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HISTÓRIA ANTIGA
http://lattes.cnpq.br/4706656588443514.
APRESENTAÇÃO
HISTÓRIA ANTIGA
SEJA BEM-VINDO(A)!
Olá, caro(a) aluno(a)! Seja bem-vindo(a) ao mundo antigo! Sou a professora Adriele An-
drade Ceola, responsável por pensar e preparar o material da disciplina de História Antiga.
Este material foi planejado com muito zelo, com a finalidade de ser um guia para sua
viagem às civilizações antigas. Isso significa que ele pode servir como manual, que ofe-
recerá a você conhecimento básico sobre alguns elementos da Antiguidade, mas ne-
cessita de seu interesse e dedicação em buscar mais informações, fazer pesquisas, ler os
materiais indicados e realizar as atividades propostas.
Você perceberá que o livro possui alguns direcionamentos de estudos: em primeiro lu-
gar – e também a maior parte do livro – apresentará os conteúdos e os fatos históricos
de algumas civilizações do Oriente e do Ocidente antigos. Em segundo, desenvolverá os
conteúdos metodológicos acerca do estudo da Antiguidade, oferecendo instrumentos e
materiais para fortalecer um pensamento crítico sobre as sociedades antigas. Em terceiro
lugar, com o objetivo de paramentar suas leituras, apresentará um glossário de conceitos
específicos das civilizações antigas, que deverá ser consultado no decorrer da leitura.
O material foi organizado em cinco unidades temáticas, que, ao mesmo tempo, infor-
marão a você sobre os fatos do passado e apresentarão as preocupações teóricas e me-
todológicas. É preciso que você se atente que, para os estudos acerca das civilizações
orientais antigas, a organização da escrita foi baseada nas características constantes das
sociedades, como práticas econômicas, organização social e vida política; para as civili-
zações ocidentais, a organização se deu de forma distinta, visto que é possível descrever
as mudanças nas sociedades a partir da cronologia política. Todas as unidades possuem
fontes históricas imagéticas, que não são meramente ilustrativas; no entanto, os docu-
mentos históricos escritos e uma fonte imagética foram reunidos e organizados na últi-
ma unidade, juntamente com os passos metodológicos da análise crítica.
O tema da primeira unidade é Oriente Próximo Antigo. Nela, trabalharemos as distintas
sociedades em aspectos comuns, tendo em vista que não constituem um reino unifica-
do. Sendo assim, estudaremos as práticas econômicas, considerando a principal ativida-
de – a agricultura – e a importância das cheias dos rios Tigre e Eufrates nessa produção; a
organização da sociedade; as distintas culturas ou cidades-estados que predominaram
na região; e, por fim, a hipótese causal hidráulica e as suas fragilidades.
A segunda unidade contemplará também uma sociedade que se desenvolveu na parte
oriental do mundo: o Egito Antigo. Diferente do Oriente Próximo Antigo, o Egito foi um
reino unificado, longínquo e duradouro. Discutiremos suas práticas econômicas, enfa-
tizando a agricultura dependente do rio Nilo; a organização piramidal e burocrática da
sociedade; as fases políticas do período faraônico; e a legitimação da sociedade pelas
crenças e pelas práticas religiosas.
APRESENTAÇÃO
UNIDADE I
15 Introdução
39 Considerações Finais
45 Referências
46 Gabarito
UNIDADE II
O EGITO ANTIGO
49 Introdução
81 Considerações Finais
87 Referências
88 Gabarito
10
SUMÁRIO
UNIDADE III
91 Introdução
121 Referências
122 Gabarito
UNIDADE IV
125 Introdução
164 Referências
165 Gabarito
11
SUMÁRIO
UNIDADE V
169 Introdução
205 Referências
206 Gabarito
207 CONCLUSÃO
Professora Me. Adriele Andrade Ceola
I
O ORIENTE PRÓXIMO
UNIDADE
ANTIGO: OS POVOS DO
CRESCENTE FÉRTIL
Objetivos de Aprendizagem
■ Estudar sobre o estabelecimento dos primeiros povos na região do
Oriente Próximo Antigo;
■ Desenvolver a questão da organização das sociedades, suas
hierarquias e relações;
■ Apresentar algumas das culturas predominantes e cidades-estados
que nos legaram maiores informações da região do Oriente Próximo;
■ Discutir sobre a Hipótese Causal Hidráulica e a teoria interpretativa
do estabelecimento das civilizações derivada do marxismo.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ O estabelecimento dos primeiros povos do Oriente Próximo;
■ A organização das sociedades;
■ Os principais povos: uma cronologia;
■ Hipótese Causal Hidráulica: uma perspectiva interpretativa
15
INTRODUÇÃO
Introdução
16 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
diferentes hierarquias. Entrará em contato, brevemente, com as civilizações que
mais nos renderam informações e predominaram por um tempo na região. Por
fim, conhecerá uma proposta interpretativa do estabelecimento dos povos nessa
localidade baseada na visão marxista, bas-
tante influente na academia brasileira.
Antes de adentrarmos no conte-
údo acerca do Oriente Próximo Antigo,
é importante ressaltar que você perce-
berá o uso do termo “civilização”, além
de “povos”, “comunidade” e “sociedade”
para designar os grupos humanos que se
tornaram sedentários e desenvolveram
relações entre si. O vocábulo “civilização”,
por vezes, pode denotar questionamen-
tos, pois, usualmente, é empregado como
forma de exaltar uma sociedade em
detrimento de outra. No entanto, neste
material, o termo não terá esse sentido
pejorativo, mas seguiremos a perspec-
tiva em que Um relato de rações de cevada emitidas mensalmen-
te para adultos (30 ou 40 pintas) e crianças (20 pin-
tas) escritas em cuneiforme em tábua de barro, es-
crita no ano 4 do rei Urukagina (cerca de 2350 a.C).
Isso quer dizer que o conceito não é utilizado para designar uma sociedade
melhor ou pior do que a outra, mas corresponderá aos grupos humanos estabe-
lecidos que possuíam organização econômica, social, política e cultural.
A segunda ressalva a ser colocada é que, quando nos referimos à história do
Oriente Próximo Antigo, temos que ter sempre em mente que falamos de anos antes
da nossa Era, isto é, do segmento de tempo que veio antes de Cristo – a.C. –, visto
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autoridade por curto segmento de tempo. Nesse sentido, a presente unidade não
tratará das especificidades de cada cidade desenvolvida, mas discutirá a respeito
dos pontos em comum na economia, na política, na cultura e na organização social.
Como qualquer estudo de outra sociedade antiga, não temos documentos
que nos permitam dar uma data exata da origem das sociedades. Os indícios nos
levam a crer que os homens deixaram os aspectos tribais e começaram a estabe-
lecer-se em comunidades com organizações mais complexas por volta de 4000
a.C., isto é, sua história é tão longínqua, que coincide com a Idade do Bronze.
Também não é possível identificar com precisão os territórios que foram ocupa-
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dos por essas cidades-estados. Kuhrt (2000) afirma que os sítios arqueológicos
indicam que elas ocuparam as atuais regiões de Israel, do Líbano, da Jordânia, de
parte da Síria, do Iraque, da Turquia e do Irã, bem como parte do Golfo Pérsico
e da Península Arábica, conforme exemplifica o mapa abaixo:
Apesar dessas incertezas em relação aos antigos povos orientais que subsistiram
em tempo tão longínquo, podemos ainda obter informações e identificar aspec-
tos em comum entre eles. Dentre essas semelhanças, é possível identificar forças
produtivas muito parecidas e diálogo entre as cidades baseadas nessas ações.
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“A agricultura intensiva era a base da vida econômica e da urbanização”
(CARDOSO, 2005, p. 38) dos povos orientais antigos. O cultivo de terras na
Mesopotâmia passou a ser dependente das cheias dos rios, pois, de acordo com
Rocha (2010), estes eram caudalosos. Isso significa que as águas eram enrique-
cidas com húmus, que era composto por substâncias orgânicas de animais e de
vegetais, fertilizando as terras que banhavam. Em consonância, João (2013) afirma
que as civilizações da Mesopotâmia não existiriam sem os rios e suas regulari-
dades, visto que o restante do ambiente era árido e raramente chovia.
Os principais produtos a serem cul-
tivados eram os grãos, dentre os quais
podemos identificar cevada, trigo e ger-
gelim, produzidos em larga escala, e,
frequentemente, os excedentes eram usa-
dos como produtos de troca. Além desses,
legumes, raízes e pomares de frutas eram
existentes para completar a alimentação.
Diante do fato de o cultivo das terras
ser umas das principais atividades de caráter
econômico, as demais práticas desse cunho
eram complementares e poderiam depender
do calendário da agricultura. Nesse sentido,
uma das principais atividades complemen-
tares à agricultura foi a criação de animais.
Figura 2 – Cisterna de água da antiga cidade mesopotâmica de
Entre os gados criados podemos citar ovinos, Dara, localizada atualmente na Turquia
caprinos, suínos, bovinos e muares. Poucos desses animais eram destinados à alimen-
tação com suas carnes e leite, mas eram relevantes para o transporte, para o auxílio
nos instrumentos da produção agrícola e a pelagem servia para a confecção de tecidos.
Diferente da agricultura, que detinha território estabelecido para a produção,
a criação de animais era itinerante, pois não existia território bem demarcado
para a atividade, mas havia os pastores, que cuidavam e direcionavam os ani-
mais para lugares em que não interfeririam na produção agrícola.
Além dessa atividade, Cardoso (2005) destaca outras práticas econômicas
secundárias: a pesca, a caça e a coleta. Evidentemente, a pesca estava ligada às
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águas dos rios Tigre e Eufrates, esta atividade funcionava como uma maneira de
completar a alimentação tanto das camadas mais abastadas da sociedade quanto
das mais pobres. A caça e a coleta possuíam o mesmo objetivo da pesca, mas era
realizada em territórios mais afastados e a busca era por animais ou por alimen-
tos que as comunidades não haviam criado ou plantado.
Apesar da produção local e dos produtos que os antigos orientais conseguiam
com seus próprios trabalhos e esforços, nem todos os materiais ou alimentos de
que necessitavam conseguiam em sua região, ou seja, essas civilizações não eram
autossuficientes. Diante de uma produção de grãos excedentes, as civilizações da
Mesopotâmia também desenvolveram o comércio. Em conformidade com Mcintosh
(2005), na Mesopotâmia havia a troca de grãos por aquilo que eles não possuíam em
seus territórios, como a madeira, o cobre, o estanho, as pedras duras, assim como
por artigos de luxo, como o ouro, a prata, lápis-lazúli e tecidos finos. Esses mate-
riais eram utilizados na confecção de instrumentos para trabalhos mais resistentes,
assim como objetos de decoração e pompa dos estamentos sociais mais abastados.
A atividade comercial não se restringia as trocas entre as cidades-estados da
Mesopotâmia, mas também se dava com civilizações de outras regiões. Conforme
Kuhrt (2000), as civilizações do Oriente Próximo Antigo não eram isoladas, pois os
indícios arqueológicos nos indicam contato com os egípcios e com povos do Egeu.
Essas características sugerem que o comércio ocorria tanto por terra quanto pelo mar,
em curtas ou em longas distâncias. É importante demarcar que, apesar do comércio
bem desenvolvido e inclusive com povos de regiões distantes, o uso da moeda não
era frequente: a cevada e os demais grãos eram usados como unidades de valor de
trocas internas; e os lingotes de metal eram usados para as trocas externas.
De acordo com João (2013), além dessas atividades expostas até o momento,
há indícios de que existia a produção artesanal bem desenvolvida. Os estudos
arqueológicos encontraram esculturas, ourivesaria, vestígios de carpintaria,
alfaiataria entre outras. O artesanato era atividade subordinada ao plantio, visto
que era empregada nos momentos em que o cultivo das terras não era possível
(os trabalhadores das terras eram direcionados a essas atividades nos momen-
tos das cheias), e estava ligada ao pagamento de dívidas dos homens que haviam
sofrido com a fome e deviam para os templos.
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As civilizações do Antigo Oriente Próximo estão separadas de nós por milha-
res de anos e, ainda assim, os estudos atuais comprovam a existência de prá-
ticas econômicas desenvolvidas e diversificadas. Você já parou para refletir
como essas atividades se organizavam? Será que estes homens e mulheres
conseguiam imaginar as práticas econômicas de forma autônoma?
Isso significa que além do comando religioso, esses complexos religiosos funciona-
vam como organismo regulador da vida desses homens nos aspectos econômicos,
sociais e políticos. Isso prova que as atividades não eram autônomas e que a
mentalidade humana nesse período era muito diferente da nossa forma de pen-
samento. Dialogando com a colocação de Cardoso (2005), Janson e Janson (2009)
afirmam que os templos não devem ser imaginados como simples construções
afastadas das cidades, mas sim como o centro das cidades, pois as casas, os arma-
zéns e as oficinas artesanais se desenvolviam ao redor deles.
Os templos eram detentores de terras, de riquezas e demandava trabalho, e,
de alguma forma, todos os habitantes de determinada comunidade respondiam
às autoridades desses lugares. Esses espaços possuíam, a princípio, uma assem-
bleia de anciãos, que funcionava como corpo jurídico e administrativo, e, no
decorrer das transformações das sociedades, os poderes se transferiram para as
mãos dos reis, de seus familiares e dos funcionários.
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ficavam sob os cuidados dos sacerdotes. O papel desses locais foi decisivo
na organização das civilizações orientais antigas.
Fonte: adaptado de Mcintosh (2005).
Cardoso (2005) afirma que não devemos imaginar que somente os templos eram
os grandes proprietários e administradores das cidades-estados, pois havia outros
domínios e poderes concomitantes. No caso das terras, podemos afirmar que,
inicialmente, as propriedades eram comuns, isto é, pertenciam à comunidade.
No entanto, por volta do II milênio a.C. já existia uma divisão de propriedade:
I. Propriedades reais: que poderiam ser divididas entre trabalhadores que
deviam as corveias, lotes arrendados ou concedidos aos militares;
II. Propriedades dos templos: que poderiam ter empregos semelhantes às
propriedades reais, mas eram menos expressivas;v
III. Propriedades privadas: geralmente lotes pequenos, porém numerosos.
Apesar dessa divisão, as fontes sobreviventes nos indicam que as terras reais e
dos templos eram as mais expressivas em tamanho e em produção. Esta carac-
terística demonstra a centralização e o poder administrativo dos templos, ao
mesmo tempo em que permite conhecer que o sistema administrativo também
se encontrava nas mãos da família real e dos homens enriquecidos.
O Código de Hamurábi
Todas as relações sociais das civilizações do Antigo Oriente Próximo eram
complexas; além disso, não havia unificação política e de costumes. Isso sig-
nifica que cada cidade-estado era independente uma da outra nas organi-
zações política, hierárquica, econômica e legislativa.
No campo legislativo, um dos códigos mais antigos da humanidade é o Có-
digo de Hamurábi. A reunião de leis é homônima ao rei que governou entre
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1792 a.C. e 1750 a.C. Esse código não foi tão inovador quanto a historiografia
tradicional costumava defender; atualmente sabemos que reuniu e transcre-
veu as práticas e as leis já existentes na sociedade. Entretanto, o fato de não
ser inovador não retira sua importância documental, pois revela elementos
significativos da civilização, visto que as normas abrangem todos os aspectos
da vida em sociedade, como, por exemplo, as leis que regem o comércio de
escravos, as punições para roubo, os acordos de casamentos entre outros.
Fonte: adaptado de Pinsky (1994).
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antigas havia hierarquia bem definida e respeitada quase sem questionamentos.
O trecho anterior deixa claro que o bom funcionamento das civilizações depen-
dia do desempenho excelente do rei. O monarca, junto com sua rainha consorte,
não eram deuses ou deusas, mas eram os homens e as mulheres que atuavam
diretamente com as divindades, isto é, eram, ao mesmo tempo, subordinados e
representantes dos deuses tutelares; suas boas funções resultavam na paz e na
prosperidade da cidade-estado.
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Mesmo quando o poder real se dissociou da função de sacerdote, o monarca
continuou a presidir os cultos. Em todas as cidades-estados ele foi o símbolo
de centralização política e produtiva, e era respeitado como homem superior
aos demais. O poder do rei era sem igual, ele viajava com o seu séquito, rece-
bia homenagens, era visto como o guerreiro mais forte e sábio, assim como era
o responsável por nomear sacerdotes e demais funcionários.
Os funcionários reais, inclusive os sacerdotes, não eram todos tratados da
mesma forma e nem agiam de maneira semelhante. Os documentos epigráficos e
imagéticos atestam que estes indivíduos poderiam ser tão ricos e refinados quanto
os reis, assim como empobrecidos e bajuladores, semelhantes aos camponeses.
Um dos cargos mais respeitáveis no Antigo Oriente Próximo era o do sacer-
dote. Vale demarcar que não havia sacerdócio, mas sacerdotes, o que significa
que estes homens eram funcionários das cidades. Eles atuavam junto ao rei na
organização e na presidência dos cultos aos deuses. De acordo com Kuhrt (2000),
juntamente ao soberano da cidade, os sacerdotes comandavam edificações de tem-
plos, fabricação de estátuas, homenagens e oferendas para contentar os deuses.
Apesar dessas informações, não há muitos dados de como acontecia a prepara-
ção para desempenhar a função de sacerdote, mas sabemos que eles deveriam
vestir-se de forma distinta dos demais e possuíam alimentação diferenciada,
assim como cada um se especializava em uma divindade ou em poucas delas.
Geralmente, os escolhidos para o cargo eram homens da família real.
De acordo com Pozzer (1998/1999), há indícios da existência de sacerdotisas.
Estas não tinham tantas funções quanto um sacerdote homem, pois, usualmente,
elas habitavam um templo e cuidavam dos cultos internos, realizando preces,
oferendas e homenagens. Essas moças eram retiradas jovens de suas famílias e não
tinham a permissão para contrair matrimônio, pois se dedicavam integralmente
à vida sacerdotal. As sacerdotisas eram provenientes das camadas superiores da
sociedade, inclusive muitas princesas desempenhavam a função.
De importância similar aos sacerdotes, havia os funcionários reais responsá-
veis pela administração das cidades e dos templos. Conforme Mcintosh (2005),
eles eram nomeados pelo rei e atuavam junto dele. Suas atribuições eram: orga-
nizar o comércio interno e externo, a produção artesanal e têxtil, as lavouras,
as cobranças de impostos, entre outros. Esse estamento social não era homogê-
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neo, havia funcionários muito ricos, bem como aqueles que tinham tantas posses
quanto um artesão, ou seja, eram pobres, mas, apesar disso, encontravam-se em
uma escala social e ideológica acima dos trabalhadores artesãos e camponeses.
Ainda no estamento dos funcionários reais das cidades, é possível encon-
trar os militares. Mcintosh (2005) afirma que as cidades-estados da região do
Crescente Fértil eram muito violentas, pois os conflitos internos e as disputas
entre as cidades da região eram frequentes e constantes. Esse fato fez com que os
militares fossem indispensáveis e importantes para as civilizações. Kuhrt (2000)
expõe que, além do caráter militar do rei, o corpo de soldados e os demais milita-
res eram primordiais. Estes eram treinados e desempenhavam as funções bélicas
quase exclusivamente, como recompensa, recebiam donativos dos reis, dentre
os quais até a posse de propriedades.
As relações entre as cidades-estados no Oriente Próximo Antigo não eram tão pa-
cíficas. Havia os acordos matrimoniais e comerciais, mas estes não garantiam a
estabilidade por longo período de tempo. Existem vestígios atestando que muitos
reis empreendiam guerras contra cidades vizinhas ou mais distantes, com a finali-
dade de destronar os reis rivais para expandir seus territórios e posses.
É possível encontrar também, na história dessa região, reis de determinadas
cidades-estados que conseguiam manter monarcas de cidades vizinhas sob
suas ordens, dessa forma, mesmo não sendo as autoridades políticas, atuavam
como juízes.
Fonte: adaptado de Kuhrt (2000).
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os camponeses eram dirigidos para oficinas artesanais, a fim de confeccionar
instrumentos de trabalho, ou ainda eram encaminhados para as construções
pertencentes às cidades-estados, aos reis ou aos funcionários reais.
Todos os grãos cultivados, os animais criados, as frutas, os vegetais e os ani-
mais de caça que conseguiam não lhes pertenciam, mas eram de posse do Estado.
Esses indivíduos recebiam uma porcentagem de suas produções que era sufi-
ciente para o próprio sustento, além disso, pagavam impostos à cidade-estado
que pertenciam. A mobilidade social era rara, mas possível; um camponês pode-
ria especializar-se em alguma função artesanal que o dispensava do cultivo de
terra para desempenhar o novo trabalho manual.
Ao contrário do que usualmente imaginamos, os escravos não eram tão
economicamente expressivos. Geralmente, eram estrangeiros, trabalhadores
endividados que não conseguiam sanar a dívida ou famílias muito pobres, que
se vendiam ou vendiam alguns de seus membros para conseguirem melhores
condições de vida, pois liberdade não era sinônimo de boa vida. Além disso, os
escravos poderiam fazer fortuna e comprar suas liberdades.
A organização social das civilizações do Oriente Próximo Antigo era bem
definida e com pouca mobilidade. Cada indivíduo pertencia à cidade-estado
e desempenhava sua função baseado nisso. Os mais abastados compunham a
minoria populacional, mas gozava de muitos privilégios e riquezas, enquanto
a maioria da população era trabalhadora e detinha o mínimo para sobreviver.
Quando pensamos nos povos sumérios, não podemos imaginar somente uma
cidade com esta denominação, mas sucessivas cidades coexistentes, ou sucessivas
perpetuando características semelhantes, ou seja, podemos afirmar sobre a
existência de uma cultura predominante. Kramer (1990) apresenta que as primei-
ras comunidades que demonstraram indícios dos aspectos sumerianos datam de,
aproximadamente, 6000 a.C., ainda nas primeiras sociedades neolíticas. Podem
ser consideradas, então, a primeira cultura na região.
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Conforme Kuhrt (2000), as maiores cidades sumérias
foram: Samarra, Ubaid, Uruk, Ur, Umma, Ki-Utu, Elam,
Kirsh, Lagash e Akshak, que embora não fossem as úni-
cas, são as mais conhecidas na atualidade. Os principais
legados destas cidades, em detrimento das demais, foi
a utilização de sistemas de escrita por ideogramas, que
antecederam o cuneiforme; a fabricação de cerâmicas
simples e decoradas; a produção de escultura de ani-
mais, de humanos e de divindades; e o comércio com
cidades vizinhas. É importante demarcar que, consi-
derando a longevidade do predomínio da cultura, as
cidades sumerianas se transformaram e se tornaram
complexas e distintas umas das outras.
Apesar de esses centros urbanos terem aspectos cultu-
rais comuns, não havia unificação política, pelo contrário,
os conflitos entre eles eram constantes e os reis buscavam
sobressair-se diante dos demais. Por volta de 2300 a.C.,
os conflitos entre os sumérios se intensificaram e, como
resultado, houve o enfraquecimento dos centros urba-
Figura 6 – Sargão I, da Acádia
nos, abrindo espaço para os acadianos ganharem forças e Fonte: Wikipédia ([2019], on-line)².
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Figura 7 – Soldados sumérios – relevo em um tablete de escrita cuneiforme
Hebreus
O povo hebraico tem sua origem datada por volta do ano 1000 a.C. Prova-
velmente são herdeiros dos mesopotâmicos, pois os estudos mais aprofun-
dados acerca dos mitos e da língua identificaram heranças acadianas. No
entanto, é importante demarcar que os hebreus não são mesopotâmicos e
nem egípcios. Esta civilização nunca formou um Estado e nem deteve um
território bem definido, visto que era nômade e o que a mantinha unida
era a identidade em comum – religião, língua, crença, leis, política, práticas
econômicas.
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Aluno(a) de História, a esta altura você deve saber que os fatos históricos são
imutáveis, o que se modifica é a forma que o historiador analisa esses acon-
tecimentos. Por exemplo, na história romana sabemos do fato que, durante o
reinado do imperador Nero (37-68 d.C. governou entre 54-68 d.C.), a cidade de
Roma foi praticamente destruída por um incêndio. No entanto, há hipóteses que
defendem que foi o próprio Nero que ateou fogo na cidade, assim como há teses
que defendem que a quantidade considerável de construções em madeira pró-
ximas umas das outras – que era um ambiente propício para o alastramento de
um princípio de incêndio – seja a forma de análise mais adequada do episódio.
Por enquanto, deixemos a história de Roma de lado e nos atentemos ao
Oriente Próximo. Conforme discutido até o momento da unidade, apesar da
existência de dúvidas e de incertezas, sabemos como as práticas econômicas fun-
cionavam, os espaços geográficos ocupados pelas civilizações, como a estrutura
social era organizada e conhecemos muitos aspectos da cultura e das crenças.
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Todavia, uma questão ainda paira sobre esses povos: por que as civilizações do
Oriente Próximo Antigo se estabeleceram nas regiões aparentemente inóspitas
das margens dos rios Tigre e Eufrates?
Inicialmente, parece uma questão simples de responder, mas o texto até
aqui provou que a resposta não é tão óbvia, nem ao menos conclusiva, visto
que falamos de seres humanos que viveram há milhares de anos antes de nós.
Atualmente, as ideias mais aceitas sobre os motivos de formação e de desenvol-
vimento de sociedades complexas no Oriente defendem a identidade comum
– língua, crenças, sentimento de familiaridade entre outros –, segurança e orga-
nização da produção agrícola e pecuária.
Esta hipótese, que leva em consideração vários aspectos da sociedade, nem
sempre foi a predominante dentro da historiografia. Até a metade do século XX,
a academia brasileira detinha um viés marxista marcante para analisar os mode-
los de sociedades. Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), em
alguns de seus ensaios, dentre os quais podemos citar a Ideologia Alemã, pen-
saram modelos econômicos materiais para determinadas sociedades, a fim de
compreendê-las, pois acreditavam que os homens se uniam em sociedades devido
à vida material, como no excerto a seguir
A associação até agora conhecida não era de modo algum a união volun-
tária (que se apresenta, por exemplo, no Contrato Social), mas uma união
necessária, baseada nas condições dentro das quais os indivíduos desfru-
tavam da contingência (comparar, por exemplo, a formação do Estado
na América do Norte e as repúblicas da América do Sul). Esse direito
de poder desfrutar com toda a tranquilidade da contingência dentro de
certas condições é o que se chamava até agora de liberdade pessoal. Essas
condições de existência são naturalmente apenas forças produtivas e as
formas das trocas de cada período (MARX e ENGELS, 2001, p. 93-94).
Caro(a) aluno(a), você deve ter notado que os argumentos desse modelo
de interpretação das sociedades orientais antigas são plausíveis e críveis, o que
torna compreensível a grande influência nos meios acadêmicos. Por conseguinte,
a partir da década de 50, a academia brasileira passa a considerar novas verten-
tes historiográficas, principalmente as que permitiam a utilização de materiais
diversos e o diálogo com as demais ciências, ou seja, o campo documental se
amplia e novas informações são alcançadas.
Nesse sentido, o Modo de Produção Asiático não é completamente aban-
donado, mas passa a ser percebido como interpretação possível em seu tempo
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e espaço: o século XIX. A Hipótese Causal Hidráulica, derivada desse modo de
produção, a partir da nova realidade de estudos, não se sustenta. Cardoso (1984)
apresenta que os controles de irrigação, de drenagem e os demais sistemas de
controles hídricos não eram controlados por um poder de caráter estatal, mas
administrados pelas próprias comunidades locais – quando estavam em bom
funcionamento e bem controlados –, passando ao domínio do poder central.
Diante disso, a tese de que as sociedades se formavam pela necessidade de poder
monárquico para o controle das águas não é mais uma explicação suficiente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
40
A sequência correta é:
a) 1, 2, 3, 4.
b) 4, 3, 2, 1.
c) 3, 2, 1, 4.
d) 2, 4, 3, 1.
e) 2, 3, 4, 1.
5. Até a metade do século XX, muitos dos estudos brasileiros de história estiveram
pautados na vertente teórica marxista. Esse predomínio também foi aparente nas
pesquisas referentes às sociedades antigas, sobretudo as do Oriente Próximo. Nes-
se sentido, o surgimento das primeiras civilizações na região do Oriente Próximo
Antigo foi entendido por meio da Hipótese Causal Hidráulica, derivada do Modo
de Produção Asiático. A respeito desta temática, considere as afirmativas a seguir:
I. A Hipótese Causal Hidráulica é uma forma de interpretação do estabeleci-
mento das antigas civilizações orientais que foi superada, pois não consi-
dera outras questões, como militarismo, demografia, cultura e política, que
também são fatores prováveis que contribuíram para o estabelecimento
dos povos.
II. A Hipótese Causal Hidráulica defende que os sistemas de controle das águas
– irrigação, diques, canais – eram realizadas por um poder central.
III. A Hipótese Causal Hidráulica defende a ideia de que as formas de controle
do manejo das águas, a princípio, davam-se por autoridades locais e, poste-
riormente, passavam para as mãos das autoridades de âmbito estatal.
Assinale a alternativa correta:
a) I.
b) II.
c) III.
d) I e II.
e) II e III.
43
Escrita Cuneiforme
As sociedades do Antigo Oriente Próximo foram as pioneiras a organizarem civilizações
com relações e organizações complexas. Frente às suas características bem desenvolvidas
e ao caráter sedentário, proporcionaram a criação de um sistema de escrita bastante eficaz.
Cada língua falada – dentre as quais podemos destacar a suméria e a acádia – possuía suas
palavras e seus símbolos de escrita, mas todas utilizavam o estilo cuneiforme de escrita.
O Cuneus – em latim, significa cantos – deu origem à denominação do sistema de es-
crita, visto que a grafia se dava com estiletes que proporcionavam três dimensões em
planos com argila fresca. Vale demarcar que essa forma de escrita não surgiu sem prece-
dentes e passou por diversos processos até estabelecer-se na forma silábica e composta
em tabletes de argila – que é o modelo mais recente e conhecido.
Dentre as fases de formação do cuneiforme, é possível identificar a fase I (pictográfica)
e a fase II (silábica). A primeira fase era integrada por um alfabeto de ideogramas, isto é,
desenhos que simbolizavam coisas e não sons; a compreensão se dava pela mensagem
e não havia leitura propriamente dita. A segunda fase empregava a escrita fonética, o
que significa que as palavras ou os sons eram escritos.
Os indivíduos capazes de escrever em cuneiforme eram os escribas. O saber ler e escrever
no Oriente Próximo Antigo era mais do que um privilégio, era uma superioridade social.
Somente as famílias mais abastadas poderiam custear a educação, visto que era longa e
custosa. A formação destes sujeitos era realizada em centros especializados – eduba, casa
de tabletes – e durava da infância até o início da vida adulta. Os estudantes deveriam ser
disciplinados e desenvolver bem a grafia, caso contrário sofriam duros castigos físicos.
