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Sua filosofia tinha como intuito proporcionar o cuidado da alma, por meio de
uma vida tranquila e simples, apontando a importância da avaliação de nossas
escolhas e busca de prazeres “da alma”, aqueles que mais prolongados, ao invés de
prazeres meramente imediatos. O epicurismo foi uma das filosofias mais importantes
na antiguidade grega, tendo perdurado por cerca de sete séculos no mundo
greco-romano.
Para Epicuro, o mais importante era nos dedicar a atividades prazerosas, com
intuito de se obter uma vida feliz e tranquila. Porém, não bastava qualquer atividade
prazerosa, era preciso avaliar suas consequências, com intuito de nos direcionar
para os prazeres que nos proporcionam a tranquilidade da alma, e cujas
consequências proporcionam a menor quantidade de dor ou sofrimento.
O filósofo entendia o prazer como o princípio e o fim de uma vida feliz, mas
constatou que nem sempre avaliamos bem os prazeres que escolhemos, assim,
muitas vezes acabamos nos tornando vítimas de desejos que não nos proporcionam
a felicidade juntamente com a tranquilidade. Ele entendia que ser feliz não consistia
em buscar muitos prazeres ou qualquer tipo de prazer, mas nos dedicar aos
prazeres que alimentam a nossa alma.
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Graduado em psicologia, licenciado em filosofia e em pedagogia, pós-graduado em ensino de
filosofia e em psicoterapia fenomenológico-existencial, pós-graduando em aconselhamento filosófico.
A felicidade, em sua perspectiva, seria resultante de um estado de ausência
de sofrimentos físicos e de perturbações da alma. Trata-se de um estado de
serenidade, que é alcançado por meio da reflexão filosófica e de uma profunda
avaliação sobre nossa vida e nossas escolhas. Epicuro defendia que todas as
pessoas poderiam alcançar a felicidade, e não era preciso muito para ser feliz, uma
das principais condições consistia em avaliar o que escolhemos e o que rejeitamos.
Sua proposta nos convida a tomar conhecimento sobre aquilo que nos gera
prazer e alegria, e aquilo que nos gera dor ou frustraçõe. Procuramos a felicidade
em muitas coisas, mas segundo o filósofo bastavam poucas para uma vida feliz,
como estar em boas companhias, viver em liberdade e dedicar um tempo para
avaliar a própria vida. Nenhum desses elementos demandam dinheiro, mas boas
escolhas.
Uma vida feliz seria o mesmo que uma vida simples, como por exemplo se
encontrar com bons amigos de tempos em tempos para conviver e compartilhar
atividades; viver de maneira autossuficiente, em liberdade, sem depender de outras
pessoas; e, acima de tudo, dedicar-se um tempo para avaliar a própria vida, pois
nossas angústias diminuem conforme dedicamos um tempo para refletir sobre elas.
Para que isso fosse possível, o filósofo sugere um certo afastamento das
distrações da cidade, para se ter um tempo e espaço que possibilitem repensar a
nossa vida e as nossas escolhas. Por isso, Epicuro escolheu um jardim, distante da
cidade, para construir a sua casa e convidar amigos para viverem próximos,
tornando este um espaço próprio para viver, conviver e filosofar, longe do tumulto do
comércio e mais próximo do silêncio e da natureza.
Quando então dizemos que o fim último é o prazer, não nos referimos
aos prazeres dos intemperantes ou aos que consistem no gozo dos
sentidos, como acreditam certas pessoas que ignoram o nosso
pensamento, ou não concordam com ele, ou o interpretam
erroneamente, mas ao prazer que é ausência de sofrimentos físicos e
de perturbações da alma.
(EPICURO, 2002, p. 43)
Os melhores prazeres não são aqueles que nos colocam em movimento, mas
os que nos possibilitam a sensação de repouso, a ausência de sofrimentos do corpo
e da alma. O prazer em movimento é aquele que advém da satisfação de um desejo,
mas que pode se transformar em insatisfação quando não realizado. Já o prazer em
repouso possibilita uma saciedade constante que não é perturbada pelo sofrimento
ou pelo desejo. Por isso, o principal prazer não é o do corpo, mas o da alma, ele é
mais profundo e completo. O corpo vive apenas a sensação presente, enquanto que
a alma recorda do passado e se remete ao futuro.
