estima destes. Não
ficou no foco dos seus olhares. Não recebeu aquele olhar apaixonado que cria a beleza do
rosto, a coesão do self e a intencionalidade do eu.

- Este indivíduos encontram-se aquém da depressão. Nos momentos de crise/


descompensação, não se deprime mentalmente, faz uma depressão falhada: uma depressão
sem depressão (psiquica) com abatimento (depressão) das funções biológicas, sobretudo ao
nível do aparelho imunitário, com perturbação dos sistemas auto-reguladores neuro-
endócrinos e instintivo-efetivos.

- Nos períodos intercríticos, a personalidade psicossomática tece-se à custa de um processo


defensivo de traço obsessivo-maniaca com isolamento/ supressão da capacidade de leitura
emocional – pensamento operatório, esforço adaptativo (de cariz maníaco), alexitimia. Não
tem “rosto interno” (psíquico) para poder imaginar, sentir, amar, chorar; criar; escolher e
decidir – e ser ouvido, eleito e acatado.

- DO NASCISISMO DAS DIFERENÇAS:

- “O homem é um animal narcísico”.

- A criança, principalmente na fase genital infantil, precisa do olhar de alguém que confira
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beleza ao seu corpo; assim como o/a adolescente vai precisar de alguém que confirme a
beleza desse mesmo corpo.

- À míngua e sem investimento narcisante e isolado que estão fica do corpo erótico – desde
logo, do afeto

– o bebe vai crescer, por um lado, anónimo, sem identidade valorizante, e por outro,
deslibidinizado, sem uma sexualidade viva e um erotismo global, que se estenda da ponta dos
pelos à medula dos ossos, difundido também por toda a mente e funções do aparelho psíquico
– um ser pragmático com uma sexualidade funcional, sem fantasia e sem emoção.

- É somente o ser exclusivo e com um rosto apreciado e amado aquele que tem acesso, não só
à identidade – diferença, como ao estatuto de alguém, a dignidade sem a qual se é apenas
ninguém. Um rosto que define e distingue, um rosto que valoriza e promove – um rosto que dá
unidade, coesão, equilíbrio e força à mente e ao corpo, um rosto que contém e ostenta a
pessoa.

- Sem essa unicidade e brilho, a pessoa não existe. Está aquém do sentimento de abandono,
antes da depressão, da perda/ carência de afeto. Ultrapassou o caos psicótico, mas não atingiu
o limiar da depressão.

- A defesa é muitas vezes o funcionamento obsessivo-maníaco - A ordem e a eficiência, em


conjunção ou união conjuntiva com a adaptação esforçada. Outras, como o acting-out, a
patologia do agir, operando ações fora, no exterior, para impedir, esvaziar de energia,
intencionalidade e sentido, ações/ destruições dentro, o acting-in.

- A personalidade psicossomática, isto é, a pessoa predisposta a padecimentos


psicossomáticos, tem, desde a tenra infância, dificuldade de distinguir o rosto/ rostos
familiares: próximo do psicótico autista, o psicossomático teria uma reduzida angustia perante
o estranho, ou melhor, investe de uma forma quase igualitária todos os objetos (pessoas),
familiares e estranhos.

- Mais precisamente, e em particular para o psicossomático, nenhum rosto (nem o da mãe ou


amante) é suficientemente interessante e fascinante. Talvez seja verdade; mas supomos que o
fenômeno principal, e causa, é o oposto: não foi investido diferenciada e privilegiadamente – o
seu rosto não foi distinguido (e só o amor distingue), não é uma cara mas um focinho.

DO NARCISISMO ESSENCIAL:

- O bebe/ adolescente e até adulto necessita do olhar do outro que ateste o seu valor e
competência.

- É esta relação interior (vínculo L, de love) que preside ao nascimento e desenvolvimento da


vida mental. É esta relação constante que gera o narcisismo essencial. Este narcisismo
essencial é o cimento e o fermento da estrutura e da atividade da pessoa.

- A fonte de vida humano que é o olhar amante do outro está para o sujeito como o Sol para a
Terra. Sem Sol não haveria vida biológica. Sem o olhar apaixonado do objeto não existe vida
mental.
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ENQUADRAMENTO DA PATOLOGIA PSICOSSOMÁTICA

- “A família humana é a primeira família bifocal. O mito cristalizador é o da Sagrada Família


com o Menino Jesus.”

- Os fatores afetivo-relacionais implicados na etiologia e patogenia do adoecer psicossomático


são idênticos aos de toda a patologia mental de natureza relacional, entenda-se em que o
início do, percurso e resolução se articulam com as vicissitudes da relação.

- Além disso, estes fatores causais derivam, emergem da relação. A relação inter-subjetiva (que
se estrutura ou não como intra-subjetiva) é que pode ser sadia, sanígena e desenvolutiva; ou
patológica, patogénica e regrediente. Pese embora, os fatores morbígenos resultem mais –
consoante os contextos e circunstâncias – da necessidade, desejo ou apelo do sujeito; ou da
atração, estímulo ou resposta do objeto.

- Há, porém, variáveis mais ou menos específicas para certos quadros clínicos ou nosológicos
dependentes da época desenvolvimental (períodos sensíveis, de janela), do estado mental de
base (psico-estática), da conflitualidade predominante (psicodinâmica), das funções mentais
em vigência, da conjuntura situacional, etc.

- A janela da estruturação do narcisismo primordial situa-se mais ou menos entre os 3 e os 8


meses. Inicia-se com a resposta ao sorriso da figura de vinculação; esbate-se com o
aparecimento das primeiras reações de vergonha – a dobra narcísica, a partir da qual se
começa a esboçar a consciência narcísica com o desenvolvimento dos sentimentos de ridículo,
a típica ansiedade narcísica, o medo de ser risível, objeto de troça; o que porém só atinge o
desenvolvimento pleno na fase genital precoce (18-36 meses).

- O conflito psíquico predominante é entre o desejo e o medo – do objeto.

- A conjuntura é a de relação binária. Não chegou ainda à triangulação, com apreensão da


relação entre os outros. Está numa relação entre os outros. Está numa relação angular ou
bifocal, que se segue à relação linear com a mãe.

- O CONFORMISMO E A SOBRE-ADAPTAÇÃO

- Submissão e conformismo, por um lado, e por outro, adaptação ao real servida por uma
lógica da razão, conveniência e utilidade; vale dizer, sendo o servo e o seguidor do objeto-lei/
normal/ modelo, abdicando de qualquer autonomia (norma própria), e o certo e correto,
preciso e conciso, adequado e oportuno, objetivo.

- Desenvolvimento alternativo, que constitui um desvio desenvolvimental: conformismo-


adaptação; é dizer, sujeição à lei do objeto (heteronomia), sujeição à razão lógica e
experimental. Nenhum (ou muito pouco) espaço para o desejo próprio, assim como para a
fantasia e lógica dos afetos (a razão do coração).

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