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Psicopatologia geral II

Prof.Maria Antónia Carreiras

5º Aula Teórica – 6/3

Autismo

Este termo foi criado em princípios do século passado, por um psiquiatra, que o utilizou em
relação a certas características dos doentes esquizofrénicos

Naquela época os esquizofrénicos, chamavam-se doentes precoces. E depois ele inseriu este
conceito, pensando no “corte do espirito”/ corte da realidade.

Bastantes anos mais tarde, há um psiquiatra que observa 11 crianças com determinadas
características e é acerca desta criança que ele repega neste nome, e começa a designar
autismo de Kanner.

Talvez a primeira descrição que há na história, acerca de uma criança autista, é uma criança
encontrada e descrita como a “criança selvagem”, encontrada nos bosques e que tinha
características particulares: não falava, postura erecta particular, não se vestia → Esta foi
talvez a primeira descrição de autismo na história da psicologia.

Em 1943, o psiquiatra descreve um quadro que observa em cerca de 11 crianças, ao qual dá o


nome de autismo.

Características das crianças autistas:

1. Necessidade de imutabilidade: permanecer sempre igual

2. Recurso de estereotipias: repetição de movimentos, palavras, frases - muitas das vezes sem
sentido

3. Problemas na linguagem: maior parte das crianças autistas não falam, no entanto, emitem
sons/ gruídos – mas não acedem à linguagem. No entanto, algumas podem falar, mas não têm
uma intenção comunicativa. Podem recorrer à ecolalia – repetir aquilo que o outro diz.

4. Fecham-se sobre si mesmos – relacionam-se com os animais inanimados ou animados da


mesma forma.

5. Parecem ter relações estranhas com o corpo – não reagem à dor, parece que não vêem, não
ouvem…

6. Relação estranha com as suas emoções

7. Fecham-se no mundo deles – quem está de fora sente que esta pessoa é estranha

- A incidência de autismo é muito baixa, no entanto há registo de inúmeros estudos sobre este
tema. Há um Sr que na Áustria, descreve crianças com uma sintomatologia semelhante –
Asperger.

- No síndrome de Asperger, vê-se crianças semelhantes com as autistas, contudo, acederam à


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linguagem, e têm interesses por determinados temas que exploram até à exaustão.

- Em 1984, o mundo estava em guerra, e o Asperger não conhecia o Kanner e vice-versa…

- Nas crianças em geral, nunca se pode diagnosticar antes dos 3 anos… Como a criança está em
desenvolvimento, temos de esperar!

- Quando se fala em crianças autistas, estas têm determinados sintomas. Não se pode
encontrar uma etologia comum em todas as crianças autistas do mundo. Não há ninguém que
tenha tratado de todas as crianças autistas do mundo

- Há variáveis que não são biológicas e que podem causar esta patologia, quando durante a
gravidez, por exemplo, há problemas na maturação do feto, estes são associados à
imaturidade do SNC. As variáveis podem ser variadas.

- No ponto de vista, da psicologia, importa pouco a etologia. Importa acima de tudo, perceber
os dramas relacionais entre a criança e os seus pais e o que isto implica no mundo interno da
criança. Não podemos pensar que o autismo, a esquizofrenia, o boderline ou qualquer outra
patologia se justifica ou tem por base apenas uma variável. O ser humano é um fruto de
variáveis.

- Em diversas áreas, cada um tem o seu foco de trabalho. Na psicologia, temos de partir da
base do corpo, da relação, e apartir daqui, como é o mundo interno suscetível de ser
construído pela criança.

- Tudo o que falamos acerca disto, são hipóteses para tentar entender e intervir, podendo
estas ser em número imenso e mais tarde reformuladas.

- A generalidade dos autores, levanta a hipótese de que o bebe vive qualquer coisa do domínio
do “horrivel”. Uma coisa é eu ser um adulto, com uma determinada compreensão cognitiva,
afetiva, com um determinado número de recursos a vivenciar algo “horrivel”. Outra coisa, é
ser uma criança muito pequenina e viver uma coisa do domínio do horrível – nestes casos, a
criança necessita de “amortecedores” e quem pode proporcioná-los é o meio envolvente,
sendo, também necessário que a mesma os percecione. É possível que estes amortecedores
não estejam lá (= falhas do meio), ou que a criança devido a falhas do seu “equipamento” não
consiga percecionar que estes amortecedores estão lá (= falhas no equipamento biológico).
Todos os seres humanos são adaptativos, se conseguimos mobilizar recursos adaptativos,
temos saúde; se só conseguimos mobilizar recursos arcaicos – não somos criativos, e isto
remete para a patologia.

