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Prazer Por Prazer

As Irmãs Essex
Livro Quatro
De
Eloisa James
Autora Best-seller Internacional
Ficha Técnica
“PRAZER POR PRAZER”
Copyright © 2006 by Eloisa James
Título Original: Pleasure for Pleasure
Tradução: Branca Letícia
Revisão: C. Belo
Capa: D. Silva
ePub: MR
Distribuição: MR & LRTH
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes
são produtos da imaginação do autor ou são usados ficticiamente. Qualquer
semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, estabelecimentos
comerciais, eventos ou localidades é total e simplesmente uma
coincidência.
Sumário
Página do Título

Página dos Direitos Autorais

Capítulo 01

Capítulo 02

Capítulo 03

Capítulo 04

Capítulo 05

Capítulo 06

Capítulo 07

Capítulo 08

Capítulo 09

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16
Capítulo 17

Capítulo 18

Capítulo 19

Capítulo 20

Capítulo 21

Capítulo 22

Capítulo 23

Capítulo 24

Capítulo 25

Capítulo 26

Capítulo 27

Capítulo 28

Capítulo 29

Capítulo 30

Capítulo 31

Capítulo 32

Capítulo 33

Capítulo 34

Capítulo 35

Capítulo 36
Capítulo 37

Capítulo 38

Capítulo 39

Capítulo 40

Capítulo 41

Capítulo 42

Capítulo 43

Capítulo 44

Capítulo 45

Capítulo 46

Epílogo

Uma nota sobre irmãs e peças de Shakespeare


Capítulo 01
Trecho do livro de memórias amplamente conhecido:
O conde de Hellgate,
ou Cenas Noturnas Entre a Alta Roda.
Caro leitor,
Como eu detestaria chocá-los e desanimá-los, devo implorar a todas as
damas de disposição delicada que deixem de lado este livro agora.
Tenho vivido uma vida de paixão imoderada e fui persuadido a
compartilhar os detalhes na esperança de impedir que qualquer cavalheiro
suscetível siga meus passos ...
Oh Leitor, Cuidado!
24 de maio de 1818

Grosvenor Square, 15
Residência londrina do Duque de Holbrook
Não havia maneira de introduzir o assunto com delicadeza, pelo menos
nenhuma que Josie pudesse imaginar.
— Nenhum dos romances que li foi idealizado na noite de núpcias—,
disse ela às irmãs.
— Espero que não! — disse Tess, sua irmã mais velha, sem nem mesmo
olhar para ela.
— Então, se vamos discutir a noite de núpcias de Imogen, não vou
embora.
— Não seria apropriado que você se juntasse a nós—, disse Tess, com o
ar um tanto cansado de quem já falou sobre o assunto em duas ocasiões
anteriores. Afinal, das quatro irmãs Essex, Tess, Annabel, Imogen e Josie,
havia apenas uma solteira: Josie.
— Nós lhe daremos todos os detalhes que você precisa na véspera do
seu casamento—, Imogen acrescentou—. Afinal, eu não preciso falar sobre
isto, sou viúva.
Elas estavam sentadas ao redor de uma pequena mesa no quarto das
crianças, desfrutando de um jantar leve. A acompanhante de Josie, Lady
Griselda, também estava “tecnicamente” jantando com elas, mas como ela
havia passado a maior parte da noite encolhida em uma poltrona lendo as
memórias do Conde de Hellgate, ela não deu mais que uma pequena
mordida, nem contribuiu minimamente para a conversa.
Elas estavam comendo sozinhas porque Imogen tinha ouvido falar que
poderia causar má sorte ver seu noivo na véspera do casamento, e como
Imogen estava casando com seu tutor, o duque de Holbrook, elas não
podiam comer na sala de jantar. Tecnicamente, o filho de Annabel, Samuel,
era parte do grupo, mas como tinha apenas quatro meses e sonhava com
uma bola vermelha brilhante, um resfolegar ocasional de desejo era sua
única contribuição.
— Se minha temporada continuar como começou—, disse Josie—, eu
não me casarei. Dificilmente se consegue todo ensinamento sobre homens e
mulheres nas páginas de um romance.
— Tess, você sabia que Josie fez uma lista de formas eficazes de pegar
um marido? — Perguntou Annabel, terminando finalmente o seu syllabub.
— Com base em nossas experiências? — Disse Tess, levantando uma
sobrancelha.
— Seria uma lista muito curta—, disse Josie—. A dama foi
comprometida, o cavalheiro é forçado a casar-se com ela, o casamento
acontece.
— Eu não fui comprometida pelo meu marido—, disse Tess, mas estava
rindo.
— Você se casou com Lucius logo após o conde de Mayne abandoná-la
no altar—, disse Josie—. Não foi propriamente um período longo de
namoro. Tudo em dez minutos, se bem me lembro.
O sorriso nos olhos de Tess sugeria que aqueles dez minutos tinham
sido doces, e Josie não queria pensar nisso porque ficava com inveja. Se
ela, Josie, fosse rejeitada no altar, não haveria nenhum candidato secundário
esperando na sala ao lado. Na verdade, dado seu desempenho desastroso no
mercado casamenteiro, o altar provavelmente era uma perspectiva que ela
deveria descartar.
— É verdade que eu estava comprometida—, disse Annabel—, mas
Imogen vai se casar com Rafe por amor e após um longo namoro.
— Eu sugeri que fugíssemos—, disse Imogen, sorrindo—, mas Rafe
disse que seria amaldiçoado se seguisse os passos de Draven e transferindo
todo o casamento para a Escócia.
— Ele está certo—, disse Tess—. Você vai ser uma duquesa. Você não
poderia se casar de uma maneira tão confusa.
— Sim, nós poderíamos.
— Mas pense em todo o prazer que você teria negado à alta sociedade
—, disse Josie—. A principal diversão da temporada até agora foi observar
Rafe olhar longamente para você na lateral do salão. Agora, vamos discutir
sua noite de núpcias ou não? Porque existem lacunas marcantes no meu
aprendizado.
— Não há lacunas no meu aprendizado—, disse Imogen, — então ...
— Eu sabia! — Josie disse—. Você e Rafe anteciparam a noite, não é?
Oh, que vergonha! — Ela ergueu uma mão dramática até a testa—. Minha
irmã foi corrompida por seu tutor.
— Josephine Essex! — Tess disse, de repente se transformando na irmã
mais velha que havia criado todas elas—. Se eu ouvir você dizer mais uma
coisa tão grosseira no futuro, eu irei - eu irei bater em você!
Josie sorriu—. Eu estava apenas demonstrando que as lacunas no meu
aprendizado não têm a ver com técnicas.
— Qualquer outra coisa terá que ser aprendida na hora, querida—, disse
Annabel. Ela foi até o berço e pegou Samuel. Agora ela estava
confortavelmente aninhada em uma cadeira funda, os pés para cima e
casualmente cruzados em seus tornozelos delgados, acariciando o bebê. Ele
estava acostumado a esse ritual e continuou dormindo.
Josie sabia que deveria fazer um trabalho melhor em conter as
explosões selvagens de ciúme que periodicamente a dominavam. No
entanto, tudo o que ela precisava fazer era olhar de uma para outra de suas
três irmãs para sentir o beliscão tão forte quanto dedos dos pés congelados
enquanto patinava. Todas as três eram magras. Bem, Annabel não era
precisamente magra, mas ela exibia suas curvas esplendidamente. Todas
elas eram (ou logo seriam) casadas e felizes. Duas se casaram com títulos, e
embora o marido da Tess não tivesse um título, ele era o homem mais rico
da Inglaterra e qualquer pessoa com bom senso concordaria que tal riqueza
superava uma tiara.
— Estou falando sério—, disse Josie, trazendo sua mente de volta ao
assunto em questão—. Annabel, você está aqui apenas para o casamento, e
Imogen estará partindo para sua viagem de núpcias. E, se eu tiver que me
casar rapidamente? Você não estará aqui para me dar conselhos.
No fundo de sua mente, Josie sabia que talvez tivesse que fazer algo
drástico para encontrar um marido.
Ninguém a estava cortejando da maneira normal, então ela poderia ter
que comprometer alguém para conseguir o que queria. O que exigiria um
casamento imediato—. Quando Annabel estava prestes a se casar com
Ewan, Imogen disse a ela que ela deveria beijar seu marido em público.
— Meu Deus, você se lembra disso? — Disse Imogen, parecendo
levemente surpresa.
— Você disse—, Josie a lembrou—, que Draven não se apaixonou por
você porque você se recusou a beijá-lo no hipódromo. Considerando que
Lucius se apaixonou por Tess porque ela permitia intimidades em público.
Tess estava rindo novamente—. Vou ter que informar Lucius porque
exatamente ele gosta tanto de mim. Foi tudo por causa daquele beijo no
hipódromo!
— Shhh—, Imogen disse a ela—. Isso foi uma ideia estúpida que tive
no ano passado, Josie. Você não deve levar isso tão a sério.
— Bem, eu levo a sério—, disse Josie—. Isto é o que eu faria caso
alguém mostrasse a menor intenção em me beijar publicamente, ou
reservadamente, por falar nisso.
Annabel ergueu os olhos após beijar a cabeça de Samuel. — Por que
tanta amargura, querida? Nenhum homem por quem você se interesse
apresentou-se como seu admirador?
Houve um momento de silêncio na sala, quando todas perceberam que
uma ou duas cartas foram extraviadas entre Londres e o castelo escocês
onde Annabel vivia com seu conde.
Como de costume, Josie pegou o touro pelos chifres. — Eu não sou
exatamente o prêmio da temporada—, disse de forma implacável.
— Oh, querida, a temporada mal começou, não é mesmo? — Annabel
disse, colocando o cobertor do bebê em volta de seu pequeno ombro—. Há
muito tempo para atrair a atenção dos homens.
— Annabel.
Ela levantou os olhos motivada pelo tom na voz de Josie.
— Eu sou conhecida como a Salsicha Escocesa.
Se Josie estivesse escrevendo um dos romances que ela adorava ler,
teria dito que houve um momento de profundo silêncio.
Annabel piscou para ela. —A ... A ...
— É parcialmente sua culpa—, disse Imogen, em tom agudo—. Você
apresentou Josie ao seu revoltante vizinho, Crogan. Quando Josie rejeitou
seus avanços, ele escreveu a um amigo de escola chamado Darlington. E,
infelizmente, Darlington parece ter se especializado em confrontos cruéis.
— Tem a língua de uma cobra—, disse Tess categoricamente—.
Ninguém o detesta, embora devesse, porque ele é muito inteligente. Mas ele
não mostrou nenhuma inteligência aqui, apenas pura malícia.
— Você não pode estar falando sério! — Annabel gritou, sentando-se
ereta. — Os Crogans?
— O mais novo—, disse Josie melancolicamente—. Aquele que cantou
todas aquelas canções na árvore do lado de fora da minha janela.
— Eu sei que você não queria se casar com ele, mas ...
— Ele também não queria se casar comigo. Ele sentiu que era indigno
de casar-se com um leitão escocês, mas seu irmão mais velho o ameaçou
expulsão caso ele não me cortejasse.
— O que? — Annabel disse, confusa. Ela estava tentando pensar em
seus vizinhos, os Crogans, e não no corpinho quente de Samuel sob sua
mão—. Como ele poderia insultá-la, Josie? Nós o trouxemos para a casa
apenas uma vez, e eu não permiti que ele levasse você para um encontro!
— Eu ouvi seu irmão insistindo para que ele se casasse comigo—, disse
Josie.
Os olhos de Annabel se estreitaram. — Por que você não me contou?
Ewan nunca teria deixado esse verme escrever insultos sobre você a seus
amigos em Londres. Do jeito que está, tenho certeza que ele vai matar o
homem. Ele quase fez isso no ano passado.
— Foi muito humilhante.
Mas Annabel conhecia sua irmã há dezoito anos, e ela podia reconhecer
o leve rubor em seu rosto. Ela disse com um pequeno suspiro: — Josie,
você não teve nada a ver com a doença do jovem Crogan, não é?
Josie mexeu no cabelo. — Ele provavelmente comeu alguma coisa que
fez mal a ele, o pequeno nabo nojento.
— Ele perdeu dois quilos em apenas quinze dias!
— Não ficou tão mal. E, ele mereceu.
— Remédio para cólicas dos cavalos do papai—, disse Imogen a
Annabel.
— Não era do Papa—, disse Josie—. Era meu. Eu mesmo inventei.
— Josie e eu já discutimos a abordagem desaconselhável que ela adotou
para o problema—, disse Tess, levantando os olhos da casca de uma maçã.
— Desaconselhável? Poderia tê-lo matado!
— Claro que não—, disse Josie indignada—. Quando Peterkin deu ao
cavalariço, este ficou doente por apenas uma semana.
— Eu acho que o Crogan mais jovem mereceu—, disse Imogen—.
Afinal de contas, ele é o culpado de todas as coisas desagradáveis que Josie
sofreu em Londres.
— Como diz que ele a chamou? — Annabel perguntou—. Ewan vai
matá-lo. Decididamente, vai matá-lo.
— Ele me chamou de leitão escocês—, disse Josie categoricamente—.
Darlington transformou o termo na mais sonora das expressões salsicha
escocesa, e o apelido pegou—. Até ela podia ouvir o desespero em sua voz.
— Oh, Josie, eu sinto muito—, Annabel sussurrou—. Eu não fazia
ideia.
— Eu escrevi para você há algumas semanas, mas talvez nossas cartas
tenham se desencontrado porque você estava vindo da Escócia—, disse
Tess.
— É tarde demais agora—, disse Josie. — Ninguém vai dançar comigo
a menos que seja forçado por Tess e Imogen.
— Isso simplesmente não é verdade—, disse Imogen—. E, quanto a
Timothy Arbuthnot?
— Ele está velho—, disse Josie—. Velho e viúvo. Eu posso certamente
entender que ele queira uma esposa para seus filhos, mas eu não estou
ansiosa em desempenhar esse papel.
— Timothy não é velho—, disse Tess—. Ele não pode ter muito mais
que trinta anos, que é, devo salientar, a mesma idade de todos os nossos
maridos.
— Além disso—, Imogen disse, — trinta é um ano divisor de águas
para os homens. Se eles vão desenvolver inteligência, eles o fazem por aí, e
se não, é tarde demais. Portanto, você não deve ansiar por homens na casa
dos vinte anos. Isso é como comprar um porco em uma cutucada.
— Não mencione porcos—, disse Josie com os dentes cerrados—. Eu
não gosto do Sr. Arbuthnot. Há algo zangado em seu rosto, como se ele
tivesse se levantado de manhã e tivesse que empurrar o nariz para o lugar.
— Que descrição revoltante—, disse Annabel—. Embora precisemos
reverter esta situação infeliz, obviamente Arbuthnot não é o único para
fazer isso.
— Não há como mudar isso—, disse Josie—. A menos que por um
milagre eu fique magra de repente, todo mundo pensa em salsicha quando
olha para mim.
— Absurdo—, disse Annabel—. Você é bonita—. Todas elas olharam
para Josie por um momento. Ela estava vestindo um roupão, como todas
elas. Josie fez uma careta para elas.
— O problema com você—, disse Annabel—, é que, se alguém não a
conhece, você parece uma daquelas doces madonas renascentistas.
— Com rostos redondos e maternal—, disse Josie sombriamente. Ela
odiava suas bochechas.
— Não, com uma pele linda e brilhante e um olhar doce. Mas você não
é nada doce por natureza.
— É verdade—, Imogen disse, comendo um último pedaço de bolo—.
Você tem a pele mais maravilhosa, Josie.
— É uma pena que haja tanto—, disse Josie.
— Absurdo. Já disse muitas vezes, assim como Griselda, que os homens
gostam muito de figuras como as nossas—, Annabel disse—. Griselda!
Acorde e diga a Josie como seu corpo é delicioso. E o meu, por falar nisso.
— Nós três não temos o mesmo físico—, disse Josie—. O seu se curva
para dentro e para fora, Annabel. O meu apenas avança.
Griselda ergueu os olhos—. Este livro é incrível. Tenho quase certeza
de que sei quem é Hellgate.
— Seu irmão? — Imogen perguntou preguiçosamente. Londres inteira
estava lendo as memórias de Hellgate - e a maior parte de Londres havia
decidido que Hellgate era realmente o Conde de Mayne.
— Acho que não—, disse Griselda, tendo claramente pensado sobre o
assunto—. Estou com apenas um terço do livro lido, mas não reconheço
uma única mulher que Mayne tenha cortejado.
— Cortejado não é exatamente a palavra para suas interações com
mulheres, não é? — Josie comentou.
— Não é preciso ser exata sobre essas coisas—, disse Griselda,
imperturbável por essa calúnia sobre o caráter do irmão—. Todos nós
sabemos que Mayne não é um santo. Mas embora o escritor seja
extremamente inteligente, eu não reconheço as mulheres.
— É verdade que Mayne está apaixonado? — Annabel perguntou—. É
muito difícil de se acreditar. Lembra quando o conhecemos, na noite em
que chegamos à propriedade do Rafe?
— Você o reivindicou como sua propriedade—. disse Tess, sorrindo.
— Aí, então, você se comprometeu com ele na primeira oportunidade
—, Annabel respondeu—. Não respeitaram a minha reivindicação anterior.
— Pode-se dizer que quase todas as irmãs Essex tentaram reivindicá-lo
de uma forma ou de outra—, disse Imogen, rindo.
— Quanto menos falar sobre seus esforços, melhor—, acrescentou Tess.
— Bem, não havia nada de ilícito entre Mayne e eu—, disse Imogen—.
É uma história que pode ser contada rapidamente. Depois de dormir com
metade das mulheres em Londres, ele se recusou a me levar para a cama, e
isso sem pensar duas vezes.
— Meu irmão é um homem de honra—, disse Griselda. Ela ergueu a
mão ao ouvir as gargalhadas ao redor da mesa—. Eu sei, eu sei ... a
reputação dele não é das melhores. Mas ele nunca feriu deliberadamente os
sentimentos de ninguém, nem se aproveitou de uma mulher em uma
posição vulnerável. E você, Imogen, estava em um estado de espírito
vulnerável.
— Sempre existe a possibilidade que ele esteja simplesmente cansado
—, disse Josie—. Isso é o que me faz pensar que Hellgate é Mayne. Sim,
talvez ele tenha uma reputação intensa, mas é tudo devido ao seu passado.
Seu irmão não tem um caso há anos, Griselda.
— Dois anos—, disse ela com dignidade.
— Entende? Aparentemente, Hellgate fala de arrependimento, e espero
que Mayne esteja se entregando ao mesmo tipo de comportamento. Gostaria
que você me deixasse ler o livro, Griselda. Já tenho idade suficiente.
— Eu discordo—, disse Griselda, acrescentando: — Mayne está
apaixonado e devemos permitir que seus pecadilhos descansem no passado
—. Ela abriu o livro e começou a lê-lo novamente.
Annabel estava ensimesmada, embalando Samuel—. Griselda está
certa. Embora seja irritante que Mayne de alguma forma tenha conseguido
escapar de nós quatro e se casar com uma estranha, (e, eu gostaria de ouvir
tudo sobre sua francesa sofisticada) no momento, o que interessa é você,
Josie.
Josie quase brincou sobre recusar-se a casar se não pudesse ter Mayne,
porém se conteve. A solteirice era uma possibilidade muito real para se
falar em voz alta.
— É tudo uma questão de vestimenta—, anunciou Annabel—. Você
deve ir naquela mulher maravilhosa da Griselda.
— Já tenho um guarda-roupa totalmente novo, graças ao Rafe.
— Eu a levei para a minha modiste, Madame Badeau—, Imogen disse
um pouco duvidosa—, mas ...
— Ela me deu um espartilho maravilhoso—, disse Josie—. Pelo menos
quando estou com ele, não sinto que estou inchando em todas as direções,
como um balão solto.
— Não gosto desse espartilho—, disse Tess categoricamente.
— Infelizmente, nem eu—, disse Imogen.
— Bem, eu não vou desistir—, disse Josie—. Quase consigo usar os
vestidos de Imogen quando estou com ele; você pode imaginar, Annabel?
Se a alta sociedade ri de mim agora, imagine o que diriam se eu não
estivesse usando o espartilho—. Foi assim que ela pensou: O Corset.
— O que há de tão milagroso sobre este espartilho em particular? —
Annabel perguntou. Samuel tinha acordado e estava fazendo um lanche
tarde da noite.
Josie desviou o olhar. Já era bastante ruim que ela, Josie, estivesse
sobrecarregada com seios que ela pensava serem grandes demais: como
melões quando laranjas eram do tamanho apropriado. Mas Annabel não
tinha nenhum escrúpulo em alimentar Samuel na frente de todos elas, e seus
seios eram ainda maiores.
— É uma engenhoca feita de osso de baleia e só Deus sabe o que mais
—, disse Tess a Annabel—. Vai da clavícula de Josie até o traseiro.
— Como diabos você se senta? — Annabel perguntou.
— Eu não sei... Foi projetado milagrosamente—, disse Josie a ela—.
Existem costuras especiais em torno dos quadris.
— É confortável?
— Bem, não particularmente—, disse Josie—. Mas as grandes festas
não são exatamente confortáveis nos melhores momentos, não é? Eu acho
que são invariavelmente tediosas. De qualquer forma eu nunca dancei bem
de jeito nenhum, e esse parece ser o único prazer que alguém pode ter
nesses bailes.
— Você dançava com mais elegância antes de começar a usar aquele
objeto—. Observou Tess.
Josie a ignorou—. Madame Badeau desenhou uma série de vestidos que
se encaixam perfeitamente sobre o espartilho.
— É exatamente isso—, disse Tess—, eles cabem no espartilho, não em
você.
— Eu gosto—, Josie retrucou—. E já que você não vai me ver em um
baile sem ele, você pode muito bem parar de me insultar.
— Não estamos insultando você—, disse Imogen—. Achamos que você
ficaria mais confortável com outro tipo de roupa íntima.
— Nunca—, disse Josie.
Griselda fechou o livro novamente—. Eu simplesmente não consigo
imaginar como Hellgate teve tempo para qualquer coisa além de flertes.
Ora, estou apenas no sétimo capítulo e seu comportamento está para lá de
escandaloso.
— Acho que a verdadeira maravilha é que Hellgate não foi
comprometido e nem forçado a se casar—, disse Josie—. A mãe de Daisy
Peckery permitiu que ela lesse, e Daisy disse que Hellgate se deitou com
um grande número de mulheres jovens e solteiras.
— Outra razão pela qual uma semelhança entre meu irmão e Hellgate
deve ser descartada de uma vez. — Griselda apontou—. Mayne só dormiu
com mulheres casadas.
— Uma decisão sábia da parte dele—, disse Josie—. A partir dos livros
que li, além de minhas observações da alta sociedade neste último mês, eu
diria que qualquer homem que se comporte de forma indelicada com uma
jovem solteira é muito imprudente. Todos os tipos de casamento resultam
dos flertes mais inocentes, embora tolos, tipos de comportamento
imprudente.
— Posso atestar isso—, Annabel acrescentou. Ela mesma havia se
casado depois que um certo escândalo foi publicado em uma coluna de
fofoca.
— Na verdade—, acrescentou Josie—, pela minha estimativa, uma
mulher que não tem uma proposta sólida de casamento, seria extremamente
tola se não se envolvesse em uma certa quantidade de comportamento
imprudente.
De repente, ela percebeu que todas olhavam para ela.
— Ninguém fez a menor aproximação comigo—, ela ressaltou—.
Minhas observações pretendiam ser puramente teóricas.
— Foi uma tremenda sorte que o homem com quem precisei me casar
fosse o Ewan—, Annabel apontou, franzindo a testa para Josie—. Outras
jovens não ficariam tão contentes com uma escolha feita precipitadamente e
em difíceis circunstâncias.
— Eu entendo isso—, disse Josie. Mas por dentro ela sentiu toda a
frustração de um estudioso que elaborara uma teoria brilhante - e sem que
tenha recebido nada em que pudesse praticar. Ela dificilmente poderia
“fabricar” um escândalo quando nenhum homem chegava perto da Salsicha
Escocesa.
E, ainda assim as salsichas precisavam se casar. Cada vez mais, ela
pensava que teria que conseguir um marido de forma menos honrada. Claro,
ela não pretendia compartilhar esse fato conspícuo com suas irmãs.
Annabel virou-se para Tess e Imogen—. Há quanto tempo vocês duas
sabem que Josie estava planejando criar um escândalo?
Imogen colocou uma uva na boca—. Acho que ela teve essa ideia cerca
de um ano atrás, não é, Josie?
— Na verdade—, corrigiu Tess—, eu colocaria a resolução de Josie a
partir da época em que ela começou a ler todos aqueles romances da
Minerva Press.
Josie deu de ombros mentalmente. Então todos os seus planos eram
conhecidos pela família - e, agora, por Griselda, que erguia os olhos do
livro, bastante surpresa.
— Há um detalhe insignificante que você esqueceu—, disse Josie.
— E o que poderia ser? — Annabel perguntou.
— São necessárias duas pessoas para se criar um escândalo e, uma vez
que nenhum homem vai dançar comigo, acho que a família Essex
provavelmente estará livre do alvoroço de um casamento forjado.
— Eu certamente espero que sim.
— Eu deveria corrigir isso: mais um casamento forjado—, disse Josie. E
então se abaixou quando Imogen jogou uma uva nela.
Capítulo 02
Do Conde de Hellgate
O Primeiro Capítulo
Talvez outros que embarcam em uma vida marcada por Pecados da Carne
percebam na infância que nasceram para uma vida de ligações notórias.
Eu, caro leitor, fui criado na feliz ignorância de minha futura infâmia.
Na verdade, não foi até os tenros anos da minha juventude, quando em
toda a minha inocência visitei o Tribunal de St. James - oh, eu detesto
escrever as palavras – onde conheci uma duquesa. O episódio das meias
verdes é conhecido por alguns, mas posso dizer agora que ...

Catedral de São Paulo


Londres
Foi um casamento sério, cheio de pompa e circunstância. Imogen subiu
o corredor da Catedral de São Paulo para ser saudada por nada menos que o
bispo de Londres. Ela estava primorosamente vestida em tecido de ouro; o
noivo cometeu o solecismo perdoável de pegar suas mãos durante a
cerimônia e sorrir para ela de tal forma que as lágrimas vieram aos olhos de
muitas almas casadas infelizes. E até mesmo alguns dos bem casados.
Garret Langham, o conde de Mayne, observou seu amigo mais próximo,
Raphael Jourdain, duque de Holbrook, ficar no altar com uma sensação de
profunda satisfação. Foi o dia em que ele poderia ter zombado de um
homem com o olhar de adoração abjeta de Rafe. Rafe parecia nada mais do
que uma vaca apaixonada, ou melhor, um touro. O que era ótimo, porque
Mayne se sentia da mesma maneira. Em pouco tempo, ele estaria diante do
bispo, jurando amar e cuidar, como Rafe estava fazendo.
Seu coração acelerou com o pensamento, e ele quase podia sentir suas
próprias feições assumindo uma aparência de adoração imbecil. Afinal,
Sylvie era dele. Ele nunca tinha entendido isso antes; “Nunca imaginei o
quão poderoso foi saber que a mulher que você mais ama no mundo
concordou em ser sua”.
Ele olhou para a esquerda. Ela estava parada ao lado dele. Sylvie de la
Broderie. Até o nome dela enviou um arrepio de prazer por sua espinha. Ela
estava vestida, como sempre, com requintada exatidão. Seu vestido era rosa
pálido que, de alguma forma, combinava com seu cabelo vermelho-ouro
pálido. Ele podia apenas vislumbrar seu elegante nariz arrebitado. Pequenos
cachos caíam em seu pescoço sob o chapéu elegante e inconfundivelmente
francês, adornado com uma profusão de pequenas fitas. Como seu chapéu,
Sylvie era inconfundivelmente francesa.
A mãe de Mayne era francesa e ele amava falar o idioma. Tudo parecia
certo: ele finalmente, finalmente, encontrou uma mulher que adorava, e ela
era francesa.
— É providência—, Rafe disse preguiçosamente na noite anterior. Eles
estavam brindando ao seu casamento com água, já que Rafe não bebia.
— E minha irmã a adora—, Mayne disse, incapaz de parar de
categorizar as perfeições de Sylvie.
— A boa e querida Grissie. Você deve encontrar um marido para sua
irmã, agora que está contemplando a felicidade doméstica. Você está tão
anormalmente alegre que mal posso suportar sua presença.
— Bem, você não vai ter que me aguentar por muito tempo—, Mayne
retrucou—. Viagem de núpcias, hein? Essa sim é uma ideia inovadora.
— Você está dizendo que não deseja levar sua Sylvie para um local
remoto, de preferência no barco mais lento que possa encontrar?
Uma imagem passou pela mente de Mayne, dele mesmo tirando as
luvas longas de Sylvie, revelando um pulso doce e delicado e ...
Rafe riu de seu silêncio.
Mayne sabia que estava perigosamente apaixonado. Tudo o que ele
precisava fazer era olhar para os dedos enluvados de sua noiva para sentir
uma agitação em sua virilha. Só de pensar em tirar aquelas luvas o deixava
mais apaixonado que em anos. Provavelmente, pensou com um lampejo de
divertido desprezo por si mesmo, desde que se deitou com sua quinta ou
sexta dama.
No entanto, Sylvie era diferente de todas as mulheres com quem havia
se deitado, da primeira à trigésima. Inclusive, era ainda mais diferente da
única outra mulher que ele realmente amara, a única mulher que não cedeu
a suas seduções habilidosas, Helene, a Condessa Godwin. A condessa
estava sentada algumas fileiras atrás dele. Eles raramente falavam um com
o outro, e a felicidade que seu casamento trouxe, o amor por seu marido,
brilhava em seus olhos. A amarga decepção de Mayne (embora tivesse
vergonha de admitir) o impediu de ter o tipo de relacionamento alegre que
tinha com a maioria das damas da sociedade com quem dormiu.
Claro, essa vida era coisa do passado. Sylvie era virgem, inocente no
que dizia respeito ao corpo, embora tivesse uma abordagem francesa prática
para os assuntos do quarto. A verdade era que ela disse a ele com seu
charmoso sotaque francês que duvidava que pudesse fazê-lo feliz na cama.
Um leve sorriso então apareceu na boca de Mayne. Essas eram palavras
ingênuas, embora fosse difícil usar essa palavra para se referir a sua
namorada sofisticada e elegante.
Então ele olhou para a curva do rosto de Sylvie, seu queixo pontudo, os
dedos delgados que seguravam o livro de orações, e foi inundado por uma
onda de alegria. Claro que ela o faria feliz. A garota tinha tão pouca
experiência e contato com o desejo que nada sabia sobre isso. Por alguma
razão obscura, sua inocência o deixava feliz.
As mulheres sempre caíram em seus braços com uma facilidade
preocupante, levando seus lábios aos dele, antes que ele pedisse tal
privilégio. Os olhos ávidos das mulheres o perseguiram pela sala antes que
ele soubesse seus nomes. Mas Sylvie teve que ser apresentada a ele três
vezes. Ela sempre esquecia seu nome. Eles nunca haviam se beijado
apaixonadamente, nem mesmo depois de formalizar o noivado. Ela tinha
um grande senso de decoro. Não que ele desejasse beijá-la até deixá-la sem
palavras.
Mas, ele desejava.
No entanto, ninguém iria querer que Sylvie ficasse em silêncio. O fluxo
de sua conversa encantadora e divertida trazia vida a quem desfrutava desse
prazer. Além do mais, uma vez que a tivesse em sua cama, já casada, ele
podia imaginar seus comentários radiantes durante a noite, quando lhe
ensinasse, lenta e ternamente, todas as delícias que uma mulher
experimenta nos braços de um homem.
— Irônico, não é? — Havia comentado com Rafe na noite anterior—.
Aqui estou eu, com minha reputação ...
— Aqui está você, criado pelo diabo para enganar maridos incautos—,
Rafe interrompeu.
— Com minha reputação—, repetiu Mayne—, e Sylvie de la Broderie
concorda em se casar comigo.
— Uma deusa casta, uma joia de qualquer ângulo que a olhe. Isso não
deveria lhe importar, porque você nunca se importou com a reputação de
uma mulher.
Mayne de repente se lembrou que a noiva de Rafe, Imogen, dificilmente
poderia ser considerada como tendo a fama de uma pomba branca como a
neve—. Não me importo. Mas, encontro um certo prazer cínico no fato de a
reputação de Sylvie ser tão irrepreensível.
— Suspeito que todos em Londres compartilham de sua perplexidade.
Ou eles deveriam compartilhar, se você não fosse tão diabolicamente
bonito.
— Sylvie não é uma mulher que se deixa influenciar por qualidades tão
sem importância.
— Graças a Deus, acontece o mesmo com Imogen—, Rafe respondeu
então, fazendo uma cara engraçada.
— Você não está tão ruim. Agora que perdeu sua barriga.
— Eu nunca vou ser um homem elegante. Enquanto que você sempre
terá dessa qualidade, Mayne. Acho que é por isso que ela escolheu você,
porque parece um francês.
Mayne abriu a boca para protestar - com certeza Sylvie o amava por seu
caráter, por sua ternura por ela, por sua paixão, sempre contida -, mas
engoliu as palavras. Sylvie era sua. Ele se ajoelhou diante dela e ofereceu-
lhe um anel de esmeralda que pertencera à família dele por várias gerações
... E ela disse que sim.
Sim!
Ele não precisava exibir o afeto de Sylvie por ele, nem mesmo na frente
de seu amigo mais próximo. Era melhor que essas emoções fossem
guardadas, sem serem exibidas. Sylvie era uma aristocrata da cabeça aos
pés, da ponta dos dedos delicados enluvados aos preciosos saltos dos
sapatos. A filha do Marquês de Caribas, que felizmente escapou do
massacre em Paris com sua fortuna intacta, jamais insultaria a si mesma
ouvindo mexericos mais ou menos bem-intencionados. Ele a amava e ela
sabia disso.
A jovem aceitou, com uma leve inclinação da cabeça, como algo que
naturalmente lhe pertencia.
E ele ... ele estava quase com medo que o que ele sentia fosse além do
amor. Ele estava tremendo simplesmente por estar ao lado dela; ele
entediava seus amigos falando sobre a garota sempre que ela não estava por
perto; ele se via olhando para ela onde quer que ela estivesse.
Como se sentisse os olhos do noivo em seu rosto, ela ergueu os olhos e
sorriu. Esse rosto era um triângulo perfeito, desde as sobrancelhas
delicadamente arqueadas até as maçãs do rosto salientes. Não havia nada de
supérfluo nela, nada extravagante, nada que não fosse elegante.
— Pare de me olhar assim! — Ela sussurrou em seu charmoso sotaque
francês—. Você me faz sentir estranha.
Mayne deu um grande sorriso para ela.
— Bom—, disse ele, inclinando-se para que sua respiração chegasse ao
ouvido dela—. Eu quero que você se sinta muito estranha.
Ela franziu a testa ligeiramente, olhando para ele com desaprovação, e
voltou ao seu livro de orações.
No altar, Imogen olhou para Rafe e foi claramente ouvida. “Sim.” O
alívio era óbvio em cada linha do corpo de Rafe. Ele abaixou a cabeça e
beijou sua noiva, ignorando o bispo, que ainda estava lendo seu livro de
orações. Mayne deu um grande sorriso. Isso era tão típico de Rafe; até o
último momento ele estava preocupado que Imogen percebesse o mau
negócio que estava fazendo ao casar-se com ele.
— Por que ela deveria se casar comigo? — Perguntou ao amigo na noite
anterior—. Meu Deus, preciso de uma bebida para recuperar as forças em
momentos como este.
— Mas você não vai beber—, disse Mayne—. Normalmente, eu diria
que ela está cega e desesperada. Mas como ela não mostra sinais de doença
e claramente não está desesperada, sendo uma das jovens viúvas mais ricas
da sociedade, sem falar em sua beleza, só posso concluir que ela perdeu a
cabeça.
Rafe o ignorou.
— Ela diz ...— A emoção crua presente em seus olhos pegou Mayne de
surpresa. —... ela diz que me ama.
— Como eu disse, ela está louca—, Mayne confirmou, instintivamente
tentando tornar a conversa mais leve—. Talvez, esteja se casando com você
pelo título. Ela quer ser uma duquesa. Além do mais—, acrescentou,
entusiasmado com a tarefa—, tenho certeza que Imogen me disse isso
claramente. Eu não estive perto de me casar com ela em algum momento?
Claro, ser uma duquesa é melhor do que ser uma condessa.
— Quanto menos falarmos sobre você e Imogen, melhor—, Rafe
rosnou, um tom de aviso profundo em sua voz.
Mas isso precisava ser discutido de forma clara antes do casamento.
— Nós nem sequer conseguimos nos beijar, quero dizer, beijos de
verdade—, disse ele a Rafe, ignorando sua ameaça velada. — Eu a beijei
duas vezes, apenas para fazê-la ver que nosso relacionamento era apenas
morno.
— Eu deveria matar você por esses dois beijos—. Havia uma
assustadora e perigosa vibração na voz de Rafe.
— Ela não gostava dos beijos. E, nem eu.
— Você é um desgraçado. Eu sei bem que se enredou com todas as
minhas pupilas. Você estava noivo de Tess e a deixou plantada no altar ...
— Não foi minha culpa! — Mayne interrompeu—. Você sabe
perfeitamente que Felton me pediu para que a abandonasse...
— Abandonou uma de minhas pupilas e beijou a outra duas vezes ...
— Eu não tive nada a ver com Annabel—, Mayne disse rapidamente—.
Nem com Josie também.
— Bem, com referência a este assunto—, disse Rafe. — Eu quero que
você me ajude com Josie. Mas, não a ver com suas confusões habituais.
— Eu sou quase um homem casado. — Pelo menos, seria, assim que
pudesse persuadir Sylvie a marcar uma data.
— Josie está achando difícil o mercado de casamento. E, as coisas vão
ficar mais difíceis quando Imogen e eu partirmos em nossa viagem de
casamento.
— O que está acontecendo com ela? — Mayne ficou realmente surpreso
—. Imaginei que ela seria avassaladora, que teria os pretendentes que
quisesse: ela é inteligente, espirituosa e danada de bonita. Além disso, você
e Felton não deram a ela um dote, e mais o cavalo deixado por seu pai?
— Ela fez inimizade com alguns dos habitantes da cidade de Ardmore,
Escócia, um par de inúteis chamados Crogan. Aparentemente, um deles a
estava cortejando, certamente pelo dote, não por ela. Bem, assim que ela
descobriu a verdade, ela ... ela ...
— Ela o quê? — Mayne perguntou, tentando imaginar Josephine Essex
ficando violenta. — Bateu nele?
— Ela deu a ele uma dose de um remédio para cólicas em cavalos—,
explicou Rafe em uma voz monótona.
— Cólica em cavalos? Suco de cólica do Dr. Burberry?
— Ao que parece, foi algo criado por ela mesma. Pare de rir, Mayne! O
rapaz ficou perto da morte por uma semana, aparentemente, e perdeu mais
de doze quilos.
Mayne estava gritando de tanto rir. — Essa é a Josie! Eu contei para
você sobre a vez em que ela providenciou para que Annabel fosse atirada de
um cavalo para que Ardmore pudesse resgatá-la?
— Aparentemente, esse Crogan era um idiota. Josie diz que ele deveria
ser grato pelo programa de emagrecimento.
— Você liberou uma envenenadora sobre a inocente população
masculina de Londres—, disse Mayne com prazer. — Se ela não gosta de
um de seus pretendentes ...— Ele estalou os dedos.
— Crogan disse que não se sentia atraído por ela porque ela era muito
gorda.
— Gorda?
— Bem, ela tem uma contorno generoso.
— E, daí?
— Crogan se vingou. Escreveu a vários de seus amigos. Sem dizer coisa
alguma sobre o remédio para cólicas; nenhum homem quer confessar que
perdeu doze quilos porque ficou dias sem poder sair da privada. Ele a
chamou de salsicha escocesa de primeira qualidade.
Os lábios de Mayne se contraíram e todo impulso de rir desapareceu. —
Repulsivo. Mas, quem prestaria atenção à opinião de um fazendeiro
escocês?
— Ele foi mandado para a escola de Rugby.
— Darlington! — Mayne disse.
— Precisamente. Darlington. Aparentemente, Crogan era um garoto
popular.
— Isso é muito azar.
— O problema é a inteligência de Darlington.
— Darlington se limita apenas a fofocas sexuais, de maneira geral.
Certamente Josie não se meteu nesse tipo de problema, não é? Mas, ela está
na temporada social só há algumas semanas.
— Já estamos na temporada há um mês e meio—, explicou Rafe—.
Você nem percebeu.
— Sylvie odeia ficar entediada, e temo que Almack's seja entediante.
— Josie não causou um escândalo. Mas, Darlington lançou uma onda de
boatos insidiosos em nome de seu amigo desprezível Crogan, apostando nos
livros de White e dizendo que o homem que se casar com Josie será um fã
de porcos.
Mayne murmurou algo ininteligível.
— Homens normais não prestaram atenção ao assunto, é claro. Mas, os
jovens tendem a ser bastante seletivos na hora de escolher uma
companheira, e há um grupo irritante deles observando qualquer um que
dance com Josie, apenas para rir. A verdade é que ela perdeu os jovens da
sua idade, aqueles que deveriam estar cortejando-a.
— Dê-me seus nomes—, disse Mayne entre os dentes cerrados. Ele
havia passado tanto tempo com as irmãs Essex nos últimos dois anos que se
sentia como se fossem suas próprias pupilas. Ou, suas próprias irmãs.
— Se espalhou antes mesmo de sabermos disso—, disse Rafe—. Se
Josie tivesse rido diante da curiosidade, ou se portado com dignidade, isso
teria desaparecido como fumaça. Mas ...
— Eles se voltaram contra ela—. Mayne já tinha visto esse tipo de coisa
acontecer antes.
— Ela é convidada para todos os lugares. Mas, ela não é convidada para
dançar e ela não tem pretendentes da sua idade. Não tenho dúvidas de que
há muitos homens que gostariam de conhecê-la melhor - como você diz, ela
é bonita e divertida – mas, eles não desafiam os olhos da alta sociedade.
— Tolos—, disse Mayne.
— Eu preciso da sua ajuda enquanto estamos fora.
— Isso não é tão simples como quando você me pediu para acompanhar
Imogen à Escócia. O que diabos eu posso fazer por Josie? — Sua voz era
áspera porque ele estava com raiva.
Só de pensar em alguém insultando Josie, com seus olhos brilhantes e
comentários curiosos e cínicos, ele ficou tão furioso que ficou sem fôlego.
— Seja amigo dela—, Rafe disse simplesmente—. Suas irmãs não
permitiram que ela fosse a lugar nenhum sozinha. Tess e Felton têm ido ao
Almack's todas as semanas. Annabel irá ao nosso baile de casamento,
embora seu bebê tenha apenas quatro meses. O marido dela me disse que
gostaria de voltar para a Escócia, mas que Annabel se recusa
terminantemente partir antes que a temporada termine.
— O próximo ano será diferente—, disse Mayne lentamente,
lembrando-se das muitas temporadas em que entrara e saíra dos bailes. — A
pária de um ano pode ser a bela do próximo. Por que diabos eu não sabia
nada sobre isso?
— Você esteve com sua adorável Sylvie.
— Sylvie pode ajudar Josie. Ela tem um ar francês de desdém que Josie
deve copiar.
— Você acha que as irmãs dela não tentaram ensiná-la a parecer mais
confiante? Imogen a treinou para manter o queixo erguido e não parecer
infeliz até que sentiu como se Josie estivesse sendo preparada para os
Fuzileiros Reais. Mas não está funcionando.
— Essas coisas nunca duram mais do que uma temporada. Lembra um
ano que todo mundo zombou de Wooly Breeder? Foi Darlington também.
Como se a pobre garota fosse a culpada por seu pai ganhar tanto dinheiro
com a criação de ovelhas. Na temporada seguinte ela voltou como se nada
tivesse acontecido e as pessoas já estavam cansadas do jogo. Ela se casou
de forma muito adequada.
Rafe suspirou. — Eu estou lhe dizendo, Mayne, infelizmente eu não
posso esperar até que esta temporada termine. Nunca vi uma garota tão
triste. É o que basta para fazer você repensar a ideia de ter filhas.
— Tutelas são bem ruins, não são? — Disse Mayne com um sorriso.
A porta se abriu e Lucius Felton entrou, seguido pelo irmão de Rafe,
Gabriel. — Perdoe-nos por interromper—, Disse Lucius com sua usual
gravidade imperturbável—, mas Brinkley nos pediu para encontrar você.
— Chegou bem na hora—, disse Mayne. — Estou prestes a dar um
sermão em Rafe sobre as provações e tribulações da noite de núpcias. Faz
tanto tempo que o homem não vai para a cama que, infelizmente, eu temo
que ele tenha se esquecido do processo.
Lucien sorriu e se sentou. — De alguma forma, eu duvido disso.
— Assim como eu—, disse Gabe com uma risada incomum.
E, Mayne, olhando para Rafe e vendo o sorriso em seus olhos, chegou à
mesma conclusão.
Nem todos na Catedral de St. Paul sentiram a mesma mistura de
expectativa e afeto selvagem que o casamento do duque de Holbrook
inspirou em Mayne. Josie, por exemplo, não sentia nada além de uma
miséria abjeta. Mas desde o momento que soube que isto estava se tornando
um estilo de vida para ela, entendeu como seria totalmente desprezível
diminuir o prazer de sua irmã Imogen, então colou um sorriso no rosto.
Era um sorriso no qual estava ficando muito boa. Ela praticou no
espelho de casa. Ela curvou os cantos da boca até que seu lábio inferior
fizesse um beicinho. Sua boca era provavelmente sua melhor característica,
embora ela não tivesse dúvidas de que qualquer pessoa que a visse sorrindo
não pensaria em nada além de suas bochechas redondas.
Imogen, é claro, parecia absolutamente requintada. Das quatro irmãs,
Imogen se parecia mais com ela, de uma forma superficial. Ambas tinham
cabelos escuros e as mesmas sobrancelhas arqueadas, destinada a rir, sua
irmã Tess lhe dissera anos atrás. Mas, o rosto de Imogen era esguio e em
forma de coração, enquanto o dela era redondo e em formato de torta. Em
forma de torta.
Josie afastou o pensamento de sua mente. Tess disse que ela deveria
pensar em suas melhores características, mas para ser honesta, ela estava
cansada de pensar se ela tinha uma pele boa ou não, quando a única coisa
que ela realmente queria era ver alguns ossos se projetando sob a pele.
Imogen estava olhando para Rafe de uma forma que a deixou ainda mais
doente. Com ciúme.
Pelo menos ela era mulher o suficiente para admitir. Tess apertou sua
mão e Josie olhou para sua irmã mais velha. Seus olhos estavam cheios de
lágrimas. — Não é maravilhoso? — Tess sussurrou. — Imogen parece tão
feliz, finalmente.
Josie sentiu uma pontada de culpa. Claro, ela queria que Imogen fosse
feliz. A pobre Imogen passou por anos horríveis, depois de fugir e perder
seu jovem marido em poucas semanas. Josie inclinou as bordas de seu
sorriso ainda mais alto. — Claro—, ela sussurrou de volta. Lucius, o marido
de Tess, estava olhando para sua esposa com exatamente a mesma adoração
que Rafe olhava para Imogen.
Ela nem queria olhar direito, porque o conde de Ardmore sempre tinha
aquele olhar quando olhava para Annabel, mesmo quando Annabel cresceu
como um balão. Isso fez Josie gostar de Ardmore ainda mais do que antes:
ele parecia tão apaixonado por Annabel como sempre foi, embora o filho
pequeno de Annabel tivesse apenas alguns meses de idade e ela não tivesse
perdido todo o peso.
Pena que a maioria dos homens não era como ele.
Mas isso estava se transformando em um pensamento perigoso, do tipo
que leva às lágrimas, então Josie voltou a olhar para o altar. O bispo estava
demorando demais com o sermão, tagarelando sobre amor e perdão e
assuntos semelhantes. A importância do casamento como uma instituição
na qual o homem e a mulher se amam e se respeitam.
Pelo amor de Deus, Imogen e Rafe já haviam escolhido um ao outro.
Eles não precisaram da preleção. Mas o bispo vagava pela importância do
casamento como uma instituição que contempla a harmonia na família e no
lar.
Eu me casaria com qualquer um, Josie pensou desesperadamente.
Pensar no livrinho que ela havia criado cuidadosamente nos últimos dois
anos, uma lista de todas as maneiras pelas quais as heroínas nos romances
faziam seus admiradores pedirem suas mãos em casamento, a deixava
doente agora. A realidade era muito pior que ela imaginava. Ela não tinha
admiradores.
Ela nunca pensou que um homem seria ridicularizado se dançasse com
ela. Não que ela tivesse sido deixada ao lado da sala. Sua irmã mais velha,
Tess, se não Griselda e Imogen, nunca permitiria. Assim que foi devolvida
ao seu acompanhante, um amigo de um de seus cunhados se curvou diante
dela. Mas ela viu através deles. Eles estavam dançando com ela como um
favor e, embora ela gostasse bastante de alguns deles, eles eram velhos.
Eles eram engraçados e elogiosos, e um deles - o Barão Sibble - parecia até
gostar dela por si mesma. Ele pediu a ela duas danças em cada evento, e
mesmo Tess não poderia ter exigido um favor tão dedicado.
— Rapazes são idiotas—, Lucius Felton disse a ela no caminho para
casa depois de seu primeiro baile, quando nenhum homem da sua idade a
convidou para dançar—. Eu era um bobalhão, quando jovem.
— Como assim? — perguntou, soluçando tanto que mal conseguia falar.
Houve um momento de silêncio—. Na realidade, eu nunca gostei de
nada disso—, disse ele finalmente. — Mas, Josie, os jovens são como
ovelhas. Eles seguem o exemplo um do outro. Provavelmente havia jovens
na sala esta noite que teriam convidado você para dançar, mas eles não
conseguem enfrentar a opinião alheia.
— Eu simplesmente não entendo por que isso aconteceu—, ela
sussurrou, com o coração partido.
— É Darlington—, Lucius disse a ela—. Infelizmente, ele está ditando a
moda nesta temporada.
— Por que ele se importaria comigo? — ela chorou, do fundo de seu
coração—. Eu nunca o conheci, não é? Eu o conheço?
— Talvez seja porque ele é inglês e você é escocesa. Alguns ingleses se
ressentem pelo fato de suas irmãs terem feito excelentes casamentos com
aristocratas ingleses.
— Isso... não é minha culpa! — Protestou Josie, como todo acusado
injustamente.
— Você não é a única—, acrescentou ele suavemente. — Cecilia
Bellingworth terá dificuldade em abafar o rótulo de Silly Billy, e isso é
apenas devido ao infortúnio irmão dela não muito certo da cabeça.
Darlington não criou esse apelido; Eu não tenho certeza de quem fez. Mas
quem terá coragem suficiente para se casar com ela?
— Prefiro ser boba do que gorda—, disse Josie categoricamente.
— Não, você não prefere—, disse Lucius—. E, você não é gorda, Josie.
Mas, Lucius Felton não tinha ideia do profundo desejo que Josie sentia
de ser magra. Dançar no salão de baile, vestida com um traje diáfano,
amarrado com fitas frágeis sob os seios e flutuando ao seu redor como uma
nuvem de seda clara ... O mundo inteiro podia ver que a Senhorita Mary
Ogilby nunca usou espartilho e por que deveria? Ela era esguia como um
junco. Mas, Josie usava um espartilho. Se pudesse, ela usaria três
espartilhos, um em cima do outro, se ao menos eles pudessem controlar
toda a carne que aparecia não importando para onde olhasse.
Não que ela olhasse.
Havia tirado o espelho de seu quarto meses atrás e sentiu que a vida
ficara melhor sem ele.
Nada de vestidos diáfanos para ela. A modiste de Imogen - a melhor de
Londres - assegurou que costuras e pences eram necessárias para que uma
forma agradável fosse definida. As palavras ficaram gravadas na memória
de Josie.
Bem, graças a essa modiste, ela tinha uma forma agradável, pelo menos
era o que pensava. Certamente havia muitas costuras. O vestido que ela
escolheu para o casamento de Imogen foi projetado para apertá-la e cobri-la
de todas as maneiras possíveis.
Josie voltou sua atenção para o altar. Finalmente, o bispo parecia estar
se encaminhando para o final da homilia.
Não que Imogen mostrasse qualquer sinal de prestar atenção. Estava
apenas olhando para Rafe, olhando para ele de um jeito que Josie realmente
ficou com um nó na garganta. Ao lado dela, Tess enxugava as lágrimas com
um lenço que seu marido devia ter lhe dado, já que tinha o dobro do
tamanho de sua mão. Josie cerrou os dentes. Se ela chorasse, não haveria
ninguém para lhe oferecer um lenço.
Seus olhos ficariam vermelhos.
Eles inchariam e sua pele ficaria manchada.
Eles ...
Rafe se abaixou, segurou o rosto de sua nova esposa com as mãos e
disse baixinho, mas para que Josie pudesse ouvi-lo claramente de onde
estavam na primeira fileira, — Toda minha vida, Imogen.
Afinal, Lucius Felton possuía dois lenços, que eram iguaizinhos a ele.
Capítulo 03
Do Conde de Hellgate, Capítulo Primeiro
(...) Ela tirou as meias com a maior delicadeza imaginável, caro leitor.
Fiquei paralisado com a visão de seu tornozelo, esguio, requintado. Em um
momento precipitado, coloquei meu coração - e meus lábios - a seus pés e
adorei aquela parte querida de seu corpo como ela claramente merecia ...

Festa de casamento do duque de Holbrook


15 Grosvenor Square
Lorde Charles Darlington estava se sentindo bastante soturno. Não
havia dúvida que a vida era difícil quando as gravatas eram tão caras e a
alta sociedade tão cansativa. Claro, havia prazeres na vida, embora
pequenos.
O prazer de uma réplica bem feita era um deles. Alguém poderia pensar
que Darlington era uma espécie de monstro, mas ele não era. Ele sabia
muito bem que era uma pessoa trivial e nunca deixava de reconhecer
prontamente o fato, assim como seus amigos.
— Você está excessivamente entediante esta noite—, observou Berwick.
— Nesse ritmo, seria quase mais interessante andar pela pista de dança,
ouvindo alguma garota rir ao me ver.— As meninas costumavam cair em
uma gargalhada nervosa diante da beleza amuada de Berwick, embora sua
falta de fortuna o impedisse (na opinião de Darlington) de se tornar
estúpido.
— Se eu despertasse sua inteligência, seria um mau uso de recursos
preciosos—, replicou Darlington. —Você acha que alguém sabe que
estamos aqui?
Berwick olhou ao redor da pista de dança lotada. — Sem chance disso.
O mordomo de Holbrook praticamente sussurrou nossos nomes - isto é, os
nomes que demos a ele.
Wisley e Thurman trotaram até eles como pequenos spaniels ansiosos.
— Por Deus, você entrou, Darlington! — Thurman berrou. — Apostei com
Wisley cinco guinéus que você não conseguiria ser convidado para a festa
de casamento de Holbrook.
Darlington preferiu não mencionar que não havia recebido convite. Foi
a primeira vez que ele foi cortado de um evento importante. Droga, ele era
filho de um duque, embora fosse o terceiro filho. Por que sua mãe tinha que
continuar produzindo machos quando não havia propriedade para mantê-
los, ele não sabia.
Mas agora ele ajustou descuidadamente a linha de seu casaco (uma lã
superfina rosa pálido que ele achou imensamente reconfortante para os
olhos) e disse: —Claro que tenho um convite, seu idiota.
Ele também tinha um convite dirigido a um de seus irmãos.
— Bem, ela está aqui—, disse Thurman alegremente. — A salsicha
escocesa. Exceto que estou pensando que deveríamos inventar um novo
nome. Que tal caçarola escocesa? Você gosta disso, hein? — Sorriu.
— O quê? — Darlington disse, um tom áspero em sua voz.
— Caçarola Escocesa! Pensei nisso no meio da noite. Eu não tinha
bebido meu chocolate antes de dormir, você vê, e não conseguia dormir, e
estava pensando sobre que giro inteligente da língua você deu, e aí estava!
Veio a mim durante a noite, como - como aquele escrito na parede de que
falam na Bíblia.
—Thurman, você é um idiota absoluto—, disse Berwick.
Thurman pareceu ligeiramente ofendido. Ele era uma linguiça inglesa,
se é que a linguiça vinha em um formato peculiar de sino. Ele tinha uma
covinha no queixo duplo e olhos azuis pequenos e brilhantes. Ele foi
chamado de idiota tantas vezes que provavelmente considerou isso um
elogio.
—Você não acha que não tem o estilo de Darlington? — Perguntou. —
Ele está me contagiando. Toda aquela inteligência, quero dizer.
Darlington se virou. Ele ficaria muito feliz em não voltar a ver
Thurman, se ao menos não precisasse de uma audiência. Era honesto o
suficiente para saber isso sobre si mesmo.
—Vamos ver o que ela está vestindo esta noite—, persistiu Thurman. —
Você sabe que todos os rapazes em Convent vão perguntar.
—Minha esposa me disse que se ela ouvir falar de mim em Convent
novamente, ficarei impedido de chegar perto dela, — disse Wisley, falando
pela primeira vez. Era um homem esguio, com uma boca descontente
traçada por um leve bigode que nunca ficava nem grosso nem fino. Todos
haviam participado do Rugby juntos e, dos quatro, Wisley havia feito o
melhor. Ele havia se casado por dinheiro, e até mesmo Thurman, que tinha
mais dinheiro do que precisava, admitiu que Wisley havia nascido com
sorte. Sua noiva era muito bonita; apenas o mais severo dos críticos notaria
que suas sobrancelhas se juntavam no meio. Ou, que sua pele era oliva.
Darlington, que era o mais severo dos críticos, manteve sua opinião para si
mesmo.
— Qual das duas seria a maior tragédia? — perguntou. —Ser afastado
de sua esposa ou de Convent?
— É como aqueles jogos antigos em que há duas portas e uma delas
conduz a um leão—, comentou Berwick.
— Não é o que parece—, contradisse Wisley languidamente. — Minha
esposa não é uma leoa, e o Convent, embora seja um bar perfeitamente
respeitável, está ficando um pouco chato.
Darlington fixou seu olhar em Wisley. A menos que ele estivesse muito
errado, a esposa de Wisley o estava afastando do grupo. Ele sabia muito
bem que ela não gostava dele. Cada vez que o via, seu rosto assumia uma
expressão fechada e calma, que revelava um ódio profundo.
Ele provavelmente deveria deixar Wisley livre para seguir uma vida
doméstica que acabaria atrofiando seu cérebro.
—Bem, eu nunca deixaria o Convent por uma esposa—, disse Thurman.
— Sua esposa, se algum dia você tiver uma, certamente vai pagar uma
subvenção ao bar para mantê-lo ocupado e tolerá-lo o menos possível—,
Berwick observou sarcasticamente.
— Minha esposa vai me adorar loucamente—, respondeu Thurman,
pela primeira vez em um tom verdadeiramente altivo.
O pior foi que Darlington percebeu que ele acreditava nisso. O que
estava fazendo com um bando de idiotas como aquele?
Berwick encolheu os ombros.
— O assunto é enfadonho, mas eu o advirto, Thurman, que pela minha
experiência, as únicas mulheres que se deixam levar por uma adoração
louca, dirigida a outra pessoa que não a si mesmas, é claro, são as vulgares,
para não dizer estúpidas.
— Eu poderia fazer qualquer mulher me adorar! — Thurman disse em
um tom estridente. — Tudo depende de como as tratamos.
— Mas as mulheres são monstruosamente atraídas pela beleza—,
Berwick apontou suavemente.
Darlington achou que era hora de intervir. Seu pequeno círculo
cuidadosamente construído estava desintegrando ao seu redor.
—Isso vale para mulheres perversas—, observou Thurman. —Mas as
boas mulheres, aquelas com quem se deve casar, estão mais interessadas em
transações comerciais.
Isso, Darlington percebeu, foi algo que ele dissera uma vez.
— Eu prefiro as malvadas—, disse, então. —É muito mais interessante
conversar com elas.
— Mas você não pode se casar com alguém cuja conversa seja
interessante—, observou Thurman corretamente. — E, vamos concordar,
Darlington, que é preciso se casar.
Darlington suspirou. O que ele disse era uma grande verdade. Nem que
fosse para evitar um provável derrame de seu pai, devia pensar em casar-se
agora.
Thurman nunca sabia quando calar a boca, então continuou. — Eu
realmente pensei que você não seria convidado esta noite, e você sabe, se as
irmãs Essex o excluíssem, você teria muita dificuldade em encontrar seu
caminho de volta à sociedade. Essas mulheres deixaram a Escócia,
desceram até a Inglaterra como um enxame de gafanhotos e casaram com
todos os títulos disponíveis no mercado.
Berwick franziu o cenho para ele. — Fale baixo, seu burro. Você está
em um baile de casamento de uma delas.
— Ninguém está ouvindo—, disse Thurman, olhando ao redor. O salão
de baile da casa do duque de Holbrook tinha tetos tão altos que até mesmo a
conversa de centenas de membros superexcitados da alta sociedade
simplesmente flutuava para cima e resultava em um zumbido agradável. A
orquestra em uma extremidade parecia o zumbido fraco de abelhas em uma
caixa.
— Suponho que devo encontrar uma esposa—, disse Darlington,
sentindo-se inefavelmente deprimido.
— Com toda certeza, eu pretendo—, disse Thurman. —Exijo beleza,
um dote suficiente e uma disposição dócil.
— Ah, e uma reputação impecável. Afinal, eu trago o mesmo para ela.
— Que mulher afortunada ela será, — disse Berwick. —E, você,
Darlington? O que você vai querer?
— Uma visão sensata da vida, — Darlington disse categoricamente. —
Isso, e muito dinheiro. Eu sou muito caro.
— Podemos nos encontrar em uma hora ou mais e trocar informações?
— Berwick disse, algo como um sorriso genuíno iluminando seus olhos. —
Devo dizer que tudo isto me diverte muito.
— Você vai procurar uma esposa também? — perguntou Thurman.
— Eu acredito que não—, Berwick respondeu. —Eu estava à beira
dessa decisão, mas felizmente fui libertado da penúria na hora certa. E
todos sabem que a penúria é o passo final antes do casamento.
— Então você conseguiu dinheiro de algum lugar, não é? — Disse
Thurman. —É por isso que você esteve fora da cidade por quinze dias? Seu
pai morreu? Devo confessar que não ouvi nada sobre isso. Sem contar que
você não está de preto.
— Repare melhor, — disse Berwick. — Eu tenho uma braçadeira preta,
embora em um tom encantador de roxo. Minha adorada e desprezível tia
Augusta sucumbiu a algum tipo de doença, enquanto estava em Bath.
Naturalmente, ela deixou todo o seu dinheiro para o seu querido sobrinho.
Darlington se sentiu ainda mais deprimido, mas esforçou-se para
felicitar Berwick adequadamente pelos prazeres da estabilidade financeira.
Infelizmente, não havia tias, odiosas ou adoradas, em sua árvore
genealógica.
E, mesmo que houvesse, ele era o menos provável para ser escolhido
como herdeiro; seus irmãos eram todos bem mais respeitáveis, em
comparação.
Os olhinhos azuis de Thurman brilhavam enquanto ele taxava Berwick
sobre sua renda. Então Darlington percebeu que em algum momento Wisley
havia escapulido sem um adeus, provavelmente para o lado de sua esposa.
Ele não voltaria para o Convent naquela noite, ou nunca mais. Darlington
sabia disso.
Os dias do pequeno círculo de amigos de Rugby chegaram ao fim.
Wisley havia partido. Berwick era rico e Darlington não suportava a ideia
de Berwick pagando a conta de uma taberna. Thurman era um idiota, mas
Berwick não.
Se ele não mudasse seus hábitos, ele terminaria com Thurman para
devolver suas próprias piadas e refletir sobre seu mau humor.
Darlington estremeceu levemente. — A busca começou, senhores—,
disse ele. — Esposas!
Thurman e Berwick pararam de falar sobre canalização de valores
econômicos, no meio da frase. Berwick ergueu uma sobrancelha. — A
temporada ficou muito mais interessante—, disse suavemente.
— Espero escolher a esposa certa até o final da noite, — disse Thurman.
— Pode demorar um pouco mais—, disse Darlington. —Tenho grande
dificuldade em escolher gravatas em algumas noites. Se eu temo cometer
erros na escolha de uma gravata rosa versus amarela, quem sabe como será
difícil escolher uma esposa?
— As esposas são como gravatas, você deve limitar-se ao valor de
mercado e tomar sua decisão de acordo, — disse Berwick. —Não são
muitas mulheres que podem mantê-lo adequadamente, de forma que você se
acostume.
— Maldição se você não for um magnata quando tiver trinta anos. Basta
continuar sendo esperto, Berwick—, disse Thurman.
Berwick sorriu.
— Você já é um magnata! — Thurman engasgou.
— Ahhh, minha querida tia Augusta—, disse Berwick, seu sorriso
inexpressivo de costume um pouco mais vívido. — Aparentemente,
ninguém tinha ideia do quão interessada ela estava em todas aquelas
indústrias do norte. Ela financiou uma mina de carvão inteira. Disse que
gostou da cor preta brilhante dos minérios.
— Meu Deus, assim que a notícia vazar, você será o assunto da alta
sociedade. O sonho de toda mamãe. — disse Thurman.
Darlington fez o que tinha que ser feito, o que tinha que ser feito por
qualquer homem cujo amigo foi subitamente elevado aos níveis mais altos
da sociedade, ou pelo menos o mais alto que se pode chegar sem descobrir a
nobreza na árvore genealógica. Deu um tapa nas costas de Berwick,
enquanto engolia sua raiva. E, então: — Há algum tempo venho pensando
que devemos cancelar nossas pequenas reuniões no Convent.
Thurman ficou boquiaberto e a sobrancelha de Berwick ergueu-se
rapidamente, com genuíno assombro.
— Toda essa coisa da “Salshicha escocesa” está ficando tediosa.
Começo a ter pensamentos morais, o que indica que estou ficando estúpido
na minha velhice.
— Você não é velho, — disse Thurman.
— Eu não deveria ter feito isso—, disse Darlington. —Não foi
inteligente quanto “Wooly Breeder”, embora sabe Deus que eu também não
deveria ter feito isso. Agora, não posso acreditar que fiz algo motivado por
Crogan, que deve ser um dos tolos mais repulsivos do mundo. Na verdade,
fiz isso pelo prazer de arrastar todos os homens estúpidos que se dizem
cavalheiros, e que eu me dane se não me tornei tão estúpido quanto o pior
de todos.
— Estúpido? Todo mundo sabe que somos os espertos, — cuspiu
Thurman.
Darlington não sabia por que passara tanto tempo com semelhante
cretino.
Berwick era tão inteligente quanto eles, e não mostrou um lampejo de
emoção com a separação repentina de seus amigos de infância. Ele se
curvou, tão elegantemente quanto qualquer magnata. — Foi um prazer, —
disse ele, com uma marcada falta de interesse em sua voz.
Eles se uniram por capricho e parecia que se separariam com pouca
cerimônia, anos depois. Darlington acenou com a cabeça para ele e acenou
para Thurman.
Virou-se e caminhou alguns metros antes de lançar-se com afinco em
busca de uma esposa. Mas o que ele realmente queria não era dinheiro, uma
mulher solteira tão rica quanto a tia Augusta de Berwick.
Ele queria inteligência. Alguém que fosse divertido e falasse com ele,
em vez de refletir sobre suas próprias piadas tolas. Era uma pena que a
tarefa de encontrar alguém assim parecesse hercúlea.
Deixou atrás de si um punhado de homens estupefatos.
— Dane-se se ele não quis dizer isso, — disse Berwick. —Acho que ele
pretende se casar. — E, então, após um momento de contemplação, —Pobre
coitado.
— Talvez ele aceite a “salsicha escocesa”, disse Thurman, em um tom
áspero demonstrando que não estava satisfeito em perder o homem que lhe
pagara tantas bebidas. — Até onde se sabe, ela pode pagar suas contas da
taberna, aliás todas as contas.
— O cunhado dela é tão rico quanto Creso, — disse Berwick.
— Embora não seja ela que vai olhar na direção dele, — disse Thurman.
“A Salsicha” não poderá se casar até a próxima temporada. Lembra da
“Wooly Breeder”?
Berwick encolheu os ombros. A verdade era que, embora um ano atrás
ele não tivesse nenhuma chance de um bom casamento, agora se tornara um
candidato favorito. E ele não queria que suas chances de conseguir a melhor
fossem prejudicadas por qualquer coisa desagradável resultante de sua
zombaria da Salsicha Escocesa.
— Você acha que ele realmente quis dizer que não vai ao Convent esta
noite? — Perguntou Thurman.
Berwick olhou para ele. Às vezes, a estupidez do homem era realmente
surpreendente. — Ele nos largou, seu idiota.
— O que?
— Ele nos largou. Darlington. Ele se foi e não vai voltar para o
Convent. Vai encontrar uma esposa rica, suponho, ou fará com que seu pai
lhe compre algum privilégio. Seja o que for, ele acabou de nos abandonar.
Thurman ficou boquiaberto. — Ele se despediu porque vai procurar
uma esposa. Todos nos encontraremos em algumas horas e discutiremos
como nos saímos.
A boca de Berwick se curvou. — Ele se foi. Wisley foi o primeiro; ele
simplesmente não teve o bom gosto de não comentar sobre isso.
— Wisley? — Thurman olhou em volta desesperadamente, como se o
homem estivesse parado em silêncio em seu ombro. Então ele se voltou
para Berwick, piscando rapidamente. — Isto é um absurdo. Todos nos
encontraremos no convent esta noite, ou amanhã, e chega dessa bobagem.
Sempre nos encontramos no Convent.
Berwick não estaria lá, mas ele não via nenhum motivo para discutir
sobre isso.
— Vamos procurar a “salsicha”, — pediu Thurman. —Tenho certeza
que o vestido dela está explodindo pelas costuras de emoção por causa do
casamento de sua irmã.
Berwick encolheu os ombros novamente. —Tudo bem.
Particularmente, ele achava todo aquele assunto tedioso. Era Thurman
quem alimentava as fofocas, repetia incessantemente as pequenas coisas
desagradáveis sobre aquela garota escocesa. O resto deles realmente não se
importava, e Darlington até mesmo os lembrara do comportamento
repulsivo de Crogan na escola.
Mas eles fizeram isso, por falta de algo para fazer, ou qualquer outra
coisa mais interessante. E porque era uma sequência natural a “Wooly
Breeder”.
Toda essa corrente de pensamento deu a Berwick uma sensação
desagradável no estômago. Será que eles realmente haviam arruinado as
perspectivas de casamento de jovens mulheres?
Isto tudo era muito desagradável.
Ele caminhou atrás de Thurman, que não parava de dividir grupos de
pessoas com seu corpo imenso em busca da “salsicha escocesa”. Depois de
algum tempo, Berwick foi em direção oposta. Há momentos na vida de um
homem em que ele descobre que tem vergonha de si mesmo. Berwick já
sentira isso antes e não gostou.
Graças a Deus pela tia Augusta, disse a si mesmo.
Foi então que uma mulher de lábios apertados entrou na frente dele. —
Sr. Berwick—, disse ela, majestosamente—, Eu acredito que você se
lembre de mim. Eu era uma boa amiga de sua querida mãe.
Após um segundo de pânico frio, Berwick lembrou-se do nome dela. —
Lady Yarrow, é um prazer encontrá-la novamente.
Ela puxou uma garota magra e de aparência dispéptica de trás dela,
como um peixe na linha. — Minha filha, Amelia. Tenho certeza que você a
conheceu quando criança; na verdade, vocês provavelmente brincaram
juntos no gramado da Yarrow House quando sua mãe nos visitou para um
chá.
Berwick tinha certeza que isso nunca havia acontecido. Pelas poucas
lembranças de sua mãe, ele adivinhou que ela nunca pensaria em levar seu
segundo filho e portanto um inútil com ela para um compromisso social,
assim como nunca aceitaria entrar para um convento.
Amelia olhou para ele. Ele se curvou. E então, de repente, entendeu.
Foi assim que começou.
Capítulo 04
Creia-me, sei muito bem a angústia que esta história depravada e perversa
deve estar causando em você, querido leitor, mas meu confessor me
assegura que devo contá-la para que outros jovens pecadores não sigam
minha pegadas. Aquela duquesa – tão jovem em idade, tão velha em seus
vícios abriu uma porta que conduzia a uma espécie de lugar particular. Ali
me impôs a tarefa de convertê-la na mulher mais feliz da corte...

— Sob meu comando, a circulação deste jornal aumentou dez vezes—,


disse o Sr. Jessopp, com as costas tão rígidas de fúria que ele nem
conseguia sentir o cinto. — Não, — ele corrigiu-se. —Aumentou cem
vezes. Além do mais, melhorei o enfoque. Vinte anos atrás, este jornal, The
Tatler, tinha a reputação de recorrer a práticas investigativas desonestas, por
enviar seus homens para subornar mordomos. — Ele franziu o lábio para
deixar clara sua opinião sobre essas práticas.
— Bem, não que não haja muitos mordomos dispostos a aceitar
qualquer incentivo—, observou o Sr. Goffe. O parceiro de Jessopp estava
encostado na lareira, fumando um cachimbo.
— Não saio a procura deles—, explicando novamente, Jessopp
defendeu-se—. Eles vêm até mim. Essa é a diferença.
Goffe encolheu os ombros. — Sim, se é o que você diz.
— Eu descubro tudo o que acontece em Londres, especialmente na alta
sociedade.
Goffe tirou o cachimbo da boca. — Então revele quem é Hellgate, e
vamos acabar com a droga dessa discussão.
— Hellgate é Mayne, todo mundo sabe disso.
— A história pode muito bem se referir às façanhas de Mayne, — disse
Goffe. — Você tem que dar ao diabo o que lhe é devido. Mas nunca foi o
conde de Mayne quem se sentou e escreveu isso. Em primeiro, porque não
tem vocação para tanto. Em segundo, ele não precisa de dinheiro. Sem
contar que não é uma atitude cavalheiresca. Precisamos saber quem é o
autor dessas memórias!
O exemplar bem gasto das “Memórias” do Sr. Jessopp, com anotações
nas margens e frases sublinhadas, estava sobre a mesa. Não era a única
fonte de discórdia. Havia outra questão em que ele e seu parceiro
divergiam.
— Eu acredito que foi um cavalheiro que escreveu—, disse ele com
teimosia. — Eu li com isso em mente.
— Bem, se você conhece todos os feitos da alta sociedade, diga o nome
do homem—, disse Goffe. — Vá em frente.
Jessopp pensou no quanto odiava seu parceiro enquanto decidia como
responder. — Eu não sei ainda quem escreveu. Você sabe disso. Mas há
frases que só poderiam ter sido escritas por um cavalheiro. Mesmo aquela
parte sobre como ele nomeou todas as mulheres em homenagem a uma peça
de Shakespeare: esse não é o tipo de coisa que um homem comum sonharia.
— Precisamos saber com certeza—, disse Goffe—. Pelo amor de Deus,
não nos envolva em um processo judicial, mas precisamos de uma resposta,
Jessopp. Se os seus pequenos roedores regulares não lhe contaram...
Jessopp moveu-se em protesto instintivo contra essa denominação. Ele
tinha amplos círculos de amigos, que foram muito gentis para lhe dar
informações.
— Tanto faz—, Goffe disse a ele. — Seus amigos falharam com você
desta vez. Isso significa que precisamos voltar aos velhos tempos, se você
duvidar. Precisamos de uma cascavel, como costumávamos ter. Uma das
cascavéis do Tatler. É disso que precisamos.
Jessopp curvou o lábio. — Nós superamos aqueles dias. Agora as
pessoas vêm até nós. Deixamos esse tipo de corrupção furtiva para
tabloides escandalosos.
— Somos um tabloide escandaloso—, disse Goffe, impassível. — Além
do mais, somos um jornal sensacionalista que está deixando passar um dos
maiores escândalos do mundo. Se esse livro foi escrito por alguém da alta
sociedade, então essa é uma história que The Tatler precisa contar. Somos
donos da alta sociedade.
Jessopp não pôde deixar de ver a verdade disso.
— A alta sociedade tem o direito de saber quem está se escondendo por
trás do nome Hellgate, — continuou Goffe. — Mayne vai nos agradecer
quando descobrirmos a verdade sobre isso. Quem é depravado o suficiente
para pegar as meretrizes de outra pessoa e transformar o conto em um fólio
triplo, vendido em couro?
— Se o autor é um membro depravado da alta sociedade—, disse
Jessopp, — isso reduz o número de suspeitos para cerca de setecentos.
— Não é a maior história deste ano—, disse Goffe. — É a única história
do ano. Pegue todo o nosso orçamento, Jessopp. Basta conseguir esse nome
e rápido. Se alguém vazar a verdade sobre isso, estamos feitos. Eles nos
compram porque podem confiar em nós para denunciar a sujeira, por mais
que você queira chamá-la por nomes mais bonitos essa sujeira está pagando
pela nossa salsicha do café da manhã.
Jessopp estendeu a mão e enrolou os dedos em torno de sua cópia das
“Memórias de Hellgate”. — Você tem suas utilidades, Goffe—, ele disse
lentamente.
— Claro que sim, — disse Goffe, reacendendo o cachimbo.
Capítulo 05
Do Conde de Hellgate, Capítulo Dois
“Era um lugar pequeno, com espaço suficiente apenas para nós dois. Meu
coração afundou, pois não havia lugar para deitar. Um momento depois,
fui apresentado à doce arte de comer em pé. Ela enrolou as pernas em volta
de mim com toda a força e astúcia de um artista de circo. Minhas mãos
deram apoio a ela como se eu tivesse sido feito para a tarefa (e de fato,
acho que talvez tenha sido). Então ela me montou, caro leitor; ela me levou
aonde quis.”

