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6. SIMONETTI, A. Manual de psicologia hospitalar: o mapa da doença.

São Paulo:
Casa do psicólogo, 2004.

INTRODUÇÃO
DIAGNÓSTICO – uma visão geral do que está acontecendo em torno da doença
e da pessoa acometida.
TERAPÊUTICA – o trabalho clínico propriamente dito, com suas estratégias e
técnicas
 Pensar sobre causas psíquicas e versus causas orgânicas é de pensamento
médico, sendo uma verdadeira armadilha epistemológica para o psicólogo,
pois o psiquismo também é orgânico e vice-versa.
ASPECTO PSICOLOGICO – manifestações da subjetividade humana diante da
doença, tais como conflitos, sentimentos, estilo de vida e de adoecer, sonhos etc. O
conjunto de sentidos que o sujeito confere a sua doença, constitui, como consequência, o
campo dos aspectos psicológicos. Além das perdas (perda de autonomia, perda de contato,
etc) também existem os ganhos – ganhos secundários – da doença; estes ganhos podem
ser o ganho de atenção e cuidados, direitos de não ir trabalhar ou até soar como desculpa
frente a dificuldade existenciais, profissionais ou amorosas exe.: “falo isso porque estou
doente”, situando esses ganhos secundários como sendo fatores de manutenção do
adoecimento.
FOCO – o foco da psicologia hospitalar é o aspecto psicológico em torno do
processo de adoecimento; além da dor, também a angustia instalada não somente no
paciente, como na família, na equipe e na declarada negação dos médicos. A psicologia
hospitalar também é a psicologia da ligação, com a função de facilitar os
relacionamentos/comunicação entre médico, família e paciente.

QUAL O OBJETIVO DA PSICOLOGIA HOSPITALAR?


O objetivo da psicologia hospitalar é a subjetividade. Ela esta interessada em dar
voz a subjetividade do paciente, restituindo-lhe o lugar de sujeito que a medicina o afasta.
Ela não tem meta a ser alcançada, mas aciona um processo de elaboração simbólica do
adoecimento.
A psicologia hospitalar não prevê a eliminação imediata dos sintomas. Para a
mesma, além de causar dores e fazer sofrer, os sintomas carregam dimensões de
mensagens, compreendendo a noção que o sujeito fala por meio de seus sintomas ou é
falado por eles; a Psicologia então, Escuta.
COMO FUNCIONA A PSICOLOGIA HOSPITALAR?
É pelas palavras que o psicólogo faz o seu trabalho de tratar os aspectos
psicológicos do adoecimento. Ele fala e escuta – mais a primeira que a segunda. Sua
estratégia então é: tratar o adoecimento no registro simbólico, porque o real a medicina
trata. É através da palavra que o psicólogo compreende o sentido que o doente confere a
sua doença, a relação que se estabelece.
Ao escutar o paciente, o psicólogo “sustenta” a angustia do paciente tempo
suficiente para que ele possa submete-la ao processo de elaboração simbólica, com vistas
a mantê-la em sua frente para que o paciente consiga simboliza-la e dissolve-la.
O psicólogo hospitalar se vale de duas técnicas: escuta analítica e manejo
situacional.
Escuta analítica: reúne intervenções básicas da psicologia clínica, tais como a
escuta, associação livre, interpretação, analise de transferência, etc. o setting terapêutico
é diferenciado, não é a clinica e sim o hospital.
Manejo situacional: trata-se de intervenções direcionadas a situação concreta que
se forma em torno do adoecimento. Ex.: controle situacional, gerenciamento de
mudanças, analise institucional, mediação de conflitos, psicologia de ligação, etc.
O PARADIGMA
A psicologia hospitalar vem se desenvolvendo no paradigma epistemológico que
busca uma visão mais ampla do ser humano e privilegia a articulação entre diferentes
formas de conhecimento. “em vez de doença existem doentes”.
AS FONTES
O manual sintetiza o conhecimento de três fontes principais: a psiquiatria, a
psicanalise e a psicologia hospitalar.
Psiquiatria: contribui com o modelo de diagnostico multiaxial, com as noções de
psicopatologia e com o ideal de clareza e objetividade na linguagem.
Psicanalise: contribui com a filosofia, a estratégia e a técnica. Sua filosofia
transfere o foco da “doença” para o “sujeito” com suas formas conscientes e inconscientes
de lidar com o adoecimento. A estratégia que orienta todo o trabalho para a palavra e uma
técnica modificada de divã para leito (embora não sejam a mesma coisa), mantem o
fundamental da psicanalise: Fazer falar e escutar.
Psicologia hospitalar: contribui com a vivencia no ambiente hospitalar tratando
os pacientes, com casos clínicos e histórias que no manual surgem como exemplos e como
dicas praticas para situações que possam ocorrer mais comumente no hospital.
RESUMÃO
A psicologia hospitalar define-se como campo de entendimento e tratamento dos
aspectos psicológicos em torno do adoecimento. Seu objetivo é a subjetividade; também
é objetivo ajudar o sujeito a fazer a travessia da experiencia do adoecimento – sem ser o
guia. A sua filosofia é curar sempre que possível, aliviar quase sempre, escutar sempre.
A estratégia é tratar do adoecimento no registro do simbólico, realizando seu trabalho
através da palavra. As técnicas utilizadas são: escuta analítica e manejo situacional. E
por fim, seu paradigma é o ser humano como um todo... se não o todo, ao menos o plural.
“não existem doenças, existem doentes”.

