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Seminarista/Psicanalista
Glenda Ventura
Ementa Introdução à Psicanálise
Todos autores, livros, textos, artigos e sites citados no decorrer da apostila; sendo
que todas as citações e textos não são de autoria da seminarista e nem da Escola de
Psicanálise de Minas Gerais EPMG.
http://www.onp.org.br/index.php/sobre-a-psicanalise
http://ibcppsicanalise.com.br/site/a-historia-do-movimento-psicanalitico/
http://estudosdoser.blogspot.com.br/2013/07/os-bastidores-da-teoria-dos-sonhos-
uma_2.html
https://psiconectar.wordpress.com/2012/05/18/limpeza-de-chamine-o-caso-anna-o-5/
http://www.notapositiva.com/old/pt/trbestbs/psicologia/12_freud_psicanalise_d.htm
https://psicologado.com/abordagens/psicanalise/o-metodo-da-associacao-livre ©
http://www.psicologiamsn.com/2015/04/os-8-principais-conceitos-da-psicanalise.html
http://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2017/11/freud-explica-entenda-sete-conceitos-
basicos-da-psicanalise.html
http://psicoativo.com/2015/12/principio-do-prazer-segundo-freud.html
http://www.douradosagora.com.br/noticias/opiniao/para-que-serve-a-psicanalise-luciana-
mariano
https://pedagogiaaopedaletra.com/tres-ensaios-sobre-teoria-sexualidade-freud/
http://www.movimentopsicanalitico.com.br/publicacoes.php?id_pub=14&id=2
https://psicanaliseclinica.com/aparelho-psiquico-freud/
http://psicoativo.com/2015/12/id-ego-superego-segundo-freud.html
http://www.febrapsi.org/publicacoes/biografias/sigmund-freud/
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Ao contrário do que muitos pensam, a psicanálise não é uma ciência, mas sim uma teoria,
que tem como objetivo a investigação e compreensão do inconsciente e é considerada como uma
forma de tratamento das psiconeuroses que acometem os seres humanos. Seu método de
tratamento consiste em:
1 - LIVRE ASSOCIAÇÃO DE IDÉIAS
2 - INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS
3 - ANÁLISE DOS ATOS FALHOS
Para Freud a psicanálise é "uma profissão de pessoas leigas que curam almas, sem que
necessariamente sejam médicos ou sacerdotes".
A psicanálise não é psicologia e/ou medicina. Porém o médico e/ou psicólogo podem ser
psicanalistas, mas não é exclusividade deles o exercício da psicanálise.
Para ser psicanalista é necessário uma formação especifica, através de cursos LIVRES.
A psicanálise surgiu em 1890 através do médico neurologista SIGMUND FREUD que
centrou seus trabalhos nos pacientes com sintomas neuróticos e/ou histéricos. Ao falar com
seus pacientes Freud acabou descobrindo casualmente que a maioria dos seus problemas eram
originados nos conflitos culturais, sendo então reprimidos seus desejos inconscientes e suas
fantasias sexuais.
A pergunta por uma causa ou origem pode ser respondida com uma reflexão sobre a eficácia
do inconsciente. Que se faz em um processo temporal que não é cronológico e sim lógico.
Diversas dissidências da matriz freudiana foram sendo verificadas ao longo do tempo, desde
a fundação da psicanálise.
A visão da psicanálise de Sigmund Freud trouxe avanços importantes para os estudos mais
atuais. Podemos observar isso na aprendizagem, cura de fobias e traumas, medos, estado emocional
e outras contribuições de problemas originados no processo emocional.
A contribuição de Freud para o conhecimento humano e para os estudos mentais são
inegáveis. O verdadeiro choque moral provocando pelas ideias de Freud serviu para que a
humanidade rompesse seus tabus e preconceitos na compreensão da sexualidade. Sendo assim, a
psicanálise estuda de forma aleatória a mente do ser humano baseado em seus relatos.
O QUE É A PSICANÁLISE
Disciplina fundada por Freud e na qual podemos, com ele, distinguir três níveis:
A) Um método de investigação que consiste essencialmente em evidenciar o significado inconsciente
das palavras, das ações, das produções imaginárias (sonhos, fantasias, delírios) de um sujeito. Este
método baseia-se principalmente nas associações livres do sujeito, que são a garantia da validade
da interpretação. A interpretação psicanalítica pode estender-se a produções humanas para as quais
não se dispõe de associações livres.
B) Um método psicoterápico baseado nesta investigação e especificado pela interpretação
controlada da resistência, da transferência e do desejo. O emprego da psicanálise como sinônimo
de tratamento psicanalítico está ligado a este sentido; exemplo: começar uma psicanálise (ou
análise).
C) Um conjunto de teorias psicológicas e psicopatológicas em que são sistematizados os dados
introduzidos pelo método psicanalítico de investigação e de tratamento.
*Dicionário de Psicanálise: Laplanche e Pontalis
Termo criado por Sigmund Freud*, em 1896, para nomear um método particular de
psicoterapia* (ou tratamento pela fala) proveniente do processo catártico (catarse*) de Josef Breuer*
e pautado na exploração do inconsciente*, com a ajuda da associação livre*, por parte do paciente,
e da interpretação*, por parte do psicanalista. Por extensão, dá-se o nome de psicanálise:
1. ao tratamento conduzido de acordo com esse método;
2. à disciplina fundada por Freud (e somente a ela), na medida em que abrange um método
terapêutico, uma organização clínica, uma técnica psicanalítica*, um sistema de pensamento e uma
modalidade de transmissão do saber (análise didática*, supervisão*) que se apoia na transferência*
e permite formar praticantes do inconsciente;
3. ao movimento psicanalítico, isto é, a uma escola de pensamento que engloba todas as correntes
do freudismo*.
*Dicionário de Psicanalise: Elisabeth Roudinesco / Michel Plon
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Quando se fala em psicanálise, logo se pensa em relações entre pais e filhos, complexo de
Édipo e claro, em sexualidade. Quem nunca ouviu expressões como “fulano é um neurótico”,
“beltrana é uma histérica”, “deixa de paranoia”, ou ainda, “ai, acho que eu tenho complexo de Édipo”,
“tudo é culpa da mãe”, sem contar a clássica “Freud explica”. O fato é que estas expressões,
utilizadas corriqueiramente pelo senso comum, são fruto de uma longa e exaustiva observação
clínico-teórica empreendida pelo médico vienense Sigmund Freud há quase dois séculos. Se hoje
nos deparamos com tais conceitos em nosso dia-a-dia, seguramente é porque em sua origem eles
foram embasados e divulgados amplamente, a despeito daqueles que sempre ao se depararem com
novas ideias, primeiramente as refutam e procuram desmascará-las. Mas como tudo começou?
A psicanálise foi criada por Sigmund Freud no final do século dezenove, e suas bases
abalaram o mundo e a sociedade da época. No entanto, a força de suas ideias e de seu trabalho
clínico foram contundentes para que a psicanálise ganhasse o respeito e a aceitação necessárias,
não apenas por parte da comunidade médica, como também de outros segmentos acadêmicos.
Quando Freud escreveu o artigo sobre a história do movimento psicanalítico, em 1914, sua intenção
era mostrar à sociedade da época, os postulados que faziam parte da psicanálise, bem como
demonstrar que algumas teorias criadas por alguns de seus discípulos, a saber, Adler e Jung, eram
incompatíveis com a teoria psicanalítica, e, portanto eles deveriam denominar as mesmas com
nomenclaturas, diferentes.
O primeiro período do movimento psicanalítico vai até 1902, época em que Freud trabalhou
sozinho, e por conta disso, conseguiu extrair algumas vantagens. Não precisava ler determinadas
publicações, nem realizar embates com adversários de suas ideias; não precisava se preocupar com
reuniões, datas e encontros inconvenientes. Com isso ganhava tempo para burilar suas teorias e
refinar sua prática clínica. De 1902 a 1910, a psicanálise ganha espaço em outros contextos e meios
acadêmicos. Neste período inúmeros acontecimentos culminaram em algumas deserções.
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A primeira grande parceria de Freud foi com Joseph Breuer (1842/1925), um médico
austríaco que desempenhou um papel muito importante nos primórdios da psicanálise. Freud e
Breuer escreveram o livro “Estudos sobre a histeria”, no qual narraram o caso clínico de Anna
O. Para realizar este tratamento eles se valeram do método catártico. O referido método,
desenvolvido por Breuer, buscava acessar os sintomas dos pacientes histéricos a partir de
fragmentos do seu passado. Estes fragmentos estariam associados a cenas, fatos e emoções – na
maioria das vezes traumáticos – que haviam sido esquecidos. O objetivo da intervenção era fazer
com que o paciente rememorasse e revivesse essas experiências através de um estado hipnótico.
A catarse pode ser definida como uma descarga de emoções e afetos represados.
Freud e Breuer divergiam quanto à etiologia do transtorno psíquico da histeria. Para Breuer a
explicação estaria apoiada numa abordagem fisiológica, diferentemente de Freud, que destacava a
importância dos elementos psíquicos e da sexualidade na gênese dos processos neuróticos. Além
disso, Freud percebeu que a intervenção através da hipnose, nem sempre garantia o sucesso do
tratamento, gerando muitas resistências e provocando o retorno deslocado de alguns sintomas
extintos. Dessa forma, Freud abandona a hipnose e inicia efetivamente sua “talking cure”, ou seja, a
cura através da conversa. Outros personagens importantes foram Charcot e Chrobak, ambos
considerados por Freud como “mestres”.
As ideias de seus mestres, embora não diretamente, foram muito importantes para que Freud
percebesse a importância da sexualidade para o psiquismo humano. Charcot era um psiquiatra que
desenvolvia um pioneiro trabalho de hipnose com histéricas e Chrobak era um renomado
ginecologista que mantinha relações sociais com Freud. Quanto à etiologia sexual das neuroses,
inúmeros fatores se somaram às pesquisas de Freud, tanto com relação à técnica quanto com
relação aos resultados esperados de uma análise, e alguns destes fatores são: a descoberta da
transferência, o uso das associações livres de ideias, o reconhecimento da sexualidade infantil, a
utilização dos sonhos como a “via régia para o inconsciente”, a representação dos chistes, lapsos e
atos falhos para os pacientes, a resistência, os mecanismos de defesa, a teoria do recalque –
considerada “a pedra angular da psicanálise” por Freud – e muitos outros conceitos estabelecidos.
Freud estrutura a etiologia das neuroses postulando a chamada teoria da sedução. Esta teoria
dá conta de que entre a criança e o adulto ocorre um assédio sexual, sem a excitação consciente
por parte da primeira, devido a insuficiência de condições somáticas de excitação para consumar o
ato. Na puberdade, a cena traumática da infância ganha outra representação, seguida de uma
excitação sexual que impele o indivíduo a estabelecer o recalque de tal lembrança.
a fatos reais, mas sim a fantasias. Criou então o conceito de realidade psíquica, permeada por
fantasias, às quais, por sua vez, proporcionariam a representação ligada à vida sexual. Freud, por
ser judeu, estava preocupado com o fato de que a psicanálise pudesse ser associada unicamente a
uma teoria judaica, o que fez com que investisse em um de seus discípulos, C. G. Jung, homem mais
jovem, sem laços com o Judaísmo e que naturalmente ocuparia seu lugar depois de sua morte. Freud
não imaginava que, em suas palavras “esta seria a escolha mais infeliz possível”. Desse modo, Freud
resolve fundar a IPA (Associação Internacional de Psicanálise) cujo objetivo era “promover e apoiar
a ciência da psicanálise”. Jung foi nomeado presidente da associação. Mas as ideias de Jung não
são aceitas por Freud e os dois rompem relações em 1913.
Finalmente Freud arremata sua visão histórica da psicanálise declarando que “os homens
são fortes enquanto representam uma ideia forte; se enfraquecem quando se opõem a ela”.
Mas como se encontra a psicanálise hoje? Alguns movimentos tem obtido maior espaço no
âmbito didático, como por exemplo a psicanálise Kleiniana, baseada nas teorias de Melanie Klein, a
Winnicottiana, inspirada no trabalho de Donald Winnicott, a Lacaniana, representada pelo trabalho
hercúleo realizado por Jacques Lacan, responsável pelo resgate das idéias freudianas, e muitas
outras embasadas em psicanalistas do calibre de Wilfried Bion, Françoise Dolto e Juan David Nasio.
Embora existam inúmeras ramificações e propostas teóricas dentro do ensino em psicanálise, a
nossa é ir ao encontro das ideias originais de Sigmund Freud, buscando externalizar seu cabedal e
contribuir para a construção de um mundo mais justo e ético.
http://ibcppsicanalise.com.br/site/a-historia-do-movimento-psicanalitico/
Sigmund Freud foi o filho mais velho entre sete de seu pai Jacob Freud, e filho do terceiro
casamento com Amalia Nathansohn. Sigmund nasceu no dia 06 de maio de 1856, na cidade de
Freiberg, na Moravia ou Pribor, na República Tcheca. Do terceiro casamento ainda nasceram Julius,
Anna, Débora (Rosa), Marie (Mitzi), Adolfine (Dolfi), Pauline (Paula) e Alexander.