O conde de Mayne caminhou até Josie como se a tivesse visto ontem,


embora ela já estivesse em Londres há dois meses e ele nunca se preocupou
em cumprimentá-la. Ela achou isso extremamente irritante.
Ele pode ter idade suficiente para ser seu irmão mais velho, mas não
precisava agir com o descuido de um irmão.
Ela resistiu ao impulso de mostrar a língua para ele. Havia limites para
o quanto ele provavelmente desejava ser um irmão mais velho.
— Senhorita Essex—, disse ele, curvando-se como se ela fosse a rainha.
Ela não perdeu tempo com amabilidades. — Você me chamou de
Josephine na viagem à Escócia, —ressaltou.
— Josie, é verdade. E, como você está?
— Tudo bem—, disse ela categoricamente. Ela gostava de Mayne e se
sentia magoada por ele nunca ter se importado em ver como ela estava, em
sua primeira temporada. Mesmo quando se tornou famosa ... ele deve ter
ouvido falar disso. — Você não vai me convidar para dançar? Porque
geralmente sua irmã Griselda tem pelo menos cinco homens arranjados que
são obrigados a me convidar para dançar.
— Ela deve ter esquecido de me dar a contraordem, — disse
despreocupadamente, entregando-lhe uma taça de champanhe. — Beba
isso, chérie. Parece que você está precisando.
— Por quê? — ela perguntou um pouco abruptamente. — Porque estou
aqui parada, no baile de casamento da minha irmã, esperando que comecem
as danças previamente combinadas? Porque estou...
— Porque você está ficando histérica—, observou. — Que interessante.
Nunca havia visto você histérica antes.
Ela respirou fundo. — Bem, sinto muito em dizer que sou uma
companhia extremamente tediosa.
— Todos nós somos quando estamos afundando na autopiedade—,
disse ele, sem um traço de simpatia na voz.
— Você não sabe como é.
— Graças a Deus não. Não há nada mais monótono do que o Almack
em uma noite quente de quarta-feira. Nada além de tolos suados e jovens
mulheres coradas perambulando de um lado para o outro envolvidas em
muitas fitas.
Josie não sabia por que queria que Mayne se importasse com o que ela
estava fazendo. Ele era um tolo, assim como o resto deles. Ela começou a
olhar em volta, porque se ele não fosse o seu parceiro de dança designado,
com certeza haveria outro velho idiota mancando em um instante. Mas
então ela se lembrou de algo. — Você está noivo, para se casar! Eu vi você
na igreja.
Seus olhos brilharam e por um momento Josie o perdoou por não se
importar com sua estreia. — Eu quero apresentar você a Sylvie. Estou
convencido de que você vai ficar encantada com ela—, e ele a pegou pelo
braço e começou a arrastá-la pelo salão de baile.
— Ela não é francesa? — Josie perguntou, recuando para que ele tivesse
que andar devagar. Qualquer coisa era melhor do que ficar parada
parecendo uma vaca abandonada por seu rebanho. — Sinto muito—, disse
ela, parando, — não me lembro do sobrenome dela. Eu não gostaria de
conhecê-la sem saber o nome dela.
— O nome dela é Sylvie de la Broderie.
Ela teve que sorrir com a maneira como Mayne falou. Ele era tão - tão
adoravelmente lindo, de uma forma meio francesa. Todo aquele cabelo
preto primorosamente penteado, caindo precisamente no estilo moderno de
varrido pelo vento. E maçãs do rosto com que feitas para serem cortadas.
Ela podia entender o motivo pelo qual Annabel e Tess quase brigaram sobre
quem iria se casar com ele. — Como é a senhorita Broderie?
— Ela é muito inteligente. Ela pinta retratos, em miniatura. São
excelentes. Ela tem a habilidade natural de uma artista, e seu pai lhe deu os
melhores tutores em Paris, pelo menos até que fugiram do país em 1803.
Seu pai ...
Ele continuou falando sobre aquele modelo perfeito de mulher que
descobriu, puxando-a novamente para o outro lado do salão. Ele falava do
mesmo jeito que Rafe falava de Imogen, o que deixou Josie irritada.
— Mas como ela é? — Josie disse, parando-o novamente.
— Aparência? — Ele piscou para ela. — Ela é linda, é claro.
— Claro—, disse Josie, pulando um pouco para acompanhá-lo. Ela
sabia tudo sobre a reputação de Mayne em seduzir mulheres bonitas.
Segundo a maioria dos relatos, ele teve cem casos, embora nenhum que
durasse mais de quinze dias. Sem falar que todo mundo dizia que ele era o
Conde de Hellgate.
Um momento depois, Josie estava fazendo reverência frente a Srta. De
la Broderie, e um pensamento se destacava em sua mente. Tudo em Sylvie
de la Broderie era exatamente como Josie mais desejava ser. Ela era magra,
é claro, e vestia um vestido que era claramente francês. Imogen insistia em
dizer a Josie que o segredo de um vestido estava no corte. Bem, o vestido
da Srta. De la Broderie não tinha costuras. Era feito de um material
transparente que descia por seu corpo e então balançava em torno de seus
dedos dos pés. Ao redor de seu seio havia requintados bordados em fios
prateados e dourados. Um belo cordão retorcido se ajustava sob seus seios e
caía por todo o comprimento de seu corpo.
Mas era o rosto dela que Josie ficava olhando. Mayne estava se casando
com uma mulher de rosto perfeito.
Era o rosto de todas as heroínas dos romances que Josie amava. Sylvie
tinha olhos enormes e uma boca risonha, e um lindo sinal logo acima de
seus lábios vermelhos. Ela parecia - bem, ela parecia totalmente confiante.
Por que ela não deveria ser?
Josie fez uma reverência, sentindo-se tão atarracada quanto uma tigela
de mingau passado.
— Estou encantada em conhecê-la—, disse a deusa com um arrebatador
sotaque francês. Mayne ficou ao lado dela com um olhar de adoração
impotente. Sem nem mesmo olhar para ele, a Senhorita Broderie acenou
com os dedos em sua direção e disse: — Mayne, chéri, deixe-nos, por favor.
Eu gostaria de conhecer a Srta. Essex.
E assim Mayne desapareceu.
Josie deve ter mostrado seu espanto no rosto, porque a Senhorita
Broderie de repente sorriu para ela. —Você acha que sou muito peremptória
com meu noivo, não é?
— Bem, claro que não—, disse Josie. — Isso é...
— Os homens devem ser tratados com a mesma cortesia com que se
trata um animal de fazenda bom e forte. Firme, mas gentil. Agora, minha
querida, ouvi tudo sobre seus infortúnios.
Josie engoliu em seco. Claro que ela tinha. Todo mundo tinha.
A Senhorita Broderie se inclinou e disse: — Vamos visitar o banheiro
feminino? Garanto a você, é o meu lugar favorito, e nesta casa há um lindo.
Josie piscou para ela. Por cima do ombro da Senhorita Broderie, ela viu
Timothy Arbuthnot avançando sobre elas. Timothy era um de seus parceiros
de dança mais fiéis; ela frequentemente se lembrava que seus quatro filhos
órfãos não o desqualificavam para o matrimônio. Embora sua falta de
cabelo, sim.
A Senhorita Broderie também deu uma olhada, e então, antes que Josie
sequer soubesse o que tinha acontecido, elas estavam entrando no banheiro
feminino. Josie nunca frequentara sozinha este lugar. Sabia o que acontecia
por lá. As senhoras se sentavam em cadeirinhas finas que a faziam sentir-se
um elefante e falavam sobre quem esperava uma proposta de casamento de
quem.
Quando não estavam fofocando, ficavam se olhando no espelho
enquanto empoavam o nariz ou arrumavam o cabelo, outra das atividades
menos favoritas de Josie, junto com serem ridicularizadas. Embora ela
tivesse que dizer que nenhuma das debutantes que ela conheceu foi rude
com ela e, na verdade, nem teria motivo para crueldade, já que ela não
representava ameaça às ambições matrimoniais delas.
Felizmente, não havia ninguém na sala de espera quando entraram, mas
um segundo depois a sorte de Josie acabou porque sua irmã Tess saiu do
privativo. — Josie, querida! — disse ela, dando um sorriso igualmente
grande para a Srta. Broderie.
Josie se sentou enquanto as duas faziam uma reverência e estudavam-se
mutuamente. Ela precisava conhecer o ritual. As mulheres se entreolharam
e então decidiriam rapidamente se consideravam-se dignas. Como Tess era
linda e casada com o segundo homem mais rico da Inglaterra, ela pensou
que seria aprovada na inspeção da senhorita Broderie. E, como a senhorita
Broderie era igualmente bonita e noiva de Mayne, era uma amizade feita no
céu.
— Tenho desejado conhecê-la em particular—, dizia a senhorita
Broderie. — Afinal, nós temos algumas coisa em comum, não é? Se não me
engano, você foi a única mulher que o conde de Mayne pediu em
casamento.
— Foi apenas questão de dias, — disse Tess, apressadamente. — Ele
não tinha intenção.
— Claro—, disse a senhorita Broderie. — Eu entendo completamente.
— Ela se sentou ao lado de Josie—. Por favor, Sra. Felton, não quer sentar-
se conosco? Acabei de conhecer sua linda irmãzinha.
Josie reprimiu um bufo. Ela não se olhou no espelho, mas sabia
exatamente o que veria lá: uma garota rígida e gorda com um rosto de lua.
A única coisa boa sobre ela era sua postura, e isso porque seu espartilho ia
do meio dos ombros até os quadris.
Tess se sentou e pegou a mão de Josie. — Nada me faria tão feliz
quanto sentar durante um momento com você. Quando falam sobre carregar
uma criança, ninguém menciona o quanto isso faz seus pés doerem!
E, agora elas começariam a tagarelar sobre bebês e coisas assim; afinal,
a senhorita Broderie provavelmente teria um filho assim que se casasse.
Deus sabe, Annabel ficou grávida em um mês. Porém, a senhorita Broderie
não parecia mais que educadamente interessada.
— Ouvi dizer que há alguns desconfortos envolvidos no... no processo,
— disse ela, acenando com a mão.
Josie não pôde deixar de rir.
— Eu falei incorretamente? — A senhorita Broderie perguntou.
— É encantadora, senhorita Broderie—, disse Josie rapidamente.
— Por favor, vocês duas devem me chamar de Sylvie. Afinal, vou me
casar com um homem que tem tantos ... laços ... com sua família—. Seus
olhos estavam brilhando—. Eu sou praticamente uma irmã Essex, vocês
concordam?
Tess riu disso e Josie riu abertamente.
— Você teria que ser escocesa em vez de francesa—, observou Tess.
Sylvie estremeceu. — Nunca. Eu sou a parte francesa do tronco perdido
de sua família.
— Da árvore genealógica—, disse Josie.
— Precisamente. E, como o ramo francês dessa árvore, proponho que
façamos algo sobre a situação infeliz de Josephine. Mayne me contou sobre
isso e...
Só assim, Josie parou de rir. Mayne havia falado sobre ela? Para Sylvie?
— Eu vi e ouvi coisas parecidas em Paris—, Sylvie estava dizendo. —
Foi há alguns anos, você entende, antes que papai ficasse desencantado com
todas as coisas desagradáveis que ocorreram ali ...— e com um aceno de
mão, ela se referiu aos problemas que presumivelmente tiraram a vida de
muitos de seus conhecidos.
Josie tinha que sair dali. Já era bastante ruim que suas irmãs e Griselda a
considerassem um caso lamentável e que seus cunhados lhe tivessem dado
um dote, apenas para atrair um marido. Isto tudo era... Demais.
— Sinto muito—, disse ela friamente, levantando-se da cadeira. —
Devo ter esquecido...
— Sente-se, por favor—, disse Sylvie. Sua voz tinha dez vezes a
autoridade da ex-governanta de Josie. — A vida é, você entende, jovem
Josephine, cheia dessas humilhações. Simplesmente amadureça. Você deve
aprender a conviver com elas, entendeu? Devolva tudo que esses idiotas
estão dizendo.
Tess obviamente caiu sob o feitiço do inimigo e puxou Josie de volta
para sua cadeira.
— Ela está certa. Toda a situação pode mudar em um piscar de olhos.
— Eu acordaria para me descobrir o melhor partido de toda Londres—,
disse Josie, ouvindo a desolação em sua voz e sem saber como escondê-la.
— Acho isso realmente difícil de acreditar.
— Acredito que a maioria das coisas na vida está sob nosso controle—,
disse Sylvie. — Agora, há algum homem em particular com quem você
gostaria de se casar, Josephine?
— Você também pode me chamar de Josie—, disse Josie sem graça. —
E... bem, eu só quero...
— Josie tem uma lista de qualidades de seu futuro esposo—, disse Tess
—. Você se lembra do que está na sua lista, querida?
— Porque devemos nos preocupar? Infelizmente, não precisamos
estreitar o campo de meus admiradores.
— Uma lista é uma ideia excelente. Eu mesma tinha essa lista quando
selecionei Mayne—, disse Sylvie.
— Sério? — Josie perguntou. — Posso perguntar o que estava na sua
lista?
— Muito dinheiro. Um título, porque nasci na nobreza francesa e é
tarde demais para não me importar com essas coisas. Afinal de contas, eu
considero importante.
— Você simpatiza com os revolucionários? — Josie perguntou com
certo fascínio.
— Meus sentimentos estão divididos. No início da revolução, meu pai
era jovem e idealista. Mudamo-nos para Paris e ele se tornou o ministro das
finanças de Napoleão. Mas então a corrupção ... o nepotismo ... fugimos
uma noite. Minha mãe nunca compartilhou das esperanças de meu pai. Ela
odiava os revolucionários, porque eles mataram da forma mais brutal
muitas pessoas que ela amava. Felizmente, meu pai viu para onde as coisas
estavam indo e nos trouxe para este país cerca de um ano antes de haver
guerra novamente. Mas é claro que muitas das pessoas que conhecíamos
não sobreviveram.
Tess fez um gesto de compreensão.
— As pessoas comiam pouco no antigo regime—, acrescentou Sylvie
com um movimento do corpo, ligeiramente francês, muito expressivo—.
Mas esse é um assunto triste e vai nos deixar com um humor mais sombrio
que merecemos.
Tess sorriu ao ouvir essas palavras.
— Então estamos em posição de fazer algo, certo?
— Claro! Aqueles idiotas que espalharam boatos sobre nossa Josephine
merecem passar por uma lição. Uma lição muito ruim, mesmo. Você os
conhece, Sra. Felton?
— Você deve me chamar de Tess, afinal, somos quase irmãs—, disse ela
com um sorriso malicioso. E, então, ela continuou falando sério novamente.
O nome do líder é Darlington, e ele nunca foi apresentado a mim, ou assim
eu acho. Entendo que seja o segundo ou terceiro filho, não me lembro qual,
do duque de Bedrock.
— O sobrenome de Bedrock é Darlington? — Sylvie quis saber. — Um
nome adorável para uma pessoa como esta.
— Eu o vi—, Josie relatou. — Ele é muito bonito, tem lindos cachos
loiros e lindos olhos azuis.
— Suponho que poderíamos conseguir alguém para seduzi-lo, — disse
Sylvie pensativa. — Os homens são muito maleáveis nos primeiros dias do
amor. Percebi isso em inúmeras oportunidades.
— É uma pena que Annabel seja casada. Ele adoraria assumir essa
tarefa—, Josie apontou.
— A outra irmã? — Sylvie perguntou. — Você percebe a reputação
lendária que vocês quatro adquiriram na sociedade? Ouvi falar de você
desde o momento em que cheguei para a temporada social. Quatro mulheres
escocesas requintadas que tomaram Londres de assalto e conquistaram
todos os solteiros disponíveis.
— Temo que nossa sorte e felicidade nos casos conjugais possam ter
sido a causa da experiência desagradável de Josie—, observou Tess.
— O contraste é muito grande—, lamentou Josie, forçando-se a usar um
tom indiferente. — A diferença entre minhas irmãs e eu, quero dizer.
— Você é tão bonita quanto elas—, disse Sylvie. — Sua má sorte é que
chegou a sua vez após sucessos tão extraordinários. Você deve esperar um
certo mau humor entre os ingleses que não foram escolhidos por suas irmãs.
A porta se abriu e a acompanhante de Josie, Lady Griselda, colocou a
cabeça.
— Oh querida! — Exclamou. — Você está aqui! Timothy Arbuthnot
está procurando por você com um ar verdadeiramente desesperado.
— Prefiro ficar aqui—, disse Josie. A verdade é que, pela primeira vez
no dia, sentia-se feliz.
Griselda ergueu as sobrancelhas delicadas.
— Nesse caso, ficarei com você, se me permitir—. Sorriu para Sylvie.
Obviamente, Josie pensou mal-humorada, a esposa escolhida por Mayne era
apreciada por todos.
E, não era de admirar. Afinal, quem poderia não gostar da maravilhosa
Sylvie?
Naquele momento ela ria com Griselda. Aparentemente, a dama de
companhia conheceu Lady Margaret Cavendish, cujo cabelo, segundo
Griselda, mudara de cor.
— Está amarelo como uma calêndula—, Griselda dizia brincando. —Na
verdade, da cor de geleia queimada, melhor dizendo.
— E de que cor era o cabelo dela semana passada? — Sylvie quis saber.
— Marrom—, Griselda relatou sem hesitação. — Não consigo imaginar
como ela fez isso.
— Existem todos os tipos de poções para colorir o cabelo—, disse Josie
—. Você não se lembra, Tess, que papai costumava encontrar cavalos
tingidos em exposições de animais? — Não acrescentou que seu próprio pai
era um especialista em pintar cavalos de preto, para torná-lo um candidato
mais atraente à venda.
— Estamos falando sobre quem deve seduzir essa pessoa desagradável
—, explicou Sylvie, — Esse tal de Darlington, e agora, é claro, sei
exatamente quem poderia ser.
— Fazer o quê? — Griselda perguntou.
— Fazer o Darlington se apaixonar—, continuou Sylvie. — Você,
chérie. Você é a única.
— O quê? — Griselda piscou, olhando para a futura cunhada.
Josie quase soltou uma risadinha. Aparentemente, Sylvie não era boa
em avaliar personalidades. Griselda era sem dúvida bonita o suficiente para
seduzir Darlington ou qualquer pessoa, considerando seus lindos cachos
loiros e seu corpo exuberante. Mas, depois de ficar viúva dez ou onze anos
atrás, ela não se permitia a menor indiscrição. Sua reputação era, nas
palavras ligeiramente amargas de seu irmão Mayne, algo que causou tal
espanto que constituía um terrível contraste com suas próprias façanhas.
— Você deve seduzir aquele Darlington—, Sylvie insistiu
pacientemente. — Temos que silenciar esse homem, e tenho certeza que
não será difícil para você. Além disso, Josie me disse que ele é bonito. E
tem cabelo loiro. Podem formar um ótimo casal.
— Não quero ter nada a ver com essa víbora venenosa—, garantiu
Griselda. — Além disso, sei exatamente o que ele pensa de mim. Ele disse à
Sra. Graham que minha castidade não era atraente. Sua língua não
funcionou apenas contra nossa querida Josie.
— Se ele disse isso, ele quis dizer exatamente o oposto—, revelou
Sylvie. — Se você não fosse tão casta, seria menos palatável. Além disso,
Griselda, com certeza não precisa que lhe façamos alguns elogios, precisa?
— Ela acenou com a mão para o espelho e as quatro mulheres
instintivamente olharam para o reflexo de Griselda. Guardez!
Josie teve que sorrir. Griselda havia atingido a idade de trinta e dois
anos sem nenhuma ruga, ou qualquer outro sinal de que era muito mais
velha que Sylvie. Seu cabelo caía em cachos perfeitos, e sua figura parecia
estar envolta em algo macio e sedoso, algo completamente fascinante. Em
suma, ela parecia uma pastora de porcelana, mas nem de longe tão dura e
fria quanto uma estátua.
Tess se inclinou para frente.
— Embora seja infinitamente impróprio para mim dizer isso, Griselda,
acho a ideia de Sylvie ótima. Tudo o que você precisa fazer é fazê-lo se
apaixonar por você. Ele não é um demônio, apenas um idiota. Você pode até
achar isso engraçado. Felton diz que Darlington se formou com notas muito
boas, o que é extraordinário para um cavalheiro. Ele provavelmente está
entediado, ele precisa se divertir um pouco.
Sylvie estava agitando suavemente um leque na frente de seu rosto, e
apenas seus olhos maliciosos podiam ser vistos.
— Acho que vi o cavalheiro em questão, querida Griselda.
— Hmmm—, Griselda rosnou em resposta.
— Claro, seus ombros chamam a atenção.
— Como Tess disse, essa é uma conversa extremamente imprópria, —
observou Griselda, lembrando-se de repente de sua qualidade de dama de
companhia.
— Estou muito acostumada com as coisas erradas—, disse Josie. —
Nenhuma das minhas irmãs encontrou o marido sem um escândalo.
— Eu certamente não quero um marido! — Griselda protestou.
— Claro que sim—, Sylvie insistiu. — Toda mulher deseja um marido;
eles são tão necessários para viver melhor quanto uma manta de flanela no
inverno. Necessário, mas difícil e enfadonho de se conquistar.
— Além disso, você disse a Imogen que estava pensando em se casar
novamente—, acrescentou Josie.
— Bem, é verdade, mas eu certamente não me casaria com um homem
como Darlington.
Os olhos de Sylvie se arregalaram de repente, com uma expressão de
choque. — Nós nunca sugerimos tal coisa! Nunca! Claro, você vai querer
se casar com um homem doce e gentil. Caso contrário, mesmo os mais
otimistas não conseguiriam imaginá-la tomando café da manhã com ele
depois de um ano ou mais.
— Meu Willoughby foi excepcionalmente moderado—, comentou
Griselda. — Mas minha capacidade de observá-lo enquanto ele comia torta
de carne no café da manhã durou exatamente um dia, se bem me lembro.
— Suponho que a mesma coisa teria acontecido comigo—, disse Sylvie,
estremecendo. — Mas minha intenção é deixar tudo claro desde o início e,
portanto, direi a Mayne que nunca tomaremos café da manhã juntos. Assim
ele não ficará desapontado com a minha ausência.
Josie achou que isso era um pouco egoísta, mas depois de um momento,
ela percebeu que Mayne provavelmente não estava interessado em café da
manhã. Ela não era estúpida, nem ingênua. O que Mayne queria era dormir
no mesmo quarto que Sylvie. A comida tinha pouco a ver com seus desejos
autênticos.
— Acho que terei de pensar em ter um caso com Darlington—, Griselda
concordou.
— Só vai durar o suficiente para reduzi-lo a um estado de adoração
pegajosa—, disse Sylvie, tranquilizando-a. — Depois, você pode sacudir a
saia como se fosse poeira.
Josie gostou dessa imagem.
— Esse não é o tipo de solução que eu havia imaginado—. Griselda
observou, pensativa.
— De fato—, Tess interveio entre risadas divertidas. — Griselda, eu e
as outras irmãs de Josie temos buscado maneiras irrepreensivelmente
corretas para melhorar a situação. Realmente, Josie, você tem alguns
admiradores agora.
— Velhos—, respondeu impaciente.
Sylvie ergueu as sobrancelhas.
— Minha cara amiga, os jovens são sempre enfadonhos. Não acho que
você perceba o sacrifício que Griselda faz em considerar a possibilidade de
um breve flerte com um homem que não tem nem trinta anos. Sem
experiência, eles não têm nada a dizer, nada de interessante para contribuir.
Eu garanto.
— Darlington sempre tem algo a dizer. Comentários espirituosos são
sua especialidade—, observou Tess.
— Mas ele não teve tempo de cometer muitos erros, e erros são o que
tornam um homem realmente interessante.
— Mayne cometeu erros? — Josie perguntou com alguma curiosidade.
Griselda riu e Sylvie explicou imediatamente.
— Sem dúvida nenhuma. Para começar, ele tem a aparência de um
homem que já dormiu em muitas camas, quase sempre de forma errada.
Claramente deu muito valor à variedade. Mas, devo insistir que, como meu
marido, ele se tornou muito cauteloso.
— Mas você quer dizer que ele ... continuará ...— Josie fez uma pausa.
Afinal, havia limites sobre o que uma jovem solteira deveria expressar.
—Oh sim. Sem dúvida—, Sylvie confirmou, abanando-se. —Embora
agora ele esteja desempenhando o papel de amante romântico, devo dizer
que o faz com grande prazer.
— Ontem à noite ele me disse que estava louco de amor por você—,
Griselda disse a ela.
— Que encantador—, Sylvie comentou, seu tom alegre, mas
notavelmente nada sentimental. — Como eu disse, é uma explosão
temporária de sentimentalismo. Passará com o tempo, como sempre. E
como ele é meio francês, espero que gradualmente se transforme em um
doce cinismo. Homens cínicos são muito interessantes para mim, você não
acha que estou certa?
— Você devia começar uma aventura amorosa com Darlington—,
observou Griselda. E então se apressou em acrescentar. — Se você não
estivesse noiva para casar com meu irmão, é claro.
— Infelizmente, não posso ir em socorro de Josephine por essa mesma
razão. Quanto tempo você acha que o assunto vai demorar, minha querida
Griselda? Eu diria que não mais que uma semana mais ou menos, certo?
Griselda tinha um brilho estranho nos olhos que sugeria certa rivalidade
com a linda cunhada, ou pelo menos foi o que Josie pensou.
— Espero poder fazer um progresso significativo em sua conquista esta
noite—, respondeu. Então ela se levantou e inspecionou seu vestido no
espelho. Ela tinha um bustiê clássico em volta dos seios e aproveitava ao
máximo suas curvas. Com alguns ajustes habilidosos, grande parte de seu
decote foi subitamente exposto.
— Excelente ideia—, aprovou Sylvie.
— Posso cumprir minha missão sem nenhuma ajuda—, disse Griselda,
com um tom ligeiramente ácido na voz.
Instantaneamente, Sylvie mostrou-se mais humilde.
— Minha intenção não era sugerir nada além de confirmar que você
está completamente arrebatadora! — protestou, com um sotaque que de
repente era muito mais francês. — Não fique zangada comigo, minha
querida Griselda! Estou tão feliz por me tornar sua irmã que me aventurei
em um terreno que nunca deveria ter invadido!
Griselda sorriu ao ouvi-la e se virou para beijá-la.
— Você é uma mulher fascinante—, disse. — Além do mais, preciso do
seu conselho. O que eu faço para me aproximar dele? Nessas
circunstâncias, é improvável que ele se aproxime de mim.
Os olhos de Tess brilharam.
— Meu marido pode apresentá-lo!
— Muito óbvio—, objetou Griselda.
— Eu li muitos romances em que jovens mulheres deixam cair seus
lenços para atrair a atenção de um cavalheiro próximo—, sugeriu Josie. —
Um leque seria o mais fácil.
— Não quero deixar cair meu leque—, protestou Griselda, alarmada. —
Este é o meu favorito e não quero que nenhuma das hastes se quebre ou se
retorça.
— Algum sacrifício deve ser feito—, observou Sylvie. — É por uma
boa causa.
— Nesse caso—, respondeu Griselda—, vou deixar cair o seu leque—.
Vamos trocá-los. Você pode devolver o meu no final da noite.
Sylvie não tinha intenção alguma de oferecer seu leque. Era da mesma
cor rosa delicada de seu vestido e adornado com pequenas pérolas.
— Tem certeza de que não gostaria de perder um sapato? — perguntou
—. Você está usando sapatos lindos, se não importa que eu diga, Griselda.
E, talvez ele consiga mostrar parte do tornozelo ao mesmo tempo. Os
homens são tão estúpidos quando se trata de tornozelos.
— Por que? — Josie perguntou. Sylvie parecia a pessoa típica que
poderia responder a todas as perguntas e, como os tornozelos eram uma das
melhores partes de Josie, ela sempre se perguntava se deveria
acidentalmente expô-los com mais frequência.
— O tornozelo delgado e bem arredondado de uma mulher é uma parte
importante da beleza—, explicou Sylvie—. Eu mesma uso todas as minhas
saias um pouco mais curtas que o costume, para exibi-los. Você deve fazer
o mesmo, minha querida Josie.
— Sou forçada a usar saias mais longas para disfarçar os meus quadris
—, explicou Josie.
Tess gemeu.
— Madame Badeau disse isso a você, não foi?
— Ela está certa—, Josie insistiu.
— Madame Badeau faz designs excelentes—, Sylvie interrompeu
suavemente—. Eu mesma tenho uma capa deslumbrante que ela fez para
mim. Mas não tenho certeza se concordo totalmente com as ideias dela
sobre seus vestidos, Josie.
— Eu disse a mesma coisa várias vezes—. Griselda acrescentou.
Josie gemeu para si mesma. Elas pareciam estar prestes a retomar a
batalha exaustiva que se repetia desde que visitou a costureira de Imogen,
Madame Badeau—. É por causa da minha forma física, e meus vestidos.
Sem os espartilhos de Madame Badeau, eu ficaria horrível, me sentiria
como um barril de vinho.
Mesmo agora, Josie podia sentir a pressão reconfortante dos ossos de
baleias ao redor de seu corpo, segurando toda a carne extra no lugar. Era
realmente incômodo, e às vezes quase a fazia se sentir como uma marionete
de madeira, especialmente quando dançava.
— Não concordo—, assegurou Griselda. Falando diretamente com
Sylvie—. Josie está convencida que deve usar aquela engenhoca horrível
recomendada por Madame Badeau. Como você pode ver, ela mal consegue
sentar-se confortavelmente.
Mas, para alívio de Josie, Sylvie não saiu em apoio a Griselda.
— Suponho que essa vestimenta lhe dê segurança. A autoconfiança
também é importante.
— Isso mesmo—, disse Josie enfaticamente—. Vou usá-lo sempre que
precisar aparecer em público. Você pode imaginar o que aconteceria se eu o
tirasse? Eles parariam de me chamar de linguiça escocesa para dizer que
virei um bolo de carne!
— Eles vão perder o interesse em seus vestidos—, disse Sylvia—.
Especialmente quando Griselda desviar a atenção de Darlington para si
mesma.
— Acho que vou perder o meu sapato—, relatou Griselda—. Um leque
é muito óbvio, quase elementar. E, eu uso sapatos muito bonitos. Eu tinha
esquecido o quanto gosto deles.
Todas olharam para o chão. Os sapatos de Griselda eram de seda, de cor
creme, com uma pequena flor-de-lis bordada em um tom sutil de azul claro.
As meias eram da mesma cor.
— Estou muito feliz por me juntar à sua família! — Sylvie exclamou—.
Não suportaria ser irmã de uma mulher que não entende a importância dos
sapatos.
Griselda sorriu para ela e baixou as saias. Seus olhos exibiam um
entusiasmo que Josie não via há muito tempo, e tinha um sorrisinho
especial. Ela tirou um pote colorido minúsculo de sua bolsa, esfregou-o nos
lábios e fez um beicinho de brincadeira na frente do espelho.
— Eu me sinto totalmente diferente. Um pouco travessa, acho.
— Mas certamente você não desfrutou da sua viuvez totalmente
sozinha, não é? — assinalou Sylvie, parecendo um tanto consternada.
— Não, não—. Assegurou Griselda — Houve alguns encontros aqui e
ali, mas nunca houve nada deliberadamente dessa natureza.
Josie não conseguiu impedir que sua boca se abrisse.
— É aí que reside a diferença entre nós duas—, disse Sylvie—. É claro
que você é meio francesa e eu totalmente. Eu não seria capaz de embarcar
em qualquer tipo de aventura romântica sem um bom planejamento. Isso
seria impossível para mim.
Griselda riu.
— Você é tão refinada, Sylvie, e ainda assim eu a observei com meu
irmão. Vocês são extremamente castos em seu relacionamento, não é
mesmo?
— Eu sou sempre casta—, Sylvie confirmou—. Ainda estou para
descobrir por que devo permitir qualquer avanço na intimidade por parte de
um homem. Receio que o planejamento tende a reduzir o impulso de ser
imprudente.
Griselda parou na porta.
Sylvie sorriu para ela—. “Avance pour vaincre!” (Avance para
conquistar!)
— Vou fazer um relato da minha conquista mais tarde—, disse Griselda
—. Josie, devo lembrá-la que você tem vários parceiros de dança esperando
por você quando decidir reaparecer.
Tess estava colocando um cacho errante no alto da cabeça—. Devo
voltar ao salão de baile também.
— Lucius está procurando por você—, disse Josie.
— É uma maravilha ter um marido procurando a esposa e não o
contrário—. Observou Sylvie—. Vou com você.
Tess sorriu para ela—. Tive uma sorte excepcional nesse aspecto.
Capítulo 06
Do Conde de Hellgate,
Capítulo três
Temo expor minha arrogância se disser que obedeci à ordem da Duquesa,
a quem podemos chamar de Hérmia. Considero que minhas habilidades
são devidas à providência divina e são um dom de Deus, pois a Duquesa
assegurou algum tempo depois que Deus me criara para dar prazer às
mulheres ... e desde então tenho seguido com fervor o comando do Senhor.

Thurman caminhou até a “Salsicha” como se já tivessem sido apresentados.


De certa forma, ele sentia-se como se fossem velhos conhecidos.
Certamente, se ele, Thurman, falasse com a “Salsicha”, Darlington iria ao
Convent para ouvi-lo relatar um acontecimento tão extraordinário. Poderia
enviar-lhe uma mensagem, dizendo que tinha uma história imperdível.
Thurman entrou em pânico com a ideia de não ter Darlington ao seu lado;
de não contar com os gracejos e observações contundentes de seu amigo
para passar o tempo.
— Sou amigo de Darlington—, disse ele à guisa de apresentação.
A “Salsicha” piscou e então desviou o olhar, encarando a parede atrás
dele.
— Prefiro não ser lembrada dos comentários excessivamente rudes do
seu amigo.
— Rude? Ele não é rude—, protestou Thurman.
Ela ainda não olhou para ele. Mas, falou novamente.
— Desprezível Darlington—, disse ela zombeteiramente—. Eu juro que
essa frase é muito atraente.
Thurman franziu a testa. O que ele tinha que fazer era dançar com a
leitoa. Dessa forma, poderia contar uma ótima história sobre como os
cascos dela tropeçaram em seus pés e gritou em seu ouvido—. Gostaria de
dançar?
Ela o encarou por um segundo e então virou a cabeça totalmente, de
modo que ela estava olhando para a parede novamente.
— Definitivamente não.
— Porque não? Você está desesperada, não é?
— Você é um inimigo—, disse—. Por que diabos você está sendo tão
rude? Que eu saiba, nunca fomos apresentados.
O desgosto em sua voz deu-lhe uma sensação de poder. Não era apenas
Darlington que poderia criar frases cortantes. Ele também podia—. Não me
importo em ser o inimigo, desde que você não me escolha como um porco
—. disse ele.
— Você é um porco—. disse a Srta. Essex, olhando para ele em vez da
parede—. Oink, oink, Sr. Seja qual for o seu nome. Por que você não volta
para o estábulo ou pocilga de onde veio?
De alguma forma, suas palavras não saíram com a mesma confiança que
Darlington almejara. Ela estava olhando para ele de um jeito que ele...
Bem... Ele se sentiu desconfortavelmente ciente de sua barriga redonda.
Todos sabiam que o peso em um homem era uma coisa boa. Tornava-o forte
e saudável.
Mas Thurman tinha a mesma sensação de fracasso que costumava ter
quando era chamado antes da aula para fazer a tabuada. A Senhorita Essex
tinha um olhar extremamente desagradável. Na verdade, ele a odiava.
Ela não terminou de falar—. Você é o tipo de homem que belisca
criadas—, disse—. Não consigo imaginar como você encontrou o caminho
deste baile.
Thurman sentiu isso em suas entranhas: ele estava consciente do fato de
que a riqueza de sua família vinha da administração de uma gráfica. Ele
sempre ria disso como uma aventura intelectual de seu avô, mas ele sabia
que sua reivindicação ao título de cavalheiro era frágil.
— Você é o tipo de mulher que nunca terá a sorte de ser beliscada—,
disse ele, saboreando os tons ácidos de Darlington na língua. Poderia ser tão
cortante quanto Darlington. Ele se aproximou um pouco mais. Ele
realmente detestava aquela garota escocesa gorda. Se ele pudesse, garotas
escocesas gordas nunca teriam permissão para entrar em uma festa da alta
sociedade—. Você também nunca terá a sorte de ser montada por alguém—,
disse ele.
Então, ele apenas ficou lá, olhando para ela. Para dizer a verdade, ele
ficou bastante surpreso consigo mesmo por expressar tal pensamento em
meio de uma reunião social.
Ela ficou com o rosto um pouco vermelho, portanto deveria saber o que
ele quis dizer com “montar”. — Você é... um lixo—. Replicou ela.
Sua voz tremia um pouco. E isso foi extremamente agradável para ele.
Ela se virou e foi embora rapidamente. Thurman não se mexeu. Ele sentiu a
raiva crescendo em seu peito, assim como quando a professora o açoitou
por não saber a tabuada. Tudo estava emaranhado em sua mente: Darlington
se foi, o Convent se foi, o que ele faria à noite? Sem Darlington, as pessoas
pensariam que ele era estúpido. Foi tudo culpa da “salsicha”, porque
Darlington não o havia abandonado até ter essas estranhas ideias de
moralidade.
Era tudo culpa dela.
Culpa da “salsicha.”
Capítulo 07
Do Conde de Hellgate
Capítulo cinco
Temo que, ao contar o próximo episódio de minha vida, possa colocar em
risco a reputação da senhora mais doce e virtuosa que já ouvi falar. Peço-
lhe, leitor, não tente descobrir seu nome, por maior que seja a tentação.
Vou simplesmente chamá-la de ... minha querida Hipólita. Caso você leia
minha pobre dedicatória, direi o que está enterrado em meu coração:
Eu só vi você.
Eu apenas admirei você.
Eu só quero você.

Josie afastou-se, de costas para ele, mal olhando para onde estava indo, e
caminhou no meio da multidão, sem se importar que alguém pudesse ver o
sorriso rígido que agora estava torcendo seu rosto. Este era um homem
horrível, um porco nojento. Sem aviso, Mayne apareceu na frente dela.
— Olá, olá—, disse ele, sorrindo para ela. Mas seu rosto mudou
imediatamente—. Qual é o problema, Josie?
Ela engoliu em seco, ansiosa e, antes que percebesse o que estava
acontecendo, Mayne a conduzia para fora, para um terraço de mármore
branco que brilhava à luz das tochas nas extremidades. Ele a conduziu até a
ampla balaustrada que delimitava o terraço, girou-a e deliberadamente se
posicionou na frente dela para que ninguém pudesse ver as lágrimas que
escorriam por seu rosto.
— O que aconteceu? — Ele perguntou em um tom preocupado.
Os cachos negros de Mayne brilharam na luz refletida das tochas. Suas
sobrancelhas estavam franzidas, formando um traço perfeitamente reto.
— Foi horrível ... aquele homem—, Josie começou, soluçando
incontrolavelmente, embora não se importasse, porque era Mayne. — Ele
disse ... ele disse ...— Mas não poderia repetir o que ele disse, porque
Mayne era tão bonito e tudo era tão humilhante ...
Ele tinha um grande lenço branco na mão.
— Calma—, disse o homem, enxugando as bochechas dela. Ela tentou
sorrir para ele, mas sua boca tremia. Virou-se e se inclinou para olhar o
jardim. Os arbustos estavam todos na penumbra.
— Quem foi? — Mayne perguntou em um tom normal de conversa,
mas Josie ouviu uma vibração de aço em sua voz.
— Isso é uma rosa selvagem ou uma erva-cidreira? — Ela perguntou,
quase mudando a conversa—. O perfume é delicioso.
— Josie.
A jovem se virou e balançou a cabeça.
— Não sei. Alguém conhecido de Darlington—. Pegou o lenço e
enxugou os olhos novamente. Mayne ficou pensativo, como se estivesse
prestes a espancar metade da população masculina de Londres.
— Como ele é?
— Eu mal percebi. A sala está mal iluminada e ele é bastante vulgar, na
verdade. Não é tão importante—. Ela respondeu trêmula—. Eu sei o que
eles pensam de mim. Eu sei ...— Seus olhos se encheram de lágrimas
novamente e ela se atrapalhou com o lenço, esquecendo que o estava
segurando. Ele caiu no chão e, sem pensar duas vezes se abaixou para pegá-
lo. E, parou com um gemido baixo quando seu espartilho quase a partiu ao
meio.
Mayne o pegou com uma fácil inclinação.
— Droga—, disse ele, e então olhou em volta—. Estamos muito
expostos aqui.
— Podemos ir embora do baile? — Josie perguntou—. Eu ... eu não
estou tendo uma noite agradável—. Mas naquele momento se lembrou da
noiva de Mayne—. No entanto, Sylvie vai perguntar onde você está.
Todo o rosto de Mayne se iluminou quando ele sorriu—. Posso dizer o
quanto fico feliz em ouvir você usar o primeiro nome dela? E, claro, vou
tirar você daqui. Sylvie, como você sem dúvida percebeu, assim que a
conheceu, é uma mulher singularmente autossuficiente. Além do mais, veio
para o baile de outra festa. Meu único receio é que ela perceba que tenho
pouca utilidade para ela e, sem dúvida nenhuma, nem vai notar que eu
desapareci.
— Isso não pode ser verdade—, protestou Josie. Se Mayne fosse seu
noivo, embora tal ideia fosse inconcebível, porque ele certamente era muito
velho, ela nunca o deixaria sair de sua vista. Pensar nisso fez seu estômago
ficar estranho, então ela permitiu que Mayne pegasse sua mão para colocá-
la em seu braço e forçou seu sorriso a ser tão firme quanto suas costas.
Caminharam entre as pessoas em um ritmo lento. Eles foram parados
apenas uma vez, por Lady Lorkin, que colocou a mão delicada no braço de
Mayne e sussurrou algo em seu ouvido.
Ele olhou para Josie, mas não se preocupou em cumprimentá-la. Mayne
se inclinou na direção dela e sussurrou em seu ouvido. Os olhos da mulher
estavam claros e famintos, como os de uma criança olhando um
cachorrinho correndo livremente na grama.
Mayne riu em um tom bastante baixo, íntimo até, e murmurou algo
também. Então, ele gentilmente removeu a mão de Lady Lorkin de sua
manga e eles continuaram andando. Depois disso, Josie percebeu como as
mulheres constantemente se viravam para olhar para Mayne, seus olhos o
devorando de uma forma que a fez perceber claramente o quanto gostava
dele. E, no entanto, Sylvie, que o havia conquistado, não se importava que
ele desaparecesse por um tempo. Teve que assumir que era apenas um
daqueles estranhos paradoxos da vida.
— Devíamos encontrar Griselda—, disse Mayne, olhando em volta—.
Afinal, ela é sua acompanhante e devo informar que estamos fugindo.
— Não! — disse Josie, lembrando-se de repente que Griselda
provavelmente estava seguindo o conselho de Sylvie para seduzir
Darlington—. Absolutamente não.
— Por que não? — Mayne disse—. Minha irmã não é uma boa
acompanhante?
— Claro que ela é. Eu simplesmente não gostaria de incomodá-la—
Josie disse debilmente.
— Há muitas coisas que não entendo sobre você, Senhorita Josephine
Essex—, disse Mayne—. Suponho que posso enviar-lhe uma nota. Uma
jovem não deve abandonar um baile sem informar a sua acompanhante,
como você sabe. A acompanhante pode muito bem presumir o pior.
— Não se eu estiver com você—, Josie apontou.
— Embora sua confiança em mim seja comovente, posso assegurar-lhe
que há muitas mães na sala que não gostariam que sua filha escapasse de
um baile ao meu lado.
— Não seja tolo, Mayne. Eu sou a mulher menos capaz de ser
comprometida neste baile.
Ele ergueu uma sobrancelha, mas rabiscou um bilhete em seu cartão e
disse a um lacaio que o entregasse a Griselda.
— Onde você gostaria de ir? — ele perguntou uma vez que estavam
sentados em sua carruagem. Era um lindo veículo pequeno, um vermelho
escuro brilhante com seu brasão na porta.
— Qualquer lugar.
Mayne estava olhando para ela de uma maneira peculiar—. Seria
totalmente impróprio, mas...
— Ninguém vai acreditar que estou fazendo algo impróprio—. Ela disse
isso sem rodeios, porque era verdade.
— Nesse caso—, disse Mayne com um sorriso de lobo—, Bem-vinda à
minha casa, mocinha. Ele bateu no telhado, gritando — Casa, Wiggles!
— Wiggles? — Josie disse, sentindo-se melhor no momento em que a
carruagem começou a se afastar do baile. “Wiggles?”
Mayne sorriu para ela. — Provavelmente o filho de Papai Wiggles ...
um dia, o orgulhoso pai de William Wiggles, Wilfred Wiggles e talvez até
de Wilhelmina Wiggles.
Josie sorriu de volta, um tanto abatida. — Sua casa? — ela perguntou
—. Você mora nesta vizinhança?
— A dois quarteirões de distância—, disse Mayne. Ele não havia
terminado de falar quando a carruagem começou a diminuir a velocidade.
— Você não está acompanhada, mas asseguro-lhe que minha casa está cheia
de criados.
— Sem contar que você está apaixonado por Sylvie—. Josie explodiu.
— Certamente essa circunstância limitará qualquer plano perverso que
eu possa ter para destruir a sua reputação—. Mayne assegurou alegremente.
Ela olhou para ele com o cenho franzido.
— Você não ousará rir de mim, Garret Langham.
— Não é minha intenção.
Ela o encarou por um momento, seus olhos se estreitaram, mas seu rosto
parecia genuinamente surpreso. — Eu sei que ninguém gosta de mim
quando se trata de me cortejar. De forma nenhuma é possível que alguém
pense que você teria planos a esse respeito ... você, o homem que dormiu
com todas as belas mulheres de Londres ... para que possamos esquecer as
preocupações pela minha honra.
Um mordomo segurou a porta aberta e Mayne a conduziu para dentro
de casa sem dizer uma palavra.
— Ribble, teremos champanhe na torre. Veuve Clicquot Ponsardin, bem
fria, por favor.
— As lâmpadas não estão acesas, meu senhor—, disse o mordomo.
— Sem problemas, Ribble. Eu cuidarei disso.
Josie estava lutando para tirar sua capa. Mayne fez uma careta para ela e
depois retirou-a dos ombros para entregá-la a um criado.
— Você tem uma torre? Que encantador! — Ela disse, tentando evitar
perguntas sobre os motivos pelos quais ela parecia tão desconfortável.
— Você gostaria de comer alguma coisa? — Perguntou.
Ela balançou a cabeça.
— Bem, eu estou morrendo de fome, então espero que você me perdoe
se eu comer alguma coisa. Receio que Rafe cometeu um erro ao pedir a
Fortnum & Mason para cuidar da comida de sua festa de casamento. Você
já viu os sanduíches marcados com o grande "H" de Holbrook?
Josie balançou a cabeça novamente. Ela nunca se permitiu comer em
público, pois achava que isso só alimentaria conversas sobre o tamanho de
sua cintura.
— Estampado com pasta de fígado—, Mayne continuou, pegando seu
braço e subindo as escadas—. Eles são tão ruins como o seu sabor. Traga-
nos algo delicioso para um jantar leve, Ribble, por gentileza.
Eles subiram as escadas, cruzaram o andar principal e passaram por
uma pequena porta. Mayne pegou uma tocha de uma pequena prateleira e
foi assim que Josie pôde ver a sala à luz bruxuleante de uma pequena
chama. O teto era abobadado, pintado de azul profundo, com estrelas
douradas claras. As paredes eram apaineladas e a madeira pintada com
curiosas trepadeiras retorcidas, nas quais crescia, de vez em quando, uma
rosa. A única mobília da sala consistia em uma pequena “chaise longue”,
duas poltronas confortáveis e uma mesa de chá. No alto das paredes havia
pequenas janelas. Eram oito, espalhadas com grande simetria. A luz da lua
penetrava, iluminando a sala de uma forma quase preguiçosa, fazendo com
que as vinhas pintadas nas paredes parecessem encantadoramente
misteriosas.
— Oh, isso é adorável! — Josie disse, apertando as mãos. — É
absolutamente mágico.
Mayne estava acendendo uma das lâmpadas Argand fixadas na parede
—. Você descobriu seu segredo—. Ele disse, sorrindo.
— Deve ser a única torre em toda cidade, além da Torre de Londres—,
disse Josie. — Como diabos sobreviveu ao grande incêndio?
— Oh, esta casa não é tão velha—, disse Mayne. — Meu avô tinha uma
filha que ele amava muito, chamada Cecília. Tia Cecily nasceu a frente de
seu tempo. Aparentemente, ela tinha uma deficiência de nascença e também
pulmões fracos. Ela amava ler. Ela se imaginava uma princesa, sabe, e esta
era a câmara perfeita para ela ser acordada de seu longo sono pelo beijo de
um príncipe encantado.
— Ela estava absolutamente certa, além de um gosto requintado. Ela foi
acordada?
— Infelizmente, Cecily morreu antes de eu nascer.
— Eu sinto muito.
— Por muitos anos não houve outras crianças na família, até que
finalmente, meu pai chegou. Ele disse que a amava mais do que a sua
própria mãe, porque passava horas e horas de sua infância aqui, ouvindo
suas histórias de cavaleiros, dragões e monstros maravilhosos. Como você
pode ver, ela tinha algumas dessas histórias pintadas nas paredes.
Ele ergueu uma lamparina e, quando Josie olhou para as trepadeiras
entrelaçadas, viu um pequeno unicórnio com um sorriso curioso subindo na
planta, enquanto balançava despreocupadamente uma criança em uma de
suas mãos.
— Meu pai—. disse Mayne, tocando o diabinho. Josie reconheceu a
juba desgrenhada e o nariz aristocrático, mesmo em uma versão infantil.
A garota queria perguntar quando seu pai morrera, mas não ousou.
— Ele morreu há cerca de dez anos. — relatou Mayne, lendo sua mente.
— Oh, querido. — respondeu ela, e pegou o braço dele.
— Ele me contou muitas das histórias de Cecily—, continuou—. E
Griselda ainda se lembra de muito mais coisas que eu.
Ele pousou a lâmpada abruptamente sobre a mesa. — Você pode sentar
com essa engenhoca que está usando?
Josie sentiu uma onda de rubor subir por seu pescoço.
— Sim, claro—, ela disse, se esforçando para um tom casual.
Mas ela mal conseguia mencionar a palavra espartilho na frente dele.
— É um espartilho? — ele perguntou.
— Isso não é da sua conta! — ela retrucou, sentando-se na ponta da
cadeira. Ela não conseguia se sentar, o espartilho foi colocado com
pequenos ilhós em volta de seu traseiro para que ela tivesse espaço
suficiente para se sentar elegantemente, desde que mantivesse as pernas
juntas.
Mayne deixou-se cair na cadeira em frente a ela. Ele era impressionante
com seus ombros largos e pernas fortes, e parecia totalmente confortável.
— Como você pode suportar isso? — perguntou com alguma curiosidade.
Antes que ela pudesse responder, houve uma leve batida na porta e ele
gritou: — Entre!
Josie mordeu a língua quando os lacaios entraram com champanhe e
uma bandeja de comida. Na verdade, ela esperou até ter uma taça de
champanhe gelado e algo azedo na mão para ter coragem e então falou com
certo ar de sofisticação:— Uma senhora nunca fala sobre suas roupas
íntimas com cavalheiros, Mayne.
— Mas você e eu somos amigos.
— Nós não somos amigos!
— Sim, nós somos—. Ele estava sorrindo charmosamente para ela, e
havia algo em seus olhos que era muito difícil de resistir. — Garanto-lhe
que é a única dama que conheço que me pediu para participar de uma farsa
como a que encenou na Escócia. É por isso que quero que você seja minha
amiga, na realidade, estou muito interessado, porque temeria que você se
tornasse minha inimiga.
— Você quer dizer o caso do cavalo de Annabel, aquele que empinou?
Ele jogou a cabeça para trás, rindo. — O cavalo de Annabel não
empinou, simplesmente. Foi você, bruxinha! Foi você quem pôs alguma
coisa sob a cela daquele pobre coitado para fazê-lo dançar no ar.
— Foi por uma boa causa—, protestou Josie, sentindo um sorriso
brincar em seus lábios. — Eu só pensei que se Ardmore estivesse com
medo e temesse pela vida de Annabel, ele poderia perceber que estava
apaixonado por ela.
— Ele teria percebido isso sozinho—, explicou Mayne—. Um homem
percebe essas coisas com o tempo, acredite em mim.
Josie sentiu o champanhe descer por sua garganta. Era temerário,
delicioso, estar sentada em uma salinha que era uma joia preciosa, na
companhia de um dos homens mais desejados de Londres. Isso a fez se
sentir uma mulher sofisticada. Como se ela, Josephine Essex, não fosse a
recém-chegada menos desejável no mercado de casamento. Afastou a ideia
maliciosa e bebeu um pouco mais.
— Como você descobriu que estava apaixonado por Sylvie? —
perguntou corajosamente.
Seu rosto mudou no momento em que ela disse o nome de Sylvie.
Naturalmente, sentiu uma forte pontada de inveja; quem não gostaria? Para
domar um homem com a reputação de Mayne, e domesticá-lo tão
completamente que seus olhos quase mudavam de cor quando o nome de
alguém era mencionado ... era uma enorme façanha.
— Eu estava participando de um baile na Terence Square—, respondeu
ele—. Para ser sincero, eu não tinha intenção de ir. Lucius estava fora da
cidade e Rafe vivia uma vida rural no interior. Eu tinha acabado de voltar de
nossa viagem à Escócia ... Vim diretamente a Londres e, claro, havia
centenas de convites esperando por mim. Eu havia passado tanto tempo
vestido com aqueles trapos malditos, que Rafe chama de roupa, que
realmente me senti esplêndido. Você deve saber o que eu quero dizer.
Josie balançou a cabeça. Ela não entendia muito bem. Para ela, ir ao
baile era um processo agonizante e entediante, consistindo principalmente
em amarrar laços, ajustar fitas e lutar para conseguir roupas que pareciam
muito pequenas. Somado a tudo isso, havia a preocupação que essas roupas
a fizessem suar, que ela teria de se curvar para alguma coisa ou que não
conseguiria ir ao banheiro.
Ela podia sentir que Mayne estava olhando para seu espartilho
novamente, mas felizmente ele não disse nada.
— Acontece que a Rainha estava recebendo os nobres naquela tarde.
Então fui para a sala. Encontrei a multidão habitual de debutantes reunida,
esperando para ser recebida, e ali, precisamente no meio da multidão, vi
uma mulher requintada. Eu soube imediatamente que ela era francesa, é
claro. Não era por causa de sua voz, mas por causa da maneira como se
movia. Não há nada de comum em uma francesa, você sabe o que quero
dizer, Josie?
Josie provavelmente tinha lido muitos romances franceses.
— Você quer dizer que as francesas não são devassas? — Ela perguntou
insegura.
— Ah, elas se comportam mal, com verdadeiro “joie de vivre”. Mas
nunca olham para um homem com o convite impresso nos olhos. —
Explicou enquanto esticava os pés. As pernas dele eram tão longas que
quase tocavam os sapatos dela. — Elas esperam que um homem se
aproxime ou o dispensam com indiferença. Você vê a diferença? Elas têm
um instinto. Entende a diferença?
Josie pensou na maneira ansiosa com que os olhos de Lady Lorkin
varreram o rosto de Mayne. Tomou outro gole de champanhe. Finalmente
disse algo totalmente inapropriado. Ela não gostaria que houvesse saído de
sua boca, mas saiu. — Deve-se presumir que Lady Lorkin não seja de
origem francesa?
Ela foi recompensada com uma gargalhada. — Nem remotamente.
— Você está tendo um caso com ela?
Imediatamente, a risada morreu em seus olhos. — Estou noivo de
Sylvie.
— Eu não quis dizer ...
Mas ele não estava mais com raiva. — Eu tive um encontro com ela, há
cerca de três anos. Receio que ela possa ter construído isso como uma
memória preciosa.
— Sim eu pude ver.
Ele parecia ligeiramente envergonhado. — Eu me sinto um idiota até
mesmo dizendo uma coisa dessas na frente de uma jovem.
— Posso ser jovem, mas não sou estúpida. E, se você se lembra, uma de
minhas irmãs esteve noiva de você, então estou plenamente ciente de sua
história escandalosa.
Ele baixou os olhos e pareceu se concentrar em suas botas novamente.
— Eu nunca deveria ter abandonado Tess no altar... nunca.
— Não só isso, mas você quase teve um caso com minha outra irmã—,
interrompeu Josie. Ela se sentiu feliz, pela primeira vez desde o início da
temporada. Ele sorriu para ela. — Você só causa problemas para as irmãs
Essex. Todas ficaremos muito felizes quando Sylvie o amarrar para sempre
no altar. Você é um homem perigoso!
— Isso é injusto! — Ele protestou. — Todas as Essex se casaram sem
um protesto de minha parte. E, eu não tive um caso com Imogen. Não sei
como você pode pensar isso.
— Eu sei que não—, disse Josie com alguma arrogância—. Mas não foi
por falta de interesse da parte dela.
Ele pareceu surpreso com o que a jovem acabara de dizer, mas não disse
nada.
— Por que você não permitiu que ela te seduzisse? — Josie perguntou
enquanto levantava o copo para que ele pudesse enchê-lo novamente. —
Imogen é muito bonita. É viúva, então não havia marido com quem se
preocupar. O que foi que o impediu?
— Você acha que tudo o que eu faço é ir de romance em romance por
toda Londres, dormindo com qualquer mulher que me lance uma isca, ou
que eu ache atraente?
Josie pensou por um momento. — Sim.
— Bem, eu não sou assim.
— Se você tivesse tempo e mundo suficientes...— disse ela,
maliciosamente.
— Não, sua diabinha, essa citação literária não vai funcionar. Marvell
diz que sua senhora poderia permanecer recatada se tivesse tempo e mundo
suficientes ...
— O modesto Mayne—, disse Josie, interrompendo-o novamente—.
Ah, Mayne, como a alta sociedade está errada em seu julgamento!
Certamente você não vai acreditar — seus olhos enormes se arregalaram —
mas todos os londrinos parecem pensar que você é o maior sedutor de
mulheres que já frequentou a sociedade.
— Bem, eu não sou—. disse Mayne bruscamente, esvaziando o copo e
enchendo-o novamente.
Ele parecia um pouco irritado, então Josie mudou de assunto. Não havia
nada pior do que ser importunado por nossas piores características. Era
muito mais agradável fingir que não existiam. Como comer demais. Estava
prestes a comer um daqueles deliciosos sanduíches quadrados, mesmo
tendo jurado naquela mesma manhã que nunca mais comeria.
Ela se inclinou para frente com cuidado, pegou um sanduíche e esbarrou
na mão de Mayne. Ele estava sorrindo para ela, e de repente Josie soube por
que todas aquelas damas londrinas se faziam de idiota por causa dele. Ele
deve ter bem mais que trinta anos, mas seus olhos tinham um sorriso
diabólico que a fez sentir...
Ela deixou cair o sanduíche como se a queimasse.
Mayne já estava relaxado na cadeira, mas se inclinou para a frente e o
pegou para ela. — Tenho medo do que aconteceria se você se inclinar um
pouco mais para a frente—, observou ele.
Ela fez uma careta para ele e recuou na cadeira.
— Então, você vai me dizer o que está vestindo? — ele perguntou,
comendo metade do pequeno sanduíche com uma mordida.
Tudo era tão fácil para ele. Mulheres caindo a seus pés sem que ele
precisasse se esforçar. Ele parecia não ter o menor sentimento de culpa.
Podia comer de tudo, e continuava esplêndido, uma pessoa confiante. Não
era justo. — Não, não vou falar sobre minhas roupas íntimas.
— Você parece absurdamente desconfortável—, Mayne observou feliz.
Josie deu uma mordida em seu sanduíche. Estava ótimo. Um toque de
salmão com um toque de pepino. — Sua cozinheira é maravilhosa—, disse
ao terminar.
Mayne sentou-se ligeiramente e pegou mais dois para si e um para a
jovem. — Não esqueça do seu champanhe—, disse ele. — Lembre que foi
criado por Deus para acompanhar o salmão defumado.
Houve um momento de silêncio reverente enquanto os dois comiam.
Em seguida, Mayne derramou o resto da garrafa na taça de Josie. —
Bebemos tudo isso? — perguntou, ligeiramente alarmada.
— Não, estava meio vazio quando foi aberto—, respondeu
sarcasticamente—. Se você não vai falar comigo sobre suas roupas íntimas,
vai pelo menos falar com Sylvie sobre elas?
— Claro que não! — Josie gritou, imaginando sua noiva esguia.
— Com uma de suas irmãs, então?
— Naturalmente, Imogen me levou à sua própria “modiste", uma
francesa—, acrescentou ela deliberadamente. — Madame Badeau. Renovei
todo o meu guarda-roupa para esta temporada e, embora você possa não
aprovar, garanto que Madame Badeau é a melhor costureira de Londres.
Os olhos de Mayne se estreitaram e ele estava olhando para ela
novamente. Josie teria se endireitado, exceto que ela não poderia estar mais
reta do que já estava. Ela bebeu seu champanhe e quebrou o silêncio. —
Posso dizer o que tenho certeza sobre o que você está pensando—, disse
ela, colocando a taça na mesa com um pequeno clique—. A única coisa que
me faz entrar neste vestido é meu espartilho. Isso faz milagres. Eu amo isso
—. Ela terminou a última frase com coragem.
Mayne não estava mais olhando para ela; ele estava cortando o cordão
em volta da rolha de uma garrafa de champanhe que Josie não tinha visto
antes.
— Vamos beber mais? — ela perguntou, com um pequeno suspiro.
Ele encolheu os ombros. — Por que não? A esta hora já perdemos a
maior parte da festa. Não gostaria de devolvê-la à casa de Rafe até que
estejamos certos que a multidão se foi e ninguém nos verá. Acho que você
não está muito acostumada a beber, não é mesmo?
— Eu já bebi uma vez—, disse Josie olhando com amor para as bolhas
na garrafa. — É muito mais interessante do que eu pensava.
— Não fique muito animada—, aconselhou-a—. Pense em Rafe e
quanto tempo ele levou para ficar sóbrio de novo.
— Ah, não vou.
Ele ergueu a taça e aproximou da dela. — Ao futuro, Josie.
— Por que você me chama de Josie e eu chamo você de Mayne? — ela
perguntou, tomando um grande gole de champanhe. Isso a fazia se sentir
corajosa e imprudente.
— Você pode me chamar do que quiser—, disse ele com um encolher de
ombros.
— Então vou chamá-lo de Garret. Afinal de contas, somos amigos e
acho que um cavalheiro que tem a ousadia de questionar uma dama sobre
suas roupas íntimas deve ter uma relações um tanto íntima com ela,
concorda? — Um pensamento a atingiu e ela mergulhou direto em outra
pergunta. — Todas aquelas mulheres com quem você dormiu se referem a
você como Garret ou Mayne?
Ele estava sorrindo para ela, um sorriso preguiçoso e lindo com um
toque remoto do diabo. Ele parecia com um ser de outro mundo, um Baco
ligeiramente perverso feito por um mestre escultor. Isso a fez sentir-se
audaciosa.
Afinal, não era Lady Lorkin naquela cadeira. Era ela, Josie, a debutante
mais desprezada do ano. — Eu amo champanhe! — ela adicionou.
— Começo a achar que devo pedir uma xícara de chá reconfortante—,
disse Mayne. E, então: — Não, bruxinha, nunca pedi às mulheres com
quem tive casos que me tratassem pelo primeiro nome. Não é correto.
— Por que não? Se eu fosse ... me despir na frente de uma pessoa,
certamente gostaria de ser familiar o suficiente para chamá-la pelo primeiro
nome!
Ele riu disso. — Há mais intimidade envolvida do que despir—,
ressaltou. E então pareceu um pouco chocado consigo mesmo. — Eu não
deveria ter dito isso.
— Estamos falando sobre a cama—, disse Josie impaciente. — Você
pode fingir que sou seu irmão mais novo, se quiser.
Ele olhou para ela. — Eu não quero.
— Bem, o que quero dizer é que, se algum dia eu tivesse que tirar a
roupa na frente de alguém, certamente não o faria em uma atmosfera de
tamanha formalidade.
Mayne estava olhando para as bolhas em seu champanhe, girando a taça
para que o vinho dourado refletisse a luz. — A maioria das mulheres se
despe com a ajuda de suas empregadas e depois se enfia debaixo das
cobertas.
Josie pensou sobre isso. Parecia um plano muito bom para ela. Dessa
forma, o marido de uma pessoa nunca ficaria nervoso com a visão de sua
carne. — Onde o cavalheiro se despe?
— Claro, senhoras e senhores nunca compartilham um quarto—, ele
disse, olhando para ela através de sua taça. — Ninguém poderia imaginar
tal coisa; esse tipo de intimidade é deixado para as classes mais baixas.
Não, o cavalheiro entra no quarto de sua esposa, admiravelmente coberto
com um roupão listrado de tecido grosso. Então ele despe o roupão ...
Josie teve uma súbita imagem vívida de como seria a aparência de
Mayne sem um roupão ou qualquer outra coisa.
—... mas não antes de ele desligar a lâmpada—, Mayne concluiu—.
Nenhum excesso promíscuo entre a aristocracia. Absolutamente nada.
— E, ela nunca usa o primeiro nome dele? — Josie disse, arrancando
sua mente dos pensamento lascivos.
— Nunca. Na verdade, ela fala pouco, na minha experiência—. Mayne
apoiou a cabeça nas costas da cadeira e olhou para o teto. — E isso é
realmente algo que você nunca deve discutir com seus amigos próximos—,
disse ele—. Eu não deveria dizer a você, mas vou de qualquer maneira. A
verdade é que não consigo imaginar por que as mulheres se esforçam tanto
para irritar seus maridos tendo romances, quando a maioria delas nem
mesmo gosta dessas intimidades.
— Então você—, disse Josie, excitada com a audácia de uma conversa
desesperadamente imprópria—, não deve ser muito bom em dormir com
mulheres. Talvez Imogen teve a sorte de ser salva de tal experiência—. Ela
sorriu ao ouvir o lamento profundo que saiu da garganta do cavaleiro. —
Tess e Annabel compartilharam com Imogen uma conversa sobre sua noite
de núpcias—, ela disse a ele—. E, dessa vez elas me permitiram ficar,
porque eu era mais velha e deveria me casar nesta temporada.
Mayne apertou a mandíbula. — E, elas comentaram algo sobre mim? —
perguntou com total descrença.
— Por que diabos elas estariam interessadas em você? Tome cuidado
para que toda essa adoração de mulheres tão tolas como Letitia Lorkin não
suba à sua cabeça.
— Josie, você é uma bruxa—. A frase agora não soava tão afetuosa
quanto antes—. Você pode me dizer, por favor, por que meu nome surgiu
durante essa conversa tão delicada?
— Como eu disse a você, o seu nome não foi citado. Mas, falava-se
sobre o fato de que muitos homens são incapazes de fazer as mulheres
felizes na cama.
— Não me diga que suas irmãs estavam preocupadas com Rafe—. Ele
parecia horrorizado. Provavelmente era uma questão de lealdade, de seguir
a máxima: — quem insulta o meu amigo insulta-me.
— Não. Mas ...— Josie parou. Uma coisa era ser indiscreta com Mayne,
outra bem diferente era revelar que o primeiro casamento de Imogen não
fora totalmente bem-sucedido nesse sentido.
Ele não disse nada, apenas olhou para o copo.
— Parece que não tenho problemas em fornecer uma experiência
satisfatória.
Josie tomou um gole com um pouco mais de cautela. Ela estava
começando a sentir-se excessivamente alegre. Era bom, mas uma voz
admoestadora distante aconselhou que ela parasse de beber.
— Bravo para você—, disse ela.
Ele olhou para ela que sentiu o impacto de seus grandes olhos negros e
selvagens dentro de si.
— Fui eu que muitas vezes achei insatisfatório—, disse ele—. E não
posso dizer de que maneira, porque não é o tipo de coisa que você fala com
garotas virgens—. Dizer essa palavra pareceu assustá-lo, e ele pegou a
garrafa para se controlar—. Maldição. Estou bêbado—, disse. Sua voz
escureceu para um rosnado encharcado de champanhe. Josie achou que era
a coisa mais sexy que ela já tinha ouvido.
— Por que continuou fazendo, então? — Ela perguntou, olhando para
ele por entre os cílios, disfarçadamente, para que ele não percebesse a
curiosidade que a dominava.
Mas ele nem mesmo olhou para ela.
— Não tenho feito isso ultimamente—, confessou—. Não tive mulher,
desculpe a vulgaridade, desde Lady Godwin e ...— ele parou.
Josie sabia quem era Lady Godwin. Ela era uma musicista brilhante,
que compôs valsas com o marido. Lady Godwin havia criado uma linda
valsa que ela dançara sem parar na sala de estar de Rafe, dias antes do
início daquela temporada horrível. Mas desde então Josie não conseguia
mais valsar, porque não queria que ninguém colocasse a mão em seu
espartilho. Qualquer homem podia sentir cada uma das hastes de baleia
através da seda fina de seus vestidos.
— Você quer dizer—, disse ela com cuidado, — a condessa? — Isso era
tristeza nos olhos de Mayne?
— Ela mesma. Se você vai acreditar na tolice disso, imaginei que estava
apaixonado por ela. Inferno, eu estava apaixonado por ela.
— Como ela ousou rejeitar você? — Josie perguntou em tom de
protesto—. Eu nunca vou pensar bem dela novamente. Pensei que ela fosse
mais sensível.
Ele sorriu para o elogio indireto—. Ela ficou com o marido, sua
bruxinha. Ela o amava, mais do que a mim, e como ela não me amava nem
um pouco, isso foi relativamente fácil.
— Sylvie é muito mais bonita—, disse Josie com firmeza.
— Sim—. E, depois de um tempo: — Sylvie é pintora, eu já te disse
isso? Ambas são artistas.
— Eu gostaria de ter talento para artes como essas mulheres.
— Para que você tem talento?
Josie encolheu os ombros. — Nada elegante, nem artístico também. Não
sei nem bordar e só gosto de ler.
— Ler é uma atividade apreciável.
— Não os que eu leio—, disse Josie em uma explosão de sinceridade
imprudente. — Gosto de ler os livros publicados por Minerva Press.
Ele riu.
— Eles são realmente muito bons—. A garota assegurou timidamente.
— Aventuras, fugas, donzelas em perigo... nossa, Josie, mal te
reconheço! Você não era a garota que tinha medo de cavalgar, embora
adorasse cavalos? Você gosta de aventuras?
— É indelicado de sua parte mencionar isso.
— Bem, estou prestes a ficar ainda mais indelicado—, ele falou
lentamente—. Você tem que tirar esse maldito espartilho. Não fique com
raiva de mim, mas você nunca foi assim. Eu gostava mais de você antes.
— Como assim antes?
— Agora você parece com a minha mãe—, exclamou Mayne. — Minha
mãe poderia ...
— Como eu era antes? — Ela interrompeu. — Você deve responder à
minha pergunta. Estou pronta para qualquer comentário, mesmo que não
seja lisonjeiro—. Suas palavras eram mais corajosas do que ela, na verdade.
— Quando estávamos a caminho da Escócia, percebi várias vezes que
você havia desenvolvido uma figura realmente adorável—. disse ele,
agitando o copo no ar.
— Oh! — Ela exclamou, surpresa.
— Quando eu conheci as quatro irmãs Essex, entende, você tinha uma
figura perfeitamente charmosa para uma garota da sua idade ... droga,
quantos anos você tem?
— Eu tinha quinze anos quando você me viu pela primeira vez—. disse
Josie com dignidade.
— Um pouco cheinha, na época—, disse Mayne—, mas a maioria das
garotas é assim, nesta idade. No caminho para a Escócia, lembro-me de
dizer a mim mesmo, várias vezes, que você estava desenvolvendo um corpo
que iria partir os corações dos homens e deixá-los loucos atrás de você. E,
ainda era uma pessoa simples, e você certamente não sabia andar
graciosamente ainda.
— E, então eu engordei.
— Não! Então você apareceu usando uma engenhoca que faz você
parecer ... você parece ... bem, você parece estar empalhada.
— Como uma salsicha recheada.
— Tire essa maldita coisa.
— Do que você está falando? — Seu sangue estava pulsando em suas
veias.
— Tira—, disse ele. Ele se levantou e, para seu crédito, não estava nem
mesmo instável. — Eu ajudo.
— Você deve estar bêbado—, disse ela com horror. Seu rosto não
parecia ter o poder cruel e arrebatador dos heróis de seus romances
favoritos, mas como ela saberia? Ele estava parado diante dela parecendo
prestativo e apenas ligeiramente bêbado.
— Eu tenho trinta e quatro anos, em nome de Deus. Trinta e cinco em
dois dias. E você tem quantos anos? Dezoito?
— Quase dezenove—, disse ela, de boca fechada.
— Bem, eu tenho quase trinta e cinco anos. E no curso de minha vida
longa e perdida, eu nunca me dediquei a tirar crianças dos berços. Além
disso, como acho que você sabe, estou apaixonado por Sylvie!
— Então o quê ... o que você quer?
— Se você não vai falar com Sylvie, e suas próprias irmãs concordaram
em enfiá-la nesta roupa desprezível, então terei que mostrar eu mesmo.
— Mostrar-me o quê?
— Mostrar a você como andar para deixar um homem a seus pés, é
claro. Não é isso que você quer?
— Claro que é isso que eu quero! — gemeu. — Mas eu não posso ... eu
não posso me despir.
— Não totalmente—, disse ele, angustiado. — Você só precisa tirar essa
faixa e colocar o vestido de volta.
— Não é uma faixa, é um espartilho! E, você está bêbado.
— Você também—, disse ele, rindo francamente agora. — Nós dois
estamos bêbados na sala da luz das estrelas. Era assim que minha tia
costumava chamar: a sala da luz das estrelas. Quando ela ficou muito
doente, no fim da vida, ela ficava deitada neste sofá a noite toda e
observava as estrelas do teto, e as estrelas pela janela. Às vezes, meu pai
ficava com ela até o amanhecer.
— O coração dele deve ter se partido quando ela morreu—, Josie
sussurrou.
— Ele sempre disse que sem ela não saberia como amar. Meus avós
eram tão rígidos que, em vez de serem feitos de carne e osso, diria que eram
esculpidos em madeira.
Os olhos de Josie se encheram de lágrimas. — Isso é tão lindo. Foram
minhas irmãs que me ensinaram a amar, porque minha mãe morreu antes de
eu nascer.
Ele ergueu as sobrancelhas.
— Antes?
— Bem, no mesmo dia. Ela nem me segurou uma vez, então penso nela
como se ela tivesse morrido antes que eu chegasse.
— Suspeito que Lady Godwin me ensinou a amar—, confessou Mayne
—. Isso é muito chato.
— Por que?
— Porque um dia ela me dispensou sem pensar duas vezes. Mas eu não
conseguia parar de pensar nela. — Ele deu de ombros.
— Você ama sua irmã. — Josie apontou.
— Claro que a amo. Mas eu estava me referindo a um amor
verdadeiramente apaixonado—. Ele sacudiu-se e de repente seus olhos
clarearam, olhando para ela, e antes que ela percebesse, ele a ergueu.
Habilmente, ele a virou. Então, começou a desabotoar a parte de trás do
vestido dela.
Josie sentiu que o champanhe havia prejudicado sua capacidade de
reação. Tal conduta peculiar e imprópria nunca foi explicada a ela por sua
governanta, a Senhorita Flecknoe.
Mas, Mayne não queria seduzi-la. Achava que ela se parecia a uma
salsicha recheada. Então, importava que ele estivesse prestes a ver seu
espartilho?
— Deus Todo-Poderoso—, ele sussurrou quando o vestido estava
completamente desabotoado.
Ele tinha visto o espartilho dela.
— Que diabos é essa coisa? — Ele parecia quase zangado—. Isto
parece o esqueleto de um navio.
— É um espartilho especial vendido em Paris para mulheres grandes—,
explicou Josie, sentindo um rubor ardente subir por seu pescoço. — Você
pode, por favor, abotoar meu vestido?
Mas ele continuou seu trabalho, agora afrouxando os cordões.
— Você não pode simplesmente me puxar—, Josie exclamou sem
fôlego—. Além disso, você não sabe como fazer. Precisa soltar para cima e
para baixo, sem solavancos. E, então você pode começar a desamarrar, mas
tem que fazer isso lentamente. Muito devagar.
— Por quê? — ele perguntou, e ela ouviu o som de um pequeno gancho
sendo rasgado.
— Não faça isso! — ela gritou, agonizada. E então: — Porque posso
desmaiar se abrir muito rápido.
— Droga—. Ele disse isso categoricamente.
Ela não desmaiou, embora a pressão tenha diminuído tão rapidamente
que ela cambaleou para a frente. Ele a agarrou, mãos grandes segurando
seus ombros. Ele a firmou e, em seguida, empurrou o vestido dela sobre os
braços. Quando caiu no chão, o espartilho o seguiu. Claro que não caiu com
um farfalhar suave, como acontecia com seu vestido. Fez um ruído metálico
porque os ossos de baleia estavam cobertos com pequenas pontas especiais
de chumbo, para que eles não roçassem em sua pele.
— Quanto mais apertado, melhor—, Madame Badeau disse, mostrando
a ela como sua criada deveria apoiá-la contra a cama e forçar o fechamento
dos laços. E, então ela disse as palavras mágicas: Você não vai conseguir
comer enquanto estiver usando isso, é claro.
Na mente de Josie, aquele tinha sido o momento em que “O Corset”,
como ela pensava, mudou para seu status para “sagrado”. O Corset lhe daria
uma temporada de sucesso. O Corset a impediria de comer, e lhe daria uma
forma esguia e refinada, e lhe daria um marido.
Não tinha funcionado assim. Além disso, Josie se viu perfeitamente
capaz de comer enquanto o vestia.
Mayne estava olhando para o chão, onde o espartilho havia caído.
— Parece que um tipo raro de crisálida deu lugar a uma borboleta—,
disse ele, segurando-o por um de seus muitos fios. —Por que diabos você
estava usando isso, Josie?
Ele nem estava olhando para ela na hora, mas a jovem cruzou os braços
sobre a camisa fina e tentou não pensar em sua carne abundante, agora
liberada.
— Me faz parecer mais magra—, respondeu ela.
— Você não precisa ser mais magra—, garantiu ele. Então ele olhou
para ela—. Você está com frio? Coloque o vestido de volta.
Houve um momento de silêncio e então Josie falou com uma vozinha
severa.
— Eu não posso, sem o espartilho. Não vai caber em mim—. Era um
dos presentes do espartilho. Ela poderia usar vestidos que eram quase do
mesmo tamanho que os que Imogen usava.
Mayne jogou o espartilho de lado, e ele caiu com o tilintar metálico
peculiar de peças de chumbo.
— Vou encontrar algo que você possa vestir—, disse ele. Antes que ela
soubesse o que estava acontecendo, Mayne já saíra pela porta.
Josie esticou os braços. Era ... maravilhoso ter removido o espartilho.
Maravilhoso. Ela estava vestindo uma camisa de linho leve. Mais do que
uma vestimenta, parecia um sopro de brisa que a envolvia por toda parte.
Capítulo 08
Do Conde de Hellgate,
Capítulo seis
Por algum tempo minha Hipólita me fez o mais feliz dos homens, e embora
seu interesse mais tarde se voltasse para outro, ainda penso nos frutos
suculentos de nossa amizade. Acho que posso dizer que estivemos ambos na
reunião nos jardins da Condessa de Y ... em 1807. Você deve se lembrar,
caro leitor, da moda de comer tortilhas no jardim que se desencadeou
naquele ano. Bem...

O primeiro marido de Griselda foi entregue a ela em uma bandeja por seu
pai. “Recebi uma oferta de sua mão em casamento”, disse ele.
"O que?" ela engasgou, pensando em Lord Cogley, com quem ela
dançou na noite anterior.
“Willoughby”, disse o pai, impaciente como sempre. “Eu o aceitei.
Família decente, estabelecimento muito bom, provavelmente você não se
sairá melhor.”
“Mas ...” ela chorou. E chorou.
Tinha acabado.
Desde que o pobre Willoughby morrera, com o rosto para baixo em um
prato de ave com geleia, Griselda procurava os homens para uma diversão
ocasional e discreta. Apenas duas vezes, se a verdade fosse conhecida. E
nenhum desses casos petites durou mais de uma noite. Ela considerava
aqueles dois uma distração sensata da rodada de visitas, bailes e eventos
que constituíram sua vida.
Mais um flerte ... e então ela pensaria seriamente na questão do
matrimônio. Ela estava terrivelmente velha: quase trinta e três anos, embora
preferisse morrer a admitir isso. Embora ela não parecesse ter essa idade.
Finalmente ela o viu. Darlington estava do outro lado da sala,
conversando com a Sra. Hotson e sua filha. Griselda parou pensativa por
um momento. A Sra. Hotson era, é claro, famosa pela grande quantidade de
dinheiro que seu marido ganhara investindo em algum tipo de maquinário
que produzia renda, de natureza rústica e só servia para roupas íntimas. Não
as roupas íntimas de Griselda, naturalmente; ela se orgulhava de usar
camisolas tão bonitas quanto sua roupa exterior. Só porque ninguém além
de uma empregada a veria, isso não significava que uma mulher deveria
relaxar.
Darlington era muito bonito. Ele tinha aqueles cachos soltos que todos
os homens estavam usando hoje em dia, desde o bispo de Londres (que
deveria pensar melhor em deixar seus cachos aparecendo sob o chapéu) até
seu próprio irmão Mayne. Os de Mayne eram, pelo menos, naturais, e os de
Darlington também pareciam ser. Não havia nada mais doloroso do que a
ideia de um homem esperando pacientemente enquanto um servo enrolava
o seu cabelo. Darlington era magro e alto, e bem vestido, por tudo que ela
sabia que ele não tinha um centavo no seu nome. Bem, talvez ele tivesse um
ou dois centavos. Era preciso pensar que o duque de Bedrock não jogaria
seu filho mais novo para viver na sarjeta.
Mas Darlington precisava se casar bem. Ele estava obviamente tentando
se interessar por Letty Hotson que estava parada ao lado dele, a boca
ligeiramente entreaberta, ouvindo atentamente enquanto ele inclinava a
cabeça para dizer algo a ela. Mesmo do outro lado da sala, ela podia
perceber um pouco de aversão por si mesma ou, talvez pelo que ele estava
fazendo, em seu rosto, quase podia ouvir o som distante de sua consciência.
“Ora, ora, pensou Griselda, no fim das contas estarei fazendo um favor ao
homem, afastando-o de tal companhia”. Se havia uma coisa que ela sabia,
era sobre o casamento entre pessoas incompatíveis. Ele e Letty nunca
teriam uma conversa inteligente.
Um momento depois, ela estava ao lado da Sra. Hotson, elogiando-a
pelo vestido da filha; Letty estava envolta em renda da cabeça aos pés. E
dois minutos depois, Griselda estava se afastando com a mão de Darlington
debaixo do braço, tendo-o separado daquele bando de damas
desinteressantes.
— Você não vai me deliciar com uma frase inteligente sobre a renda de
Letty? — ela perguntou um momento depois. — Lacy Letty?
— Estou muito ocupado tentando descobrir por que deseja falar comigo,
Lady Griselda—, disse ele—. Temo que meus pecados me condenem.
— Chamar Josie de salsicha foi realmente um pecado—, disse Griselda,
e sua voz saiu mais dura do que pretendia.
— Juro nunca mais fazer isso.
Ela se virou para olhá-lo surpresa.
— Eu tenho sido um idiota. Sinto muito.
Ele tinha olhos verdes acinzentados estranhos com cílios grossos. O
estranho é que ele realmente parecia arrependido. Por que diabos ela não
tinha pensado em falar com ele antes? Talvez ela pudesse ter eliminado o
sofrimento da pobre Josie depois do primeiro baile em que ouviram risos
sobre a “salsicha escocesa”. — Você transformou a temporada dela em um
inferno social—, observou Griselda. Mais uma vez, sua voz era mais crítica
do que pretendia, visto que ela deveria induzi-lo a um flerte e, em seguida,
extrair uma promessa de melhor comportamento.
Foi um pouco decepcionante perceber que não havia nenhum trabalho a
ser feito, e ela poderia ir embora agora e encerrar seu flerte.
— Se você tivesse me pedido para fechar a boca, eu o teria feito.
— Por quê? — ela perguntou, e então: — Não que deva haver qualquer
razão para parar um comportamento tão cruel e ...— Ela parou.
— Indelicado? — ele interveio, com uma torção estranha dos lábios.
Griselda teve vontade de dizer a verdade, então ela disse. — Sim,
realmente rude. É falta de educação zombar daqueles que são menos
afortunados do que você.
— Você está certa em tudo que diz.
— Embora—, acrescentou ela—, obviamente você obviamente não seja
realmente rude.
— Espero que não—, disse ele, mas havia algo sarcástico em sua voz,
sugerindo que ele não estava muito convencido de sua boa educação, apesar
de ser filho de nada mais nada menos que um duque. — Posso convidar
você para dançar comigo.
Griselda sabia que provavelmente deveria voltar e relatar a vitória. Se
ela se apressasse, poderia até encontrar Sylvie, Tess e Josie ainda no
banheiro feminino. Era estranho, mas Sylvie parecia se divertir muito mais
em reclusão do que circulando pelo salão de baile. Mais cedo, Griselda a
vira circulando pela pista com Mayne, e Sylvie parecia quase, quase ...
entediada.
Mas Griselda nunca ficava entediada na pista de dança. — Vou dançar
com você, mas apenas se você me oferecer um gostinho dessa sagacidade
tão preciosa de que ouvi falar.
Ele balançou sua cabeça. — Decidi parar de fazer minha reputação às
custas dos outros.
— É muito bom evitar comentários desagradáveis sobre garotas
indefesas—, disse ela asperamente—, mas certamente você não está
planejando entrar em um mosteiro?
Os primeiros compassos de uma valsa soaram, e ele sorriu para ela
quando a senhora lhe ofereceu a mão, desrespeitando as regras da etiqueta.
— Eu estava pensando em me tornar uma pessoa realmente chata. Um
daqueles que todos admiram.
Ele era um ótimo dançarino. — Eu entendo precisamente o que você
quer dizer. Há algo puritano em você. Suponho que tenha um temperamento
doce e modesto, e apenas fingiu toda essa maldade para não decepcionar
seus amigos.
— Precisamente. Tive que lutar contra o meu desejo ardente de me
tornar bispo, mas talvez ainda tenha tempo de desistir do mundo e de suas
vaidades.
— Eu terei que testar você—, ela disse, rindo um pouco—. Você sabe
que todos os homens bons passam por algum tipo de tentação—. Seu braço
estava quente e forte em volta da cintura dela enquanto dançavam.
— No deserto, eu acredito. Eles nos tentam no deserto—. Ele disse,
olhando ao redor de uma forma que a fez cair na gargalhada. Ela chamou a
atenção de uma amiga, Lady Felicia Saville. Felicia nunca se recuperou
totalmente de um ataque de paixão por Mayne, e Griselda tentou evitá-la o
máximo possível. Mas agora ela lhe deu um sorriso aberto. Estava
dançando com um dos rapazes mais bonitos e inteligentes da alta sociedade
e estava se divertindo.
— Não há deserto na Inglaterra—, observou Griselda.
— Isso é uma coisa boa.
— Por quê?
— Porque eu ouvi dizer que as pessoas ficam seminuas no deserto—.
Seus olhos estavam sorridentes. Por um momento ela pensou que ele estava
tentando seduzi-la, mas isso era ridículo—. Considere Lady Stutterfield em
tal situação, por exemplo—. Ele acenou com a cabeça em direção a uma
mulher ossuda que se movia de forma majestosa, vestida com grandes
quantidades de tafetá engomado.
— Talvez seja bom que a Inglaterra não tenha deserto—, concordou
Griselda.
— Nunca se sabe, é claro, quando os polos magnéticos da Terra
mudarão de posição e transformarão este país em um deserto arenoso—,
observou ele—. Aprendi muito pouco na escola, mas me lembro disso.
— Tenho certeza que ouvi dizer que você foi muito diligente na
faculdade.
— É muito fácil ter destaque hoje em dia—, disse ele—. Especialmente
se alguém gosta de fofoca, como eu. História nada mais é do que uma
grande coleção de fofocas, e eu me formei nessa especialidade, o que deve
me qualificar em sua estima.
— A história é feita de fofoca? Achei que fosse feita de grandes eventos
e pessoas importantes. Além de datas. Minha governanta desesperou-se
bastante com minha incapacidade de manter as datas na cabeça. Eu nunca
consegui ver o sentido disso.
— Nem eu—, disse ele amigavelmente, e ela percebeu que ele quis
dizer exatamente o que disse—. Mas pense em fofoca. Sobre o que você
mais prefere fofocar?
— Pessoas, eu suponho.
— Sim, mas existem muitos tipos de pessoas. Acho que existem três
fontes de fofoca verdadeiramente interessantes. Um é a excentricidade e
outro são os desastres financeiros. Pode-se praticamente resumir a história
do mundo nesses termos. Alexandre, O Grande? Um excêntrico e depois
um fracasso financeiro. Napoleão, Carlos Magno, nosso próprio inglês
Henrique IV ... todos são interessantes para a história, e cada um deles é um
excêntrico, um fracasso financeiro ou ambos.
— Você não me disse a terceira categoria—, observou Griselda.
— Você não gostaria de adivinhar?
Ela pensou por um momento—. Adultério ... ou possivelmente
assassinato. Mas, de modo geral, o adultério é muito mais interessante para
discutir; assassinatos têm uma semelhança triste, por princípio.
— Pode-se argumentar o mesmo sobre adultério, mas eu não—, disse
ele, rindo—. Veja, Lady Griselda, você teria feito uma ótima carreira se as
universidades não fossem tão idiotas em impedir que as mulheres as
frequentassem.
— Tenho certeza de que não gostaria de ter um diploma.
— E, por que não?
— Para que eu pudesse prever em que ano a Inglaterra se transformaria
em um deserto? E, por favor, senhor, que utilidade essa notícia teria para
mim?
— Você poderia preparar a alta sociedade para a eventualidade de valsar
sem roupas—. disse ele.
Ele estava flertando com ela. Realmente, ela pensava que, sendo uma
mulher dez anos mais velha que ele, ela teria que conduzir essa conversa
sozinha. Mas, ele a estava surpreendendo. Primeiro ele jurou parar de falar
sobre salsichas e agora estava flertando.
— Eu tenho medo—, disse ela de uma forma melancólica—, de ter que
deixar a sociedade se isso se tornasse comum.
— Você não toleraria? — disse ele com simpatia—. Sempre que tenho
que visualizar algo de natureza desagradável, penso em muffins.
— Muffins?
Ele a girou ao redor do salão de bailes e suas pernas se roçaram—.
Muffins são muito úteis nessas situações—, disse ele gravemente—. Por
exemplo, se eu pensar em Lady Stutterfield sem suas roupas, para não
mencionar todo aquele tafetá, correria o risco de desmaiar. Então, penso em
um muffin quente com manteiga e me sinto muito melhor. Por outro lado,
se penso em você, Lady Griselda, sem suas roupas, também me sinto fraco,
embora por razões diferentes.
— Então você pensa em muffins? — ela perguntou, seus olhos
capturados pelos olhar intenso do jovem.
— Muffins—. Confirmou.
— Eu acho que você mostra um apego notável à comida infantil—. Ela
recuou quando a música chegou ao fim e fez uma reverência.
— Eu a vejo amanhã no parque? — ele perguntou.
— Você deve estar lá, perseguindo uma jovem senhorita casadoura? —
ela brincou.
— Sim—. disse ele sem rodeios.
Griselda ficou um pouco surpresa, mas então percebeu que Darlington
era provavelmente o tipo que poderia flertar com uma viúva disposta,
provavelmente disponível, e abertamente perseguir uma esposa ao mesmo
tempo. Ela continuou sorrindo e retirou a mão—. Talvez eu o veja lá—. Ela
disse.
— Lady Griselda ...— ele começou.
Mas ela se virou com uma vibração desdenhosa e um sorriso educado.
Embora ele fosse um homem muito agradável para compartilhar uma valsa,
ela não tinha nenhum desejo especial de vê-lo fisgar a pobre Letty Hotson e
seu dote de renda rica.
Capítulo 09
Do Conde de Hellgate,
Capítulo seis
Lá estávamos nós, com as tortilhas sujando completamente nossas roupas
... Minha cara leitora, lembre-se da promessa que você fez de não fazer
qualquer tentativa de descobrir a identidade da minha Hipólita ... e ela me
disse, da maneira mais linda que se possa imaginar:
"Meu caro senhor, você não vai me ajudar a tirar este café da manhã
desagradável de mim?"
Leitor, posso dizer que foi um café da manhã que nunca esquecerei?

A porta se abriu e Josie ergueu seus braços na frente dos seios. Eles eram
muito grandes; ela não sabia dizer como aconteceu, mas no último ano, seus
seios cresceram enormemente. “Pelo menos você não ganha nas pernas,
Imogen disse a ela quando elas estavam olhando para seu reflexo sem o
Corset.
Isso era verdade. Seus tornozelos e pernas eram bastante finos, em
comparação com o resto dela. Eram seus quadris e seios que eram
vulgarmente arredondados.
Mayne entregou a ela um lindo roupão florido, mantendo os olhos na
parede oposta. Ela enfiou os braços nas mangas. Foi um deleite sensual:
seda lisa e elegante em um tom violeta escuro, coberta com arabescos e
cachos selvagens de folhas indianas—. Isso é tão lindo—, disse ela,
amarrando a faixa.
— Você já viajou para a Índia?
— Meu Deus, não.
— As roupas são muito importantes para você, não é?
— Absolutamente—. Ele se virou—. Você fica melhor com esse manto
do que com um vestido que não cabe em você.
— Meu vestido me serve—, ela disse com dignidade—. Com o
espartilho.
Ele devolveu a taça de champanhe—. Agora. Você se senta e eu vou te
dar uma lição sobre como andar.
— Para escravizar um homem—, ela incitou, afundando em uma
cadeira. Era maravilhoso estar sem o espartilho. Ela cruzou as pernas e
saboreou a sensação de poder curvar as costas. O champanhe desceu por
sua garganta em um fluxo agradável e agora familiar de bolhas com sabor
de maçã, ao mesmo tempo que ela experimentava outra corrente difusa, esta
de afeto por este cavalheiro que era um dândi primoroso e que a estava
ajudando a ter sucesso no difícil mercado de casamento.
— Precisamente—. Mayne se abaixou e agarrou seu vestido descartado.
Ele deu uma sacudida especulativa.
— O que diabos você está fazendo? — ela perguntou. Ele agora estava
tirando o casaco. — Por que você está se despindo? — Ela pode ter sido
ingênua, mas até ela podia ver que aquela não era uma cena de sedução, na
qual ele conseguia tirar a roupa dela por meio de um ardil, apenas para se
despir depois.
— Eu acho que poderia explicar melhor se eu colocasse o vestido—, ele
disse, franzindo a testa de uma forma adorável—. Ainda bem que tem
mangas curtas. Receio que meus braços estejam fora de moda de tanto
cavalgar.
E, antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, ele tirou a camisa
também. Ele nem estava olhando para ela, então Josie ficou apenas sentada,
paralisada. Ele nunca seria capaz de colocar seu vestido, e nem ela, sem um
espartilho. Ele era todo liso, músculos lindamente definidos e acentuados.
Ela pensava que os homens tinham tufos de pelos no peito; tinha visto pelos
ondulados saindo das camisas dos homens que trabalhavam nos estábulos
de seu pai. Mas Mayne era suave, sem pelos, exceto pelos músculos que se
destacavam sob sua pele.
Agora, naquele momento, ele lhe era totalmente desconhecido. O
elegante e primorosamente civilizado Mayne, à luz da lua filtrando-se pelas
pequenas janelas no teto, parecia selvagem, como Baco, o deus do vinho.
Ele se sentiria perfeitamente em casa em uma floresta sombria, com
trepadeiras enroladas em seus cabelos.
Sem perceber, Josie congelou em sua cadeira, sem fazer barulho, como
se um animal selvagem tivesse entrado na sala ameaçadoramente. Ela sentiu
uma mistura de atração e medo, de espanto e choque.
Um segundo depois, a atração se transformou em uma risada impotente.
Mayne pegou seu vestido rosa e com um movimento rápido rasgou-o
nas costas. Então, antes que ela pudesse proferir um protesto - uma das
criações especiais de Madame Badeau! Feito da mais fina seda, com uma
sobressaia de gaze rosa e enfeitado por toda parte com minúsculas contas de
vidro branco! - ele puxou as mangas rapidamente para cima dos braços. Ela
podia ouvir um leve som de tecido sendo rasgado, mas realmente, isso
importava neste momento?
— Agora, sim—, ele disse, parando para tomar um gole de vinho—.
Aqui estou.
— Aí está você—, disse ela, rindo impotente. Seus braços musculosos
saíam de suas mangas cor de rosa com toda a incongruência de um tigre
vestindo um avental.
— Preste atenção—, ele disse severamente—. Como eu disse, aqui
estou. Sou a Srta. Lucy Debutante.
Josie levantou-se de um salto e fez uma reverência. — É um prazer
conhecê-la, Srta. Lucy.
Ela não pôde deixar de notar como era mais fácil fazer uma reverência
quando estava vestindo um roupão e não tinha espartilho para cutucar na
parte de trás das pernas.
Mayne também curvou-se graciosamente. Então, caminhou para o lado
da sala. — Muito bem—, disse. — Agora me observe cuidadosamente.
Lucy é jovem e desconhecida, mas sempre foi coquete desde o nascimento.
Isso significa que ela sabe instintivamente que os homens desejam ver os
quadris de uma mulher balançarem quando ela anda. Você entende?
— Não—, disse Josie—. Minha governanta, Senhorita Flecknoe, me
ensinou a andar com um livro na cabeça—. Ela imitou a voz cortante da
Senhorita Flecknoe—. As mulheres devem andar eretas, sem mexer
desnecessariamente o torso.
— A Senhorita Flecknoe é uma idiota—, disse Mayne—. Balançar é
exatamente o que você deve fazer, de forma refinada, é claro—. Ele colocou
a mão no quadril vestido de rosa e começou a andar pela sala em direção a
ela. De alguma forma, como mágica, sua caminhada assumiu o passo
elegante de uma predadora, uma mulher tão confiante em sua atratividade
que seus quadris balançavam como um navio ao encontro das ondas.
Ele se virou e uma risada inevitável escapou dos lábios de Josie. É claro
que seu pobre e maltratado vestido não chegou nem perto de se encontrar
nas costas. Entre as costuras abertas havia uma grande e lisa extensão de
pele.
— Pare de rir, bruxa—, ele disse por cima do ombro—. É sua vez.
— Minha vez?
Um instante depois, Josie se viu ao lado dele.
— Deixe seus quadris balançarem—, Mayne observou—. Você tem
quadris adoráveis. Eu pude perceber mesmo quando você se transformou
em uma salsicha.
— Eu não ...— Josie continuou a resistir às críticas, mas cada vez mais
fracamente. Talvez este homem estivesse certo, talvez o espartilho tivesse
que desaparecer.
Ela caminhou para o lado dele, atravessou a sala, mas o ensaio não foi
bem. Ela não se sentia como uma coquete, não importa o quanto colocasse a
mão no quadril e se mexesse. Tentou não pensar em como seus quadris
pareceriam largos, indo e voltando assim. E, então, ela percebeu que o que
realmente queria era ter o corpo de Mayne com certas formas femininas,
porque seus quadris eram estreitos e, claro, por isso ele os movia com tanta
facilidade, até que parecessem naturalmente sensuais.
Ele parou com uma leve exclamação—. Você não está prestando
atenção, Josie!
— Estou, sim—, ela protestou—. Eu realmente estou. Vou tentar de
novo—. E correu de volta para a parede e, sob seu olhar, caminhou em
direção a ele, tentando gingar de um lado para o outro, sob o olhar de
Mayne. Ela se sentia andando como um pato. Se andar bamboleando
deixava os homens escravizados, ou até mesmo a convidando para uma
dança, que não tinha sido arranjada por uma de suas irmãs, ela estava
ansiosa em conseguir.
Os olhos de Mayne se estreitaram e ela pôde ler que havia fracassado.
— Talvez eu simplesmente ...— sua voz foi sumindo, até se transformar
em um murmúrio.
— Você não está sentindo. Você já beijou alguém, Josie?
— Claro que sim! — E então ela percebeu o que ele quis dizer—. Você
quer dizer beijar um menino?
— Eu estava pensando mais em algo como beijar um homem—,
respondeu divertido.
Ela balançou a cabeça. Quem iria querer beijá-la? Ele estava cego?
Mayne pareceu ler sua mente.
— Esse é o problema. Você não tem a menor noção de si mesma,
porque você ... você não conhece ou controla o seu próprio corpo. Você já
...— Mas ele se controlou. Qualquer que fosse a pergunta, claramente não
poderia ser feita, mesmo sob a influência de muito champanhe e do luar.
Então lá estava ele, na frente dela. Usando um vestido rosa de mangas
curtas. As contas de vidro meticulosamente costuradas pelas costureiras de
Madame Badeau brilhavam ao luar. Ele deveria parecer ridículo, mas em
vez disso, Josie sentiu como se o próprio Baco tivesse realmente vagado
para dentro desta pequena sala da torre e estivesse lá, com um convite
profundo e selvagem em seus olhos.
Embora o que ele estava dizendo não soasse convidativo.
— Eu vou beijar você—, disse ele rapidamente—. Alguém tem que
fazer pela primeira vez, e pode muito bem ser eu, porque sou muito bom
nisso. Mas, Josie ...— E, ele a segurou pelos ombros.
— Sim? — Ela sabia que seus olhos estavam arregalados.
— Eu estou apaixonado por Sylvie, você sabe disso, não é mesmo?
Ela fez uma careta para ele—. Você acha que vou me apaixonar por
você por causa de um beijo.
Seu sorriso estava torto.
— Não se preocupe. Já que estamos sendo francos, devo dizer-lhe que
não tenho intenção de me apaixonar por alguém que seja tão velho quanto
você—. O sorriso dele desapareceu. — Minhas irmãs não fizeram nada
além de jogar homens da sua idade para cima de mim desde o início da
temporada, e embora tenha sido muito gentil da parte deles dançarem
comigo, eu ...
Sua voz sumiu. Na verdade, ele parecia um pouco magoado, mas talvez
fosse apenas sua imaginação, porque ele falou sem vacilar: — Você quer se
casar com alguém da sua idade, o que é absolutamente apropriado. Embora
eu recomende que você procure alguém que tenha atingido a maioridade.
— Eu tenho uma lista de qualidades do marido ideal—, ela disse.
Ele sorriu para isso—. O que está na sua lista?
— Não vou contar tudo a vocês, pois é um assunto privado. Mas eu
decidi que vinte e cinco é a idade ideal, depois que Imogen disse que Rafe
se encaixava em quase todos os itens que eu havia escrito.
— Algum dia, eu adoraria ver essa lista—, disse ele, com os olhos
divertidos e brilhantes—. Mas agora a noite chega ao amanhecer e suas
irmãs estarão se perguntando para onde eu a levei.
Josie encolheu os ombros. Sua pele estava formigando e ela tinha plena
consciência de que os dois estavam sozinhos, ambos semidespidos—.
Provavelmente Imogen partiu com Rafe em sua viagem de núpcias—. disse
ela—. Tess foi para casa com Felton e Annabel já tinha saído do baile
quando eu o encontrei. Ela tem um novo bebê e sente falta dele depois de
apenas meia hora, ou assim ela diz.
— A maternidade faz isso com algumas mulheres—, disse ele—. É
como uma doença.
Ele deu um passo mais para perto e ergueu o queixo dela—. Você tem
uma pele linda, Josie, sabia disso?
— É a minha melhor característica—. Ela murmurou, hipnotizada por
seus olhos. Eles estavam olhando para ela de uma forma, como se ... como
se ...
A mão dele segurou sua nuca e os dedos se enroscaram em seu cabelo
—. Seu cabelo também é lindo.
— É castanho—. disse ela, tentando quebrar o encanto daquela voz
linda.
— Bronze ao sol—, ele a corrigiu—. Certa tarde, a caminho da Escócia,
você se sentou na janela da carruagem e o sol brincou com seus cabelos por
horas: era todo bronze de tons profundos, fascinantes e suaves.
Josie sabia que nunca sentiria o mesmo por seu cabelo.
Então ele se inclinou mais perto. É agora, pensou Josie. Ela sabia o que
esperar, é claro. Ela tinha visto Lucius Felton beijar Tess na boca. Ela tinha
visto o conde de Ardmore dar beijos apaixonados em Annabel, no cabelo e
no ombro dela, e onde quer que o pobre homem apaixonado pudesse dar um
beijo. Em uma ocasião, dobrou a esquina do corredor uma vez e viu Imogen
nos braços de Rafe, e ele a estava beijando, e seus corpos estavam em
intenso contato sensual.
Mas não era o que ela pensava. A boca de Mayne não a roçou com
adoração, como a de Felton fez com Tess. Em vez disso, sua boca desceu
sobre ela como um peso esmagador, duro e exigente. Ela não tinha ideia do
que estava sendo exigido e teve que se conter para não lutar. Não admira
que os casos de Mayne tenham durado apenas duas semanas, ela pensou
vagamente. O homem não sabe beijar!
Ele provavelmente era tão ruim na cama quanto com beijos.
Mas isso nunca faria com que ele se sentisse mal, não quando ele tinha
sido tão gentil em tentar ... o que quer que ele estivesse tentando fazer. Dar
seu primeiro beijo para que ela pudesse andar melhor, e se isso não fosse
uma ideia estúpida, ela nunca tinha ouvido uma.
A mão que estava em seu cabelo era bastante agradável, como se a
estivesse persuadindo a fazer algo,... o quê? A língua dele também ... ele
estava passando a língua pelos lábios dela. Uma coisa estranha de se fazer.
Josie arquivou isso em sua mente como mais uma razão substancial pela
qual o conde de Mayne permaneceu solteiro até os trinta e cinco anos.
E, de repente, tudo mudou. Como ou por quê, Josie não sabia.
De repente, ela podia sentir o cheiro dele. Ele cheirava
maravilhosamente bem, um cheiro picante de sabonete masculino. Ela
olhou para ele e seus olhos estavam pesados, e de repente ela podia sentir o
polegar dele esfregando contra seu pescoço, e tudo parecia muito estranho.
Como se ... como se ela tivesse acabado de tirar o espartilho.
— Essa é minha garota—. disse ele contra sua boca. Sua voz era
sombria como a sala, escura como o ronronar de um Deus do vinho. Ela
abriu os lábios para responder. E essa foi a maior surpresa de todas. Porque
com um movimento suave ele a puxou para mais perto e contra seu corpo, e
ao mesmo tempo sua língua entrou em sua boca.
Ela ficou rígida de surpresa. Não estava limpo. Não era higiênico.
Certamente não foi ...
Mas, seu pensamento sumiu em uma névoa de sensações sensuais,
porque de alguma forma seus braços estavam em volta do pescoço dele e
enrolados em seu cabelo. E aqueles seios que ela tanto desprezava estavam
pressionados contra seu peito e era delicioso, como tortura e prazer ao
mesmo tempo. E ele estava em sua boca, falando com ela sem palavras,
suas mãos segurando-a com força para que ela não pudesse se mover para
trás. Exceto que ela não queria. Tudo o que ela queria era ser esmagada
contra seu corpo grande e sólido, sentindo-se pequena e sensual, e todas as
coisas que ela nunca sentiu.
Tudo o que ela queria era ser esmagada contra seu corpo grande e
sólido, sentindo-se pequena e sensual. Além disso, ela percebeu muitas
outras coisas que nunca havia sentido.
Era exatamente o que ele queria que ela sentisse.
Como se a ideia e a verdade de tudo isso viessem ao mesmo tempo, algo
como uma torrente de fogo líquido percorreu seu corpo, deixando seus
joelhos sem forças, fazendo-a temer e não poder ficar de pé sem a ajuda do
abraço maravilhoso. Ele estava entrando em sua boca com movimentos
firmes e exigentes, e então ela soube por que as mulheres choravam quando
ele as deixava.
Como se Mayne pudesse ler seus pensamentos, ele se afastou e a olhou
fixamente. Seus olhos escureceram, ou talvez toda a sala escurecesse. Eles
não pareciam mais azuis, mas pretos, e por um segundo, Josie pensou ter
ouvido uma respiração masculina acariciar seu peito.
— Bom—, ele finalmente disse—. Josephine Essex, este foi seu
primeiro beijo.
Josie abriu a boca, mas não saiu nada. Ela apenas olhou para ele, os
braços em volta do pescoço. Sua mente era o paraíso escuro e confuso do
desejo ... sim, ela não era tão estúpida para não reconhecer isso. Depois de
um momento, a garota baixou os braços e lutou para recuperar a clareza da
mente, o controle da situação.
Havia algo estranho nos olhos de Mayne.
— Você achou aceitável? — O ronronar áspero e fascinante já havia
sumido de sua voz.
— Completamente—, ela respondeu, suas mãos tremendo enquanto
apertavam o nó do manto na cintura. — Será que eu ...— limpou a garganta
—, ... eu vou conseguir andar direito agora?
— Espero que sim, Josie—. Ele disse quase como se fosse uma oração
—. Eu acho ... eu acho que sim.
Ela conseguiu esboçar um pequeno sorriso.
— Você tem grande fé em seus poderes de sedução, Lord Mayne.
Suponho que seja devido a muitos anos de prática.
— Sempre se pode ser surpreendido—. respondeu ele, um tanto
sombriamente. E então ele se recostou—. Vamos ver se fiz papel de idiota
ou não.
Josie se afastou dele e foi até a parede oposta. Mayne não tinha feito
papel de idiota. Ela podia sentir em cada movimento de suas pernas, no
roçar de seus seios contra o manto que ela vestia. Quando ela se virou para
caminhar em direção a ele, ela estava pronta.
Ela caminhou e parou por um momento, talvez para saborear o prazer
do sucesso. Sorriu para o professor, com a beleza de seus olhos, como a
forma como seus cabelos caíam. Aquele cabelo, mesmo naquele momento,
dava a impressão de ter saído das mãos de um pintor ou escultor brilhante.
Mayne parecia um pouco atordoado, então ela sorriu novamente.
Os sorrisos que ela estava esboçando hoje à noite eram um mundo longe
das caretas que ela usava como máscaras nas últimas semanas da temporada
social. Ela podia sentir a exuberância de seus próprios lábios. Viu seus
próprios olhos brilharem. Era outra pessoa, outra mulher. Ou melhor, uma
mulher.
E, então, ela começou a caminhar em direção a ele. Quadris carnudos e
cheios, curvados naturalmente, lindamente, até a cintura marcada por uma
faixa de seda. Seus seios incharam, e pela primeira vez em sua vida ela
soube que eram certos para seu corpo: equilibrando os quadris, carregando-
os com orgulho, lindos em sua generosidade.
— Não exatamente—, ele disse—. Observe-me novamente.
Ela pensou ter visto o que ele quis dizer desta vez. Mesmo no absurdo
daquele corpo musculoso, e do vestido rosa frágil, ela podia ver que ele
estava ligeiramente rolando os quadris. Em vez de andar como
normalmente fazia, colocando uma perna rapidamente na frente da outra,
Mayne estava cambaleando para frente. Havia balanço em seu andar, uma
promessa, uma promessa ridícula, dado o tecido estourado, mas ela viu o
que ele quis dizer.
Ele estava do outro lado da pequena sala da torre. — De novo—, ele
comandou.
Ela caminhou lentamente em direção a ele, ouvindo seu corpo, andando
quase na ponta dos pés porque parecia certo e porque suas pernas ainda
tremiam um pouco com o beijo. Ela caminhou até um pouco antes dele e
parou.
— Garret—, disse ela. E, ergueu uma sobrancelha.
— Eu acho que você dominou a arte—, disse ele. Sua voz estava
estrangulada, sombria, e ela adorava isso.
Então ela apertou o cordão em volta da cintura ainda mais apertado, e
com certeza, os olhos dele caíram para seus seios.
— Josie! — ele disse bruscamente.
Ela sorriu para ele—. Você disse que os homens se escravizariam aos
meus pés, não disse?
— Não velhos como eu—, disse ele, com uma gargalhada relutante.
— Acho que a partir de agora não serei tão exigente no que diz respeito
à idade. Veja o quanto aprendi com você.
— Nada que você não pudesse ver nos olhos dos homens de qualquer
idade—, disse ele. Sua voz tinha mais uma vez o tom profundo e sedutor de
antes.
Ela deu a ele um sorriso tímido—. Veremos se sou capaz de enganar
esses homens com meu novo jeito de andar.
— E sem espartilho.
— Sem espartilho—. disse ela, suspirando.
— Nada falamos sobre a beleza incrível do seu rosto—, ele disse,
levantando o queixo dela com a mão.
— É muito cheio—, ela sussurrou.
Ele esfregou o polegar lentamente em sua face—. Nem todas as
mulheres foram projetadas para serem angulosas. Seu rosto tem a beleza
arredondada e ligeiramente sombria de uma Madonna.
— Annabel disse isso também—. disse ela, sentindo-se um pouco sem
fôlego.
— Seus cílios são pecaminosamente exuberantes—. Ele continuou—. E
sua boca ...— Ele parou—. Vou deixar sua boca para os jovens
inexperientes de vinte anos que você tanto deseja.
Josie tentou entender o que essas palavras significavam, enquanto
olhava para ele. Claro que ele varreu a alta sociedade como fogo na palha.
Pensando nos rostos descontentes e ariscos da maioria das matronas que ela
conheceu na interminável rodada de bailes de debutantes que formavam a
temporada, ela ficaria surpresa se houvesse uma entre elas que não caísse de
costas com sua abordagem. Isso lhe deu uma sensação peculiar de
afundamento, como se ela corresse o risco de cometer algum tipo de
loucura que ela não havia pensado ser possível.
— Garret—, ela sussurrou.
Suas sobrancelhas pretas e retas se juntaram e ele baixou o queixo dela
—. Melhor não me chamar assim em público, bruxinha—, ele disse,
virando-se. Ela o observou puxando o vestido rosa para frente. Sua pele era
morena e a forma curvada e musculosa a fazia se sentir estranha. Em
perigo. Então ela relembrou:
— Espero que você não tenha medo de que as pessoas pensem que
estou louca por você.
Ele vestiu a camisa de linho branco, elegante, caiu sobre a sua cintura,
deixando a jovem um pouco desapontada. — Deus, não—, disse ele,
virando-se e dando-lhe um sorriso irônico—. Tenho medo que eles pensem
que eu estou louco por você.
O coração de Josie bateu forte em seus ouvidos—. Bem, isso nunca
aconteceria—. Sua mandíbula estava levemente sombreada pela barba. Ele
parecia um pirata de sobrancelha negra, embora enquanto ela o observava,
domando a camisa, enfiando-a na cintura da calça.
— Não me olhe assim—, ele murmurou, empurrando a camisa para
baixo para deixar uma protuberância em suas calças.
“Eu gostaria de fazer isso”, Josie pensou consigo mesma. Mas ela tinha
certeza que o pensamento não apareciam em seus olhos.
— É interessante—, ela disse—. Quem diria que era tão difícil controlar
uma camisa? — Mayne vestiu o jaqueta, que se ajustou perfeitamente sobre
seus ombros, transformando-o em um instante. De pirata ousado e
zombeteiro para um conde elegante, cuja jaqueta azul meia-noite ecoava
seus olhos azuis insolentes. De repente, em vez de irradiar uma
sensualidade perigosa, ele parecia um membro seguro da maior aristocracia
do mundo.
Josie suspirou. Foi uma transição dolorosa de assistir, ainda mais por
causa de seu conhecimento prévio de todas as mulheres que viram Mayne
passar do privado para o público, do dela para o de ninguém, e tudo isso
com um simples movimento de uma jaqueta.
— Bem—, disse ele—, é melhor eu devolver você discretamente de
volta para sua casa. Não deve ser muito difícil.
“Não para alguém com experiência em entrar e sair furtivamente de
casas”, pensou Josie. Mas ela guardou o pensamento para si mesma.
Seu cabelo estava caindo em seus ombros e caindo em seu pescoço. Ela
se abaixou para pegar o espartilho, mas ele riu e o arrancou, jogando-o
contra a parede—. Você não vai mais usar isso. Amanhã você deve sair e
comprar vestidos que façam jus ao corpo que Deus lhe deu, em vez de
moldá-lo em uma forma diferente, ouviu?
Mesmo pálido de exaustão e champanhe, cabelo despenteado, queixo
sombreado, ele era a coisa mais linda que ela já tinha visto—. Eu vou—, ela
disse, guardando a lembrança. Ela passou por ele.
— Vá aquela modiste que trabalha para Griselda—, ele disse, pegando a
mão dela.
Ela olhou para ele interrogativamente—. Não chame você de Garret.
Não use meu espartilho. Use a modista de Griselda. Ande como se eu fosse
um homem de saia. Considere os homens com mais de trinta anos, mas
permita que os mais jovens babem por mim.
Mayne ficou olhando para ela, sentindo-se como se tivesse perdido o
equilíbrio. Josie era tão linda, com aquela nuvem de cabelo de bruxa em
volta dos ombros, sua bela boca curvada e sorridente e seus olhos
inteligentes—. Cristo, você é de tirar o fôlego—, disse ele.
Ele podia ver em seus olhos que ela não acreditava nele. Não havia
dúvida, porém, que um vestido decente resolveria isso. Seria o bastante ela
ao menos entrar em um salão de baile vestindo apenas o seu roupão que a
parte masculina da sala cairia de joelhos. Ele continuava tendo que parar de
olhar para a forma como os seios dela inchavam sedutoramente sob a seda
pesada.
— Você vai ao baile de Mucklowe no final da semana? — perguntou a
ele.
O que havia em Josie que fazia um nó subir em sua garganta toda vez
que ela parecia ansiosa?
— Você quer dizer se eu vou aparecer nos Mucklowes—, ele disse,
colocando a mão nas costas dela para conduzi-la escada abaixo.
— Suponho que estarei lá, se Sylvie quiser ir. Ela tem gostos ecléticos
quando se trata da alta sociedade.
Josie chegou ao fim da escada e esperou por ele—. Seria maravilhoso se
você pudesse estar lá.
— Se você quiser, eu estarei lá.
Seu rosto se suavizou em um sorriso. Aqueles lábios carmesins dela
eram perigosos. E ele era um homem apaixonado por outra mulher.
— Sylvie e eu não perderíamos isso—, garantiu ele. E então a levou de
volta para sua casa. Era incrível como foi fácil devolvê-la ao quarto sem ser
vista.
Todos aqueles seus casos lhe ensinaram alguma coisa, pensou enquanto
descia a rua em direção a sua casa, depois de fazer sua carruagem retornar
antes dele. Havia uma névoa espessa se estabelecendo quando o amanhecer
apareceu, e ele sentiu vontade de caminhar. As árvores pareciam turvas e
peludas, à medida que a névoa se aproximava, até que ele se viu movendo-
se em uma pequena sala cercada de nuvens.
Era uma sensação extremamente solitária, como se ele carregasse um
pequeno pedaço de terra com ele, e todo o resto do mundo estivesse
despovoado.
Capítulo 10
Do Conde de Hellgate,
Capítulo seis
Eu disse a ela que gostaria de passar todas as minhas noites com ela, e ela
respondeu que só poderia me dar dias. Acusei-a de ser ingrata por não ter
me concedido sequer uma de suas noites, noites que ela desperdiçava na
solidão de seu quarto. Disse...

