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Para Fordhan (1994, p.17) “por mais fascinantes que sejam tais idéias –
e aqui deve ficar claro que Jung posteriormente as modificou, são escassas as
provas em seu favor, e as que existem prestam-se a outra interpretação, mais
aceitável”.
1
F. Wickes, The inner world of childhood.
2
C.G.Jung, OC 8, parág. 97.
3
E.A. Bennet, O que Jung disse realmente, p.55.
Para Jung a criança possui uma psicologia única. Assim como seu
corpo, durante a vida embrionária, é uma parte do corpo materno, também sua
mente, por muitos anos, constitui parte da atmosfera psíquica dos pais. Esse
fato esclarece de pronto por que muitas das neuroses infantis são muito mais
sintomas das condições psíquicas reinantes entre os pais do que propriamente
doença genuína da criança. Apenas em parte a criança tem psicologia própria;
em relação à maior parte ainda depende da vida psíquica dos pais. Tal
dependência é normal, e perturbá-la se torna prejudicial ao crescimento natural
da mente infantil.
O Desenvolvimento da Psique
Descreveremos a seguir, sob o ponto de vista da Psicologia Analítica de
Carl Gustav Jung, a forma como ocorre o desenvolvimento da psique.
Para Edinger a descoberta de caráter mais fundamental e de maior
alcance, de Jung, é a do inconsciente coletivo ou psique arquetípica, com os seus
estudos Jung trouxe a informação que a psique individual não é apenas um
produto da experiência pessoal. Edinger (1972, p.21) diz que: “ela envolve uma
dimensão pré-pessoal ou transpessoal, que se manifesta em padrões e imagens
universais, tais como os que se podem encontrar em todas as mitologias e
religiões do mundo”. Jung descobriu também que a psique arquetípica tem um
principio estruturador ou organizador que unifica os vários conteúdos, este
principio é o arquétipo central ou arquétipo da unidade, ao qual Jung denominou
Si-mesmo (Self).
O self, é o centro ordenador e unificador da psique total (consciente e
inconsciente), assim como o ego é o centro da personalidade consciente. O
self constitui a autoridade psíquica suprema, mantendo o ego submetido ao
seu domínio. Como há dois centros autônomos do ser psíquico, o vinculo
existente entre eles assume grande importância como cita Edinger:
A relação entre o ego e o Si-mesmo é altamente problemática e
corresponde, de maneira bastante aproximada, à relação entre o homem e o
seu Criador, tal como é a descrita na mítica religiosa. O mito pode ser visto, na
verdade, como a expressão simbólica da relação entre o ego e o Si-mesmo.
Muitas vicissitudes do processo de desenvolvimento psicológico podem ser
entendidas em termos de modificações da relação existente entre o ego e o Si-
mesmo nos vários estágios do desenvolvimento psíquico. (EDINGER, 1972, p.
23)
união entre o ego e o self. Durante esta separação entre o ego e o self deve-se
manter uma conexão entre o centro do ego e o centro do self, esta conexão é
denominada de eixo ego-self, e como diria Edinger (1972, p. 25), “o vínculo
vital que faz a ligação entre o ego e o Si-mesmo é que assegura a integridade
do ego”. O problema consiste em manter a integridade do eixo ego-self ao
mesmo tempo em que se dissolve a identificação do ego ao self. Neumann
completa:
Um passo decisivo para o desenvolvimento da criança durante a
relação primal é a formação de um ego-integral-positivo, um ego capaz de
assimilar e integrar as qualidades, até mesmo quando negativas ou
desagradáveis, dos mundos interno e externo, tais como privações, dor, etc.
(NEUMANN, 1980, p. 51)
(1980, p.38) “em grande parte a doença ou a saúde do indivíduo e seu sucesso
ou fracasso posteriores na vida dependem desse processo. Desde o início, não
só o desenvolvimento do ego, mas a viabilidade geral do indivíduo dependem
da natureza das relações entre ego e self”.
Uma relação primal normal, caracterizada por uma confiança
permanente no amor da mãe, pelo desenvolvimento de um ego integral positivo
e de um eixo ego-self estável, conduz gradualmente a experiência
antropocêntrica da criança a uma relativa consciência; quer dizer, a criança
começa a ver a si própria como centro, não só de seu mundo, mas também como
centro do mundo como tal. Para Neumann, essa antropocentricidade, que
nada tem que ver com onipotência mágica, que surge numa fase posterior, é o
fundamento indispensável de todo desenvolvimento humano. Trata-se de uma
expressão do automorfismo, com ênfase na importância do indivíduo para o
desenvolvimento da humanidade. E Edinger (1972, p.27) diz, sobre o recém-
nascido “o seu ser e suas experiências totais estão ordenados em torno de
uma suposição a priori de que ele é uma divindade”. O estreito vínculo
existente entre o ego da criança e a divindade constitui um estado de inflação.
A ênfase antropocêntrica é a marca de autenticidade da atitude
específica do homem, a marca que o distingue das demais, espécies vivas.
Não apenas seu domínio sobre o mundo mas também sua específica capacidade
de criar cultura, baseiam-se nessa experiência do self, nesse sentimento de ter
sido criado à imagem e semelhança de Deus, que é a expressão, não de
um narcisismo patológico, como diria Neumann, mas de um "perfilhamento" por
parte do self, e representa a experiência da realidade do eixo ego-Self que
sustenta a base de todo desenvolvimento psíquico.
Com o fortalecimento do ego e a progressiva integração da
personalidade da criança, sérios e duradouros conflitos podem emergir entre o
ego e o "tu", e entre a criança e a mãe, sem que ocorra o desenraizamento da
criança. A fase do desenvolvimento em que a personalidade da criança como
individualidade torna-se relativamente independente e o ego se transforma
mais numa grandeza contínua é por isso de particular importância, pois nela pela
primeira vez o automorfismo da personalidade total é experimentado pelo ego.