Devido à difícil situação financeira em que a família atravessava, toda a família mudou-se
para Viena, Áustria, onde o pai de Freud estabeleceu um comércio no bairro Leopoldstrasse.
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O jovem Freud recebeu de seu pai uma educação judaica clássica, entretanto, aberta à
filosofia do Iluminismo. E de sua mãe, grandes demonstrações de amor. Freud era adorado por
Amalia, que o chamava de “meu Sigi de ouro”. No coração do jovem Freud ainda tinha um lugar
especial reservado para sua governanta tcheca e católica, Monika Zajic, que tinha um apelido
carinhoso de Nannie.
Nannie teve um importante papel na vida do jovem Sigmund. Foi através dela que o levava
para conhecer as igrejas católicas e que lhe falava sobre o “Bom Deus”, que ele pôde ter uma visão
além do judaísmo. A princípio, estas duas mulheres, mãe e governanta, foram as mais importantes
na vida do jovem Sigmund, e muito provavelmente, desempenharam um sobreleve papel em sua
aprendizagem da sexualidade, posteriormente, fonte de suas pesquisas.
Em 1873, Freud inicia os seus estudos de medicina, sofrendo preconceito por ser judeu. Logo,
o jovem estudante se apaixona pela biologia de Darwin, dedicando-se a ela e ao positivismo. Freud
toma a teoria darwiniana como modelo de todos os seus trabalhos. No ano seguinte, Freud estava
disposto a viajar para Berlim e frequentar os cursos de Helmholtz, mas em 1875, viaja para Triestre,
na Itália, e como bolsista, começa a estudar sobre as células nervosas das enguias machos de rio,
tornando-se aluno do fisiologista Ernst Wihelm Von Brücke. Nesse período Sigmund conhece e se
torna amigo de Josef Breuer. Em 1881, Freud recebe o título de doutor.
Em 1882, Freud noiva com Martha Bernays, vindo a casar-se quatro anos depois.
Freud, depois de formado, trabalhou por três anos como pesquisador no Hospital Geral de
Viena, abandonando o cargo por questões financeiras. Acreditando nas virtudes do alcalóide de
cocaína, inicia uma pesquisa sobre a droga. Ainda sem conhecer a ação anestesiante e da
dependência que a droga provocava, administra a droga em seu amigo Ernst von Fleischl-Marxow.
O efeito anestesiante da cocaína seria também descoberto pelo oftalmologista Carl Koller. Neste
mesmo ano, Freud entra em contato com o médico Josef Breuer.
A relação de Freud e Breuer foi muito rica para a formação de Freud como psicanalista.
Descobertas foram feitas e equívocos foram cometidos por Freud, mas tudo isso fazia parte do
processo de amadurecimento dele. O caso que mais marcou a relação de trabalho de Breuer e Freud
foi o de Bertha Pappenheim, de 21 anos, mais conhecido como o caso de Anna O.
Breuer desde 1880 já vinha trabalhando com Bertha e conseguira aliviar os sintomas de
depressão e hipocondria (histeria) dela. Fazendo o uso da hipnose ele a induzia a recordar
experiências traumatizantes sofridas por ela na infância. Breuer pensava que, enquanto Bertha
estivesse sobre o efeito da hipnose, ela se lembraria de experiências que pudessem, por sua vez,
ter originado alguns de seus sintomas. Ela, ao falar sobre suas experiências durante a hipnose, ao
sair do transe hipnótico, se sentia mais aliviada dos sintomas.
Bertha apresentava depressão e nervosismo, com um quadro de hipocondria com os mais
variados sintomas (uma condição na época denominado "histeria"). Em certos momentos se
acreditava paralítica, em outros acreditava estar impossibilitada de deglutir e por algum tempo não
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conseguia comer ou beber água, mesmo estando com fome e sede. Em outras ocasiões tinha
distúrbios visuais, paralisia das extremidades e contraturas musculares, perda de sensibilidade na
pele, tosse nervosa, de modo que sua personalidade ora era a de uma deficiente, ora a de uma
pessoa normal. Por vezes sentia-se incapaz de falar seu próprio idioma, o alemão, e recorria ao
Francês ou Inglês para se comunicar. Ao ser submetida a hipnose ela relatava casos de sua infância,
essa recordação fazia que se sentisse bem após o transe hipnótico. Breuer chamou esse processo
de Catarse.
Breuer por dois anos ficou fascinado pelo caso de Bertha, e a mesma, ao término de cada
sessão, sentindo-se mais aliviada, referia-se em relação as sessões como se tivesse ocorrido uma
limpeza de chaminé ou o que chamava de cura pela palavra.
Breuer percebia (assim ele disse a Freud) que os incidentes de que Anna O. se lembrava
estavam relacionados com pensamentos ou eventos que ela repudiava. Revivendo as experiências
perturbadoras durante a sessão de hipnose, os sintomas eram reduzidos ou eliminados.
Breuer ensinou o seu método para Freud e os dois sempre discutiam os casos dos pacientes
que Freud cuidava, como também as técnicas e os resultados dos tratamentos. Em 1893, os dois,
em conjunto, publicaram um artigo sobre o método desenvolvido, e dois anos depois, fizeram o livro
que foi o marco inícial da teoria psicanalítica, Studien über Hysterie, em português, Estudos sobre a
histeria. Esse livro é considerado o início da teoria psicanalítica, e valeu a Breuer muitas críticas de
seus próprios colegas médicos.
A relação diária entre Breuer e Bertha fez com que ele ficasse seduzido por ela, e por sua
vez, que ela transferisse o amor que sentia pelo pai para ele, seu terapeuta. Sem os dois se darem
conta, estavam envolvidos em um processo de transferência e contratransferência. Freud, como
exímio observador, matou logo a charada e comunicou a Breuer o que de fato estaria acontecendo
entre ele e Anna O.
Matilda Altmann, esposa de Breuer, mostrava-se extremamente enciumada com essa relação
tão próxima do marido com Bertha. Breuer, por sua vez, sentia-se incomodado com aquela situação
e decide abandonar o caso. Mas, antes de abandonar o caso de Anna O, ficou claro para Breuer que
a hipnose poderia facilmente ser colocada de lado, caso o médico de forma hábil, pudesse em sua
conversa, provocar as recordações mais difíceis de serem trazidas à consciência. Foi assim que ele
compreendeu que os sintomas que Bertha apresentava eram conexões simbólicas com recordações
dolorosas relacionadas à morte de seu pai, as quais ela revelou durante a terapia.
A parceria entre Breuer e Freud chega ao fim, por Breuer não aceitar a teoria de Freud sobre
a recordação infantil de sedução. Freud acreditava que as suas pacientes tinham sido realmente
seduzidas quando crianças. Só, então, mais tarde, foi que Freud admitiu que Breuer estava certo ao
contestar, quando dissera que essas memórias eram fantasias infantis. Os médicos chamados
"Breuerianos," continuaram a utilizar as técnicas originais de catarse desenvolvidas por Breuer sem
adotar as modificações introduzidas por Freud.
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Freud concluiu que a maioria de seus pacientes tinha como material reprimido ideias
perturbadoras que estavam ligadas à sexualidade, e que, muitas das ditas lembranças de
acontecimentos reais seriam resíduos de impulsos e desejos infantis, seriam de fato fantasias. A
ansiedade que seus pacientes sentiam seria fruto da libido reprimida que desencadeava vários outros
sintomas.
Com o caso de Anna O, pôde compreender o estado de regressão, transferência e
contratransferência pertencentes ao mecanismo de defesa.
Observou o quanto é importante o analista está atendo a tudo que o analisando diz em seus
atos falhos, o próprio silêncio do paciente, a linguagem corporal e tantas outras coisas que são
manifestações do inconsciente. Saber o como interpretar as reações do analisando.
E dentre a tantas experiências observadas, a do insight, onde analisando mesmo passando
por uma elaboração do seu sofrimento emocional, vivenciando de bem de perto seus conflitos,
consegue reorganizar sua estrutura psicológica numa realidade mais saudável.
Em 1885, foi nomeado Privatdozent e ao ganhar uma bolsa para estudar em Paris, conhece
o trabalho de Jean Martin Charcot.
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O médico Jean Charcot foi um médico e cientista francês que teve o seu nome escrito nos
anais da psiquiatria, na segunda metade do séc. XIX, um dos clínicos mais importantes e professores
da França, fundador, juntamente com Guillaume Duchenne, da moderna neurologia. Suas pesquisas
mais importantes foram a respeito das doenças do cérebro, das afasias, a descoberta do aneurisma
cerebral e das causas de hemorragia cerebral.
Freud fica embevecido com o trabalho de Charcot sobre a histeria. Interessado em traduzir
suas conferências para o alemão, o médico francês o convida para ser o tradutor de suas obras,
convite este que é logo aceito. A partir daí, Freud passou a compartilhar de mais de perto dos
trabalhos clínicos realizados por Charcot.
A relação de Freud e Charcot era muito próxima ao ponto de muitos comentadores
identificarem a relação entre os dois como uma relação de pai e filho.
O período em que Freud esteve trabalhando com o médico francês é extremamente produtivo,
Sigmund não era mais o mesmo que aportara na França. Desta relação, Freud se apropria de novos
conhecimentos e seus pensamentos psicanalíticos cada vez mais vão amadurecendo.
Freud observou no trabalho de Charcot que mediante as sugestões provocadas em clientes
sadios, ocorriam, em contrapartida, toda espécie de sintomas histéricos, dentre eles as paralisias
histéricas.
Charcot surpreendeu a todos, comunidade científica e ao próprio Freud, ao afirmar que, a
natureza íntima da histeria não seria orgânica, mas de origem psíquica, sendo, então, ela, resultado
de conflitos internos desconhecidos do próprio doente. O médico concluíra a sua descoberta dizendo
que a histeria era de fato uma doença e que poderia acometer tanto em mulheres como em homens,
porém tendo uma predominância maior em mulheres. Salientou, também, que os fenômenos
histéricos-neuróticos são regidos por leis verdadeiras, embora totalmente inconscientes e
desconhecidas.
Em agosto de 1893, com a morte de Charcot, Freud foi o único aluno do médico que redigiu
um obituário dedicado ao mestre e amigo. Nele, Sigmund elogia Charcot como clínico cuja argúcia
do olhar era proporcional à capacidade de descobrir coisas novas; como mestre nos campos da
neuropatologia e neurologia, um mestre capaz de cativar uma legião de alunos em suas lições
abertas; como cidadão francês dotado de imenso repertório cultural e como aquele que, ao constatar
o esgotamento da pesquisa anátomo-patológica, pôde resgatar a histeria do enquadre religioso e do
descrédito médico conferindo-lhe o estatuto de objeto de investigação médico-científica.
O retorno de Sigmund Freud para Viena reservava algo muito importante para o mundo, a
fundação da psicanálise.
Em 1887, já em Viena, por sugestão de Josef Breuer, Freud conhece Fliess, também médico.
Desta relação surgiu uma forte amizade e Fliess tornara-se seu grande confidente e apoiador moral
de suas pesquisas.
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Fliess, entretanto, não era um simples ouvinte crítico das idéias de Freud - ele mesmo fez
algumas contribuições científicas ambiciosas para a psiquiatria da época, para as quais pediu a
confirmação do amigo.
Fliess foi o autor de três teorias que hoje se sabe serem pseudocientíficas, ou seja, sem
fundamento científico: a primeira dela foi a da chamada neurose nasal reflexa, segundo a qual Fliess
postulava haver uma conexão entre a mucosa nasal e os órgãos genitais. Segundo a teoria, uma
maneira rápida e eficiente de curar uma neurose histérica, seria remover parte da mucosa e ossos
internos do nariz.
A segunda teoria era a da bissexualidade inerente a todos os seres humanos, e que Freud
chegou a incorporar ao seu corpo teórico. Finalmente, a terceira foi a teoria da periodicidade vital,
que postulava uma espécie de biorritmo, pelo qual todos os processos vitais (os patológicos
incluídos) se desenvolveriam segundo um ciclo que duraria 28 dias nas mulheres, e 23 dias nos
homens. Segundo Fliess, esses vários relacionamentos numéricos poderiam ser úteis para
determinar a hora para a recuperação após alguma doença, por exemplo e, até mesmo a data
provável para a morte de alguém.
Foi na Conferência V em que Freud aborda pela primeira vez e com bastante dificuldade, a
respeito dos sonhos como tendo um sentido, uma manifestação do psíquico de algo incômodo e ao
mesmo tempo bastante presente na vida do sujeito. Inicia sua fala mencionando que, sintomas
patológicos de determinados pacientes neuróticos teriam um sentido, fundamentando-se, assim, no
método e tratamento psicanalíticos.