Griselda recebeu a notícia que Josie pretendia visitar sua modista naquela
mesma manhã e pedir um conjunto inteiramente novo de roupas com
extrema alegria, embora tivesse que perder a promessa de cavalgar no Hyde
Park. Josie percebeu que ela foi extremamente vaga sobre quem ela havia
prometido encontrar.
— Prefiro ir com você—, disse ela—. Você sabe que eu detestei aquela
engenhoca com espartilho que Madame Badeau fez para você. Sim, o
espartilho obrigava você a usar vestidos que tinham aproximadamente as
mesmas medidas de Imogen. Mas nenhum de nós, querida, tem o corpo de
Imogen. E, francamente, embora eu nunca tenha dito isso tão abertamente,
acredito que nós somos abençoadas.
— Como você pode dizer isso? — Josie perguntou, mais divertida do
que qualquer outra coisa. Esta manhã ela parecia ter uma nova aceitação de
sua figura. Não era perfeita, mas não parecia mais repulsiva.
Griselda estava usando um lindo vestido matinal de linho leve,
salpicado de buquês de flores. Era um pouco curto, no estilo francês, e
mostrava um atraente par de sapatos. Ela estava linda.
Mas é claro, Josie lembrou a si mesma, a figura de Griselda não era tão
rechonchuda quanto a dela. Não havia nada de rústico em Griselda. Ela
era...
— Você e eu temos exatamente a mesma figura—, Griselda dizia—. E
Josie, como eu disse a você desde o momento em que você entrou nesta
casa, nossa figura é adorada pelos homens.
— Tanto que eles me chamam de tudo, desde um leitão até uma salsicha
—. Josie apontou.
— Crogan é um idiota desagradável, forçado a cortejá-lo por seu irmão.
E acredito que Darlington estava respondendo mais ao seu espartilho do que
à sua figura. Você não tinha corpo com aquele espartilho.
Josie estava começando a pensar o mesmo. — Você acha que é tarde
demais? — ela disse, sua voz ficando bastante fraca enquanto ela falava.
— Absolutamente não.
— Espere um momento! — Josie disse—. O que aconteceu com você e
Darlington? Noite passada?
Um sorrisinho presunçoso dançou nos lábios de Griselda.
— Você conseguiu—. Josie respirou—. Você o seduziu!
— Bem, não no sentido mais estrito da palavra—, Griselda disse,
franzindo a testa. — Eu certamente espero que você não tenha formado a
opinião que eu sou, de alguma forma, fácil, Josie. Essa foi uma conversa
muito imprópria. Temo que Sylvie seja francesa demais, como você sabe.
— Eu sei disso.
— Os franceses gostam muito de uma conversa picante—. E isso era
obviamente tudo que Griselda ia dizer sobre o assunto, porque estava
juntando sua bolsa e seu xale—. Precisamos ir agora. Madame Rocque é
mais procurada a cada temporada. Teremos que pagar a ela pelo menos o
dobro para lhe dar um vestido em cima da hora. Mas encomendei um
vestido de noite há três semanas. Se ela o tiver pronto, ela pode
simplesmente ajustá-lo para você.
— Eu nunca vou caber em seu vestido—. Protestou Josie.
— Claro que vai. Oh, você está um pouco mais magra na cintura—,
disse Griselda—. Mas quem poderia adivinhar já que você estava toda
esmagada por aquele espartilho?
— Eu não sou...— Josie disse, mas se viu falando com ninguém.
O estabelecimento de Madame Rocque ficava na Bond Street, número
112. Josie nunca tinha visto nada parecido. A antecâmara era composta por
toda a intimidade de uma sala de estar de uma senhora. Tudo, desde as
paredes cobertas de seda até as cadeiras delicadas, era amarelo-ouro. Uma
penteadeira forrada de seda amarela ficava de um lado e, com uma cadeira,
sobre a qual estava colocado cuidadosamente, um vestido requintado, do
tipo que Josie jamais ousaria usar. Não tinha costuras, e Madame Badeau
dissera que costuras eram essenciais para alguém como ela.
Josie aproximou-se para olhar o vestido, costurado com as menores
contas cintilantes que já havia visto. Parecia absurdamente caro e
extremamente confortável. Por que não deveria ser? O corpete não era nada
mais do que um V largo que parecia mergulhar até a cintura.
— Você ficaria esplêndida com esse vestido—, disse Griselda, por cima
de seu ombro—. Não é maravilhoso o jeito que Madame tenha alguns
vestidos feitos para que alguém possa vê-los pessoalmente e decidir se
gosta ou não? Acho que olhar para uma criação é muito mais inspirador do
que escolher a partir de uma ilustração.
— Você quer dizer que este vestido é feito apenas para que possamos
vê-lo? — Josie perguntou.
— Provavelmente há um cliente regular para quem o oferece a um
preço especial se permitir que exibam o vestido por um tempo, antes de
entregá-lo—. explicou Griselda. — Acho que vou experimentar esse
vestido. Infelizmente, não é adequado para uma debutante.
— Você vai provar isso? — Josie perguntou, entre incrédula e
fascinada. Griselda usava vestidos que destacavam sua figura generosa.
Mas desde que a conheceu, Josie nunca a viu usar um vestido que fosse tão
claramente sedutor. Ela nunca havia usado roupas provocantes.
Madame Rocque entrou na sala como a nau capitânia, liderando uma
pequena flotilha de assistentes tagarelas.
— Ah! Minha querida Lady Griselda—. Exclamou, curvando-se
profundamente.
— Madame Rocque—. Griselda respondeu, devolvendo a reverência.
Ao vê-los, Josie fez uma reverência majestosa. Os olhos negros afiados
de Madame Rocque examinaram seu corpo.
— Ah! — exclamou, respirando fundo.
Josie se preparou. Agora Madame Rocque começaria a falar sobre
costuras e espartilhos.
— Por fim, tenho diante de mim uma jovem que posso realçar como
mulher e não vestir como uma fada branda—, sussurrou a costureira, que
parecia encantada—. Embora seja uma dama muito jovem.
— É a primeira temporada dela—, Griselda informou—. E, receio que
não tenha começado da melhor maneira, senhora. Portanto, recorremos a
você para consertar as coisas.
— Ela deveria ter vindo até mim desde o primeiro momento—. disse
Madame seriamente. Ela bateu palmas e deu instruções a várias de suas
assistentes, que correram em todas as direções.
Em seguida, conduziu Griselda e Josie para uma sala menor, que dava a
mesma sensação de ser o salão íntimo de uma dama.
— Posso lhe oferecer uma taça de champanhe? — Perguntou—. Às
vezes, para fazer uma mudança dessa natureza, uma pequena coragem
engarrafada pode ser útil.
Josie estava usando um de seus vestidos do ano anterior, já que
nenhuma das criações feitas com Madame Badeau ficaria bem sem o
espartilho. E ela havia deixado o terrível dispositivo na torre de Mayne. De
repente, ela percebeu que as duas mulheres estavam olhando para ela, talvez
esperando por uma resposta. Finalmente, Madame Rocque entregou-lhe
uma taça do que parecia ser champanhe.
— Oh não! — se apressou em dizer. — Isso não me pareceria bem de
forma alguma. Eu realmente apreciaria uma xícara de chá, senhora, se não
for muito incômodo.
Madame inclinou a cabeça em direção a uma das meninas, que se
retirou rapidamente. Então ela começou a circular Josie, repetidamente,
traçando uma linha no centro de suas costas, tocando seus ombros, seu
pescoço. — Srta. Essex—, disse, depois de um tempo, — preciso vê-la
apenas com sua camisa, por favor. Sem o vestido
Josie estava resignada. Madame Badeau também examinou sua figura
apenas com uma camisa. O que quer que Madame Rocquet disser não
poderia ser pior do que os cacarejos e gritos da angustiada Madame Badeau
ao vê-la sem espartilho. Um momento depois ela estava diante de Madame
Rocquet, vestida apenas com uma camisa do mais fino linho. Cada linha de
seu corpo estava visível, Josie sabia, embora com facilidade praticada ela
evitou olhar para o espelho triplo de um lado da sala.
Madame Rocquet rondava sem parar, sem dizer uma palavra. Então, de
repente, ela começou a falar com Griselda. — Cores profundas seriam
melhores, é claro, mas no primeiro ano ... não.
— Eu pensei a mesma coisa—, disse Griselda, bebendo uma taça de
champanhe enquanto se sentava em uma das cadeiras confortáveis ao lado
—. Aquele vestido carmesim na antecâmara seria adorável.
— Muito ousado, muito sofisticado—, Madame Rocquet murmurou,
tocando Josie novamente em ambos os ombros. Ela parecia estar medindo-a
sem fita métrica, ditando os números para uma garota que estava pronta
para anotá-los—. Agora, para você, Lady Griselda, esse vestido seria
primoroso. Mas também não fiz fortuna vendendo roupas sofisticadas para
você. Para você, sempre confeccionei trajes de uma acompanhante, embora,
desde que eu as fiz, você se tornou uma das acompanhantes mais
primorosamente vestidas de Londres.
— Tenho sido uma dama de companhia nos últimos anos—, disse
Griselda—, mas, por acaso, achei que aquele vestido poderia me servir,
madame.
Madame olhou e encontrou os olhos de Griselda. Um pequeno sorriso
conhecedor curvou sua boca.
— De fato? — ela disse, voltando para aqueles toques rápidos e breves
com os quais ela estava medindo Josie. — Estou muito feliz em ouvir isso.
Agora, esta jovem não pode usar carmesim, mas acho que podemos
escolher violeta. Violeta. Nem rosa, nem branco.
— Branco me faz parecer um elefante desbotado—, apontou Josie.
Claro, ela comprou vários vestidos brancos de Madame Badeau, mas eles
deveriam ser usados com o espartilho.
— Nada que eu desenhe a fará parecer um animal de circo—, protestou
Madame—. Você já ouviu falar que não penso em branco para você, porque
sua pele é linda, da cor de creme de leite. Queremos acentuá-la, não
escondê-la. Agora ...— Ela disparou uma lista rápida de instruções para
uma das assistentes—. Eu tenho um vestido que podemos experimentar.
Quando você gostaria de aparecer com sua nova imagem?
— No baile de Mucklowe—, disse Josie, antes que Griselda pudesse
abrir a boca—. Isso seria possível, senhora? É para o final desta semana.
— Eu vou conseguir, eu vou conseguir—, Madame murmurou—. Vou
criar algo requintado.
— Quero parecer esbelta—, disse Josie, sentindo uma onda de bravura.
— A pobre Josephine passou por momentos difíceis nesta temporada—.
disse Griselda a Madame.
Madame parou em sua agitação de medidas—. Não é... a salsicha
escocesa?
Josie engoliu em seco. Parecia que todo mundo sabia.
— Houve uma menção sobre isso em uma coluna de fofoca—, Madame
disse—, mas nenhuma descrição. Eu prometo a você que uma vez que você
apareça em uma de minhas criações, ninguém jamais pensará em linguiça
na sua presença.
— Você não deseja parecer esguia, Srta. Essex. Não, de fato.
Josie mordeu o lábio. Isso foi exatamente o que Annabel, Griselda e,
finalmente, Mayne, disseram a ela.
— Você quer—, disse Madame, fazendo uma pausa impressionante—,
parecer sedutora, não como um graveto seco de uma árvore!
Griselda estava balançando a cabeça e batendo palmas.
Então a atendente de Madame entrou com um vestido e ela o pegou—.
Para você—, ela disse a Josie—, eu faria isso em um azul violeta profundo.
Uma cor jovem o suficiente para uma debutante, mas não tão insípida.
Josie olhou para o vestido. Era feito de delicadas tiras de seda, tão leves
que quase pareciam uma rede. Eles deixavam seus ombros a mostra e se
cruzavam sob os seios—. Olhe para isto—, disse Madame, girando o
vestido ao redor, — nas costas, essa cor mais escura transforma-se em
longas faixas que caem quase até seus pés.
— Posso imaginá-lo em uma cor amarelo ouro—, disse Griselda.
— Talvez—, disse Madame. Ela jogou o vestido sobre a cabeça de
Josie. — Esta é apenas uma amostra que fiz para a minha própria satisfação.
Prefiro trabalhar com tecido ao invés de papel, se você me entende.
O vestido parecia servir. Parecia extremamente confortável, luxuoso e
sensual.
— Você precisa olhar para você—, disse Griselda, sorrindo para ela do
outro lado da sala.
Josie engoliu em seco, virou-se e olhou para o grande espelho de uma
das paredes da sala.
— Amarelo não é o que eu escolheria—, dizia Madame. Claramente
não havia como ir contra sua opinião, mesmo nos menores detalhes—.
Como eu disse antes, eu...
Mas Josie não estava ouvindo. O espelho mostrava uma jovem com
corpo arredondado que exalava sensualidade, cujos quadris e seios estavam
em proporções perfeitas, e ambos pareciam ter sido feitos para serem
acariciados.
— Eles cairão aos seus pés—, observou Griselda.
— Você estava certa—, disse Josie em uma voz abafada—. Você estava
certa o tempo todo e eu não dei ouvidos a você.
— Você estava apaixonada por aquele espartilho—, Griselda disse,
bastante presunçosa—. Agora, madame, precisamos de pelo menos quatro
vestidos de noite e, claro, uma variedade de vestidos matinais e de passeio.
Você tem outros vestidos para nos mostrar, ou talvez esboços daqueles que
ainda não foram confeccionados?
Capítulo 11
Do Conde de Hellgate,
Capítulo oito
E assim começou, caro leitor, um novo período em minha vida equivocada.
Foi a primeira vez que me envolvi com uma atriz. Protegerei seu nome
chamando-a de Titânia, como a criação imortal de Shakespeare. Ela era
realmente uma rainha do amor e se expressava tanto em prosa quanto na
linguagem dos beijos. Ela me mandou uma carta, que sempre guardarei
com carinho, depois - devo dizer - três dias e noites inteiros sem sair de
nossa cama ...

Lord Charles Darlington foi ao Hyde Park dirigindo o pequeno faetonte que
seu pai lhe dera de aniversário.
— Se você tivesse entrado para a Igreja como eu disse—, seu pai falou
com movimentos violentos da mandíbula—, você não estaria tropeçando
em sua vida assim.
Charles bufou—. Posso imaginar o quanto eu teria me divertido, em
todos aqueles cortejos fúnebres, todas aquelas cerimônias.
— Você será a causa da minha morte—. Uma vez que aquela frase
lapidar geralmente era o fim de qualquer conversa com seu pai, Charles se
virou para ir embora, mas o velho tinha um último ponto para falar—. Pelo
amor de Deus, encontre uma esposa e pare de irritar pessoas importantes.
Subir e descer os caminhos do Hyde Park, percorrer o grande caminho
que contornava o parque repetidamente, à procura de uma viúva requintada
que não tinha intenção de se casar com ele, não era a melhor maneira de
encontrar uma esposa. Mas isso o ajudou a perceber quantas garotas
coravam quando ele as observava, e então lançar olhares aterrorizados para
suas mães.
Estava ficando cada vez mais claro para ele que estava se tornando um
cínico sangrento quase sem perceber. Seria bom culpar as más companhias.
Ele viu Thurman de longe duas vezes, acenando furiosamente para ele, de
um veículo de corrida, e nas duas vezes ele desviou para dirigir na direção
oposta. Mas ele sabia que a única pessoa responsável pela direção de sua
vida era ele mesmo. Seu personagem parecia se alimentar do poço
insondável de fúria e veneno dentro dele.
E essa foi apenas a confirmação precisa das muitas descrições de seu
caráter que seu pai havia dado. Ele convocou toda a sua raiva para dirigi-la
contra as meninas cujo único defeito era ter nascido na casa de um
comerciante de lã, ou ter comido mais alguns pastéis escoceses do que o
resto das meninas.
Pelo menos, ele pensou consigo mesmo, a aversão a si mesmo é um
alívio para tantos comentários depreciativos e supostamente espirituosos.
Lady Griselda não estava em lugar nenhum. Obviamente, ela não estava
falando sério quando disse que o veria no Hyde Park. Verdade seja dita,
agora que pensava nisso, estava claro que Lady Griselda, que era, afinal, a
dama de companhia da senhorita Essex, flertou com ele apenas para fazê-lo
parar de usar palavras desagradáveis para sua protegida.
Ele não entendia por que não percebera na noite anterior. Mas a
contestação doeu mais do que deveria. Ele não conseguia esquecer aqueles
dez minutos deliciosos de conversa divertida. Ele foi para sua residência de
mau humor e rabiscou um bilhete para Lady Griselda Willoughby. Ele
usava artigos de papelaria tão luxuosos e caros quanto ela.
Ela o usou, ele a usaria. Ele ameaçou.
“Sinto que minha moral recém-descoberta e adquirida se desvanece. Às
dez amanhã à noite."
Parou. Se fosse realmente ousado, simplesmente marcaria um encontro
em um hotel. Mas ela nunca compareceria a tal encontro. Nunca. Claro que
não. Uma dama com sua reputação e posição provavelmente nunca havia
entrado em um hotel. Bem, que se dane tudo isso.
"Às dez horas no Grillon Hotel", escreveu ele, e assinou: "Darling."
Em seguida, olhou para a carteira e tirou uma nota de cem libras, parte
do pagamento que acabara de receber de seu editor. Se necessário, ele
poderia entrar para a Igreja e aprender a ajoelhar-se para viver. Embora
preferisse cair de joelhos frente a Griselda, pensou.
Havia algo sobre ela que o transformara em uma ávida fonte de luxúria.
Ela irradiava uma feminilidade alegre e delicada. Exalava um aroma limpo,
vibrante e suave, típico das mulheres que passam as manhãs descansando e
as noites dançando, de mulheres que nunca gritam com os filhos ou com os
cônjuges.
Graças a Deus, Willoughby, quem quer que fosse, já estava longe. Ela
nunca dormiria com ele se o seu marido estivesse vivo; ele não tinha
dúvidas sobre isso. Ela não era uma mulher que gostasse de traições.
Mas ela podia ... talvez, ela fosse uma mulher capaz de ter um caso.
Uma dama que poderia ser tentada com uma mistura de suborno e desejo,
pois também gostara dele; tinha visto em seus olhos. E poderia ser tentada a
fazer algo imprudente.
Então, colocou as libras em um envelope e mandou um criado ao
Grillon, com um pedido de reserva do seu melhor quarto para a noite
seguinte. Pelo que ele sabia, não havia nada de importante na sociedade
londrina naquela noite, salvo por um sarau oferecido pelo Smalpeece, que
certamente seria um tédio, e a noite musical da Sra. Bedingfield, outra
insignificância. Griselda nunca os compareceria, pelo menos porque estava
agindo como a dama de companhia da Senhorita Essex. Ninguém iria a uma
noite musical, a menos que o fizessem na esperança louca de que algum
cavalheiro solteiro estivesse lá por acaso. Lady Griselda tinha muita
experiência na sociedade para sequer considerar essa possibilidade.
Darlington não era o único homem andando no Hyde Park naquele dia
que esperava conhecidos que não apareciam. Harry Grone tinha
envelhecido, de alguma forma. Hoje em dia, não queria nada além do que
aquecer os dedos dos pés na lareira e pensar nos dias de glória. Mas aqui
estava ele, rodopiando pelo parque, boquiaberto com as jovens elegantes e
cavalheiros bem vestidos.
Sem desejar ou mesmo esperar, os dias de glória estavam de volta. Eles
precisavam disto. The Tatler, o haviam aposentado e disseram que não
estavam mais fazendo seu tipo de jornalismo. Mas agora, do nada, eles
precisavam de seu tipo de experiência.
O trabalho veio com um bom salário, então Grone decidiu pegar uma
carruagem para o Hyde Park e ver o que estava acontecendo. Ele sempre
chamou de vigilância, nos velhos tempos. Com o passar dos anos, ele havia
perdido o toque e seria o primeiro a admitir isso. Ele não conseguia colocar
um nome no rosto de muitos jovens que viu.
Mas estava tudo em sua mente. E seu cérebro lhe disse que não era o
aprendizado de livros que lhe diria quem era o Hellgate. Se houvesse uma
pista naquele livro, outra pessoa a teria encontrado. Jessopp, com toda
certeza. Não havia nada sobre a alta sociedade que Jessopp não soubesse ...
Não, seria necessário o seu estilo pessoal de jornalismo para descobrir o
que pretendia.
No final, ele teve que pedir a alguém para apontar o homem que
procurava. Mas assim que Grone o encontrou, ele não conseguiu conter um
sorriso de pura satisfação. Havia um rosto tolo como um nabo. O dono de
tal rosto se parecia com seu pai, pode ver imediatamente. Tudo era
parecido: do colete roxo à carruagem de corrida com assento alto, tudo
completamente impróprio para o parque. Um idiota. Exatamente o que ele
esperava.
Grone bateu no teto da carruagem e instruiu o motorista a deixá-lo em
casa.
Já era o suficiente para um homem de sua idade. Uma vez em casa, ele
saiu da carruagem e jogou uma moeda para o condutor, reprimindo uma
maldição quando seu joelho direito doeu. Deitar cedo esta noite ... porque
amanhã ele pegaria uma bolsa de soberanos de ouro e começaria o que fazia
de melhor.
Adoçar as línguas.
Capítulo 12
Do Conde de Hellgate,
Capítulo oito
Minha Titânia enviou-me esta carta escrita em papel rosa, com uma
delicada tinta púrpura:
"Leve-me aos céus azuis do seu amor, role-me entre as nuvens escuras,
me afogue em suas tempestades ... Mas, me ame, me ame.”

Sylvie de la Broderie descobriu que corridas, cavalos de corrida e pistas de


corrida produziam apenas duas coisas: tédio e poeira. Ela também não
gostou. Poeira que ela podia tolerar nas circunstâncias certas, embora ela
não pudesse lembrar quais eram essas circunstâncias, no momento. Um
piquenique, talvez. Ela não estava muito interessada na vida ao ar livre, mas
piqueniques podem ser bastante agradáveis. E, para dizer a verdade, ela
tinha algo parecido com um piquenique em mente quando concordou em
acompanhar Mayne às corridas.
Mas a pista de corrida de Epsom Downs ficava a uma grande distância
de uma encantadora toalha de mesa de linho estendida sob um gracioso
salgueiro, talvez próximo ao Sena ... Sylvie conteve um suspiro. Era cruel
pensar que uma vida tão bela como ela esperava em Paris tivesse sido
interrompida. Os franceses eram muito mais compreensivos com as
inclinações de uma pessoa do que os ingleses. Os ingleses não tinham
imaginação. Se ele tivesse um pouquinho de imaginação, seu noivo deveria
saber imediatamente que a pista de corrida não era lugar para ela.
Em vez disso, Mayne estava enfatizando todos os benefícios de sua
posição. Eles tinham assentos em um camarote que pertencia a seu amigo, o
duque de Holbrook. Sylvie aprovou isso; ela achava que duques eram bons
amigos para se ter, e Holbrook tinha estilo que falavam de um título antigo.
Sylvie era esnobe quando se tratava de famílias: quanto mais velha, melhor.
Ela herdara essa característica de sua pobre mãe. Mais uma vez, Sylvie
pensou em como estava satisfeita por sua mãe ter sido levada por aquele
resfriado terrível pouco antes de seu pai tomar a decisão tão drástica de
transferi-los todos para a Inglaterra. Na verdade, seu pai estava
absolutamente certo. Ela e sua irmã Marguerite poderiam muito bem ter
sofrido o mesmo destino que tantos de seus queridos amigos, lotados na
Bastilha - mas Sylvie afastou sua mente desse pensamento. Ela não podia,
literalmente, não podia, contemplar o que acontecera a todas as pessoas
alegres e requintadas que seu pai conhecera. Embora ela ainda não tivesse
debutado quando eles moravam em Paris, sua mãe sempre discutia os
acontecimentos da sociedade com grande liberdade, então ela sentia que os
conhecia.
Quando seu pai os arrancou da França e estabeleceu Marguerite e ela
neste lugar frio e chuvoso, ela tinha apenas dez anos. A pobre Marguerite
tinha apenas um ano e era jovem demais para saber o que havia perdido.
A pista estava extremamente barulhenta. Era preciso presumir que essas
coisas também existiam em Paris, mas, pelo que ela se lembrava, sua mãe
nunca mencionara tal coisa. Ela poderia perguntar ao pai, mas ele estava na
propriedade deles em Southwick, ocupado com os cães. Seu pai parecia
passar a maior parte do dia deixando cães entrar e sair de casa. Não era jeito
de um aristocrata francês se comportar, especialmente quando se tratava de
uma casa cheia de criados.
Sylvie suspirou. A única coisa agradável no hipódromo era que as
damas inglesas estavam aproveitando a oportunidade para se vestir com
elegância. No camarote ao lado dela, Lady Feddrington estava usando um
gorro que parecia um enorme merengue, amarrado com uma fita. Não foi
um sucesso total, mas tinha um notável traço de originalidade. E ela estava
agitando um leque com uma pequena franja âmbar; Sylvie decidiu que
gostaria muito de saber de onde veio. Ela olhou para a direita. Mayne estava
olhando carrancudo para um livro que lhe deram ao entrar.
— Quando o seu animal corre? — ela perguntou, para ser gentil. Ela
teve que perguntar duas vezes, mas ele se desculpou quando ela chamou sua
atenção. Isso era uma coisa que ela gostava em seu futuro marido. Ele era
invariavelmente educado.
— Estou correndo com dois cavalos—, disse ele—, uma pequena
potrinha elegante chamada Sharon e o alazão castrado que acabou de chegar
em último lugar. Um animal preguiçoso.
— Ah, meu Deus—, disse Sylvie—. Você deveria ter me contado que
seu cavalo estava passando por nós, Mayne. Eu teria prestado atenção.
— Eu disse que ele correria na quarta largada.
Aparentemente, ele pensou que ela estava contando essas rodadas
cansativas? Sylvie percebeu que Lady Feddrington usava diamantes do
tamanho de margaridas nas orelhas. Um tanto exagerado, ou tal exibição
poderia ser atribuída ao desejo de brilhar. Certamente Lady Feddrington
tinha um rosto adorável, com seus lábios protuberantes e olhos bem
separados, mas bonitos.
— Posso ir aos estábulos e ver como está o meu jóquei—, disse Mayne
—. Pode ser muito desanimador perder dessa forma, e quero que ele
mantenha o espírito para montar em Sharon. Você gostaria de me
acompanhar?
— Ao estábulo?
— Se você estiver interessada.
Não havia dúvida sobre isso. Mayne tinha muito a aprender sobre
mulheres, obviamente. — Farei uma pequena visita a Lady Feddrington—.
disse Sylvie, dando-lhe um gentil sorriso de desculpas. Com o tempo, ele
aprenderia os lugares apropriados para convidar sua esposa. Um recinto
projetado para animais não era um deles.
Ela se levantou e esperou enquanto ele pegava sua peliça, sua bolsa e
seu leque. Ela mesma carregava sua sombrinha, pois estava determinada a
não atingir seu rosto por nenhum raio de sol.
— Lady Feddrington—, ela disse, enquanto Mayne abria a pequena
porta entre seus camarotes—, Espero não me intrometer. Nós nos
conhecemos há duas noites na festa de Mountjoy.
— Mademoiselle de la Broderie—, Lady Feddrington disse com a
quantidade certa de apreciação para acalmar Sylvie, que estava ligeiramente
perturbada. — Estou encantada em ver você. Por favor, venha e alivie o
tédio desta tarde.
Essa foi precisamente a coisa certa a se dizer na frente de Mayne; isso
significava que ela mesma não precisaria ter que dizer a ele. Assim, Mayne
saiu sozinho e Sylvie desabou ao lado de Lady Feddrington. Em poucos
minutos, se tornaram amigas íntimas, falando no nível íntimo que Sylvie
mais gostava e que ela constantemente se esforçava para alcançar. Na
verdade, Lady Feddrington - ou Lucy, como se viu - era uma companhia tão
boa que Sylvie se esqueceu que estava em um lugar tão desagradável como
uma pista de corrida.
— Eu me sinto da mesma forma—, Lucy confidenciou algum tempo
depois—. Claro, eu faço o meu melhor para apoiar Feddrington em
momentos como este. Ele tem um grande estábulo e sofre de um
desagradável estado de ansiedade em relação a grandes corridas. Na
verdade, tenho que insistir para que ele me deixe sozinha no camarote,
porque acho que não gosto da proximidade de um homem em um nível
enorme de ansiedade, se me perdoa a franqueza. Mas você nunca vai sofrer
como eu, querida Sylvie. Não se pode imaginar Mayne dominado por causa
de qualquer coisa!
Sylvie concordou. Uma das principais razões para escolher Mayne foi
sua aparência impecável o tempo todo. Ele era quase francês nesse sentido.
Bem, considerando que sua mãe era francesa, sua elegância deve ter sido
herdada dela. Apesar de sua mãe ter se retirado para um convento, Sylvie
achou sua elegância um tanto difícil de imaginar.
O importante é que a presença de Mayne ao seu lado não era tudo o que
imaginava. — Ele estava perturbado—, disse ela a Lucy—. Prefiro um
acompanhante mais atencioso. Mayne realmente mostrou um ligeiro mau
humor quando não percebi que seu cavalo havia perdido uma corrida.
— Eles são sempre assim—, disse Lucy confortavelmente. — Estou
casada há três anos e sou, forçosamente, uma especialista no assunto. E
querida, você será também, pois acredito que os estábulos de Mayne são
ainda maiores do que os de Feddrington. Eles ficam cada vez mais agitados
nas semanas anteriores a uma grande corrida, como a Ascot. Feddrington
até acorda no meio da noite às vezes, se você imagina.
— Você não! — Sylvie disse com horror, antes de ouvir as palavras de
volta.
Lucy deu uma risadinha—. Você quer dizer compartilhar um quarto? —
E, ao pequeno aceno de Sylvie, — Claro que não!
— Você deve me perdoar—, disse Sylvie, nervosa—. É que ainda tenho
muito que aprender sobre a nobreza inglesa.
— Sinto como se a conhecesse desde sempre—, disse Lucy, inclinando
a cabeça para mais perto—, Então vou dizer algo verdadeiramente
indiscreto, hein?
Sylvie adorava indiscrições.
— Quando Feddrington está nervoso e não consegue dormir à noite, ele
visita meus aposentos—, confidenciou Lucy.
— Ele tem a ousadia de acordar você? — Sylvie disse, piscando para
ela. Seu pai nunca, em nenhuma circunstância, teria acordado sua mamãe.
Os aposentos de sua mãe eram sagrados para seu sono, e até mesmo sua
criada sabia que não devia entrar no quarto até as onze horas, e somente se
ela carregasse uma tasse de chocolat.
— Ainda não consegui quebrar o hábito dele—, disse Lucy, suspirando.
— Eu falei para ele que meu sono é mais importante do que seus cavalos,
mas não consigo convencê-lo. Os homens são invariavelmente egoístas
nessas questões, você sabe. Descobri que é melhor para a felicidade da
família se simplesmente concordar. Evidentemente deixei claro que tais
coisas serão toleradas apenas se a corrida for realmente uma das maiores,
como Ascot.
Sylvie ficou chocada. Ela tendia a evitar pensar na questão das
intimidades conjugais; sua mãe infelizmente faleceu antes de esclarecer
essas coisas. Mas Sylvie sabia instintivamente que esse não era um aspecto
do casamento que a agradaria. Sob nenhuma circunstância ela se envolveria
em algo tão desagradável no meio da noite. Talvez ... uma noite por mês.
Ela havia decidido que isso certamente seria o suficiente para satisfazer
Mayne. Afinal, ela escolheu um homem com a reputação de encontrar seus
próprios prazeres; embora estivesse bastante ansiosa pela ideia de ter filhos,
ela não considerava o casamento um contrato que garantisse todo o
entretenimento.
— Mayne está tão apaixonado por você—, disse Lucy, rindo novamente
—. Ele deve ser positivamente ardente.
— Ele se comporta exatamente como deveria—. Agora que ela pensava
sobre isso, Mayne nunca seria tão indelicado a ponto de tentar acordá-la à
noite. Nunca. O marido de sua pobre amiga Lucy era obviamente muito
chato e, embora doesse pensar nisso, era rude.
— Oh! — Lucy exclamou—. Aqui está minha querida amiga Lady
Gemima. Convidei-a para se juntar a mim esta tarde.
Uma mulher se aproximou, usando um vestido de passeio requintado,
em uma cor entre o azul e o roxo.
— Ela tem vestidos realmente lindos—, Lucy suspirou. — Ela não é
casada, como você sabe, mas é imensamente rica, então faz exatamente o
que quer—. Baixou a voz. Lady Gemima estava cumprimentando a Sra.
Homily, uma matrona de rosto vermelho que andava de um lado para o
outro na frente dos camarotes, como um terrier que fareja um rato. — Ela
estava noiva há quatro anos, mas o cavalheiro morreu. Acho que ele era um
marquês. Ela ficou de luto por um ano e então garantiu que nunca se
casaria. Ela é a única filha de um irmão mais novo do Duque de Smittleton.
Ele era um coronel do exército enviado para o Canadá e, pelo que sei, fez
uma grande fortuna com a navegação. Depois, é claro, ele recebeu seu
próprio título. Antes de conhecê-la, você pode pensar que ela seria uma
dama muito deselegante, por ser solteira e criada no Canadá. Mas não é
assim.
Sylvie poderia descobrir por si mesma. Lady Gemima não era
exatamente bonita. Seu rosto era um pouco comprido e sua boca muito
imperturbável, embora inteligente. Mas o cabelo era de uma extraordinária
cor de tartaruga com mechas, e quando ela entrou no camarote e fez uma
reverência para as duas damas sentadas lá, Sylvie viu que seus olhos eram
verdes e adornados por grandes cílios da mesma cor de seu cabelo. Suas
roupas eram obviamente francesas. Sylvie se levantou sentindo que
finalmente havia conhecido alguém que, como seu pai diria quando se
referia a boxeadores, valia seu peso.
Alguns momentos depois, ela confirmou essa opinião. Lady Gemima
era tremendamente engraçada. Ela ainda não tinha acabado de se acomodar
em seu assento quando começou a lhes contar histórias exageradas sobre
todo tipo de façanhas que nunca poderiam ter vindo da boca de uma única
mulher.
— Estou assustando você? — perguntou a Sylvie em um ponto. —
Acredito que você esteja noiva do conde de Mayne, então pensei que
provavelmente seria impossível surpreendê-la com mais alguma coisa. Se
não, em breve será.
— Você está certa, é impossível fazer isso—, Sylvie confirmou, embora
isso fosse falso. Ela foi recompensada com um dos sorrisos calorosos de
Lady Gemima.
— Nunca pensei que você fosse uma daquelas debutantes cansativas—,
disse ela. — Embora, meu Deus, eu esteja cansada de mulheres jovens. Os
homens são muito mais interessantes.
— Não concordo—, disse Lucy.
— Nem eu—, Sylvie concordou—. Os homens são exaustivos para mim
e, inevitavelmente, problemáticos. Nada mais agradável do que passar uma
tarde assim.
— Bem, é claro, entre nós três—, disse Gemima—. Mas fico entediada
com conversas intermináveis sobre bolsas. Você não pode nem falar sobre
anáguas sem que alguém ache que é ousado demais.
— Eu ouvi uma coisa engraçada sobre anáguas outro dia—, Lucy disse,
rindo novamente—. Lady Woodliffe me disse que encomendou todas as
anáguas de seda cinza claro para que se ajustassem a qualquer peça de
roupa que ela usasse. Ela pretende ficar meio luto por seu querido Percy
pelo resto de sua vida.
— Ridículo—, disse Gemima—. Considerando que o homem morreu
nos braços de uma prostituta, ao que tudo indica. Você pensaria que ela
estaria usando babados rosa—. Sua sobrancelha levantada era tão engraçada
que Sylvie não conseguia parar de rir. — Mas você sabe, não é, que a tão
virtuosa Lady Woodliffe foi vista saindo do Grillon’s Hotel na primavera
passada?
— Não! — Lucy engasgou.
— De fato. Eu ouvi isso de Judith Falkender, que é uma fonte muito
confiável. Claro que ela deveria estar tentando pegar o marido em flagrante.
Sylvie torceu o nariz. — Por que ela se incomodaria? E que lugar é este,
Grillon's?
— Oh, é o único hotel em Londres que vale a pena visitar—, disse
Gemima a ela. — Todos os embaixadores ficam lá. Fiquei hospedada por lá
durante duas semanas há um ano, só para ver se gostaria, mas, embora
ocupasse um andar inteiro, não havia espaço suficiente para todas as
pessoas necessárias para me atender. Você gostaria, Lucy. Você ainda está
interessado em todas as coisas egípcias?
— Não—, disse Lucy. — Eu removi do salão de baile todas aquelas
estátuas estranhas e coisas assim. Feddrington está bastante descontente
porque elas custaram uma fortuna, mas eu dei todos elas para o Museu
Britânico e agora ele está feliz porque eles vão dar o seu nome a uma sala.
— A sala das monstruosidades de Feddrington—, disse Gemima, rindo.
— Agora posso confessar que achei um pouco excessivo colocar aqueles
deuses da morte observando todo o salão de baile.
— Eles adicionavam uma certa atmosfera—, explicou Lucy,
descartando a crítica com um encolher de ombros. — E, no final, tudo saiu
maravilhosamente bem. O diretor do museu quase desmaiou quando lhe
mostrei Humpty e Dumpty, meus gigantes favoritos. — explicou a Sylvie.
— Eles eram enormes, com cerca de três metros de altura.
— Adoraria ir ao Egito—, comentou Gemima preguiçosamente—.
Estou pensando em começar a viajar, sabe?
— Sozinha? — Sylvie perguntou.
— Bem, como não gosto da ideia de arranjar um marido apenas para
decoração—, disse Gemima—, suponho que terei de viajar sozinha.
Embora, para ser bem honesta, ficar desacompanhada ... é só uma maneira
de falar.
Lucy riu.
— Você ainda não conhece Gemima, Sylvie. Ela tem o maior pessoal
doméstico que conheço. Quantas criadas você tem agora, Gemima?
— Três—, respondeu—, mas apenas porque sou muito difícil. Se
apenas uma mulher tivesse que cuidar de mim, eu teria que dar à
pobrezinha uma grande quantia pelos riscos do trabalho, ou algo assim.
As três riram e por um momento o pálido sol inglês transformou toda a
pista de corrida em um lugar charmoso, cheio de mulheres com inteligência,
temperamento e beleza.
— Como estou gostando da Inglaterra! — Sylvie exclamou, encantada.
Mayne estava se aproximando, esquivando-se de grupos de homens
conversando, quando avistou Sylvie rindo no camarote de Lady
Feddrington e suspirou de alívio. Graças a Deus que aquela carinha
francesa dela não estava esperando por ele com uma expressão de leve
desgosto. Ela estava rindo mais do que nunca. Na verdade, ele nunca a tinha
visto com tal aparência de alegria. Sua risada era tão intensa que a
sombrinha se deslocou para o lado. Naquele momento, Lady Gemima virou
a cabeça para que Mayne pudesse ver seu perfil. Esse era o motivo da
alegria de Sylvie. Todos aqueles que ele conhecia adoravam Gemima,
exceto alguns puritanos críticos. Ele poderia deixar Sylvie com Lucy
Feddrington por mais meia hora, pelo menos. Ela se divertiria e não o
culparia por nada.
Ele se virou e caminhou até os estábulos longos e baixos onde Sharon
esperava o momento de sua corrida. Algo estranho estava acontecendo com
a égua naquela manhã, algo que ele não conseguia identificar, mas não
parecia certo. Seu cavaleiro jurou por todos os deuses que Sharon estava
bem, mas ele não conseguia acreditar nele.
— Talvez ela esteja um pouco nervosa ao ver tantas pessoas—, sugeriu
Billy, o chefe dos estábulos.
Mas Mayne hesitou, inquieto. Ele começou a abrir caminho no meio da
multidão, de cabeça baixa, quando ouviu alguém chamar seu nome. Ele
olhou para cima e lá estava sua irmã Griselda, e ao lado dela, Josie. Não
parecia ter havido champanhe em excesso; deve ser por causa de sua
juventude. Ele, que era muito mais velho, estava com a cabeça pesada.
— Querido—, disse Griselda com ternura. Ela parecia estar de
extraordinário bom humor. — Queremos ver seus cavalos, é claro.
Estávamos a caminho do camarote, mas agora que nos encontramos, você
pode nos levar aos estábulos.
Josie sorria para ele sem o menor traço de timidez. Ela não deveria
parecer um pouco envergonhada depois do que aconteceu na noite passada?
Bem, na verdade, por que deveria ser assim?
— Não tenho certeza se você deve ir aos estábulos—, disse a Griselda.
— Há tantos babados neste vestido que os cavalos podem se assustar.
— Bobagem—, Griselda respondeu, agitando a sombrinha vistosa de
uma forma capaz de alterar o coração do puro-sangue mais sereno.
Mayne segurou Griselda por um braço e Josie pelo outro. A garota não
estava usando o espartilho. Verdade seja dita, ela exibia uma figura que era
uma delícia, embora seu vestido tivesse um padrão estranho, com costuras
de um lado e do outro que não ajudavam a acentuar suas melhores formas.
Josie olhou para ele e disse algo que ele não conseguiu ouvir, então ele
baixou a cabeça, obrigando-a a repetir o comentário.
— Fomos à modista de Griselda esta manhã—. Sussurrou em seu
ouvido.
— Espero que você tenha feito Rafe declarar falência—. respondeu,
encantado ao ver os olhos dela brilharem de excitação.
— Espero que sim—. disse Josie maliciosamente—. Não entramos em
detalhes tão banais.
Mayne fingiu um lamento.
— É uma sorte que ele esteja em sua viagem de núpcias. Você poderia
...— Mas, engoliu o que estava prestes a dizer. Que diabos ele estava
pensando, a ponto de sugerir que ele pagasse pelos vestidos dela? Ele estava
ficando louco?
Ela olhou para ele com as sobrancelhas levantadas. Haviam alcançado
a altura a baia de Sharon. A potranca parecia muito pequena para um
estábulo tão grande.
Griselda ficou encantada com tudo isso e fez pequenos ruídos olhando
para Sharon, como se a égua fosse uma gatinha que ela pudesse fazer
ronronar. Sharon a ignorou. Mas, Josie abriu a porta e foi direto para o
animal.
— Não suje seus sapatos—, gritou Griselda—. Você sabe que os
animais provavelmente ...— E, acenou com a sombrinha para ilustrar o que
queria dizer.
Billy soltou uma bufada que expressava sua opinião sobre uma dama
que não sabia que ele limpava o compartimento toda vez que um de seus
cavalos fazia algo dessa natureza. Josie o ignorou e foi para o lado de
Sharon. Ela disse algo para o animal, naquela vozinha rouca que tinha e, é
claro, Sharon começou a correr o nariz pelo braço da jovem com bufadas
curtas. Mayne se encostou na parede do compartimento e ergueu a mão,
parando Billy quando viu que Billy ia segurar a cabeça de Sharon.
Josie havia tirado a luva e estava acariciando Sharon por todo o lugar.
Billy deu um passo à frente novamente, mas Mayne balançou a cabeça.
Ela ergueu os olhos e olhou para ele, e Mayne entendeu.
— Toque aqui—, disse calmamente. Seus dedos seguiram os dela,
descendo pelo lado brilhante de Sharon, um pouco à esquerda de sua
coluna. Ela estava lindamente cuidada, sem dúvida Billy havia trabalhado
nela por muitas horas.
Os dedos de Josie pararam e se afastaram, para que ele pudesse sentir.
Havia pequenos caroços duros sob a pele que rolaram sob os dedos de
Mayne. — Que diabos é isso? — perguntou.
— Não é nada grave—, Josie o tranquilizou. — O cavalariço do meu
pai costumava chamá-lo de ...— hesitou.
Billy se aproximou e passou os dedos ásperos e sujos no mesmo lugar, o
rosto sério.
— Bolas do diabo—, disse ele. — Eu não os descobri até que esta
jovem os encontrou. Eu, com certeza, deveria pedir demissão.
Josie balançou a cabeça.
— Eu fazia isso constantemente quando criança. Os estábulos de meu
pai eram muito grandes, e ele me encarregou de monitorar a saúde dos
cavalos desde que eu tinha doze anos.
— O que fazemos com esses caroços? — Mayne quis saber. Não
parecia que Sharon se incomodava muito quando eram tocados. Apenas um
leve tremor percorria seu corpo, como se uma brisa passasse sobre a
superfície brilhante de um lago.
— Ela não pode correr assim ...— Josie apontou, mas Billy a
interrompeu.
— Você notou algo também, senhor. Perguntou-me há pouco mais de
um momento se Sharon estava bem e eu disse que sim. Mas não é assim, é?
Eu sou o único que não percebeu nada.
— Seria bom verificar os outros cavalos—, sugeriu Josie—. Pode se
espalhar por todo o estábulo como um incêndio—. A garota sacudiu a
cabeça em direção ao cobertor de cavalo que pendia ao lado. Era magnífico,
bordado com o brasão do conde e o lema "Coeur Valiant”.
— Você quer dizer que está se espalhando através dos cobertores? —
Mayne perguntou.
— Em vez de bordar o escudo nas mantas, poderia colocar o nome do
cavalo. Se cada um usar o seu, o contágio pode ser evitado. Mas, também
pode passar de um cavalo para outro através das escovas.
Mayne assentiu, lembrando-se da imagem de seu cavalo castrado
trotando desajeitadamente em direção à linha de chegada naquela manhã.
— Droga, eu deveria ter sabido antes. Eu não cuido o suficiente dos
meus cavalos. Temos apenas cinco dos nossos animais em Londres—,
explicou Billy. — E essa doença só tem uma ou duas semanas, porque eu
teria visto, teria percebido sem dúvida.
— Tenho certeza que sim—, disse Josie, tranquilizando-o. — Percebi
que Sharon estava um pouco desconfortável, justamente porque não a
conheço.
— Sinto muito, Garret—, sua irmã o consolou do corredor em frente ao
compartimento—. Você deve estar muito desapontado por não poder fazê-la
correr.
— Não tão decepcionado quanto os jogadores ficarão. As chances de
Sharon eram de três para um. É melhor acompanhá-las até os camarotes.
Sylvie pode estar se perguntando o que aconteceu comigo. Billy, você vai
cuidar de tirar Sharon da corrida, por favor?
Billy acenou com a cabeça.
— Sinto não ter percebido, Meu Senhor.
— Eu também não sabia. — reconheceu Mayne.
Josie deu um último tapinha no focinho de Sharon.
— Nunca encontramos uma maneira de remover esses caroços.
Aparentemente, não há outra solução a não ser deixá-los evoluir, até que
desapareçam por si mesmos. Mas, sei que um banho de infusão de confrei
parece acalmá-los um pouco. Vou mandar a receita, Mayne.
Billy fechou a porta atrás deles, pensando que tinha muita sorte de ter
um mestre como Mayne. Por sua reação, ninguém diria que ele tinha todas
as esperanças postas no triunfo de Sharon. Bem, com certeza ele teria
vencido, se estivesse apta para correr.
— Eu estava tão ansioso para você vencer que não vi essas bolas do
diabo—, ele murmurou para Sharon. — De qualquer forma, tivemos uma
sorte danada, é claro.
— Haverá outras oportunidades para Sharon—, disse a jovem,
inclinando-se sobre a porta e dando um último tapinha na potranca—. Ela é
linda e quer correr, dá para perceber. Acho que é por isso que você não viu
o que havia de errado com ela. Ela é tão vital, uma corredora tão boa, que
teria deixado seu coração na pista, quer esses caroços a incomodassem ou
não.
— Sim, ela teria feito isso—. disse Billy, seu espírito um pouco mais
leve. Ele olhou para a jovem enquanto caminhava, estava pendurada no
braço do mestre, falando com ele. Quando dobraram a esquina, no final do
corredor, ela o fez o mestre começar a rir.
Uma jovem comum não saberia o que eram aqueles caroços, nem teria
uma receita para banho de cavalo. Claro, que os homens sendo o que são,
provavelmente não reconheceriam os méritos da garota, assim como o
mestre.
Josie estava chocando Griselda, dizendo a ela o quanto ela sentia falta
de passar algum tempo nos estábulos.
— Um estábulo—, protestou Griselda, agarrando-se ao braço de Mayne
e agindo como se a qualquer momento fosse ser abalroada por um touro—.
Não consigo imaginar por que você gostaria de estar em um estábulo.
— Eles têm um cheiro meio pacífico—, explicou Josie—, como se nada
de ruim pudesse acontecer enquanto estamos lá.
Mayne se descobriu, assentindo.
— São os unguentos que colocam nos arreios: cereais e graxa de
carruagem.
— E uma corda nova—, acrescentou Josie—. A nova corda cheira bem.
Mas, acima de tudo, é o aroma do feno. Bem, do feno e dos cavalos
cansados.
— Desde jovem você passa muito tempo no estábulo—, disse Griselda
ao irmão—. Lembro que mamãe ficava muito preocupada porque temia que
você pudesse acabar parecendo um cavalariço—. Ela sorriu para Josie—.
Nossa mãe ficou muito feliz quando nosso Garret começou a se interessar
por roupas.
Mayne pensou no grande celeiro vermelho de sua propriedade, onde
passara muitas horas quando criança. Fazia provavelmente dois anos que
não passava uma tarde lá. Ele estava sempre em Londres, e mesmo no
outono e inverno, ele ia para a propriedade de Rafe ou algum outro amigo.
Ultimamente, seus estábulos eram para ele uma simples questão de comprar
e vender cavalos. Ele os mandava para sua propriedade rural para serem
treinados e então iam para a pista de corrida. Não que ele não visitasse a
propriedade, porque ele o fazia com frequência. Mas, não tinha mais a
relação intensa com os estábulos de anos atrás.
— Houve um tempo—, disse ele ironicamente—, em que o gato preto
não podia ter uma ninhada de gatinhos sem que eu soubesse exatamente o
número.
Josie sorriu.
— Gatinhos! Bah! Eu sabia quantos ratos nosso pequeno tigre estava
caçando. Ele sempre quis me mostrar seus cadáveres antes de comê-los.
Griselda estremeceu.
— Você pode manter esses detalhes para você, por favor.
Capítulo 13
Do Conde de Hellgate,
Capítulo oito
Meu caro leitor, você não esqueceu sua promessa de resistir ao impulso de
identificar os nomes das queridas mulheres que foram tão gentis em
compartilhar seu tempo comigo, não é? Não há necessidade de cavar em
sua memória procurando por uma bela atriz que interpretou Titânia no
século passado ... Vou manter o nome dela em meu peito até que a morte
nos separe.
Todos eles.

Griselda pegou o bilhete da bandeja que Brinkley ofereceu a ela. Um


sorriso apareceu em seu rosto. Ela imediatamente rejeitou a tentativa de
suborno. Vira a verdadeira vergonha nos olhos de Darlington quando ele
prometeu não provocar Josie novamente. Mas este convite ...
Isso merecia consideração.
Ela se sentou e olhou para as paredes rosa de seu quarto. Se ela fizesse
isso... essa coisa horrenda, deliciosa e tentadora ... seria pela última vez.
Embora ela tivesse tido dois desses encontros secretos nos dez anos desde
que seu marido morrera, em ambos os casos ela dedicou apenas uma noite a
cada homem. Mas aqueles eram homens mais velhos do que ela, solteiros,
alegres, que conheciam muito bem as regras do namoro social e as
respeitavam. Mais tarde, ela permaneceu uma grande amiga de ambos os
cavalheiros. Mas, Darlington era jovem. Terrivelmente jovem. O assunto
tinha seus perigos.
E, ela decidiu ...
— Grissie! — Annabel rapidamente enfiou a cabeça no quarto—. Quer
subir e se juntar a mim enquanto cuido de Samuel? Ele deve estar quase
acordando do cochilo e você me disse que gostaria de estar presente.
— E quando eu dei permissão a você para me chamar por esse apelido
nojento? — Griselda protestou com falsa raiva.
— Nunca—, respondeu Annabel—. Mas, agora que sou uma mulher
casada e você não é mais minha acompanhante, tomei a liberdade de
chamá-la assim.
Griselda levantou-se de um salto, escondendo apressadamente o bilhete
de Darlington na manga.
— Como Samuel dormiu na noite passada? — perguntou enquanto se
dirigiam para o berçário.
— Como um anjo. Ele é realmente um menino magnífico.
Griselda concordou de todo o coração. Em sua idade avançada, ela de
repente foi atingida por um desejo agudo de um bebê. E ela estava disposta
a encontrar um marido que cumprisse esse desejo.
Então ... Mas ela desistiu desses pensamentos, pois Samuel ronronou
alegremente ao vê-las chegar.
— Vá em frente—. disse Annabel, rindo—. Pegue o pequeno patife.
Ele estava chutando com os joelhos rechonchudos e exibia um grande
sorriso travesso, que parecia destinado a fazer todos ao seu redor amá-lo. E,
era um sucesso.
Griselda o pegou nos braços, sem perceber que o bilhete havia
escorregado de sua manga. Ela estava ocupada demais abraçando Samuel e
fazendo cócegas nele, deixando claro a cada gesto que era uma pessoa
extremamente importante.
Até que Samuel começou a gritar, isso indicou, muito provavelmente,
que embora ele a amasse, ela não era a pessoa que produzia leite, ela então
se virou. E, ao fazer isso, encontrou Annabel sentada em uma cadeira de
balanço confortável e sorrindo. Era um tipo de sorriso completamente
diferente do de seu filho. Um sorriso travesso e questionador.
— Griseldaaaa! — gritou, acenando com o pequeno papel em sua mão.
Griselda colocou Samuel no colo de Annabel e tentou recuperar seu
bilhete.
— Me dê isso!
— O Grillon Hotel—, disse Annabel, rindo com vontade. — O lugar
onde minha reputação morreu da forma mais dolorosa. Que coisa, se bem
me lembro, nenhuma senhora jamais entra no Grillon Hotel. Eu nunca
entrei em um lugar assim! — disse, imitando a voz de Griselda.
— E eu nunca entrei em um lugar como aquele até que sua irmã Imogen
me obrigou a fazê-lo—, Griselda protestou, rasgando o bilhete e jogando-o
na lareira.
Annabel apontou o dedo com autoridade para o assento na frente dela.
— Sente-se imediatamente, viúva selvagem, e me diga logo quem
diabos a está convidando para o Grillon. Quem é Darling ...— Mas as
palavras se morreram em sua língua. — É Darlington!
Griselda caiu na cadeira com muito menos graça que a habitual.
— É ele, de fato.
— Mas ninguém disse na outra noite que você deveria desistir de sua
virtude em troca da cessação dos comentários desagradáveis dele—, disse
Annabel. — Oh, Griselda, você não achou que era isso que Sylvie quis
dizer quando sugeriu que você o seduzisse, não é? Porque ela só disse isso
no sentido de que você poderia flertar com aquele homem e fazê-lo mudar
de atitude.
Annabel parecia tão apavorada que Griselda não teve escolha a não ser
sorrir.
— Eu sei—, respondeu—. Mas, acontece é que Darlington ...
— O canalha está chantageando você! — Os olhos de Annabel se
estreitaram—. Ele não está chantageando apenas você, Griselda, ele está
chantageando todos nós. Isso é o que ele quer dizer com sua "moralidade
enfraquecendo”, não é? Ele realmente pensa em chantageá-la para obrigá-la
a ir ao Hotel Grillon e ter um caso com ele. Rafe pode estar fora em sua
viagem de núpcias, mas meu marido pode dar uma surra em Darlington e
deixá-lo em pedacinhos, e o marido de Tess vai arruiná-lo financeiramente
—. Ela parecia prestes a pular da cadeira, amamentando ou não, e enviar
Darlington para o inferno.
— Então, suponho que você acha que eu não deveria ir ao Grillon's?
Annabel engasgou—. Você não pode estar considerando isso!
Absolutamente não, Griselda. Esse é um sacrifício que nenhum de nós
gostaria que você fizesse, incluindo Josie. Na verdade, provavelmente Josie
ficaria doente só de saber disso. Esse homem horrível e pequeno.
— Mas não acho que ele seja pequeno—, disse Griselda—. Ele é pelo
menos tão alto quanto Rafe.
— Eu não quis dizer...— Annabel respondeu—. E... — parou—.
Griselda Willoughby—, disse ela lentamente—, diga-me o que está
acontecendo aqui.
— Bem, você é uma mulher casada—, observou Griselda.
— Isto é óbvio—, Annabel disse, dando um beijo na cabeça peluda de
seu filho—. E, então, Griselda? — Ela fez uma pausa, sobrancelha
levantada.
Griselda olhou para os tornozelos em vez de encontrar o olhar de
Annabel. Suas meias eram realmente muito bonitas—. Você não acha que
elas são requintadas? — ela perguntou, levantando um pouco a saia e
balançando o tornozelo no ar. A seda era tão fina que dava a suas pernas um
brilho dourado.
— Griselda! — Annabel ameaçou.
— Estou pensando em ter um encontro secreto com esse homem—,
disse Griselda, observando Annabel cuidadosamente sob os cílios para ver
se ela parecia horrorizada com o pensamento. Mas ela não parecia nada
chocada.
Na verdade, ela parecia fascinada—. Não tem nada a ver com Josie,
então?
Griselda balançou a cabeça—. Darlington prometeu não falar nada
sobre Josie no futuro, e eu acredito nele. Ele tinha o ar de um homem que
finalmente percebeu que havia se tornado repulsivo.
— Bem, por que diabos você gostaria de ter um caso com alguém que é
repugnante?
Griselda riu. — Parece que o casamento a deixou inexplicavelmente
ingênua, minha querida.
— Eu nunca fui ingênua—, respondeu Annabel, habilmente movendo
Samuel de um seio para o outro—. Acho que Darlington tem alguns
atributos que são ... tentadores?
Griselda sorriu.
— Nesse caso—, disse Annabel—, vou entreter Josie enquanto você se
diverte no Hotel Grillon.
— Estou um pouco velha para ele.
— Dormindo com crianças? — Annabel disse alegremente—. E porque
não?
— Ele não pode ter mais de vinte e quatro anos.
— Isso não é nada. Veja quantos casamentos têm uma lacuna de vinte
anos em favor do homem.
— Seria minha última indiscrição—, disse Griselda.
— Eu sei, querida—, disse Annabel—. Porque você deve se casar agora
e ter o seu pequeno Samuel—. Samuel soltou um grande arroto, então ela se
levantou e o jogou nos braços de Griselda.
— Suponho que...— disse Griselda.
— Você é uma mãe nata. Claro que você supõe. Darlington é uma
possibilidade?
— Certamente não! Acabei de dizer que ele tem menos de trinta anos.
Ninguém se casa com homens dessa idade. Pode dançar com eles...
— Ou, encontrá-los em um hotel—. Annabel acrescentou. Ela se
recostou na cadeira, observando enquanto Griselda aninhava um Samuel
sonolento.
— Eu não posso ir para um hotel, — Griselda meio sussurrou,
parecendo estarrecida.
— Onde você encontrou suas outras... indiscrições?
— Eu morava em minha própria casa, é claro.
— Acompanhar-nos atrapalha a sua vida pessoal?
— Ah não! Tem sido maravilhoso. Antes de vocês, meninas,
aparecerem, e Rafe me pedir para acompanhá-los, minha vida era ... muito
tola, infelizmente. Foi revelador, para dizer o mínimo, ver três de vocês se
apaixonarem. E tenho certeza que Josie também encontrará a pessoa certa.
— Você tem alguém em mente para se casar?
Griselda balançou a cabeça. — Tenho a intenção de levar o assunto a
sério, depois ...— Sua voz sumiu.
— Depois de uma última e alegre despedida de solteira! — Annabel
disse, rindo loucamente.
— Silêncio! Você me faz sentir como uma verdadeira leviana—. disse
Griselda.
— Espere! Acho que sei quem é Darlington! Ele tem cabelo loiro e
maçãs do rosto encovadas... uma aparência completamente dissoluta?
Griselda! — Griselda parecia claramente culpada, então Annabel riu tanto
que quase engasgou. — Você está certa. Esse homem é totalmente
delicioso... e completamente inadequado para um compromisso sério.
Apenas uma pessoa para se encontrar no Hotel Grillon.
Capítulo 14
Do Conde de Hellgate,
Capítulo quatorze
Naquela época, caro leitor, minhas pernas e braços ainda eram jovens, mas
meus apetites sensuais estavam ficando cansados, envelhecendo. Comecei a
desejar algo que não conseguia encontrar em lugar nenhum, uma emoção
mais terna e doce que qualquer coisa que eu tivesse conhecido até aquele
momento. Mas, ai de mim, não ia encontrar ... em vez disso, uma jovem a
quem chamarei de Helena ... Ainda não descobriu os meus hobbies, caro
leitor? Você sabe por que chamo essas senhoras por esses nomes?

Eliot Governor Thurman estava tendo uma semana difícil. Nem Darlington,
Wisley ou Berwick apareceram no Convent para começar, embora ele
esperasse lá até as duas da manhã. De uma só vez, ele perdeu três pessoas
de quem se considerava amigo.
Havia outros no Convent que ele também considerava amigos, mas
quando Darlington não apareceu, ele foi ignorado. Por volta da meia-noite,
estava plenamente ciente que sem os comentários de Darlington, a
sagacidade de Berwick e os gestos azedos de Wisley, ele não valia nada.
Para esses supostos amigos, ele não passara de uma bolsa aberta.
Ele esperava de todo o coração que Darlington não encontrasse uma
esposa. Quem iria querer? Carente de fortuna e com uma língua picante
como a dele, não se podia dizer que era um par muito palatável para
mulheres casáveis.
Ele andava desconsolado pelos aposentos, perguntando-se se pararia de
receber convites quando ficasse claro que não fazia mais parte da
prestigiosa comitiva que cercava Darlington. Ele não podia abandonar a
vida da alta sociedade agora. Um baile não teria sabor se não fosse com
Darlington, o centro da fofoca mais estimulante do ambiente.
Ele continuou indo de cômodo em cômodo, imaginando o que faria
consigo mesmo. Ele se sentiu mal no Convent. Ele não era um homem que
se sentia atraído pelo silêncio ou pela meditação. Ele queria morrer de rir,
bater na mesa e pedir outra rodada, que pagaria com prazer.
Finalmente, ele decidiu que deveria ir ao baile de Lady Mucklowe no
dia seguinte. Darlington estaria lá. Ele não podia ficar em casa e deixar
Darlington pensar que seus sentimentos estavam feridos ou algo assim.
Não, ele iria ao baile de Mucklowe (ele consertou a gravata olhando para o
espelho acima da lareira) e encontraria a salsicha escocesa.
Ela era a razão pela qual Darlington o havia deixado. Ela foi a causa que
fez Darlington começar a pensar sobre moralidade e rejeitar a familiaridade
desavergonhada do Convent.
Tampouco procuraria a mulher gorda para contar a Darlington mais
tarde. Ele mesmo faria isso, porque era tão inteligente quanto Darlington,
sempre fora. Além do mais, ele poderia fazer algo muito inteligente, como
fazer a salsicha pensar que ele a estava cortejando. Como se ele fosse capaz
de fazer algo tão nojento. Mas ele poderia fazê-la acreditar com alguns
elogios. Poderia até ir a ponto de beijá-la, para que ela olhasse para ele com
faíscas nos olhos, pensando que um homem rico finalmente decidiu cortejá-
la. Então ele a rejeitaria. E depois ia ao Convent reunir o seu grupo de
amigos para lhes contar o que tinha feito e como era engraçado. Essa seria
sua vingança.
Já, naquele exato momento, ele podia imaginar as bochechas
rechonchudas da garota, estremecendo de prazer com seu beijo.
Talvez ele a encontrasse no Hyde Park e eles pudessem começar o
namoro imediatamente.
— Cooper! — gritou.
Seu valete entrou correndo do quarto.
— Vou ao parque. Peça minha carruagem. Vou colocar o colete roxo.
Com o terno sálvia.
Cooper abriu a boca, mas não disse o que pensava, vendo o olhar
autoritário de seu mestre. Thurman não estava com humor para que lhe
dissessem quais cores combinavam e quais não. Darlington às vezes se
vestia casualmente e usava cores que não eram tão conservadoras quanto as
que Cooper teria escolhido. Agora que Thurman seria uma figura
importante na sociedade, ele precisava desenvolver seu próprio estilo.
Thurman estava amarrando a gravata com gestos estranhos, quase
violentos, quando percebeu o que realmente queria fazer. Pareceu-lhe uma
grande ideia, algo como uma iluminação, confirmando sua inteligência
inata.
Ele queria ser o novo Darlington.
Darlington havia se aposentado, passado por uma mudança de
personalidade, tornou-se frágil, covarde, um cavalheiro disposto a trilhar o
caminho do anonimato.
Ele, Thurman, não havia perdido sua audácia e nunca perderia. Ele
esteve na sombra de Darlington por tanto tempo que as pessoas não
perceberam que ele poderia ser tão engenhoso, se quisesse. Isso ficou claro
no Convent na noite anterior. Todos pensaram que ninguém além de
Darlington estava em posição de fazer um comentário espirituoso. Como
eles eram cegos.
Eles estavam muito errados.
Ele usaria a salsicha ou encontraria outra forma de desenvolver e
divulgar sua inteligência. Simples assim.
Capítulo 15
Do Conde de Hellgate,
Capítulo quatorze
Sei que você é culto, que leu muito, que tem todas as qualidades para ser
admirável ... Dei a cada uma das minhas adoráveis damas os nomes dos
personagens das mulheres mais queridas nas obras do incomparável
Shakespeare ... algumas obras que, da mesma forma que essas memórias
são sobre sonhos e belas mulheres ... Assim como o incomparável bardo
escreveu o Sonho de uma noite de verão, eu, coitado de mim, estou
escrevendo os Romances de uma noite de verão ...

A melhor suíte do hotel Grillon tinha uma cama grande e vários lugares
adoráveis para se sentar. Não havia uma única cadeira de encosto duro no
local. Darlington andava de um lado para o outro na sala, passando o dedo
pela lareira de mármore para se certificar de que não havia poeira. O hotel
era o oposto da residência Bedrock, onde ele foi criado. Bedrock Manor foi
construído de pedra rosa, com um toque dourado, e ficava em uma colina,
de modo que no verão a grama ao redor ficava marrom brilhante e assumia
uma aparência quase italiana, como uma casa toscana, descansando ao sol.
Doía-lhe pensar naqueles dias, correr pelo vale com seus dois irmãos, sem
saber que não havia nada para ele no futuro, que tudo seria para seu irmão
Michael.
Quando você está crescendo, eles não dizem que você é apenas um
suplente, caso aconteça o infeliz acontecimento de o mais velho
desaparecer. Eles o deixaram correr livremente pela fazenda, entrando e
saindo dos estábulos, subindo e descendo as árvores que jamais pertencerão
a ele. Porque nem mesmo uma simples árvore pertenceria a ele. Eles
oferecem a você apenas duas possibilidades: entrar no exército e matar
pessoas ou entrar na Igreja e enterrá-las. Bem, na verdade existem três
opções. Alguém também pode decidir encontrar uma maneira de se
sustentar, o que seria uma mancha na honra da família.
É minha culpa não ter encontrado um terceiro estilo de vida respeitável,
pensou Darlington. Em vez de tentar, me deixei levar por uma raiva cega
que me dominou por anos. Meu pai nunca pensou em me educar para
qualquer atividade comercial e, no entanto, ninguém, absolutamente
ninguém, parece ter notado que não fazer nada não produz renda.
Ele afastou esses pensamentos.
Havia uma terceira possibilidade tão desagradável quanto óbvia.
Prostituição. Case por dinheiro, case bem, case com um grande dote.
Matar, enterrar ou foder.
Realmente, não havia possibilidade aceitável.
Ela chegou tarde o suficiente para que ele pensasse que ela não viria e
que a suíte estaria em ruínas. Eram onze horas quando ouviu uma batida
discreta na porta. Ele estava reclinado confortavelmente em uma poltrona,
mas levantou-se de um salto quando um lacaio introduziu uma forma
feminina fortemente encoberta e então se retirou.
Seu coração deu um salto e ele imediatamente se inclinou para ela,
rindo.
— Há alguém sob esses véus?
— Oh, não—, respondeu uma voz recatada e sorridente—. Não há
ninguém aqui além de mim.
— E você é o fantasma da Senhora de Shallot, eu presumo—, disse ele,
levantando um véu apenas para encontrar outro.
— A Senhora de Shallot era a mulher que cavalgava completamente
nua? — Griselda perguntou quando ele removeu seu terceiro véu.
— Essa é Lady Godiva—, explicou ele, sorrindo para ela. Ele segurou-
lhe as mãos com todo o entusiasmo de um vigário que recebe um pecador
que volta à missa depois de uma longa ausência. Se você quiser demonstrar,
ficarei feliz em me voluntariar para ser seu corcel.
Ele imediatamente percebeu que ela estava envergonhada com sua
piada, porque seus olhos se arregalaram, mais surpresa do que ela gostaria
de admitir. Então uma risada maliciosa explodiu em sua garganta—. Devo
dizer-lhe que sou uma viúva muito séria e correta—, explicou ela
severamente—, e não permito que ninguém me fale de maneira tão
descarada.
— Você não é uma viúva esta noite—, assegurou-lhe. A mulher tinha se
virado e estava andando pela sala, então ele veio por trás dela e passou os
braços em volta dela.
— Eu não sou? — Seu cabelo era loiro escuro e penteado em cachos,
como de uma elegante senhora.
Ele mordeu a orelha dela.
— Não é—, ele sussurrou em seu ouvido—. Acredito que você seja
realmente Lady Godiva e que tenha entrado em meu quarto por engano.
Ela permanecia impassível, imóvel, e ele não conseguia perceber se
Griselda era uma senhora disposta a aceitar tais licenças da imaginação, ou
se estava diante de uma mulher de critérios mais rígidos.
— E o que estou fazendo, andando pelo quarto de um cavalheiro? —
perguntou. O coração do cavaleiro começou a bater forte com o tom
inquisitivo da voz feminina.
Empolgado, ele deslizou as mãos dos ombros, passou pela capa de
Griselda e, então, rapidamente, desamarrou os laços que a prendiam. Ao
tirá-lo dos ombros, ele disse.
— Bem, minha senhora, você perdeu suas roupas, é claro.
Ela se virou e sorriu para ele, e foi como se uma pastora de Dresden
ganhasse vida. Estava radiante, confiante, charmosa.
— E como isso aconteceu? — Ela caminhou até a mesa onde estava o
champanhe, enrolado em uma toalha úmida e fria—. Devo dizer-lhe,
Darlington, que raramente perco minhas roupas.
O cavalheiro serviu o champanhe. — Eu não tenho certeza, mas de
alguma forma eu sei—. Garantiu a ela, oferecendo-lhe uma taça.
— Este será meu terceiro encontro desse tipo—, explicou ela, esperando
que ele bebesse de sua taça também—. E, o último.
Ele ergueu uma sobrancelha.
— Eu decidi me casar.
O sorriso de Griselda não era um gesto de flerte, mas o gesto
melancólico de um soldado na véspera de partir para sua última batalha.
— Eu também.
— Você precisa se casar, ainda mais do que eu—. Enfatizou Griselda,
tomando um gole. Ela estava encantadoramente preocupada com ele.
O cavalheiro se inclinou e deu um beijo nos lábios da senhora.
— Eu preciso assim como você.
— Eu? — Ela perguntou, erguendo as sobrancelhas em grande surpresa.
— A propósito, Willoughby está morto há cerca de dez anos, se não me
engano—, disse ele. — E, Lady Godiva teve apenas três encontros em um
período tão longo?
— E apenas por uma noite em cada caso—, ela esclareceu—. Uma
regra inflexível. Sempre pensei que é muito sensato e muito bom para todos
esclarecer as coisas desde o início.
— Uma noite—, repetiu Darlington, sentindo uma pontada de
arrependimento que quase o fez cair de joelhos. Ele tinha apenas uma noite
de prazer antes de começar sua campanha para a sua campanha de
casamento. Mas nada disso importava, dado o desejo intenso que sentia por
Griselda.
Ela olhou ao redor da sala, e ele decidiu estabelecer suas próprias regras
também.
— Eu nunca fui casado, mas ouvi dizer que esses encontros acontecem
sob as cobertas.
— Sem dúvida nenhuma—. Griselda confirmou, seu rosto não
revelando nada sobre como tinham sido seus relacionamentos conjugais.
— E imagino que essas aventuras, entre a nobreza, muitas vezes têm a
mesma falta de vivacidade, ou naturalidade, para dizer com elegância.
— Se você acha que isso implica pouca naturalidade ...
— Eu acredito, sim—, ele simplesmente confirmou. — Esta noite Lady
Godiva cavalga ao ar livre—. E, para dar uma ideia clara do que quis dizer,
tirou o casaco e jogou-o de lado, depois fez o mesmo com a camisa e a
mandou voando na mesma direção.
Ele sabia que era atraente para as mulheres. Certamente ele tinha feito
amor com poucas. Ele não tinha estômago para dormir com uma garota
fedorenta que se entregava de graça em uma taverna, nem tinha dinheiro
suficiente para pagar alguém que cheirasse melhor, e seu coração não
permitiria que ele fizesse isso com uma donzela que ele não poderia
oferecer casamento. Mas isso não significava que não tivesse visto os olhos
que o seguiam, que não tivesse detectado certo interesse quando uma
mulher passava os olhos por seu peito ou estudava seus braços.
Os olhos de Griselda estavam em seu peito, mas ele não conseguia
adivinhar o que ela estava pensando.
— Se tivermos apenas uma noite—, disse ele suavemente—, parece-me
que Lady Godiva deveria começar sua caminhada sem demora, não acha?
Mas ela não era uma mulher com que esse menino devesse se apressar.
Ele começou soltando o cabelo dela, grampo após grampo, e fez uma
descoberta deliciosa. Esses cachos, necessários para o adorno e a beleza de
uma dama, eram pura aparência. Seu cabelo caiu. Era rico e macio como
seda. Quase completamente liso, reto, até as pontas, onde se formavam
pequenos cachos cheios de perfeição e graça.
— Nunca vi nada assim—. disse ele, pegando-os para admirar a forma
curiosa como eles se enrolavam para trás, em uma espiral perfeita.
— Minha criada faz os cachos—. explicou Griselda.
— Como se faz? — Ele ficou fascinado e queria saber todos os detalhes
—. Você fica nua, com calor, depois do banho quente?
Ela riu do comentário, e talvez do autor também.
— Eu me sento, decentemente vestida, com meu robe, e ela trabalha em
meu cabelo, com um ferro quente.
— Eu serei sua criada esta noite. — O jovem demorou a tirar o vestido
dela, desamarrando o espartilho, até que finalmente a deixou sem camisa
também.
Certamente ela iria insistir para que a lâmpada fosse apagada. Ou, talvez
não.
Por fim, Griselda não o fez. Ela nem mesmo olhou para a lâmpada. Por
baixo de todas aquelas roupas, ela estava tão madura e deliciosa quanto um
pêssego. Os seios dela caíram em suas mãos com um abandono tão
delicado, sugestivo e sensual que o amante não pôde nem rir de alegria, ao
ser dominado por uma luxúria feroz, infinitamente maior do que qualquer
explosão erótica que já experimentara.
Ele estava meio que embriagado com o movimento amplo do cabelo
sedoso e cor de milho, com seus cachos jubilantes. Ele os deixou cair sobre
seus seios e, em seguida, colocou-a frente ao espelho. Lá, os dois
permaneceram, juntos. Pareciam modelos de um esboço maravilhoso. O
corpo de Griselda, um estudo de pele cor de creme e cabelos celestiais, e ele
uma versão mais austera e masculina do mesmo.
— Nós parecemos ...— ele parou e engoliu em seco.
Griselda jogou a cabeça para trás, no ombro dele e olhou para
Darlington.
— Eu pensei que as mulheres tinham medo de nudez—. Ele estava
beijando o pescoço dela e conversando entre beijos.
— Sempre gostei de me olhar—, respondeu Griselda, olhando no
espelho as mãos que acariciavam seu corpo. E, também gosto de olhar para
você.
Ele acariciou as curvas femininas, com deleite, lentamente. Ela amou o
olhar focado em seu rosto.
— Willoughby não gostava de espelhos.
— Hmmm? — Ele respondeu em um sussurro. Era óbvio que ele mal
prestava atenção às palavras. Sua maneira de tocá-la era meio carícia, meio
modelagem.
— Nossa noite de núpcias foi muito frustrante.
Ele ergueu o olhar.
— Nenhum de nós tinha experiência nesse assunto—, explicou ela,
rindo. Ela nunca tinha falado com ninguém sobre o que aconteceu naquela
noite. E, sentiu que rir era extremamente libertador.
— Pobre Willoughby—, disse Darlington—. Absolutamente nada?
Ela balançou a cabeça.
— Não que eu saiba.
— O que aconteceu?
— Nós não conseguimos fazer funcionar. Quer dizer, não consumamos
realmente o ato. A barriga dele atrapalhou e foi uma mortificação para nós
dois, então ele começou a ... digamos, perder o interesse.
— Pobre rapaz! — Darlington exclamou com uma voz horrorizada.
— Tentamos novamente alguns dias depois e desta vez tivemos mais
sucesso.
Darlington era lindo. Pode-se dizer que ele era um verdadeiro garanhão,
musculoso e jovem. Os dois amantes anteriores de Griselda eram homens
cautelosos, na casa dos quarenta, cavalheiros que, de forma encantadora e
experiente, deslizavam suavemente para debaixo das cobertas e a deixavam
tão confortável quanto eles próprios. Não havia paixão.
Darlington era outro assunto. Ela se virou para vê-lo melhor e ficou
fascinada com o contorno de seus quadris, com o arco tenso de seu traseiro,
com o brilho dourado de sua pele.
— Você é sempre assim? — Ela finalmente perguntou.
— Assim como?
— Nu. Quando você está com uma mulher.
Ele ergueu as sobrancelhas.
— Você me viu andando pelos salões de baile sem meu colete?
— Não, tolo. Quero dizer, quando você está imerso em atividades
íntimas.
— Bem, quanto a isso—, ele respondeu e puxou-a para mais perto de
seu próprio corpo, até que eles estabeleceram um contato íntimo pele a pele
—, A verdade é que não me encontrei em muitas situações íntimas, essa é a
verdade.
— Não? — Ela piscou para ele, hesitando.
Ele balançou sua cabeça. Suas mãos percorreram suas costas, fazendo-a
se sentir deliciosamente macia ... feminina.
— Porque não?
As mãos de Darlington se retiraram. Ele se virou e pegou seu copo.
— Sem dinheiro para pagar pelo privilégio e sem ter como sustentar tais
atividades ... como eu poderia?
Este homem, que metade de Londres considerava desprezível, parecia
ter um forte código de honra.
— Como você pagou por este quarto? — Griselda perguntou.
Ele virou-se.
— Pelo uso irresponsável da poupança—, explicou—. Todo mundo
merece uma última loucura antes de se submeter à escravidão doméstica,
concorda?
— Escravidão doméstica?
Darlington terminou sua taça de champanhe.
— De que outra forma alguém poderia descrever o casamento?
— Companheirismo—, disse ela. E, pensando nos casamentos de
Annabel, Tess e Imogen, ela acrescentou: — Como paixão, amizade, amor.
Filhos.
— Você é uma otimista—, respondeu o jovem—. Eu vejo o casamento
como uma transação financeira. Vou trazer pouco mais para o casamento do
que minhas habilidades na cama. Meu pai deixou isso bem claro para mim
desde cedo. Nessas circunstâncias, sempre me foi difícil satisfazer o desejo
de flertar com uma mulher.
— Porque, com toda a sua fama, você vai ser um amante incrível—,
disse ela, bebendo seu champanhe e tentando não cobiçar a longa linha da
coxa de Darlington.
— Por causa da fama que isso implica—, disse ele—. Mas acho que
finalmente tenho idade suficiente para enfrentar meu destino, covarde que
sou.
Ela caminhou até o homem, sentindo a carícia de seu próprio cabelo
caindo atrás dela. As costas de Darlington estavam voltadas para ela
naquele momento, e ela passou as mãos, palmas abertas, sobre a poderosa
superfície de seu corpo. Ele tremeu, mas não disse nada.
— É uma péssima maneira de encarar o casamento—, observou
Griselda, passando as mãos sobre os músculos dos ombros dele.
— A realidade costuma ser decepcionante.
— Não essa noite.
Então ela se apoiou totalmente contra o jovem e sentiu sua respiração
profunda percorrer os dois corpos.
— Acho que estamos em uma situação totalmente diferente do
casamento.
— Eu afirmo, senhor, que os casamentos podem ser apaixonados.
— Eu imploro que você desista de tais ideias desagradáveis—. Ele
virou-se.
E o que ele estava fazendo com as mãos ... Bem, era o suficiente para
fazer desaparecer todos os pensamentos que Griselda tinha na cabeça.
Cerca de uma hora depois, Griselda se sentiu relaxada,
maravilhosamente fraca, saciada.
— É hora de ir—, disse ela, lutando contra seu próprio desejo de
afundar de volta na cama. Abaixou-se para pegar o manto, mas Darlington
fez algo parecido com um rosnado, um ruído urgente e baixo que nasceu em
sua garganta, e ela hesitou. Em um instante, ele estava com seus braços em
volta dela novamente.
A viúva podia sentir a excitação sexual de seu amante, e seu próprio
sangue acelerou, entoando em uma melodia latente e selvagem. Uma parte
atordoada de sua mente comparou aquela noite com suas outras
experiências, descobrindo que não havia qualquer relação entre elas.
Nenhum outro homem mostrou interesse em algo mais do que um encontro
alegre e bem-educado, no qual ambas as partes estivessem mutuamente
satisfeitas.
— Eu não ...— Griselda começou, quase sufocando.
—Lady Godiva—, ele sussurrou em seu ouvido—, monte-me—. Ele a
ergueu com a facilidade com que uma criança é erguida no ar, carregou-a
pelo quarto e então se afundou em uma das grandes poltronas, o rosto cheio
de sorrisos e iluminado pelo prazer, uma alegria pecaminosa que ele tinha.
Tudo a ver com o corpo dele e com o dela, e nada a ver com as camas.
— Não deveríamos voltar para a cama? — Ela perguntou.
— Cama? — Ele estava rindo com vontade naquele momento. — Eu
gostaria de fazer amor com você ao ar livre.
Ela se sentiu corar e ele a empurrou para frente, abaixando-a. Era uma
maneira estranha, mas deliciosa de amar um ao outro. Ele parou, com as
mãos entre as pernas dela.
— Eu gosto de olhar para você—, disse suavemente—. Seus olhos
quase fecham, mas não exatamente, sabia? E, quando você suspira, seus
seios se movem. Suas faces estão rosadas, sabia? — Ao longo da conversa,
os dedos astutos de Darlington continuaram a dançar entre suas pernas.
— Charles—, ela gemeu, e finalmente a deixou cair sobre ele. Então o
cavaleiro parou de falar e soltou uma exclamação áspera de sua garganta,
quase um ruído.
Por puro instinto, Griselda sabia cavalgar. Deve ser uma habilidade que
Ladies Godivas desenvolvem quando necessário, pois sem pensar, ela
deixou os cabelos caírem para trás de modo que tocassem os joelhos do
homem, arqueando as costas e rindo.
Ele não estava mais rindo. Seu rosto estava rígido, seus dentes cerrados.
— Oh, Deus, você é tão ...— Mas as palavras de repente se
desvaneceram, e Darlington apenas trabalhou para moldar os seios de
Griselda com as mãos, até que não aguentou mais, e passou o polegar sobre
seus mamilos rosados. A bela viúva fechou os olhos e de repente ele a
estava ajudando na corrida selvagem, empurrando, para cima, com todas as
suas forças.
Até que ela gritou, caindo em seus braços. Darlington a abraçou com
força, aquelas lindas costas, agora úmidas, com toda a sua alma,
envolvendo a dama em seus braços, para que ela não pudesse cavalgar para
longe dele.
Capítulo 16
Do Conde de Hellgate,
Capítulo quatorze
Quando conheci Helena - no salão de baile do Almack's, caro leitor - achei
que já havia esvaziado a taça da paixão. Resumindo, pensei em me casar.
Porque com certeza o casamento é a contrapartida da inércia das velhas
paixões, do cansaço que vem de ver ex-amantes por toda parte, no salão de
baile.
Sim! Tal foi a magnitude da minha depravação ...

