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RESUMO
SUMMARY
INTRODUÇÃO
1
Mestre em Educação pela Universidade de Uberaba – UNIUBE. Docente do curso de Psicologia da
Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG. E-mail: ebmpsi@yahoo.com.br
2
Mestre em Psicologia pela Universidade do Estado de São Paulo – USP, Campus Ribeirão Preto.
Docente do curso de Psicologia da Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG. E-mail:
roberta_cancella@yahoo.com.br
2
valoriza o sujeito em sua totalidade, como ser único, que possui sentimentos,
valores, desejos e demais particularidades advindas da sua personalidade.
Dessa forma, compreender o significado do adoecimento mental, das
experiências vividas, dos sofrimentos, dos medos e das demais angustias do
sujeito, é quem sabe o principal objeto de estudo da fenomenologia.
Moreira e Bloc (2012) apud Tatossian (2006), por sua vez, enfatiza um
modelo de psicopatologia fenomenológica que se sustenta sempre no encontro
entre psicólogo e paciente, buscando compreender as experiências humanas
em sua cotidianidade. Trata-se de um olhar para a psicopatologia que se
distancia de um modelo inferencial, pautado em manuais e referências
anteriores, e busca apreender os modos de ser global do sujeito, indo além de
uma concepção pautada puramente nos sintomas e tendo como característica
a crença na potencialidade do sujeito e na possibilidade de crescimento.
O modelo de psicopatologia fenomenológica diferencia-se de outras
correntes teóricas como a Cognitiva Comportamental que enfoca o diagnóstico
psicopatológico, embasado em manuais como o Manual de Transtornos da
Personalidade Descrição, Avaliação e Tratamento de Vicente Caballo (2011).
O pesquisador que utiliza o referencial fenomenológico, não se baseia
apenas em manuais como o de Classificação Internacional de Doenças – CID
10 - ou Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM IV, que
descrevem os sintomas psicopatológicos para sustentar hipóteses
diagnósticas. Em fenomenologia, a fonte para se buscar mais dados parte da
própria pessoa humana. Essa padronização regida pelos manuais de doenças
que insere um indivíduo em um diagnóstico tende a não ser a principal forma
de atuação da perspectiva fenomenológica. A fenomenologia busca alcançar o
íntimo da subjetividade do indivíduo para apreender as reais possibilidades de
desenvolvimento humano. É sabido que, mesmo doente, o sujeito tem
imbricado dentro de si potencialidades que, ao serem descobertas, poderão se
- se tornar instrumentos de trabalho para um melhor funcionamento do seu
estado psíquico.
2 METODOLOGIA
2.3 Participantes
Tabela 1
Nome fictício dos participantes e dos familiares portadores de esquizofrenia, seguindo a idade, grau de
parentesco e a idade da primeira manifestação da doença.
2.4 Local
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O Levi nasceu perfeitinho. Quando ele fez 15 para 16 anos foi que ele
começou a sentir problema de cabeça. Ele foi para um córrego, com
uns amiguinhos maldosos e esses amiguinhos judiaram dele,
colocaram pinga com comprimido para ele tomar. Depois esses
amiguinhos afogaram ele dentro do córrego São Lourenço... ai, ele
ficou doidinho (Senhorinha).
A gente começou a notar que ela era uma criança que tinha
problemas. Quando ela chegou mais ou menos na idade de 16 para
17 anos aí manifestou com mais agravo. [...] depois, com 17 para 18
anos ela arrumou um namorado e esse namorado apresentou ela
para as drogas. Então, manifestou a partir daí o comportamento dela
foi terrível. Ela começou a apresentar comportamentos difíceis (Maria
José).
Ele surtou quando ele era novo, ele tinha 14 anos quando ele
começou a usar drogas (Clara).
Com 15 anos a minha avó internou ele no sanatório pela primeira vez
[...] aí começou aparecer alguns problemas e por causa das drogas
também. Quando ele estava com 23 anos, eu nasci. Quando eu
completei 6 meses de vida ele surtou... ele ficou ‘louquinho’ e depois
não voltou mais não (Clara).
Tem uma sobrinha, a filha da minha irmã, ela também tem esse
problema. Só que o dela é transtorno bipolar, o dela não é
esquizofrenia... [...] O neto dela, da menina mais velha, também eu
acho que ele não é muito certo. Esse problema parece que veio de
gerações (Rita).
Era tia da finada minha mãe. Ela tinha problema de cabeça... ela era
doidinha... de andar pelas fazendas... essa tia andava sem parar
(Valentina).
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[...] quando eu fico perguntando por ele a minha filha fala: ‘ele está
aqui’. Parece que eu já fico mais tranquila. Eu fico ligando para a
minha menina. Ai eu falo assim: ‘O Levi está ai?’. Ela responde:
‘Está... agora mesmo ele está aí, mãe’. Passa um pouco, ele chega e
eu fico melhor (Senhorinha).
[...] eu fico vinte quatro horas por dia com o João, eu acompanho
todos os passos dele. Só que eu não estou tendo controle mais
(Rita).
Ela faz tudo quanto é coisa errada dentro da casa dela. Quebra tudo.
Desliga tudo. Eu ponho comida lá dentro. [...] ela desliga a geladeira
para perder a comida (Maria José).
Eu falo mesmo para os outros filhos que o amor que eu tenho por ele
é mais do que eu tenho pelos outros, mas é porque ele é especial.
[...] eu tenho mais preocupação com ele. Eu cuido muito dele! (Rita).
O dia que ele está meio nervoso assim. [...] meio descontrolado, eu
não durmo. [...] eu não durmo de preocupada (Rita).
