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Abordagens contemporâneas da

Aprendizagem e Desenvolvimento
(Parte I)

Nesta unidade, conheceremos as Abordagens contemporâneas da Aprendizagem e


Desenvolvimento (Parte I), de tal forma que você consiga diferenciar, entre as teorias
apresentadas, como cada teórico pensa o desenvolvimento e a aprendizagem infantil.

Na aula 1, abordaremos a teoria psicossexual de Sigmund Freud, o pai da psicanálise,


vislumbrando compreender de que forma as contribuições freudianas e as etapas do
desenvolvimento psicossexual descritas por ele são importantes para a prática
educativa. Na aula 2, trataremos do construcionismo de Jean Piaget, objetivando
identificar quais as contribuições da teoria psicogenética para a prática docente. E, por
fim, na aula 3, a teoria do sociointeracionismo em Vigotsky, intencionando, igualmente,
identificar as contribuições da teoria sociocultural para a prática docente.

Bons estudos!

Objetivo
Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de:

• Analisar, entre as teorias, a forma como cada teórico pensa o


desenvolvimento e a aprendizagem infantil.

Conteúdo Programático
Esta unidade está organizada de acordo com os seguintes temas:

• Tema 1 - Freud e a Teoria Psicossexual do


desenvolvimento
• Tema 2 - O construtivismo de Piaget
• Tema 3 - Vygotsky e o sociointeracionismo
Na tirinha, a criança resolve não ir mais à escola, argumentando que não precisa
aprender coisas nem desenvolver habilidades, deixando implícito que aprende-se e
desenvolve-se na escola. Será que todos os teóricos concordam com isso? Ao final
deste módulo você poderá responder a essa pergunta!
Tema 1
Freud e a Teoria Psicossexual do
desenvolvimento

Quais as contribuições das etapas do desenvolvimento


psicossexual para a prática educativa?

O desenvolvimento Psicossexual e suas implicações para o


Processo Educacional

Nesta aula, esperamos que você aprenda a reconhecer a importância das


contribuições freudianas à compreensão do desenvolvimento humano.

Freud sofreu influência de Charcot (médico e


cientista francês que utilizava a técnica da
hipnose no tratamento das perturbações
psíquicas, particularmente, a histeria),
Liebaut e Berheim (médicos franceses que
utilizavam a técnica da sugestão pós-
hipnótica construindo a ideia de processos
inconscientes subjacentes a consciência)
passando a utilizar, também, no seu
atendimento clínico a técnica da hipnose
Joseph Breuer, Ana O. e Freud como recurso terapêutico no tratamento da
histeria.

Vídeo

Para saber mais sobre Freud e entender o contexto em que ele criou a
psicanálise, assista agora ao vídeo Sigmund Freud - biografia.

Apesar de utilizar a técnica da hipnose, Freud, em muitas situações verificava a


sua ineficácia e se questionava: não haveria outra maneira?

Então, ocorreu-lhe que, se o paciente comunicasse tudo o que se passasse com ele,
mesmo algo que ele considerasse insignificante, vergonhoso ou até mesmo doloroso,
isso seria mais frutífero para o tratamento. Então, ele sugeriu a associação livre como
técnica. Através dos estudos realizados sobre o tratamento realizado por Breuer na
paciente Ana O., ele propõe um modelo para o aparelho psíquico composto por três
níveis: o consciente, o pré-consciente e o inconsciente. Mas considera o inconsciente
como sendo a chave para se chegar à cura.

Vídeo

Para saber mais sobre o funcionamento do Ego, um intermediador entre os


desejos do Id, a satisfação do desejo e as proibições do Superego, assista
agora ao vídeo FREUD (02) – ESTRUTURA DA PERSONALIDADE (ID,
EGO, SUPEREGO).

Em 1923, Freud apresenta a sua estrutura dinâmica da personalidade: o Id, o Ego e o


Superego, bem como as fases de desenvolvimento da libido.

• O Id é muito importante no início da vida, é um componente inato dos


indivíduos. É inconsciente. Funciona de acordo com o princípio do prazer;
• O Ego é o componente da personalidade, que é responsável por lidar com a
realidade. De acordo com Freud, o Ego se desenvolve a partir do Id e garante
que os impulsos do Id possam ser expressos de uma forma aceitável no
mundo real. O Ego opera com o princípio da realidade que se esforça para
satisfazer o desejo do Id de forma realista e socialmente adequada;
• O Superego é o aspecto da personalidade, que mantém todos os nossos
padrões morais internalizados e os ideais que adquirimos. O superego atua em
todos os três níveis de consciência do ser humano: consciente, pré-consciente
e inconsciente.