Lady Mucklowe sabia exatamente o que era necessário para transformar


qualquer baile em um grande sucesso: um único truque de gênio. Alguns
anos atrás, estrelou o evento mais comentado da temporada social,
convidando Lord Byron para ler seu poema de amor favorito para todos.
Isso garantiu a presença de todas as mulheres devassas de Londres, das
quais mais tarde se gabou para sua irmã. Essas mulheres frívolas divertiam
a todos: os senhores, por lhes dar esperança de que tal mulher lhes pudesse
fazer um favor, e as damas de boa família, por lhes dar a oportunidade de
ter alguém interessante para conversar.
Esta noite ela tinha certeza que seu título de rainha das festas animadas
seria confirmado.
— Não tenho certeza se entendi, Henrietta—, disse o marido,
preocupado.
Henrietta Mucklowe disse a si mesma pela quadragésima vez que, se
tivesse a sorte de se casar com alguém mais interessante, não daria essas
festas imaginativas. Porque se Freddie não fosse Freddie, eles teriam, de
fato, algo para conversar em casa, e ela não passaria a maior parte do tempo
sonhando com diversões fantásticas.
— Máscaras, querido—, ela repetiu—. Os criados darão uma a cada um
dos convidados, ao entrar. E, eles devem usá-las. É um requisito para entrar.
Sem máscara, nenhum baile vale a pena.
Freddie estava confuso, então ela explicou novamente.
— É como usar calça de joelho no Almack's. Você não pode entrar sem
elas.
— E o que você vai fazer com York, hein? — Freddie perguntou. De
vez em quando, o que o homem dizia fazia sentido—. Não se pode
simplesmente ordenar a um duque real que coloque uma máscara, porque se
ele não o fizer, não terá permissão para entrar.
— Talvez ele não venha.
— Eu o vi hoje—, Freddie rosnou enquanto ajustava as ligas de suas
meias. Ele me disse que não iria perder depois do sucesso daquela outro
baile que você deu.
— Byron foi uma ideia muito boa—, disse Henrietta, com um aceno de
cabeça satisfeito.
— Não foi isso que ele quis dizer, mas o faisão do ano passado. O
cozinheiro é um gênio.
— Isso também—. Henrietta confirmou. Se um duque real fosse
conquistado pela comida, ela estava disposta a fazê-lo.
— Você tem que colocar uma máscara, Freddie.
— Uma o que?
— Uma máscara!
— Ah, tudo bem.
Depois de evitar outro desastre conjugal, Henrietta fez um breve tour
pelo andar térreo. Centenas de máscaras, todas feitas de seda preta (para
homens) ou rosa (para mulheres), aguardavam na entrada. As velas foram
acessas e os lacaios estavam prontos para substituí-las quando as chamas
começassem a diminuir. Trezentas garrafas de champanhe esperavam em
baldes de água fria. Tudo pronto. O murmúrio na casa ainda era suave. A
mansão parecia um buraco vazio deixado pela maré, pronto para ser
preenchido até a borda novamente quando outra enchente viesse.
De repente, tudo começou. Ela ouviu a voz aguda e animada da
condessa Mitford na porta. Em uma hora, havia uma fila de carruagens se
estendendo por várias ruas, em todas as direções. O mordomo manteve-se
maravilhosamente firme, não deixando ninguém entrar sem sua máscara no
rosto. A verdade é que assim que as pessoas entraram na casa e viram que
todos usavam máscara, perceberam as possibilidades de diversão que o
acontecimento oferecia, e as reclamações cessaram.
As damas de companhia enrijeceram, pareciam alarmadas, mas era tarde
demais. As debutantes estremeceram, querendo escapar como jovens lebres
ansiosas pela corrida. As mães as seguraram pelos braços, sussurrando
ordens, mas todas as meninas na sala sabiam que não havia regras a seguir
esta noite. Qualquer um poderia valsar se estivesse mascarado. Qualquer
garota poderia dançar com o pior convidado, se ambos usassem máscaras.
Como poderiam saber com quem se estava dançando? Como poderiam ser
responsáveis por suas ações? Cada um tinha a empolgante sensação de que
a pessoa mais importante acabaria dançando com ele.
As esposas ergueram a cabeça e olharam maliciosamente para a
esquerda e para a direita, em busca de seus amantes. Os maridos se
apressaram em direção à sala de jogos, sabendo que pela primeira vez suas
expressões não revelariam o valor de suas cartas, ou então se dirigiram
lentamente para um dos dois salões, em busca de uma lembrança, de uma
garota que um dia amaram, em uma certa noite da juventude.
Ninguém recebeu a máscara com mais prazer do que a Senhorita
Josephine Essex, anteriormente conhecida como a linguiça escocesa.
Entregou sua capa ao lacaio sem piscar. Por quase um mês, eles mesmos
quase tiveram que arrancar a capa protetora e reconfortante de seu corpo,
tão desconfortável era a garota com sua figura. Mas naquela mesma tarde
Madame Rocque entregou-lhe o primeiro de seus vestidos de noite e Josie o
vestiu. Em vez de ser desenhado para seguir as linhas de um espartilho, este
vestido não tinha outro propósito a não ser caber bem no corpo da jovem.
Era um tom estranho e lindo de violeta, talvez muito escuro para uma
debutante, mas Josie não se importou.
— Santo céu! — Griselda exclamou quando a viu naquela tarde. O que
foi o suficiente. Josie se vestiu com a felicidade mais intensa que já
experimentou em sua vida.
A verdade é que, quando ela se olhou no espelho, usando apenas um
espartilho minúsculo projetado para apoiar seus seios, ela sentiu uma onda
agonizante de ansiedade. Ela sentiu a seda farfalhar ao redor de seus
quadris, finalmente liberados. Certamente pareceria muito grande, muito
solto, muito volumoso.
Mas então ela respirou fundo e caminhou até o espelho, da maneira que
Mayne a ensinara. Lembrou-se daquele corpo musculoso e flexível coberto
com os restos de seu vestido rosa, e teve que rir um pouco. E quando ela viu
que o vestido realçava suas formas, linhas, curvas femininas que ela sempre
possuíra, ela estreitou os olhos.
Ele estava certo.
Mayne era um veterano de uma centena de romances, se todas as
histórias que estavam sendo contadas fossem verdadeiras. Como Imogen o
descreveu uma vez? Como um homem vítima da própria fraqueza de
Lúcifer. Josie não pôde deixar de sorrir um pouco para si mesma. Sua boca
havia perdido aquela inclinação dissoluta quando ele se viu atraído por uma
seda rosa cintilante ondulando pelo chão em direção a ela.
Agora estava no baile e tudo estava diferente das ocasiões anteriores.
Longe de ser um sofrimento constante, a festa foi apresentada a ela como
uma promessa de diversão, alegria e autoconfiança.
Josie ajustou a máscara rosa (felizmente era uma cor que combinava
perfeitamente com seu vestido) e olhou em volta, procurando por Griselda.
Ela usava o ousado vestido vermelho que Madame Rocque
confeccionara. A verdade era que Josie mal reconheceu sua acompanhante.
Quando se encontraram pela primeira vez, há vários anos, Griselda era a
quintessência da mulher inglesa de boa família. Vestia-se com o decoro
primoroso de uma viúva interessada exclusivamente em dois tipos de
reputação: a do decoro sexual e a do bom gosto. Era uma pessoa alegre e
adorável, que mostrava pouco interesse pelo sexo oposto, exceto para falar
graciosamente sobre suas fraquezas. Embora, geralmente, tivesse um ou
dois pretendentes seguindo seus passos, eles eram quase sempre jovens
tolos, incapazes de qualquer coisa além de recitar poemas ruins e dar-lhe o
braço para levá-la ao jantar.
Mas, nos últimos meses, Griselda havia mudado. Josie não conseguia
identificar em que consistia a mutação, mas sabia que era real. E naquela
noite, quando ela se virou para olhá-la, teve certeza de que sua companheira
era a mulher que menos parecia com uma acompanhante na sala. O vestido
vermelho de Madame Rocque era feito de tal forma que faixas de carmesim
mais escuro caíam sobre os ombros e se cruzavam, mas não se juntavam até
quase chegar à cintura, um vestido que uma debutante jamais poderia usar.
Mas, é claro, Griselda era viúva.
— Eu certamente não usarei uma máscara rosa—, disse—. Vou levar
uma das pretas, por favor.
O criado parecia balbuciar algo sobre as instruções de Lady Mucklowe,
mas sem sucesso. Josie poderia ter dito ao servo que não valia o esforço.
Em dois segundos, Griselda estava felizmente amarrando uma faixa preta
em volta dos olhos.
— Você está esplêndida—, Josie sussurrou. — Essa cor preta faz
contraste com seu cabelo absolutamente prateado.
— Prata! — Griselda gritou.
Josie riu. — Eu não disse nesse sentido. Quis dizer que parece a luz da
lua. E, gostei de não estar usando cachos esta noite. Eles não ficariam bem
com o vestido.
— Achei que era hora de mudar—, disse Griselda com certa satisfação.
— Agora, minha querida, o fato de usarmos máscaras não é desculpa para
impropriedades.
Josie abriu a boca, mas Griselda ergueu a mão.
— Josephine, não sou idiota. Sei tão bem quanto você que muitos
casamentos são realizados para evitar o risco de se perder a boa reputação, e
provavelmente alguns pais sairão daqui exigindo que certos depravados se
comprometam a casar no dia seguinte. Mas você, minha querida menina,
não precisa recorrer a esse truque. Apenas espere e veja.
— Não é minha intenção me prometer graças a truques ou algo assim ...
— Josie começou.
Mas Griselda a interrompeu novamente. — Apenas uma vez uma de
suas irmãs fez isso intencionalmente. Quero dizer o primeiro casamento de
Imogen. Peço que pense bem sobre esse casamento, Josie. Você acha que
Imogen e Maitland foram felizes?
— Claro que não.
— Então termino minha declaração—. disse Griselda em tom
bombástico. Ela ajeitou o xale de modo que caísse sobre os cotovelos e
emoldurasse o vestido. — Vamos entrar?
Elas pararam por um momento na soleira do primeiro dos dois salões de
baile de Lady Mucklowe. Um criado avançou e ofereceu-lhes taças de
champanhe. Antes que Josie pudesse estender a mão, três cavalheiros se
curvaram diante delas.
— Eu sou—, disse o primeiro, apresentando-se dramaticamente—, o
Príncipe de Purpalooseton.
Em meio às risadas que se seguiram quando souberam que Lady
Mucklowe decretou que ninguém poderia usar seu nome verdadeiro, Josie
percebeu algo importante. Os três cavaleiros não tinham saltado como feras
para ficar em sua presença apenas por causa de Griselda e seu corpete
vermelho. Eles também estavam interessados nela. Um momento depois,
mais dois homens se juntaram e, pela primeira vez em sua vida, e com uma
sensação de prazer inebriante, que era ainda mais intenso por ser tão nova,
Josephine Essex se viu flertando com quatro cavalheiros ao mesmo tempo.
Griselda se afastou alegremente nos braços do Príncipe de Purpalooseton
para dançar a valsa, mas estava feliz demais para imitá-la. E, nem pensou
em dançar.
Além disso, ela sabia muito bem que dançava muito mal.
Depois de um tempo, ela fez parte de um animado círculo que discutia o
livro mais cobiçado de Londres, as Memórias de Hellgate.
— Você pode não saber quem o escreveu—, disse um senhor de colete
laranja, a máscara apoiada insolentemente no nariz grande, — mas não há
dúvida sobre a identidade do protagonista daquilo que estamos lendo. Eu
soube no momento em que li o capítulo sobre a mulher que ele conheceu no
Almack's. — Ele baixou a voz. — É o caso de Lady Lorkin e Mayne,
obviamente.
— De jeito nenhum—, disse um homem alto e magro com um grande
bigode sem graça. —As memórias falam de infortúnios, é claro, mas esse
capítulo não pode se referir a Lady Lorkin. Acho que o ponto-chave foi o
spaniel da água.
— Como assim, senhor? — Josie perguntou.
— Um spaniel de água! — O homem respondeu—. Não conheço
nenhuma mulher que tolere cães dessa raça. Estão sempre na água. Então
eles se sacodem e, pronto! A senhora acaba encharcada. Respingado com
água do vira-lata.
— Eu não entendo você muito bem—, ele se opôs ao colete laranja—.
O que isso tem a ver com Mayne ou Lady Lorkin?
Outro cavaleiro se aproximou do círculo e se juntou a eles. Josie olhou
para ele, depois olhou novamente, intrigada. Não havia como confundir
aquelas maçãs do rosto sombreadas e aquelas sobrancelhas retas, com ou
sem máscara. Nem suas roupas. Mayne usava uma jaqueta granada que se
ajustava a seu corpo musculoso como uma espécie de segunda pele.
Josie deu a ele um grande sorriso. Por um momento ela havia esquecido
sua transformação, mas ela se lembrou quando viu os olhos dele
percorrerem seu corpo. As sobrancelhas de Mayne estavam levantadas e
não era preciso muita intuição feminina para saber que ele aprovava seu
novo vestido tanto quanto detestava o antigo espartilho.
— Ela deve ser uma mulher que ama cachorros—, o homem esguio
murmurou teimosamente—. Eu diria ainda mais: cachorros molhados. Eu
digo que Hellgate é Charles Burdiddle. Mas cuidado, não devemos falar
com tanta facilidade sobre um assunto tão ousado.
Josie não sabia quem era Charles Burdiddle. Ela olhou para Mayne. —
Estamos falando de uma obra literária infame, senhor, — disse ela—. As
memórias do conde de Hellgate. Infelizmente, não tive a chance de ler, mas
já ouvi o suficiente de minhas irmãs para entender que Hellgate parece ver a
intimidade como um desafio, em vez de algo a ser mantido em segurança.
— A intimidade fora dos limites do casamento é sempre um desafio,
não uma defesa—, disse Mayne. Sua voz tinha o tom demoníaco de um
homem que está cansado de sempre dizer a coisa certa em vez do que
pensa.
— Mas as mulheres raramente pensam assim—, apontou Josie—. Além
do mais, me dá a sensação de que esse é um ponto de vista totalmente
masculino. Ninguém pensou na possibilidade de que talvez as memórias
sejam totalmente falsas e devidas à pena de uma mulher?
— Isso seria um engano extraordinário. Eu acho que há mulheres
esperando desesperadamente ser o próximo erro do Hellgate—, disse o
cavalheiro esguio com um certo tom sarcástico em sua voz—.
Principalmente se ele concordar em fazê-lo em uma sequência de três
páginas, elegantemente encadernadas em couro.
O de colete laranja respirou fundo e protestou. — Há uma jovem dama
presente, senhor!
— Ela não parece estar chocada—, observou Mayne.
— Com um homem que não é exatamente fascinante—, disse Josie—,
uma mulher deve sempre evitar qualquer intimidade.
— Uma mulher deve defender sua virtude em qualquer circunstância—,
corrigiu o homem de colete—. Uma vez que uma mulher sucumbe ao tipo
de comportamento desrespeitoso descrito nas memórias do Hellgate ... bem,
aquela mulher nada mais é do que um monte de indignidade. Um ser sujo!
A mulher descrita pelo nom de plume de Helena, por exemplo. Vergonhoso!
— Uau—, exclamou Mayne—. Você fala, senhor, como se o passado de
uma pessoa não pudesse ser redimido. Como se ninguém pudesse
compensar os erros do coração.
— E, é isso mesmo, eles não podem ser compensados. Escândalos dessa
natureza desonram a alma. Não é possível se recuperar deles. Quem quer
que seja essa Helena, ela nunca vai recuperar sua verdadeira feminilidade:
sua santidade e pureza. Está condenada por toda a eternidade.
— Este homem não parece pensar que as manchas desaparecem com a
lavagem—, Mayne disse a Josie em um aparte—. Talvez Helena fosse sua
esposa. Vamos dançar?
— Claro—, respondeu ela, e voltou-se para ele com a nova liberdade
que o alegre fato de não usar espartilho lhe dava, com uma confiança
alimentada pelas centenas de olhares de admiração que percebera na última
meia hora.
— Você não dançaria comigo—, o homem alto retrucou.
— Considere-se com sorte—, disse Mayne—. Eu sei o quanto ela dança
mal, então já me preparei ... meus pés estão em alerta.
— Nenhuma mulher que se move com essa graça, essa elegância, pode
dançar mal—. O homem de colete laranja comentou enquanto Josie se
afastava de braços com Mayne, beliscando-o com toda a força.
— Como você ousa dizer uma coisa dessas? Agora ninguém vai querer
dançar comigo!
— Nesse vestido, eles dançariam com você, mesmo que você usasse
uma bengala. Além do mais, minha única preocupação é alguém roubá-la
de mim enquanto dançamos.
Josie deu uma risadinha. Era maravilhoso sentir-se sedutora e bela, e
estar lá, rindo enquanto ela segurava o braço do homem que ela considerava
(privadamente) ser o mais bonito em toda a sociedade chique de Londres.
— Por outro lado—, disse ele um momento depois, depois que ela
tropeçou pela enésima vez—, devo dizer que você realmente dança muito
mal. Qual é o problema? Você não prestou atenção naquele professor de
dança que Ewan arrastou para o norte do país?
Ela corou um pouco—. Não posso evitar. A verdade é que sou
terrivelmente desajeitada. Eu realmente não gosto de dançar.
— Eu volto para buscá-la mais tarde, quando as valsas começarem. —
disse Mayne, dançando para fora do círculo e saindo da pista de dança. —
Você pode apenas ficar parada e permitir que os pretendentes devorem seus
seios com os olhos, em vez de dançar com eles. Pelo menos até o início das
valsas.
— Eu sou ainda pior dançando valsa.
— Não importa, não se preocupe; você apenas terá que aceitar a
admiração—, Mayne sugeriu alegremente—. Acho que devo procurar
Sylvie. Não a vejo, mas suspeito onde está.
— Onde? — Josie perguntou, olhando em volta. — O que ela está
vestindo?
— Amarelo—. respondeu ele. — E, máscara preta.
— Griselda também pediu uma máscara preta.
Um homem alto, com olhos cheios de admiração e uma mecha de
cabelo castanho caindo sobre a testa, parou ao lado deles.
— Skevington—, disse Mayne—, Posso deixar a Senhorita Essex com
você? Preciso encontrar minha noiva e, claro, a dama de companhia da
Senhorita Essex está perdida na multidão.
Skevington tinha um sorriso muito encantador.
— Nada me daria maior prazer—. disse ele, curvando-se.
— Skevington se veste exageradamente—, disse Mayne, apontando
para o colete bordado do cavalheiro—. Mas isso não é um pecado mortal.
Josie sorriu para seu novo parceiro—. É muito pior ser exagerado nas
opiniões.
— Ser excessivamente zeloso é certamente um pecado mortal—,
comentou Skevington. Ele estava longe de se ressentir das críticas sobre o
seu colete, e Josie gostou ainda mais dele por isso.
— Mesmo correndo o risco de ser excessivamente zeloso, Senhorita
Essex, posso convidá-la para dançar?
— Na verdade, prefiro sair desta sala—, respondeu a menina, que
tentava fugir da dança como uma praga.
Skevington tinha um rosto magro e inteligente e olhos amáveis. Eles se
afastaram de Mayne, e Josie não olhou para trás, ela apenas caminhou com
seu novo andar sexy, esperando que ele estivesse olhando para ela.
Mas, depois de um momento, não aguentou e virou a cabeça.
Mayne já não estava mais lá.
Capítulo 17
Do Conde de Hellgate,
Capítulo quinze
Pedi a Helena em casamento, caro leitor. Ela recusou. Disse-me que eu era
sua pérola, seu homem dourado, seu sonho mais precioso, e rejeitou minha
mão mesmo assim.

Thurman achou que as máscaras eram uma péssima ideia. Como ele poderia
construir uma reputação se ninguém sabia quem ele era?
Ele tinha visto Darlington. Suas feições eram inconfundíveis.
Darlington estava encostado na parede do salão de baile e, depois de
observá-lo de perto, Thurman concluiu que estava observando Lady
Griselda Willoughby dançando com o Sr. Riffle. Ele não pôde deixar de
sorrir ao pensar sobre isso. Darlington estava louco se pensava que Lady
Griselda ia se casar com ele. A propósito, ela tinha uma das propriedades
mais bonitas deste lado de Hampshire, mas nunca se interessaria por um
perdedor como seu velho amigo.
Ele está desperdiçando tempo, pensou Thurman. Mas não era hora de
lidar com Darlington, isto era passado, e ele transbordava de ambição e
desejo de se tornar seu sucessor. Ele já estava no caminho certo para
alcançá-lo. Na noite anterior, ele foi a Covent Garden e secretamente anotou
vários comentários espirituosos. E, melhor ainda, naquela mesma manhã ele
fora a St. Paul e passeou pelo corredor central, onde todos os membros
inteligentes dos tribunais se reuniam para trocar mexericos. Lá ele também
compilou frases e fragmentos de conversas com muito conteúdo. Então, ele
os anotou com calma, e já teve a chance de usar dois deles com excelentes
resultados.
Claro, ninguém sabia quem ele era, então teria que considerar esta noite
uma espécie de ensaio geral. Mas, tudo bem. Era preciso um certo sentido
de tempo para uma piada ser adequada. Assim que entrou, ele disse a Lady
Mucklowe que os únicos casamentos felizes nesses dias eram apenas entre
criados. Esse comentário gerou gargalhadas estrondosas na noite anterior no
teatro, mas por algum motivo não funcionou com Lady Mucklowe, que
olhou para ele e respondeu: — Jovem, estou feliz por não saber quem você
é. Ficaria muito aborrecida se tivesse de me censurar por tê-lo convidado.
Thurman também estava feliz por estar incógnito. Mas depois disso,
duas piadas que ouviu em St. Paul foram muito bem recebidas em pequenos
grupos, e um dos homens disse: "Por Júpiter! Isso é muito inteligente!”
Ele tinha em mente uma frase magnífica relacionada ao namoro das
damas, então vagou até que encontrou um grande círculo de pessoas, bem
próximo às janelas que davam para o jardim. Na verdade, Thurman não
gostava de ser exposto a correntes de ar. Sua mãe sempre insistiu que o frio
da noite poderia fazer com que os pulmões de seu amado filho gelassem, e
ele sempre prestara atenção ao que sua mãe dizia. Mas, movido por uma
ambição mais forte do que o medo de resfriados, ele caminhou em direção
ao grupo próximo à janela.
Com a máscara, tudo foi muito fácil. Ele apenas se aproximou como se
fizesse parte do grupo. E, descobriu que o círculo estava agrupado em torno
de uma jovem, que estava sentada na mesa da biblioteca de forma que um
de seus tornozelos ficasse perfeitamente visível.
Um belo tornozelo, Thurman percebeu à primeira vista, mas a jovem
obviamente não era tudo que poderia ser. Certamente tal garota não se
importaria com uma ou duas piadas atrevidas. Thurman notou como seu
vestido era deslumbrante, seu rico cabelo castanho, pele branca e luminosa
e lábios da cor de morango na primavera. Ela também tinha uma risada
profunda e rouca, o que indicava claramente que ela não era uma donzela
casta.
Os que estavam reunidos estavam falando sobre uma peça de
Shakespeare que estava sendo encenada no Hyde Park Theatre. "Não tenho
intenção de vê-la," interrompeu Thurman. “O próprio nome de Shakespeare
arrepia minha espinha. Memórias da escola, eu acho.”
"Eu era terrivelmente preguiçoso quando estava na escola," disse
Skevington (Thurman o reconheceu por sua altura). Receio não poder
recitar mais do que um ou dois versos, e isso se me esforçasse muito.”
Claro, Skevington foi para Eton.
"Cavaleiros sabem de tudo o que precisam saber sem necessidade de
livros," disse Thurman, "e se você não for um cavalheiro, tudo o que
aprender não será bom para você."
A jovem virou a cabeça e olhou para ele. Ela tinha olhos grandes,
densamente cercados por cílios. Cristo, essa mulher é linda, mesmo com
uma máscara, Thurman pensou, embora ele não fosse uma pessoa que
geralmente prestasse muita atenção a essas coisas. Bela, embora muito
carnuda para o seu gosto. Permitiu-se olhar para ela com certa ousadia,
pois, afinal, era óbvio que ela não era uma dama.
"Acho que gostaria de ir ao jardim," disse ela, deslizando para fora da
mesa, sem esperar que um cavalheiro estendesse a mão. Outro sinal de sua
falta de educação.
Então todos se dirigiram para o jardim, seguindo-a, movendo-se em
volta dela como as folhas de uma flor ambulante. Thurman estava
começando a pensar que deveria encontrar outro grupo para praticar suas
frases. Ele tinha uma boa lembrança sobre o amor de uma mãe, quando
Skevington disse algo que o fez ficar em guarda.
Ele estava conduzindo a garota pelo braço e estava andando bem na
frente deles. Alguns caras se afastaram e apenas três ainda estavam atrás
dela.
— Srta. Essex—, disse Skevington com perfeição e clareza—, gostaria
de voltar para ...
Mas Thurman não deu ouvidos ao resto por causa da confusão em que
foi apanhado. Era A Salsicha. Não havia dúvida possível. Ela tinha feito
algo consigo mesma. Tudo mudou. Não era possível.
Ela não era mais uma salsicha e se tornou ... essa jovem deslumbrante e
despreocupada cujas curvas estavam fazendo Skevington praticamente
beijar seus pés.
Ela parou abruptamente e viu Skevington levando-a de volta para a
casa. De repente, as frustrações dos últimos dias se acumularam em sua
mente. A salsicha escocesa estava prestes a se tornar a estrela da temporada.
Ele percebeu isso.
Mas ainda era a salsicha. Agora que ele deu uma boa olhada nela, ela
estava tão gordinha quanto antes, ainda mais gorda. Repugnante. Sua mãe
sempre dizia que as mulheres deveriam comer como passarinhos, pois não
precisavam da mesma energia que os homens. E aquela garota estúpida
tinha que comer demais o tempo todo.
Alguém tinha que dizer a ela que ela não podia andar assim, pensando
que ninguém iria notar que ela estava ainda mais gorda do que antes.
Sem dúvida, ele era a pessoa certa para isso.
Capítulo 18
Do Conde de Hellgate,
Capítulo quinze
Ele zombou de mim, levando-me aos jardins privados atrás da casa da
Duquesa de P ... Não, não aos jardins formais, caro leitor, ao pomar
reservado e murado da Duquesa. Ela me levou até lá e, com grande
sentimento de culpa e pecado, digo-vos que dançava loucamente ...
Dançava nas lajes dos caminhos ... dançava sem vestido, sem camisa ... tão
nua como um pardal, sob o céu de Deus.

Em dez minutos, Griselda havia perdido Josie de vista. E isso era irritante,
não porque ela tivesse qualquer desejo especial de escoltar a garota com
muito rigor, mas porque Josie estava usando um vestido deslumbrante
entregue naquela tarde por Madame Rocque, e Griselda teria adorado
presenciar o efeito que produzia.
Os olhos de Josie brilharam como estrelas quando ela percebeu que a
festa era um baile de máscaras improvisado.
"Ninguém vai saber que eu sou a salsicha," ela sussurrou deliciada no
ouvido de Griselda.
"Ninguém pensaria nisso, com este vestido," Griselda respondeu. Josie
era toda curvas, toda beleza e juventude. A sedução que emanava dela era
quase uma ofensa, um tapa, pelo menos para quem estava tão cansada
quanto Griselda se sentia. Seu corpo inteiro doía, e aquela linda garota não
era nada mais do que um desafio, um convite para ficar acordada e se
divertir.
Depois de algumas horas, estava ainda mais cansada. Josie havia se
tornado a protagonista de um tremendo sucesso, e Griselda estava
convencida que a maioria de seus novos fãs a perseguiria com fervor na
manhã seguinte, já sem máscaras.
— Excelente organização—, disse o duque de York, com a voz
estrondosa, ao passar por Griselda no corredor, a mão rechonchuda na
cintura da atriz Adelphi. Ela sabia quem era este importante cavalheiro, é
claro. O duque usava o uniforme de comandante-em-chefe, com franjas e
tranças douradas por toda parte e a espada cerimonial pendurada de um
lado. Aparentemente, ele a estava confundindo com a anfitriã, Lady
Mucklowe.
Longe dela qualquer intenção de livrá-lo de seu erro.
— Fico feliz em ouvir isso, Alteza—. Murmurou a mulher, curvando-se
tão profundamente que seu joelho quase tocou o chão. York correu atrás da
atriz, cujo espartilho rangeu notoriamente enquanto trotava. Atrás dele
voava uma capa com metros e metros de franjas de ouro escuro, arcos de
ouro e um grande forro de tafetá vermelho.
— Você acreditaria em mim se eu dissesse que ele tem a Ordem Real
dos Banhos bordada em suas roupas íntimas? — Uma voz rouca sussurrou
em seu ouvido.
Sua boca se curvou em um sorriso involuntário de boas-vindas e seu
coração começou a bater rapidamente.
— Não imagino quem é o encarregado de confeccionar essas peças—,
acrescentou ele, colocando a mão carinhosa nas costas dela. A dama se viu
caminhando com ele antes de perceber o que estava fazendo—. Pequeninos
bordados, por ordem de Vossa Alteza.
Ela riu baixinho, mas francamente divertida.
— Eu sei o que você está pensando—, ele sussurrou em seu ouvido—.
Pequenos, mas não tanto, certo?
— Você, senhor, deveria estar procurando uma esposa, em vez de
zombar das instituições mais importantes.
— Eu poderia dizer o mesmo sobre você que deveria estar procurando
por um marido. Eu, infelizmente, não consigo distinguir uma rica herdeira
de outra.
— Você conseguiu me encontrar sem nenhum problema.
— Eu vi o seu cabelo no momento em que entrei pela porta.
O coração dela batia rapidamente. — Isso não foi o que planejamos!
— A vida está cheia de surpresas agradáveis e tentadoras. Você está
deslumbrante, atraente e, também percebo, um pouco cansada.
Griselda mordeu o lábio. Sem dúvida, porque já estava com trinta e dois
anos.
— Deus sabe que eu também—, Darlington continuou—. Os músculos
doem em áreas do meu corpo que geralmente não penso—, ele sussurrou
em seu ouvido. — Minha bunda, por exemplo. É possível que tenha feito
tanto exercício durante nossas atividades na noite passada?
— É bem provável—. Ela murmurou, e ficou em silêncio quando
começou a corar.
Naquele momento percebeu para onde estavam indo. Afinal, ela já tinha
estado nas festas de Lady Mucklowe antes. Lentamente, mas com firmeza,
ele a conduziu pelo segundo salão de baile, em direção às portas francesas
que levavam ao terraço, e então, imaginou, que ele a levava para o jardim.
Lugar de pecado.
— Não vou para o jardim com você—, Griselda disse de repente,
cravando os calcanhares no chão.
— Eu não sugeri tal coisa—, respondeu ele com firmeza.
— Eu não vou a lugar nenhum particular—, ela insistiu, começando a
entrar em pânico. Darlington era muito sensual e ela muito fraca, ou talvez
fosse o contrário, mas de qualquer forma as consequências seriam as
mesmas. Ele precisava encontrar uma esposa, e ela um marido. Eu vi Cecily
Severy—, sussurrou—. Ela está vestida de lavanda escuro.
— Uma velha solteirona envolta em lilás escuro—, ele cantou quase
alto, ficando horrivelmente desafinado.
— Silêncio! — Ela ordenou, sufocando uma risada.
— Ficou surpreendida por casar com alguém que não era do mesmo
sexo. Nunca vi nada assim!
Griselda acabou rindo sem conseguir se conter.
— Aqui está, eu te devolvo o anel! — Ele continuou cantando. E então,
em uma voz autoritária, terminou—, Eu não vou aceitar, o namorado dela
gritou, você deve se render!
Eles estavam no corredor, e antes que ela pudesse dizer a ele que as
cantigas deveriam rimar e ser realmente engraçadas, ele a puxou contra si.
— Oh! — Griselda—, exclamou, e as risadas sumiram. Ele a estava
beijando desesperadamente. Ela sentiu o gosto do sorriso na boca de
Darlington. Esse gosto residual sempre esteve lá.
— Renda-se—, ele rosnou.
— Não! — Ela disse, com sua respiração irregular. — Eu sou uma
acompanhante ... eu tenho que ver o que Josie está fazendo ... eu tenho que
...
— Ela está bem—, disse Darlington, com sua língua traçando uma linha
ardente em sua garganta.
Mas Griselda respirou fundo e o empurrou. Ela endireitou a máscara
com dedos trêmulos. — Eu não beijo em bailes, nunca—, ela disse—. Eu
não tenho esse tipo de comportamento. Sinto muito, mas nosso ... nosso
encontro acabou.
Ela se virou para sair, mas ele a impediu—. Leve-me ao meu destino.
— Quem será?
Ele encolheu os ombros. — Você escolhe.
— Cecily Severy—, disse ela após um momento—. É muito impróprio
de minha parte dizer isso, mas ela é uma mulher muito gentil e adorável.
— Ela ceceia.
— Já discutimos isso.
Ele a puxou para perto de novo, mas não muito perto—. Ela é
esquelética—, ele sussurrou—. Você sabe que não consegui pensar em nada
além de você o dia todo? Eu não posso passar do seu corpo para uma
daquelas debutantes magras.
— A primeira coisa que você tem que fazer—, disse Griselda, fingindo
que não o ouviu, mas na verdade arquivando as palavras como memórias
que ela poderia guardar mais tarde—, é garantir que minha Josephine seja
honrada por todos.
— Eu devo isso a você—. disse ele.
— Você deve isso a ela. E, a você mesmo. — ela acrescentou.
Ela abriu o caminho para o primeiro salão de baile e parou na porta. Era
uma confusão de sedas rubi, açafrão e azul pavão, salpicada como se com
pimenta por máscaras pretas.
— Meu Deus—, Darlington murmurou, baixo o suficiente para que ela
pudesse ouvir—, isso é o suficiente para me persuadir a adotar o modo de
vestir de Brummell.
Griselda acabara de avistar Josie no canto. — Eu quero que você
conheça a Senhorita Essex. — Ela pensou ter ouvido Darlington soltar um
pequeno gemido, mas não tinha certeza. Ninguém gosta de ser colocado
diante de seus pecados.
E, quando eles se aproximaram de Josie, ela não pôde deixar de sorrir.
Griselda não tinha ideia de como ou por que a transformação acontecera,
mas quando Josie decidiu aceitar a natureza de seu corpo dado por Deus,
ela o fez com força total. Em vez de deixar o cabelo solto, como tantas
debutantes, ela o prendeu na cabeça, grandes cachos de cabelo brilhante,
presos por clipes de diamante dados a ela por Tess. O vestido entregue por
Madame Rocque era realmente muito ousado para uma debutante, Griselda
pensou. Ela deveria ter colocado algum limite.
A questão é que envolvia o corpo de Josie como um beijo, todo roxo
escuro com um decote baixo debruado por um pequeno babado ao redor do
corpete. Em vez de tentar dar a ela a figura de palito que a moda atual
exigia, Madame Rocque a vestiu de uma maneira que exibia seu corpo
feminino. Ao lado dela, todos os vestidos flutuantes presos por fitas sob os
seios pequenos e empinados pareciam enfadonhos.
Josie parecia sensual, perigosa, erótica ... e ao mesmo tempo, jovem,
fresca e bonita. Ela era como o pecado embalado e renascido jovem
novamente.
— Meu Deus—, Darlington exclamou, parando bruscamente.
Griselda teve um sobressalto repentino. O que ela estava fazendo,
apresentando Darlington a Josie? Claro, ele tentaria ... tentaria ... Mas ele
não parecia um homem movido pela luxúria. No momento, ele estava
carrancudo enquanto olhava para ela.
— O que diabos você fez com essa garota? — sussurrou.
Josie estava flertando com quatro cavalheiros ao mesmo tempo,
tratando-os com a pose de uma mulher com anos de experiência em namoro
e que passou a vida inteira sendo cortejada por sua beleza.
— Nada—, Griselda respondeu também em um sussurro—. Veja a linda
jovem a quem você chamou de salsicha!
— Isso não é justo—, Darlington se defendeu—. Você não joga limpo,
Lady Godiva, e terei que puni-la por isso—. Sua voz escureceu, e ela se
afastou com um beicinho.
— Nada disso!
— Há algo diferente sobre ela. Já não está mais empalhada.
Griselda mordeu o lábio.
Darlington balançou a cabeça pesarosamente. — Não gosto muito de
observar certas coisas femininas. Mas você não pode me culpar por não ter
visto essa garota—, ele sussurrou em seu ouvido—. Se ela estivesse assim
no primeiro dia da temporada, eu poderia chamá-la de salsicha, vaca ou o
que seja, e ninguém teria prestado a mínima atenção em mim.
— E agora quero que você dance com ela—, sugeriu Griselda, lutando
contra a vontade de arrastá-lo na direção oposta.
Ele olhou. Josie estava batendo de brincadeira em um dos cavaleiros.
— Eu não quero dançar com ela. Olhe, ela está flertando, Griselda. O
rapaz que está à sua direita é Skevington. Inferno, ela pode se casar com
ele, pois ele tem uma pequena propriedade adorável, e um título que
receberá quando seu tio morrer.
Griselda piscou.
— Você não quer que eu a separe de Skevington—, acrescentou
Darlington—. Ele certamente parece encantado.
— Mas, Josie não—, comentou Griselda.
— Esse é um problema de natureza diferente. Mas ela também não
ficará encantada comigo—, ele arrastou Griselda gentilmente, mas com
firmeza, para longe da bela jovem.
— Por que ela não deveria ficar encantada com você, depois que os
mal-entendidos forem resolvidos? — Griselda perguntou, sentindo-se
estranha ao perguntar, porque realmente não queria que eles se juntassem
—. Josephine tem um dote muito grande.
— Meu pai me informou disso antes do início da temporada—, disse
ele, dirigindo-se rapidamente para a porta do salão de baile—. Além do
mais, ele ficaria feliz se eu me preocupasse, pelo menos um pouco, com
esses assuntos. É uma pena que eu tenha uma tolerância tão baixa para o
tédio.
— Josie não é chata! Ela é uma das jovens mais inteligentes e
engenhosas que conheço.
— Elas são as piores—, disse Darlington—. É exaustivo ter que
responder a comentários petulantes de moças, garanto. Elas sempre esperam
respostas inteligentes, sempre.
— Mas você, logo você—, protestou Griselda—, é o mais capaz de dar
esse tipo de resposta.
— Não acredite. Quanto a isso, sou mais um amador—. Relatou
Darlington. Ele começou a diminuir a velocidade assim que chegaram ao
corredor.
— Onde diabos estamos indo? — Griselda quis saber. Ele estava
tentando pensar em um comentário astuto, mas não conseguia pensar em
nada brilhante para dizer.
— Para um lugar que descobri da última vez que estive na casa de Lady
Mucklowe, quando Byron veio ler poemas.
— Não pude comparecer àquela famosa reunião—, disse Griselda.
Havia algo terrivelmente excitante em segurar as mãos no meio de uma
festa lotada. Claro, ninguém saberia quem ela era. Não só ela tinha a
máscara, mas seu cabelo não estava nos cachos habituais, e ela estava
usando um vestido totalmente escandaloso. E, nem mesmo se sentia ela
mesma.
Todo mundo saberia quem era Darlington, no entanto. Não havia como
disfarçar aqueles cachos e sua figura esguia e ágil.
Eles estavam meio correndo por um corredor agora, obviamente uma
passagem reservada para criados.
— Charles—, Griselda disse, tentando não ofegar. Apenas mulheres
velhas ofegavam. — Onde estamos indo?
— As cozinhas, é claro—. disse ele. E lá estavam eles, em uma cozinha
de teto baixo, pavimentada com lajes. Estava cheia de criados correndo de
um lado para o outro, preparando-se para o jantar que seria servido às duas
da manhã. Ninguém sequer olhou para eles.
— Vamos—. disse Darlington, e puxou-a entre um chefe, dois
cozinheiros e quatro copeiras.
— A porta de trás.
Eles estavam lá fora. Estava estranhamente quieto, com apenas um
rugido abafado por trás da porta fechada, como se o oceano estivesse
contido daquele lado.
— Que adorável—, disse Griselda. Era um jardim antigo, com altos
muros de tijolos separando-o dos jardins maiores e formais que se
estendiam atrás da casa. O velho tijolo vermelho estava coberto por rosas
brancas que podiam ser vistas vagamente da luz que entrava pelas janelas
da cozinha.
Griselda começou a percorrer com cuidado o pequeno atalho irregular,
entre canteiros de cenouras, alface e algumas folhas azuis, com matizes
vermelhos, que ela não conseguia identificar.
Darlington a seguiu. — Uma boa safra de raiz-forte—, disse ele,
olhando para a direita.
Um enorme gato avermelhado, arrogante e desdenhoso como um
verdadeiro caçador de ratos pulou a parede e desapareceu.
Eles caminharam até o final do jardim onde as rosas estavam, entre as
vinhas. Na parte de trás havia um pequeno banco de madeira.
— Este jardim é muito familiar para mim—, disse Griselda lentamente,
após alguns momentos de reflexão silenciosa. — Já sei! Hellgate não tinha
um encontro secreto em um pomar? Oh, Darlington, era sobre você? Eu
estava começando a acreditar que Hellgate era baseado no meu irmão.
— Claro que não! — Darlington protestou—. Nunca fiz nada indiscreto
em um jardim. Você me chamou de Charles um momento atrás.
— Uma indiscrição momentânea—, respondeu ela—, de uma noite, que
não deve se repetir.
— Mas eu gostaria que houvesse mais.
— A vida está cheia de desejos não realizados.
Darlington cobriu-lhe o rosto com seus longos dedos. — Shhh—, disse
ele, descobrindo o seu rosto aproximou-se do dela um instante antes de
Griselda fechar os olhos e se render. Os pensamentos se moviam em sua
mente como pássaros enjaulados: — Eu não devo fazer isso! Não devemos!
Eles podiam nos ver!
— Vou tirar sua máscara—, murmurou o cavaleiro sobre sua boca.
Havia algo quase zangado na maneira como ele a beijou. Foi um beijo
insistente e possessivo, como se com ele, o homem quisesse dizer algo sem
palavras.
Griselda se afastou, ofegante.
Mas, sem abrir a boca, ele a puxou de volta para si, lentamente, dando-
lhe tempo para dizer não. No entanto, ela não podia dizer não. Tudo o que
ela fez foi levantar o rosto para ele.
— Charles—, e, não poderia dizer mais. Quase sem saber como,
chegaram ao pequeno banco de madeira.
— Nós não podemos ...— ela disse com a voz embargada.
— Não vamos—, Darlington disse, seus olhos brilhando. — Não há
escuridão suficiente. Mas vou beijar você até ficar inconsciente, Lady
Godiva. — Ele abaixou a cabeça e continuou falando entre beijos, contra os
lábios dela. — Vou beijá-la até esquecer aquele pequeno plano que você
tem de encontrar um marido esta noite.
— Eu ... — Ela queria falar, mas desistiu quando a mão de seu amante
se fechou em seu peito.
Normalmente, Griselda nunca ficava sem palavras. Ela tinha uma
reputação justamente merecida de encontrar as palavras certas na hora certa.
Quando apropriado, ela falava generosamente, se apropriado, o fazia
frivolamente. Até sabia muito bem quando um sorriso era o suficiente, ou
uma risada curta. Mas naquele momento, não conseguia encontrar uma
única frase sensata. Sua mente estava em branco.
— Você tem que parar agora, por favor—. disse finalmente. Ela estava
recostada nos braços de Darlington, que no momento parecia um gato
lascivo. Uma estranha inquietação, que a deixou à beira das lágrimas,
começava a dominá-la.
O jovem levou a boca à testa dela e beijou-a ali, também nas
sobrancelhas e no nariz.
— Por que você gosta tanto de mim? — Ela perguntou. — Eu nem o
conheço.
Griselda sentiu o choque que suas palavras produziram em todo o corpo
do homem.
— Acho, ou melhor, sinto—, disse ele um momento depois—, que a
conheço muito bem. Noite passada...
— Os cavalheiros têm muitos encontros secretos como os nossos, o
tempo todo—. respondeu a viúva, não duramente, mas baixinho, com o
único propósito de ser honesta.
— Eu não—, respondeu ele—. Talvez o faça assim que me casar e
minha esposa e eu nos cansarmos um do outro—. Havia um cansaço terrível
em sua voz que partiu o coração dela.
— Você não vai fazer isso! — Ela assegurou, acariciando sua bochecha.
Ele havia empurrado a máscara até o topo da cabeça, deixando seus cabelos
loiro e espesso se despentear—. Sua esposa irá persegui-lo. Ela nunca vai
deixar você sair de vista.
Ele beijou suas pálpebras, que ela fechou, desejando não estar tão perto
e sentir seu cheiro, melhor que o odor das rosas, melhor que o perfume de
tomilho e alecrim que vinha com a brisa.
— Mas será assim de qualquer maneira. — insistiu o cavaleiro.
— Não necessariamente. Ora, eu sei como as coisas podem ser: as três
jovens que acompanhei estão casadas e felizes. Só está faltando a Josie.
— E você. Você também tem que encontrar um marido.
Ela não queria pensar sobre isso, então ela se inclinou sobre o jovem
novamente, que interpretou aquilo como um convite silencioso.
Capítulo 19
Do Conde de Hellgate,
Capítulo quinze
Minha Helena agora usa o anel de outro homem, ela dorme na cama de
outro homem, ela tem outro nome. Mas posso esperar que uma pequena
parte do seu coração ainda seja minha? Uma pequena parte de seu
coração se lembra de dançar em liberdade ... até que eu a peguei, é claro.
Mesmo assim, a dança continuou. Ela sabia ... ela já sabia naquele
momento, caro leitor, que ia se casar.
Ah, querida Helena, se por acaso você ler minhas pobres memórias,
pense em mim!

Mayne finalmente encontrou sua noiva em um local isolado, o escritório de


Lady Mucklowe, conversando com um círculo de mulheres que
compartilhavam um prato cheio de pequenas guloseimas e o que parecia ser
três garrafas de champanhe. Haviam retirado as máscaras e estavam rindo
como hienas quando ele entrou na sala.
Ele profundamente aborrecido e ciente disso. Por que diabos ele tinha
que procurar constantemente por Sylvie? Por que ela não podia ficar no
salão de baile? Nunca estava à vista.
Embora, para ser justo, deva ser dito que ela nunca fez nada impróprio.
Sylvie nunca faria uma coisa dessas. Seu ar distante, sua atitude intocável
de dama eram tão fortes que às vezes lhe parecia incrível ter concordado em
se casar com ele.
A ideia finalmente trouxe um sorriso aos lábios. E, nem mesmo vacilou
quando ela o olhou com uma expressão de desgosto inconfundível.
— Mayne.
— Minha querida—, ele cumprimentou, pegando a mão dela e
beijando-a. — Tenho procurado por você. Eu esperava levar você para
jantar.
A pequena Polly Cooper, que era, ou pensava estar, intensamente
apaixonada por ele, riu alto.
Lady Gemima sorriu para ele.
— Você vai levá-la embora, Mayne? Que pena, porque descobrimos que
sua noiva é absolutamente adorável.
Mayne nunca soube o que pensar de Gemima. Ela era linda, claro. Mas
sua inteligência aguçada era um tanto desconcertante. Ela tinha um jeito
peculiar de deixar um homem totalmente ciente de suas próprias
deficiências, sem precisar que ela sequer as mencionasse.
Os olhos de Sylvie estavam brilhando quando eles deixaram a sala.
— Estou fazendo alguns amigos aqui em Londres. E estou tão feliz com
isso!
Ele olhou para ela.
— Isso é ótimo, Sylvie. Gemima ...
— Oh, você a conhece? — Sylvie soltou o braço do noivo e juntou as
mãos na frente—. Eu acho que ela é muito interessante. É tão original. E o
vestido dela é feito por um costureiro, já imaginou? Se chama...
E, continuou tagarelando. A mente de Mayne vagou para outros reinos.
Ele não via Josie há algum tempo. Tinha visto sua irmã quando ela estava
dançando com um homem loiro que parecia vagamente familiar, mas não
conseguiu identificar por causa da máscara. Ele dobrou uma esquina e
encontrou Annabel beijando seu marido, Ardmore. Claro, era o que se
poderia esperar dela, que deu a ele o seu sorriso insolente de costume.
Ele não achava que era um erro se preocupar com Josie. Tinha a curiosa
sensação de que ela não poderia evitar atitudes impróprias, o que seria a
coisa certa a fazer, mas era natural. Afinal, suas irmãs alcançaram
casamentos extremamente felizes agindo incorretamente. Parece que Josie,
embora inconscientemente, estava levando esse fato em consideração.
Então ele percebeu com surpresa que Sylvie havia parado de falar e
estava olhando para ele.
— Sinto muito, minha querida—, ele se desculpou—. Estive distraído
por um momento.
— Sua mente costuma se distrair quando falo com você sobre coisas
importantes—. disse ela, com um tom de reprovação na voz.
Ele ficou surpreso. Ela estava falando sobre algo importante? — Por
favor, diga novamente. Prometo dar-lhe toda a minha atenção.
Sylvie fez beicinho, mas depois desistiu e sorriu para ele.
— Eu estava falando sobre a indiscrição da Sra. Anglin. Uma questão
extremamente importante, com a qual você concordará, imagino.
— Completamente.
— Todo mundo diz que ela é mencionada naquelas memórias que todos
estão falando. Parece que ela é apresentada como uma personagem com um
nome um tanto estranho, "Semente de Mostarda" ou algo semelhante.
Talvez devesse ler aquelas memórias, mas ainda não sou fluente em inglês,
leio muito devagar.
— Não acho que seja ela, aliás é altamente improvável—, disse Mayne
—. A Sra. Anglin não tem a joie de vivre necessário para essas travessuras
—. E, embora não quisesse contar à noiva, era perfeitamente capaz de
reconhecer sua própria vida quando ela fosse escrita em uma prosa
lamentavelmente ruim—. Se não estou enganado, a semente de mostarda é
a Sra. Thomasin Symonds.
Sylvie se encolheu visivelmente.
— Nunca mais tocarei na sua mão sem luvas, garanto-lhe. Como ela
poderia se rebaixar assim!
— Não havia muitos detalhes, havia? — Mayne perguntou. Ele havia
deixado o livro inacabado e tudo de que conseguia se lembrar era que falava
muito sobre seios trêmulos e vozes sussurrantes. Não muito, na verdade.
— Muitos—, disse Sylvie—. Achei tudo muito desagradável, pelo
menos se o que Gemima conta está realmente escrito.
Mayne olhou para ela e maravilhou-se mais uma vez com a perfeição de
sua noiva. Era como uma rosa branca, muito branca, que ninguém jamais
havia tocado ou manchado, de forma alguma. Ela própria raramente se
permitia ser tocada sem luvas. Obviamente, ele nunca faria uma cena vulgar
em que ela chorasse de ciúme, de amor por outro homem ou algo
semelhante. Ela nunca permitiria que uma versão mais jovem dele (ou
Hellgate) a atraísse para sua cama. Ele poderia ficar calmo.
Ela era dele, apenas dele.
Esse pensamento enviou um raio de paixão através dele.
— Vamos caminhar pelos jardins? — Disse o homem, surpreso com a
gravidade de sua própria voz.
Ela olhou para ele, mas não parecia preocupada, porque assentiu—. Não
estou com fome alguma—, disse a francesa. Como um pássaro, Sylvie
parecia se alimentar de migalhas, e isso raramente acontecia. Além do mais,
ele nunca a tinha visto fazer uma refeição completa. Normalmente ela se
dedicava a mover as coisas que estavam em seu prato, e então colocava os
talheres em cima, como se quisesse esconder a comida rejeitada.
Eles caminharam até o final do jardim. A maioria dos convidados da
festa retornava para dentro de casa. Já eram pelo menos duas da manhã, e o
jardim estava escuro, cheio de mistério.
— Não tenho certeza se gosto de estar aqui—. Sylvie sussurrou.
— É bastante seguro.
— Eu sei que estou segura com você—, disse ela, sorrindo para ele—. É
uma das coisas que gosto em você, Mayne.
— Você não vai me chamar de Garret? — ele perguntou—. Pelo menos
quando estamos sozinhos?
Mas ela balançou a cabeça—. Absolutamente não. Isso apenas daria a
impressão que compartilhamos um grau de intimidade desaconselhável. Por
que devemos apresentar essa ilusão, quando não é o caso?
Um argumento sólido.
— Talvez possamos ser um pouco mais íntimos—, disse Mayne, sua
mente deslizando rapidamente para longe da lembrança do beijo de Josie.
Ele não tinha percebido na hora, mas foi um beijo profundamente desleal.
Sylvie não gostaria disso, se soubesse.
Ela franziu a testa para ele e seu tom era ligeiramente - apenas
ligeiramente - gelado—. O que você quer dizer, senhor?
— Isso—, ele disse suavemente, e se curvou para beijá-la. Ela era
realmente muito pequena. Ele tomou seu rosto delicado em suas mãos.
Parecia o rosto de uma criança. Ela falou através do beijo dele, como se os
lábios dele não estivessem nos dela.
— Não estou gostando disso.
— Oh. — disse ele, endireitando-se.
Havia uma pequena carranca entre suas sobrancelhas. — Não sou a
favor de intimidades antes do casamento—, disse ela—. Achei que
estávamos de acordo nesse ponto.
— Mas é apenas um beijo—. disse desesperadamente.
Ela ergueu o queixo—. Não sou o tipo de mulher que tem prazer em
cortejar a desgraça em um jardim, Mayne.
— Você não seria...— Mas havia uma expressão em seus olhos que
deixou claro que ela quis dizer o que disse.
A verdade é que ela não poderia ser tão inviolável, tão intocável, tão
parecida com uma deusa quanto era, se ela fosse uma prostituta que cairia
em seus braços com uma risadinha, como tantas outras mulheres tinham
feito no passado.
E, não queria isso. Ele não tinha um caso há quase dois anos. Sentiu
como se lentamente, lentamente, estivesse recuperando o senso de si
mesmo, uma limpeza das dezenas de pequenas noites espalhafatosas
quando ele voltava para casa com perfume no casaco e lágrimas na manga.
Havia chegado a um estágio em sua vida após o qual queria compartilhar
sua vida com uma mulher, e uma que seria só dele, como ele seria só dela.
Eles se viraram em concordância silenciosa de volta para a casa. —
Estou pensando em colocar meus estábulos em ordem para a próxima
temporada de corridas—, disse ele.
— Você não me disse que pretendia fazer isso há um mês? — Sylvie
perguntou, não de maneira indelicada. — Você precisa contratar alguém?
Ele havia esquecido que havia contado a ela ... é claro, ele vinha
pensando constantemente sobre isso há meses—. Isto não é uma decisão
fácil. Eu teria que estar lá.
— Nunca se deve permitir que um auxiliar contrate uma equipe
importante—. disse Sylvie vagamente, acenando para um amigo que
também estava indo jantar—. Podemos sentar com a Senhorita Tarn,
Mayne? Ela fala francês tão divinamente. E, me disse que teve um
professor particular por três anos. Não consigo imaginar por que mais
ingleses não se importam em aprender francês de maneira adequada.
Mas Mayne estava à beira de uma decisão importante. Ele era o tipo de
homem que nunca teria coragem de dizer tal coisa, mas sentiu que isso
poderia - mudaria - sua vida. Certamente, isso mudaria a vida futura de
Sylvie.
— Não—, ele disse um tanto bruscamente—. Precisamos conversar,
Sylvie. Parece que nunca encontro você sozinha.
— Isso seria bastante inapropriado—, disse Sylvie, acenando para a
Senhorita Tarn e murmurando não. Ele olhou para o lado e viu que ela
estava balançando as sobrancelhas para indicar algum tipo de desaprovação
silenciosa sobre ele. Ou, seria uma zombaria?
— Um dia seremos marido e mulher—, observou ele.
— Parece tão horrivelmente puritano quando você diz “marido e
mulher”. Nunca serei uma esposa, não em sentido comum. Eu sou
primeiramente uma dama. E você um cavalheiro, não um marido.
Ele suspirou. — Uma mesinha, por favor—, disse ele ao criado que
estava se curvando diante deles—. Não, não nos encontraremos com mais
ninguém.
Um momento depois, eles estavam sentados de forma que Sylvie
pudesse ver toda a sala e, assim, ela se exibiu, com seu leque e xale, como
desejava. Depois de alguns momentos, ela voltou os olhos para ele.
— Mayne—, disse ela—, o que está acontecendo?
Mayne sentiu o aperto da incerteza em seu coração afrouxar um pouco.
— Eu estraguei minha vida, Sylvie—, disse ele em um tom monótono,
sem drama.
— Em que sentido? — ela perguntou, com uma adorável ruga entre as
sobrancelhas—. Você perdeu sua propriedade? — Ela colocou a mão sobre
a dele. — Eu tenho um grande dote, Mayne. É seu.
Ele estava prestes a derramar uma lágrima. Deveria ser porque ele
estava sozinho há muito tempo e finalmente tinha alguém para discutir
esses assuntos. E la foi tão generosa.
— Não se preocupe! — Ela continuou—. Meu pai também tem muito
dinheiro, como vocês costumam dizer na Inglaterra. Ele não permitirá que
sua filha se case sem um dote.
— Não se trata de dinheiro. Eu quase desejaria que fosse.
— Então o que é?
— Minha vida escorregou entre uma série de pequenos casos de amor
baratos e amizades vãs. Nunca fiz nada. Nunca ocupei meu assento na
Câmara dos Lordes. Sou extremamente rico, na verdade, Sylvie, mas pouco
tive a ver com essa conquista. Meu amigo Felton aconselha meu
representante. Eles fazem tudo, cuidam de tudo. Quase nem sei o que
possuo.
— Você quer dizer Lucius Felton? — Sylvie perguntou. E quando ele
assentiu, ela ficou satisfeita—. Muito sensato e prudente de sua parte. O Sr.
Felton é um gênio nessas coisas, não é mesmo?
— A propriedade da minha família funciona sozinha—, Mayne
continuou, assombrado pelo desespero silencioso que vinha sentindo há
mais de um ano. — Não tomei meu lugar na Câmara porque, francamente,
seria um fracasso. Não tenho interesse em política, cerimônias de abertura
ou encerramento, ou em mandar batedores de carteira aos Antípodas.
— Mas o que há de errado com esta vida? — Sylvie perguntou, olhando
para ele com olhos francos e curiosos.
— Que vida?
— Esta vida—, respondeu ela—. É difícil falar em inglês. Quero dizer a
vida de um galant.
— A vida de um cavalheiro sem nada para fazer a não ser se divertir—,
traduziu Mayne—. Vou dizer o que esses cavalheiros fazem, Sylvie. Eles
flertam com as esposas de outros homens e às vezes dormem com elas. Eles
se envolvem em jogos tolos, corridas de carruagem e lutas de boxe.
Sylvie assentiu—. Sim, essas coisas. E, eles administram suas
propriedades e são gentis com aqueles que estão sob seu comando—. O pai
de Sylvie, afinal, havia apoiado a Revolução, pelo menos no início. — Eles
têm filhos e cuidam para que esses filhos sejam educados para se tornarem
membros inteligentes da sociedade, para que saibam o seu lugar e o que
devem fazer na vida.
— Bem, esse deve ser o meu problema—, disse Mayne—. Eu não sei
qual é o meu lugar. Nem, ainda, o que devo fazer na vida.
A testa de Sylvie se franziu ainda mais.
— Você deve fazer ... exatamente o que você está fazendo agora. Você é
um bom homem, Mayne, com amigos e dinheiro. O que mais você quer?
— Quero fazer alguma coisa—, Mayne respondeu com uma sensação
crescente de desamparo—. Construir alguma coisa.
Ela o encarou por um momento, antes de falar—. Você quer dizer fazer
algo como aquele marquês estranho, aquele que construiu um moinho de
vento em sua propriedade, para pegar o vento?
— Não. Embora se eu tivesse uma mente inventiva, ficaria feliz em me
retirar para o campo para fazer moinhos de vento.
— Isso não daria certo, então estou satisfeita em saber que você não é
um desses. Eu preferiria não ter nada a ver com inventores. Eles são pessoas
extremamente estranhas, segundo todos os relatos. Claro, às vezes é uma
característica útil. O ferreiro do meu pai era excelente em fazer tubos com
curvas estranhas.
Mayne olhou para as próprias mãos.
— Talvez quando tivermos filhos você se sinta diferente—, disse
Sylvie. Sua voz era tão simpática e perplexa que Mayne não pôde deixar de
sorrir para ela. Ele se inclinou e deu um beijo em seu nariz, embora ela
desaprovasse fortemente as exibições públicas.
— Você é um amor, sabia?
— Tenho muita sorte. Gosto de ser exatamente o que sou: uma dama.
Gosto de ir a bailes e conversar com meus amigos mais próximos.
— Isso é verdade—, disse Mayne, pegando sua mão—. Eu nunca
consigo encontrá-la porque na maioria das vezes você está abrigada nos
aposentos das mulheres, tagarelando.
Ela sorriu para ele. — É aí que todas as coisas interessantes acontecem
em um baile.
— Você ficaria feliz em passar grande parte do ano em minha
propriedade? — ele perguntou, sabendo a resposta.
Seu sorriso não vacilou. — Nunca. Mas Mayne, se você decidir que
morar no campo o deixará satisfeito, sou perfeitamente capaz de cuidar de
mim mesma. Sua casa aqui em Londres está em uma excelente localização.
Depois de renová-la para o estilo francês, ficará muito confortável. E, então,
eu tenho tantos amigos. Acho que vou ficar muito feliz com - como você os
chama na Inglaterra? - festas em casa. Sim é isso. Eu não gostaria muito de
pensar em mim como obstáculo para que você possa fazer o que quiser.
— Uma comparação poética—, disse Mayne ironicamente. — Eu vou
sentir sua falta.
— Mas teremos muitos anos juntos. Estou certa que gostaríamos de
viver em lugares diferentes por períodos de tempo. Muitas vezes observei
que os melhores casamentos são assim. Eu não gostaria muito se algum de
nós ficasse infeliz, Mayne.
— Onde estarão as crianças?
Ela ergueu uma sobrancelha. — Ora, onde as crianças devem estar. No
campo, na cidade, onde quiserem.
Mayne riu. — Elas não vão expressar seus desejos por algum tempo.
— Ouso dizer—, disse Sylvie—. Que eu não sei nada sobre crianças,
Mayne. Mas nossos filhos serão perfeitamente amáveis e inteligentes, tenho
certeza.
Ela era tão alegre, tão cordial, tão educadamente disposta a viver
separada dele por suas vidas inteiras.
E, de seus filhos também, ele não tinha dúvidas. E ainda: ele olhou para
ela novamente. Sylvie não era um ogro. Lá estava o belo e pequeno queixo
pontudo e os olhos grandes e amigáveis com um brilho inquisitivo e
inteligente.
— Você não gostaria que houvesse mais do que tudo isso na vida? —
ele perguntou de novo, bastante desesperado.
E viu aqueles lindos olhos se encherem de preocupação. — Eu não. —
Ela disse isso com certeza—. Posso falar francamente?
— Claro! — Ele pegou as duas mãos dela.
— Venho de um país onde muitas pessoas, mulheres jovens da idade da
minha mãe, foram brutalmente mortas por nada mais do que serem quem
são. Elas nasceram para governar, não para trabalhar. Nascidos para uma
vida de prazer, ao invés da labuta. Tive a sorte de meu pai se tornar um
amigo de Napoleão em vez de um inimigo - pelo menos até ele ver a
verdade sobre aquele regime – e, ainda assim eu vejo o horror disso, em
minha mente, entende? Eu sei o que aconteceu na Bastilha: as crueldades,
as perdas terríveis.
Dentro de suas palmas, as mãos dela se fecharam em punhos. — Como
você pode me perguntar se eu quero mais do que esta vida? Tenho muita
sorte de ter essa vida! Estou sentada aqui, vestida com a elegância que meus
amigos e parentes desfrutaram um dia, comendo comida requintada, sem
perigo de vida e sem medo, e você me pergunta se isso é suficiente?
Houve um momento de silêncio entre eles.
— Oh, Deus—, disse ele—, sinto muito, Sylvie. Eu sou um bastardo por
ter perguntado.
Mas ela se controlou. A ferocidade desapareceu de seus olhos,
substituída por seu autocontrole inimitável. Ela tirou as mãos das dele e
sorriu, aquele sorriso inteligente e seguro que fez com que ele se
apaixonasse. — Estou muito feliz. Seria impensável para mim que a vida
fosse diferente.
— Eu vejo isso. Você é a melhor pessoa para eu conversar sobre essas
questões.
— Isso geralmente acontece com os amigos. Quando converso com uma
amiga e descubro sua maneira de ver as coisas, minha visão do mundo
muda um pouco.
— Amigos—, disse ele—. Mas certamente somos mais do que amigos,
Sylvie?
Não havia nada em seu sorriso que indicasse algo além de amizade. —
Ser amigo é o maior amor que pode haver entre as pessoas. Esse negócio de
amantes... Blah! Acaba em uma noite. Eu vi isso. Você, Mayne, de todas as
pessoas, sabe que essa emoção não dura. Decidi há muito tempo não ter
nada a ver com isso e achei uma decisão sábia.
Ele se inclinou em direção a ela e correu um dedo pela curva de sua face
—. Eu amo você, Sylvie. Eu sinto essa paixão que você despreza.
— Nossa amizade nos levará além do sentimento que você sente por
mim. Talvez eu não devesse dizer isso, mas me disseram que existem certas
semelhanças entre o seu passado e o deste Hellgate. Não desejo de forma
alguma minimizar seus sentimentos, mas de acordo com estas “Memórias”
parece que você tem sentido essa paixão regularmente ...Quanto tempo
durou cada uma delas?
Ele estava rangendo os dentes. — Eu não escrevi essas memórias.
— Claro que não—, ela disse, chocada. — Mas você teve muitos dos
relacionamentos que estão no cerne do relato, não é?
Ela leu a expressão em seus olhos. — Você não deve sofrer! —
protestou—. Ao falarmos francamente um com o outro, não precisaremos
nos sentir magoados quando, após algumas semanas dessas intimidades,
você não estiver mais tão apaixonado. Não vamos chorar pelo inevitável.
Jamais farei uma cena porque você está interessado em outra mulher. Você
sempre foi discreto nesses assuntos, Mayne. Todo mundo diz. Você é um
perfeito cavalheiro.
— Eu esperava ...— ele disse. Mas ele não tinha certeza de como
terminar a frase.
Ela levantou a mão. — Você não precisa se preocupar se vou desonrar
você. Embora eu entenda os desejos de um cavalheiro, não os compartilho.
Não é para mim, essa vida de entrar e sair furtivamente de quartos—. Ela
estremeceu delicadamente—. Para ser franca, Mayne, seus filhos serão seus
e não vou causar nenhum escândalo.
Ele deveria agradecê-la?
Mas ela se virou e acenou para a próxima mesa. — Essa é a adorável
Josie! Você notou como ela está linda esta noite? Uma nova modista pode
mudar a vida de uma mulher, e sua irmã fez um excelente trabalho em
afastar Darlington ...
Ela tagarelava, mas Mayne não estava ouvindo. Ele estava olhando para
o canapé de lagosta sem gosto e pensando que, no equilíbrio das coisas,
talvez fosse melhor se ele fosse totalmente francês que apenas metade. Pelo
menos, na pior das hipóteses, teria sido uma certa grandeza acabar numa
carroça, a caminho da guilhotina.
Oh, pelo amor de Deus, ele pensou. Não se torne um idiota melancólico
agora.
Ele olhou para cima e encontrou o olhar de Josie. Ela estava sentada
com Skevington, que parecia determinado a visitar Rafe em menos de uma
semana, com um generoso acordo de casamento em mente e um anel no
bolso.
— Mayne—, chamou sua irmã Griselda. — Não tem um cavalo
correndo em Ascot?
Ele assentiu. Embora a pobre Sharon ainda não tivesse se recuperado da
doença das bolas do diabo e tivesse sido retirada da competição naquela
mesma manhã. Se ele tivesse sido mais atencioso com seus estábulos,
poderia ter evitado que isso acontecesse. Ele nunca deveria ter permitido
que o mal atingisse seus cavalos. Apenas um de seus animais foi salvo.
— Vamos todos juntos, Sylvie? — Griselda continuou da outra mesa:
— Você acha que devemos ir juntos? — Existem alguns camarotes lindos
em Ascot. Você deve conhecê-los. Os Feltons têm um do tamanho do da
Rainha, e Tess me disse ontem que eles não poderiam ir às corridas. Seria
uma pena se fosse deixado vazio. Um desperdício.
Sylvie torceu o nariz. Ela odiava a poeira e o desconforto das corridas
de cavalos, ela já havia dito a ele uma vez.
— Ascot não é uma corrida qualquer—, explicou Griselda—. A Rainha
estará lá. E o duque de Cambridge, com sua nova noiva.
— Muito bem—, respondeu Sylvie, não inteiramente feliz, mas
aceitando o convite. Então ela acenou com entusiasmo na outra direção.
— Quem é? — Perguntou Mayne.
— Darlington.
Mayne fez uma careta.
— Não se preocupe—, disse ela enquanto Darlington avançava pelas
mesas em direção a eles—. Sua irmã o impediu.
— O que você quer dizer?
— Ele não vai insultar Josephine de novo.
Darlington era um sujeito alto, com um rosto que Mayne supôs que as
mulheres achavam interessante. No geral, ele parecia decente, apesar de ter
a reputação de ter uma língua de cobra. Não que Mayne o perdoasse por
zombar de Josie. Ele olhou para ele com a morte em seus olhos, e
Darlington recuou ligeiramente, mas curvou-se sobre as mãos de Sylvie.
Antes que Mayne percebesse, ela o convidou para se juntar à festa de
Ascot.
— Maldição—, disse Mayne assim que o homem se afastou—. Não
precisamos daquele canalha conosco.
— Você não entende—, disse Sylvie, acariciando sua mão como se ele
tivesse cinco anos—. É sempre melhor ter a pessoa sob seus olhos se ela for
um problema. Com Griselda o mantendo ocupado, Darlington não ousaria
fazer um comentário desagradável sobre Josephine.
— Josie cuidou disso sozinha—, comentou Mayne—. Nenhum homem
em sã consciência a chamaria de salsicha agora. Ela está deslumbrante e
Skevington está rastejando a seus pés.
— É melhor convidarmos Skevington também—, disse Sylvie—. Se
tivermos gente suficiente, talvez tenhamos um pequeno sarau no camarote,
e não será tão tedioso.
Mayne adorava corridas. Ele amava a emoção palpitante, as multidões,
a energia em redemoinho, os cavalos, o cheiro dos estábulos ... O único
cavalo de corrida que ele tinha que não pegou as bolas do diabo era uma
potranca nervosa chamada Gigue. Ela tinha uma pelagem cinza-perolada e
orelhas muito sensíveis. Se ele tivesse passado mais tempo com ela, ou
tivesse um treinador melhor, ela poderia até ter vencido. Ela adorava correr,
adorava passar por outros cavalos balançando a cauda ao vento.
Mas ela não tinha o treinamento que precisava, ele sabia disso. Ela
precisava de alguém para trabalhar com ela, dia após dia. Provavelmente
seria melhor se não fosse ele, mas ele ainda precisava estar na propriedade,
observando, certificando-se de que tudo estava indo bem.
Ele empurrou a lagosta em torno do prato um pouco mais enquanto
Sylvie convidava mais dois transeuntes para se juntar a eles no camarote
dos Feltons.
Josie sorriu para Mayne da mesa oposta. Ele conseguiu sorrir, mas foi
um sorriso inexpressivo. Ela estreitou os olhos para ele observando-o
atentamente. Então ele voltou para a lagosta como se fosse a melhor iguaria
do mundo.
Capítulo 20
Do Conde de Hellgate,
Capítulo dezesseis
Já estava decidido a encontrar uma esposa, caro leitor. As paixões às quais
sobrevivi estavam me envelhecendo antes do tempo; muita paixão e pouca
tranquilidade. Mas tal é o meu destino que quando busquei a tranquilidade,
no seio da igreja ... Sim, tenho medo de dizê-lo! Mas a verdade deve ser
dita. Meu caro leitor, uma manhã fui à igreja e me joguei diante do altar, e
então uma mão suave e delicada me levantou, enquanto uma doce voz me
disse:
"Senhor, o que o aflige?"

No momento em que sua carruagem entrou no terreno de Ascot, Sylvie


soube que iria aproveitar a ocasião. Mayne viera de manhã cedo, é claro.
Ele estava envolvido no cuidado do cavalo que iria participar de uma das
corridas, e Sylvie amarrou uma fita rosa em volta do pulso, que contrastava
ligeiramente com seu vestido, para se lembrar, toda vez que a visse, que
havia um animal de Mayne que entraria na pista naquele dia.
— Como saberemos quando o cavalo dele vai correr? — perguntou a
Griselda—. Acho que o nome é Gigue.
— Ah, acho que existe uma espécie de livro onde essas coisas são
explicadas—, disse Griselda distraidamente. Sylvie adorava aquela
indiferença de Griselda. Embora Mayne a fizesse sentir-se culpada por não
estar suficientemente interessada em seus cavalos e por causa de suas crises
existenciais absurdas e suas declarações não menos ridículas de paixão por
ela, Griselda entendia muito bem a pouca importância dessas coisas em
comparação com a estreia de um novo vestido.
Além do mais, Sylvie pensou, sem Griselda, Mayne não seria um par
tão desejável quanto era. Ela não havia encontrado outro homem que se
encaixasse tão bem quanto Mayne. Mas havia momentos em que ele era
exaustivamente cansativo.
Bem, todos os homens são, Sylvie disse a si mesma, se acalmando.
— Eu me pergunto se este chapéu fica melhor movendo-o um pouco
mais para trás, em minha cabeça—, comentou Griselda, olhando-se em um
pequeno espelho com moldura dourada. Era um chapéu grande, parecido
com um enorme queijo redondo, e um vestido de passeio azul claro,
encantador.
— Eu gosto do jeito que está—, disse Sylvie, depois de considerar
seriamente o assunto—. Espere! Vire para o lado. Sim, como está. Esse azul
claro faz seu cabelo brilhar como a luz do sol, Griselda. Darlington nos
encontrará no camarote?
— Sim. Mas eu gostaria que você não o tivesse convidado. Eu já cuidei
do outro assunto.
— Eu sei—, disse Sylvie—, e sinto muito por tê-lo convidado
desnecessariamente. Eu não percebi, e então eu o vi olhando para você.
— Ele estava olhando para mim? — Griselda disse ironicamente.
Darlington olhou para ela. E, ela não conseguiu evitar, ficou olhando
para ele também. Isso nunca tinha acontecido antes. No caso dos encontros
que teve desde a morte de Willoughby, ela experimentou um frisson
razoável ao decidir se envolver no prazer da noite, se divertiu durante o
encontro e não sentiu absolutamente nenhum desejo de repetir a
experiência.
Era diferente com Darlington. Acordara no meio da noite, seu corpo
formigando com um sonho que não conseguia se lembrar, embora
instintivamente soubesse a natureza do sonho emocionante e sentiu-se um
pouco constrangida. Ela teve que eliminar essa reação desconfortável e se
dedicar a encontrar um bom marido. Afinal, ela queria um filho, não é?
Claro que ela queria. Queria um pequeno Samuel só dela.
Ela nunca teve falta de confiança, mas seu romance com Darlington
acalmou todos os nervos que ela poderia ter sentido nessa área. Afinal, ela
seduziu um dos jovens mais bonitos da sociedade.
— Qual é a idade de Darlington? — Sylvie perguntou, como se pudesse
ler seus pensamentos.
— Não faço ideia—, Griselda conseguiu dizer, encolhendo os ombros
como se a pergunta fosse de pouco interesse.
— Podemos olhar naquele livro sobre pessoas da sociedade—. disse
Sylvie.
— Você quis dizer o Debrett? — Griselda havia pensado nisso e
descartado como convencional e precipitado. Como se ela fosse uma
menina, ansiando pelo filho de um duque e procurando seu aniversário.
— Achei que você saberia, Griselda—, Sylvie insistiu.
— Homens não são como mulheres. Como não precisam debutar,
tendem a aparecer na sociedade londrina quando querem.
— Você tem alguma ideia de quando ele apareceu pela primeira vez na
sociedade?
Na realidade, ela tinha. Era um pouco estranho admitir, mas ela sabia.
Não havia muitos homens altos com seu ar despreocupado que aparecessem
todos os anos. Griselda estremeceu. Deus me livre que ela se tornasse uma
daquelas matronas que se sentam nos cantos das salas e riem dos rapazes
recém-chegados da faculdade.
— Griselda, você me ouviu? — Sylvie perguntou. Havia um sorrisinho
engraçado em seus olhos.
— Acho que apareceu pela primeira vez em Londres há cerca de quatro
anos. Portanto, se ele veio direto da faculdade, significa que está na casa
dos 24 anos—. Ele era terrivelmente jovem.
— E você não pode ter trinta ainda. Não é uma grande diferença.
— Bajuladora! Já passei dessa idade, como, sem dúvida, você sabe
muito bem.
— Então, você tem trinta e um, no máximo—, disse Sylvie. Havia um
tom de sinceridade em sua voz que acalmou o espírito perturbado de
Griselda—. Darlington dá a impressão de querer devorar você.
Griselda sorriu hesitante.
— Eu nunca poderia tolerar tal paixão—, disse Sylvie, puxando seu
leque para combater a sufocação que o simples pensamento de tal caso
produzia nela—. Seus olhos queimam quando ele olha para você. Você sabe
que ele olhou bastante para você na casa de Lady Mucklowe, certo?
Claro, ela o tinha visto ali, tão silencioso, encostado na parede.
— Sim. Eu o vi.
— Os homens são tão propensos a isso! — Sylvie disse, e hesitou—.
Griselda, se importa se eu fizer uma pergunta sobre Mayne?
— Claro que não. Embora se você vai me dizer que ele também se
derrete por você, eu já sei. Meu pobre irmão está totalmente louco de amor.
— Eu sei—, Sylvie concordou—. Mas, quero falar com você sobre
outra coisa, sobre seu descontentamento. Ele não é um homem feliz, sabia?
Talvez, sempre tenha sido assim, sempre com um toque de inquietação em
relação com a vida?
— Não, acho que não—, Griselda respondeu, assustada—. Mayne era
um menino alegre e certamente parecia gostar das alegrias da vida ...—
ficou em silêncio por instantes—. Mas você está certa no que diz, porque
ele mudou em determinado momento. Ele ia de um lugar para outro, por
toda a sociedade, causando escândalos por onde passava e, ao que parece,
se divertindo muito. Mas, então ele se apaixonou e a mudança começou.
— Ah! — Sylvie exclamou, inclinando-se um pouco para a frente—. Eu
deveria ter imaginado que havia uma dama por trás de tudo isso. Conte-me.
— Não há nada para contar—, Griselda se apressou em responder,
imaginando se não estaria quebrando uma promessa.
— Não há lealdade entre irmãos e irmãs—, observou Sylvie, com
aquela habilidade incrível que tinha de saber o que alguém estava pensando
—. A única lealdade verdadeira é aquela entre amigas! Você precisa me
dizer, Griselda, para que eu saiba o que está causando sua agitação.
— O nome dela é Lady Godwin—, Griselda relatou com relutância.
— Uma mulher muito, muito esguia e com uma grande paixão pela
música?
— Há alguém nesta cidade que você ainda não conhece?
— Sim claro. Não fui apresentada a Lady Godwin, por exemplo. Mas
gosto de saber o máximo possível sobre todos. É isso que torna a vida
interessante. Então ele se apaixonou por essa Lady Godwin, não foi?
Griselda olhou cuidadosamente para Sylvie, mas não havia nem mesmo
um traço de mal-estar ou rancor em seus olhos brilhantes. Na verdade, ela
era uma mulher francesa da cabeça aos pés.
— Mayne se apaixonou por ela—, admitiu—. Acho que a condessa
flertou brevemente com a ideia de ter um encontro secreto com ele, mas no
último minuto decidiu ficar com o marido. Eles são muito felizes juntos, e
eu descobri que eles vão ter um segundo filho. Ou talvez eles já tenham
tido, não posso dizer. Não me lembro e também não a vi recentemente.
Devem estar no campo.
— Nesse caso, ela deve estar grávida—, observou Sylvie—. Se a
criança já tivesse nascido, ela estaria aqui, para a temporada.
— Talvez—, Griselda concordou, um pouco surpresa com o tom
desapaixonado de Sylvie—. Acho que ela é uma mãe muito amorosa.
— De qualquer forma, pode-se trazer um bebê para Londres—,
comentou Sylvie—. Então Mayne experimentou uma grande paixão não
correspondida, é isso?
— Algo assim—, respondeu Griselda—. E, desde então, ele não teve
um caso de qualquer tipo.
— Quanto tempo se passou desde que meu noivo e a condessa tiveram
um envolvimento?
— Dois anos? — Disse Griselda, hesitando—. Sim, pelo menos dois
anos atrás. Rafe ainda não era tutor das garotas de Essex, pelo que me
lembro.
— Mayne não tem uma amante há dois anos? — Sylvie ficou muito
impressionada com esse fato—. Embora, é claro, você possa não estar
ciente de todas as suas atividades.
— É possível—, concordou Griselda—. Mas eu tenho visto muito ele
durante todo esse tempo, e teria notado qualquer flerte. Como você sabe, ele
esteve noivo de Tess Essex, que se casou com Felton. E então ele agiu como
uma espécie de parceiro, ou algo parecido, para Imogen Maitland, que
acabou de se casar com Rafe. Em suma, já li casos de amor em seus olhos,
conheço-o muito bem.
— É surpreendente para mim—, disse a francesa, mudando
momentaneamente de assunto—, que um duque queira que todos o chamem
pelo nome. Holbrook me pediu para chamá-lo de Rafe também. Você pode
imaginar?
— Sim—, respondeu Griselda.
— Bem, estou preocupada que Mayne tenha caído em um estado de
melancolia—, disse Sylvie—. Embora eu seja muito compreensiva,
naturalmente, confesso que tenho uma antipatia natural por pessoas tristes.
Meu pai sofreu muito depois da morte de minha mãe. Fugimos logo após
seu enterro, e ficamos muito longe de seus parentes e amigos ... Você pode
imaginar.
— Eu só posso imaginar.
Sylvie suspirou—. A razão pela qual não vim a Londres até agora,
quando alcancei uma idade avançada de vinte e seis anos, é que meu pobre
pai não poderia viver sem mim. Ficou muito abatido na maior parte do
tempo. Apenas ano passado ele conheceu uma bela viúva, casou-se com ela
e finalmente se sentiu muito mais alegre. De qualquer forma, ele passa a
maior parte do tempo de uma forma que não posso aprovar.
— O que ele faz? Ele mora em Northamptonshire, não é mesmo?
— Sim, em Southwick. Ele cria muitos cães. E vários deles podem
entrar na casa, você entende meu desagrado?
Griselda assentiu.
— Não é apenas uma casa—, continuou Sylvie—. Ele a construiu
seguindo os planos de uma das grandes casas de campo francesas, o
Chateau des Milandes. É um lugar lindo ... mas está cheio de cachorros—.
Seu desânimo era evidente.
— Bem, bem, querida, que pena—. Griselda a consolou.
— Ele os deixa sair e então sai para ver onde estão e os traz de volta.
Claro, temos criados que poderiam muito bem fazer esse trabalho, já que
parece que os cães devem necessariamente entrar na casa. Mas, meu pai
gosta tanto desses animais que acha que pode ler suas mentes—. Sylvie
suspirou de novo—. Não consegui convencê-lo a vir a Londres para a
temporada. Felizmente, minha madrinha é tão gentil que concordou em me
acompanhar, mas acho que papai deveria abandonar aqueles cachorros de
vez em quando.
— Você não gosta de cachorros?
— Eu tinha um pequeno poodle quando era criança. Naturalmente,
gosto de animais bem comportados. Mas esses têm caudas longas. Eles
latem, fedem e às vezes nadam no lago. Felizmente, a viúva com quem ele
se casou gosta muito de animais. Fiquei tão grata a ela quando assumiu o
controle de meu pai que não posso culpá-la por nada. Estava começando a
pensar que me consumiria naquele château sem outra companhia que meu
pai, minha irmã e os cachorros! Você sabia que minha irmãzinha...— ela fez
uma pausa impressionante. —Não se importa com cachorros?
— Isso parece horrível. E muito diferente de você, Sylvie.
— Exatamente. De qualquer forma, não se trata apenas dos cachorros.
Não gosto de ter pessoas tão sombrias ao meu redor como meu pai.
— Pelo que eu sei, Mayne não gosta de cachorros—. Griselda se
apressou em dizer.
— Não, mas melancolia ...
— Ele vai superar isso. Só precisa se estabilizar um pouco. Depois que
vocês se casarem, será diferente.
— Talvez eu devesse deixar ele marcar uma data para o casamento—,
murmurou Sylvie. Ela não parecia muito convencida do que estava dizendo.
Griselda percebeu e teve um pequeno ataque de pânico. Não poderia
tolerar o coração de seu querido irmão se partindo pela segunda vez.
— Certamente você deve. Acho que Mayne está abatido porque não tem
planos para o futuro. Depois de ter uma família, é claro, tudo será diferente.
Eles entraram no terreno de Ascot e a carruagem diminuiu a velocidade
drasticamente. As carruagens pararam por todos os lados e moças em belos
vestidos e chapéus preciosos desceram. Pareciam dançarinos em
movimento, todos indo em direção à pista de corrida. Mesmo da carruagem,
Griselda podia ouvir o rugido distante vindo da pista de corrida.
— Teremos que andar muito? — Sylvie perguntou.
— Oh, não—, Griselda a tranquilizou. A carruagem nos deixará
exatamente ao lado de nosso camarote.
Sylvie sorriu.
Griselda recostou-se, com profunda preocupação. Sylvie não estava
completamente feliz. O que Mayne faria se fosse abandonado uma segunda
vez, e também por uma mulher que ele amava tanto? Só de pensar nisso, ela
se sentiu mal.
Capítulo 21
Do Conde de Hellgate,
Capítulo dezessete
Meu caro leitor, eu a chamo de uma das fadas de Shakespeare, porque ela
era tão evasiva e gentil comigo quanto um desses espíritos. Você vai me
odiar pela verdade nisso ... mas quando eu contemplei seu rosto delicado,
queimei pelo desejo de possuí-la. No entanto, eu não poderia me casar com
ela ... porque ela era casada com um burguês respeitável. Eu tremo quando
escrevo estas palavras:
Os laços do casamento não me impediram.