Quando ela sai do sanatório, ela sai ótima, excelente! Ela sai muito
bem do sanatório (Maria José).
Chegou num ponto em que ela já fez tanta coisa errada comigo que
eu já estou começando a ficar com medo até da minha integridade
física. [...] estou começando a ficar com medo de tudo aquilo que eu
me exponho por causa dela. A família toda gosta dela, mas agora
ninguém a recebe mais em casa, porque ela começou a roubar na
casa dos parentes também. [...] os filhos tem medo dela. Os filhos
tem muito medo dela. [...] a família ficou com medo dela, ficou assim
todo mundo com dó, piedade, mas todo mundo se resguardando
também, porque a gente nunca sabe com quem ela vai aparecer
(Maria José).
O Manoel já deu tanto trabalho, que a família isolou ele. [...] ele dá
trabalho para todo mundo. Ele vai na casa da família....as pessoas
não gostam... as pessoas foram afastando dele (Clara).
Imagina você lidar com traficante? [...] esses homens que ela arruma,
teve um que era até assassino (Maria José).
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Rita teme ser agredida. O caminho que ela encontrou para lidar com
esse temor é foi comportar de maneira passiva pelo receio de que seu filho
tenha uma mudança brusca no comportamento.
Rita ressaltou que o filho tem alucinações visuais e diante daquilo que
ele vê, ela opta por concordar ao invés de contrapor às visões que ele tem,
como meio de evitar que ele apresente comportamentos agressivos.
Se eu falar para ele: ‘Meu filho, isso está na sua cabeça’, ele já apela,
ele já fica nervoso. [...] eu já tenho que deixar ele falar (Rita).
[...] lá em casa a única faca que tem, ela não tem nem ponta. [...] é
tudo quebrada a ponta dela. À noite, eu escondo. Durante o dia, eu
não deixo muito fácil para ele. [...] é perigoso! Agente nunca sabe o
momento em que ele está bem e o momento em que não está (Rita).
Quando ele usa drogas, ele fica agressivo. Quando ele surta, ele fica
agressivo. Ele pega o facão, vai para o meio da rua, ele puxa a bolsa
dos outros. As pessoas assustam (Clara).
Quando ele fica nervoso, eu não sei lidar com esse tipo de coisa.
Agora que eu estou tentando aprender. Às vezes ele fala... a gente
não discute. Ele fala, eu o deixo falar. Eu concordo, porque discutir
com ele é pior. [...] aí, ele vai ficar nervoso e, ficando nervoso ele
surta. [...] com ele eu sou muito dura eu enfrento, tem vez que eu
enfrento ele. Ele fica com um ‘olhão’ arregalado querendo me passar
medo. Eu falo para ele: ‘você não passa medo em mim não, rapaz.
Não adianta que você não passa’ (Clara).
O pai de Clara ameaça matá-la quando ela enfatiza que irá interná-lo em
um hospital psiquiátrico. Apesar dessa ameaça, Clara parece não se intimidar e
parece se amparar em recursos judiciais. Fica evidente que a relação entre pai
e filha é permeada por ameaças e imposição de culpa: Clara ameaça internar o
pai, o pai ameaça matá-la, ela ameaça buscar a promotoria. O pai culpa a filha,
a filha joga a responsabilidade de o pai estar nessas condições para ele.
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Ele fala que se eu fizer isso com ele [interná-lo], ele me mata. Eu falei
pra ele: ‘eu vou falar para a promotora que você está me ameaçando
de morte’. [...] ele fala que a vida dele está do jeito que está por
minha causa, que a culpa é minha. Eu falo: ‘eu não era nem nascida
quando você começou a usar drogas você escolheu ir por esse
caminho’ (Clara).
É uma doença muito difícil. Eu tenho até que ter mais paciência com
ele, porque pode acontecer dele surtar, me agredir, agredir meu filho.
Minha mãe morre de medo porque ele fica ameaçando (Clara).
Clara hoje é mãe e, por temer que, por fatores genéticos, o filho venha a
desenvolver esquizofrenia, ela se mobilizou no sentido de buscar assistência
psicológica como forma de tentar evitar que o mesmo adoeça.
[...] ele foi para debaixo da cama. [...] vendo um capeta ali, uma cobra
dali. Eu quase morri de medo (Valentina).
As crises dele são danadas. Quando ele fica assim ele quer até
quebrar os vidros lá de casa, me pegar, me bater. Ele dizia que eu
não era a mãe dele. Um dia, eu tive que chamar a polícia. [...] graças
a Deus ele não me machucou nenhuma vez, mas eu já corri muito
dele. Teve uma vez que eu estava deitada no sofá... eu falei um
negócio com ele [...] o que ele achou na frente que foi uma panelinha
de alumínio [...] ele mandou a panelinha lá, se ela pega na minha
cabeça tinha me matado (Valentina).
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Apesar de Valentina ter dito que nunca foi agredida, ela relata que, em
uma ocasião, ela foi atingida. Porém, a Valentina parece desejar minimizar
esse comportamento agressivo do filho, sempre retratando que, apesar de
tudo, ele não a machucou.
Teve uma vez que ele me acertou uma panelinha na cabeça. [...] só
que era daquelas finas (Valentina).
Teve uma vez que ele machucou um rapaz. Falam que é ele, mas eu
não sei se é também. [...] me disseram que ele deu uma cacetada
nesse rapaz, teve que ir para o pronto de socorro. Quando largou ele
lá em casa, ele pegou uma pedra, correu atrás do moço e deu uma
cacetada nele (Valentina).
Eu tenho medo do Moisés agredir a minha tia. [...] e ela está mais
velhinha do que eu (Valentina).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS