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GRADUAÇÃO

Unicesumar

CARTOGRAFIA

Prof. Me. Thiago César Frediani Sant’Ana


Prof. Me. Estevão Pastori Garbin

Acesse o seu livro também disponível na versão digital.


Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor Executivo de EAD
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Pró-Reitor de Ensino de EAD
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Presidente da Mantenedora
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NEAD - Núcleo de Educação a Distância


Diretoria Executiva
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Designer Educacional
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Projeto Gráfico
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Jaime de Marchi Junior
José Jhonny Coelho
Arte Capa
Arthur Cantareli Silva
Ilustração Capa
Maringá-Pr.: Unicesumar, 2020 Bruno Pardinho
200 p.
“Graduação - EaD”. Editoração
Juliana Duenha
1. Cartografia. 2. Geografia . 3. EaD. I. Título. Qualidade Textual

ISBN 978-85-459-1910-0 Meyre Barbosa


CDD - 22 ed. 912 Ilustração
CIP - NBR 12899 - AACR/2 Rodrigo Barbosa

Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário


João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828
Impresso por:
Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos
com princípios éticos e profissionalismo, não so-
mente para oferecer uma educação de qualidade,
mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in-
tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos
em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e
espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos
de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de
100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil:
nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba,
Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos
EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e
pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros
e distribuímos mais de 500 mil exemplares por
ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma
instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos
consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos
educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos educa-
dores soluções inteligentes para as necessidades
de todos. Para continuar relevante, a instituição
de educação precisa ter pelo menos três virtudes:
inovação, coragem e compromisso com a quali-
dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de
Engenharia, metodologias ativas, as quais visam
reunir o melhor do ensino presencial e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é
promover a educação de qualidade nas diferentes
áreas do conhecimento, formando profissionais
cidadãos que contribuam para o desenvolvimento
de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está
iniciando um processo de transformação, pois quan-
do investimos em nossa formação, seja ela pessoal
ou profissional, nos transformamos e, consequente-
mente, transformamos também a sociedade na qual
estamos inseridos. De que forma o fazemos? Crian-
do oportunidades e/ou estabelecendo mudanças
capazes de alcançar um nível de desenvolvimento
compatível com os desafios que surgem no mundo
contemporâneo.
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógi-
ca e encontram-se integrados à proposta pedagógica,
contribuindo no processo educacional, complemen-
tando sua formação profissional, desenvolvendo com-
petências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos
em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no
mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm
como principal objetivo “provocar uma aproximação
entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o
desenvolvimento da autonomia em busca dos conhe-
cimentos necessários para a sua formação pessoal e
profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
mento e construção do conhecimento deve ser apenas
geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita.
Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu
Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fó-
runs e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe
das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma
equipe de professores e tutores que se encontra dis-
ponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em
seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe
trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória
acadêmica.
CURRÍCULO

Prof. Me. Thiago Cesar Frediani Sant’Ana


Possui graduação em Geografia pela Universidade Estadual de Maringá - UEM,
Maringá-PR (2008). Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia
da Universidade Estadual de Maringá - UEM (2009-2011), na área de Análise
Ambiental. Atualmente, é doutorando em Geografia pela Universidade
Estadual de Maringá. Atua como professor no ensino superior nos cursos de
Geografia, Engenharia Civil e Arquitetura e Urbanismo. Tem experiência na
área de Geociências, com ênfase em Cartografia Básica.

http://lattes.cnpq.br/3767642326547587

Prof. Me. Estevão Pastori Garbin


Mestre em Geografia pela Universidade Estadual de Maringá (2016), com
pesquisa na área de Cartografia e Semiótica. Graduado em Geografia
(bacharelado e licenciatura) pela Universidade Estadual de Maringá (2013),
com estágio na Universidade Técnica de Lisboa em Gestão Urbanística e
Planejamento Urbano e Territorial (2012-2013). Atualmente, é aluno do curso
de doutorado em Geografia, pela UEM, e professor do curso de Geografia da
Unicesumar. Tem experiência nas áreas de ensino de cartografia, semiótica
peirceana e avaliação de livros paradidáticos.

http://lattes.cnpq.br/7882921634824099j
APRESENTAÇÃO

CARTOGRAFIA

SEJA BEM-VINDO(A)!
Caro(a) acadêmico(a), é com grande satisfação que apresentamos esta nova edição do
livro da disciplina de Cartografia, revista e ampliada. Nesta obra, sintetizamos e aprimo-
ramos os conteúdos fundamentais na formação dos professores de Geografia, de forma
alinhada com as principais obras da cartografia nacional e internacional.
Na primeira unidade, discutiremos como o saber cartográfico e os mapas estavam pre-
sentes nas sociedades antes mesmo da invenção da escrita. Aprenderemos que os ma-
pas são formas de comunicação particulares de cada povo, sendo influenciados, dire-
tamente, pelo contexto social, cultural e econômico da época. Discutiremos, também,
o processo de sistematização da Cartografia em uma ciência autônoma da Geografia,
salientando os principais paradigmas que estruturam a agenda de pesquisa dessa ciên-
cia nos últimos cinquenta anos.
Na segunda unidade, discutiremos os principais produtos cartográficos utilizados na Ge-
ografia, as finalidades e características. A partir desses produtos, analisaremos, também,
os processos e as etapas que constituem a produção de uma informação cartográfica,
salientando a grande influência que o autor de mapas possui na representação espacial.
Por fim, estudaremos como esses processos de construção da informação cartográfica
são influenciados pela escala cartográfica, discutindo os meios para a realização do seu
cálculo e as especificidades da escala gráfica e numérica.
Na terceira unidade, estudaremos o processo histórico de determinação da verdadeira
forma da Terra. Neste capítulo, verificaremos como os povos antigos realizavam suas in-
vestigações para trabalhar com os indícios da esfericidade do nosso planeta e as princi-
pais teorias desses pensadores. Aprenderemos, também, como podemos nos orientar no
espaço a partir de instrumentos, como a bússola, bem como calcular, de maneira exata, os
ângulos para nossa orientação. Por fim, trabalharemos o cálculo das coordenadas geográ-
ficas como um meio para realizarmos a localização em qualquer ponto do planeta Terra.
Na quarta unidade, discutiremos os desafios envolvidos na construção e escolha das
projeções cartográficas. Estudaremos, também, os principais meios no levantamento
de dados da paisagem e as formas mais empregadas na representação do relevo, com
ênfase nas cartas topográficas.
Na última unidade, discutiremos o princípio organizador dos fusos horários, bem como
os meios de calcularmos a diferença dos horários entre várias localidades. Encerraremos
nossos estudos discutindo os impactos que as novas tecnologias causaram na Cartogra-
fia com o desenvolvimento e a popularização dos Sistemas de Informação Geográfica.
Esperamos que este livro seja seu companheiro nesta sua trajetória de formação profis-
sional. Bons estudos!
Prof. Estevão Pastori Garbin
Prof. Thiago Cesar Frediani Sant’Ana
08
SUMÁRIO

UNIDADE I

CARTOGRAFIA: PRÁTICA ANTIGA, CIÊNCIA RECENTE

15 Introdução

16 O Mapa na História da Humanidade

28 A Ciência Cartográfica

38 As Relações Entre a Cartografia e a Geografia

43 Considerações Finais

UNIDADE II

ELEMENTOS E PROCESSOS FUNDAMENTAIS PARA A COMUNICAÇÃO


CARTOGRÁFICA

55 Introdução

56 Os Produtos Cartográficos Básicos

68 As Etapas do Projeto Cartográfico

87 Escala Cartográfica

97 Considerações Finais
09
SUMÁRIO

UNIDADE III

OS DESAFIOS DA CARTOGRAFIA NA REPRESENTAÇÃO DA FORMA DA


TERRA

109 Introdução

110 A Forma da Terra

118 Estratégias de Orientação no Espaço

128 As Coordenadas Geográficas

133 Considerações Finais

UNIDADE IV

PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS E REPRESENTAÇÃO DO RELEVO

143 Introdução

144 As Projeções Cartográficas

155 Conhecendo os Principais Métodos para a Realização de Levantamentos


Planialtimétricos

159 Representação e Leitura do Relevo na Cartografia

167 Considerações Finais


10
SUMÁRIO

UNIDADE V

FUSOS HORÁRIOS E SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA

177 Introdução

178 Fusos Horários

186 O Papel dos Sistemas de Informação Geográfica (Sig)

194 Considerações Finais


Prof. Me. Estevão Pastori Garbin
Prof. Me. Thiago César Frediani Sant’Ana

CARTOGRAFIA: PRÁTICA

I
UNIDADE
ANTIGA, CIÊNCIA RECENTE

Objetivos de Aprendizagem
■■ Apresentar a relação histórica da Cartografia com as diferentes
sociedades.
■■ Refletir sobre o processo de sistematização da ciência cartográfica.
■■ Apresentar as relações entre a Cartografia e a Geografia.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ O mapa na história da humanidade
■■ A ciência cartográfica
■■ As relações entre a Cartografia e a Geografia
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INTRODUÇÃO

Caro(a) acadêmico(a), iniciaremos nossos estudos sobre a Cartografia discutindo o seu


papel ao longo da história da humanidade. Como será visto, embora a prática de mapear
o espaço seja anterior à escrita, a sistematização da Cartografia como ciência autônoma é
muito recente, remontando-se ao período que sucede a Segunda Guerra Mundial. Nesse
sentido, abordaremos a Cartografia em dois momentos distintos, porém complemen-
tares: a Cartografia enquanto prática humana inerente à necessidade de compreensão e
exploração do espaço; e enquanto ciência autônoma, com paradigmas e linhas de pes-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

quisa sistematizadas por um amplo corpo de pesquisadores.


Este percurso deve estar intimamente desenvolvido na consciência do(a)
professor(a) de Geografia, pois a evolução da Cartografia remete a própria com-
preensão do espaço. O mapa, muito além de um registro estático da realidade,
revela visões de mundo e estratégias cognitivas de compreensão do espaço pelos
seres humanos. A Cartografia não deve ser reduzida a um catálogo de conteú-
dos a ser transmitido pelo(a) professor(a), mas trabalhada como um saber que
será desenvolvido a um só tempo com toda a trajetória do aluno de Geografia.
Todavia, como construir uma visão integrada da Cartografia ao conhecimento
geográfico? Este é um desafio cotidiano e permanente, tanto do professor quanto do
aluno. Nosso objetivo, nesta unidade, é demonstrar como o conhecimento humano
na representação do espaço evoluiu e se transformou em um corpo sistematizado
de conhecimento, que é a ciência cartográfica. Para tanto, assinalaremos o papel
histórico dos mapas como signos do seu tempo e sua valorização com o advento
do capitalismo. Em um segundo momento, discutiremos o contexto da transfor-
mação da Cartografia em uma ciência autônoma da Geografia e quais foram os
principais esforços na construção de uma agenda de pesquisas para essa ciência.
Esperamos que essas discussões permitam que você desenvolva uma leitura
mais ampla e integrada do papel da Cartografia em nossa sociedade, bem como
dos caminhos que essa ciência percorreu até os dias atuais.

Introdução
14 UNIDADE I

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O MAPA NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE

Caro(a) aluno(a), você já pensou como seria difícil desenvolver suas ativida-
des cotidianas sem conhecer o seu espaço? Desconhecer os principais trajetos
da cidade, a disposição das avenidas centrais ou até mesmo a direção correta do
nosso destino tornaria a nossa rotina muito mais difícil. É por essa razão prática
que o saber geográfico constitui, desde os primórdios da humanidade, uma con-
dição para a sobrevivência humana. É por meio desse saber que os seres humanos
se orientam e se deslocam no espaço, criam territórios e elaboram estratégias
essenciais para a manutenção de sua vida, sendo, o mapa, um importante ins-
trumento que auxilia os seres humanos antes mesmo do surgimento da escrita.
Segundo Matias (1996), na pré-história, o conhecimento do meio era trans-
mitido de forma oral e gestual, e seu registro era realizado por meio de inscrições
gráficas em rochas nos interiores das cavernas. O conhecimento era restrito a sua
vivência mais imediata e estava associado as atividades essenciais para a manutenção
do grupo, tais como a pesca, a caça e a moradia. O gesto, a pintura e a produção de
sons, por exemplo, tornam possível que os seres humanos produzam e manipulem
elementos mentais que denominaremos representações ou signos. De acordo com
Santaella (2012), signo é tudo aquilo que, independente do seu material constituinte

CARTOGRAFIA: PRÁTICA ANTIGA, CIÊNCIA RECENTE


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ou da sua forma, representa algum aspecto de algo para alguém. Podemos afirmar,
portanto, que as palavras que falamos no nosso dia a dia, os gestos que fazemos
no trabalho ou as ideias vagas que temos quando assistimos uma aula são signos,
embora o modo com que funcionem sejam diferenciados.
O mapa, neste sentido, também pode ser considerado um signo, ou melhor,
um complexo sistema de signos que comunica algum aspecto do espaço para
outra(s) pessoa(s) ou para nós mesmos. Vale notar que o desenvolvimento de
novas técnicas torna possível que os seres humanos criem signos mais elabo-
rados, com mais possibilidades de uso – e isso, naturalmente, é válido também
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

para os mapas. Basta imaginarmos como é muito mais fácil identificarmos, hoje,
a orientação geográfica de um fenômeno a partir do Google Maps se comparar-
mos, por exemplo, a um mapa do século XIII.
Com o desenvolvimento da técnica, o homem tornou-se capaz de realizar ativi-
dades mais complexas e de criar um meio cada vez menos restrito às possibilidades
ofertadas pela natureza: o desenvolvimento da agricultura permitiu, aos homens, a
sedentarização (e demandou conhecimento de áreas mais próprias para o cultivo), as
caravelas permitiram que novos territórios além-mar fossem conquistados (e tornou
urgente a confecção de mapas para a navegação), enquanto as Revoluções Industriais
criaram novas demandas de recursos energéticos (e o entendimento de sua distribui-
ção e localização). Representar o espaço, portanto, sempre foi uma necessidade para
o desenvolvimento dos povos. Contudo, assim como afirmamos, toda representação
é parcial e limitada na sua função de representar os fenômenos: qual seria o aspecto
limitado que os mapas deveriam representar do espaço? Sabemos que a localização
é uma preocupação recorrente dos mapas, mas será que é a última?
Caro(a) aluno(a), vejamos uma descoberta emblemática que pode nos aju-
dar a responder esta questão. Em 1963, durante as escavações arqueológicas em
Çatal Höyük, na região centro-ocidental da Turquia, uma equipe de arqueólogos
descobriu o que seria o mapa autêntico mais antigo já encontrado, elaborado, apro-
ximadamente, 6.000 a.C. Embora este mapa primitivo apresente certas similitudes
com as plantas cartográficas modernas, sua utilização era voltada para a realização
de um ritual sagrado, muito diferente dos usos dos mapas atuais (HARLEY, 1991).
Como você pode notar pela reconstituição do mapa na Figura 1, é possível identifi-
carmos o traçado de um povoado neolítico e, ao fundo, o vulcão Hasan Dag em erupção:

O Mapa na História da Humanidade


16 UNIDADE I

Figura 1 - Reconstituição do mapa de Çatal Höyük, Turquia


Fonte: Pour la science (2014, on-line)¹.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 2 - Imagens da escavação onde o mapa foi encontrado


Fonte: Ancient Wisdom ([2019], on-line)².

O reconhecimento de um espectro mais amplo de representações espaciais,


como mapas, é um fenômeno recente, resultado da adoção de uma visão menos
eurocêntrica e mais universal de como as sociedades humanas entendem e

CARTOGRAFIA: PRÁTICA ANTIGA, CIÊNCIA RECENTE


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representam seus espaços. John Brian Harley (1932 - 1991), um dos principais
pesquisadores da história da Cartografia, ressalta que os produtos cartográficos
que não seguiam os padrões da Cartografia Europeia de exatidão passaram a ser
considerados mapas apenas há algumas décadas. Anteriormente, eram tratados
apenas como “curiosidades cartográficas” (HARLEY, 1991, p. 5). É esse tipo de
mudança de pensamento que tornou possível que, hoje, as representações antigas
as quais eram confeccionadas em tiras vegetais, conchas ou até mesmo madeira
sejam consideradas mapas antigos.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 3 - Mapa indígena das Ilhas Marshall


Descrição da imagem: mapa indígena das Ilhas Marshall, construído em tiras vegetais e conchas. O mapa
consiste em uma quadrícula ortogonal feita em tiras vegetais representando o mar livre e as tiras vegetais
curvas as frentes das ondas próximas às ilhas, representadas pelas conchas.
Fonte: Raisz (1969, p. 7).

O Mapa na História da Humanidade


18 UNIDADE I

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 4 - Mapa de Ga-Sur
Descrição da imagem: o mapa de Ga-Sur foi confeccionado em uma pequena placa de barro, que representa
o rio Eufrates com montanhas em cada lado. Data de, aproximadamente, 2500 a.C.
Fonte: Raisz (1969, p. 9).

As características selecionadas do espaço para sua representação cartográfica


são variáveis, não estando restrita unicamente à localização exata dos fenôme-
nos. Ao longo da história da humanidade, os mapas foram empregados para:
localizar os fenômenos e para fins ritualísticos; demarcar fronteiras; mapear
recursos naturais; expressar visões da organização do próprio mundo e dentre
muitos outros papéis.
Hoje, a Cartografia é reconhecida como uma linguagem mais universal e
mais antiga do que se pensava, e não estamos nos referindo ao termo Cartografia,
neste momento, como uma ciência exata, mas como um conjunto de saberes
envolvidos na produção de representações do espaço que cada povo desenvol-
veu de acordo com suas necessidades. Isso significa que seria um reducionismo
irresponsável definir que o conhecimento humano, na construção de mapas, ocor-
reu de maneira linear e de acordo com a nossa visão moderna da Cartografia.
Vários povos antigos, como os chineses, indianos, gregos e indígenas, por exem-
plo, desenvolveram suas cartografias, mas cada um com suas particularidades.

CARTOGRAFIA: PRÁTICA ANTIGA, CIÊNCIA RECENTE


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Os gregos são reconhecidos como importantes contribuintes para a formu-


lação da Cartografia por diversos motivos: pelo estudo da forma da Terra, pelo
emprego da geometria na obtenção das dimensões do nosso planeta, pelo desen-
volvimento do princípio do sistema de coordenadas geográficas e, inclusive, pelas
discussões sobre as projeções cartográficas.
Ao contrário do que muitas pessoas imaginam, a ideia da esfericidade da
Terra, no mundo grego, não tem origem nas observações astronômicas, mas em
argumentos filosóficos: Hecateu (500 a.C.), um geógrafo jônico, considerava que o
planeta tinha um formato de disco no qual, ao redor, corriam as águas dos oceanos.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Entretanto, a filosofia grega considerava que a esfera era a forma geométrica mais
perfeita, o que justificaria que o nosso planeta assumisse uma forma esferoidal, e
não plana, justamente por acreditarem que nosso planeta fosse uma obra-prima
dos deuses. A hipótese da esfericidade da Terra foi comprovada, posteriormente,
pelo povo grego, por meio de observações em campo, além do estabelecimento
de conceitos ainda hoje usados como Equador, Polos, Trópicos, Zonas Tórridas,
Temperadas e Frias (RAISZ, 1969).
Erastótenes de Cirene (276 a 196 a.C.) é um dos grandes nomes da Antiguidade que
contribuiu, sobremaneira, na Cartografia. Responsável pela Biblioteca de Alexandria,
realizou a medição da Terra a partir de um poço, na cidade de Siena, durante o solstí-
cio de verão, e calculou que a sua circunferência era de 46 mil quilômetros, um valor
apenas 16% distante do valor real. Além disso, construiu um mapa-múndi do mundo
habitado, que contava com paralelos e meridianos para a localização.
Outro importante personagem grego foi Cláudio Ptolomeu (90 a 168 d.C.),
que desenvolveu um sistema de representação da Terra baseado na utilização de
uma grade quadriculada de coordenadas baseadas na posição dos corpos celes-
tes (CROSBY, 1999). Sua principal obra é intitulada Geografia, que consistia em
oito volumes descrevendo os princípios teóricos empregados nas projeções carto-
gráficas e nos mapas presentes em sua coletânea. Embora a base de dados usada
por Ptolomeu era oriunda de mapas antigos e relatos de viajantes, seu conjunto
de mapas é considerado o primeiro Atlas Universal (RAISZ, 1969).

O Mapa na História da Humanidade


20 UNIDADE I

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 5 - Mapa-múndi gravado por Johannes Schnitzer (1482), a partir da obra de Ptolomeu
Fonte: Open Culture (2017, on-line)³.

A evolução dos mapas, no entanto, nem sempre apresentou um desenvolvi-


mento progressivo e pautado na exatidão das medidas da superfície terrestre. A
cartografia romana, por exemplo, não priorizava o aprimoramento do sistema
de latitudes e longitudes, as medições astronômicas e as projeções. Seus objeti-
vos eram mais práticos, para fins militares e administrativos, o que resultou no
resgate de representações mais simples que, assim como os geógrafos jônicos,
adotavam mapas que representavam a Terra em formato de disco.
Durante a Idade Média, período que se estendeu, na Europa, do século V ao
século XV, predominou a visão teológica do universo sob forte influência da Igreja
Católica, que estabeleceu um domínio cultural e social no velho continente por
dez séculos. O comércio perdeu a importância conquistada na Antiguidade, o
que afetou diretamente as estratégias e estilos empregados na confecção de mapas
deste período, e um mapa muito representativo da Idade Média é o mapa T-O. Ele
demarca uma visão esquemática do mundo, compatível com os preceitos bíblicos
de que o mundo era cercado por um grande oceano e entrecortado por três massas
continentais que representavam a Europa, Ásia e África, com Jerusalém ocupando,
geralmente, o centro. A letra “T”, localizada dentro do círculo, que lembra a letra

CARTOGRAFIA: PRÁTICA ANTIGA, CIÊNCIA RECENTE


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“O”, corresponde a três corpos d`água: o rio Nilo, o rio Dom e, na parte inferior,
o mar Mediterrâneo, como você pode conferir na Figura 6:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 6 - Um típico Mapa T-O


Fonte: Raisz (1969).

Este mapa é ilustrativo, porque demonstra uma característica que, por vezes, é invi-
sível quando olhamos os produtos cartográficos contemporâneos: todo mapa é uma
construção social criada a partir de visões de mundo que podem ser muito distin-
tas entre os povos ao longo do tempo. Isso não significa que devemos considerar
que os mapas são mentirosos ou dispensáveis, ao contrário, este aspecto da parcia-
lidade e relatividade do seu conteúdo é inerente a qualquer outra prática humana.
Acontece que, com as mudanças das necessidades de uma sociedade, alteram-se
suas produções intelectuais, inclusive os mapas. A visão teológica dominante na
Idade Média, por exemplo, era insuficiente para outros propósitos, como a nave-
gação, o que acabou por impulsionar, no século XIII, o desenvolvimento de um
novo estilo de mapa voltado para os navegadores: os mapas portulanos.
Como o nome sugere, os mapas portulanos priorizavam a representação mais

O Mapa na História da Humanidade


22 UNIDADE I

exata dos portos e dos trajetos para o deslocamento nos mares e oceanos. Nesse
sentido, elementos familiares, como a rosa-dos-ventos, voltaram a ser emprega-
dos na Cartografia, assim como uma crescente preocupação em representar com
detalhes os acidentes geográficos litorâneos, embora contassem com pouquíssimas
informações das áreas do interior dos continentes. Os portulanos foram conce-
bidos para águas cercadas ou quase-cercadas por terras, como o Mediterrâneo,
e estiveram associados ao uso da bússola, o que gerava certa independência dos
navegadores em relação à visibilidade dos astros celestes para determinar sua
orientação (CROSBY, 1999). O problema é que, para a navegação em grandes dis-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tâncias, suas distorções eram muito significativas, o que levou a um esforço dos
cartógrafos em desenvolver mapas mais precisos e funcionais para a navegação.

Figura 7 - Mapa Portulano do século XVII


Descrição da imagem: os mapas portulanos eram compostos por um sistema de várias rosa-dos-ventos e
rumos para a navegação com a bússola. Eram, geralmente, confeccionados em peles de animais.
Fonte: Wikimedia Commons ([2019], on-line)4.

A descoberta de um exemplar da obra Geografia, de Ptolomeu, no ano de 1440,


em Florença, contribuiu significativamente na transformação da percepção
espacial do Ocidente. No século XV, as técnicas de representação cartográfica a

CARTOGRAFIA: PRÁTICA ANTIGA, CIÊNCIA RECENTE


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partir do uso de uma grade de coordenadas empregadas por Ptolomeu já esta-


vam integradas nas práticas dos cartógrafos europeus. Além disso, a Terra era,
frequentemente, representada numa esfera com latitudes e longitudes: sem
dúvida, foi uma transformação importante, sobretudo, quando comparamos
com os mapas medievais.
Com o fim da Idade Média, a Cartografia volta a ganhar importância, espe-
cialmente para a delimitação de rotas comerciais, para o registro de novas terras
e para o planejamento de estratégias para a expansão dos territórios. Raisz (1969)
identifica três principais motivos para a rápida transformação que a Cartografia
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

presenciou neste período, quais sejam: a) a redescoberta e a correção da obra de


Ptolomeu, que continha informações exageradas sobre alguns aspectos terrestres;
b) o desenvolvimento da imprensa e o consequente aumento na difusão de mapas
mais acessíveis, economicamente, ao público; e c) os Grandes Descobrimentos,
que geraram novas informações e uma demanda crescente de novos mapas mais
precisos. Tudo isso pode ser comprovado por Harvey (2009, p. 221), o qual sus-
tenta que “o saber geográfico se tornou uma mercadoria valiosa numa sociedade
que assumia uma consciência cada vez maior de lucro”.
Ao longo dos séculos XVI e XVII, a Cartografia foi desenvolvida e aprimo-
rada por diversas sociedades que a enxergavam como um meio necessário para
o crescimento econômico e a conquista de novas terras e mercados. Além dos
portugueses, espanhóis e italianos, os holandeses vivenciaram um período de
grande destaque na Cartografia, com destaque para Gerhard Kremer, também
conhecido por seu nome latinizado, Geraldo Mercator (1512 - 1594).
Além do desenvolvimento da projeção cartográfica que leva seu nome,
Mercator teve o mérito de revisar os estudos de Ptolomeu sobre Geografia,
Astronomia, História Natural e das Ciências Naturais, baseado em relatos de
navegantes mais confiáveis e a partir de dados de viagens empreendidas por
ele mesmo. Entretanto, havia alguns problemas significativos que assolavam os
mapas desse período: em áreas com pouca informação disponível, era comum
que fossem preenchidos os espaços em branco dos mapas com informações fic-
tícias ou exageradas, para se tornarem mais atrativos comercialmente (RAISZ,
1969), assim como exemplifica a Figura 8:

O Mapa na História da Humanidade


24 UNIDADE I

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 8 - Caspar Plautius (1621): um exemplo de mapa com informações fictícias
Fonte: Dreyer-Eimbcke (1996).

No século XVIII, a França vivencia um período de forte desenvolvimento cul-


tural baseado nos ideais iluministas, o que resultou na produção de mapas que
buscassem retratar, de maneira minuciosa e exata, as informações conhecidas
dos territórios. Foi a partir desse século que surgiram os Serviços Geográficos
Nacionais, responsáveis por realizar o levantamento topográfico dos seus terri-
tórios, geralmente empreendido pelo exército.

A palavra “atlas”, que hoje utilizamos para designar publicações que reúnem
um conjunto de mapas, também nos foi legada por Mercator. Como con-
sequência de um trabalho de muitos anos, foram reunidos vários mapas
para resultar numa publicação, a qual Mercator chamou de Atlas. Devemos
lembrar, entretanto, que a edição só ocorreu em 1595, quatro meses após a
morte de Mercator, por iniciativa de seu filho Rumold. O motivo que levou
à escolha da palavra atlas, entretanto, ainda gera discussões. Para alguns,
foi escolhida como uma homenagem ao rei Atlas (da Mauritânia), para ou-
tros, teria sido uma referência à divindade grega Atlas, que, de acordo com a
mitologia, tendo tomado o partido dos gigantes contra os deuses e preten-
dendo derrubar o céu, fora condenado por Zeus a sustentá-lo nos próprios
ombros.
Fonte: Duarte (2002).

CARTOGRAFIA: PRÁTICA ANTIGA, CIÊNCIA RECENTE


25

No Renascimento, há uma aproximação muito significativa entre as ativida-


des de geógrafos e cartógrafos, isto é, na compreensão e na representação do
espaço, porque ainda não havia instrumentos suficientes para a determinação
das longitudes, o que exigia que os geógrafos trabalhassem com o levantamento
das latitudes a partir da Astronomia e a aproximação das longitudes a partir da
interpretação crítica dos relatos de viagens. Esse cenário transformou-se signi-
ficativamente com o desenvolvimento do cronômetro marinho e tornou a tarefa
de produção de mapas um conhecimento mais familiar aos engenheiros cartó-
grafos do que aos geógrafos. Assim como lembra Claval (2009), essa mudança
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

levou os geógrafos a perderem metade de seu campo de atuação para os cartógra-


fos, buscando especializar-se nas formas de descrição e interpretação do espaço,
ao contrário dos engenheiros cartógrafos, que se especializaram na representa-
ção geométrica e na coleta de dados.

A cartografia une o objetivo ao subjetivo, a prática aos valores, o mito ao


fato comprovado, a precisão à aproximação. Você consegue identificar esses
aspectos aparentemente contraditórios nos mapas que você usa?

Embora essa transformação tenha se intensificado a partir do século XVIII, a


Cartografia só foi considerada ciência autônoma, com paradigmas e teorias pró-
prias, no período que sucede a Segunda Guerra Mundial. Caro(a) aluno(a), vamos
compreender o contexto e as implicações dessa institucionalização?

