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HISTÓRIA
MEDIEVAL
HISTÓRIA MEDIEVAL
SEJA BEM-VINDO(A)!
Caríssimo(a) aluno(a) do curso de História da UniCesumar, o livro que você está pres-
tes a estudar foi elaborado com muita satisfação e tem por objetivo auxiliá-los no
processo de aprendizagem de um dos períodos mais fascinantes da história, o perí-
odo medieval.
O objetivo deste material é possibilitar que você adquira o conhecimento necessário
sobre o período medieval, para que possa atuar como professor(a) de História. Nesse
sentido, o livro conta com informações fundamentadas em autores clássicos, especia-
listas no período, e considerados os mais importantes medievalistas. Além disso, tra-
zemos sugestões de livros, documentos históricos, filmes, sites e atividades de análise
e reflexão que enriquecerão a sua aprendizagem.
Compreender a Idade Média em todos os seus aspectos não é tarefa simples. Por essa
razão, é importante que você, aluno(a), tenha disciplina e dedicação para vencer os
assuntos e as atividades propostas ao longo de todo o livro, além de buscar aprovei-
tar ao máximo os recursos e as dicas apresentadas aqui e também as oferecidas pela
UniCesumar. Com o livro que apresento, junto com o seu esforço e dedicação, tenho
certeza de que nossa viagem pela Idade Média ocorrerá de maneira prazerosa, e você
conseguirá apreender as nuances que caracterizaram esse rico período da história da
civilização humana.
De início, gostaria de ressaltar que não há, entre os estudiosos da Idade Média, um
consenso em relação à periodização exata do período. O que os estudiosos afirmam
é que a Idade Média corresponde a um espaço de tempo entre o fim da antiguidade
clássica e o início do período moderno, e as datas exatas que marcam o início e o fim
dessa época variam de acordo com a abordagem adotada.
Neste livro, caro(a) aluno(a), trabalharemos com a periodização adotada por estudio-
sos do período medieval que situam a Idade Média entre os séculos V e o século XV. A
escolha do século V para marcar o início da Idade Média está relacionada à queda do
imperador do Ocidente, Rômulo Augusto, no ano de 476, após a invasão dos Ostro-
godos. Já a escolha do século XV para acentuarmos o fim da Idade Média relaciona-se
com a tomada de Constantinopla (capital do Império Romano do Oriente), em 1453,
pelos turcos.
Dentro desse período que será adotado por nós, para nossos estudos, há, ainda, uma
divisão da Idade Média em Alta Idade Média – período que vai do século V ao século
X e corresponde ao período de instalação da Idade Média, consolidação de suas bases
e auge da sua prosperidade – Idade Média Central – entre os séculos XI e XIII – e Bai-
xa Idade Média –, período que vai do século XIII ao século XV e é caracterizado pelo
nascimento de instituições que transformaram os aspectos políticos, econômicos e
socioculturais do mundo medieval.
APRESENTAÇÃO
UNIDADE I
15 Introdução
40 Considerações Finais
46 Glossário
48 Referências
50 Gabarito
10
SUMÁRIO
UNIDADE II
53 Introdução
81 Considerações Finais
87 Glossário
88 Referências
89 Gabarito
11
SUMÁRIO
UNIDADE III
93 Introdução
123 Glossário
124 Referências
125 Gabarito
UNIDADE IV
129 Introdução
163 Glossário
164 Referências
165 Gabarito
UNIDADE V
169 Introdução
200 Glossário
201 Referências
202 Gabarito
203 CONCLUSÃO
Professora Me. Luciene Maria Pires Pereira
I
AS INVASÕES BÁRBARAS: O CONTATO
ENTRE “BÁRBAROS” E ROMANOS
UNIDADE
E A TRANSFORMAÇÃO DO ANTIGO
IMPÉRIO ROMANO
Objetivos de Aprendizagem
■ Conhecer as tribos bárbaras que adentraram as fronteiras do antigo
Império Romano e as regiões nas quais se instalaram, verificando
de que maneira essas tribos contribuíram para a transformação do
Império Romano do Ocidente.
■ Analisar as características dos povos bárbaros, evidenciando sua
organização política, econômica, social e cultural.
■ Discorrer acerca do primeiro contato entre os bárbaros e os romanos,
evidenciando a fusão dos elementos das duas culturas e sua
consequência para a formação da sociedade medieval.
■ Analisar a formação do Império Carolíngio, acentuando sua
relevância dentro do período medieval.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Aspectos da organização e cultura dos povos bárbaros
■ Os bárbaros e os limites do Império Romano
■ A relação entre as invasões bárbaras e a desestruturação do Império
Romano
■ O reino dos Francos e a formação do Império Carolíngio
15
INTRODUÇÃO
fundamente a aparência”.
Diante da relevância desses povos para a formação da sociedade medieval
e tendo em vista que é da fusão entre os elementos da cultura dos povos que
viviam fora dos limites do Império e da cultura romana que a sociedade do perí-
odo medieval foi moldada, é preciso que nosso estudo tenha início com uma
compreensão acerca dos elementos que caracterizavam esses povos, vistos pelos
antigos romanos como bárbaros.
Após conhecermos os elementos que compunham o conjunto de caracterís-
ticas dos povos bárbaros, analisaremos as conjunturas que marcaram a relação
entre bárbaros e romanos nos limites do Império, buscando compreender os
fatores que motivaram as invasões e suas consequências.
Por fim, analisaremos o desenvolvimento do reino dos Francos e a formação
do Império Carolíngio, bem como demonstraremos a sua relevância para o nas-
cimento da sociedade medieval e sua relação com a Igreja Católica. Tudo isso,
enfatizando a aliança entre Estado e Igreja por meio da coroação de Carlos Magno
e as consequências dessa aliança para o desenvolvimento da sociedade medieval.
A partir das discussões realizadas nesta unidade, será possível a compre-
ensão do processo de organização da sociedade medieval na medida em que as
características mais conhecidas em relação a Idade Média refletem elementos e
aspectos herdados dos diversos povos bárbaros que ocuparam o Ocidente e for-
maram os chamados reinos bárbaros a partir do século V.
Introdução
16 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ASPECTOS DA ORGANIZAÇÃO E DA CULTURA DOS
POVOS BÁRBAROS
compunham esses povos e que contradizem suas ações diante dos romanos. De
acordo com a autora, é preciso cuidado com generalizações desse tipo, pois elas
nos levam a desconsiderar outras formas de atividades e de organizações, e até
mesmo a repensar a ideia do estabelecimento de relações e interesses comuns
entre bárbaros e romanos.
Apenas para ilustrarmos uma discussão que será retomada e aprofundada
no próximo tópico, vale destacar que os bárbaros mantinham uma relação com-
plexa com os romanos, caracterizada pela alternância de momentos conflituosos
– devido às incursões bárbaras ao Império Romano – e de momentos de rela-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tiva harmonia entre ambos os povos, períodos nos quais eram realizadas, até
mesmo, trocas e comércio entre as duas culturas, por meio das fronteiras. Além
disso, muitos bárbaros eram contratados para integrarem o exército romano.
Desse modo, podemos observar a intenção de Serrano (1995), apresentada
anteriormente, ao chamar nossa atenção para generalizações, pois, ao difundir
a ideia de que aos povos bárbaros descendiam todos da mesma etnia, podemos
incorrer no risco de relativizar as características e as conjecturas que marcaram
o desenvolvimento das relações entre as duas culturas, características que, assim
como veremos mais adiante, foram fundamentais para a criação de uma cultura
oriunda do contato entre bárbaros e romanos.
Após considerarmos os apontamentos
acerca dos perigos de generalizarem a origem
e a ascendência dos povos bárbaros sob o risco
de nos equivocarmos ao tratarmos de suas
características, podemos avançar no estudo
dos elementos que compunham esses povos.
Para começarmos, é interessante voltarmo-nos
ao emprego da palavra “bárbara” para denomi-
narmos os povos que viviam fora das fronteiras
de Roma.
Os romanos utilizaram a palavra “bárbara”
com um sentido pejorativo para denomina-
Figura 1 - Diferenças entre as
vestimentas e armas correspondentes a rem os povos que viviam fora de seus limites,
diferentes tribos bárbaras
Fonte: Portal do Professor (2011, on- devido ao fato de que esses povos possuíam
line)1.
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definida. Além disso, um desses povos, os Francos, serão, posteriormente, res-
ponsáveis pela formação de um vasto império, capaz de submeter outros reinos
ao seu domínio e elevar o prestígio da Igreja Católica.
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Embora houvesse a figura do rei, os povos bárbaros eram divididos em tribos,
as quais eram governadas por chefes militares que governavam de acordo com
uma democracia militar, isto é, as decisões eram tomadas em conjunto. Ao chefe
eleito pela assembleia, cabia o dever de dirigir o exército em tempos de guerra
e decidir sobre as questões políticas juntamente com a comunidade. Em detri-
mento do fato de que os homens bárbaros eram grandes militares, aqueles que
não participassem das guerras ou abandonassem uma batalha, era lhe retirado o
direito de participar das assembleias.
Os povos bárbaros eram politeís-
tas e não possuíam uma organização
religiosa baseada em complexas hie-
rarquias e/ou rituais, como no caso
do cristianismo. Entre esses povos,
cabia, aos chefes das tribos e outros
membros da família, a realização
ou a condução das práticas adota-
das por eles. Entre os elementos de
adoração dos bárbaros, destacam-se
os elementos da natureza, animais e
seres mitológicos, além de alguns
objetos os quais acreditavam pos- Figura 2 - Deus nórdico Odin com corvos e espadas.
Ilustração gráfica no anel. Ornamento celta.
suir algum tipo de poder. Entre as Fonte: Shutterstock
divindades, a mais importante era
Odin, deus da guerra.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Fonte: Shutterstock
para tentar submeter os inimigos ao seu domínio. Assim como os romanos pre-
cisavam manter a segurança de seus domínios, os bárbaros também precisavam
lutar contra outros povos bárbaros para manter o domínio das regiões recém-
-alcançadas e, para isso, chegaram a formar alianças com os romanos para evitar
o avanço de outros povos.
Perceba que essa aproximação e instalação em regiões próximas ou dentro
dos limites de Roma, caro(a) aluno(a), permitiu a organização de alianças entre
bárbaros e romanos, que foram, simultaneamente, a salvação e a desarticulação
do Império Romano. Além disso, por meio desse contato, foram possibilitadas
as trocas culturais relevantes para a formação da sociedade medieval, que, como
já fora abordado, é o reflexo da fusão entre essas duas culturas.
Diante disso, caro(a) aluno(a), é perceptível que as relações entre bárbaros
e romanos, desde os primeiros contatos, desenvolveram-se de maneira com-
plexa e de acordo com as conjunturas históricas do momento. Percebemos,
também, que o fato de os bárbaros estarem fora dos limites do Império não os
tornavam aliados entre si. Ao contrário, a história desses povos mescla uma
política de alianças entre eles contra os romanos ou contra outros povos bár-
baros, e de alianças com os romanos contra os próprios bárbaros. Tudo isso,
permeado pelas circunstâncias históricas do momento e de acordo com os
interesses de todos os envolvidos.
Não foi apenas a partir de acordos e alianças políticas e militares que bárba-
ros e romanos desenvolveram suas relações. O comércio entre esses dois povos
também se fez presente nesse complexo cenário de aproximação. Em troca de
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mercadorias, como escravos e peles, por exemplo os romanos entregavam, aos
bárbaros, metais preciosos, vinho (bebida que não era consumida pelos bárba-
ros) e até mesmo tecidos e utilidades domésticas.
Como resultado desse contato entre bárbaros e romanos, as fontes historiográ-
ficas nos mostram, caro(a) aluno(a), que tanto romanos quanto bárbaros adotaram
e adaptaram, para a sua cultura, hábitos e costumes uns dos outros. Elementos
presentes na vestimenta, na alimentação, nas técnicas agrícolas e de construção,
nas artes e no vocabulário foram incorporados ao cotidiano de ambos os povos.
De acordo com Serrano (1995), com os romanos, os bárbaros conheceram o
conceito de monarquia, diplomacia e propriedade privada, assim como entraram
em contato com suas instituições jurídicas. Já os romanos, ao entrarem em con-
tato com os bárbaros, além de poderem contar com a força e a estratégia deles
em seu exército, também aprenderam novas táticas militares e adotaram novos
cortes de cabelo e tipos de vestimenta. Além disso, o comércio com os bárbaros
significava uma alternativa para o escoamento dos produtos romanos.
Essa “colcha de retalhos” em que se transformaram as relações entre bárbaros
e romanos traz, em si, os pormenores do contato entre esses dois povos, os quais,
ao lançarmos um olhar mais atento e profundo, podem nos revelar os aspectos que
compunham cada povo e a maneira como cada qual lidava com as estruturas sociais.
Atenção!
De acordo com a historiadora Rosa Serrano (1995, p. 32), romanos e bárbaros,
na realidade, assemelhavam-se na medida em que ambos possuíam uma atitu-
de baseada na prepotência, invasão e saque de recursos.
Fonte: a autora.
Fonte: Shutterstock.
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período de crise que, agravada pela chegada dos bárbaros, provocou a ruptura e
a divisão do Império em Império Romano do Ocidente, com capital em Roma,
e Império Romano do Oriente, com capital em Constantinopla, sendo que o
Ocidente entrou em um período de estagnação que contribuiu para o avanço
dos povos bárbaros em seu território.
Os povos que participaram da primeira onda migratória conseguiram deses-
tabilizar e modificar as estruturas do Império Romano do Ocidente no século
V, enquanto o Império Romano do Oriente conseguiu resistir às invasões e se
manter firme até o século XV.
PRIMEIRA ONDA
Desmembramento Oriental Hunos; Alanos; Godos
(SÉCULOS IV-V)
Desmembramento Ocidental Vândalos; Suevos; Burgúndios
SEGUNDA ONDA
Francos; Alamanos; Bávaros
(SÉCULOS V-VI)
TERCEIRA ONDA
Lombardos
(SÉCULOS VI-VII)
Ávaros
Fonte: Musset (1975).
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As fontes indicam que uma série de fatores contribuiu para a penetração dos bár-
baros no território do Império Romano. De acordo com medievalistas, a primeira
onda de invasões foi provocada, sobretudo, pela proximidade entre bárbaros e
romanos desde o momento em que os primeiros passaram a ocupar pontos pró-
ximos à fronteira e a ocupar cargos no exército romano.
É importante destacarmos aqui, caro(a) aluno(a), que a aproximação dos
primeiros povos bárbaros ao território de Roma ocorreu devido às pressões exer-
cidas sobre eles por outros povos, mais fortes ou cruéis. Isto é, mesmo entre os
que viviam em territórios distantes das fronteiras do Império havia tensão e con-
flitos que obrigavam os mais fracos a fugirem em busca de novas regiões para se
estabelecerem. Essa luta entre os povos bárbaros é um aspecto importante a ser
considerado nos estudos acerca da invasão do Império Romano, uma vez que, ao
fugirem de seus territórios de origem, os bárbaros uniam-se uns aos outros, mes-
clando seus elementos culturais e avançando até chegarem ao Império Romano.
Consta, ainda, entre as razões que contribuíram para a chegada dos bárbaros ao
território romano, fatores, tais como o deslocamento em busca de novas terras,
devido às mudanças climáticas em suas regiões de origem e ao aumento popu-
lacional, que levou à procura de regiões que pudessem atender às necessidades
de seus indivíduos. Impulsionados por esses fatores, em maior ou menor grau,
os bárbaros atingiram o território do Império Romano, ultrapassaram seus limi-
tes e modificaram as bases desse Império.
Tabela 3 - Território Ocupado pelas Principais Tribos Bárbaras
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Figura 6 - Invasão dos Hunos
Fonte: Wikipedia Commons (2014, on-line)5.
Diante disso, caríssimo(a) aluno(a), fica evidente que, embora as invasões tenham
um peso significativo no processo de decadência e no fim do Império Romano,
as estruturas do Império já estavam abaladas e comprometidas antes da che-
gada destes povos. Embora os bárbaros buscassem ocupar e dominar o território
romano, após as invasões e a instalação dos reinos, muitos povos adotaram alguns
costumes dos romanos e até convidaram romanos para tomarem parte na admi-
nistração desses reinos. Além disso, os bárbaros não se mostraram desfavoráveis
a todas as instituições romanas, ao contrário, optaram por manter algumas delas
durante sua administração.
Com a chegada e a instalação dos bárbaros, ocorreu uma transformação nas
estruturas de Roma que levou ao fim da organização político-administrativa,
conhecida como Império Romano do Ocidente. Surge, a partir dessas invasões,
um novo mapa da Europa, configurado, agora, pela formação dos reinos bárbaros.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
(Jacques Le Goff )
O reino dos Francos merece destaque em nossos estudos, caro(a) aluno(a), devido
ao fato de ter se transformado no reino mais poderoso entre os povos germâni-
cos e constituído um império que submeteu vários outros povos ao seu domínio.
Além disso, estabeleceu uma aliança com a Igreja Católica, fortalecendo o poder
dos seus reis, fato que teve, como consequência, a coroação de um “bárbaro”
como imperador do Império Romano no século IX.
Os Francos estabeleceram-se no território do antigo Império Romano no
século V e dominaram a região da Gália. Foram, até o século VIII, expandindo
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mudança de cenário na política franca. Os francos atribuíam grande valor ao
princípio do juramento e da fidelidade, princípios que serão a base das relações
ao longo da Idade Média.
A partir do desfalecimento do poder dos reis, devido a várias divisões do
território franco e da ascensão ao cenário político-administrativo da aristo-
cracia que habitava aquela região, a
dinastia merovíngia entrou em declí-
nio e novos personagens surgiram na
tentativa de tomar o poder. Dentre
esses personagens, chama-nos a aten-
ção Pepino de Herstal, por ser ele o
indivíduo que conseguiu chegar ao
poder e assumir o comando da dinas-
tia merovíngia.
Com Pepino, a história dos
francos assume uma nova direção
e, quando seu filho bastardo, Carlos
Martel, após a sua morte, assume o
governo, os francos retomaram sua
política expansionista, sendo Martel
o responsável por ampliar os domí-
nios dos francos, com destaque
para a Batalha de Poitiers, em 732,
Figura 8 - Reconstituição de um antigo guerreiro franco
Fonte: Wikimedia Commons (2014, on-line)8. quando derrotou os muçulmanos
foi pensada ou planejada, sendo uma surpresa, inclusive, para ele. No entanto,
Halphen (1992) chama a atenção para o fato de que Carlos Magno não só sabia
que seria coroado no Natal de 800, como planejou cada passo nos dias que ante-
cederam a coroação. Além disso, a coroação representava um agradecimento da
Igreja a Carlos Magno pelas doações valiosas que ele e seus antecedentes fizeram
à Igreja. Surpresa ou não, fato é que a coroação de Carlos Magno por um Papa
foi algo inédito no Ocidente e representou o início de uma nova era ocidental.
Não podemos nos esquecer, caro(a) estudante, de que já existia um impe-
rador na parte oriental de Roma, o qual só reconheceu a autoridade de Carlos
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Magno enquanto imperador do Ocidente mediante a entrega dos territórios loca-
lizados no mar Adriático para Bizâncio. Depois de realizada a entrega, Carlos
Magno conseguiu o total reconhecimento da sua autoridade enquanto impera-
dor e pôde dar sequência aos seus planos de expansão e de constituição de um
vasto e poderoso império.
romanos de bárbaros.
É importante lembrar, caro(a) aluno(a), que estamos nos referindo a uma época
em que a palavra era um bem precioso e tinha o peso de um contrato nos tem-
pos de hoje. Assim, ao fazer o juramento, o indivíduo oferecia, como garantia,
ao imperador, o que de mais precioso ele tinha: sua palavra.
Essa relação de fidelidade, assim como o princípio da vassalagem, ambos pre-
sentes no governo de Carlos Magno, serão a base das relações na Idade Média,
assim como a ruralização da economia – processo iniciado com as invasões bár-
baras – e a propriedade da terra vão conferir as bases do feudalismo medieval.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
pai, e somente em 843, com a assinatura do Tratado de Verdun, os limites que cabiam
a cada um foram definidos: a França Ocidental ficou com Carlos, o Calvo; a França
Oriental coube a Luís, o Germânico, e a Itália Setentrional e o Mar do Norte passaram
às mãos de Lotário. Essas regiões correspondem à atual França, Alemanha e Itália.
Diante do que foi exposto até aqui, caro(a) aluno(a), é possível observamos a
relevância da formação e do desenvolvimento do Império Carolíngio para a for-
mação da sociedade medieval, haja vista ter sido, neste período, que os alicerces
da sociedade do período em questão foram consolidados. Além disso, a aliança
entre Estado e Igreja, firmada no governo de Carlos Magno, será mantida ao
longo de toda Idade Média.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
QUADRO EXPLICATIVO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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bárbaros já encontraram um império desestabilizado e enfraquecido, o que con-
tribuiu para o avanço e o deslocamento desses povos dentro do Império, assim
como a sua instalação em diversas regiões antes dominadas por Roma. O contato
entre bárbaros e romanos foi marcado por guerras e conflitos, mas também pelo
estabelecimento de relações comerciais e até mesmo pela incorporação de indi-
víduos não romanos no exército e em outros cargos administrativos do Império.
Essa infiltração gradativa de elementos bárbaros na vida política, adminis-
trativa e cultural de Roma possibilitou a aceleração da desintegração do Império
Romano e a criação de uma realidade marcada pela descentralização do poder e
o esfalecimento de atividades econômicas importantes, as quais foram estabeleci-
das em outros momentos. Essa nova realidade permitiu aos povos não romanos
o estabelecimento e o fortalecimento dos seus elementos culturais junto à cul-
tura romana, desenvolvendo as bases do período conhecido como Idade Média.
Nesse sentido, podemos observar a importância da formação dos reinos
bárbaros para os rumos da civilização ocidental, sobretudo se levarmos em con-
sideração a história da formação e do desenvolvimento do reino dos Francos e
o consequente estabelecimento do Império Carolíngio, o qual, sob o governo de
Carlos Magno, conseguiu transformar as bases da sociedade e contribuir para a
criação de uma sociedade pautada nos laços de fidelidade e no poder da Igreja
Católica.
3. A imagem a seguir representa o reino dos Francos no século VI. Com base na
imagem e nas discussões propostas nesta unidade, assinale a alternativa cor-
reta:
Renascimento Carolíngio?
A Idade Média foi vista pelos intelectuais do período renascentista e pelos iluministas
como um período de obscuridade e no qual houve pouco ou nenhum avanço cultural
se comparado ao período anterior, ou seja, à Antiguidade Clássica. Desse modo, a Idade
Média ganhou a alcunha de “Idade das Trevas”, ideia nascida a partir da utilização da
expressão “tenebrae” por Petrarca, no século XIV, ao referir-se aos seus contemporâneos.
Apesar dessas visões acerca da Idade Média, Vieira (2010, p. 80) destaca que os Francos
foram importantes para a formação da sociedade medieval e para um desenvolvimen-
to cultural que unia elementos germânicos e romanos por meio da interferência cristã.
Esse desenvolvimento cultural foi incentivado por Carlos Magno, que entendia que a
“otimização das instituições do reino estava diretamente relacionada à capacidade de
promoção da melhoria educacional da aristocracia” (VIEIRA, 2010, p. 82). Com esse pen-
samento, Carlos Magno buscou, em todo Ocidente, intelectuais, letrados e estudiosos, a
fim de promover o aperfeiçoamento da elite franca, entendida, aqui, como os membros
da aristocracia e do clero.
A essa atitude de Carlos Magno, Vieira (2010) dá o nome de movimento cultural e inte-
lectual carolíngio e apresenta uma discussão historiográfica, a fim de analisar se esse
investimento de Carlos Magno pode ser considerado um renascimento, nas mesmas
proporções ou conjunturas em que ocorreu o renascimento italiano.
Não há dúvida de que Carlos Magno preocupou-se em organizar seus domínios de ma-
neira a manter o processo de conquista e ampliação do seu Império, organização que
passava pela formação de um clero e de dirigentes capazes de auxiliá-lo em seus ob-
jetivos. No entanto, os investimentos do imperador nesse sentido foram direcionados
apenas a parte da sociedade de seu império, o que, em última análise, não diferia muito
do que ocorreu ao longo de toda a Idade Média.
Fonte: Vieira (2010, p. 79-86).
GLOSSÁRIO
As Invasões Bárbaras
Pierre Riche
Editora: Publicações Europa-América
Sinopse: o autor retoma o processo de chegada dos povos bárbaros
aos limites do Império Romano e sua posterior invasão e dominação,
destacando as conjunturas que marcaram esse processo e as
consequências do contato entre bárbaros e romanos para o futuro da
sociedade europeia.
Material Complementar
REFERÊNCIAS
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7 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Fran%C3%A7ois-Louis_Dejuin-
ne_(1786-1844)_-_Clovis_roi_des_Francs_(465-511).jpg>. Acesso em: 21 nov.
2018.
49
REFERÊNCIAS
8 Em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Francos#/media/File:Carolingian_Warrior.
jpg>. Acesso em: 21 nov. 2018.
9 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Frankish_Empire_481_to_814-pt.
svg>. Acesso em: 21 nov. 2018.
10 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Carolingian_empire_843-pt.svg>.
Acesso em: 21 nov. 2018.
11 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Le_royaume_des_Francs_en_
548-pt.svg>. Acesso em: 21 nov. 2018.
12 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Migra%C3%A7%C3%A3o_dos_
Povos_B%C3%A1rbaros.png>. Acesso em: 21 nov. 2018.
GABARITO
II
ASPECTOS DA FORMAÇÃO
UNIDADE
E DA CONSOLIDAÇÃO DA
IGREJA CRISTÃ MEDIEVAL
Objetivos de Aprendizagem
■ Conhecer o processo de nascimento do cristianismo e o contexto
histórico que permeou seu desenvolvimento.
■ Compreender os fatores que levaram à divisão da Igreja Católica e os
aspectos e consequências dessa divisão.
■ Analisar e discutir o poder e a influência da Igreja Católica ao longo
da Idade Média.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ O nascimento do cristianismo e o fortalecimento da doutrina cristã e
da Igreja Católica
■ Consolidação e influência da Igreja Católica na Idade Média
■ A Igreja Medieval e o controle social: a dominação pela fé
■ O Tribunal do Santo Ofício: A Inquisição
53
INTRODUÇÃO
Introdução
54 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O NASCIMENTO DO CRISTIANISMO E O
FORTALECIMENTO DA DOUTRINA CRISTÃ E DA
IGREJA CATÓLICA
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
AS RAÍZES JUDAICAS DO CRISTIANISMO
Não restam dúvidas de que o cristianismo tem suas raízes em outra religião, o
judaísmo, até mesmo porque Jesus era judeu. De acordo com Blainey (2012, p. 16),
“o termo ‘judeu’ vem de ‘Judá’, território que ocupava metade da estreita faixa de
terra à margem do Mar Mediterrâneo, há muito conhecida como Palestina”. No
período em que estamos tratando, ou
seja, do nascimento de Jesus ao advento
do cristianismo, essa região era domi-
nada pelo Império Romano.
Jerusalém era considerado territó-
rio sagrado para os judeus, sendo que
lá fora, construído pelo rei Salomão, o
templo de adoração da religião judaica.
Conforme aponta Blainey (2012), com
a morte do rei Salomão, seu reinado foi
dividido em dois: Israel, ao norte, e Judá
ao sul. Em 587 a.C., os poderosos babi-
lônios conquistaram Jerusalém em um
dos eventos traumáticos na longa his-
tória de um povo que suportou vários
Figura 1 - Mapa mostrando a região da Judéia (ao
sul de Samaria e da Galiléia) no primeiro século infortúnios e desastres.
EC, quando era uma província romana.
Fonte: Wikimedia Commons (2017, on-line)1.
elenses-Judeus-Sans-Sionismo.pdf>.
Após um período de dominação por outros povos, em 142 a.C., os judeus recu-
peraram seu território e viveram livres da dominação estrangeira até o ano de
63 a.C., quando os romanos chegaram e ocuparam seu território. Mesmo sob o
domínio dos romanos, os judeus conseguiram manter suas tradições e religião,
embora demonstrassem respeito e lealdade ao governante romano.
