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© Carolyn Connor
ESPOSA POR ENCOMENDA
© 2 02 1 ROMANCE GROUP EDITORIAL
Tradução e Revisão: Vanessa Rodrigues Thiago
© Rosângela Mazurok Vieira
© Editora: Teresa Cabañ as
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Epílogo
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Capítulo 1
B oston, 1 8 5 1
ser descoberta.
N aomi precisava ter cuidado para não
Sabia que estava arriscando muito, mas agora não havia como voltar
atrás. Se o seu pai se levantasse mais cedo e a pegasse fora da cama,
descalça, de camisola e desgrenhada, o castigo seria pior do que o normal.
Mas Naomi não tinha outra escolha. Se quisesse pegar o jornal antes
que ele acordasse, tinha que fazer isso agora ou todos os seus planos iriam
por água abaixo.
Apesar das pernas tremerem de medo, ela se endireitou e continuou
descendo a escada resolutamente. Sua casa não era muito luxuosa, mas
estava localizada em uma parte respeitável de Boston, e ela e seu pai viviam
sem escassez, embora sem muito luxo.
Na verdade, a pedido de seu pai, Naomi havia se tornado uma
especialista em parecer o que na realidade já não eram, já que os recursos
de seu pai haviam diminuído consideravelmente desde a morte de sua mãe.
Uma vez no patamar de sua casa, fechou os olhos para ouvir com
atenção. Com as costas pressionadas contra a parede, Naomi acalmou a
respiração e tentou se concentrar.
O tempo estava se esgotando.
Ainda não tinha ouvido a porta do quarto do pai abrir, então, se
tudo corresse bem, teria tempo de pegar o jornal e pegar a página que
ela tanto queria revisar.
Seu coração deu um pulo quando ouviu um baque vindo de algum
lugar da casa. Por um segundo, sua respiração parou por acreditar que havia
sido descoberta.
Assustada, ficou paralisada, tentando ouvir outra coisa que lhe diria
se seus piores medos fossem verdadeiros. Mas depois de alguns segundos
se passarem e não ouvir mais nada, acreditou que havia imaginado o
barulho e continuou seu caminho silencioso em direção à porta da frente.
Em apenas alguns segundos, Naomi chegou ao seu destino e
furtivamente conseguiu abrir a porta da frente, pegar o jornal e fechá-la
novamente. Por um segundo, o alívio que sentiu afastou seu medo e ela
se permitiu o luxo do alívio. Uma das partes mais difíceis de seu plano já
estava feita e agora ele só tinha que encontrar o que estava procurando e
sair o mais rápido possível.
Um arrepio percorreu sua espinha, fazendo suas mãos tremerem
enquanto se ajoelhava no chão depois de desdobrar o jornal. Seus olhos
examinaram a tinta fresca, inalando o doce perfume.
O jornal chegou três minutos depois do esperado. Isso significava
três minutos a menos para ela localizar o que estava procurando.
Olhou para os dois lados do corredor apenas para se certificar de
que ainda estava sozinha. Ninguém mais havia se levantado ainda.
Naomi sorriu e começou a olhar as publicações.
Não teve tempo de ler tudo, é claro, então teria que se concentrar
nos anú ncios. Mas onde no jornal eles estavam? Viu anú ncios de
corridas de cavalos, artigos sobre greves, anú ncios de casamento e...
encontrou.
A seção de anú ncios de noiva por correspondência.
Seus olhos percorreram a página avidamente, certificando-se de que
havia encontrado. No entanto, antes que pudesse começar, ouviu um
espirro.
Era seu pai. Tinha certeza.
Seu coração saltou na garganta. Não teve tempo de ler o resto da
página, muito menos de memorizar o que a interessava. Com o jornal nas
mãos, uma ideia lhe ocorreu. Sem pensar nas consequências se fosse
descoberta, ela rasgou completamente a página do jornal.
O barulho da porta de seu pai assegurou-lhe que seu tempo estava se
esgotando.
Naomi prendeu a respiração ao dobrar rapidamente a publicação,
tentando fazer com que parecesse que ninguém o havia tocado. Estava um
pouco enrugado com o manuseio, isso não havia como evitar.
Sem muito tempo para fazer mais nada, ela se levantou,
enfiando a página que roubara discretamente sob as saias.