Para Freud, a sexualidade humana é uma das principais fontes de energia vital que
impulsiona o comportamento humano. Essa energia, que recebeu o nome de libido, é
a fonte dos impulsos que, para o pai da psicanálise, nos fazem tender a certos
objetivos de curto prazo e, ao mesmo tempo, nos obrigam a outras instâncias para não
nos colocarmos em perigo ou para não entrar em conflito com o ambiente em que
vivemos. Desse modo, tanto a biologia quanto a criação estão envolvidas no
desenvolvimento psicossexual.

• Fase oral - Idade: 0 a 1 ano

Zona Erógena: Boca.

A interação da fonte principal com o mundo


externo da criança ocorre pela boca, que é vital
para a alimentação.
• Fase anal - Idade: 1 a 3 anos.

Zona Erógena: Ânus

Treino dos esfíncteres.

• Fase fálica - Idade: 3 a 6 anos

Zona Erógena: Genitais

Nessa idade as crianças começam a descobrir as


diferenças entre homens e mulheres. Complexo
de Édipo.

• Período de latência - Idade: 6 a 12 anos

Zona Erógena: Não há.

Os interesses da libido são temporariamente suprimidos. A energia sexual ainda


está presente, mas é direcionada à outras áreas, como atividades intelectuais e
interações sociais.

• Fase genital - Idade- A partir de 12 anos.

Zona Erógena: Órgãos genitais.

Nesta fase o indivíduo desenvolve um interesse


no sexo e nas relações sexuais
Sugerimos a leitura dos artigos Complexo de Édipo, segundo Freud
e Édipo Rei, de Sófocles.

Para saber mais, assista a animação Complexo de Édipo, de Sigmund


Freud.

Ao entrar na escola, a importância especial dada pelo aluno ao professor coincide com
o período de latência vivido pelo aluno. Esse professor assume um lugar que, até
então, era ocupado pelos pais, podendo surgir a transferência e a utilização dos
mecanismos de defesa.

Sendo assim, a psicanálise tem muito a contribuir para o exercício docente, auxiliando
o professor na construção de um relacionamento afetivo com o seu aluno,
promovendo o desenvolvimento e os processos de aprendizagem.

Vídeo

Para saber mais sobre a teoria da psicanalise voltada para a educação,


assista ao vídeo ontribuições da teoria freudiana à educação infantil,
publicado na unidade da disciplina no Ambiente Virtual de
Aprendizagem.

Ampliando o Foco

Para aprofundar seus conhecimentos sobre psicanálise e os estágios de


desenvolvimento psicossexual, leia as páginas 47 - 98 do livro da disciplina
Santos, Penélope Duarte dos. Nassar, Sergio Pessôa. Psicologia do
desenvolvimento. Rio de Janeiro: UVA, 2013.
Tema 2
O construtivismo de Piaget

Quais as contribuições da teoria psicogenética de Jean


Piaget para a prática escolar?
Jean Piaget (1896-1980) foi um dos grandes estudiosos do desenvolvimento cognitivo.
Ele parte do pressuposto de que o desenvolvimento mental não pode ser dissociado
do crescimento físico e defende que há um paralelismo entre eles. A inteligência, para
Piaget, modifica-se à medida que a criança se desenvolve e parte de um ¨continuum¨
entre reflexo biológicos, movimentos espontâneos e hábitos adquiridos.

Para Piaget o conhecimento não é inato, mas resulta da interação do organismo com o
meio.

A teoria psicogenética de Jean Piaget

Quase todas as pessoas que trabalham com


educação já ouviram falar de Piaget, mas poucos
conhecem sua obra, exceto a que ele acredita
que as crianças passam por estágios de
desenvolvimento mental e que elas têm
habilidades diferentes nesses estágios.

O pensamento do mestre genebrino é muito mais vasto e complexo. Piaget procurou


compreender as relações entre a biologia e o conhecimento, desenvolvendo uma
psicologia genética, ou seja, uma psicologia geral que buscou explicar as funções
mentais por seu modo de formação, integrando fatores hereditários, fatores ambientais
e uma ação do indivíduo sobre o meio.

Saiba Mais

Genética aqui se refere ao desenvolvimento individual e não


exclusivamente aos mecanismos hereditários.

