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Agora uma Noiva

Mary Balogh

2.5 - Série Amantes


(Cenas extraidas dos romances originais)
Os livros das amantes
Mais que uma Amante e Amante de Ninguém, publicados pela
primeira vez há uma década, são as histórias de dois irmãos
indisciplinados, irmãos machos alfa, que encontram o amor, e uma
calmante e enriquecedora influência em suas vidas com suas
respectivas heroínas. Jocelyn Dudley, Duque de Tresham e Lorde
Ferdinand Dudley tem uma irmã mais nova, que já é casada em
ambos os livros. Lady Angeline Ailsbury, Condessa de Heyward, é
espalhafatosa e atrevida, com um gosto execrável para roupas,
especialmente chapéus, e tem uma maneira de contradizer a si
mesma a um grau bastante vertiginoso enquanto fala. Ela argumenta
com seus irmãos para não seguirem com nenhuma façanha
particularmente louca, enquanto, ao mesmo tempo, os instiga a ter
sucesso a todo custo. Ela se queixa de seus nervos, ainda assim quer
estar sempre à frente de qualquer atividade ousada e perigosa. O
Conde de Heyward, seu marido, um homem quieto que, no entanto,
parece manter os piores excessos de sua esposa sob controle, é
conhecido pelos irmãos de Angeline como um homem antiquado,
admirável e enfadonho. Ambos os irmãos concordam, no entanto, e
com um grande grau de incredulidade, que Angeline e Heyward são
obcecados um pelo outro.
Eu não tinha intenção de escrever a história de Angeline e
Heyward. Eles já são casados, afinal de contas, e eles não parecem,
na superfície, serem um casal particularmente romântico. No entanto,
um número de leitores pediu a história deles, e, como muitas vezes
acontece em tais circunstâncias, eu comecei a imaginar... Como eles
tinham acabado juntos? Foi realmente uma aliança de amor? E ainda
era? Como poderia um cidadão tão honesto e direito como Heyward,
porventura, aturar alguém tão desmiolada quanto Angeline? E como
ela poderia suportar a monotonia de sua vida com ele? Ou era
maçante?
Em tais questões, é claro, estão as sementes de uma nova
história e um novo livro. E assim, dez anos depois, a história de amor
deles foi escrita como uma prequel das outras duas. Um dos maiores
desafios foi escolher um título! Era necessário ter a palavra amante
nele para combinar com os outros, mas como isso seria possível?
Lady Angeline Dudley – com dezenove anos quando foi apresentada
na sociedade, irmã do formidável Duque de Tresham, era dificilmente
o tipo de jovem dama que se tornaria a amante de qualquer homem.
E o moralmente correto, sempre obediente, Edward Ailsbury, Conde
de Heyward, não era o tipo de homem que tomasse uma amante. No
entanto, os autores podem ser infinitamente inventivos quando
devem, e eu encontrei uma solução. O livro é: A Amante Secreta. Os
leitores vão descobrir por si mesmos qual é o segredo.
Enquanto isso, a reedição dos Mais que uma Amante e Amante
de Ninguém, antes da publicação do novo romance, me permitiu
voltar e mexer com os livros novamente, para adicionar alguns
detalhes e cenas que não estavam nos romances originais. O
conteúdo dos livros em si não mudou, acrescento rapidamente. As
mudanças aparecem só aqui, como um pequeno acompanhante para
a trilogia.

Jane e Jocelyn
O manuscrito original do Mais que uma Amante era mais longo
do que o livro é agora. Ele tinha um final muito mais completo. No
entanto, o meu editor na época sugeriu que o final seria mais eficaz e
mais divertido se cortássemos pedaços inteiros do material original, e
com algumas dúvidas eu concordei. Gosto do final do livro do jeito
que está, mas secretamente sempre quis fornecer aos leitores as
cenas que foram cortadas. E um número de leitores protestaram
pelas cenas “faltantes”, mesmo sem saber que elas estavam
originalmente lá.
Finalmente, aqui estão elas – três delas.
Quando, no penúltimo capítulo, Jocelyn está tentando convencer
Jane a se casar com ele, porque a comprometeu, eles têm uma
discussão feia até que, finalmente, parece para Jocelyn que Jane
está prestes a render-se por todas as razões certas. Então ele pode
se dar ao luxo de ser generoso.
– Diga-me. – disse ele. – E você, Jane? O que você quer? Você
quer que eu vá embora? A sério? Diga-me se quer, mas calma e
seriamente, não acaloradamente, de modo que saberei que você quer
dizer o que diz. Diga-me para ir embora e eu irei.
Ele se sente confiante da resposta dela, mas na verdade a
resposta que ela dá o abala até o núcleo de seu ser.
– Estou grávida. – Ela gritou. – Não tenho mais nenhuma
escolha.
Ele recua e ela o encara. E ele fala as palavras finais da cena:
– Ah, então. – Ele disse suavemente. – Bem, isso muda tudo,
Jane.
E é aí que o capítulo termina no livro, embora não no manuscrito
original. Os acontecimentos do capítulo seguinte ocorrem uma
semana depois no baile de apresentação que foi organizado para
Jane por sua madrinha. Durante o jantar os convidados – e leitores –
são providos com um anúncio surpresa. Um antigo admirador de Jane
acaba de fazer uma declaração pública e unilateral de seu noivado
com ela. Mas Jocelyn tem algo a dizer sobre o assunto:
– Devo protestar fortemente contra o seu noivado imaginário
com ela, meu caro. Veja, tanto quanto eu o elogio pela preocupação
que têm demonstrado pelo bem-estar dela, eu realmente não posso
permitir que você se case com a minha esposa.
Se nada tivesse sido cortado do manuscrito original, este
anúncio não seria nenhuma surpresa para o leitor, porque havia uma
cena do casamento precedendo aquela do baile de apresentação.
E então a história em sua forma original terminou com um
capítulo que mostrou o retorno de Jocelyn e Jane para Acton Park,
sua casa no interior. Ele não tinha estado lá desde a idade de
dezesseis anos, exceto por dois funerais – o de seu pai e então o de
sua mãe – e ele tinha jurado nunca ir lá novamente. Continha muitas
lembranças dolorosas do incidente que colocou um fim abrupto a
ambos, sua infância e sua inocência. Mas sob a influência de Jane,
ele reconheceu que deveria voltar, e que ele realmente quer voltar.
Ele diz isso durante essa discussão quando estava tentando
convencê-la a se casar com ele:
– Jane, eu anseio ir para casa. Voltar a Acton, com você.
Começar a criar as nossas próprias memórias e as nossas próprias
tradições lá. Você achava que conhecia os meus sonhos. Mas este é
o meu sonho. Você não vai compartilhá-lo comigo?
Parecia apropriado terminar o livro com o retorno deles. Mas a
decisão foi tomada para acabar o livro, em vez disso, com Jocelyn e
Jane valsando no baile de apresentação dela, após o anúncio de seu
casamento, enquanto a alta sociedade observava.
Quão bom é agora ser capaz de ter o meu bolo e comê-lo. Aqui
estão as três cenas que foram cortadas quando o Mais que uma
Amante foi publicado em 2000.