- As estratégias de autismo são de sobrevivência, e não de saúde! As crianças autistas, à


partida, não separam o mundo interno do mundo externo, desenvolvendo-se o seu mundo
interno de forma muito frágil e mal construído.

- A criança autista apresenta um funcionamento global bastante diferente de outra pessoa dita
“normal”.

- Se contactamos com algo horrível – sendo o horrível subjetivo – as pessoas tentam “não
perceber aquilo que está a acontecer”, usando estratégias como tapar os olhos - algo
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inconsciente e automático. No autismo isto é mais frequente.

- Do ponto de vista humano, o “horror” é sempre interno! O que importa, é a vivência interior.
- Contudo, pode haver determinadas situações que se qualquer pessoa olhar para elas, nota-se
que é do domínio do horror. Contudo, o que importa é a forma como cada um experimenta
este horror. O que importa é a vivência interna de cada sujeito – é com isto que nós
trabalhamos!

- O autista não tem as ferramentas certas que lhe permitam perceber este horror, e
ferramentas evoluídas para lidar com diferentes horrores.

- Ex: Caímos dentro de um poço → Vejo uma mão → Agarro-me. No entanto, no caso autista:
Caimos dentro de um poço → não perceciono esta mão → Fico dentro do poço.

- As crianças autistas fecham-se para não percecionar este horror, estas estratégias apoiam-se
numa certa colagem/ num agarrar-se a determinada vivência sensoriais, a determinados
vividos da sensoralidade.

Ex: Nós ficamos sentados no auditório, e ficamos focalizados, e não percebemos que a planta
dos pés está apoiada nos sapatos… Mas se nos esforçarmos conseguimos focalizar na sensação
de ter os pés apoiados nos sapatos, e o corpo apoiado numa cadeira! Se tentamos balancear
para trás e para a frente na cadeira, e completamente concentrados nestes movimentos, e nas
sensações deste movimento … Se ficarmos absolutamente mergulhados nisto, o resto não se
passa à nossa volta! → Existe um agarrar a qualquer coisa que não tem profundida emocional.
(forma de conhecer o mundo autista → são estratégias de sobrevivência da criança autista)

- Por ex: eu estou a sentir-me muito sozinha, e vou imaginar que do outro lado do mundo está
uma pessoa que gosta muito de mim, e naquele momento essa pessoa está a pensar em mim.
→ Isto é uma forma de combater este vazio e recorro à minha imaginação. Outra coisa, é
devido a esta tristeza arranjar objetos para combater este vazio (caso autista.)

- Um autista vive demasiado as sensações sem lhe atribuir significado.

- Nesta medida, se pensarmos que há um “agarrar-se” à sensoralidade, como forma de escapar


aquilo que para o sujeito é do domínio do horrível. E nesta medida, é como se o mundo do
autista fosse um mundo sem vida mental, ou seja, é um mundo bidimensional (sem
profundidade – sem ressonância emocional).

- A bidimensionalidade (espaço autista) / tridimensionalidade (espaço psicótico)/


Quadradimensionalidade (espaço neurótico – espaço mental fechado com objetos não
fechado – o que está dentro também está fora)

- Não há ninguém 100% autista. É um espaço bidimensional – sem construção do mundo


interno - que tem haver com o agarrar-se à superfície e sensações sem profundidade e
emoções. De forma a escapar ao dramático das aflições e emoções.

- O sujeito autista vive angústias primitivas muito intensas, recorrendo a determinadas


estratégias defensivas. Uma delas é a identificação adesiva – o autista cola-se ao objeto do
ponto de vista da superfície. Tanto em relação ao ser humano, com ao objeto.
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- Identificação projetiva patológica – há também a tentativa de não viver a separação, eu


coloco no outro o meu eu, eu não quero perceber a separação então eu colo-me à superfície.
→ Vivencia de profundidade.

- Diferenças entre a identificação adesiva e a identificação projetiva patológica: a 2ª é do


funcionamento psicótico – colocamos partes de mim, fora de mim (no outro). Mas se eu
coloco partes de mim, é porque há coisas de mim que eu ponho fora. Na 1º há só superfícies,
não há conteúdos.

- O que importa aqui, é a omnipotência – não há sofrimento porque se evita o contacto – a


pessoa fecha-se. Um autista está fechado numa concha, numa cápsula.

