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1ª Edição de fevereiro de 2 02 1

© Carolyn Connor
ESPOSA POR ENCOMENDA
© 2 02 1 ROMANCE GROUP EDITORIAL
Tradução e Revisão: Vanessa Rodrigues Thiago
© Rosângela Mazurok Vieira
© Editora: Teresa Cabañ as

Todos os direitos reservados. Pelas sanções estabelecidas na


legislação, é expressamente proibida, sem autorização por escrito do
copyright, a reprodução total ou parcial desta obra por qualquer meio ou
procedimento, bem como sua locação ou empréstimo pú blico.
Obrigado por adq uirir este e- book .
D edicado à quelas mulheres que buscam um novo começo.
Í ndice

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Epílogo
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Capítulo 1

B oston, 1 8 5 1

ser descoberta.
N aomi precisava ter cuidado para não

Sabia que estava arriscando muito, mas agora não havia como voltar
atrás. Se o seu pai se levantasse mais cedo e a pegasse fora da cama,
descalça, de camisola e desgrenhada, o castigo seria pior do que o normal.
Mas Naomi não tinha outra escolha. Se quisesse pegar o jornal antes
que ele acordasse, tinha que fazer isso agora ou todos os seus planos iriam
por água abaixo.
Apesar das pernas tremerem de medo, ela se endireitou e continuou
descendo a escada resolutamente. Sua casa não era muito luxuosa, mas
estava localizada em uma parte respeitável de Boston, e ela e seu pai viviam
sem escassez, embora sem muito luxo.
Na verdade, a pedido de seu pai, Naomi havia se tornado uma
especialista em parecer o que na realidade já não eram, já que os recursos
de seu pai haviam diminuído consideravelmente desde a morte de sua mãe.
Uma vez no patamar de sua casa, fechou os olhos para ouvir com
atenção. Com as costas pressionadas contra a parede, Naomi acalmou a
respiração e tentou se concentrar.
O tempo estava se esgotando.
Ainda não tinha ouvido a porta do quarto do pai abrir, então, se
tudo corresse bem, teria tempo de pegar o jornal e pegar a página que
ela tanto queria revisar.
Seu coração deu um pulo quando ouviu um baque vindo de algum
lugar da casa. Por um segundo, sua respiração parou por acreditar que havia
sido descoberta.
Assustada, ficou paralisada, tentando ouvir outra coisa que lhe diria
se seus piores medos fossem verdadeiros. Mas depois de alguns segundos
se passarem e não ouvir mais nada, acreditou que havia imaginado o
barulho e continuou seu caminho silencioso em direção à porta da frente.
Em apenas alguns segundos, Naomi chegou ao seu destino e
furtivamente conseguiu abrir a porta da frente, pegar o jornal e fechá-la
novamente. Por um segundo, o alívio que sentiu afastou seu medo e ela
se permitiu o luxo do alívio. Uma das partes mais difíceis de seu plano já
estava feita e agora ele só tinha que encontrar o que estava procurando e
sair o mais rápido possível.
Um arrepio percorreu sua espinha, fazendo suas mãos tremerem
enquanto se ajoelhava no chão depois de desdobrar o jornal. Seus olhos
examinaram a tinta fresca, inalando o doce perfume.
O jornal chegou três minutos depois do esperado. Isso significava
três minutos a menos para ela localizar o que estava procurando.
Olhou para os dois lados do corredor apenas para se certificar de
que ainda estava sozinha. Ninguém mais havia se levantado ainda.
Naomi sorriu e começou a olhar as publicações.
Não teve tempo de ler tudo, é claro, então teria que se concentrar
nos anú ncios. Mas onde no jornal eles estavam? Viu anú ncios de
corridas de cavalos, artigos sobre greves, anú ncios de casamento e...
encontrou.
A seção de anú ncios de noiva por correspondência.
Seus olhos percorreram a página avidamente, certificando-se de que
havia encontrado. No entanto, antes que pudesse começar, ouviu um
espirro.
Era seu pai. Tinha certeza.
Seu coração saltou na garganta. Não teve tempo de ler o resto da
página, muito menos de memorizar o que a interessava. Com o jornal nas
mãos, uma ideia lhe ocorreu. Sem pensar nas consequências se fosse
descoberta, ela rasgou completamente a página do jornal.
O barulho da porta de seu pai assegurou-lhe que seu tempo estava se
esgotando.
Naomi prendeu a respiração ao dobrar rapidamente a publicação,
tentando fazer com que parecesse que ninguém o havia tocado. Estava um
pouco enrugado com o manuseio, isso não havia como evitar.
Sem muito tempo para fazer mais nada, ela se levantou,
enfiando a página que roubara discretamente sob as saias.
— Naomi? — A voz rouca inconfundível de seu pai lhe disse que
seu tempo havia acabado.
Quieta, ao lado da porta da frente, Naomi ouvia enquanto seu pai
descia as escadas, enquanto ela tentava criar uma desculpa. Tinha que
pensar em algo que explicasse o que fazia naquele lugar, e desgrenhada
como estava, caso contrário, seu pai suspeitaria. E isso era algo que nunca
poderia acontecer ou seria impossível que seus planos fossem cumpridos.
O medo da discussão iminente a fez soluçar, quando ela olhou para
cima. Por alguma razão desconhecida, confrontar seu pai sempre a fazia
soluçar, o que fazia com que seu pai se irritasse com ela.
Mas, por mais que Naomi tentasse, não conseguia evitar, assim
como não conseguia evitar que suas mãos suassem naquele momento.
Quando seu pai, o senhor Thomas Parrys, parou diante dela com um
olhar desconfiado, Naomi soube que o momento da verdade havia
chegado.
Dando um passo para trás, esperava que ele não percebesse o quão
perto ela estava do jornal, mas acima de tudo, não queria que ele
descobrisse que ela estava escondendo uma página inteira entre as saias.
— Bom dia, pai — disse ela, tentando soar casual.
Ela estava preocupada em confessar suas ações se dissesse mais
alguma coisa, já que nunca fora uma boa mentirosa.
Os olhos de seu pai varreram seu rosto e a porta da frente. Ela fez o
possível para controlar os batimentos cardíacos, esperando que ele não
notasse nada. Mas então seu olhar caiu sobre o jornal e ela prendeu a
respiração.
Era apenas o jornal. Um inocente papel dobrado.
— O que você está fazendo acordada tão cedo? — Ele perguntou
com uma carranca.
— Eu estava... estava indo para a cozinha pegar um copo d'
água quando... ouvi o entregador de jornais deixá-lo na porta — ela
gaguejou ansiosa, esfregando as mãos. — Então, como vê, eu, a porta, eu
fui e ...
Seu pai cerrou os punhos e firmou seu olhar.
— Quer dizer que você abriu a porta nessas condições? — Sua voz
ficava mais áspera com cada palavra.
Naomi piscou indecisa. Tinha que pensar em algo e logo.
— Oh, eu não, eu fui cuidadosa e ninguém me viu.
Dando um passo à frente, ele a olhou com um olhar frio que a
assegurou de que seu pai estava furioso com ela. De novo.
— Naomi! Já disse centenas de vezes que você deve se comportar
como uma dama. Você quer me expor na frente dos vizinhos?
— Não, pai — respondeu Naomi, abaixando a cabeça. Ela já tinha
ouvido aquela reprimenda antes e sabia o que a esperava.
O Sr. Parrys se aproximou dela, fazendo Naomi se inclinar mais
perto da parede, rezando para que a página do jornal que ela mantinha entre
as saias não caísse aos seus pés.
— Estou cansado de ter que repetir as mesmas coisas para você mil
vezes. Assim que me casar com a Sra. Fuller, pedirei para que ela cuide de
educá-la adequadamente. Quero que você seja uma dama como as filhas
dela e ponha de lado as bobagens que sua mãe lhe ensinou.
— Mas não são bobagens. — Naomi reuniu a pouca força que
tinha enquanto sua voz tremia. — Minha mãe me ensinou a
pensar por mim mesma e não me contentar em ser simplesmente uma
esposa complacente.
A fú ria no olhar do pai se tornou mais do que evidente ao ouvi-la.
— E é por isso que ela acabou morta. Nenhuma mulher deve estar
acima do marido. Se sua mãe tivesse entendido e ficado em sua casa, como
uma boa esposa, não teria se matado naquele acidente estú pido.
A dor que sentia ao ouvir o pai a fazia chorar, pois desde a morte da
mãe nada mais era o mesmo em casa. Seu pai carinhoso havia se
transformado em um monstro que parecia culpá-la por tudo, tornando a
atmosfera de sua casa insuportável.
Mas o que mais doía foi saber que, naquele dia fatídico, sua mãe
havia saído em seu lugar para fazer um pedido.
Se ela não tivesse recusado, ou se ela simplesmente a tivesse
acompanhado, talvez o fatídico acidente não tivesse acontecido.
Por isso entendia que seu pai a culpava pela morte de sua esposa e
teria deixado de amá-la. Afinal, ela se sentia culpada pelo que havia
acontecido. Ainda mais quando seu pai a olhava com desprezo.
— Eu sou seu pai e sei o que é melhor para você. Enquanto você
estiver sob meu teto, cumprirá minhas ordens. Agora volte para o seu
quarto e não desça novamente até que esteja apresentável.
Naomi soluçou e enxugou as lágrimas com a mão. Ela não gostava
de chorar, mas não conseguia evitar cada vez que ouvia o pai falar com ela
usando palavras tão duras.
— Sim, p... pai.
Quando ele não se moveu, ela percebeu que estava esperando que
fizesse algo. Lambeu os lábios ansiosamente, sabendo que ainda havia um
pedaço de papel dobrado de qualquer jeito entre suas saias. Se ela se
movesse de uma forma errada, poderia cair.
Respirou fundo, tentou endurecer o corpo e cercou seu pai passo a
passo.
Ela manteve o olhar abaixado, tentando não o perturbar ainda mais.
Cuidadosa e silenciosamente, começou a se dirigir para as escadas. Ela não
sabia como poderia subir sem deixar cair o jornal e também não sabia o
que mais poderia fazer para evitar enfurecer ainda mais seu pai.
Felizmente o papel não caiu, e quando percebeu, seu pai já tinha
saído. Só então ela parou de prender a respiração e se abaixou para
recolher o papel que estava escondido entre suas saias.
Só depois de pegá-lo e chegar ao quarto, conseguiu respirar
normalmente de novo.
Encostada na porta do quarto, com uma das mãos ainda na
maçaneta, Naomi soltou um suspiro. Tinha conseguido.
Ainda assim, Naomi levou mais um minuto para reunir coragem
para se mover novamente. Respirou fundo e correu para a cama. Uma vez
na colcha macia, Naomi se atreveu a olhar para o papel que pegara. Estava
um pouco enrugado e um dos cantos rasgado, mas ainda legível.
Um sorriso apareceu em seu rosto, pois não pô de evitar. Ela
avidamente leu cada palavra na seção que tinha sido tão difícil de
roubar.
— Noiva, noiva, noiva...
De repente, encontrou o que procurava. Naomi cobriu a boca com
uma das mãos enquanto olhava atentamente. Movendo-se na colcha, ela
torceu o nariz e se concentrou nas palavras.
Havia um homem. Seu nome era John May e ele estava procurando
uma esposa para se juntar a ele em seu rancho em Oklahoma. No oeste,
onde não havia muita gente e não havia muito o que fazer além de ser
fazendeiro ou rancheiro. Mas um terreno aberto para construir uma vida.
Sua esposa não precisava de muitos talentos ou habilidades para
estar lá, além do básico. O principal era que ele queria uma esposa educada
na esperança de poder papear no crepú sculo ou em frente à lareira, após
um árduo dia de trabalho.
Uma visão que empolgou Naomi, porque ela ansiava acima de tudo
por um companheiro que respeitasse suas opiniões e a visse como
pessoa. Se o trabalho era árduo e a terra árida, isso não importava para ela.
Não sabia por que, mas Naomi não conseguia parar de olhar aquele
anú ncio. Aquele homem estava procurando não só uma esposa, mas uma
companheira, e isso era algo que ela não conseguia esquecer.
Seu coração batia forte no peito quando ela leu o anú ncio
novamente. Cada palavra parecia mú sica em seus ouvidos, de uma forma
que não poderia sonhar em colocar em palavras. Como se as palavras
dançassem nas páginas com uma melodia que só ela entendia.
Quando ela não teve escolha a não ser se preparar e sair do quarto, a
lembrança do anú ncio a distraiu durante grande parte da manhã. Não
conseguia parar de pensar no que a resposta poderia envolver. Como sua
vida mudaria.
Ao cair da noite, a antecipação era muito plausível para mantê-la
calma.
A ideia de escapar para um novo mundo parecia boa demais para ser
verdade, embora soubesse que também representava um perigo
considerável. Mas havia uma sensação de queimação em seu coração
que lhe dizia que precisava tentar.
Precisou de toda a sua força de vontade para esperar até depois do
jantar, para voltar ao quarto e responder à carta. Só então teve privacidade e
tempo para escrever ao Sr. John May e expressar-lhe tudo o que seu
coração ansiava.

Para J ohn May.


Seu anú ncio de noiva por correspondência chamou minha
atenção. Espero que não se importe que eu lhe escreva com
franqueza. Embora eu nunca tenha ido a um rancho ou visitado
Ok lahoma, minha vida em Boston me ensinou muitas habilidades,
como cozinhar, limpar, manter a contabilidade de uma casa e ler.
Gostaria de me considerar bem como bem- educada, mas
a ú ltima é uma habilidade que não tenho certeza se posso qualificar
como completa. Sempre há algo novo para aprender.
Não tenho medo de trabalhar duro e estou pronta para
começar uma nova vida com o senhor. Embora eu saiba que nosso
casamento não será por amor, espero que com o tempo ambos
comecemos a sentir...
A pensativa Naomi parou, porque não sabia muito bem o que
escrever.
O que aquele homem esperava dela? E quanto ao seu casamento?
Seria apropriado falar de amor a um completo estranho?
Perdida em seus pensamentos, ela não ouviu passos se aproximando
de seu quarto, e ela só percebeu a presença de alguém atrás de sua porta
quando bateu com força.
— Naomi?
Ela ouviu como a chamavam e como a maçaneta girou. Em questão
de segundos, alguém entraria em seu quarto, e ela só conseguia pensar
que sua breve história no oeste poderia terminar antes mesmo de começar,
se essa pessoa fosse seu pai.
Capítulo

planícies de Oklahoma.
N ão havia nada como o ar fresco das

O cheiro do gado no vento, a brisa que refrescava o rosto e aquele


aroma de terra que poucos tinham a sorte de apreciar e que envolvia com
sua doçura, era tudo o que um homem poderia desejar.
E, felizmente para John, ele era um desses homens.
Ajustou silenciosamente a aba do chapéu enquanto olhava para o
vale que se abria diante dele. Havia algo naquela terra que enchia seu
coração até a borda.
Por anos ele se considerou sortudo por ter um rancho de criação de
gado em uma terra como aquela, e ele poderia até alegar que era rico por ter
uma propriedade tão próspera.
Embora soubesse que ele e seu irmão mais novo Jason eram os
donos da propriedade, havia algo de selvagem sobre a terra que ninguém
poderia impedir. Algo que lhe dizia que a terra era quem o possuía, ao invés
de você.
Era selvagem e indomável. Uma terra onde cada pessoa tinha que
aprender a dar o seu trabalho árduo e onde um erro podia
sair muito caro, pois a sua sobrevivência e a da sua família dependiam das
suas habilidades.
John não queria tornar aquele lugar seu. Ele só queria viver nele,
prosperar ao seu lado, como seus pais desejaram antes dele, e onde, tinha
esperança, seus filhos seguiriam seus passos.
Seus olhos contornaram o vale, observando as mú ltiplas cores
devido à mudança de estação. À distância, havia montanhas com os topos
cobertos de neve e a seus pés a grama verde começava a mudar de cor
como se protegendo do frio que se aproximava lentamente.
A cada dia os ventos eram mais frios e fortes. Outubro havia
chegado e, embora adorasse a mudança de estação, sentia algo
desconfortável em seus ombros.
Mais uma vez, as festividades de Natal estavam chegando. Alguns
encontros de que gostava cada vez menos devido ao sentimento de solidão
que traziam consigo.
Este ano, como nos anos anteriores, seriam ele e Jason, pois seus
pais haviam falecido há alguns anos e eles não tinham outra família com
quem se reunir.
Por um tempo, isso não o incomodava.
Anos se passaram e eles trabalhavam bem juntos. Seu irmão lhe
fazia companhia, ajudava-o no rancho e não o fazia sentir que estava
faltando alguma coisa.
Além disso, o rancho estava cada vez melhor, então tinham mão-de-
obra extra por alguns meses a cada ano, quando havia mais trabalho.
E o melhor de tudo: tinham acabado de vender a maior parte de seu rebanho
em Nebraska, de modo que teriam uma boa reserva de dinheiro para o
inverno.
Isso significava menos trabalho em suas mãos. Menos distrações e
menos problemas para lidar.
Mesmo assim, John ainda se sentia inquieto. Até irritado.
Balançou a cabeça e se dirigiu para a casa com muitos pensamentos
em sua cabeça.
Ele tinha tudo, o rancho, dinheiro, seu irmão, e ainda assim sentia
que algo estava faltando. Algo que a terra não podia dar a ele, algo que
não podia cultivar ou semear, algo que também era escasso naquele lugar.
Cruzou a porta dos fundos da casa, pensativo, quando o irmão
ergueu os olhos de onde estava cortando batatas.
— Onde você esteve? — Perguntou seu irmão Jason enquanto
empurrava seu longo cabelo escuro para trás de seu rosto.
John deu de ombros e pegou um copo do armário, enchendo- o de
água.
— Andando. Nosso gado parece um pouco disperso. Talvez
devêssemos levá-lo para o outro lado do rio antes da primeira neve.
Jason balançou a cabeça lentamente enquanto continuava a cortar as
batatas.
— Estou de acordo. Podemos cuidar disso amanhã.
— No sábado? — John abanou a cabeça. — Eu vou para a cidade
amanhã.
— Por quê? Você não costuma ir para a cidade aos sábados?
— Seu irmão perguntou com uma carranca aborrecida. — Outro celeiro
sendo construído e precisam de você? Eu disse aos Maisons que eles
deveriam ter começado o deles meses atrás, mas você sabe que eles nunca
me ouvem.
Era perceptível que a personalidade de Jason começava a esfriar
conforme o frio se aproximava e os anos passavam. Era uma mudança que
vinha acontecendo há muito tempo, então John não estava mais surpreso
com suas explosões de mau humor ou sua carranca.
— Estou esperando uma coisa chegar pelo correio e quero verificar
se há algo.
Jason se endireitou, seus olhos cinzentos se estreitando.
— No correio, hein? Você espera receber uma carta em resposta ao
seu anú ncio?
O calor começou a subir pelo pescoço de John. Já era difícil aceitar
seu temperamento para ter que lidar com suas provocações. Sem esquecer
que ainda se perguntava o que o havia levado a cometer tal ato impulsivo.
John se considerava uma pessoa introvertida e zelosa de sua
privacidade, que achava difícil se abrir com pessoas e mais com estranhos.
Principalmente se fossem mulheres.
Mas ele ainda não tinha pensado em nenhuma explicação para seu
irmão, então não sabia o que responder.
Os dois eram próximos, embora não concordassem em tudo como
quando eram crianças.
John olhou para o irmão e mordeu o lábio.
— Como você sabia?
A pergunta dele fez Jason rir.
— Como eu não poderia? — Ele disse. — Somos apenas nós dois
nesta sua casa enorme. — Gesticulando com a faca, ele encolheu os
ombros. — Além disso, não há segredos neste lugar. Nenhuma casa é
grande o suficiente para isso.
— Ora. — John coçou a cabeça e se virou para a pia, colocando o
copo lá. — Bem, eu estava esperando a melhor hora para te contar. Eu não
tive a intenção de esconder nada de você.
Jason simplesmente balançou a cabeça e jogou outra batata na
panela. Ao irmão já não lhe importavam mais muitas coisas. Ele não
gostava da igreja, das conversas, das pessoas ou do rancho, então
simplesmente se deixava levar sem pedir muito da vida.
Embora John tivesse tentado falar com ele para tentar fazê-lo se
interessar por alguma coisa, nada funcionou.
Foi por isso que não disse nada sobre sua intenção de encontrar uma
esposa, não queria que Jason ficasse com raiva ou o deixasse
desconfortável.
— O que achar melhor — Jason rosnou. — É sua vida. Mas vou te
dizer uma coisa, as ú nicas mulheres que querem se casar por
correspondência são velhas, feias e desesperadas.
Com um suspiro, John decidiu que era hora de alimentar o gado.
Conhecia seu irmão muito bem e sabia que qualquer coisa que ele
dissesse nunca mudaria sua mente.
Ele parecia gostar de solidão e acreditava que não precisam de nada
na vida além de um teto e um pouco de dinheiro no bolso.
— Obrigado pelo seu esclarecimento, Jason, vou manter isso em
mente. — E sem mais delongas ele voltou para fora.
A vida havia sido difícil para eles por muito tempo. Oklahoma era
um lugar lindo, mas exigia tempo e atenção.
Especialmente quando seu pai e sua mãe faleceram há quase dez
anos. A febre os matou em poucos dias, bem como metade dos habitantes
da cidade.
O dia fatídico em que morreram, acabou sendo o aniversário de
John, que acabava de fazer dezessete anos. Ele e seu irmão foram deixados
sozinhos no mundo, sem mais família. Juntos, tiveram que enterrar seus
pais sob a macieira que eles tanto amavam, e tiveram que começar a se
defenderem sozinhos.
Viver no oeste era uma vida difícil e o rancho exigia muito trabalho
e sacrifício. Assim como podia ser um lugar solitário, apesar de sua beleza.
Na verdade, era normal que os irmãos demorassem meses antes de
irem para a cidade. Por isso dificilmente se relacionavam com os habitantes
de lá, embora todos os conhecessem. Além disso, estiveram tão ocupados e
sozinhos por tantos anos que mal se lembrava de como seria agradável se
estavelecer com uma mulher bonita.
Mas John começou a sentir a necessidade de uma companheira e,
por isso, procurou uma candidata adequada na cidade e nos arredores, e até
mesmo nos condados vizinhos, durante suas viagens de negócios. Mas
havia poucas mulheres de sua idade que não eram casadas, e ele nem se
lembrava de como falar com elas.
No entanto, fez uma descoberta após uma conversa com o reverendo
Ascott, que lhe contou sobre a febre recente das noivas por
correspondência. Ele lhe contou como jornais e revistas ajudavam as
pessoas a se comunicarem de cidades e regiões distantes.
Isso incluía mulheres das grandes cidades em busca de outro estilo
de vida e homens vivendo no meio do nada com conexões limitadas.
Assim que soube dessa possibilidade, interessou-se e pensou que
não tinha nada a perder procurando sua esposa por meio de um anú ncio.
Afinal, o mais importante não era de onde vinha a mulher, mas se ela
poderia ser a pessoa certa para ele e para aquele lugar selvagem.
No entanto, levou uma semana para reunir coragem para escrever
algo e depois levá-lo para a cidade. Também precisava pensar com muito
cuidado sobre o que queria de sua esposa, para ter certeza de que as
mulheres iriam respondê-lo. Uma tarefa que era mais difícil do que ele
pensava originalmente.
Fazia um mês que seu anú ncio de jornal havia sido enviado e ele foi
informado de que fora publicado em jornais da costa Leste, atingindo um
grande nú mero de mulheres.
John não conseguia se lembrar de ter ficado tão ansioso em toda a
sua vida, especialmente quando se lembrava de que em breve poderia
conhecer sua futura esposa.
No entanto, durante esse tempo, ele viajava seis quilô metros até a
cidade a cada dois dias, na esperança de receber uma resposta que
demorava a chegar.
E a cada dia que passava e a cada recusa que recebia nos correios,
mais ele se perguntava se havia uma mulher em algum lugar que se
importasse com ele.
Capítulo