A Proposta de Casamento
Jane o olhou no silêncio que se seguiu as palavras dela.
– Ah, então. – Ele finalmente disse suavemente. – Bem, isso
muda tudo, Jane.
Ela não foi enganada pela tranquilidade da voz dele. Apesar de
todo o dissabor de sua discussão, ele tinha, pelos últimos minutos,
sido Jocelyn novamente, o vulnerável e sensível homem que ela veio
a conhecer e amar durante a última semana que passaram no ninho
de amor dele. E ela sentiu toda a força da sua ansiedade, sua
necessidade, seu amor. Ele realmente a amava. Ela soube então, e
sentia agora. Ele até mesmo disse isso. Mas a decepcionou quando
mais precisava dele. Ele descobrira sua real identidade e do que lhe
acusavam, e a atacou verbalmente, recusando-se a acreditar que ela
teria se aberto com ele, que ela teria confiado nele. Mas porque ela
era Lady Sara Illingsworth ao invés da simples Jane Ingleby, é claro,
ele devia lhe oferecer casamento e insistir que ela aceitasse. Era
perfeitamente aceitável para Jane ser sua amante, mas apenas o
casamento serviria para Lady Sara. Ela teria lutado com unhas e
dentes sobre a questão se pudesse. Mas não podia, é claro. Não
indefinidamente, de qualquer maneira, pois estava grávida. Ela
suspeitou disso logo depois que o deixou. Agora estava tão certa
como poderia estar, sem realmente consultar um médico.
Ele falara calmamente quando ela lhe contou, mas não se
enganou. Porque de repente ele já não era Jocelyn, era o Duque de
Tresham, aquele desagradável, arrogante, autoritário aristocrata que
acreditava que poderia fazer as coisas do seu jeito em qualquer
assunto sobre a terra. E o problema era que ele podia. Embora não
com ela. Nunca com ela. Até agora.
– Sim –, ela disse amargamente em resposta a suas palavras. –
Suponho que sim. Porque já não tenho essa escolha que você me
ofereceu, diga-me para ir e eu irei. Agora você vai insistir em casar
comigo, não só porque eu sou Lady Sara Illingsworth, mas porque
estou grávida.
– Dane-se tudo, Jane –, disse ele – é claro que eu vou insistir.
– Eu ainda poderia dizer não –, disse ela. – Você não pode me
forçar.
Eram palavras tolas, é claro. O Duque de Tresham em qualquer
estado mental normal não teria sequer se dignado a responder. Teria
apenas levantado uma sobrancelha eloquente, mas ele não estava
em um estado mental normal. Suas mãos se estenderam e fecharam
ao redor do braço dela e a puxaram alguns centímetros mais para
perto de seu rosto frio, e olhos calorosos em contraste.
Se Jane estivesse em seu juízo perfeito, ela poderia realmente
ter ficado com medo dele por uma vez, especialmente quando ele
falou com uma voz ainda mais calma que antes.
– Me tente, Jane –, disse ele. – Me tente. Você tem um filho meu
dentro de seu ventre, e terá o meu anel em seu dedo antes que
muitos dias se passem.
Ela apoiou as mãos sobre o peito dele, a fim de manter uma
certa distância entre eles.
– Então diga-me, Vossa Graça –, ela falou – se este anel teria
sido visto como necessário se eu tivesse permanecido meramente
como Jane Ingleby? Claro que não. Eu era sua amante, e no contrato
concordamos em fazer uma cláusula para qualquer criança nascida
da nossa ligação. Não incluía qualquer menção de casamento entre
os pais de qualquer criança. Não precisa ser tão honrado agora, me
culpando por esconder isso de você por quase um mês, pois posso
ver que está me culpando. Foi um homem e sua amante que
conceberam esta criança, não o Duque de Tresham e Lady Sara
Illingsworth.
– Você voltaria, então, a ser minha amante, Jane? – Perguntou
ele.
E de alguma forma seus olhos não estavam mais calorosos e
seu rosto não estava mais frio, sua voz, embora ainda tranquila, não
era mais ameaçadora. Ele era Jocelyn novamente. Oh, ele não
jogava limpo. Ele não o fazia.
Ela já tinha aberto a boca e tomado fôlego, e o soltou em um
suspiro. Ela piscou furiosamente para que seus olhos não se
enchessem de lágrimas novamente. Oh, como o odiava.
– Nós erámos felizes. – disse ele. – Durante uma semana inteira
eu nunca fui mais feliz na minha vida, Jane, ou mesmo perto de estar
tão feliz. E você estava feliz também. Diga-me que você estava.
– Sim –, ela disse e suspirou novamente. – Eu estava feliz. Mais
feliz do que jamais estive antes.
– E desesperadamente infeliz também –, ele disse – porque
você era uma fugitiva acusada de assassinato e estava assustada e
solitária, e ainda não tinha reunido muita coragem para confiar em
mim.
– Sim.
– Eu a teria acolhido bem no meu coração –, disse ele. – A teria
deixado a salvo, Jane. Teria esclarecido toda a confusão
desagradável para você. Eu a teria mantido no meu coração para o
resto de nossas vidas.
Oh, sim, sim, o poderoso, corajoso homem e a tímida, indefesa
mulher – seu eterno modo de ver o mundo. O fato de que ele tinha
acertado tudo para ela quando esteve fazendo um mau trabalho nisso
por si mesma, não a deixou menos indignada.
– E, ainda assim –, ela disse – quando você descobriu a
verdade sobre mim por meio daquele horrível Agente de Bow Street,
você me rejeitou.
– Eu o fiz –, admitiu. – Você já reparou, Jane, a desagradável
forma que o tempo tem de apenas seguir para frente e nunca para
trás? Se apenas ocasionalmente ele se movesse para trás teríamos
uma chance de reviver aquelas cenas em nossas vidas, as quais
estamos profundamente envergonhados. Eu estou profundamente
envergonhado, Jane, de como reagi ao que aquele sebento
homenzinho me disse. Duvido que eu alguma vez me perdoe
completamente. Mas eu não posso voltar atrás.
– Não –, disse ela.
– Perdoe-me, Jane –, disse ele. – Por favor, me perdoe.
Ela abaixou a cabeça e a balançou, os olhos fechados.
– Não posso jurar –, disse ele – que eu teria me casado com
você sob qualquer hipótese, Jane. Nossas vidas juntas foram idílicas
por aquela única semana. Aquela casa era o paraíso para mim. Eu
poderia ter desejado que minha amante e a minha família estivessem
lá para sempre, para que eu pudesse entrar no paraíso sempre que
quisesse. Não sei. Agora parece inconcebível para mim que eu não
tivesse querido me casar com você de uma maneira ou de outra,
quando soubesse sobre a criança, ou mesmo se não houvesse
nenhuma criança. Agora eu só posso pensar na impossibilidade de
viver minha vida sem você no centro dela cada momento de cada dia.
E isto é tudo sobre mim, Jane, e o que eu quero. Sou tão egoísta?
Você não me quer?
Havia tanta atípica incerteza, tanta humildade na questão, que
Jane abriu os olhos e levantou a cabeça.
– Pelo motivo de eu ser Jane –, ela disse – e você Jocelyn.
Realmente não me importo com essas outras duas pessoas com seus
títulos arrogantes. Porque é eu e é você. Porque eu te amo e isso é a
única coisa que realmente importa. Minha mãe amava meu pai e ele a
ela, e não quero menos para mim. Não quero menos para os meus
filhos do que eu tive com os meus pais. Esta criança não é um
acidente ou um incômodo, Jocelyn. Esta criança é preciosa para além
das palavras, e eu prefiro desafiar todos os poderes que existem, e
permanecer uma mãe solteira do que prendê-lo a uma vida familiar
respeitável que não pode lhe oferecer nenhuma alegria.
Ele deixou cair as mãos dos braços dela, e ela abaixou a sua do
peito dele. Ele olhou em seus olhos por alguns instantes e, então
pegou-a completamente de surpresa ao cair de joelhos a sua frente.
Estendeu as duas mãos sobre o abdômen dela e, em seguida,
aninhou a testa nas mãos. Ela o ouviu inalar profundamente e exalar
novamente.
– Eu nunca irei desencorajar nosso filho de tocar piano ou pintar
–, disse ele. – Ele pode até aprender a bordar se assim o desejar, ou
tricotar, que os céus me ajudem.
Jane sorriu.
– E você permitirá a ela lutar em duelos e correr de carruagem?
– Ela perguntou-lhe.
Ele inclinou a cabeça para trás e franziu a testa para ela.
– Não teste minha paciência num momento tão comovente,
Jane. – Disse ele.
Ela riu dele e segurou seu rosto com as mãos. Então se inclinou
e beijou-o nos lábios.
– E já que estou aqui embaixo de qualquer maneira. – Disse ele
quando ela terminou – Eu poderia muito bem me fazer de completo
idiota para que você possa informar os nossos netos que seu avô fez
um gesto extravagantemente romântico ao se ajoelhar em ambos os
joelhos, antes que eles ficassem com artrite por causa da idade.
Minha querida, mais amada Jane, vai se casar comigo? E notará que
eu não estou pedindo Lady Sara Illingsworth, ela nem sequer soa
como você. Estou pedindo Jane Ingleby, minha uma vez enfermeira e
amante e meu amor para sempre. Vai se casar comigo?
– Oh, Jocelyn. – Ela se inclinou sobre ele e colocou as mãos em
seus ombros. – Oh, meu amor. Oh, meu amor, sim.
Ela piscou furiosamente novamente, mas desta vez as lágrimas
não seriam contidas. Isso não importava. Ele ficou de pé, pegou-a em
um abraço apertado, e baixou os lábios nos dela em um beijo de boca
aberta que a deixou sem fôlego.
– Dentro de uma semana –, disse ele. – Com licença especial.
– Só depois do final da semana –, disse ela. – Há o meu baile de
apresentação em uma semana, e tia Harriet tem sido tão boa para
mim. Ela está trabalhando extremamente duro para tornar tudo um
grande sucesso.
– Pode ser um baile de casamento em vez disto –, disse ele.
– Não. Isso seria descortês de nossa parte. E é tão importante
para ela que tudo seja feito corretamente agora, depois de tudo, e o
quase escândalo das últimas semanas. Não, Jocelyn, o casamento
vai ter que esperar.
– Alguém pode me desafiar novamente nesse meio tempo e
colocar uma bala na minha cabeça –, disse ele. – E eu não vou deixar
para trás um filho bastardo, Jane. Você não pode pedir isso de mim.
Ela respirou fundo, mas ele levantou a mão para pará-la.
– Vamos entrar num consenso. Você vê como me mudou, Jane?
Quando o Duque de Tresham alguma vez chegou a um consenso?
Estou surpreso ao descobrir que esta palavra até mesmo faz parte do
meu vocabulário. Vamos entrar num meio termo e casar no dia do
seu baile de apresentação.
– Jocelyn! – Ela disse, exasperada.
– E esta –, ele lhe disse – é minha palavra final sobre o assunto.
– Que bom contemporizador você é – disse ela.
– Me dê tempo, Jane. – Ele disse humildemente, e sorriu para
ela.

