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(CETEP) CENTRO DE ESTUDOS

E TERAPIAS E PSICANÁLISE

MÓDULO: ESTRUTURAS CLÍNICAS – NEUROSE, PSICOSE E PERVERSÃO

CURITIBA - PR
DEZEMBRO DE 2023
(CETEP) CENTRO DE ESTUDOS
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ALUNO: VALDECIR PEREIRA DO NASCIMENTO

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A origem psicológica das doenças


“A incapacidade de tolerar a ambiguidade, é a raiz de todas as neuroses”.
(Sigmund Freud)

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Estrutura Clínica

Segundo a Psicanálise há três possibilidades de constituir-se enquanto sujeito. O sujeito


começa a se moldar ao nascer, através das experiências afetivas e depois no entorno de
sua vida e através destas relações. A atuação dessas estruturas clínicas dependerá da
atuação das figuras parentais, sendo que o pai, por sua presença ou ausência, por sua
atuação ou omissão, terá um papel predominante. É função paterna provar à criança que
tem desejo e palavra, autoridade e comunicação. Quando há falha na função paterna, as
consequências sempre são devastadoras para a prole. O que determina cada estrutura
clínica é, pois, como o sujeito encena, apreende e interpreta sua história diante das
funções materna e paterna.
Desta forma, o sujeito é Neurótico, Perverso ou Psicótico. Ou seja, de acordo com a
Psicanálise existem três Estruturas Clínicas, ou modos de o sujeito se constituir e se
relacionar com o mundo.

 A Neurose é a mais comum e atua no sujeito através do recalque.


 Já a Psicose, com o mecanismo da forclusão, reconstrói para o sujeito uma realidade
delirante ou alucinatória.
 A Perversão, mantida através da denegação ou desmentido, faz com que o sujeito, ao
mesmo tempo, aceite e negue a realidade, com uma fixação na sexualidade infantil.

NEUROSE
A neurose se refere a manifestações que ocorrem nas estruturas mentais e que pode ser
manifestada por histerias, obsessões e compulsões. Ela está relacionada também a uma
forma da pessoa ser e de reagir à vida ou a uma reação aumentada do sistema nervoso
ligada a uma experiência vivida anteriormente. A neurose foi classificada pela primeira
vez como sendo uma doença advinda de distúrbios nervosos e psicológicos. O médico
Willian Cullen, no ano de 1769. Porém, foi Sigmund Freud, que desenvolveu a teoria
psicanalítica e que acabou por dar um significado ao termo como sendo o modo como o
indivíduo se relaciona com os seus desejos e com as suas contradições.
Para entender o que é esse fenômeno se faz necessário compreender que, assim como
alguns distúrbios psíquicos, elas têm a sua origem na infância, durante a constituição do
sujeito em suas fases de desenvolvimento. Sendo assim, o recalcamento dos conteúdos
conflituosos e indesejáveis serve como um mecanismo de defesa psíquico do indivíduo a
fatores externos, embora estes permaneçam no inconsciente de cada um. Tais
mecanismos, quando disparados, tendem a vir à tona na forma de sintomas e de padrões
repetitivos de comportamento.
Neurose, se caracterizam como sendo uma resposta a eventos que foram recalcados, ou
seja, que foram reprimidos como uma estratégia mental de defesa, que está relacionada a
um ou mais momentos específicos da formação da sua personalidade.

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Pode ser dividida em três tipos: obsessiva, fóbica e histérica, todas elas podem se
manifestar sendo decorrentes de eventos estressantes, que fazem o inconsciente
despertar seus sentimentos recalcados.

Neurose Obsessiva
São manifestações de comportamentos ligados à obsessão por algo, ela acontece
quando o sujeito se encontra em um estado de estresse. Se caracteriza pela presença de
sintomas compulsivos como as ideias persistentes e a realização de atos não desejáveis.
É quando a mente humana é invadida contra a vontade do indivíduo por imagens, ideias
ou palavras. Considera-se que a neurose obsessiva é o reflexo de nossas vivências,
traumas e recalques. Sendo assim, os seus sintomas são como uma expressão simbólica
de um conflito psíquico.

Neurose Fóbica
É um tipo de transtorno que se caracteriza pela fixação da angústia em um objeto exterior.
No caso da Neurose Fóbica, o medo do objeto exterior é desproporcional ao seu perigo
real, o que acaba provocando reações incontroláveis no ser humano. Sendo assim, a
fobia é algo como um ataque de pânico quando um indivíduo está perante um objeto,
animal, local ou pessoa que lhe cause angústia.