Como já exposto, os judeus eram monoteístas, isto é, acreditavam em um
só Deus:
(...) invisível e imortal, detentor de enorme poder e conhecimento e de
uma imensa capacidade de sentir amor e raiva. Tendo criado o ser hu-
mano à sua imagem, e tendo-o dotado de livre-arbítrio, concedeu-lhe o
direito de escolher entre o bem e o mal. Se obedecesse às leis de Deus,
seria ajudado por Ele (BLAINEY, 2012, p. 18).
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A EXPANSÃO DO CRISTIANISMO PELO IMPÉRIO ROMANO
Jesus, como uma maioria significativa daqueles que habitavam a Galileia, per-
tencia a uma família humilde, tornou-se carpinteiro e não fazia parte da elite
da sociedade e, portanto, não exercia influência no poder político da região em
que vivia. No contexto de sofrimento, miséria e descaso que esses indivíduos
se encontravam, Jesus encontrou as bases para desenvolver o seu pensamento
questionador e disseminar suas ideias, que abrangiam tanto questões políticas
quanto religiosas, já que ambas as questões, no momento em que vivera, esta-
vam entrelaçadas.
A figura de Jesus Cristo, no âmbito histórico, possui aspectos que não são de-
monstrados na Bíblia e, por essa razão, atrai o interesse de vários estudiosos.
Para conhecer um pouco mais sobre o processo de formação do “Jesus his-
tórico” em contraste com o Jesus retratado na Bíblia, acesse: <http://revistas.
pucgoias.edu.br/index.php/fragmentos/article/view/2229/1380>.
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Influenciado pelas ideias de João Batista, que acredita-se que, era seu primo, e
pelos princípios do judaísmo, Jesus iniciou sua pregação falando, inicialmente,
para pequenos grupos que o seguiam tanto nas sinagogas quanto em espaços
públicos. Com um discurso que mostrava a situação da Palestina e que endos-
sava a teoria judaica de que, em breve, Deus enviaria um messias para livrar o
povo daquela situação, não demorou muito para que Jesus conseguisse atrair um
número considerável de pessoas interessadas em ouvir suas teorias e o seguir
nas suas andanças.
Cabe ressaltar, aqui, caro(a) aluno(a), que, diante do contexto histórico em
que os habitantes da Palestina encontravam-se, é fácil compreender porque
Jesus conseguiu tantos seguidores a ponto de transformar-se em uma ameaça à
unidade do Império Romano, assim
como veremos a seguir. Quando um
indivíduo encontra-se em uma situ-
ação ruim e sem esperança, acreditar
em alguém que ofereça um caminho
para o fim do seu sofrimento, cami-
nho este, embasado por uma oratória
que encantava, é quase inevitável.
Questionando a situação social
do seu tempo, pregando a adoração
de um único Deus, Dele dizendo-se
Figura 2 - Ruínas da antiga cidade de Roma, um dos
filho e difundindo o amor e a união maiores pontos turísticos da Europa
Fonte: Shutterstock.
entre os homens, Jesus passou a ser considerado perigoso pelo governo de Roma.
Afinal, suas pregações iam de encontro à forma de administração do Império e
toda sua organização, o que oferecia um risco à manutenção da ordem vigente.
A primeira geração dos cristãos era tida como relacionada com os judeus,
e o Judaísmo era reconhecido pelo governo como religião permitida, ape-
sar de os judeus viverem separados dos costumes idólatras e não comerem
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alimentos usados nas festas dos ídolos. Esta suposta relação preservou os
cristãos por algum tempo da perseguição. Entretanto, após a destruição de
Jerusalém, no ano 70, o Cristianismo ficou isolado, sem nenhuma lei que
protegesse seus seguidores do ódio dos inimigos.
Fonte: Hurlbut (2002, p. 59).
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viveram sob a égide da Idade Média encontraram, na Igreja e seus ensinamen-
tos, o conforto e a esperança para organizarem suas vidas e atividades. Mesmo
que, aos nossos olhos, o direcionamento que a Igreja Cristã oferecia aos súditos
medievais não se assemelhe às nossas concepções, não significa que estivessem
erradas ou que os indivíduos daquele período fossem ignorantes a ponto de acei-
tarem o que, para nós, parece absurdo. Apesar das atitudes hoje consideradas
questionáveis e corruptas, não podemos nos esquecer, caro(a) acadêmico(a), de
que o ofício do historiador reside em despir-se de todos os preconceitos, valo-
res e quaisquer julgamentos que nos acompanhem hoje, para olharmos para os
acontecimentos do passado com os olhos do passado, ou seja, analisar os fatos
dentro do contexto histórico em que ocorreram e com imparcialidade.
de seus membros e colocar a Igreja, aos olhos dos indivíduos, como uma ins-
tituição séria e forte. Nesse sentido, observamos que a adoção de medidas e de
instrumentos pela Igreja tinha, por objetivo, regular a vida em sociedade e, nos
períodos quando a ausência de um poder central forte ameaçava a ordem esta-
belecida, mostrar, aos medievos, o caminho a ser seguido para a consolidação
de uma vida harmoniosa, de sucesso e marcada pelos ensinamentos divinos.
Será diante dessas conjunturas que a Igreja Cristã desenvolverá, ao longo de
toda a Idade Média, uma estrutura eclesiástica e administrativa que servirá como
reguladora para a vida em sociedade. Dentro dessa estrutura, encontraremos a
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criação de inúmeros mosteiros e abadias que tinham por objetivo levar a dou-
trina cristã a todas as regiões da Europa. Assistiremos, também, o surgimento
de várias ordens religiosas que, cada uma com suas particularidades, tinham por
objetivo ampliar o alcance dos ensinamentos cristãos.
Como vimos, caro(a) estudante, a Igreja Cristã exerceu grande poder e forte
influência na condução e na organização da vida dos indivíduos da era medie-
val. E, em uma sociedade na qual o poder político encontrava-se fragmentado,
a Igreja representava um elemento aglutinador dos povos e costumes do perí-
odo, desempenhando um papel central nas relações político-administrativas
dos reinos medievais.
Estudamos, na unidade anterior, a formação dos reinos bárbaros nos limites
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do antigo Império Romano e o surgimento de um líder bárbaro que se tornaria
figura central na formação das bases da sociedade medieval, qual seja, Carlos
Magno, que se tornou imperador no século IX, com o apoio do Papa Leão III, e
iniciou um processo de conquista sobre outros povos bárbaros, ampliando seus
domínios e consolidando a força e poderio do chamado Império Carolíngio. Com
a ampliação de seus domínios, Carlos Magno ampliou, também, os domínios
do cristianismo e promoveu a conversão de vários outros povos. Encontra-se,
neste fato, a razão pela qual o Papa Leão III apoiou a ascensão de Carlos Magno
a chefe do Império, isto é, o Papa viu, na política expansionista de Carlos Magno,
a possibilidade de ampliar, também, o poderio e a influência do cristianismo.
A partir de Carlos Magno, as relações entre Igreja e Estado estreitaram-se e a
figura do imperador representava,
também, uma autoridade religiosa.
No entanto, cabe lembrar, caro(a)
aluno(a), que, embora o impera-
dor exercesse um papel importante
nas questões religiosas, a Igreja era
comandada pelo Papa e cabia a ele
exercer o poder espiritual.
A aproximação entre Igreja
e Estado, a partir da coroação de
Carlos Magno, originou o Sacro
Fonte: Wikimedia Commons (2016, on-line)3. Império Romano Germânico, que
retratava a união dos territórios da
Essa proximidade entre Igreja e Estado pode parecer confusa aos nossos
olhos. No entanto, não podemos perder de mente que, no momento ao qual
nos referimos, a aliança entre essas duas instituições era importante e repre-
sentava o fortalecimento e o crescimento de ambas.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
veu uma reforma na Igreja, conhecida como reforma gregoriana, que consolidou
o poder papal sobre o poder dos imperadores. Com essa reforma, Gregório VII
colocou fim à questão das investiduras, proibindo que os imperadores nomeas-
sem aqueles que ocupariam os cargos importantes dentro da estrutura eclesiástica.
A partir da reforma gregoriana, a Igreja retomava o caminho de líder suprema
do poder espiritual na Terra, sendo os papas submissos apenas a Deus, e não
mais aos imperadores. Dessa maneira, a Igreja, ao mesmo tempo em que buscava
retomar o caminho dos ensinamentos de Cristo, objetivava, também, suplantar
o poder exercido pelos senhores feudais.
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narquia que diferia de muitas maneiras importantes, da adotada pelos
césares romanos. Na religião, igualmente, os primeiros cristãos interes-
savam-se por sutilezas filosóficas de um tipo que por um longo tempo
atraíram os gregos, mas nunca haviam perturbado demais romanos ou
judeus (LEWIS, 1996, p. 44).
A Igreja do Ocidente, com sede em Roma, após o século IV, passou por transfor-
mações e se adaptou à nova realidade resultante da chegada dos povos bárbaros
e da sua instalação no antigo Império Romano. Como já foi exposto na uni-
dade anterior, caro(a) aluno(a), a dominação dos povos bárbaros no território
do Império Romano resultou na modificação das estruturas de organização da
sociedade e na criação das bases sobre as quais se ergueu a civilização da Idade
Média, que uniu elementos dos povos recém-chegados com elementos da cul-
tura romana. E, quando tratamos da união de elementos da cultura de ambos
os povos, referimo-nos, também, à questão da religião.
O cristianismo, no Ocidente, conviveu durante muito tempo com o polite-
ísmo dos povos bárbaros e, depois, com o paganismo. Mesmo quando atingiu o
status de religião oficial
do governo de Roma, as
discussões e os conflitos
não cessaram. Debates
e divergências acerca da
doutrina cristã domina-
ram a Igreja Católica ao
longo da antiguidade e
acentuaram as diferen-
ças entre as Igrejas do
Figura 9 - A Igreja Ortodoxa Grega dos Santos Apóstolos ou Igreja dos
Ocidente e do Oriente. Apóstolos Igreja no centro do Mosteiro ortodoxo grego em Cafarnaum
perto da costa do Mar da Galileia em Israel
Fonte: Shutterstock.
Tabela 1 - Principais diferenças entre a Igreja Católica Apostólica Romana e a Igreja Católica Ortodoxa
ELEMENTOS
IGREJA CATÓLICA
DOUTRINÁRIOS E IGREJA ORTODOXA
APOSTÓLICA ROMANA
FILOSÓFICOS
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O Papa está sempre
Não aceita a doutrina da
Figura do Papa correto em suas delibe-
infalibilidade do Papa.
rações.
É a terceira pessoa da
Santíssima Trindade O Espírito Santo procede
O Espírito Santo
e procede do Pai e do apenas do Pai.
Filho.
Admite apenas o Juízo
Admite o conceito do Ju-
Universal e, portanto,
Purgatório ízo Particular, logo após
não acredita no Limbo e
a morte.
no Purgatório.
Concebida sem pecado Concebida com o pecado
Nossa Senhora
original. original.
São realizadas festas
Festas de Devo- Não existem festas de
de devoção, como a de
ção devoção.
Corpus Christi.
Imagens Religio- Na Igreja, são aceitas Só aceitam ícones nos
sas imagens de santos. templos.
Os sacerdotes podem
Os sacerdotes são celiba-
Celibato optar pelo celibato ou
tários.
matrimônio.
Fonte: a autora.
iniciou uma campanha contra as Igrejas de orientação latina (como era conhe-
cida a Igreja do Ocidente), em Constantinopla. Somando-se a essa perseguição às
divergências doutrinárias entre as duas Igrejas, o diálogo entre elas chegou a um
impasse. Diante dessa situação, o Papa Leão IX enviou a Constantinopla, em 1054,
o cardeal Humberto, com o objetivo de resolver o impasse. O resultado foi que o
cardeal Humberto excomungou o patriarca de Constantinopla, Miguel Cerulário.
Entendendo esse ato do cardeal Humberto como um desrespeito a toda
Igreja do Oriente e não reconhecendo a autoridade da Igreja de Roma no seu
território, Cerulário excomungou o cardeal Humberto e todo o séquito enviado
por Roma. Esse fato marcou a ruptura definitiva entre a Igreja do Ocidente e a
Igreja do Oriente, e ficou conhecido como o Grande Cisma do Oriente. A partir
do Grande Cisma do Oriente, formaram-se a Igreja Católica Ortodoxa Grega,
no Oriente, e a Igreja Católica Apostólica Romana, no Ocidente.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A IGREJA MEDIEVAL E O CONTROLE SOCIAL: A
DOMINAÇÃO PELA FÉ
[...] para considerar de início a história mais remota das heresias, vale lem-
brar que a partir do final do século II as heresias começam a ser cataloga-
das por aqueles que conseguiram fazer prevalecer seus posicionamentos
nestes séculos iniciais de formação da Igreja cristã – tanto na sua vertente
oriental como ocidental. No século V, já teremos um texto importante de
Santo Agostinho denominado De heresibus, que a certa altura lista nada
mais nada menos que 88 heresias, transmitindo esta listagem para períodos
mais avançados da Idade Média. Do mesmo modo, Santo Isidoro enumera
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
nas Etimologias, escritas no século VII, 70 heresias. Isto nos dá uma ideia do
gesto de arbitrariedade que de algum modo pauta a intenção de classificar
pensamentos heréticos que se desviam da “ortodoxia”, isto é, do pensamen-
to que pretensamente descenderia em linha reta do pensamento de Cristo
ou dos primeiros Padres da Igreja conforme as autoridades eclesiásticas do-
minantes.
Fonte: Barros (2010, p. 4-5).
NOME CARACTERÍSTICAS
Maniqueísmo Pregava a existência de forças do bem e do mal, ambas igual-
mente poderosas.
Ebionismo Seita com raízes no judaísmo, que não aceitava a divindade
de Cristo.
NOME CARACTERÍSTICAS
Arianismo Ário afirmava que Cristo não era igual a Deus, colocando-o
abaixo de Deus e negando a ideia de que era eterno.
Catarismo Defendia a existência de um deus bom (que criou os espíri-
tos) e de um deus mal (que criou a matéria).
Fonte: a autora.
Para conter o avanço das heresias e garantir a sua hegemonia no período medie-
val, a Igreja Católica lançou mão de medidas, tais como a instalação do Tribunal
do Santo Ofício ou Tribunal da Santa Inquisição e as Cruzadas.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
antemão. Era proclamada em ofícios nas igrejas, anunciadas em elabo-
radas proclamações nas portas das igrejas e quadros de avisos públicos;
e os que sabiam ler logo informavam aos que não sabiam [...]. Depois,
de assim orquestrar seu aparecimento, ele colocava todos os moradores
e eclesiásticos locais, aos quais pregava um solene sermão sobre sua
missão e o objetivo de sua visita. Convidava então [...] todas as pessoas
que quisessem confessar-se culpadas de heresia a apresentar-se. Os sus-
peitos de heresia recebiam um “tempo de graça” [...] para denunciar-se.