O Casamento
– Você planeja se aprontar em breve? – Jocelyn perguntou com
uma doçura enganosa.
Michael Quincy, seu secretário, não se iludiu. Ele ficou de pé
atrás de sua mesa no Dudley House, onde esteve ordenando o
correio matinal.
– Eu estou pronto, Sua Graça. – Ele disse, e Jocelyn, olhando-o
da cabeça aos pés viu que de fato estava, então lhe foi negada a
oportunidade de ladrar e exibir um pouco de seu claro mau
temperamento.
Seu valete o barbeara com velocidade extra, bem como com
toda a cautela habitual nesta manhã, ele notou, e arrumou cada item
de sua vestimenta com pressa quase deselegante, mesmo Jocelyn
tendo mal dirigido uma palavra a ele depois de um breve
cumprimento matinal. Seu mordomo e o lacaio de plantão, na sala do
café da manhã tinham lhe servido com um cuidado meticuloso,
enquanto pareciam se esforçar ao máximo para se misturar com as
portas e janelas, apesar de Jocelyn não ter feito nenhuma queixa.
Deve ter se espalhado pela casa que ele estava em um de seus
humores irritadiços. O que era estranho, realmente, já que ninguém
lhe dera ainda uma chance de ser irritadiço.
Ele não tinha nenhuma dúvida, mesmo que não tivesse dito uma
palavra a ninguém, exceto Quincy, que normalmente poderia se
contar em manter os lábios firmemente fechados, que cada servo em
sua casa, até o mais humilde engraxate, sabia que esse era o dia do
seu casamento.
Ele era um homem comprometido, um homem secretamente
comprometido, por quase uma semana, e tinha posto os olhos sobre
sua noiva precisamente uma vez em todo esse tempo. Eles se
encontraram conversaram por quase dois minutos, talvez dois
minutos completos, no meio da sala de estar no sarau da Sra. Trevor.
– St. George, Hanover Square, às onze horas na manhã do seu
baile de apresentação –, ele murmurara. – Traga sua criada.
– Mas eu vou estar tão ocupada nesse dia –, ela protestou.
– Sim, de fato, Jane –, ele dissera. – Casando-se, entre outras
coisas.
Ela suspirara.
– Bem –, ela disse. – Tia Harriet não deve saber absolutamente
nada sobre isto até o dia seguinte. Sua noite, e tudo o que está
fazendo para garantir o êxito do baile, seria arruinado.
– Então não irei passar minha noite de núpcias na cama com a
minha noiva, Jane? – Ele perguntou, seus olhos se estreitando.
Ela tomara fôlego para responder, mas seus dois minutos, ou
seja, lá o quão longo o diabo tinha sido, havia acabado. Outra pessoa
escolheu se juntar a eles e começou a tagarelar sem parar sobre um
gatinho que ficara preso em uma árvore e os dois homens que
subiram para resgatá-lo, e um terceiro homem que subira para
resgatar o segundo, que tinha medo de altura, e...
Jocelyn parara de ouvir antes da árvore ser arrancada pela raiz
sob o peso de uma dúzia de resgatadores e resgatados, isso pelo
menos, ele supunha, parecia ser a direção que a história seguiria.
Então havia se afastado. Se mais tarde descobrisse que a
curiosidade lhe roubaria o sono, ele poderia perguntar para Jane, em
alguma outra hora, se o gatinho tinha sobrevivido a provação.
E ali estava ele, no dia de casamento, sentindo-se irritado,
nervoso, culpado, apavorado e frustrado. Seria bem típico de Jane se
recusar a se esgueirar para fora da casa da Lady Webb, depois que o
baile tivesse acabado, para passar o que restava de sua noite de
núpcias com ele.
Quem já ouvira falar de uma noiva e um noivo passarem sua
noite de núpcias separados?
Ele seria motivo de chacota para o resto da vida.
Quem diabos se importava?
Ele não deveria ter insistido neste compromisso. Este era o pior
dia possível para eles se casarem. Jane estaria querendo se
concentrar em sua infernal apresentação, e ele insistira em distraí-la.
E o fizera um tanto deliberadamente porque, como sempre, ele tinha
que ter a última palavra, e ter a última palavra era diabolicamente
difícil quando se tratava de Jane Ingleby.
Não deveria ter feito isso. Ele deveria simplesmente amá-la.
Angeline teria mil quedas de pressão quando descobrisse que
eles tinham escapado furtivamente para se casar, sem qualquer
pompa em circunstância alguma. Ela teria, sem dúvida, desejado
organizar um casamento e um café da manhã para superar todos os
outros que tinham acontecido antes desse, incluindo o dela mesma.
Para ao diabo com Angeline.
Ele deveria ter insistido em se casar com Jane ontem ou no dia
anterior ou no dia antes desse. Mesmo agora, o teto poderia cair
sobre a sua cabeça ou alguém poderia bater em sua carruagem antes
de ele chegar a Hanover Square. Mesmo agora, poderia morrer antes
que conseguisse torná-la uma mulher honesta e garantir um futuro
legítimo para seu filho, ou filha.
– Você está com o anel? – Perguntou Jocelyn.
– Estou, Sua Graça. – Quincy bateu em seu coração e Jocelyn
assumiu que o anel estava em um bolso interno lá.
– Não há motivo para ficar parado aí, então – disse Jocelyn,
franzindo a testa de novo –, como se tivesse esperança criar raízes.
Seu secretário se recusou a ser ferroado, como sempre
acontecia, maldito. Jocelyn virou-se e saiu da sala pelo corredor até a
porta da frente, a qual seu mordomo estava segurando aberta para
ele. E que o diabo o levasse, pensou Jocelyn, ele esquecera de pedir
que sua carruagem fosse trazida. No entanto estava lá de qualquer
maneira diante da escada, brilhando devido a limpeza e o polimento.
Seu cavalariço chefe permanecia de pé perto das cabeças dos
cavalos, e eles também brilhavam com uma escovação recente.
Meu Deus, ele teve sorte por seus lacaios não terem trançado
fitas brancas nas crinas dos cavalos. Jocelyn sentiu uma onda
completamente desconfortável, e totalmente desconhecida de
constrangimento. Ele não teria ficado surpreendido de olhar ao redor
para descobrir todas as janelas em Grosvenor Square cheias de
pessoas prontas para acenar para ele em seu caminho para o
casamento. Não olhou para ver. Ao invés disto subiu para o assento
da carruagem e tomou as rédeas das mãos de seu lacaio. Michael
Quincy subiu ao lado dele.
Talvez Jane teria gostado de um casamento apropriado, pensou
enquanto deixavam a praça atrás deles. Eles tinham que se casar
rápido, é claro, mas era todo esse segredo, e privacidade quase total,
necessário? Talvez ela teria gostado de ter alguns convidados na
igreja e em um café da manhã tardio. Talvez gostaria de ter
encomendado algumas roupas elegantes de noiva.
Talvez ele a tivesse privado do sonho de toda noiva.
Ele não lhe perguntara, perguntara?
Maldição!
Ele não estava acostumado a introspecção, a questionar suas
próprias decisões, a ter que considerar os desejos e sentimentos de
outra pessoa em cada escolha que fazia.
– É uma pena –, disse ele em voz alta – que alguém não pôde
inventar uma maneira de se casar sem ter que haver um casamento.
Seu secretário não tentou responder.
– Alguma vez você já pensou em se casar, Michael? –
Perguntou Jocelyn.
– Sim, Sua Graça –, o secretário disse – e o farei em um ano.
Quincy estava noivo e Jocelyn nem mesmo sabia.
– Suponho –, disse ele – que você está esperando tirar uma
semana de folga quando o fizer.
– Duas semanas seria melhor, Sua Graça. – Disse Quincy.
– Humm. – Disse Jocelyn. – Eu te pago para se casar e ter luas
de mel, Michael? Bem, é melhor tirar três semanas, e essa é a minha
palavra final sobre o assunto.
– Sim, Sua Graça. – Disse o secretário.
E ali estava St. George, Hanover Square, grande e imponente, e
bastante deserta. Deveria estar brilhante e festiva e cheia de
atividades para a preparação para o casamento de Jane.
Jocelyn suspirou.
Ele se perguntou se seu casamento ia ser mais um dos grandes
arrependimentos de sua vida.
E então viu duas figuras femininas se aproximando a pé, Jane e
uma criada caminhando a dois passos atrás dela.
Ela estava usando um vestido de passeio azul pálido com uma
jaquetinha de um azul um pouco mais escuro e um chapéu de palha
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enfeitado com centáureas-azuis sobre seu lustroso cabelo dourado.
Ela parecia bem e saudável.
Seu coração deu uma cambalhota, o que não era uma sensação
totalmente confortável, uma vez que o seu coração não estava
acostumado a se envolver em oscilações emocionais.
Jane!
Sua noiva.
E então ocorreu-lhe, como se fosse a primeira vez, que este era
o seu dia de casamento.
Ele jogou as rédeas para Michael Quincy sem sequer olhar para
ele e pulou para a estrada.

Jane pensara que as mentiras tinham acabado. Mas ela contou


outra mentira esta manhã. Ela disse a tia Harriet que precisava de
algumas meias de seda novas, desde que as que tinha a intenção de
usar no baile desta noite parecia que estavam prestes a ficar com um
buraco cada uma a qualquer momento.
E assim ela foi capaz de sair da casa com apenas Mavis, sua
nova criada, por companhia.
Isso era ridículo, ela pensou enquanto caminhavam na direção
de Hanover Square. Este era o dia do seu casamento, e ainda assim
ela estava encaixando o casamento entre um mil e um outros
trabalhos pequenos que precisavam ser feitos antes de seu baile de
apresentação esta noite.
Ela nunca deveria ter concordado com essa sugestão ridícula de
Jocelyn. Não, não foi uma sugestão. Foi um ultimato, e não estava
em sua natureza seguir os ultimatos de ninguém, muito menos do
Duque de Tresham.
Mas, oh, ela não conseguia conter que uma bola de emoção
rolasse em suas entranhas. Eles iam se casar, e seu filho estaria
seguro. E a criança teriam aos pais, ambos, os quais amariam ele ou
ela mais do que a vida. Ela não tinha dúvidas de que Jocelyn quis
dizer exatamente o que dissera quando declarou que nunca impediria
qualquer filho seu de perseguir um interesse nas artes se assim o
escolhesse – mesmo não se comprometendo da mesma forma para
as suas filhas. Ele não seria como seu pai e seu avô novamente. Ele
amaria seus filhos pelo que eram, e iria nutrir tudo o que fosse único
neles.
Ela teria se casado com ele em qualquer lugar a qualquer
momento só por causa disso, só pelo bem dos filhos deles. Porque as
crianças têm direito à proteção e segurança, e o amor do homem e da
mulher que os gerou. Mas é claro que ela estava se casando com
Jocelyn por ele mesmo também, porque o amava mais do que achava
que fosse possível amar, apesar do exemplo de seus pais. E ele a
amava. Ela já não o duvidava por um único momento.
Agora eu só posso pensar na impossibilidade de viver minha
vida sem você no centro dela cada momento de cada dia, ele lhe
dissera.
Ela realmente não se importava que esse fosse o mais
inconveniente de todos os dias para uma ocasião tão importante. E
não se importava que não haveria convidados além das duas
testemunhas essenciais, Mavis e o Sr. Quincy. Quem ela convidaria
para um casamento maior de qualquer maneira, além da tia Harriet?
Ela não se importava que não tinha tido a chance de comprar um
vestido de casamento mais festivo, e que não teria sido capaz de
vesti-lo em casa de qualquer maneira, sem encontrar-se com
perguntas difíceis de responder.
Nada disso importava.
Porque hoje ela estava se casando com Jocelyn e seu filho
estaria sob sua proteção ao longo da vida.
A igreja de St. George estava deserta com exceção de uma
carruagem do lado de fora das portas, a de Jocelyn, aquela com que
Lorde Ferdinand tinha corrido para Brighton há não muito tempo.
Ele a tinha visto, e estava pulando do alto assento e voltando-se
para encontrá-la, todo de preto, com suas pernas longas e com a
aparência sinistra, os olhos escuros ardentes nos dela. Ele estendeu
a mão para pegar a sua.
– Suponho –, disse ele – que dá um azar eterno se reunir com a
noiva fora da igreja, não, Jane? Serei submetido às repreensões de
uma megera pelo resto da vida?
– É melhor que você tenha esperanças, se esse for o caso –,
disse ela enquanto colocava a mão na dele – que isto não ocorra no
futuro. Mas, por mais que eu goste de te repreender quando você
merece, que é muitas vezes, acredito que a velha superstição é muito
absurda. Vamos fazer a nossa própria sorte, Jocelyn, a partir de
agora.
E ela sorriu para ele.
Ele franziu a testa por um momento e depois sorriu.
Ela esqueceu que era um dia nublado. O sol estava brilhando
em suas vidas.
A igreja estava fria e escura em contraste. Quieta. Pacífica.
Sagrada. Velas queimavam sobre o altar, e o clérigo estava andando
ao longo da nave para cumprimentá-los.
Cinco minutos depois eles estavam na frente do altar, a mão de
Jane apertada na de Jocelyn, Mavis e Sr. Quincy de pé atrás deles, o
clérigo em todo o esplendor de suas vestes eclesiásticas na frente
deles.
– Amados –, ele começou nos tons sonoros de alguém
abordando uma congregação de centenas de pessoas.
Não importava que havia apenas duas, além da noiva e do
noivo.
Nada importava, exceto as palavras da cerimónia de casamento,
a troca de votos na voz dela, surpreendentemente estável, e na de
Jocelyn, incrivelmente instável. E a suavidade fria do anel deslizando
em seu dedo e os olhos de Jocelyn ardendo profundamente nos dela
quando foram informados que eram marido e esposa e que nenhum
homem deveria distanciá-los até que a morte os separasse.
Alguém fingiu, Jane achou que devia ser Mavis.
Alguém pigarreou, o Sr. Quincy.
E Jocelyn sorriu novamente.
Jane mordeu o lábio superior e piscou os olhos furiosamente.
Dez minutos depois de terem entrado na igreja estavam de volta
na varanda de entrada, o registo assinado e testemunhado. Em um
elevar de uma sobrancelha ducal Mavis e o Sr. Quincy
desapareceram lá fora. Depois de um aperto de mão desconsiderado
o clérigo caminhou de volta pela nave e desapareceu de vista.
Eles estavam sozinhos juntos.
– Diabos, Jane – disse Jocelyn –, como eu posso deixá-la voltar
sozinha para Lady Webb? Como devo fingir esta noite que sou um
mero convidado entre os convidados? Eu vou com você agora, devo
fazer isso, e maldito seja...
– Não! – Ela levantou uma mão e estava ciente do brilho de seu
anel novo. – Não, Jocelyn. Amanhã diremos àqueles que precisam
saber.
– Você acabou de prometer me obedecer –, ele resmungou.
– E você fez uma promessa na semana passada –, disse ela.
– Eu nunca cumpro as minhas promessas.
– Sim, você cumpre.
Ele parecia obstinado.
Ela sorriu para ele.
– Jocelyn, este tem sido o dia mais feliz da minha vida. E oh,
quão inadequadas são as palavras. Estou tão feliz que estou
positivamente transbordando de felicidade. Você está feliz também?
Eu sei que você está, mas me diga.
Ele soltou um longo suspiro.
– Você tentaria a paciência de um santo, Jane. Mas você tem
toda a razão. Estou me sentindo decididamente feliz. Então eu não fiz
errado em não lhe dar tempo para organizar algum tipo de grande
casamento da sociedade? Você não vai se arrepender para sempre e
me culpar?
– Não posso imaginar um casamento mais maravilhoso – disse
ela. – Tudo o que eu mais quero na vida estava aqui. Você estava
aqui.
– Você pode se arrepender dessas palavras. – disse ele. – Eu
vou jogá-las na sua cara cada vez que brigarmos pelos próximos
cinquenta anos.
– E eu vou lembrá-lo cada vez que, apesar de seu mau humor,
você realmente é decididamente feliz comigo.
Ele a agarrou de repente e esmagou-a contra si. Ela colocou os
braços em volta do seu pescoço e puxou-o também.
– Minha duquesa. – disse ele contra sua orelha, sua voz
vacilante novamente. – Ah, Jane, minha esposa. E o meu filho.
– Sim.
E então ela teve que ir embora. Havia tanta coisa para fazer
antes dessa noite, e a primeira coisa era ir e comprar um novo par de
meias de seda.
Ela olhou para seu anel e tirou-o relutantemente de seu dedo, e
entregou a ele. Ele o tomou, fechou a mão ao redor, e depois deixou-
o cair em um bolso.
– Só até amanhã, Jane –, disse ele – e depois volta para o seu
dedo, para permanecer lá.
– Sim, Sua Graça. – Ela disse, sorrindo para ele.
– Uma agradável e recatada resposta. Eu vou sonhar com você
esta noite, Jane, enquanto me deito na minha cama solitária. Se eu
dormir, isto é.
Ela riu e saiu sozinha da igreja.
Amanhã não poderia chegar rápido o bastante.

