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Mateus Gregori - 2018098130

Fichamento “Psicopatologia Lacaniana” – Capítulo Entrevistas

“Induzir no sujeito um estado de espírito que o leve a monologar e a discutir; a partir daí
nossa tática consistirá em nos calar ou em contradizer apenas o suficiente para parecermos
incapazes de compreendê-lo completamente.” - Clérambault

“Se vocês compreendem, tanto melhor, guardem isso para vocês, o importante não é
compreender, é atingir o verdadeiro” - Lacan

Na medida em que a loucura deixa de ser considerada uma doença do cérebro para ser
concebida como doença das faculdades mentais (um desarranjo, um desequilíbrio), abrem-se
as possibilidades de a loucura ser tratada.

Em determinado momento, a loucura passou a ser objetivada como doença mental, e já não
produzia enigma, fazendo com que a fala do paciente perdesse o lugar de produção do saber,
sendo seu valor reduzido à descrição dos sintomas e à constatação do saber estabelecido.

Entrevista psiquiátrica

Segundo Jaspers, o primeiro momento e o mais importante é a conversa com o doente >
levantar informações suficientes para fazer uma avaliação do caso (características afetivas e
de personalidade, e dinâmica dos sintomas, de forma a permitir a formulação do diagnóstico,
do prognóstico, e do plano de tratamento).

Aspectos longitudinais e transversais. Longitudinal: história de vida; transversal: estado


mental do paciente no momento da entrevista.

Alonso: o psíquico é inapreensível diretamente, sendo necessário captá-lo não apenas através
da conversação, mas também da observação da conduta do paciente. Dizer o menos possível,
deixando que o paciente fale, dando atenção às manifestações expressivas, tom de voz,
sorriso, olhar, tudo que vem a formar uma impressão.

Entregar-se à individualidade do paciente, deixá-lo exprimir verbalmente tal qual é; examinar


com base em pontos de vista firmes e visando alvos definidos. É preciso aproveitar o fluxo
fluido e livre da conversa, mas mantendo um controle da entrevista.

Longitudinal: ao entrevistador interessa saber não apenas sobre a queixa e a descrição da


problemática atual do paciente, assim como sobre a história de sua doença, evolução,
tratamentos, mas também sobre outros aspectos de sua vida que não estejam diretamente
ligados ao adoecimento, ou seja, interessa saber sobre toda a história de vida do paciente.
Roteiro:

Identificação: nome, idade, filiação, estado civil, escolaridade, ocupação, religião.


Queixa principal/motivo: incômodo principal, evolução, passagem ao ato, desencadeamento.
Pode ser necessário recolher de terceiros.
História da doença atual: momento atual, fatores desencadeantes, evolução dos sintomas.
Doenças passadas: sejam mentais ou físicas, pois podem haver doenças psiquiátricas
disfarçadas de sintomas. Investigar traumatismo craniano, alterações hormonais, diabetes,
anemia, tireóide.
História pessoal:história de vida iniciando na gravidez da mãe, primeira infância,
adolescência, vida adulta e velhice (questões físicas e emocionais). Associar o passado com o
problema atual.
Vida atual: Sono, alimentação, vida afetiva.
Histórico familiar: Doenças, convívio, posição do paciente na família, estrutura familiar,
relação com familiares, condições socioeconômicas e culturais.

Buscar entender como se constrói a solução, de que forma as coisas aconteceram. Elementos
invariantes que surgem: singularidade. O que é estruturante para o sujeito.

Transversal: estado de funcionamento psíquico no momento da entrevista, o que pode ser


apreendido pela observação. Funções psíquicas de forma isolada, mesmo sabendo que estas
funcionam integralmente. Apreender funções que apresentam alterações, e outras que se
mostram preservadas. Observação das atitudes e dos comportamentos, expressão mímica e
motora, sintonia do paciente com o entrevistador. Não há uniformidade, a ênfase pode recair
sobre sintomas objetivos ou sobre a vivência subjetiva do paciente em relação àqueles
sintomas, sobre a intensidade ou a qualidade das vivências, etc.

=> Aparência, impressão física geral, atitude para com o examinador. Consciência, atenção,
orientação, memória e inteligência. Humor e afeto, comportamento, vontade,
psicomotricidade, sensopercepção. Consciência do eu; linguagem, pensamento (curso e
forma), juízo de realidade; crítica.

Um cuidadoso exame físico, neurológico e mesmo uma investigação genética podem ser um
auxílio valioso na solução dos casos duvidosos, o que pode ajudar a apurar também os fatores
somáticos que por acaso possam estar em jogo na estruturação do comportamento patológico.
Avaliação dos sistemas endocrinológico, cardiológico e respiratório. Exames neurológicos
(EEG, neuroimagens cerebrais, testes), materiais produzidos pelo próprio paciente, como
cartas, autobiografias, etc.

Subversão psicanalítica

Interesse pela fala do paciente. Através do relato do paciente e da observação cada vez mais
precisa é que poderia aceder à compreensão dos fenômenos, assim como às provas da
loucura.
Clérambault => interesse nos mecanismos formadores da psicose. Diferenciava a psicose dos
sintomas psicóticos, sendo que a psicose seria a base (fundo histológico, fisiológico), e os
fenômenos (sintomas) eram manifestações secundárias ao processo de origem orgânica. Para
ele, o caráter anideico e a maneira intrusiva, automática, como estes se impunham à
consciência, independentemente da intencionalidade do sujeito, eram uma prova de que o
automatismo ocorreria fora do psiquismo, portanto, no corpo.
Ainda para ele, o objetivo da investigação inicial seria verificar o quanto a certeza estaria
funcionando, ou seja, revelar a verdade da posição do sujeito no interior mesmo de sua
crença.

Isolar e dar visibilidade aos mecanismos geradores da psicose. Para isso, era necessário
mostrar-se incapaz de compreender completamente o paciente, e emocioná-lo para que ele
não pudesse se ocultar.

Lacan também buscava a posição do doente, o elemento mínimo, formador, estrutural, o “nó
central do caso”, o elemento revelador da posição do sujeito em sua relação com o Outro na
linguagem.

A partir da posição de analista, o interesse de Lacan se desloca do fenômeno para o doente,


reconhecendo que há um sujeito no doente, que pode ser alcançado a partir de sua própria
fala. A posição de Lacan era a de não compreender, uma “submissão completa, ainda que
advertida, às posições propriamente subjetivas do sujeito''. O não compreender propulsiona o
discurso, o paciente é convidado a falar. “O que se trata de compreender é precisamente por
que há alguma coisa que é dada para ser compreendida”.

Interesse ao que escapa do saber constituído, procurando fazer emergir o sujeito como tal.
Não se trata de deflagrar a doença, mas tentar localizar a posição subjetiva, os indícios da
posição de gozo do sujeito em relação ao Outro.

“Tocar o sujeito no doente”. Buscar o ponto de real, aquele ponto em que escapa a
significação, ponto enigmático para o sujeito, que traz algo impossível de suportar.

Dar oportunidade à palavra é possibilitar ao paciente bordejar, circunscrever o que lhe


sucede, permitindo-lhe afastar-se do impossível de suportar para começar a falar. Agenciar o
discurso desse lugar.

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