Abordou que no decurso desse tratamento os pacientes, em vez de apresentar seus
sintomas, apresentavam sonhos. A partir de tais experiências, Freud começou a suspeitar de que
também os sonhos teriam um sentido e que este mesmo sentido seria uma linguagem a ser
decifrada. Portanto, demonstrariam uma forma de preparação para o estudo das neuroses, pois os
sonhos seriam por si mesmos, um sintoma neurótico que ocorreria em todas as pessoas sadias,
chegando ao ponto em sua explanação que, partindo dos sonhos, o método psicanalítico poderia
chegar a quase todas as descobertas a que o levou a investigar as neuroses.
Freud tinha ciência de que tal perspectiva encontraria muita resistência no cenário científico,
e foi se baseando nessa resistência que ele mesmo lança uma indagação desafiadora a respeito dos
sonhos. “A maioria dos sonhos não pode absolutamente ser lembrada e é esquecida, salvo pequenos
fragmentos. E de que modo a interpretação de material desse tipo pode servir como base de uma
psicologia científica ou como método de tratar pacientes?”
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Sua resposta foi clara e precisa ao dizer que grandes coisas podem ser reveladas através de
pequenos indícios, e que existem sonhos claros e distintos, e que esta seria uma de suas definições
em relação aos sonhos.
Freud, então, conta a respeito de uma de suas experiências.
“Era uma paciente que se apresentou com estas palavras: ‘Tenho uma espécie de sentimento
como se eu tivesse ferido ou desejasse ferir uma criatura viva – uma criança? – não, mais como se
fosse um cachorro –, como se tivesse jogado de uma ponte, ou alguma outra coisa.’ Podemos
conseguir superar a deficiência da incerteza ao relembrar sonhos, se decidimos que deve ser
considerado como sonho seu tudo aquilo que nos relata a pessoa que sonhou, sem levar em conta
o que possa ter esquecido ou tenha alterado ao recordá-lo.”
Ainda a respeito do caso mencionado que, não se deve considerar os sonhos sem
importância e que, diante de sua experiência como clínico, observava que logo depois dos sonhos o
estado de ânimo em que a pessoa acordava de um sonho perdurava durante o dia inteiro. Ele ainda
fez uma colocação bastante importante.
“Os médicos têm observado casos nos quais uma doença mental começou com um sonho e
nos quais persistiu um delírio originário de um sonho; têm sido relatados casos de personagens
históricos que, em resposta a sonhos, se aventuraram a importantes empreendimentos. Podemos,
pois, indagar qual deve ser a verdadeira origem do desprezo no qual são mantidos os sonhos nos
círculos científicos.”
Sua resposta a então indagação desafiadora se completou ao dizer:
“Acredito que se trata de uma reação contra a supervalorização dos sonhos em épocas
antigas”. A partir daí, Freud destacou vários casos de épocas antigas que tinham como a premissa
principal os sonhos.
Segundo Freud, nos sonhos experimentamos toda sorte de coisas e acreditamos nelas, ao
passo que, não obstante, nada experimentamos, exceto talvez o estímulo perturbador isolado. O que
é experimentado pelos sonhos vem predominantemente sob a forma de imagens visuais;
sentimentos também podem estar presentes, assim como pensamentos que venham a se
entrelaçarem.
Freud sempre declarou que não era fácil interpretar os sonhos e nem tampouco, a pessoa
que sonhou fornecer uma perfeita descrição de seu sonho, pois um dos fatores seria o de descrever
precisamente as imagens do sonho em palavras.
Sigmund Freud utilizou-se do método da interpretação dos sonhos para formular as leis e as
características de um inconsciente surpreendente e desconhecido. Foi trilhando por esse caminho
que ele conseguiu mergulhar no conteúdo recalcado, ou seja, impróprio para o próprio sujeito, e
através de uma leitura feita dos sonhos, utilizando-se do método de associação, criou meios do que
antes foi imperiosamente inaceitável e recalcado, pudesse vir à tona e ser superado. Em muitos
casos de histeria que tratou, os sonhos estavam presentes como uma linguagem a ser decifrada.
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No caso da histeria, o principal vetor que motivaria os sonhos seria a realização de um desejo
que jamais poderia ser realizado, enquanto em estado de vigília.
“Quando não se trata de um desejo aceitável, dizia Freud, preferimos esquecê-lo. Este
esquecimento será descrito como consequência de um mecanismo chamado “recalque”. O desejo
recalcado, no entanto, permanece em algum lugar exercendo seus efeitos. Os sonhos são apenas
um exemplo destes efeitos.
Em relação aos sonhos, querer buscar uma racionalidade que remeta a uma racionalidade
imperante no estado de vigília, é algo extremamente desconexo e fora da realidade, pois os sonhos
seguem um senso, um sentindo, uma obediência própria, mas não é por isso que represente algo
evasivo, alheio e sem lógica, pois mesmo que possam a princípio denotar a aparência de peças
soltas e sem nexo, existe um quebra-cabeça a ser montado adequadamente e todas as suas peças
representará a própria vida do sujeito em suas verdades e fantasias.
Freud se referiu aos processos que ocorrem no inconsciente como processos
primários, já em relação ao consciente, seriam os processos secundários. Entre um e outro
estaria o pré-consciente que teria uma constante integração entre os dois outros.
O inconsciente em relação aos outros, dentro do mecanismo psíquico, é o maior e mais
desconhecidos de todos. Suas duas características até, então, descoberta, são a da
temporalidade e da busca de realizar seus impulsos a obter a satisfação, e é através das
pulsões que atua como representante de uma realização imediata de um desejo ou
necessidade, é que o inconsciente realiza a satisfação do prazer ou do gozo.
A teoria de Freud em relação à interpretação dos sonhos, nos reporta a considerar dois
importantes mecanismos presentes nesse processo que são o da condensação e o do
deslocamento.
No mecanismo de deslocamento, ele menciona que conteúdos que forma um todo, poderão
ser representados por uma parte ou vice-versa. Partindo deste conceito, uma ideia pode ser
representada por outra que, emocionalmente esteja associada a ela. Corriqueiramente tal fenômeno
acontece nos sonhos, onde uma ideia ou coisa poderá representar outra. Um fenômeno semelhante
também poderá ocorrer em estado de vigília, que é o da transferência, onde um indivíduo que
apresenta um determinado sentimento em relação a uma pessoa poderá transferir este sentimento
para outra pessoa de forma associativa.
A teoria psicanalítica do deslocamento apregoa a hipótese econômica de uma energia de
investimento suscetível de se deslocar das representações e trafegar por caminhos associativos. O
“livre” deslocamento desta energia é uma das principais características do modo como o processo
primário rege o funcionamento do sistema inconsciente.
No sonho há também em funcionamento o mecanismo da condensação. Este mecanismo
permite que um pequeno detalhe possa representar uma ideia completa.
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Assim, concluo esta breve resenha sobre os Sonhos, com o que dizia Freud a respeito desses
dois mecanismos representativos do inconsciente.
“Vemos como características isoladas de uma pessoa podem representá-la por inteiro ao se
compor com outras características que representam outras pessoas. Assim, um personagem pode
estar ocupando a função (que tem na realização do desejo) de toda uma multidão de personagens
que não figuram no sonho senão por fragmentos”.
Encerro este artigo com uma frase escrita pelo próprio Freud, em sua primeira interpretação
dos Sonhos (Die Traumdeutung).
“O sonho é a estrada real que conduz ao inconsciente”.
Freud levou dois anos (1898 e 1899) para escrever o Livro Interpretação dos Sonhos. Nele,
Sigmund Freud edificou os principais fundamentos da teoria psicanalítica, construindo como alicerce
de sua obra.
REFERÊNCIA
Freud, Sigmund, 1856-1939. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Edição standard brasileira. Rio de Janeiro.
Imago, 1996.
Freud, Sigmund, 1915 – 1920. Escritos sobre a psicologia do inconsciente de Sigmund Freud. Vol. II. Rio de Janeiro. Imago
Ed., 2006.
Freud, Sigmund, 1923 – 1938. Escritos sobre a psicologia do inconsciente de Sigmund Freud. Vol. III. Rio de Janeiro. Imago
Ed., 2007.
http://estudosdoser.blogspot.com.br/2013/07/os-bastidores-da-teoria-dos-sonhos-uma_2.html
O adoecimento
Anna O. adoece aos 21 anos de idade, em 1880. Considerada por Freud, portadora de uma
hereditariedade neuropática, pelo fato do histórico familiar contar com psicoses ocorridas em
parentes mais distantes. A jovem dedicou toda sua vida à família, tornando seus dias cada vez mais
monótonos, fazendo com que ela criasse uma imaginação cheia de fantasia (devaneio sistemático),
levando-a gradativamente a doença. O adoecimento de seu pai (julho de 1880), a quem mantinha
uma grande afeição, foi o ponto chave para o estado nosológico da jovem, que passou a cuidar dele.
A medida que seu pai piorava, Anna também adoecia.
Os primeiros sintomas
Uma grande aversão a alimentos levaram a jovem a um estado de anemia e debilidade,
fazendo com que não pudesse mais cuidar do pai enfermo, e essa notícia desencadeou uma tosse
muito intensa na jovem. No início de dezembro a jovem já sofria de um estrabismo convergente. Dia
11, do mesmo mês, Anna O. cai de cama e permanece até 1º de abril. Paralisias parciais, rigidez
musculares e algumas perdas de sensibilidade surgiram nesse período. Sua sintomatologia foi se
modificando e novos sinais comportamentais foram surgindo, como longos intervalos de sonolência,
mudanças de humor, alucinações diversificadas e um desenvolvimento de duas personalidades
distintas.
Agravamento
Anna O. apresentava em diferentes intervalos do dia, dois estados distintos de consciência.
O primeiro deles era marcado por uma relativa normalidade, em que a paciente ficava melancólica e
angustiada, tendo capacidade de reconhecer seu ambiente. No outro estado ela sofria alucinações,
ficava agressiva, e arremessava objetos contra as pessoas. No auge da doença, a paciente
apresentava certo grau de normalidade por um período muito curto de tempo, e suas contraturas já
haviam se estendido do lado direito até o lado esquerdo do corpo e em pouco tempo perturbações a
cercaram, trazendo alucinações com conteúdo assustadores. Anna O. dizia ver cobras negras em
objetos que se assemelhavam ao animal, como fitas e até mesmo seus cabelos. Problemas na visão
e audição também iam surgindo gradativamente, com picos leves a moderados.
Clareza do distúrbio
Distúrbios de linguagem se manifestam na paciente, que aos poucos começa a perder a
capacidade de comunicação marcada por mudanças de idioma ao conversar, englobando até quatro
idiomas em uma única frase, tornado a compreensão quase impossível. Começa a se comunicar
utilizando apenas alguns verbos, até a total abolição da fala. É nesse momento que Breuer, seu
terapeuta, percebeu que alguma coisa a ofendia, fazendo com que ela não falasse a respeito, e
quando foi indagada sobre isso, a inibição, que tornara todas suas formas de expressão nulas,
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desapareceu. Aos poucos, seus sintomas físicos foram desaparecendo, e seus movimentos do lado
esquerdo do corpo começam a voltar, assim como sua linguagem, que agora se manifesta com o
idioma apenas em inglês. (Março de 1881). Seu estrabismo também diminuiu, e dia 1º de abril,
levantou-se da cama pela primeira vez, e quatro dias depois (5 de abril), seu pai vai a óbito.
O tratamento
Durante a doença do pai, Anna estava de cama, logo, teve pouco contato com ele levando-a
então a um trauma psíquico muito grave após sua perda. Durante dois dias a jovem permaneceu em
um profundo estado de estupor, e ao emergir dele, estava diferente. Apresentou-se um pouco mais
tranquila, mas com novos sintomas. Queixava-se de problemas nos olhos, e as contraturas do lado
direito ainda estavam presentes. Comia pouco, comunicava-se apenas em inglês e não compreendia
quando falavam com ela em alemão. Breuer, viajou, dez dias após a morte do pai de Anna, e quanto
retornou, muitos dias depois, a paciente estava pior. Durante o dia a jovem tinha alucinações,
encontrava-se em um estado de consciência rebaixada, e conversava sobre seu sofrimento (em
primeiro momento com caráter poético, mas com o tempo passou a falar sobre as alucinações e
como se sentia a respeito). No final da tarde, perto de anoitecer mostrava-se lúcida e alegre, e logo
ia dormir (exatamente a rotina que seguia quando cuidava do pai; durante o dia ficava ao seu lado
acordada, e no final da tarde ia dormir).