O Retorno a Acton Park


Eles se aproximaram de Acton Park em um brilhante dia
ensolarado, quente, no início do verão. Estavam sentados na
carruagem de mãos dadas, um silêncio sociável tendo caído entre
eles. Jocelyn imaginou aproximar-se da casa, ao longo da reta e
formal estrada de álamo, imaginou guiar Jane para o salão principal,
onde os servos sem dúvida seriam postos em linhas cerimoniosas
para eles inspecionarem, imaginou ser engolido por toda a pompa
necessária para seu regresso a casa.
Era algo que não o coibia. Ele estava feliz por estar voltando
para casa, finalmente, feliz que finalmente admitiu para si mesmo que
essa era a casa, que uma parte de si mesmo estava faltando
enquanto ficasse longe. E ele desejava ver Jane como senhora disso
tudo.
Mas uma parte dele ansiava retomar os velhos sentimentos de
infância antes de entrar na casa. O parque, as árvores, as
montanhas...
Ele apertou a mão de Jane e olhou para seu rosto. Ela sorriu de
volta para ele na nova forma afável e afetuosa, que ele suspeitava
tinha algo a ver com a iminente maternidade.
– Você está disposta a uma caminhada bem longa? – Ele
perguntou.
Ela riu.
– Eu que cresci no interior? – Perguntou ela. – Tive um pai que
acreditava que era muito incômodo chamar a carruagem para
qualquer distância inferior a oito quilômetros?
Ele se inclinou para frente e bateu no painel frontal. Aquele era
justamente o lugar certo.
Dois minutos depois, ele e Jane, ainda de mãos dadas,
observavam a carruagem com seu brasão ducal, seus lacaios e
batedores de libre desaparecerem pela estrada na direção da aldeia,
da entrada de veículos e da casa.
Jocelyn riu. – Todo mundo vai se curvar para ela pela aldeia, e
vai causar palpitações uma vez que for visível da casa. Enquanto
isso, Jane...
Ele saiu da estrada para uma estrada estreita, que contornava o
muro do parque à esquerda deles, até que chegaram a escada que
ele se lembrava. Ajudou a Jane a passar por ela. Sim, o caminho
ainda estava aqui, embora parecia como se não fosse muito utilizado
nos dias de hoje. Ele iria levá-los ao longo das colinas arborizadas e
para baixo novamente para encontrar o canto inferior do grande
gramado, em frente da casa, se não se desviassem dele.
– Que lindo! – Disse ela depois de terem andado por alguns
minutos, rodeada por árvores antigas e o frescor de suas sombras,
pelo sussurrar das folhas, o canto dos pássaros e o som fraco de
água corrente. O rio ainda não estava visível, mas entraria no campo
de visão logo. – É aqui que você aprendeu que existe muita alma na
natureza para ser capturada com um pincel, Jocelyn?
Ele podia sentir o cheiro da terra e das folhas, os aromas
agradáveis do interior que tinha esquecido.
– Sim –, ele disse – apesar de eu ter tentado com palavras.
Poesia. Coisas atrozes, que eu destruí quando saí de casa. Eu me
interessava por poesia. Pode imaginar?
– Sim –, ela disse suavemente. – Eu sei muito bem o que você
quer dizer quando fala em se interessar. Vou ter que o persuadir a se
interessar novamente.
– Ah. – Ele disse, e parou de repente, agarrando-lhe a mão com
mais força.
O caminho arborizado se inclinava para a direita e as árvores
aparadas sobre o declive à frente. O rio tinha entrado no campo de
visão abaixo. E a piscina natural ao pé de uma pequena cachoeira. E
não muito longe dela, um chalé de palha, que ainda estava de pé,
embora a palha parecia extinguir-se aos poucos.
Jane tocou com a mão na manga dele, mas não disse nada. Ela
não precisava. Sabia que ela reconhecia estes lugares do relato dele.
Ele não percebeu que estava segurando a respiração até que a
soltou de forma bastante audível.
– Estranho –, ele disse baixinho, falando para si mesmo, mas
para ela também, já que ela era parte dele mesmo. – É apenas uma
piscina. E apenas um chalé. E ainda pitoresco.
– Sim. – Ela concordou. – Não há demônios, tanto quanto posso
ver.
– Parece uma pena deixá-lo se deteriorar. – Disse ele,
estreitando os olhos no chalé. – Seria um bom lar para um guarda-
caça ou um jardineiro, não é?
– Sim –, ela concordou. – Um com uma família. É idílico. Você
deve dar ordens para que reparos sejam feitos, Jocelyn.
Ele pousou a mão dela no seu braço.
– Talvez falte um quilômetro e meio até a casa logo à frente –,
disse ele. – Mais tempo se fizermos um desvio.
Ela o olhou com olhos inquisidores.
– Ao topo da colina. – Ele apontou para a direita deles. – Há
uma vista gloriosa do topo. Ferdinand, Angeline e eu a protegemos
contra exércitos, piratas e bandidos de estradas durante toda a nossa
infância. E eu me sentei ali em silêncio reverente durante a minha
juventude mais tarde.
– Para o topo da colina, então. – Disse ela.
Ambos estavam sem fôlego quando chegaram ao topo, tendo
subido uma encosta íngreme, esquivando-se de troncos de árvores e
raízes enormes enquanto o faziam. Mas uma brisa que não sentiram
mais abaixo soprou em suas bochechas, enquanto olhavam para a
casa distante e o parque cultivado a frente dela e os jardins da
cozinha atrás.
Jocelyn sentiu algo apertando no coração. Nostalgia? Orgulho?
Amor? Esperança? Talvez houvesse um pouco de todos esses
sentimentos.
– Ah, Jocelyn, estou tão feliz de estar vendo isso pela primeira
vez daqui de cima. Parece... Como posso explicar? Soa tolo quando
eu nunca vi isso antes, mas se parece como o lar.
– Isto é o lar. – Disse ele, virando-a contra ele e emoldurando
seu rosto com as mãos. – Este é o lar, Jane, você e eu juntos. Mas
aqui é onde nós faremos nosso ninho e criaremos nossas crianças,
viveremos e amaremos juntos. Aqui em Acton. – Ele tocou a testa na
dela e fechou os olhos. – Eu estou em casa.
– Jocelyn –, ela sussurrou-lhe – como eu te amo.
Eles estavam cercados por ondulantes ondas de grama macia,
flores perfumadas e por um céu de azul profundo acima de suas
cabeças. Em algum lugar por perto um pássaro cantava de coração.
Miríades de insetos invisíveis chilreavam e zumbiam.
Era um momento precioso de regresso ao lar. E felicidade.
– Jane –, disse ele depois de um tempo. – Você percebe que as
chances estavam contra a nossa união?
– Sim –, disse ela. – Se eu não tivesse gritado quando o fiz,
Lorde Oliver teria sem dúvida atravessado seu coração com uma bala
e não teria havido nenhum motivo para me aproximar e repreendê-lo.
– Sem chance. – Disse ele. – A pistola dele estava tremendo
como uma folha em um furacão. – Ele baixou as mãos do rosto dela e
tomou uma de suas mãos entre uma das dele. Entrelaçou seus
dedos. – Venha. – disse ele.
Eles meio que desceram correndo a encosta na direção da casa.
Para um futuro que certamente teria a sua quota de problemas e
dores de cabeça, como todos os futuros devem ter, as também teria
amizade, riso, amor e alegria.
E momentos como o presente, de felicidade total. Breves
momentos efémeros, mas que iluminariam a vida inteira deles como
um farol se apenas estivessem abertos para reconhecê-los, tomá-los
e vivê-los ao máximo.
Jane gritou e depois riu impotente enquanto corriam mais rápido
e mais rápido até a metade inferior da encosta. E, quando ele a
pegou na base a girou em torno, em um círculo completo, antes de
pôr os pés dela de volta ao chão, Jocelyn riu com ela.