A forma de escrita era empregada principalmente nas práticas administrativas e econômicas
das cidades-estados. Somente nos tabletes de períodos mais recentes é que foi identificado
o uso da escrita para cultura e saber. Isso se deve ao fato de que esse sistema de escrita surgiu
com a necessidade de maior controle da produção agrícola e comercial na região.
Por muito tempo essas línguas foram consideradas mortas, pois não havia decifração,
bem como não havia pessoas capazes de realizar a leitura. As primeiras tentativas de
decifração dos escritos cuneiformes se deram por volta do ano 1530, visto que as insti-
tuições medievais de ensino passaram a ensinar alguns aspectos dos povos hebreus e
árabes, mas, por muitos séculos, os pequenos tabletes permaneceram misteriosos. No
século XVIII, houve crescente interesse por parte dos viajantes pelas ruínas do Império
Aquemênida, junto a isso, veio o interesse por decifrar os escritos antigos. Entretanto, foi
somente no início do século XIX, quando os pesquisadores tiveram interesse em com-
preender os escritos do Rochedo de Behistun, que houve as primeiras decifrações do
alfabeto – sendo completamente desvendado em 1877. Essa decodificação foi possível,
pois o rochedo continha inscrições em persa, elamita e assírio; o persa já havia sido des-
vendado com a ajuda da comparação com o grego, visto que muitos materiais persas
sofreram a influência helena no período do Império Helenístico.
Fonte: adaptado de Pozzer (1998/1999).
MATERIAL COMPLEMENTAR
REFERÊNCIAS ON-LINE
¹ Em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Crescente_F%C3%A9rtil#/media/File:Mapa_do_
Crecente_Fertil_en_galego.png. Acesso em: 14 maio 2019.
² Em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Sarg%C3%A3o_da_Ac%C3%A1dia#/media/Fi-
le:Sargon_of_Akkad.jpg. Acesso em: 15 maio. 2019.
GABARITO
1. Alternativa C.
2. Alternativa A.
3. Alternativa B.
4. Alternativa E.
5. Alternativa D.
Professora Me. Adriele Andrade Ceola
II
UNIDADE
O EGITO ANTIGO
Objetivos de Aprendizagem
■ Explicar como ocorriam as práticas econômicas no Egito Antigo, e
apresentar a divisão temporal egípcia baseada nos acontecimentos
políticos;
■ Discutir acerca da sociedade hierárquica piramidal e a burocracia
existente, bem como apresentar alguns estamentos sociais – Faraó,
Vizir, Sacerdote, Artesão e Camponês;
■ Apresentar como a crença foi determinante para a legitimação e a
manutenção do funcionamento da sociedade egípcia.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ As práticas econômicas e a política no Egito Antigo;
■ Sociedade egípcia: organização piramidal;
■ Cultura Fúnebre: justificativa da sociedade por meio da crença.
49
INTRODUÇÃO
Introdução
50 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ANTIGO
Caro(a) aluno(a) de História, com a leitura desta unidade você iniciará seus estu-
dos sobre o Egito Antigo. Para isso, selecionei algumas características gerais que
o(a) farão compreender esta civilização tão distante de nós no tempo e no espaço.
Dentre elas, você estudará as práticas econômicas e políticas, considerando a geo-
grafia da região, a importância do Rio Nilo e os principais acontecimentos políticos
no decorrer da autonomia egípcia; conhecerá a organização social, que se man-
tinha hierárquica e burocratizada, e, por fim, algumas características da crença
egípcia, que ajudavam a legitimar as estruturas política e social da civilização.
É interessante demarcar que o Egito Antigo é uma das civilizações que mais
despertam interesse nos indivíduos – desde a antiguidade até os dias atuais. Dentre
as muitas justificativas que podem explicar esse fato, Cardoso (1984a) e Vercoutter
(1980) seguem a perspectiva da longevidade e da continuidade dos aspectos sociais,
políticos e, principalmente, culturais, como é possível visualizar na seguinte colocação:
A história do Egito constitui, por conseguinte, a mais longa experiência
da civilização humana. Ela se estende do IV milênio a.C., no mínimo,
até a Era Cristã. Durante este período extremamente longo, homens
falaram a mesma língua, tiveram a mesma concepção da vida e do
além-túmulo, viveram sob as mesmas leis (VERCOUTTER, 1980, p. 8).
O EGITO ANTIGO
51
afirmar é que o Egito Antigo possuía uma cultura original, visto que não foi impor-
tada de outros povos: ela nasceu, desenvolveu-se e enfraqueceu no vale do Nilo.
Conhecida algumas das características gerais, é importante compreender
como essa sociedade se organizava econômica e politicamente. Nesse sentido,
convido-o(a) a continuar a leitura!
Isso significa que o Egito foi um vale às margens do rio Nilo cercado por um
deserto seco e inóspito de areia. De acordo com Funari e Gralha (2010), essas
características geográficas se configuraram por volta de 10000 a.C.; até este período
a região era coberta por uma floresta equatorial, mas devido a um aquecimento
global no final da última Era Glacial, o deserto se espalhou e secou essa região.
O Nilo era o único rio em mil quilômetros, sua origem vinha do interior do con-
tinente africano, onde ainda havia matas equatoriais e picos de montanhas que
derretiam e ajudavam a manter suas águas.
De acordo com Bakos (2008), o Egito foi naturalmente isolado: desertos nas pro-
ximidades, o Mar Mediterrâneo ao norte e cataratas ao sul. Todas essas características
podem ser visualizadas no mapa a seguir – a pequena faixa verde representa o Nilo
e as terras férteis, e, o restante, as terras improdutivas e pouco habitadas do deserto:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 1 – Mapa do Antigo Egito (a região acima é chamada de Baixo Egito e a região mais abaixo é
chamada de Alto Egito)
O Rio Nilo era visto e tratado como um deus – chamado de deus Hapi, que repre-
sentava as cheias –, visto que trazia vida ao Egito. Suas águas tinham substâncias
O EGITO ANTIGO
53
orgânicas que fertilizavam as terras para o cultivo; era utilizado para o consumo,
pois as chuvas eram escassas; servia como meio de comunicação na extensão territo-
rial egípcia; além disso, poderia proporcionar peixes para completar a alimentação.
Diante desta importância dada ao Nilo, os egípcios tinham como principal
prática econômica a agricultura dependente das cheias deste rio, semelhante ao
que ocorria com a região do Oriente Próximo Antigo em relação aos rios Tigre e
Eufrates. No caso egípcio, o Nilo banhava as terras às suas margens, levando águas
escurecidas e fertilizadas com elementos orgânicos, isto é, com húmus. As cheias
eram menos violentas do que do Tigre e Eufrates, mais regulares em seu período e
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
traziam tanta fertilidade quanto o que acontecia com o Crescente Fértil. Em resumo,
A inundação anual do Nilo é muito menos violenta do que os rios Ti-
gre e Eufrates, e também muito mais regular em sua data. Além disto,
começa em julho, e a retirada das águas, em fins de outubro, coinci-
de com o momento adequado para semear. Depois, entre a colheita
e a nova inundação, passam-se vários meses, permitindo a limpeza e
conserto dos diques e canais. Depois que o cereal é segado, o solo dos
campos se torna seco e se fende, ficando pronto para ser penetrado
em profundidade pela água e pelos aluviões fertilizantes da inundação.
Assim, não são necessárias no Egito as importantes obras de proteção
contra a cheia fluvial imprescindíveis na Baixa Mesopotâmia. [...] Em
circunstâncias tão favoráveis, o sistema hidráulico de irrigação por tan-
ques desenvolvido na antiguidade foi bem mais simples do que o da
Mesopotâmia (CARDOSO, 1984a, p. 22-23 - adaptado).
Esse calendário para as cheias e os recuos demonstrava três estações do ano bem
definidas: inundação (entre julho e outubro); a saída, que representava a época
da semeadura (entre novembro e fevereiro); e a colheita (entre março e junho).
De acordo com Cardoso (1984a), o plantio nas terras que haviam sido inun-
dadas pelo Nilo não requeria tantos esforços, pois os camponeses plantavam com
o solo ainda mole e, por vezes, contavam com o auxílio do gado de pequenos ani-
mais, que passavam em cima dos grãos e os enterravam ou ajudavam a separar
os grãos dos talos em plantas já colhidas. O gado maior era utilizado para car-
regar o arado ou outros instrumentos mais pesados de plantio.
Na figura a seguir, é possível visualizar a utilização de animais no trabalho
agrícola:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 2 – Pintura encontrada na tumba do escriba Menna, em Tebas, no Egito
O EGITO ANTIGO
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tumba egípcia. Nela, é possível observar um casal – provavelmente das camadas
superiores da sociedade – em uma pequena embarcação. O homem está posi-
cionado para atacar a ave com um bumerangue e, em uma de suas mãos, vemos
o instrumento de caça, na outra, as aves já capturadas:
Nos pântanos, havia ainda a extração de papiro. Este vegetal foi muito utilizado em
diversos setores da vida egípcia, pois rendia uma espécie de papel – conhecido sim-
plesmente como papiro – usado na fabricação de cordas, de tecidos grosseiros ou,
ainda, sua madeira era utilizada para a construções de embarcações e de móveis.
O EGITO ANTIGO
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
mantém, despertando tanta admiração e mistério, foram as construções de tem-
plos, de tumbas, de palácios e de monumentos diversos. As construções estatais
egípcias estavam ligadas às atividades artesanais, visto que demandava a produ-
ção de tijolos cozidos ou crus e de ornamentos. Conforme Cardoso (1984b), as
construções foram possíveis porque o calendário produtivo era bem estabelecido
e, com a cheia do Nilo, a mão de obra camponesa ficava sem muitas obrigações
com o plantio, como o autor expõe no excerto a seguir:
[...] vemos que o ciclo da agricultura básica durava pouco mais de meio
ano, apenas. Isto quer dizer que era possível dispor de abundante mão-
-de-obra para atividades artesanais da aldeia, para trabalhar nas ins-
talações de irrigação e para grandes obras estatais (templos, palácios,
sepulcros, monumentos diversos) (CARDOSO, 1984b, p. 29).
O EGITO ANTIGO
59
Caro(a) aluno(a), vimos que o Egito Antigo foi um reino unificado que perdurou
por milhares de anos com características duradouras. Todavia, você deve ter se
atentado que, apesar dessa durabilidade, ele não foi estagnado. Isso significa que
muitas modificações ocorreram no Egito, principalmente no campo político. Diante
disto, a historiografia atual dividiu didaticamente os períodos históricos egípcios
baseado nas modificações políticas, como pode ser observado no quadro a seguir:
Quadro 1 – Cronologia egípcia de acordo com a organização política
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Neste momento, quando tratamos de política, não me referi à perspectiva atual, que
corresponde ao momento em que todos têm o direito de participar quase ativamente
das decisões da sociedade, mas à instituição (ou às instituições) que centralizavam e
organizavam a civilização. No caso egípcio, discutimos a questão do poder faraônico,
isto é, o governante era uma espécie de rei, com atribuições e autoridades divinas.
A presença humana na região do Egito Antigo pode ser datada desde a última
Era Glacial, todavia, nossa abordagem não se dará para todos os períodos dispostos
na tabela, mas nos concentraremos entre 3500 a.C. à 332 a.C., momento em que o
Egito possuía a política faraônica independente de outros povos. Nesse sentido, as
divisões temporais trabalhadas serão: Dinástico Primitivo; Reino Antigo; Primeiro
Período Intermediário; Reino Médio; Segundo Período Intermediário; Reino Novo;
Terceiro Período Intermediário; e Época Tardia. Os períodos conhecidos como “rei-
nos” são os de prosperidade e de relativa paz no funcionamento político egípcio. Já
os momentos denominados “período intermediários” são de crise e de instabilidade.
Antes de aprofundarmos a discussão sobre os períodos políticos, é importante
retornarmos ao mapa exposto anteriormente. De acordo com Vercoutter (1980), a
faixa territorial que compreendia o Antigo Egito se parece com “um braço de rega-
dor”: o “tubo flexível” mais ao sul do mapa é conhecido como Vale, esta região é
a parte mais estreita do reino e também chamada de Alto Egito – pois é o começo
do reino; o “crivo”, mais ao norte do mapa, é conhecido como Delta, composto pela
região mais larga de terras cultiváveis, local onde houve mais tentativas de invasões
e conhecido como Baixo Egito –fica mais distante do início do reino.
No período Protodinástico da civilização egípcia, essa geografia demarcava dois
reinos distintos: Reino do Delta e Reino do Vale. Não há fontes contemporâneas
O EGITO ANTIGO
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Paleta de Narmer.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
período em que houve a formação das estruturas tradicionais egípcias. Conforme
Cardoso (1984a), esse momento foi dirigido pelas primeiras três dinastias que
se tem conhecimento. Além disso, os dois reinos não se encontravam em total
estabilidade, tornando comum que diversos festivais de reunificação, de reentro-
nização e de divinização do rei – todos os eventos com o propósito de legitimar
e de garantir as unidades de ambas as partes.
Culturalmente, além dos diversos festivais para legitimar o poder real, a reli-
gião egípcia já tinha muitas de suas características bem formadas, principalmente
no aspecto fúnebre. Funari e Gralha (2010) afirmam que a crença da necessi-
dade de preservação do corpo e dos pertences materiais dos faraós já ganhava
espaço, assim, as mastabas e as pirâmides de degraus datam desse momento.
Após o período Dinástico
Primitivo, temos o Reino Antigo,
que compreende da IV a VIII
dinastias. O período é um dos
mais conhecidos na atualidade
por suas pirâmides em Mênfis,
que se tornaram o símbolo do
Egito; referimo-nos às três pirâ-
mides: uma de Khufu (Quéops),
de Khafa (Quéfren) e de Menkaura
(Miquerinos). A esfinge egípcia
mais famosa também data desse
período e foi realizada para Khufu. Figura 5 – Pirâmide de degraus de Djoser – III Dinastia
O EGITO ANTIGO
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 6 – Esfinge de Gizé/Esfinge de Khufu, localizada no mesmo complexo das três pirâmides, em Mênfis
Essas construções, para nós, não devem simbolizar somente a beleza e despertar
admiração, mas sua grandiosidade deve ser interpretada como o auge da potên-
cia do poder faraônico. Se os faraós tinham poder econômico para custear as
construções gigantescas e bancar a mão de obra para as construções é porque
as cheias do Nilo e as práticas econômicas iam muito bem.
O Reino Antigo é finalizado com o Primeiro Período Intermediário. O poder
faraônico entra em instabilidade, pois há descentralização do poder central, isto
é, diferente da divisão entre o Vale e o Delta, que a época Dinástica Primitiva
enfrentou. Neste momento, os administradores de cada nomo, os vizíres, assumi-
ram o poder local e passaram a agir como reis em cada unidade administrativa,
assim, o reino conhece um curto período de fragmentação política.
Somado ao enfraquecimento da autoridade do faraó e à autonomia dos vizí-
res, no Primeiro Período Intermediário houve insuficiência das cheias do Nilo,
o que significou um período de fome para grande parte da população. Cardoso
(1984a) menciona que houve até mesmo a prática de canibalismo. A instabili-
dade interna, fez com que o Egito ficasse vulnerável às invasões estrangeiras,
assim, esse período de crise também foi demarcado pela invasão dos povos do
Oriente Próximo no Baixo Egito e a invasão dos núbios, vindos do interior do
continente africano.
A primeira fase de crise foi finalizada com a reunificação do Egito, que deu iní-
cio ao Reino Médio. O faraó que reunificou o reino outra vez era originário do sul; as
dinastias que se sucederam durante esse segmento de tempo foram da IX a XIV. A prin-
cipal característica do período foi a divisão administrativa do Egito em quatro regiões,
com o propósito de o faraó ter mais autoridade sob os vizíres e os nomos. A domina-
ção estrangeira, que ocorreu na região do Delta, não foi completamente findada, pois
a presença dos povos asiáticos, chamados hicsos, também marcou o período.