P aralisada de medo, Naomi observou


enquanto sua maçaneta continuava a girar lentamente.
Naquele instante, imaginou seu pai furioso do outro lado da porta,
ao descobrir que estava faltando uma página de seu jornal. Se isso
tivesse acontecido, ela não teria como escapar da situação difícil, já que
apenas os dois e Mary, a garota que seu pai contratara para fazer as tarefas
mais difíceis, estavam na casa.
Só ao ouvir pela segunda vez como a chamavam pelo nome, ela
conseguiu descobrir quem era e respirar normalmente.
Felizmente não era seu pai quem queria entrar em seu quarto, nem
vinha exigir explicações, como temera inicialmente.
Ao contrário, ela reconheceu a voz de sua querida tia Regina. Uma
mulher doce, sofisticada e independente que a ajudou a ver a vida com
outros olhos. Ela insistiu que pensasse por si mesma e não se permitisse
ser manipulada pelos desejos do pai em relação ao seu futuro.
Mas o que, sem dú vida, sempre apreciou é que ela esteve ao seu
lado nos momentos difíceis, não só após a morte de sua mãe, mas nos dias
tristes que se seguiram.
Sem sua tia, aqueles dias teriam sido de uma agonia insuportável
que a teria mergulhado em uma depressão profunda. Mais importante, ela
lhe garantiu que não era a culpada pela morte de sua mãe.
Graças a ela e ao seu amor, foi capaz de tirar aquele enorme peso,
apesar da insistência de seu pai em culpá-la.
— Naomi? — A voz calma de sua tia a alcançou novamente.
— Você pode abrir a porta para mim?
Surpresa, já que não esperava a visita da tia, muito menos àquela
hora, Naomi pô s a carta de lado e se levantou para abrir a porta para ela.
— Tia, o que está fazendo aqui?
— Bem, estou feliz em ver você também — ela respondeu com um
sorriso no rosto.
Assim que Regina entrou, abraçou a sobrinha com força. Sabia que
a personalidade de seu irmão havia se rompido desde a morte de sua esposa,
mas não entendia como ele poderia derramar sua dor sobre sua amada filha.
Uma menina bonita, doce e generosa que não merecia passar por
isso, principalmente porque já arrastava a própria dor de ter perdido a mãe.
Por isso, Regina procurou animá-la e cuidar dela da melhor maneira
possível, e ficou até feliz por ter se tornado sua confidente. Era uma honra
para ela que Naomi a amasse tanto e confiasse nela o suficiente para abrir
seu coração.
— Sabe que é sempre bem-vinda — confessou Naomi, dando as
boas-vindas à tia em seu quarto.
— Eu sei disso querida. Além disso, sabia que hoje era um dia
importante para você e parei em sua casa antes de ir para minha sessão
espírita das terças-feiras.
Naomi sorriu com as palavras da tia, sabendo que seu gosto pelo
paranormal beirava o excêntrico.
— Se meu pai descobrir que você ainda vai a essas sessões, vai ficar
furioso.
— É por isso que é melhor se ele não descobrir. — Ela respondeu
rindo. — Enfim, felizmente seu pai só pode latir para mim, mas não
pode me morder, já que sou uma viú va que não depende dele.
Naomi suspirou enquanto ansiava por esse tipo de liberdade
também.
Percebendo o sentimento da sobrinha, Regina a segurou pelas mãos
e disse:
— Calma, Naomi, sua hora também chegará e você encontrará
tudo que sempre sonhou.
— Será que algum de seus espíritos lhe contou? — Ela perguntou
maliciosamente.
— Bem, agora que você mencionou...
Ambas não resistiram e acabaram rindo.
— E sério agora, mocinha. Tem algo que você quer me dizer?
Ruborizada, Naomi baixou os olhos para a carta escrita pela metade e
mordeu o lábio inferior. Ela já havia contado à tia sobre seu desejo de
ser uma noiva por correspondência e ir embora e, para sua surpresa, sua
tia não só não a desencorajou, mas estava
animada com o projeto.
Precisando de seu conselho e intuição, Naomi foi até a cama e deu
um tapinha em seu lado.
— Sente-se na cama. Eu tenho muito para contar.
Sem pensar duas vezes, sua tia obedeceu e acomodou-se
animadamente ao seu lado. Algo que foi engraçado para Naomi, porque a
tia parecia mais animada do que ela com tudo isso.
Desejando começar sua história o mais rápido possível, Naomi
começou a falar.
— Esta manhã consegui pegar a seção de noivas por
correspondência sem que meu pai soubesse. — Quando sua tia não disse
nada, ela continuou falando. — E eu vi um que... bem, isso...
— Atraiu especialmente sua atenção. — Terminou de dizer por ela.
— Sim. Não sei como te explicar, mas sinto como se esse fosse o
meu destino. Embora bem, talvez seja uma coisa estú pida de acreditar...
— Não acredito. Naomi, eu te amo e meu coração vai se partir em
dois quando você for embora, mas isso é o melhor para você. Terá a chance
de fazer algo por si mesma, uma nova vida no Oeste e, acho que será uma
boa vida.
— Eu sei que está certa, tia. Quando meu pai se casar, não haverá
lugar para mim nesta casa. Sei que ele não suporta me ver por perto e estou
convencida de que em breve me entregará a um homem de sua escolha. —
Indecisa continuou falando. — Mas e se esse homem do oeste não for o que
eu espero? E se uma vez lá eu descobrir que ele me enganou e não é como
afirma ser?
— Não há nada certo nesta vida. Você pode ficar em Boston e viver
a vida que seu pai preparar para você ou pode fazer as
malas e tentar realizar seus sonhos. Mas seja qual for o caminho que
escolher, sempre haverá riscos.
Naomi assentiu com as palavras da tia. Sabia que estava certa e,
embora fosse assustador confiar em um estranho, ela também sabia que a
recompensa poderia ser grande.
— Tem razão. Tenho que ser corajosa e lutar pelo que quero.
— Eu gosto assim, pequena. Lembre-se faça o que quiser nesta
vida, você deve lutar com todas as suas forças pelo que deseja.
— Obrigada, tia.
— E quando você chegar lá, me diga como estão as coisas e onde
você se acomodou. Sua tia pode a surpreender e acabar a visitando.
Naomi a pegou pela mão e olhou para ela com todo o carinho
brilhando em seus olhos.
— Pode ter certeza de que vou escrever. E a senhora deve escrever
para mim também. Do contrário eu sentiria muito a sua falta e não
poderia ser feliz naquele rancho, mesmo que fosse o próprio paraíso.
— Eu o farei. — Regina acariciou sua bochecha carinhosamente
antes de lhe dizer. — Quem você escolher vai pensar que um anjo desceu
do céu para ser sua esposa. Você verá como ele vai te amar assim que a
conhecer.
Emocionada e animada, Naomi assentiu. Agora não se sentia mais
tão indecisa sobre seu futuro naquela terra distante e desconhecida, mas
desejava começar sua nova vida.
Sua tia conseguiu transformar seus medos em esperança e, acima de
tudo, fazê-la acreditar que o amor entre ela e aquele
homem chamado John May era possível.
— Direi ao meu futuro marido que quero um quarto para a minha
tia.
— Isso seria maravilhoso. Mas o mais importante é fazer com que
seu marido a respeite. Sem respeito no casamento, é impossível ser feliz.
Pensativamente, Naomi lembrou-se de como o Sr. May era formal
em sua carta. Ele havia pedido uma mulher inteligente e trabalhadora com
quem conversar e compartilhar os caprichos da vida. Não uma mulher que
apenas cuidava de suas necessidades.
Ela tinha certeza de que uma mulher inteligente como ela poderia
agradar a um homem, ainda mais se ele fosse um simples fazendeiro.
Cada vez mais convencida de que estava fazendo a coisa certa,
suspirou, enquanto sua tia ainda estava ao seu lado. De repente, uma
dú vida a assaltou, deixando-a paralisada.
— E se ele não gostar de mim? Se preferir alguém mais jovem, ou
loira, ou...?
Regina não pô de deixar de sorrir com as dú vidas da sobrinha.
Uma garota que poderia ser considerada uma beldade, não importa o quanto
ela duvidasse.
— Naomi, posso assegurar-lhe que seu marido ficará
encantado ao vê-la. Ainda que…
— O quê? — Não demorou muito para perguntar.
— Você é um pouco selvagem e não tenho certeza se ele gostará de
uma mulher com ideias próprias. Afinal, não acredito que os cowboys de
Oklahoma sejam muito progressistas.
Naomi não demorou muito para suspirar por não ter pensado nisso.
Embora fosse verdade que as mulheres em Boston estavam começando a
resistir às convenções sociais, sua tia estava certa ao dizer que as coisas
deveriam ser muito diferentes naquela terra.
Não ficou desapontada, porém, porque tudo o que havia lido sobre
os pioneiros no oeste mostrava mulheres obstinadas e determinadas.
Virtudes que ela também possuía e que podia combinar com a elegância e
educação que todo homem procuraria em uma esposa de Boston.
Com mais determinação do que antes, Naomi se levantou e começou
a andar de um lado a outro da sala.
— Eu serei correta e educada como é exigido de uma esposa, mas
eu não acho que o Sr. May quer uma esposa submissa e dócil para dominar.
— Você ficaria surpreso com o que um homem é capaz de desejar.
— Regina comentou em uma voz tão baixa que Naomi não teve certeza se
ela a ouviu.
— O que disse?
Suspirando, Regina cruzou as mãos no colo enquanto tentava
explicar o quão complicado um homem poderia ser.
— Seja correta, gentil e elegante enquanto você pode. Embora
fosse melhor se seu marido em potencial fosse um cavalheiro tranquilo que
possa tolerar muitas coisas.
Naomi colocou as mãos na cintura e deu um sorriso exasperado para
a tia.
— Eu não sou tão ruim, tia. Além disso, não acho que seja tão ruim
ter minhas próprias opiniões.
Sorridente, Regina contemplou a sobrinha, pois sem querer, acabava
de trazer à tona aquele temperamento que a fazia dizer a primeira coisa que
lhe passava pela cabeça, sem levar em conta que se tratava de algo
impróprio para uma dama.
— Você não tem que me convencer, querida. Acontece que alguns
homens têm uma ideia muito antiquada do que uma mulher pode e não pode
fazer.
— Quer dizer homens como meu pai— afirmou, em vez de
perguntar.
— Assim é.
Naomi pegou o jornal e tocou o anú ncio com o dedo.
— O senhor May pediu em seu anú ncio que sua futura esposa
fosse uma mulher culta com quem conversar. Você não acha que isso
pode indicar que ele será tolerante com minha personalidade? Além disso,
ele parece um homem gentil.
— Ele pode ser gentil e tolerante. Mas... alguns homens nem sabem
o que querem, e menos ainda quando se trata de uma esposa.
— Então, o que devo fazer? — Ela perguntou cada vez mais
confusa.
Sua tia riu de novo e saiu da cama para encará-la e abraçá-
la.
— Você terá que fazer o mesmo que o resto das mulheres
que decidiram se casar. Terá que confiar na sua boa sorte.
Ambas as mulheres riram e se abraçaram.
É verdade que ir para uma terra distante e casar com um estranho
era arriscado, mas não mais arriscado do que casar com um pretendente
escolhido por seu pai e que mal o conhecia.
De acordo com o que acreditava, quer ficasse ou partisse, corria um
risco. A diferença era que se fosse para Oklahoma, estaria sozinha, sem
conhecer ninguém, mas teria escolhido seu destino.
A pensativa Naomi não percebeu como a tia se separou de seu
abraço, pois não queria prolongar a conversa e desanimar a sobrinha. Ainda
mais quando ela acreditava firmemente que Naomi poderia ser feliz se
deixasse aquela casa e aquele pai que tanto a oprimia.
— É melhor eu ir embora. Além disso, os espíritos não esperam,
mesmo que tenham todo o tempo do mundo.
Naomi acenou com a cabeça quando a ouviu, embora ela gostaria de
fazer mais mil perguntas. A lembrança de sua mãe a assaltava, entristecia-a,
pois estava convencida de que a seu lado essa necessidade de escapar e
recomeçar não estaria tão profundamente enraizada nela.
Quando Regina chegou à porta e se virou para se despedir, não
demorou muito para ela saber o que a sobrinha estava pensando e sentir o
turbilhão de dú vidas fervendo dentro dela.
Gostaria de lhe dizer para não se preocupar, tudo acabaria bem, mas
não queria que ela ficasse muito animada se o senhor May não fosse o
homem certo para ela.
Mas algo dentro dela a impediu de sair sem dar-lhe conforto, então
olhando em seus olhos disse:
— Sua mãe ficaria orgulhosa de você.
Com essas palavras, Naomi acenou com a cabeça e viu sua tia sair.
A diferença é que ela não estava mais sozinha e agora estava mais
determinada do que nunca a escrever aquela carta.
Podia sentir isso dentro de seu coração. Seu destino não era em Boston,
mas com aquele homem de Oklahoma, se ele a aceitasse.
— Vamos acabar logo com isso, Sr. May — ela sorriu para si
mesma e sentou-se para terminar a carta.
Capítulo

irmão, John consertou


N a manhã seguinte à conversa com o
uma cerca no estábulo dos cavalos e
preparou a montaria para sair.
Jason cuidou do gado, ou assim ele supô s, já que eles não se
cruzaram durante toda a manhã. John se perguntou se ele estava fazendo
isso de propósito, mas não encontrou motivo para isso.
Balançando a cabeça, continuou com sua tarefa de cuidar do cavalo.
Ele tinha muito em sua mente e agora não podia se permitir pensar sobre
seu relacionamento com seu irmão. Afinal, fazia sentido para ele encontrar
uma esposa e escolhê-la à sua maneira.
— Vamos — John disse a seu cavalo determinado a continuar sua
ideia. — Vamos para a cidade, está bem? — Colocou o chapéu na cabeça
antes de segurar as rédeas com força.
Não demorou muito para que chegasse a Valley Grave. A cidade era
pequena, mas tinha tudo o que poderia se desejar, contanto que não quisesse
altos luxos ou frivolidades desnecessárias no oeste. Mas tinha pessoas de
bem e trabalhadoras e um armazém onde podia encontrar de tudo.
Sem falar no médico, no salão de jogos, nos correios, na barbearia,
no pequeno restaurante, no ferreiro que possuía um estábulo onde alugavam
cavalos e carroças, um banco, um jornal e uma delegacia.
Como era seu costume, John foi primeiro ao armazém para comprar
suprimentos. Era dirigido pela Sra. Pennipel, que o cumprimentou com seu
sorriso frequente.
Ela era uma mulher rechonchuda, de cabelos grisalhos, na casa dos
cinquenta anos, que vendia as fofocas mais suculentas com seus produtos,
mais por tédio do que por curiosidade doentia.
Felizmente a Sra. Pennipel não tinha suspeitas sobre as viagens
frequentes de John, ou sobre o nervosismo que ele parecia mostrar ao reunir
coragem suficiente para visitar a agência dos correios do Sr. Collins.
O Sr. Collins era um bom homem, sem dú vida. Mas John estava
nervoso por qualquer notícia que o homem pudesse lhe dar.
Não tinha certeza se preferia nenhuma carta, apenas uma ou
várias.
Pensar nisso o deixou mais nervoso por não saber como lidar
com o assunto.
Ele só tinha certeza de uma coisa. Não queria muitas cartas, pois
isso só iria complicá-lo.
Tudo que ele precisava era uma mulher. Uma boa mulher com
quem ele poderia ter uma conversa. Isso era tudo. Mas se recebesse muitas
cartas, teria que escolher entre todas e não saberia fazer. O que ele sabia
sobre mulheres?
Quando o sol começou a se pô r, ele sabia que não poderia continuar
perdendo a luz do dia. Ainda havia tarefas a cumprir no
rancho. E não queria trabalhar no crepú sculo, quando poderia estar sentado
perto do fogo, afiando a faca ou lendo um bom livro.
— Vamos acabar com isso. — John deu um tapinha na garupa de
seu cavalo e desceu a rua.
Ele acenou com a cabeça para alguns rostos familiares ao perceber
que a cada passo que dava, sua bile ficava mais amarga.
Sabia que estava sendo um tolo, mas não podia evitar pensar que,
quando entrasse neste lugar, sua vida poderia mudar para sempre, ou pior,
que ele tinha sido um fracasso, já que nenhuma mulher teria se interessado
por ele.
À medida que avançava, contemplou a Sra. Parker com suas duas
filhas. Ela era casada com o prefeito e caminhava pela rua com passos
determinados e orgulhosos. Ele não gostava de mulheres vaidosas e
preferia que nenhuma mulher como a sra. Parker tivesse respondido a
sua carta.
Ele também notou a Sra. Halland, a viú va do ex-barbeiro. Ela
decidiu ficar na aldeia após a morte do marido, talvez na esperança de
encontrar um sucessor.
Mas a Sra. Halland era muito velha para ele, bem como muito séria
e puritana para gostar dele. Sem mencionar a verruga no canto da
boca, que se mexia toda vez que falava.
Ele certamente não queria uma esposa como a Sra. Halland também.
Agora que pensava sobre isso, a Sra. Halland poderia ter alguma
outra intenção, já que, desde que ficara viú va, cozinhava algo para eles
todas as semanas. Até aquele momento não havia percebido que talvez não
fosse apenas por caridade cristã para com
ele e seu irmão, mas que a viú va estava procurando algo mais do que
ganhar o céu com seus ensopados.
Só de pensar nisso o fez estremecer, ainda mais quando se
perguntou como seria beijá-la com aquela verruga tão perto de sua boca.
“ Concentre-se no que você veio fazer e esqueça a Sra. Halland” ,
disse a si mesmo antes de seu estô mago revirar ainda mais.
Quando chegou ao correio, o Sr. Collins olhou por cima do ombro e
fez um gesto para que entrasse.
— Eu estava me perguntando se o veria hoje ou amanhã. E estava
certo.
John balançou a cabeça e esfregou as mãos.
— É bom ver você também, Sr. Collins. Estou feliz por não o
decepcionar. — Ele inalou profundamente. — Você não tem cartas para
mim, não é?
O homem mais velho já estava atravessando a sala para uma fileira
de buracos, que ficava em uma caixa pendurada na parede.
Ele tinha um sistema de arquivo que ele e sua esposa criaram
quando montaram o escritório. E durante todos esses anos nada mudou.
Nem mesmo a velha caixa de madeira onde colocavam as cartas à espera
de seus donos.
Pelo que John sabia, esse tinha sido o caso por quase cinquenta
anos, e não achava que nada mudaria agora.
— Eu sabia que você ia me perguntar isso — o velho riu com bom
coração, como se soubesse um segredo.
John não pô de deixar de sorrir enquanto o seguia.
O Sr. Collins tirou duas cartas de um buraco na parede e bateu duas
vezes com os nós dos dedos na parede antes de avançar e entregá-las a ele.
Ambos tinham seus nomes claramente escritos na parte superior.
John engoliu em seco ao aceitá-las.
Oferecendo ao homem seu melhor sorriso, ele assentiu, embora por
dentro estivesse morrendo de vontade de abri-las.
— Obrigado, Sr. Collins. — Ele estava prestes a sair quando não pô
de deixar de perguntar: — Como está sua esposa?
O Sr. Collins sorriu ao ouvi-lo. Era mais do que óbvio que John
queria ir embora às pressas, mas suas boas maneiras o impediram de partir
sem perguntar sobre sua esposa. Uma indicação de seu bom coração,
embora às vezes seu rosto sério e olhar frio fizessem duvidar que ele o
tivesse.
— Oh, ela ainda é forte como um touro, embora seu coração a esteja
freando. É por isso que a mantenho longe do escritório à tarde. Mas minha
Anne está bem. Nós dois estamos. E você, John? Como você e Jason estão,
sozinhos naquele seu rancho?
— É o rancho da família — John corrigiu gentilmente enquanto
brincava com as cartas em suas mãos. Elas não eram nem um pouco
grossas, mas ele podia senti-las começando a dominá-lo. — Jason e eu
estamos bem. Eu provavelmente deveria voltar agora, antes que entardeça
— John acrescentou relutantemente.
O homem acenou com a cabeça quando percebeu a pressa e
disse:
— Então é melhor você ir. E espero que você não pare de vir
à cidade agora que recebeu essas cartas.
John tirou o chapéu para o homem e simplesmente saiu. Ele sabia
que muitos na cidade pensavam que estavam se tornando mais e mais
eremitas, mas entre o trabalho no rancho e as poucas distrações para um
solteiro em Valley Grave, suas viagens para a cidade eram mais raras.
Ao se afastar alguns passos, olhou para as duas cartas e se perguntou
de onde poderiam ter vindo. A ideia de que uma delas, ou mesmo ambas,
pudesse ser de uma mulher fez seu estô mago apertar.
Ele se forçou a esperar, não querendo ser rude e ler no meio da rua.
Sem contar que não queria que ninguém soubesse que havia recebido
duas cartas, caso tudo desse errado no final.
Ansioso para fugir, John montou em seu cavalo e se dirigiu ao
rancho, assobiando enquanto cavalgava.
Não demorou muito para ele chegar, encontrando Jason saindo do
celeiro. Ao vê-lo tão feliz, ergueu uma sobrancelha e não pô de deixar de
perguntar:
— Você finalmente recebeu uma carta? — Ele balançou a cabeça
com uma risada. — Aposto que não vão te mandar uma foto. Além do
mais, tenho certeza de que é velha e feia. É melhor ela mandar uma
mecha de cabelo para ter certeza de que não é grisalha.
Suas mãos estavam ocupadas demais abrindo as cartas para
responder, então Jason logo estava a caminho, percebendo que o estava
ignorando.
De sua parte, John verificou ambas as cartas e viu que uma delas era
dos Tanson, que escreviam para agradecê-los pelo
rebanho que tinham acabado de comprar. Porém foi a outra carta que o
deixou paralisado, visto que era endereçada a ele.
Mas o nervosismo não durou muito, pois antes de terminar a
primeira linha ele estava sorrindo.
Havia algo na escrita que o atraía. E havia o nome de uma mulher
no final da carta, confirmando sua esperança anterior.
Jason o chamou, mas John se afastou em busca de um lápis e papel.
Seu coração se aqueceu ao pensar nessa doce mulher escrevendo
para ele e mal podia esperar para enviar uma resposta.
Capítulo

S ua testa pressionou suavemente


contra a porta enquanto a fechava com cuidado, não querendo fazer
barulho.
Era o início da tarde e ela tinha acabado de começar a fazer o
jantar. Era seu dever, como seu pai sempre a lembrava, e havia muito o que
fazer, embora ela tivesse Debbie para ajudá-la.
Felizmente, seu pai não a demitira, porque a jovem empregada era
uma grande ajuda para Naomi. Não só porque a presença dela a encorajava,
não ficar sozinha com o pai, mas porque permitia que ela tivesse mais
tempo para suas coisas.
Mas ela se enganava pensando que seu pai deixara Debbie para
ajudar a filha nos trabalhos domésticos. Sabia muito bem que seu pai o
fizera porque toda família de determinada posição deve ter pelo menos um
servo. E as aparências eram muito importantes para seu pai.
Mesmo assim, a portas fechadas, o Sr. Parrys insistia que sua ú
nica filha trabalhasse duro para manter a casa funcionando. Ele a fazia
cozinhar, lavar e limpar, como castigo por ser uma mulher com suas
próprias ideias. Como sua mãe.
Ele acreditava que isso a faria mudar de ideia e tudo o que
conseguiu foi que ela quisesse sair o mais rápido possível daquela casa que
se tornara uma prisão.
Mas não podia esperar mais um minuto. Em sua posse, ela tinha a
carta que o Sr. May lhe havia enviado.
Ela teve que esperar a manhã toda com a carta abrindo um buraco
em sua saia. Primeiro porque teve que varrer a casa, consertar um tapete e
agora preparar o jantar, sempre tendo o que fazer.
Seu pai cuidava disso e o inspecionava pessoalmente.
Naomi não se importava em trabalhar, entretanto. Era a maneira
como seu pai ordenava que não gostava. Por isso, ansiava pelas raras
oportunidades em que não havia trabalho a fazer, para que pudesse passar
um ou dois minutos lendo ao sol.
Era difícil lidar com aquele passatempo agradável em uma casa
onde estava sempre ocupada e onde tinha que se esconder do pai para que
ele não a visse lendo. Principalmente se fossem revistas e jornais.
Naomi havia se acostumado a ter que esperar até o anoitecer,
quando a casa ficava tranquila e seu pai dormia.
Exceto que hoje não podia esperar mais.
Naomi mordeu o lábio e mal conseguiu conter o sorriso. Ela estava
tão animada que procurou avidamente em suas roupas a carta escondida em
seu bolso.
A carta parecia fina, o que a deixou nervosa, pois poderia significar
uma resposta curta. Mas seu senhor John May já tinha feito isso antes, e
ela sentiu que a razão era sua maneira de ser reservado.
Talvez também pudesse ser porque nenhum dos dois tinha
experiência em escrever cartas. Muito menos se fossem cartas para um
estranho do sexo oposto.
Mas, no ú ltimo mês, eles começaram a praticar a escrita. O
suficiente para que Naomi não pudesse esperar mais para ver o que ele
havia lhe enviado.
Naomi encontrou a carta e correu para a cama para se sentar
e ler.
— Ai! — Precisou fazer uma pausa, quando se jogou na
cama sem olhar e bateu a cabeça na cabeceira da cama.
Então, quando percebeu que tinha gritado em voz alta, cobriu a boca
com uma mão e se virou para a porta.
Ela fez uma pausa para ouvir se alguém a tinha ouvido. Mas depois
de um momento, não ouviu nenhuma voz ou passos.
Com um forte suspiro de alívio, Naomi riu apesar de tudo e desabou
na cama. Desta vez com o devido cuidado para não bater em si mesma de
novo.
Era seu lugar favorito para ler. Um lugar pequeno e confortável que
ficava bem embaixo de uma janela, então era sempre caloroso e acolhedor.
Uma vez acomodada, ela abriu o envelope com cuidado, não
querendo estragá-lo com um rasgo. Sua intenção era manter a carta em
perfeitas condições, junto com as demais que o senhor May lhe havia
enviado.
Olhou para o envelope, concentrada, enquanto o abria centímetro a
centímetro, até que estivesse totalmente aberto. Naomi sorriu com seu
sucesso ao puxar a carta com entusiasmo.
O envelope foi colocado de lado em seu travesseiro, para
armazenamento no momento oportuno.
Embora soubesse que estava conversando com o Sr. May sobre um
possível tipo de relacionamento conjugal, Naomi ainda não via essas
cartas como um namoro. A própria ideia a deixava bastante ansiosa quando
começou a escrever para o homem.
Em vez disso, sentiu que pelo menos se tornaram bons amigos. E
não da maneira que ela era amiga de outras pessoas, mas da maneira que a
via como uma pessoa e gostava de aprender sobre ela.
E do mesmo modo ela adorava ouvir o que ele tinha a dizer sobre si
mesmo e seu rancho.
Um rancho. Um rancho em Oklahoma.
Naomi podia imaginá-lo perfeitamente por suas descrições. Ele
falava do nascer e do pô r-do-sol, do trigo ondulando nos campos, das
grandes árvores que se moviam ligeiramente com o vento e do gado que
faziam sua caminhada matinal até o riacho em busca de água.
Quase podia sentir o gosto.
Ela mordeu o lábio quando viu seu nome rabiscado no canto
superior esquerdo da página.
Então ela seguiu suas palavras, assimilando cada uma com uma
fome e fascinação que a deixou querendo mais.
Então encontrou.
Algo que era mais do que satisfatório e que a pegou tão
desprevenida que ela ficou boquiaberta de surpresa.
Seu coração batia forte em descrença. Naomi se perguntou se era
uma piada.
Mordeu o lábio novamente e releu a carta do início, se perguntando
se ela estava imaginando coisas.

Como já disse várias vezes, é um prazer conversar com a


senhorita por meio destas cartas. Gostaria de ter uma conversa na
vida real mais do que qualquer coisa. A senhorita sente o mesmo?
Acha que chegou a hora de nos conhecermos?
Eu entenderei se ainda precisar de um tempo para pensar
sobre isso, já que estou lhe pedindo para deixar tudo o que sabe e
cruzar o país para começar do zero com um estranho. Mas, Srta.
Parrys, acho que chegou a hora de dar o próximo passo.