O Mapa na História da Humanidade


26 UNIDADE I

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A CIÊNCIA CARTOGRÁFICA

Se existe um momento em que o conhecimento do território é uma questão,


literalmente, de vida ou morte, este momento é durante uma guerra: com o
desenrolar das Primeira e Segunda Guerras Mundiais, no século XX, mapear o
território inimigo tornou-se fundamental. Contudo, como criar mapas confi-
áveis, eficazes em representar o espaço e de rápido entendimento? Essas eram
questões que, durante a Segunda Guerra Mundial, eram urgentes e desafiavam
Arthur Robinson, o responsável pela Divisão de Mapas do Escritório de Assuntos
Estratégicos dos Estados Unidos da América (MONTELLO, 2002).
Robinson amadureceu um repertório de experiências muito significativas
durante a guerra, o que motivou a sintetizar suas lições apreendidas em um livro
denominado The Look of Maps: an examination of cartographic design, em algo
como A aparência dos mapas: um exame do desenho cartográfico, publicado em
1952. A grande inovação desse material foi a apresentação de um estudo siste-
mático de como elaborar, adequadamente, um projeto cartográfico, isto é, as
diretrizes que deveriam guiar a construção de um mapa cuja chave estaria no
entendimento das limitações da percepção visual humana.
De acordo com Robinson (1952), a essência da Cartografia é tornar uma infor-
mação inteligível para o leitor. Mais do que simplesmente desenhar, a Cartografia

CARTOGRAFIA: PRÁTICA ANTIGA, CIÊNCIA RECENTE


27

deve pensar em métodos adequados para selecionar, generalizar e representar as


informações do espaço para algum usuário de mapas.
Nessa obra, Robinson construiu uma aproximação entre a Psicologia e a
Cartografia, mais especificamente em um modelo de análise estímulo-resposta
conhecido como psicofísico. Basicamente, esse modelo comparava as respostas
que os usuários de mapas relatavam na percepção do tamanho e das cores empre-
gadas nos símbolos cartográficos, embora não fizesse parte desse programa de
pesquisas uma preocupação em entender o porquê determinada sequência de
cores, por exemplo, era mais bem avaliada que outra (SANTIL; SLUTER, 2011).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Mesmo que não fosse o primeiro a sugerir que a Cartografia deveria se aproxi-
mar da Psicologia para compreender como os mapas, efetivamente, funcionavam,
Robinson foi o primeiro a publicar um estudo sistemático de mapas que seguiu
essa estratégia metodológica (MONTELLO, 2002).
The Look of Maps foi responsável por semear um princípio que transformaria
a Cartografia nas décadas seguintes: de que os usuários de mapas deveriam ser
considerados na definição das proposições do projeto cartográfico, pois o mapa
serve como um canal de comunicação entre dois entes: o autor de mapas e o
usuário. No caso, se o mapa é um canal de comunicação, sua eficácia só poderia
ser avaliada se o destinatário final fosse considerado nessa equação. Essa “cons-
trução de princípios” deveria estar alicerçada na pesquisa empírica, com testes
laboratoriais, o que, de certa forma, afastou a ideia da Cartografia como uma
prática artística e a aproximou de uma prática científica, sistematizada.
Evidentemente, separar a ciência da arte e etiquetar um mapa como pertencente
apenas a uma dessas categorias é um reducionismo perigoso. Assim, esperamos
que nossa breve apresentação da história dos mapas no início deste capítulo tenha
deixado claro que essa questão é muito mais complexa. Entretanto, o que gosta-
ríamos de pontuar é que foi a partir da publicação da obra de Arthur Robinson
que a Cartografia passou a ser abordada como uma ciência que necessitava de
testes empíricos para sua evolução, e não apenas impressões estéticas individuais
dos seus autores. Didaticamente, podemos dizer que a Cartografia era pensada a
partir de um novo paradigma, que denominaremos Comunicação Cartográfica.

A Ciência Cartográfica
28 UNIDADE I

O PARADIGMA DA COMUNICAÇÃO CARTOGRÁFICA

Quando afirmamos que uma ciência constrói um paradigma, estamos dizendo


que um grupo de pesquisadores compartilham alguns princípios para a inves-
tigação e para o entendimento do seu objeto de estudo. De acordo com Correa
(2011, p. 60), um paradigma é um “conjunto de ações intelectuais que possibi-
litam estabelecer uma dada inteligibilidade à realidade, com base em conexões
de ideais de natureza descritiva, explicativa, normativa, preditiva ou compreen-
siva”. No caso da ciência cartográfica, o primeiro paradigma que orientou o maior

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
número de programas de pesquisa é denominado comunicação cartográfica
O primeiro e principal aspecto desse paradigma foi considerar que todo mapa
é constituído por “mensagens” pré-definidas pelo seu autor, de tal modo que a
grande tarefa da Cartografia seria investigar quais são as estratégias mais otimi-
zadas para se transmitir estas mensagens para um usuário (MACEACHREN,
1995). Essa tentativa de compreender o processo de comunicação entre o autor,
o mapa e o usuário deu origem a uma série de modelos esquemáticos para tornar
mais inteligível o processo de comunicação cartográfica, sendo o principal deles
aprimorado e publicado por Koláčný, em 1969, assim como ilustra a Figura 9:

REALIDADE

REALIDADE Sobreposição REALIDADE


DO de DO
CARTÓGRAFO Realidades USUÁRIO
Aç info
ão rm
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ad

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id

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Objetivas Necessidades
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Objetivas
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ra a

Conhecimento
da

Experiência Conhecimento
Conteúdo Linguagem Linguagem Conteúdo Experiência
Habilidades da mente do Cartográfica MAPA Cartográfica da mente do
Cartógrafo Usuário
Habilidades
Processos
psicológicos Concretização da Efeito da informação
informação cartográfica cartográfica concretizada Processos
psicológicos

Figura 9 - Modelo da comunicação cartográfica


Descrição de imagem: modelo de comunicação da informação cartográfica proposto por Koláčný em 1969.
O modelo se constitui como um fluxo informativo que tem, como origem, a mente do cartógrafo, que
se materializa no mapa e é direcionado para o usuário. A comunicação seria bem-sucedida quando uma
parcela da realidade do cartógrafo correspondesse ao repertório da realidade do usuário.
Fonte: adaptado de MacEachren (1995).

CARTOGRAFIA: PRÁTICA ANTIGA, CIÊNCIA RECENTE


29

Basicamente, o modelo da comunicação da informação cartográfica se constitui


no reconhecimento de que a transmissão de uma informação é sempre relativa
ao universo do autor de mapas, que propõe uma mensagem a ser transmitida.
Os signos que representam as ideias da mente do cartógrafo e tornam possível
a comunicação são materializados na linguagem cartográfica, e a eficácia das
escolhas feitas pelo autor dependem de vários fatores, tais como: a experiência
profissional de quem produz o mapa, as particularidades dos seus processos psi-
cológicos, os meios técnicos para a confecção do produto cartográfico, dentre
outros. O mapa, portanto, é apenas um momento de uma cadeia comunicativa
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

de ideias e sua eficácia em transmiti-las depende do esforço dos cartógrafos em


realizar a máxima diminuição de ruídos possíveis.
Então, o que é um ruído? Vamos imaginar uma situação hipotética, em que
estamos conversando por meio de uma ligação telefônica. De repente, um cami-
nhão passa ao lado de um dos falantes, impedindo que o ouvinte escute com
clareza a mensagem transmitida na conversa. Pode ser, ainda, que um dos tele-
fones empregados na conversa tenha um defeito no microfone, o que impede a
captação adequada do áudio, ou, ainda, que um dos interlocutores utilize uma
expressão verbal desconhecida pelo ouvinte.
Temos três exemplos de ruídos que impedem uma comunicação eficaz. No
mapa, são considerados ruídos quaisquer elementos que dificultem sua leitura,
como a confecção de símbolos muito pequenos, o uso de contraste de cores muito
exageradas, a presença de informações irrelevantes que causem distrações no lei-
tor ou até mesmo a qualidade gráfica insuficiente da impressão. Nesse sentido, o
autor de mapas deve identificar e corrigir os ruídos do mapa, para que a comu-
nicação da informação cartográfica seja a mais direta possível (GARBIN, 2016).
O segundo domínio do esquema de comunicação cartográfica proposto por
Koláčný é relativo ao repertório de conhecimentos pertencentes ao usuário de
mapas. É nele que os conteúdos representados pelo mapa serão extraídos e essa
tarefa exige que o leitor conheça minimamente as convenções e as caracterís-
ticas que estruturam a linguagem cartográfica, bem como tenha as condições
ambientais e cognitivas mínimas para que a mensagem obtida seja interpretada.
O terceiro aspecto que chama a atenção desse esquema é a sobreposição das
realidades do autor de mapas e do usuário. Essa área sobreposta significa que deve

A Ciência Cartográfica
30 UNIDADE I

existir um ponto de contato entre o repertório de conhecimento da linguagem


cartográfica entre o emissor e o receptor para que a mensagem seja devidamente
compreendida. O mapa, portanto, deve ser construído tendo em vista que pon-
tos de contato são esses e a maneira de descobri-los é investigando o perfil do
usuário para o qual o mapa se destina. O problema é que, nesse paradigma, os
usuários de mapas são considerados meras “caixas pretas” que respondem ao
estímulo do mapa, desconsiderando a criatividade, a inventividade, a influência
da cultura, o contexto e a subjetividade dos seres humanos na interpretação de
um produto cartográfico (KENT, 2018; MACEACHREN, 1995).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Embora seja um princípio importante, na prática, os mapas, poucas vezes,
apresentam a característica de ter uma mensagem específica construída pelo
cartógrafo ou geógrafo. Que tal explorarmos algumas situações para compre-
endermos as limitações desse princípio? Considere uma carta topográfica, um
dos produtos mais conhecidos da Cartografia: qual é a mensagem que essa carta
comunica? Será que é a localização exata das cotas de altitude do terreno? A posi-
ção relativa dos cursos d’água? Ou o tamanho das cidades?

Figura 10 - Fragmento de uma carta topográfica


Fonte: Wikimedia Commons ([2019], on-line)5.

CARTOGRAFIA: PRÁTICA ANTIGA, CIÊNCIA RECENTE


31

Mesmo se considerarmos que a localização dos fenômenos da paisagem seja a


mensagem principal desse produto, essa visão seria ainda incompleta, pois um
geólogo poderia encontrar novas informações ou mensagens mais específicas da
dinâmica da paisagem se compararmos com a leitura realizada por um engenheiro
civil, por exemplo. Além disso, será que quem faz o mapa tem todo o controle
e conhecimento das informações que um mapa pode conter? Há, ainda, novos
complicadores que não existiam no momento de adoção desse paradigma: será
que a disseminação de computadores, que transformam o mapa de maneira ins-
tantânea, torna útil esse tipo de modelo de comunicação?
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Como você, caro(a) aluno(a), pôde perceber, as perguntas são diversas. Para
construirmos uma resposta satisfatória, é necessário introduzirmos novos con-
ceitos nesta linha do tempo da Cartografia, tratando de uma ação mental que
todos nós realizamos e que a ciência cartográfica começou a integrar em suas
discussões teóricas: a visualização.

A VISUALIZAÇÃO CARTOGRÁFICA

Assim como percebemos, a tarefa primordial do paradigma da comunicação car-


tográfica foi a de encontrar mapas otimizados e funcionais para a realização de
tarefas específicas para cada tipo de usuário. Acontece que, ao longo da década
de 80 e 90, a disseminação de computadores para o grande público forçou os car-
tógrafos a se depararem com um cenário totalmente novo: pessoas comuns, sem
qualquer formação especializada em mapas, tinham acesso a programas computa-
cionais cada vez mais amigáveis, o que tornava a produção de mapas uma tarefa cada
vez mais corriqueira e não restrita à especialistas e pesquisadores das geociências.
Além disso, com a facilidade em compartilhar informações via Internet, um
número cada vez maior de usuários tinha acesso a mapas que não necessaria-
mente eram voltados para o seu perfil. Será que esses novos usuários que não
apenas consumiam, mas produziam seus próprios mapas, buscavam uma for-
mação complementar para produzir os seus mapas no dia a dia? Não – e isso
levou a comunidade de pesquisadores em Cartografia a repensar alguns princí-
pios até então amplamente aceitos.

A Ciência Cartográfica
32 UNIDADE I

O primeiro ponto que gostaríamos de enfatizar é que, independentemente


do tipo de uso que os usuários fazem dos mapas, todos eles envolvem uma ação
cognitiva que consiste em gerar imagens mentais que denominamos visualiza-
ção. Em termos gerais, visualizar significa tornar visível para a mente alguma
coisa, o que não, necessariamente, significa restringir essa “imagem mental” ao
domínio da visão, mas compreendê-las como signos especiais que facilitam um
melhor entendimento da realidade por parte dos seres humanos. A visualização
científica refere-se às ações de visualização voltadas a explorar a realidade a par-
tir do método científico e, nesse sentido, a Cartografia começou a se debruçar

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
sobre o estudo das diferentes formas de visualizar o espaço – não só entender
melhor suas características físicas, mas sociais, econômicas, sanitárias, cultu-
rais, dentre outras. O termo empregado para se referir aos modos de visualizar
o espaço para a Cartografia é visualização cartográfica ou, ainda, visualização
geográfica (ou geovisualização).
Para que um mapa gere visualizações, espera-se que seja capaz de facili-
tar o entendimento de algum aspecto do espaço - embora isso, de certa forma,
seja uma tarefa realizada por qualquer bom mapa. A questão que é posta como
desafiadora é que os computadores permitiram que fossem desenvolvidos sof-
twares, como os Sistemas de Informação Geográfica (SIGs), que permitem maior
interação e, consequentemente, uma transformação do produto cartográfico sem-
pre que o usuário precisar. Por exemplo: a possibilidade de escolher, no Google
Maps, entre uma camada sombreada do relevo, das vias de circulação ou da ima-
gem de satélite permite que o usuário visualize um mesmo espaço da maneira
que mais lhe convém. Esse era um cenário inimaginável no contexto anterior à
Cartografia digital, pois os mapas eram “congelados” no papel e sua atualização
poderia ser custosa e demorada.
Para que essas novas características da Cartografia fossem ressaltadas, novos
esquemas foram formulados pela comunidade científica, cada qual valorizando
um novo cenário das pesquisas sobre mapas. Vejamos dois dos principais modelos:

CARTOGRAFIA: PRÁTICA ANTIGA, CIÊNCIA RECENTE


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PENSAMENTO VISUAL COMUNICAÇÃO VISUAL

Exploração

Confirmação
Síntese
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Apresentação

DOMÍNIO PRIVADO DOMÍNIO PÚBLICO

Figura 11 - Os quatro “momentos” do uso do mapa: exploração, confirmação, síntese e apresentação


Fonte: adaptada de MacEachren (1995).

O primeiro modelo proposto por DiBiase (1990) enfoca os diferentes momentos


no uso dos mapas e agrupam seus usuários em duas grandes classes: os especia-
listas (domínio privado) e os não-especialistas (domínio público). O domínio
privado é composto por pesquisadores ou usuário avançados que utilizam o
mapa para gerar um novo conhecimento ou, ainda, confirmar hipóteses explo-
ratórias. No caso, os mapas gerados para esse domínio voltado para a exploração
e confirmação de hipóteses científicas pode não necessitar de mapas que sigam,
rigorosamente, todas as convenções cartográficas, e sua aparência final pode ser,
até mesmo, considerada pouco amigável por usuários não-especialistas.
Por outro lado, usuários não-especialistas, pertencentes do domínio público,
usam mapas em um nível mais elementar para a realização de tarefas mais sim-
ples e cotidianas. Basicamente, esses usuários decodificam uma informação já
explorada e tratada por algum pesquisador, o que exige que o mapa seja pen-
sado – inclusive, esteticamente – para ser amigável a um número maior e menos

A Ciência Cartográfica
34 UNIDADE I

restrito de usuários. Nesse sentido, o paradigma da comunicação cartográfica


é mais evidente nesse domínio marcado pela comunicação visual, ao contrário
do domínio privado, que é marcado pelo pensamento visual.
É fundamental lembrarmos que essas quatro etapas e esses dois domínios não
são excludentes, mas predominantes. O que o autor de mapas deve considerar é em
qual momento no processo de investigação científica – de exploração, confirmação,
síntese ou de apresentação – o mapa em questão será empregado. A capacidade
de transformação e adaptação de um mapa ou de um SIG em alterar as formas
com que um fenômeno pode ser representado para que novas informações sobre

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
o espaço estudado sejam exploradas ou confirmadas é denominado interatividade.
Dentre as características que um produto cartográfico pode oferecer, pode-
mos elencar a mudança nos níveis ou camadas de informações, alteração rápida
no modo de implantação e representação dos dados, representação de fenômenos
em movimento ou, ainda, alteração da escala cartográfica de maneira automá-
tica. Essa propriedade de interatividade deve ser sempre considerada de maneira
relativa, isto é, os produtos carto-
gráficos podem apresentar baixa
ão
caç
uni

ou alta interatividade na represen-


Com

tação dos fenômenos e não deve


Público
ser vista como uma propriedade
ou presente ou ausente de um
mapa. Essa propriedade, que pode, A
o pre
co s
ou não, favorecer a visualização, nh en
ão

ec tar
ç

id
liza

Privado

é assinalada no esquema desen- o


de Re
a
Visu

sc vel
on ar
volvido por MacEachren (1995) he o
cid
o Alta interatividade Baixa interatividade
e comumente denominada carto-
grafia ao cubo:
Figura 12 - O modelo “cartografia ao cubo” ou “cubo
cartográfico”
Fonte: adaptada de MacEachren (1995).

CARTOGRAFIA: PRÁTICA ANTIGA, CIÊNCIA RECENTE


35

Esse modelo conceitual demonstra a presença de três parâmetros que caracteri-


zam o mapa: o tipo de público atendido, o grau de interatividade do produto e
o tipo de função que desempenha. Os vértices opostos, formado nos polos con-
trários dos três parâmetros apresentados, indicam a atividade predominante que
um produto cartográfico pode desempenhar: produtos com alta interatividade,
usados por usuários do domínio privado para explorar novos conhecimentos,
priorizam a ação da visualização. Por outro lado, os usuários do domínio público,
com acesso aos produtos de baixa interatividade e que usam os mapas para deco-
dificar informações já confirmadas cientificamente estão inseridos nas atividades
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

típicas da comunicação cartográfica.

Quais atividades podem ser propostas aos alunos da Educação Básica para
que se aprenda as diferentes funções desempenhadas pelos mapas em um
processo investigativo?

Caro(a) aluno(a), para ver, na prática, como o modelo da cartografia ao cubo


funciona, acesse o QR Code a seguir:

Para ter mais informações sobre o conteúdo


cartografia ao cubo, consulte nosso
QR Code por meio da sua plataforma.

A Ciência Cartográfica
36 UNIDADE I

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
AS RELAÇÕES ENTRE A CARTOGRAFIA E A
GEOGRAFIA

Assim como apresentamos no início deste capítulo, existe uma relação muito
próxima entre o desenvolvimento do conhecimento geográfico dos povos e o desen-
volvimento de uma cartografia própria. A partir do estabelecimento da ciência
como forma prioritária de entender a realidade nos séculos XVIII e XIX, ocu-
pando o lugar da visão religiosa que vigorou na Idade Média, tanto a Geografia
quanto a Cartografia passaram a apresentar forte reciprocidade. Esta, auxiliando
o desenvolvimento do conhecimento geográfico sistematizado, e aquela, por sua
vez, promovendo o desenvolvimento de novas formas de representações espaciais.
É válido relembrar que há grande variedade de geografias reveladas pela história
do pensamento geográfico, cada qual com períodos que valorizavam abordagens,
problemas e paradigmas próprios do seu tempo. Da mesma forma, não há apenas
uma cartografia, mas várias, assim como veremos nas linhas seguintes.
A Cartografia é, atualmente, definida pela Associação Cartográfica
Internacional como uma disciplina que envolve a arte, a ciência e a tecnologia
na produção de mapas (DENT, 1985). Por mapa, entendemos uma imagem grá-
fica que mostra a localização de classes ou categorias de fenômenos no espaço
a partir de uma projeção ortogonal (KEATES, 1989). Além dos aspectos mais

CARTOGRAFIA: PRÁTICA ANTIGA, CIÊNCIA RECENTE


37

imediatamente tangíveis, a produção de mapas envolve a coleta de dados, seu tra-


tamento, sua generalização e sua simbolização. Logo, os desafios da Cartografia
não envolvem apenas as preocupações mais materiais, mas também cognitivas
no processo de produção e leitura dos produtos cartográficos.
De maneira geral, encontramos, na literatura cartográfica, uma classifica-
ção básica para os mapas em dois grandes grupos: mapas de referência e mapas
temáticos. Caro(a) aluno(a), assim como veremos ao longo deste livro, essa não
é a única forma de classificarmos os mapas, mas será o nosso ponto de partida.
Podemos definir os mapas de referência (ainda conhecidos como mapas gerais
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ou mapas de base) como as representações cartográficas que priorizam um alto


grau de exatidão na localização dos fenômenos do espaço, tanto naturais quanto
culturais. Geralmente, esses mapas são os primeiros gerados pelos Estados para
o conhecimento dos recursos naturais dos territórios e para o planejamento,
sendo comumente executados pelos exércitos.
As escalas cartográficas desses mapas são variadas - entre 1:10.000 e 1:100.000 -
e representam os recursos hídricos, as vias de circulação do território, as curvas de
nível, o arruamento das cidades, as fronteiras e limites administrativos e outros ele-
mentos da paisagem que se encontram ali de maneira permanente. O título desses
mapas remete sempre ao nome da localidade principal inserida no recorte espacial
feito pelo autor de mapas. Até a metade do século XVIII, este era o tipo de mapa domi-
nante, sendo a carta topográfica o seu produto típico (JOLY, 1990; KEATES, 1989).
A segunda grande categoria de mapas são os mapas temáticos (também
denominados mapas especiais), que têm como objetivo demonstrar a distri-
buição espacial de algum fenômeno geográfico específico. O desenvolvimento
dos mapas temáticos é posterior ao dos mapas de base, remontando ao século
XVIII. Seu surgimento ocorre pela necessidade de novas abordagens científicas
do espaço, pois a mera catalogação exaustiva dos aspectos visíveis da paisagem
presente na cartografia sistemática tornava-se cada vez menos suficiente para
entender os fenômenos e processos naturais “invisíveis”, como a dinâmica da pres-
são atmosférica, das chuvas, da temperatura ou até mesmo de algumas doenças.
Passava-se, portanto, do estabelecimento de classes eminentemente visuais para
categorias mentais dos fenômenos, geralmente, ressaltando sua estrutura (DENT,
1985; MARTINELLI, 2009). Os mapas temáticos podem ter inumeráveis temas,

As Relações Entre a Cartografia e a Geografia


38 UNIDADE I

mas, geralmente, são divididos em dois subgrupos: os qualitativos (que mostram a


distribuição ou localização de algum fenômeno) e os quantitativos (que mostram
os aspectos numéricos dos fenômenos especializados). Por desenvolver e dispor de
novas técnicas para a representação de uma gama cada vez maior de fenômenos,
a Cartografia passou a ganhar um papel cada vez mais relevante na exploração,
confirmação, síntese e apresentação do conhecimento geográfico sistematizado.
Voltemos à nossa questão inicial: como a Cartografia responde às mudanças
de paradigmas da Geografia no estudo do espaço? Seria possível identificarmos
tipos privilegiados de mapas nas correntes do pensamento geográfico? Mais do

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
que determinarmos os tipos de mapas que cada momento histórico da Geografia
prioriza, devemos entender quais são as maneiras que os geógrafos utilizam os
mapas para subsidiar suas investigações. Na Geografia Clássica, por exemplo, que
priorizava a catalogação e descrição do espaço, os mapas eram ferramentas usa-
das para a indicação da localização dos cursos d’água, a extensão da vegetação ou
mesmo das cidades. Na Geografia Regional, os mapas eram empregados para a
regionalização e a identificação das particularidades de um determinado recorte
espacial tanto para fins acadêmicos quanto para o planejamento do território.
No contexto da Nova Geografia, que propõe estudar as organizações espa-
ciais por meio do emprego de teorias, modelos e técnicas matemáticas, o mapa
passa a ser entendido como um modelo da realidade:
É relativamente fácil visualizar os mapas como modelos representativos do
mundo real, mas é importante compreender que eles são também modelos
conceituais que contêm a essência de generalizações da realidade. Nessa
perspectiva, mapas são instrumentos analíticos úteis que ajudam os inves-
tigadores a verem o mudo real sob uma nova luz ou até proporcionar-lhes
uma visão inteiramente nova da realidade (BOARD, 1975, p. 140).

De maneira mais imediata, não há nenhum problema em tratarmos os mapas como


modelos quando temos a consciência da sua insuficiência em esgotar toda a dinâ-
mica e a complexidade do espaço geográfico. O problema maior, que gerou uma
série de críticas a essa Geografia Quantitativa, foi a adoção de técnicas estatísticas
para a geração de dados sem um questionamento sobre o significado histórico dos
processos que produziram as características do espaço investigado. É válido lem-
brar que o mapa nunca pode ser visto como um produto com um fim em si mesmo,
isto é, sem um uso que envolva o entendimento de algum aspecto do espaço.

CARTOGRAFIA: PRÁTICA ANTIGA, CIÊNCIA RECENTE


39

No período de renovação da Geografia, surgiu uma corrente que, segundo


Christofoletti (1982), tem como foco centralizar a experiência individual ou do
grupo, na busca da compreensão do comportamento e da percepção das pessoas
em relação aos seus lugares. Esse movimento utiliza a fenomenologia existencial
para delimitar a noção de espaço como o espaço presente, permeado de senti-
mentos, imaginação e subjetividades. Nesse movimento, a Cartografia centra-se
nos estudos da percepção do espaço pelo indivíduo e na influência dos elemen-
tos cartográficos na percepção das pessoas. Contudo, de que forma?
De acordo com Claval (2011), no início dos anos 60, os geógrafos ficaram
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

fascinados com os estudos desenvolvidos por Kevin Lynch sobre a imagem que
as pessoas construíam em relação às cidades que habitavam, pedindo para que
estas desenhassem, em folhas em branco, mapas espontâneos, também denomi-
nados de mapas mentais, que podem ser considerados:
Imagens espaciais que as pessoas têm de lugares conhecidos, direta ou
indiretamente. As representações espaciais mentais podem ser do es-
paço vivido no cotidiano, como por exemplo, os lugares construídos
do presente ou do passado; de localidades espaciais distantes, ou ainda,
formadas a partir de acontecimentos sociais, culturais, históricos e eco-
nômicos, divulgados nos meios de comunicação (ARCHELA; GRA-
TÃO; TROSTDORF, 2004, p. 127).

Figura 13 - Exemplo de mapa mental desenhado por um adolescente de 14 anos


Fonte: Archela, Gratão e Trostdorf (2004).

As Relações Entre a Cartografia e a Geografia


40 UNIDADE I

O mapa mental é um elemento intangível, presente na memória dos seres huma-


nos, utilizado para a localização, orientação e julgamentos espaciais. Entretanto,
esse termo é frequentemente adotado para nomear os desenhos espontâneos,
esquemáticos e pouco rigorosos, do ponto de vista matemático, que os seres
humanos produzem, geralmente, em folhas de papel. No ensino de Geografia,
esse tipo de recurso é muito utilizado nas séries iniciais como recurso para o
diagnóstico de apreensões gerais dos alunos e como ponto de partida para ama-
durecer uma alfabetização cartográfica.
No ensino de Geografia, a Cartografia é considerada uma linguagem impor-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tante na promoção do entendimento do espaço geográfico, cujo interesse tem-se
mostrado crescente entre os professores desde a publicação dos Parâmetros
Curriculares Nacionais de Geografia, na década de 1990. Esse aspecto, todavia,
será aprofundado nos próximos capítulos, pois a alfabetização cartográfica exige
a adoção de estratégias especiais pelo professor de Geografia.