— Naomi? — A voz rouca inconfundível de seu pai lhe disse que
seu tempo havia acabado.
Quieta, ao lado da porta da frente, Naomi ouvia enquanto seu pai
descia as escadas, enquanto ela tentava criar uma desculpa. Tinha que
pensar em algo que explicasse o que fazia naquele lugar, e desgrenhada
como estava, caso contrário, seu pai suspeitaria. E isso era algo que nunca
poderia acontecer ou seria impossível que seus planos fossem cumpridos.
O medo da discussão iminente a fez soluçar, quando ela olhou para
cima. Por alguma razão desconhecida, confrontar seu pai sempre a fazia
soluçar, o que fazia com que seu pai se irritasse com ela.
Mas, por mais que Naomi tentasse, não conseguia evitar, assim
como não conseguia evitar que suas mãos suassem naquele momento.
Quando seu pai, o senhor Thomas Parrys, parou diante dela com um
olhar desconfiado, Naomi soube que o momento da verdade havia
chegado.
Dando um passo para trás, esperava que ele não percebesse o quão
perto ela estava do jornal, mas acima de tudo, não queria que ele
descobrisse que ela estava escondendo uma página inteira entre as saias.
— Bom dia, pai — disse ela, tentando soar casual.
Ela estava preocupada em confessar suas ações se dissesse mais
alguma coisa, já que nunca fora uma boa mentirosa.
Os olhos de seu pai varreram seu rosto e a porta da frente. Ela fez o
possível para controlar os batimentos cardíacos, esperando que ele não
notasse nada. Mas então seu olhar caiu sobre o jornal e ela prendeu a
respiração.
Era apenas o jornal. Um inocente papel dobrado.
— O que você está fazendo acordada tão cedo? — Ele perguntou
com uma carranca.
— Eu estava... estava indo para a cozinha pegar um copo d'
água quando... ouvi o entregador de jornais deixá-lo na porta — ela
gaguejou ansiosa, esfregando as mãos. — Então, como vê, eu, a porta, eu
fui e ...
Seu pai cerrou os punhos e firmou seu olhar.
— Quer dizer que você abriu a porta nessas condições? — Sua voz
ficava mais áspera com cada palavra.
Naomi piscou indecisa. Tinha que pensar em algo e logo.
— Oh, eu não, eu fui cuidadosa e ninguém me viu.
Dando um passo à frente, ele a olhou com um olhar frio que a
assegurou de que seu pai estava furioso com ela. De novo.
— Naomi! Já disse centenas de vezes que você deve se comportar
como uma dama. Você quer me expor na frente dos vizinhos?
— Não, pai — respondeu Naomi, abaixando a cabeça. Ela já tinha
ouvido aquela reprimenda antes e sabia o que a esperava.
O Sr. Parrys se aproximou dela, fazendo Naomi se inclinar mais
perto da parede, rezando para que a página do jornal que ela mantinha entre
as saias não caísse aos seus pés.
— Estou cansado de ter que repetir as mesmas coisas para você mil
vezes. Assim que me casar com a Sra. Fuller, pedirei para que ela cuide de
educá-la adequadamente. Quero que você seja uma dama como as filhas
dela e ponha de lado as bobagens que sua mãe lhe ensinou.
— Mas não são bobagens. — Naomi reuniu a pouca força que
tinha enquanto sua voz tremia. — Minha mãe me ensinou a
pensar por mim mesma e não me contentar em ser simplesmente uma
esposa complacente.
A fú ria no olhar do pai se tornou mais do que evidente ao ouvi-la.
— E é por isso que ela acabou morta. Nenhuma mulher deve estar
acima do marido. Se sua mãe tivesse entendido e ficado em sua casa, como
uma boa esposa, não teria se matado naquele acidente estú pido.
A dor que sentia ao ouvir o pai a fazia chorar, pois desde a morte da
mãe nada mais era o mesmo em casa. Seu pai carinhoso havia se
transformado em um monstro que parecia culpá-la por tudo, tornando a
atmosfera de sua casa insuportável.
Mas o que mais doía foi saber que, naquele dia fatídico, sua mãe
havia saído em seu lugar para fazer um pedido.
Se ela não tivesse recusado, ou se ela simplesmente a tivesse
acompanhado, talvez o fatídico acidente não tivesse acontecido.
