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Anne Gracie

Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Noiva por engano


Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05

Oito anos atrás, o Tenente Luke Ripton havia feito um casamento precipitado durante a
guerra para proteger uma jovem de uma união forçada. Agora, incapaz de obter a
anulação, Luke não tem nenhuma escolha a não ser ir buscar Isabella, a esposa ferozmente
independente que ele nunca havia procurado.
E enquanto eles permaneciam juntos rumo ao cumprimento de seus votos, nunca
imaginaram que a fúria apaixonada que eles compartilhavam poderia se tornar um outro
tipo de paixão...

Revisão do Inglês
Envio: Δίκη
Tradução e Revisão Inicial: Ana Mota
Revisão Final e Formatação: Táai
Imagem: Élica
T.

** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis.
**
Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Em memória da minha amada cachorrinha, Chloe,


que me fez companhia
durante a escrita dos últimos dez livros.
Uma companheira amorosa,
ela achava alegria nas coisas mais simples.

Comentário da Revisora Ana Mota: temos um ex-tenente que guarda cicatrizes profundas da
guerra e vai buscar sua esposa em um convento achando que ela seria a esposa mais dócil e
obediente do mundo, ledo engano... Além disso, temos uma lição com espelho super, hmmm,
interessante, livro ótimo para quem gosta de históricos e uma mocinha cheia de opinião e um
mocinho lindo como um anjo.
Beijos,

Comentário da Revisora Táai: não posso falar com a merecida justiça do livro, pois não
acompanhei a série... Porém, o livro é muito bom. Finalmente temos uma mocinha que não é
estonteantemente linda! Um mocinho meio tapado, uma garota decidida, oito anos de separação,
um cunho histórico no meio... Muito bom! Como sempre, a Ana Mota facilita o trabalho de
qualquer revisora final! Super cuidadosa e atenciosa com as notas de rodapé! Com certeza, será
uma leitura que “fluirá”! Aproveitem! ;**

** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis.
**
Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Um

Londres, 1819

— Você é louco, Ripton!


Luke Ripton encolheu os ombros e juntou suas rédeas.
— O curricle1 pode ser consertado, Jarvis. Pelo menos seus cavalos não estão feridos.
— Não graças a você! — Jarvis rosnou. — Passando por mim desse jeito: você quase
arrancou as minhas rodas...
— Mas, não o fiz. — Luke interrompeu friamente. O homem dirigia como uma debutante
ansiosa. — Não havia necessidade de se mover tão violentamente. Você apenas tinha que
controlar os seus nervos.
— Nervos? Eu te mostrarei uma coisa. — Jarvis começou a ir adiante, apenas para ser
contido pelos amigos que haviam vindo ser testemunha – e apostar na corrida.
— Fique calmo, Jarvis. Lorde Ripton ganhou de forma justa e limpa. — Disse um de seus
amigos.
— Para começo de conversa, você que foi um tolo em desafiá-lo. — Disse outro, um pouco
bêbado demais. — Todo mundo sabe que Ripton não se importa se vive ou morre. E isso faz dele –
hic! – insuperável.
Luke deu um toque no chapéu como despedida para seu oponente ainda fumegando e foi
embora. Era verdade? Ele se importava se vivia ou morria?
Ele considerou a pergunta enquanto dirigia de volta para a cidade. Não era mentira, ele
decidiu enquanto virava para a Rua Upper Brook. Ele não tinha certeza de que merecia viver. Ele
havia tentado seu destino frequentemente.
Mas o destino, aparentemente, tinha outros planos para ele.
A carta em seu bolso confirmava isto.
Ele parou do lado de fora da casa da cidade de sua mãe. A casa pertencia a ele, claro – veio
com o título que ele herdara quando o tio e os primos tinham se afogados dois anos atrás. Mas,
por mais que Luke gostasse de sua mãe e de sua irmã mais nova, ele preferia não viver com elas. A
mãe dele tinha o costume de ser superprotetora. Luke preferia seu quarto de solteiro, um
apartamento limpo na Rua Clarges, onde ninguém questionava aonde ele ia ou vinha.
— Obrigada, meu Deus! — Lady Ripton exclamou quando Luke entrou na sala de visitas. Ela
pediu chá e bolinhos frescos.
Ele beijou a bochecha que ela ofereceu.
— Não estou tão atrasado, não é? — Ela havia pedido que ele fosse lá pela manhã. E ainda
era antes das onze.
1
Nota da Revisora: O curricle era uma carruagem leve de duas rodas, grande o suficiente para o motorista e um passageiro,
geralmente puxado por um par de cavalos cuidadosamente escolhidos e iguais. Era popular no início do século XIX e notório pela
quantidade de acidentes que seus motoristas sofriam.

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Noiva por Engano

— Não, mas eu estava preocupada com você, claro. Estas corridas horrorosas! Eu não
entendo por que...
— Por que intrometidos impertinentes te aborrecem com coisas que não deveriam te
preocupar? — Luke interrompeu. Ele fazia o máximo para manter tais atividades longes de sua
mãe, droga.
— Não deveria me preocupar? Meu filho, meu único filho, arriscando seu pescoço do jeito
mais despreocupado...
— Meu pescoço está em perfeita ordem, mamãe. Eu me desculpo por qualquer preocupação
desnecessária. — Luke disse decisivamente. E quando ele descobrisse quem estava tagarelando
para sua mãe, ele torceria o pescoço dessa pessoa. — Agora, o que a senhora quer conversar
comigo?
Como se ele não soubesse. O iminente debute de Molly era tudo o que a mãe dele e sua
irmã falavam. Embora Luke houvesse dado carta branca para que elas comprassem o que
quisessem, a mãe dele ainda queria que ele aprovasse todos os acordos – era o modo dela de
lembrá-lo que ele era o chefe da família. Como será que ela reagiria se ele fizesse alguma sugestão
própria..?
A mãe dele era viúva desde que Luke era um colegial e Molly uma garotinha. Luke havia
ficado fora na guerra desde que tinha dezoito anos, e a mãe dele tinha conseguido casar com
sucesso as duas irmãs mais velhas de Luke. Ela estava acostumada a ser a governante, mas se
alguém sugerisse isso, ela ficaria horrorizada. Era trabalho do homem decidir as coisas.
Então, toda semana eles passavam pela cerimônia dos planos da mãe dele, passá-los para
Luke e ele os aprovar.
Ele bebeu o chá e a escutou com uma orelha. Hoje ele estava até menos interessado em
seus acordos do que o habitual. Ele tinha que contar a ela sobre a carta em seu bolso.
Ela não iria gostar.
— Agora, sobre o baile, pensei em convidarmos quarenta para um jantar antes. Molly e eu
fizemos uma lista, mas falta saber quem você gostaria que nós convidássemos. Não quero dizer os
queridos Rafe, Harry, Gabe e suas esposas, claro – eles já estão na lista, naturalmente. Molly
nunca havia esquecido como, quando ainda era uma menina, que vocês prometeram dançar com
ela em seu baile de debutante. Graças a Deus que vocês todos voltaram da guerra.
Não todos, Luke pensou, mas a mãe dele não havia conhecido Michael muito bem.
— Há algum convite especial que você gostaria de fazer? Alguma dama em especial? — Ela
disse com ênfase delicada.
— Lady Gosforth? — Ele disse, nomeando a tia avó de seus amigos.
A mãe dele deu um tapa ligeiro na mão dele.
— Não me provoque, Luke. Você sabe muito bem o que eu quero dizer. Faz dois anos desde
que você recebeu o título do seu tio, e está na hora de você pensar seriamente em casamento.
Ah. A abertura que ele precisava. Luke colocou a xícara na mesa.

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Anne Gracie
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Noiva por Engano

— Sobre isto, tenho pensado seriamente sobre a questão do casamento. — Muito


seriamente, de fato.
A mãe dele se debruçou avidamente adiante.
— Você tem uma noiva em mente?
— Mais que em mente; quase na mão, pode-se dizer. — Ele engoliu em seco. Era mais duro
de admitir do que ele havia pensado.
— Quase na mão? Não entendo. Você quer dizer uma proposta de casamento?
— Não. Eu sou casado.
— Casado? — A xícara congelou a meio caminho para a boca. O pulso tremeu e a xícara
soltou dos dedos de repente enervados e se moveram para a mesa, derramando chá sobre a
superfície polida e delicada. A mãe dele ignorou. Houve um longo silêncio, então ela disse com
uma voz que tremia só um pouco. — Você não pode estar falando sério!
— Estou. Bastante sério. — Ele se ergueu e foi pegar uma garrafa de xerez.
— Mas quando você se casou? E quem é a menina? E por que, pelo amor de Deus, por quê?
Ele encheu um copo com xerez e pensou num modo de apresentar seu casamento sob o
melhor ângulo possível. Não seria fácil. Ele não estava certo de que existisse um melhor ângulo.
Ela pegou o copo de uma maneira distraída.
— Não me diga – que ela é algum tipo de harpia esperta que te enganou...
— Nada do tipo! — Ele disse firmemente. — Não pense que sou tolo, mãe. Ela é uma dama,
muito respeitável, muito bem nascida...
— Uma viúva. — Disse a mãe dele com a voz oca.
— Longe disto. Ela é jovem, a mesma idade de Molly, não fez vinte e um ainda.
A mãe dele olhou-o astutamente, procurando o caroço do angu.
— Qual é o nome dela? Quem é a família dela?
— O nome dela é Isabella Mercedes Sanchez y Vaillant, e ela é filha única do Conde de
Castillejo.
As sobrancelhas elegantes juntaram ao mesmo tempo.
— Estrangeiros?
— Aristocracia espanhola. — Foi uma reprimenda quieta.
— Refugiados. — Ela suspirou. — Suponho que ela seja desesperadamente pobre.
— Pelo contrário, ela é uma herdeira. E não é uma refugiada.
Ela fez uma carranca, parecendo perplexa.
— Nunca ouvi falar de nenhuma herdeira espanhola em Londres de visita. Onde você a
conheceu?
— Na Espanha, durante a guerra.
— Durante a guerra? — A mãe dele piscou. — Há tanto tempo? Então, o que ela fez durante
este tempo?
— Costurando, bordando e fazendo suas lições, imagino.

** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis.
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Noiva por Engano

— Costurando. — Ela cessou bruscamente, deu a ele um olhar estreito, então disse com
dignidade: — Essa não é hora para provocações, Luke. Por que eu não a encontrei? Ou aos pais
dela? E por que esse casamento escond...
— Os pais dela estão mortos. E você não a encontrou pela simples razão de ela ainda estar
na Espanha. — E ele não a estava provocando.
— Na Espanha? — Ela fez uma carranca. — Mas, faz anos desde que você esteve na
Espanha. Eu não entendo. Como você pode ter se casado com uma menina que ainda está na
Espanha?
Luke deu uma olhada rápida para longe.
— O casamento foi algum tempo atrás.
Ela se debruçou adiante, o rosto enchendo com pressentimento.
— Quanto tempo atrás?
— Na primavera de 1811.
Ela fez as somas.
— Oito anos atrás? Quando você tinha dezenove? — Ela o encarou, a sobrancelha enrugada
com confusão. — E todo esse tempo você nunca pensou em me dizer? Por que, Luke? Por quê?
— Pareceu a coisa certa a se fazer no momento. — Era a única explicação que ele estava
preparado para dar.
Fechando os olhos como se fosse demais para aguentar, a mãe dele se debruçou para trás
na cadeira e se abanou, embora, sendo março, não estivesse nada quente.
— Costurando? — Os olhos dela abriram de repente e ela se sentou com um salto. —
Quantos anos tinha essa menina? Em 1811, Molly era uma criança...
— Treze. E sim, Isabella tinha quase treze anos quando eu me casei com ela.
— Você se casou com uma criança? — Ela quase gritou. — Oh, o escândalo quando tudo vier
a público!
— Não tenho nenhuma intenção de deixar isso acontecer.
— Mas Luke… Treze! Uma mera criança! Como pôde? — Ela olhou para ele com horror
lânguido.
— Não seja ridícula, mãe. — Ele disse com aspereza. — É claro que eu nunca a toquei. Por
quem me toma? — E como ele ainda podia ver confusão e ansiedade nos olhos da mãe,
continuou: — Eu me casei com ela para protegê-la, claro. E então eu a entreguei aos cuidados de
sua tia, que é uma freira.
A mãe dele agitou a cabeça e disse em uma voz resignada:
— Católica também. Eu deveria ter imaginado. — Ela rodou seu xerez pensativamente por
alguns momentos, esvaziou o copo, e disse decisivamente: — Nós devemos anulá-lo.
— Não, nós não devemos.
— Mas, você não tinha vinte e um ainda, não tinha a idade legal para se casar ou a
permissão de seus parentes. E se a menina está intacta, uma anulação é...
— Não.

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— Claro que você deve. Você simplesmente deve...


— Mãe.
Ela mordeu o lábio e se aquietou.
Luke disse:
— Eu solicitei uma anulação. Foi recusada.
— Em que lugar...
— O casamento é legal, mãe. — Ele disse em uma voz que não admitia argumentos. Luke
não tinha nenhuma intenção de explicar para sua mãe ou qualquer outra pessoa por que uma
anulação não era possível.
Ela olhou para ele com desânimo, mas leu a resolução em seus olhos.
— Então, o que você fará?
— Honrar o casamento, claro. Não tenho outra opção.
— E a menina?
— Ela não tem nenhuma opção, também.
— Isso eu percebi, Luke, mas o que ela pensa? Como ela se sente?
Ele deu a ela seu olhar em branco.
— Não tenho nenhuma ideia. Não me importa o que ela pensa ou sente – o casamento é
legal e ambos estamos presos a ele – e eu espero que não precise dizer, mas isto fica só entre nós,
mãe.
— Claro. — A mãe dele murmurou.
— Os espanhóis estão acostumados a organizar casamentos; este não será diferente. Além
disso, ela estava em um convento.
A mãe deu a ele um olhar perplexo.
— O que isso tem a ver?
— Ela terá adquirido o hábito da obediência. — Luke explicou. — As freiras dedicam suas
vidas à pobreza, à castidade e à obediência.
A mãe dele piscou.
— Entendo. — Ela disse um pouco depois.
— Então, é isto. Estou indo embora. — Ele se levantou para partir.
— Luke Ripton, não ouse botar um pé para fora desta sala até que tenha terminado de
explicar tudo.
Luke ergueu a sobrancelha.
—Eu te disse tudo o que você precisava saber.
A mãe dele revirou os olhos.
— Coisa de homem mesmo.
Parecia ser algum tipo de acusação, mas o que mais podia ser estava além dele. Mas
claramente a mãe dele sentia a necessidade de cozinhar a história um pouco mais. Luke se sentou
de novo relutantemente.
— Por que você não me contou sobre o casamento antes?

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— Eu pensei que não importaria. — Pensou que ele estaria morto. Ou o casamento anulado.
— Não importaria? — A mãe dele ficou de boca aberta. Ela nunca fazia isso.
— Era tempo de guerra, mãe. Qualquer coisa podia acontecer. A ela. A mim. — Ele encolheu
os ombros. — Mas, não foi o que aconteceu. — Ela fechou a boca, então a abriu, e ele depressa
acrescentou: — Eu fiz os acordos necessários no caso da minha morte. Todo mundo seria cuidado;
você não tinha nada com o que se preocupar.
Ela o encarou em silêncio.
— Só a perda do meu filho.
Ele encolheu os ombros novamente.
— Mas, isso não aconteceu. E como as pessoas da cidade vão reagir à notícia do meu
casamento, planejo deixar a ideia de que estou viajando para a Espanha com algum outro
propósito...
— Visitar as suas propriedades espanholas? É a única parte das suas propriedades que estão
abandonadas.
Ele enrijeceu, não gostando da acusação, mas era verdade. Ele tinha a intenção de vender a
preço baixo as propriedades espanholas, não queria nada a ver com elas. Ele não queria nenhuma
lembrança de seu tempo na Espanha. Ele abominava o lugar. Fazia com que ele se sentisse doente
só com a possibilidade de retornar lá.
Mas, o destino o havia pegado uma vez mais. A anulação havia sido negada e ele não tinha
nenhuma opção além de retornar ao país que ele havia jurado nunca mais colocar os pés. As
memórias que ele tão desesperadamente tentava esquecer ainda o atacavam.
— Sim, as propriedades espanholas, como queira. E então eu retornarei com uma noiva
espanhola no braço.
— Suponho que isso deve funcionar. — A mãe dele concordou. — Mas oh, Luke, isso me
deixa tão triste. Eu sempre esperei que você achasse uma menina adorável que...
— Um casamento de conveniência me servirá muito bem. — Ele disse em uma voz seca. —
Agora, há alguma outra coisa que você deseje saber antes de eu partir? — Não fazia sentido deixar
a mãe dele insistir em seu sonho de fazer para ele o mesmo tipo de casamento que ela havia tido
com o pai dele. Eram os sonhos dela, não os de Luke.
Sonhos… Uma lasca de gelo deslizou pela espinha dele. Quanto menos dito sobre eles,
melhor.
— Ela é bonita, pelo menos?
Ele pensou em Isabella, na última vez em que a havia visto, o rosto todo contundido e
inchado, muito anguloso e o nariz muito grande, como um filhote de pássaro feroz, que havia
acabado de nascer, e feio.
— Ela tinha apenas treze anos, mãe. Ela terá mudado em oito anos. — Ele esperava, pelo
menos.
A mãe viu que ele havia evitado a pergunta.
— Eu gostarei dela?

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— Eu não sei. — Ele disse sem poder evitar. — Eu a conheci por apenas um dia, e sob
circunstâncias extraordinárias. Quem sabe como ela é agora? Agora, eu realmente devo ir...
— Mais uma coisa.
Ele esperou. Houve um longo silêncio. A mãe se moveu desconfortável na cadeira, torcendo
um lenço entre os dedos.
— Luke, eu sei que você não gosta de falar sobre… Sobre… E eu respeitei o seu isolamento,
você sabe que sim, mas agora eu tenho que te perguntar. Essa foi a coisa que te aconteceu na
Espanha, a coisa da qual você não fala?
Ele endureceu e desviou o olhar.
— Não sei do que você está falando.
Ela disse suavemente:
— Só porque você escolhe não reconhecer, não significa que a sua mãe não possa ver que
algo de terrível te aconteceu na Espanha.
— Eu fui para a guerra, mãe. — Ele disse com a voz dura. — A guerra muda as pessoas.
— Eu sei. — Ela disse suavemente. — Eu vi isto em todos vocês. Todos voltaram mudados.
Mas com você, meu filho querido, houve algo mais; algo muito pessoal que te cortou bem fundo.
Ele quase vacilou com a escolha das palavras dela. Ela não podia saber, ele se lembrou.
Ninguém sabia. Ele não havia falado sobre isso para ninguém, nem mesmo Rafe, Harry ou Gabe.
— Eu vi os seus amigos se recuperarem, e se acomodarem, um por um, mas não você… O
que quer que tenha acontecido, ainda te assombra.
Ele se forçou a ter um tom descuidado.
— Bem, o que quer que você imagine que me assombra, não é este casamento. Para ser
honesto, eu mal pensei nele. Ela era apenas uma garotinha, da idade de Molly, que estava em
apuros, e se casando com ela eu poderia salvá-la de um destino sórdido. Pensei que poderíamos
conseguir uma anulação, mas… — Ele abriu os braços em um gesto fatalista.
Antes que sua mãe pudesse persistir, ele ficou de pé.
— Tenho me correspondido com a tia de Isabella – a freira, se você se lembra – e ela
aconselhou que eu pegue a Isabella o mais rápido possível. Parto amanhã para a Espanha.
— Amanhã? — Ela se sentou, distraída como ele sabia que ela ficaria. —Mas o baile da Molly
é daqui a três semanas!
— Eu voltarei a tempo. — Ele a assegurou. — Prometi a Molly quando fui para a guerra, e
então novamente quando fui para Waterloo 2, que retornaria para dançar quando tudo estivesse
terminado. Não há nenhum perigo de que eu quebre a minha promessa agora. Há tempo
suficiente para chegar ao Convento dos Anjos e retornar. Eu informarei Rafe e Harry de meus
planos, e eles estarão disponíveis caso a senhora precise de qualquer conselho ou ajuda
masculina.
A mãe dispensou isso com um gesto impaciente.

2
Nota da Revisora: Batalha de Waterloo - foi um combate decisivo das forças francesas contra as britânicas, e se deu nas
proximidades da aldeia belga de Waterloo. Ocorreu durante o Governo dos Cem Dias de Napoleão.

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— E se você se atrasar?
Ele deu um beijo leve na bochecha dela.
— Eu sobrevivi a tudo que Boney3 podia jogar sobre mim, mãe. O que poderia me atrasar
agora?

Luke foi diretamente da casa de sua mãe para o Clube do Apocalipse em St. James.
Estabelecido logo depois de Waterloo, o clube supria largamente os jovens oficiais que iriam servir
na guerra. Era um estabelecimento pequeno, discreto e Luke e seus amigos o usavam como um
lugar de encontros. Ao contrário das suposições feitas por seus não membros, os membros quase
nunca discutiam sobre a guerra.
Hoje à noite seria uma exceção.
Luke achou Rafe e Harry em um salão privado, vadiando em suas poltronas de couro,
bebericando vinho, as botas esticadas em direção ao fogo, o retrato da satisfação masculina.
Como eles faziam isto? Inquietude ainda roia as entranhas de Luke, e a guerra havia
terminado há anos. Quatro longos anos.
Rafe ficou de pé.
— Já era tempo de você chegar.
Harry esvaziou sua taça de vinho, deu a Luke um soco amigável no ombro, e empurrou a
cabeça em direção ao jantar.
— Vamos. O odor de bife e torta de rim está me chamado pelos últimos vinte minutos.
— Não há tempo para isto. — Luke disse. — Parto para a Espanha de manhã.
— Espanha? — Ambos os olharam com estupefação.
— Você jurou que você nunca mais colocaria os pés na Espanha. — Rafe disse.
Luke encolheu os ombros.
— É necessário. Sentem-se e eu contarei. — Ele disse.
Ele os contou a história, apenas o básico – as circunstâncias do casamento era coisa dele e
Isabella, e nem mesmo seus amigos mais íntimos precisavam saber os detalhes sórdidos.
— Casado há tanto tempo assim? — Rafe estava incrédulo. — E nunca uma palavra para
nenhum de nós? Não acredito nisto. — Ele se sentou de volta, os olhos azuis claros presos em
Luke.
— É verdade. — Luke disse a ele. —Tive uma missão nas montanhas e topei com ela a
caminho de volta para a sede. Foi então que — Ele tragou. — que eu me casei com ela para sua
própria proteção. Foi – você sabe o que pode acontecer.
— Você quer me dizer que você foi enrolado? Nós éramos garotinhos imaturos.
Luke agitou a cabeça.
— Não fui enrolado. O casamento foi ideia minha.
3
Nota da Revisora: Napoleão Bonaparte.

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Depois de um momento, Rafe perguntou:


— Onde está Isabella, onde ela está agora?
— Onde eu a deixei. No convento. Na Espanha.
— Um convento?
— Bom Deus, ela não é uma freira, é? — Harry disse.
— Não, ela não é uma maldita freira. — Luke disse irritado, cheio das perguntas, embora ele
soubesse que elas eram perfeitamente naturais. Ele já havia sido questionado o suficiente por sua
mãe.
— Sua mãe a conhece? — Rafe começou. — Não, claro que não, caso contrário ela não teria
passado anos jogando debutantes na sua cabeça. — Ele agitou a cabeça. — Explica por que,
quando você poderia escolher as garotas mais bonitas da cidade, você nunca havia dado sequer
um segundo olhar para elas.
Luke fez uma careta.
— Eu não poderia ter casado com qualquer uma dessas meninas. Elas eram bebês.
Rafe bufou.
— Ao invés de sua amadurecida noiva de treze anos de idade.
— Ela era da mesma idade que Molly, Rafe. — Luke retrucou. — Você a teria deixado
desprotegida nas montanhas?
Rafe conhecia Molly desde que Luke o havia levado para sua casa quando colegial. Molly,
ainda engatinhando, o havia adorado à primeira vista. Rafe fechou a boca.
— Então, por que você a deixou na Espanha? — Harry perguntou. —Por que você não a
enviou para a casa de sua mãe?
— Porque não deveria ter sido um casamento permanente. — Luke disse, exasperado. — Era
apenas uma medida temporária. Eu – nós pensamos que o casamento poderia ser anulado mais
tarde. E, além disso... — Ele cessou bruscamente.
Harry girou o conhaque lentamente em seu vidro.
— Além disso, você pensou que estaria morto antes que isso acontecesse. — Ele deu uma
olhada rápida para Rafe. — Nós lembramos como você ficou depois da morte de Michael.
O fogo silvou e crepitou na grelha.
— Isto foi antes de Michael morrer. — Luke disse.
Ao longe eles podiam ouvir o tinir de louças e prata. Michael era o mais ensolarado deles
todos; brilhante, descomplicado, o menino dourado.
Luke forçou sua mente de volta ao presente.
— Eu contei à minha mãe sobre Isabella hoje à noite. Ela não está muito feliz com o fato de
eu deixar o país pouco antes do debute de Molly...
— Não estou surpreso. — Rafe começou.
— Então, eu a disse que ela podia pedir a você qualquer conselho ou ajuda que ela e Molly
pudessem precisar. Escoltá-las para bailes e passeios, compras, esse tipo de coisa.
Rafe lutou para esconder um olhar intimidado.

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Anne Gracie
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— Hummm, seria encantador ajudar Lady Ripton, claro.


Harry começou a rir.
— Você não ouviu como Rafe achou deliciosas as preparações para a primeira temporada de
Ayisha em Londres? A discussão infinita sobre sedas, rendas, gorros e as complexidades que as
fêmeas precisam ter. — Ele acenou com a mão para indicar as resmas de discussão sem fim. —
Rafe, meu rapaz, você estará em casa.
Rafe deu a Harry uma carranca.
— Você e Nell nunca deveriam ter apresentado Ayisha a Lady Gosforth. A mulher vive para
fazer compras! Ela até infetou a minha sensata Ayisha.
Harry riu.
— Tia Gosforth é uma força da natureza.
— Naturalmente eu incluí você na oferta, Harry. — Luke disse suavemente. — Você sabe o
quão aficionada minha mãe é por você.
O sorriso de Harry apagou.
— Droga. Você sabe como eu sou inútil nesse negócio de sociedade.
— Mas você fará isto. — Não era uma pergunta. Ele sabia que eles iriam.
Os amigos dele suspiraram e anuíram com a cabeça. Rafe encheu seu copo novamente.
— Haverá muitos boatos sobre este casamento, sabe... — Ele disse. —Pode ficar feio. Você
sabe que eles estão apostando em quem se casará primeiro, você ou Marcus.
Luke fez uma careta.
— Eu sei. Quero que você diga por aí que eu fui chamado à Espanha por uma questão
urgente da propriedade – meu tio possui vinhedos no Sul da Espanha, se você se lembra.
Nenhuma menção de qualquer noiva; apenas negócios de propriedade.
— Excelente ideia. — Rafe declarou. — Então, quando você retornar para a Espanha com
uma noiva nos braços, todo mundo achará que os dois se conheceram, apaixonaram e se casaram
no espaço de uma semana ou duas.
— Deixe que as pessoas fofoquem sobre o romance relâmpago. — Harry anuiu com a
cabeça. — Eu brindarei a isso.
Eles brindaram.
Depois que um momento Rafe disse:
— Sabe, suponho que se você trouxer uma noiva espanhola para casa, cada fêmea elegível
vai querer arrancar os olhos dela. Espero que ela seja incrivelmente bonita.
Luke bebericou seu conhaque.
— Ela não é. Mas ela é uma pequena alma valente. Ela vai conseguir.

A mãe de Luke se revirava de noite. O filho sempre trazia para casa vira-latas e criaturas
feridas, do primeiro pássaro que achou com uma asa quebrada aos meninos da escola, como

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**
Anne Gracie
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Harry e Gabe que não tinham nenhuma família para ir, ou Rafe cujo pai não tinha nenhum uso
para ele e mostrava isto.
Era uma coisa amar seu filho por sua generosidade com as criaturas feridas; outra era vê-lo
atado nas correntes do casamento.
Pelos últimos quatro anos ela havia assistido as damas da sociedade sorrirem de forma
afetada, paquerarem e quase se jogar sobre ele, vendo apenas seu rosto bonito e, já que seu tio
havia morrido, o título. Não a havia preocupado que Luke houvesse mostrado pouco interesse.
Elas eram criaturas superficiais na maior parte, não eram merecedoras do amor de seu único e
amado filho.
Este ano ela estava confiante pois havia achado várias garotas bonitas e com caráter, o tipo
de meninas que adorariam Luke por ele mesmo. Ela esperava ansiosamente para apresentá-las a
ele.
Agora não fazia mais sentido.
Ela agarrou o leite quente que havia pedido, mas estava frio agora com uma nata sórdida.
Ela o afastou. A cama parecia mais fria e vazia do que nunca.
Ela nunca havia parado de sentir falta do pai de Luke; nunca havia parado de agarrá-lo na
noite e de despertar se achando sozinha. O amor de sua vida; ela não deveria reclamar. Eles
haviam vivido os vinte anos mais felizes juntos.
Era o que ela queria para Luke, para todos seus filhos. Um amor que durasse a vida toda.
Ela puxou as cobertas e tentou dormir.
Luke e seus amigos haviam retornado da guerra com os corações doentes e cansados, e
ainda assim cheios com uma inquietude que os fazia se arriscar com feitos descuidados e
selvagens o suficiente fazer o cabelo de uma mãe ficar cinza. Mais cinza.
Oh, Luke havia tentado esconder tudo dela. Ele cuidava para nunca fazer qualquer coisa na
frente dela que pudesse preocupá-la, mas, ainda assim, ela ouvia.
O pai de Luke tinha sido da mesma maneira selvagem quando jovem, então ela havia
tentado ser paciente com o filho e seus amigos. E quando Luke e Rafe tinham aquelas chocantes
corridas de curricle, insinuando aquelas velocidades horrorosas, ela se lembrava de agradecer por
eles pelo menos terem retornados seguros a guerra. Ainda assim eles pareciam sempre dispostos
a quebrarem seus pescoços em casa.
Mas os amigos de Luke se casaram um por um e, oh, o coração dela ficava feliz de ver, os
meninos que não eram amados e que ela um dia viu crescer e virarem homens e se apaixonando
por uma mulher que os adorava. Ela assistiu como uma certeza interna e profunda, uma felicidade
grande substituindo sua antiga inquietude.
Ela queria desesperadamente que seu filho achasse o mesmo.
Mas oito anos atrás uma boa ação o havia algemado para sempre com uma estranha, uma
estrangeira; uma menina que queria ser casada com Luke não mais do que ele a queria.

** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis.
**
Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Por ela, e talvez por esta menina desconhecida, Luke havia tentado enfrentar tudo da
melhor forma possível, mas ele era como a corrida. Ela sabia que ele não a havia contado a
história toda.
Ela tinha os piores pressentimentos sobre este casamento.
Algo terrível havia acontecido com Luke na Espanha quando ele era um jovem Tenente. Sua
negação não a havia assegurado de que isso não estava conectado a esta menina.
O filho dela era muito bom em esconder seus sentimentos. Luke teria certeza de que
ninguém – nem sua mãe, suas irmãs, nem mesmo seus amigos – suspeitassem de nada.
Galante até os ossos, ele era, e orgulhoso, assim como o pai. Ele preferiria morrer a deixar
alguém saber que esta menina estrangeira tinha – de forma esperta ou inconsciente – o prendido
em um casamento sem amor. E que ele estava desesperadamente infeliz.
Lady Ripton chorou.

Dois

Espanha, 1811

O problema, quando vinha, não era o que Luke esperava. Ele estava vigiando os inimigos –
os franceses – e também os guerrilleros espanhóis e os bandidos heterogêneos, as montanhas
abrigavam muitos, e às vezes ele não podia dizer a diferença. Eles eram aliados, os ingleses e
os guerrilleros, mas um homem solitário a cavalo era fácil de ser presa para homens desesperados,
e as montanhas estavam cheias deles.
O problema era um grito estremecendo ao vento. Alto e claro. Uma mulher, ou uma criança.
Luke Ripton, comissionado recentemente como Tenente no Exército Territorial de Sua
Majestade, hesitou. Não seria a primeira vez que uma mulher seria usada como isca para uma
armadilha, mas ele iria cumprir sua missão. Ele não levava nenhuma mensagem ou ouro secreto
consigo agora.
O grito veio novamente, estridente e cheio com terror real. Luke mergulhou com o seu
cavalo o declive íngreme abaixo em direção ao som, tecendo pelos pinheiros e a floresta de faia.
Por um buraco nas árvores ele viu um homem baixo e atarracado curvado sobre uma fêmea
pequena, esbelta. Ela estava amarrada nas mãos e nos pés, mas se contorcia e resistia, lutando
como um peixe preso num anzol.
Luke puxou sua pistola, mas não conseguiria um tiro certeiro através das árvores. Além
disso, ele não queria que pegasse na menina. Ele persuadiu seu cavalo na direção deles.
O homem abriu sua calça e se jogou sobre ela. A menina se contorceu e bateu os punhos
com força no rosto do homem. Ele gritou e se afastou, envolvendo o rosto dela. As mãos saíram
vermelhas. Ele agarrou os pulsos dela e os forçou para trás. Ela mordeu a mão dele e ele a xingou,
deu uma bofetada no rosto.

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**
Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Sangue brotou no rosto dela, e ela se afastou, atordoada, e o homem se jogou novamente
sobre o corpo dela.
Gritando, Luke saltou de seu cavalo e correu na direção deles. Levou um tempo
agonizantemente longo. Atento à sua presa, o atacante pareceu não ouvir.
Com um rugido de ira, Luke passou os últimos poucos metros, agarrou o homem pelo
pescoço, e o arrastou para longe da menina.
Ele ficou se espreguiçando no chão vários centímetros de distância, rolou, e mostrou a
pistola em sua mão, e disparou em Luke antes de ele ficar de pé.
Um calor súbito e seco queimou no pescoço de Luke, como se um atiçador de brasa quente
tivesse tocado sua pele. O homem foi correndo para ele. Luke atirou.
O homem foi cambaleante para trás, como que golpeado, mas permaneceu de pé.
— As joias se foram. — Ele rosnou em um dialeto grosso que Luke mal conseguiu entender.
— E a menina é minha. — Ele vestia restos rotos de um uniforme. O nariz era uma poça de sangue,
e as bochechas estavam marcadas por arranhões lívidos.
Desertor, Luke pensou. Um homem com nada a perder.
— Eu não me importo com quaisquer joias. — Luke disse, falando em espanhol. Do canto do
olho ele podia ver a menina lutando contra as gravatas que a amarravam. — Apenas com a
menina.
— Você quer morrer por causa desta cadela fraca? — O homem ergueu a calça com uma
mão e deu uma olhada rápida em torno da clareira.
Luke sabia o que ele estava pensando. Um cavalo. Um homem. Chances excelentes.
Este homem era mais velho, mais duro, com mais corpo que Luke. E a outra pistola de Luke
estava em sua sacola. Mas Luke não se moveu. De pé entre o homem e a menina, ele se preparou.
— Assim seja. — O desertor soltou a pistola gasta e pegou uma faca. Ele mostrou os dentes
amarelos quebrados em um sorriso melancólico e se lançou depressa sobre Luke.
A lâmina relampejou sob a luz do sol, e Luke respondeu instintivamente, arqueando para
trás. E escapou por um fio de cabelo.
Luke chutou a lateral de um joelho duro do homem à medida que passava. Deveria ter
quebrado a perna do bastardo. Mas, não o fez.
Ele tropeçou, cambaleou lateralmente, e cortou Luke com a faca novamente.
Luke pegou um punhado de terra, jogou no rosto do homem e mergulhou, cortando-o na
garganta. O homem engasgou e apunhalou em direção ao rosto de Luke.
Luke bateu no pulso dele com o punho e lutou com o homem ferozmente pelo controle da
faca. Eles balançaram e travaram uma batalha desesperada. O reluzir da lâmina foi em direção à
garganta de Luke. Luke a forçou para trás, puxando cada nervo, os ossos do pulso parecendo que
iam rachar. O rosto do homem estava a meros centímetros do dele. Ele fedia. Sua respiração era
quente e fedorenta.
Abruptamente o aperto do desertor soltou, como se ele tivesse sido abatido, e então ele deu
uma torção súbita e se esforçou para empurrar a lâmina. Luke, alerta ao truque, soltou seu quadril

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

em um velho movimento de luta, livrou-se do equilíbrio do inimigo, e empurrou de volta, com


força.
Em um momento, havia acabado: a faca deslizou, como se tivesse entrado na manteiga.
O homem ofegou e caiu devagar para o chão, vomitando obscenidades. Os olhos eram
incrédulos, descrentes, mesmo enquanto enfraqueciam. O corpo enrolou protetoramente em
volta da lâmina, sua própria lâmina, hospedada profundamente em seu intestino.
Luke andou para longe, os pulmões queimando. Ele assistiu por um momento, então deu as
costas ao homem agonizante.
A menina o viu ir a sua direção, e lutou mais do que nunca com suas cordas. Ela era toda
sujeira, trapos e nudez, espinha e costelas fracas, magras.
— Não tenha medo. — Luke disse em espanhol. — Ninguém te machucará mais, señorita.
Ela deu uma olhada rápida para ele por sobre o ombro, virando os olhos furiosos e
apavorados para ele, puxando as cordas, embora elas devessem estar cortando sua carne. O
coração de Luke doeu no peito. Ela mal tinha saído da infância.
— Pare com isto, pequena. Você só está se machucando mais. — Luke tirou o casaco e jogou
sobre a nudez dela. Ela hesitou, os olhos dourados desafiantes e cautelosos.
— Está tudo bem. — Luke disse suavemente. — Eu não te machucarei. — Ele se agachou,
pegou sua faca e agarrou os pés dela. Imediatamente as mãos viraram garras desesperadas,
defensivas, as unhas quebradas e sangrentas.
— Shh, niña. Não fique assustada. — Luke disse com o tipo de voz que usava com cavalos
ariscos. — Estou apenas tentando te soltar.
Os olhos dela chamejaram lateralmente, e ele viu uma pedra com sangue ao lado dela. Ele
sorriu.
— Foi você quem arrebentou o nariz daquele bruto. Menina inteligente. Agora vamos te
soltar. — Com movimentos tranquilos e deliberados, ele cortou os trapos que amarravam os pés
dela.
— Agora, as mãos. — Indecisamente ela as estendeu para ele, e ele cortou a tira de pano
que a amarrava.
Ela ziguezagueou e puxou o casaco dele para cobrir sua nudez.
O corpo era magro, sem forma e infantil. Sob o pó, a pele estava arruinada com contusões
escuras, arranhados, cortes e manchas de sangue brilhante, fresco. Os seios que mal existiam, a
barriga e as coxas estavam magras e marcadas com sangue.
O coração de Luke apertou. Ele havia chegado muito tarde?
Ela ficou de pé. Segurando a pedra com sangue no punho sujo, ela abotoou seu casaco, e o
olhar dela foi para o corpo quieto de seu atacante e Luke.
— Ele está morto. — Luke disse tranquilamente. — Eu o matei. Você está segura agora, niña.
Acabou.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Os olhos dela eram enormes e dourados, como uma pequena águia feroz; um lado de seu
rosto estava muito contundido e começando a inchar. Os lábios estavam cortados e o sangue
ainda corria lentamente.
Ela era tão desesperadoramente jovem, talvez doze ou treze anos de idade. A mesma idade
que sua irmã mais nova, Molly. Mas havia um mundo de diferença entre sua pequena irmã
abrigada e feliz e este fragmento feroz e danificado.
A garganta de Luke queimou. A guerra não era lugar para garotinhas.
— Você está segura agora. — Ele repetiu, não sabendo mais o que dizer. Ele não tinha
nenhuma ideia se ela até mesmo o entendia. Ela parecia espanhola, mas poderia ser basca. Ou até
mesmo francesa, ele supôs. Ela não havia dito uma palavra até agora.
Em francês ele repetiu que ela estava segura, e que ele não a prejudicaria. O ódio
relampejou nos olhos dela com o som do francês dele – ela era espanhola, então – então ele disse:
— Eu sou inglês. E não te prejudicarei. — Ele não sabia nada de basco, então ele estava
preso ao espanhol.
Houve uma pausa longa, e então um tremor violento passou por ela e ela começou a ter
calafrios.
Instintivamente ele se esticou para abraçá-la, mas ela vacilou, e ergueu a pedra pronta para
atingi-lo.
Ele andou para trás, erguendo as palmas das mãos.
—Desculpe. Eu só queria te confortar.
Os olhos dourados queimaram com dúvida.
— Você é da mesma idade que a minha irmã mais nova. — Luke disse sem poder evitar. Ele a
olhou fixamente por um momento, calado e se amaldiçoando. Essa era uma coisa estúpida para se
dizer. O que ela se importaria com a irmã dele?
Ele tinha quase vinte anos de idade, um homem – um oficial – e ainda assim, pela primeira
vez na vida, não tinha nenhuma ideia do que fazer.
Ele não era nenhum estranho com as mulheres, e tendo crescido com três irmãs, ele
imaginava que entendia o sexo feminino muito bem. Mas ele nunca havia enfrentado qualquer
coisa como essa antes.
Ele desejou que sua mãe estivesse aqui. Ela saberia o que fazer com esta menina, como a
reassegurar. Ele até daria boas-vindas às irmãs mais velhas mandonas, Susan e Meg. Ambas eram
casadas, mas não Molly. Não sua irmãzinha, que faria treze no mês seguinte.
Por favor, Deus, Molly nunca deveria saber que tal mal existia.
As pernas da jovem eram longas e fracas e chocantemente nuas sob seu casaco. Com uma
mão, ela arrastou a bainha para baixo, ainda segurando a pedra em sua outra mão.
Girando as costas para ela, Luke foi buscar sua roupa, que estava dispersa sobre a clareira.
Ele pegou uma saia longa, parte de uma roupa de montaria. Ficou em fragmentos em suas mãos.
Ele achou um casaco marrom pequeno, graciosamente feito com um tecido de boa qualidade.

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Anne Gracie
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Noiva por Engano

Agora estava arruinado. Todos os artigos de sua roupa estavam cortados em tiras, imprestáveis
para vestir. O porco devia ter cortado todas as roupas dela. Mas por que cortar em pedaços?
— Você não achará nenhuma joia aí. — Uma pequena voz rouca veio por detrás dele.
As joias se foram.
— Eu não sei nada sobre joias. — Luke disse a ela. — Eu simplesmente queria te devolver
sua roupa. Tome a minha camisa. É longa – mais longa do que aquele casaco – e te cobrirá
decentemente. Estava limpa de manhã. — Ele tirou sua camisa e jogou-a para ela.
Ela não fez nenhum movimento para pegá-la. Foi até o chão aos pés dela. Os olhos dela
queimavam.
Ela precisava de tempo para se acalmar.
— Arrume-se, chiquita. — Ele anuiu com a cabeça para onde um pequeno córrego descia em
um canto distante da clareira. — Enquanto você lava o sangue e a sujeira do seu corpo, eu
enterrarei este porco. Então devemos conversar.
Ele assobiou, e em um momento seu cavalo, Brutus, apareceu. Ele mantinha uma pá
pequena em suas coisas – era útil para fogo e cavar trincheiras ao redor de sua barraca nas noites
molhadas.
Do canto do olho ele viu a menina se agachar sobre sua camisa e se curvar sobre o homem.
Verificando por si mesma que ele realmente estava morto, Luke supôs. Ele não a culpava.
Ele achou uma barranca no lado oposto da clareira e começou a aumentá-la, cavando um
buraco grande o suficiente para enterrar um homem. Não um homem; uma besta.
Depois de alguns minutos, ele notou a menina seguir em direção ao córrego, assistindo-o o
tempo todo. Bom. Ela se sentiria melhor quando estivesse limpa.
Ele escavou e cavou até que suor cobria seu corpo. A terra da montanha era dura e
pedregosa. Uma cova rasa era tudo que esse bastardo merecia.
Ele pausou por um momento, contente por seu torso nu e a brisa que o esfriava, e deu uma
olhada rápida em direção ao córrego. Ela estava demorando muito para se lavar. Ela estava
sentada de costas para ele, até à cintura no córrego da montanha fria, esfregando-se
vigorosamente.
Uma sensação de incômodo o atropelou enquanto ele a assistia, e sem saber bem o porquê,
ele se achou abordando o córrego silenciosamente. A camisa e o casaco estavam dobrados na
margem, e ao lado deles estava a faca do desertor, a lâmina agora limpa de todo sangue. Por
Deus, ela a havia arrancado do corpo dele.
Ela estava se esfregando com a areia grossa do rio, agarrando punhados e roçando
asperamente a pele tenra, duramente.
— Pare, niña! Pare com isto! — Luke deu um passo em direção a ela, hesitando porque ela
estava nua, pegando a camisa do banco do córrego, e entrou, de bota e tudo. Os punhos dela
bateram nele cegamente, mas ele colocou a camisa nela, envolveu as mangas ao redor dela
firmemente e a ergueu da água. E esperou.

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Anne Gracie
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Noiva por Engano

Ela lutava como uma gata selvagem, contorcendo, chutando e tentando mordê-lo, mas ele já
esperava por isto, depois de vê-la atacar antes, e ele se certificou de colocar a camisa ao redor
dela como podia em uma tentativa de pará-la.
Ele simplesmente a segurou apertado, murmurando palavras calmantes em uma mistura de
inglês e espanhol. Lentamente as palavras penetraram no pânico dela, e ela pareceu perceber que
ele não estava fazendo nenhuma tentativa de machucá-la. Gradualmente a luta se tornou menos
violenta, e eventualmente cessou.
O aperto nela aliviou. Ela virou os grandes olhos castanhos dourados para ele, reluzindo com
esgotamento.
— Você não deve se castigar, niña. — Ele disse suavemente. — Não foi sua culpa. Não foi sua
culpa.
Ela o encarou por um longo momento.
— Todos os rastros dele em você se foram. — Luke disse a ela, desejando de coração que
fosse verdade.
Ela mordeu o lábio e o olhou, então deu um longo suspiro estremecendo. Fragilidade a
tomou e de repente ela era uma garotinha, chorando inconsolavelmente nos braços dele.
— Silêncio agora, pequena. Acabou. — Luke murmurou tentando ajudar, repetidas vezes,
roçando nas costas dela para acalmá-la e desejando que houvesse outra fêmea aqui que saberia o
que fazer.
Lágrimas sempre o deixavam perdido, e estas não eram as lágrimas fáceis que ele estava
acostumado como as de suas irmãs. Cada soluço vinha duro, torcido, escaldando dela. Os ossos
pequenos de seu corpo estremeciam contra ele enquanto ela lutava contra as lágrimas.
Ele a segurou apertado e fez sons calmantes. Depois de um tempo ela deu um suspiro longo,
estremeceu e parou, ficou quieta.
— Obrigada, señor. Eu me desculpo pela… Minha explosão. — Ela disse educadamente de
um modo frio e uma voz que contrastava quase chocantemente com a situação. — Você pode me
soltar agora.
O casaco estava sobre um remendo de grama suave próximo ao banco de areia. Luke a
abaixou ao lado dele.
— Fique lá e descanse. — Ele disse a ela. — Coloque o casaco para se manter aquecida e
estenda a camisa para secar. Não levará muito tempo ao sol. Eu terminarei a cova.
Ele voltou a cavar. Um pouco mais tarde ele ouviu um som e deu uma olhada rápida para
cima. O cavalo dele estava pastando tranquilamente na grama suave próxima ao córrego. A
menina abordou Brutus, murmurando suavemente e ofereceu a mão como se houvesse comida
nela.
Brutus esticou o pescoço curiosamente, então, quando a menina ficou perto, agitou a
cabeça e se mostrou arisco ao toque. Luke sorriu e retornou ao seu cavando. Esse jogo podia
continuar o dia todo. Luke havia treinado seu cavalo para ir só até ele.
Luke quase havia terminado a cova quando ouviu um movimento atrás de si e girou.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Ela havia vestido sua camisa. Chegava quase até os joelhos, amassada, ainda umedecida. Ela
tinha pernas longas, fracas em vez de esbeltas, como uma potranca recém-nascida. Os pés
pequenos e estavam nus e empoeirados. O cabelo úmido e escuro estava firmemente entrançado
em uma coroa torta em volta da cabeça.
Ele sentiu pena da vulnerabilidade dela. Acima da camisa ela usava o casaco dele
firmemente apertado na garganta. Era um casaco pequeno, o corte terminava na cintura dele. E
nela alcançava além dos quadris inexistentes. Os ombros ensacados, e ela havia recuado as
mangas o melhor que pôde. Uma garotinha brincando de se vestir.
Apenas o rosto dela dizia o contrário.
Mesmo sem as marcas e o inchaço dos socos brutais de seu atacante, ela era uma coisinha
estranha; feições que não combinavam com os olhos dourados grandes, uma boca muito larga
para o rosto, um queixo pontudo, e um nariz forte e corajoso que era o legado de algum antigo
antepassado romano. Com seu cabelo torto, os lábios inchados, uma bochecha contundida, e um
olho enegrecendo rapidamente, ela parecia completamente trágica, como um filhote novo e
vulnerável caído de seu ninho.
Luke havia salvado filhotes caídos do ninho e vira-latas a vida toda.
— Sente-se melhor agora, pequena? — Ele perguntou suavemente. O rosto comprimido
apertou. Pergunta estúpida – claro que ela não se sentia. Ele deu a ela seu sorriso tranquilizante e
deu um passo em sua direção.
— Não faça isso, señor. — Ela disse e apontou uma pistola para o coração dele.
A pistola do desertor. Ele deveria tê-la escondido nas dobras de seu casaco. Estava sem
balas, mas ela não sabia disto.
— Não se preocupe. — Ele disse. — Eu não te machucaria por nada no mundo.
Em resposta ela preparou a pistola. Com perícia casual.
Ele ergueu as sobrancelhas.
— Vejo que você tem alguma familiaridade com pistolas. Mas essa não está carregada.
— Sí, está.
— Não. — Ele explicou. — A bala foi gasta quando ele atirou em mim. Veja, pegou de raspão
no meu pescoço. — Ele a mostrou o lugar que ainda queimava.
—Eu sei. Eu o vi atirar em você. Eu recarreguei a pistola.
—Você o quê?
Ela empurrou o queixo na direção do homem morto.
— Eu peguei o revólver e a pólvora dele.
O queixo dele caiu.
— Ele está morto. — Ela disse defensivamente, como se ele a houvesse acusado de roubar.
— Eu sei. Só fiquei surpreso que você saiba como carregar uma pistola.
Ela encolheu os ombros como se não fosse nada especial.
— Meu pai me ensinou a usar uma pistola quando eu era criança.
Quando eu era criança. Como se ela não fosse mais uma.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Devo deixar este lugar agora. — Ela disse, dando uma olhada o morro abaixo. —Traga seu
cavalo. Eu não posso montá-lo.
Luke sorriu.
— Não há nenhuma pressa.
— Sí, há. — Ela hesitou, considerou-o por um momento, e então explicou. — Há homens me
perseguindo. Se eles me pegarem... — Ela tragou e empurrou o queixo na direção do sepulcro. —
Meu primo Ramón fará comigo a mesma coisa que aquele porco!
— Seu primo?
— Sí. Oh, ele se casará comigo primeiro, embora me odeie e ele saiba que eu o odeio. Ele
dirá que é porque ele é um homem de honra! — Ela cuspiu a palavra. — Mas a verdade é, é o
único modo que ele tem de conseguir... — Ela cessou bruscamente.
As joias? Luke se perguntou. Ela era algum tipo de herdeira?
— E depois dele se casar comigo, ele fará... Isso comigo. — Havia uma nota clara de
desespero em sua voz.
— Não, ele não irá. — Luke disse firmemente. — Não se eu puder evitar.
— Você me ajudará? — Ela disse incredulamente.
— Sim. — Ele colocou a mão sobre seu coração. — Minha palavra de honra como um
cavalheiro inglês.
— Inglês? — Ela estreitou os olhos. — Você não soa como um inglês.
Luke encolheu os ombros. Ele tinha cabelo escuro, olhos escuros e falava espanhol como um
nativo. Era por isso que ele havia sido enviado nesta missão.
—Os ingleses podem falar espanhol, também.
Ela bufou.
— Sei. Você não soa nada como um inglês. Esse é um acento andaluz.
Ela tinha um ouvido bom.
— Passei verões da minha infância na propriedade de um parente na Andaluzia. — Ele
admitiu. Ele e o mais novo de seus dois primos tinham sido enviados lá por seu tio, o Conde
Ripton, para aprender sobre o negócio de vinho. Ele amava a Espanha naqueles dias.
Ela fez uma carranca, não convencida.
— Você não parece inglês. Os ingleses têm rostos vermelhos e olhos azuis.
Luke sorriu, divertido, apesar da situação.
— Não todos nós, prometo. Sou verdadeiramente inglês. Tenente Luke Ripton, cavaleiro
especial de despacho sob as ordens do próprio General Lorde Arthur Wellesley, à sua disposição.
— Ele saudou.
O olhar suspeito não enfraqueceu, nem a pistola oscilou.
— Diga algo em inglês, então.
— Você é uma menina extremamente suspeita. — Ele disse a ela em inglês. — Mas não
posso dizer que te culpo, depois de tudo o que você passou. — Ela não respondeu, e ele se sentiu
um pouco tolo.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Então, agora eu te disse o meu nome. — Ele retomou em espanhol. —Qual é o seu?
— Isabella. — Ela disse eventualmente.
— Bem, Isabella, nós deixaremos este lugar logo, mas primeiro devo enterrar esse cara.
Ela murmurou algo em uma série de palavras baixas e bravas em espanhol.
— Eu sei, mas deve ser feito. — Ele disse firmemente.
Na vez seguinte em que ele olhou rapidamente para cima, ela havia guardado a pistola. Ela
continuava o assistindo, balançando ligeiramente e se abraçando como se sentisse frio. Não era
um dia frio.
Finalmente a cova era grande o suficiente. Luke espanou suas mãos – ele tinha algumas
bolhas novas agora – e arrastou o corpo para o sepulcro. Ele o rolou.
— Agora, algumas palavras.
Ela deu a ele um olhar em chamas.
— Ele não merece nenhuma palavra, nada!
Luke girou para o sepulcro.
— Senhor, aqui jaz um vira-lata que, entre outras coisas, traiu seu país e brutalmente atacou
uma criança. Que ele receba seu julgamento divino. — Ele deu uma olhada rápida para Isabella e
acrescentou em inglês — E que esta jovem corajosa receba sua bênção e cura para o corpo e o
espírito. Amém.
— Você deseja dizer alguma coisa? — Ele perguntou a ela.
Ela ficou próxima ao sepulcro, perscrutando, murmurou algo com raiva que ele não pegou,
cuspiu no sepulcro, e então se irritou.
— Bom. — Ele começou a empurrar a terra no buraco e deu uma olhada rápida para ela à
medida que ela continuava parada, assistindo. — Quanto antes terminar, mais cedo nós partimos.
Ela imediatamente chutou um pouco de terra no sepulcro. A terra voou no rosto do homem
morto. A expressão dela endureceu. Ela chutou novamente.
Logo não era nada além de um monte de terra.
— Agora nós tampamos. Com força. Assim. — Luke pisou de bota com força, e depois de um
momento ela avançou e deu uma tentativa com um pé pequeno, nu. Deixou uma marca perfeita
no monte de terra escura. Ela o encarou por um momento, o rosto estremeceu com alguma
emoção passageira.
Ela deu uma olhada rápida para cima e o viu assistindo; então, com um ar de desafio, ela
bateu novamente. E de novo. E de novo.
Como que dançando no sepulcro, só que de forma brava, vingativa. Esta era, provavelmente,
a coisa errada a se fazer. Encorajar uma jovem a pisar com os pés nus era algo que certamente
horrorizaria sua mãe, mas a mãe dele nunca havia enfrentado o tipo de coisa que esta menina
tinha. Raiva era melhor do que sentir autopiedade. Raiva escaldada então, curava.
Finalmente estava terminado. Em alguns meses a grama acabaria com todos os sinais do que
havia acontecido aqui. Cada sinal externo.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Luke foi para o córrego e lavou a sujeira do corpo. Ele pegou com as mãos em concha a água
clara e fresca e bebeu.
Atrás ele ouviu um clique. Uma pistola sendo engatilhada. Ele girou e enfrentou a garotinha
pequena e feroz.
— E agora, señor, sem mais demora. Pegue o seu cavalo. Devemos partir.
— Coloque essa coisa no lugar. Eu não respondo a ameaças. — Ele retirou seu canivete e
começou a limpar as unhas, assobiando suavemente sob a respiração.
Depois de um momento, ela fez um som baixo e frustrado, bateu o pé e então colocou a
pistola cuidadosamente no lugar.
— Pronto!
Ele sorriu, colocou o canivete de volta no bolso, e, colocando dois dedos na boca, deu um
assobio estridente. Brutus ergueu a cabeça e foi trotando em direção a eles.
— Você pode montar? — Luke perguntou a ela.
— Claro que eu posso montar.
— De lado?
Ela bufou.
— Claro que não.
Interessante. As jovens bem criadas não montavam como os homens. Ela era cheia de
contradições. Luke puxou uma calça de sua sacola e deu para ela.
— Coloque esta.
Ela deu a ele um olhar duvidoso.
— Estão limpas. — Ele disse a ela. — E farão as suas coxas parar de esfolar.
Ela colocou a calça, o rosto ficando irritado enquanto tentava achar um jeito de deixá-las
erguidas. Luke pegou um pouco de barbante de sua sacola e deu para ela. Ela franziu o cenho
enquanto o amarrava ao redor da cintura.
— Espero que aqueles porcos queimem no inferno por cortarem em pedaços as minhas
roupas.
Luke fez uma carranca.
— Aqueles porcos? Havia mais de um?
— Sí. Dois deles. Eles conheciam a minha escolta.
— Escolta?
Ela deu a ele um olhar altivo; um pouco esquivo, devido o estado de seu rosto.
— Naturalmente meu pai enviou uma escolta. E eu teria trazido minha duenna 4, só que
Marta é muito gorda para montar. Papai enviou três de seus homens que ele mais confiava:
Esteban, Diego e Javier. Mas aqueles porcos e seu amigo, eles os conheciam. Eles já haviam
servido ao meu pai, também. — Ela cuspiu no chão. Outra coisa que uma jovem dama bem criada
nunca faria. —Desertores, mas nós não sabíamos disso no momento. Eles disseram que o meu pai
os havia enviado com uma mensagem, e quando paramos, sem suspeitar de nada, eles mataram
4
Nota da Revisora: Uma mulher mais velha servindo como dama de companhia para uma jovem dama.

** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis.
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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Esteban, Diego e Javier. — Ela deu a ele um olhar culpado. — A princípio, eu escapei – no primeiro
tiro Javier me disse para fugir – mas meu cavalo ficou manco e eles me pegaram.
Luke observou a clareira. Não havia nenhum sinal de nenhum outro homem, morto ou vivo.
— O que aconteceu ao segundo homem?
— Eles lutaram, e ele fugiu com o meu cavalo e todos os meus pertences.
— Você quer dizer as joias?
Ela revirou os olhos.
— Até você. Com que frequência devo dizer que não havia nenhuma joia! Até parece que eu
montaria por um país cheio de bandidos levando joias. É por isso que as minhas roupas estão
arruinadas. Os tolos pensaram que eu tinha joias costuradas nas minhas roupas. — Ela murmurou
algo sob a respiração.
— De onde eles tiraram essa ideia? — Luke perguntou curiosamente. O homem que a
atacou havia falado muito particularmente sobre joias, não sobre dinheiro ou outra riqueza.
— Quem sabe de onde os tolos tiram essas coisas? — Ela disse, mas seu olhar deslizou para
o lado. Ela sabia mais do que estava dizendo, mas Luke queria a menina em segurança e retornar à
sede em tempo, então ele não continuou a perguntar. Ela podia muito bem ter seus segredos.
Ela acrescentou impacientemente, indicando seu traje.
— Estou cheia dessas brutalidades, podemos ir agora? Ramón não estará muito atrás de
mim, e ele monta sem cuidado com seu cavalo. Devo chegar ao convento.
— Convento? — Luke subiu para seu cavalo e estendeu uma mão para ajudá-la a montar.
— O Convento do Anjo Quebrado. Lá em cima. — Ela empurrou o queixo em direção às
montanhas, então pegou a mão que ele estendia, colocou um pé nu na bota dele e balançou
flexivelmente para detrás dele. Sem esperar, ela bateu seus pés pequenos nos flancos de Brutus e
eles foram andando.
Estranhamente, quanto mais alto nas montanhas eles iam, mais ele sentia a tensão nela
subir. O aperto nele aumentou, e o olhar ansioso ao redor ficou mais frequente.
— Então, o Convento do Anjo Quebrado, é? — Luke disse. — Nome interessante.
— O nome correto é Convento dos Anjos, mas desde que um raio atingiu um dos anjos e
quebrou suas asas, todo mundo o chama de Convento do Anjo Quebrado.
— Você pretende se tornar uma freira?
Ela respondeu com um bufar.
— Não. Eu vou lá seguindo as instruções do meu pai. Para a minha segurança… Talvez.
— Talvez?
— Minha tia está lá. Ela é uma freira.
— Entendo. Presumo que ela não seja relacionada a este Ramón.
— Não, ela é de um lado diferente da família – do lado da mãe do meu pai.
— Então, deve estar tudo bem. — Luke disse com certeza vaga.
Houve um silêncio curto, então Isabella acrescentou:
— Mas eu não a conheço bem. E as freiras juram praticar obediência.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

A boca de Luke teve um espasmo.


— Percebo que você não aprova a obediência.
Ela fungou.
— Depende. Eu obedeço, — A voz dela oscilou. — obedecia meu pai em todas as coisas. Mas
minha tia, ela não é a Madre Superiora, e não sei de qual lado a Madre Superiora vai ficar.
— De que modo?
— Agora que papai está… morto, e Felipe, também, que era herdeiro do meu pai e meu
noivo, Ramón é o cabeça da família, e se ele ordenar que a minha tia me dê para ele… não sei o
que a Madre Superiora fará. Esta é uma época perigosa na Espanha, e eu não sei se a Madre
Superiora está do lado do meu pai na política, ou contra. E eu sou outra boca para alimentar. Se
ela não for uma patriota, ou se Ramón oferecer dinheiro…
Havia muita verdade no que ela disse, Luke percebeu. A Espanha era um país em guerra e
dividida internamente pela política. Mas com certeza, se Ramón tinha a intenção de forçar uma
criança em casamento, nenhuma freira, não importando sua visão política, daria Isabella para ele.
— As freiras também juram castidade. — Luke a lembrou. — Talvez ela tome o seu lado.
— Talvez. — Ela ecoou em dúvida. Estava claro que ela não tinha nenhuma confiança nisto.
— Se o seu pai morrendo desejou que você fosse para o convento, o desejo dele deve ser
honrado.
Por alguns momentos ela não disse nada, então disse, tão suavemente que ele quase não
pegou:
— Talvez.
Alguns minutos estrada acima e eles acharam o resto dos pertences dela dispersos. Luke
parou e a deixou examiná-los no caso de haver algo que ela pudesse recuperar.
Mas não havia nada. Tudo, até mesmo a sela, tinha sido cortada em tiras na procura pelas
joias enganosas. O que um dia havia sido uma sela perfeitamente decorada de uma dama era
agora um caco. Luke podia ver algum tipo de metal de decoração – prata, possivelmente – tinha
sido torcido e a costura cortada. Nada de valor havia sobrado.
Uma coisa estava clara: deixando a questão das joias de lado, a roupa e a sela eram da
qualidade mais alta, e Isabella devia vir de uma boa família. Havia a firme sugestão de que ela
fosse uma herdeira.
Ela escolheu seus pertences arruinados, então os pegou e jogou nos arbustos. Ela girou para
ele e disse:
— Leve-me com você.
— O quê? — E então ele percebeu que ela havia falado em inglês. — Você fala inglês?
— Não muito bem, mas a minha mãe era meio inglesa, e eu entendo tudo. — Ela colocou
isso de lado e, prendendo o estribo dele, disse depressa: — Leve-me com você para seu exército.
Eu serei sua empregada, vestida como um menino – eu pareço um menino, eu sei. Cortarei meu
cabelo e ninguém saberá que sou uma menina. Por favor, eu imploro...
— Eu não posso fazer isto. — Luke a cortou suavemente. — É impossível.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Mas Ramón virá. — Ela disse desesperada. — Ele me levará do convento e… E…


— Eu não posso te levar comigo. — Luke disse a ela. — Minha vida é muito perigosa.
— E a minha não? Por favor, Tenente Ripton. — Ela o encarou em um pedido mudo.
— Não. — Luke estendeu uma mão para ajuda-la a remontar. Era muito contra o princípio
dele não a ajudar, mas era impossível contrabandeá-la em acampamento como sua empregada.
Tudo que ele podia fazer era entregá-la para o convento, para sua tia. O pai dela deveria ter
sabido o que ele estava fazendo quando a enviou para lá. Seguramente.
— Então, eu ficarei aqui. — Ela disse sem se mover.
— Aqui? Nas montanhas? Não seja ridícula. Você não sobreviverá uma semana aqui. — Ele
gesticulou para a paisagem áspera.
— Eu posso. Sei como é viver no mato. Meu pai me ensinou como ser uma guerrillera. — Ela
gesticulou para o ambiente. — Melhor aqui nas montanhas do que nas mãos de Ramón. Meu pai
me ensinou a caçar e...
— Não. Agora suba neste cavalo. — Luke a ordenou. — Eu prometo que cuidarei de você.
Ninguém te levará; ninguém te forçará.
Os olhos dela estreitaram.
— Você promete?
— Com a minha honra de oficial inglês e cavalheiro. — Que diabo ele estava fazendo,
prometendo tal coisa?
Ela deu a ele um olhar longo e atento, então ofereceu um aceno com a cabeça satisfeito e
montou de novo atrás dele. Enquanto eles se moviam adiante, ela deitou a bochecha contra as
costas dele, e seus braços pequenos e fracos o envolveram, com confiança.
Luke sentiu o coração afundar. O que ele havia feito? E como diabo ele iria manter sua
promessa impensada?
A resposta veio a ele enquanto eles montavam em uma aldeia pequena. O primeiro edifício
que eles viram era uma igreja de pedra. Um padre aguardava na entrada, o rosto na direção deles,
como se os estivesse esperando.
Era o Destino, Luke pensou. O destino havia cuidado dele até agora nesta guerra. Ele
confiaria nele novamente.
— Isabella. — Ele disse. — Acho que descobri um jeito de te salvar do Ramón...
— Como?
— Você precisará confiar em mim. Eu prometo que você pode, mas você deve fazer isso de
seu livre arbítrio.
— O quê? — A voz era baixa, mas atada com esperança. O peso da expectativa fez com que
ele hesitasse.
Ele desmontou e abaixou Isabella para que ele pudesse conversar com ela cara a cara. Ela
girou o rosto pequeno, contundido e danificado para ele.
— O quê? — A confiança nos olhos dourados claros dela o estava perturbando.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

A enormidade do que ele estava para fazer inundou sua consciência. Ele estava arriscando
tudo, sua carreira, o respeito de seus pares… Mas ele não podia simplesmente deixá-la a Deus
dará.
Ele explicou.
— Se eu casar com você, Ramón não poderá fazer o mesmo.
Os olhos dela alargaram.
— Casar com você? Você quer que eu me case com você?
Ele anuiu com a cabeça.
— Só se você quiser. — Luke tragou, sentindo a base inteira de sua vida escapando
lentamente. O que os amigos dele diriam? O que sua mãe diria? Ele não tinha nenhuma dúvida do
que seu oficial comandante diria.
— Sim, eu me casarei com você, Tenente Ripton. — Ela disse depressa, como se temesse que
ele mudasse de ideia.
— É apenas um modo de parar Ramón. — Ele a advertiu.
Ela anuiu com a cabeça.
— Eu entendo. E posteriormente eu irei para o exército ser sua esposa.
— Não, eu te disse, é muito perigoso.
— Mas...
— Posteriormente você irá para o Convento dos Anjos e viverá lá até que esteja tudo seguro.
— Mas...
— Você não virá comigo. Você não tem idade suficiente para se casar. Isto é apenas para te
manter a salvo de Ramón, entenda.
Ela anuiu com a cabeça.
— Entendo. — Ela deu uma olhada rápida para a igreja. — Nós faremos isto aqui? Agora?
— Se você quiser.
— Eu quero.
O padre precisou ser convencido para casá-los. Ele falou com Isabella e Luke separadamente
e junto. Os ferimentos em Isabella o preocupavam muito, mas ela tinha o desejo fervente de se
casar, e ela jurou que Luke não havia tocado em um fio de seu cabelo. Pelo contrário.
E no fim, era tempo de guerra, e era melhor unir um par em pecado – ainda que ele fosse
um inglês pagão – do que haver outra jovem espanhola arruinada.
Eles repetiram as palavras sagradas, Isabella descalça e vestida com a camisa e a calça de
Luke amarrada com o barbante. Luke assinou uma série de documentos, o padre foi a
testemunhada deles, e dentro de uma hora Luke e sua noiva criança montaram para o norte, para
o Convento dos Anjos, onde ele deu uma menina exausta e um pacote de documentos para sua tia
surpresa.
Isabella estava segura.

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**
Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Três

Convento do Anjo Quebrado


Espanha, 1819

— Eu não quero morrer uma solteirona. — A voz melancólica começou.


Isabella Mercedes Sanchez y Vaillant, conhecida pelos seus condiscípulos como Isabella
Ripton, curvada sobre sua costura, desejava poder bloquear a conversa por vir. Ela sabia de cor.
Era uma cerimônia diária, tão regular quanto qualquer outro ritual ou rotina do convento. Ela
estava cheia da maior parte deles, mas este em particular. Não trazia nada de bom; apenas
esfregava os narizes delas em suas próprias misérias.
— E eu não quero me tornar uma freira.
Agora Paloma inseriria algo sobre ter fé e sobre a noiva adorável que Dolores faria. Apenas
jogar sal na ferida, se apenas ela percebesse, mas nunca percebia. Paloma era tão tapada quanto
bondosa.
Bella apunhalou a agulha no vestido branco de linho. Ela detestava costurar. Ela queria
levantar e sair, mas estava presa aqui por pelo menos mais uma hora. Ela tinha uma pilha de
lençóis estropiados para costurar, lados para remendar, dar uma nova vida. Penitência por uma
coisa ou outra. Fuga. Ou impiedade, ou algo assim. Para respirar, provavelmente.
— Você deve ter fé, Dolores. — Paloma disse suavemente. — Seu pai mandará te buscar.
Estou certa disto. Por que não iria, você será uma noiva tão bonita. Qualquer homem ficaria
orgulhoso.
Bella friccionou os dentes. Não era nada a ver com a beleza de Dolores ou qualquer outra
coisa. Era sobre dinheiro. E orgulho de família. Era a mesma razão pela qual todas as meninas
ainda estavam presas no convento, muito depois de sua instrução estar completa e anos depois de
a guerra estar terminada.
A Espanha poderia estar livre dos franceses, eles podiam ter um rei espanhol no trono
novamente, fantoche ou não de Napoleão ou seu irmão, mas não era o mesmo país que tinha sido
antes da guerra. Muitas grandes famílias estavam na beira da ruína, algumas porque apoiaram os
franceses e os traidores espanhóis, outras porque haviam gastado suas fortunas para criar um
exército privado para guerrear, e algumas porque tiveram suas casas e propriedades – e, por
conseguinte, sua forma de ganhar dinheiro para sobreviver – destruídas; parte da catástrofe de
guerra.
As famílias de sangue azul das meninas que permaneciam no convento estavam muito
pobres para se disporem a dar um bom dote por suas filhas e eram muito orgulhosas para permitir
que elas se casassem com alguém abaixo de sua classe. A menos que o possível futuro marido
tivesse riqueza enorme, e mesmo então, algumas famílias se recusavam a sujar sua antiga
linhagem com o sangue de algum camponês emergente.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Em vez de deixar suas filhas sofrerem tal destino, deixavam-nas apodrecerem em um


convento em uma montanha distante: indesejadas, esquecidas, abandonadas.
Os filhos da nobreza, claro, estavam arrebatando como noivas as filhas destes mesmos
camponeses emergentes. O sangue era desgraçado, mas o sobrenome nobre não deveria se
extinguir e a riqueza da noiva ajudaria a reconstruir as fortunas da família.
Bella havia explicado isso para Paloma uma dúzia de vezes, mas tudo o que Paloma fazia era
sorrir e dizer “devemos todas ter fé”.
Ela faria uma boa freira, Isabella pensou. Ou uma santa. Santa Paloma do dote perdido. O
irmão de Paloma havia gastado no jogo o dote de Paloma, e agora ele se recusava a deixá-la voltar
para casa. As coisas eram diferentes desde que o pai deles havia morrido, o irmão dela escrevera.
Não havia nenhum marido apropriado para ela, e ela estava em uma situação melhor no
convento, no ambiente tranquilo em que estava acostumada.
Bella pegou um lençol bem vestido e o rasgou barbaramente pela metade. Ambiente
tranquilo, francamente! Ela adoraria trancar o irmão de Paloma aqui, dar a ele um gostinho do
ambiente tranquilo. Orações infinitas, conversas eternamente repetidas, tristes, sem sentido, e
costura infinita.
Ela começou a juntar as metades do lençol. Bella apenas remendava. As outras meninas e as
freiras principalmente faziam bordados bonitos. O convento era famoso por ele. Bispos através da
Espanha, e até em Roma, usavam os vestuários e os panos de altar bordados aqui neste convento
distante na montanha.
Antes do rei Ferdinand ter sido coroado, as meninas estavam ocupadas principalmente em
costurar seu enxoval. Agora elas trabalharam quase completamente com panos de altar e
vestuários. Como as freiras.
Os talentos de Isabella eram em outras áreas, a Madre Superiora sempre dizia. As outras
meninas pensavam que ela estava apenas falando por falar, sendo ela tia de Isabella, mas Bella e a
Madre Superiora sabiam bem que não era assim.
— Queria ter a sua fé, Paloma. — Dolores disse a ela. — Acho que ficaremos sentadas aqui
até ficarmos velhas e enrugadas, roncando ao longo do dia como a Irmã Beatriz.
— Fale por si mesma, Dolores. — Alejandra retrucou. — Eu não irei apodrecer em um
convento. Agora mesmo o meu pai está em discussões com uma família nobre de Cabrera.
Dolores xingou e puxou sua agulha.
— O único homem elegível restante em Cabrera – de sangue nobre, quero dizer – é o velho
visconde, que passou dos sessenta, é duas vezes viúvo e está desesperado para conseguir um
herdeiro. Se for ele quem seu irmão está cortejando, tenho pena de você.
Alejandra encolheu os ombros.
— Prefiro casar com um homem velho a ser forçada a me tornar uma freira. — As meninas
deram uma olhada rápida na Irmã Beatriz, mas a freira de idade avançada roncava suave e
inconscientemente. — Além disso, — Alejandra continuou. — como o meu pai disse, ele é um
homem rico, e velhos morrem. Então, eu estarei livre para fazer como quiser.

** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis.
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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Outra menina falou mais alto.


— Dizem que o velho visconde tem sífilis e é por isso que ele não consegue ter filhos com
nenhuma de suas esposas.
As meninas trocaram olhares.
— Isso pode não ser verdade. Meu pai não me casaria com um homem com sífilis. —
Alejandra disse no silêncio. — Ele não iria.
As outras anuíram com a cabeça, murmurando certeza. Mas todas haviam ouvido a historia
de que dormir com uma virgem podia curar um homem da sífilis…
— Papai não faria tal coisa. — Alejandra repetiu. — Ele gosta muito de mim, estou certa
disso. — Mas a confiança dela estava claramente abalada, e era mais uma oração do que uma
certeza.
Seria decisão do visconde e do pai, não dela. Ela era apenas uma filha, para ser dada da
melhor forma por sua família. E os tempos na Espanha estes dias eram desesperados.
— Se ele fizer isso, você deve recusar. — Bella disse a ela.
— Recusar? — Alejandra ofegou. — Desobedecer a meu pai? Você está louca? Eu não
poderia!
— Por que não?
— Por que não? — Alejandra repetiu. — Porque eu não poderia. — Ela acrescentou, depois
de um momento: — Eu nunca o desobedeci em nada. Nunca.
Bella amarrou sua linha.
— Serviria para ele experimentar algo novo.
Todas as meninas a encararam, chocada.
— Como você pensa que ele reagiria? — Ela perguntou a Alejandra.
— Ele me mataria! — Ela disse com um tremor.
— Matar você, ou meramente te bater?
— Meramente? Ele me deixaria à beira da morte!
— Todo mundo se recupera de uma surra. Mas de um visconde velho e com sífilis… — Bella
deixou a ideia no ar. — Seu pai já te bateu antes?
— Nunca. — Alejandra disse orgulhosamente.
— Então, por que você acha que ele te bateria agora?
Alejandra pareceu surpresa, então pensativa.
— É meu dever com a minha família casar bem.
— É dever do pai achar um marido decente. — Bella atacou.
Alejandra mordeu o lábio.
— Eu não sei… Papai ficaria tão desapontado comigo.
Bella bufou.
— Ele sobreviverá à decepção. Ele também poderia vir a te respeitar. — Ela encolheu os
ombros novamente. — Não é da minha conta o que você faz, mas se eu fosse você, recusaria.
— E é por isso que você está sempre se metendo em confusões. — Alejandra replicou.

** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis.
**
Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Irmã Beatriz bufou e se sentou.


— O que é isto? As línguas estão trabalhando? Costura, meninas! Costura! — Ela bateu
palmas de uma maneira viva, e as meninas se curvaram sobre suas costuras. Agulhas
relampejavam no silêncio, e logo depois a freira de idade avançada estava cochilando
pacificamente de novo.
— O marido de Isabella pode vir buscá-la logo. — Paloma disse com uma voz brilhante, um
tom de vamos mudar de assunto, e Bella gemeu calada. Ela sabia o que viria a seguir.
Alejandra deu um bufar depreciativo.
— Quem, o imaginário?
— Ele não é imaginário, não é, Isabella? — Paloma girou para Bella.
Bella não respondeu. Elas haviam falado isso umas cem, mil vezes. A princípio ela havia
lutado contra a acusação com unhas e dentes, mas agora, depois de todos estes anos, ela estava
meio que propensa a pensar que havia sonhado tudo, sonhado sobre ele. Mas a Madre Superiora
tinha os documentos do casamento em sua escrivaninha, e a assinatura dele estava neles, firma e
preta, clara. Lucien Alexander Ripton, Tenente.
— Claro que ele é. — Alejandra insistiu. — Seu Tenente inglês alto, com ombros largos e
rosto lindo igual a um anjo! — Ela disse com a voz zombeteira. — Um anjo casou com Isabella
Ripton? — Todas as meninas riram.
Bella, se esquivando, continuou a costurar. Ela entendia por que elas a atacavam. Ela
poderia atacar alguém, também, se estivesse para se casar com um velho visconde com sífilis.
Além disso, era culpa dela. Ela não deveria ter contado sobre ele em primeiro lugar.
Depois do casamento precipitado, Tenente Ripton e a tia dela decidiram colocá-la no
convento sob o nome de Ripton, Bella tomou o nome dele da mesma maneira que as esposas
inglesas faziam em vez de manter seu próprio nome, como as mulheres espanholas fazem.
A tia havia instruído Bella a não dizer a ninguém que ela era casada — não para a Madre
Superiora da época, nem as outras freiras, nem quaisquer uma das meninas. Então, ela disse, se o
primo dela, Ramón, viesse procurar uma Isabella Mercedes Sanchez y Vaillant, filha do Conde de
Castillejo, a Madre Superiora poderia dizer sinceramente que não havia nenhuma menina com tal
nome no convento; apenas a irmã de um Tenente inglês.
Era estranho, mas excitante, ter um nome novo.
E claro o suficiente, Primo Ramón havia vindo, e a Madre Superiora o assegurara de que
nenhuma menina com aquele nome estava no convento. A gentil e idosa Madre Superiora tão
pacientemente verdadeira e inocente, e tão obviamente aflita pela historia dele de uma jovem
que havia fugido de casa para cruzar a Espanha em uma época tão terrível – qualquer coisa
poderia ter acontecido com ela, com a coitada da jovem inocente. Terrível, terrível! Ela ofereceu
orações imediatas para que achassem a menina perdida em segurança, e até Primo Ramón teve
que acreditar nela.

** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis.
**
Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Então, a princípio, Isabella nunca disse a uma alma que era casada, e quando a Madre
Superiora de idade avançada morreu e a tia de Isabella tomou seu lugar, Isabella estava segura – o
máximo de segurança que alguém podia estar em tempo de guerra.
Mas alguns anos mais tarde a guerra estava por toda a Espanha. O fantoche de Napoleão
ficou irado e Ferdinand foi coroado rei da Espanha, e parentes apareceram para buscar esta
menina ou aquela. O convento estava cheio de conversa de dotes, noivados organizados e
casamentos planejados. As meninas estavam alvoroçadas com excitação, nervosas e cheias de
especulações românticas.
Com quase dezesseis, Isabella ainda tinha espinha e o peito reto, e quando mesmo as
meninas mais jovens começaram a apadrinhá-la e ter pena dela, ela não pôde aguentar. Em uma
noite aos sussurros ela confiou a sua amiga, Mariana, sobre o Tenente Ripton, seu inglês alto,
sombrio, tão bonito quanto um anjo, que havia matado um homem para proteger Isabella, e
então havia se casado com ela para salvá-la de seu primo do mal, Ramón. Agora a guerra estava
terminada, ele viria pegá-la e levá-la para longe, para a Inglaterra.
Mas Mariana sussurrou os segredos de Isabella para outra menina, e logo todo o convento
sabia, e claro, ninguém acreditou nela. A magra e sem graça, Isabella Ripton, secretamente casada
com um inglês bonito? Como se alguém fosse acreditar nisto.
O nome dela? Grande coisa! Então ela tinha sobrenome inglês – muitos espanhóis também
tinham sobrenome inglês. Isso não provava nada.
— Ele viu uma foto sua – uma verdadeira?
— Por que ele iria se casar com uma menina que parece um menino?
— Ele sabe como eu sou. Ele me escolheu. — Bella costumava dizer orgulhosamente,
desejando que suas espinhas fossem embora e que seus peitos estivessem crescidos quando ele
viesse buscá-la. — Ninguém teve que arranjar nada.
— Então, você não sabe nada sobre ele. Pelo que você sabe da família dele, ele bem poderia
ser um camponês!
— Ele era um oficial, então é claro que ele não é um camponês. E ele é alto, forte e
destemido; o homem mais bonito que eu já vi na vida!
— Bonito? — As outras meninas riram.
— Bonito como um anjo. — Bella insistiu. — Bonito e terrível. Um anjo guerreiro! Apenas
esperem até ele vir. Vocês verão.
E algumas meninas continuavam a ridicularizá-la, e algumas suspiravam e secretamente a
invejavam.
De noite, em seu pequeno quarto de pedra e em sua cama dura, estreita, Bella sonhava com
o Tenente Ripton…
O Tenente Ripton estava ferido mortalmente, e Isabella o acharia e cuidaria dele, e ele
ficaria milagrosamente curado por causa dela e se apaixonaria loucamente por ela.
O Tenente Ripton seria atacado pelo inimigo e Bella o aguardaria e juntos eles lutariam, e
com a fuga do inimigo, ele viraria para ela e diria:

** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis.
**
Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Isabella, sem você minha vida estaria terminada. Eu te amo.


Muitos e variadas eram as ações de coragem e ousadia que ele fazia nos sonhos, e no fim de
cada um, Tenente Ripton diria:
— Isabella, eu te amo.
O Tenente Ripton conheceria Isabella como ninguém no mundo. E ele a adoraria.
Verdadeiramente a amaria. E ela o adoraria de volta com todo seu coração. E eles seriam muito
felizes para sempre.
Dia após dia, semana após semana, Bella rezou para que o Tenente Ripton viesse ou até
mesmo escrevesse, mas não havia nenhuma palavra, nenhum sinal.
Ainda assim, ela se irritava e o defendia – ele era tão bonito quanto um anjo, ele estava
ocupado lutando, ele era um herói, era muito importante para aparecer agora mesmo, mas ele
viria, viria!
Gradualmente a pele dela clareou. Os peitos permaneciam desapontadamente pequenos, e
ela havia aprendido com um espelho contrabandeado que ela nunca seria uma beleza, nem
mesmo bonita. “Interessante” era a avaliação mais caridosa de suas feições.
Ainda assim, Tenente Ripton não havia vindo, e com o passar dos anos, o sonho do marido
bonito que a adoraria – deveria amar – lentamente começou a murchar.
A verdade estava lá, encarando-a. Como os pais e irmãos das outras meninas que
permaneceram no convento, Tenente Ripton havia tomado seu dinheiro e a abandonado. Ele não
era muito melhor do que Ramón. Ele havia sido mais amável do que Ramón, talvez, mas no final
das contas, o resultado havia sido o mesmo.
Algumas noites, provendo sua cama dura, estreita, Bella secretamente chorava por seus
sonhos despedaçados. Mas as lágrimas não mudavam nada, então ela secava o rosto com força.
Ela olharia por sua janela alta, trancada e veria as estrelas lá longe.
Havia um mundo lá fora, e ela queria ser parte dele.
As outras meninas continuavam a insultando, provocando-a sobre seu marido imaginário. E
Bella ainda assim o defendia, ainda mais obstinadamente reivindicava que havia uma razão
importante pela qual ele não podia vir – as pessoas tinham orgulho, afinal – mas ninguém
acreditava; nem mesmo Bella. Era uma rotina como tudo o que acontecia no convento.
Ela disse a Alejandra:
— Você podia vir comigo, se quisesse.
— Ir aonde?
— Estou deixando o convento. — O anúncio dela foi seguido por um silêncio atordoado.
— Ele está vin... — Paloma começou.
— Não. Ninguém virá por mim, Paloma. — Isabella deu uma olhada rápida para a Irmã
Beatriz, que ainda estava adormecida, e disse com a voz baixa: — Vou embora de qualquer
maneira.
— A Madre Superiora não permitirá isto. — Alejandra disse.
Bella encolheu os ombros.

** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis.
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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Ela não pode me impedir. Sou uma mulher casada, e em duas semanas farei vinte e um.
— E se a Madre Superiora a tentasse parar, ela pularia o muro. Não era como se ela nunca
houvesse feito isto antes, e a Madre Superiora sabia disso.
Alejandra fungou.
— Não acredito em você. O que você fará? Como se sustentará? Quem te protegerá? É
perigoso...
— Eu me sustentarei. — Bella disse. — E eu me protegerei. Não ficarei aqui, esperando para
sempre por alguém me salvar. A vida não é um conto de fadas.
— Isabella Ripton. — Disse uma voz da entrada.
Todas as meninas saltaram cheias de culpa.
— Isabella. — Irmã Josefina repetiu enquanto chegava à porta. Ela era a mais jovem e mais
bonita das freiras, mais próxima em idade com as meninas, alegre e vivaz, mas dedicada à sua
vocação. — Arrume-se. Seu cabelo está uma bagunça. A Madre Superiora quer que você venha ao
escritório dela de uma vez. Você tem uma visita!
— Uma visita? Quem? — Em oito anos, Bella nunca havia recebido uma visita. Não desde
que Ramón havia procurado por ela, e havia falhado em achá-la. E por que Ramón voltaria depois
de todo este tempo?
A irmã Josefina sorriu.
— Não pode adivinhar?
Mística, Bella agitou a cabeça.
— Um inglês.
Bella congelou.
A irmã Josefina anuiu com a cabeça.
— Alto, sombrio e tão bonito quanto um anjo.
Bella não podia mover um músculo. Ela não podia articular uma palavra ou até mesmo
formar um pensamento coerente.
— Um arcanjo muito duro, muito masculino. — A irmã Josefina suspirou. E um rubor subiu
às bochechas.
Tenente Ripton estava aqui?
— Isabella? — A irmã Josefina disse.
Bella se assustou. Todo mundo a estava encarando. Ela se recuperou.
— Eu disse que ele viria. — Ela conseguiu dizer e se moveu em direção à porta.
— Arrume o seu cabelo. — Irmã Josefina a lembrou, e Isabella começou a arrumar as
mechas errantes que haviam se soltado de sua trança.
— O cabelo? — Alejandra exclamou. — Você não pode deixá-la ir vestida assim!
— Assim, como? — Isabella deu uma olhada rápida para si mesma, perplexa. Ela estava o
mesmo de sempre; mais limpa do que o habitual, de fato. Ela alisou o cabelo para trás.
— Nessas… — Alejandra gesticulou. — Nessas roupas de convento! Ela não vê o marido há
oito anos. Ela não pode vê-lo assim!

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Sim, ela precisa de algo bonito! — Dolores concordou.


Bella olhou para seu vestido simples azul escuro e cinza.
— Não tenho nada bonito. — Ela chegou ao convento com nada, e o convento a havia
vestido desde então. A falta nunca a havia aborrecido. Até agora.
— Não, mas eu tenho. — Disse Alejandra. Ela girou para Irmã Josefina. —Irmã, vamos vestir
Isabella para encontrar seu marido. Por favor, Irmã, nós não levaremos muito tempo.
— Sim, por favoooor, Irmã. — As outras meninas juntaram.
A jovem freira deu uma olhada rápida nos rostos ávidos das meninas e para Isabella de pé lá
em suas roupas pardas.
— Sejam rápidas então! — Ela disse. — A Madre Superiora está esperando.

Luke estava sentado do outro lado da escrivaninha com a tia de Isabella e se impediu de ficar
se balançando de forma nervosa. Ela era agora a Madre Superiora e não parecia com pressa de
ajeitar as coisas. Ele havia deixado seus cavalos do lado de fora do convento aos cuidados de um
garotinho sujo. Os tempos ainda eram ruins na Espanha, e as montanhas sem dúvida ainda
estavam cheias de salteadores. E a maioria dos ladrões começava jovem.
— Ela não demorará, Tenente Ripton. — A tia de Isabella havia envelhecido bem nesses
últimos anos, Luke pensou. O rosto, sob o traje de freira severo, estava mais magro, a aparência
pálida apertada sobre as maçãs do rosto altas e marcada com linhas. A guerra não havia sido fácil
para ela.
— Lorde Ripton. — Ele a corrigiu. As sobrancelhas dela curvaram, e Luke explicou. — Herdei
o título de meu tio que morreu afogado em um acidente de veleiro.
— Não percebi que você era o herdeiro de um..?
— Baronato. Não tinha nenhuma expectativa disto, mas os dois filhos do meu tio morreram
afogados com ele, e então o título e as propriedades vieram para mim.
— Propriedades? — Ela inquiriu delicadamente, uma lembrança que por mais que o
casamento houvesse sido feito, qualquer aliança ainda era sobre sangue e riqueza. Ela ainda era a
tia de Isabella, afinal de contas.
Luke, porém, não tinha nenhuma intenção de discutir isto.
— Basta dizer que eu continuo não tenho nenhuma necessidade da fortuna de Isabella.
Como ela está?
— Isabella está bem. Crescida. Em duas semanas fará vinte e um. Ela irá, estou certa, ficar
surpresa por te ver depois de todo este tempo. — Ela disse com uma extremidade ácida.
O tom dela aborreceu Luke. Ele retirou a carta que havia recebido e entrou no assunto
abruptamente.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Esta carta nega o meu pedido de anulação. Diz: “com informações recebidas pela Madre
Superiora do Convento dos Anjos”? — Ele deu um tapa com a carta na escrivaninha. — Oito anos
atrás você me disse que a anulação seria um acordo certo.
Ela o encarou com um olhar fixo.
— Eu não sabia então que Isabella não era mais virgem.
Não era mais virgem? Maldição. O bastardo devia ter conseguido ir até o final. Luke estava
certo de que a havia salvado a tempo. Aparentemente não. As sobrancelhas dele juntaram com
outro pensamento que brotou.
— Não me diga que ela...
— Não, não houve nenhuma consequência desgraçada. — A Madre Superiora disse em um
tom austero. — Isabella me contou do ataque – ela teve pesadelos posteriormente, sabe. Mas o
que está feito está feito, então… — Ela abriu as mãos magras e venosas em um gesto fatalista.
Luke anuiu com a cabeça.
— Como Isabella recebeu as notícias?
—Isabella é uma dama de nascença e treinamento.
Em outras palavras, Isabella havia renunciado ao seu destino, assim como ele. Que assim
fosse.
A Madre Superiora juntou as mãos e descansou o queixo nas pontas dos dedos,
perscrutando abaixo pelo nariz longo para ele.
— Quis são seus planos, Lorde Ripton?
— Nós sairemos imediatamente para a Inglaterra.
As sobrancelhas elegantes curvaram quase desaparecendo sob o véu.
— Imediatamente?
— Amanhã de manhã. — Ele emendou. Ela precisaria fazer as malas, suponho. Quanto antes
ele saísse desse maldito país, mais feliz ele ficaria.
A freira anuiu com a cabeça cortesmente.
— Então, essa será a última noite de Isabella no convento. Nós prepararemos um jantar de
despedida para ela. Você, é claro, está convidado.
O silêncio pairou. Luke batucou os dedos ligeiramente na escrivaninha.
A Madre Superiora olhou os dedos dele contemplativamente. Luke parou de batucar.
Onde diabo estava Isabella? Ela estava demorando.
A Madre Superiora começou a contar a história do convento e a história por trás do anjo
quebrado. Ela a encarou pensativamente quando ele se moveu desconfortável pela terceira vez.
Ficar sentado não era o forte de Luke. Nem as histórias do convento. Pelo menos não deste
tipo.
A Madre Superiora mudou para o assunto de sua noiva. A noiva dele.
— Isabella é uma boa menina, realmente. Um pouco cabeça quente e impulsiva – o pai dela
era assim, também, quando menino. Ela se acalmará quando receber as responsabilidades de uma
adulta. Esse é o problema – ela não é feita para viver em um convento. Não é do tipo pensativo.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Nem Luke. O olhar dele vagou pela sala. Deus, ele enlouqueceria preso neste lugar por oito
anos.
Ele se recordou do medo súbito de Isabella quando a trouxe aqui naquela época. Ela havia
ficado apavorada de repente e pediu que ele não a deixasse lá, que ele a levasse com ele. Claro
que era impossível.
Ele se lembrou de uma coisinha pequena, toda olhos grandes e perguntas, seu pequeno
filhote de pássaro. Ela havia virado um cisne nos últimos oito anos? Um homem podia apenas
desejar.
Oito anos… Para onde eles haviam voado? Ele ainda não podia acreditar que ela iria virar sua
esposa de verdade agora. Pelo resto de suas vidas.
— E então há a costura. — A Madre Superiora pausou, e Luke percebeu que ela estava
testando sua concentração.
— Costura? — Ele iniciou, tentando parecer interessado. Onde diabo a menina estava? Ele
queria resolver isso, encontrá-la, fazer acordos, e então deixar este maldito país o mais depressa
possível. Ele se achou roçando logo abaixo de seu ombro esquerdo e parou.
— Espero que você não esteja esperando uma esposa que borde primorosamente.
— Borde primorosamente? — Luke repetiu inexpressivamente.
— O convento é famoso por seu bordado. — Ela disse com um tom de reprovação gentil. —
Famoso mundialmente. — Como se ele devesse saber quem era quem no mundo do bordado.
— Parabéns. — Ele disse educadamente. Onde estava a garota? Se arrastando pelo
caminho?
Ela tinha outros planos? Casar com algum cara espanhol, por exemplo.
Não, ela não poderia ter encontrado alguém presa aqui na montanha com um grupo de
freiras.
Embora os espanhóis tendessem a organizar tais coisas…
— Isabella, ai, ai, nunca foi capaz de adquirir a habilidade na costura.
— Não tenho nenhum interesse se ela pode costurar ou não. — Ele disse abruptamente.
Agora mesmo ele estava se perguntando se ela conseguia caminhar. Onde ela estava?
Se ele não se conhecesse, poderia pensar que estava nervoso. Mas isso era, claro, ridículo.
Não havia nada para ficar nervoso. Era apenas um negócio. Eles eram casados. Não havia como
fugir disto. Eles estavam firmemente algemados.
Se ele estava parecendo ligeiramente nervoso, não tinha nada a ver com sua reunião com a
esposa depois de oito anos, e tudo a ver com estar neste maldito país novamente. Ele precisava
partir. Imediatamente.
— Seria de se esperar que você se interessasse pelo que sua esposa faz bem. — Ela disse
severamente. Luke se lembrou de voltar. Ela continuou. —Mostrar interesse nas preocupações
diárias da mulher é um caminho para fortalecer um casamento. Uma esposa abandonada é uma
esposa infeliz.
Que inferno. Ele estava recebendo sermão sobre casamento de uma freira.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Isabella está demorando muito para chegar. — ele observou friamente. — Algum
problema?
Ela o deu um olhar pensativo e então agarrou seu sininho, mas antes que ela pudesse tocá-
lo, houve uma batida na porta.
Luke saltou como um tiro. Ele endireitou sua gravata, passou a mão pelo queixo e alisou o
cabelo para trás.
— Entre. — a Madre Superiora disse, e a porta pesada de carvalho se abriu devagar.
Uma menina pequena e magra em um vestido de franjas entrou, o cabelo estava em um
coque elaborado com cachos e envolta com um mantô cheio de laços. O rosto estava maquiado,
pálido com algum tipo de pó, os lábios brilhando em um arco minúsculo, as bochechas quase com
a mesma cor. Ela fez um arco respeitoso e o arremessou um olhar tímido, com seus olhos
dourados enormes. Ele se lembrava daqueles olhos. Esta, então, era sua noiva.
Luke ficou educadamente de pé, desejando que sua decepção não fosse aparente.

Quatro

Esse, então, era seu marido. Isabella tentou não o encarar.


Ele era ainda mais bonito do que ela se lembrava. Oito anos atrás ela o havia visto com os
olhos de uma criança, e ele era seu salvador e, ela tinha que admitir, ela o havia confundido em
sua mente com o anjo de uma estátua. Ela tinha, afinal, o conhecido apenas durante um dia.
Mas ela não era mais uma criança, e ele era… Empolgante. Alto, sombrio, a pele polida com
o sol, um rubor cor de ouro escuro e rico junto às maçãs do rosto, e essas maçãs... Eram bonitas. O
nariz era uma lâmina forte, direta; a boca, severa e bonita. E os olhos, escuros, tão escuros que
pareciam pretos, mas ela sabia de antes que eles eram o azul mais escuro que ela já havia visto.
Não havia nenhum sinal de azul agora.
Todas aquelas noites que ela havia sonhado com ele… E agora. Ele não era o mesmo.
Ela se lembrava dele muito alto e forte com movimentos elegantes e soltos. Agora ele
parecia maior, mais… Sólido, o ombro mais largo, o peito mais firme. Um homem, muito mais do
que um menino com porte de soldado – não, porte de caçador. Alerta, tenso, cauteloso.
Ela podia ver outras mudanças nele, agora que ela olhava. O brilho, o poder da mocidade
tinha sido queimado, deixando a dureza dos ossos e a experiência amarga para trás. E cinismo, ela
pensou, olhando para a boca dura, cinzelada.
A guerra não havia deixado nenhum dos dois intatos.
O Tenente Ripton podia ser tão bonito quanto um anjo – um rígido, como a Irmã Josefina
havia dito – mas havia uma escuridão naqueles olhos que não tinha nada a ver com qualquer anjo.
Exceto um caído.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Os olhos que dançavam na memória dela, agora a assistiam com um olhar plano e avaliativo.
Ela tragou e ergueu a cabeça mais alto, sabendo o que ele veria nela, sabendo que eles não
combinavam nada. As meninas haviam feito seu melhor para fazê-la parecer tão bonita quanto
elas podiam. Não era culpa delas que ela estivesse assim. Ela sabia que nunca seria uma beleza.
Ela desejou, desesperadamente, ficar bonita para ele.
Mas ela podia ver nos olhos dele que ela não havia conseguido.
Deus querido, era como a mãe e o pai dela novamente, o pai uma águia bonita subindo
rápido aos céus e a mãe na planície, um pequeno pombo desajeitado, sangrando com carinho por
um marido que nunca olhava para ela duas vezes.
As palavras da mãe dela voltaram a sua mente. Proteja o seu coração, minha pequena, pois
o amor é dor. O amor é nada além de dor.
O Tenente Ripton ainda era o homem mais bonito que ela já havia visto. Deus, as meninas
teriam que engolir suas palavras quando o vissem.
E ela não era sua mãe.
— Isabella, como vai? — Ele disse, e sua voz era profunda e, oh, ela se lembrava, lembrava
do modo como ele havia estremecido por ela, embora ele estivesse conversando agora como um
estranho cortês.
Ela conseguiu responder, algum tipo de resposta cortês – algo fútil, ela estava certa, mas era
para isso que as crianças eram educadas, ela pensou irrelevantemente; então quando elas não
poderiam pensar no que dizer, a coisa certa sairia de alguma maneira.
Ele se curvou e pendeu a cabeça em direção à mão dela.
O cabelo era escuro, espesso e estava penteado, liso e limpo. Ela se lembrava de como ele
era constantemente levado pelo vento. Agora estava quase… cimentado. Ela queria tocar nele,
experimentar com os dedos, bagunçá-lo como costumava ser. A Madre Superiora teria um ataque.
Ela pensou que o Tenente Ripton poderia não gostar também. Não havia nenhum calor nos
olhos, do modo como ela se lembrava. Mas talvez ele estivesse nervoso, também.
Ele apertou os lábios contra a mão de Isabella, uma pressão leve e seca que havia acabado
quase antes dela senti-la. Dificilmente mereceria o nome de beijo.
Certamente não era o tipo de beijo que ela havia sonhado todos estes anos. Era mais como
uma reunião de estranhos do que um reencontro glorioso. Ele nem mesmo sorriu para ela.
Ela não sorriu para ele, também, ela disse a si mesma. Eram os nervos, apenas isso.
Os olhos dela correram pelo corpo dele à medida que ele se endireitava, tentando
acompanhar as mudanças, de menino para homem. Ele era um homem quieto, mais jovem do que
ela esperava. Ele podia não ter trinta ainda, ela estava certa. Quando criança, ela pensava que ele
seria muito mais velho.
— Quantos anos você tem? — Ela revelou.
— Desculpe, não entendi? — Ele disse, e ao mesmo tempo ouviu a Madre Superiora
suspirar. Isabella Ripton, metendo os pés pelas mãos novamente.

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Anne Gracie
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Noiva por Engano

Muito ruim, Isabella pensou. Ela queria saber, e não era rude perguntar. Ele era o marido
dela. Marido.
— Quantos anos você tem? — Ela quis saber tudo sobre ele.
— Vinte e oito. — Somente.
— Então, você tinha vinte quando nos casamos. — Mais jovem do que ela era agora.
— Dezenove, na verdade. Fiz vinte algumas semanas depois.
Ela anuiu com a cabeça. Isso responderia pela diferença nele; ele era pouco mais que um
menino quando eles se casaram, um moço impossivelmente bonito, cheio de alegria de viver.
Agora ele era um homem, ainda impossivelmente bonito, mas com o peso de experiência e o
conhecimento da guerra gravados nele.
O peito dela pareceu de repente apertado e cheio, como se o seu coração estivesse
inchando. Este homem, esse homem duro, sombrio, bonito, seria seu marido. Era o marido dela.
Os sonhos dela de garota não haviam morrido afinal, ela percebeu estremecendo. Eles
apenas haviam criado uma capa protetora. Agora ele estava aqui, alto, severo e bonito,
examinando-a tão próximo quanto ela o estava encarando. Uma dúzia de memórias reviveu por
causa da realidade sólida de sua presença.
Ela o devorou com os olhos. Tenente Ripton, seu Tenente Ripton, estava aqui, finalmente
havia vindo por ela. Ele não a havia esquecido. Ele estava aqui.
— Você está toda crescida. — Ele disse, o olhar escuro nela, e ela de repente se lembrou de
seus cílios longos e como não era justo um homem ter tais pestanas. Elas a deixavam ofegante,
aqueles cílios…
O sonho secreto dela de garota mexia dentro dela novamente, retornando à vida como um
florescer que estava escondido e dormente pelas neves amargas do inverno, brotava de novo,
brotos tenros, desfraldando suas pétalas para o sol.
O olhar escuro dela varria, pegando-a como ela o pegava. O que ele estava pensando? Ele
gostava do que via? E o que ele via?
Ela desejou novamente ter um vestido adequado, um que ela gostasse em vez de algo cheio
de babados, coberto com balangandãs. Ela teve que colocar um dos vestidos de Paloma; todos os
outros eram muito pequenos.
Ela tentou pensar em algo para dizer, algo inteligente ou interessante, algo que fizesse o
homem alto e sombrio olhar para ela, vê-la, não a tola vestida como uma boneca como as meninas
a haviam feito.
— Como foi... A sua guerra? — Ela disse, e gemeu interiormente com a falta de tato da
pergunta. Se ela pudesse apenas sair e começar tudo de novo.
O olhar dele se moveu, e ele deu uma olhada rápida em direção à janela para o jardim.
— Como você vê, eu sobrevivi. — De repente houve um frio lânguido na sala.
Tanta coisa para perguntar, ela pensou. Ela deveria ter perguntado sobre a viagem. As
pessoas faziam isso quando alguém fazia uma jornada longa, árdua.

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Anne Gracie
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Noiva por Engano

Ele realmente era um estranho. Ela estava pensando nele porque ele vivia nos sonhos dela
há tanto tempo, mas este homem não era seu príncipe bonito, o Tenente Ripton de seus sonhos.
Ele era outra pessoa, um estranho frio, reservado. Ela não sabia nada sobre este Tenente Ripton. E
ele havia vindo de tão longe para buscá-la.
— Por que agora? — As palavras saíram sem pensar.
— Isabella! — A Madre Superiora disse em um tom repressivo.
— Desculpe, não entendi? — O Tenente Ripton deu a ela um olhar frio e firme que queria
dizer, se ela estava de repente certa, que ela deveria retratar a pergunta, mudar de assunto.
Isso pareceu aborrecê-la. Particularmente vindo de olhos com tais pestanas longas, bonitas.
Olhos assim não deviam dar tais olhares frios.
Ela abriu a boca.
— Isabella, já chega. — Madre Superiora disse em um aviso, acompanhado por seu famoso
olhar de repreensão. Com ele Isabella normalmente se aquietava e todas as outras meninas do
convento ficavam envergonhadas.
Mas Isabella não era mais uma aluna. Esse era seu marido, e ela tinha o direito de saber por
que ele a havia deixado no convento por oito intermináveis anos, e por que, muito depois de ela
ter desistido de toda a esperança de vê-lo novamente, ele aparecia de repente.
— Por que você veio me buscar agora, Tenente Ripton?
— Não sou mais Tenente Ripton. Saí do exército como capitão. — Ele a corrigiu. — E no ano
retrasado, herdei o título e as propriedades do meu tio e me tornei Lorde Ripton. O que significa
que você é agora Lady Ripton.
Ela revirou as informações em sua mente. Não era o que ela havia perguntado.
— Ainda assim pelos últimos oito anos eu não tive nenhuma palavra sua. A guerra acabou há
vários anos, então por que esperar até agora para me buscar? — Algo a ver com o título dele,
talvez? Um serviço para a Coroa? Uma ferida que demorou alguns anos para sarar? Mas ele
parecia com a condição física perfeita.
Ele fez uma carranca, como se a pergunta dela não fizesse sentido.
— Por que agora? — Ele repetiu decisivamente. — Porque só agora eu descobri que o
pedido de anulação foi rejeitado.
A palavra bateu nela como um soco. —Anulação?
— Isto mesmo, anulação. — Ele repetiu, como se ela fosse de alguma maneira lenta de
genialidade.
— Você tentou anular o casamento? Nosso casamento? E descobriu que não podia?
— Correto. — Ele deu a ela um olhar atento, e a carranca aprofundou.
Ela o encarou fixamente. Ele estava sério quanto a isto. As sobras dos sonhos dela,
recentemente acordados para a vida, estragaram todas juntas.
— Então, você veio me buscar agora porque não tem outra escolha. Porque você não pode
sair do casamento e – oh! – claro, porque você é Lorde Ripton agora, e precisará de um herdeiro
legítimo – correto?

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Ele endureceu e deu um pequeno aceno com a cabeça.


— Sim, mas...
— E para um herdeiro legítimo você precisa de uma esposa, e você pensou, oh sim, eu um
daqueles oito anos atrás eu deixei… Onde eu a deixei? Oh sim, em um convento, onde ela estaria
sob os cuidados das freiras e não me aborreceria. E agora, porque você está preso a mim, você
veio me buscar como um bibelô que colocou na estante e esqueceu – certo?
Lágrimas quentes de humilhação amarga brotaram. Ela as apertou de volta. Ela preferia
morrer a deixar que ele visse o quanto a havia machucado.
Ou qualquer outra pessoa. Oh, como ela havia ostentado… O triunfo com que ela havia
deixado a sala de costura minutos atrás. O príncipe dela finalmente havia vindo.
Porque ele havia tentado se livrar dela e havia falhado.
Ele ficou mudo por um longo momento.
— Posso ver que você está chateada, mas...
— Por favor, com licença. Eu me sinto… Indisposta. — Usando as últimas sobras de sua
dignidade, ela saiu apressada da sala.

Bella examinou os corredores quietos. Haveria penitência se ela fosse pega correndo, mas
ela não se importava. Ela não era mais uma aluna. Ela tinha que fugir, pensar, entender…
Ela foi para seu lugar favorito, um pátio minúsculo no lado mais distante do convento,
sombreado no verão, um charco de luz solar morna no inverno. Um lugar p
Ela estava aos prantos então. Com dificuldade para lutar, defendendo a honra de seu marido
ausente. A honra dele…
O pensamento trouxe um jato fresco de lágrimas bravas, amargas enquanto ela se jogava
sobre o banco de pedra fria que havia sido testemunha de tanta miséria dela.
As outras meninas estavam certas desde o princípio. Havia levado oito longos anos para que
a estúpida e teimosa Bella Ripton aprendesse a verdade que elas haviam reconhecido desde o
começo. Ele não a queria. Ele a havia abandonado à sua sorte. E ele havia tentado anular o
casamento, apagar todo rastro dele.
E havia falhado.
Ela sentia náuseas. Estava devastada. Furiosa. Ele pensava que podia apenas vir e pegá-la.
Bella, o bibelô. Pegá-la em uma estante depois que ele havia se lembrado.
Porque ele precisava de um herdeiro.
Não precisava dela, apenas uma esposa.
Não queria a ela, apenas uma esposa.
Todos aqueles anos de preocupação com o paradeiro dele. Que tola ela havia sido.
Ela derramou lágrimas ferventes nas bochechas. Os dedos saíram rosas e listrados. O ruge de
Paloma. Ela puxou um lenço do justilho de seu vestido e esfregou o rosto, tentando remover o pó

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

de arroz e o ruge. Por que, oh, por que ela havia deixado as meninas a vestirem como uma boneca
estúpida para ele? Ela podia estar vestida com um saco e ele não se importaria.
A humilhação corroía suas entranhas como uma serpente brava. Ela se sentia doente. Ela era
tão boba, vestindo-se bem, desejando um reencontro romântico.
Tantas vezes ela havia se sentado neste pátio pequeno, ensolarado, lembrando-se do dia de
seu casamento. Para dizer a verdade, ela não se lembrava de tudo, apenas de estar de pé na igreja
pequena e branca da aldeia com o padre dizendo as palavras, um murmurar de latim. Ela se
lembrava de ter segurado na mão do Tenente Ripton; era tão grande e morna, e a mão dela era
tão pequena e fria. Estava frio na igreja, e ele esfregou o polegar ligeiramente de um lado para
outro sobre a mão dela, uma certeza muda de que tudo ficaria bem, da mesma maneira que ele a
havia prometido na clareira da mata…
O padre havia feito uma pergunta, e da mesma maneira que o Tenente Ripton havia
respondido, uma viga de sol brilhado pelas janelas estreitas da igreja minúscula e dourando seu
rosto, e ele parecia um anjo. Ele tinha dado uma olhada rápida para Bella e sorrido, apenas com os
olhos, e ela havia se sentido tão segura, como se ela fosse abençoada.
Ela tinha estado tão certa de que a viga de luz dourada do sol era um sinal de que seu
casamento tinha sido santificado, que era para ser.
Boba, estúpida sonhadora…
Quando os outros descobrissem que ele havia tentado anular o casamento, como eles
teriam pena dela. Ela não poderia aguentar.
Haveria sussurros outra vez, algo sobre o primo de alguém cujo casamento tinha sido
anulado porque ela não havia agradado o marido. A menina retornara para casa, envergonhada e
desgraçada.
Quanto pior teria sido para seu marido tentar uma anulação e ter falhado? Toda a vergonha,
e nenhuma possibilidade do conforto da fuga. Ela havia se tornado uma daquelas histórias que as
meninas sussurravam. Mortificação absoluta, pública, sem fim.
— Isabella? — A voz da Madre Superiora veio da entrada do jardim.
Isabella apressadamente enxugou os olhos e girou para encará-la, esperando uma bronca,
mas a Madre Superiora veio em direção a ela, era sua tia que oferecia os braços amorosos,
simpatizantes, dizendo suavemente:
— Oh, minha querida. — Isabella caiu neles, soluçando de novo. — Minha querida, eu pensei
que você soubesse — A Madre Superiora disse quando Isabella finalmente parou de soluçar. Ela
deu Isabella um lenço limpo. —Enxugue os olhos e sopre o nariz.
— O que você quer dizer com sabia? Como eu poderia saber?— Isabella soprou o nariz
ruidosamente.
— Lorde Ripton estava correto; a anulação era o plano desde o início.
— Era? — Isabella sussurrou.
A tia dela anuiu com a cabeça.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Pensei que você soubesse. — Ela a deu um abraço compassivo. — Mas houve muito
naquele dia, eu sei, e você ainda era uma criança, então eu suponho que seja compreensível que
você não tenha compreendido completamente.
— Mas… — Isabella tragou para remover o amontoado em sua garganta.
— Lorde Ripton se casou com você somente para te proteger de um casamento forçado com
Ramón.
Isabella anuiu com a cabeça.
— Eu sei disto. Mas o casamento era real. — Não era?
— Era legal, claro, mas no momento era só um estratagema. A intenção dele – nossa
intenção – era anulá-lo quando você fizesse vinte e um anos. — Ela bateu levemente na mão de
Isabella. — Ele planejou te libertar para que pudesse fazer suas próprias escolhas, minha querida.
Bella fungou.
— Por que você não me advertiu... Você devia… Não sabia como eu me sinto – sentia por
ele?
Uma expressão sentida cruzou o rosto da Madre Superiora.
— Eu podia ver que você tinha uma queda por ele como uma colegial – era assombroso um
jovem heroico te salvar, e bonito, também. Mas eu acreditei que você cresceria e esqueceria isto,
e você o fez. — Ela encarou os olhos de Bella com uma mistura de preocupação e dúvida. — Não
é?
— Sim. — Bella disse estupidamente. Ela fez, ela havia. Ela não sentia nada por ele – agora.
Humilhação tomou suas entranhas. Que tola, ficar chateada por causa de um acordo que
estava certo por oito anos, só que ela tinha sido muito estúpida para se lembrar.
Todos os sonhos, todas as histórias românticas gloriosas que ela havia dito sobre seu marido.
Todas as mentiras estúpidas, vãs, infantis.
Ela encarou as pedras que revestiam o pátio e desejou poder vazar entre as rachaduras e se
dissolver no fundo da Terra.
— Em todo caso, — A Madre Superiora continuou. — logo depois de você vir aqui, eu soube
que uma anulação não era possível.
— Como você sabia?
— Minha querida, você me… Sobre o ataque.
— Sim, mas… Mas o que isso tem a ver? Foi por que o Tenente Ripton matou o homem? Por
que ele era um desertor e...
— Não, minha querida, foi porque o homem… Hummm… Comprometeu a sua virgindade e é
por isso que nenhuma anulação pode ser concedida.
— Mas o Tenente Ripton não fez...
— Não, não, claro que não. Mas depois disto, nenhum outro homem – nenhum cavalheiro,
eu quero dizer – estaria preparado para te aceitar como esposa.
Bella fez uma carranca.
— O Tenente Ripton é um cavalheiro.

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**
Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Ele realmente é, e agora tem um título – você realmente deve aprender a chamá-lo de
Lorde Ripton – e então devemos ficar agradecidas pela paciência dele neste assunto.
Bella teceu o lenço entre os dedos. Então agora ela deveria ficar agradecida por ele estar
disposto a omitir esta falha terrível nela – porque ele não tinha nenhuma escolha no assunto.
Agradecida por ele ter vindo buscar este bibelô defeituoso que nenhum outro cavalheiro quereria.
Agradecida por ela não ter nenhuma escolha no assunto, que ela deveria ir com um homem
que claramente não a queria, mas que estava preparado para considerá-la com paciência.
Isabella Ripton, tola, sonhando com um amor quando seu lugar era ter paciência.
Ela torceu o lenço, apertando-o ao redor dos dedos até machucar. Ela estaria da mesma
maneira presa em um casamento não desejado como tinha sido pelas paredes do convento.
— Isabella? Você entende o que eu estou te dizendo?
Bella anuiu com a cabeça, como que se reconciliado, mas a tia dela não foi enganada.
— É um bom casamento. — Ela insistiu. — Lorde Ripton não é parente do seu pai, mas é um
cavalheiro titulado, um bom homem e de boa família, o seu serviço na guerra foi muito distinto.
— Como você sabe sobre o serviço dele na guerra?
Ela bufou.
— Você imaginou que eu não faria nenhuma investigação sobre o homem que havia se
casado com a minha sobrinha? — Ela ficou de pé. — Por Deus, Isabella, pare de parecer tão
trágica. Você viverá uma vida rica e privilegiada com um cavalheiro amável e bonito. Você irá para
festas elegantes de Londres e vestirá roupas maravilhosas. Nenhuma outra menina aqui tem a
metade para ansiar – e qualquer uma delas tomaria o seu lugar no momento em que tivesse a
chance. Agora se ajeite. Lorde Ripton está esperando para falar com você.
— Agora? — As mãos de Isabella voaram para seu cabelo. Ela devia estar uma visão terrível.
Mas as freiras não tinham nenhuma paciência com a vaidade.
— Sim, agora. Você o manteve esperando por tempo suficiente.

Luke compassava de um lado para o outro na clausura. Ele estava consideravelmente


desanimado com a reação de Isabella. Era claro para ele que ela tinha expectativas de estimada
dele. Expectativas românticas.
As mulheres frequentemente faziam isto – olhavam para seu rosto e imaginavam que ele era
outra pessoa completamente diferente, algum maldito herói baironiano5, e suspiravam e
desmaiavam por ele. Fantasias.
Ele não era material para fantasias de garotas.
Ele se recordou do modo como o rosto dela se contraiu quando ela percebeu que ele havia
tentado anular o casamento. Ele havia xingado calado. Uma menina que havia perdido os pais em

5
Nota da Revisora: Lorde Byron - Poeta inglês (1788-1824). Sua obra e sua personalidade romântica têm grande repercussão na
Europa do início do século XIX.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
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uma guerra, que havia fugido de casa com medo de um casamento forçado com um primo que a
menosprezava, que havia sido brutalmente atacada na estrada e que estava desesperada o
suficiente para concordar em se casar com um estranho – como podia tal menina ter algum tipo
de expectativas de conto de fadas depois de ter sido deixada por oito anos num evento?
Julgando por sua reação, parecia que ela tinha sim. E Luke teria que lidar com isto.
Seria cruel encorajar quaisquer expectativas que ela pudesse ter. Quanto antes ela
percebesse que este casamento seria um acordo prático, melhor. Poderia não ter sido o que eles
planejaram, mas com a atitude certa eles poderiam fazer o melhor da situação e construir um
casamento satisfatório.
Com tudo que ela havia experimentado, ela seguramente deveria perceber – bem no fundo
– que era melhor deste modo. Fantasias e sonhos românticos eram ilusões perigosas, uma
armadilha para os imprudentes.
A vida era horrenda, e as aparências podiam – e enganavam. Coisas ruins aconteciam, até
mesmo para as pessoas que não mereciam. Especialmente para as pessoas que não mereciam. Ela
deveria saber isto.
E se ela não o fizesse, Luke a faria ver. Porque a vida não era um conto de fadas.
— Lorde Ripton?
Luke girou.
— Madre Superiora?
— Isabella está pronta para conversar com você agora.

Ele a achou sentada em um banco de pedra em um pátio pequeno.


— Sinto muito por você estar chateada. — Ele disse a ela. — Não percebi que você não havia
entendido sobre a anulação. Não era segredo.
— Eu sei. — Isabella disse em uma voz baixa, abafada. O rosto estava virado.
— Não foi por sua causa.
— Eu sei. A Madre Superiora me explicou.
Luke anuiu com a cabeça. Ele se sentia desajeitado, porque ela ainda estava obviamente
angustiada, mas ele estava determinado a dizer o que devia.
— Mas só porque não acabou do modo como planejamos, não significa que não ficará bom
no fim. Desde que saibamos o que esperar. — Ele respirou fundo e acrescentou: — E o que
não esperar.
Ela não disse nada, e tomando o silêncio dela como consentimento, continuou.
— Por exemplo, seria tolo que nós esperássemos sentir o amor do tipo que os poetas
escrevem. Nosso casamento não será desse tipo.
Ainda assim, ela não disse nada.

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— Mas eu espero que nos tornemos amigos. — Ele disse. — O casamento é uma sociedade,
e se trabalharmos juntos, poderemos ter uma vida de… — Ele parou, procurando pela palavra
certa. — Uma vida de satisfação sólida, até felicidade. Essa não é uma meta merecedora? — Ela
não respondeu, e ele tocou o ombro dela. Estava rígido. — Isabella?
Ela finalmente girou para encará-lo, os olhos estavam afogados e queimando. O penteado
elaborado estava uma bagunça, e o rosto pintado, uma caricatura. Estranhamente ele se recordou
do rosto contundido da garotinha com quem ele havia se casado, e sem pensar ele deslizou um
braço confortante ao redor dos ombros dela.
— Não, não, minha querida, não será tão ruim, eu te prometo. Serei bom e cuidarei de você.
Você não deve se preocupar.
— Eu não irei. — Ela disse firme, esfregando as bochechas. As mãos eram esbeltas, marrons
e sem anéis. Luke pegou o anel de seu bolso. O anel de sua mãe. Apesar de seus pressentimentos
sobre o casamento, ela o perguntou sobre o anel, e quando ele não respondeu, ela o entregou.
Ele tomou a mão de Isabella.
— Eu te trouxe um anel de casamento.
— Mas eu ainda tenho o anel que você me deu. — Ela puxou do pescoço, o anel de sinete
velho amarrado sobre uma tira. Ele se lembrava agora de tê-lo dado para ela quando o padre
havia perguntado sobre um anel. Era muito grande para ela então e ainda era agora.
— Este aqui se ajustará melhor.
— Você quer este aqui de volta? — O punho dela fechou possessivamente ao redor do
sinete, dando a ele sua resposta.
— Não, você ficará com ele. — Ele agarrou a mão dela novamente e deslizou o anel de
casamento dourado pelo dedo, e então, com um impulso, beijou a palma da mão.
Ela estremeceu e puxou a mão de volta.
— Você nem mesmo me conhece.
— E ainda assim somos casados.
— Muitos casamentos começam deste modo. — Disse a tia dela da entrada do pátio. — O
próprio casamento dos seus pais, por exemplo, Isabella.
— Isto é diferente. — Isabella disse.
— Realmente é. — Luke concordou. — É o nosso casamento, e faremos dele o que
pudermos. — Ele bateu levemente na mão dela e partiu.

Isabella apertou os olhos ferozmente. Ele tinha sido tão gentil. Tão compreensivo.
Ela preferia que ele houvesse batido nela. Teria sido mais fácil aguentar…
A humilhação a escaldou.
Toda por culpa dela. Porque Isabella Ripton era estúpida, estúpida, estúpida! Uma tola
sonhadora que não prestava atenção ao que realmente estava acontecendo.

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Noiva por Engano

Ela desejou que ele não tivesse sido tão gentil. Teria sido mais fácil se ela pudesse ficar brava
com ele, culpá-lo. Mas ele havia dado a ela a proteção de seu nome pelos últimos oito anos, e
agora estava na hora de ela pagar essa dívida.
Ele a havia oferecido uma vida de segurança, de satisfação, e a Madre Superiora estava certa
– mais do que isto. Ela teria um lugar na sociedade inglesa. Ela teria bonitos vestidos e iria para
festas e…
Ela mordeu o lábio. Ela não se importava com vestidos e festas.
Mas isso não importava, ela disse a si mesma. Era errado ela estar sentada aqui cheia de
auto piedade porque ela estava casada com um homem amável e bonito, quando a pobre
Alejandra poderia ser forçada a se casar com um velho visconde repugnante com sífilis. E outras
poderiam nunca se casar.
Ela tinha sorte. Havia tantas razões para que ela estivesse delirantemente feliz por Lorde
Ripton ter vindo por ela.
Uma única lágrima rolou lentamente pela bochecha. Ela a secou. Ela era como o pai e não
lamentaria por algo que não podia ser mudado.
Ela não era mais uma criança à própria sorte. Ela era uma mulher feita e faria sua própria
felicidade.

O menino pequeno, sujo, apareceu de parte alguma novamente, enquanto o portão do


convento se fechava firmemente atrás de Luke.
— Você quer os seus cavalos agora, señor?
Luke considerou a pergunta.
— A que distância fica a aldeia?
— Apenas alguns passos. — O menino o assegurou.
— Há alguma pousada?
O menino riu cordialmente com a ideia.
— A pousada mais próxima fica a mais de dezesseis quilômetros de distância, señor. Mas é
uma bebida o que o senhor quer… Ou uma cama para dormir?
— Uma cama.
— Então, deve ficar na minha casa. — O menino disse. — Meu nome é Miguel Zabala, e eu
sou o homem da família.
Ele era pequeno e fraco, apenas dez anos de idade, mas Luke não riu.
— Leve-me até lá e veremos. — Luke disse a ele.
Ele logo aprendeu que para Miguel “poucos passos depois” era um grande espírito, e Luke
não se importou com o passeio pelo caminho estreito, empoeirado. O menino saltou para junto
dele, tagarelando incessantemente, parte falando dos lugares que eles podiam ver da estrada, e
parte suas visões em vida e as várias pessoas que ele conhecia.

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Anne Gracie
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Noiva por Engano

Luke escutou com meia orelha.


A reação de Isabella à chegada dele havia sido um pouco perturbadora. Estava claro para ele
que ela queria o casamento tão pouco quanto ele. Uma situação que não tinha permissão para
continuar.
O título dele não a havia impressionado. Bem, ela era a filha de um conde.
Ela havia visto através dele de uma vez. Ele precisava de um herdeiro. Não havia nenhuma
vergonha nisto. Era seu dever com seu sobrenome. Carregando um nome antigo, ela deveria
entender isto.
E se não houvesse nada mais, o dever teria sido imbuído nela no convento. Particularmente
os deveres de esposa: amar, honrar e obedecer.
Eles estavam presos um ao outro e tinham que fazer o melhor que pudessem. Ele precisava
reconciliá-la com a situação, e depressa. Ele não tinha nenhuma intenção de tolerar acessos de
raiva de uma noiva relutante.
A atração dele por ela era morna, no máximo – não que ela houvesse se mostrado em sua
melhor forma, com aquele vestido horrivelmente antiquado com balangandãs e babados, aquele
penteado e a maquiagem. Mas isso não importava. Ele daria a ela nenhum motivo para lamentar o
casamento. Ele a trataria bem e seria um marido fiel. E quando crianças viessem, eles poderiam
até descobrir algum tipo de amor. Muitas pessoas faziam assim.
Ele pensou nos estranhos olhos castanhos dourados dela encarando-o por detrás do pó e da
maquiagem como um pequeno falcão bravo pronto para atacar. Ela poderia ter mudado quase
tudo, se tornando quase impossível de reconhecer, mas aqueles olhos dela eram exatamente
como ele se lembrava, especialmente quando eles ficavam nervosos ou estavam afogando em dor.
A única parte dela que não tinha artifícios, lembrando-o da valente garotinha com quem ele
havia se casado. A mudança era inevitável, ele supunha, depois de oito anos. Ele teria que
conhecer a jovem que ela havia se tornado. E ela teria que se acostumar com o homem que ele
havia se tornado.
Um novo começo para ambos, e começaria no jantar.
Eles passaram em volta de uma rocha e uma pequena aldeia surgiu: um punhado de cabanas
amontoadas com aparência rota apareceu extremidade da montanha. Não era um lugar próspero.
Miguel apontou para a casa com aparência mais modesta e menor de todas.
— Direi para a minha mãe que você está vindo. — Ele disse e correu adiante.
Luke se resignou a uma noite gasta na companhia de percevejos e pulgas. Ele tinha passado
por coisas piores durante a guerra.
Quando Luke alcançou a cabana, a mãe dele estava esperando na entrada. Ela era bastante
jovem, não tinha trinta anos ainda. Duas crianças pequenas olharam timidamente por detrás de
sua saia. Miguel, com um rosto recentemente lavado, apresentou-os, então levou Luke em torno
da lateral da casa para que assim ele pudesse ver como ele havia cuidado bem dos cavalos.
Eles estavam amarrados em uma espécie de barracão e haviam recebido palha e água limpa.
As ferraduras estavam penduradas em pregos na parede, e os cavalos tinham sido esfregados.

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Noiva por Engano

Luke anuiu a cabeça em aprovação, e Miguel o levou de volta para a porta da frente da cabana, e
andando para o lado com um floreado, permitiu que Luke entrasse.
A cabana era sombria do lado de dentro, quando os olhos de Luke se ajustaram, ele viu que
mesmo sendo pobre, era limpo e organizado. O único cheiro que ele podia descobrir era de algo
cozinhando, algum tipo de guisado pungente com alho e ervas. Ele havia dormido em condições
muito piores durante a guerra.
— Você pode dormir aqui. — Miguel anunciou, puxando uma cortina e apontando para uma
espécie de catre num canto do quarto. Era grande o suficiente para duas pessoas e estava coberto
por um pano artesanal. A mala de couro de Luke estava ao lado.
Havia sido oferecida a ele a única cama na casa, a cama da mãe deles. E possivelmente a das
crianças, também.
— Não, não, eu não poderia. — Ele começou.
— A forragem está limpa, señor, foi lavada hoje, e secou ao sol, a palha do colchão está
fresca. — A mulher disse. — E as crianças não te aborrecerão –ficarão quietas como ratos. Ou se
você quiser, todos dormiremos do lado de fora. — Ela mordeu o lábio e trançou as mãos no
avental.
— Não há nenhum lugar melhor na aldeia. — Miguel o assegurou ele. Quatro pares de olhos
castanhos grandes assistiam Luke ansiosamente.
Eles precisavam do dinheiro dele. Desesperadamente.
— Muito bem. — Luke concordou. — E eu não sonharia em colocar algum de vocês do lado
de fora. — Ele anuiu com a cabeça para as duas cabeças pequenas que espiavam por detrás das
saias da mãe, e elas imediatamente desapareceram.
Luke retirou o relógio e verificou a hora.
— Teria água quente?
— Ele vai querer água quente para fazer chá. — Miguel, com conhecimento nos modos
ingleses, explicou para a mãe e os irmãos.
— Nenhum chá. — Luke disse, correndo a mão no queixo. — Preciso me barbear.
Uma hora mais tarde, Luke partia novamente para o convento, mudadas suas roupas de
equitação, recentemente barbeado e tão limpo quanto ele podia ficar sob as condições limitadas
da cabana. Cada movimento dele tinha sido feito sob o olhar solene de duas menininhas de olhos
escuros que não tinham nenhuma consideração com a santidade da privacidade do inglês.
Ele havia enviado o homem diminuto da família sair para comprar vinho, pão, carne, e
qualquer outra coisa que ele pudesse pensar, apenas para se livrar dele e de sua tagarelice
incessante. A família podia fazer bom uso da comida.
Mas agora, enquanto ele fazia o caminho de volta para o convento, Miguel havia se juntado
a ele.
— Você está muito bonito, señor. E cheira bem, também. Está cortejando uma das jovens
damas, sim?
— Não. — Luke mentiu.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Miguel o considerou com surpresa.


— Mas por que mais você se barbearia?
— Ela já é minha esposa. — Luke explicou.
Miguel o olhou de lado.
— Ela é uma esposa ruim?
— Não. — Luke mentiu.
— Então por que você a colocou no convento com as freiras?
— É complicado.
Miguel caminhou junto ao lado dele durante algum tempo.
— Meu pai saiu e nos deixou quando eu era pequeno, quando as meninas eram bebês.
Luke deu uma olhada rápida no menino.
— Ele nunca voltou?
— Não. — O menino chutou uma pedra na extremidade do caminho e pausou para escutá-la
saltando precipício abaixo.
— Ele foi morto?
— Não, ele está vivendo em Bilbao. Ele achou outra mulher da qual gosta mais do que a
minha mamãe. Você achou outra mulher que goste mais, señor?
— Não. — Luke aumentou seu passo. O tagarelar inocente do menino estava de alguma
maneira fazendo-o se sentir culpado. O que era ridículo. Ele não tinha feito nada para se sentir
culpado.
— Então, você vai buscar e levar ela de volta para a Inglaterra com você.
— Correto.
— Eu a conheço, señor? Conheço algumas das jovens damas no convento. Qual é o nome
dela?
Ele supôs que não importava se ele dissesse seu nome ao menino.
— Señora Ripton.
— Isabella Ripton? — O rosto de Miguel se abriu em um sorriso. — Ela é minha amiga. — E
então o sorriso dele enfraqueceu e ele parou. — Você não deixou a Isabella no convento e partiu,
né? Ela vive naquele lugar desde antes de o meu pai deixar a minha mãe.
A acusação nos olhos do menino cansou Luke.
Maldição, por que todo mundo estava olhando para ele como se a culpa fosse toda dele? Ele
deveria ser o herói, maldição! Primeiro ele havia salvado a vida dela e então ele havia se casado
com ela. Ele nem tinha que se casar com ela. Tinha sido o único jeito de protegê-la de um
casamento forçado com seu primo do mal, Ramón. Não tinha sido para que ele tivesse alguma
vantagem.
De alguma maneira isso tinha sido esquecido e ele havia se tornado o homem que havia
abandonado sua esposa. E ele não tinha. Ou tinha, mas não intencionalmente.
Bem, sim, intencionalmente, mas tinha sido para o próprio bem dela.
Mas como se explica isso para um menino de dez anos de idade?

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Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Ou para uma menina de quase vinte e um. Ele tocou o sino no portão do convento.

Cinco

— Santos benditos! — Dolores parou na entrada para a sala de jantar. Ela girou e disse para
Alejandra: — Ele é bonito como um anjo.
Alejandra estava olhando fixamente por sobre os ombros de Dolores.
— Madonna6, sim! Um lindo anjo caído. Aquela boca, aqueles olhos, aquelas maçãs do rosto.
Tão duras e ainda de alguma maneira… Pecaminosas. — Ela suspirou.
Imediatamente houve uma briga lânguida enquanto as outras meninas se empurravam,
tentando ver o marido muito real de Isabella.
— Meninas! — Irmã Ignazia disse, e quando elas não responderam imediatamente, ela disse
com a voz de advertência: — Jovens damas! Devo assumir com este comportamento impróprio
que vocês não têm nenhum desejo de jantar hoje à noite?
— Não, Irmã. — Eles saíram apressadas do corredor para a sala de jantar em silêncio
relativo, arremessando olhares ávidos para o marido de Isabella.
— Você acha que ele seria rígido nas alcovas? — Alejandra sussurrou.
— Quem se importa? — Luisa deu uma risadinha.
— Oh, eu gostaria de um homem capaz. — Dolores disse com um calafrio dramático.
Isabella cerrou os punhos. Ele era o marido dela, ainda que ele não a quisesse.
Tenen – Não, Lorde Ripton permaneceu atrás de sua cadeira na mesa da Madre Superiora,
em traje formal e parecendo mais bonito do que nunca. O único homem em uma sala cheia de
mulheres, ele era o centro das atenções. Já era ruim o suficiente as outras meninas estarem
flutuando, sussurrando e dando risadinhas enquanto o olhavam através da sala, mas mesmo as
freiras estavam endireitando seus véus e sorrindo para ele.
E ele, Isabella pensou sombriamente, estava perfeitamente confortável com o rebuliço. Esse
era o futuro dela. O homem dos sonhos dela, adorado por cada mulher que o via. E de uma forma
que ela não poderia sequer odiá-lo.
— Olhe, até a Irmã Gertruda está olhando para ele. — Luisa silvou. — E eu que pensava que
ela odiasse homens.
Isabella assistiu enquanto Irmã Gertruda, normalmente uma mulher rígida, militar, sem
senso de humor, estava de pé ao lado de Lorde Ripton, conversando animadamente. Ele a
escutava com atenção sombria, anuindo com a cabeça e dando respostas curtas, mas seu olhar
vagava através da sala para as meninas, seus olhos escuros peneirando uma a uma.

6
Nota da Revisora: Madonna vem do italiano e é o nome dado à representação artística da Virgem Maria, mãe de Jesus Cristo,
em pinturas e esculturas.

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Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Irmã Josefina decretou que ela vestiria seu traje normal de convento, nenhum vestidos cheio
de babados, nenhum balangandã, perfume ou maquiagem – sob pena de castigo – então, de longe
e com um primeiro olhar, as meninas eram difíceis de se distinguir.
Isabella sentiu o momento em que ele a viu pela primeira vez – um arrepio lânguido sob a
pele. A Madre Superiora notou a chegada dela e gesticulou para que Isabella se juntasse a Lorde
Ripton à mesa.
— Traga-o e nos apresente depois do jantar. — Alejandra ordenou enquanto Isabella partia.
— Quero conhecê-lo.
— Oh, sim. — Paloma suspirou e tremulou as pestanas. — Quero conhecer um anjo caído.
— Hmm, eu quero ouvi-lo falar, ainda que ele seja inglês.
— Quanto tempo faz desde que alguma de nós conversou com um homem que não é um
padre?
— Eu tentarei. — Isabella retrucou, e marchou para se juntar ao marido. Todo mundo era
tolo. Ele tinha virado a cabeça de todas elas.
Os olhos escuros dele pareciam assistir tudo, mas ele não disse nada, apenas murmurou
uma saudação quieta. A voz profunda causou um arrepio na espinha dela.
A sala ficou muda enquanto todos esperavam detrás de suas cadeiras, então a Madre
Superiora deu o sinal, e com um barulho alto de cadeiras sendo arrastadas, todo mundo se
sentou.
A Madre Superiora então disse a oração. Era uma oração longa e em latim, e Isabella estava
tão perdida que não conseguia se concentrar. Ela nunca havia sido muito interessada em latim de
qualquer maneira, e muito era apenas um murmúrio. Ela deu uma olhada rápida em Lorde Ripton
e para seu choque ele a estava assistindo, o olhar escuro e intenso. Ela imediatamente fechou os
olhos com força. Ele era um pagão como o pai dela que não fechava os olhos na hora da oração?
A Madre Superiora terminou; então, quando todo mundo estava para agarrar sua comida,
ela disse:
— Damos boas-vindas a Lorde Ripton que se junta a nós em nossa mesa hoje à noite.
Todos abaixaram os talheres e esperaram.
— Como todas vocês sem dúvida já ouviram, ele veio buscar sua esposa, Isabella, que está
conosco nestes últimos oito anos. — Ela sorriu para Isabella. — Oito anos muito significativos,
devo dizer. — Uma ondulação de diversão correu pela sala.
Isabella encarou um grão sobre a mesa de madeira, e desejava calada que a Madre
Superiora não estivesse disposta a dizer mais nada sobre o tempo dela no convento. Ele não
precisava saber. E, além disso, a comida estava ficando fria. Não que ela estivesse com fome; o
estômago dela era um nó.
Por que ele continuava a encarando? Ela passou a mão pelo cabelo, ajeitando-o. As mãos
dela estavam tremendo. Estúpida. Não era como se qualquer coisa pudesse mudar. Ela estava
predestinada a este homem. Ele estava predestinado a ela.
Uma vida de satisfação sólida.

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Anne Gracie
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Noiva por Engano

A Madre Superiora continuou:


— Lorde Ripton me disse que planeja partir de manhã bem cedo, então esta é a última noite
de Isabella conosco antes de iniciar sua nova vida de casada na Inglaterra. Nós desejamos o seu
bem. — Todos ergueram taças ou copos – a maior parte de água, mas a Madre Superiora, Lorde
Ripton, e algumas das freiras mais velhas estavam bebendo vinho – e bebiam por Isabella e Lorde
Ripton.
Isabella forçou os lábios e desejou que parecesse um sorriso feliz, então bebeu. Todos os
rostos irradiavam para ela e Lorde Ripton. Toda aquela benevolência jovial. A boca ficou com
gosto de bílis. Era tudo uma mentira, uma farsa. Ele não a queria. Não era nada além de um
engano repugnante.
Ela se sentou entre a Madre Superiora e Lorde Ripton, revirando a comida no prato. Era um
pecado desperdiçar comida – e Deus sabia que houve épocas durante a guerra que elas haviam
ficado desesperadas por ela – mas ela não conseguia se forçar a engolir um pouco do guisado.
Ela cessou bruscamente com um pequeno pedaço de pão e tentou mastigar. Ele virou um
amontoado duro a meio caminho abaixo na garganta. Ela bebeu de sua taça e conseguiu descê-lo.

Luke se forçou a tirar os olhos dela. Ele não podia acreditar na diferença em sua aparência.
As roupas eram terríveis, é claro – pardas, discretas e grosseiras – mas a simplicidade vestia nela
melhor do que todos aqueles balangandãs. E agora ele podia realmente vê-la.
Não era um patinho feio em um rebanho de cisnes, mas algo completamente diferente.
A pele era um marfim mais pálido e liso, com um rubor delicado que tinha sido escondido
pelo ruge extravagante que ela havia usado antes.
Ela havia abandonado o penteado elaborado. O cabelo estava agora em uma trança, uma
espécie de coroa simples ao redor da cabeça, uma trança espessa, sedosa e brilhante. Ela devia ter
lavado o cabelo, pois parecia úmido. Cachos minúsculos caíam ao redor da testa e da nuca.
O penteado limpo revelou a linha elegante da cabeça e pescoço, emoldurou o rosto
perfeitamente. Ela não era convencionalmente bonita – nada bonita, realmente. Com as maçãs do
rosto altas, um queixo pontudo, um pequeno nariz dominante que havia ganhado de algum
parente romano, e olhos dourados que encontraram os dele em uma mistura de timidez e desafio,
ela era muito mais interessante do que bonita. E ele não podia tirar os olhos dela.
Ele estava casado com esta criatura esbelta e atordoante nestas roupas terríveis.
Ele queria tocá-la, ver se aquela pele de marfim era tão suave e sedosa quanto parecia. As
maçãs do rosto davam a ela uma aparência um pouco altiva, e o nariz era corajoso e dominante.
Mas a boca – oh, Deus, que boca… Ele não havia notado antes, quando ela estava pintada
em um pequeno arco como o do cupido. Agora ele mal podia tirar os olhos. Ao natural, os lábios
eram como bagas ricas, maduras com o florescer ainda adiante. Rechonchudos, deliciosos,
comestíveis.

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Anne Gracie
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Ele devia ter gemido, pois a Madre Superiora girou para ele com um olhar de investigação
lânguido. Ele conseguiu limpar a garganta e solenemente a considerou.
— Então, amanhã vocês dois nos deixarão. — A Madre Superiora disse. — Aonde planeja ir,
Lorde Ripton?
Isabella girou a cabeça para olhar para sua tia, e Luke notou uma pinta minúscula e
aveludada, logo abaixo das curva delicada da orelha esquerda dela. A boca ficou seca.
— Lorde Ripton?
Ele deu uma olhada rápida na Madre Superiora.
— Aonde?
— Na sua lua de mel.
Lua de mel? Ele nem mesmo havia pensado sobre a lua de mel. Isto era para ser um dever.
— Nós iremos imediatamente para a Inglaterra, para a minha casa.
A Madre Superiora deu uma olhada rápida na menina muda entre eles.
— Estou certa de que Isabella está esperando ansiosamente para ver sua nova casa, não é
Isabella?
Isabella fez algum tipo de som que poderia indicar consentimento, e a freira continuou:
— E estou certa de que ela apreciará estar fora no ar fresco. Ela adora ar fresco.
— Sério? — Luke deu uma olhada rápida para Isabella, notou sua boca e imediatamente
esqueceu o que iria dizer.
— Você contratou cavalos, presumo?
Luke piscou e, com um esforço, voltou sua atenção à conversa.
— Sim, espero que Isabella não ache a jornada muito cansativa. — Era mais fácil conduzir
uma conversa com a freira do que com sua esposa. Ela era aparentemente do tipo quieto – e ele
não tinha nenhuma reclamação quanto a isso; era tranquilo – e mais fácil manter uma conversa
civilizada sem estar… Distraído. Era muito desconcertante.
— Faz muito tempo desde que ela montou pela última vez um cavalo. Sem dúvida ela estará
muito dura no princípio.
— Oh, mas... — A Madre Superiora começou.
— Um cavalo? — Isabella olhou para cima. — Que tipo de cavalo?
Ele deu uma olhada rápida abaixo para ela, surpreso.
— Apenas um cavalo contratado; nada muito especial. Levou algum tempo para eu achar um
apropriado. Madre Superiora, a senhora estava dizendo?
— Apropriado? — Isabella fez uma carranca.
— Bastante apropriado. — Ele a assegurou. Ele se voltou para a freira. —Madre Superiora?
Mas a Madre Superiora ou esqueceu o que iria dizer ou pensou melhor.
— Você não planeja passar nenhum tempo na Espanha?— Ela perguntou. —Isabella
mencionou que seu falecido tio possuiu várias propriedades espanholas em Andaluzia. Presumo
que elas agora pertençam a você.
— Sim, porém...

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Anne Gracie
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— Excelente. Você desejará visita-los, já que está na Espanha agora.


Luke não disse nada. Ele não desejava ir lá. Ele tratou de mexer em seu guisado.
A Madre Superiora fez uma ligeira carranca.
— Você vai querer ver como eles seguiram durante a guerra, certo?
Luke bebeu um pouco do vinho ralo e ácido da montanha.
A Madre Superiora tirou seu pince-nez7 e deu a ele um olhar de governanta abaixo por seu
nariz longo.
— As coisas estão um pouco… Devo dizer ‘instáveis’ na Espanha no momento, Lorde Ripton.
Seria bom consolidar sua propriedade.
Luke endureceu, irritado pelo conselho gratuito e implicado com conferência moral. Ele
tinha um agente para verificar esse tipo de coisa para ele, mas ele não tinha nenhuma intenção de
se justificar para ninguém, muito menos para uma freira mandona, ainda que ela fosse agora sua
parenta por causa do casamento.
— Preciso retornar à Inglaterra. — Ele disse bruscamente. — Tenho um compromisso lá que
devo atender. — E ele não gastaria mais uma noite única neste país esquecido por Deus se ele não
tivesse a obrigação.
— Que pena...
— Um compromisso muito importante. — Ele disse em uma nota final. —Diga-me, notei
quando cheguei aqui que as paredes do convento tinham sido danificadas. Você foi atacada?
Ele queria que isto fosse apenas uma simples mudança de assunto, mas ao lado dele, os
movimentos sem rumo de Isabella no prato pararam.
Luke ficou frio. O ataque a conventos e igrejas não era incomum na guerra. Na França pós
revolucionaria a igreja não era mais considerada tão santa, e freiras, monges e padres eram
simplesmente homens e mulheres. As freiras tinham sido estupradas e assassinadas, as igrejas
saqueadas.
A boca fina da Madre Superiora curvou com desprezo.
— Franceses e alguns desertores que haviam se juntado a eles. Escória. Eles haviam ouvido
um rumor sobre um tesouro aqui. Tesouro!— Ela bufou. — Nós somos uma ordem simples. Nosso
tesouro são as nossas meninas.

7
Nota da Revisora: Pince-nez ou Pincenê é um modelo de óculos usado do século XV até o início do século XX, cuja estrutura era
desprovida de hastes. Sua fixação era feita apenas fixando-o sobre o nariz. Diferente dos Lernhons cujo modelo era dotado de
haste lateral para ser colocado em frente aos olhos, o Pince-nez prendia seus aros como uma pinça a ossatura do nariz. O modelo
foi superado pelos óculos de hastes modernos como os Numont cujos aros superiores ou inferiores eram finos e ofereciam leveza e
segurança.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Enquanto ela falava, Luke relaxou. O tom dela era meramente indignado, sem ecos de horror
do passado. Isabella se sentou quieta como um coelho, fingindo não estar lá.
— Presumo que a senhora conseguiu afastá-los?
— Sim, mas se...
Isabella tossiu. A Madre Superiora deu uma olhada rápida nela e disse suavemente:
— Felizmente eles foram persuadidos a partir.
— Minhas amigas gostariam de te conhecer, Lorde Ripton. — Isabella disse abruptamente.
— Você deve me chamar de Luke. — Ele disse a ela.
Ela girou para a freira.
— Tenho a sua permissão, Madre Superiora?
A freira anuiu com a cabeça, e Isabella saltou e levou seu prato para um aparador.
O momento estava perdido. Ele provavelmente nunca descobriria o que havia acontecido,
mas ele não se importava. Não era bom provocar memórias antigas.
Ele assistiu enquanto Isabella cuidadosamente jogou seu jantar em um balde –
presumivelmente havia alguns poucos porcos ou galinhas em algum lugar – e empilhou seu prato
e talheres. Ela pareceu se recuperar de sua chateação e agora parecia aceitar seu destino com boa
graça. Como ele esperava, o treino dela no convento a tornara uma jovem dócil e obediente.
A atração intensa que ele sentia por ela era a cereja no bolo.
Ele se sentou de volta, satisfeito, assistindo enquanto ela ia apressada através da outra
extremidade da mesa onde as alunas se sentavam. Ela era muito esbelta, sua figura, debaixo das
roupas espessas do convento, que escondiam tudo, era a de uma moça em vez de uma mulher.
— Ela é muito magra. — Ele observou. E subdesenvolvida para a idade. As meninas
espanholas que ele conhecia eram luxuriantes e cheias de curvas. —Ela não está doente, está?
— Somos todas magras aqui. — A freira disse secamente. — Quase passamos fome durante
a guerra, e o país está lento para se recuperar. Confie em mim, Isabella tem o apetite de qualquer
jovem saudável.
A referência dela ao apetite saudável de Isabella fez com que Luke pensasse em outro tipo
bastante diferente de apetite. O corpo dele se mexeu com o pensamento. Era desconcertante,
sentir as primeiras fases de excitação enquanto estava sentado à mesa com uma freira de meia-
idade. Mas algo no modo como Isabella se movia… O atraía.
Ter um herdeiro não seria ser um dever afinal.
O que ela estava dizendo? A expressão de Isabella parecia bastante severa enquanto ela
conversava com as amigas. Uma delas, dissolutamente bonita, deu uma olhada rápida para ele e
disse algo. Todas riram, exceto Isabella. Ela parecia uma delas… E, ainda assim, não. Ela era um
pouco distante.
As outras meninas depressa retiraram seus pratos e saíram apressadas na direção dele em
um grasnar, alisando o cabelo e o olhando de forma coquete, de uma maneira flertiva que o fez
suspirar. Não era tão diferente das meninas em Londres, então. Jovens, protegidas e tolas.
Qualquer medo dele de que atacantes tivessem invadido o convento enfraqueceram.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Ele ficou de pé e se curvou educadamente sobre cada mão das meninas enquanto Isabella os
apresentava. Então sob o olhar benevolente da Madre Superiora, as meninas o atacaram com
perguntas ávidas.
— Você viajou de muito longe para chegar aqui? — Eles falaram em espanhol lento, claro,
assistindo-o esperando que talvez elas precisassem repetir a pergunta.
— Não, vim da aldeia estrada abaixo. — Ele disse em espanhol fácil, idiomático. E vieram
várias risadinhas, como se ele fosse um gênio famoso.
— Mas disseram que você é inglês! — A mais bonita – Alejandra? – disse em surpresa e deu
uma olhada rápida em Isabella como se ela estivesse mentindo para elas.
— Eu aprendi espanhol quando era menino. — Ele explicou. — Passei várias verões nas
propriedades do meu tio em Andaluzia. — Elas fizeram “ooh” e “ahh”, como se isto fosse de
alguma maneira inteligente da parte dele.
Ele supôs que a maioria das meninas havia sido criada de forma firmemente disciplinada e
isolada de um ambiente em que não iriam reagir tanto à sua presença. Elas agiam mais como as
jovens que eram.
Não que Isabella estivesse dando risadinhas ou flertando. Em silêncio ela assistiu as amigas
fazendo amizade com ele, sem perguntar nada, não tomando parte na conversa. Vigiando-os – ou
talvez ela estivesse vigiando ele – como um pequeno falcão, vestida de forma sem graça.
— Você tem irmãos? — Essa veio da menina de olhar intenso. Dolores? As outras se
curvaram adiante, ofegantes, agarrando-se a cada palavra dele.
Ele agitou a cabeça.
— Só irmãs.
— Quantas?
— Três.
— Elas são casadas?
— Sim, duas são; a mais jovem, Molly, vai fazer seu debute este ano.
— Quantos anos tem Molly?
— É da mesma idade que a Isabella.
— Tão velha! — Elas exclamaram surpresas. — Todas as meninas fazem o debute tão velhas
na Inglaterra?
— Não, elas o fazem com normalmente dezoito ou dezenove anos. — Ele explicou. — O
debute da Molly ficou atrasado por causa da morte do meu tio e foi adiado novamente no ano
seguinte por causa de uma enfermidade. Este ano ela está desejando que a terceira vez seja a da
sorte.
— Ela é bonita, a Molly?
— Muito.
— Todas as suas irmãs são bonitas?
— Sim, elas são. — A mais velha era famosa por sua beleza. E a mulher mais mandona que
ele já havia visto.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Quando você for para a Inglaterra, você e Isabella viverão em Londres?