Um rubor subiu por suas bochechas. Talvez essas cartas tenham


realmente sido um cortejo.
Naomi nunca tinha sido cortejada antes, nem mesmo tinha um
amigo do sexo masculino, então não sabia muito sobre homens e
relacionamentos. Mas o que quer que fosse isso com John May, ela estava
gostando imensamente.
— Chegou a hora? — Naomi fez a pergunta em voz alta ao terminar
de ler a carta.
Ela se sentou e olhou pela janela. Seus olhos estavam focados na
visão à sua frente, mas sua mente correu em outra direção.
A ideia de viajar para o oeste para se casar com um estranho parecia
aterrorizante e excitante. A primeira vez que ela pensou sobre isso, viu
como uma aventura, uma chance de recomeçar. Mas agora que a
possibilidade estava a sua frente, ela se perguntou se ousaria.
Desistiria de sua vida e de sua cidade pelo que um estranho lhe
oferecia? Ela se atreveria a fazer isso?
Pensou no Sr. May e em como ele vinha escrevendo todas aquelas
lindas cartas para ela. Parecia um bom homem e um bom lugar para morar.
Naomi finalmente piscou enquanto olhava para o papel.
Gostaria muito de conhecê-lo. Parar de estar sob o jugo de seu pai,
esperando que ele a casasse com um homem de sua escolha.
Mas como contaria? Ele a deixaria ir?
Era difícil imaginar seu pai dando-lhe aprovação para fazer tal
coisa.
Balançando a cabeça, Naomi largou a carta e se esticou na
cama, deitando-se de bruços, para alcançar debaixo dela. Sua cabeça
pendeu de cabeça para baixo quando alcançou a caixa.
Era uma caixa de chapéu azul clara, usada para um chapéu que ela
quase não usava porque era muito velho.
Mas era do tamanho perfeito para guardar outros itens. Como
algumas anotações, seu livro favorito e principalmente suas cartas.
— Vou deixar isso de lado por enquanto até poder falar com a Tia
— ela raciocinou para si mesma em silêncio, precisando ouvir uma voz
sensata. — Além disso, tenho que pensar bem antes de
dar uma resposta. É uma decisão muito séria que deve ser bem analisada.
Apesar disso, a emoção de viajar para um lugar distante, conhecer o
Sr. May pessoalmente e se tornar uma esposa a excitava.
Uma voz veio da porta tirando-a de seus pensamentos.
— Que decisão você deve tomar, minha querida?
Naomi ficou tão chocada que deixou cair a caixa. Seu cabelo caiu
sobre seu rosto e papéis se espalharam por todo o seu colo enquanto ela se
apressava para se levantar.
Naomi escovou o cabelo para trás e se virou para a porta onde sua
tia Regina estava parada.
— O quê? — Ela entrou em pânico por um momento, pensando
que era seu pai e a tinha descoberto.
Mas Naomi era uma garota esperta, embora ainda não tivesse
completado dezenove anos.
Sua tia Regina sorriu, pulando para pegar o papel mais próximo da
beira da cama. Seu coração deu um pulo quando percebeu que era a carta
que havia lido momentos atrás. A carta mais recente de John May.
Sabia que sua tia conhecia seu segredo e tinha lido algumas de suas
cartas anteriores, mas por algum motivo considerava aquela carta especial
e não queria que ninguém além dela a lesse no momento.
Um pensamento estú pido, mas não pô de deixar de senti-lo.
— É uma carta do Sr. May? — Perguntou sua tia enquanto
observava sua sobrinha se jogar na cama para pegar a carta.
— Sim, acabei de receber.
— Bem, por causa de como você a pegou, deve ter coisas muito
interessantes — ela respondeu com um sorriso irô nico, fazendo sua
sobrinha corar.
— Ele... ele... me perguntou se estou pronta para o próximo
passo.
— E que passo é esse?
— Bem, ele quer que eu vá para Oklahoma e... nos
encontraríamos pessoalmente e então... bem... nos casaríamos.
Regina suspirou e foi até Naomi, que ainda estava sentada na
cama com a carta nas mãos. Era mais do que evidente que agora que
chegara a hora da verdade, sua sobrinha estava com medo.
Algo completamente lógico em face a uma decisão tão importante
para sua vida.
— Você claramente impressionou o Sr. May — ela disse
enquanto se sentava ao lado dela e afastava uma mecha solta de seu rosto.
— A senhora acha?
A emoção que viu em seu rosto disse-lhe que Naomi tinha
começado a sentir algo por este homem do oeste.
— Tenho certeza absoluta. Do contrário, não teria dito que era hora
de conhecê-lo e dar o próximo passo.
— Sim tem razão. — Ela disse, olhando para a carta, como se ali
estivessem todas as respostas.
— Agora você só precisa ter certeza se sente algo pelo Sr. May. E
se sentir, se é forte o suficiente para passar o resto de sua vida como esposa
dele.
Ao ouvi-la, Naomi ergueu a cabeça para olhá-la. Seus olhos estavam
perdidos em um mar de confusão, um reflexo inequívoco do que estava
experimentando por dentro.
— Eu. Devo admitir que gosto da ideia de morar em um rancho. E
o Sr. May parece um homem muito gentil e cavalheiresco.
— É isso que você estava procurando quando decidiu responder
àquele anú ncio de noiva por correspondência?
— Eu realmente não sei o que esperava. Tudo parecia uma
ilusão.
— Mas agora não é mais uma ilusão.
— Sim.
— Se você se arrepender, tem apenas que dizer ao Sr. May
que pensou melhor. Tenho certeza de que ele vai entender.
— Não. Não é isso. É verdade que viajar para esse lugar me assusta
um pouco, pois ficarei sozinha. Mas não me desagrada a ideia de me casar
com o senhor May. — Sem ousar olhar para a tia, ela continuou falando. —
O que mais me assusta é se, quando o senhor May me encontrar, não goste
de mim.
Com a resposta dela, tia Regina começou a rir, sendo algo absurdo.
No entanto, lembrou que não era a primeira vez que comentava sobre o
assunto e decidiu que era hora de deixar as coisas bem claras.
Ao ouvir seu riso, Naomi ergueu a cabeça para olhá-la, com tanta
surpresa que qualquer um teria acreditado que sua tia tinha duas cabeças.
Sem poder resistir Regina a abraçou, sabendo que o que ela
precisava naquele momento era o conforto de uma mãe e a confiança que
essa transmitiria quando a filha se sentisse insegura.
— Naomi. Você sabe que pode confiar em mim, porque eu nunca
mentiria para você.
— Eu sei — disse, ainda em seus braços.
— Então acredite em mim quando digo que este homem, e a maior
parte do gênero masculino, não teria dú vidas em considerá-la linda.
— Mas papai sempre me disse que não tenho nenhuma virtude nem
gosto e que pareço... — Suas bochechas ficaram mais vermelhas e ela
mordeu o lábio inferior.
— Eu vou cuidar do seu pai um dia desses. Mas você não deve
ouvi-lo. Sua tia Regina diz que você é linda, ponto final. — Ela franziu a
testa, entendendo agora de onde suas inseguranças tinham vindo.
Diante da afirmação categórica de sua tia, Naomi riu, desejando,
não pela primeira vez, que seu pai não tivesse mudado depois da morte de
sua mãe.
Quando ela mencionou seu pai, outra preocupação veio à sua
mente, fazendo seu coração parar.
— Não conte a papai sobre a carta. Por favor! — Ela sussurrou
desesperadamente. — Não estou pronta para enfrentá-lo ainda.
Era claro que falar sobre isso era tenso, então Regina fez
questão de acalmá-la.
— Você não precisa se preocupar. Isso é algo entre você e seu
pai e não pretendo interferir nisso.
— Obrigada, eu sei que tenho que contar, mas eu só quero
esperar um pouco mais.
— Então você já se decidiu?
Por um momento, Naomi ficou em silêncio, pensando. Em suas
mãos tinha a oportunidade de recomeçar o que tanto desejava. Ela havia
encontrado um homem que parecia bom e decente, um lugar para criar uma
família e ser ela mesma. Onde poderia pensar e falar sem medo de ser
punida ou humilhada.
Realmente, era assustador pensar em tudo que poderia dar errado,
mas ela também tinha medo do futuro que a esperava se ficasse em Boston.
— Sim. Eu queria um marido do oeste e encontrei um bom homem
disposto a sê-lo. Não preciso pensar em mais nada.
— Deus, garota. Como você é corajosa! — Sua tia respondeu
enquanto a olhava emocionada.
Ela a tinha visto passar do medo e indecisão à resolução absoluta em
questão de minutos, deixando-a sem palavras. Conhecia sua sobrinha muito
bem e sabia que ela era inteligente e corajosa — por mais que seu pai
quisesse minimizá-la — mas nunca teria pensado que ela também era
aventureira.
Só então, percebendo que a decisão havia sido tomada, ela percebeu
o quão real o Sr. May havia se tornado.
Ele não era mais apenas um nome no papel, mas um homem de
carne e osso que seria seu marido até que a morte os separasse.
Naomi esperou medo, confusão ou repulsa, mas em vez disso se
sentia livre e feliz. Mais do que nunca em toda a sua vida.
Não havia mais dú vidas em sua mente.
John May era um homem amigável, trabalhador e honesto que
procurava alguém para acompanhá-lo no deserto.
E ele a escolheu.
Uma vibração percorreu seu coração ao pensar nele. Mal podia
acreditar que não era um sonho.
— Eu sabia que mais cedo ou mais tarde o Sr. May pediria que você
desse esse passo, é por isso que mantenho este envelope na minha bolsa
desde que soube que você estava escrevendo para ele.
Curiosa, Naomi saiu de seus pensamentos e olhou para sua
tia.
— Que envelope?
— Este.
Assim que disse isso, tia Regina tirou um envelope grosso de
sua bolsa e entregou a Naomi.
— Dentro do envelope há algo de que você pode precisar um dia.
Também escrevi algo para você ler quando quiser.
Empolgada por sua tia ter pensado nela, Naomi pegou o
envelope.
— Obrigada. Mas não precisava.
— Sim, era necessário, pequena. Alguém precisa pensar em você e
não será seu pai. Também me sinto muito honrada por ter compartilhado o
seu segredo comigo. Só quero que saiba que eu vou apoiá-la em tudo o que
fizer, mas deve decidir isso logo, antes que seu pai descubra. Se ele
desconfiar de seus planos...
— Então eu não deveria contar nada?
— Isso é com você, mas eu apenas deixaria uma carta para ele antes
de ir. Acho que você não lhe deve mais nada.
Naomi assentiu quando percebeu que sua tia estava certa. Se o
pai dela descobrisse, não a deixaria sair de casa. E se já tomara a decisão,
não devia adiar caso algo desse errado.
— Mas eu vou vê-la de novo antes de ir? — Disse sabendo que
precisaria dela ao seu lado.
— Claro que sim. Quem mais você acha que vai a acompanhar até
o trem quando você partir? Lembre-se também de que lhe assegurei que
sempre pode contar comigo.
Naomi suspirou e sorriu agradecida.
— Obrigada tia, não sei o que teria feito sem a senhora.
As duas mulheres se abraçaram como se soubessem que uma grande
distância logo as separaria.
— E pelo amor de Deus, garota, me deixe ir antes que eu comece a
chorar e minha pele fique arruinada.
Enxugando uma lágrima do rosto, Naomi se afastou dela,
observando enquanto sua tia Regina se aproximava da porta e a abria para
sair.
— E agora, sente-se e diga àquele homem para preparar seu melhor
terno, porque você está indo para Oklahoma. — Assim que disse isso, deu-
lhe uma piscadela e saiu, fechando a porta atrás dela, deixando sua sobrinha
com um sorriso em seu rosto e uma emoção em seu coração.
O peso do envelope em suas mãos a fez baixar a cabeça e
curiosamente se preparou para abri-lo para descobrir o que sua tia lhe dera.
Ao abrir, ficou surpresa ao descobrir notas de cinquenta dólares. Em
descrença, balançou a cabeça enquanto tocava as notas. Nunca vira tantas
juntas.
A princípio ela ficou confusa, sem saber por que havia lhe dado uma
quantia tão grande de dinheiro.
Ela sabia quanto tempo seu pai teria trabalhado por aquela quantia
de dinheiro e se perguntou onde sua tia o teria conseguido. Ainda mais,
como poderia dispor daquela quantia.
Dobrou o dinheiro e colocou-o na gaveta da mesinha de cabeceira.
Mas antes de jogar o envelope fora, percebeu que havia algo mais dentro.
Novamente enfiou a mão no envelope e tirou uma carta. Ela a abriu
com cuidado e começou a ler.

Querida Naomi,
Tenho certeza de que você achará estranho eu lhe dar essa
quantia de dinheiro. Mas eu tenho um motivo.
Estava pensando na sua viagem e no que teria que enfrentar
quando chegar. O oeste é uma terra assustadora, distante e, claro,
pode ser perigosa, mas também pode ser maravilhosa.
Como você pode ver, estou convencida de que acabará indo
para aquele lugar. E tenho certeza de que será feliz, mas eu não
ficaria calma se não lhe desse uma saída para o caso de as coisas
não correrem tão bem.
Esse dinheiro lhe proporcionará estabilidade e
independência. Com ele, você pode retornar a Boston ou se
estabelecer por conta própria no Oeste, se as coisas não derem
certo. Agora a decisão é sua, não de um estranho.
Este dinheiro teria que ser dado a você por seu pai, mas sei
que ele nunca faria isso por você, então imploro que aceite em meu
nome.
Seja feliz, minha garotinha. Você merece.
Eu lhe desejo o melhor.
Regina

Por um momento, Naomi olhou boquiaberta para a carta. Não podia


acreditar. Sua tia havia lhe dado esse dinheiro para lhe dar opções.
Agora poderia ir para Oklahoma com a certeza de que, se não
gostasse, poderia voltar ou se estabelecer por conta própria.
Independência.
Uma palavra que nunca pensou ser possível Ela
suspirou e foi até a mesa.
Já estava tudo decidido. Ela responderia ao Sr. May o mais rápido
possível e começaria a vida que tanto desejava.
Capítulo

-E ntão você quer que eu traga algo da cidade para o jantar? —


John perguntou com um sorriso.
Seu irmão fez uma careta para ele por cima do ombro, não
apreciando sua oferta. Sabia que estava brincando, já que Jason sempre
reclamava quando era sua vez de cozinhar.
Mesmo assim, ano após ano, ele se recusou a deixar John contratar
alguém para cozinhar e limpar a casa. Dizia que não queria um estranho
fofocando sobre suas coisas, apesar de conhecer todo mundo a quilô metros
de distância.
John não entendia sua teimosia em ficar fora do mundo, mas já
estava cansado de brincar. Principalmente porque havia percebido que
ficavam cada vez mais isolados e isso não podia ser bom.
Seu irmão devia se acostumar com as pessoas de novo e a mais
algumas mudanças.
Mas naquele dia Jason ficou de mau humor durante toda a manhã e,
aparentemente, as piadas não iriam melhorar seu ânimo. Embora John não
pudesse deixar de implicar com ele.
John encolheu os ombros quando Jason se virou sem dizer uma
palavra e se afastou pelo caminho. Embora parecesse sempre
estar zangado, John tinha a sensação de que nas ú ltimas semanas estava
sendo mais arisco do que de costume. Embora isso não significasse que
evitasse mexer com ele, como fazia desde que eram crianças.
A lembrança dele com seu irmão e seus pais o assaltou,
transportando-o para outro tempo que agora parecia distante.
John ainda podia ouvir a voz de seu pai lembrando-o de que um dia
ele teria que tomar decisões difíceis e assumir o controle de sua própria
vida.
Aconteceu um pouco mais cedo do que o esperado, mas não havia
mais nada a ser feito para remediar.
Havia coisas que seus pais não tiveram tempo de ensinar a ele ou a
seu irmão. Pequenas coisas como consertar uma roda de carroça, plantar
vegetais e como falar com mulheres bonitas.
Mas eles descobriram essas tarefas. Mais ou menos. John
riu disso.
Foi uma das primeiras lições que ele se lembra de ter aprendido,
quando estava ajudando seu pai a ensinar Jason a andar a cavalo pela
primeira vez. Não deveria ter mais de cinco anos, porque eles começaram
muito jovens.
Quando Jason caiu, John riu e seu irmão mais novo se levantou com
raiva, com os punhos cerrados e as bochechas roliças vermelhas e
empoeiradas.
Seu pai segurou os dois nos braços, um sorriso nos lábios.
— A vida nos faz coisas malucas — ele os havia lembrado.
— Todos nós passamos por momentos difíceis e acidentes felizes. Podem
ser as mesmas coisas se deixarmos.
John levou alguns anos para entender o que seu pai quisera
dizer.
Mas aprendeu quando cravou um prego na lateral do corpo
depois de cair de uma escada, e aprendeu quando comprou seu primeiro
cavalo, que não estava tão arruinado como lhe disseram.
A vida era feita de pequenos acidentes felizes, e ele estava bem com
isso.
Jason, por outro lado, não pensava assim.
Mas John não podia fazer muito sobre a atitude de seu irmão.
Embora, supô s, provavelmente pudesse provocar o jovem um pouco
menos.
Depois da piada e não encontrando Jason em lugar nenhum para
informá-lo de que estava de partida, John montou em seu cavalo e dirigiu-
se decididamente para o correio.
Ninguém o interrompeu ou parou, porque ele tinha apenas uma
coisa em mente que queria fazer o mais rápido possível. Verificar se a Srta.
Parrys tinha respondido.
Estava morrendo de vontade de saber se concordava em dar um
passo adiante e ir para Oklahoma para se casar, embora não soubesse se o
assustava mais descobrir que o havia aceitado ou recusado.
Um medo estú pido, já que fora ele quem colocara o anú ncio à
procura de uma esposa.
O Sr. Collins sorriu quando John entrou pela porta.
— Você tem um timing impecável, meu jovem.
O coração de John deu um salto quando o ouviu.
— Eu tenho uma carta?
O homem riu enquanto assentia.
— Certamente. Entre no escritório por um minuto, John. O vento
está forte aqui fora e estou muito velho para suportá-lo.
Assentindo, ele tirou o chapéu e entrou conforme as instruções
do Sr. Collins.
— Eu posso sentir o cheiro da umidade no ar. — John comentou
casualmente, embora seu comentário tivesse um propósito. — Teremos
neve em alguns dias e isso me lembra... Você e sua esposa ficarão bem
neste inverno?
O Sr. Collins acenou com a mão no ar.
— Anne e eu ficaremos bem. Você sabe como podem ser os mais
velhos.
— É por isso que perguntei — John riu.
Ele observou o homem cuidadosamente enquanto ele alcançava o
balcão, franzindo a testa ligeiramente por estar mancando.
— Seu joelho está ruim de novo?
O homem fez uma careta para ele paternalmente enquanto tirava um
envelope de uma prateleira.
— Tem estado um pouco desajeitado ultimamente, mas isso não
significa nada. Meu joelho sempre range com o frio. Eu vivi muito tempo
com esse joelho chato e viverei um pouco mais com ele.
— Tenho certeza disso — John assentiu preocupado. — Mas isso
não vai me impedir de falar com alguns amigos para ter certeza de que
vocês dois estarão seguros durante o mau tempo.
— Você pode fazer o que quiser, afinal, fará das suas não importa o
que eu disser — acrescentou ele antes que John pudesse protestar.
— Eu só quero ter certeza de que vocês dois ficarão seguros e
aquecidos. Tem lenha suficiente?
— Sim — assegurou-lhe o Sr. Collins. — Nem tocamos no pacote
que você trouxe no mês passado. Mas obrigado pela sua preocupação.
Agora, você quer sua carta ou quer continuar sendo meu pai?
O pequeno bufo do homem fez John sorrir e o fez usar toda sua
força de vontade para não rir alto.
Havia algumas pessoas mais velhas em Valley Grave que se
estabeleceram naquela terra antes de ele nascer. E eram todos iguais:
orgulhosos, teimosos e empacados demais para acreditar que não eram
tão fortes agora quanto eram quando jovens.
Não que chamasse qualquer um deles de fraco. Eles tinham alguns
dos maiores corações e almas que já conheceu. No entanto, isso não o
impedia de se preocupar com sua claudicação, dores e sofrimentos.
Havia tanta coisa que poderia fazer por eles, e queria ter certeza de
que faria todo o possível.
Então ele adotou a expressão humilde que o Sr. Collins estava
procurando e acenou com a cabeça.
Estendeu a mão e disse:
— Sim, senhor, gostaria muito dessa carta.
— Bom — Sr. Collins acenou com a cabeça vigorosamente.
— Não há necessidade de se preocupar conosco. Estamos bem. Agora
aproveite essa sua carta e espero vê-lo novamente em breve para enviar sua
resposta.
John piscou para ele antes de abrir a porta para sair.
— Obrigado, Sr. Collins. Fique aquecido.
Ele ainda estava sorrindo quando voltou para seu cavalo e ouviu à
distância as imprecações do Sr. Collins sobre os jovens que pensavam que
sabiam de tudo.
Isso o fez se perguntar por um momento se agiria assim. A velhice
ainda parecia longe, mas a cada dia ela se aproximava, mesmo que não
quisesse.
Seus trinta anos não estavam longe e, no oeste, todo ano era um
marco. Não era um lugar fácil de se viver.
Embora John amasse sua terra. Principalmente seu rancho, esse
lugar era um mundo à parte.
Seus pais trabalharam muito para construí-lo, comprando-o recém-
casados de um casal que não tinha mais nada e precisava se mudar para o
leste para cuidar da saú de.
Seu pai havia contado muitas vezes essa história, sobre como
tinham uma obrigação não só consigo mesmos, mas também com esse casal
de fazer o rancho um sucesso.
E também para as gerações futuras, pensou John.
O estô mago de John apertou quando ele diminuiu a velocidade para
olhar a carta em sua mão.
Reconheceu a caligrafia da Srta. Parrys quando o Sr. Collins a
entregou, mas não quis ser rude de parar para olhar e mal a observou.
Agora, enquanto caminhava, sentia-se nervoso e inquieto, querendo
chegar ao rancho o mais rápido possível para lê-la. Principalmente porque
aquela carta era mais especial do que as outras.
Sem pensar mais nisso, ele montou em seu cavalo e o pô s a galope.
Precisava chegar lá o mais rápido possível.
Ele segurava as rédeas com uma das mãos enquanto agarrava a carta
com a outra. Por alguma razão que não entendia, não conseguia parar de
segurá-la, em vez de colocá-la no bolso.
Como uma expiração, o cavalo percorreu os seis quilô metros em
tempo recorde, embora isso não tenha feito John se sentir melhor.
Ele podia sentir a carta em suas mãos e a forma como fazia cócegas
em seus dedos. Apesar de já estar no rancho, a cada segundo que passava,
mais chateado ele se sentia. Estava chegando a um ponto em que começou a
notar uma espécie de formigamento que começou a subir pelo braço, até se
espalhar pela cabeça e descer pela coluna. O ritmo era tão acelerado que
logo começou a lhe faltar oxigênio enquanto reunia coragem para abrir a
carta.
Talvez ela tenha dito não. Talvez ela tenha dito sim.
Embora John tentasse dizer a si mesmo que não importava o que ela
decidisse fazer, ele já sabia o que estava esperando. Só lhe preocupava não
ter tanta sorte.
Respirou fundo e caminhou ao redor do cavalo por alguns minutos
enquanto pensava sobre isso.
Na carta bem protegida pelo envelope, Naomi diria a ele se aceitava
ou não. Se estava disposta a ir para Oklahoma para se casar com ele, ou se
pensara melhor e decidira ficar em Boston.
Se aceitasse, ela o veria, seu rosto, suas mãos e suas roupas.
Gostaria de ver o rancho, o jardim e os cavalos. Veria a casa principal
que não tinha o toque de uma mulher há anos, e veria as planícies que se
estendiam por dias fora das janelas da casa.
Teria muito o que lhe mostrar, muito o que aprender e ver.
Mas John não sabia se ela gostaria de nada disso.
Percebendo que estava ficando louco, John grunhiu e puxou a
carta. Não podia continuar perdido em seus pensamentos, pelo menos não
até que soubesse o que ela havia decidido.
— Outra carta? — Jason caminhou até ele, carregando dois sacos de
aveia sobre o ombro. — Por quanto tempo você planeja escrever para a
velha?
Mas John não prestou atenção nele. Na verdade, nem percebeu que
seu irmão estava por perto.
Os olhos de John estavam mais focados na página que ele estava
lendo avidamente, então relendo novamente em descrença.
Era uma de suas cartas mais curtas, mas ele não se importou.
Estava mais interessado no conteú do escrito em tinta, não na quantidade.
Inalou profundamente, surpreso com a resposta dela. Ela queria vir. Naomi
concordou em ser sua esposa.
— Esta será a ú ltima. — John se virou para o irmão com um sorriso
no rosto. — Ela decidiu vir. Ela disse sim.
Vendo o espanto no rosto de seu irmão, John franziu a testa. Não
entendia essa explosão de raiva e constrangimento, quando ele sabia desde
o início de suas intenções de se casar com a mulher que respondeu ao seu
anú ncio.
Uma mulher que felizmente foi Naomi Parrys.
— Você tem algo a dizer?
Jason deu um passo à frente, visivelmente zangado.
— Claro que tenho algo a dizer. Por que aceitou? John
estendeu a mão para mostrar a carta.
— Não tenho nem ideia. Só sei que aceitou e estará aqui em alguns
dias.
Jason balançou a cabeça enquanto jogava sua carga no chão e
enxugava o suor na manga da camisa.
— Ela provavelmente pensará que você é rico por ter um rancho.
John não gostou que seu irmão dissesse tal coisa, pois não conhecia
a Srta. Parrys, ou seus motivos para aceitar sua oferta de casamento.
— Talvez você esteja certo. Por que você não pergunta a ela quando
chegar? E por falar nisso, você pode dizer a ela exatamente quanto dinheiro
tem no banco, caso prefira pegar o trem de volta.
— Oh, vamos. Não fique nervoso. No fundo você sabe que estou
certo. Por que uma mulher da costa leste, sofisticada, desejaria morar em
Valley Grave?
John franziu a testa com raiva novamente e deu um passo em
direção ao irmão. Não gostava da maneira como Jason falava com ele,
especialmente quando se tratava da srta. Parrys.
Uma pequena parede de tensão formou-se em torno dele.
— Não estou pedindo sua opinião. E eu não gosto que você fale
sobre minha futura esposa assim.
— Se é verdade que ela está vindo. Talvez tenha pensado melhor e
não apareça.
— Nesse caso, isso será problema meu e não seu.
— Você está sendo um tolo — Jason gemeu enquanto passava a
mão pelo cabelo. — Vai se arrepender disso.
Com rigidez, John guardou a carta em um dos bolsos, lamentando
que o irmão tivesse estragado a alegria de saber que ela o havia aceitado.
Queria compartilhar aquele momento especial com Jason, mas
obviamente estava errado.
Mas quando ele viu como seu irmão o observava nervosamente, não
conseguiu mais ficar com raiva dele. Talvez tivesse recebido a notícia dessa
forma por não querer que as coisas mudassem entre eles, ou talvez
acreditasse que agora que ia se casar, ele estaria sobrando no rancho.
Algo que obviamente não era verdade.
Ainda faltavam alguns dias até o trem chegar com a Srta.
Parrys, e Jason poderia mudar de ideia nesse meio tempo.
Ou talvez, com sorte, pensaria de forma diferente quando a
conhecesse.
Só esperava que não a ofendesse, porque queria que ela tivesse uma
boa impressão daquela terra, de seu rancho, de seu irmão e, claro, dele,
desde o início.
— Em alguns dias, descobriremos quem está certo. — Ele tentou
suavizar a atmosfera com um tom alegre. — Mas você precisa ter um pouco
mais de fé. Ela virá. Confie em mim.
Seu irmão suspirou pesadamente, como se aquela conversa o
deixasse desconfortável.
— Se está dizendo.
Então Jason pegou sua carga novamente e foi embora, deixando
John sozinho com seus pensamentos enquanto olhava para o horizonte.
— Ela virá — disse ao vento, sentindo o peso da carta nas
mãos.
Bons tempos estavam chegando. Podia sentir isso no ar frio e
fresco e como este acariciava seu rosto.
Capítulo