Por isso entendia que seu pai a culpava pela morte de sua esposa e
teria deixado de amá-la. Afinal, ela se sentia culpada pelo que havia
acontecido. Ainda mais quando seu pai a olhava com desprezo.
— Eu sou seu pai e sei o que é melhor para você. Enquanto você
estiver sob meu teto, cumprirá minhas ordens. Agora volte para o seu
quarto e não desça novamente até que esteja apresentável.
Naomi soluçou e enxugou as lágrimas com a mão. Ela não gostava
de chorar, mas não conseguia evitar cada vez que ouvia o pai falar com ela
usando palavras tão duras.
— Sim, p... pai.
Quando ele não se moveu, ela percebeu que estava esperando que
fizesse algo. Lambeu os lábios ansiosamente, sabendo que ainda havia um
pedaço de papel dobrado de qualquer jeito entre suas saias. Se ela se
movesse de uma forma errada, poderia cair.
Respirou fundo, tentou endurecer o corpo e cercou seu pai passo a
passo.
Ela manteve o olhar abaixado, tentando não o perturbar ainda mais.
Cuidadosa e silenciosamente, começou a se dirigir para as escadas. Ela não
sabia como poderia subir sem deixar cair o jornal e também não sabia o
que mais poderia fazer para evitar enfurecer ainda mais seu pai.
Felizmente o papel não caiu, e quando percebeu, seu pai já tinha
saído. Só então ela parou de prender a respiração e se abaixou para
recolher o papel que estava escondido entre suas saias.
Só depois de pegá-lo e chegar ao quarto, conseguiu respirar
normalmente de novo.
Encostada na porta do quarto, com uma das mãos ainda na
maçaneta, Naomi soltou um suspiro. Tinha conseguido.
Ainda assim, Naomi levou mais um minuto para reunir coragem
para se mover novamente. Respirou fundo e correu para a cama. Uma vez
na colcha macia, Naomi se atreveu a olhar para o papel que pegara. Estava
um pouco enrugado e um dos cantos rasgado, mas ainda legível.
Um sorriso apareceu em seu rosto, pois não pô de evitar. Ela
avidamente leu cada palavra na seção que tinha sido tão difícil de
roubar.
— Noiva, noiva, noiva...
De repente, encontrou o que procurava. Naomi cobriu a boca com
uma das mãos enquanto olhava atentamente. Movendo-se na colcha, ela
torceu o nariz e se concentrou nas palavras.
Havia um homem. Seu nome era John May e ele estava procurando
uma esposa para se juntar a ele em seu rancho em Oklahoma. No oeste,
onde não havia muita gente e não havia muito o que fazer além de ser
fazendeiro ou rancheiro. Mas um terreno aberto para construir uma vida.
Sua esposa não precisava de muitos talentos ou habilidades para
estar lá, além do básico. O principal era que ele queria uma esposa educada
na esperança de poder papear no crepú sculo ou em frente à lareira, após
um árduo dia de trabalho.
Uma visão que empolgou Naomi, porque ela ansiava acima de tudo
por um companheiro que respeitasse suas opiniões e a visse como
pessoa. Se o trabalho era árduo e a terra árida, isso não importava para ela.
Não sabia por que, mas Naomi não conseguia parar de olhar aquele
anú ncio. Aquele homem estava procurando não só uma esposa, mas uma
companheira, e isso era algo que ela não conseguia esquecer.
Seu coração batia forte no peito quando ela leu o anú ncio
novamente. Cada palavra parecia mú sica em seus ouvidos, de uma forma
que não poderia sonhar em colocar em palavras. Como se as palavras
dançassem nas páginas com uma melodia que só ela entendia.
Quando ela não teve escolha a não ser se preparar e sair do quarto, a
lembrança do anú ncio a distraiu durante grande parte da manhã. Não
conseguia parar de pensar no que a resposta poderia envolver. Como sua
vida mudaria.
Ao cair da noite, a antecipação era muito plausível para mantê-la
calma.
A ideia de escapar para um novo mundo parecia boa demais para ser
verdade, embora soubesse que também representava um perigo
considerável. Mas havia uma sensação de queimação em seu coração
que lhe dizia que precisava tentar.