CARTOGRAFIA: PRÁTICA ANTIGA, CIÊNCIA RECENTE


41

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) aluno(a), a Cartografia é um conhecimento que sempre esteve presente


nas sociedade. Além de ser uma ferramenta para localização e deslocamento
dos grupos, os mapas se constituem como formas de ver e entender a realidade,
característica cada vez mais valorizada pela Cartografia Histórica. É evidente
que, dada a grande variedade de culturas e demandas, seus aspectos são diversos
quando olhamos os mapas dos povos antigos, mas todos indicam a necessidade
de os seres humanos conhecerem o seu espaço.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Embora seja um saber antigo, a sistematização da Cartografia enquanto


ciência autônoma é recente, datando após a Segunda Guerra Mundial. Em um
primeiro momento, o paradigma vigente na ciência cartográfica considerava o
mapa como um canal de informação de uma mensagem pré-determinada, mas
esse paradigma mostrou-se insuficiente, pois os mapas não possuem, necessa-
riamente, uma quantidade de informação controlada pelo seu autor. O conceito
de visualização cartográfica emerge, então, considerando o mapa em sua função
mais ampla, de gerar imagens mentais do espaço, o que abriu novas perspec-
tivas para que as modernizações tecnológicas – inclusive, a Cartografia Digital
– encontrasse um arcabouço teórico consistente.
Estabelecer a especificidade do perfil do provável usuário de mapas, embora
seja um dado importantíssimo no estabelecimento das diretrizes do projeto car-
tográfico, é uma tarefa que exige um cuidado, por parte do autor, ainda maior.
Isso ocorre, porque os computadores, dispositivos móveis e a Internet torna-
ram as geoinformações mais acessíveis para um número muito maior e diverso
de usuários.
Podemos afirmar que o saber cartográfico e geográfico, mesmo se concen-
trando em campos distintos – o primeiro tendo interesse em representar o espaço,
enquanto o segundo preocupa-se em compreendê-lo – estão conectados desde
antes da invenção da escrita. Hoje, a Cartografia auxilia a Geografia na geração
de visualizações para exploração, confirmação, síntese e apresentação de novos
conhecimentos, sendo uma ferramenta importantíssima para o ensino de geo-
grafia nas escolas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
42

1. Embora a Cartografia seja uma prática milenar, sua sistematização em uma ci-
ência autônoma aconteceu somente após a Segunda Guerra Mundial. Assinale
a alternativa que corresponde à principal característica desse reconhecimento:
a) O surgimento de uma nova categoria de mapas denominada mapas temáti-
cos que reflete o desenvolvimento tecnológico e as novas formas de coletas
de dados.
b) A adoção de um paradigma científico denominado comunicação cartográfi-
ca que orientou as pesquisas em Cartografia.
c) O desenvolvimento tecnológico dos computadores e dos mapas digitais.
d) O começo da utilização de mapas para a reconstrução das regiões destruí-
das pela guerra.
e) O amadurecimento da geovisualização como conceito estruturador do pro-
jeto cartográfico.
2. A visão moderna da história da Cartografia reconhece um espectro mais am-
plo de representações espaciais como mapas legítimos. Um dos motivos dessa
mudança de perspectiva é o abandono da visão eurocêntrica como parâmetro
único de visão correta do mundo. Considerando essa tendência, analise as afir-
mações seguintes:
I. A moderna história da Cartografia considera os aspectos cartométricos
como balizadores na diferenciação entre um mapa e um desenho qualquer.
II. O conceito de visualização cartográfica pode ser empregado na problemati-
zação dos mapas pré-históricos.
III. Um dos aspectos que diferencia os mapas antigos dos atuais é que estes
possuem a preocupação de serem compreendidos pelo maior número de
pessoas possível.
IV. Até mesmo os povos sem escrita desenvolveram mapas para a realização de
itinerários pelo território.
É correto o que se afirma em:
a) I e II, apenas.
b) II e III, apenas.
c) IV, apenas.
d) II, III e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.
43

3. Considerando os mapas apresentados na figura a seguir, julgue as afirmações


a seguir com (V) para as Verdadeiras e (F) para as Falsas:

Fonte: https://enterprise.google.com.br/intl/pt-BR/maps/products/mapsapi.html

( ) A capacidade do usuário de alterar as formas de visualização de um fenôme-


no representado é um exemplo de interatividade.
( ) É possível afirmarmos que os dois mapas cumprem, de maneira satisfatória,
o mesmo objetivo.
( ) Predominantemente, os usuários que utilizam os dois mapas pertencem ao
domínio privado
( ) A vertente psicofísica dos estudos em Cartografia fornece estudos para jus-
tificar a escolha do melhor trajeto definido nos mapas.
A sequência correta é:
a) V, F, F, F.
b) V, V, F, F.
c) F, V, V, V.
d) F, F, F, V.
e) V, V, V, F.
44

4. Todo mapa cumpre uma função, isto é, não pode ser compreendido como um
produto isolado com um fim em si mesmo Considerando o primeiro paradig-
ma da Cartografia, qual é o papel que o usuário de mapas passa a ter na elabo-
ração do projeto cartográfico?
5. O conceito de visualização cartográfica considera que um produto cartográfi-
co pode cumprir diferentes papéis na construção do conhecimento científico.
Identifique quais papéis são esses e forneça exemplos que poderiam ser leva-
dos para os alunos da Educação Básica.
45

Desconstruindo o mapa

No final da década de 1980 e início da década de 1990, principalmente na literatura


anglo-saxônica, ampliou-se a discussão sobre natureza subjetiva e retórica do mapa.
Um dos precursores dessa discussão foi J. Brian Harley, com seu artigo Deconstructing
the map, publicado na revista Cartographica em 1989. Harley (1989) propõe uma leitura
da natureza da Cartografia a partir da concepção do mapa como uma construção social.
Com base principalmente nas obras de Derrida e Foucault, o autor propõe a descons-
trução do mapa por meio da análise de sua textualidade e de sua natureza retórica e
metafórica. Harley afirma que as análises conceituais usuais da história da Cartografia
se baseavam em fundamentos filosóficos que estabeleciam uma leitura pré-moderna
ou então moderna do tema e, por isso, era necessário desenvolver uma análise a par-
tir de fundamentações filosóficas que permitissem uma leitura pós-moderna. Para isso,
Harley afirma que a estratégia de desconstrução seria a chave. O autor apresenta a des-
construção como “tática para romper a ligação entre realidade e representação que tem
dominado o pensamento cartográfico. [...] o objetivo é sugerir que uma epistemologia
alternativa, baseada mais na teoria social do que no positivismo científico, é mais apropria-
da para a história da Cartografia (p. 02, grifo do autor).
Da teoria de Foucault, Harley (1989) utiliza, para o processo de desconstrução do pensa-
mento cartográfico, a ideia da “onipresença do poder em todo o conhecimento, mesmo
sendo o poder invisível ou implícito, incluindo o conhecimento particular codificado
nos mapas e atlas”. Das ideias de Derrida, ele toma a presença de retórica em todos os
textos, o que “demanda uma busca por metáfora e retórica em mapas que antes os pes-
quisadores encontravam somente medidas e topografia” (p. 03). Nesse sentido, o mapa
é visto como um texto a partir da compreensão de que “‘o que constitui um texto não
é a presença de elementos de linguística, mas o ato de construção’, sendo assim os ma-
pas, como ‘construções que empregam um sistema de signos convencional’, tornam-se
texto” (p. 07). Os mapas são artefatos culturais. A partir desses princípios, o autor propõe
que a desconstrução do mapa é uma forma de leitura que
Nos leva a ler nas entrelinhas do mapa – “nas margens do texto” – e, atra-
vés de suas figurações, a descobrir os silêncios e as contradições que de-
safiam a aparente honestidade da imagem. Começamos a aprender que
os fatos cartográficos somente são fatos dentro de uma perspectiva cul-
tural específica. Começamos a entender como os mapas, assim como a
arte, longe de serem “uma abertura transparente para o mundo”, são, no
entanto “uma maneira particular do homem... olhar o mundo” (HARLEY,
1989, p. 03, grifo do autor).
Neste contexto, a Cartografia é conceituada pelo autor como “um discurso – um sistema
que dispõe de um conjunto de regras para a representação do conhecimento intrínseco
às imagens que definimos como mapas e atlas” (p. 12). O autor apresenta duas formas
de poder na Cartografia: a externa e a interna. Por poder externo, ele entende o poder
exercido por alguém sobre o mapeamento; não é o poder intrínseco ao mapa e ao ma-
46

peador, mas sim o poder que é fruto da demanda do contratante para quem o mapa é
elaborado. Já o poder interno é o poder próprio do mapa, exercido a partir da seleção
e hierarquização dos elementos representados (HARLEY, 1989). Podemos concluir que
esses dois poderes são indissociáveis, pois só a partir do poder interno é que o poder
externo pode existir, já que é o tratamento das técnicas e dos elementos representados
que possibilita diversas expressões de um mesmo espaço.
Fonte: adaptado de Girardi ([2019], on-line)⁶.
MATERIAL COMPLEMENTAR

O descobrimento da Terra: História e histórias da


aventura cartográfica
Oswald Dreyer-Eimbcke
Editora: Melhoramentos e Edusp
Sinopse: este livro mostra que o descobrimento da Terra não foi
somente obra de um empreendimento planejado e executado pelas
potências marítimas da Europa. Ao contrário: o acaso, mitos, enganos
e preconceitos também levaram a muitas descobertas curiosas e
originaram surpreendentes representação cartográficas. Baseado na
documentação de um grande número de mapas e cartas geográficas, o
autor narra a história e as histórias empolgantes do descobrimento da
Terra.

O site da competição de mapas feitos por crianças em homenagem à Barbara Petchenik mostra
uma série de mapas criados por jovens do mundo todo. Eles expressam visões, desejos e medos
de centenas de crianças!
Web: https://childrensmaps.library.carleton.ca/.

Material Complementar
REFERÊNCIAS

ARCHELA, R. S.; GRATÃO, L. H. B.; TROSTDORF, M. A. S. O lugar dos mapas mentais na


representação do lugar Geografia, v. 13, n. 1, p. 127-141, 2004.
BOARD, C. Os mapas como modelos. In: HAGGETT, P.; CHORLEY, R. J. (org.). Modelos
físicos e de informação em Geografia. Rio de Janeiro: Editora da Universidade de
São Paulo, 1975. p. 139-184.
CHRISTOFOLETTI, A. As perspectivas dos estudos geográficos. In: CHRISTOFOLETTI,
A. Perspectivas da Geografia. São Paulo: Difel, 1982.
CLAVAL, P. A revolução pós-funcionalista e as concepções atuais da Geografia. In:
MENDONÇA, F.; KOZEL, S. (org.). Elementos de epistemologia da geografia con-
temporânea. Curitiba: Editora da UFPR, 2009. p. 11-46.
CLAVAL, P. Epistemologia da Geografia. Florianópolis: Editora UFSC, 2011.
CORREA, R. L. Reflexões sobre Paradigma, Geografia e Contemporaneidade. Revista
da Anpege, v. 7, n. 1, p. 59-65, 2011.
CROSBY, A. W. A mensuração da realidade. São Paulo: Editora Unesp, 1999.
DENT, B. D. Principles of thematic map design. Massachussetts: Addison-Wesley,
1985.
DIBIASE, D. Visualization in the Earth Sciences. Earth and Mineral Science, v. 59, n.
2, p. 13-18, 1990.
DUARTE, P. A. Fundamentos de Cartografia. 2. ed. Florianópolis: Editora da UFSC,
2002.
DREYER-EIMBCKE, O. O descobrimento da Terra. São Paulo: Melhoramentos/Edusp,
1996.
GARBIN, E. P. Contribuições da semiótica peirceana para a caracterização da se-
miose da carta topográfica. 2016. Dissertação (Mestrado em Geografia), Universi-
dade Estadual de Maringá, Maringá.
HARLEY, J. B. A nova história da Cartografia. In: Correio da Unesco, a. 19, n. 8, p. 4-9,
ago.1991.
HARVEY, D. Condição Pós-Moderna. 18. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2009.
JOLY, F. A Cartografia. 6. ed. Campinas: Papirus, 1990.
KEATES, J. Cartographic design and production. 2. ed. New York: Longman Scien-
tific & Technical, 1989.
KENT, A. J. Form Follows Feedback: Rethinking Cartographic Communication. West-
minster Papers in Communication and Culture, v. 13, n. 2, p. 96-112, 2018.
MACEACHREN, A. M. How Maps Work: representation, visualization, and design.
New York: The Guilford Press, 1995.
49
REFERÊNCIAS

MATIAS, L. F. Por uma cartografia geográfica - uma análise da representação car-


tográfica na geografia. 1996. Dissertação (Mestrado), FFLHC, Universidade de São
Paulo, São Paulo.
MARTINELLI, M. A sistematização da cartografia temática. In: ALMEIDA, R. D. (org.).
Cartografia escolar. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2009. p. 193-220.
MONTELLO, D. R. Cognitive Map-Design Research in 20Th Century: theoretical and
empirical approaches. Cartography and Geographic Information Science, v. 29,
n. 3, p. 283-304, 2002.
RAISZ, E. Cartografia Geral. Rio de Janeiro: Editora Científica, 1969.
ROBINSON, A. H. The look of maps: an examination of cartographic design. Madi-
son, Milwaukee e Londres: The University of Wisconsin Press, 1952.
SANTAELLA, L. O que é Semiótica. São Paulo: Brasiliense, 2012.
SANTIL, F. L. D. P.; SLUTER, C. R. S. As Pesquisas Em Cognição Visual Aplicadas À Carto-
grafia. Revista Brasileira de Cartografia, n. 64/2, p. 367-376, 2011.

REFERÊNCIAS ON-LINE
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-hoeyuek-volcan-ou-peau-de-leopard-11824.php. Acesso em: 15 jul. 2019.
2 Em: http://www.ancient-wisdom.com/Images/maps/catalhuyuk6200bc.jpg.
Acesso em: 15 jul. 2019.
3 Em: http://www.openculture.com/2017/04/ancient-world-maps-that-change-
d-the-world-see-maps-from-ancient-greece-babylon-rome-and-the-islamic-
-world.html. Acesso em: 15 jul. 2019.
4 Em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/b8/JapanesePorto-
lanMap.jpg. Acesso em: 15 jul. 2019.
5 Em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Topographic_map_example.png.
Acesso em: 16 jul. 2019.
6 Em: http://www2.fct.unesp.br/nera/atlas/cgc_c.htm. Acesso em: 16 jul. 2019.
GABARITO

1. B.
2. C.
3. A.
4. No paradigma da comunicação cartográfica, o usuário passa a ser considerado
um ente fundamental na construção do mapa, pois se deve compreender quais
são as suas necessidades e seu repertório de conhecimento, para que se produ-
zam mapas com a menor quantidade de ruídos possíveis.
5. A comunicação cartográfica específica tem quatro papéis no uso dos mapas:
exploração, confirmação, síntese e apresentação. Na exploração, o professor po-
deria levar rabiscos iniciais de mapas, explorando a relação entre a presença de
água contaminada e cólera, por exemplo. Na confirmação, os alunos poderiam
ser levados para a sala de informática e confirmarem que existe uma relação
entre áreas com relevo acidentado e escorregamentos. Na fase da síntese, os
alunos poderiam elaborar um mapa de áreas de risco de tsunamis. Por fim, na
apresentação, o professor poderia levar um atlas geográfico.
Prof. Me. Estevão Pastori Garbin
Prof. Me. Thiago César Frediani Sant’Ana

II
ELEMENTOS E PROCESSOS

UNIDADE
FUNDAMENTAIS PARA A
COMUNICAÇÃO CARTOGRÁFICA

Objetivos de Aprendizagem
■■ Apresentar os principais produtos cartográficos utilizados na
Geografia.
■■ Discutir o processo de seleção, generalização e simbolização do
projeto cartográfico.
■■ Discutir o papel da escala cartográfica.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Os produtos cartográficos básicos
■■ As etapas do projeto cartográfico
■■ Escala cartográfica
53

INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), embora os mapas estejam cada vez mais presentes em nosso
dia a dia, isso não significa que as pessoas tenham facilidade no uso e, princi-
palmente, na sua construção. Isso não ocorre apenas pela ausência de domínio
das técnicas ou da falta de conhecimento no manuseio de softwares de produção
gráfica, mas principalmente pela ausência de conhecimento das implicações que
os processos e técnicas de representação podem causar no usuário do produto.
Nesse sentido, abordaremos, nesta unidade, quais são os principais produtos
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

cartográficos empregados na Geografia para, posteriormente, discutirmos os pro-


cessos e elementos que constituem o mapa. Nosso objetivo é mostrar o motivo de
os mapas serem altamente dependentes da capacidade de seus autores e como a
ausência de conhecimento sobre alguns procedimentos básicos podem induzir à
leitura de mapas de maneira equivocada. Para tanto, trataremos do processo de
seleção e generalização cartográfica, discutindo as particularidades que envolvem
a sua linguagem.
Em seguida, discutiremos os pressupostos básicos da semiologia gráfica,
mostrando quais são as maneiras corretas de representarmos as diferentes rela-
ções que os dados presentes nos mapas podem apresentar. A semiologia gráfica
é uma teoria bem estabelecida, sobretudo, na cartografia temática, sendo consi-
derada um verdadeiro referencial para a construção dos produtos cartográficos,
mas nem por isso é comumente aplicada – inclusive por órgãos do governo, como
o próprio Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Por fim, conheceremos como escolher e calcular a escala cartográfica em
um mapa – um assunto que desperta certa ansiedade nos alunos de Geografia.
A escala está diretamente associada ao nível de detalhamento que um produto
cartográfico tem e, diante disso, está diretamente ligada ao processo de defini-
ção do projeto de mapas.
Esperamos que esta unidade auxilie em sua caminhada como futuro(a)
professor(a) de Geografia, pois os conteúdos aqui desenvolvidos possuem uma
presença obrigatória no currículo escolar desta disciplina. Bons estudos!

INTRODUÇÃO
54 UNIDADE II

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
OS PRODUTOS CARTOGRÁFICOS BÁSICOS

Iniciaremos o conteúdo programático desta unidade apresentando o significado


– ou, assim como veremos, os problemas envolvidos na definição – dos prin-
cipais produtos cartográficos utilizados na Geografia. Além de esclarecermos e
distinguirmos alguns conceitos, nosso objetivo é levá-lo a entender as principais
diferenças e potencialidades dessas representações. Vamos começar?

Mapa e carta

O termo mapa, embora seja de uso comum na Cartografia, apresenta alguns


problemas de definição se o compararmos ao termo carta, pois, muitas vezes,
são tomados como sinônimos. De maneira geral, o termo mapa é reconhecido
como uma representação plana de uma grande porção do espaço, mesmo que
não exista um limite exato para definir quão grande ou pequena pode ser consi-
derada esta porção. O IBGE (1998), por exemplo, define que os mapas delimitam

ELEMENTOS E PROCESSOS FUNDAMENTAIS PARA A COMUNICAÇÃO CARTOGRÁFICA


55

sua área de interesse com acidentes naturais ou divisões político-administrativas,


enquanto as cartas seriam divididas de acordo com os paralelos e meridianos.
No entanto, Oliveira (1993) aponta que essa particularidade varia de acordo com
o uso corrente do termo em um idioma: no Brasil, os mapas são, geralmente,
associados à representação da superfície terrestre e estão pouco associados à
navegação ou aos oceanos.
Duarte (2002, p. 123), por outro lado, considera que:
Há entre nós uma tendência ao uso de mapa como designativo geral,
reservando-se carta e planta para espécies de mapas. Parece-nos até ser
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

o modo correto. Assim, podemos fazer, inclusive, um jogo de palavras,


dizendo-se que cartas e plantas são mapas, mas nem todo mapa é carta
ou planta. Mapa seria o gênero; carta e planta, as espécies.

Etimologicamente, a distinção entre mapa e carta parece mais clara, e indica o tipo
de material que o produto é confeccionado. No caso, a palavra mapa teria origem
cartaginesa, que significa toalha de mesa geralmente, feita em tecido ou pele de
animal. Já o termo carta teria origem egípcia e significa papel (OLIVEIRA, 1993).
No ensino de Geografia, a distinção entre mapas e cartas pode variar segundo
o autor do livro didático. Alguns, por exemplo, utilizam o critério da escala car-
tográfica; outros, o nível de detalhamento e precisão usados nos produtos para
estabelecer essa distinção terminológica. Embora sejam propostas válidas, res-
saltamos que o professor de Geografia deve discutir com seus alunos sobre esse
problema nas definições, apresentando as diferentes faces que os mapas e as car-
tas assumem ao longo da história. Esse aspecto não pode ser encarado como um
problema negativo, mas como um sinal da riqueza e complexidade da história e
do uso dos mapas pelos seres humanos.
Os mapas e as cartas apresentam várias subcategorias, dentre as quais assi-
nalamos algumas:
a. Mapa cadastral: mapa com uma escala cartográfica grande (1:500 a
1:25.000), isto é, que representa uma área geográfica pequena. Oferece um
nível elevado de detalhamento e é utilizado para demarcações precisas de

Os Produtos Cartográficos Básicos


56 UNIDADE II

lotes e edificações. De acordo com Gaspar (2005), eles nasceram com pro-
pósitos fiscais, constituindo um importante instrumento no ordenamento
territorial. Um exemplo de mapa cadastral pode ser visto na Figura 1:

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 1 - Mapa cadastral de um bairro de Curitiba
Descrição de imagem: exemplo de mapa cadastral. Note que a escala cartográfica grande permite um
detalhamento das divisões dos lotes, possibilitando que a administração municipal tenha um olhar mais
minucioso do território.
Fonte: IPPUC ([2019], on-line)1.

b. Mapa corográfico: representa os dados estatísticos de vastas regiões,


países ou continentes (nesse caso, entende-se que a escala cartográfica é
sempre pequena). O termo corográfico deriva das palavras gregas cho-
ros (lugar) e pleth (valor), assim como pode ver visto nas Figuras 2 e 3:

ELEMENTOS E PROCESSOS FUNDAMENTAIS PARA A COMUNICAÇÃO CARTOGRÁFICA


57
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 2 - Exemplo de um mapa corográfico da Austrália, indicando as áreas de maior densidade


populacional no país
Fonte: Wikipedia (2019, on-line)2.

Figura 3 - Exemplo de um mapa corográfico do Brasil, indicando as áreas de maior densidade de


povoamento
Fonte: Wikipedia (2018, on-line)3.

Os Produtos Cartográficos Básicos


58 UNIDADE II

c. Mapa hipsométrico: representa o terreno ou o relevo submarino em


termos de altitude, acima ou abaixo de um plano de referência, seja em
curvas, em sombreado ou em cores, como expresso na Figura 4:

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 4 - Exemplo de mapa hipsométrico do Rio Grande do Sul
Fonte: Atlas Socioeconômico-RS (2019, on-line)4.

d. Mapa-mudo: comumente para uso escolar, não apresenta letreiros ou


informações gerais. Geralmente, é um mapa que indica apenas os limi-
tes de uma área, assim como exemplificam as Figuras 5 e 6:

ELEMENTOS E PROCESSOS FUNDAMENTAIS PARA A COMUNICAÇÃO CARTOGRÁFICA


59
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 5 - Exemplo de um mapa-mudo do Brasil: note que ele apresenta apenas os limites territoriais,
cabendo, ao aluno, a complementação das informações
Fonte: IBGE ([2019], on-line)5.

Figura 6 - Mapa-mudo dos continentes


Fonte: IBGE ([2019], on-line)6.

Os Produtos Cartográficos Básicos


60 UNIDADE II

e. Mapa turístico: representação espacial cuja função é atender às necessi-


dades de turistas. Geralmente, utilizam uma linguagem cartográfica que
não exige o conhecimento sistemático das convenções da Cartografia e
costumam apresentar um grau relativo de exatidão no posicionamento
dos pontos de interesse, assim como exemplificam as Figuras 7 e 8:

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 7 - Mapa turístico do Rio de Janeiro
Fonte: Rio de Janeiro Aqui ([2019], on-line)7.

Figura 8 - Mapa turístico da cidade de Curitiba


Fonte: Multimídia Turismo ([2019], on-line)8.

ELEMENTOS E PROCESSOS FUNDAMENTAIS PARA A COMUNICAÇÃO CARTOGRÁFICA


61

Existe uma grande diferença entre um mapa e uma fotografia aérea. Em pri-
meiro lugar, a fotografia mostra todos os objetos que o sensor fotográfico
pode captar, e somente esses; o mapa, por outro lado, mostra uma seleção
mais ou menos criteriosa de entidades naturais e artificiais, visíveis e invisí-
veis, com maior ou menor detalhamento. Em segundo lugar, estas entida-
des são representadas de forma convencional, através de uma simbologia
própria, o que não acontece em uma fotografia aérea.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Fonte: Gaspar (2005, p. 5).

Planta

Representação espacial que possui uma escala cartográfica muito grande, isto
é, compreende áreas muito pequenas e com um nível elevado de detalhamento.
Empregada, principalmente, na visualização de detalhes de edificações, assim
como mostra a Figura 9:

Figura 9 - Exemplo de uma planta cartográfica. Destaque para o elevado número de detalhes evidenciados
na representação

Os Produtos Cartográficos Básicos


62 UNIDADE II

Croqui

Os croquis podem ser considerados esboços iniciais de mapas, utilizados, prin-


cipalmente, em circunstâncias nas quais a representação não precisa apresentar
elevado grau de exatidão de uma área ou como ferramenta para organização
preliminar de informações coletadas em campo. Os croquis também são deno-
minados de esboço, assim como mostra a Figura 10:

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 10 - Exemplo de croqui ou esboço cartográfico


Fonte: Neves (2006, on-line)9.

ELEMENTOS E PROCESSOS FUNDAMENTAIS PARA A COMUNICAÇÃO CARTOGRÁFICA


63

Globo

O globo é uma representação cartográfica da


superfície terrestre construída sobre uma esfera.
Trata-se de uma solução que causa menos distor-
ções se comparada com a projeção em superfícies
planas, mas pouco prática para seu transporte e
acondicionamento. O primeiro globo que se tem
conhecimento foi gerado pelo grego Crates (150
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

a.C.) e, no Renascimento, destacou-se o globo ter-


restre de Martin Behaim, em Nuremberg (1492)
(OLIVEIRA, 1993).

Figura 11 - Exemplo de globo terrestre

Mosaico

Denominamos mosaico um conjunto de fotos de uma determinada área, recor-


tado e montado, técnica e artisticamente, de forma a dar a impressão de que
todo o conjunto é uma única fotografia (IBGE, 1998). Esse tipo de produto é,
particularmente, usado no planejamento regional, pois oferece uma visão aérea
de vastas áreas. Na Figura 12, apresentamos um exemplo de mosaico de parte
do rio Amazonas:

Os Produtos Cartográficos Básicos


64 UNIDADE II

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 12 - Mosaico do rio Amazonas
Fonte: INPE (2008, on-line)10.

Carta imagem

Produto que se constitui de imagens de satélite retificadas e georreferenciadas, super-


posta por reticulado da projeção, podendo conter símbolos e toponímias (IBGE, 1998).

Figura 13 - Exemplo de uma carta imagem


Fonte: Alagoas em dados e informações ([2019], on-line)¹¹.

ELEMENTOS E PROCESSOS FUNDAMENTAIS PARA A COMUNICAÇÃO CARTOGRÁFICA


65

Ortofotocarta

Uma ortofotografia é uma fotografia resultante da transformação de uma foto


original, uma perspectiva central do terreno, em uma projeção ortogonal sobre
um plano, complementada por símbolos, linhas e georreferenciada, com ou sem
legenda, podendo conter informações planimétricas (IBGE, 1998), assim como
mostra a Figura 14:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 14 - Exemplo de ortofotocarta


Fonte: Lira et al. (2017, p. 1564).

Ortofotomapa

Conjunto de várias ortofotocartas adjacentes de uma determinada região (IBGE, 1998).

Os Produtos Cartográficos Básicos


66 UNIDADE II

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
AS ETAPAS DO PROJETO CARTOGRÁFICO

Por serem modelos simplificados da realidade, os mapas necessitam passar por


uma série de etapas responsáveis pela seleção, tratamento e representação das
informações que atenderão as demandas do usuário final. Essas são etapas que
independem do tipo ou da categoria a que o mapa pertence, mas que dependem
do repertório de conhecimento do seu elaborador, como é o caso do geógrafo.
Essa fase inicial, denominada projeto cartográfico, é constituída, sobretudo, pela:
(a) definição dos objetivos e do público do mapa; (b) seleção das informações
que serão utilizadas; (c) as formas mais adequadas de generalização; e a (d) sim-
bolização, atendendo às necessidades do perfil do futuro usuário do mapa, como
discutido na Unidade I.
Para Sluter (2008, p. 6),
O cartógrafo deve, com a ajuda do usuário, relacionar e descrever estas
tarefas [que serão desenvolvidas com o mapa], compreender como o
usuário de mapas as realizará e como utilizará os mapas para, justa-
mente, cumprir as tarefas que lhe são atribuídas.

Finalizando essa fase de elencar o perfil do usuário e os usos do mapa, segue-se


para a fase de seleção. De acordo com Gaspar (2005, p. 160):

ELEMENTOS E PROCESSOS FUNDAMENTAIS PARA A COMUNICAÇÃO CARTOGRÁFICA


67

A fase da seleção consiste, basicamente, em identificar as categorias de


informação a incluir no modelo, em função do seu objetivo. Trata-se de
um processo estreitamente condicionado pelo propósito da representa-
ção, o que significa que dele depende o sucesso ou insucesso da mesma.

O que significa identificar as categorias de informação? Como realizar essa seleção?


Uma característica curiosa dos mapas e que a maioria das pessoas não per-
cebe é que todo fenômeno presente na legenda não representa um fato geográfico
singular, único, mas uma classe de fenômenos que compartilha uma mesma carac-
terística (GARBIN, 2016; KEATES, 1982). No caso de um curso d’água representado
comumente por uma linha azul, todos os cursos d’água que empregam um mesmo
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

símbolo têm o mesmo significado, sendo as coordenadas geográficas as responsáveis


por indicarem a localização particular de cada fenômeno, tornando-os singulares.
No processo de seleção das informações relevantes para compor o mapa, o autor
deve pensar em quais atributos são importantes para facilitar o entendimento do lei-
tor: se o objetivo é elaborar uma carta topográfica, serão representados os acidentes
topográficos, as redes hidrográficas, a vegetação, as vias de comunicação, os limites
administrativos e entre outros. Não se trata de decidir se apenas alguns dos aciden-
tes topográficos, cursos d’água ou limites administrativos serão representados, mas
decidir quais categorias ou classes de fenômenos serão importantes para compor
o mapa, bem como a base cartográfica adequada (GASPAR, 2005). Por base carto-
gráfica, compreende-se “o conjunto de todas as informações cartográficas que têm a
função de servir como referência espacial ao tema representado” (SLUTER, 2008, p. 7).
O terceiro processo presente no projeto cartográfico, sucessivo ao da seleção,
é denominado generalização cartográfica. A generalização consiste na adaptação
das informações elencadas na fase de seleção, de acordo com as características
do leitor de mapas e sua consequente adaptação às circunstâncias técnicas que
envolve a confecção do mapa, como o tamanho do papel ou o tipo de material
disponível para sua construção. A razão principal para a existência dessa fase é o
fato de que os mapas apresentam uma escala menor do que o fenômeno repre-
sentado, o que exige que este passe por um tratamento, para que não torne o
mapa muito poluído visualmente ou até mesmo ilegível (KEATES, 1989).
A generalização, assim como você pode perceber, caro(a) aluno(a), com-
parando os mapas em escalas diferentes na Figura 15, pode ser realizada de
maneira muito distinta, além de induzir o leitor de mapas a visualizar algumas

As Etapas do Projeto Cartográfico


68 UNIDADE II

características de uma área em detrimento de outras. Vamos estudar alguns des-


ses procedimentos?

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Maior
ESCALA CARTOGRÁFICA
Menor

Figura 15 - O papel da escala na generalização cartográfica


Descrição de imagem: Implicações da generalização cartográfica com a mudança de escala em um software
de mapas digitais.
Fonte: adaptada de Brasil (2017, on-line).

ELEMENTOS E PROCESSOS FUNDAMENTAIS PARA A COMUNICAÇÃO CARTOGRÁFICA


69

a. Classificação: o objetivo do procedimento de classificação é a tipificação


e o ordenamento da informação que estará presente no mapa. Seu papel
é buscar a simplicidade, mesmo que, para isso, agrupe os dados em clas-
ses maiores para realçar o fenômeno principal (GASPAR, 2005).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 16 - Classificação de lotes distintos em um quarteirão


Fonte: os autores.

b. Simplificação: seu objetivo é eliminar os pormenores desnecessários ou


prejudiciais para a leitura dos fenômenos espaciais. Por vezes, na mudança
para uma escala cartográfica menor, alguns símbolos são eliminados ou
simplificados geometricamente.

Figura 17 - Exemplo de simplificação das feições de uma rede hidrográfica


Fonte: os autores.

c. Realce: este procedimento tem como objetivo exagerar ou enfatizar elemen-


tos relevantes no mapa, para torná-los mais perceptíveis, como avenidas,
rodovias e edifícios específicos, por exemplo.

As Etapas do Projeto Cartográfico


70 UNIDADE II

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 18 - Exemplo da operação de realce nas principais vias de circulação

d. Simbolização: representação dos fenômenos espaciais por meio de símbo-


los. Este procedimento é considerado integrante da generalização quando
afeta a dimensão espacial do fenômeno, que pode levar a degradação da
sua escala de medida (assim como veremos no tópico seguinte).

Você consegue identificar as operações de classificação, simplificação, real-


ce e simbolização quando usa o Google Maps ou o Bing Maps?