— Parte do tempo. Tenho uma casa no campo e prefiro passar a maior parte do ano lá. —
Ele deu uma olhada rápida para Isabella. — Nós iremos, claro, para Londres na temporada.
— A temporada em Londres! — Elas exclamaram. — Isabella, você é tão sortuda!
Ele deu uma olhada rápida nela novamente, e ela deu um sorriso cortês, sem compromisso.
Pegando a troca, Alejandra perguntou:
— Isabella mudou muito desde que você a viu, Lorde Ripton?
— Um pouco. — Ele disse secamente. — Ela está crescida. — Isso produziu uma rajada de
risadas femininas.
— Talvez você e Isabella passem parte do ano na Espanha, como você fez quando era
garoto. Talvez ela possa nos visitar.
— Não. — Elas pareceram surpresas. Ele tinha dito mais bruscamente do que pretendia. —
Eu não retornarei à Espanha.
— Mas...
Ele deu uma olhada rápida na Madre Superiora.
— Já chega, meninas. — Ela disse imediatamente. — Lorde Ripton e Isabella têm uma longa
jornada à frente deles amanhã...
— E uma longa reunião amanhã à noite. — A de cabelo crespo disse, causando uma nova
erupção de risadinhas.
— Luisa! — A Madre Superiora disse rigidamente, e as meninas ficaram com os rostos
solenes imediatamente. — Deem boa noite a Lorde Ripton; ele está sem dúvida nenhuma cansado
de toda essa tagarelice tola.
Uma por uma, elas deram boa noite, Isabella ficou por último.
A Madre Superiora se ergueu.
— Boa noite, Lorde Ripton. Isabella te acompanhará até a saída. Imagino que haja uma ou
duas coisas que vocês desejam dizer um ao outro em particular. Eu te verei de manhã. Espero que
as acomodações na aldeia sejam adequadas. — Ela saiu da sala de maneira imponente,
espantando as meninas que ainda rondavam a porta.
Luke ofereceu o braço a Isabella.
Ela hesitou.
— Lorde Ripton...
— Luke. — Ele a lembrou.
— Não quero ir diretamente para a Inglaterra daqui. — Ela disse abruptamente. — Quero
visitar a minha casa primeiro.
Luke fez uma carranca.
— Você me disse quando nos encontramos pela primeira vez que você não tinha mais uma
casa. — Ele colocou a mão na curva do antebraço dela e andou a passos largos em direção à porta.
— Eu não tenho. Não é mais minha. Mas eu ainda quero ir lá.
— Não é um pouco tarde para ter segundos pensamentos sobre Ramón, não é?

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Anne Gracie
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Noiva por Engano

Ela foi para longe dele, e parou.


— Ramón! Isto não é sobre Ramón. Eu desprezo o Ramón. Nunca mais quero vê-lo. — Ela
cruzou os braços. — Mas devo retornar a minha antiga casa.
Ele estreitou os olhos para ela.
— Por quê?
Ela hesitou.
— Preciso verificar se tudo está certo. Que o mundo está certo.
— Não há sentido em se preocupar com isso agora. — Ele disse decisivamente. — Além
disso, se está tudo certo, se o lugar está uma bagunça, o que você pode fazer sobre isto? É
responsabilidade do Ramón agora. — Eles emergiram no pátio principal.
— Mas...
Ele bateu levemente na mão dela e disse com voz firme:
— Não, não há razão para voltar. Confie em mim; só te chateará em vão.
— Não, você não entendeu... — Uma freira veio apressada destrancar o portão do convento
e, distraída, Isabella cessou bruscamente. A freira pegou uma lanterna de um gancho, iluminou-a,
e deu-a para Luke. Ela esperou, sorrindo, pronta para fechar o portão depois de sua partida.
A oportunidade para uma conversa privada estava terminada. Luke não podia lamentar. Ele
disse tudo que tinha a intenção de dizer no assunto; não havia nada mais para discutir.
Ele se curvou, tocando as costas da mão de Isabella com os lábios, e quando a boca
encontrou a pele, o desejo que o havia tomado desde o jantar soltou faísca.
Ela estremeceu, piscou para ele com os olhos largos, então puxou a mão.
Luke tentou não sorrir. Então ela sentia, também.
— Amanhã será um longo passeio, difícil. Eu te pegarei as oito. — Ele disse a ela. — Durma
bem. — Porque, ele pensou, amanhã à noite ela não conseguiria dormir.

Não havia sido bom, Bella pensou enquanto lentamente fazia seu caminho de volta para o
dormitório das meninas. Ele não a havia escutado.
Ela tinha que voltar para Valle Verde. A culpa a corroía.
Ela teria que fazer com que ele a escutasse. Era uma simples questão de respeito.
Ela podia não saber como fazer com que um homem a amasse – porque de tudo que ela já
havia visto, dependia de ser bonita e saber como flertar e tremular os cílios. Bem, ela não era
bonita, e se sentia estúpida ao tentar flertar – como um cachorro tentando dançar balé – e de
qualquer maneira as pestanas dele eram mais longas do que as dela.
Respeito, porém, era apenas uma questão de ser firme em seus pensamentos. A Madre
Superiora não era nada bonita, mas todo mundo a respeitava – até mesmo Lorde Ripton. E sua
predecessora, a antiga Madre Superiora, tinha sido minúscula e gentil com o rosto mais doce,
como uma pálida e pequena passa, ainda assim até mesmo Ramón a obedecia. Ambas as mulheres

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

eram, de modos muito diferentes, firmes em seus pensamentos. Elas simplesmente assumiam que
as pessoas as obedeceriam, e todo mundo fazia isso.
Amanhã ela olharia Lorde Ripton nos olhos, diria a ele firme e claramente o que ela
precisava fazer, e assumiria que ele cooperaria.
Ela esperava que ele não exigisse uma explicação – ela teria que pensar em algo
convincente. Ela estava muito envergonhada de falar a verdade, e ele saber a criatura egoísta,
mesquinha e desleal que ela verdadeiramente era. E como ela precisava se compor pelo que havia
feito.
Ela esperava que ainda assim fosse possível.
Ela não queria começar sua nova vida com o peso de Valle Verde em sua consciência.
Ela alcançou o dormitório das meninas, mas a Irmã Josefina estava apenas terminando.
— Hora de ir para a cama, Isabella. —Ela disse.
— Sim, Irmã. Boa noite. — Isabella se dirigiu ao seu próprio quarto. Ela apenas havia
dormido no dormitório algumas vezes quando havia chegado ao convento, mas seus pesadelos
haviam perturbado as outras meninas, e eventualmente ela havia sido movida para uma cela na
mesma ala, onde tinha sua própria pequena janela com vista para o céu, trancada, sim, mas o ar
fresco e a visão das estrelas ajudavam. Ela não conseguia ficar presa, especialmente na escuridão.
De certa maneira ela teria gostado de passar sua última noite no dormitório, com as
meninas sussurrando segredos e compartilhando risos, e ela estava certa de que a bondosa e doce
Irmã Josefina permitiria isto.
Mas de certo modo era um alívio ficar livre das perguntas. Depois de encontrá-lo, as outras
meninas estariam cheias de inveja dela, e excitadas, e perguntariam todos os tipos de perguntas
sobre o homem que era seu marido, e ela achava que não poderia aguentar. Especialmente
sabendo que ele não a queria.
Além disso, ela tinha que fazer suas malas.
Guardar as coisas demorou menos de dez minutos. Ela havia chegado ao convento com
nada, e partiria com não muito mais. Ela havia guardado as roupas e alguns artigos pequenos e
sentimentais: um pente decorativo e um pequeno broche de prata, presentes de amigos ao longo
dos anos – e uma Bíblia pequena com uma capa com madrepérolas incrustadas, dada a ela por sua
tia. Um dia havia pertencido à mãe do pai dela.
Para um enxoval, ela não possuía nada, nenhum baú cheio de vestidos de linho bordados
como todas as outras meninas tinham. Nem mesmo um lenço de renda com suas iniciais
bordadas.
Ela encheu a bolsa de pano e a fechou firmemente com uma tira de couro. Não era muito
por oito anos. Quase metade de sua vida.
Pobreza, castidade, obediência: tudo isso estava para mudar.

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Anne Gracie
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Noiva por Engano

Seis

Ela estava atrasada. Luke guardou seu relógio e retomou seu compasso. Dezesseis minutos
haviam se passado das oito horas e ainda assim, não havia nenhum sinal de Isabella. Várias freiras
e algumas alunas crescidas estavam no pátio, esperando para dizer adeus.
Ele estava para pegar seu relógio pela terceira quando ele ouviu a comoção lânguida em
torno de um canto, as vozes mal audíveis, em uma disputa silenciada.
— Eu não me importo. — Era a voz de Isabella, e o som de passos rápidos.
Ela marchou para o pátio. Os olhos de Luke arregalaram.
— Isabella! — Várias freiras exclamaram. Exasperação em vez de surpresa, ele notou
friamente. Mas ele não estava interessado nas freiras; só em Isabella.
Ele não podia tirar os olhos dela.
Usando uma calça de camurça masculina, ela andou a passos largos em direção a ele, as
pernas longas, as botas de couro de cano alto batendo os saltos no chão e fazendo barulho. Ele
nunca tinha visto nada assim. Uma camisa branca, um colete de couro e um cinto completavam o
conjunto. Ela segurava uma bolsa de pano em uma mão e trazia um casaco pequeno, azul escuro
atirado por sobre o ombro.
Ela cruzou o pátio andando com passos largos, soltos. A calça se ajustava nela como uma
luva. A camurça suave abraçava o comprimento das coxas, acariciando os quadris e esboçando
cada curva esbelta. Ela não parecia nada tímida.
A garganta dele ficou espessa.
Como ele havia achado que ela não tinha curvas femininas? Elas eram esbeltas e sutis,
davam água na boca.
Um grupo de freiras veio atrás dela, protestando.
— Isabella! Você não pode deixar o convento vestida assim! — A Madre Superiora apareceu
em outra entrada. — É indecente.
— É prático. — Isabella discutiu. — Nós vamos montar.
— Eu não me importo se você vai voando! Você não deixará este lugar vestida assim.
Ela encontrou o olhar da Madre Superiora e ergueu o queixo.
— Eu não sou mais uma aluna deste convento. — As bocas das alunas ficaram abertas com a
coragem dela.
—Você ainda é minha sobrinha— retrucou a freira —e me obedecerá. Volte para dentro e
coloque uma saia, de uma vez.
O olhar das duas mulheres se chocou. Isabella não fez nenhum movimento.
— Se eu tiver que montar de saia, as minhas coxas esfolarão. — Ela disse. Com a menção da
palavra coxas, houve um murmúrio entre as freiras e muito franzir de lábios.
Luke finalmente conseguiu fazer sua língua trabalhar.
— Você não irá montando.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Ela girou e o encarou.


— O quê? Eu pensei que você tinha um cavalo. — A carranca dela escureceu. — Eu não
viajarei em um liteira!
— Claro que não. Eu te disse que achei a montaria apropriada. Trouxe uma sela lateral.
— Uma sela lateral? — Os olhos dela estreitaram e Luke gesticulou para o lado de fora onde
Miguel estava esperando com dois cavalos e um burro.
A Madre Superiora foi adiante.
— Claro que ele trouxe uma sela lateral para você montar. O que mais um cavalheiro
esperaria de uma dama? — Os olhos dela pararam em Isabella de modo imperativo e mudo. —
Agora, vá e tire essa abominação masculina e coloque uma saia de uma vez.
Isabella pareceu amotinada por um momento, então com uma exclamação amortizada virou
sobre os calcanhares e marchou de volta o caminho de onde havia vindo.
Deus, a visão dela andando a passos largos para longe naqueles calções, a curva soberba do
traseiro… Luke podia apenas encarar. E desejar que seu olhar vítreo não fosse visível às
companheiras dela. O corpo dele começou a endurecer… Ele friccionou os dentes e se mandou
parar. Que hora e lugar para se batalhar contra a excitação, de pé em um convento cercado por
freiras.
Isabella desapareceu, e um zumbido de conversa seguiu sua partida.
A Madre Superiora foi na direção dele.
— Isabella pode ser um pouco… Voluntariosa, mas no fundo é uma boa menina. Espero que
você não guarde isso contra ela. Eu talvez tenha permitido um pouco mais espaço do que
deveria...
— Eu não estou bravo. — Ele disse. Terminou como um coaxar cascudo.
Ela pareceu não ouvir e continuou:
— Durante a guerra, as coisas ficaram de tal forma que, sem as habilidades da Isabella... —
Ela cessou bruscamente e respirou fundo. — Ainda que ela não fosse a minha última parenta viva,
eu ainda diria isso: cuide muito bem dela, Lorde Ripton. Isabella é um tesouro. Eu sei que isso não
é imediatamente óbvio, mas...
— Eu cuidarei muito bem dela. — Luke prometeu.
A Madre Superiora avançou e pôs a mão magra e cansada nele.
— Ela tem um coração amoroso, aquela menina, e...
Ele puxou as mãos dela de seu aperto.
— Eu disse que cuidarei bem dela. E não tenho o hábito de quebrar as minhas promessas.
Ela ergueu uma sobrancelha interrogativa, uma lembrança muda dos votos do casamento
que ele havia jurado e depois tentado anular.
Ele sabia o que ela estava fazendo – tentando fazer – mas droga, ele era a última pessoa a
quem deveria ser confiado o coração da jovem. Aquele tipo de coisa – não, nunca mais.
Ele cuidaria bem de Isabella e se certificaria de que ela estivesse segura, morna, bem
alimentada e que tivesse tudo no aspecto material.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

O coração dela não era preocupação dele.


Ele bateu o chicote contra a bota. Onde diabos ela estava? Quanto tempo ela levava para
colocar uma saia? Droga. Ele desejava sair deste lugar.
A Madre Superiora deu a ele um olhar atento.
— Espero que eu tenha feito a coisa certa. — Ela murmurou.
Droga, o que a mulher esperava? Ela sabia muito bem que este casamento não era o que
eles pretendiam oito anos atrás.
Que ele havia honrado as promessas originais e vindo buscar Isabella, que ele estava
disposto a formar uma vida com ela, dar a ela o que ela precisasse, e ter um herdeiro com ela, isso
deveria ser o suficiente. Era tudo que ele estava preparado para dar – tudo que ele podia
prometer.
O que quer que ela tivesse pensado sobre o Tenente Ripton de todos aqueles anos atrás, ele
não era mais aquele menino. Ele mal podia se lembrar daquele menino.
Se ele não tivesse – bem, não adiantava seguir por esse rumo. O que estava feito, estava
feito. Não fazia sentido olhar para trás e se lamentar pelo que não podia ser mudado.
Ele protegeria e proveria a sobrinha dela, honraria e respeitaria, e isso tinha que ser o
suficiente.
Não havia mais nada sobrando nele agora.
E quanto antes eles deixassem este bendito país, mais feliz ele ficaria.
Finalmente Isabella retornou com uma saia cinza longa, o pequeno casaco azul escuro que
ela estava carregando antes agora estava abotoado até a garganta. Um chapéu azul oscilava de
uma fita em seu pulso. Ela deu a Luke sua bolsa, mas antes que ele pudesse perguntar pelo resto
da bagagem, ela se virou, dizendo:
— Apenas direi adeus para todo mundo.
Uma das meninas deu um soluço alto, e em segundos todas estavam assim, soluçando e
abraçando e fazendo promessas de escrever, manter contato. Até algumas das freiras estavam
chorando.
Luke se ocupou em guardar a bolsa dela na parte de trás de seu cavalo. Ele odiava a
sentimentalidade das mulheres. Fazia com que ele parecesse impotente e incerto.
Isabella abraçou cada menina, uma por uma, e então cada freira – todas estavam do lado de
fora para vê-la ir embora. Ele supôs que oito anos era muito tempo. Ele não podia ver se Isabella
estava chorando ou não. Sem dúvida ela estava.
Luke, tendo feito suas despedidas da Madre Superiora e das outras, esperava do lado de fora
do portão do convento com os cavalos. Seu chicote de montaria estalava ritmicamente contra a
lateral de sua bota. Ele odiava ver mulheres chorando, ele não tinha nenhuma ideia do que fazer.
Por último a Madre Superiora abraçou Isabella e a beijou em ambas as bochechas. Ela
deslizou uma corrente de ouro fino sobre a cabeça e abençoou Isabella solenemente. As freiras e
alunas se benzeram.

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Anne Gracie
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Com um soluço sufocado, Isabella jogou os braços ao redor da cintura da Madre Superiora e
a abraçou convulsivamente. Ela girou, botou o chapéu na cabeça e marchou resolutamente para o
portão onde Luke a esperava com Miguel e os animais.
— Onde está a sua bagagem? — Luke perguntou bruscamente. Os olhos dela estavam
vermelhos e a pele manchada e molhada com as lágrimas.
Ela esfregou a mão através das bochechas molhadas e apontou para a bolsa amarrada atrás
da sela dele.
— Lá.
Ele piscou.
— Essa é a sua bagagem? Toda?
Ela anuiu com a cabeça e tomou as rédeas da égua.
— Mas eu comprei um burro. — Luke disse, e pareceu imediatamente estúpido.
Ela deu uma olhada rápida no burro, esperando pacientemente com Miguel.
— Estou vendo. Para que?
— Para a sua bagagem.
— Mas eu só tenho isto. — Ela gesticulou para a bolsa.
— Estou vendo. — A conversa estava ficando ridícula. Luke ofereceu as duas mãos unidas
para que ela colocasse o pé para dar impulso e subir. Ela colocou um pé e se segurou na sela.
Esbelta e com peso de pluma.
Ela parecia confortável na sela lateral, enganchando a perna em torno das alças e
drapejando as saias naturalmente como se tivesse montado na véspera em vez de oito anos atrás.
Luke a deu o chicote de montaria e ajustou o estribo. Enquanto ele o fazia, notou algo que fez sua
boca estremecer com um quase riso. Debaixo da saia ela ainda usava a calça.
A noiva dócil e obediente de suas ideias se desvanecia rápido.
— O que você vai fazer com o burro? — Ela perguntou.
Luke montou seu próprio cavalo.
— Miguel pode levar.
O menino, ouvindo seu nome, olhou para cima.
— Levar para onde, señor?
— Onde quiser. Eu não preciso do burro, afinal.
Os olhos do menino arregalaram. Ele embreou a corda do burro ao punho sujo e deu uma
olhada rápida de Luke até Isabella e de volta para Luke.
— Quanto?
— Nada. É um presente. — Luke disse a ele.
— Um presente? — Os olhos do menino cintilaram, então a excitação enfraqueceu. — Señor,
minha mãe não permitiria tal presente. Você já a pagou, muito generosamente.
— Eles podem ser pobres, mas têm seu orgulho. — Isabella disse suavemente para Luke. Ela
disse algo no idioma do menino, e Miguel girou para Luke surpreso. — É verdade, señor?
— Diga a ele que é verdade, Lorde Ripton. — Isabella disse com uma sugestão de um sorriso.

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— É verdade. — Luke disse, desejando que fosse. Ele não tinha nenhuma ideia do que ela
havia dito.
O rosto de Miguel se dividiu em um sorriso brilhante.
— Que lugar a Inglaterra deve ser! Obrigado, señor, que você tenha muitos bons
filhos, muitos bons filhos! — Ele disse a Luke entusiasticamente. —Minha mãe ficará tão feliz. Com
um burro eu posso pegar mais madeira pelo inverno. Com um burro nós podemos levar bens para
comercializar. Com um burro eu posso...
— Se tornar o homem da aldeia. — Luke disse secamente. — Não tenho nenhuma dúvida
disto. — Ele deu uma olhada rápida para Isabella. — Pronta?
Ela anuiu com a cabeça, e eles partiram, a comunidade de convento estava no portal dando
suas últimas despedidas.
Miguel e o burro correram juntos ao lado deles por um tempo, acenando, gritando e
desejando que eles tivessem ainda mais filhos bons, até que Isabella chamou Luke:
— Minha égua está um pouco fresca e precisa de uma corrida. Devemos galopar? — Sem
esperar pela resposta de Luke, ela gritou um adeus final para Miguel e persuadiu sua égua a um
galope. Ela montava muito bem.
Luke a seguiu, e em alguns minutos eles estavam a sós numa estrada estreita, seguindo
montanha a baixo, deixando o convento e a aldeia muito para trás.
Depois de um pouco, o caminho alargou e Isabella diminuiu a velocidade para um trote. Luke
levou sua montaria para o lado da égua de forma que os cavalos estivessem caminhando lado a
lado.
— Não acha isto muito cansativo?
Ela deu a ele um olhar surpreso.
— Não.
Eles caminharam em silêncio durante algum tempo. Para a surpresa de Luke, ficou claro que
ela não parecia sentir a necessidade de encher o silêncio com tagarelice. Claro, podia ser timidez,
nesse caso era incumbência dele puxar o assunto. Só que ele não conseguia pensar no que
conversar.
Ele pegou um frasco da água da fonte fria e a deu para ela. Ela a destampou, bebeu e
devolveu para ele com um “obrigada” murmurado.
Ele estava para beber, quando uma pergunta surgiu.
— O que você disse ao Miguel sobre o burro?
Ela deu uma risadinha de diversão.
— Só que é uma tradição inglesa o noivo dar um burro como presente… — Ela adicionou
com um vislumbre de travessura. — Assegurar que o filho, sabe, como os burros… Seja bem
dotado.
Luke, no meio da bebida, sufocou. Ela deu uma risada e montou adiante. Sua recatada noiva
do convento.
Cada vez mais ele estava esperando a noite ansiosamente.

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Eles montaram a manhã toda, ocasionalmente parando para descansar e dar água para os
cavalos e para Isabella esticar as pernas. Não que ela realmente precisasse disto. A égua andava
graciosamente e a sela se ajustava bem e era confortável.
A alegria de estar cavalgando de novo, respirando ar fresco, ar da montanha de pinheiros,
ajudava muito a acalmar seu espírito ferido, e o caminho estreito os forçava a viajar em fila
indiana na maior parte do tempo, o que tornava a conversa difícil. Longe de estar desapontada ou
chateada, ela se dava ao luxo de ficar a sós com seus pensamentos, sem alguém dizer: “Isabella
Ripton, está sonhando novamente?”.
Não que ela se deixasse sonhar mais. Ela havia desistido disto. Ou pelo menos, estava
tentando.
Mas ela teria que entrar no assunto logo com ele. Ela não iria acompanhá-lo para a
Inglaterra simplesmente. Ela tinha que ir a Valle Verde primeiro. Mas essa não era uma discussão
para se ter enquanto eles cavalgavam.
E havia o assunto da noite de núpcias. Que ocupava grande parte de seus pensamentos.
— Vamos parar aqui para almoçar. — Lorde Ripton disse, saindo do caminho para uma
clareira pequena. Era um lugar de aparência pacífica, com um córrego entre as pedras e remendos
da grama verde manchada pela luz do sol que filtrava por carvalhos e árvores de faia.
Lorde Ripton desmontou e foi ajudá-la, mas ela deslizou para o chão antes que ele pudesse
alcançá-la.
— Trouxe a comida do convento. — Ela disse, alcançando a bolsa.
— E eu tenho a comida da mãe do Miguel.
Eles fizeram um piquenique na grama, com pão, queijo, azeitonas e algumas fatias de
salsicha cheirosa, pungente. Pássaros minúsculos pulavam na grama, cantando esperançosamente
ao longe. Pintassilgos? Pardais? Ela não estava certa.
— Este lugar me lembra da primeira vez que nos encontramos. — Ela disse, mordiscando um
pão.
— Eu passei por aquele lugar antes de vir. — Ele deu uma olhada rápida nela e acrescentou:
— Nós não passaremos lá.
Ela desintegrou um pouco do pão e jogou para os pássaros. Ele pegou uma maçã e a fatiou
em oito pedaços, removendo o caroço. Ele cortou uma lasca de queijo, colocou um pedaço de
maçã nela, e passou para ela, preso na lâmina de sua faca.
— Coma.
Ela pegou e mordiscou. Era muito bom, a riqueza e o salgado do queijo contrastando com a
casca e o gosto ácido da maçã.
— Lorde Ripton, eu estava pensando, você notou que... — Ela começou.
— Eu disse que você me chamasse de Luke.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Ele esperou.
— Luke. — Ela repetiu obedientemente. — Eu estava pensando no sepulcro. Você viu?
— Não há nenhum sinal dele. — Ele disse a ela. — Parei lá brevemente a caminho do
convento. Não há sinal de qualquer coisa – apenas grama. — Ele a passou outra fatia de queijo e
maçã.
— Penso frequentemente naquele dia.
— Então, pare com isto. — Ele disse a ela firmemente. — Está no passado e deve
permanecer lá. Não há nada para se ganhar olhando para trás. Conte com o seu futuro, pense nas
crianças. — Ele passou outro pedaço de queijo e maçã.
Ele queria dizer herdeiros, Isabella pensou sombriamente, tomando a comida oferecida. Ele
estava provavelmente a alimentando com queijo e maçãs para engordá-la por causa de seu
propósito. Como a uma égua premiada.
Ela queria filhos, claro que queria, mas primeiro ela tinha que resolver seus negócios em
Valle Verde.
E ele estava errado sobre o passado. Era importante. Não se pode enterrá-lo como um corpo
e esperar que a grama cresça sobre ele e o faça desaparecer.
O passado forma quem se é. Não é saudável morar nele, mas deve-se aprender a viver com
ele.
Irmã Mary Stella, a freira irlandesa que havia tomado a jovem Bella sob suas asas quando ela
havia chegado a convento, havia ensinado isto.
— As coisas ruins acontecem, — Ela dizia. — mas é inútil fingir que elas nunca aconteceram.
Se você o fizer, elas criam uma ferida e crescem, e quanto mais você tentar escondê-las, mais elas
irão mandar em você.
A jovem Bella sabia que era verdade. Os pesadelos vinham toda noite.
— Então, traga de volta as coisas ruins depois de um tempo e dê a elas uma boa olhada.
Deixe-as ao sol. Imagine se elas tivessem acontecido à outra pessoa. Prometo que parecerá
diferente. Então, talvez você possa deixá-las ir, e se perdoar – sim, eu sei que você não fez nada de
errado, mas você não pode me dizer que não se culpa por ter deixado isso acontecer.
Ela estava certa. Bella se culpava.
— Todos nós nos culpamos, querida; não se preocupe. Mas ponha o passado na perspectiva
adequada e você deixará a culpa para trás, também. E conte com o futuro sem medo ou remorso.
— E a Irmã Mary Stella apertava a mão da Bella e dizia: — Eu sei que você terá um futuro
adorável, Bella, minha querida. Posso sentir isto!
Lorde Ripton deu a Isabella o último pedaço de maçã e cuidadosamente enxugou a lâmina
de sua faca limpa.
— Agora, se você terminou… — Ele ficou de pé e estendeu a mão para ajuda-la a ficar de pé.
— De fato, não — ela disse e se debruçou sobre as mãos atrás do corpo.
— Ainda com fome?
— Não, mas nós precisamos conversar.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Conversar? Nós não podemos fazer isto na estrada?


— Não. — Ela esperou, e eventualmente, divertindo-a, ele se sentou novamente.
— Antes de irmos para a Inglaterra, preciso ir para Valle Verde.
— De novo isso. Pensei que tinha sido bem claro...
— E foi, mas aparentemente eu não fui suficientemente clara com você. Tenho que ir para
Valle Verde por que...
— Você sente uma responsabilidade com as pessoas do seu pai, eu sei, mas confie em mim,
não há razão para a sua ida. Se você não possui mais a propriedade, não pode retificar sua
situação, e ainda que o fizesse...
— Eu podia enviar um agente para fazer o trabalho?
— Justamente.
— Bom, você está errado.
Ele arqueou uma sobrancelha.
— Desculpe, não entendi?
— Você pensa que eu quero ir e brincar de Boa Samaritana com os camponeses do meu pai
só para aparecer? Eu não quero. Nem tenho nenhuma intenção de interferir em como Ramón está
cuidando da propriedade. Conhecendo Ramón, apenas o deixaria bravo e, sendo Ramón, ele
descontaria em outra pessoa.
— Então, é algo que você deixou para trás?
— De certo modo.
— Então nós podemos enviar alguém para buscar.
— Não, nós não podemos. — Ela tragou. — Não é uma coisa. — Ela encontrou o olhar dele.
— É uma irmã.
— Uma o quê?
— Minha meia irmã. — Pronto, ela disse.
— Eu pensei que você fosse filha única.
— E sou. A única filha legítima. Perlita, minha meia irmã, é filha da amante do meu pai.
Ele fez uma carranca.
— Seu pai não cuidou da criança e da mãe?
— Sim. — Ela tragou. Era mais duro de admitir do que ela pensava. Até agora, apenas o
Padre Alvarez sabia de seu arrependimento, e isso estava sob confissão.
— Então o que...
Então veio tudo de uma vez, a coisa terrível que ela havia feito.
— Quando o meu pai estava morrendo, ele enviou uma mensagem para que eu fosse de
uma vez para o convento da minha tia. Ele disse que eu levasse Perlita e a mãe dela comigo, mas
eu não o fiz. A mensagem dele era clara, mas eu fingi que não havia entendido. E então eu as
deixei para trás. E foi por isso que eu fui atacada na estrada.
— O quê? — Ele a encarou. — Que relação pode existir entre deixar a amante e a filha do
seu pai para trás e você ser atacada?

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Eu desobedeci ao meu pai e abandonei a minha meia irmã à sorte, e é por isso que isto
aconteceu.
— Que tolice.
Ela agitou a cabeça.
— Não é tolice. Os homens que me atacaram sabiam sobre a mensagem do meu pai. Eu te
disse que eles estavam atrás das joias.
Houve um pequeno silêncio enquanto ele considerava a história.
— O que o seu pai dizia na mensagem?
— Que eu deveria ir de uma vez para o Convento do Anjo Quebrado com a minha tia – que
não é o nome correto do convento, você entende, mas aqueles que o conhecem chamam assim –
e que eu levasse as joias dele comigo.
— As joias dele?
— Era como ele chamava Esmerelda – sua amante – e Perlita. Uma esmeralda e uma pérola
– suas joias.
— Você está certa de que ele não queria dizer joias reais, joias da sua mãe, por exemplo?
Ela agitou a cabeça.
— Não, por então ele teria escrito “suas joias”, porque as joias pertenciam à mamãe e a
mim. Em todo caso, nós vendemos as joias da minha mãe para levantar dinheiro para equipar o
exército do meu pai.
— Você vendeu as joias da sua mãe?
— Claro. — Ela viu o olhar dele e encolheu os ombros. — Precisávamos de armas para lutar
contra os franceses, e nosso rei era um traidor fraco que havia dado o seu país para o inimigo. —
Ela notou a expressão dele e acrescentou: — Não foi tão duro. Eu não tinha nenhuma ligação
sentimental com a maior parte das joias – apenas com as pérolas. Eu nunca via a minha mãe usar
qualquer coisa além de suas pérolas. Foi um presente de casamento dos pais dela.
—Onde elas estão agora?
—Escondidas em lugar seguro em Valle Verde.
—Então você quer ir buscá-las.
—Não, as pérolas da minha mãe não são causa suficiente. Para ser honesta, eu não desejo
voltar lá. Não tenho nenhuma vontade de encontrar meu primo Ramón novamente, e minha casa
não é mais minha, não sem o meu pai. Mas eu prometi obediência ao meu pai, e quebrei a
promessa quando fugi de Valle Verde e abandonei Perlita e sua mãe ao destino.
— Você era uma criança de treze anos. — Ele a lembrou.
— Eu era responsável. E Perlita era – é – mais nova do que eu dois anos.
— A mãe dela não era mais jovem do que você. A adulta que ela era, era perfeitamente
capaz de cuidar de sua própria filha.
Isabella agitou a cabeça.
— Ela não foi criada para ser filha da família. — Ela disse, ouvindo a extremidade de
amargura na voz. — A mãe da Perlita é bonita e desmiolada. Ela era completamente dependente

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do meu pai em tudo. E ele legou essa responsabilidade a mim quando partiu. E então, enquanto
ele estava lá morrendo, me deixou o dever de… — A voz dela rachou, e ele completou o conto.
— Mas com o seu medo de ser forçado a se casar com o seu primo Ramón, você se apavorou
e se esqueceu delas.
Isabella deu uma olhada rápida para longe e não disse nada. O medo e o pânico eram
desculpas aceitáveis para uma garota de treze anos de idade. Deixe-o acreditar nisto. Era melhor
do que a verdade.
— Você fez investigações depois que entrou no convento?
— Sim, minha tia enviou cartas para Valle Verde várias vezes.
— E não recebeu nenhuma resposta?
— Não, mas em tempo de guerra, as cartas se perdiam. E se Ramón recebeu as cartas… —
Ela fez um gesto de desgosto. — Ramón não passaria nada para minha tia. Ele suspeitou de que
ela estivesse me escondendo, mas não havia nada que ele pudesse fazer.
Lorde Ripton pareceu ponderar a situação.
— O seu pai deu a Esmerelda e Perlita uma casa na propriedade. Elas devem estar lá. Onde
mais elas poderiam ir? Vocês eram próximas?
— O que isso importa? — Ela disse, uma nota defensiva na voz. Ela esquadrinhou o rosto
dele, tentando ler sua expressão. — O destino da minha irmã pesa na minha consciência. Eu devo
ir. — Ele não podia ver isto? Ele tinha que perceber, com certeza.
— Não, faz oito anos desde que você deixou a sua meia irmã para trás. Não há razão para
passear através da Espanha em uma perseguição inútil. Qualquer que fosse a situação dela
quando você deixou Valle Verde, faz mudou tempo que mudou, e eu não desejo atrasar mais a
nossa chegada à Inglaterra.
— Por causa desse seu compromisso importante?
Ele olhou para ela.
— Sim.
— O que é tão importante para vir antes do bem-estar da minha irmã? — Isabella esperou.
Ela havia desnudado a alma para ele – quase – e ele havia agido como se não fosse nada. E para
ele, talvez não fosse. Mas não para ela. Era uma questão de honra. E sangue.
— Não é importante.
— Claro que é importante já que você ignora a minha preocupação com a minha irmã por
essa causa.
— Eu quis dizer que não é uma preocupação sua. Tudo que você precisa saber é que eu fiz
uma promessa e pretendo mantê-la.
Uma menção indireta à promessa que ela havia quebrado com o pai? Deliberado ou não,
atingiu Isabella fundo.
— Então eu irei para Valle Verde por mim mesma e me juntarei a você mais tarde na
Inglaterra.

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Noiva por Engano

— Você não fará nada disso. Eu não terei a minha esposa vagando em um país estrangeiro
sozinha.
— Não é um país estrangeiro. A Inglaterra é o país estrangeiro para mim. Você pode
contratar guardas e uma duenna se não confia em mim.
— Não é uma questão de confiança. A discussão está acabada, e você me obedecerá. Se
ainda estiver preocupada com a sua meia irmã quando voltarmos à Inglaterra, enviarei alguém
para fazer investigações. Agora, vamos seguir caminho. Pretendo alcançar a cidade de Berdún
antes de anoitecer. — Ele ficou de pé e ofereceu uma mão imperiosa para ajudá-la.
Ela sabia que era infantil, mas se recusou a aceitar a mão dele.
Eles juntaram o restante de seu almoço e lavaram as mãos e o rosto no córrego frio da
montanha. Novamente, Isabella se lembrou daquele outro córrego do dia terrível, e como o
Tenente Ripton havia vindo e a tirado da água gelada e envolvido com sua camisa e a confortado.
Era duro de acreditar que ele fosse o mesmo homem.
A segunda metade do dia passou mais lentamente. Eles ainda montavam em silêncio, mas
era o resultado da repressão.
Bella estava chateada pela negação rude dele da necessidade dela de ir para Valle Verde. Ela
mesma não estava muito feliz com a ideia, mas quanto mais ela pensava, mais ela tinha que
aceitar que para ele, uma meia irmã bastarda tinha pouco significado.
E que o compromisso dele na Inglaterra era obviamente muito importante.
Se ela não compartilhasse as prioridades dele, era problema dela.

No final da tarde, um pouco de chuvisco leve começou. Isabella não fez nenhuma
reclamação; ela apenas pegou o chapéu azul e um capote de lã cinza de sua bolsa, colocou-os e
continuou montando. Luke não era tão otimista. O chapéu oferecia pouca proteção. A chuva
pegava nos cachos minúsculos que emolduravam o rosto dela. Gotículas cresciam em cachos em
suas pestanas. O capote velho e puído logo estava encharcado.
Que diabo a tia dela estava pensando, deixando-a iniciar uma jornada longa e difícil com tal
roupa inadequada? Era levar o voto de pobreza e simplicidade muito longe.
— Pare! — Luke disse a ela, e com um olhar perplexo, ela parou sua égua. Ele a alcançou,
arrancou o capote de Isabella e o jogou nos arbustos.
— O que você está fazendo? Esse é o meu capote. Você não pode...
Ele tirou seu sobretudo e o ofereceu para ela.
— Coloque isto.
— Mas...
— Não discuta. É mais morno e seco do que aquela maldita coisa puída que você estava
vestindo.
— Mas e quanto a você?

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Anne Gracie
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— Estou acostumado a estar no tempo. — Ele fechou as mangas para ela. — Agora abotoe
isto, até em cima. — Ele assistiu enquanto ela abotoava até a garganta, então anuiu com a cabeça
e foi à frente.
Eles passaram uma curva, e um pequeno agrupamento de casa entrou na visão.
— A aldeia de Biniés. — Luke disse a ela. — Passaremos a noite aqui.
— Pensei que você quisesse chegar a Berdún hoje à noite.
— Você montou o dia todo e está com frio, molhada e cansada.
Ela deu uma olhada rápida para ele.
— Você está mais molhado do que eu.
— Estou acostumado a isto. — Ele disse bruscamente. — Até em uma aldeia tão pequena,
deveria haver algum tipo de pousada, mas poderia ser um pouco espartano. Acharemos um
quarto e esperaremos a chuva passar. — E ele tinha planos pela noite que iria aquecer a ambos,
mais do que completamente.
Ela hesitou, e então disse:
— Dois quartos, por favor. — A pele dela estava pálida pela lua e molhada com chuva.
Ele puxou o arreio de seu cavalo e a encarou.
— Dois quartos?
Ela umedeceu os lábios frios, bagas escuras.
— Você me disse que esse seria um casamento de conveniência. — Ela pareceu nervosa,
mas seu queixo estava firme e resoluto. — Bem, não é conveniente para mim compartilhar uma
cama com você… Ainda.
Ela o estava castigando, Luke pensou, por sua recusa em deixá-la ir naquela perseguição
maluca atrás de sua meia irmã, filha da amante de seu pai.
Que ele se danasse se ele se aventurasse nas colinas selvagens que abrigaram a pior
experiência de sua vida. Já era ruim o suficiente ele ter que vir para a Espanha e ir buscá-la. Isso
havia provocado todos os tipos de memórias mal recebidas. Mas retornar às colinas onde Michael
havia morrido tão terrivelmente… E tudo por culpa de Luke. Não.
Além disso, pelo que ele podia ver, a história dela era tolice. Que homem esperaria que sua
filha de treze anos cuidasse de sua amante adulta e sua filha ilegítima? Mantê-las em sua
ausência, talvez. Mas escoltá-las através de um país saqueado pela guerra? Absurdo.
O homem nunca deveria tê-la deixado saber sobre elas em primeiro lugar.
Luke não deixaria que isso abrisse uma fenda entre eles. Este casamento já havia começado
de forma espinhosa e nada ortodoxa, mas ele estava determinado a fazer seu melhor. E dormir
bem com ela e frequentemente fazia parte deste plano.
Que se danassem os dois quartos. Ele abriu a boca para dizer isso e notou o branco nos
dedos dela de tanto apertar as rédeas. Ele deu uma olhada rápida para aquela boca. Ela o viu
olhando e tragou.
Oh, inferno! Ela estava nervosa, nervosa como uma noiva. Que diabo ele estava pensando,
planejando uma noite de amor apaixonado na primeira noite em que eles estavam juntos?

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Ela havia sido atacada quando criança. E havia passado os últimos oito anos presa com um
grupo de freiras. Ela provavelmente estava apavorada com a noite de núpcias.
Ele deu uma olhada rápida nela novamente, toda grande, olhos e boca dourados escuros,
magníficos, vulneráveis. Claro que ela estava com medo dele; assustada com o que acontecia
entre um homem e sua esposa nas alcovas.
Por um longo e sedutor momento, ele se entreteve pensado que seria melhor acabar com
isso, mostrar a ela que não havia nada a temer, apresentá-la a um mundo de prazer…
Uma olhada no rosto branco dela e o conjunto, e a marca apertada ao redor da boca, e ele
cedeu.
Era o próprio desejo dele falando, não as necessidades dela.
Droga!
Ele havia prometido sua amizade, e forçar uma noiva assustada até sua cama não era de seu
gosto. Ele olhou para a boca bonita com mais uma fisgada de remorso. Talvez mais tarde ele a
apresentasse ao prazer de um beijo. Seria algo, pelo menos. E quem sabe aonde isso poderia
levar?
— Não é, apesar de tudo. — Ela disse, surpreendendo-o. — Quando chegarmos à Inglaterra,
prometo que cumprirei com os meus deveres de esposa.
Meus deveres de esposa. Isso ajeitava tudo. O corpo dele poderia doer por ela, mas cumprir
com os deveres de esposa matou qualquer desejo que ele tinha de levá-la para a cama hoje.
Quando ele finalmente fizesse amor com ela, ele jurou, o dever seria a última coisa na
mente dela.
Eles acharam uma taberna pequena que acomodava viajantes. Era simples e rústica, mas
muito limpa.
— Dois quartos. — Luke disse ao atendente da taberna.

Sete

O quarto de Bella era pequeno e, aos seus olhos, encantador, aninhado sob os beirais
estreitos com paredes de pedra caiadas e um teto inclinado. O piso era de madeira nua com um
tapete de trapo encaracolado, um fogão de ferro fundido pequeno no canto e uma cama de
aparência mole com uma coberta vermelho claro. O melhor de tudo eram as duas janelas
pequenas que davam através do telhado ladrilhado para o vale abaixo, mas no momento a visão
era apenas um vislumbre de telhados molhados e uma névoa de chuva.
Era o mais distante de sua cela nua e estreita no convento que ela podia imaginar.

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Lorde Ripton pediu água quente e uma tina para ela e um fogo para iluminar o quarto.
Estava brilhando bem e com um calor aconchegante. Bella colocou sua roupa úmida para secar
diante do fogo e deslizou suavemente na água do banho soltando fumaça com um suspiro feliz.
Eu cuidarei bem de você, ele disse, e era verdade.
Poderia ter feito com que ela se sentisse mais especial se Lorde Ripton não tivesse feito
todos os seus cavalos serem bem escovados e ganhado feno fresco, e as ferraduras todas secas,
limpas e lubrificadas.
Lorde Ripton cuidava bem de todas as suas posses.
Bella Ripton, pare de sentir miserável por besteiras, ela disse a si mesma. Ele podia ser o tipo
de marido que bate na esposa insatisfeita. Ele poderia ser um visconde velho com sífilis. Em vez
disso ele era bonito, gentil e cuidava bem dela. E dos cavalos, e isso era bom, porque ela amava
cavalos.
Se ele era impessoal, teimoso e autocrático, isso não era nada para se reclamar. Ela não
tinha nenhuma razão para ficar melancólica. Ou até saudosa. Se ela estava, era apenas porque
estava cansada.
E porque por anos ela havia criado sonhos tolos, impossíveis sobre ele nos quais ele tinha
ações valentes e galantes, e tudo por causa de seu amor por Bella Ripton.
Não por ser seu dever.
A solução era clara. Parar de sonhar e seguir com a vida, sua vida de verdade. Com seu
marido real, não algum tipo fictício.
Ela terminou o banho e colocou outro vestido. Ela tinha acabado de fazer sua trança úmida e
estava ajoelhada diante do fogão, secando o cabelo, quando ouviu uma batida na porta.
— Entre. — Ela falou sem se levantar.
Ela ouviu a porta se abrir, e então nada. Ela se virou e o olhou sob a cortina do cabelo. Lorde
Ripton estava na porta do quarto, encarando-a. Uma garrafa e duas taças de vinho oscilando nas
mãos.
— Você quer algo? — Ela perguntou.
Ele se recompôs e entrou, fechando a porta.
— Você não queria jantar na área pública, então pedi que o jantar fosse servido no meu
quarto em quinze minutos. Espero que seja tempo suficiente para você. Trouxe um pouco da
bebida do nosso anfitrião, uma espécie de conhaque caseiro; somente um pouco de anis com uma
sugestão de café e baunilha. É diferente, mas muito aquecido. — Ele encheu metade da taça e
passou uma para ela.
— Obrigada. — Bella pôs sua taça no forno ladrilhado que cercava o pequeno fogão de ferro
fundido. — Quero apenas terminar de secar meu cabelo. Eu me juntarei a você em um momento.
Ele pausou, e então disse:
— Vou esperar. — Ele se sentou na cama dela e a assistiu.
Com ele em seu quarto pequeno, ele de repente parecia bem menor. Bella se sentia tímida.
Ele a assistia com intensidade muda enquanto ela corria os dedos pelo cabelo, separando as

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Anne Gracie
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mechas para ajudar o cabelo a secar mais depressa. Ficava muito ondulado com a umidade, um
pente ou uma escovava apenas o faria pior.
O jantar seria servido no quarto dele? Por quê? Seria uma refeição muito íntima. Ele não
tinha ficado de todo contente com a insistência dela de ter dois quartos. Isto era um plano para
conseguir ficar a sós com ela? Seduzi-la? Um frisson delicioso, uma mistura de nervosismo,
excitação e consciência correram através da pele dela.
Ela se curvou para baixo para secar o cabelo, e enquanto estava cercada por ele, o odor do
sabão do convento a atingiu. Ela havia lavado o cabelo na noite anterior. Agora ela sentia uma
fisgada de nostalgia.
Irônico quando por tanto tempo ela tinha ficado desesperada para deixar o convento.
— Você não gosta da bebida? — Ele perguntou, a voz funda fazendo um calafrio correr pela
espinha dela.
Surpresa por seu devaneio, ela pegou a taça e bebeu depressa. Ela tossiu com o gosto
agridoce do anis enquanto queimava através do caminho.
A boca dele se torceu em um começo de sorriso.
— Não está acostumada a beber?
— Não, nós sempre bebemos água, exceto nas celebrações da Eucaristia, claro. — Ela
admitiu. O líquido rico e afiado parou no estômago, aqueceu seu sangue, e ela se sentiu de
repente voraz.
O cabelo dela estava quase seco, então ela o prendeu e colocou alguns alfinetes.
Do lado de fora, a chuva se intensificou, batendo ligeiramente contra as janelas. O estômago
dela roncou. Será que ele havia ouvido?
— Que bom nós termos parados. — Ele observou.
Ela esperou que ele estivesse falando da chuva.
— Sim, obrigada. Foi muita consideração de sua parte.
Ela pegou um mantô, mas ele tomou dela. Ele ficou do lado dela e a envolveu com ele. Os
braços dele cercando-a. Ele estava barbeado. O odor lânguido da água-de-colônia a envolveu.
— Pronta? — Ele perguntou.
— Pronta. — Terminou em um chiado. Era o conhaque, ela decidiu.

Luke estava contente por ter organizado o jantar particular. Em uma aldeia com uma
taberna tão pequena, ele não estava certo de que eles pudessem administrar, mas o proprietário
e sua esposa se moviam com bastante energia, felizmente – não era nada demais para um lorde
inglês e sua esposa. O garoto do estábulo trouxe uma mesa pequena para o quarto de Luke, e o
proprietário os havia servido pessoalmente enquanto sua esposa cozinhara.
Foi um jantar notavelmente bom, também, para um lugar minúsculo, distante: sopa de
vegetais, guisado de lebre com figos, uma torta de ovelha, e uma omelete de bacalhau com ervas.

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Isabella comeu tudo diante dela com sabor, e ele se lembrou do que a Madre Superiora havia dito:
ela realmente tinha um apetite saudável. O que era um bom presságio para os planos dele…
A luz de vela dançava ligeiramente através do rosto dela, acariciando seus lábios cheios,
escuros, tornando os olhos charcos de mistério. Ela comia em silêncio, mas ele podia olhar para o
rosto dela a noite toda e não ficaria entediado.
Luke bebeu um vinho local com o jantar, achando-o muito seco para seu gosto, mas depois
de um gole, Isabella fez uma careta e o deixou de lado. Ele deu ao proprietário um sinal mudo, e o
homem anuiu com a cabeça e retornou depois de alguns momentos, dizendo a Isabella que sua
esposa tinha enviado um pouco de sua sidra de maçã doce para a jovem dama.
Isabella a saboreou com uma precaução que teria divertido Luke se ele não estivesse
completamente focado na boca a caminho de tocar a taça. Ela gostou, deu ao homem um sorriso
deslumbrante, e enviou um obrigado e elogios à esposa dele.
Ela algum dia sorriria assim para Luke?
O cabelo estava trançado alto na cabeça, enrolado ao redor do rosto em uma revolta de
mechas e cachos descendo ao redor das têmporas e da nuca. Solto à luz do fogo, tinha um cintilar,
era uma cachoeira sedosa de escuridão contra a delicadeza pálida da pele da nuca, sombras de
uma dúzia de ébanos se torcendo entre os dedos esbeltos como uma coisa viva.
Ele queria mergulhar os dedos na massa sedosa, espessa, colocar a boca contra aquela nuca
tenra. Em vez disso ele bebericou o licor, o gosto dele sempre o lembraria dela. Uma combinação
inesperada: escuro, ainda assim doce e afiado. Frio por fora; um ardor lento por dentro. Disparou
seu apetite.
Esse desejo inesperado e poderoso por ela era um presente. Ele não seria capaz de oferecer
a ela seu coração – que ele não tinha, menos que nada – mas um desejo honesto e sem grilhões
era, na visão de Luke, um substituto muito melhor.
Ela limpou o prato com uma casca de pão e deu um suspiro satisfeito.
— Obrigada, Lorde Ripton, estava delicioso.
— Luke. — Ele a lembrou.
O proprietário, irradiando, tirou os pratos e os substituiu com uma tigela de nozes, um prato
contendo dois tipos de queijo, e um prato com marmelada. Também trouxe a garrafa de conhaque
caseiro e mais duas taças.
Luke despejou para si mesmo um pouco do conhaque e, quando ela anuiu com a cabeça,
meia taça para ela. O proprietário os deixou a sós. Luke bebericou o conhaque e abriu as nozes
para ela, e Isabella fez pequenos bocados com uma fatia de queijo, e cobriu com a marmelada ou
as nozes.
A chuva havia aquietado, mas o vento assobiava. O fogo na pequena caixa de ferro
expulsava uma quantia assombrosa de calor. Eles estavam mornos, saciados e relaxados.
Próximo passo: seduzir sua esposa. Ele encarou a boca, lisa com licor quente, picante.
Ela passou para Luke uma fatia de queijo duro coberta com uma meia noz.
— Quando formos para a Inglaterra, iremos diretamente para a sua casa?

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Anne Gracie
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Ele se forçou a se concentrar na conversa. Isto, também, poderia seduzir.


— Londres, primeiro. Tenho uma casa em Grosvenor Square. Você precisará de roupas
novas, da cabeça aos pés. Uma orgia de compras. Você vai gostar. — Ele não deveria ter usado a
palavra orgia.
Ela deu a ele um olhar duvidoso.
— Hummm. Molly estará lá? — Ela mordiscou uma fatia de queijo de ovelha com
marmelada.
Ele a assistiu comer. Doçura e sal, suave e viciante. Ele tragou, então percebeu que ela havia
parado de mastigar e estava olhando para ele com um ar de expectativa.
— Hummm? O que foi?
— Molly. — Ela iniciou. — Ela estará em Londres, também?
— Sim, finalmente. — Ele se achou contando a ela sobre como Molly tinha ficado bastante
só enquanto a mãe dele estava em luto e Luke estava na escola, e como, enquanto Luke e seus
amigos estavam fora na guerra, Molly havia escrito para todos eles – cartas alegres, engraçadas,
afetuosas que erguiam seu humor.
— Você gosta muito dela, acho.
— Claro, ela é minha irmã.
Ela deu uma olhada rápida para longe, de repente muda, e ele soube que ela estava
pensando em sua própria irmã. Droga. Não era a mesma coisa mesmo.
— Molly é minha irmãzinha. — Ele disse a ela, tentando encobrir o silêncio desajeitado. —
Eu sou muito menos próximos de minhas irmãs mais velhas. Elas duas são muito mandonas. Ainda
bem que elas têm maridos e famílias que tomam a maior parte de suas energias.
— Você disse no convento que Molly fará o debute dela logo.
— Sim, isso mesmo.
— E haverá um baile? — Um ponto minúsculo de marmelada brilhava na quina de sua boca.
Luke a encarou famintamente.
— Claro, em seu aniversário, quatro de abril. Ela e minha mãe estão planejando isto há
meses.
— Não falta muito para quatro de abril. Você pode não voltar para a Inglaterra a tempo. — A
língua dela escapou e pegou a marmelada.
Luke respondeu sem pensar.
— Nenhum perigo. Prometi a ela. — Ele cessou bruscamente. — Há bastante tempo. — Ele
terminou rigidamente.
Mas o dano estava feito.
— Esse é o seu compromisso muito importante, não é? — Ela disse tranquilamente. — O
baile da sua irmã. — Os olhos dela reluziam.
Ele sabia que era muito tarde, mas se achou dizendo:

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— É um dos vários compromissos importantes, mas sim, eu a prometi quando ela era uma
garotinha que eu estaria lá para dançar com ela em seu primeiro baile. Eu não quebro as
promessas se puder evitar.
— E uma dança com a sua irmã é mais importante do que a segurança da minha. — Ela
dobrou seu guardanapo deliberadamente e se ergueu. Ele se moveu para puxar a cadeira dela
para trás, mas ela ergueu as mãos e recuou como que para repeli-lo. Os olhos estavam
queimando. — Boa noite, Lorde Ripton — Ela disse friamente e saiu do quarto.
Maldição, maldição, maldição!
Luke despejou para si outra taça de licor. Não havia nenhum ponto em segui-la. Luke sabia
que quando uma mulher estava tão brava, palavras suaves não acalmariam a situação.
Especialmente já que ele não tinha nenhuma intenção de voltar atrás.
Mas droga, o que raios o havia possuído, deixar escapar a razão do seu desejo de voltar para
a Inglaterra? A única razão que ele estava preparado para admitir, de qualquer modo.
Ele não iria sequer pensar na razão verdadeira.
O bobo que era, estava tão tomado de luxúria, encarando a boca tão bonita, madura e
pensando em beijá-la, ele tinha falado sem querer do baile da irmã para a única pessoa que se
importaria. Maldição!
Ele virou a taça e se preparou para a cama.
Ela estava brava agora, mas com o tempo ela o perdoaria. Ou pelo menos se recuperaria.
Assim que estivesse em Londres, ficaria distraía pelo vendaval de compras – Não.
Se Molly estivesse faltando, nenhuma quantia de compras poderia distraí-lo. Nada poderia.
Mas ele poderia satisfazê-la. Ele contrataria homens, homens confiáveis, fidedignos que
descobririam o paradeiro da irmã dela e reportariam a situação. E se a irmã dela precisasse de
ajuda, se ela precisasse ser salva, dinheiro, ou ajuda de qualquer tipo, Luke a forneceria. Ela
poderia até ir viver na Inglaterra se Isabella a quisesse lá. O que fosse necessário.
Desde que Luke não tivesse que ser o detetive.
Já era ruim o suficiente ele ter que retornar a Espanha para ir buscar Isabella. Ele não ficaria
um momento a mais do que o necessário.
Cada visão, odor e som na Espanha eram lembranças de coisas que ele queria esquecer.

Então esse era o compromisso urgente dele! Um baile! Uma dança! Bella esmurrou o
travesseiro. A dança era mais importante do que a irmã dela!
Ela estava muito preocupada que os rumores fossem verdade. E se Ramón tivesse chutado
Esmerelda para fora da propriedade, e movido Perlita para a casa principal e a forçado a se tornar
sua amante, então Bella era em parte responsável.
Ramón não podia ter Isabella, então havia tomado sua irmã.
Por vingança? Como refém?

** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis.
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Ela não sabia. Mas era sua culpa que Esmerelda e sua filha tivessem ficado vulneráveis e
desprotegidas.
Ela não os havia deixado pata trás por medo e pânico. Nada muito desculpável. Ou
perdoável.
Tinha sido ciúme, ciúme puro. E despeito.
Agora ela estava cheia com remorso pelo que tinha feito aos treze anos de idade.
Ela ficou lá na cama larga, suave, viajando, com o vento batendo as cortinas e pensando na
criança que ela havia sido. Ela não havia percebido o quão só ela havia sido até que havia ido para
o convento e teve meninas de sua idade para conversar.
Na maior parte de sua vida ela tinha a companhia principal de sua mãe, e então, depois que
a mãe havia morrido, havia apenas o pai. Ela o adorava e pensava que era a menina de seus olhos.
Até que ela o havia visto com Perlita.
Ela se enrolou em volta do travesseiro suave, lembrando do dia em que ela havia sabido pela
primeira vez sobre Esmerelda e Perlita, a segunda e secreta família dele, protegida no vale vizinho.
Era o ano seguinte a morte da mãe dela. Nos meses seguintes, o pai dela havia levado Bella
com ele para todos os lugares. O país estava em desespero, ele disse, e a família real os havia
traído. Logo ele teria que partir para lutar nas montanhas, e os homens mais jovens iriam com ele.
Enquanto ele estivesse fora, a propriedade seria responsabilidade de Bella.
Ele a havia ensinado a atirar, caçar, sobreviver em qualquer situação, caso os soldados
inimigo viessem novamente, ela não ficaria na casa como a mãe dela havia feito; ela iria para as
colinas e se esconderia lá. Ele havia ensinado a Bella tudo o que ele podia sobre como se gerenciar
a propriedade, instruindo-a, testando-a, trabalhando-a sem remorso.
Bella não se importava. Ela sentia falta da mãe desesperadamente, mas o pai nunca a havia
dado tanta atenção enquanto ela estava viva, e ela adorava ser tão importante para ele. Ela havia
trabalhado, estudado e praticado duro, chegado ao esgotamento para agradá-lo.
E agradá-lo ela conseguia, de vez em quando. Ela nunca se esqueceria do dia em que ele
havia batido levemente na cabeça dela e dito a ela que ela era quase tão boa quanto um filho. O
coração dela inchou com orgulho. Quase tão boa quanto um filho. Orgulho vindo do pai dela era
raro.
Ela não tinha beleza, o pai dela dizia, mas com fortuna e treino da mãe, ela seria uma boa
esposa para o herdeiro. O herdeiro, no caso, era o filho do irmão dele, Felipe.
Felipe, o pai dela havia dito, era um defeituoso e desajeitado, mas inocente. Ele teria filhos
com ela, e ela cuidaria da propriedade como o pai dela havia ensinado, e o futuro da linhagem do
pai dela estaria seguro.
Doze meses, Isabella pensou, enrolada na cama na pousada da aldeia; um ano ela havia
vivido em uma ignorância gloriosa, a garotinha do papai, emocionada por ser quase tão boa
quanto um filho.
E então ele voltou para casa depois daquele tempo, em Barcelona. Ele normalmente a trazia
algo quando estava fora – frequentemente era um doce, uma vez era um livro de como fazer a

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contabilidade, e uma vez, em um dia para nunca-se-esquecer, ele a trouxe uma linda tira rosa para
o cabelo.
Neste dia ele havia deixado suas bolsas na entrada e ido diretamente ao escritório para se
consultar com seu capataz. Isabella havia esperado do lado de fora, escutando o estrondo das
vozes. Ela estava impaciente para saudá-lo, desejando que ele houvesse trazido algo.
As bolsas do pai dela estavam lá. A porta estava aberta. Bella ficou tentada a espiar.
O que ela viu havia tomado sua respiração – uma boneca de porcelana de cabelo dourado, a
coisa mais bonita que ela já havia visto na vida, com um vestido rosa aveludado, com renda de
verdade, tão bonita que quase a fez gritar.
Na última vez o pai dela havia trazido uma roupa de montaria elegantemente trabalhada, e
claro, Bella havia ficado feliz, ainda que esse fosse o tipo de coisa que se dava a um filho. E ela
amava montar.
Mas esta boneca gloriosamente bonita era para uma filha, uma filha muito amada. Ela não
sabia o que a emocionava mais – a beleza da boneca, ou que o pai dela havia pensado em trazer
algo tão adorável, tão especial. Fez com que todo o trabalho duro tivesse valido a pena.
Cada detalhe da boneca era perfeito, até as minúsculas unhas rosa e ovais em suas mãos de
porcelana. Os sapatos eram de couro, de um rosa pálido, presos com botões de pérola minúsculos,
e ela usava meia-calça branca feita de seda. Ela até usava um colar feito de pérolas minúscula –
como as pérolas da mãe dela, agora de Bella.
Os olhos da boneca eram azuis claros, com pestanas longas feitas de cabelo de verdade. A
boneca parecia sorrir para Bella, como uma amiga, uma irmã. Ela abraçou a boneca. Ela sempre
tinha desejado uma irmã. Ela chamaria a boneca de Gloriana.
Ela ergueu o vestido para ver o que a boneca usava por baixo – e ouviu um som na porta.
Alguém estava vindo. Depressa ela empurrou a boneca de volta para a bolsa do pai e foi apressada
para longe.
Ela teria todo o tempo no mundo para brincar com sua boneca.
Ela havia colocado seu vestido mais bonito e esperou até a hora do jantar com excitação mal
escondida.
— Você tem sido uma boa menina, Isabella?
— Sim, papai. — Ela se sentia quase doente com antecipação.
— Eu trouxe algo para você de Barcelona. Você quer saber o que é?
As mãos dela estavam tremendo.
— Sim, por favor, papai.
Ele a deu um pacote, quadrado e pesado, muito pequeno para ser a boneca.
— Bem, vá em frente, abra.
Ela desembrulhou. Era um livro; Equus, cuidado e tratamento de cavalos. Perplexa, ela deu
uma olhada rápida no pai, pensando talvez que ele estivesse brincando com ela e mostraria a
boneca em um minuto.
— Isto é tudo, papai?

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Ele riu, e por um momento Bella pensou que ele havia feito uma piada com ela, porque o pai
dela não ria muito frequentemente.
— Não, claro que não é tudo. Agora, onde eu coloquei? — E ele começou a bater levemente
nos bolsos.
E Bella riu com ele, rindo muito ruidosamente com alívio e encantada pelo pai estar
brincando com ela, quando normalmente ele era tão sério.
— Ah, aqui está. — Ele puxou do bolso um pacote pequeno.
O riso de Bella morreu. Ela olhou o embrulho. Ela sabia o que ele continha, e não era uma
boneca.
— Pensou que eu havia esquecido do seu gosto por doce não é? — Ele a deu o pequeno
pacote de doce. — Agora, venha e dê um beijo no seu pai e então corra para cima com os seus
tesouros.
Bella beijou a bochecha dele e murmurou um “obrigada”. Ele cheirava a água de água-de-
colônia. Ele havia se barbeado. Ela vagamente o reconhecia quando ele colocava sua roupa de-ida-
para-a-igreja. Mas não era domingo, e de qualquer maneira, o pai dela era um devoto relutante no
máximo, apenas frequentando em ocasiões especiais.
Ela não correu como foi dito, mas rastejou para fora e assistiu enquanto o pai dela tinha seu
cavalo favorito trazido dos estábulos. Ele montou, então um dos empregados pegou dois pacotes
grandes e os amarrou. Um dos pacotes era do tamanho exato de uma boneca.
Sem saber bem o porquê, Bella escapou para os estábulos e selou seu próprio cavalo.
Ficando um pouco a distância, ela seguiu o pai até o vale vizinho e o assistiu ir até uma cabana
pequena numa colina; era uma cabana bonita de pedra caiada, com gerânios brilhantes
florescendo nas janelas e em panelas pelo terraço.
Estranhamente, apesar de ser bastante próximo de casa, Bella nunca tinha visitado este vale.
Ela havia cavalgado com o pai ao longo de quase cada centímetro da propriedade. Era o que ela
havia pensado. Quem vivia aqui?
Ela esperou por entre copas de árvores de vidoeiro, assistindo enquanto um empregado
corria para fora e tomava as rédeas e os pacotes enquanto o pai dela desmontava. Então a porta
da frente abriu e saiu uma garotinha bonita. Um ano ou pouco mais jovem do que Isabella, e
estava vestida toda de rosa e branco. Ela correu em direção ao pai dela, os cachos longos e
brilhantes amarrados com tiras rosa pulando atrás dela.
Para a surpresa absoluta de Bella, o pai dela ergueu a pequena menina e a balançou,
guinchando, em um arco largo. E então ele a beijou calorosamente em cada bochecha e a abaixou.
O pai dela nunca havia balançado Isabella no ar em toda a vida. E se Bella já tivesse alguma
vez guinchado daquele modo comum, ela teria sido ralhada por isto.
Uma mulher saiu apressada, também muito bonita e graciosamente vestida. O pai dela
abraçou-a, e deu um beijo em cheio na boca da mulher. O beijo continuou para sempre.

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A menininha devia ter achado, também, porque puxou a manga do pai dela
impacientemente. O pai dela odiaria isto, Bella pensou com um jato de satisfação. Ela esperava
que o pai acabasse com a falta de modos da criança.
Mas para o assombro dela, o pai dela riu – realmente riu de ser tão rudemente interrompido
– e bateu levemente na cabeça da criança. Ele tomou os pacotes do empregado esperando e deu
um para a mulher e o outro para a menininha.
Ela se sentou – na grama com seu lindo vestido rosa e branco! E ninguém a repreendeu por
isto! Ela rasgou o pacote e deu um grito encantada e pegou… Gloriana.
Abraçando a boneca firmemente, ela saltou e correu para o pai dela novamente, e ele a
ergueu e a boneca, rindo enquanto ela dava beijos por toda parte seu rosto. Por toda parte seu
rosto, e ainda assim o pai dela estava rindo.
Então, segurando a menininha em um braço – embora ela fosse extremamente grande para
ser carregada – ele deslizou o outro braço em torno da mulher e eles entraram na casa juntos.
Como uma família.
Bella assistiu com os olhos queimando, amargos. Ela se sentia com náusea, furiosa e traída.
E ela odiava a criatura bonita e repugnante de branco e rosa que havia roubado sua boneca.
E o pai dela.

O pai dela retornou para casa no final do dia seguinte. E quando Bella correu para saudá-lo
como aquela menina tinha feito ele fez uma carranca e disse a ela que não era digno correr assim,
e perguntou se ela tinha sido uma boa menina e estudado o livro. Nenhum abraço ou mesmo um
beijo, apenas uma batida leve na cabeça.
Um dos empregados devia ter dito a ele que Bella havia perguntado sobre as pessoas que
viviam na Casa Branca no vale vizinho, porque o pai dela chamou-a em seu escritório e explicou
que a senhora e sua filha eram parentes.
Bella não acreditou. Parentes visitavam. Não se escondiam no vale vizinho. Não que ela se
importasse com quem a senhora e a menina fossem; ela as odiava.
Foi só mais tarde, quando ela tinha doze e o pai estava partindo para lutar nas montanhas,
que ele havia dito a verdade; que ela era velha o suficiente para entender que muitos homens
tinham amantes, e sem dúvida o marido dela teria uma, também, mas ela não deveria se
preocupar com isto.
Tais coisas nunca eram discutidas ou até mesmo reconhecidas por damas em uma sociedade
educada, e ela nunca deveria mencionar Esmerelda ou Perlita para ninguém além dele. Se fosse
necessário mencionar em uma carta ou mensagem, ele se referiria a elas como suas joias – sua
esmeralda e sua pérola.
Bella devia ter parecido azeda com isto, porque o pai dela tomou a mão de Bella e explicou
que a amante e quaisquer crianças que ela tivesse deveriam ser cuidadas e que, claro – era dever

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do homem fazer isso – mas não eram sua família verdadeira. Perlita, a menina, era sua meia irmã,
mas Isabella era mais importante para ele do que Perlita poderia ser um dia.
Bella não acreditou em suas garantias. Ela havia visto os abraços, beijos e a boneca, e ao
longo dos anos havia existido muitos outros presentes – ela sempre se movia furtivamente para
dar uma olhada nas bolsas dele sempre que ele retornava, e as coisas que ele trazia para Perlita
eram sempre muito melhores do que os presentes para Bella. Ela sabia qual a filha era dever do
pai e qual filha recebia seu amor.
Mas ela prometeu fazer seu dever por Esmerelda e Perlita e se certificar de que elas
estariam bem cuidas na ausência do pai dela. Prometeu fielmente.

Depois de uma noite de sono espasmódica, Luke despertou para um amanhecer cinza e frio.
Sob circunstâncias normais ele ficaria de pé, tomaria café e continuaria sua jornada, mas agora ele
tinha Isabella para pensar.
Ontem tinha sido um dia longo, duro para ela, emocional e fisicamente. Deixar a casa em
que havia vivido por oito anos devia ter sido um arranco, ela estaria dura e dolorida por montar o
dia todo. Ele a deixaria dormir tão tarde quanto ela quisesse.
E com uma boa noite de sono e um café da manhã cordial, ela poderia estar em com um
humor melhor.
Ela teria um acesso de raiva ou dois, ele estava certo, mas ele permaneceria firme. Ele era o
marido, afinal, e o papel dela era obedecer. Outros três ou quatro dias de viagem e eles
alcançariam San Sebastian, e de lá, dependendo dos ventos, poderiam voltar à Inglaterra em
pouco mais do que um dia.
Ele estava deitado na cama, cochilando por outras duas horas, e as nove ele se ergueu,
lavou, vestiu, guardou suas coisas e foi para o andar de baixo. Ele pediu o café da manhã – um café
inglês adequado com ovos, presunto e fatias fritas e espessas da salsicha local picante. Não se
podia montar por horas com uns pãezinhos e café.
Luke terminou de comer, tomou uma terceira xícara de café, e deu uma olhada rápida no
relógio. Era hora de ela despertar. Ele chamou a proprietária. Ele a enviaria lá para cima para
despertá-la – Não. Ele tinha se imaginado despertando Isabella, e vê-la toda morna e sonolenta na
cama.
A proprietária entrou.
— Sí, señor?
— Outro café da manhã, por favor. O mesmo, só que desta vez numa bandeja.
Ela irradiou.
— Outro, señor? Você deve estar muito faminto.
— É para minha esposa. — Luke indicou com a cabeça o andar de cima.
A mulher fez uma expressão perplexa.

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— Sua esposa, señor? Mas ela já comeu.


— Já comeu? Quando?
— Antes de partir, señor. Ela bebeu uma xícara de café e pegou um pouco de jamon8, pão e
maçãs para sua jornada.
— Antes de ela o quê? Quando foi isto?
— Logo depois do amanhecer, señor. — A mulher hesitou com a expressão dele e trançou o
avental entre os dedos preocupados. — Espero que não tenhamos feito nada de errado, señor. Ela
disse que era para deixá-lo dormir, que você sabia aonde ela estava indo.
— Eu realmente sei. — Luke rosnou. O maldito Valle Verde.
— Pensei que era estranho, uma senhora tão jovem viajando só sem guardas ou duenna, e
vestida como estava, mas… — Ela encolheu os ombros. —Os ingleses são diferentes de nós. — Ela
soou agradecida pela diferença.
— Traga o meu cavalo. — Ele retrucou. Ele subiu os degraus para o quarto dela de três em
três e abriu a porta, só para verificar se a história era verdade. Vazia. A cama estava arrumada e
um fragmento dobrado de papel estava no centro. Ele o pegou.
Querido Lorde Ripton...
Droga, quantas vezes ele tinha que dizer a ela para chamá-lo de Luke?
Eu me desculpo por partir assim. Por favor, acredite que eu tenho toda a intenção de honrar
meus votos de casamento...
Luke bufou.
... Mas como eu te disse repetidamente, tenho um dever com a minha meia irmã, da mesma
maneira que você sente que deve manter a sua promessa com a sua irmã, Molly. Vou agora para
Valle Verde fazer o que devo. Depois me juntarei a você em Londres.
Como diabos ela imaginava que conseguiria fazer isso? Ela não tinha nenhum dinheiro que
ele soubesse.
... Por favor, não se preocupe comigo. Meu pai me ensinou como viver da terra e sobreviver
nas montanhas, como os camponeses fazem. Sua obediente...
– Não, ela riscou obediente – ela tinha esse direito, pelo menos – ... Esposa, Isabella Ripton.
Luke esmagou a nota no punho.
Viver da terra como os camponeses só sobre o cadáver dele.
Ele agarrou sua mala – graças a Deus ele já havia guardado tudo – e saiu como uma
tempestade para o andar de baixo. Ela tinha três horas na frente dele, mas o cavalo dele era mais
rápido e mais forte, e com alguma sorte ele a pegaria antes do fim do dia.
Ele bateu uma pilha pequena de moedas para pagar por suas acomodações e abriu a porta
da frente. E parou.
Metade da aldeia parecia ter acompanhado o cavalariço que trazia seu cavalo. Eles estavam
de pé esperando, sorrindo amplamente, cutucando um ao outro, e assistindo-o como se ele fosse
o circo que tinha acabado de chegar à cidade.
8
Nota da Revisora: Presunto, em espanhol.

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E então ele viu o porquê e xingou.


Maldita, maldita, maldita! A raposa espertinha!
— Vá buscar outra sela! — Ele estalou.
O cavalariço sorriu amplamente.
— Nada mais na vila, señor. Nenhuma outra sela, nenhum outro cavalo, apenas burros. —
Um coro de concordância feliz dos aldeões.
— Apenas burros.
Luke xingou novamente, longa e amargamente.
O coro de comentários que seguiu foi que todos concordaram que era maravilhoso ouvir um
inglês com tal domínio excelente de espanhol, ainda que seu sotaque andaluz fosse
desafortunado.
Ele jogou seu baú para o cavalariço sorridente amarrar, e então percebeu que montar neste
cavalo não seria tão simples quanto normalmente era. E que todo mundo estava esperando para
vê-lo lutar e fazer isto só.
— Certo, então. — Ele rosnou. — Qual dos bastardos vai me dar o impulso?
Houve várias pessoas se empurrando, cada aldeão queria ser aquele que impulsionaria o
lorde inglês na sela de mulher.
Pernas se dobraram nitidamente na frente dele, Luke montou em perseguição à sua esposa
com o máximo de dignidade que conseguiu reunir.
O que era nenhuma.
Ele estava sendo seguido por uma tribo de moleques, com risos e apoios dos aldeãos
assistindo.
Ele estrangularia a moça quando a alcançasse.
Se ele não quebrasse seu maldito pescoço nesta montaria primeiro.

Oito

A névoa fria da manhã batia nas bochechas de Isabella, agarrando em suas pestanas e
criando um véu de contas cor de prata cintilante no casaco áspero de seu cavalo. Eles estavam no
lado frio da montanha onde o sol ainda não havia tocado. A névoa estava suspensa espessa nos
vales, imóvel.
Eles trotaram ao longo do caminho pedregoso e estreito que rodeava as colinas. As árvores
do inverno nu estavam totalmente cauterizadas, suavemente borradas pela névoa. O silêncio era
quase tímido, quebrado apenas pela escotilha suave e ocasional de uma criatura surpresa
mergulhando para se cobrir, ou uma batida súbita de asas.
Ela estava só, só no mundo.