QUADRO EXPLICATIVO
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- Formação do Sacro Império Romano
- Divisão do Impé- Germânico.
rio Romano (395).
- Igreja do Ocidente = autônoma.
- Coroação de Car-
IGREJA - Igreja do Oriente = subordinada ao
los Magno, no Natal
MEDIEVAL Imperador.
de 800.
-Ocidente: Igreja Católica Apostólica
- Cisma do Oriente
Romana.
(século XI).
- Oriente: Igreja Ortodoxa.
- Ideias e/ou atitudes que negavam ou
- Heresias. contrariavam a doutrina cristã.
INQUISIÇÃO - Tribunal do Santo - Investigar e julgar as acusações de
Ofício. heresia e os hereges.
- Controle político e social.
Fonte: a autora.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos ao fim de mais uma unidade. Espero que tenha aproveitado ao máximo
a nossa viagem às origens do Cristianismo e compreendido como a Igreja Cristã
transformou-se, desde o seu nascimento até sua consolidação, como a institui-
ção mais importante do período medieval.
Revisitamos a Antiguidade Clássica para compreendermos o contexto no
qual o Cristianismo surgiu e pudemos observar como essa corrente doutriná-
ria e filosófica foi importante para o processo de transição da Antiguidade para
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Considerações Finais
82
2. A figura de Jesus Cristo e a doutrina difundida por ele e seus seguidores não
conquistaram, de imediato, o apoio do governo romano, visto que os primeiros
anos do Cristianismo foram marcados pela perseguição dos adeptos às ideias
difundidas por Jesus Cristo. Aponte e explique os motivos pelos quais os impe-
radores romanos promoveram uma verdadeira caça aos cristãos, o que resul-
tou na morte de Jesus Cristo.
3. “Mais ainda do que no campo da história política ou econômica, é muito di-
fícil dizer, no que diz respeito à vida espiritual, quando acaba a Antiguidade
e quando começa a Idade Média. Entretanto, muitos elementos nos levam a
pensar que a passagem de um tipo de religiosidade para outro foi bastante tar-
dia. De fato, o essencial da herança cultural do cristianismo foi assumido, pelo
menos em um primeiro tempo, pelos reinos bárbaros que se edificaram sobre
as ruínas do Império Romano, e às vezes até’ enriquecido por eles, como se
constata na Espanha visigótica” (VAUCHEZ, 1995, p. 11). Analise as afirmações a
seguir sobre o processo de consolidação da Igreja Cristã na Idade Média:
I. Pode-se afirmar que a expansão do Cristianismo, na Idade Média, ganhou
força a partir da coroação de Carlos Magno pelo Papa Leão III, no ano de 800,
sendo Carlos Magno o primeiro Imperador a querer criar um império cristão.
II. No decorrer da Idade Média, após a fragmentação do Império Carolíngio,
a Igreja perdeu espaço para outras correntes filosóficas que, aos olhos dos
medievos, ofereciam melhores respostas aos seus anseios, diante de uma
sociedade sem uma figura política forte.
83
O Nome da Rosa
Umberto Eco
Editora: Nova Fronteira
Sinopse: no século XIV, um frade franciscano é enviado a um mosteiro
beneditino, na Itália, para investigar uma série de mortes que ocorreram
em um curto intervalo de tempo. O livro narra os elementos que permeiam
essa investigação e mostra aspectos da Igreja Cristã Medieval e o poder que ela exercia sobre a
vida e o pensamento do homem medieval.
Giordano Bruno
Ano: 1973
Sinopse: o filme aborda o julgamento e condenação do matemático e
filósofo Giordano Bruno. Acusado de defender teorias que iam contra as
doutrinas da Igreja Católica, Giordano Bruno foi julgado pelo Tribunal do
Santo Ofício na Itália e condenado à morte em 1600.
Embora o filme aborde um processo inquisitorial após o fim da Idade
Média, é possível compreender como essa instituição funcionou desde a
sua criação, assim como a postura da Igreja Católica diante daqueles que ousaram questionar
seus princípios.
REFERÊNCIAS ON-LINE
1 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:First_century_palestine-es.svg>.
Acesso em: 21 nov. 2018.
2 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Theodosius.jpg>. Acesso em: 21
nov. 2018.
3 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Sacre_de_Charlemagne.jpg>.
Acesso em: 21 nov. 2018.
4 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Holy_Roman_Empire_1000_ma-
p-es.svg>. Acesso em: 21 nov. 2018.
5 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Panorama_of_Constantinople,_
Melchior_Lorck,_Sheet_14,_1559.jpg>. Acesso em: 21 nov. 2018.
6 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Muro_das_Lamenta%C3%A7%-
C3%B5es.jpg>. Acesso em: 21 nov. 2018.
7 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Monasterio_de_Tatev,_Arme-
nia,_2016-10-01,_DD_83-85_HDR.jpg>. Acesso em: 21 nov. 2018.
89
GABARITO
III
ANÁLISE DO PROCESSO DE
UNIDADE
FEUDALIZAÇÃO: ESTRUTURAS
SOCIAIS, POLÍTICAS E ECONÔMICAS
Objetivos de Aprendizagem
■ Compreender o conceito de feudalismo.
■ Analisar o processo que resultou na feudalização da Europa.
■ Conhecer e compreender os elementos que compõem a estrutura
social da sociedade feudal.
■ Verificar a organização política e econômica da Europa medieval a
partir do advento do feudalismo.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Características do feudalismo e elementos da sociedade feudal
■ Fragmentação do poder político na Europa feudal: a formação da
nobreza senhorial
■ Modo de produção feudal
■ Aspectos culturais da sociedade feudal
93
INTRODUÇÃO
Introdução
94 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
CARACTERÍSTICAS DO FEUDALISMO E ELEMENTOS
DA SOCIEDADE FEUDAL
FEUDO CARACTERÍSTICA
Terra Concessão de uma propriedade de terra cujo tamanho variava.
A concessão de um castelo não implicava, necessariamente, a
Castelo
concessão da terra.
Autoridade
Concessão do direito de ocupar um cargo público.
Pública
Função de Concessão do direito de exercer o poder de justiça em determi-
Direito nada região.
Concessão do direito de receber uma renda em prazos deter-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Feudo de Bolsa
minados.
Feudo de
Elementos que compunham a armadura de um cavaleiro.
Loriga
Feudo de Um devedor concedia um bem ao seu credor, como uma espé-
Fiança cie de penhor.
Propriedade
Propriedade isenta de obrigações feudais.
Alodial
Um proprietário renuncia a sua propriedade em benefício de
Feudo de
outro senhor, tornando-se vassalo deste. Em seguida, recebe
Reprise
novamente a propriedade como feudo.
Fonte: a autora.
Franco Jr. (1985) destaca quatro fatores que contribuíram para a formação do
sistema feudal, sendo eles:
1. O processo de transição de uma economia baseada na agricultura para o
desenvolvimento comercial na Antiguidade e, com a chegada dos bárba-
ros, a decadência das atividades comerciais e a retomada da agricultura
como atividade principal.
2. O enrijecimento da hierarquia social.
3. A fragmentação do poder central.
4. O desenvolvimento das relações de dependência pessoal.
SOCIEDADE TRIPARTIDA
A casa de Deus que parece uma é, portanto, tripla: uns rezam, outros comba-
tem e outros trabalham. Todos os três formam um conjunto e não se sepa-
ram: a obra de uns permite o trabalho dos outros dois, e cada qual, por sua
vez, presta seu apoio aos outros.
(Hilário Franco Júnior)
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Já estudamos, neste livro, a conso-
lidação do poder e da influência
do cristianismo e da Igreja ao
longo do período medieval.
Portanto, o fato de o clero ser a
camada social com mais poder
e prestígio dentro dessa divisão
social a qual nos referimos não
nos causa espanto.
Aos membros da Igreja, era
delegada a função de orar e cuidar
das questões religiosas da socie-
Figura 2 - Representação das três classes sociais: clero,
nobreza, povo
dade medieval, buscando ajuda
Fonte: Oliveira ([2018], on-line)1. divina para assegurar a proteção
espiritual dos medievos. Os mem-
bros do clero também desempenhavam um papel importante no aspecto cultural
do período, haja vista o fato de que possuíam formação erudita e, por essa razão,
eram os responsáveis pela elaboração dos documentos sagrados do período,
transmitindo, por meio de livros e textos, conhecimento e informações impor-
tantes para o estudo e entendimento da história do cristianismo, da Igreja e da
própria sociedade medieval.
Sobre o papel do clero e da Igreja, Franco Júnior (2001, p. 120-121) destaca:
Foi por intermédio dela que se deu a conexão entre os vários elementos
(já anteriormente presentes) que comporiam aquela formação social.
Dividida em Alto Clero (composto pelo papa, bispo e abade), Baixo Clero (for-
mado pelo padre e o vigário) e, ainda, em Clero Secular (aqueles que exerciam suas
funções perto do povo) e Clero Regular (membros que ficavam reclusos nos mos-
teiros e nas abadias), a Igreja fez-se presente não só no que tange à espiritualidade
dos medievos, mas também em todos os outros aspectos da vida em sociedade.
A segunda ordem ou camada
que compõe a sociedade medie-
val é a ordem dos bellatores, ou
seja, a nobreza militar, e o que
nos interessa, neste momento, é
como ela se organizou e exerceu
sua função dentro da sociedade
medieval. Os nobres, grandes
proprietários de terras e também
chamados de senhores feudais,
Figura 3 - Bruxelas, Bélgica, 19/07/2016. Janelas de vitral
como afirmado anteriormente, medievais na Igreja Católica de Nossa Senhora abençoada de
Sablon (Eglise Notre Dame Du Sablon). A Igreja é conhecida
tinham, entre suas obrigações, por suas duas magníficas capelas barrocas.
Fonte: Shutterstock.
a função de proteger o território
do Ocidente em períodos de guerras. Em suas terras, construíram grandes caste-
los cercados por muralhas que também serviam à proteção.
Essa nobreza encastelada era a responsável, dentro dos limites de suas ter-
ras, pela segurança também daqueles que a servia. Desse modo, cabia ao senhor
feudal garantir a paz e a segurança de sua família e de seus servos. A ele, tam-
bém era atribuído o poder de exercer a justiça cível e criminal.
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monarca pouco interferia na admi-
nistração de um domínio feudal.
Figura 4 - Representação de um nobre medieval e seu Em decorrência do seu papel mili-
castelo
tar e da sua significância política e
Fonte: Shutterstock.
econômica, a nobreza feudal trans-
formou-se em classe poderosa e, ao lado do clero, determinou os rumos da
sociedade medieval.
A última camada que compunha a pirâmide social da Idade Média era a ordem
dos laboratores. Essa ordem englobava os indivíduos que não pertenciam ao
clero, nem faziam parte da nobreza, o que significa dizer que era a ordem na
qual estava inserida a maior parte da população medieval. Eram os camponeses
livres, os servos e os burgueses.
Historiadores, tais como Le Goff (1993), Duby (1998) e Franco Júnior (2001)
demonstram, em suas análises, que esse setor da sociedade medieval era o res-
ponsável pela manutenção da ordem econômica do período. Sem o trabalho,
sobretudo, dos servos camponeses, não seria possível manter a estrutura que
se desenhou desde a fragmentação do Império Carolíngio. Sobre esses indiví-
duos, recaiu a responsabilidade do trabalho, essencial para a manutenção da
ordem vigente.
Fonte: a autora.
Características do Feudalismo e Elementos da Sociedade Feudal
102 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Fonte: a autora.
Entre os séculos VIII e X, a Europa Ocidental sofreu uma nova onda de invasões,
dessa vez, dos Vikings (também denominados Normandos), os quais ocuparam
o litoral europeu; dos Húngaros, que se instalaram em regiões da Europa Central;
e dos Sarracenos, que conquistaram a parte meridional da Europa Ocidental,
ocupando regiões consideradas sagradas pelos cristãos, por fazerem parte da
história de Jesus Cristo e do cristianismo.
A chegada desses povos provocou uma desordem na Europa Ocidental, con-
tribuindo para o enfraquecimento do poder real, abalado diante do cenário de
destruição que as invasões causaram. Diante da nova onda de invasões, aque-
les que comandavam o Ocidente precisaram adotar medidas, a fim de proteger
o Sacro Império ao longo desses três séculos. Diante disso, coube, à nobreza, a
tarefa de proteger os limites do Sacro Império contra os novos invasores.
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Figura 5 - Ocupação escandinava entre os séculos VIII e X escandinavos nos séculos VIII a X
Fonte: Wikimedia Commons (2014, on-line)2.
Embora Bloch (2009) afirme que a nobreza, dentro do seu entendimento do termo
nobre, apareça apenas após o século XII, ele mostra que o termo já era usado
desde o século IX para distinguir os indivíduos de acordo com seu nascimento
e sua fortuna. Por essa razão, corriqueiramente, encontramos, nos documentos
acerca da Idade Média e do feudalismo, o título de nobre associado à linhagem
de homens detentores de grandes propriedades rurais.
O historiador Franco Júnior (1985, p. 37) demonstra que os homens que
compunham a nobreza, no período medieval, tinham origem diversa. De acordo
com o autor:
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VASSALAGEM E FIDELIDADE
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a dependência pessoal, em si. E isto, fosse qual fosse, aliás, a natureza
jurídica exacta do vínculo e sem ter em conta qualquer distinção de clas-
se. O conde era «o homem» do rei, tal como o servo o era do senhor da
sua aldeia. Por vezes, era até no mesmo texto que, com poucas linhas de
intervalo, condições sociais radicalmente diferentes eram assim evoca-
das, uma após outra: tal como, cerca do final do século XI, a petição de
monjas normandas que se queixavam de que os seus «homens» - isto
é, os seus camponeses- fossem obrigados por um alto barão a trabalhar
nos castelos dos «homens» deste: entenda-se, os cavaleiros, seus vassalos.