O som do apito do trem soou alto no


alto, abafando o som dos primeiros passos de Naomi na plataforma. Do
lado de fora da porta do compartimento, parou para esticar o corpo cansado
e respirar o ar fresco do exterior. A multidão havia se acotovelado ao redor
dela durante os primeiros passos, mas agora seus companheiros de viagem
seguiam caminhos diferentes.
Que surreal, estar sozinha de novo depois de três dias e meio em
companhia constante. No entanto, Naomi não pô de deixar de sorrir. Seu
coração nervoso batia com entusiasmo em seu peito.
Estava esperando por esse momento desde que a primeira carta de
John May chegou pelo correio, e durante todo o caminho para Oklahoma.
Por semanas, ele foi uma espécie de fantasma em sua mente e estava prestes
a se tornar real.
Naomi ficou na ponta dos pés, segurando a saia, examinando os
rostos em busca de um que pudesse lhe pertencer.
Uma breve onda de ansiedade amorteceu sua alegre antecipação. Os
piores cenários possíveis passaram por sua mente: abandonada, esquecida,
esperando em vão na plataforma vazia sem o homem que seria seu
marido. Ela cerrou as mãos com força
para evitar que tremessem, determinada a deixar todas as suas dú
vidas no passado.
— É um prazer tê-la conosco, senhora. Espero que não tenha sido
muito agitado para a senhorita.
A voz do carregador a assustou já que não o ouviu se aproximar.
Felizmente, recuperou-se rapidamente e foi capaz de oferecer ao jovem
sorridente e atarracado uma resposta coerente.
— Não, em absoluto. Gostei da viagem. — Disse acompanhando
essas palavras com um sorriso e uma gorjeta generosa.
O rapaz, grato por sua gentileza, deixou a bagagem ao lado dela, e
então perguntou-lhe delicadamente enquanto olhava em volta:
— Está esperando por alguém?
Antes que pudesse responder, ela o viu.
Ou pelo menos viu um homem que poderia ser ele. Estava parado
em silêncio ao lado, no final da plataforma, onde um conjunto de escadas
de madeira descia até onde ela estava.
Suas mãos estavam enfiadas nos bolsos e seus olhos baixos estavam
sombreados pela aba larga de um chapéu marrom macio.
O sorriso de Naomi testemunhava que ao vê-lo tinham silenciado
seus temores.
— Sim. E vejo que o senhor que estou esperando acaba de chegar.
Ela agarrou com segurança suas duas malas, deixando seu grande
baú esperando o carregador pegá-lo, e se dirigiu em sua direção. Ao longo
dos metros que os separavam, Naomi não conseguia tirar o olhar do
homem, temendo que ele desaparecesse.
O homem pigarreou, mudou de posição, enfiou as mãos ainda mais
fundo nos bolsos, tudo sem erguer os olhos.
Finalmente, ele olhou em sua direção e ela vislumbrou pela primeira
vez os olhos mais bonitos que já vira, com seu centro âmbar cercado
por um azul safira brilhante.
Vendo como o homem se endireitou, percebeu que a tinha visto e
sem dú vida sabia quem era. Quando ele começou a andar em sua direção,
não teve mais dú vidas.
Foi então que seu coração começou a bater tão forte que ela pensou
que ia pular para fora de seu peito. Naomi tentou suprimir o sorriso do
rosto, mas não conseguiu.
O homem era muito bonito, com cabelos escuros, traços finos
acentuados por bochechas com covinhas e uma covinha no queixo. Ele a
pegou olhando em sua direção e tirou o chapéu ao se aproximar dela.
— A senhorita é... senhorita...
— Naomi Parrys — disse, oferecendo a mão. — O senhor é John
May? O homem esperando por uma noiva por correspondência?
Ele engoliu em seco antes de responder parecendo desconfortável.
Como se não soubesse o que fazer na frente de uma mulher. Embora
também pudesse ser por conhecer sua futura esposa.
— Sim senhorita. — Seus lábios mal soltaram as duas palavras. —
Eu sou John May.
Sua voz era suave e baixa; Isso lhe deu um pequeno arrepio, de um
jeito bom.
John mal conseguia respirar, como se a beleza dela tivesse
paralisado seus pulmões. A mulher de cabelos escuros chamada Naomi
Parrys era mais bonita do que esperava.
Ela tinha cabelos negros brilhantes, olhos verdes esmeralda e pele
impecável com maçãs do rosto salientes e um rosado nas bochechas.
Por que uma beleza dessas responderia a um anú ncio de noiva por
correspondência? Estava fugindo de algo ou alguém? O pensamento enviou
um calafrio por sua espinha.
Uma pontada aguda de suspeita tomou conta de seu estô mago,
pensando que algo obscuro tinha feito esta mulher aceitar sua oferta de
casamento. Cuidado. Tinha que ter cuidado.
— Sr. May, é um prazer conhecê-lo. Embora talvez considerando
nosso relacionamento... — Ela fez uma pausa por alguns segundos — Eu
deveria começar a chamá-lo de John. E, por favor, me chame de Naomi.
Naomi teve que fazer o possível para diminuir a onda de euforia que
corria por suas veias. Era isso, a aventura que tanto desejava estava pronta
para finalmente começar!
— Naomi. — Ele deu um leve aceno de cabeça.
Os dois estavam tão absortos em se olhar que nenhum dos dois
percebeu o rapaz ou como ele deixou o baú da mulher e foi embora.
O olhar de Naomi procurou seu rosto como se esperasse algo,
possivelmente algumas palavras sobre como estava feliz em vê-la.
Mas John não estava acostumado a falar com mulheres e só ficou
lá até notar a bagagem dela.
— Uh... deixe-me ajudá-la com sua bagagem.
— Obrigada. — Ela parecia um pouco confusa e havia detectado.
Alívio?
John pegou suas duas malas com uma das mãos e o baú com a
outra, como se as três coisas quase não pesassem. Então carregou o baú
sobre o ombro e começou a descer da plataforma.
Naomi simplesmente o seguiu, embora ele não tivesse lhe dito nada.
Então ela ficou parada observando John colocar tudo na parte de trás de
uma carroça.
O mais incô modo de tudo era sentir-se observada pelas poucas
pessoas que estavam por perto.
A carroça estava estacionada sob o sol forte, então não demorou
muito para Naomi sentir calor. Ou talvez ela se sentisse assim, por causa
dos olhares fixos neles.
Lutando para resistir à vontade de ser rude, Naomi deixou seus
olhos inquietos vagarem pela vizinhança em torno da estação de trem.
O grande céu azul de Oklahoma brilhava acima dela, em uma bela
manhã. Talvez o vento estivesse soprando com um pouco mais de
intensidade do que ela estava acostumada, ou era um pouco mais frio do
que costumava ser nesta época em Boston. Mas ela não podia negar que
era maravilhoso senti-lo em seu rosto, principalmente para se refrescar
depois de tantas horas sentada e os olhares daquelas fofoqueiras.
Um gemido escapou de seus lábios com a memória. No que ela se
meteu?
Sabia que estava indo para uma cidade pequena e seria o assunto
por um tempo, mas não achava que as pessoas de Valley
Grave fossem tão descaradas.
Enquanto isso, John não parava de se perguntar o que teria sido
necessário para uma mulher tão bonita aceitar seu convite.
Então as palavras de seu irmão vieram à sua mente e pensou que
talvez fossem verdade. E se ela procurasse o dono de uma próspera
fazenda? E se estivesse fugindo de alguma coisa?
Embora fosse verdade que não podia esperar que ela se casasse por
amor, uma vez que eles mal se conheciam, pelo menos queria acreditar que
tinha gostado de algo nele para aceitar sua oferta.
Ele reconheceu que podia ser chamado de vaidade, mas não
conseguia suportar a ideia de que ela estivesse apenas procurando seu
dinheiro ou uma saída.
O problema era que ela já estava lá, e ele teria que encontrar uma
desculpa para conhecê-la melhor — e tentar descobrir seus motivos —
antes de ver seu rancho.
“ Comida! Para que eu possa fazer com que fale sobre ela e
descubra seus motivos. Também é um tanto informal e não me sentirei tão
nervoso quando a tivesse por perto” .
— Está com fome? Eu imagino que esteja após a longa jornada.
Meu rancho fica a cerca de seis quilô metros de distância, mas Valley
Grave tem um restaurante muito bom.
— Sim, estou com um pouco de fome. — Havia um claro alívio em
seu tom. — Eu não me importaria de comer algo.
— É uma caminhada curta até o restaurante — disse John,
oferecendo o braço para guiá-la e esquecendo-se da carroça com a bagagem
dentro.
Capítulo

C aminharam dois quarteirões até um


lugar chamado Maggie' s. Era cedo para o jantar, então apenas um
quarto das mesas estavam ocupadas. Uma mulher os cumprimentou
quando entraram.
Ela devia ter quarenta e poucos anos e era um tanto cheia de carnes,
embora Naomi não a considerasse gorda. Seu cabelo era preto e estava
preso em um coque onde fios estavam escapando.
— Olá, John — disse ela, exibindo um grande sorriso que mostrava
sua gentileza. — Ouvi dizer que procurava uma noiva por correspondência.
E pelo que vejo você já tem uma. E muito bonita.
John tirou o chapéu assim que entrou e agora o segurava com
uma das mãos. Dava para ver que ele estava nervoso, especialmente porque
não esperava ser questionado tão cedo sobre sua noiva.
— Sim senhora. É verdade. Esta é Naomi Parrys.
Naomi em seu lugar estava calma e olhava para tudo ao seu redor
como se fosse surpreendente.
Além do mais, Naomi não conseguia acreditar que estava em um
lugar tão rú stico, mas aconchegante, com suas toalhas de mesa
quadriculadas vermelhas e brancas, a lareira ao fundo e o resto das
instalações de madeira.
Determinada a começar sua nova vida com o pé direito, ela deu
alguns passos à frente e estendeu a mão para aquela mulher que parecia tão
simpática.
Afinal, ela tinha chegado tão longe para ser ela mesma e não
precisava mais ser aquela mulher recatada, quieta e simples que tinha que
fingir com seu pai.
— Acabei de chegar de Boston.
— Bem-vinda a Valley Grave. — A mulher pegou a mão de Naomi
e segurou-a entre as suas. — É bom ter você aqui, Naomi. Eu sou
Maggie Darnell. Meu marido Tom e eu somos os proprietários deste
estabelecimento. Há vinte anos que estamos aqui e posso assegurar que é
um prazer ver um novo rosto. Ainda mais se for de uma jovem.
— Obrigada, senhora.
Até agora, Naomi gostara da cidade, exceto pelos olhos curiosos
que a observaram na estação de trem.
Foi então que percebeu que naquele lugar deveria ser muito raro ver
um estranho, ainda mais com roupas da ú ltima moda.
Olhando para a Sra. Darnell e algumas das clientes, ela percebeu
que neste lugar as roupas eram projetadas para seu conforto e não para sua
elegância.
Teve que admitir que a escolha de seu vestido foi mais do que
bem pensada para causar uma boa impressão no Sr. May, e por isso ela
parecia se destacar da multidão.
— Maggie e Tom são considerados os melhores cozinheiros do
mundo. — John assegurou agora um pouco mais calmo. Talvez
por estar em um lugar familiar onde se sentisse confortável. — Na verdade,
eles nos acostumaram mal aos seus pratos, que são difíceis de bater.
— Tenho certeza de que não sou tão boa cozinheira quanto minha
mãe, ou a senhora e o Sr. Darnell, mas recebi alguns elogios por meus
ensopados — disse ela alegremente enquanto a Sra. Darnell os
conduzia para uma mesa isolada ao lado de uma janela.
Rindo, Maggie deu um tapinha no ombro de John e disse:
— Tenho certeza de que você se dará bem. — Então se virou para
Naomi quando ela se sentou à mesa: — Conseguiu um bom homem. Todos
nós gostamos de John. E pelo amor de Deus, todos aqui me chamam de
Maggie.
— Então é assim que vou chamá-la, Maggie. — Ela acompanhou
sua declaração com um sorriso.
Ela entregou a eles cardápios de papel grosso e continuou falando.
— Hoje pode pedir minhas tortas de maçã especiais assadas para a
sobremesa. E posso garantir que ficaram deliciosas.
— Posso garantir que ela não está exagerando — disse
John.
— Então vou pedir uma porção para a sobremesa — ela
conseguiu dizer sem mostrar que estava com água na boca.
— Posso pegar um café ou algo assim enquanto olha o menu?
Temos um chá gelado maravilhoso.
— Isso soa bem, especialmente depois de uma longa
jornada.
— Vou lhe pegar um copo de chá, então. E você, John?
— Traga-me o mesmo, por favor.
Maggie voltou rapidamente para a cozinha. Poderia se dizer que ela
era uma mulher forte e determinada que dizia coisas na sua cara. Quer
dizer, o tipo de pessoa que Naomi gostava.
Depois de ficar sozinha, Naomi percebeu o que seu futuro marido
parecia estar lutando, como se quisesse dizer algo, mas não tivesse certeza
se conseguiria encontrar as palavras.
— Naomi, não sei se você sabe como funciona esse noivado por
correspondência, mas geralmente as duas pessoas que se correspondem não
se casam imediatamente. — Ele revirou o cardápio nas mãos até
acrescentar: — Levam um tempo para se conhecerem.
Ela acenou com a cabeça.
— Sim, foi o que disse no jornal.
John continuou falando como se ela não tivesse respondido.
—A noiva também tem a oportunidade de se acostumar com seu
novo ambiente e com seu marido. Afinal, é uma grande mudança para nós
dois.
Parecia que havia memorizado o que estava dizendo a ela. Incapaz
de acrescentar algo significativo, Naomi simplesmente disse:
— Sim, eu sei.
— Só eu e meu irmão vivemos no rancho, mas já arranjei tudo para
que fique com os Stevensons. — Ele continuou a mexer no menu. — Eles
têm uma casa grande e você terá seu próprio quarto. Pode ficar com eles
ou... hum, você pode ficar no meu rancho enquanto nós... er...
— Nós nos conhecemos melhor — concluiu Naomi, ao perceber
que John estava tendo dificuldade para terminar a frase.
— Sim. Também tenho um quarto extra no rancho, então você pode
escolher onde se hospedar.
— Seus cavalos estão em seu rancho? — Ela perguntou
ingenuamente. — Eu gostaria... Eu gostaria de ver seus cavalos. Eu montei
um pouco em Boston e gostaria de continuar montando aqui em Oklahoma.
— Claro. — Ele assentiu. — Tenho uma égua castanha na fazenda
que acho que você pode gostar. Ela é muito rápida, mas dócil. Você
poderia... ser a amazona perfeita para ela.
— Obrigada. Os cavalos são animais maravilhosos. Montar dá uma
sensação de liberdade, não acha?
Ele acenou com a cabeça, mas não disse mais nada. Ela se
perguntou se ele suspeitava o que ela estava prestes a sugerir.
— Bem — ela tentou modular sua voz para torná-la mais suave, o
que não foi tão fácil quanto ela pensava. — Já que você tem cavalos,
gostaria de ficar em seu rancho. Estou muito animada para explorar e me
acostumar a morar lá.
John a encarou tão intensamente que teve que engolir e apertar as
mãos para não notar que estava suando. Alguns segundos depois, quando
ele não disse nada, ela se sentiu obrigada a acrescentar:
— Afinal, se tudo correr bem, será minha nova casa.
Dizendo isso, era mais do que evidente que os mú sculos de John
ficaram tensos em seu pescoço e mandíbula, e seus olhos endureceram.
Felizmente Maggie apareceu naquele momento com o chá gelado e
colocou os copos na frente deles. John imediatamente pegou o seu e o
tomou em um gole só.
— Quer pedir agora? — Maggie perguntou a eles, mas foi Naomi
quem respondeu.
— Umm, sim. — Esperava que colocar um pouco de comida em
seu estô mago pudesse relaxá-lo. — Disseram-me que os bifes são muito
bons em Oklahoma.
— Eles são. A maior parte de nossos novilhos são bovinos
alimentados com milho — disse Maggie, deixando a boca cheia de água
novamente — e sabemos como prepará-los. Depois de comer nossos bifes,
não os esquecerá.
— Isso mesmo — John confirmou. — Ele havia relaxado, mas
ainda parecia um pouco infeliz.
— Já que terei que cozinhar muito, você poderia me dar um
conselho? Talvez uma receita ou duas? — Ela aproveitou a oportunidade
para melhorar o humor de John.
— Com certeza que sim. — Ela sorriu para Naomi e tirou o
cardápio. — Nosso bife básico é o favorito dos clientes. Os
acompanhamentos do dia são purê de batata com molho e milho. Além
disso, não se esqueça da torta de maçã.
— Oh, isso parece maravilhoso — disse Naomi enquanto seu estô
mago começou a reclamar. — Eu quero isso.
— Eu também — John declarou em um tom melancólico.
— Então vou pedir dois bifes completos. Você parece tão faminta
quanto um urso recém-saído da hibernação.
Antes de se afastar deve ter visto algo estranho nos olhos de John,
pois não pô de deixar de se aproximar de Naomi e dizer em tom gentil e
sincero:
— Eu quero dar novamente as boas-vindas a Valley Grave.
— Obrigada.
— E no domingo, você deve vir e ouvir o reverendo Jeremy Ascott,
ele é o pastor da igreja local e dá um bom sermão todas as semanas. Nosso
serviço religioso é quase um ponto de encontro para muitos na cidade. O
reverendo Ascott é quem realiza os casamentos, batizados e enterros, e ele
faz um bom trabalho em todos os três.
— Eu gostaria de comparecer. — Naomi respondeu, agradecendo
com um sorriso pela recepção.
— Bom. — Ela deu um tapinha no ombro de John. — Espero que
John a traga no domingo. A frequência dele e de seu irmão tem sido um
pouco irregular, mas acho que estavam ocupados trabalhando. Então você
terá que empurrá-lo para fora daquele rancho e trazê-lo para a igreja.
— Maggie — John protestou enquanto fazia uma careta para ela, —
nós nos encontramos algumas vezes, e isso foi na igreja, não no meu
celeiro.
Maggie piscou para Naomi, fazendo-a rir, e então saiu, deixando-
os sozinhos. Ela parecia estar implicando com John para fazê-lo falar.
Naomi gostava daquela mulher forte e de espírito terno. Uma vez sozinha
Naomi voltou sua atenção para John,
perguntando-se por que ele estava evitando contato visual com ela.
— Estou ansiosa para ver o rancho— disse ela, tentando manter
uma conversa. — E talvez tenha que ter um pouco de paciência sobre a
cozinha, já que não conheço os seus gostos nem os pratos típicos da região.
— Isso é compreensível. — Seu sorriso era educado, mas forçado.
— Sabe cozinhar? — Naomi perguntou, sorrindo brilhantemente.
— Aposto que minha comida é melhor que a sua.
— Talvez — disse ele com uma carranca. Ela
manteve o sorriso no lugar.
— Isso foi uma piada, John.
Ele olhou para ela, em silêncio por um momento, e então admitiu:
— Eu não tenho muito senso de humor.
Depois de ouvi-lo, escondeu sua decepção. Ela valorizava o humor,
mas não teve muito em Boston. Por essa razão, esperava que ele também o
valorizasse. Seu sorriso vacilou, mas a forçou a voltar para um que não era
tão... tão brilhante.
John sorriu educadamente antes de quebrar o contato visual
novamente. O que diabos estava acontecendo em sua mente?
Capítulo

não foi fácil.


E le tentou evitar olhar para Naomi, mas

O olhar de John queria se concentrar nos outros clientes, mas


não conseguia. A ú nica coisa que notou é que os outros clientes olhavam
em sua direção de vez em quando, mais especificamente para Naomi.
Ficou tentado a dizer “ Pare de olhar para ela” , embora tivesse
medo de fazer papel de bobo se o fizesse. Além disso, entendeu por que
eles olhavam tanto para ela, porque ele também queria absorver aqueles
olhos preciosos por horas, se não tivesse medo de começar a babar.
Então fingiu ser indiferente. O problema era que ela era tão fácil de
falar quanto de se olhar, mesmo depois de uma jornada de mil milhas. E
agora, ele tinha que descobrir a coisa mais importante, quão genuína era
essa bela mulher sentada a sua frente?
Poderia confiar nela? Estava apenas procurando por seu dinheiro e
não por seu afeto? Poderia se acostumar com uma vida simples em um
rancho? Sentiria falta de Boston? E como obteria respostas para essas
perguntas?
Jason! Talvez ele pudesse descobrir algo, já que tinha uma certa
capacidade de julgar o caráter. Ou pelo menos conseguia isso com cavalos e
cães.
— Espero que goste do Valley Grave — disse ele.
— Parece muito bom, John, mas estou um pouco ansiosa para ver
seus cavalos e o rancho.
Estaria disposta a admitir isso, se apenas quisesse enganá- lo?
Estaria sendo muito cauteloso?
— Pode estar muito escuro para ver qualquer coisa quando
chegarmos lá, mas posso lhe mostrar... amanhã. Podemos percorrer toda a
propriedade para que possa dar uma boa olhada em tudo.
— Estou ansiosa por isso — disse ela, sorrindo tão amplamente
que lhe deu esperança de que não estava fingindo.
— É muito pitoresco. Pode ver as montanhas e as planícies para que
os cavalos corram — ele divagou, sendo pego em sua imagem mental. —
Há um pequeno riacho que atravessa a fazenda onde pode sentar e observar
a natureza. É um lugar muito tranquilo. Você sabe, um lugar que acalma e a
faz se sentir bem. Você já sentiu essa paz?
— Não, nunca. Na verdade, poderia dizer em meu quarto, mas não
me trouxe essa paz, e sim intimidade. — Seu tom e seu sorriso se
suavizaram. — Eu quero... ver esse lugar especial. Talvez o riacho e a paz
de que você fala sejam uma espécie de símbolo deste lugar.
— Pode ser — disse John. Queria acrescentar que talvez apenas os
nascidos naquela terra pudessem sentir isso, mas talvez estivesse errado e
ela pudesse sentir isso também.
Maggie trouxe os pratos e os colocou rapidamente diante de Naomi
e John.
— Coma, Naomi. Vai precisar de todas as suas forças aqui. É um
ótimo lugar, mas torna as pessoas difíceis. John não deixa nenhuma erva
daninha crescer sob seus pés. Você deve esperar que ele a mantenha
ocupada.
— Vou fazer o possível para não o decepcionar — garantiu Naomi,
sorrindo.
— Então vai se encaixar bem aqui. Agora coma antes que
esfrie.
Ambos pegaram o garfo e a faca. Naomi provou a carne e se
endireitou com um longo suspiro. O milho e as batatas também estavam
deliciosos e ela não hesitou em comê-los com gosto.
Naomi comeu mais rápido do que John tinha visto alguns homens
comerem. Além do mais, nunca vira uma mulher comer tão rápido.
Enquanto mastigava, ele pensou sobre o que Jason tinha lhe falado sobre
sua noiva E se lembrou de algo que ela disse a ele em uma de suas cartas.
— Você me disse que gosta de ler.
— Oh, sim — ele quase gritou, e então baixou a voz. — Era um dos
poucos prazeres que tinha em casa. Tínhamos uma pequena biblioteca e,
quando podia, adorava ler.
Ficou calada sobre seu pai não permitir e ela ter que fazer isso
escondida, mas não estava mentindo para ele, porque gostava de ler e
aprender coisas novas.
John sorriu ante sua explosão de alegria e isso a fez relaxar um
pouco. Inclinando-se para frente, descreveu a biblioteca que tinham no
rancho, esperando que ela gostasse.
— É um cô modo do tamanho certo, que fica nos fundos da casa. Se
você acordar cedo, poderá ver nosso maravilhoso nascer do sol. Sua cor é
tão intensa que é como se estivesse rodeado por tons rosa e vermelhos tão
poderosos, que você pensa que todo o horizonte está em chamas. O pô r do
sol também pode ser igualmente comovente.
— Sim, tenho certeza de que são — ela suspirou. Para sua surpresa,
ela havia deixado o pedaço de carne no garfo.
Ele não resistiu em continuar a descrição.
— O escritório tem uma escrivaninha, uma mesa, uma cadeira e
uma estante de livros. Tem espaço para se sentar ou vagar um pouco.
— Oh, mal posso esperar para ver — ela sorriu. Sentiu uma picada
na nuca, como se alguém os estivesse observando.
A sensação a lembrou de que estavam sentados no restaurante de
Maggie.
Com esse lembrete, o desejo de correr com o jantar e ir para o
rancho aumentou, queimando como um incêndio.
— Está tudo bem? — Seu sorriso esmaeceu com cada palavra.
— Falar sobre o rancho me deixa impaciente para voltar — ele
encolheu os ombros para adicionar peso às suas palavras.
Ela acenou com a cabeça, sorrindo mais amplamente, e apontou o
garfo para a comida.
— Vamos terminar para que possamos voltar, então.
John gostou da maneira como se referiu a ir para casa, como se
realmente achasse que estavam voltando para casa.
Agora que ele a examinou mais de perto, ela não parecia o tipo de
pessoa que vivia pensando apenas no dinheiro e no que ele poderia lhe
trazer.
Ele pode não conhecer muito de mulheres, mas pelo que tinha
ouvido, algumas delas gostavam de comprar itens chiques que estouravam a
carteira de um homem.
Pensou sobre isso e ocorreu-lhe que, aos primeiros sinais de
ganância, ele sempre poderia mandá-la de volta para Boston.
Até agora, sua beleza e risos lhe mostravam que havia escolhido
bem. Talvez procurar uma noiva por correspondência não tivesse sido uma
má decisão, afinal.
Maggie voltou e serviu-lhes a torta de maçã e, enquanto comiam,
ela contou a ele sobre sua educação e sua vida em Boston. Embora sem se
aprofundar em alguns assuntos, como seu relacionamento com o pai.
John também lhe contou sobre seus costumes e um pouco sobre sua
família e seu irmão. Finalmente, ele terminou dizendo:
— De vez em quando, tomo um gole de uísque com meu irmão em
nossa varanda no final do dia. Minha mãe bebia um pouco de vinho, mas
nunca a vi ou meu pai beber muito.
— Nesse cenário, um gole de vinho ou uísque não parece uma coisa
ruim — respondeu Naomi.
— Muitas pessoas da igreja se opõem ao álcool, mas mesmo o
pastor não se opõe a que os paroquianos tomem um gole no final do dia. —
Lembrando-se daquele sermão, ele balançou a cabeça exasperado. — Um
ou dois membros da congregação ficaram com raiva e acho que dois
membros deixaram a igreja.
Naomi riu.
— Isso soa como uma cidade problemática.
— Animada, mas pacífica — ele concordou.
— Eu queria perguntar a você sobre os romances de dez centavos
que têm a ver com o Oeste. Em Boston, gostava tanto deles que as pessoas
andavam por aí falando sobre as histórias do Velho Oeste selvagem.
Normalmente não há tiroteios nas ruas, certo? Ou os índios... atacam a
cidade e arrancam a cabeleira dos moradores?
John riu e balançou a cabeça.
— Não acredite nisso. Um amigo meu nos contou algumas coisas
sobre o Leste. Ele riu tanto de tudo que foi dito que quase caiu da cadeira.
Com os olhos arregalados, ela perguntou:
— Então não é... verdade?
— Não. São apenas porcaria, embora alguns sejam muito
engraçados. Eu estava lendo um que tinha um personagem chamado Donald
Taggart. Algo sobre ele encurralar uma gangue de bandidos e matar alguns
de seus membros. Eles o chamavam de " Don Ojo Muerto" no romance.
Rindo, Naomi perguntou:
— Então nenhum “ Don Ojo Muerto” mora perto daqui?
— O nome do nosso xerife é Don Blind. Ele ficou muito zangado
depois que várias pessoas o chamaram de Don Ojo Muerto. — John riu da
memória. — Se aquele escritor aparecesse em Valley Graves, o xerife
poderia colocá-lo na prisão.
Quando ela largou o garfo, ele sugeriu:
— Você está pronta para ir ao rancho? Meu irmão, Jason, está lá.
— Sim, terminei. Obrigada pelo jantar. — Ela pegou o copo que
ainda continha um gole de chá gelado. — Eu não quero desperdiçar nada.
“ É bom ouvir isso” , pensou John.
— De nada. — Tomou o resto de seu chá gelado também, antes de
acrescentar: — Eu tenho uma boa parelha de cavalos. O caminho não deve
ser muito irregular ou longo.
— Nesse caso, o que estamos esperando? — Naomi perguntou, lhe
dando um sorriso brilhante.
John não pô de contestar e imediatamente pagou a conta e
acompanhou Naomi até a carroça.
Felizmente, a bagagem estava exatamente onde a haviam deixado,
assim como os cavalos. Naomi percebeu que deveria ser uma cidade muito
tranquila e amigável, se podia deixar seus pertences na rua e ninguém os
roubava.
Impensável na movimentada e próspera Boston.
Com a ajuda de John, ela subiu na carroça e se acomodou ao lado
dele. Ele balançou as rédeas e os cavalos começaram a descer a rua
principal, que dividia a cidade em duas. Em alguns minutos, estavam fora
do Valley Grave.
Dava para perceber que a lua brilhante queria passar por cima
das árvores, mas o sol impedia por não ter se escondido
completamente. Essa luta provocava um verdadeiro banquete de cores, que
embelezava tudo ao seu redor.
Enquanto continuavam para fora da cidade, Naomi olhou para as
montanhas distantes e se apaixonou por aquela paisagem.
— São lindas — disse ela, maravilhada com os picos elevados.
— Sim, são. Sempre disse que um homem nunca se sente sozinho
na floresta ou nas montanhas, não quando está rodeado pela natureza.
Ela acenou com a cabeça.
— Entendo. — Não conseguiu dizer mais nada.
Uma criatura peluda cruzou a estrada, assustando Naomi
momentaneamente até que ela percebeu que era apenas um esquilo.
— A floresta pode ser calma, mas nem sempre é tranquila — disse
ele ao ouvir o som de um animal ao seu lado. — Acho que foi um gambá.
Muitos de nossos amigos peludos são bonitos, mas nem sempre são legais.
Gambás podem ser muito... perigosos. Eles atacam e matam gatos e outros
pequenos animais de estimação. Não tenho gatos, mas tem dois cachorros
na fazenda, de um bom tamanho, mas não intimidam muito os gambás.
Bateu as rédeas novamente. As batidas constantes dos cascos
ecoavam ao longo da estrada enquanto os cavalos aumentavam a
velocidade.
— Você mencionou que monta — comentou, falando com ela mais
do que falara com qualquer pessoa em meses — então devo avisá-la que
temos animais maiores do que gambás por perto. Tenho dez cavalos no
estábulo. Na maioria das vezes, se vejo um puma, eu os mantenho dentro do
cercado. Eles geralmente não atacam cavalos, mas nunca se sabe o que
pode acontecer.
Deu-lhe uma olhada, e ele parecia muito bonito na luz do crepú
sculo. Por um momento, não percebeu que ele continuava a falar, até que
um solavanco na estrada a trouxe de volta à realidade.
— Os cavalos também vagam livremente em um grande pasto com
um riacho. Por perto, mantenho fardos de feno.
Ela acenou com a cabeça, muito chocada com a beleza ao redor
deles para falar e ser intimidada pela menção do puma.
— Você sabe alguma coisa sobre armas? — Perguntou.
— Sim, eu posso atirar — disse Naomi com certo orgulho em sua
voz. — Para ser honesta, eu era melhor atirando do que a maioria dos
homens da minha cidade.
— Bom. No Oeste, você tem que saber atirar. — John sorriu.
— Você pode ter que defender os cavalos de vez em quando.
Embora você não precise ter medo, não será algo realmente perigoso.
— Não me assusto facilmente — respondeu ela rapidamente.
— E eu não me importo em defendê-los.
Sua resposta chamou a atenção de John, pois sua aparência não dava
essa impressão. Em vez disso, ela parecia uma senhorita de cidade grande
que se perdera em Oklahoma.
Ele se perguntou quantas surpresas mais o aguardavam com esta
mulher e se estava preparado para todas elas.
Quando Naomi percebeu o silêncio de John, olhou para ele e viu não
só que ele a estava olhando pensativo, mas também que havia uma certa
admiração em seus olhos.
Perguntou-se se o que estava vendo era realmente verdade ou se era
apenas o efeito da luz em seu rosto.
Ainda assim, não podia negar que gostava dessa sensação.
Especialmente do formigamento em seu estô mago.
Como John não fez mais nenhum comentário, ela permaneceu em
silêncio, observando tudo ao seu redor. Agora a lua
estava avançando pelo céu quando o sol se pô s, mas revelava o
suficiente de seus arredores.
Quando, alguns metros depois, dobraram uma curva da estrada, um
magnífico rancho apareceu diante dela. Não conseguia ver em detalhes, mas
era mais do que óbvio que uma lâmpada estava brilhando por uma das
janelas.
Quando John parou a carroça, um homem saiu pela porta da frente e
ficou olhando para eles. Ele não fez menção de recebê-los, mas mesmo
assim John acenou.
Então, como se aquela grosseria não fosse importante e fosse algo
normal, ele se virou para Naomi para falar com ela.
— Esse é Jason, meu irmão. Vou pegar sua bagagem e levá- la para
o seu quarto, depois devo ir ao celeiro para desatrelar e alimentar os
cavalos.
Naomi assentiu, embora desejasse que ele não a tivesse
deixado sozinha com aquele homem. Sabia que era irmão de John e não
precisava temê-lo, mas havia algo na rigidez de sua postura que ela não
gostou.
Mesmo assim, disse a si mesma que não importava e que estava
sendo uma idiota. Jason faria parte de sua família agora e ela não
deveria julgá-lo antes de conhecê-lo.
Ao se aproximar de Jason, viu que era um homem alto, embora
John o ultrapassasse em alguns centímetros, e seu rosto era bonito.
Apenas sua carranca olhando para ela a fazia parecer inquietante.
Percebeu que os dois irmãos eram muito parecidos fisicamente,
embora para o seu gosto as feições de John fossem mais atraentes, talvez
por ele ser mais maduro.
Quando veio até ela, sentiu-se nervosa e insegura, pois ele
permaneceu estático e silencioso diante dela.
— Olá. John me contou sobre você. Estou feliz por finalmente
conhecê-lo. — Ela teve que quebrar o gelo e o fez com uma voz firme e seu
melhor sorriso.
A ú nica resposta que obteve foi apenas uma espécie de rosnado e
um leve aceno de cabeça, tão sutil que Naomi duvidou que realmente
tivesse feito isso.
— Espero que não se importe se eu o chamar de Jason.
Pode me chamar de Naomi.
Em resposta, só recebeu outro grunhido. Por um momento ela se
perguntou se Jason tinha alguma dificuldade que o estava impedindo de
falar, mas como John nunca mencionou nada, disse a si mesmo que isso não
seria possível.
Então ela pensou que fosse timidez, mas também descartou a
possibilidade na hora, já que ele não parava de olhar para ela e não abaixava
a cabeça. Além do mais, seu jeito de a olhar não era nada tímido e a estava
deixando nervosa.
— Você vai ficar aqui?
A pergunta de Jason a pegou de surpresa, já que não a esperava.
Mas pelo menos podia ver que falava perfeitamente e que sua voz era
profunda. Embora menos rouca do que a de John.
— Sim. John disse-me que a casa é grande e que poderia facilmente
ocupar um dos quartos. — Quando ele não fez ou disse nada, Naomi
continuou falando. — Se estiver tudo bem para você, que eu fique aqui.
Jason encolheu os ombros e respondeu com desinteresse.
— Contanto que você não toque nas minhas coisas, eu não me
importo onde você fique.
O som dos passos de John disse a ela que ele estava se aproximando
e Naomi respirou aliviada. Falar com Jason a estava deixando mais exausta
do que mais mil milhas de trem.
— Você já se apresentou? — Perguntou a Jason assim que chegou.
— Sim. Seu irmão até já me deu as boas-vindas, não foi, Jason?
Jason não respondeu, mas franziu a testa.
Por sua vez, John olhou para eles com estranheza, como se sentisse
que tinha perdido algo. Alguma coisa o incentivou a se aproximar de
Naomi, como se soubesse que seu irmão havia sido hostil e Naomi o tivesse
acabado de colocá-lo em seu lugar.
Fez uma anotação mental que falaria com seu irmão sobre isso mais
tarde e esclareceria que deveria respeitar sua noiva e o que ambos
decidissem fazer.
Quando John percebeu como Naomi estava escondendo um bocejo,
percebeu que ela devia estar exausta depois de uma viagem tão longa.
— Você deve estar exausta após a viagem. Vou levá-la para o seu
quarto enquanto Jason cuida de sua bagagem.
Como Jason não negou e deu um passo para o lado para deixá-los
passar, Naomi soube que seu primeiro encontro com Jason havia acabado.
Não sabia o que pensar dele, mas estava tão cansada que nem ligava para
isso. Teria mais tempo depois para conhecê-lo e fazer um julgamento sobre
seu caráter e o que pensava dela.
— Muito obrigada. — Ela respondeu a John com um sorriso e
agarrou seu braço para entrar na casa. — Devo admitir que estou tão
cansada que dormiria uma semana inteira.
John sorriu e a conduziu por um corredor. Dele era possível ver ao
fundo uma enorme sala de estar com lareira, à direita uma cozinha, à
esquerda uma sala fechada que talvez pudesse ser a biblioteca e alguns
degraus que conduziam ao primeiro andar. Como pegaram a escada, Naomi
supô s que os quartos deviam ser no primeiro andar.
— Faz sentido que se sinta tão cansada. E não deve se preocupar,
pode dormir o tempo que quiser.
Depois de subir as escadas diante deles, um longo corredor
apareceu. Na parte de trás havia uma janelinha que iluminava o corredor e
uma escada que deveria levar a um sótão.
Havia duas portas de cada lado do corredor, então não havia dú vida
de que eram quatro quartos.
— A segunda porta à direita é o seu quarto.
John a conduziu até aquela porta e, abrindo-a, permitiu que Naomi
fosse a primeira a entrar.
Ao fazer isso, ela foi capaz de admirar um quarto de bom tamanho,
onde uma grande cama estava coberta com uma colcha azul. Também tinha
uma cô moda com várias gavetas, um espelho em cima e uma cadeira. Um
armário localizado ao lado da porta que ocupava toda a parede, uma janela
nos fundos, uma mesinha de cabeceira e, ao lado da janela, um armário com
uma bacia de lavar em cima e um jarro.
Quando John entrou trazendo mais luz com ele, Naomi pô de ver
outros detalhes, como o lindo papel de parede, a pintura country
na cabeceira da cama e as cortinas balançando ao vento para combinar com
o edredom.
— É encantador — garantiu Naomi, já que não esperava tanto
refinamento.
— Estou feliz que tenha gostado. Mudei muitas coisas da minha
mãe para este quarto. Achei que daria um toque mais quente e feminino.
Naomi olhou para ele emocionada por ter pensado em seu conforto e
em agradá-la. Mas acima de tudo, amava o detalhe dele compartilhar as
coisas de sua mãe com ela, quando lhe deveriam ser de grande valor.
— Foi um gesto adorável, John.
Ela gostaria de ir até ele e beijá-lo na bochecha. Especialmente
quando o viu corar. Mas percebeu que estava desconfortável e isso iria
piorar a situação.
Além disso, não tinha certeza se ousaria fazer isso, e se o fizesse,
John poderia entendê-la mal e pensar que ela era uma desavergonhada.
— Vou deixar você descansar. Amanhã, se quiser, posso te mostrar
a casa. Como mencionei, temos uma biblioteca e você pode se interessar em
ler algo, enquanto relaxa. Você terá tempo para pegar o ritmo da fazenda.
Naomi suspirou. Ela estava morrendo de vontade de explorar a casa,
especialmente a biblioteca, mas estava tão cansada que duvidava que fosse
capaz de manter os olhos abertos por mais tempo.
— Soa muito bem. A verdade é que agora o que mais quero é
dormir, mas terei o maior prazer em ver a casa contigo amanhã.
John entregou-lhe a lamparina e olhou para ela.
Por um segundo, Naomi pensou que ele fosse beijá-la, mas quando o
viu recuar, percebeu que o momento havia passado. Nem ela nem ele se
atreviam a dar esse passo, mas ela tinha certeza de que mais tarde, quando
se conhecessem melhor, os dois acabariam se tornando íntimos.
— Boa noite, Naomi — disse ele, sem ousar olhar nos olhos
dela.
— Boa noite, John.
Sem mais delongas, John saiu do quarto e fechou a porta,
deixando Naomi sozinha em sua primeira noite em Valley Grave. Sozinha
com seus sonhos e ilusões, e feliz pela vida que a esperava.
O que Naomi não sabia é que assim que a porta se fechou, John teve
que se apoiar nela para controlar sua excitação.
Sem dú vida, a Srta. Parrys iria virar seu mundo de cabeça para
baixo e precisaria de todas as suas forças para resistir a ela.
Capítulo 10