O camarote de Lucius Felton em Ascot era sem dúvida o mais luxuoso de


todos os presentes. O camarote do rei era uma estrutura bastante simples,
forrada de veludo vermelho e com cadeiras tão desconfortáveis quanto um
trono. Mas Felton decidiu ter um camarote em Ascot logo depois que eles
se casaram, e ele tinha uma predileção especial por camarotes fechados.
Como não havia nenhum disponível nesta lendária pista de corrida, ele
subornou o gerente da pista de corrida com uma soma fabulosa - alguns
disseram que foi o suficiente para cobrir as despesas das corridas do ano
seguinte inteiro - e mandou construir um lugar sofisticado, privativo, com
uma cobertura para proteger do sol e da chuva. Estava aberto para a pista, é
claro, mas fechado atrás, de modo que havia espaço para fazer alguns
cômodos pequenos e separados, essenciais para o conforto de uma dama
quando seu marido, como era o caso do Sr. Felton, era um entusiasmado das
corridas.
Josie ficou encantada ao descobrir que, separada da sala principal, havia
um pequeno lounge feminino com uma chaise longue.
— Tess tem uma vida adorável—, disse, suspirando com a beleza de
tudo. O salão isolado era um oásis de luxo sereno, forrado de seda da cor
das folhas de faia na primavera. Quando ela chegou Sylvie já estava lá,
linda como sempre, tão imperturbável como sempre.
— Sua irmã Tess é realmente uma mulher de muita sorte—, comentou
Sylvie—. Lamento não ter conhecido o Sr. Felton antes dela.
Josie sorriu com a declaração direta de Sylvie.
— Você poderia não ter gostado dele.
— Eu teria gostado de qualquer pessoa com seus recursos. E, posso
dizer que estou feliz por ter saído do mercado de casamento antes de você
aparecer? — comentou, olhando Josie de cima a baixo—. Agora que você
removeu aquelas roupas íntimas estranhas, você é uma rival. Invencível, eu
diria.
Josie riu alto—. Ninguém poderia dizer que você não é generosa,
Sylvie.
— Estou dizendo a verdade—, disse, dando de ombros levemente de um
jeito muito francês—. Claro, eu sou mais magra que você e acho que meu
nariz é um pouco menor, mas não tenho esse ar ...— Ela acenou com as
mãos—, Seduisant, que você tem.
— Infelizmente, eu não falo francês—. Josie se desculpou, pondo um
pouco de cor nos lábios, assim como sua amiga estava fazendo.
— Quero dizer, você parece um bom parceiro de cama—, disse Sylvie
rudemente. E quando Josie soltou uma risadinha travessa, ela também não
vacilou—. Eu disse algo errado? Tenho dificuldade em falar inglês, é muito
difícil.
— Eu não tenho dúvidas de que você parece uma parceira de cama
fascinante, Sylvie!
— Oh, não—, disse ela—. Não pareço porque não serei. Não estou
muito interessada nesse tipo de coisa. Mas, felizmente para mim, existem
homens que pensam da mesma forma que eu.
— Mayne? — Josie perguntou, horrorizada com o rumo que a conversa
havia tomado de repente.
— Precisamente. — Sylvie largou o batom, pegou uma caixinha
esmaltada e começou a passar pó no nariz.
— Você tem certeza? — Josie perguntou hesitante—. Quer dizer,
Mayne não é exatamente famoso por ...
— Claro, eu sei que a reputação dele é a pior possível—, Sylvie
concordou, acenando com as mãos novamente—. Mas os homens não
buscam de suas esposas o mesmo que procuram, digamos, em uma
companheira casual. A menos que eu esteja muito errada, meu noivo ficaria
muito surpreso com qualquer expressão de interesse carnal de minha parte.
E, como não sinto interesse dessa espécie, combinamos muito bem.
Josie mordeu o lábio. Sylvie viu seu rosto e sorriu gentilmente.
— Você não deve pintar as pessoas com seus próprios pincéis—, disse
—. Isso faz sentido? — E, ao balançar de cabeça de Josie, ela continuou a
desenvolver sua teoria—. O que quero dizer é que Mayne só se apaixona
por mulheres que são inatingíveis. Ele é um tipo comum de homem, ao
contrário do que parece. Além do mais, por algo que Griselda me disse, sei
que ele só se apaixonou uma vez antes de me conhecer, e a dama em
questão era feliz no casamento—. Fechou a caixa de pó, claramente
considerando que sua opinião sobre o assunto era definitiva.
Sylvie saiu da sala e Josie se sentou se olhando no espelho. Seu coração
se contraiu ao pensar que Mayne só poderia se apaixonar por mulheres
inatingíveis. Certamente, quando eles se casassem, Sylvie se tornaria mais...
mais carnalmente interessada, para usar suas próprias palavras.
Ou, talvez não, pensou Josie, imaginando o perfil frio da menina
francesa. Já que Sylvie estava noiva de Mayne, mas era indiferente a ele ...
o que a faria mudar de ideia?
Capítulo 22
Do Conde de Hellgate,
Capítulo dezessete
Garanto que ela não foi prejudicada por nossas brincadeiras. Eu a
persuadi, caro leitor, de que minha alma perturbada só poderia ser curada
por seus cuidados, e ela, a adorável Flor de Ervilha, adorável e adorada
duende, acreditou em mim. Acalmou minha alma ... E outras partes da
minha anatomia, na minha carruagem. Uma tarde que jamais esquecerei,
encontrei-a nas ruínas de uma capela charmosa, e ali, entre flores silvestres
e pedras tombadas ...

Ascot
Se Darlington estava procurando por uma esposa, certamente não o
estava fazendo com muita eficácia, pensou Griselda. Em vez disso, ele
circulou o grupo em que se encontrava, aproveitando todas as
oportunidades para dizer coisas ultrajantes para ela. Isso tornava sua vida
interessante, mas é claro que a virtude recomendava que ela levasse o
jovem para longe.
— Você deveria ir para outro lugar—, ela o repreendeu. Todo o grupo
dirigia-se agora para a área do camarote real, porque Griselda fora
informada de que a nova duquesa de Clarence acabara de chegar. Assim,
eles haviam ficado um pouco à frente de Mayne, que também ia para lá,
com Sylvie e Josie no braço.
— Eu não vou—, ele sussurrou em seu ouvido—. Não posso ir embora,
é impossível.
— Você deveria estar procurando alguma jovem para cortejar—,
respondeu ela. Havia algo nos olhos do jovem cavaleiro que a fez se sentir
quase tonta, muito diferente do que normalmente era. Ela não entendia seu
próprio jogo, porque afinal, ela havia decidido procurar um cônjuge para ela
também.
— Vou ficar aqui e ajudá-la a escolher seu futuro marido—, anunciou
Darlington, como se pudesse ler sua mente—. Lord Graystock, por
exemplo, parece estar vindo em nossa direção. Acho que ele é um bom
candidato.
Griselda olhou obedientemente. Era verdade, Graystock estava
caminhando na direção deles. Ele era um sujeito desgrenhado, com um
rosto alegre e um nariz afilado.
— Olhando de perto para ele, ele parece um texugo domesticado,
especialmente por causa daquela mecha branca em seu cabelo—, comentou
Darlington—. Vocês dois poderiam se estabelecer no campo e começar uma
fazenda de texugo. Seria uma ocupação maravilhosa.
Agora, Graystock estava se curvando e dizendo olá de uma determinada
maneira que mostrava que pelo menos ele acharia a ideia de uma corrida de
texugo com Lady Griselda bastante aceitável.
Mas, Griselda olhou para os dentes bastante amarelos e retirou a mão
rapidamente.
— Ele não é tão terrível—, disse Darlington, depois que Graystock se
retirou—. Existem aqueles que achariam Lady Griselda Graystock um
apelido menos do que salubre, mas tenho certeza de que você se
acostumaria com isso.
— Você é muito cruel—. Observou Griselda.
— Sempre fui, não consigo evitar—. disse Darlington com um sorriso
—. Há mais algum de seus pretendentes por aí?
— Para começar eu devo me casar com um homem digno, assim como
você deve se casar com uma mulher respeitável—. disse Griselda,
inclinando a sombrinha para trás e erguendo os olhos para ele.
— Seu cônjuge necessariamente deve se parecer com um texugo?
Ela sorriu para ele. Ele não tinha a língua afiada como gostava de fingir;
em seus olhos, ela podia ver o tipo de decepção que seu irmão costumava
demonstrar, na época em que ele tinha um brinquedo que não queria
compartilhar. Ela mudou de assunto—. Você leu as Memórias de Hellgate?
— Esse lixo? Absolutamente não.
— Estou achando fascinante. Você sabia que a maioria das pessoas
considera meu próprio irmão como protagonista do livro?
— Isso é o que você me disse.
— Gostaria que o livro não fosse baseado no meu irmão—, disse ela
com um suspiro—. Isso o faz parecer lamentável, você sabe o que quero
dizer? Mayne teve esses pequenos apegos ao longo de um período de vinte
anos, mas lê-los todos de uma vez o faz parecer desprezivelmente pueril.
— Eu posso dizer que você terá que acreditar em minhas palavras—,
Griselda insistiu—. Hellgate cita o poeta John Donne, e garanto a você que
meu irmão poderia recitar poesia de manhã à noite, se quisesse.
— Complexidades inesperadas—, ele murmurou—. Você não está se
sentindo um pouco quente e cansada? Não acha que está na hora de se ir
para um lugar mais isolado?
— De maneira nenhuma.
— Você dá a impressão de estar muito quente.
Griselda piscou por um momento. Ela não estava com calor. Ele estava
realmente insinuando que seu rosto tinha ficado vermelho e nada atraente?
Para ela, não havia nada mais comum do que uma dama se olhando no
espelho.
— Eu me sinto muito bem—. respondeu ela, sorrindo, embora houvesse
uma certa aspereza em sua voz.
— Deixe-me discordar—, ele insistiu, olhando para ela com uma
expressão tão alarmada que ela começou a se perguntar o que poderia ter
acontecido com seu rosto. Será que o sol estragou sua maquiagem
cuidadosamente aplicada? Não era possível. Não estava usando quase nada
—. Oh, querida—. Continuou, olhando de perto para o rosto dela.
O coração de Griselda batia acelerado e não era por medo que um
desastre tivesse ocorrido com sua maquiagem.
— Você realmente vê algo estranho? — perguntou fracamente. Ele
estava a apenas um ou dois centímetros de sua boca. Mas ela não podia
permitir que ele a beijasse. De maneira nenhuma. E, menos ainda naquele
lugar lotado.
— Você não está bem.
— Não?
— Não está nada bem. Você não sente nada estranho?
Griselda teve que admitir que poderia não estar se sentindo tão bem.
Seu coração batia de forma alarmante e suas pernas estavam muito fracas.
Além disso, suas bochechas estavam vermelhas. Ela abriu a boca.
— Não tente falar.
Ela começou a falar de qualquer maneira, mas parou rapidamente, para
focar toda a atenção nos olhos de Darlington. Eles eram realmente
extraordinários, de uma bela cor cinza, com um tom azul.
— Você está prestes a desmaiar. Posso ver pela palidez.
“Palidez?”, pensou Griselda. Como ela poderia estar pálida quando seu
rosto estava vermelho? Imagens dela mesma aplicando uma pequena
quantidade de blush naquela manhã passaram por sua cabeça.
Ela franziu a testa para ele, precisamente no momento em que sentiu
algo como um golpe estranho atrás de seus joelhos. Suas pernas
fraquejaram. O pé direito de Darlington a fez tropeçar. Com um meio
suspiro, cheio de pânico, largou a sombrinha ... mas lá estava ele,
segurando-a nos braços, como o cavaleiro sempre fazia com a heroína dos
melodramas.
— Não se preocupe—, disse ele com uma expressão tão doce e
preocupada que o coração dela bateu ainda mais forte. — Eu vou cuidar de
você.
— É apenas o calor—, Darlington explicou a Josie, que se virou e
parecia preocupada—. Nada para se alarmar—, comentou com Mayne, que
também se aproximou—. Acompanharei Lady Griselda até sua casa, pois
ela se sente muito fraca.
Seu irmão estava obviamente dividido entre a devoção fraterna e seu
cavalo. — Eu estou bem—. Garantiu Griselda, sem fazer nenhum esforço
para afrouxar a poderosa pressão dos braços de Darlington, que se
comportava como nada mais que um amigo. Afinal, já que ele
deliberadamente a desequilibrou, ele poderia muito bem esticar seus
músculos para mantê-la fora do chão. Quem era ela para se opor ao que
aconteceu? O que importava que ele realmente não tivesse nenhuma
fraqueza, se ela se sentia tão bem naqueles braços? Estava, na melhor das
hipóteses, um pouco tonta, mas principalmente muito feliz.
Mayne deve ter notado algo em seu rosto, porque seus olhos se
estreitaram e ela começou a dizer algo, mas Darlington já havia se virado e
estava abrindo caminho no meio da multidão. Griselda apoiou a cabeça em
seu ombro. “Ele deve ser muito forte para me carregar tão facilmente”, ela
pensou.
— Você pode me colocar no chão, se sentir que suas forças estão
falhando.
— Você acha que eu vou cair?
Ela ergueu os olhos. Não havia dúvida, ele estava feliz. Ele estava com
a expressão travessa de uma criança que esconde seu brinquedo favorito,
em vez de compartilhá-lo como mandado dos mais velhos.
— Você—, disse ela, repreendendo-o—, deveria ter vergonha de si
mesmo.
— Faço isso com tanta frequência que temo que a emoção tenha
perdido muito de sua força.
Quase haviam chegado ao local onde estavam as carruagens. As longas
pernas de Darlington permitiram que eles passassem pela multidão em alta
velocidade.
— Não posso ir para casa com você—, protestou Griselda. Ele a
colocou no assento, mas então parou, sempre colocando os braços em volta
dela, e se inclinou sobre ela. Seu corpo obstruiu a luz que entrava na
carruagem. Certamente ninguém poderia ver o que eles estavam fazendo.
— Claro que você pode—, seu amante assegurou—. Vou colocar um
cobertor sobre a sua cabeça e fingir que você é uma planta ou uma peça de
mobília, sei lá.
— Não posso!
— Você pode.
Griselda se endireitou, pronta para a batalha, apesar da tentação da boca
de Darlington, a cinco centímetros da dela. Percebendo o movimento da
dama, ele puxou sua cabeça para mais perto. Alguns momentos depois,
Griselda, extasiada, segurava-o pelos ombros.
— Eu não faço esse tipo de coisa—. disse ela, hesitante.
— Nem eu—. Seus olhos se encontraram e ela sabia que ele estava
dizendo a verdade—. Não durmo com mulheres, e a verdade é que nunca
convidei outra mulher, além da minha mãe, para meu apartamento. Mas
gostaria que você viesse, Ellie.
— Ellie é um nome para criadas—, ela reclamou, empurrando o lábio
inferior, só porque ela queria que ele olhasse para ela.
Claro, ele fez mais do que apenas olhar e, quando o beijo terminou,
Griselda estava tão arrebatada que teria ido a qualquer lugar com ele. E
Darlington sabia disso. Ele olhou para ela com um sorriso sonhador
dançando em seus olhos e então entrou totalmente na carruagem e a porta se
fechou.
Griselda se recostou na cadeira, sentindo que o coração ia pular do
peito.
— E o que você acha que o condutor teria pensado quando viu como
você parou no meio do caminho, metade fora da carruagem e metade
dentro? — Ela perguntou, percebendo que sua voz soava abafada.
O cavalheiro apenas sorriu.
— Deus sabe que qualquer um poderia ter passado pela carruagem—.
Continuou ela, ajustando o corpete do vestido, que estava ligeiramente fora
do lugar.
— Você já esteve na casa de um cavalheiro?
— Claro que não!
— Então será a primeira vez para nós dois.
Capítulo 23
Do Conde de Hellgate,
Capítulo dezenove
Agora chego ao capítulo mais sombrio de minha terrível carreira, caro
leitor e devo implorar-lhe mais uma vez que feche as páginas deste livro ...
coloque-o de lado e pegue seu livro de orações. Lá você encontrará
versículos que irão alimentar seu espírito, seu espírito interior e a
verdadeira vida, enquanto aqui ...
Oh leitor, tenha cuidado! Tenha cuidado!

Mayne estava consciente que deveria ser o homem mais feliz do mundo.
Gigue havia vencido sua corrida. Não apenas ele estava mais rico em
algumas milhares de libras, mas o cavalo de Rafe havia sido derrotado. Não
há nada como derrotar um amigo querido para tornar a sua alegria
completa.
Além do mais, ele tinha sua requintada noiva em seus braços, e ela
mostrava todos os sinais de estar gostando de Ascot. Olhou para Sylvie. Ela
estava vestindo um ousado casaco francês de cetim imperial em uma cor de
flores de lavanda. Ela o havia informado dos detalhes, na verdade, sentiu
que conhecia seu traje até a cor de seu fio: a cor lilás, com debrum na
cintura, a fita de brocado de uma cor narcisos sombreados (seja lá o que
fosse), a borda ao redor dos pés e a pièce de résistance, um turbante
indiano, não esquecendo a sombrinha branca de seda com franjado.
Verdade seja dita, toda aquela conversa sobre suas roupas o afetou um
pouco. Não que ele não apreciasse sua bela aparência, movendo-se com seu
turbante indiano. Ela tinha uma aparência delicada, francesa e charmosa.
No entanto, ele não estava muito animado com os turbantes. Tampouco
ficou muito convencido com a maneira como o casaco francês esmagava o
peito de Sylvie, dando a impressão (impressão que nunca deveria ser
revelada) de que ela era uma mulher plana. Houve momentos em que a
moda feminina inexplicavelmente se desviou do gosto dos homens.
O traje de Josie era bem mais simples. Ela estava usando um vestido de
passeio em cor escarlate, muito simples, em vez de enfeitado e com franjas
e au courant. Ela havia tirado o chapéu e o estava balançando em sua mão
livre. E ela não estava prestando atenção às observações de Sylvie, mas
continuou esticando o pescoço para ver os cavalos correndo na pista.
Ela parecia tão fascinada pela pista de corrida como se nunca tivesse
visto um cavalo correr antes, enquanto Sylvie mostrava pouco interesse no
esporte. Provavelmente era só porque Josie estava praticamente ainda no
berçário, embora agora soubesse que ela havia descartado aquele espartilho
horrível. Ela apresentava uma imagem inteiramente deliciosa de
feminilidade cheia de curvas. Nenhuma roupa no mundo poderia deixar
Josie plana como um prato, nem mesmo aquele espartilho horrível. Na
verdade, Mayne havia notado que todos os homens que passavam por eles a
olhavam avidamente.
— Mayne!
Ele se virou e olhou para sua noiva, que estava olhando para ele
interrogativamente.
— Botas de tecido escarlate enfeitadas com veludo—, ela disse
incisivamente.
Mayne se orgulhava de suas recuperações rápidas. — Sim, de fato—,
disse ele, com toda a experiência de anos conversando com Griselda.
— Mas o ouro e pérolas ... misturados, você entende—, disse Sylvie,
franzindo o nariz—. Totalmente exagerado, você não acha?
— Sim, de fato—. Sua atenção se desviou novamente. Josie havia
parado e estava na ponta dos pés, observando um grupo de cavalos passar
por eles—. Veja! — ela gritou, puxando seu braço—. A menos que eu
esteja enganada, um dos cavalos de Rafe venceu!
Mayne olhou para a linha final e, com certeza, parecia que o cavalo
vencedor estava vestindo as cores de Rafe. Ele supôs que poderia permitir a
Rafe uma vitória de vez em quando.
— Dividido na testa, como chifres—. Sylvie disse a ele.
— Claro—. Certamente eles tinham visto o suficiente? Ele ansiava por
voltar ao camarote, onde poderia assistir às corridas de um ponto de vista
decente.
— Mayne! — Sylvie estava rindo dele, ele percebeu com um
sobressalto—. Você não está prestando a menor atenção, está? Acabei de
observar que a Duquesa de Piddlesworth estava usando um chifre de
pérolas na testa e você concordou!
— Peço desculpas—, disse Mayne, embora se sentisse um tanto irritado,
para dizer a verdade—. Gostaria de voltar ao nosso camarote agora? É
bastante difícil ver as corridas daqui.
Sylvie nunca faria nada tão sem graça como fazer beicinho ... mas havia
quem pudesse chamar sua expressão de beicinho. — Que tedioso—, disse
ela, franzindo a testa para ele—. Eu preferiria muito mais continuar
procurando pela Condessa Mitford. Prometi a ela que lhe contaria sobre a
maneira francesa de organizar uma sala de estar.
Mayne sentiu um desejo repentino e louco de se afastar dela—. Sim,
vamos procurar a condessa Mitford—. disse ele—. Tenho certeza que ela
está esperando por você com a respiração suspensa.
Os olhos de Sylvie se estreitaram ligeiramente, mas ela não disse nada.
Ela era, Mayne percebeu, muito bem-educada para se envolver em algo tão
indigno como brigar em uma arena pública—. Peço desculpas—. Disse,
olhando para ela novamente.
Mas ela sorriu para ele. — Eu estava pensando que você é semelhante
ao meu pai—. E, torceu o nariz.
— Ele é, você entende, bastante obcecado com o destino de seus cães.
Eles estão bem, são fortes, eles precisam de uma dose terapêutica de água
de cevada?
— Água de cevada?
Ela acenou com a cabeça.
— Os pobres animais não parecem ter coragem de tossir, pois ele
imediatamente os coloca em uma dieta especial de brócolis fervido e água
de cevada.
Mayne se encolheu.
— Bem, para falar a verdade, não consigo ver nenhuma relação entre o
seu pai e eu—. Como ela insistia em continuar a chamá-lo de você, Mayne
não sabia que atitude tomar e costumava misturar seus tratamentos, sem
saber, dependendo do estado de humor em que ele estava.
Josie soltou seu braço e estava parada junto à cerca, observando outro
grupo de cavalos dando a primeira volta na pista.
— Josie! — Sylvie gritou. — Recuar! Você ficará cheia de poeira.
Mas Josie não deu ouvidos a ela. Ela estava batendo palmas quando
uma graciosa égua castanha se separou do grupo e deu um passo à frente,
com as orelhas pequenas para trás. Mesmo de sua posição distante, Mayne
reconheceu o andar de um vencedor em seu trote.
— De quem é? — Josie perguntou a ele.
Mayne balançou a cabeça, mais em admiração do que em dúvida.
— Acho que são as cores de Palmont ...
Um cavalheiro se aproximou de Josie e conversou animadamente com
ela. Então, os dois, quase ombro a ombro, observaram os cavalos enquanto
eles passavam na frente deles novamente. Um animal pardo, muito alto e
magro, começou a avançar dentro do grupo ... e avançou ... avançou mais ...
— Não! Não! — Josie gritou descontroladamente.
Sylvie fez um breve som de desaprovação.
— Quem é o homem ao lado de Josephine?
— Lord Tallboys—, Mayne o informou. Tallboys estava olhando para
Josie com mais atenção do que para os cavalos. Mas ela estava totalmente
absorta nas emoções da corrida, suas bochechas coradas e suas mãos
enluvadas agarrando o corrimão com força—. Rafe o apresentou a Josie no
baile de Mucklowe.
— Ele é um cavalheiro respeitável?
Mayne olhou para ela com um olhar de surpresa e preocupação.
— Você acha que eu permitiria que Josie ficasse em sua companhia por
tanto tempo se ele não fosse respeitável? Ele é um bom homem, que
também tem uma fortuna considerável.
— Solteiro? — Sylvie perguntou com uma voz abafada. E vendo o
gesto afirmativo do noivo, ela mostrou sua aprovação. — Excelente!
Naquele momento, a égua castanha pareceu reunir todas as suas forças e
esticou o pescoço. Antes que a multidão pudesse respirar novamente, ela
cruzou a linha de chegada. Josie gritou eufórica e acenou com o chapéu.
Tallboys rugiu em aprovação. Os dois começaram a dançar festivamente,
para celebrar o triunfo de seu cavalo favorito.
Sylvie riu ao vê-los naquela atitude quase infantil.
— Acho que Josephine acabou de fazer uma conquista.
— De fato—, Mayne confirmou, observando os cachos de Josie voarem
enquanto Tallboys a girava continuamente. Ela não conseguia parar de rir.
Ele achava que Tallboys era um pouco jovem, até para ela, não poderia ter
mais de vinte e quatro anos.
Mas essa era precisamente a idade certa.
Sylvie deu um passo à frente e Tallboys parou imediatamente,
curvando-se um tanto sem jeito, mas cheio de alegria jovial.
— Eu imploro seu perdão—, ele se desculpou—. Receio que a
Senhorita Essex e eu tenhamos ficado maravilhados com a excitação e a
euforia do momento.
Sylvie olhou para ele, as covinhas em seu rosto aparecendo. Mayne
observou a cena, esperando ver um lampejo de desejo nos olhos do outro
cavalheiro ao ouvir o sotaque encantador de Sylvie.
— Uma bela demonstração de entusiasmo—, disse ela—. Certamente
você tinha feito uma jogada nesta corrida, certo?
— Uma aposta, chama-se aposta—, Mayne a corrigiu—. Como vai,
Tallboys?
Tallboys não parecia ter entendido Sylvie. Ele se virou diretamente para
Josie e tirou seu livro de corrida.
— Veja? — disse—. O nome dela é Firebrand. É um bom nome, não é,
Senhorita Essex?
— Acho que ela é muito delicada para ser uma incendiária—.
respondeu Josie—. Você notou como as orelhas dela tremeram depois de
desacelerar? Como se soubesse que havia ganhado e estivesse relaxando, se
divertindo.
— Ela certamente estava ciente de que havia vencido. Um bom cavalo
sempre sabe.
— Alguns dos cavalos do meu pai ficavam muito tristes quando
perdiam.
Eles estavam tendo uma conversa animada sobre os estábulos do pai de
Josie.
Sylvie voltou-se para Mayne.
— Eu acho que Lord Tallboys encontrou uma nova paixão em sua vida
—, ela sussurrou—. Ele dará a Skevington uma competição acirrada. É um
concorrente importante.
— Você acha? — Mayne sentiu um toque de mesquinho, como um
homem na casa dos sessenta—. Ele é muito jovem.
— Eles podem brincar juntos, como dois gatinhos.
Pareceu a Mayne que a maneira como Tallboys olhava para Josie não
tinha nada a ver com gatinhos.
— Devemos voltar para o camarote—. Deliberadamente, ele não incluiu
Tallboys no convite.
Aquele cavalheiro era um idiota inútil, não entendia como não havia
percebido até então. Era surpreendente que Josie tivesse rido de seus
comentários lamentáveis. Ela parecia tão encantada como se estivesse
falando com o príncipe herdeiro.
Ainda assim, Mayne achou irritante descobrir que ele estava agindo da
mesma maneira que o pateta do Tallboys. Ele nunca gostou da tolice dos
outros e era honesto demais para não perceber que a mesma estupidez
aflorava em si mesmo. A verdade é, Mayne disse a si mesmo, que você está
noivo, mas não se sente totalmente envolvido. Sempre acreditou que o
noivado era uma questão de beijos roubados e encontros repentinos de
olhares.
Claro, ele, em outros tempos, dera beijos roubados, mas ele não queria
uma esposa que fosse tão leviana quanto as mulheres com quem ele
dormira. Ele tinha que se decidir. Ele tinha que saber se queria trocar beijos
e olhares com sua noiva ou não.
Josie seguiu Sylvie e Mayne. Ele parecia estar com um humor um tanto
irritadiço. De repente, ele ouviu uma voz falando em seu ouvido.
— Senhorita Essex?
Quando ela se virou, encontrou um jovem grande, sorrindo para ela
como se a conhecesse muito bem.
O rosto era familiar, ela certamente o conhecia, mas não conseguia
identificar quem era.
— Boa tarde, senhor.
— Nós nos conhecemos em um baile na semana passada. Eu sou o Eliot
Thurman. Posso oferecer-lhe o meu braço? — perguntou.
Mayne continuou andando sem ela, então ela concordou em pegá-lo
pelo braço. E antes que ela percebesse, eles mudaram de caminho, indo em
uma direção diferente daquela que levava ao camarote de Tess. Eles
estavam indo para as tendas onde eram servidos os lanches.
Ela o seguiu com certa apatia. Afinal, o que isso importa? Mayne estava
apaixonado por sua noiva muito fria, de quem Josie estava começando a
não gostar. Griselda partira com Darlington e, embora a jovem achasse que
deveria manter certas distâncias do inimigo, também não era tão ruim.
Griselda foi atrás de Darlington sem lhe comunicar nada.
Gostaria que Annabel tivesse estado em Ascot! Mas Annabel não queria
levar Samuel para um lugar com tantas pessoas. Imogen estava em sua
viagem de casamento e Tess estava em Northumberland com seu marido ...
Josie suspirou. Mas, imediatamente se recompôs. E decidiu se comportar
com boas maneiras.
— Você tem um cavalo inscrito em uma corrida, Sr. Thurman? —
perguntou.
— Não, não—, respondeu o homem. — Minha mãe diz que um
cavalheiro deve ter uma ocupação. Sou muito preguiçoso para fazer coisas
extenuantes, como fumar, então comecei a apostar—. Ele caiu na
gargalhada, encantado com sua própria inteligência. Hahaha.
Josie não entendeu. Ela pensou que havia alguma sutileza escondida nas
palavras do homem que lhe escaparam.
— Sua mãe achava que você deveria fumar tabaco ... como ocupação?
— É uma piada—. explicou com um tom de desaprovação em sua voz.
Sempre lhe pareceu que as piadas deveriam ser engraçadas. Ou, que
pelo menos faça algum sentido.
Eles haviam caminhado muito além das tendas, para os jardins formais
que cercavam os estábulos e a pista de corrida.
— Acho que devemos voltar—. disse, inclinando-se para olhar as flores.
Percebeu que alguém cometeu um erro ao plantar prímulas da noite, e a
maioria delas estava fechada para se protegerem do sol.
Mas, o Sr. Thurman parou e fez um barulhinho estranho com a garganta.
Josie olhou para ele. De repente, a garota teve a sensação alarmante de que
o jovem poderia estar sofrendo algum tipo de ataque. Pessoas que tinham
aquele tipo de rubor em suas bochechas eram propensas a insuficiência
cardíaca, ou pelo menos foi o que ela ouviu dizer. Olhou para ele com o
cenho franzido. Ela tinha certeza que conhecia aquele rosto, o que a
lembrava de algum transe um tanto desagradável ...
Um segundo depois, ela percebeu que Thurman estava tendo um ataque,
de fato, mas de um tipo diferente do que ela temia, quando ele a pegou em
seus braços e pressionou seus lábios contra os dela. Eles estavam
surpreendentemente frios e um tanto moles. Por um momento, Josie
congelou de surpresa, e então ele enfiou uma língua gorda entre seus lábios.
A jovem imediatamente fez um esforço para se afastar dele.
Era incrivelmente forte. Quase antes que ela percebesse, ele a carregou
sob o telhado que se projetava do celeiro. Josie teve a sensação de estar
observando a cena de fora, como se estivesse observando outra jovem, não
ela mesma, lutando com o homem que a prendeu contra a parede. Ele girou
a língua em sua boca, quase a sufocando. De repente, ela sentiu seu vestido
prender-se a uma estaca pendurada em uma madeira atrás dela e se rasgar.
Começou a lutar, chutando-o várias vezes nas canelas, mas seus sapatos
eram muito delicados e seus pés estavam firmes no chão. Ela tentou acertá-
lo mais alto, mas seu vestido era justo e limitava seus movimentos. Ela
conseguiu escapar para o lado, para longe dele.
Ele se afastou por um momento e disse: — Você é corajosa—. Sua voz
estava grossa, como se ele estivesse bêbado. Josie encheu os pulmões para
gritar, mas ele apertou a boca sobre a dela novamente e ela quase sufocou.
E então ela percebeu para seu horror que o rasgo em seu vestido estava se
alargando. Se ela não fugisse, poderia cair completamente de seu corpo.
Se ela não ...
Então ela fez.
Ela levantou a perna em um movimento rápido e suave e plantou o
joelho bem na virilha que estava esfregando em seu vestido. As mãos dele
soltaram seus braços instantaneamente e ela cambaleou para o lado,
ouvindo seu vestido rasgar nas tábuas ásperas novamente para que ela
pudesse sentir o ar em suas costas.
Ele cambaleou para trás, curvou-se, sua voz saindo em um grito
ofegante—. Sua maldita... maldita...
Josie se virou para correr - é claro que ela deveria correr! -, mas então
seus olhos encontraram a porta dos estábulos. A fim de manter as baias
limpas e cheirosas para os visitantes que vagavam pelos estábulos, os
cavalariços estavam diligentemente jogando lixo pela porta dos fundos.
Provavelmente alguém o carregaria pela manhã, mas agora...
Havia uma pá encostada na parede e um monte de excrementos da
altura de seus joelhos. Foi o ato de um segundo cavar a pá na bagunça
marrom amontoada e girar em sua direção. Ela não conseguia levantá-lo
pela cintura, mas não precisava. À medida que a pá girava, ganhava ímpeto
e, no momento em que o Sr. Thurman erguia a cabeça, sem dúvida para
dizer algo desprezível, a pilha fumegante e gotejante de esterco de cavalo
voou da pá e bateu em seu rosto. O último vislumbre que Josie teve antes de
se virar e correr pela porta do estábulo foram seus olhos bem abertos e sua
boca vermelha ainda mais aberta, ambos obscurecidos um momento depois
por uma massa de sujeira marrom e úmida.
Ela disparou para os estábulos e começou a correr pelo longo corredor.
Era meio-dia e nenhuma corrida estava marcada até a tarde. Até os rapazes
do estábulo deveriam estar vadiando na frente do prédio.
Não havia ninguém para ajudá-la. Ele a veria; ele iria pegá-la. A
qualquer momento ela sentiria sua mão forte e poderosa em seu ombro.
Então ela avistou cobertores vermelhos com o brasão de Mayne,
pendurados na lateral de uma cabine. Olhou para trás, e o longo corredor
dos estábulos estava limpo, com nada além do que partículas de palha
dançando à luz do sol. Sem parar para respirar, ela destrancou a porta da
baia de Gigue, deu a volta em seu lado elegante e se jogou na palha amarela
na parte de trás da baia. E prendeu a respiração.
Ela não conseguia ouvir nada. Nenhum som de passos. Nada além da
respiração ofegante da potranca enquanto ela batia os cascos, inquieta.
— Shhh...— sussurrou Josie—. Quieta, por favor.
O cavalo relinchou um pouco em resposta e balançou o rabo para
golpear o rosto de Josie como um bando de pequenas vespas. Os olhos de
Josie se encheram de lágrimas. Ela havia perdido a bolsa em algum lugar,
seu corpete estava rasgado e, quando se encolheu no canto da baia,
descobriu que suas costas nuas estavam contra as tábuas. Aquele rasgo que
ela ouviu foi direto através de sua camisa e vestido.
Depois que começou a chorar, soluçou tanto que seu corpo tremia todo.
Por fim, se recompôs, arrancou uma parte da camisa e a usou como lenço e
começou a pensar em como sair do estábulo. Podia ouvir as vozes dos
rapazes do estábulo filtrando-se pelo corredor. Era apenas uma questão de
minutos, meia hora no máximo, antes que alguém chegasse para verificar
Gigue. Billy voltaria da refeição do meio-dia.
Havia uma escada de madeira pregada na parede, que levava ao
palheiro. Ela poderia subir a escada e simplesmente esperar até que todos
voltassem para casa.
Gigue, por sua vez, conseguiu rolar no espaço apertado de sua baia,
respirando ruidosamente em Josie, como se a confortasse.
— Estou tão feliz que você ganhou hoje—, Josie sussurrou—. Oh,
como vou sair daqui?
A gravidade de sua situação estava se tornando cada vez mais evidente.
Era claro que o Sr. Thurman havia decidido evitar o máximo possível o mal
que uma situação ruim poderia fazer a ele, indo embora fedorento,
diretamente para sua residência para trocar de roupa. Parecia claro que ele
não a tinha seguido. Naquele momento, percebeu que estivera segura desde
que entrara correndo pela porta aberta: a última coisa que Thurman queria
era ser forçado a se casar com ela. Ele era o horrível amigo de Darlington,
aquele que zombou dela na festa de casamento de Imogen. E, no entanto, se
alguém - principalmente Rafe - descobrisse o que acabara de acontecer, ela
seria forçada a se casar com Thurman.
Ela estava arruinada, e a única solução para evitar a ruína que Josie
ouvira falar tantas vezes era o casamento. Bem, ela não estava exatamente
arruinada, nem deveria estar exagerando. Mas a memória das mãos de
Thurman em seu corpo desencadeou outro acesso de choro e ela teve que
rasgar outro pedaço de sua camisa para enxugar as lágrimas.
Por que suas irmãs conseguiram ser comprometidas por cavalheiros
bonitos que acabaram se apaixonando por elas, enquanto ela teria que se
contentar com um homem que era uma espécie de animal com cara de
nabo? Ela preferia se matar antes de concordar em se casar com tal
indivíduo. Era muito injusto.
Gigue ergueu a cabeça, as orelhas aparecendo. Talvez fosse Billy, que
estava se aproximando. Ela o mandaria procurar Mayne, e ele poderia levar
sua carruagem para o fundo dos estábulos, ou talvez pudesse jogar um
cobertor sobre ela e fingir que desmaiara.
Mas ele não poderia carregá-la para fora dos estábulos, devido ao seu
peso excessivo. As lágrimas começaram a escorrer por seu rosto
novamente, e ela as afastou com impaciência.
Sentou-se em um canto, limpando a palha que estava em cima dela.
Gigue havia se virado de novo e enfiava a cabeça para fora do
compartimento, relinchando cada vez mais vigorosamente. Josie olhou para
seu vestido. Se alguém a visse naquela situação, ela teria que dar
explicações dolorosas. E se essas explicações acontecessem, ela não teria
escolha a não ser se casar com Thurman. Era uma perspectiva sombria, uma
situação que parecia sem esperança.
Um segundo depois, Josie estava subindo a escada do palheiro. Era um
espaço enorme e aberto que se estendia acima de todas as barracas. Palha
dourada amontoada em grandes garfadas no chão. Ela estaria segura ali até
que pudesse encontrar o caminho de casa mais tarde.
Se ela não tivesse contado a Mayne antes, é claro, porque a voz ouvida
agora certamente era a de Mayne. Ela se ajoelhou perto do buraco e tentou
olhar discretamente para baixo e para os lados, mas tudo o que conseguia
ver era a pele trêmula de Gigue. Mayne estava falando com ela em sua voz
profunda, e para o horror de Josie, o mero som de sua voz enviou um
calafrio por seu corpo.
A última coisa que ela queria era nutrir sentimentos ternos por Mayne!
Ele estava tão longe, tão fora de seu alcance, que era como se ele fosse o
próprio deus Apolo. Além disso, este homem maravilhoso estava
apaixonado por outra mulher.
Josie deitou-se no chão para ver melhor pelo buraco. Sim, era Mayne.
Vê-lo foi reconfortante. Era realmente admirável, com aquela elegância
descuidada que deve ter demorado tanto para conseguir, perfeito, refinado.
Seu cabelo caía sobre a testa em um cacho elegante. De sua posição, ela só
conseguia ver as costas dele, enquanto ele acariciava Gigue. Seu casaco
estava caído sobre os ombros, impecável, sem rugas.
Que contraste com ela! Suas roupas estavam rasgadas e manchadas; ela
tinha sido apalpada por um homem nojento. Ela certamente teria ficado
muito satisfeita em ver Mayne naquele estado, porque mesmo sujo e
esfarrapado ele ainda conseguia parecer bonito, arrebatador. Enrugado.
Empoeirado. Talvez vestido com trapos. Um sorriso malicioso iluminou seu
rosto. Ela gostaria de poder vê-lo com uma simples tanga! Ou sem ela!
Mas, logo percebeu que o medo e a repulsa estavam fazendo com que
ficasse louca. Ela estava delirando. Embaixo, as costas de Mayne se
curvaram. Ele estava se curvando.
— Ela não está aqui—, disse ele—. Droga, gostaria que Griselda não
tivesse sucumbido ao calor—, Mayne deveria ter ido para os estábulos para
encontrá-la. E, Josie soube imediatamente que Mayne estava acompanhado
por Sylvie. Não havia dúvida, era bem evidente a mudança no tom da voz
do homem quando sua noiva estava por perto.
— Ela tem dentes muito grandes—, Sylvie estava dizendo—. E eles são
tão amarelos.
— Não para um cavalo—. Mayne respondeu.
— Você deve providenciar para que um de seus rapazes lave os dentes.
Tenho certeza de que ela ficaria mais confortável.
Mayne nem riu, o que Josie interpretou como um sinal de sua paixão.
Ela podia apenas vislumbrar a parte superior do turbante de Sylvie. Era tão
atraente quanto a própria Sylvie.
— Sylvie...— Mayne estava dizendo, e havia algo no tom de sua voz
que fez Josie engolir em seco—. Você é tão bonita. Você sabe disso, não é
mesmo?
Se Sylvie não tivesse uma compreensão precisa de seu próprio valor,
Josie comeria seu chapéu. Não que ela tivesse um chapéu, pois ela perdera
o chapéu assim com sua bolsa.
— Obrigada—. disse Sylvie, sem o menor traço do prazer que Josie
teria sentido com aquele elogio.
— Não consigo me conter perto de você—. disse Mayne. Embora fosse
realmente Garret falando, não Mayne. Era o homem carente, um homem
apaixonado. Uma lágrima rolou pelo rosto de Josie e ela distraidamente a
enxugou. Tudo o que ela podia ver era o canto de seu ombro agora, mas ele
estava estendendo a mão, puxando Sylvie para ele.
Josie estremeceu. Se ele a puxasse para seus braços, ela iria - cairia nos
braços de Mayne como uma árvore derrubada por uma tempestade elétrica.
Sylvie era um tipo diferente. Gelo onde Josie seria o fogo—. Mayne, eu
não acho que este é um momento adequado para...
Ele mergulhou. Josie prendeu a respiração. Isso é o que ele faria, é
claro. Ele envolveria Sylvie em seus braços, e ela se derreteria contra ele,
exatamente como aconteciam com todas as heroínas dos romances de
Minerva.
Então Sylvie voltou a seu campo de visão.
Sua voz estava mais fria que um domingo de fevereiro na Quaresma—.
Como você ousa! Como se atreve a me atacar dessa maneira, Lorde
Mayne?!
Beije-a de novo, pensou Josie. Ela quer ser seduzida. Você foi muito
rápido. Ou ela é muito tímida.
— Parece que devemos esclarecer a nossa relação—. Afirmou Sylvie,
com a voz fria—. Eu nunca deverei ser abordada, ou atacada, de qualquer
forma.
“É porque ela é francesa”, Josie pensou. Uma inglesa nunca poderia
resistir a Mayne. Oh Deus, se ele falasse com ela com metade do desejo que
ele derrama em suas palavra para Sylvie, ela ... ela ...
— Gosto de você e certamente concederei seus direitos conjugais.
Josie ofegou instintivamente e, em seguida, colocou a mão sobre a boca.
— Você está me escutando? — Sylvie perguntou impaciente—. Quero
ter certeza que você me entende, Mayne. Sei que você morou na Inglaterra
e absorveu alguns costumes lamentáveis daqui. Mas devo pedir-lhe que me
dê toda consideração que daria a sua própria mãe.
— Minha mãe? — disse Mayne, finalmente.
O coração de Josie afundou. Ele não tinha mais aquela nota líquida de
felicidade em sua voz.
— Claro! — Sylvie respondeu—. Certamente, não preciso dizer que as
mulheres mais importantes da sua vida, aquelas que merecem mais respeito,
são sua mãe e sua esposa. Ora! Esta conversa é bastante tola, não é?
— Eu acho que é extremamente interessante. Na verdade, muito
instrutiva para mim.
— Não acredito nem por um momento que você trataria sua mãe com
nada menos que o mais delicado e filial respeito. Ela é uma santa irmã da
Igreja, não é? Não consigo entender por que você deveria me tratar com
menos cortesia.
— Minha mãe de fato se retirou para um convento—, disse Mayne—.
Mas você, Sylvie, não é freira.
— Eu mereço exatamente a mesma cortesia—, disse Sylvie—. A falta
de decoro levou à queda da monarquia francesa.
— Eu não tive a intenção de ser rude com você, nem tenho a intenção
de derrubar qualquer monarquia.
Houve um momento de silêncio e então Sylvie falou meticulosamente.
— Acho esse assunto um tanto desagradável, mas sempre acreditei que
é melhor ser muito clara em questões como essas.
Josie estava segurando a borda da abertura do palheiro com tanta força
que seus dedos estavam brancos.
— Eu concordo—. disse Mayne.
Claro, ela não deveria estar ouvindo. Ninguém deveria ouvir isso,
porque Sylvie estava explicando, com seu fascinante sotaque francês, que
não gostaria, por incrível que pudesse parecer, que Mayne pensasse em
tocá-la toda vez que tivesse vontade. Além disso, talvez preferia concordar
com um programa amigável de ...
Josie teve que morder o lábio. Ela não sabia se ria ou gritava. Annabel
ia morrer de rir quando descobrisse sobre uma coisa tão extraordinária.
Embora talvez sua irmã nunca descobrisse, porque, é claro, ela não
pretendia revelar que havia feito uma coisa tão grosseira como ouvir uma
conversa particular daquela natureza. Ela se afastou um pouco mais e
alguns fios de feno caíram nas costas de Gigue.
— Sylvie—, disse Mayne, interrompendo o sermão—. Ouça-me, minha
querida, você simplesmente não entende como são as coisas entre um
homem e uma mulher.
— Eu garanto a você ...— Sylvie respondeu. De onde estava, Josie só
podia ver a curva da bochecha de Mayne enquanto segurava o rosto de
Sylvie com as mãos. Seus dedos eram longos e fortes. Ele se inclinou para
Sylvie e Josie quase engasgou. Ela viu seu rosto. Ele tinha os cílios mais
longos que ela já vira em um homem. Ela sabia, tinha visto de perto ...
Josie não ficou surpresa por Sylvie estar em silêncio nos braços de
Mayne. Sentiu seus olhos queimarem novamente e, naquele momento, ela
se sentiu culpada por estar observando, espionando. Apesar de tudo, eles
pareciam tão apaixonados, tão lindos juntos. Mayne convenceria Sylvie que
ela deveria beijá-lo e, depois de anos, eles iriam rir, rodeados pelos filhos,
da relutância ingênua da garota.
Josie fechou os olhos com força para não ver aquela cabeça inclinada de
homem, a ternura de seus dedos, a paixão e a força com que seus ombros se
inclinavam para Sylvie. Ela nunca seria uma mulher como a francesa, uma
dama adorada por um homem como Mayne. As lágrimas deslizaram
calorosamente entre os dedos que cobriram seu rosto. Ela era diferente, o
tipo de mulher que um homem acreditava poder tocar impunemente. Ela era
o tipo de mulher que acabava atrás dos estábulos, empurrada contra as
vigas, enquanto Sylvie, a delicada, a bela Sylvie, era adorada por Mayne.
Seu corpo vibrou, estremeceu com os soluços, mas silenciosamente, ela
não deixou escapar nenhum som. Ela cobriu a boca com as mãos,
determinada a não se revelar.
Toda a euforia que sentiu ao ver o rosto manchado de estrume de
Thurman estava desaparecendo. Como voltaria para casa? Como ela
poderia suportar ...
Seus olhos se arregalaram.
A bofetada assustou Gigue também, que chutou a parede em protesto.
Capítulo 24
Do Conde de Hellgate,
Capítulo dezenove
Não conheço nenhum nome melhor para isso do que a indomável rainha
das Amazonas de Shakespeare, Hipólita. De luto, porque a adorável Flor
de Ervilha voou de volta para seu pequeno ninho, ela caminhava pelas ruas
de Londres, sem saber onde estava. Naquele mesmo dia, visitei Hampton
Court e, embora estivesse exausto de tristeza, estava na quadra de tênis do
rei Henrique VIII e joguei três boas partidas com um certo cavalheiro que
conheço ...

— É muito desconcertante trazer uma mulher para minha casa—. disse


Darlington enquanto a carruagem de aluguel diminuía o ritmo até parar.
Ele não poderia estar tão desconcertado quanto Griselda. Depois de uma
vida inteira de comportamento apropriado, ela estava jogando toda a cautela
para o alto e realmente entrando na casa de um cavalheiro? E ainda...
Ela olhou para o corpo forte e magro de Darlington e sua beleza
inquietante. Ela estava indo para a casa dele. Iria pensar sobre decoro,
cônjuges e outros tópicos desagradáveis amanhã.
— Nem todos os jovens solteiros estão acostumados a trazer mulheres
para suas casas? — ela perguntou, afastando a sensação que ela era como
uma daquelas mulheres, que eram contratadas.
— Acho que não. Minha mãe me visita ocasionalmente, mas ela envia
um lacaio para me buscar até sua carruagem, em vez de entrar na casa
sozinha.
— Por que ela não entra? Ou solicita que você a visite? — Griselda
perguntou.
— Você conheceu a duquesa?
— Fomos apresentadas.
Darlington sorriu para ela. — Então você sabe que minha mãe é
encantadoramente indecisa.
— Temo não a conhecer bem o suficiente para fazer esse julgamento.
— Meu pai ordenou que a família toda me evitasse a qualquer custo,
pelo menos até que eu fizesse um casamento decente.
— Que ... que ...— Mas ela não sabia bem o que dizer, então não
completou a frase.
Darlington permaneceu impassível, falando como se falasse de um
assunto estrangeiro.
— Minha mãe me ama, então ela vem me visitar, contornando
habilmente a ordem de meu pai, sem ignorá-la completamente. Ele sabe,
mas fecha os olhos.
— Tenho certeza que você é um problema para ele.
— Meu pai já perdeu a esperança de me ver no caminho certo.
A porta da carruagem se abriu.
Darlington morava em uma pequena casa em Portman Square. Griselda
não sabia o que encontrar. Provavelmente um apartamento. Afinal, ele era o
terceiro filho de um duque e, como se sabia, sem um tostão. Mas, na
realidade, era uma casinha charmosa, com um arco elaboradamente
entalhado sobre uma porta de nogueira preta. Não era tão grande quanto sua
própria casa, mas era mais agradável.
Quando terminaram de percorrer o caminho, um homem de certa idade,
com olhar severo, abriu a porta e fez uma reverência rígida.
— Obrigado, Clarke—. disse Darlington, pegando a capa de Griselda
para entregá-la ao mordomo.
A mulher estava se sentindo cada vez mais confusa. Rapazes solteiros
tinham mordomo?
— Tomaremos chá em meu escritório—. disse Darlington a Clarke.
Os rapazes solteiros serviam chá às mulheres que entravam em suas
casas com motivos menos respeitáveis? Parecia que sim, pois ela se viu
caminhando calmamente na frente de Darlington, como se estivesse se
preparando para o chá na mansão de uma duquesa.
As paredes do escritório de Darlington eram pintadas de vermelho
escuro. Não havia fotos à vista, pela simples razão de que todas as paredes
estavam cobertas de livros, de cima a baixo. O queixo de Griselda caiu.
Claro que ela tinha visto livros muitas vezes. Rafe tinha um número
considerável de volumes em seu escritório, embora nunca o tivesse visto ler
nenhum. E certamente havia livros em sua própria casa. Mas aqui eles
cobriam as paredes e havia muitos deles no chão. Eles ocupavam a grande
escrivaninha e estavam espalhados ou empilhados nas poltronas.
— Imagino que você seja um grande leitor? — ela perguntou.
— É uma das minhas falhas—, disse Darlington.
Griselda passou um dedo enluvado pelas lombadas dos livros mais
próximos a ela. Não eram o tipo de livro que ela esperava. Rafe tinha
fileiras de clássicos em seu escritório, todos encadernados em couro e
datados de alguns centenários, a poeira que os encobria era a indicação.
Darlington tinha fileiras e mais fileiras de ... como dizer? Livros que os
servos leem. Livros que ela lia com um prazer secreto. Livros de bibliotecas
públicas. O tipo que tinha títulos como Nocturnal Revels e Malefactors
’Bloody Register. Livros sobre assassinato. Sua mesa tinha pilhas do
mesmo. Ela pegou um.
— Eu li este—. disse ela, olhando por cima do ombro enquanto abria a
folha de rosto de Love and Madness, de Herbert Croft. — Uma história
comovente. Todas aquelas cartas entre Martha Ray e seu assassino.
— Cross os inventou—, disse Darlington, aproximando-se do ombro
dela.
— Esse não é o ponto, não é? Claro que o autor inventou as cartas. Mas
elas eram muito comoventes.
— Como assim?
Griselda se acomodou em uma cadeira. Ele estava parado muito perto
dela, e isso fez seu pulso disparar—. O argumento de que o assassino - qual
era o nome dele?
— James Hackman.
— Exato! Quando ele estava tentando convencer Martha a deixar seu
amante, o Conde de Sandwich, ele foi extremamente convincente ao dizer
que ela não era propriedade de Sandwich. Claro—, ele acrescentou
apressadamente—, é tudo extremamente escandaloso e ela era uma mulher
perdida.
Darlington se aproximou e se apoiou nas costas da cadeira. Ela o sentiu
pegar uma mecha de seu cabelo—. Mulheres livres—, ele disse
sonhadoramente—. Como as amamos. Claro, Hackman se apaixonou tanto
que passou a odiá-la.
— Você insinua que ele a matou por ódio—, disse Griselda—. Acho que
ele a matou porque não suportava tê-la no mesmo mundo que ele e não no
mesmo quarto ao seu lado. Acho que ele simplesmente não conseguia mais
tolerar a separação deles.
— Você tem uma alma romântica.
— Não. Mas passei muito tempo observando pessoas indiscretas da
sociedade.
— Enquanto você não comete nenhuma.
“Até hoje”, pensou Griselda, mais uma vez surpresa com o seu atual
comportamento. Ela inclinou a cabeça para trás e olhou para ele. Lá estava
ele, como um leão, cem por cento masculino, com aquele rosto magro e
aqueles olhos que pareciam mais velhos, mais experientes do que ele.
— As pessoas fazem coisas absurdas quando estão apaixonadas ... ou
dominadas pela paixão.
— Você está?
— Essa é uma pergunta direta. Não me considero uma mulher estúpida,
é claro.
— Então, não está apaixonada.
Ela quase fechou os olhos, incapaz de suportar sua beleza.
— Certamente não!
— Estou começando a pensar que eu estou.
Griselda piscou para ele.
— Você está...
— Apaixonado. Por você. E, não precisa temer que eu pegue uma arma
e aponte para o seu coração, como Hackman fez.
— Acho que você é tão louco quanto Hackman—. disse Griselda. Ele se
inclinou sobre a cadeira e seu cabelo caiu sobre a testa. Ela não pôde evitar
e alcançou o rosto de seu amante.
— Você sabe como era Martha? — Ele perguntou.
— Não.
— Ela não era como você. Fazia parte do demimonde, o reino das
concubinas toleradas. Ela era a amante reconhecida de um conde. Além
disso, tinha uma covinha em seu queixo.
— Eu não tenho.
Ele colocou o dedo em seu queixo.
— Não, você não tem. É um queixo pequeno e perfeitamente redondo.
Vocês são tão diferentes, além do mais Martha tinha cabelo escuro.
Griselda não conseguiu conter um sorriso. Era estranho e excitante
pensar que o cavalheiro à sua frente sabia muito bem que ela era uma loira
natural ... porque seu cabelo era daquele tom por todo o seu corpo.
Diz-se que ela tinha olhos brilhantes e sorridentes e uma expressão
calorosa e aberta.
— Quem disse isso? — Griselda perguntou.
— The Westminster Magazine. Em sua edição de abril de 1779.
— Como você pode...?
— Você acreditaria em mim se eu dissesse que já fui um estudioso?
— Nem por um momento—. Griselda respondeu, sorrindo para ele. Ela
conhecia os estudiosos. O próprio irmão de Rafe era, e além disso,
professor em Cambridge—. Você consegue ler o aramaico antigo?
— O que é isso?
— Acho que é a língua em que a Bíblia foi escrita—, explicou Griselda.
— Tive um tipo de criação muito original, o que me leva a crer que a
Bíblia foi escrita por um inglês, no idioma de um inglês—. Ele soltou seus
cabelos e já estava naturalmente deslizando a mão por seu braço quando a
porta se abriu e o mordomo entrou com a bandeja de chá.
— É estranho estar servindo chá para você—, Griselda disse alguns
segundos depois, segurando a chaleira—. Parece que sou uma tia solteirona
que veio fazer uma visita—. Eles estavam sentados um em frente ao outro e
ela estava derramando a infusão com uma graça primorosa.
Darlington riu.
— Você não se parece com nenhuma das tias solteironas que eu conheço
—, disse com uma expressão de lobo.
Ela se sentiu corar.
— Eu sou muito mais velha que você, de qualquer forma—. Ela
colocou açúcar na xícara do jovem e entregou a ele—. Realmente, eu sinto
que minha idade torna tudo isso extremamente inapropriado e, ao mesmo
tempo, não tenho certeza por que, muito apropriado. Afinal, estou muito
velha para entrar em um relacionamento selvagem.
— Com um homem mais jovem—, acrescentou ele, olhando para ela
com olhos divertidos por cima da xícara de chá.
— Odeio pensar no que as pessoas diriam de mim—. Foi um alívio ter
dito isso, liberando a vergonha misteriosa e silenciosa que esses
pensamentos produziram nela.
— Suponho que diriam que você está desesperada.
Ela torceu o nariz.
— Que desagradável.
— Desesperada por beleza, não por apetites menos confessionais.
Griselda pôs a xícara de chá na mesa um tanto rudemente.
— Isso só piora as coisas.
— Oh, acredite em mim, eu poderia piorar as coisas—, disse Darlington
—. Isso se parece muito com Martha e Hackman, você sabe. Por exemplo,
ele era muito mais jovem do que ela.
— Estou começando a pensar que terei que fugir desta casa para salvar
minha vida—. disse Griselda, tentando trazer a conversa de volta ao reino
da pura piada.
— Ela era sete anos mais velha que ele—. Darlington continuou,
colocando a xícara de lado.
Se ele tentasse descobrir a idade dela com esses comentários,
certamente não contaria. Na verdade, seria melhor se ela fosse embora. De
repente, o ímpeto exuberante que a encorajou a ir para a casa do jovem se
foi.
— É surpreendente que você saiba tanto sobre aquele antigo caso de
homicídio—. disse Griselda.
— Eu conheço algumas histórias antigas e curiosas—, explicou ele,
aparentemente sem notar o leve calafrio na voz da mulher—. Mas diga-me,
Griselda, o que é mais surpreendente para você no romance entre Hackman
e Martha? Que ele fosse mais jovem ou que ele a matou?
— Os homicídios são alarmantemente comuns—, observou Griselda—.
Acho a diferença de idade mais impressionante.
Havia um sorriso malicioso no canto dos lábios de Darlington que a fez
pegar um bolo de limão para controlar sua inquietação, embora ela não
tivesse nenhuma fome.
— Então, para você, a diferença de idade entre eles seria o aspecto mais
interessante do caso?
— Podemos conversar sobre outra coisa? — Ela perguntou—. Eu
realmente acho que já dissemos tudo o que há a dizer sobre o assunto.
— É claro. Eu gostaria de mostrar a você a minha casa—. Darlington
disse, levantando-se quando sua visitante o fez.
Griselda já havia decidido que não subiria. Na verdade, até alguns
momentos antes ela tivera ideias malucas, mas as dominara completamente
e, agora que estava no controle de si mesma, recuperou o bom senso.
— É realmente sua casa? Tenho certeza de que alguém me disse que
você não tinha um centavo. Devo pensar que você mora aqui às custas de
seu pai?
Ele a pegou pelo braço.
— Você recuperou sua compostura, não é?
— Garanto a você, não sei do que você está falando. Esta sala é
encantadora—, disse Griselda, parando na soleira de uma pequena sala de
jantar. A mobília era excelente, em sua maioria feita de peças antigas muito
confortáveis de nogueira preta. Ela acenou com a mão para o papel de
parede, que era de cor ouro pálido, pontilhado com pequenos pássaros. A
decoração era masculina e charmosa ao mesmo tempo—. Sua mãe
escolheu?
— Não, minha irmã Betsy.
— Oh, claro—. Darlington abriu a porta para uma pequena sala de estar.
Então Griselda reagiu—. Mas não há irmã Betsy! Seu pai tem três filhos.
Ele olhou para ela sorrindo.
— Devo pensar que você procurou meu nome no Debrett, antes de
dormir comigo, quero dizer. Certamente toda dama que se preze tenta
descobrir mais sobre as árvores genealógicas de seus companheiros de
cama, antes de ir para o hotel.
— Senhor, você é um conversador terrível—, Griselda repreendeu-o
asperamente—. Deve estar acostumado a dizer tudo o que vem à mente?
— Sou conhecido como uma péssima companhia, justamente por isso
—. Confirmou.
— Então quem é Betsy?
— Não há nenhuma Betsy.
Ela se virou para olhá-lo e viu que ele estava encostado no batente da
porta, olhando para ela da maneira curiosamente intensa que era tão
característica dele.
— Eu já lhe disse. A única mulher que entrou em minha casa foi minha
mãe, e muito raramente.
— Então...
— Eu escolhi o papel pessoalmente. Estou acostumado a cuidar de mim.
E eu acho que você também, não é? Quem se importa com você, Lady
Griselda? Eu entendo que sua mãe leva uma vida muito reclusa, certo?
— Não preciso que ninguém cuide de mim. Mas se preciso de algo, meu
irmão está sempre por perto, e isso é o bastante.
— Mayne?
— Ele é o único irmão que tenho e, ao contrário de Betsy, ele existe.
— Mayne não me parece uma pessoa particularmente afetuosa.
Os olhos de Griselda se estreitaram. Ninguém insultava seu irmão
daquele jeito na presença dela ... exceto, é claro, que eles estavam falando
sobre adultério.
— Ele sempre cuidou de mim. E, agora eu realmente devo ir—. disse
em uma voz muito seca.
— Você não viu o último andar ainda.
— Isso seria muito impróprio.
— Mais uma razão—, disse ele—. Eu acredito, Lady Griselda, que você
precisa de alguém para cuidar de você.
Dois segundos depois, ele a abraçou, como se ela fosse a heroína frívola
de um romance barato, prestes a perder a consciência.
— Você está fazendo disso um hábito—. Protestou Griselda, sem se
esforçar para se libertar, pois seria deselegante.
— Espero que sim—. Ele assegurou, conduzindo-a escada acima.
— Seu mordomo pode nos ver?
— Eu disse a ele para ir para casa. Ele não é realmente um mordomo.
Não mora aqui.
— Se ele não é mordomo, então, o que é? — A mulher perguntou,
lutando para manter um tom indiferente. Tinha um cheiro estranho, como
especiarias, que para ela tinha um certo efeito narcótico.
— Ele foi acusado de assassinato—, relatou Darlington—. Mas ele não
fez isso, garanto a você. É inocente.
Griselda abriu a boca, mas então eles estavam no quarto de Darlington e
de repente ela percebeu que ... que ...
— Não vale a pena reclamar ou protestar—. disse ele.
— Você pode me colocar no chão? — disse Griselda com dignidade.
— Contanto que você prometa não se virar e descer as escadas
correndo.
— Eu nunca corro.
Ele a colocou no chão, mas no momento em que seus pés tocaram o
chão, Darlington segurou seu rosto com as duas mãos e a beijou. Um
momento atrás eles estavam conversando, e agora o jovem agarrou sua boca
com uma espécie de desespero selvagem que nada tinha a ver com a
conversa leve sobre mordomos e assassinato. Porque aquela história do
suspeito de assassinato deve ter sido uma piada, Griselda pensou
fracamente. Mas em um instante todos os pensamentos se dissolveram e
uma espécie de névoa deliciosa desceu sobre sua mente. A única coisa que
importava para ela agora era o gosto deste homem, seu cheiro, a carícia
quente de seu hálito.
Sua criada levava pelo menos quinze minutos para despir Lady Griselda
Willoughby. Quinze segundos foram suficientes para Darlington. Os
ganchos pareciam desaparecer entre seus dedos enquanto ele continuava a
beijá-la o tempo todo, sensual e apaixonadamente, de forma que ela não
conseguia parar para pensar no que estava acontecendo. Era como se
Griselda perdesse sua parte "dama" com cada pedaço dela que caía ao chão.
Quando ele tirou sua camisa, ela se sentiu tão selvagem quanto a mais
depravada das concubinas. Seu cabelo caiu solto sobre os ombros e ela
sentiu tudo menos uma tia solteirona. Ela era tão devotada que nem
percebeu o tremor dos dedos do jovem ao tocá-la. Ou a maneira como
Darlington ficava parado, festejando, quando era ela quem o tocava. O
homem engasgou, seus olhos escurecidos.
— Deus, você é linda—. Disse ele.
Griselda sentiu-se linda.
Capítulo 25
Do Conde de Hellgate,
Capítulo dezenove
Ela parecia uma escultura e se comportava como se fosse uma das infelizes
esposas do rei Henrique. Tão grande é a minha fraqueza, que embora eu
tivesse prometido evitar todo contato com o belo sexo e estivesse passando
pelos dias negros do luto ...

Josie desceu cerca de meia hora depois que Mayne e Sylvie foram embora.
Ela tinha encontrado um saco de cereal, que pendurou sobre os ombros para
que o rasgo no vestido não aparecesse. O plano era esperar por um dos
cavalariços de Mayne e pedir-lhes que a encaminhasse para uma saída nos
fundos, então fugir e encontrar uma carruagem para alugar.
Ela desceu o mais rápido que pôde e se escondeu em um canto da baia
de Gigue, onde não poderia ser vista do corredor. As pessoas ainda estavam
andando por lá, embora as corridas já tivessem acabado. Esperou até que
finalmente os ruídos dos caminhantes parassem. Se pôs de pé. Ela estava
tremendo, vencida pela exaustão, medo e angústia. Sua mente estava
girando em círculos frenéticos. Pensamentos infelizes dançavam
descontroladamente.
Até que finalmente ouviu passos se aproximando e parando na frente da
baia. Deveria ser um dos cavalariços de Mayne. Gigue estava curvando o
pescoço e esfregando o nariz no cocho, como se esperasse que a comida
tivesse magicamente chegado lá desde a última vez que cheirou. Josie tinha
uma opinião muito baixa sobre a inteligência de Gigue.
Finalmente, a figura atarracada do cavalariço de Mayne, Billy, abriu a
porta do compartimento de Gigue.
— Boa tarde—, ela o cumprimentou o mais silenciosamente possível,
para não assustá-lo. Mas ele pulou de qualquer maneira—. Eu devo estar
com uma aparência horrível—. Ela comentou, tentando abrir um sorriso.
— Sim, senhorita—, respondeu o homem, piscando ao olhar para ela—.
Pelo amor de Deus, o que aconteceu com você?
Josie mordeu o lábio para não tremer novamente.
— Eu gostaria que você me alugasse uma carruagem—, disse ele—, por
favor. E então me acompanhe até lá. Devo ir para casa.
Os olhos do funcionário voavam de cima para baixo, do rosto até a
ponta do vestido. Ele pareceu parar no saco de estopa marrom agarrado em
seus ombros.
— Eu sei que estou horrível. Por favor me ajude a chegar em casa. Terei
prazer em recompensá-lo generosamente por isso.
— Eu não preciso que você me pague nada. Sente-se, senhorita. Dá a
impressão de estar prestes a cair. Vou encontrar uma carruagem, mas vai
demorar um pouco, pois há muito movimento esta noite.
Josie olhou para o chão coberto de palha. Esse homem estava certo, ela
deveria sentar. Estava muito cansada.
— Você não acha que se eu sentar aqui alguém poderia ver meus
joelhos do corredor? Eu não quero ser vista.
— Não se vê nada. Vou pegar mais alguns sacos da baia ao lado e
colocá-los sobre os seus joelhos, e nada mais será visto.
Felizmente, Josie deslizou para se sentar no canto, e um segundo depois
Billy colocou vários sacos de aniagem em volta dela. Eles cheiravam a
grãos. Ela abriu os olhos, que estavam um pouco lacrimejantes.
— Você não deu esse grão para os cavalos, não é? Cheira a verde.
Ele olhou para ela, carrancudo estranhamente.
— Você está certa sobre isso, senhorita. Tínhamos três sacos que foram
descartados por serem muito verdes.
Josie fechou os olhos novamente.
Quando Mayne apareceu na porta, ela estava dormindo. Ele ficou
parado por um segundo, olhando para ela e sentindo uma onda de raiva
como nunca havia experimentado antes. Billy estava certo. Mesmo olhando
para ela à distância, ele poderia dizer que Josie havia sido estuprada. Seu
rosto estava branco e listrado de lágrimas. Seu cabelo caía sobre os ombros
e seu vestido estava rasgado e salpicado de lama marrom, como se ela
tivesse sido jogada no chão, como se ela tivesse resistido. Mayne se viu
ofegante de tanta raiva.
Billy estava ao lado dele.
— Você tem que levá-la para casa—. disse.
O comentário o tirou de sua paralisia.
Ele abriu a porta e entrou na baia, agachando-se ao lado dela. Todo o
cabelo lindo caiu para o lado. O vestido estava rasgado. Ele podia ver um
pouco de seu ombro branco-creme através do tecido. E seu vestido estava
coberto de manchas marrons de lama. Ela deve ter passado por uma
experiência terrível. Ele puxou a capa dos ombros e colocou-a para que
ninguém a reconhecesse quando a carregasse para fora, e então com um
único movimento, ele a ergueu e se levantou.
Num momento ele a estava segurando, e no seguinte ela o acertou com
tanta força no olho que ele a deixou cair sem cerimônia.
— É sua senhoria—. Ela ouviu Billy dizer.
Mas com o único olho que ainda estava aberto, Mayne estava olhando
para o vestido de Josie, que foi literalmente rasgado nas costas. Ele quase
vomitou. — Como isso aconteceu com você? — ele disse roucamente, sua
voz saindo com o rosnado de um cachorro. — Quem?
— Eu sinto muito—, disse ela—. Você colocou aquela capa sobre meus
olhos e eu pensei ...
— Quem?
— Eu... eu...— Seus olhos se encheram de lágrimas. Billy puxou a capa
sobre os ombros dela e empurrou-a suavemente para o lado da baia ao som
de passos.
— Melhor conversar mais tarde—. disse ele a Mayne.
Mas Mayne achava que ele não conseguia falar. Ele tinha acabado de
perceber que havia sangue nas saias de Josie.
Não muito, mas o suficiente. O mundo literalmente escureceu na frente
dele, e ele balançou por um momento. Ele não achava que poderia fazer
nada. Então ele desviou os olhos e forçou seu estômago a se acalmar.
— Mayne? — Josie disse um tanto incerta—. Você poderia me levar
para casa? Sylvie está esperando por você?
Ele se virou—. Coloque a capa sobre sua cabeça—, ele ordenou. Ela
cobriu-se obedientemente.
— Não há ninguém no corredor—. Relatou Billy.
Mayne não respirou até que eles estivessem em sua carruagem. Mesmo
lá, ele não conseguiu encontrar outra palavra além de uma.
— Quem?
Josie estava encolhida em um canto. Ela parecia uma garota de quatorze
anos. Mayne sentiu sua garganta fechar novamente. Ela não deu sinais de
querer responder.
— Oh Deus—, disse ele lentamente—. Não ... foi mais que um?
Ela balançou a cabeça e, naquele momento, Mayne viu uma lágrima
escorrer por seu rosto.
Ele se ajoelhou ao lado da garota e segurou suas mãos. Elas estavam
molhadas de lágrimas, frias, delicadas.
— Apenas me diga o nome, Josie. Eu vou cuidar de você.
“... e dele”, ela disse a si mesma em silêncio.
Ela balançou a cabeça novamente.
— Eu não vou me casar com ele.
— Claro que não! — As palavras estavam engasgando em sua garganta.
Ele estava prestes a dizer a ela que quem quer que fosse o homem, ele não
estaria vivo para considerar um possível casamento, mas se conteve.
— Se eu disser quem ele é, terei que me casar com ele—, Josie
sussurrou, liberando uma das mãos para enxugar as lágrimas que
inundavam seu rosto. — Não posso.
— Os mortos não se casam.
Um pequeno sorriso tremeu em seus lábios.
— E você vai comer o coração dele no mercado?
Mayne se sentou e voltou ao seu lugar, puxando-a para seu colo. Era
tudo muito inapropriado, mas ela havia sido estuprada e estava citando
Shakespeare. Isso era tão adequado com Josie que seu coração inchou.
— Beatrice gostaria de ter sido um homem; Eu sou aquele homem—,
ele disse, falando para o ar—. Vou matá-lo primeiro e depois nos
preocuparemos com o destino de seus órgãos.
Ela se encostou nele e chorou.
— Prefiro que ninguém saiba, nem mesmo você, Mayne.
Mayne ficou imóvel e parou de embalá-la. Ela havia passado por uma
experiência terrível—. Você precisa me dizer o nome dele.
— Matar é uma pena muito dura—, disse ela—. Terei que pensar sobre
isso—. E isso foi o máximo que ela disse, exceto que, no meio de seu
discurso, ela começou a chorar, então ele fechou a boca e pensou na morte
com óleo fervente.
Quando chegaram à casa de Tess, ele a carregou para dentro. O
mordomo deu uma olhada em seu olho que inchava rapidamente e abriu a
boca para dizer algo, mas Mayne o empurrou. Um segundo depois, ele
colocou Josie no chão, e ela correu para a irmã. A capa caiu e ele encontrou
os olhos de Felton por cima das mulheres que abraçavam Josie.
Josie estava chorando de novo e Tess estava dizendo coisas frenéticas e
incoerentes e traçando as costas de Josie com as mãos trêmulas.
Felton estava ao lado dele em um passo, seus olhos tão frios como os de
uma víbora. — Quem? — perguntou.
Mayne balançou a cabeça—. Ela não quis me dizer. Não foi...— ele
disse com dificuldade — mais de um. Eu a encontrei nos estábulos.
Felton olhou por cima do ombro. Tess puxou Josie para o sofá e falava
rápido, em voz baixa—. Como ela se separou de você?
— Eu não sei. Griselda desmaiou e saiu de cena. Josie estava logo atrás
de mim, e então ela não estava mais. Procuramos em todos os lugares;
Sylvie e eu até fomos aos estábulos.
Josie estava balançando a cabeça.
— Ela nunca vai contar—, disse Mayne. — Ela tem medo que a
façamos casar com ele—. Lucius Felton se moveu repentinamente e Mayne
leu o movimento—. Ela não entende isso—. Havia uma cumplicidade de
assassinato em seus olhares.
— Tess vai descobrir quem fez isso—. disse Lucius.
— Como você sabe?
— Eu sou casado com ela.
Mayne concordou com a cabeça—. Vou para casa buscar Griselda—.
Juntas, Tess e Griselda cuidariam de Josie. Se isso fosse possível.
Capítulo 26
Do Conde de Hellgate,
Capítulo dezenove
Antes de recuperar o bom senso, caro leitor, a bela Hipólita - fico
envergonhado em dizê-lo - tinha-me amarrado à parede com uns ganchos
engenhosos e com as fitas dos seus cabelos. Você vai me criticar por não
quebrar esses laços frágeis, mas imagino que qualquer homem que
encontrar essas palavras entenderá minha hesitação. Porque ele não podia
ferir seus sentimentos, e imediatamente começou a realizar tais atividades
diabólicas ...

Pela quarta vez, Griselda disse que precisava ir embora. Ela não queria. O
problema era Darlington. Como ele ousava olhar para ela com aquela
expressão extasiada, como se ele achasse o que ela dizia - não importa o
quão fútil seja - loucamente interessante? E como ele ousa fazer um lençol
parecer tão elegante?
— Imagine se todas as suas amigas pudessem te ver agora!
Ela estremeceu com o pensamento—. Nem mencione isso—. Ela
implorou.
Uma sombra cruzou seus olhos—. Não é tão ruim, é?
Ela rolou para o lado também, e então se apoiou em um cotovelo, de
modo que ficaram um de frente para o outro. O lençol escorregou até a
cintura, deixando um peito largo e ombros mais largos, cabelos loiros
despenteados e aquelas maçãs do rosto arrogantes. Cada centímetro de sua
antiga linhagem falava nas maçãs do rosto.
— Você parece um doce de açúcar—, disse Darlington—. Eu poderia
comer você no café da manhã e em todas as refeições depois disso.
Griselda riu e seu cabelo deslizou sobre o peito. Parecia perversamente
decadente deitada na cama com o lençol na cintura, os seios desnudos, ou
mesmo ... apenas ali. E seus olhos os devorando.
— Como você pode suportar ser tão bonita? Eu acho que seria como
Narciso e me admiraria o dia todo.
— Você também é adorável. — disse ela, memorizando seu rosto.
Ele encolheu os ombros. — O melhor para comprar uma esposa para
mim, suponho.
— Você tem alguém em mente?
— Eu não consigo pensar em um assunto tão assustador quando tenho
você comigo.
— Que tal a Senhorita Mary Parish? — Ela perguntou.
— Aquela garota com espinhas?
— Muito poucas, e elas não vão durar mais do que um ano.
Ele balançou sua cabeça.
— Não.
— Você não deveria se concentrar tanto na beleza física—. Ela estendeu
a mão e traçou uma trilha através dos músculos de seu peito. A pele de
Darlington parecia muito quente e ligeiramente áspera por causa do cabelo
—. Lady Cecily Severy é filha de um duque, você não se importa?
— E como é a sua terceira temporada (ou já é a quarta?), não pode ser
muito exigente ou simplesmente recusar um terceiro filho sem um tostão—.
Acrescentou ele.
A viúva ouviu o leve tom de sarcasmo em sua voz e estendeu a mão
para acariciá-la suavemente.
— Você tem muito a oferecer.
— Na verdade, não. Tenho um certo gênio para fazer frases engraçadas,
mas quando fico com raiva, sou um verdadeiro bastardo. Tenho poucas
habilidades, graças à crença equivocada de meu pai que eu entraria para a
Igreja. Ele ficou obcecado por esta estranha ideia, quando havia muitos
indícios que apontavam o contrário.
— Você deve manter um certo padrão de vida—. disse Griselda,
sorrindo para ele.
Mas ele não sorriu de volta.
— Depois que meu pai se acostumou com a ideia de que a Igreja não
era para mim, ele começou a levar para casa listas de debutantes. Moças de
boas famílias, com um ótimo dote. Claro, elas não poderiam ser da melhor
qualidade, porque do contrário elas nunca concordariam em se casar com
alguém como eu. Meu pai encontrou um equilíbrio difícil: ele teve que
encontrar uma garota com dinheiro, cujos pais ficaram tão deslumbrados
com o parentesco de genro com o duque de Bedrock que esqueceram sua
pobreza, sua falta de habilidades e sua desesperança inútil.
Griselda levou a mão à boca.
— O pequeno pastor de ovelhas—. Ele sussurrou.
Os olhos de Darlington escureceram, provavelmente cheios de
autodesprezo.
— Aquela pobre garota acabou sem um parceiro por uma temporada
inteira.
— Mas ela teve um casamento feliz no ano passado—. disse Griselda.
— Claro, ela não teria sido feliz no casamento comigo, mesmo se o pai
dela e o meu tivessem tudo perfeitamente resolvido.
Griselda estava olhando para ele.
— Você não estava apenas procurando sucesso social com suas frases
espirituosas. Acima de tudo, você estava se livrando das escolhas que seu
pai fez. Acho que Josie teve o azar de chamar sua atenção.
— Uma escolha perfeita, do seu ponto de vista. O berço da Senhorita
Essex é impecável. Seu dote também era conhecido por ser bastante grande.
Ao mesmo tempo, ela não tinha pai e tinha a reputação de não ser
exatamente perfeita do ponto de vista da beleza física. Ela era o tipo de
jovem que poderia me aceitar sem questionar.
— Seu pai não poderia ter dito tudo isso!
— Bem, ele disse.
— Ainda assim, você nunca deveria ter dito que Josie era um Salsicha
Escocessa. Nunca.
— Estou lhe dizendo apenas para que você me despreze tanto quanto eu
me desprezo—, disse ele, com a voz neutra—. Arruinei a vida de várias
meninas, entre elas sua pupila, simplesmente para que meu pai não pudesse
promovê-las como noivas adequadas para mim.
Não adiantava fingir.
— Isso foi muito cruel—. Fatal. Griselda falou em tom de grande
reprovação—, Embora seja compreensível—, ela hesitou—. Mas você
nunca mais vai fazer isso, agora está pensando em se casar, não é mesmo?
— Casar com uma debutante?
— Sim.
— Não o farei.
— Mas eu pensei ...
— Eu mudei de ideia. Recentemente.
O coração de Griselda batia cada vez mais rápido, à medida que as
perguntas que ela queria fazer se acumulavam. Por que ... Por que ... Por
que ... Mas ele não disse nada. Essas dúvidas, na verdade, não eram da
conta dela ...
— Você não quer me fazer nenhuma pergunta?
Ele continuou inclinado na frente dela, olhando para ela como uma
sinfonia dourada de músculos e cabelos sedosos.
Absolutamente não.
— Gostaria de falar sobre suas futuras núpcias? — disse ela, sentindo
uma curva de sorriso em seus lábios que era tão velha quanto a própria
Cleópatra—. Eu não. Mas posso pensar em algumas perguntas muito
importantes ... Vou fazer essas perguntas?
Ele estava sorrindo para ela através do cabelo sobre os olhos, então ela
o afastou.
— Primeira pergunta—, ela disse—, e preste muita atenção, por favor.
O que você mais gosta nessa parte do meu corpo?
A resposta de Darlington envolveu uma demonstração de atrito e física
... e de alguma forma ela nunca chegou à sua segunda pergunta.
Capítulo 27
Do Conde de Hellgate,
Capítulo dezenove.
Ela tirou minha roupa, caro leitor, enquanto eu permanecia transfigurado,
silencioso como um bloco de mármore que ainda não foi beijado pela vida.
Como posso dizer isso sem me sentir oprimido pelo rubor? Eu permiti que
ela fizesse o que quisesse comigo. Se quisesse me chamar para o seu lado
no meio de uma dança, eu viria. E se lhe daria o prazer de me pedir para
tirar minhas roupas, mesmo no meio da mais alta sociedade, nos salões do
Almack, caro leitor, desmaio ao escrever estas palavras, eu ... Minha caneta
cai dos meus dedos desesperados ...

Griselda não estava em casa. No início, Mayne apenas olhou para o


mordomo, que o informou que sua irmã estava nas corridas. Ela não estava
nas corridas! Ela foi para casa horas atrás com Darlington ... ela se sentiu
tonta ... Darlington tinha...
Darlington.
Mas, só para ter certeza, ele levou sua carruagem até a pequena casa de
Griselda na cidade, por mais que ela não morasse lá há dois anos, desde que
concordou em agir como acompanhante das garotas Essex. Estava escuro e
completamente silencioso.
Então ele se sentou em sua carruagem, ignorando o fato de que seu
cocheiro estava esperando para ser informado para onde ir. E, sentiu como
se o mundo tivesse desabado sobre seus ombros.
Sua irmã estava tendo um caso.
Sua noiva acabara de devolver o anel em termos inequívocos. Na
verdade, ele não tinha mais noiva. Sylvie se foi.
E a pequena Josie havia sido violada.
Ele sentia-se completamente vazio. Destes três eventos, o único que
realmente importou foi o último.
Griselda ... bem, ele supôs que dificilmente castigaria alguém por ter
casos. Deus sabe, ele tinha mais do que podia contar.
Ele amava Sylvie. Mas ele era realmente capaz de amar alguém?
Provavelmente não. Porque ele se sentiria mais angustiado com a rejeição
dela, se fosse esse o caso.
Mas, Josie. Josie. Lágrimas quase surgiram em seus olhos. Ele piscou
com força e gritou com seu cocheiro.
— Vamos—. Mayne gritou para Wiggles.
— Onde? — Wiggles devolveu.
— Felton—. As ideias ficaram repentinamente claras para ele. Josie foi
estuprada. Era a ruína de sua vida. Ela até poderia estar carregando um filho
desde aquele acontecimento.
A menos que ele se casasse com ela.
Claro, Mayne sabia que era a pior oferta para a jovem, maculado como
estava por sua reputação de libertino e infeliz por ter a alma cansada de um
homem depravado. Mas era melhor que nada, e se ela não quisesse se casar
com o pai de seu filho, poderia se casar com ele como o mal menor.
Sentado na carruagem, a sólida coerência daquela solução repentina foi
afirmada na alma de Mayne. Pela primeira vez em sua vida miserável e
egoísta, alguém precisava dele.
Uma ou duas ruas depois, ele gritou com o cocheiro e inverteu o curso
da carruagem em direção ao palácio do bispo, onde morava seu tio. Ele já
havia feito uma certidão de casamento para Mayne uma vez. Mas, desta
vez, Felton arrancou-a de suas mãos e se casou com Tess.
Agora, por outro lado, não havia ninguém se oferecendo para se casar
com Josie. Ela havia se tornado motivo de chacota na sociedade elegante e
não seria mais uma boa candidata ao casamento, independentemente do
tamanho de seu dote.
O que as mulheres fazem com um filho nascido de uma união como a
que ela suportou?
Mas, ele não conseguia imaginar tão longe. Cada vez que ele pensava
no que havia acontecido com Josie, uma nuvem negra cobria seus olhos e
ele começava a suar. Não demorou muito para notar, um momento depois,
que seus punhos estavam cerrados furiosamente e que ele respirava
pesadamente.
Ali, na escuridão da carruagem que descia a St. James Street, Mayne
jurou para si mesmo - Ele se casaria com Josie e então encontraria aquele
bastardo, quem quer que ele fosse, e o mataria.
Lentamente.
Foi a primeira vez que ele sorriu em horas.
Capítulo 28
Do Conde de Hellgate,
Capítulo vinte
Ela era minha rainha, minha amada e minha agonia. Eu teria feito
qualquer coisa por ela, até mesmo colocado minha vida aos pés dela.
Lentamente, nossos relacionamentos mudaram. Ela se tornou cada vez
menos autoritária e mais amorosa.
Em vez de ordenar que eu a acariciasse, agora era ela quem me
acariciava. Leitor...

— Você sabe do que eu mais gosto nessa história? — Annabel perguntou.


Ela estava sentada no banco do quarto de Tess, o cabelo caindo sobre os
ombros, exatamente como quando recebeu o aviso de Tess—. Eu adoro o
fato de que sua boca estava aberta quando você jogou todo aquele estrume
nele.
— Eu teria jogado a pá, não apenas o estrume, na cara dele—, afirmou
Tess com severidade.
Josie acabara de tomar um banho quente com aroma de jasmim. Aos
poucos começou a ter a sensação de que o pesadelo era coisa do passado.
Afinal, ninguém a tinha visto, Mayne cuidou disso.
— Mayne me levou direto para sua carruagem—, disse ela, mesmo
sabendo que estava se repetindo—. Depois de tê-lo jogado no chão com
aquele soco!
— Pobre Mayne—, disse Tess, pensativa. — Parece que a vida dele se
entrelaça curiosamente com a nossa, como se fosse nossa propriedade.
Primeiro, eu ia me casar com ele, embora você, Annabel, também quisesse
esse privilégio. Imogen certamente nunca quis se casar com ele—. Ela
estava sentada na beira da cama, seu cabelo puxado para frente e penteado
de forma que sua voz emergisse, um tanto abafada, por trás de uma catarata
de cabelo castanho.
Josie podia sentir que Annabel estava olhando para ela. Ela fingiu estar
apertando o cinto de seu roupão.
Tess continuou, alheia a qualquer coisa além de suas palavras.
— E acho que Josie nunca expressou esse desejo, embora ela se dê
muito bem com ele. Josie, você não disse expressamente que não aceitaria
um homem com mais de 25 anos?
A sala ficou em silêncio. A jovem corou. Os olhos de Annabel se
estreitaram.
Enquanto isso, Tess continuou suas divagações, escovando os cabelos.
— Não consigo imaginar nenhuma mulher que não queira se casar com
Mayne. Fiquei muito feliz em fazer isso. Ele é magnífico ...
— Um tanto cansado, porém—, disse Annabel.
— Mas, com uma grande fortuna.
— Não tanto quanto a do seu marido.
— Puxa! — Tess exclamou, jogando todo o cabelo para o lado e
esticando-o depois. Seu rosto também ficou vermelho. — Lucius seria o
primeiro a dizer que possui muito mais propriedades do que pode usufruir.
— Eu aplaudiria seu sonho, se você deseja isso—, Annabel disse a Josie
—, mas tem o desagradável problema de sua noiva.
— O que! — Uivou Tess. Ela se virou para Josie. Estamos...
— Claro que não! — Josie reagiu—. Podemos falar sobre um assunto
mais razoável?
— Bem, eu não entendo exatamente como você acabou andando
sozinha com aquele jovem desprezível. Onde estava Griselda?
Annabel olhou para ela com uma sobrancelha franzida.
— Isso é irrelevante. Embora você possa não ter percebido que Josie
tem todos os sintomas de estar apaixonada por Mayne, eu sim, não sou tão
distraída quanto você.
— Não é verdade! — Josie respondeu com veemência.
Tess largou a escova de cabelo.
— Apesar do quanto você me acusa de ser distraída, Annabel, eu acho
que você é singularmente obtusa. Mayne tem uma noiva. Além disso, ele é
louco por Sylvie. Se nossa Josie ficou um pouco animada com ele (e quem
não ficaria, considerando seus atributos), seria melhor não prosseguir neste
tópico. Ele vai se casar com Sylvie.
— Bem, quanto a isso ...— Josie disse.
As cabeças de suas irmãs giraram em sua direção.
— Não! — Exclamou Annabel.
Josie não pôde deixar de sorrir—. Ela deu um tapa nele.
— Deu um tapa nele? — Tess ecoou—. Sylvie? Sylvie de la Broderie
deu um tapa em Mayne?
— O que diabos ele fez? — Annabel disse—. Tenho certeza que ele
mereceu.
— Ele não fez nada! — Josie disse—. Ele não...
— Como você sabe? — Perguntou Tess.
— Eu ouvir.
— Você estava escutando!
— Claro que ela estava bisbilhotando—. disse Annabel, exasperada—.
Você está começando a parecer como uma velha fofoqueira, Tess. Você está
me dizendo que sairia na ponta dos pés se por um acaso presenciasse uma
cena em que Mayne estivesse sendo esbofeteado e ... você está dizendo que
ela rompeu definitivamente o noivado, Josie?
Josie confirmou silenciosamente.
— Fascinante! — Exclamou Annabel.
— Mas talvez eu não deva contar os detalhes para Tess já que ela
desaprova o meu comportamento—. Sugeriu Josie.
Tess revirou os olhos—. O que está feito, está feito. Fique à vontade
para contar todos os detalhes.
— Ele a beijou—. disse Josie.
Annabel franziu a testa—. E?
— E, ela deu um tapa nele.
— Foi só isso? Um beijo e ela decide que prefere não ser uma
condessa? Você deve ter perdido alguma coisa, Josie.
— O que você está sugerindo? — Perguntou Tess.
— Talvez ele tenha tocado em seus seios—. Annabel disse com alguma
satisfação—. Francamente, não consigo imaginar Sylvie gostando de ser
agarrada e coisas do tipo.
— Ele não fez isso—, disse Josie—. Ele nunca faria algo assim.
— Oh, você sabe do que estamos falando ...
— Não, eu também não faria algo assim! — Josie interrompeu. A mera
sugestão de tal contato a fez pensar em Thurman e na maneira como ele
apalpou seu peito, como um animal tentando agarrar sua presa com as
garras.
Annabel olhou para ela com atenção. Ela leu sua mente.
— Mais uma razão pela qual Thurman merecia aquela pá cheia de
estrume e muito mais.
— Ele apalpou você? — Perguntou Tess.
Josie torceu o nariz.
— Não foi tão terrível. Apenas ...
— Sim, foi terrível, você não pode negar—. disse Annabel—. Existem
razões pelas quais uma jovem deve ficar com suas damas de companhia,
você sabe disso.
— Parece que foi uma tarde extremamente pecaminosa—. Observou
Tess—. Onde diabos Mayne conseguiu beijar Sylvie para que você pudesse
vê-los?
— Estávamos nos estábulos—, admitiu Josie—. Mas eles não podiam
me ver.
— O que ela disse depois de esbofeteá-lo? — Annabel perguntou—.
Sempre tive vontade de dar um tapa em algum homem por ser impertinente
em me beijar, mas de alguma forma sempre me esquecia.
— Bem, Mayne a beijou, e então houve um estalo terrível quando ela
deu um tapa nele.
— E então? — Tess disse, obviamente fascinada pela história, muito
para si mesma.
— Talvez eu não devesse ...
— Diga ou vamos arrancar suas tripas—. Annabel ameaçou.
— Vocês não podem contar a seus maridos—. Advertiu Josie.
Ambas concordaram.
— Bem, Mayne disse algo como “Sylvie, que tipo de jogo você está
jogando?” Sua pergunta pode ter incluído um palavrão, mas não tenho ter
certeza. — Explicou Josie—. Fiquei muito surpresa, como você pode
imaginar.
— Sim, sim—, disse Annabel, acenando com a mão—. E o que Sylvie
disse?
Sylvie respondeu, e disso eu tenho certeza: — Quando eu decidir ser
maltratada por um canard, saberei a quem me dirigir, Mayne. Eu pensei que
você tinha deixado sua vida degenerada para trás ... mas obviamente não,
você quer me arrastar para a lama com você.
Josie terminou com um gesto dramático.
— Canard? — Annabel repetiu. — Isso em francês significa "pato",
certo?
— Bem, talvez não tenha sido essa a palavra que ela usou, porque tenho
certeza que ela não quis dizer “pato” —, continuou Josie—. Ela ficou
realmente muito violenta. Ou melhor, não tão violenta quanto enojada. Isso
era mais claro do que água. Eu estava tremendo.
— Não quero ser vulgar—, interrompeu Tess—, mas talvez Mayne
esteja com mau hálito. É algo frequente, causada por alguma doença
dentária, pelo que entendi. Lady Dayton me disse ...
— Ele não tem mau hálito—. Josie a assegurou com firmeza.
— É um problema dentário—. Tess começou a explicar, mas Annabel a
silenciou com um gesto.
— Josephine Essex—, disse Annabel—, só há uma maneira de saber
com certeza como é a respiração dele, você quer nos dizer quando e como
Mayne beijou você?
Depois de um segundo de silêncio, Josie confessou.
— Foi só um beijo.
— Um beijo? — Suas irmãs disseram em coro.
— Nem mesmo um beijo de verdade. Foi só um beijo para me ensinar a
andar bem.
— O que? — Tess exclamou.
— E, você gostou?
Josie corou como nunca antes em toda a sua vida.
— Não muito—. disse—. Afinal, foi apenas um beijo—. Ela tentou
encolher os ombros, fingindo indiferença. Não queria admitir que tinha
sonhado com aquele beijo todas as noites, sem perder nenhuma.
— Só um beijo—. disse Tess—. Você sabe o que é mais interessante
sobre isso, Annabel? Mayne me beijou uma vez.
Josie transferiu sua carranca para a irmã mais velha.
— Eu não gostei e acredito que ele também. Compartilhamos um beijo
extremamente morno quando decidimos nos casar, e eu me lembro
claramente de ter pensado que toda essa conversa sobre beijos deve ser
superestimada, já que não foi nada especial.
— Não como os beijos de Lucius, hmmm? — Annabel disse
maliciosamente.
— Silêncio. E por acaso eu sei que Mayne beijou Imogen também.
Josie engoliu em seco. Aparentemente, ela era apenas a última de uma
longa linhagem de mulheres de Essex que Mayne havia agraciado com suas
atenções.
— Ela também não gostou. Na verdade, ao ouvi-la contar a história,
Mayne a beijou apenas para que pudesse convencê-la de que não havia
motivo para eles terem um caso, já que não havia desejo entre eles.
— E agora temos uma terceira mulher, Sylvie, que acha os beijos de
Mayne desagradáveis—. Completou Annabel—. Pobre Mayne! Ele
realmente deve ser deficiente nessa área.
— Isso é um absurdo! — Josie disse calorosamente. — Ele ... Ele ...—
Ela parou.
— Ele o quê?
— Pare de brincadeiras—. disse Tess a Annabel—. Se Josie gostou do
beijo de Mayne, melhor para ela, mas se você pensar bem, o homem
realmente sofreu um longo rastro de decepções. Ele não se apaixonou por
Lady Godwin antes de ela o rejeitar?
— Apaixonado por Lady Godwin? Mayne? — Annabel repetiu—. Acho
que não. Acho que ele está apaixonado por Sylvie, e é uma pena para ele.
Josie mordeu o lábio—. Eu sei que ele está apaixonado por Sylvie. Ele
mesmo me disse.
— Antes ou depois de ele beijar você? — Annabel perguntou.
— Antes e depois. Ele queria ter certeza de que eu não levaria o ...
aquilo ... muito a sério.
— Não foi generoso da parte dele? — Annabel perguntou—. Esse
homem merece uma humilhação maior do que qualquer cavalheiro de quem
ouvi falar recentemente. Como ele ousa avisar que está apaixonado por
outra mulher e depois beijar você?
— Ele estava apenas tentando ajudar—. disse Josie—. E, ele foi
humilhado, Annabel. Ele perdeu Sylvie.
— Ela vai voltar para ele?
— Acho que não. É difícil de explicar, mas ela estava realmente
revoltada. Eu podia ouvir em sua voz.
— Pobre Mayne—. disse Tess.
— Vamos estudar a situação—. Annabel disse rapidamente—. Nós
sabemos de quatro mulheres que não gostaram dos beijos dele: Lady
Godwin, Tess, Annabel e agora, Sylvie. Mas, sabemos de alguém que
gostou.
Josie sentiu seu rubor ficar mais quente—. Você está misturando as
coisas e isso não faz nenhum sentido.
— Tem tudo a ver com isso—, disse Annabel—. Se você deseja se casar
com ele, então suas irmãs são as únicas que podem garantir que isso
aconteça.
— Você está maluca? — Josie gritou—. Eu não posso me casar com
Mayne. É uma loucura até dizer isso em voz alta. Eu sou jovem e ele... e, eu
sou... eu sou gorda.
— Você não é gorda! — rebateu Tess—. Estou cansada de ouvir isso e
estou cansada de ver em seus olhos que você está pensando isso. Você é
linda. Os últimos dias não lhe ensinaram nada? Por que você acha que o
asqueroso Thurman roubou seus beijos? Porque você é linda, e desde que
desistiu do espartilho de linguiça, os homens estão babando por você. E, se
você acha que Mayne não percebeu isso, você está louca. Eu mesmo o vi
olhando para você.
— Absurdo. Mayne não me pediria em casamento em um milhão de
anos.
— Por que não?
— Eu fiz um estudo sobre casamento. Você sabe disso. Cataloguei todos
os romances publicados pela Minerva Press nos últimos anos. Os homens
pedem às mulheres que se casem com eles, pelo que posso ver, porque eles
são atingidos pela reverência, por sua beleza delicada. Ou porque são de
alguma forma forçados ao casamento por um ardil. Mayne não mostra
nenhum interesse pela minha beleza delicada, mesmo que eu a tivesse, e as
artimanhas não são tão fáceis de usar como se poderia pensar.
— O que você quer dizer com ardil? — Annabel perguntou, parecendo
interessada.
— Um truque. Um estratagema. A palavra cobre uma infinidade de
pecados—, disse Josie—. Todo casamento que não acontece de forma
convencional. Seu casamento, por exemplo. Você se casou devido a um
escândalo.
— E o meu também, suponho—. Acrescentou Tess—. A forma com que
me casei com Lucius, depois que ele se envolveu em um estratagema para
tirar Mayne do caminho.
— O segundo casamento de Imogen foi convencional...
— De certa forma—. disse Annabel, rindo.
— Mas o primeiro aconteceu devido a um estratagema.
— As evidências parecem ter um peso forte a favor de tais estratégias
—. Ressaltou Tess—. Sugiro que abordemos Mayne e a questão do
casamento com isso em mente.
— É mais fácil falar do que fazer—, disse Josie—. Os truques são todos
muito bons se a garota em questão for deliciosa quanto vocês duas. Mas
eu...
— Pare com isso! — disse Tess—. Eu concordo com Annabel. Se você
quiser Mayne, e Deus sabe, você é a única que parece desejá-lo, então você
o terá, de uma forma ou de outra.
— Eu não tive a intenção de encorajá-lo—. disse Josie, sentindo-se
alarmada—. Na verdade, eu não gostaria de me casar de uma maneira tão
ruim. O fato de seu casamento ser bom não significa que o resultado final
será sempre tão favorável. Eu odiaria correr esse risco.
— Mesmo se fosse para se casar com Mayne? — Annabel perguntou,
com interesse.
Josie abriu a boca e hesitou.
— Nosso caminho está livre—. disse Annabel para sua irmã.
— Não—. disse Josie em desespero—. Não!
— Observe-nos—. disse Annabel.
Capítulo 29
Do Conde de Hellgate,
Capítulo vinte
Caro leitor, você já me conhece tão bem quanto eu me conheço. E tenho
certeza de que você entende que, à medida que sua paixão por mim crescia,
a minha estava desaparecendo. Depois de um curto período de tempo, não
era mais seu amante fiel e ... ah, querida Hipólita, me perdoe. As tormentas
de nossos primeiros relacionamentos foram tantas que eu não poderia ser
feliz no paraíso que mais tarde você me ofereceu.

