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Teoria da mente: Como a família pode auxiliar no processo

do desenvolvimento das habilidades em criança com


espectro autista

Maria Celia Vieira da Silva1

RESUMO
Falar em teoria da mente dentro do universo infantil é referir-nos àquela
habilidade que todas as crianças típicas têm de colocar-se no lugar do outro.
No entanto, esse sentimento não é apresentado de forma diferente nas
crianças portadora do espectro autista. Segundo estudiosos O universo infantil
do autista não tem a mesma percepção das demais crianças, elas são afetadas
em partes importantes do desenvolvimento que as impedem no campo da fala,
interação e socialização.
Pensando por esse viés é que surgi à necessidade de escrever esse
artigo, pois como pedagoga e psicopedagoga, veio-me a dúvida: Como
funciona a teoria da mente em criança autista. Se eles têm a dificuldade de
colocar-se no lugar do outro como a família pode auxiliá-los a desenvolver essa
tarefa, isso é possível? Vamos juntos descobrir essas indagações e dar dicas
práticas que auxiliará você leitor a interagir melhor com essa atipicidade.
Palavras chaves: autismo, teoria da mente família e desenvolvimento.

A mente autista
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é definido pelo DSM-V (2013)
como um conjunto de déficits persistentes na comunicação e interação social,
além das apresentações de padrões restritos e repetitivos de comportamentos.
Outrora acreditavam que o diagnostico só seria possível eficazmente após os
cinco anos de idade, hoje se sabe que nos primeiros meses de vida já é
possível o diagnostico desse transtorno. E como isso é feito? Esse processo é
feito através de comparação dos desenvolvimentos normais mediante cada
faixa etária.

1
Formada em pedagogia pela faculdade administrativa de Fátima do Sul. FAFS-UNIESP.
Pós-graduada em gestão e docência do ensino superior pela universidade paranaense –
UNIPAR. Pós graduada em psicopedagogia, Faculdade de Venda Nova do Imigrante – Faveni.
Cursando terapia familia pela faculdade qualis.
Williams e Wright (2008) apontam que, entre as inúmeras características
que o indivíduo diagnosticado com Autismo pode apresentar a mais relevante é
à denominada “cegueira mental”. O termo em questão refere-se o déficit que
esses indivíduos com TEA têm de pôr-se no lugar do outro. Eles não
conseguem prevê as ideias e sentimentos alheios, não conseguem imaginar a
realidade enfrentada por aqueles que o cercam. Esta característica só é
possível nos que possui certas habilidades nomeada como Teoria da Mente.
Precisamos antes de tudo compreender o que é teoria da mente, Hélio
Teixeira, traz uma contribuição sobre o assunto interessantíssima, para ele
“2Teoria da mente é a habilidade de atribuir estados mentais, crenças,
intenções, desejos e conhecimentos... A si próprio e aos outros, e de
compreender que os outros possuem crenças, desejos e intenções que são
distintas da sua própria”.
Pensando nessa afirmação podemos dizer que todos os seres humanos
são capazes de respeitar os limites do outro, isso é base de toda convivência
saudável. Quando falamos em teoria da mente isso vai um pouco além, por
conta dessa habilidade somos capazes de supor o que o outro está passando e
reagimos como se aquela ação fosse em nós, e, é por isso que bochechamos
quando alguém boceja, choramos ao ver uma cena triste em um filme, ou nos
revoltamos com a injustiça cometida mesmo que esta injustiça seja praticado
por uma ator, sabemos aquela cena não está acontecendo na vida real, mas
nosso cérebro interpreta que aquela pessoa está sofrendo e nos faz sofrer com
a dor alheia.
Outra função da teoria da mente é trazer previsões, tais como: quando
vamos atravessar a rua sabemos exatamente quando dá tempo ou não de
atravessarmos, isso se dá por conta dessa habilidade. Esta por sua vez está
presente na maioria dos seres humanos. Observem que a frase anterior veio
agregada com o substantivo “maioria”, ou seja, é lógico que não estamos todos
englobados nessa verdade, pois uma criança com autismo não possui tais
aptidão, esta, está incapacitada de se colocar no lugar do outro. Para o autista,
existe apenas um mundo, e ele é particular.

2
Artigo encontrado em: http://www.helioteixeira.org/ciencias-da-aprendizagem/o-que-e-teoria-da-
mente/acessado em 08\05\2020 às 15:07
Ao falar do espectro autista temos que compreender o seguinte, uma
criança típica só desenvolve certas habilidades por conta de diferentes
sistemas biológicos, neurológicos e estruturas cerebrais que são ativados
quando esta ver alguém sofrendo. Nesse momento aparecem sentimentos
como a compaixão e a empatia, porém em um autista esse sistema não é
ativado, fazendo-o permanecer em um mundo próprio onde se refugia todas as
vezes que se depara ao meio de turbilhões de sentimentos conflitosos que ele
não compreende, conflitos estes, que geralmente acontece quando está
rodeado por pessoas que não são de seu convívio diário.
Além da falta dessas habilidades eles também têm que lidar com
ouvidos supersensíveis, por conta disso é natural depararmos com um autista
tapando os ouvidos e na maioria das vezes não entendermos o porquê, isso
ocorre porque eles conseguem ouvir sons que às vezes são inaudíveis para
nós. Segundo relato, de alguns autistas entrevistados por professores, quando
eles se deparam com um ambiente onde todos conversam ao mesmo tempo é
como se uma caixa de som gigantesca fosse colocada em seu ouvido, e o
curioso é que eles conseguem ouvir tudo e todos ao mesmo tempo, sem ter um
foco principal.