PARTE I – O DIAGNÓSTICO
OLHOS PARA VER ALEM DO BIOLOGICO
Trata-se de: ver, entender e intervir (não necessariamente nesta ordem, mas
interligados). Os diagnósticos facilitam o tratamento. O diagnostico na psicologia
hospitalar é o conhecimento da situação existencial e subjetiva da pessoa adoentada em
sua relação com a doença. Desta maneira, o diagnostico na psicologia hospitalar trata de
uma descrição abrangente dos processos que influenciam e são influenciados pela doença.
Diante de todas as informações passadas pelo paciente (queixas, história de vida, etc.,) o
diagnostico torna-se uma maneira que o psicólogo tem para organizar todo esse material,
construindo um mapa, para que depois de analisado, tenha-se as melhores intervenções a
serem feitas com o paciente.
Trata-se de uma hipótese de trabalho e não uma verdade absoluta.
Para trabalhar com a psicologia hospitalar, precisa-se um mínimo de intuição, mas
também deve-se buscar o entendimento racional do processo de adoecimento e o
planejamento das ações terapêuticas. Os psicólogos atuam a partir do amor e do saber,
porem acrescentado a esse amor, é necessário ter o método racional.
O instrumento da psicologia hospitalar não são testes, mas sim, o olho clinico do
psicólogo; também não é realizada escalas quantitativas de comparações. O diagnostico
já é um tratamento sempre, pois você acolhe, colhe informações, já é uma intervenção
com efeitos terapêuticos.
O manual propõe o diagnostico a partir de quatro eixos: reacional – o modo como
a pessoa reage a doença; médico – sua condição médica; situacional – analise das
diversas áreas da vida do paciente; e transferencial – analise de suas relações. Estes
eixos são maneiras diferentes e complementares de abordar o adoecimento e possuem a
vantagem de identificar as situações-alvo para a abordagem terapêutica, além de
organizar, na mente do psicólogo, o material clinico fornecido pelo paciente.
Eixo reacional – pode apresentar quatro posições principais de reação: negação,
revolta, depressão e enfrentamento.
Na negação, o medo da doença encontra-se reprimido, e o que surge é uma
angustia vaga, indefinida e flutuante. No caso das doenças visíveis, no estágio da
negação a pessoa tende a se isolar. A negação não é falta de inteligência, mas sim, falta
de condições psicológicas para lidar naquele instante com aquela situação de
adoecimento. As principais características são: tipo de solução – mágica; emoções
predominantes – alegria; emoção evitada – medo; pensamento – onipotência;
comportamento – adiar, procrastinar.; estado de ânimo – irritado e angustiado;
mecanismo – projeção; o sujeito – insiste; forma de passividade – não existe problema;
esperança – exagerada; personagem – Sidarta; frases – não é possível, no fim da tudo
certo, bobagem comigo isso nunca acontece, não, isso não pode estar acontecendo.
Na revolta, a pessoa cai na real, enxerga a doença e enche-se de uma revolta que
pode ser direcionada para qualquer lado. A revolta tem inicio com a frustração, sendo
quase uma sequência: frustração-irritação-depressão. O psicólogo irá apenas
acompanhar os caminhos, sem induzi-lo. A pessoa também pode apresentar padrões de
estresse, que é um estado de prontidão para a luta e é positivo quando existe mesmo um
desafio a ser enfrentado, do contrario o corpo entrará em colapso. As principais
características são: posição tentada – impulsiva; emoção predominante – raiva; emoção
evitada – tristeza; pensamento – injustiça; comportamento – fora de foco, agitação;
estado de ânimo – estressado e solitário; o sujeito – resiste; mecanismo – luta; forma de
passividade – a luta não muda o problema; esperança; querelante; personagem – dom
quixote; frases – isto não é justo, porque eu, eu odeio ficar doente.
Na depressão a pessoa se entrega passivamente a doença. É como uma