Viola e Ferdinand
Quando escrevi Amante de Ninguém, eu fiz como uma espécie
de par combinado com o Mais que uma Amante – à medida que os
finais seguiam. Lorde Ferdinand Dudley, irmão mais novo de Jocelyn,
Duque de Tresham, casa-se com Viola Thornhill em silêncio e em
privado no final do livro, em vez de esperar pelo grande e pomposo
casamento que sabe que sua família vai querer para ele. Como no
outro livro, não há nenhuma cena real do casamento, mas apenas um
anúncio surpresa em um evento da alta sociedade que segue a este.
E, como em Mais que uma Amante, não há nenhuma cena de
regresso a casa no final do livro, embora o retorno de Viola e
Ferdinand para Pinewood Manor em Somersetshire será um evento
significativo. Eles discutem sobre isso durante boa parte do livro,
afinal de contas, já que ambos reivindicam a posse da propriedade. E
saíram dela às pressas e angustiados, com seus sonhos e o amor
crescente um pelo outro em pedaços.
Aqui estão as duas cenas que poderiam ter aparecido no livro se
eu as tivesse incluído.

O Casamento
A Condessa de Heyward gostaria de organizar um casamento
grandioso, Lorde Ferdinand dissera a Viola. A própria Viola teria
gostado de um casamento tranquilo em Trellick, a aldeia perto de
Pinewood. Eles tinham concordado em um casamento tranquilo em
Londres – bem tranquilo. Ele não contaria a sua família por razões
óbvias, e, portanto, ela não diria a dela também. Não pareceria justo.
Além disso, o tio Wesley de Viola certamente teria tentado persuadi-
los a esperar por um casamento um pouco mais grandioso, seguido
de um café da manhã na pousada que possuía.
Apenas Hannah, antiga empregada de Viola, agora sua criada
particular, e o valete de Ferdinand participariam do casamento deles.
Precisavam de duas testemunhas, afinal.
Tranquilo estava bem.
Tranquilo era maravilhoso.
Ela estava se casando, Viola pensou enquanto saía da Pousada
White Horse com Hannah, e este era milagre suficiente. Seis anos
atrás, ela tinha perdido qualquer esperança ou expectativa de ser
alguma vez capaz de viver a vida normal de uma mulher casada e
mãe.
Ela estava se casando, e o verdadeiro milagre era que estava se
casando com Ferdinand. Ela o amava tanto que realmente não havia
palavras para descrever seus sentimentos de forma adequada. E o
mais verdadeiro de todos os milagres – oh, Deus, milagre após
milagre – era que ele a amava. Tanto, de fato, que estava disposto a
assumir o maior risco de sua vida. Porque ele ainda poderia enfrentar
o ridículo e o ostracismo por se casar com ela. Era verdade que
ninguém menos do que o Duque e a Duquesa de Tresham tinham a
tomado sob suas asas e dariam uma exuberante recepção em Dudley
House esta noite para apresenta-la a alta sociedade. E era verdade
que o Conde e a Condessa de Heyward, com seu poder próprio e
nenhum pouco menor, também estavam determinados a trazê-la para
a sociedade. Mas não era de todo certo que qualquer uma dessas
coisas funcionariam. Era uma jogada ousada que poderia falhar
totalmente. Como, afinal, poderia se esperar da alta sociedade que
aceitassem em seu meio uma mulher que uma vez esteve entre uma
das mais celebres cortesãs em Londres?
Ferdinand tinha muita fé em sua família. Mas isso não importava
de qualquer maneira, ele havia lhe dito. Com ou sem o apoio da alta
sociedade, tudo o que ele realmente queria fazer com o resto da
própria vida era viver com ela, e os filhos de sua união, em Pinewood
Manor na distante Somersetshire.
Era tudo o que ela queria da vida também.
Ela ainda não ousava acreditar em tal felicidade.
– Querida –, disse Hannah do lado dela – se eu for forçada a me
mover a uma distância maior nesse ritmo, vou morrer por falta de ar e
com uma pontada na lateral, por causa dessas pernas que são muito
curtas.
– Oh, Hannah. – Viola parou abruptamente na calçada. – Eu
sinto muitíssimo. Estive andando muito rápido?
– Sim –, disse Hannah. – E, além do meu desconforto, querida,
não seria bom para você chegar à igreja antes de Lorde Ferdinand.
Uma noiva jamais deve parecer muito ansiosa.
– Oh –, Viola perguntou, desanimada – é assim que eu estou?
Hannah deu um tapinha em seu braço.
– Você está ansiosa. – Disse ela. – É assim que deve estar no
dia do seu casamento. Mas não é o que deveria parecer estar em
excesso. Pelo menos, isso é o que a sabedoria do casamento diz. Eu
mesma acho que é um monte de besteiras. Que noivo quer chegar ao
seu casamento e encontrar uma noiva que parece relutante e
francamente entediada com a vida?
As duas riram. E Viola mordeu o lábio.
– Eu estou fazendo a coisa certa, Hannah? – Ela perguntou.
– Em se esgueirar para se casar sem dizer a ninguém além de
mim? – Disse ela. – Eu sempre fui uma alma romântica, Senhorita Vi,
como você sabe. Há algo muito esplêndido em um grande casamento
com quinhentos convidados. Não que eu já tenha visto um, é
verdade. Mas a ideia é esplêndida. No entanto, para o puro romance
não há nada como um casamento tranquilo, e eles não parecem mais
tranquilos do que esse. Tal casamento não é para o esplendor do
evento em si, mas para a união real de duas pessoas que não podem
viver um sem o outro. Eu não poderia ter desejado um casamento
mais romântico para você do que esse, querida, e sabe que eu
sempre tive um fraquinho pelo cavalheiro patife com quem está
casando. Na verdade, ele não é apenas um patife. Ele também é o
mais determinado, corajoso, nobre homem que eu já tive o privilégio
de conhecer. Você está fazendo absolutamente a coisa certa, em se
casar desta forma e em se casar com ele. Porque está arranjando
uma esposa que combina perfeitamente com ele em determinação,
coragem e nobreza. E aí está! Nós poderíamos muito bem ter nós
mantido só caminhando. Agora estou duas vezes mais ofegante do
que estava.
– Oh, Hannah. – Viola lutou contra as lágrimas, enquanto olhava
para ambos os lados. Felizmente não havia ninguém à vista na rua,
nem a uma certa distância e nem em qualquer direção. Ela prendeu
sua criada em um abraço apertado. – Estou tão apaixonada e tão
feliz. Posso me atrever a ter esperança?
– Bem –, disse Hannah, sua voz normal novamente, enquanto
alisava o vestido. – Eu acho que você deve se atrever a ter esperança
de chegar à igreja antes que Lorde Ferdinand vá embora de novo, e
caso começarmos a andar, é claro. E uma vez que a tem na mira, ele
não vai deixar você ir, mesmo se quisessem tal coisa. A qual você
não quer.
Viola alisou as dobras do próprio vestido, com mãos que
tremiam ligeiramente. O vestido era o mesmo de musselina que usara
nas celebrações de Primeiro de Maio em Trellick, a primeira vez que
pôs os olhos em Ferdinand, e seu chapéu de palha era o mesmo que
aquele que ficara em um banco na igreja da aldeia durante a maior
parte do dia. Seu cabelo estava enrolado em uma trança pesada na
nuca abaixo do chapéu.
Não era uma roupa de casamento especialmente moderna ou
elegante. Sua mãe e irmãs teriam suspeitado se ela tivesse saído da
pousada vestida mais festivamente. Mas era o jeito que ela gostava
de se vestir, a maneira como pretendia se vestir quando estivesse de
volta a Pinewood. Além disso, as roupas não importavam. Ferdinand
a amava.
Quão maravilhoso é ser capaz de pensar nessas palavras e
saber que eram verdadeiras. Ele tinha procurado Daniel Kirby e em
um ambiente deliberadamente público, havia se pronunciado o
campeão dela, e punira o homem que chegara muito, muito perto de
arruinar sua vida para sempre.
Ferdinand era seu campeão público e seu amante privado.
O que mais ela poderia pedir da vida?
– Venha, então. Eu não o deixaria esperando, Hannah. Mas ele
esperaria, você sabe, assim como eu, como farei se chegarmos lá
antes dele.
A igreja não estava nem perto de ser tão grandioso como a St.
George em Hanover Square, o local habitual para casamentos
elegantes, ou tão grandiosos. Não era nem mesmo um edifício
atraente. Isso não importava. Viola mal notou, pois havia uma
carruagem do lado de fora da igreja, um jovem lacaio segurando as
rédeas dos cavalos, e Ferdinand estava em pé na calçada com outro
homem, presumivelmente seu valete.
Ele não estava vestido como estivera no Primeiro de Maio. Ele
estava em um casaco negro de cauda com calções prateados até o
joelho, meias brancas e camisa com renda no pescoço e pulsos. Ele
deve ter dado um espetáculo enquanto dirigia pelas ruas de Londres
nas rédeas de um cabriolé, no meio da manhã.
Ele parecia absolutamente lindo, e mais ainda enquanto
caminhava em direção a ela, com uma mão estendida, e sorriu.
Ele parecia tão feliz como Viola se sentia.