O equívoco não era chocante pois apesar do abismo entre as camadas
sociais, a acentuação exercia-se sobre o elemento fundamental comum:
a subordinação de indivíduo a indivíduo. Todavia, se o princípio deste
laço humano impregnava toda a vida social, as formas que revestia não
deixavam de ser singularmente diversas. Com transições, por vezes qua-
se insensíveis, das classes mais elevadas às mais humildes. Acrescente-se
que, de país para país, havia muitas divergências (BLOCH, 2009, p. 178).
As relações feudo-vassáli-
cas eram instituídas por meio
de cerimônia com caráter tam-
bém religioso, visto que, como
já discutido em vários momen-
tos, a Igreja e a fé eram elementos
intrínsecos à vida dos medievos.
Essa cerimônia era chamada de
homenagem e consistia em um
ritual de juramento de fidelidade
e da investidura do feudo.
A cerimônia que instituía
Figura 6 - Rolando jura lealdade a Carlos Magno, a partir
os laços de suserania e vassala- de um manuscrito do século XIV
gem era composta por três atos, Fonte: Wikimedia Commons (2014, on-line) .
3
jurou o mesmo sobre as relíquias dos santos. Finalmente, com uma va-
rinha que segurava na mão, o conde deu a investidura a todos aqueles
que por este fato tinham prestado lealdade, homenagem e juramento
(BRUGENSE, 1856, p. 591 apud PEDRERO-SÁNCHEZ, 2000, p. 96).
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Figura 7 - Símbolos de elementos que compunham a cerimônia de vassalagem
Fonte: Shutterstock.
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fundamental na organização da sociedade, visto que seria por meio dela que
esse novo modelo de sociedade se estruturaria. Por essa razão, a posse ou a pro-
priedade da terra se tornou um elemento de segurança e status social, ou seja,
o valor e a importância de um indivíduo dentro da sociedade passaram a ser
determinados pela posse da terra.
Concluído esse processo,
determinou-se uma das
principais características do
mundo medieval e que pos-
sibilitou o desenvolvimento
das relações pessoais discu-
tidas anteriormente. Nesse
sistema, temos os membros
Figura 8 - Campos agrícolas, prados e madeiras ao redor da
da nobreza senhorial como
cidade medieval de Gruyères articuladores das atividades
Fonte: Shutterstock.
a serem desenvolvidas. Em
sua propriedade, perceberemos o funcionamento dos elementos que caracteri-
zam a economia e a sociedade medieval.
dependentes do senhor feudal, a quem deviam pagar a corveia, uma das formas
de manutenção das rendas dos senhores feudais.
Até o século XI, não houve avanços das técnicas de produção. Por isso, o
sistema de produção baseava-se em um esquema de rotação trienal de culturas,
que facilitava a produção e evitava o desgaste do solo, garantindo a produção e
o sustento de toda a unidade feudal. As rendas oriundas das atividades agríco-
las eram destinadas ao senhor e também à Igreja. Desse modo, essa instituição
tornou-se extremamente rica, sendo a maior proprietária de terras do período.
Até esse momento, a economia feudal caracterizava-se por ser de subsistência e
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sem o uso de moeda, sendo que a troca de produtos era o meio pelo qual se realizava
a compra dos produtos que não eram produzidos na propriedade. O fato de estar-
mos nos referindo a um período de descentralização do poder político e marcado
pela falta de um sistema jurídico e monetário único para toda a Europa colabo-
rou para que as atividades comerciais demorassem a voltar a se desenvolverem.
A partir da segunda metade do século XI, inicia-se uma mudança nas estru-
turas dos senhorios, uma vez que o uso da moeda começou a se intensificar. Essa
mudança veio acompanhada
da mudança na mentalidade
da época e por inovações téc-
nicas que os historiadores
chamaram de revolução agrí-
cola. A revolução significou um
maior investimento nas técni-
cas de produção, o que levou ao
consequente aumento da pro-
dução e ao aparecimento de Figura 10 - Moedas de prata utilizadas na Europa
Medieval
um excedente que passou a ser Fonte: Shutterstock.
comercializado.
Essa atividade de comércio do excedente da produção foi a responsável
pelo renascimento comercial e urbano, um dos elementos que contribuiu para
o declínio da Idade Média e o nascimento da época moderna, fato sobre o qual
voltaremos a discutir na última unidade deste livro.
Fonte: Shutterstock
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Os membros do clero eram aqueles que detinham o saber, produziam os
livros e controlavam o ensino no período medieval. Essa é uma das razões
pelas quais os estudiosos dos séculos seguintes consideraram a cultura me-
dieval atrasada em relação ao período greco-romano.
para o latim, em uma tentativa de a Igreja de utilizar tais textos para vali-
dar a doutrina cristã. As escolas criadas na Idade Média e até as primeiras
universidades serviram como meio de difusão da cultura cristã medieval.
Nesse sentido, colocaram a existência de um único Deus como o centro
para todas as questões, ou seja, a escolástica reafirmava a máxima de Deus
como centro do universo por meio de uma argumentação racional base-
ada na filosofia.
Aqueles que questionaram o
pensamento escolástico e propu-
seram novas interpretações do
mundo medieval enfrentaram a ira
da Igreja e acabaram sendo acusa-
dos de heresias, sendo submetidos
ao julgamento do Tribunal do
Santo Ofício. Muitos daqueles que
passaram pelo crivo da Inquisição
Figura 11 - São Tomás de Aquino, um dos grandes nomes
foram condenados e mortos por da filosofia escolástica medieval, na Igreja da Magdalena /
Sevilha, Andaluzia, Espanha
não corroborarem com o pensa- Fonte: Wikimedia Commons (2017, on-line) . 4
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
sobre o Mestre Tomás de Aquino, disponível em: <http://www.hottopos.
com/notand32/03terezinha.pdf>.
QUADRO EXPLICATIVO
Conjunto de elementos
econômicos, políticos,
FEUDALISMO Século X a XV. sociais e culturais basea-
do no uso da terra e nas
relações feudo-vassálicas.
Clero (oratores).
Sociedade Tripar- Nobreza (bellatores).
tida. Servos, camponeses
SOCIEDADE Fragmentação livres e burgueses (labo-
FEUDAL Política. ratores).
Ruralização da Eco- Senhores Feudais.
nomia. Atividades baseadas no
uso da terra.
Elo entre os medievos e
Influência política, as instituições medievais.
IGREJA CATÓLICA econômica, social e
Controle social.
cultural.
Pensamento Escolástico.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
118
2. “Pelo menos até o século X, ‘nação’ tinha conotação apenas étnica: natione vem
de ‘nascimento’. Na Primeira e na Alta Idade Média, prevaleceu o princípio ju-
rídico germânico da personalidade das leis, quer dizer, cada pessoa era regida
pelos costumes de seu povo, independentemente do lugar em que estivesse.
O princípio jurídico romano da territorialidade das leis, ou seja, a submissão aos
costumes locais, qualquer que fosse a origem da pessoa, reganharia força aos
poucos, sobretudo a partir do século XII. Somente então ‘nação’ passou a ter
caráter também geográfico e político” (FRANCO JÚNIOR, 2001, p. 65). O poder
político, na Idade Média, encontrava-se fragmentado, sendo os senhores feu-
dais os responsáveis pela administração política e jurídica de seu feudo. Após o
estudo dos aspectos políticos da sociedade feudal, é correto afirmar que:
a) O fortalecimento da nobreza senhorial, no período medieval, efetivou-se no
contexto de instalação do feudalismo, apresentando-se como elemento ne-
cessário para o desenvolvimento das atividades comerciais.
b) Dentro da estrutura de organização da sociedade tripartida, os senhores
feudais ocupavam um lugar importante na pirâmide social medieval. No
entanto, seus poderes eram limitados pelo clero, a quem cabia o dever de
organizar e de comandar, politicamente, o Ocidente medieval.
c) O feudalismo contou com um modelo político-administrativo fundamenta-
do na existência de poderes locais, em que uma das consequências foi a de-
sunião dos súditos e o enfraquecimento das instituições que caracterizam
um Estado de fato.
d) As relações feudo-vassálicas caracterizavam-se por um ritual no qual o mo-
narca (reis, duques, príncipes ou imperadores) reconheciam a fragilidade de
seus poderes e se submetiam ao comando da nobreza senhorial, jurando-
-lhe lealdade e fidelidade.
e) Dentro da estrutura do feudalismo, o clero desempenhava papel secundá-
rio, já que sua atuação limitava-se às questões ligadas à fé dos indivíduos.
Até mesmo seu poder econômico era reduzido, pois, de acordo com a dou-
trina cristã, a posse de terras ou de bens valiosos era condenada.
3. “Dos vários estágios do desenvolvimento histórico relacionados por Marx no
Prefácio de The critique of political economy - os modos de produção ‘asiático,
o antigo, o feudal e o burguês moderno’, o feudal e o capitalista foram aceitos
sem problemas sérios, enquanto a existência ou universalidade dos outros dois
tem sido contestada ou negada. Por outro lado, o problema da transição do
feudalismo para o capitalismo provavelmente deu origem a discussões mar-
xistas mais numerosas do que qualquer outro relacionamento com a periodi-
zação da história mundial” (HOBSBAWM, 1977, p. 201). Baseado na leitura da
unidade, referente aos aspectos econômicos do mundo medieval, destaque as
características do modo de produção feudal.
120
O Senhor da Guerra
Ano: 1965
Sinopse: o filme narra a história de um nobre cavaleiro enviado
para defender o território do Duque da Normandia, invadido
por bárbaros. A história se passa no século XI e é uma excelente
oportunidade de observar a sociedade do período, sobretudo os
aspectos da nobreza guerreira.
Vida Medieval - Documentário produzido pelo History Channel e que tem por objetivo
apresentar aspectos da vida cotidiano dos medievos.
Web: <https://www.youtube.com/watch?v=ADAWkyDLKBc>.
123
GLOSSÁRIO
Clero Regular: Membros da Igreja que ficavam reclusos nos mosteiros e abadias.
Direito Consuetudinário: Direito resultante dos costumes e das tradições de uma
sociedade.
Escolástica: Forma de pensamento elaborada na Idade Média, com o objetivo de
explicar a doutrina cristã, por meio de textos clássicos da filosofia antiga.
Feudalismo: Conjunto de elementos econômicos, políticos, sociais e culturais da
sociedade medieval entre os séculos X e XV e que tinha, na propriedade da terra e
nas relações feudo-vassálicas, as bases de sua organização.
Feudo: Concessão feita, gratuitamente, por um senhor ao seu vassalo em troca de
prestação de serviços.
Inalienável: Que não pode ser vendido ou transferido.
Morgadio: Forma de organização familiar que garantia o direito às propriedades
senhoriais por meio da hereditariedade.
Nobreza Senhorial ou Nobreza Feudal: Indivíduos que possuíam propriedades de
terra e que exerciam também funções militares.
Península Ibérica: Região situada no sudoeste europeu e que compreende os atu-
ais territórios de Portugal e Espanha.
Relações Feudo-vassálicas: Base das relações entre os indivíduos, na sociedade
medieval. Fundamentada em uma espécie de contrato pelo qual um indivíduo co-
locava-se sob a proteção de outro em troca da prestação de serviços de várias es-
pécies.
Revolução Agrícola: Período que corresponde aos investimentos nas técnicas agrí-
colas medievais que possibilitaram o aumento da produção.
Sarracenos: Conceito utilizado pelos medievos cristãos para designarem árabes e
muçulmanos.
Servidão: Regime de trabalho baseado na obrigação de um homem para com outro.
Sociedade Tripartida: Modelo de divisão social sob o qual os direitos e deveres
dos medievos eram determinados, de acordo com a camada social na qual estavam
inseridos.
Suserano: Indivíduo que se colocava como senhor de outro, por meio de conces-
sões feudais e garantia de proteção em troca de fidelidade e prestação de serviços.
Vassalo: Indivíduo que, por meio de uma cerimônia, jurava fidelidade a outro ho-
mem, seu suserano, em troca de um feudo e/ou proteção.
REFERÊNCIAS
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tps://revistas.ufrj.br/index.php/ca/article/download/11525/8462>. Acesso em: 26
nov. 2018.
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70, 1988.
______.As três ordens ou o imaginário do feudalismo. 2. ed. Lisboa: Editorial Es-
tampa, 1994.
FOURQUIN, G. História econômica do ocidente medieval. Lisboa: Edições 70,
1991.
FRANCO JÚNIOR, H. Idade Média: nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense,
2001.
______. O feudalismo. São Paulo: Brasiliense, 1985.
GANSHOF, F. L. Que é feudalismo? 4. ed. Portugal: Publicações Europa-América,
1976.
HOBSBAWM, E. Do feudalismo para o capitalismo. In: DOBB, M. et al. A transição do
feudalismo para o capitalismo: um debate. 5. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.
LANGER, J. O poder do imaginário medieval. Revista OPSIS, Catalão, v. 10, n. 2, p.
209-213, jul./dez. 2010.
LE GOFF, A bolsa e a vida: economia e religião na Idade Média. 2. ed. São Paulo:
Brasiliense, 1989.
_______. Para um novo conceito de idade média: tempo, trabalho e cultura no
Ocidente. Lisboa: Estampa, 1993.
PEDRERO-SÁNCHEZ, M. G. História da idade média: textos e testemunhas. São
Paulo: Editora UNESP, 2000.
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htm>. Acesso em: 23 nov. 2018.
2 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Viking_Expansion-pt.svg>. Aces-
so em: 26 nov. 2018.
3 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Rolandfealty.jpg?uselang=pt-
-br>. Acesso em: 26 nov. 2018.
4 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Tom%C3%A1s_de_Aquino.jpg>.
Acesso em: 26 nov. 2018.
125
GABARITO
1. A
2. C
3. Ruralização da economia, poder político fragmentado e descentralizado, socie-
dade tripartida, baseada na prestação de homenagens e juramentos de fidelida-
de (relações feudo-vassálicas).
4. Espera-se que o aluno apresente uma análise destacando que o imaginário me-
dieval tem características próprias do contexto do período, influenciado pelas
questões relativas à religião e ao desenvolvimento da Igreja Cristã Medieval.
5. D.
Professora Me. Luciene Maria Pires Pereira
IV
AS CRUZADAS E AS
UNIDADE
TRANSFORMAÇÕES NA
EUROPA MEDIEVAL
Objetivos de Aprendizagem
■ Analisar o contexto histórico no qual a religião islâmica nasceu.
