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Psicopatologia geral II

Prof. Maria Antónia Carreiras

6º Aula Teórica – 13/3

- Psicose:

- Sujeito COM profundidade emocional. Funcionamento dominante do psicótico é o


funcionamento psicótico – indivíduo completamente estranho para nós

- A sua relação com a realidade é outra. O que é a realidade? A realidade existe? – Para nós
seres humanos, a realidade é a realidade percebida e construída por nós. A realidade que nós
captamos tem relação com os nossos órgãos sensoriais, com o nosso cérebro e com a nossa
mente (há coisas que valem muito para nós, devido ao nosso vivido emocional)

- Se nós tivéssemos todo o rosto com olhos, a nossa realidade seria diferente. Esta realidade é
baseada naquilo que o nosso corpo nos permite vivenciar

- Para nós – indivíduos “normais” – temos a ideia que existe determinadas vivências que são
nossas, da nossa cabeça… Ex: dormi mal, e estou rabugenta, e por isso, vejo coisas nos outros
que não têm haver com os outros, mas sim comigo. Há coisas que são nossas e que estão a ser
construídas por nós, e nós colocamos fora… mas são nossas!

- Um individuo cujo funcionamento dominante é o psicótico, sente que aquilo que se passa à
volta dele tem haver com os outros. Tudo é “culpa” do outro. Um individuo “normal”, tem um
espaço mental que lhe permite perceber o dentro e o fora. O individuo psicótico não tem uma
delimitação definida, não há o dentro e o fora – está tudo em continuidade.

- O psicótico vive por ele próprio, grandes angústias (ao contrário do autista, que foge destes
vividos para evitar o horror).

- Para o psicótico a representação da coisa é a coisa! Uma criança dita “normal” pode pegar
numa caixa de óculos e fingir que é um carrinho, contudo, para os psicóticos aquelas caixa de
óculos é mesmo um carro! Neste caso, não há a representação e a coisa, uma coisa é uma
coisa!

- A vida para o psicótico, é uma coisa absolutamente dramática, do ponto de vista da relação
consigo, com os outros e com o objeto. Vive angústias horríveis, e por isso, para sobreviver
também desenvolve estratégias defensivas que lhe permite desenvolver.

- Não há uma etologia certa! Certamente, não existe apenas uma etologia. É possível que
existam variáveis do foro genético, biológico e neurológico. Pode ser tb devido a variáveis
relacionais, ou ainda interação de todas estas variáveis. Há meios protetores e outros que
favorecem o desencadear do sofrimento.

- Enquanto psicólogos, tentamos imaginar, compreender e ajudar.

- Ponto de vista da sintomatologia:

Na generalidade:

1. Transformação radical da relação com a realidade

2. Modificação profunda da identidade

3. Sujeito estranho para quem está de fora


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4. Não raciocina como o sujeito “normal”

5. Não reconhece as mesmas escalas de prejuízo, as mesmas modalidades de abordagem do


mundo, os mesmos códigos sociais, as mesmas lógicas do pensamento

- Tudo isto mergulha o sujeito em grandes confusões e em locais de grande aflição

- Perante isto tem que formar estratégias para poder funcionar de outra maneira. Estes
sujeitos muitas vezes estão num enorme sofrimento, podem tornar-se muito agressivos,
desorganizados e podem ficar hospitalizados.

- A ligação com a realidade é parcialmente abolida, podem construir uma “neo-realidade” –


realidade própria – na qual incluímos delírios e alucinações – relação com os seus dramas.
Estes delírios podem ser mais organizados (paranoides) ou desorganizados.

- Os delírios podem ser de perseguição, de grandeza… depende do sofrimento do sujeito. São


absolutamente verdade para o sujeito → Despersonalização; Desrealização

- Podem tornar-se muito auto-agressivos ou muito hétero-agressivos

- As alucinações não têm propriamente relação com o aparelho sensorial – esse não é o
problema! O problema é o valor que se dá à sensação – maximiza a sensação. Qnd o sujeito
está a ter alucinações, ele vive aquilo como absolutamente real. Se o sujeito tem muitas
alucinações pode ser importante, medicar-se.