Ao falar sobre o assunto, descrevendo suas terríveis alucinações, a jovem sentia muito temor,
mas ao final da conversa, mostrava-se mais tranquila e aliviada. Esse processo de tratamento se
manteve, mesmo após sua transferência para um casa de campo, pois foi constatado que a jovem
possuía grandes impulsos suicidas. Agora vivendo em outro lugar, as visitas de Breuer diminuíram,
e ele não pode mais fazer visitas diárias a ela. Durante o final da tarde, quando estava prestes a
dormir, a jovem entrava em um estado hipnótico, e nesse período ocorria a talking cure (cura pela
fala), Anna chamava esse processo de “Limpeza de Chaminé”. O humor da jovem ainda apresentava
mudanças, e em momentos de euforia, a terapia só ocorria após ela confirmar a identidade de Breuer,
apalpando suas mãos, cuidadosamente. Aos poucos foi sendo confirmado que seu sofrimento de
ordem psíquica e até mesmo físico, como suas contraturas, diminuía a medida que Anna se
expressava verbalmente sobre seus complexos representativos e alucinações.
repugnante em suas palavras – beber de um copo de água. Ao falar sobre isso e expulsar o que lhe
atormentava, voltou a beber agua em um copo.
Tinha problemas na audição e em muitas ocasiões, não ouvia quando alguém entrava no
recinto: Em um momento de sua vida, seu pai entrou em seu quarto e a jovem não percebeu.
Não entendia quando várias pessoas conversavam: seu pai conversava com um conhecido, e a
jovem não entendia.
Quando alguém lhe dirigia a palavra diretamente, e ela se encontrava sozinha, não conseguia
ouvir: em uma ocasião o pai lhe pediu vinho, mas Anna não escutou.
Ao se sacudir por qualquer motivo (andar de carruagem por exemplo), a jovem ficava surda: Em uma
noite, quando estava com o ouvido colada na porta do quarto do pai que se encontrava de cama,
Anna foi sacudida com raiva pelo irmão mais novo.
Algum ruído repentino provocava surdez: Ao engolir mal, o pai se sufocou provocando um susto na
jovem.
As contraturas e sensações anestésicas em seu braço direito possuem uma ligação com as
alucinações com cobras, e claro, com seu pai: Em uma noite que cuidava do pai acamado, Anna
estava sentada em uma cadeira com o braço apoiado, e que por muito tempo, ficou com uma
sensação de formigamento. Ao entrar em um de seus devaneios, a jovem viu cobras querendo atacar
seu pai; o motivo é que no terreno ao lado, de vez em quando, algumas cobras passavam por lá.
O estrabismo e problemas de visão: Certa vez quando cuidava do pai, a jovem estava com os olhos
cheios de lágrimas, e ao tentar olhar as horas no relógio dele, se aproximou esforçando-se para
enxergar, mas as lágrimas não permitiram, e tentou ao mesmo tempo disfarçar o choro para o pai,
levando futuramente ao estrabismo.
Durante toda a doença, Anna reagia a qualquer música com ritmo acentuado, com uma tosse
muito forte: A primeira vez que tossiu foi ao ouvir uma música para dançar que vinha do vizinho ao
lado. Anna sentiu vontade de estar lá naquele momento, mas não podia, pois estava cuidando de
seu pai, sentada ao seu lado, logo, essa culpa de, por um momento, pensar em abandoná-lo para
dançar, gerou uma autopunição; toda vez que uma música semelhante tocava, ela tossia.
De qualquer forma, foi com o presente caso que Freud desenvolveu muitas de suas teorias, que até
hoje são referências de muitos estudos e técnicas terapêuticas.
https://psiconectar.wordpress.com/2012/05/18/limpeza-de-chamine-o-caso-anna-o-5/
METODOLOGIA
O Método Psicanalítico
Numa primeira fase, Freud, associado a Breuer, utiliza a hipnose nos seus estudos sobre a
histeria como processo de cura para estas doenças. Procurava-se por este processo que o paciente
recordasse os fenómenos recalcados, permitindo-lhe a libertação dos traumatismos que lhes
estavam associados.
Freud, desde cedo que reconhece as limitações da hipnose. Para além de nem sempre ser
aplicável, constituía uma forma na manipulação do sujeito que permanecia passivo durante todo o
processo terapêutico. De facto, o paciente revivia os acontecimentos sob o efeito da hipnose, mas
essa recordação desaparecia ao despertar. Consequentemente, desiste deste método e envereda
por um caminho que o leva à psicanálise, constituindo o seu próprio método.
Aplica o método clínico, adaptando um conjunto de técnicas que permitiriam trazer ao
consciente as causas não conhecidas, inconscientes, dos problemas e conflitos dos
pacientes. O psicanalista, na sua prática terapêutica, recorre a alguns procedimentos e
técnicas próprias: associações livres, interpretação dos sonhos, análise do processo de
transferência e análise dos atos falhados.
A associação livre de ideias é um método que Freud desenvolveu com os seus pacientes.
Este método consiste em os doentes exprimirem livremente aquilo que sentem sem se preocupar
com uma descrição lógica ou com o sentido das afirmações. Freud pensava que bastaria despertar
na consciência recordações recalcadas, para que o paciente conseguisse libertar as emoções
congregadas em torno dos sintomas. Com a ajuda do psicanalista, o analisando irá descobrir a linha
explicativa dos seus sentimentos, ou sofrimentos.
O objetivo deste método, seria recordar, reviver os acontecimentos traumáticos recalcados,
interpretá-los e compreendê-los, de forma a dar ao ego a possibilidade de um controlo sobre as
pulsões.
Este processo deveria processar-se num cenário adequado: um divã onde o paciente se
deitaria para relaxado falar de tudo o que lhe apetecer, mesmo o que lhe pareça insignificante deve
ser contado. Por detrás do divã, encontra-se o psicanalista, que escuta com atenção o que o paciente
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conta, tentando compreendê-lo. Fala pouco, mas reenvia ao doente pertinentes interpretações. A
análise pode causar sofrimento ao doente, quando isso acontece, o paciente resiste. Cabe ao
psicanalista favorecer o ultrapassar da resistência, isto é, tentativa de impedir ou adiar a vinda ao
consciente do material recalcado. Este processo (resistência), está relacionado com a importância
que os acontecimentos têm na realidade ou na fantasia do indivíduo. É a compreensão do processo
interno e a relação com o analista que vão permitir ultrapassar a resistência.
retirar que o recalcamento é incompleto. São exemplos destes casos os erros de leitura, audição,
etc., como já foram referidos. Por fim, os atos inibidos, no qual o mecanismo de recalcamento está
completo. Aqui, as tendências são completamente bloqueadas e reenvidas para o inconsciente. É
exemplo o esquecimento.
Os atos falhados, tal como os sonhos, também constituem uma expressão deformada de
desejos recalcados, como o presidente que ao abrir a sessão diz que ela está encerrada,
manifestando o desejo de que ela termine.
Se alguns deste atos podem não ter qualquer significado, segundo Freud, a maior parte deles
tem efetivamente um significado latente.
Freud dedica um livro a analisar os atos falhados "Psicopatologia da vida quotidiana".
Considera que estes comportamentos perturbados têm um sentido que o sujeito não tem
consciência. O seu significado só é esclarecido quando se relacionam com os motivos inconscientes
de quem os realiza. Freud defende que estes erros involuntários manifestariam desejos recalcados
do inconsciente e que irromperiam na vida quotidiana.
No processo terapêutico, a análise dos atos falhados vai permitir uma melhor interpretação
dos sintomas neuróticos do paciente.
A aplicação da técnica da associação livre aos sonhos, abriu uma nova porta aos abismos da
vida psíquica.
Freud considera que a interpretação dos sonhos é o melhor meio para atingir o inconsciente do
paciente. Também, como a produção dos sonhos se assemelha à produção dos sintomas neuróticos,
porquanto se funda sobre os mesmos processos inconscientes, a interpretação dos sonhos serve
também de ponto de partida para a interpretação destes fenómenos patológicos. Mas o sonho não
tem apenas um papel na vida psíquica do sujeito; tem também uma tarefa fisiológica a desempenhar,
«Ele é o guardião do sono», protegendo-o contra as excitações que poderiam interrompê-lo.
Não foi muito difícil descobrir o dinamismo dos sonhos. Isto porque é durante o sono que
ocorrem os sonhos e, portanto, o controlo e a censura que o ego e o superego exercem sobre os
desejos inconscientes encontram-se atenuados. O material recalcado liberta-se e o desejo,
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geralmente de natureza afetivo-sexual, pode realizar-se. Contudo, a censura não desaparece, está
apenas atenuada. Daí que o desejo só se possa realizar de uma forma simbólica, disfarçada,
distorcida. Existe, assim um conjunto de mecanismos que visam disfarçar o conteúdo inaceitável do
sonho. Todo o sonho é portanto, por um lado, o cumprimento dos desejos do inconsciente, e por
outro, um desejo normal de dormir. Tal como foi afirmado por Freud: "o sonho é a satisfação de que
o desejo se realize".
Contudo, os sonhos não são claros na sua maioria, podendo parecer insignificantes para a
pessoa ou mesmo serem pesadelos, que contrariam a realização de um desejo. Isto pode acontecer
devido ao facto de esse desejo ser inaceitável para a pessoa que sonhou e, por isso, tem sido
recalcado.
Freud distingue no sonho o conteúdo manifesto e o conteúdo latente. O conteúdo manifesto
consiste na descrição que o paciente faz do que sonhou, isto é, é a história de que, por vezes, se
recorda. No entanto, o conteúdo manifesto do sonho é apenas uma fachada e, por isso, requer uma
interpretação: é o analista que vai procurar o sentido oculto do sonho, isto é, o conteúdo latente,
implícito. O conteúdo latente consiste, por sua vez, no significado profundo do sonho, que é
frequentemente incompreensível para o sonhador.
Na medida em que a linguagem dos sonhos é uma linguagem complexa, recorre
constantemente à simbologia, aos deslocamentos, às condensações. A condensação «consiste em
que um pequeno número de imagens do conteúdo manifesto do sonho evocam uma diversidade de
ideias latentes». O deslocamento «consiste, por sua vez, na substituição de aspetos centrais por
aspetos acessórios ou mesmo indiferentes, em transferir a carga emocional de uma ideia para outra
aparentemente sem grande ligação». O desejo desloca-se em imagens e alusões indiretas, exprime-
se por equivalentes simbólicos, condensa vários fatores num só, para escapar à vigilância da
censura.
O simbolismo ajuda a disfarçar o desejo, tornando o seu conteúdo manifesto incompreensível.
Decifrar um sonho é assim transpor a barreira que separa o significante do significado, o
manifesto do latente.
Concluindo, no que se refere à simbologia dos sonhos, Freud afirma a existência de símbolos
coletivos, típicos de uma mesma cultura, mas que cada sujeito as utiliza numa transformação própria,
o que exclui à partida a existência de uma simbologia universal e dificulta este trabalho de
interpretação em que a psicanálise em geral se propõe.
http://www.notapositiva.com/old/pt/trbestbs/psicologia/12_freud_psicanalise_d.htm
Elizabeth Von R. que solicitou que Freud a deixasse associar livremente, sem pressionar a busca de
uma lembrança específica.
A associação livre e os sonhos formam o que Freud chama de via régia para o inconsciente.
Na associação livre o paciente é orientado a dizer o que lhe vier cabeça, deixando de dar qualquer
orientação consciente a seus pensamentos. É essencial que ele se obrigue a informar literalmente
tudo que ocorrer à sua auto percepção, não dando margem a objeções críticas que procurem pôr
certas associações de lado, com base no fundamento de que sejam irrelevantes ou inteiramente
destituídas de sentido.
Em seu Estudo Autobiográfico Freud (1925) lembra-nos que devemos ter em mente que a
associação livre não é realmente livre. O paciente permanece sob a influência da situação analítica,
muito embora não esteja dirigindo suas atividades mentais para um assunto específico: nada lhe
ocorrerá que não tenha alguma referência com essa situação. Sua resistência contra a reprodução
do material reprimido será agora expressa de duas maneiras.
Em primeiro lugar, será revelada por objeções críticas; e foi para lidar com tais objeções que
a regra fundamental da psicanálise foi inventada. Mas se o paciente observar essa regra e assim
superar suas reservas, a resistência encontrará outro meio de expressão. Tal regra a disporá de tal
forma que o próprio material reprimido jamais ocorrerá ao paciente, mas somente algo que se
aproxima dele de maneira alusiva; e quanto maior a resistência, mais remota da idéia real, da qual o
analista se acha à procura.
O analista, que escuta serenamente, mas sem qualquer esforço constrangido, à torrente de
associações e que, pela sua experiência, possui uma idéia geral do que esperar, pode fazer uso do
material trazido à luz pelo paciente de acordo com duas possibilidades. Se a resistência for leve, ele
será capaz, pelas alusões do paciente, de inferir o próprio material inconsciente; se a resistência for
mais forte, ele será capaz de reconhecer seu caráter a partir das associações, quando parecerem
tornar-se mais remotas do tópico em mão, e o explicará ao paciente. A descoberta da resistência,
contudo constitui o primeiro passo no sentido de superá-la.