- Estratégias da criança autista:

1. Desmantelamento – desmantelar a experiência das suas componentes sensoriais. Ex: há um


som que capta a tenção da criança e ela fica presa a esse som – aderindo a este som.

2. Exacerbar da sensoralidade – ficar COLADO à sensoralidade.

- Estas estratégias a que a criança recorre é para sobreviver – ela não tem mais recursos para
fazer de outra maneira. Uma pessoa sem esta patologia apresenta mais estratégias para
diferentes situações.

- As estratégias de sobrevivência no autista bloqueiam o desenvolvimento.

- Há um autor, chamado Bruno Betlaim, que era de origem Judaica, e durante a guerra é
apanhado e foi para dois campos de concentração. Conseguiu dentro deste espirito, sair da
Alemanha e foi para os EUA. E depois desenvolve o grosso dos seus trabalhos. Ele trabalhou
com crianças mt perturbadas e depois do que observou e imaginou… tenta imaginar qual é o
drama da criança autista ou psicótica. E levanta a hipótese de que a criança vive algo do
domínio do horrível, sendo o horrível uma situação extrema (como se a situação extrema,
fosse aquilo que ele viveu nos campos de concentração – variáveis socio-economicas). Ele
pensa que a criança autista, não vive variáveis socioeconomicas, mas vivendo uma situação
extrema, para sobreviver, esta criança constrói uma fortaleza e fecha-se dentro desta fortaleza
– A fortaleza é o que outros autores, chamam capsulas – de forma a proteger-se da situação
extrema, para impedir de viver coisas que a façam progredir no seu desenvolvimento. De
forma a viver aquilo que é a situação extrema.

- Temos estado a falar de crianças, mas também há em adultos, áreas de autismo! Ou dito de
outra maneira, quando dizemos “aquele sujeito é autista”, estamos a dizer que
dominantemente aquele individuo funciona num registo autista. Contudo, todos nós temos de
tudo um pouco, por isso, quando alguém chega perto de nós e nos pede ajuda, esse sujeito
não é totalmente estranho, porque secalhar também temos um pouco daquilo que o outro
sente → “De louco, todos temos um pouco”.

- No sujeito neurótico também há bolsas autistas. Estas bolsas são aflições que todos nós
vivemos ao longo da vida, que não fomos capazes de processar e que permanecem dentro de
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uma capsula à espera de um dia mais tarde poderem emergir, para serem integradas na nossa
historia e subjetividade. Todos nós temos as nossas bolsas!! → Tem haver com sofrimentos do
domínio do invisível, que não foram processados, não acederam à simbolização, e que não
fazem parte da nossa subjetividade. Estão lá, sem nome e sem expressão, para o seu conteúdo
poder emergir para fazer parte de nós.

5º Aula Prática – 6/3

Apresentação do filme “Encontro de Irmãos – Rain Man”

Tema: Autismo

Em que consiste o autismo?

- O termo autismo é usado para designar um estado de sensações centrados no corpo que
constitui a essência do self.

- Trata-se de um estado normal em que a auto sensibilidade está focalizada nas sensações
corporais, onde os objetos do exterior são experimentados no próprio corpo

- Tudo para um autista é perigoso; qualquer mudança o apavora; Vive em seu próprio mundo;

O que faz a personagem autista no filme?

- Cria alguns rituais e rotinas

- Movimentos repetitivos.

- Repete o que o outro diz: Ecolalia

- Pode andar de forma desajeitada

- Cabeça numa posição que suscita desconforto

- Gosto de colocar as coisas de forma simétrica

- Em quase todas as perguntas que lhe fazem ele responde que não sabe, pois não percebe as
perguntas, e não responde de forma concreta

- Inteligência fora do comum – no caso do filme, não é sempre

- Grande memória

- Não tem noção do que é a morte, nem o que é o dinheiro

- Grandes rotinas – tem de comer determinadas coisas em certos dias; a cama tem de ser junto
à janela; etc

- Até às 11h na noite ele não dorme; causa-lhe desconforto dormir antes desta hora.

Emoções:
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- O autista tem dificuldade de se relacionar

- Reage mal quando alguém se tenta aproximar demasiado

- O irmão tenta abraçá-lo e ele grita! Não sabe lidar com as emoções, e evita.

- Os autistas necessitam de ser retirados deste mundo interno, para serem colocados na
realidade.

- O irmão trouxe-o para a realidade do mundo externo, e o que se nota, é que após a isolação
ele começa a permitir que as pessoas se aproximem mais dele.