Neste sentido, a ética de Epicuro propõe a busca dos prazeres que não
causem dores ou perturbações, propondo viver de maneira prudente e simples,
buscando assim alcançar uma paz de espírito. Seus ensinamentos nos convidam
para cuidado para com a vida e um cálculo dos prazeres, priorizando a qualidade ao
invés da quantidade.
O cuidado com a alma proposto por Epicuro se aproxima do que hoje
entendemos por terapia, que visa lidar com nossas angústias e ansiedades. Para
isso ele indicou quatro remédios para a alma, o Tetrapharmakon, que consiste em:
não temer os deuses, não se alarmar por conta da morte, perseguir o que é bom e
suportar o que é mau.
O filósofo não nega os deuses, mas também não entende que eles sejam
capazes de intervir no mundo. Sua cosmologia é materialista, portanto ele parte da
perspectiva de que tudo é composto de átomos e vazios. As divindades não podem
fazer nada de mau às pessoas, e temer elas seria uma perda de tempo.
Assim como opta pela comida mais saborosa e não pela mais
abundante, do mesmo modo ele colhe os doces frutos de um tempo
bem vivido, ainda que breve.
(EPICURO, 2002, p. 31)
Para ele, tudo o que é bom é simples e pode ser alcançado facilmente. Se
uma pessoa está com fome, uma refeição lhe basta, desde que seja de acordo com
a fome que a pessoa esteja sentindo no momento. Um prato muito cheio poderia
fazer mal a quem que tem pouca fome, do mesmo modo que um prato com pouca
comida não fará bem ao que tem mais fome.
Segundo Epicuro, o mal é algo que não devemos nos preocupar, pois não há
sofrimento ou dor que seja eterna, toda dor e qualquer sofrimento cessa num
momento, e além disso podemos nos dispor de diversas atividades para não nos
alarmar com as dores durante o tempo que elas duram, assim poderemos minimizar
as dores e ampliar os prazeres.
Portanto, precisamos ficar atentos às nossas buscas. Quando nos dedicamos
a buscar um fim específico, isso pode não nos fazer bem, pois nos esforçamos muito
tentando algo que podemos não conseguir, ou que podemos perder, e nas duas
situações o resultado será a frustração. Se não temos como conseguir uma coisa ou
manter a mesma, seria perda de tempo se gastar para sua busca.
Como ela não conseguiu entrar no curso superior, é possível avaliar outros
possíveis desejos de Ana, quais deles podem ser realizados, que a possibilitem uma
sensação de felicidade e tranquilidade da alma. Se ela realmente se interessa pelo
curso superior, pode-se colocar questões sobre seus intuitos com o curso: encontrar
pessoas, ter uma atividade, estudar um tema específico, adquirir uma formação,
entre outras?
Essas são algumas das possibilidades a partir de uma breve análise da leitura
de Epicuro, a partir da ‘Carta sobre a felicidade’ e de textos relacionados. De um
modo geral, a aplicação de sua filosofia tem como intuito proporcionar uma melhor
avaliação de nossos desejos e a escolha daqueles que nos possibilitem uma vida
mais feliz e tranquila.
Referências Bibliográficas:
EPICURO. Carta sobre a felicidade (a Meneceu). Trad.: Álvaro Lorencini e Enzo Del
Carratore. São Paulo: UNESP, 2002.
GHIRALDELLI JR, Paulo. A filosofia como medicina da alma. São Paulo: Manole,
2011.
GOMES, Táura Oliveira. A ética de Epicuro: um estudo da carta a Meneceu. Revista
Eletrônica UFSJ. São João del-Rei, n. 5, p.147-162, jul. 2003.
maio de 2021
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