A associação livre oferece inúmeras vantagens: expõe o paciente à menor dose possível de
compulsão, jamais permitindo que se perca contato com a situação corrente real; e garante em
grande medida que nenhum fator da estrutura da neurose seja desprezado e que nada seja
introduzido nela pelas expectativas do analista. Deixa-se ao paciente, em todos os pontos essenciais,
que determine o curso da análise e o arranjo do material; qualquer manuseio sistemático de sintomas
ou complexos específicos torna-se desse modo impossível. Em completo contraste com o que
aconteceu com o hipnotismo e com o método de inicitação, o material inter-relacionado aparece em
diferentes tempos e em pontos diferentes no tratamento. Deve, teoricamente, sempre ser possível
ter uma associação, contanto que não se estabeleçam quaisquer condições quanto ao seu caráter.
Com a ajuda do método de associação livre e da arte correlata de interpretação, tornou-se
possível provar que os sonhos têm um significado, e que é possível descobri-lo. A estrutura dos
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sonhos não pode ser vista como absurda ou confusa; é um produto psíquico inteiramente válido; e o
sonho manifesto não passa de uma tradução distorcida, abreviada e mal compreendida, e na sua
maior parte uma tradução em imagens. Esses pensamentos oníricos latentes encerravam o
significado do sonho, enquanto seu conteúdo manifesto era simplesmente um simulacro, uma
fachada, que poderia servir como ponto de partida para as associações, mas não para a
interpretação.
“A associação livre é uma maneira de fazer surgir o desejo nas representações. Essa
operação é uma tarefa do analisante. A associação livre foi o dispositivo descoberto por Freud que
consiste no desenrolar das cadeias significantes do sujeito, sustentado pelo amor de saber dirigido
ao analista: a transferência. Desenrolar este que permite desatar os nós do recalque do sintoma,
cabendo, por sua vez, ao analista a direção da análise apontada para a construção da fantasia
fundamental no intuito de fazer o sujeito atravessá-la, ou seja, ir para além desta. Se a fantasia é
uma resposta do sujeito ao enigma do sexo que
representa o desejo do Outro, atravessá-la é
experimentar o estado de desolação absoluta ou de
desamparo - Hilflosigkeit, ou seja, a mais completa
solidão e a inexistência do Outro – S(A/).” (Jorge A.
Pimenta Filho Carta Acf).A associação livre como regra
fundamental da psicanálise, constitui um convite a que
o sujeito da experiência tome distância da coerência,
como condição de poder bem dizer da verdade do
sintoma que o invade. Assim a psicanálise valoriza
mais o incoerente que o coerente do sintoma e o
consultório do analista é o lugar de se desfazer desses laços da coerência do sintoma para na linha
de um novo laço – transferencial, o sujeito, enlaçado não ao analista, mas a esse lugar do
desenlaçamento, buscar dar conta de seu sintoma e elabora-lo. (Jorge A. Pimenta Filho Carta Acf)
https://psicologado.com/abordagens/psicanalise/o- metodo-da-associacao-livre ©
1) Inconsciente
O primeiro conceito tem que ser necessariamente o inconsciente (Das Unbewusste). Freud
não criou o inconsciente. Autores como Leibniz, Von Hartmann e Schopenhauer já haviam descrito
a existência do inconsciente no sentido do que não é consciente. A diferença é que Freud define
inconsciente de uma outra maneira, não como adjetivo e sim como substantivo. Assim, podemos
imaginar o inconsciente como lugar, como um topos. Na psicanálise, estudamos topologia. Ou seja,
didaticamente podemos pensar na psique como estando dividida em lugares. Na primeira tópica,
Freud fala de inconsciente, pré consciente e consciente. Na segunda tópica, temos os conceitos de
Ego, Id e Super ego (Ich, Es, Überich).
Inconsciente é o que nós não sabemos de nós mesmos, o que esquecemos, o que ficou para
trás e continua existindo, apesar de que possamos não saber exatamente sobre esses conteúdos.
Nesse sentido, o inconsciente é um adjetivo, conteúdos inconscientes na psique. Porém, como disse,
Freud vai além desse sentido que já existia na filosofia e define o inconsciente também como lugar
e como modo de funcionamento distinto do funcionamento da consciência.
Temos sonhos todas as noites e não somos nós, pelo menos não conscientemente, que os
criamos. Este é talvez o exemplo mais simples pra entender o que é o inconsciente. O Inconsciente
funciona de um outro modo: através de deslocamentos e condensações.
2) Desejo
Me lembro de um texto da Marilena Chauí no qual ela diz que desejar é desiderare.
Etimologicamente, significa deixar de considerar as estrelas (sidera). E considerar (con-sidera) é
levá-las em conta… e também do Chico Buarque – talvez porque o Renato Mezan o cite no A Trama
dos Conceitos: “O que não tem governo nem nunca terá, o que não tem limite…”
3) Formação de compromisso
O terceiro conceito é justamente o que reúne todas as formações (sonhos, sintomas, atos
falhos) em um mesmo arcabouço teórico: o conceito de formação de compromisso
(Kompromissbildung). A grosso modo podemos entender que uma parte da psique quer uma coisa
e uma outra parte quer outra. Por isso, até um pesadelo é uma realização de desejo. E até um
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sintoma, aquilo do qual reclamamos e nos sentimos mal, sinto-mal, é também uma realização de
desejo. Para entendermos o que é uma formação de compromisso, é útil entendermos a ideia de ato
falho. Um ato falho, como por exemplo esquecer de um compromisso, é um erro para a consciência,
que talvez se justifique com uma desculpa. Mas do ponto de vista do inconsciente é um ato bem
sucedido. No fundo, o sujeito não queria ir mesmo no compromisso, por isso se esqueceu dele.
Esta é uma das teses de Freud mais chocantes para quem nunca estudou psicanálise. Mas
não é difícil de entender. Para a psicanálise, a sexualidade é pensada de maneira ampla e não se
resume ao ato sexual, nem tem início na puberdade. Desde a infância, o sujeito vivencia o prazer em
seu corpo, nas chamadas zonas erógenas. A fixação da libido nestas zonas, além do que seria
“normal”, coaduna-se com os sintomas psicopatológicos da neurose, psicose e perversão.
O sujeito se forma a partir das identificações com outras pessoas. Não há como negar que a
família, especialmente o pai e a mãe (ou a pessoa que assumir os seus lugares) tem especial impacto
como influência. O conceito de complexo de Édipo foi reformulado ao longo da obra do pai da
psicanálise e acompanhar as suas modificações implica em estudar o progresso e alteração de
outros conceitos.
Contudo, é bastante conhecida a ideia de que o menino tem afetos por sua mãe e rivalidade com
seu pai. Esta formulação, que acompanha em parte o mito grego, é apenas uma das possibilidades
da vivência de identificação e rivalidade. Por exemplo, um outro menino pode se identificar com a
figura paterna e se assemelhar depois bastante com o seu pai, mas pode igualmente ter o mesmo
tipo de desejo que sua mãe, ou seja, um desejo que será dirigido ao homem, portanto, homo afetivo.
6) Estruturas da psique
A partir das relações do Édipo (situadas por volta dos 3 a 5 anos) que a estrutura permanente
da personalidade é formada, com três possíveis resultados: neurose, psicose ou perversão. Isto
significa que todos nós teremos uma ou outra destas estruturas e, depois, não conseguimos “trocar”.
E isso também significa que a normalidade para a psicanálise não é uma questão de não ter uma
estrutura psicopática, mas sim em ter sintomas que são menos graves. A diferença é de grau.
7) Transferência (Übertragung)
sua vida para o analista. Assim, o analista pode ser identificado com a figura paterna ou materna, ou
qualquer outra que tenha importância em sua vida.
http://www.psicologiamsn.com/2015/04/os-8-principais-conceitos-da-psicanalise.html
Pulsão
Conceito situado na fronteira entre o psíquico e o somático. A pulsão é a representante
psíquica dos estímulos que se originam no organismo e alcançam a mente. É diferente do
instinto, pois não apresenta uma finalidade biologicamente predeterminada, e é insaciável,
pois tem relação com um desejo, e não com uma necessidade.
É também a única parte da personalidade que Freud acreditava que estava presente desde
o nascimento. O ID é uma das forças motivadoras mais fortes, mas é a parte da personalidade que
também tende a ser enterrada no nível mais profundo, inconsciente. É constituída por todos os
nossos impulsos e desejos mais básicos.
muito jovens, muitas vezes tentam satisfazer essas necessidades, muitas vezes biológicas, tão
rapidamente quanto possível, com pouca ou nenhuma atenção dada ao comportamento que é
considerado aceitável.
O Desenvolvimento do Ego
http://psicoativo.com/2015/12/principio-do-prazer-segundo-freud.html
Além de articular a Psicanálise à ciência e à arte, traz à luz conceitos de desejo, objeto,
fantasia e outros. Um dos temas abordados pelo livro é a dificuldade em se procurar um tratamento
psicanalítico. Acredito que isso se dê por conta da propagação errônea que se faz dela. Em função
disso antes de se chegar a um tratamento psicanalítico o sujeito procura se haver com o vazio que
sente se utilizando de toda a sorte de terapias e consumos e se iludindo quando na realidade esse
vazio não pode ser extirpado, mas sim apenas vivenciado e compreendido.
Muito cedo o homem compreendeu que a religião não seria suficiente para suprir todas as
necessidades do sujeito, haja vista que somos sujeitos únicos e particulares. Se antes da religião o
homem era guiado pela razão então o seu norte passa a ser a emoção. Passa-se a perceber o
quanto as atitudes do homem são carregadas de afeto. Essa mudança da visão de homem é que
deu margem ao surgimento da psicanálise. Ela veio ressaltar que o Eu não é senão uma fachada
do próprio sujeito que somos. O que realmente somos escapa às possibilidades do Eu.
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A psicanálise irá tratar a doença da qual os sintomas emergem. Irá tornar claro de que
modo o inconsciente opera sobre esses sintomas e de que forma esse sintoma está
inconscientemente trazendo satisfação. O espaço em que a psicanálise irá atuar será na maneira
em que o sujeito se relaciona com esse sintoma.
Para que a análise surta efeito é preciso que haja comprometimento do sujeito para com o
tratamento, é preciso que esteja envolvido o "desejo" dele de compreender como ele opera sobre
os sintomas. Levando-se em conta que somos todos "sujeitos desejantes" é preciso entender qual
o desejo que nos move e o que nos censura.
O desejo, na psicanálise, nos remete a uma falta, a percepção de uma "coisa" que
supostamente teria nos salvado do desamparo. A essa "coisa" Lacan deu o nome de "objeto a". Na
verdade essa coisa nunca existiu, mas serve como um objetivo que perseguimos com a "fantasia"
de que nos tornaríamos seres completos caso a encontrássemos. Na tentativa de suprir essa falta
de "um objeto" o sujeito, que é sujeito do desejo puro, desliza de objeto em objeto, de roupa em
roupa, de disco em disco, de doce em doce, de significante em significante...
Na análise o sujeito irá se constituir através da confrontação com os seus limites. E, uma
das confrontações decisivas para essa delimitação de sujeito é a lei da castração. Então, nesse
caso, a função da análise não é de aconselhamento ou avaliações e sim a do encontro desse
sujeito com o real, o acolhimento e a compreensão da sua imperfeição, já que as visões opostas de
mundo como o bem e o mal, o bonito e o feio, o sagrado e o profano, são uma constante afirmação
da vida.
AP do Fórum do Campo Lacaniano - Luciana Mariano*
http://www.douradosagora.com.br/noticias/opiniao/para-que-serve-a-psicanalise-luciana-mariano
A SEXUALIDADE INFANTIL
Freud foi um dos primeiros e, em muitos aspetos, o mais influente dos que tentaram dar uma
explicação sistemática do desenvolvimento da personalidade. Freud foi um gigante intelectual, cujas
ideias influenciaram profundamente muitos aspetos da nossa cultura.
A teoria da personalidade de Freud é complicada. Contém muitos conceitos originais, cujo
significado é muitas vezes estranho e obscuro.
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Foi o trabalho desenvolvido com os seus doentes, que o levou a concluir que muitos dos
sintomas neuróticos estavam relacionados com a sexualidade, objeto de múltiplas repressões e
obstáculos. Para Freud, a infância era determinante para o desenvolvimento da personalidade, pois
considera que o comportamento sexual adulto está relacionado com as vivências infantis.
Depois de ter afirmado que existia uma instância inconsciente no psiquismo humano, Freud
vai provocar um grande escândalo ao atribuir à sexualidade um papel essencial na vida psíquica
humana. Para além disso, afirma a existência de uma sexualidade infantil. A sexualidade exprime-
se desde o nascimento, não se inicia apenas com o funcionamento das glândulas sexuais na
puberdade.
Com a descoberta da sexualidade infantil, Freud teve de modificar as suas noções,
distinguindo sexual de genital. A sexualidade não se limita ao ato sexual entre duas pessoas, é toda
a atividade pulsional que tende a uma satisfação.