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Liberdade. Ela respirou fundo. O ar puro e gelado a mordeu. Ela estremeceu, puxou mais o
casaco que Lorde Ripton havia colado ao redor dela, e persuadiu seu cavalo um pouco mais
rápido. Seria melhor que ela fosse para o sol novamente.
Ela sentiu uma pequena pontada de culpa ao tomar o casaco, assim como o cavalo dele, mas
ele havia jogado o capote dela fora e dado esse para ela vestir, então o que mais ela podia fazer?
O casaco estava morno e suave, com um pouco de cheiro de cavalo, e dele, uma fragrância limpa,
masculina. Terrivelmente agradável.
O sol matutino dourava as pontas das colinas através do vale. No convento elas estariam
acabando as orações matutinas e se reunindo caladas para o café. Oito anos, o mesmo café da
manhã: pão assado do convento, água fria da nascente. Só o frescor do pão variava. E nos dias
mais sombrios – ainda bem que estavam no passado – a quantidade.
Se o pão estava passado, Dolores novamente se recordaria de seus dias tranquilos no
convento em Aragon onde as freiras faziam bolos e pudins deliciosos com as gemas dos ovos
dados a elas pelos vinícolas locais que usavam as claras para clarear o vinho.
Dolores começaria a descrever os bolos, e então Luisa diria que ela ficasse quieta, que só as
estava deixando mais miseráveis. Então, Alejandra começaria a falar sobre chocolate e como era
selvagem começar o dia sem ele. E então uma das irmãs diria que elas ficassem quietas, que a
manhã era a hora de contemplação do dia, e não para se tagarelar sobre coisas mundanas.
Isabella sorriu, pensando em todas, e como todo dia era o mesmo, variações do mesmo
tema. Ela provavelmente nunca veria algumas delas novamente. E como esse pensamento era
estranho. O convento tinha sido sua casa por oito anos; as mesmas pessoas dia sim e outro
também, a mesma rotina, a mesma comida, as mesmas conversas, havia dias em que ela estava a
ponto de gritar.
Ela estava tão desesperada para partir, que nunca havia pensado no convento como sua
casa. Só agora que ela havia partido de lá para sempre que ela começava a perceber isto.
Agora ela não tinha nenhuma casa mesmo.
Valle Verde? Não, essa não era sua casa. Não pertencia mais a ela, e ela não pertencia lá.
Ela não pertencia a nenhum lugar.
Legalmente ela pertencia a Lorde Ripton. Sua casa era com ele.
Porque aonde quer que tu fores9… Outra pontada de culpa. Seguramente a Bíblia tinha algo a
dizer sobre salvar irmãs. Mas ela não podia pensar em nada. Esse é o resultado de não prestar
atenção às aulas, uma freira disse em sua mente. Uma má aluna e uma má esposa.
Ela não era realmente esposa dele. Não ainda. Não até que o casamento fosse consumado. E
ela não estava fugindo dele, apenas vendo sua irmã primeiro.
Se ele não tivesse sido tão intransigente…
Que tipo de prioridades o homem tinha? O bem-estar de uma irmã admitidamente ilegítima
– sim, na verdade, uma meia irmã – ou uma dança!
Uma dança! Não dava para acreditar.
9
Nota da Revisora: Referência bíblica, Ruth 1-16.

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Ela pensou em sua irmã. A dança poderia ser uma razão frívola para Isabella, mas não para
Molly. Seu primeiro baile, sua primeira dança, seu debute. Era especial.
Não era a dança que era importante; era a promessa que ele feito para sua irmã, sua amada
irmã mais nova.
Um homem que não levava as promessas de forma leviana.
Isabella fez sua própria promessa, ainda que sua irmã não fosse amada.
Amar, honrar e obedecer.
Ela honraria essas promessas, também, ela fez um voto mudo. Ela seria uma boa esposa. Só
que não ainda.
Ela arredondou uma curva, e um pequeno grupo de pássaros reunidos sobre o corpo de
alguma criatura morta no chão ergueu no ar com batidas violentas de asas. Surpreso, o cavalo dela
mergulhou para trás. Um dos cascos traseiros dele deslizou, e ele se moveu desesperadamente
para ficar livre do caminho pedregoso e estreito.
Bella se agarrou a ele com as coxas e se jogou sobre seu pescoço, forçando-o adiante e
abaixo. Por dois longos e ofegantes segundos, ela temeu que eles mergulhassem o declive
íngreme no desfiladeiro, mas ele achou os pés no chão e partiu, emitindo alguns bufares altos e
indignados.
Bella deu um suspiro de alívio e se endireitou, o coração ainda batendo forte. Ela não
conseguiria ter feito isso na sela lateral. Não tão facilmente.
Neste lado da montanha o sol matutino brilhava morno. O sol já estava bem no alto. Agora o
marido dele estaria descobrindo que sua única opção era montar na sela lateral.
Ele estaria furioso, isso não precisava dizer, mas ele viria atrás dela, ou faria o que ela
sugeria na nota, e seguiria para a Inglaterra? E ele tentaria montar o cavalo?
Ela sorriu. Lorde Ripton não seria pego montando em uma sela de mulher. Nenhum homem
iria.
Ele passaria o pente fino na aldeia e descobriria que não existia nenhum outro cavalo, muito
menos sela – o cavalariço a havia assegurado que havia apenas burros na aldeia, nem mesmo uma
mula, e ela não podia imaginar Lorde Ripton em um burro, não com aquelas pernas longas.
Ele teria que ir para a cidade vizinha buscar uma sela ou fazer um passeio em pelo, o que ela
duvidava muito que ele faria. Ir em pelo era para emergências e pequenas distâncias, mas um dia
inteiro seria muito duro.
O que quer que ele fizesse, ela tinha uma excelente vantagem, e apesar de ela não conhecer
bem as estradas, tudo o que ela tinha que fazer era manter o leste, e as montanhas e o sol diriam
a ela onde o leste estava.
Valle Verde ficava a mais ou menos dois dias daqui, ela achava; três se ela calculasse mal. A
terra ao redor poderia ser pouco conhecida, mas as montanhas estavam em seu sangue. Era tão
bom deixar para trás as paredes do convento alto, com nada entre ela e o horizonte.

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Ela não estava certa de onde dormiria hoje à noite. Talvez ela pudesse achar um celeiro ou
um local desabitado. Ela estava um pouco nervosa com a perspectiva, mas o pai dela havia
ensinado a viver da terra, ela se lembrava, ainda que fizesse mais de oito anos.
Como seria viver na Inglaterra? O pensamento era mais enervante do que a possibilidade de
ter que dormir sob uma ponte. Mas ela sempre havia sonhado em ir para a Inglaterra. A mãe dela
era meio inglesa, afinal, e Bella tinha vagas memórias de um avô inglês alto com barba negra que a
havia dado uma estátua de um golfinho pequeno esculpido num osso de baleia e havia contado
histórias maravilhosas. Ele havia morrido não muito depois da mãe dela, o pai dela havia dito.
Ela estremeceu. Quase todos os parentes dela estavam mortos. Tirando o repugnante
Ramón, e alguns primos distantes que ela nem sequer conhecia, havia apenas o Reverendo Mo –
não, apenas tia Serafina no convento, e Perlita.
Era por isso que ela estava tão desesperada para achar Perlita? Ela mal conhecia a meia
irmã. Ela a havia odiado pela maior parte da vida. E ainda assim agora ela estava arriscando tudo
para achá-la.
Por quê? Sentimento de família? Ou culpa e compensação? Um pouco de cada? Bella não
sabia. A mãe costumava dizer que Bella devia sempre tentar escutar seu coração e fazer o que ela
pensava ser o certo. A mãe dela que havia escutado o coração e se casado com o pai de Bella – e o
que isso a havia trazido?
Direito ou não, tudo o que Bella sabia era que antes de ela começar sua nova vida como
esposa de Lorde Ripton, ela tinha que ter certeza de que Perlita estivesse bem. Ela estava
determinada a ser feliz com Lorde Ripton, construir uma boa vida na Inglaterra e ser uma boa
esposa, e ela não poderia fazer isso com Perlita em sua consciência.
E isto, Bella pensou desolada enquanto contornava a montanha com luz solar cheia,
brilhante, era a resposta para sua pergunta.

Andar em uma sela lateral tinha levado um tempo para se acostumar, Luke decidiu, mas já
que um homem não se importava em parecer ridículo – e os aplausos dos camponeses estavam
muito para trás agora – não era tão ruim. Era surpreendentemente confortável. Mais seguro do
que ele havia esperado – ele se pegou pensando. Ele realmente havia acreditado todo o tempo
que montar em uma sela lateral era precário, e até mesmo um pouco perigoso.
Ele tinha, e ainda assim nunca havia questionado a necessidade disto, embora sua mãe e
Molly montassem sela lateral – e sua esposa. Pessoas cuja segurança ele deveria pensar.
A pior coisa era a dificuldade de remontar. Ele parou uma vez para se aliviar e subiu muito
mais desajeitado do que deveria – ele estava certo de que era uma visão absurda – e ele não
estava embaraçado por um longo hábito de montaria. Se Isabella tivesse montado na sela lateral,
poderia ter ficado encalhada sem alguém para impulsioná-la para cima.
O pensamento diminuiu a raiva dele. Um pouco.

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**
Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Se por um milagre ele a achasse – e se Deus quisesse ela estaria a salvo – ele a ensinaria uma
lição que ela nunca esqueceria. Fugir dele, é? Dois quartos, francamente! Nunca mais ela iria
enganá-lo deste modo. Quando ele a alcançasse seria um quarto e uma cama.
Ele a mostraria quem seu marido era, e por Deus, ela aprenderia a obedecê-lo como jurou
fazer. Só um dia no casamento e ela o fazia correr por toda parte da Espanha – numa sela lateral!
– em uma perseguição tola!
Uma lebre saiu de detrás de um arbusto e foi saltando através do chão pedregoso, fazendo o
cavalo de Luke ficar relutante. Trazê-lo sob controle foi mais difícil do que o habitual.
Normalmente ele controlava a montaria com as coxas, mas em uma sela lateral eram apenas as
rédeas e o chicote.
E se uma lebre houvesse surpreendido o cavalo de Isabella e ela tivesse caído? Aqui nesse
deserto montanhoso ela podia ficar ferida e impotente por dias e ninguém saberia. E lobos ainda
vagavam nestas montanhas.
Ele arrancou o pensamento da mente. Ele havia aprendido anos atrás a futilidade de se
preocupar com as coisas que não se pode controlar.
Ela iria para Valle Verde, ele sabia, mas por qual rota? Ele escolheu a passagem mais rápida
pelas montanhas, cortando a extremidade da escarpa, a parte mais áspera e perigosa. Com sorte
ela havia tomado o caminho mais viajado, a rota mais lenta, mais longa e menos perigosa. De
qualquer modo, ele esperava interceptá-la antes do anoitecer.
Ele conhecia estas montanhas, havia cruzado e recruzado durante a guerra. O espanhol
perfeito e os cabelos e olhos escuros eram um benefício para recolher informações locais, e
grande parte de seu trabalho era ter ligação com as várias guerrilhas espanholas.
Algumas eram pouco melhores do que bandidos, aterrorizando a população local assim
como eles aterrorizavam os franceses; roubando, assassinando, estuprando – tudo em nome do
patriotismo. E do que se sabia algumas tinham sido debandadas depois que a guerra havia
terminado.
As montanhas – como sempre – ofereciam oportunidades infinitas para homens sem leis.
E mulheres sem leis.
Ele persuadiu ao burro a ir mais rápido e pediu a Deus que Isabella tivesse tomado a rota
mais segura. Se ela não tivesse…
Acidente, bandidos, lobos – o número de perigos possíveis que ela poderia enfrentar fez com
que seu sangue corresse gelado nas veias. Na última vez em que ela havia ficado só nestas
montanhas… Não, ele não iria pensar nisso – mas, droga, ela deveria pensar! Nenhum maldito
bom senso!
Se – quando – ele a achasse, iria dar um sermão, droga, e ensiná-la o que aquelas malditas
freiras haviam falhado. Obediência ao marido.
Um pequeno tremular branco atraiu seus olhos, algo pálido se movendo na base de um
precipício. Medo o tomou. Isabella?

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**
Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Ele saltou do cavalo e foi para a extremidade da queda para dar uma olhada mais próxima, o
coração pulsando no peito. Orações sem palavras vieram de um lugar que ele não percebeu que
ainda vivia nele.
Ele ficou pendurado sobre a extremidade, tentando ver. A coisa pálida se moveu
novamente… E uma pequena cabra branca e marrom saiu vagando das sombras, mordiscando a
grama enquanto andava.
Tensão saiu dele com uma rajada de alívio.
Ele pegou o burro e remontou. O momento o agitou mais do que ele queria acreditar. Como
podia uma coisa pequena e desobediente ter o poder de fazê-lo se sentir assim…
Ele cortou o pensamento antes de poder completá-lo. Sentir? Ele mal a conhecia.
As mulheres simplesmente não tinham mais esse poder sobre ele. Ele havia aprendido sua
amarga lição sete anos atrás, e não cometeria o mesmo engano novamente. Desde então várias
mulheres haviam tentado ganhar seu afeto, e ele nunca tinha nenhuma dificuldade em resistir a
elas.
Ele sempre havia sentido uma forte responsabilidade; e era tudo. Ela era sua esposa, e era
seu dever protegê-la.
Era seu dever, nada menos. E nada mais.

Quanto mais para o leste Luke montava, mais familiar o território ficava, e mais sua nuca se
eriçava.
A guerra estava terminada, ele se lembrou. Fazia anos. Tudo havia mudado.
Assim como ele. O truque era se lembrar disto.
Quando menino ele havia amado este país. Suas memórias dos verões, ele jovem nos
vinhedos, estavam marcadas com magia. Tendo a liberdade de fazer o que quisesse nos campos e
nas florestas, podendo escolher os cavalos bons de seu tio, nadando ao sol do verão quente,
aprendendo a caçar com falcões e gaviões, e suas primeiras tentativas no mundo glorioso e
intoxicante das garotas.
As garotas espanholas naqueles dias eram a incorporação de todas as suas ideias de beleza
feminina, com suas curvas luxuriantes, pele dourada, olhos e cabelos escuros, e lábios cheios,
vermelhos. As meninas inglesas eram de alguma maneira pálidas e desinteressantes em
comparação, e tudo sobre a Inglaterra – a terra, a comida, a vida – pareciam anêmicos para ele
então.
Claro que era apenas a diferença na vida que ele vivia. A Inglaterra era a escola, o dever e
céus cinza, e casa era um lamento, a mãe recentemente viúva. A Espanha era liberdade e raios de
sol e aventura.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Luke pausou, tirou o chapéu, e enxugou a sobrancelha, esquadrinhando os quilômetros de


colinas abaixo da linha da falha. Nenhuma figura pequena em um cavalo preto com um pé branco.
Nenhum sinal de ninguém.
Alto acima do vale um falcão flutuava facilmente, fazendo círculos lentos sobre um pé de
azeitona. Perguntando-se qual era a intenção do rapinar do pássaro, Luke olhou abaixo nas
árvores antigas, trançadas, e sem aviso prévio ele se lembrou da noite em que a paz muda de um
pé de azeitona foi quebrada quando vinte homens se rebelaram de seus lugares como espíritos na
noite, sacrificando o punhado de tropa francesa que acampava lá, assim como também um par de
meninas de um camponês local que haviam se juntado a eles pela noite. Prostitutas traiçoeiras, as
guerrilhas as chamavam.
Luke tinha sido criado para proteger mulheres, mas tudo tinha acontecido tão rapidamente
que não houve nada que ele pudesse fazer.
No dia seguinte ele caminhou pelo acampamento mudo, o sol matutino dourando os rostos
quietos, mortos. Ele havia ouvido que Napoleão estava recrutando meninos bem jovens de até
doze anos no exército, e agora ele vira que o rumor era verdade. Nenhum dos soldados parecia
perto de dezesseis; alguns eram apenas meninos. E as meninas – talvez quinze anos ou mais
jovens.
Tão jovens, e mortos.
Ele vomitou naquele pé de azeitona, uma série magra de vômito na grama encaracolada,
orvalhosa. Os guerrilheiros riram de seu estômago inglês fraco.
Agora, olhando abaixo no pé de azeitona, Luke recordou do horror frio e úmido daquela
manhã uma vez mais.
Ele queria muito ir embora…
Um dia ele havia se sentido uma parte deste país, se sentido mais em casa aqui do que em
sua própria casa. Agora ele não podia aguentar ficar um momento além do que já tinha.
Ele não podia simplesmente culpar a guerra. Ele sempre havia conhecido a violência
sanguinária, quase selvagem abaixo da superfície. Esta era uma terra de sangue quente, briguento.
A Inglaterra que ele atualmente conhecia vestia uma capa de comportamento civilizado, mas
ele nunca havia visto a Inglaterra conquistada, as pessoas sendo pisadas pelas botas dos invasores.
E rezou para que isso nunca acontecesse.
Mas as guerras da Inglaterra com a Escócia, nos dias de seu avô, dificilmente podiam ser
chamadas de civilizadas. O avô dele nunca conversava sobre isto, mas de tudo que Luke podia
juntar, havia sido selvageria, um processo sangrento e impiedoso de aniquilação. E o resultado…
As libertações…
As guerras faziam isso às pessoas, aos países, arrancando sua capa de cortesia, civilidade.
Fundo na pele… Distraidamente, Luke esfregou seu ombro. A parte dura estava substituindo a
capa, tentando recuperar um pouco de semelhança de civilização depois que se veem as
profundidades negras da alma humana… Sua própria alma. Tentando esquecer.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Era mais fácil em Londres. Os pesadelos não eram tão frequentes, e quando ficava muito
ruim ele sempre podia achar alguma distração, algum tipo de entretenimento, uma corrida…
Aqui, tudo conspirava para fazê-lo se lembrar, provocar memórias que ele tentava esquecer;
as linhas severas e dentadas das montanhas altas, o odor de tomilho selvagem e orégano, o vento
soprando pelos pinheiros, a visão de um agrupamento de casas caiadas com ladrilhos vermelhos
em uma ladeira, o estrépito de sinos em ovelhas e cabras – até mesmo o gosto do vinho, morno e
esguichado diretamente em sua boca de um frasco de couro, e o aroma de um guisado
borbulhante, rico com tomate, pimenta e alho.
Tudo levava a essência da Espanha. Cada sabor amargo para ele agora.
Mas não era a guerra, não era a matança aos pés de azeitona ou qualquer um da dúzia de
incidentes horríveis que ele havia testemunhado em seus anos em guerra.
Luke não estava sob nenhuma ilusão: isto era puramente antipatia pessoal, e ele sabia
exatamente onde havia se originado. E com quem. Ele desejava que a piranha tivesse ao longo dos
anos recebido o que merecia.

O sol estava afundando no céu, lançando longas sombras nas montanhas e listrando as
linhas altas de nuvens com lilás, rosa e toques de ouro. Luke estava desesperado para achar sua
esposa antes de escurecer, quando um movimento abaixo na estrada atraiu seu olho: uma coisa
pequena em pé, levando um cavalo preto com um pé branco. Graças a Deus. Obrigado.
Luke correu o máximo que ousou, batendo na vegetação rasteira, ignorando os galhos que
batiam em seu rosto e corpo, perfurando e arranhando. Ele não se importava; ele queria apenas
descer até Isabella e ver por si mesmo que ela estava bem.
Mas quando ele alcançou a estrada que seguia junto ao lado do rio na base do vale, não
havia nenhum sinal de Isabella, nenhum sinal de ninguém.
Ele esquadrinhou a entrada em ambas as direções, mas a estrada estava muda e vazia. Nem
mesmo poeira levantada para mostrar se alguém estava correndo ao longe. Onde diabos ela
estava? Ele estava certo de que a figura pequena no cavalo era sua esposa.
Então:
— Oh, é você! — Uma voz familiar exclamou por detrás de uma aglomeração de árvores de
faia, e Isabella emergiu, trazendo o cavalo dele.
Luke balançou a perna por sobre as alças, saltou para o chão, deu dois passos largos e longos
e a segurou pelos ombros.
Ela endureceu, se preparando para o que viria.
Luke, tendo ensaiado o discurso para sua esposa errante uma dezena de vezes, quase até a
perfeição, se achou incapaz de recordar uma única palavra. Ele a encarou, e ficou agarrado por
uma indecisão nada característica. Ele não sabia se a abraçava, agitava ou estrangulava.
Ou beijava.

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**
Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Houve uma longa pausa.


Ela balançou a cabeça e olhou para ele.
— Você dominou a arte de cavalgar na sela lateral muito depressa. A velocidade com que
desceu aquele lado da montanha foi muito impressionante. Suponho que você não tenha caído
nenhuma vez, não é? Quero dizer, esta manhã. — A insolente soou quase esperançosa.
— Não. — Luke disse curto. Não havia a marca mais leve de culpa ou até mesmo desculpa
em sua voz ou atitude.
Os olhos eram de um tom de mel, um castanho bem claro e densamente envolvido por
pestanas pequenas, escuras. Pareciam puxá-lo para perto. Ele cuidadosamente a soltou e foi para
longe. Era imperativo que ele estabelece e mantivesse o controle desta situação, e ele não podia
pensar claramente quando ela estava olhando para ele assim e ele a estava tocando.
No momento em que ele a soltou, ela se agitou, como um gato que entra na água. Ela deu a
ele um sorriso tentativo.
— No começo pensei que você fosse um bandido.
Ele torceu o olhar para a boca, deu outro passo para trás, e se achou encarando as pernas
longas e as curvas esbeltas.
Talvez fosse a sinceridade de sua resposta, ou talvez por ela estar perfeitamente segura e
bem quando o dia todo que ele a havia imaginado envolvida em um desastre.
Ou talvez fosse a visão dela de pé no meio de uma estrada pública vestida com nada além de
calças curtas de camurça, botas, uma camisa branca de algodão, e uma blusa de couro. Fácil – e
tentadora! – uma isca para qualquer bandido que passasse por ela.
— Onde diabo está a sua saia? — Ele estalou.
— Na minha bolsa. Pensei que seria mais seguro e conveniente viajar como um menino.
— Como um menino? — Ela não podia ser tão ingênua.
— Sim, um menino viajando só é muito menos notável do que uma mulher solitária.
— Você não parece nada com um menino.
Ela sorriu.
— Não para você, talvez, mas você já sabe que eu não sou um menino.
— Deus me dê força! — Ele murmurou. — Você não parece nada como um menino.
— Pareço, sim. Vesti estas roupas por anos, e ninguém suspeitou que eu fosse qualquer
coisa exceto um menino.
— Estava viajando na terra dos cegos?
— Claro que não.
— Brincando no convento? E as freiras disseram que você parecia um menino?
— Não, nada disso. Houve tempos que... — Ela cessou bruscamente. — A Madre Superiora
às vezes permitia que eu fosse do lado de fora do convento vestida deste modo, no meio das
pessoas comuns. Todos me tomavam por um menino.
Ele não acreditou nela.

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**
Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Por que a Madre Superiora permitiria que você se arriscasse tão tolamente? Além disso,
ela ficou escandalizada quando te viu nessa calça ontem.
— Porque ela viu o seu rosto quando você viu a calça.
Luke não tinha nenhuma dúvida disto. Ela provavelmente viu a luxúria crua que ele sentira.
— Você disse que tinha essa calça há anos. Quando você a vestiu pela última vez?
Ela fez uma carranca.
— Três ou quatro anos atrás. Mas ainda se ajusta perfeitamente bem.
Ele bufou.
— Muito mais apertada, aposto.
Ela ergueu a cabeça com desdém.
— Você está dizendo que eu estou gorda?
Ele revirou os olhos.
— Estou dizendo que você não parece nada como um garoto.
— Eu não concordo. As meninas no convento estavam sempre me dizendo que eu parecia
um garoto. Eu mal tenho peitos. — Ela gesticulou, mas ele se recusou a olhar para baixo.
Ele não iria ser atraído para uma discussão sobre os peitos dela. Ele sabia como fato que ela
os tinha; ele podia ver as curvas gentis sob o couro da blusa. As amigas dela da escola eram
estúpidas ou cegas.
Ela continuou:
— O fato é...
— O fato é, você teimosamente me desobedeceu, você não parece nada com um garoto
nesse traje, e eu poderia facilmente ser um bandido! — Por que diabo ele estava explicando isto
para ela? Ele nunca se explicava no exército. Ele dava ordens e as pessoas obedeciam.
Homens obedeciam.
— Mas eu não vi uma alma! — Ela o assegurou alegremente. — E quando eu pensei que
você fosse um bandido, me escondi – com bastante sucesso, você tem que admitir. Você não teria
sabido que eu estava aqui se eu não gritasse para você.
— Eu vi você lá de cima. — Luke ralhou.
— Sim, e eu ouvi você vindo há quilômetros. Então...
— Se eu fosse um bandido, e o seu cavalo bufasse ou fizesse um som? O que então, hein?
— Se você me ameaçasse, eu teria atirado em você. — Ela disse calmamente.
— O quê?
— Atirado em você. Com isso. — Ela colocou a mão atrás do corpo e retirou uma pistola
escondida no cós de sua calça. Ele a reconheceu de oito anos antes.
— Está carregada?
— Claro! Que uso tem uma pistola descarregada?
Ele a encarou, ainda fervendo, tentando ignorar a visão dela naquela calça, o modo como a
camurça suave agarrava as curvas dela.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— E se fossem dois bandidos – ou mais? Os bandidos montam em grupos, sabe. — Ele havia
perdido o chão e sabia disso. Nunca se devia discutir com uma mulher. Devia-se simplesmente
ordenar. Ou exigir. Ele tentou recuperar sua autoridade. — Como ousa fugir e me deixar!
— Eu não fugi! — Ela disse indignada. — Só me separei de você temporariamente. Prometi
fielmente me juntar a você na Inglaterra assim que achasse a minha irmã. Você não leu a minha
carta?
— Essa não é a questão.
— Não, a questão é a minha irmã nas mãos de um tirano vil. Você deixaria Molly nas mãos
de um homem como o meu primo Ramón?
Ele não iria, claro, mas não seria distraído. Ele retornou ao assunto em questão.
— Você partiu sem minha permissão.
—Mas quando eu perguntei, você recusou, então o que mais eu deveria fazer?
— Obedecer! Como você jurou.
— Quando foi que eu – oh, você quer dizer os votos de casamento. Eu era só uma criança...
— Não obstante eles são legais e você deve cumpri-los.
— Você estava todo pronto para quebrá-los.
— Eu não estava.
— Você iria anular o casamento.
— Como. Nós. Concordamos. Naquele. Tempo.
Ela encolheu os ombros, claramente nada impressionada e se virou.
Luke cerrou os punhos, lutando com um impulso selvagem de girá-la, jogar sobre seu joelho
e espancar seu traseiro. O traseiro nu. Ele avançou.
— Você tem uma faca? — Ela perguntou.
Luke piscou.
— Faca?
— Um limpa-casco de preferência, mas se não tiver, uma faca pequena servirá. Meu cavalo
tem uma pedra em seu casco e não estou conseguindo tirá-la.
— Seu cavalo? — Ele disse com sarcasmo.
— Nosso cavalo, se você preferir.
O tom dela verdadeiramente o enfureceu. Ela se mostrava absolutamente sem remorso em
suas ações. Ele foi à direção dela. Ele a mostraria de uma vez por todas...
— Não esqueça a faca. — Ela o lembrou e se curvou para erguer o casco traseiro do cavalo
manco. A camurça flexível se esticou sobre o traseiro dela como uma segunda pele.
Luke parou. A boca secou.
Havia uma razão pela qual as mulheres não deveriam vestir calças, e ele estava encarando
agora. Não era possível para um homem pensar em qualquer outra coisa quando estava
confrontado… Isto. Era quase pior do que se ela estivesse nua.
Quase. Ele reprimiu um gemido.

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Anne Gracie
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Noiva por Engano

Desviando os olhos da visão deleitante e exasperante, ele puxou um canivete de seu bolso e
se curvou para a tarefa de remover a pedra do casco do cavalo.
Ele limpou o casco e removeu a pedra, então trocou as duas selas. Estava ficando frio, então
ele puxou o casaco da bolsa e o jogou para ela com um curto:
— Vista isto.
Um olhar cruzou o rosto dela como se ela fosse discutir, mas ela pensou melhor e encolheu
os ombros.
Ele a cobriu quase até os tornozelos, e enquanto ela o abotoava, ele sentiu um pouco da
tensão diminuir. Ele amarrou a bolsa com correia no cavalo manco, e então remontou a égua.
Ele ofereceu a mão para Isabella.
— Em cima, atrás de mim.
Ela o olhou, uma expressão amotinada no rosto.
— Não desistirei da procura por minha irmã. Irei com você agora porque não tenho escolha,
mas digo na sua cara que irei embora novamente se for necessário.
Ele a deu um olhar duro.
— Fique à vontade para tentar.
Sem uma palavra ela a tomou no braço, colocou a bota no estribo, e puxou para cima atrás
dele. Ele sentiu o calor dela em suas costas, então ela deslizou os braços ao redor da cintura dele.
Ele endureceu, mas não disse uma palavra.
Ele não trocaria mais palavras com ela. Hoje à noite, quando eles estivessem no isolamento
do quarto, ele daria sua primeira lição de como deixar uma esposa satisfeita.
As ações falavam mais alto do que as palavras.

Estava quase escuro e a lua subindo, como uma fatia pálida de limão. Eles estavam
montando para o leste. Ele percebia isto? Bella se perguntou. Ela esperava que ele tivesse virado
de volta e seguisse o caminho que eles haviam vindo.
O leste era o caminho para Valle Verde.
Ela não disse nada. Se ele errava a direção, ela não queria deixá-lo saber.
Eles se moveram em um passo fixo, o cavalo manco diminuindo a velocidade deles. Ela
montou com os braços ao redor da cintura dele, a bochecha descansando contra as costas dele.
Ele era morno e forte, e apesar de sua raiva por ela, ela se sentia muito segura.
Ele estava furioso, mas não bateu nela. Ela o havia desobedecido abertamente, fugido dele,
e ainda assim ele mal a tocou, apenas agarrou os ombros de forma dura, a encarou e então soltou.
De acordo com os ensinos da Igreja, os maridos tinham o direito de bater em esposas
desobedientes, e quando ele a agarrou, ela estava certa de que ele iria balançá-la até os dentes
dela baterem. No mínimo. Mas ele não tinha.

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Anne Gracie
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Noiva por Engano

Uma pequena bolha de esperança floresceu dentro dela. Ele não queria estar casado com
ela; havia tentado anular o casamento. Ele podia tê-la deixado a sua sorte, e ainda assim ele havia
vindo atrás dela.
Apesar da impressão que ela havia tentado dar a ele, ela não tinha nenhuma ilusão sobre os
perigos envolvidos em sua jornada de volta para Valle Verde. Melhor ele pensar que ela era jovem
e ingênua do que ela avaliasse os riscos e os considerasse aceitáveis.
Viajar na Espanha era tão perigoso agora quanto tinha sido na guerra – talvez mais, porque
não era fácil dizer de que lado as pessoas estavam. Ela esquadrinhou a estrada adiante, deu uma
olhada rápida frequentemente para trás, e verificava as colinas acima. Ela rodeou cidades e aldeias
em vez de passear por elas, e se escondeu de todos os viajantes antes que ela pudesse ser vista,
tomando certeza constante da pistola no cós, até mesmo enquanto rezava para não ter que usá-la.
Um marido que verdadeiramente desejasse ser libertado de uma esposa não desejada teria
lavado suas mãos e a deixado se arriscar.
Luke Ripton montou depois dela, fez uma jornada longa, áspera, e difícil por território
desconhecido, numa sela lateral, podendo ser ridicularizado, assim como o perigo. Poderia ser
apenas uma forte antipatia por ter sido desobedecido, mas ainda assim, Bella não podia evitar e
viu como um sinal positivo.
Ela o abraçou mais apertado, respirando o cheiro dele. Ela se lembrava dele de quando era
uma garotinha, quando eles tinham se encontrado pela primeira vez. Ele havia montado para
salvá-la então, e ele estava ainda fazendo isto agora.
A lua estava mais alta agora. A luz fria e prateada nos telhados e torre de um edifício parecia
familiar. Enquanto eles se aproximavam, ela reconheceu.
— El Castillo de Rasal!— Ela exclamou.
— Quê?
— Aquele castelo – é o Castillo de Rasal, a casa do Marquês de Rasal. — Ela disse
excitadamente. — Não percebi que estávamos tão perto. O Marquês é – era um velho amigo do
meu pai. Eu o conheci quando menina. Podemos passar a noite lá. — Ela sentiu uma onda de
prazer com a perspectiva de ver alguém de seu passado depois de tanto tempo. O Marquês tinha
sido muito amável com Bella.
— Ele pode não estar vi... – em casa.
Ele queria dizer que o Marquês poderia não estar vivo, ela pensou.
— Não importa. Os empregados dele se lembrarão de mim e oferecerão hospitalidade, eu
sei. — O estômago dela roncou. — Ele tem uma cozinha muito boa, muito – o castillo é famoso
por isto.
Ele não respondeu.
Bella falou excitada e feliz.
— Você não pode ver na escuridão, mas a propriedade tem vinhedos muito bons – os vinhos
de Castillo de Rasal são bebidos por toda a Espanha. Eu vim aqui várias vezes com o meu pai
quando era jovem. O castillo é um castelo medieval, sabe, muito antigo e inconveniente, mas é

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Anne Gracie
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Noiva por Engano

muito bonito. Você gostará à luz do dia. — Ela esfregou a bochecha contra o casaco dele. — Sabe,
pensei que teria que dormir hoje à noite no relento, ou debaixo de uma ponte, e ao invés disso
nós dormiremos em um castelo.
Ela o sentiu endurecer.
— Debaixo de uma ponte?
— Eu não tinha nenhum dinheiro para uma pousada.
Ele bufou, mas não disse mais nada. Eles pararam em um portal de pedra alta.
— Essa é a entrada. — Bella disse. — Vire aqui.
Ele não ligou. Eles passaram pelo portal.
Ela bateu ligeiramente no ombro dele.
— Pare! Você errou! A virada é lá.
— Nós não vamos ficar lá.
— Mas por que não? Eu te disse, o Marquês é um velho amigo da família. Ele ficaria muito
feliz em me ver de novo, eu sei disto.
— Não.
Bella não podia acreditar em seus ouvidos.
— Mas por que não? É um lugar maravilhoso para ficar.
Nenhuma resposta.
— O Marquês ficará muito desapontado por não me ver. — Ela começou.
— Você escreveu para ele te esperar?
— Não, mas...
— Então ele não terá nenhum motivo para se decepcionar.
Realmente, não havia nenhuma causa para tal rudeza. Ele deveria ficar agradecido por poder
visitar o Marquês e ficar em um castillo antigo.
— Eu ficarei muito desapontada. — Ela disse a ele.
— Você sobreviverá. Nós ficaremos na pousada em Ayerbe. Fica apenas alguns quilômetros
à frente.
—Mas por que ficar em uma pousada de aldeia quando podemos ficar em um castelo?
Ele a ignorou.
Não havia razão para discutir. O homem era tão teimoso quanto uma porta. Bella bateu nele
com raiva. Ele não fez nenhum sinal de que havia sequer notado.
Sentindo a batida entre suas omoplatas, Luke sorriu para si mesmo. Ela aprenderia.
Ele não tinha nenhuma dúvida de que eles seriam recebidos de braços abertos no Castillo de
Rasal, e teriam jantar e vinho como reis, mas que ele se danasse se ele passasse sua primeira noite
só com a esposa na casa de algum velho que a colocaria nos joelhos como a uma criança.
Luke iria provar de uma vez por todas quem usava calças nesta família, e ele não queria
nenhuma testemunha do encontro.
Um soldado escolhia seu próprio terreno para um confronto.

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Anne Gracie
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Noiva por Engano

Nove

— Um quarto para mim e minha esposa e uma sala privada.


Bella tragou. Luke mal havia falado uma palavra com ela pela última meia hora. Havia dado
ordens curtas ao garoto do estábulo na pousada relativo aos cuidados com os cavalos, e agora ele
estava falando com o proprietário, um homem alto e robusto com um bigode enorme.
— Nenhuma sala privada, señor. Vocês podem comer aqui. — O proprietário gesticulou para
a área de jantar pública. — Ou minha esposa pode trazer a sua ceia em uma bandeja. — Com
essas palavras, a cortina cobrindo a entrada atrás dele balançou e uma mulher com rosto redondo
e o cabelo brilhante, quase escarlate, preso no alto os olhou de forma séria.
— Não, nós comeremos aqui. — Luke disse sem consultar Bella. Ele se debruçou adiante e
murmurou algo para o proprietário, uma pergunta que ela não pegou. No humor que ele estava,
seria inútil perguntar, ela estava certa.
O homem deu a ele um olhar surpreso, deu uma olhada rápida em Bella curiosamente e
então anuiu com a cabeça.
— Sí, señor, vou organizar isto. — Ele soou divertido. O que Luke havia pedido a ele?
— Bom. Agora, a minha esposa está esperando pelo seu jantar.
O proprietário se curvou e estalou os dedos, e os subordinados saíram correndo para limpar
a mesa para eles – a melhor mesa próxima ao fogo.
Luke parecia ter esse efeito nas pessoas, Bella pensou. Um ar inconsciente de comando, por
sua altura e beleza.
O contraste entre a chegada nesta pousada e ontem à noite não podia ser maior. Ontem,
Luke mostrava deferência e preocupação por ela depois da viagem longa. Agora, exceto pela mão
que agarrava ligeiramente seu cotovelo, ele agia como se estivesse desavisado de sua presença.
Por culpa dela, ela reconheceu. Enfurecer o marido era um dos riscos que ela havia
considerado quando escolheu desafiá-lo. O que quer que acontecesse entre eles esta noite, ela
enfrentaria com dignidade. Ela esperava.
O alívio que não a bateu na estrada estava virando pensamentos que alguns homens ficavam
remoendo injustiças e tomavam seu tempo para a vingança. Um prato que se come frio…
Ela se perguntou novamente o que ele havia pedido ao proprietário.
Ele a levou até a mesa, aparentemente desavisado do mar de rostos os assistindo com
aberta curiosidade. Ela removeu o chapéu, e a coroa de cabelo trançado deixou óbvio para todos
que debaixo daquele sobretudo, ela era uma mulher. Bella sentiu olhares duros deslizarem por
ela, avaliando sua feminilidade. Ela manteve a cabeça erguida e fingiu não notar.

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**
Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Luke puxou uma cadeira e a acomodou com as costas para o quarto, então se sentou do lado
oposto. Ele pediu vinho e ordenou a ceia. Era morno na sala de jantar, e Bella começou a
desabotoar o casaco.
— Deixe. — Luke disse a ela.
— Mas...
— Você realmente pensa que esse é o lugar para testar sua teoria de que você parece um
menino com essa calça?
Ela corou e baixou as mãos.
O vinho chegou, e Luke encheu a taça dela. Ela a tomou, mas antes que pudesse beber, ele
tiniu a taça dele contra a dela e disse:
— Ao nosso casamento. — O olhar dele estava preso nela.
O que isso queria dizer? Ela se perguntou. Ao sucesso do casamento? Ou era um brinde
irônico, um tipo de com-a-corda-ao-redor-do-meu-pescoço-?
O rosto era tão expressivo quanto uma estátua de pedra. Ela não o entendia. Ele parecia o
tipo de homem que executaria algum curso de ação desumano, e a tensão no corpo dele deixava-a
nervosa.
Decidindo ler o brinde de acordo com o rosto dele, ela bebericou o vinho, então vendo a
expressão dele, drenou a taça e disse:
— Quero um quarto separado.
— Má sorte.
— Você prometeu que me daria tempo.
Ele despejou um pouco mais de vinho em sua taça.
— Você prometeu me obedecer, e ainda assim eu passei a maior parte do dia de hoje em
uma – sela lateral! – passando as montanhas procurando pelo seu corpo.
Ela mordeu o lábio.
— Sinto muito por ter te preocupado. Mas...
— Nós somos casados. De agora em diante é um quarto, uma cama. — O tom dele era
implacável.
Os primeiros pratos chegaram: fatias tenras de presunto local, pequenas salsichas picantes
ainda chiando, cogumelos grelhados fragrantes com tomilho e outras ervas, azeitonas pretas
cintilando, e pão fresco, crocante.
Fome, temperada por anos de austeridade no convento a inundaram. A comida tinha um
cheiro delicioso, e ela mal se lembrou de murmurar uma graça rápida antes de mergulhar na
comida.
— O que você pediu ao proprietário? — Ela disse enquanto servia ambos com alguns
cogumelos.
— São as salsichas que você gosta? — Ele perguntou. — Estão um pouco picantes.
— Amo comida picante. — Ela disse a ele. — No convento nossa comida era muito simples e
suave. O proprietário?

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Ele deu uma olhada para uma salsicha.


— Você verá.
Ele era um homem teimoso, mas para sua surpresa, o prospecto de compartilhar a cama
dele não era de todo… Censurável. Longe disto.
Algum dia durante aquele último passeio ao luar, montando apertada contra o corpo largo e
forte dele, os braços ao redor da cintura, inalando o odor dele e sentindo seu calor e força, o
corpo dela se decidiu: este era seu marido.
O casamento poderia ter sido um engano, mas era um engano com ao qual ela, pelo menos,
podia viver. Se ele não a amasse, assim fosse. A mãe dela tinha sido miserável correndo atrás do
pai dela, ansiando pelo amor dele, e ele nunca a havia amado.
Era um desperdício, Bella se decidiu; o desperdício de uma vida. Ela não cometeria o mesmo
erro.
Ela assistiu Luke rasgar um pedaço de pão com dedos longos, elegantes, então comeu, o
rosto em parte sombreado na luz escura, os olhos escuros mistérios, as maçãs do rosto douradas
pela luz da lamparina… Uma mandíbula forte e escura com a barba por fazer.
Ele era um homem bonito. E era dela.
Ou ele seria, hoje à noite. Excitação pulsou.
O resto da comida chegou: cordeiro assado com batatas, guisado de galinha em um molho
rico de pimentas e tomates, uma salada de feijões verdes com molho de limão. Era o banquete
para um rei. Ou uma rainha.
Bella comeu até estar cheia a ponto de estourar, saboreando algo de cada prato, então se
voltando para mais. Tudo estava delicioso; o cordeiro derretia na boca, as batatas estavam bem
assadas, quebradiças e douradas. O guisado de galinha era rico e cheio com sabores de sua
infância.
Eles comeram sem falar, mas não era um silêncio desajeitado; ambos estavam atentos à
comida. De vez em quando Luke enchia sua taça ou passava pão para ela.
Ocasionalmente, no transcurso, os dedos se tocavam, e cada vez, a pulsação de Bella saltava.
Ela não estava certa do que esta noite traria, mas ela queria se tornar uma esposa, em vez
de uma meia esposa. E finalmente conhecer. Ela era terrivelmente ignorante das relações entre
um homem e sua esposa. Era ridículo.
Luke bebeu o último gole do vinho, e ela assistiu sua garganta forte e bronzeada se mover
enquanto ele tragava. Ela sabia como os cavalos, cachorros e galinhas procriavam, mas quanto ao
que era esperado entre um casal em sua noite de núpcias…
Deveria doer, mas só se a pessoa fosse uma virgem, e já que ela não era…
Já que ela não era mais uma virgem, ela esperava apreciar. Algumas mulheres gostavam, ela
havia ouvido as meninas sussurrarem. A maioria não gostava. Apenas as garotas más gostavam.
Bella pensou em todas as vezes que havia estado em apuros. Ela viraria uma garota má
nisso, também? Ela certamente desejava que sim.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Ela enxugou o último molho de galinha com pimenta com uma crosta de pão, enxugou a
boca, e se recostou na cadeira com um suspiro de satisfação.
— Estava divino. Acho que não como algo tão delicioso desde, oh… Nem posso lembrar.
— Sim, a comida daqui sempre foi muito boa.
— Sempre? Você esteve aqui antes?
— Algumas vezes. — Ele disse indiferentemente. — Anos atrás na guerra.
— Então você sabia que estávamos indo para o leste.
Ele a deu um olhar seco.
— A lua deixou isso bastante óbvio.
Então ele percebeu que eles estavam viajando em direção a Valle Verde, não para longe. Isso
significava que ele havia decidido a deixar ir para Valle Verde afinal?
— Então amanhã, nós...
— Señorita? — Um toque no ombro.
Bella olhou para cima. Um cavalheiro de aparência bastante arrojada e com cerca de trinta
anos estava ao lado de sua cadeira.
— Sí?
Ele se curvou.
— Você é a filha do Conde de Castillejo, não é?
— Sou. — Bella respirou. Sem pensar, ela ofereceu a mão.
— Don Francisco Espinoza de Cadaval à sua disposição. Tive a honra de lutar sob o comando
de seu pai. Eu estava lá quando ele morreu. É um grande prazer te conhecer, señorita. — Ele
ergueu a mão dela e a beijou muito ardentemente, ela podia sentir a cócega de seu bigode fino e
elegante.
As pernas da cadeira de Luke arrastaram abruptamente no chão quando ele ficou de pé.
— Você está enganado. — Luke disse com uma voz severa. Bella e Don Francisco olharam
para ele surpresos. — Ela não é señorita qualquer coisa. Ela é minha esposa, Lady Ripton, e
estamos para nos retirar pela noite. Venha, minha querida. — Ele ofereceu uma mão imperiosa
para Isabella.
— Oh, mas eu gostaria de...
— Agora, Isabella. — O olhar escuro dele estava preso nela, e ela refletiu que provavelmente
já o havia desafiado o suficiente por um dia. E que um jantar público não era o lugar para uma
disputa com seu marido.
Don Francisco deu uma olhada no rosto de Luke, deu um passo para trás, e se curvou
graciosamente para ambos.
— Boa noite, então, Lady Ripton. Talvez de manhã…
Bella deu a ele um sorriso morno para recompor pela rudeza do marido.
— Sim, isso seria...
— Duvido que teremos tempo. Partiremos muito cedo. — Luke tomou a mão de Bella, ele
passou por Don Francisco e a levou para o quarto.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Realmente, não há necessidade de ser tão grosso.


— Há toda necessidade. Você não tem nenhuma ideia de quem aquele homem é.
— Eu tenho. Ele era um dos homens do meu pai.
— Eu ouvi quem ele disse que era. Ele poderia dizer qualquer coisa e você acreditaria.
— Ele estava com meu pai quando ele morreu. — Ela disse. — Eu teria gostado de conversar
com ele, ouvir mais...
Ele parou abruptamente e a balançou para enfrentá-lo.
— Os dois homens que atacaram você quando era uma criança eram homens do seu pai e
estavam com ele quando ele morreu, também, e veja como as coisas ficaram.
Ela mordeu o lábio e o olhou.
A voz dele suavizou.
— Eu sinto muito, não queria te lembrar disto, mas… Você é confiante demais para o seu
próprio bem. Coisas terríveis aconteceram neste país enquanto você estava no convento.
— Antes disso, também. — Ela disse com uma voz baixa, pensando em sua mãe.
— Eu sei. — A mão dele se fechou sobre a dela, morna e confortante. —Mas embora
Napoleão tenha sido derrotado e exista um rei espanhol no trono novamente, as coisas ainda
estão instáveis, e é isso que você não entende. A Espanha virou milhares de facções, e sem
conhecimento confiável, você não pode saber quem aquele cara é e o que ele pode querer de
você.
Havia um pouco de sentido no que ele dizia, mas Bella não gostou da ideia de tratar todo
mundo como um inimigo até que fosse provado o contrário.
— Como você sabe o que a Espanha é agora? Você está na Inglaterra há anos.
— Confie em mim, eu sei. É o meu trabalho saber. — Ele disse a ela. — E quando a situação
muda, as alianças também mudam. Mesmo que aquele cara tenha sido o braço direito do seu pai,
isto não é nenhuma garantia de onde sua lealdade está agora. Os homens fazem o que podem
para sobreviver.
— Assim como as mulheres. — Ela o lembrou.
Houve uma pausa pequena, e então ele disse:
— Não vou mais discutir sobre isto. Sei bem mais do que você sobre a situação neste país, e
os perigos de se confiar em pessoas que não se conhece, então enquanto estivermos aqui, você
fará o que eu digo.
— Não sou uma criança.
Houve um silêncio súbito. O olhar dele se intensificou. Bella deu uma olhada rápida para
longe, se sentindo de repente muito quente. O ruído de panelas batendo veio da cozinha, o tinido
de copos e o som de uma mulher repreendendo alguém. Da área pública o murmúrio de vozes
masculinas. Luke deslizou o olhar por ela, e por um momento ela se imaginou se podia ouvir a
própria batida do coração.
— Não, você não é. — O marido dela disse, a voz profunda e baixa. — E é hora de nós dois
reconhecermos isto. Agora, está tarde. É hora de irmos para a cama.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

É hora de irmos para a cama. A frase apagou todos os outros pensamentos da cabeça dela.
Eles subiram lentamente os degraus. A mão dela estava fria; a dele morna. O vinho não a
relaxou. De fato, ela estava mais tensa do que nunca.

O quarto era pequeno e continha apenas uma cama grande, uma cadeira, um espelho
grande em um suporte rotativo, e uma mesa para lavabo no canto com um jarro grande,
brilhantemente pintado para água e uma tigela combinando. Não havia nenhum guarda-roupa,
apenas uma fila de ganchos para pendurar roupa. O único outro artigo no quarto era um fogão de
esmalte pequeno. Exceto por um tapete enrolado e entrançado feito de trapo na frente do fogo, o
chão era nu, mas limpo e bem encerado.
Bella deu uma olhada rápida ao redor, perguntando-se que acordo o proprietário havia feito
seguindo o pedido de Luke. Acendido o fogo? Água morna no jarro, talvez? Nada tão sinistro
quanto ela tinha imaginado de primeira.
Tolo o que a imaginação cria quando a pessoa está cansada, faminta e irritada.
Luke abriu o fogão e alimentou o fogo com troncos cortados da caixa ao lado. Ele iluminou
meia dúzia de velas e as sombras retrocederam.
Uma batida soou na porta, e o proprietário entrou com uma garrafa e umas taças em uma
bandeja.
— Minha esposa acha que a senhora poderia gostar disso. — Ele disse, indicando um prato
de amêndoas caramelizadas, e apesar de Bella já estar cheia do jantar, ela não pôde resistir furtar
uma antes mesmo de o homem pousar a bandeja.
Então era apenas o conhaque que Luke havia ordenado quando eles chegaram. Ela deveria
ter imaginado.
— Por favor, agradeça a sua esposa. — Ela disse ao homem. — Adoro amêndoas
caramelizadas. — Ela tomou outra.
Luke deu ao homem uma moeda e o guiou até a porta, fechando-a depois dele. Ele girou e
seu olhar enviou um calafrio diretamente ao estômago de Bella.
— Venha aqui.
Ela tragou a última das nozes, sem saborear nada, e o abordou.
— Você está morna?
Ela anuiu com a cabeça, de repente ofegante. Hoje à noite ela passaria de noiva a esposa…
Ele começou a desabotoar o sobretudo que ela ainda vestia. Um botão… Dois… Três… Os
olhos dele queimavam nela. Ele tirou o casaco pelos ombros e o jogou na cadeira.
Ele pôs as mãos nos ombros dela, e a balançou adiante, pensando que ele iria beijá-la, mas
em vez disso ele a girou. Ela se achou encarando o espelho longo.
— O que..?
— Pedi que o espelho fosse trazido especialmente para isso. Olhe.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Perplexa, ela olhou. Tudo que ela podia ver era seu próprio reflexo de pé e Luke atrás dela.
Ele encarava o espelho acima de seu ombro. O que ela deveria notar?
Fazia oito anos desde que ela havia se visto em um espelho grande como esse, e ela havia
mudado um pouco. A pele havia melhorado, e o cabelo estava mais escuro e bem mais brilhante à
luz de vela, mas ela nunca seria uma beleza. Ou até mesmo bonita. Ela parecia muito com a mãe,
realmente. Oh, bem. Nada de novo aí.
Ela deu uma olhada rápida em seu reflexo, todos os ângulos e sombras totalmente na luz de
vela. Ele não estava olhando para seu rosto ou o dela, mas encarando o espelho com uma
expressão estranha, meditativa. Como um homem faminto olhando através da janela de um
homem rico. Um banquete que ele não poderia ter.
Quilômetros de distancia dessa situação, ela pensou. Outro tempo, outro lugar. Outra
mulher.
O olhar dele chocou com o dela através do espelho e ela se sentiu abrasar de repente.
— Bem? — Ele exigiu.
— Bem, o quê? — Ela tentou girar, mas as mãos dele forçaram-na a permanecer olhando o
espelho.
— É isso que você pensa que parece com um menino?
— Oh. — No espelho as bochechas dela ficaram rosa à luz da vela. Ela deu ao reflexo um
olhar crítico. Ela havia crescido com o passar dos anos, tinha que admitir. O ajuste das roupas não
era solto como costumava ser, mas comparado com suas amigas no convento, ela ainda era
bastante fraca e sem peito. Ela não parecia exatamente um menino, mas não parecia muito
mulher. — A maioria das pessoas não te examina assim... — Ela começou.
Ele fez um pequeno som exasperado.
— E quando o meu chapéu cobre o meu cabelo...
Ele a deu uma sacudida.
— Você ainda assim não pareceria nada como um garoto! — Ele desceu as mãos para a
cintura dela. — Os garotos têm cinturas assim?
Ela tragou e olhou no espelho as mãos grandes cercando sua cintura.
— E que tal aqui? — As mãos caíram para a curva leve dos quadris. —Você já viu um garoto
com quadris assim?
Bella não podia responder. Ela mal podia olhar, hipnotizadas com as mãos se movendo
lentamente à luz de vela, sentindo o calor das palmas das mãos dele enquanto ele as deslizava
pelos quadris dela, o calor de seu corpo atrás do dela.
As mãos acariciando ligeiramente o inchaço dos quadris para a cintura e para trás.
— Os garotos não têm nenhuma cintura, nenhum quadril; são todos retos de cima a baixo,
sem… Curvas. — Ele murmurou. — Garotos são pele e ossos, não… Carne.
A respiração dela prendeu na garganta enquanto as mãos dele viajavam lentamente pelo
corpo dela, suavemente formando a curva dos quadris, mergulhando na cintura, e mais alto. O

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Anne Gracie
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toque era de pluma, e ela estava completamente vestida com camadas de roupa, ainda assim ela
estava dolorosamente ciente de cada movimento infinitesimal.
Ele alisou as palmas sobre o couro que ela vestia.
— Os peitos dos meninos são retos… Duros… Ossudos. — A respiração dele era morna na
orelha dela. — Até neste couro feio, você não parece nada reta ou ossuda. — As mãos escovaram
ligeiramente sobre a peça, mal tocando, mas os mamilos dela formigavam como se ela estivesse
nua.
Ela umedeceu os lábios.
— Mas as meninas no convento...
— São tolas jovens e ignorantes. E não estavam olhando para você com os olhos de um
homem. Um homem é afinado com a forma de uma mulher, mesmo quando está sutilmente
escondida por camadas de roupa. Um homem daria uma olhada em você e saberia que debaixo
disso… — Ele soltou rapidamente os botões da blusa. —Ele acharia isto.
Ele abriu as duas metades da blusa e revelou a camisa branca que ela vestia por baixo. A
respiração dela entrava em arfadas. Ela usava uma camisola sob a camisa, mas mesmo assim, ele
podia ver os mamilos duros e a sombra lânguida da auréola ao redor deles.
Ele envolveu os peitos dela com ambas as mãos, e ela ofegou quando ele passou os
polegares ligeiramente sobre os mamilos doloridos, uma vez só, mas era como se ele a houvesse
tocado com uma faca aquecida. Ela resistiu sob o choque e balançou para trás contra o corpo dele.
Ele soltou as mãos para segurá-la. Ela tentou girar em seus braços, beijá-lo, fazer… ela não
estava certa do quê.
— Eu não acabei ainda. — Ele estava respirando duro, mas a mandíbula estava fixa. — Quero
ter certeza de que você me entende completamente. — Ele a girou lateralmente e correu a mão
no traseiro. — Vê isto? Não existe um macho vivo com tal traseiro luxuriante, feminino. — Ele
envolveu as nádegas dela, os joelhos de Bella quase dobraram. — De encher a boca d’água. — Ele
murmurou, como que para si mesmo.
Ele a girou novamente para enfrentar o espelho. As mãos agarravam os quadris dela; os
dedos apontavam em direção ao centro. Ela estava sem resistência, como uma boneca, a mente e
o corpo tremendo com o efeito das palavras, do toque.
Ela se sentia quente e pronta para entrar repentinamente em chamas como um papel muito
perto do fogo, sem tocar, mas aquecido além do suportável.
— Quanto a aqui… — Ele colocou a palma da mão no estômago dela e a deslizou
lentamente. — Aqui você é completamente fêmea. — A palma grande e morna dele cobriu a
forquilha e envolveu firmemente.
Bella se curvou involuntariamente, debruçando-se contra ele. As pernas tremiam, quase
muito fracas para ficar de pé, mas ele não a soltou ou se moveu.
Um braço poderoso a envolveu, segurando-a de pé na frente do espelho. O outro apertou
firmemente entre suas pernas em brasas.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— A calça não faz um homem. — A boca dele estava tão perto da orelha que ela podia sentir
cada respiração. A voz era profunda e estremecia por ela em todos os ossos. — De fato, esta calça
esboça a sua feminilidade com fidelidade amorosa. — Ele soltou a forquilha, e ela se sentiu de
repente fria, mas um dedo longo e masculino se moveu, localizando lentamente a forma em v do
ápice das coxas, abaixo de um lado, em cima do outro. E então lentamente ao longo da linha que
bifurcava.
Ela tremeu sem conseguir evitar.
Ele estava quase lado a lado com ela agora, o braço esquerdo a sustentando, enquanto ele
lentamente acariciava o dedo de um lado para o outro entre as pernas que mal a sustentavam. Ele
mal a estava tocando, mas era como se as trilhas deixadas pelos dedos fossem de fogo.
O olhar dela se moveu para longe da visão das mãos dele e os dedos lentamente
trabalhando… Magicamente… Roubando todo o controle dela… provocando-a em seus pontos
sensíveis.
Ela podia ver a diferença muito claramente agora: a forma em v na calça dele, a
protuberância dura. Ela encarou aquela protuberância, tentando imaginar a forma exata sob o
tecido.
Com esforço ela arrastou o olhar para longe e olhou para ele, querendo implorar por algo…
Qualquer coisa… Ela não sabia o quê.
E foi tomada pela expressão nos olhos dele.
Ela não era a única hipnotizada… Queimando.
Ele estava completamente desavisado da observação dela; a atenção dele estava
completamente no corpo dela. Os olhos a devoraram mesmo enquanto as mãos vagavam sobre
ela, desvendando-a…
Desvendando-o…
E então as mãos dele pararam, e o olhar dele subiu, encontrando o dela. Houve uma pausa
breve e tudo congelado, então uma veneziana de vidro caiu atrás dos olhos dele e ele de repente
estava firme, distante e… Frio.
Ele pôs as mãos nos ombros dela e deu um passo para se afastar.
— E que — A voz dele era grosa e firme, e ele andou para trás e limpou a garganta. — isso
seja uma lição. Calça ou não, você não parece nada com um garoto.
Ela piscou com a frieza súbita dele. Os olhos dela caíram para a calça dele, para a
protuberância dura, masculina.
Ele a viu olhando. Ele cerrou a mandíbula e girou nitidamente para longe dela.
— Vá se trocar para dormir. — Ele disse enquanto se dirigia à porta. —Voltarei em dez
minutos. — Depois que ele a havia deixado, ela ouviu o som da chave virando na fechadura.
Nenhuma fuga possível.
Ela deu uma risada indiferente, trêmula. Fugir era a última coisa em sua mente.

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Anne Gracie
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Noiva por Engano

Bella não estava certa de quanto tempo havia se passado até ela de repente perceber que
ainda estava na frente do espelho, olhando para ele com os braços ao redor de si e com um
sorriso tolo no rosto.
Ele disse que voltaria em dez minutos.
Ela entrou em ação, arrancou as botas, a meia-calça e a calça. Ela abriu a bolsa e pegou sua
roupa de dormir. O chão de madeira polido estava congelando e gelou os dedos nus dela, então
ela se despiu no tapete pequeno na frente do fogão. Em segundos ela havia tirado o resto de suas
roupas e colocado roupa de dormir.
Pela primeira vez na vida, ela desejou ser boa em bordado. Todas as outras meninas faziam
roupas graciosamente bordadas. A roupa de dormir dela era de algodão claro.
Ainda assim, se ele a desejava de calça e blusa de couro, ele não se importaria com uma
camisola de algodão claro. Ela se sentia de repente com frio e queria mergulhar na cama, mas não
pôde resistir a uma olhada rápida no espelho.
O cabelo! Rapidamente ela retirou os alfinetes que seguraram as tranças no lugar, e desfez a
trança e o penteado com os dedos. Ela devia escová-lo, mas ela estava certa de que os dez
minutos já haviam decorrido, e ela não queria ser pega desprevenida por ele.
Outra olhada no espelho e ela desejou não ter feito isso. Antes, ela parecia alguém
misteriosamente atraente. Agora havia a velha e comum Bella Ripton novamente, em uma roupa
de dormir branca de algodão que fazia com que ela parecesse pálida e acabava com quaisquer
curvas femininas que ela pudesse ter. E seu cabelo era uma Medusa de serpentes escuras em vez
da glória de uma mulher.
— Oh, mamãe. — Ela suspirou. — Por que nós não nascemos bonitas?
Os pés dela estavam congelando, então ela arriscou outro momento ou dois no tapete
próximo ao fogo. Ela ficou de pé se aquecendo, erguendo a camisola para aquecer seu traseiro nu.
Quando ela ouviu passos no corredor, foi para a cama com um pulo.
Ela mergulhou sob as coberturas e esperou.
Os passos enfraqueceram ao longe. Não era Luke. Mas ele não demoraria.
Bella estava deitada entre os lençóis frios, estremecendo um pouco e se abraçando para
ficar morna, mas o frio era só externo. Dentro ela ainda estava quente e excitada e… Se
derretendo.
Por tanto tempo, todo mundo – até seu marido – a havia tratado como criança. Finalmente
ela iria se tornar uma mulher.
Quem sabia o que ele poderia fazê-la sentir assim, apenas conversando… E tocando… E
olhando?
Ela esperou. Ele se sentia extremamente ansiosa e quente.

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Anne Gracie
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Noiva por Engano

Luke saiu pela porta dos fundos da pousada e saiu para um passeio para esfriar a
cabeça. Tanta coisa e ele só queria que ela aprendesse uma lição.
Como tudo havia saído tão rápido de controle?
Quando ele pediu ao proprietário um espelho grande, Luke havia planejado dar à esposa
uma lição curta, rude; o que quer que ela houvesse imaginado que parecia no passado naquela
calça, não parecia mais. Ele pensou que levaria um momento ou dois. Ele assinalaria o óbvio, e ela
entenderia.
Mas ela queria discutir, e Luke se sentiu compelido a mostrá-la como era falsa a sua
suposição.
E então…
Ele agitou a cabeça. Como ele podia ter deixado as coisas saírem de controle assim?
Deus sabia – bem, não era necessário onipotência – que qualquer idiota saberia onde as
coisas acabariam se Luke não tivesse olhado para o rosto dela e pegado o cintilar de triunfo, de
poder, nos olhos dela enquanto ele estava no encalço dela. O corpo dele estava.
Luke não iria atrás de mulher nenhuma, nem mesmo da esposa dele.
A rua da aldeia era um caminho simples de terra seguindo para o mato. Ele parou, olhando
as colinas escuras, as estrela na noite aveludada e respirou o ar afiado e frio até encher bem fundo
os pulmões.
Um violão soava em algum lugar próximo. O odor de pimentas e carne assando flutuava na
brisa.
Era este lugar, este maldito país; isso era tudo. As coisas que ele mantinha presas, sob
controle, estavam sendo provocadas. Perturbando seu equilíbrio – sim, era isto.
Os últimos dias, memórias e sensações haviam se rebelado para assaltá-lo a cada
oportunidade. Isabella inconscientemente havia começado o processo. As circunstâncias de seu
encontro, a fraqueza da mulher em angústia, a maldita compulsão dele de bancar o herói.
Mas não era culpa dela que ela tivesse soltado os demônios dele.
Ela não era o demônio que o assombrava.
Ela era apenas sua noiva inocente que havia sido atacada quando criança e havia passado os
oito anos seguintes em um convento. E ele a tratava como uma…
Ele virou sobre os calcanhares e marchou de volta o caminho que havia vindo. Nenhum mal
havia sido feito. Ele não havia tocado um centímetro de sua pele, e ele não a faria nenhum mal –
de fato provavelmente a faria muito bem sentir os prazeres da excitação.
Não que os prazeres da excitação estivessem fazendo bem para ele. Ele fez uma careta e
ajustou a calça. Nem tudo era tão agradável. Era diferente para a mulher.
Desde que ele não se jogasse sobre nela – e ele não iria – seu respeito próprio permaneceria
intato.
Ele não a tocaria novamente até que eles estivessem na Inglaterra. Ele havia prometido que
a daria tempo para se acostumar a ele, e ela veria que havia se casado com um homem de palavra.

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Anne Gracie
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Ela podia não ser mais uma virgem mas ela precisava de tempo para se acostumar a ele,
acostumar com a ideia de ter um homem em sua cama, em seu corpo.
Na Inglaterra, aquela terra verde e agradável, as emoções não eram tão cruas, distorcida e
saindo de controle, mas ficavam seguramente guardadas na escuridão. Sim, ele a seduziria na
Inglaterra, suave e cuidadosamente, como um cavalheiro deve fazer.
Luke não permitiria que os demônios de seu passado contaminassem seu casamento. Ou sua
noiva. Ele retornou à pousada, tranquilo, frio e firmemente sob controle de seu corpo e de seu
casamento.
Ele tinha ficado fora mais do que dez minutos. Ele bateu calmamente antes de destrancar a
porta, para não a alarmar. Enquanto ele entrava, ela se sentou, cabelos lustrosos se derramavam
sobre os ombros pálidos, uma sereia à luz de vela. Maldição.
— Pensei que você já estaria dormindo. — Ele disse.
— Não. — Os olhos dela eram enormes.
— Eu não demorarei. — Ele girou as costas para ela e depressa se desnudou de sua blusa e
calça. Ele normalmente dormia nu. Sem chance de fazer isso hoje à noite. Ou qualquer outra noite
até que eles tivessem alcançado a Inglaterra, ele se lembrou.
Ele apagou as velas e subiu na cama, cuidadoso para não a tocar de qualquer forma.
— Boa noite, Isabella.
— Você vai dormir?
— Claro. — O corpo dele doía para se libertar.
— Mas eu pensei…
Ele apertou a mandíbula. Ele sabia o que ela estava pensado. Maldito ele por ser um bobo.
— Eu te prometi tempo. — Ele a lembrou. — E mantenho as minhas promessas.
Silêncio seguiu, e quando ele estava começando a esperar que ela estivesse adormecida, ela
disse:
— Fiquei contente por você ter vindo atrás de mim, hoje.
O que se deve dizer a isso?
— Bom. — Ele disse decisivamente. E então, antes que ela pudesse tornar isto como uma
conversa, ele disse novamente: — Boa noite.
A verdade era, era muito íntimo, estar deitado lá lado a lado na escuridão, conversando. Ele
nunca compartilhava cama com as mulheres. Não para dormir. E certamente não para conversar.
Era inesperadamente… Sociável.
— Em qual direção montaremos amanhã?
Ele pensou em não responder, fingir estar adormecido, mas no fim disse:
— Estamos apenas a um dia e meio de Valle Verde, então podemos seguir até lá.
Ela ofegou.
— Mas eu pensei...

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Você estava certa. — Ele admitiu. — Se Molly estivesse nas mãos de um bandido, nada
me impediria de salvá-la. Mas se a sua irmã não está em Valle Verde, te advirto agora, nós
voltaremos imediatamente para a Inglaterra. Não farei uma viagem em vão...
— Oh, obrigada, obrigada! — Ela abraçou as costas dele.
Ele endureceu.
— Não faça isto!
— Mas eu só estava agradecendo...
— A menos que você queira que essa seja a sua noite de núpcias... — Ele sibilou as palavras.
— Fique por sua conta no outro lado da cama.
Houve um silêncio longo. Finalmente, Luke pensou, ela havia se conformado e dormido.
E então as palavras dela soaram na escuridão, suaves e baixas, mas muito, muito distintas.
— Eu não me importaria.

Dez

As palavras penderam na quietude da noite. Ela não se importaria?


O corpo de Luke reagiu antes que ele pudesse pensar em alguma coisa para dizer. Bem, claro
que tinha; ele estava tenso a noite toda.
Por um momento ou dois ele batalhou consigo mesmo. Por que não? Eles eram casados,
afinal. Por que se negar se ela não se importava? O corpo dele estava queimando por ela. Tudo o
que ele tinha que fazer era se virar. Ela estava ali, morna, linda e disposta, pronta para ser tomada.
Ele reprimiu um gemido. Ele poderia ficar ainda mais duro?
Mas se começasse, teria de ir até o final. As resoluções antigas dele voltaram.
O corpo morno e suave dela estava ao alcance dos braços. Ele podia sentir o cheiro atraente,
intoxicante, no quarto, na cama.
Ela não se importaria.
Ele fechou os olhos, tentando bloquear o canto da sereia.
Ele não ficaria atrás de uma mulher novamente.
— Não. — Ele sibilou a palavra. — Vá dormir.
— Oh! — Ela disse com uma voz baixa. E então, depois de um momento: — Boa noite então.
— Ela havia soado… Desapontada? A roupa de cama se moveu enquanto ela ficava de lado, longe
dele.
Ele não se moveu. Ele não podia se mover.
— Boa noite. — Ciente do quão curto ele havia soado, remorso o atormentava, mesmo
enquanto parte de seu cérebro se esforçava para se controlar.
Pelo lado de fora o casamento parecia ser tão simples.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Ele fechou os olhos novamente e tentou dormir. Ao lado dele Isabella se moveu e
ziguezagueou. E se moveu novamente.
Eles estavam tão distantes na cama que eles não estavam nem se tocando, mas Luke estava
dolorosamente ciente de cada movimento dela.
Ela fez pequenos barulhos na garganta e moveu os pés. Que diabo..?
Depois de um minuto ou dois, ele estava farto.
— Vá dormir. — Ele ordenou.
— Estou tentando.
— Ajudaria se você parasse de ficar ziguezagueando.
— Eu não consigo evitar! — Ela disse. — Eu acho… Ai! Algo está me mordendo. Minhas
pernas.
Percevejos? Mas nada o havia mordido. Era um plano, ele pensou. Algum plano feminino
para chamar sua atenção, castigá-lo, torturá-lo mais. Mas era culpa dele mesmo ele estar se
sentindo torturado, ele tinha que admitir.
Ele saiu da cama e acendeu a lanterna.
— Vamos ver. — Ele puxou a roupa de cama e se curvou sobre as pernas dela. Certo, ele
podia ver meia dúzia de pequenas marcas vermelhas nas pernas. E algo preto saltando.
— Pulgas! — Ele exclamou. — Droga, há pulgas nesta cama!
— Eu te disse que algo estava me mordendo. — Isabella saltou da cama e olhou por sobre o
ombro de Luke para os lençóis. — O que faremos?
— Trazer o maldito proprietário para mudar a droga da cama! — Luke andou a passos largos
para a porta, abriu-a com força e gritou chamando o proprietário. Isabella agarrou seu sobretudo,
colocou-o e esperou ao lado do fogão.
Em um momento o proprietário veio apressado usando suas calças puxadas apressadamente
sobre uma camisola listada. Ele estava sendo seguido pela ruiva inverossímil, usando camisola de
flanela e um mantô rosa claro. Pequena, rechonchuda e com cabelo carmesim preso com alfinete
a esmo, ela cruzou os braços e considerou Luke com desaprovação.
— Señor?
Ele encarou o marido dela.
— Há pulgas nesta cama, droga!
A mulher fungou.
— Nunca! Não na minha pousada!
— Sí, señor, essa é uma pousada muito limpa. — O proprietário o assegurou.
— A pousada mais limpa de toda Aragon! — A esposa dele disse, os olhos pretos estalando
com raiva.
— Nenhuma pulga, nenhum percevejo. — o proprietário terminou.
— Mentira! — Luke estava ultrajado. — Eles morderam minha esposa e nós vimos. Olhe! —
Ele agarrou o proprietário pelo braço, arrastou-o para a cama e apontou. — Pulgas!
Então ele girou para a esposa.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— E você, olhe para os pés da minha esposa!


A mulher fungou novamente e marchou irritada para onde Isabella estava de pé, descrença
irradiando de cada centímetro de sua pessoa pequena. Ela se curvou, fez uma exclamação, e se
curvou mais ainda.
— Pulgas, Carlos! — Ela disse com voz ultrajada. — Pulgas, na minha pousada! — Ela saltou,
apertou um dedo no próprio tornozelo, e então espremeu a pulga entre as unhas do polegar. Ela
olhou os pés nus de Isabella, e então em seus com chinelos e então o tapete de trapo. — Estão
neste tapete! — Ela exclamou de repente. — Carlos, venha ver.
— Carlos, abra a janela! — Luke estalou.
O proprietário, pego entre a esposa e Luke, escolheu obedecer Luke.
Luke imediatamente pegou o tapete de trapo cheio de pulga e o jogou para fora pela janela
para a rua.
Isabella dançava inquieta sobre os pés, pulando de pé em pé.
A pequena senhora feroz se voltou para seu marido.
— Eu te disse para não deixar aquele homem trazer seus cachorros para dentro, mas oh,
não, você estava impressionado com o título dele, se curvando e aceitando seus subornos – e olha
o que aconteceu! Pulgas na minha pousada! Olhe para os pés da pobre senhora!
O homem se curvado para olhar e ela o bateu na cabeça.
— Modéstia! — Ela silvou. — Não se olha os pés nus de uma senhora! Você não sabe de
nada? Toda mordida a pobre senhora, e o que ela deve pensar deste lugar?
Luke de repente percebeu por que sua esposa estava se movendo tão estranhamente. Ela
ainda estava sendo mordida, droga. Luke a puxou e segurou contra seu tórax.
— O que você está fazendo?
— Você estava pulando. Pensei que ainda estivesse sendo atacado.
Ela sorriu.
— Meus pés estão frios, é só.
— Oh. — Mas ele não fez nenhum movimento para abaixá-la. O chão ainda estava frio,
afinal. E ela não podia esperar em uma cama cheia de pulgas.
— Eu não sou muito pesada?
Ele bufou. Ela tinha o peso de uma pluma.
— Quero outro quarto! — Ele informou o proprietário. — Com lençóis limpos e forragem
fresca. E nenhum tapete. Agora!
A esposa do homem falou por ele.
— Mil desculpas, señor, mas essa é uma pousada pequena e não há nenhum outro quarto,
apenas uma sala, que não é apropriada para um cavalheiro e uma dama como vocês. Mas eu
ajeitarei esse, eu o asseguro.
Ela foi para a entrada, colocou dois dedos na boca e emitiu um assobio alto. Os empregados
vieram correndo em segundos.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Livre-se deste colchão e forragem. — Ela ordenou. — Para os estábulos com isto. Você, vá
buscar um colchão fresco para o cavalheiro. Você, lençóis limpos, aqueles que foram lavados de
manhã, e forragem fresca. E você! — Ela apontou um dedo para a criada sonolenta. — Esfregue o
chão. Ferva água, coloque uma mão cheia de sálvia, duas de lavanda, e uma de hortelã, deixe por
cinco minutos, e então esfreguem o chão.
Enquanto eles corriam para fazer o que havia sido pedido, ela girou para Luke e Isabella.
— Minhas profundas desculpas pelo inconveniente, señor, señora, mas na semana passada
meu marido idiota permitiu que um cavalheiro trouxesse seus cães de caça para o lado de dentro.
— Ela arremessou um olhar torto para o marido. — Contra todas as minhas regras. Isto é o que
acontece quando eu vou visitar a minha irmã!
— Ele me assegurou que eles não tinham nenhuma pulga! — O homem grande estava
chorando em protesto.
— Hmpf! Você já viu algum cachorro sem pulga? — Ela disse desdenhosamente e se voltou
para Luke. — Os cachorros devem ter dormido naquele tapete, e as pulgas se criaram no calor.
Não importa, estará tudo limpo e bom novamente em alguns minutos e Carlos trará um pouco de
seu melhor brandy, señor, e talvez um pouco de chocolate quente para a sua senhora.
Carlos desapareceu, e os empregados removeram o colchão e a forragem velha e deixaram
uma fresca.
— De lã. — A proprietária disse a Luke e Isabella. — Recém-lavados e secados ao sol. E o
mesmo com os lençóis e cobertores. — Ela deu um sorriso a Isabella. — Agora então, minha
senhora, deixe seu bom homem cuidar de você enquanto eu vou buscar um pouco de pomada
para cuidar da coceira.
— Talvez eu pudesse esperar na cadeira. — Isabella sugeriu.
Luke a colocou na cadeira. Ainda podia haver pulgas no chão.
Ela se sentou, puxando os joelhos até o queixo, e esperou envolvida em seu sobretudo. Ela
parecia um moleque de rua com o casaco muito grande dele, com os dedos nus e saindo.
A empregada chegou com um esfregão e um balde saindo fumaça. Com supervisão da dona
ela esfregou o chão completamente enquanto os outros empregados agitavam os lençóis e a
forragem limpa.
Em minutos a cama estava posta, o chão cintilando e o quarto com cheiro de lavanda e
hortelã. A proprietária deu a Isabella um pote pequeno de unguento, dizendo:
— Ajudará com a coceira. Durma bem, minha senhora. Uma vez mais, minhas
desculpas, señor. Agora, saiam todos, o cavalheiro e a dama desejam dormir. — Ela tirou todo
mundo do quarto. Enquanto a porta se fechava atrás dela, eles ouviram: — Carlos, pode me dizer
por que eu não deveria te fazer dormir naquele colchão cheio de pulgas?
Isabella deu uma risadinha.
— Pobre Carlos, você acha que ela vai seguir com a ameaça?
— Seria bom se ela fizesse. — Luke rosnou.
Isabella destampou o pote e cheirou cautelosamente o conteúdo.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Não é ruim. — Ela começou a se aplicar o unguento para as mordidas.