Neurose de Histeria
Ela se caracteriza principalmente por estados de alteração da consciência, ocasionando
amnésia e perda de memória. É nela que podem vir a ocorrer manifestações sensitivas ou
motoras, paralisia, cegueira e alguns tipos de tiques. Geralmente, os sintomas da neurose
são temporários. Em seus estudos sobre a histeria Freud, definiu como sendo uma
variante anormal do comportamento, uma atitude exagerada de origem psíquica. Na
histeria, o indivíduo acaba por “encenar” doenças como forma de escapar de algumas
situações que considera insuperáveis para si. Foi através do caso de uma paciente
chamada “Anna O” que Freud descobriu que as manifestações físicas dos histéricos
estavam relacionadas a lembranças reprimidas que tinha grande intensidade para o
indivíduo, e concluiu que essas manifestações físicas eram teatrais. Os indivíduos que
possuem a neurose de histeria apresentam sintomas característicos de alguma doença e,
por essa razão, estes sintomas foram divididos em dois grandes grupos: os dissociativos
e os conversivos.

Sintomas das Neuroses


Elas apresentam sintomas que variam de indivíduo para indivíduo. Quem se encontra
com neurose pode manifestar medo frente a situações corriqueiras, preocupação
constante, alterações de humor, fobias diversas, traços histéricos, ou medo de ir a
determinados lugares por exemplo. É aí que se dá a importância do diagnóstico da
neurose, pois, com a avaliação psicológica feita pelo profissional, o psicanalista vai
entender quais questões da vida desse paciente o levaram a despertar o estado de
neurose, e com isso diagnosticá-lo de forma correta, para que o paciente seja
encaminhado para um tratamento psicoterapêutico de qualidade que o ajude com suas
neuroses. Sentimento de instabilidade nas emoções e preocupações excessivas fazem
parte desse quadro. O neurótico sente de forma intensa seus sentimentos e emoções, se
deixando levar por pensamentos desagradáveis e acaba tendo comportamentos que o

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prejudicam em seu cotidiano. As fantasias que muitas vezes são criadas no imaginário de
um neurótico acabam por não se concretizar. O sofrimento intenso que é vivido por algo
que não ocorreu se torna evidente, trazendo mais angústia e conflitos internos na pessoa.
Alguns dos sintomas que o neurótico pode vir a ter são: angústia, insônia, ansiedade,
paranoia, fobias e sensação de vazio entre outros que podem fazer com que a pessoa se
torne intolerante em relação ao que acontece em sua vida. São múltiplas as causas da
neurose e qualquer pessoa se encontra sujeita a sentir seus sintomas, por conta disso se
faz de grande importância o seu diagnóstico.

Fatores de Risco
Segundo (DSM), Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, indivíduos
com histórico pessoal ou familiar de distúrbios psicológicos, como ansiedade ou
depressão, podem estar em maior risco de desenvolver neurose. Identificar esses
antecedentes é crucial para a prevenção.

Trauma e Estresse
Experiências traumáticas ou estressantes, como abuso, perda de entes queridos ou
eventos traumáticos, podem contribuir para o desenvolvimento da neurose. É essencial
fornecer apoio às pessoas que enfrentaram tais situações.

Isolamento Social
A solidão e o isolamento social podem agravar problemas de saúde mental, incluindo a
neurose. Estabelecer conexões sociais e redes de apoio é crucial.

PSICOSE

A psicose é um estado mental patológico caracterizado pela perda de contato do indivíduo


com a realidade, que passa a apresentar sintomas como delírios, alucinações,
pensamento e fala desorganizados e comportamento motor inapropriado, incluindo
catatonia.
A psicose pode ser causada por inúmeros fatores, desde sociais, como o abuso de
substâncias psicoativas e isolamento social; como psicológicos e genéticos, como a
presença de transtornos mentais e hereditariedade.
Os principais sintomas da psicose são muito diversos e podem ser percebidos por meio
de mudanças nas características pessoais do indivíduo, como o humor, modo de pensar e
comportamento. Destaca-se que a intensidade pode variar de pessoa para pessoa e se
alterar com o decorrer do tempo.