ELEMENTOS E PROCESSOS FUNDAMENTAIS PARA A COMUNICAÇÃO CARTOGRÁFICA


71

Escalas de medida

O mapa tem o papel primordial de indicar a localização dos fenômenos no


espaço, mas esse não é o único tipo de informação que possui. Um aspecto de
grande importância presente no mapa é a natureza e os tipos de relação que os
dados estabelecem entre si, denominados escala de medida. De acordo com
Dent (1985), o objetivo dessa escala é estruturar formas adequadas na obser-
vação da realidade e é organizada em uma hierarquia de quatro níveis, criando
formas mais ou menos complexas de medição. Em ordem crescente de comple-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

xidade, as quatro escalas são:


a. Escala nominal: destina-se a identificar fenômenos que pertencem às clas-
ses de dados semelhantes ou diferentes. Essas relações estabelecidas entre
os dados são qualitativas e, no mapa, apresentam sempre um mesmo sím-
bolo. É por meio da escala nominal que se distingue, por exemplo, uma
estrada de um rio, os diferentes usos da terra. Contudo, não torna possível
estabelecer qualquer tipo de hierarquia ou quantificação (GASPAR, 2005).

Figura 19 - Exemplo de aplicação da escala nominal


Fonte: A Bacia em Estudo ([2019], on-line)¹².

As Etapas do Projeto Cartográfico


72 UNIDADE II

b. Escala ordinal: destina-se a ordenar, dentro de uma mesma categoria, os


fenômenos representados. Permite verificar em qual ordem hierárquica
os fenômenos são representados, embora não permita dizer exatamente
quanto um fenômeno é maior ou menor que outro, isto é, não torna pos-
sível nenhuma forma de quantificação (GASPAR, 2005). É esta escala que
torna possível identificar áreas de maior ou menor susceptibilidade à ero-
são, maior ou menor exclusão social, dentre outros.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 20 - Exemplo de mapa que utiliza uma escala de mensuração ordinal, criando uma noção de
hierarquia
Fonte: Prates (2014, on-line)¹³.

ELEMENTOS E PROCESSOS FUNDAMENTAIS PARA A COMUNICAÇÃO CARTOGRÁFICA


73

c. Escala de intervalos: destina-se a estabelecer uma sequência numérica


com origem arbitrária cujo grau zero não indica a ausência da proprie-
dade medida. São exemplos de escala de intervalo, as escalas Celsius e
Fahrenheit, bem como as escalas para medir altitude (GASPAR, 2005).
Ao contrário da escala ordinal, a escala intervalar permite estabelecer
relações numéricas relativas entre duas ou mais classes.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 21 - Exemplo de mapa que adota uma escala de mensuração intervalar


Fonte: Inmet (2014, p. 3).

As Etapas do Projeto Cartográfico


74 UNIDADE II

d. Escala absoluta (ou de razão): destina-se a estabelecer uma sequência


numérica cujo grau zero indica a ausência de uma propriedade medida.
Neste caso, a razão entre dois valores tem um significado intrínseco.
Por exemplo: é possível afirmar que se uma cidade “A” é duas vezes mais
populosa do que a cidade “B”. Assim, o leitor identificaria que a razão de
habitantes é de 2:1 (GASPAR, 2005).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 22 - O mapa de população dos Estados em 2010 é um exemplo de escala de mensuração absoluta
Fonte: Martinelli (2014).

Na literatura cartográfica brasileira, essas quatro escalas de medida são mais fre-
quentemente adaptadas em três propriedades perceptivas, que são os tipos de
relações que os mapas expressam entre os fenômenos: relação de similaridade/

ELEMENTOS E PROCESSOS FUNDAMENTAIS PARA A COMUNICAÇÃO CARTOGRÁFICA


75

diferença (corresponde à escala nominal), relação de ordem (corresponde à escala


ordinal) e relação de quantidade (corresponde às escalas de intervalo e absoluta).
É fundamental ressaltarmos que um dado pertencente à escala absoluta
ou intervalar pode ser transformado em um dado ordinal e este, por sua vez,
em um dado nominal. O inverso, porém, não é possível. Vejamos isso com o
seguinte exemplo:

Quadro 1 - Evolução da produção agrícola (em toneladas) no Estado do Paraná

PRODUTO 1995 2000 2005 2010 2015


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Cana-de-açúcar 20.429.522 23.191.970 29.717.100 48.361.207 47.368.045


Erva mate 20.277 206.188 164.752 123.132 217.851
Soja 5.694.427 7.188.386 9.492.153 14.091.829 17.229.378
Trigo 1.068.689 700.118 2.767.440 3.442.660 3.330.589
Fonte: adaptado de IPARDES ([2019], on-line)¹⁴

A partir do nosso banco de dados exposto no Quadro 1, é possível identificar-


mos diferentes tipos de escalas de medida, a depender da natureza da informação
do nosso interesse e das perguntas que serão utilizadas para sua seleção. Ao
perguntarmos quais sãoos tipos de produtos, estamos adotando uma escala de
mensuração nominal, pois não há qualquer medição quantitativa ou hierárquica
entre os tipos de produtos agrícolas.
Por outro lado, podemos investigar qual é a ordem dos anos em que uma
cultura específica apresentou maior ou menor produção: no caso, estamos ado-
tando uma escala de mensuração ordinal. Por fim, poderíamos, ainda, questionar
quanto exatamente a produção de cana-de-açúcar foi maior do que a produção
de soja, sendo uma característica da escala de mensuração absoluta. Saber iden-
tificar a natureza dos dados por meio das escalas de medida é uma habilidade
fundamental para o geógrafo, pois é por meio desse reconhecimento que serão
escolhidos os símbolos para a construção do mapa.

As Etapas do Projeto Cartográfico


76 UNIDADE II

A contribuição da Semiologia Gráfica para a construção da lin-


guagem dos mapas

Denominamos linguagem cartográfica ou linguagem dos mapas o conjunto de signos


que constitui os produtos cartográficos, permitindo que se represente a localização e
os tipos de relações entre os fenômenos espaciais. Na Cartografia, a questão de como
construir uma linguagem cartográfica otimizada é de grande interesse, pois sua má
utilização pode induzir o usuário de mapas a ter uma leitura equivocada da realidade.
As discussões e contribuições mais significativas no campo da linguagem car-

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tográfica apresentam uma proximidade muito maior com o ramo da Cartografia
Temática em relação à Cartografia Sistemática. Isso ocorre por razões históricas,
já que é uma cartografia rigorosamente técnica e normatizada pela legislação dos
países, sendo, historicamente, anterior à cartografia temática, quando os estudos
científicos da linguagem cartográfica foram desenvolvidos a partir da década de 1960
e as normativas técnicas da cartografia de base estavam solidamente estabelecidas.
O principal autor que contribuiu com o estudo de uma linguagem dos mapas
foi Jacques Bertin (1918-2010), um cartógrafo francês que publicou, em 1967, a
obra Semiologia Gráfica. O objetivo de Bertin era desenvolver uma linguagem car-
tográfica universal, monossêmica e de rápida apreensão, permitindo que os mapas
fossem interpretados corretamente por qualquer pessoa. Para que esse objetivo
fosse atingido, a chave seria a eliminação do código no processo comunicativo e a
adoção de pressupostos lógicos inerentes à percepção visual humana. Por código,
compreendemos todo tipo de regra arbitrária e convencional estabelecida em uma
comunidade de falantes, a qual organiza as regras de uso e os significados dos sig-
nos (NETTO, 1983). Seu emprego seria descartado quando se compreendessem
as relações lógicas entre as variáveis visuais e as propriedades perceptivas.
As variáveis visuais (ou variáveis retinianas) são os elementos gráficos que
variam visualmente, isto é, o aspecto visível dos símbolos que constituem os
mapas. Por outro lado, as propriedades perceptivas são os significados ineren-
tes que as variáveis visuais possuem. Na prática, traduzem-se como os tipos de
relações que o tema representado no mapa comunica. As três relações que os
fenômenos estabelecem entre si são de similaridade/diversidade (≠), ordem (O)
e proporcionalidade (Q) (QUEIROZ, 2000).

ELEMENTOS E PROCESSOS FUNDAMENTAIS PARA A COMUNICAÇÃO CARTOGRÁFICA


77

No que se refere às variáveis visuais, elas se constituem em sete tipos, se con-


siderarmos também as duas dimensões do plano (X, Y) como indicadores da
localização do fenômeno. As outras seis são:

Tamanho

Refere-se à variação da dimensão do símbolo. Esta variável permite que


sejam visualizadas informações quantitativas, conforme pode ser visto no
mapa sobre a população nas capitais brasileiras em 2010. Esta variável visual
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

permite, ao leitor, uma rápida visualização da distribuição das quantidades de


habitantes pela área cartografada, mesmo antes da leitura das informações
contidas na legenda do mapa. É a única variável visual que expressa a
propriedade de proporcionalidade (Q).

Figura 23 - A variável visual tamanho aplicada no mapa da população nas capitais brasileiras em 2010
Fonte: Martinelli (2014).

As Etapas do Projeto Cartográfico


78 UNIDADE II

Valor

Refere-se à variação na tonalidade de uma cor, podendo ser utilizados valores


fortes ou fracos (escuros ou claros, respectivamente). No mapa de densidade
demográfica no mundo, foi utilizada a variação dos tons para representar os inter-
valos matemáticos, sendo adotado o tom mais claro para a menor densidade, o
tom mais escuro para a maior densidade e os tons intermediários para as classes
existentes entre os extremos. Esta variável visual permite, ao leitor, estabelecer
relações entre forte/fraco, mais/menos, maior/menor, mesmo antes da leitura da

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legenda no mapa, sendo a propriedade perceptiva a ordem (O).

Figura 24 - Variável visual “valor”.


Fonte: IBGE ([2019], on-line).

Granulação

Refere-se a uma representação semelhante às hachuras ou pontilhados que dão


a noção de claro/escuro ou preenchido/vazio. Nesse mapa de distribuição da
população do Brasil, foram adotados pontos que representam dez mil habitantes,

ELEMENTOS E PROCESSOS FUNDAMENTAIS PARA A COMUNICAÇÃO CARTOGRÁFICA


79

distribuídos conforme a concentração populacional no território. Com a apli-


cação dessa variável visual, o observador consegue enxergar a distribuição do
fenômeno/elemento ao longo de toda a área cartografada, estabelecendo a ideia
de concentração/dispersão mesmo antes da leitura da legenda no mapa.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 25 - Exemplo de aplicação da variável visual “granulação”


Fonte: Atlas Socioeconômico-RS (2019, on-line)¹⁵.

Cor

Trata-se da sensação subjetiva das pessoas em relação à radiação eletromagnética


com determinado comprimento de onda que, ao atingir os cones localizados na
retina, dão noções de cores. É uma das formas de representação mais utilizada
na cartografia, visto que pode aparecer combinada às outras. Quando utilizada
exclusivamente, tem como finalidade diferenciar os elementos cartografados
(veja a versão colorida do livro, a qual está disponível no AVA).

As Etapas do Projeto Cartográfico


80 UNIDADE II

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Figura 26 - Aplicação da variável visual cor


Fonte: IBGE ([2019], on-line).

Nesse mapa de cobertura vegetal do Brasil, todos os elementos possuem, em


comum, a natureza da informação (vegetação), porém cada formação vegetal
possui características únicas, o que não nos permite estabelecer uma ordem,
uma dispersão ou uma concentração. Nesse caso, a cor mostra a localização e

ELEMENTOS E PROCESSOS FUNDAMENTAIS PARA A COMUNICAÇÃO CARTOGRÁFICA


81

a extensão ocupada pela formação vegetal representada. O observador tem a


noção de diferença entre as informações antes da leitura da legenda no mapa.

Orientação

Trata-se da inclinação dos traços nas representações, podendo ser na posição


vertical, oblíqua ou horizontal. Esta variável visual diferencia os elementos car-
tografados, conforme a inclinação do traço, o qual precisa manter a mesma
espessura, para não passar a percepção de ordem.
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Figura 27 - Variável visual orientação


Fonte: Bertin (1967).

Forma

Refere-se ao uso de símbolos convencionais, ou não, sejam eles figuras geométri-


cas, pictogramas, letras, números e entre outros. Nessa variável visual, trabalha-se
com a diferenciação dos elementos representados, pois cada pictograma tem uma
origem e um significado diferenciado, o que exige a elaboração de uma extensa
legenda que os apresenta de maneira clara. No mapa a seguir, foram utilizados

As Etapas do Projeto Cartográfico


82 UNIDADE II

diversos pictogramas para representar a distribuição de uma série de minerais


brasileiros, sendo necessária uma leitura atenta das representações e da legenda:

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Figura 28 - A variável visual forma


Fonte: IBGE ([2019], on-line).

Essa variável visual pode causar erros de leitura quando a série de dados repre-
sentados for muito extensa. Recomenda-se a utilização dessa variável visual para
mapas ou cartas em que a quantidade de elementos a serem representados for
suficiente para uma leitura rápida.

ELEMENTOS E PROCESSOS FUNDAMENTAIS PARA A COMUNICAÇÃO CARTOGRÁFICA


83

Algumas variáveis visuais apresentam a capacidade de favorecer um agru-


pamento de vários símbolos formando uma única imagem ou de favorecer
a separação dos elementos do mapa. O nome dessa propriedade de agrupar
é associativa, indicada pelo símbolo ≡ , como é o caso das variáveis forma,
cor, orientação e granulação. Já as variáveis ordem e tamanho são denomi-
nadas dissociativas.
Fonte: Martinelli (2014).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Modos de implantação das variáveis visuais

Além de ficarmos atentos ao tipo de relação que uma variável visual expressa, é
fundamental conhecermos os três modos de implantação que podem possuir. O
critério para a escolha de um dos modos varia de acordo com a natureza do fenô-
meno representado e pode ser alterado com a mudança da escala cartográfica.
O modo de implantação pontual é empregado quando as dimensões espaciais
do fenômeno não são uma informação de interesse, mas apenas a sua localização.
No caso, a escala cartográfica do produto deve ser pequena o suficiente para que o
fenômeno representado tenha sua extensão ignorada. Esse tipo de modo de implan-
tação é utilizado em mapas cuja função é mostrar a localização real ou aproximada
de um fenômeno, como as capitais dos estados ou a localização dos aeroportos.
O modo de implantação linear é empregado em fenômenos que se esten-
dem de maneira contínua sobre a superfície terrestre cujo comprimento é a
única informação útil para a leitura do atributo. São utilizadas linhas contínuas
ou pontilhados para representar a extensão desses fenômenos, com espessuras
variáveis. Podemos citar, como exemplo, as rodovias, as ferrovias, os cursos hídri-
cos, as linhas de transmissão de energia ou de distribuição de água, pois esses
elementos se manifestam por uma grande extensão sobre a superfície e descre-
vem um trajeto contínuo.
O modo de implantação zonal ou areal é empregado para representar fenô-
menos cuja dimensão ou extensão é significativa para a escala apresentada no
mapa, ou seja, são fenômenos que devem ser desenhados de forma que seja

As Etapas do Projeto Cartográfico


84 UNIDADE II

possível ler sua área e sua forma. Podemos citar, como exemplo, os mapas de
clima, vegetação e regiões do Brasil. A síntese das variáveis visuais, seus modos
de implantação e suas propriedades perceptivas são expressas pela figura a seguir:

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 29 - Variáveis visuais, modos de implantação e propriedades perceptivas
Fonte: adaptada de Bertin (1967).

Devemos lembrar que, atualmente, os mapas digitais permitem a alteração ins-


tantânea da escala aplicada à representação e, portanto, as formas de implantação
são alteradas continuamente nos mapas disponíveis no ambiente virtual. Depois
de verificarmos os conceitos mais elementares da cartografia e da leitura carto-
gráfica, começaremos a estabelecer relações mais complexas de implantação e
leitura, iniciando pela escala cartográfica, que constitui relação matemática fun-
damental em uma representação cartográfica.

ELEMENTOS E PROCESSOS FUNDAMENTAIS PARA A COMUNICAÇÃO CARTOGRÁFICA


85
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ESCALA CARTOGRÁFICA

De forma bastante direta, podemos definir escala como a relação da dimensão


de um elemento e/ou um objeto apresentado no desenho original para a dimen-
são real do mesmo elemento e/ou objeto. Essa relação pode ser apresentada por
meio de escala numérica ou por escala gráfica. As escalas podem ser de: redução
(1: n ) , em que o objeto é representado com as dimensões reduzidas no desenho;
ampliação (1: n ) , em que o objeto é representado com as dimensões ampliadas
no desenho, sendo pouco comum na Geografia; ou naturais (1:1) , em que o
objeto é representado no desenho com as dimensões reais. Nota-se que a escala
de redução é a mais utilizada para a representação cartográfica na Geografia,
pois os mapas geográficos representam grandes extensões da superfície terrestre.
É muito comum referir-se às escalas como “escala grande” ou “escala pequena”;
mais comum ainda é a inversão dos seus significados. Uma escala cartográfica é

Escala Cartográfica
86 UNIDADE II

considerada grande quando possui um denominador pequeno, visto que, nesse


caso, o mapa representará uma área reduzida com mais detalhes. Já uma escala
é considerada pequena quando seu denominador é grande: nesse caso, o mapa
representará uma área maior, porém com menos detalhes. A seguir, serão apre-
sentados dois mapas: um apresenta uma escala pequena - representa uma grande
área, em que é possível identificar a localização de Brasília - porém com deta-
lhes muito generalizados. Já o outro apresenta uma escala grande - se comparada
com a escala do primeiro mapa –, representando uma área menor, porém com
maiores detalhes – eixos viários, quadras.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 30 - Cidade de Brasília a partir de uma escala cartográfica pequena


Fonte: Brasil (2017, on-line).

ELEMENTOS E PROCESSOS FUNDAMENTAIS PARA A COMUNICAÇÃO CARTOGRÁFICA


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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 31- Cidade de Brasília a partir de uma escala cartográfica grande


Fonte: Brasil (2017, on-line).

Os valores escalares são, por convenção, adimensionais, ou seja, não apresentam


diretamente uma dimensão (unidade) – ao se escrever 1:100 , lê-se que uma uni-
dade no mapa (desenho) corresponde a 100 unidades no terreno real. Portanto,
1 cm no desenho corresponde a 100 cm no terreno ou 1 milímetro do desenho
corresponde a 100 milímetros no terreno. Como os mapas, em geral, são medidos
com o auxílio de régua, adota-se o centímetro como unidade aplicável na deter-
minação das relações matemáticas da escala em um mapa utilizado na Geografia.

Escala Cartográfica
88 UNIDADE II

A escala é dada pela relação matemática:

1
E=
M
Sendo:

E = escala
1 = uma unidade no mapa

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
M = denominador da escala - corresponde ao valor real

Por exemplo, se uma distância entre dois pontos é representada no desenho


com um centímetro de comprimento e sabe-se que o comprimento, no terreno,
é de 100 m , a proporção escalar utilizada na representação será de 1:10.000 .
Quando se realiza a leitura das distâncias no mapa e/ou no terreno real, é pos-
sível estabelecer três relações, sendo:
1. Determinação da escala: quando se têm os valores da distância real e
sua correspondente distância gráfica:

d
E=
D
Sendo:

E = escala
d = distância gráfica
D = distância real

Em uma escala de redução, o valor da distância gráfica ( d ) deve ser apresentado


no valor 1 e a distância real ( D ) deve ser equivalente a essa distância gráfica.

ELEMENTOS E PROCESSOS FUNDAMENTAIS PARA A COMUNICAÇÃO CARTOGRÁFICA


89

Exemplo:
Sabendo-se que a distância entre dois pontos no mapa é de 3 cm e que sua cor-
respondente real é de 600 metros , determine a escala do mapa em questão.
1º Passo: coletar as informações disponíveis no enunciado do exercício.

E =?
d = 3 cm
D = 600 m
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

2º Passo: caso as medidas da distância real ( D ) e distância gráfica d sejam


distintas, convertê-las em uma medida comum para cortá-las.

E ?
d  3 cm
D  60000 cm

3º Passo: realizar as operações matemáticas, simplificando o máximo possível


o resultado.

d
E=
D
3cm 3 cm ÷3 1
E= → ÷3

60000cm 60000 cm 20000

Portanto, a escala será de 1: 20.000 (lembre-se de que a representação da escala


é adimensional, portanto, não se coloca a unidade).

Escala Cartográfica
90 UNIDADE II

Para ter mais informações sobre o conteúdo


de como realizar a conversão das unidades de
medida, consulte nosso QR Code por meio da sua
plataforma.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
2. Determinação da distância real: quando se têm os valores da escala e a
distância gráfica entre pontos de interesse:

D= d × M
Sendo:

D = distância real
d = distância gráfica
M = denominador da escala
3. Determinação da distância gráfica: quando se têm os valores da escala
e a distância real entre os pontos de interesse:

D
d=
Sendo:
M

d = distância gráfica
D = distância real
M = denominador da escala

ELEMENTOS E PROCESSOS FUNDAMENTAIS PARA A COMUNICAÇÃO CARTOGRÁFICA


91

Exemplo:
Sabendo-se que a distância real entre dois pontos é de 700 m , qual é a distân-
cia gráfica, em centímetros, correspondente em um mapa de escala 1: 5000 ?
1º Passo: coletar as informações disponíveis no enunciado do exercício.

1
E=
5000
M = 5000
D = 700 m
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

2º Passo: caso a medida da distância real ( D ) seja distinta da medida que o


enunciado pede, realizar a conversão.

1
E=
5000
M = 5000
D = 70000 cm

3º Passo: realizar as operações matemáticas, simplificando ao máximo possí-


vel o resultado.

D
d=
M
70000 cm
d=
5000
d = 14 cm
Portanto, a distância gráfica será de 14 centímetros .
As escalas gráficas são constituídas por um segmento de reta dividido de
modo a mostrar graficamente a relação entre as dimensões de um objeto no dese-
nho e no terreno, conforme ilustra a Figura 32:

Escala Cartográfica
92 UNIDADE II

Dist. real
0 1 2 3 Km

Dist. gráfica
Dist. real
0 1 2 3 Km

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Dist. gráfica
Figura 32 - Estrutura de uma escala gráfica
Fonte: os autores.

Essa representação escalar facilita a leitura direta da escala em um mapa, pois


basta posicionar a régua sobre a linha graduada, como demonstrado na Figura 33:

Figura 33 - Procedimento para leitura de uma escala gráfica


Fonte: os autores.

ELEMENTOS E PROCESSOS FUNDAMENTAIS PARA A COMUNICAÇÃO CARTOGRÁFICA


93

Após o posicionamento, basta ler a distância gráfica no primeiro intervalo:


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 34 - Procedimento para a leitura da escala gráfica


Fonte: os autores.

No exemplo ilustrado na Figura 34, verifica-se que o intervalo da escala mede 1 cm


gráfico, sendo que esse valor equivale a 136 km no terreno real, embora não seja
obrigatório que esse valor seja sempre de 1 cm . A partir dessa leitura direta, faz-
-se a leitura da distância gráfica (com a régua) entre os pontos de interesse:

Escala Cartográfica
94 UNIDADE II

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 35 - Procedimento para leitura da escala gráfica
Fonte: os autores.

Nesse exemplo, foi obtida a distância em linha reta entre Manaus (AM) e Santarém
(PA), sendo que, no mapa utilizado, é de 4,5 cm . Para determinar a distância
real entre as duas cidades, basta multiplicar a distância real para 1 cm gráfico,
que foi obtida anteriormente, sendo 136 km :

D= d × M
D 4,5 ×136
=
D = 612 km
A escala gráfica ainda tem como vantagem a possibilidade do cálculo da escala
em um mapa que foi ampliado ou reduzido, pois o traço e suas divisões são man-
tidos durante os processos de ampliação e redução. O uso correto dos produtos
cartográficos está associado ao conhecimento dos tipos de representações carto-
gráficas, dos modos de implantação e representação da informação e da escala
adequada para a temática escolhida. A compreensão dos elementos de representa-
ção cartográfica – produtos, símbolos, extensão e proporção – é fundamental para
o graduando em Geografia, pois é o nível mais elementar para a compreensão dos
dados cartográficos, seja na leitura de um mapa técnico ou em um mapa escolar.

ELEMENTOS E PROCESSOS FUNDAMENTAIS PARA A COMUNICAÇÃO CARTOGRÁFICA


95

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade, foram apresentados alguns elementos essenciais para a leitura


cartográfica e, consequentemente, importantes para a correta elaboração dos
produtos cartográficos. Discutimos os diferentes produtos cartográficos (globos,
mapas, cartas, plantas ou imagens), apresentando as escalas e os detalhamentos
dos diversos tipos, além de verificar a aplicação de cada material nas diferen-
tes práticas geográficas. Verificamos as formas de representação quantitativas e
qualitativas de se cartografar as informações, além de quando e como devem ser
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

aplicadas e lidas para a melhor comunicação possível.


Estudamos, também, os três modos de implantação das informações carto-
gráficas – linear, pontual e zonal -, e, a partir de exemplos reais, demonstrou-se
como e quando se utiliza cada um dos modos. Após discutir e ilustrar os modos
de implantação, apresentamos as variáveis visuais que são utilizadas no desenho
cartográfico, ressaltando-se que a escolha da variável visual se dá em função da pro-
priedade perceptiva que melhor representa os elementos a serem cartografados e
do modo de implantação que melhor demonstra a extensão do mesmo elemento.
Finalmente, apresentamos a escala cartográfica, que também é um elemento
essencial para a representação e para a leitura cartográfica básica, pois estabe-
lece a relação de proporção entre as dimensões lineares representadas no mapa
e as suas correspondentes relações no terreno real. Portanto, nesta segunda uni-
dade, foram apresentados os fundamentos elementares da cartografia praticada
na Geografia acadêmica e escolar, tanto para a elaboração de produtos quanto na
leitura cartográfica. Na próxima unidade, abordaremos os elementos essenciais
para a representação plana e digital dos mapas, possibilitando um aprofunda-
mento nos conceitos necessários para a boa prática cartográfica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
96

1. Além da mudança das dimensões da área representada, a alteração da escala


cartográfica causa outros efeitos na representação dos fenômenos no mapa.
Assinale a alternativa que indica o impacto da escala cartográfica na fase do
projeto cartográfico:
a) A escala cartográfica está relacionada diretamente à etapa de seleção carto-
gráfica, que consiste na simplificação dos traços dos fenômenos represen-
tados.
b) A escala cartográfica é um fator determinante na escolha das propriedades
perceptivas escolhidas pelo autor de mapas na construção da simbologia.
c) A escala cartográfica altera o tipo de público ao qual o mapa se destina:
quanto maior a escala, mais especializados são seus usuários.
d) A escala cartográfica está diretamente relacionada à etapa de generaliza-
ção, influenciando o grau de detalhamento dos fenômenos.
e) O autor de mapas deve escolher a escala cartográfica de acordo com o maior
fenômeno representado.
2. Um professor de Geografia decidiu levar para sua aula uma série de mapas
para ensinar escala cartográfica para seus alunos. Em certa etapa, sua intenção
era a de apresentar os produtos cartográficos de forma a evidenciar uma dimi-
nuição de escala. Os produtos cartográficos selecionados foram:
1 - Mapa cadastral, para que os alunos visualizassem os loteamentos do bairro
da escola.
2 - Mapa do Brasil, para que os alunos visualizassem as fronteiras do nosso país.
3 - Mapa-mudo do Estado de São Paulo, para que os alunos completassem com
as variáveis visuais adequadas a produção industrial anual.
4 - Mapa turístico, para que os alunos explorassem os atrativos turísticos da ci-
dade.
Organizando os produtos cartográficos da maior para a menor escala, obtém-se
a ordem:
a) 3, 4, 2, 1.
b) 4, 1, 2, 3.
c) 1, 4, 3, 2.
d) 2, 3, 4, 1.
e) 1, 2, 3, 4.
97

3. Considerando o mapa a seguir, julgue as assertivas a seguir com (V) para as


Verdadeiras e (F) para as Falsas:

Fonte: MARTINELLI, M. Mapas, gráficos e redes: faça você mesmo. São Paulo: Oficina de Textos, 2014.

( ) O mapa apresenta dois modos de implantação de dados: pontual e linear.


( ) A variável visual do mapa é de diversidade/similaridade.
( ) Uma das propriedades perceptivas da variável visual adotada é seu papel
associativo.
( ) A escala de medida empregada no mapa é nominal.
A sequência correta das afirmações é:
a) V, V, V, V.
b) F, V, F, F.
c) V, F, F, V.
d) F, F, F, V.
e) F, F, V, V.
98

4. Ao preparar uma aula sobre escala cartográfica, um professor selecionou dois


mapas da mesma área com escalas diferentes, sendo as escalas dos respectivos
mapas: 1:500 e 1:10.000 . Ao apresentar os mapas para os alunos, foi questio-
nado o porquê de o primeiro mapa possuir uma escala considerada maior do
que a escala do segundo mapa. Considerando o problema exposto, explique
porque o primeiro mapa na escala 1:500 pode ser classificado como de escala
grande, quando comparado com o segundo mapa, de escala 1:10.000 .
5. Em um mapa de escala 1:25000 , foi traçada uma reta entre dois pontos com
uma distância gráfica de 13 cm . Calcule a distância real dessa linha.
99

Desde os primórdios da humanidade, o uso de representações gráficas faz parte das


atividades humanas. Seja como instrumento de orientação espacial, seja como docu-
mento para apreensão da realidade dos territórios ou, ainda, para o domínio dos espa-
ços conquistados, a cartografia tem servido aos interesses das sociedades humanas. Ao
longo do tempo, os saberes cartográficos e geográficos passaram por um acréscimo de
conteúdos, os quais contribuem para o conhecimento dos fenômenos naturais e sociais
que ocorrem no espaço geográfico. No texto a seguir, é apresentado um breve resgate
da integração que vem ocorrendo entre a cartografia e o saber geográfico/ensino da
Geografia ao longo do tempo:
A Geografia é um vasto conjunto de saberes que existe há séculos. Alguns desses sabe-
res são representados por meio de documentos cartográficos, em que são representa-
das diferenças físicas e humanas. Mediante cartas, podem ser estabelecidas estratégias
de ação. A partir do século XIX, o estudo e a confecção de mapas foram dissociados da
Geografia, recebendo a denominação de Cartografia. Nesse período, pesquisadores de
diversas áreas (Ciências Humanas e da Terra) começaram a desenvolver cartas temáticas
especializadas, como geológicas, botânicas, entre outras. Para Oliveira (1988), “a parti-
cipação da Geografia na Cartografia não se restringe somente à elaboração de mapas
temáticos. A carta topográfica oriunda de uma cobertura regular de fotografias aéreas é
a base inequívoca do binômio Geografia-Cartografia”.
Os produtos cartográficos facilitam o ensino da Geografia, uma vez que devem ser em-
pregados como forma de despertar a sensibilidade dos aprendizes, como também da-
queles a quem o produto seja de interesse. Os mapas são considerados, portanto, como
modelos para o desenvolvimento do conhecimento geográfico. Além da falta de habi-
lidade, muitos professores de Geografia deparam-se com um sério problema: os mapas
são, em geral, idealizados para adultos, e não para crianças, ou seja, são generalizações
da realidade que implicam escala, projeção e simbologia, os quais não têm significação
nenhuma para os alunos.
Fonte: adaptado de Sales e Silva (2007).
MATERIAL COMPLEMENTAR

Mapas de Geografia e Cartografia Temática


Marcelo Martinelli
Editora: Contexto
Sinopse: esse livro destina-se a estudantes de graduação e pós-
graduação, além de pesquisadores e profissionais de Geografia e de
outros campos científicos que elejam o mapa como meio de registro,
pesquisa e comunicação dos resultados obtidos em seus estudos.
O livro introduz o leitor ao domínio das representações gráficas e
apresenta os fundamentos metodológicos da cartografia temática da
Geografia em bases semiológicas atinentes à comunicação visual.
Comentário: este livro está disponível na Biblioteca Virtual Pearson.