Precisou de toda a sua força de vontade para esperar até depois do
jantar, para voltar ao quarto e responder à carta. Só então teve privacidade e
tempo para escrever ao Sr. John May e expressar-lhe tudo o que seu
coração ansiava.
planícies de Oklahoma.
N ão havia nada como o ar fresco das
Querida Naomi,
Tenho certeza de que você achará estranho eu lhe dar essa
quantia de dinheiro. Mas eu tenho um motivo.
Estava pensando na sua viagem e no que teria que enfrentar
quando chegar. O oeste é uma terra assustadora, distante e, claro,
pode ser perigosa, mas também pode ser maravilhosa.
Como você pode ver, estou convencida de que acabará indo
para aquele lugar. E tenho certeza de que será feliz, mas eu não
ficaria calma se não lhe desse uma saída para o caso de as coisas
não correrem tão bem.
Esse dinheiro lhe proporcionará estabilidade e
independência. Com ele, você pode retornar a Boston ou se
estabelecer por conta própria no Oeste, se as coisas não derem
certo. Agora a decisão é sua, não de um estranho.
Este dinheiro teria que ser dado a você por seu pai, mas sei
que ele nunca faria isso por você, então imploro que aceite em meu
nome.
Seja feliz, minha garotinha. Você merece.
Eu lhe desejo o melhor.
Regina
Algo lhe disse que John estava lá dentro e queria perguntar se ele
lhe mostraria o rancho como havia prometido no dia anterior.
Assim que entrou na construção, Naomi engasgou ao observar uma
égua de pelagem branca mastigando feno. Ela se aproximou lentamente e
passou as mãos pelas costas do cavalo.
— Essa é Aury — disse John. — Ela tem dois anos e pode correr
como o vento. Tem uma estrutura muito delgada.
— Oi, Aury — Naomi a chamou. Ela se moveu para mais perto e
deu um tapinha no rosto e pescoço de Aury. — Tenho um palpite que
seremos grandes amigas.
O cavalo a empurrou e então pareceu assentir.
— Tenho a sensação de que você pode me entender, garota. Talvez
não as palavras, mas você me entende, certo? Você entende que é muito
bonita. — Aury assentiu novamente.
John olhou para as duas beldades e sorriu. O cavalo realmente
parecia estar respondendo a Naomi. Era como se as
duas tivessem se conectado e ele queria experimentar a mesma coisa.
Ainda mais quando viu como Naomi passou a mão pelo corpo do
cavalo. Assim que viu, sentiu um arrepio por todo o corpo e teve que
desviar o olhar para se acalmar.
— Você parece estar em boa forma. — Naomi comentou, sem
perceber a emoção de John em vê-la, e deu-lhe outro tapinha.
— Pode estar um pouco acima do peso.
John respirou fundo e respondeu a ela, antes que Naomi percebesse
como ele a fazia se sentir.
— Sim. Ela não tem ninguém que a monte, então, tem relaxado e
se alimentado. Precisa de alguém para ajudá-la a fazer exercícios regulares.
Tinha certeza de que Naomi entenderia a dica e faria de Aury sua
montaria, e foi assim, pois ela não demorou dois segundos para perguntar.
— Você se importa se eu a montar agora e cuidar dela de agora em
diante?
— Não, em absoluto. Também selarei meu cavalo e daremos uma
volta pelo rancho.
Sem a ajuda de ninguém para provar que não era uma dama indefesa
da cidade, Naomi rapidamente selou Aury e a conduziu para fora do celeiro,
para a luz do sol.
A égua parecia confortável com a sela e tão ansiosa quanto ela para
começar a cavalgada.
Enfiou a bota no estribo e subiu no dorso do cavalo, exibindo um
sorriso que poderia ter ofuscado o sol.
John também tinha acabado de selar seu cavalo, um garanhão preto
e branco, e subiu em sua sela, ainda olhando para Naomi.
Ela parecia muito feliz naquela manhã e não conseguia parar de
pensar se era porque estava cavalgando de novo, porque estava ao seu lado
ou simplesmente porque gostava da vida no rancho.
Embora realmente não quisesse saber a causa daquele sorriso
radiante, no caso de Aury receber mais crédito do que ele.
Determinado a mostrar que poderia ser uma excelente companhia,
ele esporeou o cavalo, virou-o para a direita e se dirigiu para o pasto.