A pobre Angie vai ficar terrivelmente desapontada, pensou


Ferdinand. Ela fora privada do prazer de organizar um grande
casamento para Tresham e Jane quatro anos atrás, quando eles
escaparam para se casar em silêncio. Agora ela perderia a chance de
organizar algo para ele e Viola, uma vez que eles estavam fazendo a
mesma coisa. E ele não podia consolar a si mesmo, ou a ela, com a
sugestão de que guardasse toda a sua criatividade para os
casamentos de seus próprios filhos. Após seis anos de casamento,
ela e Heyward ainda não tinham filhos.
Pobre Angie.
No entanto, tão egoísta quanto poderia parecer, ele não poderia
poupar muita simpatia por sua irmã hoje. Era o dia de seu casamento,
e ele estava mais feliz do que imaginara que fosse possível. Quase
dera errado. E até o último momento no ninho de amor de Tresh, na
semana passada, ele não esteve certo que ela diria sim. Mas disse, e
o mundo de repente explodiu em plena floração para ele. Se sentiu
estranhamente, como se alguém lhe tivesse provido um novo par de
olhos, que lhe mostravam o mundo em cores mais nítidas, mais
brilhantes e banhavam tudo em luz do sol mesmo quando havia
nuvens acima, como agora com uma garoa caindo sobre sua cabeça.
Ele poderia ser um poeta ainda. Pensamento medonho!
Esses mesmos novos olhos a observavam enquanto ela se
aproximava pela rua com Hannah. Embora ele estivesse vestido
como se fosse comparecer a mais formal das recepções com o
Príncipe Regente em Carlton House, estava feliz que ela se vestiu de
forma simples. Embora ela usasse um chapéu esta manhã e seu
cabelo estivessem presos em vez de balançando nas costas em uma
longa trança vermelho-escuro, ela parecia a moça saudável que tinha
estado organizando uma corrida de sacos no gramado da vila em
Trellick, quando ele a viu pela primeira vez, e certamente se
apaixonou por ela. Havia essa tal coisa como amor à primeira vista?
Devia haver. Ele não podia ter certeza, mas não ficaria surpreso se o
vestido que ela estava usando agora era o mesmo que usara na
época.
Felicidade o percorria enquanto caminhava na direção dela, a
mão estendida para a dela. E só então ele soltou a pequena bola de
ansiedade que vinha deixando seu estômago enjoado a manhã toda,
porque nunca se podia ter certeza com Viola. A consciência dela
poderia, no último momento, proibi-la de se casar com ele depois de
tudo, convencendo-a mais uma vez que ela só poderia lhe trazer
ruína ao se casar com ele. Mas aqui estava ela, e certamente parecia
tão feliz quanto ele estava, mesmo que seu sorriso fosse mais contido
do que o dele. Ele meramente acendia seus olhos e levantava os
cantos da sua boca.
Ele sabia, porém, que o sorriso a iluminava completamente até a
própria alma. Já a conhecia bem, mas havia sempre mais para
conhecer. Eles teriam uma vida inteira para se familiarizarem um com
o outro, corpo, mente, e alma, tanto como conheciam a si próprios.
– Viola. – Disse ele, sua mão se fechando sobre a dela.
– Ferdinand. – Disse ela, seus dedos se enrolando em torno dos
dele.
Eloquência de fato. Mas eloquência nem sempre necessitava de
palavras.
Ele colocou a mão dela em sua manga, sorriu e acenou com
uma saudação para Hannah, acenou para Bentley, seu valete, e
levou sua noiva para a sombra fria do interior da igreja. Mas havia
uma grande janela de vidro colorido atrás do altar. E o sol deve ter
atravessado as nuvens lá fora bem quando passaram pela porta, pois
uma luz multicolorida repentinamente atravessou a escuridão e fez
algo mágico – ou, mais apropriadamente, talvez, algo santo – do lugar
onde os dois uniriam suas vidas até que a morte os separasse.
O clérigo estava os esperando. Eles se aproximaram ao longo
da nave da igreja, suas duas testemunhas atrás deles, e o serviço
nupcial se passou sem qualquer problema ou tumulto, todas as suas
vozes suaves e íntimas enquanto o mundo mudava para um homem
e uma mulher.
Não era uma fantasia estranha. O mundo realmente mudou. Um
minuto, parecia que ele era Lorde Ferdinand Dudley, solteiro,
socialite, e ela era Senhorita Viola Thornhill de Pinewood Manor em
Somersetshire, e no próximo eram Lorde e Lady Ferdinand Dudley,
marido e esposa. Eles tinham acabado de prometer diante de Deus e
do homem – e mulher – que iriam amar e cuidar um do outro sempre,
independentemente, e as promessas colidiram com o peito de
Ferdinand como um punho de veludo, roubando-lhe o fôlego e
enchendo-o com admiração.
Ele iria amá-la e cuida-la para sempre.
Ela iria amá-lo e cuida-lo pelo mesmo tempo.
O serviço nupcial estava acabado, o registro foi assinado e
testemunhado, e eles estavam de volta, fora da igreja, alguns minutos
e toda uma era depois de terem entrado.
Bentley foi conversar com o lacaio, ambos de costas para a
igreja. Hannah caminhou um pouco ao longo da rua e ficou
admirando uma árvore que, na realidade, não era mais admirável do
que qualquer outra árvore na rua.
– Devo voltar com você para contar a sua mãe, suas irmãs e seu
tio? – Perguntou ele, embora já haviam concordado que nenhum
anúncio seria feito até esta noite, quer após a recepção do Tresham,
se esta procedesse desastrosamente para Viola, ou durante, se tudo
estivesse indo bem. – E então te levar para a Jane e Tresh ou Angie
e Heyward?
– Não. – Ela disse, e ele podia ver que estava deslizando seu
anel de casamento para fora do dedo, apenas alguns minutos depois
de ele o ter colocado lá, e estava o estendendo para ele. – Eu não
quero todos eles mais ansiosos esta noite do que já estão, Ferdinand.
E eu preciso fazer isso sozinha, comparecer à recepção, encontrar a
alta sociedade, afundar ou nadar sem me esconder atrás do fraque
de alguém. Eu preciso fazê-lo como Viola Thornhill, pela última vez.
Ela levantou os olhos para ele.
– Eu te amo –, ela disse fervorosamente. – Meu marido.
Ele colocou seu anel seguramente dentro de um bolso e, em
seguida, pegou a mão direita dela entre ambas as dele.
– Até hoje à noite, então. – Ele disse, levantando a mão dela
para os lábios. – Meu amor. Minha esposa.
E ela sorriu e virou-se para se apressar pela rua para se juntar a
Hannah. Ambas caminharam sem olhar para trás.
Ele estava sozinho novamente.
Mas era diferente.
O mundo tinha mudado.
Hoje à noite ele estaria com sua esposa, depois de ter-lhe
permitido ser Viola Thornhill mais uma vez. E para o resto de suas
vidas eles permaneceriam juntos.
Marido e esposa.
Era estranho como o mundo poderia parecer o mesmo e ainda
assim muito diferente no espaço de meia hora.