Pensamento confuso: o modo que a pessoa encontra para se expressar costuma ser
alterado, não havendo conexão entre as ideias. Nesses casos, as frases emitidas pelo
paciente podem não ter sentido ou não serem claras. O indivíduo também pode encontrar
dificuldades para concentrar-se e ter problemas de memória recente
Delírios: a falsa ideia de perseguição está entre os principais tipos de delírios,
caracterizada por sentimentos de medo e desconfiança constante. Uma pessoa com
psicose pode, ainda, achar que tem poderes especiais ou que a televisão ou o rádio estão

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mandando mensagens diretamente a ela. Também pode apresentar ideias e


pensamentos que fogem da realidade e acreditar em algo que não está acontecendo
Alucinações: são percepções falsas da realidade. O indivíduo ouve vozes, vê coisas que
não existem, sente cheiros esquisitos e pode ter sensações tácteis desagradáveis
Comportamento alterado: no início, esse sinal costuma se manifestar na queda do
rendimento no trabalho ou na escola. Os indivíduos podem ficar tanto ativos quanto
letárgicos. Podem permanecer a maior parte do dia deitados ou sentados imóveis,
assistindo televisão. Se antes essas mesmas pessoas eram comunicativas, de uma hora
para a outra, elas podem não querer mais conversar com ninguém, preferindo ficar
sozinhas no quarto, recolhida — como também pode acontecer também o inverso.
Também podem falar ou rir sozinhos sem nenhum estímulo aparente.

TIPOS DE PSICOSE

Psicose resultante de uma condição mental ou psicológica, como esquizofrenia ou


transtorno bipolar
Psicose induzida pelo abuso de substâncias psicoativas e álcool
Psicose reativa breve, que surge como resultado de um evento extremamente
estressante
Psicose orgânica, causada por uma lesão cerebral ou enfermidade física que altere o
funcionamento do cérebro

A psicose afeta diretamente a qualidade de vida do indivíduo. Muitos pacientes não


conseguem levar uma vida normal devido aos sintomas, que são caracterizados
principalmente pela perda de contato com a realidade.

Os sinais de uma psicose afetam diretamente no desempenho da pessoa no trabalho e


nos estudos, além de impedi-lo de exercer algumas atividades básicas do dia a dia com
eficiência. Pacientes diagnosticados com algum tipo de psicose têm dificuldade para viver
normalmente e muitas vezes são incapazes de cuidar de si mesmos. Se a doença não for
tratada, eles podem apresentar perigo para si mesmos e outras pessoas ao redor.

PERVERSÃO

A perversão acabou sendo atribuída a sexualidade ou ao campo da moral, caracterizada


por uma série de desvios em relação àquilo que é esperado e considerado aceitável. Logo
é importante diferenciar perversão de perversidade. O termo “perversidade” é
compreendido como “caráter de crueldade e malignidade” (ZIMERMAN, 2004, p. 267). Já
a “perversão” está diretamente ligada a estrutura psíquica de alguém que se organiza, se
defendendo de angústias persecutórias, depressivas e de desamparo. Uma pessoa pode
ser perversa, mas necessariamente não ter atitudes de perversidade. Ou seja, a estrutura
perversa, não aponta uma conduta e/ou um desvio de caráter, pois trata-se de um modo
de estabelecimento de laço com o Outro.
A perversão é uma estrutura de personalidade em que a “busca pelo prazer é
constante”. A pessoa sabe que existem normas, são capazes de reconhecê-las, mas

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tendem a transgredi-las. No lugar de sentir culpa ou remordimento, o perverso costuma


desfrutar desses momentos, não mostrando quaisquer sinais de ansiedade. Ao contrário,
a ansiedade somente aparece nos momentos em que deseja transgredir e não consegue.
O perverso costuma materializar seu desejo de perturbar a ordem natural das coisas, as
normas estabelecidas, por meio de dois grandes grupos de comportamento: a perversão
sexual e a perversão social. É natural reunirem características exibicionistas e
descaradas, sendo impulsivas e manipuladoras. A canalização de seu prazer é
direcionada a algo que destoa do comum, considerado o movimento saudável da
estrutura neurótica - parceiro, família, realização pessoal - para algo perverso e desejos
fora do padrão. Podemos mencionar: pedofilia, zoofilia, entre outros.
O sintoma funciona como uma defesa, mas quando o sentimento de ameaça é grande,
efeitos indesejados podem surgir. Outro ponto a destacar são os mecanismos de defesa
do perverso: a idealização e a recusa. Zimerman (2004) declara que o sujeito perverso
apresenta uma “compulsão a idealizar” e impõe aos outros estas ilusões. Já a recusa
significa que parte do Eu reconhece a realidade e a outra parte faz de conta que não
existe.
A perversão pode ser classificada como: Social ou Sexual;
 Na social se enquadra a psicopatia, toxicomania e o alcoolismo;
 Na sexual se enquadram o exibicionismo, voyeurismo, sadismo, masoquismo,
sadomasoquismo, fetichismo e pedofilia.