Por um momento, eles cavalgaram em silêncio, mas não
incomodados. Ficaram lado a lado curtindo o sol e a paisagem, mas
principalmente a companhia.
Naomi sorria para ele e John sorria de volta.
De repente, ele se lembrou de ter cuidado e ir devagar com essa
mulher, para se certificar de que não partiria seu coração ou roubaria seu
rancho. Afinal, ela era uma estranha e precisava ter cuidado.
Foi então que ele a ouviu suspirar e soube que ela havia notado a
mudança, como ele estava agora mais distante.
Sabia que ela queria afeto, como a maioria das mulheres, e que
esperava que isso viesse com o tempo. Mas poderia se abrir com ela sem
sofrer por isso?
Tinha visto como alguns homens olharam para ela quando jantaram
na noite anterior, e sabia o que uma mulher bonita como ela poderia fazer à
mente de um homem. Isso poderia consumi-lo
com ciú me ou desejo, transformando-o no tipo de pessoa que ele não
queria ser.
Também poderia prometer a ela um amor que nunca viria, ou talvez
ela pudesse se cansar da dura vida no rancho e querer voltar ao conforto da
cidade.
Quando escreveu aquele anú ncio no jornal à procura de uma esposa,
nunca teria imaginado que acabaria com tantas dú vidas. Mas naquela época
não esperava que uma mulher como Naomi respondesse, capaz de deixar
um homem louco com apenas um olhar.
Ainda mais para um homem solitário que mal conhecia mulheres e
que apenas ansiava por um lar.
Imerso nesses pensamentos, chegaram a uma ramificação do
pasto, onde um grande nú mero de árvores era abundante. John conduziu o
cavalo até um riacho próximo, onde a água fria e clara mataria a sede dos
animais.
Naomi olhou ao redor, maravilhada com tudo o que viu. Sua cabeça
girava sem querer perder um só detalhe, indo dos olmos aos choupos
amarelos que os abrigavam.
John permaneceu em silêncio, deixando-a absorver a tranquilidade
que reinava ali. Ele sabia muito bem o que ela estava sentindo, porque cada
vez que ia àquele lugar, seu interior estremecia de alegria e uma paz
profunda tomava conta de seu coração.
O som do riacho, da leve brisa que agitava os galhos amarelos e
marrons das árvores, ou o chilrear de algum pássaro que reclamava seu
pedaço do céu, harmonizava-se perfeitamente
com Naomi montada em Aury, formando um quadro que John adorou. Foi
difícil parar de olhar.
Um minuto depois, parecia que algo havia despertado Naomi.
Agilmente ela desceu da égua e então a acariciou, e após a aprovação de
Aury a conduziu para o riacho ao lado do cavalo de John.
Alheia à admiração que havia despertado no noivo, ela se
aproximou dele sorrindo.
— Você disse que herdou este rancho de seu pai.
— Sim, meu pai comprou este lugar há mais de cinquenta anos. Era
muito menor quando o comprou, mas ao longo dos anos tenho acrescentado
mais terras e mais gado. Agora, o Rancho May é um dos maiores da
região.
— Você fez um bom trabalho. Sei que administrar um rancho não
deve ser fácil.
— Não, não é — John balançou a cabeça. — Sempre há uma
centena de coisas para fazer e pouco tempo para isso. Aqui é normal
acordar antes do nascer do sol e ir para a cama muito tempo depois de
escurecer. Mas o resultado vale a pena se você gosta desse tipo de vida.
— Tenho certeza que sim.
A resposta dela o surpreendeu e agradou na mesma medida,
esperando que ela acabasse aceitando isso para si. Acima de tudo, queria
deixar seus medos para trás e ousar se aproximar dela.
— Um homem gosta de saber que possui uma terra que é tão difícil
para manter e que pode perdê-la facilmente. Ainda mais se pretende
construir um futuro com isso.
Assim que ele terminou de falar, olhou para Naomi, para
deixar suas intenções claras. Ele não tinha certeza se ela havia entendido
sua dica, mas esperava que aos poucos ela lhe mostrasse o que pensava.
Mas Naomi apenas acenou com a cabeça.