Compreender o processo que marcou o desenvolvimento e a
expansão dos muçulmanos pelo Oriente e Ocidente, evidenciando as
conjunturas que marcaram a ascensão do Império Muçulmano.
■ Discorrer acerca da formação da cavalaria medieval, enfocando a
análise no processo de formação das ordens militares e suas funções
dentro da sociedade medieval.
■ Analisar o contexto e as conjunturas que levaram ao surgimento
das Cruzadas no século XI, enfatizando as motivações e os objetivos
desse movimento, bem como seus aspectos políticos, econômicos e
sociais.
■ Verificar as transformações ocorridas na Europa Medieval após as
Cruzadas, destacando os aspectos sociais e culturais da interação
com a cultura islâmica.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ O nascimento do Islamismo e a expansão dos muçulmanos
■ Os cavaleiros medievais
■ As Cruzadas: contexto e motivações
■ As Cruzadas no Oriente e no Ocidente
129
INTRODUÇÃO
Introdução
130 UNIDADE IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 1 - Sultão Ahmet Camii, também conhecida como
Mesquita Azul turca, marco islâmico, com seis minaretes,
principal atração da cidade de Istambul, Turquia.
Fonte: Shutterstock.
Foi nesse contexto econômico e social da Península Arábica que, em 570, nas-
ceu Maomé, ou Mohamed, um comerciante que se tornou o responsável pelo
nascimento do Islamismo e iniciou a expansão da nova religião. No ano de 610,
Maomé teve uma revelação que mudou os rumos não só de sua vida, mas também
de toda sociedade árabe. De acordo com Armstrong (2001, p. 42), “(...) Maomé,
ao acordar, se percebeu subjugado por uma presença devastadora, que o estrei-
tava firmemente até ele ouvir as primeiras palavras de um novo livro sagrado
árabe que saiam de seus próprios lábios”.
Somente dois anos após essa visão, Maomé iniciou sua pregação, a qual
refletia, também, as preocupações políticas e sociais do profeta. Com o desen-
volvimento do comércio e a prosperidade da cidade de Meca, Maomé acreditava
que os valores humanos haviam se perdido. Além disso, as doutrinas religiosas
praticadas pelos impérios persa e bizantino, ou seja, judaísmo e cristianismo,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
cristãos. Suas visões conti-
nuaram a acompanhá-lo e
lhe revelaram que seu des-
tino era reunir os árabes sob
Fonte: Shutterstock.
a égide do islam, palavra
cujo sentido é “submeter-se”.
Aqueles que seguissem Maomé seriam chamados de muslim ou muçulmano, que
significa aquele que se submete por inteiro a Alá (ARMSTRONG, 2001, p. 44).
Os princípios e ensinamentos difundidos por Maomé foram reunidos no
Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos, cuja essência baseava-se na constituição
de uma sociedade pautada nos princípios da compaixão e da igualdade, demons-
trando, claramente, a preocupação social que inquietava Maomé ao longo de sua
vida. Tendo passado a vida em uma região pressionada por cristãos e judeus,
Maomé sofreu influências de ambas as religiões e, por essa razão, é possível per-
cebermos algumas semelhanças entre o islamismo, o cristianismo e o judaísmo.
Em relação ao cristianismo, podemos citar, como exemplo das semelhanças,
o fato de que a mensagem de Deus e as revelações ouvidas por Maomé foram
transmitidas pelo anjo Gabriel, o mesmo anjo que apareceu para Maria e lhe
revelou que ela seria mãe de Cristo. Além disso, ambas as religiões pregam o
amor ao próximo como a base de uma sociedade que vive de acordo com a von-
tade e os ensinamentos de Deus. Islamismo e judaísmo compartilham a ideia de
que existe uma força maior que comanda todos os elementos da vida humana.
Ambas as religiões têm, como um dos seus princípios, a prática do jejum como
forma de sacrifício e de purificação.
Assim como para judeus e para cristãos, a cidade de Jerusalém também ti-
nha um valor especial para Maomé e os muçulmanos. Por essa razão, quan-
do os descendentes e seguidores de Maomé iniciaram seus planos de ex-
pandir a palavra de Deus e a nova religião islâmica, Jerusalém tornou-se alvo
dos desejos dos árabes muçulmanos.
Fonte: a autora.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O califa Abu Bakr deu continuidade à expansão islâmica iniciada por Maomé,
e seu primeiro trunfo foi conter os conflitos e as revoltas de algumas tribos da
Península Arábica que tentaram afastar-se da comunidade criada por Maomé.
Assim, Abu Bakr conseguiu unificar a Península Arábica, concluindo o desejo
do profeta Mohammed.
O sucessor de Abu Bakr, o califa Umar ibn al-Khattab, governou a Península
Arábica entre 634 e 644 e foi o responsável pela ocupação de territórios vizinhos,
pois invadiu as regiões do Egito, da Síria, do Iraque, dominando regiões dos Impérios
Persa e Bizantino. Jerusalém, cidade importante para os muçulmanos, não foi facil-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
mente conquistada, porque estava fortemente protegida pelas forças bizantinas.
Somente em 638, os muçulmanos conseguiram submeter a cidade ao seu comando.
Os muçulmanos continuaram avançando no objetivo de divulgar e de expan-
dir a fé e os ensinamentos do islamismo. Assim, no século VIII, o islamismo
rompeu as fronteiras do Oriente e alcançou os territórios do Ocidente com a
ocupação da Península Ibérica.
do Ocidente vão ser os elementos que irão deflagrar os conflitos com os cristãos.
Dispostos a recuperar os territórios conquistados pelos muçulmanos, os cristãos
iniciam uma campanha militar, revestida de caráter religioso, contra o avanço
dos muçulmanos, que ficou conhecida como Reconquista Cristã.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Fonte: Shutterstock.
OS CAVALEIROS MEDIEVAIS
No contexto das Cruzadas medievais, a nobreza, com sua função militar e investida
do título de cavaleiros, desempenhou um papel significativo para o desenvol-
vimento da luta contra os inimigos do Ocidente cristão, sobretudo, contra os
infiéis muçulmanos cuja trajetória acabamos de apresentar.
Conforme já discutimos na unidade anterior, cabia à nobreza feudal a tarefa
de defesa dos limites do reino e da Igreja contra os invasores externos que che-
garam ao Ocidente a partir do século VIII. Por essa razão, os nobres medievais
receberam o título de cavaleiros, que trazia em si a personificação do papel de
um nobre e também representava uma distinção social, visto que os cavaleiros
representavam uma camada social importante e que se sobrepunha aos demais
indivíduos, estando abaixo somente do clero.
Um documento do período fornece-nos uma ideia do que representava ser
um cavaleiro no período medieval:
Não é bastante para a grande honra que pertence ao cavaleiro a sua
escolha, o cavalo, as armas e o senhorio, mas é mister que tenha es-
cudeiro e troteiro que o sirvam e cuidem dos seus cavalos; e que as
Merece destaque, ainda, caro(a) aluno(a), que, além da distinção social, tornar-se
um cavaleiro era um marco na vida do indivíduo, pois significava que ele estava
deixando a fase adolescente para ingressar na vida adulta e assumir as responsa-
bilidades que essa condição exigia. Nesse sentido, não nos surpreende o fato de
que essa passagem fosse marcada por um ritual que, como não poderia deixar
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Os Cavaleiros Medievais
138 UNIDADE IV
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gesta do século XI, expressava-se no ardor do combate e na dureza dos
golpes, motivo pelo qual os escritores não tinham nenhum escrúpulo
em narrar a maneira pela qual braços e pernas eram cortados, elmos e
escudos eram fendidos e o sangue do inimigo jorrava diante dos golpes
cortantes das espadas (MAGNOLI, 2006, p. 93).
Com o avanço dos muçulmanos, húngaros e vikings pelo Oriente e pelo Ocidente,
os cavaleiros do período medieval tiveram sua importância elevada. Com o iní-
cio das Cruzadas, eles passaram a constituir ordens de cavaleiros, que, grosso
modo, podemos definir como organizações militares e religiosas.
Como já dito inúmeras vezes ao longo de nosso estudo, a sociedade medie-
val é resultado da fusão de elementos da cultura bárbara com a cultura romana,
e o aspecto guerreiro dos cavaleiros medievais está fortemente entrelaçado com
a cultura bárbara. O caráter militar dessas ordens descendia dos povos bárba-
ros, os quais analisamos na primeira unidade deste livro e observamos sua forte
ligação com as guerras.
O advento das Cruzadas, a partir do século XI, e a criação das ordens mili-
tares e religiosas representou um alívio, se assim podemos dizer, daqueles que
nasceram para combater e eram tomados por uma onda de insatisfação e ques-
tionamento quando a paz e a tranquilidade tomavam a realidade da sociedade
medieval.
Diante dessa realidade, várias
ordens foram criadas, assumindo
funções militares e assistencia-
listas legitimadas pela Igreja.
Destacamos, dentre essas ordens,
a dos Pobres Cavaleiros de Cristo
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Os Cavaleiros Medievais
140 UNIDADE IV
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A Ordem dos Cavaleiros Templários habita o imaginário de muitos estudio-
sos do período medieval. Ao longo da história, muitas lendas em torno dessa
ordem foram criadas, transformando os Templários em personagens envol-
tos por grandes mistérios. A teoria mais difundida é a de que os cavaleiros
Templários tinham, como missão, encontrar e proteger o Santo Graal, um
importante símbolo do cristianismo e de grande valor para a Igreja Cristã.
Fonte: a autora.
uma nova Cruzada. Com a recusa dos Templários, Filipe orquestrou a extinção
da ordem, mandando prender todos os seus membros e confiscando seus bens.
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Figura 5 - A primeira sede dos cavaleiros templários, a Mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém, o monte do
Templo. Os cruzados chamaram-lhe de o Templo de Salomão, já que ele foi construído em cima das ruínas
do templo original, e foi a partir desse local que os cavaleiros tomaram seu nome de templários
Fonte: Wikimedia Commons (2010, on-line)³.
Os Cavaleiros Medievais
142 UNIDADE IV
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Santa. Em suma, era uma instituição religiosa dedicada aos cuidados dos visi-
tantes de Jerusalém. Sua história entrelaça-se com a fundação de hospitais e de
hospícios que abrigavam os peregrinos que viajavam até Jerusalém. Esses esta-
belecimentos foram construídos com a ajuda de fiéis e, sobretudo, dos príncipes,
todos preocupados em “purificar” suas almas dos pecados terrenos. Carlos Magno
foi um dos imperadores que financiaram a construção de um hospício, no século
IX, nessa região, após um acordo com o califa Harum al-Rachid.
No seculo XI, um acordo entre Constantino VIII e o califa Al-Qadir permi-
tiu a reconstrução de igrejas e mosteiros católicos destruídos na época da invasão
muçulmana, em 638. Com esse acordo, várias igrejas, mosteiros e conventos
foram reconstruídos nas proximidades da Terra Santa, e data dessa época o pri-
meiro hospital, edificado próximo ao Santo Sepulcro, cuja administração ficou a
cargo dos beneditinos até o momento da primeira Cruzada, no final do século XI.
Gerardo hospitaleiro era um leigo a quem os beneditinos confiaram a admi-
nistração do primeiro hospital construído em Jerusalém e, após a primeira
Cruzada, ele construiu o segundo hospital, maior que o primeiro, ao anexar
a igreja de São João Batista. No século XII, o Papa Pascoal II emitiu uma bula
reconhecendo a independência do Hospital em relação aos beneditinos e deter-
minava que a Santa Sé seria a responsável direta pelo Hospital. A partir desse
momento, todos os hospitais e hospícios passariam a integrar uma ordem que
responderia diretamente ao papa.
Nascida sobre a égide da religiosidade e com caráter assistencialista, a Ordem
dos Hospitalários transformou-se em ordem militar diante da necessidade de pro-
teção da Terra Santa, no século XII. Apesar do caráter militar e do envolvimento
Os Cavaleiros Medievais
144 UNIDADE IV
nome até o ano de 1809, quando Napoleão Bonaparte determinou sua extinção
e confiscou suas propriedades.
No ano de 1929, no entanto, o Papa Pio XI emitiu uma bula na qual trans-
formava a antiga Ordem Teutônica em ordem clerical cujos membros seriam
sacerdotes, padres e freiras. Hoje, a Ordem Teutônica tem sede na cidade de
Viena, na Áustria.
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Fonte: Shutterstock.
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encontravam em seu domínio. Desse modo, a Igreja conseguiria acalmar o espí-
rito violento dos bellatores. Para a nobreza, além do aspecto religioso que envolvia
a absolvição dos pecados cometidos, a participação nas Cruzadas representava
a possibilidade de ampliar seus territórios e, consequentemente, suas fortunas.
Além disso, os filhos da nobreza que não tinham direito à herança da terra e aos
bens da família enxergaram nas Cruzadas a chance de conquistar suas próprias
terras e evitar um destino incerto.
Os indivíduos da terceira ordem da sociedade feudal foram motivados, tam-
bém, pela oportunidade de absolvição dos pecados e pela possibilidade do acesso
à terra, no caso dos servos e camponeses livres, e, no caso da burguesia, a chance
de expandir o comércio por meio do
acesso às mercadorias e aos artigos
de luxo provenientes do Oriente e até
mesmo pelo estreitamento das rela-
ções com os mercadores dessa região.
As Cruzadas, organizadas com o obje-
tivo de retomar a Terra Santa, ficaram
conhecidas como guerra santa, uma
alusão ao fato de a Igreja Cristã legiti-
mar e apoiar uma prática que levaria
à morte milhares de pessoas.
No decorrer da formação das
Cruzadas, representantes das três Figura 9 - Janela de vitral que descreve um rei católico
falando com seus soldados na Catedral de Tours, na
camadas sociais da Idade Média França / Fonte: Shutterstock.
onde adquirira produtos aos quais não tinha acesso no Ocidente –, foi favore-
cida. Portanto, é fácil compreendermos o apoio italiano e a participação desses
nas Cruzadas, pois, de acordo com Franco Jr.:
Entende-se assim que Veneza tenha desempenhado importante papel
nas Cruzadas, pois tinha no Oriente interesses a defender e estender.
(...) Assim, para ela os interesses comerciais e o combate ao infiel eram
uma mesma coisa, o que facilmente a identificou com as Cruzadas. Na
verdade seu apoio aos cruzados (transporte, provisões, empréstimos)
estava sempre condicionado ao recebimento de privilégios comerciais
nas cidades conquistadas por eles (FRANCO JR. 1997, p. 19).
