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“Induzir no sujeito um estado de espírito que o leve a monologar e a discutir; a partir daí
nossa tática consistirá em nos calar ou em contradizer apenas o suficiente para parecermos
incapazes de compreendê-lo completamente.” - Clérambault
“Se vocês compreendem, tanto melhor, guardem isso para vocês, o importante não é
compreender, é atingir o verdadeiro” - Lacan
Na medida em que a loucura deixa de ser considerada uma doença do cérebro para ser
concebida como doença das faculdades mentais (um desarranjo, um desequilíbrio), abrem-se
as possibilidades de a loucura ser tratada.
Em determinado momento, a loucura passou a ser objetivada como doença mental, e já não
produzia enigma, fazendo com que a fala do paciente perdesse o lugar de produção do saber,
sendo seu valor reduzido à descrição dos sintomas e à constatação do saber estabelecido.
Entrevista psiquiátrica
Segundo Jaspers, o primeiro momento e o mais importante é a conversa com o doente >
levantar informações suficientes para fazer uma avaliação do caso (características afetivas e
de personalidade, e dinâmica dos sintomas, de forma a permitir a formulação do diagnóstico,
do prognóstico, e do plano de tratamento).
Alonso: o psíquico é inapreensível diretamente, sendo necessário captá-lo não apenas através
da conversação, mas também da observação da conduta do paciente. Dizer o menos possível,
deixando que o paciente fale, dando atenção às manifestações expressivas, tom de voz,
sorriso, olhar, tudo que vem a formar uma impressão.
Buscar entender como se constrói a solução, de que forma as coisas aconteceram. Elementos
invariantes que surgem: singularidade. O que é estruturante para o sujeito.
=> Aparência, impressão física geral, atitude para com o examinador. Consciência, atenção,
orientação, memória e inteligência. Humor e afeto, comportamento, vontade,
psicomotricidade, sensopercepção. Consciência do eu; linguagem, pensamento (curso e
forma), juízo de realidade; crítica.
Um cuidadoso exame físico, neurológico e mesmo uma investigação genética podem ser um
auxílio valioso na solução dos casos duvidosos, o que pode ajudar a apurar também os fatores
somáticos que por acaso possam estar em jogo na estruturação do comportamento patológico.
Avaliação dos sistemas endocrinológico, cardiológico e respiratório. Exames neurológicos
(EEG, neuroimagens cerebrais, testes), materiais produzidos pelo próprio paciente, como
cartas, autobiografias, etc.
Subversão psicanalítica
Interesse pela fala do paciente. Através do relato do paciente e da observação cada vez mais
precisa é que poderia aceder à compreensão dos fenômenos, assim como às provas da
loucura.
Clérambault => interesse nos mecanismos formadores da psicose. Diferenciava a psicose dos
sintomas psicóticos, sendo que a psicose seria a base (fundo histológico, fisiológico), e os
fenômenos (sintomas) eram manifestações secundárias ao processo de origem orgânica. Para
ele, o caráter anideico e a maneira intrusiva, automática, como estes se impunham à
consciência, independentemente da intencionalidade do sujeito, eram uma prova de que o
automatismo ocorreria fora do psiquismo, portanto, no corpo.
Ainda para ele, o objetivo da investigação inicial seria verificar o quanto a certeza estaria
funcionando, ou seja, revelar a verdade da posição do sujeito no interior mesmo de sua
crença.
Isolar e dar visibilidade aos mecanismos geradores da psicose. Para isso, era necessário
mostrar-se incapaz de compreender completamente o paciente, e emocioná-lo para que ele
não pudesse se ocultar.
Lacan também buscava a posição do doente, o elemento mínimo, formador, estrutural, o “nó
central do caso”, o elemento revelador da posição do sujeito em sua relação com o Outro na
linguagem.
Interesse ao que escapa do saber constituído, procurando fazer emergir o sujeito como tal.
Não se trata de deflagrar a doença, mas tentar localizar a posição subjetiva, os indícios da
posição de gozo do sujeito em relação ao Outro.
“Tocar o sujeito no doente”. Buscar o ponto de real, aquele ponto em que escapa a
significação, ponto enigmático para o sujeito, que traz algo impossível de suportar.