Assim, Piaget vai buscar explicar, através de um conjunto de investigações, a gênese


das condutas inteligentes, elaborando um protótipo apoiado na biologia para explicar o
desenvolvimento.
Para Piaget, o desenvolvimento é contínuo, e dá-se por uma constante busca de
equilíbrio, implicando sempre uma passagem de um estado de menor equilíbrio para
um estado de equilíbrio superior, o que significa a adaptação dos esquemas existentes
ao mundo exterior.

Esse processo é denominado de EQUILIBRAÇÃO.

Assim, uma criança que já construiu o esquema de sugar, assimila a mamadeira, mas
terá que modificar o esquema para sugar a chupeta, comer com colher etc.

O processo de equilibração inicia um novo ciclo quando o interesse do sujeito é


despertado, desequilibrando-o e gerando uma necessidade.

Essa necessidade vai impulsionar uma ação que visa a busca de novo equilíbrio, de
uma satisfação.

O processo de equilibração envolve dois mecanismos complementares: as estruturas


variáveis (estágios) e o funcionamento constante.

O funcionamento constante

Frente a um objeto desconhecido o indivíduo:

Assimila e
Desequilibra-se → → Adapta-se
acomoda

Quando há equilíbrio entre a Assimilação e a


Acomodação, há Adaptação, o que garante o
desenvolvimento progressivo para formas mais
equilibradas.

Por exemplo, quando uma criança começa a


contar, precisa de objetos contáveis para orientar
a progressão. Com o tempo, vai desenvolvendo
os esquemas de quantidade e vai podendo se
desprender dos objetos, fazendo a operação
mentalmente.
Ambiente → Desequilíbrio → Adaptação → Equilibração

↙↘

Assimilação Acomodação

Piaget considera que o processo de construção do conhecimento inicia-se com o


desequilíbrio entre o sujeito e o objeto. Para ele, a origem do conhecimento por parte
do sujeito envolve dois processos complementares e por vezes, simultâneos. O
primeiro é chamado de Assimilação e o segundo Acomodação.

assimilação e a acomodação são indissociáveis e complementares e estão presentes


ao longo da vida.


Em uma perspectiva da equilibração, deve-se procurar nos desequilíbrios uma das
fontes de progresso no dos conhecimentos, pois só os desequilíbrios obrigam um
sujeito a ultrapassar seu estado atual e procurar seja o que for em direções novas.

Jean Piaget, no livro O Desenvolvimento do Pensamento


Para Piaget, no processo de maturação do cérebro, são produzidos os esquemas.
Esquemas são estruturas ou conceitos que usamos para interpretar e organizar as
informações que recebemos.

Fatores que promovem o desenvolvimento

Além da Equilibração, Piaget destacou outros três fatores responsáveis pelo


desenvolvimento:

1. Maturação do organismo (basicamente do


sistema nervoso central):

A maturação é uma condição necessária, mas


que não explica todo o desenvolvimento,
desempenhando apenas o papel de abrir
possibilidades para novas condutas que precisam
ser atualizadas.
2. Exercício e as experiências adquiridas
(adquirida na ação efetuada sobre os objetos):

Piaget estabelece dois tipos distintos de


experiências: a experiência física e a experiência
lógico-matemática. Mesmo a experiência física não
é um simples registro de dados, mas uma
estruturação ativa e assimiladora.

3. As interações e as transmissões sociais


(jogo, conversa, trabalho com outras
crianças):

Não são suficientes para explicar o


desenvolvimento, pois a criança só assimilaraá
as informações que estiverem de acordo com o
conjunto de estruturas relativas ao seu nível de
pensamento. Para Piaget, um dos equívocos da
escola é imaginar que a criança tenha apenas de
incorporar as informações já "digeridas", como se
a transmissão não exigisse uma atividade interna
de assimilação-acomodação do indivíduo, no
sentido de haver uma reestruturação, e daí uma
correta compreensão do que foi transmitido.

Assim, para Piaget, com o fator de equilibração, quatro fatores promovem o


desenvolvimento.

4. A equilibração é o mecanismo interno que reúne todos os fatores precedentes de


modo a construir e a reconstruir todas as estruturas mentais. Para Piaget, é o fator
fundamental, na medida em que completa e evidencia o caráter não-apriorístico do
desenvolvimento das estruturas mentais do indivíduo. A evolução ocorre sempre na
direção de um equilíbrio, mas sem um plano preestabelecido, isto é, como o equilíbrio
depende da ação do sujeito ativo sobre os distúrbios externos e, ao mesmo tempo, da
ação desses sobre aquele. O que se pode observar é um ponto de equilíbrio e não o
ponto de equilíbrio.