Este artigo aborda a importância da escala nas representações cartográficas e ainda discute a
necessidade da definição de uma escala adequada para a representação dos temas específicos.
Disponível em: http://www.rc.unesp.br/igce/planejamento/download/isabel/cartografia_geog_
isabel/Aula2/aula2_escala1.pdf. Acesso em: 17 jul. 2019.
101
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GARBIN, E. P. Contribuições da semiótica peirceana para a caracterização da se-
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mundo/continentes.pdf. Acesso em: 10 jun. 2019.
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brasil/mapas_nacionais/brasil.pdf. Acesso em: 10 jun. 2019.
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9 Em: http://dosencontros.blogspot.com/2006/10/uns-mapas-de-um-livro-you-a-
re-here-de.html. Acesso em: 16 jul. 2019.
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11 Em: http://dados.al.gov.br/dataset/b2dcb5ed-2628-456a-9115-6593dabf9df9/re-
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Acesso em: 17 jul. 2019.
12 Em: http://w3.ufsm.br/enquadra/ABacia.htm. Acesso em: 17 jul. 2019.
13 Em: https://mundogeo.com/blog/2014/11/07/artigo-trata-do-potencial-de-ero-
dibilidade-no-municipio-de-franca-sp/. Acesso em: 17 jul. 2019.
14 Em: http://www.ipardes.pr.gov.br/imp/index.php. Acesso em: 17 jul. 2019.
15 Em: https://atlassocioeconomico.rs.gov.br/distribuicao-e-densidade-demografi-
ca. Acesso em: 17 jul. 2019.
GABARITO

1. D.
2. C.
3. E.
4. No primeiro mapa, a escala 1: 500 representa uma área reduzida, porém apre-
senta um grande detalhamento. Nessa escala, a proporção entre o objeto real e
a representação é de 1 centímetro no mapa e corresponde a 500 centímetro
( 5 metros ) no terreno real. No segundo mapa, a escala 1:10.000 representa
uma área maior, porém com um detalhamento pequeno. Nessa escala, cada
1 centímetro no mapa corresponde a 10.000 centímetros ( 100 metros ) no
terreno real.
5. 325000 cm ou 3, 25 km .
Prof. Me. Thiago César Frediani Sant’Ana
Prof. Me. Estevão Pastori Garbin

OS DESAFIOS DA CARTOGRAFIA

III
UNIDADE
NA REPRESENTAÇÃO DA FORMA
DA TERRA

Objetivos de Aprendizagem
■■ Compreender o processo histórico de determinação da forma da
Terra.
■■ Conhecer as diferentes estratégias para a orientação no espaço
geográfico.
■■ Compreender a função e o cálculo das coordenadas geográficas.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ A forma da Terra
■■ Estratégias de orientação no espaço
■■ As coordenadas geográficas
107

INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), embora, hoje, seja fácil afirmarmos qual é a verdadeira forma
do nosso planeta, devemos ter clareza de que esse tipo de indagação motivou
vários povos antigos que não dispunham das ferramentas computacionais que
temos hoje, mas que realizaram importantes reflexões sobre essa questão. Nesta
unidade, compreenderemos um pouco mais sobre como essa trajetória ocor-
reu. Iniciaremos nossos estudos com as contribuições dos gregos, examinando
os métodos empregados por eles no estudo da forma da Terra.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Esse é um tema importante, porque, a partir do reconhecimento da esferici-


dade do nosso planeta, um novo tipo de desafio surgiu no horizonte da Cartografia:
o desenvolvimento de estratégias para a representação de uma superfície curva
em um plano, desafio que está diretamente ligado à invenção das coordenadas
geográficas. Neste sentido, abordaremos como o sistema de coordenadas geográ-
ficas se organiza, ressaltando a interdependência com outros meios fundamentais
para a representação da superfície terrestre.
Também estudaremos quais foram as estratégias historicamente empregadas
para a orientação no espaço, discutindo suas limitações, bem como os meios de
obtermos os rumos e os azimutes por meio da bússola. A partir desse conteúdo,
aprenderemos a realizar a conversão entre essas medidas, ressaltando sua inter-
dependência com a rosa-dos-ventos.
Essas discussões são fundamentais para os futuros professores de Geografia,
porque são conteúdos de presença obrigatória no currículo escolar, além de servi-
rem como fundamento no entendimento dos principais desafios na representação
do nosso planeta. Esperamos que esta unidade forneça informações necessárias
para que, em sua vida profissional, a tomada de decisões no processo de con-
fecção de produtos cartográficos (mapas, cartas, plantas etc.) ocorra de maneira
prática e suficientemente clara.

Introdução
108 UNIDADE III

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A FORMA DA TERRA

Caro(a) aluno(a), com o desenvolvimento tecnológico que culminou no lan-


çamento de satélites artificiais que imageiam o nosso planeta, a popularização
dos meios de comunicação em massa e a Internet, o formato visível que a Terra
possui vista do espaço é uma imagem comum no imaginário coletivo, mas nem
sempre foi assim. Até os últimos sessenta anos, a forma do nosso planeta exigia,
dos povos, um complexo raciocínio inferencial, baseado nos indícios que foram
aprimorados de maneira relativamente lenta, ao longo da história da humani-
dade. Cabe, neste momento, uma pergunta para você responder: qual é a forma
da Terra?
A resposta para essa questão é: depende. Para as ciências que tratam espe-
cificamente da representação do nosso planeta, existem vários modelos que são

OS DESAFIOS DA CARTOGRAFIA NA REPRESENTAÇÃO DA FORMA DA TERRA


109

adotados para permitir a representação. No entanto, fornecer esses modelos e


suas principais características sem recorrer a um breve histórico das principais
descobertas é deixar de lado alguns raciocínios que complementam a nossa visão
da Geografia. Vamos começar?
Nas Unidades I e II, constatamos que a preocupação central da Cartografia
é a representação do espaço, sendo, o mapa, seu objeto principal de estudo. O
levantamento e a medição do espaço, embora estejam relacionados como etapas
antecedentes e necessárias para a coleta dos dados, e, posteriormente, serão repre-
sentados no mapa, são o objetos de estudo de outra ciência, denominada Geodésia.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

De acordo com Oliveira (1993), a Geodésia é uma ciência que se ocupa em deter-
minar o tamanho e a figura da Terra por meio de medições, como triangulação,
nivelamento e observações gravimétricas, bem como em determinar o campo gra-
vitacional externo da Terra e, até certo limite, a estrutura interna.
Os métodos e as técnicas para a definição da forma do nosso planeta apri-
moraram-se ao longo do tempo, mas têm, como o marco fundador, a medição
do raio da Terra estabelecida por Erastótenes (276 - 196 a.C.), a partir da dife-
rença angular que os raios solares apresentavam, simultaneamente, em um poço
na cidade de Siena e Alexandria. O raciocínio empregado por Erastótenes foi o
seguinte: sabendo que a distância entre Siena e Alexandria, que, segundo o que
pressupunha o filósofo, compartilhavam uma mesma longitude, era de 800 km,
a medição do ângulo formado pela sombra de uma estaca fincada no chão no
solstício de verão (21 de junho) indicaria o grau de curvatura da Terra entre os
dois pontos. A simples existência da sombra em Alexandria e sua ausência em
Siena ao meio-dia era um forte indício da esfericidade do planeta. A partir desse
dado, bastaria dividir o ângulo encontrado pelo valor total da circunferência ter-
restre (que é 360º) para se determinar o raio planetário.
O ângulo formado pela sombra da estaca em Alexandria foi de 7,2º, o que
corresponde a uma das cinquenta partes da Terra. A partir da multiplicação da
distância conhecida entre as cidades por cinquenta, Erastótenes determinou que
a circunferência do planeta era, aproximadamente, 39.250 quilômetros.

A Forma da Terra
110 UNIDADE III

Raios do sol
no poço
Sol

Estaca
s do
Raio

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
7°12 E
N s
90°
o corte

Observação Observação
em Alexandria em Siena

ESTE

NORTE 800 km
Siena
Alexandria Rio
Nil
o
OESTE SUL

Figura 1 - Método empregado por Erastótenes na medição da Terra


Fonte: adaptada de Oliveira (1993).

O valor encontrado por Erastótenes e o valor real da circunferência da Terra, na


linha do Equador, diferenciam-se em apenas 320 quilômetros. Essa diferença se
deu, porque Siena e Alexandria não estavam exatamente na mesma longitude.
O levantamento e as medições para a determinação da forma real da Terra
tornaram-se secundárias ao longo da Idade Média, mas voltaram a ganhar atenção
durante o período das Grandes Navegações, nos séculos XV e XVI, impulsiona-
das pela busca de novas terras e riquezas. Nesse período, destacaram-se as ideias
de Cristóvão Colombo, que defendeu insistentemente a ideia de uma Terra com
a superfície arredondada, e as de Fernão de Magalhães, que realizou a primeira
viagem de circum-navegação completa da Terra.

OS DESAFIOS DA CARTOGRAFIA NA REPRESENTAÇÃO DA FORMA DA TERRA


111

Com o fortalecimento dos impérios coloniais, em meados do século XVII,


inúmeras teorias e instrumentos recém-desenvolvidos, juntamente com as des-
cobertas realizadas durante as navegações, contribuíram para o amadurecimento
das concepções da forma da Terra. O francês Jean Picard (1620-1682) foi quem
resgatou e aplicou o método desenvolvido por Eratóstenes e calculou o raio
da Terra a partir do arco de circunferência, localizado entre as cidades Paris e
Amiens, calculando o valor de 6.372 km.
Ainda no século XVII, franceses e ingleses travavam uma batalha científica
para determinar a forma e a dimensão exata da Terra. Giovanni Cassini, medindo
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

um arco de meridiano entre as cidades de Dunquerque e Collioure, afirmou que


a Terra tinha a forma de um ovo (ovoide), sendo achatada na região do Equador
e alongada na direção dos pólos. Isaac Newton, então, pôs em xeque a proposição
de Cassini, ao desenvolver, com base em observações pendulares e na gravitação
universal, a teoria de que a Terra tem os dois polos achatados e uma dilatação no
Equador, o que a tornaria um elipsoide, assim como ilustra a Figura 2.
Na primeira metade do século XVIII, a Academia de Ciências de Paris tentou
explicar, de forma definitiva, a contradição entre as teorias de Cassini e de Newton
e, para isso, foram organizadas duas expedições científicas. A primeira expedi-
ção, chefiada por Charles-Marie de la Condamine, foi enviada para a América
do Sul, percorrendo o Peru e o Equador, onde se realizou a medição de um grau
de arco de meridiano próximo à linha equatorial e obteve, como resultado, que,
nessa posição, o grau meridiano media 110.613 metros. A segunda expedição
foi chefiada por Pierre Maupertius e enviada para o ártico, onde se mediu um
grau de arco de meridiano na Lapônia, ponto próximo ao extremo polo Norte
da Terra, e verificou que o arco meridiano, nessa localização, media 111.948
metros, concluindo-se que a Terra é achatada nos polos e dilatada no Equador.
Com os resultados obtidos, ficou constatado que a Teoria da Terra Ovoide pro-
posta por Cassini estava errada e nosso planeta possui um raio equatorial maior,
de acordo com a proposta de Newton.

A Forma da Terra
112 UNIDADE III

Modelo de Newton Modelo de Cassini

1° 1°


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
eixo eixo
polar polar
Figura 2 - Os modelos da forma da Terra propostos por Isaac Newton e Giovanni Cassini
Fonte: os autores.

É importante ressaltar que os dois modelos ilustrados pela Figura 2 são, didati-
camente, exagerados: na realidade, a diferença do eixo equatorial do eixo polar é
de apenas 21 quilômetros, aproximadamente. Mesmo com os resultados obtidos
pelas expedições francesas, vários esforços foram direcionados para a continuidade
dos estudos sobre a forma da Terra em diversas partes da Europa. Assim, físicos e
matemáticos dedicavam-se a buscar uma informação mais precisa sobre o assunto.
Em 1828, Carl Friedrich Gauss (1777-1855) propôs um modelo físico (e não
geométrico) da Terra, baseado na superfície equipotencial do campo de gravi-
dade do planeta que coincide com o nível médio não perturbado dos mares. Em
1873, Listing conclui que, se a gravidade exerce força diferente para cada ponto
da superfície, a Terra deveria ter uma superfície irregular, como um grande bloco
rochoso com uma superfície rugosa, denominando essa forma de Geoide. Esse
modelo é considerado referência para os levantamentos planimétricos e altimé-
tricos de alta precisão.
É importante assinalar que existe uma diferença significativa entre a super-
fície topográfica e a superfície do geoide. Podemos considerar como superfície

OS DESAFIOS DA CARTOGRAFIA NA REPRESENTAÇÃO DA FORMA DA TERRA


113

topográfica todos os aspectos mensuráveis da superfície terrestre, o que inclui


as grandes altitudes e grandes depressões: o ponto mais alto dessa superfície no
nosso planeta, o Monte Everest, tem uma altitude de 8.840 metros, enquanto
o ponto mais baixo, a Fossa das Marianas, tem 11.000 metros de profundi-
dade, o que se evidencia uma amplitude topográfica de quase 20
quilômetros. Embora, na escala humana, seja uma diferença considerável, no
modelo geoidal, essa amplitude seria de, no máximo, 110 metros, pois o
geoide é obtido a partir dos valores gravimétricos de um ponto, e não de sua
altitude. Um exem-plo de como o geoide é caracterizado está expresso na
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Figura 3:

Figura 3 - A Terra a partir da forma de um geoide


Fonte: Wikipedia (2012, on-line)1.

Por mais precisos, entretanto, que sejam os valores obtidos pela superfície geoi-
dal, dependendo da finalidade das atividades desenvolvidas, pode-se adotar
formas mais simplificadas para a representação da Terra, nas quais destacam-se
o plano, a esfera e o elipsoide.

A Forma da Terra
114 UNIDADE III

Plano Esfera Elipsóide


Figura 4 - Os três modelos mais comuns para a representação da Terra
Fonte: os autores.

O modelo plano de representação da superfície terrestre é a estratégia mais sim-


ples, usada como superfície de referência para áreas muito limitadas (de até 50

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
km²). Por serem muito reduzidas, essas áreas não apresentam as deformações
observadas na curvatura terrestre, fornecendo maior facilidade na representa-
ção e no tratamento dos dados obtidos nos trabalhos de topografia.
Já a esfera é a forma geométrica mais conhecida para representar o nosso
planeta. Sua adoção pressupõe a eliminação da diferença de tamanho entre os
eixos polar e equatorial, bem como a amplitude das altitudes da superfície ter-
restre. Ao contrário do modelo plano, as escalas geralmente empregadas nesse
tipo de modelo esférico são muito pequenas, de 1:5.000.000 e inferiores.
Se é verdade que o modelo esférico é mais aproximado da forma da Terra
em relação ao modelo plano, também é verdade que as operações matemáticas
necessárias para a obtenção de medidas são mais complexas. Por exemplo: você
deve se lembrar, caro(a) aluno(a), de que a menor distância entre dois pontos em
um plano é uma reta, certo? Contudo, no caso da esfera, o caminho mais curto
é um arco de circunferência. Isso significa que, quanto mais próximo da forma
real do planeta, mais difícil é de se trabalhar na realização de operações mate-
máticas sobre as representações cartográficas.

OS DESAFIOS DA CARTOGRAFIA NA REPRESENTAÇÃO DA FORMA DA TERRA


115

O modelo mais complicado para representar a superfície terrestre é o elip-


soidal. Ele considera o achatamento que a Terra tem em direção aos pólos e é
empregado, principalmente, em levantamentos de alta precisão. É a partir do
modelo elipsoidal que são definidas as coordenadas geodésicas elipsoidais.
A forma elipsoidal pode apresentar uma grande variedade de aspectos, pois,
ao contrário do círculo, seus eixos vertical e horizontal possuem valores distin-
tos. Na prática, isso significa que, dependendo da localização da área que será
representada, deve-se adotar o elipsoide com as configurações mais adequadas
para sua finalidade. Para se estabelecer uma fixação entre o geoide e o elipsoide
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

para uma representação mais fiel possível, é escolhido um datum geodésico.


De acordo com Gaspar (2005), o termo datum é empregado na Geodésia para
designar um conjunto de parâmetros que constituem a referência de um deter-
minado sistema de coordenadas geográficas. Os data (plural de datum) podem
ser locais ou globais: no caso do Brasil, desde 2013, utiliza-se o datum geodé-
sico SIRGAS 2000, substituindo o datum anterior, o SAD 69. O efeito prático da
mudança de um datum é o fato de que, além de permitir uma acurácia maior no
posicionamento dos fenômenos no espaço, atribuem-se posições ligeiramente
diferentes para valores idênticos das coordenadas geográficas.
Por mais importante que seja a adoção de uma superfície de referência para
a representação cartográfica do planeta, essa tarefa estaria incompleta sem a
articulação com uma estratégia de orientação e localização, assunto tratado nas
próximas páginas.

A Forma da Terra
116 UNIDADE III

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ESTRATÉGIAS DE ORIENTAÇÃO NO ESPAÇO

Caro(a) aluno(a), para que possamos nos deslocar no espaço de um ponto a outro,
é necessário termos, ao menos, três informações conhecidas: saber onde esta-
mos, para onde vamos e o sentido que devemos seguir. Essa pode parecer uma
tarefa, aparentemente, simples, quando os lugares são próximos e bem conhe-
cidos, mas passam a exigir uma estratégia mais elaborada quando trabalhamos
com grandes distâncias e desconhecemos o nosso ponto de chegada. A evolução
do raciocínio espacial dos povos antigos demonstra algumas estratégias muito
interessantes para resolver essa questão.
A estratégia mais primitiva para a apropriação e a orientação dos espaços é a
adoção de toponímias, isto é, “batizar” o terreno com algum nome que permite
referenciá-lo comunitariamente (CLAVAL, 2011). Logo, torna-se possível criar um
ponto de referência e situar os lugares, colocando-os “atrás da colina do castelo”, “à

OS DESAFIOS DA CARTOGRAFIA NA REPRESENTAÇÃO DA FORMA DA TERRA


117

direita da Praça dos Três Poderes” e assim por diante. O problema dessa estratégia
é que as toponímias não possuem nomes universais, isto é, têm alcance limitado
a uma determinada cultura, além do fato de não permitirem que as pessoas que
nunca viram esses fatos geográficos os utilizem como um ponto de referência.

Você já parou para pensar no significado dos nomes dos topônimos do lu-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

gar onde você mora?

A solução para a limitação do uso das toponímias foi a utilização de pontos de


referência acessíveis a qualquer pessoa, tendo, como base, a observação dos astros
celestes, como o Sol, a Lua e outras estrelas. Se pararmos para pensar, qualquer
pessoa tem condições de olhar o céu e identificar esses pontos comuns que ser-
vem como referência e ajustar a sua direção no deslocamento. A observação
desses astros e o conhecimento das trajetórias aparentes na abóboda celeste,
como o local onde o Sol nasce e se põe, tornou a tarefa de deslocamento tendo
como referência uma grade universal e mais precisa do que o uso dos topônimos.
Com o avanço dos conhecimentos das civilizações e com a necessidade cada
vez maior de se movimentar por territórios longínquos, surgiu a padronização
dos pontos principais de referência, que ficaram conhecidos como pontos car-
deais. A forma mais simples de se orientar pelos pontos cardeais era por meio da
observação do movimento dos astros, bastando saber que o Sol, a Lua e as estre-
las nascem sempre a leste. A rosa-dos-ventos foi criada para indicar exatamente
os sentidos dos pontos cardeais e, a partir deles, desenvolveram-se outros pontos
de precisão, intermediários entre os pontos cardeais, que são chamados de pon-
tos colaterais e, entre esses últimos, foram determinados os pontos subcolaterais.

Estratégias de Orientação no Espaço


118 UNIDADE III

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 6 - A Rosa-dos-ventos e os pontos cardeais, colaterais e subcolaterais
Fonte: Wikipedia (2008, on-line)2.

PONTOS CARDEAIS
N Norte
S Sul
E ou L Leste
W ou O Oeste
PONTOS COLATERAIS
NE Nordeste
SE Sudeste
SO Sudoeste
NO Noroeste

OS DESAFIOS DA CARTOGRAFIA NA REPRESENTAÇÃO DA FORMA DA TERRA


119

PONTOS SUBCOLATERAIS
NNE Nor-Nordeste
ENE Lés-Nordeste
ESE Lés-Sudeste
SSE Sul-Sudeste
SSO Sul-Sudoeste
OSO Oés-Sudoeste
ONO Oés-Noroeste
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

NNO Nor-Noroeste
Quadro 1 - Os pontos cardeais, colaterais e subcolaterais
Fonte: os autores.

As limitações oriundas da técnica de observação dos astros celestes para deter-


minar a orientação recaem sobre alguns problemas comuns no nosso dia a dia e
que, em situações específicas, causariam sérios problemas para aqueles que dela
dependem. Basta imaginar que, durante uma tempestade ou estando um céu com
grande nebulosidade, não há a possibilidade de enxergar os astros celestes e um
marinheiro ficaria totalmente desorientado. Para isso, buscaram-se alternativas
que servissem como meio seguro e mais constante para a orientação no nosso
planeta, como é o caso da orientação a partir do campo magnético da Terra.
A bússola é o instrumento utilizado para a orientação que funciona a par-
tir da atração de uma agulha imantada em relação ao campo magnético da Terra.
Foi descoberta pelos chineses, aproximadamente, no ano de 1100 d.C. Além de
propor o geoide, também foi Gauss quem realizou os estudos iniciais sistemáticos
para compreender a variação desse campo magnético em nível planetário. Dessas
pesquisas, verificou-se que 95% desse campo são originados no interior terres-
tre, devido à composição rica em ferro. Em outras palavras, ao considerarmos o
nosso planeta uma grande esfera, verificamos que, próximo ao seu centro, origina-
-se um campo magnético, assim como uma espécie de ímã de barra, denominado

Estratégias de Orientação no Espaço


120 UNIDADE III

dípolo. Esse dípolo não está perfeitamente alinhado ao Equador, o que forma um
ângulo de, aproximadamente, 11,5°. Por essa razão, a agulha imantada da bússola
não aponta para o eixo correspondente aos meridianos, mas ao norte magnético.
Esse ângulo de desvio da agulha é denominado declinação magnética (ERNESTO;
MARQUES, 2008). Deve-se pontuar que o magnetismo na Terra tem seus
valores alterados com o tempo, ou seja, o norte magnético está em um
permanente e discreto movimento.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A distribuição do campo geomagnético sobre a superfície da Terra é melhor
observada em cartas isomagnéticas, isto é, mapas nos quais linhas unem
pontos que correspondem a um mesmo valor de um determinado parâme-
tro magnético. As linhas isomagnéticas cruzam continentes e oceanos sem
distúrbios e não mostram relações óbvias com grandes cadeias de mon-
tanhas ou com cadeias submarinas. Esse fato deixa claro que a origem do
campo geomagnético, necessariamente, tem de ser profunda.
Fonte: Ernesto e Marques (2008, p. 77).

É por isso que, para trabalharmos com a orientação, temos que identificar
os diferentes nortes que existem, pois variam, a depender do critério que
conside-rarmos. Denominamos norte verdadeiro ou norte geográfico, os pontos
extremos do alinhamento que coincidem com o eixo de rotação da Terra,
sobre o qual se descreve o movimento de rotação diária. A orientação pelo
norte verdadeiro ou geográfico é dada por uma linha imaginária, paralela ao
eixo de rotação da Terra.

OS DESAFIOS DA CARTOGRAFIA NA REPRESENTAÇÃO DA FORMA DA TERRA


121

Pólo Pólo
Magnético Geográfico
Norte Norte
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Pólo Pólo
Geográfico Magnético
Sul Sul

Figura 7 - Declinação magnética entre o norte verdadeiro e o norte magnético

A agulha imantada da bússola, no entanto, que indica o norte, não está orientada
em relação ao norte geográfico, mas ao norte magnético da Terra. A ponta da
agulha que marca o sentido norte, na verdade, aponta para o sul magnético da
Terra, enquanto a extremidade oposta aponta o norte magnético da Terra. Logo, o
norte apontado pela agulha da bússola é o norte magnético, mas que corresponde
ao sul geográfico.
O norte magnético é obtido pelo campo magnético terrestre e apresenta uma
diferença de direção em relação ao norte verdadeiro. Além disso, o norte mag-
nético não é fixo, pois o campo magnético da Terra está sempre em movimento.
Ao longo dos anos, o polo magnético da Terra sofre uma flutuação, alterando
sua direção. Em mapeamentos antigos, é necessário verificar qual foi a alteração
sofrida pelo norte magnético da Terra no período.

Estratégias de Orientação no Espaço


122 UNIDADE III

CALCULANDO RUMOS E AZIMUTES

Embora os pontos cardeais, colaterais e subcolaterais ofereçam meios para se deter-


minar uma orientação, a trajetória de grandes distâncias necessitam de cálculos
matemáticos para se determinar, da forma mais exata possível, a orientação a ser
percorrida. Para tanto, são utilizados dois tipos de informações: o azimute e o rumo.

Azimute

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O azimute é o ângulo formado entre o meridiano de origem (linha paralela ao
eixo de rotação da Terra) e o alinhamento do ponto de interesse. Sua origem,
tanto magnética quanto geográfica, é o norte e a angulação varia de 0° a 360°.

0°/360°
N

Az
Az
1
270° W 0
E 90°
Az

2
3
Az

S
180°
Figura 8 - Exemplo de marcações do azimute
Fonte: os autores.

OS DESAFIOS DA CARTOGRAFIA NA REPRESENTAÇÃO DA FORMA DA TERRA


123

Rumo

O rumo é o menor ângulo entre a meridiana Norte-Sul e o ponto lido. A varia-


ção desse ângulo é de 0 a 90°, sendo contado do norte ou do sul para leste ou
oeste. Segundo Borges (2013, p. 35), “o rumo de uma linha é o ângulo horizontal
entre a direção norte-sul e a linha, medido a partir do norte ou do sul na dire-
ção da linha, porém, não ultrapassando 90°”.
O rumo é obtido com leituras segmentadas, ou seja, na prática, seria necessário
determinar em qual quadrante o objeto ou o caminho que se quer ler está locali-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

zado. Nesse caso, os quadrantes correspondem a um quarto da rosa dos ventos,


sendo que podemos dividir as direções norte, sul, leste e oeste em quatro quadrantes:
1º quadrante = NE
2º quadrante = SE
3º quadrante = SW(SO)
4º quadrante = NW(NO)
O valor numérico do rumo sempre deve ser acompanhado de sua orientação,
ou seja, de onde partiu a leitura (norte ou sul) e para onde foi girada a bússola
(leste ou oeste), como:

N

40°
NW

NE
50°

W90° 90° E

W
°S
44
30
°S
E


S
Figura 9 - Leitura do rumo em uma bússola
Fonte: os autores.

Estratégias de Orientação no Espaço


124 UNIDADE III

50°NE – significa que a leitura teve início em norte e que o ponto está a 50º no
sentido leste (E).
30°SE : significa que a leitura teve início em sul e que o ponto está a 30º no sen-
tido leste (E).
44°NW: significa que a leitura teve início em norte e que o ponto está a 44º no
sentido oeste (W).
40°SW: significa que a leitura teve início em sul e que o ponto está a 40º no sen-
tido oeste (W).

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TRANSFORMAÇÕES DE RUMO E AZIMUTE

Cada quadrante tem o seu modo de transformar rumo em azimute ou o contrá-


rio, como demonstrado a seguir:

De Azimute para Rumo:


1° quadrante (NE)
Rumo = Az
2° quadrante (SE)
Rumo = 180° - Az
3° quadrante (SW)
Rumo = Az - 180°
4° quadrante (NW)
Rumo= 360° - Az

OS DESAFIOS DA CARTOGRAFIA NA REPRESENTAÇÃO DA FORMA DA TERRA


125

De Rumo para Azimute:


1° quadrante
Az = Rumo
2° quadrante
Az = 180° - Rumo
3° quadrante
Az = 180° + Rumo
4° quadrante
Az = 360° - Rumo
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Para representar os dados angulares obtidos a partir de um azimute em uma


carta, basta usar um transferidor. Marca-se o ponto de partida da leitura e se
coloca a base do transferidor (linha 0º - 180º) paralela ao ponto de referência
sobre o ponto a partir do qual pretendemos traçar o azimute. Logo em seguida,
marca-se, na carta, junto à marca de graduação do transferidor correspondente
ao ângulo do azimute pretendido. Finalmente, é traçada uma linha que passa
pelo ponto do ângulo medido e tem a extensão da distância já determinada.

N N N N
Az R
R Az Az Az
O E O E O E O E

R R
S S S S
1° Quadrante 2° Quadrante 3° Quadrante 4° Quadrante
Figura 10 - Transformação entre rumos e azimutes
Fonte: os autores.

Estratégias de Orientação no Espaço


126 UNIDADE III

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AS COORDENADAS GEOGRÁFICAS

Os gregos foram os responsáveis pela elaboração dos primeiros sistemas de coor-


denadas de latitudes e longitudes. Os paralelos são linhas imaginárias que têm,
como origem, a Linha do Equador, a qual divide a Terra nos hemisférios norte e sul.
Os paralelos circundam, horizontalmente, o planeta, partindo do 0º na linha do
Equador até 90º no Polo Sul e 90º no Polo Norte. Os meridianos são linhas imagi-
nárias que tocam os polos da
Terra. O meridiano central
é denominado Greenwich
(0º), o qual divide a Terra
nos hemisférios Leste e
Oeste e, a partir dele, são
contados 180º para leste e
180º para oeste.
Figura 11 - Paralelos e Meridianos

OS DESAFIOS DA CARTOGRAFIA NA REPRESENTAÇÃO DA FORMA DA TERRA


127

O meridiano central foi instituído em 1895, no Congresso Internacional de


Geografia, quando todos os países aceitaram que o principal meridiano deve-
ria passar sobre Londres. Seu lado oposto, denominado antimeridiano (180º),
coincide com a Linha Internacional de Data (LID) e passa justamente sobre o
Oceano Pacífico, onde está o fuso internacional do dia.
Existem alguns paralelos especiais que têm nome próprio, devido à sua
importância para outras áreas de estudos, como a astronomia e a climatolo-
gia. São os Trópicos de Câncer e de Capricórnio, localizados, respectivamente,
a 23º27’30”N e 23º2730”’S, e os círculos polares Ártico e Antártico, localizados,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

respectivamente, a 66º33’N e 66º33’S.