— Minha mãe sempre me disse que cada pessoa tem o direito
de buscar a sua felicidade. Não importa onde você está ou como pode obtê-
la. O importante é encontrar algo que te faça feliz e nunca desistir.
— É um pensamento muito bonito — respondeu John, embora sua
resposta não tivesse esclarecido seus temores.
— Gostaria de conhecer essa comunidade em profundidade. O que
me lembra que Meli me falou sobre as reuniões da igreja aos domingos e
como é a melhor maneira de conhecer a todos.
— Você gostaria de ir? — A pergunta era importante, pois poderia
dizer a ele se Naomi estava realmente interessada em fazer parte daquela
comunidade e, portanto, de sua vida.
— Eu adoraria.
Assim que John ouviu a resposta, um sorriso se formou e mudou
todo o seu rosto, tornando-o mais jovem e atraente. Sabia que era um
pequeno sinal das intenções de Naomi, mas era um começo.
Isso deu a ele a oportunidade de confiar mais nela e acreditar que
eles acabariam se dando bem e se casando.
Uma ideia de que gostou e que pela primeira vez desde que a viu
pessoalmente, acreditou que fosse possível.
— O reverendo Scott começa o serviço religioso às dez e meia.
Portanto, precisaríamos sair às nove e meia para chegar a
tempo. Assim que chegarmos, vou apresentá-la a algumas pessoas da
cidade. É normal cumprimentar conhecidos e amigos antes e depois do
culto. Além disso, tenho certeza de que todos estarão ansiosos para
conhecê-la.
— Eu adoraria encontrar seus amigos, e se em Valley Grave, as
pessoas têm a metade da curiosidade que tem as de Boston, estou
convencida de que no domingo todos terão ouvido falar de mim e vão
querer saber quem eu sou.
— Você pode ter certeza disso. Não acho que a curiosidade varie
muito de Boston para cá. Posso até garantir que o vencemos por ser uma
cidade pequena.
Os dois sorriram até que John falou novamente.
— Na minha opinião, acho que já pode ter algumas amigas. E você
mal chegou.
O sorriso voltou ao rosto de Naomi quando ela se lembrou de Meli e
Maggie.
— Tem razão. No momento, as pessoas em Valley Grave estão
sendo muito simpáticas. — Com um suspiro, ela admitiu: — Eu estava
com medo de ser mal-recebida por seu irmão e pelas pessoas deste lugar.
Mas eu percebi que são pessoas muito humildes e amáveis.
— A maioria deles é e eu acho que você vai se encaixar muito bem.
E quanto a Jason... você tem que dar a ele um pouco de tempo. Está
acostumado a sermos apenas nós dois e vai ter dificuldade em se acostumar
com você. Principalmente por ser mulher.
— Eu entendo. E garanto que farei tudo ao meu alcance para
agradá-lo.
— Estou convencido disso — respondeu ele, querendo se
aproximar dela e perguntar se também pretendia conquistar seu amor aos
poucos.
Antes que sua imaginação começasse a correr solta, John decidiu
que os cavalos haviam descansado o suficiente e era hora de continuar sua
jornada.
Não demorou muito para eles voltarem para a sela e começarem a
andar. John não sabia o que perguntar ou dizer, já que estaria fazendo
um interrogatório, mas não queria incomodá-la.
Estavam andando lado a lado enquanto ele observava a alegria de
Naomi com tudo o que estava vendo. Para ela, tudo isso devia ser novo, e a
admiração que sentia pela natureza era mais do que evidente.
Só então lhe ocorreu um tópico neutro de conversa e um que ela
também apreciaria.
— Naomi, você pode fazer o que quiser com a casa, decoração e
coisas assim. Eu sei que as mulheres gostam de dar seu toque.
— Você não se importaria? — Naomi perguntou a ele porque
embora ela tivesse chegado com a intenção de se casar com ele, ainda não
haviam combinado nada.
— Claro que não. Você pode pegar algumas flores para decorar ou
comprar cortinas e outras coisas.
— Obrigada, John — ela disse deliciada. — Talvez adicione
algumas cores à casa. Nada em grande escala, apenas alguns detalhes. Não
quero que Jason se sinta desconfortável com as mudanças e haverá tempo
para fazer algo mais tarde.
— Parece perfeito. E Naomi... obrigada por pensar no meu
irmão.