A aprendizagem

Para Piaget, a aprendizagem aparece como um processo que depende do


desenvolvimento.

Mas como o desenvolvimento não procede nem do meio nem é inato, é,


principalmente, fruto da interação entre esses dois fatores, regida pela equilibração, a
explicação interacionista coloca ênfase na atividade do sujeito.
Assim, o DESENVOLVIMENTO é o processo que dá suporte para cada nova
experiência de aprendizagem, A noção de aprendizagem está restrita à aquisicão de
um conhecimento novo e específico derivado do meio, diferenciando-a do
desenvolvimento da inteligência, que corresponderia à totalidade das estruturas de
conhecimento construídas. Na imagem abaixo, as escadas representam o
desenvolvimento, e o “x”, as aprendizagens realizadas em um determinado estágio.

No entanto, Piaget também denomina de aprendizagem (sentido amplo) o próprio


processo de desenvolvimento.

Nesse sentido, aprender seria desenvolver-se.

As formas mais equilibradas, que a inteligência assume ao longo do desenvolvimento,


são as estruturas variáveis, isto é, um fator estrutural que comporta certos níveis de
inteligência, uma evolução.

A criança nasce equipada com um sistema reflexo que logo é sucedido pelos primeiros
hábitos adquiridos que, por sua vez, precedem a inteligência prática que serve de
apoio à inteligência verbal. O funcionamento é constante, mas mudam os conteúdos,
os esquemas, as estruturas.

Essas estruturas não foram inventadas por Piaget, mas observadas e descritas
minuciosamente.

Baseado nessas estruturas, Piaget dividiu o desenvolvimento cognitivo em estágios:

As Estruturas Variáveis

Estágios Idades médias

Inteligência senso-motora 0 a 1 ½ , 2 anos

Inteligência pré-operatória 1 ½, 2 a 7 anos

Operações intelectuais concretas 7 a 11 anos

Operações intelectuais abstratas 11 a 15 anos

Esses estágios são caracterizados por uma estrutura de conjunto, uma lógica, e,
embora as idades variem em função do meio social, das experiências pessoais, do
processo de maturação e, principalmente, do fator de equilibração, a ordem de
sucessão é constante.

Então, o desenvolvimento para Piaget é a passagem contínua de um estado de menor


equilíbrio para um estado de equilíbrio superior, estando subordinado a dois grupos de
fatores: os fatores da hereditariedade e adaptação biológicas, dos quais depende
a adaptação do sistema nervoso e dos mecanismos psíquicos elementares, e
os fatores de transmissão ou de interações sociais.

Características dos estágios do desenvolvimento

Idades
Estágios Características
médias

O aparecimento da função semiótica (representação mental do


mundo) que permite o surgimento da linguagem etc, marca a
passagem da inteligência senso-motora para a inteligência pré-
operatória.
Inteligência 0a1½,
O nível de linguagem é o monólogo coletivo, isto é, todos falam
senso-motora 2 anos
ao mesmo tempo sem que respondam as argumentações dos
outros.
A socialização é vivida de forma isolada, dentro do coletivo.
Não há liderança e os pares são constantemente trocados.

Desejo de explicação dos fenômenos. É a “idade dos


porquês”, pois a criança pergunta o tempo todo.
Distingue a fantasia do real, podendo dramatizar a fantasia sem
que acredite nela.
Inteligência 1 ½, 2 a O pensamento continua centrado no seu próprio ponto de vista.
pré-operatória 7 anos Já é capaz de organizar coleções e conjuntos sem, no entanto,
incluir conjuntos menores em conjuntos maiores (rosas no
conjunto de flores, por exemplo).
Linguagem - não mantém uma conversação longa, mas já é
capaz de adaptar sua resposta às palavras do companheiro.

O indivíduo consolida as conservações de número, substância,


volume e peso.
Ordena elementos por seu tamanho (grandeza), incluindo
conjuntos, organizando então o mundo de forma lógica ou
operatória.
Operações
7 a 11 A organização social é a de bando, podendo participar de
intelectuais
anos grupos maiores, chefiando e admitindo a chefia.
concretas
Compreende as regras, sendo fiéis a ela, e estabelecendo
compromissos.
A conversação torna-se possível (já é uma linguagem
socializada), sem que, no entanto, possam discutir diferentes
pontos de vista para que cheguem a uma conclusão comum.
Ápice do desenvolvimento da inteligência.
Nível de pensamento hipotético-dedutivo ou lógico-matemático.
É quando o indivíduo está apto para calcular uma
probabilidade, libertando-se do concreto em proveito de
Operações interesses orientados para o futuro. É, finalmente, a “abertura
11 a 15
intelectuais para todos os possíveis”. A partir desta estrutura de
anos
abstratas pensamento é possível a dialética, que permite que a
linguagem dê-se em nível de discussão para se chegar a uma
conclusão.
A organização grupal pode estabelecer relações de cooperação
e reciprocidade.