De Volta para Casa em Pinewood


Manor
Eles não tinham realmente a intenção de parar na aldeia de
Trellick. Fora uma longa jornada, e eles estavam ansiosos para estar
em Pinewood. Ela já dava a sensação de lar, embora Ferdinand
tivesse passado apenas algumas semanas lá em maio, e durante
todo esse tempo esteve brigando com Viola sobre qual deles era o
legítimo proprietário. Ele amou a propriedade desde sua primeira
visão dela, no entanto. E para ela, é claro, fora sua casa por mais de
dois anos. Tinha sido um presente de seu pai, o falecido Conde de
Bamber, e com o presente ele a resgatara de uma vida pior que o
inferno e lhe deu a chance de uma vida inteiramente nova, uma
chance que ela tinha compreendido e utilizado ao máximo.
Eles mal podiam esperar para estar em casa, juntos. Para
começar outra fase de suas vidas, juntos.
Quando a carruagem saiu da estrada principal, desceu a colina
para a aldeia e contornou ao redor do gramado, antes de atravessar a
ponte para a região de Pinewood, no entanto, eles podiam ver que o
reverendo Prewitt e sua esposa estavam de pé no final do jardim do
vicariato conversando com as Senhoritas Merrywether. Todos os
quatro, naturalmente, voltaram-se para observar a carruagem, e logo
seus rostos estavam envoltos em sorrisos. Viola sorriu de volta e
acenou da janela. Ferdinand se inclinou sobre ela e acenou também,
e então, impulsivamente bateu no painel frontal para o cocheiro parar.
Essas pessoas eram seus amigos.
E então ele estava descendo Viola para o gramado, e estavam
atravessando a estrada ao vicariato.
– Lady Ferdinand. – O vigário disse, sorrindo alegremente. – E
Lorde Ferdinand. Ouvimos sobre o seu casamento, e nos
perguntávamos se vocês chegariam em casa hoje. É o que
estávamos falando quando sua carruagem entrou à vista. “São eles”,
eu disse às damas, “tão certo como estou de pé aqui, marque minhas
palavras.” Bem-vindos ao lar.
E ele apertou a mão de Ferdinand cordialmente enquanto sua
esposa abraçava e exclamava sobre Viola e as duas irmãs seguiam o
exemplo. Houve uma grande dose de conversa e risos.
Para não ficar atrás, Ferdinand abraçou as damas também. A
esposa do vigário o abraçou de volta, a Senhorita Merrywether
parecia um pouco assustada, mas não insatisfeita, e a Senhorita
Prudence Merrywether, abençoada sua alma, riu, e corou até a raiz
dos cabelos grisalhos pouco visíveis sob sua touca.
– Oh, você sempre foi encantador, meu senhor. – Disse ela. –
Nós sentimos sua falta no ensaio do coro. E da Senhorita Thornhill
também, é claro – Lady Ferdinand, isto é.
– Vamos retornar ao coro. – Ferdinand prometeu. – E onde o
círculo de bordado das damas tem se reunido nas últimas semanas?
– No salão da igreja –, Senhorita Merrywether disse – onde
sempre costumava ser realizado. Há espaço suficiente lá, meu
senhor.
– Mas há muito mais luz e conforto na sala de estar em
Pinewood. – Disse ele. – Vocês todas devem voltar para lá na
próxima semana, por favor. Eu ainda não terminei de ler Orgulho e
Preconceito, e não gosto de ler em voz alta para um salão vazio.
– Sim, vocês têm que vir. – Disse Viola. – E em duas semanas
pediremos a todos para vir a Pinewood para uma festa no jardim em
celebração do nosso casamento. Esperamos que todos venham de
milhas ao redor. E talvez, como as celebrações do Primeiro de Maio,
também se tornará um evento anual. Todo mundo precisa de alguns
dias do ano nos quais apenas possam se divertir.
Viola e Ferdinand tinham falado sobre isso durante a viagem.
Eles tinham tido seu casamento tranquilo em Londres, seguido pela
dança improvisada no salão de baile do Tresham após a recepção, na
qual Viola fora apresentada à sociedade de Londres. Eles tinham tido
a sua noite de núpcias. E foram felizes. Mas Ferdinand sabia que em
seu coração Viola teria gostado de se casar aqui na pequena igreja
em Trellick, onde todos os amigos que fizera durante os dois anos de
sua nova vida poderiam ter se alegrado e celebrado com ela. E assim
ele sugeriu que eles celebrassem de qualquer maneira, que
organizassem uma grande festa para todos os seus amigos e
vizinhos, de todas as classes. E desde que era verão, eles logo
tiveram a ideia de uma festa no jardim, com planos alternativos para o
interior se o tempo não cooperasse, é claro. E seria uma festa no
jardim que se estenderia pela noite, com dança e talvez fogos de
artifício.
– Oh, meu Deus. – Disse a Senhorita Prudence Merrywether. –
Uma festa no jardim, Faith.
– Esplêndido, esplêndido. – Disse o vigário, esfregando as
mãos.
– Você deve me deixar saber, Lady Ferdinand –, disse a Sra.
Prewitt – o que eu possa fazer para ajudar.
O estalajadeiro estava varrendo a rua fora da Pousada Boar’s
Head. Ferdinand levantou uma mão e acenou para ele. O homem
apoiou sua vassoura debaixo de um braço e devolveu a saudação.
Algumas crianças tinham se reunido no lado mais distante do
gramado e estavam os observando atentamente. Algumas das suas
mães estavam paradas nas portas de suas casas de campo, olhando
para a casa paroquial.
Ah, era bom estar em casa. Como ele nunca soube, até vir para
Pinewood, que pertencia ao interior, que apesar de todos os prazeres
de viver em Londres, ele tinha, no entanto, estado à espera de algo
mais permanente, algo mais significativo? Mas como poderia ter
sabido sobre Pinewood antes da pura chance de um jogo de cartas
que o levara até ali? E como ele poderia ter sabido que Viola estava
esperando aqui? O amor de sua vida.
Realmente era bastante alarmante o quão próximo ele estava
ficando de se lançar a escrita de poesia romântica.
– Vamos andar o resto do caminho? – Ele sugeriu a Viola.
– Eu estava prestes a sugerir a mesma coisa. – Disse ela, e
olhou para o céu azul claro acima. – Até mesmo o clima está perfeito.
Ferdinand chamou o cocheiro, que subiu de volta para a boleia,
pegou as rédeas na mão, e prosseguiu em seu caminho para a casa.
Tendo pedido licença a seus quatro amigos e acenando para as
crianças e para algumas de suas mães, Ferdinand caminhou com
Viola apoiada em seu braço, pela ponte sobre o rio e pelo caminho
sinuoso arborizado, que ele cavalgara pela primeira vez no segundo
dia de maio. Ele tinha estado de bom humor então, embora não
soubesse o que havia a frente, chalé, mansão ou ruína. Se ele
apenas tivesse adivinhado o que realmente havia a frente dele.
Assim que eles estavam fora de vista da aldeia, ele pegou a
mão de Viola na sua e entrelaçou os dedos deles.
– Temos bons vizinhos –, disse ele.
– Sim.
– Amigos.
– Sim.
Era estranho quão pouco falavam algumas vezes, embora
muitas vezes as palavras simplesmente se derramavam deles. Mas
as palavras eram necessárias apenas quando havia algo a dizer. Elas
não eram necessárias apenas para preencher o silêncio. Silêncio,
eles descobriram sem nunca o discutir ou planejá-lo, poderia ser
extremamente sociável. Seus corpos, suas mentes, suas almas
comungavam mesmo quando não havia palavras. As palavras eram
apenas uma ferramenta de comunicação.
– “Era um amante e sua moça,” – ele cantou, olhando para os
galhos das árvores acima e o céu azul além – “com um hey e um ho e
uma hey-nonny-no.”
Ele olhou para ela, o riso nos olhos.
– “Que além da plantação de milho verde que passava na
primavera” – eles cantaram juntos. – “A primavera, o único momento
muito badalado, quando os pássaros realmente cantam hey-ding”.
Eles riram e balançaram as mãos unidas.
– “Hey ding, ding-a-ding-a-ding-ding-ding, doces amantes amam
a primavera”.
– Estação errada. – Disse ela.
– Quem se importa? – Perguntou ele.
Ela olhou em volta.
– Ninguém que eu possa ver. – Ela disse, e eles riram
novamente.
Isso era outra coisa, rir de qualquer pequeno absurdo. Qualquer
um que os ouvisse por acaso pensaria que às vezes eles davam
férias a seus juízos.
Ambos tinham parado de andar. Ele colocou seus braços ao
redor dela, um atrás de sua cintura, um em torno de seus ombros e
puxou-a para perto. Ela colocou os braços ao redor dele e levantou o
rosto para seu beijo.
– Bem-vinda ao lar, meu amor. – Ele murmurou contra seus
lábios.
– Bem-vindo ao lar, Ferdinand. – Disse ela.
Era, ele supôs, sua casa oficialmente. Eles eram casados, e a
propriedade dela se tornou dele, mas era uma questão que nunca
surgiria entre eles. Não precisava surgir. Pinewood era deles, e iria
eventualmente passar para o filho mais velho deles, que faria sua
aparição dentro do próximo ano mais ou menos se ele tivesse algo a
dizer sobre o assunto.
Eles deram as mãos e continuaram seu caminho.

Viola deve ter caminhado da aldeia para a casa dezenas de


vezes, talvez centenas, desde que viera inicialmente para lá mais de
dois anos atrás. Mas havia um momento na caminhada que nunca
deixou de tirar seu fôlego, e fazer-lhe parar simplesmente para olhar.
Havia um momento em que o caminho sinuoso ficava limpo das
árvores e não havia nada além de gramados e árvores isoladas e
flores à frente, e a casa na distância próxima, era sólida, substancial e
linda. Um símbolo de amor que fora um presente de seu pai e de
segurança, a casa tinha lhe dado uma nova vida e uma nova
felicidade. E esperança.
Hoje, ela esperou pelo momento, e ambos pararam, de mãos
dadas.
Uma nova felicidade.
E desta vez a felicidade era pura. Ela era casada com um
homem que amava totalmente, a um homem que a amava muito,
igualmente. A sombra do seu passado fora limpa, e sua família fora
totalmente restaurada para ela, todos os segredos afastados.
A vida era boa. Não permaneceria perfeita para toda a
eternidade, é claro. Não havia tal coisa como felizes para sempre.
Mas agora era boa, e seu amor e sua vida estavam sendo
construídas sobre uma fundação firme o suficiente, que quaisquer
tempos difíceis à frente seriam tratados e fariam dos tempos mais
felizes ainda mais doces. E só podiam esperar que os momentos
felizes superassem os menos felizes.
Os gramados tinham sido recém-cortados, provavelmente pelo
seu regresso a casa. Viola aspirou a fragrância encantadora de
grama recém-cortada.
E na distância, podia ver as portas da frente se abrindo e
permanecendo abertas. Os servos teriam estado esperando a
chegada deles hoje ou amanhã, é claro, e eles tinham tido um aviso
prévio com a chegada da carruagem há pouco tempo. O Sr. Jarvey
sem dúvida teria todos os servos, do interior e do exterior, alinhados
formalmente no saguão para cumprimentá-los.
Oh, era adorável estar em casa.
– Jarvey terá todos alinhados. – Disse Ferdinand.
– Você se importa? – Ela perguntou.
– Depois que eles providenciaram um travesseiro feito de
pedras, um galo cantando antes do amanhecer se anunciando do
Leste, trapos enfiados na chaminé, e bife frio, quase cru para o meu
café da manhã, bem como outras delícias quando vim pela primeira
vez aqui? – Ele perguntou. – Por que deveria me importar?
Mas ele estava sorrindo para ela e então rindo abertamente.
Depois que ele chegou em maio, alegando que Pinewood era dele,
ganhada em um jogo de cartas, Viola tinha falado com seus serventes
e juntos eles haviam planejado uma série de aborrecimentos que
esperavam iria levá-lo de volta a Londres, para nunca mais ouvirem
falar dele novamente.
– Estou feliz que você ficou. – Disse ela.
– Assim como eu.
Ele libertou sua mão da dela e ofereceu o braço.
– Isso exige um pouco de formalidade. Venha, Lady Ferdinand,
vamos e cumprimentemos nosso pessoal.
Ela entrelaçou a mão pelo braço dele e lhe sorriu.
– Sim, vamos. – Disse ela.

