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As Irmãs Essex
Livro Quatro
De
Eloisa James
Autora Best-seller Internacional
Ficha Técnica
“PRAZER POR PRAZER”
Copyright © 2006 by Eloisa James
Título Original: Pleasure for Pleasure
Tradução: Branca Letícia
Revisão: C. Belo
Capa: D. Silva
ePub: MR
Distribuição: MR & LRTH
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes
são produtos da imaginação do autor ou são usados ficticiamente. Qualquer
semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, estabelecimentos
comerciais, eventos ou localidades é total e simplesmente uma
coincidência.
Sumário
Página do Título
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Epílogo
Grosvenor Square, 15
Residência londrina do Duque de Holbrook
Não havia maneira de introduzir o assunto com delicadeza, pelo menos
nenhuma que Josie pudesse imaginar.
— Nenhum dos romances que li foi idealizado na noite de núpcias—,
disse ela às irmãs.
— Espero que não! — disse Tess, sua irmã mais velha, sem nem mesmo
olhar para ela.
— Então, se vamos discutir a noite de núpcias de Imogen, não vou
embora.
— Não seria apropriado que você se juntasse a nós—, disse Tess, com o
ar um tanto cansado de quem já falou sobre o assunto em duas ocasiões
anteriores. Afinal, das quatro irmãs Essex, Tess, Annabel, Imogen e Josie,
havia apenas uma solteira: Josie.
— Nós lhe daremos todos os detalhes que você precisa na véspera do
seu casamento—, Imogen acrescentou—. Afinal, eu não preciso falar sobre
isto, sou viúva.
Elas estavam sentadas ao redor de uma pequena mesa no quarto das
crianças, desfrutando de um jantar leve. A acompanhante de Josie, Lady
Griselda, também estava “tecnicamente” jantando com elas, mas como ela
havia passado a maior parte da noite encolhida em uma poltrona lendo as
memórias do Conde de Hellgate, ela não deu mais que uma pequena
mordida, nem contribuiu minimamente para a conversa.
Elas estavam comendo sozinhas porque Imogen tinha ouvido falar que
poderia causar má sorte ver seu noivo na véspera do casamento, e como
Imogen estava casando com seu tutor, o duque de Holbrook, elas não
podiam comer na sala de jantar. Tecnicamente, o filho de Annabel, Samuel,
era parte do grupo, mas como tinha apenas quatro meses e sonhava com
uma bola vermelha brilhante, um resfolegar ocasional de desejo era sua
única contribuição.
— Se minha temporada continuar como começou—, disse Josie—, eu
não me casarei. Dificilmente se consegue todo ensinamento sobre homens e
mulheres nas páginas de um romance.
— Tess, você sabia que Josie fez uma lista de formas eficazes de pegar
um marido? — Perguntou Annabel, terminando finalmente o seu syllabub.
— Com base em nossas experiências? — Disse Tess, levantando uma
sobrancelha.
— Seria uma lista muito curta—, disse Josie—. A dama foi
comprometida, o cavalheiro é forçado a casar-se com ela, o casamento
acontece.
— Eu não fui comprometida pelo meu marido—, disse Tess, mas estava
rindo.
— Você se casou com Lucius logo após o conde de Mayne abandoná-la
no altar—, disse Josie—. Não foi propriamente um período longo de
namoro. Tudo em dez minutos, se bem me lembro.
O sorriso nos olhos de Tess sugeria que aqueles dez minutos tinham
sido doces, e Josie não queria pensar nisso porque ficava com inveja. Se
ela, Josie, fosse rejeitada no altar, não haveria nenhum candidato secundário
esperando na sala ao lado. Na verdade, dado seu desempenho desastroso no
mercado casamenteiro, o altar provavelmente era uma perspectiva que ela
deveria descartar.
— É verdade que eu estava comprometida—, disse Annabel—, mas
Imogen vai se casar com Rafe por amor e após um longo namoro.
— Eu sugeri que fugíssemos—, disse Imogen, sorrindo—, mas Rafe
disse que seria amaldiçoado se seguisse os passos de Draven e transferindo
todo o casamento para a Escócia.
— Ele está certo—, disse Tess—. Você vai ser uma duquesa. Você não
poderia se casar de uma maneira tão confusa.
— Sim, nós poderíamos.
— Mas pense em todo o prazer que você teria negado à alta sociedade
—, disse Josie—. A principal diversão da temporada até agora foi observar
Rafe olhar longamente para você na lateral do salão. Agora, vamos discutir
sua noite de núpcias ou não? Porque existem lacunas marcantes no meu
aprendizado.
— Não há lacunas no meu aprendizado—, disse Imogen, — então ...
— Eu sabia! — Josie disse—. Você e Rafe anteciparam a noite, não é?
Oh, que vergonha! — Ela ergueu uma mão dramática até a testa—. Minha
irmã foi corrompida por seu tutor.
— Josephine Essex! — Tess disse, de repente se transformando na irmã
mais velha que havia criado todas elas—. Se eu ouvir você dizer mais uma
coisa tão grosseira no futuro, eu irei - eu irei bater em você!
Josie sorriu—. Eu estava apenas demonstrando que as lacunas no meu
aprendizado não têm a ver com técnicas.
— Qualquer outra coisa terá que ser aprendida na hora, querida—, disse
Annabel. Ela foi até o berço e pegou Samuel. Agora ela estava
confortavelmente aninhada em uma cadeira funda, os pés para cima e
casualmente cruzados em seus tornozelos delgados, acariciando o bebê. Ele
estava acostumado a esse ritual e continuou dormindo.
Josie sabia que deveria fazer um trabalho melhor em conter as
explosões selvagens de ciúme que periodicamente a dominavam. No
entanto, tudo o que ela precisava fazer era olhar de uma para outra de suas
três irmãs para sentir o beliscão tão forte quanto dedos dos pés congelados
enquanto patinava. Todas as três eram magras. Bem, Annabel não era
precisamente magra, mas ela exibia suas curvas esplendidamente. Todas
elas eram (ou logo seriam) casadas e felizes. Duas se casaram com títulos, e
embora o marido da Tess não tivesse um título, ele era o homem mais rico
da Inglaterra e qualquer pessoa com bom senso concordaria que tal riqueza
superava uma tiara.
— Estou falando sério—, disse Josie, trazendo sua mente de volta ao
assunto em questão—. Annabel, você está aqui apenas para o casamento, e
Imogen estará partindo para sua viagem de núpcias. E, se eu tiver que me
casar rapidamente? Você não estará aqui para me dar conselhos.
No fundo de sua mente, Josie sabia que talvez tivesse que fazer algo
drástico para encontrar um marido.
Ninguém a estava cortejando da maneira normal, então ela poderia ter
que comprometer alguém para conseguir o que queria. O que exigiria um
casamento imediato—. Quando Annabel estava prestes a se casar com
Ewan, Imogen disse a ela que ela deveria beijar seu marido em público.
— Meu Deus, você se lembra disso? — Disse Imogen, parecendo
levemente surpresa.
— Você disse—, Josie a lembrou—, que Draven não se apaixonou por
você porque você se recusou a beijá-lo no hipódromo. Considerando que
Lucius se apaixonou por Tess porque ela permitia intimidades em público.
Tess estava rindo novamente—. Vou ter que informar Lucius porque
exatamente ele gosta tanto de mim. Foi tudo por causa daquele beijo no
hipódromo!
— Shhh—, Imogen disse a ela—. Isso foi uma ideia estúpida que tive
no ano passado, Josie. Você não deve levar isso tão a sério.
— Bem, eu levo a sério—, disse Josie—. Isto é o que eu faria caso
alguém mostrasse a menor intenção em me beijar publicamente, ou
reservadamente, por falar nisso.
Annabel ergueu os olhos após beijar a cabeça de Samuel. — Por que
tanta amargura, querida? Nenhum homem por quem você se interesse
apresentou-se como seu admirador?
Houve um momento de silêncio na sala, quando todas perceberam que
uma ou duas cartas foram extraviadas entre Londres e o castelo escocês
onde Annabel vivia com seu conde.
Como de costume, Josie pegou o touro pelos chifres. — Eu não sou
exatamente o prêmio da temporada—, disse de forma implacável.
— Oh, querida, a temporada mal começou, não é mesmo? — Annabel
disse, colocando o cobertor do bebê em volta de seu pequeno ombro—. Há
muito tempo para atrair a atenção dos homens.
— Annabel.
Ela levantou os olhos motivada pelo tom na voz de Josie.
— Eu sou conhecida como a Salsicha Escocesa.
Se Josie estivesse escrevendo um dos romances que ela adorava ler,
teria dito que houve um momento de profundo silêncio.
Annabel piscou para ela. —A ... A ...
— É parcialmente sua culpa—, disse Imogen, em tom agudo—. Você
apresentou Josie ao seu revoltante vizinho, Crogan. Quando Josie rejeitou
seus avanços, ele escreveu a um amigo de escola chamado Darlington. E,
infelizmente, Darlington parece ter se especializado em confrontos cruéis.
— Tem a língua de uma cobra—, disse Tess categoricamente—.
Ninguém o detesta, embora devesse, porque ele é muito inteligente. Mas ele
não mostrou nenhuma inteligência aqui, apenas pura malícia.
— Você não pode estar falando sério! — Annabel gritou, sentando-se
ereta. — Os Crogans?
— O mais novo—, disse Josie melancolicamente—. Aquele que cantou
todas aquelas canções na árvore do lado de fora da minha janela.
— Eu sei que você não queria se casar com ele, mas ...
— Ele também não queria se casar comigo. Ele sentiu que era indigno
de casar-se com um leitão escocês, mas seu irmão mais velho o ameaçou
expulsão caso ele não me cortejasse.
— O que? — Annabel disse, confusa. Ela estava tentando pensar em
seus vizinhos, os Crogans, e não no corpinho quente de Samuel sob sua
mão—. Como ele poderia insultá-la, Josie? Nós o trouxemos para a casa
apenas uma vez, e eu não permiti que ele levasse você para um encontro!
— Eu ouvi seu irmão insistindo para que ele se casasse comigo—, disse
Josie.
Os olhos de Annabel se estreitaram. — Por que você não me contou?
Ewan nunca teria deixado esse verme escrever insultos sobre você a seus
amigos em Londres. Do jeito que está, tenho certeza que ele vai matar o
homem. Ele quase fez isso no ano passado.
— Foi muito humilhante.
Mas Annabel conhecia sua irmã há dezoito anos, e ela podia reconhecer
o leve rubor em seu rosto. Ela disse com um pequeno suspiro: — Josie,
você não teve nada a ver com a doença do jovem Crogan, não é?
Josie mexeu no cabelo. — Ele provavelmente comeu alguma coisa que
fez mal a ele, o pequeno nabo nojento.
— Ele perdeu dois quilos em apenas quinze dias!
— Não ficou tão mal. E, ele mereceu.
— Remédio para cólicas dos cavalos do papai—, disse Imogen a
Annabel.
— Não era do Papa—, disse Josie—. Era meu. Eu mesmo inventei.
— Josie e eu já discutimos a abordagem desaconselhável que ela adotou
para o problema—, disse Tess, levantando os olhos da casca de uma maçã.
— Desaconselhável? Poderia tê-lo matado!
— Claro que não—, disse Josie indignada—. Quando Peterkin deu ao
cavalariço, este ficou doente por apenas uma semana.
— Eu acho que o Crogan mais jovem mereceu—, disse Imogen—.
Afinal de contas, ele é o culpado de todas as coisas desagradáveis que Josie
sofreu em Londres.
— Como diz que ele a chamou? — Annabel perguntou—. Ewan vai
matá-lo. Decididamente, vai matá-lo.
— Ele me chamou de leitão escocês—, disse Josie categoricamente—.
Darlington transformou o termo na mais sonora das expressões salsicha
escocesa, e o apelido pegou—. Até ela podia ouvir o desespero em sua voz.
— Oh, Josie, eu sinto muito—, Annabel sussurrou—. Eu não fazia
ideia.
— Eu escrevi para você há algumas semanas, mas talvez nossas cartas
tenham se desencontrado porque você estava vindo da Escócia—, disse
Tess.
— É tarde demais agora—, disse Josie. — Ninguém vai dançar comigo
a menos que seja forçado por Tess e Imogen.
— Isso simplesmente não é verdade—, disse Imogen—. E, quanto a
Timothy Arbuthnot?
— Ele está velho—, disse Josie—. Velho e viúvo. Eu posso certamente
entender que ele queira uma esposa para seus filhos, mas eu não estou
ansiosa em desempenhar esse papel.
— Timothy não é velho—, disse Tess—. Ele não pode ter muito mais
que trinta anos, que é, devo salientar, a mesma idade de todos os nossos
maridos.
— Além disso—, Imogen disse, — trinta é um ano divisor de águas
para os homens. Se eles vão desenvolver inteligência, eles o fazem por aí, e
se não, é tarde demais. Portanto, você não deve ansiar por homens na casa
dos vinte anos. Isso é como comprar um porco em uma cutucada.
— Não mencione porcos—, disse Josie com os dentes cerrados—. Eu
não gosto do Sr. Arbuthnot. Há algo zangado em seu rosto, como se ele
tivesse se levantado de manhã e tivesse que empurrar o nariz para o lugar.
— Que descrição revoltante—, disse Annabel—. Embora precisemos
reverter esta situação infeliz, obviamente Arbuthnot não é o único para
fazer isso.
— Não há como mudar isso—, disse Josie—. A menos que por um
milagre eu fique magra de repente, todo mundo pensa em salsicha quando
olha para mim.
— Absurdo—, disse Annabel—. Você é bonita—. Todas elas olharam
para Josie por um momento. Ela estava vestindo um roupão, como todas
elas. Josie fez uma careta para elas.
— O problema com você—, disse Annabel—, é que, se alguém não a
conhece, você parece uma daquelas doces madonas renascentistas.
— Com rostos redondos e maternal—, disse Josie sombriamente. Ela
odiava suas bochechas.
— Não, com uma pele linda e brilhante e um olhar doce. Mas você não
é nada doce por natureza.
— É verdade—, Imogen disse, comendo um último pedaço de bolo—.
Você tem a pele mais maravilhosa, Josie.
— É uma pena que haja tanto—, disse Josie.
— Absurdo. Já disse muitas vezes, assim como Griselda, que os homens
gostam muito de figuras como as nossas—, Annabel disse—. Griselda!
Acorde e diga a Josie como seu corpo é delicioso. E o meu, por falar nisso.
— Nós três não temos o mesmo físico—, disse Josie—. O seu se curva
para dentro e para fora, Annabel. O meu apenas avança.
Griselda ergueu os olhos—. Este livro é incrível. Tenho quase certeza
de que sei quem é Hellgate.
— Seu irmão? — Imogen perguntou preguiçosamente. Londres inteira
estava lendo as memórias de Hellgate - e a maior parte de Londres havia
decidido que Hellgate era realmente o Conde de Mayne.
— Acho que não—, disse Griselda, tendo claramente pensado sobre o
assunto—. Estou com apenas um terço do livro lido, mas não reconheço
uma única mulher que Mayne tenha cortejado.
— Cortejado não é exatamente a palavra para suas interações com
mulheres, não é? — Josie comentou.
— Não é preciso ser exata sobre essas coisas—, disse Griselda,
imperturbável por essa calúnia sobre o caráter do irmão—. Todos nós
sabemos que Mayne não é um santo. Mas embora o escritor seja
extremamente inteligente, eu não reconheço as mulheres.
— É verdade que Mayne está apaixonado? — Annabel perguntou—. É
muito difícil de se acreditar. Lembra quando o conhecemos, na noite em
que chegamos à propriedade do Rafe?
— Você o reivindicou como sua propriedade—. disse Tess, sorrindo.
— Aí, então, você se comprometeu com ele na primeira oportunidade
—, Annabel respondeu—. Não respeitaram a minha reivindicação anterior.
— Pode-se dizer que quase todas as irmãs Essex tentaram reivindicá-lo
de uma forma ou de outra—, disse Imogen, rindo.
— Quanto menos falar sobre seus esforços, melhor—, acrescentou Tess.
— Bem, não havia nada de ilícito entre Mayne e eu—, disse Imogen—.
É uma história que pode ser contada rapidamente. Depois de dormir com
metade das mulheres em Londres, ele se recusou a me levar para a cama, e
isso sem pensar duas vezes.
— Meu irmão é um homem de honra—, disse Griselda. Ela ergueu a
mão ao ouvir as gargalhadas ao redor da mesa—. Eu sei, eu sei ... a
reputação dele não é das melhores. Mas ele nunca feriu deliberadamente os
sentimentos de ninguém, nem se aproveitou de uma mulher em uma
posição vulnerável. E você, Imogen, estava em um estado de espírito
vulnerável.
— Sempre existe a possibilidade que ele esteja simplesmente cansado
—, disse Josie—. Isso é o que me faz pensar que Hellgate é Mayne. Sim,
talvez ele tenha uma reputação intensa, mas é tudo devido ao seu passado.
Seu irmão não tem um caso há anos, Griselda.
— Dois anos—, disse ela com dignidade.
— Entende? Aparentemente, Hellgate fala de arrependimento, e espero
que Mayne esteja se entregando ao mesmo tipo de comportamento. Gostaria
que você me deixasse ler o livro, Griselda. Já tenho idade suficiente.
— Eu discordo—, disse Griselda, acrescentando: — Mayne está
apaixonado e devemos permitir que seus pecadilhos descansem no passado
—. Ela abriu o livro e começou a lê-lo novamente.
Annabel estava ensimesmada, embalando Samuel—. Griselda está
certa. Embora seja irritante que Mayne de alguma forma tenha conseguido
escapar de nós quatro e se casar com uma estranha, (e, eu gostaria de ouvir
tudo sobre sua francesa sofisticada) no momento, o que interessa é você,
Josie.
Josie quase brincou sobre recusar-se a casar se não pudesse ter Mayne,
porém se conteve. A solteirice era uma possibilidade muito real para se
falar em voz alta.
— É tudo uma questão de vestimenta—, anunciou Annabel—. Você
deve ir naquela mulher maravilhosa da Griselda.
— Já tenho um guarda-roupa totalmente novo, graças ao Rafe.
— Eu a levei para a minha modiste, Madame Badeau—, Imogen disse
um pouco duvidosa—, mas ...
— Ela me deu um espartilho maravilhoso—, disse Josie—. Pelo menos
quando estou com ele, não sinto que estou inchando em todas as direções,
como um balão solto.
— Não gosto desse espartilho—, disse Tess categoricamente.
— Infelizmente, nem eu—, disse Imogen.
— Bem, eu não vou desistir—, disse Josie—. Quase consigo usar os
vestidos de Imogen quando estou com ele; você pode imaginar, Annabel?
Se a alta sociedade ri de mim agora, imagine o que diriam se eu não
estivesse usando o espartilho—. Foi assim que ela pensou: O Corset.
— O que há de tão milagroso sobre este espartilho em particular? —
Annabel perguntou. Samuel tinha acordado e estava fazendo um lanche
tarde da noite.
Josie desviou o olhar. Já era bastante ruim que ela, Josie, estivesse
sobrecarregada com seios que ela pensava serem grandes demais: como
melões quando laranjas eram do tamanho apropriado. Mas Annabel não
tinha nenhum escrúpulo em alimentar Samuel na frente de todos elas, e seus
seios eram ainda maiores.
— É uma engenhoca feita de osso de baleia e só Deus sabe o que mais
—, disse Tess a Annabel—. Vai da clavícula de Josie até o traseiro.
— Como diabos você se senta? — Annabel perguntou.
— Eu não sei... Foi projetado milagrosamente—, disse Josie a ela—.
Existem costuras especiais em torno dos quadris.
— É confortável?
— Bem, não particularmente—, disse Josie—. Mas as grandes festas
não são exatamente confortáveis nos melhores momentos, não é? Eu acho
que são invariavelmente tediosas. De qualquer forma eu nunca dancei bem
de jeito nenhum, e esse parece ser o único prazer que alguém pode ter
nesses bailes.
— Você dançava com mais elegância antes de começar a usar aquele
objeto—. Observou Tess.
Josie a ignorou—. Madame Badeau desenhou uma série de vestidos que
se encaixam perfeitamente sobre o espartilho.
— É exatamente isso—, disse Tess—, eles cabem no espartilho, não em
você.
— Eu gosto—, Josie retrucou—. E já que você não vai me ver em um
baile sem ele, você pode muito bem parar de me insultar.
— Não estamos insultando você—, disse Imogen—. Achamos que você
ficaria mais confortável com outro tipo de roupa íntima.
— Nunca—, disse Josie.
Griselda fechou o livro novamente—. Eu simplesmente não consigo
imaginar como Hellgate teve tempo para qualquer coisa além de flertes.
Ora, estou apenas no sétimo capítulo e seu comportamento está para lá de
escandaloso.
— Acho que a verdadeira maravilha é que Hellgate não foi
comprometido e nem forçado a se casar—, disse Josie—. A mãe de Daisy
Peckery permitiu que ela lesse, e Daisy disse que Hellgate se deitou com
um grande número de mulheres jovens e solteiras.
— Outra razão pela qual uma semelhança entre meu irmão e Hellgate
deve ser descartada de uma vez. — Griselda apontou—. Mayne só dormiu
com mulheres casadas.
— Uma decisão sábia da parte dele—, disse Josie—. A partir dos livros
que li, além de minhas observações da alta sociedade neste último mês, eu
diria que qualquer homem que se comporte de forma indelicada com uma
jovem solteira é muito imprudente. Todos os tipos de casamento resultam
dos flertes mais inocentes, embora tolos, tipos de comportamento
imprudente.
— Posso atestar isso—, Annabel acrescentou. Ela mesma havia se
casado depois que um certo escândalo foi publicado em uma coluna de
fofoca.
— Na verdade—, acrescentou Josie—, pela minha estimativa, uma
mulher que não tem uma proposta sólida de casamento, seria extremamente
tola se não se envolvesse em uma certa quantidade de comportamento
imprudente.
De repente, ela percebeu que todas olhavam para ela.
— Ninguém fez a menor aproximação comigo—, ela ressaltou—.
Minhas observações pretendiam ser puramente teóricas.
— Foi uma tremenda sorte que o homem com quem precisei me casar
fosse o Ewan—, Annabel apontou, franzindo a testa para Josie—. Outras
jovens não ficariam tão contentes com uma escolha feita precipitadamente e
em difíceis circunstâncias.
— Eu entendo isso—, disse Josie. Mas por dentro ela sentiu toda a
frustração de um estudioso que elaborara uma teoria brilhante - e sem que
tenha recebido nada em que pudesse praticar. Ela dificilmente poderia
“fabricar” um escândalo quando nenhum homem chegava perto da Salsicha
Escocesa.
E, ainda assim as salsichas precisavam se casar. Cada vez mais, ela
pensava que teria que conseguir um marido de forma menos honrada. Claro,
ela não pretendia compartilhar esse fato conspícuo com suas irmãs.
Annabel virou-se para Tess e Imogen—. Há quanto tempo vocês duas
sabem que Josie estava planejando criar um escândalo?
Imogen colocou uma uva na boca—. Acho que ela teve essa ideia cerca
de um ano atrás, não é, Josie?
— Na verdade—, corrigiu Tess—, eu colocaria a resolução de Josie a
partir da época em que ela começou a ler todos aqueles romances da
Minerva Press.
Josie deu de ombros mentalmente. Então todos os seus planos eram
conhecidos pela família - e, agora, por Griselda, que erguia os olhos do
livro, bastante surpresa.
— Há um detalhe insignificante que você esqueceu—, disse Josie.
— E o que poderia ser? — Annabel perguntou.
— São necessárias duas pessoas para se criar um escândalo e, uma vez
que nenhum homem vai dançar comigo, acho que a família Essex
provavelmente estará livre do alvoroço de um casamento forjado.
— Eu certamente espero que sim.
— Eu deveria corrigir isso: mais um casamento forjado—, disse Josie. E
então se abaixou quando Imogen jogou uma uva nela.
Capítulo 02
Do Conde de Hellgate
O Primeiro Capítulo
Talvez outros que embarcam em uma vida marcada por Pecados da Carne
percebam na infância que nasceram para uma vida de ligações notórias.
Eu, caro leitor, fui criado na feliz ignorância de minha futura infâmia.
Na verdade, não foi até os tenros anos da minha juventude, quando em
toda a minha inocência visitei o Tribunal de St. James - oh, eu detesto
escrever as palavras – onde conheci uma duquesa. O episódio das meias
verdes é conhecido por alguns, mas posso dizer agora que ...
Josie afastou-se, de costas para ele, mal olhando para onde estava indo, e
caminhou no meio da multidão, sem se importar que alguém pudesse ver o
sorriso rígido que agora estava torcendo seu rosto. Este era um homem
horrível, um porco nojento. Sem aviso, Mayne apareceu na frente dela.
— Olá, olá—, disse ele, sorrindo para ela. Mas seu rosto mudou
imediatamente—. Qual é o problema, Josie?
Ela engoliu em seco, ansiosa e, antes que percebesse o que estava
acontecendo, Mayne a conduzia para fora, para um terraço de mármore
branco que brilhava à luz das tochas nas extremidades. Ele a conduziu até a
ampla balaustrada que delimitava o terraço, girou-a e deliberadamente se
posicionou na frente dela para que ninguém pudesse ver as lágrimas que
escorriam por seu rosto.
— O que aconteceu? — Ele perguntou em um tom preocupado.
Os cachos negros de Mayne brilharam na luz refletida das tochas. Suas
sobrancelhas estavam franzidas, formando um traço perfeitamente reto.
— Foi horrível ... aquele homem—, Josie começou, soluçando
incontrolavelmente, embora não se importasse, porque era Mayne. — Ele
disse ... ele disse ...— Mas não poderia repetir o que ele disse, porque
Mayne era tão bonito e tudo era tão humilhante ...
Ele tinha um grande lenço branco na mão.
— Calma—, disse o homem, enxugando as bochechas dela. Ela tentou
sorrir para ele, mas sua boca tremia. Virou-se e se inclinou para olhar o
jardim. Os arbustos estavam todos na penumbra.
— Quem foi? — Mayne perguntou em um tom normal de conversa,
mas Josie ouviu uma vibração de aço em sua voz.
— Isso é uma rosa selvagem ou uma erva-cidreira? — Ela perguntou,
quase mudando a conversa—. O perfume é delicioso.
— Josie.
A jovem se virou e balançou a cabeça.
— Não sei. Alguém conhecido de Darlington—. Pegou o lenço e
enxugou os olhos novamente. Mayne ficou pensativo, como se estivesse
prestes a espancar metade da população masculina de Londres.
— Como ele é?
— Eu mal percebi. A sala está mal iluminada e ele é bastante vulgar, na
verdade. Não é tão importante—. Ela respondeu trêmula—. Eu sei o que
eles pensam de mim. Eu sei ...— Seus olhos se encheram de lágrimas
novamente e ela se atrapalhou com o lenço, esquecendo que o estava
segurando. Ele caiu no chão e, sem pensar duas vezes se abaixou para pegá-
lo. E, parou com um gemido baixo quando seu espartilho quase a partiu ao
meio.
Mayne o pegou com uma fácil inclinação.
— Droga—, disse ele, e então olhou em volta—. Estamos muito
expostos aqui.
— Podemos ir embora do baile? — Josie perguntou—. Eu ... eu não
estou tendo uma noite agradável—. Mas naquele momento se lembrou da
noiva de Mayne—. No entanto, Sylvie vai perguntar onde você está.
Todo o rosto de Mayne se iluminou quando ele sorriu—. Posso dizer o
quanto fico feliz em ouvir você usar o primeiro nome dela? E, claro, vou
tirar você daqui. Sylvie, como você sem dúvida percebeu, assim que a
conheceu, é uma mulher singularmente autossuficiente. Além do mais, veio
para o baile de outra festa. Meu único receio é que ela perceba que tenho
pouca utilidade para ela e, sem dúvida nenhuma, nem vai notar que eu
desapareci.
— Isso não pode ser verdade—, protestou Josie. Se Mayne fosse seu
noivo, embora tal ideia fosse inconcebível, porque ele certamente era muito
velho, ela nunca o deixaria sair de sua vista. Pensar nisso fez seu estômago
ficar estranho, então ela permitiu que Mayne pegasse sua mão para colocá-
la em seu braço e forçou seu sorriso a ser tão firme quanto suas costas.
Caminharam entre as pessoas em um ritmo lento. Eles foram parados
apenas uma vez, por Lady Lorkin, que colocou a mão delicada no braço de
Mayne e sussurrou algo em seu ouvido.
Ele olhou para Josie, mas não se preocupou em cumprimentá-la. Mayne
se inclinou na direção dela e sussurrou em seu ouvido. Os olhos da mulher
estavam claros e famintos, como os de uma criança olhando um
cachorrinho correndo livremente na grama.
Mayne riu em um tom bastante baixo, íntimo até, e murmurou algo
também. Então, ele gentilmente removeu a mão de Lady Lorkin de sua
manga e eles continuaram andando. Depois disso, Josie percebeu como as
mulheres constantemente se viravam para olhar para Mayne, seus olhos o
devorando de uma forma que a fez perceber claramente o quanto gostava
dele. E, no entanto, Sylvie, que o havia conquistado, não se importava que
ele desaparecesse por um tempo. Teve que assumir que era apenas um
daqueles estranhos paradoxos da vida.
— Devíamos encontrar Griselda—, disse Mayne, olhando em volta—.
Afinal, ela é sua acompanhante e devo informar que estamos fugindo.
— Não! — disse Josie, lembrando-se de repente que Griselda
provavelmente estava seguindo o conselho de Sylvie para seduzir
Darlington—. Absolutamente não.
— Por que não? — Mayne disse—. Minha irmã não é uma boa
acompanhante?
— Claro que ela é. Eu simplesmente não gostaria de incomodá-la—
Josie disse debilmente.
— Há muitas coisas que não entendo sobre você, Senhorita Josephine
Essex—, disse Mayne—. Suponho que posso enviar-lhe uma nota. Uma
jovem não deve abandonar um baile sem informar a sua acompanhante,
como você sabe. A acompanhante pode muito bem presumir o pior.
— Não se eu estiver com você—, Josie apontou.
— Embora sua confiança em mim seja comovente, posso assegurar-lhe
que há muitas mães na sala que não gostariam que sua filha escapasse de
um baile ao meu lado.
— Não seja tolo, Mayne. Eu sou a mulher menos capaz de ser
comprometida neste baile.
Ele ergueu uma sobrancelha, mas rabiscou um bilhete em seu cartão e
disse a um lacaio que o entregasse a Griselda.
— Onde você gostaria de ir? — ele perguntou uma vez que estavam
sentados em sua carruagem. Era um lindo veículo pequeno, um vermelho
escuro brilhante com seu brasão na porta.
— Qualquer lugar.
Mayne estava olhando para ela de uma maneira peculiar—. Seria
totalmente impróprio, mas...
— Ninguém vai acreditar que estou fazendo algo impróprio—. Ela disse
isso sem rodeios, porque era verdade.
— Nesse caso—, disse Mayne com um sorriso de lobo—, Bem-vinda à
minha casa, mocinha. Ele bateu no telhado, gritando — Casa, Wiggles!
— Wiggles? — Josie disse, sentindo-se melhor no momento em que a
carruagem começou a se afastar do baile. “Wiggles?”
Mayne sorriu para ela. — Provavelmente o filho de Papai Wiggles ...
um dia, o orgulhoso pai de William Wiggles, Wilfred Wiggles e talvez até
de Wilhelmina Wiggles.
Josie sorriu de volta, um tanto abatida. — Sua casa? — ela perguntou
—. Você mora nesta vizinhança?
— A dois quarteirões de distância—, disse Mayne. Ele não havia
terminado de falar quando a carruagem começou a diminuir a velocidade.
— Você não está acompanhada, mas asseguro-lhe que minha casa está cheia
de criados.
— Sem contar que você está apaixonado por Sylvie—. Josie explodiu.
— Certamente essa circunstância limitará qualquer plano perverso que
eu possa ter para destruir a sua reputação—. Mayne assegurou alegremente.
Ela olhou para ele com o cenho franzido.
— Você não ousará rir de mim, Garret Langham.
— Não é minha intenção.
Ela o encarou por um momento, seus olhos se estreitaram, mas seu rosto
parecia genuinamente surpreso. — Eu sei que ninguém gosta de mim
quando se trata de me cortejar. De forma nenhuma é possível que alguém
pense que você teria planos a esse respeito ... você, o homem que dormiu
com todas as belas mulheres de Londres ... para que possamos esquecer as
preocupações pela minha honra.
Um mordomo segurou a porta aberta e Mayne a conduziu para dentro
de casa sem dizer uma palavra.
— Ribble, teremos champanhe na torre. Veuve Clicquot Ponsardin, bem
fria, por favor.
— As lâmpadas não estão acesas, meu senhor—, disse o mordomo.
— Sem problemas, Ribble. Eu cuidarei disso.
Josie estava lutando para tirar sua capa. Mayne fez uma careta para ela e
depois retirou-a dos ombros para entregá-la a um criado.
— Você tem uma torre? Que encantador! — Ela disse, tentando evitar
perguntas sobre os motivos pelos quais ela parecia tão desconfortável.
— Você gostaria de comer alguma coisa? — Perguntou.
Ela balançou a cabeça.
— Bem, eu estou morrendo de fome, então espero que você me perdoe
se eu comer alguma coisa. Receio que Rafe cometeu um erro ao pedir a
Fortnum & Mason para cuidar da comida de sua festa de casamento. Você
já viu os sanduíches marcados com o grande "H" de Holbrook?
Josie balançou a cabeça novamente. Ela nunca se permitiu comer em
público, pois achava que isso só alimentaria conversas sobre o tamanho de
sua cintura.
— Estampado com pasta de fígado—, Mayne continuou, pegando seu
braço e subindo as escadas—. Eles são tão ruins como o seu sabor. Traga-
nos algo delicioso para um jantar leve, Ribble, por gentileza.
Eles subiram as escadas, cruzaram o andar principal e passaram por
uma pequena porta. Mayne pegou uma tocha de uma pequena prateleira e
foi assim que Josie pôde ver a sala à luz bruxuleante de uma pequena
chama. O teto era abobadado, pintado de azul profundo, com estrelas
douradas claras. As paredes eram apaineladas e a madeira pintada com
curiosas trepadeiras retorcidas, nas quais crescia, de vez em quando, uma
rosa. A única mobília da sala consistia em uma pequena “chaise longue”,
duas poltronas confortáveis e uma mesa de chá. No alto das paredes havia
pequenas janelas. Eram oito, espalhadas com grande simetria. A luz da lua
penetrava, iluminando a sala de uma forma quase preguiçosa, fazendo com
que as vinhas pintadas nas paredes parecessem encantadoramente
misteriosas.
— Oh, isso é adorável! — Josie disse, apertando as mãos. — É
absolutamente mágico.
Mayne estava acendendo uma das lâmpadas Argand fixadas na parede
—. Você descobriu seu segredo—. Ele disse, sorrindo.
— Deve ser a única torre em toda cidade, além da Torre de Londres—,
disse Josie. — Como diabos sobreviveu ao grande incêndio?
— Oh, esta casa não é tão velha—, disse Mayne. — Meu avô tinha uma
filha que ele amava muito, chamada Cecília. Tia Cecily nasceu a frente de
seu tempo. Aparentemente, ela tinha uma deficiência de nascença e também
pulmões fracos. Ela amava ler. Ela se imaginava uma princesa, sabe, e esta
era a câmara perfeita para ela ser acordada de seu longo sono pelo beijo de
um príncipe encantado.
— Ela estava absolutamente certa, além de um gosto requintado. Ela foi
acordada?
— Infelizmente, Cecily morreu antes de eu nascer.
— Eu sinto muito.
— Por muitos anos não houve outras crianças na família, até que
finalmente, meu pai chegou. Ele disse que a amava mais do que a sua
própria mãe, porque passava horas e horas de sua infância aqui, ouvindo
suas histórias de cavaleiros, dragões e monstros maravilhosos. Como você
pode ver, ela tinha algumas dessas histórias pintadas nas paredes.
Ele ergueu uma lamparina e, quando Josie olhou para as trepadeiras
entrelaçadas, viu um pequeno unicórnio com um sorriso curioso subindo na
planta, enquanto balançava despreocupadamente uma criança em uma de
suas mãos.
— Meu pai—. disse Mayne, tocando o diabinho. Josie reconheceu a
juba desgrenhada e o nariz aristocrático, mesmo em uma versão infantil.
A garota queria perguntar quando seu pai morrera, mas não ousou.
— Ele morreu há cerca de dez anos. — relatou Mayne, lendo sua mente.
— Oh, querido. — respondeu ela, e pegou o braço dele.
— Ele me contou muitas das histórias de Cecily—, continuou—. E
Griselda ainda se lembra de muito mais coisas que eu.
Ele pousou a lâmpada abruptamente sobre a mesa. — Você pode sentar
com essa engenhoca que está usando?
Josie sentiu uma onda de rubor subir por seu pescoço.
— Sim, claro—, ela disse, se esforçando para um tom casual.
Mas ela mal conseguia mencionar a palavra espartilho na frente dele.
— É um espartilho? — ele perguntou.
— Isso não é da sua conta! — ela retrucou, sentando-se na ponta da
cadeira. Ela não conseguia se sentar, o espartilho foi colocado com
pequenos ilhós em volta de seu traseiro para que ela tivesse espaço
suficiente para se sentar elegantemente, desde que mantivesse as pernas
juntas.
Mayne deixou-se cair na cadeira em frente a ela. Ele era impressionante
com seus ombros largos e pernas fortes, e parecia totalmente confortável.
— Como você pode suportar isso? — perguntou com alguma curiosidade.
Antes que ela pudesse responder, houve uma leve batida na porta e ele
gritou: — Entre!
Josie mordeu a língua quando os lacaios entraram com champanhe e
uma bandeja de comida. Na verdade, ela esperou até ter uma taça de
champanhe gelado e algo azedo na mão para ter coragem e então falou com
certo ar de sofisticação:— Uma senhora nunca fala sobre suas roupas
íntimas com cavalheiros, Mayne.
— Mas você e eu somos amigos.
— Nós não somos amigos!
— Sim, nós somos—. Ele estava sorrindo charmosamente para ela, e
havia algo em seus olhos que era muito difícil de resistir. — Garanto-lhe
que é a única dama que conheço que me pediu para participar de uma farsa
como a que encenou na Escócia. É por isso que quero que você seja minha
amiga, na realidade, estou muito interessado, porque temeria que você se
tornasse minha inimiga.
— Você quer dizer o caso do cavalo de Annabel, aquele que empinou?
Ele jogou a cabeça para trás, rindo. — O cavalo de Annabel não
empinou, simplesmente. Foi você, bruxinha! Foi você quem pôs alguma
coisa sob a cela daquele pobre coitado para fazê-lo dançar no ar.
— Foi por uma boa causa—, protestou Josie, sentindo um sorriso
brincar em seus lábios. — Eu só pensei que se Ardmore estivesse com
medo e temesse pela vida de Annabel, ele poderia perceber que estava
apaixonado por ela.
— Ele teria percebido isso sozinho—, explicou Mayne—. Um homem
percebe essas coisas com o tempo, acredite em mim.
Josie sentiu o champanhe descer por sua garganta. Era temerário,
delicioso, estar sentada em uma salinha que era uma joia preciosa, na
companhia de um dos homens mais desejados de Londres. Isso a fez se
sentir uma mulher sofisticada. Como se ela, Josephine Essex, não fosse a
recém-chegada menos desejável no mercado de casamento. Afastou a ideia
maliciosa e bebeu um pouco mais.
— Como você descobriu que estava apaixonado por Sylvie? —
perguntou corajosamente.
Seu rosto mudou no momento em que ela disse o nome de Sylvie.
Naturalmente, sentiu uma forte pontada de inveja; quem não gostaria? Para
domar um homem com a reputação de Mayne, e domesticá-lo tão
completamente que seus olhos quase mudavam de cor quando o nome de
alguém era mencionado ... era uma enorme façanha.
— Eu estava participando de um baile na Terence Square—, respondeu
ele—. Para ser sincero, eu não tinha intenção de ir. Lucius estava fora da
cidade e Rafe vivia uma vida rural no interior. Eu tinha acabado de voltar de
nossa viagem à Escócia ... Vim diretamente a Londres e, claro, havia
centenas de convites esperando por mim. Eu havia passado tanto tempo
vestido com aqueles trapos malditos, que Rafe chama de roupa, que
realmente me senti esplêndido. Você deve saber o que eu quero dizer.
Josie balançou a cabeça. Ela não entendia muito bem. Para ela, ir ao
baile era um processo agonizante e entediante, consistindo principalmente
em amarrar laços, ajustar fitas e lutar para conseguir roupas que pareciam
muito pequenas. Somado a tudo isso, havia a preocupação que essas roupas
a fizessem suar, que ela teria de se curvar para alguma coisa ou que não
conseguiria ir ao banheiro.
Ela podia sentir que Mayne estava olhando para seu espartilho
novamente, mas felizmente ele não disse nada.
— Acontece que a Rainha estava recebendo os nobres naquela tarde.
Então fui para a sala. Encontrei a multidão habitual de debutantes reunida,
esperando para ser recebida, e ali, precisamente no meio da multidão, vi
uma mulher requintada. Eu soube imediatamente que ela era francesa, é
claro. Não era por causa de sua voz, mas por causa da maneira como se
movia. Não há nada de comum em uma francesa, você sabe o que quero
dizer, Josie?
Josie provavelmente tinha lido muitos romances franceses.
— Você quer dizer que as francesas não são devassas? — Ela perguntou
insegura.
— Ah, elas se comportam mal, com verdadeiro “joie de vivre”. Mas
nunca olham para um homem com o convite impresso nos olhos. —
Explicou enquanto esticava os pés. As pernas dele eram tão longas que
quase tocavam os sapatos dela. — Elas esperam que um homem se
aproxime ou o dispensam com indiferença. Você vê a diferença? Elas têm
um instinto. Entende a diferença?
Josie pensou na maneira ansiosa com que os olhos de Lady Lorkin
varreram o rosto de Mayne. Tomou outro gole de champanhe. Finalmente
disse algo totalmente inapropriado. Ela não gostaria que houvesse saído de
sua boca, mas saiu. — Deve-se presumir que Lady Lorkin não seja de
origem francesa?
Ela foi recompensada com uma gargalhada. — Nem remotamente.
— Você está tendo um caso com ela?
Imediatamente, a risada morreu em seus olhos. — Estou noivo de
Sylvie.
— Eu não quis dizer ...
Mas ele não estava mais com raiva. — Eu tive um encontro com ela, há
cerca de três anos. Receio que ela possa ter construído isso como uma
memória preciosa.
— Sim eu pude ver.
Ele parecia ligeiramente envergonhado. — Eu me sinto um idiota até
mesmo dizendo uma coisa dessas na frente de uma jovem.
— Posso ser jovem, mas não sou estúpida. E, se você se lembra, uma de
minhas irmãs esteve noiva de você, então estou plenamente ciente de sua
história escandalosa.
Ele baixou os olhos e pareceu se concentrar em suas botas novamente.
— Eu nunca deveria ter abandonado Tess no altar... nunca.
— Não só isso, mas você quase teve um caso com minha outra irmã—,
interrompeu Josie. Ela se sentiu feliz, pela primeira vez desde o início da
temporada. Ele sorriu para ela. — Você só causa problemas para as irmãs
Essex. Todas ficaremos muito felizes quando Sylvie o amarrar para sempre
no altar. Você é um homem perigoso!
— Isso é injusto! — Ele protestou. — Todas as Essex se casaram sem
um protesto de minha parte. E, eu não tive um caso com Imogen. Não sei
como você pode pensar isso.
— Eu sei que não—, disse Josie com alguma arrogância—. Mas não foi
por falta de interesse da parte dela.
Ele pareceu surpreso com o que a jovem acabara de dizer, mas não disse
nada.
— Por que você não permitiu que ela te seduzisse? — Josie perguntou
enquanto levantava o copo para que ele pudesse enchê-lo novamente. —
Imogen é muito bonita. É viúva, então não havia marido com quem se
preocupar. O que foi que o impediu?
— Você acha que tudo o que eu faço é ir de romance em romance por
toda Londres, dormindo com qualquer mulher que me lance uma isca, ou
que eu ache atraente?
Josie pensou por um momento. — Sim.
— Bem, eu não sou assim.
— Se você tivesse tempo e mundo suficientes...— disse ela,
maliciosamente.
— Não, sua diabinha, essa citação literária não vai funcionar. Marvell
diz que sua senhora poderia permanecer recatada se tivesse tempo e mundo
suficientes ...
— O modesto Mayne—, disse Josie, interrompendo-o novamente—.
Ah, Mayne, como a alta sociedade está errada em seu julgamento!
Certamente você não vai acreditar — seus olhos enormes se arregalaram —
mas todos os londrinos parecem pensar que você é o maior sedutor de
mulheres que já frequentou a sociedade.
— Bem, eu não sou—. disse Mayne bruscamente, esvaziando o copo e
enchendo-o novamente.
Ele parecia um pouco irritado, então Josie mudou de assunto. Não havia
nada pior do que ser importunado por nossas piores características. Era
muito mais agradável fingir que não existiam. Como comer demais. Estava
prestes a comer um daqueles deliciosos sanduíches quadrados, mesmo
tendo jurado naquela mesma manhã que nunca mais comeria.
Ela se inclinou para frente com cuidado, pegou um sanduíche e esbarrou
na mão de Mayne. Ele estava sorrindo para ela, e de repente Josie soube por
que todas aquelas damas londrinas se faziam de idiota por causa dele. Ele
deve ter bem mais que trinta anos, mas seus olhos tinham um sorriso
diabólico que a fez sentir...
Ela deixou cair o sanduíche como se a queimasse.
Mayne já estava relaxado na cadeira, mas se inclinou para a frente e o
pegou para ela. — Tenho medo do que aconteceria se você se inclinar um
pouco mais para a frente—, observou ele.
Ela fez uma careta para ele e recuou na cadeira.
— Então, você vai me dizer o que está vestindo? — ele perguntou,
comendo metade do pequeno sanduíche com uma mordida.
Tudo era tão fácil para ele. Mulheres caindo a seus pés sem que ele
precisasse se esforçar. Ele parecia não ter o menor sentimento de culpa.
Podia comer de tudo, e continuava esplêndido, uma pessoa confiante. Não
era justo. — Não, não vou falar sobre minhas roupas íntimas.
— Você parece absurdamente desconfortável—, Mayne observou feliz.
Josie deu uma mordida em seu sanduíche. Estava ótimo. Um toque de
salmão com um toque de pepino. — Sua cozinheira é maravilhosa—, disse
ao terminar.
Mayne sentou-se ligeiramente e pegou mais dois para si e um para a
jovem. — Não esqueça do seu champanhe—, disse ele. — Lembre que foi
criado por Deus para acompanhar o salmão defumado.
Houve um momento de silêncio reverente enquanto os dois comiam.
Em seguida, Mayne derramou o resto da garrafa na taça de Josie. —
Bebemos tudo isso? — perguntou, ligeiramente alarmada.
— Não, estava meio vazio quando foi aberto—, respondeu
sarcasticamente—. Se você não vai falar comigo sobre suas roupas íntimas,
vai pelo menos falar com Sylvie sobre elas?
— Claro que não! — Josie gritou, imaginando sua noiva esguia.
— Com uma de suas irmãs, então?
— Naturalmente, Imogen me levou à sua própria “modiste", uma
francesa—, acrescentou ela deliberadamente. — Madame Badeau. Renovei
todo o meu guarda-roupa para esta temporada e, embora você possa não
aprovar, garanto que Madame Badeau é a melhor costureira de Londres.
Os olhos de Mayne se estreitaram e ele estava olhando para ela
novamente. Josie teria se endireitado, exceto que ela não poderia estar mais
reta do que já estava. Ela bebeu seu champanhe e quebrou o silêncio. —
Posso dizer o que tenho certeza sobre o que você está pensando—, disse
ela, colocando a taça na mesa com um pequeno clique—. A única coisa que
me faz entrar neste vestido é meu espartilho. Isso faz milagres. Eu amo isso
—. Ela terminou a última frase com coragem.
Mayne não estava mais olhando para ela; ele estava cortando o cordão
em volta da rolha de uma garrafa de champanhe que Josie não tinha visto
antes.
— Vamos beber mais? — ela perguntou, com um pequeno suspiro.
Ele encolheu os ombros. — Por que não? A esta hora já perdemos a
maior parte da festa. Não gostaria de devolvê-la à casa de Rafe até que
estejamos certos que a multidão se foi e ninguém nos verá. Acho que você
não está muito acostumada a beber, não é mesmo?