De acordo com a concepção corrente, a vida sexual humana consiste essencialmente no
contato dos órgãos genitais de uma pessoa com os de outra do sexo oposto. Este impulso apareceria
na puberdade, isto é, aquando da maturação sexual, o qual serviria para a procriação, contudo
sempre se conheceram factos que vão para além desta concessão: é curioso que existam pessoas
que se sintam atraídas por outras do mesmo sexo; não é menos estranho que existam pessoas cujos
desejos pareciam ser sexuais, mas ao mesmo tempo põem de lado os seus órgãos genitais e a sua
utilização normal, a tais seres chamam-se "perversos"; por fim nota-se que certas crianças
manifestam precocemente interesse pelos seus próprios órgãos genitais e sinais de excitação nos
mesmos.
É compreensível que a psicanálise despertasse admiração e antagonismo, quando contradisse todas
as concepções populares sobre sexualidade, e chegou às seguintes conclusões fundamentais:
A vida sexual não começa só na puberdade, mas inicia-se com evidentes manifestações após
o nascimento.
É necessário estabelecer uma nítida diferença entre os conceitos "sexual" e "genital". O
primeiro é um conceito mais amplo e engloba muitas atividades que podem não ter qualquer relação
com os órgãos genitais.
. A vida sexual abrange a função de obter prazer em zonas do corpo, uma função que
posteriormente é posta ao serviço da procriação, mas que frequentemente as duas funções não
chegam a coincidir na íntegra.
Para o fundador da psicanálise, o desenvolvimento da personalidade processa-se numa
sequência de estádios psicossexuais que decorrem desde o nascimento até à adolescência. Sendo
assim, os primeiros anos de vida têm uma importância fulcral na estruturação da personalidade: nós
somos o resultado da história da nossa infância.
A cada estádio psicossexual corresponde uma determinada zona erógena, região do corpo
(epiderme ou mucosa), que quando estimulada dá prazer. Aos diferentes estádios do
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Estádio Oral
Este estádio é principalmente caracterizado no primeiro ano de vida (até aos 12/18 meses).
O ser humano nasce com um conjunto de pulsões inatas, o id. O ego forma-se, no primeiro ano de
vida, de uma parte do id, que começa a ter características próprias. Estas formam-se pela
consciência das percepções internas e externas que o bebé vai experienciando. São principalmente
importantes as percepções visuais, sinestésicas e auditivas.
A zona erógena do bebé nesta altura, é constituída pelos lábios e pela cavidade bucal. O
bebé obtém grande prazer em atividades como sugar, mamar e outras. A alimentação é uma grande
fonte de prazer para o bebé. O chupar o seio, é para os freudianos representado como a primeira
atividade sexual.
A criança não tem consciência de que o seu corpo se diferencia do da mãe, já que ela nasce
num estado indiferenciado. A relação entre a mãe que alimenta o bebé vai refletir-se na vida futura.
O desmame corresponde a uma frustração que vai situar a criança em relação à realidade do
mundo.
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Estádio Anal
Este estádio situa-se na vida da criança quando termina o estádio oral, aos doze meses, até
mais ou menos aos três anos.
A zona erógena, nesta fase, é a região anal e a mucosa intestinal. A estimulação desta parte
do corpo dá prazer à criança. Contudo, as contrações musculares podem provocar dor, criando uma
ambivalência entre estas duas emoções.
Nesta fase, a criança é mais autónoma, procurando afirmar-se e realizar as suas vontades.
A ambivalência está presente na forma como a criança hesita entre ceder ou opor-se às
regras de higiene que a mãe lhe exige. As relações com a mãe e outras pessoas vão estabelecer-se
neste contexto.
Por volta dos 2/3 anos de idade, a criança começa a controlar as fezes e a urina, pondo fim
a este estádio.
Estádio Fálico
Este estádio pode durar alguns anos, terminando por volta dos cinco anos de idade. É durante
este estádio que a criança descobre as qualidades de agentes de prazer dos órgãos sexuais e se
entrega à auto estimulação. Desta forma, a zona erógena é a região genital.
Outros fatos que marcam este estádio é o interesse das crianças em questões como: "Como
nascem os bebés?". Para além disso, estão atentas às diferenças anatómicas entre rapazes e
raparigas, às relações entre homens e mulheres, pai e mãe, brincam aos médicos e aos pais e às
mães.
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Os prazeres da criança durante este estádio, são auto eróticos, isto é, a libido da criança
dirige-se para ela mesma. O final do estádio fálico é marcado por uma mudança importante: a criança
começa a dirigir a libido no sentido de amar objetos externos a ela própria.
Freud formulou a hipótese de que a libido da criança começa a dirigir-se para o progenitor do
sexo oposto, resultando no chamado complexo de Édipo. Freud deu particular importância a este
estádio, precisamente por ser durante este período que as crianças vão vivenciar o complexo de
Édipo, e por ser nesta etapa que a estrutura da personalidade está formada com a existência de um
superego.
O complexo de Édipo consiste, portanto, na atração que o rapaz tem pela mãe, ou que a
rapariga tem pelo pai, a quem estiveram sempre ligados desde que nasceram, e que agora é
diferentemente sentida. Assim, a sexualidade, que era até esta idade exclusivamente auto erótica,
vai agora ser investida nos pais.
Freud defende que os desejos libidinosos do filho para com a figura materna são totalmente
inconscientes, embora eles influenciem o seu comportamento. À medida que o seu desejo se sente
mais forte, a criança entra inconscientemente em competição com pai. Isto origina outro complexo -
o complexo de castração - em que o rapaz teme que o pai se vingue, mutilando-lhe os órgãos
genitais. É este temor que o ajuda a resolver o complexo de Édipo, já que vai reivindicar aos desejos
libidinosos para com a mãe e escapa, assim, à ameaça de castração. Ao mesmo tempo, o rapaz
identifica-se com o pai, satisfazendo indiretamente os desejos libidinosos relativos à mãe.
No que toca ao desenvolvimento da personalidade da menina segue as mesmas diretrizes.
Também ela apresenta um complexo de Édipo, ou complexo de Electra, que provoca um sentimento
hostil para com a mãe, sendo os seus desejos libidinosos dirigidos para o pai. Porém a resolução
deste complexo não chega a um desfecho abrupto mediante um medo repentino e intenso, como
acontece no complexo de castração. Pelo contrário, é resolvido lentamente, e quando o desfecho é
feliz, a rapariga identifica-se com a mãe e sublima os seus sentimentos com o pai.
Freud considera que a forma como se resolve o complexo edipiano influenciará a vida afetiva
futura, sendo esta uma fase do desenvolvimento bastante importante na vida da criança.
Além dos complexos existentes neste estádio, e que influenciam o futuro da criança, também
é nela que se constitui a terceira instância do aparelho psíquico, o superego.
Estádio de Latência
Este estádio tem durabilidade de seis anos, aproximadamente, pois termina com a
puberdade.
Após a vivência do complexo de Édipo, e com o superego já formado, a criança entra numa
fase de latência. Ela vai esquecer alguns acontecimentos vividos nos primeiros anos de sexualidade,
através de um processo designado "amnésia infantil".
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Durante este estádio há uma diminuição da atividade sexual, sendo que a libido ou impulso
sexual, permanece em estado de repouso que pode ser parcial ou total. Desta forma, a criança pode
desenvolver competências e aprender coisas diversas, de uma forma mais calma e com mais
disponibilidade interior.
Ao se desenvolver psicologicamente, a criança vai aprendendo a compreender os papéis
sexuais, ou seja, ela aprende o que é ser homem e mulher, na sociedade em que vive.
Com a influência do superego vai manifestar preocupações morais, pois desenvolve
sentimentos como a repugnância, o nojo, o pudor, a vergonha, que contribuem para controlar e reter
a libido.
O ego tem mecanismos inconscientes, como a introjeção, o recalcamento, a projeção, a
sublimação, que permitem estruturar-se com uma nova organização face às pulsões do id.
Estádio Genital
Após a puberdade, o aumento da atividade das glândulas genitais acresce os impulsos
libidinosos.
Neste estádio retomam-se algumas problemáticas do estado fálico, como o complexo de
Édipo. Se este complexo foi resolvido com êxito, o indivíduo transfere a energia libidinosa para uma
pessoa fora da família e procede a uma adaptação heterossexual madura. Se, porém, o complexo
de Édipo não foi resolvido, surgem perturbações de personalidade.
Alguns adolescentes, face às dificuldades deste período, regridem a fases de
desenvolvimento anteriores, recorrendo também a mecanismos de defesa do ego, como o ascetismo
e a intelectualização. No ascetismo o adolescente nega o prazer e age de forma a controlar as
pulsões, através da imposição a si próprio de uma rigorosa disciplina e isolamento. Pela
intelectualização ou racionalização, o jovem procura esconder os aspetos emocionais da
adolescência, interessando-se por atividades do pensamento, onde coloca toda a sua energia.
O conceito de personalidade tem uma grande diversidade conceptual. A personalidade diz
respeito a um conjunto de características pessoais, persistentes e suportadas numa coerência
interna. A personalidade, é um conceito que apela à unicidade do indivíduo, naquilo que de mais
específico há em si mesmo, mas também à sua diferenciação, aquilo que o distingue dos outros. A
personalidade é uma construção pessoal, que decorre ao longo da nossa vida.
A teoria psicanalítica de Freud, perspectiva a personalidade como que dominada pelas
pulsões inconscientes.
O modo de desenvolvimento e a acentuação tónica de uma personalidade, dependem da
"constante" de energia instintiva de que o sujeito dispõe, e o modo como é distribuída. A libido
("manifestação dinâmica da pulsão sexual na vida psíquica"; pode definir-se como quantum de
energia psíquica, de raiz erótica, que motiva o homem na busca do prazer.), tem um papel
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http://www.notapositiva.com/old/pt/trbestbs/psicologia/12_freud_psicanalise_d.htm
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Formações do inconsciente
Em nossas experiências diárias não ficamos pensando se nossos atos, nossos sonhos e
nossos esquecimentos são destinados a alguma finalidade. Mas nossa vida é feita de ações que
almejam um propósito, elas tem um sentido. Qual sentido(s)?
Foi com Freud, no final do século XIX que teve início o desvendamento desses enigmas, a
partir da escuta de suas (seus) pacientes. Que aquilo que a princípio não tinha sentido, na verdade
estavam carregados de razões de ser. Assim, depois da Psicanálise tornou-se impossível pensarmos
as nossas ações sem serem como formações do inconsciente e como tal, atreladas aos desejos
subjacentes presentes no inconsciente.
A forma pela qual o inconsciente se manifesta é então através da fala, revelando o inusitado,
alguma coisa que sempre surpreende.
As formações inconscientes significam sempre outra coisa diferente daquilo que efetivamente
aparece, como efeito a ser interpretado.
O sintoma para Freud e para Lacan é a expressão de um conflito psíquico. É uma mensagem
do inconsciente. A palavra que o sintoma aprisiona ao orgânico encontra ressonância na escuta e
na leitura do analista.
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Nos atos falhos e lapsos são palavras que tropeçam, mas são palavras que confessam.
Revelam a verdade, portanto são atos bem sucedidos. Normalmente na vida cotidiana nos
desculpamos dizendo: "me enganei, não era bem isso o que eu queria dizer”.
No chiste ou dito espirituoso (gracejo, piada) é em “Os chistes e sua relação com o
inconsciente” de 1905 que Freud faz estudo criterioso da satisfação que ele provoca e a relação com
a vida psíquica. E Lacan no seminário cinco “As formações do inconsciente” de 1957- 1958
revisitando o assunto, traz contribuições significativas para o tema.
A importância que Freud atribuía aos chistes é antiga, remonta aos primórdios da psicanálise.
Na sua correspondência com Fliess ele fala de seu interesse pelas piadas sobre judeus e começa a
colecioná-las. Ele sempre temperava suas inquietações fundamentais com o relato de chistes.
Segundo Lacan o chiste se produz quando passa do campo da linguagem organizada do signo
para a ambiguidade do significante.
Para ser um chiste não bastaria dizer “ele me tratou de igual para igual”, é imprescindível o
surgimento de algo novo. A novidade, a criação foi o neologismo familionário. Esse neologismo
(criação de uma palavra nova, geralmente derivada de outra ou outras já existentes) é o veículo
revelador, causando desconserto.
A satisfação sentida ao realizar um chiste ou ouvi-lo é que, aquilo que se diz com espírito é
aceito com mais facilidade pela censura, de dizer o que se quer dizer sob disfarce.
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Quando uma pessoa faz um chiste não precisa manter o recalcamento. Com o recalcamento
colocamos de lado e mantemos afastados do consciente aquilo que nos provoca desprazer. Nesse
sentido é que podemos dizer que é no retorno do recalcado, de forma travestida que ele pode
aparecer.
Freud dizia “aquele que deixa escapar inocentemente a verdade, na realidade está feliz em
tirar a máscara”.
