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Autismo
Este termo foi criado em princípios do século passado, por um psiquiatra, que o utilizou em
relação a certas características dos doentes esquizofrénicos
Naquela época os esquizofrénicos, chamavam-se doentes precoces. E depois ele inseriu este
conceito, pensando no “corte do espirito”/ corte da realidade.
Bastantes anos mais tarde, há um psiquiatra que observa 11 crianças com determinadas
características e é acerca desta criança que ele repega neste nome, e começa a designar
autismo de Kanner.
Talvez a primeira descrição que há na história, acerca de uma criança autista, é uma criança
encontrada e descrita como a “criança selvagem”, encontrada nos bosques e que tinha
características particulares: não falava, postura erecta particular, não se vestia → Esta foi
talvez a primeira descrição de autismo na história da psicologia.
2. Recurso de estereotipias: repetição de movimentos, palavras, frases - muitas das vezes sem
sentido
3. Problemas na linguagem: maior parte das crianças autistas não falam, no entanto, emitem
sons/ gruídos – mas não acedem à linguagem. No entanto, algumas podem falar, mas não têm
uma intenção comunicativa. Podem recorrer à ecolalia – repetir aquilo que o outro diz.
5. Parecem ter relações estranhas com o corpo – não reagem à dor, parece que não vêem, não
ouvem…
7. Fecham-se no mundo deles – quem está de fora sente que esta pessoa é estranha
- A incidência de autismo é muito baixa, no entanto há registo de inúmeros estudos sobre este
tema. Há um Sr que na Áustria, descreve crianças com uma sintomatologia semelhante –
Asperger.
linguagem, e têm interesses por determinados temas que exploram até à exaustão.
- Nas crianças em geral, nunca se pode diagnosticar antes dos 3 anos… Como a criança está em
desenvolvimento, temos de esperar!
- Quando se fala em crianças autistas, estas têm determinados sintomas. Não se pode
encontrar uma etologia comum em todas as crianças autistas do mundo. Não há ninguém que
tenha tratado de todas as crianças autistas do mundo
- Há variáveis que não são biológicas e que podem causar esta patologia, quando durante a
gravidez, por exemplo, há problemas na maturação do feto, estes são associados à
imaturidade do SNC. As variáveis podem ser variadas.
- No ponto de vista, da psicologia, importa pouco a etologia. Importa acima de tudo, perceber
os dramas relacionais entre a criança e os seus pais e o que isto implica no mundo interno da
criança. Não podemos pensar que o autismo, a esquizofrenia, o boderline ou qualquer outra
patologia se justifica ou tem por base apenas uma variável. O ser humano é um fruto de
variáveis.
- Em diversas áreas, cada um tem o seu foco de trabalho. Na psicologia, temos de partir da
base do corpo, da relação, e apartir daqui, como é o mundo interno suscetível de ser
construído pela criança.
- Tudo o que falamos acerca disto, são hipóteses para tentar entender e intervir, podendo
estas ser em número imenso e mais tarde reformuladas.
- A generalidade dos autores, levanta a hipótese de que o bebe vive qualquer coisa do domínio
do “horrivel”. Uma coisa é eu ser um adulto, com uma determinada compreensão cognitiva,
afetiva, com um determinado número de recursos a vivenciar algo “horrivel”. Outra coisa, é
ser uma criança muito pequenina e viver uma coisa do domínio do horrível – nestes casos, a
criança necessita de “amortecedores” e quem pode proporcioná-los é o meio envolvente,
sendo, também necessário que a mesma os percecione. É possível que estes amortecedores
não estejam lá (= falhas do meio), ou que a criança devido a falhas do seu “equipamento” não
consiga percecionar que estes amortecedores estão lá (= falhas no equipamento biológico).
Todos os seres humanos são adaptativos, se conseguimos mobilizar recursos adaptativos,
temos saúde; se só conseguimos mobilizar recursos arcaicos – não somos criativos, e isto
remete para a patologia.
- A criança autista apresenta um funcionamento global bastante diferente de outra pessoa dita
“normal”.
- Se contactamos com algo horrível – sendo o horrível subjetivo – as pessoas tentam “não
perceber aquilo que está a acontecer”, usando estratégias como tapar os olhos - algo
Psicopatologia geral II
Prof.Maria Antónia Carreiras
- Do ponto de vista humano, o “horror” é sempre interno! O que importa, é a vivência interior.
- Contudo, pode haver determinadas situações que se qualquer pessoa olhar para elas, nota-se
que é do domínio do horror. Contudo, o que importa é a forma como cada um experimenta
este horror. O que importa é a vivência interna de cada sujeito – é com isto que nós
trabalhamos!
- O autista não tem as ferramentas certas que lhe permitam perceber este horror, e
ferramentas evoluídas para lidar com diferentes horrores.