TEORIA DA MENTE X AUTISMO


Para conhecermos melhor a mente de uma autista precisamos entender
o termo Teoria da Mente, este nos reporta a habilidade que temos de fazer
suposições precisas sobre o que os outros pensam ou sentem. Segundo Silva,
et al. (2012) adquirir essa habilidade é fundamental para nossa inserção social,
estabelecimento, manutenção e êxito nas relações sociais.
Caixeta e Nitrini (2002) relatam que...
Com tal recurso cognitivo, o ser humano pôde, por exemplo,
ao longo do desenvolvimento da espécie, sofisticar as relações e a
comunicação intra e intergrupo, habilitando-o a entender artifícios da
expressão humana como a ironia, a dissimulação, o sofrimento, o
interesse, a falsidade.3

É notório entendermos que um autista nasce com a deficiência na área


do desenvolvimento e na comunicação, sendo assim eles têm dificuldades de
expressar artifícios citados pelas autoras. Por exemplo, trabalhei em uma
3
CAIXETA, Nitrini. (2002). Teoria da mente: uma revisão com enfoque na sua incorporação pela psicologia
médica. Psicologia: Reflexão e Crítica, 15(1), 105-112 .
escola e na minha sala havia um aluno TEA. Ao observá-lo, notei que a
falsidade, a ironia, a dissimulação, o sofrimento alheio não faziam parte de sua
vida. O admirava exatamente por isso, com apenas cinco anos havia uma
sinceridade em seus olhos que me encantou por este universo autista.
Sabemos que o desenvolvimento das habilidades da teoria da mente em
crianças pode ser observado até aos quatro anos de idade. Mas quando levado
para uma criança com TEA é comprovado que esta habilidade ocorre em um
âmbito mais lento. Isso quer dizer que uma criança atípica pode ter o mesmo
desenvolvimento que as demais crianças, tudo dependerá do estímulo que esta
recebe quanto mais precoce melhor. Apontando aspectos da teoria da mente
Williams e Wright trazem algumas dificuldades enfrentadas por um autista,
quanto o assunto é desenvolvimento:
A- Entender sentimentos e pensamentos alheios. B-Entender que os
outros esperam que seu comportamento mude dependendo de onde
ou com quem estão. C- Prever o que as pessoas podem fazer em
seguida. D- Interpretar diversos gestos ou expressões faciais. E-
Entender como seu comportamento pode irritar terceiros. F- Entender
regras sociais. G- Expressar as próprias emoções adequadamente.4

Quando professores, pais, psicólogos... Entendemos essas dificuldades


enfrentadas pelos TEA fica muito fácil o relacionamento em ambas as partes.

O TEA E A ESCOLA
Agora imagine uma criança com TEA em uma sala de 30 alunos
apresentam dificuldade de entender regras sociais e para piorar um professor
que esta ímpar a situação enfrentada por um autista, como ficaria difícil este
convívio, provavelmente a criança seria rotulada como desobediente,
bagunceira, aquela que vem somente para atrapalhar a aula a verdadeira
pedra no sapato do professor.
Talvez você leitor possa dizer, será que existem professores que rotulam
em pleno século XXI? Infelizmente sim! Uma solução para que esta criança
tenha um desenvolvimento de forma eficaz seria a conscientização do
professor quanto o que é o espectro autista. O que temos notados em
graduação são professores saindo cada vez mais raso nesse assunto. A
maioria de nós finda a graduação e vai para outras áreas afins, são poucos os
4
Williams e Wright (2008). Convivendo com o Autismo e Síndrome de Asperger: estratégias práticas
para pais e profissionais. São Paulo: M. Books do Brasil Editora Ltda.
que adentram na educação especial ou na psicopedagogia e esse é o motivo
de não compreender um TEA quando o vemos.
 O problema disso é que sabemos que muitas crianças com autismo do
grau I e até do grau II, passam despercebidos tantos pelos pais, que não
percebem talvez por ser leigo no assunto, quanto pelo professor que
muitas vezes são obrigados a lidarem com salas superlotadas tendo que
fingir que não viu o problema. O resultado de tudo isso é que as crianças
crescem e o problema só é descoberto depois dos sete para oito anos,
quando esta criança não consegue ser letrada independente dos
métodos utilizados. O problema agrava ainda mais porque quando mais
tarde for descoberto o autismo mais problemas terão em seu
desenvolvimento. O recomendado é que comecem o tratamento aos
seis meses de vida, para que o indivíduo, tenha a menor perda possível
de desenvolvimento.

