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(The Aristocrat)
Catherine Coulter
Um atleta irresistível, uma garota sem charme e um título de nobreza a ser conquistado...
Brant Asher, famoso jogador de futebol americano, jamais poderia imaginar que se
transformaria, da noite para o dia, em venerável lorde inglês... Herdeiro de uma extensa
propriedade e do título de "visconde", ele só não gostou dos dizeres do testamento: "Para
usufruir de todos os bens, terá de casar-se com Daphne Claire". Considerada por todos
como o patinho feio da família, Brant sabia que só a herança o faria casar com essa
mulher.
No entanto, após conhecer Daphne, percebeu que poderia transformá-la em um cisne
encantador. Só não sabia se ela estava disposta a deixar-se levar pelos caminhos do
amor...
DIGITALIZAÇÃO: JOYCE
REVISÃO E FORMATAÇÃO: FABIANE
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CatherineCoulter–O
PRÓLOGO
CAPITULO I
Sentada na praia sobre sua toalha florida, Daphne Claire Asherwood observava os
turistas, quase todos alemães, subindo a bordo de um pequeno barco no cais do Elounda
Beach Hotel.
Como sempre, o sol da Grécia estava tão quente que ela sentiu a pele arder depois de
apenas trinta minutos de praia. Passou um creme no rosto e sorriu por causa de seu maio
de duas peças; pensou no tio Clarence: ele teria ficado escandalizado se a visse com algo
tão reduzido.
Tio Clarence, recém-falecido, não mais controlaria sua vida. Daphne não sofrera
muito com a morte do tio, pois o ancião já passava dos noventa anos de idade.
Ocasionalmente tinha a impressão de ouvir-lhe a voz pedindo alguma coisa. Era um
homem solitário, ela dizia a si mesma quando sentia qualquer ressentimento. O tio a
tratava como uma governanta, enfermeira ou criada, querendo que estivesse às suas
ordens vinte e quatro horas por dia. Porém, Daphne achava que lhe devia muito, pois o tio
a acolhera quando seus pais morreram. Contudo, sua situação foi ficando cada vez mais
difícil no decorrer dos anos.
Agora estava livre! Tia Cloé lhe dissera, logo após o funeral:
— A vida espera por você, meu anjo!
"Bem", Daphne pensou, erguendo a cabeça, "estou pronta pura encarar a vida...
acho."
Mas, como poderia uma pessoa agarrar a vida, se não tinha noção do que era a vida?
O que iria fazer quando voltasse à Inglaterra?
Daphne tinha vinte e três anos. Olhou de novo para o biquini. Jamais se esqueceria
da expressão do olhar de tia Cloé quando ela saiu do provador de uma loja em Atenas,
tentando esconder o corpo com as mãos.
— Céus! — a tia exclamara. — E eu que a imaginava um esqueleto! Por Deus, querida,
que seios! Não vou desanimar, juro que não vou!
Desanimar com o quê?, Daphne se perguntava. Sim, tinha seios, mas o resto do corpo
era mesmo um esqueleto.
Como se adivinhasse seu pensamento, a tia acrescentara:
— Não, amor, você não é seca. Esbelta, sim, como pede a moda. Tal qual um modelo,
da oitava vértebra para baixo.
E agora lá estava ela na Grécia, na ilha de Creta, um lugar que sempre sonhara visitar,
sentada na praia, e parecendo um modelo da oitava vértebra para baixo.
Logo após o funeral de tio Clarence, tia Cloé lhe dissera:
— Veja, querida, pretende ficar aqui sozinha apodrecendo em Asherwood até ser
posta para fora pelo novo visconde? Está na hora de você fazer qualquer coisa em seu
próprio benefício.
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E ela permitira que a tia a levasse à Grécia para se divertir um pouco após uma vida
de reclusão. Por onde andaria tia Cloé?
Cloé Sparks estava ocupada marcando hora com um cabeleireiro, monsieur Etienne.
— Minha sobrinha foi uma adolescente até agora. Está com vinte e três anos de idade
e parece ter catorze — ela explicava. — Precisamos transformá-la em algo dramático,
cintilante, em algo je ne sais pas quoi!
— Entendo, madame — monsieur Etienne respondeu. — Quando quer trazê-la aqui
para eu ver?
— Amanhã às nove horas — Cloé declarou.
No táxi de volta ao hotel ela mordia o lábio inferior, crestado pelo sol intenso e
constante da Grécia. Forçara Daphne a empreender essa viagem a Atenas e depois a Creta,
com o fim de melhorar o aspecto da sobrinha. A próxima coisa a fazer seria trocar os
horríveis óculos por lentes de contato.
Brant deu um forte abraço na mãe.
— E bom estar aqui — disse. — Você está linda como sempre, mamãe.
— Bem-vindo seja, meu filho! E tão bom ver você. Preparei seu jantar preferido:
costeletas de porco e macarrão feito em casa.
— Temos muito que conversar, mamãe. ―Ele parecia cansado e um tanto quanto
inquieto.
— Sim, temos muito que conversar. Mas antes, por que não descansa um pouco?
Brant sentou-se no confortável sofá da sala, pegou uma das almofadas e a pôs sob a
cabeça. Fechou os olhos.
— Você deve ter tido uma semana horrível, Brant. Foi bom vir até aqui em segredo. A
imprensa vem me perturbando, mas felizmente não conseguiram descobrir Lily.
— Ela está num cruzeiro pelo mar Egeu, certo?
— Está, desta vez com o marido.
— Uma lua-de-mel? — Brant perguntou, sorrindo.
— A terceira! O pior de tudo é que Danny, Patrícia e Keith ficaram com a mãe dele.
— Não se queixe, mamãe. Gosto muito de Crusty Dusty e as crianças também. E ele é
suficientemente rico para dar a Lily o que ela sempre desejou.
— Mas está mais perto da minha idade do que da dela!
— Você sabe, mamãe, tão bem quanto eu, que Lily precisa de alguém como Dusty, de
um homem mais velho para man-tê-la na linha.
— Você tem de ouvi-lo falar. Seu sotaque texano é simplesmente horrível.
— Já o conheço. Por acaso está ficando esnobe, só porque é agora a mãe de um
visconde ou qualquer coisa parecida? — Brant riu muito. — E ridículo o modo como a
nobreza trata os pobres mortais.
— Tem razão, meu filho. Sou uma velha conservadora e falo como uma sogra
antipática. Fico pensando o que seu pai diria sobre tudo isso.
— Ele riria. Nada mais.
Brant foi até a janela e se demorou apreciando o lindo jardim da casa de sua mãe, em
Connecticut.
— Passei várias horas ontem com meu advogado, Tom Bradan, e com um procurador
— disse ele enfim. — O procurador veio de Londres especialmente para informar acerca de
minha boa sorte. O nome dele é Harlow Hucksley. Tem mais ou menos minha idade e um
ar pomposo. É magro como as hastes das azaléias de seu jardim; não tem nem um grama
de gordura a mais.
Alice Asher achou graça, imaginando como seria esse tal de procurador.
— Ele deve ter sido o cachorro que espalhou a notícia à imprensa — Brant continuou.
— Tentei discutir com o homem, apresentando as mais variadas razões para não ir a
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Londres; mas não adiantou. Insistiu para que eu tomasse um avião o mais depressa
possível.
— Você irá, naturalmente. Por favor, não deixe de ir. — Alice pediu calmamente.
— Que outra coisa poderei fazer?
— Seu pai nunca me falou muito sobre os parentes da Inglaterra, tampouco seu avô.
Mas a Inglaterra é parte de sua herança, meu filho. Lembra-se da carta que o velho
Asherwood escreveu para você no ano passado? Ele sabia muito sobre sua vida, Brant.
— Homem antipático! — Brant exclamou.
— Talvez. Reli a carta várias vezes depois que você me telefonou. É realmente
patética.
— Mãe, ouça. O procurador me contou muito pouco, mas acho que não há
propriedades nem dinheiro. Apenas uma velha casa embolorada num lugar chamado
Surrey; e talvez alguns acres de terras sem valor.
— A casa é conhecida como Asherwood Hall e está localizada numa aldeia graciosa, a
East Grinstead.
— E não se esqueça de que vou herdar o título, Harlow disse. Quanto a isso o velho
não tinha outra escolha. O resto com certeza ficou para mim porque não tem valor algum.
— Tudo bem, filho. Você tem dinheiro e não lhe fará mal algum ir ao menos ver o que
há por lá. O período é calmo no futebol agora, não é?
— É. Eu pretendia fazer uns comerciais, mas isso pode aguardar.
— Espero que não sejam de creme de barbear! Brant riu.
— Não são, mamãe. Lily disse que não falaria mais comigo se eu enchesse meu rosto
de creme para mostrar ao mundo, através da televisão.
— E mais uma coisa, Brant. E muito bom você ir à In-glaterra para melhorar sua
cultura. Raízes são importantes, meu filho.
— Ora bolas, eu tenho cultura, mamãe. Afinal, estive na Europa várias vezes e
frequentei uma universidade de primeira categoria.
— Sim, querido, eu sei.
— Não precisei de professor particular para falar bem, como a maioria dos atletas.
— Sim, querido, naturalmente.
— Meu diploma não será inútil. Comunicação. Talvez eu possa trabalhar em
propaganda quando me aposentar do futebol.
— Bom; ótima ideia. Tenho muito orgulho de você, Brant, como também seu pai
tinha. Agora descanse um pouco enquanto preparo o jantar.
Brant apenas terminara de comer quando o telefone tocou. Lily, exuberante, gritava
para se fazer ouvir. Estava oito mil quilómetros de distância.
— Lorde Asherwood! Isso me faz condessa ou qualquer coisa semelhante, irmão
querido?
— Alô, Lily. Como estão Atenas e Dusty?
— Ambos muito bem e muito quentes. — Lily ria. Brant passou o fone à mãe.
— Obrigada, querido — Alice agradeceu ao filho depois de ter conversado uns dez
minutos com Lily e o genro.
— Não há razão para me agradecer, mamãe.
— É claro que há. Ouvi você dizer que vai à Inglaterra por minha causa. Pretende
levar Mareie consigo?
— Não, naturalmente que não!
— Ela já telefonou duas vezes hoje. E uma boa moça, você não acha, Brant?
— Está querendo outro neto, mamãe? Uma coisa posso lhe garantir, Mareie não está
grávida. Afinal, ela possui uma carreira dinâmica.
— Sim, eu sei, mas esse não é o ponto. Não sou cega, Brant. Durante anos você tem
vivido como um homem livre, se divertindo com mulheres. E foram tantas!
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— Sim, e muitas delas só queriam ter seus nomes e rostos.nos jornais na companhia
de um atleta famoso.
— E de um homem atraente e bom. Alegro-me muito com sua ida à Inglaterra. Talvez
encontre alguma coisa interessante por lá, além da herança de seu tio-avô. Mas venha aqui
um momento. Quero lhe mostrar um álbum de família que você não vê há anos. Fui buscar
no sótão um pouco antes de sua chegada.
— Não seria necessário, mamãe. Sabe que me convenceria a ir sem isso.
— Tantas pessoas que nunca encontramos! — Alice ia dizendo.
Havia lá fotografias desbotadas, tiradas nos anos 20, do famoso tio-avô Asherwood.
Ele sempre com ar autoritário. As mulheres que o rodeavam tinham todas um rosto
sombrio.
— Este é seu tio Henry, que morreu na Segunda Guerra Mundial, com a idade de
vinte e um anos — Alice prosseguia falando.— E esta é sua tia Loretta, que morreu em
1976. Foi? Acho que sim. Ela nunca se casou. Por isso, como vê, seu tio-avô não tem
herdeiros diretos. E aqui está a casa, Asherwood Hall. Este é seu avô, Edward Charles,
quando menino.
Brant riu.
— Melhorou muito com a idade!
— Melhorou mesmo. Por sinal você é o retrato dele.
— Não concordo, mamãe. Você sempre disse que eu era a sua imagem. Não posso ter
duas caras, posso?
Havia mais fotografias de crianças vestidas à moda dos anos 20. Mas nada de fotos de
seu avô quando adulto.
— Por quê? — Brant perguntou à mãe.
— Bem, ele veio para os Estados Unidos em 1919, logo depois da guerra, com a esposa
inglesa, Melanie. Acho que houve um rompimento entre os dois irmãos após a morte de
seu bisavô. Seu avô nunca comentou sobre.o caso.
— Asherwood deve ter ficado furioso ao saber que seu titulo de visconde passaria
para um selvagem americano, em especial se ele e meu avô não se falavam. — Sim, Brant,
deve ter ficado.
— Suponho que estas malditas heras sejam as tais raízes. Brant falou bem devagar,
passando o dedo pela fotografia de Asherwood Hall. — Tem certeza de que não quer ir
comigo, mamãe?
— Tenho, Brant, certeza absoluta. Não são minhas raízes, apenas suas. Sou de
Boston, lembra-se, não? Uma provinciana sem valor algum.
CAPITULO II
Não posso acreditar que seja mesmo eu! — Daphne Asherwood se olhava no espelho,
boquiaberta. Suas lentes de contato, encomendadas por tia Cloé, eram de um tom verde
vivo. Daphne jamais tivera um momento de vaidade em seus vinte e três anos de
existência. Mas agora estava gostando de se apreciar.
— É você, querida? — Cloé disse, satisfeita com o resultado. Na verdade, seria difícil
acreditar que se tratava da mesma jovem. — Os olhos verdes vão muito bem com seus
cabelos louros e o bronzeado da pele.
— Cabelos com reflexos dourados produzidos pof monsieur Etienne, tia. O homem é
de fato competente!
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— Oh! ele é, querida. Olhe o resultado! Vejo que Etienne não cortou seus lindos
cabelos. Fez bem em deixá-los longos. As lentes dê contato são confortáveis?
— Muito, nem as sinto — Daphne respondeu. — E o oculista disse que posso usá-las o
tempo todo, sem tirar.