desistência, nada se espera do futuro e pode se negar a qualquer esforço do tratamento.
Fase de desesperança. A depressão tem dois tipos: depressão relacional - o luto (normal)
e a melancolia (patológico; quadro com características psicóticas, paciente com risco
suicida, etc.). As principais características são: solução tentada – narcísica; emoção
predominante – tristeza; emoção evitada – raiva; pensamento – impotência;
comportamento – paralisia; estado de animo – sem graça, faz por fazer; o sujeito –
desiste; mecanismo – luto; passividade – não a luta; esperança – minimizada; frases –
não adianta, pra que, não vai dar certo.
No enfrentamento trata-se de fazer da queda um paço de dança. É um adeus as
ilusões que provocam no paciente a mudança. Existe uma alternância entre a luta e o
luto. Na luta as reações diante do limite são: fazer, produzir, mudar, força, garra,
disciplina, revolução, ação, trabalho no real, indústria. Já no luto, as reações diante do
limite da perda são: falar, elaborar, adaptar, flexibilidade, profundidade, sabedoria,
aceitação, meditação, trabalho psíquico e alquimia. As características são: solução
tentada – realista; emoção predominante – todas; emoção evitada – nenhuma;
pensamento – potencia; comportamento – faz o que tem de fazer; estado de animo –
flexível; o sujeito – cria e inventa; mecanismo – luta e luto; passividade – não há;
esperança – matizada.
Eixo II diagnóstico médico: Resumo da situação clinica do paciente e deve
incluir: o nome da doença, sua condição aguda ou crônica, os sintomas principais, o
tratamento proposto, a medicação em uso, a aderência ao tratamento, o prognostico, o
risco de contagio e o nível de proteção requerido.
Eixo III diagnostico situacional: constrói uma visão panorâmica da vida do
paciente, enfatizando as áreas não diretamente relacionadas com a doença, mas que
influenciam e são por ela influenciadas. A saber: a vida psíquica, social, cultural e
dimensão corporal. É um mapeamento dos pontos e problemas na vida do paciente que
dificultam o enfrentamento da doença e também pontos de apoio que ajudam neste
processo.
Eixo IV diagnostico transferencial: Avalia as relações que o paciente estabelece
a partir do seu lugar no adoecimento. Busca-se compreender como a pessoa se relaciona
em meio ao adoecimento. Ocorre neste processo a transferência com suas relações,
chamadas transferenciais, não sendo apenas a repetição de sentimentos, mas também de
um lugar, de uma posição nos relacionamentos.
SOLICITAÇÃO DE ATENDIMENTO E DEMANDA DE ATENDIMENTO
A solicitação de atendimento é um pedido para que o psicólogo hospitalar atenda
alguém, podendo ser pedido pelo paciente, médico, família ou equipe de enfermagem. A
demanda é um estado psicológico caracterizado por um questionamento ou incomodo da
própria pessoa em relação a como está vivendo o adoecimento. A solicitação é uma ação,
a demanda é um estado.
RELAÇÕES PARALELAS
Existem relações fundamentais e relações paralelas. As relações paralelas são
estabelecidas entre equipe, medico, família, instituição e psicólogo. Faz-se um
diagnostico transferencial em que o próprio psicólogo não pode ficar de fora.
DOENÇA COMO LINGUAGEM
A doença é portadora de muitos significados. Uma chave universal para tradução
é um tipo de dicionário que estabelece uma correspondência fixa entre as partes do corpo
humano e uma dimensão psíquica. A segunda maneira de interpretar o sintoma, é convidar
o paciente a falar sobre ele e esperar que o sentido salte as palavras.

PARTE II – A TERAPEUTICA
Estratégias básicas: escutar, escutar, escutar, fazer falar, associação livre,
entrevista, fazer silencio, mudança, negação, revolta, depressão, enfretamento, esperança,
bater papo, a palavra pertence a quem escuta, transferência e ganho secundário, etc.

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