Contribuições à dinâmica escolar

Na teoria interacionista de Piaget, o conhecimento não está nem no indivíduo, nem no


meio. Ele é construído na interação, na troca do sujeito com o meio, sendo o
desenvolvimento explicado por um mecanismo interno: o processo de equilibração.

Então, se o que a escola quer é promover o desenvolvimento, formando alunos


críticos, autônomos e criativos, o importante é que haja a apropriação da informação
pelo aluno, transformando-a em conhecimento.

Segundo Piaget, nesse processo, cada aluno terá uma compreensão da questão
proposta, bem como uma solução, visto que a percepção é orientada por uma
atividade assimiladora, que incorpora os dados novos a esquemas antigos:


...toda percepção se estende em interpretações por assimilação a esquemas, ou
sensório-motores (esquemas de ações), ou conceituais e representativos, pré-
operatórios ou operatórios...
Piaget, Memória e Inteligência, p. 2.


A escola, então, deve promover um ambiente que possibilite a interação
(aluno x aluno, professor x aluno, grupo x grupo) para que a informação
possa ser transformada pelo sujeito e pelo grupo, visando a construção de
um conhecimento legitimado socialmente.
Não podemos esquecer que, quando o sujeito incorpora os dados novos aos antigos,
pode ser que a assimilação seja por demais deformante, com uma assimilação maior
do que a acomodação. O que significa uma dificuldade de modificar-se (acomodar), de
ajustar-se às regras, só modificando o meio (assimilando). Nesse caso, é necessário
um trabalho que vise equilibrar as funções. Os jogos são excelentes instrumentos
para desenvolver esse trabalho.

No caso de uma interferência muito diretiva por


parte do professor, pode haver uma acomodação
maior do que a assimilação, resultando em
imitação. Nesse caso, o aluno tem dificuldade de
modificar o meio, só se modificando. O desafio do
professor aqui é possibilitar que o aluno permita
arriscar, errar, criar.

Já nas atividades em que as trocas entre iguais são oportunizadas com mais
frequência, cada elemento poderá, sob a supervisão do professor, expressar sua
opinião sobre cada conteúdo, escutar o ponto de vista do grupo, comparando-o com o
seu, garantido, assim, condições maiores para um equilíbrio entre a assimilação e a
acomodação, reconstruindo o conteúdo.

A função do professor seria a de um mediador entre o conteúdo do sujeito e o


conteúdo da matéria, favorecendo a ação do aluno sobre o objeto do conhecimento,
questionando o grupo nas suas afirmações, ora desequilibrando, quando estiverem
“cheios de certezas”, ora favorecendo a equilibração, quando estiverem muito
desequilibrados.

Para que isto aconteça, também é necessário que seja considerado o que o aluno já
sabe, permitindo-se que ele elabore suas hipóteses sobre o conhecimento, e que o
erro seja visto como um caminho para o acerto.

Vídeo

Para saber mais sobre a teoria de Piaget, assista ao vídeo


Desenvolvimento e aprendizagem em Jean Piaget, publicado na
unidade da disciplina no Ambiente Virtual de Aprendizagem.
Ampliando o Foco

Para aprofundar seus conhecimentos sobre o construcionismo de Piaget,


leia as páginas 31 - 43 do livro da disciplina Mendes, Leila de
Carvalho. Psicologia da aprendizagem. 4. ed. Rio de Janeiro: UVA, 2016.
Tema 3
Vygotsky e o sociointeracionismo

Quais as contribuições da teoria sociocultural para a


prática docente?

A Escola Soviética de Psicologia, cujo principal


representante é o russo Lev Semenovich
Vygotsky (1896-1934), desenvolveu uma outra
linha dos estudos da inteligência, criada na
tentativa de construção de uma nova psicologia,
que fizesse uma síntese das ciências do corpo e
da mente (REGO, 2001, p. 28-29). Para
Vygotsky, a inteligência ou as funções
Lev Vygotsky - Wikipedia
psicológicas superiores têm um suporte
biológico, fruto da atividade cerebral, sendo o
cérebro:

Saiba Mais

As funções psicológicas superiores seriam aqueles processos de caráter


voluntário, como as ações conscientes, a atenção voluntária, a
memorização ativa, o pensamento abstrato e o comportamento intencional
e, por isso mesmo, difeririam dos processos psicológicos inferiores, como
os reflexos, as reações automáticas e as associações simples.