— Agora vamos escolher os vestidos chez mademoiselle Fournier.
— Não venho a Paris desde a idade de quinze anos. E isso apenas por três dias. Tio
Clarence me deixou fazer a viagem num verão, em companhia do reitor e de sua família. É
uma cidade linda Paris, não é, tia Cloé?
— Sim, é, querida. — Cloé fez sinal a um táxi em Champs Elysées e pediu ao motorista
que as levasse à praça da Ópera, número quatorze.
— Bien — o chofer disse, sem levantar o olhar.
Cloé certa vez convidara a sobrinha para morar na Escoria com ela, mas o velho
recusara terminantemente.
— Impossível! — lorde Clarence protestara com veemência. — Daphne se
transformará numa dessas mulheres modernas, que detesto!
Cloé pensava nos termos do maldito testamento. Apenas ela e seu marido Reggie,
agora falecido, souberam desses termos.
Cloé vira as fotografias do novo visconde e o achara fascinante. Deus, quantas coisas
ele poderá ensinar a Daphne! Ela corou ante tais pensamentos. Depois disse a si mesma
que não era tão velha assim para não se excitar com coisas desse tipo.
Reggie lhe dera informações completas acerca do novo visconde.
— Aqui estão as fotografias e os recortes de jornais — ele dissera a Cloé. — O rapaz é
inteligente, o que não se esperaria de um atleta, em especial de um atleta americano. E um
solteirão viril. Olhe pára as mulheres que o rodeiam aqui nesta foto. Contudo, o rapaz tem
dinheiro, o que pode consistir em grave problema. Talvez nem venha à Inglaterra.
— Ele virá, garanto — Cloé insistira ―, e tudo sairá bem para Daphne.
"Mas... e Lucilla? Não, não vou me preocupar com Lucilla agora". Cloé afastara o
pensamento.
"Não pode haver lugar mais desagradável do que Londres no mês de fevereiro", Brant
pensava, olhando a paisagem pela janela do avião que circulava o aeroporto de Heathrow.
Tudo era frio, nublado e depressivo.
O homem sentado a seu lado ainda dormia calmamente quando o avião aterrissou.
Harlow Hucksley, o procurador, o esperava no aeroporto.
— Lorde Asherwood, é um prazer vê-lo de novo — Harlow cumprimentou-o.
— Chame-me de Asher, é suficiente, ou de Brant.
— Então chame-me de Harlow. Acho que vamos ser amigos.
— Otimo, Harlow.
— O tempo está horrível aqui em Londres — Harlow comentou.
— Sim, horrível mesmo.
— Mas não vai sofrer frio. Uma limusine o aguarda.
— Tratamento de primeira classe, não?
— Claro — Harlow observou ao entrarem no carro.
— Cumprimentos da firma, Harlow? Não me disse que não havia dinheiro envolvido
na herança?
— Nem uma libra. Apesar disso, o velho insistiu que lhe déssemos um tratamento
adequado.
— Muita gentileza — Brant observou.
— Não na verdade. Trata-se apenas de negócio. Pelo menos foi o que o velho me
disse. Mas conte-me uma coisa: todos os jogadores de rúgbi são grandes como você?
— Futebol, Harlow. O nome é futebol. Para ser franco, sou como um mosquito
comparado aos homens da linha de frente.
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— Meu Deus, quem poderia imaginar que um dia um atleta americano receberia um
título inglês? Alguns ingleses vão olhar para você com o nariz em pé. Mas não se preocupe
por enquanto, ninguém sabe de nada. O velho cuidou disso.
— Maravilhoso velho! Presumo que seja seu pai.
— É. Reginald Darwin Hucksley. Parentesco nenhum com Darwin. Sabe, o velho está
tentando encontrar todos os seus parentes.
— Parentes? — Brant arregalou os olhos. — Você não falou nada sobre parentes.
— Bem... acho que não. De qualquer forma, não sabíamos quantos você tinha e nem
onde estavam.
— Vocês, ianques, se esparramam por toda parte, não é mesmo? Perdem contato com
os parentes. Deixe-me ver. Há uma tia sua que mora em algum lugar da Escócia. Glasgow,
acho.
— Uma tia? — Brant repetiu, atônito.
— Isso. É filha adotiva do velho lorde Asherwood, e foi casada com um homem de
nome Sparks. É Cloé Sparks.
— Há outros parentes? — Brant teve curiosidade em saber.
— Sim, muitos outros. Morava com lorde Asherwood uma sobrinha cujos pais
morreram em acidente de carro. Aliás, a moça não é propriamente sobrinha, pois é filha da
prima da esposa do irmão mais moço de seu pai. Seu sobrenome era Bradberry mas o
velho lorde trocou-o legalmente para Asherwood. Não posso me lembrar de seu nome de
batismo, mas meu pai saberá informá-lo. Ela cresceu em Asherwood Hall. Agora viaja pela
Grécia.
— Não posso imaginar uma pessoa ser forçada a trocar de nome — Brant comentou.
— Bem, isso certamente deu à moça mais status. Asherwood é nome bem mais
importante que Bradberry.
— Mesmo assim, continuo pensando que qualquer pessoa tem direito a usar o
próprio nome.
— E há outra jovem, a femme fatale. Seu nome é Lucilla. Está casada com um rico
industrial alemão, Meitter, e mora em Bonn.
— Afinal, para onde estamos indo agora? — Brant perguntou, após quase uma hora de
trajeto.
— Para a ponte de Westminster. O velho pediu que lhe mostrasse alguns pontos
importantes de Londres. Quer que você se sinta em casa.
O tráfego era incrível, bem similar ao de Nova York, com exceção de que todos os
táxis eram pretos e os carros seguiam pelo lado esquerdo da rua.
— Aqui, Brant, é Hyde Park e logo adiante fica seu hotel, o Stanhope.
Brant leu o nome da rua, Curzon Street. Uma rua calma, bem arborizada. A neve caía
como cortina branca obscurecendo tudo o que poderia perturbar a serenidade do local. O
hotel era pequeno, antigo, e a atmosfera vitoriana. O saguão estava vazio.
— Eles não hospedam muitos estrangeiros aqui, por isso vão estranhar seu aspecto,
particularmente por causa de seu tamanho descomunal — Harlow explicou, e em seguida
dirigiu-se ao recepcionista: — Este é lorde Asherwood. Pedi reserva para seus melhores
aposentos.
Um empregado apanhou a bagagem e Harlow disse a Brant:
— Siga-o. Mandarei a limusine amanhã mais ou menos às dez horas.
— Para ver o velho?
— Sim — Harlow respondeu sorrindo.
— Bem-vindo a Londres, meu rapaz! Sente-se, sente-se! Betty, traga uma xícara de
chá para lorde Asherwood.
— Senhor Hucksley, muito prazer em conhecê-lo — Brant foi logo dizendo,
apertando-lhe a mão.
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O velho virou-se para o filho, exclamando:
— Você não. me disse que lorde Asherwood era um homem tão atraente! As mulheres
daqui não o deixarão em paz, a começar por Betty.
Betty, a secretária, de fato o fitava com olhos arregalados.
— Agora, meu rapaz — o velho prosseguiu ―, está na hora de falarmos sobre o que
fazer com o senhor.
— Fazer comigo, sir? — Brant franziu a testa. — Francamente, não entendo. Harlow
me contou que há somente uma casa e o título.
— Está correto, até certo ponto. Mas cláusulas estranhas constam do testamento de
lorde Asherwood.
— Cláusulas? — Harlow repetiu.
Brant não falou nada, mas pensou: "O que estará acontecendo?"
— Eu presumo, meu rapaz — o velho disse ―, que Harlow tenha mencionado as duas
mulheres.
— Mencionou, senhor — Brant disse, impaciente. Queria logo pôr um ponto final ao
caso.
— Bem, as duas mulheres são Daphne Claire Asherwood e Lucilla Meitter. Ambas
primas distantes suas, milorde. Bem diferentes uma da outra. Acho melhor, antes de ler o
testamento, que eu lhe esclareça alguma coisa.
— Já soube através de Harlow — Brant falava bem devagar
— que não há quase nada nessa herança. E confesso que vim à Inglaterra só para
satisfazer a vontade de minha mãe.
— Talvez deva começar por lhe pedir desculpas, milorde
— Reginald Hucksley disse. — Admito que escondi algo, mas fiz tudo de acordo com
instruções do falecido lorde Asherwood. Veja, seu tio-avô Clarence desejou que o herdeiro
viesse à Inglaterra, e eu usei de todos os meios possíveis para conseguir isso.
— Então sugiro, senhor — Brant insistiu ―, que me plique tudo logo. Quero voltar a
Londres ainda hoje.
— Muito bem, milorde. A encantadora Daphne Claire foi educada como verdadeira
lady. Lucilla Meitter, por outro lado, é um pássaro de diferente plumagem. Divorciou-se do
marido alemão e está voltando para Londres depois de uma viagem ao sul da França.
— Você não me contou, pai, que ela estava divorciada, Harlow queixou-se. — Pensei
que continuasse casada.
— Ah, não contei? Bem, agora já sabe, meu filho.
— O que isso tem a ver comigo, afinal? — Brant indagou.
— O que tem a ver, milorde, é que o velho lorde Asherwood deixou muito dinheiro.
Pagas as taxas, a quantia mon-ta a meio milhão de libras.
— Pai! — Harlow gritou. — Você não me contou isso também!
— Bem, agora já sabe. Mas o senhor, milorde, só herdará esse dinheiro se...
— Se? — Brant teve vontade de enforcar o velho. Por que toda aquela palhaçada?
— Se se casar com a encantadora Daphne Claire Asherwood. Brant fitou-o com olhar
incrédulo.
— Fui claro, milorde? — Reginald Hucksley insistia. — Muito bem. Agora escute-me,
milorde. Essa cláusula tem de ser obedecida. Se milorde recusar se casar com Daphne, nao
receberá nada, e Daphne herdará apenas quinhentas libras. Lucilla ficará com metade do
dinheiro e com a mansão. A outra metade da herança será destinada a obras de curidade.
Entendeu, milorde?
— Oh, sim — Brant respondeu com sarcasmo. — Entendi muito bem, e estou ansioso
por ouvir o resto da história.
Ignorando o sarcasmo de Brant, o velho Hucksley continuou:
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— Se o oposto acontecer, o que duvido, se for Daphne quem recusar se casar, milorde
continuará não recebendo nada e ela apenas cem libras. Em tal caso Lucilla herdará tudo.
De súbito, e inesperadamente, Brant caiu na gargalhada. O velho procurador ficou
atónito.
— Milorde me entendeu, não? Lorde Asherwood podia fazer o que quisesse com seu
dinheiro, e a propriedade não
estava vinculada.
— Jesus! — ele resmungou. — Meu caro tio-avô devia ser louco! O que significa
vinculado?
— Ah, vocês, americanos!
— Significa, Brant, que lorde Asherwood não era obrigado a deixar nada à
posteridade além do título. Por lei, ele podia fazer o que bem entendesse com seu dinheiro
e com a mansão.
— Por acaso o senhor sabe por que razão meu tio-avô pôs no testamento cláusula tão
ridícula?
— Talvez ele não quisesse que a futura viscondessa de Asherwood fosse uma
americana.
— Mas um visconde americano não seria problema?
— Nesse caso ele não tinha escolha. Precisava obedecer a linha sucessória.
— E o que acontecerá com o dinheiro se tanto eu como minha prima recusarmos nos
casar?
— Tudo irá para Lucilla. Precisa entender, milorde, que lorde Asherwood queria que
Daphne fosse protegida.
"Será ela anormal? Meio louca?", Brant se questionava.
— Isso, senhor, está bem claro. Mas trata-se também de chantagem da pior espécie. É
evidente que meu tio-avô gostava muito dessa Daphne. Gostava tanto que está tentando
castigar nós dois, e fazer de mim um vilão se não me casar com ela! É inacreditável!
— Calma, calma, meu rapaz. Concordo que lorde Clarence tenha ido longe demais.
Quanto a Daphne, milorde, duvido que ela recuse se casar com o senhor. Mas se milorde
recusar... Bem, como sabe, ambos perderiam tudo. E Daphne, sinto muito, ficaria quase
sem dinheiro e sem teto.
— E se nos detestarmos mutuamente?
— Impossível! — Harlow falou com firmeza.
— Outra pergunta, senhor — Brant fez um enorme esforço para não rir. — E se eu já
fosse casado? O que aconteceria com essa cláusula ridícula?
— Lorde Asherwood sabia que o senhor não era casado.
— E se eu lhe dissesse que estou comprometido para me casar... com uma
americana? Houve um momento de silêncio.
— Está brincando, milorde — Reginald Hucksley sus-surrou, sacudindo a cabeça em
desaprovação. — Naturalmente o velho lorde investigou sua vida por completo. Sabemos
que milorde era visto sempre rodeado de mulheres, convivendo com todas, mas com
nenhuma em particular.
Brant levantou-se.
— Acho, senhores Hucksley pai e filho, que vou visitar a Torre de Londres. Quero ver
se todos os instrumentos de tortura continuam lá. Até mais ver, Harlow e senhor Reginald
Hucksley.
— Mas...
— Conversaremos mais tarde.
— Não deixe de ver as jóias da coroa além dos instrumentos de tortura — Harlow
brincou.
Brant deu as costas e saiu.
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CAPITULO III
CAPITULO IV
CAPITULO V
Eles sentaram-se frente a frente na enorme sala de jantar. Brant vestia-se de acordo
com as recomendações de Winterspoon: terno escuro e camisa branca. Daphne usava um
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vestido de lã cinzentoCatherineCoulter–O
que tia Cloé insistira para que ela comprasse em Paris. A blusa era
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muito justa, realçando suas formas, e a saia rodada. Não usava jóias; aliás, não tinha
nenhuma. Mantinha a cabeça erguida, encarando Brant com olhar insolente.