Figura 12 - Os principais paralelos da Terra

Quando os paralelos e os meridianos se cruzam, forma-se o que é denominado


coordenada geográfica: cada ponto da superfície terrestre tem a sua coordenada
geográfica, formada por uma latitude ( ), que poderá ser norte ou sul – com grau,
minuto e segundo de arco – e uma longitude ( ), que pode ser leste ou oeste.

As Coordenadas Geográficas
128 UNIDADE III

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 13 - A formação das coordenadas geográficas a partir do cruzamento de um paralelo com um
meridiano
Fonte: Wikipedia (2014, on-line)3.

PONTO COORDENADAS GEOGRÁFICAS


Latitude (φ) Longitude (λ)
A 50° N 100° W
B 40° N 80° E

C 20° S 40° W

D 10° S 20° E
Tabela 1- Coordenadas geográficas dos pontos da Figura 13
Fonte: os autores.

Um dado importante que Em que ser calculado entre dois pontos a partir de
suas coordenadas geográficas é a diferença de latitude e longitude. Para efeitos de
cálculo, considera-se que as latitudes do hemisfério norte apresentam um valor
positivo, enquanto as do sul, negativo. No caso das longitudes, utilizam-se valores
positivos para leste e negativos para oeste do meridiano de Greenwich. Para tanto,
empregam-se as fórmulas matemáticas a seguir para se obter essa informação:
∆ϕ = ϕ A − ϕ B

OS DESAFIOS DA CARTOGRAFIA NA REPRESENTAÇÃO DA FORMA DA TERRA


129

Onde:

∆ϕ = diferença de latitude
ϕ A = diferença do ponto A
ϕ B = diferença do ponto B
∆λ= λ A − λ B

Onde:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

∆ϕ = diferença de longitude
ϕ A = longitude do ponto A
ϕ B = longitude do ponto B

Para mostrarmos como se obtêm as diferenças de latitude e longitude entre dois


pontos, consideraremos os dados presentes no Quadro 1, levando em conside-
ração as coordenadas geográficas dos pontos A (50°N, 100°W), B (40°N, 80°E),
C (20°S, 40°W) e D (10°S, 20°E). Para obtermos a diferença de latitude entre os
pontos A e B, basta substituirmos os valores da fórmula a seguir pelos valores
correspondentes dos pontos:

∆ϕ = ϕ A − ϕ B
∆ϕ= 50° − 40°
∆ϕ = 10°
No caso da diferença de longitude, basta substituirmos os valores da fórmula a
seguir pelos valores correspondentes dos pontos:

∆λ= λ A − λ B
∆λ = −100° − ( +80° )
∆λ = −100° − 80°
∆λ =−180°

As Coordenadas Geográficas
130 UNIDADE III

Nesse exemplo em específico, é válido lembrar que os sinais de positivo e nega-


tivo que acompanham os pontos A e B dependem do hemisfério no qual se
encontram. Quando dois pontos se encontram com uma diferença de longi-
tude de 180°, como foi o caso dos pontos A e B, dizemos que A se encontra no
antimeridiano de B.
E você, caro(a) aluno(a), saberia calcular a diferença de latitude e longitude
entre os pontos C e D?

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Para ter mais informações sobre o conteúdo e
assistir à resolução do exercício proposto, consulte
nosso QR Code por meio da sua plataforma.

OS DESAFIOS DA CARTOGRAFIA NA REPRESENTAÇÃO DA FORMA DA TERRA


131

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A cartografia é imprescindível para os estudos relacionados aos fenômenos geo-


gráficos. Para tanto, é necessário conhecer a superfície cartografada, a melhor
forma de representação dos fenômenos que ocorrem no espaço geográfico, além
das ferramentas contemporâneas e os novos produtos que podem ser gerados
para uma comunicação cartográfica mais eficiente.
Nesta unidade, verificamos o processo histórico que culminou com a deter-
minação de modelos para representação da forma terrestre, notando que a ciência
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

é incansável na busca dos grandes questionamentos do homem sobre a Terra


onde vive e desenvolve suas atividades econômicas, sociais e intelectuais. Ao
longo deste capítulo, foram apresentados os principais procedimentos realizados
pelos gregos para a determinação da forma da Terra, bem como os argumentos
de Newton e Cassini sobre as especificidades dos seus eixos.
Discutimos, ainda, os conceitos e os procedimentos de orientação e locali-
zação geográfica, os quais são necessários para a compreensão da localização e
distribuição dos fenômenos geográficos. A partir dos pontos cardeais, colaterais
e subcolaterais, você pôde aprender como se orientar no espaço, bem como obter
os valores dos rumos e azimutes para trabalhar com seus alunos em sala de aula.
Um dos conteúdos que discutimos nesta unidade foi a compreensão das
diferentes formas geométricas utilizadas como modelos para a representação do
nosso planeta. Esse tipo de procedimento é fundamental, porque permite tor-
nar viável a representação da superfície terrestre, soluções diretamente ligadas
à escala e aos propósitos de uso.
Por fim, estudamos o princípio que organiza as coordenadas geográficas,
discutindo como estabelecer a diferença entre as latitudes e longitudes de dois
pontos, aspectos que serão retomados e aprofundados nos próximos capítulos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
132

1. Considerando as diferenças entre o rumo e o azimute, analise as proposições


listadas a seguir:
I. A orientação dos rumos e dos azimutes tem origem no Norte.
II. O valor do rumo deve apresentar o menor ângulo em relação ao eixo norte-
-sul e ao ponto subcolateral correspondente.
III. Um rumo de 45º NW tem sua origem em norte e vai para oeste.
IV. O valor do rumo varia de 0º a 90º e o valor do azimute de 0º a 360º.
Está correto apenas o que se afirma em:
a) I.
b) I e II.
c) II e III.
d) III e IV.
e) II, III e IV.
2. Um professor realizou uma aula prática de orientação com bússola. Para essa
aula, ele utilizou um mapa confeccionado com a orientação feita pelo norte
verdadeiro da Terra. Durante a prática, os alunos constataram que alguns pon-
tos no terreno não estavam na mesma orientação marcada no mapa. Identifi-
que a fonte de erro que apareceu durante a aula prática.
3. A representação das formas da Terra envolve uma série de conceitos geomé-
tricos, geodésicos e geográficos. Considerando a especificidade desses con-
ceitos, julgue as afirmativas a seguir com (V) para as Verdadeiras e (F) para as
Falsas:
( ) A forma mais precisa da Terra é denominada geoides.
( ) A Cartografia utiliza vários modelos geométricos para representar o nosso
planeta, inclusive o plano.
( ) Ao olharmos uma paisagem pela janela, é possível enxergarmos parte da
superfície do geoide.
( ) A função dos data é estabelecer um elo entre o geoide e o elipsoide na re-
presentação do espaço.
133

( ) Se considerarmos uma escala cartográfica muito grande, é possível visuali-


zarmos o efeito da curvatura terrestre.
A sequência correta é:
a) F, F, V, V, F.
b) V, V, F, V, V.
c) F, V, V, F, V.
d) V, F, F, F, V.
e) V, V, F, V, F.
4. Durante um trabalho de campo, aos alunos do curso de Geografia, foi solicita-
do que determinassem as coordenadas geográficas do ponto A (23°14’25”N;
12°24’12“W). Ao realizar as correções dos resultados, o professor verificou que,
embora as coordenadas fossem idênticas, a posição entre os pontos não coin-
cidiam, assim como mostra a figura a seguir:

Considerando que os equipamentos estavam em perfeitas condições, assinale


a alternativa que corresponde ao tipo de informação que o professor deixou de
repassar e que determinou a diferença de localização entre os pontos.
a) Os valores dos eixos do elipsoide.
b) A escala cartográfica.
c) A orientação.
d) A longitude.
e) O datum.
134

5. Os gregos foram os responsáveis por uma série de inovações que até hoje es-
tão presentes nas práticas de representação do espaço. Com base nessas con-
tribuições estudadas nesta unidade, analise as asserções a seguir e a relação
proposta entre elas:
I. Uma das maiores descobertas do povo grego foi a utilização dos astros ce-
lestes para o desenvolvimento de um sistema de coordenadas geográficas
universais.
PORQUE
II. O uso das toponímias tornava os pontos de referência restritos ao nível local.
A respeito dessas asserções, assinale a alternativa correta:
a) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é justificativa correta
da I.
b) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é justificativa
correta da I.
c) A asserção I é proposição verdadeira, e a II é proposição falsa.
d) A asserção I é proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
e) As asserções I e II são proposições falsas.
135

A orientação com mapa e bússola tornou-se um esporte em franco crescimento na últi-


ma década, atualmente, existem vários grupos que são adeptos dessa modalidade ain-
da pouco divulgada. A orientação consiste em um desafio de se utilizar uma bússola e
uma carta planialtimétrica para se chegar a lugares específicos sem nenhuma referência
adicional. O mais comum é a orientação na selva, onde alguns alvos são colocados den-
tro de uma extensa área de mata com orientações (azimute/rumo e distâncias), com
essas informações, o atleta precisa se deslocar até os alvos. A seguir, é apresentado um
texto que relata a breve história dessa modalidade:
“Nos primórdios da existência humana, a orientação e a localização espacial eram habi-
lidades necessárias para a sobrevivência, principalmente nos deslocamentos terrestres
para a busca de refúgios e de alimentos. Ao longo dos séculos, com o conhecimento dos
astros, com a invenção da bússola e com o uso dos mapas, a localização e a orientação
se tornaram mais precisas, permitindo nortear o deslocamento de exploradores e nave-
gadores de terras e mares, além de orientar-se em qualquer momento ou condição do
ambiente.
Atualmente, temos uma gama de informação sobre qualquer lugar, à disposição de mui-
tas pessoas, através do SIG, da rede ciberespacial e do GPS.
Entretanto, no meio dessa trajetória, surge uma atividade – a Orientação. A Orientação
é uma prática muito antiga na Europa e teve início nos países nórdicos há mais de um
século. Em meados do século XIX, militares escandinavos realizavam exercícios de orien-
tação com suas tropas, em meio às paisagens naturais, com o objetivo de treinar e de
entreter.
O Major Ernst Killander, um sueco e líder de escoteiros, conseguiu divulgar e popularizar
o esporte. A princípio, constatou que os jovens se afastavam cada vez mais das ativida-
des esportivas de corrida e do atletismo e decidiu explorar a paisagem sueca para atrair
os jovens corredores. Fixou pontos no meio das florestas, entregou um mapa e uma
bússola para os participantes, estabelecendo, assim, uma corrida. A prática da atividade
se tornou um grande sucesso e ele foi incentivado a ampliar a orientação para outras
pessoas”.
Fonte: adaptado de Scherma e Ferreira (2011).
MATERIAL COMPLEMENTAR

O prêmio da longitude
Joan Dash
Editora: Companhia das Letras
Sinopse: em 1714, depois de muitos naufrágios dos navios da Marinha
Real, o Parlamento Britânico instituiu um prêmio milionário para quem
descobrisse como determinar a longitude no mar. Para uma potência
naval como a Inglaterra, era inadmissível que desastres marítimos
continuassem a ocorrer. Cinquenta anos depois, o prêmio continuava
sem vencedores. Cientistas consagrados, como Isaac Newton e Edmond
Halley, haviam tentado estabelecer um método de calcular a longitude,
a partir de experimentos de astronomia, mas sem sucesso. Quem
conseguiu descobrir a maneira de medi-la com precisão foi um humilde relojoeiro: John Harrison.
Só faltava que a Comissão de Longitude, grupo designado para conceder o prêmio, concordasse em
reconhecer que um trabalhador pobre e pouco articulado pudesse ser o vencedor. Tinha início uma
briga que ocuparia o resto da vida de Harrison. Numa reportagem minuciosa, que combina história
da ciência, diário de bordo e biografia, Joan Dash recria esse conflito e apresenta os detalhes de um
personagem central na história da ciência, protagonista de uma corrida que contribuiu, literalmente,
para ajudar o homem a descobrir seu lugar no mundo.

O link a seguir apresenta um breve vídeo que demonstra de maneira muito simples e prática a
utilização das bússolas topográfica e militar para a tomada de dados em campo.
Web: https://www.youtube.com/watch?v=z-6UG56NpR8.
137
REFERÊNCIAS

BORGES, A. C. Topografia aplicada à Engenharia Civil. São Paulo: Blucher, 2013.


CLAVAL, P. Epistemologia da Geografia. Florianópolis: Editora UFSC, 2011.
ERNESTO, M.; MARQUES, L. S. Investigando o interior da Terra. In: TEIXEIRA, W.; FAIR-
CHILD, T. R.; TOLEDO, M. C. M. de; TAIOLI, F. Decifrando a Terra. São Paulo: Compa-
nhia Editora Nacional, 2008. p. 64-82.
GASPAR, J. A. Cartas e projecções cartográficas. 3. ed. Lisboa: Lidel, 2005.
OLIVEIRA, C. Dicionário cartográfico. 4. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1993.
SCHERMA, E. P.; FERREIRA, E. R. Ler, analisar e interpretar mapas através das práticas
da orientação. Imaginação e Inovação: desafios para a Cartografia Escolar. In: COLÓ-
QUIO DE CARTOGRAFIA PARA CRIANÇAS E ESCOLARES, 7., 2011, Vitória. Anais[...].
Vitória: , 2011. p. 230-255. Disponível em:h ttps://cartografiaescolar2011.files.wor-
dpress.com/2012/03/leranalisarinterpretarmapasatravespraticaorientacao.pdf.
Acesso em: 14 jun. 2019.

REFERÊNCIAS ON-LINE
1 Em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Geoide#/media/File:Geoids_sm.jpg. Acesso em:
18 jul. 2019.
2 Em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Rosa_dos_ventos#/media/File:Brosen_windro-
se_It.svg. Acesso em: 18 jul. 2019.
3 Em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Mapa_coordenadas_geogr%C3%A1fi-
cas_editado.jpg. Acesso em: 14 jun. 2019.
GABARITO

1. D.
2. Trata-se da diferença angular que existe entre o norte verdadeiro e o norte mag-
nético da Terra. Essa diferença que gerou o erro de observação é denominada
declinação magnética.
3. E.
4. E.
5. A.
Prof. Me. Estevão Pastori Garbin
Prof. Me. Thiago César Frediani Sant’Ana

IV
PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS

UNIDADE
E REPRESENTAÇÃO DO
RELEVO

Objetivos de Aprendizagem
■■ Identificar as especificidades das projeções cartográficas na
representação espacial.
■■ Conhecer os principais instrumentos para a obtenção de dados
planialtimétricos da paisagem.
■■ Conhecer as principais técnicas para a representação cartográfica do
relevo.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ As projeções cartográficas
■■ Conhecendo os principais métodos para a realização de
levantamentos planialtimétricos
■■ Representação e leitura do relevo na cartografia
141

INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), nesta unidade, estudaremos quais são as implicações da trans-


formação de uma superfície curva em uma superfície plana nas representações
cartográficas. As projeções cartográficas formam um importante conjunto de
estratégias desenvolvidas e amadurecidas, desde os gregos, para o encontro de
soluções na representação da superfície terrestre. Discutiremos as fontes de dis-
torções geradas nesse processo.
Outro ponto que abordaremos são os principais ramos e métodos para o
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

levantamento de dados do terreno, a partir dos conceitos de altimetria, planime-


tria e as relações com a Cartografia. Em seguida, daremos atenção especial aos
tipos de soluções historicamente empregadas na representação do relevo, consi-
derando as especificidades e potencialidade de cada uma. O nosso foco principal
será a leitura das curvas de nível, uma invenção moderna que auxiliou, sobrema-
neira, a Cartografia na representação de forma mais fidedigna do relevo.
Por fim, aprenderemos como construir e interpretar um recurso muito útil
na visualização da altimetria do relevo: os perfis topográficos. Eles são caracte-
rizados por uma transposição das informações contidas nas curvas de nível em
uma visão lateral, facilitando a visualização dos declives e auxiliando na leitura
da paisagem. Estudaremos, passo a passo, como construir um perfil topográ-
fico, considerando suas especificidades escalares e as principais estratégias para
a transposição das informações presentes em uma carta topográfica.
Esperamos que esta unidade forneça as informações necessárias para que,
em sua vida profissional, a tomada de decisões no processo de confecção de
produtos cartográficos (mapas, cartas, plantas etc.) ocorra de maneira prática e
suficientemente clara.

Introdução
142 UNIDADE IV

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
AS PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS

Um dos maiores desafios decorrentes do conhecimento e da medição da cur-


vatura terrestre é a sua transposição para uma superfície plana, como em uma
folha de papel, por exemplo, causando as menores deformações possíveis. A
transposição de uma superfície curva para uma plana é um tipo de problema
recorrente se observarmos o nosso cotidiano, como na construção de uma bola
de futebol (Figura 1):

Figura 1 - Um tipo de solução para a transformação de um objeto em duas superfícies distintas


Fonte: os autores.

PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS E REPRESENTAÇÃO DO RELEVO


143

No caso da bola de futebol, construída a partir de um material bem rígido, são


recortados pequenos polígonos que, depois de costurados, possuem suas linhas
suavizadas pela pressão do ar do interior da bola. Na Cartografia, adotam-se
estratégias engenhosamente semelhantes, mas com uma dificuldade adicional:
as distorções causadas na transposição de uma superfície curva para a plana afe-
tam, diretamente, algumas características da informação geográfica presente no
mapa. Denominamos esse conjunto de soluções empregadas na transposição de
um ponto de uma superfície curva para uma superfície plana, bem como na sua
materialização, de projeção cartográfica (GASPAR, 2005).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Os paralelos e os meridianos cumprem um papel importante na execução


das projeções, porque indicam as deformações causadas na transposição carto-
gráfica. Isso significa que é a partir de suas trajetórias que identificamos o tipo
de projeção utilizada na construção de um mapa, bem como no tipo de proprie-
dade que essa projeção conserva ou deforma na representação espacial.
Os procedimentos envolvidos na construção de uma projeção cartográfica
podem ser divididos em dois principais momentos. O primeiro é caracterizado
pela redução escalar do modelo terrestre adotado para a representação do planeta,
o que envolve todas as transformações que a mudança de escala pode ocasionar na
representação espacial, assim como vimos na Unidade II. O exemplo mais repre-
sentativo dessa operação é a construção de um globo terrestre, pouco utilizado no
nosso cotidiano pelo seu alto grau de generalização e pela dificuldade em trans-
portá-lo. O segundo momento corresponde à transformação da forma dos objetos
oriundos da transposição de uma superfície curva para uma superfície plana.
A aplicação das projeções cartográficas sempre causa a distorção de algum
aspecto no mapa. Nesse sentido, é possível dividirmos as projeções em catego-
rias, de acordo com o tipo de distorção ou conservação, quais sejam:
a. Projeções conformes

Nas projeções conformes, é possível observarmos uma preservação das formas


dos objetos pequenos representados nos mapas, mas que sofrem uma mudança de
escala quando se prolongam da linha do Equador e se aproximam dos polos. Isso
significa que associar o termo conforme com a preservação das formas de objetos
grandes, como os continentes, é um entendimento equivocado. Em determinado

As Projeções Cartográficas
144 UNIDADE IV

ponto localizado sobre uma projeção conforme, a escala é preservada em todas


as direções. No entanto, essa escala pode variar entre dois pontos distintos, assim
como ilustra a Figura 2:

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 2 - Efeito de uma projeção conforme na forma de quatro pontos em latitudes distintas
Fonte: adaptada de Gaspar (2005).

b. Projeções equivalentes

Nas projeções equivalentes, a principal propriedade que se busca conservar são


as áreas dos objetos. Esse tipo de propósito é, particularmente, importante na
representação dos mapas políticos, pois preservam as dimensões entre os dife-
rentes territórios, embora as formas sejam distorcidas pela variação dos ângulos,
que não são preservados, assim como mostra a Figura 3:

Figura 3 - Transformação de um objeto em diferentes latitudes em uma projeção azimutal equivalente polar
Fonte: adaptada de Gaspar (2005).

Um exemplo de projeção equivalente é a projeção de Mollweide, em que os meri-


dianos são apresentados como linhas curvas, enquanto os paralelos são traçados

PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS E REPRESENTAÇÃO DO RELEVO


145

em linha reta. A área do desenho corresponde à mesma proporção da área ter-


restre. As regiões localizadas na área central do mapa possuem menor distorção
do que as regiões das extremidades:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 4 - Projeção de Mollweide


Fonte: Wikimedia Commons (2011, on-line)1.

c. Projeções equidistantes

Embora seja impossível preservar as distâncias entre todos os pontos da superfície


terrestre em um mapa, o objetivo das projeções equidistantes é preservar as distân-
cias entre alguns pontos específicos, no sentido leste-oeste, Norte-Sul, por exemplo.
d. Projeções azimutais

O propósito principal das projeções azimutais, como o nome indica, é preservar


os azimutes a partir de um determinado ponto. Ela é utilizada, sobretudo, para a
construção de mapas cuja utilização está relacionada diretamente à orientação.
e. Projeções afiláticas

Nas projeções afiláticas, os ângulos e as áreas são deformados no desenho, mas


dentro de um limite de erro. Este tipo de projeção é utilizado, principalmente,
para fins didáticos.

As Projeções Cartográficas
146 UNIDADE IV

N N B B
d d’B
d d’A
W E W A A
E d’C
d
Ângulos Distâncias
S S C
C

N
N
B C B’ C’
W E W E
A’

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Áreas S A
S
Direções
Figura 5 - Transformações causadas pelas projeções em um determinado objeto
Fonte: adaptada de Gaspar (2005).

Além das propriedades conservadas pelas projeções cartográficas, é possível cate-


gorizá-las de acordo com a superfície de projeção e a posição dessa superfície
em relação ao modelo terrestre, assim como mostra a Figura 5:

PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS E REPRESENTAÇÃO DO RELEVO


147

PLANAS CÔNICAS CILINDRICAS

P P
P

P’ P’
P’
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

POLAR - plano tangente NORMAL - eixo do cone EQUATORIAL - eixo do cilindro


no pólo. paralelo ao eixo da Terra. paralelo ao eixo da Terra.

P
P P

P’ P’ P’

TRANSVERSA - eixo do cone TRANSVERSA - eixo do cilindro


EQUATORIAL - plano
perpendicular ao eixo perpendicular ao eixo da Terra
tangente no equador.
da terra.

P P P

P’ P’ P’

HORIZONTAL - plano HORIZONTAL - eixo do cone HORIZONTAL - eixo do cilindro


tangente em um ponto inclinado em relação ao eixo inclinado em relação ao eixo
qualquer. da Terra. da Terra.

Figura 6 - Classificação das projeções de acordo com a superfície de projeção e sua posição
Fonte: IBGE (1998, p. 34)

As Projeções Cartográficas
148 UNIDADE IV

No que se refere ao tipo de superfície de projeção, podemos classificar as pro-


jeções cartográficas em:
a. Projeção cilíndrica

Na projeção cilíndrica, a Terra é envolvida por um cilindro, no qual são traçadas


as superfícies representadas. Na projeção cilíndrica transversa, os meridianos
tocam os dois polos, projetando-se de forma perpendicular sobre a Linha do
Equador, enquanto os paralelos apresentam-se com maior espaçamento entre
si, à medida que se aproximam dos polos. Portanto, nessa projeção, quanto mais

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
próximas dos polos estiverem as áreas representadas, maior será a deformação
encontrada na representação da superfície terrestre.
Dizemos que uma projeção cilíndrica é secante quando a superfície de pro-
jeção corta o elipsoide em dois pontos ou duas linhas de secância: no caso de
cortarem nos paralelos que correspondem à latitude de 70º norte e sul, significa
que as distorções entre essas latitudes serão menores. Essa projeção é ampla-
mente utilizada para a representação de mapas mundi na forma de planisférios.

Figura 7 - Exemplo de projeção cilíndrica equatorial tangente


Fonte: Brasil Escola ([2019], on-line)2.

PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS E REPRESENTAÇÃO DO RELEVO


149

Projeção de Mercator
Durante o período das grandes navegações, a projeção cilíndrica, elaborada
pelo cartógrafo holandês Gerardus Mercator, foi adotada em larga escala pelos
navegadores, pois permitia que se traçassem linhas retas para obter a direção a
ser tomada. Por ser uma projeção conforme e que representa o mundo sob uma
perspectiva europeia, centralizou o continente europeu, aparentando dimensões
maiores no desenho. Por isso, é denominada de projeção eurocêntrica:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 8 - Projeção cilíndrica transversa de Mercator

Na década de 1970, o cartógrafo Arno Peters apresentou sua projeção


equivalente. Sua intenção foi contrapor a visão eurocêntrica que existia nos
mapas, ainda baseados na projeção de Mercator. A projeção de Peters é
cilíndrica, porém as distâncias angulares entre os paralelos diminuem à medida
que se afastam do Equador, o que provoca um alongamento nos desenhos dos
contornos continentais, distorcendo suas formas, mas mantendo as áreas:

As Projeções Cartográficas
150 UNIDADE IV

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 9 - Projeção cilíndrica de Peters
Fonte: Wikipedia Commons ([2019], on-line)3.

b. Projeção cônica

Na projeção cônica, a superfície terres-


tre é projetada sobre um cone que toca um
ponto tangente ou secante à superfície ter-
restre. Após a elaboração do desenho, o cone
é aberto, formando um plano. Nessa proje-
ção, os meridianos convergem para um dos
polos, enquanto os paralelos são semicírcu-
los concêntricos. Essa projeção possui menor
deformação nas áreas de latitudes médias –
entre 25º e 65º para norte ou para sul:

Figura 10 - Projeção cônica


Fonte: Brasil Escola ([2019], on-line)².

PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS E REPRESENTAÇÃO DO RELEVO


151

c. Projeção Azimutal

Na projeção azimutal, um plano é colocado tangen-


ciando um ponto da superfície. Os meridianos têm,
como origem, o ponto de tangência e os paralelos
formam círculos concêntricos. A distorção é maior
nas áreas mais distantes do ponto de tangência. Essa
projeção pode ser Polar (quando o ponto de tan-
gência está em um dos polos), Equatorial (quando
o ponto de tangência está sobre a linha do Equador)
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ou Oblíqua (quando o ponto de tangência não está


em nenhum dos anteriores).

Figura 11 - Projeção Azimutal Polar


Fonte: Brasil Escola ([2019], on-line)²..

d. Projeção ortográfica

Nessa projeção, considera-se que a fonte de projeção está no infinito, ou seja, não
toca a superfície. Além disso, apenas um hemisfério poderá ser mostrado e os
espaçamentos entre os paralelos diminuem à medida que se localizam próximo ao
Equador. Essa projeção é utilizada para destacar alguma região do globo terrestre.
e. Projeções interrompidas

São denominadas interrompidas, as projeções cartográficas que não apresentam


uma continuidade entre as linhas dos paralelos e meridianos. Embora evitem
que áreas específicas tenham deformação menor, sua interrupção inviabiliza o

As Projeções Cartográficas
152 UNIDADE IV

seu uso na maioria das atividades cotidianas. A projeção interrompida ou des-


continuada de Goode, por exemplo, é uma projeção que mostra a equivalência
das massas continentais e, para isso, descarta algumas áreas onde predominam
as massas oceânicas. Para obter maior precisão, é realizado o alinhamento dos
meridianos centrais da projeção aos meridianos dos continentes:

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 12 - Projeção Descontinuada de Goode
Fonte: Wikipedia ([2019], on-line)⁴.

A partir do conhecimento sobre as projeções cartográficas, você percebeu


que os mapas utilizados em sala de aula não são totalmente fiéis às dimen-
sões e às formas reais da Terra. Como podemos trabalhar essa ideia em sala
de aula com os alunos?

PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS E REPRESENTAÇÃO DO RELEVO


153
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

CONHECENDO OS PRINCIPAIS MÉTODOS


PARA A REALIZAÇÃO DE LEVANTAMENTOS
PLANIALTIMÉTRICOS

O conhecimento em cartografia envolve, também, as ferramentas de geotecno-


logias que são trabalhadas pela topografia, geodésia e geoprocessamento, sendo
que o conhecimento básico dessas ferramentas é importante para o graduado
em Geografia, na elaboração de cartas ou mapas topográficos e na interpretação
deles, sendo desejável a compreensão das informações que esses mapas ou car-
tas lhe fornecem para uma correta correlação, análise e síntese da informação.
O levantamento de campo conta com técnicas e instrumentos da geotec-
nologia para a obtenção da localização plana (X; Y) e altimétrica dos pontos a
serem cartografados. É uma parte da Geociência que procura realizar um estudo
local sem considerar a curvatura da Terra, trabalhando em um plano tangente à
superfície da Terra, de dimensões de, em média 50 km x 50 km, buscando repre-
sentar de forma detalhada o que acontece na área estudada, apresentando seu
relevo, estradas, construções de divisas, cursos d’água e elementos antrópicos.
A técnica de levantamento topográfico tem como objetivo, segundo Borges
(2003, p. 1),

Conhecendo os Principais Métodos para a Realização de Levantamentos Planialtimétricos


154 UNIDADE IV

Representar, no papel, a configuração de uma porção de terreno com as


benfeitorias que estão em sua superfície. Ela permite a representação,
em planta, dos limites de uma propriedade, dos detalhes que estão em
seu interior (cercas, construções, campos cultivados e benfeitorias em
geral, córregos, vales, espigões etc.).

O levantamento dos dados é realizado pela obtenção de distâncias e ângulos, por


meio dos quais é possível a determinação dos seguintes dados:
■■ Coordenadas (X, Y e Z).

■■ Áreas.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
■■ Volumes.