E ram nove da manhã quando Naomi


acordou. Ela se vestiu apressadamente com um vestido estampado
simples e saiu do quarto. Aquele seria seu primeiro dia no rancho e queria
ver tudo.
Mas quando chegou à cozinha, ficou surpresa ao ver outra mulher
nela. Era uma pequena mulher loira movendo-se agilmente ao redor do
aposento. Sabia onde as coisas eram guardadas, e seu comportamento
tranquilo e despreocupado disse a Naomi que ela não tinha medo de ser
descoberta.
Perguntou-se quem poderia ser, pois John não lhe contara sobre uma
irmã, uma prima ou sobre ter uma cozinheira.
Parada na porta da cozinha, ela não soube como chamar sua atenção,
até que ela se virou e as duas ficaram de frente uma para outra.
— Bom dia, você deve ser Naomi. — O sorriso que ela mostrou
assegurou a Naomi que não era uma intrusa e que estava inclusive
esperando por ela.
Sem dar tempo para Naomi responder, a estranha continuou falando
enquanto pegava uma xícara e a enchia com café.
— Você deve perguntar quem eu sou e o que faço neste
lugar.
Naomi acenou com a cabeça e pegou a caneca fumegante
que lhe ofereceu.
— Meu nome é Melissa Skifer. Senhora Skifer, para ser mais exata,
embora todo mundo me chame de Meli.
— Prazer em conhecê-la, Meli.
— Mas sente-se e conversamos enquanto preparo algumas tiras de
bacon e alguns ovos para você.
Naomi não hesitou em obedecer à mulher, embora essa não devesse
ser muitos anos mais velha do que ela, no máximo uns vinte e cinco.
Mesmo assim, era evidente que estava acostumada a comandar e ser
obedecida por todos.
— Tenho certeza de que você está se perguntando o que estou
fazendo nesta cozinha, apenas um dia depois de sua chegada.
— A verdade é que sim.
— Maggie me disse que você tinha chegado e que depois da viagem
deveria estar exausta. Ela gostaria de ter vindo pessoalmente verificar as
condições da casa, mas o restaurante mal deixa algum tempo livre.
— Eu nunca pretendi que a Sra. Scott...
— Você pode chamá-la de Maggie. Você vai perceber rapidamente
que todos nós nos conhecemos aqui.
Naomi assentiu sem levar em conta que ela a havia deixado com a
palavra na boca. Percebendo isso, Meli parou diante dela parecendo
envergonhada.
— Perdoe-me por não parar de falar e por interromper você. Há tão
poucas mulheres em Valley Grave e nossas vidas são tão ocupadas que mal
temos tempo para conversar.
— Você não deve se desculpar, eu entendo.
— Ótimo — ela disse com o sorriso voltando à boca. — Bem, como
eu estava dizendo, pensamos que os irmãos May iriam deixar isso um
pouco descuidado. Você sabe, dois homens morando sozinhos e tudo mais.
Mas a verdade é que eles me surpreenderam.
— Você conhece John e Jason há muito tempo? — Ela aproveitou
para perguntar, enquanto Meli se ocupava com as fatias de bacon,
lembrando que poderiam deixar de lado a formalidade.
— Há alguns anos. Eu era recém-casada quando cheguei com meu
marido Peter. Tínhamos comprado um rancho em Valley Grave e
descobrimos que os Mays eram nossos vizinhos.
Ouvindo que Meli e seu marido Peter eram seus vizinhos, ela sorriu
feliz, pois isso significava que não estaria tão sozinha e isolada.
Poderiam se encontrar de vez em quando e se visitarem nos finais de
semana para tomar uma limonada. Essa ideia a excitava, e a fazia querer
ainda mais aquela vida que vinha imaginando há muito tempo.
— Lembro-me dos pais dele e de como tudo mudou quando eles
morreram. Os dois irmãos tornaram-se mais taciturnos e reservados,
principalmente Jason, que mal anda pela cidade e parece estar sempre
carrancudo.
Naomi lembrou que em uma de suas cartas John havia contado
como seus pais morreram de febre, então não achou
apropriado falar sobre isso. Ainda mais em um dia em que se sentia tão
feliz.
Ela também ficou satisfeita ao descobrir que Jason sempre parecia
zangado, o que significava que quando o viu na noite anterior, ele não
estava zangado com sua chegada, mas que sempre parecia assim.
Um pouco mais animada, e percebendo que Meli a deixava
confortável, ousou perguntar sobre um assunto que de certa forma a
preocupava. Principalmente porque queria começar sua vida naquele lugar
com o pé direito.
— Meli, posso te fazer uma pergunta um tanto... impertinente?
Meli se virou com o prato de bacon e ovos e os colocou na frente de
Naomi. Depois, como se estivesse se preparando para uma sessão de
confidências, ela se serviu de uma xícara de café e sentou-se ao lado de
Naomi à mesa.
— Pergunte sem medo, a essa altura pouca coisa me assusta.
— Olha, há algo que me preocupa — disse, segurando os talheres.
Imagino que Maggie tenha lhe contado que vim me casar com John. —Meli
assentiu e Naomi continuou falando. — O fato é que decidimos nos
conhecer um pouco melhor antes de nos casarmos.
— Uma excelente ideia — Meli interrompeu novamente,
mostrando a Naomi que isso era algo natural para ela e que nem tinha
percebido.
— Mas você não acha que a cidade vai comentar que não é certo
uma mulher solteira viver na mesma casa que dois homens
solteiros? E pior ainda, que os três estejam sozinhos?
— Minha querida, você está no oeste. As regras aqui não são as
mesmas do leste. Além do mais, você deve se acostumar com a ideia de
que, desde que saiu do trem, já é considerada a esposa de John.
— E se não nos casarmos no final?
Meli ergueu uma sobrancelha como se achasse essa possibilidade
impossível.
— Quero dizer... talvez a gente não se dê bem e...
— Naomi — é claro, ela a interrompeu novamente. — Se, por
algum motivo, John não se casar com você, posso assegurar-lhe que
não faltará pretendentes. E não só isso, mas ninguém vai te culpar por
passar algumas semanas com os Mays sozinhas em seu rancho. Como já te
disse, aqui não é o leste.
Uma Naomi mais calma lhe deu um sorriso e começou a comer,
embora a inquietasse a ideia de que tivessem apenas algumas semanas para
se decidir e que teria mais ofertas de casamento de outros homens, se as
coisas com John não dessem certo.
Essa ideia deixou um gosto ruim em sua boca, como se uma parte
dela já se considerasse sua esposa.
— Você também deve saber que a vida em um rancho é muito
difícil. Nem todos os dias terá o luxo de acordar após o nascer do sol.
Naomi corou, já que parecera uma preguiçosa. Uma imagem que
ela não queria que sua nova amiga Meli formasse dela.
Vendo o constrangimento em seu rosto Meli pegou sua mão
sorrindo e disse:
— É normal você acordar tarde hoje. E também terá que se
acostumar com essa vida aos poucos. Nem todo mundo é bom o suficiente
para mexer com vacas e sementes enquanto queima no sol ou congela,
dependendo da época do ano.
— Há mais ranchos por perto?
— Alguns, embora o de John seja o maior. Mesmo assim, você terá
que se acostumar com anos de escassez e outros de abundância. Mas não
precisa se preocupar. As pessoas do rancho cuidam umas das outras e você
nunca vai passar fome. Diante de secas ou tempos difíceis, todos nos
unimos para proteger nossas famílias.
Naomi gostou dessa ideia de comunidade, nunca tendo
experimentado nada parecido. Desde a morte da mãe, e apesar de tia Regina
ser um amor, Naomi não conseguia evitar se sentir sozinha.
Foi essa ideia de família que mais desejou e o que a fez se tornar
uma noiva por correspondência.
— Parece que Valley Grave é um lugar muito bom para se
viver.
— O melhor de todos. Temos fofocas e pessoas indesejáveis
como em qualquer outro lugar do mundo, mas também gente boa e de
grande coração, como é o caso de John.
— Sim, ele me deu essa impressão em suas cartas. Por isso aceitei
sua proposta.
— Posso garantir que você não se enganou. John é um homem rude
e fechado, principalmente em relação aos seus sentimentos, mas é igual a
todos os cowboys que conheço. No entanto, já os vi chorar ao ver uma
colheita florescer ou ao ver
nascer um bezerro que desistiram por estar perdido. Como você pode ver,
eles são de outra raça.
As duas mulheres riram e continuaram conversando por muito
tempo. Falaram sobre as reuniões de todos os domingos na igreja e como
era necessário comparecer para não se isolar do resto dos vizinhos.
Parece que os residentes de Valley Grave raramente se
encontravam, razão pela qual as reuniões da igreja eram tão importantes.
— Além disso, você deve falar com o reverendo sobre seu
casamento. Ele, melhor do que ninguém, deveria entender sua situação.
Naomi acenou com a cabeça e terminou sua xícara de café antes de
responder:
— Eu realmente não tinha pensado nisso, mas acho que é uma boa
ideia. Tenho certeza de que John também pensará assim.
— Bem, eu acho que é hora de eu ir embora. Trouxe para você um
frango assado com batatas. É só esquentar — disse ela, apontando para um
embrulho coberto com um pano, que estava ao lado do fogão.
— Muito obrigado, Meli. A verdade é que você não precisava se
preocupar.
— Não é nada. E assim que você se instalar, vou convidá-la para
jantar em minha casa.
— Será um prazer.
— Mais uma coisa, amanhã tenho de ir à cidade para comprar
mantimentos. Talvez você esteja interessada em se juntar a mim, não será
nada glamoroso, mas eu poderia apresentá-la a
algumas mulheres e assim o domingo na igreja não seria tão opressor.
— É uma ideia maravilhosa.
— Então está combinado. Amanhã a esta hora virei buscá-la. Ambas
se levantaram de seus assentos e se abraçaram em despedida. Estavam
juntas há apenas uma hora, e ainda assim um
vínculo já havia se formado entre elas.
Talvez pelo desejo de uma boa amiga com quem compartilhar suas
coisas e a quem recorrer quando precisasse conversar.
— Bem-vinda a Valley Grave, Naomi. Estou convencida de que
você será feliz aqui.
— Tenho certeza de que vai ser assim.
E sem mais delongas, Meli foi embora, deixando uma sensação de
solidão em Naomi. Especialmente quando ela olhou em volta e se viu
sozinha em uma casa que ainda não conhecia.
Determinada a fazer parte daquele lugar, arregaçou as mangas de
seu lindo vestido e começou a lavar a louça.
Enquanto isso, pensava em tudo que Meli havia lhe contado e
como sua vida com John poderia ser. Naquela manhã, ela se levantou
convencida de que o veria esperando por ela, então colocou um lindo
vestido elaborado mais para receber visitantes do que para trabalhar em um
rancho.
Mas não cometeria o mesmo erro duas vezes. Depois de limpar a
cozinha, ela o trocaria por um mais confortável e resistente, que a ajudasse
a se aquecer fora de casa.
Veria sua nova casa e mostraria a todos que uma mulher da cidade
poderia ser uma excelente rancheira e esposa.
Capítulo 11

caminhou até o celeiro.


D epois de trocar de vestido, Naomi

Algo lhe disse que John estava lá dentro e queria perguntar se ele
lhe mostraria o rancho como havia prometido no dia anterior.
Assim que entrou na construção, Naomi engasgou ao observar uma
égua de pelagem branca mastigando feno. Ela se aproximou lentamente e
passou as mãos pelas costas do cavalo.
— Essa é Aury — disse John. — Ela tem dois anos e pode correr
como o vento. Tem uma estrutura muito delgada.
— Oi, Aury — Naomi a chamou. Ela se moveu para mais perto e
deu um tapinha no rosto e pescoço de Aury. — Tenho um palpite que
seremos grandes amigas.
O cavalo a empurrou e então pareceu assentir.
— Tenho a sensação de que você pode me entender, garota. Talvez
não as palavras, mas você me entende, certo? Você entende que é muito
bonita. — Aury assentiu novamente.
John olhou para as duas beldades e sorriu. O cavalo realmente
parecia estar respondendo a Naomi. Era como se as
duas tivessem se conectado e ele queria experimentar a mesma coisa.
Ainda mais quando viu como Naomi passou a mão pelo corpo do
cavalo. Assim que viu, sentiu um arrepio por todo o corpo e teve que
desviar o olhar para se acalmar.
— Você parece estar em boa forma. — Naomi comentou, sem
perceber a emoção de John em vê-la, e deu-lhe outro tapinha.
— Pode estar um pouco acima do peso.
John respirou fundo e respondeu a ela, antes que Naomi percebesse
como ele a fazia se sentir.
— Sim. Ela não tem ninguém que a monte, então, tem relaxado e
se alimentado. Precisa de alguém para ajudá-la a fazer exercícios regulares.
Tinha certeza de que Naomi entenderia a dica e faria de Aury sua
montaria, e foi assim, pois ela não demorou dois segundos para perguntar.
— Você se importa se eu a montar agora e cuidar dela de agora em
diante?
— Não, em absoluto. Também selarei meu cavalo e daremos uma
volta pelo rancho.
Sem a ajuda de ninguém para provar que não era uma dama indefesa
da cidade, Naomi rapidamente selou Aury e a conduziu para fora do celeiro,
para a luz do sol.
A égua parecia confortável com a sela e tão ansiosa quanto ela para
começar a cavalgada.
Enfiou a bota no estribo e subiu no dorso do cavalo, exibindo um
sorriso que poderia ter ofuscado o sol.
John também tinha acabado de selar seu cavalo, um garanhão preto
e branco, e subiu em sua sela, ainda olhando para Naomi.
Ela parecia muito feliz naquela manhã e não conseguia parar de
pensar se era porque estava cavalgando de novo, porque estava ao seu lado
ou simplesmente porque gostava da vida no rancho.
Embora realmente não quisesse saber a causa daquele sorriso
radiante, no caso de Aury receber mais crédito do que ele.
Determinado a mostrar que poderia ser uma excelente companhia,
ele esporeou o cavalo, virou-o para a direita e se dirigiu para o pasto.
Por um momento, eles cavalgaram em silêncio, mas não
incomodados. Ficaram lado a lado curtindo o sol e a paisagem, mas
principalmente a companhia.
Naomi sorria para ele e John sorria de volta.
De repente, ele se lembrou de ter cuidado e ir devagar com essa
mulher, para se certificar de que não partiria seu coração ou roubaria seu
rancho. Afinal, ela era uma estranha e precisava ter cuidado.
Foi então que ele a ouviu suspirar e soube que ela havia notado a
mudança, como ele estava agora mais distante.
Sabia que ela queria afeto, como a maioria das mulheres, e que
esperava que isso viesse com o tempo. Mas poderia se abrir com ela sem
sofrer por isso?
Tinha visto como alguns homens olharam para ela quando jantaram
na noite anterior, e sabia o que uma mulher bonita como ela poderia fazer à
mente de um homem. Isso poderia consumi-lo
com ciú me ou desejo, transformando-o no tipo de pessoa que ele não
queria ser.
Também poderia prometer a ela um amor que nunca viria, ou talvez
ela pudesse se cansar da dura vida no rancho e querer voltar ao conforto da
cidade.
Quando escreveu aquele anú ncio no jornal à procura de uma esposa,
nunca teria imaginado que acabaria com tantas dú vidas. Mas naquela época
não esperava que uma mulher como Naomi respondesse, capaz de deixar
um homem louco com apenas um olhar.
Ainda mais para um homem solitário que mal conhecia mulheres e
que apenas ansiava por um lar.
Imerso nesses pensamentos, chegaram a uma ramificação do
pasto, onde um grande nú mero de árvores era abundante. John conduziu o
cavalo até um riacho próximo, onde a água fria e clara mataria a sede dos
animais.
Naomi olhou ao redor, maravilhada com tudo o que viu. Sua cabeça
girava sem querer perder um só detalhe, indo dos olmos aos choupos
amarelos que os abrigavam.
John permaneceu em silêncio, deixando-a absorver a tranquilidade
que reinava ali. Ele sabia muito bem o que ela estava sentindo, porque cada
vez que ia àquele lugar, seu interior estremecia de alegria e uma paz
profunda tomava conta de seu coração.
O som do riacho, da leve brisa que agitava os galhos amarelos e
marrons das árvores, ou o chilrear de algum pássaro que reclamava seu
pedaço do céu, harmonizava-se perfeitamente
com Naomi montada em Aury, formando um quadro que John adorou. Foi
difícil parar de olhar.
Um minuto depois, parecia que algo havia despertado Naomi.
Agilmente ela desceu da égua e então a acariciou, e após a aprovação de
Aury a conduziu para o riacho ao lado do cavalo de John.
Alheia à admiração que havia despertado no noivo, ela se
aproximou dele sorrindo.
— Você disse que herdou este rancho de seu pai.
— Sim, meu pai comprou este lugar há mais de cinquenta anos. Era
muito menor quando o comprou, mas ao longo dos anos tenho acrescentado
mais terras e mais gado. Agora, o Rancho May é um dos maiores da
região.
— Você fez um bom trabalho. Sei que administrar um rancho não
deve ser fácil.
— Não, não é — John balançou a cabeça. — Sempre há uma
centena de coisas para fazer e pouco tempo para isso. Aqui é normal
acordar antes do nascer do sol e ir para a cama muito tempo depois de
escurecer. Mas o resultado vale a pena se você gosta desse tipo de vida.
— Tenho certeza que sim.
A resposta dela o surpreendeu e agradou na mesma medida,
esperando que ela acabasse aceitando isso para si. Acima de tudo, queria
deixar seus medos para trás e ousar se aproximar dela.
— Um homem gosta de saber que possui uma terra que é tão difícil
para manter e que pode perdê-la facilmente. Ainda mais se pretende
construir um futuro com isso.
Assim que ele terminou de falar, olhou para Naomi, para
deixar suas intenções claras. Ele não tinha certeza se ela havia entendido
sua dica, mas esperava que aos poucos ela lhe mostrasse o que pensava.
Mas Naomi apenas acenou com a cabeça.
— Minha mãe sempre me disse que cada pessoa tem o direito
de buscar a sua felicidade. Não importa onde você está ou como pode obtê-
la. O importante é encontrar algo que te faça feliz e nunca desistir.
— É um pensamento muito bonito — respondeu John, embora sua
resposta não tivesse esclarecido seus temores.
— Gostaria de conhecer essa comunidade em profundidade. O que
me lembra que Meli me falou sobre as reuniões da igreja aos domingos e
como é a melhor maneira de conhecer a todos.
— Você gostaria de ir? — A pergunta era importante, pois poderia
dizer a ele se Naomi estava realmente interessada em fazer parte daquela
comunidade e, portanto, de sua vida.
— Eu adoraria.
Assim que John ouviu a resposta, um sorriso se formou e mudou
todo o seu rosto, tornando-o mais jovem e atraente. Sabia que era um
pequeno sinal das intenções de Naomi, mas era um começo.
Isso deu a ele a oportunidade de confiar mais nela e acreditar que
eles acabariam se dando bem e se casando.
Uma ideia de que gostou e que pela primeira vez desde que a viu
pessoalmente, acreditou que fosse possível.
— O reverendo Scott começa o serviço religioso às dez e meia.
Portanto, precisaríamos sair às nove e meia para chegar a
tempo. Assim que chegarmos, vou apresentá-la a algumas pessoas da
cidade. É normal cumprimentar conhecidos e amigos antes e depois do
culto. Além disso, tenho certeza de que todos estarão ansiosos para
conhecê-la.
— Eu adoraria encontrar seus amigos, e se em Valley Grave, as
pessoas têm a metade da curiosidade que tem as de Boston, estou
convencida de que no domingo todos terão ouvido falar de mim e vão
querer saber quem eu sou.
— Você pode ter certeza disso. Não acho que a curiosidade varie
muito de Boston para cá. Posso até garantir que o vencemos por ser uma
cidade pequena.
Os dois sorriram até que John falou novamente.
— Na minha opinião, acho que já pode ter algumas amigas. E você
mal chegou.
O sorriso voltou ao rosto de Naomi quando ela se lembrou de Meli e
Maggie.
— Tem razão. No momento, as pessoas em Valley Grave estão
sendo muito simpáticas. — Com um suspiro, ela admitiu: — Eu estava
com medo de ser mal-recebida por seu irmão e pelas pessoas deste lugar.
Mas eu percebi que são pessoas muito humildes e amáveis.
— A maioria deles é e eu acho que você vai se encaixar muito bem.
E quanto a Jason... você tem que dar a ele um pouco de tempo. Está
acostumado a sermos apenas nós dois e vai ter dificuldade em se acostumar
com você. Principalmente por ser mulher.
— Eu entendo. E garanto que farei tudo ao meu alcance para
agradá-lo.
— Estou convencido disso — respondeu ele, querendo se
aproximar dela e perguntar se também pretendia conquistar seu amor aos
poucos.
Antes que sua imaginação começasse a correr solta, John decidiu
que os cavalos haviam descansado o suficiente e era hora de continuar sua
jornada.
Não demorou muito para eles voltarem para a sela e começarem a
andar. John não sabia o que perguntar ou dizer, já que estaria fazendo
um interrogatório, mas não queria incomodá-la.
Estavam andando lado a lado enquanto ele observava a alegria de
Naomi com tudo o que estava vendo. Para ela, tudo isso devia ser novo, e a
admiração que sentia pela natureza era mais do que evidente.
Só então lhe ocorreu um tópico neutro de conversa e um que ela
também apreciaria.
— Naomi, você pode fazer o que quiser com a casa, decoração e
coisas assim. Eu sei que as mulheres gostam de dar seu toque.
— Você não se importaria? — Naomi perguntou a ele porque
embora ela tivesse chegado com a intenção de se casar com ele, ainda não
haviam combinado nada.
— Claro que não. Você pode pegar algumas flores para decorar ou
comprar cortinas e outras coisas.
— Obrigada, John — ela disse deliciada. — Talvez adicione
algumas cores à casa. Nada em grande escala, apenas alguns detalhes. Não
quero que Jason se sinta desconfortável com as mudanças e haverá tempo
para fazer algo mais tarde.
— Parece perfeito. E Naomi... obrigada por pensar no meu
irmão.
O olhar de gratidão de John assegurou a Naomi que ele
havia gostado de seu gesto. Isso a encorajou a alargar seu sorriso ainda mais
e se perguntar se seria tão fácil ganhar a confiança e o coração daquele
homem.
— Você não tem que me agradecer. Ele também faz parte da
família e gostaria que me aceitasse.
“ E eu, você também busca minha aprovação?” , John gostaria de
perguntar, mas não ousou.
Ainda havia um longo caminho a percorrer entre eles e preferia ir
devagar para não estragar nada.
Estava ciente de que Naomi estava começando a se infiltrar em sua
alma e não queria perder nenhuma chance de conquistá-la.
Capítulo 1