Fugira dele a tarde toda e aquela era a primeira vez que o via depois da
discussão. Num tom de voz gelado, Brant censurou-a:
— Você devia ter me contado imediatamente quem na realidade era. Seu
comportamento foi infantil, como o de uma colegial que deseja descrever suas próprias
cenas à maneira de Shakespeare, mas misturando tudo.
— Eu nunca me preocupei muito com o aspecto de Lucilla. — "Deus, que mentira!
Tive inveja dela desde meus dez anos de idade!", pensou. — Por outro lado, milorde, você é
exatamente como, pensei que fosse: arrogante, rude, insultoso, convencido...
— Chega, chega!
— ...e usava as vergonhosas roupas americanas.
— Ah, .gostou de meu jeans, então? — Brant falou com malícia, para provocá-la.
— Não sei como você podia se abaixar! E, mais ainda...
— Não se dê ao trabalho de procurar outros adjetivos charmosos. E repito, senhorita
Asherwood, seu comportamento foi tão ridículo quanto o meu. Não, mais ridículo ainda.
Sim, confesso que errei.
— Será isso um pedido de desculpas?
— Interprete como quiser. E que tal minha roupa desta noite? Winterspoon me
garantiu que é assim que um lorde inglês se veste para jantar.
— O traje não faz o monge.
— Mas seu traje — Brant disse, olhando para os seios dela com cobiça — diz muito
sobre o que uma mulher tem a oferecer.
Daphne engasgou com um pedaço de rosbife e franziu a testa.
— Oh, como lamento O'Reilly não estar aqui! — exclamou. — Esta carne está horrível.
Como você tem sobrevivido?
— Com hambúrgueres. Agora, a última coisa que ainda espero que me diga é que não
falo bem inglês.
— Oh, não vai ser preciso. Ao menos reconhece suas falhas.
— Vai me contar por que não tem nada daquela toupeira da fotografia? Quem é
aquela moça?
— Não sei a que fotografia você se refere.
— À daquela mulher feia, malvestida, nada apetitosa, com um rosto que provocaria o
naufrágio de mil navios...
— Agora acho que você é quem pode parar com esses adjetivos pouco amáveis.
Aquela foto é de Lucilla, tirada quando ela era muito jovem. Não a vejo há anos, mas ouvi
dizer que está bem diferente.
— E como se explica seu nome na fotografia? Daphne
Asherwood? Ela fitou-o com olhos inocentes e comentou:
— Bem, talvez isso tenha sido feito como brincadeira.
— E por que motivo todos se referem a você como "a pobre
Daphne"? Ela se fez de desentendida e disse:
— Bem, quinhentas libras não é muito dinheiro.
— Isso só se eu recusar me casar com você.
— Serão todos os americanos atrevidos e rudes como você?
— E todas as mulheres inglesas coram assim facilmente, transformando suas faces
em rosas vermelhas?
— Rosas vermelhas?
— Sim, rosas vermelhas.
— Você, Brant, tem um tórax tão musculoso que os botões de sua camisa quase
arrebentam. É tão provocante!
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— Bravo! — exclamou. — Minha pequena rosa inglesa está se libertando de sua
timidez.
Por onde andaria Daphne?, ela se perguntava. E continuou com o mesmo tipo de
conversa:
— Gostei muito de ver você de mãos nos bolsos do jeans.
— Tudo bem. Contudo, eu preferiria que fossem suas as mãos em meus bolsos. Mas
vamos parar com esse duelo de palavras e falar sobre coisas sérias.
— Sérias em que sentido? — Daphne quis saber.
— Sérias considerando-se por que meu tio-avô Clarence fez um testamento tão
chocante.
— Acredito que ele não me tenha achado capaz de cuidar de mim.
— Era cego, por acaso? Você é linda, inteligente, e capaz de fazer qualquer coisa a que
se proponha.
A série de elogios a deixou atónita. Seria ela mesmo bonita e inteligente? Teve
vontade de perguntar, mas não ousou.
— Quando vim morar em Asherwood Hall eu era muito jovem. Cresci aqui, sozinha,
com a exceção de tio Clarence e dos criados, naturalmente.
— Foi à escola, não?
— Não. Tio Clarence contratou um professor particular, um homenzinho antipático
que me tratava como débil mental. Interrompemos as aulas quando fiz dezessete anos.
Meu tio tinha outros planos para mim.
— Tais como?
Ela engoliu em seco e forçou calma, indiferença.
— Oh, cuidei de tudo aqui na casa. Era governanta, jardineira, enfim, fazia o que me
pediam.
— Escrava para todo o serviço, certo? — Brant completou.
— Nada tão... degradante. E, graças a Deus, ele deixava tia Cloé me visitar de vez em
quando. Eu até fui à Escócia visitá-la uma vez. Tia Cloé gosta de mim. Ela me levou à
Grécia logo após o funeral.
— Onde está tia Cloé neste instante?
— Em Londres, acho. Mandou-me para cá antes. Disse que tinha negócios a tratar
com o senhor Hucksley.
— Ah.
— Ah, o quê?
Brant não respondeu e depois perguntou:
— Aquela fotografia era sua, não era?
— Era. Menti sobre Lucilla. Ela sempre foi bonita, desde que nasceu. Eu era quem
precisava de uma "reforma". E tia Cloé cuidou disso.
— Ela não teria conseguido tanto sucesso se não houvesse material para isso, se não
houvesse ingredientes prontos a aparecer.
— Meus olhos não são assim tão verdes, têm um tom esverdeado apenas. Uso agora
lentes de contato, por insistência de tia Cloé.
— Hora da confissão, Daphne? E seus cabelos? E peruca?
— Não, são meus. Monsieur Etienne fez as mechas.
— E suas roupas?
— Tia Cloé levou-me a Paris.
— Essa transformação começou apenas depois do funeral?
— Começou.
— Então ouça, Daphne, estou encantado por ter havido alguém que cuidasse de você.
O resultado é magnífico. Tudo de que você necessitava era de um empurrão.
— Está sendo muito amável.
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— Não, estou sendo apenas honesto. Sem dúvida sua tia Cloé sabia o que a aguardava.
Como também Reginald Hucksley. Aposto.
— Não entendo o que você quer dizer com isso.
— Não? Cloé e Hucksley planejaram tudo. Veja bem, ela queria lhe dar uma chance,
queria que você se apresentasse com sua nova plumagem ao novo visconde de Asherwood.
— Mas isso é.t. ridículo. Não conheço você. É um americano!
— Eu me perguntava o tempo todo por que razão Hucksley insistia tanto que eu
ficasse em Londres. Levou-me a vários lugares e finalmente fez com que eu viesse a
Asherwood Hall.
— Isso é horrível! — ela exclamou. — Você nem ao menos gosta de mim!
— Não gosto?
— Não! Acho que você é... Bem, não vou insultá-lo de novo. Mas... e quanto a mim, e
quanto a meus sentimentos? Por que não foram respeitados?
A sra. Mulroy entrou na sala nesse instante.
— Posso tirar a mesa, milorde? — ela perguntou.
— Sim, já terminamos. Sirva o café no Salão Dourado, por
favor. Os dois se levantaram.
— Senhorita Daphne, fiz aqueles biscoitos de que a senhorita gosta tanto.
— Prefiro comê-los com o café da manhã.
— Muito bem.
A sra. Mulroy retirou-se.
— Os biscoitos são horríveis — Daphne sussurrou a Brant. — Indigestos e
gordurosos. Ela começava a se dirigir ao Salão Dourado quando Brant pediu:
— Espere um momento.
Daphne obedeceu, fitando-o com surpresa. Brant aproximou-se dela bem devagar,
gentilmente.
―Você não é alta demais, mesmo de salto. Bom tamanho, muito bom tamanho.
Talvez perfeito quando está descalça. Vamos continuar com nossa discussão durante o
café.
Tão logo a velha governanta se retirou do Salão Dourado Brant acomodou-se no sofá
e disse:
— Não vai se sentar? Está me espreitando como um tigre enjaulado. Ou melhor, uma
tigresa. Não que eu não esteja gostando de vê-la! Longe disso!
— Não quero me sentar. Estou furiosa.
— Não me pareceu furiosa quando chegou aqui.
— Pare de me amolar. O que pretendiam fazer de mim, tia Cloé e o senhor Hucksley?
Queriam que eu caísse em seus braços e lhe suplicasse para se casar comigo? Nem ao
menos gosto de você.
— Pelo que me lembro, deu a entender què era muito tímida. Estranho, não estou
notando timidez alguma em você.
— Sou tímida, sim, senhor, terrivelmente tímida. Ao menos foi o que sempre pensei.
Tio Clarence me chamava de bicho do mato. Não compreendo...
— Imagino que o fato de termos começado nosso relacionamento como se você fosse
Lucilla, a vampira, ajudou-a a se libertar da timidez. E, como ficou furiosa comigo, esque-
ceu-se de agir tal qual a velha Daphne. Por falar em seu tio, ele era um verdadeiro idiota,
um louco. Você acabou de chegar e talvez possa me ajudar com a decoração da casa. Há
muito a se fazer aqui.
— Na casa de Lucilla? Por que se incomodar com isso? Assim que ela adquirir a posse
da propriedade a entregará ao património do país. Ou a venderá.
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— Você pode estar certa, mas, de qualquer maneira, não preciso voltar.aos Estados
Unidos tão cedo. Tenho um mês de férias e estou gostando de trabalhar aqui. Além do
mais, aposto que você deve ter boas ideias.
— Por que pensa assim?
— Porque você ama esta casa. O fato de ver a propriedade vendida, doada ou
abandonada, a fará muito infeliz.
— Por sinal, plantei um canteiro de rosas no jardim. Não está bonito agora, mas
espere até a primavera chegar.
— Raízes — Brant murmurou automaticamente.
— Sim, naturalmente que roseiras têm raízes.
— Falo de raízes que seguram uma pessoa ao lugar de onde veio, Daphne.
— Suas raízes estão nos Estados Unidos, verdade?
— Não tenho tanta certeza assim. Francamente, não tenho mais certeza de muita
coisa agora. Mas não está na hora de você ir se deitar?
— Acho que sim. Eu gostaria muito de dormir agora. Nosso dia foi cansativo, não foi?
— Assustador. Incidentalmente, você tem alguma ideia de onde eu possa encontrar
peças de armaduras?
Daphne caiu na gargalhada.
— Preocupei-me com isso por muito tempo. Pedi mil vezes ao tio Clarence para tirar
peças da armadura de um guerreiro e pôr em outro. Assim teríamos ao menos um
completo. — Ela fez uma pausa; seu olhar adquiriu uma sombra de tristeza. — Mas tio
Clarence não permitiu.
— Maldito tio Clarence. Vamos esquecê-lo.
CAPITULO VI
— Como ousa criticar meu jeans? — Daphne parou abruptamente na porta da sala de
armas ao som da risada de Brant.
— Não tive a intenção de criticar você — ele desculpou-se. Os olhos de Brant viajavam
da saliência do suéter de lã de cor creme ao jeans muito justo que ela usava. Pernas longas,
lindas formas. Ele sacudiu a cabeça e perguntou:
— Vamos tomar café?
— Vamos. Espero que a senhora Mulroy não insista nos biscoitos mais uma vez.
— Deus nos ajude, espero que não. Que tal ovos com bacon? — ele sugeriu.
— Nada disso, provinciano demais. Acho que prefiro anjos a cavalo.
— Agora você me pegou — Brant comentou, sorrindo. — Tudo bem, mas o que são
anjos a cavalo?
— Ostras envolvidas em bacon. Mas se você substituir as ostras por ameixas secas e
chutney, terá diabos em vez de anjos.
— Que acha da combinação dos dois? Um só deles seria aborrecido — Brant opinou.
— Acho que você nem está pensando mais em ostras.
— E você não está nada aborrecida. Nada mesmo. A nova cozinheira vai chegar hoje,
espero. Winterspoon prontificou-se a ir buscá-la na estação. Então poderemos comer à
vontade e com prazer.
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— Poderemos — Daphne concordou. — E desse modo o resultado é não entrarmos em
nossos jeans. Tia Cloé me recomendou que não comesse muito se quisesse usá-lo. De
preferência deveria apenas beber chá.
— Temos muito a fazer na sala de armas. Está disposta a recolocar as peças que
faltam na armadura?
— Sim, adoraria fazer isso.
De repente ela ficou quieta, tomando o chá em silêncio. Brant então perguntou:
— O que há com você? O jeans está apertado demais?
— É Lucilla! Talvez não devamos mudar as coisas, uma vez que Asherwood será dela
um dia,
— É... Gosto de seu cabelo assim — ele disse, não dando atenção ao comentário sobre
Lucilla. — E gosto de seu rosto sem pintura também.
— Você quer dizer que pareço uma escolar?
— Não, não foi o que eu quis dizer. É que não gosto de mulheres muito pintadas. Você
não precisa disso.
— Só usei um lápis de sobrancelha. Minhas sobrancelhas são muito claras e tia Cloé
me recomendou que as escurecesse um pouco.
— Preciso chegar mais perto para ver se aprovo.
— Está caçoando de mim?
— Eu? É claro que não estou caçoando de você. Apenas tento fazer com que tenha
mais confiança em si.
— Brant, como é o jogo de futebol? Ele sorriu e explicou:
— Futebol e beisebol são os dois esportes mais populares nos Estados Unidos. É mais
ou menos igual ao rúgbi, acho, embora não saiba muito sobre rúgbi.
— Nem eu, nisso empatamos. Mas o que você faz num jogo de futebol?
— Sou zagueiro. Ouça, Daph, vou telefonar à minha mãe e pedir-lhe que mande para
cá alguns filmes de meus jogos. Podemos alugar um vídeo por aqui, não podemos?
— Claro! Não estamos no meio do mato, Brant. Você é famoso? E como um ator de
cinema?
— Não exatamente, mas sou bastante bom naquilo que faço.
— E gosta?
— Imensamente. Porém, estou ficando velho para isso.