■■ Perímetros.
Além disso, os levantamentos podem ser obtidos por meio de métodos plani-
métricos ou altimétricos:
■■ Levantamento planimétrico

É o levantamento da área de estudo para uma representação plana, sem consi-


derar o relevo local. Nesse tipo de levantamento, são representados os limites
do lote, perímetro, área, construções, estradas, rios etc. Diversos tipos de equi-
pamentos e técnicas podem ser utilizados para esse tipo de levantamento cujos
dados obtidos são os ângulos horizontais e as distâncias horizontais. A represen-
tação dos dados será sempre referente ao plano de estudo perpendicular ao eixo
gravitacional terrestre e será, em uma folha, representado um plano, com uma
vista superior. As coordenadas trabalhadas, nesse tipo de levantamento, serão
referentes apenas aos eixos X e Y.
De acordo com Borges (2003, p. 13), na “planimetria são medidas as gran-
dezas sobre um plano horizontal. Essas grandezas são as distâncias e os ângulos,
portanto, as distâncias horizontais e os ângulos horizontais”.
■■ Levantamento altimétrico

Na altimetria, o objetivo é determinar os relevos do terreno e obter suas alti-


tudes referentes a uma superfície de referência que o profissional adotou, seja
por um ponto de altura conhecida, seja por alguma referência necessária para

PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS E REPRESENTAÇÃO DO RELEVO


155

a realização de um projeto. Por exemplo, a altura de um meio-fio é importante


para o engenheiro saber a que altura tem que ficar o seu projeto. Nesse levan-
tamento, são medidas grandezas, como distâncias verticais e ângulos verticais,
para uma posterior definição de alturas, diferenças de alturas e cotas.
A representação cartográfica da altimetria é feita por meio de isolinhas cha-
madas de curvas de nível (Figura 13), que mostram, em um plano, como é a
variação do relevo, fornecendo informações que possibilitam verificar os pon-
tos mais altos ou mais baixos do terreno em estudo, os pontos de alagamento e
as inclinações do relevo.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 13 - Curvas de nível


Fonte: os autores.

As coordenadas trabalhadas nesse tipo de levantamento serão referentes apenas


ao eixo da altitude (Z), de acordo com Borges (2003, p. 2):
Pela altimetria fazemos as medições das distâncias e dos ângulos verticais
que, na planta, não podem ser representados. Por essa razão, a altimetria
usa como representação a vista lateral ou perfil, ou corte, ou elevação; os
detalhes da altimetria são representados sobre um plano vertical.

Conhecendo os Principais Métodos para a Realização de Levantamentos Planialtimétricos


156 UNIDADE IV

■■ Levantamento planialtimétrico

O levantamento planialtimétrico consiste na união dos levantamentos altimétrico


e planimétrico, tendo, como objetivo, a determinação das três coordenadas X,
Y e Z. No levantamento planialtimétrico, são levantados os valores dos ângulos
horizontais, dos ângulos verticais e das distâncias inclinadas. Com esses dados,
ainda podemos obter, por meio de cálculos ou equipamentos de medições, as
distâncias horizontais e as cotas e diferenças de alturas entre pontos.
Esse é o levantamento mais importante para a elaboração de cartas que mostram
todas as dimensões possíveis de se cartografar. Com os dados desse tipo de levan-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tamento, é possível verificar todo o comportamento do terreno, definir as formas
de relevo, definir a declividade do terreno, verificar seu posicionamento dentro da
zona de luminosidade, além de possibilitar a determinação da altitude de qualquer
ponto dentro da carta/mapa. Ademais, é possível observar a posição dos elemen-
tos planimétricos, como rios, estradas, cidades, quadras e entre outros elementos.

PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS E REPRESENTAÇÃO DO RELEVO


157
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

REPRESENTAÇÃO E LEITURA DO RELEVO NA


CARTOGRAFIA

De acordo com Keates (1989), o relevo é caracterizado pelos valores da altitude e


da declividade. A utilização das curvas de nível para a representação dessas carac-
terísticas é uma invenção moderna, resultado do avanço científico da Matemática
e da Geometria. De acordo com Imhof (2007), o relevo tem sido objeto de repre-
sentação na Cartografia desde os mapas mais antigos. De maneira geral, algumas
estratégias para representá-lo podem ser sintetizadas pela Figura 14:

Representação e Leitura do Relevo na Cartografia


158 UNIDADE IV

Figura 14 - Formas de representação do relevo Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Fonte: adaptada de Imhof (2007).

As mais antigas e comuns representações de montanhas na Cartografia eram


em forma de montes: formas simples, uniformes, mostrando apenas um lado do
fenômeno em um domo de forma regular. Quando representadas em fileiras, as
montanhas eram orientadas perpendicularmente ao eixo dos vales (IMHOF, 2007).
A representação da declividade era simulada por hachuras em manchas, na Idade
Média, sem a fidedignidade com as feições encontradas no território. A partir do
século XV, o uso de domos regulares começou a ser abandonado e a representação
das montanhas começou a ser orientada ao ponto de vista do observador. Os símbolos
simplesmente sobrepostos começaram a ser representados como massas montanhosas

PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS E REPRESENTAÇÃO DO RELEVO


159

estendidas, as chamadas escamas de peixe. No século XVI, o uso de formas volu-


mosas em conjunto com a iluminação tornou-se muito presentes (IMHOF, 2007).
As isolinhas de altitude são recursos que demandaram o desenvolvimento da
Matemática e da Geometria para o seu desenvolvimento. Elas foram desenvolvidas
no século XVII, apesar de somente serem extensivamente utilizadas duzentos anos
depois do seu surgimento (IMHOF, 2007). De acordo com DSG (1998), a curva de
nível é uma linha contínua e fechada que representa, na carta, a sucessão dos pontos
de mesma altitude de uma elevação, referidos ao datum vertical estabelecido.
As curvas de nível são mais próximas de onde as declividades forem maiores,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

de tal modo que, em áreas montanhosas, formarão superfícies mais escurecidas


no mapa (RAISZ, 1969). Duas curvas de nível jamais se cruzam: caso isso ocorra,
é indicação de erro em sua representação. A Figura 15 ilustra alguns exemplos de
como são representadas, em curvas de nível, algumas feições do relevo:

Figura 15 - Representação das feições de diferentes relevos pelas curvas de nível


Fonte: Linguagem Geográfica (2017, on-line)⁵.

Representação e Leitura do Relevo na Cartografia


160 UNIDADE IV

Uma mesma carta topográfica pode apresentar curvas de nível com espessuras
diferentes, o que significa a presença de curvas mestras e ordinárias. As primei-
ras aparecem em intervalos maiores, com diferenças de altitudes de 50 em 50
metros ou de 100 em 100 metros. As curvas de menor espessura, com espaça-
mento menores, são denominadas ordinárias (SANCHEZ, 1975).

CONSTRUÇÃO E LEITURA DE PERFIS TOPOGRÁFICOS

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O perfil topográfico é um recurso muito útil para visualizar como se comporta
o relevo em um determinado corte longitudinal. Como pode ser verificado na
figura a seguir, as duas situações apresentam um mesmo desnível de 40 metros,
mas o desnível da Situação 1 é muito menos suave, pois essa diferença está dis-
tribuída em uma distância mais curta se compararmos à Situação 2. Para os
estudos geográficos, essa visualização da declividade do terreno pode ser muito
útil, sobretudo para o planejamento ambiental, na análise de áreas de risco para
a habitação ou, ainda, para identificar relações entre o tipo de solo e as condi-
ções para o desenvolvimento:

Situação 1 Situação 2

A B C D

50 30 10 50 40 30 20 10
m m
50 50
40 40
30 30
20 20
10 10
A B C D
Figura 16 - Cortes longitudinais expressos em perfis topográficos
Fonte: adaptada de Sanchez (1975).

PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS E REPRESENTAÇÃO DO RELEVO


161

A construção de um perfil topográfico a partir das curvas de nível exige alguns


cuidados, sobretudo na interpretação dos valores altimétricos e na definição do
exagero vertical da escala. Contudo, veremos passo a passo de como realizar a
construção desse tipo de perfil.
A construção de um perfil topográfico exige, evidentemente, que se disponha
de alguns instrumentos básicos para a realização da representação. É necessária
a utilização de uma régua, lápis (ou, preferencialmente, uma lapiseira de ponta
fina), borracha e folha de papel milimetrado. O uso de softwares para a elabo-
ração de perfis dispensa esses aparatos analógicos, mas é importante dominar
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

essas técnicas, porque podem ser facilmente replicadas em sala de aula.


1º passo – Identificação e desenho do segmento de reta que será
representado
A primeira etapa na construção de um perfil topográfico é a determinação do
alinhamento que será retratado. A escolha deve ser pautada de acordo com as
necessidades do usuário, ou seja, não existe uma regra fixa para determinar o
comprimento ou a direção de uma linha. Para fins didáticos, optamos por cons-
truir o perfil do alinhamento AB expresso na figura a seguir. Nesse sentido, após
a escolha do local a ser representado, trace, com o auxílio de uma régua e do
lápis, a trajetória do perfil:

Figura 17 - Determinação da linha em que será realizado o perfil


Fonte: os autores.

Representação e Leitura do Relevo na Cartografia


162 UNIDADE IV

Perceba, caro(a) aluno(a), que a linha em questão realiza o cruzamento com


diversas curvas de nível, sendo a de maior valor a de 980 metros, e a de menor
altitude, 880 metros. A amplitude do declive é, portanto, de 100 metros. Se ado-
tarmos a escala original da carta, de 1:25.000, para representar esse declive de 100
metros, ele corresponderia a uma distância vertical de 0,4 cm, tornando nosso
perfil com uma diferença de altitude muito discreta. O segundo passo, portanto,
é encontrar uma escala vertical (para a altitude) diferente da escala horizontal.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Você pode realizar o download de diversas cartas topográficas, gratuita-
mente, no site do IBGE. Basta acessar o link disponível a seguir: https://www.
ibge.gov.br/geociencias-novoportal/cartas-e-mapas/folhas-topograficas/
15809-folhas-da-carta-do-brasil.html?edicao=16042&t=acesso-ao-produto.
Fonte: os autores.

2° passo – Definição da escala vertical e do exagero


Denominamos exagero da escala vertical a diferença de proporção existente entre
essa escala em relação à escala horizontal. Não há uma regra fixa para a determi-
nação desse exagero, o que demanda a experiência e o interesse do autor do perfil
em definir o seu valor numérico. No caso do exemplo adotado, em que existe uma
amplitude de altitude de 100 metros, podemos escolher representar essa ampli-
tude em um espaço de 0,5 cm para cada valor de altitude da curva de nível, isto é,
a cada 20 metros de diferença, expressa-se em meio centímetro, verticalmente, no
papel entre um ponto e outro. Para achar o valor dessa escala vertical, basta utili-
zar a fórmula de determinação da escala cartográfica já estudada na Unidade II:

d
E=
D
0,5cm 5mm i
E= → →
20m 20000mm 4000

PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS E REPRESENTAÇÃO DO RELEVO


163

Nesse caso, identificamos que o valor da escala vertical é de 1:4000. Para cal-
cular o exagero da escala vertical, basta dividir o valor dos denominadores da
escala horizontal pela vertical:

25000
Exagero = → 6, 25
4000

Portanto, o exagero da escala vertical foi de 6,25.


3° passo – Transposição dos pontos da carta para o perfil
Depois de calcular o exagero da escala vertical, a etapa seguinte consiste na trans-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

posição dos pontos onde ocorreram o cruzamento com alguma curva de nível.
No caso, pode-se usar o papel milimetrado para facilitar o procedimento, man-
tendo a escala original na transposição do corte AB e estabelecendo a escala
vertical de 1:4000, isto é, meio centímetro corresponde a uma variação de 20
metros de altitude, assim como está ilustrado na Figura 18. Muito cuidado neste
momento, caro(a) aluno(a), pois os pontos devem ser distribuídos verticalmente
na altitude correspondente:

Figura 18 - Transposição dos pontos para o papel milimetrado


Fonte: os autores.

Representação e Leitura do Relevo na Cartografia


164 UNIDADE IV

4° Passo: Ligar os pontos e complementar as informações do perfil


O último passo consiste no traçado das linhas entre os pontos e a complementa-
ção das informações do perfil. Nessa etapa final, é muito importante não traçar
as linhas de forma muito abrupta entre os pontos, mas simular a suavidade na
declinação natural do relevo. É possível, também, indicar na cor azul a posição da
lâmina d’água, os valores das escalas e a orientação, assim como mostra a Figura 19:

980
960
metros

940

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
920
900
880
A B

980
960
metros

940
920
900
880
A B
N
Escala vertical: 1:4.000
Escala horizontal: 1:25.000
Figura 19 - Finalizando o perfil topográfico
Fonte: os autores.

Além de indicar a presença de um curso d’água, o perfil topográfico também pode


conter informações complementares, como o uso do solo, a indicação dos limites
administrativos ou, ainda, o tipo de vegetação existente. Nesse caso, não pode-
mos esquecer de indicar, por meio da legenda, os seus respectivos significados.

PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS E REPRESENTAÇÃO DO RELEVO


165

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade, estudamos o que são as projeções cartográficas, quais são suas
propriedades e seus papéis no auxílio da Cartografia na representação da super-
fície curva do planeta Terra em uma superfície plana. Aprendemos que, a partir
da projeção de Mercator, diversas foram as soluções propostas para este pro-
blema, cada qual preservando e deformando alguma característica espacial: as
formas, os ângulos, as distâncias, as direções ou a distribuição de um erro con-
trolado entre todas essas propriedades.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Estudamos, também, os meios de classificarmos as projeções cartográfi-


cas quanto ao tipo de superfície de projeção. Ao adotarmos o cone, cilindro ou
plano, estamos favorecendo algum tipo de área geográfica, bem como um tipo
de distorção que nosso produto cartográfico acarretará em sua representação.
Conhecemos, ao longo desta unidade, os principais ramos e as técnicas empre-
gadas no levantamento de dados que são representados pela Cartografia para,
posteriormente, estudarmos as principais formas de representação do relevo. Na
Cartografia, o relevo é representado, sobretudo, no que se refere à sua altitude e
declividade, o que motivou o desenvolvimento e o aprimoramento de diversas
estratégias por parte dos pesquisadores.
A curva de nível é o recurso mais moderno para a representação do relevo,
pois permite uma visualização mais exata da superfície terrestre. A partir dela,
aprendemos quais são os seus tipos de traçados e como transportá-las para os
perfis topográficos, a fim de compreendermos, em uma visão vertical, como a
altitude e a declividade se comportam.
Esperamos que esta unidade tenha auxiliado no amadurecimento de sua
prática profissional e que você possa trabalhar com uma gama maior de recur-
sos da Cartografia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
166

1. Em relação às projeções cartográficas e suas propriedades, analise as afirma-


ções:
I. Na projeção de Goode, as áreas onde predominam as massas oceânicas são
descontínuas.
II. A projeção de Mercator é considerada afilática, pois os ângulos e a forma
são alterados.
III. Na projeção cônica, os meridianos convergem para um dos polos e os para-
lelos são semicírculos.
IV. A projeção cônica é, preferencialmente, utilizada para a representação de
todo o globo terrestre, pois não possui distorção.
É correto o que se afirma em:
a) I e II, apenas.
b) I e III, apenas.
c) II e III, apenas.
d) I, II e III, apenas.
e) II, III e IV, apenas.
2. A construção de um perfil topográfico exige, na maioria das vezes, a adoção de
um exagero na definição de uma das escalas, para que se visualize adequada-
mente a variação altimétrica do relevo. Assinale a alternativa que corresponde
ao tipo de escala em questão.
a) Escala horizontal.
b) Escala de mensuração.
c) Escala numérica.
d) Escala vertical.
e) Escala altimétrica.
3. A partir da representação exposta na figura a seguir, analise as afirmações e as
julgue com (V) para as Verdadeiras e (F) para as Falsas:
167

642

Rio do
s Ín
dio s
60
0
B
500

N
( ) A curva de nível de maior valor corresponde a de 640 metros.
( ) O fragmento apresenta duas curvas mestras e sete ordinárias.
( ) A amplitude do perfil AB é de 120 metros.
( ) A jusante do Rio dos Índios está orientada para o Sul.
( ) O perfil AB mostraria os mesmos valores das curvas de nível do perfil BA.
A sequência correta é:
a) V, V, F, V, F.
b) F, F, V, V, F.
c) V, F. F, V, V.
d) F, V, F, F, F.
e) V, V, F, F, V.
4. A cartografia busca representar graficamente a superfície terrestre, porém a
transformação dessa superfície real curva em uma superfície representada de
forma plana acaba gerando uma série de distorções de forma ou de ângulo nos
mapas. Para minimizar esses erros, foram criadas as projeções cartográficas,
sendo que cada tipo de projeção possui uma propriedade específica quanto
ao erro de representação. Liste e explique as propriedades de erros na projeção
cartográfica.
5. A representação do relevo é uma das principais preocupações da Cartografia.
Considerando as diferentes estratégias adotadas para a sua representação, in-
dique três vantagens que o traçado das curvas de nível possui em relação às
formas de representação mais antigas.
168

As diferentes e múltiplas Tecnologias de Comunicação e Informação (TCIs) que per-


meiam o dia a dia dos educandos, como computador, celular, câmera fotográfica, Inter-
net, são tecnologias usadas pelos adolescentes em idade escolar para brincar, jogar, tro-
car e receber mensagens dos amigos, o que possibilita, conforme descreve Kenski (2004,
p. 100), “outras lógicas de compreensão do mundo, de apropriação das informações, de
relacionamento e convívio interpessoal e de participação”.
A Cartografia ensinada nas escolas deve ultrapassar a localização dos fenômenos geo-
gráficos, tornando-se uma linguagem que desperta interesse e motivação aos alunos
para além da sala de aula. A facilidade e o entusiasmo dos alunos em manusear tecno-
logias digitais possibilita ao professor utilizar geotecnologias, como imagem de satélite,
GPS e SIG e, ainda, recursos de multimídia aplicados a Cartografia para facilitar a identi-
ficação, como também relacionar elementos naturais e socioeconômicos presentes na
superfície terrestre, o que melhora o entendimento da realidade, da complexidade e do
dinamismo do espaço geográfico.
É preciso que as metodologias no ensino básico sejam repensadas, de modo que con-
templem recursos digitais associados a representação espacial em meio analógico e,
com isso, favoreçam a leitura e a construção de representações espaciais a partir da le-
genda, orientação, coordenadas geográficas, escala, que são elementos fundamentais
para o uso da linguagem gráfica; soma-se a necessidade de proporcionar aos professo-
res oportunidades, tanto em termos de cursos de capacitação como infraestrutura nas
escolas para trabalhar com essas novas ferramentas.
A disponibilidade gratuita na Internet de geotecnologias somada a facilidade, por exem-
plo, do educando, para obter foto ou registrar vídeo e som de uma dada área da super-
fície terrestre, através dos seus smartphones, contribuem para desenvolver a Educação
Ambiental, considerando o aluno como protagonista do processo de ensino-aprendi-
zagem, sob a mediação do professor, por meio de atividades que contribuam para a
formação de cidadãos conscientes das suas ações e atitudes em meio a degradação e a
exaustão dos recursos naturais.
O uso da linguagem cartográfica na Educação Ambiental, através da utilização de da-
dos e informações obtidas em formato multimídia, observações levantadas em campo,
também com o uso do GPS, juntamente com o SIG Web, possibilita ao aluno representar
cartograficamente o meio ambiente a partir do contato físico com o meio que se viven-
cia e experimenta. A integração entre Meio Ambiente e Cartografia oferece aos alunos
possibilidades para representar fenômenos geográficos concomitantemente em seus
aspectos físicos e sociais desde a percepção socioambiental do seu cotidiano até a cor-
relação com outras escalas espaciais e temporais.
Fonte: Sousa e Maio (2014, p. 02).
MATERIAL COMPLEMENTAR

Fundamentos de orientação, cartografia e navegação


terrestre
Raul M. P. Friedmann
Editora: Editora UTFPR
Sinopse: aprender a usar adequadamente bússolas em qualquer
situação “abre muitas portas”. Ler e interpretar mapas dos mais variados
tipos “abre muitas outras portas”. Além disso, saber utilizar receptores
GPS de qualquer tipo “escancara de uma vez muitas outras mais”.
Saber usar tudo isso conjuntamente “descortina tantas e tão variadas
possibilidades”, das quais seria difícil fazer uma relação completa.
Na obra Fundamentos de Orientação, Cartografia e Navegação
Terrestrevocê aprenderá a utilizar instrumentos para sua orientação na exploração do espaço, sejam
antigos ou modernos.

O site Map Projection Transition apresenta, de forma fácil e prática, como diferentes projeções
cartográficas transformam a representação da superfície terrestre.
Web: https://www.jasondavies.com/maps/transition/

Material Complementar
REFERÊNCIAS

BORGES, A. C. Topografia aplicada à Engenharia Civil. São Paulo: Blucher, 2013.


DSG. Manual Técnico de Convenções Cartográficas T-34 700. (Primeira Parte).
Normas para o emprego dos símbolos. 2. ed. [S.l.: s.n.], 1998.
GASPAR, J. A. Cartas e projecções cartográficas. 3. ed. Lisboa: Lidel, 2005.
IBGE. Noções Básicas de Cartografia. Rio de Janeiro: IBGE, 1998.
IMHOF, E. Cartographic relief presentation. Redlands: ESRI Press, 2007.
KEATES, J. Cartographic design and production. 2. ed. New York: Longman Scien-
tific & Technical, 1989.
RAISZ, E. Cartografia Geral. Rio de Janeiro: Científica, 1969.
SANCHEZ, M. C. Perfis topográficos: características e técnicas de construção. Notí-
cias Geomorfológicas, v. 15, n. 29, p. 67-81, 1975.
SOUSA, I. B. de; MAIO, A. C. di. Tecnologias aplicadas a cartografia na educação am-
biental: uma experiência no segundo segmento do Ensino Fundamental. In: CON-
GRESSO BRASILEIRO DE CARTOGRAFIA, 26., 2014, Gramado. Anais [...]. Gramado:
Universidade Federal Fluminense, 2014.
171
REFERÊNCIAS

REFERÊNCIAS ON-LINE
1 Em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Mollweide_projection_SW.jpg.
Acesso em: 19 jul. 2019.
2 Em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/projecoes-cartograficas. Acesso
em: 19 jul. 2019.
3 Em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/7/7a/NetzentwuerfePe-
ters.png. Acesso em: 19 jul. 2019.
4 Em: http://wikipedia.qwika.com/en2pt/Goode_homolosine_projection. Acesso-
em: 19 jul. 2019.
5 Em: http://linguagemgeografica.blogspot.com/2017/07/como-ler-as-curvas-de-
-nivel-de-uma.html. Acesso em: 14 jun. 2019.
GABARITO

1. B.
2. D.
3. E.
4. As projeções podem ser classificadas, de acordo com os erros, em: conformes,
equivalentes, equidistantes e afiláticas. Nas projeções conformes, os ângulos
serão conservados, mas as áreas exibirão deformações incompatíveis com a su-
perfície terrestre. Já as projeções equivalentes preservam as áreas do desenho,
porém os ângulos serão deformados. Nas projeções equidistantes, são preserva-
das as distâncias entre alguns pontos. Já nas projeções afiláticas, os ângulos e as
áreas são deformados, mas dentro de um limite de erro.
5. Permitem calcular com exatidão a declividade do terreno. Além disso, possibili-
tam identificar, com um nível alto de detalhamento, as altitudes do relevo, bem
como permitem elaborar representações alternativas, como o perfil topográfico,
para complementar a visualização das altitudes.
Prof. Me. Estevão Pastori Garbin
Prof. Me. Thiago César Frediani Sant’Ana

V
FUSOS HORÁRIOS E

UNIDADE
SISTEMAS DE INFORMAÇÃO
GEOGRÁFICA

Objetivos de Aprendizagem
■■ Compreender o princípio e o cálculo dos fusos horários.
■■ Compreender o papel e as potencialidades dos Sistemas de
Informação Geográfica (SIG).

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Fusos Horários
■■ O papel dos Sistemas de Informação Geográfica (SIG)
175

INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), nesta última unidade, estudaremos dois conteúdos muito pre-
sentes no ensino de Geografia e que, pelo crescente processo evolutivo dos meios
tecnológicos e de transporte, têm se tornado mais concretos para um número cada
vez maior de pessoas: os fusos horários e os Sistemas de Informação Geográfica.
Os fusos horários são recursos desenvolvidos e disseminados no século XIX,
na Europa e nos Estados Unidos, como uma forma de integrar, em um sistema
internacional, os horários e as datas, de acordo com a distância aparente do Sol
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

no horizonte, a fim de facilitar a conversão de horários entre países geografica-


mente distantes. Essa necessidade tornou-se latente pela crescente integração da
economia mundial, que, desde a Primeira Revolução Industrial, tem experimen-
tado um fenômeno de “encurtamento das distâncias” pelos meios de transporte e
comunicação, exigindo que os países se organizassem para tornar o horário civil
transponível entre as nações. Nesse sentido, vamos aprender como se organizam
os fusos horários, como realizar os cálculos para a obtenção das datas e de que
forma os meridianos participam desse processo de organização do tempo terrestre.
Em seguida, estudaremos os impactos que as tecnologias computacionais
trouxeram para a Cartografia, tornando-a digital. Logo, entenderemos o que é
o geoprocessamento e quais são as potencialidades ilustradas pelos Sistemas de
Informação Geográfica (SIG). Esses sistemas são capazes de armazenar, anali-
sar e representar cartograficamente os dados posicionais, estando integrados
nas atividades de planejamento urbano, ambiental, de prospecção e afins, como
recurso tecnológico indispensável na contemporaneidade.
Como resultado, você será capaz de integrar todas as discussões teóricas
apreendidas ao longo deste livro e as colocará em uma nova perspectiva, refle-
tindo sobre como as tecnologias computacionais podem promover uma nova
escala de análise na localização, correlação e síntese de novos conhecimentos.
Esperamos que esta unidade seja um diferencial na sua formação acadêmica em
Geografia. Bons estudos!

Introdução
176 UNIDADE V

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
FUSOS HORÁRIOS

Caro(a) aluno(a),assim como percebemos ao longo das unidades anteriores, a


Cartografia é um saber que interfere diretamente no nosso dia a dia. Um dos
reflexos do seu uso e que percebemos claramente ao nos deslocarmos pelo espaço
em grandes distâncias é a adoção de um sistema de fusos horários, isto é, de par-
celas dos territórios brasileiro e mundial que adotam um mesmo horário legal
para a organização das atividades diárias.
O princípio que justifica a existência de fusos horários é simples: dada a esfe-
ricidade da Terra, sua superfície recebe a luz solar de forma desigual e em tempos
diferentes ao longo do seu processo de rotação diária. Pelo fato de que nossas socie-
dades se organizam para aproveitar ao máximo a luz solar no desenvolvimento
das atividades cotidianas e considerando a crescente interação das atividades
econômicas, buscou-se organizar um sistema de fusos horários, para que fosse
possível calcular o horário legal entre duas regiões distantes ao mesmo tempo.
Considerando o fato que a Terra leva, em média, 24 horas para realizar o
movimento de rotação completo sobre o próprio eixo, dividiu-se o valor, em

FUSOS HORÁRIOS E SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA


177

graus, da esfera terrestre (360º) pelas 24 horas do dia legal e se determinou que,
a cada hora, a Terra realiza um movimento de rotação de, aproximadamente,
15º. Como você deve se lembrar, cada ponto da superfície terrestre que varia no
sentido leste-oeste apresenta um valor de longitude diferente, sendo, os fusos
horários, formados por intervalos de 15° que variam longitudinalmente, inde-
pendentemente do valor da latitude (variação no eixo norte-sul), assim como
você pode conferir na Figura 1:
Fuso Horário Civil - 2018

-12 -11 -10 -9 -8 -7 -6 -5 -4 -3 -2 -1 0 +1 +2 +3 +4 +5 +6 +7 +8 +9 +10 +11 +12


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

90°

Reykjavik
60°
Moscou
Is.Aleutas
Vancouver Londres
Berlim
Ottawa Paris Astana

Madrid Bucareste
Nova Iorque Beijing Seul
Açores Argel
Washington
Los Angeles Is. Madeira Trípole Teerã Tóquio
Cairo 30°
Is. Canárias Riad Nova
Délhi
Hong Kong
Is.Havaí Cidade do
México Cabo Verde Dacar Manila
Niamei
Georgetown Adis Abeba
Bogotá

Nairóbi
Meridiano de Greenwich (GMT)

Is.Galápagos
Luanda Jacarta

Lima Is.Fiji
Brasília

Is.Tonga
Is.Pitcairn Maputo
30°
Cidade Sydney
Buenos Aires do Cabo
Melbourne

Is. Malvinas

60°

90° 70 0 140km

180° 120° 60° 0° 60° 120° 180° PROJEÇÃO DE ROBINSON

Horário fracionado Linha internacional de data

Figura 1- Os fusos horários no mundo Fonte: 1. World map of time zones. Taunton: United Kingdom Hydrographic Office, HM Nautical Almanac Office - HMNAO, Aug. 2018.
Disponível em: <http://astro.ukho.gov.uk/nao/miscellanea/WMTZ/>. Acesso em: out. 2018. 2. Atlas geográfico. 3. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1986
www.ibge.gov.br 0800 721 8181
Fonte: adaptado de IBGE (2018, on-line)1.

Como você pode perceber, caro(a) aluno(a), os fusos horários não são estabelecidos
de maneira absolutamente linear, sobretudo quando passa por áreas continentais.
Isso acontece para facilitar a organização e a sincronicidade dos horários em um
mesmo país ou região, pois a divisão de um território nacional, por exemplo, com
mais de um horário legal, pode dificultar a dinâmica econômica, espacialmente.
Evidentemente, países com grandes dimensões longitudinais, como o Brasil, os
Estados Unidos e a Rússia, adotam mais de um fuso horário para seus territórios,
para evitar disparidade significativa na posição do sol no horizonte.