- O sujeito é invadido por angústias. É-lhe extremamente difícil lidar com o conflito. As coisas
ou são boas ou são más – difícil integrar os diferentes aspetos que a realidade pode ter. Não é
capaz de lidar com o conflito nem de elaborar o conflito. O seu mundo interno é dividido por
angústias terríveis, o mundo fica confuso e desorganizado. E para organizá-lo recorre a
estratégias defensivas

- Estratégias defensivas:

1. Clivagem – Alguma organização da experiência em algumas características. Ou é tudo bom,


ou é tudo mau. Não há relação com registos saudáveis. Há partes de si onde o sujeito não
entra em contacto de todo. Pode ser em relação a objetos externos, ou pode ser em relação a
si próprio. Apesar de a distinção entre objeto e si próprio, não existe no psicótico.

2. Idealização – Tornar muito positivo certos objetos e certas partes de si que tem subjacente a
clivagem e a projeção. Transformação de algo – aspetos de mim próprio, por exemplo – em
algo muito bom! “O objeto é extremamente bom e perfeito, eu próprio tb sou perfeito”.
Facilmente pode surgir o reverso desse objeto perfeito e parte de mim ótima, que vira
absolutamente desastrosa, contudo, para ser idealização o sujeito vive o polo positivo naquele
momento. (apesar de ser fácil passar para o outro polo).

3. Projeção - há coisas que eu estou a viver que são insustentáveis para mim, então eu ponho
fora de mim. Contudo, o que eu ponho fora de mim tb está dentro de mim. Tanto posso pôr
fora de mim coisas terríveis, como boas.

4. Movimentos de omnipotência – eu sou o maior, eu sou o salvador do mundo, eu consigo –


que no fundo, isto revela a existência de sentimentos totalmente contrários – desvalido, não
prestar, pequenez. (para cobrir o oposto).
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- Este funcionamento altamente perturbado – este imenso sofrimento – pode surgir na


criança. Normalmente, a criança dita psicótica é uma criança que tem um percurso de
desenvolvimento, onde nos seus primeiros anos de vida, parece estar tudo bem –
aparentemente. Tb podemos pensar que este “está tudo bem”, pode ter ligação com a
perceção dos seus cuidadores. Qd os recursos deixam de existir, a criança desorganiza-se e
depois reorganiza-se num registo psicótico. Ex: criança que parece que está tudo bem, e esta
mesmo criança vai para o jardim de infância e começa a ficar muito angustiada e
desorganizada, e começa a parecer que algo não está bem, os recursos que ela construiu não
são suficientes para esta mudança, e ela apresenta-se super desorganizada, e organiza-se
através de estratégias defensivas.

- O que é que encontramos na criança psicótica? Tudo o que encontramos no ponto de vista
geral. Dificuldade nos limites entre o dentro-fora e o fora dentro, crianças que manifestam
angústias muito grandes, desorganizações muito grandes, delírios e alucinações, relação com o
outro totalmente alterada, linguagem afetada e o seu funcionamento cognitivo também.

- Algo que em geral na psicose da criança pequenina, são as suas dificuldades de separação –
desorganizações brutais de quando é separada de figura de preferência, mas também a sua
dificuldade de aproximação. Ou seja, não está bem longe mas também não está bem perto. A
criança não construiu recursos para estar longe da mãe/ figura de referência e daqui vão surgir
reações brutais à separação, contudo, na aproximação também vai sentir angústias, com o
medo de quem se aproxima lhe poder fazer mal.

- A criança psicótica afasta-se e fica numa angústia porque perdeu e se se aproxima tem receio
de ficar confundida e que o outro seja agressivo.

- Nós podemos pensar que no psicótico já há alguma diferenciação do eu e do outro, no autista


não existe esta diferenciação, ou seja, há todos os esforços para não se detetar esta
diferenciação. Um das hipóteses que tustin levante em relação à criança autista, é que esta
criança se apercebe cedo demais que o corpo da mãe não está na continuidade do seu corpo,
e a criança apercebe-se disto mesmo muito cedo. E é face a esta pré-perceção que cria
estratégias violentíssimas para não perceber esta indiferenciação. No psicótico, já há alguma
diferenciação. O autismo é mais grave porque as estratégias que o individuo utiliza para
sobreviver são estratégias de grande rigidez e inflexibilidade – sujeito com pouca/nula
capacidade para se adaptar a ele próprio e ao mundo. Na criança, as estratégias autisticas
bloqueiam o seu desenvolvimento.

- (1). Esquizofrenia:

- (GB) - Fatores genéticos têm um grande papel no desenvolvimento da esquizofrenia.