O tempo de estabilidade mais uma vez foi interrompido e o Segundo Período
Intermediário pode ser datado. O que causou o momento de crise foi a cres-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
cente presença estrangeira instalada no reino egípcio. De acordo com Funari e
Gralha (2010), essa presença de estrangeiros provocou nova fragmentação polí-
tica, visto que três dinastias se instalaram concomitantemente: XV dinastia de
hicsos; XVI dinastia de hicsos menores; e XVII dinastia de egípcios tebanos.
Apesar dos problemas políticos decorridos do momento, não podemos dizer
que esse período intermediário foi completamente negativo. Cardoso (1984a)
afirma que, mesmo tomando os devidos cuidados de análise, é possível identi-
ficar na civilização egípcia um percurso mais lento para avanços tecnológicos
quando comparados aos povos do Oriente Próximo Antigo. Com a instituição
de dinastias de origem estrangeira, o Egito se abriu às inovações que os povos
do Oriente Próximo podiam oferecer.
Mais uma vez, um faraó egípcio vindo do Vale conseguiu retomar o poder e
reunificar politicamente o reino. Temos o início do Reino Novo, que correspondeu
XVIII a XX dinastias – as mais famosas do Egito, visto que Nefertiti, Akhenaton,
Tutancâmon e muitos dos reis com o nome de “Ramsés” governaram nesse período.
Documentalmente, essa fase é uma das mais iluminadas do período faraônico e, con-
sequentemente, é o que mais dispomos de informações. O momento comportou uma
tentativa de imperialismo egípcio, o que demonstra o grande poder militar da região.
De acordo com Hornung (1994), para a realeza, o momento foi marcado pelos
casamentos consanguíneos. Havia a crença de que os faraós eram divinos, filhos
dos deuses ou seus protegidos, e essa característica divina era hereditária, isto é,
não só o pai era responsável por dar continuidade ao sangue sacro, mas a mãe era
a grande responsável por dar vida aos herdeiros divinizados. No entanto, as mulhe-
res não ficaram com o papel de progenitoras exclusivas, pois muitas delas foram
O EGITO ANTIGO
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Cleópatra VII Philopator, personagem muito explorada pela mídia como uma
figura bela e sedutora, não foi contemporânea ao poder faraônico descrito
nesta unidade. Ela pertenceu à dinastia dos Ptolomeus, que sucederam os ma-
cedônicos, de origem helena e que coexistiram aos romanos. Não há fontes
suficientes que atestem sua beleza e sedução, o que sabemos é que foi a últi-
ma governante egípcia apresentada como uma faraó.
Fonte: a autora.
Dinastias egípcias
O EGITO ANTIGO
67
Semerkehet
Ka
III DINASTIA (2778-2723 a.C.) V DINASTIA (2563-2423 a.C.)
Neterierkhet-Djeser Userkaf
Sekhemkhet Sahuré
Sanakt (Nebka) Neferirkaké-Kakay
Khaba Shepseskaré
Neferka Neferefré
Hu (Huny) Niuserré-iny
Menkauhor-Adauhor
Reino Antigo
IV DINASTIA Dedkaré-Isesy
(2780-2400 a.C.,
Sneferu Unas
aproximadamente)
Quéops
Didufry VI DINASTIA (2423-2300 a.C., aproxi-
Quéfren madamente)
Miquerinos Teti
Shepseskaf Usirkaré
Mariré-Pepi I
Meriré-Antiemsaf
Neferkaré-Pepi II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Antef III (2070-2065 a.C.)
O EGITO ANTIGO
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Período Inferior Taklot I (893-870 a.C.)
(1085-332 a.C.) Osorkon II (870-847 a.C.) *As XXII, XXIII, XXIV e XV dinastias são
Chechanq II (847-823 a.C.) parcialmente paralelas. As datas da XXIII
são bem próximas.
Chechanq III (823-722 a.C.)
Pamy (772-767 a.C.)
XXVI DINASTIA (Saíta: 663-525 a.C.)
Chechanq IV (767-730 a.C.)
Psammetik I (663-609 a.C.)
Necau (609-594 a.C.)
XIII DINASTIA (817?-730 a.C.)
Psammetik II (594-588 a.C.)
Pedubast (817?-763 a.C.)
Ápries (588-568 a.C.)
Cheqchanq IV (763-757 a.C.)
Amásis (568-526 a.C.)
Osorkon III (757-748 a.C.)
Psammetik III (526-525 a.C.)
Takelot III/Amonrud/Osorkon IV (748-730 a.C.)
XXVII DINASTIA (525-404 a.C.) XXIX DINASTIA (398-378 a.C.)
Cambises (525-522 a.C.) Neférites I (398-392 a.C.)
Dário I (522-485 a.C.) Ácoris I (398-380 a.C.)
Xerxes (485-464 a.C.) Psamuthis (380-379 a.C.)
Primeira Dominação
Artaxerxes (464-424 a.C.) Neférites II (379-378 a.C.)
Persa
Dário II (424-404 a.C.)
XXX DINASTIA (378-341 a.C.)
XXVIII DINASTIA Nectânabe I (378-360 a.C.)
Amirteu (404-398 a.C.) Teôs (361-359 a.C.)
Nectânabe II (359-341 a.C.)
O EGITO ANTIGO
71
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Caro(a) aluno(a), apesar de o Egito Antigo ser um dos reinos unificados mais
longínquos de nosso tempo que se há conhecimento, as luzes sobre seu funcio-
namento são muito recentes, visto que datam de 1822, quando Jean François
Champollion conseguiu finalizar a tradução dos hieróglifos. Até a decifração da
escrita egípcia, todo o conhecimento que tínhamos sobre este reino era prove-
niente de fontes indiretas, ou seja, de autores gregos e romanos.
A Egiptologia, isto é, a ciência que estuda o Egito Antigo, foi fundada em 22 de setembro
de 1822, visto que esta data foi marcada pela divulgação da decifração dos hieróglifos.
Esta escrita se encontrava adormecida desde o período da Antiguidade Tardia, mas sua
utilização se iniciou com a unificação dos dois reinos egípcios em, aproximadamente,
3500 a.C.
Foi Jean François Champollion quem encabeçou o empreendimento da tradução dos
hieróglifos. Sua fonte de trabalho foi a Pedra de Rosetta, encontrada pela missão
científica que Napoleão Bonaparte levou ao Egito; tal estela continha a mesma inscri-
ção em três formas distintas: grego, demótico e hieróglifo, e foi a partir da compara-
ção dos ideogramas hieroglíficos com o grego que foi possível a decifração desse tip
o de escrita egípcia. O demótico é a forma mais simples dos hieroglíficos e foi usada mais
cotidianamente no Egito; sua tradução se deu por Thomas Young, em 1829.
Fonte: adaptado de Bakos (2008).
Outra questão importante a ser apresentada é que, apesar de o Egito estar locali-
zado no continente africano, não temos fontes que nos permitem definir qual a
etnia da população. Cardoso (1984a) aponta que alguns pesquisadores dizem que
a população era de brancos vindos dos desertos; outros que foram negros vindos
do interior da África; e outros, ainda, que possuíam etnia semelhante à popu-
lação do Oriente Próximo. No entanto, é provável que dificilmente consigamos
findar essa discussão, o que significa que devemos focar no fato de a sociedade
egípcia ter sido muito complexa, independentemente da etnia de sua população.
Podemos afirmar, então, que tanto a fontes de origem egípcia quanto as
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
estrangeiras nos legaram muitas informações sobre a sociedade egípcia, dentre
as quais que o Egito era “um formigueiro humano”. No período de dominação
romana, estima-se que a população atingia sete milhões de habitantes. Todavia,
é preciso deixar claro que os números para a antiguidade não são possíveis de
serem provados nem ao menos são confiáveis, e apresento esta estatística para
iluminar seu conhecimento a respeito dos dados da população.
De acordo com Funari e Gralha (2010), o que sabemos com clareza é que a
sociedade egípcia pode ser representada de forma piramidal:
O EGITO ANTIGO
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
vulgares; o inspetor dos profetas; os organizadores de objetos; os selecionado-
res de animais para sacrifício; o intérprete de sonhos; e os sacerdotes-horários,
que observavam os astros. As categoriais eram independentes umas das outras
e poderiam abrigar diferentes funções, por exemplo: as mais altas eram respon-
sáveis por abrir a sala escura do deus, banhar, vestir, alimentar e orar para os
deuses, e as mais baixas desempenhavam funções corriqueiras da manutenção
dos templos, por exemplo, acendendo e apagando as tochas.
Os sacerdotes poderiam levar a vida de um egípcio comum, usando ves-
tes normais, com cabelos e alimentação como os demais, ou deveriam assumir
postura diferente e séria, tendo vida mais restrita, com vestes específicas, com
o corpo todo depilado e limpo, fazendo alimentação limitada e pura. Pernigotti
(1994) apresenta que nem sempre os sacerdotes possuíam tal função exclusiva-
mente – as fontes nos permitem saber que estes homens poderiam acumular
cargos civis, por exemplo, um profeta poderia ser um vizir.
No estamento social de funcionários de baixa categoria estavam os artesãos.
Não havia diferença entre artista e artesão, somente os que eram mais especia-
lizados no trabalho manual e outros que produziam materiais mais grosseiros.
Valbelle (1994) afirma que alguns poderiam estar em uma categoria acima, pois
muitos sacerdotes que transcreviam os encantamentos nos sepulcros ou nos
templos poderiam ser considerados artesãos, porém a maioria era composta
por funcionários menos especializados. O artesão poderia ser um camponês que
fabricava os instrumentos de trabalho, as roupas e os utensílios enquanto a cheia
do Nilo estivesse sobre a terra, um construtor de embarcações ou, os mais espe-
cializados, que confeccionavam estátuas, joias ou exerciam a função de escriba.
O EGITO ANTIGO
75
Recebendo uma miséria pelo seu trabalho, nunca possuía os meios, nem
lhe era dada a oportunidade, para melhorar a situação, para encontrar
processos melhores de ganhar o pão quotidiano e alterar a sua humilde
posição. Viver sem a menor esperança de dias mais propícios, inexora-
velmente acorrentado ao degrau mais baixo da escala social, agrilhoado
durante toda a vida: assim decorria a sua martirizada existência. Todavia,
aperceber-se-ia ele desse fato: Tendo nascido camponês, estava marcado,
e marcado ficava até o fim dos seus dias – era camponês, humilde escravo
meio morto de fome, sem vontade própria, sujeito às ordens, empurrado
de um lado para o outro, espancado. Desprezado por todos, ninguém se
compadecia dele (CAMINOS, 1994, p. 36).
Isso significa que a principal força produtiva egípcia provinha dos camponeses
e, mesmo assim, suas chances de mudança de condição eram quase inexistentes.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Trabalhavam muito e pagavam altos impostos, o que ocasionava no mínimo de
alimento para a sobrevivência. Se não cumprissem suas funções, eram castiga-
dos e poderiam ser mortos, mas nenhum homem de nenhuma categoria social
se sensibilizava com tal condição precária.
Caminos (1994) aponta que os camponeses tinham consciência de sua condi-
ção difícil e não estavam felizes com isso, mas a sociedade egípcia era envolta pela
crença de que cada indivíduo detinha seu lugar na sociedade e, caso questionassem
ou fugissem do Egito, eram excluídos do culto egípcio e, consequentemente, não
atingiriam o “paraíso agrário”.
Caro(a) aluno(a), você ainda deve questionar-se sobre os motivos dessa manu-
tenção de condição de vida. Perceba: a crença egípcia pregava a vida eterna da alma
– mesmo para os camponeses –, e estes, ao morrerem, teriam as mesmas funções
que tiveram em vida, mas, ao contrário do mundo material, o paraíso agrário era
um local em que nunca haveria fome, isto é, todos possuiriam cerveja e pão refina-
dos à vontade, os trabalhos não seriam excessivos e os castigos seriam extintos. No
entanto, somente os egípcios que cumprissem as funções estipuladas divinamente,
por meio dos faraós, tinham o direito de gozar do paraíso. A fuga da função excluía a
chance da vida eterna e simbolizava a morte eterna do sujeito; o medo de perder todas
essas regalias funcionava como o incentivo para manter a difícil condição em vida.
Os escravos não tinham a chance de serem incluídos neste culto estatal,
visto que todos eram vistos como estrangeiros – inclusive os camponeses que
tivessem perdido sua liberdade –, o que explica que, apesar de possuírem con-
dições de sobrevivência melhores do que os camponeses livres, encontravam-se
no estamento inferior, pois não tinham o direito de entrarem no paraíso agrário.
O EGITO ANTIGO
77
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Estela de Minnakht, chefe dos escribas. durante o reinado de Aí (1321 a.C.) A imagem mostra os hieróglifos.
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era pré-lógico, mas que as reflexões abstratas não eram o centro do pensamento.
A mentalidade egípcia era baseada na acumulação de experiências, assim como
em exemplos práticos e concretos. Em consonância, Gralha (2009) afirma que a
materialidade das práticas mágico-religiosas se dava por meio da iconografia, da
arquitetura e da escrita hieroglífica, o que explica a durabilidade dos materiais em
que os templos, as tumbas e as estátuas dos deuses eram confeccionadas. Além
disso, a magia no Egito era vista como implícita às coisas: as boas palavras e ações,
assim como as más, atraíam acontecimentos dessas naturezas e cada objeto, ou ser
vivo, detinham magia. Assim, os indivíduos levavam a vida com muito cuidado.
Além disso, essa forma de pensar estava engajada em preservar o estado das estru-
turas, isto é, era um pensamento conservador e conformista, e, para isso, faziam-se
necessários rituais, preces, orações e receitas funcionais, que mantinham o estado
das coisas e, consequentemente, afastava o caos e aproximava a prosperidade:
[o pensamento] Estava, outrossim, engajado no esforço de preservar
a estrutura político-social vigente e a ordem cósmica, através de uma
ética e de observâncias rituais adequadas; ou em fornecer, pragmatica-
mente, regras, receitas funcionais às diversas atividades. O mito expli-
cava o mundo descrevendo, em cada caso, como algum fato suposta-
mente se dera pela primeira vez num longínquo passado (CARDOSO,
1984a, p. 83, adaptação da autora).
No Egito, a palavra tinha poder criador, quase mágico. Bem como tudo o que
era visto e imaginado era associado aos deuses e às suas ações. Nesse sentido,
cada indivíduo na sociedade tinha suas obrigações e suas responsabilidades para
manter o mundo em harmonia. De acordo com Gralha (2009), essa crença con-
tribuía para a manutenção do Estado Egípcio:
Durante o Egito Faraônico, mitos, práticas mágicas e religiosas parecem
O EGITO ANTIGO
79
Figura 11 – Papiro contendo a cena do Tribunal de Osíris, Museu Egípcio de Turim – Itália
Fonte: Phil Norfleet (2011, on-line)¹.
A alma por si só não bastava. Para que o morto continuasse a viver por toda a
eternidade, seu corpo e seus pertences deveriam ser mantidos e protegidos. De
acordo com Câmara (2014), isso explica a existência de sepulcros resistentes, que
comportaram por milhares de anos os corpos e as riquezas dos indivíduos, da
mesma forma que as técnicas de mumificação se desenvolveram e diversos cor-
pos de reis ou de homens muitos ricos do Egito existem até hoje. Essas crenças
e técnicas foram essencialmente egípcias, visto que homens gregos e romanos
muito poderosos – como Alexandre, o magno, e Augusto – provavelmente tive-
ram seus corpos reduzidos a pó com a ação do tempo.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Em resumo:
Os egípcios, em geral, acreditavam na vida eterna, que poderia ser
garantida pela piedade tida pelos deuses, pela preservação do corpo
por meio da mumificação e pela manutenção de um enxoval funerário
(FUNARI E GRALHA, 2010, p. 31).