Fusos Horários
178 UNIDADE V

Quando realizamos viagens de longas distâncias, percorrendo mais de dois


fusos horários, é comum sentirmos insônia, falta de apetite e irritabilidade.
Esses são alguns dos sintomas do Jet Lag, condição causada pelo descom-
passo do nosso relógio biológico com a hora local.
Fonte: os autores.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Atualmente, o Brasil apresenta quatro fusos horários em seu território. O pri-
meiro fuso horário compreende as ilhas oceânicas à leste da costa brasileira,
como é o caso do arquipélago de Fernando de Noronha, por exemplo. O segundo
fuso horário compreende as regiões sul, sudeste, nordeste, os estados de Goiás,
Tocantins, Pará e Amapá, bem como o Distrito Federal. O terceiro fuso horário
compreende os estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia, Roraima
e quase todo o estado do Amazonas. Por fim, o quarto fuso horário brasileiro
corresponde ao estado do Acre e parte do estado do Amazonas. Ele foi extinto
em 2008 e recriado em 2013.
Cada país tem autonomia para determinar a quantidade de fusos e qual é o
limite exato de um fuso horário em seu território, mas todos os fusos estão organiza-
dos dentro de um sistema internacional para a determinação da data. Nesse sistema,
considera-se que o meridiano de referência para o cálculo do horário corresponde ao
fuso do Meridiano de Greenwich (0º), de tal modo que seu antimeridiano, que cor-
responde ao de 180º, seja denominado de Linha Internacional de Mudança de Data.
Se nos deslocarmos do meridiano de origem para o sentido leste, convencio-
nou-se que as horas legais devem ter uma hora de acréscimo a cada um dos 12
fusos, sendo o número de horas acrescidas após a sigla GMT (Greenwich Mean
Time ou Hora Média de Greenwich) com um sinal de “+”. Se nos deslocarmos
para oeste, subtrai-se uma hora a cada um dos 12 fusos, indicado pela sigla GMT
com um sinal de “-” e a quantidade de fusos percorridos. Logo, percebemos
que há um intervalo de 24 horas de um extremo do último fuso de leste (GMT
+12) com o último fuso a oeste (GMT -12), cujo limite coincide com a Linha

FUSOS HORÁRIOS E SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA


179

Internacional de Mudança de Data. Essa linha é fundamental no ordenamento


da data, porque, dependendo do sentido na qual é transposta, são acrescentados
ou subtraídos vinte e quatro horas para o ajuste da hora legal.
No caso do Brasil, por estar a oeste do Meridiano de Greenwich, há uma
diminuição de uma hora a cada fuso percorrido no sentido leste-oeste, ou seja,
todo o território brasileiro está atrasado em relação ao meridiano de origem do
sistema. Entretanto, esse atraso varia, a depender do fuso horário do Brasil: o
primeiro está duas horas atrasado em relação ao fuso de origem (GMT -2); o
segundo fuso está três horas atrasado (GMT -3); o terceiro, quatro horas (GMT
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

-4), enquanto o quarto fuso está com cinco horas de atraso (GMT -5), assim
como mostra a Figura 2:
Fuso horário civil - 2018
70° O VENEZUELA 60° O GUIANA 50° O 40° O 30° O
FRANCESA N
SURINAME
O O L
COLÔMBIA GUIANA CE S
AMAPÁ
AN Arquipélago

RORAIMA O de São Pedro


e São Paulo
Linha do Equador
AT 0°
LÂ NTI
CO
Arquipélago
Atol das Rocas de Fernando
de Noronha
AMAZONAS PARÁ MARANHÃO CEARÁ
RIO GRANDE
DO NORTE

PIAUÍ PARAÍBA
PENAMBUCO
ACRE
ALAGOAS
10° S TOCANTINS 10° S
SERGIPE
RONDÔNIA
MATO BAHIA
PERU GROSSO
DISTRITO
FEDERAL
GOIÁS
BOLIVIA MINAS
GERAIS
MATO ESPÍRITO
GROSSO SANTO
20° S DO SUL 20° S
SÃO Ilha de Trindade
PARAGUAI PAULO RIO DE Ilha de
JANEIRO Martin Vaz
Capric órnio
Trópico de
O

CHILE
PARANÁ I
C

NT
PACÍFICO
OCEANO

SANTA

CATARINA
AT
ARGENTINA RIO GRANDE O
DO SUL N
A
E

30° S
C

130 0 260 km
30° S
O

URUGUAI Projeção Policônica

70° O 60° O 50° O 40° O 30° O

- 5 horas - 4 horas - 3 horas -2 horas


Fonte: 3. Brasil. Lei n. 12.876, de 30 de outubro de 2013. Altera o decreto n. 2.784,o de 18 de junho de 1913, para estabelecer os fusos horários do estado do Acre e de parte do estado do Amazonas, e revoga a
lei n. 11.662, de 24 de abril de 2008. Diário Oficial da União, Brasília, DF, ano 150, n. 212, 31 out. 2013. Seção 1, p. 1. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12876.htm>.
Acesso em: out. 2018.
www.ibge.gov.br 0800 721 8181

Figura 2- Distribuição dos fusos horários brasileiros


Fonte: adaptado de IBGE (2018, on-line)2.

O Brasil faz parte do grupo de países que alteram seus fusos horários para maior
aproveitamento da luz solar durante os meses do verão. Atualmente, o Horário
Brasileiro de Verão pode ser adotado pelos estados e, onde é adotado, tem início
no terceiro domingo de outubro e encerra-se no terceiro domingo de fevereiro,

Fusos Horários
180 UNIDADE V

exceto quando o terceiro domingo de fevereiro coincidir com o domingo de


Carnaval, transferindo-o para o domingo seguinte. Nesse período, os relógios
devem ser adiantados em uma hora.

Será que os ganhos econômicos causados pelo horário de verão são real-
mente significativos nos dias de hoje?

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
CALCULANDO OS FUSOS-HORÁRIOS

O cálculo do horário legal em fusos horários diferentes não é uma tarefa matemati-
camente complexa, mas exige certa atenção e cuidado na interpretação e resolução
do problema. Assim, alguns pressupostos básicos devem estar bem fixados:
1. Todas as localidades dentro de um mesmo fuso compartilham um mesmo
horário legal.

2. As localidades presentes em fusos a leste sempre terão um horário uni-


versal adiantado em relação às localidades em fusos a oeste.

3. Caso a Linha Internacional da Data seja atravessada de leste para oeste,


deve-se diminuir um dia. Caso seja atravessada de oeste para leste, deve-
-se acrescentar um dia para a determinação da data.

Diante desses três pressupostos básicos, analisaremos algumas situações concre-


tas para a determinação do horário legal em duas localidades distintas.
a. Determinar o horário entre duas localidades

O problema mais básico de fuso horário é o cálculo de quantas horas os relógios


de duas localidades distintas estão marcando. Para obter o resultado, basta cal-
cular quantos fusos horários de diferença estão entre as localidades, bem como

FUSOS HORÁRIOS E SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA


181

a determinação se a segunda localidade está à leste ou oeste. Caso esteja à leste,


a diferença dos fusos horários deve ser somada à hora do ponto de origem; caso
esteja a oeste do ponto de origem, deve ser feita uma subtração. Por exemplo:
considere que são nove horas da manhã no horário local de Brasília (GMT -3).
Qual será o horário local em Tóquio (GMT +9)?
O primeiro passo é determinar a diferença de fusos horários existentes entre
Brasília e Tóquio. Por estarem em hemisférios diferentes (indicado pelo sinal
de “positivo” em Tóquio, isto é, à direita de Greenwich e Brasília, e “negativo”
indicando oeste), deve-se realizar uma operação de soma dos valores dos fusos
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

em módulo, ou seja, independentemente dos sinais de “+” ou “-” que os acom-


panham, obtendo-se o resultado de 12 horas de diferença. Logo, quando, em
Brasília, os relógios marcarem 09:00, em Tóquio, será 21:00 (9+12).
b. Determinar o horário entre duas localidades, considerando o tempo
de realização de uma viagem

O segundo tipo de problema mais comum na determinação do horário local é


a utilização do tempo transcorrido em uma viagem somada à diferença natural
dos fusos horários. A resolução, entretanto, diferencia-se da situação anterior
pela soma do tempo de viagem ao horário local do destino. Por exemplo: um
viajante saiu às 08:00 de Paris (GMT +1) com destino à cidade de Pequim, na
China (GMT +8). Sabendo que o voo terá 10 horas de duração, o viajante deverá
ajustar seu relógio para qual horário local no destino?
O primeiro passo é determinar a diferença de fusos horários existentes entre
Paris e Pequim. Diferente do exemplo anterior, tanto Paris quanto Pequim estão
no mesmo hemisfério, logo, deve-se subtrair os valores em módulo das duas loca-
lidades (1-8), o que resulta em 7 horas de diferença. Assim, quando o horário
local de Paris for 08 horas da manhã, o horário local de Pequim será 15:00 (08h
+ 7h), pois a cidade de destino está à leste da cidade de origem. O resultado final,
entretanto, deve somar o tempo gasto pelo voo do viajante (10 horas), resultando
em um horário local do destino em 01:00 do dia seguinte (15h do horário local
+ 10h de tempo do voo = 25 horas, descontando 24 horas, que é a quantidade
de horas em um dia, resultando em 01h do dia seguinte).

Fusos Horários
182 UNIDADE V

c. Determinar o horário entre duas localidades, considerando a realiza-


ção de uma viagem que atravessa a Linha Internacional de Mudança
de Data

O terceiro e último tipo de exercício mais


comum sobre fusos horários envolve a traves-
sia da LID, considerando, ou não, o tempo gasto
de viagem. Os procedimentos iniciais são idên-
ticos aos anteriores, com a diferença que, caso
a LID seja atravessada no sentido leste-oeste,

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
deve-se diminuir 1 dia no cálculo da data, ao
passo que se for atravessada no sentido oeste-
-leste, deve-se acrescentar 1 dia no cálculo da
data. No entanto, atenção: lembre-se de que a
posição leste e oeste não é organizada entre o
ponto de origem e de destino, mas em relação
ao Meridiano de Greenwich e hemisférios que
variam 180º para leste e 180º para oeste. Por
exemplo: observe as localidades A (GMT+12)
e B (GMT-12) indicadas no mapa a seguir.
Considerando que, na localidade A, são 08:00
do dia 30 de outubro, qual é o horário e a data
local do ponto B?
Figura 3 - Pontos A e B separados pela
Linha Internacional de Mudança da Data
Fonte: adaptada de Wikimedia Commons
([2019], on-line)3.

FUSOS HORÁRIOS E SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA


183

O primeiro passo é reconhecer que os pontos A e B estão em hemisférios distin-


tos, logo, deve-se somar a diferença dos fusos entre as duas localidades (GMT+12
e GMT-12). O resultado será 24 horas de diferença, pois os valores devem estar
em módulo. O segundo procedimento é determinar se a localidade B está a leste
ou a oeste de A, para verificar se a diferença de 24 horas deve ser acrescida ou
diminuída da hora local do ponto A. Como você deve se lembrar, a LID marca o
limite dos hemisférios organizados a partir do Meridiano de Greenwich, logo, o
ponto A está com um fuso horário mais adiantado em relação ao ponto B. Nesse
caso, deve-se subtrair 24 horas do horário local de A para determinar o horário
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

correspondente em B. Assim, quando, na localidade A, for 08:00 do dia 30 de


outubro, na localidade B, será 08:00 do dia 29 de outubro.
Caso o exercício coloque em questão o tempo de deslocamento na realiza-
ção da viagem, bastaria adicionar o valor ao horário local do destino.

Fusos Horários
184 UNIDADE V

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O PAPEL DOS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO
GEOGRÁFICA (SIG)

Além da organização e operacionalização dos fusos horários, a Cartografia oferece


uma vasta possibilidade na organização e no tratamento das informações geor-
referenciadas, isto é, as informações que estão atreladas a um dado posicional.
Com o desenvolvimento e a popularização dos computadores, principalmente
a partir da década de 1980, a Cartografia experimentou uma verdadeira revolu-
ção na capacidade de auxiliar a tomada de decisões espaciais, sendo o principal
representante dessas novas potencialidades os Sistemas de Informação Geográfica
(SIG) a partir do Geoprocessamento.
De acordo com Câmara e Davis (2001, p. 1):
Nesse contexto, o termo Geoprocessamento denota a disciplina do co-
nhecimento que utiliza técnicas matemáticas e computacionais para o
tratamento da informação geográfica e que vem influenciando de ma-
neira crescente as áreas de Cartografia, Análise de Recursos Naturais,
Transportes, Comunicações, Energia e Planejamento Urbano e Regio-
nal. As ferramentas computacionais para Geoprocessamento, chama-
das de Sistemas de Informação Geográfica, permitem realizar análises

FUSOS HORÁRIOS E SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA


185

complexas, ao integrar dados de diversas fontes e ao criar bancos de


dados georreferenciados. Tornam ainda possível automatizar a produ-
ção de documentos cartográficos.

Os SIGs são sistemas informatizados utilizados para o processamento e a mani-


pulação de informações geográficas que utilizam métodos estatísticos e modelos
matemáticos para realizar análises complexas e automatizar a elaboração de pro-
dutos cartográficos. De acordo com Burrough e McDonnell (1998), os Sistemas
de Informação Geográfica podem facilitar a fase da entrada de dados, seu trata-
mento ou análise espacial, bem como a produção de mapas.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

De forma resumida, podemos dizer que um SIG é um:


Sistema constituído por um conjunto de programas computacionais, o
qual integra dados, equipamentos e pessoas com o objetivo de coletar, ar-
mazenar, recuperar, manipular, visualizar e analisar dados espacialmente
referenciados a um sistema de coordenadas conhecido (FITZ, 2008, p. 23).

De acordo com Simielli (1999), há três níveis de operações desenvolvidas por


meio dos mapas, as quais os SIGs podem auxiliar na execução. Embora sejam
em quantidades distintas, tais níveis são qualitativamente compatíveis com as
quatro etapas propostas por DiBiase (1990), vistas na Unidade I, quais sejam:
exploração, confirmação, síntese e apresentação.
O primeiro nível de uso do mapa é denominado localização e análise: envolve o
domínio, por parte dos usuários, das noções básicas da Cartografia, cujas operações
características é a localização dos fenômenos por meio das coordenadas geográficas,
bem como a correta leitura da legenda e a definição de sua orientação geográfica.
O segundo nível é denominado correlação, caracterizado pela combinação
de duas ou mais cartas de análise. Nessa operação, os usuários devem estabelecer
relações entre dois ou mais fenômenos, buscando algum tipo de correspondência
que possa ser explorada (exploração de hipóteses). Os layers, ou seja, as cama-
das de informação, são inseridos de maneira individual no sistema, formando
um conjunto de dados que podem ser sobrepostos, conforme a necessidade do
trabalho, para favorecer a correlação das informações espaciais. Essas cama-
das precisam passar por um processo de adequação, para que todas possuam a
mesma referência de superfície e a mesma projeção cartográfica.

O Papel dos Sistemas de Informação Geográfica (Sig)


186 UNIDADE V

Por fim, o terceiro nível é o de síntese, caracterizado pelas relações explora-


das entre os fenômenos correlacionados anteriormente e transformados a partir
da geração de novos tipos ou categorias.

OS PRINCIPAIS MODELOS DE DADOS ESPACIAIS

Os dados espaciais presentes em um SIG podem ser divididos em duas principais


categorias, salientando a natureza representacional. Assim, eles podem assumir

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
uma natureza do tipo vetorial ou do tipo matricial.
O modelo vetorial é o mais utilizado dentro da Cartografia e consiste em
representar os elementos a partir de vetores (indicando a posição e a direção
do fenômeno) com o uso de pontos, linhas e áreas, permitindo que as posições
e formas sejam as mais exatas possíveis. Já o modelo matricial é caracterizado
por condicionar as informações espaciais a uma grade pré-definida por células
de tamanhos fixos, limitando que os fenômenos espaciais sejam condicionados
as feições das células.

Figura 4 - Diferenças entre dados matriciais e vetoriais


Fonte: adaptada de Davis (1996).

FUSOS HORÁRIOS E SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA


187

No exemplo exposto pela Figura 4, é feita a representação matricial e vetorial de


um mesmo recorte espacial. Nota-se que, no modelo matricial, cada célula é pre-
enchida com o valor correspondente ao tipo de fenômeno presente. No segundo
mapa, as informações são representadas seguindo um modelo vetorial, tornando
mais exata, espacialmente, as informações.
Além da natureza dos dados espaciais, é possível classificarmos tais dados de
acordo com as formas principais. De acordo com Câmara e Monteiro (2001), as cinco
formas são: dados temáticos, dados cadastrais, redes, imagens e Modelos Numéricos
de Terreno (MNT). Vejamos as características de cada forma de dados cartográficos.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Dados Temáticos

Os dados temáticos descrevem a distribuição espacial de uma grandeza geo-


gráfica, ou seja, a localização espacial de um elemento específico. Não há uma
leitura de atributos mais complexos, como área, volume e outros dados cadas-
trais. Geralmente, esses dados são obtidos em campo ou de forma automatizada,
mediante o processamento de imagens de satélite.

Dados Cadastrais

Um dado cadastral também descreve a distribuição espacial de uma grandeza


geográfica, porém distingue-se de um dado temático, pois cada um dos ele-
mentos é um objeto geográfico que possui atributos (em uma tabela de dados)
e pode estar associado a várias representações gráficas. Nesse tipo de dado, além
da representação gráfica (desenho), é elaborada uma tabela com diversos dados
sobre o mesmo elemento, a qual é incorporada à representação, conforme ilus-
tra a Figura 5:

O Papel dos Sistemas de Informação Geográfica (Sig)


188 UNIDADE V

PIB Pop
País
(US$ bn) (milhões)

Brasil 350 159

Argentina 295 34

Chile 45 14

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 5 - Dados temáticos do PIB e da População de alguns países da América do Sul
Fonte: Câmara e Davis (2001).

Nessa representação, há uma tabela de dados com informações estatísticas ane-


xada à representação cartográfica do mapa da América do Sul. A partir dessa
tabela, é possível gerar outros mapas, como o mapa do PIB na América do Sul
ou o mapa da população da América do Sul.

Redes

O conceito de rede está relacionado às informações associadas à interligação de


elementos que se comportam de maneira integrada, interdependente e continu-
amente sobre a superfície terrestre. Podemos verificar esses tipos de informações
no mapeamento das redes de distribuição de energia e água, nas redes de drena-
gens, como rios e córregos, nos sistemas de transporte e entre outros. Nesse tipo
de dado, cada objeto geográfico (cabo telefônico, transformador de rede elétrica,
cano de água, rios) possui uma localização geográfica exata e está sempre asso-
ciado a atributos descritivos presentes no banco de dados.

FUSOS HORÁRIOS E SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA


189
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 6 - Exemplo de rede hidrográfica


Fonte: Wikimedia Commons ([2019],on-line)⁴.

Em geral, nos mapas de hidrografia, é possível verificar que os cursos d’água se


conectam, formando a rede de drenagem que flui de forma contínua sobre o
território.

O Papel dos Sistemas de Informação Geográfica (Sig)


190 UNIDADE V

Imagem

Obtidas por satélites, fotografias aéreas ou outros sensores aerotransportados,


as imagens representam formas de captura indireta de informação espacial. A
imagem orbital fornece uma grande quantidade de informações da superfície,
como relevo, hidrografia, vegetação, áreas urbanas, áreas agrícolas e entre outras.
Todavia, essas informações só se tornam cartográficas após um processo de inter-
pretação, análise e desenho, quando as informações que estavam representadas
no conjunto da imagem são separadas em camadas distintas.

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Figura 7- Exemplo de imagem (composição colorida TM/LANDSAT) para a região de Manaus


Fonte: Câmara e Davis (2001).

FUSOS HORÁRIOS E SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA


191

Modelo Numérico do Terreno (MNT)

É utilizado para denotar a representação quantitativa de uma grandeza que


varia continuamente no espaço. Entre os usos de modelos numéricos do ter-
reno, podemos citar:
a. Armazenamento de dados de altimetria para gerar mapas topográficos.

b. Análises para projeto de estradas e barragens.

c. Cômputo de mapas de declividade e exposição para apoio a análises de


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

geomorfologia e erodibilidade.

O Papel dos Sistemas de Informação Geográfica (Sig)


192 UNIDADE V

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade, estudamos o princípio organizador dos fusos horários, o seu


papel na integração das atividades econômicas e as formas de realizar o seu cál-
culo. Como percebemos, essa estratégia foi desenvolvida no século XIX como
um recurso para compensar as diferenças naturais existentes na posição do sol,
que regula as atividades humanas. No caso específico do Brasil, verificamos a
coexistência de quatro fusos horários e que todos estão a oeste do Meridiano
de Greenwich, isto é, todo o país tem as horas atrasadas em relação ao ponto de

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
origem do sistema.
Em seguida, estudamos o papel dos Sistemas de Informação Geográfica
(SIG) como um componente significativo da Cartografia digital, que, desde os
anos 1960, tem se aprimorado e ganhado maior relevância nas atividades que
envolvem geoinformações. Inicialmente, esses sistemas eram pouco integrados,
desempenhando de maneira pouco eficaz suas tarefas, mas apresentou uma forte
evolução a partir da década de 1980, sendo capaz de armazenar dados espaciais,
realizar análises complexas e produzir mapas em uma velocidade significativa-
mente elevada.
Embora o geoprocessamento se figure como “a última tendência” nos estudos
envolvendo mapas, é importante ressaltar que todo o conhecimento teórico se
faz necessário para que essa atividade não seja conduzida de maneira irrespon-
sável ou até mesmo errônea. Embora as interfaces de usuário e a popularização
dos computadores atraiam um número cada vez maior de usuários para esses
softwares, isso não significa que eles saibam os conteúdos básicos para criarem
produtos cartográficos corretos e consistentes, tanto do ponto de vista cartomé-
trico quanto semântico.
Esperamos que essas discussões sejam relevantes para que você, caro(a)
aluno(a), possa realizar as análises espaciais com o auxílio de SIGs da melhor
maneira possível.

FUSOS HORÁRIOS E SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA


193

1. Para um trabalho de planejamento urbano, foram levantados os dados das


quadras de uma cidade, o que gerou um mapa temático de “quadras”. Poste-
riormente, foram coletados os dados de número de residências, número de
moradores e a área construída de cada quadra. A tabela com esses dados foi
anexada aos dados temáticos, gerando uma carta cadastral das “quadras”. Di-
ferencie os tipos de informações representadas nas cartas temáticas das infor-
mações representadas nas cartas cadastrais.
2. Em um trabalho de pesquisa, um acadêmico precisa elaborar o mapa de um
bairro, porém foi solicitado que fosse elaborada a carta vetorial e a matricial da
mesma área. Caracterize as formas de representação vetoriais e as formas de
representação matricial.
3. Um viajante saiu às 09 h de Brasília (GMT -3) com destino à cidade de Pequim,
na China (GMT +8). Sabendo que o voo terá 16 horas de duração, o viajante
deverá ajustar seu relógio para qual horário local no destino?
a) 11:00.
b) 12:00.
c) 00:00.
d) 10:00.
e) 01:00.
4. Um turista brasileiro saiu do Rio de Janeiro às 12 h do dia 7 de dezembro, com
destino à cidade de Rio Branco, no Acre. Sabendo que a cidade de origem ado-
ta o horário de verão e a viagem durou 6 horas, qual será o horário do desem-
barco do turista no destino?
a) 17:00.
b) 16:00.
c) 18:00.
d) 19:00.
e) 13:00.
194

5. Os fusos horários têm como objetivo organizar o sistema do tempo civil e sur-
giu a partir do desenvolvimento dos meios de transporte oriundos da Revo-
lução Industrial. Sobre sua organização, julgue as afirmativas a seguir com (V)
para as Verdadeiras e (F) para as Falsas:
( ) Os fusos horários variam latitudinalmente.
( ) A Linha Internacional de Mudança da Data corresponde ao antimeridiano
de Greenwich.
( ) O Brasil está todo a oeste de Greenwich, isto é, seu horário está sempre atra-
sado em relação aos países orientais.
( ) Os fusos horários correspondem a uma convenção humana sem qualquer
relação com os movimentos da Terra.
( ) Atravessando a LID no sentido oeste–leste, subtrai-se 1 dia na data
A sequência correta é:
a) V, F, V, F, V.
b) F, V, F, V, F.
c) V, V, F, F, F.
d) F, F, F, V, V.
e) F, V, V, F, F.
195

Numa visão retrospectiva e prospectiva sobre a tecnologia de SIG, os autores conside-


ram a existência de três gerações de sistemas.
A primeira geração, cujo desenvolvimento se inicia na década de 80, caracteriza-se por
sistemas herdeiros da tradição de cartografia automatizada, cujo suporte de bancos de
dados é limitado (alguns podem operar em conjunto com SGBD tabulares) e cujo para-
digma típico de trabalho é o mapa (chamado de “cobertura” ou de “plano de informa-
ção”). Esta primeira geração de sistemas foi desenvolvida inicialmente para ambientes
da classe VAX e - a partir de 1985 - para sistemas PC/DOS. A utilização desta classe de sis-
temas é principalmente em projetos isolados; os levantamentos de inventário, na maior
parte das vezes, não têm a preocupação de gerar arquivos digitais de dados.
A segunda geração de SIGs chegou ao mercado no início da década de 90 e caracteri-
za-se por sistemas concebidos para uso em conjunto em ambientes cliente-servidor.
Usualmente, tais sistemas funcionam acoplados a gerenciadores de bancos de dados
relacionais (como ORACLE e INGRES) e incluem pacotes adicionais para processamento
de imagens. Esta geração foi tipicamente desenvolvida em ambientes multiplataforma
(UNIX, OS/2, Windows) com interfaces baseadas em janelas.
Pode-se prever, para o final da década de 90, o aparecimento de uma terceira geração
de SIGs. Esta geração será herdeira do enorme interesse dos usuários em redes locais
e remotas de computadores, e no uso do WWW (World Wide Web). Para esta terceira
geração, o crescimento dos bancos de dados espaciais e a necessidade de seu comparti-
lhamento com outras instituições requer o recurso a tecnologias como bancos de dados
distribuídos e federativos. Estes sistemas deverão seguir os requisitos de interoperabili-
dade, de maneira a permitir o acesso de informações espaciais por SIGs distintos.
Fonte: Câmara e Freitas (s. d.).
MATERIAL COMPLEMENTAR

Fundamentos de Informação Geográfica


João Matos
Editora: Lidel
Sinopse: esta obra destina-se ao apoio no ensino das ciências
da informação geográfica ao nível superior e de pós-graduação,
podendo servir como referência de conceitos fundamentais para
profissionais e utilizadores de sistemas de informação geográfica. O seu
conteúdo reflete o corpo de conhecimento associado às ciências da
informação geográfica, abrangendo as matérias que são consideradas
imprescindíveis para uma boa utilização prática.
197
REFERÊNCIAS

BURROUGH, P. A.; MCDONNELL, R. A. Principles of geographical information sys-


tems. Oxford: Oxford University Press, 1998.
CÂMARA, G.; MEDEIROS, J. S. Princípios Básicos em geoprocessamento In: Sistema
de Informações Geográficas: Aplicações na Agricultura. 2. ed. Brasília: Embrapa,
1998.
CÂMARA, G.; DAVIS, C. Introdução. In: CÂMARA, G.; DAVIS, C.; MONTEIRO, A. M. V.
(org.). Introdução à Ciência da Geoinformação. São José dos Campos: INPE, 2001.
p. 1-5.
CÂMARA, G; FREITAS, U. M. Perspectivas em Sistemas de Informação Geo-
gráfica (SIG). s.d. Disponível em: http://mtc-m12.sid.inpe.br/col/sid.inpe.br/
iris@1912/2005/07.20.05.44/doc/1995_camara.pdf. Acesso em: 12 mar. 2019.
CÂMARA, G.; MONTEIRO, A. M. V. Conceitos básicos em ciências da geoinforma-
ção. In: CÂMARA, G.; DAVIS, C.; MONTEIRO, A. M. V. (org.). Introdução à Ciência da
Geoinformação. São José dos Campos: INPE, 2001. p. 6-35.
DAVIS, B. GIS: a visual approach. New York: OnWord Press, 1996.
DIBIASE, D. Visualization in the Earth Sciences. Earth and Mineral Science, v. 59, n.
2, p. 13-18, 1990.
FITZ, P. R. Geoprocessamento sem complicação. São Paulo: Oficina de Textos, 2008.
SIMIELLI, M. E. R. Cartografia no Ensino Fundamental e Médio. In: CARLOS, A. F. A.
(org.). A Geografia na Sala de Aula. São Paulo: Contexto, 1999. p. 92-108.

REFERÊNCIAS ON-LINE
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hor%C3%A1rio_civil.pdf. Acesso em: 25 jul. 2019.
2 Em: https://atlasescolar.ibge.gov.br/images/atlas/mapas_brasil/brasil_fuso_hora-
rio.pdf. Acesso em: 26 jul. 2019.
3 Em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/61/International_
Date_Line.png. Acesso em: 22 jul. 2019.
4 Em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Bacia_hidrogr%C3%A1fica#/media/File:The_
Source_of_the_Amazon_River.jpg. Acesso em: 22 jul. 2019.
GABARITO

1. Nas cartas temáticas, são apresentadas somente as informações de localização e


identificação do atributo. Já nas cartas cadastrais, há a inserção de tabelas com
dados quantitativos e qualitativos dos elementos cartografados.
2. Os dados vetoriais apresentam a exata localização e forma dos elementos carto-
grafados, enquanto, nas representações matriciais, os dados são distribuídos em
células formadas por linhas e colunas. Nesse caso, não é possível determinar a
exata forma dos dados cartografados.
3. B.
4. A.
5. E.
199
CONCLUSÃO

Caro(a) aluno(a), neste livro, estudamos um conjunto de conceitos elementares


da Cartografia aplicada à Geografia. Trabalhamos os mais básicos, com a discus-
são sobre a história e sua importância, as implicações na compreensão do espaço
geográfico, processo de sistematização e principais paradigmas de pesquisa. A
discussão buscou gerar um questionamento sobre o porquê da Cartografia no
ensino e na prática geográfica, bem como mostrar o papel da comunicação e vi-
sualização cartográfica na compreensão dos fenômenos naturais e sociais.

Em seguida, apresentamos e qualificamos os principais produtos cartográficos,


as formas de representação gráfica e as aplicações para a Geografia. Estudamos
as etapas envolvidas no processo de construção da informação cartográfica e
estabelecemos as relações matemáticas entre a representação, o mapa e as di-
mensões reais dos fenômenos por meio da escala cartográfica.

Na terceira unidade, estabelecemos uma relação entre a forma da Terra e os


modos de representação dessa superfície. Foi apresentado, ainda, como é uti-
lizada a bússola e a rosa dos ventos na orientação e nos cálculos dos rumos
e azimutes. Por fim, estudamos o princípio das coordenadas geográficas, sua
finalidade e sua aplicação na Cartografia.

Na quarta unidade, trabalhamos os métodos e os instrumentos usados para o


levantamento em campo dos dados, além das principais projeções cartográ-
ficas para transposição da superfície curva da Terra em uma superfície plana
analógica. Estudamos os principais meios de representação do relevo terrestre,
discutindo as estratégias para a criação de um perfil topográfico.

Para fechar nossos estudos, aprendemos como calcular as diferenças de horário


entre dois ou mais pontos em fusos distintos no planeta, bem como os concei-
tos iniciais para o estudo dos Sistemas de Informação Geográfica (SIG). Essas
discussões são relevantes na medida em que funcionam como uma preparação
para o aprofundamento nos estudos sobre Geoprocessamento e para o Senso-
riamento Remoto.

Esperamos que a disciplina tenha contribuído para melhor compreensão do


espaço geográfico e para a prática na elaboração de produtos cartográficos.
ANOTAÇÕES

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