A contribuição familiar
Existem ponto que a família pode auxiliar no desenvolvimento da criança
autista, pois o autista também tem seus pontos positivos a serem ressaltados
no convívio familiar. É comprovado que o cérebro autista é capaz de guardar
com precisão uma informação por semanas, as vezes não conseguimos
lembrar nem o que jantamos no começo da semana, imagina lembrar de
detalhes fatos de semanas atrás. Para compreendermos melhor esta mente,
Romanzoti. (2011), traz em um artigo online, informações esclarecedoras sobre
esta inteligência.
Pessoas com autismo têm, frequentemente,
memórias excepcionais, e podem se lembrar de
informações que leram semanas atrás. Elas também são
menos propensas a lembrar-se erroneamente de algo, o
que vem a calhar em um laboratório de ciência.
Michelle, por exemplo, pode relembrar
corretamente e instantaneamente os métodos usados
para estudar a percepção do autismo quando precisa.
Uma pesquisa recente mostrou que as pessoas com
autismo muitas vezes superam os outros em tarefas
auditivas e visuais, e também são melhores em testes de
inteligência não verbais. Em um estudo realizado por Dr.
Mottron, com um teste que envolveu completar um padrão
visual, pessoas com autismo terminaram 40% mais rápido
do que aquelas sem a condição. Na verdade, a deficiência
intelectual é sobre-estimada entre pessoas com autismo,
porque os pesquisadores utilizam testes inadequados.
Elas são na verdade muito inteligentes
“Ao medir a inteligência de uma pessoa com
deficiência auditiva, ninguém hesitaria em eliminar os
componentes do teste que não poderiam ser explicados
usando a linguagem de sinais. Por que não deveríamos
fazer o mesmo para os autistas?”, disse Mottron. “Eu já
não acredito que a deficiência intelectual é intrínseca ao
autismo. Para estimar a taxa de verdade, os cientistas
devem usar apenas testes que não exijam nenhuma
explicação verbal”. Outros especialistas concordam que
não devemos ver exclusivamente os déficits do autismo,
no entanto, ele ainda deve ser pensado como uma
doença, e não apenas uma diferença. Pessoas com
autismo têm problemas graves de funcionamento no seu
dia-a-dia. Intervenções adequadas podem melhorar a vida
dessas pessoas. “Uma narrativa abrangente do autismo
deve levar em consideração os pontos fortes e os pontos
fracos da doença”, disse Rajesh Kana, professor de
psicologia. Embora no passado os pesquisadores tenham
se concentrado principalmente nos déficits do autismo, o
campo agora tem uma visão mais ampla e profunda da
desordem. Compreender os pontos fortes do autismo é
importante para dar apoio para aqueles com a doença.
Por exemplo, se uma criança tem habilidade verbal
mínima, então você provavelmente deve encontrar uma
forma visual de ajudá-la. “Qualquer intervenção deve visar
os déficits, mas trabalhar com os pontos fortes”. 5
Já me deparei com pais que se desesperam ao saber que seu filho é
autista. É claro que todos os pais não desejam que seus filhos tenham nenhum
problema de saúde, no entanto ter um TEA não é o fim do mundo. Bem
verdade que não tem cura, mas podem ser amenizados com remédios
adequados e bom estímulos. Lembrem-se uma criança com autismo tem a
mesma chance de desenvolver quanto às demais, tudo dependerá dos
estímulos, que estes recebem em casa, na escola, no meio de inserção.
Quando mais cedo começar mais chance esta terá de se desenvolver ao
máximo.
Observando a publicação citada à cima precisamos levar em conta os
pontos positivos apresentado pelos portadores do TEA. Os pais e a família
precisam compreenderem que ter um filho autista não é ter um ET, precisamos

5
https://hypescience.com/apesar-de-ser-uma-doenca-autismo-nao-e-defeito-mas-sim-pode-ter-muitas-
vantagens /acessadome11\05\2020às14:26
relembrar também que nenhum ser humano consegue fixar-se em duas tarefas
ao mesmo tempo, até mesmo nós mulheres quando lavamos louça,
cozinhamos e cuidamos do bebê, não significa que estamos fazendo ao
mesmo tempo estas atividades com toda exatidão e com significado,
simplesmente nosso cérebro processa rapidamente estas informações para
que possamos concretizar nossos afazeres, mas ele faz isso em ordem. Ao
mexer a panela ele está focado nisso, cada tarefa é registrada de uma única
vez. O que a família precisa entender é que o cérebro autista é diferente, ele
processa N atividades ao mesmo tempo, não há uma organização cerebral.
O interessante é que mesmo assim eles conseguem ser muito bons
naquilo que lhes chamam a atenção.
Quando a família trabalha juntamente com a escola essa realidade
consegue notar uma melhora significativa no processo de concentração desse
autista.
Portanto podemos concluir que o autismo é sim uma doença, mas pode
haver evolução significativa se todos os envolvidos contribuir para tal . Ter a
habilidades dadas pela teoria da mente é muito bom, porém vê como o ser
humano se adapta com suas dificuldades é divino.

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