- (GB) - Existe a probabilidade de haver alguma heterogeneidade genética - em outras palavras,


existe provavelmente mais de um gene defeituoso envolvido, e mais de um quadro genético
subjacente ao transtorno.

- (GB) - Fatores ambientais também parecem estar envolvidos no desenvolvimento da


esquizofrenia, embora ainda não exista um consenso a respeito da natureza exatà dessas
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agressões ambientais.

- (Apontamentos psicopatologia ao longo do ciclo da vida - Erasmus) - Fatores de risco de


esquizofrenia: 1. História familiar; 2. Nascimento inversal; 3. Urbanicidade; 4. Uso de cannabis;
5. Traumas de infância: separação familiar precoce; funcionamento familiar.

- (GB) - Provavelmente não mais do que 10% dos pacientes esquizofrênicos são capazes de ter
um bom funcionamento por meio do uso de uma abordagem de tratamento que consista
apenas em medicação antipsicótica e hospitalização breve

- (GB) - Não existe um tratamento da esquizofrenia. Todas as intervenções terapêuticas devem


ser adaptadas às necessidades singulares de cada paciente em especial.' A esquizofrenia é uma
doença heterogênea, com manifestações clínicas multiformes:

- No Adulto, a esquizofrenia é diagnosticada na adolescência, e no geral os sintomas são:

1. O indivíduo sente-se mal e não sabe porquê: pode ser de um ponto de vista somático, sente-
se mal sem saber descrever.

2. Não se compreende e os outros não o compreendem, e leva a isolar-se

3. Falhas do ponto de vista cognitivo

4. Sono afetado – não consegue dormir, e passa a isolar-se

- (GB) - Uma organização útil da sintomatologia descritiva da doença pode ser feita em três
grupos: 1) sintomas positivos, 2) sintomas negativos e 3) relações interpessoais doentes.
Alguns propõem que o terceiro grupo deve compreender sintomas de desorganização mental
ou cognitiva.

- (GB) - Os sintomas positivos incluem distúrbios do conteúdo do pensamento (como delírios),


distúrbios da percepção (como alucinações) e manifestações comportamentais (como
catatonia e agitação), que se desenvolvem em um curto espaço de tempo e com freqüência
acompanham um episódio psicótico agudo.

- Os sintomas negativos da esquizofrenia são melhor categorizados como uma “ausência” de


função. Tais sintomas negativos incluem afeto restrito, pobreza de pensamento, apatia e
anedonia. Os pacientes nos quais predomina um quadro de sintomatologia negativa podem
ser caracterizados por uma série de padrões que sugerem anormalidade da estrutura cerebral,
incluindo pobre ajustamento pré-mórbido, baixo desempenho escolar, maior dificuldade de
manter-se em empregos, início da doença em idade precoce e dificuldades pré-mórbidas no
funcionamento social e instrumental.

- (GB) - Relações doentes: retraimento, expressões inadequadas da agressão e sexualidade,


falta de consciência das necessidades dos outros, excessiva solicitação e incapacidade de fazer
contactos significativos com outras pessoas.
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- (GB) - Compreensão psicodinâmica da esquizofrenia -

- (GB) - Freud estava convencido que de que a esquizofrenia era caracterizada por uma
descatexia de objetos. Por vezes ele utilizou esse conceito de descatexia para descrever um
despreendimento do investimento emocional ou libidinal das representações objetais
intrapsíquicas; em outros momentos, empregou o termo para descrever o retraimento social
em relação às pessoas reais do ambiente (O que é catexia: catexia, que se referia à quantidade
de energia ligada a qualquer estrutura intrapsíquica ou representação objetal). Por vezes ele
utilizou esse conceito de descatexia para descrever um despreendimento do investimento
emocional ou libidinal das representações objetais intrapsíquicas; em outros momentos,
empregou o termo para descrever o retraimento social em relação às pessoas reais do
ambiente

- (GB) - Freud definiu esquizofrenia como uma regressão em resposta à intensa frustração e
conflito com os outros. Tal regressão das relações de objeto para um estágio auto-erótico de
desenvolvimento foi acompanhada por um retraimento do investimento emocional nas
representações objetais e figuras externas, o que explicou a aparência de retraimento autista
dos pacientes esquizofrênicos. Freud (1914/1963) postulou que a catexia do paciente foi,
então, reinvestida no self ou no ego.