— Velho?! Que bobagem. Quanto anos você tem? Trinta?
— Trinta e um. Para o futebol, vou chegando ao limite. Trata-se de esporte muito
violento. A cada ano fico mais velho e meus competidores mais jovens. Tenho
provavelmente quatro ou cinco anos ainda, se não sofrer nenhum acidente no jogo.
— Oh, não! Há o risco de você ficar ferido?
— O time da oposição não deseja nada mais que destruir o zagueiro.
— Já foi ferido alguma vez? — ela perguntou.
— Raras vezes. Meu time faz de tudo para me proteger.
— Soa como a luta entre romanos e cristãos.
— E mais ou menos isso. Porém você não pode entender muito bem antes de ver um
jogo. Explicarei tudo então. Certo?
— Terminou de comer? Está pronta para montar os cavaleiros da Idade Média?
— Vamos em frente!
Trabalharam a manhã inteira juntando braços e pernas para refazer meia dúzia de
guerreiros com suas armaduras. Riram o tempo todo, surpreendendo a sra. Mulroy que
limpava o hall. Ela sorria, satisfeita.
— Há uma mancha em seu rosto. — Daphne ergueu um dedo e esfregou o rosto dele.
Brant sentiu uma onda de desejo. Devagar, afagou-lhe os cabelos. Cabeleira sedosa e
ao mesmo tempo farta! Daphne agitou-o, confusa.
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— Eu estava apenas vendo se você também tinha uma mancha de sujeira.
— Uma mancha em meus cabelos?
— Nunca se sabe, não? — Brant levantou-se, espreguiçando-se. — Estou com vontade
de dar um passeio. Que tal me acompanhar, Daph?
— Daph? É um apelido comum nos Estados Unidos?
— Não, inventei-o para você. Jamais conheci uma mulher chamada Daphne antes.
Olhe, a chuva diminuiu. Por que não vai buscar um guarda-chuva para vermos seu canteiro
de rosas?
— Vou já. Voltarei num segundo.
Ao retornar, viu-o com a horrível foto nas mãos.
— Acho que podemos queimar isto — Brant declarou calmamente.
— Porém essa Daphne ainda existe.
— Será? — Ele entregou-lhe a fotografia.
— Santo Deus! Que toupeira!
— Falei com minha mãe e ela vai mandar alguns filmes.
— Brant informou-a. — Quer mais um conhaque?
— Não, já estou um pouco tonta. É melhor não abusar.
— Gosto de seu vestido, Daph. Já sei, tia Cloé insistiu que a rosa inglesa usasse seda
no tom pêssego.
— É de seda mesmo. Meu primeiro vestido de seda. E foi, sim, homem curioso, tia
Cloé quem insistiu na compra. Na ocasião achei que era um tanto...
— Sexy? Revelador?
— Não tenho por hábito exibir meu corpo dessa maneira — ela replicou e com a mão
cobriu o decote em "V".
— Não, não faça isso. — Brant segurou-lhe a mão. — Sou um homem apreciador de
coisas lindas, e esta cena me dá muito prazer.
Daphne corou, embaraçada, contente e confusa ao mesmo tempo.
— Você tem irmãos e irmãs? — ela perguntou.
— Uma irmã. O nome dela é Lily. Tenho também dois sobrinhos e uma sobrinha.
Todos vivem no Texas com o novo marido de Lily. Ele trabalha com petróleo.
— Você falou que partiria daqui a um mês. Vai jogar futebol?
— Não, estamos fora da temporada. Os treinos começam no verão. Quando eu voltar
pretendo trabalhar em propaganda comercial.
— Para a televisão?
— Sim, para o mundo dos esportes.
— Quer conhecer um segredo, Brant? É sobre tia Cloé. Não diga a ela que lhe contei,
mas tia Cloé adora homens jovens. Lembro-me de vê-la um dia quase sem fôlego ao
apreciar o póster de um de seus atletas americanos usando apenas uma cueca sexy.
— E você, Daph, também ficou quase sem fôlego?
— Eu estava ocupada observando a reação dela. Quando tia Cloé viu que eu a
observava, disfarçou. Mal posso esperar para ver o que ela irá fazer quando puser os olhos
em você.
— Devo recebê-la de cuecas?
— Ela adoraria, mas acho melhor não. Posso até ver nos cabeçalhos de jornais:
Visconde inglês preso por usar em público trajes imorais. A sra. Cloé foi internada no
hospital com crises de palpitação. Bem, logo saberemos o que ela pensará de você. E agora,
milorde, vou para a cama. Estou com dor de cabeça por causa daquele "maldito" conhaque.
Viu? A palavra "maldito" até já entrou em meu vocabulário!
— Eu acompanho você. — Na porta do quarto; ele colocou a mão sobre o ombro de
Daphne e perguntou: — Você sabe cavalgar?
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— Naturalmente. Qualquer mulher inglesa que mora no campo sabe cavalgar. E faço
isso muito bem.
— Ótimo. Se a maldita chuva passar, e se não estiver muito frio, podemos cavalgar
amanhã.
Amanheceu um dia frio, com céu nublado, mas nada de chuva. O cavalo de Brant,
emprestado de um vizinho, era forte e ligeiro, e Daphne, na sela de Julie, estava linda com
a nova roupa de montaria.
Brant enxergou nova vida nos olhos de Daphne; uma vida circunspecta, contudo,
num mundo limitado. Ela levou-o ao East Grinstead e Brant pôde ver como sua jovem
companheira amava tudo aquilo.
— Daphne, você já teve namorado?
— Eu? Bem, houve o reitor, o senhor Theodore Haver-leigh. Tio Clarence pediu-lhe
que me levasse a um piquenique da igreja.
— Você gosta dele?
— De Theo? Credo, não! Não tem ombros nem queixo e é terrivelmente convencido.
Tenho certeza de que pensou que estava me fazendo um grande favor e que talvez fosse...
— Isso naquela época. Agora, ele com certeza ficaria de queixo caído vendo-a, apesar
de não ter queixo.
— Pode ser. — Em seguida esporeou a égua ligeiramente. Ela sentia-se muito bem, de
excelente humor, cheia de vida. Isso até chegarem em frente à casa.
— Oh, céus — disse. — É Lucilla.
Brant olhou para a mulher em pé nos degraus da entrada. Era alta, de cabelos negros,
imensos olhos azuis, e um corpo que faria parar um trem.
CAPITULO VII
— Querida! Que bom vê-la de novo! ― Mas... como você está diferente. O que houve?
— Alô, Lucilla. Você está com ótimo aspecto. Este é o novo visconde de Asherwood —
Daphne apresentou Brant à prima.
"Deus, ele é lindo"!, Lucilla pensou enquanto calmamente lhe apertava a mão, com os
olhos arregalados pela surpresa.
— Bem-vindo seja à Inglaterra e a Asherwood Hall — ela disse.
— Obrigado Lucilla. Posso chamá-la assim?
— Claro, Brant. Nossa pequena Daphne já o levou para passear?
— Já. Cavalgamos muito hoje, se é o que você quer saber, Lucilla — Daphne
respondeu.
— Sim, querida, foi isso que eu quis dizer — Lucilla continuou, com os olhos fixos em
Brant. — Não se importa de eu ter vindo sem me anunciar?
— Uma vez que Asherwood Hall será sua, Lucilla, como posso me importar?
— Oh, sim, é verdade — Lucilla disse bem devagar. — O testamento.
— Vamos entrar? — Brant sugeriu.
"Tudo seria muito divertido", ele pensou, enquanto os três sentavam-se no Salão
Dourado, se Daphne não tivesse perdido toda a confiança em si no segundo após a chegada
da prima.
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— Que mudanças surpreendentes, Brant! — Lucilla disse entre dois goles de chá. —
Asherwood Hall, o velho túmulo, está maravilhoso. Daphne, quer me passar um biscoito,
por favor? Obrigada, querida.
— Você esteve com o senhor Hucksley em Londres? — Brant lhe perguntou.
— Oh, sim. Tudo foi surpreendente. — Ela virou-se para Daphne, tomando-lhe a mão.
— Mas não fique triste, minha querida, providenciarei alguma coisa para você. Talvez um
curso comercial ou de decoração. Gostaria, não, Daphne? Ah, existe também o ramo de
negócios. Você seria uma secretária adorável.
— Na verdade, prima, prefiro trabalhar como modelo — Daphne declarou, vencendo
suas inseguranças.
— Oh, que ideia surpreendente, querida.
"Se Lucilla disser surpreendente outra vez, arrancarei as meias dela e a
estrangularei!", pensou Daphne. Mas em lugar de agir assim, disse:
— Não tão "surpreendente", tenho corpo para isso.
— Tem, querida? Bem, suponho que eu precise esperar para vê-la de vestido. Trajes
de montaria deixam a pessoa mais... magra.
— Moças, está na hora do almoço — Brant anunciou, levantando-se. Olhou para
Daphne, mas a atenção dela estava voltada para Lucilla.
Ao ver o que fora levado à mesa, nada apetitoso, ele comentou: — A nova cozinheira
virá esta tarde.
— É melhor quando a comida não é muito boa — Lucilla comentou maldosamente,
fingindo gentileza. — Ajuda as mulheres a perder peso. Concorda, Daphne?
— Plenamente.
Houve alguns minutos de silêncio abençoado. Em seguida, Lucilla perguntou:
— Quanto tempo vai ficar na Inglaterra, Brant?
— Um mês, talvez menos.
— O senhor Hucksley disse que você é um atleta. Verdade?
— É verdade. Jogo futebol profissional para o Astros, de Nova York.
— Que surpreendente! Tem, de fato, um corpo de atleta.
Vai-lhe bem o título de visconde. Ouvi falar que sua namorada o espera em Nova
York, uma mulher linda, independente, de carreira. Estou certa?
Brant ia lhe dizer que não apenas uma linda mulher o esperava em Nova York, mas
várias mulheres lindas, quando percebeu que Daphne o fitava. Então disse:
— Sou muito feliz por ter muitos amigos, homens e mulheres.
— E todos americanos também? Deve achar nosso sistema de vida estranho.
— De forma alguma. Embora admita que Daphne esteja me dando uma boa educação
britânica.
— Daphne? Não acredito! Mas diga-me, prima, fez alguma coisa com seus olhos?
— Fiz. Finalmente aprendi a ver com eles.
— Posso ajudá-la, querida, em qualquer coisa que deseje. No que se refere a roupas,
por exemplo.
— Chegou tarde demais, Lucilla. Tia Cloé já fez isso.
— Nossa querida senhora Sparks! Imagino que chegará aqui logo para o resultado de
seu investimento.
— Se vocês me derem licença — Brant interrompeu-as — vou aplainar as portas da
frente. Estão empenadas. Daphne acompanhou-o com o olhar mas retesou o corpo quando
Lucilla disse, num ar de piedade:
— Que tentação, não, querida? Mas com certeza você tem algum orgulho.
— O que quer dizer com isso, Lucilla?
— Que você não se rebaixaria a ponto de se casar com um homem que apenas deseja
seu dinheiro e Asherwood Hall. Boa quantia de dinheiro, devo acrescentar.
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— Por que não? — Daphne revidou, vermelha de ódio.
— Afinal, seria ele ou... um curso comercial! Mas agora chamarei a senhora Mulroy
para levar você ao quarto.
— Um casamento de conveniência. Que vergonha!
— Você não fez isso por três vezes?
— Não, querida, não propriamente. Meus três maridos foram muito viris, como
Brant.
— Com licença, Lucilla.
— Lembre-se, Daphne, de que Brant tem muita experiência com mulheres. Não se
faça de tola. Sério, querida, tenha cuidado. Ele já virou sua cabeça? Um pouquinho?
Daphne subiu imediatamente para se trocar. Desceu logo depois e encontrou Brant
na porta da frente.
— Alô — ele disse. — Conseguiu sobreviver à primeira bateria de tiros?
— Você está precisando de dinheiro, Brant?
— Ah, agora é tiro de canhão. Não, na verdade tenho muito dinheiro.
— Mas ouvi dizer que para os americanos o dinheiro é endeusado.
— Mesmo? Você sabe muito bem, Daph, o valor desta propriedade. Quase meio
milhão de dólares. E pertenceu a um inglês, não a um americano. Dê-me aquela lixa, por
favor.
— Isto? Lucilla é tão linda!
— É, sim. Quantos anos ela tem?
— Mais ou menos trinta. Por que me sinto como se tivesse treze anos de novo? Gorda,
sem vaidade, malvestida?
— E por que não se acalma, Daph, e se diverte com as maquinações dela? Pode
aprender alguma coisa útil.
— Está sendo sarcástico, Brant?
— Um pouco. Apenas quero que use sua energia e não se ponha sempre na defensiva.
Você tem muita capacidade, Daph.
— Em outras palavras, pretende manter Lucilla em... suspense. Acertei?
— Não tinha pensado nisso. Mas pode ser divertido.
Se Brant sentira-se como o primeiro prato de um banquete para Lucilla, sentia-se
agora como uma sobremesa rica em calorias para tia Cloé. Ela examinara cada polegada de
seu corpo, com olhar sonhador.
— Ah, como Paris é linda — Cloé dizia. — E isso apesar do céu cinzento e da chuva.
Mas foi um alívio chegar a casa, para o seio de minha família. Preciso lhe dizer, Brant, que
você é tudo que pensei.
Lucilla perguntou, tentando ser amável:
— Quanto tempo vai ficar aqui, tia Cloé? Deve haver muita coisa aguardando sua
atenção em Glasgow.
— Que excelente atiradora você é, Lucilla. Seria proveitosa numa guerra. Sabe, venho
pensando em ir diretamente daqui aos Estados Unidos; mas vou esperar, claro, que
Daphne resolva sua vida.
— Não vai demorar muito, tia — Daphne resolveu se manifestar.
— Claro, poderemos instalá-la num decente flat em Londres — Lucilla opinou. — Isso
não levará muito tempo.