No "Os chistes e sua relação com o inconsciente" Freud coloca que há dois tipos de chistes:
os inofensivos ou inocentes e os tendenciosos.
Os inofensivos têm sua origem primitiva a um período lúdico da atividade infantil. Como
exemplo Freud cita o episódio em que um rapaz vai visitar uma moça, que está se vestindo deixa
escapar “oh, que vergonha, alguém não poder deixar-se ver, logo quando se está mais atraente”.
Os chistes realizam uma tarefa subversora, jogando com o sentido das palavras enunciadas,
velando e revelando a um só tempo um pensamento privado que vem a tornar-se público.
No chiste, o sujeito tomando a palavra e fazendo rir, desarma quem poderia criticá-lo.
Para concluir, podemos dizer que a análise é, para além de uma escuta diferenciada das
formações do inconsciente, é principalmente uma leitura daquilo que é dito pelo sujeito, que sem o
saber o diz. É dizendo aquilo que pensa, que não sabe que sabe, que justamente a verdade que diz
respeito só a ele pode aparecer.
Bibliografia
1 FREUD, S. Os chistes e sua relação com o inconsciente. Edição Standard das Obras Completas de
Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1977. v 8.
2___ . Psicopatologia da vida cotidiana. Edição Standard das Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de
Janeiro: Imago, 1977. v 6.
3 LACAN, J. O seminário - As formações do inconsciente. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
http://www.movimentopsicanalitico.com.br/publicacoes.php?id_pub=14&id=2
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O FUNCIONAMENTO DA PSIQUE
O conceito freudiano de aparelho psíquico designa uma organização psíquica que é dividida
em instâncias. Essas instâncias – ou sistemas – são interligadas entre si, mas possuem funções
distintas. A partir desse conceito Freud apresentou dois modelos: a divisão topográfica e a divisão
estrutural da mente.
Laplanche coloca ainda que quando se refere à questão do aparelho psíquico, Freud sugere
uma ideia organizacional. Mas ainda que trate da disposição interna das partes mentais, e ainda que
trate da ligação entre determinada função com um lugar psíquico específico, ele não se limita a isso.
Freud indica ainda a existência de uma ordem temporal a essas partes e funções.
É importante compreendermos com isso que as divisões mentais que Freud indica não têm
caráter de divisão anatômica. Não há no cérebro compartimentos fixos e bem delimitados como
indicam as teorias de localização cerebral. O que Freud indica, principalmente, é que as excitações
seguem uma determinada ordem, e essa ordem se relaciona aos sistemas do aparelho psíquico.
Como vimos nos textos que postei anteriormente, a mente humana não é formada apenas
por sua parte consciente. Sua inconsciente seria, para Freud, mais determinante na formação da
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personalidade, inclusive. Nesse sentido, a vida psíquica poderia ser medida de acordo com o grau
de consciência do indivíduo em relação ao fenômeno.
Caso você não se lembre ou não tenha compreendido o que são os níveis consciente, pré-consciente
e inconsciente da mente humana, aqui vai um resumindo:
O Consciente se relaciona com os fenômenos dos quais nos damos conta, aqueles em que
podemos pensar através da razão, aqueles cuja existência atual é clara para nós.
O Pré-consciente é o ambiente daqueles fenômenos que não estão “na nossa cara” em
determinado momento, mas que não são inacessíveis à nossa razão. Os fenômenos pré-
conscientes são aqueles que estão prestes a chegar a consciência, a transitar para o nível
consciente.
O Inconsciente é o terreno dos fenômenos obscuros. Medos, desejos, pulsões… Tudo que
a mente evita para não sofrer, habita o inconsciente. Temos acesso a esses fenômenos
apenas por meio dos atos falhos, dos sonhos ou da análise psicanalítica.
É importante, enfim, compreender que existe uma certa fluidez entre esses três domínios: um
conteúdo pode se tornar consciente, assim como pode ser expulso para a inconsciência.
O Id é regido pelo Princípio de Prazer. Teremos um texto específico para tratar desse conceito
em breve. Por enquanto, basta compreender que seu objetivo é sempre satisfazer as pulsões, aliviar
a tensão.
ID: No Id não estão gravadas apenas as representações inconscientes, mas representações inatas,
transmitidas filogeneticamente e pertencentes à espécie humana.
EGO: O Ego, por sua vez, tem a função de realizar os desejos do Id. Mas para satisfazê-los, precisa
adaptá-los à realidade, às regras sociais e às demandas do Superego. Enquanto o Id é guiado pelo
Princípio de Prazer, o Ego segue o Princípio de Realidade (que explicaremos em breve).
SUPEREGO: O Superego pode ser entendido, basicamente, como o ramo da moral, da culpa e da
autocensura.
Prosseguindo, podemos dizer que o Eu (Ego) provem do Id, mas que emerge a partir de um
processo de diferenciação. Um indivíduo é composto, então, por um “isso” psíquico, o Id, que é
desconhecido e inconsciente. Sobre esse Id e a partir dele, na superfície, se constitui o Eu (Ego). O
Eu (Ego), portanto, advém do Id mas só pode ser visível pois passa pela influência do mundo exterior.
Influência essa que se dá por intermédio dos sistemas Pré-consciente e Inconsciente.
O Eu marca um limite entre o dentro e o fora, que se identifica com os próprios limites do
corpo físico. O Eu seria derivado das sensações corporais cuja principal origem é a superfície do
corpo. Por isso, Freud o considerava como a superfície do aparelho mental.
O Superego, por fim, é uma instância responsável por várias funções. Elas seriam: auto-
observação, consciência moral e base de apoio dos ideais. Ele seria como uma parte deparada do
Ego, que sobre ele exerce vigilância. Por isso sua dimensão persecutória é tão destacada por Freud.
CONCLUSÃO
Essa detalhada explicação visa demonstrar que o conceito de Aparelho Psíquico em Freud
designa o conjunto de todas as partes da mente humana: Consciente, Inconsciente e Pré-consciente;
Id, Ego e Superego. A totalidade desses sistemas, que trabalham de forma integrada na composição
do indivíduo, é o que Freud denomina de Aparelho Psíquico ou simplesmente Psique.
https://psicanaliseclinica.com/aparelho-psiquico-freud/
O Id
No entanto, sempre satisfazer essas necessidades imediatamente não é realista nem mesmo
possível. Se estivéssemos completamente guiados pelo princípio do prazer, estaríamos tirando
coisas das mãos de outras pessoas para satisfazer os nossos próprios desejos. Este tipo de
comportamento seria perturbador e socialmente inaceitável. De acordo com Freud, o id tenta resolver
a tensão criada pelo princípio do prazer através do processo primário, que envolve a formação de
uma imagem mental do objeto desejado como uma forma de satisfazer a necessidade.
O Ego
O ego opera com base no princípio da realidade, que se esforça para satisfazer os desejos
do id de formas realistas e socialmente adequadas. O princípio de realidade pesa os custos e
benefícios de uma ação antes de decidir agir sobre desistir ou ceder aos impulsos. Em muitos casos,
os impulsos do id podem ser satisfeitos através de um processo de gratificação atrasada – o ego
acabará por permitir o comportamento, mas apenas no momento e lugar apropriados.
O ego também descarrega a tensão criada por impulsos não satisfeitos através do processo
secundário, em que o ego tenta encontrar um objeto no mundo real que corresponde a imagem
mental criada pelo processo principal do id.
O Superego
De acordo com Freud, o superego começa a surgir por volta dos cinco anos.
2. A consciência inclui informações sobre as coisas que são vistas como ruins pelos pais e pela
sociedade. Esses comportamentos são frequentemente proibidos e levam a consequências
ruins, punições ou sentimentos de culpa e remorso.
O superego atua para aperfeiçoar e civilizar o nosso comportamento. Ele trabalha para
suprimir todos os impulsos inaceitáveis do id e se esforça para realizar o ato do ego nas normas
idealistas em vez de princípios realistas. O superego está presente no consciente, pré-consciente
e inconsciente.
Com tantas forças concorrentes, é fácil ver como podem surgir conflitos entre o id, ego e
superego. Freud usou o termo força do ego para se referir a capacidade do ego de trabalhar apesar
destas forças em conflito. Uma pessoa com boa força do ego é capaz de gerir eficazmente essas
pressões, enquanto que aquela com a força do ego demasiada ou pouca pode tornar-se inflexível
demais ou muito perturbada.
De acordo com Freud, a chave para uma personalidade saudável é um equilíbrio entre o id,
o ego, e do superego.
Observações
“Ao discutir o id, ego, e superego, devemos ter em mente que estes não são três entidades
separadas com fronteiras bem definidas, mas sim que eles representam uma variedade de
diferentes processos, e funções dinâmicas dentro da pessoa … Além disso , em seus escritos
Freud usa os pronomes pessoais alemães, das Es, Das Ich, e das uber-Ich. A tradução em
latim dos pronomes tornou-os menos pessoais, levantando a questão da conveniência de
tentar uma nova tradução.” (Engler, 2009)
“Com o ego colocado no meio, e se todas as exigências forem atendidas, o sistema mantém
o seu equilíbrio de poder psíquico e o resultado é uma personalidade ajustada. Se houver
desequilíbrio, o resultado é uma personalidade mal adaptada. Por exemplo, com
um id dominante, o resultado poderia ser um indivíduo impulsivo e incontrolável (por exemplo,
um criminoso). Com um superego hiperativo, o resultado pode ser um indivíduo
extremamente moralista (por exemplo, um religioso fanático). Um ego avassalador poderia
criar um indivíduo apegado demais à realidade (por exemplo, extremamente rígido e incapaz
de desviar de regras ou estrutura), e incapaz de ser espontâneo (por exemplo, expressar
impulsos do id), ou com a falta de um sentimento pessoal do que é certo e errado.” (Carducci,
2009)
http://psicoativo.com/2015/12/id-ego-superego-segundo-freud.html
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MECANISMOS DE DEFESA
A sublimação é um tipo especial de mecanismo de defesa por ser uma defesa bem sucedida da
psique que resolve e elimina a tensão.
Veremos detidamente cada mecanismo de defesa citado e ainda alguns mais.
Compensação
É o processo psíquico em que o indivíduo se considera deficiente em algo e então compensa
essa deficiência por meio de outro aspecto que possui criando uma imagem distorcida de si ou para
si fazendo deste mecanismo de defesa um trunfo que o faz se sentir engrandecido.
Deslocamento
É o mecanismo de defesa pelo qual o todo é representado apenas por uma parte ou é
representada a parte como sendo o todo e isso sem compromisso nenhum com a lógica.
Este mecanismo de defesa também pode fazer com que uma ideia seja representada por
outra ideia que tenha o mesmo acento emocional.
Introjeção
Introjetar algo psiquicamente é algo que exprime afirmação (eu me alimento) e o ego utiliza a
introjeção diante do que lhe é agradável, sendo a introjeção, então, algo relacionado à satisfação.
Porém, a incorporação de algo externo faz com que o objeto introjetado seja algo, ou seja, um
conteúdo psíquico, isto é, algo subjetivo e, sendo assim, o objeto em si é destruído objetivamente.
Exemplo: um vaso é um vaso no mundo objetivo, mas se um vaso foi dado por alguém querido ele
ganha um significado subjetivo e deixa de ser objetivamente apenas um vaso. O sentido objetivo foi
devorado.
O ego ao perceber este fato aprendeu a usar a introjeção para fins hostis utilizando a
introjeção como um mecanismo de defesa como executora de impulsos destrutivos.
A identificação através da introjeção é o tipo mais primitivo de relação com os objetos.
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Expiação
É o mecanismo de defesa em que o indivíduo quer pagar pelo seu erro imediatamente para
se livrar do desprazer psíquico que sente.
Fantasia
A fantasia é um mecanismo de defesa em que é criado um roteiro imaginário com o propósito
de realização de uma necessidade ou desejo.
Isto é, o indivíduo concebe uma situação em sua mente que satisfaz uma necessidade ou
desejo ou que não pode ser satisfeita na vida real.
Formação Reativa
É o mecanismo de defesa que se caracteriza pela adoção de uma atitude de sentido oposto
a um desejo que foi recalcado.
A Formação Reativa é o processo psíquico em que um impulso indesejável é mantido
inconsciente e é expressado em seu sentido oposto.
Exemplos: superproteção, ternura excessiva e atitudes exageradas.
Um exemplo prático é o da mãe que inconscientemente tem raiva do filho por algum motivo
(como o de vê-lo inconscientemente como aquele que lhe roubou a sua liberdade), mas que ela não
se vê podendo admitir tal raiva e então de forma reativa superprotege este filho.
Identificação
É o mecanismo de defesa em que a pessoa assimila um aspecto ou característica de outra
pessoa e passa a se apresentar conforme o modelo dessa outra pessoa.
Isolamento
É o mecanismo de defesa típico das neuroses obsessivas.
Este mecanismo de defesa atua de forma a isolar um comportamento ou pensamento fazendo
com que as demais ligações com os outros pensamentos ou com o conhecimento de si mesmo
fiquem totalmente interrompidas.