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As Cruzadas foram movimentos militares incitados e organizados pela Igreja sob
a justificativa da luta contra o inimigo infiel que tomara conta da Terra Santa.
Entretanto, havia outros interesses dos membros da Igreja por trás da organiza-
ção dessas lutas.
Já destacamos que a socie-
dade feudal estava fundamentada
sobre um esquema tripartido, no
qual uma das camadas sociais era
a ordem dos bellatores. Essa ordem
era composta pelos nobres pro-
prietários de terras a quem cabia a
tarefa de proteger os limites dos ter-
ritórios. Sendo assim, essa nobreza
moldou-se e se tornou uma ordem
militar cuja função era guerrear.
Figura 10 - Tomada de Jerusalém durante a Primeira
O período de paz e tranquili- Cruzada
dade, oriundo da consolidação do Fonte: Wikimedia Commons ([2018], on-line)⁷.
feudalismo, pouco deu a esses guerreiros motivos para exercerem suas ativida-
des, fato que, se, por um lado, possibilitou o desenvolvimento econômico, por
outro lado, gerou a instalação de conflitos entre a própria nobreza, causando
certa agitação social.
Diante dessa realidade, a Igreja criou a Paz de Deus, no século X, e a Trégua
de Deus, no início do século XI, movimentos que tinham por objetivo conter os
conflitos no período medieval, visto que eles colocavam em risco os patrimônios
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A mentalidade e o pensamento pouco questionador dos medievos vai ser o
cerne em torno do qual se construirá a crítica dos intelectuais dos períodos
posteriores. O domínio da Igreja sobre os indivíduos desse período e a sub-
missão quase que total às doutrinas impostas pela Igreja e pelo cristianis-
mo, na visão dos intelectuais dos séculos XVI ao XVIII, são os elementos res-
ponsáveis pelo atraso no progresso cultural da Idade Média, em contraste
com a realidade existente na antiguidade clássica, período no qual viveram
grandes nomes da história e da filosofia que contribuíram para a crítica da
realidade.
Fonte: a autora.
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dado de Edessa, em 1114.
Diante do avanço dos muçulmanos, foi organizada a Segunda Cruzada, em
1147, da qual destacamos a participação do rei da França, Luís VII, e o impera-
dor do Sacro Império Romano Germânico, Conrado III. Apesar de conseguir
expulsar os muçulmanos de Lisboa, ao passar pela Península Ibérica, a Segunda
Cruzada não conseguiu atingir seus objetivos e os cristãos foram derrotados.
Além disso, em 1187, Jerusalém foi novamente tomada pelos muçulmanos.
A Terceira Cruzada foi organizada pelo papa Gregório VIII, em 1189, após
a perda de Jerusalém, e ficou conhecida como Cruzada dos Reis, pois dela par-
ticiparam o rei da França, Filipe Augusto, o rei da Inglaterra, Ricardo coração
de Leão, e o imperador do Sacro Império Romano Germânico, Frederico I
Barbarroxa. As forças compostas nessa Cruzada não foram suficientemente
fortes ou organizadas como o contingente islâmico comandado por Saladino.
Por esse motivo, o resultado dessa Cruzada foi o estabelecimento de um acordo
entre cristãos e muçulmanos no qual os cristãos estavam autorizados a retomar
as peregrinações a Jerusalém.
A partir da Quarta Cruzada, convocada pelo papa Inocêncio III, em 1202,
ocorreu uma mudança no perfil dos combates. Embora ainda pautada na justifica-
tiva do combate ao islamismo, a Quarta Cruzada e as subsequentes demonstram
o ideal e os interesses comerciais dos mercadores italianos, visto que estes tive-
ram papel importante no financiamento dessa expedição. Esses cruzados tinham,
por objetivo, consolidar os laços comerciais com o Império Bizantino e, por
essa razão, atenderam ao pedido do príncipe bizantino Aleixo de ajudá-lo a
tomar Constantinopla, conquistada por um usurpador, e devolver o comando
Em 1212, foi organizada uma Cruzada composta apenas por crianças, pois se
acreditava que a pureza das suas almas garantiria o sucesso da expedição. Essa
Cruzada, formada, principalmente, por filhos de camponeses, como é possível
imaginar, fracassou, e os participantes foram mortos, sequestrados ou escravi-
zados antes mesmo de cruzarem o Oriente.
A Quinta Cruzada organizou-se após o IV Concílio de Latrão (1215). O
objetivo dessa Quinta Cruzada, que teve início em 1217, era o de atingir o Egito
para, depois, alcançar Jerusalém. Devido a erros de estratégia, os cruzados foram
novamente derrotados pelos muçulmanos. Em 1228, organizou-se uma nova
Cruzada, a sexta, liderada por Frederico II, imperador alemão que estabeleceu
um acordo de paz com o sultão do Egito Al-Kamir. Por esse acordo, chamado
Tratado de Jafa, os cristãos novamente recuperaram o direito de realizar peregri-
nações a Jerusalém. Além disso, outros territórios foram devolvidos aos cristãos.
No ano de 1248, organizou-se a Sétima Cruzada sob o pretexto da neces-
sidade de combater os mongóis que haviam tomado Jerusalém, em 1244. Essa
nova Cruzada, determinada anos antes no Concílio de Lyon (1245), foi lide-
rada por Luís IX, da França, que tentou ocupar o Egito para, depois, dirigir-se
à Palestina. Mais uma vez, os cristãos são derrotados e, devido a uma série de
eventos, Luís IX é obrigado a voltar para a Europa. Dessa maneira, os muçul-
manos avançaram e derrotaram os mongóis, conquistando o litoral da Síria e a
Palestina entre 1263 e 1268.
A Oitava e última Cruzada também foi liderada por Luís IX, com o apoio
do Duque de Anjou, de Jaime I de Aragão e do príncipe inglês, Eduardo. Ela
teve início em 1270 e o objetivo era chegar à Tunísia para estabelecer relações
comerciais e conseguir privilégios comerciais, além de organizar um ataque aos
inimigos. Mais uma vez, os cruzados fracassaram. Dessa vez, foram derrotados
por uma epidemia que assolou a região.
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No Ocidente, as lutas contra os infiéis muçulmanos foram chamadas de
Reconquista Cristã e se desenrolaram ao mesmo tempo em que os conflitos no
Oriente aconteceram. Ao contrário do que ocorrera no Oriente, o apelo do pro-
cesso de Reconquista Cristã, ao menos no início, tinha um caráter mais voltado
à necessidade da busca por novas terras, decorrentes do crescimento populacio-
nal. Sendo assim, a maioria dos indivíduos que participaram desse processo até
o século X eram pessoas ligadas à posse ou ao trabalho na terra, isto é, os senho-
res de terra e, sobretudo, os camponeses.
O elemento religioso da Reconquista Cristã se fortalece no século XI, quando o
papa Alexandre II recorreu à ajuda dos cristãos para combater os muçulmanos que
ocupavam a Península Ibérica. A partir de então, observamos, no lado ocidental, o
aparecimento dos mesmos elementos que caracterizaram as Cruzadas do Oriente.
Pelo fato de já discutimos exaustivamente os detalhes acerca das motivações
políticas, econômicas e sociais dos embates entre cristãos e muçulmanos nos
tópicos anteriores, não nos deteremos novamente a eles nesse momento. Basta
lembrar, caro(a) aluno(a), que os mesmos elementos estiveram presentes nos
conflitos entre as duas culturas no Ocidente, a partir do século XI.
O processo de Reconquista Cristã no Ocidente não teve o mesmo final que as
Cruzadas no Oriente. Ao contrário do que ocorreu naquela região, os cristãos do
Ocidente conseguiram, ao longo dos séculos XI e XV, expulsar os muçulmanos
da Península Ibérica, livrando as regiões que hoje compreendem os territórios
de Portugal e Espanha.
Figura 13 - Oviedo, Espanha - 17 de julho de 2015: Vitral retratando Pelágio (Pelayo) na catedral de Oviedo,
Espanha. Pelágio começou a Reconquista Cristã da Espanha aos mouros
Fonte: Shutterstock.
QUADRO EXPLICATIVO
■ Maomé.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
■ Expedições militares e religiosas
organizadas com o objetivo de
expulsar os muçulmanos da
Terra Santa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
158
O Caçador de Pipas
Khaled Hosseini
Editora: Nova Fronteira
Sinopse: o livro aborda a o reencontro de Amir com seu passado.
Quando criança, Amir viveu no Afeganistão com seu pai e tinha, como
melhor amigo, o garoto Hassan, filho de um dos empregados de seu
pai. A amizade entre os dois garotos fica estremecida quando Hassan
é atacado e violentado por um grupo de meninos. Amir assiste a cena
escondido e não ajuda o amigo. Tomado pelo remorso, Amir acusa Hassan de roubar seu relógio
e o menino acaba indo embora com o pai. Anos depois, já adulto e morando nos E.U.A., Amir é
avisado de que deve voltar ao Afeganistão para ajudar o filho de Hassan, assassinado por milícias.
A história se desenrola mostrando a luta de Amir para resgatar o filho de Hassan, sequestrado
por membros ligados ao regime Talibã. Embora a história se passe na atualidade do século XX,
é interessante por mostrar os conflitos que ainda existem no Oriente e que têm, como pano de
fundo, divergências religiosas.
O Sétimo Selo
Ano: 1956
Sinopse: o filme de Ingmar Bergman tem, como contexto, as
Cruzadas na Idade Média e é ambientado na região da Suécia.
O roteiro permite observar e analisar aspectos do período e do
indivíduo medieval, além de elementos da cultura e imaginário
medieval, uma vez que o filme foi inspirado na sinfonia de Carl Orff,
Carmina Burana.
REFERÊNCIAS ON-LINE
1 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Map_of_expansion_of_Calipha-
te-pt.svg. Acesso em: 28 nov. 2018.
2 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Seal_of_Templars.jpg>. Acesso
em: 28 nov. 2018.
3 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Jerusalem_Al-Aqsa_Mosque_
BW_2010-09-21_06-38-12.JPG>. Acesso em:28 nov. 2018.
4 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Flag_of_the_Order_of_St._John_
(various).svg>. Acesso em: 28 nov. 2018.
5 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:San_Giovannino_dei_Cavalieri_
stemma_Cavalieri_di_Malta.JPG>. Acesso em: 28 nov. 2018.
6 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Insignia_Germany_Order_Teuto-
nic.svg>. Acesso em: 28 nov. 2018.
7 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:1099jerusalem.jpg>. Acesso em:
28 nov. 2018.
165
GABARITO
V
A BAIXA IDADE MÉDIA E
UNIDADE
AS TRANSFORMAÇÕES NO
OCIDENTE MEDIEVAL
Objetivos de Aprendizagem
■ Analisar as transformações ocorridas no Ocidente medieval com o
advento das Cruzadas.
■ Verificar o processo de renascimento urbano e comercial que atingiu
a Europa medieval após o século XI, evidenciando de que maneira as
relações interpessoais foram influenciadas por esse processo.
■ Compreender o contexto de nascimento das primeiras universidades
na Idade Média e de que maneira a mentalidade da época
foi influenciada pelo modelo de ensino proposto por essas
universidades.
■ Entender os efeitos causados pela chamada Peste Negra, ocorrida
no século XIV, e de que maneira essa epidemia alterou as bases da
sociedade medieval.
■ Analisar o processo de desestruturação do feudalismo e a formação
dos Estados Nacionais Modernos e o seu significado dentro do
contexto medieval.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ O renascimento comercial e urbano
■ O surgimento das universidades medievais
■ A Peste Negra
■ As raízes medievais dos Estados Nacionais Modernos
169
INTRODUÇÃO
Introdução
170 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Com o fim das Cruzadas no século XIII, o Ocidente medieval entrou em um
período de tranquilidade que desencadeou o processo de desenvolvimento
comercial e urbano. O comércio, que ficou em segundo plano no cenário das ati-
vidades econômicas medievais, ganhou um novo fôlego a partir da introdução
de novas técnicas agrícolas adotadas, o que possibilitou um aumento na produ-
ção, gerando um excedente que passou a ser comercializado.
A participação dos comerciantes nas Cruzadas também contribuiu para o
reavivamento dessa atividade econômica, na medida em que eles tiveram acesso
aos mercados do Oriente, onde adquiriram produtos e artigos diversos – como
especiarias, tecidos e outros artigos de luxo – que despertavam o interesse dos
indivíduos no Ocidente, sobretudo, dos membros do clero e da nobreza. Além
disso, com a participação nas Cruzadas, os comerciantes puderam adquirir essas
mercadorias em seus territórios de origens ou próximo a eles, reduzindo os cus-
tos com transporte e com intermediários.
O aumento da circulação dos artigos vindos do Oriente, no interior do Ocidente,
aqueceu o comércio naquela região, visto que o interesse por essas mercadorias
aumentou consideravelmente. A nobreza refinou-se e passou a se interessar pelas
mercadorias trazidas do Oriente, não poupando esforços para adquiri-las. Será
nesse contexto que o comércio medieval se desenvolverá e contribuirá para o nas-
cimento das primeiras cidades medievais. Nesse cenário, o campo gradativamente
perdeu espaço para o mundo urbano, até que, com o fim da Idade Média, a terra
já não era a principal fonte de status na sociedade. As atividades citadinas passa-
ram a ditar as regras do poder.
AS FEIRAS MEDIEVAIS
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Inglaterra à Rússia e à Escandinávia. Os produtos comercializados por essa rota
eram a lã, o sal, os cereais, o vinho e entre outros. A segunda rota fazia a ligação
entre o Ocidente e o Oriente. Nessa região, as cidades italianas de Gênova e Veneza
destacaram-se, nesse período, como importantes centros comerciais. Por meio do
mar Mediterrâneo, essas cidades estabeleceram o comércio com regiões da África,
Alexandria e Bizâncio, e os principais produtos comercializados eram as especia-
rias, o marfim, o ouro e os produtos procedentes da índia e da China.