Ela se torceu desconfortavelmente para alcançar a parte de trás das coxas.
— Você quer ajuda? — Luke perguntou.
— Sim, por favor.
Ela a entregou o pote, girou e levantou a bainha de sua camisola, revelando os membros
esbeltos e cremosos que fizeram com que a boca dele ficasse seca.
— Atrás do meu joelho. — Ela disse, e ele imergiu um dedo na mistura e tocou de leve na
pequena marca vermelha atrás do joelho dela. A carne era sedosa e tenra lá, e ele a acariciou sob
o disfarce de aplicar unguento.
— Você pode ver mais? — Ela perguntou e ergueu mais a camisola, quase até o traseiro.
Ele queria correr as mãos pelo alto das pernas dela, e acariciar sua suavidade, mas ele tinha
feito uma resolução e estava determinado a se apegar a ela.
— É tudo. — Ele disse. A voz soava rouca. Ele pegou a rolha, fechou o jarro e colocou no
lavatório. — Agora, talvez possamos finalmente dormir.
Mas ele sabia antes de ela até mesmo girar na cadeira para encará-lo, antes de ela dizer:
“obrigada” com aquela voz suave, que ele havia perdido a batalha.
Ela girou e a puxou na direção dele. Ou ele foi na direção dela? Ele não sabia. Tudo o que ele
sabia era que os braços dele estavam ao redor dela quase que por sua própria iniciativa, como que
separado de sua vontade.
Por um longo momento ele a abraçou, apertando o rosto contra seu estômago, respirando o
odor dela através da camisola de algodão. Ele sentiu os dedos dela em seu cabelo, acariciando-o, e
ele a levou para a cama e a deitou nos lençóis cheirando bem. O cabelo dela se estendia através
do travesseiro, um emaranhado escuro e torcido, como os sentimentos fervendo dentro dele.
Ele a beijou então, um leve toque de lábios a principio, mal sentindo o gosto – ela era
inocente, ele tinha que se lembrar de ir devagar – mas ela fez um barulho no fundo da garganta,
enroscando os braços ao redor do pescoço dele e o puxou para mais perto.
Calor surgiu por ele. Ele deslizou os dedos pela massa gloriosa dos cabelos dela e extasiou
sua boca com beijos lentos, suaves, enquanto ela retornava cada beijo de forma entusiástica, sua
pombinha.
Os beijos desajeitados puxavam a rédea de seu desejo excessivo. Não era uma virgem, sua
noiva, mas era inocente da mesma forma. Ela não sabia nada sobre fazer amor.
Ele separou os lábios dela e enquanto as línguas se enroscavam, ela agarrou os ombros e
estremeceu contra ele. Ele aprofundou o beijo. O gosto dela incendiou suas veias.
Ela retornava carícia por carícia, uma aluna ávida, se doando.
Ele chupou o lábio inferior cheio, e ela se contorceu e embreou em seus braços com dedos
urgentes. Os mamilos, sob o tecido de algodão, eram pequenos pontos duros. Ele passou
ligeiramente os dedos através deles, e ela arqueou e fez um som do fundo da garganta. Ele roçou
de novo, e de novo, deslizando as juntas sobre eles, e ela estremeceu e ofegou.

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Anne Gracie
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Noiva por Engano

Ele beijou e mordiscou o caminho através da base oca na garganta, até o vale sombreado
entre os seios. O progresso ficou amarrado por uma série de tiras amarradas em laços delicados.
Os dedos dele eram desajeitados. Ela o ajudou a desfazê-los.
Ele agarrou a bainha de sua camisola, e com uma ausência completa de vergonha de uma
dama ela o ajudou a puxá-la por sua cabeça, e ela estava completamente nua para o olhar dele.
A visão dela nua era uma chama de marfim esbelta contra os lençóis brancos amarrotados, e
prendeu a respiração dele. Os olhos eram largos, escuros e excitados, como ouro polido à luz de
vela, assistindo-o a olhar. Ele deve tê-la encardo por muito tempo, muito firme, porque ela parecia
um pouco ansiosa e um rubor lento se ergueu e escureceu a pele. As mãos dela surgiram para
proteger sua nudez.
— Não, não faça isso. — Ele sussurrou, prevenindo-a. — Você é linda.
Por um segundo ela parecia que iria chorar, então ela desviou a cabeça e os olhos
tremularam fechados. Ela estava tão linda que ele tinha que beijá-la de novo. E de novo.
O momento curto de dureza se dissolveu enquanto ela se derretia em seu abraço
novamente, respondendo com honestidade e completude que perfuraram o coração dele. Não
havia nenhuma malícia nela – bem, existia bastante; ela era cheia de truques como um mágico,
mas não nisto, não aqui, não agora. O que quer que ela sentisse, ela demonstrava.
Ele correu as palmas das mãos sobre a pele morna, sedosa, correndo no triângulo escuro de
cachos na base da barriga, sobre o estômago, localizando as linhas das costelas – ela era magra,
tão magra que ele sentia pela privação que ela havia passado. Ela estremeceu sob o toque dele.
Tão morna, tão responsiva.
Ele envolveu os peitos pequenos e provocou os mamilos com o polegar. Ela ofegou e então
ele abaixou a boca para um peito, acariciando-o com os lábios e a língua, e chupou, muito
suavemente. Ela empurrou e deu um grito alto e curto e então se afastou, arquejando, os olhos
escuros e sonolentos cheios de desejo.
Ele soltou a calça e a chutou para longe. Ela agarrou a camiseta dele.
— Não! — Ele disse e parou as mãos dela e as capturou e ergueu de forma urgente para
cima de sua cabeça no travesseiro, segurando-as. Antes que ela pudesse questionar, ele cobriu a
boca com a dele, saqueando-a, devorando.
Ele separou as pernas dela com sua mão livre e acariciou a pele acetinada interna das coxas,
hasteando a mão para o centro morno dela, mal tocando e então se movendo… Provocando,
atraindo.
Ele acariciou entre as pernas e a achou quente, lisa e pronta. Ele inseriu um dedo. Com cada
puxão da boca no peito, ele sentiu o responder de pulsação funda dentro dela. Ele achou as
dobras minúsculas e lisas de seu sexo e as acariciou. Ela deu uma arfada e seus olhos chamejaram
em choque. Os membros tremularam abertos em uma exigência sem palavras.
O odor da excitação dela tomou seus sentidos. Ele deveria tomar tempo para trazê-la ao
orgasmo primeiro, como ele normalmente fazia com as mulheres, mas era uma urgência,
incandescente e explosiva que o dirigia agora. Ele não podia esperar por um momento mais. Ele se

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

posicionou entre as coxas dela. Ela colocou as pernas ao redor dele e o agarrou com força,
beijando sua mandíbula, pescoço, correndo as mãos pela camiseta junto às costas dele, sobre as
nádegas, mãos ávidas, despertas. Sua noiva. Sua esposa.
Ele estava duro e dolorido, e a tensão estava começando a matá-lo.
Graças a Deus ela não era uma virgem, ele pensou, enquanto se posicionava na entrada dela
e apunhalou fundo.
Ela endureceu e gritou. E não foi de uma forma boa.
Ele havia ido muito longe para parar. O corpo apunhalava o dela por iniciativa própria,
bombeando uma vez, duas, no pequeno corpo duro dela, e então o mundo explodiu.
Quando ele veio a si e se retirou dela, ciente dela estremecendo com cada movimento. Ele
deu uma olhada rápida para baixo e, com um sentimento de inevitabilidade, viu a mancha de
sangue. O rosto dela estava pálido, os olhos escuros e aflitos. Ouro manchado.
— Você é uma virgem! — Ele a acusou.
— Eu… Não posso ser. — Bella estremeceu. Como tudo podia terminar tão horrivelmente?
Num momento ela estava tendo a hora mais feliz de sua vida, e agora ela estava na cama com um
estranho de olhos duros. Nua. Ela juntou a roupa de cama ao seu redor, cobrindo sua nudez,
fugindo do olhar fixo e acusador dele.
— Obviamente você não é uma virgem agora. Mas você era. — A voz dele era cáustica. Os
olhos eram duros, sombrios e apunhalantes.
Não fazia sentido. Ela nunca havia se questionado que não era… Mas a evidência estava lá, a
mancha vermelha de sangue nos lençóis. Ela teria que tirar a mancha antes que a proprietária
visse. Seria muito mortificante depois do rebuliço que eles haviam feito para pedir lençóis limpos.
— Bem? — A voz dura dele se intrometeu nos pensamentos dela.
— Bem, o que?
— Você tem uma explicação?
— Para o quê?
— Fui informado que você não era uma virgem. E ainda assim… — Ele gesticulou para o
lençol.
— Eu não sabia! Não é minha culpa. — Ela deu um olhar ferido e irritado para ele. — Que
raio de noivo reclama da virgindade da noiva?
Ele cerrou a mandíbula e a olhou.
Então ela disse para ele.
— Um que pensa que caiu em uma armadilha de casamento.
— Pensa? — O lábio dele enrolou.
Ela esmurrou o ombro dele.
— Eu fui presa também, sabe!
— Você? — Ele bufou.
— Sim, eu. E estou presa a um inglês mal-humorado que vai me levar para um país onde
chove o tempo todo e eu não conheço ninguém.

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Anne Gracie
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Noiva por Engano

O queixo dele caiu.


— Você não é esse troféu, sabe?! — Ela disse com raiva, com lágrimas – bravas –
obscurecendo sua visão. — Eu era uma herdeira antes de você se casar comigo! Eu poderia ter
tido qualquer homem na Espanha, quase.
Ele fez uma carranca, uma expressão apreensiva no rosto.
— Não me olhe assim. Não ouse me olhar assim! Sei que não sou bonita, mas com a fortuna
da minha mãe, eu poderia ter me casado bem. Muito bem!
A fortuna da mãe dela era significativa. Havia títulos, terras e vários investimentos – algum
tipo de manufatura e um moinho de lã. Bella tinha a ideia de que poderia ter até um navio ou dois,
pois o avô da mãe dela tinha sido um capitão inglês, então a maior parte dos investimentos dele
estava na Inglaterra.
O pai dela costumava delirar sobre isto. O enfurecia saber de uma fortuna tão enorme que
não poderia botar as mãos. Depois que a mãe dela havia morrido a fortuna havia sido mantida em
confiança para Bella, até que ela fizesse vinte e um, ou se casasse.
Era por isso que o pai dela havia disputado tão amargamente com os avós dela e os proibido
de entrar em Valle Verde. Os avós dela haviam morrido logo depois. Ela tinha ficado tão triste
quando o pai dela havia dito, porque eles haviam morrido sós, sem família. Como ela agora.
Ela encarou o homem que era seu marido.
— Eu não preciso prender ninguém em casamento, muito menos um inglês repugnante,
suspeito. E, além disso, foi sua ideia se casar comigo! Eu tinha só treze anos. O que eu sabia da
vida?
A boca dele apertou.
— Sim, certo, eu sei que concordei. Eu até fiquei feliz, Deus me ajude por ser uma tola
ingênua. Salvando minha fortuna de Ramón – tão generoso de sua parte! Além disso, eu não fui a
pessoa que negou a anulação. Eu nem sabia sobre isto.
Ele fez um som exasperado, e ela quis bater nele novamente.
— Sei que você não acredita em mim, mas eu não fiz isso.
— Mas você deve ter dito a alguém...
— Que eu não era uma virgem? Errado! A Madre Superiora me disse.
— Ela te disse?
— Sim. — Ela esfregou os olhos com punhos bravos. — Quando eu fui ao convento pela
primeira vez, eu costumava ter pesadelos sobre… Você sabe, aquele dia. Eu continuava acordando
e gritando, e isso chateava as outras meninas, então elas me mudaram para um quarto só para
mim.
— Continue.
— A Madre Superiora – bem ela não era a Madre Superiora então, só minha Tia Serafina –
ela me perguntou sobre os meus pesadelos e o que havia acontecido naquele dia, e eu disse a ela.
— A boca torceu, e por um momento horrível Bella pensou que poderia cair repentinamente em
lágrimas, que ela se danasse se desse essa satisfação a ele. — E então ela disse que era uma boa

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Anne Gracie
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Noiva por Engano

coisa eu estar casada porque eu não era mais uma virgem. Que um homem havia me atacado e
me conhecido – no sentido bíblico, você entende – e então…
Ele a deu um daqueles olhares longo e enigmático que ela estava começando a odiar.
Ela fez um gesto frustrado.
— Bem, como eu poderia saber que era diferente? Elas nunca dizem nada! Eu sei como os
cavalos, cachorros e galinhas fazem, mas quando eu perguntei a minha mãe ela ficou horrorizada
e me disse que nós não éramos animais e não era assim entre um homem e uma mulher. — Ela
cessou bruscamente, franzindo. — Mas é assim, não é? Apenas cara a cara e deitar.
Ele não disse nada.
— Mas eu não sabia o que ser uma virgem queria dizer até que você me machucou agora
mesmo. Quero dizer, eu sabia que deveria machucar, mas o que aquele homem na floresta fez me
machucou, também. Nunca me disseram que tipo de machucar deveria ser.
Ainda assim ele não disse nada; apena a assistia com aquele olhar fixo, enervante.
—Eu não menti. Ou tentei te enganar.
Houve um silêncio longo, e ela esperou que ele dissesse que estava tudo bem, que ele havia
compreendido, que ele não a culpava pelo engano. Mas tudo o que ele disse foi:
— Está tarde e temos outro dia longo de viagem à nossa frente. Seria melhor dormirmos.
E então, como se nada tivesse acontecido, como se o mundo dela não tivesse acabado de ser
quebrado, ele colocou sua calça, pegou a camisola, apagou as velas e deu a volta na cama e subiu.
E então silêncio.
Bella estava incrédula.
— Isto é tudo o que você tem para dizer? — Ela disse depois de alguns minutos deitada
tensa e expectante na escuridão.
— Boa noite. — Ele disse educadamente, como se ela não fosse ninguém, muito menos a
esposa que ele tinha acabado de ser acusada de atraí-lo.
Furiosa, ela o esmurrou nas costas. E nem assim ele disse uma palavra.
Bella se virou. Ela se enrolou bem na extremidade da cama, sem querer tocá-lo. E então as
lágrimas vieram, lentas e mudas, gotejando pelo rosto e empapando seu travesseiro.
Ela lutou, se recusando a fazer um som. Ela não o daria essa satisfação.

Luke ficou deitado na escuridão, o corpo parado, as emoções batendo.


Ele não ligava se ela era virgem ou não. O que importava eram as mentiras. Ele não podia
aguentar as mentiras, especialmente de uma mulher. Especialmente de sua esposa.
E ele não tinha se casado com ela por causa de sua maldita fortuna!
Ela havia mentido ou não? Isso ele não podia perdoar em uma mulher, traição. Algumas
mulheres faziam isto, se enlaçavam ao redor do corpo e do coração do homem enquanto ele
estava exposto, vulnerável e confiante, mentiam, atraindo, enganando, fazendo-o de bobo…

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Anne Gracie
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Noiva por Engano

Se Isabella havia feito isto…


Ele pensou em tudo que ela havia dito.
Ele supôs que se alguém seria ignorante das relações entre homens e mulheres, seria uma
freira e uma garotinha. Por que as mulheres eram mantidas tão ignorantes? Ele não entendia.
Meninos conversavam sobre isso o tempo todo. Ele supôs que as meninas também faziam. Mas a
ignorância das meninas talvez fosse para afastá-las de se preocupar com os perigos do parto. Mas
não fazia sentido. Todo mundo sabia que as mulheres podiam morrer no parto. As mulheres
aguentavam todas as consequências sérias…
Isabella podia ter concebido um filho dele esta noite.
Qualquer que fosse a teia de aranha que o havia levado e esse casamento, estava bem e
verdadeiramente consumado agora. Ele não podia ir embora dela – e ela dele – agora. Ainda que
pudesse, ele não iria, ele percebeu surpreso. Qualquer que fosse a parte dela nisso – e ele estava
propenso a pensar que ela era tão inocente quanto garantia – ela era dele.
Essa decisão feita, ele fechou os olhos e se preparou para dormir.
Ele estava tão ciente dela na cama, o som dela respirando, o odor dela envolvendo seus
sentidos. Ele fez uma carranca. Isso era uma fungada? Ele escutou atentamente.
A respiração dela estava dentada, desigual, estremecendo.
Ela estava chorando; sua noiva estava chorando calada na escuridão.
Ele queria virar e agarrá-la, puxá-la contra ele, murmurar que estava tudo bem, que ela
estava perdoada. Ele não se moveu.
— Você está chorando?
— Não.
Ele se virou para encará-la.
— Você está chateada, eu sei, mas...
— Chateada? — Ela se sentou na cama e o confrontou. — A maioria dos noivos ficaria muito
feliz em descobrir que sua noiva era virgem. Eu não sei como é na Inglaterra, mas na Espanha uma
noiva traz sua virgindade para um casamento como uma garantia de honra, um sinal de p-p-
pureza. — Na luz desvanecendo do fogo ele viu as lágrimas descendo pela bochecha dela. Ela as
secou com um gesto bravo e continuou: — Elas não têm seus maridos repugnantes, estúpidos,
suspeitando e acusando-as de serem v-virgens como se isso fosse algo para se ter vergonha!
— Eu não te acusei. — Mas ele sabia que tinha.
Ela o empurrou para longe.
— Oh, vá dormir. Apenas vá dormir! Eu não quero conversar com você.
Ele havia planejado fazer exatamente isto, mas agora, vendo-a chorar, lutando contra as
lágrimas em vez de usá-las como uma arma contra ele… Ele não havia apenas a chateado; ele a
havia machucado. E seriamente ofendido seu senso de honra.
Ele nunca havia considerado que as mulheres tinham senso de honra. Ele não havia
considerado muitas coisas ao que parecia. Mas apesar de as circunstâncias de seu casamento
serem longe de satisfatórias, ele não podia segurar sua raiva contra ela, não a vendo assim.

** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis.
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Anne Gracie
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Noiva por Engano

— Eu me desculpo. — Ele disse rígido. Ele não estava acostumado a pedir desculpas. Mas ele
tinha que admitir que se ela havia vindo virgem para seu casamento, ele não a havia apreciado
talvez como deveria. Não era talvez, ele percebeu de repente. Ele estava contente por ter sido o
primeiro dela. Ele apenas desejou ter sabido. — Sinto muito. Eu não quis impugnar a sua honra.
Claro que estou contente por te achar intata. Na Inglaterra é igual aqui e estou muito agradecido,
e orgulhoso...
Ela fez um som frustrado.
— Oh, não minta para mim! Você não está nada orgulhoso. Você ainda está irritado e pensa
que foi enganado. Bem, Lorde Ripton, eu não menti, e você conseguiu mesmo uma noiva com
honra imaculada e fortuna na barganha, então você pode pegar a sua desculpa indiferente e… E…
Engolir ela!
Ela se deitou de volta, a linha da coluna rígida e irreconciliável.

A manhã finalmente veio, e se ele não havia dormido bem, o mesmo não podia ser dito de
sua noiva, Luke pensou. Em algum lugar nas altas horas da noite a respiração dela igualou e ele
soube que ela finalmente havia dormido. Só então ele pôde relaxar.
Não que ele estivesse relaxado no momento; ele estava acordado e completamente
excitado. Sob circunstâncias normais ele a acordaria lenta e eroticamente e eles fariam amor
novamente.
Agora… Ele agitou a cabeça e tentou esquecer sua ereção. Seu casamento… Apenas alguns
dias e ainda assim tudo que podia dar errado, tinha. Deus sabia o que ela faria com ele a seguir.
Ele escapou da cama e colocou sua calça, camisa e botas. Com um pouco de sorte ele estaria
fora do quarto quando ela despertasse.
— Aonde você está indo?
Ele girou. Ela estava sentada, sonolenta e extremamente atraente, com o cabelo caindo ao
redor dos ombros e a camisola meio desfeita. Sob o olhar dele – ou talvez fosse apenas o frio
matutino – os mamilos enrijeceram, e ele sentiu o pau mexer em resposta.
Ela viu onde ele estava olhando e puxou a roupa de cama até o queixo.
— Você está me deixando?
— Não, apenas indo pedir água quente e ordenar o café da manhã. Quero um café da
manhã adequado, não um pouco de pão ou massa.
— E nós?
— Agora eu aceito que foi um engano honesto nascido da sua ignorância. — Ele disse a ela.
Ela o considerou fixamente por um momento, então deu um pequeno aceno vivo com a
cabeça.
— Muito bem então, eu te perdoo. — Ela saiu da cama e marchou em direção ao lavatório,
os pequenos mamilos duros balançando sob o algodão.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Você me perdoa? — A atitude imperiosa dela o divertia. Seguramente ele deveria ser
aquele que perdoava. Ele assistiu os mamilos dela indo para cima e para baixo através do quarto e
percebeu que já a havia perdoado.
— Sim. Agora vá e peça seu café da manhã inglês gorduroso e grande. Eu terei churros e
chocolate quente.

Pouco tempo depois Isabella desceu as escadas com a saia longa de que seu hábito de
montaria dobrada no braço. Ela parecia fresca e limpa, mas havia o arrastar leve em seus passos
que demonstrava os dias longos de viagem. E a noite também longa.
A proprietária veio apressada perguntar como ela estava, e Luke ouviu Isabella assegurar a
mulher de que as mordidas não coçavam mais e que o unguento era muito efetivo, e sim, claro
que todos estavam perdoados.
A pergunta era: ela queria dizer todos? O tempo diria.
Ela se juntou a ele na mesa com um sorriso em dúvida.
— Você pediu meus churros?
— Eu realmente pedi, e chocolate, como você desejava. — Ele decidiu testar a água. —
Nossa proprietária está tão mortificada pelo infortúnio ontem à noite que te daria qualquer coisa
que você pedisse, inclusive a cabeça do marido dela em uma bandeja.
Isabella riu, um som delicioso de prazer.
— Eu diria, especialmente a cabeça do marido em uma bandeja. Pobre Carlos. Mas ela o
perdoará. — Ela organizou seu guardanapo e acrescentou: — Ele a adora, claro.
— Você acha?
Ela anuiu com a cabeça.
— Oh, sim, é óbvio.
O proprietário – cabeça intata – chegou com o café da manhã de Luke: presunto, ovos,
salsichas e café. A esposa seguia com uma cesta de guardanapo forrada com churros, dourados e
quentes, chocolate quente, espesso e escuro, muito doce.
O proprietário pairou, aparentemente propenso a ficar e conversar, mas sua esposa o guiou
para longe, dizendo suavemente:
— Eles querem o café da manhã, Carlos, e não conversar.
Isabella só tinha olhos para seu café da manhã. Ela comia os churros com tal prazer que Luke
não pôde reprimir um sorriso.
Ela notou.
— O quê?
— Anos de sopa de aveia no convento?
Ela riu.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Apenas pão, e normalmente passado. E nunca tinha chocolate quente. — Ela imergiu o
churro e chupou o chocolate com tal felicidade no rosto que ele quase gemeu em voz alta.
Hoje à noite ele a mostraria todos os prazeres da cama de casados. E desta vez a conclusão
seria muito diferente.
Luke tomou seu café da manhã. Isabella não guardava rancor; ele tinha que dar esse crédito
a ela. Ela era uma lutadora – ele gostava disso nela, também. Ele gostava de ela tê-lo confrontado
quando ela pensou que ele não a havia dado o valor devido. Ela estava brava e disse a ele o
porquê. Ele não tinha que tentar adivinhar. Nada de ficar petulante e muda, uma fêmea amuada.
Ela deu a ele um sermão e alguns socos bravos. Franco e direto.
E agora estava terminado. Graças a Deus.
Ele assistiu Isabella lambendo o açúcar dos dedos. Ela não era a noiva quieta, e conformada
que ele esperava. Ele estava muito contente por ela não ser. De uma coisa ele estava certo: ele
não ficaria entediado. Ela o tiraria dos eixos – um riso escapou de repente – ela já tinha feito isso.
Ela balançou a cabeça com um olhar interrogativo.
— Algo engraçado?
— Apenas me perguntando se você sabe dançar.
Ela agitou a cabeça.
— Apenas danças rurais de quando eu era criança. Dança não era ensinado no convento. É
importante?
— Não, mas eu te ensinarei.
— Espero ansiosamente. — Ela disse suavemente, e o olhar dizia a Luke que ela realmente o
havia perdoado por acusá-la de querer prendê-lo. E algo se soltou no peito dele.
Ele colocou o guardanapo na mesa e empurrou a cadeira para trás.
— Se você terminou, é melhor irmos guardar as coisas.

A noiva dele era uma boa companhia na estrada, também, Luke descobriu. Ela fazia
observações aqui e ali, mas eram interessantes. Ela não era como algumas mulheres que ele
conhecia, achando que era seu papel preencher o silêncio – qualquer silêncio – com tagarelice
sem sentido. Nem era ela o tipo de mulher que esperava que um cara deveria entretê-la.
Com Isabella, às vezes eles montavam em silêncio, outras vezes conversavam. Era fácil, sem
esforço. Um pouco como viajar com os amigos dele, só que mais interessante, porque ele nunca
sabia o que ela diria.
Ela perguntou a ele sobre sua família, e ele disse a ela sobre sua mãe, Molly e o debute de
Molly, que tinha sido adiado tantas vezes.
— Você gostará de Molly. — Ele terminou. — Ela é divertida e muito doce. Todo mundo
gosta dela, e ela gostará de você, eu sei.
Isabella fez uma cara irônica.

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Noiva por Engano

— Talvez.
— Você duvida?
— Ela provavelmente tinha alguma amiga querendo se casar com você. Ela não ficará
contente de você trazer para casa uma esposa estrangeira que nem é bonita.
Ele agitou a cabeça.
— Molly não é assim. Já que eu fico muito feliz com você, ela ficará muito feliz, também.
— Então é essa a questão?
Antes que ele pudesse responder, ela saiu a galope tomando a dianteira dele. Ele correu
atrás dela, pegou-a e andou a meio galope ao lado dela até que os cavalos começaram a cansar.
Quando eles diminuíram a velocidade para um trote, ele se debruçou e pegou a alça da rédea
dela, fazendo-os parar.
— Molly gostará de você.
Ela o deu um olhar torto.
— Embora eu seja difícil, desobediente e briguenta? — Ela não estava conversando sobre a
opinião da irmã dele.
Ele sorriu.
— Eu não sou exatamente um cara que ri fácil.
— Você estava bastante alegre quando eu te encontrei pela primeira vez. — Ela disse
suavemente. — Não durante a briga, claro, mas posteriormente, quando estávamos viajando.
Ele encolheu os ombros e desviou o olhar.
— As pessoas mudam. — Ele sinalizou para que o cavalo dela caminhasse.
Eles ficaram silêncio por alguns minutos, então ela disse:
— Então você não acha que Molly se importará de eu ser difícil às vezes?
Ele não respondeu. Ela achava que ele era tolo o suficiente para dar carta branca a ela?
— A Madre Superiora costumava dizer que eu sei dar mais trabalho do que todas as outras
meninas do convento.
— Ela me disse que você era um tesouro para ser estimado.
Isabella girou um rosto surpreso para ele.
— De verdade? A Madre Superiora disse isto? — Ela considerou. — Tia Serafina, Madre
Superiora? Sobre mim? Um tesouro? Tem certeza?
Ele se achou sorrindo novamente.
— Ela disse. Disse que eu cuidasse bem de você.
— Bem! — Ela estava claramente surpresa. Um pequeno sorriso tocou o rosto. Então ela
agitou a cabeça. — Por que as pessoas só te dizem coisas ruins na cara, nunca as coisas boas? Ela
nunca me chamou de tesouro. Uma praga, sim, uma peste, uma cria de Satanás... — Ela cessou
bruscamente, claramente sentindo que havia falado demais.
Ele riu.
— Talvez ela pensasse que elogios arruinariam seu caráter.
Ela agitou a cabeça.

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Noiva por Engano

— Não, eu recebi pouquíssimos elogios na vida. E ainda acabo entrando em confusões o


tempo todo.
Ele riu de novo.
— Por que eu não fico surpreso?
Ela deu um sorriso rápido nele.
— Em minha própria defesa, e olhando de volta no passado, não havia nada que agradasse
meu pai. — Uma expressão saudosa passou brevemente no rosto dela. — Não importa o que eu
fizesse, nunca era bom o suficiente.
— Por que não?
Ela fez careta.
— Eu devia ter nascido um menino.
Ele pensou no modo como ela ficava de calça, nua e bela na cama, a ânsia com que ela havia
feito amor com ele, e disse firmemente:
— Isso eu tenho que discordar.
Ela deu a ele um meio sorriso.
— Muito galante, senhor. Mas meu pai preferia Perlita. Ela é muito bonita, muito feminina.
— Ela falou ligeiramente, mas havia dor real.
Luke fez uma carranca. Novamente, aquele comentário de que ela não era bonita. Era em
parte verdadeiro – ela não era o que o mundo chamava de bonita – mas isso era longe da verdade.
As feições eram muito corajosas, não era a mera beleza convencional, mas ela tinha a aparência
que compelia um homem a olhar fixamente. Luke dificilmente podia tirar seus olhos dela.
— Quanto à beleza... — Ele começou.
Ela o cortou.
— Por favor, não me dê elogios vazios. — Ela disse vivamente. — Eu sei como sou, e não
posso mudar isto.
— Mas...
— Não. — Ela deu a ele um olhar feroz.
Um olhar defensivo, ele viu. Era um assunto sensível. Por que, ele não entendia, mas ele
podia apreciar assuntos sensíveis. Ele mesmo tinha alguns. Mas havia mais do que uma maneira
de acalmar a tempestade. Mas agora não era o momento.
—Quando criança você era muito malcriada?
Ela deu uma risada.
— Oh, eu gosto do “quando criança”. Por isso eu te agradeço, ainda que você tenha
provavelmente mentido para a sua alma. Mas a verdade é, quando criança eu era totalmente boa.
Faminta pela aprovação do meu pai. Mas ele nunca me fez nenhum bem. Ele não podia me ver,
acho. Apenas a minha mãe em mim, mas ele não amava a minha mãe. — Novamente aquela
expressão saudosa, então ela agitou a cabeça, como que para escapar das memórias infelizes, e
continuou: — E no convento, todo mundo tentava agradar a Deus em todos os sentidos, e Ele
nunca mostrou qualquer aprovação, também. Então no fim eu decidi não tentar agradar ninguém,

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Anne Gracie
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Noiva por Engano

mas fazer o que eu achava que era certo, eu mesma. — Ele acrescentou com um olhar travesso: —
É isso o que você ganha por me deixar lá por oito anos.
Luke riu.
— Insolente. Então se você me deixar acabado, é minha culpa, é?
— Exatamente. — Ela sorriu. — É adorável te ouvir rir, Luke. Durante algum tempo pensei
que você houvesse se esquecido de como se faz isso.

Onze

Ele cavalgou em silêncio por alguns quilômetros, então pararam ao lado de um córrego para
almoçar. A proprietária os havia entregado comida para a jornada: vinho, pão, presunto, omelete
com pimenta e batata, meia galinha e algumas laranjas. Eles atacaram o banquete com zelo e,
posteriormente ficaram ao sol, se banhando nele.
Luke decretou que eles partiriam em meia hora. Agora ele lamentava ter dito isso.
Isabella estava deitada com as costas na grama, um joelho curvado, a outra perna
descansava através dele em uma pose juvenil. A calça e as botas eram claramente visíveis, mas já
que não havia ninguém mais para ver, Luke não se importava.
De fato, ele não se importaria de desnudá-la um pouco mais. Ele se levantou, esticou e
sentou ao lado dela.
— Se você fosse um homem civilizado, nós poderíamos ter uma siesta adequada. — Isabella
murmurou com sono.
— Não há descanso para os pecaminosos. — Ele murmurou, assistindo a perna dela balançar
devagar de um lado para o outro. Ele se lembrou do modo como ela havia tremido sob seu toque.
Ele rolou para frente, e ficou deitado coxa com coxa com ela.
— Sei de algo melhor do que uma siesta. — Ele murmurou e esticou uma mão preguiçosa
em direção aos botões da blusa dela.
Ela empurrou a mão dele para longe e se moveu para um pouco mais longe.
Tímida, Luke pensou. Talvez estivesse muito cedo no casamento para pensar em fazer amor
ao ar livre.
— Fale-me sobre a calça.
— Que tem ela?
— Você disse que a Madre Superiora te deixava sair do convento vestida como um menino.
Por quê?
Ela deu uma risada divertida.

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— Ela não me deixava, não a princípio. — Ela ziguezagueou para que eles estivessem se
encarando e o considerou com um olhar de travessura que ele estava começando a reconhecer. —
Eu costumava escapar sorrateiramente.
Os lábios dele tiveram um espasmo.
— Por que eu não estou surpreso?
Ela enrugou o nariz.
— Bem, odeio a sensação de ficar trancada. E o convento foi construído para confinar as
pessoas, não para manter lá as freiras que querem estar lá. E algumas das meninas que são
educadas lá são reféns valiosas. Então não é uma prisão. Mas era para mim.
Oito anos, ele pensou.
— A princípio eu costumava sair apenas por uma hora...
— Fazendo o que?
— Oh, apenas sentando e respirando na noite, olhando as estrelas, ou, se houvesse luar,
caminhando e correndo. Não se tem permissão para correr em um convento “deslizem, jovens
damas, deslizem!”. — Ela imitou. — Era fácil, porque eu não dormia no dormitório com as outras
meninas, então ninguém notava se eu não estivesse na minha cama.
— Então, como a Madre Superiora descobriu?
— Não foi por muito tempo, e foi por minha culpa. A comida ficou muito escassa durante a
guerra. O convento estava ficando a míngua, e eu estava morrendo de fome e doente por não
comer nada exceto sopa aguada com três lentilhas e uma erva qualquer. Então eu comecei a fazer
armadilhas.
— Armadilhas?
— Armadilhas. O meu pai me ensinou a viver da terra. — Ela pausou. —Você não acredita
em mim, não é?
Ele murmurou algo cortês, mas ela não foi enganada. Ela saltou.
— Eu te mostrarei. — De sua bolsa ela puxou um carretel de linha. —Seda trançada, o que
significa que é muito forte. Sua faca, por favor?
Fascinado, ele a passou para ela.
— Se faz assim, exceto claro que você escolheria um lugar melhor do que esse. E se corta
assim. — Ela cortou uma vara bifurcada. — Seca, ou a seiva pode fazê-la mole. — Ela selecionou
uma vareta perto de um arbusto. —E então você curva isso para baixo e firma assim. — Ela
prendeu no lugar com uma das varas bifurcadas. — E agora você posiciona aqui…
Ele assistiu as mãos pequenas e competentes fazendo um laço e instalando a armadilha.
Nenhuma dama de seu conhecimento faria – ou saberia fazer – tal coisa. Ele cometeu o engano de
dizer isto em voz alta.
Imediatamente ela parou e disse com a voz plana:
— Eu te adverti que frequentemente faço a coisa errada.
— Eu quis dizer como um elogio.
Ela o olhou desconfiada.

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Anne Gracie
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Noiva por Engano

— De verdade?
— De verdade. Acho que você é uma mulher notável.
Corou e desviou a cabeça, como que não acostumada a tais elogios. Mas a boca se curvou o
suficiente para ele saber que ela estava contente.
Ele a assistiu desfazer a armadilha, e quando ela terminou, ele bateu levemente no chão ao
lado dele. Ela fez uma pequena carranca, mas se sentou novamente, abraçando os joelhos ao
peito. Ela parecia um pouco nervosa. Talvez ela tivesse lido a mente dele.
Todo o tempo ele havia imaginado tirar as roupas dela. Uma menina que caçava só à noite
seguramente podia ser persuadida a fazer amor na grama.
— Você não terminou a história. A Madre Superiora? — Ele iniciou e ficou contente quando
a viu relaxar.
— A primeira vez que eu tentei, peguei duas lebres gordas. — Ela disse, incapaz de esconder
o orgulho na voz. — Eu as deixei na cozinha junto com um pacote cheio de nozes. Ninguém sabia
de onde tinham vindo. — Ela sorriu maldosamente. — O cozinheiro achou que fosse um milagre,
que o nosso anjo os havia mandado para nos salvar – o anjo sobre o portão, sabe. A pessoa que
parece com você.
— Comigo? — Ele ficou revoltado. — Eu não pareço com um anjo.
Ela riu.
— Parece, sim; todo mundo diz isso. — Antes que ele pudesse discutir a questão ela
continuou: — Então depois eu saí para caçar todas as noites. Mas meus vestidos eram um
problema. — Eles ficavam se rasgando e sujando. Então eu consegui uma calça e botas de uma
casa na aldeia. Não me olhe assim – eu não roubei.
Ele deu um olhar de falsa inocência, reivindicando secamente:
— Eu não disse nada.
— Eram do filho dela – ele havia sido morto na guerra, e eu negociei por... — Ela cessou
bruscamente.
— Por?
Ela deu a ele um olhar culpado.
— Por um pouco do ouro da corrente que você me deu no dia do nosso casamento. Eu
negociei tudo no fim, por várias coisas que precisávamos. Mas eu mantive o anel; você sabe disto.
— Ela o puxou no pescoço. Oscilou em uma linha de seda trançada, refletindo ao sol.
Ele anuiu com a cabeça, recordando do choque que sentira quando descobriu que ela havia
usado o anel de sinete por oito anos. Ele quase havia se esquecido dele. Agora ele sentiu apenas
possessividade.
Ela guardou o anel de volta e continuou seu conto.
— Mas depois de vários dias da aparência milagrosa de lebres e ovos de coelhos, esquilos e
pássaros...
— Esquilos?

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**
Anne Gracie
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— Nós estávamos morrendo de fome. — Ela o lembrou. — Esquilos são pequenos, mas bons
para comer. Claro, a cozinheira nunca admitia os esquilos, mas uma vez que é um guisado, você
não pode dizer exatamente o que é. De qualquer maneira, uma noite a Madre Superiora me
pegou voltando. Ela estava esperando no meu quarto. Oh, as penitências que eu tive que
apresentar… — Ela fez uma careta. — Mas ela me deixou sair de novo no fim.
—Era isso ou morrer de fome?
Ela anuiu com a cabeça.
— Minha contribuição não era muita, mas fez a diferença entre morrermos de fome ou não.
— Nenhuma maravilha ela te chamar de tesouro.
— Suponho que seja isto. A comida é importante.
— Eu quis dizer à coragem que foi necessária. — Ele disse suavemente.
— Coragem? Não há nada corajoso em preparar algumas armadilhas.
Não, Luke pensou, mas havia muita coragem em uma jovem menina vagando nas
montanhas só durante o tempo da guerra, fugindo e caçando comida para suas amigas.
Ela era surpresa atrás de surpresa, esta sua esposa.
Ela deitou as costas na grama, se esticou ao sol e deu um suspiro.
— Suponho que seja hora de partir.
Tentação mexeu nele novamente. Não havia ninguém ao redor por quilômetros, então
isolamento não devia ser um problema. E ela amava o ar livre. Que lugar melhor?
— É tão agradável ao sol; vamos demorar mais um pouco. Eu te mostrarei o que os casais
fazem durante a siesta. — Ele murmurou e a agarrou.
Ela saltou como se ele a tivesse mordido, e fugiu, sentando reta.
— Sobre isto, eu acho que não devemos tomar parte em… Hummm, relações matrimoniais
novamente até chegarmos à Inglaterra.
— O quê? — Ele se sentou.
— Outras duas semanas não podem fazer qualquer diferença para você.
Duas semanas? Com toda a certeza que faria! Ele pensou que talvez o período dela tivesse
vindo, mas, duas semanas?
— Afinal, você me deixou no convento por oito anos...
— Então é isso? Vingança por aqueles anos?
— Vingança? Não, claro que não. Eu pensei que se você obviamente não estava com pressa
de ter um herdeiro, então outras poucas semanas não importarão agora.
— Ter um herdeiro?
— Sim, é o propósito principal – não é como criar cavalos? — Os olhos dela abaixaram e ela
acrescentou: — Prefiro não fazer isto durante algum tempo, se você não se importar. — As mãos
dela descansaram no colo, mas estavam firmemente apertadas.
Luke a olhou fixamente, perplexo. Ele não dava a mínima para um herdeiro. Quando ele a
havia levado para a cama, um herdeiro era a última coisa em sua mente. Era apenas ela, e a
necessidade de possuí-la, saboreá-la, entrar – oh, claro! Era isto. O maldito tolo que ele era, ele

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Anne Gracie
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tinha estado em tal pressa, que a havia assustado, se não por toda vida, mas pelo menos por umas
semanas.
Ele devia realmente tê-la machucado, que droga ele ser um desajeitado.
— Não. — Ele disse. — Nós não esperaremos até chegar à Inglaterra. — Quanto mais adiar,
mais a ansiedade crescerá.
— Mas...
Ele disse com a voz mais gentil:
— Eu fui desajeitado ontem à noite. Se eu soubesse que você era virgem, teria sido mais
cuidadoso, mais lento, mais gentil. Não machucará da próxima vez.
Ela fez uma carranca, virando suas palavras na mente, então o queixo surgiu e os dedos
enrolaram em punhos.
— Então você pretende me forçar?
— Não, claro que não. — Ele nunca havia forçado uma mulher na vida.
— Bom, porque se você tentar, eu lutaria com você.
As sobrancelhas dele ergueram com o tom dela, mas tudo que ele disse foi:
— Te dou a minha palavra que não te forçarei.
— Bom, então devemos esperar até...
— Não tenho nenhuma intenção de esperar.
— O quê? Mas você acabou de dizer...
— Eu não te forçarei. — Ele deu seu um sorriso lento. — E não precisarei disso.
Ela fez uma carranca, considerando as palavras dele, então uma afronta de súbito ergueu.
— Você vai me drogar? Eu já ouvi falar de tal maldade.
— Não seja ridícula. Claro que eu não te drogaria! Bom Deus! Não, eu prometo que você
estará bem acordada e dará seu total consentimento.
Ela o olhou com suspeita.
— Por que eu faria isto?
— Eu te seduzirei. — Ele não tinha nenhuma dúvida disto. Sim, ela estava arisca agora, mas
ontem à noite ela havia respondido de forma natural, com sensualidade livre – até que ele havia
estragado tudo, entrando nela com mais desespero do que astúcia. Havia sido contrário a sua
honra. Ele se orgulhava de suas habilidades na alcova. Ele não tratava uma mulher tão
desajeitadamente desde que era um jovem imaturo e ávido. Ele não tinha nenhuma ideia de como
sua perda de controle havia acontecido na noite anterior, mas ele com toda a certeza não deixaria
acontecer novamente.
Ela estreitou os olhos para ele, então encolheu os ombros como se não acreditasse nele e
disse com um tom aéreo e indiferente:
— Fique à vontade para tentar. — Ela começou a arrumar as coisas do piquenique.
Os lábios dele tiveram um espasmo. A insolente, usando as próprias palavras dele contra ele.

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Anne Gracie
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Noiva por Engano

Eles alcançaram a cidade de Huesca quando a hora da siesta estava sendo concluída. As ruas
já estavam enchendo com as pessoas indo na mesma direção, e quando eles alcançaram o centro
da cidade, eles viram o por que.
— É um mercado. — Bella girou avidamente para Luke. — Podemos parar e olhar? Não sei
dizer quanto tempo faz desde que estive em um mercado.
Luke podia ver que ela estava morrendo de vontade de mergulhar naquela multidão.
— Vamos, então. — Ele disse. — Vamos fazer compras. — Ele havia planejado comprar um
capote para ela, e essa poderia ser uma oportunidade.
— Compras? — Os olhos dela faiscaram. — O que devemos comprar?
— Teremos que ver o que está disponível, não é? Mas primeiro vamos ver os cavalos e achar
um quarto para passar a noite.
Eles acharam um eventualmente, um quarto privado em uma pousada fora da praça central,
provavelmente a acomodação mais cara na cidade, mas a cidade estava cheia por causa do
mercado, e nada mais estava disponível. Depois de um banho, uma troca de roupas, e uma
bebida, eles saíram para a praça e mergulharam na multidão.
Os olhos de Isabella estavam em todos os lugares; até o mais humilde estande era de
interesse dela, e Luke foi lembrado novamente que ela tinha ficado trancada do mundo por oito
anos. Ela cheirava as frutas, provava tudo que era oferecido de comer, e examinou os animais:
gansos, porcos, gaiolas de papagaios brilhantes e uma caixa de gatinhos. Ela arrulhou no último
com tal encanto que ele teve que informá-la que eles não podiam viajar com um gatinho.
— Eu sei. É só que eles são tão fofos.
Isabella se moveu de estande em estande. Ela estava amigável demais, examinando os bens
e trocando saudações e brincadeira com os donos dos estandes. E ela tocava com os dedos os
tecidos e olhava as roupas já feitas com desejo mal disfarçado.
— Ficará bem em você? — Luke perguntou quando ela demorou em um vestido simples em
um tom vermelho escuro.
— Será? — Ela girou para ele surpresa, e vendo que ele falava a sério, ela examinou o
vestido mais cuidadosamente, então o segurou contra ela. — Acho que sim. — Ela disse sem ar.
— A señorita quer experimentar? — A esposa do dono do estande avançou. — Temos um
lugar privado aqui, muito seguro. — Ela indicou um cubículo fechado por um tecido instalado atrás
do estande.
— Señora. — Luke a corrigiu. Ele examinou o cubículo, anuiu com a cabeça, então ficou do
lado de fora enquanto Isabella e a mulher entravam.
— O que você acha? — Isabella saiu pela cortina.
O vestido era barato, simples e antiquado para a sociedade de Londres, mas ele podia ver
que ela havia amado, e realmente caía bem nela. O vermelho escuro combinava perfeitamente
com a cor morena dela, e o bordado simples amarelo claro dava um toque sutil que exaltava a
beleza de Isabella.

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Anne Gracie
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Noiva por Engano

— Muito bom. — Ele disse.


— Está um pouco solto aqui. — Isabella mostrou o justilho.
— A señora apenas precisa de um colete. — A mulher murmurou.
— Um colete? Ela não é gorda! — Luke exclamou indignado.
A mulher fez tsc indulgentemente.
— A señora é tão esbelta quanto uma cana, com certeza, mas um colete também ajuda aqui.
— Ela envolveu os próprios seios de forma significativa.
— Ela não precisa...
— Eu adoraria experimentar um. — Isabella disse ao mesmo tempo. E sem esperar, a
senhora desapareceu novamente atrás das cortinas. A mulher gritou algo para a filha, que
empurrou um pacote de coisas brancas pela cortina.
Luke esperou. Sons e murmúrios sussurrados vieram do cubículo acortinado.
— Agora, como estou? — Isabella puxou a cortina de volta.
Luke olhou fixamente. E tragou. Em vez de um decote solto que insinuava curvas
suavemente sombreadas, dois montes sedosos erguiam imprudentemente no decote. Um vestido
que era perfeitamente aceitável antes, agora estava… De encher a boca d’água.
O queixo dele estava caído, ele percebeu de repente. Ele fechou a boca com um estalo que
chacoalhou os dentes.
— Então? — Isabella deu a ele um olhar especulativo.
Ele esticou a língua e lambeu os lábios.
— Você não precisa disto. — Ele disse a ela. — Parece… Ridícula.
— Ridícula? — Os olhos dela se estreitaram em duas fendas douradas. Ela deu uma olhada
rápida para o decote e então ergueu o olhar lentamente para ele, da cabeça ao dedão do pé,
demorando na virilha pelo que pareceram minutos. Luke sentia o olhar dela como uma carícia
lenta, quente. Ele sentiu o corpo mexer.
Ele ergueu uma sobrancelha.
— Brincando com o fogo, esposa?
Ela encontrou o olhar dele, corou, jogou a cabeça para trás e foi até a cortina.
— Levarei os dois. — Ela disse. — Meu marido pagará.
Luke sorriu para si mesmo. Ele não era a única pessoa excitada aqui, mas era o único que
reconhecia isso. Fique à vontade para tentar, francamente. Chegando a noite, ela descobriria as
consequências de seu convite despreocupado.
Luke nunca havia perdido um desafio.
O dono do estande emergiu do cubículo com um sorriso sabedor e, enquanto Luke estava
esperando que Isabella emergisse, mostrou a ele outro vestido, o mesmo tamanho e estilo mas
em um tecido moldado em azul, branco e creme.
— Este ficaria perfeito na señora. — Ela disse a ele.
— Embrulhe esse também.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Eles vagaram pelo mercado, investigando cada estande. Eles compraram pudim recheado
com passas feito por freiras. Compraram nozes com canela, albricoques secos e tâmaras frescas.
Isabella achou um sabão cheiroso e disse que ele não cheirava nada como o sabão do convento, e
Luke comprou um par de brincos de olho de gato que combinavam exatamente com os olhos dela.
— Sei o que você está fazendo. — Ela disse enquanto colocava os brincos feliz. — Mas não
dará certo.
— O que eu estou fazendo? — Ele soltou uma mecha de cabelo de um brinco.
— Hah! Tão inocente. Você pensa que pode me seduzir com presentes.
Ele agitou a cabeça.
— Eu não preciso de presentes para te seduzir.
Ela deu a ele um olhar especulativo, atado com desafio.
— O que usará, então?
Ele a deu um sorriso lento.
— Eu.

A confiança absoluta dele secretamente emocionava Bella, mesmo enquanto ela tentava se
fortalecer contra ele. Não importava quantos olhares escuros e cheios de intento ele desse a ela,
ou as palavras que ele costumava usar para atraí-la, ela não se juntaria a ele. Não hoje à noite.
Ela precisava de mais tempo. Tempo para se preparar, se armar, antes de ela provar seu
abraço novamente. Ontem à noite ele a havia machucado, muito.
Não o corpo. Ela não se importava com uma dor tão pequena, passageira. Todas as meninas,
todas as mulheres experimentavam isto quando conheciam um homem. Era um rito de passagem.
Se fosse qualquer coisa, ela estava contente, contente por ter ido para sua noite de núpcias como
uma virgem.
E a primeira parte… Os beijos, os toques…
Em todas suas imaginações de moça, ela nem sequer havia sonhado com qualquer coisa tão
doce. E ainda assim amoroso.
As entranhas dela estremeceram, só de pensar. A ânsia. A urgência tenra, o trabalho lento,
cuidadoso… Reverente. Com meu corpo eu te adoro 10. Ele a desvendou, dissolveu cada dúvida,
reavivou cada sonho que ela já havia sonhado com este homem, este casamento. Ela estava cheia,
exaltada… Inundada com carinho.
E então…
Ela se sentiu pequena, doente e fria, só de lembrar.
As palavras, a resposta cortou tão fundo. A raiva nele quando percebeu que ela era virgem, a
realização amarga de que ele havia sido preso em um casamento não desejado. Enganado.
10
Nota da Revisora: Voto de casamento comum na Inglaterra.

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Noiva por Engano

Ele havia conseguido engolir as palavras mais nocivas, mas sensível a ele como ela era, ela
havia sentido sua ira. Radiava dele, tão tangível quanto o calor, tão afiada quanto gelo.
Ela havia se aberto para ele, coração, corpo e alma, e então, quando ela estava mais exposta
e vulnerável...
— Você gostaria de comer bolo? — Luke perguntou, apontando para um vendedor de bolo
que passava com uma bandeja cheia com a mercadoria.
Bella agitou a cabeça.
— Não, obrigada. — Eles continuaram pelo mercado.
Nenhum sinal dessa ira agora. Ele a havia freado, enterrado, escondido atrás de uma camada
de cortesia cavalheira. Mostrando sua melhor face. Até o voto dele de seduzi-la era um modo de
se desculpar pela noite prévia. Amável e pensativo, apesar de tudo – e isso ameaçava desvendá-la,
também.
Ela devia ficar agradecida por isto. Ela estava. Apenas…
Bella Ripton, construindo castelos de areia novamente. E se ele desmoronasse este – claro
que ele iria – ela provavelmente começaria a construir outro.
Mas estava na hora de crescer, hora de parar de sonhar sonhos impossíveis.
Uma caixa com filhotes de cachorro atraíram seus olhos. Três suaves e fofos, cor de
caramelo e tigrados e havia um cãozinho mestiço com o rosto espremido, orelhas inclinadas para
um lado e um olho defeituoso.
— Olá, pequeno pirata. — Ela disse e se curvou para acariciá-lo levemente.
— Nem pense nisso. — Luke disse a ela. — Você não pode levar um filhote de cachorro para
a Inglaterra com você. Além disso, ele é uma coisinha tigrada e feia.
— Eu sei, mas ele é tão dócil. — O filhote de cachorro meneou seu corpo suave e pequeno
com felicidade, sacudindo o rabo e lambendo os dedos dela com excitação frenética. Tão
amoroso; tão ávido para ser amado. Ela deu a ele uma última acariciada leve. — Boa sorte,
companheiro. Espero que você ache alguém para te amar. — Eles partiram pelo mercado.
A maioria dos casamentos não tinha nada a ver com amor. Eram acordos práticos, alianças
de família, uma consolidação de riqueza. E filhos.
Bella precisava fazer o que o marido dela havia feito; aceitar uma situação insatisfatória e
tirar o melhor proveito dela. E ela iria. Ela tinha toda a intenção de fazer deste um bom
casamento, fazê-lo feliz – e ser – feliz.
Ela deu um passo para trás para deixar um casal com três crianças passarem, duas
menininhas e um menino. As crianças estavam vestidas com sua melhor roupa de domingo, o
cabelo recentemente lavado e brilhando. O pai levava a menorzinha nos ombros, não parecendo
se importar com os pequenos punhos cerrados em seu cabelo.
Sim, ela construiria uma família com Luke Ripton, e eles seriam muito felizes, como essa
família, e adorariam seus filhos. E isso seria o suficiente. Ela faria ser o suficiente.
Mas primeiro ela precisava achar um jeito de seguir em frente, se dar a ele noite após noite,
e de alguma forma proteger seu coração descuidado e tenro do conhecimento da indiferença dele.

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Anne Gracie
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Noiva por Engano

Ela seria uma tola se continuasse se abrindo para esse tipo de dor, e não havia como negar que o
homem nele tinha o poder de machucá-la.
Não era culpa de Luke, ela reconhecia. Ele nunca fingira amá-la, nunca havia até sugerido
existir tal possibilidade. Era tudo criação dela. Tecendo sonhos de algodão.
Ela se curvou para olhar uma caixa com galinhas, marrons e brilhantes, cacarejando
vigorosamente.
Ela havia pensado demais no fato de ele ter vindo atrás dela, preocupado com sua
segurança. Imaginando que ele se importava. Era com a obediência que ele se importava. Ele tinha
sido um oficial. Uma esposa não tinha permissão de desobedecer ao marido.
E aquela lição diante do espelho… Pela primeira vez na vida ela havia se sentido especial,
feminina, quase bonita. Ela havia interpretado mal isto, também. Era obediência novamente. Era
sobre não usar calça.
E quanto a fazer amor… O homem beijava como um sonho… Fez com que ela sentisse coisas
que ela nunca havia imaginado ser possível. Mas era algo que ela tinha que se acostumar. Ela tinha
que aprender a se dar sem almejar mais, apreciar o que era oferecida – seu corpo, não o
coração. E não se sentir quebrada e vazia depois.
Ela podia fazer isto, tinha certeza. Era simplesmente uma questão de se acostumar a ele, sua
beleza, o sorriso lento que fazia o coração dela tremular. Todas às vezes.
— Tome cuidado. — Ele murmurou no ouvido dela e segurou suas costas enquanto um
burro com uma pilha alta de tapetes passava pela multidão.
Ela se acostumaria com a voz profunda, ela disse a si mesma. Eventualmente não enviaria
um calafrio morno e delicioso até os ossos. E seu jeito protetor era seu dever de marido. Só
porque ele fazia com que ela se sentisse morna e segura… E estimada não significava que ele a
amasse. Era a novidade, isso era tudo, ela disse a si mesma firmemente.
Ela o assistiu abrir um caminho pela multidão, alto, inconscientemente arrogante, sem
perceber os olhares de todos e suspiros das mulheres e meninas pelas quais ele passava. Bella
percebia tudo. Seria seu destino, assistir outras mulheres desejando seu marido. E ele não estava
nem tentando.
Ele fascinava até as pequenas. Na frente deles uma mulher levava uma menina minúscula
com cachos escuros e olhos marrons enormes. A criança assistia Luke solenemente por sobre o
ombro da mãe. Bella deu uma olhada rápida nele para ver se ele havia notado.
A expressão dele era de um anjo duro como sempre, e por um momento ela pensou que ele
não houvesse notado a criança, mas ela viu um olho azul escuro piscar lenta e deliberadamente. A
menininha o encarou. E então tentou piscar de volta. Ela piscou ambos os olhos. Luke piscou o
outro olho. O rosto da garotinha contorceu tentando copiá-lo. Ela apertou os olhos e então abriu
um dos olhos com os dedos.
Luke riu. A menininha chutou e um sapato foi ao chão, e antes que Bella pudesse se mover,
Luke pegou-o e colocou no pé da criança. A mãe o agradeceu efusivamente, tão encantada por ele
quanto sua filha.

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Anne Gracie
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Noiva por Engano

Bella assistiu, o coração flutuante com carinho. Isso era um problema. Não havia como
resistir ao homem.
Um punho fechou ao redor do coração dela. Como ela poderia aguentar, amando-o tanto e
recebendo apenas generosidade em retorno?
Como a mãe dela, só que o pai dela nem mesmo havia sido amável.
— Exatamente o que eu estava desejando. — A voz de Luke interrompeu os pensamentos
dela. Ele a guiou para uma pilha de capotes sobre uma mesa de cavalete. Ele ergueu um. Feito de
lã morna e tingido de escarlate, tinha forração extra para mais calor e tinha um capuz de pele
preta e suave. Bella deixou a seda trilhar pelos dedos.
— Vison. — O dono do estande disse a ela.
— Coelho. — Luke e Bella disseram em uníssono. Trocaram um olhar e riram.
— Experimente isto. — Luke disse e drapejou o capote ao redor dela.
Era suave, morno e abotoava na frente abaixo até uma elegante dobra ao redor dos
tornozelos. Ele andou para trás e inspecionou, então ajustou o capuz. Os dedos roçaram contra a
pele. Calor se formou na boca do estômago.
Luke deu um aceno vivo com a cabeça e, sem esperar pela resposta dela, começou a
pechinchar o preço.
O frio da noite estava sussurrando pelas montanhas, então Bella manteve o capote. Ela o
amou, amou todos os presentes que recebeu. Amava o homem que os dera a ela.
Eu não preciso de presentes para te seduzir. Ele estava certo.
Ela apreciava as compras, mas nenhuma quantia de presentes podia arriscar seu coração.
Era apenas o homem.
Mas a felicidade borbulhando dentro dela era uma advertência, e quando ele girou e deu
seu um sorriso branco e inclinado, o coração dela deu um pulo tão grande, que enrijeceu a
resolução dela.
Ela não faria amor com ele. Não hoje à noite. Não até que seu coração estivesse mais sob
controle. Ou até que eles alcançassem a Inglaterra.

A noite caiu, e enquanto algumas partes do mercado fechavam, outras abriam. Lanternas e
tochas derramavam luz dourada através dos paralelepípedos, transformando a praça do mercado
em um lugar de calor e sombras. O cheiro de comida temperava o ar frio da noite.
Luke e Bella comeram galinha grelhada e quase queimaram os dedos nos pedaços tenros.
Eles mordiscaram algumas massas salgadas assadas, doces e beberam vinho escuro e jovial feito
das uvas que cresciam nos vales abaixo.
Uma briga aconteceu inesperadamente em uma cantina próxima. As marcas em chamas
estavam desvanecendo. As tochas estavam começando a apagar. Bella lutou para esconder seus
bocejos.

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Anne Gracie
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Noiva por Engano

— Acho que esse é o nosso sinal para irmos embora. — Luke murmurou na orelha dela.
Bella anuiu com a cabeça. Ela estava muito cansada. Ela havia esticado a noite o máximo que
podia, adiar o momento em que ela o enfrentaria na cama e diria não. E então tentaria resistir.
Eles deixaram a área do mercado e passearam pelas ruas quietas, escuras. Passando por
uma ruela obscura, Bella ouviu o som de música e os passos rápidos de saltos. No fim da ruela,
uma luz chamejava, acenando.
— Alguém está dançando. Vamos ver. — Ela disse e arrastou Luke em direção à música.
— Você está apenas adiando o inevitável. — A voz dele era um chocolate escuro, grosso. Ele
rodeava de forma sedutora a barreira da força de vontade dela. — Não há nenhuma razão para
ficar nervosa, Isabella.
Ele não tinha ideia.
— Quero ver. — Ela disse, obstinadamente.
Ele deu um preguiçoso encolher de ombros e permitiu que ela o guiasse ruela abaixo, o tigre
levando a cabra amarrada.
Em um pátio ciganos estavam ao redor de um fogo. A luz das chamas batia nos vestuários
elegantemente brilhante e espalhafatosos. O silêncio caiu. Um ou dois ciganos deram uma olhada
rápida na direção deles, mas ninguém se moveu.
— Acabou. — Luke começou. No mesmo momento, um violão soluçou uma nota única,
imperativa, e o silêncio ganhou uma nova qualidade. Uma mulher começou a cantar, uma canção
gutural e triste em um idioma que Bella não conhecia. Ela cantava só, desacompanhada, mas com
as notas ocasionais do violão, erguendo seu rosto cego para o céu da noite, cantava amor, dor e
morte.
Os cabelos da nuca de Bella ergueram à medida que ela escutava. Ela podia não saber as
palavras, mas podia sentir a emoção. A voz da mulher pulsava e erguia, depois caía em gemidos,
um ritmo hipnótico, despejando seu conto de paixão e traição.
Ela terminou em uma nota longa e soluçante, que correu nos nervos de Bella, que estava tão
cheia de dor crua.
E então houve silêncio. As luzes do fogo dançado com as sombras. O ar frio apertou ao redor
dela. Ela podia sentir Luke de pé atrás dela, um comprimento de calor masculino e sólido atrás de
seu corpo.
Por muito tempo ninguém pareceu se mover. Então um único som alto de palmas soou.
Então outro. Uma mão. Um homem. Um lento e enfático clap! Batam palmas! Batam palmas!
Bella estava para se juntar ao aplauso quando as mãos de Luke vieram sobre as dela:
— Espere. — Ele murmurou. Ele puxou as costas dela contra ele.
O violão arranhou uma corda. Batam palmas! Batam palmas!
O homem que estava batendo palmas andou lenta e dramaticamente no charco de luz. Seu
cabelo era longo, indomado e listrado com prata. Ondulava pelas costas como uma juba de leão.
Batam palmas! Batam palmas! A roupa dele era rota, mas ele se movia tão orgulhosamente
quanto um rei. Batam palmas! Batam palmas!

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

A música começou. O homem jogou os braços para cima em um gesto imperioso – batam
palmas! Batam palmas! – Batendo o salto dos sapatos lentamente por um tempo, em um ritmo
deliberado. Uma batida hipnótica. Bella se achou respirando junto do tempo.
Ele dançava por si só, este homem, jogando a cabeça, o corpo magro curvado como um arco
desenhado, tenso, gracioso e controlado. Os saltos da bota como uma bateria de um ritmo
primitivo. Explosivo. Intensamente masculino. Pegou a batida do coração da Bella.
A música cresceu mais rápida e mais rápida. O dançarino girou e girou, como as faíscas do
fogo que giravam em uma espiral em direção à escuridão, construindo para um crescendo. Ele
arqueou, o rosto levantado para o céu, os braços soltos, erguidos. A juba prateada de seu cabelo
ondulava pelas costas enquanto os saltos trovejavam, as coxas duras, poderosas batendo como
uma máquina. O sangue de Bella pulsava.
Então uma mulher cigana entrou no charco de luz. Usando uma saia vermelha, um justilho
preto firmemente atado e emoldurando os peitos generosos, ela usava um mantô com franjas
negras amarrado firmemente ao redor dos quadris.
Ela ergueu os braços bem alto sobre a cabeça e bateu os pés, duas vezes. Imperiosamente.
O dançarino jogou sua cabeça para trás e a encarou através de seu nariz longo, orgulhoso.
A mulher ergueu sua saia de forma coquete, deu uma batida provocativa com os saltos dos
sapatos, e jogou ao dançarino um olhar de puro desafio. Então ela, também, começou a dançar.
O homem a deu um olhar longo e observador e foi ao redor dela enquanto ela continuava a
dançar. Os saltos batiam em um ritmo implacável. Dominante. Possessivo. Eu sou seu mestre.
Ela o enviava olhares provocativos por sobre o ombro e continuou o desafio. De repente ele
serpenteou um braço arrogante e a pegou, puxando contra seu tórax. Por um momento, ela o
olhou por sob as pestanas, então esticou o braço e girou para longe, os pés fazendo um
contraponto ao dele. Ele seguido, cercando-a.
Bella assistiu sem ar.
Ele pegou a mulher em torno da cintura e a puxou duro contra ele. Ela arqueou
graciosamente para trás, a cabeça quase tocando o chão, os dedos arrastando nas pedras
portuguesas. O violão gemeu e pulsou.
A mulher fez beicinho para o homem, calada e o provocando a fazer mais. Ele se curvou e
levou os lábios até a garganta dela, mas ela se torceu de seu aperto em um redemoinho de saias.
Mas ela não foi embora, Bella viu. Ela dançou ao redor dele, orgulhosamente, provocando,
ousando-o a tomá-la se pudesse. Ela estava disposta a ser conquistada. Mas não viria facilmente.
Ele assistiu, chocando, seguindo cada movimento, os saltos batendo com uma intensidade
quase insuportável. Como alguém poderia resistir?
Em um movimento súbito ele a pegou e jogou ao chão. Bella ofegou, mas ele tinha a mulher
segura em seu aperto. Era uma lição.
A cigana ficou deitada em um charco de luz, olhos sensuais e orgulhosa, mas ela era dele;
todos podiam ver isto. Lenta e sensualmente, em um comando masculino, ele a trouxe para seu

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Anne Gracie
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corpo, mostrando-a que era mestre, prometendo êxtase. Ela se ergueu tão sinuosa quanto uma
serpente, enroscando-se ao redor dele, possessiva, orgulhosa. Reivindicada, mas não conquistada.
O violão arranhou uma longa corda vibrante, e estava terminado. Os dançarinos
permaneceram de pé como estátuas, suor escorrendo apesar do frio da noite. A multidão
começou a aplaudir. Mas não estava terminado, Bella viu. Os dois dançarinos estavam imóveis, os
olhares presos, peitos erguendo. Então o homem lançou a mulher por sobre seu ombro e eles
desapareceram na noite.
Outra pessoa começou a cantar. Bella mal notou; ela ainda estava encantada com o que
havia visto. Ela havia ouvido sobre essas danças ciganas, mas nunca havia visto uma, nunca havia
visto nada assim. Ela se sentia quente, ofegante, líquida e oca por dentro.
Luke a puxou em direção a ele, girando-a em direção à saída.
— Hora da cama. — A voz soava rouca. Ele estava respirando duro, como se tivesse dançado,
também.
— Isso não foi mágico? — Ela respirou. Um tremor morno, delicioso ondulando por ela. —
Nunca vi nada assim.
Por um longo momento ele não respondeu. Ele a encarou, o olhar preso no dela em um eco
da apresentação dos dançarinos. Então, com um gemido, ele abaixou a boca até a dela.
O beijo foi tão inesperado que Bella não teve tempo de erguer suas defesas. Não foi nem
tenro nem gentil, mas uma possessão corajosa, confiante. A boca era quente, exigente, o sangue
atiçado pela dança. Assim com o dela. Havia extasiado seus sentidos e minado sua resistência.
As mãos grandes deslizaram pelo corpo dela, ao longo da espinha, moldando-a ao corpo
duro dele, criando uma dor aquecida e oca bem no fundo dela.
Advertências chamejaram em algum lugar de sua mente. Como vagalumes antes de uma
tempestade, enfraqueceram sob o ataque da boca dele. Intoxicante, afiada e quente, o gosto dele,
a mandíbula raspando contra a pele. Ela não podia pensar, apenas sentir, apenas provar. E se dar
completamente ao momento… E ao homem.
Ela agarrou as lapelas do casaco dele, puxando-o para mais perto, erguendo sofregamente
para ter melhor acesso à boca faminta. Ela queria subir no corpo dele como uma cigana, enroscar
ao redor de seu torso masculino duro, ser envolvida pelos braços poderosos e ficar grudada noite
a fora…
O som de algo raspando na pedra da ruela, passos, e o cheiro picante de tabaco trouxe Luke
a uma consciência súbita, chocado com o que estava fazendo. Em um momento rápido ele
terminou o beijo e jogou Isabella atrás dele contra a parede, colocando-se entre ela e o resto do
mundo.
Que diabo ele havia pensado, beijando a esposa em público em uma cidade espanhola
estranha? Inconsciente de tudo exceto o doce sabor dela. Não importava que estivesse escuro e
eles de pé nas sombras. Era criminalmente negligente. Qualquer coisa poderia acontecer.
Com os sentidos em total alerta, Luke esquadrinhou o ambiente para sinais de perigo. Atrás
dele Isabella dava arfadas de ar.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Dois homens saíram da entrada do pátio, fumando, falando em vozes baixas. Ele os assistiu,
se preparou para problemas, fechou a mão, mas eles não se moveram. Eles continuaram a
conversar e fumar, então um deles deu uma risada rouca e um pouco da tensão vazou dele. Eles
não tinham nenhum interesse nele e em sua esposa.
Ele esquadrinhou o ambiente novamente. Um rato apareceu ao longo do canal e
desapareceu abaixo em um dreno. Além disso, nada.
— Vamos. — Tomando Isabella pelo braço, ele marchou para longe. Nada havia acontecido,
mas o incidente o havia agitado. Nunca antes ele havia se esquecido tão completamente de tudo e
havia ficado desavisado de seu ambiente. E fazer isso na Espanha, fonte de tantos de seus
pesadelos…
— Diminua a velocidade. — Ela disse, puxando o braço dele.
Ele deu uma olhada rápida para ela.
— Suas pernas são mais longas do que as minhas. — Ela estava quase correndo para
acompanhá-lo.
Ele moderou o passo.
—Obrigada.
Eles seguiram por ruas estreitas, escuras. Luke esquadrinhou as sombras e tentou pensar em
algo para dizer. Conversa era exigida. Ele não conseguia pensar em nada.
Isabella estava muda, também. Ela estava morna em seus braços, os quadris batendo de vez
em quando à medida que eles caminhavam. O gosto dela ainda estava em sua boca, como fogo
fátuo em seu sangue. A resposta dela tinha sido tão… ávida, o corpo flexível, esbelto moldando ao
dele. Ele sentiu tremores passarem por ela a cada punhalada de sua língua.
O corpo dele ainda estava em chamas por ela.
Eles passaram por alguns portões altos e trancados e um cachorro latiu. Sob a luz de uma
lanterna pendurada do lado de fora de uma entrada ele havia visto de relance o rosto dela. Ela
parecia pensativa, uma carranca leve enrugando a sobrancelha.
Tendo remorsos?
Ele acelerou o passo. Ela não fez objeção, mas sua carranca afundou. Ele não se importava se
ela estivesse se arrependendo. A sedução dele era um resultado previsto.
— Quero um banho. — Ela disse quando eles alcançaram o alojamento. O rosto, emoldurada
pela seda do capuz, estava corado. A boca, cheia, úmida e puramente suculenta, era uma sombra
do escarlate do capote que ela usava.
Eles subiram os degraus para o quarto.
— Você não precisa de um banho. — Luke disse com impaciência. Ela estava adiando o
inevitável. Era inútil. Quanto mais ela tentasse evitar dormir, mais determinado ele ficaria em levá-
la para a cama. Ele não tinha nenhuma intenção de deixar seus atos desajeitados levarem ela para
longe de lá.
Além disso, ela havia ficado excitada assim como ele por causa daqueles dançarinos. Ele
podia cheirar nela, saborear no beijo. O corpo pulsava com consciência, expectativa.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Tenho, sim. Cavalguei o dia todo. E verei a minha irmã amanhã.


— Se ela estiver lá.
— Ela está. Estou certa disto. E quero parecer bem. — Ela tinha aquela expressão teimosa
com a qual ele estava rapidamente se acostumando.
Luke percebeu que poderia usar este banho para sua vantagem.
— Muito bem, se é o que você quer. — Ele disse e tocou o sino para ordenar um banho. Ele
se espreguiçou na cama, bebericou um conhaque enquanto os empregados traziam o banho,
toalhas e latas emitindo fumaça para seu quarto. Ele começaria por oferecer para esfregar as
costas dela e então…
— Se faz o favor. — Isabella disse quando os empregados se foram. Ela estava de pé com a
porta meio aberta.
— Não vou a lugar algum. — Ele disse a ela, girando o conhaque no copo.
Ela cruzou os braços.
— Não vou tomar banho enquanto você estiver aqui.
Luke suspirou. O convento havia dado modéstia a ela. Levaria algum tempo para tirar isso
dela, ele supôs. Ele esvaziou o copo e deu uma olhada rápida em seu relógio de bolso.
— Eu te darei quinze minutos.
Para preencher o tempo, ele passeou de volta para o comércio e rondou impacientemente.
A maior parte dos trabalhadores havia ido embora. Tudo que restava eram algumas pessoas
acampadas pela noite com seus animais.
— Um presente para seu amor, meu senhor? — Uma voz velha veio das sombras.
Luke ignorou-a. Um presente não era o que ele queria dar a Isabella. Além disso, ela era a
esposa dele, não seu amor.
— Um bonito mantô para uma dama bonita. — A mulher velha continuou, agitando um
mantô espanhol dobrado. Era bonito: seda cor de creme, cheio de franjas e bordados com flores.
Brilhante, mas não extravagante. Isabella adoraria.
— Quanto?
Ela disse uma soma que era o dobro do que valia. Luke bufou.
— Para sua noiva na noite de núpcias. — A velha disse, olhos pretos cintilando em seu rosto
de noz enrugada. — Sua verdadeira noite de núpcias. — Como se, de alguma maneira, ela
soubesse.
Com um sentimento vagamente supersticioso, Luke pagou pelo mantô sem pechinchar. Ele
retornou ao alojamento, subiu os degraus, e abriu a porta silenciosamente, desejando achar a
esposa ainda no banho. O corpo pulsava em antecipação.
O quarto estava uma semiescuridão. As narinas dele enrugaram e ele fez uma carranca. O
que era esse cheiro? Doce, mas… Ele estremeceu. Rosas, droga. Ele podia sentir o cheiro de rosas.
Ele deu uma olhada rápida em torno do quarto, os pelos da nuca eriçando. Mas não havia nada,
nenhum sinal de...