— Eu já bebi uma vez—, disse Josie olhando com amor para as bolhas
na garrafa. — É muito mais interessante do que eu pensava.
— Não fique muito animada—, aconselhou-a—. Pense em Rafe e
quanto tempo ele levou para ficar sóbrio de novo.
— Ah, não vou.
Ele ergueu a taça e aproximou da dela. — Ao futuro, Josie.
— Por que você me chama de Josie e eu chamo você de Mayne? — ela
perguntou, tomando um grande gole de champanhe. Isso a fazia se sentir
corajosa e imprudente.
— Você pode me chamar do que quiser—, disse ele com um encolher de
ombros.
— Então vou chamá-lo de Garret. Afinal de contas, somos amigos e
acho que um cavalheiro que tem a ousadia de questionar uma dama sobre
suas roupas íntimas deve ter uma relações um tanto íntima com ela,
concorda? — Um pensamento a atingiu e ela mergulhou direto em outra
pergunta. — Todas aquelas mulheres com quem você dormiu se referem a
você como Garret ou Mayne?
Ele estava sorrindo para ela, um sorriso preguiçoso e lindo com um
toque remoto do diabo. Ele parecia com um ser de outro mundo, um Baco
ligeiramente perverso feito por um mestre escultor. Isso a fez sentir-se
audaciosa.
Afinal, não era Lady Lorkin naquela cadeira. Era ela, Josie, a debutante
mais desprezada do ano. — Eu amo champanhe! — ela adicionou.
— Começo a achar que devo pedir uma xícara de chá reconfortante—,
disse Mayne. E, então: — Não, bruxinha, nunca pedi às mulheres com
quem tive casos que me tratassem pelo primeiro nome. Não é correto.
— Por que não? Se eu fosse ... me despir na frente de uma pessoa,
certamente gostaria de ser familiar o suficiente para chamá-la pelo primeiro
nome!
Ele riu disso. — Há mais intimidade envolvida do que despir—,
ressaltou. E então pareceu um pouco chocado consigo mesmo. — Eu não
deveria ter dito isso.
— Estamos falando sobre a cama—, disse Josie impaciente. — Você
pode fingir que sou seu irmão mais novo, se quiser.
Ele olhou para ela. — Eu não quero.
— Bem, o que quero dizer é que, se algum dia eu tivesse que tirar a
roupa na frente de alguém, certamente não o faria em uma atmosfera de
tamanha formalidade.
Mayne estava olhando para as bolhas em seu champanhe, girando a taça
para que o vinho dourado refletisse a luz. — A maioria das mulheres se
despe com a ajuda de suas empregadas e depois se enfia debaixo das
cobertas.
Josie pensou sobre isso. Parecia um plano muito bom para ela. Dessa
forma, o marido de uma pessoa nunca ficaria nervoso com a visão de sua
carne. — Onde o cavalheiro se despe?
— Claro, senhoras e senhores nunca compartilham um quarto—, ele
disse, olhando para ela através de sua taça. — Ninguém poderia imaginar
tal coisa; esse tipo de intimidade é deixado para as classes mais baixas.
Não, o cavalheiro entra no quarto de sua esposa, admiravelmente coberto
com um roupão listrado de tecido grosso. Então ele despe o roupão ...
Josie teve uma súbita imagem vívida de como seria a aparência de
Mayne sem um roupão ou qualquer outra coisa.
—... mas não antes de ele desligar a lâmpada—, Mayne concluiu—.
Nenhum excesso promíscuo entre a aristocracia. Absolutamente nada.
— E, ela nunca usa o primeiro nome dele? — Josie disse, arrancando
sua mente dos pensamento lascivos.
— Nunca. Na verdade, ela fala pouco, na minha experiência—. Mayne
apoiou a cabeça nas costas da cadeira e olhou para o teto. — E isso é
realmente algo que você nunca deve discutir com seus amigos próximos—,
disse ele—. Eu não deveria dizer a você, mas vou de qualquer maneira. A
verdade é que não consigo imaginar por que as mulheres se esforçam tanto
para irritar seus maridos tendo romances, quando a maioria delas nem
mesmo gosta dessas intimidades.
— Então você—, disse Josie, excitada com a audácia de uma conversa
desesperadamente imprópria—, não deve ser muito bom em dormir com
mulheres. Talvez Imogen teve a sorte de ser salva de tal experiência—. Ela
sorriu ao ouvir o lamento profundo que saiu da garganta do cavaleiro. —
Tess e Annabel compartilharam com Imogen uma conversa sobre sua noite
de núpcias—, ela disse a ele—. E, dessa vez elas me permitiram ficar,
porque eu era mais velha e deveria me casar nesta temporada.
Mayne apertou a mandíbula. — E, elas comentaram algo sobre mim? —
perguntou com total descrença.
— Por que diabos elas estariam interessadas em você? Tome cuidado
para que toda essa adoração de mulheres tão tolas como Letitia Lorkin não
suba à sua cabeça.
— Josie, você é uma bruxa—. A frase agora não soava tão afetuosa
quanto antes—. Você pode me dizer, por favor, por que meu nome surgiu
durante essa conversa tão delicada?
— Como eu disse a você, o seu nome não foi citado. Mas, falava-se
sobre o fato de que muitos homens são incapazes de fazer as mulheres
felizes na cama.
— Não me diga que suas irmãs estavam preocupadas com Rafe—. Ele
parecia horrorizado. Provavelmente era uma questão de lealdade, de seguir
a máxima: — quem insulta o meu amigo insulta-me.
— Não. Mas ...— Josie parou. Uma coisa era ser indiscreta com Mayne,
outra bem diferente era revelar que o primeiro casamento de Imogen não
fora totalmente bem-sucedido nesse sentido.
Ele não disse nada, apenas olhou para o copo.
— Parece que não tenho problemas em fornecer uma experiência
satisfatória.
Josie tomou um gole com um pouco mais de cautela. Ela estava
começando a sentir-se excessivamente alegre. Era bom, mas uma voz
admoestadora distante aconselhou que ela parasse de beber.
— Bravo para você—, disse ela.
Ele olhou para ela que sentiu o impacto de seus grandes olhos negros e
selvagens dentro de si.
— Fui eu que muitas vezes achei insatisfatório—, disse ele—. E não
posso dizer de que maneira, porque não é o tipo de coisa que você fala com
garotas virgens—. Dizer essa palavra pareceu assustá-lo, e ele pegou a
garrafa para se controlar—. Maldição. Estou bêbado—, disse. Sua voz
escureceu para um rosnado encharcado de champanhe. Josie achou que era
a coisa mais sexy que ela já tinha ouvido.
— Por que continuou fazendo, então? — Ela perguntou, olhando para
ele por entre os cílios, disfarçadamente, para que ele não percebesse a
curiosidade que a dominava.
Mas ele nem mesmo olhou para ela.
— Não tenho feito isso ultimamente—, confessou—. Não tive mulher,
desculpe a vulgaridade, desde Lady Godwin e ...— ele parou.
Josie sabia quem era Lady Godwin. Ela era uma musicista brilhante,
que compôs valsas com o marido. Lady Godwin havia criado uma linda
valsa que ela dançara sem parar na sala de estar de Rafe, dias antes do
início daquela temporada horrível. Mas desde então Josie não conseguia
mais valsar, porque não queria que ninguém colocasse a mão em seu
espartilho. Qualquer homem podia sentir cada uma das hastes de baleia
através da seda fina de seus vestidos.
— Você quer dizer—, disse ela com cuidado, — a condessa? — Isso era
tristeza nos olhos de Mayne?
— Ela mesma. Se você vai acreditar na tolice disso, imaginei que estava
apaixonado por ela. Inferno, eu estava apaixonado por ela.
— Como ela ousou rejeitar você? — Josie perguntou em tom de
protesto—. Eu nunca vou pensar bem dela novamente. Pensei que ela fosse
mais sensível.
Ele sorriu para o elogio indireto—. Ela ficou com o marido, sua
bruxinha. Ela o amava, mais do que a mim, e como ela não me amava nem
um pouco, isso foi relativamente fácil.
— Sylvie é muito mais bonita—, disse Josie com firmeza.
— Sim—. E, depois de um tempo: — Sylvie é pintora, eu já te disse
isso? Ambas são artistas.
— Eu gostaria de ter talento para artes como essas mulheres.
— Para que você tem talento?
Josie encolheu os ombros. — Nada elegante, nem artístico também. Não
sei nem bordar e só gosto de ler.
— Ler é uma atividade apreciável.
— Não os que eu leio—, disse Josie em uma explosão de sinceridade
imprudente. — Gosto de ler os livros publicados por Minerva Press.
Ele riu.
— Eles são realmente muito bons—. A garota assegurou timidamente.
— Aventuras, fugas, donzelas em perigo... nossa, Josie, mal te
reconheço! Você não era a garota que tinha medo de cavalgar, embora
adorasse cavalos? Você gosta de aventuras?
— É indelicado de sua parte mencionar isso.
— Bem, estou prestes a ficar ainda mais indelicado—, ele falou
lentamente—. Você tem que tirar esse maldito espartilho. Não fique com
raiva de mim, mas você nunca foi assim. Eu gostava mais de você antes.
— Como assim antes?
— Agora você parece com a minha mãe—, exclamou Mayne. — Minha
mãe poderia ...
— Como eu era antes? — Ela interrompeu. — Você deve responder à
minha pergunta. Estou pronta para qualquer comentário, mesmo que não
seja lisonjeiro—. Suas palavras eram mais corajosas do que ela, na verdade.
— Quando estávamos a caminho da Escócia, percebi várias vezes que
você havia desenvolvido uma figura realmente adorável—. disse ele,
agitando o copo no ar.
— Oh! — Ela exclamou, surpresa.
— Quando eu conheci as quatro irmãs Essex, entende, você tinha uma
figura perfeitamente charmosa para uma garota da sua idade ... droga,
quantos anos você tem?
— Eu tinha quinze anos quando você me viu pela primeira vez—. disse
Josie com dignidade.
— Um pouco cheinha, na época—, disse Mayne—, mas a maioria das
garotas é assim, nesta idade. No caminho para a Escócia, lembro-me de
dizer a mim mesmo, várias vezes, que você estava desenvolvendo um corpo
que iria partir os corações dos homens e deixá-los loucos atrás de você. E,
ainda era uma pessoa simples, e você certamente não sabia andar
graciosamente ainda.
— E, então eu engordei.
— Não! Então você apareceu usando uma engenhoca que faz você
parecer ... você parece ... bem, você parece estar empalhada.
— Como uma salsicha recheada.
— Tire essa maldita coisa.
— Do que você está falando? — Seu sangue estava pulsando em suas
veias.
— Tira—, disse ele. Ele se levantou e, para seu crédito, não estava nem
mesmo instável. — Eu ajudo.
— Você deve estar bêbado—, disse ela com horror. Seu rosto não
parecia ter o poder cruel e arrebatador dos heróis de seus romances
favoritos, mas como ela saberia? Ele estava parado diante dela parecendo
prestativo e apenas ligeiramente bêbado.
— Eu tenho trinta e quatro anos, em nome de Deus. Trinta e cinco em
dois dias. E você tem quantos anos? Dezoito?
— Quase dezenove—, disse ela, de boca fechada.
— Bem, eu tenho quase trinta e cinco anos. E no curso de minha vida
longa e perdida, eu nunca me dediquei a tirar crianças dos berços. Além
disso, como acho que você sabe, estou apaixonado por Sylvie!
— Então o quê ... o que você quer?
— Se você não vai falar com Sylvie, e suas próprias irmãs concordaram
em enfiá-la nesta roupa desprezível, então terei que mostrar eu mesmo.
— Mostrar-me o quê?
— Mostrar a você como andar para deixar um homem a seus pés, é
claro. Não é isso que você quer?
— Claro que é isso que eu quero! — gemeu. — Mas eu não posso ... eu
não posso me despir.
— Não totalmente—, disse ele, angustiado. — Você só precisa tirar essa
faixa e colocar o vestido de volta.
— Não é uma faixa, é um espartilho! E, você está bêbado.
— Você também—, disse ele, rindo francamente agora. — Nós dois
estamos bêbados na sala da luz das estrelas. Era assim que minha tia
costumava chamar: a sala da luz das estrelas. Quando ela ficou muito
doente, no fim da vida, ela ficava deitada neste sofá a noite toda e
observava as estrelas do teto, e as estrelas pela janela. Às vezes, meu pai
ficava com ela até o amanhecer.
— O coração dele deve ter se partido quando ela morreu—, Josie
sussurrou.
— Ele sempre disse que sem ela não saberia como amar. Meus avós
eram tão rígidos que, em vez de serem feitos de carne e osso, diria que eram
esculpidos em madeira.
Os olhos de Josie se encheram de lágrimas. — Isso é tão lindo. Foram
minhas irmãs que me ensinaram a amar, porque minha mãe morreu antes de
eu nascer.
Ele ergueu as sobrancelhas.
— Antes?
— Bem, no mesmo dia. Ela nem me segurou uma vez, então penso nela
como se ela tivesse morrido antes que eu chegasse.
— Suspeito que Lady Godwin me ensinou a amar—, confessou Mayne
—. Isso é muito chato.
— Por que?
— Porque um dia ela me dispensou sem pensar duas vezes. Mas eu não
conseguia parar de pensar nela. — Ele deu de ombros.
— Você ama sua irmã. — Josie apontou.
— Claro que a amo. Mas eu estava me referindo a um amor
verdadeiramente apaixonado—. Ele sacudiu-se e de repente seus olhos
clarearam, olhando para ela, e antes que ela percebesse, ele a ergueu.
Habilmente, ele a virou. Então, começou a desabotoar a parte de trás do
vestido dela.
Josie sentiu que o champanhe havia prejudicado sua capacidade de
reação. Tal conduta peculiar e imprópria nunca foi explicada a ela por sua
governanta, a Senhorita Flecknoe.
Mas, Mayne não queria seduzi-la. Achava que ela se parecia a uma
salsicha recheada. Então, importava que ele estivesse prestes a ver seu
espartilho?
— Deus Todo-Poderoso—, ele sussurrou quando o vestido estava
completamente desabotoado.
Ele tinha visto o espartilho dela.
— Que diabos é essa coisa? — Ele parecia quase zangado—. Isto
parece o esqueleto de um navio.
— É um espartilho especial vendido em Paris para mulheres grandes—,
explicou Josie, sentindo um rubor ardente subir por seu pescoço. — Você
pode, por favor, abotoar meu vestido?
Mas ele continuou seu trabalho, agora afrouxando os cordões.
— Você não pode simplesmente me puxar—, Josie exclamou sem
fôlego—. Além disso, você não sabe como fazer. Precisa soltar para cima e
para baixo, sem solavancos. E, então você pode começar a desamarrar, mas
tem que fazer isso lentamente. Muito devagar.
— Por quê? — ele perguntou, e ela ouviu o som de um pequeno gancho
sendo rasgado.
— Não faça isso! — ela gritou, agonizada. E então: — Porque posso
desmaiar se abrir muito rápido.
— Droga—. Ele disse isso categoricamente.
Ela não desmaiou, embora a pressão tenha diminuído tão rapidamente
que ela cambaleou para a frente. Ele a agarrou, mãos grandes segurando
seus ombros. Ele a firmou e, em seguida, empurrou o vestido dela sobre os
braços. Quando caiu no chão, o espartilho o seguiu. Claro que não caiu com
um farfalhar suave, como acontecia com seu vestido. Fez um ruído metálico
porque os ossos de baleia estavam cobertos com pequenas pontas especiais
de chumbo, para que eles não roçassem em sua pele.
— Quanto mais apertado, melhor—, Madame Badeau disse, mostrando
a ela como sua criada deveria apoiá-la contra a cama e forçar o fechamento
dos laços. E, então ela disse as palavras mágicas: Você não vai conseguir
comer enquanto estiver usando isso, é claro.
Na mente de Josie, aquele tinha sido o momento em que “O Corset”,
como ela pensava, mudou para seu status para “sagrado”. O Corset lhe daria
uma temporada de sucesso. O Corset a impediria de comer, e lhe daria uma
forma esguia e refinada, e lhe daria um marido.
Não tinha funcionado assim. Além disso, Josie se viu perfeitamente
capaz de comer enquanto o vestia.
Mayne estava olhando para o chão, onde o espartilho havia caído.
— Parece que um tipo raro de crisálida deu lugar a uma borboleta—,
disse ele, segurando-o por um de seus muitos fios. —Por que diabos você
estava usando isso, Josie?
Ele nem estava olhando para ela na hora, mas a jovem cruzou os braços
sobre a camisa fina e tentou não pensar em sua carne abundante, agora
liberada.
— Me faz parecer mais magra—, respondeu ela.
— Você não precisa ser mais magra—, garantiu ele. Então ele olhou
para ela—. Você está com frio? Coloque o vestido de volta.
Houve um momento de silêncio e então Josie falou com uma vozinha
severa.
— Eu não posso, sem o espartilho. Não vai caber em mim—. Era um
dos presentes do espartilho. Ela poderia usar vestidos que eram quase do
mesmo tamanho que os que Imogen usava.
Mayne jogou o espartilho de lado, e ele caiu com o tilintar metálico
peculiar de peças de chumbo.
— Vou encontrar algo que você possa vestir—, disse ele. Antes que ela
soubesse o que estava acontecendo, Mayne já saíra pela porta.
Josie esticou os braços. Era ... maravilhoso ter removido o espartilho.
Maravilhoso. Ela estava vestindo uma camisa de linho leve. Mais do que
uma vestimenta, parecia um sopro de brisa que a envolvia por toda parte.
Capítulo 08
Do Conde de Hellgate,
Capítulo seis
Por algum tempo minha Hipólita me fez o mais feliz dos homens, e embora
seu interesse mais tarde se voltasse para outro, ainda penso nos frutos
suculentos de nossa amizade. Acho que posso dizer que estivemos ambos na
reunião nos jardins da Condessa de Y ... em 1807. Você deve se lembrar,
caro leitor, da moda de comer tortilhas no jardim que se desencadeou
naquele ano. Bem...
O primeiro marido de Griselda foi entregue a ela em uma bandeja por seu
pai. “Recebi uma oferta de sua mão em casamento”, disse ele.
"O que?" ela engasgou, pensando em Lord Cogley, com quem ela
dançou na noite anterior.
“Willoughby”, disse o pai, impaciente como sempre. “Eu o aceitei.
Família decente, estabelecimento muito bom, provavelmente você não se
sairá melhor.”
“Mas ...” ela chorou. E chorou.
Tinha acabado.
Desde que o pobre Willoughby morrera, com o rosto para baixo em um
prato de ave com geleia, Griselda procurava os homens para uma diversão
ocasional e discreta. Apenas duas vezes, se a verdade fosse conhecida. E
nenhum desses casos petites durou mais de uma noite. Ela considerava
aqueles dois uma distração sensata da rodada de visitas, bailes e eventos
que constituíram sua vida.
Mais um flerte ... e então ela pensaria seriamente na questão do
matrimônio. Ela estava terrivelmente velha: quase trinta e três anos, embora
preferisse morrer a admitir isso. Embora ela não parecesse ter essa idade.
Finalmente ela o viu. Darlington estava do outro lado da sala,
conversando com a Sra. Hotson e sua filha. Griselda parou pensativa por
um momento. A Sra. Hotson era, é claro, famosa pela grande quantidade de
dinheiro que seu marido ganhara investindo em algum tipo de maquinário
que produzia renda, de natureza rústica e só servia para roupas íntimas. Não
as roupas íntimas de Griselda, naturalmente; ela se orgulhava de usar
camisolas tão bonitas quanto sua roupa exterior. Só porque ninguém além
de uma empregada a veria, isso não significava que uma mulher deveria
relaxar.
Darlington era muito bonito. Ele tinha aqueles cachos soltos que todos
os homens estavam usando hoje em dia, desde o bispo de Londres (que
deveria pensar melhor em deixar seus cachos aparecendo sob o chapéu) até
seu próprio irmão Mayne. Os de Mayne eram, pelo menos, naturais, e os de
Darlington também pareciam ser. Não havia nada mais doloroso do que a
ideia de um homem esperando pacientemente enquanto um servo enrolava
o seu cabelo. Darlington era magro e alto, e bem vestido, por tudo que ela
sabia que ele não tinha um centavo no seu nome. Bem, talvez ele tivesse um
ou dois centavos. Era preciso pensar que o duque de Bedrock não jogaria
seu filho mais novo para viver na sarjeta.
Mas Darlington precisava se casar bem. Ele estava obviamente tentando
se interessar por Letty Hotson que estava parada ao lado dele, a boca
ligeiramente entreaberta, ouvindo atentamente enquanto ele inclinava a
cabeça para dizer algo a ela. Mesmo do outro lado da sala, ela podia
perceber um pouco de aversão por si mesma ou, talvez pelo que ele estava
fazendo, em seu rosto, quase podia ouvir o som distante de sua consciência.
“Ora, ora, pensou Griselda, no fim das contas estarei fazendo um favor ao
homem, afastando-o de tal companhia”. Se havia uma coisa que ela sabia,
era sobre o casamento entre pessoas incompatíveis. Ele e Letty nunca
teriam uma conversa inteligente.
Um momento depois, ela estava ao lado da Sra. Hotson, elogiando-a
pelo vestido da filha; Letty estava envolta em renda da cabeça aos pés. E
dois minutos depois, Griselda estava se afastando com a mão de Darlington
debaixo do braço, tendo-o separado daquele bando de damas
desinteressantes.
— Você não vai me deliciar com uma frase inteligente sobre a renda de
Letty? — ela perguntou um momento depois. — Lacy Letty?
— Estou muito ocupado tentando descobrir por que deseja falar comigo,
Lady Griselda—, disse ele—. Temo que meus pecados me condenem.
— Chamar Josie de salsicha foi realmente um pecado—, disse Griselda,
e sua voz saiu mais dura do que pretendia.
— Juro nunca mais fazer isso.
Ela se virou para olhá-lo surpresa.
— Eu tenho sido um idiota. Sinto muito.
Ele tinha olhos verdes acinzentados estranhos com cílios grossos. O
estranho é que ele realmente parecia arrependido. Por que diabos ela não
tinha pensado em falar com ele antes? Talvez ela pudesse ter eliminado o
sofrimento da pobre Josie depois do primeiro baile em que ouviram risos
sobre a “salsicha escocesa”. — Você transformou a temporada dela em um
inferno social—, observou Griselda. Mais uma vez, sua voz era mais crítica
do que pretendia, visto que ela deveria induzi-lo a um flerte e, em seguida,
extrair uma promessa de melhor comportamento.
Foi um pouco decepcionante perceber que não havia nenhum trabalho a
ser feito, e ela poderia ir embora agora e encerrar seu flerte.
— Se você tivesse me pedido para fechar a boca, eu o teria feito.
— Por quê? — ela perguntou, e então: — Não que deva haver qualquer
razão para parar um comportamento tão cruel e ...— Ela parou.
— Indelicado? — ele interveio, com uma torção estranha dos lábios.
Griselda teve vontade de dizer a verdade, então ela disse. — Sim,
realmente rude. É falta de educação zombar daqueles que são menos
afortunados do que você.
— Você está certa em tudo que diz.
— Embora—, acrescentou ela—, obviamente você obviamente não seja
realmente rude.
— Espero que não—, disse ele, mas havia algo sarcástico em sua voz,
sugerindo que ele não estava muito convencido de sua boa educação, apesar
de ser filho de nada mais nada menos que um duque. — Posso convidar
você para dançar comigo.
Griselda sabia que provavelmente deveria voltar e relatar a vitória. Se
ela se apressasse, poderia até encontrar Sylvie, Tess e Josie ainda no
banheiro feminino. Era estranho, mas Sylvie parecia se divertir muito mais
em reclusão do que circulando pelo salão de baile. Mais cedo, Griselda a
vira circulando pela pista com Mayne, e Sylvie parecia quase, quase ...
entediada.
Mas Griselda nunca ficava entediada na pista de dança. — Vou dançar
com você, mas apenas se você me oferecer um gostinho dessa sagacidade
tão preciosa de que ouvi falar.
Ele balançou sua cabeça. — Decidi parar de fazer minha reputação às
custas dos outros.
— É muito bom evitar comentários desagradáveis sobre garotas
indefesas—, disse ela asperamente—, mas certamente você não está
planejando entrar em um mosteiro?
Os primeiros compassos de uma valsa soaram, e ele sorriu para ela
quando a senhora lhe ofereceu a mão, desrespeitando as regras da etiqueta.
— Eu estava pensando em me tornar uma pessoa realmente chata. Um
daqueles que todos admiram.
Ele era um ótimo dançarino. — Eu entendo precisamente o que você
quer dizer. Há algo puritano em você. Suponho que tenha um temperamento
doce e modesto, e apenas fingiu toda essa maldade para não decepcionar
seus amigos.
— Precisamente. Tive que lutar contra o meu desejo ardente de me
tornar bispo, mas talvez ainda tenha tempo de desistir do mundo e de suas
vaidades.
— Eu terei que testar você—, ela disse, rindo um pouco—. Você sabe
que todos os homens bons passam por algum tipo de tentação—. Seu braço
estava quente e forte em volta da cintura dela enquanto dançavam.
— No deserto, eu acredito. Eles nos tentam no deserto—. Ele disse,
olhando ao redor de uma forma que a fez cair na gargalhada. Ela chamou a
atenção de uma amiga, Lady Felicia Saville. Felicia nunca se recuperou
totalmente de um ataque de paixão por Mayne, e Griselda tentou evitá-la o
máximo possível. Mas agora ela lhe deu um sorriso aberto. Estava
dançando com um dos rapazes mais bonitos e inteligentes da alta sociedade
e estava se divertindo.
— Não há deserto na Inglaterra—, observou Griselda.
— Isso é uma coisa boa.
— Por quê?
— Porque eu ouvi dizer que as pessoas ficam seminuas no deserto—.
Seus olhos estavam sorridentes. Por um momento ela pensou que ele estava
tentando seduzi-la, mas isso era ridículo—. Considere Lady Stutterfield em
tal situação, por exemplo—. Ele acenou com a cabeça em direção a uma
mulher ossuda que se movia de forma majestosa, vestida com grandes
quantidades de tafetá engomado.
— Talvez seja bom que a Inglaterra não tenha deserto—, concordou
Griselda.
— Nunca se sabe, é claro, quando os polos magnéticos da Terra
mudarão de posição e transformarão este país em um deserto arenoso—,
observou ele—. Aprendi muito pouco na escola, mas me lembro disso.
— Tenho certeza que ouvi dizer que você foi muito diligente na
faculdade.
— É muito fácil ter destaque hoje em dia—, disse ele—. Especialmente
se alguém gosta de fofoca, como eu. História nada mais é do que uma
grande coleção de fofocas, e eu me formei nessa especialidade, o que deve
me qualificar em sua estima.
— A história é feita de fofoca? Achei que fosse feita de grandes eventos
e pessoas importantes. Além de datas. Minha governanta desesperou-se
bastante com minha incapacidade de manter as datas na cabeça. Eu nunca
consegui ver o sentido disso.
— Nem eu—, disse ele amigavelmente, e ela percebeu que ele quis
dizer exatamente o que disse—. Mas pense em fofoca. Sobre o que você
mais prefere fofocar?
— Pessoas, eu suponho.
— Sim, mas existem muitos tipos de pessoas. Acho que existem três
fontes de fofoca verdadeiramente interessantes. Um é a excentricidade e
outro são os desastres financeiros. Pode-se praticamente resumir a história
do mundo nesses termos. Alexandre, O Grande? Um excêntrico e depois
um fracasso financeiro. Napoleão, Carlos Magno, nosso próprio inglês
Henrique IV ... todos são interessantes para a história, e cada um deles é um
excêntrico, um fracasso financeiro ou ambos.
— Você não me disse a terceira categoria—, observou Griselda.
— Você não gostaria de adivinhar?
Ela pensou por um momento—. Adultério ... ou possivelmente
assassinato. Mas, de modo geral, o adultério é muito mais interessante para
discutir; assassinatos têm uma semelhança triste, por princípio.
— Pode-se argumentar o mesmo sobre adultério, mas eu não—, disse
ele, rindo—. Veja, Lady Griselda, você teria feito uma ótima carreira se as
universidades não fossem tão idiotas em impedir que as mulheres as
frequentassem.
— Tenho certeza de que não gostaria de ter um diploma.
— E, por que não?
— Para que eu pudesse prever em que ano a Inglaterra se transformaria
em um deserto? E, por favor, senhor, que utilidade essa notícia teria para
mim?
— Você poderia preparar a alta sociedade para a eventualidade de valsar
sem roupas—. disse ele.
Ele estava flertando com ela. Realmente, ela pensava que, sendo uma
mulher dez anos mais velha que ele, ela teria que conduzir essa conversa
sozinha. Mas, ele a estava surpreendendo. Primeiro ele jurou parar de falar
sobre salsichas e agora estava flertando.
— Eu tenho medo—, disse ela de uma forma melancólica—, de ter que
deixar a sociedade se isso se tornasse comum.
— Você não toleraria? — disse ele com simpatia—. Sempre que tenho
que visualizar algo de natureza desagradável, penso em muffins.
— Muffins?
Ele a girou ao redor do salão de bailes e suas pernas se roçaram—.
Muffins são muito úteis nessas situações—, disse ele gravemente—. Por
exemplo, se eu pensar em Lady Stutterfield sem suas roupas, para não
mencionar todo aquele tafetá, correria o risco de desmaiar. Então, penso em
um muffin quente com manteiga e me sinto muito melhor. Por outro lado,
se penso em você, Lady Griselda, sem suas roupas, também me sinto fraco,
embora por razões diferentes.
— Então você pensa em muffins? — ela perguntou, seus olhos
capturados pelos olhar intenso do jovem.
— Muffins—. Confirmou.
— Eu acho que você mostra um apego notável à comida infantil—. Ela
recuou quando a música chegou ao fim e fez uma reverência.
— Eu a vejo amanhã no parque? — ele perguntou.
— Você deve estar lá, perseguindo uma jovem senhorita casadoura? —
ela brincou.
— Sim—. disse ele sem rodeios.
Griselda ficou um pouco surpresa, mas então percebeu que Darlington
era provavelmente o tipo que poderia flertar com uma viúva disposta,
provavelmente disponível, e abertamente perseguir uma esposa ao mesmo
tempo. Ela continuou sorrindo e retirou a mão—. Talvez eu o veja lá—. Ela
disse.
— Lady Griselda ...— ele começou.
Mas ela se virou com uma vibração desdenhosa e um sorriso educado.
Embora ele fosse um homem muito agradável para compartilhar uma valsa,
ela não tinha nenhum desejo especial de vê-lo fisgar a pobre Letty Hotson e
seu dote de renda rica.
Capítulo 09
Do Conde de Hellgate,
Capítulo seis
Lá estávamos nós, com as tortilhas sujando completamente nossas roupas
... Minha cara leitora, lembre-se da promessa que você fez de não fazer
qualquer tentativa de descobrir a identidade da minha Hipólita ... e ela me
disse, da maneira mais linda que se possa imaginar:
"Meu caro senhor, você não vai me ajudar a tirar este café da manhã
desagradável de mim?"
Leitor, posso dizer que foi um café da manhã que nunca esquecerei?
A porta se abriu e Josie ergueu seus braços na frente dos seios. Eles eram
muito grandes; ela não sabia dizer como aconteceu, mas no último ano, seus
seios cresceram enormemente. “Pelo menos você não ganha nas pernas,
Imogen disse a ela quando elas estavam olhando para seu reflexo sem o
Corset.
Isso era verdade. Seus tornozelos e pernas eram bastante finos, em
comparação com o resto dela. Eram seus quadris e seios que eram
vulgarmente arredondados.
Mayne entregou a ela um lindo roupão florido, mantendo os olhos na
parede oposta. Ela enfiou os braços nas mangas. Foi um deleite sensual:
seda lisa e elegante em um tom violeta escuro, coberta com arabescos e
cachos selvagens de folhas indianas—. Isso é tão lindo—, disse ela,
amarrando a faixa.
— Você já viajou para a Índia?
— Meu Deus, não.
— As roupas são muito importantes para você, não é?
— Absolutamente—. Ele se virou—. Você fica melhor com esse manto
do que com um vestido que não cabe em você.
— Meu vestido me serve—, ela disse com dignidade—. Com o
espartilho.
Ele devolveu a taça de champanhe—. Agora. Você se senta e eu vou te
dar uma lição sobre como andar.
— Para escravizar um homem—, ela incitou, afundando em uma
cadeira. Era maravilhoso estar sem o espartilho. Ela cruzou as pernas e
saboreou a sensação de poder curvar as costas. O champanhe desceu por
sua garganta em um fluxo agradável e agora familiar de bolhas com sabor
de maçã, ao mesmo tempo que ela experimentava outra corrente difusa, esta
de afeto por este cavalheiro que era um dândi primoroso e que a estava
ajudando a ter sucesso no difícil mercado de casamento.
— Precisamente—. Mayne se abaixou e agarrou seu vestido descartado.
Ele deu uma sacudida especulativa.
— O que diabos você está fazendo? — ela perguntou. Ele agora estava
tirando o casaco. — Por que você está se despindo? — Ela pode ter sido
ingênua, mas até ela podia ver que aquela não era uma cena de sedução, na
qual ele conseguia tirar a roupa dela por meio de um ardil, apenas para se
despir depois.
— Eu acho que poderia explicar melhor se eu colocasse o vestido—, ele
disse, franzindo a testa de uma forma adorável—. Ainda bem que tem
mangas curtas. Receio que meus braços estejam fora de moda de tanto
cavalgar.
E, antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, ele tirou a camisa
também. Ele nem estava olhando para ela, então Josie ficou apenas sentada,
paralisada. Ele nunca seria capaz de colocar seu vestido, e nem ela, sem um
espartilho. Ele era todo liso, músculos lindamente definidos e acentuados.
Ela pensava que os homens tinham tufos de pelos no peito; tinha visto pelos
ondulados saindo das camisas dos homens que trabalhavam nos estábulos
de seu pai. Mas Mayne era suave, sem pelos, exceto pelos músculos que se
destacavam sob sua pele.
Agora, naquele momento, ele lhe era totalmente desconhecido. O
elegante e primorosamente civilizado Mayne, à luz da lua filtrando-se pelas
pequenas janelas no teto, parecia selvagem, como Baco, o deus do vinho.
Ele se sentiria perfeitamente em casa em uma floresta sombria, com
trepadeiras enroladas em seus cabelos.
Sem perceber, Josie congelou em sua cadeira, sem fazer barulho, como
se um animal selvagem tivesse entrado na sala ameaçadoramente. Ela sentiu
uma mistura de atração e medo, de espanto e choque.
Um segundo depois, a atração se transformou em uma risada impotente.
Mayne pegou seu vestido rosa e com um movimento rápido rasgou-o
nas costas. Então, antes que ela pudesse proferir um protesto - uma das
criações especiais de Madame Badeau! Feito da mais fina seda, com uma
sobressaia de gaze rosa e enfeitado por toda parte com minúsculas contas de
vidro branco! - ele puxou as mangas rapidamente para cima dos braços. Ela
podia ouvir um leve som de tecido sendo rasgado, mas realmente, isso
importava neste momento?
— Agora, sim—, ele disse, parando para tomar um gole de vinho—.
Aqui estou.
— Aí está você—, disse ela, rindo impotente. Seus braços musculosos
saíam de suas mangas cor de rosa com toda a incongruência de um tigre
vestindo um avental.
— Preste atenção—, ele disse severamente—. Como eu disse, aqui
estou. Sou a Srta. Lucy Debutante.
Josie levantou-se de um salto e fez uma reverência. — É um prazer
conhecê-la, Srta. Lucy.
Ela não pôde deixar de notar como era mais fácil fazer uma reverência
quando estava vestindo um roupão e não tinha espartilho para cutucar na
parte de trás das pernas.
Mayne também curvou-se graciosamente. Então, caminhou para o lado
da sala. — Muito bem—, disse. — Agora me observe cuidadosamente.
Lucy é jovem e desconhecida, mas sempre foi coquete desde o nascimento.
Isso significa que ela sabe instintivamente que os homens desejam ver os
quadris de uma mulher balançarem quando ela anda. Você entende?
— Não—, disse Josie—. Minha governanta, Senhorita Flecknoe, me
ensinou a andar com um livro na cabeça—. Ela imitou a voz cortante da
Senhorita Flecknoe—. As mulheres devem andar eretas, sem mexer
desnecessariamente o torso.
— A Senhorita Flecknoe é uma idiota—, disse Mayne—. Balançar é
exatamente o que você deve fazer, de forma refinada, é claro—. Ele colocou
a mão no quadril vestido de rosa e começou a andar pela sala em direção a
ela. De alguma forma, como mágica, sua caminhada assumiu o passo
elegante de uma predadora, uma mulher tão confiante em sua atratividade
que seus quadris balançavam como um navio ao encontro das ondas.
Ele se virou e uma risada inevitável escapou dos lábios de Josie. É claro
que seu pobre e maltratado vestido não chegou nem perto de se encontrar
nas costas. Entre as costuras abertas havia uma grande e lisa extensão de
pele.
— Pare de rir, bruxa—, ele disse por cima do ombro—. É sua vez.
— Minha vez?
Um instante depois, Josie se viu ao lado dele.
— Deixe seus quadris balançarem—, Mayne observou—. Você tem
quadris adoráveis. Eu pude perceber mesmo quando você se transformou
em uma salsicha.
— Eu não ...— Josie continuou a resistir às críticas, mas cada vez mais
fracamente. Talvez este homem estivesse certo, talvez o espartilho tivesse
que desaparecer.
Ela caminhou para o lado dele, atravessou a sala, mas o ensaio não foi
bem. Ela não se sentia como uma coquete, não importa o quanto colocasse a
mão no quadril e se mexesse. Tentou não pensar em como seus quadris
pareceriam largos, indo e voltando assim. E, então, ela percebeu que o que
realmente queria era ter o corpo de Mayne com certas formas femininas,
porque seus quadris eram estreitos e, claro, por isso ele os movia com tanta
facilidade, até que parecessem naturalmente sensuais.
Ele parou com uma leve exclamação—. Você não está prestando
atenção, Josie!
— Estou, sim—, ela protestou—. Eu realmente estou. Vou tentar de
novo—. E correu de volta para a parede e, sob seu olhar, caminhou em
direção a ele, tentando gingar de um lado para o outro, sob o olhar de
Mayne. Ela se sentia andando como um pato. Se andar bamboleando
deixava os homens escravizados, ou até mesmo a convidando para uma
dança, que não tinha sido arranjada por uma de suas irmãs, ela estava
ansiosa em conseguir.
Os olhos de Mayne se estreitaram e ela pôde ler que havia fracassado.
— Talvez eu simplesmente ...— sua voz foi sumindo, até se transformar
em um murmúrio.
— Você não está sentindo. Você já beijou alguém, Josie?
— Claro que sim! — E então ela percebeu o que ele quis dizer—. Você
quer dizer beijar um menino?
— Eu estava pensando mais em algo como beijar um homem—,
respondeu divertido.
Ela balançou a cabeça. Quem iria querer beijá-la? Ele estava cego?
Mayne pareceu ler sua mente.
— Esse é o problema. Você não tem a menor noção de si mesma,
porque você ... você não conhece ou controla o seu próprio corpo. Você já
...— Mas ele se controlou. Qualquer que fosse a pergunta, claramente não
poderia ser feita, mesmo sob a influência de muito champanhe e do luar.
Então lá estava ele, na frente dela. Usando um vestido rosa de mangas
curtas. As contas de vidro meticulosamente costuradas pelas costureiras de
Madame Badeau brilhavam ao luar. Ele deveria parecer ridículo, mas em
vez disso, Josie sentiu como se o próprio Baco tivesse realmente vagado
para dentro desta pequena sala da torre e estivesse lá, com um convite
profundo e selvagem em seus olhos.
Embora o que ele estava dizendo não soasse convidativo.
— Eu vou beijar você—, disse ele rapidamente—. Alguém tem que
fazer pela primeira vez, e pode muito bem ser eu, porque sou muito bom
nisso. Mas, Josie ...— E, ele a segurou pelos ombros.
— Sim? — Ela sabia que seus olhos estavam arregalados.
— Eu estou apaixonado por Sylvie, você sabe disso, não é mesmo?
Ela fez uma careta para ele—. Você acha que vou me apaixonar por
você por causa de um beijo.
Seu sorriso estava torto.
— Não se preocupe. Já que estamos sendo francos, devo dizer-lhe que
não tenho intenção de me apaixonar por alguém que seja tão velho quanto
você—. O sorriso dele desapareceu. — Minhas irmãs não fizeram nada
além de jogar homens da sua idade para cima de mim desde o início da
temporada, e embora tenha sido muito gentil da parte deles dançarem
comigo, eu ...
Sua voz sumiu. Na verdade, ele parecia um pouco magoado, mas talvez
fosse apenas sua imaginação, porque ele falou sem vacilar: — Você quer se
casar com alguém da sua idade, o que é absolutamente apropriado. Embora
eu recomende que você procure alguém que tenha atingido a maioridade.
— Eu tenho uma lista de qualidades do marido ideal—, ela disse.
Ele sorriu para isso—. O que está na sua lista?
— Não vou contar tudo a vocês, pois é um assunto privado. Mas eu
decidi que vinte e cinco é a idade ideal, depois que Imogen disse que Rafe
se encaixava em quase todos os itens que eu havia escrito.
— Algum dia, eu adoraria ver essa lista—, disse ele, com os olhos
divertidos e brilhantes—. Mas agora a noite chega ao amanhecer e suas
irmãs estarão se perguntando para onde eu a levei.
Josie encolheu os ombros. Sua pele estava formigando e ela tinha plena
consciência de que os dois estavam sozinhos, ambos semidespidos—.
Provavelmente Imogen partiu com Rafe em sua viagem de núpcias—. disse
ela—. Tess foi para casa com Felton e Annabel já tinha saído do baile
quando eu o encontrei. Ela tem um novo bebê e sente falta dele depois de
apenas meia hora, ou assim ela diz.
— A maternidade faz isso com algumas mulheres—, disse ele—. É
como uma doença.
Ele deu um passo mais para perto e ergueu o queixo dela—. Você tem
uma pele linda, Josie, sabia disso?
— É a minha melhor característica—. Ela murmurou, hipnotizada por
seus olhos. Eles estavam olhando para ela de uma forma, como se ... como
se ...
A mão dele segurou sua nuca e os dedos se enroscaram em seu cabelo
—. Seu cabelo também é lindo.
— É castanho—. disse ela, tentando quebrar o encanto daquela voz
linda.
— Bronze ao sol—, ele a corrigiu—. Certa tarde, a caminho da Escócia,
você se sentou na janela da carruagem e o sol brincou com seus cabelos por
horas: era todo bronze de tons profundos, fascinantes e suaves.
Josie sabia que nunca sentiria o mesmo por seu cabelo.
Então ele se inclinou mais perto. É agora, pensou Josie. Ela sabia o que
esperar, é claro. Ela tinha visto Lucius Felton beijar Tess na boca. Ela tinha
visto o conde de Ardmore dar beijos apaixonados em Annabel, no cabelo e
no ombro dela, e onde quer que o pobre homem apaixonado pudesse dar um
beijo. Em uma ocasião, dobrou a esquina do corredor uma vez e viu Imogen
nos braços de Rafe, e ele a estava beijando, e seus corpos estavam em
intenso contato sensual.
Mas não era o que ela pensava. A boca de Mayne não a roçou com
adoração, como a de Felton fez com Tess. Em vez disso, sua boca desceu
sobre ela como um peso esmagador, duro e exigente. Ela não tinha ideia do
que estava sendo exigido e teve que se conter para não lutar. Não admira
que os casos de Mayne tenham durado apenas duas semanas, ela pensou
vagamente. O homem não sabe beijar!
Ele provavelmente era tão ruim na cama quanto com beijos.
Mas isso nunca faria com que ele se sentisse mal, não quando ele tinha
sido tão gentil em tentar ... o que quer que ele estivesse tentando fazer. Dar
seu primeiro beijo para que ela pudesse andar melhor, e se isso não fosse
uma ideia estúpida, ela nunca tinha ouvido uma.
A mão que estava em seu cabelo era bastante agradável, como se a
estivesse persuadindo a fazer algo,... o quê? A língua dele também ... ele
estava passando a língua pelos lábios dela. Uma coisa estranha de se fazer.
Josie arquivou isso em sua mente como mais uma razão substancial pela
qual o conde de Mayne permaneceu solteiro até os trinta e cinco anos.
E, de repente, tudo mudou. Como ou por quê, Josie não sabia.
De repente, ela podia sentir o cheiro dele. Ele cheirava
maravilhosamente bem, um cheiro picante de sabonete masculino. Ela
olhou para ele e seus olhos estavam pesados, e de repente ela podia sentir o
polegar dele esfregando contra seu pescoço, e tudo parecia muito estranho.
Como se ... como se ela tivesse acabado de tirar o espartilho.
— Essa é minha garota—. disse ele contra sua boca. Sua voz era
sombria como a sala, escura como o ronronar de um Deus do vinho. Ela
abriu os lábios para responder. E essa foi a maior surpresa de todas. Porque
com um movimento suave ele a puxou para mais perto e contra seu corpo, e
ao mesmo tempo sua língua entrou em sua boca.
Ela ficou rígida de surpresa. Não estava limpo. Não era higiênico.
Certamente não foi ...
Mas, seu pensamento sumiu em uma névoa de sensações sensuais,
porque de alguma forma seus braços estavam em volta do pescoço dele e
enrolados em seu cabelo. E aqueles seios que ela tanto desprezava estavam
pressionados contra seu peito e era delicioso, como tortura e prazer ao
mesmo tempo. E ele estava em sua boca, falando com ela sem palavras,
suas mãos segurando-a com força para que ela não pudesse se mover para
trás. Exceto que ela não queria. Tudo o que ela queria era ser esmagada
contra seu corpo grande e sólido, sentindo-se pequena e sensual, e todas as
coisas que ela nunca sentiu.
Tudo o que ela queria era ser esmagada contra seu corpo grande e
sólido, sentindo-se pequena e sensual. Além disso, ela percebeu muitas
outras coisas que nunca havia sentido.
Era exatamente o que ele queria que ela sentisse.
Como se a ideia e a verdade de tudo isso viessem ao mesmo tempo, algo
como uma torrente de fogo líquido percorreu seu corpo, deixando seus
joelhos sem forças, fazendo-a temer e não poder ficar de pé sem a ajuda do
abraço maravilhoso. Ele estava entrando em sua boca com movimentos
firmes e exigentes, e então ela soube por que as mulheres choravam quando
ele as deixava.
Como se Mayne pudesse ler seus pensamentos, ele se afastou e a olhou
fixamente. Seus olhos escureceram, ou talvez toda a sala escurecesse. Eles
não pareciam mais azuis, mas pretos, e por um segundo, Josie pensou ter
ouvido uma respiração masculina acariciar seu peito.
— Bom—, ele finalmente disse—. Josephine Essex, este foi seu
primeiro beijo.
Josie abriu a boca, mas não saiu nada. Ela apenas olhou para ele, os
braços em volta do pescoço. Sua mente era o paraíso escuro e confuso do
desejo ... sim, ela não era tão estúpida para não reconhecer isso. Depois de
um momento, a garota baixou os braços e lutou para recuperar a clareza da
mente, o controle da situação.
Havia algo estranho nos olhos de Mayne.
— Você achou aceitável? — O ronronar áspero e fascinante já havia
sumido de sua voz.
— Completamente—, ela respondeu, suas mãos tremendo enquanto
apertavam o nó do manto na cintura. — Será que eu ...— limpou a garganta
—, ... eu vou conseguir andar direito agora?
— Espero que sim, Josie—. Ele disse quase como se fosse uma oração
—. Eu acho ... eu acho que sim.
Ela conseguiu esboçar um pequeno sorriso.
— Você tem grande fé em seus poderes de sedução, Lord Mayne.
Suponho que seja devido a muitos anos de prática.
— Sempre se pode ser surpreendido—. respondeu ele, um tanto
sombriamente. E então ele se recostou—. Vamos ver se fiz papel de idiota
ou não.
Josie se afastou dele e foi até a parede oposta. Mayne não tinha feito
papel de idiota. Ela podia sentir em cada movimento de suas pernas, no
roçar de seus seios contra o manto que ela vestia. Quando ela se virou para
caminhar em direção a ele, ela estava pronta.
Ela caminhou e parou por um momento, talvez para saborear o prazer
do sucesso. Sorriu para o professor, com a beleza de seus olhos, como a
forma como seus cabelos caíam. Aquele cabelo, mesmo naquele momento,
dava a impressão de ter saído das mãos de um pintor ou escultor brilhante.