Todas essas crenças estavam vinculadas à religião. Esta não surgiu com as caracte-
rísticas prontas, mas foi resultado da superposição e da organização das divindades
dos nomos. Esse início religioso espelhou toda a religião egípcia, pois do perí-
odo Protodinástico até o Período de Dominação Romana, cada nomo possuiu
sua divindade titular. O faraó era o responsável por manter longe a ira dos deu-
ses e seu poder era legitimado pela crença em sua detenção do poder divino.
O que dizemos até aqui não é uma defesa de que a religião e a cultura fúne-
bre foram os únicos propósitos que mantiveram e legitimaram a unificação e a
manutenção da unidade do Reino Egípcio, mas que esses elementos foram pri-
mordiais e coexistiram com demais fatores, isto é, não eram meros elementos
decorativos e chamativos.
O EGITO ANTIGO
81
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caro(a) aluno(a), chegamos ao fim da segunda unidade. Espero que você tenha
apreciado e aprendido mais acerca do interessante e original mundo egípcio,
assim como tenha conseguido compreender os motivos de o Egito ser contínuo,
longínquo, exótico e misterioso.
Você pôde estudar a respeito das práticas econômicas do Egito Antigo e
conhecemos a geografia específica e única desta região, isto é, um oásis em
meio a um deserto opressor e seco. Diante dessas características geográficas, foi
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Considerações Finais
82
1. O Egito Antigo é uma das civilizações que mais despertam interesse na huma-
nidade. É possível datar o fascínio e a apropriação de seus elementos desde os
povos coexistentes no Oriente Próximo Antigo, na Grécia e na Roma antigas.
Tal estima pelos elementos egípcios se dá pela originalidade e pela complexi-
dade de todas as suas estruturas. Assim, analise as afirmações a seguir e assina-
le com V, as verdadeiras, e com F, as falsas:
( ) O Egito Antigo era um oásis fértil cercado por um deserto seco.
( ) A geografia egípcia era particular, visto que suas terras cultiváveis eram
mais largas do que cumpridas.
( ) O rio Nilo e suas cheias eram primordiais para o desenvolvimento humano
na região do Egito Antigo. Frente a isso, ele era considerado uma divindade.
( ) A sociedade egípcia era organizada hierarquicamente, e a figura que perso-
nificava o Estado era o camponês.
Assinale a alternativa que contenha a sequência correta:
a) V, F, V, F.
b) V, V, F, F.
c) F, F, V, V.
d) V, V, V, V.
e) F, F, F, F.
2. A organização da sociedade egípcia pode ser comparada a uma pirâmide: a
base larga representa a maioria populacional, composta por camponeses; os
estamentos afunilam até chegarem ao topo estreito, ocupado pelo faraó. Além
disso, a sociedade era burocrática, visto que toda produção e todas as decisões
eram centralizadas na figura do faraó e, posteriormente, redistribuídas. Acerca
da sociedade egípcia, analise as afirmativas a seguir:
I. Os camponeses faziam parte da principal fonte de mão de obra da agricul-
tura e das construções do Egito.
II. Os sacerdotes pertenciam ao estamento social de funcionários de alta ca-
tegoria.
III. O faraó poderia ser considerado um deus, filho de um deus ou o represen-
tante do deus; o que legitimava seu poder.
IV. A categoria dos artesãos não era homogênea, visto que os sacerdotes pode-
riam desempenhar a função, decorando as tumbas e os templos, da mesma
forma que os camponeses desempenhavam a função para confeccionar os
instrumentos de trabalho.
83
Site em inglês, em funcionamento desde 1997, que compartilha informações científicas sobre o
Egito Antigo e trechos de fontes.
Web: http://www.ancient-egypt.org/index.html.
Site que dá acesso à revista acadêmica Mundo Antigo, coordenado pelo Núcleo de Estudos em
História Medieval, Antiga e Arqueologia Transdisciplinar (Nehmaat), possuindo diversos artigos
referentes ao Egito Antigo.
Web: http://www.nehmaat.uff.br/.
87
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS ON-LINE
¹
Em: http://platopagan.tripod.com/. Acesso em: 20 maio 2019.
GABARITO
1. Alternativa A.
2. Alternativa E.
3. Alternativa C.
4. Alternativa A.
5. Alternativa D.
Professora Me. Adriele Andrade Ceola
III
UNIDADE
MUNDO GREGO ANTIGO
Objetivos de Aprendizagem
■ Explicar o processo de ocupação da região de Hélade e apresentar
alguns aspectos da sociedade do Período Homérico;
■ Apresentar como se deu a formação das cidades-estados gregas,
priorizando a discussão acerca de Atenas e de Esparta;
■ Desenvolver o conhecimento sobre a consolidação política de Atenas
e de Esparta e apresentar as diferenças em seus governos;
■ Esclarecer sobre os momentos de Pan-Helenismo e apresentar o
período de domínio macedônico.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ O Período Homérico: os primórdios da civilização grega;
■ O Período Arcaico: o nascimento da pólis;
■ O Período Clássico: a consolidação da política;
■ Domínio Macedônico.
91
INTRODUÇÃO
cia como Hélade – palavra com sentido aproximado à “terra do sol”. O termo não
era uma simples designação territorial, mas expressava um conceito de como
esses povos se reconheciam.
A civilização grega deve ser compreendida como uma “colcha de retalhos”,
visto que foi uma abstração, sem unidade governamental ou territorial. Os hele-
nos se reconheciam basicamente pela língua, pela religião, pelo comportamento
e pelos costumes em comum.
É importante destacar que a Grécia, apesar de ter sido essencialmente agrá-
ria, é usualmente lembrada pela vida urbana. Sua geografia não apresentava rios
como o Tigre, o Eufrates e o Nilo, que detinham cheias regulares que enrique-
ciam as terras às suas margens; a geografia grega era mais seca e montanhosa.
Nesta unidade, você se deparará com a explanação dos períodos históricos
gregos pautados na política ateniense e aceito pela historiografia tradicional, que
abrange do século XX a.C. ao século III a.C., divididos em: Processo de Formação;
Período Homérico; Período Arcaico; Período Clássico; e Dominação Macedônica.
Esta divisão não pode ser entendida de forma rígida nem literal, mas como um
auxílio para a localização no tempo. Frente a essas características, convido-o(a)
a conhecer mais sobre a Grécia Antiga. Bons estudos!
Introdução
92 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
PERÍODO HOMÉRICO: OS PRIMÓRDIOS DA
CIVILIZAÇÃO GREGA
Olá, caro(a) futuro(a) professor(a) de história! Com a leitura desta unidade, você
iniciará seus estudos sobre o mundo grego antigo, sobretudo o de Atenas e de
Esparta. Para facilitar a sua compreensão sobre essa civilização, optei por divi-
dir a unidade cronologicamente, de acordo com a política ateniense:
■ Processo de formação da Hélade (século XX a.C. – XII a.C.): estabeleci-
mento dos primeiros povos antecessores aos helenos;
■ Período Homérico (XII a.C. – IX a.C.): primeiras organizações gregas
propriamente ditas;
■ Período Arcaico (século IX a.C. – VI a.C.): surgimento das primeiras
cidades-estados;
■ Período Clássico (século VI a.C. – IV a.C.): florescimento político e
cultural;
■ Domínio Macedônico/Período Helenístico (século IV a.C. – III a.C.): enfra-
quecimento das estruturas helenas e domínio de um império estrangeiro.
Figura 1 – Mapa da Grécia Antiga com regiões ocupadas durante o Período Arcaico e o Período Clássico
Fonte: Wikipédia (2007, on-line)¹.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
cularmente fértil. Poucas áreas destinadas a pastagens, salvo no vale
do Céfiso – “o branco Cabo Colona, rico em equinos”, na evocação de
Sófocles. Em suma, um país pobre (MOSSE, 1987, p. 12).
Isso significa que a constituição geográfica grega foi muito distinta das civiliza-
ções do Oriente Próximo Antigo e do Egito Antigo, pois era um local pedregoso,
seco e com chuvas violentas, o que resultava em uma vegetação pobre e com
solos pouco férteis para o cultivo. Diversos rios cortavam a Hélade, mas os mais
literariamente famosos foram o Céfiso, que cortava Atenas e era utilizado na
agricultura e na criação de animais, e o Eurotas, que cortava Esparta e contri-
buiu para terras férteis da região. A grande vantagem geográfica da Grécia foi a
existência dos portos: a península balcânica dava acesso a diversos mares, com
águas mais amenas, que facilitavam a navegação; consequentemente, o comér-
cio marítimo era propiciado.
A origem da civilização grega é obscura, visto que não há muitas fontes
sobreviventes do processo. Os próprios gregos antigos não sabiam como suas
origens se deram, e, para explicar os fatos, recorriam aos mitos, aos deuses e
aos semideuses: os atenienses acreditavam que seu fundador era o herói e semi-
deus Teseu. Esparta também aceitava um herói e semideus como seu fundador:
Héracles, popularmente conhecido como Hércules.
De acordo com Ceola (2017), Hesíodo (viveu entre os séculos VIII a.C. e
VII a.C.), em sua obra Os Trabalhos e Os Dias, defendia que a humanidade havia
sobrevivido por longo processo de decadência, visto que passaram pela Era de
Ouro, Era de Prata, Era de Bronze, Era dos Heróis e se encontravam na pior de
todas: Era de Ferro.
que em parte explica a obscuridade das fontes sobre a origem da Grécia. Ademais,
forçou os habitantes da Hélade a se reorganizarem e se rea-
daptarem para a proteção.
Diante deste novo cenário, Mosse (1987) afirma que os
povos se organizaram em pequenos grupos familiares, em
unidades conhecidas como gens. Estes grupos funcio-
navam como pequenos “principados”, cujo chefe da
família era o rei; além disso, eram fortemente milita-
rizados e sobreviviam da agricultura de subsistência.
Foram esses novos pequenos grupos agrícolas
familiares que se estabeleceram e deram início
à civilização grega propriamente dita.
O PERÍODO HOMÉRICO
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1.ª As epopeias não são narrativas históricas, o que lhes retira o
compromisso de narrar os fatos tal qual aconteceram.
2.ª Os fatos narrados misturam os feitos dos homens, dos heróis e dos
deuses.
3.ª Os versos das epopeias foram compostos com a finalidade de serem
cantados, isto é, a beleza nas palavras e na estrutura do texto era parte
da intenção, sendo, por vezes, mais importante do que os fatos narrados.
4.ª Os versos foram transcritos por volta do final do século IX a.C. ou
século VIII a.C., o que significa que a escrita não foi feita por Homero,
mas sim por algum autor desconhecido contemporâneo do Período
Arcaico. A distância temporal entre a criação e a transcrição dos poe-
mas épicos sugere que muitos versos foram aprimorados, modificados
e podem ter perdido as informações iniciais.
5.ª Não sabemos se Homero de fato existiu, se foi um nome fictício de al-
gum aristocrata importante ou, ainda, se existiram inúmeros “homeros”.
6.ª Se Homero realmente existiu, ele foi um aedo, o que lhe rendia a ins-
piração das Musas, que não possuíam o compromisso com a verdade.
7.ª E, por fim, diante de todas essas imprecisões sobre Homero, deve-
mos questionar se ele foi o compositor dessas obras épicas.
Caro(a) aluno(a), com base nas obscuridades dos poemas épicos Ilíada e
Odisseia, assim como da vida de Homero, você percebeu como os classicis-
tas lidam com a escassez de documentos? Você acha possível trabalhar com
os poemas apesar dessas lacunas nas informações?
A palavra economia, natural nos dias de hoje, é derivada do conceito de oikos, ten-
do em vista que a gerência desta propriedade era conhecida como “oikonomia”.
Fonte: a autora.
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a Grécia Antiga, visto que o lar era sagrado; como Coulanges (2008) afirma, uma
parte das crenças antigas se desenvolvia no interior das casas, e o lar era o fogo
sagrado, consequentemente, o papel da mulher nessa sociedade era primordial.
Conforme Mosse (1989), apesar de o modelo de governo ser dividido entre peque-
nos “principados”, já é possível identificar a ágora, isto é, a praça pública onde
ocorriam debates e decisões comuns entre os senhores dos oikos. Essa caracte-
rística demonstra que as unidades governamentais homéricas não eram isoladas,
mas se relacionavam expressivamente.
Não há informações suficientes que atestem quando as modificações na
sociedade decorreram, mas por volta do século IX a.C., a ágora passou a ser mais
utilizada pelos senhores dos oikos e estes começaram a agir como magistrados,
não havendo rei que governasse sobre todos.
Pouco se sabe com certeza sobre Hesíodo, além dos indícios esparsos em Os
Trabalhos e os Dias. Aparentemente, o poeta escreveu suas obras após a com-
posição dos poemas homéricos, mas não muito mais tarde – talvez no século
VIII a.C. Seu pai, um negociante em Cime, na Aiolis, viu-se compelido pela po-
breza a emigrar para Ascra, na Beócia, onde Hesíodo nasceu e viveu a vida de
um camponês.
[...]
A originalidade de Hesíodo consiste no fato de ele ter sido o primeiro poe-
ta grego a procurar seu assunto em fontes alheias ao mito ou à fantasia. Ao
contrário, ele incorporou a Os Trabalhos e os Dias máximas de ordem ética e
conselhos práticos derivados de sua própria experiência, adaptando-os à vida
de um camponês.
Fonte: adaptado de Harvey (1986).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
reunir-se sempre que necessário (a ágora, no seu sentido primitivo,
muito antes de esta palavra ter vindo a significar também “Praça do
Mercado”). Habitualmente, havia também uma Acrópole, cidadela em
local elevado, para defesa. Depois, começam as variantes.
A geografia da Hélade era cortada por montanhas, vales e planícies, o que significa
que as comunidades se desenvolveram de forma fragmentada. Todas as comu-
nidades conhecidas possuíam organizações semelhantes ao que Finley (1963)
apresenta: a urbanização não se dava como as nossas cidades de hoje, pois eram
aldeias não habitadas, haja vista que a população se abrigava em propriedades
rurais e se dirigia para as cidades a fim de se reunirem quando necessário. Além
disso, devido à Grécia Antiga ter sido uma civilização que conviveu com a vio-
lência, as fortificações das cidades, a militarização da população e os locais de
abrigo para tempos conflituosos eram comuns.
Caro estudante, aqui vale explicar que o oikos não foi extinto, ele perdurou
por toda a existência da Grécia Antiga, até mesmo sob a dominação romana.
A principal atividade econômica da Grécia sempre foi o cultivo de terra; a vida
urbana e o comércio marítimo eram secundários.
É importante destacar que, nesse momento, as comunidades gregas demons-
traram suas distinções. Esparta se desenvolveu na Península do Peloponeso, em
um vale cercado por montanhas altas, pântanos e despenhadeiros, que torna-
vam a cidade isolada e fortificada naturalmente. Finley (1963) afirma que chamar
Esparta de urbana no Período Arcaico é uma cortesia, visto que era essencial-
mente agrícola e tributária; não havia investimento em locais urbanos, conforme
podemos atestar com a descrição a seguir:
O governo espartano se formou no Período Arcaico, visto que até o Período Clássico
o sistema não se alterou substancialmente. Esparta desenvolveu um sistema gover-
namental de diarquia, isto é, uma monarquia de dois reis: um rei ancião, conselheiro
e tido como “sábio”, e outro rei guerreiro, que deveria ser o principal líder mili-
tar. De acordo com Harvey (1986), existiam duas famílias consideradas reais: os
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A origem desse modelo político é obscura; não existem fontes suficientes que
expliquem os motivos e quando os reis começaram a desempenhar as magistra-
turas. O que podemos afirmar com mais precisão é que Atenas preparava seus
cidadãos enriquecidos para a vida política, isto é, prezava pela filosofia, pela
retórica e pela oratória, assim como pelas artes liberais – dança, canto e teatro.