Em relação as características, é comum se apresentarem como o melhor em tudo que


fizer, assim como práticas de manipulação, sedução, mentira, chantagem e transgressão
de normas e regras. Além de não apresentarem sentimento de culpa e se auto agredirem
através do uso e abuso de substâncias.
A sexualidade do perverso é formada através da fixação em um estágio infantil, pré-
genital da organização libidinal, como o oral, anal, acústico ou visual. Assim, em vez
desse gozo ser parte da experiência, é a própria. O resultado disso pode ser o exagero
em um modo de satisfação, a dissociação de fins e meios que negam o encontro genital
(desafiando à norma sexual, ainda que não necessariamente a jurídica) e o prazer com a
destruição do caráter da lei, com o qual a negociação depende da plasticidade do sujeito.

São as modalidades resultantes:

Fetiches: São os substitutos imaginário-simbólicos da castração, podendo ser os objetos


presentes na cena do descobrimento dela, como partes do corpo ou peças de roupa. Uma
característica dele é ser o pelo que há atração, e não um componente dela, levando ao
gozo com esta especificidade e não como um todo. Assim, pode-se dizer que neurótico, o
que é produzido com a relação com a castração são os sintomas. No do psicótico, os
delírios. E no do perverso, os fetiches.
Sadismo: é o processo baseado em empurrar a castração para o outro, como se este
fosse castrado e o perverso quem tampona a falta, sutura a divisão subjetiva. Consiste
em produzir angústia, dividir o outro.
Masoquismo: é a outra face do processo, mas, do lado da identificação com o objeto.
Consiste em sentir a dor.

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Os pacientes portadores de estruturas neuróticas caracterizam-se pelo fato de


apresentarem algum grau de sofrimento e de desadaptação em alguma, ou mais de uma
área importante da vida: sexual, familiar, profissional ou social. Incluída, o seu
predominante estado mental de bem ou mal-estar consigo próprio.

RESUMO DO FILME CISNE – NEGRO

Nina (Natalie Portman) é uma bailarina que tem uma grande obsessão pela dança.
Quando a bailarina Beth MacIntyre (Winona Ryder), a primeira bailarina da companhia
de ballet, está perto de se aposentar, Nina é escolhida como bailarina principal de “O
Lago dos Cisnes”. A concorrente de Nina é outra bailarina, Lilly (Mila Kunis): colocam-se
como rivais. Este confronto entre as duas bailarinas (Nina e Lilly) se transforma em uma
amizade distorcida, e o lado obscuro de Nina começa a aparecer.
O filme Cisne Negro é uma oportunidade para refletir sobre inúmeras temáticas, tais
como: obsessão, paranoia, (auto) agressividade, o duplo, o outro e a constituição do
sujeito. O filme traz a impossibilidade de pureza. O sujeito é dividido: é uma posição
instável que vai se estabilizando na relação com os outros e com as afirmações em
grande parte inconscientes de sua psique, Branco e Negro como lados opostos de uma
personalidade convivem na psique humana de Nina. A ambivalência está presente em
todo o filme. Isto é, o convívio entre sentimentos opostos, como amor e ódio, prazer e
obrigação, viver e morrer.
Aquilo que odiamos no outro pode estar sinalizando nosso desejo: por isso talvez Nina se
aproxime de Lilly, e o cisne branco não pode mais viver sem o seu duplo, o seu outro: o
cisne negro. Tanto existe o outro que a agressividade de Nina a princípio é contra sua
rival (Lilly), mas depois se torna auto agressividade. Isto é um sinal dado pelo filme de
que muitas vezes não é tão fácil diferenciar o que é “eu” e o que é “outro”.
Este convívio com o outro não é harmônico. Por haver a ambivalência: amor e ódio
convivem. Neste sentido, vemos no filme Cisne Negro a recorrência de temáticas
sadomasoquistas no convívio entre personagens.
O Sadomasoquismo é uma forma de parafilia ou perversão que exemplifica bem a
ambivalência: a convivência entre extremos prazer/dor. Em vez do senso-comum de que
prazer se opõe à dor, o sadismo, o masoquismo e sadomasoquismo concebem que o
prazer só seja possível com a dor.
O outro existe não só nas relações interpessoais, mas existe também dentro da psique de
um sujeito. As idéias que constituem Nina são feitas a partir dos outros de seu convívio.
Assim, podemos dizer que há uma complementariedade entre:
 A Projeção da mãe em Nina: a mãe quer que ela seja ela (a mãe); na verdade, melhor que
ela. Nina é uma chance para sua mãe se redimir de suas frustrações por não ter sido ela (a
mãe) uma bailarina de destaque. A mãe projeta em nela esta atualização: tornar presente a
impossibilidade frustrada do passado.
 A Introjeção de Nina quanto aos ideais da mãe: pela via do superego, Nina introjeta as idéias
de perfeição trazidos pela mãe e em certa medida aceita viver a vida da mãe. A introjeção
pode ser explicada no filme como a interiorização do discurso do outro. Mas, como veremos,
esta aceitação será dolorosa ao ego, que forçará uma ruptura.

