Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A arte da redução
Em muitos âmbitos da nossa vida uma abundância de estímulos corporais,
psíquicos e também espirituais forma um indesejável círculo vicioso.
Em vez de levar a mais satisfação, nosso excessivo input leva à frustração e
a mais desejos.
Muitas vezes temos trocado qualidade por quantidade.
Nós nos assemelhamos a um burro em nossas tentativas de salvação, sobre
cujas costas está preso um bastão, em cuja ponta está pendurada uma
cenoura, que ele mesmo carrega à sua frente.
Por causa da sua inconsciência, ele corre cada vez mais depressa para afinal
alcançar a cenoura.
Essa situação banal mostra um padrão básico que vale para muitas
pessoas.
Elas buscam a realização interior à medida que a encobrem com estímulos e
atividades exteriores, sem reconhecer que primeiro precisam parar uma vez
para recuperar o fôlego e poder pensar.
Em vez de correr atrás do inalcançável, devemos usar a paz e o silêncio
para descobrir as verdadeiras soluções.
Com frequência esse “não fazer nada" nos possibilita alcançar novos
estágios de consciência.
Ali reconheceremos qual é o nosso verdadeiro problema, ou o problema
perde seu significado.
É indiferente se contemplamos assuntos físicos, psíquicos ou espirituais.
Sejam problemas de alimentação, sexualidade ou busca mental/espiritual —
sempre teremos de aprender a ver onde está o problema, no bastão que
carrega a cenoura ou na distância até a cenoura.
Portanto, em muitas situações basta parar e começar atividades não
essenciais para poder progredir em outro âmbito.
Nosso desenvolvimento dá certo quando eliminamos o supérfluo em vez de
acrescentar o novo.
Uma das práticas mais eficazes em todos os três âmbitos da vida humana
é, por exemplo, o jejum, que usamos em nosso trabalho psicoterapêutico
ao lado da respiração consciente.
No jejum começamos a nos desintoxicar física, psíquica e espiritualmente.
O desnecessário é eliminado e nossos sentidos despertam outra vez.
Nós vemos, ouvimos e cheiramos melhor e estamos em condições de
descobrir novamente aqueles conteúdos psíquicos que se perderam ou
foram abalados no mundo profano do dia a dia.
Quando reduzimos alimentos, impressões da mídia e tudo o que jorra sobre
nós vindo de fora, correspondentemente mudam as funções físicas e psico
espirituais.
Assim que as impressões diminuem, o nosso mundo interior pode começar
a se expressar.
Assim, acontece que muitas pessoas que jejuam, sonham mais durante o
jejum, e sentem mais intensamente e conseguem usar melhor as medidas
terapêuticas.
Do ponto de vista da medicina natural, os efeitos físicos como a
desintoxicação e eliminação dos resíduos nocivos dos tecidos conjuntivos e
gordurosos ocupa o primeiro plano.
Mas nas culturas antigas o jejum era e é usado principalmente para
conseguir uma consciência elevada e clara.
Jesus foi ao deserto, jejuou e enfrentou a tentação na forma do diabo e
conseguiu vencê-lo.
Na vida muitas vezes é necessário entrar em contato com o conhecimento
interior para conseguir vencer as crises e as modificações decisivas da vida.
No âmbito físico as toxinas estão armazenadas principalmente nos tecidos
conjuntivos e gordurosos.
Durante o jejum elas voltam aos vasos sanguíneos e podem ser excretadas.
O agradável efeito purificador do jejum, portanto, tem um lado
desagradável também.
Na boca se formam placas feias, a urina fica mais ácida e todas as
excrescências tendem a ter um cheiro mais forte do que de costume.
No âmbito psíquico/espiritual acontece algo semelhante.
Tudo o que nós reprimimos porque não correspondia à imagem da própria
personalidade, vem novamente à tona e é percebido e revivido como
disposição ou sonho.
Seja o que for que vivamos e sintamos durante o jejum ou na terapia com a
respiração associada ou até mesmo nos menores exercícios respiratórios é
parte de nós e, portanto, digno de atenção.
Por fim nós iremos descobrir outra vez temas em todos os âmbitos que
realmente são desagradáveis à primeira vista e que por isso foram
reprimidos, mas que são importantes no caminho para a totalidade.
No fundo acontece o mesmo que acontece com uma caixa em que parte das
maçãs estão podres.
Podemos nos empenhar em retirar todas as maçãs podres.
Mas, ao fazer isso, temos de lidar intensamente com o lado feio da caixa de
maçãs, e, como recompensa pelo nosso esforço, conseguimos algumas
maçãs perfeitas.
O pressuposto básico para esse processo é contemplar o que existe e não
acrescentar constantemente coisas novas.
Entre os métodos de auto experiência são mais eficientes aqueles que
parecem simples, quase banais à primeira vista.
Quem jejua e respira conscientemente, tem as melhores oportunidades de
entrar em contato com os próprios âmbitos da vida realmente importantes.
Mesmo que possa parecer difícil alcançar o objetivo desse exercício, logo
podemos descobrir que ele faz a nossa respiração tornar-se mais calma e
forte.
Um outro exercício descrito por Sung-Shan mostra um antigo modo de lidar
com as doenças:
Este é o segredo de encerrar a respiração: se você ficar doente entre num
aposento fechado e faça o seguinte: deite-se com as mãos e os pés
esticados.
Aquiete a sua respiração e a engula, dirigindo-a na mente para onde está a
sua doença.
Depois de inspirar corte a respiração.
Regule a respiração com vontade e juízo para eliminar o mal-estar.
Quando a respiração for detida até você não aguentar mais, deixe-a fluir.
Dirija outra vez a respiração seguinte para onde dói.
Se estiver respirando depressa demais, pare.
Quando o fluxo respiratório se tornar regular e tranquilo, lide novamente
com o problema.
Se começar a suar e perceber que fez contato com o seu problema, termine
a sua ação.
Se o mal-estar não for eliminado com isso, continue trabalhando da
maneira descrita, duas vezes por dia — à meia-noite e entre três e cinco
horas da manhã.
Se for conveniente, também durante o dia, até melhorar.
Faça isso também quando o sofrimento for na cabeça, nas mãos ou nos
pés.
Onde e seja ele qual for, use este exercício.
Tudo pode ser curado com ele.
Pois é verdade: o juízo leva a respiração para os membros e órgãos; é
como uma mágica, pois o efeito é imensurável.
Continua