Nesse período, alguns problemas eram enfrentados pelos gregos. A popula-
ção havia crescido expressivamente e não havia terras suficientes para todos, ao
mesmo tempo em que os mais pobres estavam sendo muito taxados, a escravi-
dão por dívidas se expandiu e houve diversas tentativas de conquista do poder
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pelos tiranos. A “válvula de escape” dessas pressões populacional e política foi
encontrada na colonização – em grego, apoikia.
A maior parte dos homens que se dirigiam às terras que seriam colonizadas
era formada por aqueles que não estavam contentes com o sistema governamen-
tal das cidades ou não eram os primogênitos (ficariam fora da herança de suas
famílias, pois somente os primeiros filhos herdavam todas as posses). Nessas
expedições, sempre havia a liderança de um “fundador” de origem aristocrata,
que levava junto de si helenos militarizados, que dizimavam as populações locais.
O processo de colonização e de contato com outros territórios fez com que
a Grécia desenvolvesse o uso de moedas, devido às trocas comerciais, visto que
as trocas em espécie não davam conta do comércio marítimo.
De acordo com Finley (1963), os principais territórios ocupados com a colo-
nização grega foi uma parte da atual Espanha, a Sicília e o norte da África. Estes
domínios eram essencialmente agrários, pois, apesar de o comércio marítimo
ser rentável, era arriscado. Vale salientar que esse processo de colonização não
foi imperialista, pois as “cidades-mães” não subordinavam os novos territórios
e os novos espaços eram tratados como uma cidade grega como qualquer outra.
A solução pela colonização não perdurou muito tempo, pois a população
continuava crescendo e a crise era constante:
Parece que dois fatos deram origem à ruptura do equilíbrio social: por
um lado, a situação de dependência em que se encontrava a maior par-
te dos camponeses atenienses, obrigados ao pagamento da sexta parte
de sua colheita; por outro, o endividamento crescente da massa cam-
ponesa e a ameaça que sobre ela pesava de ser reduzida à escravidão
(MOSSE, 1987, p. 14).
Isso quer dizer que os problemas internos de propriedade não foram resol-
vidos. Dialogando com a autora anterior, Finley (1963) apresenta que por volta
dos séculos VII a.C. e VI a.C. a situação não era pacífica, nem mesmo a aristo-
cracia se encontrava unida: alguns indivíduos se aproveitavam da situação para
alcançar prestígio pessoal.
Para atender à demanda maior da população grega – tanto em Atenas quanto
em Esparta – foi instituída a figura do legislador, que exercia tanto poder quanto
os arcontes ou os reis.
Caro(a) aluno(a), chamo aqui a sua atenção para esclarecer que os aconteci-
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mentos políticos dissertados têm foco em Atenas, pois não possuímos fontes que
esclareçam o processo de leis espartanas ou que nos deem nomes de seus legisladores.
Nesse sentido, no ano 641 a.C., o legislador Drácon (viveu durante o século
VII a.C.) realizou a primeira tentativa de reformas na sociedade ateniense. Sua
legislação foi o primeiro código de leis de Atenas, porém as normas eram con-
servadoras e não atendiam à demanda populacional de ampliação dos direitos
políticos e de amenização da crise econômica. As leis elaboradas por Drácon
perduraram até o início do século VI a.C.
No ano 594 a.C., Sólon (638 a.C.-558 a.C.) foi nomeado arconte ateniense.
Posteriormente, atingiu a função de legislador. Atenas se encontrava em cons-
tantes crises e a solução por parte de Sólon foi a confecção de um novo código
de leis, que alterou o cenário político e econômico da cidade. Entre suas medi-
das, as três principais foram:
■ A abolição da escravidão por dívida e a libertação do escravo desta condição;
■ A divisão da população de acordo com a renda, o que resultou em novas
instituições políticas de caráter mais popular: Boulé – assembleia de 400
cidadãos livres; Eclésia – assembleia que aprovava as leis; e Helieu – tri-
bunal popular, que rivalizava com o tribunal dos aristocratas;
■ A reforma e a unificação dos pesos e das medidas atenienses.
A nova legislação foi decisiva para o contexto ateniense, considerando seu aspecto
popular. Essas medidas deram a oportunidade de Sólon tornar-se tirano, mas
ele recusou o posto e exerceu somente a função de legislador. No entanto, ape-
sar de ter recusado tornar-se um tirano, suas reformas abriram caminho para
que a tirania se instaurasse em Atenas.
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O PERÍODO CLÁSSICO: A CONSOLIDAÇÃO DA POLÍTICA
O Período Clássico teve seu início entre os séculos VI a.C. e V a.C. e é conside-
rado o período de maior florescimento político e cultural da Hélade, haja vista
o momento da consolidação da pólis, que
não era um local, embora ocupasse um território definido, eram as pes-
soas atuando concertadamente e que, portanto, tinham de reunir-se e
tratar de problemas face a face. Era uma condição necessária, embora
não única, de autogoverno (FINLEY, 1963, p. 49).
Caro(a) aluno(a), você deve ter percebido que as cidades-estados não surgiram
sem precedentes no Período Clássico, visto que já no século VII a.C., no perí-
odo Arcaico, as cidades já estavam bem estabelecidas. Todavia, a consolidação
da pólis proposta nesse momento se baseia na maior clareza de fragmentação
entre as cidades e nas definições políticas mais estruturadas.
Neste momento, cada grego tinha consciência de ser grego, mas, acima de
tudo, desfrutava do sentimento de pertencimento local, como podemos obser-
var nas palavras a seguir:
Em suma, os Gregos não só se consideravam como Gregos (Helenos),
em contraposição aos bárbaros, mas também e em primeiro lugar,
como membros de grupos e subgrupos no interior da Hélade. Um ci-
dadão de Tebas era um tebano e um Beócio bem como um grego, e
cada termo tinha um significado emocional próprio apoiado por mitos
específicos (FINLEY, 1963, p. 31).
Esse sentimento de pertença dos indivíduos para cada região era demarcado pela
diferença cultural de cada lugar, bem como pela crescente rivalidade entre as
diferentes cidades, sendo o antagonismo mais conhecido entre Esparta e Atenas.
ESPARTA
Esparta, também conhecida como Lacedomônia, foi fundada por volta do século
IX a.C. pelos dórios. Localizava-se na Lacônia, na região do Peloponeso e seu
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espartano e rico), perieco (indivíduo livre, mas não era cidadão. Geralmente,
trabalhava com o comércio), hilotas (escravos e trabalhadores da terra) e espar-
tanos (cidadãos empobrecidos).
Devido à concentração de terras e de produção nas mãos de poucos indi-
víduos, esse período marcou o declínio populacional de Esparta, pois muitos
homens morriam em guerra e os que permaneciam sucumbiam com a fome.
Em relação ao contato com outras cidades-estados, a princípio, Esparta seguiu
uma política de conquistas das cidades vizinhas no Peloponeso. Posteriormente,
passou a interagir com essas cidades por alianças políticas e militares. O fortale-
cimento espartano gerou grande rivalidade contra Atenas, que também expandia
suas alianças na Ática, ocasionando a Guerra do Peloponeso.
ATENAS
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Psístrato (?-527 a.C.), saiu vitoriosa:
Assim, Psístrato inscrever-se-ia no esquema tradicional do tirano de-
magogo, da época arcaica, que para tomar o poder, sublevava contra a
aristocracia as massas camponesas empobrecidas que dele esperavam
algumas vantagens materiais (MOSSE, 1987, p. 17).
Com base nos dados apresentados até então, você considera a democracia um
modelo de governo realmente popular?
PAN-HELENISMO
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um teatro natural, próximo a um des-
penhadeiro abismal. Era comum todos
os helenos, independentemente de suas
cidades de origem, dirigirem-se a Delfos
para se consultarem com o oráculo ou
para fazer preces ao deus Apolo.
Outro ponto comum a todos os Figura 6 – O Templo de Delfos
DOMÍNIO MACEDÔNICO
Domínio Macedônico
112 UNIDADE III
Mosaico antigo de Alexandre, o Grande. O mosaico fica na Casa do Fauno, Pompéia, Itália.
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Esparta diferia de outras cidades-estados em relação ao papel da mulher.
As esposas espartanas não eram simples donas-de-casa, mas recebiam trei-
namento físico, eram ativas na política e, em casos extremos, poderiam ir ao
campo de batalha defender sua cidade.
Fonte: adaptado de Harvey (1986).
Por conseguinte, Atenas sempre foi uma cidade cobiçada pelos reis macedônios.
De acordo com Mosse (1987), desde a Guerra do Peloponeso, os macedônios ini-
ciaram sua política de infiltração na Grécia. Inicialmente, o reino macedônico
era aliado das cidades gregas, mas quando a Grécia entrou em conflito interno,
a Macedônia ofereceu apoio às cidades helenas menos favorecidas e as incorpo-
rava, a fim de alcançar e cercar territorialmente as principais cidades.
Filipe, da Macedônia, almejava enfraquecer Atenas internamente, mas encon-
trou resistência personificada na figura do orador e advogado Demóstenes (384
a.C.-322 a.C.), que incentivava Atenas a formar uma aliança militar com as cida-
des que continuaram independentes, para expulsar a ameaça macedônica. No
ano 338 a.C., mais territórios foram conquistados e Atenas tentou fechar suas
muralhas e armar seus escravos para a defesa.
Filipe não conseguiu submeter Atenas e nem uma parte considerável da
Hélade, pois faleceu no ano 336 a.C. Quem conseguiu o feito foi o seu filho e
herdeiro do trono Alexandre, o Grande, no ano 322 a.C.
OS SERVOS
Domínio Macedônico
114 UNIDADE III
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lhos artesanais – que demandavam especialização da mão de obra –, que poderiam
render-lhe melhores condições de vida. Havia também os escravos domésticos, que se
tornavam de confiança de seus senhores e poderiam ser considerados parte das famílias.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caro(a) aluno(a), chegamos ao fim da terceira unidade. Espero que você tenha
apreciado o estudo sobre a história de uma das civilizações mais conhecidas da
Antiguidade Ocidental, e almejo que você tenha adquirido novos conhecimen-
tos sobre a Grécia e suas organizações política, social, econômica e cultural.
Nesta unidade, a explicação tomou como guia duas cidades helenas – Atenas
e Esparta –, tradicionalmente vistas como rivais. No entanto, vimos que a Hélade
foi espaço de diversas cidades e contato com outros povos. Nossa discussão se
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
116
PORQUE
Demagogos atenienses
A democracia ateniense funcionava baseada na decisão das assembleias e a maioria de seus
membros eram provenientes da demos. Geralmente estas eram poderosas, visto que de-
tinham o poder de escolha e veto, ao mesmo tempo em que aconteciam com frequência.
As assembleias eram heterogêneas, no sentido em que havia homens enriquecidos, que
não faziam parte da aristocracia, e camponeses trabalhadores (os membros mais ricos
e proprietários de terra ocupavam as magistraturas mais respeitadas, ou compunham o
corpo de juízes). Não sabemos qual era o critério para a escolha dos homens que inte-
gravam as assembleias, mas os indícios levam a crer que os mais velhos eram prioritários
a compor os grupos.
As assembleias nunca se repetiam, isto é, havia uma espécie de rodízio dos homens que as
compunham, sobretudo nos períodos de instabilidade; isso significa que alguns ou todos
os membros eram trocados de reunião para reunião. Em tempos de paz, os citadinos eram
os mais comuns a compô-las; em tempos conflituosos, os rústicos se protegiam dentro das
muralhas das cidades e participavam mais ativamente das discussões políticas.
Estas reuniões de cidadãos poderiam manter ou alterar a decisão das reuniões anterio-
res, por exemplo, um mesmo assunto poderia ser debatido três vezes na semana e po-
deria obter três resultados diferentes, perdurando a decisão da assembleia mais recente.
Os pensadores gregos antigos, como Platão e Aristóteles, eram contrários a esse modelo
de governo. Estes filósofos acreditavam que a política deveria ser conduzida pelos mais
abastados, pois estes teriam tempo para a dedicação da política e o treinamento refle-
xivo para deliberar sobre os encaminhamentos das cidades. Os mais pobres eram vistos
como irracionais e levados pela emoção, ou seja, não eram os melhores membros para
compor uma assembleia política importante.
Como explicado anteriormente, a democracia não seguia o ideal platônico ou aristotélico,
pois os populares eram decisivos para os encaminhamentos citadinos. A fim de convencer
essa população, os indivíduos desejosos a assumir os papéis de líderes políticos deveriam
119
ser bons oradores ou ter quem falasse em seus nomes. Estes oradores se apoiavam na
ignorância e na emoção da população, convencendo-a a decidirem a seu favor.
Essas figuras ficaram conhecidas como “demagogos”, a princípio sem sentido pejorativo,
pois “o vocabulário grego era normalmente vago e impreciso, a parte dos títulos formais
para obras individuais ou institucionais” (FINLEY, 1981, p. 14, tradução da autora). O ter-
mo não aparece recorrentemente na literatura grega, mas seu sentido é vivo na menta-
lidade dos indivíduos, conforme apresentado na seguinte passagem:
[...] não há termo mais familiar no panorama ateniense do que o dema-
gogo, e sua sequela: o bajulador, apesar da raridade da palavra. O dema-
gogo é uma figura pejorativa: “conduzir o povo” é conduzi-lo mal (em de-
finitivo, conduzi-lo mal por trás do fracasso no empenho de conduzi-lo
adequadamente). O demagogo se deixa levar pelos próprios interesses,
pelo desejo de possuir o poder e através do poder, enriquecer (FINLEY,
1981, p. 13, tradução da autora).
O demagogo atuava na demos, suas palavras incitavam os populares empobrecidos pe-
los sentimentos e pelas ofertas que, geralmente, não eram possíveis de cumprir. Estes
oradores só existiram devido à democracia, que só funcionou pela atuação dos dema-
gogos, pois dominavam a “arte de falar bem” e não só dissimulavam, como também
deveriam convencer os indivíduos a tomarem boas decisões; o uso da palavra para sa-
tisfazer os próprios desejos não era a regra.
Nem sempre vistos de forma negativa, os oradores foram comuns em quase todos os
períodos políticos atenienses. No entanto, quando a democracia se estruturou, a mani-
pulação de interesses pela palavra se tornou negativa e a figura demagógica se tornou
algo pouco desejável.
Até a atualidade, quando pensamos em políticos que tentam ludibriar os votantes pela
palavra, pejorativamente atribuímos a ele o título de “demagogo”, sem compreender
que o sentido original do título não era completamente ruim.
Fonte: adaptado de Finley (1981).
MATERIAL COMPLEMENTAR
300
Ano: 2007
Sinopse: Grécia, 480 a.C., na Batalha de Termópilas, no contexto das
Guerras Médicas, o rei Leônidas e seus 300 guerreiros de Esparta lutam
bravamente contra o numeroso exército do rei persa Xerxes. Após três dias
de muita luta, todos os espartanos são mortos. O sacrifício e a dedicação
destes homens uniram a Grécia no combate contra o inimigo persa.
A Areté é uma ONG que tem por missão fomentar a cultura helênica no Brasil. Promove palestras,
cursos e grupos de estudos sobre diferentes temáticas relacionadas à Grécia antiga e atual.