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O ego de Nina precisa lidar com as exigências de perfeição do superego. Estas


exigências estão representadas pelo “modelo” de sua mãe e pelas imposições do diretor
da companhia de ballet, que faz uma espécie de figura paterna, por não haver no filme a
representação do pai de Nina. Por outro lado, há as demandas do id de Nina, um id que
busca uma ruptura pela via do prazer. Há este “outro” dentro de Nina: marcado pelo lado
inconsciente das pulsões do id que resistem a se entregar às demandas dos outros. O
ego não consegue negociar uma satisfação simultânea às pulsões do id e aos ideais do
superego. Acaba sendo muita pressão ao ego de Nina, que começa a cindir, a se dividir.
Esta cisão pode ser entendida como uma quebra do ego. Não há mecanismos do ego que
possam responder mais precisamente “quem sou eu? ”. Assim, possibilidades extremas
seriam os quadros de paranoia e alucinação demonstrados por Nina no filme Cisne
Negro, condições que marcariam um quadro de psicose.

Neurose, Psicose e Perversão


 Neurose: marcada pela obsessão por perfeição de Nina e por sua “busca por um sonho”, que
em grande medida é o sonho da mãe, um ideal do superego ou uma exigência social que
começa a ser percebido por Nina como uma mecanização de sua existência.
 Perversão: da forma como podem, as pulsões do id de Nina extravasam-se na forma de
relações sadomasoquistas, começam a trincar o ideal de perfeição e mostrar que a dimensão
do prazer não pode ser mais recalcada por Nina.
 Psicose: o ego de Nina é empurrado cada vez mais para a satisfação do superego, com
“migalhas” insuficientes ao id; este ego já não consegue atender as demandas psíquicas
destes extremos (superego e id), e isso se estende ao próprio ego. Do ego cindido, irrompem
a esquizofrenia e a paranoia, costumeiramente reconhecidas como transtornos de psicose.
Algumas cenas do filme Cisne Negro (como as cenas de sexo e envolvimento entre Nina
e Lilly e as cenas de morte ao final do filme) abrem discussão: será que isso realmente
aconteceu? Ou seria só do quadro de paranoia e alucinação da personagem?
Existem tarefas integrativas que marcam o desenvolvimento da psique. A primeira destas
tarefas seria o nascer; a última seria o morrer. Então, o morrer é uma parte “saudável” do
desenvolvimento do ser. É um ato que marcará o encerramento da vida psíquica, um
desfecho que o ser humano (diferentemente de outros animais) sabe que enfrentará.
 Pulsão de vida: é o impulso por acontecimentos, por novidades, a recusa por monotonia;
isso representa um estado de agitação e de encantamento pela vida que nos leva a busca por
riscos, novas sensações e novas responsabilidades.
 Pulsão de morte: é o impulso por “não ser”, o impulso para evitar a dor, por ter um aparelho
psíquico sem resistências (no sentido da Física), sem “aquecimentos”.

O filme nos mostra que um ser humano não pode ser reduzido a “uma perfeição”, por ser
uma sobreposição de múltiplas imperfeições. O filme nos coloca no lugar da personagem
Nina, num quadro de paranóia, alucinação e até mesmo no extremo de uma neurose
obsessiva, e o quanto é difícil saber negociar com a realidade.

Os personagens e suas estruturas clínicas:

1. Nina Sayers: A protagonista do filme, interpretada por Natalie Portman, sofre de Psicopatia e
tem uma relação conflituosa com sua mãe narcisista.

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2. Thomas Leroy: Interpretado por Vincent Cassel, Thomas é o diretor artístico da companhia
de balé e é retratado como um homem manipulador e controlador, comportamentos
narcisismo, o que caracteriza Perversão e Psicopatia.

3. Lilly: Interpretada por Mila Kunis, Lilly é uma dançarina que se torna amiga de Nina e é
retratada como uma influência negativa em sua vida.

4. Beth MacIntyre: Interpretada por Winona Ryder, Beth é a primeira bailarina da companhia de
balé e é retratada como uma mulher instável e emocionalmente frágil.

5. Erica Sayers: interpretada por Barbara Hershey, é a mãe de Nina e uma mulher com claras
perturbações psicológicas que vivem em função e através da filha. Como teve que desistir da
carreira de bailarina quando engravidou, exerce um enorme controle sobre Nina,
incentivando-a a se dedicar por completo à dança

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