Desta forma, os demais pensamentos e comportamentos são excluídos do consciente.
O mecanismo de defesa do isolamento gera:
Pausas no decurso do pensamento
Fórmulas e rituais
Ações que criam um hiato na sucessão temporal
Negação
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Projeção
Este mecanismo de defesa acontece quando o ego não consegue aceitar algo que é seu e
então atribui o que é inaceitável para si no outro.
O indivíduo projeta algo de si no mundo externo sem perceber que aquilo que foi projetado é
algo seu que considera indesejável.
Um exemplo prático é o da pessoa que fala: “você reparou como aquela pessoa é fofoqueira
e está sempre falando pelas costas dos outros?”. A pessoa acabou de se mostrar fofoqueira, mas
projetou esta característica indesejada no outro.
Racionalização
Este mecanismo de defesa acontece quando o indivíduo constrói uma argumentação
intelectualmente aceitável e que justifica a deformação da realidade ou da verdade, ou seja, algo que
“justifica” o seu pensamento ou comportamento.
A racionalização seria como uma mentira inconsciente que se põe no lugar da verdade que
não se quer aceitar.
Regressão
É o mecanismo de defesa em que o ego recua para um estágio anterior para fugir de situações
conflitivas atuais.
Neste mecanismo de defesa a pessoa retorna a etapas anteriores de seu desenvolvimento.
Repressão
É o mecanismo de defesa que atua de forma a fazer desaparecer da consciência os impulsos
ameaçadores; os sentimentos, os desejos ou qualquer conteúdos tidos como desagradável ou
inoportuno.
Sublimação
Este é o mais eficaz dos mecanismos de defesa porque canaliza os impulsos libidinais para
uma postura socialmente produtiva e aceitável.
A sublimação acontece quando a libido com finalidade sexual ou agressiva é direcionada para
fins nobres, geralmente para finalidades artísticas, intelectuais, sociais ou culturais.
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Substituição
Este mecanismo de defesa é uma forma de deslocamento em que um objeto que tem valor
emocional mas que não pode ser possuído é inconscientemente substituído por outro que tenha
alguma similaridade ao proibido.
http://euniverso.net.br/o-mecanismo-de-defesa-na-psicanalise/
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psíquica) do pulsional como uma zona de prazer, apoiado numa tensão de necessidade, que é a
fome. Na medida em que a fome é saciada, a vivência de satisfação aparece marcando a experiência
de prazer.
Este é o modelo da representação psíquica, recurso importante para a capacidade psíquica
posterior, mais complexa. Nesse ponto da obra (depois incluirá outros organizadores), Freud propõe
a noção de prazer e de desprazer como organizadores do psiquismo incipiente, no movimento de
inscrição do autoerotismo e da capacidade da experiência de prazer, demarcando um narcisismo e
um ego rudimentar. A teoria do narcisismo Freud só desenvolve quatorze anos depois, no texto Uma
introdução ao narcisismo, de 1914.
Um salto de quinze anos separa a teoria dos sonhos, com a comprovação da existência do
inconsciente, dos artigos da metapsicologia, que trabalham importantes posições conceituais de
Freud.
A importância da sexualidade já está afirmada no texto dos Três ensaios sobre a sexualidade,
de 1909, e se completa no texto de 1915 sobre As pulsões e seus destinos.
Agora, em 1915, Freud trabalha a teoria das pulsões numa base conceitual desenvolvida em
14, em Uma introdução ao narcisismo. Propõe o eixo do movimento pulsional entre uma libido do
ego (narcisista) e uma libido para os objetos, definindo assim o ponto de conflito entre os interesses
do ego – ou narcisistas- e os objetais. Nessa dualidade pulsional, o eixo é de retraimento ou de
investimento.
Esta teoria das pulsões será substituída em 1920, em Mais além do princípio do prazer, com
a descoberta da compulsão à repetição, que introduz a noção de pulsão de morte. Aí, a modificação
consiste em situar o pólo da dualidade entre pulsão de vida e pulsão de morte. Define que a pulsão
de vida tende para o movimento de ligação, de conexões e de sínteses e a pulsão de morte para um
retorno ao estado anterior e para dissolução das conexões.
Esta teoria das pulsões, com vigência a partir de 1920, coincide com outra modificação (que
não significa a anulação do modelo anterior): a introdução, em 1924, da segunda tópica, com o texto
O ego e o id. Nasce, assim, um novo modelo: o estrutural, na concepção do aparelho psíquico, que
sucede e amplia o modelo econômico da metapsicologia, com ênfase na vigência de um aparelho
psíquico com a noção de sistemas psíquicos: inconsciente, pré-consciente e consciente.
Esses sistemas predominavam como localização tópica (hipotética) da circulação pulsional,
em que o conflito estava pensado dentro do eixo do retraimento ou investimento da libido do ego ou
objetal, nascendo a patologia destas articulações. Agora, no modelo estrutural, a patologia nasce de
um conflito entre as instâncias id, ego e superego. Em ambos os modelos, tanto na primeira como
na segunda tópica, Freud afirma que o conflito é intrapsíquico, como condição ou como o indicador
do sintoma neurótico.
Na metapsicologia, em especial no texto As pulsões e seus destinos, de 1915, Freud descreve
as vicissitudes das pulsões e seus quatro destinos. Dois destinos inerentes à pulsão e primários: a
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transformação no contrário (passivo em ativo) e o retorno para a própria pessoa (mobilidade do ego
para os objetos e retraimento, tomando a si como objeto). Esses dois destinos reaparecerão
posteriormente, em 1926, no texto O problema econômico do masoquismo, mantendo a mesma
proposta conceitual, mas aumentando a complexidade, com a inclusão da noção de masoquismo.
Como a articulação dos dois destinos primários da pulsão compõe a patologia masoquista, abre-se
uma nova contribuição teórica para a clínica.
Os outros dois destinos da pulsão, que supõem maior complexidade do aparelho psíquico e
ocorrem como resultado de trabalho psíquico, são o recalcamento e a sublimação. Freud considerou
esses destinos pulsionais importantes, mas não escreveu sobre a sublimação.
Escreveu, em 1915, o texto O recalcamento, em que diz que esse mecanismo é a pedra
angular da Psicanálise. Ele tanto estrutura o psiquismo (recalcamento originário) como organiza a
situação de conflito diante da ameaça de desprazer frente a uma transgressão e ao proibido. É o
mecanismo do recalcamento que reordena as representações psíquicas, que separa, desliga a
representação da pulsão, que é composta da representação de ideia e da representação de afeto. O
destino da idéia, um desligado, agora em processo primário, vai para o sistema inconsciente e para
a representação de afeto. Freud descreve três destinos: inibido; ligado a nova ideia, campo da
neurose – se ligar-se ao corpo temos o sintoma conversivo; se for a algum objeto do mundo externo
temos os sintomas fóbicos. Assim, o destino da representação de afeto organiza o caminho do
sintoma como efeito do recalcamento. O terceiro destino é a descarga no corpo sem mediação
psíquica, gerando angústia severa.
Nesse texto, Freud reúne o caminho conceitual da metapsicologia com os destinos da
patologia, com os sintomas neuróticos. Examina a arquitetura dos sintomas, mas principalmente
enfatiza o destino do recalcamento como resultado de recursos do aparelho psíquico, que é capaz
de trabalhar, mesmo que organizando sintomas. Na saúde, esse aparelho psíquico é capaz de
produzir sonhos.
O texto O inconsciente, de 1915, complementa a metapsicologia das articulações teóricas
sobre a circulação das forças pulsionais no interior do aparelho psíquico. Descreve o sistema
inconsciente e suas propriedades típicas, onde o processo primário é a lógica do ilógico, em que os
contrários coexistem etc.
O principal é, no sistema inconsciente, o espaço do desligado, aquele resultado do efeito do
recalcamento ou do que nunca foi ligado. As capacidades psíquicas, os recursos, dependem da
articulação e da natureza desses desligados do sistema inconsciente.
No texto Luto e melancolia, de 1915, Freud complementa a metapsicologia com a contribuição
sobre o trabalho psíquico no luto. Descreve o luto e sua patologia, a melancolia, mostrando os efeitos
da perda de um objeto amado sobre o ego, nas duas situações.
A metapsicologia freudiana compõe-se, então, dos seguintes textos: Uma introdução ao
narcisismo, As pulsões e seus destinos, O recalcamento, O inconsciente e Luto e melancolia. Eles
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explicitam a concepção de Freud da chamada primeira tópica, em que o modelo econômico tem uma
ênfase especial.
O pensamento de Freud sobre a articulação da patologia está apoiado na teoria das pulsões
vigente, que enunciava o resultado econômico da distribuição da libido entre o ego e os objetos, a
sexualidade e suas vicissitudes. Nesses movimentos e distribuição de energia libidinal, na direção
da satisfação do prazer ou na direção da proibição (recalque) pela ameaça de desprazer. Mas Freud
encontra obstáculos que indicam outras articulações. Além do princípio do prazer, de 1920, traz a
descoberta da compulsão, da insistência do desprazer, o que o obriga a rever a teoria das pulsões e
do modelo econômico. Ele passa a considerar uma articulação estrutural apoiada na ligação e no
desligamento das pulsões, que circulariam entre instâncias e não só em sistemas psíquicos.
A nova teoria das pulsões articula a pulsão de vida na direção das ligações e a pulsão de
morte no sentido do desligamento e do retorno do estado anterior, sem tensão.
Quais seriam as consequências técnicas induzidas pela virada de 1920 e seus
desdobramentos nos anos posteriores, até 1938? Uma mudança teórica poderia alterar a teoria da
cura e criar desafios técnicos, porém se conservam as metas da análise: são a associação livre e a
atenção flutuante, que junto com as recomendações de neutralidade e abstinência organizam o
método. Os escritos técnicos de Freud, já raros, ainda conservam e referendam os fundamentos
originais da teoria da cura e do trabalho psicanalítico com o dispositivo técnico da interpretação.
Porém, existem mudanças conceituais, apenas no conceito de inconsciente, que se amplia
como noção teórica, com a inclusão da perspectiva de novos dinamismos que atuam sobre o
funcionamento psíquico, e no conceito do ego, que adquire maior relevância. A mudança descentra
da ênfase, apenas, nas tensões internas oriundas da força da pulsão, que originam representações,
que se amplia, com a inclusão da noção de irrepresentável (sem representação), e também com o
reconhecimento do valor dos efeitos do excesso do traumático, ainda sem representações psíquicas,
que paralisa o ego. Assim essas inclusões e ampliações rearticulam numa perspectiva econômica,
o modelo estrutural.
Um forte indicador da vigência metapsicológica e teórica, mas e as consequências clínicas?
Como pensar as resistências à cura? Em 1923, Freud sublinha a existência da reação terapêutica
negativa e os problemas técnicos que daí advém; e, em 1924, no texto sobre a perda da realidade
na neurose e psicose, surge nova interrogação clínica e técnica. Abre-se a questão do estatuto da
realidade histórica e da pré-história. Em Análise terminável e interminável, de 1937, inclui uma
revolução técnica, amplia o recurso da interpretação e inclui a construção, trabalhada em
Construções em análise, de 1938.
Freud, para articular, na teoria da cura, o efeito de suas considerações sobre a compulsão à
repetição e a relação com a realidade histórica, inclui a noção de clivagem, como um mecanismo
que obriga ao ego a uma cisão, mecanismo diverso do recalque. Diante do impasse criado com a
descoberta da compulsão à repetição, e frente ao desligado da pulsão de morte, o conceito de
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O saber é uma construção constante. Essa sabedoria é o legado de Freud com a Psicanálise.
Um especial modo de utilizar a teoria, o conhecimento de si próprio, das emoções, enfim, do tempo
e da importância de se tomar posse da história e de descobrir um saber pensar. Curar (se) será
sempre uma ruptura, inclusive da ignorância. Perguntar inaugura um espanto, é a insolência da
curiosidade abrindo lugar para criar-atividade. Resulta numa invenção e isso é novo, um espaço para
criar articula fundamentais diferenças.
O espaço da análise é uma criação e uma criação equivale a uma ruptura. É com a criação
de um espaço de análise que alcançamos a ruptura necessária naqueles efeitos do inconsciente
recalcado, que são as mais verdadeiras das criações do aparelho psíquico. Também daquelas
criações inconscientes movidas pelo inominável, ou indizível do irrepresentado, expressas em atos
que repetem o irrepresentável. Para ocorrer efeitos, um despertar, um entender, depende-se da
ruptura daquela literalidade que reveste e obscurece um discurso ou um ato. Interpelar a literalidade
é criar uma ruptura que não é o mesmo que descobrir a existência, ou explicar, e sim interrogar .
Resenha elaborada por Silvia Brandão Skowronsky, membro do Instituto da Sociedade Brasileira de
Psicanálise de Porto Alegre.
http://www.febrapsi.org/publicacoes/biografias/sigmund-freud/