Web: http://www.arete.org.br/.
121
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS ON-LINE
¹ Em: https://en.wikipedia.org/wiki/Ancient_Greece#/media/File:Map_of_Archaic_
Greece_(English).jpg. Acesso em: 21 maio 2019.
² Em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Licurgo_de_Esparta#/media/File:Lycurgus.jpg.
Acesso em: 22 maio 2019.
³ Em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Menelau#/media/File:Brogi,_Giacomo_(1822-
1881)_-_n._4140_-_Roma_-_Vaticano_-_Menelao_-_Busto_in_marmo.jpg. Acesso
em 22 maio 2019.
GABARITO
1. Alternativa B.
2. Alternativa C.
3. Alternativa B.
4. O pan-helenismo é traduzido como os momentos específicos de unificação da
Hélade. Essa união não significa que todos se submetiam aos mesmos governos,
mas se constituía de interesses em comum ou de encontros geográficos dos su-
jeitos habitantes da Hélade. Alguns dos elementos considerados pan-helênicos,
além da língua, da religião e dos costumes em comum, podemos mencionar o
oráculo de Delfos, a cidade de Olímpia – que promovia diversos jogos (jogos
olímpicos para Zeus, jogos Pítios, jogos Istímicos, Nemeus e o oráculo de Don-
dona) –, as Guerras Médicas e a Guerra do Peloponeso.
5. Alternativa E.
Professora Me. Adriele Andrade Ceola
O MUNDO ROMANO
IV
UNIDADE
ANTIGO
Objetivos de Aprendizagem
■ Discutir como se deu a fundação de Roma nas versões mitológica e
historiográfica;
■ Esclarecer o regime político monárquico;
■ Explicar o funcionamento político e social republicano, os conflitos
internos e externos, até a morte do ditador Júlio César;
■ Apresentar as transformações políticas, sociais e econômicas na
República que resultaram no modelo político imperial e suas duas
fases: Principado e Dominato.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Fundação de Roma;
■ Os tempos da realeza;
■ O Período da República Romana;
■ O Império Romano.
125
INTRODUÇÃO
Introdução
126 UNIDADE IV
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O Coliseu, Roma, Itália.
FUNDAÇÃO DE ROMA
A versão lendária possui quatro fontes históricas principais: Virgílio (70 a.C.-19
a.C.), Tito Lívio (59 a.C.-19 d.C.), Dionísio de Halicarnasso (viveu entre os séculos
I a.C. e I d.C.) e Dião Cássio (155 d.C.-229 d.C.). Os autores apresentam pontos
em comum da criação de Roma, o que nos indica um consenso sobre a versão.
Conforme Grimal (2011), os romanos acreditavam que Eneias – possivel-
mente filho da deusa Vênus –, um dos mais importantes guerreiros troianos que
sobreviveu à Guerra de Troia, juntamente de seus guerreiros e únicos sobrevi-
ventes da guerra, empreendeu diversas viagens até chegar à região do Láscio, na
província itálica, à direita do rio Tibre. Eneias casou-se com Lavínia, filha do
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rei latino local, e ali perpetuou sua descendência, criando o reino de Alba com
a mistura dos sangues troiano e latino.
Durante cerca de 500 ou de 400 anos, o reino de Alba viveu em relativa
paz, até o momento em que houve uma conspiração no interior da família pela
herança do trono, que fez com que muitos varões fossem assassinados e as moças
fossem obrigadas a se tornarem vestais. Reia Sílvia, que era a filha do rei deposto
e sobrinha do rei usurpador, e podia gerar varões herdeiros legítimos da realeza,
foi obrigada a tornar-se uma vestal, mas acabou envolvendo-se com Marte –
deus da guerra – e, desse relacionamento, nasceram os gêmeos Rômulo e Remo.
Na religião romana, as vestais eram as filhas virgens dos reis no período mo-
nárquico, incumbidas da preservação do fogo no templo de Vesta, a lareira
do Estado. Elas preparavam o bolo de sal para várias festas públicas e ti-
nham sob custódia certo número de objetos sagrados.
As vestais, de início, escolhidas nas famílias patrícias, eram quatro, viviam em
uma casa perto do Fórum e recebiam um estipêndio para seu sustento. Se
fossem consideradas culpadas de faltar à castidade, eram enterradas vivas em
uma câmara subterrânea, situada perto da porta da Colina. Após 30 anos de
serviço, elas retornavam à vida privada. Existiram em Alba e em Roma.
Fonte: adaptado de Harvey (1986).
Fundação de Roma
128 UNIDADE IV
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Figura 1 – Estátua de bronze da Loba Capitolina e os gêmeos Rômulo e Remo – Museu do Capitólio, Itália
Depois de adultos, Rômulo e Remo se dirigiram até Alba e assassinaram o rei cul-
pado por tê-los separado de sua mãe. O reino de Alba desapareceu das fontes de
informações, mas é possível que tenha persistido fragilizado pela crise política. Não
há fontes de informação que atestem que os gêmeos tenham governado a cidade.
Rômulo e Remo decidiram fundar a própria cidade, na região do Láscio, no
alto do Palatino, na planície do rio Tibre, no ano 753 a.C., de acordo com Catão,
o velho (234 a.C.-149 a.C). O local era desértico e pantanoso, isto é, precisou ser
drenado e trabalhado para atrair indivíduos para a região, além dos albaneses
que os seguiram após a morte do rei de Alba. Ademais, uma fronteira sagrada,
conhecida como pomerium, foi estabelecida em torno da cidade.
Remo tinha o desejo de criar a cidade no monte Aventino e não no Palatino,
onde foram encontrados por Fáustulo. Para Rômulo, essa atitude era vista como
desrespeitosa para com as fronteiras sagradas, então recorreram aos auspícios
Essa é a versão lendária e oficial para os romanos sobre a criação de Roma. A versão
historiográfica é menos fantástica, porém mais cientificamente aceitável. De acordo
com Corassin (2001), Roma se localizava em um local estratégico: foi constituída às
margens do rio Tibre, seu litoral era banhado pelo Mar Mediterrâneo, à leste, havia
acesso ao canal para o Mar Negro, ao norte, seus vizinhos eram os etruscos, outros
vizinhos territoriais eram os sabinos e os sicilianos – de cidades expressivas economica-
mente. Em resumo, um local cosmopolita e possuidor de rotas comerciais importantes.
Pereira (1984) afirma que Roma teve origem modesta, em uma região de
colina e de pântanos; local distante o suficiente do mar para não sofrer ataques de
piratas e de saqueadores, bem como protegido por suas colinas e próximo a um
rio. A população que deu origem a Roma foi um entrelaçado de povos latinos,
gregos, asiáticos e africanos, que se misturaram e renderam uma cultura única.
A seguir é possível visualizar um mapa aproximado da constituição das cidades:
Fundação de Roma
130 UNIDADE IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
OS TEMPOS DA REALEZA
Os Tempos da Realeza
132 UNIDADE IV
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O rei foi a figura central do período da Monarquia, seu poder era considerado
o reflexo do poder do mais importante deus do panteão romano: Júpiter (Zeus,
na mitologia grega). Dialogando com a colocação de Grimal (2011), Corassin
(2001) assevera que o rei detinha os poderes militar e religioso, bem como usava
a toga de cor púrpura, coroa de louro, cetro, litores e trono de marfim, tudo para
assemelhar-se a Júpiter – o rei dos deuses.
Como já mencionado anteriormente, Rômulo, o fundador da cidade, foi
o primeiro monarca. Suas principais medidas foram para a consolidação e a
estruturação de Roma. De acordo com Grimal (2011), os primeiros moradores
romanos eram pastores e camponeses empobrecidos. Para conseguir mais cida-
dãos para a cidade, o primeiro rei prometeu asilo aos criminosos e aos fugitivos;
como consequência, aventureiros de toda a parte se dirigiram a Roma, sendo eles
criminosos ou homens esperançosos de conseguirem terras para sair da misé-
ria. Em poucos anos, Roma havia crescido e a planície do rio Tibre não era mais
suficiente, como podemos averiguar na colocação a seguir:
O vilarejo do Palatino logo se revelou insuficiente. As colinas vizinhas, o
Quirinal, o Viminal, o Esquilino e o Aventino, foram desbravadas; houve
um esforço para secar os vales pantanosos e, em alguns anos, Roma já era
uma cidade apresentável, que comportava vários bairros, uma praça, o
Fórum, onde se reuniam os cidadãos e, sobretudo, uma arena vastíssima,
onde eram realizadas as corridas de biga (GRIMAL, 2011, p. 23).
findou com a interseção das sabinas desposadas, implorando para que genros e
sogros não se matassem, visto que, caso isso ocorresse, ficariam desamparadas. O
resultado do acontecimento foi a unificação de Sabina e Roma em uma só cidade.
No campo político, Rômulo não governou sozinho, visto que seus poderes
eram mais concentrados na religião e nas forças bélicas. Corassin (2001) escreve
que havia estrutura aristocrática de auxílio ao rei, isto é, um conselho de anci-
ãos (patres familias), com amplos poderes políticos, inclusive de escolher os reis
– esse conselho poderoso ficou conhecido como Senado. Havia divisão social
baseada em tribos, conhecidas como cúrias, compostas por cidadãos romanos,
com direito a participar da política e recrutados para o exército.
Rômulo desapareceu misteriosamente e o Senado escolheu Numa, um homem
em idade avançada e pacífico. De acordo com Grimal (2011), os romanos esta-
vam esgotados do temperamento guerreiro do primeiro rei e desejavam mais
passividade e organização interna. O segundo rei se baseava na religião para o
governo, inclusive é lembrado por conversar com as Musas. Ele foi responsá-
vel por estruturar o modelo político romano, criar leis e definir a religiosidade
romana, em suma, foi considerado um sábio.
O próximo rei romano foi Túlio Ostílio, que tinha como seus antecedentes
os latinos e os sabinos, o que fazia dele romano. Tal qual Rômulo, ele foi um rei
guerreiro, desejoso por expandir o poderio e os territórios romanos. Uma de
suas ações mais lembradas foi a guerra contra Alba, a cidade havia se recons-
truído e era considerada a capital do Láscio. Como resultado do conflito, Roma
e a Etrúria passaram a ser as cidades mais importantes da região.
Os Tempos da Realeza
134 UNIDADE IV
O sucessor de Túlio Ostílio foi Anco Márcio, meio etrusco e meio grego, que
manteve Roma estável, sem muitas alterações comparadas ao governo do último
rei. Harvey (1986) afirma que, durante seu governo, realizou pequenos anexos
territoriais, por exemplo, incorporou a região da Óstia (cidade mais próxima do
litoral oeste) ao domínio romano.
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Figura 3 – Sítio Arqueológico da antiga cidade de Óstia, próximo a Roma
Após a morte do quarto soberano de Roma, a cidade passou a estar sob o domí-
nio etrusco. Devido à antiguidade da civilização etrusca, não sabemos ao certo sua
origem, apenas que foi estabelecida no Láscio, na atual região da Toscana. As infor-
mações que possuímos é que foi uma cidade forte militarmente, que dominou uma
região considerável da Península Itálica e do norte da África. Apesar do aspecto
bélico, Grimal (2011) assevera que foi como culto aos mortos bem desenvolvido.
O quinto rei de Roma foi Lúcio Tarquínio, também nominado como Tarquínio
Prisco, um etrusco, sem antecedentes romanos. O monarca priorizava o incentivo
o ex-escravo foi aclamado e acolhido como o novo soberano. Seus feitos são marca-
dos pelo investimento na defesa da cidade e, além disso, reorganizou as cúrias em
número de cinco, de acordo com a fortuna, haja vista que eram organizadas por
região. Essa nova divisão social determinava a tributação e a posição no exército.
Sérvio foi substituído por Tarquínio, o Soberbo, de origem etrusca. Este
soberano não foi descrito como bom governante, tendo em vista seu orgulho
exacerbado, somado ao desgosto de sua origem estrangeira por parte dos patres.
Não há informações suficientes sobre seu governo, apenas que mantinha aliança
próxima com a Etrúria.
O fim dos tempos da Realeza veio juntamente com a expulsão de Tarquínio.
A narrativa para este fato é literária e provavelmente fantasiosa, haja vista que a
historiografia atribui à sua expulsão parte da dizimação da dominação estran-
geira sobre Roma. A versão lendária comporta a narrativa de que um dos filhos
do rei, cujo nome era Sexto Tarquínio, desonrou a esposa de seu primo em fun-
ção de uma aposta e esta mulher, chamada Lucrécia, por ser respeitável, cometeu
suicídio. De acordo com Corassin (2001), o escândalo foi a público, uma revolta
popular aconteceu e os Tarquínios foram expulsos.
Não sabemos ao certo se a versão da desonra de Lucrécia é verídica, mas se o
episódio realmente aconteceu, serviu como estopim para a expulsão dos etruscos
de Roma, pois o fato é considerado o marco da retomada da liberdade romana.
Os Tempos da Realeza
136 UNIDADE IV
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O PERÍODO DA REPÚBLICA ROMANA
O termo República não era utilizado pelos romanos para denominar o governo
entre 509 a.C a 27 a.C.; o conceito foi simplificado pelos estudos historiográfi-
cos posteriores para fins didáticos de localização temporal, visto que os roma-
nos sempre consideraram qualquer de seus períodos como uma res publica,
pois chamavam os seus modelos políticos de “união dos interesses comuns”.
Fonte: adaptado de Mendes (2006).
De acordo com Salcedo (2010), a República Romana pode ter vivenciado três eta-
pas: Aristocrática (políticos eram exclusivamente patrícios), Democrática (plebeus
conquistaram alguns cargos e participaram de decisões políticas) e Decadente
(concentração de poderes nas mãos de poucos líderes políticos e militares).
Elucidada as características iniciais do modelo republicano, podemos con-
siderar que, ao expulsarem os etruscos, os romanos romperam os acordos
diplomáticos com quase todas as cidades do Láscio. Tarquínio, o soberbo bus-
cou abrigo na Etrúria e conseguiu alianças militares para reconquistar seu poder.
Grimal (2011) aponta que este conflito parecia ser o fim para Roma, pois eram
menos equipados e em menor número, mas eram mais fortes e corajosos; ape-
sar desse heroísmo apresentado nas fontes, a vitória dos romanos foi alcançada
por questões geográficas, visto que os rivais invadiram o território romano sem
conhecer o espaço.
O início da República sinalizou um período de crise econômica, – sobretudo
sobre os plebeus – com perda de homens nas batalhas e falta de aliança com as
cidades vizinhas. A solução para a recuperação foi a política imperialista, a fim
de conquistar povos, territórios e, consequentemente, riquezas.
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poderes sacerdotais, e excluir os plebeus do poder.
A Lei das Doze Tábuas foi um código do direito romano composto por vol-
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ta de 450 a.C., por cidadãos de Roma para atender aos anseios dos plebeus.
Teve inspiração na legislação grega, sobretudo a de Sólon, porém não alte-
rava profundamente as leis romanas, mas se constituía de forma escrita, o
que já ocorria na sociedade – e simbolizou avanço no campo jurídico.
Fonte: adaptado de Pereira (1984).
No decorrer dos séculos de período republicano, Roma passou por diversos con-
flitos no campo político e por todo o período novas magistraturas foram criadas.
No quadro a seguir é possível visualizar algumas das funções e de suas atribuições:
Quadro 1 – Cargos públicos da República Romana
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A EXPANSÃO IMPERIALISTA REPUBLICANA
A Segunda Guerra Púnica durou de 218 a.C. a 200 a.C.: foi o momento de
atuação de Aníbal, de Cartago. Ele havia gestado uma rivalidade contra Roma
e começou sua fase do conflito tomando muitos territórios que pertenciam aos
romanos. Estes adotaram uma estratégia mais branda, o que significa que fir-
maram alianças diplomáticas com povos vizinhos, e, aos poucos, expulsaram a
força cartaginesa de seus domínios.