- Ex: Caímos dentro de um poço → Vejo uma mão → Agarro-me. No entanto, no caso autista:
Caimos dentro de um poço → não perceciono esta mão → Fico dentro do poço.
- As crianças autistas fecham-se para não percecionar este horror, estas estratégias apoiam-se
numa certa colagem/ num agarrar-se a determinada vivência sensoriais, a determinados
vividos da sensoralidade.
Ex: Nós ficamos sentados no auditório, e ficamos focalizados, e não percebemos que a planta
dos pés está apoiada nos sapatos… Mas se nos esforçarmos conseguimos focalizar na sensação
de ter os pés apoiados nos sapatos, e o corpo apoiado numa cadeira! Se tentamos balancear
para trás e para a frente na cadeira, e completamente concentrados nestes movimentos, e nas
sensações deste movimento … Se ficarmos absolutamente mergulhados nisto, o resto não se
passa à nossa volta! → Existe um agarrar a qualquer coisa que não tem profundida emocional.
(forma de conhecer o mundo autista → são estratégias de sobrevivência da criança autista)
- Por ex: eu estou a sentir-me muito sozinha, e vou imaginar que do outro lado do mundo está
uma pessoa que gosta muito de mim, e naquele momento essa pessoa está a pensar em mim.
→ Isto é uma forma de combater este vazio e recorro à minha imaginação. Outra coisa, é
devido a esta tristeza arranjar objetos para combater este vazio (caso autista.)
- Estas estratégias a que a criança recorre é para sobreviver – ela não tem mais recursos para
fazer de outra maneira. Uma pessoa sem esta patologia apresenta mais estratégias para
diferentes situações.
- Há um autor, chamado Bruno Betlaim, que era de origem Judaica, e durante a guerra é
apanhado e foi para dois campos de concentração. Conseguiu dentro deste espirito, sair da
Alemanha e foi para os EUA. E depois desenvolve o grosso dos seus trabalhos. Ele trabalhou
com crianças mt perturbadas e depois do que observou e imaginou… tenta imaginar qual é o
drama da criança autista ou psicótica. E levanta a hipótese de que a criança vive algo do
domínio do horrível, sendo o horrível uma situação extrema (como se a situação extrema,
fosse aquilo que ele viveu nos campos de concentração – variáveis socio-economicas). Ele
pensa que a criança autista, não vive variáveis socioeconomicas, mas vivendo uma situação
extrema, para sobreviver, esta criança constrói uma fortaleza e fecha-se dentro desta fortaleza
– A fortaleza é o que outros autores, chamam capsulas – de forma a proteger-se da situação
extrema, para impedir de viver coisas que a façam progredir no seu desenvolvimento. De
forma a viver aquilo que é a situação extrema.
- Temos estado a falar de crianças, mas também há em adultos, áreas de autismo! Ou dito de
outra maneira, quando dizemos “aquele sujeito é autista”, estamos a dizer que
dominantemente aquele individuo funciona num registo autista. Contudo, todos nós temos de
tudo um pouco, por isso, quando alguém chega perto de nós e nos pede ajuda, esse sujeito
não é totalmente estranho, porque secalhar também temos um pouco daquilo que o outro
sente → “De louco, todos temos um pouco”.
- No sujeito neurótico também há bolsas autistas. Estas bolsas são aflições que todos nós
vivemos ao longo da vida, que não fomos capazes de processar e que permanecem dentro de
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uma capsula à espera de um dia mais tarde poderem emergir, para serem integradas na nossa
historia e subjetividade. Todos nós temos as nossas bolsas!! → Tem haver com sofrimentos do
domínio do invisível, que não foram processados, não acederam à simbolização, e que não
fazem parte da nossa subjetividade. Estão lá, sem nome e sem expressão, para o seu conteúdo
poder emergir para fazer parte de nós.
Tema: Autismo
- O termo autismo é usado para designar um estado de sensações centrados no corpo que
constitui a essência do self.
- Trata-se de um estado normal em que a auto sensibilidade está focalizada nas sensações
corporais, onde os objetos do exterior são experimentados no próprio corpo
- Tudo para um autista é perigoso; qualquer mudança o apavora; Vive em seu próprio mundo;
- Movimentos repetitivos.
- Em quase todas as perguntas que lhe fazem ele responde que não sabe, pois não percebe as
perguntas, e não responde de forma concreta
- Grande memória
- Grandes rotinas – tem de comer determinadas coisas em certos dias; a cama tem de ser junto
à janela; etc
- Até às 11h na noite ele não dorme; causa-lhe desconforto dormir antes desta hora.
Emoções:
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- O irmão tenta abraçá-lo e ele grita! Não sabe lidar com as emoções, e evita.
- Os autistas necessitam de ser retirados deste mundo interno, para serem colocados na
realidade.