Smiley passou os últimos vinte anos empregado como mordomo do Sr.


Felton na cidade (um esclarecimento necessário, parecia-lhe, para se
distinguir dos próprios três mordomos do Sr. Felton, todos os quais
governavam o serviço de residências localizadas, infelizmente para eles, nas
profundezas do campo). Ele estava acostumado a uma vida tranquila.
Depois que seu patrão se casou, a residência ficou mais ativa e animada,
disso não havia dúvida. Mas a patroa era tão calma quanto o marido, por
isso as coisas quase não mudaram. Eles nunca ficavam acordados até tarde.
Mas naquela noite! Já eram dez horas da noite, e Smiley estava ciente
de que uma leve sensação de ressentimento estava começando a tomar
conta dele. Primeiro, o conde de Mayne trouxe a jovem senhorita Essex
para dentro de casa. Então o conde de Ardmore e sua esposa chegaram. Eles
faziam parte da família, é claro, mas Smiley estava convencido de que a
família deveria ocupar seu lugar sem invadir o espaço de outras pessoas.
Era hora de se retirar para sua salinha aconchegante, onde a Sra. Smiley
teria um balde de água quente pronto para seus pés, como sempre. Grande
foi o esforço que eles tiveram que fazer o dia todo, andando de um lado
para o outro, a maior parte do tempo em pisos de mármore duro.
Nem um pingo de seus pensamentos apareceu em seu rosto quando ele
abriu a porta da frente novamente. — Vossa senhoria—, disse ele,
curvando-se para o conde de Mayne.
— Smiley—, disse o conde—. Você poderia fazer a gentileza de
anunciar minha chegada e a de meu tio, o bispo de Rochester?
Smiley pegou o sobretudo com muitas capas do conde e a capa de
veludo do bispo e os conduziu para uma sala de estar. De repente, seus pés
não doeram tanto quanto antes. Será que sua casa estava prestes a ter uma
festa de casamento?
Que outra razão poderia haver para tirar um bispo da cama? Smiley
abriu a porta do escritório no momento em que o conde de Ardmore dizia
algo sobre beijos.
— O conde de Mayne e o bispo de Rochester—. Smiley anunciou com
alguma satisfação. Então era tudo sobre beijos, hein? Em sua experiência,
havia beijos e beijos. O tipo de beijo que levava um bispo a aparecer em
uma residência tão tarde sem dúvida tinha a ver com um passo em falso ...
Ele moveu-se para a direita da porta, e lá ficou, transformado em uma
verdadeira estátua de mármore. Como era de se esperar, o conde de Mayne
começou a falar sem esperar que ele partisse.
— Eu trouxe meu tio comigo ...
— Muito contra a minha vontade—. Interrompeu o bispo, jogando-se
no sofá como se fosse uma marionete sem fio.
— Só existe uma solução para este desastre.
— Há...— O bispo manteve o que estava prestes a dizer quando seu
sobrinho lançou-lhe um olhar de sério aviso.
Smiley teria fechado a boca para aqueles olhos raivosos também. O
conde normalmente imaculado parecia um louco desalinhado esta noite. Era
até assustador. Quem passasse por ele à noite, no porto, tentaria se desviar
de seu caminho. Seu cabelo não estava, como sempre, uma bagunça
estudada, mas simplesmente jogado para trás, como se ele o tivesse
empurrado com um gesto apressado da mão. Seu rosto estava sombreado
pela barba e havia círculos negros ao redor dos olhos.
Mas foi a posição de sua mandíbula e ombros o que realmente chamou a
atenção de Smiley. Mayne parecia um homem determinado a matar, em vez
de se casar.
No entanto, era um casamento. Porque Mayne estava explicando que o
bispo viera para casá-lo com a senhorita Essex. E nenhum protesto o fez
mudar de opinião, nem mesmo as objeções do prelado, que insistia que ele
só realizava casamentos entre oito da manhã e o meio-dia.
Mas, ouvindo isso, Mayne apenas se virou e olhou para ele com aqueles
olhos escuros, que poderiam muito bem ser o próprio Belzebu.
— Eu sugiro que você finja que o sol está brilhando alto—. disse ele
calmamente. Smiley, ainda de pé na porta aberta, mesmo assim ouviu cada
palavra—. Do contrário, serei forçado a contar para minha mãe.
— Ah, a sua mãe—. disse o bispo, engasgado.
Por acaso, Smiley sabia quem era a mãe do conde de Mayne. Ela era a
abadessa de um dos poucos conventos restantes na Inglaterra, e era bem
sabido que ela era uma mulher poderosa, possuindo milhares de hectares de
magníficos jardins e tendo acesso privado à Rainha.
A coisa mais sensata a fazer agora era ligar para a Sra. Felton. Afinal, o
Sr. Felton não fez muito mais do que ficar ali parado, balançando nos
calcanhares, com aquele seu sorrisinho tranquilo. Tal atitude permitiu a
Smiley deduzir que o mestre pensava que o casamento não era uma ideia
tão ruim. O conde de Ardmore ficou pasmo, surpreso. Os escoceses sempre
demoravam um pouco para descobrir as coisas, pensou Smiley.
Ele retirou-se para o corredor e mandou um criado buscar a criada da
governanta, Gussie. Seus olhos se arregalaram quando ouviu sua mensagem
clara. Dois segundos depois, a Sra. Felton e sua irmã, a condessa de
Ardmore, desceram as escadas voando em meio a sedas agitadas.
Smiley abriu a porta do escritório novamente. A Sra. Felton não era tão
distraída quanto o marido e, percebendo sua presença, sorriu para ele de
uma forma que lhe disse claramente que ele deveria se retirar.
Um bom mordomo sabe muito bem que deve obedecer a todas as
ordens, mas principalmente às silenciosas.
A porta estofada se fechou, fazendo barulho atrás dele.
Capítulo 30
Do Conde de Hellgate,
Capítulo vinte e um
A hora do casamento chegou. Fiquei forte para enfrentar o fim de minhas
atividades amorosas. De agora em diante, ficarei confinado apenas ao
quarto de minha esposa. Pelo menos foi o que eu disse a mim mesmo.

— Se você puder chamar Josie—, Mayne repetia, tentando se controlar e


falar com um pouco de calma—, meu tio fará essa cerimônia e tudo estará
acabado.
— Mas, Mayne—, disse Tess—, embora minha irmã e eu sem dúvida
apreciemos sua galanteria, você não está noivo de Sylvie de la Broderie?
A mandíbula de Mayne apertou.
— Mademoiselle de la Broderie mudou de ideia. Hoje, algumas horas
atrás—. Ele esclareceu.
— Eu duvido que Mayne ofereceria sua mão se ele ainda estivesse
noivo de outra mulher—, Felton interrompeu—. Mas, eu me pergunto se
esse sacrifício é necessário.
— É—. Mayne retrucou. Droga, eles não falaram com Josie? Eles não
tinham visto o estado em que ela estava e o estado de suas roupas? Ele não
queria falar com ninguém sobre os detalhes do que acontecera com Josie.
Nunca.
— Nós realmente apreciamos você ter vindo para resgatar Josie—, disse
Annabel, olhando docemente para Mayne—. Ela precisa, com efeito, de
alguém para resgatá-la. Mas entenda que será difícil permitir que um
homem se aproxime depois de uma experiência tão devastadora.
Finalmente apareceu alguém que apreciou a gravidade da situação.
— Ótimo—, disse Mayne—. Então teremos que perguntar a ela. Você
poderia pedir a Josie para descer ... ou eu subo para buscá-la.
— Tem certeza de que não quer consertar as coisas com Sylvie? —
Perguntou Tess.
— Ela me devolveu o anel—. explicou Mayne, observando que havia
um sotaque gelado em sua voz.
— Tive a impressão de que você estava profundamente apaixonado pela
senhorita Broderie—, Tess insistiu—. Um cavalheiro em tal situação pode
muito bem resistir a um pequeno desentendimento e recuperar a estima de
sua senhora na noite seguinte.
— Mesmo se eu não fosse me casar com Josie—, Mayne disse
impaciente—, eu não tenho o menor interesse em perseguir Sylvie de la
Broderie como um cãozinho domesticado. O que aconteceu foi entre nós
dois, e basta dizer que Sylvie decidiu que não sou do seu agrado. Meus
sentimentos sobre o assunto são bastante irrelevantes.
— Mas, estes fatos são relevantes porque afinal você está se casando
com nossa irmã—. disse Tess.
Os lábios de Mayne se contraíram e ele quase rosnou para ela.
Annabel deu um passo à frente e colocou a mão no braço de Mayne. —
Perdoe a ansiedade de Tess—, ela murmurou—. Ela não quis dizer que você
se casaria com Josie se ainda gostasse da Senhorita Broderie.
— Eu não faria uma coisa dessas—. Mayne retrucou.
Annabel sorriu para ele—. É uma tão gentil de sua parte se oferecer
para se casar com Josie desta forma... Quase cavalheiresco, na verdade.
Mayne não conseguia nem pensar no que dizer diante de tanta idiotice.
Como ela poderia se comportar de forma tão superficial quando uma coisa
tão terrível tinha acabado de acontecer com sua irmã? Sua mandíbula
apertou antes que ele pudesse dizer a ela exatamente o que pensava de seu
rosto sorridente e idiota.
Em vez disso, ele se curvou, virou-se e abriu a porta. Eles eram todos
um bando de fracos, sentados e falando sobre amor e honra quando Josie
tinha sido estuprada. Por que, eles deveriam estar nas ruas em busca do
autor deste ultraje. Deveriam estar segurando a mão de Josie enquanto ela
chorava.
Josie não estava chorando.
Ela saiu pela porta de um quarto no momento em que ele alcançou o
topo da escada. Ele parou instantaneamente.
— Josie—. O que foi uma coisa estúpida de se dizer, mas sua mente
parecia ter afundada em um pântano. Ela parecia pálida, mas composta e
muito bonita. Ela era tão bonita que a ideia de alguém a tocando o atingia
como um verdadeiro soco. Mesmo olhar para ela o fazia se sentir meio
louco.
— Estou aqui para casar com você—. Não deveria colocar dessa forma,
Mayne pensou. Ele estava olhando para a pele da garota, seu pescoço,
procurando possíveis hematomas. Porque ele faria o bastardo pagar por seu
crime, hematoma por hematoma ... antes de matá-lo, é claro.
— Para casar comigo? — Ela ficou mais pálida, embora parecesse
impossível.
Mayne pigarreou. Josie pode não ter pensado totalmente nas
consequências do que aconteceu. Por exemplo, em um possível filho.
Embora certamente mulheres ...
— Por que você quer se casar comigo? A menos que minha irmã ...
você falou com Annabel?
Ele olhou para ela, carrancudo.
— O que diabos Annabel tem a ver com isso? Você precisa de um
marido. Eu pretendo me casar com você. Meu tio está aqui e ele fará isso
esta noite.
Ela continuou olhando para ele, petrificada. Então ele passou a mão
pelos cabelos.
— Olha—, ele rosnou—, eu sei que não sou o melhor partido do
mundo. Sylvie acabou de me deixar. A verdade é que sou uma mercadoria
bastante danificada, se você quer que eu lhe diga a verdade—. Um segundo
depois, ele estava se xingando. Como ele poderia trazer à tona ‘estar
danificado" na frente de uma mulher que acabara de ser estuprada?
Mas ela não começou a chorar, como temia. Ela continuou a olhar para
ele em silêncio. Ele endireitou os ombros.
— Você precisa se casar, Josie. Você está ... você está arruinada.
— Eu estou? Você tem certeza?
Claro, ela era tão inocente que provavelmente nem sabia o que
significava estar arruinada. Era muito provável que nem tivesse palavras
para descrever o que havia acontecido. Mayne passou a mão pelo cabelo
novamente.
— Sim.
Ela pareceu encolher um pouco. Então seus olhos se estreitaram.
— Minhas irmãs lhe disseram que eu estava arruinada?
— Josie—, disse Mayne—, suas irmãs não precisam confirmar as
circunstâncias. Deve ser extremamente doloroso para você falar sobre tudo
isso.
— Não sou o mesmo tipo de pessoa que Sylvie—, disse ela, depois de
pensar por um momento—. Ela é linda ...— Ela ergueu a mão para detê-lo
quando ele estava prestes a dizer algo—. Se nos casarmos, será porque você
está dominado pelo desejo de me ajudar como um cavaleiro de armadura
brilhante. Mas até muito recentemente você estava pensando em se casar
com Sylvie, porque estava apaixonado por ela. Você mesmo me disse. Você
não gostaria de buscar essa mesma emoção, amor, com outra pessoa, em
outro lugar?
— Não.
— Não serei uma esposa muito boa. Nem uma boa anfitriã. Você é
refinado e muito educado. Não entendo muito bem a alta sociedade e, como
você sabe muito bem, não tenho tido sucesso nisso também.
— Você terá muito sucesso—. Ele insistiu teimosamente—, Se você se
dedicar a isso—. Eles estavam falando sobre coisas que não importavam
nada, em comparação com o que tinha acontecido com ela. Com o que
aconteceu com Josie. Sua Josie—. Em todo caso, terei sorte, pois sou muito
velho para você.
Ela sorriu um pouco com essas palavras e Mayne sentiu um alívio no
coração. Porque ele lia os olhos das mulheres há anos e agora via que Josie,
por mais jovem que fosse, não achava que ele era muito velho. Ele percebeu
isso.
— Nós vamos nos casar agora—. disse ele, pegando a mão dela e se
virando. Ele não esperou para ver se ela dizia sim ou não. Josie ia dizer sim.
Ele nunca teve tanta certeza em sua vida de que havia escolhido o caminho
certo, o único possível.
Eles voltaram para a biblioteca e viram que o tio estava dormindo no
sofá. As irmãs de Josie e seus maridos se viraram para olhar para ele, quase
alarmados, como Mayne notou com certo desdém. Felton estava em seu
papel, é claro. Felton era seu melhor amigo há muitos anos e Mayne
conseguia interpretar todas as suas atitudes, sem se enganar. Houve
aprovação no olhar firme de Felton para sua decisão. Ele, pelo menos,
entendia exatamente por que o casamento deveria acontecer esta noite.
Os outros estavam agindo como idiotas, mas Felton era um homem de
honra que entendia claramente, com sua lógica usual, que Josie estava
totalmente arruinada e precisava de um marido.
Mayne sacudiu o tio até que ele acordou com uma explosão de
palavrões totalmente incompatíveis com um homem em sua condição.
— Se não fosse por sua mãe, eu não faria isso nem pelo próprio rei—.
Rugiu ele.
— Minha mãe ficará muito agradecida—. disse Mayne.
Um momento depois, ele tinha todos onde queria que estivessem. Seu
tio bocejava sobre um livro de orações e se atrapalhou com uma licença
especial. Annabel estava de mãos dadas com o marido e Felton estava ao
lado de Mayne.
— Onde está Griselda? — Tess perguntou de repente—. Oh, Mayne,
você não pode se casar sem a presença de sua irmã. Griselda nunca vai nos
perdoar.
— Ela está ocupada no momento—. disse Mayne—. Vou contar a ela o
que aconteceu.
Ele acenou com a cabeça para seu tio, que obedientemente começou: —
Queridos, estamos reunidos aqui hoje ...
Mayne não ouviu mais nada. Ele apenas olhou para o castanho escuro
do cabelo de sua quase esposa. Enquanto ela estava olhando para suas
mãos.
“Na doença e na saúde.” entoou o bispo. Mayne apertou as mãos de
Josie. Eu vou cuidar de você, ele prometeu silenciosamente. Eu vou
protegê-la, e ninguém sob a grande terra de Deus vai machucar você
novamente.
Após a cerimônia, de repente, Josie olhou para ele. O coração de Mayne
batia violentamente, ele mal sabia o motivo. Ela era terrivelmente bonita, e
já era esposa dele. Seu cabelo escuro estava descuidadamente enrolado na
cabeça e ainda úmido do banho. Sua pele tinha o brilho de pérolas vistas à
luz de velas. Mas Mayne sabia que não era a beleza física que fazia seu
coração disparar.
Era o coração dela, a inteligência e o engenho que tantas vezes usara
contra ele em sua viagem à Escócia. O que aconteceu com ela foi tudo
culpa dele. Ele não apenas a perdeu de vista na corrida, mas também tirou
seu espartilho e a ensinou a beijar. Ela se transformou diante de seus olhos,
e dos olhos da metade masculina de Londres. Era hipnotizante ver aquela
beleza erótica vir à tona.
Foi sua culpa que algum bastardo a estuprasse. As palavras, a dura
verdade disso, o acalmaram.
Ele deveria beijá-la? Não! Depois de sua experiência ... Ele levou a mão
dela aos lábios e a beijou.
Algo cruzou seus olhos. Decepção, talvez, mas não teve tempo de
determinar pois ela imediatamente se voltou para as irmãs. Annabel
gargalhou de alegria. Felton estava ao lado de Mayne, sorrindo.
— Tinha que ser feito—. disse Mayne em voz muito baixa, porque
sentiu uma estranha necessidade de se justificar.
— Por vários motivos—. Lúcio o apoiou, pegando-o pelo braço, em um
gesto totalmente incomum.
— Noite interessante—. disse o conde de Ardmore, contente em se
curvar a Mayne.
— Sim, em alguns aspectos—. disse Mayne. Ele olhou para as
mulheres. Annabel estava rindo de algo que Josie havia dito, rindo tanto
que chegava a tremer. Ele teria que se acostumar com isso: o riso seguia
Josie aonde quer que fosse—. Alguém descobriu quem era o homem em
questão?
O rosto de Lucius congelou instantaneamente—. Josie pode ter
confidenciado a minha esposa. Tess ainda não me disse nada.
Os punhos de Mayne cerraram-se involuntariamente.
— Amanhã então. Devo acompanhar meu tio de volta à sua residência
—. O pobre homem desabou no sofá, de olhos fechados, e Mayne teve que
admitir que não parecia muito bem.
— Seu tio me disse que ele bebeu três garrafas de clarete durante o
jantar—. disse Ardmore em tom suave—. É extraordinário que ainda esteja
de pé. Acho que devo acompanhá-lo, certo?
— De jeito nenhum—. Mayne objetou, e então as palavras secaram em
sua boca. Ambos os homens estavam olhando para ele com olhos
zombeteiros—. Céus, o que eu estava pensando? Por um momento, estive
prestes a me retirar para dormir sem minha esposa.
— Não se preocupe, você se acostuma com o novo status rapidamente
—, informou Ardmore.
— Pena que Rafe não esteja aqui—. Lamentou Lucius.
— Sem dúvida, minha situação teria dado a ele um raro prazer—.
Imaginou Mayne. Ele se virou para sua esposa. Sua esposa! Era possível
que ele realmente tivesse uma esposa?
E, no entanto, havia uma jovem com cabelos castanhos brilhantes,
sobrancelhas bem arqueadas, olhos sorridentes e lábios encantadores, que o
mundo conheceria como a condessa de Mayne. A ideia era tão
impressionante que ele pegou o champanhe e bebeu feliz.
Capítulo 31
Do Conde de Hellgate,
Capítulo vinte e dois
Casamos em uma cerimônia simples, com a presença da minha família e da
sua. Pensei em espalhar a notícia na alta sociedade de que um notório
libertino fora domesticado pelo casamento. Não foi até que estávamos no
silêncio de nosso quarto matrimonial que eu percebi que ...
Ó caro leitor, falhei com minha querida esposa, quando ela mais
precisava de mim.

Annabel não conseguia parar de rir enquanto subia as escadas, falando em


voz baixa e perversa—. Nunca desafie uma das irmãs Essex!
Mas Josie não estava para rir, porque ela estava começando a sentir uma
sensação de pânico profunda e crescente.
Mayne estava lá embaixo.
E, ele havia se casado com ela. Ou, ela se casara com ele, uma coisa não
era igual à outra. Porque ... ela não conseguia pensar sobre o motivo, neste
momento.
Assim que chegaram ao quarto de Tess, Josie virou-se decididamente
para Annabel.
— Tenho uma coisa muito importante para lhe perguntar. Você disse a
Mayne que eu fui estuprada? É isso que ele quer dizer quando insiste que
estou arruinada?
Annabel parou de rir—. Graças a Deus eles não estupraram você.
Quando Josie escapou de seu abraço, ela repetiu a pergunta.
— Mas de onde Mayne tirou a ideia de que eu fui estuprada, Annabel?
— Ela olhou para Tess—. Será que vocês duas lhe disseram isso para que
ele se sentisse obrigado a casar-se comigo?
— Querida, nós nunca faríamos uma coisa dessas—, assegurou Tess,
com toda a autoridade de uma irmã mais velha. — Nunca! Isso seria uma
mentira.
Josie estreitou os olhos—. Então por que ele acha que estou desonrada?
Talvez ele pense que estou arruinada por causa daquele beijo. Mas, eu tinha
a impressão que era preciso muito mais do que um beijo para arruinar a
reputação e a vida de alguém, mesmo de uma jovem.
— Os homens—, disse Annabel—, existem principalmente para
cometer erros. Eles não sabem, mas é assim que é. Parece que Mayne
cometeu um pequeno erro. Ele superestimou o quão desagradável foi sua
experiência. Mas, pense que ele nunca teria se casado com você se ele não
quisesse.
Mas, Josie estava com dificuldade para respirar. O casamento não
poderia ser anulado nessas circunstâncias? Mayne não acharia que tudo não
passara de uma farsa para enganá-lo?
Tess passou o braço em volta do ombro—. Nenhuma de nós se casou de
maneira convencional, Josie. E estamos todos muito felizes.
Mas, Josie estava entrando em pânico total—. Devo ter perdido a
cabeça! Ele realmente pensa - ele acha que fui estuprada. Meu Deus. Eu me
casei sob falsos pretextos.
— Ele ficará em êxtase ao descobrir que não é o caso—. disse Annabel,
obviamente tentando em vão controlar a gravidade da situação.
— Vocês duas são muito irresponsáveis quando se trata de moralidade!
— Josie chorou—. O que eu estava pensando?
— Você estava pensando que queria se casar com Mayne, qual é o nome
de batismo dele? — Annabel perguntou.
— Garret—. disse Josie.
— Aí está! Acho que você é a única mulher além de Griselda que sabe
seu nome. A verdade é que você queria se casar com Garret, e ele queria se
casar com você. E não importa a desculpa que ele deu para realizar seu
desejo.
— Lucius apresentou a desculpa de que Mayne havia me abandonado
—. disse Tess.
— Simplesmente não me parece o mesmo nível de gravidade—. disse
Josie engolindo em seco—. Eu menti, bem, mais ou menos, menti para meu
marido. Para fazer com que ele se casasse comigo.
Annabel deu-lhe um abraço—. Vai ficar tudo bem amanhã de manhã.
Eu prometo.
— Eu tenho que fazer ele se apaixonar por mim. Antes de amanhã de
manhã!
Annabel se sentou na cama. Tess estava enrolada em uma poltrona perto
do fogo, mas Josie não conseguia se acalmar o suficiente para se sentar. Ela
apenas ficou parada no meio da sala, sentindo o pânico rugindo como uma
onda.
— Eu não iria discutir a questão da sua agressão até depois da sua noite
de núpcias—. disse Annabel, após um momento.
— É exatamente isso o que eu preciso saber—, disse Josie com firmeza
—. A noite de núpcias. Eu entendo a mecânica da situação.
— Não há muito mais do que isso—. disse Annabel. Ela estava prestes a
rir novamente.
— Não me subestime—, Josie sibilou—. Eu não sou mais um bebê.
Estou prestes a me casar - não! Acabei de me casar com um homem que
dormiu com muitas mulheres e preciso ... eu preciso...— Ela não conseguia
colocar em palavras o que precisava. Algum truque, algum estratagema
para fazê-lo pensar que ela era uma parceira de cama melhor do que todas
as outras.
Tess sorriu para ela, e não havia zombaria em seus olhos—. Apenas
divirta-se.
— Está certo. Divirta-se—. Afirmou Annabel.
Josie nunca sentiu mais raiva de suas irmãs em sua vida—. Não quero
parecer presunçosa, mas gostaria que vocês fossem mais específicas.
— Há algumas coisas que não podem ser explicadas—. disse Annabel.
Josie se virou para ela—. Explique, de qualquer maneira.
— Use sua imaginação—. Sugeriu Tess.
— Minha imaginação—, disse Josie, atordoada com a enormidade do
que ela não conseguia visualizar—. Onde entra a imaginação nisso? Pelo
que entendi, o homem sobe em cima da esposa e... e faz o que tem que
fazer. Não vejo espaço para imaginação. Pelo que ouvi, é doloroso. A Sra.
Fiddle, na aldeia, disse que pode haver sangue—. Ela fez uma careta.
— Oh, quanto à primeira vez—, disse Tess—, não se preocupe com
isso. Eu quase nem senti.
— Aconteceu exatamente a mesma coisa comigo—. Acrescentou
Annabel, balançando a cabeça—. Uma leve picada e nenhum sangue. Acho
que a Sra. Fiddle foi um pouco exagerada neste assunto.
— Você ainda não entendeu. Parece que você não percebe o que me
espera. Mayne dormiu com as mulheres mais bonitas e sedutoras de
Londres. E eu sou ... o que sou. Eu preciso de algum tipo de técnica
especial—. Ela estava desesperada—. Annabel, você deve saber de alguma
coisa!
Annabel fez uma careta para ela.
— Não existem técnicas especiais. Quer dizer, talvez haja, mas isso é
algo que você precisa descobrir por si mesma. É algo que você deve
descobrir com Mayne.
— Você não deve ter medo—. Interveio Tess.
— Isso é maravilhoso—, Josie retrucou—. Vou enfrentar esse transe às
cegas e você me diz para não ter medo. Diga-me algo que seja útil para
mim, por favor!
— A coisa mais útil que posso dizer é deixar seu marido agradá-la—.
Acrescentou Annabel—. Nunca entendi isso antes de me casar. O que o
deixará louco de prazer é que você sinta a mesma emoção, a mesma alegria
que ele.
Josie se sentou e tentou pensar sobre o que sua irmã estava falando. Ela
duvidava que fosse o suficiente para manter Mayne ao seu lado. Seu marido
havia fugido da cama de muitas, muitas mulheres, todas elas, sem dúvida,
inundadas de prazer.
— Eu queria que Griselda estivesse aqui—. Lamentou Annabel. — Ela
certamente conhece todos os detalhes que você precisa saber, mas acho que
Mayne nunca conseguiu manter um relacionamento com nenhuma mulher
por mais de uma semana. Ou, duas? Tess, você sabe?
Tess fez um gesto de desagrado. Ela odiava esse tipo de fofoca tanto
quanto Annabel.
— Se não estou enganada, acho que no máximo uma semana.
— Isso mesmo, Josie—, Annabel continuou—. Tudo o que você precisa
fazer é manter seu marido em sua cama por mais de uma semana e terá
vencido a batalha.
Josie ficou confusa. Ela tentou pensar, cheia de angústia, mas não
conseguia se concentrar em uma ideia.
Annabel se aproximou e se sentou no braço de sua cadeira.
— Acho que você e Mayne serão muito felizes juntos—. disse,
sorrindo.
Tess se sentou no outro braço e acariciou seu cabelo.
— Mayne acaba de ganhar o melhor prêmio de todos. Mais importante
que o melhor de Ascot.
Josie esboçou um sorriso hesitante. Elas pareciam ter esquecido que
Mayne estava apaixonado por outra mulher. Ela não se sentia bem para
tocar no assunto de Sylvie. Uma coisa era desfrutar da vitória, se é que se
pode chamá-la assim, sobre todas as amantes casadas de Mayne, e outra
bem diferente era acreditar que ela algum dia removeria o amor por Sylvie
do coração daquele homem.
— Serei a melhor esposa com quem ele poderia sonhar—. Anunciou em
voz baixa, não sem aspereza.
— Claro que você vai! E, felizmente, você é a primeira e única esposa
dele, então não precisa se preocupar com a competição—. disse Annabel.
— Eu terei que ser ...— Ela engoliu em seco. —... legal.
— Você é legal! — comentou Tess.
Mas, Josie não estava para elogios.
— Não sou na maior parte do tempo—. Esclareceu ela, olhando para as
irmãs—. Eu me comportei como um animal temperamental, como você me
disse tantas vezes. E você estava certa. Eu sou horrível—. Seu rosto
começou a se enrugar, como se ela quisesse chorar, mas se conteve—. Você
não tem ideia do quanto eu odeio todas aquelas pessoas que disseram que
eu era uma salsicha. Ou, que riu quando alguém disse isso. Para falar a
verdade, às vezes acho que odeio a maior parte da população de Londres.
— Talvez seja bom se você disfarçar um pouco—. Sugeriu Annabel.
— De agora em diante, vou parecer muito, muito mais legal do que
realmente sou—, Josie prometeu—. Doce. Doce como o mel, como todas as
heroínas dos meus livros.
Tess parecia duvidosa. Seu gesto revelou os receios que a assaltaram.
Josie percebeu—. Você duvida que eu posso fazer isso?
— Claro que você pode fazer o que quiser ...
Alguém bateu na porta. Era Lucius, enfiando a cabeça pela porta, falou:
— Sua Excelência o Bispo, pede permissão para voltar à sua residência.
Josie se levantou, sentindo a presença reconfortante de suas irmãs ao
seu lado.
— Estou pronta—. disse ela.
Parecia que Lucius iria acompanhar o bispo até sua residência, e isso
significava ... significava que ela e o marido agora poderiam ir embora. Eles
iriam para a casa de Mayne.
— Eu não tenho uma camisola—. Josie sussurrou para Tess em um
ataque de terror absoluto.
— Eu disse para minha camareira fazer a sua mala. Ela já entregou ao
lacaio. — Annabel relatou, dando-lhe um abraço afetuoso. — Estou muito
feliz por você, minha querida.
Tess se aproximou também, e as três se envolveram em uma profusão
de abraços e beijos sinceros.
— Pena que Imogen não está aqui.
— Eu te amo—. disse Josie com pouco entusiasmo.
— Tudo vai ficar bem—. Annabel sussurrou em seu ouvido—.
Apenas...
— Eu sei! — Josie interrompeu, com medo de que Mayne ouvisse os
conselhos da irmã sobre prazer e tudo mais. Ou pior, conselhos sobre seu
mau humor. Porque lá estava ele, segurando-a pelo cotovelo. Esse era o
homem que dormira com quase todas as belas mulheres de Londres, de
acordo com as fofocas - apenas para deixá-las uma semana depois. E ela, a
menina gordinha inexperiente e mal-humorada, ia mantê-lo como marido?
Mayne não parecia um sedutor no momento, mas estava mais atraente
do que nunca. Havia algo selvagem e escuro em seus olhos. E com eles
sentiu uma nota de angústia em Josie que não gostou muito. Ele a
questionou silenciosamente, com os olhos.
— Estou bem—. disse ela mecanicamente.
— Vamos...? — Ele hesitou.
Como ela poderia ir com ele? Não podia! Mas antes mesmo que ela
percebesse, alguém já a tinha enrolado em uma capa. Ela não conseguiu
dizer uma palavra quando se encontraram na carruagem, então eles ficaram
sentados em silêncio por pelo menos cinco minutos, enquanto ela afundava
cada vez mais em um mar de vergonha. O que ele faria se ela contasse a
verdade? O que ele diria? Ele só...
— Só quero que você saiba, Josie, que nunca vou forçá-la a
compartilhar qualquer tipo de experiência íntima para a qual você não esteja
preparada—. disse Mayne de repente.
Ela mal conseguia ver seu rosto, mas então Mayne se inclinou para a
frente e a luz da pequena lanterna pendurada ao lado da carruagem caiu
sobre ele. Ele estava tão calmo, sério, gentil e determinado, que seu coração
afundou nas profundezas. Ela não o merecia. Casara-se com um homem
extraordinário por engano.
— Não consigo imaginar uma experiência mais terrível para uma
mulher—. Ele pegou a mão dela. Embora Josie soubesse que deveria ser
consumida pelo remorso, ela não pôde evitar uma bolha e seu coração
começou a bater cada vez mais rápido—. Farei tudo que puder por você. E
se houver uma criança ...
Ela balançou a cabeça vigorosamente.
— Não dá para saber—. disse ele com tanta delicadeza que o coração da
garota deu um salto. Instintivamente, ele retirou a mão.
— Garret ...— Mas a confissão morreu em seus lábios. Ela queria se
casar com Mayne. Com arrependimento ou sem arrependimento, ela não
queria estar em nenhum outro lugar do mundo que não fosse aquela
carruagem, onde ela tivesse a chance de olhar para ele, de chamar seu
nome. E se ela tivesse que ir para o inferno pela escuridão de seus pecados,
ela iria ... Ele era tão lindo, com suas sobrancelhas retas e olhos sérios.
— Claro, nenhum de nós esteve nesta situação antes. Nosso casamento
pode ter começado confuso, Josie, mas será tão sério para mim como se
tivéssemos nos casado na Abadia de Westminster após meses de namoro.
Sei que tenho má fama, mas já me despedi dessa vida para sempre. Eu
nunca vou enganar ou trair você.
— Não—, disse ela—. E, nem eu a você.
— Vou cuidar de você com toda a atenção e ferocidade do mundo, o que
infelizmente não fiz durante a corrida—, disse ele, pegando novamente a
mão dela—. Suspeito que levará algum tempo para abordarmos a questão
da privacidade. Eu quero que você se sinta confortável. Podemos esperar o
tempo que você quiser. Até um ano.
Josie engoliu em seco. A única coisa que veio à sua mente foi um verso
triste de Desdêmona, quando Otelo é enviado para a guerra: Estou privado
de participar dos rituais pelos quais me casei com ele. Uma maneira
extravagante de pedir ao governador que não mande seu marido para a
guerra antes de consumar o casamento. Mas como ela poderia dizer uma
coisa dessas? Ela poderia fazer isso enquanto Mayne acreditava que ela
tinha sido estuprada durante os ataques desagradáveis de Thurman?
Claro, se ela fosse algo remotamente parecida com uma mulher, ela teria
que estar muito chateada. Afinal, Thurman, aquele verme nojento, tentou
apalpar seu peito.
Algo de seu humor deve ter aparecido em seu rosto, porque de repente
Mayne se aproximou dela.
— Quem foi? — perguntou. Sua voz ecoou estranhamente por toda a
carruagem.
A respiração de Josie perdeu o ritmo. Impossível dizer a ele. Ele
provavelmente mataria o pobre Thurman. E realmente tudo que aquele
homem fez, embora com uma falta de graça singular, foi beijá-la. Bem, ele
a atacou. Ainda ...
Ela pensava que se o resultado de ser atacada por Thurman fosse acabar
casada com Mayne, ela suportaria os maus momentos que aconteceram
novamente.
— Eu mesma cuidei disso—. disse ela.
— O que?
Josie engoliu em seco. Não havia maneira de contornar isso. Ela teria
que dizer a verdade.
— Estávamos atrás dos estábulos.
Ele passou um braço em volta dela e achou tão bom que ela se permitiu
encostar em seu ombro.
— Por que você estava atrás dos estábulos?
— Eu realmente não sabia para onde estávamos indo—. Confessou
Josie. Ela não poderia dizer-lhe que estava cansada de olhar para o adorável
turbante de Sylvie, seu corpo esguio e gracioso e a maneira sedutora com
que ela se pendurava no braço de Mayne.
Ele a apertou com o braço.
— Então ele a levou para trás dos estábulos e ...
— Ele começou a me beijar e ... coisas dessa natureza. Meu vestido
rasgou—. Mayne soltou uma maldição baixa e Josie continuou. — A certa
altura, consegui me soltar dele, escapulir e ele tentou me seguir, e havia
muito estrume. — fez uma pausa.
— Muito estrume?
— E uma pá.
— Oh, meu Deus! — exclamou Mayne.
— Eu joguei nele—. Josie sussurrou com a boca sobre o casaco de
Mayne.
— Onde você bateu nele?
— No rosto.
Houve um momento de silêncio.
— Esse homem ainda deve morrer de qualquer maneira, mas estou
orgulhoso de você. Agora me diga quem foi.
Como ela poderia responder isso? Ela apenas olhou para ele. Desde que
eles estavam na sala da torre de sua casa, eles não estavam tão próximos um
do outro. Seu coração batia tão rápido que ela podia sentir batendo em seu
vestido. Ela olhou para ele, fitou aqueles cílios que eram mais longos que os
dela, os olhos e a bela expressão preocupada de Mayne. Uma onda de calor
percorreu seu corpo. Calor e fome.
Ela engoliu em seco e sentiu a saliva descer pela garganta. Na verdade,
cada centímetro de sua pele parecia de outra pessoa.
Havia algo perturbador nos olhos do homem. Amor e ameaça
misturavam-se neles, provocando na menina sentimentos muito diversos:
paixão e medo.
— Josie—, disse ele, depois do que pareceu um século.
— Sim? — Ela sussurrou.
— Você é minha esposa—. Ele parecia quase comicamente surpreso
com tal descoberta.
Josie percebeu que era o momento certo para esclarecer as coisas. Não
era culpa dela que ele pensasse que ela tinha sido estuprada, mas ele tinha
que saber a verdade. Se ela não contasse a ele, ela seria culpada.
Ela se preparou.
— Ser casado o incomoda? — perguntou por fim, perdendo de repente a
coragem.
— Não sei muito bem—. A carruagem parou—. E você gosta de estar
casada comigo?
— Sim—. respondeu ela. E, deixou todas aquelas sensações
maravilhosas percorrerem seu corpo novamente. O aroma quente e
masculino de Mayne, sua beleza, o toque do ombro largo em que ela se
apoiava, a carícia de seus olhos belos e sedutores—. Gosto de estar casada
com você—. Confessou ela, tremendo um pouco.
Os olhos do cavalheiro se fixaram nos dela, apenas o tempo suficiente
para que Josie estremecesse de ansiedade. Então a porta se abriu e o degrau
se desenrolou. Ela saiu para o ar vivificante da noite, percebendo que não
era mais Josephine Essex.
Era a condessa de Mayne.
Capítulo 32
Do Conde de Hellgate,
Capítulo vinte e três
Meu caro leitor, você já imaginou que não fui feito para o casamento?
Contarei a vocês, então, sobre minha pobre e amada Semente de Mostarda,
que chamarei assim por lhe dar o nome de outra fada de Shakespeare. Não
vou falar muito sobre ela, porque nossa vida juntos foi curta. Às vezes doce
...

Thurman não estava tendo uma boa noite. Ele voltou para casa em um
estado lamentável e fedorento, e se lavou, incapaz de conter grunhidos de
frustração e raiva. Ele desabafou gritando com seu criado e duas vezes
devolvendo o jantar para a cozinha para ser feito novamente.
Só no meio da noite ele sentou-se ereto na cama com um juramento nos
lábios.
De repente, percebeu que pela manhã ele poderia ser ameaçado por uma
espada longa e fria. Olhou para a luz cinza infiltrando-se em seu quarto e
pressionou nervosamente na beira da colcha.
— Maldição! — ele sussurrou em voz alta—. Se a salsicha fosse a todos
os seus cunhados e lhes dissesse seu nome, ele se casaria com uma escocesa
gorda antes da noite seguinte—. Ele levantou as cobertas e saiu da cama, as
pernas nuas e frias sob a camisola.
— Não—, gemeu—. Não, não e não.
Seu pai não o apoiaria. Nesse caso, não. O que ele estava pensando? Ele
ficou um pouco fora de controle quando a maldita jovem lutou com ele. Na
verdade, foi culpa dela. Ela deveria ter percebido a honra que estava
prestando a ela ao se dignar a beijá-la, e então nada disso teria acontecido.
A última imagem que ele teve dela, seu vestido rasgado e seu cabelo
caindo sobre os ombros, passou diante de seus olhos. Ninguém acreditaria
quando ele dissesse que não tinha rasgado o vestido dela. E ele não tinha.
Ele nem sabia como isso aconteceu. Tudo o que ele fez foi agarrar um de
seus seios, só para ver se eram tão grandes quanto pareciam.
Um leve sorriso escapou ao lembrar a cena. Ninguém não consegue
conter um Thurman quando o fogo o atinge. No fundo, somos todos iguais e
é por isso que as donzelas da aldeia têm que ter cuidado quando ...
Mas ela não era uma donzela de aldeia, esse era o problema. E ele (só
de pensar nisso engasgava) poderia acabar casado com uma mulher que
parecia uma grande vaca. Ao imaginar a maneira como seus irmãos iriam
rir dele, ele sentiu uma necessidade irresistível de matar alguém.
Por fim, água fria foi derramada em seu rosto. Concordou em se vestir
depois que seu valete, Cooper, o questionou duas vezes. Ele hesitou,
pensando tolamente que os cunhados da salsicha não atacariam um homem
despido.
Por volta das dez horas da manhã, ele já havia percorrido seu escritório
cem vezes, andando nervosamente de um lado para o outro. Claro que ela
falaria com seus cunhados. Essa mulher não perderia a oportunidade de se
casar com o filho mais velho de um cavalheiro. Droga. Droga. Droga.
Ela tinha um bom dote, repetiu para si mesmo. E seus seios não eram
nada ruins. Na verdade, no escuro, uma mulher é igual a qualquer outra
mulher. Eu poderia ...
Não podia! Ele queria rir alto com esse pensamento. A ideia de que ele,
um dos amigos íntimos de Darlington, se casasse com uma mulher que era
chamada de salsicha escocesa fez sua garganta inchar a ponto de estourar.
A aparição de Cooper para anunciar uma visita foi quase um alívio.
— Diga a eles para entrarem! — Ele perdeu a cabeça.
Cooper piscou.
— É apenas um. É um homem chamado Harry Grone.
Ele não era um cavalheiro. Não era um cunhado. Thurman assentiu.
Seria uma espécie de intermediário, advogado, talvez?
Ele ficou na frente do fogo, as pernas bem separadas.
— O que você quer então? — Ele latiu no momento em que Cooper
fechou a porta ao sair. Tinha que ser agressivo e masculino. Ele decidiu
negar tudo. Valeu a tentativa.
Mas o visitante não era o advogado do conde. Na realidade...
— Vim pedir-lhe um pequeno favor—. disse o homem. Era como uma
ameixa velha e seca que dava a impressão de ter poucos dentes e menos
inteligência. Thurman não suportava os velhos. Eles tinham um cheiro
desagradável e urinavam nas calças.
— A resposta é não.
— Estou disposto a pagar muito por sua generosidade—. Relatou o
homem. Ele tirou um saco de soberanos.
Thurman sentiu seu coração voltar à velocidade normal. Seu pai o
mantinha bem suprido com tudo de que um jovem herdeiro mundano
precisava. Ele não precisava de nada do velho.
— Saia da minha casa—. Ele ordenou.
— Tudo que eu queria eram algumas informações sobre a gráfica de sua
família. Apenas algumas informações. Não demorará mais do que um
momento para o jovem cavaleiro descobrir.
Aquele idiota não pensaria que ele, Thurman, alguma vez visitou a
gráfica, não é?
— Você leva uma vida extremamente cara—. Murmurou o homem—.
Talvez você pudesse usar este pequeno presente para pagar uma dívida de
jogo ... ou uma conta de alfaiate ...
— Eu não jogo—. Ele começou a andar em direção a Grone. Era
absolutamente justo massacrar aquele canalha, membro por membro. Grone
estava questionando sua honra. Ele merecia uma surra.
O homem saltou para trás mais rápido do que Thurman esperava que
um destroço se desdobrasse.
— Vou deixar meu cartão para você—. gritou ele, jogando algo sobre a
mesa—. A oferta é boa, senhor—. E ele foi embora antes que Thurman
pudesse alcançá-lo.
Thurman não pegou o papel, mas em vez disso ergueu a mesa inteira,
com o cartão sobre ela, e jogou-a contra a parede. Ela voou em pedaços,
com uma grande chuva de estilhaços. Os malditos móveis de Hepplewhite
eram feitos de palitos de dente.
Capítulo 33
Do Conde de Hellgate,
Capítulo vinte e quatro
Ela veio a mim em uma segunda-feira e morreu na sexta-feira, em uma
série de eventos muito lamentáveis. Gosto de pensar que voou dos meus
braços para o seio de Deus, mas se for para ser dito de forma menos
poética, o que aconteceu foi que ela comeu um pedaço de bolo de enguia
estragado e morreu pouco depois.

Eles estavam sentados ao redor de uma mesa branca e limpa na pequena


cozinha de Darlington—. Você já comeu em uma cozinha antes? — ele
perguntou, entregando-lhe uma maçã que ele acabara de descascar.
— Nunca—. Griselda estava sentada em um banquinho da cozinha,
acariciando uma xícara de chocolate.
— Tenho copeira e cozinheira—, explicou—, mas elas moram em suas
próprias casas.
— Estou bastante confusa—, observou Griselda—. Você não é um
homem pobre.
— Felizmente, não—. Darlington estava cortando quadrados perfeitos
de queijo e entregando-os para ela comer com a maçã.
— Você sabe perfeitamente o que quero dizer—, disse Griselda—. Seu
pai dá a você uma mesada? Deve ser muito generoso.
— Você é muito curiosa, não é mesmo?
Ela sorriu para ele, sentindo o cabelo cair nas costas e a pura delícia de
saber que havia apenas os dois em toda a casa. Ela nunca esteve sozinha em
uma casa em sua vida. Ela e Willoughby viviam em uma casa habitada por
pelo menos quinze outras almas a qualquer hora do dia. Mas esta casa
estava silenciosa. A única coisa que se ouvia era o ronco distante de uma
carruagem passando na rua, de vez em quando.
— Na minha casa—, disse ela—, sempre se ouve o som de alguém
caminhando pelo corredor, acendendo uma fogueira ou lavando pratos.
— Gosto de viver sozinho—. Ele entregou a ela outro pedaço de queijo,
equilibrado em uma maçã—. Há quartos de empregados nesta casa, por
menor que seja, mas ainda assim mando todos para casa.
— Por que você tem tantos livros?
— Claro, que é porque eu amo livros—, disse ele, baixando a faca—. O
que você gosta de ler?
— No momento, estou totalmente absorvida nas Memórias de Hellgate,
como eu disse outro dia. Acho que identifiquei cada um de seus casos de
amor. Não tenho dúvidas, por exemplo, de quem é Hermia, e ninguém mais
parece ter descoberto.
— Verdade?
— Hellgate diz que Hermia é uma duquesa que ele conheceu no tribunal
e que ela fez amor com ele em um armário de limpeza. Melhor! — Griselda
se aproximou—. Eu mesma vi a duquesa de Gigsblythe saindo de um
desses armários, um ou dois anos atrás. Eu estava no Palácio de St. James, a
caminho da Capela Real. Você sabe onde, naquele longo e monstruoso
corredor que sai do Tesouro. Ela saiu furtivamente do armário na minha
frente. Não pode ser coincidência.
— Como diabos você sabia que era um armário com coisas de limpeza?
— Darlington perguntou, parecendo divertido e de forma alguma surpreso
com a fofoca maravilhosa que ela acabara de dar a ele.
— Eu abri a porta e verifiquei, é claro!
— Santo céu, como você é louca! O que teria acontecido se o amante
dela ainda estivesse lá?
— Não havia nada além de uma pequena sala, com alguns baldes de
limpeza, vassouras e coisas do gênero. Você pode, por favor, parar de cortar
queijo e maçã? Não estou mais com fome.
Darlington pareceu quase surpreso ao olhar para a travessa cheia de
pedaços de comida à sua frente. Ele a empurrou ligeiramente para o lado.
— Mas Griselda, o que você teria feito se tivesse pego um duque real
procurando a cueca?
Ela soltou uma risadinha travessa.
— A verdade é que nem me ocorreu que esta sala pudesse ser usada
para tais encontros ... Até eu ler as Memórias de Hellgate. Então é claro que
eu sabia de quem ele estava falando. Devem usar a sala regularmente. Eu
nunca teria pensado nela. Foi uma enorme surpresa.
— Mentirosa—. disse Darlington—. Não há uma única pessoa na alta
sociedade que não teria imaginado que Gigsblythe usaria aquela sala na
menor oportunidade.
Griselda riu.
— O mais interessante é como você sabe que ela estava com Hellgate
naquela sala. Pode haver muitas pessoas que conheçam esse guarda-roupa
útil e interessante.
— Você conhecia ele? — Griselda perguntou.
— Sim—, respondeu ele—. E, no entanto, tive um comportamento
impecável, que é o completo oposto de Hellgate. Acho que aquele armário e
um ou dois outros semelhantes são conhecidos pela maioria da alta
sociedade. Você, minha querida—, ele estendeu a mão e brincou com o
nariz da viúva—. É uma mulher virtuosa. Existem poucas como você.
— Não sou virtuosa—, protestou ela—. Como você pode dizer uma
coisa dessas, quando estou sentada na sua frente, em sua própria casa? E
sem nenhum acompanhante à vista!
— Nem uma camisa—. disse ele, olhando nos olhos dela.
— Sem espartilho—, ela sussurrou, sentindo o algodão macio roçar em
seus seios.
— Sem servos.
Griselda não conseguiu identificar exatamente como isso aconteceu ...
se ela se colocou de costas na mesa ou se ele a colocou naquela posição.
Tudo o que podia fazer era pensar que qualquer virtude que tinha antes
desta noite, definitivamente e alegremente desapareceu.
Para um homem que afirmava ter tão pouca experiência, Darlington
mostrou grande iniciativa.
Uma vez que a viúva estava ali, sobre a mesa, o manto se abriu e ficou à
vista, a pele maravilhosa, o corpo sugestivo e curvilíneo, luminoso. Contra
o que pode ser temido nos inexperientes, Darlington não saltou sobre ela.
Além de iniciativa, ele tinha imaginação. Ele colocou cuidadosamente
as fatias finas, úmidas e frescas de maçã em seu corpo.
— Eu quero comer você como se você fosse uma torta de maçã, ao
estilo francês.
Griselda, a meio caminho entre o riso e o tremor, argumentou que
poderia ser uma torta de maçã, mas nunca ao estilo francês.
Então Darlington pousou os braços na mesa e declarou seu desejo de
morder cada pedaço de maçã sem mordê-la.
E o que começou com risadas, entre pequenas mordidas (ele se revelou
terrivelmente desajeitado e sempre cravando os dentes em algo diferente de
frutas), havia se transformado em uma festa muito diferente meia hora
depois.
Foi tudo culpa das maçãs.
Quanto ao queijo, também cumpriu o seu papel ...
Bem, essa era outra história.
Capítulo 34
Do Conde de Hellgate,
Capítulo vinte e quatro
Dizer que caí nas profundezas do desespero é subestimar a profundidade da
minha agonia. A amada Semente de Mostarda salvaria minha alma
contaminada, eu tiraria meus olhos de qualquer outra mulher e colocaria
meus pés no caminho da retidão. Em vez disso, ela morreu, com toda a
franqueza, querido leitor, antes que eu pudesse convencê-la de que
deveríamos estar fazendo mais do que mexer embaixo da cama. Em suma,
ela morreu sem experimentar o prazer de uma mulher. É um fardo que
carregarei até minha maldita e tão desejada morte.

Era a noite de núpcias e Josie não conseguia dormir. Ela nunca se sentiu tão
fracassada. Quando ela tentou informar Mayne da verdade, dizer-lhe que
não havia sido estuprada, ela se amedrontou e, portanto, ele ainda
acreditava que o ataque havia sido consumado até o fim.
Se havia alguma mulher no mundo que pudesse ser franca, e falar sem
rodeios, sobre um assunto tão vergonhoso, era ela. Josie sabia disso muito
bem. Ela poderia ter dito ... havia um milhão de coisas que poderia ter dito.
Por exemplo, ela poderia ter observado elegantemente: "Não fui tocada por
aquela víbora nojenta."
Ou mais diretamente: "Assim que joguei o estrume nele, o cavalheiro
em questão fugiu."
Ou ainda mais diretamente: "Minha pessoa está intacta e não há
necessidade de você se casar comigo."
Ou da forma mais direta de todas: “Sou virgem. Ainda."
As palavras que ela poderia ter dito a Mayne continuavam vindo e
passando por sua mente. “Eu não fui estuprada”, poderia ter dito. Ou este:
“O homem nunca me tocou intimamente, a não ser algumas apalpadelas
ásperas nos meus seios”.
A verdade é que ela havia passado um ano pensando em como enganar
um homem para que se casasse com ela, e agora que o fez, a enormidade de
seu erro ameaçava afogá-la. Os romances da Minerva Press eram apenas
isso, romances. Ninguém se importava com o que a heroína havia dito ao
herói depois que ela conseguiu enganá-lo para casar-se.
Sua mente disparou, pensando na magnitude do seu crime, para dar ao
fato o nome correto. Ele tinha se casado sob falso pretexto. Ela havia
permitido que Mayne se sacrificasse, pensando que seria impossível para
ela se casar de outra forma, quando a verdade é que só era impossível casar
com ela porque ela era uma mulher gorda, maquinadora e horrível.
Mas, não era como se houvesse roubado Mayne de alguém. Josie tinha
certeza de que Sylvie nunca o aceitaria de volta ou tentaria recuperá-lo. Não
depois da forma como havia falado com ele, cheia de ódio. Nesse aspecto,
ela não tinha nada pelo que se culpar.
Embora, é claro, Mayne pudesse desejar se casar com outra pessoa, até
mesmo para insistir em uma figura pequena e delicada como a de Sylvie.
Josie engoliu as lágrimas. Comparada com Sylvie, ela era uma besta
enorme e desajeitada, apenas curvas e carne.
Um pouco depois, Josie suspirou e esfregou a testa. Ela estava em uma
casa estranha que pertencia a um homem que provavelmente anularia seu
casamento na manhã seguinte. Estava com uma dor de cabeça que não
conseguia suportar. E, só podia pensar que a mortificação que teria que
enfrentar pela manhã seria totalmente diferente de tudo que experimentou
antes.
Na hora do desjejum, se não antes, ela esclarecia as coisas, diria a
verdade. Ela diria apenas a Mayne que ela era uma virgo intacto. Seria
muito mais confortável dizer uma coisa dessas em um idioma diferente do
inglês. Se houvesse criados na sala, eles não entenderiam o que ela estava
dizendo. O único problema era que ela não tinha certeza se a expressão
estava correta.
Virgo immaculata também parecia familiar. Imaculada certamente
significava intocado por qualquer homem. Então, talvez fosse a frase certa.
Ela continuou revirando o assunto, pulando de uma expressão para outra.
Ela estava imaculada ou intacta?
Cerca de meia hora depois, Josie decidiu que estava ficando louca. Se
ela estivesse na casa de Rafe, teria consultado seu dicionário de latim. Ela
finalmente decidiu ir à biblioteca de Mayne para encontrar as palavras
certas. Não conseguiria dizer em inglês: "I am a virgin."
A casa estava silenciosa como um túmulo quando saiu pela porta do
quarto. O andar de cima era charmoso, com um corredor curvo que dava
para a sala de estar do andar de baixo. Provavelmente, a porta que levava
diretamente ao topo da escada era seu quarto. Josie prendeu a respiração e
caminhou na ponta dos pés. Era óbvio que ela morreria de vergonha se ele
acordasse.
Ela esgueirou-se escada abaixo sob a luz fria do luar que entrava pela
porta da frente, agarrando-se ao roupão. Mesmo assim, ela não ouviu nada.
A antecâmara era um amplo círculo de piso de mármore, as paredes
revestidas de retratos.
A pintura de uma mulher que provavelmente era a mãe de Mayne foi
posicionada sob um raio de luz.
Ela estava sem cor sob o brilho da lua, mas os olhos de Josie voaram
para a cintura fina da condessa viúva. Ela provavelmente nem precisava de
um espartilho; ela era tão pequena. Em seu rosto estava a confiança
absoluta de uma mulher perfeita, o tipo de mulher que nunca experimentou
uma mancha ou sentiu um desejo traidor por outro muffin com manteiga.
A simples visão da mãe de Mayne fortaleceu a determinação de Josie.
Sua mãe era francesa e Sylvie era francesa. Todo mundo sabia que as
francesas eram todas esguias. A casa de Mayne era o tipo de casa para a
qual Sylvie era uma amante apropriada.
A porta à esquerda certamente levava a uma sala de estar. Se a casa de
Mayne fosse projetada da mesma maneira que a casa de Rafe na cidade, a
segunda porta seria para uma sala de jantar, e a terceira ...
Ela empurrou suavemente. O quarto estava escuro como breu. Ela
avançou tateando na escuridão, tropeçando no caminho até a parede. A
primeira coisa que seus dedos estendidos encontraram foi uma fileira de
livros, a sensação fria de suas encadernações de couro inconfundível. O
alívio inundou seu peito.
Ela tateou de lado até encontrar o veludo macio de uma cortina. Ela
puxou de volta, estremecendo com o barulho dos cabides das cortinas acima
dela. Uma janela francesa dava para um muro de pedra que brilhava
estranhamente prateado ao luar. Além do muro, o jardim parecia mágico e
bastante assustador, como se fosse um lugar onde os desejos se realizavam e
as fadas dançavam.
— Ridículo—. Josie sussurrou para si mesma.
A lua estava tão brilhante que era quase como a luz do dia, exceto que a
luz do dia é um âmbar brilhante e a luz da lua é uma luz mais selvagem e
cintilante. Todo o gramado parecia estar debaixo d'água.
Como se estivesse enfeitiçada, Josie decidiu seguir em frente. A
maçaneta girou com a mão e ela saiu. Por um momento ficou parada,
olhando para as janelas da casa. Mas Mayne sem dúvida estava dormindo,
dormindo o sono justo de um homem caridoso, um homem que via o
casamento como um instrumento para resgatar donzelas em perigo. Ela não
conseguia ouvir um único barulho na casa, agora atrás dela.
A trilha do luar cortava o gramado como uma larga faixa prateada.
Diria-se que era uma luminosidade viva. No final do jardim erguiam-se
árvores e o luar brincava nas frágeis folhas verdes, ainda não queimadas
pelo sol de verão. O pequeno bosque parecia uma cidade encantada, ou uma
floresta de fadas, erguendo-se da grama para um céu estrelado.
Josie piscou enquanto seu olhar varria o gramado. Havia algo que ela
não entendia sobre aquelas árvores. Esta era uma pequena árvore de
espinheiro, e além dela havia um carvalho. Ao lado, uma macieira e o que
talvez fosse uma pereira Chantecler. Deu a impressão de que luzes pálidas
ficaram presas por um segundo nas árvores e depois desligadas.
Tal visão deveria tê-la apavorado, mas não. Ela nunca acreditou em
fadas ou seres sobrenaturais, nem mesmo quando era pequena. A menos
que estivesse cara a cara com alguma dessas entidades, ela ainda não teria a
menor fé em sua existência.
Mesmo assim, percebeu algo além do racional naquele jardim, mas não
teve medo. Em vez disso, toda a angústia e o medo associados às suas
experiências mais recentes, o ataque horrível de Thurman e o casamento
apressado, quase que por mágica desapareceram.
Não estava frio lá fora. Era uma temperatura amena de primavera,
adequada para caminhar sem roupas quentes. Josie de repente estava
confortável com sua pele, seus ossos e seu corpo inteiro. Ela não sentia isso
há muitos anos, desde que era criança, antes de se tornar constrangida sobre
o que acreditava ser sua gordura.
Ela queria rir alto, de pura felicidade inexplicável. Mas, não o fez e, em
vez disso, correu para a frente, deixando os chinelos na porta da casa. Ela
também não corria descalça há muito tempo. No começo foi irritante, quase
doloroso, mas imediatamente sentiu que era maravilhoso deixar os dedos
dos pés brincar na grama macia. À frente dela, o rastro de luar emitia seu
brilho oscilante. A grama, naquela luz difusa e trêmula, parecia se
transformar em um lago. A faixa de luz a embriagou, convidando-a a
dançar, pular e gritar. Mas ela não quis ceder aos seus impulsos, porque já
era uma senhora adulta ...
Talvez apenas um passo balançando e correndo aqui e ali.
Do outro lado do gramado e à sombra de um jovem espinheiro, ela se
virou para olhar para a casa.
Nada estava mexendo. A casa estava dormindo, cada janela vazia e nem
mesmo o brilho fraco de uma vela podia ser visto.
Ela pegou outro lampejo com o canto do olho, como um brilho de fada.
Então ela alcançou a árvore, sentindo seu cabelo ficar preso em um galho.
Ela teve que desamarrar a fita de cabelo e sacudir o cabelo para se soltar do
galho. Mas então ela estendeu a mão novamente e agarrou um dos pequenos
objetos pendurados nos galhos, puxando-o com força.
Ela o retirou para examiná-lo ao luar.
Não era uma fada.
Era uma bola de vidro. Uma bola de vidro perfeitamente redonda
pendurada por uma fita no galho. Josie franziu o cenho. Ela não conseguia
imaginar por que tal ornamento estaria pendurado em uma árvore. Mayne
poderia ter feito tal coisa?
Havia gravuras no vidro, mas ela não conseguia vê-las bem ao luar. No
entanto, como era lindo! Quando ela ergueu o globo, ele pegou o brilho da
lua e o jogou de volta em sua mão. Por um momento, ela apenas o segurou,
girando-o de forma que a luz aquosa da lua dançasse sobre suas mãos e
braços, captando a escuridão desgrenhada de seu cabelo. Havia bolas de
vidro em todas as árvores, grandes e pequenas, lançando uma adorável
confusão de luz e sombras sobre o gramado.
Josie se afastou um pouco mais. Toda a sua tristeza se foi, toda a dor,
aversão a si mesma e ódio lavados sob a luz da lua. Amanhã é outro dia.
Esse pensamento pareceu uma bênção, como se realmente houvesse fadas
dançando na floresta de Mayne.
O pensamento a fez rir. Seu marido era um homem conhecido por ter
dormido com a maioria das mulheres casadas da alta sociedade ... ele era
um homem que tinha um bosque de fadas em seu quintal? Suas fadas
seriam pequenas ninfas lascivas, companheiras de brincadeiras de Baco.
O interior da floresta acenou como um sonho sombrio. Havia rosas
primitivas crescendo em algum lugar; ela podia sentir seu perfume suave. O
perfume delas também acenou, então, sem olhar para trás para a casa de
dormir, Josie foi à deriva na floresta, segurando sua gota de luz de luar na
mão.
Mayne ficou na soleira da biblioteca até ter certeza de que Josie estava
encontrando o caminho para o caramanchão de rosas e não voltaria a
emergir da floresta. Então ele caminhou atrás dela, sentindo-se quase
estranho, como se não acreditasse em seus próprios olhos.
Aquela era realmente sua jovem esposa - as palavras ecoaram em seu
peito com uma ressonância intrigante - sua jovem esposa que dançava na
floresta com um redemoinho de cabelo da meia-noite? Ela ergueu um de
seus globos de vidro contra o luar como se fosse uma antiga sacerdotisa
pagã em algum tipo de ato de adoração à lua.
Talvez ela fosse realmente uma deusa pagã, uma divindade inebriante,
um símbolo da feminilidade. Ele tinha congelado ali, observando aquele
corpo doce e seu rosto, como creme ao luar. Mesmo do outro lado do
gramado, ele podia sentir a força da capacidade de Josie para entregar-se à
alegria.
Ela estava vestindo nada mais do que um robe robusto, amarrado na
cintura, mas Mayne descobriu seu coração batendo descontroladamente,
enquanto observava a linha de seu flanco, a maneira inebriante com que ela
se curvava na cintura. Ela parecia uma pintura do grande Rafael, uma das
que ele pintou para sua amada amante. Josie tinha os mesmos braços
macios e seios arredondados das belezas extraordinárias da Renascença.
Cada centímetro do corpo de Mayne queimava para correr pelo
gramado e pegá-la em seus braços. A jovem não parecia mais uma donzela
submissa e estuprada. Ela era fascinantemente sensual, com os pés
descalços e o cabelo solto, sua expressão liberta e feliz.
Uma certeza profunda se instalou no peito de Mayne, e com ela uma
alegria tão profunda que ele quase riu alto. Josie não foi arruinada. O que
quer que tenha acontecido com ela, sua querida menina não foi jogada no
chão e ferida. Mais provavelmente, ela deixou o homem em questão no
chão. Na verdade, agora que ele pensou sobre a história do estrume ... ele
mal conseguia parar de rir.
Em vez disso, ele parou por um momento no pórtico de pedra e tirou as
botas. Ele não se retirou para a cama, ele estava sentado perto do fogo em
seu quarto, pensando no que fazer com uma esposa ferida ...
Que não foi ferida.
A alegria que isso produziu inundou seu corpo. Josie era dele e ela não
estava ferida. Cada batida de seu coração, cada batida de sangue em seu
corpo lhe dizia exatamente o que fazer com aquela ninfa requintada que
acabava de entrar no bosque, dançando.
Mayne correu pelo gramado descalço, sentindo um prazer que nunca
experimentara em seus sórdidos encontros à luz de velas com inúmeras
mulheres cansadas de seus casamentos. Quando chegou ao bosque, olhou
com olhos experientes para as bolas de vidro. Todas pareciam estar
amarradas com força aos galhos, balançando um pouco com a brisa
sussurrante. Elas eram tão bonitas quanto no dia em que tia Cecily as
imaginou e as colocou pela primeira vez.
Ele caminhou por entre as árvores, silenciosamente, em direção ao
roseiral. Certamente, ela estaria lá. O que estava acontecendo deu a estranha
sensação de ser inevitável, como se todo o terror e a dor das últimas vinte e
quatro horas o tivessem levado àquele momento de glorioso encontro com
sua nova esposa. O roseiral ficava nos fundos de seu jardim, protegido em
dois lados pelas antigas paredes de pedra que separavam sua casa da
propriedade vizinha. As rosas floresceram esplendidamente e cobriram,
como grandes listras brancas, grande parte das paredes antigas.
Josie estava sentada no meio da praça, não no banco de pedra, mas com
as costas apoiadas na estátua de um golfinho imortalizado no meio de um
salto. Seu colo estava cheio de rosas, seu perfume doce e delicado
impondo-se na brisa noturna.
— Você não machucou as mãos colhendo essas rosas? — Mayne
perguntou, movendo-se silenciosamente para a parede e percebendo, tarde
demais, que ele deveria ter se anunciado de alguma forma, para não assustá-
la.
Mas ela não gritou.
Ela apenas olhou para cima e sorriu. Mayne sentiu o peito arder ao ver
aquela testa delicada, aqueles olhos ligeiramente voltados para cima, o
movimento harmonioso de seus lindos cabelos.
— Como isso é estranho—, disse ela—. Por um momento pensei que
Dioniso iria aparecer no bosque.
Mayne passou a mão pelo cabelo. Ele pensava que, sem dúvida, para
Josie, ele certamente era tão velho quanto qualquer deus grego.
— Não tenho certeza se isso é um elogio. Não é Dionísio o nome grego
para Baco, o deus do vinho?
— O deus do vinho e da natureza, aquele que carrega um cajado de hera
e cujas sacerdotisas, as mênades, dançam sem parar a noite toda.
Mayne avançou um pouco. Suas calças roçaram as flores, fazendo com
que uma nova onda de perfume enchesse o ar.
— Não tenho dúvidas de que você é uma das mênades. Você vai dançar
a noite toda?
— Eu sou uma péssima dançarina—, Josie se desculpou com uma
risada—. Tenho certeza que você percebeu isso.
Ele se sentou ao lado dela, nas lajes. Os salões de baile do Almack's
agora pareciam um mundo diferente e remoto. Acima deles, o golfinho
projetava sua sombra em arco nas pedras da calçada.
— Estamos no caramanchão de sua tia, certo? — Ela adivinhou.
— Isso mesmo—, respondeu o homem—. Segundo meu pai, depois da
torre, este era seu lugar preferido. Ela plantou roseiras antes de ficar doente.
Mesmo quando estava extremamente fraca, ela pediu aos criados que a
trouxessem para o gazebo quando o tempo estava bom.
— É lindo e mágico o suficiente para me fazer acreditar em fadas. E vos
garanto que sou uma pessoa muito incrédula, para não dizer de imaginação
extremamente pobre.
— Não acredito. Com todos os romances que você leu!
— É a verdade. Quando éramos jovens, brincávamos de inventar
personagens, como todas as garotas. Annabel era brilhante em imaginar
histórias e Imogen intervinha com talento. Eu não tenho imaginação
nenhuma. Gosto de coisas razoáveis, coisas que podem ser claramente ditas
e compreendidas.
Mayne apoiou a cabeça no pedestal e olhou para o céu. Parecia estar tão
perto que era quase possível tocá-lo. Parecia uma superfície de veludo
macio, atrás da qual as estrelas brilhavam.
— Cecily realmente acreditava que havia fadas que viviam aqui no
bosque. Ela pendurou as bolas de cristal para agradá-las.
— Quando eu as vi, percebi que estavam aqui por um motivo como
este. Amo que as tenha preservado, que homenageie a memória de sua tia.
— Meu pai gostaria que fosse assim—. disse Mayne—. Ele morreu de
repente, mas eu sei que se soubesse que estava indo embora, teria me
pedido para fazê-lo.
Ela não disse nada, mas segurou sua mão. Para horror de Mayne, seu
corpo começou a tremer, mas a jovem não percebeu. Sua mão, macia e
quente, apertou a do marido.
— Você gostaria de ficar viúva, Josie? Parece que na minha família não
vivemos muito.
— Isso é um absurdo.
— Eu sou muito mais velho que você.
— As mulheres morrem muito mais facilmente do que os homens—,
garantiu ela—. No parto, por exemplo.
— Pensamento muito triste.
— E você não é muito mais velho do que eu. Quantos anos você tem?
— Quantos anos você tem?
— Dezoito.
— Quando eu tinha dezoito anos—, disse Mayne após um momento de
silêncio—, já havia seduzido duas mulheres casadas e havia sido rejeitado
por outras três.
— Fui rejeitada pela maior parte da alta sociedade—, disse Josie
alegremente—, e se eu seduzi-lo, você será o meu primeiro homem casado.
Mayne virou a cabeça e olhou para ela, o diabo em seus olhos.
— Não tenho certeza se ouvi direito.
— Claro que você me ouviu muito bem.
— Um rosto de anjo—, ele definiu—, mas a língua de um demônio.
— A expressão de desejo carnal dentro do casamento é uma atitude
virtuosa. Além disso, sempre quis seduzir um homem e depois casar com
ele.
— É tarde demais para isso.
— Na verdade, esse casamento pode ser anulado.
Ele ficou em silêncio, olhando para ela. Sua camisola desabotoada na
frente com minúsculos botões de pérola que brilhavam fracamente ao luar.
Segurando seu olhar, ela alcançou o primeiro botão e o desabotoou.
— Josie—. disse ele.
— Sempre planejei tramar meu caminho para o casamento com um ato
atrevido—, disse ela—. Na verdade, eu não pretendia ser tão atrevido—, ela
desfez outro botão — mas posso ver muito bem que você irá anular esse
casamento amanhã, dizendo que é muito velho.
— Eu sou velho demais para você.
— Você tem cinquenta anos?
Ele fez um som como uma risada assustada—. Não.
— Quarenta?
— Ainda não.
— Quantos anos depois de trinta?
— Quase cinco.
— Trinta e quatro anos é uma idade muito boa para um homem.
Se Mayne fosse mesmo Dioniso, ela pensou, ele a seduziria, é claro.
Dionísio não respeitava as donzelas e nem suas virgindades.
O chato é que Mayne estava apenas segurando a mão dela, como se ela
fosse uma criança de sete anos.
No entanto, algo sobre a noite selvagem e subaquática havia esclarecido
tudo para Josie. Ela queria Mayne. Era uma fome terrível, o tipo de emoção
embaraçosa que leva alguém a enganar um homem até o casamento.
— Mayne—. disse ela, decidindo-se.
— Me chame de Garret—. disse. Ele soltou a mão dela e espalhou
pétalas de rosa ao redor de seus pés de uma forma distraída.
— Eu sou—, disse ela, fazendo uma pausa para tornar suas palavras
mais impressionantes—, uma virgem imaculada.
Mayne respondeu de uma forma muito gratificante. Seu queixo caiu,
sua boca escancarada, e ele olhou para ela com piscadelas incontroláveis,
como um idiota de aldeia.
— Você é?
Josie sorriu para ele.
— É horrível ou maravilhoso?
— Você é realmente virgem?
— Bem, eu acho que sim.
— Você quer dizer, como Maria, Virgem Imaculada?
— Suponho que sim—. disse ela hesitante.
O rosto de Mayne tinha uma expressão estranha, como se ele estivesse
prestes a cair na gargalhada.
— Você está preocupada com isso?
Ela olhou para ele com o cenho franzido.
— O que eu acabei de dizer sobre mim?
— Vamos ver—, disse ele—. Acho que você acabou de dizer que é uma
virgem imaculada. Como se você fosse um tabernáculo sagrado vivo.
Minha mãe é francesa, católica e muito devotada a Maria. Virgem
Imaculada é uma forma de nomear Maria, que nasceu sem pecado original.
Houve um momento de silêncio.
— Sempre pensei que ia me casar com um santa—, continuou Mayne.
Naquele momento ela pôde ver uma expressão profunda de diversão em seu
rosto—. E minha mãe ficará muito feliz. Você sabe que ela é abadessa,
certo? Imagine como ela vai ficar feliz.
Na verdade, foi engraçado. Sem perceber, Josie começou a rir, primeiro
baixinho, depois com intensidade crescente. Ambos terminaram
gargalhando descontroladamente.
— Você se casou com um santa! — disse arfando, incapaz de parar de
rir.
— Coisas estranhas acontecem—. Mayne pegou um punhado de pétalas
de rosa e espalhou sobre a cabeça da jovem—. Não sei se você é mesmo
uma santa, porque está particularmente pagã esta noite—. Havia algo nos
olhos do homem que fez Josie querer rir e ficar em silêncio ao mesmo
tempo—. Claro, eu ficaria muito perplexo se descobrisse que uma
divindade escolheu você para conceber seu próprio filho.
Sua risada desapareceu. Uma pétala de rosa sedosa deslizou por uma de
suas faces.
— Eu queria que você fosse reservada exclusivamente para mim.
— Mas você não pensava assim inicialmente—, respondeu Josie. Agora
era a hora de ser absolutamente clara. A maior franqueza era necessária—.
Você se casou comigo pensando que eu não era virgem, Garret. E ainda
assim ... eu sou.
— Porque você jogou uma pá de estrume nele antes que ele a forçasse.
Ela acenou com a cabeça.
— Você não precisava se casar comigo. Podemos anular o casamento—.
Na verdade, ela não tinha intenção de permitir que Mayne fizesse algo tão
precipitado. Mas, pelo que ela sabia sobre os homens, era melhor permitir
que eles pensassem nas coisas lentamente, sem tomar decisões precipitadas.
— Seria bem melhor que você se casasse com alguém jovem, como o
Skevington—. Sugeriu Mayne—. Ou, como Tallboys.
Se ela permitisse que Mayne escapasse esta noite, ela o perderia para
sempre. A certeza desse sentimento estava em seu coração, junto com outro
sentimento muito mais profundo, que ela se recusou a examinar no
momento.
Teria sido terrivelmente perturbador, na escuridão de uma noite como
esta, analisar todas as suas novas sensações. Mas, no ar quente da noite,
sentia que seu corpo era esguio e bonito, cheio de formas assombrosas e
sedutoras. Além disso, os olhos de Mayne pareciam fazer uma promessa
profunda e duradoura.
— Como a noite está quente—. disse ela, desabotoando outro botão de
sua camisola.
Os olhos de Mayne pousaram nas mãos de Josie e depois voltaram
rapidamente para o rosto dela. Naquele momento, o homem tinha um olhar
especial, um sorriso muito leve, que lembrou à jovem por um segundo
quanta experiência ele tinha no campo da sedução, e quão pouco experiente
ela era nessa mesma questão.
Era como se o próprio Dioniso estivesse sussurrando algo em seu
ouvido. Ela se levantou e foi até a parede. Então, virou-se.
Mayne havia se levantado, é claro. Ele nunca ficaria sentado na
presença de uma mulher.
Mas ele não a seguiu, ficou onde estava, encostado no golfinho. Seus
cachos negros caíam sobre os olhos como seda amarrotada. Seus cílios
sombreavam seus olhos para que ela não pudesse ver nada além das linhas
longas e limpas de seu rosto, a inquietante beleza aristocrática dele. De
alguma forma, mesmo isso não era assustador, apenas fascinante.
Josie se sentia como se não estivesse usando nada além de teias de
aranha.
— Você se parece mais com uma bacante a cada momento—. disse
Mayne. E ainda assim ele não fez nenhum movimento em sua direção.
O segredo, Josie pensou consigo mesma, seria dizer algo que deixasse
absolutamente claro que, se ele desejava seduzi-la, talvez agora fosse a
hora.
— Se você sentir-se inclinado a se aproximar de mim—, disse ela—,
você poderia fazê-lo.
Definitivamente, aquele olhar em seus olhos era divertido.
— Mas, senhora condessa, se eu lhe fizesse um avanço e esse este fosse
bem-sucedido, não poderíamos mais anular nosso casamento—. Ressaltou.
Josie estava ganhando mais coragem a cada momento, pelo olhar de
Mayne, pela quietude ao redor deles, pela curiosa sensação de poder que
sentia—. Eu não gostaria que você se sentisse obrigado a fazer qualquer
coisa para a qual não estivesse naturalmente inclinado—, ela disse,
permitindo que o riso invadisse sua voz. Na verdade, ela sentia vontade de
rir. Rir e ... outra coisa. Ela se sentia fluida e sedutora, tão diferente de seu
eu normal quanto possível.
Ela caminhou de volta para ele, sentindo seu cabelo em seus ombros.
Sentindo o balanço de seus quadris e a inclinação de seus lábios. Saber que
ela estava caminhando em direção a ele com exatamente o tipo de promessa
que ele havia lhe ensinado.
Ele não disse nada, apenas olhou para ela, todos os olhos sombreados e
sorriso secreto, e foi como se o mundo inteiro prendesse a respiração.
Josie estendeu a mão e trouxe a boca de Mayne para a dela.
Pode-se supor que beijar Mayne era como beber um conhaque
envelhecido, aquele licor dourado que Rafe gostava tanto. Afinal, ele era
mais velho do que ela e mais sábio, e certamente sabia beijar melhor do que
ninguém.
Mas, para seu espanto, Josie teve a impressão de que era ela quem
parecia ter mais experiência. Parece que o marido ficou assustado e
inseguro, enquanto a jovem estava totalmente segura de si. Ela se entregou
completamente naquele beijo, envolvendo os braços em volta do pescoço
dele e desfrutando da sensação que seu peito masculino lhe deu roçando
seus seios. Ela era uma deusa pagã, dotada de belas curvas, uma criatura
perfeita em todos os sentidos.
Mayne gemeu contra seus lábios.
— Garret—, ela sussurrou, sentindo que pequenas faíscas voaram em
todas as direções quando eles fizeram contato—, aquela pequena
construção naquele canto do jardim pertencia à sua tia, certo?
— Josie, você tem certeza que quer me seduzir? — Ele perguntou, em
um tom que parecia bêbado e sério ao mesmo tempo. — Skevington está
pensando em pedir sua mão em casamento. Meu tio pode apagar o registro
de nosso casamento de seus livros como se nunca tivesse acontecido. Você
não precisa se casar com um homem como eu se não quiser. Entende?
— O que você quer dizer com “um homem como eu”? — Josie
perguntou, agora intrigada.
Ele se afastou e olhou para ela.
— Um homem de trinta e quatro anos. Um homem que dormiu com
muitas, muitas mulheres. Não tenho doença, Josie, mas isso se deve à sorte
ou à graça de Deus. Não faço nada e não sou nada, Josie. Você deve
entender tudo isso. Há alguns anos, perdi o caminho e não o recuperei. Não
sei se existe uma maneira de encontrá-lo.
— Eu não quero contradizer sua história de partir o coração, mas posso
encontrar esse caminho para você.
Mayne ergueu as sobrancelhas.
— Tudo que você tem a fazer é me adorar, prostrado aos meus pés—.
disse solenemente, tentando abafar o sorriso.
— Eu penso que você acha que estou choramingando para seduzi-la,
certo? — Mayne respondeu, um leve sorriso vincando seu rosto nobre.
— Você é um cavaleiro nato—. disse ela. — Você tem estábulos,
cavalos e dinheiro mais do que suficiente. Claro, acho que você é um tolo,
para dizer o mínimo, porque não quero ser muito severa.
— Skevington vai se prostrar a seus pés—. disse Mayne.
— Na verdade, eu não quero ser adorada.
Ele esperou.
— Você sabe o que eu mais quero, Garret? — Ela puxou a camisa dele
para fora da calça—. Eu quero ser desejada.
— Você é—. Ele disse um pouco rouco.
— Você sempre parece entediado—, disse Josie—. Você fica à deriva,
parecendo descontente e entediado com a vida. Mas então, um dia, você
olhou para mim. Como se eu realmente fosse eu.
— E?
— Você de repente parecia um lobo—, ela sussurrou. Sua camisa
parecia veludo quente sob a ponta dos dedos. Ela queria passar as mãos por
baixo—. Você ganhou vida e fui eu quem fez você se sentir assim.
— É tolice, grotesco em um homem da minha idade—. disse ele. Mas
ele não estava afastando as mãos dela.
— Pare de ser idiota e falar sobre sua idade—, disse Josie—. Estou
cansada e não há lugar para isso entre nós, não está vendo? O que há entre
nós me fez segui-lo até a torre de Cecily, fez você usar meu vestido e me
beijar quando estava noivo de outra mulher, me fez casar com você, embora
eu soubesse muito bem que não estava arruinada. Eu o levei a isso.
Algo estava mudando em seus olhos. Ela estremeceu como um álamo
em uma tempestade quando ele a tocou.
— Você me levou—. Afirmou.
— Você pensou que estava me resgatando, mas isso foi apenas uma
tolice masculina.
Mas Mayne parecia resistir ao ataque físico. Sim, ele era teimoso,
aquele marido dela. Então ela se contentou em ficar um pouco mais perto
dele, para que pudesse desfrutar de seu perfume masculino excitante.
— Eu não vou me apaixonar. — disse Mayne desesperadamente, com o
fervor de um homem que sabe que perdeu uma batalha, mas não está
determinado a desistir dela. — Temos que ser honestos um com o outro,
Josie. Eu estava apaixonado por Sylvie. Não acho que terei sentimentos
semelhantes novamente.
Uma rajada de vento gelado tocou as costas de Josie.
— Você estava apaixonado ... ou ainda está? Você a quer de volta,
Garret? Porque se você tem essa esperança em seu coração, não devemos
continuar—. Ela olhou para o chão, porque não suportava ver o amor por
outra mulher nos olhos dele.
— Sylvie e eu não temos futuro—. respondeu ele.
Então ele ainda estava apaixonado pela francesa. Josie fez um esforço
para afastar a dor que a invadiu. Ela, Josie, não estava apaixonada por ele,
então por que ela deveria se preocupar? Por que deveria doer que Mayne
quisesse outra pessoa?
— Muito bem—, disse a garota após um silêncio—. Você pode levar as
lembranças do seu breve noivado com Sylvie e colocá-las em uma caixa.
Em seguida, guarde-a no sótão.
Ela podia ouvi-lo rir antes de ouvir sua resposta.
— Você vai me permitir visitá-las de vez em quando?
— Sim—, Josie concordou—. Não me importarei de encontrar você de
vez em quando, na penumbra, no sótão, mexendo em uma fita desbotada do
cabelo de Sylvie.
— Que imagem linda! — Mayne exclamou.
— Na verdade—, Josie continuou, para continuar com o fio da conversa
—, você certamente vai querer se apossar de uma de suas fitas, talvez
aquela que ela usou na noite em que você a beijou pela primeira vez, e
sempre carregá-la perto do seu coração, Garret. Na sua morte, durante o
velório, eu encontraria a fita e tentaria fazê-la desaparecer, mas então ...
— Com soluços que partiriam o coração do próprio Belzebu, você a
colocaria de volta ao lado do meu coração e iria me acompanhar até a
sepultura sabendo que seu marido amava outra.
— Eu gosto desse final—, disse Josie, pensando sobre isso—.
Principalmente a parte em que quase fiz a fita desaparecer, mas desisto.
Mayne se agarrou mais a ela, e Josie pôde sentir o corpo quente e
poderoso do marido.
— Há um problema—. Josie estava repensando sobre a cena comovente
no caixão—. Eu definitivamente não gosto dessa história. Acho que vou
jogar essa fita fora, Garret, esteja avisado. Posso até queimá-la.
— Não tenho e não pretendo ter nenhuma fita—, ressaltou Mayne—.
Nem mesmo na noite em que beijei Sylvie pela primeira vez.
— Você deve ter algo dela.
— Nada.
— É uma pena—. disse Josie.
Mayne estava olhando para ela agora, e havia algo em seus olhos que
dizia que todo o negócio de fitas de Sylvie era um absurdo. Sim, no olhar
do cavalheiro dava para ver que ele estava apaixonado, mas ...
— Muitas vezes pensei que desejo e amor são muito semelhantes—,
continuou a menina, determinada a deixá-lo saber naquele momento o quão
desavergonhada ela era—. Quem pode dizer que desejo não é o mesmo que
amor?
— Tive muitos momentos de desejo, Josie, mas apenas alguns de amor.
Ela balançou a cabeça para trás, deixando seu cabelo cair pelas costas,
livre e selvagem.
— Eu acho que você está certo. Se desejo fosse o mesmo que amor, não
haveria uma única prostituta solteira.
Ele riu. Josie percebeu que Mayne se aproximava ainda mais. Suas
mãos se espalharam por suas costas, seus corpos mal separados pela largura
de um cabelo.
— Você me quer, Garret Langham, Conde de Mayne?
Seus olhos estavam mais escuros do que nunca ao luar.
— Você não é uma prostituta, Josephine Langham, Condessa de Mayne.
— Se fosse, eu teria mais experiência e poderia seduzi-lo mais
facilmente—. Ela o assegurou—. Você vai me dar algumas aulas?
— De sedução?
— Você é um especialista—. Josie passou as mãos pelos cabelos,
sentindo-se pagã como uma deusa grega ou como uma rainha das fadas—.
Se você voltar para casa, considerarei que não me quer o suficiente para
continuar este casamento.
Ele se virou e começou a caminhar em direção à casinha escondida no
canto do jardim.
— Josie! — A voz de Mayne era especial, tinha a textura de veludo e
era selvagem e doce.
A jovem voltou-se, sabendo que seus seios eram perfeitamente visíveis
através do tecido leve da camisola e compreendendo pela primeira vez na
vida que a exuberância daqueles seios sedutores e instáveis não era uma
desvantagem aos olhos de um homem, muito pelo contrário.
— E se eu fosse uma rainha das fadas? — sugeriu.
— O que aconteceria então?
— Eu ordenaria que você ficasse. “O meu desejo é que não saia deste
bosque. Você vai ficar aqui, queira ou não”.
— Eu me sinto subjugado, dominado por alguma força sobrenatural—.
Mayne murmurou com os dentes cerrados. E ele caminhou em sua direção.
Josie não olhou para trás, ela apenas subiu o degrau que levava ao chalé
e abriu a porta.
— Deveria estar trancado—. disse ele. E, a seguiu.
O interior era uma sala pequena, com nada além de um sofá em um
canto. O luar caia pela janela minúscula.
— Se eu o libertar do feitiço, você vai me beijar? — Ela sussurrou.
O homem estava parado à porta, grande, na sombra. Ela não podia ver
seu rosto.
— Não haverá mais volta depois disso.
— Eu não quero recuar—. Euforia corria em suas veias. Para ela, só
esse homem existia, desde o momento em que a beijou e a ensinou a ser
mulher. Garret a transformou, com seu desejo, de uma garota amorfa em
uma mulher totalmente formada. De indesejável a desejável.
Josie nunca iria querer que houvesse ninguém além dele em sua cama e
em sua vida.
Capítulo 35
Do Conde de Hellgate,
Capítulo vinte e quatro
Por semanas, assombrei o túmulo da minha Semente de Mostarda,
chorando silenciosamente e rejeitando toda comida. Bem, eu não era uma
espécie de pária, tão prejudicial para a alma de uma mulher quanto o olhar
de um basilisco? Suponho, caro leitor, que você pense que me recuperei
rapidamente e senti a chama da luxúria acender novamente em minha
alma.
Não foi assim! Você está errado desta vez! Garanto que os dias foram
passando ...