Mayne parecia um pouco atordoado, então ela sorriu novamente.
Os sorrisos que ela estava esboçando hoje à noite eram um mundo longe
das caretas que ela usava como máscaras nas últimas semanas da temporada
social. Ela podia sentir a exuberância de seus próprios lábios. Viu seus
próprios olhos brilharem. Era outra pessoa, outra mulher. Ou melhor, uma
mulher.
E, então, ela começou a caminhar em direção a ele. Quadris carnudos e
cheios, curvados naturalmente, lindamente, até a cintura marcada por uma
faixa de seda. Seus seios incharam, e pela primeira vez em sua vida ela
soube que eram certos para seu corpo: equilibrando os quadris, carregando-
os com orgulho, lindos em sua generosidade.
— Não exatamente—, ele disse—. Observe-me novamente.
Ela pensou ter visto o que ele quis dizer desta vez. Mesmo no absurdo
daquele corpo musculoso, e do vestido rosa frágil, ela podia ver que ele
estava ligeiramente rolando os quadris. Em vez de andar como
normalmente fazia, colocando uma perna rapidamente na frente da outra,
Mayne estava cambaleando para frente. Havia balanço em seu andar, uma
promessa, uma promessa ridícula, dado o tecido estourado, mas ela viu o
que ele quis dizer.
Ele estava do outro lado da pequena sala da torre. — De novo—, ele
comandou.
Ela caminhou lentamente em direção a ele, ouvindo seu corpo, andando
quase na ponta dos pés porque parecia certo e porque suas pernas ainda
tremiam um pouco com o beijo. Ela caminhou até um pouco antes dele e
parou.
— Garret—, disse ela. E, ergueu uma sobrancelha.
— Eu acho que você dominou a arte—, disse ele. Sua voz estava
estrangulada, sombria, e ela adorava isso.
Então ela apertou o cordão em volta da cintura ainda mais apertado, e
com certeza, os olhos dele caíram para seus seios.
— Josie! — ele disse bruscamente.
Ela sorriu para ele—. Você disse que os homens se escravizariam aos
meus pés, não disse?
— Não velhos como eu—, disse ele, com uma gargalhada relutante.
— Acho que a partir de agora não serei tão exigente no que diz respeito
à idade. Veja o quanto aprendi com você.
— Nada que você não pudesse ver nos olhos dos homens de qualquer
idade—, disse ele. Sua voz tinha mais uma vez o tom profundo e sedutor de
antes.
Ela deu a ele um sorriso tímido—. Veremos se sou capaz de enganar
esses homens com meu novo jeito de andar.
— E sem espartilho.
— Sem espartilho—. disse ela, suspirando.
— Nada falamos sobre a beleza incrível do seu rosto—, ele disse,
levantando o queixo dela com a mão.
— É muito cheio—, ela sussurrou.
Ele esfregou o polegar lentamente em sua face—. Nem todas as
mulheres foram projetadas para serem angulosas. Seu rosto tem a beleza
arredondada e ligeiramente sombria de uma Madonna.
— Annabel disse isso também—. disse ela, sentindo-se um pouco sem
fôlego.
— Seus cílios são pecaminosamente exuberantes—. Ele continuou—. E
sua boca ...— Ele parou—. Vou deixar sua boca para os jovens
inexperientes de vinte anos que você tanto deseja.
Josie tentou entender o que essas palavras significavam, enquanto
olhava para ele. Claro que ele varreu a alta sociedade como fogo na palha.
Pensando nos rostos descontentes e ariscos da maioria das matronas que ela
conheceu na interminável rodada de bailes de debutantes que formavam a
temporada, ela ficaria surpresa se houvesse uma entre elas que não caísse de
costas com sua abordagem. Isso lhe deu uma sensação peculiar de
afundamento, como se ela corresse o risco de cometer algum tipo de
loucura que ela não havia pensado ser possível.
— Garret—, ela sussurrou.
Suas sobrancelhas pretas e retas se juntaram e ele baixou o queixo dela
—. Melhor não me chamar assim em público, bruxinha—, ele disse,
virando-se. Ela o observou puxando o vestido rosa para frente. Sua pele era
morena e a forma curvada e musculosa a fazia se sentir estranha. Em
perigo. Então ela relembrou:
— Espero que você não tenha medo de que as pessoas pensem que
estou louca por você.
Ele vestiu a camisa de linho branco, elegante, caiu sobre a sua cintura,
deixando a jovem um pouco desapontada. — Deus, não—, disse ele,
virando-se e dando-lhe um sorriso irônico—. Tenho medo que eles pensem
que eu estou louco por você.
O coração de Josie bateu forte em seus ouvidos—. Bem, isso nunca
aconteceria—. Sua mandíbula estava levemente sombreada pela barba. Ele
parecia um pirata de sobrancelha negra, embora enquanto ela o observava,
domando a camisa, enfiando-a na cintura da calça.
— Não me olhe assim—, ele murmurou, empurrando a camisa para
baixo para deixar uma protuberância em suas calças.
“Eu gostaria de fazer isso”, Josie pensou consigo mesma. Mas ela tinha
certeza que o pensamento não apareciam em seus olhos.
— É interessante—, ela disse—. Quem diria que era tão difícil controlar
uma camisa? — Mayne vestiu o jaqueta, que se ajustou perfeitamente sobre
seus ombros, transformando-o em um instante. De pirata ousado e
zombeteiro para um conde elegante, cuja jaqueta azul meia-noite ecoava
seus olhos azuis insolentes. De repente, em vez de irradiar uma
sensualidade perigosa, ele parecia um membro seguro da maior aristocracia
do mundo.
Josie suspirou. Foi uma transição dolorosa de assistir, ainda mais por
causa de seu conhecimento prévio de todas as mulheres que viram Mayne
passar do privado para o público, do dela para o de ninguém, e tudo isso
com um simples movimento de uma jaqueta.
— Bem—, disse ele—, é melhor eu devolver você discretamente de
volta para sua casa. Não deve ser muito difícil.
“Não para alguém com experiência em entrar e sair furtivamente de
casas”, pensou Josie. Mas ela guardou o pensamento para si mesma.
Seu cabelo estava caindo em seus ombros e caindo em seu pescoço. Ela
se abaixou para pegar o espartilho, mas ele riu e o arrancou, jogando-o
contra a parede—. Você não vai mais usar isso. Amanhã você deve sair e
comprar vestidos que façam jus ao corpo que Deus lhe deu, em vez de
moldá-lo em uma forma diferente, ouviu?
Mesmo pálido de exaustão e champanhe, cabelo despenteado, queixo
sombreado, ele era a coisa mais linda que ela já tinha visto—. Eu vou—, ela
disse, guardando a lembrança. Ela passou por ele.
— Vá aquela modiste que trabalha para Griselda—, ele disse, pegando a
mão dela.
Ela olhou para ele interrogativamente—. Não chame você de Garret.
Não use meu espartilho. Use a modista de Griselda. Ande como se eu fosse
um homem de saia. Considere os homens com mais de trinta anos, mas
permita que os mais jovens babem por mim.
Mayne ficou olhando para ela, sentindo-se como se tivesse perdido o
equilíbrio. Josie era tão linda, com aquela nuvem de cabelo de bruxa em
volta dos ombros, sua bela boca curvada e sorridente e seus olhos
inteligentes—. Cristo, você é de tirar o fôlego—, disse ele.
Ele podia ver em seus olhos que ela não acreditava nele. Não havia
dúvida, porém, que um vestido decente resolveria isso. Seria o bastante ela
ao menos entrar em um salão de baile vestindo apenas o seu roupão que a
parte masculina da sala cairia de joelhos. Ele continuava tendo que parar de
olhar para a forma como os seios dela inchavam sedutoramente sob a seda
pesada.
— Você vai ao baile de Mucklowe no final da semana? — perguntou a
ele.
O que havia em Josie que fazia um nó subir em sua garganta toda vez
que ela parecia ansiosa?
— Você quer dizer se eu vou aparecer nos Mucklowes—, ele disse,
colocando a mão nas costas dela para conduzi-la escada abaixo.
— Suponho que estarei lá, se Sylvie quiser ir. Ela tem gostos ecléticos
quando se trata da alta sociedade.
Josie chegou ao fim da escada e esperou por ele—. Seria maravilhoso se
você pudesse estar lá.
— Se você quiser, eu estarei lá.
Seu rosto se suavizou em um sorriso. Aqueles lábios carmesins dela
eram perigosos. E ele era um homem apaixonado por outra mulher.
— Sylvie e eu não perderíamos isso—, garantiu ele. E então a levou de
volta para sua casa. Era incrível como foi fácil devolvê-la ao quarto sem ser
vista.
Todos aqueles seus casos lhe ensinaram alguma coisa, pensou enquanto
descia a rua em direção a sua casa, depois de fazer sua carruagem retornar
antes dele. Havia uma névoa espessa se estabelecendo quando o amanhecer
apareceu, e ele sentiu vontade de caminhar. As árvores pareciam turvas e
peludas, à medida que a névoa se aproximava, até que ele se viu movendo-
se em uma pequena sala cercada de nuvens.
Era uma sensação extremamente solitária, como se ele carregasse um
pequeno pedaço de terra com ele, e todo o resto do mundo estivesse
despovoado.
Capítulo 10
Do Conde de Hellgate,
Capítulo seis
Eu disse a ela que gostaria de passar todas as minhas noites com ela, e ela
respondeu que só poderia me dar dias. Acusei-a de ser ingrata por não ter
me concedido sequer uma de suas noites, noites que ela desperdiçava na
solidão de seu quarto. Disse...
Griselda recebeu a notícia que Josie pretendia visitar sua modista naquela
mesma manhã e pedir um conjunto inteiramente novo de roupas com
extrema alegria, embora tivesse que perder a promessa de cavalgar no Hyde
Park. Josie percebeu que ela foi extremamente vaga sobre quem ela havia
prometido encontrar.
— Prefiro ir com você—, disse ela—. Você sabe que eu detestei aquela
engenhoca com espartilho que Madame Badeau fez para você. Sim, o
espartilho obrigava você a usar vestidos que tinham aproximadamente as
mesmas medidas de Imogen. Mas nenhum de nós, querida, tem o corpo de
Imogen. E, francamente, embora eu nunca tenha dito isso tão abertamente,
acredito que nós somos abençoadas.
— Como você pode dizer isso? — Josie perguntou, mais divertida do
que qualquer outra coisa. Esta manhã ela parecia ter uma nova aceitação de
sua figura. Não era perfeita, mas não parecia mais repulsiva.
Griselda estava usando um lindo vestido matinal de linho leve,
salpicado de buquês de flores. Era um pouco curto, no estilo francês, e
mostrava um atraente par de sapatos. Ela estava linda.
Mas é claro, Josie lembrou a si mesma, a figura de Griselda não era tão
rechonchuda quanto a dela. Não havia nada de rústico em Griselda. Ela
era...
— Você e eu temos exatamente a mesma figura—, Griselda dizia—. E
Josie, como eu disse a você desde o momento em que você entrou nesta
casa, nossa figura é adorada pelos homens.
— Tanto que eles me chamam de tudo, desde um leitão até uma salsicha
—. Josie apontou.
— Crogan é um idiota desagradável, forçado a cortejá-lo por seu irmão.
E acredito que Darlington estava respondendo mais ao seu espartilho do que
à sua figura. Você não tinha corpo com aquele espartilho.
Josie estava começando a pensar o mesmo. — Você acha que é tarde
demais? — ela disse, sua voz ficando bastante fraca enquanto ela falava.
— Absolutamente não.
— Espere um momento! — Josie disse—. O que aconteceu com você e
Darlington? Noite passada?
Um sorrisinho presunçoso dançou nos lábios de Griselda.
— Você conseguiu—. Josie respirou—. Você o seduziu!
— Bem, não no sentido mais estrito da palavra—, Griselda disse,
franzindo a testa. — Eu certamente espero que você não tenha formado a
opinião que eu sou, de alguma forma, fácil, Josie. Essa foi uma conversa
muito imprópria. Temo que Sylvie seja francesa demais, como você sabe.
— Eu sei disso.
— Os franceses gostam muito de uma conversa picante—. E isso era
obviamente tudo que Griselda ia dizer sobre o assunto, porque estava
juntando sua bolsa e seu xale—. Precisamos ir agora. Madame Rocque é
mais procurada a cada temporada. Teremos que pagar a ela pelo menos o
dobro para lhe dar um vestido em cima da hora. Mas encomendei um
vestido de noite há três semanas. Se ela o tiver pronto, ela pode
simplesmente ajustá-lo para você.
— Eu nunca vou caber em seu vestido—. Protestou Josie.
— Claro que vai. Oh, você está um pouco mais magra na cintura—,
disse Griselda—. Mas quem poderia adivinhar já que você estava toda
esmagada por aquele espartilho?
— Eu não sou...— Josie disse, mas se viu falando com ninguém.
O estabelecimento de Madame Rocque ficava na Bond Street, número
112. Josie nunca tinha visto nada parecido. A antecâmara era composta por
toda a intimidade de uma sala de estar de uma senhora. Tudo, desde as
paredes cobertas de seda até as cadeiras delicadas, era amarelo-ouro. Uma
penteadeira forrada de seda amarela ficava de um lado e, com uma cadeira,
sobre a qual estava colocado cuidadosamente, um vestido requintado, do
tipo que Josie jamais ousaria usar. Não tinha costuras, e Madame Badeau
dissera que costuras eram essenciais para alguém como ela.
Josie aproximou-se para olhar o vestido, costurado com as menores
contas cintilantes que já havia visto. Parecia absurdamente caro e
extremamente confortável. Por que não deveria ser? O corpete não era nada
mais do que um V largo que parecia mergulhar até a cintura.
— Você ficaria esplêndida com esse vestido—, disse Griselda, por cima
de seu ombro—. Não é maravilhoso o jeito que Madame tenha alguns
vestidos feitos para que alguém possa vê-los pessoalmente e decidir se
gosta ou não? Acho que olhar para uma criação é muito mais inspirador do
que escolher a partir de uma ilustração.
— Você quer dizer que este vestido é feito apenas para que possamos
vê-lo? — Josie perguntou.
— Provavelmente há um cliente regular para quem o oferece a um
preço especial se permitir que exibam o vestido por um tempo, antes de
entregá-lo—. explicou Griselda. — Acho que vou experimentar esse
vestido. Infelizmente, não é adequado para uma debutante.
— Você vai provar isso? — Josie perguntou, entre incrédula e
fascinada. Griselda usava vestidos que destacavam sua figura generosa.
Mas desde que a conheceu, Josie nunca a viu usar um vestido que fosse tão
claramente sedutor. Ela nunca havia usado roupas provocantes.
Madame Rocque entrou na sala como a nau capitânia, liderando uma
pequena flotilha de assistentes tagarelas.
— Ah! Minha querida Lady Griselda—. Exclamou, curvando-se
profundamente.
— Madame Rocque—. Griselda respondeu, devolvendo a reverência.
Ao vê-los, Josie fez uma reverência majestosa. Os olhos negros afiados
de Madame Rocque examinaram seu corpo.
— Ah! — exclamou, respirando fundo.
Josie se preparou. Agora Madame Rocque começaria a falar sobre
costuras e espartilhos.
— Por fim, tenho diante de mim uma jovem que posso realçar como
mulher e não vestir como uma fada branda—, sussurrou a costureira, que
parecia encantada—. Embora seja uma dama muito jovem.
— É a primeira temporada dela—, Griselda informou—. E, receio que
não tenha começado da melhor maneira, senhora. Portanto, recorremos a
você para consertar as coisas.
— Ela deveria ter vindo até mim desde o primeiro momento—. disse
Madame seriamente. Ela bateu palmas e deu instruções a várias de suas
assistentes, que correram em todas as direções.
Em seguida, conduziu Griselda e Josie para uma sala menor, que dava a
mesma sensação de ser o salão íntimo de uma dama.
— Posso lhe oferecer uma taça de champanhe? — Perguntou—. Às
vezes, para fazer uma mudança dessa natureza, uma pequena coragem
engarrafada pode ser útil.
Josie estava usando um de seus vestidos do ano anterior, já que
nenhuma das criações feitas com Madame Badeau ficaria bem sem o
espartilho. E ela havia deixado o terrível dispositivo na torre de Mayne. De
repente, ela percebeu que as duas mulheres estavam olhando para ela, talvez
esperando por uma resposta. Finalmente, Madame Rocque entregou-lhe
uma taça do que parecia ser champanhe.
— Oh não! — se apressou em dizer. — Isso não me pareceria bem de
forma alguma. Eu realmente apreciaria uma xícara de chá, senhora, se não
for muito incômodo.
Madame inclinou a cabeça em direção a uma das meninas, que se
retirou rapidamente. Então ela começou a circular Josie, repetidamente,
traçando uma linha no centro de suas costas, tocando seus ombros, seu
pescoço. — Srta. Essex—, disse, depois de um tempo, — preciso vê-la
apenas com sua camisa, por favor. Sem o vestido
Josie estava resignada. Madame Badeau também examinou sua figura
apenas com uma camisa. O que quer que Madame Rocquet disser não
poderia ser pior do que os cacarejos e gritos da angustiada Madame Badeau
ao vê-la sem espartilho. Um momento depois ela estava diante de Madame
Rocquet, vestida apenas com uma camisa do mais fino linho. Cada linha de
seu corpo estava visível, Josie sabia, embora com facilidade praticada ela
evitou olhar para o espelho triplo de um lado da sala.
Madame Rocquet rondava sem parar, sem dizer uma palavra. Então, de
repente, ela começou a falar com Griselda. — Cores profundas seriam
melhores, é claro, mas no primeiro ano ... não.
— Eu pensei a mesma coisa—, disse Griselda, bebendo uma taça de
champanhe enquanto se sentava em uma das cadeiras confortáveis ao lado
—. Aquele vestido carmesim na antecâmara seria adorável.
— Muito ousado, muito sofisticado—, Madame Rocquet murmurou,
tocando Josie novamente em ambos os ombros. Ela parecia estar medindo-a
sem fita métrica, ditando os números para uma garota que estava pronta
para anotá-los—. Agora, para você, Lady Griselda, esse vestido seria
primoroso. Mas também não fiz fortuna vendendo roupas sofisticadas para
você. Para você, sempre confeccionei trajes de uma acompanhante, embora,
desde que eu as fiz, você se tornou uma das acompanhantes mais
primorosamente vestidas de Londres.
— Tenho sido uma dama de companhia nos últimos anos—, disse
Griselda—, mas, por acaso, achei que aquele vestido poderia me servir,
madame.
Madame olhou e encontrou os olhos de Griselda. Um pequeno sorriso
conhecedor curvou sua boca.
— De fato? — ela disse, voltando para aqueles toques rápidos e breves
com os quais ela estava medindo Josie. — Estou muito feliz em ouvir isso.
Agora, esta jovem não pode usar carmesim, mas acho que podemos
escolher violeta. Violeta. Nem rosa, nem branco.
— Branco me faz parecer um elefante desbotado—, apontou Josie.
Claro, ela comprou vários vestidos brancos de Madame Badeau, mas eles
deveriam ser usados com o espartilho.
— Nada que eu desenhe a fará parecer um animal de circo—, protestou
Madame—. Você já ouviu falar que não penso em branco para você, porque
sua pele é linda, da cor de creme de leite. Queremos acentuá-la, não
escondê-la. Agora ...— Ela disparou uma lista rápida de instruções para
uma das assistentes—. Eu tenho um vestido que podemos experimentar.
Quando você gostaria de aparecer com sua nova imagem?
— No baile de Mucklowe—, disse Josie, antes que Griselda pudesse
abrir a boca—. Isso seria possível, senhora? É para o final desta semana.
— Eu vou conseguir, eu vou conseguir—, Madame murmurou—. Vou
criar algo requintado.
— Quero parecer esbelta—, disse Josie, sentindo uma onda de bravura.
— A pobre Josephine passou por momentos difíceis nesta temporada—.
disse Griselda a Madame.
Madame parou em sua agitação de medidas—. Não é... a salsicha
escocesa?
Josie engoliu em seco. Parecia que todo mundo sabia.
— Houve uma menção sobre isso em uma coluna de fofoca—, Madame
disse—, mas nenhuma descrição. Eu prometo a você que uma vez que você
apareça em uma de minhas criações, ninguém jamais pensará em linguiça
na sua presença.
— Você não deseja parecer esguia, Srta. Essex. Não, de fato.
Josie mordeu o lábio. Isso foi exatamente o que Annabel, Griselda e,
finalmente, Mayne, disseram a ela.
— Você quer—, disse Madame, fazendo uma pausa impressionante—,
parecer sedutora, não como um graveto seco de uma árvore!
Griselda estava balançando a cabeça e batendo palmas.
Então a atendente de Madame entrou com um vestido e ela o pegou—.
Para você—, ela disse a Josie—, eu faria isso em um azul violeta profundo.
Uma cor jovem o suficiente para uma debutante, mas não tão insípida.
Josie olhou para o vestido. Era feito de delicadas tiras de seda, tão leves
que quase pareciam uma rede. Eles deixavam seus ombros a mostra e se
cruzavam sob os seios—. Olhe para isto—, disse Madame, girando o
vestido ao redor, — nas costas, essa cor mais escura transforma-se em
longas faixas que caem quase até seus pés.
— Posso imaginá-lo em uma cor amarelo ouro—, disse Griselda.
— Talvez—, disse Madame. Ela jogou o vestido sobre a cabeça de
Josie. — Esta é apenas uma amostra que fiz para a minha própria satisfação.
Prefiro trabalhar com tecido ao invés de papel, se você me entende.
O vestido parecia servir. Parecia extremamente confortável, luxuoso e
sensual.
— Você precisa olhar para você—, disse Griselda, sorrindo para ela do
outro lado da sala.
Josie engoliu em seco, virou-se e olhou para o grande espelho de uma
das paredes da sala.
— Amarelo não é o que eu escolheria—, dizia Madame. Claramente
não havia como ir contra sua opinião, mesmo nos menores detalhes—.
Como eu disse antes, eu...
Mas Josie não estava ouvindo. O espelho mostrava uma jovem com
corpo arredondado que exalava sensualidade, cujos quadris e seios estavam
em proporções perfeitas, e ambos pareciam ter sido feitos para serem
acariciados.
— Eles cairão aos seus pés—, observou Griselda.
— Você estava certa—, disse Josie em uma voz abafada—. Você estava
certa o tempo todo e eu não dei ouvidos a você.
— Você estava apaixonada por aquele espartilho—, Griselda disse,
bastante presunçosa—. Agora, madame, precisamos de pelo menos quatro
vestidos de noite e, claro, uma variedade de vestidos matinais e de passeio.
Você tem outros vestidos para nos mostrar, ou talvez esboços daqueles que
ainda não foram confeccionados?
Capítulo 11
Do Conde de Hellgate,
Capítulo oito
E assim começou, caro leitor, um novo período em minha vida equivocada.
Foi a primeira vez que me envolvi com uma atriz. Protegerei seu nome
chamando-a de Titânia, como a criação imortal de Shakespeare. Ela era
realmente uma rainha do amor e se expressava tanto em prosa quanto na
linguagem dos beijos. Ela me mandou uma carta, que sempre guardarei
com carinho, depois - devo dizer - três dias e noites inteiros sem sair de
nossa cama ...
Lord Charles Darlington foi ao Hyde Park dirigindo o pequeno faetonte que
seu pai lhe dera de aniversário.
— Se você tivesse entrado para a Igreja como eu disse—, seu pai falou
com movimentos violentos da mandíbula—, você não estaria tropeçando
em sua vida assim.
Charles bufou—. Posso imaginar o quanto eu teria me divertido, em
todos aqueles cortejos fúnebres, todas aquelas cerimônias.
— Você será a causa da minha morte—. Uma vez que aquela frase
lapidar geralmente era o fim de qualquer conversa com seu pai, Charles se
virou para ir embora, mas o velho tinha um último ponto para falar—. Pelo
amor de Deus, encontre uma esposa e pare de irritar pessoas importantes.
Subir e descer os caminhos do Hyde Park, percorrer o grande caminho
que contornava o parque repetidamente, à procura de uma viúva requintada
que não tinha intenção de se casar com ele, não era a melhor maneira de
encontrar uma esposa. Mas isso o ajudou a perceber quantas garotas
coravam quando ele as observava, e então lançar olhares aterrorizados para
suas mães.
Estava ficando cada vez mais claro para ele que estava se tornando um
cínico sangrento quase sem perceber. Seria bom culpar as más companhias.
Ele viu Thurman de longe duas vezes, acenando furiosamente para ele, de
um veículo de corrida, e nas duas vezes ele desviou para dirigir na direção
oposta. Mas ele sabia que a única pessoa responsável pela direção de sua
vida era ele mesmo. Seu personagem parecia se alimentar do poço
insondável de fúria e veneno dentro dele.
E essa foi apenas a confirmação precisa das muitas descrições de seu
caráter que seu pai havia dado. Ele convocou toda a sua raiva para dirigi-la
contra as meninas cujo único defeito era ter nascido na casa de um
comerciante de lã, ou ter comido mais alguns pastéis escoceses do que o
resto das meninas.
Pelo menos, ele pensou consigo mesmo, a aversão a si mesmo é um
alívio para tantos comentários depreciativos e supostamente espirituosos.
Lady Griselda não estava em lugar nenhum. Obviamente, ela não estava
falando sério quando disse que o veria no Hyde Park. Verdade seja dita,
agora que pensava nisso, estava claro que Lady Griselda, que era, afinal, a
dama de companhia da senhorita Essex, flertou com ele apenas para fazê-lo
parar de usar palavras desagradáveis para sua protegida.
Ele não entendia por que não percebera na noite anterior. Mas a
contestação doeu mais do que deveria. Ele não conseguia esquecer aqueles
dez minutos deliciosos de conversa divertida. Ele foi para sua residência de
mau humor e rabiscou um bilhete para Lady Griselda Willoughby. Ele
usava artigos de papelaria tão luxuosos e caros quanto ela.
Ela o usou, ele a usaria. Ele ameaçou.
“Sinto que minha moral recém-descoberta e adquirida se desvanece. Às
dez amanhã à noite."
Parou. Se fosse realmente ousado, simplesmente marcaria um encontro
em um hotel. Mas ela nunca compareceria a tal encontro. Nunca. Claro que
não. Uma dama com sua reputação e posição provavelmente nunca havia
entrado em um hotel. Bem, que se dane tudo isso.
"Às dez horas no Grillon Hotel", escreveu ele, e assinou: "Darling."
Em seguida, olhou para a carteira e tirou uma nota de cem libras, parte
do pagamento que acabara de receber de seu editor. Se necessário, ele
poderia entrar para a Igreja e aprender a ajoelhar-se para viver. Embora
preferisse cair de joelhos frente a Griselda, pensou.
Havia algo sobre ela que o transformara em uma ávida fonte de luxúria.
Ela irradiava uma feminilidade alegre e delicada. Exalava um aroma limpo,
vibrante e suave, típico das mulheres que passam as manhãs descansando e
as noites dançando, de mulheres que nunca gritam com os filhos ou com os
cônjuges.
Graças a Deus, Willoughby, quem quer que fosse, já estava longe. Ela
nunca dormiria com ele se o seu marido estivesse vivo; ele não tinha
dúvidas sobre isso. Ela não era uma mulher que gostasse de traições.
Mas ela podia ... talvez, ela fosse uma mulher capaz de ter um caso.
Uma dama que poderia ser tentada com uma mistura de suborno e desejo,
pois também gostara dele; tinha visto em seus olhos. E poderia ser tentada a
fazer algo imprudente.
Então, colocou as libras em um envelope e mandou um criado ao
Grillon, com um pedido de reserva do seu melhor quarto para a noite
seguinte. Pelo que ele sabia, não havia nada de importante na sociedade
londrina naquela noite, salvo por um sarau oferecido pelo Smalpeece, que
certamente seria um tédio, e a noite musical da Sra. Bedingfield, outra
insignificância. Griselda nunca os compareceria, pelo menos porque estava
agindo como a dama de companhia da Senhorita Essex. Ninguém iria a uma
noite musical, a menos que o fizessem na esperança louca de que algum
cavalheiro solteiro estivesse lá por acaso. Lady Griselda tinha muita
experiência na sociedade para sequer considerar essa possibilidade.
Darlington não era o único homem andando no Hyde Park naquele dia
que esperava conhecidos que não apareciam. Harry Grone tinha
envelhecido, de alguma forma. Hoje em dia, não queria nada além do que
aquecer os dedos dos pés na lareira e pensar nos dias de glória. Mas aqui
estava ele, rodopiando pelo parque, boquiaberto com as jovens elegantes e
cavalheiros bem vestidos.
Sem desejar ou mesmo esperar, os dias de glória estavam de volta. Eles
precisavam disto. The Tatler, o haviam aposentado e disseram que não
estavam mais fazendo seu tipo de jornalismo. Mas agora, do nada, eles
precisavam de seu tipo de experiência.
O trabalho veio com um bom salário, então Grone decidiu pegar uma
carruagem para o Hyde Park e ver o que estava acontecendo. Ele sempre
chamou de vigilância, nos velhos tempos. Com o passar dos anos, ele havia
perdido o toque e seria o primeiro a admitir isso. Ele não conseguia colocar
um nome no rosto de muitos jovens que viu.
Mas estava tudo em sua mente. E seu cérebro lhe disse que não era o
aprendizado de livros que lhe diria quem era o Hellgate. Se houvesse uma
pista naquele livro, outra pessoa a teria encontrado. Jessopp, com toda
certeza. Não havia nada sobre a alta sociedade que Jessopp não soubesse ...
Não, seria necessário o seu estilo pessoal de jornalismo para descobrir o
que pretendia.
No final, ele teve que pedir a alguém para apontar o homem que
procurava. Mas assim que Grone o encontrou, ele não conseguiu conter um
sorriso de pura satisfação. Havia um rosto tolo como um nabo. O dono de
tal rosto se parecia com seu pai, pode ver imediatamente. Tudo era
parecido: do colete roxo à carruagem de corrida com assento alto, tudo
completamente impróprio para o parque. Um idiota. Exatamente o que ele
esperava.
Grone bateu no teto da carruagem e instruiu o motorista a deixá-lo em
casa.
Já era o suficiente para um homem de sua idade. Uma vez em casa, ele
saiu da carruagem e jogou uma moeda para o condutor, reprimindo uma
maldição quando seu joelho direito doeu. Deitar cedo esta noite ... porque
amanhã ele pegaria uma bolsa de soberanos de ouro e começaria o que fazia
de melhor.
Adoçar as línguas.
Capítulo 12
Do Conde de Hellgate,
Capítulo oito
Minha Titânia enviou-me esta carta escrita em papel rosa, com uma
delicada tinta púrpura:
"Leve-me aos céus azuis do seu amor, role-me entre as nuvens escuras,
me afogue em suas tempestades ... Mas, me ame, me ame.”
Eliot Governor Thurman estava tendo uma semana difícil. Nem Darlington,
Wisley ou Berwick apareceram no Convent para começar, embora ele
esperasse lá até as duas da manhã. De uma só vez, ele perdeu três pessoas
de quem se considerava amigo.
Havia outros no Convent que ele também considerava amigos, mas
quando Darlington não apareceu, ele foi ignorado. Por volta da meia-noite,
estava plenamente ciente que sem os comentários de Darlington, a
sagacidade de Berwick e os gestos azedos de Wisley, ele não valia nada.
Para esses supostos amigos, ele não passara de uma bolsa aberta.
Ele esperava de todo o coração que Darlington não encontrasse uma
esposa. Quem iria querer? Carente de fortuna e com uma língua picante
como a dele, não se podia dizer que era um par muito palatável para
mulheres casáveis.
Ele andava desconsolado pelos aposentos, perguntando-se se pararia de
receber convites quando ficasse claro que não fazia mais parte da
prestigiosa comitiva que cercava Darlington. Ele não podia abandonar a
vida da alta sociedade agora. Um baile não teria sabor se não fosse com
Darlington, o centro da fofoca mais estimulante do ambiente.
Ele continuou indo de cômodo em cômodo, imaginando o que faria
consigo mesmo. Ele se sentiu mal no Convent. Ele não era um homem que
se sentia atraído pelo silêncio ou pela meditação. Ele queria morrer de rir,
bater na mesa e pedir outra rodada, que pagaria com prazer.
Finalmente, ele decidiu que deveria ir ao baile de Lady Mucklowe no
dia seguinte. Darlington estaria lá. Ele não podia ficar em casa e deixar
Darlington pensar que seus sentimentos estavam feridos ou algo assim.
Não, ele iria ao baile de Mucklowe (ele consertou a gravata olhando para o
espelho acima da lareira) e encontraria a salsicha escocesa.
Ela era a razão pela qual Darlington o havia deixado. Ela foi a causa que
fez Darlington começar a pensar sobre moralidade e rejeitar a familiaridade
desavergonhada do Convent.
Tampouco procuraria a mulher gorda para contar a Darlington mais
tarde. Ele mesmo faria isso, porque era tão inteligente quanto Darlington,
sempre fora. Além do mais, ele poderia fazer algo muito inteligente, como
fazer a salsicha pensar que ele a estava cortejando. Como se ele fosse capaz
de fazer algo tão nojento. Mas ele poderia fazê-la acreditar com alguns
elogios. Poderia até ir a ponto de beijá-la, para que ela olhasse para ele com
faíscas nos olhos, pensando que um homem rico finalmente decidiu cortejá-
la. Então ele a rejeitaria. E depois ia ao Convent reunir o seu grupo de
amigos para lhes contar o que tinha feito e como era engraçado. Essa seria
sua vingança.
Já, naquele exato momento, ele podia imaginar as bochechas
rechonchudas da garota, estremecendo de prazer com seu beijo.
Talvez ele a encontrasse no Hyde Park e eles pudessem começar o
namoro imediatamente.
— Cooper! — gritou.
Seu valete entrou correndo do quarto.
— Vou ao parque. Peça minha carruagem. Vou colocar o colete roxo.
Com o terno sálvia.
Cooper abriu a boca, mas não disse o que pensava, vendo o olhar
autoritário de seu mestre. Thurman não estava com humor para que lhe
dissessem quais cores combinavam e quais não. Darlington às vezes se
vestia casualmente e usava cores que não eram tão conservadoras quanto as
que Cooper teria escolhido. Agora que Thurman seria uma figura
importante na sociedade, ele precisava desenvolver seu próprio estilo.
Thurman estava amarrando a gravata com gestos estranhos, quase
violentos, quando percebeu o que realmente queria fazer. Pareceu-lhe uma
grande ideia, algo como uma iluminação, confirmando sua inteligência
inata.
Ele queria ser o novo Darlington.
Darlington havia se aposentado, passado por uma mudança de
personalidade, tornou-se frágil, covarde, um cavalheiro disposto a trilhar o
caminho do anonimato.
Ele, Thurman, não havia perdido sua audácia e nunca perderia. Ele
esteve na sombra de Darlington por tanto tempo que as pessoas não
perceberam que ele poderia ser tão engenhoso, se quisesse. Isso ficou claro
no Convent na noite anterior. Todos pensaram que ninguém além de
Darlington estava em posição de fazer um comentário espirituoso. Como
eles eram cegos.
Eles estavam muito errados.
Ele usaria a salsicha ou encontraria outra forma de desenvolver e
divulgar sua inteligência. Simples assim.
Capítulo 15
Do Conde de Hellgate,
Capítulo quatorze
Sei que você é culto, que leu muito, que tem todas as qualidades para ser
admirável ... Dei a cada uma das minhas adoráveis damas os nomes dos
personagens das mulheres mais queridas nas obras do incomparável
Shakespeare ... algumas obras que, da mesma forma que essas memórias
são sobre sonhos e belas mulheres ... Assim como o incomparável bardo
escreveu o Sonho de uma noite de verão, eu, coitado de mim, estou
escrevendo os Romances de uma noite de verão ...
A melhor suíte do hotel Grillon tinha uma cama grande e vários lugares
adoráveis para se sentar. Não havia uma única cadeira de encosto duro no
local. Darlington andava de um lado para o outro na sala, passando o dedo
pela lareira de mármore para se certificar de que não havia poeira. O hotel
era o oposto da residência Bedrock, onde ele foi criado. Bedrock Manor foi
construído de pedra rosa, com um toque dourado, e ficava em uma colina,
de modo que no verão a grama ao redor ficava marrom brilhante e assumia
uma aparência quase italiana, como uma casa toscana, descansando ao sol.
Doía-lhe pensar naqueles dias, correr pelo vale com seus dois irmãos, sem
saber que não havia nada para ele no futuro, que tudo seria para seu irmão
Michael.
Quando você está crescendo, eles não dizem que você é apenas um
suplente, caso aconteça o infeliz acontecimento de o mais velho
desaparecer. Eles o deixaram correr livremente pela fazenda, entrando e
saindo dos estábulos, subindo e descendo as árvores que jamais pertencerão
a ele. Porque nem mesmo uma simples árvore pertenceria a ele. Eles
oferecem a você apenas duas possibilidades: entrar no exército e matar
pessoas ou entrar na Igreja e enterrá-las. Bem, na verdade existem três
opções. Alguém também pode decidir encontrar uma maneira de se
sustentar, o que seria uma mancha na honra da família.
É minha culpa não ter encontrado um terceiro estilo de vida respeitável,
pensou Darlington. Em vez de tentar, me deixei levar por uma raiva cega
que me dominou por anos. Meu pai nunca pensou em me educar para
qualquer atividade comercial e, no entanto, ninguém, absolutamente
ninguém, parece ter notado que não fazer nada não produz renda.
Ele afastou esses pensamentos.
Havia uma terceira possibilidade tão desagradável quanto óbvia.
Prostituição. Case por dinheiro, case bem, case com um grande dote.
Matar, enterrar ou foder.
Realmente, não havia possibilidade aceitável.
Ela chegou tarde o suficiente para que ele pensasse que ela não viria e
que a suíte estaria em ruínas. Eram onze horas quando ouviu uma batida
discreta na porta. Ele estava reclinado confortavelmente em uma poltrona,
mas levantou-se de um salto quando um lacaio introduziu uma forma
feminina fortemente encoberta e então se retirou.
Seu coração deu um salto e ele imediatamente se inclinou para ela,
rindo.
— Há alguém sob esses véus?
— Oh, não—, respondeu uma voz recatada e sorridente—. Não há
ninguém aqui além de mim.
— E você é o fantasma da Senhora de Shallot, eu presumo—, disse ele,
levantando um véu apenas para encontrar outro.
— A Senhora de Shallot era a mulher que cavalgava completamente
nua? — Griselda perguntou quando ele removeu seu terceiro véu.
— Essa é Lady Godiva—, explicou ele, sorrindo para ela. Ele segurou-
lhe as mãos com todo o entusiasmo de um vigário que recebe um pecador
que volta à missa depois de uma longa ausência. Se você quiser demonstrar,
ficarei feliz em me voluntariar para ser seu corcel.
Ele imediatamente percebeu que ela estava envergonhada com sua
piada, porque seus olhos se arregalaram, mais surpresa do que ela gostaria
de admitir. Então uma risada maliciosa explodiu em sua garganta—. Devo
dizer-lhe que sou uma viúva muito séria e correta—, explicou ela
severamente—, e não permito que ninguém me fale de maneira tão
descarada.
— Você não é uma viúva esta noite—, assegurou-lhe. A mulher tinha se
virado e estava andando pela sala, então ele veio por trás dela e passou os
braços em volta dela.
— Eu não sou? — Seu cabelo era loiro escuro e penteado em cachos,
como de uma elegante senhora.
Ele mordeu a orelha dela.
— Não é—, ele sussurrou em seu ouvido—. Acredito que você seja
realmente Lady Godiva e que tenha entrado em meu quarto por engano.
Ela permanecia impassível, imóvel, e ele não conseguia perceber se
Griselda era uma senhora disposta a aceitar tais licenças da imaginação, ou
se estava diante de uma mulher de critérios mais rígidos.
— E o que estou fazendo, andando pelo quarto de um cavalheiro? —
perguntou. O coração do cavaleiro começou a bater forte com o tom
inquisitivo da voz feminina.
Empolgado, ele deslizou as mãos dos ombros, passou pela capa de
Griselda e, então, rapidamente, desamarrou os laços que a prendiam. Ao
tirá-lo dos ombros, ele disse.
— Bem, minha senhora, você perdeu suas roupas, é claro.
Ela se virou e sorriu para ele, e foi como se uma pastora de Dresden
ganhasse vida. Estava radiante, confiante, charmosa.
— E como isso aconteceu? — Ela caminhou até a mesa onde estava o
champanhe, enrolado em uma toalha úmida e fria—. Devo dizer-lhe,
Darlington, que raramente perco minhas roupas.
O cavalheiro serviu o champanhe. — Eu não tenho certeza, mas de
alguma forma eu sei—. Garantiu a ela, oferecendo-lhe uma taça.
— Este será meu terceiro encontro desse tipo—, explicou ela, esperando
que ele bebesse de sua taça também—. E, o último.
Ele ergueu uma sobrancelha.
— Eu decidi me casar.
O sorriso de Griselda não era um gesto de flerte, mas o gesto
melancólico de um soldado na véspera de partir para sua última batalha.
— Eu também.
— Você precisa se casar, ainda mais do que eu—. Enfatizou Griselda,
tomando um gole. Ela estava encantadoramente preocupada com ele.
O cavalheiro se inclinou e deu um beijo nos lábios da senhora.
— Eu preciso assim como você.
— Eu? — Ela perguntou, erguendo as sobrancelhas em grande surpresa.
— A propósito, Willoughby está morto há cerca de dez anos, se não me
engano—, disse ele. — E, Lady Godiva teve apenas três encontros em um
período tão longo?
— E apenas por uma noite em cada caso—, ela esclareceu—. Uma
regra inflexível. Sempre pensei que é muito sensato e muito bom para todos
esclarecer as coisas desde o início.
— Uma noite—, repetiu Darlington, sentindo uma pontada de
arrependimento que quase o fez cair de joelhos. Ele tinha apenas uma noite
de prazer antes de começar sua campanha para a sua campanha de
casamento. Mas nada disso importava, dado o desejo intenso que sentia por
Griselda.
Ela olhou ao redor da sala, e ele decidiu estabelecer suas próprias regras
também.
— Eu nunca fui casado, mas ouvi dizer que esses encontros acontecem
sob as cobertas.
— Sem dúvida nenhuma—. Griselda confirmou, seu rosto não
revelando nada sobre como tinham sido seus relacionamentos conjugais.
— E imagino que essas aventuras, entre a nobreza, muitas vezes têm a
mesma falta de vivacidade, ou naturalidade, para dizer com elegância.
— Se você acha que isso implica pouca naturalidade ...
— Eu acredito, sim—, ele simplesmente confirmou. — Esta noite Lady
Godiva cavalga ao ar livre—. E, para dar uma ideia clara do que quis dizer,
tirou o casaco e jogou-o de lado, depois fez o mesmo com a camisa e a
mandou voando na mesma direção.
Ele sabia que era atraente para as mulheres. Certamente ele tinha feito
amor com poucas. Ele não tinha estômago para dormir com uma garota
fedorenta que se entregava de graça em uma taverna, nem tinha dinheiro
suficiente para pagar alguém que cheirasse melhor, e seu coração não
permitiria que ele fizesse isso com uma donzela que ele não poderia
oferecer casamento. Mas isso não significava que não tivesse visto os olhos
que o seguiam, que não tivesse detectado certo interesse quando uma
mulher passava os olhos por seu peito ou estudava seus braços.
Os olhos de Griselda estavam em seu peito, mas ele não conseguia
adivinhar o que ela estava pensando.
— Se tivermos apenas uma noite—, disse ele suavemente—, parece-me
que Lady Godiva deveria começar sua caminhada sem demora, não acha?
Mas ela não era uma mulher com que esse menino devesse se apressar.
Ele começou soltando o cabelo dela, grampo após grampo, e fez uma
descoberta deliciosa. Esses cachos, necessários para o adorno e a beleza de
uma dama, eram pura aparência. Seu cabelo caiu. Era rico e macio como
seda. Quase completamente liso, reto, até as pontas, onde se formavam
pequenos cachos cheios de perfeição e graça.
— Nunca vi nada assim—. disse ele, pegando-os para admirar a forma
curiosa como eles se enrolavam para trás, em uma espiral perfeita.
— Minha criada faz os cachos—. explicou Griselda.
— Como se faz? — Ele ficou fascinado e queria saber todos os detalhes
—. Você fica nua, com calor, depois do banho quente?
Ela riu do comentário, e talvez do autor também.
— Eu me sento, decentemente vestida, com meu robe, e ela trabalha em
meu cabelo, com um ferro quente.
— Eu serei sua criada esta noite. — O jovem demorou a tirar o vestido
dela, desamarrando o espartilho, até que finalmente a deixou sem camisa
também.
Certamente ela iria insistir para que a lâmpada fosse apagada. Ou, talvez
não.
Por fim, Griselda não o fez. Ela nem mesmo olhou para a lâmpada. Por
baixo de todas aquelas roupas, ela estava tão madura e deliciosa quanto um
pêssego. Os seios dela caíram em suas mãos com um abandono tão
delicado, sugestivo e sensual que o amante não pôde nem rir de alegria, ao
ser dominado por uma luxúria feroz, infinitamente maior do que qualquer
explosão erótica que já experimentara.
Ele estava meio que embriagado com o movimento amplo do cabelo
sedoso e cor de milho, com seus cachos jubilantes. Ele os deixou cair sobre
seus seios e, em seguida, colocou-a frente ao espelho. Lá, os dois
permaneceram, juntos. Pareciam modelos de um esboço maravilhoso. O
corpo de Griselda, um estudo de pele cor de creme e cabelos celestiais, e ele
uma versão mais austera e masculina do mesmo.
— Nós parecemos ...— ele parou e engoliu em seco.
Griselda jogou a cabeça para trás, no ombro dele e olhou para
Darlington.
— Eu pensei que as mulheres tinham medo de nudez—. Ele estava
beijando o pescoço dela e conversando entre beijos.
— Sempre gostei de me olhar—, respondeu Griselda, olhando no
espelho as mãos que acariciavam seu corpo. E, também gosto de olhar para
você.
Ele acariciou as curvas femininas, com deleite, lentamente. Ela amou o
olhar focado em seu rosto.
— Willoughby não gostava de espelhos.
— Hmmm? — Ele respondeu em um sussurro. Era óbvio que ele mal
prestava atenção às palavras. Sua maneira de tocá-la era meio carícia, meio
modelagem.
— Nossa noite de núpcias foi muito frustrante.
Ele ergueu o olhar.
— Nenhum de nós tinha experiência nesse assunto—, explicou ela,
rindo. Ela nunca tinha falado com ninguém sobre o que aconteceu naquela
noite. E, sentiu que rir era extremamente libertador.
— Pobre Willoughby—, disse Darlington—. Absolutamente nada?
Ela balançou a cabeça.
— Não que eu saiba.
— O que aconteceu?
— Nós não conseguimos fazer funcionar. Quer dizer, não consumamos
realmente o ato. A barriga dele atrapalhou e foi uma mortificação para nós
dois, então ele começou a ... digamos, perder o interesse.
— Pobre rapaz! — Darlington exclamou com uma voz horrorizada.
— Tentamos novamente alguns dias depois e desta vez tivemos mais
sucesso.
Darlington era lindo. Pode-se dizer que ele era um verdadeiro garanhão,
musculoso e jovem. Os dois amantes anteriores de Griselda eram homens
cautelosos, na casa dos quarenta, cavalheiros que, de forma encantadora e
experiente, deslizavam suavemente para debaixo das cobertas e a deixavam
tão confortável quanto eles próprios. Não havia paixão.
Darlington era outro assunto. Ela se virou para vê-lo melhor e ficou
fascinada com o contorno de seus quadris, com o arco tenso de seu traseiro,
com o brilho dourado de sua pele.
— Você é sempre assim? — Ela finalmente perguntou.
— Assim como?
— Nu. Quando você está com uma mulher.
Ele ergueu as sobrancelhas.
— Você me viu andando pelos salões de baile sem meu colete?
— Não, tolo. Quero dizer, quando você está imerso em atividades
íntimas.
— Bem, quanto a isso—, ele respondeu e puxou-a para mais perto de
seu próprio corpo, até que eles estabeleceram um contato íntimo pele a pele
—, A verdade é que não me encontrei em muitas situações íntimas, essa é a
verdade.
— Não? — Ela piscou para ele, hesitando.
Ele balançou sua cabeça. Suas mãos percorreram suas costas, fazendo-a
se sentir deliciosamente macia ... feminina.