- (GB) - Freud considerava a psicose como um conflito entre o ego e o mundo externo. A
psicose envolvia uma negação e um subseqüente remodelamento da realidade. Apesar dessa
revisão, Freud continuou a falar do retraimento da catexia e de seu reinvestimento no ego. Ele
empregou o retraimento da catexia do objeto para explicar sua observação de que,
comparados aos pacientes neuróticos, os esquizofrênicos eram incapazes de desenvolver
transferências.

- (GB) - Já Harry Stack Sullivan, dedicou a sua vida ao tratamento da esquizofrenia e tinha
ideias e chegou a conclusões muito diferentes das de Freud. Ele acreditava que a etiologia da
doença era resultado de dificuldades interpessoais precoces (principalmente na relação pais-
criança) e definiu o tratamento como um processo interpessoal de longo prazo que tentava
abordar esses problemas precoces.

- (GB) - Já Sullivan, acreditava que a falha na maternagem produzia no bebê um self carregado
de ansiedade e o impedia de ter suas necessidades satisfeitas. Tal aspecto da experiência do
self era, então, dissociado, mas o prejuízo à auto-estima era profundo. Na visão dele o início da
doença esquizofrênica, era o ressurgimento do self dissociado que levava a um estado de
pânico e à conseqüente desorganização psicótica.

- (GB) - Frieda Fromm-Reichmann (1950), enfatizou que as pessoas esquizofrênicas não são
felizes em seu estado de retraimento. Elas são fundamentalmente pessoas solitárias que não
conseguem superar seu medo e desconfiança dos outros em função de experiências adversas
da vida.

- (GB) - Federn não concordava com a afirmativa de Freud de que a catexia do objeto era
retraída na esquizofrenia. Em vez disso, Federn enfatizou o retraimento da catexia dos limites
do ego. Ele observou que os pacientes esquizofrênicos caracteristicamente não possuem
barreira entre o que é interno e o que é externo, pois os limites de seu ego não têm mais
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investimento psicológico (como ocorre nos pacientes neuróticos).

- (GB) - Muitas dessas formulações psicanalíticas iniciais criaram profundas dificuldades entre
os clínicos que tratavam pacientes com esquizofrenia e as famílias destes pacientes.
Expressões como mãe esquizofrenizante geraram uma atmosfera na qual as mães se sentiam
acusadas de causar esquizofrenia em seus filhos.

- (GB) - Diversas configurações psicológicas refletem a interface entre o neurobiológico e o


psicológico. Começou-se mais tarde a estudar a vertente mais biologica de forma a perceber a
verdadeira origem da esquizofrenia…

- Mais tarde, é pedido ajuda, devido aos níveis de angústia elevados, alucinações, atividades
delirantes pouco organizadas.

- Delírio pouco organizado e pouco consistente = as narrativas do delírio não são consistentes,
podem ser diversas, e estas narrativas não se mantêm constantes.

- Delírio paranóide = onde para quem está de fora, pode chegar a pensar que aquilo é verdade.

- O sujeito esquizofrénico é mais indiferenciado do que o paranóide.

→ Se imaginarmos uma escala da maior indiferenciação psíquica – desde o mais patológico até
ao mais perto de saúde, existe a seguinte ordem:

1. Esquizofrenia
2. Paranoico
3. Psicose maníaco-depressivo (bipolaridade)
4. Melancolia

6º Aula Prática – 13/3

Apresentação do filme: “Uma mente brilhante”

Tema: Esquizofrenia (Psicose)

Sintomas:

Alteração de perceção: ilusões, alucinações psico sensoriais

Alteração de pensamento: alteração do curso e do conteúdo

Alterações do afeto: euforia, anedonia, apatia, afeto restritivo, alteração sexual secundária

Sintomas positivos e negativos: classificação, evolução

Análise:

- Os delírios surgiram devido a uma gigante frustração pelo facto de a sua paixão não ter sido
valorizada, daí ter criado o mecanismo de defesa, formando uma neo-realidade – com os
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delírios. Esta neo-realidade permiti-o ser reconhecido. No delírio dele, ele está a fazer uma
missão secreta para descodificar umas mensagens – e por isso, todo o seu tempo é gasto neste
delírio

Leitura e tópicos do artigo: “Fear of Breakdown” - Winnicott

- Winnicott designa pacientes cujas angústias são de natureza psicótica (fragmentação,


anulação, queda sem fim...), ao mesmo tempo que uma construção psiconeurótica
suficientemente elaborada lhes permite enfrentar as injunções da realidade.