- Com o tempo, e com a luta do irmão para afastá-lo do seu mundo interno, aos poucos, ele vai
aproximando-se.

Vertente psicanalítica

- Síndrome psíquica

- Infância

- Falhas nas funções maternas ou paternas

Discussão:

- “Portadores de autismo não respondem aos estímulos e não são influenciados por estes, o
que produz a falta de reciprocidade social e emocional”

- Há uma certa variabilidade na origem; há várias variáveis que contribuem para o autismo

- Há crianças autistas apenas em relação a variáveis relacionais

- A nossa área, aquilo que nos importa, é o mundo interno!

- Em maior parte dos casos, dá-se devido a um múltiplo cruzamento de variáveis

- Neste caso, a personagem decora as coisas e tem muita memória, porque ele refugia-se
nestas capacidades

- Tendemos a encontrar nos autistas, uma memoria fotográfica

- Todos nós precisamos de rotinas, e as quebras das rotinas levam-nos a confrontarmo-nos


com o “não eu”. Qnd a quebra da rotina a pessoa perde o controlo. Nos autistas é igual, mas a
uma frequência e intensidade muito maior.

- Usam as frases de forma repetida para se auto-acalmar

- Os autistas costumam ter um olhar sem profundidade

- O autista precisa de continuidade; porque a rua sente-se como desorganizado. As estações


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do ano, são perturbadoras, estas mudanças são complicadas

- Para facilitar a intervenção terapêutica com a criança autista tenta-se criar situações de
continuidade, Ex: com a musica ou com a água.

- Muitas vezes o individuo pode querer intervir, e a criança sentir isso como mudança… e
desorganizar-se… pode chegar a agredir a pessoa que está em contacto com ela! É importante
intervir dentro de um contexto de continuidade.

- A rotina é o familiar. O bebe precisa do familiar e o não familiar. Se só tem o familiar, não
aprende e é uma chatice. Não se pode ser “bruto”/ violento na quebra da rotina daquilo que é
familiar. A pouco e pouco introduz-se o não familiar.

- Não há nada mais imprevisível do que a relação com o ser humano. A relação com o ser
humano é uma aventura.

Leitura e tópicos do Artigo “Revised understandings of psychogenic autism” (Frances Turstin,


London) → Autismo

- (apontado pela professora) Levanta como hipótese, que para surgir uma criança autista, há
dramas na mãe, na criança e no meio, que leva à criação de uma relação patológica, e depois
as variáveis do meio mantem a patologia.

- A psicanalista – Frances Tustin – explicou que considerava o termo “autismo” referente a


algumas condições patológicas espcíficas, nas quais existe uma ausência de relacionamentos
humanos e um intenso empobrecimento da vida mental e emocional, não aludindo, portanto,
a uma fase do desenvolvimento nromal. Essa patologia resulta de um desenvolvimento
precoce atípico de procedimentos autísticos, provocando um bloqueio de perceção na criança.
Compreendeu, com efeito, que o autismo é um dsvio precoce desenvolvimental frente a um
terror não atenuado, e que pode aparecer em diferentes situações, por exemplo, como uma
reação a um dano cerebral ou a um defeito sensocial, ou uma situação traumática percebida
como ameaça à vida. Este último é um tipo de autismo que trustin tratou com algum sucesso,
segundo ela mesma. Exemplificou sua teorização com o primeiro caso a que atendeu, John,
aos quatro anos, que não tinha um dano cerebral percebido, contudo, que lhe mostrava que
sua perceção infantil de separação corpotal da mãe ou substituto tinha sido traumática e
experimentada como um burco negro, associado a elementos de pânico e fúria, pela aparente
perda de parte de seu corpo.

- Frances Tustin estudou aprofundadamente o autismo psicogénico (o qual distinguia do


autismo causado por factores biológicos/orgânicos), encarando-o como uma disrupção do
desenvolvimento normal do Ego que ocorria na infância (Tustin, 1991). A autora defende que o
autismo é uma reacção defensiva extrema desencadeada pela experiência traumática que a
criança tem quando percebe que o seu corpo e o corpo da mãe não são um só, levando a uma
falha patológica por parte da criança em diferenciar-se a si própria da ilusão da unidade
simbiótica com a mãe. Assim, o autismo surge como protecção contra o sentimento repentino
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de descontinuidade, negando a separação e, simultaneamente, impedindo o desenvolvimento


do sentido de individualidade.