A manhã seguinte não se fez esperar,


e com ela a hora de ir às compras com Meli, em Valley Grave.
Sentada na carroça ao lado de Meli, lembrou-se de como John ficara
ao seu lado até ela sair e como pouco a pouco ficavam mais confortáveis na
presença um do outro.
Por isso queria fazer algo especial para o jantar, e ir à cidade
permitiria comprar os ingredientes necessários para fazer suas
especialidades. Carne assada com purê de batata e ervilhas com manteiga e
como sobremesa uma torta de maçã.
Um suspiro a lembrou de que nem todo mundo estava tão
confortável com ela, pois Jason saiu de casa assim que a viu aparecer na
cozinha.
Um pequeno incô modo que ela esperava superar em breve,
querendo ganhar a confiança e o amor de ambos os irmãos.
— Não se preocupe. Já chegaremos à cidade — Meli lhe disse
depois de ouvir seu suspiro.
Vendo Naomi simplesmente acenar com a cabeça, Meli pensou que
talvez houvesse outra coisa que a estava deixando impaciente.
— Você não precisa se preocupar com as pessoas de Valley Grave.
São pessoas simples que não demorarão muito em te acolher.
— Tenho certeza disso e posso garantir que estou ansiosa para
conhecer todos.
— Então, com o que está preocupada?
— Jason. Parece que ele não gosta de mim.
A risada de Meli pegou Naomi tão chocada que ela não pô de deixar
de se encolher.
— Jason não gosta de ninguém. Principalmente se você usar
saia.
— Então não tem nada contra mim? — Naomi perguntou
mais animada.
— Além do fato de que você é uma mulher e que interfere na
relação dele com o irmão? Não, não acredito.
— Mas é lógico que John esteja procurando uma esposa e queira
começar uma família. Além disso, se não fosse eu, seria outra mulher
que teria vindo.
Pensar nisso não a agradou, mas preferiu calar aquela sensação de
secura na garganta.
— Jason parou de pensar logicamente há muito tempo. Desde a
morte de seus pais, ele está cada vez mais mal-humorado e solitário. Já
disse que tem que mudar ou vai assustar a todos, mas o teimoso não prestou
atenção em mim.
Naomi pensou por um momento, já que não gostava de estar entre
os dois irmãos, muito menos de se sentir culpada por querer conhecer
alguém e ter um lar.
— O que você me aconselha a fazer com Jason?
— Nada. Ele mesmo vai perceber que você é boa para John e para
o rancho.
— Espero que você esteja certa.
Após uma pausa de alguns segundos, as duas mulheres começaram
a falar novamente, só que desta vez sobre tudo que encontrariam quando
chegassem ao seu destino.
Meli deixou o carroça em frente ao armazém, onde lhe garantiu que
encontraria uma grande variedade de itens.
Quando Naomi entrou e viu produtos de cozinha, comida, roupas,
sapatos, sacos de trigo, armas e tudo o mais que você pudesse imaginar na
mesma loja, sua boca estava aberta.
— É por isso que eles chamam de armazém geral? — Naomi
perguntou a Meli enquanto se aproximavam do balcão.
Em resposta, Meli sorriu para ela e disse:
— Exatamente. Aqui você encontra tudo. Além disso, pelo que
me lembro, sempre foi chamado assim.
Do outro lado do balcão, uma mulher esperava por elas, sem desviar
os olhos.
— Tenha cuidado com a Sra. Pennipel. Ela é a mais
fofoqueira da cidade — sussurrou Meli.
Só quando estavam diante dela a balconista sorriu,
mostrando uma fileira de dentes brancos.
— Vejo que você está acompanhada, Meli. — Ela disse, medindo
Naomi de cima a baixo.
— Isso mesmo, Sra. Pennipel. Esta é Naomi Parrys, de Boston.
— De Boston? Eu não sabia que você conhecia alguém de
Boston — a Sra. Pennipel insistiu, olhando mais de perto para
Naomi.
Talvez em outras circunstâncias Naomi se sentisse intimidada, mas
ela se divertia com a maneira como a observava e como tentava descobrir
todos os detalhes.
Em Boston, esse comportamento teria sido rude, mas parecia que as
coisas funcionavam de maneira diferente em Valley Grave.
— Nós nos conhecemos depois que cheguei em Valley Grave
— Naomi lhe disse.
Ficou tentada a não falar mais nada, mas devido à expectativa que
o rosto da mulher manifestava, e ao desejo de acabar com essa
situação o mais rápido possível, Naomi optou por contar o que a mulher
realmente queria saber.
— Bem, resolvi escrever...
— Ela é noiva de John May — Mile a interrompeu depois de
cutucá-la.
— Noiva de John May? E como John conheceu uma garota de
Boston?
— Por carta, é claro.
Os olhos da Sra. Pennipel se arregalaram, como se tudo de repente
se encaixasse.
— Oh! Que romântico! Você tem que me contar como fez
isso. —Ela comentou animadamente com Naomi.
Meli e Naomi se entreolharam, sem entender o que ela queria
dizer.
Vendo que não a entendia, a Sra. Pennipel tentou se explicar.
— Nunca se sabe. Meu marido é velho e talvez um dia
precise encontrar um bom par.
As duas mulheres mal conseguiram conter o riso e acabaram rindo
junto com a Sra. Pennipel.
— Bem, minhas queridas, se eu puder ajudá-las em algo.
E, sem mais, elas começaram a pedir tudo o que precisavam
enquanto a prestativa Sra. Pennipel as atendia.
Só quando Naomi percebeu que a balconista não estava ouvindo,
perguntou a Meli:
— Por que você não queria que ela soubesse que eu sou uma noiva
por correspondência?
Enquanto Meli verificava suas compras, ela respondeu convencida.
— Se você contar aos mais fofoqueiros da cidade todos os seus
segredos, o que vai sobrar para contar no domingo depois da missa? A ú
ltima grande notícia que tivemos foi o nascimento dos leitões dos Roses, e
posso assegurar-lhe que quando todos souberem da sua chegada vai causar
mais expectativa.
Naomi a encarou por alguns segundos, até que não pô de deixar de
sorrir. Sem dú vida, essas pessoas eram diferentes e ela adorava isso.
Tinha que se acostumar com uma vida onde tudo era compartilhado
e onde qualquer notícia, por menor que fosse, era um acontecimento.
— Fico feliz em saber que serei mais bem vista do que os leitões.
Novamente as duas riram de novo até que a Sra. Pennipel chegou
com os itens que haviam pedido.
— Isso é tudo?
— Sim, terminei.
— Tenho de ver algumas luvas — comentou Meli.
— Devo colocar tudo isso na conta de May? — Sra. Pennipel
perguntou a Naomi.
John disse a ela que poderia incluir tudo o que precisava na conta
da família, mas ela queria pagar por alguns itens, como a barra de
sabonete perfumada e os ingredientes para a refeição especial.
Ficou emocionada quando John se ofereceu para incluir suas
despesas em suas contas, outro sinal de que estava mais perto de se tornar
sua esposa. Mas eles ainda não eram casados, e seria inapropriado para ele
pagar todos os seus caprichos.
— Não, vou pagar em dinheiro.
Nem Meli nem a senhora Pennipel mostraram qualquer sinal de
surpresa. Isso lhe dizia que não importava o quão intrometidos todos
fossem naquele lugar, ninguém se metia com o que os outros faziam.
Um detalhe que gostou, porque em Boston era o contrário.
— Você vai me acompanhar para ver as luvas? — Meli perguntou.
— É uma ideia maravilhosa. E você tem que nos contar como são as
coisas na cidade. — Sra. Pennipel interrompeu animadamente.
— Claro, pode me perguntar o que quiser.
Sem mais demora, as duas se afastaram e começaram a olhar a
pequena seleção de luvas femininas que estava em exibição.
Não demorou muito para que outro cliente chegasse e a observasse,
até que Meli ou a Sra. Pennipel a apresentaram e as
mesmas perguntas foram repetidas.
Depois de visitarem várias lojas e tomarem limonada no restaurante
de Maggie, Naomi estava se sentindo exausta.
— Será assim no domingo ou pior? Meli
sorriu e não hesitou em responder.
— Posso garantir que será pior.
Antes do gemido que Naomi soltou, só lhe ocorreu dizer:
— Mas você não precisa se preocupar. No domingo, você terá John
e eu ao seu lado — e com uma piscadela continuou. — E lembre-se de que
a sra. Pennipel providenciará para que todos em Valley Grave sejam
informados de sua chegada. Portanto, isso vai aliviar o seu trabalho.
Após as risadas, terminaram de beber, e após se despedirem de uma
carinhosa Maggie, que ficou encantada em revê-la, foram para a carroça, já
lotada.
— Que bom que eu disse ao meu marido que só ia comprar algumas
coisas.
Naomi sorriu ao perceber que, fosse da cidade ou do campo, todas
as mulheres se pareciam quando iam às compras.
Capítulo 1

T inha acabado
quando John descobriu Naomi com os cavalos.
de entrar no celeiro

Por um momento ficou parado, olhando para ela em silêncio, com a


vantagem de saber que não havia sido descoberto.
Naomi provou ser uma caixinha de surpresas, já que o surpreendera
com um jantar espetacular na noite anterior e agora trabalhava
incansavelmente.
Embora no momento o que mais chamou sua atenção foi ver como
ela foi conquistando o respeito e o carinho dos cavalos.
Ela já o havia surpreendido com sua habilidade em montar Aury,
quando alguns dias atrás, quando lhe mostrou parte do rancho, amazona e
égua se juntaram como se fossem amigas íntimas.
Com o canto do olho, ele a viu retornar ao seu garanhão e balançar
um balde cheio de água fria em uma mão. O garanhão, cujo
temperamento John conhecia muito bem já que era sua montaria há anos,
ergueu a cabeça, mas em vez de beber água, cutucou a cabeça de Naomi.
Em vez de gritar ou recuar, ela acariciou seu pescoço e começou a
sussurrar algo que John não conseguia ouvir.
Quando Naomi se virou, John ficou surpreso ao ver seu sorriso, não
só porque seu sorriso era encantador, mas por causa da felicidade que
emanava dela. Por um momento, John refletiu sobre tudo o que sabia sobre
a Srta. Parrys, concluindo que pouco a conhecia.
Com base no pouco que sabia sobre as mulheres, e mais sobre
as da cidade, ela deveria temer os cavalos e recusar qualquer trabalho duro.
No entanto, ela limpou o cocho, colocou feno fresco e também água, e pelo
brilho do pelo de seu garanhão, ela o escovou.
Qualquer mulher, ou assim ele pensava, devia estar exausta e
coberta de suor, mas ela parecia feliz e bonita. Sem mencionar que não a
ouviu reclamar nenhuma vez desde que chegara.
Pensando nisso, suas dú vidas sobre se ela se encaixaria bem
rapidamente se transformaram em admiração.
Em nenhum momento ela lhe mostrou que era feita de um material
mais duro do que a maioria das mulheres de quem ele tinha ouvido falar.
Notou seu nervosismo ao admitir seu fascínio pela leitura, mas nunca
lhe falara sobre seu interesse pelo trabalho diário de um rancho.
Agora sua razão para ir para lá tornou-se mais evidente, por vê-la
entre os cavalos, com os fios de cabelo meio desgrenhados e suas roupas
simples, ela parecia mais uma mulher do oeste do que uma senhora sulista.
Ao vê-la à sua frente, sorrindo para o cavalo, não podia imaginar
que ela fosse desonesta, como seu irmão havia sugerido. Por outro lado,
como poderia ter certeza do que ela estava procurando ou sentindo?
Ouviu a voz dela sussurrando enquanto dava a cada cavalo um
cumprimento, e desejou poder ver seu interior para ver se deveria continuar
abrindo seu coração para ela ou se afastar o máximo possível.
Ela acabara de se despedir de outro dos cavalos quando um suspiro
cansado chamou sua atenção. Naomi, de costas para ele, estava inclinada ao
lado do estábulo de um cavalo mais jovem. Enquanto ele a observava, ela
lentamente se arrastou para dentro.
Ele se moveu silenciosamente em sua direção, então se inclinou
para espiá-la através das tábuas de madeira.
John viu Naomi se aproximando do Manchado. Ele era um cavalo
enérgico que geralmente não causava problemas, mas desta vez parecia
inquieto.
Assim como os outros cavalos, Naomi se aproximou dele
lentamente e sussurrou para ele, enquanto ele não parava de se mover e
bufar. Manchado parecia irritado, então John ficou tenso rapidamente.
Afinal, ela mal conhecia o temperamento desses cavalos, e eles poderiam
ser perigosos se ficarem nervosos.
John decidiu que seria mais sensato não arriscar e estava prestes
chamá-la quando percebeu a aflição do cavalo.
— Você está bem, garoto? — Naomi perguntou alheia ao
nervosismo de John e do cavalo.
John deu um passo para dentro do cubículo quando observou
enquanto Naomi estendia a mão lentamente e acariciava o animal. Por
alguns segundos ele jurou que sentiu seu coração parar quando viu como
ela, alheia ao perigo, se aproximava de Manchado.
— Algo está errado, não é? — Perguntou ao cavalo como se ele
pudesse responder. — Vamos ver o que está acontecendo.
Enquanto ela continuava a falar em um tom suave, John observou a
sua mão enquanto ela subia pela pata de Manchado.
Com uma delicadeza que conseguiu secar a garganta de John,
ela agachou segurando a perna do cavalo, fazendo-o desejar por um instante
que ele fosse o animal.
Ficou tão fascinado olhando para ela que não se lembrou do perigo
que aquela situação representava, mas um movimento do cavalo o trouxe de
volta à realidade.
Manchado parecia tão fascinado pelo toque de Naomi quanto John,
dando um passo para o lado enquanto Naomi inspecionava sua pata.
— Ah-ha.
Sem dizer mais nada, ela passou para o outro lado do cavalo,
desaparecendo da vista de John. Poucos segundos depois, ele pô de ver
sua pequena mão envolvendo a perna esquerda do cavalo.
Inacreditavelmente, o cavalo a deixou levantar o casco.
O dedo de Naomi explorou completamente antes de parar para
trabalhar em algo.
— Você tem uma pedra alojada em seu casco. Pronto — ela o
tranquilizou. — Isso deve ser o suficiente. Em breve estará andando
normalmente de novo.
Abaixou o casco e se levantou, acrescentando.
— Você tem que ter cuidado com isso, amigo. Imagino que haja
muitos seixos por aqui. Temos que mantê-lo em boa forma.
John relaxou, embora não pudesse evitar ficar com a boca aberta e
sem fô lego.
Foi então que Naomi virou a cabeça e o pegou espiando
através das tábuas. Sem ficar zangada ou assustada, ela sorriu para
ele, enquanto Manchado agradecia a ajuda com um empurrão de cabeça.
— Oi — Naomi o cumprimentou com um sorriso.
— Oi, vejo que está fazendo novos amigos.
Lentamente, John se aproximou dela enquanto ela ficava parada na
frente dele.
Os dois não paravam de se olhar, então John teve que fazer um
grande esforço para olhar para o cavalo.
— Havia algo errado com o Manchado?
— Estava um pouco inquieto e descobri que era culpa de uma
pedra.
— Sim, isso acontece com frequência.
À medida que a tensão entre eles crescia, John se aproximou do
cavalo e começou a acariciá-lo.
Por sua vez, Naomi ficou paralisada ao vê-lo, pois pela primeira vez
seu olhar indicou perigo. Mas sua paralisia não era de medo, mas do
calafrio que aquele olhar havia produzido.
Talvez em outras circunstâncias não tivesse ficado tão afetada, mas
estando sozinha no estábulo, com as sombras em volta deles e o chapéu
de John cobrindo parte de seu rosto e lhe dando um ar de fora da lei, Naomi
se sentiu perdida.
Mas, acima de tudo, tinha sido sua voz e aqueles passos confiantes
se aproximando dela que a fascinaram mais.
Então agora, com ele tão perto dela, Naomi não sabia o que fazer,
até que ela conseguiu dizer:
— É um lindo cavalo.
— Sim, é — John respondeu em sua voz mais rouca, seu olhar fixo
nela.
— Eu dei a eles água limpa e algo para comer.
— Tenho certeza de que eles vão gostar. Eu certamente
aprecio isso.
Naomi ficou tentada a perguntar como ele pretendia agradecê-la,
mas felizmente seu bom senso voltou antes que abrisse a boca.
Em vez disso, ela se aproximou de Manchado, posicionando- se na
frente de John, mas do outro lado do cavalo.
Por reflexo, ela começou a acariciar o animal, até que as palavras de
John a tiraram de seu torpor.
— Você obviamente gosta de cavalos.
— Sim, é verdade — disse ela, sorrindo e grata por ser capaz de se
concentrar em algo diferente de estar perto de John.
— E o que mais você gosta no rancho?
Quando olhou para cima, viu que estava olhando para ela.
Ficou tão nervosa que teria preferido aquele outro John distante de
seu primeiro encontro quando ele mal a olhava.
— Eu amo... a casa e os arredores e... — Ela começou a soluçar
como quando estava na frente do pai, só que desta vez durou alguns
segundos.
Não conseguia parar de o olhar e sentir aquele olhar acariciá- la,
afastando seu nervosismo.
De repente, sentiu a mão dele roçar a dela, enquanto acariciavam
Manchado e foi como sentir uma corrente elétrica sacudindo seu corpo.
Por reflexo, ela se afastou do cavalo, desviando o olhar enquanto o
fazia.
— Acho melhor eu ir.
Mas ela só deu dois passos quando John entrou em seu caminho,
impedindo-a.
— Naomi — ele gritou suplicante.
Ela parou, mas não foi capaz de olhar seu rosto.
— Tenho muito trabalho a fazer e parece que uma tempestade está
chegando.
— Você já trabalhou por três homens hoje. Pode tirar o dia de folga.
E em relação à tempestade...
A voz de John tornou-se suave e sugestiva, como se ele estivesse
falando sobre uma tempestade completamente diferente daquela que estava
prestes a explodir lá fora.
— Eu gostaria de saber coisas a seu respeito — disse a ela.
— Coisas? Que coisas?
A mente de John se pô s a funcionar na velocidade do raio, para não
perguntar se ele poderia beijá-la.
— Você se sente bem aqui... no rancho? Ela
conseguiu suspirar e responder:
— Sinto-me muito confortável no rancho.
— E comigo?
— Com você?
John deu um passo para mais perto de Naomi.
— Comigo. Você se sente bem?
Ela assentiu, percebendo como suas pernas tremiam mais e mais e
sua garganta ficava seca.
— Eu... me sinto bem... perto de você.
Mais tranquilizado por suas palavras, John ergueu a mão e
acariciou suavemente a bochecha de Naomi.
Ele não queria assustá-la, nem queria que ela pensasse que ele
queria tirar vantagem dela, já que só estavam os dois. Mas sentiu a
necessidade de tocá-la e se aproximar dela, como se isso pudesse acalmar
um desejo que o consumia.
Precisava saber muitas coisas sobre ela, mas naquele momento a ú
nica coisa que conseguia pensar era qual o gosto de sua boca ou como seus
lábios seriam macios.
Incapaz de se conter por mais tempo, ele trouxe sua boca para a
dela, ansiando por permissão para cruzar aquela barreira.
Quando ela suspirou, John entendeu como seu consentimento e
apertou os lábios com mais força para aprofundar o beijo.
O que os dois sentiram naquele instante foi extraordinário, pois os
fez sentirem-se vivos pela primeira vez em anos.
Era como se algo estivesse faltando e ao se unirem eles o tivessem
encontrado, ou como se uma parte deles que nunca souberam que possuíam
fosse preenchida.
Um segundo depois, seus corpos se abraçaram, esquecendo a hora, o
lugar ou qualquer coisa que não fosse os dois.
Foi o estrondo do trovão que os separou, e com respirações
irregulares eles se olharam.
Nenhum dos dois sabia o que fazer ou dizer, enquanto os cavalos e a
chuva que começava a cair lá fora podiam ser ouvidos ao fundo.
— Eu... tenho que ir — Naomi conseguiu dizer, embora seus pés
não a obedecessem.
Felizmente, o barulho de alguém se aproximando a trouxe de volta à
realidade e ela se virou para ir embora o mais rápido
possível.
— Espera. — Foi tudo o que John conseguiu dizer quando a viu
partir, mas não chegou a tempo de segurá-la pelo braço e impedi-la de ir
embora.
Queria conversar com ela sobre um nú mero infinito de coisas,
embora o que ele mais quisesse era continuar aquele beijo.
Um beijo que havia deixado um gosto doce em sua boca, junto com
a promessa de uma vida fascinante com aquela mulher que estava mudando
tudo.
Naomi mal havia saído do celeiro quando passou por Jason. Ele sem
dú vida correu em direção ao celeiro para se proteger da chuva, sem
imaginar que ela estava lá dentro.
Estava a evitando há dias, então ficou surpreso ao vê-la.
Mas o que mais o surpreendeu foi que ela mal parou e continuou seu
caminho sem dizer nada a ele, porque toda vez que o encontrava ela tentava
estabelecer uma conversa.
Em vez disso, foi recebido por uma Naomi corada, que o encarou
com os olhos arregalados.
Embora tenha sido mais estranho quando ele viu seu irmão, alguns
metros à frente, que olhava Naomi correr como quem vê seu tesouro mais
valioso partir.
— O que aconteceu aqui? — Teve que perguntar uma vez a sós com
John, embora não quisesse mostrar interesse no que estava acontecendo
entre eles.
— Nada.
Foi a resposta curta de seu irmão que o deixou mais perplexo e
intrigado.
— E é por isso que ela correu, para nada?
— Deve ter sido a tempestade.
Quando Jason viu seu irmão olhar para baixo e entrar no celeiro,
soube que a conversa havia acabado.
Só então ele se permitiu balançar a cabeça e dizer a si mesmo que
seu irmão estava sendo estú pido por apostar tão alto no coração. Ainda
mais com uma mulher que poderia ficar ou partir a qualquer momento.
Capítulo 1