— Eu devo voltar para casa.


— Não—. disse ele com uma voz sonolenta, mas com uma satisfação
tão enérgica que ela quase riu. Apesar de tudo, a mulher lutou para se
levantar.
— Estou dolorida, cansada e velha demais para esse tipo de aventura—.
disse ela.
Ele se apoiou em um braço.
— Você quer se casar comigo?
Griselda se abaixou para encontrar uma meia que estava em algum lugar
do chão do quarto. As palavras chegaram a ela muito lentamente, como se
tivessem sido sussurradas sílaba por sílaba. Ela se endireitou, meia na mão,
e se virou.
— Isso não é necessário—, disse ela, sorrindo para ele com toda a
alegria que sentia em seu coração, pois viu que seu amante era um homem
de honra—. De qualquer forma, sou muito grata a você por perguntar.
Sempre achei extremamente desmoralizante que as pessoas tivessem casos
quando ...
Foi interrompida. O que ela viu no rosto de Darlington não foi o alívio
de um homem de boas maneiras que fez o pedido certo e descobre que não
está noivo. Ela congelou no meio da sala.
— Não diga isso—. disse ele—. Não faça isso.
— Mas, eu devo. Não consigo pensar em nada além de você, Griselda.
Sonho com você. Sinto seu cheiro quando não está comigo. Não consigo
nem fazer comentários espirituosos, porque só quero falar com você e com
mais ninguém.
— Você ...— Griselda engoliu em seco—, está dominado por uma
paixão passageira. Acontece com os jovens—. disse ela com energia, para
lembrar que ele era jovem. Muito jovem.
Mas ele não parecia muito jovem quando saiu da cama e se aproximou
dela.
— Idade não tem nada a ver com isso.
— Tem muito a ver com isso—, ela respondeu—. Tudo! Eu gostaria de
ser mais jovem ou que você fosse mais velho. Eu realmente gostaria disso.
Eu o teria perseguido com tanta ferocidade que não haveria outra mulher
que se atreveria a chegar a menos de um metro de você. Eu teria feito
qualquer coisa ... qualquer coisa! Para me casar com você.
— Aqui estou eu, então.
— Ter você não significa assumir o controle de você. Não o farei, tendo,
como você, toda a sua vida pela frente. Você encontrará uma esposa da sua
idade ou um pouco mais jovem, e ela lhe dará uma dúzia de filhos—.
Estendeu a mão e afastou uma mecha de seu cabelo—. Vou dançar no seu
casamento, meu caro amigo, e o farei com alegria. Mas nunca serei sua
noiva, embora esteja muito mais lisonjeada do que você imagina com seu
pedido.
Ele olhou para ela com olhos ardentes.
— Você me ama.
Griselda ergueu o queixo. Darlington estava adotando uma atitude
extremamente íntima.
— Não, eu não te amo—, disse ela, mantendo a voz firme e calma—.
Sinto carinho por você. Estou orgulhosa de você.
Ele estremeceu.
— Orgulho de mim? Por quê? O que eu fiz para você ter orgulho de
mim?
Ela percebeu o que havia dito e quase riu—. Eu não quis dizer isto.
Orgulho não é exatamente o que me vem à mente quando penso em suas
proezas!
— Então você não precisa se sentir orgulhosa de mim, como ... como se
você fosse minha mãe—. Ele respondeu irritado.
Griselda lembrou a si mesma que os jovens têm paixões ferozes, mas
ela não pode evitar ficar com raiva.
— Eu não sou sua mãe, mas posso muito bem ser. E a habilidade de que
estou falando não é assunto para as mães.
— Chega de bobagens com a idade! — Darlington exclamou. Sua voz
foi como um tapa—. Quantos anos você tem, Griselda Willoughby? Por que
você se comporta como se houvesse tanta diferença entre nós? Como se
você tivesse o dobro da minha idade?
— Talvez eu não tenha o dobro da sua idade. — Griselda se esforçou ao
máximo para manter a calma.
— Também não acho que você seja dez anos mais velha—. O jovem
apontou, sua voz ficando mais irritada—. Talvez, nem cinco.
— Isso é um absurdo! — Griselda exclamou.
— Então, pergunto novamente: quantos anos você tem?
Ele tinha beijado seu corpo nos pontos mais íntimos, ele a conhecia
como poucos. Mesmo assim, Griselda permaneceu imóvel, a mandíbula
cerrada. Ela nunca falava sobre a sua idade. Nunca.
— Griselda—. disse ele, em voz baixa e clara. Ela ficou preocupada
quando percebeu que ele estava muito zangado.
De repente, Darlington se virou, como se estivesse cansado de esperar
que ela respondesse.
— Você, Griselda, tem trinta e dois anos. Você tem muito tempo para
ter, se quiser, meia dúzia de filhos. Tenho vinte e sete anos, quase vinte e
oito. No momento, há apenas cinco anos de diferença entre nós.
— Você sabia—. Ela sussurrou—. Você disse, vinte e sete anos?
— Quantos anos você achou que eu tinha? Dezoito? Obviamente que
não, e você é muito inteligente e observadora.
— Eu não percebi essas coisas.
— Mas, eu pesquisei você. E, mesmo que você tivesse trinta e nove
anos, minha pergunta teria sido a mesma. E, se você também tivesse
quarenta e nove anos. Mas, do jeito que está, Griselda, você dificilmente
pode dizer que é como minha mãe, já que você tinha apenas quatro anos
quando nasci.
— Cinco.
Ele encolheu os ombros.
— Há coisas muito mais importantes e sérias na minha vida do que a
idade. Verdade seja dita, você pode ter muitos motivos para não querer se
casar comigo. Mas, minha idade é o menor deles.
Ela olhou para as costas dele.
— Por que eu não desejaria me casar com você, Darlington?
— Eu sou um escritor.
— O que?
Ela se sentiu desorientada, como se tivesse perdido parte da conversa.
— Sou um escritor—. Repetiu ele, virando-se—. Você me perguntou
como faço para manter esta casa? Escrevo!
— Romances?
— Não. Eu escrevo um gênero menor. Muito inferior. Histórias de
crimes que realmente ocorreram. Escrevo panfletos sensacionalistas.
Escrevo páginas e páginas, com histórias do cadafalso. Escrevo histórias
baseadas nas confissões de um assassino. Além do mais, algumas vezes usei
essas confissões literalmente, sem mudar uma vírgula.
— Como você fica sabendo dessas confissões?
Ele encolheu os ombros.
— Eu tenho amigos na polícia. Sou generoso com o dinheiro quando
encontro uma boa história. É um negócio que paga excepcionalmente bem.
Posso me dar ao luxo de casar com você, se você levar essa possibilidade
em consideração.
Ela continuou olhando para ele. Depois de alguns momentos,
Darlington se afastou.
— Estou bem ciente de que meu sustento não é inteiramente honrado.
Trabalho sim, mas, para falar a verdade, eu mesmo acho uma vergonha e
minha família considera isso detestável. Meu pai acha impossível
mencionar meu trabalho. Isso o deixa doente. É uma das razões pelas quais
ele está tão frenético com as minhas perspectivas matrimoniais. Como ele
pensa que estou prostituindo a minha honra, desde que escrevo essas coisas,
segundo ele, posso muito bem me engajar em uma versão mais honrosa do
mesmo buscando um bom matrimônio.
Griselda respirou fundo. Tudo estava ficando muito irritante. Como ele
ousava considerar isso tão superficial a ponto de pensar que seria desonroso
se juntar a um escritor? Não era ela, talvez, uma das senhoras que
confessou, sem complexos, ler esses mesmos livros? Como ele ousava
pensar que ela era uma pessoa tão desprezível que lia e gostava do gênero,
mas não tinha respeito por seus autores?
Enquanto isso, Darlington continuou a falar.
— Eu escrevo toda aquela prosa sensacionalistas dos tabloides que
falamos ontem à noite. A mãe do assassino sempre desmaia ao saber da
captura de seu filho; a mãe da vítima desmaia ao saber do crime. Sempre é
o mesmo. Eu transformo todas as vítimas de todos os casos em jovens
robustos que poderiam ter sido maridos e pais exemplares, não importa que
na vida real alguns possam ter sido realmente desprezíveis.
Griselda ainda não havia respondido. Partia seu coração ver que ela não
tinha nada a dizer a ele. Ele olhou para o chão, sem olhar para ela,
esperando com os ombros tensos pelo som da porta se abrindo e fechando
novamente. Mas não, Griselda era muito bem educada para fazer isso.
Muito aristocrática. Ela daria uma desculpa, ela iria...
Um leve ruído foi a única coisa que o alertou. Ele virou-se para
encontrar Griselda tocando a testa e balançando de um lado para o outro,
evidentemente à beira de desmaiar.
Ela desabou em seus braços, com um leve suspiro que atingiu seu
coração.
— Griselda! — gritou. E, percebeu que não deveria levantar a voz para
ela, mas cuidar dela.
O que diabos estava acontecendo? Seria possível que ele a tivesse
horrorizado tanto que ela perdeu a consciência? Olhou em volta
desesperadamente. O usual era dar sal para as mulheres que desmaiavam,
mas não havia nada disso à mão. Algum odor forte poderia ser usado para
recuperá-la? Ele pensou, cheio de angústia. E, lembrou que havia cebolas
na cozinha.
Ele colocou a mulher no sofá. Ela ficou imóvel, os olhos fechados.
Estava absolutamente branca. A impressão deve ter sido tremenda.
Darlington nunca teria imaginado que ela reagiria assim.
— Griselda—, disse ele com voz forte, mas sem gritar—, abra os olhos.
Ela ainda era a mesma, como se estivesse morta—. Água! É disso que
preciso—. Ele deveria jogar água em seu rosto. Deus sabia muito bem que
ele havia descrito aquela cena muitas vezes, em seus livros horríveis.
Correu para a cozinha, rezando para que a água realmente fosse a solução.
Quando voltou com o jarro na mão, sua convidada ainda estava imóvel.
As mulheres não deveriam sair desse estado após alguns segundos? Ele
ergueu o jarro, pronto para derramá-lo.
Griselda sentiu que havia chegado a hora de acordar e soltou o que
considerou um gemido convincente, prova de intenso sofrimento.
Darlington colocou o jarro de lado, para a segurança da suposta paciente.
— Griselda— disse ele—. Como se sente?
Ela deu um pequeno gemido e colocou a mão na testa em um gesto
dramático.
— Oh, isso é possível?
Darlington esfregou as mãos dela. Griselda podia ouvi-lo praguejando
baixinho. E, teve que respirar fundo para suprimir um sorriso.
— Você disse o que eu acho que ouvi? Por Deus ... não! Não pode ser!
— O discurso soou um pouco convencional, mas ela pensou que, por não
ser uma escritora, ela estava indo muito bem.
— Griselda—, disse Darlington novamente—. Sinto muito ter causado a
você toda essa angústia, mas ...
— Meu amante é na verdade ...— ela disse, abrindo os olhos e olhando
para ele com desânimo—, meu amante é apenas ... um trabalhador comum!
— Bem...
Mas ela não o deixou continuar.
— Oh, mate-me agora! — soluçou—. Estou manchada para sempre.
Minha vida acabou. Minha reputação, meu futuro, meu corpo, meu ...— Ela
fez uma pausa e considerou desmaiar novamente. Mas, finalmente ela
decidiu apenas continuar chorando e esperar pela reação dele.
Darlington olhou para ela com certa estranheza juvenil, que ela adorava.
Porque ela amava o lado inseguro de seu amante. No entanto, o homem
finalmente percebeu que era tudo uma comédia.
— Vejo que você se considera uma boa atriz, não é?
— Posso escrever uma cena tão bem quanto você—. respondeu.
— Clichê. — Respondeu ele com desprezo.
— É o sujo falando do esfarrapado!
— Mais do que uma cena, foi uma representação real ... e muito atual,
na verdade—, disse ela com desdém.
— Minhas mulheres desmaiadas nunca gemem—. Observou ele.
— Pior para elas—, disse ela—. Estou gostando muito deste desmaio e
só lamento ter que interrompê-lo para não me molhar.
— Diga-me a verdade—, implorou Darlington—. Por que você fingiu
desmaiar?
— Para ver se você teve alguma experiência com mulheres desmaiadas
—, respondeu ela, sentando-se confortavelmente e acariciando seus cabelos
—. Você é completamente novo nisso. Não é mesmo?
— Bem, não.
— Na verdade—, ela continuou—, eu apostaria um guinéu contra um
xelim que você inventa tudo o que publica.
— Nem tudo.
— Mas você torna tudo mais atraente.
— Bem...
Ela sorriu para ele.
— Você acha que eu sou frívola? Que eu não deduzi a sua atividade
depois da nossa conversa?
— Mas você não é ... você não é ...
— Tenho vergonha de saber que meu amante é um escritor de prosa
animada, que faz centenas, senão milhares de pessoas se divertirem? Um
homem que conseguiu ficar rico, para não depender do pai ou do casamento
com uma jovem rica? — Ela o olhou diretamente em seus olhos—. Se você
tivesse se submetido à vontade de seu pai e se casado, Darlington, nunca
teríamos nos conhecido.
— No sentido bíblico de conhecimento? — ele perguntou.
— Sim—. Ela respondeu.
Antes que Griselda soubesse o que havia acontecido, o jovem
cavalheiro estava de joelhos ao lado do sofá e segurou suas mãos com
paixão.
— Case-se comigo, Griselda. Nenhum de nós pode ser feliz com outra
pessoa depois disso. Você sabe.
— Você está dizendo que eu deveria me casar com você, só porque não
serei boa para mais ninguém?
— Eu marquei você para sempre—, disse ele, os olhos fixos nos dela,
impedindo-a de fazer mais comentários—. Você é minha e de mais
ninguém, Griselda.
— Oh ...
Ela não podia continuar falando, porque Darlington a estava beijando
apaixonadamente. Não parecia que ele precisava de uma resposta agora.
E, talvez, os dois soubessem a resposta, pelo menos no fundo de seus
corações.
Capítulo 36
Do Conde de Hellgate,
Capítulo vinte e quatro
Oito ou dez dias se passaram até que deixei o túmulo de minha Semente de
Mostarda. E, passou pelo menos mais uma semana antes que meus passos
trêmulos se voltassem para todos os tipos de diversão novamente. Claro,
como você pode imaginar, no luto mais rigoroso. E isso causou minha
desgraça, caro leitor.
Porque eu, coitado de mim, estou sempre melhor, mais atraente e
elegante, vestido de preto.

— Não sei o que vem a seguir—, disse Josie, rindo um pouco—. Meus
romances sempre param na porta do quarto.
Mayne se aproximou, parando na frente dela.
A jovem continuou falando, muito nervosa. Ela mal sabia o que estava
dizendo.
— Claro que você seria um herói de romance de primeira classe.
— Você tem certeza? — Ele perguntou lentamente—. Você acha que se
escrevesse um livro como esse poderia inventar um personagem como eu?
— Depois de ler tantos romances, eu poderia criar qualquer personagem
—, disse ela com convicção.
Ele riu. — Então me descreva para mim. Invente-me novamente.
Vamos. Descreva-me na prosa lasciva de um daqueles romances que tanto
ama.
Josie estendeu a mão e acariciou sua testa. Garret sentiu um leve
estremecimento, como se estivesse voltando a ser um jovem simples
ficando frente a frente com sua primeira amante. E, para falar a verdade,
naquela noite foi assim, como se eles fossem a única mulher e o único
homem no mundo. Como se ele nunca conhecesse o amor.
— Sobrancelhas escuras como a noite—, Josie descreveu, acariciando-o
com os dedos—. Cílios longos demais para um homem e, oh, olhos
terrivelmente cansados ... exaustos, revelando o desgaste de séculos de
depravação.
— Séculos? — Garret disse, rindo—. Eu não sou um fantasma você
sabe. Eu pareço tão velho para você?
— Séculos—, disse Josie, balançando a cabeça—. Nariz bastante nobre,
na verdade. Mas não se pode deixar de olhar para ele com tristeza, vendo a
grandeza gótica com que foi dotado. Porém, agora, ó caro leitor, virou um
nariz como tantos outros.
— Um nariz simples! — Garret estava começando a se sentir um pouco
insultado—. Como deveria ser, diga-me por favor? E o que você quer dizer
com isso? É o mesmo nariz que tive durante toda a minha vida. Não mudou
nada.
— Lábios de um tom melancólico de cereja escuro—, disse ela, com os
olhos sorridentes—. Mesmo com os raios da lua caindo sobre eles, eles
mantêm um ar selvagem... uma orgia que fala ao... ao...
Ele estava inclinado para frente agora. Ele sentia como se cada
centímetro de seu corpo estivesse vivo, cada célula o impelindo para ela—.
Esses lábios—, disse ele—, são de fato orgíacos. Mas o que as moças
simpáticas sabem sobre isso? Minha vez de pintar seu rosto. Você terá que
me ajudar, porém, porque eu não li muitos romances.
— Não—, ela disse, sorrindo—. Espero que você me descreva como um
daqueles cavalos sobre os quais está sempre lendo.
— E que potranca adorável você seria—. Ele se sentia como o próprio
Baco, bêbado ao luar com sua bela jovem esposa—. Existem cavalos com
cílios tão longos quanto os seus, Josie. Você sabia disso?
Ela assentiu.
— E, cavalos com uma juba de seda preta, como o seu cabelo.
— Não é preto—, ela ressaltou—. Você parece não saber a cor do meu
cabelo.
— Quando estávamos na carruagem a caminho da Escócia—, disse ele
—, o brilho de rubi era intenso se o sol brilhasse pela janela. Mas à luz da
lua parece tão profundo e misterioso quanto o céu noturno—. Ele enrolou
uma mecha em seu dedo.
— Seus lábios—, ele continuou em tom de conversa—, não têm a glória
desbotada que você dá ao meu nariz, mas um vermelho profundo. O tipo de
vermelho que deixa um homem fraco de desejo. Você sabe por quê, Josie?
Ela balançou a cabeça, sem tirar os olhos dele.
— Porque eles são cheios e atraentes—, disse ele, muito perto dela
agora—. Porque olhar para eles é querer prová-los. Olhar para eles é querer
provar você.
Josie estava prestes a dizer que não apenas seus lábios eram carnudos,
mas seu corpo inteiro, mas as palavras morreram em sua garganta. De
alguma forma, o velho desdém que sentia por seu próprio corpo parecia
ridículo agora, dada a maneira como ele a olhava. Mas, quando ele olhava
para ela ...
— Você parece a rainha das fadas, Titânia da peça de Shakespeare—.
Mayne apontou.
Ela começou a rir.
— Uma rainha!
— Titânia não é qualquer rainha, não apenas uma fada qualquer, afinal.
E você não é uma mulher comum.
— A honestidade me obriga a admitir que sou uma mulher muito
comum—, observou Josie—. Sou gordinha, viciada em romances e tenho
medo de andar a cavalo.
— Meu Deus! — exclamou Mayne, cada vez mais feliz—. Você não
tem qualidades que possam fazer seu marido feliz? Talvez você deva
repensar o casamento, dado o desastre como mulher.
— Estou muito alegre—, relatou Josie—. Posso ser muito divertida
quando tenho um momento de inteligência. Também sou muito honesta e
me disseram que isso é uma virtude, embora às vezes possa ser uma
desvantagem.
— Nenhuma beleza? Você não tem nem um pouquinho para me
oferecer? — Ele disse em um tom de dor.
Ele balançou sua cabeça.
— Nada, especialmente em comparação com outras mulheres.
—Você quer que eu diga como eu a vejo?
— Não, se você pretende me contar mentiras. Eu realmente não gosto
de mentiras, Garret.
— Preciso falar sobre seus lábios, seu cabelo, seus olhos ou sua pele,
embora eu lhe diga que é a pele mais linda que já tive o prazer de acariciar,
Josie. Deixe-me começar por aqui, certo? — Ele se apertou contra ela. —
Toque minhas mãos! Sinta o que estou pensando, Josie.
Ela olhou para ele seriamente.
— Nem tudo pode ser colocado em palavras—, esclareceu—. Eu vou
lhe dizer com as minhas mãos.
Ele correu os dedos pelas faces de Josie e foi tão doce quanto um beijo
de bebê. Ele acariciou seu rosto com lentidão deliberada. Ela tremeu um
pouco. Um polegar seguiu a curva de seu lábio inferior e então ela soube,
apenas soube o que ele estava fazendo. E, teve a sensação de que aquela
carícia estava falando com ela, contando-lhe tudo. A mão parou sobre sua
boca por um momento e ela fechou os lábios sobre o polegar de Mayne.
Ele tinha um gosto estranho, muito viril. O calor inundou o corpo de
Josie.
— Faça de novo—, ele implorou com voz rouca—, e ...
Seus lábios se fecharam em torno do polegar de Mayne novamente,
agora brincando com uma pequena mordida. O homem deu um grunhido
agradável e continuou a descer. Na garganta. Suas mãos deixaram rastros de
fogo.
— Olhe para a minha mão—, disse Mayne. Josie estava olhando em seu
rosto, é claro, em seus lindos olhos. Mas obedientemente, ele baixou os
olhos.
Lá, ao luar, as mãos do cavaleiro pareciam maiores e mais masculinas
do que eram. O decote da camisola era largo, enfeitado com renda de
Bruxelas. Dedos quentes deslizaram pelo decote, em direção aos botões
abertos.
Josie prendeu a respiração. O que seu Mayne iria fazer? As mãos
deslizaram por seus braços, que eram mais curvos, suaves e bonitos do que
nunca.
— Você já viu os retratos que Rafael pintou de sua amante?
Ela olhou para cima, sabendo que seu rosto estava corado, e dizendo a si
mesma que não importava. Ele a segurou pelos pulsos. Suas mãos eram
como garras, mas não havia nada ameaçador para Josie.
— Eu não vi essas pinturas—. Sussurrou.
— Ela tem a sua figura—, Mayne sussurrou de volta—. A sensualidade,
a exuberante beleza feminina a que nenhum homem pode ser insensível.
Os dedos correram por seus braços novamente e Josie mal o ouviu,
submersa no tipo de sonho febril que seu toque causou a ela. A jovem
prendeu a respiração enquanto o marido fazia movimentos suaves, lentos e
deliciosos, sempre com um leve sorriso. Ele alcançou o decote da camisola
e com a mão traçou um círculo sobre ela.
Josie ficou muito quieta. Mayne começou a empurrar e empurrar
suavemente o decote.
A jovem gemeu e foi tomada pela vergonha. Imediatamente ela
mergulhou de volta em seu devaneio agradável, longe de qualquer
pensamento racional. O homem a despiu lentamente, deslizando suas
roupas pelos braços e seios. As mãos de Mayne estavam quentes na
superfície fria do corpo de sua esposa, exposto ao ar da noite. Quentes e
possessivas. Ela puxou e a camisola caiu até os quadris, onde ficou presa.
— Olhe para baixo—, disse ele. Sua voz era para Josie como o canto
das sereias. E a garota obedeceu. Agora a embriaguez, dedicação e paixão
eram totais.
As mãos de Mayne eram douradas, escuras em contraste com a pele de
Josie, que brilhava ao luar prateado. Ele deslizou as mãos à sua frente,
como se tentasse descobrir um novo território. A jovem olhou para cima e
viu o marido engolir em seco. E, ela entendeu.
Garret segurou seus seios como se fossem presentes divinos. Enquanto
ele olhava, ela os via com seus olhos: desejáveis, suaves, oscilantes,
transbordando em suas mãos. Acariciados, os mamilos se ergueram. Ela
estava mordendo o lábio para não enlouquecer de prazer, quando as mãos
de Mayne começaram a baixar novamente, delicadamente, seguindo a curva
que levava à sua cintura, para então se deleitar com a generosa maciez de
seus quadris.
Mayne parou por um momento e olhou em seus olhos, e ele deve ter
visto o que queria ali, porque imediatamente, com um estalar de dedos, a
camisola escorregou por suas coxas e caiu no chão. E ele se entregou à
apaixonante tarefa de percorrer todo o corpo.
Ele acariciou a curva de seu traseiro, e ela estava ciente de sua deliciosa
redondeza. Ela não sabia que era possível desfrutar o próprio corpo assim,
graças às carícias de outra pessoa. Ela sentiu o toque do peito de Mayne em
seus quadris e, pela primeira vez, percebeu que um homem pode desejar
afundar na suavidade íntima de uma mulher.
— Essas mulheres—, Josie gaguejou—. Todas as suas mulheres,
aquelas mulheres ...
— Elas não são minhas mulheres—, disse ele com um grunhido—. Elas
nunca foram.
Mas ela insistiu.
— Todas aquelas mulheres com quem você ... teve casos secretos ...
eram magras. Muito magras. E você se apaixonou por elas ...— Ela não
continuou falando, mas já havia sugerido o que a estava incomodando.
As mãos do homem seguiram a curva de suas coxas, perigosamente
perto da privacidade de Josie. Ela estendeu a mão e ele a pegou para
acompanhá-lo nas carícias, para que os dois se unissem, para que nada
pudesse quebrar sua comunhão erótica.
Ela tocou seu peito e sentiu o coração de Mayne bater cada vez mais
rápido. Depois de um momento, Josie sentiu um roçar suave entre suas
coxas.
O homem começou a falar precisamente quando a mente da jovem foi
invadida pela névoa de prazer quando um calor desconhecido tomou conta
de seu ventre. Ela não sabia se estava tonta ou em êxtase.
— Elas eram magras, sim, mas eu não estava apaixonado—, sussurrou o
marido em seu ouvido—. Não quero sair desta floresta.
— Claro—. A jovem, uma grande leitora, reconheceu a citação literária
—. Você vai ficar aqui, queira ou não—, a garota continuou, apoiando-se
em seu ombro, dando-se para que ele pudesse fazer o que quisesse com seu
corpo.
— Eu sou um espírito raro, o verão ainda me afeta. Mmmm, Josie, você
é tão macia aqui. Você gosta?
Ela ficou em silêncio por um momento, a boca aberta.
— Qual é o problema? — Mayne brincou. — Não consegue se lembrar
do próximo verso?
Ela não ia pronunciar o próximo verso.
Os olhos do homem brincaram com ela, e então foi ele quem disse, com
certo tom de brincadeira.
— E, eu te amo, portanto, vem comigo.
— Oh, mas que bobagem—, respondeu Josie, e deu outro suspiro por
um certo movimento que ele fez com o polegar—. Teatro puro. Você teve
tantas amantes.
— Não é verdade—, garantiu ele—. Não tenho certeza se sou capaz de
sentir emoções.
Josie continuava encostada nele, que continuava a sentir seu corpo,
tocando-a como se ela fosse um instrumento delicado no qual ele tocava as
notas musicais mais altas.
— Nenhuma das mulheres que pensei amar jamais me olhou como você
—. Disse Mayne em seu ouvido.
Josie estava ciente de que aos olhos do marido ela parecia desesperada.
Sylvie, por exemplo, nunca pareceu assim. Ela era linda demais para se
desesperar.
— Você pode achar ridículo o que eu digo—, Mayne continuou—, mas
quando você olha para mim, me sinto lindo.
Ela deveria detê-lo, ela realmente deveria impedi-lo. Exceto que ela não
podia, pois estava ofegando agora.
— Quando eu olho para você—, ele disse—, eu me sinto fora de
controle. Provavelmente é por isso que eu nunca, nunca me aproximei de
nenhuma mulher que me fizesse sentir como você me faz, e uma vez que
ainda não tenho certeza de como nos casamos...
— Não somos casados, na verdade.
— Estaremos em cerca de dez minutos.
— Oh—, Josie sussurrou.
Então ele a pegou em seus braços e a colocou no sofá.
— Você quer estar aqui, ou não teria concordado com este casamento
em primeiro lugar—, disse ele. E, ficou ao lado dela, tirando as roupas, e
Josie nem se preocupou em arranjar seus membros de forma a minimizar
suas curvas, porque ela não conseguia respirar. Não quando ela viu todos
aqueles músculos, e a forma como o peito dele se estreitava até os quadris,
e então ... abaixo disso ...
Mayne acompanhou seus olhos—. Eu nunca dormi com uma virgem—.
disse ele, franzindo entre as sobrancelhas.
— Nem eu—. disse Josie, estendendo a mão para ele—. Mas estou
disposta a tentar.
Mas ele não caiu diretamente sobre ela. Em vez disso, ele se deitou ao
lado dela e beijou-lhe os olhos, o rosto, enquanto ela estremecia. Até que
finalmente ela percebeu que fazer amor - com Mayne, pelo menos - era um
banquete sensual que provavelmente levaria horas.
Demorou... beijos, sussurros e uma ou duas risadinhas, mas finalmente
Josie não estava mais deitada ao lado dele, mas o tocando com avidez. Era
tudo, ela pensou meio grogue, uma questão de imitação.
Ele beijou suas faces, e então a curva de seu pescoço, e então seus
ombros ...
Então ela beijou o lábio dele e sentiu a aspereza de uma barba vindo, e
então o beijou mais abaixo, nos ombros e no peito.
Mayne estava constantemente sussurrando coisas em seu ouvido,
enquanto suas mãos percorriam seu corpo inteiro, fazendo-a estremecer e
até gritar. Até que, perplexa, ela surpreendeu o homem.
— Garret, não que eu ache isso desagradável, mas você acha que
poderia ... poderíamos ... você poderia parar de beijar meu ombro agora?
Mayne deu uma risada curta e caiu de joelhos, olhando para baixo.
— O que você gostaria que eu fizesse agora?
Todo o corpo de Josie tremia de excitação, tentando, em vão, pensar em
algo espirituoso, engraçado, para dizer.
— Eu não sou virgem, Josie—. Ele comentou. Ele tinha uma mão no
cabelo encaracolado em sua virilha, e estava ficando cada vez mais difícil
para ela ouvir, quanto mais pensar.
— Acho que não—. Murmurou ironicamente, entre suspiros.
— Mas dane-se se eu não me sinto como um agora—, confessou ele,
abaixando a cabeça para os seios de Josie para que ela não pudesse ver seus
olhos. O que ela teria gostado.
— A sério? Você se sente virgem? — Ela conseguiu dizer.
Mas qualquer resposta que ele pretendia dar a ela foi abafada porque ele
estava beijando seu peito. Josie não conseguia ouvir ou entender quando ele
a estava adorando, devorando-a com a boca. E, perdeu mais a consciência
quando ele continuou beijando-a no abdômen, quando ele deixou pequenas
marcas de mordida em seus quadris e então ...
Nesse ponto, nada do que ele disse fazia muito sentido para ela, embora
ela estivesse ligeiramente ciente de que Garret ainda estava falando. Ele
dizia que, de fato, se sentia como se nunca tivesse estado com uma mulher.
Ele também disse que ela era diferente.
Josie o ouviu, mas não estava prestando atenção. Ela não precisava de
palavras. O que ela queria era apenas o que ele estava fazendo com as mãos
e depois com a boca ...
Os dedos dos pés de Josie estavam enrolados e suas costas arqueadas.
Ela gemeu e tentou manter os gemidos em níveis aceitáveis. Mas, não
podia, especialmente depois de colocar seu corpo em jogo também. Josie
soltou todos os tipos de gritos indignos em uma dama e não conseguia
controlar o desejo de erguer o corpo em direção ao dele. Mas não se
importava.
Ele separou seus joelhos e se ergueu sobre ela, e ela teve um momento
surpreendente, uma imagem que ela nunca esqueceria durante toda a sua
vida - Garret Langham, conde de Mayne, com seu rosto rígido e seus olhos
selvagens, seus ombros apoiados, olhando em seus olhos ...
De repente, ela acreditou nele. Acreditava que se sentia novo, tão novo
quanto ela. Acreditava que, por alguma estranha razão, tudo parecia tão
novo para ele quanto para ela. Porque ela viu a respiração irregular escapar
de seus lábios enquanto ele se balançava sobre ela. E ouviu o som gutural
que saiu de seus lábios quando ele entrou nela.
Uma das razões pelas quais ela se lembrava de tudo tão vividamente era
que cerca de dois segundos após aquele primeiro empurrão - o que foi
muito bom, ela tinha que admitir - o resto não foi muito gratificante. Na
verdade, aquele calor febril evaporou de suas pernas tão rapidamente
quanto veio, e em vez de querer subir em direção a ele, seu único instinto
foi de se afastar dele.
Depois de alguns segundos, as únicas coisas que passaram por sua
mente foram palavras pouco românticas, palavrões totalmente vulgares,
expressões sujas que ouvira nos estábulos e que combinavam com a dor
desagradável que a torturava. Não era nada do jeito que Annabel havia
descrito. Doía como... como o inferno. Essa era a pior frase que ela
conhecia, e ela nem tinha certeza se abrangia a situação.
Mayne estava apoiado em seus braços sobre ela, olhando para baixo, e é
claro que ele sabia, então ela lhe deu um sorrisinho tenso. — Está quase
acabando? — ela perguntou, tentando não soar muito esperançosa.
A voz de Mayne voz saiu estranha e rouca—. Não exatamente. Devo
torná-lo mais rápido, Josie?
— Por Deus, sim—. disse ela, perguntando-se se era tarde demais para
anular o casamento. Não, ela não quis dizer isso. Mas, infelizmente, era
verdade que, ao contrário de suas irmãs, ela não ...
— Oh! — ela chorou. E então, à beira da indignação, ela realmente
explodiu com o indizível:— Inferno!
Porque ele se lançou para frente e algo se rompeu dentro dela.
— Sinto muito, Josie—. Ele ofegou.
Ela se mexeu. — Parece um pouco melhor agora—. disse ela, ignorando
o fato de que estava indiscutivelmente arruinada para o resto da vida.
— Bom—. Ele concordou com o mesmo tom de voz rouco que exibira
ao longo do ato—, Porque eu não acho que posso parar agora, você
consegue me acompanhar?
Josie ficou em silêncio por um momento. Ela estava tentando se
concentrar.
— Claro—, disse finalmente, tentando trazer um tom gentil à sua voz
—. Continue—. Naquele momento, ela percebeu que Sylvie tinha
informações melhores que ela sobre assuntos amorosos. Agora, até a
proposta de Sylvie de permitir que o marido se aproximasse dela uma vez
por mês parecia demais para Josie.
De qualquer forma, não parecia doer tanto. Os ombros de Garret
estavam brilhantes de suor, cheios de músculos tensos. Ela nunca tinha
imaginado que seria assim, quando o via com suas roupas elegantes. Josie
pensou que ele teria músculos magros e duros, mas na realidade eram
grandes, poderosos e elásticos. Ele tinha um corpo avassalador.
Era estranho o que eles estavam fazendo. Ou o que ele estava fazendo
com ela. Porque uma vez que parou de doer tanto, ela sentiu o calor sensual
retornar lentamente em sua barriga. Em seguida, ela começou a passar as
mãos nos ombros de Mayne, tão bonitos e musculosos, de forma tão
perfeita. O calor aumentou. Assim como não esperava a dor, também ficou
surpresa com a volta do prazer.
Verdade seja dita, assim que Garret abaixou a cabeça para descansar em
seu peito, ele teve que admitir que o encontro não foi tão desagradável
quanto parecia momentos antes. A intimidade entre eles, tão especial, era ...
Naquele momento ela parou de pensar, pois o marido inesperadamente
mudou de posição e começou a entrar mais baixo e mais devagar, e isso
causou uma sensação indescritível em seu estômago. Incríveis pulsações de
fogo percorreram todo o seu corpo.
Ela se agarrou aos braços dele.
— Não dói mais tanto, não é, Josie? — ele perguntou.
E o estranho som gutural de sua voz, tão longe dos tons elegantes de
Mayne, fez o coração de Josie disparar também.
— Porque agora, finalmente, você é minha, Josie. Não há como voltar
atrás. Minha.
Naquele momento, o seu coração disparou. Uma força interior a fez
erguer seu corpo para se fundir com o de seu amante. Ela combinou o
movimento de seus quadris em compasso com o corpo de Mayne.
Ele se reajustou novamente, e agora havia algo no que ele estava
fazendo que a deixava louca, e aqueles gemidos começaram de novo,
exceto que ela não tinha tempo para se preocupar em continuar como uma
dama.
Ele a estava puxando para cima e ela percebeu que seu grande corpo
estava suado e por algum motivo seu suor a deixava loucamente animada. E
então ela olhou para baixo, onde eles estavam juntos.
Era como se luzes explodissem em sua cabeça e agora ela gritava cada
vez que ele vinha contra ela. E agarrando-o com força, puxando-o de volta.
E ele não estava mais beijando seus seios, estava devastando sua boca, e o
tempo todo falando, dizendo coisas sobre sua doçura, seu sabor e sua
suavidade, e o que ele queria beijar, e morder e finalmente veio como um
vento indulgente no calor do verão, subindo dos dedos dos pés enrolados e
fazendo-a convulsionar contra ele novamente, e novamente, e novamente,
gritando seu nome de uma forma meio perplexa.
Mais tarde, ela nunca teve certeza do que ele disse, mas pensou que
tinha algo a ver com misericórdia e talvez uma divindade ou duas, porque
um segundo depois ele soltou um gemido estrangulado e então tomou sua
boca no beijo mais doce que ela poderia ter imaginado.
Capítulo 37
Do Conde de Hellgate,
Capítulo vinte e cinco
Sem dúvida, caro leitor, você acreditou que as chamas da minha luxúria se
extinguiram pelo desespero e pelo pesar. E assim foi por um tempo. Eu já
havia decidido tomar outra esposa. Obviamente, foi a única maneira de me
salvar da condenação. Senti toda a agonia do meu relacionamento
frustrado com Semente de Mostarda retornar. Então, após um período
decente de luto, voltei a Londres, determinado a encontrar uma esposa.
E então eu a vi.

O sol estava entrando pela janela, então Josie rolou em protesto, com a
intenção de enterrar a cabeça sob o travesseiro. Exceto que seu braço estava
preso na colcha, então ela puxou. E então, como uma corça percebendo o
olhar vigilante de uma raposa, ela despertou de repente.
Seu braço estava preso por um braço masculino. Um braço masculino
musculoso de pele dourada. Ela olhou para ele, enquanto a noite anterior
voltou à sua memória como água em uma jarra. Ela não era virgem agora,
imaculada ou não. Não mais. Eles voltaram furtivamente para dentro de
casa no meio da noite depois que Garret jurou que não conseguiria dormir
em um sofá. Josie corou só de pensar no que aconteceu naquele sofá.
Ele estava dormindo. Quase sem ousar respirar, Josie se aproximou. Ele
era dela. E, oh ... ele era lindo. Em seu sono, aquele olhar cansado sumiu de
seu rosto e ele parecia feliz. Seus cachos eram tão negros que brilhavam ao
sol da manhã, como um pedaço de carvão se você o dirigisse para uma
lâmpada. Mesmo olhar para os lábios dele fez o estômago de Josie apertar, e
os dedos dos pés dela se curvarem reflexivamente ... era novo, essa
sensação de desejo ardente. Ela tinha a sensação de que isso se tornaria
comum.
Seu novo marido era uma espécie de quimera ... o que significava que
ela deveria apreciá-lo tanto quanto pudesse, enquanto ele ainda estava
interessado. Embora, ela não sabia como alguém poderia se cansar de um
prazer como aquele que haviam compartilhado na noite anterior. Ela
conseguia imaginar, mas tinha medo de perdê-lo.
Claro, quando ele abriu os olhos, ela estava sorrindo como uma idiota.
Josie apertou os lábios.
— Bom Dia.
Ele se apoiou nos cotovelos, parecendo totalmente perplexo. O lençol
desceu até a cintura de uma forma muito atraente.
— Eu sou sua esposa—, Josie o estimulou, empurrando o peso de seu
cabelo para trás sobre o ombro.
— Josie? Também conhecida como Josephine?
A perplexidade desapareceu de seu rosto e deu lugar a uma expressão
sombria—. Maldito seja o inferno. — disse ele, caindo para trás e
colocando um braço sobre os olhos.
Pelo menos ele não a condenou ao inferno—. Suponho que você se
lembra de mim?
— Claro que me lembro de você.
— É muito atencioso da sua parte.
— Eu, como um verdadeiro idiota, dormi com uma mulher que tem
idade para ser minha sobrinha, embora eu tivesse decidido anular o
casamento. O que diabos aconteceu comigo?
— Eu? — Josie perguntou esperançosa.
Ele gemeu.
— Embora fosse mais como se eu estivesse sob você e você sobre mim
—, disse ela, ficando de joelhos. Ele não podia fugir agora. Não por anos e
anos.
— Oh Deus, você está até falando como uma boneca de parque de
diversões—. Ele gemeu. Sem tirar o braço dos olhos, ele estendeu a mão do
outro e puxou-a para si.
Ela caiu contra seu peito com toda sua graça usual. Provavelmente
outras mulheres se aninharam contra ele como gatinhos, mas ela foi pega de
surpresa e caiu em cima dele com a sua usual falta de jeito. Ele tinha um
cheiro maravilhoso, picante, com um sabor de ar livre. Ela respirou fundo
novamente. Mayne colocou a mão em seu cabelo, desembaraçando-o.
— Por que você está bufando no meu peito? — ele perguntou.
—Eu não estou bufando—, disse com os lábios abafados pela aspereza
dos pelos do peito dele—. Estou provando você, não fungando em você.
E... — ela o tocou delicadamente com a ponta da língua—. Você tem um
gosto muito bom.
— Ah...— ele disse.
Garret tinha um gosto um pouco salgado, um pouco como sabão, um
pouco como outra coisa ... essência de Homem. Ou essência de Mayne? Ele
estremeceu quando ela beijou seu pequeno mamilo plano, então ela o fez de
novo. E de novo.
Ele não estava dizendo nada, mas Josie tinha ouvido falar sobre os
homens pela manhã. Eles eram como ursos.
Todo mundo sabia disso. Sulky. Sullen. Bem. Ele poderia simplesmente
ficar ali de mau humor e permitir que o usassem. Então ela ... o usou.
Ela arrastou os dedos e às vezes os lábios por todo o peito largo. Os
músculos, Josie descobriu, não eram duros do jeito que pareciam, mas
quentes e bastante sedosos ao toque. E, se ela colocasse os lábios contra sua
pele, provasse-o, até mesmo o beliscasse com os dentes, ele estremecia de
novo, uma pequena sacudida, como se um vento frio soprasse sobre sua
pele.
Seu coração batia mais forte e mais rápido, e ela sorriu por dentro. Ele
quase não tinha pelos no peito, o que era, ela pensou, bastante incomum
para um homem. Finalmente...
— Por que você não tem pelos no peito? — ela perguntou. Ela tinha
acabado de descobrir que quando seu cabelo arrastou em seu peito, ele fez
um som minúsculo. Um bom som, ela pensou.
Quando ele respondeu, sua voz era lenta e sombria, e o sorriso dentro
dela cresceu. — Eu não tenho pelos no peito porque ... eu não tenho—. Ele
não estava fazendo muito sentido, mas ela poderia perdoá-lo por isso.
Ele merecia um pouco de punição, porém, por dizer que ela falava como
uma criança. — Claro, eu não sei por que você deveria ter cabelo no peito
—. disse ela, puxando o cabelo sobre o peito dele novamente, e
aproveitando o sopro de ar que saiu entre os dentes. — Eu ficaria muito
estranha com pelos no peito—. Ela olhou para seu peito e então olhou para
cima para encontrar os olhos dele.
Sua camisola estava presa sob os joelhos e seus seios se destacavam
contra o tecido leve, como se ela não estivesse usando nada. Uma coisa boa
sobre seus seios era que eles não caíam em direção à cintura, como os seios
das mulheres às vezes ficavam. Mayne parecia gostar deles também.
— O que você acha? — ela disse.
Ele piscou para ela.
— Dos meus seios? — ela o incitou. — Eu acho que eles são bastante
alegres.
Ele pigarreou—. Alegres?
— Bem, eu preferiria que eles fossem um pouco menores porque
ficariam muito bem em meus vestidos. Eu tenho o físico da minha mãe,
pelo que a entendo. Mas de qualquer maneira, sempre pensei que meus
seios eram ... alegres. Eles se levantam, vê?
Seus lábios se separaram.
Ela estava realmente se divertindo. Claro, ela estava desempenhando
um papel. Mas ela não estava sempre desempenhando um papel? Todos não
estavam sempre fingindo ser algo que não eram? E, ele merecia por agir
como se ela fosse uma idiota desmiolada, jovem demais para se casar?
Então ela puxou a camisola ainda mais contra o peito. Seus seios eram
adoráveis, como ela estava dizendo. Agora que ela havia superado a ideia
de que eles eram muito grandes.
— Bem—, disse ela—, talvez eu deva ir encontrar uma tigela de
mingau ... na sala de aula, você não acha? — Ela estreitou os olhos para ele.
— Não é aonde nós, bebês, pertencemos?
Ele estava tentando alcançá-la como um homem no deserto. — Foi
estúpido da minha parte—. disse ele, sua voz soando um tanto embargada.
— Sim, é verdade—. disse Josie, passando as pernas por cima das dele
como se fosse sair da cama, o que fez com que sua camisola subisse sobre
suas coxas.
— Venha aqui, sua criança covarde—, disse Mayne, e então ele se
moveu tão de repente que ela nem percebeu o que estava acontecendo, e ela
ficou presa embaixo dele—. Tirando sarro de mim, não é? — ele rosnou
para ela.
— Foi você quem me chamou de bebê de parque de diversões—. Ela
zombou, amando o peso do corpo dele no dela. — Talvez eu seja muito
jovem para casar? — Para provar seu ponto, ela arqueou as costas um
pouco, apenas para que seus seios roçassem o peito nu dele.
— Sua megera! — murmurou, inclinando a cabeça.
Mas, ela se desviou de seu beijo. — Por que você parecia tão surpreso
em me ver quando acordou? Diga a verdade. Você esqueceu quem eu era?
— Eu pareci surpreso? — A cabeça dele se abaixou e ele começou a
fazer a coisa mais estranha: beijar o seio dela através da camisola ... Josie
mexeu as pernas inquieta. Era maravilhoso.
— Sim, você fez—, disse ela, reunindo seus pensamentos. — Eu
acredito que você não tinha ideia de quem eu era.
— Eu sabia muito bem quem você era—. disse ele, tirando a camisola
de seu ombro.
— Então por que a confusão?
— Por uma razão muito simples. Eu nunca havia acordado com uma
mulher—. disse ele. Seus lábios patinaram ao longo da pele de seu ombro,
deixando um pequeno caminho de fogo.
— Não diga bobagem—. disse ela quase sem fôlego. — Nós não temos
o tipo de casamento em que você precise falar mentiras, Garret. Eu sei que
você acordou em camas por toda Londres.
Ele fez um som abafado que parecia ser negativo.
Ele estava beijando seu seio, e a sensação áspera tomou conta dela
como uma onda, puxando-a para algum lugar onde ela não conseguia
pensar em uma réplica inteligente.
Quando Mayne levantou a cabeça, descobriu que sua esposa estava
deitada e relaxada em uma atitude de puro prazer. Ele puxou a camisola
ainda mais para baixo, por cima do outro ombro. Houve um pequeno som
de tecido rasgando e Josie abriu os olhos. Ele esfregou o polegar em seu
mamilo e ela fechou os olhos novamente.
Não havia dúvida em sua mente que ela tinha os seios mais bonitos que
ele já tinha visto. As mulheres com quem ele dormiu tinham seios altos e
duros, como pequenas maçãs. Os de Josie eram suaves e abundantes,
derramando-se em suas mãos como um presente. Seus mamilos eram tão
requintados quanto o resto dela, rosados e delicados.
Ele não conseguia deixar de pensar na primeira mulher por quem se
apaixonou, Lady Godwin. Ela era esguia e reta, e mantinha-se muito ereta.
Ele sabia como eram seus seios, porque ela usava os tecidos flutuantes
transparentes da época. Se ele alguma vez encontrasse Josie querendo usar
aquele tipo de vestido transparente, ele a trancaria antes de deixar outro
homem ver seus seios.
Os seios de Josie fizeram seu coração doer só de olhar para eles. Eles
fizeram sua virilha queimar com o desejo de afundar em sua suavidade, sua
feminilidade que era muito diferente dos planos rígidos de seu próprio
corpo.
A boca de Josie estava ligeiramente aberta, todos os lábios vermelhos
exuberantes e boca doce. Ele mal podia esperar, então a puxou em sua
direção. — Josie—, disse ele.
Ela o estava puxando para baixo, ofegando um pouco.
— Eu não acordo com mulheres ... nunca.
— Humph—, ela disse, e então, — Oh, oh- oh.
Mayne sentiu como se tivesse recebido uma bênção. As pernas dela se
enrolaram naturalmente nas costas dele e ela estava vindo para encontrá-lo,
os olhos abertos agora.
— Isso é tão maravilhoso—, disse ela. Mas então: — Não... ai... pare
agora!
Ele engasgou com uma risada e parou, como ordenado.
— Talvez você possa chegar um pouco mais perto agora—. Josie
comandou.
— Você gosta disso? — ele indagou, se perguntando por que ele sentia
vontade de rir. Ele nunca ria durante as intimidades no quarto. Depois,
talvez. Ou antes. Nunca durante.
— Quando não dói. Mas eu preferia o que você estava fazendo ontem à
noite.
Mayne parou por um momento—. O que?
— O que você estava fazendo ontem à noite—, ela disse, sorrindo para
ele—. Aquilo foi adorável. Isto é... — ela se contorceu debaixo dele— ...
não tão perfeito. Muito bom, mas...
O sorriso dela ficava cada vez maior. Nenhuma mulher o corrigira na
cama. Na verdade, em geral, elas não tinham queixas.
Mas ele se reajustou, recuou e então avançou. Como sua senhora
ordenou. E ela soltou um pequeno grito que não foi nem um pouco
elegante.
Então ele decidiu que tinha o ângulo desejado, como ela disse. E então
ele decidiu tentar outro ângulo. Ela aprovou. Um terceiro: ela não gostou.
Na verdade, ela ficou bastante irritada e estendeu a mão para trás e puxou-o
em sua direção.
O que o fez começar a tremer todo e então ele parou de pensar em
ângulos, porque as mãos dela estavam em sua bunda, moldando-o,
puxando-o para ela, cada vez mais perto. Ele podia ouvi-la ofegante,
pequenas soluços pouco femininos, e instigando-o a continuar.
O sol estava derramando-se sobre os dois, e enquanto todas as mulheres
magras que ele conhecia tinham escondido seus corpos de seus olhos, Josie
estava lá, cada centímetro cremoso dela. Então ele se forçou a parar,
afastou-se embora sua pequena gata e esposa tenha se tornado quase
abusiva, e festejou com ela, todas as suas curvas e delícias. Deixou-se atrair
por cada covinha. Acabou beijando aquela pobre parte dela que doeu tanto
na noite passada.
Não parecia mais doer, porém, e realmente, sua jovem esposa tinha um
temperamento forte quando excitada. Na verdade, ela estava ameaçando
todo tipo de coisa quando ele voltou e a silenciou com um beijo que a
deixou completamente lânguida em seus braços.
Então, ele deslizou de volta para dentro dela, encontrou o ângulo que
ela amava tão naturalmente como se estivesse respirando, e então a colocou
exatamente onde ele a queria, agarrada a ele, seu cabelo despenteado e com
seus olhos suaves olhando para ele como se ele fosse o único homem na
terra, o único homem para ela em todo universo. O que, na verdade, ambos
sabiam disso.
— O que você quer dizer com nunca acorda com mulheres? — Josie
perguntou algum tempo depois. Ele sabia que a pergunta estava chegando.
Ela estava aninhada ao seu lado, toda a pele macia e sedosa e sem ossos, e
ele sorria para o teto e se lembrava de que havia uma razão para viver. Ele
tinha acabado de descobrir.
— Eu sempre saio durante à noite—. explicou ele, puxando-a
amorosamente para perto de seu ombro. — Quer dizer, saía.
— Sério? E o que as garotas falam quando você as deixa?
— Não dizem nada.
— Elas não queriam que você ficasse? Adorei acordar assim—. Mayne
olhou para ela para ver se ela estava voltando para seus jogos, se ela estava
tentando chocá-lo, mas aparentemente não estava, porque ela tinha o rosto
contra seu peito e parecia totalmente relaxada e ao mesmo tempo muito
pensativa.
— Eu também—. disse o homem.
— Então elas não gostavam?
— Eu nunca dei a ninguém uma outra chance.
— Porque não?
Ele se mexeu um pouco, desconfortável, até perceber que havia perdido
o contato com o quadril dela e, como a queria ao lado dele, puxou-a com
força novamente.
— Suponho que não queria estabelecer laços muito fortes—. Ele estava
fugindo de compromissos.
Ela estava sorrindo.
— Você é realmente virgem—. Anunciou ela.
— Não havia me dado conta.
— Virgem matinal.
— Contanto que não esteja imaculado—, disse ele maliciosamente, e se
virou para ela para que pudesse ver seu rosto.
— É triste perder a virgindade—. disse Josie, o riso dançando em seus
olhos.
— É triste?
— Você percebe que eu não posso mais chamar um unicórnio para o
meu lado?
— Você conhece muitos quadrúpedes com chifres?
— Um ano no pasto de meu pai, havia um touro que era terrivelmente
brabo—, contou Josie—. Seu nome era Bumble, mas eu dificilmente
poderia dizer que nos conhecíamos. Embora ele quase me acertasse por trás
uma vez.
— Foi uma bobagem entrar no pasto dele—. disse Mayne.
— Como você sabia que eu fiz isso?
— Porque eu conheço você, Josephine. Você sempre irá para o pasto do
touro, e eu suspeito que vou passar o resto da minha vida mantendo você
segura.
— Não, você não vai.
— Eu não vou?
— Você vai estar muito ocupado—, disse Josie—. Com seus estábulos.
Você sabe, eu tive uma ideia sobre isso.
Ele odiava falar com outras pessoas sobre seus estábulos, mas estava tão
confortável ali que, embora esperasse que o pequeno calafrio de desagrado
caísse sobre ele, isso não aconteceu.
— O que você acha que aconteceria se você cruzasse Manderliss com
Sharon?
— Nada demais—, disse ele—. Sharon tem aquele jarrete torto, você
sabe.
Ela ficou em silêncio por um momento. — Mas ela tem uma cernelha
longa linda.
— E, se você juntar isto, à velocidade e resistência de Manderliss, seria
esplêndido—, Mayne concordou, colocando-a ainda mais perto. — O par
em que estava pensando é Sharon e Seaswept.
— Sério? — Josie parecia em dúvida. — Você não me disse que
Seaswept oscila ligeiramente para trás?
Ele amava o fato de ela nunca ter esquecido nem mesmo os menores
detalhes que ele contou sobre seus estábulos. Ele disse isso a ela há cerca de
um ano.
— Você sabe quem mais seria uma boa combinação? — Josie disse—.
Com Hades, o cavalo de Rafe.
— Sua cernelha é muito curta.
— Mas a cernelha de Sharon é longa, então talvez tudo dê certo. Acho
cansativo o modo como as pessoas só acasalam cavalos dentro de seus
próprios estábulos, a menos que paguem quantias extraordinárias para criar
um campeão que ganhou uma corrida ou duas. Os melhores campeões vêm
de cruzamentos mais variados—. disse Josie com convicção.
Mayne pensou sobre isso. — Na verdade, Rafe tem uma jovem égua em
seus estábulos que pode ser uma combinação brilhante com Seaswept.
— Nesse caso, você poderia negociar com ele e acasalar Manderliss
com sua Lady Macbeth. Porque eu posso imaginar o potro que eles
produziriam.
Mayne também poderia: um lindo cavalo de bronze de crina esvoaçante.
— Teremos que viver em sua propriedade—, disse Josie um tanto
sonolenta—. Você não pode deixar outra pessoa cuidar de um potro nascido
do cruzamento entre Manderliss e Lady Macbeth.
— É claro—, disse Mayne, sabendo que ele sempre quis dizer isso. Ele
estava cansado de ser um gerente de cavalos ausente. Cansado de ler as
revistas de criação e organizar as coisas, e depois sair para a temporada,
mesmo que fosse a hora do parto.
— Você não sentirá falta de Londres? — ele perguntou.
— Claro—, disse Josie—. Vou ter que deixá-lo sozinho no campo
enquanto me divirto nos bailes.
A onda de pânico que sentiu em seu peito o deixou atordoado e ele
ficou em silêncio.
— Estou brincando—. disse Josie, com uma gargalhada na voz. E então
ela adormeceu.
Então, ele ficou lá e pensou em suas prioridades. Lá estavam os
estábulos, a temporada e Londres. Todos aqueles dias e noites
espalhafatosos perdidos no Almack's e em lugares menos saborosos caíram
para o fim da lista. Seus estábulos subiram ao topo.
Mas talvez ... não exatamente no topo.
Havia algo mais também.
Mas ele não queria explorar esse pensamento; parecia muito assustador
para explorar.
Capítulo 38
Do Conde de Hellgate,
Capítulo vinte e cinco
Desde o momento em que a vi, soube que ela era única ... A única que
completou minha alma, que preencheu todos os vazios ásperos e escuros
que se formaram em meu espírito durante anos de depravação, caçando os
desejos impuros de mulheres casadas. Eu a vi do outro lado da rua ...
delicada, pura e clara como um raio de sol. Eu a vi ... e me apaixonei.

Foi constrangedor acordar de novo para descobrir que a luz da tarde entrava
pelas janelas. Mas sua criada não pareceu achar errado quando ela
finalmente saiu da banheira, se vestiu e desceu as escadas. Na verdade,
Josie ficou bastante chocada com a gentileza de todos, até que percebeu que
agora era a dona da casa.
Na verdade, ela se sentia como uma convidada. Como ela poderia se
casar com Mayne? Josie, condessa de Mayne? Não parecia verdade. Talvez
tudo isso tenha sido um sonho.
E, ainda assim...
Ela conseguiu!
Ela provavelmente parecia uma completa idiota, sorrindo para si
mesma. Mas não era permitido a uma mulher um momento de triunfo? Josie
passou direto pela sala de jantar e saiu pelas portas de vidro que davam para
o jardim lateral. Ela sabia onde seu marido estaria em uma bela manhã...
bem, tarde... e, ele não estaria dentro de casa.
— É tudo muito simples—, disse ela em voz alta para si mesma, a
risada borbulhando por dentro—. Tess se casou, e então Annabel se casou, e
então Imogen se casou...
— E, então, eu me casei!
Parecia um conto de fadas, realmente parecia. Todos as quatro se
casaram. Feliz.
Ela seria a melhor esposa que Mayne já imaginou. Ela seria doce e
amorosa com ele o tempo todo. Não que fosse um grande sacrifício. Na
verdade, ela se pegou pulando no caminho para os estábulos nos fundos da
casa.
Ela sabia perfeitamente bem por que tipo de mulher os homens se
apaixonavam. Mulheres doces como o mel. Já que ela nunca ficaria com
raiva ou temperamento forte, ele era tão bom quanto o dela.
Ela encontrou Mayne encostado em uma cabine conversando com Billy.
Ele olhou para ela com um sorriso.
— Bom dia para você, Billy—, disse Josie, ignorando o marido por um
momento—. E como você está se mantendo desde Ascot? Houve mais
problemas com aquelas bolas diabólicas?
— Nem um pouco—, disse Billy—. Eu usei a receita que você me
mandou, senhora. E, posso dizer que todos nós aqui nos estábulos estamos
muito felizes com seu casamento com sua senhoria? Não achamos que ele
poderia ter encontrado um par melhor para si mesmo em toda a Inglaterra.
Josie sentiu que estava ficando um pouco rosada.
— O que você acha de Selkie? — Mayne perguntou. Selkie era um
grande e esguio castanho com bastante osso na perna.
— Ele é adorável. — disse Josie, estendendo a mão para que Selkie
pudesse beijar sua palma.
Mayne esticou o braço e coçou Selkie entre os olhos. — Ele foi muito
bom por mim. Ele venceu algumas pequenas corridas e foi eliminado no
Derby. Ele não tem coração para correr; se ele sente que está perdendo, ele
apenas se acomoda e aceita seu lugar. Estou aposentando-o para procriar.
— Ele é um árabe?
— Exatamente. Por meio do Byerley Turk.
— A genealogia de Byerley data do século XVII, não é mesmo?
— Que prazer ter uma esposa com um conhecimento tão extraordinário
sobre cavalos.
Era tudo tão sociável e agradável que Josie nunca poderia ter acreditado
no que aconteceu a seguir. Seja como for, em poucos minutos ela e Mayne
começaram a berrar um com o outro.
Gritando!
Foi tudo culpa de Mayne. Ele tirou de algum lugar a ideia de que o
senhor, o cavalo macho, transmitia aos filhos as características de seu
próprio pai, mas transmitia às filhas as características de sua mãe.
— Eu não concordo—, disse Josie razoável—. Na verdade, isso é um
absurdo. Você está dizendo que as características são qualificadas pelo
gênero do animal.
— Precisamente—, disse Mayne—. Você vê isso o tempo todo. Se você
colocar um garanhão para procriar com uma égua de corpo bem
estruturado, você o encontrará em um potro. Se o resultado for uma
potranca ... não. As características passam da linha masculina para a
masculina. E o inverso.
— Absurdo—, disse Josie de novo, aquecendo o assunto—. Vamos
pegar um cavalo muito famoso como exemplo. Onde você acha que a
descendência de Eclipse obteve todo esse temperamento que exibe? Não do
Eclipse. Vem através das éguas que o colocam para procriar. Além do mais,
o pai de Eclipse foi Marske, e ainda o peito largo de Eclipse veio de sua
fêmea, Spilletta. Todo mundo sabe disso!
— Você não pode saber que algo tão efêmero quanto temperamento
veio do lado materno—. Disse Mayne.
— Eu certamente sei—, disse Josie—. E não estou sozinha nessa
opinião. Racing Journal observou que os filhos de Eclipse receberam mais
de sua mãe que do seu pai. Por que você acha que nenhum deles foi um
corredor tão bom quanto ele?
— Porque algumas combinações tendem a destacar os defeitos da
linhagem—, destacou Mayne. Seus olhos estavam um pouco estreitados e
ele não parecia tão preguiçoso como costumava ser—. E, francamente,
como você pode dizer que o Rei Fergus não era um grande corredor?
— Porque ele não era.
— Sua linhagem de pai tem alguns dos melhores cavalos deste país!
— A prole de Eclipse era temperamental... cruel até... porque ele foi
colocado para procriar com éguas nervosas. Cada um deles tinha caráter
instável! — Josie afirmou—. O fato é que você não pode ditar quais
qualidades virão de onde. Tivemos Nectarine, uma linda baio, vermelho
acastanhado com pés brancos e uma mancha branca. Ela tinha mais de dois
metros de altura. Nossa égua reprodutora, Gentian, mostrou sinais de que
ela seria capaz de dar à luz a um vencedor, mas cada potro que ela gerou
tinha uma pelve curta. E isso veio da mãe baio.
— Sempre há exceções—, Mayne persistiu—. Como eu disse, algumas
combinações destacam defeitos.
Quem sabe se aquela pélvis curta realmente veio da mãe baio? Sua
Gentian pode ter tido uma família inteira de touros mancos em sua
linhagem. Afinal, a manutenção de registros dificilmente era adequada na
Escócia, vinte anos atrás.
Com uma pequena tosse, Billy escapuliu para o lado e saiu do estábulo.
— Na verdade, estávamos mantendo livros de registro—, disse Josie,
carrancuda para Mayne—. Meu avô detalhou cada cavalo que passava por
suas mãos. Posso dizer sem hesitação que Gentian não tinha uma pelve
curta em qualquer lugar em sua linha.
— Sempre haverá exceções em qualquer caso, mas um programa de
melhoramento tem que ser organizado em torno de um princípio. Eu vi
evidências suficientes para esta ideia que projetei o programa do próximo
ano em torno dela.
Josie revirou os olhos. — Não admira que você não tenha tido uma
vitória sólida em dois anos.
— Uma observação injusta. Afinal, eu nem comecei este programa de
reprodução.
— Posso ver?
— Você vai ser gentil?
— Você quer bondade ou uma vitória? Não seja um ...— Ela se conteve.
— Suspeito que minha nova esposa estava prestes a me insultar—. disse
Mayne.
— Nunca! — disse Josie, embora tivesse consciência de que os maridos
não gostavam de ser chamados de babacas.
Ela quase se esqueceu de ser doce como o mel.
Mas um momento depois, lendo seu programa de procriação, ela se
esqueceu de novo—. Você está sonhando se pensa que vai conseguir uma
boa combinação cruzando Selkie com Tisane. Você esquece que eu conheço
Tisane. Ela correu contra um dos cavalos do meu pai há dois anos nas
corridas Kelso. Ela teria vencido, exceto que ela nem tentou. Não tem
caráter suficiente.
— Não foi esse o motivo—. Protestou Mayne.
— Sim, foi—. Afirmou Josie—. Tive a nítida impressão de que Tisane
tinha um pouco de medo de ser atropelada. Isso não é algo que você queira
redobrar cruzando-a com um garanhão que não tem espírito.
Ela acariciou o nariz de Selkie para se desculpar pelo insulto.
— Você não pode esperar que as características dos pais se transmitam
perfeitamente através da linhagem do pai. Não estou preocupado com o fato
de esses cavalos terem um desempenho ruim porque são as qualidades de
seus pais que irão saltar para sua progênie.
— Absolutamente absurdo—. disse Josie novamente—. Eu acharia que
você esteve no sol por muito tempo se você não estivesse diante de mim.
Você realmente acha que as crianças só herdam as características dos avós?
E você? Você espera que nossa filha se pareça com a sua mãe?
Eu acho que não!
— Espero que não—, disse Mayne—. Eu adoro minha mãe, mas ela tem
uma voz que parece uma rã-touro.
— De acordo com você, nossa filha vai herdar a voz de uma rã-touro,
então—, disse Josie—. Felizmente para ela, sua teoria é uma besteira total.
Mayne começou a rir—. Agora vou começar a rezar para que o
temperamento de nossa filha não se pareça com a mãe dela!
Josie piscou para ele e então percebeu que tinha esquecido. Totalmente
esquecido de que ela era uma esposa doce como o mel.
Mayne ainda estava rindo dela quando Josie viu algo mudar em seus
olhos. Ele olhou para o longo corredor vazio dos estábulos. Ninguém estava
lá, exceto alguns cavalos cochilando em suas baias enquanto pedaços de
palha flutuavam sob os raios de sol—. Eu vou lhe mostrar o sótão—. disse
ele, pegando a mão dela.
— O sótão? — Josie questionou, e então se lembrou de ser agradável.
Muito agradável. — Claro, querido—, ela disse—. O que você quiser.
Ele a levou até a escada contra a parede. Então ele fez uma pausa—.
Você é capaz de subir uma escada?
Josie revirou os olhos e então subiu a escada para que ele não tivesse
tempo de examinar seu traseiro. Como consequência, ela subiu os degraus
tão rapidamente que seu chinelo prendeu no topo e ela caiu esparramada em
uma pilha de feno.
Uma risada soou atrás dela e ela teve a sensação espinhosa de que ele
estava olhando para seu traseiro, então ela se virou.
Claro que ele estava parado na abertura, as pernas abertas, parecendo
tão delicioso quanto qualquer homem tinha o direito de parecer. Suas calças
grudavam-se nas pernas como se tivessem sido pintadas ali. Simplesmente
não era justo, para a mente de Josie, que ele tivesse esse corpo
naturalmente, e ela ...
Ele não se abaixou e a pegou, em vez disso, ele se agachou ao lado dela,
como se ela fosse uma garotinha que havia caído na grama—. O que você
está pensando?
— Em suas pernas—. Ela disse honestamente.
Ele bufou de tanto rir—. Você está pensando nas minhas pernas.
Pernas? O que há para pensar sobre minhas pernas?
De repente, ela estava sentindo isso de novo, aquele doce e adorável frio
em sua barriga, e a corrida em seu sangue que a fazia se sentir perfeita em
seu corpo, não gorda, não desajeitada - apenas certa. Ela se inclinou para o
lado e colocou a mão no joelho de Mayne—. Você não sabe?
— Não.
— Você provavelmente já ouviu sinfonias de louvor sobre seu corpo.
Não quero torná-lo mais vaidoso do que já é.
Ele riu de novo, um som escuro e suave no fundo de sua garganta—.
Acredite ou não, entre aquelas mulheres a quem você se refere tão
casualmente, nenhuma mencionou minhas pernas.
— Elas deveriam ser cegas—. Ela o assegurou. Era difícil não prestar
atenção aos músculos tensos de suas coxas. Era pensar neles e sentir
vontade de dançar uma valsa, ali mesmo, na palha. E pelo olhar dela, ele
sabia o que inspirava sua jovem esposa.
— Mas você—, disse ele lentamente, com um tom humorístico e
provocador—, você não teve as centenas de amantes que tive a sorte de ter,
de experimentar o que é o amor e de me tornar um professor.
Ela fez beicinho. Os olhos de Mayne permaneceram na deliciosa boca
carrancuda. Então ele também teve vontade de dançar.
— É uma das injustiças que tenho de suportar só porque sou mulher.
— Você não perdeu nada, eu garanto. Era isso que eu queria dizer, com
minha ironia. Nada. Você vê: nenhuma delas era sensível o suficiente para
notar minhas pernas incríveis. Elas não as elogiaram.
— O que elas elogiaram, então? — Josie perguntou, surpresa com a
sensação de desejo que tomava conta dela às vezes. Ela tentou se acalmar
—. De qualquer forma, é uma conversa muito inadequada—. Acrescentou,
olhando para o sorriso do homem.
— Você, Josie, muitas vezes é inadequada—. Observou o marido—.
Acho que é um traço de caráter, desde o nascimento. Além disso, estimo
que nossa filha corre o risco de ser expulsa da sociedade por
comportamento impróprio se não a monitoramos de perto.
Josie percebeu que Mayne aceitara seu ponto de vista, embora
indiretamente, com delicadeza, sobre o programa de reprodução. Ele
reconheceu que o caráter é herdado dos pais. Ele a ouviu e iria mudar os
planos com base na lógica dela. Ela nunca tinha visto um homem voltar
atrás dessa forma. E menos ainda o pai, que durante anos riu de cada uma
de suas sugestões, até que, farta e decepcionada, parou de dá-las.
— Suas pernas são lindas—, disse ela, com um toque de hesitação em
sua voz—. Eu ... — Mas a ideia que estava prestes a expressar de repente
escapou de sua cabeça. Ao ver o corpo musculoso de Mayne, a graça
masculina de seus movimentos e a bondade de seu caráter, o desejo a
invadiu até que ficou sem palavras.
— O estranho é que eu diria o mesmo sobre você, mas nunca sobre mim
—. Mayne explicou, parecendo realmente confuso. Ele começou a levantar
a saia dela e ela o deixou fazer isso.
— Minhas pernas ...— ela começou a dizer, e parou. Não adiantava
falar sobre o que pensava desse assunto.
— Liso e cheio de curvas—, disse ele, seus dedos apreciando
precisamente aquela suavidade. A vontade de gritar e dançar redobrou, a
ponto de seus quadris começarem a se mover inconscientemente—. Sua
pele é tão clara quanto uma pétala de rosa branca. Eu sei que não é muito
original, mas é a verdade — naquele momento suas mãos alcançaram suas
coxas—. Ele já estava em cima dela, e a mulher fechou os olhos porque viu
algo no rosto de Mayne que a fez se sentir ...
Ímpar.
— Acho que é isso que eu mais gosto em você—, ele sussurrou. Agora
ele estava acariciando suavemente seu traseiro—. Você sabe, Josie, que suas
curvas hipnotizantes, sua sensualidade transbordante, podem fazer o
homem mais duro chorar de pura alegria?
— Não—. Ela murmurou.
Agora ele estava beijando seu pescoço.
— Suas coxas fazem qualquer homem normal querer afundar em você,
beber você, desfrutar de todos os doces tesouros, todos os mistérios
promissores que você esconde.
Josie suspirou, entregue. Ela acariciou seu cabelo preto, mas a cabeça
de Mayne se afastou para varrer seu corpo inteiro, e ele passou um tempo
gemendo o sabor de cada canto de sua anatomia, sem poupar nenhum lugar.
A menina não demorou a tremer de alegria, o vestido na cintura, sem se
importar minimamente, como na casinha do jardim, que o sol brilhasse
sobre ela e ele pudesse vê-la completamente.
— Se apenas uma de todas aquelas mulheres que eu conheci, Josie ...
As alusões a seus ex-amantes doeram um pouco, então Josie se
encolheu. Mas, a magoavam e a lisonjeavam ao mesmo tempo.
— E aquelas centenas de mulheres? — Ela perguntou—. Eu não acho
que você deveria trazer um assunto tão áspero ... Oh!
— Isso dói?
— Não, não, é outra coisa ... Droga!
Ele parou e uma expressão de dor cruzou seu rosto.
— É muito cedo. Sou um idiota. Sinto muito, Josie, eu ...
Ela o parou antes que ele começasse a balbuciar. — Apenas fique aí—,
ela ordenou a ele. Ele congelou. Ela se mexeu um pouco, deixando seu
corpo se acostumar com a intrusão dele. — Tudo bem—. disse ela.
— Tudo bem o quê?
— Você pode...— Ela acenou com a mão—. Você sabe.
Ele parecia estar congelado no lugar.
— Venha um pouco mais—, disse ela sem graça—. Não existe
linguagem para esse tipo de coisa?
Ele engasgou com uma risada e, em seguida, avançou lentamente. O
cabelo caiu sobre seu rosto e ele parecia tão querido que ela sorriu e nem
percebeu que ele a estava penetrando novamente.
— Você é extraordinariamente grande? — ela perguntou um segundo
depois.
Ele parecia ter problemas para obter sua voz, mas então disse: — Eu
realmente não sei.
— Bem, todas aquelas mulheres devem ter contado a você, embora eu
ache que devíamos parar de falar sobre elas—. Observou ela.
— Eu estava tentando lhe dizer, Josie, que se pelo menos uma daquelas
mulheres, não que houvesse cem, porque não havia, mas se pelo menos uma
delas tivesse ...— Ele deu um pequeno som engraçado na garganta—. Você
tem certeza que deseja fazer isso?
Josie arqueou as costas novamente—. Isso é bom.
Ele angulou seus quadris de uma maneira diferente.
— Isso—, ela engasgou—, é melhor do que bom.
Então eles gostaram disso um pouco, até que tivessem um ritmo. Era
quase como dançar, na opinião de Josie, exceto que ela era péssima na
dança e parecia ser boa nisso. Na verdade, ela não achava que Mayne
tivesse qualquer reclamação. Ela estava descobrindo todo tipo de coisas
sobre o que ele gostava. As duas pequenas cavidades na lateral dos quadris,
por exemplo.
— Eu gosto da sua bunda—, ela disse a ele, segurando-o ali.
O homem deu um gemido estrangulado novamente e se arqueou,
apoiando-se nos braços para poder olhar para ela. Josie sabia que seu cabelo
estava úmido de suor, mas ela não se importou. Ele rasgou o vestido dela
para beijar seus seios e ela se curvou para ele em um convite
desavergonhado e maravilhoso. Garret riu, engasgou e provou seus seios
novamente.
— Diga-me, Josephine, que tipo de dama é que usa a palavra “bunda”?
— Você queria ter se casado com uma dama? — Ela perguntou, sem se
importar com as maneiras dele, pois estava feliz por sentir que todos os seus
laços com o solo estavam começando a se afrouxar. Ondas do calor
agradável do primeiro encontro começaram a lavá-la dos pés à ponta dos
dedos. Ela não se importava com o que Mayne dissesse ou o que alguém
pensasse, contanto que ele continuasse a penetrá-la exatamente dessa
maneira.
Seu marido olhou para ela e esqueceu sua própria pergunta. Porque
quando Josie estava assim, como uma flor de carne, sem fôlego, suada e
doce, agarrando sua bunda com as duas mãos e envolvendo as pernas em
volta dele, ele não queria ter nada a ver com nenhuma dama. Ele só estava
interessado naquela mulher, sua esposa.
Mas ele não esqueceu a outra coisa que tinha para dizer a ela. Ele
simplesmente esperou até que os dois desmoronassem para falar. Então ele
colocou Josie em cima dele, para que a palha não machucasse aquela pele
gloriosa, e falou com ela em sussurros, no meio de seus cabelos.
— Se alguma dessas mulheres tivesse seu corpo, Josephine, minha
esposa, eu não me casaria com você. E, essa é a mais pura verdade.
— Como? — Ela parecia assustada, então Mayne disse novamente.
— Eu não seria capaz de deixá-la. Provavelmente eu teria duelado com
o marido dela e o matado. E, certamente teria que deixar o país.
— Bem, fico feliz que não tenha acontecido—. disse ela, com um certo
tom de ceticismo—. Você deve ser cego, então tenho certeza de que
perderia o duelo.
Com a cabeça no cabelo da esposa, Mayne sorriu.
— O cego é você—. A mulher cheirava intensamente. Ela tinha tudo
que a alma sensual de Mayne havia sonhado. E, além disso, era uma mulher
de inteligência extraordinária.
— Pensa um pouco. Eu poderia ter me casado com alguém que
realmente entendesse da criação de cavalos—. Josie disse.
— Megera.
— Eu não sou uma megera. Eu sou sua doce esposa.
Ele bufou—. Você deve ter duas personalidades. Talvez, seja outra
pessoa, uma gêmea, uma impostora. Ou, você pode ser minha outra esposa,
uma mulher que eu havia esquecido.
Josie estava deitada em cima dele, o rosto enterrado em seu ombro e
pensou em como ela seria doce com ele. Assim que ele parasse de dizer
coisas estúpidas—. Você não tem outra esposa—, observou ela—. Você tem
estado muito ocupado pulando de saia em saia como um coelho procurando
uma cenoura.
Ele deu um pequeno beliscão—. Acho que estava procurando uma toca
de coelho.
O tom alegre da voz do marido motivou a resposta da esposa—. Você é
um depravado! — ela disse—. Não sou uma toca de coelho para o seu
prazer.
— Hmmmm—, disse ele, parecendo um pouco sonolento—. E, eu tenho
uma cenoura para você ...
Tudo parecia tão ridículo para ela que nem pensou em censurá-lo pela
banalidade de tal linguagem, nem que era óbvio que havia aprendido tais
piadas odiosas em seus anos de comportamento intolerável. Ela apenas
acariciou seus cabelos. Pareceu-lhe que Mayne estava prestes a adormecer.
E, ela não queria acordá-lo.
Capítulo 39
Do Conde de Hellgate,
Capítulo vinte e cinco
Eu a vi ... e a amei. E, no entanto, ela era o oposto de mim: clara e bela de
corpo e alma, casta como a neve e virtuosa como um anjo. Você se casaria
comigo, não é? Esse foi o desafio que me propus naquela época. Não para
manchar um anjo, mas para casar com ele. Ganhe seu coração, ganhe sua
mão, ganhe um lugar com ela.
Ah, meu caro leitor, o que você acha das minhas chances de sucesso?