O olhar de gratidão de John assegurou a Naomi que ele
havia gostado de seu gesto. Isso a encorajou a alargar seu sorriso ainda mais
e se perguntar se seria tão fácil ganhar a confiança e o coração daquele
homem.
— Você não tem que me agradecer. Ele também faz parte da
família e gostaria que me aceitasse.
“ E eu, você também busca minha aprovação?” , John gostaria de
perguntar, mas não ousou.
Ainda havia um longo caminho a percorrer entre eles e preferia ir
devagar para não estragar nada.
Estava ciente de que Naomi estava começando a se infiltrar em sua
alma e não queria perder nenhuma chance de conquistá-la.
Capítulo 1
T inha acabado
quando John descobriu Naomi com os cavalos.
de entrar no celeiro
O
percebeu a passagem do tempo.
domingo chegou e Naomi mal
Tinha pensado que aquela seria sua nova casa, mas depois do que
acontecera no dia anterior, isso não seria mais possível. Olhou para as
montanhas ao longe, os campos cobertos de grama e geada, e desejou que
tudo tivesse acontecido de forma diferente.
Um arrependimento profundo a fez fechar os olhos, arrependida de
ter respondido aquela carta que abria a oportunidade de uma nova vida.
Agora percebia o quão tola tinha sido por acreditar naqueles sonhos,
e se perguntou se seu pai estava certo em negar a ela os livros que haviam
cultivado sua imaginação.
Pensar em sua antiga casa deu-lhe um calafrio, e quando abriu os
olhos novamente e viu o quarto, percebeu que seria muito mais difícil para
ela deixar o rancho do que fora sair de casa.
Mesmo assim, sabia o que tinha que fazer, pois continuava
convencida de que não poderia se casar com um homem que não
acreditasse cem por cento nela.
Resignada a recomeçar, ela pegou sua mala com tudo o que
precisava para passar alguns dias. Teria gostado de sair com todos
os seus pertences, mas seria impossível carregar seu pesado baú quando
tudo que ela sabia era que pegaria o primeiro trem não importando
aonde ele a levasse.
Tentando não fazer barulho, desceu as escadas, não querendo
encontrar John ou Jason.
No dia anterior fora dito o suficiente e ela não estava preparada para
outro confronto.
Com cautela foi até a porta, mas antes de abri-la não pô de deixar de
dar uma ú ltima olhada na casa.
— Então você está indo embora? — A voz de Jason nas sombras a
assustou e ela quase gritou.
— Jason — ela respondeu surpresa e com uma mão no peito para
tentar acalmar o batimento cardíaco.
— Achei que você gostasse deste lugar e que apreciasse meu irmão.
Ao ouvi-lo, Naomi recuperou sua raiva e ergueu a cabeça para
encará-lo. Jason deu alguns passos para fora das sombras e parou alguns
metros à frente dela.
Havia cansaço em seus olhos, então Naomi soube que ele também
não tinha dormido naquela noite.
— Como me sinto sobre este lugar ou seu irmão não é da sua
conta.
— Você está errada. Eu me preocupo com ele.
— É por isso que você tenta deixá-lo infeliz. Tenta sabotar seus
desejos.
— Não. Eu só queria... — Jason passou a mão pelo cabelo
despenteado e abaixou a cabeça. — Ele é a ú nica coisa que me resta no
mundo e não quero vê-lo sofrer.
— Você realmente acha que era isso que eu estava tentando?
— Não a conheço. Não sei o que você procura nele.
— Então você não acha que teria sido melhor se você tentasse me
conhecer, ao invés de fugir de mim e imaginar falsas acusações.
Por um momento, Jason ficou em silêncio, até que ergueu a cabeça e
olhou para o rosto dela.
— Eu admito que estava errado em não querer saber nada sobre
você. Mas não entendo o que alguém como você procuraria em um lugar
como este.
— Amor, uma casa, um novo começo. É tão impossível para você
entender que uma mulher olhe para a frente e busque o que quer?
Jason estava envergonhado agora, embora desta vez ele não tenha
abaixado a cabeça.
— Desde a morte dos meus pais algo se partiu em mim. Desde
então me sinto perdido. Talvez seja por isso que é difícil imaginar alguém
assumindo o controle de sua vida e procurar uma saída. Ainda mais se é
uma mulher tão bonita que pode escolher entre muitas ofertas.