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Em um prato no móvel havia um sabão pequeno, o sabão que Isabella havia comprado no
mercado. Ele não havia pensado em verificar. Ele abordou cuidadosamente e cheirou. Aroma de
rosa. Hmpf! Era suficiente para sufocar um homem.
Ele abriu a janela e jogou fora o sabão o mais longe que pôde, então lavou o fedor das mãos.
Ele retornou à janela aberta e deu várias respirações fundas de ar limpo. Estava frio, mas era
melhor congelar no ar fresco do que o morno fedor de rosas. Ele deixou a janela aberta.
Ele girou para a esposa, que estava quieta na cama o tempo inteiro, nem mesmo
comentando do ato dele com o sabão. O corpo dele não estava mais tão excitado quanto antes do
incidente de sabão, mas tudo bem. Ele planejava ir lentamente.
—Isabella?— Ele se debruçou sobre ela.
Ela não se moveu. Fingia estar dormindo, ele decidiu. Era inútil.
Ele desatou o lenço do pescoço e pausou para assisti-la respirando. Um ritmo igual, fundo
até. Droga, não era nenhum ato. Ela estava bocejando pelas últimas horas.
Primeiro ela o havia recusado, então ela havia adormecido. Luke mal podia acreditar. Ele não
estava acostumado a repulsas; não podia se recordar de já ter recebido uma. E nenhuma mulher já
havia adormecido com ele, não antes de ele fazer amor com ela.
Ele olhou fixamente para o rosto pacífico dela, dormindo, e um jato de riso irônico escapou.
Um a zero para sua esposa.
Ele silenciosamente tirou a blusa e a calça. O cabelo dela estava estendido sobre o
travesseiro. Ele cuidadosamente o juntou, tirou-o do caminho e colocou-o onde ele não o puxaria.
Deslizou na cama e se deitou de lado, encarando-a.
Mechas úmidas do cabelo caíam em cachos ao redor da cabeça. Ele se debruçou adiante
para tocar a boca em sua nuca pálida, de veludo, e as narinas recusaram. Droga, ela estava
cheirando a rosas. Ela se mexeu e murmurou algo no sono.
Ele girou as costas para ela e se deitou na extremidade mais distante da cama, mas o odor
lânguido de rosas o alcançou. Ele pegou sua camisa, jogou-a sobre o rosto e tentou dormir.

Doze

Luke tentou resistir, escapar da coisa vil, mas ele estava de pés e mãos atados, amarrado
como um animal para o abate, e tudo que podia fazer era mover a cabeça e cuspir desafios.
Arrgh! A lâmina entrou novamente, chamuscando fria e quente, glacial. Ele cerrou os dentes
contra o grito que ameaçava estourar dele. O cheiro de sangue se misturando ao fedor de rosas.
Rosas, sempre rosas, sempre que ela estava por perto. La Cuchilla. Ele havia perdido a noção
de quanto tempo fazia…

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Não lute, meu lindo. — A voz dela, tão morna e macia. — Renda-se a dor. Ache o prazer
nela. — Ela se debruçou sobre ele, franzindo o cenho concentrada. Os seios dela no vestido
decotado estavam a centímetros de seu rosto.
A agonia era enorme a cada fatiada lenta e deliberada da lâmina, o mesmo nome que ela
usava: La Cuchilla.
— É arte. — Ela disse a ele. — Você devia me agradecer. Seu amigo não teve tanta sorte. —
Ela sorriu enquanto fatiava a carne dele.
—Michael? O que... — Ele fechou a boca. A dor intensa o levou à extremidade do desmaio,
mas ele não cederia… Não daria… A ela essa satis… fação…
— Menino teimoso, não é, meu amor? — O tom cascudo era quase sedutor enquanto ela
esculpia outra fatia da carne.
— Onde está Michael? — Ele conseguiu ofegar.
— Morto.
Morto? Ele deu a ela um olhar selvagem e ela sorriu.
— Sim, menino lindo, você falhou. Seu amigo está morto. Foi tudo em vão… — Ela se
debruçou para trás e examinou o ombro dele, e então anuiu com a cabeça. — Acho que já é o
suficiente. Este aqui é bom, n’est-ce pas11, René?
— Sí, Rosa. — A voz de um homem.
Rosa. La Cuchilla. Luke tentou guardou isso em seu cérebro girando. Poderia ser importante.
Se ele sobrevivesse.
Ela tomou um punhado de algo. Areia preta? Ele olhou com os olhos entreabertos sob a luz
escura. Alguma nova tortura?
Ela o viu olhando.
— Sal e cinzas, menino querido. Nada além de sal e cinzas. É o toque final. Gosto de dar um
presente aos meus favoritos, um pequeno memento. — Ela aplicou um punhado do sal enegrecido
nos cortes abertos no peito dele. —Algo para se lembrar de mim.
Com o sal na carne dilacerada, um grito finalmente escapou de Luke…
— Luke? Luke, acorde! Você está sonhando, Luke. — Ela o segurou pelos ombros. O odor de
rosas abasteceu suas narinas.
— Cadela! — Ele a empurrou tão duro quanto pôde...
Acordado, ofegante sob a luz cinza do amanhecer. A esposa dele estava jogada na cama
onde ele a havia lançado. Ele gemeu e fechou os olhos. Tentáculos negros do pesadelo ainda se
enroscavam por sua consciência, agarrando-o, demolindo-o. O coração estava batendo forte, as
palmas frias e suadas com medo. Ele tomou respirações fundas e tentou se tranquilizar.
— Luke?
Ele abriu os olhos. Ela se ajoelhou aos pés dele na cama, assistindo-o ansiosamente.
— Eu sinto muito. — Ele coaxou. — Foi só...

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Nota da Revisora: N'est-ce pas – “não é?”, em francês.

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Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Um pesadelo, eu sei. — E antes que ele percebesse, ela estava com os braços ao redor
dele, murmurando suavemente que estava tudo bem. E emitindo forte cheiro de rosas.
— Desculpe. — Ele disse, e empurrou-a abruptamente para longe. Ele saiu disparado da
cama.
— O que foi? — Ela saiu da cama e o seguiu.
— Não! Não chegue perto de mim!
Ela parou, os olhos escuros com preocupação.
— Por quê? O que foi? O que eu fiz?
Ele fechou os olhos brevemente.
— Nada. É apenas… O cheiro de rosas. — Ele estremeceu. — Eu não gosto. — Ele não
suportava.
Ela deu a ele um olhar perplexo.
— Entendo. Você gostaria que eu..? — Os olhos dela alargaram quando ela notou que o
sabão com aroma de rosas havia sumido do prato. Ela deu uma olhada rápida na janela aberta. —
Entendo. Eu sinto muito. Eu não sabia.
— Não importa.
A sobrancelha dela se enrugou com preocupação.
— Você se machucou?
Ele percebeu que estava roçando o lugar logo abaixo do ombro esquerdo e levou a mão para
longe.
— Não. — Notando que os braços dela estavam ao redor do corpo, ele adicionou: — Está
frio. Volte para a cama.
— Eu estou bem. — Ela disse tranquilamente. — A pergunta é: você está?
— Sim, claro, foi só um pesadelo estúpido. — Ele falou bruscamente, mas não podia evitar.
Ele odiava ter se exposto para ela assim. — Agora volte para a cama antes de congelar.
Ela endireitou o lençol e subiu na cama.
— Você vem?
— Não. — Ele colocou sua calça e botas. — Volte a dormir. Vou dar um passeio. —
Agarrando o resto de sua roupa, ele saiu do quarto.
Ele seguiu pelas ruas quietas, suaves e sussurrando com a névoa matutina. Ele estava
envergonhado por ter causado tal rebuliço. Quanto ela havia ouvido? Fútil desejar que ela nunca
testemunhasse isto. E agora que ela tinha, ela faria perguntas. Era o que as mulheres faziam, ele
pensou amargamente.

Quando Isabella se juntou a ele para o café da manhã mais tarde, Luke notou as mechas
úmidas do cabelo agarradas na nuca e têmporas.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Tomei outro banho. — Ela explicou. — A proprietária pensa que estou louca. — Ela sorriu
mostrando as covinhas do rosto. — Isso ou ela suspeita que você fez algo verdadeiramente
estranho comigo ontem à noite. Pedi o sabão mais suave. Está bom? — Ela estendeu o pulso para
ele cheirar.
Ele cheirou. Sabão e o odor de Isabella. Os sentidos dele se mexeram agradavelmente. Ele
deu um aceno com a cabeça áspero, tocado pela aceitação simples dela de algo que devia parecer
ridículo.
— Perfeito, obrigado.
Uma caneca com chocolate e uma cesta de massas chegou. Isabella pegou seu guardanapo,
pegou uma massa, e disse:
— Quem é Michael?
— Ninguém. — Uma punhalada afiada de culpa fez com que ele se corrigisse. — Não, não
ninguém. Ele era nosso amigo. E está morto.
— Ele morreu na guerra?
— Sim. — Luke começou a pegar seu café da manhã.
Por alguns minutos eles comeram e beberam em silêncio. Então:
— Você disse “nosso amigo”?
— Nós estávamos na escola juntos Gabe, Harry, Rafe, Michael e eu. E todos nós fomos
guerrear juntos, também. — Ele bebericou seu café, forte, quente e preto, exatamente como ele
gostava. — Gabe, Harry, Rafe e eu voltamos.
— E você estava sonhando com a morte de Michael esta manhã?
— Às vezes acontece. — Ele disse seco. — Sinto muito ter te transtornado.
Ela acenou a desculpa longe.
— Eu não me importei. Tenho pesadelos, também, às vezes. As freiras me moveram do
dormitório para um quartinho só meu porque eu continuava despertando as meninas.
Ele se lembrou dela dizendo, mas a discussão sobre pesadelos já o deixava desconfortável o
suficiente, e ele não tinha nenhum desejo de estender a conversa. Essa historia estava no passado,
onde pertencia. Ele mudou de assunto.
— Contratei uma carruagem.
Ela olhou para cima surpresa.
— Para me levar para Valle Verde?
Ele anuiu com a cabeça e terminou seu presunto.
— Eu não sei se a sua irmã monta como você. Mais fácil se você der a ela um lugar na
carruagem. Foi pedida para as nove e meia. Você disse que levaria duas horas para chegarmos lá.
Os olhos dela se iluminaram.
— Essa é uma ideia maravilhosa, Luke – obrigada. E sim, duas horas, mais ou menos. Pedi
para a dona da pensão mudar toda a forragem para que não tenha nenhum cheiro no quarto se
você quiser tirar um cochilo enquanto estou em Valle Verde...
— O que você quer dizer? Eu estarei lá com você.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Ela fez uma carranca e pareceu perturbada.


— Não, não, você não pode ir. Eu tenho que ir só.
— Você não vai a lugar algum só, e certamente não a Valle Verde.
Os olhos dela se estreitaram.
— Você não confia em mim? Acha que eu fugirei de você? — Duas manchas rosa
apareceram em suas bochechas.
Ele encolheu os ombros, deliberadamente a provocando.
— Pelo o que eu sei você poderia fazer disto um hábito.
— Oh, não seja ridículo. — Ela o encarou, abriu a boca para discutir, e deu uma olhada
rápida em torno da sala para as outras pessoas comendo. —Discutiremos isso depois.
— Nós não discutiremos sobre isso. — Ele disse a ela. — Não há nada para discutir.
Ela fez um som frustrado mas se recusou a dizer outra palavra em público. Ele podia dizer
pelas expressões passando pelo rosto dela que ela estava pensando em vários argumentos para
convencê-lo.
Ela não tinha nenhuma chance. Mas seria bastante divertido assisti-la tentar.
— Você sabe que é muito perigoso para você ir a Valle Verde. — Ela disse a ele no momento
em que eles retornaram ao quarto e fecharam a porta. — Não sei por que você está sendo tão
teimoso sobre isto.
A roupa de cama tinha sido trocada. Luke se sentou em uma cadeira perto da janela, cruzou
as pernas, e se debruçou para trás.
— Aonde quer que tu fores, irei eu.
Ela estreitou os olhos para ele.
— Rute12 era uma viúva, não um marido. Os maridos não seguem as esposas.
Os lábios dele contorceram em riso.
— Que memória curta você tem, minha querida.
Ela corou.
— Fale sério. Você sabe que eu tinha que ir. É importante.
— E eu não te proibi de ir. Mas pelo que você me disse sobre seu encantador primo
Ramón...
— Primo em segundo grau. Duas vezes distante. E ele não é encantador, é repugnante.
Ele disse impertinentemente:
— Claramente não tão distante assim. E um primo de segundo grau não tão distante e
repugnante não é alguém que eu te permitirei visitar sozinha.
— Mas eu devo...
Ele fez uma exclamação impaciente e se sentou.
— Você me disse que seu pai te disse para fugir de Ramón; que ele era bruto, tirano e
assassino.
— Ele é. É uma besta vil.
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Nota da Revisora: Referência bíblica, Rute 1:16.

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— E você imagina que eu te deixarei visitar uma besta vil por conta própria? — Luke bufou.
Ela torceu as mãos.
— Mas se ele te vir, Ramón vai querer te matar.
Ele se sentou de volta e devolveu de forma leviana.
— Não gosta de visitas, é? Que pena. Porque eu estou indo.
— Você não entende. Ramón fará qualquer coisa para botar as mãos na minha fortuna. Ele
te matará para me fazer uma viúva.
— Vai mesmo? — A ansiedade dela em relação a Luke era bastante comovente.
— Sim! E então ele me forçará a me casar com ele!
Ele ergueu uma sobrancelha preguiçosa.
— Sério? Ele podia fazer isto? Estou impressionado. Eu consegui te forçar a fazer muito
menos. Você é notavelmente teimosa.
Ela bateu o pé.
— Oh, você está falando sério? Você não pode vir comigo até Valle Verde. Eu te proíbo.
Ele sorriu.
— Você me proíbe?
— Proíbo. Porque se você for para Valle Verde, ele te matará.
Luke bocejou.
— Ele tem toda a liberdade de tentar.

Isabella fez uma carranca para Luke do lado oposto do banco. Ela estava nervosa e mal-
humorada o caminho todo. Ela perscrutou o lado de fora através da janela da carruagem pela
centésima vez e disse:
— Estamos quase lá. Depois da próxima colina.
Luke anuiu com a cabeça.
—Não é muito tarde para mudar de ideia— ela disse a ele.
—Eu sei. — Eles já haviam discutido cem vezes, também. Ele não a deixaria ir a Valle Verde
sem ele, e pronto. Ele não tinha nenhuma intenção de discutir.
— Você é um homem muito teimoso, sabe?! — Ela disse zangada.
Ele deu um sorriso lânguido.
Eles passaram pelo último quilômetro em silêncio.
— Os portões precisam de pintura. — Isabella observou enquanto a carruagem dirigia pela
entrada da propriedade de Valle Verde. — E as construções de pedra precisam de conserto.
Luke se debruçou contra os assentos confortáveis e a assistiu. Usando seu vestido novo cor
de creme e azul, com aquele justilho descarado empinando os seios, ela estava tão deliciosa que
tinha sido difícil ele ter desistido fazer amor com ela. Mas ela estava nervosa e zangada, e tão

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zangada com ele por ele estar se arriscando desnecessariamente, ou seja, não estava com humor
para ser seduzida.
Mas Luke sempre havia gostado de desafios.
Mas agora mesmo ele estava interessado nas reações dela em relação a Valle Verde. Os
olhos dela estavam em todos os lugares, comparando, avaliando, procurando por sinais de má
administração.
A carruagem sacudiu e os lábios dela apertaram.
— A calçada sempre foi lisa como seda.
Mas quanto mais eles se dirigiam para o fundo da propriedade, mais ficava claro que a
negligência não era universal. As vinhas estavam bem podadas, as filas limpas e livres de ervas
daninhas. Os cavalos olharam para eles curiosamente por sobre os arbustos, as cercas não
pintadas. Animais de boa aparência, também, Luke observou. Macios, lustrosos e brilhantes.
— Ramón que formou o rebanho. — Isabella concedeu. — Parece haver quase tantos
quantos antes da guerra.
A boca de Luke se contorceu com a admissão relutante dela.
— Ele provavelmente os roubou. — Ele disse em um tom confortante. Ela piscou em
surpresa e então, percebendo que ele a estava provocando, deu um olhar altivo. A covinha a
denunciou.
Eles passaram por um campo recentemente arado onde uma dúzia de homens e mulheres
trabalhavam preparando o campo para um canteiro. A carruagem estranha chamou a atenção, e
eles pararam de trabalhar para assisti-los passar. Claramente não havia muitas visitas em Valle
Verde.
— Oh, oh! — Isabella se debruçou sobre a janela e acenou. — Eu conheço estas pessoas.
Um dos trabalhadores do campo deu um grito, soltou sua enxada, e, com um sorriso largo,
correu em direção à carruagem, acenando. Os outros operários abaixaram suas ferramentas e
seguiram, correndo para dar as boas-vindas a Isabella.
Luke bateu no telhado para dizer ao motorista que parasse a carruagem. Ele abriu a porta e
abaixou Isabella. Em minutos ela havia sido cercada.
— Pequena Mestre, você está de volta...
— Bem-vinda, Pequena Mestre! Bem-vinda!
Pequena Mestre? O que era isso? Luke se perguntou.
— Señorita Isabella, nós nunca pensamos em te ver novamente...
Isabella os saudou pelo nome, sorrindo, chorando, agitando as mãos e abraçando alguns.
— Faz muito tempo desde que veio, Pequena Mestre! — Um homem velho disse, com
lágrimas nos olhos. — O verdadeiro sangue de Valle Verde.
— Oh, Madonna, como você parece com a sua mãe, pequena! — Uma mulher de aparência
maternal exclamou.
Outra mulher anuiu com a cabeça, enxugando as lágrimas com um trapo azul.
— A imagem da nossa querida condessa, a exata imagem dela.

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Noiva por Engano

Isabella não parecia muito emocionada ao ouvir falar da semelhança, Luke observou, mas
ela perguntou a cada pessoa avidamente, inquirindo sobre suas famílias e exclamando com as
notícias. Ela disse a ele que não havia nada para ela em Valle Verde mais, mas ela era amada por
estas pessoas, ele viu. E ela os amava.
E ele a estava levando para a Inglaterra, onde ela seria considerada uma estrangeira e uma
estranha.
Finalmente, quando todas as investigações pessoais foram feitas, e ela o apresentou como
marido, e ele foi cautelosamente aprovado – ele pelo menos falava espanhol como um
nativo, apesar do sotaque meridional – a conversa girou para Ramón.
— Ele não é um cavalheiro, como o seu pai, mas trabalha duro. — Um homem disse.
— Ele pode não ser um Conde pelo sangue, mas...
— Ele não é um cavalheiro mesmo. — Uma mulher interrompeu, e houve um murmúrio
geral de acordo. Sob ele, Luke pensou, havia também um pouco de aprovação. Interessante. A
antiga ordem estava mudando.
— Ele é um pecador e arderá no inferno. — Outra mulher murmurou. —Levando aquela
menina para sua cama e sem falar nada de casamento.
Isabella atirou um olhar a Luke. A irmã dela?
— O Conde precisa casar por causa do dinheiro, você sabe disto. A propriedade precisa
disto. — Várias pessoas deram uma olhada rápida e significativa para Isabella. Luke se perguntou
se ela havia notado. Claramente Ramón não era a única pessoa que pensava que ela deveria ter se
casado com seu primo em segundo grau. Duas vezes distante.
— Não há desculpa para ele viver em pecado, não é? — A primeira mulher disse ferozmente.
Ela agitou a cabeça. — Ele não é um homem religioso.
— Sobre isto, o velho Conde não era um pilar da Igreja. — O homem cessou bruscamente e
deu uma olhada rápida em Isabella com embaraço. —Minhas desculpas, Pequena Mestre. — Ele
disse. — Não quis dizer nenhum insulto.
Ela agitou a cabeça.
— Não foi nenhum, Elí. Eu sei o pensamento do meu pai quanto a Igreja. Mas agora,
devemos nos apressar, ou o novo Conde de Castillejo se perguntará por que seus trabalhadores
não estão nos campos.
Ela se despediu e retornou à carruagem, e eles voltaram a trabalhar.
Isabella se sentou calada, os pensamentos longe, a sobrancelha enrugada.
— Pequena Mestre? — Luke disse depois de um tempo.
Ela deu um meio sorriso sentido.
— Um apelido.
— Eu imaginei. — Luke esperou pelo resto.
Ela hesitou, e então explicou.
— Meu pai sempre quis um menino. Quando ficou aparente que minha mãe nunca iria lhe
dar um, ele começou a me tratar como o herdeiro. Ele me levava com ele e me ensinou sobre

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cuidar da propriedade e… Oh, todas as coisas que um menino deve saber. — Ela desviou a vista da
janela um momento. — E depois que a minha mãe morreu, ele até me vestiu como um menino, e
foi quando as pessoas começaram a me chamar de Pequena Mestre, só por diversão, sabe.
Ele entendia mais do que ela percebia, e não só o fato de ela gostar de calças, mas tudo que
ele disse foi:
— Aquelas pessoas te amam.
Ela anuiu com a cabeça.
— Eu esqueci o que era pertencer. — Ela desviou a vista da janela, os olhos com lágrimas e
acrescentou com a voz rouca: — Eu esqueci o quão bonito Valle Verde é.
Uma casa grande de pedra surgiu. Nove arcadas de pedra graciosas flanquearam a entrada
dianteira, com mais cinco ao longo da sacada superior. Os álamos alinhavam-se na calçada e uma
lagoa ornamental estava de um lado.
— É uma casa bonita. — Luke disse.
— Minha família a construiu no Século XVI. — Isabella disse a ele, orgulho evidente na voz.
— Foi chamada de El Nuevo Castillo por mais ou menos trezentos anos, mas no tempo de meu
bisavô ele anunciou que todos deveriam chama-lo de El Castillo de Castillejo. — Ela não disse mais
nada, mas a covinha na bochecha disse a Luke que a história não estava terminada.
— E então agora as pessoas a chamam de..? — Ele iniciou.
— El Nuevo Castillo. — Ela riu. — As pessoas são lentas para aceitar mudanças nesta parte
do país.
— Eles parecem aceitar Ramón. — Ele assinalou suavemente.
O sorriso dela enfraqueceu.
— Eles não têm escolha. Ele herdou o título e a propriedade. Não importa que ele seja vil,
tirano e assassino, ele ainda é o Conde de Castillejo.
Luke não disse nada. As pessoas com quem eles estavam conversando poderiam não amar
Ramón do modo como amavam Isabella, ou respeitá-lo como haviam feito com os finados pais
dela, mas não davam a impressão de pensar nele como vil, tirano ou assassino.
A carruagem parou em frente a uma linha de arcos graciosos. Isabella enxugou as palmas
úmidas em um lenço.
— Você tem a sua pistola?
— Ele não vai atirar em mim. — Luke a assegurou.
— Você não pode ter certeza. — Ela levantou seu capote, que já havia amassado em um
bolo e apertado contra o peito.
— Eu fico com isto. — Ele pegou o pacote dos braços dela, arrumou entre as dobras e
removeu a pistola que ele sabia estaria lá.
— Mas... — Ela começou.
— Você não verá a sua irmã que não vê há oito anos com uma pistola na mão.
— Mas e se o Ramón...

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Deixe o Ramón comigo. — Ele a deu o capote e colocou a pistola no oco escondido no
descanso para o braço da carruagem.
Os empregados correram para fora para receber a carruagem. Luke desceu primeiro e então
girou para descer Isabella. Ela desceu os passos como uma jovem matadora entrando no ringue.
Quando ela ficou visível, houve uma arfada dos empregados. Foi uma repetição da cena
anterior, com lágrimas e exclamações de “Pequena Mestre!” e “Señorita Isabella!”, ela os saudou
pelo nome, abraçando alguns, tendo suas mãos beijadas por outros.
— Onde está Marta? — Ela perguntou, procurando para sua antiga enfermeira.
— Marta não vive aqui há anos, señorita.
— E sua filha, Carmen?
— Casou-se com um homem no vale vizinho. Marta vive com eles.
Enquanto Isabella ficava sabendo de todas as notícias, ficou claro que muitos dos antigos
empregados amados que ela lembrava não trabalhavam mais em Valle Verde. Ela deu a Luke um
olhar significante. Ramón.
E então houve um silêncio súbito e os empregados ficaram mudos e recuaram enquanto
uma jovem mulher alta e sombria deslizava na entrada.
Sem necessidade de introduções; era óbvio quem era, embora não houvesse muita
semelhança entre as irmãs. Meio irmãs.
Perlita era alta e incrivelmente bonita, com cabelo cor de ouro vermelho amarrado atrás em
um coque elegante e olhos verdes cinza adornados com pestanas longas, cheias.
Luke andou para trás. Era o grande momento de Isabella; a razão de ela ter vindo aqui. Ele
esperou pelo reencontro jovial.
Ninguém se moveu.
Houve um longo silêncio enquanto as duas jovens mulheres se olhavam. Nenhuma emoção
de reencontro aqui. Luke se lembrou de dois gatos se circulando, hostis e cautelosos, cada um
esperando que o outro se lançasse primeiro – só que estes dois não se moveram. Que raios estava
acontecendo?
As pessoas da propriedade ficaram mais próximas, aguardando, ouvindo. Eles conheciam
destas duas meninas do dia em que nasceram. A filha da amante, agora em cargo da casa. A filha
da casa, agora uma visita.
Perlita estalou os dedos e emitiu ordens rápidas para que a carruagem fosse levada para os
fundos e que os cavalos fossem cuidados. Todos os empregados da casa se foram. Perlita estava
muito em casa aqui, Luke viu; muito dona da casa. Isabella disse que sua irmã tinha dezenove, mas
esta menina era mais jovem que Isabella apenas na idade. Ela parecia muito mais experiente, mais
sofisticada, e não era simplesmente a roupa.
E ela não tinha o jeito de menina inocente e impotente que precisava ser salva.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Perlita tinha os olhos do pai. Bella encarou sua meia irmã de perto pela primeira vez na vida.
Não apenas os olhos do pai, mas as pestanas longas, e também algo no modo como ela segurava a
cabeça que lembrava o pai delas, também. Era uma dor quase física, ver a semelhança. Por que ela
deveria ter os olhos do pai e não...
Não. Bella se parou. Ela não pensaria tais coisas. Ela estava aqui para ajudar sua meia irmã,
não acordar velhos ressentimentos. Os olhos de Perlita não eram sua culpa. Além disso, ter os
olhos do pai dela apenas provava o parentesco.
Mas oh, ela tinha que ser tão bonita? Bella podia ver o modo como Luke estava olhando
para ela. Perlita estava vestida de forma sofisticada, um vestido verde que combinava exatamente
com seus olhos. O vestido era elegante, de decote baixo e apertado para exibir seios luxuriantes,
uma cintura minúscula e um corpo em forma de ampulheta. Ela não usava joias, não precisava.
Como a mãe dela, ela era bonita.
Ao lado dela, Bella parecia pequena, sem atrativos e malvestida. Ela deixou o pensamento
de lado e se ergueu. As aparências não importavam, ela disse a si mesma. É o caráter o que conta.
Um conforto vazio.
Ainda assim, ela desejou que sua irmã não fosse tão bonita. Era quase intimidante,
especialmente com os olhos do pai a encarando com hostilidade mal escondida.
Tolice, ela era a irmã mais velha, e a legítima, e tinha todo o direito de visitar sua casa de
infância.
— Como vai você, Perlita? — Ela inclinou a cabeça rigidamente.
— Señ... Isabella. — Perlita respondeu e deu um aceno com a cabeça igualmente duro. Ela
não se moveu.
Agora o quê? Bella se perguntou. Ela não podia empurrar Perlita para o lado e fazer seu
caminho pela casa.
Luke deu uma tosse suave e avançou.
— E eu sou o marido de Isabella, Lorde Ripton. — Ele se curvou.
— Marido dela? — Perlita piscou e deu uma olhada rápida de Bella para Luke e de volta para
Bella. O alívio em seu rosto era óbvio. Ela não sabia que Isabella era casada.
— Sim, o marido dela. Você pode me chamar Luke, já que somos cunhados agora.
— Cunhados? — Perlita ecoou inexpressivamente.
— Algo assim. — Luke disse em uma maneira fácil que Bella invejou. —Isabella e eu estamos
a caminho da Inglaterra, mas ela ouviu que você estava em Valle Verde e queria te ver, ver como
você estava. — Ele fez soar tão casual, um mero capricho. Bella ficou agradecida.
— Como eu estou? — Perlita deu a Bella um olhar chocado. — Você veio para me ver?
— Isto é tão estranho? — Bella tirou o chapéu, as luvas e puxou o vestido para endireitá-lo.
Perlita não fez rodeios.
— Eu acho, sim, já que nunca falamos uma com a outra antes de hoje.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Bella mais sentiu do que viu a reação de Luke. Ela quase podia ouvi-lo pensando: Nunca
falaram uma com a outra? Você me arrastou por meio país para salvar uma irmã com a qual
sequer havia falado?
As bochechas dela aqueceram. Ela evitou o olhar dele e conseguiu dizer com ar de confiança:
— Sim, mas decidi que estava na hora de nos encontramos.
As sobrancelhas de Perlita ergueram.
— Por quê?
Isabella deu uma olhada rápida nos empregados, avidamente assistindo e escutando, e não
disse nada. Perlita deu um minúsculo encolher de ombros, como que dizendo, por que não? E os
convidou para o lado de dentro.
Bella entrou e as memórias a inundaram. Nada havia mudado. A mobília, o cheiro, a
quietude fresca, era tudo igual. Até os quadros na parede eram os mesmos que sempre havia
estado pendurados lá, mas um pouco mais enfraquecidos. O chão de terracota ladrilhada estava
tão polido como sempre. Os pés coçaram para caminhar nos padrões de azulejos como ela tinha
feito mil vezes quando criança; ao longo da linha de flores vermelhas, então sobre os medalhões
azuis, evitando o amarelo e o marrom que pareciam com um leão. Na verdade não pareciam, mas
ela sempre fingia…
Ela não havia pensado nesses azulejos há anos, mas agora… Era como ser saudada por um
velho amigo de brincadeiras. Os passos de sua infância.
Ela se forçou a voltar ao presente. A casa parecia imaculada.
— Bem-vinda a El Nuevo Castillo. — Perlita disse friamente.
Era muito estranho receber as boas-vindas como uma estranha em sua própria casa.
Mas não era a casa dela, Bella se lembrou.
Depois de permitir a eles se refrescar depois de sua longa jornada, Perlita os levou em
direção à grande sala de visitas. Bella hesitou. A sala favorita de seu pai.
Como se ele soubesse como ela se sentia, Luke deslizou uma mão debaixo de seu cotovelo.
Aquecida pelo contato, ela entrou. Estava inalterada, também. Sempre tinha sido antiquada e a
mãe dela queria mudar mas o pai dela sempre havia recusado. Era sala de homem, com
madeiramento envernizado pesado, cravejado com pregos de prata e cadeiras de couro. Até as
velhas espadas de duelo que estavam na família por gerações permaneciam cruzadas sobre o
mantel, cintilando tão brilhantemente quanto tinham ao longo da infância dela.
A sala tinha mil memórias. Até o cheiro era o mesmo.
Era como se o pai dela tivesse acabado de sair. A garganta de Bella se encheu com as
emoções que ela tinha tentado conter e finalmente a inundavam. Oito anos desde que ela tinha
estado nesta sala. Ela achou que quase se esquecera, mas agora, estando aqui… A língua
espessou. Ela não podia falar.
Perlita os convidou para se sentarem e ordenou refrescos. Em minutos o chá foi trazido com
um prato pequeno com bolos gelados. Era uma casa bem administrada, Bella concedeu enquanto
Perlita colocava seu chá.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Parte dela desejava que Perlita fosse apenas a empregada, aqui, mas não… Não com esse
vestido.
— Como está a sua mãe? — Bella inquiriu educadamente, mais firme depois de alguns goles
de chá quente.
— Casada e vivendo em Barcelona. — Perlita disse. Ela esperou até que os empregados
houvessem ido embora e disse abruptamente. — Por que você veio aqui?
— Porque eu estava preocupado com você.
— Preocupada? — Perlita curvou as sobrancelhas finas. — Comigo? — Ela deu um bufar de
descrença.
— É verdade. — Bella abaixou sua xícara de chá e se decidiu. — Eu ouvi que você estava…
Vivendo com Ramón. E fiquei preocupada.
— Você não precisa se preocupar. Ramón é bom para mim. — Os olhos dela estreitaram. —
E por que seria da sua conta o que eu faço, de qualquer maneira?
Era muito duro, ter os olhos do pai reluzindo com hostilidade e suspeita, mas o fato de eles
serem os olhos do pai dela deram força a Bella.
— Perlita, sei que nós não nos conhecíamos, que nunca nos falamos, ou mesmo nos
encontramos, mas eu soube de você desde que era uma garotinha, e você provavelmente sempre
soube sobre mim. Eu perdi todo mundo e... — Ela cessou bruscamente. — Você é minha irmã e eu
vim aqui para te encontrar. E ver que você estava bem.
Houve um silêncio longo. Perlita a encarou, o rosto pálido como mármore e, apesar do fogo,
parecia frio. Então a boca estremeceu.
— Eu n-nunca pensei que ouviria você dizer isto.
— Eu sempre quis uma irmã. — Isabella disse suavemente. — Eu era uma criança solitária.
Perlita apertou os lábios juntos e agitou a cabeça.
— Você me odiava. Costumava assistir a nossa casa de cima da colina, nos espiando.
— Eu sei. — Isabella admitiu. — Eu tinha ciúmes de você.
O queixo de Perlita caiu.
— Ciúmes de mim? Mas você era a filha dele.
— Assim como você .— Isabella disse. — E você era a filha que ele amava.
Perlita agitou a cabeça.
— Ele nunca me chamou de filha. Eu era sempre sua pequena pérola ou sua linda, ou
simplesmente Perlita, mas nunca, nunca ele me chamou – ou até mesmo se referiu a mim – como
sua filha. Nenhuma vez.
Isabella piscou, perplexa.
— Mas ele te amava.
— Ele gostava de mim, um pouco. — Perlita encolheu os ombros. — Mas você era quem ele
verdadeiramente estimava.
O queixo de Isabella caiu.

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**
Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Estimava? O meu pai nunca me estimou. Eu nunca era boa o suficiente. Nada que eu fazia
era bom o suficiente.
As duas se encararam, lutando para entender a visão tão diferente que cada uma tinha do
passado. Ao lado de Isabella, Luke estava sentado quieto, absorvendo as implicações do que cada
uma estava dizendo. Ele não era nenhum estranho ao enredo de conexões de família e mal
entendidos.
Um relógio no mantel bateu, e Perlita se assustou e deu uma olhada rápida nele.
— Ramón estará aqui a qualquer minuto. — Ela saltou de pé, parecendo preocupada e
indecisa. Isabella saltou pronta para uma briga.
Luke se serviu de outra xícara de chá. Ele parecia frio e distante, como fazia todas as vezes
que o Destino o fazia encarar o perigo.
Passos pesados soaram no chão de terracota ladrilhada do lado de fora. — Eu... Eu falarei
com ele. — Perlita disse e correu para fora da sala.
Eles ouviram vozes, baixas a princípio e então altas em discussão.
— Sente-se. — Luke disse a Isabella que estava compassando nervosa. —Termine seu chá.
Coma um pouco de bolo. Está delicioso.
Ela se virou para ele.
— Como você pode pensar em comida numa hora dessas?
— Você quer que Ramón saiba que você está com medo dele?
Ela o olhou surpresa, então se sentou ao lado dele.
— Não estou com medo. — Ela declarou e colocou uma expressão tranquila e altiva, nada
natural, no rosto.

Treze

A porta foi aberta com tudo. Ramón entrou a passos largos. Perlita o seguia, pairando
ansiosamente.
Ramón não era particularmente alto, mas forte como um touro, ombros largos e um tórax
cheio. Escuro, com uma aparência morena, o rosto era dominado por um nariz grande e um
bigode espesso, preto. Ele apenas deu uma olhada rápida em Isabella. Com seu olhar fixo em Luke,
Ramón foi até ele, plantou os pés separados no chão e disse:
— Então, você veio a minha sala, inglês? Você é um tolo, então?
Luke educadamente ficou de pé citando agradavelmente João e o Pé de Feijão:
— “Um, dois e três, diga-me de uma vez”.
Atrás dele, ele ouviu Isabella sufocar.
Luke continuou em espanhol.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— El Conde de Castillejo, eu presumo. Sou Ripton, marido de Isabella. Como vai você? — Ele
estendeu a mão.
— Marido? Não por muito tempo. — Ramón não fez nenhum movimento de agitar a mão de
Luke.
Luke deu de ombros, se sentou novamente e pegou outro pedaço bolo.
— Estes são muito bons. — Ele comentou.
Como Luke pretendia, Ramón pareceu perplexo com tal comportamento. Depois de um
minuto de carranca e mais alguns xingamentos e estufar de peito, ele explodiu:
— Você roubou meu tesouro.
Luke nem deu bola.
O rosto de Ramón corou.
Isabella cruzou as mãos ansiosamente.
Luke terminou o bolo e espanou os farelos com os dedos. Então ele deu uma olhada rápida
para cima e disse com ingenuidade:
— Oh, desculpe, você estava falando comigo? Não, eu não roubei nada. — A toalha
vermelha balançada na frente do touro.
Ramón deu um grunhido baixo.
— Eu quis dizer Isabella!
— Pare com isto, Luke. Não o provoque. — Isabella sussurrou.
Luke sorriu. Isabella abriu a boca para discutir, mas Luke a silenciou com um olhar.
— Bem?— Ramón disse com voz agressiva.
— Sim, minha esposa é realmente um tesouro. — Luke enxugou os dedos com um
guardanapo e adicionou com tom frio, sedoso: — Mas ela não é sua, nunca foi e nunca será.
Ramón bufou.
— Você é um tolo.
Luke ergueu uma única sobrancelha.
— Sou?
— Por vir com sua esposa jovem e rica para a toca do lobo só e desprotegido? Você só pode
ser um tolo.
Isabella não podia se conter mais. Ela saltou.
— Pare com isto! Não ouse nos ameaçar!
Ramón zombou e gesticulou para um duelo de espadas.
— Na minha terra eu faço como quero, priminha. E se eu quiser te fazer uma viúva, eu farei.
— Oh, você quer lutar como um cavalheiro, é? — Luke disse lentamente. — Nesse caso… —
O gelo estava começando a correr por suas veias, como sempre acontecia com a perspectiva de
uma briga.
— Luke, ele não é um cavalheiro. — Isabella disse em um tom baixo, veemente. — Ele não
seguirá quaisquer regras de cavalheiros. Ele não tem nenhuma regra exceto a dele mesmo.
— Exatamente, priminha. — Ramón zombou. — Na terra de Ramón, as regras de Ramón.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Não! — Ela tentou ficar entre eles.


Luke agarrou-a firmemente pelos braços e a moveu para detrás dele.
— Sente aí e fique fora do caminho. — Ele ordenou. — Isto é coisa de homens.
Ela embranqueceu, mas, incrivelmente, obedeceu.
O gelo estava verdadeiramente correndo por suas veias agora, Luke foi até a lareira e
arrancou um das espadas cruzadas sobre o mantel.
— Realmente ele é só seu primo de segundo grau, duas vezes distante, creio. Pretendo
deixá-lo mais distante ainda, então se você tiver o desejo em chamas de me matar, fique à
vontade para tentar. — Ele dobrou a lâmina longa experimentalmente.
Atrás dele Isabella fez um som aflito e baixo. O timbre perturbou Luke. Ele deu uma olhada
rápida nela.
Sua cuspidora de fogo estava sentada congelada onde ele a pôs, assistindo Ramón,
parecendo um rato hipnotizado pela serpente. O rosto estava pálido e comprimido, os olhos
dourados e escuros, cheios de…
Luke fez uma carranca. Ele nunca a havia visto assim antes. E não gostou nada. Ele deu uma
olhada rápida de volta em Ramón, que estava fazendo uma carranca e apertando e soltando os
punhos. Como ela podia ficar assustada com um cara assim? Força bruta, ele supôs.
Ele passou ligeiramente o dedo ao longo da extremidade da lâmina. Afiada como uma
navalha. Ele testou o equilíbrio da espada, e então assobiou a lâmina pelo ar.
E do canto de seu olho ele viu Isabella vacilar. Ela deu a Luke um olhar assustado, mordeu
mais firme o lábio inferior, cerrou as mãos em punhos pequenos, e o olhou resolutamente. Com
um choque ele percebeu que ele era a pessoa que havia posto aquele olhar nela.
Ela estava com medo por ele.
Ele congelou. Pelos últimos sete anos ele havia abraçado qualquer oportunidade de briga,
buscado o perigo, sentindo a glória de viver no limite. Era a única coisa que o acalmava, por um
tempo breve acabava com a inquietude, o vazio que o roía.
Mas o olhar de Isabella…
O gelo enfraqueceu em suas veias. Que diabo ele estava fazendo?
Ramón agarrou a outra espada e ficou em posição de luta.
— Se prepare para morrer, inglês.
Isabella ficou de pé e bateu o pé no chão.
— Vocês não lutarão por mim! — Mas a voz dela era alta e trêmula, e o som desesperado
perfurou Luke.
Ele arrastou seu olhar do perfil atacado de sua esposa. Hora de usar o cérebro, parar com
este jogo estúpido – e era um jogo. Mas não para ela. E não mais para ele. Ele tinha uma esposa
agora.
Ele dobrou a lâmina e disse para Ramón:
— Fique à vontade para tentar. Mas devo dizer que estou curioso. Como imagina que a
minha morte irá te beneficiar?

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Ramón riu.
— Você é estúpido, inglês? Eu me casaria com Isabella, claro. Ela certamente vale a pena
lutar.
Perlita deu um gemido aflito, e o olhar de Ramón foi em sua direção.
— Não fará nenhuma diferença para nós, Perla.
Perlita escondeu seu rosto dele e não deu nenhuma resposta. As sobrancelhas apertaram
brevemente, então ele se voltou para Luke e seu olhar endureceu.
— Bem, inglês?
— Na hora em que quiser. Eu não percebi que era Isabella quem você estava atrás.
— O quê?
— Eu pensei que era sua fortuna.
Ramón fez uma carranca.
— Eu quero ambos, claro. Os dois vão juntos.
— Ah, não. — Luke fez um movimento. A lâmina fina e mortal fatiou o ar. — Aí você está
enganado.
— Enganado?
— Sim. Isabella vem separada da fortuna. — Ele fingiu aparar a lâmina. —E quando eu
estiver morto ela ficará sem dinheiro.
— Sem dinheiro? — Ramón exclamou. As sobrancelhas ergueram em suspeita.
— Sem dinheiro? — Bella ecoou em choque. Ela encarou Luke. Não podia ser verdade.
Luke encontrou o olhar dela com remorso.
— Sem dinheiro. — Ele confirmou.
— Não pode ser. — Ramón disse. — A mãe dela deixou uma grande...
— Fortuna, sim, mas tudo veio para mim quando nos casamos. Não houve nenhuma
condição. Foi um casamento feito às pressas. — Ele deu uma olhada rápida em Ramón. — Foi sua
culpa, isto. Irônico, não? — Ele tocou a ponta da espada. — Naturalmente eu fiz um testamento
imediatamente. Tudo, cada centavo que possuo, vai para a minha mãe e a minha irmã mais nova.
— Isto é verdade? — Bella encarou Luke com a boca aberta.
— Minha honra de cavalheiro. — Ele encontrou o olhar dela com remorso, e ela viu que era
verdade.
— Mas e quanto a Isabella? — Ramón exigiu.
— Sim, e quanto a mim? — Bella repetiu.
— Você viverá com a minha mãe e a minha irmã, claro. Elas cuidarão bem de você.
Bella não podia acreditar em seus ouvidos. Mas o olhar dele… E o juramento que ele fez. Ele
não o diria em vão.
Viver com a mãe e a irmã dele? Ser dependente de duas inglesas estranhas? Ela não queria
ser dependente de ninguém. Era a fortuna dela, remanescente de sua mãe. Devia voltar para ela.
Nenhuma maravilha ele não estar preocupado em vir aqui…
Ramón estava incrédulo.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Isabella não terá nada dela? Nada? Eu não acredito nisto.


Perlita disse:
— É verdade, Ramón. Olhe para o rosto dela.
Ramón olhou, então girou para Luke.
— Isto é monstruoso! Nenhuma provisão para a sua viúva?
— Eu sou inglês. — Luke disse negligentemente. — Fazemos as coisas de forma diferente.
Uma viúva rica é um alvo para homens sem princípios. — Ele deu um sorriso afiado e frio para
Ramón. — Mas Isabella é um tesouro em si mesma, e nenhum homem direito precisaria de um
suborno para se casar com ela. — Ele mandou um beijo para Bella e ergueu sua espada. — Então,
se você ainda quiser lutar por ela…
Bella piscou. Mandando um beijo? Os olhos dela estavam dançando. Ele estava se
divertindo!
Com um flash súbito de perspicácia, ela percebeu que o marido dela não iria lutar, por mais
que tivesse toda essa conversa e ação, ele não tinha nenhuma intenção de lutar com Ramón. Ele
era tudo um blefe!
— Ninguém lutará por mim! — Bella declarou, de repente brava. Nenhum homem sequer
deu uma olhada nela. Ela não sabia o que era pior, a expressão divertida no rosto de seu marido
ou o olhar de cobiça determinada de Ramón. Ela sabia em quem ela queria bater, e não era em
Ramón.
Ramón fez uma carranca. Ele girou para Isabella.
— Você não negociou as condições do casamento?
Isabella o deu um olhar depreciativo. Claro que ela não havia negociado. Ela tinha treze anos
e estava fugindo de seu primo porco e violento. Para Luke ela disse:
— Então, você me deixaria completamente à mercê da sua mãe?
— Por que não? Minha mãe é muito boa. — Ele a assegurou.
Ela estreitou os olhos para ele. Luke sorriu, confirmando tudo o que ela pensava.
Ela trancou os dentes e deu o que não era exatamente um sorriso. Oh, ela faria ele pagar por
isso.
Ramón explodiu.
— Sua cadela estúpida! Casar com um inglês sem pensar nas condições. Deslumbrada com
seu rosto bonito! — Ele bateu um punho carnoso e grande contra a parede, fazendo todos
saltarem. — O dinheiro pertence aqui, a Valle Verde! E agora está perdido, perdido para você e
perdido para o Valle Verde.
— E perdido para você, que é alguma compensação, pelo menos. — Isabella disse.
Ramón cerrou os punhos.
— Você devia ter se casado comigo! Isto é o que resulta em fugir da família – você se casou
com um estranho, um inglês! — Ele cuspiu.
— Ainda assim melhor do que casar com você!— Isabella retrucou.

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**
Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Sua mulher desmiolada, ele não vai cuidar de você. Você não entendeu? Quando ele
morrer e você ficar sem dinheiro, não melhor do que uma mendiga, dependente da caridade de
estranhos...
— Eu prefiro ser sem dinheiro a me casar com um porco como...
Ramón levantou a mão.
E achou uma espada em sua garganta. Ele congelou.
— Bote um dedo na minha esposa e você será um homem morto. — Luke disse suavemente.
Ramón cerrou os punhos.
— Eu quis dizer cada palavra. — Luke disse. Uma gota de sangue apareceu na garganta de
Ramón.
— Por favor, Ramón! — Perlita implorou.
Ele deu uma olhada rápida nela, e a tensão em seu corpo grande como de um touro
diminuiu ligeiramente.
— Eu não a tocarei. — Ele rosnou, e Luke abaixou a espada.
Perlita voou através da sala e apertou um lenço no corte do pescoço. Ele a afastou e girou
para Luke.
— Não gosto de ser ameaçado na minha própria casa, inglês.
— Não gosto da minha esposa sendo insultada, espanhol. — Luke retornou friamente.
Os dois homens se encararam por um longo momento, tenso, então Ramón encolheu os
ombros.
— Devemos jantar. — Ele anunciou, como se nada tivesse acontecido. —Perlita?
— E-está pronto. — Ela disse, a voz tremendo. E tocou um sino de prata.
O sino da mãe dela, Bella notou friamente. Agora ela estava realmente confusa.
Aquele sangue era real. Luke teria matado o primo dela se ele tivesse feito um movimento
em direção a ela. Ela pensou que era só blefe até então, mas ele realmente estava preparado para
lutar por ela. Ela devia estar profundamente lisonjeada. E parte dela estava mesmo.
Mas, mais do que isso, ela queria estrangulá-lo. Ela nunca havia ficado tão assustada em
toda sua vida.
— Você quer se lavar antes de comermos? — Perlita perguntou. Ela queria dizer aliviar a
bexiga. Ela havia ficado assustada, também.
— Por que não? — Bella disse. Ela estava cheia de energia retida.
Perlita hesitou, o olhar preso nos dois homens. Ramón estava de pé, braços cruzados, pés
plantados separadamente, as costas para a sala, desviando a vista para a janela de sua
propriedade. Luke devolveu a espada e voltou a sua cadeira, uma perna cruzada casualmente
sobre a outra, e estava inspecionando suas unhas.
A visão fez Bella querer bater ainda mais nele.
— Você acha que devemos deixá-los a sós? — Perlita perguntou com a voz baixa.
— Sim! — Bella estalou. — Com alguma sorte eles vão se matar e nos poupar problemas.
Perlita ofegou horrorizada.

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**
Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Mas...
— Oh, não se preocupe. — Bella disse a ela. — Eles não lutarão. Eles não têm nenhuma
razão mais. Ramón só me queria pelo dinheiro.
Perlita considerou a razão e anuiu com a cabeça.
— Sim, claro.
Claro, Bella pensou enquanto a seguia. Com uma amante bonita como Perlita, quem veria
Bella? Não que ela quisesse Ramón.
Além disso, furiosa como ela estava com Luke por ele se arriscar, uma lasca tola e minúscula
de lisonja feminina continuava firme. Ele havia se oferecido para lutar por ela. Fez com que ela se
derretesse por dentro, e isso era confuso, também.
Ela nunca havia sonhado… Nunca as outras meninas no convento acreditariam nisto: dois
homens lutando por Bella Ripton.
Pela fortuna dela, ela se lembrou enquanto lavava o rosto. Sua fortuna inexistente.
Luke estava simplesmente se poupando de ser assassinado por isto. E se ele tivesse
explicado no princípio, teria poupado muitos problemas. E preocupações.
Ela esfregou, zangada, as mãos já limpas. Homens! Eles viviam para lutar.
As palavras negligentemente articuladas dele continuavam zumbindo no peito dela. Isabella
é um tesouro em si mesma. Mesmo que ele não quisesse dizer isto, ainda que fosse só para
provocar Ramón…
Ela arrumou o cabelo e ajustou o decote do vestido. Ela deu uma olhada rápida em sua irmã
pelo espelho. A figura de Perlita era soberba, os seios luxuriantes e abundantes.
Bella estava muito contente por ter comprado o colete, ainda que ele estivesse um pouco
apertado. Pelo menos ela não parecia um menino.
Ela não se sentia como uma irmã, também. Ela supôs que viria com o tempo, mas ela não
tinha muita esperança. Todos aqueles anos no convento quando ela pensava em Perlita e se
preocupava com ela, ela não imaginava alguém como esta beleza fria, uma jovem que a tratava
com suspeita e hostilidade finamente oculta.
Todo susto de Perlita desapareceu. O rosto, enquanto ela se examinava no espelho, estava
perfeito e sereno.
— Você é incrivelmente tranquila. — Bella comentou. — Ramón faz isto frequentemente?
Desafia as pessoas para lutar, quero dizer. Ameaça fazê-las viúvas. — Oh, ele é desprezível, meu
primo.
Perlita a deu um olhar lateral.
— Eu não discutirei Ramón com você.
— Mas...
— Ele é bom para mim.
— Se ele fosse bom para você, ele se casaria com você. — Não tentaria roubar outras
esposas das pessoas.
Perlita deu a ela um olhar duro.

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**
Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Você esquece com quem está falando.


Bella tocou a irmã no braço.
— Só porque meu pai – nosso pai – manteve sua mãe como uma amante não quer dizer que
era certo.
— Minha mãe não tinha nenhuma reclamação. — Perlita escapou da mão dela. — Em todo
caso, isso era então, e assim é agora, e Ramón e eu, nós não somos da sua conta. — Ela amorteceu
a ponta do dedo e alisou o arco perfeito de uma sobrancelha.
— Você é da minha conta. — Bella disse tranquilamente. — Você é minha irmã. Não tenho
nenhuma família, só você e a minha tia que está no convento.
— E Ramón. — Perlita alisou a outra sobrancelha.
— Ramón não é minha família. — Bella estalou.
Perlita ergueu as sobrancelhas perfeitamente feitas.
— Tão veemente. — Ela perscrutou o reflexo dela no espelho. — Por que você veio aqui? De
verdade.
— Eu disse a você. Eu vim para te ajudar, Perlita.
No espelho, a meia irmã deu um olhar cético.
— Eu não acredito em você. — Ela deu último escrutínio em seu reflexo. —Além disso, não
preciso de sua ajuda. Venha, Ramón está com fome e não gosta de esperar. — Ela segurou a porta
para Isabella.
Luke e Ramón esperavam no corredor: o príncipe encantado e a fera.
Perlita tomou o braço de Ramón e entrou na sala de jantar à frente deles.
Luke ofereceu seu braço a Isabella de uma maneira cautelosa, como se ela fosse uma besta
selvagem que poderia mordê-lo. Seus olhos estavam dançando.
Ela queria dar um tapa nas orelhas dele. Ela o deu um olhar severo e tomou seu braço.
— Sim, eu estou zangada, e não me olhe assim. Meu primo não é um homem que você deva
se meter! Você podia ter sido morto!
A boca dele se curvou ligeiramente.
— Nenhuma necessidade de exagerar. O primo duas vezes distante não me preocupa.
— Exagerar? — Ela bateu no braço dele. — Você é cego? Ele é enorme!
— Eu não sou exatamente insubstancial, sabe?! — Ele assinalou, um metro e oitenta e dois
de homem esbelto com corpo definido.
— Sim, mas ele é como um touro e você é… Você é… — Ela fez uma carranca, tentando
pensar na comparação certa.
— Um leão? — Ele ofereceu. — Um garanhão? Um tigre?
Ela deu o que ela esperou ser um olhar de murchar.
— Não, um rato.
Eles entraram na sala de jantar, e Isabella quase mordeu de volta um grito. A sala estava tão
nua. Apenas uma mesa grande, clara e com cadeiras, nenhuma delas combinando. Onde estavam
o aparelho de jantar e a mobília, passada por gerações, e os aparadores combinando?

** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis.
**
Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Havia remendos escuros nas paredes. Pinturas perdidas. O orgulho e a alegria do pai dela, o
Velázquez, não mais. E o El Greco, o favorito da mãe dela por Luis de Morais.
Luke segurou uma cadeira para Bella se acomodar.
— Onde estão todas as pinturas? — Ela perguntou a Ramón. — E a mobília?
Ramón bufou.
— Vendidos. — Ele olhou Luke azedamente, e então acomodou Perlita. Aulas de boas
maneiras, Bella pensou.
— Vendidos? Mas...
— Onde você pensa que eu consigo o dinheiro para tudo? — Ele acenou com a mão
enquanto os empregados traziam para dentro os vários pratos de comida. — Como você acha que
pago meus trabalhadores? Você acha que uma propriedade vive de ar? — Ele bufou novamente.
— Não, mas pode viver de arte.
— Mas aquelas pinturas estavam na minha família há gerações.
Ramón deu a Isabella um olhar duro.
— Seu pai, um bom cavalheiro, acabou com esta propriedade com sua política e seu exército
privado. E a boa filha do cavalheiro fugiu com um inglês, levando a fortuna consigo. Então o rufião
remanescente, Ramón, fez o que pôde para consertar a bagunça, e reconstruir Valle Verde ao
lugar próspero que deveria ter. — Ele atacou o jantar, empurrando a comida rapidamente e sem
modos.
Isabella comeu em silêncio. Havia muito para digerir aqui.
Depois do jantar, Ramón empurrou de volta seu prato e disse com satisfação:
— Hora da siesta. — Ele deu a Perlita um olhar aquecido.
Uma cor lânguida subiu às bochechas dela, e ela girou para Bella.
— Presumo que você ficará para a siesta.
— Sim, claro, obrigada, e você se importaria se nós passássemos a noite, também? — Bella
disse depressa. Ela fingiu não notar o olhar rápido de Luke.
Perlita deu uma olhada rápida em Ramón, que deu um encolher de ombros indiferente.
Não era o mais cortês dos convites, mas Bella aceitou agradecida.
— Será que poderíamos usar o velho quarto da minha mãe?
— Claro. — Perlita respondeu. — Ramón? — Ela se corrigiu com uma sugestão de desafio. —
Nós dormimos no quartos do conde, como é o certo. — Confirmando para a irmã, no caso de
haver qualquer dúvida, que ela era mais do que uma empregada para Ramón. — Siga-me.
Bella sabia de cor a localização do quarto de sua mãe, mas Perlita insistiu em escolta-los.
Cortesia? Ou marcar mais de quem era a casa agora? Bella não estava certa.
Enquanto Perlita abria a porta do quarto, o olhar de Bella olhou tudo. Um raio de alívio
seguiu. A mesa de vestir com o espelho oval estava lá. Toda a mobília ainda estava no lugar: A
cama alta com quatro dosséis, os guarda-roupas pesados e altos onde ela um dia havia se
escondido quando criança.

** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis.
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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— O quarto da sua mãe está intato desde que você partiu. — Perlita disse, notando a
direção do olhar dela. — Os empregados entram apenas para limpar.
— Obrigada. — Bella estava tocada por eles terem preservado a memória da mãe dela. E
aliviada por ninguém entrar lá.
Perlita corrigiu a suposição com a voz fria.
— Quando Ramón se casar, sua esposa terá este quarto. Até lá, ninguém o usará. Exceto
agora, claro. — Ela partiu, deslizando para onde o mestre da casa a esperava, como um touro.
— Uma jovem senhora razoável. — Luke disse quando eles estavam a sós. — Deve ter muita
coragem para viver abertamente com Ramón. Ela não terá nenhuma sociedade: nenhuma mulher
respeitável terá qualquer relação com ela.
Bella estremeceu.
— Não sei como ela consegue aguentar. Ainda assim, ela parece ter o poder de lidar com
ele, domando o touro pelos chifres.
Luke bufou.
— Não é no chifre que ela está pegando. — Ele removeu o casaco. — Mas ela parece aceitar
sua posição bem o suficiente.
— Ela pode. Mas eu não. — Bella disse. — Ela é extremamente boa para ele. — Parecia
estranho estar neste quarto novamente, muito depois de ter deixado sua casa. Muito mais tempo
ainda desde que a mãe dela havia morrido. O pai dela não havia feito nada para preservá-lo de
qualquer forma; ele não queria se aborrecer com isto, e parece que Ramón era igual. Estava limpo,
e não havia nenhum sinal de pó, mas ainda assim, parecia… Deserto.
— Como você sabe? Você o conhece tão pouco quanto a conhece. E tenho que dizer foi uma
surpresa para mim. Vocês nunca haviam sequer conversado?
Bella jogou a cabeça.
— Ela ainda assim é minha irmã. Quase minha única parenta. E não importa que eu nunca a
encontrei. É minha culpa ela estar nesta situação. — Ela examinou a mesa. Parecia intata. Ela abriu
a gaveta pequena na lateral e deslizou os dedos em uma alavanca que ela sabia estar lá. Era mais
enganador agora. Os dedos dela haviam crescido desde que era uma criança.
— Sua culpa? Como?
Bella congelou. Ela não queria dizer. Ela estava se concentrado em abrir a gaveta secreta e a
admissão acabou escapando. Ela fechou os olhos brevemente. Ela teria que dizer. Ele havia
arriscado a vida por ela, e ela o devia a verdade.
E se ele posteriormente a menosprezasse, bem, era o que ela merecia.
— Eu menti para você antes. — Ela respirou fundo e girou para encará-lo. — Não foi medo
que me fez deixar Perlita e sua mãe para trás. Foi… Ciúme.
Ele se debruçou contra um dos suportes de enxergão esculpidos, cruzou os braços, e
esperou que ela explicasse.
Ela mordiscou nervosamente o lábio inferior.

** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis.
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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Eu… Eu a odiava por ter roubado o amor do meu pai. Então eu a deixei… A sua sorte. —
Ela tragou e terminou: — E então quando eu estava fugindo de Ramón, ele tomou Perlita por
vingança.
Houve um silêncio longo. Ela estava muito ciente dos olhos dele descansando nela, mas ela
tinha medo de encontrar seu olhar, medo do que poderia ver lá.
Ele se endireitou, estirado os braços reflexivamente, e disse em um tom aprazível:
— Você não sabe se foi por vingança.
Bella ficou ligeiramente atordoada pela aceitação da admissão terrível, mas ela não iria
discutir.
— Bem, claro que ele a deseja porque – ela é bonita – mas ele não se importa com ela. — Ela
abriu os braços para indicar o quarto. — Você ouviu o que ela disse, que este quarto é reservado
para a esposa. Quem sabe o que acontecerá com ela quando ele se casar? Ele será mandada
embora – ele não tem qualquer dinheiro para dar a ela; ele já vendeu a maioria das coisas de valor
– ou ele a deixará naquela casa pequena no vale vizinho, a casa onde ela nasceu. Ela viverá a vida
da mãe dela tudo de novo, Luke. — Ela deu a ele um olhar desesperado. — Ela é minha meia irmã,
só tem dezenove, e está arruinada. E é minha culpa.
Luke disse vivamente:
— Bem, nesse caso teremos que ajudá-la. — Ele soou tão certo que ela se sentiu um pouco
melhor. O marido dela era um homem que podia resolver as coisas; ela estava começando a
perceber isto. Ele não a havia decepcionado nenhuma vez. Talvez ele tivesse algum plano
brilhante para salvar sua irmã.
— Como?
Ele tirou as botas.
Ela fez uma carranca. O que era isto? O plano brilhante dele era tirar as botas?
— O que você está fazendo?
— Eu não quis dizer neste exato momento. — Ele removeu o jaleco e o pendurou atrás de
uma cadeira. — Nós não podemos ajuda-la agora. É hora da siesta.
Ela estreitou os olhos para ele.
— Pensei que você não gostasse de siestas.
Ele lançou a gravata sobre a cadeira e tirou a camisa pela cabeça.
— Depende do que mais está em oferta.
Ela endureceu.
— O que você imagina que está em oferta? — Se ele pensava que essa era a hora de seduzi-
la, no meio do dia, na cama da mãe dela…
— Eu imagino que a escolha será entre outra conversa deliciosa com o mestre da casa – e
ele não ficará nada contente de ter seus planos para a siesta interrompida – ou um cochilo. Você
viu o modo como ele estava olhando para a sua irmã, não é? — Ele piscou. — Eu prefiro o cochilo.
— Oh. — Ela se sentiu um pouco tola. — Sim, Ramón tem um mau temperamento. — Ela
puxou as cortinas para escurecer o quarto. — Ele realmente poderia ter te matado, sabe.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Não, ele não podia. — Ele soou quase divertido. Os homens eram estranhos. — Mas ele é
provavelmente implacável o suficiente para tentar. Ele está desesperado.
— Desesperado? — Ela tirou os chinelos.
— Por dinheiro.
— Você acha que nós estamos em perigo agora? — Ela teve uma vista súbita de Ramón
entrando e os assassinando no sono. Ela foi apressada trancar a porta.
— De Ramón? Não, eu duvido que ele se preocupe com vingança. — Luke puxou a roupa de
cama. — Ele parece ser um homem eminentemente prático. Agora ele sabe que minha morte não
o beneficiaria em nada, estamos seguros o suficiente.
— Isso me lembra...
Ele desabotoou a calça. Ela piscou e se virou, lutando contra um rubor. A pergunta foi
esquecida.
Ele se ajeitou na cama em sua roupa de baixo e camiseta.
— Você precisa de ajuda com o seu vestido?
— Não, hummm...
— Você não querer que ele amasse, não é? Ficaria todo enrugado se você dormisse com ele.
Não seria um bom exemplo para a sua irmãzinha. Deixe-me tirar essas rendas. — Ele girou ao
redor dela e soltou o vestido atrás. Ela podia facilmente soltá-lo sozinha, Bella pensou. Ela o havia
amarrado pela manhã sem dificuldade. Ela estremeceu quando os dedos roçaram na pele nua.
Ele se curvou e beijou a nuca dela.
— Frio? — Ele perguntou, mas havia outra pergunta muda na profundidade de sua voz.
Essa era a hora. Se ela dissesse sim, ele deixaria como está, ela sabia. Eles entraram na cama
e ficariam lá lado a lado, sem se tocar até que a siesta estivesse terminada. Ou ela podia dizer não.
Significado sim.
Tanto para desejar. Ela era impotente para resistir a ele como as marés não podem resistir à
lua.
— Não. — Ela disse. Significado sim.

Quatorze

Antes que ela soubesse o que estava acontecendo, ele ergueu o vestido dela sobre a cabeça
e o removeu completamente. Ele o colocou cuidadosamente sobre uma cadeira e então girou para
enfrentá-lo.
Ele olhou para ela e os olhos escureceram. Não havia nenhum rastro da ligeireza que ela
tinha observado nele mais cedo. Era todo enfocado, queimando intensidade.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Ela estava perfeitamente vestida em sua camisola e colete, mas de alguma maneira, Bella se
sentia… Exposta. O olhar dele caiu para os peitos dela. Ela deu uma olhada rápida para baixo. Os
seios pareciam quase nus, erguidos pelo colete. Deste ângulo ela quase podia ver os mamilos.
Inclinado contra a extremidade da cama alta, ele lentamente a puxou entre as coxas.
— Acho que seria melhor nós desfazermos essa coisa. — Ele murmurou. — Parece um pouco
apertado para dormir. — A voz era bastante verdadeira, mas os olhos… Os olhos contavam outra
história.
— Hummm, não, eu estou certa de que... — Ela começou a murmurar, mas as mãos dele
estavam lá, agarrando os ganchos na frente do colete. Ele pausou. Bella segurou a respiração.
— Tão lindos. — Ele murmurou, mas ela sabia que não estava de todo bonita, mas naquele
momento ela acreditou, acreditou nele. Ele fazia com que ela se sentisse bonita. Muito
suavemente, ele deslizou os dedos pela pele delicada que erguia da constrição do colete de linho
branco.
Ela estremeceu novamente.
As juntas deslizaram para baixo, através da cobertura de linho, e ela sentiu os mamilos
subirem, duros e doloridos para encontrar os dedos dele. De um lado para outro as juntas grandes
se moviam, uma fricção, um mero toque, ainda assim os seios estavam queimando.
Ele se curvou e beijou a pele exposta, então mordiscou a garganta e subiu para reivindicar a
boca, e enquanto sensações maravilhosas vislumbravam por ela, ela se sentiu de repente mais
solta, mais livre.
Ele removeu o colete. E então ela sentiu um puxar contra as pernas e ele a puxou de volta
para beijá-la um momento e puxou a camisola para cima… Para cima… E por cima da cabeça. Ela
cruzou os braços sobre os peitos, sentindo-se inadequada, completamente exposta enquanto os
olhos azuis escuros dele vagavam ardentemente sobre ela.
— Não seja tímida; você é adorável. — Ele disse a ela, correndo as mãos ao redor da cintura
e puxando-a para mais perto. — Perfeita, doce e adorável.
Um jato de calor delicioso surgiu por ela. Ela se debruçou avidamente contra ele, correu as
mãos ao redor de sua cintura, erguendo a boca para o beijo. Cega, febrilmente, ela achou a bainha
da camisa e começou a puxá-la pelo corpo.
— Não. — Ele pegou as mãos dela e as levou ao tórax, apertando as palmas por baixo do
tecido. Ela sentiu os brotos pequenos sob os dedos. Mamilos. Lembrando o prazer da carícia dele
pelo tecido do colete, ela correu ligeiramente as unhas pelas protuberâncias minúsculas. Elas
endureceram e ela ouviu o grunhido baixo de prazer dele.
Ele correu as mãos pelas costas dela e envolveu seu traseiro.
— Pronta?
Ela anuiu com a cabeça, ofegando, não certa do que ele estava planejando, mas disposta a
aceitar.
Ele a ergueu, e ela sentiu as coxas arrastarem contra a masculinidade dura dele. Ele girou e a
deitou de costas sobre a cama alta e suave de sua mãe. Uma protuberância pesada empurrava

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

contra o tecido de suas roupas de baixo. Ela estava nua aos olhos dele; ela queria vê-lo nu,
também.
Ela agarrou sua camisa novamente, mas ele pegou as mãos dela e beijou suas palmas,
lentamente, uma de cada vez. Ela estremeceu delicadamente, e os dedos enrolaram
involuntariamente ao redor da mandíbula, envolvendo o rosto, como que segurando o beijo na
mão. Quem imaginaria que o centro da palma poderia ser tão sensível?
Ele apertou as costas na cama, a boca a devorando enquanto as mãos grandes, mornas
deslizavam sobre as costelas, abaixo dos quadris, e em cima novamente, acariciando-a em um
ritmo hipnótico incessante. Onde quer que ele a tocasse, ondulações quentes fluíam de dentro
dela, juntando em um lugar fundo dentro dela.
E o tempo todo ela sentia a dureza quente, pesada dele apertando em seu centro.
Ele envolveu os peitos dela, provocando os mamilos com os dedos até que ela clamou com
frustração, sem saber realmente o que ela queria até que a boca quente se fechou em um peito e
chupou, e ela ofegou, se curvou, e estremeceu violentamente, apertando o cabelo dele e
segurando-o perto.
Ele pausou, e os olhos abriram tremulando. Ela estava ofuscada, ofegando por ar, e ela viu
um cintilar de branco enquanto ele sorria. Ele estava arquejando, também, e ainda assim ele ainda
estava quase completamente vestido. Ela queria senti-lo, senti-lo contra ela, pele contra pele.
— Por favor. — Ela se ouviu gemendo. — Por favor.
Ele a puxou de volta.
— Não… Ainda não. — Ele arquejou densamente. Os olhos queimando nos dela, ele soltou a
calça de algodão e a chutou.
Ela agarrou a camisa dele. A boca dele fechou sobre o outro peito, e ela quase gritou quando
uma espécie de raio relampejou por ela. Ela agarrou os ombros dele e o segurou firmemente, mas
não era o suficiente, então ela abriu as coxas e o envolveu. Ela se contorceu embaixo dele,
querendo ficar mais íntima, se dar mais para ele.
Ele gemeu. Beijando e beliscando a pele suave do estômago, ele lentamente trabalhou seu
caminho no corpo estremecendo dela até que os dedos dele deslizaram pela base da barriga, e
entre as dobras, acariciando lá até que ela mal podia aguentar.
Ela gemeu e se ergueu, empurrando contra os dedos dele.
— Agora, Luke, agora. — Ela arquejou.
E então ele a separou e colocou sua boca nela e ela perdeu todo o controle. O corpo não era
mais dela. Cada vez que a boca movia, ela estremecia com prazer impotente. Construiu e
construiu até que ela pensou que estouraria, e quando ela pensou que não podia aguentar mais,
ele ergueu a boca dela e a entrou com uma punhalada longa, lisa.
Ela arquejou, puxando-o para mais perto, apertando mais as pernas ao redor dele enquanto
ele empurrava nela novamente. Com cada punhalada, as convulsões iam fundo nela, e ela não
sabia onde ela terminava e ele começava quando ela se quebrou, gritou e mergulhou no
esquecimento.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Bella não estava certa de quanto tempo havia se passado antes de ela voltar a ter
consciência total. Ela podia dizer pelas sombras nas cortinas que o sol havia se movido bastante,
então ela devia ter dormido durante algum tempo.
Luke havia puxado as coberturas sobre ambos. Ela estava deitada com a cabeça no peito
dele, e ele com o braço ao redor dela.
Ela se esticou, sentindo-se como uma gata muito satisfeita. E riu.
— O que é isto? — Luke murmurou.
— Mamãe estava errada. — Ela disse. — É como os animais. Eu era como uma gata no cio, e
você... — Ela cessou bruscamente.
— E eu? — Ele iniciou. — Apesar de que eu não deveria perguntar.
Ela sorriu e esfregou a bochecha contra o tecido da camisa dele como o gato que havia
bebido leite.
— Você foi um garanhão.
Ela o sentiu rir, em vez de ouvir, uma vibração funda no tórax.
— Então, não sou mais um rato?
Isso a lembrou.
— Você fez uma provisão para mim no seu testamento, não é?
— Você não receberá um único centavo de mim. — Ele disse suavemente.
Mas ela não foi enganada. Ela ergueu a cabeça e o olhou nos olhos.
— Mas eu não serei dependente da sua mãe e irmã, não é?
Os olhos dele cintilaram.
— Não.
— Eu soube antes da refeição que era mentira. — Ela deitou de volta abaixo do tórax dele e
à toa girou um pequeno cacho de pelo que saía na gola da camisa.
Ele acariciou o ombro dela.
— Como você soube?
— Quando você disse que sua mãe era uma senhora muito amável, eu soube que você
estava mentindo.
— Mas a minha mãe é uma senhora amável.
Ela podia ouvir o sorriso na voz dele. E beliscou o pelo do peito dele.
— Ai!
— Então, que provisão você me favoreceu?
— Eu já te disse, nenhuma.
Ela beijou ligeiramente o peito dele.
Ele a beijou.
— Eu te direi quando chegarmos à Inglaterra.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Por que não agora?


— Porque, minha querida, você é uma péssima mentirosa, e nós não queremos que o primo
duas vezes distante fique todo animado e assassino novamente, não é?
— Diga-me ou deixarei seu peito pelado. — Ela deslizou a mão dentro da camiseta dele e
encontrou um remendo duro de pele no oco embaixo do ombro. — O que é isto?
Ele empurrou a mão dela para longe e se sentou, dando as costas para a cama.
— Nada. — Ele disse bruscamente.
— Mas...
— A siesta está terminada. — Ele sacudiu a roupa de cama, puxou a calça e colocou uma
blusa. — Você quer ficar em Valle Verde e ajeitar algo com a sua irmã, ou nós devemos sair agora
e a sequestrar para o próprio bem dela? — Ele agarrou sua gravata e a amarrou com precisão.
Bella se sentou, puxando a roupa de cama ao redor de si, assistindo o marido fingir que nada
havia acabado de acontecer. O que estava escondido sob aquela camisa que ele não mostraria?
Ele não era tímido. Quando eles tinham dormido pela primeira vez, ele havia tirado a camisa. Ele
não tivera nenhum problema em mostrar o peito nu então. Ele tinha o tórax bastante bonito, ela
se recordava.
O que seria? Algum ferimento de guerra feio que ele sentia que tinha que esconder dela?
Que tipo de pessoa superficial ele pensava que ela era? Ele pensava que ela não sabia que
soldados tinham sido feridos e tinham cicatrizes?
Ele evitou o olhar dela e terminou de se vestir. Ela podia dizer pela boca que ele não iria falar
sobre isto.
Mas ela não iria deixar passar. Ela não iria seguir o casamento com um homem que dormia
de camisa. Mas agora não era a hora.
— Eu gostaria de dar um passeio mais tarde, se Ramón nos deixar. — Ela disse. — Eu
gostaria de te mostrar a casa em que eu vivi na infância. Pedirei à Perlita.
Ela deu uma olhada rápida no espelho da penteadeira e se lembrou o que ela tinha feito
antes de Luke a distrair. Ela colocou a camisola e foi casualmente até a penteadeira.
— O que está fazendo?
Ela deslizou os dedos na gaveta lateral aberta.
— Há um compartimento secreto e eu escondi algo aqui antes de partir. No jantar eu levei
um susto ao perceber que Ramón havia vendido a mobília. — Nunca tinha pensado que ele faria
isto. Graças a Deus que ele não a vendeu. — Ela fez uma careta, tentando mover a alavanca
escondida. — Eu não sabia o que me aconteceria e meu pai me disse para não arriscá-las na
jornada. Além disso, eu não teria nenhum uso para elas em um convento.
— Usar o quê?
— As pérolas da minha mãe – oh! — A gaveta secreta pulou aberta e ela a encarou,
desanimada. — Está vazia. As pérolas da minha mãe se foram.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Luke fez uma saída tão rápida quanto podia do quarto, deixando Isabella se vestir sozinha e
especular um pouco mais sobre o que havia acontecido com as pérolas.
Luke não ficou surpreso por elas terem desaparecido. Era ingênuo da parte dela imaginar
que elas estariam onde as havia deixado, gaveta secreta ou não. Ramón teria vasculhado este
lugar com um bom pente fino, procurando qualquer coisa que tivesse valor para venda. As pérolas
há muito haviam sumido, ele imaginou. Pena, mas era isso mesmo.
Ele compraria mais pérolas para ela quando eles chegassem a Londres.
Enquanto isso, ele precisava sair. Ele estava começando a sentir… Ele não estava exatamente
certo do quê. Um pouco fora de controle, talvez. Normalmente ele gostava da sensação de que
qualquer coisa poderia acontecer, mas isto era diferente.
Ele saiu para o terraço. Estava tomado por ervas daninhas. Ramón não desperdiçava um
centavo em qualquer coisa que não fosse produtiva.
Luke respirou o ar fresco das montanhas. Em horas como essa ele quase desejou ter
cigarillos, como tantos homens tinham durante a guerra. Ele imaginou ser uma coisa calmante
poder andar do lado de fora e soltar fumaça. Uma espécie de declaração de isolamento.
Mas ele não havia mantido o hábito. E seu isolamento… Bem, quanto menos dito sobre isso,
melhor. Estava sob ameaça iminente.
Luke passeou ao longo de um caminho que levava em torno da parte de trás da casa. A ideia
estúpida de vir para a Espanha sozinho. Ele devia ter trazido um companheiro, ou pelo menos um
empregado, alguém para impedi-lo de estar só o tempo todo com ela. Ele devia ter contratado
uma empregada.
Ele podia fazer isto agora, contratar alguém de Valle Verde, alguém com quem ela pudesse
conversar, alguém de casa. Brilhante ideia. Ele andou a passos largos, sentindo-se melhor.
Ajudaria se ele pudesse manter as mãos longe dela, ele pensou. Mas ele não podia. O corpo
esbelto e ágil, a pele e a ânsia sedosa, morna, responsiva. Ele se recordava da sensação dos braços
e pernas dela se enroscando ao redor dele, o rapto cego em seu rosto quando ele a penetrou, a
sensação do corpo dela se fechando ao redor dele e apertando… Ele gemeu. Ele estava pronto,
agora mesmo, para girar, marchar de volta para a alcova, à cama e ela, tudo de novo.
Controle. Ele precisava de mais controle.
Não seria tão ruim se fosse apenas o corpo dela que o obcecasse, mas ela tinha uma…
Atração sobre ele que ele não podia resistir; honestidade, um sabor pela vida que o encantava.
E ela era uma companhia muito boa. Ele apreciava conversar com ela sobre quase tudo.
Quase.
Deus, ele não podia se recordar da última vez em que havia perdido o controle tão
completamente com uma mulher. Perder a consciência de onde estava. Nunca antes de…
Ele empurrou o pensamento de lado.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Luke passou pelos estábulos. Ele teria gostado de entrar, ver o que estava acontecendo lá.
Ramón tinha bons olhos para cavalos, ele podia ver, mas os estábulos do homem eram privados.
Era necessário um convite.
Ele seguiu caminhando. Havia um vigor em seus passos que não estava lá desde… Ele não
sabia dizer há quanto tempo. E os turnos de inquietude e sentimentos obscuros que eram uma
praga desde…
Sua pequena esposa cabeça dura o mantinha ocupado, isso era tudo. Correndo por todo o
país.
Os pesadelos, também, eram menos severos. Isabella o despertava praticamente assim que
eles começavam. Ela parecia saber, até no sono, que ele estava sonhando novamente.
Todo esse tempo e ele nunca tinha percebido que a solução era apenas não dormir só.
Simples, realmente.
De muitas formas o casamento estava sendo surpreendentemente bom para ele. Era apenas
um pouco... Muito… Íntimo.
Ele quase podia sentir os dedos dela tocando naquela cicatriz maldita. Maldição. Ela a veria
eventualmente. E então as perguntas começariam. Deixando-o nu.
Atrás dos estábulos meia dúzia de mulheres estava sentada ao redor de uma mesa rindo e
conversando enquanto mexiam com espigas de milho. Elas sorriram para Luke e anuíram com suas
cabeças. Luke as saudou e seguiu caminhando, o pensamento a quilômetros de distância.
Ele tinha um ferimento que um dia tinha sido tratado e curado. A bandagem havia ficado
colada no ferimento. Mas tudo bem; não havia nenhuma dor, apenas um pulsar, que era bastante
suportável, e um cheiro lânguido, mas apenas se cheirasse bem de perto.
Finalmente Rafe e Gabe haviam insistido para que ele o removesse. Estava incrustado, parte
da carne. Ele tentou banhá-lo, mas não adiantou. Luke queria deixar como estava; nenhum
problema, eventualmente cairia sozinho.
Mas Rafe foi buscar um médico, e o cara deu uma olhada e arrancou a bandagem,
dolorosamente, rasgando o ferimento velho e soltando uma inundação de pus.
O curativo teve que ser feito tudo de novo, e sim, depois de arejado se curou depressa, mas
neste dia Luke estava certo de que se deixasse o ferimento em paz, teria se curado sozinho. E
menos dolorosamente.
Ele não iria deixar ninguém abrir sua bandagem protetora novamente. Nem mesmo sua
esposa.
Especialmente não sua esposa. Ela ainda tinha… Ilusões.
Vaidade, esse é o nome Luke, ele pensou com remorso. Mas ele a havia tirado de sua casa,
seu país, e qualquer escolha no casamento, e ele não queria tirar dela as últimas ilusões sobre seu
marido.
Vaidade? Não, ele decidiu. Covardia.
Assim seja. Um homem devia ter sua privacidade.
Ele conseguiria uma criada para ela conversar. Isso poria fim a esta… Intimidade sem limites.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Bella buscou sua irmã e entrou no assunto das pérolas.