- Tustin (1991, 1994) reviu esta concepção, passando a compreender o autismo como um
sistema protetor ou “concha” autística, contra a angústia da criança de se ver separada do
corpo da mãe. O autismo seria, então, uma reação traumática à experiência de separação
materna, que envolvia o predomínio das sensações desorganizadas e levava ao colapso
depressivo.

- Compreensão do autismo como uma defesa contra a fragmentação ou o desmoronamento,


fosse pela impossibilidade de lidar com a separação, fosse como impossibilidade de diferenciar
estímulos vindos de dentro ou de fora do corpo, fosse pela fantasia de que a união levava ao
aniquilamento.

Artigo Autismo - perspectiva psicanalítica

- “Ser autista significa ser estranho. Viver em um mundo desconhecido pra os outros ditos
como normais”. Estes indivíduos apresentam características especiais a nível cognitivo, social,
sensorial e linguístico.

- Tendo por base a visão psicanalítica, o autismo é uma síndrome psíquica desenvolvida na
infância, que resulta de falhas no desempenho das funções maternas e/ou paternas, podendo
estas ser inadequadas ou registar-se, mesmo, a inexistência das mesmas.

- O recém-nascido quando vem ao mundo não está pronto para viver sozinho, necessita de
alguém que assegure a sua sobrevivência, que cuide de si e que o faça sentir seguro. Quando
isto não acontece faz com que o bebé fique sem resposta e desenvolva nele um certo
desconforto que pode ser acompanhado de medos e frustrações.

- É importante referir que não é a ausência da mãe que leva ao sintoma autista, mas sim a
ausência radical do desejo materno em relação ao filho autista, ou seja, o reconhecimento
recíproco entre ambos. “É como se o indivíduo olhasse para os olhos da mãe e se deparasse
com o vazio. Vazio que ele acaba por trazer para o seu interior”. Quando tal acontece tem de
haver um super investimento por parte da função paterna ou do prestador de cuidados que
contribua para o desenvolvimento e para a construção psíquica da criança, na sua infância.

- O autismo assenta num “distúrbio difuso do desenvolvimento da personalidade” que é


caracterizado pela incapacidade de desenvolver interações sociais normais ou uma linguagem
comunicativa, extrema obsessividade, preocupação, perseverança, resistência à mudança e a
acções estereotipadas. Ou seja, os sintomas têm por base uma tríade que assenta em
dificuldades na linguagem, na interação social e em comportamentos estereotipados ou
repetitivos.

- A pessoa autista possui inabilidade para iniciar, manter ou compreender um relacionamento


social com outras pessoas estabelecendo, por esta razão, uma interacção não recíproca,
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acompanhada de uma certa indiferença, frieza e falta de empatia. “Portadores de autismo não
respondem aos estímulos do meio e não são influenciados por estes, o que produz a falta de
reciprocidade social e emocional”.

- Nas relações é atribuído um valor imenso às ligações com os objectos e estabelecendo com
eles relações estranhas e obsessivas. Estas constituem um mecanismo de defesa à
vulnerabilidade do meio provocada pela ausência materna, uma forma de evitar emoções com
as quais não sabem lidar e sentindo-se em perigo procura evitar o olhar, afastando o próximo
e centrando-se em si mesmo e no seu mundo.

- Segundo Baron-Cohen (1990) estes indivíduos apresentam um baixo nível em tarefas que
requeiram a compreensão do significado.

- Nestes indivíduos está presente uma notória incapacidade de interpretar sentimentos,


perceber e distinguir humores, o que provoca falta de empatia, instabilidade no
estabelecimento e manutenção das relações sociais, falhas na compreensão dos sentimentos,
comportamentos e respostas dos outros e falha no desenvolvimento e diversificação de
amizades.

- Neste mundo definido como distante, estranho e cheio de enigmas em que os portadores de
autismo vivem, faz com que haja uma imensa resistência à mudança, uma extrema
organização e possessividade com as rotinas e rituais, que constitui uma forma de se
protegerem das reacções dos outros, as quais não sabem interpretar e, dos perigos que os
rodeiam. Na realidade desempenham a função de conforto, segurança e estabilidade para
conseguir suportar o mundo externo.

- Estes indivíduos necessitam de serem retirados do seu mundo interno, como forma de serem
trazidos à realidade para interagirem com os outros para um desenvolvimento psíquico dos
portadores, com o objectivo de conseguirem vir a ser um sujeito individual e com
subjectividade.

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