- BREAKDOWN

- Colapso, portanto. Esse termo traduz breakdown. É a ideia de um enguiço, de uma ruptura de
mecanismo; termo que, em inglês, pode também descrever a saúde que se altera, a razão que
se ensombrece ou uma irrupção brusca de lágrimas.

- Esta última conotação ameaça inflectir excessivamente a versão francesa do termo:


rapidamente desliza-se de "s'effondrer" [desmoronar] para "fondre en larmes" [desmanchar-
se em lágrimas], quando a "queda" do breakdown pode ainda terminar no silêncio, no vazio,
no branco...

- AGONIAS PRIMITIVAS

- No coração dessa experiência de desmoronamento surge aquilo que Winnicott denomina


primitive agonies, que habitual e literalmente se traduz por "agonias primitivas".

- Em francês, compreende-se melhor o termo se a etimologia não ficar esquecida: "agon" é a


luta, o combate. A "agonia primitiva" condensa a ideia do desamparo, do desamparo extremo,
e a de um combate, de uma primeira resposta contraposta ao perigo.

- Quer digamos agonia ou desamparo, é preciso observar que o que esses termos procuram
circunscrever é um espaço psíquico situado além da angústia. Será que se trata de um além
qualitativo, designando um afeto de outra natureza, ou de um além quantitativo, significando
a forma extrema da angústia? Deixaremos a questão em aberto.

- Neste texto Winnicott descreve várias angústias, angústias essas primitivas, que podemos
imaginar subjacentes ao sofrimento autístico e psicótico

7º Aula Teórica – 20/3

→ Se imaginarmos uma escala da maior indiferenciação psíquica – desde o mais patológico até
ao mais perto de saúde, existe a seguinte ordem:

1. Esquizofrenia
2. Paranoico
3. Psicose maníaco-depressivo (bipolaridade)
4. Melancolia
- (1) Esquizofrenia - aula anterior.

- Na (2) paranoia começa a esboçar-se alguma diferenciação entre si e o mundo (continuamos


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no funcionamento psicótico – enquanto na esquizofrenia há indiferenciação, aqui já existe


algum esboço de diferenciação). O indivíduo necessita de controlar o outro do qual ele se
começa a diferenciar

- Ex: eu acho que há um conjunto de pessoas que me querem fazer mal, e por isso eu tenho de
impedir que elas me façam mal – e por isso, eu vou ser híper-vigilante para poder escapar, e
daí vou acabar por controlar o outro) – usa o delírio de carater persecutório – delírios
organizados e coerentes.

- Enquanto na esquizofrenia o sujeito não está diferenciado do outro, neste caso já existe
diferenciação – apesar de esta diferenciação ser fonte de alto sofrimento.

- (GB) - O pensamento paranóide não é por si só patológico. A posição esquizoparanóide é um


modo básico de experiência de organização que persiste na psique humana por todo o ciclo
vital. Dessa forma, pensamentos e sentimentos perigosos e desagradáveis são dissociados,
projetados para fora e atribuído aos outros. Ele envolve um estilo pervasivo de pensamento,
sentimento e forma de se relacionar com os outros que é extraordinariamente rígido e
invariável.

- (Melanie Klein) Na posição esquizoparanóide, é uma fase onde não temos uma diferenciação
do eu e do outro – angústias persecutórias, pela idealização, pela omnipotência → Estes
indivíduos vivem nesta fase!

- (Melanie Klein) Na posição depressiva, é uma fase onde temos diferenciação – o suj tenta
apegar-se às experiências positivas. O sujeito tenta colocar fora de si experiências neg e
assustadoras através da identificação projetiva (conteúdo que é colocado por fora, mas que
também está dentro) e através da clivagem (guarda dentro de si as experiência positivas e
expulsa as negativas). Devido ao meio e à sua capacidade de sobrepor as experiências
gratificantes em prol das negativas, o seu espaço psíquico vai-se limitando, vai recorrer menos
à clivagem e consegue diferenciar o seu espaço psíquico e o mundo fora.

- Os contos infantis têm sempre uma fada boa e uma bruxa – na realidade não existem só
pessoas boas e pessoas más.

