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ESPECIALIZAÇÃO EM PSICANALISE
ARAPIRACA
2022
PSICOPATOLOGIAS EM UMA ABORDAGEM PSICANALÍTICA
MARIA DE FÁTIMA CUPERTINO DE ALMEIDA
RESUMO - Neste artigo, faz-se uma reflexão acerca dos estudos sobre psicopatologia e
sua aplicação no campo psicanalítico ao considerar aspectos da neurosecontemporâneas.
Para tanto, abordam-se as modificações da constituição da família na história e a
influência dessas modificações na imago paterna, diferenciando-a da função paterna.
Aborda-se também o sintoma enquanto expressão da verdade do inconsciente e o
paradoxo do diagnóstico psicanalítico, bem como se discute o enlaçamento do “estranho”
com a alteridade.
Ainda que levantemos tais explicações, vale abrir um espaço para que
seja ressaltado aquilo que foi brilhantemente levantado por Ceccarelli: “Não
obstante, a complexidade intrínseca do psicopatológico indica que o objeto de
trabalho da psicologia – as paixões que constituem o sujeito – não é
apreensível por um discurso único e muito menos redutível a uma forma
discursiva que o unifique.
Pelo contrário, o faz mais extenso e nos coloca mais próximos daquele
que nos pede por auxílio. Por isso, é de suma importância que saibamos que
não podemos centralizar em nossas mãos, nem nos envaidecer com o nosso
lugar do suposto saber, a supressão de todos os males. Além disso, é indo um
pouco mais além, conforme foi levantado por Estevan (s.d): “Para Freud só
existe um meio de se conseguir a cura. Para ele só o próprio doente é capaz
de se curar e, para que o próprio doente se cure, é preciso que ele descubra,
com seus próprios olhos, qual é a causa que provocou sua neurose. É preciso
se encontrar a causa, e só o doente é capaz disso.
2 DESENVOLVIMENTO
Posto isso, não podemos esquecer que cada sujeito irá relatar os
acontecimentos durante a sua vida, dependendo da forma particular dos
“sentir”, interpretá-los e expressá-los intimamente ou perante a sociedade. A
psicanálise estuda e trabalha suas hipóteses diagnósticas a partir de três
principais grupos de estruturas clínicas: a neurose, a psicose e a perversão.
Para o objetivo deste estudo, basta que saibamos que, “por outro lado,
na fronteira móvel que o separa das doenças mentais, o grupo das neuroses
tende a anexar quadros clínicos (obsessões e fobias) classificados, ainda, por
certos autores entre as ‘psicoses’, as ‘loucuras’ ou os ‘delírios’.” (2006, p. 297)
Aqui precisamos salientar outro tópico que é de suma importância. Para tal,
façamos nossas as palavras de Laplanche e Pontalis que ao explicarem sobre
as neuroses levantaram que “Dificilmente poderemos considerar concluída a
diferenciação entre as estruturas psicóticas, perversas e neuróticas.
Por isso, a nossa definição corre o risco inevitável de ser ampla demais,
à medida em que se pode aplicar, pelo menos parcialmente, às perversões e
às psicoses.” (1996, p. 299) Assim, basta que entendamos o conceito da
neurose como toda a variedade de condição psiquiátrica, onde a angústia
emocional ou o conflito inconsciente são expressos por perturbações físicas,
fisiológicas e/ou mentais.
Foi somente Freud quem considerou este quadro clínico como uma
doença psíquica bem definida e que, portanto, exigia uma etiologia específica.
Ao estudar e atender algumas pacientes histéricas, Freud pôde abandonar o
método sugestivo e a utilização da hipnose para investigar o inconsciente. Ele
percebeu, de tal modo, que a histeria é causada pela rejeição do desejo sexual
tipicamente reprimido, manifestando-se em forma de ansiedades e traumas.
Freud nomeou diferentes tipos de histeria, o que nos faz perceber, que
esta estrutura clínica é uma classe de neurose que apresenta variados quadros
clínicos. Suas principais formas sintomáticas é a histeria de conversão, onde o
conflito é simbolizado através de sintomas corporais diversos, e a histeria de
angústia, em que a angústia é fixada de modo estável, através de fobias que
podem ser observadas na neurose obsessiva.
Vale lembrar que a “cena” causadora de tal distúrbio pode não ter
ocorrido na realidade, ou seja, ela pode ter sido uma criação, fruto da
imaginação do paciente, a partir de desejos proibidos. Sendo essa uma cena
real ou não, por provocar grande ansiedade, o indivíduo reprime o seu
conteúdo e somatiza, criando sintomas como uma forma de impedir o
movimento para o desejo.
Vimos que a neurose se caracteriza por sintomas físicos, ainda que não
haja nenhuma lesão orgânica capaz de explicar o sofrimento de tal queixa.
Apesar disso, diferentemente da psicose, a neurose não impede o pensamento
racional. Enquanto que o neurótico tem plena consciência dos seus atos, ainda
que não consiga controlá-los, na psicose o sujeito fica alienado, sem poder
comparar o que é fruto da imaginação daquilo que ocorre na realidade.
Foi na sua obra "Três ensaios sobre a sexualidade" (1905), que Freud
retornou ao tema, relacionando-o com a sexualidade. Ao postular a existência
da atividade sexual infantil, a transformou no modelo para a sexualidade adulta,
bem como a condição da criança de “perversa polimorfa”, que, aos poucos,
seria moldada de acordo com padrões e normas ditadas pela cultura. Assim,
para ele, a perversão é a permanência, durante a vida adulta, de
características perversopolimorfas, ou seja, da sexualidade infantil. Aqui,
podemos entender quando Estevan (s.d) caracteriza este conceito como sendo
um desvio em relação ao ato sexual “normal”, definindo este como o coito que
visa a obtenção do orgasmo por penetração genital, com uma pessoa do sexo
oposto. Até um determinado ponto da sua obra, a perversão é teorizada como
consequência da fixação da libido decorrente de um excesso de gratificação.
Vale também esclarecer que o paciente perverso nos afeta muito mais
no seu contato transferencial, do que o paciente neurótico. Isso ocorre porque
aquilo que anteriormente foi usado como defesa à castração é jogado na
relação terapêutica, exigindo de nós muito mais, para que possamos
acompanhar o sujeito em sua evolução. 4.4 – A estrutura clínica da
homossexualidade De acordo com Frazão e Rosário (2008), o termo
homossexual foi introduzido na literatura científica em 1869, por Karoly María
Benkert, em uma tentativa de eliminar ou substituir designações pejorativas
para as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo.
Tal autor nos diz que a homossexualidade pode ser entendida como
perversa, no sentido de dizer à autoridade parental, que o sujeito conhece um
gozo a que eles não terão acesso. Desta forma, esta perversão não é de
ordem moral, é da ordem do desafio à lei, do desafio ao imperativo fálico. É
sobre o saber que o perverso imagina ter conhecimento, sobre o gozo perdido
com a castração, caso esta tivesse sido aceita.
3 CONCLUSÃO
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