— E então está revelada a verdadeira razão pela qual você decidiu passar em Valle Verde. —
Perlita disse com a voz dura. — Essas pérolas.
— Não, não foi. — Bella protestou. — Foi só que… Enquanto eu estivesse aqui, eu pensei...
— Você conseguiria o que pudesse. Bem, você não irá. Qualquer coisa remanescente nesta
casa por oito anos agora pertence a Ramón e é dele para ele fazer o que bem entender.
— Eu não vim aqui para pegar o que podia. Além disso, aquelas pérolas pertencem a mim,
não à propriedade.
Perlita encolheu os ombros.
— Por que você se importa? Está casada com um homem rico; ele pode te comprar mais
pérolas.
— Não é o mesmo. Elas foram um presente de casamento para a minha mãe dos pais dela.
Meu avô colecionava pérolas dos Mares do Sul.
— Que pena. Você devia ter levado elas com você quando se foi.
— Suponho que Ramón as vendeu. E deve ter vendido abaixo do que valiam.
— Ramón faz o que deve para fazer a propriedade florescer.
— Inclusive se casar com a primeira herdeira que vier junto? E o que será de você, Perlita?
Onde estarão você e a sua lealdade então?
— Não despreze Ramón! — Perlita relampejou. — Ele não é nada diferente de seu pai –
nosso pai.
Bella estava ultrajada.
— O meu pai não era nada como Ramón! Ele...
Perlita fez um gesto afiado.
— Hah! O nosso pai se casou com a sua mãe por causa da fortuna, não foi? Por causa de
Valle Verde. É exatamente o mesmo.
— Não é o mesmo!
— Não, porque o sacrifício do nosso pai foi em vão. Seu avô o enganou para que ele não
pudesse usar a maior parte do dinheiro, assegurando que a maior parte dele ficasse para os filhos
do casamento. Para você.
— Meu avô fez isso? — Bella não sabia de nada disso. Ela sempre soube que a fortuna da
mãe viria para o herdeiro dela e não do pai dela, mas não que o pai dela se sentia enganado. Ele
nunca havia discutido tais assuntos com ela, e ela estava muito intimidada – e provavelmente era
muito jovem – para perguntar.
— É por isso que ele nunca deixava seus avós visitarem.
— Eles não visitavam porque morreram logo depois da minha mãe morrer.
— Foi mesmo? — Perlita disse sem curiosidade. — Não foi o que a minha mãe disse.

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**
Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— De qualquer maneira, eu teria dado ao meu pai qualquer coisa que ele precisasse...
Perlita bufou.
— Ele tentou botar a mão em parte do dinheiro durante a guerra. Eu o ouvi conversando
sobre isso com a minha mãe. Nem você nem ele podiam tocar nele. Estava em algum tipo de
confiança até que você fizesse vinte e um anos ou se casasse.
— Eu não sabia.
— Suponho que sendo rica e mimada por toda a vida, você nunca pensasse sobre onde vinha
o dinheiro.
Bella deu a meia irmã um olhar incrédulo. Rica e mimada por toda a vida? Ela tinha sido rica
só na teoria, e quanto à mimada, o pai dela tinha sido um mestre mais duro do que as freiras mais
severas no convento. E por uma boa parte dos últimos oito anos ela havia vivido beirando a fome.
Por isso que ela era toda pele e osso.
Ela não era uma figura luxuriante. E não tinha vestidos bonitos. Perlita havia colocado outro
vestido depois da siesta. Este aqui estava vislumbrando ouro. Destacava o tom de ouro de seu
cabelo.
Ramón poderia ter que vender pinturas e outras pérolas das pessoas para levantar dinheiro
para a propriedade, mas não restringiu as roupas de Perlita.
Ela abriu a boca para explicar para Perlita o quão rica e mimada que ela não tinha sido,
quando Perlita girou e caminhou para o terraço. Bella correu para alcançá-la.
— Eu não sabia de nada disto. — Ela repetiu. Ela se sentia tão tola, descobrindo tudo isso de
uma meia irmã mais nova.
Perlita deu uma olhada rápida em Bella por sobre o ombro e perguntou:
— Você nunca se perguntou por que o nosso pai odiava o seu avô?
— Para falar a verdade, não. A maior parte do tempo ele nem sequer falava dele. Uma vez
eu o ouvi dizer que o pai da minha mãe era pirata e ladrão, como todos os ingleses.
Perlita curvou o lábio.
— Porque ele o enganou nas cláusulas do casamento e o roubou de seu orgulho. O nosso pai
devia ter ficado com todo o dinheiro. Por que ele havia se casado com a sua mãe, afinal. Deus sabe
que ele nunca a amou, uma coisinha sem graça como ela era.
— Não ouse insultar a minha mãe! — Bella relampejou, os punhos cerrados.
Houve um silêncio curto.
— Eu me desculpo. É como a minha mãe falava que ela era. Ela tinha… Inveja. — Perlita
colocou uma mão no braço de Bella e disse suavemente: — Eu sinto muito. Falei sem pensar.
Bella se forçou a soltar os punhos. Ela deu um aceno curto com a cabeça, aceitando a
desculpa. Era a primeira vez que Perlita fazia um gesto em direção a ela, e ela não iria repeli-lo.
Ainda assim, era ultrajante o pai dela discutir estas coisas com sua amante na frente de
Perlita e nunca ter se preocupado em explicar qualquer coisa para ela. Nenhuma dúvida porque
ela era uma coisinha sem graça, também.
Perlita disse:

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Tudo o que eu sei é que nosso pai ficou terrivelmente irritado porque tudo que ele tinha
uma filha levaria a fortuna em casamento com algum homem.
Bella sabia disso. Era por isso que o pai dela havia planejado casá-la com Felipe. Exceto que
Felipe morreu, e o herdeiro se tornou Ramón. E isso era uma coisa muito diferente.
Pela primeira vez ela se perguntava por que se casar com Ramón seria tão ruim para ela.
Apesar de sua rudeza e falta de modos, ele ainda assim era o herdeiro.
— O meu pai não queria que eu me casasse com Ramón. — Ela disse. —Quando ele soube
que Ramón herdaria, ele me enviou uma mensagem para que eu fosse para o convento nas
montanhas, que escapasse dele. Agora eu me pergunto o por que.
Perlita deu uma risada cínica.
— Você não sabia? Eles estavam em lados opostos, politicamente. O nosso pai tinha seus
próprios guerilleros; Ramón permanecia leal à Coroa...
— Mas a Coroa era comandada pelo irmão de Napoleão! — Bella exclamou, chocada. — Ele
era um fantoche!
Perlita acenou uma mão indiferente.
— Ramón não gosta de política. Ele fez o que pensou ser melhor para Valle Verde.
E tudo que Ramón fazia obviamente era o certo para Perlita, Bella pensou. Ela era
apaixonada pelo homem. O porquê, ela não podia imaginar.
Elas passearam, a lagoa que um diz estivera cheia de lírios da água estava agora sufocada
com ervas daninhas, as roseiras estavam desgarradas, sem poda e negligenciadas. Bella tentou
não pensar em quanto da beleza de sua antiga casa estava sendo deixada a favor do que era
prático. Os pomares, campos e o jardim da cozinha estavam bem cuidados e produtivos. Ela podia
não gostar das escolhas que Ramón fazia, mas estava claro que ele se importava muito com Valle
Verde. O quanto ele gostava da irmã dela era outra história.
— Eu não vim para Valle Verde por causa das minhas pérolas. — Ela disse a Perlita. — Eu vim
por você.
Perlita parou e virou ao redor para enfrentá-la.
— Você disse isto antes, mas eu ainda não acredito em você. Por que você viria por mim?
Bella respirou fundo e fez sua confissão pela segunda vez.
— Oito anos atrás, quando eu deixei Valle Verde para me abrigar no Convento dos Anjos, eu
estava sob as ordens do meu pai.
— E?
— E eu devia ter levado você e sua mãe comigo. Era o que ele queria. E eu sempre me senti
mal por tê-lo desobedecido...
— Ele disse que você levasse a minha mãe e a mim com você? — Perlita interrompeu.
— Sim.
— Para um convento?
— Sim, onde vocês estariam mais seguras.
— Com freiras?

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Claro, com freiras. Minha tia era uma freira lá. Ela é agora a Madre Sup...
Perlita desatou a rir.
— Deus, eu teria gostado de ver você tentar. Levar a minha mãe para um convento? Ela
preferiria morrer.
Bella piscou. Era a última reação que ela esperava.
— E eu, teria odiado isto, também. — Perlita caiu na risada. — As roupas, para começar. E
então toda aquela questão de cantar, rezar e ajoelhar.
— E costurar. — Bella adicionou perniciosamente.
Perlita parou de rir e a olhou astutamente.
— Você odiou?
— Cada minuto. — Bella admitiu. — E a maior parte da reza eu fugia. — As duas desataram a
rir, e no fim se olharam com uma nova compreensão.
— Todo esse tempo eu me senti tão culpada. — Bella confessou. — Eu estava brava com o
meu pai porque ele estava mais preocupado com você e a sua mãe do que comigo. Eu deixei vocês
para trás porque eu tinha ciúme de você. Eu me senti tão culpada desde então.
Perlita fez um gesto descuidado.
— Nós éramos crianças. Eu tinha ciúmes de você, também.
— Foi a única vez que desobedeci meu pai.
Perlita deu uma risada.
— Tolice.
Bella a deu um olhar indignado. Perlita disse:
— Você era frequentemente desobediente.
— Eu não era!
— E as vezes que você montou o garanhão preto no pelo?
— Oh. — Ela não tinha pensado nisso.
— E quando sua menstruação começou e o nosso pai te disse que você tinha que montar
sela lateral e devia aprender a ser uma dama, no dia seguinte você...
— Certo, eu nunca obedecia ao nosso pai em tudo. Mas ainda assim eu devia...
Perlita agitou a cabeça.
— O quê? Levar a minha mãe e a mim – chutando e gritando – para um convento? Uma
criança de treze anos? A ideia inteira era absurda desde o começo. Esqueça, Isabella. Siga com a
sua vida.
E com aquelas palavras verdadeiras, o fardo de culpa e recriminação que Bella tinha
carregado todos estes anos se apagou.
Sim, ela queria seguir com sua vida. Todos aqueles anos sonhando…
Um de seus sonhos era ser parte de uma família novamente. Ela olhou para a irmã.
Dezenove anos, arruinada, e nas mãos de Ramón. E um dia ela seria trocada por uma herdeira.
Não era o modo de uma menina jovem e bonita viver. Perlita já tinha alguma vez estado longe de
Valle Verde?

** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis.
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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Ela pousou a mão no braço de sua irmã e disse:


— Venha para a Inglaterra com Luke e eu. Nós te ajudaremos a achar um marido lá.
Perlita deu a ela um olhar surpreso, e Bella adicionou apressadamente:
— Ou se preferir nós podemos te levar para Barcelona onde sua mãe está, ou Madri.
Perlita não disse nada por um momento. Ela pegou um ramo de alecrim e o cheirou, então
esmagou-o em seus dedos elegantes.
— Obrigada. É uma oferta generosa. Mas eu ficarei aqui.
— Com Ramón?
— Com Ramón.
Bella hesitou, e então disse:
— Como amante, Perlita? Como a sua mãe?
— Eu o amo. — Perlita disse.
Bella recordou do punho levantado.
— Ele não bate em você, não é?
Perlita agitou a cabeça.
— Nunca. — Ela podia ver que Bella ainda tinha dúvidas e acrescentou com um sorriso: —
Ramón parece muito feroz – e eu acho que ele mataria feliz seu marido em uma briga – mas a
maior parte do tempo ele é cão que ladra e não morde. Comigo ele é sempre gentil como um
gatinho, exceto na cama, quando é um leão.
Bella tentou não ruborizar com tal franqueza.
— E quando Ramón se casar com uma herdeira?
— Primeiro ele tem que achar uma mulher rica que o aceitará. — Ela deu um encolher de
ombros filosófico. — Não é tão fácil desde a guerra. As herdeiras estão em falta.
— Mas com o título, ele achará alguém, e então como você ficará? Na pequena casa rosa no
vale vizinho?
Perlita girou e olhou em direção às colinas.
— Eu nasci naquela casa. Não é tão ruim.
Mas ela tinha dezenove anos de idade, Bella pensou. Quem aos dezenove anos de idade
sonhava em viver na mesma cabana isolada onde havia nascido, na mesma posição da mãe? Até a
mãe dela estava casada agora e vivendo na cidade.
— Eu sempre pensei que você e sua mãe deviam ser muito sós.
Perlita não disse nada.
— Se você viesse conosco...
— Não! Eu ficarei aqui.
Com Ramón, Bella percebeu.
— Ele não te merece. — Ela disse tranquilamente.
— Ele é um bom homem, a seu modo. — Perlita quase sussurrou. — Ele é bom para mim.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

E isso dizia tudo, Bella pensou. Ela o amava. E talvez Ramón até amasse Perlita. Mas ele se
casaria com uma mulher por dinheiro, como o pai dela tinha feito. Fazendo duas mulheres
infelizes, exatamente como o pai dela. E não havia nada que ela pudesse fazer sobre isto.
— Então se você estiver certa, nós sairemos de manhã. E se você mudar de ideia...
— Eu não irei.
— Se o fizer, a oferta estará sempre aberta. — Bella ficou na ponta dos pés e pela primeira
vez na vida beijou sua meia irmã na bochecha. — Irmã.
Perlita deu um abraço desajeitado e apressado nela e girou depressa para longe. Bella
pensou ver lágrimas brilhando nas pestanas longas da irmã, mas ela não podia estar certa porque
seus próprios olhos estavam bastante borrados, também.
— Você acha que Ramón se importaria se nós montássemos por Valle Verde? Eu gostaria de
mostrar a meu marido o lugar em que cresci. — Ela também queria dar um adeus adequado à
fazenda. Quando ela fugiu, quando criança, não percebeu o quão final a partida seria, não
percebeu o que seria deixar esta terra que ela amava tanto.
Perlita ergueu um ombro elegante.
— Vá aonde quiser. — A voz dela soou grossa.
— Você gostaria de montar conosco, Perlita? — Se sua irmã não deixaria Valle Verde, Bella
queria tirar o maior proveito de cada hora com ela.
— Nunca aprendi a montar.
Bella piscou.
— Por que isso?
— O nosso pai disse que eu não tinha nenhuma necessidade de aprender, que eu era o tipo
de mulher que sempre andaria em uma boa carruagem.

Enquanto Isabella e Luke montavam pelas colinas, ela disse a ele o que Perlita dissera.
— É estranho. — Ela concluiu. — O meu pai me treinou para administrar a propriedade e
viver como uma guerrillera, da terra, e Perlita ele ensinou a ser uma dama, esperar que os outros
cuidassem dela.
— Você não é menos dama por ter habilidades incomuns. — Luke disse a ela. O pai dela
tinha muito pelo que responder.
Ela fez uma careta.
— Mas quando a hora chegou, meu pai me mandou para um convento. Mas eu não me
importo. — Ela disse como que continuando uma discussão em sua cabeça. — Eu nunca poderia
lamentar de aprender a montar. É uma das diversões da vida, e muito melhor do que ficar em uma
carruagem sufocante. Você não tem nenhuma ideia de quanta falta eu senti de poder fazer isto
quando estava no convento. — E com um olhar travesso ela saiu a galopando ao longo do vale.

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Anne Gracie
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Noiva por Engano

Ela levou Luke por toda parte da propriedade, assinalando como as coisas haviam mudado e
comentou livremente sobre o gerenciamento de Ramón, que cada vez mais ela, relutantemente,
tinha que aprovar.
A profundidade de sua compreensão de gerenciamento de propriedade o surpreendeu. Ele
não conhecia nenhuma outra mulher que achasse tais coisas interessantes. Enquanto eles
pausaram para admirar a vista de um dos morros, Luke disse a ela.
Ela riu.
— Teria sido diferente se a minha mãe tivesse dado um filho a meu pai. Eu, então, seria tão
ignorante quanto uma dama deve ser de tais assuntos.
— Seu pai deve ter ficado muito orgulhoso de você.
Ela considerou isso por um momento.
— Meu pai não era muito de elogiar. A melhor coisa que ele já me disse era que eu era um
desperdício como fêmea. — Havia tal desolação no rosto dela enquanto olhava além as colinas,
que Luke não pôde evitar.
— Eu não concordo. — Ele disse. — Como um homem, você não seria nada notável. Como
mulher, acredite em mim, você é… Sem igual. — E ele se debruçou adiante e a beijou.
Era apenas para ser um beijo leve, um gesto de conforto, mas ela se debruçou nele,
envolvendo o pescoço com os braços, e retornou o beijo com tal sentimento que os dois se
esqueceram de onde estavam e quase caíram quando seus cavalos se moveram.
Eles riram, um pouco autoconsciente, mas os olhos dela estavam fixos nos dele, e a boca
estava úmida, linda e ligeiramente inchada, e antes que Luke percebesse desmontou de seu cavalo
e a desceu do cavalo dela e a puxou para seus braços.
Rindo, ainda o beijando, ela deslizou devagar por seu corpo, enroscando os membros ao
redor dele, uma fricção agonizante, deliciosa. O corpo era suave e flexível, o gosto dela
intoxicante.
Eles deslizaram para o chão, e a fragrância de grama nova e esmagada se entrosou com o
odor e gosto dela enquanto ele a apertava sob ele, cobrindo-a com seu corpo, devorando-a. Ele
puxou urgentemente a roupa dela, ávido para tirá-la, revelar seu corpo flexível com os seios
pequenos, altos e perfeitos, mas ela empurrou as mãos dele para o lado.
— Você primeiro. — Ela murmurou, agarrando a gravata dele. Ela a puxou, jogou de lado e
começou a puxar a camisa.
— Não. — Luke puxou-a abruptamente.
Ela ficou deitada parada, a grama contra as costas.
— Por que não?
Para responder ele cobriu a boca com a dele, tentando recapturar a paixão descuidada de
alguns momentos antes. A pergunta estava entre eles. Luke ignorou. E agarrou o justilho dela.
— Não. — Ela pegou as mãos dele e o parou. — Não até que você tire a sua camisa.

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Quinze

Houve um silêncio longo. Luke podia ouvir um pássaro circulando alto no vento, chamando
alto e severo.
— Se você não está com vontade. — Ele começou, saindo dela.
Bella o pegou pelo braço.
— Eu estou com vontade, mas não vou soltar um botão, tirar uma renda ou baixar um zíper
a menos que você me mostre o que quer que você esteja escondendo. — Ela esperou. Não podia
ser uma visão tão terrível. E ainda que seu ferimento fosse horroroso, não iria, não podia, deixá-lo
menos atraente para ela. Ela não era uma criatura tão superficial.
E, além disso, ela o amava.
Ele não respondeu, apenas olhou através das colinas, o perfil horrendo e inflexível, a
mandíbula cerrada, apertada.
Ela disse em uma voz suave:
— Luke, por favor, não se preocupe. Não fará diferença...
— Está nublando e parece que vai chover. É melhor voltarmos.
Ela se ergueu, tirou a grama das saias.
— Fingir que não existe, não irá mudar. O que quer que seja, não importa...
— Se não importa, por que faz tanta questão? — A voz dele era quase selvagem.
— Eu não faço tanta questão, Luke. Você que faz. — Ela disse tranquilamente. — Você só
tem que confiar em mim.
Como resposta ele foi buscar os cavalos. Em silêncio ele o devolveu, e em silêncio ele a
ajudou a montar.
Ele montou e olhou por um momento a vista diante deles. A terra onde ela nasceu.
— Devemos partir para a Inglaterra de manhã cedinho. Já desperdiçamos tempo demais
aqui.
Ele não encontrou os olhos dela, e quando eles se moveram, ele montou a uma distância
muito grande para conversas. Bella seguiu, culpa e raiva opostas dentro dela.
A raiva ganhou, raiva por ele estava fazendo tanta coisa por algo que ela tinha certeza não
era tão terrível. Era coisa de homens bonitos, ela supôs. Tendo nascido bonito, ele não podia
aguentar ser menos que perfeito.
Mas ela era a esposa dele. Ela não discutia sobre ele esconder seu ferimento do mundo, mas
ela não iria se desnudar, desistir de todos os segredos de seu corpo para um homem que se
recusava a tirar sua camisa para ela.
Não que tivesse sido fácil. Pelos últimos oito anos ela nem mesmo tinha visto seu próprio
corpo – as meninas tinham que tomar banho sob um vestido de linho – mas ela havia se recusado
quando ele havia desnudado a camisola dela? Não, embora ela não se sentisse de todo

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confortável quando ele a havia deixado nua, sabendo que ela era inadequada, muito fraca e
carente se comparada às mulheres cheias de curvas que os homens preferiam. Mas ela confiara
nele e se revelara. Porque ele era seu marido.
Se ele tivesse tirado sua camisa hoje, ela teria felizmente jogado anos de modéstia de
convento pelos ares e se mostrado a ele sobre as colinas infinitas.
Mas ele havia mostrado uma simples cicatriz? Não era nem grande; ela havia sentido. Não
era maior do que a palma da mão dela. Mas não, o Sr. Muito-bonito – não, Senhor Bonito-além-
das-palavras não deixaria sua esposa ver sua pequena imperfeição.
Não era uma coisa para se ter vergonha. Uma cicatriz ganha em guerra era uma marca de
heroísmo.
Além disso, ela o desejava. Era muito bom para ele, correr a mão em cada centímetro da
pele dela, tocando-a onde quer que quisesse e causando arrepios de desejo.
Ele pensava que ela queria acariciar uma camisa?

Quando Bella disse a Perlita que era sua última noite em Valle Verde, ela anuiu com a
cabeça.
— Então, nos vestiremos para jantar e faremos um evento especial.
Se vestir para jantar? Isabella se lavou, trançou o cabelo em uma coroa, e colocou seu
vestido vermelho novo. Parecia bonito o suficiente, mas um vestido comprado em um mercado da
cidade não podia competir. Não que ela quisesse competir com a irmã. Não que ela pudesse.
Ela olhou para seu reflexo no espelho e suspirou.
— Tem que ser o suficiente.
— Não. — Luke tomou banho e se barbeou, lindo de tirar o fôlego em seu casaco
elegantemente feito sob medida azul escuro, calça amarela e botas brilhantes, recentemente
polidas. Ele havia pegado um pouco de cor ao ar livre, e as maçãs do rosto estavam ligeiramente
bronzeadas. Ele parecia magnífico. —Esse vestido precisa de algo mais. — Foi a primeira vez que
ele falava com ela desde a discussão nas colinas.
— Não tenho mais nada. — As pérolas da mãe dela teriam ficado perfeitas.
— Que tal isso? — Ele colocou um mantô ao redor dos ombros dela. Feito de seda cor de
creme, era bordado com flores vermelhas escuras. Bella não podia falar. Ela nunca tinha vestido
nada tão bonito na vida.
Mais que isto, era um oferecimento de paz.
— Onde você...
— Ontem à noite, depois da dança cigana, quando saí para um passeio. Uma velha me
vendeu por um preço que eu não pude resistir. Lindo, não acha?

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Noiva por Engano

Bella olhou seu reflexo. As flores vermelhas eram a mesma cor do vestido, e a seda cremosa
dava um brilho ao conjunto. Na ceia ela não pareceria tão inferior à irmã. Neste mantô ela se
sentia quase bonita.
— É lindo. — Ela sussurrou. — Obrigada.
Ramón e Perlita estavam esperando por eles no escritório do pai dela. Bella entrou na sala
de braços dados com Luke. Perlita usava um vestido verde esmeralda revestido com um tecido
fino. Ela se ergueu da cadeira como uma deusa emerge do mar. Os olhos eram trágicos e cheios de
culpa.
Bella suprimiu uma arfada. Os dedos cravaram no braço de Luke com o esforço de se manter
muda. Ele deu uma olhada rápida em seu rosto, então seguiu o olhar dela.
No pescoço de Perlita havia um longo colar de pérolas. Brilhando, pérolas perfeitas do
Pacífico Sul.
Ramón estava com uma mão ao redor da cintura de Perlita, de forma proprietária. Ele
parecia satisfeito consigo mesmo.
Qualquer coisa remanescente nesta casa por oito anos agora pertence a Ramón e é dele
para ele fazer o que bem entender.
E ele tinha, Bella viu. Perlita encontrou o olhar dela e deu uma sacudida pequena e triste
com a cabeça.
Ela não sabia. Bella anuiu com a cabeça e enviou à irmã um sorriso tranquilizante. Ela sabia
muito bem quem devia culpar. Ramón sabia exatamente de quem eram essas pérolas. E ele estava
assistindo Luke como um lobo, esperando que ele começasse uma briga pelas pérolas.
Fazer Perlita usá-las hoje à noite era provocação deliberada.
Luke lutaria, também, Bella sabia. Ele poderia ter dado ela o mantô, mas ele ainda estava
chateado com a discussão nas colinas. Tudo o que ele precisava era uma desculpa.
Luke se curvou e murmurou na orelha de Bella.
— As pérolas da sua mãe?
Ela apertou os lábios juntos e sacudiu a cabeça. Ela não diria nada.
Um empregado que ela não conhecia trouxe taças de vinho. Ela bebericou agradecida e fez
uma careta surpresa. Não era o vinho gostoso de Valle Verde que ela conhecia.
Ramón era mais observador do que parecia.
— O vinho não é da sua preferência, não é?
— Não por isso. — Ela disse com ambiguidade deliberada. — Eu estava só esperando que
fosse um das vinha de Valle Verde.
— É vinho de Valle Verde.
— Sério? — Não parecia nada com o vinho que o pai dela fazia.
— Feito das uvas de Valle Verde, de qualquer modo. Com o tamanho dos vinhedos aqui, é
impraticável continuar fazendo vinhos em Valle Verde. — Ramón explicou. — Para manter o
estabelecimento vinícola em um estado lucrativo, seu pai devia ter posto mais campos com

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vinhas, mas ele preferia cavalos, assim como eu. Mas as vinhas ainda produzem bem, então eu
vendo as uvas para um vizinho, ele faz o vinho e me dá uma parte.
— Entendo. — Bella disse educadamente. Era uma economia falsa. O vizinho era terrível
para fazer vinhos.
Ramón riu.
— Mas por que eu perco meu tempo explicando negócios para uma mulher cabeça oca? —
Ele girou para Luke. — Perlita me disse que você inspecionou a propriedade esta tarde, inglês.
Então, o que achou?
— É um local bonito. — Luke respondeu, mas antes de poder dizer qualquer outra coisa,
Perlita tiniu o sino pequeno, dando o sinal para eles entrarem para a ceia.
Quando prato após prato foi servido, Bella viu que Perlita havia feito um esforço especial
com a comida. Cada prato era um dos favoritos da infância de Isabella. Os empregados sabiam
quais pratos, mas a ordem de fazê-los era um gesto de sua irmã.
Uma desculpa muda pelas pérolas. Bella enviou a Perlita um aceno com a cabeça de
reconhecimento e obrigado.
Um dos empregados avançou com uma garrafa de vinho.
— Eu preferiria um dos velhos vinhos de Valle Verde. — Bella disse.
— Nenhum ficou. — Ramón disse. — Eu vendi tudo.
— Então, apenas água para mim, obrigada.
A sobrancelha dele juntou.
— Qual o problema com o meu vinho? — Ele rosnou. — Não é bom o suficiente para você,
minha boa senhora?
Ela hesitou.
— Não. — Ela disse, decidindo que a honestidade era mais importante que a cortesia. — É
terrível. O antigo vinho de Valle Verde era muito melhor.
Ramón bufou.
— Claro que era. É por isso que eu vendi.
— A venda de boas uvas por um pouco de dinheiro e um pouco de vinho ruim é um mau
negócio. — Ela disse vivamente.
Ramón eriçou e se debruçou adiante.
— Você acha, é?
— Eu acho. Seria melhor se você continuasse a fazer vinho em pouca quantidade aqui e
mantivesse a etiqueta Valle Verde, porque você sabe que as vinícolas antigas tem boa reputação e
valem a pena. Também manteria o vinho na propriedade. Um dia o velho Luis – o homem que
fazia vinho para meu pai – morrerá, e seu conhecimento e habilidade irão com ele, ele tem quase
setenta. Quando eu parti, ele começou a treinar seu neto, mas eu notei hoje que você tem Manuel
trabalhando nos estábulos.
— A renda principal de Valle Verde agora vem dos cavalos.

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Anne Gracie
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— Sim, mas colocar Manuel para trabalhar com os cavalos é outra falsa economia. Qualquer
outra pessoa pode limpar os estábulos, mas Manuel, ele tem o “nariz” para fazer vinho. — Ramón
pareceu perdido e ela acrescentou: — Esse “nariz” é um talento com o qual se nasce. Não pode
ser ensinado. Manuel é completamente perdido com cavalos. — Isso porque ele não queria
discutir com uma mulher de cabeça oca, ela pensou, vendo a expressão atordoada de Ramón.
— Como você sabe de tudo isso?
Bella encolheu os ombros.
— Meu pai me ensinou. Ele sabia que Felipe não tinha nenhum interesse em gerenciar a
propriedade.
Ramón fez uma carranca enquanto empurrava a comida na boca. Ele limpou a boca com a
parte de trás da mão.
— Você nunca deveria ter se casado com esse inglês maldito. Com sua fortuna e esse
conhecimento você teria me feito uma esposa muito útil.
— Ela me fará uma esposa ainda mais útil. — Luke interpôs sedosamente através da mesa.
Ramón grunhiu.
— Cuidado, inglês. Eu ainda posso fazer dela uma viúva.
Perlita falou pela primeira vez.
— Ramón.
Ele deu uma olhada rápida nela, franzindo. Ela encontrou o olhar dele continuou a mexer
nas pérolas no pescoço, e depois de um momento ele a olhou, e sua cor ficou ligeiramente
exaltada.
Nos olhos dele Bella viu... O que... Vergonha? Seguramente não. Ela se recordou do que
Perlita dissera sobre o outro lado de seu amante.
Isso não o impedia de ser um ladrão.
Em um tom diferente, Ramón disse para Bella:
— Você não é a tola que eu pensei que fosse, prima, então o que fará agora que sabe que
seu marido não fez nenhuma provisão para você em seu testamento?
— Manterei ele muito saudável. — Ela disse sem vacilar.
Ramón deu uma risada.
— Quase te invejo, inglês. — E ele deu uma olhada rápida em Perlita e seu olhar aqueceu. —
Quase.
Pelo resto da noite ele se empenhou em conversar com Luke, disparou perguntas sobre
colheitas, gado e gerenciamento de propriedades na Inglaterra. Luke respondeu com garantia e
inteligência, Bella notou. Ele não precisaria das habilidades dela ou seu conhecimento.
Bella e Perlita, em lados opostos da mesa, não podiam falar de qualquer coisa que não
quisessem que Ramón ouvisse, então exceto quando Luke as chamava na conversa, elas passaram
a maior parte da noite em silêncio.

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Noiva por Engano

— Então, elas são as pérolas da sua mãe? — Luke exclamou depois da ceia quando eles
estavam a sós no quarto novamente. — Eu pensei a princípio que eram, mas quando você não
reagiu…
— Sim, são inconfundíveis. Se eu quisesse provar, poderia. A pérola maior tem uma marca
minúscula onde eu mordi quando era criança.
— Então, droga, eu vou consegui-las de volta para você. — Luke andou a passos largos em
direção à porta.
— Não! — Bella voou através do quarto para pará-lo. — Deixe, Luke.
Ele fez uma carranca.
— Mas elas são tudo que você tem da sua mãe.
Ela agitou a cabeça.
— Não, minha mãe está aqui. — Ela tocou o coração, então suspirou. —Além disso, eu deixei
as pérolas oito anos atrás, sabendo que meu pai estava mortalmente ferido e que Ramón seria o
novo dono da propriedade. Eu não pensei direito. Foi minha própria culpa eu tê-las perdido.
— Você tinha treze anos! — Luke rosnou. — Tinha muito para pensar nessa situação. E eu
não gosto daquela cadela sentada lá toda presunçosa usando elas para te insultar. — Ele cerrou os
punhos. — Tenho uma boa ideia do que fazer...
— Não, não, por favor. — Ela agarrou o braço dele. — Eu não poderia aguentar se você e
Ramón lutassem. Além disso, Perlita não estava satisfeita consigo mesma ou me provocando.
Ele grunhiu.
— Por que mais ela as teria colocado? Se não tivesse, nós teríamos ido embora sem saber.
— Não foi escolha dela usá-las; foi de Ramón. Ela não sabia nada sobre elas até hoje à noite,
estou certa. Ela deve ter perguntado sobre elas depois que eu perguntei, e então ele as fez usá-las.
Ela não estava de todo feliz sobre isto, eu podia ver. — Ela removeu o mantô de seda e o dobrou
cuidadosamente.
— Porco. — Luke murmurou. — E ela é da mesma laia, aceitando ele.
— Não a culpe. Ela o ama.
Luke bufou.
Bella disse:
— Ela é só uma menina de dezenove anos que nunca teve muito, e está desesperada para
manter o que tem. Sabendo que sua situação é desesperadamente insegura.
— Então, você vai desistir das pérolas sem brigar?
Era exatamente isto, Bella pensou. Sem brigar. O amor a estava tornando uma covarde. Ela
não arriscaria a vida de Luke por nada.
Ela encolheu os ombros como se não se importasse.
— Não importa. Eu vivi sem elas por oito anos… — As pérolas não valem a vida de um
homem. Qualquer homem. Até mesmo a de Ramón.
— Não é do seu feitio desistir tão facilmente.

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Noiva por Engano

As pérolas eram o passado. Luke era seu futuro. E, além disso, ela tinha coisas melhores para
lutar.
Ela não iria para a cama com ele de camisa.
Ela tirou os sapatos e começou a tirar a meia-calça.
Os olhos dele, escuros e insondáveis, descansaram nela.
— Vou dar uma volta antes de dormir. Você gostaria de uma empregada para te ajudar?
— Não, obrigada. — Ela havia se vestido e se despido sozinha pelos últimos oito anos, e se o
marido dela queria ser cabeça dura, teimoso e se recusava a estar lá para ajudá-la agora, ela faria
sozinha.
— Hoje eu pensei em contratar uma criada para você. Eu ficaria muito feliz em levar uma
menina de Valle Verde com você para a Inglaterra. — A voz dele perdeu um pouco da dureza. —
Ela seria alguém de casa que você poderia conversar na Inglaterra.
Era um pensamento gentil. Bella o considerou brevemente.
— Não, obrigada. Essa menina estaria só em uma terra onde não tem nenhuma família e não
falaria o idioma.
— Você não estará só? — Ele perguntou, como se só agora ele tivesse percebido que ela
estava deixando tudo que conhecia para ir com ele.
— Eu sempre fui só. E vou conseguir me ajeitar. — Ela deu a ele um olhar direto. — Você virá
para a cama?
Ele evitou o olhar dela.
— Não ainda. Vou dar uma volta.

Uma volta deveria ser curta. Ele havia saído há muito tempo. A vela que ela havia acendido
já havia se apagado.
Bella se sentou na cama, esperando, a roupa de cama amontoada nas orelhas. Ela quase
tirou uma soneca quando ouviu o rangido da porta aberta. Finalmente
Ele fechou a porta tranquilamente atrás de si. O quarto estava em sombras, iluminado
apenas pelo brilho do fogo agonizante. Ele removeu seu casaco e se sentou para tirar as botas. Ela
ouviu a primeira bater o chão, então a outra. Ele estaria começando os botões do jaleco agora.
— Você pode acender uma vela se quiser. — Ela disse suavemente. — Eu não estou
dormindo.
Ele pausou.
— Não precisa. O fogo me dá luz suficiente. — Ele removeu o jaleco e pendurou-o atrás de
uma cadeira. Ele era um homem organizado.
— Pensei que você estaria dormindo a essa hora. — Em seguida ele soltou a calça e tirou-a.
Ele a agitou e colocou-a na parte de trás da cadeira. Não havia nenhuma autoconsciência nele; não
sobre a metade de baixo, pelo menos.

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— Eu te esperei acordada. — Agora a camisa. Ele a removeria ou não? Bella segurou a


respiração.
Ele a puxou pela cabeça. Bella disse uma oração rápida.
Então, ele agitou a camisola, colocou-a e subiu na cama ao lado dela.
Bella teve que apertar os lábios com força para prevenir que sua decepção se derramasse.
Ela estava determinada não o importunar sobre isto. A confiança não podia ser forçada.
Ele a enfrentou na cama, os lábios separados como que para dizer algo, então ele fez uma
carranca.
— Essa é a minha camisa. Por que você está usando a minha camisa? Tire.
Ele agarrou a camisa. Ela se moveu e a palma da mão dele roçou contra os peitos dela. Ela
estremeceu e os mamilos endureceram. Ele notou. Os olhos escureceram.
— Tire. — Ele disse suavemente.
Ela recuou um pouco.
— Não, a menos que você tire a sua camisa primeiro.
Ele enrijeceu.
Ela cruzou os braços.
— Já que você usa uma camisa na cama, então eu também usarei.
— Se você vai começar de novo… — Ele se virou.
— Mas...
— Eu não discutirei isto, Isabella. — Ele disse com a voz dura. — Se você não deseja
compartilhar uma cama comigo, então essa é a sua prerrogativa. Vou dormir em outro lugar. —
Ele se ergueu, juntou suas roupas e saiu a passos largos e firmes do quarto.

Bella dormiu mal naquela noite. Ela continuou acordada, pensando que Luke voltaria, mas
ele não voltou.
Tão pouco tempo de esposa, e ainda assim ela já estava acostumada a dormir com um
homem grande e morno atrás dela, ela não podia dormir bem sem ele. A cama parecia muito
grande, muito vazia, muito fria.
Ele apareceu na mesa do café da manhã alguns momentos depois dela. Ela estava para
perguntar onde ele havia dormido quando Ramón e Perlita chegaram.
— Era sua? — Perlita perguntou, colocando uma pequena boneca de pano na mesa ao lado
de Bella.
Bella pegou-a. Era a boneca que sua antiga babá, Marta, tinha feito para ela depois que o pai
havia dado a Perlita a boneca que Bella vira. Bella devia ter dito a Marta algo sobre uma boneca de
cabelo dourado, e Marta havia feito uma para ela.

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Anne Gracie
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Bella jogou-a longe irada. Ela queria uma boneca de cabelo dourado de Barcelona, não uma
coisa estúpida caseira. Mas posteriormente ela se sentiu má e pegou a pequena boneca rústica de
volta e abraçou Marta.
Ela não a via há anos, mas ele não parecia a mesma. Era mais pesada, e o cabelo era de seda
dourada, e não de lã espessa amarela. As roupas da boneca eram novas também.
Bella deu uma olhada rápida da boneca até a irmã.
— Eu não entendo.
— Espero que você não se importe. Ela estava parecendo muito rota e mal vestida. — Perlita
disse. — Então, eu a consertei e fiz suas algumas roupas novas.
Bella olhou fixamente.
— Você fez estas roupas? — Ela examinou. A boneca estava usando um vestido Aragon13
tradicional, cada artigo finamente bordado e perfeito até o último detalhe.
Perlita sorriu.
— Sí, eu gosto de bonecas e gosto de costurar. Faço todas as minhas roupas.
— Você as faz? — Bella exclamou. Perlita fizera todos aqueles vestidos magníficos?
Perlita riu.
— Você acha que Ramón desperdiçaria dinheiro com vestidos quando Valle Verde está em
necessidade?
Para o assombro de Bella, Ramón parou de empurrar comida abaixo e beijou a mão de
Perlita com um ar quase elegante.
— Não é um desperdício adornar minha linda Perla.
Era quase encantador. Mas ele voltou a encher a boca com comida e o charme evaporou.
O resto do café da manhã passou mais ou menos em silêncio. Bella não tinha nenhuma
intenção de conversar com seu marido sobre a noite prévia com público presente, e já que eles
nunca eram muito faladores de manhã, ninguém notou a leve restrição entre eles.
Depois que o café da manhã estava terminado, estava na hora de deixar Valle Verde. As
bolsas estavam alojadas na carruagem, e todo mundo se juntou na frente da casa para fazer as
despedidas.
Bella disse adeus para todos os empregados primeiro. Era mais difícil do que ela pensou.
Embora ela tivesse sumido por oito anos, a despedida era muito afetuosa.
— Volte logo, señora, e não nos esqueça. — Ela não era mais a Pequena Mestre.
Havia apenas um mestre agora em Valle Verde.
E ele até conseguiu dar um adeus civilizado, beijando a mão dela – ele devia estar tomando
lições – e agitou a mão de Luke de maneira cordial. Ninguém acreditaria, vendo agora, que na
véspera ele havia se oferecido para assassinar o marido dela.
Ela girou para dizer adeus à irmã, mas Perlita havia desaparecido de volta dentro da casa.
— Você esqueceu isto. — Ela disse, retornando com a pequena boneca de pano. — Tome
com você e mantenha como memória de sua irmã tola.
13
Nota da Revisora: Aragão é uma comunidade autônoma da Espanha.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Ela abraçou Bella firmemente, beijando-a em ambas as bochechas. Bella lutou contra as
lágrimas. Perlita não fez nenhuma tentativa de esconder as dela.
Bella girou para entrar na carruagem, então mudou de ideia. Ela marchou de volta para os
degraus em direção a Ramón, agarrou-o pela camisa e o arrastou de lado.
— Case com a minha irmã! — Ela disse. — Você é um estúpido, cabeça dura, bobo, cego e
uma vergonha, e eu não consigo pensar por que ela te ama, mas ela o ama, e você não a merece.
Eu queria levá-la para Londres comigo e apresentá-la a sociedade...
O rosto de Ramón escureceu.
— Você não tomará minha Perl...
— Só porque ela não quer. — Bella bateu furiosamente no tórax dele. —Ela podia fazer seu
debute na sociedade. Ela é tão bonita que teria todos os homens ricos, educados, bonitos...
Ramón sorriu amplamente.
— Mas ela me escolheu.
— Oh, tire esse sorriso asqueroso do rosto, seu estúpido, presunçoso, desajeitado! — Bella
estalou. — Ela só tem dezenove anos e sua vida já está acabada – porque você a arruinou. Ela não
tem nenhum amigo, nenhum parente – só a mim, e eu estarei na Inglaterra.
Ramón fez uma careta.
— Ela me tem.
— E você pensa que é grande coisa, não é? Você que não faz nenhum segredo de querer se
casar com uma mulher rica! — Bella o cutucou no tórax. — Perlita é um tesouro, mas você é muito
estúpido para ver isto. Ela devia ser a sua esposa, Ramón, construindo Valle Verde com você, não
sentada em uma casa vazia, sem ver ninguém, e vestindo bonecas em vez de ter seus bebês. Você,
Ramón, é um grande tolo gordo. E me repugna! Eu rezo pelo dia em que Perlita crescerá e verá o
porco egoísta que você é. E quando ela perceber o que realmente quer da vida, Ramón, eu a
estarei esperando, e ela estará fora daqui tão rápido que quando você perceber será tarde. E
então você terá apenas uma casa grande e a sua própria estupidez como companhia.
Ramón fez uma carranca, e juntou as sobrancelhas.
— Sua viborazinha. Graças a Deus que eu nunca me casei com você.
— Eu agradeço exatamente pela mesma coisa. — Ela queria bater nele de tão frustrada. Ele
não podia ver o que havia feito com a irmã dela? Ela havia vindo aqui para ajudá-la e nada havia
mudado, nada.
Luke deslizou a mão debaixo do cotovelo de Bella.
— Vamos. Você fez o que podia.
Ramón acenou com a mão.
— Sim, leve-a para longe, inglês. Você tem minha condolência.
— Oh, eu estou bem contente com a minha escolha, espanhol. É como a minha esposa disse:
você não reconhece o ouro quando ele está debaixo do seu nariz.
Bella abraçou a irmã uma última vez, dizendo:

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Escreva. E venha para nós na hora que quiser. — E então ela marchou os degraus abaixo
de El Nueva Castillo e subiu na carruagem.

— Bom, você tirou o peso do seu peito, pelo menos. — Luke comentou quando a carruagem
já estava longe.
— Eu deveria ter deixado você o matar. — Ela murmurou. — Então Perlita não teria
nenhuma escolha além de vir conosco.
— Eu pensei que você queria dar uma escolha a ela.
Ela não disse nada, apenas acariciou a pequena boneca que Perlita havia dado a ela.
— Você não pode salvar alguém que não quer ser salvo.
Ela suspirou.
— Eu sei.
— Sua irmã é uma jovem dama firme em seus pensamentos. Semelhança de família.
Eles viajaram em silêncio durante algum tempo.
— Sabe, eu desejava que Perlita tivesse roubado as minhas pérolas. Seria mais fácil deixá-las
lá.
— Como?
— Se ela tivesse, então se e quando Ramón achasse a herdeira, ela poderia vendê-las e
partir, fazer uma nova vida em algum outro lugar. Isto é tudo que eu realmente quero – que ela
tenha a escolha. Mas já que as pérolas estão na posse dele…
— Ela nunca o deixará.
— Eu sei. — Ela suspirou.
— Não, eu quis dizer, ainda que ela tivesse as pérolas, a escolha e ele achasse a herdeira, ela
ainda assim nunca o deixaria.
— Eu sei. Ela o ama. — Ela deu uma olhada rápida nele. — A mamãe sempre me disse que o
amor era uma maldição.
— Sua mãe estava certa. — Ele tinha o olhar deserto e distante que ela estava começando a
reconhecer.
A paisagem deslizou. Eles estavam de volta a Huesca no início da tarde.
Viajar em uma carruagem era quase tão chato quanto costurar, Bella decidiu. Luke estava
para cochilar, ela podia dizer, e ela não ficaria sentada aqui, entediada, saltando em uma
carruagem enquanto ele dormia. Ela o acordou com uma cutucada.
— Você já pode me dizer.
Luke se esticou e respondeu com sono:
— Dizer o quê?
— Como você me favoreceu no seu testamento. Você me falou que me diria quando
deixássemos Valle Verde, e aqui estamos. Então eu quero saber agora – e eu estou te advertindo,

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Luke, eu não me importo com o quanto gentis são a sua mãe e a sua irmã, eu não serei
dependente delas.
Ele enfiou as mãos no fundo dos bolsos, cruzou as pernas longas, e iniciou:
— Eu disse a verdade a Ramón; eu não deixei nada para você no meu testamento.
Ela estreitou os olhos. Os olhos dele estavam dançando. Ela pegou um cintilar de azul na
escuridão e a visão a encorajou.
— Pare de me provocar. — Ela tentou parecer dura.
— É verdade.
Ela jogou a boneca nele. Saltou dele e bateu no chão da carruagem com uma pancada.
— Ei! — Ele disse ligeiramente. — Que boneca pesada.
Ela bufou.
— É uma boneca de pano. Sei que você quer fugir do assunto do testamento, mas me diga
de uma vez, ou algo pior do que uma boneca voadora acontecerá com você.
Luke disse pensativamente:
— Para uma boneca de pano ela é bastante pesada.
Bella disse impacientemente:
— Perlita a estofou quando a consertou. Ela provavelmente usou serragem ou algo do tipo.
Agora, Luke, não seja tão teimoso – diga-me a verdade.
Luke pegou a boneca e a examinou.
— Não é serragem. Parecem… Bolinhas de gude ou algo parecido. — Ele pegou uma faca e
deu uma olhada rápida nela. — Você se importa?
—Não. — Ela estava curiosa, também.
Ele puxou a saia e abriu a boneca na costura, ao meio. Ele abriu a costura, fechou-a e jogou a
boneca.
— Veja por si mesma.
Bella olhou. E ofegou. Do estômago da boneca ela puxou uma longa série de pérolas, pérolas
do Pacífico Sul.
— Ela as roubou de volta para mim.
Ela correu as pérolas pelos dedos. Elas eram ainda mais bonitas do que ela se lembrava,
ardendo com um brilho cremoso. Cada uma era perfeita. Ela as deslizou pela cabeça, e foram duas
voltas, com quarto de sobra.
— As pérolas da minha mãe.
— Eu pensei que você tinha dito que não se importava com as pérolas. — Ele disse
severamente.
— Eu menti. Eu não queria que você lutasse com Ramón.
— Mas por que...
Ela olhou para cima, preocupada.
— Elas devem ser inestimáveis. Quando Ramón descobrir…

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Ela lidará com ele. — Luke disse. — Sua irmã tem mais caráter do que pensei. Você
poderia dar algo para ela.
— Dar? O que quer dizer?
— Um pouco da sua herança.
— Mas… Eu não tenho herança. Você disse...
— Não, eu disse que não deixei nada para você no meu testamento. Eu não preciso. Você
ainda tem a fortuna que a sua mãe te deixou.
Ela deu uma arfada muda.
— Mas, como? Quando uma noiva se casa, tudo que ela possui passa a pertencer por lei ao
marido. Eu sei que isto é verdade. Nos ensinaram isso no convento. A menos que a família da
noiva faça acordos, e eu sei que ninguém negociou qualquer coisa para mim. Não houve tempo.
Luke sorriu amplamente, apreciando o assombro dela.
— Ah, mas seu noivo fez isto para você. Eu prometi cuidar de você, lembra? Não seria nada
protetor eu ganhar a sua fortuna no dia do casamento e ser morto a seguir. E em tempo de guerra
havia alta probabilidade disto.
Ela se zangou.
— Graças a Deus que você não morreu. Mas eu ainda não entendo.
— Eu possuí a sua fortuna – qualquer que seja, eu ainda não tenho nenhuma ideia – por
apenas um dia. Quando chegamos ao convento, eu escrevi por extenso um documento que
devolvia a você cada centavo da fortuna de sua mãe, e qualquer outra coisa que você possuísse
antes do casamento, que ficaria seguro, em confiança, até que você fizesse vinte e um. Eu fiz duas
cópias e deixei uma com a sua tia, que foi testemunha. Ela ainda tem uma cópia. A outra está aqui.
— Ele puxou um pacote de documentos do bolso do peito do casaco, selecionou um, e deu-o a ela.
— É por isso que eu não te deixei nada no meu testamento. Você é uma mulher rica, Lady Ripton.
Atordoada, ela encarou o documento. Era como ele disse. Ele havia devolvido tudo para ela
quase logo depois do casamento. Ela tragou.
— É por isso que minha tia estava tão certa de que este casamento era a coisa certa para
mim. Ela sabia que você era um homem de honra. Mas por que ela nunca me disse?
Luke disse secamente:
— Talvez ela tenha pensado que se você tivesse bastante dinheiro, poderia fugir e me
abandonar. Alguma ideia de por que ela poderia ter pensado isto?
Bella dispensou a ideia com um aceno da mão.
— Ela nunca me disse nada. — Ela cessou bruscamente, como um pensamento passou por
ela. — Mas… Se eu fosse uma viúva...
— Você seria muito rica, sim.
— Seu tolo! Seu tolo louco, despreocupado! — Ela voou nele e bateu em seu tórax.
— O que? Eu pensei que você ficaria contente.
— Então Ramón podia ter te matado e me forçado a..!

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Oh, Ramón. — Ele revirou os olhos. — Por que todo mundo acha que eu não posso lidar
com Ramón – pare com isto, sua pequena mulher imprudente e violenta. Essa é a resposta correta
ao descobrir a nobreza do caráter do seu marido? — A boca dele desceu sobre a dela, silenciando
todos os protestos.
Depois de um momento ele murmurou:
— Sim, isto é o tipo de coisa que eu quero dizer. Agora, deixe-me te mostrar um dos
benefícios de se andar de carruagem.
Só então houve um som alto de algo se rachando, a carruagem foi para um lado e parou
lentamente.
— Problema com a roda, señor. — O cocheiro gritou.
Luke xingou e a soltou.

Dezesseis

Eles chegaram a Huesca logo depois das oito horas. A roda rachada, um rio inundado e até
um rebanho de gansos na estrada contribuíram para uma jornada cheia de dificuldades e
demoras. Quando eles chegaram à cidade, Luke estava de mal humor.
Pouco o animava.
Depois de alguma demora, eles acharam uma pousada apropriada, mas o único quarto
disponível era no último andar, e era pequeno com um teto baixo e desigual no qual ele bateu a
cabeça. Duas vezes.
Mas ele não iria procurar outro maldito quarto na maldita cidade.
Ele estava cansado; ele passado o dia tirando carruagens da lama, mudando as rodas ele
mesmo porque havia contratado um maldito cocheiro que não tinha nenhuma ideia de como se
trocar a maldita roda e havia perseguido gansos por toda parte da estrada e ele queria jantar. Ele
estava com fome suficiente para comer um cavalo.
— Ah, mas o jantar só será servido daqui à uma hora, señor.
— Malditos horários espanhóis! E não, eu não serei tentado com um maldito ovo cozido – eu
quero comida adequada, não uma ceia de berçário!
Bella apertou os lábios firmemente, tentando não rir.
— Posso ver essa covinha. — Ele murmurou quando o proprietário fugiu. — Você acha que é
tudo muito engraçado, não é? Mas não seria se você tivesse arruinado as botas naquela maldita
lama.
— Não. — Ela concordou. — Nem se eu tivesse deslizado no estrume de um maldito ganso e
batido meu maldito traseiro no meio da maldita estrada. — Uma risadinha sufocada escapou.

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**
Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Fico tão contente por ter te entretido, minha senhora. — Ele disse com um arco
sardônico. Mas seu humor aliviou, e um copo do excelente conhaque francês trazido
apressadamente pelo proprietário fez o resto.
Quando o jantar chegou ele estava muito mais jovial.
—Nós dormiremos cedo— ele disse a ela. —Acordaremos ao amanhecer, e sairemos na
estrada assim que possível. Tudo bem para você?
Ela anuiu com a cabeça. Ela estava acostumada a se levantar ao amanhecer. Os conventos
não encorajavam manhãs preguiçosas na cama, mas Bella ansiava por uma. A mãe dela costumava
ficar na cama até tarde, quase até o meio-dia às vezes, lendo romances franceses e ingleses,
bebendo chocolate e mordiscando guloseimas. Parecia o máximo da indulgência.
Mas ela estava cansada e pronta para a cama, e cansada de tentar lidar com o legado do
passado – e falhar. Ela estava esperando ansiosamente sua nova vida na Inglaterra. Quanto mais
cedo começasse, melhor.
— Quantos dias até o baile da sua irmã?
— Dez. — Ele disse sem vacilação. Ele não tinha que pensar, contar os dias. Isso disse a ela o
quanto isso estava na mente dele.
— Você acha que chegaremos a tempo?
Ele encolheu os ombros.
— Não dá para dizer. Estamos com pouco prazo, e não há como dizer como o tempo estará
quando chegarmos à costa. Se o vento está na direção certa, as marés… Se acharemos um navio
pronto para nos levar imediatamente… — Ele esvaziou o resto do vinho de sua taça. — Mas se
tivermos mais dias como o último… — Ele agitou a cabeça.
Se eles não chegassem a tempo, Bella sabia que não seria culpa dos ventos, das marés ou
qualquer coisa encontrada no caminho. Seria culpa dela e de ninguém mais. Se ela não tivesse a
ideia de salvar sua irmã – ideia fútil – eles provavelmente já teriam alcançado a costa, e poderia
até já estar em um navio e navegando para a Inglaterra.
— Estarei pronta ao amanhecer. — Ela o assegurou.
Eles subiram os degraus para o pequeno quarto em silêncio. Bella estava cansada e
sentindo-se um pouco derrotada; ela havia falhado em salvar sua irmã, e mesmo o ato de Perlita
ter roubado as pérolas para ela, e o conhecimento de que Luke havia devolvido a fortuna dela
falhou em alegrá-la. Ela queria se jogar nos braços do marido e fazer amor com ele.
Ele poderia ter dito a Bella para não esperar amor dele, e ele poderia concordar com a mãe
dela que amar era uma maldição, mas quando ele fazia amor com Bella de forma tão lenta, e com
tal intensidade sensual, dissolvia as preocupações dela e também seus ossos, e ela se esquecia de
tudo.
Mesmo que ele não a amasse. Especialmente que ele não a amasse.
Luke se casara com ela, ele a protegia, arriscava sua vida por ela, e ele a havia feito uma
mulher rica. Ele havia dado tanto e tomado tão pouco. Soava como amor… Se a pessoas não
soubesse a história inteira.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Bella temeu que fosse tudo por honra.


Ao entrar no quarto, a primeira coisa que Luke fez foi abrir sua mala de viagem, tirar sua
camisola e deitar na cama.
Bella o olhou azeda. Ela sonhava com amor, mas ele não dava nem um pouco de confiança.
Ela abriu sua própria mala de viagem e tirou a roupa que havia vestido na noite anterior.
Uma curta declaração de guerra. Às vezes se tem que lutar pelo que se quer. Especialmente com
um homem teimoso e desconfiado.
Ele olhou a roupa dela e disse pensativamente.
— Acho que vou tomar outro conhaque.
— Faça isso. — Ela disse enquanto começou a soltar seu vestido. — Eu estarei aqui, na cama,
esperando por você.

Ele retornou por volta de meia hora depois. Bella se sentou na cama esperando por ele,
como prometido.
Ela deixou uma vela acesa na mesa ao lado da cama. Ele deu uma olhada rápida nela e a
apagou.
Sem uma palavra ele tirou o casaco e, como sempre, pendurou-o. Ele desatou sua gravata e
desabotoou o jaleco. Bella contou cada botão.
Ela estava certa de que ele iria vestir sua camisola novamente, mas ela não podia evitar: ela
era do tipo esperançoso. Talvez na última meia hora ele tivesse mudado de ideia. Talvez o
conhaque houvesse dado a ele o encorajamento extra que ele precisava para confiar em sua
esposa com o que quer que ele mantivesse escondido todo esse tempo.
Ela não podia imaginar o que podia ser. Ele agia como se tivesse vergonha, mas um
ferimento de guerra não era algo para se ter vergonha.
Ela queria que ele confiasse nela.
Ela o desejava.
Ele se sentou e tirou as botas, então as meias. Ele desceu a calça, levando a roupa de baixo
junto. Ele dobrou primeiro a calça, então a roupa de baixo e as colocou na cadeira.
Na luz suave vindo do fogo ela podia ver a linha elegante das coxas duras de cavaleiro, os
flancos magros, masculinos.
Ele se sentou na cama e tirou a camisa pela cabeça. Ela podia ver a largura das costas, os
ombros poderosos, a linha da coluna.
Bella queria gritar enquanto ele cuidadosamente separava a camisa da calça, agitava cada
roupa, uma por uma, e as colocava na cadeira.
Ele estava nu, completamente nu, pela primeira vez desde o casamento.
Ela esperou que ele agarrasse a camisola.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Alguns carvões se moveram na lareira, e ele fez um som de irritação e, nu na escuridão, foi
até o fogo. Ele se curvou e remexeu o fogo com alguns troncos. Sob a luz do fogo, ele era todo
bronze, ouro e sombra, esbelto, duro e bonito.
Bella assistiu, a boca seca.
Ela não podia ver seu tórax, mas oh, a linha longa e forte das costas e aqueles ombros
magníficos. E as nádegas masculinas firmes…
Como ele podia pensar que cicatrizes fariam alguma diferença para ela? Ele não entendia
que espécime de homem ele era? Cicatriz ou não, ele era perfeito, na opinião dela.
Ela queria correr as mãos na carne varonil e firme, sentir os músculos dos braços, o tórax
fundo, os ombros perfeitos. Quem imaginaria que os ombros de um homem podiam ser tão
bonitos? Ela queria tocá-lo em todos os lugares, vê-lo todo, como ele a havia visto e tocado.
Ele voltou ao lado da cama, a silhueta escura, delineada pela luz do fogo, e… Não! Ela
exclamou calada, enquanto ele colocava a roupa de dormir pela cabeça.
Ela se encolheu na cama.
Ele deslizou na cama e puxou os lençóis.
— Boa noite.
— Boa noite.
Pessoas civilizadas não disputavam, ela disse a si mesma. Pessoas civilizadas diziam boa
noite cortês e iam dormir como se não existisse um abismo enorme entre elas.
Ela bateu nele.
— Ai! O que foi isso?
— Você sabe o que foi! — Ela murmurou.
— Eu não sei.
Ela o bateu novamente.
— O que diabo há de errado com você? — Ele se sentou.
— Eu não quero você me provocando!
— Provocando?
— Sim! Caminhando por aí nu, fazendo com que eu acreditasse que você afinal estava
confiando um pouco em mim – mas o tempo todo você estava apenas me provocando. Fazendo
com que eu desejasse você!
Ele a encarou, o rosto ilegível e sombreado contra a luz do fogo.
— Fazendo com que você me desejasse?
— Sim, isso não é justo. Como você ficaria se eu ficasse andando pelo quarto nua perto da
lareira e sendo banhada pela luz do fogo...
— Eu gostaria muito.
— E então eu voltaria e me enfiaria em uma camisola enorme, feia, cobrindo cada
centímetro...
— Não cada centímetro, seguramente.
— Pare de me provocar! Sim, cada centímetro que conta.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Cada centímetro conta, acredite em mim! — Ele murmurou. — E os centímetros que mais
contam não estão ocultos pela roupa.
Ela teria batido nele novamente, só que ela não queria fazer disto um hábito.
— Não é uma piada, Luke.
— Eu nunca pensei que fosse. — Ele disse em um tom diferente. — E se você não pode me
aceitar como sou, eu irei outra...
Ela o agarrou pelo braço enquanto ele se levantava.
— Não ouse sair novamente, porque se o fizer, eu te advirto, Luke, eu te seguirei – com a
roupa que estou usando se for preciso!
Ele se sentou de volta na cama, e ela soltou o braço dele.
— Você diz que eu não posso te aceitar como você é, mas é você que não pode se aceitar,
acha que deve se esconder de mim. Não é modéstia, então não tente fingir que é. Você tirou a sua
camisa sem pensar quando eu tinha treze anos. Eu me lembro.
Ela esperou que ele dissesse algo, mas não houve nenhum som no quarto, apenas o fogo
silvando suavemente e o som da respiração dele.
— Eu vi você então e você era perfeito. — Ela disse suavemente.
Ainda assim ele não disse nada.
Ela tragou.
— Eu pensei muito sobre isso aquele dia… E o que veio depois. É minha culpa você não
poder conseguir uma anulação. Eu não percebi o que minha tia estava me perguntando. Ela sabia
que o homem havia cortado todas as minhas roupas, e que eu estava nua, e ela me perguntou se
ele havia me machucado e eu disse que sim, porque ele o fez. E, e então ela me perguntou se
houve sangue, e eu disse sim, porque houve mesmo, só… Que não era o sangue que ela queria
dizer.
— Entendo.
Ela desejou poder ver o rosto dele.
— Então, eu sinto muito. Não é muito para agradecer pela boa ação que você me fez, te
amarrar a mim por toda a vida. Eu sei que você não me queria como esposa, e eu… Eu sei que um
homem como você nunca escolheria alguém como eu, mas… Mas eu sou a esposa que você tem, e
nós devemos fazer o melhor disto. — Ela encarou a silhueta sombria, muda, esperando que ele
dissesse que estava tudo bem, que ele a havia perdoado por seu engano, repetisse que ele estava
contente pelo casamento.
Mas quando o silêncio se esticou, ela soube que era apenas uma mentira que ele havia dito
a Ramón.
Oh, Deus, ela iria chorar. Ela não iria. Ela se recusava. Ela apertou os olhos com força e
apertou os lábios firmemente juntos.
Mas ela devia ter feito algum som, pois ele se debruçou adiante, iluminou a vela e a colocou
brilhante contra seu rosto.
— Você está chorando?

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Não, eu não estou. — Ela desviou o rosto, esfregando as lágrimas que tinham se juntando
nos olhos, inesperadas e indesejadas. Ela detestava lágrimas.
Houve outro longo silêncio.
— E tudo isso por que eu não tiro a camisa, é? — A voz dele era baixa, mas ainda havia uma
nota instável nele que pegou o coração dela.
Ela se debruçou adiante e pousou a mão no joelho dele.
— Luke, o que quer que tenha acontecido, engano ou não, eu sou sua esposa. Fiz votos
sagrados de te amar, honrar e eu te prometo que nunca irei quebrá-los. Não há nada que você não
possa me mostrar, nenhuma deformação que possa fazer qualquer diferença para mim. Eu não
me importo se for feio ou...
— Feio? — Ele deu uma risada severa, aos arrancos. — Você acha que eu sou feio? — Em um
movimento fluido ele puxou a camisola pela cabeça e soltou-a no chão. — Pronto! Minha
deformação! Satisfeita?
Bella olhou fixamente. Ela não podia acreditar em seus olhos.
— Isso é tudo? Uma tatuagem? — Tudo esse exagero por uma tatuagem?
— Não é uma tatuagem. — Ele a passou a vela e ela olhou mais perto.
— Oh, meu Deus! — Ela sussurrou.
Era uma cicatriz, como nenhuma que ela já tivesse visto antes. No oco embaixo do ombro
direito estava uma rosa, as pétalas negras contra a superfície da pele. Esculpida na pele – as
extremidades das pétalas eram cumes de pele endurecida, manchadas de preto para se
distinguirem.
Era bonito. E horrível em sua complexidade cuidadosa e mortal.
— Quem fez isso em você? — Ela sussurrou. Cada linha, cada pétala tinha sido fatiada nele.
Quem esculpiria tal coisa na carne viva de um homem?
Ele não respondeu. Ela pôs de lado a vela e tocou a rosa com dedos gentis. Ele vacilou. Ela o
olhou questionando.
— Não dói. Foi feita sete anos atrás.
E ainda assim ele vacilou.
Deve ter sido a agonia do momento. Alguns homens gostavam de tais coisas, ela sabia.
Tatuagens e cicatrizes decorativas. Mas se ele gostava, por que esconder?
— Você escolheu fazer isso?
A mandíbula dele apertou e ele a olhou. As juntas dos dedos estavam brancas.
— Foi forçado? — Ela sussurrou aterrorizada. — Por quem?
Ele hesitou, e por um momento ela pensou que ele não iria responder.
— Um presente de La Cuchilla.
— A Lâmina. — Ela sussurrou e olhou os cortes na pele. La Cuchilla. Ele usou o artigo de
propósito, ela pensou. Não podia ter sido uma mulher… Podia?
Ele respirou fundo e não encontrou o olhar dela.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Agora que a sua curiosidade está satisfeita, esposa… — Ele disse em uma tentativa de tom
jovial e leve que falhou miseravelmente.
A curiosidade de Bella não estava satisfeita, mas ela não podia negá-lo, não depois de ver a
coisa vil, bonita gravada em sua carne lisa, morna. Feita um ano depois que ele havia se casado
com ela.
Ela tirou a camisa que estava vestindo e a jogou em cima da dele. Ela estava nua. Ela o puxou
para ela, cobrindo seu rosto com beijos, como se de alguma maneira ela pudesse compensar pela
coisa terrível que havia sido feita a ele.
Ele apertou o rosto contra os peitos dela por um longo momento, segurando-a apertado
contra ele, enquanto um tremor longo tomava seu corpo.
Bella correu a mão pelo corpo dele, beijou cada pedaço que podia alcançar, se glorificando
nele, sabendo que era fútil confortá-lo por algo feito sete anos antes, mas incapaz de parar de
tentar.
Ele esfregou suavemente o rosto contra os peitos dela, então fechou a boca ardentemente
sobre um mamilo e ela ofegou. Ele o provocou suavemente com a língua e dentes, e então chupou
duro. Ela arqueou sob ele enquanto um tremor fundo ondulava por ela. Ele continuou a sugar e
provocar até que ela estava se torcendo e contorcendo debaixo dele.
Ele deslizou a mão para a barriga dela e entre as pernas onde ela doía por ele.
— Não. — Ela disse, e com cada pedaço de autocontrole que podia reunir, ela o puxou para
longe.
— O que está errado?
— Nada. — Ela arquejou. — Minha vez.
Ela empurrou de volta as cobertas, deixando livre ao olhar dela na luz de vela, seu guerreiro
grande, dourado.
Ela correu as pontas dos dedos ligeiramente no tórax dele, aprendendo a textura, a carne
firme, os músculos duros, explorando os pequenos mamilos planos. O corpo dele era duro e
quente, e ela amava senti-lo.
Ela se curvou e chamejou a língua sobre os mamilos minúsculos, duros, saboreou o sal e o
sabor afiado e masculino que era todo Luke. Ela amava o gosto dele. Ela provocou os mamilos dele
enquanto ele a provocava, mordiscando suavemente, correndo os dentes sobre as pontas, e ela
sorriu quando ele estremeceu e se curvou, da mesma forma que ela tinha antes.
Ela alisou as palmas sobre as faixas de músculos duros através da barriga e arranhou
ligeiramente a linha abaixo do pelo escuro seguindo da barriga até a virilha.
As mãos vagaram mais baixo, e sentindo-se corajosa, ela correu um dedo ligeiramente ao
longo do comprimento endurecido dele. Ele estremeceu sob o toque dela. Ela acariciou a ponta
sensível, localizando com a ponta do dedo suavemente sobre a gota minúscula de líquido, alisando
sobre ele. A sensação quente e acetinada a encantava, e a palma se apertou ao redor dele.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Bruxa. — Ele gemeu, mas os olhos estavam brilhando entra a luta e o prazer, e ele
estremeceu de um modo que ela reconheceu. Incentivada pelo prazer óbvio dele, ela envolveu a
mão inteira ao redor dele e apertou.
— Chega. — O corpo dele estava duro e trêmulo de necessidade mal controlada. — Você
quer que eu exploda?
Ele deslizou as mãos entre as coxas dela.
— Agora. — Ele murmurou.
— Sim, agora, meu amor.
Os olhos dele se abriram de repente, mas ela não teve coragem de repetir.
— Agora. — Ela separou as pernas e o levou nela, e, com um gemido, ele empurrou e
apunhalou, o olhar preso no dela, irrompível, até que ela se quebrou nos braços dele e ele se
quebrou com ela.