Uma Palavra Final


Eu descobri que os leitores se dividem em dois campos quando
se trata de epílogos. Alguns os acham bregas, aborrecidos, e
bastante redundantes, todo mundo sabe que os heróis e heroínas dos
romances vivem felizes para sempre, afinal. Como um dos meus
leitores comentou recentemente, tudo o que nós descobrimos a partir
de um epílogo é apenas quão muito feliz que o casal é, e quantos
filhos tiveram. E esse leitor está certo. O epílogo dificilmente
mostraria quão infeliz e estéril os amantes são, não é?
E depois há os leitores em outro campo, aqueles que anseiam
por mais depois que uma história acaba. Eles querem estar
duplamente certos de que o compromisso de amor era real e resistiu
ao teste do tempo. Alguns leitores realmente querem saber quantas
crianças houveram e quais seus gêneros e nomes. Sei disso, eu ouço
de tais leitores o tempo todo. Sempre fico tocada por suas perguntas.
Eles me lembram que para algumas pessoas os personagens que eu
criei são reais, com vidas antes do início do livro e vidas depois desse
ter terminado. Alguns leitores se sentem um pouco desolados quando
um livro acaba, como se tivessem sido repentinamente abandonados,
deixado para trás. Eles querem mais um vislumbre dos personagens
a quem se tornaram tão ligados. E estes sentimentos são ainda mais
intenso quando se é uma série em vez de apenas um único livro que
terminou.
Assim, com desculpas para o primeiro campo de leitores, aqui
está uma breve espiadela dos Dudleys e suas famílias cinco anos
após o término do terceiro livro da trilogia, Amante de Ninguém. Até
agora Jane tem vinte e nove anos de idade, Angeline e Viola trinta,
Ferdinand trinta e dois anos, Jocelyn e Edward trinta e cinco.
Epílogo da Série
Angeline e Edward, Jane e Jocelyn,
Viola e Ferdinand
A festa de verão no jardim, realizada anualmente em Pinewood
Manor perto da aldeia de Trellick em Somersetshire, tinha crescido
em prestígio ao longo dos anos até agora, cinco anos após a primeira
– que foi realizada em comemoração ao casamento de Lorde
Ferdinand Dudley com a Senhorita Viola Thornhill – a maioria dos
moradores e outros habitantes da vizinhança eram da opinião de que
era um evento superior a feira de Primeiro de Maio. Algumas pessoas
ocasionalmente expressavam dúvidas. Havia todos os estandes
sobre o gramado no Primeiro de Maio em que se poderia alegremente
gastar o dinheiro todo em bugigangas inúteis e a leitura da sorte. E
havia a fogueira e a dança ao redor do mastro de Maio durante a
noite. Mas então havia todos os jogos e concursos da festa no jardim
de Pinewood, as mesmas pessoas inevitavelmente lembravam, e os
prêmios, cada um dos quais era de mais valor do que todas as
bugigangas na feira combinadas e não lhes custava nada. E havia a
dança no gramado diante da casa durante a noite. E os fogos de
artifício, a memória dos quais inclinariam a balança novamente em
favor da festa no jardim. Sem mencionar as comidas suntuosas, tanto
na hora do chá e no final da tarde.
Não era essencial decidir qual evento era o melhor dos dois, é
claro. Ambos eram algo a se ansiar com crescente antecipação cada
ano, e crescente ansiedade enquanto o dia se aproximava, a menos
que a chuva estragasse as festividades. Milagrosamente, isso nunca
aconteceu no Primeiro de Maio. Uma vez aconteceu na festa no
jardim – a terceira. Mas os jogos no salão de baile e o chá na sala de
jantar teve um grau maior de intimidade naquele ano, e a dança
durante a noite fora realmente muito divina. Algumas das famílias
vizinhas nunca viram tantas velas acesas em um só lugar. E mesmo
naquele ano a chuva tinha parado a tempo para a queima de fogos,
pouco antes da meia-noite.
Este ano havia a emoção adicional de convidados ilustres
presentes em Pinewood. A antecipação dos jogos, ao chá e a dança
e até mesmo dos fogos empalideciam ao lado de ver um duque ao
vivo, entre outras pessoas de distinção apenas um pouco menor.
O irmão e irmã de Lorde Ferdinand ficariam por um par de
semanas em Pinewood Manor, principalmente com a finalidade de
assistir ao batismo da Senhorita Harriet Dudley, a mais nova filha da
casa, na igreja da vila no domingo após a festa. E o irmão de Lorde
Ferdinand não era ninguém menos do que o Duque de Tresham. Sua
irmã era a Condessa de Heyward. A duquesa e o conde os tinham
acompanhado, é claro, assim como seus filhos. Até mesmo duas das
crianças tinham títulos – Conde de Everleigh no caso de Nicholas, o
filho mais velho do duque, com oito anos, e Visconde Gladson no de
Matthew, o filho do Conde de Heyward, de quatro anos.
Havia outros hóspedes também, mas eles já eram figuras
familiares na vizinhança. A mãe de Lady Ferdinand esteve lá duas
vezes antes, e seu irmão e irmã mais nova, Benjamin e Maria Wilding,
gêmeos, passavam algumas semanas de cada verão com ela. A irmã
mais velha, Senhorita Claire Wilding, estava aqui também este ano e
trouxe consigo a notícia de que estava noiva do Sr. Trotter, o novo
mestre de música na escola em Bath em que ela ensinava.
Era uma coisa rara para os Dudleys estar todos juntos em um só
lugar por qualquer período, ou por qualquer momento absolutamente,
para constar. Ferdinand e Viola não desfrutavam de Londres
particularmente, e desde que Ferdinand não era um par do reino e,
portanto, não tinha a obrigação de estar na cidade para a sessão da
primavera do Parlamento, eles ficavam afastados e aproveitavam a
primavera no interior em vez disso. E quando Jocelyn e Jane foram
para Wimsbury Abbey após o nascimento dos gêmeos de Angeline e
Edward, Viola estava muito avançada na gravidez de Abigail para ir
também. E depois que Viola teve Julian, agora com dois anos, Jane
ainda estava grávida de Alexander.
Este ano era para ser valorizado então. Pois apesar de tudo,
eles eram extremamente afeiçoados uns aos outros. E contra todas
as expectativas, considerando seus antecedentes e históricos
pessoais, todos fizeram bons e sólidos casamentos que haviam
resistido ao teste do tempo e tiveram filhos, três cada, de fato, cuja a
própria existência era uma alegria para seus pais.
Era bom estar juntos.
Jane e Jocelyn foram os primeiros a chegar, três dias antes da
festa no jardim. Foi a primeira visita de Jane para Pinewood Manor,
Jocelyn a tinha visitado brevemente, antes do casamento de seu
irmão com Viola. Mas era, ela declarou dentro de um dia, um bom
lugar para seus filhos, que sempre ficavam de pavio curto durante
viagens longas. Isso era especialmente verdadeiro em Christopher,
agora com cinco anos, que era seu pai em tudo, com cabelo preto e
olhos quase pretos e temperamento volátil. Pinewood estava cercado
por gramados bem cuidados, sobre os quais as crianças podiam
correr e brincar até se esgotarem.
Angeline e Edward não chegaram até um dia antes da festa.
Eles tinham ficado por um tempo com Lorde e Lady Palmer em
Sussex. Lady Palmer era uma prima de segundo grau que agira como
patrocinadora e acompanhante de Angeline durante sua temporada
de estreia. E enquanto isso em Hallings, eles passaram um dia no
Norton Park, casa dos seus queridos amigos Lorde e Lady Windrow e
seus dois filhos.
Os dois meninos de Angeline e Edward – Matthew, de quatro
anos, e Henry, de um – eram bons viajantes. Apenas Madeline,
gêmea de Matthew, estava inquieta. Mas uma manhã gasta no
berçário com seus primos, enquanto todos esperavam com graus
variados de paciência para a diversão começar, restaurou seu ânimo.
O sério de temperamento brando, Nicholas o filho mais velho de Jane
e Jocelyn, instantaneamente se tornou seu grande herói, e ela se
tornou quase plácida enquanto o seguia ao redor de onde quer que
ele fosse.
– Eu estou bem certa –, Viola disse durante um almoço
prematuro – que a festa vai parecer horrivelmente maçante depois de
todas as festas de jardim que você deve ter comparecido em Londres
durante a Temporada.
– Mas por que você sempre quer competir? – Perguntou
Jocelyn, levantando as sobrancelhas pretas e arrogantes.
– O maçante pode ser muito subestimado. – Edward
acrescentou.
– E nós não podemos levar nossos filhos conosco para festas de
jardim em Londres –, disse Jane.
– O que –, ​Angeline disse – às vezes é um grande alívio, deve-
se admitir, Jane.
Todos riram.
– Tem toda a razão, é claro. – Disse Jane. – Mas eu ainda
aprecio um entretenimento familiar mais do que qualquer outro tipo. E
uma celebração pode ser muito mais divertida do que uma mera
festa. Há todos os tipos de jogos.
– Suponho –, disse Jocelyn com um suspiro – que você vai
esperar que eu participe nas corridas de três pernas e corridas de
saco e tais outros deleites do campo, não é, Ferdinand?
– De que outra forma eu posso demonstrar minha superioridade
sobre você? – Perguntou Ferdinand com um sorriso. – Eu estive
praticando a primavera toda.
– Eu estou, em vez disso, esperando Jocelyn –, Viola disse –
que você faça um teste da corrida de ovo e colher apenas para
mostrar às crianças como se faz.
Todos riram novamente enquanto Jocelyn fez uma careta.
– Minha função mais importante –, Ferdinand disse –, é julgar o
concurso de tortas assadas.
– Mas existe o perigo da propensão local –, Edward disse –
desde que você deve conhecer todos os participantes, Ferdinand. Eu
diria que você definitivamente precisa de uma opinião imparcial. A
minha, na verdade.
– Eu sempre gosto de julgar o concurso do bordado com a Viola.
– disse Maria.
– Mas você vai fazê-lo com Jane este ano –, Viola disse – já que
a qualidade do bordado dela é sempre muito intimidante. Eu vou
julgar as pinturas das crianças com a Mama.
– Eu vou delimitar as corridas e ficar na linha de chegada para
declarar um vencedor. – disse Ben.
– Vou jogar o jogo do círculo com as crianças –, disse Angeline
– se Claire permitir os serviços de um ajudante, é claro. Se eu não
manter um olhar particular sobre Henry, você vê, ele irá desaparecer
em um piscar de olhos. Quando ele está ao ar livre, ele fixa o olhar no
horizonte mais distante e vai em direção a ele em uma linha reta e em
uma corrida. É uma coisa boa que as pernas dele ainda são bem
curtas. Eu realmente preciso lhe ensinar uma coisa ou duas sobre
círculos.
Mas estava na hora de se preparar. A vizinhança inteira desceria
sobre eles dentro de uma hora, ninguém nunca se atrasava, e
permaneceriam com eles até que a queima de fogos estivesse bem e
verdadeiramente acabada depois de escurecer. E se a vizinhança
devia ser entretida, então isso devia ser feito em grande estilo. Eles
estavam todos de acordo com isso.
Três deles eram Dudleys, afinal de contas, e seus cônjuges
tinham estado casados com eles tempo suficiente para ficarem
permanentemente infectados. Quanto aos Wildings – bem, eles
estavam relacionados com os Dudleys pelo casamento e estavam
muito felizes em viver de acordo com a distinção.
A última das nuvens que obscurecera o sol durante a maior
parte da manhã se afastou para deixar um céu azul claro.
Não poderia ser um dia mais perfeito para uma festa da
vizinhança e uma reunião de família.
Notas
[←1]

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