— Porque não?
As mãos de Darlington se retiraram. Ele se virou e pegou seu copo.
— Sem dinheiro para pagar pelo privilégio e sem ter como sustentar tais
atividades ... como eu poderia?
Este homem, que metade de Londres considerava desprezível, parecia
ter um forte código de honra.
— Como você pagou por este quarto? — Griselda perguntou.
Ele virou-se.
— Pelo uso irresponsável da poupança—, explicou—. Todo mundo
merece uma última loucura antes de se submeter à escravidão doméstica,
concorda?
— Escravidão doméstica?
Darlington terminou sua taça de champanhe.
— De que outra forma alguém poderia descrever o casamento?
— Companheirismo—, disse ela. E, pensando nos casamentos de
Annabel, Tess e Imogen, ela acrescentou: — Como paixão, amizade, amor.
Filhos.
— Você é uma otimista—, respondeu o jovem—. Eu vejo o casamento
como uma transação financeira. Vou trazer pouco mais para o casamento do
que minhas habilidades na cama. Meu pai deixou isso bem claro para mim
desde cedo. Nessas circunstâncias, sempre me foi difícil satisfazer o desejo
de flertar com uma mulher.
— Porque, com toda a sua fama, você vai ser um amante incrível—,
disse ela, bebendo seu champanhe e tentando não cobiçar a longa linha da
coxa de Darlington.
— Por causa da fama que isso implica—, disse ele—. Mas acho que
finalmente tenho idade suficiente para enfrentar meu destino, covarde que
sou.
Ela caminhou até o homem, sentindo a carícia de seu próprio cabelo
caindo atrás dela. As costas de Darlington estavam voltadas para ela
naquele momento, e ela passou as mãos, palmas abertas, sobre a poderosa
superfície de seu corpo. Ele tremeu, mas não disse nada.
— É uma péssima maneira de encarar o casamento—, observou
Griselda, passando as mãos sobre os músculos dos ombros dele.
— A realidade costuma ser decepcionante.
— Não essa noite.
Então ela se apoiou totalmente contra o jovem e sentiu sua respiração
profunda percorrer os dois corpos.
— Acho que estamos em uma situação totalmente diferente do
casamento.
— Eu afirmo, senhor, que os casamentos podem ser apaixonados.
— Eu imploro que você desista de tais ideias desagradáveis—. Ele
virou-se.
E o que ele estava fazendo com as mãos ... Bem, era o suficiente para
fazer desaparecer todos os pensamentos que Griselda tinha na cabeça.
Cerca de uma hora depois, Griselda se sentiu relaxada,
maravilhosamente fraca, saciada.
— É hora de ir—, disse ela, lutando contra seu próprio desejo de
afundar de volta na cama. Abaixou-se para pegar o manto, mas Darlington
fez algo parecido com um rosnado, um ruído urgente e baixo que nasceu em
sua garganta, e ela hesitou. Em um instante, ele estava com seus braços em
volta dela novamente.
A viúva podia sentir a excitação sexual de seu amante, e seu próprio
sangue acelerou, entoando em uma melodia latente e selvagem. Uma parte
atordoada de sua mente comparou aquela noite com suas outras
experiências, descobrindo que não havia qualquer relação entre elas.
Nenhum outro homem mostrou interesse em algo mais do que um encontro
alegre e bem-educado, no qual ambas as partes estivessem mutuamente
satisfeitas.
— Eu não ...— Griselda começou, quase sufocando.
—Lady Godiva—, ele sussurrou em seu ouvido—, monte-me—. Ele a
ergueu com a facilidade com que uma criança é erguida no ar, carregou-a
pelo quarto e então se afundou em uma das grandes poltronas, o rosto cheio
de sorrisos e iluminado pelo prazer, uma alegria pecaminosa que ele tinha.
Tudo a ver com o corpo dele e com o dela, e nada a ver com as camas.
— Não deveríamos voltar para a cama? — Ela perguntou.
— Cama? — Ele estava rindo com vontade naquele momento. — Eu
gostaria de fazer amor com você ao ar livre.
Ela se sentiu corar e ele a empurrou para frente, abaixando-a. Era uma
maneira estranha, mas deliciosa de amar um ao outro. Ele parou, com as
mãos entre as pernas dela.
— Eu gosto de olhar para você—, disse suavemente—. Seus olhos
quase fecham, mas não exatamente, sabia? E, quando você suspira, seus
seios se movem. Suas faces estão rosadas, sabia? — Ao longo da conversa,
os dedos astutos de Darlington continuaram a dançar entre suas pernas.
— Charles—, ela gemeu, e finalmente a deixou cair sobre ele. Então o
cavaleiro parou de falar e soltou uma exclamação áspera de sua garganta,
quase um ruído.
Por puro instinto, Griselda sabia cavalgar. Deve ser uma habilidade que
Ladies Godivas desenvolvem quando necessário, pois sem pensar, ela
deixou os cabelos caírem para trás de modo que tocassem os joelhos do
homem, arqueando as costas e rindo.
Ele não estava mais rindo. Seu rosto estava rígido, seus dentes cerrados.
— Oh, Deus, você é tão ...— Mas as palavras de repente se
desvaneceram, e Darlington apenas trabalhou para moldar os seios de
Griselda com as mãos, até que não aguentou mais, e passou o polegar sobre
seus mamilos rosados. A bela viúva fechou os olhos e de repente ele a
estava ajudando na corrida selvagem, empurrando, para cima, com todas as
suas forças.
Até que ela gritou, caindo em seus braços. Darlington a abraçou com
força, aquelas lindas costas, agora úmidas, com toda a sua alma,
envolvendo a dama em seus braços, para que ela não pudesse cavalgar para
longe dele.
Capítulo 16
Do Conde de Hellgate,
Capítulo quatorze
Quando conheci Helena - no salão de baile do Almack's, caro leitor - achei
que já havia esvaziado a taça da paixão. Resumindo, pensei em me casar.
Porque com certeza o casamento é a contrapartida da inércia das velhas
paixões, do cansaço que vem de ver ex-amantes por toda parte, no salão de
baile.
Sim! Tal foi a magnitude da minha depravação ...
Thurman achou que as máscaras eram uma péssima ideia. Como ele poderia
construir uma reputação se ninguém sabia quem ele era?
Ele tinha visto Darlington. Suas feições eram inconfundíveis.
Darlington estava encostado na parede do salão de baile e, depois de
observá-lo de perto, Thurman concluiu que estava observando Lady
Griselda Willoughby dançando com o Sr. Riffle. Ele não pôde deixar de
sorrir ao pensar sobre isso. Darlington estava louco se pensava que Lady
Griselda ia se casar com ele. A propósito, ela tinha uma das propriedades
mais bonitas deste lado de Hampshire, mas nunca se interessaria por um
perdedor como seu velho amigo.
Ele está desperdiçando tempo, pensou Thurman. Mas não era hora de
lidar com Darlington, isto era passado, e ele transbordava de ambição e
desejo de se tornar seu sucessor. Ele já estava no caminho certo para
alcançá-lo. Na noite anterior, ele foi a Covent Garden e secretamente anotou
vários comentários espirituosos. E, melhor ainda, naquela mesma manhã ele
fora a St. Paul e passeou pelo corredor central, onde todos os membros
inteligentes dos tribunais se reuniam para trocar mexericos. Lá ele também
compilou frases e fragmentos de conversas com muito conteúdo. Então, ele
os anotou com calma, e já teve a chance de usar dois deles com excelentes
resultados.
Claro, ninguém sabia quem ele era, então teria que considerar esta noite
uma espécie de ensaio geral. Mas, tudo bem. Era preciso um certo sentido
de tempo para uma piada ser adequada. Assim que entrou, ele disse a Lady
Mucklowe que os únicos casamentos felizes nesses dias eram apenas entre
criados. Esse comentário gerou gargalhadas estrondosas na noite anterior no
teatro, mas por algum motivo não funcionou com Lady Mucklowe, que
olhou para ele e respondeu: — Jovem, estou feliz por não saber quem você
é. Ficaria muito aborrecida se tivesse de me censurar por tê-lo convidado.
Thurman também estava feliz por estar incógnito. Mas depois disso,
duas piadas que ouviu em St. Paul foram muito bem recebidas em pequenos
grupos, e um dos homens disse: "Por Júpiter! Isso é muito inteligente!”
Ele tinha em mente uma frase magnífica relacionada ao namoro das
damas, então vagou até que encontrou um grande círculo de pessoas, bem
próximo às janelas que davam para o jardim. Na verdade, Thurman não
gostava de ser exposto a correntes de ar. Sua mãe sempre insistiu que o frio
da noite poderia fazer com que os pulmões de seu amado filho gelassem, e
ele sempre prestara atenção ao que sua mãe dizia. Mas, movido por uma
ambição mais forte do que o medo de resfriados, ele caminhou em direção
ao grupo próximo à janela.
Com a máscara, tudo foi muito fácil. Ele apenas se aproximou como se
fizesse parte do grupo. E, descobriu que o círculo estava agrupado em torno
de uma jovem, que estava sentada na mesa da biblioteca de forma que um
de seus tornozelos ficasse perfeitamente visível.
Um belo tornozelo, Thurman percebeu à primeira vista, mas a jovem
obviamente não era tudo que poderia ser. Certamente tal garota não se
importaria com uma ou duas piadas atrevidas. Thurman notou como seu
vestido era deslumbrante, seu rico cabelo castanho, pele branca e luminosa
e lábios da cor de morango na primavera. Ela também tinha uma risada
profunda e rouca, o que indicava claramente que ela não era uma donzela
casta.
Os que estavam reunidos estavam falando sobre uma peça de
Shakespeare que estava sendo encenada no Hyde Park Theatre. "Não tenho
intenção de vê-la," interrompeu Thurman. “O próprio nome de Shakespeare
arrepia minha espinha. Memórias da escola, eu acho.”
"Eu era terrivelmente preguiçoso quando estava na escola," disse
Skevington (Thurman o reconheceu por sua altura). Receio não poder
recitar mais do que um ou dois versos, e isso se me esforçasse muito.”
Claro, Skevington foi para Eton.
"Cavaleiros sabem de tudo o que precisam saber sem necessidade de
livros," disse Thurman, "e se você não for um cavalheiro, tudo o que
aprender não será bom para você."
A jovem virou a cabeça e olhou para ele. Ela tinha olhos grandes,
densamente cercados por cílios. Cristo, essa mulher é linda, mesmo com
uma máscara, Thurman pensou, embora ele não fosse uma pessoa que
geralmente prestasse muita atenção a essas coisas. Bela, embora muito
carnuda para o seu gosto. Permitiu-se olhar para ela com certa ousadia,
pois, afinal, era óbvio que ela não era uma dama.
"Acho que gostaria de ir ao jardim," disse ela, deslizando para fora da
mesa, sem esperar que um cavalheiro estendesse a mão. Outro sinal de sua
falta de educação.
Então todos se dirigiram para o jardim, seguindo-a, movendo-se em
volta dela como as folhas de uma flor ambulante. Thurman estava
começando a pensar que deveria encontrar outro grupo para praticar suas
frases. Ele tinha uma boa lembrança sobre o amor de uma mãe, quando
Skevington disse algo que o fez ficar em guarda.
Ele estava conduzindo a garota pelo braço e estava andando bem na
frente deles. Alguns caras se afastaram e apenas três ainda estavam atrás
dela.
— Srta. Essex—, disse Skevington com perfeição e clareza—, gostaria
de voltar para ...
Mas Thurman não deu ouvidos ao resto por causa da confusão em que
foi apanhado. Era A Salsicha. Não havia dúvida possível. Ela tinha feito
algo consigo mesma. Tudo mudou. Não era possível.
Ela não era mais uma salsicha e se tornou ... essa jovem deslumbrante e
despreocupada cujas curvas estavam fazendo Skevington praticamente
beijar seus pés.
Ela parou abruptamente e viu Skevington levando-a de volta para a
casa. De repente, as frustrações dos últimos dias se acumularam em sua
mente. A salsicha escocesa estava prestes a se tornar a estrela da temporada.
Ele percebeu isso.
Mas ainda era a salsicha. Agora que ele deu uma boa olhada nela, ela
estava tão gordinha quanto antes, ainda mais gorda. Repugnante. Sua mãe
sempre dizia que as mulheres deveriam comer como passarinhos, pois não
precisavam da mesma energia que os homens. E aquela garota estúpida
tinha que comer demais o tempo todo.
Alguém tinha que dizer a ela que ela não podia andar assim, pensando
que ninguém iria notar que ela estava ainda mais gorda do que antes.
Sem dúvida, ele era a pessoa certa para isso.
Capítulo 18
Do Conde de Hellgate,
Capítulo quinze
Ele zombou de mim, levando-me aos jardins privados atrás da casa da
Duquesa de P ... Não, não aos jardins formais, caro leitor, ao pomar
reservado e murado da Duquesa. Ela me levou até lá e, com grande
sentimento de culpa e pecado, digo-vos que dançava loucamente ...
Dançava nas lajes dos caminhos ... dançava sem vestido, sem camisa ... tão
nua como um pardal, sob o céu de Deus.
Em dez minutos, Griselda havia perdido Josie de vista. E isso era irritante,
não porque ela tivesse qualquer desejo especial de escoltar a garota com
muito rigor, mas porque Josie estava usando um vestido deslumbrante
entregue naquela tarde por Madame Rocque, e Griselda teria adorado
presenciar o efeito que produzia.
Os olhos de Josie brilharam como estrelas quando ela percebeu que a
festa era um baile de máscaras improvisado.
"Ninguém vai saber que eu sou a salsicha," ela sussurrou deliciada no
ouvido de Griselda.
"Ninguém pensaria nisso, com este vestido," Griselda respondeu. Josie
era toda curvas, toda beleza e juventude. A sedução que emanava dela era
quase uma ofensa, um tapa, pelo menos para quem estava tão cansada
quanto Griselda se sentia. Seu corpo inteiro doía, e aquela linda garota não
era nada mais do que um desafio, um convite para ficar acordada e se
divertir.
Depois de algumas horas, estava ainda mais cansada. Josie havia se
tornado a protagonista de um tremendo sucesso, e Griselda estava
convencida que a maioria de seus novos fãs a perseguiria com fervor na
manhã seguinte, já sem máscaras.
— Excelente organização—, disse o duque de York, com a voz
estrondosa, ao passar por Griselda no corredor, a mão rechonchuda na
cintura da atriz Adelphi. Ela sabia quem era este importante cavalheiro, é
claro. O duque usava o uniforme de comandante-em-chefe, com franjas e
tranças douradas por toda parte e a espada cerimonial pendurada de um
lado. Aparentemente, ele a estava confundindo com a anfitriã, Lady
Mucklowe.
Longe dela qualquer intenção de livrá-lo de seu erro.
— Fico feliz em ouvir isso, Alteza—. Murmurou a mulher, curvando-se
tão profundamente que seu joelho quase tocou o chão. York correu atrás da
atriz, cujo espartilho rangeu notoriamente enquanto trotava. Atrás dele
voava uma capa com metros e metros de franjas de ouro escuro, arcos de
ouro e um grande forro de tafetá vermelho.
— Você acreditaria em mim se eu dissesse que ele tem a Ordem Real
dos Banhos bordada em suas roupas íntimas? — Uma voz rouca sussurrou
em seu ouvido.
Sua boca se curvou em um sorriso involuntário de boas-vindas e seu
coração começou a bater rapidamente.
— Não imagino quem é o encarregado de confeccionar essas peças—,
acrescentou ele, colocando a mão carinhosa nas costas dela. A dama se viu
caminhando com ele antes de perceber o que estava fazendo—. Pequeninos
bordados, por ordem de Vossa Alteza.
Ela riu baixinho, mas francamente divertida.
— Eu sei o que você está pensando—, ele sussurrou em seu ouvido—.
Pequenos, mas não tanto, certo?
— Você, senhor, deveria estar procurando uma esposa, em vez de
zombar das instituições mais importantes.
— Eu poderia dizer o mesmo sobre você que deveria estar procurando
por um marido. Eu, infelizmente, não consigo distinguir uma rica herdeira
de outra.
— Você conseguiu me encontrar sem nenhum problema.
— Eu vi o seu cabelo no momento em que entrei pela porta.
O coração dela batia rapidamente. — Isso não foi o que planejamos!
— A vida está cheia de surpresas agradáveis e tentadoras. Você está
deslumbrante, atraente e, também percebo, um pouco cansada.
Griselda mordeu o lábio. Sem dúvida, porque já estava com trinta e dois
anos.
— Deus sabe que eu também—, Darlington continuou—. Os músculos
doem em áreas do meu corpo que geralmente não penso—, ele sussurrou
em seu ouvido. — Minha bunda, por exemplo. É possível que tenha feito
tanto exercício durante nossas atividades na noite passada?
— É bem provável—. Ela murmurou, e ficou em silêncio quando
começou a corar.
Naquele momento percebeu para onde estavam indo. Afinal, ela já tinha
estado nas festas de Lady Mucklowe antes. Lentamente, mas com firmeza,
ele a conduziu pelo segundo salão de baile, em direção às portas francesas
que levavam ao terraço, e então, imaginou, que ele a levava para o jardim.
Lugar de pecado.
— Não vou para o jardim com você—, Griselda disse de repente,
cravando os calcanhares no chão.
— Eu não sugeri tal coisa—, respondeu ele com firmeza.
— Eu não vou a lugar nenhum particular—, ela insistiu, começando a
entrar em pânico. Darlington era muito sensual e ela muito fraca, ou talvez
fosse o contrário, mas de qualquer forma as consequências seriam as
mesmas. Ele precisava encontrar uma esposa, e ela um marido. Eu vi Cecily
Severy—, sussurrou—. Ela está vestida de lavanda escuro.
— Uma velha solteirona envolta em lilás escuro—, ele cantou quase
alto, ficando horrivelmente desafinado.
— Silêncio! — Ela ordenou, sufocando uma risada.
— Ficou surpreendida por casar com alguém que não era do mesmo
sexo. Nunca vi nada assim!
Griselda acabou rindo sem conseguir se conter.
— Aqui está, eu te devolvo o anel! — Ele continuou cantando. E então,
em uma voz autoritária, terminou—, Eu não vou aceitar, o namorado dela
gritou, você deve se render!
Eles estavam no corredor, e antes que ela pudesse dizer a ele que as
cantigas deveriam rimar e ser realmente engraçadas, ele a puxou contra si.
— Oh! — Griselda—, exclamou, e as risadas sumiram. Ele a estava
beijando desesperadamente. Ela sentiu o gosto do sorriso na boca de
Darlington. Esse gosto residual sempre esteve lá.
— Renda-se—, ele rosnou.
— Não! — Ela disse, com sua respiração irregular. — Eu sou uma
acompanhante ... eu tenho que ver o que Josie está fazendo ... eu tenho que
...
— Ela está bem—, disse Darlington, com sua língua traçando uma linha
ardente em sua garganta.
Mas Griselda respirou fundo e o empurrou. Ela endireitou a máscara
com dedos trêmulos. — Eu não beijo em bailes, nunca—, ela disse—. Eu
não tenho esse tipo de comportamento. Sinto muito, mas nosso ... nosso
encontro acabou.
Ela se virou para sair, mas ele a impediu—. Leve-me ao meu destino.
— Quem será?
Ele encolheu os ombros. — Você escolhe.
— Cecily Severy—, disse ela após um momento—. É muito impróprio
de minha parte dizer isso, mas ela é uma mulher muito gentil e adorável.
— Ela ceceia.
— Já discutimos isso.
Ele a puxou para perto de novo, mas não muito perto—. Ela é
esquelética—, ele sussurrou—. Você sabe que não consegui pensar em nada
além de você o dia todo? Eu não posso passar do seu corpo para uma
daquelas debutantes magras.
— A primeira coisa que você tem que fazer—, disse Griselda, fingindo
que não o ouviu, mas na verdade arquivando as palavras como memórias
que ela poderia guardar mais tarde—, é garantir que minha Josephine seja
honrada por todos.
— Eu devo isso a você—. disse ele.
— Você deve isso a ela. E, a você mesmo. — ela acrescentou.
Ela abriu o caminho para o primeiro salão de baile e parou na porta. Era
uma confusão de sedas rubi, açafrão e azul pavão, salpicada como se com
pimenta por máscaras pretas.
— Meu Deus—, Darlington murmurou, baixo o suficiente para que ela
pudesse ouvir—, isso é o suficiente para me persuadir a adotar o modo de
vestir de Brummell.
Griselda acabara de avistar Josie no canto. — Eu quero que você
conheça a Senhorita Essex. — Ela pensou ter ouvido Darlington soltar um
pequeno gemido, mas não tinha certeza. Ninguém gosta de ser colocado
diante de seus pecados.
E, quando eles se aproximaram de Josie, ela não pôde deixar de sorrir.
Griselda não tinha ideia de como ou por que a transformação acontecera,
mas quando Josie decidiu aceitar a natureza de seu corpo dado por Deus,
ela o fez com força total. Em vez de deixar o cabelo solto, como tantas
debutantes, ela o prendeu na cabeça, grandes cachos de cabelo brilhante,
presos por clipes de diamante dados a ela por Tess. O vestido entregue por
Madame Rocque era realmente muito ousado para uma debutante, Griselda
pensou. Ela deveria ter colocado algum limite.
A questão é que envolvia o corpo de Josie como um beijo, todo roxo
escuro com um decote baixo debruado por um pequeno babado ao redor do
corpete. Em vez de tentar dar a ela a figura de palito que a moda atual
exigia, Madame Rocque a vestiu de uma maneira que exibia seu corpo
feminino. Ao lado dela, todos os vestidos flutuantes presos por fitas sob os
seios pequenos e empinados pareciam enfadonhos.
Josie parecia sensual, perigosa, erótica ... e ao mesmo tempo, jovem,
fresca e bonita. Ela era como o pecado embalado e renascido jovem
novamente.
— Meu Deus—, Darlington exclamou, parando bruscamente.
Griselda teve um sobressalto repentino. O que ela estava fazendo,
apresentando Darlington a Josie? Claro, ele tentaria ... tentaria ... Mas ele
não parecia um homem movido pela luxúria. No momento, ele estava
carrancudo enquanto olhava para ela.
— O que diabos você fez com essa garota? — sussurrou.
Josie estava flertando com quatro cavalheiros ao mesmo tempo,
tratando-os com a pose de uma mulher com anos de experiência em namoro
e que passou a vida inteira sendo cortejada por sua beleza.
— Nada—, Griselda respondeu também em um sussurro—. Veja a linda
jovem a quem você chamou de salsicha!
— Isso não é justo—, Darlington se defendeu—. Você não joga limpo,
Lady Godiva, e terei que puni-la por isso—. Sua voz escureceu, e ela se
afastou com um beicinho.
— Nada disso!
— Há algo diferente sobre ela. Já não está mais empalhada.
Griselda mordeu o lábio.
Darlington balançou a cabeça pesarosamente. — Não gosto muito de
observar certas coisas femininas. Mas você não pode me culpar por não ter
visto essa garota—, ele sussurrou em seu ouvido—. Se ela estivesse assim
no primeiro dia da temporada, eu poderia chamá-la de salsicha, vaca ou o
que seja, e ninguém teria prestado a mínima atenção em mim.
— E agora quero que você dance com ela—, sugeriu Griselda, lutando
contra a vontade de arrastá-lo na direção oposta.
Ele olhou. Josie estava batendo de brincadeira em um dos cavaleiros.
— Eu não quero dançar com ela. Olhe, ela está flertando, Griselda. O
rapaz que está à sua direita é Skevington. Inferno, ela pode se casar com
ele, pois ele tem uma pequena propriedade adorável, e um título que
receberá quando seu tio morrer.
Griselda piscou.
— Você não quer que eu a separe de Skevington—, acrescentou
Darlington—. Ele certamente parece encantado.
— Mas, Josie não—, comentou Griselda.
— Esse é um problema de natureza diferente. Mas ela também não
ficará encantada comigo—, ele arrastou Griselda gentilmente, mas com
firmeza, para longe da bela jovem.
— Por que ela não deveria ficar encantada com você, depois que os
mal-entendidos forem resolvidos? — Griselda perguntou, sentindo-se
estranha ao perguntar, porque realmente não queria que eles se juntassem
—. Josephine tem um dote muito grande.
— Meu pai me informou disso antes do início da temporada—, disse
ele, dirigindo-se rapidamente para a porta do salão de baile—. Além do
mais, ele ficaria feliz se eu me preocupasse, pelo menos um pouco, com
esses assuntos. É uma pena que eu tenha uma tolerância tão baixa para o
tédio.
— Josie não é chata! Ela é uma das jovens mais inteligentes e
engenhosas que conheço.
— Elas são as piores—, disse Darlington—. É exaustivo ter que
responder a comentários petulantes de moças, garanto. Elas sempre esperam
respostas inteligentes, sempre.
— Mas você, logo você—, protestou Griselda—, é o mais capaz de dar
esse tipo de resposta.
— Não acredite. Quanto a isso, sou mais um amador—. Relatou
Darlington. Ele começou a diminuir a velocidade assim que chegaram ao
corredor.
— Onde diabos estamos indo? — Griselda quis saber. Ele estava
tentando pensar em um comentário astuto, mas não conseguia pensar em
nada brilhante para dizer.
— Para um lugar que descobri da última vez que estive na casa de Lady
Mucklowe, quando Byron veio ler poemas.
— Não pude comparecer àquela famosa reunião—, disse Griselda.
Havia algo terrivelmente excitante em segurar as mãos no meio de uma
festa lotada. Claro, ninguém saberia quem ela era. Não só ela tinha a
máscara, mas seu cabelo não estava nos cachos habituais, e ela estava
usando um vestido totalmente escandaloso. E, nem mesmo se sentia ela
mesma.
Todo mundo saberia quem era Darlington, no entanto. Não havia como
disfarçar aqueles cachos e sua figura esguia e ágil.
Eles estavam meio correndo por um corredor agora, obviamente uma
passagem reservada para criados.
— Charles—, Griselda disse, tentando não ofegar. Apenas mulheres
velhas ofegavam. — Onde estamos indo?
— As cozinhas, é claro—. disse ele. E lá estavam eles, em uma cozinha
de teto baixo, pavimentada com lajes. Estava cheia de criados correndo de
um lado para o outro, preparando-se para o jantar que seria servido às duas
da manhã. Ninguém sequer olhou para eles.
— Vamos—. disse Darlington, e puxou-a entre um chefe, dois
cozinheiros e quatro copeiras.
— A porta de trás.
Eles estavam lá fora. Estava estranhamente quieto, com apenas um
rugido abafado por trás da porta fechada, como se o oceano estivesse
contido daquele lado.
— Que adorável—, disse Griselda. Era um jardim antigo, com altos
muros de tijolos separando-o dos jardins maiores e formais que se
estendiam atrás da casa. O velho tijolo vermelho estava coberto por rosas
brancas que podiam ser vistas vagamente da luz que entrava pelas janelas
da cozinha.
Griselda começou a percorrer com cuidado o pequeno atalho irregular,
entre canteiros de cenouras, alface e algumas folhas azuis, com matizes
vermelhos, que ela não conseguia identificar.
Darlington a seguiu. — Uma boa safra de raiz-forte—, disse ele,
olhando para a direita.
Um enorme gato avermelhado, arrogante e desdenhoso como um
verdadeiro caçador de ratos pulou a parede e desapareceu.
Eles caminharam até o final do jardim onde as rosas estavam, entre as
vinhas. Na parte de trás havia um pequeno banco de madeira.
— Este jardim é muito familiar para mim—, disse Griselda lentamente,
após alguns momentos de reflexão silenciosa. — Já sei! Hellgate não tinha
um encontro secreto em um pomar? Oh, Darlington, era sobre você? Eu
estava começando a acreditar que Hellgate era baseado no meu irmão.
— Claro que não! — Darlington protestou—. Nunca fiz nada indiscreto
em um jardim. Você me chamou de Charles um momento atrás.
— Uma indiscrição momentânea—, respondeu ela—, de uma noite, que
não deve se repetir.
— Mas eu gostaria que houvesse mais.
— A vida está cheia de desejos não realizados.
Darlington cobriu-lhe o rosto com seus longos dedos. — Shhh—, disse
ele, descobrindo o seu rosto aproximou-se do dela um instante antes de
Griselda fechar os olhos e se render. Os pensamentos se moviam em sua
mente como pássaros enjaulados: — Eu não devo fazer isso! Não devemos!
Eles podiam nos ver!
— Vou tirar sua máscara—, murmurou o cavaleiro sobre sua boca.
Havia algo quase zangado na maneira como ele a beijou. Foi um beijo
insistente e possessivo, como se com ele, o homem quisesse dizer algo sem
palavras.
Griselda se afastou, ofegante.
Mas, sem abrir a boca, ele a puxou de volta para si, lentamente, dando-
lhe tempo para dizer não. No entanto, ela não podia dizer não. Tudo o que
ela fez foi levantar o rosto para ele.
— Charles—, e, não poderia dizer mais. Quase sem saber como,
chegaram ao pequeno banco de madeira.
— Nós não podemos ...— ela disse com a voz embargada.
— Não vamos—, Darlington disse, seus olhos brilhando. — Não há
escuridão suficiente. Mas vou beijar você até ficar inconsciente, Lady
Godiva. — Ele abaixou a cabeça e continuou falando entre beijos, contra os
lábios dela. — Vou beijá-la até esquecer aquele pequeno plano que você
tem de encontrar um marido esta noite.
— Eu ... — Ela queria falar, mas desistiu quando a mão de seu amante
se fechou em seu peito.
Normalmente, Griselda nunca ficava sem palavras. Ela tinha uma
reputação justamente merecida de encontrar as palavras certas na hora certa.
Quando apropriado, ela falava generosamente, se apropriado, o fazia
frivolamente. Até sabia muito bem quando um sorriso era o suficiente, ou
uma risada curta. Mas naquele momento, não conseguia encontrar uma
única frase sensata. Sua mente estava em branco.
— Você tem que parar agora, por favor—. disse finalmente. Ela estava
recostada nos braços de Darlington, que no momento parecia um gato
lascivo. Uma estranha inquietação, que a deixou à beira das lágrimas,
começava a dominá-la.
O jovem levou a boca à testa dela e beijou-a ali, também nas
sobrancelhas e no nariz.
— Por que você gosta tanto de mim? — Ela perguntou. — Eu nem o
conheço.
Griselda sentiu o choque que suas palavras produziram em todo o corpo
do homem.
— Acho, ou melhor, sinto—, disse ele um momento depois—, que a
conheço muito bem. Noite passada...
— Os cavalheiros têm muitos encontros secretos como os nossos, o
tempo todo—. respondeu a viúva, não duramente, mas baixinho, com o
único propósito de ser honesta.
— Eu não—, respondeu ele—. Talvez o faça assim que me casar e
minha esposa e eu nos cansarmos um do outro—. Havia um cansaço terrível
em sua voz que partiu o coração dela.
— Você não vai fazer isso! — Ela assegurou, acariciando sua bochecha.
Ele havia empurrado a máscara até o topo da cabeça, deixando seus cabelos
loiro e espesso se despentear—. Sua esposa irá persegui-lo. Ela nunca vai
deixar você sair de vista.
Ele beijou suas pálpebras, que ela fechou, desejando não estar tão perto
e sentir seu cheiro, melhor que o odor das rosas, melhor que o perfume de
tomilho e alecrim que vinha com a brisa.
— Mas será assim de qualquer maneira. — insistiu o cavaleiro.
— Não necessariamente. Ora, eu sei como as coisas podem ser: as três
jovens que acompanhei estão casadas e felizes. Só está faltando a Josie.
— E você. Você também tem que encontrar um marido.
Ela não queria pensar sobre isso, então ela se inclinou sobre o jovem
novamente, que interpretou aquilo como um convite silencioso.
Capítulo 19
Do Conde de Hellgate,
Capítulo quinze
Minha Helena agora usa o anel de outro homem, ela dorme na cama de
outro homem, ela tem outro nome. Mas posso esperar que uma pequena
parte do seu coração ainda seja minha? Uma pequena parte de seu
coração se lembra de dançar em liberdade ... até que eu a peguei, é claro.
Mesmo assim, a dança continuou. Ela sabia ... ela já sabia naquele
momento, caro leitor, que ia se casar.
Ah, querida Helena, se por acaso você ler minhas pobres memórias,
pense em mim!
Ascot
Se Darlington estava procurando por uma esposa, certamente não o
estava fazendo com muita eficácia, pensou Griselda. Em vez disso, ele
circulou o grupo em que se encontrava, aproveitando todas as
oportunidades para dizer coisas ultrajantes para ela. Isso tornava sua vida
interessante, mas é claro que a virtude recomendava que ela levasse o
jovem para longe.
— Você deveria ir para outro lugar—, ela o repreendeu. Todo o grupo
dirigia-se agora para a área do camarote real, porque Griselda fora
informada de que a nova duquesa de Clarence acabara de chegar. Assim,
eles haviam ficado um pouco à frente de Mayne, que também ia para lá,
com Sylvie e Josie no braço.
— Eu não vou—, ele sussurrou em seu ouvido—. Não posso ir embora,
é impossível.
— Você deveria estar procurando alguma jovem para cortejar—,
respondeu ela. Havia algo nos olhos do jovem cavaleiro que a fez se sentir
quase tonta, muito diferente do que normalmente era. Ela não entendia seu
próprio jogo, porque afinal, ela havia decidido procurar um cônjuge para ela
também.
— Vou ficar aqui e ajudá-la a escolher seu futuro marido—, anunciou
Darlington, como se pudesse ler sua mente—. Lord Graystock, por
exemplo, parece estar vindo em nossa direção. Acho que ele é um bom
candidato.
Griselda olhou obedientemente. Era verdade, Graystock estava
caminhando na direção deles. Ele era um sujeito desgrenhado, com um
rosto alegre e um nariz afilado.
— Olhando de perto para ele, ele parece um texugo domesticado,
especialmente por causa daquela mecha branca em seu cabelo—, comentou
Darlington—. Vocês dois poderiam se estabelecer no campo e começar uma
fazenda de texugo. Seria uma ocupação maravilhosa.
Agora, Graystock estava se curvando e dizendo olá de uma determinada
maneira que mostrava que pelo menos ele acharia a ideia de uma corrida de
texugo com Lady Griselda bastante aceitável.
Mas, Griselda olhou para os dentes bastante amarelos e retirou a mão
rapidamente.
— Ele não é tão terrível—, disse Darlington, depois que Graystock se
retirou—. Existem aqueles que achariam Lady Griselda Graystock um
apelido menos do que salubre, mas tenho certeza de que você se
acostumaria com isso.
— Você é muito cruel—. Observou Griselda.
— Sempre fui, não consigo evitar—. disse Darlington com um sorriso
—. Há mais algum de seus pretendentes por aí?
— Para começar eu devo me casar com um homem digno, assim como
você deve se casar com uma mulher respeitável—. disse Griselda,
inclinando a sombrinha para trás e erguendo os olhos para ele.
— Seu cônjuge necessariamente deve se parecer com um texugo?
Ela sorriu para ele. Ele não tinha a língua afiada como gostava de fingir;
em seus olhos, ela podia ver o tipo de decepção que seu irmão costumava
demonstrar, na época em que ele tinha um brinquedo que não queria
compartilhar. Ela mudou de assunto—. Você leu as Memórias de Hellgate?
— Esse lixo? Absolutamente não.
— Estou achando fascinante. Você sabia que a maioria das pessoas
considera meu próprio irmão como protagonista do livro?
— Isso é o que você me disse.
— Gostaria que o livro não fosse baseado no meu irmão—, disse ela
com um suspiro—. Isso o faz parecer lamentável, você sabe o que quero
dizer? Mayne teve esses pequenos apegos ao longo de um período de vinte
anos, mas lê-los todos de uma vez o faz parecer desprezivelmente pueril.
— Eu posso dizer que você terá que acreditar em minhas palavras—,
Griselda insistiu—. Hellgate cita o poeta John Donne, e garanto a você que
meu irmão poderia recitar poesia de manhã à noite, se quisesse.
— Complexidades inesperadas—, ele murmurou—. Você não está se
sentindo um pouco quente e cansada? Não acha que está na hora de se ir
para um lugar mais isolado?
— De maneira nenhuma.
— Você dá a impressão de estar muito quente.
Griselda piscou por um momento. Ela não estava com calor. Ele estava
realmente insinuando que seu rosto tinha ficado vermelho e nada atraente?
Para ela, não havia nada mais comum do que uma dama se olhando no
espelho.
— Eu me sinto muito bem—. respondeu ela, sorrindo, embora houvesse
uma certa aspereza em sua voz.
— Deixe-me discordar—, ele insistiu, olhando para ela com uma
expressão tão alarmada que ela começou a se perguntar o que poderia ter
acontecido com seu rosto. Será que o sol estragou sua maquiagem
cuidadosamente aplicada? Não era possível. Não estava usando quase nada
—. Oh, querida—. Continuou, olhando de perto para o rosto dela.
O coração de Griselda batia acelerado e não era por medo que um
desastre tivesse ocorrido com sua maquiagem.
— Você realmente vê algo estranho? — perguntou fracamente. Ele
estava a apenas um ou dois centímetros de sua boca. Mas ela não podia
permitir que ele a beijasse. De maneira nenhuma. E, menos ainda naquele
lugar lotado.
— Você não está bem.
— Não?
— Não está nada bem. Você não sente nada estranho?
Griselda teve que admitir que poderia não estar se sentindo tão bem.
Seu coração batia de forma alarmante e suas pernas estavam muito fracas.
Além disso, suas bochechas estavam vermelhas. Ela abriu a boca.
— Não tente falar.
Ela começou a falar de qualquer maneira, mas parou rapidamente, para
focar toda a atenção nos olhos de Darlington. Eles eram realmente
extraordinários, de uma bela cor cinza, com um tom azul.
— Você está prestes a desmaiar. Posso ver pela palidez.
“Palidez?”, pensou Griselda. Como ela poderia estar pálida quando seu
rosto estava vermelho? Imagens dela mesma aplicando uma pequena
quantidade de blush naquela manhã passaram por sua cabeça.
Ela franziu a testa para ele, precisamente no momento em que sentiu
algo como um golpe estranho atrás de seus joelhos. Suas pernas
fraquejaram. O pé direito de Darlington a fez tropeçar. Com um meio
suspiro, cheio de pânico, largou a sombrinha ... mas lá estava ele,
segurando-a nos braços, como o cavaleiro sempre fazia com a heroína dos
melodramas.
— Não se preocupe—, disse ele com uma expressão tão doce e
preocupada que o coração dela bateu ainda mais forte. — Eu vou cuidar de
você.
— É apenas o calor—, Darlington explicou a Josie, que se virou e
parecia preocupada—. Nada para se alarmar—, comentou com Mayne, que
também se aproximou—. Acompanharei Lady Griselda até sua casa, pois
ela se sente muito fraca.
Seu irmão estava obviamente dividido entre a devoção fraterna e seu
cavalo. — Eu estou bem—. Garantiu Griselda, sem fazer nenhum esforço
para afrouxar a poderosa pressão dos braços de Darlington, que se
comportava como nada mais que um amigo. Afinal, já que ele
deliberadamente a desequilibrou, ele poderia muito bem esticar seus
músculos para mantê-la fora do chão. Quem era ela para se opor ao que
aconteceu? O que importava que ele realmente não tivesse nenhuma
fraqueza, se ela se sentia tão bem naqueles braços? Estava, na melhor das
hipóteses, um pouco tonta, mas principalmente muito feliz.
Mayne deve ter notado algo em seu rosto, porque seus olhos se
estreitaram e ela começou a dizer algo, mas Darlington já havia se virado e
estava abrindo caminho no meio da multidão. Griselda apoiou a cabeça em
seu ombro. “Ele deve ser muito forte para me carregar tão facilmente”, ela
pensou.
— Você pode me colocar no chão, se sentir que suas forças estão
falhando.
— Você acha que eu vou cair?
Ela ergueu os olhos. Não havia dúvida, ele estava feliz. Ele estava com
a expressão travessa de uma criança que esconde seu brinquedo favorito,
em vez de compartilhá-lo como mandado dos mais velhos.
— Você—, disse ela, repreendendo-o—, deveria ter vergonha de si
mesmo.
— Faço isso com tanta frequência que temo que a emoção tenha
perdido muito de sua força.
Quase haviam chegado ao local onde estavam as carruagens. As longas
pernas de Darlington permitiram que eles passassem pela multidão em alta
velocidade.
— Não posso ir para casa com você—, protestou Griselda. Ele a
colocou no assento, mas então parou, sempre colocando os braços em volta
dela, e se inclinou sobre ela. Seu corpo obstruiu a luz que entrava na
carruagem. Certamente ninguém poderia ver o que eles estavam fazendo.
— Claro que você pode—, seu amante assegurou—. Vou colocar um
cobertor sobre a sua cabeça e fingir que você é uma planta ou uma peça de
mobília, sei lá.
— Não posso!
— Você pode.
Griselda se endireitou, pronta para a batalha, apesar da tentação da boca
de Darlington, a cinco centímetros da dela. Percebendo o movimento da
dama, ele puxou sua cabeça para mais perto. Alguns momentos depois,
Griselda, extasiada, segurava-o pelos ombros.
— Eu não faço esse tipo de coisa—. disse ela, hesitante.
— Nem eu—. Seus olhos se encontraram e ela sabia que ele estava
dizendo a verdade—. Não durmo com mulheres, e a verdade é que nunca
convidei outra mulher, além da minha mãe, para meu apartamento. Mas
gostaria que você viesse, Ellie.
— Ellie é um nome para criadas—, ela reclamou, empurrando o lábio
inferior, só porque ela queria que ele olhasse para ela.
Claro, ele fez mais do que apenas olhar e, quando o beijo terminou,
Griselda estava tão arrebatada que teria ido a qualquer lugar com ele. E
Darlington sabia disso. Ele olhou para ela com um sorriso sonhador
dançando em seus olhos e então entrou totalmente na carruagem e a porta se
fechou.
Griselda se recostou na cadeira, sentindo que o coração ia pular do
peito.
— E o que você acha que o condutor teria pensado quando viu como
você parou no meio do caminho, metade fora da carruagem e metade
dentro? — Ela perguntou, percebendo que sua voz soava abafada.
O cavalheiro apenas sorriu.
— Deus sabe que qualquer um poderia ter passado pela carruagem—.
Continuou ela, ajustando o corpete do vestido, que estava ligeiramente fora
do lugar.
— Você já esteve na casa de um cavalheiro?
— Claro que não!
— Então será a primeira vez para nós dois.
Capítulo 23
Do Conde de Hellgate,
Capítulo dezenove
Agora chego ao capítulo mais sombrio de minha terrível carreira, caro
leitor e devo implorar-lhe mais uma vez que feche as páginas deste livro ...
coloque-o de lado e pegue seu livro de orações. Lá você encontrará
versículos que irão alimentar seu espírito, seu espírito interior e a
verdadeira vida, enquanto aqui ...
Oh leitor, tenha cuidado! Tenha cuidado!
Mayne estava consciente que deveria ser o homem mais feliz do mundo.
Gigue havia vencido sua corrida. Não apenas ele estava mais rico em
algumas milhares de libras, mas o cavalo de Rafe havia sido derrotado. Não
há nada como derrotar um amigo querido para tornar a sua alegria
completa.
Além do mais, ele tinha sua requintada noiva em seus braços, e ela
mostrava todos os sinais de estar gostando de Ascot. Olhou para Sylvie. Ela
estava vestindo um ousado casaco francês de cetim imperial em uma cor de
flores de lavanda. Ela o havia informado dos detalhes, na verdade, sentiu
que conhecia seu traje até a cor de seu fio: a cor lilás, com debrum na
cintura, a fita de brocado de uma cor narcisos sombreados (seja lá o que
fosse), a borda ao redor dos pés e a pièce de résistance, um turbante
indiano, não esquecendo a sombrinha branca de seda com franjado.
Verdade seja dita, toda aquela conversa sobre suas roupas o afetou um
pouco. Não que ele não apreciasse sua bela aparência, movendo-se com seu
turbante indiano. Ela tinha uma aparência delicada, francesa e charmosa.
No entanto, ele não estava muito animado com os turbantes. Tampouco
ficou muito convencido com a maneira como o casaco francês esmagava o
peito de Sylvie, dando a impressão (impressão que nunca deveria ser
revelada) de que ela era uma mulher plana. Houve momentos em que a
moda feminina inexplicavelmente se desviou do gosto dos homens.
O traje de Josie era bem mais simples. Ela estava usando um vestido de
passeio em cor escarlate, muito simples, em vez de enfeitado e com franjas
e au courant. Ela havia tirado o chapéu e o estava balançando em sua mão
livre. E ela não estava prestando atenção às observações de Sylvie, mas
continuou esticando o pescoço para ver os cavalos correndo na pista.
Ela parecia tão fascinada pela pista de corrida como se nunca tivesse
visto um cavalo correr antes, enquanto Sylvie mostrava pouco interesse no
esporte. Provavelmente era só porque Josie estava praticamente ainda no
berçário, embora agora soubesse que ela havia descartado aquele espartilho
horrível. Ela apresentava uma imagem inteiramente deliciosa de
feminilidade cheia de curvas. Nenhuma roupa no mundo poderia deixar
Josie plana como um prato, nem mesmo aquele espartilho horrível. Na
verdade, Mayne havia notado que todos os homens que passavam por eles a
olhavam avidamente.
— Mayne!
Ele se virou e olhou para sua noiva, que estava olhando para ele
interrogativamente.
— Botas de tecido escarlate enfeitadas com veludo—, ela disse
incisivamente.
Mayne se orgulhava de suas recuperações rápidas. — Sim, de fato—,
disse ele, com toda a experiência de anos conversando com Griselda.
— Mas o ouro e pérolas ... misturados, você entende—, disse Sylvie,
franzindo o nariz—. Totalmente exagerado, você não acha?
— Sim, de fato—. Sua atenção se desviou novamente. Josie havia
parado e estava na ponta dos pés, observando um grupo de cavalos passar
por eles—. Veja! — ela gritou, puxando seu braço—. A menos que eu
esteja enganada, um dos cavalos de Rafe venceu!
Mayne olhou para a linha final e, com certeza, parecia que o cavalo
vencedor estava vestindo as cores de Rafe. Ele supôs que poderia permitir a
Rafe uma vitória de vez em quando.
— Dividido na testa, como chifres—. Sylvie disse a ele.
— Claro—. Certamente eles tinham visto o suficiente? Ele ansiava por
voltar ao camarote, onde poderia assistir às corridas de um ponto de vista
decente.
— Mayne! — Sylvie estava rindo dele, ele percebeu com um
sobressalto—. Você não está prestando a menor atenção, está? Acabei de
observar que a Duquesa de Piddlesworth estava usando um chifre de
pérolas na testa e você concordou!
— Peço desculpas—, disse Mayne, embora se sentisse um tanto irritado,
para dizer a verdade—. Gostaria de voltar ao nosso camarote agora? É
bastante difícil ver as corridas daqui.
Sylvie nunca faria nada tão sem graça como fazer beicinho ... mas havia
quem pudesse chamar sua expressão de beicinho. — Que tedioso—, disse
ela, franzindo a testa para ele—. Eu preferiria muito mais continuar
procurando pela Condessa Mitford. Prometi a ela que lhe contaria sobre a
maneira francesa de organizar uma sala de estar.
Mayne sentiu um desejo repentino e louco de se afastar dela—. Sim,
vamos procurar a condessa Mitford—. disse ele—. Tenho certeza que ela
está esperando por você com a respiração suspensa.
Os olhos de Sylvie se estreitaram ligeiramente, mas ela não disse nada.
Ela era, Mayne percebeu, muito bem-educada para se envolver em algo tão
indigno como brigar em uma arena pública—. Peço desculpas—. Disse,
olhando para ela novamente.
Mas ela sorriu para ele. — Eu estava pensando que você é semelhante
ao meu pai—. E, torceu o nariz.
— Ele é, você entende, bastante obcecado com o destino de seus cães.
Eles estão bem, são fortes, eles precisam de uma dose terapêutica de água
de cevada?
— Água de cevada?
Ela acenou com a cabeça.
— Os pobres animais não parecem ter coragem de tossir, pois ele
imediatamente os coloca em uma dieta especial de brócolis fervido e água
de cevada.
Mayne se encolheu.
— Bem, para falar a verdade, não consigo ver nenhuma relação entre o
seu pai e eu—. Como ela insistia em continuar a chamá-lo de você, Mayne
não sabia que atitude tomar e costumava misturar seus tratamentos, sem
saber, dependendo do estado de humor em que ele estava.