— Talvez eu estude para ser carpinteira — Daphne aventou calmamente. — Aprendi
hoje como aplainar uma porta.
— Ou você pode trabalhar no Museu Britânico, mantendo em boa forma as
armaduras em exibição — Brant acrescentou.
— Boa ideia! — Lucilla exclamou.
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Brant examinava Daphne mantendo as pálpebras semi-cerradas. Ela brincava com as
ervilhas no prato e não comia quase nada. Voltara a ser a antiga Daphne, tímida, sem
confiança em si. Brant teve vontade de sacudi-la, de abraçá-la, de consolá-la. Não! Se
tivesse um pouco de bom-senso, partiria na manhã seguinte.
— O jantar foi fantástico — Cloé elogiou. — Vamos tomar o café na sala?
"Preciso falar com Daphne a sós", ela pensava; "tenho de pôr algum bom-senso na
cabeça dessa menina!" Mas, para seu grande prazer, Brant declarou:
— Infelizmente Daphne e eu não temos tempo para café. Precisamos ir à aldeia, pois
planejamos assistir a um filme.
Daphne parou a meio do caminho, atónita. Brant a resgatara! Querido Brant!
— Vou só buscar meu casaco — disse ela, e subiu as escadas correndo.
— Espero que nos perdoe, senhoras, por deixá-las na primeira noite em que
chegaram. ―Brant sorria.
— A vontade — Cloé respondeu. — A vontade. Lucilla franziu a testa, mas apenas por
segundos. E murmurou, com um toque de desapontamento na voz:
— Suponho que promessas devam ser cumpridas. Contudo, é muita amabilidade sua,
Brant, dar tanta atenção a Daphne.
Daphne desceu, usando seu melhor casaco, agora bem mais segura de si.
— Ah, aqui está yocê, querida! — Lucilla exclamou. — Que lindo casaco! Brant, não a
traga de Volta muito tarde, ouviu?
Tia Cloé abraçou-a e sussurrou-lhe ao ouvido: — Não ligue para o que ela diz,
querida! Você está linda!
— Vamos, Daph?
— Vamos. Boa noite, Lucilla. Boa noite, tia.
A noite estava fria, e uma lua em quarto-crescente iluminava o jardim.
— Você não quer dirigir, Daphne? Ainda não me acostumei a conduzir o carro pelo
lado esquerdo da rua.
Daphne passou para o assento do motorista. E Brant suspirou.
— O que há com você, Brant? As baterias de tiros o incomodam?
— Acho que sim. Nunca me senti assim, como um pato na temporada de caça.
— Que filme você quer ver? — ela perguntou, esquecendo-se de que havia apenas um
cinema na aldeia.
— Ligue o aquecedor e estacione em algum lugar.
— Estacionar? Quer que eu pare o carro?
— Quero.
Daphne continuou dirigindo em silêncio.
— Eu disse a você para não se deixar influenciar por Lucilla.
— Me convidou para sair porque não queria que eu continuasse a me comportar
como uma tola? Teve pena de mim?
— Não, tive pena de mim, Daph. Porque você é uma tola muito bonita.
— Achei que os homens gostavam de ter a atenção de todas as mulheres presentes.
— Ao menos sua língua é afiada, não acha, Daph? Convidei-a para sair porque quis
ensiná-la a agir com bom-senso. Pare aqui, o local me parece convidativo.
Daphne obedeceu e virou a chave do contato. Parara numa elevação com vista para o
rio Wey.
— Olhe para mim — ele ordenou. — Tenho dúzias de coisas a lhe dizer.
— Você fala como tio Clarence — Daphne queixou-se.
— Falo? Mas sou bem diferente de tio Clarence, pois não lhe pediria que fizesse o que
quer que fosse contra sua vontade. Mas esse não é o assunto de minha conversa. Por que
diabos voltou atrás em seu progresso? Achei que tínhamos nos entendido bem depois
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daquele inesquecível jantar. Como pretende vencer na vida se não consegue lidar com
vários tipos de pessoas? E isso inclui as mulheres que ajudaram você.
— Vencerei na vida — ela insistiu com convicção. — Por que se importa tanto comigo,
afinal?
— As vezes acho que precisa de quem tome conta de você.
— As coisas ficaram diferentes com Lucilla aqui. Antes, só nós dois...
— Daphne — Brant interrompeu-a com impaciência ―, Lucilla é de fato uma pessoa
interessante; tudo bem. Mas não se esqueça de que há muitas pessoas no mundo iguais a
ela com quem você terá de conviver. Esqueça-se de toda a inveja que sentiu no passado.
— Pare! Deixe-me em paz, está bem? Não preciso de ninguém para me dizer o que há
de errado comigo. E não tenho inveja de Lucilla!
Ela virou a chave do contato e o motor começou a funcionar. De súbito, a mão de
Brant estava sobre a sua... e o motor morreu.
— Maldita! — ele disse, tomando-a nos braços. Daphne estava surpresa demais para
reagir. Abriu a boca a fim de dizer — o quê, não sabia — e sentiu que os lábios de Brant
cobriam os seus. Ela resistiu por segundos, mas logo cedeu à gentil pressão.
— Você me parece um pouco sem fôlego. Vamos tentar de novo. Confie em mim e
relaxe.
Ela o fez, sem pestanejar. Brant foi cuidadoso, muito cuidadoso, tendo percebido que
Daphne não tinha a menor experiência. Não queria assustá-la. Beijou-a então com
gentileza, e depois pressionou-lhe a face contra seu ombro.
— Quero fazer amor com você, Daphne.
Ela ergueu a cabeça e lançou-lhe um olhar intrigado mas brilhante.
— Você quer ir para a cama comigo...
e...? Brant se amaldiçoou e corrigiu-se:
— Não, não foi isso que quis dizer.
— Nesse caso, por que me beijou? Beijou-me porque pensou que isso me daria
confiança na capacidade de conquistar um homem?
— Sim — ele respondeu, também sem refletir.
— Lucilla tem razão, sou uma tola.
— Somos ambos tolos. Mas Lucilla tem razão em apenas uma coisa.
— No quê?
— Ela tem medo de você. E com razão.
— Não acredito! Tudo gira em torno de sua pessoa, Brant, ao menos é o que parece.
Somos como galinhas ciscando em volta do galo! Mas não me importo. Não quero sua
ajuda e nem a ajuda de Lucilla ou de tia Cloé. A única coisa que quero de você, Brant, é que
recuse se casar comigo. Desse modo ganharei quinhentas libras em vez dê cem.
CAPITULO VIII
CAPÍTULO IX
CAPITULO X
CAPITULO XI
— Bom dia. ― Daphne virou-se e deparou com o marido, ainda sonolento, com um
sorriso nos lábios. Ele estava de short.
— Alô — Daphne disse, a respiração acelerada.
— Você é madrugadora, hein? Está gostando de Kauai?
— É linda. Mas ainda é muito cedo. Você não quer voltar para a cama, Brant?
— Não posso pensar num melhor meio de acordar.
— Oh! — Daphne corou até a raiz dos cabelos. — Não me lembro de nada. — O rosto
dela adquiria todas as tonalidades de vermelho.
Brant fitou-a atentamente, se perguntando que diabos estaria Daphne falando.
Lembrar-se de quê?
— Sinto muito. Esperei que pudesse me lembrar de alguma coisa; porém não me
lembro de nada.
Brant sorriu. Enfim, começava a entender.
— Você foi fantástica, Daph. Gemeu e se agarrou a mim dizendo que adorava fazer
amor.
Daphne deu atenção apenas à menção da intimidade, e ignorou o tom gozador do
marido.
— Por que você não me fez tomar uma xícara de café forte ou qualquer outra coisa?
Não é justo o que
aconteceu, Brant.
— Não pensei nisso. Você parecia tão feliz! Gostou
do que viu... esta manhã?
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CatherineCoulter–O
— Gostei. Você me pareceu muito à vontade.
— Esparramado na cama com as pernas abertas?
— Isso mesmo. Mas sabe, Brant, eu não tinha muita certeza se tudo havia mesmo
acontecido, por isso não fiquei olhando para você por muito tempo. Seria o mesmo que
invadir sua privacidade.
Estava na ponta da língua de Brant dizer-lhe que nada acontecera. Mas, em vez disso,
sugeriu:
— Vou lhe dizer uma coisa, querida, por que não toma um pouco de café e volta para
a cama? Agora que já sabe tudo, será mais interessante. E você poderá me olhar do jeito
que quiser. Quanto a mim, adoraria invadir sua privacidade. Quer fazer o café enquanto
tomo meu banho de chuveiro? Eu trouxe alguma coisa ontem para o breakfast.
No chuveiro, Brant pensava se deveria ou não contar a verdade a Daphne. Não, ele
decidiu finalmente. Ao menos agora não precisaria mais lutar contra a timidez e a
modéstia dela. Sentiu uma onda de desejo, ensaboou-se depressa e abriu a torneira de água
fria.
Enrolado na toalha foi ao encontro de Daphne no terraço. Ela sorriu e ofereceu-lhe
uma xícara de café, dizendo:
— Está forte como os americanos gostam. Winterspoon contou-me que você gosta de
café encorpado.
Brant a examinou da cabeça aos pés.
— Você tem um corpo lindo, Daph. Muito lindo!
— Você me falou isso ontem à noite?
— Devo ter falado. Agora, por que não vai para a cama? Eu lhe falarei outra vez.
Beijarei cada centímetro de seu corpo... como ontem à noite. Você gostou, não, Daph?
Cada centímetro.
— Eu devo ter gostado. Agora, só de falar, me parece delicioso.
— Será que criei um monstro? Uma fanática sexual?
— Acho que tenho um pouco do sangue de tia Cloé. Penso que ela adora sexo, ao
menos adorava quando o senhor Sparks era vivo.
Brant carregou-a no colo. Os poucos passos que deu até a cama deixaram-no quase
sem fôlego, tal a emoção.
Colocou-a na cama e deitou-se por cima, apoiando-se em um cotovelo.
— Alô, mulher — disse, inclinando-se p.ara beijá-la. — Abra a boca. Como se
esqueceu tão depressa?
— Devo estar emocionada demais.
Brant não a tocou abaixo dos ombros durante dez minutos ou mais. Pareceu-lhe
estranho ser tão metódico e, de certa maneira, maquiavélico, mas controlou-se
continuando com uma investida vagarosa. Sentiu que Daphne reagia favoravelmente.
— Assim, querida — ele sussurrou aos ouvidos dela. — Relaxe comigo. Não é nada
novo, você sabe.
Daphne movia o corpo para um lado e para o outro.
— Brant — ela disse finalmente ―, por favor. — Ergueu então as nádegas e agarroú-
o. Ele arrancou-lhe o sutiã e murmurou:
— Céus, como você é linda!
— O que você quer que eu faça? — ela perguntou.
— Apenas fique aí deitada quieta e deixe-me agradá-la. É do que os homens mais
gostam.
Ele passou então a afagar a parte interna das coxas de Daphne.
— Oh, céus! — ela gemeu. — Gostei disso também?
— Gostou, e muito.
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Com ambas as mãos separou-lhe as pernas, mas não a penetrou ainda, embora
ardesse em desejo de fazê-lo. Calma, dizia a si mesmo. Use a cabeça.
Ele começou a beijá-la de novo e sentiu que Daphne abraçava-o com força.
— Ouça, querida. Você quis saber o que poderia fazer para mim, e vou dizer-lhe mais
uma vez. Quero beijá-la e amá-la, e insisto que relaxe para usufruir o prazer que lhe estou
proporcionando, como aconteceu... na última noite.
— Gosto de tudo o que você está fazendo comigo — Daphne sussurrou.
Brant também gostava. De súbito, ela gritou e Brant sentiu a forte pressão das pernas
de Daphne contra as suas. O corpo dela tremia e ele adorou sentir esses pequenos tremores
convulsivos, adorou ouvir os gemidos suaves. Enfim, com um único impulso, penetrou-a,
rompendo-lhe o hímen. Daphne retesou o corpo e enterrou as unhas nos ombros dele.
— Calma, querida — Brant disse, penetrando-a mais profundamente. — Tudo está
bem, querida. Mais um pouquinho e a dor sumirá, dando lugar ao prazer. Vou ficar parado
até você se acostumar comigo.
— Está bem.
Bem devagar Brant sentiu que a tensão desaparecia, e começou a se mover dentro
dela novamente. Mordeu o lábio esperando que a breve dor que provocara houvesse
passado. Nunca fizera amor com mulher virgem antes.
De repente, emitiu um gemido rouco:
— Daphne, não!
Ela não entendeu o que Brant quisera dizer com aquelas palavras.
— Querido, por favor, o que há?
Mas, para o prazer de Brant que atingia as raias da insanidade, ela arqueou o corpo
fazendo-o penetrar ainda mais em seu corpo. Foi então que Daphne gritou o nome dele, e
também atingiu o orgasmo.
Brant rangeu os dentes e relaxou os braços que a seguravam, porém não antes de
completar seu orgasmo. Ele quase desmaiou em cima de Daphne, o rosto de ambos no
mesmo travesseiro.
— Acho que vou morrer — ela sussurrou.
— Você foi maravilhosa. E não vai morrer, querida, embora eu possa imaginar as
manchetes que sairiam nos jornais no dia seguinte: Mulher Faminta de Sexo Sucumbe.
— E que acha de Mulher Enterrada Sorrindo? — Daphne envolveu-o com os braços.
— Estou contente de ter me casado com você. Tudo é tão bom!
— Acha? Otimo. Nada mau para sua primeira... Daphne arregalou os olhos.
— Primeira o que, Brant?
Ele beijou-a da maneira mais sedutora possível; mas Daphne, agora saciada e calma,
insistiu:
— Primeira o quê, Brant? Ele resolveu então confessar:
— Não fizemos amor ontem à noite, Daph. Eu jamais poderia ter relação com uma
mulher inconsciente.