Vygotsky explica que, ao nascer, a relação do sujeito com o mundo é uma relação
direta (S-R), que aos poucos vai sendo substituída por um ato complexo, mediado.

Os elementos mediadores da relação homem-mundo são:

• Os instrumentos – que são elementos externos ao indivíduo; são objetos


mediadores da relação homem-mundo, que carregam consigo uma função, na
medida em que são feitos ou buscados pelo homem para atingir um objetivo,
dominar a natureza, como um machado, um lápis ou mesmo um pente.
• Os signos – que são instrumentos internos, psicológicos, como a linguagem;
na sua forma mais elementar, o signo é marca externa que auxilia o homem
em tarefas que exigem memória ou atenção.
• As pessoas.

S – R: Estímulo - Resposta

Vygotsky dividiu este processo em estágios. Assim, primeiro o indivíduo realiza as


ações externamente e, a partir do significado que suas ações têm para o grupo, ele
poderá atribuir significados a elas e desenvolver processos psicológicos internos.
Podemos concluir então que, para Vygotsky, é o aprendizado que possibilita o
desenvolvimento dos processos superiores de pensamento, que são relacionamentos
sociais internalizados.

Dessa forma, é a necessidade de interação que possibilita o conhecimento, uma vez


que os indivíduos buscam não só compreender o mundo, mas também saber como os
outros o compreendem. Nessa perspectiva, o social tem um papel fundamental.
(SENNA, 1999).

1º estágio 2º estágio 3º estágio 4º estágio

Equipamento e atividade

Psicologia Uso externo de Uso interno de


Natural ou primitivo
ingênua meios culturais meios culturais

Mediação Interiorizarão de
Mecanismos consciente dos relações
inatos + Alguma sinais auxiliares externas entre
mediação externos estímulo, sinais e
Mecanismos inatos comportamento

X = sinais X = sinais externos


externos auxiliares X= sinais
conscientes internos
Respostas

Apenas as
conexões Criação e Alcance da
externas, manipulação de atividade desejada
Naturais e
concretas e reais sinais a fim de sem ajuda de
primitivas.
podem afetar o alcançar a sinais auxiliares
comportamento da resposta desejada. externos.
criança.

Moll, Luis C. Vygotsky e a educação, p.128 e Valsiner e Van Der Veer, Vygotsky uma
Síntese, p. 260.

Mas o que é aprender para Vygotsky?

Vygotsky usa OBUCHENIE, um termo russo para referir-se ao “processo de ensino-


aprendizagem”, esse processo compreende sempre aquele que aprende, aquele que
ensina, e a relação entre essas pessoas, havendo uma síntese, ou seja, a criação de
algo novo, e não uma aquisição exógena.

Implantar algo na criança é impossível. Só é possível treiná-la para alguma atividade


exterior, como digitar um texto. Para criar uma ZONA DE DESENVOLVIMENTO
PROXIMAL, isto é, para engendrar uma série de processos de desenvolvimento
interior, precisamos dos processos corretamente construídos de aprendizagem
escolar.

A ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL é, pois, um domínio psicológico em


constante transformação. É como se o processo de desenvolvimento progredisse mais
lentamente do que o processo de aprendizado. O aprendizado desperta processos de
desenvolvimento que, aos poucos, vão tornar-se parte das funções psicológicas
consolidadas do indivíduo.

Nível de desenvolvimento real Nível de desenvolvimento potencial

↓ ↓
Capacidade de desempenhar tarefas
Capacidade de realizar tarefas de
com ajuda de adultos ou de
forma independente
companheiros

ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL


Curiosidade

“Para Vygotsky, a aprendizagem está relacionada ao desenvolvimento


desde o início da vida humana, sendo ‘um aspecto necessário e universal
do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente
organizadas e especificamente humanas’ (Vygotsky, 1984, p.101). O
percurso de desenvolvimento do ser humano é, em parte, definido pelos
processos de maturação do organismo individual, pertencendo à espécie
humana, mas é a aprendizagem que possibilita o despertar de processos
internos de desenvolvimento que, se não fosse o contato do indivíduo com
um determinado ambiente cultural, não ocorreriam. Em outras palavras, o
homem nasce equipado com certas características próprias da espécie (por
exemplo, a capacidade de enxergar por dois olhos, que permite a percepção
tridimensional, ou a capacidade de receber e processar informação
auditiva), mas as chamadas funções psicológicas superiores, aquelas que
envolvem consciência, intenção, planejamento, ações voluntárias e
deliberadas, dependem de processos de aprendizado. O homem é membro
de uma espécie para cujo desenvolvimento a aprendizagem tem um papel
central, especialmente no que diz respeito a essas funções superiores,
tipicamente humanas.” Castorina et al, Piaget e Vygotsky: Novas
contribuições para o debate, p. 55,56.