Josie soltou seu braço e estava parada junto à cerca, observando outro
grupo de cavalos dando a primeira volta na pista.
— Josie! — Sylvie gritou. — Recuar! Você ficará cheia de poeira.
Mas Josie não deu ouvidos a ela. Ela estava batendo palmas quando
uma graciosa égua castanha se separou do grupo e deu um passo à frente,
com as orelhas pequenas para trás. Mesmo de sua posição distante, Mayne
reconheceu o andar de um vencedor em seu trote.
— De quem é? — Josie perguntou a ele.
Mayne balançou a cabeça, mais em admiração do que em dúvida.
— Acho que são as cores de Palmont ...
Um cavalheiro se aproximou de Josie e conversou animadamente com
ela. Então, os dois, quase ombro a ombro, observaram os cavalos enquanto
eles passavam na frente deles novamente. Um animal pardo, muito alto e
magro, começou a avançar dentro do grupo ... e avançou ... avançou mais ...
— Não! Não! — Josie gritou descontroladamente.
Sylvie fez um breve som de desaprovação.
— Quem é o homem ao lado de Josephine?
— Lord Tallboys—, Mayne o informou. Tallboys estava olhando para
Josie com mais atenção do que para os cavalos. Mas ela estava totalmente
absorta nas emoções da corrida, suas bochechas coradas e suas mãos
enluvadas agarrando o corrimão com força—. Rafe o apresentou a Josie no
baile de Mucklowe.
— Ele é um cavalheiro respeitável?
Mayne olhou para ela com um olhar de surpresa e preocupação.
— Você acha que eu permitiria que Josie ficasse em sua companhia por
tanto tempo se ele não fosse respeitável? Ele é um bom homem, que
também tem uma fortuna considerável.
— Solteiro? — Sylvie perguntou com uma voz abafada. E vendo o
gesto afirmativo do noivo, ela mostrou sua aprovação. — Excelente!
Naquele momento, a égua castanha pareceu reunir todas as suas forças e
esticou o pescoço. Antes que a multidão pudesse respirar novamente, ela
cruzou a linha de chegada. Josie gritou eufórica e acenou com o chapéu.
Tallboys rugiu em aprovação. Os dois começaram a dançar festivamente,
para celebrar o triunfo de seu cavalo favorito.
Sylvie riu ao vê-los naquela atitude quase infantil.
— Acho que Josephine acabou de fazer uma conquista.
— De fato—, Mayne confirmou, observando os cachos de Josie voarem
enquanto Tallboys a girava continuamente. Ela não conseguia parar de rir.
Ele achava que Tallboys era um pouco jovem, até para ela, não poderia ter
mais de vinte e quatro anos.
Mas essa era precisamente a idade certa.
Sylvie deu um passo à frente e Tallboys parou imediatamente,
curvando-se um tanto sem jeito, mas cheio de alegria jovial.
— Eu imploro seu perdão—, ele se desculpou—. Receio que a
Senhorita Essex e eu tenhamos ficado maravilhados com a excitação e a
euforia do momento.
Sylvie olhou para ele, as covinhas em seu rosto aparecendo. Mayne
observou a cena, esperando ver um lampejo de desejo nos olhos do outro
cavalheiro ao ouvir o sotaque encantador de Sylvie.
— Uma bela demonstração de entusiasmo—, disse ela—. Certamente
você tinha feito uma jogada nesta corrida, certo?
— Uma aposta, chama-se aposta—, Mayne a corrigiu—. Como vai,
Tallboys?
Tallboys não parecia ter entendido Sylvie. Ele se virou diretamente para
Josie e tirou seu livro de corrida.
— Veja? — disse—. O nome dela é Firebrand. É um bom nome, não é,
Senhorita Essex?
— Acho que ela é muito delicada para ser uma incendiária—.
respondeu Josie—. Você notou como as orelhas dela tremeram depois de
desacelerar? Como se soubesse que havia ganhado e estivesse relaxando, se
divertindo.
— Ela certamente estava ciente de que havia vencido. Um bom cavalo
sempre sabe.
— Alguns dos cavalos do meu pai ficavam muito tristes quando
perdiam.
Eles estavam tendo uma conversa animada sobre os estábulos do pai de
Josie.
Sylvie voltou-se para Mayne.
— Eu acho que Lord Tallboys encontrou uma nova paixão em sua vida
—, ela sussurrou—. Ele dará a Skevington uma competição acirrada. É um
concorrente importante.
— Você acha? — Mayne sentiu um toque de mesquinho, como um
homem na casa dos sessenta—. Ele é muito jovem.
— Eles podem brincar juntos, como dois gatinhos.
Pareceu a Mayne que a maneira como Tallboys olhava para Josie não
tinha nada a ver com gatinhos.
— Devemos voltar para o camarote—. Deliberadamente, ele não incluiu
Tallboys no convite.
Aquele cavalheiro era um idiota inútil, não entendia como não havia
percebido até então. Era surpreendente que Josie tivesse rido de seus
comentários lamentáveis. Ela parecia tão encantada como se estivesse
falando com o príncipe herdeiro.
Ainda assim, Mayne achou irritante descobrir que ele estava agindo da
mesma maneira que o pateta do Tallboys. Ele nunca gostou da tolice dos
outros e era honesto demais para não perceber que a mesma estupidez
aflorava em si mesmo. A verdade é, Mayne disse a si mesmo, que você está
noivo, mas não se sente totalmente envolvido. Sempre acreditou que o
noivado era uma questão de beijos roubados e encontros repentinos de
olhares.
Claro, ele, em outros tempos, dera beijos roubados, mas ele não queria
uma esposa que fosse tão leviana quanto as mulheres com quem ele
dormira. Ele tinha que se decidir. Ele tinha que saber se queria trocar beijos
e olhares com sua noiva ou não.
Josie seguiu Sylvie e Mayne. Ele parecia estar com um humor um tanto
irritadiço. De repente, ele ouviu uma voz falando em seu ouvido.
— Senhorita Essex?
Quando ela se virou, encontrou um jovem grande, sorrindo para ela
como se a conhecesse muito bem.
O rosto era familiar, ela certamente o conhecia, mas não conseguia
identificar quem era.
— Boa tarde, senhor.
— Nós nos conhecemos em um baile na semana passada. Eu sou o Eliot
Thurman. Posso oferecer-lhe o meu braço? — perguntou.
Mayne continuou andando sem ela, então ela concordou em pegá-lo
pelo braço. E antes que ela percebesse, eles mudaram de caminho, indo em
uma direção diferente daquela que levava ao camarote de Tess. Eles
estavam indo para as tendas onde eram servidos os lanches.
Ela o seguiu com certa apatia. Afinal, o que isso importa? Mayne estava
apaixonado por sua noiva muito fria, de quem Josie estava começando a
não gostar. Griselda partira com Darlington e, embora a jovem achasse que
deveria manter certas distâncias do inimigo, também não era tão ruim.
Griselda foi atrás de Darlington sem lhe comunicar nada.
Gostaria que Annabel tivesse estado em Ascot! Mas Annabel não queria
levar Samuel para um lugar com tantas pessoas. Imogen estava em sua
viagem de casamento e Tess estava em Northumberland com seu marido ...
Josie suspirou. Mas, imediatamente se recompôs. E decidiu se comportar
com boas maneiras.
— Você tem um cavalo inscrito em uma corrida, Sr. Thurman? —
perguntou.
— Não, não—, respondeu o homem. — Minha mãe diz que um
cavalheiro deve ter uma ocupação. Sou muito preguiçoso para fazer coisas
extenuantes, como fumar, então comecei a apostar—. Ele caiu na
gargalhada, encantado com sua própria inteligência. Hahaha.
Josie não entendeu. Ela pensou que havia alguma sutileza escondida nas
palavras do homem que lhe escaparam.
— Sua mãe achava que você deveria fumar tabaco ... como ocupação?
— É uma piada—. explicou com um tom de desaprovação em sua voz.
Sempre lhe pareceu que as piadas deveriam ser engraçadas. Ou, que
pelo menos faça algum sentido.
Eles haviam caminhado muito além das tendas, para os jardins formais
que cercavam os estábulos e a pista de corrida.
— Acho que devemos voltar—. disse, inclinando-se para olhar as flores.
Percebeu que alguém cometeu um erro ao plantar prímulas da noite, e a
maioria delas estava fechada para se protegerem do sol.
Mas, o Sr. Thurman parou e fez um barulhinho estranho com a garganta.
Josie olhou para ele. De repente, a garota teve a sensação alarmante de que
o jovem poderia estar sofrendo algum tipo de ataque. Pessoas que tinham
aquele tipo de rubor em suas bochechas eram propensas a insuficiência
cardíaca, ou pelo menos foi o que ela ouviu dizer. Olhou para ele com o
cenho franzido. Ela tinha certeza que conhecia aquele rosto, o que a
lembrava de algum transe um tanto desagradável ...
Um segundo depois, ela percebeu que Thurman estava tendo um ataque,
de fato, mas de um tipo diferente do que ela temia, quando ele a pegou em
seus braços e pressionou seus lábios contra os dela. Eles estavam
surpreendentemente frios e um tanto moles. Por um momento, Josie
congelou de surpresa, e então ele enfiou uma língua gorda entre seus lábios.
A jovem imediatamente fez um esforço para se afastar dele.
Era incrivelmente forte. Quase antes que ela percebesse, ele a carregou
sob o telhado que se projetava do celeiro. Josie teve a sensação de estar
observando a cena de fora, como se estivesse observando outra jovem, não
ela mesma, lutando com o homem que a prendeu contra a parede. Ele girou
a língua em sua boca, quase a sufocando. De repente, ela sentiu seu vestido
prender-se a uma estaca pendurada em uma madeira atrás dela e se rasgar.
Começou a lutar, chutando-o várias vezes nas canelas, mas seus sapatos
eram muito delicados e seus pés estavam firmes no chão. Ela tentou acertá-
lo mais alto, mas seu vestido era justo e limitava seus movimentos. Ela
conseguiu escapar para o lado, para longe dele.
Ele se afastou por um momento e disse: — Você é corajosa—. Sua voz
estava grossa, como se ele estivesse bêbado. Josie encheu os pulmões para
gritar, mas ele apertou a boca sobre a dela novamente e ela quase sufocou.
E então ela percebeu para seu horror que o rasgo em seu vestido estava se
alargando. Se ela não fugisse, poderia cair completamente de seu corpo.
Se ela não ...
Então ela fez.
Ela levantou a perna em um movimento rápido e suave e plantou o
joelho bem na virilha que estava esfregando em seu vestido. As mãos dele
soltaram seus braços instantaneamente e ela cambaleou para o lado,
ouvindo seu vestido rasgar nas tábuas ásperas novamente para que ela
pudesse sentir o ar em suas costas.
Ele cambaleou para trás, curvou-se, sua voz saindo em um grito
ofegante—. Sua maldita... maldita...
Josie se virou para correr - é claro que ela deveria correr! -, mas então
seus olhos encontraram a porta dos estábulos. A fim de manter as baias
limpas e cheirosas para os visitantes que vagavam pelos estábulos, os
cavalariços estavam diligentemente jogando lixo pela porta dos fundos.
Provavelmente alguém o carregaria pela manhã, mas agora...
Havia uma pá encostada na parede e um monte de excrementos da
altura de seus joelhos. Foi o ato de um segundo cavar a pá na bagunça
marrom amontoada e girar em sua direção. Ela não conseguia levantá-lo
pela cintura, mas não precisava. À medida que a pá girava, ganhava ímpeto
e, no momento em que o Sr. Thurman erguia a cabeça, sem dúvida para
dizer algo desprezível, a pilha fumegante e gotejante de esterco de cavalo
voou da pá e bateu em seu rosto. O último vislumbre que Josie teve antes de
se virar e correr pela porta do estábulo foram seus olhos bem abertos e sua
boca vermelha ainda mais aberta, ambos obscurecidos um momento depois
por uma massa de sujeira marrom e úmida.
Ela disparou para os estábulos e começou a correr pelo longo corredor.
Era meio-dia e nenhuma corrida estava marcada até a tarde. Até os rapazes
do estábulo deveriam estar vadiando na frente do prédio.
Não havia ninguém para ajudá-la. Ele a veria; ele iria pegá-la. A
qualquer momento ela sentiria sua mão forte e poderosa em seu ombro.
Então ela avistou cobertores vermelhos com o brasão de Mayne,
pendurados na lateral de uma cabine. Olhou para trás, e o longo corredor
dos estábulos estava limpo, com nada além do que partículas de palha
dançando à luz do sol. Sem parar para respirar, ela destrancou a porta da
baia de Gigue, deu a volta em seu lado elegante e se jogou na palha amarela
na parte de trás da baia. E prendeu a respiração.
Ela não conseguia ouvir nada. Nenhum som de passos. Nada além da
respiração ofegante da potranca enquanto ela batia os cascos, inquieta.
— Shhh...— sussurrou Josie—. Quieta, por favor.
O cavalo relinchou um pouco em resposta e balançou o rabo para
golpear o rosto de Josie como um bando de pequenas vespas. Os olhos de
Josie se encheram de lágrimas. Ela havia perdido a bolsa em algum lugar,
seu corpete estava rasgado e, quando se encolheu no canto da baia,
descobriu que suas costas nuas estavam contra as tábuas. Aquele rasgo que
ela ouviu foi direto através de sua camisa e vestido.
Depois que começou a chorar, soluçou tanto que seu corpo tremia todo.
Por fim, se recompôs, arrancou uma parte da camisa e a usou como lenço e
começou a pensar em como sair do estábulo. Podia ouvir as vozes dos
rapazes do estábulo filtrando-se pelo corredor. Era apenas uma questão de
minutos, meia hora no máximo, antes que alguém chegasse para verificar
Gigue. Billy voltaria da refeição do meio-dia.
Havia uma escada de madeira pregada na parede, que levava ao
palheiro. Ela poderia subir a escada e simplesmente esperar até que todos
voltassem para casa.
Gigue, por sua vez, conseguiu rolar no espaço apertado de sua baia,
respirando ruidosamente em Josie, como se a confortasse.
— Estou tão feliz que você ganhou hoje—, Josie sussurrou—. Oh,
como vou sair daqui?
A gravidade de sua situação estava se tornando cada vez mais evidente.
Era claro que o Sr. Thurman havia decidido evitar o máximo possível o mal
que uma situação ruim poderia fazer a ele, indo embora fedorento,
diretamente para sua residência para trocar de roupa. Parecia claro que ele
não a tinha seguido. Naquele momento, percebeu que estivera segura desde
que entrara correndo pela porta aberta: a última coisa que Thurman queria
era ser forçado a se casar com ela. Ele era o horrível amigo de Darlington,
aquele que zombou dela na festa de casamento de Imogen. E, no entanto, se
alguém - principalmente Rafe - descobrisse o que acabara de acontecer, ela
seria forçada a se casar com Thurman.
Ela estava arruinada, e a única solução para evitar a ruína que Josie
ouvira falar tantas vezes era o casamento. Bem, ela não estava exatamente
arruinada, nem deveria estar exagerando. Mas a memória das mãos de
Thurman em seu corpo desencadeou outro acesso de choro e ela teve que
rasgar outro pedaço de sua camisa para enxugar as lágrimas.
Por que suas irmãs conseguiram ser comprometidas por cavalheiros
bonitos que acabaram se apaixonando por elas, enquanto ela teria que se
contentar com um homem que era uma espécie de animal com cara de
nabo? Ela preferia se matar antes de concordar em se casar com tal
indivíduo. Era muito injusto.
Gigue ergueu a cabeça, as orelhas aparecendo. Talvez fosse Billy, que
estava se aproximando. Ela o mandaria procurar Mayne, e ele poderia levar
sua carruagem para o fundo dos estábulos, ou talvez pudesse jogar um
cobertor sobre ela e fingir que desmaiara.
Mas ele não poderia carregá-la para fora dos estábulos, devido ao seu
peso excessivo. As lágrimas começaram a escorrer por seu rosto
novamente, e ela as afastou com impaciência.
Sentou-se em um canto, limpando a palha que estava em cima dela.
Gigue havia se virado de novo e enfiava a cabeça para fora do
compartimento, relinchando cada vez mais vigorosamente. Josie olhou para
seu vestido. Se alguém a visse naquela situação, ela teria que dar
explicações dolorosas. E se essas explicações acontecessem, ela não teria
escolha a não ser se casar com Thurman. Era uma perspectiva sombria, uma
situação que parecia sem esperança.
Um segundo depois, Josie estava subindo a escada do palheiro. Era um
espaço enorme e aberto que se estendia acima de todas as barracas. Palha
dourada amontoada em grandes garfadas no chão. Ela estaria segura ali até
que pudesse encontrar o caminho de casa mais tarde.
Se ela não tivesse contado a Mayne antes, é claro, porque a voz ouvida
agora certamente era a de Mayne. Ela se ajoelhou perto do buraco e tentou
olhar discretamente para baixo e para os lados, mas tudo o que conseguia
ver era a pele trêmula de Gigue. Mayne estava falando com ela em sua voz
profunda, e para o horror de Josie, o mero som de sua voz enviou um
calafrio por seu corpo.
A última coisa que ela queria era nutrir sentimentos ternos por Mayne!
Ele estava tão longe, tão fora de seu alcance, que era como se ele fosse o
próprio deus Apolo. Além disso, este homem maravilhoso estava
apaixonado por outra mulher.
Josie deitou-se no chão para ver melhor pelo buraco. Sim, era Mayne.
Vê-lo foi reconfortante. Era realmente admirável, com aquela elegância
descuidada que deve ter demorado tanto para conseguir, perfeito, refinado.
Seu cabelo caía sobre a testa em um cacho elegante. De sua posição, ela só
conseguia ver as costas dele, enquanto ele acariciava Gigue. Seu casaco
estava caído sobre os ombros, impecável, sem rugas.
Que contraste com ela! Suas roupas estavam rasgadas e manchadas; ela
tinha sido apalpada por um homem nojento. Ela certamente teria ficado
muito satisfeita em ver Mayne naquele estado, porque mesmo sujo e
esfarrapado ele ainda conseguia parecer bonito, arrebatador. Enrugado.
Empoeirado. Talvez vestido com trapos. Um sorriso malicioso iluminou seu
rosto. Ela gostaria de poder vê-lo com uma simples tanga! Ou sem ela!
Mas, logo percebeu que o medo e a repulsa estavam fazendo com que
ficasse louca. Ela estava delirando. Embaixo, as costas de Mayne se
curvaram. Ele estava se curvando.
— Ela não está aqui—, disse ele—. Droga, gostaria que Griselda não
tivesse sucumbido ao calor—, Mayne deveria ter ido para os estábulos para
encontrá-la. E, Josie soube imediatamente que Mayne estava acompanhado
por Sylvie. Não havia dúvida, era bem evidente a mudança no tom da voz
do homem quando sua noiva estava por perto.
— Ela tem dentes muito grandes—, Sylvie estava dizendo—. E eles são
tão amarelos.
— Não para um cavalo—. Mayne respondeu.
— Você deve providenciar para que um de seus rapazes lave os dentes.
Tenho certeza de que ela ficaria mais confortável.
Mayne nem riu, o que Josie interpretou como um sinal de sua paixão.
Ela podia apenas vislumbrar a parte superior do turbante de Sylvie. Era tão
atraente quanto a própria Sylvie.
— Sylvie...— Mayne estava dizendo, e havia algo no tom de sua voz
que fez Josie engolir em seco—. Você é tão bonita. Você sabe disso, não é
mesmo?
Se Sylvie não tivesse uma compreensão precisa de seu próprio valor,
Josie comeria seu chapéu. Não que ela tivesse um chapéu, pois ela perdera
o chapéu assim com sua bolsa.
— Obrigada—. disse Sylvie, sem o menor traço do prazer que Josie
teria sentido com aquele elogio.
— Não consigo me conter perto de você—. disse Mayne. Embora fosse
realmente Garret falando, não Mayne. Era o homem carente, um homem
apaixonado. Uma lágrima rolou pelo rosto de Josie e ela distraidamente a
enxugou. Tudo o que ela podia ver era o canto de seu ombro agora, mas ele
estava estendendo a mão, puxando Sylvie para ele.
Josie estremeceu. Se ele a puxasse para seus braços, ela iria - cairia nos
braços de Mayne como uma árvore derrubada por uma tempestade elétrica.
Sylvie era um tipo diferente. Gelo onde Josie seria o fogo—. Mayne, eu
não acho que este é um momento adequado para...
Ele mergulhou. Josie prendeu a respiração. Isso é o que ele faria, é
claro. Ele envolveria Sylvie em seus braços, e ela se derreteria contra ele,
exatamente como aconteciam com todas as heroínas dos romances de
Minerva.
Então Sylvie voltou a seu campo de visão.
Sua voz estava mais fria que um domingo de fevereiro na Quaresma—.
Como você ousa! Como se atreve a me atacar dessa maneira, Lorde
Mayne?!
Beije-a de novo, pensou Josie. Ela quer ser seduzida. Você foi muito
rápido. Ou ela é muito tímida.
— Parece que devemos esclarecer a nossa relação—. Afirmou Sylvie,
com a voz fria—. Eu nunca deverei ser abordada, ou atacada, de qualquer
forma.
“É porque ela é francesa”, Josie pensou. Uma inglesa nunca poderia
resistir a Mayne. Oh Deus, se ele falasse com ela com metade do desejo que
ele derrama em suas palavra para Sylvie, ela ... ela ...
— Gosto de você e certamente concederei seus direitos conjugais.
Josie ofegou instintivamente e, em seguida, colocou a mão sobre a boca.
— Você está me escutando? — Sylvie perguntou impaciente—. Quero
ter certeza que você me entende, Mayne. Sei que você morou na Inglaterra
e absorveu alguns costumes lamentáveis daqui. Mas devo pedir-lhe que me
dê toda consideração que daria a sua própria mãe.
— Minha mãe? — disse Mayne, finalmente.
O coração de Josie afundou. Ele não tinha mais aquela nota líquida de
felicidade em sua voz.
— Claro! — Sylvie respondeu—. Certamente, não preciso dizer que as
mulheres mais importantes da sua vida, aquelas que merecem mais respeito,
são sua mãe e sua esposa. Ora! Esta conversa é bastante tola, não é?
— Eu acho que é extremamente interessante. Na verdade, muito
instrutiva para mim.
— Não acredito nem por um momento que você trataria sua mãe com
nada menos que o mais delicado e filial respeito. Ela é uma santa irmã da
Igreja, não é? Não consigo entender por que você deveria me tratar com
menos cortesia.
— Minha mãe de fato se retirou para um convento—, disse Mayne—.
Mas você, Sylvie, não é freira.
— Eu mereço exatamente a mesma cortesia—, disse Sylvie—. A falta
de decoro levou à queda da monarquia francesa.
— Eu não tive a intenção de ser rude com você, nem tenho a intenção
de derrubar qualquer monarquia.
Houve um momento de silêncio e então Sylvie falou meticulosamente.
— Acho esse assunto um tanto desagradável, mas sempre acreditei que
é melhor ser muito clara em questões como essas.
Josie estava segurando a borda da abertura do palheiro com tanta força
que seus dedos estavam brancos.
— Eu concordo—. disse Mayne.
Claro, ela não deveria estar ouvindo. Ninguém deveria ouvir isso,
porque Sylvie estava explicando, com seu fascinante sotaque francês, que
não gostaria, por incrível que pudesse parecer, que Mayne pensasse em
tocá-la toda vez que tivesse vontade. Além disso, talvez preferia concordar
com um programa amigável de ...
Josie teve que morder o lábio. Ela não sabia se ria ou gritava. Annabel
ia morrer de rir quando descobrisse sobre uma coisa tão extraordinária.
Embora talvez sua irmã nunca descobrisse, porque, é claro, ela não
pretendia revelar que havia feito uma coisa tão grosseira como ouvir uma
conversa particular daquela natureza. Ela se afastou um pouco mais e
alguns fios de feno caíram nas costas de Gigue.
— Sylvie—, disse Mayne, interrompendo o sermão—. Ouça-me, minha
querida, você simplesmente não entende como são as coisas entre um
homem e uma mulher.
— Eu garanto a você ...— Sylvie respondeu. De onde estava, Josie só
podia ver a curva da bochecha de Mayne enquanto segurava o rosto de
Sylvie com as mãos. Seus dedos eram longos e fortes. Ele se inclinou para
Sylvie e Josie quase engasgou. Ela viu seu rosto. Ele tinha os cílios mais
longos que ela já vira em um homem. Ela sabia, tinha visto de perto ...
Josie não ficou surpresa por Sylvie estar em silêncio nos braços de
Mayne. Sentiu seus olhos queimarem novamente e, naquele momento, ela
se sentiu culpada por estar observando, espionando. Apesar de tudo, eles
pareciam tão apaixonados, tão lindos juntos. Mayne convenceria Sylvie que
ela deveria beijá-lo e, depois de anos, eles iriam rir, rodeados pelos filhos,
da relutância ingênua da garota.
Josie fechou os olhos com força para não ver aquela cabeça inclinada de
homem, a ternura de seus dedos, a paixão e a força com que seus ombros se
inclinavam para Sylvie. Ela nunca seria uma mulher como a francesa, uma
dama adorada por um homem como Mayne. As lágrimas deslizaram
calorosamente entre os dedos que cobriram seu rosto. Ela era diferente, o
tipo de mulher que um homem acreditava poder tocar impunemente. Ela era
o tipo de mulher que acabava atrás dos estábulos, empurrada contra as
vigas, enquanto Sylvie, a delicada, a bela Sylvie, era adorada por Mayne.
Seu corpo vibrou, estremeceu com os soluços, mas silenciosamente, ela
não deixou escapar nenhum som. Ela cobriu a boca com as mãos,
determinada a não se revelar.
Toda a euforia que sentiu ao ver o rosto manchado de estrume de
Thurman estava desaparecendo. Como voltaria para casa? Como ela
poderia suportar ...
Seus olhos se arregalaram.
A bofetada assustou Gigue também, que chutou a parede em protesto.
Capítulo 24
Do Conde de Hellgate,
Capítulo dezenove
Não conheço nenhum nome melhor para isso do que a indomável rainha
das Amazonas de Shakespeare, Hipólita. De luto, porque a adorável Flor
de Ervilha voou de volta para seu pequeno ninho, ela caminhava pelas ruas
de Londres, sem saber onde estava. Naquele mesmo dia, visitei Hampton
Court e, embora estivesse exausto de tristeza, estava na quadra de tênis do
rei Henrique VIII e joguei três boas partidas com um certo cavalheiro que
conheço ...
Josie desceu cerca de meia hora depois que Mayne e Sylvie foram embora.
Ela tinha encontrado um saco de cereal, que pendurou sobre os ombros para
que o rasgo no vestido não aparecesse. O plano era esperar por um dos
cavalariços de Mayne e pedir-lhes que a encaminhasse para uma saída nos
fundos, então fugir e encontrar uma carruagem para alugar.
Ela desceu o mais rápido que pôde e se escondeu em um canto da baia
de Gigue, onde não poderia ser vista do corredor. As pessoas ainda estavam
andando por lá, embora as corridas já tivessem acabado. Esperou até que
finalmente os ruídos dos caminhantes parassem. Se pôs de pé. Ela estava
tremendo, vencida pela exaustão, medo e angústia. Sua mente estava
girando em círculos frenéticos. Pensamentos infelizes dançavam
descontroladamente.
Até que finalmente ouviu passos se aproximando e parando na frente da
baia. Deveria ser um dos cavalariços de Mayne. Gigue estava curvando o
pescoço e esfregando o nariz no cocho, como se esperasse que a comida
tivesse magicamente chegado lá desde a última vez que cheirou. Josie tinha
uma opinião muito baixa sobre a inteligência de Gigue.
Finalmente, a figura atarracada do cavalariço de Mayne, Billy, abriu a
porta do compartimento de Gigue.
— Boa tarde—, ela o cumprimentou o mais silenciosamente possível,
para não assustá-lo. Mas ele pulou de qualquer maneira—. Eu devo estar
com uma aparência horrível—. Ela comentou, tentando abrir um sorriso.
— Sim, senhorita—, respondeu o homem, piscando ao olhar para ela—.
Pelo amor de Deus, o que aconteceu com você?
Josie mordeu o lábio para não tremer novamente.
— Eu gostaria que você me alugasse uma carruagem—, disse ele—, por
favor. E então me acompanhe até lá. Devo ir para casa.
Os olhos do funcionário voavam de cima para baixo, do rosto até a
ponta do vestido. Ele pareceu parar no saco de estopa marrom agarrado em
seus ombros.
— Eu sei que estou horrível. Por favor me ajude a chegar em casa. Terei
prazer em recompensá-lo generosamente por isso.
— Eu não preciso que você me pague nada. Sente-se, senhorita. Dá a
impressão de estar prestes a cair. Vou encontrar uma carruagem, mas vai
demorar um pouco, pois há muito movimento esta noite.
Josie olhou para o chão coberto de palha. Esse homem estava certo, ela
deveria sentar. Estava muito cansada.
— Você não acha que se eu sentar aqui alguém poderia ver meus
joelhos do corredor? Eu não quero ser vista.
— Não se vê nada. Vou pegar mais alguns sacos da baia ao lado e
colocá-los sobre os seus joelhos, e nada mais será visto.
Felizmente, Josie deslizou para se sentar no canto, e um segundo depois
Billy colocou vários sacos de aniagem em volta dela. Eles cheiravam a
grãos. Ela abriu os olhos, que estavam um pouco lacrimejantes.
— Você não deu esse grão para os cavalos, não é? Cheira a verde.
Ele olhou para ela, carrancudo estranhamente.
— Você está certa sobre isso, senhorita. Tínhamos três sacos que foram
descartados por serem muito verdes.
Josie fechou os olhos novamente.
Quando Mayne apareceu na porta, ela estava dormindo. Ele ficou
parado por um segundo, olhando para ela e sentindo uma onda de raiva
como nunca havia experimentado antes. Billy estava certo. Mesmo olhando
para ela à distância, ele poderia dizer que Josie havia sido estuprada. Seu
rosto estava branco e listrado de lágrimas. Seu cabelo caía sobre os ombros
e seu vestido estava rasgado e salpicado de lama marrom, como se ela
tivesse sido jogada no chão, como se ela tivesse resistido. Mayne se viu
ofegante de tanta raiva.
Billy estava ao lado dele.
— Você tem que levá-la para casa—. disse.
O comentário o tirou de sua paralisia.
Ele abriu a porta e entrou na baia, agachando-se ao lado dela. Todo o
cabelo lindo caiu para o lado. O vestido estava rasgado. Ele podia ver um
pouco de seu ombro branco-creme através do tecido. E seu vestido estava
coberto de manchas marrons de lama. Ela deve ter passado por uma
experiência terrível. Ele puxou a capa dos ombros e colocou-a para que
ninguém a reconhecesse quando a carregasse para fora, e então com um
único movimento, ele a ergueu e se levantou.
Num momento ele a estava segurando, e no seguinte ela o acertou com
tanta força no olho que ele a deixou cair sem cerimônia.
— É sua senhoria—. Ela ouviu Billy dizer.
Mas com o único olho que ainda estava aberto, Mayne estava olhando
para o vestido de Josie, que foi literalmente rasgado nas costas. Ele quase
vomitou. — Como isso aconteceu com você? — ele disse roucamente, sua
voz saindo com o rosnado de um cachorro. — Quem?
— Eu sinto muito—, disse ela—. Você colocou aquela capa sobre meus
olhos e eu pensei ...
— Quem?
— Eu... eu...— Seus olhos se encheram de lágrimas. Billy puxou a capa
sobre os ombros dela e empurrou-a suavemente para o lado da baia ao som
de passos.
— Melhor conversar mais tarde—. disse ele a Mayne.
Mas Mayne achava que ele não conseguia falar. Ele tinha acabado de
perceber que havia sangue nas saias de Josie.
Não muito, mas o suficiente. O mundo literalmente escureceu na frente
dele, e ele balançou por um momento. Ele não achava que poderia fazer
nada. Então ele desviou os olhos e forçou seu estômago a se acalmar.
— Mayne? — Josie disse um tanto incerta—. Você poderia me levar
para casa? Sylvie está esperando por você?
Ele se virou—. Coloque a capa sobre sua cabeça—, ele ordenou. Ela
cobriu-se obedientemente.
— Não há ninguém no corredor—. Relatou Billy.
Mayne não respirou até que eles estivessem em sua carruagem. Mesmo
lá, ele não conseguiu encontrar outra palavra além de uma.
— Quem?
Josie estava encolhida em um canto. Ela parecia uma garota de quatorze
anos. Mayne sentiu sua garganta fechar novamente. Ela não deu sinais de
querer responder.
— Oh Deus—, disse ele lentamente—. Não ... foi mais que um?
Ela balançou a cabeça e, naquele momento, Mayne viu uma lágrima
escorrer por seu rosto.
Ele se ajoelhou ao lado da garota e segurou suas mãos. Elas estavam
molhadas de lágrimas, frias, delicadas.
— Apenas me diga o nome, Josie. Eu vou cuidar de você.
“... e dele”, ela disse a si mesma em silêncio.
Ela balançou a cabeça novamente.
— Eu não vou me casar com ele.
— Claro que não! — As palavras estavam engasgando em sua garganta.
Ele estava prestes a dizer a ela que quem quer que fosse o homem, ele não
estaria vivo para considerar um possível casamento, mas se conteve.
— Se eu disser quem ele é, terei que me casar com ele—, Josie
sussurrou, liberando uma das mãos para enxugar as lágrimas que
inundavam seu rosto. — Não posso.
— Os mortos não se casam.
Um pequeno sorriso tremeu em seus lábios.
— E você vai comer o coração dele no mercado?
Mayne se sentou e voltou ao seu lugar, puxando-a para seu colo. Era
tudo muito inapropriado, mas ela havia sido estuprada e estava citando
Shakespeare. Isso era tão adequado com Josie que seu coração inchou.
— Beatrice gostaria de ter sido um homem; Eu sou aquele homem—,
ele disse, falando para o ar—. Vou matá-lo primeiro e depois nos
preocuparemos com o destino de seus órgãos.
Ela se encostou nele e chorou.
— Prefiro que ninguém saiba, nem mesmo você, Mayne.
Mayne ficou imóvel e parou de embalá-la. Ela havia passado por uma
experiência terrível—. Você precisa me dizer o nome dele.
— Matar é uma pena muito dura—, disse ela—. Terei que pensar sobre
isso—. E isso foi o máximo que ela disse, exceto que, no meio de seu
discurso, ela começou a chorar, então ele fechou a boca e pensou na morte
com óleo fervente.
Quando chegaram à casa de Tess, ele a carregou para dentro. O
mordomo deu uma olhada em seu olho que inchava rapidamente e abriu a
boca para dizer algo, mas Mayne o empurrou. Um segundo depois, ele
colocou Josie no chão, e ela correu para a irmã. A capa caiu e ele encontrou
os olhos de Felton por cima das mulheres que abraçavam Josie.
Josie estava chorando de novo e Tess estava dizendo coisas frenéticas e
incoerentes e traçando as costas de Josie com as mãos trêmulas.
Felton estava ao lado dele em um passo, seus olhos tão frios como os de
uma víbora. — Quem? — perguntou.
Mayne balançou a cabeça—. Ela não quis me dizer. Não foi...— ele
disse com dificuldade — mais de um. Eu a encontrei nos estábulos.
Felton olhou por cima do ombro. Tess puxou Josie para o sofá e falava
rápido, em voz baixa—. Como ela se separou de você?
— Eu não sei. Griselda desmaiou e saiu de cena. Josie estava logo atrás
de mim, e então ela não estava mais. Procuramos em todos os lugares;
Sylvie e eu até fomos aos estábulos.
Josie estava balançando a cabeça.
— Ela nunca vai contar—, disse Mayne. — Ela tem medo que a
façamos casar com ele—. Lucius Felton se moveu repentinamente e Mayne
leu o movimento—. Ela não entende isso—. Havia uma cumplicidade de
assassinato em seus olhares.
— Tess vai descobrir quem fez isso—. disse Lucius.
— Como você sabe?
— Eu sou casado com ela.
Mayne concordou com a cabeça—. Vou para casa buscar Griselda—.
Juntas, Tess e Griselda cuidariam de Josie. Se isso fosse possível.
Capítulo 26
Do Conde de Hellgate,
Capítulo dezenove
Antes de recuperar o bom senso, caro leitor, a bela Hipólita - fico
envergonhado em dizê-lo - tinha-me amarrado à parede com uns ganchos
engenhosos e com as fitas dos seus cabelos. Você vai me criticar por não
quebrar esses laços frágeis, mas imagino que qualquer homem que
encontrar essas palavras entenderá minha hesitação. Porque ele não podia
ferir seus sentimentos, e imediatamente começou a realizar tais atividades
diabólicas ...
Pela quarta vez, Griselda disse que precisava ir embora. Ela não queria. O
problema era Darlington. Como ele ousava olhar para ela com aquela
expressão extasiada, como se ele achasse o que ela dizia - não importa o
quão fútil seja - loucamente interessante? E como ele ousa fazer um lençol
parecer tão elegante?
— Imagine se todas as suas amigas pudessem te ver agora!
Ela estremeceu com o pensamento—. Nem mencione isso—. Ela
implorou.
Uma sombra cruzou seus olhos—. Não é tão ruim, é?
Ela rolou para o lado também, e então se apoiou em um cotovelo, de
modo que ficaram um de frente para o outro. O lençol escorregou até a
cintura, deixando um peito largo e ombros mais largos, cabelos loiros
despenteados e aquelas maçãs do rosto arrogantes. Cada centímetro de sua
antiga linhagem falava nas maçãs do rosto.
— Você parece um doce de açúcar—, disse Darlington—. Eu poderia
comer você no café da manhã e em todas as refeições depois disso.
Griselda riu e seu cabelo deslizou sobre o peito. Parecia perversamente
decadente deitada na cama com o lençol na cintura, os seios desnudos, ou
mesmo ... apenas ali. E seus olhos os devorando.
— Como você pode suportar ser tão bonita? Eu acho que seria como
Narciso e me admiraria o dia todo.
— Você também é adorável. — disse ela, memorizando seu rosto.
Ele encolheu os ombros. — O melhor para comprar uma esposa para
mim, suponho.
— Você tem alguém em mente?
— Eu não consigo pensar em um assunto tão assustador quando tenho
você comigo.
— Que tal a Senhorita Mary Parish? — Ela perguntou.
— Aquela garota com espinhas?
— Muito poucas, e elas não vão durar mais do que um ano.
Ele balançou sua cabeça.
— Não.
— Você não deveria se concentrar tanto na beleza física—. Ela estendeu
a mão e traçou uma trilha através dos músculos de seu peito. A pele de
Darlington parecia muito quente e ligeiramente áspera por causa do cabelo
—. Lady Cecily Severy é filha de um duque, você não se importa?
— E como é a sua terceira temporada (ou já é a quarta?), não pode ser
muito exigente ou simplesmente recusar um terceiro filho sem um tostão—.
Acrescentou ele.
A viúva ouviu o leve tom de sarcasmo em sua voz e estendeu a mão
para acariciá-la suavemente.
— Você tem muito a oferecer.
— Na verdade, não. Tenho um certo gênio para fazer frases engraçadas,
mas quando fico com raiva, sou um verdadeiro bastardo. Tenho poucas
habilidades, graças à crença equivocada de meu pai que eu entraria para a
Igreja. Ele ficou obcecado por esta estranha ideia, quando havia muitos
indícios que apontavam o contrário.
— Você deve manter um certo padrão de vida—. disse Griselda,
sorrindo para ele.
Mas ele não sorriu de volta.
— Depois que meu pai se acostumou com a ideia de que a Igreja não
era para mim, ele começou a levar para casa listas de debutantes. Moças de
boas famílias, com um ótimo dote. Claro, elas não poderiam ser da melhor
qualidade, porque do contrário elas nunca concordariam em se casar com
alguém como eu. Meu pai encontrou um equilíbrio difícil: ele teve que
encontrar uma garota com dinheiro, cujos pais ficaram tão deslumbrados
com o parentesco de genro com o duque de Bedrock que esqueceram sua
pobreza, sua falta de habilidades e sua desesperança inútil.
Griselda levou a mão à boca.
— O pequeno pastor de ovelhas—. Ele sussurrou.
Os olhos de Darlington escureceram, provavelmente cheios de
autodesprezo.
— Aquela pobre garota acabou sem um parceiro por uma temporada
inteira.
— Mas ela teve um casamento feliz no ano passado—. disse Griselda.
— Claro, ela não teria sido feliz no casamento comigo, mesmo se o pai
dela e o meu tivessem tudo perfeitamente resolvido.
Griselda estava olhando para ele.
— Você não estava apenas procurando sucesso social com suas frases
espirituosas. Acima de tudo, você estava se livrando das escolhas que seu
pai fez. Acho que Josie teve o azar de chamar sua atenção.
— Uma escolha perfeita, do seu ponto de vista. O berço da Senhorita
Essex é impecável. Seu dote também era conhecido por ser bastante grande.
Ao mesmo tempo, ela não tinha pai e tinha a reputação de não ser
exatamente perfeita do ponto de vista da beleza física. Ela era o tipo de
jovem que poderia me aceitar sem questionar.
— Seu pai não poderia ter dito tudo isso!
— Bem, ele disse.
— Ainda assim, você nunca deveria ter dito que Josie era um Salsicha
Escocessa. Nunca.
— Estou lhe dizendo apenas para que você me despreze tanto quanto eu
me desprezo—, disse ele, com a voz neutra—. Arruinei a vida de várias
meninas, entre elas sua pupila, simplesmente para que meu pai não pudesse
promovê-las como noivas adequadas para mim.
Não adiantava fingir.
— Isso foi muito cruel—. Fatal. Griselda falou em tom de grande
reprovação—, Embora seja compreensível—, ela hesitou—. Mas você
nunca mais vai fazer isso, agora está pensando em se casar, não é mesmo?
— Casar com uma debutante?
— Sim.
— Não o farei.
— Mas eu pensei ...
— Eu mudei de ideia. Recentemente.
O coração de Griselda batia cada vez mais rápido, à medida que as
perguntas que ela queria fazer se acumulavam. Por que ... Por que ... Por
que ... Mas ele não disse nada. Essas dúvidas, na verdade, não eram da
conta dela ...
— Você não quer me fazer nenhuma pergunta?
Ele continuou inclinado na frente dela, olhando para ela como uma
sinfonia dourada de músculos e cabelos sedosos.
Absolutamente não.
— Gostaria de falar sobre suas futuras núpcias? — disse ela, sentindo
uma curva de sorriso em seus lábios que era tão velha quanto a própria
Cleópatra—. Eu não. Mas posso pensar em algumas perguntas muito
importantes ... Vou fazer essas perguntas?
Ele estava sorrindo para ela através do cabelo sobre os olhos, então ela
o afastou.
— Primeira pergunta—, ela disse—, e preste muita atenção, por favor.
O que você mais gosta nessa parte do meu corpo?
A resposta de Darlington envolveu uma demonstração de atrito e física
... e de alguma forma ela nunca chegou à sua segunda pergunta.
Capítulo 27
Do Conde de Hellgate,
Capítulo dezenove.
Ela tirou minha roupa, caro leitor, enquanto eu permanecia transfigurado,
silencioso como um bloco de mármore que ainda não foi beijado pela vida.
Como posso dizer isso sem me sentir oprimido pelo rubor? Eu permiti que
ela fizesse o que quisesse comigo. Se quisesse me chamar para o seu lado
no meio de uma dança, eu viria. E se lhe daria o prazer de me pedir para
tirar minhas roupas, mesmo no meio da mais alta sociedade, nos salões do
Almack, caro leitor, desmaio ao escrever estas palavras, eu ... Minha caneta
cai dos meus dedos desesperados ...
Thurman não estava tendo uma boa noite. Ele voltou para casa em um
estado lamentável e fedorento, e se lavou, incapaz de conter grunhidos de
frustração e raiva. Ele desabafou gritando com seu criado e duas vezes
devolvendo o jantar para a cozinha para ser feito novamente.
Só no meio da noite ele sentou-se ereto na cama com um juramento nos
lábios.
De repente, percebeu que pela manhã ele poderia ser ameaçado por uma
espada longa e fria. Olhou para a luz cinza infiltrando-se em seu quarto e
pressionou nervosamente na beira da colcha.
— Maldição! — ele sussurrou em voz alta—. Se a salsicha fosse a todos
os seus cunhados e lhes dissesse seu nome, ele se casaria com uma escocesa
gorda antes da noite seguinte—. Ele levantou as cobertas e saiu da cama, as
pernas nuas e frias sob a camisola.
— Não—, gemeu—. Não, não e não.
Seu pai não o apoiaria. Nesse caso, não. O que ele estava pensando? Ele
ficou um pouco fora de controle quando a maldita jovem lutou com ele. Na
verdade, foi culpa dela. Ela deveria ter percebido a honra que estava
prestando a ela ao se dignar a beijá-la, e então nada disso teria acontecido.
A última imagem que ele teve dela, seu vestido rasgado e seu cabelo
caindo sobre os ombros, passou diante de seus olhos. Ninguém acreditaria
quando ele dissesse que não tinha rasgado o vestido dela. E ele não tinha.
Ele nem sabia como isso aconteceu. Tudo o que ele fez foi agarrar um de
seus seios, só para ver se eram tão grandes quanto pareciam.
Um leve sorriso escapou ao lembrar a cena. Ninguém não consegue
conter um Thurman quando o fogo o atinge. No fundo, somos todos iguais e
é por isso que as donzelas da aldeia têm que ter cuidado quando ...
Mas ela não era uma donzela de aldeia, esse era o problema. E ele (só
de pensar nisso engasgava) poderia acabar casado com uma mulher que
parecia uma grande vaca. Ao imaginar a maneira como seus irmãos iriam
rir dele, ele sentiu uma necessidade irresistível de matar alguém.
Por fim, água fria foi derramada em seu rosto. Concordou em se vestir
depois que seu valete, Cooper, o questionou duas vezes. Ele hesitou,
pensando tolamente que os cunhados da salsicha não atacariam um homem
despido.
Por volta das dez horas da manhã, ele já havia percorrido seu escritório
cem vezes, andando nervosamente de um lado para o outro. Claro que ela
falaria com seus cunhados. Essa mulher não perderia a oportunidade de se
casar com o filho mais velho de um cavalheiro. Droga. Droga. Droga.
Ela tinha um bom dote, repetiu para si mesmo. E seus seios não eram
nada ruins. Na verdade, no escuro, uma mulher é igual a qualquer outra
mulher. Eu poderia ...
Não podia! Ele queria rir alto com esse pensamento. A ideia de que ele,
um dos amigos íntimos de Darlington, se casasse com uma mulher que era
chamada de salsicha escocesa fez sua garganta inchar a ponto de estourar.
A aparição de Cooper para anunciar uma visita foi quase um alívio.
— Diga a eles para entrarem! — Ele perdeu a cabeça.
Cooper piscou.
— É apenas um. É um homem chamado Harry Grone.
Ele não era um cavalheiro. Não era um cunhado. Thurman assentiu.
Seria uma espécie de intermediário, advogado, talvez?
Ele ficou na frente do fogo, as pernas bem separadas.
— O que você quer então? — Ele latiu no momento em que Cooper
fechou a porta ao sair. Tinha que ser agressivo e masculino. Ele decidiu
negar tudo. Valeu a tentativa.
Mas o visitante não era o advogado do conde. Na realidade...
— Vim pedir-lhe um pequeno favor—. disse o homem. Era como uma
ameixa velha e seca que dava a impressão de ter poucos dentes e menos
inteligência. Thurman não suportava os velhos. Eles tinham um cheiro
desagradável e urinavam nas calças.
— A resposta é não.
— Estou disposto a pagar muito por sua generosidade—. Relatou o
homem. Ele tirou um saco de soberanos.
Thurman sentiu seu coração voltar à velocidade normal. Seu pai o
mantinha bem suprido com tudo de que um jovem herdeiro mundano
precisava. Ele não precisava de nada do velho.
— Saia da minha casa—. Ele ordenou.
— Tudo que eu queria eram algumas informações sobre a gráfica de sua
família. Apenas algumas informações. Não demorará mais do que um
momento para o jovem cavaleiro descobrir.
Aquele idiota não pensaria que ele, Thurman, alguma vez visitou a
gráfica, não é?
— Você leva uma vida extremamente cara—. Murmurou o homem—.
Talvez você pudesse usar este pequeno presente para pagar uma dívida de
jogo ... ou uma conta de alfaiate ...
— Eu não jogo—. Ele começou a andar em direção a Grone. Era
absolutamente justo massacrar aquele canalha, membro por membro. Grone
estava questionando sua honra. Ele merecia uma surra.