As solas dos pés dele queimavam, as entranhas dele eram uma agonia derretida, cada parte
de seu corpo gritava com dor muda, e mesmo com a lâmina o cortando, ele pensou que não era
possível sentir mais dor.
Mas era.
A lâmina fatiou a carne em um arco frio, queimando, lenta e diligentemente em sua
precisão.
Ele endureceu, e mordeu a própria boca para se impedir de gritar. Ele preferia morrer a
gritar.
Gritar era a intenção.
Gritos e informações.
— Eu gosto de misturar negócios com prazer. — La Cuchilla murmurou na orelha dele. E fez
outra fatia na carne de Luke.
O corpo dele agitou no esforço de não gritar. Ele mordeu a língua, e sua boca encheu com
sangue.
— Lindo. — La Cuchilla pegou um punhado de sal enegrecido e lenta, completamente
massageou no corte, colocando debaixo de cada centímetro da carne. Formando as pétalas.
Luke se curvou e estremeceu contra o arder do sal.
— Ahh, você luta, mas amará o efeito, de verdade. — La Cuchilla se sentou e esperou até
que a dor entorpecesse a um nível quase suportável, então sorriu e fatiou novamente…
Luke gritou.
Arquejando e suando, rígido com medo, ele ergueu da escuridão, o ombro queimando, os
braços e pernas batendo, envergonhado, sujo e desesperado para escapar.
— Luke, Luke, está tudo bem! — Uma voz suave chamou na orelha dele. — Foi só um
pesadelo. Você está bem.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Ele olhou ao redor, lutando contra coisas sem nome, seu corpo em chamas. Ele girou e lá,
iluminada pelo brilho da luz de vela, ele a viu, pálida e adorável, os olhos claros e dourados,
brilhando com honestidade e amor como um farol na noite.
Ele se agarrou a ela sem pensar, usando-a para tirá-lo daquela masmorra de horror escuro.
Ele a puxou rudemente, separou as pernas e mergulhou nela, em seu corpo receptivo e suave.
Ela deslizou os dedos no cabelo dele e fechou os olhos, mas ele a agitou com força, gritando:
— Não! Olhe para mim! Olhe para mim, maldição!
E ela abriu bem os olhos, brilhando claros e dourados, e se agarrou a ele enquanto ele
cavalgava na tempestade, empurrando profundamente nela, enterrando e se purificando em seu
calor e suavidade, expulsando os demônios que eram sua praga.
Até que ele se quebrou e estava seguro.
Ele ficou deitado lá, arquejando, sobre o peito dela, e afinal os olhos dela fecharam.
Lentamente, Luke voltou a si. Pelas venezianas na janela ele podia ver a luz anterior ao
amanhecer.
Ele ainda estava dentro de sua esposa, ainda a estava esmagando no colchão duro,
granuloso. Oh, Deus, o que ele havia feito, usando-a de tal forma? Agarrando-a como um animal,
batendo nela. Gritando com ela.
Vergonha o banhou.
Ele se desembaraçou suavemente e saiu dela.
— Isabella... — Ele começou.
Ela se mexeu com sono contra ele.
— Bem, se é isso o que o pesadelo faz com você, lembre-se de tê-los mais frequentemente.
— Ela se esticou e se enroscou ao redor dele. — Ainda dá tempo de um cochilo antes do
amanhecer?
— Você não se importou?
Ela abriu um pouco os olhos e disse com um sorriso de satisfação enrolando os lábios.
— Você quer que eu ronrone?
Uma risada surpresa saiu dele, e de repente ele se achou sorrindo e rindo. Horrorizado, ele
percebeu que estava à beira das lágrimas. O riso virou um som sufocado e ela colocou os braços
ao redor dele e o segurou apertado enquanto ele lutava contra o riso-soluço que o destruía.
— Shhh, meu amor. — Ela murmurou. — Está tudo bem. Deixe ir, deixe ir embora. — Ela o
puxou até o peito, acariciando seu cabelo úmido para longe da testa e murmurou coisas calmantes
até que a emoção passou e ele ficou tranquilo.
E seguro.
— La Cuchilla?
Ele anuiu com a cabeça.
— Que tipo de pessoa faria isso com outra? — Ela não podia acreditar que uma mulher
pudesse fazer tal coisa do mal.
Ele não respondeu. Ela acariciou o cabelo dele.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Como aconteceu?
Ele agitou a cabeça.
— Foi apenas… Algo estúpido. Nós éramos jovens e estúpidos.
— Nós?
— Michael e eu.
Ela esperou. E ele sabia que teria que explicar, algo pelo menos. Todos estes anos ele havia
guardado isso para si, e agora…
Mas se ele iria continuaria a despertando com os sonhos malditos…
Confiança, ela dissera. Não vinha fácil.
— Michael era um de nós, Os Anjos de Wellington, ou seus Cavaleiros Infernais, dependendo
de com quem você conversasse. Cinco de nós da escola: Gabe, Harry, Rafe, Michael e eu.
Ele podia ouvir a respiração suave dele e a inconstância dos carvões no fogo agonizante.
— Michael foi o único de nós que não voltou para casa.
Ela dobrou a roupa de cama mais calorosamente ao redor de ambos e esperou.
— Foi em 1812. Não muito depois de nossa vitória em Salamanca. Eu tinha feito vinte e um;
Michael tinha vinte e dois. A guerra estava indo bem, nós éramos jovens e cheios da confiança da
juventude… — Ele suspirou. — Uma confiança extraordinária. Nós estávamos em guerra há anos, e
apesar das vítimas horrendas ao nosso redor, nenhum de nós – nossos amigos, os cinco de nós
que estávamos juntos desde a escola e nos alistamos juntos – tinha sido seriamente ferido.
Ele estava deitado quieto, recordando aquele tempo. Sete anos atrás, e ainda assim ele se
sentia como se fossem cem anos. E em outras vezes como se fosse ontem.
— Nós meio que acreditávamos que éramos invencíveis. A vida estava pintada de cores
brilhantes e corajosas, nenhuma sombra para nós. Era tudo uma grande aventura; vivíamos para o
perigo. — Ele agitou a cabeça. — Os jovens podem ser muito tolos.
— Diga-me o que aconteceu. — Ela disse suavemente.
— Éramos cavaleiros – mensageiros glorificados, na verdade – levando mensagens da sede,
contato entre seções diferentes do exército, entregando informações, dinheiro, ordens – o que
fosse exigido.
— Naquele dia nós – Michael e eu – recebemos uma instrução específica e importante,
fomos ordenados a levar mensagens para... — Ele cessou bruscamente. Mesmo depois de todo
este tempo, o hábito de segredo era forte. — Baste dizer que Michael estava montando para
encontrar um General e eu estava levando as mesmas informações para nossos aliados espanhóis
nas colinas.
— Os guerrilleros.
— Sim. Mas logo fora do acampamento nós fomos… Emboscados. Uma coisa estúpida;
devíamos ter imaginado. Uma… Uma mulher angustiada.
— Era uma armadilha?
Ele anuiu com a cabeça.
— Próxima coisa, Michael e eu estávamos no porão de uma casa sendo… Questionados.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Torturados. — Ela sussurrou.


— Ele estava no quarto ao lado. Eu podia ouvir… Ouvir o que eles estavam fazendo com ele.
E ele podia ouvir o que eles estavam fazendo comigo. — A respiração dele ficou mais severa com a
memória. — Era… Horrível. — Ele pensou que morreria da dor. — Eu queria morrer.
Ela o segurou firmemente, os lábios contra as têmporas dele.
— Mas, você não cedeu. — Ela sussurrou. — Não desistiu das informações.
Luke fechou os olhos. Tão tentador deixar passar, deixá-la pensar que ele era o herói que ela
queria que ele fosse.
Confiança, ela disse.
Então, ele disse a ela.
— Eu não sei. Acho que sim. Não lembro.
— O que você quer dizer?
Ele fez um movimento impotente.
— Nós fomos achados, Michael e eu, no porão daquela cabana uma semana mais tarde.
Michael estava morto há uma semana. Eu estava delirante, com febre. O corpo de Michael e o
meu tinham marcas idênticas de tortura, mas ele tinha um corte na garganta e eu – eu tinha um
cobertor, água e isso. — Ele gesticulou para a rosa horrorosa.
— Descobrimos logo depois que os franceses tiveram as informações. — Vergonha amarga
lavou-o enquanto ele se forçou a admitir. — Parece bem óbvio quem falou. — Ele esperou pela
resposta. Isabella era uma patriota, a filha de um líder dos guerrilleros.
Ela não fez nenhum comentário, nenhuma exclamação de horror ou desgosto, e não deu
nenhum conforto falso ou condolência sem estar sentido. Ela apenas o abraçou apertado por
muito tempo, e então o beijou.
A respiração que ele não sabia que estava segurando escapou com um longo suspiro.
— Eu nunca disse isto a ninguém. Nem aos meus amigos, ou a minha família. — Ele já se
sentia mais leve. — Meus superiores sabiam que fomos torturados, claro, e que os franceses
tiveram as informações, mas não havia nenhum modo de dizer quem deu as informações –
Michael e eu não éramos os únicos com as mesmas informações – praticamente nenhuma ação foi
tomada. — Nenhuma corte marcial, ele queria dizer.
— Claro que nenhuma ação foi tomada! — Ela disse. — Eles viram que você era um herói.
Ele girou a cabeça e a encarou. Ela não havia entendido o que ele tinha acabado de dizer?
Ela fez um gesto impaciente.
— Foi Michael quem falou, claro.
— Você não sabe... — Ele disse com a voz baixa e rouca.
Ela encolheu os ombros.
— Eu nunca conheci Michael, claro, mas eu conheço você. — Ela alisou os dedos frios
através da testa enrugada dele e disse suavemente: — Luke, até nos seus sonhos você luta com
esta La Cuchilla. Você não cedeu, meu amor, eu sei disto, e se você não fosse tão duro consigo
mesmo, saberia também. Agora venha para a cama. Está quase amanhecendo, mas eu acho que

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

ambos temos a necessidade de um pouco mais de sono antes de seguirmos o caminho, não é? —
E ela se aconchegou na cama, puxando-o com ela.
Luke ficou nos braços dela, sentindo-se vazio, cansado e alerta. Tão simples. Uma absolvição
tão fácil. Ele queria aceitá-la desesperadamente, abraçar a noção de que não tinha sido tudo sua
culpa.
Exceto que ele não havia dito a história toda. Não o bastante. Não a sua maior vergonha.

Eles levantaram tarde e alcançaram Ayerbe quando o sol estava se pondo. Luke pausou nos
subúrbios da aldeia.
— Está muito cansada?
— Por que pergunta?
— Sei que ficaremos muito confortáveis na Pousada Sem Pulgas, mas se você não estiver
muito cansada, podíamos viajar mais outra hora e ficar no Castillo de Rasal.
Bella desejava ansiosamente comida quente e uma cama, mas com o prospecto de ver o
Marquês de Rasal novamente, ela sentiu sua energia renovada.
— Oh sim, vamos. Eu adoraria ver o Marquês de novo. Ele era o amigo mais querido do meu
pai, e como um tio para mim quando eu era criança.
Satisfeito, ele deu um aceno com a cabeça vivo, e eles seguiram caminho.
Ele mal dissera uma palavra o dia todo. Bella o havia observado. Fisicamente havia uma nova
facilidade entre eles, mas se isso vinha de Luke ou dela era outra história.
Na hora mais escura de seu tormento ele havia girado para ela instintivamente, buscando
seu corpo, seu conforto, ajuda para expulsar os demônios… A escuridão, a violência desesperada a
necessidade por ela perfurou seu coração. E o corpo ainda se sentia emocionado.
E a história terrível… Ele nunca diria a outra alma, nem mesmo aos amigos mais íntimos.
Ele poderia não a amar, mas instintivamente ele confiava nela.
Até seu oferecimento para ficar em um lugar que ele não conhecia, com pessoas que não
conhecia, era um pequeno sinal de confiança. Era uma desculpa indireta a recusa de deixá-la fazer
a visita da última vez. O conhecimento a encheu com calor.
Ela deu uma olhada rápida nele, montando em direção ao afundar do céu lilás, o rosto
sombrio e sério, como um homem que contempla sua destruição. Não era o ar de um homem que
havia trancado sua alma. Em vez de exibir a ligeireza e alívio que ela sempre sentia ao
compartilhar um segredo terrível, era quase como se sua vergonha tivesse aumentado.
Ainda assim, sondá-lo agora apenas o faria se fechar ainda mais.
A cama era o lugar para conversas. Depois que ele a tomara, naquele período quando
parecia que duas pessoas não podiam ficar mais íntimas, quando as barreiras entre eles eram
suaves e transparentes e o mundo se reduzia a apenas a cama, um lugar de corpos, murmúrios
quietos, e toques lentos, suaves.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Ela não sabia que um lugar assim existia.


Ela entendia agora por que mulheres casadas conversavam sobre quando eram meninas,
mesmo depois de um mês ou dois de casamento. Sempre parecia a ela ser uma afetação, um
modo de se mostrar para as amigas solteiras. Agora, apenas poucos dias depois de seu casamento,
seu casamento de verdade, ela sabia que não era.
Ela não era a menina que tinha sido algumas semanas atrás. Não era simplesmente ser parte
de outra pessoa não era exatamente isso; ela era si mesma e ele um ser separado, muito separado
às vezes. Mas ela era uma pessoa diferente agora, com perspicácias de sua própria natureza – e da
dele –que ela nunca ousara sonhar.
O sentimento, quando ele tomava o corpo dela, sujeito aos instintos animais mais
profundos, deixando tudo que era civilizado, tudo que era elitizado… O poder de seu corpo
enquanto ele empurrava nela novamente, a força dela enquanto o aceitava, o prazer construindo,
a alegria profunda e suada no ato.
E a liberdade de se soltar, gritar, morder, arranhar, agarrar a selvageria que ela tinha
tentado esconder por toda a vida, e ele gostava disto. Mais que gostava. Sentia glória.
Estar casado era como sair de um casulo, abrir a velha carapaça, e achar o mundo cheio das
cores do arco-íris. E que se pode voar.
Ela deu uma olhada rápida na cara feia do marido.
Ou não.

Dezessete

O Castillo de Rasal era uma pedra imponente sobre a paisagem circundante, uma fortaleza
que deixava clara sua dominação. Mesmo enquanto a escuridão caía, a silhueta se curvava sobre
eles sombriamente, manchando o céu da noite e as estrelas.
Luke deu o cartão para o empregado que atendeu a porta. Isabella escreveu algo como
resposta. Normalmente ele preferia viajar como Señor e Señora Ripton – era mais sábio não deixar
que as pessoas soubessem que se é rico – mas neste caso, ele havia destacado seu título. O
empregado tomou o cartão, pediu que eles esperassem e então entrou.
Essa não era como a antiga casa de Isabella; o Castillo de Rasal era antigo, mas longe de
estar maltratado. Tudo que podia ser polido cintilava, a entrada era iluminada por tochas, a luz
mostrava as tapeçarias ricas e os metais preciosos chamejando sobre armações douradas
cercando as obras de arte. Gerações de riqueza estavam representadas aqui.
Eles não tiveram que esperar por muito tempo. O próprio Marquês veio saudá-los, dizendo:
— Isabella, minha querida, minha criança, que surpresa deliciosa. Pensamos que nunca mais
te veríamos. E agora, olhe para você, toda crescida e a imagem da sua mãe querida.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Ele tinha mais de sessenta, um homem alto, sobressalente, bonito com cabelo prateado
escuro, uma cimitarra como nariz, e um pequeno cavanhaque. Ele abraçou Isabella, beijando-a em
ambas as bochechas e dando um abraço morno, antes de girar e saudar Luke.
— O marido de Isabella? Estou feliz em te conhecer, senhor. — Ele deu a Luke um olhar
atento. — Você tem um tesouro aqui, Ripton, espero que saiba.
— Eu sei disso, senhor. — Luke deu uma olhada rápida em Isabella, que estava corada,
ardendo, e, aos olhos de Luke, totalmente linda.
O Marquês pegou a troca e sorriu. Ele bateu palmas atrás de Luke.
— Excelente, excelente, estou contente por ouvir isto. Entrem, entrem, o jantar será posto
em meia hora – não, não, vocês não estão nos atrapalhando. Minha esposa estava fora o dia todo
e só agora acabou de retornar.
— Sua esposa, Tio Raul? — Isabella exclamou.
Ele sorriu.
— Sim, minha querida, recasei ano passado. Um bobo velho, você pode dizer, mas espere
até a encontrar. Ela acabou de subir para se trocar e nunca é veloz nestes assuntos, então há
bastante tempo para vocês dois se lavarem e se prepararem. E não há nenhuma necessidade de se
arrumar de forma especial para o jantar. Somos bastante informais aqui, en famille. —
Desconsiderando o fato de que ele estava usando uma calça de cetim formal até o joelho, meia-
calça de seda, e um casaco de corte gracioso. — Agora, vão com o Pedro. Ele mostrará o quarto e
verá o que precisarem. — Ele irradiava. — Pequena Isabella, casada e crescida. Que felicidade,
minha querida.
Logo um quarto luxuoso foi mostrado a eles, eles tiraram as roupas de montaria. Parecendo
extremamente deliciosa em sua blusa, colete e meia-calça, mas completamente desavisada de seu
efeito nele, Isabella escovava seu cabelo, enquanto Luke se barbeava de roupa íntima. Eles deram
o casaco, a camisa dele e o vestido e o mantô de seda vermelha dela para Pedro passar a ferro.
Luke desejou que eles tivessem uma hora antes de jantar. O que havia naquele colete?
— Com quem será que o Tio Raul se casou? Ele era viúvo desde que eu me lembro.
Luke tirou o resto da espuma do queixo e secou o rosto. Ele tinha pouco interesse na nova
Marquesa.
Isabella começou a refazer a trança em seu cabelo, a coroa habitual. Emoldurava seu rosto
perfeitamente.
— Ele lutou contra Napoleão, sabe. Quando Papai morreu, o Marquês assumiu o comando
da força guerrilheira do meu pai.
Luke ficou surpreso.
— Aqueles guerrilleros levavam uma vida dura. Não pode ter sido fácil para um...
— Não ouse dizer velho. — Ela riu. — Ele nunca te perdoaria. Particularmente com uma
esposa nova, que pelo andar da carruagem parece ser bem mais nova do que ele.
As roupas voltaram alisadas e imaculadas, e eles depressa se vestiram e foram para o andar
de baixo.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Entrem, entrem! — O Marquês os saudou. — Minha esposa enviou uma mensagem de


que se atrasará um pouco e de que devemos começar sem ela. — Ele virou suas mãos para cima
em uma expressão impotente. —Mulheres, sempre atrasadas. Vamos indo.
Ele os conduziu para uma sala de jantar grande onde as paredes eram embutidas com
pinturas de antepassados sombrios. A entrada foi trazida, uma dúzia de pratos diferentes, todos
cheirosos e parecendo deliciosos.
— Comam, comam! — Ele persuadiu. — Estão com fome após a longa jornada. — Eles não
precisaram de mais nenhum Marquês encorajamento. — Entendo que estejam viajando a cavalo.
Você era uma amazona intrépida quando garotinha, mas agora… — Ele pausou delicadamente.
Perguntando-se se o marido de Isabella era um bruto descuidado ou simplesmente sovina, Luke
decidiu.
— Estamos com pressa. — Isabella disse a ele. — Meu marido tem um compromisso
importante na Inglaterra, e é mais rápido viajar a cavalo do que em uma carruagem. Além disso, —
Ela relampejou ao Marquês um sorriso rápido. — eu gosto. Por muitos anos fiquei presa em um
convento, e quando meu marido me fez viajar em uma carruagem, fiquei muito entediada. Não
consigo dizer a alegria que é poder cavalgar nas colinas, no ar fresco.
E o frio e o vento e a chuva, Luke pensou. Sem reclamar.
O cavalheiro velho riu.
— Você não mudou, criança querida. Agora, diga-me, como você dois se conheceram? Não
posso dizer que aprovo, um inglês tirando a minha pequena Isabella da Espanha.
Isabella parou, o rosto de repente pálido. Ela realmente imaginou que Luke diria ao querido
marquês as circunstâncias terríveis que os juntou?
— Foi um encontro de sorte. — Luke disse facilmente. — Algo assim. Um encontro e pronto.
Meu destino havia sido selado. — Assim que as palavras saíram de sua boca, ele percebeu como
ela as entenderia. Ele não queria dizer, não de propósito. Ele não queria que soasse romântico.
O Marquês concordou com a cabeça.
— Foi assim com a Marquesa e comigo. Nós nos conhecemos um ano atrás, em Madri. Ela
havia sofrido muito na guerra, pobre menina. Perdeu toda sua família, como tantos de nós. — O
olhar dele abraçou Isabella em reconhecimento de sua própria perda.
Ele ergueu sua taça de vinho.
— Mas nós devemos seguir em frente, não é? Um brinde à Espanha, e à reconstrução.
E eles beberam.
— Brindando a mim? Que gentil! — Ronronou uma voz abafada. Uma mulher no meio de
seus trinta entrou, em um vestido vermelho escuro com decote baixo emoldurando seios
magníficos, a cintura estreita apertada, e quadris macios, lustrosos e voluptuosos. Cabelos negros
como asas de corvo, em um penteado elegante, a pele um contraste perfeito, as maçãs do rosto
delicadas e cheias, os lábios pintados.
Não era difícil sabe por que o marques havia se casado com ela.
Odor de rosas emanava de seu corpo perfeito.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

A bile de Luke subiu à garganta.


— Ah, minha querida. — O Marquês se ergueu para saudar sua esposa, e Luke ficou de pé
junto com ele, como um raio, empurrando a cadeira para trás com tanta força que ela quase caiu.
Um empregado a pegou.
O Marquês fez as apresentações. Luke mal ouvia as palavras.
Ele não podia pensar. A pele ficou fria e úmida. Do outro lado da mesa ele ouviu Isabella dar
uma tosse significante. Ele nem sequer a olhou.
— Encantado em te conhecer, Lorde Ripton. — A Marquesa estendeu a mão para ele. Luke
não fez nenhum movimento para tomá-la. Ele encarava a mão estendida elegantemente como se
fosse uma naja.
Os olhos escuros e lustrosos se alargaram e então estreitaram. Acariciaram o rosto dele,
moveram pelo corpo e então parou logo abaixo do ombro direito. Os lábios vermelhos se
curvaram em um sorriso minúsculo.
Ela riu, um riso de contralto alto.
— Tão delicioso eu ainda ter esse efeito em um jovem.
Luke endureceu. Ela estava brincando com ele. Incrível. Ela não tinha nenhum medo de que
ele a denunciaria.
Isso significava que o Marquês sabia quem sua esposa realmente era?
— Isabella, nós estamos partindo! — Ele estalou.
— O quê? Mas Luke...
— Agora!
— Não. É totalmente bárbaro...
Em inglês, ele disse:
— É ela, a pessoa que eu te disse.
— Que pessoa? Sobre o que você está falando?
— A pessoa que fez isto. — Ele tocou o próprio ombro.
Os olhos dela alargaram.
— La Cuch..?
— Não diga! — Ele a cortou nitidamente, mantendo um olho cauteloso no marques e na
Marquesa. — Não diga o nome. — Ele repetiu, ainda falando inglês. — Existe perigo aqui, e você
deve sair.
Levou um momento para absorver o que ele estava dizendo a ela.
— Foi esta mulher que fez essa coisa horrorosa a você? Não posso acreditar. — Mas por
mais que ela estivesse incrédula, ele podia sentir que ela acreditava nele. Ela encarou a
Marquesa horrorizada. — Mas nós devemos dizer ao marq...
— Não! Ele sabe. Agora faça como eu te digo e se levante e deixe a mesa, calmamente e
depressa.
Ela agitou a cabeça.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Você está errado. Eu o conheci toda minha vida e ele é um homem de honra. Ele não
pode estar conscientemente de que se casou com La Cuchilla.
Maldição! Ela disse. Agora o circo ia pegar fogo.
— La Cuchilla? — O Marquês exclamou. — O que é isto sobre La Cuchilla? — Ele ficou de pé,
a sobrancelha enrugada com confusão. Ou era confusão aparente? Luke se perguntou.
Em dois passos largos Luke estava ao lado da esposa. Ele a puxou até ficar de pé e a
empurrou para detrás dele.
— Estamos saindo agora! — Ele disse ao Marquês. — Não tente nos impedir.
— Eu não sonharia com isto, companheiro. — O Marquês disse, levantando as mãos
pacificamente. — Mas não tenho nenhuma ideia do que você está falando. O que é essa história
de La Cuchilla?
Luke deu uma olhada rápida do homem para sua esposa e de volta para ele. Era um esforço
de acalmá-lo e fazê-lo se sentir em segurança? O homem realmente não sabia? Não, um patriota
espanhol que havia comandado uma guerrilha seguramente saberia sobre La Cuchilla. E assim, ele
teria toda a razão de matar também quem a conhecesse.
— Isabella, venha. — Luke disse, tomando o braço dela e mantendo o próprio corpo entre
ela e o Marquês.
Mas Isabella não ficaria sob a proteção dele. Ela avançou e disse para o Marquês:
— Meu marido reconheceu a sua esposa, Tio Raul. A Marquesa foi uma agente francesa
conhecida como La Cuchilla. Ela torturou homens por prazer.
O Marquês a encarou, então agitou a cabeça.
— Não, não, minha querida, isso não pode estar certo. Eu ouvi falar sobre La Cuchilla, claro
que – quem nestas partes não ouviu? Mas ela morreu vários anos atrás.
— Morreu?
— Ela foi pega e enforcada por patriotas. Uma morte bem merecida para uma bruxa
traidora.
— Então, eles enforcaram a mulher errada. — Luke disse severamente. — Porque a
verdadeira La Cuchilla está sentando aí, do seu lado.
O Marquês olhou sua esposa.
Ela deu a ele um olhar lânguido de confusão.
— O jovem cavalheiro está enganado, meu querido. Talvez suas provações na guerra o
deixaram… Confuso. Ou talvez ele tenha me confundido com outra mulher.
O Marquês, aliviado, anuiu com a cabeça.
— Sim, deve ser isto.
— Ele não está confuso! — Isabella insistiu. — Se ele diz que ela é La Cuchilla, então ela é.
— Isabella! — O Marquês exclamou. — Minha esposa não pode ser...
— Ela é! — Luke disse. — Ela me torturou e matou dúzias de homens.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— La Cuchilla fez isso, sim! — O Marquês concordou. — Mas não a minha esposa. La Cuchilla
operou no norte, e foi vista varias vezes na fronteira, mas eu conheci a minha esposa em Madrid.
A primeira vez que ela veio para o norte foi quando ela veio para cá, em nossa lua de mel.
— Isso foi o que ela disse. — Luke disse.
O Marquês se levantou.
— Senhor, isso é ofensivo. Uma confusão de identidade é perdoável, mas insultar a minha
esposa, na minha própria casa…
— Não é um caso de confusão de identidade, Tio Raul! — Isabella interveio ardentemente.
— Meu marido foi torturado por La Cuchilla. Você acha que ele a confundiria com outra mulher?
As sobrancelhas escuras do Marquês se juntaram.
— Você foi torturado, senhor?
— Fui. — Luke disse rigidamente. Ele abominava admitir isto.
— E ainda assim sobreviveu... — A marquesa disse suavemente. — Um tipo estranho de
assassina, esta La Cuchilla.
Luke a encarou. Ele devia ficar agradecido por ela ter poupado a vida dele?
Isabella lançou um olhar de ódio a ela.
— Mostre a ele, Luke.
Luke tentou silenciá-la com um olhar, mas ela o ignorou e abriu a camisa dele.
— Aqui! — Ela disse, expondo a rosa esculpida.
Houve uma arfada quando o Marquês viu a rosa. Ele deu a sua esposa um olhar confuso.
— Rosa?
— Mostre-me. — A Marquesa se levantou e agarrou a camisa de Luke com uma única unha
polida.
Ele andou para trás, rígido com abominação.
— Toque em mim novamente, bruxa, e eu te matarei.
Ela rodou para enfrentar seu marido e deu um suspiro feminino impotente.
— Eu não sei do que ele está falando, meu querido, e se ele nem mesmo vai me mostrar o
lindo desenho…
— Lindo desenho? Você sabe exatamente o que é! Você esculpiu essa coisa vil na carne do
meu marido! — Isabella disse furiosamente. — Você acha que pode escapar dele porque Tio Raul
e o meu marido são muito cavalheirosos para provar uma mulher. Mas eu não sou nenhum
cavalheiro! — E pegando uma faca da mesa, ela agarrou a Marquesa ao redor do pescoço e
colocou a lâmina contra sua bochecha.
— Isabella! — Luke e o Marquês exclamaram em uníssono.
— Abaixe a faca.
— Isabella, criança, isto é loucura. Rosa é minha esposa!
— Raul, ajude-me! Ela é louca!
Isabella ignorou todos.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Agora, Marquesa – diga a verdade, ou eu esculpirei um “lindo desenho” na sua bochecha.


Claro, eu não sou um artista como você, mas talvez eu possa fazer um P de “puta” ou um A de
“assassina”… — Ela apertou a extremidade fria da lâmina contra a bochecha de damasco liso.
A mulher gritou.
— Raul, Raul, eu imploro!
O Marquês fez um movimento indiferente para ajudá-la, mas Luke o agarrou pelo braço,
murmurando:
— Deixe. Isabella não a machucará, mas se você interferir, alguém realmente será
machucado. — E poderá ser Isabella.
O Marquês o ouviu e não fez mais nenhum movimento.
A Marquesa ouviu, também, e se preparou para lutar.
— Não cometa nenhum engano. — Isabella murmurou na orelha dela. —Eu esculpirei feliz
na sua bochecha de pêssego.
Os lábios vermelhos se enrolaram zombeteiros.
— Você não tem a coragem, garotinha burguesa mimada.
— Oh, é mesmo? — Isabella disse sedosamente. — Posso não ser velha como você, mas
passei pela guerra – e matei três homens. Sei que isto não é nada para os seus padrões – eles
eram todos porcos vis que estavam atacando um convento – mas acredite em mim, eu não teria
nenhum problema em matar alguém que torturou e mutilou meu marido, assassinou seu amigo, e
— Ela deu uma olhada rápida no Marquês — enganou um patriota amável e nobre que merecia o
melhor. Por que eu não esculpiria a minha inicial no seu rosto? — Ela apertou a lâmina contra a
bochecha lisa. — Agora, fale.
A Marquesa não disse nada.
— Aquela pobre mulher enforcada em seu lugar, foi um caso de sorte? Uma identidade
trocada?
Os olhos da mulher chamejaram com desprezo breve. Luke e o Marquês viram.
— Ah! — Isabella disse. — Então, você organizou para que ela morresse em seu lugar. Muito
inteligente.
— Rosa. — Houve um mundo de horror na voz do Marquês.
— Veja, ele sabe agora, então você já pode admitir: você é La Cuchilla.
Houve um longo silêncio. Isabella apertou a faca mais fundo, e a mulher silvou:
— Sim, sim, muito bem, sim. Mas foi muito tempo atrás.
Uma respiração esguichou do Marquês. Luke o pegou e colocou em uma cadeira, ele parecia
de repente velho.
— Raul... — A Marquesa implorou. — Não faz nenhuma diferença para você e eu. Todos nós
fizemos coisas na guerra que gostaríamos de esquecer. Raul?
Ele a encarou por muito tempo. Então disse:
— Eu casei com La Cuchilla. — Com a voz velha, cansada. Ele enterrou a cabeça nas mãos.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Raul, por favor… — Ele não se moveu, e a Marquesa sabia que o havia perdido. Perdido
tudo. As mãos viraram garras. Isabella moveu a faca. Contas brilhantes de sangue apareceram em
uma linha através da bochecha pálida. O ódio reluziu nos olhos dela e ela silvou com fúria, mas
não se moveu.
— Você torturou meu marido?
— Sim.
— E seu amigo. Você assassinou o amigo dele.
Ela bufou.
— Michael? Ele não foi nenhuma perda para o mundo.
— Ele foi uma perda para sua família e amigos.
A mulher olhou para Luke e disse deliberadamente:
— Michael era um incômodo. Um peso morto.
Era uma coisa estranha para se dizer. Bella deu uma olhada rápida para Luke. O rosto estava
totalmente fixo, os punhos cerrados.
— Por que diz isto? — Bella perguntou.
Silêncio.
— Era porque Michael te dava informações?
Os lábios luxuriantes da mulher afirmaram zombeteiros.
— Cada detalhe.
— Foi por isso que você o assassinou?
— Não, eu cortei sua garganta para parar seu lamento. — La Cuchilla disse friamente. —
Desprezo os fracos.
— Meu marido te deu alguma informação?
— Não. Ele recebeu duas vezes o castigo e não disse nada.
— E é por isso que você o deixou vivo?
Ela encolheu os ombros elegantes de forma ínfima.
— Ele era bonito e valente – um inimigo merecedor. Por que eu o mataria?
— Por que você esculpiria essa coisa na carne dele?
— A minha linda rosa? — La Cuchilla sorriu. — Foi um capricho. Algo para me lembrar.
Um capricho? Marcar dolorosamente um homem jovem com algo que ela sabia o
envergonharia pelo resto da vida? Luke tinha visto a rosa cada dia de sua vida, uma lembrança de
que ele havia traído – ou acreditava haver traído –seu país e seu amigo.
Ela era ruim, com sangue frio. A mão de Bella agitou visivelmente com o desejo de
mergulhar a faca no coração negro da mulher.
Mas ela não podia fazer isto. Ela havia descoberto tudo que precisava. Luke agora sabia o
que havia acontecido. Talvez agora ele pudesse se perdoar. Não que ele tivesse qualquer coisa
para se perdoar. Ele era um herói. Com um soluço, Bella jogou a faca longe, La Cuchilla a
empurrou e Isabella mergulhou diretamente nos braços de Luke.
Ele a abraçou firmemente.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Sua louca, louca! Se por em tal perigo!


— Eu tinha que fazer isso. Nem você nem Tio Raul machucariam uma mulher, mesmo uma
como ela. Eu sabia que a ameaça de destruir a beleza dela faria com que ela falasse. As mulheres
bonitas são sempre as mais vãs.
A Marquesa apertou um lenço de renda branco contra a bochecha. Saiu manchado de
sangue. Ela a encarou, e seu rosto virou uma mascara de ódio.
— Sua coisa pequena e feia, você morrerá! — Ela tirou uma pistola pequena da roupa e
apontou para Isabella.
O Marquês gritou uma advertência. Luke girou, viu o que estava acontecendo, e empurrou
Isabella para detrás dele, protegendo-a com seu corpo no exato momento em que a pistola
disparou. A bala entrou nele e ele foi ao chão.
O Marquês se moveu. Uma faca relampejou pelo ar. La Cuchilla cambaleou, a lâmina
enterrada fundo em sua garganta. Ela gorgolejou horrivelmente, puxando a faca, então
lentamente ficou de joelhos e tombou para frente. O sangue formou uma poça carmesim através
do chão de mármore branco.

— Como está a ferida? — O Marquês perguntou. O corpo de sua esposa tinha sido
removido. Não havia nenhum sinal de sangue no chão de mármore liso. Bella não perguntou o que
ele tinha feito com o corpo. Ela não se importava. Toda sua preocupação era com Luke.
— Um ferimento superficial. — Doutor Lopez disse. — Ele teve muita sorte de ter sido
atingido onde foi. Até onde posso dizer, nenhum osso foi danificado. Os fragmentos de osso são os
piores, mas creio que ele se recuperará, desde que não haja nenhuma infecção. — O médico
cirurgião havia chegado quase imediatamente. Ele vivia na propriedade, o Marquês disse. Um bom
homem, muito experiente em todos os tipos de ferimentos. Tivera a guerra como escola.
Bella agarrou a mão do marido, incapaz de tirar os olhos de seu rosto por um segundo.
— Ele ainda está inconsciente.
— Fique agradecida por isto. — O cirurgião disse a ela. — Vai poupá-lo da dor quando eu
remover a bala. — Ele tirou uma pinça longa e prateada, inseriu-a cuidadosamente no buraco sob
o ombro de Luke, e começou a procurar no escuro lado de dentro.
Em um ato extraordinário do destino, a bala perfurou Luke no centro da rosa esculpida na
pele. Era nada além de um monte de sangue e carne rasgada agora.
O cirurgião sondava, Luke gemeu, mesmo inconsciente, o estômago de Bella balançou. Ela
embreou a mão ao peito dele e rezou calada.
— Quase lá… Isso… Quase. — O doutor Lopez tirou a bola. Ele borrifou pó de enxofre no
ferimento e olhou para o Marquês. — Os ferimentos de tiro são venenosos. Eu devia… — Ele deu
uma olhada rápida no fogo e então para Bella.
— Devia o quê? — Ela perguntou.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Cauterizar o ferimento. É a prática aceita, mas...


— Mas o quê?
— Não é agradável para as damas assistirem. — Ele tirou um metal longo da bolsa e o
colocou no fogo para aquecer. Era como um anzol curvado, um metal em forma de gota no final,
Bella percebeu com um sentimento doente, que era do mesmo tamanho e forma do buraco no
corpo de seu marido. Ela estremeceu.
— Não será agradável para o meu marido, também. — Ela tomou a outra mão de Luke. —
Faça. Depressa, enquanto ele ainda está inconsciente.
O Marquês ficou de pé atrás dela e colocou as mãos em seus ombros.
— Seu pai estaria muito orgulhoso de você, minha querida.
O cirurgião cuidadosamente ergueu a ferramenta das chamas para cauterizar e testou
algumas gotas de água nisto. Chiaram. Quando ele julgou que a temperatura era a certa, ele disse:
— Faça-o ficar parado.
O Marquês segurou Luke abaixo dos ombros. Bella fechou os olhos. Houve um silvar e um
cheiro horrível de carne queimada. O corpo de Luke se contorceu.
Por um momento Bella pensou que fosse desmaiar. Ela agarrou firmemente a mão de Luke,
determinada a não soltá-lo, mesmo por um segundo, e depois de um momento ou dois a vertigem
passou.
— Está feito. — O cirurgião se curvou sobre o ferimento, examinou seu trabalho manual, e
anuiu com a cabeça. — Parece bom. Cubra com mel fresco e ligeiramente com gaze limpa.
Mantenha limpo e deixar o ar bater tanto quanto possível. Se não houver nenhuma infecção, ele
deve se recuperar completamente em algumas semanas.
Se… Bella pensou. Como eles saberiam?
— Ele pode ter um pouco febre. — O doutor continuou. — Dê a ele chá de folha de salgueiro
e tal – os tratamentos habituais. E muito descanso nos próximos dias.
Bella anuiu com a cabeça. O convento havia educado todas as meninas no tratamento de
doenças.
— Não fique tão preocupada, minha querida. Seu marido é um homem forte, saudável. — O
Marquês disse com certeza cordial. — E se o Doutor Lopez disse que ele vai se recuperar, ele irá,
não tenha medo. O bom doutor cuidou de nós durante a guerra. Ele mais salvou do que perdeu.
— Muito tranquilizante. — Disse Bella vagamente.

A primeira coisa que Luke ficou ciente foi a dor. O ombro estava queimando. A mente estava
confusa. E havia algo... Que ele supunha era… La Cuchilla? Ele podia sentir cheiro de enxofre…
Carne queimada... Pólvora. O pesadelo habitual?
Tudo voltou num instante. La Cuchilla havia puxado uma arma... E disparado contra – Bella?
Os olhos dele se abriram de repente.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Bella!
Ela estava lá, sentada na extremidade da cama, segurando a mão dele, parecendo pálida e
preocupada, mas não parecia machucada. Ao ver seu rosto doce, ansioso, algo em seu peito se
apertou como um punho. Ele tentou se sentar.
— Ela te machucou?
Ela o apertou de volta contra os travesseiros.
— Silêncio, não se mova. Você que foi machucado.
Ele esquadrinhou o corpo dela freneticamente.
— Droga, ela te acertou?
Ela alisou a sobrancelha dele.
— Não, meu amor, estou ilesa. Foi em você que ela atirou.
Meu amor. As palavras, assim como o conhecimento de que ela estava ilesa, pareceram
aliviar as chamas no ombro. E a dor no peito.
— Está tudo bem, então.
— Está tudo bem na... — Ela começou indignada.
Luke esquadrinhou o quarto.
— Onde está ela, a diaba?
— Ela está morta. — Bella deu uma olhada rápida no velho Marquês.
Ele permaneceu atrás de Bella, parecendo cinza e de alguma forma seco.
— Lorde Ripton, eu me desculpo, sinceramente, pelas ações de minha esposa. — As palavras
do homem velho eram formais e sinceras, mas sob elas, ele estava despedaçado.
A raiva de Luke por Bella ter sido colocada em perigo se apagou. Como ele podia culpar este
homem velho e digno por fazer exatamente o que Luke havia feito?
— Não foi sua culpa, senhor. — Luke conseguiu dizer. — Destino. Ele sempre consegue nos
pregar peças.
Então ela estava morta. Um fim, afinal.
— Eu matei a minha esposa – não. — O homem velho se corrigiu fortemente. — Eu executei
La Cuchilla, eu mesmo.
Não sua esposa: La Cuchilla. A declaração simples mostrava muita dor. E humilhação. Ele
amava a esposa, mas ela o havia traído e ele a havia matado. E agora ele estava sofrendo.
Bella colocou a mão sobre a do homem velho. O Marquês a puxou com dignidade quieta.
Orgulho. Podia levar um homem aos piores enganos, ou fazê-lo passar pelo inconcebível.
— Eu sinto muito. — Luke disse. Ele ficou tentado a deitar, fechar os olhos, deixar tudo ir
para longe, mas o fedor do passado era amargo em suas narinas, e se ele não explicasse agora, ele
suspeitava de que nunca iria. Além disso, ele devia uma explicação a sua esposa e ao homem
velho. Luke havia causado o desastre ao vir para cá. Ele lutou para se sentar. Era mais difícil do que
ele pensava. Ele estava fraco como um gatinho e cada movimento inundava seu ombro com fogo
líquido.
— Mais tarde. Você precisa descansar. — Bella insistiu.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Eu descansarei melhor quando tirar esse peso do meu peito. — Luke já havia ouvido dizer
que confissões limpavam a alma. Ele desejou que fosse verdade.
— Muito bem, mas seja rápido. O médico disse que você deveria descansar. — Ela foi ao
redor dele por um momento, organizou os travesseiros atrás dele, foi buscar um copo de água e se
certificou de que ele estivesse confortável.
— Não aconteceu do modo que eu te disse. — Luke admitiu quando ela tinha acabado. —
Michael e eu conhecíamos La Cuchilla sete anos atrás. Conhecíamos bastante bem, de fato.
— Você conhecia...
— Isto foi muito antes de sermos capturados e torturados. Não tínhamos nenhuma ideia de
que ela era La Cuchilla, claro. Conhecíamos como Señorita Martinez, Rosa Martinez, uma dama
espanhola. Michael era apaixonado por ela. — Ele encontrou o olhar de Bella e acrescentou: —
Nós dois éramos. Pelo menos achamos no momento. — Olhando para trás, ele podia ver que não
era amor, mas um sentimento quente, arrojado de luxúria, bem temperado com perigo e
rivalidade.
Luke fez uma careta.
— Éramos jovens em uma guerra, longe de nossas casas e nossas famílias. Éramos jovens e
impressionáveis, e sozinhos. E ela era muito bonita.
— Ela ainda é bonita – ou era. — O velho Marquês se irritou. — E ela era muito, muito
encantadora.
Bella deu uma fungada nada impressionada.
— Então todo mundo se apaixonou por ela. Continue com a história.
Luke poderia ter sorrido com o tom cáustico dela, mas a ideia de confessar o que havia feito
pesava forte nele.
— Michael queria se casar com ela. Ele realmente a havia proposto, até falou com seu oficial
comandante, buscando permissão para o casamento.
— E você? Você queria se casar com ela, também? — Bella perguntou.
Luke agitou a cabeça.
— Não, não mesmo. Eu a desejei, claro. — Uma declaração fria para a chama quente e
branca de luxúria que Rosa Martinez incitara nele sete anos atrás. — Mas casamento nunca me
aconteceu – bem, ela não era o tipo de mulher para se cas... — Ele cessou bruscamente e girou
para o Marquês. —Minhas desculpas, senhor. Eu não quis dizer nenhuma ofensa.
— Nenhuma ofensa recebida, Ripton. Eu sabia que Rosa não era nenhuma garotinha
inocente quando me casei com ela. — Ele fez um gesto expressivo. — Para dizer a verdade,
quando um homem chega à minha idade, ele prefere mulheres com alguma experiência.
Luke reconheceu a declaração. Ele podia apreciar agora.
— Ela já era experimente então. — Ele disse. — Nós não éramos páreo para ela. Michael
estava determinado a se casar com ela, apesar das ordens de seu oficial comandante serem
contrárias. E eu… — Eu era um bobo atacado pela luxúria, Luke pensou.
— E você? — Bella iniciou.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Luke fechou os olhos brevemente.


— Rosa me escolheu. Ela deixou muito claro que me preferia a Michael e ela fez de tudo que
podia para encorajar as minhas atenções. — De comportamento coquete até falar claramen…
— O que você fez? — Bella perguntou.
— Eu tentei ficar longe dela.
As sobrancelhas dela ergueram.
— Mesmo você a desejando e ela te querendo?
— Sim, claro. Era uma questão de honra. Ela era amada pelo meu amigo, e ele tinha
intenções honradas com relação a ela – nada menos do que casamento. Então eu tentei não me
envolver com ela.
— Rosa não teria gostado de ser recusada. — O velho Marquês disse. —Especialmente por
um homem jovem e bonito.
— Ela não gostou. — Luke admitiu. Ele correu uma mão através do queixo. — Ela redobrou
seus esforços. Ela usou Michael para tentar me fazer ciúmes, tentou nos jogar um contra o outro.
— Ele deu uma olhada rápida para o Marquês. — Ela continuou alimentando as esperanças de
Michael, falando sobre um futuro juntos, mas o tempo todo, suas atenções eram voltadas a mim.
E então, uma noite… — Ele tragou. — Uma noite… — Era duro demais cuspir o que ele havia feito.
— Ela te seduziu. — O Marquês disse por ele.
Luke anuiu com a cabeça.
— Eu acordei uma noite e ela estava… Lá, próximo da minha cama. — Usando um capote
aveludado preto e não usando nada por baixo. — Eu tentei mandá-la embora, mas…
— Nenhum homem conseguiria. — O Marquês disse abruptamente. —Não se culpe. Como o
outro menino reagiu quando descobriu?
A antiga culpa inundou Luke.
— Eu deveria ter dito a ele, mas… Eu não pude. Teria sido como – eu não sei – como chutar
um filhotinho de cachorro. Michael era um crente. Um sonhador. Ele pensava que Rosa era uma
santa, mas ele era o santo. Ele colocava as mulheres em um pedestal, as adorava de longe. Ele
nem sequer havia conhecido uma mulher antes: Rosa havia sido a primeira. — Luke agitou a
cabeça. — Então, eu não pude dizer a ele, não pude contar a traição dupla, de seu amigo e de sua
noiva.
— Então, Rosa disse a ele. — O Marquês disse.
Luke anuiu com a cabeça.
— Como? — Bella perguntou. — Quando?
Luke olhou para Bella.
— Eu disse a você sobre o dia em que montamos depois de uma instrução específica. Foi
Rosa quem encontramos na estrada aparentemente angustiada, então claro que nenhum de nós
pensou duas vezes em parar. Em momentos nós fomos capturados e num piscar de olhos
estávamos encarcerados em uma cabana. E sendo questionados sobre as informações que

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

levávamos. — Ele explicou para o Marquês. — Nós levávamos mensagens não escritas para o
comandante aliado.
— E foi aí que ela contou ao seu amigo? — Bella perguntou.
Luke anuiu com a cabeça.
— Sim, mas só durante a – enquanto ela estava...
— Torturando ele. — Bella disse severamente.
Luke anuiu com a cabeça.
— Ela usou isso para torturá-lo – oh, ela usou a faca com sua habilidade má, mas ela
também descreveu o que ela e eu fizemos juntos. Cada detalhe. — Os olhos dele eram desertos e
sombrios. — Essa foi a verdadeira razão pela qual Michael cedeu, por que ele disse a ela o que ela
queria saber. Porque ele não teve força para resistir. Porque La Cuchilla e eu partimos o coração
de Michael. — A voz dele era severa, escaldada com auto recriminação enquanto ele adicionava:
— Posso não ter traído meu país, mas com toda a certeza traí meu amigo.
Luke não conseguia olhar para a esposa ou seu anfitrião, sabendo a condenação que veria
em seus olhos.
— Claro que você não o traiu. — Bella deslizou os braços ao redor dele e esfregou a
bochecha suavemente contra seu tórax. — Aquela vaca ruim foi a culpada, não você. Você foi
vítima dela tanto quanto Michael.
Luke piscou. A absolvição não vinha tão facilmente assim, vinha?
— Exatamente! — O velho Marquês disse. — Você só acha isso porque seu amigo morreu e
minha esp... – La Cuchilla o matou. Como ela matou muitos homens bons e honestos antes. É isso
que ela fazia, meu menino. Era sua habilidade particular, achar fraquezas nos homens e explorá-
las. Ela era a fraqueza de Michael, e Michael era a sua. Ela torturou vocês dois, naquele dia,
lembra? E ela não usou apenas a lâmina em você, também.
Luke olhou o homem velho, atingido pela verdade das palavras, ainda assim pouco disposto
a acreditar nelas.
O Marquês continuou:
— Se não tivesse sido você, ela teria seduzido outro dos amigos de Michael – e claro que ele
seria seduzido, não faça essa cara! Quem tinha vinte e era inexperiente, e quem já tinha trinta e já
havia tido mais homens do que você já havia trocado de roupa na vida? — Ele bateu levemente no
braço de Luke. —Dois meninos jovens e idealistas eram como massa de modelar nas mãos de La
Cuchilla. Não se culpe com tal coisa. Olhe para mim, eu sou velho e me considero um homem
mundano, mas sou tolo da mesma maneira. Mais ainda – eu me casei com ela. — Ele deu uma
risada amarga. — Para dizer a verdade, estou com o coração partido e também… Envergonhado.
— Ele agitou a cabeça. — Casar com a minha inimiga mortal… — Ele contemplou sua tolice por um
momento, e então disse como uma reflexão tardia: — Deixe-me te dizer mais uma coisa, coração
de homem jovem não se quebra tão facilmente, não por causa de uma mulher infiel. Talvez, já que
você diz que seu amigo era jovem e ingênuo, foi um despertar doloroso, mas teria acontecido de

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Anne Gracie
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qualquer maneira. Era inevitável. — Ele riu e acrescentou: — É melhor antes do casamento do que
depois.
Ele se debruçou adiante e cutucou Luke firmemente em seu ombro sadio.
— Então, pare de se recriminar, meu jovem, ou isso vai envenenar a sua vida. Coisas terríveis
acontecem na guerra, mas a guerra está terminada. Os mortos não podem voltar, mas no assunto
La Cuchilla, a justiça foi feita. Seu amigo está morto, mas não por suas mãos ou sua vontade, e ele
foi vingado e está em paz agora. E você, meu menino, está vivo – lute novamente por cada dia! E
você tem uma esposa jovem e adorável, então não desperdice o presente que Deus te deu: viva
bem e seja muito feliz. — Ele ficou de pé e disse cansado — Agora, devo sair. Devo enterrar minha
esposa. — Havia pesar e aceitação em sua voz.
Depois que o marques partiu, Luke, ofuscado, girou para Isabella.
— Eu sempre me culpei pela morte de Michael. Agora eu não sei o que pensar.
— Não pense nada. — Ela disse a ele. — Durma. Você se sentirá melhor de manhã.
Luke, exausto por sua ferida e admissões, obedeceu e logo deslizou para um sonho profundo
e sem sonhos.

Mais tarde naquela noite a febre começou. Bella fez companhia a Luke a noite toda, dando
chá da casca de salgueiro e banhando com esponja sua carne aquecida.
Enquanto ela o banhava, ela pensou sobre a história que ele havia dito. Duas vidas que
tinham sido destruídas por aquela mulher. Quase destruídas.
Luke sentia muita culpa pela traição, mas até Bella, com sua experiência limitada de vida,
podia ver que um homem ávido, impressionável e jovem não teria nenhuma chance contra as
artimanhas de uma mulher inteligente e bonita. Uma bruxa.
A rosa esculpida na carne de Luke era uma repreensão constante. Uma marca de culpa.
Era muito tarde para salvar Michael, mas enquanto ela cuidava do corpo febril de Luke, Bella
jurou que faria o resto da vida de Luke o mais feliz que ela pudesse.

A febre de Luke passou depressa, e em dois dias ele estava bem o suficiente para insistir que
eles seguissem caminho.
Bella, claro, negou veementemente.
— É ridículo pensar que você pode viajar. Montar está fora de cogitação! Abrirá o ferimento
novamente, e então ficará infectado e – e, pessoas morrem por causa de infecções, Luke!
O Marquês interveio. Ele tinha uma dívida com eles, ele insistiu. Se ele tivesse descoberto
que ele, um patriota conhecido, havia se casado com uma agente francesa notória, traidora e

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Anne Gracie
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Noiva por Engano

torturadora… Não, não, e não! Aquela mulher nunca seria mencionada no Castillo de Rasal
novamente. Ele apagou o incidente desagradável inteiro de sua mente.
O cavalheiro velho estava sendo bravo, Bella pensou. No fundo ele estava lamentando. A
traição da sua esposa o havia ferido profundamente. Ele havia sido intensamente humilhado, e
ainda assim… Ele a amava.
O amor é dor.
O Marquês estava também, Bella suspeitava, muito contente por se livrar do marido dela;
lembranças de seu engano lastimoso em julgamento, assim como testemunha do assassinato de
sua esposa, então quando Luke se provou tão teimoso em viajar, o marques interviu e apresentou
sua melhor carruagem para que Luke pudesse viajar com conforto extremo. Ele forneceu um
cocheiro, dois cavalariços e enviou cavaleiros na frente para organizar a mudança de cavalos com
demora mínima.
Exceto por dormir durante a noite em várias pousadas, eles viajaram quase
ininterruptamente por quatro dias. Bella estava cansada disto.
Luke estava cochilando novamente. Ele havia passado boa parte da jornada dormindo. Era
bom para sua recuperação, ela sabia, mas viajar de carruagem, mesmo em uma confortável, era
tão enfadonho. Ela tentou ler um dos livros que o Marquês a havia presenteado quando se
despediram, mas a carruagem saltava tanto, que tentar se concentrar na leitura a deixava
enjoada.
Eles bateram em um buraco, e Luke agarrou uma correia com sua mão boa. Bom, ele estava
acordado.
— Pensei muito nos últimos dias enquanto você dormia, Luke, e tomei algumas decisões.
— Isso não soa bem. — Luke disse com um sorriso de lânguido. Havia uma nova facilidade
entre eles desde que haviam deixado o Castillo Del Rasal. Uma leveza. Como se ele tivesse
começado a se perdoar. Não que ele falasse sobre isto, ou provavelmente fosse algum dia, mas ela
tinha esperança.
— Não é bem assim, mas você pode não gostar do que eu decidi fazer. — Ela disse
seriamente. — Em relação com a fortuna da minha mãe.
— Sua fortuna. — Ele a lembrou.
— Sim, exatamente. — Ela disse, debruçando-se adiante. — Ela é minha fortuna, não é?
— Sim.
— E eu posso fazer com ela o que quiser, e você não tentará me impedir, certo?
Ele considerou por um momento.
— Suponho que depende do que você quer fazer. Se me parecer não inteligente ou
imprudente, falarei minha opinião, possivelmente de forma bastante ativa.
— Mas você não me impedirá realmente, não é?
— Eu não posso te impedir. — Ele disse. — É a sua fortuna.
Bella ainda não podia acreditar nisto. Por tanto tempo ela não havia possuído nada, e antes
ela não tinha qualquer escolha em sua vida. Mas este homem, este homem maravilhoso e bonito

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

havia cedido o direito à fortuna dela – e por mais que ela não tivesse nenhuma ideia exata da
extensão, ela sabia que devia ser significativa.
— Eu decidi o que quero fazer com ela – parte, quero dizer, não tudo.
— Entendo.
— Vou dar um pouco para as outras meninas no convento. — E antes que ele pudesse dizer
qualquer coisa, ela se apressou: — Estão todas presas lá porque não têm nenhum dote e suas
famílias são muito orgulhosas para admitir isto ou deixar suas filhas se casarem homens que não
sejam de sua classe. É um desperdício. Elas acabarão tendo que se tornar freiras e ninguém deve
se tornar uma freira a menos que queira! E elas são minhas amigas.
Ele anuiu com a cabeça.
— Então você vai dar a elas um dote? No todo são quantas, seis? É uma boa soma.
— Eu sei, mas você disse que eu podia gastar...
— Eu não estou discutindo. — Ele assinalou suavemente.
— Oh. Bom. Mas isto não é tudo. Quero dar uma parte da fortuna para Perlita.
— Perlita? — Ele a encarou, confuso por um momento, então desatou a rir.
— O que é tão engraçado?
— E depois do trabalho que tivemos para manter as patas avaras do Ramón longe dela! Você
sabe que ela dará tudo para ele, não é?
Ela sorriu triunfalmente.
— Ah, mas será o dote de Perlita. Ramón só pegará se ele se casar com ela.
— E se ele não se casar com ela?
— Ele irá. — Ela disse confiantemente. — Ele a ama. Ele só está considerando se casar com
outra pessoa porque ele está desesperado para devolver Valle Verde à sua antiga glória. E eu
quero isto, também, por que um dia foi minha casa e eu a amo. Então… — Ela balançou a cabeça e
deu a ele um olhar interrogativo. — O que você acha do meu plano?
— É uma solução excelente para todas as suas preocupações.
— Minhas preocupações?
— Você tem propensão a se preocupar com o bem-estar das pessoas. — Ele disse a ela. —
Deste modo você só terá uma pessoa para cuidar.
Ela fez uma carranca.
— Quem?
Ele se debruçou adiante e a puxou da cadeira para o colo dele.
— Eu.
— Luke! Seu ferimento.
— Trate-me com carinho. — Ele murmurou.

Dezoito

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Nunca vi tantas pessoas em um só lugar. — A cabeça de Bella ia da direita para a


esquerda enquanto a carruagem que Luke havia pedido seguia – uma carruagem amarela alugada
– que se movia entre a multidão das ruas lotadas de Londres.
Eles desembarcaram em Portsmouth naquele dia, e correram pelo país a uma velocidade
que Bella mal podia acreditar. Eles haviam acabado de chegar a Londres. Era a noite do baile de
Molly.
— Grosvenor Square está a nossa esquerda. — Ele assinalou. — Você já tomou sorvete?
— Não, mas...
— Eu te levarei ao Gunter, então. Você gostará – maldição!
— O que foi?
— Eu esqueci do jantar.
— Que jantar?
— O jantar antes do baile. Eu esperava te apresentar à minha mãe antes do baile, mas ela
está dando um jantar antecipado e os convidados já devem estar chegando. Está vendo todas
aquelas carruagens alinhadas? Essa é a casa da minha mãe. Sua casa, de fato. Na verdade ela me
pertence.
Bella o encarou. A casa da mãe dele? Ele tinha ignorado completamente todos os protestos
dela.
— Eu te disse, Luke, não vou ao baile da sua irmã. Não tenho nada para vestir. Esse é o meu
melhor vestido e olhe para ele! — Os dois estudaram o vestido vermelho. Parecia o pior para se
vestir. — Até uma criada doméstica não usaria isto.
Ele fez um gesto de dispensa.
— Eu sei disto. Planejei fazer com que Molly te emprestasse um vestido. — Ele tirou um
relógio do bolso e olhou. — Estamos chegando mais tarde do que eu esperava. Não haverá tempo
suficiente para as empregadas ajustá-lo.
— Ajustar?
— Sim, Molly é mais rechonchuda do que você. E um pouco mais alta, também. — Ele
estreitou os olhos nela e calculou. — Já sei – Nell!
— Nell? — Ela sabia quem Nell era; a esposa de um dos melhores amigos de Luke, Harry.
Mas a falta de vestido não era realmente o problema. Era uma desculpa útil, isso era tudo.
Já era ruim o suficiente estar vestida com roupas gastas no coração da elegante Londres,
mas, sobretudo, Bella estava tão nervosa quanto um rato ao pensar em encontrar os amigos e a
família de Luke em massa.
A garota estrangeira que havia feito o queridinho deles ter um casamento não desejado. A
pobre garota estrangeira. Mas Luke estava inconsciente disso.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Nell e Harry estão na casa de Lady Gosforth. Você gostará de Lady Gosforth. Uma velha
direta e rígida, mas tem um coração de ouro. — Antes que Bella pudesse dizer uma palavra, Luke
esticou a cabeça da janela e gritou em direção ao portão.
— Como você sabe que a Nell estaria disposta a me emprestar um vestido?
Ele bufou como se a ideia de Nell se recusar fosse ridícula.
— Nell é mais o seu estilo, também. Ela é elegante. Você gostará de Nell. Ela é como você,
uma amazona até a raiz dos cabelos. — Ele se sentou e então caiu na gargalhada.
— O quê?
— Mal posso esperar para os meus amigos te conhecerem.
— Por quê? — Ela perguntou cheia de suspeita.
— Eu disse a eles que esperassem uma garota recatada e obediente de um convento,
alguém que pacientemente havia costurado durante todos estes anos.
Ela bufou.
Ele riu novamente.
— Exatamente! Eles vão te amar.
Ela sorriu e olhou para fora da janela. Claro que seria agradável se os amigos dele a
amassem, mas ela realmente não se importava. Havia apenas um homem que ela queria que a
amasse, e ele não tinha consciência disso.
Eles alcançaram a casa da cidade de Lady Gosforth, mas para o desânimo de Luke eles
descobriram que Nell, Harry e Lady Gosforth já haviam saído para o jantar pré baile. Até mesmo a
dama de companhia de Lady Gosforth havia saído pela noite.
— Porém, Cooper, a dama da Lady Nell, está lá em cima, Lorde Ripton. — O mordomo de
Lady Gosforth disse. — Gostaria que eu a chamasse?
— Gostaria muitíssimo, Sprotton. Vá buscá-la de uma vez. — Luke disse, e em pouco tempo
uma criada jovem, bonita e bem vestida apareceu.
Luke explicou o que queria. Cooper olhou Bella e seus olhos iluminaram.
— Oh, senhor, acho que tenho a coisa perfeita. E não, senhorita, quero dizer Lady Nell não
se importaria nem um pouco. De fato, quando trouxemos o vestido, decidimos que a cor não era
ideal para ela. Ficará perfeito em você, senhorita, confie em mim. — Ela conduziu Bella para o
andar de cima e Luke foi para sua casa vizinha se trocar.
Em trinta minutos, Cooper fez o que Luke havia falhado em fazer durante as várias semanas
de casamento: convencer Bella dos benefícios de se ter uma boa dama de companhia.
Bella encarou seu reflexo no espelho.
— É um milagre. — Ela suspirou. Se as meninas do convento pudessem vê-la agora. Em
menos de meia hora, e ainda assim ninguém teria achado que Bella não havia gastado mais do que
metade do dia se arrumando.
Cooper riu.
— Não, madame, mas é fato de que este vestido se adapta à senhora melhor do que a Lady
Nell.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— É o vestido e a magia de Cooper. — Bella insistiu. O vestido, em seda verde e marrom se


ajustava perfeitamente, como se o colete houvesse sido feito para o vestido. Ela não parecia mais
magra; ela parecia... Esbelta. E elegante. Na moda. E com uma deliciosa sugestão de seios.
Cooper havia feito algo mágico com o cabelo dela, também, com uma trança em uma
variação elegante da coroa habitual, e mesclado com tiras verde, marrom e creme.
Um pouco de pó no rosto, um pouquinho de ruge nas bochechas e lábios, e Bella mal se
reconhecia. Era o mais distante possível do modo como ela estava quando se encontrou com Luke
no convento quanto possível. Ainda bem.
— Agora um mantô... — Cooper disse, abrindo um baú.
— Que tal este? — Bella mostrou seu mantô de seda cor de creme.
— Oh, madame, é magnífico! — Cooper suspirou. — Eu apenas tirarei as rugas e ficará
perfeito.
— E… Pérolas? — Ela tirou pérolas de sua mãe.
— Perfeitas, madame, exatamente perfeitas. A senhora parece uma pintura, se não se
importa que eu diga.

Bella respirou fundo antes de começar a descer os degraus. Vestida assim, ela se sentia firme
para qualquer reunião de amigos e parentes. Ela esperava que Luke aprovasse.
Ela estava num terço do caminho quando Luke apareceu ao pé dos degraus. Bella quase
tropeçou. Ele sempre estava bonito, mas agora, recentemente barbeado e usando roupa de gala
completa e formal, ele parecia totalmente magnífico.
Ela devia ter feito algum som, porque ele olhou para cima. E congelou.
Ela se forçou a caminhar. Absurdo ficar tão nervosa quando seu próprio marido a olhava,
mas… Não haviam borboletas flutuando no seu estômago; mas sim pardais. Rebanhos inteiros,
circulando e imergindo.
Os olhos, de um azul profundo e reluzente, a devoravam. Ele não disse uma palavra, mas o
olhar dele encarava-a… Fazendo o peito pesar e o coração apertar.
Pela primeira vez na vida, ela se sentia – não, ela sabia que estava bonita.
Sprotton havia mandado embora a carruagem contratada, e a carruagem com capota de
Lady Gosforth os aguardava. Luke ajudou Isabella a subir.
— Sabe... — Ele disse, enquanto a carruagem se movia. — Há algo que eu deixei de te dizer.
— Oh? — Soava importante.
— Sim. Percebi agora mesmo quando você desceu as escadas parecendo mais bonita do que
qualquer esposa de um homem deveria parecer.
— Oh.
— Eu devia ter dito muito tempo atrás.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Oh? — Era ridículo; ela não podia pensar em nada para dizer. O coração estava batendo
tão rápido. A carruagem diminuiu a velocidade. Eles já haviam chegado?
— Sim, lá no navio. Ou na carruagem. Ou até mesmo antes disto, em Castillo de Rasal. — Ele
fez uma carranca. — Possivelmente até em Valle Verde. Ou em Ayerbe na Pousada Sem Pulgas. —
A carruagem parou. Ele olhou da janela. — Ah, já estamos aqui. Eu te direi mais tarde.
Ela agarrou o pulso dele.
— Não ouse me provocar assim, Luke Ripton. Apenas me diga, agora!
Ele a olhou, um pequeno sorriso tocando os lábios.
— Não é urgente. Não vai mudar.
— Luke!
A voz de aprofundou. Ele se debruçou adiante e a puxou para os braços.
— É só isso: Eu te amo, Isabella Ripton. Tenho amado já não sei por quanto tempo. Pode ter
começado no convento, ou mais tarde em...
Um empregado abriu a porta da carruagem.
— Lorde Ripton, você está em casa! — O homem exclamou cheio de alegria.
Luke riu e parou o beijo que estava para dar a ela.
— Veja, eu disse que devia te dizer mais tarde.
Bella estava muito atordoada para se mover.
— Você me ama? — Ela repetiu inexpressivamente.
O empregado deu a ela um olhar surpreso, olhou para Luke, sorriu amplamente, e
prontamente começou a fechar a porta da carruagem.
— Não. — Luke o parou. Ele tomou a mão de Bella. — Venha, meu amor, eles estão nos
esperando. Eu enviei uma nota. O jantar foi posto de volta.
Ela o seguia, ofuscada. Ele a amava? Ou isso era algo que ele disse para fazer com que eles
se sentissem melhor sobre o casamento? Ele disse isto na frente do empregado, afinal.
Oh, não importava. Ele a amava; ele havia dito. Ela não se importava se era um ardil ou não.
Hoje à noite, ela apenas acreditaria. Hoje à noite ela se sentia linda e seu marido havia dito que a
amava. Era o suficiente.
Ela entrou na casa tonta e passou a noite inteira tonta. Ela havia conhecido dúzias de
pessoas. Na família dele eram todas belezas naturais. Ela era o patinho feio, mas hoje à noite ela
não se importava. Ele a amava.
Os amigos dele eram todos altos e incrivelmente bonitos. Não tão bonitos quanto o marido
de Bella. E ele a amava.
De alguma maneira – ela não tinha nenhuma ideia de como – ela havia conseguido jantar. E
então a orquestra havia executado a primeira valsa. Luke prometera a primeira valsa para sua
irmãzinha, Molly. Era uma promessa antiga, e Bella estava muito contente por ele ter conseguido
honrá-la, ainda que ela tivesse que se resignar a se sentar durante a dança ao lado da mãe de
Luke.

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

Ela conhecia algumas danças do campo – eram semelhantes às danças que ela havia
aprendido quando criança – mas ela não sabia valsar. Luke havia tentado dar uma lição de valsa no
navio, mas o mar não era exatamente calmo e tinha sido um “um, dois, três” cambaleante.
Ela se sentou com a mãe de Luke e Lady Gosforth e assistiu Luke e Molly girarem em torno
do salão. Ela jurou que aprenderia tão depressa quanto possível. Parecia divertido.
E então foi a segunda valsa. O amigo de Luke, Harry, se curvou e levou Molly pelo salão.
Molly estava brilhando de felicidade. Ela não tinha apenas um irmão mais velho; ela tinha quatro.
— Minha valsa, creio. — Luke disse e se curvou na frente de Bella.
— Não. — Bella disse, e então percebeu que havia soado rude, a mãe de Luke estava ali
mesmo, assistindo. — Você sabe que eu não sei valsar.
— Você foi perfeitamente bem no navio.
— Foi só uma vez, e foi cambaleante, por causa das ondas. — Ela explicou para a mãe dele.
Ela se voltou para o marido. — Não posso, Luke. Acabarei fazendo um papelão.
— Tolice! — Luke disse vivamente. — Tudo que você precisa fazer é confiar em si mesma. —
Ele deu uma olhada rápida no rosto dela e riu. — Oh, bem, cambalear será bom. Está tão lotado
que ninguém notará. E se o fizerem, vamos lançar uma moda. Venha, minha esposa, você jurou
me obedecer. Pelo menos finja fazer isso em público. — Ele tomou a mão dela e quase a arrastou
no chão, ignorando seus argumentos, provocando-a e rindo.
Lady Gosforth, vendo o rosto de Lady Ripton, cessou bruscamente o comentário que havia
começado a fazer.
— Oh, minha querida, o que foi?
O olhar de Lady Ripton estava fixo no seu filho e na esposa. Os olhos estavam cheios com
lágrimas.
— É a pequena garota espanhola? Ela te chateou? — Lady Gosforth começou.
Lady Ripton agitou a cabeça.
— Olhe para meu filho. — Ela sussurrou. — Olhe para ele, Maude.
Lady Gosforth ergueu seu lorgnette14 e perscrutou o filho de Lady Ripton.
— O quê? Parece melhor do que anos, se você me perguntar.
— Exatamente. Aquela garota espanhola... — Lady Ripton secou uma onda fresca de
lágrimas. — Olhe para ele, Maude – ele está rindo. Ele a está provocando. Ele está dançando.
Aquela garota querida devolveu meu filho. — Ela soluçou feliz.
— Minha querida, sim, entendo... — Lady Gosforth murmurou.

14
Nota da Revisora:

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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Todos os meninos voltaram mudados. Harry, Gabe e meu Rafe querido – você sabe bem a
escuridão que eles trouxeram da guerra.
— Todos tiveram demônios os perseguindo. — Lady Gosforth concordou. — Selvagens,
desesperados, todos eles.
— E Luke era o pior. Mas ao longo dos anos, eu assisti cada um daqueles meninos se
acomodar, apaixonar, ser… Feliz. Mas não o meu Luke, nunca o meu Luke. — Ela enxugou os
olhos. — E quando ele me disse que havia se casado com uma garota estrangeira quando tinha
apenas dezenove e ela treze… Claro que eu esperei o pior. Estava muito aflita com a coisa toda –
bem, você sabe sobre tudo isto. Mas olhe para eles, Maude. Apenas olhe para meu filho e aquela
menina maravilhosa.
Na pista, Isabella estava girando ligeiramente nos braços de Luke como se ela tivesse feito
isso a vida toda, olhando para o marido, a mão apertada contra o peito dele. E o filho alto e bonito
de Lady Ripton estava olhando para a menina espanhola com um olhar que trouxe mais lágrimas
frescas aos olhos de sua mãe.
— Ela o adora. — Lady Gosforth comentou.
— E ele a adora. — Lady Ripton soluçou. — A menina querida.

— Você iria me dizer algo. — Bella lembrou Luke na noite quando eles estavam se
preparando para a cama. O primeiro baile dela tinha sido mágico. Os amigos e parentes de Luke a
haviam dado as boas-vindas de braços abertos. Os homens dançaram com ela, as esposas a
ajudaram, a mãe de Luke abraçava Bella sempre que a via. Ela ainda se sentia como se estivesse
dançando.
— Olhe para isto! — Luke exclamou suavemente sob a respiração. Ele tinha acabado de
remover a camisa e, como era de hábito, perscrutou sob a bandagem de gaze que cobria seu
ferimento.
— Mostre-me. — Bella foi apressada.
Luke lentamente ergueu a bandagem. Com ela veio a crosta seca do ferimento. Embaixo
havia uma nova pele. Uma pele rosa, um pouco enrugada. Ele estava cicatrizado, sim, mas não
havia nenhuma sugestão de rosa em qualquer lugar para ser visto.
— Oh, Luke…
Ele a puxou e levou para a cama.

Muito mais tarde ela se mexeu nos braços dele, se esticando languidamente.
— Você ia me dizer algo.
— Hmm?

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**
Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Na carruagem. Você começou, mas fomos interrompidos. — Ela estava cheia de desejo de
ouvir as palavras dele.
Ele a puxou para perto e a rolou por sobre ele, nua, pele contra pele.
— Você quer todos os detalhes sórdidos, não é?
— Sim. — Ela beijou o peito dele. — Todos e cada um. — Ela pontuou cada palavra com um
beijo.
Ele pensou por um momento.
— Eu sou total e completamente bêbado por você.
Ela fez uma carranca.
— Bêbado? Isso não soa bem.
— Bêbado, louco, intoxicado. Apaixonado por você.
Ela o beijou novamente.
— Eu prefiro o último.
— Eu te amo, Isabella Mercedes Sanchez y Vaillant Ripton, com todo o meu coração e alma.
Você é a luz de minha vida. Quase literalmente. Você me salvou, sabe.
— De que?
— Da escuridão dentro de mim.
— Não era a sua escuridão, de qualquer maneira. — Ela beijou a antiga cicatriz da rosa. — E
agora se foi.
Ele a beijou longa e completamente e então disse:
— E?
— O que você quer dizer com “e”?
— Você não tem nada para me dizer?
— Mas você sabe que eu te amo. Eu te disse já há muito tempo.
— Uns dez dias atrás.
— Ha, então você se lembra.
— Eu tenho uma memória terrível. — Ele sorriu. — Diga-me novamente.
Ele estava tão faminto quanto ela pelas palavras, Bella viu. Ela o beijou, movendo-se mais
para baixo a cada palavra.
— Eu. Amo. Você. Luke. Ripton.
— Eu gosto da sua pontuação. Faça isto de novo.

Epílogo

— Você não se importa, minha querida?

** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis.
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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Não mesmo. — Bella assegurou a sogra. — Estou muito feliz por me casar com Luke
novamente. Fiz aquele primeiro juramento quando criança e realmente não entendia o que estava
prometendo. — E Luke imaginava que podia anulá-lo. — Jurar ao seu filho como adulto, com total
conhecimento do que estas promessas sagradas representam, me fará muito feliz.
— E, além disso, você se casou em uma igreja minúscula de aldeia sem família ou amigos. —
Lady Ripton cessou bruscamente. — Oh, minha querida, eu sinto muito. Eu não pensei.
Bella sorriu vagamente.
— Não importa. Eu não tenho família há muito tempo.
— Você não se importa com a igreja? A igreja de St. George em Hanover Square é a mais
elegante, e é onde todos os meus filhos foram batizados. Mas não é católica.
Bella sorriu.
— Eu não me importo. O meu pai era ateu e, enquanto a minha mãe era bastante religiosa,
eu fui formada em um convento… A Inquisição – a fé pelo medo? — Ela agitou a cabeça. — Não,
uma igreja é uma igreja. Não faz nenhuma diferença para mim.
— Excelente. Agora, coloque seu mantô. Ainda está um pouco frio aí fora. — Ela ajustou o
mantô de Bella e a inspecionou. — Isso, tão adorável. Que pena a sua mãe não poder – Não. — Ela
cessou bruscamente, tocando de leve os olhos dela. — Nós não choraremos e iremos ao seu
casamento com os olhos vermelhos.
Bella tocou as pérolas da mãe.
— Eu sei. A minha mãe estava na minha mente. Ela era cínica sobre o amor, mas no fundo
era uma romântica e amava casamentos. Ela teria adorado estar aqui. Ela ficaria muito feliz por
mim.
— Claro que ficaria, e estou certa de que ela está com você em espírito – oh, querida. — Ela
tocou de leve novamente os olhos dela. — Agora venha, nós não queremos nos atrasar. Quem te
levará ao altar?
— Eu não sei. Luke disse que organizou isto, mas não me disse.
— Será um dos meninos. — A mãe de Luke disse. — Gabe, Rafe ou Harry. São amigos
excelentes. Pronta?
Bella fez uma última inspeção em si mesma no espelho e anuiu com a cabeça. Ela caminhou
os degraus abaixo de braços dados com a sogra.
— Céus! — Lady Ripton exclamou. — Visitas? Nesta hora e em tal dia? Quem pode ter
admitido? Devemos mandar embora.
No corredor, Molly permanecia conversando com um casal de idade avançada, um homem
alto, de aparência distinta com cabelo cor de prata e uma barba branca e limpa, e uma senhora
pequena elegantemente vestida e de cabelo branco. Ela olhou para cima enquanto Bella descia e
segurou o braço do homem.
Os passos de Bella hesitaram. Aquela dama pequena… Não podia ser… A mãe dela com
cabelo branco?
Ela parou no último degrau, ofegante.

** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis.
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Anne Gracie
Cavaleiros Infernais - 05
Noiva por Engano

— Vejo que está usando as pérolas da sua mãe. — O homem disse com a voz profunda,
grossa.
Ela conhecia a voz.
— Vovô?
— Você está linda, Isabella! — A avó de Bella disse. — A imagem de sua mãe querida, tão
querida. — A voz dela rachou com emoção.
— Eu pensei que vocês estivessem mortos... — Bella sussurrou, abraçando eles.
— Oh, minha querida menina. — A avó dela abraçou-a firmemente.
— Pensamos o mesmo de você. — O avô dela disse com a voz rouca.
— Mas como… Como souberam? E me acharam justo hoje? — Bella perguntou quando eles
se recuperaram o suficiente para falar.
— Lorde Ripton nos procurou. — O avô de Bella disse. — Disse que achou que eu poderia
gostar de entrar na igreja com a noiva.
— Oh, sim, por favor. — Bella chorou e os abraçou novamente.

Foi um casamento lindo, Bella estava certa. Muito mais bonito do que a primeira vez em que
ela havia se casado com Luke Ripton. Havia flores, convidados com roupas elegantes e boa música.
Mas, ela não se lembrava muito de nada. Ela estava muito cheia de felicidade para notar
qualquer coisa. Qualquer coisa exceto a chama de amor nos olhos de seu marido enquanto ela
subia ao altar em direção a ele.
— O amor não é dor, mamãe. — Ela sussurrou. — É alegria.

Fim

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