Naomi percebeu que havia julgado Jason severamente. Em frente a
ela não havia o homem arrogante que a julgava por despeito ou antipatia,
mas alguém que se sente perdido e se apegava à ú nica coisa que lhe
restava.
— A vida de uma mulher não é fácil. Não importa sua aparência
física ou o lugar onde nasceu. Tive a sorte de nascer com
bom senso e pensar por mim mesma. Um defeito que poucos homens
aceitam, mas que seu irmão admira em mim.
— É por isso que você o escolheu?
— Por isso e porque Oklahoma me ofereceu a liberdade pela qual
ansiava.
— Me desculpe por ter te julgado mal — disse ele com remorso.
— Sinto muito não termos tido essa conversa antes.
Quando Naomi se virou para sair, Jason a parou novamente.
— Você ainda está planejando ir embora?
— Nada mudou — afirmou ela, enquanto abria a porta e o frio da
manhã atingiu seu rosto.
— Mas ele a ama. Ele hesitou apenas em alguns dos meus
comentários, mas quer que você seja sua esposa.
Naomi teve que fechar os olhos para tentar se conter, embora não
conseguisse evitar que as lágrimas escorressem pelo seu rosto.
— Não é tão simples — mal conseguiu dizer quando sua voz
falhou.
— Sim é. Você tem sentimentos por ele e ele por você, do que mais
você precisa?
Por um momento ela ficou pensando que era o que queria. Viera
para Valley Grave em busca de um lar e, eventualmente, de afeto. Mas
depois de conhecer John e sentir como ele tremia ao seu lado, ela não podia
esperar nada além do amor.
Percebeu que sentia algo mais intenso por John do que esperava,
porque a ideia de perdê-lo era a coisa mais dolorosa que já sentira.
Por isso ela sabia que seria impossível estar ao seu lado todos os
dias duvidando se ele sentia algo por ela, ou pensando que ela estivesse ali
só por interesse.
Embora fosse pior pensar que estava satisfeito com ela por sua
beleza e por querer ter alguém para cuidar da casa, apesar de acreditar que
só estava com ele por interesse.
Ela não queria uma vida apenas por interesse. Não quando tocou o
amor com os dedos e o toque foi delicioso.
— Preciso de amor.
E sem mais demora, Naomi saiu, fechando a porta e deixando seu
coração para trás.
Mas Jason não ia deixar as coisas assim. Não sabia o que o fez
esperar a noite toda nas sombras, mas quando a viu descendo as escadas,
algo mudou nele.
A noite toda ele tinha pensado em Naomi, John e em si
mesmo. No passado, presente e futuro. Em tudo o que foi dito e na dor que
viu em seus olhos.
Tinha ficado confuso, até que nas sombras da manhã ele olhou em
seu rosto e contemplou sua dor.
Então tudo ficou muito claro. Esta mulher era a esposa que seu
irmão queria e com suas dú vidas e frustrações ele conseguiu assustá-la,
mas foi conversando com Naomi que entendeu que amava John e que ele
havia arruinado a felicidade de seu irmão.
Um erro que tinha que consertar, se quisesse que seu irmão não se
tornasse um homem amargo como ele. Frustrado por uma vida que parecia
vazia e que agora, percebia, precisava mudar.
Algo nele começava a se forjar, mas agora o principal era que seu
irmão reconquistasse a mulher que amava e que, por sua
causa, quase perdera.
Ela sabia que John havia passado a noite inteira bebendo no
alojamento dos funcionários e que, se não o acordasse para impedir Naomi,
nunca o perdoaria.
Ouviu o casco de um cavalo galopando e soube que Naomi havia
partido. Pelo que lhe disse, ele tinha uma ideia de seu destino, assim como
sabia o que fazer.
O tempo era essencial se quisesse que todo esse mal- entendido
fosse corrigido, então não poderia perder mais minutos pensando.
Determinado, colocou o chapéu e saiu em busca de John.
O momento da verdade havia chegado e faria com que seu irmão
tivesse a chance de chegar na hora.
Capítulo 1
N ão demorou
John dormindo vestido em uma das camas.
muito para encontrar
D ez dias depois.
O sol
trazendo com ele bons presságios.
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