O homem saltou para trás mais rápido do que Thurman esperava que
um destroço se desdobrasse.
— Vou deixar meu cartão para você—. gritou ele, jogando algo sobre a
mesa—. A oferta é boa, senhor—. E ele foi embora antes que Thurman
pudesse alcançá-lo.
Thurman não pegou o papel, mas em vez disso ergueu a mesa inteira,
com o cartão sobre ela, e jogou-a contra a parede. Ela voou em pedaços,
com uma grande chuva de estilhaços. Os malditos móveis de Hepplewhite
eram feitos de palitos de dente.
Capítulo 33
Do Conde de Hellgate,
Capítulo vinte e quatro
Ela veio a mim em uma segunda-feira e morreu na sexta-feira, em uma
série de eventos muito lamentáveis. Gosto de pensar que voou dos meus
braços para o seio de Deus, mas se for para ser dito de forma menos
poética, o que aconteceu foi que ela comeu um pedaço de bolo de enguia
estragado e morreu pouco depois.
Era a noite de núpcias e Josie não conseguia dormir. Ela nunca se sentiu tão
fracassada. Quando ela tentou informar Mayne da verdade, dizer-lhe que
não havia sido estuprada, ela se amedrontou e, portanto, ele ainda
acreditava que o ataque havia sido consumado até o fim.
Se havia alguma mulher no mundo que pudesse ser franca, e falar sem
rodeios, sobre um assunto tão vergonhoso, era ela. Josie sabia disso muito
bem. Ela poderia ter dito ... havia um milhão de coisas que poderia ter dito.
Por exemplo, ela poderia ter observado elegantemente: "Não fui tocada por
aquela víbora nojenta."
Ou mais diretamente: "Assim que joguei o estrume nele, o cavalheiro
em questão fugiu."
Ou ainda mais diretamente: "Minha pessoa está intacta e não há
necessidade de você se casar comigo."
Ou da forma mais direta de todas: “Sou virgem. Ainda."
As palavras que ela poderia ter dito a Mayne continuavam vindo e
passando por sua mente. “Eu não fui estuprada”, poderia ter dito. Ou este:
“O homem nunca me tocou intimamente, a não ser algumas apalpadelas
ásperas nos meus seios”.
A verdade é que ela havia passado um ano pensando em como enganar
um homem para que se casasse com ela, e agora que o fez, a enormidade de
seu erro ameaçava afogá-la. Os romances da Minerva Press eram apenas
isso, romances. Ninguém se importava com o que a heroína havia dito ao
herói depois que ela conseguiu enganá-lo para casar-se.
Sua mente disparou, pensando na magnitude do seu crime, para dar ao
fato o nome correto. Ele tinha se casado sob falso pretexto. Ela havia
permitido que Mayne se sacrificasse, pensando que seria impossível para
ela se casar de outra forma, quando a verdade é que só era impossível casar
com ela porque ela era uma mulher gorda, maquinadora e horrível.
Mas, não era como se houvesse roubado Mayne de alguém. Josie tinha
certeza de que Sylvie nunca o aceitaria de volta ou tentaria recuperá-lo. Não
depois da forma como havia falado com ele, cheia de ódio. Nesse aspecto,
ela não tinha nada pelo que se culpar.
Embora, é claro, Mayne pudesse desejar se casar com outra pessoa, até
mesmo para insistir em uma figura pequena e delicada como a de Sylvie.
Josie engoliu as lágrimas. Comparada com Sylvie, ela era uma besta
enorme e desajeitada, apenas curvas e carne.
Um pouco depois, Josie suspirou e esfregou a testa. Ela estava em uma
casa estranha que pertencia a um homem que provavelmente anularia seu
casamento na manhã seguinte. Estava com uma dor de cabeça que não
conseguia suportar. E, só podia pensar que a mortificação que teria que
enfrentar pela manhã seria totalmente diferente de tudo que experimentou
antes.
Na hora do desjejum, se não antes, ela esclarecia as coisas, diria a
verdade. Ela diria apenas a Mayne que ela era uma virgo intacto. Seria
muito mais confortável dizer uma coisa dessas em um idioma diferente do
inglês. Se houvesse criados na sala, eles não entenderiam o que ela estava
dizendo. O único problema era que ela não tinha certeza se a expressão
estava correta.
Virgo immaculata também parecia familiar. Imaculada certamente
significava intocado por qualquer homem. Então, talvez fosse a frase certa.
Ela continuou revirando o assunto, pulando de uma expressão para outra.
Ela estava imaculada ou intacta?
Cerca de meia hora depois, Josie decidiu que estava ficando louca. Se
ela estivesse na casa de Rafe, teria consultado seu dicionário de latim. Ela
finalmente decidiu ir à biblioteca de Mayne para encontrar as palavras
certas. Não conseguiria dizer em inglês: "I am a virgin."
A casa estava silenciosa como um túmulo quando saiu pela porta do
quarto. O andar de cima era charmoso, com um corredor curvo que dava
para a sala de estar do andar de baixo. Provavelmente, a porta que levava
diretamente ao topo da escada era seu quarto. Josie prendeu a respiração e
caminhou na ponta dos pés. Era óbvio que ela morreria de vergonha se ele
acordasse.
Ela esgueirou-se escada abaixo sob a luz fria do luar que entrava pela
porta da frente, agarrando-se ao roupão. Mesmo assim, ela não ouviu nada.
A antecâmara era um amplo círculo de piso de mármore, as paredes
revestidas de retratos.
A pintura de uma mulher que provavelmente era a mãe de Mayne foi
posicionada sob um raio de luz.
Ela estava sem cor sob o brilho da lua, mas os olhos de Josie voaram
para a cintura fina da condessa viúva. Ela provavelmente nem precisava de
um espartilho; ela era tão pequena. Em seu rosto estava a confiança
absoluta de uma mulher perfeita, o tipo de mulher que nunca experimentou
uma mancha ou sentiu um desejo traidor por outro muffin com manteiga.
A simples visão da mãe de Mayne fortaleceu a determinação de Josie.
Sua mãe era francesa e Sylvie era francesa. Todo mundo sabia que as
francesas eram todas esguias. A casa de Mayne era o tipo de casa para a
qual Sylvie era uma amante apropriada.
A porta à esquerda certamente levava a uma sala de estar. Se a casa de
Mayne fosse projetada da mesma maneira que a casa de Rafe na cidade, a
segunda porta seria para uma sala de jantar, e a terceira ...
Ela empurrou suavemente. O quarto estava escuro como breu. Ela
avançou tateando na escuridão, tropeçando no caminho até a parede. A
primeira coisa que seus dedos estendidos encontraram foi uma fileira de
livros, a sensação fria de suas encadernações de couro inconfundível. O
alívio inundou seu peito.
Ela tateou de lado até encontrar o veludo macio de uma cortina. Ela
puxou de volta, estremecendo com o barulho dos cabides das cortinas acima
dela. Uma janela francesa dava para um muro de pedra que brilhava
estranhamente prateado ao luar. Além do muro, o jardim parecia mágico e
bastante assustador, como se fosse um lugar onde os desejos se realizavam e
as fadas dançavam.
— Ridículo—. Josie sussurrou para si mesma.
A lua estava tão brilhante que era quase como a luz do dia, exceto que a
luz do dia é um âmbar brilhante e a luz da lua é uma luz mais selvagem e
cintilante. Todo o gramado parecia estar debaixo d'água.
Como se estivesse enfeitiçada, Josie decidiu seguir em frente. A
maçaneta girou com a mão e ela saiu. Por um momento ficou parada,
olhando para as janelas da casa. Mas Mayne sem dúvida estava dormindo,
dormindo o sono justo de um homem caridoso, um homem que via o
casamento como um instrumento para resgatar donzelas em perigo. Ela não
conseguia ouvir um único barulho na casa, agora atrás dela.
A trilha do luar cortava o gramado como uma larga faixa prateada.
Diria-se que era uma luminosidade viva. No final do jardim erguiam-se
árvores e o luar brincava nas frágeis folhas verdes, ainda não queimadas
pelo sol de verão. O pequeno bosque parecia uma cidade encantada, ou uma
floresta de fadas, erguendo-se da grama para um céu estrelado.
Josie piscou enquanto seu olhar varria o gramado. Havia algo que ela
não entendia sobre aquelas árvores. Esta era uma pequena árvore de
espinheiro, e além dela havia um carvalho. Ao lado, uma macieira e o que
talvez fosse uma pereira Chantecler. Deu a impressão de que luzes pálidas
ficaram presas por um segundo nas árvores e depois desligadas.
Tal visão deveria tê-la apavorado, mas não. Ela nunca acreditou em
fadas ou seres sobrenaturais, nem mesmo quando era pequena. A menos
que estivesse cara a cara com alguma dessas entidades, ela ainda não teria a
menor fé em sua existência.
Mesmo assim, percebeu algo além do racional naquele jardim, mas não
teve medo. Em vez disso, toda a angústia e o medo associados às suas
experiências mais recentes, o ataque horrível de Thurman e o casamento
apressado, quase que por mágica desapareceram.
Não estava frio lá fora. Era uma temperatura amena de primavera,
adequada para caminhar sem roupas quentes. Josie de repente estava
confortável com sua pele, seus ossos e seu corpo inteiro. Ela não sentia isso
há muitos anos, desde que era criança, antes de se tornar constrangida sobre
o que acreditava ser sua gordura.
Ela queria rir alto, de pura felicidade inexplicável. Mas, não o fez e, em
vez disso, correu para a frente, deixando os chinelos na porta da casa. Ela
também não corria descalça há muito tempo. No começo foi irritante, quase
doloroso, mas imediatamente sentiu que era maravilhoso deixar os dedos
dos pés brincar na grama macia. À frente dela, o rastro de luar emitia seu
brilho oscilante. A grama, naquela luz difusa e trêmula, parecia se
transformar em um lago. A faixa de luz a embriagou, convidando-a a
dançar, pular e gritar. Mas ela não quis ceder aos seus impulsos, porque já
era uma senhora adulta ...
Talvez apenas um passo balançando e correndo aqui e ali.
Do outro lado do gramado e à sombra de um jovem espinheiro, ela se
virou para olhar para a casa.
Nada estava mexendo. A casa estava dormindo, cada janela vazia e nem
mesmo o brilho fraco de uma vela podia ser visto.
Ela pegou outro lampejo com o canto do olho, como um brilho de fada.
Então ela alcançou a árvore, sentindo seu cabelo ficar preso em um galho.
Ela teve que desamarrar a fita de cabelo e sacudir o cabelo para se soltar do
galho. Mas então ela estendeu a mão novamente e agarrou um dos pequenos
objetos pendurados nos galhos, puxando-o com força.
Ela o retirou para examiná-lo ao luar.
Não era uma fada.
Era uma bola de vidro. Uma bola de vidro perfeitamente redonda
pendurada por uma fita no galho. Josie franziu o cenho. Ela não conseguia
imaginar por que tal ornamento estaria pendurado em uma árvore. Mayne
poderia ter feito tal coisa?
Havia gravuras no vidro, mas ela não conseguia vê-las bem ao luar. No
entanto, como era lindo! Quando ela ergueu o globo, ele pegou o brilho da
lua e o jogou de volta em sua mão. Por um momento, ela apenas o segurou,
girando-o de forma que a luz aquosa da lua dançasse sobre suas mãos e
braços, captando a escuridão desgrenhada de seu cabelo. Havia bolas de
vidro em todas as árvores, grandes e pequenas, lançando uma adorável
confusão de luz e sombras sobre o gramado.
Josie se afastou um pouco mais. Toda a sua tristeza se foi, toda a dor,
aversão a si mesma e ódio lavados sob a luz da lua. Amanhã é outro dia.
Esse pensamento pareceu uma bênção, como se realmente houvesse fadas
dançando na floresta de Mayne.
O pensamento a fez rir. Seu marido era um homem conhecido por ter
dormido com a maioria das mulheres casadas da alta sociedade ... ele era
um homem que tinha um bosque de fadas em seu quintal? Suas fadas
seriam pequenas ninfas lascivas, companheiras de brincadeiras de Baco.
O interior da floresta acenou como um sonho sombrio. Havia rosas
primitivas crescendo em algum lugar; ela podia sentir seu perfume suave. O
perfume delas também acenou, então, sem olhar para trás para a casa de
dormir, Josie foi à deriva na floresta, segurando sua gota de luz de luar na
mão.
Mayne ficou na soleira da biblioteca até ter certeza de que Josie estava
encontrando o caminho para o caramanchão de rosas e não voltaria a
emergir da floresta. Então ele caminhou atrás dela, sentindo-se quase
estranho, como se não acreditasse em seus próprios olhos.
Aquela era realmente sua jovem esposa - as palavras ecoaram em seu
peito com uma ressonância intrigante - sua jovem esposa que dançava na
floresta com um redemoinho de cabelo da meia-noite? Ela ergueu um de
seus globos de vidro contra o luar como se fosse uma antiga sacerdotisa
pagã em algum tipo de ato de adoração à lua.
Talvez ela fosse realmente uma deusa pagã, uma divindade inebriante,
um símbolo da feminilidade. Ele tinha congelado ali, observando aquele
corpo doce e seu rosto, como creme ao luar. Mesmo do outro lado do
gramado, ele podia sentir a força da capacidade de Josie para entregar-se à
alegria.
Ela estava vestindo nada mais do que um robe robusto, amarrado na
cintura, mas Mayne descobriu seu coração batendo descontroladamente,
enquanto observava a linha de seu flanco, a maneira inebriante com que ela
se curvava na cintura. Ela parecia uma pintura do grande Rafael, uma das
que ele pintou para sua amada amante. Josie tinha os mesmos braços
macios e seios arredondados das belezas extraordinárias da Renascença.
Cada centímetro do corpo de Mayne queimava para correr pelo
gramado e pegá-la em seus braços. A jovem não parecia mais uma donzela
submissa e estuprada. Ela era fascinantemente sensual, com os pés
descalços e o cabelo solto, sua expressão liberta e feliz.
Uma certeza profunda se instalou no peito de Mayne, e com ela uma
alegria tão profunda que ele quase riu alto. Josie não foi arruinada. O que
quer que tenha acontecido com ela, sua querida menina não foi jogada no
chão e ferida. Mais provavelmente, ela deixou o homem em questão no
chão. Na verdade, agora que ele pensou sobre a história do estrume ... ele
mal conseguia parar de rir.
Em vez disso, ele parou por um momento no pórtico de pedra e tirou as
botas. Ele não se retirou para a cama, ele estava sentado perto do fogo em
seu quarto, pensando no que fazer com uma esposa ferida ...
Que não foi ferida.
A alegria que isso produziu inundou seu corpo. Josie era dele e ela não
estava ferida. Cada batida de seu coração, cada batida de sangue em seu
corpo lhe dizia exatamente o que fazer com aquela ninfa requintada que
acabava de entrar no bosque, dançando.
Mayne correu pelo gramado descalço, sentindo um prazer que nunca
experimentara em seus sórdidos encontros à luz de velas com inúmeras
mulheres cansadas de seus casamentos. Quando chegou ao bosque, olhou
com olhos experientes para as bolas de vidro. Todas pareciam estar
amarradas com força aos galhos, balançando um pouco com a brisa
sussurrante. Elas eram tão bonitas quanto no dia em que tia Cecily as
imaginou e as colocou pela primeira vez.
Ele caminhou por entre as árvores, silenciosamente, em direção ao
roseiral. Certamente, ela estaria lá. O que estava acontecendo deu a estranha
sensação de ser inevitável, como se todo o terror e a dor das últimas vinte e
quatro horas o tivessem levado àquele momento de glorioso encontro com
sua nova esposa. O roseiral ficava nos fundos de seu jardim, protegido em
dois lados pelas antigas paredes de pedra que separavam sua casa da
propriedade vizinha. As rosas floresceram esplendidamente e cobriram,
como grandes listras brancas, grande parte das paredes antigas.
Josie estava sentada no meio da praça, não no banco de pedra, mas com
as costas apoiadas na estátua de um golfinho imortalizado no meio de um
salto. Seu colo estava cheio de rosas, seu perfume doce e delicado
impondo-se na brisa noturna.
— Você não machucou as mãos colhendo essas rosas? — Mayne
perguntou, movendo-se silenciosamente para a parede e percebendo, tarde
demais, que ele deveria ter se anunciado de alguma forma, para não assustá-
la.
Mas ela não gritou.
Ela apenas olhou para cima e sorriu. Mayne sentiu o peito arder ao ver
aquela testa delicada, aqueles olhos ligeiramente voltados para cima, o
movimento harmonioso de seus lindos cabelos.
— Como isso é estranho—, disse ela—. Por um momento pensei que
Dioniso iria aparecer no bosque.
Mayne passou a mão pelo cabelo. Ele pensava que, sem dúvida, para
Josie, ele certamente era tão velho quanto qualquer deus grego.
— Não tenho certeza se isso é um elogio. Não é Dionísio o nome grego
para Baco, o deus do vinho?
— O deus do vinho e da natureza, aquele que carrega um cajado de hera
e cujas sacerdotisas, as mênades, dançam sem parar a noite toda.
Mayne avançou um pouco. Suas calças roçaram as flores, fazendo com
que uma nova onda de perfume enchesse o ar.
— Não tenho dúvidas de que você é uma das mênades. Você vai dançar
a noite toda?
— Eu sou uma péssima dançarina—, Josie se desculpou com uma
risada—. Tenho certeza que você percebeu isso.
Ele se sentou ao lado dela, nas lajes. Os salões de baile do Almack's
agora pareciam um mundo diferente e remoto. Acima deles, o golfinho
projetava sua sombra em arco nas pedras da calçada.
— Estamos no caramanchão de sua tia, certo? — Ela adivinhou.
— Isso mesmo—, respondeu o homem—. Segundo meu pai, depois da
torre, este era seu lugar preferido. Ela plantou roseiras antes de ficar doente.
Mesmo quando estava extremamente fraca, ela pediu aos criados que a
trouxessem para o gazebo quando o tempo estava bom.
— É lindo e mágico o suficiente para me fazer acreditar em fadas. E vos
garanto que sou uma pessoa muito incrédula, para não dizer de imaginação
extremamente pobre.
— Não acredito. Com todos os romances que você leu!
— É a verdade. Quando éramos jovens, brincávamos de inventar
personagens, como todas as garotas. Annabel era brilhante em imaginar
histórias e Imogen intervinha com talento. Eu não tenho imaginação
nenhuma. Gosto de coisas razoáveis, coisas que podem ser claramente ditas
e compreendidas.
Mayne apoiou a cabeça no pedestal e olhou para o céu. Parecia estar tão
perto que era quase possível tocá-lo. Parecia uma superfície de veludo
macio, atrás da qual as estrelas brilhavam.
— Cecily realmente acreditava que havia fadas que viviam aqui no
bosque. Ela pendurou as bolas de cristal para agradá-las.
— Quando eu as vi, percebi que estavam aqui por um motivo como
este. Amo que as tenha preservado, que homenageie a memória de sua tia.
— Meu pai gostaria que fosse assim—. disse Mayne—. Ele morreu de
repente, mas eu sei que se soubesse que estava indo embora, teria me
pedido para fazê-lo.
Ela não disse nada, mas segurou sua mão. Para horror de Mayne, seu
corpo começou a tremer, mas a jovem não percebeu. Sua mão, macia e
quente, apertou a do marido.
— Você gostaria de ficar viúva, Josie? Parece que na minha família não
vivemos muito.
— Isso é um absurdo.
— Eu sou muito mais velho que você.
— As mulheres morrem muito mais facilmente do que os homens—,
garantiu ela—. No parto, por exemplo.
— Pensamento muito triste.
— E você não é muito mais velho do que eu. Quantos anos você tem?
— Quantos anos você tem?
— Dezoito.
— Quando eu tinha dezoito anos—, disse Mayne após um momento de
silêncio—, já havia seduzido duas mulheres casadas e havia sido rejeitado
por outras três.
— Fui rejeitada pela maior parte da alta sociedade—, disse Josie
alegremente—, e se eu seduzi-lo, você será o meu primeiro homem casado.
Mayne virou a cabeça e olhou para ela, o diabo em seus olhos.
— Não tenho certeza se ouvi direito.
— Claro que você me ouviu muito bem.
— Um rosto de anjo—, ele definiu—, mas a língua de um demônio.
— A expressão de desejo carnal dentro do casamento é uma atitude
virtuosa. Além disso, sempre quis seduzir um homem e depois casar com
ele.
— É tarde demais para isso.
— Na verdade, esse casamento pode ser anulado.
Ele ficou em silêncio, olhando para ela. Sua camisola desabotoada na
frente com minúsculos botões de pérola que brilhavam fracamente ao luar.
Segurando seu olhar, ela alcançou o primeiro botão e o desabotoou.
— Josie—. disse ele.
— Sempre planejei tramar meu caminho para o casamento com um ato
atrevido—, disse ela—. Na verdade, eu não pretendia ser tão atrevido—, ela
desfez outro botão — mas posso ver muito bem que você irá anular esse
casamento amanhã, dizendo que é muito velho.
— Eu sou velho demais para você.
— Você tem cinquenta anos?
Ele fez um som como uma risada assustada—. Não.
— Quarenta?
— Ainda não.
— Quantos anos depois de trinta?
— Quase cinco.
— Trinta e quatro anos é uma idade muito boa para um homem.
Se Mayne fosse mesmo Dioniso, ela pensou, ele a seduziria, é claro.
Dionísio não respeitava as donzelas e nem suas virgindades.
O chato é que Mayne estava apenas segurando a mão dela, como se ela
fosse uma criança de sete anos.
No entanto, algo sobre a noite selvagem e subaquática havia esclarecido
tudo para Josie. Ela queria Mayne. Era uma fome terrível, o tipo de emoção
embaraçosa que leva alguém a enganar um homem até o casamento.
— Mayne—. disse ela, decidindo-se.
— Me chame de Garret—. disse. Ele soltou a mão dela e espalhou
pétalas de rosa ao redor de seus pés de uma forma distraída.
— Eu sou—, disse ela, fazendo uma pausa para tornar suas palavras
mais impressionantes—, uma virgem imaculada.
Mayne respondeu de uma forma muito gratificante. Seu queixo caiu,
sua boca escancarada, e ele olhou para ela com piscadelas incontroláveis,
como um idiota de aldeia.
— Você é?
Josie sorriu para ele.
— É horrível ou maravilhoso?
— Você é realmente virgem?
— Bem, eu acho que sim.
— Você quer dizer, como Maria, Virgem Imaculada?
— Suponho que sim—. disse ela hesitante.
O rosto de Mayne tinha uma expressão estranha, como se ele estivesse
prestes a cair na gargalhada.
— Você está preocupada com isso?
Ela olhou para ele com o cenho franzido.
— O que eu acabei de dizer sobre mim?
— Vamos ver—, disse ele—. Acho que você acabou de dizer que é uma
virgem imaculada. Como se você fosse um tabernáculo sagrado vivo.
Minha mãe é francesa, católica e muito devotada a Maria. Virgem
Imaculada é uma forma de nomear Maria, que nasceu sem pecado original.
Houve um momento de silêncio.
— Sempre pensei que ia me casar com um santa—, continuou Mayne.
Naquele momento ela pôde ver uma expressão profunda de diversão em seu
rosto—. E minha mãe ficará muito feliz. Você sabe que ela é abadessa,
certo? Imagine como ela vai ficar feliz.
Na verdade, foi engraçado. Sem perceber, Josie começou a rir, primeiro
baixinho, depois com intensidade crescente. Ambos terminaram
gargalhando descontroladamente.
— Você se casou com um santa! — disse arfando, incapaz de parar de
rir.
— Coisas estranhas acontecem—. Mayne pegou um punhado de pétalas
de rosa e espalhou sobre a cabeça da jovem—. Não sei se você é mesmo
uma santa, porque está particularmente pagã esta noite—. Havia algo nos
olhos do homem que fez Josie querer rir e ficar em silêncio ao mesmo
tempo—. Claro, eu ficaria muito perplexo se descobrisse que uma
divindade escolheu você para conceber seu próprio filho.
Sua risada desapareceu. Uma pétala de rosa sedosa deslizou por uma de
suas faces.
— Eu queria que você fosse reservada exclusivamente para mim.
— Mas você não pensava assim inicialmente—, respondeu Josie. Agora
era a hora de ser absolutamente clara. A maior franqueza era necessária—.
Você se casou comigo pensando que eu não era virgem, Garret. E ainda
assim ... eu sou.
— Porque você jogou uma pá de estrume nele antes que ele a forçasse.
Ela acenou com a cabeça.
— Você não precisava se casar comigo. Podemos anular o casamento—.
Na verdade, ela não tinha intenção de permitir que Mayne fizesse algo tão
precipitado. Mas, pelo que ela sabia sobre os homens, era melhor permitir
que eles pensassem nas coisas lentamente, sem tomar decisões precipitadas.
— Seria bem melhor que você se casasse com alguém jovem, como o
Skevington—. Sugeriu Mayne—. Ou, como Tallboys.
Se ela permitisse que Mayne escapasse esta noite, ela o perderia para
sempre. A certeza desse sentimento estava em seu coração, junto com outro
sentimento muito mais profundo, que ela se recusou a examinar no
momento.
Teria sido terrivelmente perturbador, na escuridão de uma noite como
esta, analisar todas as suas novas sensações. Mas, no ar quente da noite,
sentia que seu corpo era esguio e bonito, cheio de formas assombrosas e
sedutoras. Além disso, os olhos de Mayne pareciam fazer uma promessa
profunda e duradoura.
— Como a noite está quente—. disse ela, desabotoando outro botão de
sua camisola.
Os olhos de Mayne pousaram nas mãos de Josie e depois voltaram
rapidamente para o rosto dela. Naquele momento, o homem tinha um olhar
especial, um sorriso muito leve, que lembrou à jovem por um segundo
quanta experiência ele tinha no campo da sedução, e quão pouco experiente
ela era nessa mesma questão.
Era como se o próprio Dioniso estivesse sussurrando algo em seu
ouvido. Ela se levantou e foi até a parede. Então, virou-se.
Mayne havia se levantado, é claro. Ele nunca ficaria sentado na
presença de uma mulher.
Mas ele não a seguiu, ficou onde estava, encostado no golfinho. Seus
cachos negros caíam sobre os olhos como seda amarrotada. Seus cílios
sombreavam seus olhos para que ela não pudesse ver nada além das linhas
longas e limpas de seu rosto, a inquietante beleza aristocrática dele. De
alguma forma, mesmo isso não era assustador, apenas fascinante.
Josie se sentia como se não estivesse usando nada além de teias de
aranha.
— Você se parece mais com uma bacante a cada momento—. disse
Mayne. E ainda assim ele não fez nenhum movimento em sua direção.
O segredo, Josie pensou consigo mesma, seria dizer algo que deixasse
absolutamente claro que, se ele desejava seduzi-la, talvez agora fosse a
hora.
— Se você sentir-se inclinado a se aproximar de mim—, disse ela—,
você poderia fazê-lo.
Definitivamente, aquele olhar em seus olhos era divertido.
— Mas, senhora condessa, se eu lhe fizesse um avanço e esse este fosse
bem-sucedido, não poderíamos mais anular nosso casamento—. Ressaltou.
Josie estava ganhando mais coragem a cada momento, pelo olhar de
Mayne, pela quietude ao redor deles, pela curiosa sensação de poder que
sentia—. Eu não gostaria que você se sentisse obrigado a fazer qualquer
coisa para a qual não estivesse naturalmente inclinado—, ela disse,
permitindo que o riso invadisse sua voz. Na verdade, ela sentia vontade de
rir. Rir e ... outra coisa. Ela se sentia fluida e sedutora, tão diferente de seu
eu normal quanto possível.
Ela caminhou de volta para ele, sentindo seu cabelo em seus ombros.
Sentindo o balanço de seus quadris e a inclinação de seus lábios. Saber que
ela estava caminhando em direção a ele com exatamente o tipo de promessa
que ele havia lhe ensinado.
Ele não disse nada, apenas olhou para ela, todos os olhos sombreados e
sorriso secreto, e foi como se o mundo inteiro prendesse a respiração.
Josie estendeu a mão e trouxe a boca de Mayne para a dela.
Pode-se supor que beijar Mayne era como beber um conhaque
envelhecido, aquele licor dourado que Rafe gostava tanto. Afinal, ele era
mais velho do que ela e mais sábio, e certamente sabia beijar melhor do que
ninguém.
Mas, para seu espanto, Josie teve a impressão de que era ela quem
parecia ter mais experiência. Parece que o marido ficou assustado e
inseguro, enquanto a jovem estava totalmente segura de si. Ela se entregou
completamente naquele beijo, envolvendo os braços em volta do pescoço
dele e desfrutando da sensação que seu peito masculino lhe deu roçando
seus seios. Ela era uma deusa pagã, dotada de belas curvas, uma criatura
perfeita em todos os sentidos.
Mayne gemeu contra seus lábios.
— Garret—, ela sussurrou, sentindo que pequenas faíscas voaram em
todas as direções quando eles fizeram contato—, aquela pequena
construção naquele canto do jardim pertencia à sua tia, certo?
— Josie, você tem certeza que quer me seduzir? — Ele perguntou, em
um tom que parecia bêbado e sério ao mesmo tempo. — Skevington está
pensando em pedir sua mão em casamento. Meu tio pode apagar o registro
de nosso casamento de seus livros como se nunca tivesse acontecido. Você
não precisa se casar com um homem como eu se não quiser. Entende?
— O que você quer dizer com “um homem como eu”? — Josie
perguntou, agora intrigada.
Ele se afastou e olhou para ela.
— Um homem de trinta e quatro anos. Um homem que dormiu com
muitas, muitas mulheres. Não tenho doença, Josie, mas isso se deve à sorte
ou à graça de Deus. Não faço nada e não sou nada, Josie. Você deve
entender tudo isso. Há alguns anos, perdi o caminho e não o recuperei. Não
sei se existe uma maneira de encontrá-lo.
— Eu não quero contradizer sua história de partir o coração, mas posso
encontrar esse caminho para você.
Mayne ergueu as sobrancelhas.
— Tudo que você tem a fazer é me adorar, prostrado aos meus pés—.
disse solenemente, tentando abafar o sorriso.
— Eu penso que você acha que estou choramingando para seduzi-la,
certo? — Mayne respondeu, um leve sorriso vincando seu rosto nobre.
— Você é um cavaleiro nato—. disse ela. — Você tem estábulos,
cavalos e dinheiro mais do que suficiente. Claro, acho que você é um tolo,
para dizer o mínimo, porque não quero ser muito severa.
— Skevington vai se prostrar a seus pés—. disse Mayne.
— Na verdade, eu não quero ser adorada.
Ele esperou.
— Você sabe o que eu mais quero, Garret? — Ela puxou a camisa dele
para fora da calça—. Eu quero ser desejada.
— Você é—. Ele disse um pouco rouco.
— Você sempre parece entediado—, disse Josie—. Você fica à deriva,
parecendo descontente e entediado com a vida. Mas então, um dia, você
olhou para mim. Como se eu realmente fosse eu.
— E?
— Você de repente parecia um lobo—, ela sussurrou. Sua camisa
parecia veludo quente sob a ponta dos dedos. Ela queria passar as mãos por
baixo—. Você ganhou vida e fui eu quem fez você se sentir assim.
— É tolice, grotesco em um homem da minha idade—. disse ele. Mas
ele não estava afastando as mãos dela.
— Pare de ser idiota e falar sobre sua idade—, disse Josie—. Estou
cansada e não há lugar para isso entre nós, não está vendo? O que há entre
nós me fez segui-lo até a torre de Cecily, fez você usar meu vestido e me
beijar quando estava noivo de outra mulher, me fez casar com você, embora
eu soubesse muito bem que não estava arruinada. Eu o levei a isso.
Algo estava mudando em seus olhos. Ela estremeceu como um álamo
em uma tempestade quando ele a tocou.
— Você me levou—. Afirmou.
— Você pensou que estava me resgatando, mas isso foi apenas uma
tolice masculina.
Mas Mayne parecia resistir ao ataque físico. Sim, ele era teimoso,
aquele marido dela. Então ela se contentou em ficar um pouco mais perto
dele, para que pudesse desfrutar de seu perfume masculino excitante.
— Eu não vou me apaixonar. — disse Mayne desesperadamente, com o
fervor de um homem que sabe que perdeu uma batalha, mas não está
determinado a desistir dela. — Temos que ser honestos um com o outro,
Josie. Eu estava apaixonado por Sylvie. Não acho que terei sentimentos
semelhantes novamente.
Uma rajada de vento gelado tocou as costas de Josie.
— Você estava apaixonado ... ou ainda está? Você a quer de volta,
Garret? Porque se você tem essa esperança em seu coração, não devemos
continuar—. Ela olhou para o chão, porque não suportava ver o amor por
outra mulher nos olhos dele.
— Sylvie e eu não temos futuro—. respondeu ele.
Então ele ainda estava apaixonado pela francesa. Josie fez um esforço
para afastar a dor que a invadiu. Ela, Josie, não estava apaixonada por ele,
então por que ela deveria se preocupar? Por que deveria doer que Mayne
quisesse outra pessoa?
— Muito bem—, disse a garota após um silêncio—. Você pode levar as
lembranças do seu breve noivado com Sylvie e colocá-las em uma caixa.
Em seguida, guarde-a no sótão.
Ela podia ouvi-lo rir antes de ouvir sua resposta.
— Você vai me permitir visitá-las de vez em quando?
— Sim—, Josie concordou—. Não me importarei de encontrar você de
vez em quando, na penumbra, no sótão, mexendo em uma fita desbotada do
cabelo de Sylvie.
— Que imagem linda! — Mayne exclamou.
— Na verdade—, Josie continuou, para continuar com o fio da conversa
—, você certamente vai querer se apossar de uma de suas fitas, talvez
aquela que ela usou na noite em que você a beijou pela primeira vez, e
sempre carregá-la perto do seu coração, Garret. Na sua morte, durante o
velório, eu encontraria a fita e tentaria fazê-la desaparecer, mas então ...
— Com soluços que partiriam o coração do próprio Belzebu, você a
colocaria de volta ao lado do meu coração e iria me acompanhar até a
sepultura sabendo que seu marido amava outra.
— Eu gosto desse final—, disse Josie, pensando sobre isso—.
Principalmente a parte em que quase fiz a fita desaparecer, mas desisto.
Mayne se agarrou mais a ela, e Josie pôde sentir o corpo quente e
poderoso do marido.
— Há um problema—. Josie estava repensando sobre a cena comovente
no caixão—. Eu definitivamente não gosto dessa história. Acho que vou
jogar essa fita fora, Garret, esteja avisado. Posso até queimá-la.
— Não tenho e não pretendo ter nenhuma fita—, ressaltou Mayne—.
Nem mesmo na noite em que beijei Sylvie pela primeira vez.
— Você deve ter algo dela.
— Nada.
— É uma pena—. disse Josie.
Mayne estava olhando para ela agora, e havia algo em seus olhos que
dizia que todo o negócio de fitas de Sylvie era um absurdo. Sim, no olhar
do cavalheiro dava para ver que ele estava apaixonado, mas ...
— Muitas vezes pensei que desejo e amor são muito semelhantes—,
continuou a menina, determinada a deixá-lo saber naquele momento o quão
desavergonhada ela era—. Quem pode dizer que desejo não é o mesmo que
amor?
— Tive muitos momentos de desejo, Josie, mas apenas alguns de amor.
Ela balançou a cabeça para trás, deixando seu cabelo cair pelas costas,
livre e selvagem.
— Eu acho que você está certo. Se desejo fosse o mesmo que amor, não
haveria uma única prostituta solteira.
Ele riu. Josie percebeu que Mayne se aproximava ainda mais. Suas
mãos se espalharam por suas costas, seus corpos mal separados pela largura
de um cabelo.
— Você me quer, Garret Langham, Conde de Mayne?
Seus olhos estavam mais escuros do que nunca ao luar.
— Você não é uma prostituta, Josephine Langham, Condessa de Mayne.
— Se fosse, eu teria mais experiência e poderia seduzi-lo mais
facilmente—. Ela o assegurou—. Você vai me dar algumas aulas?
— De sedução?
— Você é um especialista—. Josie passou as mãos pelos cabelos,
sentindo-se pagã como uma deusa grega ou como uma rainha das fadas—.
Se você voltar para casa, considerarei que não me quer o suficiente para
continuar este casamento.
Ele se virou e começou a caminhar em direção à casinha escondida no
canto do jardim.
— Josie! — A voz de Mayne era especial, tinha a textura de veludo e
era selvagem e doce.
A jovem voltou-se, sabendo que seus seios eram perfeitamente visíveis
através do tecido leve da camisola e compreendendo pela primeira vez na
vida que a exuberância daqueles seios sedutores e instáveis não era uma
desvantagem aos olhos de um homem, muito pelo contrário.
— E se eu fosse uma rainha das fadas? — sugeriu.
— O que aconteceria então?
— Eu ordenaria que você ficasse. “O meu desejo é que não saia deste
bosque. Você vai ficar aqui, queira ou não”.
— Eu me sinto subjugado, dominado por alguma força sobrenatural—.
Mayne murmurou com os dentes cerrados. E ele caminhou em sua direção.
Josie não olhou para trás, ela apenas subiu o degrau que levava ao chalé
e abriu a porta.
— Deveria estar trancado—. disse ele. E, a seguiu.
O interior era uma sala pequena, com nada além de um sofá em um
canto. O luar caia pela janela minúscula.
— Se eu o libertar do feitiço, você vai me beijar? — Ela sussurrou.
O homem estava parado à porta, grande, na sombra. Ela não podia ver
seu rosto.
— Não haverá mais volta depois disso.
— Eu não quero recuar—. Euforia corria em suas veias. Para ela, só
esse homem existia, desde o momento em que a beijou e a ensinou a ser
mulher. Garret a transformou, com seu desejo, de uma garota amorfa em
uma mulher totalmente formada. De indesejável a desejável.
Josie nunca iria querer que houvesse ninguém além dele em sua cama e
em sua vida.
Capítulo 35
Do Conde de Hellgate,
Capítulo vinte e quatro
Por semanas, assombrei o túmulo da minha Semente de Mostarda,
chorando silenciosamente e rejeitando toda comida. Bem, eu não era uma
espécie de pária, tão prejudicial para a alma de uma mulher quanto o olhar
de um basilisco? Suponho, caro leitor, que você pense que me recuperei
rapidamente e senti a chama da luxúria acender novamente em minha
alma.
Não foi assim! Você está errado desta vez! Garanto que os dias foram
passando ...
— Não sei o que vem a seguir—, disse Josie, rindo um pouco—. Meus
romances sempre param na porta do quarto.
Mayne se aproximou, parando na frente dela.
A jovem continuou falando, muito nervosa. Ela mal sabia o que estava
dizendo.
— Claro que você seria um herói de romance de primeira classe.
— Você tem certeza? — Ele perguntou lentamente—. Você acha que se
escrevesse um livro como esse poderia inventar um personagem como eu?
— Depois de ler tantos romances, eu poderia criar qualquer personagem
—, disse ela com convicção.
Ele riu. — Então me descreva para mim. Invente-me novamente.
Vamos. Descreva-me na prosa lasciva de um daqueles romances que tanto
ama.
Josie estendeu a mão e acariciou sua testa. Garret sentiu um leve
estremecimento, como se estivesse voltando a ser um jovem simples
ficando frente a frente com sua primeira amante. E, para falar a verdade,
naquela noite foi assim, como se eles fossem a única mulher e o único
homem no mundo. Como se ele nunca conhecesse o amor.
— Sobrancelhas escuras como a noite—, Josie descreveu, acariciando-o
com os dedos—. Cílios longos demais para um homem e, oh, olhos
terrivelmente cansados ... exaustos, revelando o desgaste de séculos de
depravação.
— Séculos? — Garret disse, rindo—. Eu não sou um fantasma você
sabe. Eu pareço tão velho para você?
— Séculos—, disse Josie, balançando a cabeça—. Nariz bastante nobre,
na verdade. Mas não se pode deixar de olhar para ele com tristeza, vendo a
grandeza gótica com que foi dotado. Porém, agora, ó caro leitor, virou um
nariz como tantos outros.
— Um nariz simples! — Garret estava começando a se sentir um pouco
insultado—. Como deveria ser, diga-me por favor? E o que você quer dizer
com isso? É o mesmo nariz que tive durante toda a minha vida. Não mudou
nada.
— Lábios de um tom melancólico de cereja escuro—, disse ela, com os
olhos sorridentes—. Mesmo com os raios da lua caindo sobre eles, eles
mantêm um ar selvagem... uma orgia que fala ao... ao...
Ele estava inclinado para frente agora. Ele sentia como se cada
centímetro de seu corpo estivesse vivo, cada célula o impelindo para ela—.
Esses lábios—, disse ele—, são de fato orgíacos. Mas o que as moças
simpáticas sabem sobre isso? Minha vez de pintar seu rosto. Você terá que
me ajudar, porém, porque eu não li muitos romances.
— Não—, ela disse, sorrindo—. Espero que você me descreva como um
daqueles cavalos sobre os quais está sempre lendo.
— E que potranca adorável você seria—. Ele se sentia como o próprio
Baco, bêbado ao luar com sua bela jovem esposa—. Existem cavalos com
cílios tão longos quanto os seus, Josie. Você sabia disso?
Ela assentiu.
— E, cavalos com uma juba de seda preta, como o seu cabelo.
— Não é preto—, ela ressaltou—. Você parece não saber a cor do meu
cabelo.
— Quando estávamos na carruagem a caminho da Escócia—, disse ele
—, o brilho de rubi era intenso se o sol brilhasse pela janela. Mas à luz da
lua parece tão profundo e misterioso quanto o céu noturno—. Ele enrolou
uma mecha em seu dedo.
— Seus lábios—, ele continuou em tom de conversa—, não têm a glória
desbotada que você dá ao meu nariz, mas um vermelho profundo. O tipo de
vermelho que deixa um homem fraco de desejo. Você sabe por quê, Josie?
Ela balançou a cabeça, sem tirar os olhos dele.
— Porque eles são cheios e atraentes—, disse ele, muito perto dela
agora—. Porque olhar para eles é querer prová-los. Olhar para eles é querer
provar você.
Josie estava prestes a dizer que não apenas seus lábios eram carnudos,
mas seu corpo inteiro, mas as palavras morreram em sua garganta. De
alguma forma, o velho desdém que sentia por seu próprio corpo parecia
ridículo agora, dada a maneira como ele a olhava. Mas, quando ele olhava
para ela ...
— Você parece a rainha das fadas, Titânia da peça de Shakespeare—.
Mayne apontou.
Ela começou a rir.
— Uma rainha!
— Titânia não é qualquer rainha, não apenas uma fada qualquer, afinal.
E você não é uma mulher comum.
— A honestidade me obriga a admitir que sou uma mulher muito
comum—, observou Josie—. Sou gordinha, viciada em romances e tenho
medo de andar a cavalo.
— Meu Deus! — exclamou Mayne, cada vez mais feliz—. Você não
tem qualidades que possam fazer seu marido feliz? Talvez você deva
repensar o casamento, dado o desastre como mulher.
— Estou muito alegre—, relatou Josie—. Posso ser muito divertida
quando tenho um momento de inteligência. Também sou muito honesta e
me disseram que isso é uma virtude, embora às vezes possa ser uma
desvantagem.
— Nenhuma beleza? Você não tem nem um pouquinho para me
oferecer? — Ele disse em um tom de dor.
Ele balançou sua cabeça.
— Nada, especialmente em comparação com outras mulheres.
—Você quer que eu diga como eu a vejo?
— Não, se você pretende me contar mentiras. Eu realmente não gosto
de mentiras, Garret.
— Preciso falar sobre seus lábios, seu cabelo, seus olhos ou sua pele,
embora eu lhe diga que é a pele mais linda que já tive o prazer de acariciar,
Josie. Deixe-me começar por aqui, certo? — Ele se apertou contra ela. —
Toque minhas mãos! Sinta o que estou pensando, Josie.
Ela olhou para ele seriamente.
— Nem tudo pode ser colocado em palavras—, esclareceu—. Eu vou
lhe dizer com as minhas mãos.
Ele correu os dedos pelas faces de Josie e foi tão doce quanto um beijo
de bebê. Ele acariciou seu rosto com lentidão deliberada. Ela tremeu um
pouco. Um polegar seguiu a curva de seu lábio inferior e então ela soube,
apenas soube o que ele estava fazendo. E, teve a sensação de que aquela
carícia estava falando com ela, contando-lhe tudo. A mão parou sobre sua
boca por um momento e ela fechou os lábios sobre o polegar de Mayne.
Ele tinha um gosto estranho, muito viril. O calor inundou o corpo de
Josie.
— Faça de novo—, ele implorou com voz rouca—, e ...
Seus lábios se fecharam em torno do polegar de Mayne novamente,
agora brincando com uma pequena mordida. O homem deu um grunhido
agradável e continuou a descer. Na garganta. Suas mãos deixaram rastros de
fogo.
— Olhe para a minha mão—, disse Mayne. Josie estava olhando em seu
rosto, é claro, em seus lindos olhos. Mas obedientemente, ele baixou os
olhos.
Lá, ao luar, as mãos do cavaleiro pareciam maiores e mais masculinas
do que eram. O decote da camisola era largo, enfeitado com renda de
Bruxelas. Dedos quentes deslizaram pelo decote, em direção aos botões
abertos.
Josie prendeu a respiração. O que seu Mayne iria fazer? As mãos
deslizaram por seus braços, que eram mais curvos, suaves e bonitos do que
nunca.
— Você já viu os retratos que Rafael pintou de sua amante?
Ela olhou para cima, sabendo que seu rosto estava corado, e dizendo a si
mesma que não importava. Ele a segurou pelos pulsos. Suas mãos eram
como garras, mas não havia nada ameaçador para Josie.
— Eu não vi essas pinturas—. Sussurrou.
— Ela tem a sua figura—, Mayne sussurrou de volta—. A sensualidade,
a exuberante beleza feminina a que nenhum homem pode ser insensível.
Os dedos correram por seus braços novamente e Josie mal o ouviu,
submersa no tipo de sonho febril que seu toque causou a ela. A jovem
prendeu a respiração enquanto o marido fazia movimentos suaves, lentos e
deliciosos, sempre com um leve sorriso. Ele alcançou o decote da camisola
e com a mão traçou um círculo sobre ela.
Josie ficou muito quieta. Mayne começou a empurrar e empurrar
suavemente o decote.
A jovem gemeu e foi tomada pela vergonha. Imediatamente ela
mergulhou de volta em seu devaneio agradável, longe de qualquer
pensamento racional. O homem a despiu lentamente, deslizando suas
roupas pelos braços e seios. As mãos de Mayne estavam quentes na
superfície fria do corpo de sua esposa, exposto ao ar da noite. Quentes e
possessivas. Ela puxou e a camisola caiu até os quadris, onde ficou presa.
— Olhe para baixo—, disse ele. Sua voz era para Josie como o canto
das sereias. E a garota obedeceu. Agora a embriaguez, dedicação e paixão
eram totais.
As mãos de Mayne eram douradas, escuras em contraste com a pele de
Josie, que brilhava ao luar prateado. Ele deslizou as mãos à sua frente,
como se tentasse descobrir um novo território. A jovem olhou para cima e
viu o marido engolir em seco. E, ela entendeu.
Garret segurou seus seios como se fossem presentes divinos. Enquanto
ele olhava, ela os via com seus olhos: desejáveis, suaves, oscilantes,
transbordando em suas mãos. Acariciados, os mamilos se ergueram. Ela
estava mordendo o lábio para não enlouquecer de prazer, quando as mãos
de Mayne começaram a baixar novamente, delicadamente, seguindo a curva
que levava à sua cintura, para então se deleitar com a generosa maciez de
seus quadris.
Mayne parou por um momento e olhou em seus olhos, e ele deve ter
visto o que queria ali, porque imediatamente, com um estalar de dedos, a
camisola escorregou por suas coxas e caiu no chão. E ele se entregou à
apaixonante tarefa de percorrer todo o corpo.
Ele acariciou a curva de seu traseiro, e ela estava ciente de sua deliciosa
redondeza. Ela não sabia que era possível desfrutar o próprio corpo assim,
graças às carícias de outra pessoa. Ela sentiu o toque do peito de Mayne em
seus quadris e, pela primeira vez, percebeu que um homem pode desejar
afundar na suavidade íntima de uma mulher.
— Essas mulheres—, Josie gaguejou—. Todas as suas mulheres,
aquelas mulheres ...
— Elas não são minhas mulheres—, disse ele com um grunhido—. Elas
nunca foram.
Mas ela insistiu.