A linguagem sempre foi uma preocupação central


na obra de Vygotsky, ocupando um lugar de
destaque. Vygotsky abordou-a não como um
sistema linguístico, mas em seu aspecto
funcional e psicológico, pois interessava-lhe a
linguagem como constituidora do sujeito,
enfocando seus estudos na relação
PENSAMENTO–LINGUAGEM.

As principais ideias sobre o tema estão no livro PENSAMENTO E LINGUAGEM. O


primeiro e último capítulos encerram o núcleo central de seu pensamento.
Infelizmente, a abordagem permanece apenas anunciada, pois Vygotsky morre logo
após tê-lo escrito.

Uma das principais bases do pensamento de Vygotsky é a de que as funções


psicológicas superiores são construídas ao longo da história social do homem, na sua
relação com o meio físico e social. Essa relação é sempre mediada por instrumentos e
símbolos. Como a linguagem é o sistema simbólico básico de todos os grupos
humanos, a questão do desenvolvimento da linguagem ocupa lugar central.

A linguagem possui duas funções básicas:


Intercâmbio Social Pensamento Generalizante

Gera necessidade de comunicação e


Responsável por tornar a linguagem
impulsiona o desenvolvimento da
um instrumento do pensamento.
linguagem.

O pensamento e a linguagem desenvolvem-se da mesma forma que as outras funções


psicológicas superiores. Vai da atividade social interpsíquica para a atividade
individualizada, intrapsíquica. Isto é, primeiro a criança observa e atribui os sentidos
que o grupo ao qual pertence atribui. Aos poucos ela vai internalizando e a atividade
que era INTERPSÍQUICA torna-se INTRAPSÍQUICA.

Nas crianças pequenas, o pensamento se desenvolve sem a linguagem, e as


“palavras” se formam sem o pensamento; seu objetivo é chamar a atenção do adulto.
Essa é a função social da fala nesta fase.

Leia, em ‘A Formação Social da Mente’, mais detalhes sobre esta teoria de


Vygotsky.

Pode-se, então, estabelecer uma linguagem pré-intelectual e um pensamento pré-


linguístico. Quando as duas linhas se encontram, o pensamento se torna verbal e a
linguagem racional.

A partir de então, a criança percebe o propósito da fala, que começa a servir ao


intelecto e o pensamento começa a ser verbalizado.

Daí por diante a criança passa a sentir a necessidade das palavras, tentando aprendê-
las – é a descoberta da função simbólica da palavra.

Leia este interessante artigo da revista Nova Escola: Vygotsky e o conceito


de pensamento verbal.

Para Vygotsky, o conhecimento é construído na


interação do sujeito com o meio, mediado por
instrumentos. Essa construção se dá pelo
processo de aprendizagem, sendo esta que
impulsiona o desenvolvimento. Como vimos nessa
teoria, o significado atribuído à aprendizagem
inclui não só aquele que aprende, mas também
aquele que ensina e a relação entre eles, havendo
uma síntese, ou seja a criação de algo novo. Logo,
a aprendizagem, para Vygotsky, significa a criação
de algo novo.
Então, se o que a escola quer é promover o desenvolvimento, formando
alunos críticos, autônomos e criativos, o importante é que haja efetivamente
aprendizagem – a criação de algo novo por parte do aluno. A aprendizagem
se compara, então, a uma invenção ou a uma reinvenção do conhecimento
pelo aluno.

Assim, a escola deve promover um ambiente que possibilite a interação (aluno x


aluno, professor x aluno, grupo x grupo), uma vez que aprendemos com os pares,
para que a informação possa ser transformada pelo sujeito e pelo grupo, visando à
aprendizagem. É na interação com o outro que vamos elaborando e reelaborando a
informação e transformando-a em conhecimento.

Para isso, a escola deverá planejar atividades que


envolvam observação, pesquisa, resoluções de
questões específicas, ou mesmo propostas de
estudos e preparação de seminários, palestras ou
outras apresentações. No entanto, para que isso
ocorra e o professor possa planejar estratégias
que permitam avanços, reestruturações e
ampliação do conhecimento do aluno, deverá
conhecer o seu nível efetivo de informação, ou
seja, suas hipóteses, crenças, opiniões; suas
ideias acerca do mundo onde está inserido.