- O irmão trouxe-o para a realidade do mundo externo, e o que se nota, é que após a isolação
ele começa a permitir que as pessoas se aproximem mais dele.
- Com o tempo, e com a luta do irmão para afastá-lo do seu mundo interno, aos poucos, ele vai
aproximando-se.
Vertente psicanalítica
- Síndrome psíquica
- Infância
Discussão:
- “Portadores de autismo não respondem aos estímulos e não são influenciados por estes, o
que produz a falta de reciprocidade social e emocional”
- Há uma certa variabilidade na origem; há várias variáveis que contribuem para o autismo
- Neste caso, a personagem decora as coisas e tem muita memória, porque ele refugia-se
nestas capacidades
- Para facilitar a intervenção terapêutica com a criança autista tenta-se criar situações de
continuidade, Ex: com a musica ou com a água.
- Muitas vezes o individuo pode querer intervir, e a criança sentir isso como mudança… e
desorganizar-se… pode chegar a agredir a pessoa que está em contacto com ela! É importante
intervir dentro de um contexto de continuidade.
- A rotina é o familiar. O bebe precisa do familiar e o não familiar. Se só tem o familiar, não
aprende e é uma chatice. Não se pode ser “bruto”/ violento na quebra da rotina daquilo que é
familiar. A pouco e pouco introduz-se o não familiar.
- Não há nada mais imprevisível do que a relação com o ser humano. A relação com o ser
humano é uma aventura.
- (apontado pela professora) Levanta como hipótese, que para surgir uma criança autista, há
dramas na mãe, na criança e no meio, que leva à criação de uma relação patológica, e depois
as variáveis do meio mantem a patologia.
- Tustin (1991, 1994) reviu esta concepção, passando a compreender o autismo como um
sistema protetor ou “concha” autística, contra a angústia da criança de se ver separada do
corpo da mãe. O autismo seria, então, uma reação traumática à experiência de separação
materna, que envolvia o predomínio das sensações desorganizadas e levava ao colapso
depressivo.
- “Ser autista significa ser estranho. Viver em um mundo desconhecido pra os outros ditos
como normais”. Estes indivíduos apresentam características especiais a nível cognitivo, social,
sensorial e linguístico.
- Tendo por base a visão psicanalítica, o autismo é uma síndrome psíquica desenvolvida na
infância, que resulta de falhas no desempenho das funções maternas e/ou paternas, podendo
estas ser inadequadas ou registar-se, mesmo, a inexistência das mesmas.
- O recém-nascido quando vem ao mundo não está pronto para viver sozinho, necessita de
alguém que assegure a sua sobrevivência, que cuide de si e que o faça sentir seguro. Quando
isto não acontece faz com que o bebé fique sem resposta e desenvolva nele um certo
desconforto que pode ser acompanhado de medos e frustrações.
- É importante referir que não é a ausência da mãe que leva ao sintoma autista, mas sim a
ausência radical do desejo materno em relação ao filho autista, ou seja, o reconhecimento
recíproco entre ambos. “É como se o indivíduo olhasse para os olhos da mãe e se deparasse
com o vazio. Vazio que ele acaba por trazer para o seu interior”. Quando tal acontece tem de
haver um super investimento por parte da função paterna ou do prestador de cuidados que
contribua para o desenvolvimento e para a construção psíquica da criança, na sua infância.
acompanhada de uma certa indiferença, frieza e falta de empatia. “Portadores de autismo não
respondem aos estímulos do meio e não são influenciados por estes, o que produz a falta de
reciprocidade social e emocional”.
- Nas relações é atribuído um valor imenso às ligações com os objectos e estabelecendo com
eles relações estranhas e obsessivas. Estas constituem um mecanismo de defesa à
vulnerabilidade do meio provocada pela ausência materna, uma forma de evitar emoções com
as quais não sabem lidar e sentindo-se em perigo procura evitar o olhar, afastando o próximo
e centrando-se em si mesmo e no seu mundo.
- Segundo Baron-Cohen (1990) estes indivíduos apresentam um baixo nível em tarefas que
requeiram a compreensão do significado.
- Neste mundo definido como distante, estranho e cheio de enigmas em que os portadores de
autismo vivem, faz com que haja uma imensa resistência à mudança, uma extrema
organização e possessividade com as rotinas e rituais, que constitui uma forma de se
protegerem das reacções dos outros, as quais não sabem interpretar e, dos perigos que os
rodeiam. Na realidade desempenham a função de conforto, segurança e estabilidade para
conseguir suportar o mundo externo.
- Estes indivíduos necessitam de serem retirados do seu mundo interno, como forma de serem
trazidos à realidade para interagirem com os outros para um desenvolvimento psíquico dos
portadores, com o objectivo de conseguirem vir a ser um sujeito individual e com
subjectividade.