Uma semana depois


Whitestone Mansion, Surrey
Josie acordou e sorriu para o teto da suíte matrimonial de Whitestone
Manor. Também conhecida como a residência do Conde de Mayne. E, a de
sua condessa.
A partir desta manhã, Josie tinha oficialmente mantido o conde de
Mayne em sua cama por sete noites. E sete dias, se contar o que aconteceu
na biblioteca, ontem. Ela moveu as pernas experimentalmente e estremeceu
um pouco. Infelizmente, a dor persistiu. Claro, não persistiu tanto tempo.
Toda vez que Mayne ... bem, toda vez que eles começavam, ela dizia
‘ai’ e tinha que resistir ao impulso de empurrá-lo. Mas ele sempre era lento
e doce no início, e sussurrava desculpas em seu ouvido, e fazia outras coisas
com as mãos. E, antes que ela percebesse, seu corpo decidia que ela não se
importava com a invasão, afinal.
Na verdade, o simples pensamento do que seu corpo gostava e não
gostava a fazia corar.
A porta se abriu—. Sua senhoria achou que você preferiria o café da
manhã em sua cama—. disse sua criada alegremente—. E um pacote
chegou para você de Londres.
— Meu livro! — Josie disse, sentando-se e estendendo a mão para
pegá-lo. Não era qualquer livro também. Eram as “Memórias de Hellgate”,
aquela história depravada que todos em Londres leram, exceto ela mesma.
Agora que ela estava casada fez a encomenda diretamente da Hatchard's.
Era uma bela edição, encadernada em couro vermelho e estampada em
ouro. Ela abriu a primeira página. “Eu vivi uma vida de paixão imoderada”,
ela leu. Agradável! Um pouco florido para Mayne, mas ...
Quando ela pegou seu chocolate quente alguns segundos depois, ele
estava frio como uma pedra e, aparentemente, uma hora havia passado.
Mayne não tinha ideia de quantas fofocas sobre a vida dele ela
conhecia. Ela sabia de tudo. O Tatler relatou em detalhes o affaire que ele e
a bela atriz, Octavia Regina, estavam envolvidos. Pelo que ela pôde ver,
Octavia foi detalhada sob o nome de Titania nas Memórias de Hellgate. Era
um pouco estranho que ambos estivessem citando “Sonho de Uma Noite de
Verão” na noite anterior ... mas essa era a natureza da coincidência. Ímpar.
Uma hora depois, ela estava absolutamente certa. Ela segurava nas
mãos um registro florido, mas detalhado, das várias aventuras de seu
marido nos últimos vinte anos.
Josie levou “Memórias de Hellgate” com ela para o banho, depois que
sua criada perguntou pela segunda vez sobre água quente. Ela não
conseguiu identificar todas as mulheres. A história do breve casamento de
Hellgate era claramente um disfarce, colocado lá para disfarçar o fato de
que a vida de Mayne foi revelada na publicação.
A manhã diminuiu para o almoço, e quando sua criada avisou que sua
senhoria estava indo para Chobham e desejava saber se ela o acompanharia,
ela simplesmente balançou a cabeça.
Eram cinco da tarde quando Josie parou de ler. Ela havia chegado a um
capítulo terrível, que fazia seus dedos tremerem um pouco. Hellgate
conhecera um anjo, casto como a neve.
Sylvie.
E, ele estava apaixonado por ela, é claro.
“Eu não posso viver sem ela ... Eu sonho todas as noites com sua forma
requintada. Caro leitor, você está pensando que sou realmente uma pessoa
escandalosa. E, é verdade! Eu a avistei pela primeira vez do outro lado da
rua, e ela parecia tão delicada quanto qualquer anjo, magra e frágil como
uma peça de porcelana. Sempre foi assim comigo: mulheres robustas
passam por mim sem qualquer aviso, mas...”
O olhar de Josie se perdeu no espaço. Sylvie tinha uma figura
requintada, não havia dúvida disso.
Certamente, Mayne nunca falara de forma tão floreada. Ele sempre se
expressou com simplicidade. Naquela noite, quando ele a ensinou a andar
como uma mulher, ele confessou que estava apaixonado por Sylvie. Ela não
havia esquecido.
Depois de ser chamada de "Salsicha Escocesa" pela maior parte de
Londres, achava que nada poderia causar mais dor a ela do que sua silhueta.
Mas, aparentemente havia várias e profundas camadas de dor que até aquele
momento ela não conhecia.
Porque a verdade é que o marido, em todos os seus elogios, chegou a
dizer que ela era uma mulher robusta e vigorosa. E, no entanto, para ele,
Sylvie era um anjo delicado e frágil.
“Nenhum homem com sangue nas veias deixaria de se apaixonar por
ela, por seu ar encantador, que fazia com que cada impulso masculino
apontasse para cuidar dela. As mulheres são de fato o sexo mais frágil, e
não há caminho mais firme para o coração de um homem do que lembrá-lo
de seu dever para com o belo sexo.”
Frágil? Frágil? Ninguém poderia dizer isso de Josie. Ela olhou para suas
coxas, lágrima após lágrima rolando por seu rosto.
Ela gostaria de contrair tuberculose, e ficar à beira da morte. Talvez
assim, emaciada e frágil, Mayne pudesse amá-la. Ele a tomaria nos braços.
Josie quase podia ver a cena diante de seus olhos. Ela levaria sua mão
delicada até sua bochecha. Seria uma mão tão fina que a luz poderia passar
por ela.
Então seu marido choraria. E, ele se arrependeria de ter amado uma
francesa frívola, fria e esguia.
Mas, havia também aquela outra mulher que ele amara, a condessa
Godwin, para levar em consideração. Outra dama esguia, vazia e
inconsistente.
Além de desejar que Sylvie e a condessa Godwin fossem atacadas por
uma doença que as tornasse monstruosamente gordas, Josie não sabia que
atitude tomar em relação às mulheres que Mayne amara.
Um momento depois, sua criada trouxe-lhe uma bandeja de chá.
— Sua senhoria está trocando de roupa—, relatou, movendo-se de um
lado para o outro—. Quer que eu o convide para tomar um chá com você?
Não é bom passar o dia todo sozinha, minha senhora.
E, saiu pela porta sem esperar que ela dissesse sim ou não. Josie
suspirou. Talvez ela devesse lavar o rosto, para que Mayne não percebesse
que estivera chorando. Embora fosse muito provável que ele nem
percebesse. Mesmo com a lâmpada de Argand acesa, a sala não era clara o
suficiente para que esses detalhes fossem notados.
A verdade é que teria que enfrentar a realidade, confirmada pela leitura.
Seu marido não estava apaixonado por ela, mas por uma frágil francesa que
não tinha coxas. Josie pensou sobre isso. Mayne gostava de seu corpo. Ele
disse isso. Mas, isso não era amor.
Ela poderia mudar, para conquistá-lo. Mas, Josie não queria realmente
se transformar em uma pequena pilha de ossos frágeis, capaz de deslizar
pelas ruas como um anjo. Para começar, e quanto aos seios dela?
Mayne gostava deles do jeito que eram. Seria um erro mudá-los. E
como poderia perder peso sem perder também parte dos seios?
A porta se abriu e Mayne apareceu. Ele parou, olhou para ela e fez uma
reverência.
— Você não tem que se curvar para mim—. Observou Josie—. Somos
marido e mulher.
— No dia em que eu esquecer de tratá-la com o respeito que você
merece, me considerarei o pior dos ingratos—. respondeu ele, sentando-se
em frente a ela e inspecionando a chaleira.
Josie serviu uma xícara para ele e se viu inclinada para frente para que
ele pudesse olhar seu decote ... se ele quisesse.
Aparentemente sim, porque quando ela lhe entregou a xícara, seus olhos
tinham uma escuridão especial, que ela estava começando a conhecer muito
bem. E, no entanto, Josie pensou, seus seios não eram delicados, longe
disso.
— O que você tem feito o dia todo? — Mayne perguntou.
— Lendo as Memórias de Hellgate.
Houve um momento de silêncio.
— E qual é a sua relação com Hellgate? — Ela perguntou de repente,
quando viu que seu marido não dizia nada.
— Não tenho certeza—, ele respondeu lentamente—. Eu só li metade
do livro. Então eu não aguentei mais e joguei fora. Não consegui passar do
capítulo em que deveria estar amarrado à parede, um prazer que não
conheço e não sinto vontade de experimentar.
— Eu me recuso a pensar que meu marido poderia ter sido tão estúpido
quanto Hellgate.
— Um estúpido? Toda Londres o admira.
— Um idiota—. Josie insistiu—. Quem poderia escrever algo tão
estúpido quanto aquela bobagem de não querer manchar a mulher que
parece um anjo e querer casar com ela?
— Você é uma crítica severa—. Observou Mayne, pegando um canapé
da bandeja de chá.
— Deixe-me ficar com um desses—, disse Josie, de repente percebendo
que havia apenas dois sobrando—. E, então você escreveu isso?
— Você ficou louca? — O alívio inundou o coração de Josie—. Não
consigo tirar da cabeça a ideia de que o escritor parece ter usado minha vida
para seus pequenos jogos literários—, continuou Mayne—. Ele deve ser um
leitor fiel das crônicas da sociedade.
Josie sentiu o ciúme deixá-la com náuseas e ameaçá-la a ficar sem
fôlego.
— Ele captou bem as nuances do seu noivado com Sylvie—. Ela
ressaltou.
— Eu disse que só li metade do livro—, Mayne repetiu—. É
surpreendente como a vida de uma pessoa se torna entediante quando se
transforma em prosa infantil.
— Ele disse que você se apaixonou desesperadamente quando viu seu
corpo esguio do outro lado da rua—, relatou Josie—. E que sua delicadeza
despertou o desejo masculino de protegê-la e honrá-la.
— Bem, Sylvie interpreta a mulher frágil muito bem.
Um ciúme doentio e revoltante sacudiu Josie, além de ameaçar a
estabilidade de seu estômago. O que ela poderia fazer? Seu marido estava
apaixonado por Sylvie, mas ele se casou com ela, e não havia nada pior ou
mais estúpido do que uma mulher chorando por coisas que não tinham
solução.
Mayne não parecia muito abalado com a ideia de sua ex-noiva. Além do
mais, ele conseguira comer o último canapé aproveitando um momento em
que ela não estava olhando. Seu rosto era esculpido, degenerado, parecendo
exatamente um homem chamado Hellgate.
Mas então ele afastou a mecha de cabelo encaracolado que caiu sobre
seus olhos e sorriu para ela, e Josie esqueceu tudo o que estava pensando.
Hellgate ou não, quando ele sorria, ela era capaz de qualquer coisa por ele.
No entanto, ele era um idiota. Todos os homens eram idiotas.
— Em que você está pensando? — Ele perguntou, olhando para ela tão
intensamente que ela sentiu como se a estivesse despindo.
— Que os homens são tolos—. Ela respondeu.
Mayne segurou a mão dela.
— É verdade—. Ele concordou, e com um movimento ele colocou Josie
em seu colo para que pudesse falar em seu ouvido. Ele plantou as mãos em
seus seios, cobrindo-os—. Infelizmente, é verdade. Diga-me, você acha que
sou particularmente estúpido, ou mais ou menos igual a qualquer outro
homem?
— Não conheço muitos homens para fazer as comparações—, disse
Josie, pensando sobre isso—. Acho que você é particularmente tolo por ter
... bem ...— Ela ficou em silêncio e deu de ombros.
— Desperdiçado a minha vida?
— Não a sua vida, seu tesouro.
— Na verdade—, Mayne falou preguiçosamente—, minha fortuna é
praticamente a única coisa que eu não desperdicei.
— Não me referia a este tipo de tesouro. Estou falando sobre sua ...
essência. Como naquele poema de Shakespeare, aquele que fala em gastar
seu espírito em um desperdício vergonha.
Ele olhou para ela sorrindo.
— Eu sempre acreditei que naqueles versos eles se referiam ao sêmen, e
não a algo espiritual.
— Eu sei disso—, ela respondeu atrevidamente—. Fala de desperdiçar o
espírito em infâmias. Francamente, não posso deixar de pensar que alguém
tão entediante como aquela Semente de Mostarda é um desperdício de
vergonha. Você desperdiçou muito espírito e muita ...
Mayne estava acariciando seu pescoço.
— Tem razão.
— O que?
— Você está certa—, ele repetiu—. Foi um desperdício de espírito e um
desperdício vergonhoso, e qualquer outra coisa que você queira chamar.
Josie sentiu esse tipo de impulso estranho, como se um de seus dentes
estivesse doendo e ela não conseguisse parar de tocá-lo com o dedo—. E
quando Hellgate se apaixonou? Isso foi um desperdício?
— Apaixonar-se nunca é um desperdício—, disse Mayne. Suas mãos
estavam perdidas agora, fazendo-a se contorcer em seu colo. Mas, ela não
podia parar de perguntar.
— Você ainda ama a Semente de Mostarda, então? — ela perguntou.
— Quem? — Ele ergueu a cabeça. Seu cabelo estava desgrenhado,
caindo ao redor de seu rosto, e seus olhos tinham aquela escuridão intensa
que ela estava começando a amar.
— O amor é um sentimento que simplesmente desaparece, como o
desejo? — ela persistiu.
Por um momento, ele pareceu confuso e então disse: — Amor, não. O
amor fica. Você não concorda?
Ela acariciou seu cabelo—. Sim. O amor permanece com você. É
persistente e às vezes pode causar sofrimento.
— Você está apaixonada?
Ela não podia ver seus olhos e então, por um momento, ela brincou com
a ideia de dizer a ele que tinha uma paixão desesperada por alguém. Isso
equilibraria as coisas. Ela não queria que Mayne sentisse pena dela. De
qualquer forma ela decidiu não abrir mão de sua alma. — Absolutamente
não—. Disse, firmando a voz—. Não sou do tipo que se apaixona.
Ele sorriu para ela—. Todas as esposas doces como o mel estão
apaixonadas por seus maridos.
— Não, elas não estão—. Quanto mais ela pensava sobre isso, mais
irritada ela se sentia. O que ele estava fazendo, pulando de cama em cama
como uma espécie de gato? Ele não teve nada melhor para fazer nos últimos
vinte anos de sua vida?
— Por que não? — ele perguntou. Sua voz estava um pouco cautelosa
agora.
Ela não se sentia como a noiva doce de ninguém. Ela se sentia uma
mulher estúpida o suficiente para se apaixonar por um homem que estava
apaixonado por uma francesa. Todos sabiam que as francesas eram perfeitas
- e Sylvie era um excelente exemplo - então ela não tinha chance de tirar
aquele sentimento do coração dele—. Eu só queria que você tivesse feito
algumas escolhas melhores.
Ele apertou a mandíbula.
— A história de Hellgate não é a minha vida, embora haja muitas
semelhanças. Essas memórias são apenas um livro ruim. Você deve saber
como distinguir a realidade da fofoca.
Josie se levantou e olhou pela janela, de costas para ele.
— Você saiu ou não da cama de mulher casada para a de outra mulher
também casada, como uma criança correndo em busca de doces?
— Acho esse comentário desnecessariamente crítico—. Ressaltou.
— Eu acho que não—. Ela se virou para olhar para ele—. Casei-me
com um homem cuja incapacidade de ficar na mesma cama é tão conhecida
que o relato de suas andanças se torna o livro mais vendido. Acho que esta
é uma descrição justa, mesmo que não seja gentil. É a verdade. Uma
descrição maliciosa seria ...— Ela parou.
— Seria como? — Ele perguntou.
— Eu o descreveria como uma espécie de animal entregue aos seus
instintos, atacando para cheirar uma mulher e depois outra e outra!
— Realmente vulgar—. Ele acrescentou lentamente.
Josie bateu no livro de couro vermelho.
— E isso não é vulgar? — Ela não sabia o que se passava na cabeça de
Mayne, seu rosto era impenetrável, mas seu próprio sangue corria rápido
em suas veias—. Você sabe o que acho mais vulgar em tudo isso?
— Não. Conte-me.
— Que quando você se apaixonou, você o fez por mulheres angelicais,
para usar as palavras de Hellgate. Castas. O oposto do seu ‘eu’, tão lascivo.
— É verdade, não posso negar.
— Bem, parece terrível para mim.
— Porque elas eram tão castas que eu nem deveria ter roçado suas mãos
angelicais com meus lábios pervertidos? — Sua voz estava muito calma,
mas mostrava que ele estava extremamente irado.
— Eu não quis dizer exatamente isso—, disse ela—. Acho que gostava
de dormir com tantas mulheres para ... satisfazer a sua vaidade masculina,
ou encontrar um caminho, sei lá. Mas, quando você decidiu se apaixonar,
você o fez por mulheres que nem estavam interessadas em fazer sexo.
— Só porque uma mulher é casta não significa ...
— Não conheço Lady Godwin—, gritou Josie, repentinamente irritada
—, Mas sei o que havia de errado com Sylvie. E, eu sei que ela não queria
você. Mulheres que o desejavam só interessavam a você por uma semana, e
então você as deixava. Você resguardou seus sentimentos para mulheres que
nunca o amaram. Não é curioso?
Mayne apenas olhou para ela, sem responder.
— Você mesmo me disse, no caso de Lady Godwin. Você contou que
ela amava o marido e não a você—. Ela estava começando a se sentir muito
envergonhada, percebeu que não conseguiria manter sua determinação de
ser doce com Mayne por nem cinco minutos.
Finalmente, Mayne falou novamente.
— Suponho que você possa estar certa.
— Eu sei. Imagino que você tenha desempenhado o papel de sátiro
porque gostou.
— Eu gosto.
— De acordo com as Memórias de Hellgate, todas aquelas mulheres
amavam você. Por que você se apaixonou, entretanto, por uma figura
angelical e casta? Por que você não se contentou com algumas daquelas
senhoras espirituosas e frívolas?
— Eu acho que fiz. Finalmente, casei-me com uma delas—. respondeu
sedutoramente.
Ela desviou o olhar. Se Mayne não percebesse que não era nada
parecida com aquelas mulheres casadas com quem jogava seus jogos
perversos ... não havia mais nada a dizer. Além disso, ela não sabia como
redirecionar a conversa, levá-la para um terreno mais amigável, parar o que
ela mesma havia começado, retirar suas próprias palavras.
— Você está certa—, disse ele de repente—. Não tenho um caso há dois
anos porque cheguei à mesma conclusão que você. Perdi muitos anos da
minha vida em pequenos encontros com amantes, casadas ou não. Eu até
concordei com Shakespeare, quando ele fala sobre jogar a vergonha no lixo,
ou o que quer que seja.
Ela franziu os lábios, havia vencido, mas que tipo de vitória era essa?
— Agora, Josie, você não deveria ter zombado do meu amor por Sylvie,
nem do meu amor por Lady Godwin. Elas provavelmente eram castas
demais para um homem como eu, mas me mostraram o caminho certo para
escapar da dissipação. Afinal, o desejo está sempre presente. O importante é
satisfazê-lo honestamente, pois sempre há um par de olhos lindos, ou um
sorriso atraente ...
Ele falava mais consigo mesmo do que com ela. Josie teve um gosto
amargo, e não exatamente por causa do chá que ela tomou. Das palavras do
marido deduziu o futuro que a esperava, casada com um homem para quem
o mundo era repleto de belos olhos, sorrisos atraentes e desejos insaciáveis.
— Mas depois de me apaixonar por Lady Godwin—, Mayne explicou
rapidamente—, eu percebi como essa busca constante pelo prazer era
estúpida. Porque o que faltava nela era justamente o prazer. E então a
mesma coisa aconteceu com Sylvie.
Não era exatamente raiva em seus olhos. Era, sim, aversão a si mesmo.
— Você não acha que está exagerando?
— De que forma?
— Eu honestamente não acho que suas experiências foram sem prazer.
E pelo mesmo motivo, não creio que faltou alegria nas vivências de suas
amantes.
— O que?
Ela teve que desviar o olhar do olhar intenso de Mayne.
— Não acho que dormir com você seja algo sem prazer ou estúpido. Eu
poderia facilmente ficar viciada nessas práticas. Entendo muito bem que foi
fácil para você passar vinte anos fazendo isso. A verdade é que muito
provavelmente eu desperdiçaria minha vida fazendo exatamente a mesma
coisa, se isso fosse permitido às mulheres.
Ele ergueu a cabeça e olhou para sua jovem esposa, surpreso. Ela era
insuportavelmente jovem e desejável.
— Você não entende—. disse ele lentamente.
— Eu daria qualquer coisa pelo prazer que você me deu na semana
passada, Garret ... Eu faria qualquer coisa por isso. Desperdiçar minha vida,
minha reputação, tudo o que você pediu de mim. Se estou com tanta raiva, é
em parte porque tenho ciúme de todas aquelas outras mulheres.
— Você está com ciúmes?
Ela assentiu.
— Eu quero que você faça amor comigo nas câmaras secretas do
palácio. E, no jardim durante uma dança ...
— Nunca fiz amor com ninguém no jardim—, esclareceu—. O autor
inventou isso.
— Tanto faz. A verdade é que odeio cada uma dessas amantes que você
teve. Eu gostaria que cada momento que elas passaram com você fosse
realmente meu.
Mayne riu um tanto asperamente.
— Você provavelmente estava no berço quando fiz amor pela primeira
vez.
— De certo modo, é bom que todos aquelas amantes tenham aparecido
na sua vida antes de mim, porque lhe ensinaram muitas coisas,
principalmente como agradar uma mulher.
Garret agora tinha uma aparência de grande desolação.
— Então agora você encontra um lado bom para toda a minha
depravação abjeta.
— Por puro egoísmo, sim. Estou pensando muito em mim? — Ela
perguntou, afundando de volta na cama.
Mayne também se recostou.
— A mulher tem que buscar seu próprio prazer.
— Embora não seja bem visto, já pensei isso muitas vezes—. Afirmou
com satisfação.
— Você está cometendo um erro, no entanto—, continuou ele—. Há
uma grande diferença entre o tipo de prazer que você e eu compartilhamos e
aquele ...
Mas, ela estava cansada da conversa. Cada vez que via aquela expressão
de ódio por si mesmo nos olhos de Mayne, seu coração parava de bater.
Então ela cobriu a boca do marido com sua mão e disse-lhe, severamente,
que os homens deveriam sempre obedecer às suas esposas, sem levantar a
menor objeção. Ela não retirou a mão até ter certeza de ele ter entendido o
que estava dizendo.
E então ela se recostou nos travesseiros e disse ao conde de Mayne o
que fazer.
Ele pareceu entender perfeitamente quando falou imediatamente em
tom de brincadeira.
— Tenho certeza de já ter visto este quarto antes. Talvez tenha chegado
a hora de procurar outra cama.
Josie sorriu para ele e começou a mexer em seu lindo vestido de tarde.
Era amarelo limão claro, com alças de renda encantadoras que desciam por
seus seios. Ele começou a puxar o tecido, como se estivesse muito apertado
—. Talvez, amanhã, eu deixe você procurar por outros. Veremos—. Ela
admitiu.
Seus olhos estavam ficando com aquela aparência selvagem novamente,
então ela se aconchegou ainda mais contra os travesseiros, o que significava
que o delicado tecido amarelo esticava sobre seus seios. Ela não precisava
olhar para baixo para saber que seus mamilos estavam emoldurados contra
o tecido. Ela podia senti-los desejando seu toque.
— Nenhuma dama pode segurar um libertino por muito tempo—. Mas
sua voz não parecia convencida.
Ela sentiu como se alguém devesse acariciar seus seios, e ele não o fez,
então ela mesma se acariciou. Ela podia ouvir sua respiração—. Mas eu não
sou uma dama—, ela disse a ele—. Não sou um anjo.
— Não—. Ele respirou.
— Nem um fragmento casto de nuvem.
Por um momento ele ficou distraído e franziu a testa para ela.
— Como Hellgate descreve seu amor mais querido—. Ela esclareceu.
— Não consigo ver uma nuvem nesta sala—. Prometeu.
— Na verdade, sou um pouco perversa—, disse ela, ficando de joelhos
—. Uma cortesã.
Uma cortesã procuraria seu próprio prazer, e Josie estava gostando
disso. Na verdade, sua própria mão parecia quase tão boa quanto a de
Mayne...
Mas, talvez, ele tenha visto esse pensamento nos olhos dela, porque um
segundo depois ele afastou a mão dela e então ...
Capítulo 40
Do Conde de Hellgate,
Capítulo vinte e seis
Percebi então que havia confundido a natureza do amor. O amor não tem
nada a ver com o desejo. É a busca do divino, o desejo de encontrá-lo na
terra. Trata-se de encontrar uma mulher cuja alma conserva um pedaço do
céu e venerá-la ... prostrando-se a seus pés. Eu era um novo homem.

Thurman nunca tinha visto seu pai assim. Ele parecia ... velho. Cansado.
Desesperado mesmo.
Thurman teve vontade de torcer os lábios, mas não o fez. Ele se curvou
e ofereceu uma xícara de chá ao pai. — Um prazer inesperado.
Henry Thurman sentou-se pesadamente e acenou para Cooper sair da
sala. Então ele apoiou as mãos nos joelhos daquela maneira que Thurman
sempre odiou, porque simplesmente não era algo que um cavalheiro fazia.
Seu pai ainda tinha um cheiro de imprensa ao seu redor, pois seu avô foi
quem iniciou o empreendimento.
— Não há como colocar isso facilmente—. disse ele.
Thurman sentou-se à sua frente. Ele tinha acabado de sair para dar um
passeio no Hyde Park e não queria nada mais do que sair correndo da sala e
deixar aquele homem pesado e suado para trás.
— Estamos arruinados.
— O que?
— Arruinados. Peguei um dinheiro emprestado e pensei que pagaria em
parcelas ... A história se espalhou—. Um nome continuou tamborilando
através da enxurrada de linguagem miserável de seu pai. Felton. Felton.
Felton.
— Quem é Felton? — Thurman finalmente exigiu.
Seu pai parou e piscou para ele—. Lucius Felton. Administra quase toda
Londres, pelo menos no lado financeiro. Foi ele que fez o empréstimo...—
E, começou a contar tudo novamente.
Thurman entendeu tudo o que estava acontecendo. Lucius Felton havia
arruinado sua família. Lucius Felton foi o responsável pela perda da casa
que tinham em Kent, porque era o que seu pai estava dizendo naquele
momento, pela perda de sua mesada, obviamente, e de seu tílburi, sua
querida carruagem de corrida.
Lucius Felton.
O homem que dera um dote à salsicha.
O homem casado com a irmã da salsicha.
Ele nunca se sentiu pior em sua vida. Estava sentado ali olhando para o
rosto vermelho de seu pai enquanto este lhe dizia que o dinheiro de sua mãe
estava seguro, claro, então eles iriam para a cidade onde ela nasceu, porque
havia uma pequena casa lá. Um de seus irmãos ia entrar no seminário.
— Sr. Felton—, repetiu o velho prematuro, e as palavras filtraram-se
pela névoa que confundia o cérebro de Thurman—, foi gentil o suficiente
para comprar uma comissão para seu irmão mais novo no exército.
Se deteve.
Thurman ficou em silêncio, esperando. Certamente havia algo mais.
Certamente Felton havia contado o que ele temia. Ele contara à família o
que ele fizera com a salsicha?
Mas, Felton não disse nada. Seu pai estava olhando para ele não com
censura, mas com uma expressão horrível de dor, compaixão e desespero.
— Quem mais me entristece é você—, continuou ele—. Sua mãe e eu
ficaremos bem e seremos felizes na aldeia. Você sabe que gostamos da vida
simples. Mas você ... Eu não deveria ter arriscado sua herança, filho.
— É verdade, você não deveria—, disse Thurman asperamente—.
Como você pode cair nas mãos de alguém como Felton?
— Eu não sabia ... Ele sempre foi muito gentil, mas então ...
Em cinco minutos, Thurman percebeu tudo. Na última semana, Felton
comprou todos os empréstimos inadimplentes de seu pai. Ele havia
assumido o jornal. Ele gentilmente “separou” o dinheiro de sua mãe e deu a
ela, como uma instituição de caridade, o dinheiro de que ela precisava para
comprar uma comissão para seu irmão.
— Então, só resta você—. disse o pai.
— Eu? — Thurman respondeu, ainda sem entender direito.
— Você não tem mais dinheiro, garoto. Esta casa ...— Olhou ao redor
—. Bem, o aluguel está pago até a próxima semana. E é melhor você dizer
ao seu mordomo para partir imediatamente. O que você vai fazer a seguir,
Eliot? Você tem uma profissão em mente, garoto? Sem dúvida, você terá
aprendido muito nas escolas que frequentou.
Thurman ficou em silêncio.
— Tento não me preocupar com você—, disse o pai—. Você não terá
problemas, com todos os seus amigos do Rugby. Eles o ajudarão a sair
dessa situação. Arrume um emprego em algum lugar. Talvez você possa ser
secretário de alguém importante. Você sempre foi muito hábil com a caneta.
Thurman mal conseguia mover os lábios.
— Saia! — ele ordenou.
— Bem, agora...
— Fora daqui! Você acabou com a minha herança e destruiu minha
vida. A única coisa boa nisso tudo é que nunca mais terei de ouvir os
delírios estúpidos de um velho idiota como você! Nós não temos nada em
comum. Nós nunca tivemos!
Henry Thurman levantou-se lentamente.
— Você sempre terá um lar conosco, Eliot. Nós sabemos que você está
acima de nós. Mas, você sempre pode voltar para casa.
— Nunca—. Retrucou Thurman—. Nunca.
Henry Thurman cambaleou para fora da casa. Era muito ruim. Claro, ele
havia arruinado a vida do jovem Eliot que sempre foi a esperança da
família, eles o criaram para ser o jovem cavalheiro que faria parte da
aristocracia. Ele era amigo de todos aqueles cavalheiros. Certamente
poderia se recuperar desse revés inesperado. Seus elegantes amigos iriam
ajudá-lo. Aquele Darlington, por exemplo, de quem Eliot sempre falava.
Dentro de casa, Thurman gritava escandalosamente com Cooper:
— O cartão—. Ele murmurou—. O cartão!
Cooper estava ouvindo atrás da porta. Ele ouviu o suficiente para ir
imediatamente para os fundos da casa e embrulhar os talheres em um pano.
De resto, ele sabia onde estava o cartão do velho jornalista que havia jogado
para fora de casa há algum tempo. Agora, teria que se voltar para ele.
— Vou procurá-lo, senhor—. respondeu ele. Em vez de fazer isso,
voltou para os fundos da casa para que pudesse embrulhar o bule de prata e
alguns castiçais que sempre amou.
Depois de um tempo razoável, quando tinha as coisas que queria
embrulhadas e arrumadas em duas caixas grandes, levou o cartão para
Thurman.
Como esperava, Thurman olhou a inscrição "Harry Grone, The Tatler" e
saiu correndo de casa. Assim que ele saiu, Cooper chamou uma carruagem
de aluguel, carregou as duas caixas e saltou para dentro do veículo.
Ele deixou a porta da frente aberta, caso alguém quisesse entrar.
E, foi o que aconteceu, já que dois senhores decidiram entrar. Eles
caminharam vagarosamente pela sala de Thurman, olhando para a mobília
esparsa.
Um deles, o conde de Ardmore, tirou o casaco.
O outro, Lucius Felton, olhou para os poucos convites dispostos sobre a
lareira. Em seguida, foi até a janela e fechou um pouco a cortina.
Eles tiveram que esperar até o pôr do sol.
Thurman decidiu fazer o que Grone pedira a ele e dirigiu-se à gráfica,
onde estava tudo confuso porque já se sabia que havia um novo dono. Ele
forçou sua entrada nos arquivos, fez algo lá e então saiu.
Mas, não voltou imediatamente para casa com a bolsa de soberanos que
Grone havia lhe dado. Foi ao ‘Convent’ e pagou várias rodadas de bebidas
para todos. Ele não pôde deixar de pensar que no dia seguinte todos
saberiam das novidades. Então tudo estaria acabado.
Mas, por uma última noite de ouro, ele ainda poderia ser um jovem
cavaleiro em ascensão, um herdeiro com muito dinheiro para gastar. Ele
jogou um soberano no balcão, enquanto os atendentes do bar torciam a boca
em sorrisos simulados. Ele jogou outro soberano no ar quando uma
garçonete se sentou em seus joelhos. Fingiu que Darlington, Wisley e os
outros estavam com ele ... embora não fossem mais assim.
Quando finalmente tropeçou em sua residência, os restos da bolsa de
Grone em seu bolso, ele não se preocupou mais com o dia seguinte. Ele
cuidaria do assunto amanhã.
Em vez de descer, ele saltou da carruagem alugada, dando ao motorista
um soberano, quando ele pediu apenas oito pences. As cortinas da sala se
moveram, mas ele não percebeu.
Entrou pela porta da frente e ficou lá, cheio de cerveja e gim, hesitante e
bêbado. Jogou a cabeça para trás, como um lobo uivando para a lua.
"Cooper!" Gritou. “Cooper!”
Cooper não apareceu, mas a porta da sala se abriu lentamente e
Thurman entrou cambaleando.
Capítulo 41
Do Conde de Hellgate,
Capítulo vinte e seis
Nem todo homem tem a sorte de se apaixonar por uma mulher como essa.
Eu sei que não mereço isso ... e ainda assim, caro leitor, tenho a sorte de
carregar sua promessa em meu coração. Ela vai se casar comigo. Não vou
mais vagar por aí ... os espaços vazios em meu coração são preenchidos
por sua bondade e doçura.
Vou passar minha vida adorando o chão em que ela pisar.

Sem perceber, ela adormeceu novamente nos braços de Darlington. Foi tudo
muito fácil, talvez fácil demais, depois que Josie se casou e pôde voltar para
sua casa. Darlington foi tomar chá e, de repente, ela já estava em sua
carruagem ...
Por que ela não deveria se casar com ele? Griselda se perguntava cada
vez com mais frequência. As pessoas, é claro, fariam piadas. Ririam dela.
Diriam que era uma espécie de papa-anjo. Olhou novamente para o
delicioso tufo de cabelo deitado ao lado.
Às vezes ele parecia mais velho que ela. Não a surpreendeu, porque
sabia que existiam pessoas assim, pessoas que amadureciam, ou mesmo
envelheciam antes do tempo.
Continuou meditando. Ela sabia que ele precisava dela. Ela poderia
ajudá-lo a ter um relacionamento melhor com seu pai, faria com que o
vissem com melhores olhos. E, seria sua melhor crítica e admiradora em
sua obra literária.
Talvez ela devesse acordá-lo e contar-lhe tudo isso. Talvez ela pudesse
anunciar que queria se casar com ele.
Não faria mal pensar, mesmo que tal notícia a angustiasse um pouco no
início. Ela colocou os dedos dos pés para fora da cama o mais
silenciosamente que pôde. Graças a Deus, ao contrário da maioria dos
homens em sua situação, ele não tinha servos residentes em casa. As roupas
de Griselda estavam em uma pilha bagunçada na entrada do quarto.
Griselda parou ao vê-lo e levou as mãos ao rosto ao perceber como suas
bochechas estavam quentes de vergonha por seu comportamento.
Ela não tinha certeza de como voltar para casa. Darlington dissera aos
criados que não voltassem antes do meio-dia e, portanto, não podia pedir a
ninguém que chamasse uma carruagem.
Ela descartou a ideia de ficar, acordá-lo e contar-lhe sobre o casamento,
pois gostava da ideia de deixá-lo se perguntar mais algumas vezes. Era tudo
tão ... delicioso. Afinal, ela tinha o direito de ser cortejada, como as outras
mulheres. Ele deveria trazer rosas para ela e dedicar uma ou duas poesias a
ela. A ideia de um poema escrito por Darlington a fez rir.
Ela se vestiu e saiu. Não conhecia o bairro dele muito bem, mas
imaginou que a Fleet Street provavelmente ficava à direita. Depois de
caminhar um pouco, avistou a larga rua principal onde poderia pegar uma
carruagem de aluguel.
Quando uma carruagem diminuiu a velocidade para parar ao lado dela,
ela se virou para ela de boa vontade. Ela não gostava da ideia de sinalizar
para uma carruagem pessoalmente ... era muito vulgar acenar com a mão na
frente de todos ... e era muito melhor se tivesse ...
Mas, esta não era uma carruagem de aluguel.
Na verdade, era um veículo que ela conhecia muito bem, quase tão bem
quanto a dela. Um servo saltou da parte de trás e abriu a porta.
Não havia nada de errado em embarcar, então ela subiu as escadas.
— Lady Blechschmidt—, disse Griselda, sentando-se com a maior
dignidade possível. Seu cabelo estava preso em um coque simples. Ela tinha
feito pouco mais do que lavar o rosto. Se Emily Blechschmidt observasse
que ela estava usando um vestido de noite pela manhã, ela perceberia
imediatamente que não havia voltado para casa desde o dia anterior.
— Lady Griselda.
Emily Blechschmidt era pelo menos seis anos mais velha que ela. Como
sempre, ela estava vestida com uma elegância sóbria que não convidava
olhares curiosos.
Ela estava prestes a ser assim, pensou Griselda. “Eu poderia ter me
tornado uma Emily, que não tem nem quarenta anos e já é uma das
moralistas mais ferozes da alta sociedade, com uma língua tão áspera como
a de uma solteirona de oitenta anos.”
Por um momento, a carruagem ficou completamente silenciosa. A
mente de Griselda estava disparada. Por que a carruagem de Emily tinha
que ser a única passando? Precisamente, o de uma mulher famosa em todos
os lugares por suas opiniões dogmáticas e ferozes sobre comportamentos
pecaminosos e mulheres de vida fácil.
Por sua vez, Emily, após dar uma rápida olhada em Griselda
Willoughby, soube exatamente como ela havia passado a noite. Afinal,
Emily passara a vida inteira observando a alta sociedade dos cantos dos
salões, observando, do lugar das damas à espera, como homens e mulheres
caíam nos braços uns dos outros, como dançavam juntos nos jardins e
olhares e sorrisos secretos eram trocados. Isso a irritou, matou de inveja e
nostalgia, a fez se sentir pequena. Ela se orgulhava de sua língua afiada
quando se tratava de mulheres fáceis, seus comentários bizarros sobre
debutantes escandalosas.
Para Emily, o penteado imperfeito de Griselda e os olhos sonolentos
significavam que, é claro, ela deveria ser removida de sua lista de amigas.
Mesmo que fossem amigas há anos.
Mas havia momentos em que uma mulher tinha que deixar de lado a
moralidade e a ética.
— Você nunca me perguntou o que eu estava fazendo no Grillon Hotel
no ano passado, quando me viu lá—, disse ela finalmente.
O olhar de Griselda estava fixo em suas próprias mãos quando ergueu
os olhos para ela.
— Não era apropriado que eu o fizesse.
— Eu penso que sim—. respondeu Emily—. Se quisermos ser amigas.
O sorriso de Griselda foi um pouco forçado.
— Eu pensei que já éramos amigas.
— Até agora somos conhecidas—, disse Emily—. Você ficaria
horrorizada em saber o que eu estava fazendo no hotel.
O sorriso de Griselda se alargou.
— Eu prometo não ficar horrorizada.
— Você ficará horrorizada—. Emily ficou em silêncio por um
momento. Mas ela estava cansada de tanto silêncio e, além disso, esse caso
estava acabado—. Eu nunca farei uma coisa dessas novamente.
Griselda assentiu.
— A menos que você deseje.
— Eu não me permitirei. Eu não quero. Tenho muita vergonha de mim
mesma—. Griselda fez um gesto tal que não parecia compartilhar esses
sentimentos de vergonha, de modo que Emily percebeu que provavelmente
tinha um casamento iminente—. Você não consegue entender.
— Na verdade, eu entendo muito bem—, garantiu Griselda—.
Realmente, quero entender. Afinal, Emily, eu ...— sua voz sumiu.
— Devo supor que você passou a noite com um cavalheiro.
— Eu acredito—, Griselda relatou—, que vou me casar com o
cavalheiro em questão, Emily. Eu acredito que vou.
Houve um novo silêncio. Mas, Emily sentiu, e vinha sentindo há várias
semanas, que se ela não contasse a alguém, seu coração se quebraria.
— Eu também tive um caso—. Ela quase gritou, ouvindo a aspereza em
sua própria voz.
Griselda sorriu para ele.
— Eu imaginei.
— Mas tenho sido tão moralista, tão desdenhosa com os outros—, ela
confessou—. Você sempre teve um comportamento casto, mas raramente
julgou os outros. Você me odeia?
— Não—. Griselda respondeu sem hesitar.
— Mas, vai me odiar—, Emily insistiu—. Você vai me odiar.
Griselda piscou.
— Um homem casado? — Perguntou.
— Pior—. disse Emily.
— Pior?
Emily não conseguia nem olhar mais para ela.
— Muito pior—. Ela sussurrou.
— Não consigo imaginar—. Admitiu Griselda—. Um servo?
— Os servos são apenas homens, casados ou solteiros; eles são apenas
homens.
— Então ...— Griselda ficou de boca aberta—. Você...
— Lamento—. Emily relatou, sua voz endurecendo quando ela disse
isso—. Lady Gemima.
— Ela é adorável—. Griselda observou depois de ficar por um segundo
com a boca aberta—. Você e ela ...?
Emily podia sentir as lágrimas fervendo em sua garganta, todas as
lágrimas que ela não conseguia derramar porque ninguém, ninguém mesmo,
devia saber das coisas terríveis que ela fizera.
— Não! — Ela não conseguia nem olhar para Griselda. Mas um
momento depois, um lenço delicado alcançou suas mãos e o braço da viúva
envolveu seus ombros.
— Não chore, Emily—, Griselda consolou-a, e o tom de sua voz não
indicava que ela abriria a porta da carruagem para pular de puro nojo—.
Não chore. Gemima é adorável. Sim, eu ... sim ... bem, ela é tão engraçada e
adorável.
— Não ... não é adorável—, Emily soluçou—. Ela ... ela ...— Então,
desabou e depois disso ela nem conseguia entender o que estava tentando
dizer, porque era tão doloroso e exasperante que não conseguia encontrar
uma maneira de colocar em palavras.
Depois de um tempo, a carruagem parou. As duas acabaram na
confortável salinha de Griselda, e a história toda veio à tona entre
interrupções e soluços. Griselda embalou Emily no ombro, como se ela não
fosse a mulher mais imoral do mundo.
— Você vê—, disse Emily, com a voz rouca de tanto chorar—, ela vai
viajar para o exterior. E, vai levar sua nova amiga com ela. E, isso é tudo.
— Sinto muito—. Lamentou Griselda. Ela entregou a ela uma xícara de
chá—. Gemima está cometendo um grande erro.
— Por que Gemima não pôde se apaixonar? E de uma mulher tão
perfeita em todos os sentidos. — Emily disse desesperadamente. “Perfeita!”
— Como você. Mas, quem pode dizer por que essas coisas acontecem?
— É porque tenho sido muito antipática com os outros. Tenho pensado
muito sobre isso nos últimos quinze dias e sei por que aconteceu, por que
Gemima se apaixonou por outra pessoa. É minha justa punição. O destino
me atingiu porque eu mereci.
— Bobagem! — exclamou Griselda—. A compaixão vem da
experiência, Emily. Tenho certeza de que você não pode ser indiferente às
fraquezas dos outros. Mas você nunca foi cruel. Você é muito severa
consigo mesma.
Emily respirou fundo e largou o lenço. Chorar assim era uma coisa tão
estranha para ela. Ela podia molhar os travesseiros todas as noites, mas isso
só a fazia se sentir fraca e enjoada. Mas, um grito de alívio no ombro de
Griselda a fez sentir que seria possível enfrentar no dia seguinte.
— Quem quer que seja, ele não merece você—. disse ela sem
entusiasmo.
Griselda riu.
— Isso está correto. Como você disse, é um homem.
Emily não teve escolha a não ser sorrir um pouco.
— Oh—, continuou—, tenho algumas novidades para você, Griselda.
Ela ergueu os olhos da chaleira.
— É sobre Hellgate.
— Eles descobriram quem escreveu as Memórias? — Griselda
perguntou.
— Exatamente. É tão fascinante. Mayne mal deve conhecer o autor.
— Que tipo de pessoa é o autor? — Griselda quis saber, despejando
cuidadosamente a água quente—. Todos nós chegamos à conclusão de que
ele deve ser um devoto leitor das páginas das revistas de fofoca.
— É muito mais interessante do que isso—, assegurou Emily, aceitando
um cupcake de creme—. Isso é delicioso! Como sua cozinheira os faz?
— Ela tem uma receita meio secreta—, Griselda respondeu—, E, ela a
guarda a sete chave. Eu sei que tem chifre de camurça ralado e amêndoas
branqueadas. Acho que o mais interessante é a forma como corta a casca do
limão, em forma de folhas.
— Meu cozinheiro nunca poderia fazer algo assim. É muito bom para
refeições normais, sabe, como fricassé de nabo—. Ela fez um gesto
engraçado e Griselda riu. — Mas, realmente, você não vai acreditar quem
escreveu esse livro.
Griselda franziu a testa.
— Você se esqueceu do que estávamos falando—, Emily acusou.
Griselda corou novamente—. É porque você está apaixonada. Bem, vou
dançar no seu casamento.
O sorriso de Griselda era de uma felicidade tão profunda que Emily
ficaria amarga em outro momento, mas ela não se sentia mais amarga.
— Ouça agora—, Emily convidou—. Esta é a fofoca mais fascinante
que já ouvi em toda a temporada!
— Melhor do que o processo de divórcio do conde Burnet? Devo dizer
que acho difícil esquecer os detalhes da vida doméstica de Burnet, pelo
menos conforme contado pelos criados.
— Eu não acreditei na metade dessas histórias—, disse Emily—. Não,
isso é fascinante porque ele é um de nós, Griselda.
— Quem? Hellgate?
— Hellgate era seu próprio irmão, como todos nós acreditamos. Não, o
autor! — Ela se inclinou para frente—. Seu nome foi descoberto por um
repórter muito empreendedor que trabalhava para The Tatler.
Griselda afastou seus pensamentos de Portman Square e do homem
loiro que, sem dúvida, já havia se levantado da cama.
— Fascinante—, disse ela—. Surpreenda-me!
Capítulo 42
Do Conde de Hellgate,
Capítulo vinte e sete
Foi uma experiência nova para mim falar com o coração, e não com a
virilha, caro leitor. Então eu percebi quão pouco meu coração teve a ver
com meus muitos relacionamentos, e até mesmo com minha esposa
amorosa. Mas naquele momento ... quanto ele ansiava por ela! No entanto,
não foi desejo físico o que senti, mas um amor autêntico que encheu meu
coração. Ele queria o melhor para ela, para sua vida, para sempre.
Então eu tive que enfrentar a verdade: eu era o melhor para ela?

A carta chegou junto com toda a correspondência, mas o mordomo,


Cockburn, acidentalmente entregou a ela em vez de dar a Mayne.
Josie olhou para ela de perto. E, sentiu seus dedos de repente ficarem
frios.
Claramente impresso no canto superior esquerdo estava o nome do
remetente: Sylvie de la Broderie.
Sylvie escreveu para Mayne? Por quê? O que quer dizer a ele? Agora
Mayne era um homem casado.
Mil possibilidades encheram a mente de Josie. Ela estava prestes a jogar
a carta no fogo.
Uma violenta sensação de vazio tomou conta de seu estômago e
também de seu coração. Ela sentia palpitações e náuseas. Tinha um grande
desejo de matar Sylvie, de destruir seu corpo esguio para sempre.
“Impróprio para uma dama”, Josie murmurou. Mas, desde quando ela se
preocupava com suas próprias atividades ou atividades não femininas?
Além do mais, as damas nunca leem a correspondência de outras pessoas.
Não faria isto.
As damas nunca espiavam.
De repente, ela pensou que algumas regras são feitas para serem
violadas. Mayne provavelmente leria a nota rapidamente e a
desconsideraria. Talvez Sylvie estivesse escrevendo para pedir conselho ou
para desejar-lhe felicidades em seu casamento. Deve ser isso. Claro. Sylvie
tinha modos requintados.
Se ela revelasse o menor interesse na carta para o marido, ela pareceria
diante dele como uma garota estranha e ridícula. Só havia uma maneira de
mostrar indiferença.
Dissimulação.
Quando o conde de Mayne voltou ao escritório naquela tarde, encontrou
três cartas esperando por ele, colocadas na mesa ao lado do mata-borrão.
Ele estava com frio, depois de passar muito tempo ao ar livre, observando
sua potranca mais promissora, Argent, galopando ao redor do piquete. Ele
pegou as cartas e foi para perto do fogo. Isso deu a sua esposa, sentada
confortavelmente no chão atrás das grandes cortinas de veludo, uma visão
perfeita de suas mãos e rosto.
Primeiro ele abriu a carta de Felton. “Está feito”, ele leu para si mesmo.
“Ardmore começou a trabalhar com um entusiasmo que é certamente o
resultado de suas experiências pessoais com esse tipo de bastardos.
Concluímos o assunto oferecendo os serviços de Thurman à tripulação de
um lento navio baleeiro, que zarpará para Newfoundland. Eles precisavam
de alguém para limpar o convés. Mayne sorriu. Estava em dívida com
Felton. E, com Ardmore. Foi uma sensação agradável ter tão bons
cunhados. Homens leais, que o protegem quando você precisa.
A segunda carta que abriu era de Griselda. Ele ergueu as sobrancelhas.
Sua irmã raramente perdia a paciência e, no entanto, havia um óbvio toque
histérico em suas falas.
Sem maiores explicações, ela dizia que ele deveria retornar a Londres
imediatamente. Deveria se apressar, seguir caminho esta noite. Ela sugeriu
que Mayne desse uma desculpa qualquer para Josie e voltasse. Essa última
palavra foi sublinhada três vezes, e ele até pensou ter visto uma mancha de
lágrima ao lado dela. Que diabos era tudo isso? O que teria acontecido?
Ele virou a página e viu que Griselda percebeu que ele gostaria de mais
informações. "Sobre o Hellgate." ela havia escrito misteriosamente no
verso. “Essas memórias infernais. Venha imediatamente e não diga nada
sobre minha carta. Devo pedir-lhe que não diga nada à sua esposa.”
Mayne suspirou. A única coisa boa nisso tudo era que ele não teria que
fazer a viagem de duas horas sozinho, saltando o tempo todo ao ritmo das
malditas molas. Ele estava casado. Ele e Josie poderiam ... se divertir por
algumas horas. Claro, ele não iria ouvir Griselda sobre dar desculpas para
sua esposa.
Ele jogou o bilhete de Griselda no fogo e lidou com a terceira missiva.
Por que diabos sua ex-noiva estava escrevendo para ele? Claro, ele desejava
a ela tudo de bom, mas neste momento ele não se importava que nunca mais
a veria novamente em toda sua vida. Ela era passado.
Ele se encostou na lareira e abriu a carta. Era cheirosa, um detalhe que
lhe pareceu uma afetação desagradável, por isso a manteve um pouco
afastada de si.
Mas então, ao ler a delicada caligrafia francesa, sentiu todo o charme e a
beleza de Sylvie assumirem o controle novamente. Afinal, ele não a amara
à toa, embora não fosse fácil lembrar os motivos da antiga paixão quando
Josie estava por perto.
Por um momento, ele olhou cegamente para a folha. Comparada com
Sylvie, Josie era toda calorosa, sensualidade ... ela era deliciosa. Em
contraste, seu amor por Sylvie, se é que poderia ser chamado de amor,
parecia pequeno, frágil, um sentimento baseado em nada mais do que seu
charme superficial.
Ela era certamente adorável.
"Meu querido Mayne," escreveu Sylvie. "Estou escrevendo para lhe
assegurar que não estou com o coração partido por seu casamento com a
pequena Josie."
A pequena Josie? Comparada com Josie, Sylvie era uma coisinha
magricela. Mayne percebeu que se estivesse casado com Sylvie estaria
agora dormindo com aquele galho seco e gelado, mas teve uma sorte
diabólica, ele pensou consigo mesmo e não pode deixar de sorrir.
— Estou exausta com a série constante de festas em Londres—,
continuava a carta. Sim, claro. Ele imaginou, como se estivesse vendo.
Sylvie não conseguia dizer não a um convite. Havia noites em que
compareciam a três festas consecutivas, uma após a outra—. Decidi fazer
uma viagem curta com minha amiga íntima, Gemima. Ela me convenceu de
que a Bélgica é tão deliciosa quanto a França e estamos determinadas a nos
recuperar. Para ser sincera, Mayne, tenho dúvidas, mas realmente preciso
me afastar de Londres por um curto período. De alguma forma, hoje em dia
sinto falta de Paris mais do que nunca, e uma mudança será benéfica.
Mayne pensou no que Sylvie estava dizendo. Gemima era uma mulher
expedita, todos sabiam disso. Ela cuidaria de Sylvie. Ou melhor, todos
aqueles criados com quem a mulher se movia cuidariam dela. Em tais
condições, sua ex-noiva provavelmente teria a melhor temporada de sua
vida.
“Não queria ir embora sem me despedir de vocês, meus melhores
amigos. Mas, me entristece pensar que você sofreu decepções e
adversidades e que algumas circunstâncias o levaram a celebrar um
casamento muito rapidamente. Mas você será feliz. Cheguei à conclusão de
que não fui feita para o casamento, embora sempre tenha em meu coração a
mais alta estima por você, querido Mayne. Você é o único cavalheiro que
conheço com quem eu poderia ter casado, e estou apenas preocupada com a
ideia de que você possa se sentir desprezado ou insultado, dada a forma
desagradável como terminei nosso relacionamento”.
Mayne achava Sylvie uma excelente pessoa. Uma dama boa e doce que
não desejava mal a ele ... ou a qualquer outra pessoa, pelo que parecia. Ele
não considerava amá-la um "desperdício vergonhoso," como disse Josie. No
final, considerou que a relação com a francesa foi uma boa experiência.
Não, definitivamente não era tão idiota.
“Adeus”, Sylvie finalmente escreveu. “Desejo-lhe as maiores
felicidades, para você e para Josie. Eu acho que você irá encontrá-la
juntos”. Ao terminar de ler, Mayne sorriu levemente.
Ele beijou a carta e cheirou-a mais uma vez. Havia o delicado perfume
francês de Sylvie, com toda sua feminilidade e delicadeza. Mas também
lembrou da sua rejeição física a ele.
Finalmente, com um movimento do pulso, ele jogou a carta no fogo.
E, saiu da sala, para procurar Josie. Ele queria vê-la rir, torcer o nariz ao
vê-lo. Talvez ele a envolvesse em seus braços e a jogasse na cama, pelo
puro prazer de ouvir sua risada profunda, aquela que ela soltava quando
estava excitada, quando desistia, quando o beijava com tanta ansiedade que
parecia que ela nunca fosse parar.
Capítulo 43
Do Conde de Hellgate,
Capítulo vinte e sete
Fiquei acordado em minha cama a noite toda, caro leitor, perturbado pelas
batalhas que assolavam minha consciência. Minha gentil parte me disse
para deixá-la seguir o caminho da luz delicada de sua castidade. A parte
ruim sugeria outra coisa. Meu coração doeu e chorou por ela. Eu
finalmente decidi pedir sua mão. Como eu fiz isso, você se pergunta. Usei
Shakespeare, é claro.

Josie caiu no chão como se seus joelhos fossem feitos de água. Ela sabia
disso, não sabia? Ela sabia que Mayne amava Sylvie. Ele disse a ela que
amava Sylvie, na época em que fez amor com ela pela primeira vez. Ele
disse a ela novamente, em tantas palavras, quando ele lhe ofereceu
casamento e disse que o amor não era importante.
Mas foi mais cruel vê-lo beijar uma carta de Sylvie. O que ela fez? Oh,
o que ela fez?
Não foram apenas os sentimentos de Mayne por Sylvie que ela
esqueceu quando se casou com Mayne sob falsos pretextos. Aparentemente,
ela subestimou os sentimentos de Sylvie também, porque, caso contrário,
por que ela escreveria para ele?
Talvez Sylvie fosse o tipo de mulher que brigava com seus entes
queridos, que jogava anéis de volta para seu noivo, mas não era sério.
Agora que ela pensava nisso, as francesas eram notórias por esse tipo de
drama. Sylvie provavelmente pensou que Mayne apareceria pela manhã
com o anel na mão e imploraria por sua mão novamente.
E ela, Josie, com seu caderno tolo cheio de esquemas sobre como
ganhar um marido e como arranjar um casamento: ela havia esquecido a
coisa mais importante de todas. Que um marido que ama outra pessoa, por
mais entusiasmado que esteja na cama, é um companheiro de partir o
coração.
Nenhum de seus gracejos e sua inteligência importavam em face disso.
Ela poderia fazer Mayne rir.
Ela poderia fazê-lo ofegar na cama. Mas ela nunca poderia suplantar a
doçura do amor que ele sentia por Sylvie.
Ela não podia mais imaginá-lo beijando uma carta que ela escreveu para
ele do que ela poderia imaginá-lo beijando uma sela. O que provavelmente
era sobre o que ela importava em sua vida: como uma sela robusta e
rechonchuda que ele poderia montar à vontade.
Josie se levantou, mas descobriu que seus joelhos estavam fracos e
precisou se agarrar à cortina para se apoiar. Finalmente ela se endireitou
sentindo-se esfarrapada e miserável, como uma velha mendiga.
Como ela pode ter sido tão estúpida a ponto de pensar que ela queria um
marido sob qualquer circunstância? Seu coração queimava como carvão em
seu peito.
Fora da sala, ela foi saudada por Cockburn, que a informou que sua
senhoria desejava partir para Londres dentro de uma hora.
A carta. Sylvie deve tê-lo convocado.
Ela entrou em seu quarto e permitiu que sua criada a colocasse em um
traje de viagem.
O sangue latejou em seus ouvidos. Seus olhos pousaram no livrinho
carmesim no qual ela havia anotado com tanto cuidado os modos
complicados e fascinantes pelos quais as heroínas da Minerva Press
encontravam seus maridos.
Sem utilidade. Ela tinha um marido, e nenhum desses livros dizia como
fazer alguém se apaixonar, ou mais importante - deixar de amar. Para isso,
ela precisava da droga da qual Shakespeare falou em Sonho de Uma Noite
de Verão. Amor-Perfeito, era assim que se chamava. A fada jogou nos olhos
de um cavalheiro, e ele prontamente se apaixonou por Hermia.
Como Mayne poderia realmente amar Sylvie? Faz algum sentido? Ela
era adorável, é claro. Mas, ele também acha meu corpo adorável, pensou
Josie. Sylvie não ligava para cavalos. E ela, realmente, não se importava
com Mayne.
Eu o amo, Josie pensou, com cada gota de desejo em seu corpo. Oh, eu
o quero. Eu amo o meu marido.
Ela estava segurando o livro com tanta força que suas unhas fizeram
marcas na capa de couro.
Houve um arranhão na porta—. Sua senhoria está pronto para partir
para Londres, milady, assim que estiver pronta.
Josie se levantou entorpecida. Tess ajudaria. Annabel provavelmente
estava voltando para a Escócia com seu marido e filho, e Imogen estava em
lua de mel, mas Tess iria ajudar.
Ao saírem de casa, Mayne se aproximou dela.
— Recebi um recado de Sylvie—, disse ele, sorrindo como se fosse
algo sem importância—. Ela está partindo às cinco no Excelsior, e pensei
que poderíamos nos despedir dela.
Josie quase desmaiou.
— Talvez seja melhor para você dizer adeus em nome de nós dois. Eu
gostaria de ir para a casa de Tess, se você não se importa.
Mayne fez uma reverência.
— Claro.
— Estou com uma dor de cabeça terrível—. Desculpou-se Josie.
Seu marido curvou-se novamente.
— Lamento.
Ela subiu na carruagem, aninhou-se em um canto e fechou os olhos. Ela
tinha duas horas no caminho para Londres para descobrir o que fazer.
Uma vez que nenhum Rei Oberon poderia oferecer-lhe uma dose útil de
‘Amor-Perfeito’, ela teria que encontrar a cura para Mayne sozinha.
Capítulo 44
Do Conde de Hellgate,
Capítulo vinte e oito
Ajoelhei-me a seus pés. “Eu queimo por você”, eu disse. “Te desejo. Eu
morro ... pensando em você. Se você não me aceitar, vou me jogar no
Tamisa congelado e morrer pensando em você. Para mim, você tem a
pureza de uma nuvem, a clareza do gelo, a brancura da neve. Case comigo.

— Não discuta comigo—, Josie gritou—. Sei que é um plano complicado,


mas é o único em que consigo pensar.
Os olhos de Tess estavam arregalados—. Complicado? É totalmente
insano, Josie!
— Não é insano. Na verdade, é bem projetado.
— Você deve estar brincando. Diga que você está brincando.
Os olhos de Josie se estreitaram—. Se você não vai me ajudar, vou
simplesmente contratar alguém que me ajude.
Tess estava balançando a cabeça—. Não. Você não pode fazer isso!
— Sim eu posso.
— Não, você não pode! Você não pode drogar Mayne.
Josie acenou com a mão—. É a droga mais leve do mundo. Damos aos
cavalos apenas para acalmá-los, e Peterkin dava aos rapazes do estábulo o
tempo todo quando precisavam arrancar um dente. Isso simplesmente o
deixará sonolento e calmo.
— Você está falando sobre o seu marido—, disse Tess, meio horrorizada
e meio rindo—. Como você pode planejar algo assim?
— É necessário—, disse Josie teimosamente—. Ele realmente acha que
está apaixonado por ela, Tess.
— Sim, mas ele vai perceber ...
— Não, ele não vai. Eu não pensei sobre isso claramente até que o vi
beijar sua carta. Eu não posso viver com ele, sabendo que ele ama outra
pessoa. Eu não posso.
— Não acredito que ele ame Sylvie—. disse Tess, muito mais
seriamente.
— Eu também não acho que ele está apaixonado por ela.
— Então...
— Mas, ele acha que a ama.
Tess não pôde reprimir um leve sorriso.
— Não vejo como ...
— Sylvie irá zarpar para a Bélgica. Isso significa que estará a bordo por
pelo menos duas noites, talvez mais—. Ela se inclinou para frente—.
Nenhuma de nós nunca esteve a bordo de um barco, mas você sabe o que o
Sr. Tuckfield nos contou sobre sua viagem pelo Chifre da África com sua
esposa.
— Ele disse que estava prestes a jogá-la ao mar três vezes—, lembrou
Tess—. Mas Josie, o Sr. Tuckfield é um criador de cavalos escocês.
— Quando Mayne estiver a bordo com Sylvie, ele descobrirá que não
está apaixonado por ela. Ele não vai jogá-la ao mar ...
— Espero que não! — Tess apontou.
— Mas ele vai parar de beijar as cartas dela e de pensar nela.
— Você não sabe se ele pensa nela. Parece-me que você enlouqueceu,
que é vítima de alucinações.
— Acho que sim, que ele pensa nela.
— Ridículo! — Gritou Tess.
— Ah sim? Como você se sentiria se acreditasse que Lucius pensa em
outra pessoa quando faz amor com você? — Josie olhou a irmã nos olhos
—. O que você diria se o visse distraído e pensasse que talvez ele esteja se
lembrando de uma mulher que perdeu? E, se ele murmurar alguma coisa
enquanto está beijando você e lhe parecesse que é o nome de outra mulher?
Tess franziu a testa.
— Isso vai envenenar o nosso relacionamento—, continuou Josie—. E,
já está acontecendo um pouco. Posso sentir.
— Você é tão dramática, irmãzinha. Sério, acho que você leu muitos
romances. Este plano maluco nunca lhe teria ocorrido se você não tivesse
devorado todos aqueles livros.
— Vamos conversar sobre o que importa, sempre achei que um plano de
ação é a melhor forma de lidar com os problemas.
— Isso é verdade—, Tess concordou com relutância—. Mas não vejo
por que um plano tão ridículo e complicado deva ser implementado. Sem
contar que também inclui a obrigação de drogar Mayne!
— Na verdade, é um plano muito simples. Vou dar uma bebida a Mayne
que vai deixá-lo feliz e sonolento e depois mandá-lo para o cais.
— Você vai mandá-lo para o cais? Como se fosse um pacote?
Josie pensou por um segundo.
— Direi aos criados que Mayne deseja embarcar no Excelsior. Esse é o
nome do navio de Sylvie.
— Não vejo por que você tem que drogá-lo.
— Ele não entrará no navio de outra forma.
— É verdade.
— Você entendeu? — Josie disse—. Vai funcionar, Tess. E, eu não
preciso de sua ajuda, então você não precisa se preocupar.
— Você vai precisar da minha ajuda—, disse Tess—. Seus servos são
servos de Mayne, caso você não se lembre. Eles não vão arrastar seu mestre
sonolento e drogado para o embarque e depois deixá-lo lá. Eles não podem
fazer isso e não o farão.
Josie franziu a testa. Houve um momento de silêncio e então Tess falou
com relutância.
— Mas meus servos podem.
— Você vai fazer isto?
— Mas, eu não aprovo isso!
— Claro que não. Mas, você vai fazer? Tess ...— Havia lágrimas
brilhando nos olhos de Josie naquele momento—. Não posso viver sabendo
que ele ama Sylvie. Quer dizer, não saber se ele a ama ou não. Não suporto
a ideia que ele pensa que a ama.
Tess a abraçou.

Griselda esperava Mayne na sala de estar.


— Você finalmente chegou! — Ela gritou, levantando-se em um salto.
Ele entrou, parecendo elegante e despreocupado como sempre, o que
deve ter significado que ninguém teve a chance de dizer nada a ele antes
dela. As palavras começaram a se acumular em sua boca: — Darlington ...
Hellgate ... As Memórias ...
Quando sua irmã lhe contou tudo o que sabia, Mayne se sentou em uma
cadeira em frente ao fogo e ficou ali em silêncio, carrancudo. Ele parecia
indignado. O coração de Griselda afundou. Sem dúvida, ele pretendia
ameaçar Darlington. Ele o desafiaria para um duelo. Talvez tenha pensado
em matá-lo.
— Você não pode fazer isso! — Implorou Griselda, incapaz de conter a
angústia que sua imaginação produzia.
— Eu não posso o quê?
— Desafiá-lo para um duelo.
— Por que diabos eu faria isso?
Ela olhou para ele—. Você não está indignado? Sua ...
— Tem alguma coisa errada com Josie—. Ele comentou—. Minha
preocupação não tem nada a ver com o que você está me dizendo. Então
você está me dizendo que Darlington escreveu As Memórias de Hellgate. E,
que você está tendo um caso com ele. O mesmo Darlington que disse que
minha esposa era uma salsicha escocesa?
— Sim—. Ela sussurrou.
Houve um momento de silêncio.
— É por isso que pensei em matá-lo—. disse ele lentamente.
— Você não deve fazer isso.
— Suponho que não. Você não poderia ter escolhido um sujeito melhor
para dormir?
— Eu ...— Griselda reprimiu as lágrimas—. Gosto muito dele. E, ele
nunca vai falar algo tão cruel novamente. E, lamenta muito ter causado
tanto mal a Josie.
— Dada a sua prosa abominável, não quero nem pensar nas intimidades
que ele sussurrou em seu ouvido.
— Darlington não é um escritor abominável! Você ... você ...
Mayne conseguiu irritar Griselda com sua risada arrogante de irmão
mais velho—. Ridículo, dada a sua incapacidade de montar uma frase
articulada. Eu teria pensado melhor de você.
Griselda prendeu a respiração para se controlar.
— Você poderia parar de brincar e pensar por um momento, seu idiota
estúpido! — Ela, que nunca usou palavrões, mal se reconhecia quando se
ouvia.
— Pensar sobre o que? — Mayne perguntou, um pouco mais calmo—.
É óbvio que você está planejando se casar com ele.
— E, se ele se aproximou de mim para me tornar o assunto de um livro?
— Griselda gritou—. Você já pensou sobre isso?
Houve um silêncio.
— Então, eu o mataria—. Mayne disse calmamente.
Griselda olhou nos olhos do irmão.
Ele se aproximou dela e colocou a mão em seu rosto—. O fato de não
saber escrever não significa que ele é um suicida, Griselda. Suponho que
ele lhe propôs casamento, certo?
Ela acenou com a cabeça nervosamente.
— Mais uma razão pela qual ele deve viver. Cadáveres não vão para o
altar—. Comentou Mayne, virando-se e calçando as luvas.
— Você não está preocupado ... que ele tenha escrito aquele livro? —
Ela disse, quase sufocando.
— Em apenas uma palavra: não! Nem um pouco. Sempre achei essas
memórias absurdas. O que me preocupa é que ele queira se casar com você,
mas suponho que o mais importante é que você queira se casar com ele.
Porque é isso que você quer, não é verdade?
Ela sorriu para ele através de um véu de lágrimas.
— Acho que sim.
— Bem, você tem minha bênção—. Ele a beijou no nariz—. Ele não a
merece. Ele é muito sortudo. Eu mesmo direi a ele, assim que terminar de
consertar as coisas com Josie.
— Oh...— Griselda disse.
Porém, seu irmão já tinha embora.
Capítulo 45
Do Conde de Hellgate,
Capítulo vinte e oito
Eu soube que ela me amava quando seus olhos se encheram de lágrimas.
Ela me amou ... Ela me ama. Caro leitor, você deve saber disso: nada como
essa doce emoção para mudar a vida de um homem. Ou, ainda mais, para
transformar todo o seu caráter. Ela é minha, ela é Minha!
Caro leitor, alegre-se. Eu sou um novo homem.

Tudo acabou muito mais fácil do que Josie pensava.


Mayne foi procurá-la na casa de Tess e Josie serviu-lhe uma xícara de
chá, enquanto dizia que sua irmã voltaria em um momento.
Seu marido começou a lhe contar algo sobre Darlington e Hellgate ...
seria possível que Darlington tivesse escrito as Memórias? Mas Josie não
conseguia focar sua atenção nesse assunto, porque ele já estava bebendo o
chá com a droga.
E então ... antes que ela tivesse tempo de suspirar, Mayne adormeceu,
recostando-se em um braço do sofá onde sentara. Cílios longos lançavam
sombras em seu rosto. Ela não conseguiu evitar. Ela se ajoelhou diante dele
e acariciou seu rosto com os dedos.
— Eu faço isso porque amo você—, sussurrou—. É só porque eu o amo
loucamente.
Então ele suspirou e sorriu. Em uma ocasião, depois de ter um dente
arrancado, ela também meio acordou com a mesma sensação deliciosa de
ter tido um sonho agradável.
Então ela levantou-se, saiu e fechou a porta com cuidado. Tess estava
esperando por ela.
— Você está com a carta?
— Eu tenho que escrever—, respondeu Josie, lutando contra as
lágrimas.
— Você tem certeza?
— Claro que tenho! O que acontece é que o vi tão indefeso, deitado ali
—. Ele nem sabia que ela o havia drogado.
Tess balançou a cabeça.
"Eu acho tudo isso um absurdo. Mas, de qualquer maneira, não há como
voltar atrás, escreva sua carta.” E, empurrou Josie para a mesa.
Josie sentou-se diante de uma folha de papel em branco. Não adiantava
escrever uma carta bonita. Não era seu estilo. Claro, que também não podia
contar a verdade.

Caro Garret,
Eu sei que você ficará surpreso ao se encontrar a bordo deste navio. O
que não entendi quando me casei com você é que o mais importante é o
amor. Não casamento, mas amor. Você ama Sylvie, então deve estar com
ela. Mesmo que ela não aceite sua mão, é terrível estar separada da pessoa
que você ama, e não posso suportar a ideia de que sou responsável por
isso.
Josie

Ela acabou chorando tanto que deixou a carta onde estava e desabou na
cama.
— Não se preocupe, minha querida—, Tess a consolou, ajudando-a a se
levantar e, em seguida, jogando a capa sobre os ombros de Josie—. Vou
levar você de volta para sua casa enquanto Lúcio cuida de todo o resto.
— Você contou ao Lucius?
— Claro que contei ao Lucius—, Tess confirmou, parecendo surpresa
—. De que outra forma eu poderia levar Mayne às docas? Lucius é a pessoa
certa. Você sabe que ele é muito bom em fazer as coisas corretamente, não
importa o quão difícil seja, Josie.
— Eu não queria que ninguém soubesse—, ela protestou, enxugando as
lágrimas com o lenço—. Eu não queria que ninguém soubesse!
— Lucius é necessário para levar a cabo o seu plano—, Tess insistiu,
tranquilizando-a—. Vamos, levante-se.
Quando desceram as escadas, a porta da sala ainda estava fechada.
— Ele só vai dormir quatro horas, no máximo—, explicou Josie,
repentinamente preocupada—. Ele tem que estar nas docas às cinco horas,
quando a maré virar. E, se o Excelsior for embora sem ele?
— Não vai—, disse Tess—. Você sabe muito bem que Lucius nunca
comete erros.
Josie pensava sobre isso enquanto rodavam pelas ruas de Londres. É
verdade que Lucius Felton era o tipo de homem que nunca se atrasava,
nunca se enganava. Provavelmente a maré esperaria por ele, se não por
mais ninguém.
— O que ele disse? — ela perguntou.
— Quem?
— Lucius! O que ele achou do meu plano?
— Ele achou que é uma bobagem completa—, disse Tess. Ela viu a
boca de Josie se abrir e ergueu a mão—. Até que eu o lembrasse que eu
mesma estava noiva de Mayne. E, se eu tivesse uma paixão desesperada por
Mayne? — Ela sorriu para si mesma—. Ele não pareceu gostar da ideia.
— Vocês dois tiveram muita sorte—, disse Josie, sabendo que sua voz
era áspera.
— É verdade.
Elas não falaram novamente até que estavam dentro da casa, a casa de
Mayne—. Você precisa de um banho—, disse Tess, tocando a campainha—.
Você precisa de um banho e jantar em seu quarto, e depois dormir. Você
está exausta. Olhe para você, Josie, seu rosto está abatido e tenso.
Josie pensou sobre isso. Com certeza, ela não tinha comido muito nos
últimos dias e nada no dia de hoje. Tess a colocou diante do espelho—.
Olhe para você!
Josie tocou seu rosto. Estava caído. Puro abatimento.
— Você está horrível—. Sua irmã disse a ela.
E, de repente, como se o espelho tivesse rachado diante dela, Josie viu o
que ela queria dizer. Não eram cavidades tentadoras em suas bochechas,
mas sinais de cansaço. Ela não estava bonita, ela apenas parecia
estranhamente magra. Ela suspirou. Aparentemente, seu rosto não era do
tipo que ficaria bem magro.
A essa altura, Mayne deve estar no barco, descobrindo que ela o havia
desistido de brigar pelo amor dele. Ela o havia entregado a Sylvie. Libertara
Wayne de seu casamento.
O pensamento a deixou enjoada, então ela entrou apaticamente na
banheira.
— Estou indo para casa, agora—, disse Tess, enfiando a cabeça no
banheiro algum tempo depois—. Eu pedi um jantar leve para você no seu
quarto.
— Obrigada—. disse Josie.
— Tudo estará resolvido amanhã—. Respondeu Tess. Então, mandou
um beijo e saiu.
Mas, Josie não queria comer em seu quarto. Quando saiu do banho,
vestiu o robe de Mayne, a roupa de seda macia que ele emprestou a ela
quando a forçou a tirar o espartilho na noite em que a salvou do baile.
Então, falou brevemente com Ribble e subiu as escadas para a torre de
Cecily.
O quarto estava tão escuro, doce e mágico quanto na primeira noite em
que Mayne a levou lá. O unicórnio dançou ao longo da videira, e o menino
que parecia Mayne balançou, pendurado por uma das mãos.
Josie se aninhou na grande poltrona de onde vira Mayne desfilar
comicamente em seu vestido, mas não chorou.
Ela estava profundamente convencida de que estava certa. Ele não
amava Sylvie, embora acreditasse que sim. Lá, na sala da torre, onde
ninguém estava ouvindo, ela murmurou essa verdade.
— Ele me ama—. Sussurrou. Para quem estava falando? Para o espírito
da tia Cecily, talvez? — Sim. Ele me ama.
Ribble apareceu com uma taça de vinho e algo para comer. Josie
trouxera apenas uma coisa com ela para a sala da torre: As Memórias do
Conde de Hellgate. Ela se sentou à luz bruxuleante das lâmpadas, relendo
as muitas aventuras apaixonadas de um homem a quem amava mais do que
a própria vida. O vinho era vermelho escuro e parecia tão mágico quanto as
paredes. Lendo o livro, quase sentia que ela era todas aquelas mulheres que
Mayne amou ...
Mas ele as amava?
Ele havia dito que nunca ria na cama com elas. Agora as histórias
pareciam supérfluas e ao mesmo tempo ansiosas, cheias de desejo, mas
também de tédio. Ela parou na história que contava como Hipólita amarrou
Hellgate à parede da casa do jardim. Mayne disse que jogou o livro no fogo
ou no lixo quando chegou naquele capítulo. Ele disse que nunca havia
participado de tal atividade.
Mas, Josie podia se ver perfeitamente amarrando Mayne à cama. Além
do mais, “ela sorriu e tomou outro gole de seu vinho”, assim que retornasse
de sua breve viagem, era exatamente o que pretendia fazer. Amarrá-lo na
cama.
Talvez, ele ficasse um pouco zangado no início.
Mas, uma vez que ele superasse ...
Houve um barulho na porta e Josie nem olhou para cima, apenas virou a
página. Agora, Hellgate descartaria sua amante amazona como se ela não
fosse mais importante do que um chinelo descartado, e se voltaria para...
Ela ergueu os olhos.
Ali, nas sombras da porta, estava Mayne. Gotas d'água escorriam de
seus ombros e cabelos. Seus olhos estavam rodeados por círculos escuros.
— Joooosie...— disse ele com voz rouca—. Eles me jogaram do barco a
remo ... eu estava amarrado e não sabia nadar ... tive que vir me despedir de
você ...
Josie não disse nada. O ar ficou escuro e denso ao seu redor, como se
não houvesse ar suficiente em um mundo sem seu marido. Ela não
conseguia falar. Ela não conseguia respirar. Ela desmaiou.
Mayne entrou na sala e olhou para a esposa, sacudindo-se como um
cachorro após uma boa chuva. Ela estava tão apagada como uma vela
apagada. Ele pegou sua taça de vinho e tomou um gole apreciativo.
Ela estava bebendo o Château Margaux 1775 que seu pai colocara para
descansar. Muito bom.
Então, ele sentou-se no banquinho diante da poltrona e olhou para ela.
Muitos romances, esse era o problema com sua maravilhosa esposa.
— Josie! — ele disse. E então: — Josie! — Ela não se mexeu, então ele
passou a mão por seu rosto. Ela era tão bonita que seu coração deu um
salto, mas ele se esforçou para ser firme.
— Josephine, acorde agora! — gritou.
Finalmente, ela o fez. Seus olhos se abriram e ela olhou para ele. —
Sótão? — ela perguntou.
— Fantasma —, disse ele prontamente.
Ela agarrou as mãos dele e o encarou por um momento, olhou para seu
cabelo úmido (na verdade ele havia derramado um copo d'água sobre a
cabeça), depois se levantou da cadeira e começou a empurrá-lo e repreendê-
lo.
— Como você pôde fazer uma coisa dessas comigo? Como você pôde?
Eu pensei que você estava morto!
Mayne estava rindo tanto que não foi capaz de se defender contra o
ataque da enfurecida Josie.
— Você ... você ... eu vou transformá-lo em um fantasma de verdade!
— sua esposa gritou.
Finalmente, Mayne fez com que ela parasse de bater em seus ombros e
agarrou suas mãos.
— Você mereceu, minha querida—. Mal conseguia conter outro ataque
de riso.
Mas, havia lágrimas nos olhos de Josie e a risada morreu em sua
garganta. Por um momento, ele viu tudo o que estava escrito em seus olhos:
um amor que duraria uma vida inteira, uma vulnerabilidade que nunca iria
embora e uma generosidade profunda que a tornou a mulher mais
maravilhosa, engraçada e inteligente que ele conhecia.
Então suas sobrancelhas se juntaram.
— Desgraçado! — Ela retrucou.
— Você mereceu isso.
— Eu nunca deveria ter confiado em Tess. Nunca.
— Acordei com Felton rindo de mim—, admitiu Mayne—. E, por falar
nisso, ele entregou a carta que você deixou para mim.
— Oh!
— Condene-me por estar cercado de escritores ruins—, disse ele—.
Primeiro Darlington ... e, além disso, aquele canalha parece que está prestes
a se tornar meu cunhado ... e agora minha própria esposa. — “O amor é
mais importante do que o casamento”. Estilo pomposo! Curiosidades e lixo!
Poderia ter sido escrito pelo próprio Hellgate.
— Lamento que minha escrita não esteja à sua altura—, disse Josie com
um ar zangado de dignidade.
— Você não apenas me escreveu uma carta cafona, você me drogou e
tentou se livrar de mim—. disse ele implacavelmente.
— Não foi isso! — Ela tentou se libertar das garras de Mayne. — Eu
nunca quis me livrar de você.
— Você queria que eu fosse jogado em um navio com uma francesa que
mal conheço.
— Era Sylvie! Se você se lembra, você ia se casar com Sylvie!
— Deus, sim, era Sylvie! Como você pode pensar que eu gostaria de
passar vários dias preso a bordo de um navio com Sylvie?
— Porque... porque...
Mas, era hora de parar com a tolice, então ele se sentou e puxou-a direto
para seu colo, olhou-a nos olhos e disse: — Você nunca vai se livrar de
mim, Josephine.
— Nunca? — ela sussurrou.
— Não me drogando, nem me mandando para o mar.
— Eu não queria.
Mas, ele queria ouvir, então esperou.
— Eu amo você—. disse ela—. Eu o amo demais para mantê-lo longe
de Sylvie.
Seu sorriso veio direto de seu coração—. Podemos deixar Sylvie fora
disso, embora você deva me dizer como diabos passou a pensar que eu a
amava ...
— Porque você me disse isso repetidamente? Porque você ia se casar
com ela? Porque você beijou a carta dela?
— Eu nunca beijei nenhuma carta dela!
— Você fez, você...
— Se você me amava—, disse ele, cortando a conversa—, como você
poderia me deixar ir?
— É por isso. Eu tinha que dar você a ela, se era isso que você queria.
Ele colocou as mãos em seu rosto—. Eu nunca vou deixar você ir,
Josephine, minha esposa. Nem se você se apaixonar pelo próprio Hellgate.
Ela estava rindo e chorando ao mesmo tempo—. Mas, Garret, estou
apaixonada por Hellgate, você não sabia? — Ela empurrou os dedos em
seus cachos úmidos.
Então ele a beijou, ferozmente, como se pudesse bebê-la e torná-la sua.
Exceto que ela já era dele.
— Eu nunca soube o que era o amor—, disse ele, sentindo as palavras
se acumulando dentro dele—. Eu pensei que estava apaixonado por Sylvie
... como você não poderia saber que idiota eu era ao imaginar uma coisa
dessas?
— Bem ...— ela disse. E, o beijou.
— Suponho que você me queria naquele barco precisamente porque me
conhecia melhor?
— Eu pensei—, explicou Josie—, que você poderia estar apaixonado
por mim, e que você simplesmente não tinha percebido ainda.
— Oh, eu percebi isso—. E, a beijou com força.
— Você não me disse...
— Eu teria. Você é minha condessa e a única mulher que já amei. Em
toda a minha vida infeliz e infernal.
Seus olhos sorridentes estavam um pouco marejados, então ele colocou
as mãos naquele roupão. Era uma vestimenta malditamente útil, pelo jeito
que a faixa cedia na cintura, e então se abriu para mostrar a ele um banquete
de carne cremosa e seios bonitos.
Ele não conseguia parar de beijá-la, no entanto, se desviou para o seio
dela e a fez chorar de prazer, mas então ele teve que beijar sua boca
novamente. E de novo.
— Eu não sou o mesmo perto de você—, disse a ela em algum
momento—. Nunca fico entediado, Josie. Eu não sou - eu não sou eu
mesmo.
— Sim, você é—, disse ela, tão mandona como sempre—. Posso sugerir
que você volte ao que estava fazendo? — Porque sua mão parou com a
necessidade de dizer a ela, de fazê-la entender.
— Você não está ouvindo—, ele sussurrou, mesmo enquanto a
acariciava novamente, observando seus olhos se fecharem e uma pequena
respiração encantadora saindo de seus lábios. Ela era toda doce e
rechonchuda bem-vinda, mas ele ainda queria dizer isso.
— Com você, eu não sou o Hellgate—, disse ele, sabendo que ela não
estava realmente ouvindo—. Não sou um libertino dissoluto, dormindo com
qualquer coisa de duas pernas. Vou transformar os estábulos de Mayne em
algo que as pessoas se lembraram por décadas. E, eu vou...
— Pelo amor de Deus! — ela disse, seus olhos se abrindo—. Garret
Langham, você está realmente falando sobre seus estábulos... agora?
Ele olhou para ela. Seus lábios estavam fazendo beicinho com a cor
cereja escura de todos os seus beijos. Ele tinha uma mão curvada ao redor
de seu seio e a outra entre suas pernas, e seus olhos eram selvagens,
amorosos e desesperados de necessidade, tudo de uma vez.
— Bem—, ele disse a ela, facilmente pegando seus quadris e
posicionando-a perfeitamente. E, então deixou que ela escorregasse sobre
ele, centímetro a centímetro. — Eu pensei que poderíamos...— ele teve que
respirar— ... falar sobre nosso programa de reprodução.
— Você tem sorte de ter a mim—, disse Josie contra seus lábios. Então
ela beliscou seus lábios inferiores e passou os braços em volta de seus
ombros.
— Eu sei—. disse ele.
Ela estava definindo o ritmo, fazendo seu sangue disparar, fazendo-o se
sentir tão indômito quanto um tigre. Seu cabelo caiu pelas costas, rebelde e
macio. Ela colocou as mãos em volta do rosto dele—. Eu deveria matar
você por esse truque da água.
— Não faça isso—, ele engasgou—. Eu não acho que ... fantasmas
têm...— Mas ele parou de falar. Então ele apenas a beijou em silêncio, sua
doce Josie, sua amada, sua esposa.
Capítulo 46
Do Conde de Hellgate,
Capítulo vinte e oito
Ao me despedir de vocês, meus queridos leitores, só posso desejar de todo o
coração que um dia vocês possam navegar nas mesmas nuvens de
felicidade que eu ... que cheguem às mesmas alturas de felicidade que eu
alcancei.
Adeus, adeus!

A festa para comemorar a apresentação à sociedade do livro que todos


diziam ser a publicação do século tinha começado há duas horas, quando o
Rei se aproximou do centro da sala para fazer alguns comentários. Ele
segurava nas mãos uma cópia assinada, encadernada em couro vermelho,
cravejada de pérolas (a gráfica dirigida por Lucius Felton tinha tido muito
sucesso em encadernações de luxo).
Harry Grone estava rabiscando notas apressadamente para The Tatler.
“O discurso do monarca trouxe lágrimas a todos os olhos”, escreveu ele. “A
maneira como ele falou de sua filha amada, nossa lamentada Princesa, foi
muito comovente. O rei concedeu então ao autor das memórias, Darlington,
a honra inefável de um abraço real. Como nossos leitores se lembram”,
observou Grone, “Darlington foi nomeado cavaleiro há algumas semanas
por sua biografia da princesa”.
“Sir Charles Darlington subiu ao palco e agradeceu ao regente nos mais
generosos termos. Então, ele se virou para sua esposa, Lady Griselda ...”
Grone fez uma pausa, para considerar como o artigo iria prosseguir. Ele não
aprovou o fato de que a senhora apareceu na sociedade quando estava
visivelmente grávida, mas imediatamente pensou que os tempos estavam
mudando e ele deveria se adaptar a eles. De qualquer forma, não
mencionaria tal coisa no The Tatler. “Darlington disse que havia escrito
aquelas memórias para sua esposa, e que ela era ...” Como ele disse? A
dona de seu coração? Grone suspirou. Sua audição não era mais o que
costumava ser, e ele teria preferido que Darlington se restringisse às
palavras anglo-saxãs mais simples.
“Todos ficaram muito comovidos com a óbvia devoção que ele tem por
sua esposa”. concluiu.
Talvez, se Grone tivesse olhado para o fundo da sala, ele pudesse ter
mudado de ideia. Porque havia as quatro irmãs Essex com seus maridos. A
verdade é que eles aplaudiram freneticamente cada elogio ao livro de
Darlington e cada palavra nele.
Mas Josie, a condessa de Mayne, riu durante o discurso do autor. Seu
marido havia passado o braço em volta da cintura dela e estava
constantemente falando em seu ouvido, obviamente tentando silenciá-la.
— Calma, minha pequena sedutora—, sussurrou Mayne.
— É tanto absurdo—, respondeu ele, sussurrando também.
—Sim, mas você ouviu quantos livros com capa de couro Felton está
imprimindo? — Mayne perguntou—. O absurdo de Darlington é admirado
por milhares de pessoas.
Ela se apertou contra Mayne, encantada por sentir o entusiasmo
caloroso do homem através da seda clara de seu vestido.
— Mayne ...— ela sussurrou, aproximando seu corpo do marido dela.
— Você quer que todos me critiquem? — Ele rosnou em seu ouvido.
Em resposta, Josie levou os lábios à boca de Mayne. O conde nunca foi
um homem que se preocupou muito em limpar sua reputação manchada.
Ele não podia ignorar um convite como o que sua esposa estava lhe dando.
Ele começou a beijá-la como se não estivessem em uma sala lotada,
com todas as suas irmãs ao lado, como se o rei não estivesse exatamente na
frente deles, como se os repórteres não estivessem anotando as colunas de
fofocas sociais, como se a vida, em suma, era uma festa eterna reservada
para os dois.
Porque nada importava quando Mayne tinha Josie, sua deliciosa e
risonha Josie, exatamente onde ela deveria estar.
Nos seus braços.
Epílogo
Três anos depois...
— Maldição! Inferno! — Josie estava gritando loucamente—. Isto é
horrível. Isso ... isso é pior do que qualquer outra coisa. Não posso mais!
Não posso mais! Estou falando sério! — Ela gritava sem parar.
Tess pôs o braço em volta do seu ombro.
— Tudo ficará bem, minha querida, eu garanto. Você apenas tem que
tentar se acalmar.
— Me acalmar? Me acalmar! — Josie se virou—. Pare de rir!
— Não estou rindo—, Griselda respondeu, endireitando rapidamente a
boca—. Eu estava apenas comentando com Imogen que ...
— Esta não é hora de comentar! — Josie explodiu—. Eu realmente ...—
Ela se interrompeu—. Ai ... ai ... Merda!
Houve uma batida na porta e Annabel abriu.
— Olá, Mayne! — Ela cumprimentou alegremente.
— Eu a ouvi gritando—. Seu rosto estava absolutamente branco e seus
olhos pareciam exaustos—. Ela está sentindo muita dor? Eu posso vê-la?
— Não vejo porque não. Ainda não está acontecendo nada. É muito
cedo. Há várias horas que dizemos a ela que ainda vai demorar, mas você
conhece Josie. Ela não tem muita paciência.
Annabel terminou de abrir a porta para revelar Josie inclinada, agarrada
à sua irmã mais velha, Tess, como se fosse uma jangada no meio do
vendaval.
— Josie...— Mayne murmurou, inclinando-se mais perto—. Você está
bem?
Ela se virou e balançou a cabeça para afastar o cabelo dos olhos.
— É claro que não estou bem. Eu estou morrendo. Estou morrendo!
Tess se afastou e Mayne abraçou a esposa.
— Eu faria qualquer coisa por você. Você quer que eu massageie suas
costas?
Imogen sorriu para Annabel.
— Você não adora quando os homens se esquecem de ser os senhores
do castelo por um ou dois momentos?
Annabel sabia o que era viver em um castelo, e sua risada baixa e
profunda era contagiante.
— Depois que cada um de nossos filhos nasceu, Ewan jurou que nunca
mais me colocaria em tal situação.
— É bom que você tranque a porta do seu quarto com mil chaves—,
Imogen disse, com uma leve bufada. — Embora eu não saiba por que você
está ficando tão redonda ultimamente, Annabel, se você decidiu levar uma
vida casta.
Annabel sorriu.
— É meu estado natural—. disse ela. Mas, a mão que acariciava sua
barriga indicava outra coisa.
Mayne se sentiu melhor quando segurou Josie nos braços. Era um
sofrimento tremendo andar para cima e para baixo no corredor, sem poder
fazer nada, sabendo que Josie estava com dores terríveis.
— Estou aqui—. Ele sussurrou em seu ouvido.
— Eu não gosto disso—. Protestou Josie, apoiando a cabeça em seu
ombro—. Eu gostaria que acabasse agora.
— Bem, coloque na sua cabeça que não vai ser assim—, disse Tess—.
Ainda falta várias horas. Mayne, você realmente deveria ir embora.
— Não vou embora—, respondeu Mayne—. Se Josie tiver que aguentar
isso por mais várias horas, não vou a lugar nenhum—. Havia uma
expressão teimosa e desesperada em seus olhos—. Tem muita gente aqui—.
Sem dizer mais nada, Mayne rapidamente conduziu a esposa para o luxuoso
quarto de vestir ao lado do quarto principal e fechou a porta atrás de si.
— Mas, pelo amor de Deus—, disse Tess—. Devemos permitir isso?
— Tem uma cama lá—, disse Annabel—. Talvez ele possa convencê-la
a descansar um pouco.
Griselda entrou no quarto—. Onde diabos Josie foi?
— Oh, Mayne a levou para o provador para abraçá-la um pouco—.
Annabel disse tranquilamente.
— Sente-se, querida.
— Não sou eu que estou em trabalho de parto—. Protestou Griselda.
Mas ela carregava um querubim de cabelo dourado adormecido em seus
braços, então ela afundou de volta na cadeira com um suspiro feliz de
qualquer maneira.
Elas podiam ouvir a voz de Josie aumentando até se transformar em um
grito atrás da porta fechada. Ela estava xingando novamente.
— Eu fui muito mais elegante durante o meu primeiro parto—. Annabel
disse a eles.
Imogen não pôde deixar de rir.
— Não, é verdade—, protestou sua irmã—. Eu só amaldiçoava ... de
vez em quando.
— Eu nem tive força para xingar—, lembrou Imogen—. Eu estava com
falta de ar o tempo todo. Uma vez foi o suficiente. E, Rafe também. Achei
que o coitado tivesse envelhecido dez anos, quando finalmente me
permitiram vê-lo.
— Quanto tempo durou o trabalho de parto de Samuel? — Griselda
perguntou a Annabel—. Ainda me sinto muito mal por ter deixado você
sozinha na Escócia. Imogen e eu deveríamos ter ficado com você.
— Eu tinha a Nana—, disse Annabel—. Ela pensava que a mente de
uma mulher prestes a dar à luz devia estar ocupada com outras coisas, então
costumava me contar piadas obscenas. Na verdade, tentei contar uma das
piadas de Nana para Josie alguns minutos atrás, mas ela começou a me
insultar. Além do mais, tivemos de mandar a parteira para baixo, pois ela
ficou horrorizada com o palavreado de Josie.
De repente, todos ouviram a voz de Josie praguejando atrás da porta do
camarim novamente. Tess começou a se levantar, mas Annabel a segurou
pelo braço.
— Josie está muito melhor com Mayne lá, e ela ainda está a horas de
terminar. Ela acabou de entrar em trabalho de parto. Seria melhor se ela
guardasse suas forças e não gritasse tanto, mas sem o marido ela xingaria
mais.
Naquele momento, Josie estava deitada na pequena cama de seu quarto
de vestir, se virando e se revirando, tentando encontrar uma posição em que
suas costas doessem menos. Mesmo entre as contrações, doía como o
inferno. E, as contrações eram cada vez menos espaçadas.
— É insuportável? — Mayne perguntou com uma voz de fracasso. Ele
estava sentado ao lado dela, apertando suas mãos com toda a força que
podia. Seu cabelo estava tão desgrenhado que, em outras circunstâncias,
Josie teria zombado de sua aparência.
— Não exatamente—, ela respondeu com os dentes cerrados. Uma
cãibra a forçou a erguer as costas, arqueando-se—. Mas outras cinco ou seis
horas como essas serão intoleráveis.
— Pode não durar tanto—. Mayne a consolou, seu rosto ficando cada
vez mais branco.
Josie não conseguia se concentrar totalmente na conversa. Pareceu-lhe
que seu corpo ia virar do avesso. Ela realmente não sabia como poderia
aguentar por mais várias horas.
— Griselda esteve em trabalho de parto por dez horas—. Ofegou ela,
apertando as mãos do marido com tanta força que sentiu seus ossos se
mexerem.
— Eu estou aqui com você—. disse ele. Seus olhos pareciam tão
bonitos olhando para ela que Josie queria sorrir, mas não conseguiu. E, não
teve escolha a não ser arquear as costas novamente e se mexer um pouco.
— Achei que haveria uma pausa entre as dores—. Ela reclamou um
momento depois.
— Você quer falar com suas irmãs? — Mayne sugeriu, sem se mover.
Ela leu os olhos de Mayne, assim como seu próprio coração. Se Tess,
Imogen e Annabel entrassem na sala, iriam mandá-lo embora, e eles não
estariam mais juntos até depois do parto.
— Elas disseram que ainda levaria horas—, ela lembrou—. Mas eu ...
eu só ...— E, parou de falar.
Mayne afastou suavemente o cabelo do rosto.
— O que foi, meu amor?
— Eu esqueci. Eu ... eu ...
Mayne se inclinou sobre ela.
— Meu amor...
Um segundo depois, Mayne se levantou instintivamente, mas Josie
segurava uma de suas mãos com força.
— Não! — queixou-se. E, instintivamente plantou os pés na cama. Ela
arqueou as costas novamente, agarrando-se à mão dele com toda a força.
— Tess! — Mayne gritou, olhando para sua linda esposa suada—.
Todas vocês! Chamem a parteira!
Ele ouvia as risadas do lado de fora da porta e, em seguida, largou a
mão de Josie, ela querendo ou não.
A porta se abriu e a voz de Annabel disse: — Agora, talvez, você tem
que entender que é preciso...
Mas, o aviso veio um pouco tarde. Porque o que Annabel viu quando
abriu a porta foi o conde segurando um bebê, uma garotinha suja que abriu
os olhos com cílios tremendamente longos (ela parecia com o pai) e soltou
um grito de raiva (ela também parecia com a mãe).
E, Mayne, o sofisticado e mundano Conde de Mayne, olhou para sua
filha e desatou a chorar. Josie se sentou e estendeu as mãos, reivindicando a
menina.
Annabel fechou a porta novamente e se dirigiu a suas irmãs.
— Meninas ...
Ambas olharam para ela. Elas estavam brincando com o bebê de
Griselda.
— Vocês se lembram que garantimos a Josie que o trabalho de parto
duraria horas e horas?
Tess se levantou de um salto.
— Não me diga isso ...
— Você poderia tocar a campainha? — Annabel perguntou—. Porque lá
dentro tem um bebê que não estava ali antes.
— Santo céu! —Tess gritou, puxando a corda do sino com tanta força
que ela se soltou.
A matrona empurrou-os com autoridade para fora do caminho e entrou
no vestiário. Eles se amontoaram atrás dela, mas Tess parou Imogen na
porta.
— Vamos lhes dar um momento—. Sussurrou.
Griselda voltou com seu bebê para o berçário. Depois de um tempo, elas
não podiam esperar mais, e Annabel abriu a porta novamente, com Imogen
e Tess espiando atrás dela.
Josie estava encostada na cabeceira da pequena cama, tão bonita como
uma mulher cujo trabalho de parto durou apenas quarenta minutos.
Aninhada em seus braços estava uma criatura muito pequena, olhando para
ela com um ar de indignação fascinada, como se ela não soubesse bem o
que fazer com sua mãe. E, sentado na beira da cama, com um braço em
volta de Josie e a mão na filha, estava Garret Langham, conde de Mayne.
Ele parecia tão feliz que o coração de Annabel pulou uma batida quando
o viu. Sem dizer uma palavra, ela abraçou Tess e Imogen, e as três ficaram
lá juntas, sorrindo ... e chorando um pouco também.
— Ela é tão linda—. disse Josie a eles, com os olhos brilhando. — Ela é
o bebê mais lindo que já vi. Parece Garret.
— Não. Ela não se parece comigo—, Mayne respondeu, passando o
dedo pelo rosto da filha—. É a cara da mãe.
— Que nome você vai dar? — Annabel perguntou. Sua sobrinha
começou a chupar o punho com tanta intensidade que parecia proclamar
que estava com fome.
— Cecily—, respondeu Josie—, como a tia de Mayne.
— É o melhor presente que alguém já me deu—. disse o marido, e seus
olhos tornaram-se suspeitosamente brilhantes novamente.
— Como eu gostaria que mamãe estivesse aqui—. disse Tess. Naquele
momento, eles estavam todos em volta da garota, ajoelhados. A pequena
Cecily envolveu o dedo de Annabel com a mão e Imogen parecia estar
reconsiderando sua decisão de não ter mais filhos.
— Tenho certeza que ela está olhando para nós agora—. Annabel
sussurrou muito baixinho.
— Embora eu tivesse ficado muito feliz em ter conhecido nossa mãe,
vocês me criaram maravilhosamente—. disse Josie. — Sempre me senti
protegida e amada. E ...— ela já estava chorando e suas lágrimas caíam no
cobertor de Cecily. — Nunca poderei agradecer o suficiente. Porque, de
alguma forma, acabei tendo o que mais queria no mundo. Acho que
ninguém nunca foi tão feliz quanto eu neste momento.
Cecily estava envolta em um círculo de braços, lágrimas e abraços. Ela
olhou em volta com os olhos turvos e então percebeu que não estava feliz.
E, se ela não estava feliz, então por que todas essas pessoas estavam rindo,
agindo como se o mundo fosse um lugar perfeito? Algo estava errado...
Algo estava terrivelmente errado. E ninguém percebia.
Ela encheu os pulmões com um sentimento de justa indignação.
Seu objetivo era ensinar uma lição que Josie e Mayne, como todo novo
casal de pais, ainda não aprenderam.
Quando alguém entrega sua vida a um pequeno pedaço de tirano, a
felicidade pura é passageira.
E, no entanto, sua prima mais profunda, a alegria, fica com você por
toda a vida.
Uma nota sobre irmãs e peças de
Shakespeare
Mais do que qualquer um dos meus romances anteriores, essa história tem
uma dívida com Shakespeare. O entrelaçamento entre meu romance e
Sonho de Uma Noite de Verão, de Shakespeare vai da floresta encantada e
suas fadas à droga, ao amor no ócio, aos nomes dos personagens, usados
por Darlington em Memórias de Hellgate. Mas, sustentando esses vínculos
estruturais, há um pensamento mais profundo. Na peça de Shakespeare, um
homem acredita estar apaixonado e, sob a droga do luar, uma floresta
encantada e uma dose medida de amor no ócio, ele muda de ideia e
descobre o amor verdadeiro. O mesmo é verdade para o herói do meu
romance.
Mayne estava tão confuso em seu pensamento sobre as mulheres que
não era capaz de pensar com clareza até que perdesse totalmente o senso
racional. E, Josie (mais um pouco de Amor-Perfeito) foi quem prestou esse
serviço por ele.
A certa altura, Josie cita outro trecho de Shakespeare, falando de um
deserto de luxúria. Isto não é de Sonho de Uma Noite de Verão, mas de
outra fonte, um soneto escrito (até onde sabemos) para o prazer privado de
Shakespeare e de seus sentimentos mais íntimos. “O gasto do espírito em
um desperdício de vergonha / É a luxúria em ação”, ele escreve, falando
sobre a relação sexual realizada puramente por motivos de desejo. Mayne
conhecia a paisagem do soneto de Shakespeare. Ele havia vivido naquele
deserto de vergonha por anos. Eu sabia que seria necessário uma mulher
extraordinária para arrastá-lo para uma vida sincera novamente, mas Josie
era confiável para fazer isso.
Uma nota final sobre as Memórias de Hellgate. Eu inventei,
obviamente, mas tive um pouco de ajuda com a linguagem exuberante e
exagerada de Hellgate. Em vários pontos, Hellgate pega emprestado das
cartas de Sarah Bernhardt (uma atriz francesa dos anos 1800) e daquelas de
Napoleão Bonaparte para Madame Marie Welewska em 1807. Se você
quiser informações mais exatas sobre as partes e peças de Hellgate, o
poema de Marvell citado por Josie, a Minerva Press, ou referências a
Shakespeare, visite meu website em www.eloisajames.com. Para cada um
dos meus livros, coloco páginas que fornecem informações privilegiadas
sobre personagens, história e tudo o que eu acho interessante. Dê uma
passada - e enquanto estiver lá, passeie pelo meu quadro de avisos e
participe da discussão sobre este romance!

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