— Seu... mentiroso!
— Por que acreditou que tínhamos tido relação?
— Porque acordei bem junto de você com minha camisola... bem... erguida até a
cintura. E você é um mentiroso, um desonesto e...
— Bem, mas funcionou, não? Hoje você não ficou embaraçada, certo? — Ele beijou-a
com carinho.
— Mas, de qualquer forma... — Daphne começou a falar porém Brant interrompeu-a,
beijando-a de novo.
— O resultado foi maravilhoso, e os fins justificam os meios, como normalmente se
fala.
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— Concordo — Daphne disse finalmente ―, talvez... Mas eu reagi como você
esperava, Brant? Quer dizer, não desapontei você?
— Se você tivesse reagido mais, eu seria agora um homem morto. Não acredito que
você possa me desapontar, amor, nem mesmo em mil e uma noites.
— E que tal em mil e um dias?
Brant gemeu e abraçou-a vigorosamente.
CAPITULO XII
CAPÍTULO XIII
— Como vai ela, Brant? — Alice Asher perguntou ao filho quando ele voltou para a
sala.
— Dormindo. Daphne já estava praticamente dopada e isto — Brant apontou para o
jornal — não ajudou em nada. Como a imprensa descobriu tudo, mamãe? Você sabe?
— Mareie me telefonou na semana passada e eu, tola, lhe contei que você tinha se
casado com uma inglesa e que estava no Havaí. Isso é tudo. Gostei de Daphne, Brant.
Parece diferente de qualquer outra mulher que você já teve na vida, e...
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— Diferente de que jeito? Meiga? Ingênua? Inocente como um cordeirinho?
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— Talvez. Nós a faremos esquecer essa... essa maldade... Posso lhe perguntar algo
muito pessoal, querido?
— Claro, mamãe. Todo o mundo faz isso sem me pedir permissão.
— Você se casou com ela só por causa do testamento?
— Em parte — ele respondeu honestamente. — Como Daphne fez comigo. Mas eu a
amo, como Daphne me ama. Ambos amamos Asherwood Hall e queremos restaurá-la para
voltar a ser o que foi em anos passados. Casando-nos, ganhamos a casa e o dinheiro da
reforma. Daphne é inexperiente e muito jovem. — Ele sorriu e acrescentou: — Bem, não
mais tão inexperiente agora, acho.
— Penso que você conduziu tudo muito bem.
— Mas há alguma coisa a se considerar sobre a educação de uma moça de lugar
pequeno. Daphne não teve chance de aprender tudo o que deveria saber e o que deveria
evitar.
— É esse um modo indireto de me dizer que Daphne gosta de sexo?
— É. De qualquer modo ela é muito espontânea e adorável.
— Lily e Dusty estão prontos a voar para Connecticut assim que você determinar.
— Bom. Dê-me tempo de pôr Daphne em forma de novo; depois poderemos
providenciar tudo. A cerimônia do casamento será só para a família e alguns amigos. Está
bem assim, mamãe?
— Sem problemas, querido. Já conversei com o reverendo Oakes.
— Não quero que você pense que me casei só por dinheiro. Mas sabe o que a
imprensa irá dizer.
— Sei que você nunca faria isso. Porém garanto que, quando Daphne melhorar e
conhecer outras pessoas, todos verão quem é ela. Uma linda mulher, sem dúvida.
— Ouça, mamãe, não sei quase nada sobre controle de natalidade. Isto é, sei alguma
coisa, pois tive sempre muito cuidado no passado. Só não quero que Daphne lance mão de
algum método que possa fazer-lhe mal. O que você acha?
— Sugiro que telefone para um ginecologista. Uma mulher, de preferência.
— Mulher?
— Acho que Daphne se sentiria melhor aos cuidados de uma médica. Você não acha?
— Acho... Provavelmente. Obrigado por ter vindo a Nova York, mamãe. Já vai se
deitar?
— Já. Tudo dará certo, querido. Não se preocupe.
— Tentarei fazer com que dê. Você se importaria de preparar o breakfast para nós
amanhã? Eu ajudarei. Daphne não é lá essas coisas na cozinha.
— Claro, filho, que não me importaria. Afinal, mimei você durante trinta e um anos.
Por que parar agora?
Daphne em geral despertava muito alerta. Naquele dia, porém, acordou lentamente.
Sabia estar num lugar estranho e procurou por Brant. Ele não se encontrava lá.
Tomou sua ducha. Quarenta e cinco minutos mais tarde, com uma calça de lã, um
suéter bem longo e um cinto dourado na cintura, abriu a porta do quarto e espiou. Ouviu
vozes e risadas. A mãe de Brant estava lá, ela concluiu, endireitando os ombros. E entrou
na pequena sala de jantar.
— Alô — disse. — Perdoem-me por ter acordado tão tarde. Levei algum tempo para
fazer minha máquina funcionar de novo.
Brant foi ao encontro dela sorrindo.
— Bom dia, querida. Venha tomar café. Está com fome?
— Estou.
— Sente-se e converse com o dragão de sua sogra enquanto preparo ovos e bacon
para você.
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— Bom dia, Daphne — Alice cumprimentou-a. — Ignore o que o filho do dragão disse.
Como se sente hoje?
— Bem, obrigada. Eu não tinha reparado antes, mas Brant é a sua cara.
— Receberei isso como um elogio se não incluir ombros exageradamente largos.
Agora conte-me, gostou de Kauai?
— Serviço do chef— Brant interrompeu o diálogo colocando diante de Daphne bacon
e ovos.
— Você é o chef? Muito bem. — Daphne sorriu. — Eu estava com a impressão de que
iríamos passar fome.
Graças à habilidade de Alice em conduzir a conversa Daphne sentiu-se à vontade
falando sobre a Inglaterra, sobre tia Cloé, Lucilla e Asherwood Hall.
— Brant lhe contou que vamos convidar Winterspoon para vir aos Estados Unidos? —
ela perguntou à sogra.
— Lembro-me de ter lido que os valetes ingleses são mestres em bom gosto e
esnobismo — Alice comentou.
— Pura verdade — Brant concordou. — Mesmo que você se considere sofisticada,
minha mãe, Winterspoon provavel mente a olhará com desdém.
— Agora, — Alice disse, num intervalo da conversa — vamos falar sobre o casamento
em Connecticut.
Bem mais tarde Brant levou as duas mulheres para um tour por Nova York. A fim de
evitar a imprensa, jantaram num restaurante espanhol no Village. Infelizmente, ao
voltarem ao apartamento, dois homens os esperavam na garagem do prédio. Não houve
jeito de escapar.
— É um prazer encontrá-lo, Brant — um dos homens disse. — Essa é a herdeira? Alô,
senhora Asher, dê um sorriso.
Daphne fechou os olhos quando uma luz forte iluminou seu rosto. Alice apertou-lhe a
mão e dirigiu-se aos repórteres:
— Minha nova filha está gostando muito de Nova York e de sua nova casa. Todos têm
sido amáveis com ela, não é, querida?
Daphne fez um aceno afirmativo com a cabeça. Brant tomou-lhe a mão e perguntou:
— Mais alguma coisa, cavalheiros?
— Sim. Senhora Asher, Brant parece ter obtido grandes vantagens com o casamento.
Quer comentar sobre isso, madame?
Brant teve vontade de quebrar a cara do homem, mas respondeu calmamente:
— Ambos obtivemos vantagens, rapazes; mas vocês têm razão. Minha vantagem foi
bem maior, pois nunca vi mulher mais linda. E vocês?
— Concordo, Brant — um dos homens respondeu. — Isso se você gosta de mulheres
ricas e ao mesmo tempo mudas.
Os olhos de Daphne encheram-se de lágrimas. Ela achou que agira como uma idiota
que não sabia falar.
— Desculpe — sussurrou ao marido, já no elevador. Assim que entraram em casa,
Brant indagou:
— Você não me falou ainda se gosta de meu apartamento, Daph.
— Gosto, e muito.
— Se quiser mudar alguma coisa é só me dizer, querida.
— Apenas gostaria de ter um jardim. Nunca pensei que Nova York fosse toda coberta
de prédios altos.
— Podemos ter uma casa no campo, amor.
Ela não respondeu. Afinal, já tinham uma casa de campo na Inglaterra.
— Bem, queridos — Alice disse, sorrindo ―, acho que estou pronta para a cama. Vejo
vocês amanhã.
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Brant beijou a mãe desejando-lhe uma boa noite. Depois olhou para a mulher que
estava na janela, apreciando o Central Park.
— Essa iluminação é linda, não acha? — ele comentou, abraçando-a e beijando-lhe o
lobo da orelha. — Você está pronta a ir para a cama?
Daphne sentiu uma onda de desejo. Ansiosa por provar que podia agir
acertadamente, ficou na ponta dos pés e beijou-o com frenesi.
— Eu quero você já — Brant disse, carregando-a para o quarto.
Quando a pôs no cama ela não o deixou se afastar, e puxou-o para junto de si.
Brant surpreendeu-se com a urgência. Ergueu-lhe então a saia, tirou-lhe as meias e a
calcinha, e proporcionou o que ela necessitava. Quando Daphne atingiu o clímax, ele abriu
o zíper da calça e penetrou-a.
— Você permite que eu tire a roupa ao menos, querida?
— Claro. É que eu estava com tanto medo!
— Não tenha medo da estúpida mídia. Essa gente não vale sua preocupação.
— Não tenho medo dessa gente, Brant.
— Tem medo de que, amor?
— Tenho medo de falhar em tudo. Eu lhe dei algum prazer agora, não lhe dei, Brant?
— Não sente meu coração? Está ainda acelerado como se eu estivesse competindo
numa corrida de cavalo.
— O meu também está acelerado. Você é tão bondoso, Brant!
— E nunca se esqueça disso, senhora Asher. Serei sempre bondoso com você. E agora,
que tal entrar no chuveiro comigo?
— Acho que prefiro a banheira com aquele motor.
Alice Asher voltou para Connecticut no dia seguinte a fim de preparar tudo para a
cerimónia do casamento. Brant e Daphne seguiriam na semana seguinte, como também
Lily e Dusty.
Naquela noite Brant e Daphne foram a um jantar oferecido pelo sr. Morrison, o vice
presidente da agência de publicidade encarregada dos comerciais de Brant. Daphne usava
um longo de chifon branco e um colar de esmeraldas que Brant lhe comprara em Tiffany.
A casa de Morrison ficava em Long Island e, enquanto Brant dirigia seu Porsche para
fora de Manhattan, contava a Daphne sobre as pessoas que ela encontraria.
— Morrison é um homem baixo, calvo, muito simpático. Vamos também estar com o
gerente do banco onde iremos amanhã para resolver o caso de sua conta bancária. Em
seguida falaremos com meu advogado sobre a transferência de metade da herança para
você. Mas, mudando de assunto, já lhe falei como está linda esta noite?
— Já — ela respondeu, esforçando-se por sorrir.
— Aposto que você vai mudar o idioma e o modo de pensar dos nova-iorquinos,
querida. Promete-me uma coisa?
— O quê?
"Não", Brant disse a si mesmo "não posso sobrecarregá-la mais". Então sorriu
maliciosamente e disse:
— Não vá cair de dentro do vestido. Seus lindos seios são só para mim.
Ela corou, riu, e aproximou-se mais do marido. Este beijou-a e preveniu-a:
— Cuidado, mulher, ou podemos ser presos por comportamento imoral no meio da
estrada.
Quarenta e cinco minutos mais tarde estacionavam nos jardins da residência de
Morrison, em East Hampton.
— Lembre-se de uma coisa — Brant sussurrou ao ouvido de Daphne enquanto os
anfitriões os recebiam ―, você é a mulher mais bonita da festa, e é minha esposa.
Brant apresentou-a aos homens da imprensa e ficou aliviado quando ela sorriu,
parecendo totalmente à vontade.
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Enquanto Daphne foi ao toalete para retocar os lábios, Brant procurou por Mareie.
Queria muito falar com ela.
No espelho ao lado de Daphne estava uma mulher de cabelos ruivos com um vestido
de lamê prateado que lhe acentuava as curvas.
— Alô — Daphne disse amavelmente.
"Ela é tão jovem e linda", Mareie pensou, sentindo uma pontada de ciúme, de
frustração, de fúria. Mas, o que esperava? Um monstro?
— Meu nome é Mareie Ellis. Sou muito amiga de Brant.
— Muito prazer. Meu nome é Daphne.
— Mas que nome tão fora do comum... ultimamente. Sei quem você é. A esposa do
garanhão, não é mesmo?
Daphne gelou. Mareie devia ser uma das amantes de Brant. Quer dizer, ex-amante.
— Que estranho — Mareie prosseguiu — Brant casou-se depressa demais. Mas ele
sempre faz tudo depressa quando deseja alguma coisa, seja um carro novo, uma nova
mulher, ou um bom negócio financeiramente.
— Com licença, senhorita Ellis — Daphne preparou-se para sair do toalete.
— Diga-me, senhora Asher, o que faz profissionalmente?
— Nada.
— Ah, a verdadeira dona de casa! — Mareie riu. — Darei a você três meses e depois
será o mesmo que as demais propriedades de Brant; ficará sentada horas sozinha em volta
das idiotas antiguidades da casa dele, cheias de poeira.
— Mas as antiguidades da casa de Brant são lindas!
— A cama de latão também? Já brincaram na banheira Jacuzzi? Ele gosta disso.
— Não está sendo nada amável — Daphne observou, saindo do toalete. Mas a risada
de Mareie ficou soando por algum tempo em seus ouvidos.
Brant estava entretido em conversa com dois homens e Daphne não quis interrompê-
lo. Foi então para o jardim. Fazia muito frio.