- Um bebe tem capacidades muito restritas de perceber o mundo à sua volta, ele acabou de
acordar, tem sensações estranhas a percorrê-lo e começa a chorar. A mãe ouve-o vai ter com
ele, embala-o e dá-lhe de mamar → O bebe vai viver uma experiencia confortável; Se por
ventura, o bebe chora e a mãe está ausente → O bebe vai viver uma experiencia negativa (por
um lado temos experiencias positivas e por outro lado, negativas e geradoras de sofrimento).
Para que um bebe vá aprendendo e crescendo a partir do mundo ele tem de viver experiencias
sobretudo positivas! O que é desejável é que um bebe na sua relação com a mãe viva
dominantemente experiencias positivas para crescer e aprender com o mundo.

- Nós adultos podemos sentir em relação a uma pessoa que ela é chata mas que ao mesmo
tempo é boa pessoa! Então nós não cortamos relações com essa pessoa. Mas a criança não
tem este pensamento, o bebe não sabe organizar o seu mundo. Não sabe categorizar o seu
mundo… precisa de tempo! Só com o tempo é que o seu mundo se vai organizando. O mundo
não é só amargo nem doce, num primeiro momento os bebes precisam de clivar o mundo
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(lado bom e mau) e guardar dentro de si as coisas boas e colocar fora de si as coisas negativas.
Mas só consegue fazer a integração das experiencias negativas e positivas com o seu
crescimento, para que o seu espaço psíquico se torne limitado (mas isto só acontece na
presença dos dois tipos de experiencias - neg e positv).

- Se nós estamos sozinhos e não somos capazes de pensar que alguém no mundo nos ama e
pensa em nos, tornamo-nos aflitos.

- Os primeiros anos de vida são fundamentais. Construímos bagagens dentro de nós para a
viagem que é a vida. Estas bagagens não têm recursos infinitos, necessita de reciclagem.

- Espaço tridimensional – comprimento, largura e volume (o volume são as emoções): espaço


do psicótico: onde há emoções, satisfação e insatisfação, é um espaço muito aberto, necessita
de ser fechado.

- Eu tenho de conseguir viver a separação em relação ao outro e a nossa finitude. Um bebe


pequenino que não esteja fisicamente ao pé de quem é significativo, chora, é a desgraça
absoluta! Nós toleramos a separação física se formos capazes de criar dentro de nós uma
representação positiva desse outro, a partir do momento que colocamos no lugar do
“ausente” coisas positivas, nós toleramos a separação, pois o espaço psíquico pode delimitar-
se. Para que seja capaz disto, eu tive que viver com o outro experiencias dominantemente
positivas; caso maior parte das experiencias tenham sido negativas, eu não posso colocar no
lugar do “ausente” coisas positivas, mas sim o seu contrário.

- No caso do psicótico a separação é terrível. Entre duas montanhas, o vale é a separação… eu


tenho de ser capaz de fazer uma ponte neste vale (esta ponte é o pensamento simbólico)… isto
não existe no mundo do psicótico.

- Espaço bidimensional: espaço autista: só tem comprimento e largura, o volume não existe.

- O nosso espaço psíquico só se pode delimitar quando a separação é tolerável para nós. Se o
espaço psíquico está bem aberto estamos no campo da psicose.

- Um psicótico está sempre na posição esquizoparanoide, mas esta posição não é sempre
igual!
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- (GB) - Uma compreensão das características da posição esquizoparanóide é essencial para a


compreensão do paciente paranóide. Sentimentos de amor e ódio em relação ao mesmo
objeto devem ser separados uns dos outros. Qualquer movimento em direção à integração cria
uma ansiedade intolerável que tem origem no medo de que o ódio domine e destrua o amor.
Do ponto de vista do paciente paranóide, a sobrevivência emocional requer que o paciente
dissocie todo o “mau” e o projete em figuras externas. Uma manifestação dessa manobra
defensiva é que o mundo interno normal de agressor e vítima é transformado em uma
experiência de vida na qual o indivíduo paranóide está constantemente no papel de vítima
frente a agressores ou perseguidores externos.

- (GB) - Abordam todos os relacionamento com a crença de que a outra pessoa no final
cometerá um deslize e confirmará as suas suspeitas.