Para que isso aconteça, também é necessário que seja considerado o que o
aluno já sabe, permitindo-se que ele elabore suas hipóteses sobre o
conhecimento, e que o erro seja visto como um caminho para o acerto.

Da mesma forma, essas diversas interações sugeridas serão elementos mediadores


entre o aluno e mundo, auxiliando-o na internalização deste meio.


Isto é, primeiramente o indivíduo realiza as ações externas, que serão interpretadas
pelas pessoas a seu redor, de acordo com os significados culturalmente
estabelecidos. A partir dessa interpretação é que será possível para o indivíduo
atribuir significados a suas próprias ações e desenvolver processos psicológicos
internos que podem ser interpretados por ele próprio a partir dos mecanismos
estabelecidos pelo grupo cultural e compreendidos por meio dos códigos
compartilhados pelos membros desse grupo. (Oliveira, 1993, p. 39, in Kohl de
Oliveira, M., Piaget e Vygotsky: Novas contribuições para o debate, p. 61.)


Vídeo

Para saber mais sobre A teoria sociocultural de Vygotsky, assista ao


vídeo Desenvolvimento e aprendizagem em Vygotsky, publicado na
unidade da disciplina no Ambiente Virtual de Aprendizagem.

Ampliando o Foco

Para aprofundar seus conhecimentos sobre Vygotsky e o


sociointeracionismo, leia as páginas 45 – 57 do livro da disciplina Mendes,
Leila de Carvalho. Psicologia da aprendizagem. 4. ed. Rio de Janeiro:
UVA, 2016.
Encerramento

Quais as contribuições das etapas do desenvolvimento


psicossexual para a prática educativa?
A Psicologia do Desenvolvimento, através de sua produção teórica, auxilia o professor
na busca de novas metodologias, promovendo a discussão sobre os conteúdos a
serem ensinados ao aluno e na compreensão de seu comportamento.

Quais as contribuições da teoria psicogenética de Jean


Piaget para a prática escolar?
A principal contribuição da teoria piagetiana para a prática escolar diz respeito à
função do professor que deve favorecer a ação do aluno sobre o objeto do
conhecimento, funcionando como um mediador entre o conteúdo do sujeito e o
conteúdo da matéria, questionando o grupo nas suas afirmações, ora desequilibrando,
quando estiverem “cheios de certezas”, ora favorecendo a equilibração, quando
estiverem muito desequilibrados.

Quais as contribuições da teoria sociocultural para a


prática docente?
Dentre as diversas contribuições, podemos destacar principalmente a valorização do
papel do professor e da aprendizagem com os pares e do conceito de Zona de
Desenvolvimento Proximal.

Resumo da Unidade

Nesta unidade, você estudou a Teoria de Freud e sua contribuição para a


Psicologia do Desenvolvimento. Foram abordados temas interessantes, como: a
descoberta do inconsciente, o desenvolvimento da sexualidade infantil, o Id, o Ego
e o Superego e os mecanismos de defesa do Ego. Da mesma forma, estudamos a
contribuição da psicanálise para o exercício docente, no auxílio do professor para a
construção de um relacionamento afetivo com o seu aluno, promovendo o
desenvolvimento e os processos de aprendizagem.

Tivemos a oportunidade também, de estudar um pouco da obra de Piaget.


Iniciamos com uma apresentação da Epistemologia de Piaget, aprofundando os
estudos sobre o mecanismo de Equilibração, que envolve as estruturas variáveis e
as invariantes funcionais. Vimos as relações entre a equilibração e o
desenvolvimento, e a aprendizagem e as características de cada estágio do
desenvolvimento. Por último, estudamos as contribuições do autor para a prática
pedagógica.
Finalmente, estudamos sobre o desenvolvimento e a aprendizagem em Vygotsky e
pudemos aprender que, para o pesquisador, é a aprendizagem que impulsiona
processos de desenvolvimento. Vimos que a teoria histórico-cultural contribui
sobremaneira para a educação formal, na medida em que valoriza o papel do
professor e da aprendizagem nos processos de desenvolvimento.

Para aprofundar e aprimorar os seus conhecimentos sobre os assuntos


abordados nessa unidade, não deixe de consultar as referências
bibliográficas básicas e complementares disponíveis no plano de
ensino publicado na página inicial da disciplina.

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