— Senhora Asher, quer apanhar um resfriado? — Morrison apareceu, segurou-a pelo
braço e levou-a para dentro. — Alguém a aborreceu? — Ele viu Mareie e concluiu logo o
que acontecera. Suspirou. — Sabe, senhora Asher, posso chamá-la de Daphne?, seu marido
é uma figura importante no país. Algumas pessoas do grupo social dele são amáveis, outras
não. Veja por exemplo Mareie Ellis. Mareie é uma mulher boa; contudo, o casamento de
Brant foi um desaforo para ela. Os dois eram muito unidos. Você tem duas chances: ou não
dá atenção ao veneno que ela vai instilar, ou a agride. Se escolher a última opção, espero
que não seja aqui. Tenho pressão alta.
Daphne riu inuito.
— Brant me contou que o senhor era bondoso, mas não disse que era engraçado.
— Chame-me de Dan, por favor.
— Acho que poderá ficar sossegado esta noite, Dan. Não a agredirei. Mas já está na
hora de eu acabar de me esconder de todos. Afinal de contas, sou uma mulher adulta.
— E bem adulta, eu diria — Morrison concordou.
Brant olhou ao redor e deparou com sua mulher em animada conversa com Morrison.
— Como vai, Brant?
— Alô, Mareie. Tentei encontrar você ontem, mas foi impossível. Como vão os
negócios?
— Bem, suponho. Você não me deu a exclusividade que prometeu, Brant.
— Por que deseja tanto essa publicidade? De uma coisa a previno, Mareie, nada de
ataques contra minha mulher, ou de indiretas sobre as circunstâncias de nosso casamento.
Entendeu?
— Pensarei no caso. Francamente falando, para mim sua mulher não passa de um
interessante pé de repolho. — Assim dizendo, retirou-se.
Julia844–
CatherineCoulter–O
Brant aproximou-se de Daphne mas não lhe perguntou nada acerca da conversa que
ela tivera com Dan Morrison. E Daphne, por sua vez, não mencionou sua cena com Mareie
Ellis.
No dia seguinte Brant ocupava-se ensinando a mulher a preencher um cheque
quando a campainha tocou.
— Quem será...? — ele disse e foi abrir a porta.
Deu um passo atrás. Quase todos os membros de seu time de futebol e as respectivas
esposas estavam lá, com garrafas de champanhe nas mãos.
— Surpresa! — gritaram.
CAPÍTULO XIV
— Tome mais um champanhe, Daph. Ela sorriu para Tiny Phipps e estendeu sua taça.
— Eu achava o apartamento de Brant enorme — Daphne comentou, um tanto
atordoada. — Mas agora, com todos vocês aqui, me parece uma casa em Liliput sendo
invadida por Gulliver.
— É verdade — Lloyd Nolan concordou. — Você precisava ver como ficaria este
apartamento se todos os membros do time tivessem comparecido.
— Há mais ainda?
— Claro. Estamos fora da temporada de jogos. Mas diga-me, Daphne, o que acha de
Nova York?
— Quanto ao futebol?
— Também. Você tem de ver seu marido, o Dançarino, jogando. Trouxemos alguns
teipes conosco — Lloyd falou.
— Gostaria de vê-los. Brant me mostrou apenas um, na Inglaterra.
— Lloyd quer que você admire a ele também — uma linda mulher negra entrou na
conversa. — Sou Beatrice, a esposa de Lloyd, mas não precisa se lembrar de meu nome
agora. Sua cabeça deve estar cheia de nomes. Concorda?
— Oh, sim. Mas Brant é mesmo chamado de Dançarino? Ele nunca me falou sobre
isso, embora eu houvesse notado que era bastante elegante e gracioso quando dançou
comigo em Kauai...
Houve uma gargalhada geral.
— Não preste atenção no que esses tolos dizem, Daph — Williams interveio. — Seu
homem é chamado de Dançarino porque escapa de todos os ataques. Ele não quer
danificar o maravilhoso corpo que tem.
— Entendo — Daphne declarou com seriedade. — Ele possui mesmo um esplêndido
físico.
Brant observava a esposa, perfeitamente à vontade no meio de seus amigos. A um
dado momento um grupo de jogadores e suas esposas saíram da sala.
— Vamos mostrar a Daphne um de seus famosos jogos, Brant — Guy Richardson
gritou da porta.
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Quando Brant entrou na sala de almoço, meia hora mais tarde, viu Daphne sentada
no chão, de pernas cruzadas em frente da TV, rodeada de mulheres.
— Preste atenção nesse passe, Daph — Lloyd dizia. — Sessenta metros e a bola cai
diretamente em meus braços.
— Como Brant consegue impedir que a bola oscile no ar quando a lança de tão grande
distância?
— Técnica, querida — Lloyd explicou. — E isso é o que não falta em Brant.
— Acho que não mesmo. — Daphne concordou.
Os Astros não foram embora antes da meia-noite. Tiny Phipps encomendou uma
dúzia de pizzas e Brant observava como um pai orgulhoso o comportamento espontâneo de
Daphne.
— Estou muito contente! Nunca havia conhecido pessoas tão interessantes.
— Você está um pouco "alta". Bebeu demais.
— Não tão "alta" como você pensa.
Brant beijou-lhe a ponta do nariz e conduziu-a ao quarto. Quanto Daphne ficou nua,
ele a fez deitar-se de bruços e sorriu ao ver o olhar espantado da esposa.
— Confie em mim — disse, e inclinou-se dando-lhe uma dentada suave na nuca.
Penetrou-a em seguida, e ela gemia enquanto Brant, com as mãos, acariciava-lhe os
seios e o ventre.
— Amor — ele disse, em pânico ―, não se mova agora. — Mas seus dedos
continuaram acariciando-a e ela fez um movimento brusco para cima. — Não consigo mais
parar, querida.
— Percebo. E estou muito contente.
— Só com você — ele murmurou. — Só com você. No minuto seguinte Brant dormia.
"O que", Daphne se perguntava, atordoada ainda pela emoção, "quisera Brant dizer
com só com você?"
— Vou preencher o cheque — Daphne disse à vendedora da Lord and Taylor. Ela e
Brant tinham acabado de sair do consultório médico. O diafragma ficaria pronto dentro de
dois dias.
— Pois não, madame — a vendedora respondeu, solícita. — A senhora não gostaria de
ter um cartão de crédito da Lord and Taylor? As coisas ficariam bem mais fáceis.
Daphne procurou por Brant. Após aprovar a escolha de suas novas botas de couro, ele
desaparecera.
— Um cartão de crédito — Daphne repetiu. — Sim.
— Muito bem. Tenho certeza, senhora Asher, de que seu crédito será imediatamente
aprovado.
No entanto, o cartão não foi aprovado e na hora de pagar a conta com um cheque,
Daphne não tinha documento de identidade. Ficou furiosa, pois dependia da boa vontade
de Brant, apesar de ter duzentas mil libras em investimento. Era um absurdo! Para
compensar sua irritação, Brant decidiu distraí-la.
— Vamos patinar — Brant convidou-a, agarrando-a pelo braço.
— Você não tem um compromisso?
— O compromisso pode esperar. Telefonarei marcando-o para mais tarde.
Foram ao Rockfeller Center e Daphne deslizava pelo gelo. Patinava muito bem, com
muita graça. No táxi Brant comunicou-lhe calmamente:
— Amanhã você vai tirar a carteira de motorista.
— Tem certeza de que não se importa de eu dirigir seu precioso Porsche? — ela
indagou com sarcasmo. — E se eu sofrer uma colisão? Não tenho carteira de identidade,
não tenho seguro contra acidentes. E ninguém aceita nem mesmo meus cheques!
O táxi parava nesse instante na porta do edifício onde
moravam. Brant não falou mais nada até entrar em casa.
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— Muito bem, agora podemos conversar, Daph.
— Não! Quero antes ir ao banheiro.
Brant acompanhou-a mas Daphne bateu com a porta em sua cara. Estava espumando
de raiva quando Daphne apareceu, dez minutos mais tarde.
— Estou cansado disso tudo — ele explodiu. — Eu devia ter me casado com uma
mulher e não com uma menina ingênua, tola, cujo único ideal é seu desempenho na cama.
Se você fugir de mim de novo, Daph, vou-me embora para sempre. Podemos conversar
como dois adultos inteligentes ou prefere continuar com sua teimosia? E não faça essa cara
para mim! — Brant agarrou-a pelos ombros e sacudiu-a levemente. — OK?
— Preciso começar a fazer o jantar — ela disse.
— Que jantar? Atum queimado? Ovos mexidos frios? — Arrependido, Brant passou a
mão pelos cabelos dela. — Desculpe. Não quis ser rude. Venha cá e sente-se perto de mim.
Já. Daph — ele disse, tentando ser paciente ―, o que aconteceu hoje foi desagradável. Mas
não houve razão para você criar todo aquele drama. Vamos conseguir sua identidade e
assim ficará livre para comprar qualquer coisa com seus cheques. Que mais você quer,
Daph?
— Quero ir para casa — ela declarou, mas logo se deu conta de que dissera uma
bobagem e deu uma risada nervosa. — Não, não é verdade. É que me sinto tão... inútil!
— Inútil? Você é minha mulher! Ou já está arrependida de ter se casado comigo?
— Não, não é isso.
— Por favor, Daph, poupe-me dessas considerações psicológicas sobre não saber
quem você é e desejar encontrar sua identidade no esquema da vida.
— Tudo bem, mas não são considerações psicológicas, e sei que estou usando demais
seu tempo. Você não tem um compromisso?
— Tenho. E vou sair já. Ao voltar, iremos jantar fora.
CAPÍTULO XV
CAPITULO XVI
CAPÍTULO XVII
A dra. Lowery estava atrasada e Daphne começou a folhear uma revista atrás da
outra, na sala de espera. Nada de artigos sobre esportes, ela lamentava.
— Senhora Asher?
— Sim? — Daphne levantou-se.
— A doutora Lowery vai atendê-la daqui a alguns minutos. Venha comigo à sala de
exames.
A enfermeira conduziu-a a um cubículo e pediu para ela se despir e pôr o avental.
— Por que isso? — Daphne indagou. — Meu problema é com as costelas e a cabeça.
— A doutora quer fazer um exame completo.
— Mas, por quê? Fiz um há seis meses.
— Ela quer saber se tudo ficou bem depois do aborto.
— Aborto?! — Daphne sussurrou.
— Não se preocupe, senhora Asher. É um exame de rotina e a senhora estava grávida
há sete semanas já. Mas tenho certeza de que tudo vai bem.
Como uma autômata, Daphne vestiu o avental e deitou-se na mesa de exames. "Perdi
um bebê e ninguém se incomodou em me comunicar. Santo Deus, eu nem mesmo sabia
que estava grávida". Ela começou a rememorar tudo o que acontecera nas semanas
anteriores ao acidente e concluiu que de fato falhara uma menstruação. Olhando para as
paredes brancas arregalou os olhos e se perguntou:
"Estaria Brant a par de tudo?"
— Boa tarde, senhora Asher. A senhora me parece
ótima. Sem preâmbulos, Daphne perguntou à médica:
— Por que não me contou que eu tive um aborto? Lorraine Lowery sabia que fora um
erro esconder o fato de Daphne. Nunca deveria ter ouvido Brant, que a convencera da
importância disso. E agora a enfermeira deixara escapar a verdade.
Com muito cuidado e habilidade, a médica tentou explicar:
— Ficou fora de si durante algum tempo, senhora Asher. Perguntamos à sua sogra se
a senhora estava grávida, e ela respondeu que não. É um cuidado que tomamos antes da
radiografia. O acidente causou o aborto, porém, de qualquer maneira, teríamos de
provocá-lo após a série das radiografias. Não havia nada que pudéssemos fazer. Sinto
muito, senhora Asher.
"Fui eu que causei isso, com aquele maldito acidente", Daphne pensou. Ela sabia
sobre o perigo dos raios X em pessoas grávidas.
A doutora examinou-a cuidadosamente.
— Vista-se agora, senhora Asher e venha à minha sala.
Durante o tempo todo Daphne ardia em desejo de perguntar à médica se Brant sabia
de tudo. Claro que não sabia, disse enfim a si mesma, do contrário teria lhe contado.
— Suas costelas estão ótimas. E a senhora me disse que não tinha mais dores de
cabeça. Se quer engravidar de novo, senhora Asher, aconselho que espere uns três meses.
Seu corpo precisa de tempo para se restabelecer.
— Esperarei mais do que isso — Daphne respondeu. — A temporada dos jogos
começa em duas semanas. E não quero engravidar viajando pelo país.
— Não tinha ideia de que estava grávida?
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— Não!
— Bem, essas coisas acontecem. Dê graças a Deus pela gravidez não estar muito
adiantada. Quanto a relações sexuais, sugiro que espere uma semana ou duas. — A médica
despediu-se.
Fora, Daphne fechou os olhos devido à excessiva claridade. Decidiu não falar nada a
Brant. Não poderia. Não saberia como o marido reagiria. E Alice, sabia de tudo?
Não, não iria perguntar-lhe; não mencionaria o fato a ninguém. E com o tempo se
esqueceria do incidente. Incidente?
— Sente-se bem, madame — Winterspoon lhe perguntou assim que ela entrou em
casa.
— Como? Oh, sim, Winterspoon, estou muito bem.
O jogo não ofereceu dificuldade alguma para o Astros, que venceu de trinta e cinco a
sete. Brant jogara muitíssimo bem. Seu corpo ágil chamou a atenção dos espectadores e ele
foi aplaudido com calor. Daphne fez eco aos aplausos com algumas esposas de jogadores
presentes.
Dirigiu-se em seguida à entrada do vestiário, pois estava ansiosa em dizer-lhe que
nenhum outro jogador poderia ser melhor que ele e nem mais atraente com o uniforme
branco de letras vermelhas.
Um homem lhe perguntou.
— É esposa de um dos jogadores, madame?
— Sim, sou a senhora Asher.
— Ah, a herdeira inglesa! — o homem exclamou, entusiasmado.
— Não, a esposa inglesa. Brant está em excelente forma, não acha? Parece estar
dançando e corre mais do que qualquer outro. Vamos ganhar a taça este ano, sem dúvida.