O
percebeu a passagem do tempo.
domingo chegou e Naomi mal

Seus dias haviam sido mergulhados em uma rotina agradável, onde


primeiro cuidava da casa e depois ajudava na fazenda.
John e Jason tinham a ajuda extra de homens para o gado e as
colheitas, mas ela adorava cuidar dos cavalos. Um trabalho que
compartilhava com John.
O ú nico problema em seus dias era o tremor por todo o corpo
sempre que estava sozinha com John ou quando ele entrava no celeiro.
Mas acima de tudo a insô nia que a fazia se lembrar do beijo e das
carícias cada vez que ficava no escuro de seu quarto.
Sem dú vida naquele dia algo havia mudado entre eles, pois desde
então buscavam uma maneira de ficarem sozinhos. Sem falar na maneira
como se olham ou coram toda vez que se viam.
Infelizmente eles não se beijaram novamente, mas pelo jeito que
John procurava por ela agora, tinha certeza de que era apenas uma questão
de tempo antes que o beijo se repetisse.
Sentada ao lado de John na carroça, Naomi suspirou, ganhando um
olhar de soslaio de John.
— Você está nervosa por ser seu primeiro dia na igreja?
Naomi estava feliz por John não ter adivinhado a causa de seu
suspiro.
— Na verdade, o que mais me assusta é que hoje vou conhecer o
resto da cidade. Eu gostaria que todos gostassem de mim, mas...
John riu fazendo com que ela franzisse a testa para ele.
— Está rindo de quê?
— Você não precisa se preocupar que gostem de você. Estou
convencido de que você os fará comer de sua mão em alguns
minutos.
— Como você pode ter tanta certeza. Seu irmão não gosta de
mim?
O sorriso sumiu de seu rosto no momento em que ela
mencionou seu irmão.
— Se você pô de convencer o Manchado e o resto dos cavalos, você
poderia convencer qualquer um. E quanto ao meu irmão... não é que ele não
goste de você, é que ele está sempre zangado. É sua maneira de ser.
Naomi ficou em silêncio por alguns minutos, enquanto ao seu redor
a charrete seguia o caminho estreito que levava à cidade.
— É uma pena que Jason seja assim. Espero que um dia ele perceba
o quão sortudo é por tudo o que ele tem.
John não respondeu nem olhou para ela, mas Naomi percebeu que
ele ficou pensativo.
Quando, segundos depois, avistou a igreja ao longe, os nervos de
Naomi voltaram a tomar conta de seu estô mago.
Conforme mais se aproximavam já viam as pessoas reunidas.
Todos pareciam elegantes e felizes e se aproximavam dos degraus da
pequena capela de madeira que se erguia diante deles.
Naomi não pô de deixar de olhar para o casaco azul e o regalo
azul marinho combinando com o chapéu. Sem dú vida, seu guarda-roupa era
mais elegante que o resto, sendo uma vestimenta mais elaborada por ser
para a cidade.
Naomi achou que talvez seu casaco causasse mais olhares do que
ela, e lembrou a si mesma que a partir de agora suas roupas deveriam ser o
mais simples possível. Isso era algo que a divertia, pois seu pai dificilmente
permitia caprichos, mas suas roupas de domingo eram impecáveis para
mostrar a todos que seu status era alto.
Porém, em frente a ela, só via pessoas simples, que não escondiam
quem eram ou o que tinham.
Ela se lembrou de seus dias com os cavalos, o feno, as poças
e como seu pai a repreenderia por isso. Sem mencionar sua leitura noturna
antes de dormir, sem ter que se esconder.
“ Espero que tudo saia bem” , pensou, porque queria ficar naquele
lugar.
Assim que chegaram, John amarrou os cavalos a um dos postes
perto da igreja. Ele o fez com tanta naturalidade que parecia que este lugar
sempre fora reservado para ele.
Só então Naomi se perguntou se a família May teria um local
designado dentro da igreja. Ela se lembrava dos domingos em Boston,
quando ela e seus pais iam à igreja. Aqueles dias foram
muito felizes para Naomi, pois sua mãe ainda estava viva. Lembrou- se dos
cantos e orações, e como seu pai as convidava para tomar sorvete após o
culto.
No entanto, tudo isso mudou após a morte de sua mãe. Seu pai se
recusava a ir à igreja, enquanto ela só tinha permissão para ficar longe de
casa o tempo suficiente para a cerimô nia.
Passou de ser parte de uma família para ficar sozinha, e de um ser
feliz para a tristeza, onde as memórias de um passado com a mãe a
deixavam deprimida.
Mas agora os domingos voltariam a ser alegres, poderia partilhá-los
com alguém. Talvez depois da missa, John a convidasse para uma limonada
e, com o passar dos anos, eles e os filhos iriam à igreja e, então,
compartilhariam um momento em família.
Naomi não sabia quanto tempo ficou sentada em silêncio na carroça
pensando sobre tudo isso, mas quando sentiu a mão de John segurando a
dela, percebeu que tinha sido muito.
— Fique tranquila. Eu estarei ao seu lado.
As palavras de John tocaram seu coração, pois significavam muito
para ela. Não apenas porque era óbvio que ele se importava com seu
silêncio, mas porque a apoiava, e talvez estivesse lhe dizendo que também
tinha os mesmos desejos que ela.
— Obrigada — disse ele, dando-lhe um sorriso e apertando sua
mão.
Só então John se atreveu a soltar a mão dela e sair da
carroça. Quando ele se postou para ajudá-la a descer, Naomi não teve receio
de lhe oferecer a mão novamente, nem se opô s a segurar seu braço para
caminharem juntos até a igreja.
Um grande nú mero de homens e mulheres ainda estavam parados
nos degraus da porta da frente, conversando e sorrindo.
Por sua vez, o reverendo Jeremy Ascott os cumprimentava
encantado, feliz por ver sua congregação reunida.
Quando chegaram onde estavam todos, entraram na fila, mas logo
foram notados. Embora, para a satisfação de Naomi, eles não estivessem
olhando para ela com suspeita, mas com uma curiosidade lógica.
John aproveitou a oportunidade para apresentar Naomi às pessoas
mais próximas dele, e esses ficaram maravilhados em conhecê-la.
Aos poucos, Naomi relaxou com as boas-vindas calorosas,
aproveitando o sol forte e as conversas mundanas sobre gado, plantações ou
culinária.
Só quando estavam a poucos passos do reverendo, Naomi pô de
ouvir o homem, e ficou surpresa ao ver que ele cumprimentava cada
membro de cada família com uma informação pessoal, garantindo-lhe que
os conhecia e se importava com eles.
Esse detalhe a agradou por aproximar todos, como se o reverendo
fosse o eixo daquela comunidade.
De repente, começou a ficar nervosa de novo, sem saber ao certo
como receberia isso. Talvez ele a considerasse uma mulher ousada que
vivia em pecado com dois homens e a condenaria na frente de todos.
Sem dú vida, isso faria com que os outros membros da comunidade
lhe dessem as costas. Só de pensar nisso, suas mãos começaram a suar e,
inadvertidamente, agarraram-se com mais força ao braço de John.
Felizmente para seus nervos, ela viu a charrete de Meli chegar
naquele momento e respirou com mais facilidade porque tinha uma amiga
que a apoiaria.
— Naomi, permita-me apresentá-la ao Reverendo Ascott. Ao
ouvir John, Naomi prestou atenção.
Ela estava de frente para o reverendo que estava olhando para ela
com um sorriso no rosto e estendeu a mão.
— Reverendo Ascott, permita-me apresentar a Srta. Parrys.
Mostrando seu melhor sorriso, Naomi apertou sua mão gentilmente,
mas quando o reverendo a apertou de maneira amistosa e enérgica, ela
soube que o homem não era um puritano da cidade, mas outro robusto
homem do oeste.
— É um prazer finalmente conhecê-la. A Sra. Pennipel tem nos
falado sobre você e devo confessar que ela nos deixou a todos intrigados.
— Espero que para o bem — respondeu ela ao reverendo,
observando seus olhos azuis profundos e seu rosto de feições gentis.
— Você pode ficar calma. Apenas falou maravilhas sobre
você.
— Por favor, me chame de Naomi.
— Então você deveria me chamar de Jeremy, como o resto
dos meus paroquianos fazem quando... — Ele se inclinou um pouco mais
perto de Naomi para confessar em um sussurro. — Quando eles querem que
meu sermão seja curto.
Incapaz de evitar, Naomi riu. Ela nunca esperou que o reverendo
Ascott fosse um homem tão caloroso, e ela adorava que fosse assim.
— Quando o culto terminar, gostaríamos de falar com o senhor,
reverendo— disse John quando chegou a hora de entrarem.
— Estarei disponível quando precisarem de mim.
E sem mais delongas ele o dispensou com um sorriso e outro forte
aperto de mão.
— Não foi tão ruim, foi? — John sussurrou enquanto eles se
afastavam.
— Não. Mas você deveria ter me avisado que o reverendo era
um homem tão bom.
— Bem, eu realmente acho que ele só é bom com mulheres bonitas.
Para homens grandes e endurecidos como eu, ele é um verdadeiro ogro. —
Ele piscou ao lhe dizer essas palavras e Naomi não pô de deixar de rir.
Nunca teria imaginado que o homem que a buscou na estação
pudesse ser tão bom, atencioso e amoroso.
Perguntou-se o quanto mais descobriria sobre ele conforme se
conhecessem e suas inseguranças se dissipassem.
— Sentimos muito, estamos atrasados. A
voz de Meli fez Naomi se virar.
Sua amiga estava usando um lindo vestido verde escuro para
combinar com seu casaco e um lindo chapéu. Ela parecia feliz de braço
dado com um homem que deveria ser seu marido.
— Você chegou na hora certa. — John os informou ao oferecer a
mão ao marido de Meli.
— Já vi que você conquistou o reverendo — Meli não pô de deixar
de sussurrar em seu ouvido quando se aproximou para dar dois beijos na
amiga.
Naomi sorriu, mas não teve tempo de responder, pois Meli
imediatamente passou a apresentá-la ao marido.
— Naomi, este homem bonito e calado é meu marido Peter.
O homem se aproximou de Naomi com seriedade e estendeu a mão.
— Não sei se sou bonito, mas posso garantir que com minha esposa
não posso ser outra coisa senão calado.
Por seu comentário Peter ganhou um soco no braço de sua esposa,
mas pelo sorriso dela, não parecia muito zangada.
— Não lhe dê atenção. Na verdade, ele adora que eu fale tanto.
Assim ele não precisa se preocupar em procurar uma conversa.
— Isso é certo. — Peter disse, e quando foi dizer mais alguma
coisa, a carranca de Meli disse que era melhor ele ficar quieto.
— É melhor entrarmos ou vamos ficar sem lugares.
Sem mais demora, os quatro começaram a andar, embora em vez
de andarem aos pares, os homens avançaram e começaram a conversar
enquanto elas os seguiam.
— Como vai tudo entre vocês, Naomi?
— Bem. Eu acho... eu acho que as coisas estão avançando.
— O rubor em suas bochechas delatou Naomi, falando mais do que ela
queria dizer.
— Entendi.
— Ele é um homem muito gentil e parece se sentir confortável na
minha companhia.
— Isso está bem. E Jason?
Naomi suspirou e o entusiamo em seu rosto diminuiu um pouco.
— Ele ainda não me tolera muito, só espero que com o tempo ele
me evite menos.
— Você verá como sim. É apenas teimoso
Uma vez dentro da igreja, Naomi ficou surpresa com a quantidade
de pessoas reunidas ali.
— Eu não sabia que tantas pessoas viviam em Valley Grave.
—A maioria mora fora da cidade, em ranchos ou fazendas. Depois,
há os homens solteiros que trabalham como diaristas, mas apenas famílias e
alguns homens vão à igreja.
— E quanto às mulheres solteiras?
— Até onde eu sei, só existe você.
Naomi ficou surpresa porque não imaginava que uma cidade tão
charmosa não tivesse moças.
— Como isso é possível?
— A cidade foi fundada há não muito tempo. Antes, havia apenas
fazendas espalhadas e alguns fazendeiros. Além disso, a primeira menina
que nasceu de um casamento aqui tem apenas quatorze anos.
— Lembro-me de John me dizendo que havia poucas mulheres
para escolher uma esposa, mas...
— Oh! Temos duas viú vas. O problema é que a mais jovem tem
filhos e é puritana, e a outra tem quarenta anos e um temperamento infernal.
Naomi sorriu e observou enquanto John gesticulava para que ela se
sentasse ao seu lado.
Naomi sentou-se encantada ao lado de John, enquanto Peter deixou
sua esposa sentar ao lado de Naomi e ficou do outro lado. Deixando as duas
mulheres juntas no centro.
— Vou apresentá-las a você quando terminar o culto. E a mais
pessoas da cidade.
Naomi acenou com a cabeça assim que o reverendo pisou no pú
lpito.
— Bem-vindos. Esta manhã temos muito o que comemorar, como a
chegada da Srta. Naomi May. Espero que John seja inteligente o suficiente
para fazê-la ficar.
Todos riram das palavras do reverendo e várias pessoas lançaram
olhares de boas-vindas a Naomi e John.
Quando Naomi se atreveu a olhar para John, viu que ele estava
corando, mas olhava para frente.
Naomi amava aquele homem de aparência dura com um coração
terno, que corava e ria, mas acima de tudo isso a fazia sentir borboletas no
seu estô mago.
— Que assim seja — disse ela calmamente, desejando que as
palavras do reverendo se tornassem realidade.
Capítulo 1

H aviam voltado da igreja há apenas


uma hora quando Naomi começou a pô r a mesa.
Ficou feliz com a boa recepção de todas as pessoas na igreja e
queria que a refeição continuasse com aquele espírito festivo que a
acompanhou durante toda a manhã.
Olhou para a mesa e viu a melhor porcelana dos May servida para
três. Naquele momento, lembrou-se de sua casa em Boston e de como
todos os domingos seu pai presidia a mesa enquanto almoçavam em
silêncio.
Agora, porém, ela tinha a possibilidade de dividir a mesa com um
homem que a respeitava e a ouvia, então sentiu que já havia ganhado muito
em comparação com o que tinha em Boston.
Ainda não queria pensar que John pudesse amá-la, não sendo
ingênua o suficiente para acreditar que um beijo poderia significar mais do
que desejo.
No entanto, esperava que com o tempo, um afeto mú tuo e sincero
surgisse e eles se apaixonassem.
Com um sorriso, colocou o assado no centro da mesa, depois
continuou com os vegetais, o molho, a manteiga e o pão recém assado e
fatiado.
Satisfeita, tirou o avental e saiu para tocar o sino na varanda da
frente da casa.
O som de vozes parou Naomi, ainda mais quando ela percebeu que
eram de John e Jason.
Ambas as vozes soaram ao lado da casa, então ele decidiu se
aproximar para informar que a comida já estava na mesa.
Mas antes de virar a esquina, ouviu as vozes se elevarem e soube
que os irmãos estavam discutindo.
Em outras circunstâncias, Naomi teria dado privacidade a eles, mas
ao ouvir seu nome e sabendo que eles não poderiam vê- la de onde estavam,
decidiu que não seria tão ruim ouvir por alguns minutos.
— Você está muito errado — ele ouviu a voz zangada de Jason. —
Essa mulher está apenas te enganando. Seu lindo rosto cativou você e não
vê a realidade.
— E que realidade é essa? O que você acha?
— Não, e você sabe muito bem. Você me disse que ficou surpreso
por ela ser tão jovem e bonita.
— Isso não significa nada.
— Não? Qual é, irmão, quem é o ingênuo agora? Não me diga que
não se perguntou mais de uma vez por que uma mulher tão bonita se
contenta com um homem como você.
Naomi esperou sem fô lego pela resposta de John, mas só conseguiu
um silêncio severo.
— A essas mulheres não faltam pretendentes. Elas não precisam
procurar um marido por correspondência.
— Não gosto do que você está insinuando. — A voz zangada de
John dominou Naomi.
— Mas você sabe que estou certo.
— Ela me contou seus motivos em suas cartas. Ela se sentia
oprimida por seu pai e estava procurando uma maneira de escapar dessa
opressão.
— E você acredita nisso? Ela poderia ter escapado da opressão de
seu pai com qualquer casamento. Não tinha que cruzar meio país para obtê-
lo.
— Eu sei que tem coisas que podem parecer suspeitas,
mas...
Naomi sentiu seu coração afundar.
Ela tinha pensado que John a entendia quando ela lhe disse
como se sentia mal em Boston e como queria uma mudança. Como estava
procurando um novo começo longe de convenções, restrições, obediência
cega e submissão.
Como ela tinha ficado animada com a ideia de viver no Oeste, onde
as normas sociais não eram tão rígidas e uma mulher poderia ter um hobby
como ler sem ser considerada inadequada.
— Reconheça. Ela está aqui pelo seu dinheiro. Vai grudar em você
como um carrapato enquanto puder tirar o dinheiro de você, e quando vir
que o deixou seco, ela o abandonará.
A acusação de Jason a surpreendeu.
Nunca teria imaginado que ele pensava algo assim dela. Era
simplesmente horrível.
De repente, entendeu sua rejeição e seus olhares acusadores. Não
era de se admirar que não quisesse saber dela, se pensava isso.
Mas foi o silêncio que se seguiu à acusação que mais a entristeceu.
Aquele silêncio só poderia significar que John também
acreditava nisso, e sabê-lo doeu mais do que qualquer grosseria ou insulto
de seu pai.
— Você é injusto com ela — ela ouviu John dizer finalmente, mas
infelizmente não eram uma negação das acusações. — Naomi merece uma
chance.
— Você acredita porque a deseja e é o seu pau que pensa.
Incapaz de suportar por mais tempo, Naomi gemeu, não se
importando mais se fosse descoberta. Ela tinha ficado em silêncio,
esperando que John a defendesse, mas quanto mais ouvia, mais convencida
ficava de que ele acreditava nas acusações de seu irmão.
Saber disso foi o que mais o machucou quando percebeu que estava
vivendo uma ilusão.
Incapaz de se conter, ela começou a chorar e se virou para
correr.
Infelizmente não percebeu uma das duas cadeiras de
balanço na varanda e acabou tropeçando nela.
— Naomi? — A voz confusa de John lhe deu a certeza de que ele a
tinha ouvido.
Não querendo ver ou falar com ele, Naomi empurrou a cadeira de
balanço para o lado e correu. Atrás dela, ouviu a voz desesperada de John
pedindo que parasse.
Ela só pensava em chegar ao seu quarto o mais rápido possível para
se trancar e chorar à vontade. Mas quando tropeçou em um dos degraus e
teve que parar por um segundo para levantar a saia, John a alcançou e
agarrou seu braço.
— Espere Naomi. Podemos conversar sobre isso.
— Você já teve a oportunidade de falar para me defender, mas
preferiu ficar calado. — Ela nem se atreveu a olhar para ele quando disse
isso.
— Você é injusta comigo. — Ela o ouviu dizer.
— Injusta? — Ela disse furiosamente enquanto se virava.
Ela não esperava ver o desespero no rosto de John, mas estava
muito zangada para se importar.
— Vamos deixar as coisas claras entre nós e você vai me contar
toda a verdade — ela lhe disse enquanto se soltava de suas garras. — Você
pensa o mesmo que seu irmão? Acha que estou querendo seu dinheiro?
Por um momento, John ficou em silêncio, exasperando Naomi.
A verdade é que John se sentiu encurralado, pois sabia que a
princípio havia pensado coisas sobre ela que se descobrisse ficaria brava,
mas ela havia pedido sinceridade e ela precisava contar toda a verdade,
mesmo que estivesse correndo o risco de a perder.
— Devo admitir que no início fiquei confuso. Não entendia como
uma mulher tão bonita como você teria concordado em se casar com um
estranho.
— Você não era um estranho. Nós nos correspondemos antes que
aceitasse.
— Mas ainda era um estranho. Além disso, você era tão diferente
do que eu tinha imaginado. Achei que uma mulher tão sofisticada como
você não se encaixaria no rancho.
— E então você pensou que eu estava aqui pelo seu dinheiro.
— Jason me falou sobre isso e para ser sincero, eu não sabia o que
pensar.
A cada palavra que dizia, mais arrependimento ele sentia. Ela
percebeu que todo esse tempo tinha vivido um sonho, enquanto John
duvidava dela.
Jamais poderia se casar com um homem que não acreditasse nela,
pois seu casamento estaria condenado.
A grosseria de seu pai veio à sua memória, seus olhares sérios e suas
acusações. Foi então que soube que por nada no mundo ela passaria por
algo semelhante novamente.
Sua cabeça doía e seu peito queimava. Ela se sentiu tão magoada,
tão enganada, que sem pensar nas consequências se descontrolou e deixou
escapar toda a sua fú ria.
— Você não precisa mais se preocupar com isso. — Lágrimas e
dor a impediram de falar.
— O que quer dizer?
— Eu não vou me casar com você.
O rosto perplexo de John deu-lhe o consolo de tê-lo afetado. Antes
que ele reagisse, Naomi se virou e subiu as escadas,
então entrou em seu quarto batendo a porta.
Não demorou muito para que John chegasse à sua porta e
tentasse abri-la.
— Naomi. Deixe que eu explique. Por favor.
— Vá embora — ela exigiu, ainda encostada na porta e notando
John do outro lado. Tão perto e tão longe.
— Por favor. Você não pode romper o noivado.
— Não vou casar com um homem que não confia em mim.
— Naomi, não é...
De repente, ela o ouviu socar a parede e xingar.
— Está bem. Agora estamos muito chateados. Falaremos sobre
isso amanhã.
Por um momento John esperou pela resposta dela, mas percebendo
que não viria, ele praguejou novamente e se afastou.
Naomi não precisava pensar em nada, já havia se decidido. Ela se
afastaria daquele homem assim que amanhecesse e encerraria aquele
capítulo de sua vida.
Lembrou-se do envelope com o dinheiro que tia Regina lhe dera
para o caso de acontecer algo assim, e ficou grata por isso.
Esse dinheiro lhe dava a oportunidade de fugir dos irmãos May, e
especialmente daquele homem odioso que lhe mostrou que não era digno de
confiança.
Ficou tão furiosa que não parou para pensar se estava sendo injusta
com John, ou se deveriam conversar mais sobre isso, tampouco percebeu
que a dor que sentia tanto no peito só poderia significar que amava aquele
homem e por isso seu silêncio a magoara tanto.
Em vez disso, ela se deixou levar pela angú stia e acabou deitada na
cama, chorando desesperadamente por aquele maldito cabeça dura.
Um homem teimoso que desceu as escadas como uma manada de bú
falos enfurecidos.
Só quando viu Jason na porta da casa olhando para ele, parou, com
os olhos vermelhos pelas lágrimas reprimidas, já que os homens de
Oklahoma nunca choravam.
— Você está feliz agora? Você a fez romper nosso noivado.
— Eu só queria o melhor para você — Jason respondeu surpreso, já
que nunca tinha visto seu irmão assim antes.
— E você acha que me tornar um solitário amargo como você é a
melhor coisa para mim? Bem, deixe-me dizer que se eu a perder...
A dor por essa possibilidade o impedia de continuar a falar e ele só
queria sair daquele lugar o mais rápido possível.
Impiedosamente, John empurrou Jason para fora de seu caminho e
saiu de casa. Naquele momento ele só queria a companhia de uma garrafa
de uísque para esquecer tudo até o amanhecer.
As palavras doeram em Jason, mas ele sabia que eram verdadeiras.
John nunca seria como ele, então nunca poderia saber como se
sentia. Como aos poucos a decepção, a derrota e a amargura se apoderaram
dele, sem saber como escapar disso.
Ao ver seu irmão destruído, sabia que havia errado ao interferir em
seu relacionamento com Naomi, pois estava claro que seu irmão precisava
de uma mulher ao seu lado para ser feliz.
E tudo indicava que essa mulher devia ser Naomi.
Capítulo 1

quarto quando amanheceu.


N aomi observou pela janela de seu

Tinha pensado que aquela seria sua nova casa, mas depois do que
acontecera no dia anterior, isso não seria mais possível. Olhou para as
montanhas ao longe, os campos cobertos de grama e geada, e desejou que
tudo tivesse acontecido de forma diferente.
Um arrependimento profundo a fez fechar os olhos, arrependida de
ter respondido aquela carta que abria a oportunidade de uma nova vida.
Agora percebia o quão tola tinha sido por acreditar naqueles sonhos,
e se perguntou se seu pai estava certo em negar a ela os livros que haviam
cultivado sua imaginação.
Pensar em sua antiga casa deu-lhe um calafrio, e quando abriu os
olhos novamente e viu o quarto, percebeu que seria muito mais difícil para
ela deixar o rancho do que fora sair de casa.
Mesmo assim, sabia o que tinha que fazer, pois continuava
convencida de que não poderia se casar com um homem que não
acreditasse cem por cento nela.
Resignada a recomeçar, ela pegou sua mala com tudo o que
precisava para passar alguns dias. Teria gostado de sair com todos
os seus pertences, mas seria impossível carregar seu pesado baú quando
tudo que ela sabia era que pegaria o primeiro trem não importando
aonde ele a levasse.
Tentando não fazer barulho, desceu as escadas, não querendo
encontrar John ou Jason.
No dia anterior fora dito o suficiente e ela não estava preparada para
outro confronto.
Com cautela foi até a porta, mas antes de abri-la não pô de deixar de
dar uma ú ltima olhada na casa.
— Então você está indo embora? — A voz de Jason nas sombras a
assustou e ela quase gritou.
— Jason — ela respondeu surpresa e com uma mão no peito para
tentar acalmar o batimento cardíaco.
— Achei que você gostasse deste lugar e que apreciasse meu irmão.
Ao ouvi-lo, Naomi recuperou sua raiva e ergueu a cabeça para
encará-lo. Jason deu alguns passos para fora das sombras e parou alguns
metros à frente dela.
Havia cansaço em seus olhos, então Naomi soube que ele também
não tinha dormido naquela noite.
— Como me sinto sobre este lugar ou seu irmão não é da sua
conta.
— Você está errada. Eu me preocupo com ele.
— É por isso que você tenta deixá-lo infeliz. Tenta sabotar seus
desejos.
— Não. Eu só queria... — Jason passou a mão pelo cabelo
despenteado e abaixou a cabeça. — Ele é a ú nica coisa que me resta no
mundo e não quero vê-lo sofrer.
— Você realmente acha que era isso que eu estava tentando?
— Não a conheço. Não sei o que você procura nele.
— Então você não acha que teria sido melhor se você tentasse me
conhecer, ao invés de fugir de mim e imaginar falsas acusações.
Por um momento, Jason ficou em silêncio, até que ergueu a cabeça e
olhou para o rosto dela.
— Eu admito que estava errado em não querer saber nada sobre
você. Mas não entendo o que alguém como você procuraria em um lugar
como este.
— Amor, uma casa, um novo começo. É tão impossível para você
entender que uma mulher olhe para a frente e busque o que quer?
Jason estava envergonhado agora, embora desta vez ele não tenha
abaixado a cabeça.
— Desde a morte dos meus pais algo se partiu em mim. Desde
então me sinto perdido. Talvez seja por isso que é difícil imaginar alguém
assumindo o controle de sua vida e procurar uma saída. Ainda mais se é
uma mulher tão bonita que pode escolher entre muitas ofertas.
Naomi percebeu que havia julgado Jason severamente. Em frente a
ela não havia o homem arrogante que a julgava por despeito ou antipatia,
mas alguém que se sente perdido e se apegava à ú nica coisa que lhe
restava.
— A vida de uma mulher não é fácil. Não importa sua aparência
física ou o lugar onde nasceu. Tive a sorte de nascer com
bom senso e pensar por mim mesma. Um defeito que poucos homens
aceitam, mas que seu irmão admira em mim.
— É por isso que você o escolheu?
— Por isso e porque Oklahoma me ofereceu a liberdade pela qual
ansiava.
— Me desculpe por ter te julgado mal — disse ele com remorso.
— Sinto muito não termos tido essa conversa antes.
Quando Naomi se virou para sair, Jason a parou novamente.
— Você ainda está planejando ir embora?
— Nada mudou — afirmou ela, enquanto abria a porta e o frio da
manhã atingiu seu rosto.
— Mas ele a ama. Ele hesitou apenas em alguns dos meus
comentários, mas quer que você seja sua esposa.
Naomi teve que fechar os olhos para tentar se conter, embora não
conseguisse evitar que as lágrimas escorressem pelo seu rosto.
— Não é tão simples — mal conseguiu dizer quando sua voz
falhou.
— Sim é. Você tem sentimentos por ele e ele por você, do que mais
você precisa?
Por um momento ela ficou pensando que era o que queria. Viera
para Valley Grave em busca de um lar e, eventualmente, de afeto. Mas
depois de conhecer John e sentir como ele tremia ao seu lado, ela não podia
esperar nada além do amor.
Percebeu que sentia algo mais intenso por John do que esperava,
porque a ideia de perdê-lo era a coisa mais dolorosa que já sentira.
Por isso ela sabia que seria impossível estar ao seu lado todos os
dias duvidando se ele sentia algo por ela, ou pensando que ela estivesse ali
só por interesse.
Embora fosse pior pensar que estava satisfeito com ela por sua
beleza e por querer ter alguém para cuidar da casa, apesar de acreditar que
só estava com ele por interesse.
Ela não queria uma vida apenas por interesse. Não quando tocou o
amor com os dedos e o toque foi delicioso.
— Preciso de amor.
E sem mais demora, Naomi saiu, fechando a porta e deixando seu
coração para trás.
Mas Jason não ia deixar as coisas assim. Não sabia o que o fez
esperar a noite toda nas sombras, mas quando a viu descendo as escadas,
algo mudou nele.
A noite toda ele tinha pensado em Naomi, John e em si
mesmo. No passado, presente e futuro. Em tudo o que foi dito e na dor que
viu em seus olhos.
Tinha ficado confuso, até que nas sombras da manhã ele olhou em
seu rosto e contemplou sua dor.
Então tudo ficou muito claro. Esta mulher era a esposa que seu
irmão queria e com suas dú vidas e frustrações ele conseguiu assustá-la,
mas foi conversando com Naomi que entendeu que amava John e que ele
havia arruinado a felicidade de seu irmão.
Um erro que tinha que consertar, se quisesse que seu irmão não se
tornasse um homem amargo como ele. Frustrado por uma vida que parecia
vazia e que agora, percebia, precisava mudar.
Algo nele começava a se forjar, mas agora o principal era que seu
irmão reconquistasse a mulher que amava e que, por sua
causa, quase perdera.
Ela sabia que John havia passado a noite inteira bebendo no
alojamento dos funcionários e que, se não o acordasse para impedir Naomi,
nunca o perdoaria.
Ouviu o casco de um cavalo galopando e soube que Naomi havia
partido. Pelo que lhe disse, ele tinha uma ideia de seu destino, assim como
sabia o que fazer.
O tempo era essencial se quisesse que todo esse mal- entendido
fosse corrigido, então não poderia perder mais minutos pensando.
Determinado, colocou o chapéu e saiu em busca de John.
O momento da verdade havia chegado e faria com que seu irmão
tivesse a chance de chegar na hora.
Capítulo 1