Mas o perigo do mimar autêntico tem sido exagerado demais, porque uma
relação primal positiva conduz a um ego integral, capacitado, pela confiança no
Self da mãe e depois no próprio self, a aceitar privações.
Quando uma mãe se agarra ao filho, o fato de mimá-lo pode estar
dissimulando alguma coisa mais, que dificulta a identificação de um mimar. Em
termos mitológicos, para Neumann, esse mimar "falso" é o da mãe-bruxa que
atrai a criança para sua casa feita de chocolate (mimar com docinhos), e
quando esta entra torna-se a Mãe Terrível que a "engole". Mas nesse caso o
motivo não é nunca um excesso de amor que não é canalizado em outras
direções; trata-se de um desejo de poder que substitui o amor real e se disfarça
de mimo.
agressões são aceitas pela mãe, mas também são limitadas e dirigidas pela
mesma, ele aprende a aceitar, a limitar e a dirigir as próprias agressões; em
outras palavras, aprende a subordiná-las ao ego integral.
Neumann cita que um dos fatores essenciais na integração da criança é
a absorção da agressividade infantil na sua estrutura psíquica total, pelo que essa
agressividade torna-se um componente positivo na unidade psicodinâmica
da criança. A ab-reação afetiva de "distúrbios" de toda natureza através de
berros e chutes é uma expressão normal da personalidade da criança e é
aceita como tal por qualquer mãe normal. Mesmo quando, por alguma razão (isto
é, por princípios educacionais), a resposta da mãe a esses distúrbios não é
diretamente positiva, sua reação, via de regra, é afetivamente positiva na sua
simpatia e nas suas tentativas de sossegar a criança.
Desta forma, a agressividade conduzida pelo self é tão útil para o
desenvolvimento do automorfismo, ou para o desenvolvimento do indivíduo em
sua oposição ao ambiente e à cultura, como o é a agressividade disponível
para o superego que, ao contrário, limita o indivíduo em sua adaptação ao meio
e à cultura.
No processo natural de diferenciação entre o filho e sua mãe, nos conflitos
entre o automorfismo individual e a relação primal, ódio e sentimentos de
agressão surgem como armas necessárias para a incipiente luta pela
independência. Essas reações secundárias negativas são normalmente
compensadas e integradas dentro da relação primal. Só um distúrbio da
relação primal e o concomitante distúrbio mais ou menos pronunciado do
desenvolvimento automórfico tornam anormal o desenvolvimento do ego.
Quando o ego se torna um ego ferido, cuja experiência do mundo, do
self e do "tu" tem as marcas e características da fome, da insegurança e do
desamparo, a Boa Mãe torna-se, em escala equivalente, uma Mãe Terrível,
negativa. Se o ego dessa fase já tiver adquirido uma certa estabilidade e
independência, tornar-se-á prematuramente supervalorizado, como forma de
compensação para esta situação de pena e abandono. Em geral, o ego se
desenvolve no abrigo da relação primal e pode contar confiantemente com a
Grande Mãe e com seu carinho. Quando a relação primal é perturbada, o ego
ferido é devolvido prematuramente a si mesmo; é despertado cedo demais, e
uma existência própria, não mais protegida pela abrangência da relação primal
e do self. Enquanto a primeira fase da existência, ainda sob a guarda da
relação primal, leva à transferência do self da criança da mãe para a criança e
à formação do ego integral, depois disso começa um processo de
desenvolvimento que leva gradualmente à separação dos sistemas e a uma
oposição entre ego e self.
Enquanto o ego fica contido no self da mãe, esse self, como princípio
ordenador, é também a única autoridade moral. Só quando surgem conflitos
entre o ego e o self no processo de diferenciação é que surge também um conflito
entre diferentes tipos de autoridade moral no interior da personalidade. Tais
conflitos desempenham um papel crucial tanto no desenvolvimento normal do
ego como no patológico.
O papel da consciência do ego é levar as reações coletivas do
inconsciente, com sua orientação para o mundo, para uma harmonia com as
necessidades divergentes impostas pela situação única, subjetiva e objetiva do
indivíduo. A consciência coletiva do cânon cultural, quer dizer, do conjunto de
valores e demandas impostas pela coletividade, também deve ser considerado
como parte da situação objetiva. A fim de preencher plenamente sua função
sintética, o ego enquanto ego integral deve conseguir um equilíbrio entre as
demandas conflitantes de dentro e de fora, da coletividade e do indivíduo.
À medida que vai assumindo gradualmente seu papel no mundo, o ego
se vê envolvido num conflito que irá afetá-lo profundamente durante quase toda
a sua existência. Se fosse apenas o expoente do eixo ego-self e o órgão
executivo do automorfismo, ele só conseguiria ficar em conflito com a
Natureza.
Desde o início, o ego humano cresce num meio ambiente humano, e
mesmo os fatores arquetípicos inconscientes, que em parte o condicionam, são
humanos desde o começo. Quando Neumann fala do inconsciente coletivo e
de arquétipos que moldam e predeterminam reações humanas, está falando
muito amplamente de fatores que caracterizam a espécie humana como tal,
isto é, que separam o homem dos animais. O ego do homem deve crescer para
o interior da cultura coletiva que o determina. Isto em si é um desenvolvimento
especificamente humano. Certas disposições prefiguradas precisam ser
atualizadas; as figuras pessoais dos pais ativam e ajudam a moldar a situação
ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO
DO EGO DA CRIANÇA
Referências