Marc Dreyfus, o repórter, tomou nota das palavras de Daphne o mais depressa que
pôde. Encantado, fez sinal a seu companheiro, Tim Maloney, e os dois ficarem satisfeitos
com o furo de reportagem.
Quando Brant finalmente emergiu do vestiário, encontrou a esposa que se atirou em
seus braços com um sorriso brilhante. Ele beijou-a.
— Excelente jogo, Brant! — Mac exclamou. — E encantadora esposa. Foi um prazer
conhecê-la, madame.
Muitas pessoas os rodearam. Só meia hora mais tarde Daphne e Brant ficaram
sozinhos. Ela abraçou-o mais uma vez e disse:
— Gostei muito de Detroit. Quero ficar mais um dia ou dois para visitar uma fábrica
de carros.
— Que surpresa encontrá-la aqui, querida!
— Acha?
— Tem certeza de que está bem?
— Claro que estou bem. Mas você foi» magnífico, amor. Tive enorme prazer em vê-lo
jogando ao vivo. Já providenciei para termos um teipe deste jogo em menos de uma
semana.
Brant abraçou-a.
— Não me aperte muito por enquanto — ela pediu. E, ante o olhar preocupado do
marido, acrescentou. — Minhas costelas estão boas. Não se preocupe.
Ele não pensava nas costelas mas, naturalmente, não podia lhe contar o motivo de
sua apreensão.
"Como", Brant se questionava, "vou evitar fazer amor com ela esta noite?"
Sabia que não poderia tocá-la durante mais uma semana, talvez duas. Precisava dar-
lhe tempo para a recuperação.
— Deus, que bom ver você, Daph. Agora, mulher, venha fazer uma boa massagem em
seu marido.
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— Vou massagear seu corpo todo, querido, prometo. Está machucado?
— Nada que o cuidado da mulher amada não possa curar. Que tal um banho na
Jacuzzi?
— Otimo.
Foi, como seria de se esperar, um erro. Brant considerara a situação segura, pois a
metade inferior de seu corpo estaria debaixo d'água e Daphne, do lado de fora, lhe
massagearia os ombros. Mas, quando ela entrou na água em torvelinho, nua, Brant gemeu
mentalmente. Procure se distrair, idiota, dizia a si mesmo, porém consciente o tempo todo
dos lindos seios de Daphne pressionando-lhe o tórax.
— Mamãe está bem? — ele perguntou.
— O quê? Oh, sim, Alice está muito bem e lhe manda lembranças. Tia Cloé telefonou
desejando-lhe boa sorte e Winterspoon viu o jogo pela TV.
"Não sinto dor nenhuma", Daphne tentava se convencer. "E não sinto dor há dias. As
recomendações da dra. Lowery foram apenas uma sugestão, não uma ordem."
Ao menos era assim que Daphne pensava. Queria muito fazer amor com Brant.
Trouxera um bom suprimento de pílulas anticoncepcionais; portanto, não ficaria grávida
até que pudesse engravidar com segurança. Escorregou a mão do tórax ao ventre do
marido e, ao descer mais, encontrou o que procurava. E viu que ele não estava totalmente
alheio aos seus encantos.
— Daph, não! — Brant pediu, rangendo os dentes.
— Por quê? Não está com saudades de mim?
— Estou cansado e com o corpo dolorido. Por favor, querida, não esta noite. Sinto-me
como um ancião de noventa anos.
— Entendo — ela disse, porém Brant enxergou confusão nos olhos da esposa.
— Estou muito contente com sua visita, querida. Mas, estará Mac Dreyfus apaixonado
por você? Notei que a fitava fascinado.
— Mac apenas queria falar sobre o jogo e fazer algumas perguntas à idiota herdeira
inglesa. Ele é um repórter esportivo?
— É. Do jornal Sun, de Detroit e Chicago. Mas vamos sair desta banheira antes de nos
transformarmos em ameixas secas.
Daphne insistiu em enxugá-lo com uma toalha felpuda. E não pôs camisola antes de
ir para a cama.
Brant suspirou quando a envolveu com os braços.
— Fique bem parada, amor — pediu, beijando-a e ao mesmo tempo afagando-a.
Céus, Daphne se excitava ao contato dos dedos dele. Enfim concluiu que o marido
estava cansado demais para fazer amor.
— Você é o marido mais perfeito do mundo — ela murmurou.
CAPITULO XVIII
CAPÍTULO XIX
Fazia calor em Houston, calor demais para fins de novembro. A umidade era tal que
em dez minutos os cabelos de Daphne caíam em mechas molhadas em volta do rosto.
— Lily! Dusty! Deus, a turma toda!
Daphne sorria enquanto abraçava Lily e Dusty. Danny, Keith e Patrícia dançavam em
volta dela e de Brant.
— Você continua casado com minha irmã? — Brant perguntou ao cunhado.
— Brant, sua irmã é ura dínamo. Houston não seria a mesma sem ela. Sim, meu
velho, continuo casado.
— Por que não faz a mesma pergunta a mim, irmão? — Lily
indagou. Brant sorriu para a linda Lily.
— Você é tão aberta, que não me ocorreria lhe fazer essa pergunta. Está na cara o que
sente. Além disso, Dusty é tão másculo que sempre achei que a manteria na linha.
Enquanto Brant falava com a irmã, Dusty dirigiu-se a Daphne:
— E como vai a linda garota inglesa?
— Muito bem — Daphne sorriu.
— Muito bem, pessoal, vamos sair daqui — Dusty sugeriu. — Brant, vocês ficarão com
o time até o fim dos jogos?
— Sim, em seguida invadiremos sua casa por alguns dias. Concorda?
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— Claro. Lily e eu já planejamos um churrasco texano para depois da competição.
Com peru e todo o acompanhamento costumeiro do Dia de Graças.
Após mais alguns abraços Daphne e Brant tomaram o ônibus da seleção. No hotel, fãs
e jornalistas "rodearam os atletas. Daphne encolheu-se atrás de Brant quando um repórter,
que ela conhecera em Dálias, gritou:
— Senhora Asher! Bem-vinda a Houston! Quer dar sua previsão para o jogo?
— Vá em frente, amor — Brant insistiu. — Você é boa para previsões. Conte o que
pensa.
Brant a observava com o canto dos olhos enquanto ela falava. Tímida no começo, logo
depois deslanchou. Sorria e gesticulava e os repórteres se deliciavam com seu característico
sotaque inglês.
Brant sentiu orgulho dela. Mas queria-a só para si e sofria com a admiração que sua
mulher despertava.
— Não sente falta de seus atletas da Inglaterra, senhora Asher? — perguntou um
repórter. — A temporada do rúgbi está em pleno vapor, não é mesmo?
— Não tenho a mínima ideia, sir. — Daphne respondeu sorrindo para seu
interlocutor.
— Como? Trocou seus heróis do rúgbi por nossos atletas americanos?
— Troquei, sir, mas aposto que eles não estão sentindo minha falta.
— Os jogadores de rúgbi são menos... convidativos que nossos jogadores de futebol?
Com certeza conheceu alguns bastante bem.
— Não mais do que meia dúzia. — Daphne rezava para que ele não notasse seu
nervosismo e irritação.
O jogo foi um sucesso. O Astros venceu o Houston por 21 a 14, porém o último quarto
de hora foi combativo e deixou Daphne sem voz de tanto gritar, e Brant exausto.
— Daphne, precisamos conversar — ele disse à mulher, agora no hotel.
— Que homem insaciável! Aqui estou eu ainda me recuperando do prazer da partida e
você...
— Vamos, vamos, querida. Não é sobre o jogo que desejo falar, e você sabe muito bem
disso.
Oh, sim, ela sabia. Baixou o olhar para os lindos sapatos italianos e explicou:
— Não podemos chegar atrasados ao churrasco. Dusty ficou de mandar o carro que,
por sinal, já deve estar nos esperando.
Brant suspirou, conformando-se.
Daphne havia sido encantadora na cama... mas fechara-se depois como uma concha.
A barreira que ela erguera entre os dois parecia firme e intransponível, como a melhor
linha de frente numa batalha.
— Muito bem — Brant concordou. Ele começou a pegar as malas porém mudou de
ideia.
Não, pensou, preferia voltar ao hotel. Precisavam conversar, ficar sozinhos, sem
interrupções da irmã, do cunhado e dos sobrinhos.
Lily e Dusty moravam numa casa branca estilo colonial, de três andares. O terreno
era grande, a piscina opulenta e o jardim estava cheio de carros.
A atmosfera era festiva e os convidados estavam mais ou menos "altos"; muitos
saltavam na piscina de roupa e tudo.
Daphne procurou o tempo todo manter distância de Brant. Lily apareceu de repente e
convidou-a:
— Suba comigo um minuto. Preciso retocar minha pintura.
— Você tem uma casa linda, Lily — Daphne comentou enquanto acompanhava a
cunhada pela vasta escadaria circular.
— Obrigada. Por aqui, Daph.
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Entraram num dormitório enorme. O apartamento inteiro de Brant caberia naquele
quarto em forma de L.
— Quero saber o. que está acontecendo com vocês dois — Lily começou a falar, sem
preâmbulos.
— Não sei a que se refere.
— Amo meu irmão e acho que vocês formam um casal perfeito. E sei que ele ama você
muito.
— Não concordo — Daphne protestou calmamente.
— Céus, como pode ser tão cega, Daphne? Ele a acompanhou com o olhar a tarde
inteira. E você, de propósito, evitou-o. Mamãe me contou sobre o aborto. Foi uma pena
mas se quiser filhos poderá tê-los. E esse o problema?
— Você acha mesmo que Brant me ama, Lily?
— Não seja tola, Daphne. Ouvi-o dizendo a Dusty que ele era o homem mais feliz do
mundo. Se me lembro bem, meu irmão falou: "E pensar que eu não queria ir à Inglaterra!
Céus, acho que nasci sob uma boa estrela." Isso a convence, Daph?
Daphne sentiu que seu coração galopava. Ela ria e chorava ao mesmo tempo. Abraçou
Lily e desceu.
Nunca fora capaz de uma atitude ousada; mas, por que não agora?
Brant continuava na sala, tomando sua cerveja e rindo das histórias que lhe
contavam. Observou uma linda mulher, quase nua, pulando na piscina. Notou os lindos
seios e as longas pernas dela. Não se impressionou. Mas... por onde andaria Daphne?
Viu-a então conversando com um homem do mundo dos esportes. Diabos, da cadeia
de transmissoras! Falavam animadamente. Não, ele faria qualquer coisa para não perder
Daphne, qualquer coisa.
Foi Dusty quem falou, minutos após:
— Alô, pessoal, tenho uma notícia a lhes dar. Todos sorriram pois a novidade de que
Daphne iria trabalhar como repórter esportiva já corria de boca em boca.
Ela tomou então a palavra e declarou oficialmente sobre a nova função.
Houve aplausos, copos se tocando, pessoas rodeando Daphne.
Brant forçou um sorriso, atravessou a multidão e segurou-a pelo braço.
— Vamos embora. Já!
— Mas, Brant, e Lily? E o pobre Sam...
— Quieta!
— Vai me jogar na piscina se eu recusar ir ao hotel, Brant?
— Não, vou jogá-la na cama. Daphne riu, uma risada pura,
feliz. No hotel, ele fechou a porta do quarto e ordenou:
— Tire a roupa. Agora. Quero ver suas formas. Ou estará em forma só para
entrevistar os jogadores de futebol?
— Mas você viu minhas formas ontem à noite, hoje de
manhã. Impaciente, ele despiu-a num segundo.
— Você ficou bravo por causa de minha decisão, Brant?
— Que decisão?
— Sobre as entrevistas.
— Quem pretende entrevistar, Daph?
— Primeiro você, naturalmente.
— Tudo bem. Mas antes de qualquer coisa acho que teremos de aposentar Gwen. Que
tal uma perua? E que tal uma mudança para Connecticut? E um cachorro peludo?
— Winterspoon é alérgico a cachorros, Brant.
— Acha que nossos filhos o chamarão de tio Oscar? Ou de tio Spoon?
— Eu te adoro, querido.
Brant deitou-se ao lado da mulher e abraçou-a.
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Daphne sentiu a mão dele sobre seu ventre e não demorou nada para corresponder
ao carinho do marido. Tentou desabotoar-lhe a camisa, mas ele segurou-lhe os dedos.
— Não, querida, não antes de ouvir o que tenho a lhe dizer. Não é nada triste,
prometo. Eu te quero, amor. Eu te quero hoje, amanhã, no ano dois mil e tanto. Acho que
sempre te amei. Levei muito tempo para concluir porque ignorava o que havia de errado
comigo. Quero que você seja feliz, querida. Quero que continue me amando.
— Acho que jamais poderei parar de te amar, Brant. Decidi tomar aquela atitude
momentos atrás porque pensei que eu acabaria sendo mãe e pai de meus filhos,
responsável pelo sustento deles. Porém Lily me levou para o quarto e me disse que você
mencionara que nascera sob uma boa estrela.
— Ela falou isso?
— Falou. Mas eu também nasci sob uma boa estrela.
— Esqueça-se dessa maldita estrela, Daph. E, se quiser começar com o novo trabalho,
eu serei seu mais assíduo colaborador. O que acha? Me quer como colaborador?
— Colaborador até que ponto? — Daphne esboçou um sorriso
malicioso. Brant gemeu e murmurou:
— Eu te amo, querida. Mesmo que você se transforme numa repórter esportiva
famosa, te amarei sempre.
FIM
CATHERINE COULTER atrai uma infinidade de leitores para seus romances. É versátil,
prolífera e iniciou a carreira de escritora escrevendo romances de época, principalmente
sobre o período da Regência. Mais tarde, dedicou-se a romances históricos
contemporâneos. Autora de mais de vinte livros, continua a escrever suas obras na
Carolina do Norte, onde reside com seu marido.