- (GB) - A projeção e a identificação projetiva são dois mecanismos de defesa-chaves do


transtorno da personalidade paranóide. A projeção substitui uma ameaça externa por uma
interna;
A identificação projetiva vai um passo além, além de externalizar as ameaças à identificação
projetiva, “controla” pessoas no ambiente unindo-as à pessoa paranóide de forma altamente
patológica. A necessidade de controlar os outros reflete a auto-estima terrivelmente baixa na
essência da paranóia (Meissner, 1986). Bem no fundo, o paciente paranóide se sente inferior,
fraco e ineficaz. Assim, a grandiosidade ou o sentido de ser “especial”, com freqüência
observados nos pacientes, podem ser compreendidos como uma defesa compensatória que
mascara sentimentos de inferioridade. Aqueles que de fato buscam tratamento podem
apresentar sentimentos de depressão ou ansiedade como resultado da falha de defesas
paranóides e grandiosas, e uma ruptura desses sentimentos subjacentes de inadequação

- (3) Na psicose maníaco depressiva/ Bipolaridade temos uma oscilação de fases, fase de
profunda depressão e fase maníaca. Na fase maníaca temos a completa independência, não
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precisa do outro para nada; não conseguem dormir, euforia, muito acelerado, até o discurso
verbal é muito acelerado, onde o individuo não depende de nada → Se alguém tenta parar
esta fase, o individuo pode tornar-se agressivo; nestes casos é muito importante a medicação
que o equilibre de forma a possibilitar algum trabalho. Na fase de depressão é o abatimento
absoluto devido à sua necessidade do outro, à sua dependência do outro e dele não estar lá.
Oscilação entre fases maníacas e depressivas.

- Todas as patologias são estratégias de sobrevivência, não podemos manter isto sempre!
Reconhecimento da sua impotência e nulidade.

- (Tema desenvolvido no tema da depressão) Na (4) Melancolia, o individuo apercebe-se da


separação e esta perceção lança-o para uma queda num abismo. Aqui a perda (luto, depressão
e melancolia), separa-nos irremediavelmente da pessoa, sendo uma experiência dolorosa
porque tomamos consciência que a pessoa nunca mais lá vai estar. A partir daqui, dá-se uma
reorganização da construção da pessoa que perdeu. Esta reorganização tem de fazer com que
a pessoa pare de pensar na pessoa que perdeu, e tem de se transformar na pessoa que perdeu
(ex: transformo-me na minha mãe) – trabalho de luto. Tenho de ficar em paz com a pessoa
que perdi, evitar pensar nos fantasmas e almas – isto são criações das pessoas para
representar quem perderam – isto significa que as pessoas não estão em paz com a pessoa
que perderam, o luto permite que a pessoa permita que o morto viva dentro de si de forma
ténue.

- Na melancolia também podem existir alucinações.

- A depressão é uma contínua fixação da pessoa na relação, como por exemplo, hoje houve
alguém que eu perdi e hoje houve uma relação perdida, e nas relações que eu tenho eu
procuro viver o que eu não vivi com a pessoa que perdi – na depressão há separação psíquica
entre a pessoa e quem eu perdi.

- Na melancolia, esta separação não existe, é como se o sujeito ficasse em identificação


absoluta com aquele que foi perdido. Freud diz que a sombra do objeto cai com o ego, se a
pessoa que eu perdi me causa sofrimento, também me causa zanga, mas no caso da
melancolia, a zanga que é dirigida para quem o abandonou recai sobre si próprio, e nestes
casos o individuo vive como se fosse a coisa mais asquerosa deste mundo. O sujeito
melancólico tem tendências suicidas, o sujeito mata-se matando o outro também, mata-se em
fusão com o outro. → A melancolia é uma depressão no seu lado mais extremista, e uma
psicose no seu lado menos extremista.

7º Aula Teórica – 20/3

Apresentação do filme: “Cisne negro”

Tema: Psicose

Sintomatologia:

- Dificuldade em distinguir o real do irreal

- Alucinações
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- Delírios

- Ansiedade

- Incapacidade em manter relações sociais

- Paranoia

Análise

- A personagem vive com uma mãe que a culpa de tudo.

- Ego da personagem muito frágil sem conseguir controlar instância psíquicas . A personagem é
uma interna criança é vitima dos seus próprios conflitos internos. Nina expressa um clivagem
no seu aparelho psíquico por não conseguir ser dois modos opostos de ser.

- A organização psicótica da personalidade, é caracterizada pela ausência da integração do self


com os objetos, o que se manifesta pela difusão da identidade, predominância de operações
defensivas primitivas, centradas na clivagem e alterações do teste à realidade.

- O teste à realidade refere-se à capacidade para diferenciar o self, do não self, separar o intra-
psíquico dos estímulos externos, e manter a empatia com os critérios sociais da realidade, tudo
isto perdido nas psicoses, o que se manifesta particularmente pela presença de alucinações e
delírios.

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