— Todas aquelas mulheres com quem você ... teve casos secretos ...
eram magras. Muito magras. E você se apaixonou por elas ...— Ela não
continuou falando, mas já havia sugerido o que a estava incomodando.
As mãos do homem seguiram a curva de suas coxas, perigosamente
perto da privacidade de Josie. Ela estendeu a mão e ele a pegou para
acompanhá-lo nas carícias, para que os dois se unissem, para que nada
pudesse quebrar sua comunhão erótica.
Ela tocou seu peito e sentiu o coração de Mayne bater cada vez mais
rápido. Depois de um momento, Josie sentiu um roçar suave entre suas
coxas.
O homem começou a falar precisamente quando a mente da jovem foi
invadida pela névoa de prazer quando um calor desconhecido tomou conta
de seu ventre. Ela não sabia se estava tonta ou em êxtase.
— Elas eram magras, sim, mas eu não estava apaixonado—, sussurrou o
marido em seu ouvido—. Não quero sair desta floresta.
— Claro—. A jovem, uma grande leitora, reconheceu a citação literária
—. Você vai ficar aqui, queira ou não—, a garota continuou, apoiando-se
em seu ombro, dando-se para que ele pudesse fazer o que quisesse com seu
corpo.
— Eu sou um espírito raro, o verão ainda me afeta. Mmmm, Josie, você
é tão macia aqui. Você gosta?
Ela ficou em silêncio por um momento, a boca aberta.
— Qual é o problema? — Mayne brincou. — Não consegue se lembrar
do próximo verso?
Ela não ia pronunciar o próximo verso.
Os olhos do homem brincaram com ela, e então foi ele quem disse, com
certo tom de brincadeira.
— E, eu te amo, portanto, vem comigo.
— Oh, mas que bobagem—, respondeu Josie, e deu outro suspiro por
um certo movimento que ele fez com o polegar—. Teatro puro. Você teve
tantas amantes.
— Não é verdade—, garantiu ele—. Não tenho certeza se sou capaz de
sentir emoções.
Josie continuava encostada nele, que continuava a sentir seu corpo,
tocando-a como se ela fosse um instrumento delicado no qual ele tocava as
notas musicais mais altas.
— Nenhuma das mulheres que pensei amar jamais me olhou como você
—. Disse Mayne em seu ouvido.
Josie estava ciente de que aos olhos do marido ela parecia desesperada.
Sylvie, por exemplo, nunca pareceu assim. Ela era linda demais para se
desesperar.
— Você pode achar ridículo o que eu digo—, Mayne continuou—, mas
quando você olha para mim, me sinto lindo.
Ela deveria detê-lo, ela realmente deveria impedi-lo. Exceto que ela não
podia, pois estava ofegando agora.
— Quando eu olho para você—, ele disse—, eu me sinto fora de
controle. Provavelmente é por isso que eu nunca, nunca me aproximei de
nenhuma mulher que me fizesse sentir como você me faz, e uma vez que
ainda não tenho certeza de como nos casamos...
— Não somos casados, na verdade.
— Estaremos em cerca de dez minutos.
— Oh—, Josie sussurrou.
Então ele a pegou em seus braços e a colocou no sofá.
— Você quer estar aqui, ou não teria concordado com este casamento
em primeiro lugar—, disse ele. E, ficou ao lado dela, tirando as roupas, e
Josie nem se preocupou em arranjar seus membros de forma a minimizar
suas curvas, porque ela não conseguia respirar. Não quando ela viu todos
aqueles músculos, e a forma como o peito dele se estreitava até os quadris,
e então ... abaixo disso ...
Mayne acompanhou seus olhos—. Eu nunca dormi com uma virgem—.
disse ele, franzindo entre as sobrancelhas.
— Nem eu—. disse Josie, estendendo a mão para ele—. Mas estou
disposta a tentar.
Mas ele não caiu diretamente sobre ela. Em vez disso, ele se deitou ao
lado dela e beijou-lhe os olhos, o rosto, enquanto ela estremecia. Até que
finalmente ela percebeu que fazer amor - com Mayne, pelo menos - era um
banquete sensual que provavelmente levaria horas.
Demorou... beijos, sussurros e uma ou duas risadinhas, mas finalmente
Josie não estava mais deitada ao lado dele, mas o tocando com avidez. Era
tudo, ela pensou meio grogue, uma questão de imitação.
Ele beijou suas faces, e então a curva de seu pescoço, e então seus
ombros ...
Então ela beijou o lábio dele e sentiu a aspereza de uma barba vindo, e
então o beijou mais abaixo, nos ombros e no peito.
Mayne estava constantemente sussurrando coisas em seu ouvido,
enquanto suas mãos percorriam seu corpo inteiro, fazendo-a estremecer e
até gritar. Até que, perplexa, ela surpreendeu o homem.
— Garret, não que eu ache isso desagradável, mas você acha que
poderia ... poderíamos ... você poderia parar de beijar meu ombro agora?
Mayne deu uma risada curta e caiu de joelhos, olhando para baixo.
— O que você gostaria que eu fizesse agora?
Todo o corpo de Josie tremia de excitação, tentando, em vão, pensar em
algo espirituoso, engraçado, para dizer.
— Eu não sou virgem, Josie—. Ele comentou. Ele tinha uma mão no
cabelo encaracolado em sua virilha, e estava ficando cada vez mais difícil
para ela ouvir, quanto mais pensar.
— Acho que não—. Murmurou ironicamente, entre suspiros.
— Mas dane-se se eu não me sinto como um agora—, confessou ele,
abaixando a cabeça para os seios de Josie para que ela não pudesse ver seus
olhos. O que ela teria gostado.
— A sério? Você se sente virgem? — Ela conseguiu dizer.
Mas qualquer resposta que ele pretendia dar a ela foi abafada porque ele
estava beijando seu peito. Josie não conseguia ouvir ou entender quando ele
a estava adorando, devorando-a com a boca. E, perdeu mais a consciência
quando ele continuou beijando-a no abdômen, quando ele deixou pequenas
marcas de mordida em seus quadris e então ...
Nesse ponto, nada do que ele disse fazia muito sentido para ela, embora
ela estivesse ligeiramente ciente de que Garret ainda estava falando. Ele
dizia que, de fato, se sentia como se nunca tivesse estado com uma mulher.
Ele também disse que ela era diferente.
Josie o ouviu, mas não estava prestando atenção. Ela não precisava de
palavras. O que ela queria era apenas o que ele estava fazendo com as mãos
e depois com a boca ...
Os dedos dos pés de Josie estavam enrolados e suas costas arqueadas.
Ela gemeu e tentou manter os gemidos em níveis aceitáveis. Mas, não
podia, especialmente depois de colocar seu corpo em jogo também. Josie
soltou todos os tipos de gritos indignos em uma dama e não conseguia
controlar o desejo de erguer o corpo em direção ao dele. Mas não se
importava.
Ele separou seus joelhos e se ergueu sobre ela, e ela teve um momento
surpreendente, uma imagem que ela nunca esqueceria durante toda a sua
vida - Garret Langham, conde de Mayne, com seu rosto rígido e seus olhos
selvagens, seus ombros apoiados, olhando em seus olhos ...
De repente, ela acreditou nele. Acreditava que se sentia novo, tão novo
quanto ela. Acreditava que, por alguma estranha razão, tudo parecia tão
novo para ele quanto para ela. Porque ela viu a respiração irregular escapar
de seus lábios enquanto ele se balançava sobre ela. E ouviu o som gutural
que saiu de seus lábios quando ele entrou nela.
Uma das razões pelas quais ela se lembrava de tudo tão vividamente era
que cerca de dois segundos após aquele primeiro empurrão - o que foi
muito bom, ela tinha que admitir - o resto não foi muito gratificante. Na
verdade, aquele calor febril evaporou de suas pernas tão rapidamente
quanto veio, e em vez de querer subir em direção a ele, seu único instinto
foi de se afastar dele.
Depois de alguns segundos, as únicas coisas que passaram por sua
mente foram palavras pouco românticas, palavrões totalmente vulgares,
expressões sujas que ouvira nos estábulos e que combinavam com a dor
desagradável que a torturava. Não era nada do jeito que Annabel havia
descrito. Doía como... como o inferno. Essa era a pior frase que ela
conhecia, e ela nem tinha certeza se abrangia a situação.
Mayne estava apoiado em seus braços sobre ela, olhando para baixo, e é
claro que ele sabia, então ela lhe deu um sorrisinho tenso. — Está quase
acabando? — ela perguntou, tentando não soar muito esperançosa.
A voz de Mayne voz saiu estranha e rouca—. Não exatamente. Devo
torná-lo mais rápido, Josie?
— Por Deus, sim—. disse ela, perguntando-se se era tarde demais para
anular o casamento. Não, ela não quis dizer isso. Mas, infelizmente, era
verdade que, ao contrário de suas irmãs, ela não ...
— Oh! — ela chorou. E então, à beira da indignação, ela realmente
explodiu com o indizível:— Inferno!
Porque ele se lançou para frente e algo se rompeu dentro dela.
— Sinto muito, Josie—. Ele ofegou.
Ela se mexeu. — Parece um pouco melhor agora—. disse ela, ignorando
o fato de que estava indiscutivelmente arruinada para o resto da vida.
— Bom—. Ele concordou com o mesmo tom de voz rouco que exibira
ao longo do ato—, Porque eu não acho que posso parar agora, você
consegue me acompanhar?
Josie ficou em silêncio por um momento. Ela estava tentando se
concentrar.
— Claro—, disse finalmente, tentando trazer um tom gentil à sua voz
—. Continue—. Naquele momento, ela percebeu que Sylvie tinha
informações melhores que ela sobre assuntos amorosos. Agora, até a
proposta de Sylvie de permitir que o marido se aproximasse dela uma vez
por mês parecia demais para Josie.
De qualquer forma, não parecia doer tanto. Os ombros de Garret
estavam brilhantes de suor, cheios de músculos tensos. Ela nunca tinha
imaginado que seria assim, quando o via com suas roupas elegantes. Josie
pensou que ele teria músculos magros e duros, mas na realidade eram
grandes, poderosos e elásticos. Ele tinha um corpo avassalador.
Era estranho o que eles estavam fazendo. Ou o que ele estava fazendo
com ela. Porque uma vez que parou de doer tanto, ela sentiu o calor sensual
retornar lentamente em sua barriga. Em seguida, ela começou a passar as
mãos nos ombros de Mayne, tão bonitos e musculosos, de forma tão
perfeita. O calor aumentou. Assim como não esperava a dor, também ficou
surpresa com a volta do prazer.
Verdade seja dita, assim que Garret abaixou a cabeça para descansar em
seu peito, ele teve que admitir que o encontro não foi tão desagradável
quanto parecia momentos antes. A intimidade entre eles, tão especial, era ...
Naquele momento ela parou de pensar, pois o marido inesperadamente
mudou de posição e começou a entrar mais baixo e mais devagar, e isso
causou uma sensação indescritível em seu estômago. Incríveis pulsações de
fogo percorreram todo o seu corpo.
Ela se agarrou aos braços dele.
— Não dói mais tanto, não é, Josie? — ele perguntou.
E o estranho som gutural de sua voz, tão longe dos tons elegantes de
Mayne, fez o coração de Josie disparar também.
— Porque agora, finalmente, você é minha, Josie. Não há como voltar
atrás. Minha.
Naquele momento, o seu coração disparou. Uma força interior a fez
erguer seu corpo para se fundir com o de seu amante. Ela combinou o
movimento de seus quadris em compasso com o corpo de Mayne.
Ele se reajustou novamente, e agora havia algo no que ele estava
fazendo que a deixava louca, e aqueles gemidos começaram de novo,
exceto que ela não tinha tempo para se preocupar em continuar como uma
dama.
Ele a estava puxando para cima e ela percebeu que seu grande corpo
estava suado e por algum motivo seu suor a deixava loucamente animada. E
então ela olhou para baixo, onde eles estavam juntos.
Era como se luzes explodissem em sua cabeça e agora ela gritava cada
vez que ele vinha contra ela. E agarrando-o com força, puxando-o de volta.
E ele não estava mais beijando seus seios, estava devastando sua boca, e o
tempo todo falando, dizendo coisas sobre sua doçura, seu sabor e sua
suavidade, e o que ele queria beijar, e morder e finalmente veio como um
vento indulgente no calor do verão, subindo dos dedos dos pés enrolados e
fazendo-a convulsionar contra ele novamente, e novamente, e novamente,
gritando seu nome de uma forma meio perplexa.
Mais tarde, ela nunca teve certeza do que ele disse, mas pensou que
tinha algo a ver com misericórdia e talvez uma divindade ou duas, porque
um segundo depois ele soltou um gemido estrangulado e então tomou sua
boca no beijo mais doce que ela poderia ter imaginado.
Capítulo 37
Do Conde de Hellgate,
Capítulo vinte e cinco
Sem dúvida, caro leitor, você acreditou que as chamas da minha luxúria se
extinguiram pelo desespero e pelo pesar. E assim foi por um tempo. Eu já
havia decidido tomar outra esposa. Obviamente, foi a única maneira de me
salvar da condenação. Senti toda a agonia do meu relacionamento
frustrado com Semente de Mostarda retornar. Então, após um período
decente de luto, voltei a Londres, determinado a encontrar uma esposa.
E então eu a vi.
O sol estava entrando pela janela, então Josie rolou em protesto, com a
intenção de enterrar a cabeça sob o travesseiro. Exceto que seu braço estava
preso na colcha, então ela puxou. E então, como uma corça percebendo o
olhar vigilante de uma raposa, ela despertou de repente.
Seu braço estava preso por um braço masculino. Um braço masculino
musculoso de pele dourada. Ela olhou para ele, enquanto a noite anterior
voltou à sua memória como água em uma jarra. Ela não era virgem agora,
imaculada ou não. Não mais. Eles voltaram furtivamente para dentro de
casa no meio da noite depois que Garret jurou que não conseguiria dormir
em um sofá. Josie corou só de pensar no que aconteceu naquele sofá.
Ele estava dormindo. Quase sem ousar respirar, Josie se aproximou. Ele
era dela. E, oh ... ele era lindo. Em seu sono, aquele olhar cansado sumiu de
seu rosto e ele parecia feliz. Seus cachos eram tão negros que brilhavam ao
sol da manhã, como um pedaço de carvão se você o dirigisse para uma
lâmpada. Mesmo olhar para os lábios dele fez o estômago de Josie apertar, e
os dedos dos pés dela se curvarem reflexivamente ... era novo, essa
sensação de desejo ardente. Ela tinha a sensação de que isso se tornaria
comum.
Seu novo marido era uma espécie de quimera ... o que significava que
ela deveria apreciá-lo tanto quanto pudesse, enquanto ele ainda estava
interessado. Embora, ela não sabia como alguém poderia se cansar de um
prazer como aquele que haviam compartilhado na noite anterior. Ela
conseguia imaginar, mas tinha medo de perdê-lo.
Claro, quando ele abriu os olhos, ela estava sorrindo como uma idiota.
Josie apertou os lábios.
— Bom Dia.
Ele se apoiou nos cotovelos, parecendo totalmente perplexo. O lençol
desceu até a cintura de uma forma muito atraente.
— Eu sou sua esposa—, Josie o estimulou, empurrando o peso de seu
cabelo para trás sobre o ombro.
— Josie? Também conhecida como Josephine?
A perplexidade desapareceu de seu rosto e deu lugar a uma expressão
sombria—. Maldito seja o inferno. — disse ele, caindo para trás e
colocando um braço sobre os olhos.
Pelo menos ele não a condenou ao inferno—. Suponho que você se
lembra de mim?
— Claro que me lembro de você.
— É muito atencioso da sua parte.
— Eu, como um verdadeiro idiota, dormi com uma mulher que tem
idade para ser minha sobrinha, embora eu tivesse decidido anular o
casamento. O que diabos aconteceu comigo?
— Eu? — Josie perguntou esperançosa.
Ele gemeu.
— Embora fosse mais como se eu estivesse sob você e você sobre mim
—, disse ela, ficando de joelhos. Ele não podia fugir agora. Não por anos e
anos.
— Oh Deus, você está até falando como uma boneca de parque de
diversões—. Ele gemeu. Sem tirar o braço dos olhos, ele estendeu a mão do
outro e puxou-a para si.
Ela caiu contra seu peito com toda sua graça usual. Provavelmente
outras mulheres se aninharam contra ele como gatinhos, mas ela foi pega de
surpresa e caiu em cima dele com a sua usual falta de jeito. Ele tinha um
cheiro maravilhoso, picante, com um sabor de ar livre. Ela respirou fundo
novamente. Mayne colocou a mão em seu cabelo, desembaraçando-o.
— Por que você está bufando no meu peito? — ele perguntou.
—Eu não estou bufando—, disse com os lábios abafados pela aspereza
dos pelos do peito dele—. Estou provando você, não fungando em você.
E... — ela o tocou delicadamente com a ponta da língua—. Você tem um
gosto muito bom.
— Ah...— ele disse.
Garret tinha um gosto um pouco salgado, um pouco como sabão, um
pouco como outra coisa ... essência de Homem. Ou essência de Mayne? Ele
estremeceu quando ela beijou seu pequeno mamilo plano, então ela o fez de
novo. E de novo.
Ele não estava dizendo nada, mas Josie tinha ouvido falar sobre os
homens pela manhã. Eles eram como ursos.
Todo mundo sabia disso. Sulky. Sullen. Bem. Ele poderia simplesmente
ficar ali de mau humor e permitir que o usassem. Então ela ... o usou.
Ela arrastou os dedos e às vezes os lábios por todo o peito largo. Os
músculos, Josie descobriu, não eram duros do jeito que pareciam, mas
quentes e bastante sedosos ao toque. E, se ela colocasse os lábios contra sua
pele, provasse-o, até mesmo o beliscasse com os dentes, ele estremecia de
novo, uma pequena sacudida, como se um vento frio soprasse sobre sua
pele.
Seu coração batia mais forte e mais rápido, e ela sorriu por dentro. Ele
quase não tinha pelos no peito, o que era, ela pensou, bastante incomum
para um homem. Finalmente...
— Por que você não tem pelos no peito? — ela perguntou. Ela tinha
acabado de descobrir que quando seu cabelo arrastou em seu peito, ele fez
um som minúsculo. Um bom som, ela pensou.
Quando ele respondeu, sua voz era lenta e sombria, e o sorriso dentro
dela cresceu. — Eu não tenho pelos no peito porque ... eu não tenho—. Ele
não estava fazendo muito sentido, mas ela poderia perdoá-lo por isso.
Ele merecia um pouco de punição, porém, por dizer que ela falava como
uma criança. — Claro, eu não sei por que você deveria ter cabelo no peito
—. disse ela, puxando o cabelo sobre o peito dele novamente, e
aproveitando o sopro de ar que saiu entre os dentes. — Eu ficaria muito
estranha com pelos no peito—. Ela olhou para seu peito e então olhou para
cima para encontrar os olhos dele.
Sua camisola estava presa sob os joelhos e seus seios se destacavam
contra o tecido leve, como se ela não estivesse usando nada. Uma coisa boa
sobre seus seios era que eles não caíam em direção à cintura, como os seios
das mulheres às vezes ficavam. Mayne parecia gostar deles também.
— O que você acha? — ela disse.
Ele piscou para ela.
— Dos meus seios? — ela o incitou. — Eu acho que eles são bastante
alegres.
Ele pigarreou—. Alegres?
— Bem, eu preferiria que eles fossem um pouco menores porque
ficariam muito bem em meus vestidos. Eu tenho o físico da minha mãe,
pelo que a entendo. Mas de qualquer maneira, sempre pensei que meus
seios eram ... alegres. Eles se levantam, vê?
Seus lábios se separaram.
Ela estava realmente se divertindo. Claro, ela estava desempenhando
um papel. Mas ela não estava sempre desempenhando um papel? Todos não
estavam sempre fingindo ser algo que não eram? E, ele merecia por agir
como se ela fosse uma idiota desmiolada, jovem demais para se casar?
Então ela puxou a camisola ainda mais contra o peito. Seus seios eram
adoráveis, como ela estava dizendo. Agora que ela havia superado a ideia
de que eles eram muito grandes.
— Bem—, disse ela—, talvez eu deva ir encontrar uma tigela de
mingau ... na sala de aula, você não acha? — Ela estreitou os olhos para ele.
— Não é aonde nós, bebês, pertencemos?
Ele estava tentando alcançá-la como um homem no deserto. — Foi
estúpido da minha parte—. disse ele, sua voz soando um tanto embargada.
— Sim, é verdade—. disse Josie, passando as pernas por cima das dele
como se fosse sair da cama, o que fez com que sua camisola subisse sobre
suas coxas.
— Venha aqui, sua criança covarde—, disse Mayne, e então ele se
moveu tão de repente que ela nem percebeu o que estava acontecendo, e ela
ficou presa embaixo dele—. Tirando sarro de mim, não é? — ele rosnou
para ela.
— Foi você quem me chamou de bebê de parque de diversões—. Ela
zombou, amando o peso do corpo dele no dela. — Talvez eu seja muito
jovem para casar? — Para provar seu ponto, ela arqueou as costas um
pouco, apenas para que seus seios roçassem o peito nu dele.
— Sua megera! — murmurou, inclinando a cabeça.
Mas, ela se desviou de seu beijo. — Por que você parecia tão surpreso
em me ver quando acordou? Diga a verdade. Você esqueceu quem eu era?
— Eu pareci surpreso? — A cabeça dele se abaixou e ele começou a
fazer a coisa mais estranha: beijar o seio dela através da camisola ... Josie
mexeu as pernas inquieta. Era maravilhoso.
— Sim, você fez—, disse ela, reunindo seus pensamentos. — Eu
acredito que você não tinha ideia de quem eu era.
— Eu sabia muito bem quem você era—. disse ele, tirando a camisola
de seu ombro.
— Então por que a confusão?
— Por uma razão muito simples. Eu nunca havia acordado com uma
mulher—. disse ele. Seus lábios patinaram ao longo da pele de seu ombro,
deixando um pequeno caminho de fogo.
— Não diga bobagem—. disse ela quase sem fôlego. — Nós não temos
o tipo de casamento em que você precise falar mentiras, Garret. Eu sei que
você acordou em camas por toda Londres.
Ele fez um som abafado que parecia ser negativo.
Ele estava beijando seu seio, e a sensação áspera tomou conta dela
como uma onda, puxando-a para algum lugar onde ela não conseguia
pensar em uma réplica inteligente.
Quando Mayne levantou a cabeça, descobriu que sua esposa estava
deitada e relaxada em uma atitude de puro prazer. Ele puxou a camisola
ainda mais para baixo, por cima do outro ombro. Houve um pequeno som
de tecido rasgando e Josie abriu os olhos. Ele esfregou o polegar em seu
mamilo e ela fechou os olhos novamente.
Não havia dúvida em sua mente que ela tinha os seios mais bonitos que
ele já tinha visto. As mulheres com quem ele dormiu tinham seios altos e
duros, como pequenas maçãs. Os de Josie eram suaves e abundantes,
derramando-se em suas mãos como um presente. Seus mamilos eram tão
requintados quanto o resto dela, rosados e delicados.
Ele não conseguia deixar de pensar na primeira mulher por quem se
apaixonou, Lady Godwin. Ela era esguia e reta, e mantinha-se muito ereta.
Ele sabia como eram seus seios, porque ela usava os tecidos flutuantes
transparentes da época. Se ele alguma vez encontrasse Josie querendo usar
aquele tipo de vestido transparente, ele a trancaria antes de deixar outro
homem ver seus seios.
Os seios de Josie fizeram seu coração doer só de olhar para eles. Eles
fizeram sua virilha queimar com o desejo de afundar em sua suavidade, sua
feminilidade que era muito diferente dos planos rígidos de seu próprio
corpo.
A boca de Josie estava ligeiramente aberta, todos os lábios vermelhos
exuberantes e boca doce. Ele mal podia esperar, então a puxou em sua
direção. — Josie—, disse ele.
Ela o estava puxando para baixo, ofegando um pouco.
— Eu não acordo com mulheres ... nunca.
— Humph—, ela disse, e então, — Oh, oh- oh.
Mayne sentiu como se tivesse recebido uma bênção. As pernas dela se
enrolaram naturalmente nas costas dele e ela estava vindo para encontrá-lo,
os olhos abertos agora.
— Isso é tão maravilhoso—, disse ela. Mas então: — Não... ai... pare
agora!
Ele engasgou com uma risada e parou, como ordenado.
— Talvez você possa chegar um pouco mais perto agora—. Josie
comandou.
— Você gosta disso? — ele indagou, se perguntando por que ele sentia
vontade de rir. Ele nunca ria durante as intimidades no quarto. Depois,
talvez. Ou antes. Nunca durante.
— Quando não dói. Mas eu preferia o que você estava fazendo ontem à
noite.
Mayne parou por um momento—. O que?
— O que você estava fazendo ontem à noite—, ela disse, sorrindo para
ele—. Aquilo foi adorável. Isto é... — ela se contorceu debaixo dele— ...
não tão perfeito. Muito bom, mas...
O sorriso dela ficava cada vez maior. Nenhuma mulher o corrigira na
cama. Na verdade, em geral, elas não tinham queixas.
Mas ele se reajustou, recuou e então avançou. Como sua senhora
ordenou. E ela soltou um pequeno grito que não foi nem um pouco
elegante.
Então ele decidiu que tinha o ângulo desejado, como ela disse. E então
ele decidiu tentar outro ângulo. Ela aprovou. Um terceiro: ela não gostou.
Na verdade, ela ficou bastante irritada e estendeu a mão para trás e puxou-o
em sua direção.
O que o fez começar a tremer todo e então ele parou de pensar em
ângulos, porque as mãos dela estavam em sua bunda, moldando-o,
puxando-o para ela, cada vez mais perto. Ele podia ouvi-la ofegante,
pequenas soluços pouco femininos, e instigando-o a continuar.
O sol estava derramando-se sobre os dois, e enquanto todas as mulheres
magras que ele conhecia tinham escondido seus corpos de seus olhos, Josie
estava lá, cada centímetro cremoso dela. Então ele se forçou a parar,
afastou-se embora sua pequena gata e esposa tenha se tornado quase
abusiva, e festejou com ela, todas as suas curvas e delícias. Deixou-se atrair
por cada covinha. Acabou beijando aquela pobre parte dela que doeu tanto
na noite passada.
Não parecia mais doer, porém, e realmente, sua jovem esposa tinha um
temperamento forte quando excitada. Na verdade, ela estava ameaçando
todo tipo de coisa quando ele voltou e a silenciou com um beijo que a
deixou completamente lânguida em seus braços.
Então, ele deslizou de volta para dentro dela, encontrou o ângulo que
ela amava tão naturalmente como se estivesse respirando, e então a colocou
exatamente onde ele a queria, agarrada a ele, seu cabelo despenteado e com
seus olhos suaves olhando para ele como se ele fosse o único homem na
terra, o único homem para ela em todo universo. O que, na verdade, ambos
sabiam disso.
— O que você quer dizer com nunca acorda com mulheres? — Josie
perguntou algum tempo depois. Ele sabia que a pergunta estava chegando.
Ela estava aninhada ao seu lado, toda a pele macia e sedosa e sem ossos, e
ele sorria para o teto e se lembrava de que havia uma razão para viver. Ele
tinha acabado de descobrir.
— Eu sempre saio durante à noite—. explicou ele, puxando-a
amorosamente para perto de seu ombro. — Quer dizer, saía.
— Sério? E o que as garotas falam quando você as deixa?
— Não dizem nada.
— Elas não queriam que você ficasse? Adorei acordar assim—. Mayne
olhou para ela para ver se ela estava voltando para seus jogos, se ela estava
tentando chocá-lo, mas aparentemente não estava, porque ela tinha o rosto
contra seu peito e parecia totalmente relaxada e ao mesmo tempo muito
pensativa.
— Eu também—. disse o homem.
— Então elas não gostavam?
— Eu nunca dei a ninguém uma outra chance.
— Porque não?
Ele se mexeu um pouco, desconfortável, até perceber que havia perdido
o contato com o quadril dela e, como a queria ao lado dele, puxou-a com
força novamente.
— Suponho que não queria estabelecer laços muito fortes—. Ele estava
fugindo de compromissos.
Ela estava sorrindo.
— Você é realmente virgem—. Anunciou ela.
— Não havia me dado conta.
— Virgem matinal.
— Contanto que não esteja imaculado—, disse ele maliciosamente, e se
virou para ela para que pudesse ver seu rosto.
— É triste perder a virgindade—. disse Josie, o riso dançando em seus
olhos.
— É triste?
— Você percebe que eu não posso mais chamar um unicórnio para o
meu lado?
— Você conhece muitos quadrúpedes com chifres?
— Um ano no pasto de meu pai, havia um touro que era terrivelmente
brabo—, contou Josie—. Seu nome era Bumble, mas eu dificilmente
poderia dizer que nos conhecíamos. Embora ele quase me acertasse por trás
uma vez.
— Foi uma bobagem entrar no pasto dele—. disse Mayne.
— Como você sabia que eu fiz isso?
— Porque eu conheço você, Josephine. Você sempre irá para o pasto do
touro, e eu suspeito que vou passar o resto da minha vida mantendo você
segura.
— Não, você não vai.
— Eu não vou?
— Você vai estar muito ocupado—, disse Josie—. Com seus estábulos.
Você sabe, eu tive uma ideia sobre isso.
Ele odiava falar com outras pessoas sobre seus estábulos, mas estava tão
confortável ali que, embora esperasse que o pequeno calafrio de desagrado
caísse sobre ele, isso não aconteceu.
— O que você acha que aconteceria se você cruzasse Manderliss com
Sharon?
— Nada demais—, disse ele—. Sharon tem aquele jarrete torto, você
sabe.
Ela ficou em silêncio por um momento. — Mas ela tem uma cernelha
longa linda.
— E, se você juntar isto, à velocidade e resistência de Manderliss, seria
esplêndido—, Mayne concordou, colocando-a ainda mais perto. — O par
em que estava pensando é Sharon e Seaswept.
— Sério? — Josie parecia em dúvida. — Você não me disse que
Seaswept oscila ligeiramente para trás?
Ele amava o fato de ela nunca ter esquecido nem mesmo os menores
detalhes que ele contou sobre seus estábulos. Ele disse isso a ela há cerca de
um ano.
— Você sabe quem mais seria uma boa combinação? — Josie disse—.
Com Hades, o cavalo de Rafe.
— Sua cernelha é muito curta.
— Mas a cernelha de Sharon é longa, então talvez tudo dê certo. Acho
cansativo o modo como as pessoas só acasalam cavalos dentro de seus
próprios estábulos, a menos que paguem quantias extraordinárias para criar
um campeão que ganhou uma corrida ou duas. Os melhores campeões vêm
de cruzamentos mais variados—. disse Josie com convicção.
Mayne pensou sobre isso. — Na verdade, Rafe tem uma jovem égua em
seus estábulos que pode ser uma combinação brilhante com Seaswept.
— Nesse caso, você poderia negociar com ele e acasalar Manderliss
com sua Lady Macbeth. Porque eu posso imaginar o potro que eles
produziriam.
Mayne também poderia: um lindo cavalo de bronze de crina esvoaçante.
— Teremos que viver em sua propriedade—, disse Josie um tanto
sonolenta—. Você não pode deixar outra pessoa cuidar de um potro nascido
do cruzamento entre Manderliss e Lady Macbeth.
— É claro—, disse Mayne, sabendo que ele sempre quis dizer isso. Ele
estava cansado de ser um gerente de cavalos ausente. Cansado de ler as
revistas de criação e organizar as coisas, e depois sair para a temporada,
mesmo que fosse a hora do parto.
— Você não sentirá falta de Londres? — ele perguntou.
— Claro—, disse Josie—. Vou ter que deixá-lo sozinho no campo
enquanto me divirto nos bailes.
A onda de pânico que sentiu em seu peito o deixou atordoado e ele
ficou em silêncio.
— Estou brincando—. disse Josie, com uma gargalhada na voz. E então
ela adormeceu.
Então, ele ficou lá e pensou em suas prioridades. Lá estavam os
estábulos, a temporada e Londres. Todos aqueles dias e noites
espalhafatosos perdidos no Almack's e em lugares menos saborosos caíram
para o fim da lista. Seus estábulos subiram ao topo.
Mas talvez ... não exatamente no topo.
Havia algo mais também.
Mas ele não queria explorar esse pensamento; parecia muito assustador
para explorar.
Capítulo 38
Do Conde de Hellgate,
Capítulo vinte e cinco
Desde o momento em que a vi, soube que ela era única ... A única que
completou minha alma, que preencheu todos os vazios ásperos e escuros
que se formaram em meu espírito durante anos de depravação, caçando os
desejos impuros de mulheres casadas. Eu a vi do outro lado da rua ...
delicada, pura e clara como um raio de sol. Eu a vi ... e me apaixonei.
Foi constrangedor acordar de novo para descobrir que a luz da tarde entrava
pelas janelas. Mas sua criada não pareceu achar errado quando ela
finalmente saiu da banheira, se vestiu e desceu as escadas. Na verdade,
Josie ficou bastante chocada com a gentileza de todos, até que percebeu que
agora era a dona da casa.
Na verdade, ela se sentia como uma convidada. Como ela poderia se
casar com Mayne? Josie, condessa de Mayne? Não parecia verdade. Talvez
tudo isso tenha sido um sonho.
E, ainda assim...
Ela conseguiu!
Ela provavelmente parecia uma completa idiota, sorrindo para si
mesma. Mas não era permitido a uma mulher um momento de triunfo? Josie
passou direto pela sala de jantar e saiu pelas portas de vidro que davam para
o jardim lateral. Ela sabia onde seu marido estaria em uma bela manhã...
bem, tarde... e, ele não estaria dentro de casa.
— É tudo muito simples—, disse ela em voz alta para si mesma, a
risada borbulhando por dentro—. Tess se casou, e então Annabel se casou, e
então Imogen se casou...
— E, então, eu me casei!
Parecia um conto de fadas, realmente parecia. Todos as quatro se
casaram. Feliz.
Ela seria a melhor esposa que Mayne já imaginou. Ela seria doce e
amorosa com ele o tempo todo. Não que fosse um grande sacrifício. Na
verdade, ela se pegou pulando no caminho para os estábulos nos fundos da
casa.
Ela sabia perfeitamente bem por que tipo de mulher os homens se
apaixonavam. Mulheres doces como o mel. Já que ela nunca ficaria com
raiva ou temperamento forte, ele era tão bom quanto o dela.
Ela encontrou Mayne encostado em uma cabine conversando com Billy.
Ele olhou para ela com um sorriso.
— Bom dia para você, Billy—, disse Josie, ignorando o marido por um
momento—. E como você está se mantendo desde Ascot? Houve mais
problemas com aquelas bolas diabólicas?
— Nem um pouco—, disse Billy—. Eu usei a receita que você me
mandou, senhora. E, posso dizer que todos nós aqui nos estábulos estamos
muito felizes com seu casamento com sua senhoria? Não achamos que ele
poderia ter encontrado um par melhor para si mesmo em toda a Inglaterra.
Josie sentiu que estava ficando um pouco rosada.
— O que você acha de Selkie? — Mayne perguntou. Selkie era um
grande e esguio castanho com bastante osso na perna.
— Ele é adorável. — disse Josie, estendendo a mão para que Selkie
pudesse beijar sua palma.
Mayne esticou o braço e coçou Selkie entre os olhos. — Ele foi muito
bom por mim. Ele venceu algumas pequenas corridas e foi eliminado no
Derby. Ele não tem coração para correr; se ele sente que está perdendo, ele
apenas se acomoda e aceita seu lugar. Estou aposentando-o para procriar.
— Ele é um árabe?
— Exatamente. Por meio do Byerley Turk.
— A genealogia de Byerley data do século XVII, não é mesmo?
— Que prazer ter uma esposa com um conhecimento tão extraordinário
sobre cavalos.
Era tudo tão sociável e agradável que Josie nunca poderia ter acreditado
no que aconteceu a seguir. Seja como for, em poucos minutos ela e Mayne
começaram a berrar um com o outro.
Gritando!
Foi tudo culpa de Mayne. Ele tirou de algum lugar a ideia de que o
senhor, o cavalo macho, transmitia aos filhos as características de seu
próprio pai, mas transmitia às filhas as características de sua mãe.
— Eu não concordo—, disse Josie razoável—. Na verdade, isso é um
absurdo. Você está dizendo que as características são qualificadas pelo
gênero do animal.
— Precisamente—, disse Mayne—. Você vê isso o tempo todo. Se você
colocar um garanhão para procriar com uma égua de corpo bem
estruturado, você o encontrará em um potro. Se o resultado for uma
potranca ... não. As características passam da linha masculina para a
masculina. E o inverso.
— Absurdo—, disse Josie de novo, aquecendo o assunto—. Vamos
pegar um cavalo muito famoso como exemplo. Onde você acha que a
descendência de Eclipse obteve todo esse temperamento que exibe? Não do
Eclipse. Vem através das éguas que o colocam para procriar. Além do mais,
o pai de Eclipse foi Marske, e ainda o peito largo de Eclipse veio de sua
fêmea, Spilletta. Todo mundo sabe disso!
— Você não pode saber que algo tão efêmero quanto temperamento
veio do lado materno—. Disse Mayne.
— Eu certamente sei—, disse Josie—. E não estou sozinha nessa
opinião. Racing Journal observou que os filhos de Eclipse receberam mais
de sua mãe que do seu pai. Por que você acha que nenhum deles foi um
corredor tão bom quanto ele?
— Porque algumas combinações tendem a destacar os defeitos da
linhagem—, destacou Mayne. Seus olhos estavam um pouco estreitados e
ele não parecia tão preguiçoso como costumava ser—. E, francamente,
como você pode dizer que o Rei Fergus não era um grande corredor?
— Porque ele não era.
— Sua linhagem de pai tem alguns dos melhores cavalos deste país!
— A prole de Eclipse era temperamental... cruel até... porque ele foi
colocado para procriar com éguas nervosas. Cada um deles tinha caráter
instável! — Josie afirmou—. O fato é que você não pode ditar quais
qualidades virão de onde. Tivemos Nectarine, uma linda baio, vermelho
acastanhado com pés brancos e uma mancha branca. Ela tinha mais de dois
metros de altura. Nossa égua reprodutora, Gentian, mostrou sinais de que
ela seria capaz de dar à luz a um vencedor, mas cada potro que ela gerou
tinha uma pelve curta. E isso veio da mãe baio.
— Sempre há exceções—, Mayne persistiu—. Como eu disse, algumas
combinações destacam defeitos.
Quem sabe se aquela pélvis curta realmente veio da mãe baio? Sua
Gentian pode ter tido uma família inteira de touros mancos em sua
linhagem. Afinal, a manutenção de registros dificilmente era adequada na
Escócia, vinte anos atrás.
Com uma pequena tosse, Billy escapuliu para o lado e saiu do estábulo.
— Na verdade, estávamos mantendo livros de registro—, disse Josie,
carrancuda para Mayne—. Meu avô detalhou cada cavalo que passava por
suas mãos. Posso dizer sem hesitação que Gentian não tinha uma pelve
curta em qualquer lugar em sua linha.
— Sempre haverá exceções em qualquer caso, mas um programa de
melhoramento tem que ser organizado em torno de um princípio. Eu vi
evidências suficientes para esta ideia que projetei o programa do próximo
ano em torno dela.
Josie revirou os olhos. — Não admira que você não tenha tido uma
vitória sólida em dois anos.
— Uma observação injusta. Afinal, eu nem comecei este programa de
reprodução.
— Posso ver?
— Você vai ser gentil?
— Você quer bondade ou uma vitória? Não seja um ...— Ela se conteve.
— Suspeito que minha nova esposa estava prestes a me insultar—. disse
Mayne.
— Nunca! — disse Josie, embora tivesse consciência de que os maridos
não gostavam de ser chamados de babacas.
Ela quase se esqueceu de ser doce como o mel.
Mas um momento depois, lendo seu programa de procriação, ela se
esqueceu de novo—. Você está sonhando se pensa que vai conseguir uma
boa combinação cruzando Selkie com Tisane. Você esquece que eu conheço
Tisane. Ela correu contra um dos cavalos do meu pai há dois anos nas
corridas Kelso. Ela teria vencido, exceto que ela nem tentou. Não tem
caráter suficiente.
— Não foi esse o motivo—. Protestou Mayne.
— Sim, foi—. Afirmou Josie—. Tive a nítida impressão de que Tisane
tinha um pouco de medo de ser atropelada. Isso não é algo que você queira
redobrar cruzando-a com um garanhão que não tem espírito.
Ela acariciou o nariz de Selkie para se desculpar pelo insulto.
— Você não pode esperar que as características dos pais se transmitam
perfeitamente através da linhagem do pai. Não estou preocupado com o fato
de esses cavalos terem um desempenho ruim porque são as qualidades de
seus pais que irão saltar para sua progênie.
— Absolutamente absurdo—. disse Josie novamente—. Eu acharia que
você esteve no sol por muito tempo se você não estivesse diante de mim.
Você realmente acha que as crianças só herdam as características dos avós?
E você? Você espera que nossa filha se pareça com a sua mãe?
Eu acho que não!
— Espero que não—, disse Mayne—. Eu adoro minha mãe, mas ela tem
uma voz que parece uma rã-touro.
— De acordo com você, nossa filha vai herdar a voz de uma rã-touro,
então—, disse Josie—. Felizmente para ela, sua teoria é uma besteira total.
Mayne começou a rir—. Agora vou começar a rezar para que o
temperamento de nossa filha não se pareça com a mãe dela!
Josie piscou para ele e então percebeu que tinha esquecido. Totalmente
esquecido de que ela era uma esposa doce como o mel.
Mayne ainda estava rindo dela quando Josie viu algo mudar em seus
olhos. Ele olhou para o longo corredor vazio dos estábulos. Ninguém estava
lá, exceto alguns cavalos cochilando em suas baias enquanto pedaços de
palha flutuavam sob os raios de sol—. Eu vou lhe mostrar o sótão—. disse
ele, pegando a mão dela.
— O sótão? — Josie questionou, e então se lembrou de ser agradável.
Muito agradável. — Claro, querido—, ela disse—. O que você quiser.
Ele a levou até a escada contra a parede. Então ele fez uma pausa—.
Você é capaz de subir uma escada?
Josie revirou os olhos e então subiu a escada para que ele não tivesse
tempo de examinar seu traseiro. Como consequência, ela subiu os degraus
tão rapidamente que seu chinelo prendeu no topo e ela caiu esparramada em
uma pilha de feno.
Uma risada soou atrás dela e ela teve a sensação espinhosa de que ele
estava olhando para seu traseiro, então ela se virou.
Claro que ele estava parado na abertura, as pernas abertas, parecendo
tão delicioso quanto qualquer homem tinha o direito de parecer. Suas calças
grudavam-se nas pernas como se tivessem sido pintadas ali. Simplesmente
não era justo, para a mente de Josie, que ele tivesse esse corpo
naturalmente, e ela ...
Ele não se abaixou e a pegou, em vez disso, ele se agachou ao lado dela,
como se ela fosse uma garotinha que havia caído na grama—. O que você
está pensando?
— Em suas pernas—. Ela disse honestamente.
Ele bufou de tanto rir—. Você está pensando nas minhas pernas.
Pernas? O que há para pensar sobre minhas pernas?
De repente, ela estava sentindo isso de novo, aquele doce e adorável frio
em sua barriga, e a corrida em seu sangue que a fazia se sentir perfeita em
seu corpo, não gorda, não desajeitada - apenas certa. Ela se inclinou para o
lado e colocou a mão no joelho de Mayne—. Você não sabe?
— Não.
— Você provavelmente já ouviu sinfonias de louvor sobre seu corpo.
Não quero torná-lo mais vaidoso do que já é.
Ele riu de novo, um som escuro e suave no fundo de sua garganta—.
Acredite ou não, entre aquelas mulheres a quem você se refere tão
casualmente, nenhuma mencionou minhas pernas.
— Elas deveriam ser cegas—. Ela o assegurou. Era difícil não prestar
atenção aos músculos tensos de suas coxas. Era pensar neles e sentir
vontade de dançar uma valsa, ali mesmo, na palha. E pelo olhar dela, ele
sabia o que inspirava sua jovem esposa.
— Mas você—, disse ele lentamente, com um tom humorístico e
provocador—, você não teve as centenas de amantes que tive a sorte de ter,
de experimentar o que é o amor e de me tornar um professor.
Ela fez beicinho. Os olhos de Mayne permaneceram na deliciosa boca
carrancuda. Então ele também teve vontade de dançar.
— É uma das injustiças que tenho de suportar só porque sou mulher.
— Você não perdeu nada, eu garanto. Era isso que eu queria dizer, com
minha ironia. Nada. Você vê: nenhuma delas era sensível o suficiente para
notar minhas pernas incríveis. Elas não as elogiaram.
— O que elas elogiaram, então? — Josie perguntou, surpresa com a
sensação de desejo que tomava conta dela às vezes. Ela tentou se acalmar
—. De qualquer forma, é uma conversa muito inadequada—. Acrescentou,
olhando para o sorriso do homem.
— Você, Josie, muitas vezes é inadequada—. Observou o marido—.
Acho que é um traço de caráter, desde o nascimento. Além disso, estimo
que nossa filha corre o risco de ser expulsa da sociedade por
comportamento impróprio se não a monitoramos de perto.
Josie percebeu que Mayne aceitara seu ponto de vista, embora
indiretamente, com delicadeza, sobre o programa de reprodução. Ele
reconheceu que o caráter é herdado dos pais. Ele a ouviu e iria mudar os
planos com base na lógica dela. Ela nunca tinha visto um homem voltar
atrás dessa forma. E menos ainda o pai, que durante anos riu de cada uma
de suas sugestões, até que, farta e decepcionada, parou de dá-las.
— Suas pernas são lindas—, disse ela, com um toque de hesitação em
sua voz—. Eu ... — Mas a ideia que estava prestes a expressar de repente
escapou de sua cabeça. Ao ver o corpo musculoso de Mayne, a graça
masculina de seus movimentos e a bondade de seu caráter, o desejo a
invadiu até que ficou sem palavras.
— O estranho é que eu diria o mesmo sobre você, mas nunca sobre mim
—. Mayne explicou, parecendo realmente confuso. Ele começou a levantar
a saia dela e ela o deixou fazer isso.
— Minhas pernas ...— ela começou a dizer, e parou. Não adiantava
falar sobre o que pensava desse assunto.
— Liso e cheio de curvas—, disse ele, seus dedos apreciando
precisamente aquela suavidade. A vontade de gritar e dançar redobrou, a
ponto de seus quadris começarem a se mover inconscientemente—. Sua
pele é tão clara quanto uma pétala de rosa branca. Eu sei que não é muito
original, mas é a verdade — naquele momento suas mãos alcançaram suas
coxas—. Ele já estava em cima dela, e a mulher fechou os olhos porque viu
algo no rosto de Mayne que a fez se sentir ...
Ímpar.
— Acho que é isso que eu mais gosto em você—, ele sussurrou. Agora
ele estava acariciando suavemente seu traseiro—. Você sabe, Josie, que suas
curvas hipnotizantes, sua sensualidade transbordante, podem fazer o
homem mais duro chorar de pura alegria?
— Não—. Ela murmurou.
Agora ele estava beijando seu pescoço.
— Suas coxas fazem qualquer homem normal querer afundar em você,
beber você, desfrutar de todos os doces tesouros, todos os mistérios
promissores que você esconde.
Josie suspirou, entregue. Ela acariciou seu cabelo preto, mas a cabeça
de Mayne se afastou para varrer seu corpo inteiro, e ele passou um tempo
gemendo o sabor de cada canto de sua anatomia, sem poupar nenhum lugar.
A menina não demorou a tremer de alegria, o vestido na cintura, sem se
importar minimamente, como na casinha do jardim, que o sol brilhasse
sobre ela e ele pudesse vê-la completamente.
— Se apenas uma de todas aquelas mulheres que eu conheci, Josie ...
As alusões a seus ex-amantes doeram um pouco, então Josie se
encolheu. Mas, a magoavam e a lisonjeavam ao mesmo tempo.
— E aquelas centenas de mulheres? — Ela perguntou—. Eu não acho
que você deveria trazer um assunto tão áspero ... Oh!
— Isso dói?
— Não, não, é outra coisa ... Droga!
Ele parou e uma expressão de dor cruzou seu rosto.
— É muito cedo. Sou um idiota. Sinto muito, Josie, eu ...
Ela o parou antes que ele começasse a balbuciar. — Apenas fique aí—,
ela ordenou a ele. Ele congelou. Ela se mexeu um pouco, deixando seu
corpo se acostumar com a intrusão dele. — Tudo bem—. disse ela.