N ão demorou
John dormindo vestido em uma das camas.
muito para encontrar

O galpão estava vazio, exceto por John, pois apenas na primavera


ele se enchia de mão-de-obra contratada para ajudar nas plantações e no
gado.
Com passo determinado, aproximou-se dele e o chamou pelo nome.
Quando John não respondeu, ele o sacudiu com força, mas isso apenas o fez
xingar e se virar.
Sabendo que o tempo estava trabalhando contra ele e que deveria
acordá-lo imediatamente, deixou o galpão e se dirigiu ao poço. Sem pensar
duas vezes, ele puxou um balde cheio de água fria e voltou para o galpão.
Uma vez lá dentro, não houve escrú pulos em jogar o balde sobre o
irmão. Nem mesmo por ser inverno e fazer um frio infernal.
— Que diabos! — John gritou enquanto pulava da cama. — Posso
saber por que você fez algo assim?
Não precisava ser muito esperto para ver a irritação de Jason, mas
este não tinha tempo para se explicar, então escolheu ser direto.
— Naomi foi embora. E se você não se apressar, vai perdê-la para
sempre.
Ao ouvi-lo, John acordou de repente e parou de enxugar o rosto
com a manga da camisa.
— Ela se foi? Para onde?
— Ela estava com uma mala, então imagino que vai ficar na
cidade ou vai pegar um trem. E se eu fosse você iria para a estação.
De repente, Jason percebeu como seu irmão estava em um estado
lamentável.
Estava encharcado, com roupas amassadas, barba por fazer, pele
pálida e olhos avermelhados.
— Aqui — ele disse enquanto tirava a jaqueta de lã para o frio e
a camisa. É melhor você usar isto se não quiser pegar uma pneumonia.
Enquanto falava, ele se despiu na frente de um John que não
entendia nada.
— Como você tem tanta certeza de que ela está na estação?
— A mente letárgica de John não conseguia parar de pensar na partida de
Naomi.
— Ficou muito claro para mim depois da nossa conversa. A
surpresa no rosto de John quase fez Jason rir.
— Você já conversou com ela? — Ele perguntou, lamentando ter
adormecido depois de ficar bêbado, em vez de prestar atenção em Naomi
como seu irmão fazia.
— Assim é. Mas agora não temos tempo para falar sobre tudo isso.
Você tem que se apressar.
Jason o observou agora vestido com suas roupas, notando que
embora ele estivesse vestindo suas roupas e estivessem secas,
as calças de John estavam encharcadas e o fez tremer de frio.
— Maldição! — Jason retrucou quando começou a desabotoar as
calças. — Não diga uma palavra.
Quando terminou, foi até o armário onde guardavam lençóis, toalhas
e cobertores limpos para as noites frias de inverno. Bem, embora cada cama
tivesse seu próprio cobertor, algumas noites o frio era tão forte que era
preciso mais de uma para aquecer.
Ela pegou decididamente um cobertor e se enrolou nele, então jogou
uma toalha em John.
— Seque o cabelo enquanto vai para o celeiro. E se você contar a
alguém sobre isso... Eu nego — afirmou agradecendo aos céus que todos os
seus trabalhadores já estavam trabalhando.
Em outras circunstâncias, John teria rido, mas ele apenas fez o que
Jason lhe disse para fazer.
Pouco antes de sair pela porta, ele se virou para o irmão e
perguntou:
— Por que você está fazendo isso? Achei que não gostasse
dela.
— Porque ela o ama.
John congelou olhando para ele.
Não sabia se devia acreditar em seu irmão. O pensamento de
que ela o amava aqueceu seu coração e o fez se sentir vivo.
Mas se sentia muito entorpecido com a ressaca e com as
palavras de Jason.
Mesmo assim, não poderia deixar aquele lugar sem antes lhe
confirmar algo.
— Ela lhe disse isso?
— Não exatamente. Mas ficou muito claro para mim quando
conversamos.
John queria que repetisse tudo o que eles disseram palavra por
palavra, mas teve que se contentar em concordar.
— John — ele o interrompeu. — É possível que, quando você
voltar, eu não esteja mais aqui.
— O que quer dizer? É por causa de algo que Naomi disse?
É por isso que você quer ir embora?
— Não. Não é o que você está pensando. Depois de falar com
Naomi, percebi que este não é o meu lugar.
John não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Sabia que se
não se apressasse perderia Naomi, mas não podia deixar seu irmão
agora.
— Mas esta sempre foi sua casa.
— Não. A terra não me chama igual a você. Este rancho é seu e de
Naomi. É parte de você, do seu futuro. Mas meu destino é outro.
— Qual?
— Não sei. Mas se Naomi foi corajosa o suficiente para arriscar em
busca de um futuro melhor, eu quero fazer isso também.
— Você tem certeza disso? — Ele perguntou, incapaz de acreditar
que seu irmão acabara de dizer que iria embora. Não quando eles
eram a ú nica família que tinham.
— Tenho
— Prometa-me uma coisa — disse ele, aproximando-se. — Se
depois de um tempo você não encontrar seu lugar, retornará para cá.
Jason assentiu com entusiasmo.
John olhou para ele e percebeu que não havia mais tristeza, raiva ou
ressentimento nele. Apenas um brilho de esperança e ansiedade em seus
olhos.
Perguntou-se se Jason tinha ficado confuso todo esse tempo e ele
não tinha percebido. Pensar nisso o fez se sentir culpado.
Ambos estavam focados no trabalho e na vida solitária, e se ele não
tivesse ansiado por uma esposa e conhecido Naomi, sua vida teria sido
sombria e monótona também.
Agora que pensava nisso, gostaria de poder voltar no tempo, até
aquele momento em que seu irmão começou a sentir que aquele não era seu
lugar. Mas isso era impossível, e a ú nica coisa que restava fazer era oferecer
seu apoio e deixá-lo ir, mesmo que estivesse perdendo seu irmão.
— Está bem. Persegui meu destino ao procurar uma esposa por
correspondência, é lógico que você também deseja encontrar o seu.
John estendeu a mão e Jason foi rápido em apertar. Os dois se
entreolharam e sabiam que era um novo começo para eles.
Vendo seu irmãozinho a sua frente e sabendo que sentiria muitas
saudades dele, não hesitou em soltar sua mão para abraçá- lo.
John sabia que seu irmão odiava qualquer demonstração de afeto,
mas para sua surpresa, ele o abraçou de volta.
Quando se separaram, ficou claro que ambos estavam
animados e felizes por estarem sozinhos.
— Você ainda estará aqui quando eu voltar, certo? Eu quero que
você seja meu padrinho.
— Pode apostar que estarei aqui. Mas se você não se apressar,
temo que perderemos um casamento.
John acenou com a cabeça sorrindo e se afastou de seu irmão
na direção da porta.
Mas antes de partir, precisava dizer algo ao irmão.
— Obrigado.
— Por quê? Por ser um idiota?
— Não. Por reconhecer seu erro e vir me avisar.
— Eu o lembro que nunca estou errado — disse tentando fazer uma
piada. O que era engraçado vindo de um homem coberto apenas por uma
manta.
John sorriu e jogou a toalha para ele.
— Espero vê-lo vestido quando voltar com Naomi — disse um
pouco mais calmo por saber que ela o amava.
Sem mais nada a dizer, John saiu em busca de seu cavalo e da
mulher que amava.
Perceber isso o fez sorrir, porque agora ele sabia que o que quer que
acontecesse, não iria parar de procurá-la até que a levasse com ele para o
rancho.
A Srta. May estava muito enganada se pensava que iria deixá-lo,
quando o que mais desejava era passar o resto da vida a amando e lhe
mostrando que não encontraria um marido melhor.
Capítulo 1

T inha acabado de chegar à estação


quando Naomi percebeu que não tinha parado de chorar desde que
saiu do rancho.
Felizmente, era muito cedo e estava muito frio, então quase não
havia gente na rua. Apenas alguns transeuntes de cabeça baixa passaram
por ela, mas ninguém disse nada quando a viram sozinha, a cavalo e com
uma mala.
Querendo passar o mais despercebida possível, deixou o cavalo bem
protegido do frio e se dirigiu para a estação ferroviária.
Uma parte dela sabia que estava agindo errado ao fugir como uma
covarde, mas não se sentia bem para enfrentar John ou qualquer pessoa de
Valley Grave.
Ela tinha certeza de que poderiam convencê-la a ficar com apenas
algumas palavras, então se ela quisesse partir, teria que ser o mais rápido
possível.
Olhando em volta, viu que o escritório da estação ferroviária estava
aberto. Determinada a partir, aproximou-se para comprar uma passagem,
mas quando ergueu a mão para abrir a porta, ela parou abruptamente.
Ela pensou em como estava animada ao chegar a Valley Grave e em
como havia imaginado sua vida.
Naquela época, ela não se importava que John May não a amasse,
estava apenas procurando um lugar para chamar de lar. Um lugar que
parecia seu e onde criar seus filhos e envelhecer.
Porém, algo mudou desde aquele primeiro dia. Ela se apaixonou por
John e aquela terra e agora não se conformava apenas com um sonho.
Queria que ele sentisse o mesmo que ela, que a amasse e confiasse,
que tivessem um futuro juntos onde o amor fosse o protagonista de suas
vidas.
Queria ficar no rancho, cuidar dos cavalos, do jardim e da cozinha.
Tomar café com Meli à tarde, comer ocasionalmente no restaurante de
Maggie e assistir à missa aos domingos. Ela queria a vida que estava
vivendo e que agora parecia tão distante.
— Deus me ajude — ela implorou, pois embora desejasse ficar e
ser a esposa de John, sabia que tudo iria desmoronar, pois era uma ilusão.
Não podia fazer John amá-la, assim como não conseguia parar o
vento.
Resignada a partir, suspirou, pronta para ser forte novamente e
deixar para trás a vida que ela tanto desejava.
Abriu a porta e deu boas-vindas ao calor que emanava de um fogão
a lenha.
— O que posso fazer pela senhorita? — A voz jovial do
homem atrás do balcão a trouxe de volta à realidade.
— Eu quero uma passagem — ela reconheceu o homem, tendo-o
visto na igreja, embora no momento não pudesse se
lembrar quem ele era.
— Para Boston, Srta. Parrys? — A pergunta a assegurou de que ele
se lembrava dela. — Só temos um trem para lá daqui a três dias.
Quando acabou de falar, olhou para a mala que segurava com
força na mão, como se procurasse uma explicação para o que estava
fazendo ali.
— Dê-me uma passagem para o primeiro trem a sair.
— É para o K ansas — perguntou ele, cada vez mais
intrigado.
— Então que seja, para o K ansas — ela respondeu de forma mais
decisiva.
O homem pareceu entender que Naomi queria sair da cidade e
depois de tirar o sorriso do rosto, entregou-lhe a passagem.
— Obrigada.
Foi a ú nica coisa que Naomi disse antes de se virar para sair, sem
perceber que o homem estava correndo pela porta dos fundos, sem se
importar em deixar o escritório vazio.
Quando saiu, Naomi percebeu o frio em seu rosto novamente, mas
não queria ficar lá dentro sendo observada por aquele homem. Sem falar
que ele poderia não parar de perguntar sobre os motivos de sua viagem.
Segurando o bilhete com força, se dirigiu para a plataforma. Havia
se esquecido de perguntar quando o trem chegaria, mas não estava com
vontade de voltar ao escritório.
Em vez disso, ficou em silêncio na frente dos trilhos, tentando
controlar o tremor de seu corpo e as lágrimas.
— Você não pode ir embora.
A voz profunda de John a pegou de surpresa, mas ela não se virou
para olhar. Ela simplesmente fechou os olhos e ficou quieta, sem saber se
desejava que fosse real ou um sonho.
— Você não pode me deixar. Não agora que sei que te amo.
As palavras que ouviu as suas costas fizeram Naomi reagir e
responder, mas sem se virar para olhá-lo, pois não se sentia com forças para
fazê-lo.
— É muito oportuno que você tenha percebido isso agora. Talvez o
que você tema seja ter que colocar outro anú ncio solicitando uma esposa.
Porém, desta vez, certifique-se de colocar o que quer dela.
— Não haverá mais ninguém, Naomi. Você é tudo que eu quero em
uma esposa. Um coração bondoso, uma vontade de aço e um sorriso que me
dá forças todos os dias para seguir em frente.
Naomi não conseguia acreditar. Ele não podia estar sendo sincero.
— Ontem não era assim.
— Você não me deixou falar ontem. Você se trancou em seu quarto
sem querer saber toda a verdade.
— E o que é essa verdade?
— Eu a amo — ela afirmou com tanta ênfase que por um segundo
as batidas do coração de Naomi pararam em seu peito.
John se aproximou dela, posicionando-se perto de suas costas.
Naomi podia sentir seu hálito quente em sua bochecha e ela desejou
ser forte e inteligente o suficiente para não se deixar levar por algumas
palavras doces. Não quando seu coração estava em jogo.
— A primeira vez que a vi, pensei que você era a mulher mais
linda que eu já tinha visto em minha vida. Você me deixava nervoso cada
vez que olhava para você e não entendia como eu poderia ter tido tanta
sorte. Então, quando vi como você se encaixa no rancho e como é
trabalhadora, me convenci de que era a mulher que eu procurava.
— Mas você ainda não tinha falado sobre amor.
— Não. Ainda não. Porque até entender que poderia te perder, não
entendia que a amava. Eu tive que sentir meu peito dilacerar para perceber
meus sentimentos.
— Como posso acreditar em você? Tantas coisas foram
ditas...
— Você só precisa olhar para mim.
Naomi sabia que era verdade. Os olhos de John sempre
foram muito expressivos, mas também, se o que dizia fosse verdade e ele a
amasse, seria impossível demonstrar emoções que não sentia.
Sabia que aquele momento era decisivo, porque se ela se virasse e
não visse nada neles... só teria que pegar aquele trem.
Por outro lado, se ao se virar visse em seus olhos um lampejo de
amor, por menor que fosse, ela poderia dedicar o resto de sua vida para
fazer esse amor crescer até atingir o seu.
Tremendo, Naomi se virou lentamente e encontrou seu olhar.
Os olhos âmbar de John apareceram diante dela, olhando para ela
com uma mistura de amor e esperança que tocou Naomi.
John não resistiu ao vê-la chorar e acariciou seu rosto suavemente
para tentar afastar suas lágrimas.
— Sinto muito não ter percebido antes. Eu deveria ter dito
desde o início o quanto você significava para mim.
— Eu deveria ter dito que o amava também.
— Você me ama? — O sorriso de John tirou a admiração de seu
olhar.
Naomi só conseguiu acenar com a cabeça e responder com outro
sorriso.
— Você também me pareceu um homem muito bonito na
primeira vez que te vi. Embora um tanto sério.
John acenou com a cabeça mantendo seu sorriso.
— Eu realmente tive que me conter. Se fosse por mim, não teria
parado de sorrir desde que descobri que você seria minha futura esposa.
— Parece que fomos dois idiotas.
John aproximou a testa de Naomi e envolveu o rosto dela com
as duas mãos.
— Eu não quero ser esse idiota de novo. Quero te dizer a cada dia o
quanto você é linda e como me sinto feliz por ter você ao meu lado.
— John.
— Não, não diga nada. Deixe-me falar, eu não poderia continuar
sem você. Eu não suportaria isso.
E sem mais demora ele a beijou, mostrando com aquele beijo que
suas palavras não eram vãs ou falsas.
Ele a beijou como se nunca tivessem se beijado antes e como
ela nunca tivesse imaginado que eles poderiam se beijar. Com todo seu
amor, sua paixão, sua vontade e felicidade, mas também com o medo de
perder o que havia de mais valioso em sua vida.
— Eu a amo, Naomi —declarou com seus lábios roçando os
dela.
E antes que Naomi pudesse responder, ele se ajoelhou
diante dela colocando um joelho no chão, agarrou suas mãos e olhou em
seus olhos para dizer:
— Nunca senti por ninguém o que sinto por você. Você é muito
mais do que eu imaginava em uma mulher, porque nunca acreditei que
existisse uma mulher assim. Você me devolveu a esperança, a alegria e o
orgulho de ser quem eu sou e de pertencer a esta terra. Mas acima de tudo
me fez sonhar com um futuro cheio de crianças, de noites ao seu lado e de
refeições em uma mesa cheia de carinho.
E com toda a verdade de seu coração ele disse as mesmas palavras
que escrevera para ela por carta, só que desta vez sabendo que vinham de
seu amor.
— Quer se casar comigo, Srta. Parrys?
— Claro que quero — disse ela chorando de felicidade. — E quero
viver seus mesmos sonhos porque eles também são meus.
Sem esperar mais, John se levantou e a abraçou, rodando com ela,
enquanto não parava de beijá-la e sorrir.
Só depois de alguns minutos é que perceberam que metade da
cidade estava diante deles aplaudindo, deixando claro que haviam
testemunhado tudo.
Algo que parecia não importar para John e Naomi.
Quando Naomi olhou para a multidão, pode ver Meli e a Sra.
Maggie na primeira fila, enquanto ambas sorriam e enxugavam as lágrimas.
Ela também podia ver o homem que a atendeu atrás do balcão do
escritório da estação de trem, e quando o viu sorrir, soube que era ele quem
havia convocado toda a cidade.
— Como você pode ver, toda Valley Grave ama você, e não estão
dispostos a permitir que nos deixe.
— Eu já percebi — respondeu Naomi, rindo e mais feliz do que
nunca.
Ela não apenas encontrou um lar, como tanto desejava, mas também
conquistou o amor de um homem maravilhoso e de uma comunidade que a
adotou.
A vida podia ser difícil às vezes, como foi em Boston depois que
sua mãe morreu, mas ela lutou por seus sonhos e agora estava prestes a
alcançá-los.
Capítulo 1

D ez dias depois.

O sol
trazendo com ele bons presságios.
apareceu em Valley Grave,

Todos da cidade estavam reunidos na igreja, pois ninguém queria


perder o casamento de Naomi e John.
Um evento com o qual todos ficaram felizes e que Meli, Maggie e o
próprio Reverendo Ascott cuidaram nos menores detalhes.
No altar estava um John elegante, que tentava parecer calmo,
embora não pudesse enganar ninguém. Dava para ver sua impaciência
porque não parava de olhar para a porta e se movia de um lado para o outro
como se para forçar o tempo a passar mais rápido.
Ao seu lado estava seu irmão Jason, que como havia combinado, era
seu padrinho.
Ambos os homens usavam elegantes ternos escuros, com coletes e
camisas brancas, encimados por gravatas texanas pretas.
— Calma. Ela deve estar chegando —Jason comentou quando
John olhou para trás.
De repente, uma carroça foi ouvida chegando e a congregação ficou
em silêncio a espera de que fosse a noiva.
Poucos minutos depois, tia Regina apareceu pela porta, mostrando
um sorriso feliz e acenando com a cabeça.
— Já está aqui! — John retrucou seu irmão, visivelmente satisfeito.
— Você achou que não viria? — Perguntou um Jason sorridente
enquanto os dois iam para seus lugares.
— Não. Eu sabia que ela viria. — E com um sorriso radiante, ele
continuou falando. — Embora, por precaução, deixei alguém vigiando na
estação de trem.
Os dois riram, bem quando as portas foram abertas e o órgão
começou a tocar.
A figura de uma mulher vestida de branco apareceu na porta da
igreja, o sol a iluminando.
Se John não soubesse que era Naomi, teria pensado que era um anjo,
pois ela irradiava uma doçura e felicidade que apenas de olhar fazia seu
coração parar.
Seguindo os acordes da mú sica, Naomi começou a caminhar em
direção ao altar, onde John a esperava impaciente e maravilhado.
Ela usava um vestido branco simples, mas elegante, acompanhado
por um buquê de flores rosa, que Meli havia lhe dado antes de sair de casa.
Os dez dias desde a declaração mú tua de amor na estação de trem
foram os mais felizes de sua vida. Embora ela tivesse que admitir que
aquela ú ltima noite na casa de Meli, junto com sua tia Regina e a amiga,
tinha sido algo que ela nunca esqueceria.
Elas se lembraram de anedotas, riram, choraram e lamentaram que o
pai não tivesse comparecido ao casamento, mas acima de tudo ela havia se
despedido de uma vida que nunca mais seria a mesma.
Agora, caminhando pelo corredor e vendo John olhando para ela
com entusiasmo, ela não pode deixar de pensar que uma nova vida estava se
abrindo diante dela e ansiava por começar.
Viajara milhares de quilô metros para chegar àquele lugar, mas
aqueles metros até o altar estavam sendo os mais importante de todos.
Viu sua tia Regina olhando para ela em meio a lágrimas de
felicidade nos primeiros bancos da igreja, ao lado de Meli e Maggie e
sorriu para elas.
Então olhou para Jason, que sorriu e lhe deu uma piscada,
encorajando-o a continuar.
E finalmente ela olhou para o homem que roubou seu coração.
Um homem que abriu sua casa para ela e ofereceu seu amor em
troca de uma vida ao seu lado.
Quando estava na frente de John, ele estendeu a mão e a trouxe para
mais perto de si.
Diante do altar, os dois se entreolharam, enquanto ouviam o
reverendo Ascott falar de amor, compromisso e dedicação.
Sem poder esperar mais um segundo, eles juntaram seus lábios em
seu primeiro beijo como casados, enquanto a congregação aplaudia e
exclamava parabéns.
— Você já é minha esposa — disse John, radiante de felicidade.
— E você é meu.
— Claro que sim — ele assegurou, tomando-a nos braços e virando-
se com ela.
Foi difícil para os convidados separá-los para parabenizá-los
pessoalmente, embora tenha sido Jason o primeiro que deu um passo à
frente e abraçou Naomi enquanto lhe dizia.
— Bem-vinda à família, irmã.
— Obrigada, Jason.
Então sua tia Regina insistiu em ser a próxima, ameaçando qualquer
um que a impedisse.
— Você conseguiu, querida. — Regina disse quando a abraçou. —
Você não sabe o quanto eu a admiro por não se contentar com uma vida
vazia e arriscar seus sonhos.
— Nem sempre foi tão simples — assegurou-lhe enquanto
observava John cercado por seus vizinhos que o parabenizaram
alegremente.
— Nada é — ela a assegurou.
Em seguida, uma chorosa Meli foi a próxima a parabenizá-la,
seguido por uma procissão de homens e mulheres que se tornou um mar
confuso de rostos.
— Deixem que os noivos respirem um pouco e saiam para comer o
lanche que tão generosamente prepararam para nós. — O reverendo Ascott
se fez ouvir, e como um rebanho bem-organizado, todos começaram a se
dirigir para a sala anexa à capela.
Com uma piscadela, o reverendo saiu, deixando-os sozinhos por
alguns minutos.
— Eu ainda não consigo acreditar que você seja minha esposa —
John afirmou enquanto ficava diante dela e a olhava
fixamente. — Lembro-me das vezes em que imaginei você enquanto
escrevia e pensava como seria nossa vida juntos.
— Espero não o ter decepcionado.
— Em nada. Agora me sinto o homem mais sortudo do mundo.
Naomi sorriu e apertou suas mãos.
— Eu também tentei imaginar você, mas nunca acreditei que
pudesse sentir um amor tão grande.
John a beijou, deixando o som de risos e conversas cercá-
los.
— É melhor irmos com todos antes que eles venham nos
procurar.
Naomi sorriu acenando com a cabeça.
Os dois começaram a caminhar na direção da festa, quando John
disse:
— Estou ansioso para começar minha vida com você, Sra.
May.
— O mesmo digo eu, Sr. May.
E assim, juntos e de mãos dadas, deram os primeiros passos
em direção ao seu destino.
Epílogo

Três anos depois

Q ueridos irmãos J ohn e Naomi.


Fico feliz em saber que vocês e meus sobrinhos estão com
boa saú de; Exceto pelo dente que a pequena Amelia perdeu.
Sei que vocês me censuram por raramente escrever, mas
desde que saí do rancho, há dois anos, tenho viajado sem parar e
dificilmente tenho a oportunidade de fazê- lo.
No entanto, agora que tenho boas notícias, não demorei a
conseguir papel e lápis.
D epois de vagar para o oeste, finalmente encontrei o lugar
que procurava. E você não vai acreditar J ohn, mas é uma fazenda
de cavalos.
Sim, eu sei que te disse que não me via como um rancheiro,
mas quando disse isso não conhecia este pequeno pedaço do céu
em Trinidad, Colorado.
Nele encontrei não só uma ocupação que me preenche e me
faz sentir ú til, mas também um belo lugar onde poderia criar raízes.
Mas o melhor de tudo é que conheci alguém muito especial.
Surpresos? Estou convencido de que sim.
Eu imagino vocês agora, J ohn balançando a cabeça, pelas
vezes que eu disse que nunca dividiria minha vida com uma mulher,
e você Naomi sorrindo feliz, por ter a ouvido e não ter me fechado
para o amor.
O nome dela é Emma e ela me mostrou como a vida pode
ser maravilhosa, ela é filha do dono da fazenda onde trabalho. Seu
pai, Robert, me recebeu de braços abertos e me fez sentir em casa.
Tenho certeza de que vocês vão adorar Emma,
especialmente você Naomi. Ela tem sua força e seu espírito livre.
Mas ela também tem uma doçura que roubou meu coração e uma
beleza que me tirou o fô lego desde o primeiro dia em que a vi.
Estou ansioso para que a conheçam.
Mas aí vem o melhor de tudo. Eu a pedi em casamento e ela
aceitou. O que vocês acham?
Então façam as malas para uma longa viagem, porque quero
a família ao meu lado no dia do meu casamento.
Espero ter tanta sorte quanto a sua, J ohn, e viver uma vida
de casado tão feliz quanto você.
E, claro, ter filhos como os seus. Embora se meu primogênito
não for tão travesso quanto o pequeno Alex, seria uma bênção.
Saudades de todos vocês. D e Alex e suas travessuras, de
Amélia e seus gatinhos, de você meu irmão que sempre me apoiou
e de Naomi que me mostrou ter a coragem necessária para buscar
meu destino.
Eu os amo, e mesmo que esteja viajando há dois anos
sentindo a sua falta, descobri que onde quer que eu esteja, vocês
sempre estarão em meu coração.
Seu irmão
J ason
May
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Um coração partido, uma garota desesperada e um bebê
precisando de um lar.
Tudo isso se junta para criar uma história romântica
onde nada é impossível.

Molly precisa escapar de sua madrasta opressora. Desesperada, ela


responde ao anú ncio de um fazendeiro em busca de uma esposa, sem saber
que ele não o publicou. Empolgada, ela abandona tudo e sai em busca de
um marido e de uma nova vida.
John é um homem solitário e amargo desde que sua esposa e filho
morreram em um acidente. Ele se culpa por não estar ao seu lado e se
recusa a encontrar uma nova esposa, por mais que seu amigo Scott se
empenhe.
Mas quando Molly chega e encontra um bebê abandonado, John não
será capaz de abandoná-los ao seu destino. Ele concorda em se casar com
Molly, mas está determinado a manter distância.
Tudo se complica quando a atração entre eles fica mais forte e o
bebê é sequestrado.

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