A criação dessas rotas
comerciais possibilitou o nas-
cimento das chamadas feiras
medievais, que se caracterizavam
pelo encontro de mercadores
oriundos de diversas regiões da
Europa em uma determinada
região, com o objetivo de reali-
zar trocas comerciais e estreitar
Figura 1 - Especiarias
Fonte: Shutterstock.
as relações comerciais entre os
diversos pontos da Europa. As
feiras eram realizadas várias vezes ao ano e sempre nas proximidades das pro-
priedades feudais, geralmente, próximas às estradas. As mais importantes entre
os séculos XI e XIII foram as feiras de Champanhe, na França, em Flandres, atual
Bélgica, e as de Gênova, na Itália.Essa aglomeração nas proximidades das pro-
priedades de senhores feudais está no germe de formação das cidades medievais.
deveriam pagar uma taxa aos prín- Figura 2 - Representação de uma Feira Medieval
cipes ou aos duques. Em troca, os Fonte: Wikimedia Commons (2018, on-line)¹.
dirigentes ofereciam as garantias
necessárias para o funcionamento das atividades comerciais, como proteção,
condições de armazenamento dos produtos e salvo-conduto para os comerciantes.
A importância dessas feiras revela-se, também, no aspecto monetário. A
moeda passou a ser o elemento de troca entre os mercadores e, levando-se em
consideração a concentração de comerciantes das diversas partes da Europa,
existiam, também, vários tipos de moeda, o que, em certa medida, dificultava
as trocas comerciais, devido às diferenças de pesos e de valores.
O período auge das feiras medievais se deu entre os séculos XII e XIII. A
partir do século XIV, as feiras medievais começaram a perder força, devido à
fixação dos comerciantes em determinadas regiões, fazendo com que desapa-
recesse a necessidade de deslocamento para promoverem as trocas comerciais.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
o nascimento de uma nobreza senhorial, a sociedade medieval contava, ainda,
com pessoas ligadas às atividades que não estavam condicionadas, ao menos de
maneira direta, ao uso da terra.
Desse modo, na base da pirâmide social que descrevemos na unidade sobre
o feudalismo, encontravam-se, além dos servos e dos camponeses livres, os
artesãos, pequenos inventores e, certamente, os mercadores e comerciantes. O
trabalho desses indivíduos não estava atrelado às atividades agrícolas ou ao uso
da terra. Eles permaneceram no que sobrou das antigas cidades existentes antes
das primeiras invasões bárbaras e que, após esse episódio, perderam autonomia
e sofreram transformações profundas na sua organização.
A partir do início da Idade Média e, sobretudo, da feudalização da Europa
Ocidental, as antigas cidades romanas ficaram ligadas às propriedades feudais,
estando, sua administração, sob o domínio dos senhores feudais. Além disso,
funcionavam mais como centros religiosos e as atividades econômicas nelas
desenvolvidas tinham caráter secundário dentro do contexto econômico do perí-
odo medieval (PIRENNE, 2009).
Já antes do fim do século XI, estes homens passaram a ser designados atra-
vés do novo termo burguês, porque desde muito cedo, o aglomerado dos
mercadores (concentrado em função dos “burgos” ou das velhas cidades)
foi também rodeado por uma muralha ou por uma paliçada indispensável à
sua segurança, tornando-se assim, por seu turno, um “burgo”.
(Guy Fourquin)
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
concederem a liberdade político-administrativa das regiões que viriam a se con-
solidar enquanto cidades. A esse movimento, os historiadores chamaram de
movimento comunal, pois consistia na tentativa de obtenção de uma comuna,
ou uma carta de franquia, a qual representava o elemento de independência em
relação aos senhores feudais.
De acordo com Fourquin,
Algumas causas da <<revolução comunal>> foram de ordem jurídi-
ca (vontade de escapar aos tribunais senhoriais, duros e inadaptados e
que aplicavam um direito que ignorava o comércio e os mercadores), e
outras de ordem política: a sociedade de negociantes já ricos procurou
sacudir o jugo de uma sociedade <<territária>>, dotando-se de ins-
tituições próprias bem diferenciadas das do meio rural. Mas diversas
outras causas eram puramente económicas: o desenvolvimento comer-
cial era prejudicado pela ineficácia da proteção senhorial em favor das
trocas, dos mercadores de feira que frequentavam o mercado urbano e
as exacções, que muitos senhores exerciam sobre o mundo do negócio,
eram também um obstáculo sério (FOURQUIN, 1991, p. 245).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
indivíduos a elas vinculados. Essas corporações também tinham, por finalidade,
evitar a concorrência entre os comerciantes e os artesãos das cidades, pois impe-
diam que uma associação de profissionais de um mesmo setor se instalasse em
regiões onde já havia uma corporação do mesmo setor produtivo. As corpora-
ções de ofício foram, portanto, unidades importantes para a regulamentação das
atividades comerciais nas cidades medievais.
Embora tenham conquistado autonomia em relação aos senhores feudais, as
cidades medievais ainda eram submetidas ao poder monárquico. Nesse sentido,
os direitos adquiridos por elas eram limitados. Um exemplo disso é o fato de
que as cidades não tinham o direito de cunhar sua própria moeda. Ela era emi-
tida pelo monarca, sendo que seu peso e valor variavam de cidade para cidade,
de região para região, o que dificultava as relações comerciais.
Por causa da existência de várias moedas nesse período da Idade Média, os
comerciantes optaram pelo uso das chamadas letras de câmbio, na tentativa de
facilitar as trocas comerciais e evitar fraudes ou prejuízos. As letras de câmbio
funcionavam como uma garantia de que os comerciantes receberiam o valor cor-
reto das mercadorias em qualquer região em que atuassem.
As letras de câmbio da Idade Média podem, em certa medida, ser compa-
radas a uma nota promissória como a usada na atualidade. No caso da Idade
Média, o comerciante entregava a mercadoria a um comprador de uma deter-
minada região em troca de um papel assinado. Ao voltar para sua cidade, com
esse papel, ele resgatava o valor correspondente da mercadoria entregue.
Desse modo, o renascimento comercial e urbano foram os responsáveis, direta
e indiretamente, pelo aparecimento de uma figura social até então inexistente: o
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que não abria espaço para argumentações ou para questionamentos, sob o risco
de uma acusação de heresia.
Dialética era, na Grécia antiga, a arte do diálogo. Aos poucos passou a ser a
arte de, no diálogo, demonstrar uma tese por meio de uma argumentação
capaz de definir e distinguir claramente os conceitos envolvidos na discus-
são.
[...]
Na acepção moderna, entretanto, dialética significa outra coisa: é o modo
de pensarmos as contradições da realidade, o modo de compreendermos
a realidade como essencialmente contraditória e em permanente transfor-
mação
Fonte: Konder (1981, p. 01).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
UNIVERSIDADES MEDIEVAIS
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A PESTE NEGRA
Como é possível observar por meio da descrição da autora, a doença que tomou
conta da Europa no século XIV trouxe consigo o medo e o desespero diante de
algo nunca visto até então.
Pesquisas recentes apontam para o fato de que a Peste Negra pode ter sido
transmitida por humanos. Para saber mais sobre essas pesquisas, acesse:
<https://www.bbc.com/portuguese/geral-42697733>.
Sobre a Peste Negra ou, ainda, peste bubônica, acredita-se que tenha se origi-
nado em regiões do Oriente e da África, sendo trazida para a Europa Ocidental
pelos navios mercantes que circulavam entre essas regiões desde o século XI. A
doença podia atingir a corrente sanguínea, sendo a contaminação feita por meio
A Peste Negra
186 UNIDADE V
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Figura 7 - Mapa de alcance da Peste Negra no período medieval
Fonte: Wikimedia Commons (2005, on-line)⁴.
A Peste Negra
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com essa tradição e fazer que os indivíduos reconhecessem a autoridade de um rei.
As instituições citadas por Strayer são aquelas cujos laços são impessoais, ao
contrário do que acontecia na sociedade medieval e, até mesmo, do que aconte-
cia anteriormente. Por essa razão, o Estado nascido no final da Idade Média era
algo novo e que tomaria forma e se consolidaria no decorrer dos anos seguin-
tes ao período medieval.
Embora tenhamos mencionado que a formação dos Estados Modernos tenha
beneficiado a burguesia comerciante, isso não significa que a nobreza feudal foi
totalmente desfavorecida. Essa camada social passou a ver com bons olhos a cen-
tralização do poder quando, no século XIV, as revoltas camponesas eclodiram
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QUADRO EXPLICATIVO
Produção de excedentes.
Fortalecimento das relações
Revolução Agrícola
comerciais entre Ocidente e
RENASCIMENTO Oriente.
Cruzadas
COMERCIAL Próximas às propriedades
feudais.
Feiras Medievais
Ponto de encontro entre os
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mercadores medievais.
Emancipação das cidades
da dominação dos senhores
Movimento Comunal feudais.
RENASCIMENTO
URBANO Instituições que regulavam
Corporações de Ofício e orientavam as relações e o
trabalho de artesãos e comer-
ciantes.
Ligadas à Igreja Cristã.
Evolução das escolas Formação dogmática.
NASCIMENTO DAS medievais Escolástica.
UNIVERSIDADES Necessidade de indivíduos me-
Primeiras Universidades lhor capacitados.
Desenvolvimento da dialética.
Surto epidêmico.
Fim do período do desenvolvi-
PESTE NEGRA Século XIV mento da sociedade medieval.
Crise política, econômica e
social.
Apoio ao monarca no processo
ESTADOS Raízes Medievais de centralização política.
NACIONAIS Constituição de elementos que
MODERNOS Apoio da burguesia beneficiavam as atividades da
burguesia.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
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I. As primeiras escolas criadas na Idade Média eram todas ligadas à Igreja, fato
que limitava a expansão do pensamento e o desenvolvimento de um sen-
so crítico. Nessas escolas, os alunos recebiam educação de caráter religioso,
pois eram preparados para a vida eclesiástica.
II. O renascimento comercial e urbano, ocorrido entre o final do século XI e iní-
cio do século XII, contribuiu para que esse cenário se consolidasse. O desen-
volvimento das cidades permitiu que a Igreja Cristã expandisse seu alcance
e domínio, agindo de perto sobre o pensamento dos indivíduos.
III. A ampliação dos estabelecimentos de ensino, somada à concessão de direi-
to de lecionar para novos mestres e a ampliação das traduções de obras de
grandes pensadores clássicos, contribuiu para que se iniciasse a mudança
nos métodos de ensino e na própria forma de pensar dos indivíduos.
IV. As Universidades medievais são reconhecidas pela historiografia como re-
presentações das mudanças sociais pelas quais a Europa medieval passava
nos séculos em questão. O conhecimento intelectual, filosófico e científico
sobrepujava o caráter religioso e doutrinário do conhecimento produzido
até então.
É correto afirmar que:
a) Apenas a II está correta.
b) Apenas a I e III estão corretas.
c) Apenas a II e IV estão corretas.
d) Apenas a IV está correta.
e) Apenas I, III e IV estão corretas.
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3. “No ano do Senhor, 1348, aconteceu sobre quase toda a superfície do globo
uma tal mortandade que raramente se tinha conhecido semelhante. Os vivos,
de fato, quase não conseguiam enterrar os mortos, ou os evitavam como hor-
ror. Um terror tão grande tinha-se apoderado de quase todo o mundo, de tal
maneira que no momento que aparecia em alguém uma úlcera ou um inchaço,
geralmente embaixo da virilha ou da axila, a vítima ficava privada de toda as-
sistência, e mesmo abandonada por seus parentes”. A partir da leitura do do-
cumento apresentado, identifique o tema de que ele trata e o relacione com a
crise na Baixa Idade Média.
Fonte: PAPA CLEMENTIS VI. Vitae Paparum Avenionensium Clementis VI. Primavita. In:______.
MOLLAT, G. (Ed.) Paris: [s.n.), 1915-1922. p. 252.
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Decameron
Giovanni Boccaccio
Editora: L&PM
Sinopse: por meio da narrativa de dez jovens que procuram se isolar
para fugirem da epidemia de Peste Negra que acometeu as cidades
europeias no século XIV, este livro descreve a realidade europeia
naquele momento, enfatizando as características que marcaram
a sociedade medieval nos séculos finais da Idade Média. A obra
descreve o cenário de pânico e questionamentos que se instalou na
Europa com a chegada da Peste, destacando os elementos características da passagem da Idade
Média para a Idade Moderna.
Em Nome de Deus
Ano: 1988
Sinopse: o filme aborda a história do romance entre o teólogo,
mestre e filósofo Abelardo e a jovem Heloísa. Sendo Abelardo um
homem da Igreja, seu romance com Heloisa cria conflitos sociais
e filosóficos, que são o cerne da discussão proposta pelo filme. A
história se passa no século XII, período no qual a doutrina cristã
domina o pensamento e conduz os meios de ensino e nos leva a
refletir acerca das mudanças promovidas a partir do nascimento das Universidades e da retomada
da dialética como forma de ensino.
A Peste Negra
Documentário que aborda a história da maior epidemia ocorrida durante a Idade Média e que
contribuiu para o enfraquecimento do feudalismo e a desestruturação da sociedade medieval.
Web: <http://www.youtube.com/watch?v=QnIhFXh8lZkr>.
Material Complementar
GLOSSÁRIO
REFERÊNCIAS ONLINE
1 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/ File:Sc%C3%A8ne_de_foire_-_
ca_1400_-_BNF_ Fr12559_f167.jpg>. Acesso em: 29 nov. 2018.
2 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Vista_de_Toledo,_Espanha.JPG>.
Acesso em: 29 nov. 2018.
3 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Escultura_Plat%C3%A3o.jpg>.
Acesso em: 29 nov. 2018.
4 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Bubonic_plague_map.PNG>.
Acesso em: 29 nov. 2018.
GABARITO
1. B.
2. E.
3. O documento refere-se à disseminação da Peste Negra na Europa Ocidental a
partir do século XIV. Esse evento foi o responsável por uma transformação, so-
bretudo, no cenário econômico e sociocultural da Idade Média, uma vez que
representou uma pausa no processo de desenvolvimento pelo qual o Ocidente
medieval vinha passando desde o renascimento comercial e urbano. Nesse sen-
tido, o tempo da Peste Negra foi um tempo de crise na produção agrícola e co-
mercial, tendo, como consequência, a escassez de alimentos e outros produtos,
além de modificar o sentido das relações pessoais entre os indivíduos.
4. C.
5. O aluno deve expressar a sua compreensão acerca do desenvolvimento e cien-
tífico na Idade Média, considerando o contexto permeado pelo pensamento es-
colástico.
203
CONCLUSÃO