— Tudo bem o quê?
— Você pode...— Ela acenou com a mão—. Você sabe.
Ele parecia estar congelado no lugar.
— Venha um pouco mais—, disse ela sem graça—. Não existe
linguagem para esse tipo de coisa?
Ele engasgou com uma risada e, em seguida, avançou lentamente. O
cabelo caiu sobre seu rosto e ele parecia tão querido que ela sorriu e nem
percebeu que ele a estava penetrando novamente.
— Você é extraordinariamente grande? — ela perguntou um segundo
depois.
Ele parecia ter problemas para obter sua voz, mas então disse: — Eu
realmente não sei.
— Bem, todas aquelas mulheres devem ter contado a você, embora eu
ache que devíamos parar de falar sobre elas—. Observou ela.
— Eu estava tentando lhe dizer, Josie, que se pelo menos uma daquelas
mulheres, não que houvesse cem, porque não havia, mas se pelo menos uma
delas tivesse ...— Ele deu um pequeno som engraçado na garganta—. Você
tem certeza que deseja fazer isso?
Josie arqueou as costas novamente—. Isso é bom.
Ele angulou seus quadris de uma maneira diferente.
— Isso—, ela engasgou—, é melhor do que bom.
Então eles gostaram disso um pouco, até que tivessem um ritmo. Era
quase como dançar, na opinião de Josie, exceto que ela era péssima na
dança e parecia ser boa nisso. Na verdade, ela não achava que Mayne
tivesse qualquer reclamação. Ela estava descobrindo todo tipo de coisas
sobre o que ele gostava. As duas pequenas cavidades na lateral dos quadris,
por exemplo.
— Eu gosto da sua bunda—, ela disse a ele, segurando-o ali.
O homem deu um gemido estrangulado novamente e se arqueou,
apoiando-se nos braços para poder olhar para ela. Josie sabia que seu cabelo
estava úmido de suor, mas ela não se importou. Ele rasgou o vestido dela
para beijar seus seios e ela se curvou para ele em um convite
desavergonhado e maravilhoso. Garret riu, engasgou e provou seus seios
novamente.
— Diga-me, Josephine, que tipo de dama é que usa a palavra “bunda”?
— Você queria ter se casado com uma dama? — Ela perguntou, sem se
importar com as maneiras dele, pois estava feliz por sentir que todos os seus
laços com o solo estavam começando a se afrouxar. Ondas do calor
agradável do primeiro encontro começaram a lavá-la dos pés à ponta dos
dedos. Ela não se importava com o que Mayne dissesse ou o que alguém
pensasse, contanto que ele continuasse a penetrá-la exatamente dessa
maneira.
Seu marido olhou para ela e esqueceu sua própria pergunta. Porque
quando Josie estava assim, como uma flor de carne, sem fôlego, suada e
doce, agarrando sua bunda com as duas mãos e envolvendo as pernas em
volta dele, ele não queria ter nada a ver com nenhuma dama. Ele só estava
interessado naquela mulher, sua esposa.
Mas ele não esqueceu a outra coisa que tinha para dizer a ela. Ele
simplesmente esperou até que os dois desmoronassem para falar. Então ele
colocou Josie em cima dele, para que a palha não machucasse aquela pele
gloriosa, e falou com ela em sussurros, no meio de seus cabelos.
— Se alguma dessas mulheres tivesse seu corpo, Josephine, minha
esposa, eu não me casaria com você. E, essa é a mais pura verdade.
— Como? — Ela parecia assustada, então Mayne disse novamente.
— Eu não seria capaz de deixá-la. Provavelmente eu teria duelado com
o marido dela e o matado. E, certamente teria que deixar o país.
— Bem, fico feliz que não tenha acontecido—. disse ela, com um certo
tom de ceticismo—. Você deve ser cego, então tenho certeza de que
perderia o duelo.
Com a cabeça no cabelo da esposa, Mayne sorriu.
— O cego é você—. A mulher cheirava intensamente. Ela tinha tudo
que a alma sensual de Mayne havia sonhado. E, além disso, era uma mulher
de inteligência extraordinária.
— Pensa um pouco. Eu poderia ter me casado com alguém que
realmente entendesse da criação de cavalos—. Josie disse.
— Megera.
— Eu não sou uma megera. Eu sou sua doce esposa.
Ele bufou—. Você deve ter duas personalidades. Talvez, seja outra
pessoa, uma gêmea, uma impostora. Ou, você pode ser minha outra esposa,
uma mulher que eu havia esquecido.
Josie estava deitada em cima dele, o rosto enterrado em seu ombro e
pensou em como ela seria doce com ele. Assim que ele parasse de dizer
coisas estúpidas—. Você não tem outra esposa—, observou ela—. Você tem
estado muito ocupado pulando de saia em saia como um coelho procurando
uma cenoura.
Ele deu um pequeno beliscão—. Acho que estava procurando uma toca
de coelho.
O tom alegre da voz do marido motivou a resposta da esposa—. Você é
um depravado! — ela disse—. Não sou uma toca de coelho para o seu
prazer.
— Hmmmm—, disse ele, parecendo um pouco sonolento—. E, eu tenho
uma cenoura para você ...
Tudo parecia tão ridículo para ela que nem pensou em censurá-lo pela
banalidade de tal linguagem, nem que era óbvio que havia aprendido tais
piadas odiosas em seus anos de comportamento intolerável. Ela apenas
acariciou seus cabelos. Pareceu-lhe que Mayne estava prestes a adormecer.
E, ela não queria acordá-lo.
Capítulo 39
Do Conde de Hellgate,
Capítulo vinte e cinco
Eu a vi ... e a amei. E, no entanto, ela era o oposto de mim: clara e bela de
corpo e alma, casta como a neve e virtuosa como um anjo. Você se casaria
comigo, não é? Esse foi o desafio que me propus naquela época. Não para
manchar um anjo, mas para casar com ele. Ganhe seu coração, ganhe sua
mão, ganhe um lugar com ela.
Ah, meu caro leitor, o que você acha das minhas chances de sucesso?
Thurman nunca tinha visto seu pai assim. Ele parecia ... velho. Cansado.
Desesperado mesmo.
Thurman teve vontade de torcer os lábios, mas não o fez. Ele se curvou
e ofereceu uma xícara de chá ao pai. — Um prazer inesperado.
Henry Thurman sentou-se pesadamente e acenou para Cooper sair da
sala. Então ele apoiou as mãos nos joelhos daquela maneira que Thurman
sempre odiou, porque simplesmente não era algo que um cavalheiro fazia.
Seu pai ainda tinha um cheiro de imprensa ao seu redor, pois seu avô foi
quem iniciou o empreendimento.
— Não há como colocar isso facilmente—. disse ele.
Thurman sentou-se à sua frente. Ele tinha acabado de sair para dar um
passeio no Hyde Park e não queria nada mais do que sair correndo da sala e
deixar aquele homem pesado e suado para trás.
— Estamos arruinados.
— O que?
— Arruinados. Peguei um dinheiro emprestado e pensei que pagaria em
parcelas ... A história se espalhou—. Um nome continuou tamborilando
através da enxurrada de linguagem miserável de seu pai. Felton. Felton.
Felton.
— Quem é Felton? — Thurman finalmente exigiu.
Seu pai parou e piscou para ele—. Lucius Felton. Administra quase toda
Londres, pelo menos no lado financeiro. Foi ele que fez o empréstimo...—
E, começou a contar tudo novamente.
Thurman entendeu tudo o que estava acontecendo. Lucius Felton havia
arruinado sua família. Lucius Felton foi o responsável pela perda da casa
que tinham em Kent, porque era o que seu pai estava dizendo naquele
momento, pela perda de sua mesada, obviamente, e de seu tílburi, sua
querida carruagem de corrida.
Lucius Felton.
O homem que dera um dote à salsicha.
O homem casado com a irmã da salsicha.
Ele nunca se sentiu pior em sua vida. Estava sentado ali olhando para o
rosto vermelho de seu pai enquanto este lhe dizia que o dinheiro de sua mãe
estava seguro, claro, então eles iriam para a cidade onde ela nasceu, porque
havia uma pequena casa lá. Um de seus irmãos ia entrar no seminário.
— Sr. Felton—, repetiu o velho prematuro, e as palavras filtraram-se
pela névoa que confundia o cérebro de Thurman—, foi gentil o suficiente
para comprar uma comissão para seu irmão mais novo no exército.
Se deteve.
Thurman ficou em silêncio, esperando. Certamente havia algo mais.
Certamente Felton havia contado o que ele temia. Ele contara à família o
que ele fizera com a salsicha?
Mas, Felton não disse nada. Seu pai estava olhando para ele não com
censura, mas com uma expressão horrível de dor, compaixão e desespero.
— Quem mais me entristece é você—, continuou ele—. Sua mãe e eu
ficaremos bem e seremos felizes na aldeia. Você sabe que gostamos da vida
simples. Mas você ... Eu não deveria ter arriscado sua herança, filho.
— É verdade, você não deveria—, disse Thurman asperamente—.
Como você pode cair nas mãos de alguém como Felton?
— Eu não sabia ... Ele sempre foi muito gentil, mas então ...
Em cinco minutos, Thurman percebeu tudo. Na última semana, Felton
comprou todos os empréstimos inadimplentes de seu pai. Ele havia
assumido o jornal. Ele gentilmente “separou” o dinheiro de sua mãe e deu a
ela, como uma instituição de caridade, o dinheiro de que ela precisava para
comprar uma comissão para seu irmão.
— Então, só resta você—. disse o pai.
— Eu? — Thurman respondeu, ainda sem entender direito.
— Você não tem mais dinheiro, garoto. Esta casa ...— Olhou ao redor
—. Bem, o aluguel está pago até a próxima semana. E é melhor você dizer
ao seu mordomo para partir imediatamente. O que você vai fazer a seguir,
Eliot? Você tem uma profissão em mente, garoto? Sem dúvida, você terá
aprendido muito nas escolas que frequentou.
Thurman ficou em silêncio.
— Tento não me preocupar com você—, disse o pai—. Você não terá
problemas, com todos os seus amigos do Rugby. Eles o ajudarão a sair
dessa situação. Arrume um emprego em algum lugar. Talvez você possa ser
secretário de alguém importante. Você sempre foi muito hábil com a caneta.
Thurman mal conseguia mover os lábios.
— Saia! — ele ordenou.
— Bem, agora...
— Fora daqui! Você acabou com a minha herança e destruiu minha
vida. A única coisa boa nisso tudo é que nunca mais terei de ouvir os
delírios estúpidos de um velho idiota como você! Nós não temos nada em
comum. Nós nunca tivemos!
Henry Thurman levantou-se lentamente.
— Você sempre terá um lar conosco, Eliot. Nós sabemos que você está
acima de nós. Mas, você sempre pode voltar para casa.
— Nunca—. Retrucou Thurman—. Nunca.
Henry Thurman cambaleou para fora da casa. Era muito ruim. Claro, ele
havia arruinado a vida do jovem Eliot que sempre foi a esperança da
família, eles o criaram para ser o jovem cavalheiro que faria parte da
aristocracia. Ele era amigo de todos aqueles cavalheiros. Certamente
poderia se recuperar desse revés inesperado. Seus elegantes amigos iriam
ajudá-lo. Aquele Darlington, por exemplo, de quem Eliot sempre falava.
Dentro de casa, Thurman gritava escandalosamente com Cooper:
— O cartão—. Ele murmurou—. O cartão!
Cooper estava ouvindo atrás da porta. Ele ouviu o suficiente para ir
imediatamente para os fundos da casa e embrulhar os talheres em um pano.
De resto, ele sabia onde estava o cartão do velho jornalista que havia jogado
para fora de casa há algum tempo. Agora, teria que se voltar para ele.
— Vou procurá-lo, senhor—. respondeu ele. Em vez de fazer isso,
voltou para os fundos da casa para que pudesse embrulhar o bule de prata e
alguns castiçais que sempre amou.
Depois de um tempo razoável, quando tinha as coisas que queria
embrulhadas e arrumadas em duas caixas grandes, levou o cartão para
Thurman.
Como esperava, Thurman olhou a inscrição "Harry Grone, The Tatler" e
saiu correndo de casa. Assim que ele saiu, Cooper chamou uma carruagem
de aluguel, carregou as duas caixas e saltou para dentro do veículo.
Ele deixou a porta da frente aberta, caso alguém quisesse entrar.
E, foi o que aconteceu, já que dois senhores decidiram entrar. Eles
caminharam vagarosamente pela sala de Thurman, olhando para a mobília
esparsa.
Um deles, o conde de Ardmore, tirou o casaco.
O outro, Lucius Felton, olhou para os poucos convites dispostos sobre a
lareira. Em seguida, foi até a janela e fechou um pouco a cortina.
Eles tiveram que esperar até o pôr do sol.
Thurman decidiu fazer o que Grone pedira a ele e dirigiu-se à gráfica,
onde estava tudo confuso porque já se sabia que havia um novo dono. Ele
forçou sua entrada nos arquivos, fez algo lá e então saiu.
Mas, não voltou imediatamente para casa com a bolsa de soberanos que
Grone havia lhe dado. Foi ao ‘Convent’ e pagou várias rodadas de bebidas
para todos. Ele não pôde deixar de pensar que no dia seguinte todos
saberiam das novidades. Então tudo estaria acabado.
Mas, por uma última noite de ouro, ele ainda poderia ser um jovem
cavaleiro em ascensão, um herdeiro com muito dinheiro para gastar. Ele
jogou um soberano no balcão, enquanto os atendentes do bar torciam a boca
em sorrisos simulados. Ele jogou outro soberano no ar quando uma
garçonete se sentou em seus joelhos. Fingiu que Darlington, Wisley e os
outros estavam com ele ... embora não fossem mais assim.
Quando finalmente tropeçou em sua residência, os restos da bolsa de
Grone em seu bolso, ele não se preocupou mais com o dia seguinte. Ele
cuidaria do assunto amanhã.
Em vez de descer, ele saltou da carruagem alugada, dando ao motorista
um soberano, quando ele pediu apenas oito pences. As cortinas da sala se
moveram, mas ele não percebeu.
Entrou pela porta da frente e ficou lá, cheio de cerveja e gim, hesitante e
bêbado. Jogou a cabeça para trás, como um lobo uivando para a lua.
"Cooper!" Gritou. “Cooper!”
Cooper não apareceu, mas a porta da sala se abriu lentamente e
Thurman entrou cambaleando.
Capítulo 41
Do Conde de Hellgate,
Capítulo vinte e seis
Nem todo homem tem a sorte de se apaixonar por uma mulher como essa.
Eu sei que não mereço isso ... e ainda assim, caro leitor, tenho a sorte de
carregar sua promessa em meu coração. Ela vai se casar comigo. Não vou
mais vagar por aí ... os espaços vazios em meu coração são preenchidos
por sua bondade e doçura.
Vou passar minha vida adorando o chão em que ela pisar.
Sem perceber, ela adormeceu novamente nos braços de Darlington. Foi tudo
muito fácil, talvez fácil demais, depois que Josie se casou e pôde voltar para
sua casa. Darlington foi tomar chá e, de repente, ela já estava em sua
carruagem ...
Por que ela não deveria se casar com ele? Griselda se perguntava cada
vez com mais frequência. As pessoas, é claro, fariam piadas. Ririam dela.
Diriam que era uma espécie de papa-anjo. Olhou novamente para o
delicioso tufo de cabelo deitado ao lado.
Às vezes ele parecia mais velho que ela. Não a surpreendeu, porque
sabia que existiam pessoas assim, pessoas que amadureciam, ou mesmo
envelheciam antes do tempo.
Continuou meditando. Ela sabia que ele precisava dela. Ela poderia
ajudá-lo a ter um relacionamento melhor com seu pai, faria com que o
vissem com melhores olhos. E, seria sua melhor crítica e admiradora em
sua obra literária.
Talvez ela devesse acordá-lo e contar-lhe tudo isso. Talvez ela pudesse
anunciar que queria se casar com ele.
Não faria mal pensar, mesmo que tal notícia a angustiasse um pouco no
início. Ela colocou os dedos dos pés para fora da cama o mais
silenciosamente que pôde. Graças a Deus, ao contrário da maioria dos
homens em sua situação, ele não tinha servos residentes em casa. As roupas
de Griselda estavam em uma pilha bagunçada na entrada do quarto.
Griselda parou ao vê-lo e levou as mãos ao rosto ao perceber como suas
bochechas estavam quentes de vergonha por seu comportamento.
Ela não tinha certeza de como voltar para casa. Darlington dissera aos
criados que não voltassem antes do meio-dia e, portanto, não podia pedir a
ninguém que chamasse uma carruagem.
Ela descartou a ideia de ficar, acordá-lo e contar-lhe sobre o casamento,
pois gostava da ideia de deixá-lo se perguntar mais algumas vezes. Era tudo
tão ... delicioso. Afinal, ela tinha o direito de ser cortejada, como as outras
mulheres. Ele deveria trazer rosas para ela e dedicar uma ou duas poesias a
ela. A ideia de um poema escrito por Darlington a fez rir.
Ela se vestiu e saiu. Não conhecia o bairro dele muito bem, mas
imaginou que a Fleet Street provavelmente ficava à direita. Depois de
caminhar um pouco, avistou a larga rua principal onde poderia pegar uma
carruagem de aluguel.
Quando uma carruagem diminuiu a velocidade para parar ao lado dela,
ela se virou para ela de boa vontade. Ela não gostava da ideia de sinalizar
para uma carruagem pessoalmente ... era muito vulgar acenar com a mão na
frente de todos ... e era muito melhor se tivesse ...
Mas, esta não era uma carruagem de aluguel.
Na verdade, era um veículo que ela conhecia muito bem, quase tão bem
quanto a dela. Um servo saltou da parte de trás e abriu a porta.
Não havia nada de errado em embarcar, então ela subiu as escadas.
— Lady Blechschmidt—, disse Griselda, sentando-se com a maior
dignidade possível. Seu cabelo estava preso em um coque simples. Ela tinha
feito pouco mais do que lavar o rosto. Se Emily Blechschmidt observasse
que ela estava usando um vestido de noite pela manhã, ela perceberia
imediatamente que não havia voltado para casa desde o dia anterior.
— Lady Griselda.
Emily Blechschmidt era pelo menos seis anos mais velha que ela. Como
sempre, ela estava vestida com uma elegância sóbria que não convidava
olhares curiosos.
Ela estava prestes a ser assim, pensou Griselda. “Eu poderia ter me
tornado uma Emily, que não tem nem quarenta anos e já é uma das
moralistas mais ferozes da alta sociedade, com uma língua tão áspera como
a de uma solteirona de oitenta anos.”
Por um momento, a carruagem ficou completamente silenciosa. A
mente de Griselda estava disparada. Por que a carruagem de Emily tinha
que ser a única passando? Precisamente, o de uma mulher famosa em todos
os lugares por suas opiniões dogmáticas e ferozes sobre comportamentos
pecaminosos e mulheres de vida fácil.
Por sua vez, Emily, após dar uma rápida olhada em Griselda
Willoughby, soube exatamente como ela havia passado a noite. Afinal,
Emily passara a vida inteira observando a alta sociedade dos cantos dos
salões, observando, do lugar das damas à espera, como homens e mulheres
caíam nos braços uns dos outros, como dançavam juntos nos jardins e
olhares e sorrisos secretos eram trocados. Isso a irritou, matou de inveja e
nostalgia, a fez se sentir pequena. Ela se orgulhava de sua língua afiada
quando se tratava de mulheres fáceis, seus comentários bizarros sobre
debutantes escandalosas.
Para Emily, o penteado imperfeito de Griselda e os olhos sonolentos
significavam que, é claro, ela deveria ser removida de sua lista de amigas.
Mesmo que fossem amigas há anos.
Mas havia momentos em que uma mulher tinha que deixar de lado a
moralidade e a ética.
— Você nunca me perguntou o que eu estava fazendo no Grillon Hotel
no ano passado, quando me viu lá—, disse ela finalmente.
O olhar de Griselda estava fixo em suas próprias mãos quando ergueu
os olhos para ela.
— Não era apropriado que eu o fizesse.
— Eu penso que sim—. respondeu Emily—. Se quisermos ser amigas.
O sorriso de Griselda foi um pouco forçado.
— Eu pensei que já éramos amigas.
— Até agora somos conhecidas—, disse Emily—. Você ficaria
horrorizada em saber o que eu estava fazendo no hotel.
O sorriso de Griselda se alargou.
— Eu prometo não ficar horrorizada.
— Você ficará horrorizada—. Emily ficou em silêncio por um
momento. Mas ela estava cansada de tanto silêncio e, além disso, esse caso
estava acabado—. Eu nunca farei uma coisa dessas novamente.
Griselda assentiu.
— A menos que você deseje.
— Eu não me permitirei. Eu não quero. Tenho muita vergonha de mim
mesma—. Griselda fez um gesto tal que não parecia compartilhar esses
sentimentos de vergonha, de modo que Emily percebeu que provavelmente
tinha um casamento iminente—. Você não consegue entender.
— Na verdade, eu entendo muito bem—, garantiu Griselda—.
Realmente, quero entender. Afinal, Emily, eu ...— sua voz sumiu.
— Devo supor que você passou a noite com um cavalheiro.
— Eu acredito—, Griselda relatou—, que vou me casar com o
cavalheiro em questão, Emily. Eu acredito que vou.
Houve um novo silêncio. Mas, Emily sentiu, e vinha sentindo há várias
semanas, que se ela não contasse a alguém, seu coração se quebraria.
— Eu também tive um caso—. Ela quase gritou, ouvindo a aspereza em
sua própria voz.
Griselda sorriu para ele.
— Eu imaginei.
— Mas tenho sido tão moralista, tão desdenhosa com os outros—, ela
confessou—. Você sempre teve um comportamento casto, mas raramente
julgou os outros. Você me odeia?
— Não—. Griselda respondeu sem hesitar.
— Mas, vai me odiar—, Emily insistiu—. Você vai me odiar.
Griselda piscou.
— Um homem casado? — Perguntou.
— Pior—. disse Emily.
— Pior?
Emily não conseguia nem olhar mais para ela.
— Muito pior—. Ela sussurrou.
— Não consigo imaginar—. Admitiu Griselda—. Um servo?
— Os servos são apenas homens, casados ou solteiros; eles são apenas
homens.
— Então ...— Griselda ficou de boca aberta—. Você...
— Lamento—. Emily relatou, sua voz endurecendo quando ela disse
isso—. Lady Gemima.
— Ela é adorável—. Griselda observou depois de ficar por um segundo
com a boca aberta—. Você e ela ...?
Emily podia sentir as lágrimas fervendo em sua garganta, todas as
lágrimas que ela não conseguia derramar porque ninguém, ninguém mesmo,
devia saber das coisas terríveis que ela fizera.
— Não! — Ela não conseguia nem olhar para Griselda. Mas um
momento depois, um lenço delicado alcançou suas mãos e o braço da viúva
envolveu seus ombros.
— Não chore, Emily—, Griselda consolou-a, e o tom de sua voz não
indicava que ela abriria a porta da carruagem para pular de puro nojo—.
Não chore. Gemima é adorável. Sim, eu ... sim ... bem, ela é tão engraçada e
adorável.
— Não ... não é adorável—, Emily soluçou—. Ela ... ela ...— Então,
desabou e depois disso ela nem conseguia entender o que estava tentando
dizer, porque era tão doloroso e exasperante que não conseguia encontrar
uma maneira de colocar em palavras.
Depois de um tempo, a carruagem parou. As duas acabaram na
confortável salinha de Griselda, e a história toda veio à tona entre
interrupções e soluços. Griselda embalou Emily no ombro, como se ela não
fosse a mulher mais imoral do mundo.
— Você vê—, disse Emily, com a voz rouca de tanto chorar—, ela vai
viajar para o exterior. E, vai levar sua nova amiga com ela. E, isso é tudo.
— Sinto muito—. Lamentou Griselda. Ela entregou a ela uma xícara de
chá—. Gemima está cometendo um grande erro.
— Por que Gemima não pôde se apaixonar? E de uma mulher tão
perfeita em todos os sentidos. — Emily disse desesperadamente. “Perfeita!”
— Como você. Mas, quem pode dizer por que essas coisas acontecem?
— É porque tenho sido muito antipática com os outros. Tenho pensado
muito sobre isso nos últimos quinze dias e sei por que aconteceu, por que
Gemima se apaixonou por outra pessoa. É minha justa punição. O destino
me atingiu porque eu mereci.
— Bobagem! — exclamou Griselda—. A compaixão vem da
experiência, Emily. Tenho certeza de que você não pode ser indiferente às
fraquezas dos outros. Mas você nunca foi cruel. Você é muito severa
consigo mesma.
Emily respirou fundo e largou o lenço. Chorar assim era uma coisa tão
estranha para ela. Ela podia molhar os travesseiros todas as noites, mas isso
só a fazia se sentir fraca e enjoada. Mas, um grito de alívio no ombro de
Griselda a fez sentir que seria possível enfrentar no dia seguinte.
— Quem quer que seja, ele não merece você—. disse ela sem
entusiasmo.
Griselda riu.
— Isso está correto. Como você disse, é um homem.
Emily não teve escolha a não ser sorrir um pouco.
— Oh—, continuou—, tenho algumas novidades para você, Griselda.
Ela ergueu os olhos da chaleira.
— É sobre Hellgate.
— Eles descobriram quem escreveu as Memórias? — Griselda
perguntou.
— Exatamente. É tão fascinante. Mayne mal deve conhecer o autor.
— Que tipo de pessoa é o autor? — Griselda quis saber, despejando
cuidadosamente a água quente—. Todos nós chegamos à conclusão de que
ele deve ser um devoto leitor das páginas das revistas de fofoca.
— É muito mais interessante do que isso—, assegurou Emily, aceitando
um cupcake de creme—. Isso é delicioso! Como sua cozinheira os faz?
— Ela tem uma receita meio secreta—, Griselda respondeu—, E, ela a
guarda a sete chave. Eu sei que tem chifre de camurça ralado e amêndoas
branqueadas. Acho que o mais interessante é a forma como corta a casca do
limão, em forma de folhas.
— Meu cozinheiro nunca poderia fazer algo assim. É muito bom para
refeições normais, sabe, como fricassé de nabo—. Ela fez um gesto
engraçado e Griselda riu. — Mas, realmente, você não vai acreditar quem
escreveu esse livro.
Griselda franziu a testa.
— Você se esqueceu do que estávamos falando—, Emily acusou.
Griselda corou novamente—. É porque você está apaixonada. Bem, vou
dançar no seu casamento.
O sorriso de Griselda era de uma felicidade tão profunda que Emily
ficaria amarga em outro momento, mas ela não se sentia mais amarga.
— Ouça agora—, Emily convidou—. Esta é a fofoca mais fascinante
que já ouvi em toda a temporada!
— Melhor do que o processo de divórcio do conde Burnet? Devo dizer
que acho difícil esquecer os detalhes da vida doméstica de Burnet, pelo
menos conforme contado pelos criados.
— Eu não acreditei na metade dessas histórias—, disse Emily—. Não,
isso é fascinante porque ele é um de nós, Griselda.
— Quem? Hellgate?
— Hellgate era seu próprio irmão, como todos nós acreditamos. Não, o
autor! — Ela se inclinou para frente—. Seu nome foi descoberto por um
repórter muito empreendedor que trabalhava para The Tatler.
Griselda afastou seus pensamentos de Portman Square e do homem
loiro que, sem dúvida, já havia se levantado da cama.
— Fascinante—, disse ela—. Surpreenda-me!
Capítulo 42
Do Conde de Hellgate,
Capítulo vinte e sete
Foi uma experiência nova para mim falar com o coração, e não com a
virilha, caro leitor. Então eu percebi quão pouco meu coração teve a ver
com meus muitos relacionamentos, e até mesmo com minha esposa
amorosa. Mas naquele momento ... quanto ele ansiava por ela! No entanto,
não foi desejo físico o que senti, mas um amor autêntico que encheu meu
coração. Ele queria o melhor para ela, para sua vida, para sempre.
Então eu tive que enfrentar a verdade: eu era o melhor para ela?
Josie caiu no chão como se seus joelhos fossem feitos de água. Ela sabia
disso, não sabia? Ela sabia que Mayne amava Sylvie. Ele disse a ela que
amava Sylvie, na época em que fez amor com ela pela primeira vez. Ele
disse a ela novamente, em tantas palavras, quando ele lhe ofereceu
casamento e disse que o amor não era importante.
Mas foi mais cruel vê-lo beijar uma carta de Sylvie. O que ela fez? Oh,
o que ela fez?
Não foram apenas os sentimentos de Mayne por Sylvie que ela
esqueceu quando se casou com Mayne sob falsos pretextos. Aparentemente,
ela subestimou os sentimentos de Sylvie também, porque, caso contrário,
por que ela escreveria para ele?
Talvez Sylvie fosse o tipo de mulher que brigava com seus entes
queridos, que jogava anéis de volta para seu noivo, mas não era sério.
Agora que ela pensava nisso, as francesas eram notórias por esse tipo de
drama. Sylvie provavelmente pensou que Mayne apareceria pela manhã
com o anel na mão e imploraria por sua mão novamente.
E ela, Josie, com seu caderno tolo cheio de esquemas sobre como
ganhar um marido e como arranjar um casamento: ela havia esquecido a
coisa mais importante de todas. Que um marido que ama outra pessoa, por
mais entusiasmado que esteja na cama, é um companheiro de partir o
coração.
Nenhum de seus gracejos e sua inteligência importavam em face disso.
Ela poderia fazer Mayne rir.
Ela poderia fazê-lo ofegar na cama. Mas ela nunca poderia suplantar a
doçura do amor que ele sentia por Sylvie.
Ela não podia mais imaginá-lo beijando uma carta que ela escreveu para
ele do que ela poderia imaginá-lo beijando uma sela. O que provavelmente
era sobre o que ela importava em sua vida: como uma sela robusta e
rechonchuda que ele poderia montar à vontade.
Josie se levantou, mas descobriu que seus joelhos estavam fracos e
precisou se agarrar à cortina para se apoiar. Finalmente ela se endireitou
sentindo-se esfarrapada e miserável, como uma velha mendiga.
Como ela pode ter sido tão estúpida a ponto de pensar que ela queria um
marido sob qualquer circunstância? Seu coração queimava como carvão em
seu peito.
Fora da sala, ela foi saudada por Cockburn, que a informou que sua
senhoria desejava partir para Londres dentro de uma hora.
A carta. Sylvie deve tê-lo convocado.
Ela entrou em seu quarto e permitiu que sua criada a colocasse em um
traje de viagem.
O sangue latejou em seus ouvidos. Seus olhos pousaram no livrinho
carmesim no qual ela havia anotado com tanto cuidado os modos
complicados e fascinantes pelos quais as heroínas da Minerva Press
encontravam seus maridos.
Sem utilidade. Ela tinha um marido, e nenhum desses livros dizia como
fazer alguém se apaixonar, ou mais importante - deixar de amar. Para isso,
ela precisava da droga da qual Shakespeare falou em Sonho de Uma Noite
de Verão. Amor-Perfeito, era assim que se chamava. A fada jogou nos olhos
de um cavalheiro, e ele prontamente se apaixonou por Hermia.
Como Mayne poderia realmente amar Sylvie? Faz algum sentido? Ela
era adorável, é claro. Mas, ele também acha meu corpo adorável, pensou
Josie. Sylvie não ligava para cavalos. E ela, realmente, não se importava
com Mayne.
Eu o amo, Josie pensou, com cada gota de desejo em seu corpo. Oh, eu
o quero. Eu amo o meu marido.
Ela estava segurando o livro com tanta força que suas unhas fizeram
marcas na capa de couro.
Houve um arranhão na porta—. Sua senhoria está pronto para partir
para Londres, milady, assim que estiver pronta.
Josie se levantou entorpecida. Tess ajudaria. Annabel provavelmente
estava voltando para a Escócia com seu marido e filho, e Imogen estava em
lua de mel, mas Tess iria ajudar.
Ao saírem de casa, Mayne se aproximou dela.
— Recebi um recado de Sylvie—, disse ele, sorrindo como se fosse
algo sem importância—. Ela está partindo às cinco no Excelsior, e pensei
que poderíamos nos despedir dela.
Josie quase desmaiou.
— Talvez seja melhor para você dizer adeus em nome de nós dois. Eu
gostaria de ir para a casa de Tess, se você não se importa.
Mayne fez uma reverência.
— Claro.
— Estou com uma dor de cabeça terrível—. Desculpou-se Josie.
Seu marido curvou-se novamente.
— Lamento.
Ela subiu na carruagem, aninhou-se em um canto e fechou os olhos. Ela
tinha duas horas no caminho para Londres para descobrir o que fazer.
Uma vez que nenhum Rei Oberon poderia oferecer-lhe uma dose útil de
‘Amor-Perfeito’, ela teria que encontrar a cura para Mayne sozinha.
Capítulo 44
Do Conde de Hellgate,
Capítulo vinte e oito
Ajoelhei-me a seus pés. “Eu queimo por você”, eu disse. “Te desejo. Eu
morro ... pensando em você. Se você não me aceitar, vou me jogar no
Tamisa congelado e morrer pensando em você. Para mim, você tem a
pureza de uma nuvem, a clareza do gelo, a brancura da neve. Case comigo.
Caro Garret,
Eu sei que você ficará surpreso ao se encontrar a bordo deste navio. O
que não entendi quando me casei com você é que o mais importante é o
amor. Não casamento, mas amor. Você ama Sylvie, então deve estar com
ela. Mesmo que ela não aceite sua mão, é terrível estar separada da pessoa
que você ama, e não posso suportar a ideia de que sou responsável por
isso.
Josie
Ela acabou chorando tanto que deixou a carta onde estava e desabou na
cama.
— Não se preocupe, minha querida—, Tess a consolou, ajudando-a a se
levantar e, em seguida, jogando a capa sobre os ombros de Josie—. Vou
levar você de volta para sua casa enquanto Lúcio cuida de todo o resto.
— Você contou ao Lucius?
— Claro que contei ao Lucius—, Tess confirmou, parecendo surpresa
—. De que outra forma eu poderia levar Mayne às docas? Lucius é a pessoa
certa. Você sabe que ele é muito bom em fazer as coisas corretamente, não
importa o quão difícil seja, Josie.
— Eu não queria que ninguém soubesse—, ela protestou, enxugando as
lágrimas com o lenço—. Eu não queria que ninguém soubesse!
— Lucius é necessário para levar a cabo o seu plano—, Tess insistiu,
tranquilizando-a—. Vamos, levante-se.
Quando desceram as escadas, a porta da sala ainda estava fechada.
— Ele só vai dormir quatro horas, no máximo—, explicou Josie,
repentinamente preocupada—. Ele tem que estar nas docas às cinco horas,
quando a maré virar. E, se o Excelsior for embora sem ele?
— Não vai—, disse Tess—. Você sabe muito bem que Lucius nunca
comete erros.
Josie pensava sobre isso enquanto rodavam pelas ruas de Londres. É
verdade que Lucius Felton era o tipo de homem que nunca se atrasava,
nunca se enganava. Provavelmente a maré esperaria por ele, se não por
mais ninguém.
— O que ele disse? — ela perguntou.
— Quem?
— Lucius! O que ele achou do meu plano?
— Ele achou que é uma bobagem completa—, disse Tess. Ela viu a
boca de Josie se abrir e ergueu a mão—. Até que eu o lembrasse que eu
mesma estava noiva de Mayne. E, se eu tivesse uma paixão desesperada por
Mayne? — Ela sorriu para si mesma—. Ele não pareceu gostar da ideia.
— Vocês dois tiveram muita sorte—, disse Josie, sabendo que sua voz
era áspera.
— É verdade.
Elas não falaram novamente até que estavam dentro da casa, a casa de
Mayne—. Você precisa de um banho—, disse Tess, tocando a campainha—.
Você precisa de um banho e jantar em seu quarto, e depois dormir. Você
está exausta. Olhe para você, Josie, seu rosto está abatido e tenso.
Josie pensou sobre isso. Com certeza, ela não tinha comido muito nos
últimos dias e nada no dia de hoje. Tess a colocou diante do espelho—.
Olhe para você!
Josie tocou seu rosto. Estava caído. Puro abatimento.
— Você está horrível—. Sua irmã disse a ela.
E, de repente, como se o espelho tivesse rachado diante dela, Josie viu o
que ela queria dizer. Não eram cavidades tentadoras em suas bochechas,
mas sinais de cansaço. Ela não estava bonita, ela apenas parecia
estranhamente magra. Ela suspirou. Aparentemente, seu rosto não era do
tipo que ficaria bem magro.
A essa altura, Mayne deve estar no barco, descobrindo que ela o havia
desistido de brigar pelo amor dele. Ela o havia entregado a Sylvie. Libertara
Wayne de seu casamento.
O pensamento a deixou enjoada, então ela entrou apaticamente na
banheira.
— Estou indo para casa, agora—, disse Tess, enfiando a cabeça no
banheiro algum tempo depois—. Eu pedi um jantar leve para você no seu
quarto.
— Obrigada—. disse Josie.
— Tudo estará resolvido amanhã—. Respondeu Tess. Então, mandou
um beijo e saiu.
Mas, Josie não queria comer em seu quarto. Quando saiu do banho,
vestiu o robe de Mayne, a roupa de seda macia que ele emprestou a ela
quando a forçou a tirar o espartilho na noite em que a salvou do baile.
Então, falou brevemente com Ribble e subiu as escadas para a torre de
Cecily.
O quarto estava tão escuro, doce e mágico quanto na primeira noite em
que Mayne a levou lá. O unicórnio dançou ao longo da videira, e o menino
que parecia Mayne balançou, pendurado por uma das mãos.
Josie se aninhou na grande poltrona de onde vira Mayne desfilar
comicamente em seu vestido, mas não chorou.
Ela estava profundamente convencida de que estava certa. Ele não
amava Sylvie, embora acreditasse que sim. Lá, na sala da torre, onde
ninguém estava ouvindo, ela murmurou essa verdade.
— Ele me ama—. Sussurrou. Para quem estava falando? Para o espírito
da tia Cecily, talvez? — Sim. Ele me ama.
Ribble apareceu com uma taça de vinho e algo para comer. Josie
trouxera apenas uma coisa com ela para a sala da torre: As Memórias do
Conde de Hellgate. Ela se sentou à luz bruxuleante das lâmpadas, relendo
as muitas aventuras apaixonadas de um homem a quem amava mais do que
a própria vida. O vinho era vermelho escuro e parecia tão mágico quanto as
paredes. Lendo o livro, quase sentia que ela era todas aquelas mulheres que
Mayne amou ...
Mas ele as amava?
Ele havia dito que nunca ria na cama com elas. Agora as histórias
pareciam supérfluas e ao mesmo tempo ansiosas, cheias de desejo, mas
também de tédio. Ela parou na história que contava como Hipólita amarrou
Hellgate à parede da casa do jardim. Mayne disse que jogou o livro no fogo
ou no lixo quando chegou naquele capítulo. Ele disse que nunca havia
participado de tal atividade.
Mas, Josie podia se ver perfeitamente amarrando Mayne à cama. Além
do mais, “ela sorriu e tomou outro gole de seu vinho”, assim que retornasse
de sua breve viagem, era exatamente o que pretendia fazer. Amarrá-lo na
cama.
Talvez, ele ficasse um pouco zangado no início.
Mas, uma vez que ele superasse ...
Houve um barulho na porta e Josie nem olhou para cima, apenas virou a
página. Agora, Hellgate descartaria sua amante amazona como se ela não
fosse mais importante do que um chinelo descartado, e se voltaria para...
Ela ergueu os olhos.
Ali, nas sombras da porta, estava Mayne. Gotas d'água escorriam de
seus ombros e cabelos. Seus olhos estavam rodeados por círculos escuros.
— Joooosie...— disse ele com voz rouca—. Eles me jogaram do barco a
remo ... eu estava amarrado e não sabia nadar ... tive que vir me despedir de
você ...
Josie não disse nada. O ar ficou escuro e denso ao seu redor, como se
não houvesse ar suficiente em um mundo sem seu marido. Ela não
conseguia falar. Ela não conseguia respirar. Ela desmaiou.
Mayne entrou na sala e olhou para a esposa, sacudindo-se como um
cachorro após uma boa chuva. Ela estava tão apagada como uma vela
apagada. Ele pegou sua taça de vinho e tomou um gole apreciativo.
Ela estava bebendo o Château Margaux 1775 que seu pai colocara para
descansar. Muito bom.
Então, ele sentou-se no banquinho diante da poltrona e olhou para ela.
Muitos romances, esse era o problema com sua maravilhosa esposa.
— Josie! — ele disse. E então: — Josie! — Ela não se mexeu, então ele
passou a mão por seu rosto. Ela era tão bonita que seu coração deu um
salto, mas ele se esforçou para ser firme.
— Josephine, acorde agora! — gritou.
Finalmente, ela o fez. Seus olhos se abriram e ela olhou para ele. —
Sótão? — ela perguntou.
— Fantasma —, disse ele prontamente.
Ela agarrou as mãos dele e o encarou por um momento, olhou para seu
cabelo úmido (na verdade ele havia derramado um copo d'água sobre a
cabeça), depois se levantou da cadeira e começou a empurrá-lo e repreendê-
lo.
— Como você pôde fazer uma coisa dessas comigo? Como você pôde?
Eu pensei que você estava morto!
Mayne estava rindo tanto que não foi capaz de se defender contra o
ataque da enfurecida Josie.
— Você ... você ... eu vou transformá-lo em um fantasma de verdade!
— sua esposa gritou.
Finalmente, Mayne fez com que ela parasse de bater em seus ombros e
agarrou suas mãos.
— Você mereceu, minha querida—. Mal conseguia conter outro ataque
de riso.
Mas, havia lágrimas nos olhos de Josie e a risada morreu em sua
garganta. Por um momento, ele viu tudo o que estava escrito em seus olhos:
um amor que duraria uma vida inteira, uma vulnerabilidade que nunca iria
embora e uma generosidade profunda que a tornou a mulher mais
maravilhosa, engraçada e inteligente que ele conhecia.
Então suas sobrancelhas se juntaram.
— Desgraçado! — Ela retrucou.
— Você mereceu isso.
— Eu nunca deveria ter confiado em Tess. Nunca.
— Acordei com Felton rindo de mim—, admitiu Mayne—. E, por falar
nisso, ele entregou a carta que você deixou para mim.
— Oh!
— Condene-me por estar cercado de escritores ruins—, disse ele—.
Primeiro Darlington ... e, além disso, aquele canalha parece que está prestes
a se tornar meu cunhado ... e agora minha própria esposa. — “O amor é
mais importante do que o casamento”. Estilo pomposo! Curiosidades e lixo!
Poderia ter sido escrito pelo próprio Hellgate.
— Lamento que minha escrita não esteja à sua altura—, disse Josie com
um ar zangado de dignidade.
— Você não apenas me escreveu uma carta cafona, você me drogou e
tentou se livrar de mim—. disse ele implacavelmente.
— Não foi isso! — Ela tentou se libertar das garras de Mayne. — Eu
nunca quis me livrar de você.
— Você queria que eu fosse jogado em um navio com uma francesa que
mal conheço.
— Era Sylvie! Se você se lembra, você ia se casar com Sylvie!
— Deus, sim, era Sylvie! Como você pode pensar que eu gostaria de
passar vários dias preso a bordo de um navio com Sylvie?
— Porque... porque...
Mas, era hora de parar com a tolice, então ele se sentou e puxou-a direto
para seu colo, olhou-a nos olhos e disse: — Você nunca vai se livrar de
mim, Josephine.
— Nunca? — ela sussurrou.
— Não me drogando, nem me mandando para o mar.
— Eu não queria.
Mas, ele queria ouvir, então esperou.
— Eu amo você—. disse ela—. Eu o amo demais para mantê-lo longe
de Sylvie.
Seu sorriso veio direto de seu coração—. Podemos deixar Sylvie fora
disso, embora você deva me dizer como diabos passou a pensar que eu a
amava ...
— Porque você me disse isso repetidamente? Porque você ia se casar
com ela? Porque você beijou a carta dela?
— Eu nunca beijei nenhuma carta dela!
— Você fez, você...
— Se você me amava—, disse ele, cortando a conversa—, como você
poderia me deixar ir?
— É por isso. Eu tinha que dar você a ela, se era isso que você queria.
Ele colocou as mãos em seu rosto—. Eu nunca vou deixar você ir,
Josephine, minha esposa. Nem se você se apaixonar pelo próprio Hellgate.
Ela estava rindo e chorando ao mesmo tempo—. Mas, Garret, estou
apaixonada por Hellgate, você não sabia? — Ela empurrou os dedos em
seus cachos úmidos.
Então ele a beijou, ferozmente, como se pudesse bebê-la e torná-la sua.
Exceto que ela já era dele.
— Eu nunca soube o que era o amor—, disse ele, sentindo as palavras
se acumulando dentro dele—. Eu pensei que estava apaixonado por Sylvie
... como você não poderia saber que idiota eu era ao imaginar uma coisa
dessas?
— Bem ...— ela disse. E, o beijou.
— Suponho que você me queria naquele barco precisamente porque me
conhecia melhor?
— Eu pensei—, explicou Josie—, que você poderia estar apaixonado
por mim, e que você simplesmente não tinha percebido ainda.
— Oh, eu percebi isso—. E, a beijou com força.
— Você não me disse...
— Eu teria. Você é minha condessa e a única mulher que já amei. Em
toda a minha vida infeliz e infernal.
Seus olhos sorridentes estavam um pouco marejados, então ele colocou
as mãos naquele roupão. Era uma vestimenta malditamente útil, pelo jeito
que a faixa cedia na cintura, e então se abriu para mostrar a ele um banquete
de carne cremosa e seios bonitos.
Ele não conseguia parar de beijá-la, no entanto, se desviou para o seio
dela e a fez chorar de prazer, mas então ele teve que beijar sua boca
novamente. E de novo.
— Eu não sou o mesmo perto de você—, disse a ela em algum
momento—. Nunca fico entediado, Josie. Eu não sou - eu não sou eu
mesmo.
— Sim, você é—, disse ela, tão mandona como sempre—. Posso sugerir
que você volte ao que estava fazendo? — Porque sua mão parou com a
necessidade de dizer a ela, de fazê-la entender.
— Você não está ouvindo—, ele sussurrou, mesmo enquanto a
acariciava novamente, observando seus olhos se fecharem e uma pequena
respiração encantadora saindo de seus lábios. Ela era toda doce e
rechonchuda bem-vinda, mas ele ainda queria dizer isso.
— Com você, eu não sou o Hellgate—, disse ele, sabendo que ela não
estava realmente ouvindo—. Não sou um libertino dissoluto, dormindo com
qualquer coisa de duas pernas. Vou transformar os estábulos de Mayne em
algo que as pessoas se lembraram por décadas. E, eu vou...
— Pelo amor de Deus! — ela disse, seus olhos se abrindo—. Garret
Langham, você está realmente falando sobre seus estábulos... agora?
Ele olhou para ela. Seus lábios estavam fazendo beicinho com a cor
cereja escura de todos os seus beijos. Ele tinha uma mão curvada ao redor
de seu seio e a outra entre suas pernas, e seus olhos eram selvagens,
amorosos e desesperados de necessidade, tudo de uma vez.
— Bem—, ele disse a ela, facilmente pegando seus quadris e
posicionando-a perfeitamente. E, então deixou que ela escorregasse sobre
ele, centímetro a centímetro. — Eu pensei que poderíamos...— ele teve que
respirar— ... falar sobre nosso programa de reprodução.
— Você tem sorte de ter a mim—, disse Josie contra seus lábios. Então
ela beliscou seus lábios inferiores e passou os braços em volta de seus
ombros.
— Eu sei—. disse ele.
Ela estava definindo o ritmo, fazendo seu sangue disparar, fazendo-o se
sentir tão indômito quanto um tigre. Seu cabelo caiu pelas costas, rebelde e
macio. Ela colocou as mãos em volta do rosto dele—. Eu deveria matar
você por esse truque da água.
— Não faça isso—, ele engasgou—. Eu não acho que ... fantasmas
têm...— Mas ele parou de falar. Então ele apenas a beijou em silêncio, sua
doce Josie, sua amada, sua esposa.
Capítulo 46
Do Conde de Hellgate,
Capítulo vinte e oito
Ao me despedir de vocês, meus queridos leitores, só posso desejar de todo o
coração que um dia vocês possam navegar nas mesmas nuvens de
felicidade que eu ... que cheguem às mesmas alturas de felicidade que eu
alcancei.
Adeus, adeus!