A Terceira Guerra Púnica, e última fase do conflito, aconteceu entre 149 a.C.
e 146 a.C., e simbolizou o fim de Cartago. Apesar das derrotas sofridas, a cidade,
descendente dos fenícios, conseguiu manter-se ativa comercialmente, porém
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Isso quer dizer que Roma havia consolidado um corpo militar forte, que, diante
das riquezas encontradas nas conquistas territoriais, não conseguiria estabele-
cer-se nos trabalhos campestres. A República romana estava em marcha para a
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conquista da maior parte do mundo conhecido.
O enriquecimento de Roma estava concretizado no prestígio da aristocracia
descendente dos patrícios, isto é, no poder do Senado, haja vista que os senadores
eram os comandantes das batalhas vitoriosas. A fim de se distinguirem dos demais
homens, no ano 180 a.C. foi criada uma ordem social para os aristocratas, a cha-
mada ordo senatorius (ordem senatorial). Os indivíduos desta ordem se destacavam
pela riqueza, pelas propriedades agrárias, pela política, pelos privilégios recebidos
do Estado e pela distinção pessoal, o que significa que construíram uma identi-
dade própria. Além disso, para a vida pública, foi criado o cursus honorum e os
sujeitos pertencentes à ordem senatorial percorriam a carreira política progressiva-
mente, da qual a última (e mais honrosa) magistratura alcançada era o consulado.
A ordo senatorius se perpetuava hereditariamente, porém não era enrijecida,
visto que era possível os homine novi ascenderem até ela. Era considerado homo
novvs o homem de origem plebeia ou provincial, que detinha riqueza suficiente
para custear a magistratura política e possuía uma educação semelhante à dos
senadores para serem aceitos na categoria. Vale assinalar que um homem que
havia sido escravo, mas que se encontrasse na condição de liberto, jamais entra-
ria para a ordem dos senadores.
Os membros da ordem deveriam deter suas riquezas de fontes seguras e
duradouras, isto é, deveriam deter latifundium, constituído por diversas proprie-
dades privadas geradoras de riqueza. O comércio era inadmissível, pois não era
prática segura e tinha influência ou origem estrangeira.
O comércio e a exploração de minas, apesar de não serem atividades bem-
-vistas, não eram negadas pelos romanos, e os homens enriquecidos que as
Roma havia consolidado uma oligarquia política fechada, que atendia com exce-
lência às demandas internas da cidade. Todavia, esse grupo político não atendia
às exigências do império que se formou.
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Os pequenos e médios proprietários foram afetados pela política voltada aos
mais abastados e se encontravam cada vez mais empobrecidos. Diante de todos
os problemas, o cenário romano possibilitou a abertura de destaques pessoais
de alguns indivíduos.
O primeiro sujeito a conseguir destaque individual como líder político foi
Gaio Mário (157 a.C.-86 a.C.). Conforme Harvey (1986), este general abriu o
caminho para os prestígios pessoais dos militares, visto que, quando assumiu
o consulado, ele profissionalizou o exército, isto é, instituiu que os soldados
deveriam ser voluntários, independente das ordens sociais a que pertenciam, e
receberiam donativos em troca dos serviços prestados.
As medidas de Mário levaram Roma à primeira guerra civil, pois os volun-
tários itálicos que serviam nos exércitos em defesa da nação empreenderam
disputas requerendo a cidadania romana, enquanto os cidadãos romanos con-
tinuavam considerando-os estrangeiros e resistiam à concessão de cidadania.
Corassin (2001) assevera que a guerra social se intensificou com a disputa pelo
consulado entre Mário – apoiado pelos populares – e Sula (138 a.C.-78 a.C.) –
que recebeu o apoio dos aristocratas cidadãos de Roma.
Mário foi acusado de praticar a tirania, visto que suas medidas políticas eram
muito populares e foram interpretadas como atitudes para potencializar seus
poderes pessoais. Da disputa pelo consulado, Sula saiu vitorioso. Ele alcançou o
poder, mas agiu de forma contrária ao que os aristocratas defendiam: assumiu
o cargo extraordinário de ditador e concedeu a si mesmo poderes ilimitados.
Esse foi um momento de grande instabilidade interna em Roma, como
Corassin (2001, p. 59) evidência:
Roma parecia estar prestes a perder sua libertas. A situação de crise e de dis-
putas internas parecia estar generalizada, tanto na capital romana quanto nos
territórios anexados.
A segunda fase da guerra civil chegou após a morte de Sula. Neste momento,
três generais de origens senatoriais firmaram secretamente acordos políticos e
militares contra o Senado em exercício – aliança que ficou conhecida como triun-
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virato. Os três generais participantes foram: Pompeu (106 a.C.-48 a.C.), Júlio
César (100 a.C.-44 a.C.) e Crasso (114 a.C.-53 a.C.).
Cada um desses militares foi enviado para uma região em que os confli-
tos estavam intensos. Corassin (2001) aponta que Crasso foi direcionado para
os territórios orientais, mas morreu em combate; Pompeu ficou em Roma e se
aproximou do Senado; Júlio César foi para a Gália e se distanciou do Senado.
Em Roma, Pompeu aumentava seus prestígios político e pessoal, e conse-
guiu chegar ao consulado. Tal atitude foi interpretada por César como traição
ao triunvirato. A oposição entre os dois homens simbolizou o início do segundo
estágio da guerra civil em Roma. No ano 49 a.C., César decidiu cruzar o rio
Rubicão para perseguir Pompeu – foi nesse momento que as fontes atribuíram
a ele a famosa frase: alea iacta est (a sorte está lançada/os dados estão lançados).
Pompeu perdeu o conflito e em 48 a.C. foi para o Egito, onde foi assassinado ou
morto em combate.
César ficou em Roma e aumentou seus poderes pessoais, mas continuou a
ser opositor ao corpo senatorial. No ano 45 a.C., ele foi aclamado imperator e
assumiu o cargo excepcional de ditador, ficando acima dos senadores. Em fun-
ção de sua posição, passou a reunir poderes para si pela autocracia e, em 44 a.C.,
aclamou-se ditador vitalício.
Atuando como ditador, reformou o Senado e diminuiu as funções desta ins-
tituição, aprovou medidas que beneficiavam a plebe e adotou o caráter sagrado
para seu posto. Frente a essas atitudes, o Senado o acusou de aspirações à rea-
leza, planejando, assim, uma conspiração. César foi assassinado pelas mãos dos
senadores em uma assembleia senatorial.
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fase de guerra civil foi desencadeada.
No cenário político, Roma se dividiu em duas
facções: os mais conservadores, que diziam defen-
der a libertas republicana, tinham como líderes
Marco Túlio Cícero (106 a.C.-43 a.C.) e Pompeu
(135 a.C.-87 a.C.) – pai de Pompeu que participou
do primeiro triunvirato –, e a ala dos partidários
Figura 4 – Estátua em bronze de Júlio César,
de César, encabeçada por Marco Antônio (83 Fórum Romano, Roma-Itália, 46 a.C.
a.C.-31 a.C.) e Otávio (63 a.C.-14 d.C.).
Otávio e Marco Antônio se juntaram a Lépido (90 a.C.-13 a.C.), e formaram o
segundo triunvirato. Mais uma vez, cada general foi direcionado a um local para as
batalhas e Otávio – filho adotivo de Júlio César – ficou na região de Roma. Lépido
é a figura menos comentada desse período e, no ano 36 a.C., Otávio conseguiu
enfraquecê-lo politicamente e tirá-lo da disputa pela liderança de Roma. Marco
Antônio havia se dirigido ao Egito, envolvendo-se romanticamente com Cleópatra
VII (69 a.C.-31 a.C.), mas este e Otávio passaram a disputar a liderança de Roma.
O confronto marítimo final ficou conhecido como Batalha do Ácio (31 a.C.).
Otávio era considerado o divi filivs por ser herdeiro de César, além disso, conse-
guiu aumentar seu apoio ao acusar Marco Antônio de “orientalismo”, isto é, de
entregar Roma a uma rainha estrangeira.
Marco Antônio e Cleópatra estavam, visivelmente, diante de uma derrota,
dessa forma, suicidaram-se simbolizando a vitória de Otávio. Isso significou que
o caminho para o Principado estava aberto e o filho adotivo de César era o vito-
rioso para o governo.
O IMPÉRIO ROMANO
O Império Romano
148 UNIDADE IV
vista que sinalizou o fim das guerras civis. Além disso, os senadores e os magistra-
dos não perderam seus poderes políticos, contudo, suas autoridades foram limitadas.
Nesse sentido, uma das melhores definições para esse período é: império dos cidadãos.
O PRINCIPADO
O Principado é visto, tradicionalmente, como o período entre 27 a.C. até 268 d.C.,
embora seu início e seu fim sejam bem variáveis. O fato é que Júlio César lançou
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as bases para a instauração do Principado, instituído por seu herdeiro, Otávio.
Otávio foi mais astuto do que Júlio César e não se autoproclamou ditador
ou rei, pelo contrário, quando saiu vitorioso da Batalha do Ácio, alegou que seu
dever como político estava cumprido e renunciou todos os cargos. Diante dessa
atitude, o Senado lhe concedeu poderes excepcionais: reafirmou o título de impe-
rator e o reconheceu como partidário da liberdade republicana, intitulando-o
Augustus. Nesse sentido, Otávio passou a deter os títulos honrosos de Imperator
Caesar Augustus, além de ser considerado um princeps.
Desse modo, o Principado continuava com as roupagens republicanas, como
podemos observar na passagem a seguir:
No ano de 27 a.C., ao ser aclamado pelo Senado o condutor de Roma,
Otávio não poderia fazer suas reformas a ponto de consolidar um re-
gime efetivamente monárquico, visto que o Senado e os magistrados
ainda eram muito presentes nas decisões políticas e bélicas do império
romano (CEOLA, 2017, p. 87).
Apesar da escolha pessoal de cada imperador para seu sucessor, nem todas as indi-
cações eram aceitas. De acordo com Ceola (2017), para que um condutor de Roma
fosse aceito, deveria deter a aprovação do Senado, dos magistrados, das forças mili-
tares e dos deuses. Caso os imperadores retirassem a autoridade dos magistrados
e dos senadores, poderiam ser acusados de tirania e serem depostos. Da mesma
maneira, eles deveriam ser bons militares, pois o imperador era o comandante de
todas as tropas, e, por fim, era o sacerdote máximo no culto imperial aos deuses.
Além de todas as aceitações, a nominação de princeps era derivada das ati-
tudes do imperador, isto é, ele deveria ser o primeiro cidadão, o que significa
colocar os interesses da república romana acima de seus desejos individuais,
fazendo dele um cidadão excelente. A fim de alcançar essa superioridade pes-
soal para exercer bem suas funções, o governante poderia apoiar-se nas ideias de
O Império Romano
150 UNIDADE IV
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Entre, aproximadamente, 332 a.C. até 30 a.C., o mundo passou por um proces-
so conhecido como helenização, um fenômeno de difusão da cultura grega
pelo mundo, principalmente no campo da ciência, da educação e da filosofia.
Roma não ficou de fora desse processo e sofreu forte influência da cultura
grega na formação de suas próprias características. Tal fato pode ser atestado
nas filosofias em evidência em Roma (Estoicismo e Epicurismo), de origem
grega, nas produções artísticas (esculturas, mosaicos, literaturas e concepção
de mundo) e na língua – o grego foi o idioma mais falado no Império Romano.
Fonte: adaptado de Polesi (2014)
O Império Romano
152 UNIDADE IV
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Figura 6 – Extensão Máxima De Roma
O DOMINATO
O excerto se refere aos anos 235 d.C. e 284 d.C., momento em que Roma passou
pelo período conhecido como “anarquia civil e militar”, pois não havia liderança
bem estabelecida – cerca de 25 imperadores passaram pelo poder – e várias guer-
ras civis e confrontos com os bárbaros na fronteira tomaram conta dos territórios
romanos. Após esse período de quase cinquenta anos, Diocleciano (244-311 d.C.)
assumiu um Império Romano profundamente transformado.
Caro(a) aluno(a), aqui chamo a sua atenção para que compreenda essas
transformações na sociedade romana como tentativas de manter e de recupe-
rar o Império, e não como um período de decadência e de perda da essência do
significado do “ser romano”.
O Império Romano
154 UNIDADE IV
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No ano 305 d.C., Diocleciano abdicou de seu cargo como imperador, e foi
viver o restante de sua vida como cidadão comum. Sem Diocleciano, a Tetrarquia
não sobreviveu. Constantino (272-337 d.C.) foi o sucessor de que, a princípio,
governou com Licino (250-325 d.C.), mas logo assumiu o cargo sozinho.
Um dos feitos mais conhecidos de Constantino foi sua adesão ao cristianismo
e o decreto ao fim da perseguição aos cristãos. Este imperador aprovou algumas
reformas, por exemplo, a capital do império passou a ser Constantinopla – região
mais próxima das fronteiras – e aceitou soldados mercenários ao corpo legionário.
De acordo com Alföldy (1989), a organização da sociedade também se alte-
rou. A ordem senatorial tinha perdido a essência da ideologia, de os senadores
serem os verdadeiros cidadãos de Roma. A partir de Diocleciano, qualquer
homem rico o bastante poderia compor o Senado, o que significa que a maioria
passou a ser de origem provincial. Além disso, essa organização passou a fun-
cionar como uma assembleia de conselheiros do imperador, isto é, não era tão
influente quanto foi no período do Principado. A ordem equestre passou a pos-
suir poucas distinções ideológicas dos senadores e sua maior diferença era o
caráter de cavalaria que havia se fortalecido. Eles passaram a poder ocupar qual-
quer magistratura da vida pública.
A ordem dos decuriões havia quase de dissipado por completo. As cidades
estavam completamente prejudicadas por tensões internas e pela invasão dos
bárbaros. Isso significa que investir nas cidades não gerava retorno e era muito
custoso. Todos os indivíduos de posse se recusavam a investir nesses espaços.
Os cidadãos menos abastados também passaram a sofrer com as consequ-
ências das transformações na sociedade. A maioria da população romana era
agricultora e, com a falta de investimento das cidades, a plebe urbana passou a
procurar sustento nas terras e abandonou a insegurança das cidades. De acordo
com Jones (1971), esse movimento da plebe para a terra ajudou a impulsio-
nar o surgimento do colonato, que se constituía em homens livres arrendarem
uma parte da propriedade de grandes latifundiários ou de médios proprietá-
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O Império Romano
156 UNIDADE IV
O Cristianismo
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A comunidade cristã viu-se muito cedo em sua história forçada a perguntar-
-se o que era ela afinal.
(Robert A. Markus)
Afinal, o que significava ser cristão no Império Romano? Por que o cristianismo
foi perseguido no Império? As respostas para estas perguntas não são simples
nem imediatas.
De acordo com Markus (1997), o debate sobre uma identidade cristã não
é conclusivo, assim como não sabemos se os primeiros cristãos se converteram
ou aderiram ao cristianismo, visto que a conversão é mais profunda e alterava
todos os sentidos da vida humana, enquanto que a adesão é uma aceitação, sem
modificações marcantes na vida dos sujeitos.
Os primeiros cristãos do Império eram romanos, continuavam a vestir-se
iguais aos demais, comiam e bebiam dos mesmos alimentos, ou seja, não havia
distinções aparentes. O que era essencial para o cristianismo e o que era mun-
dano não era uma tarefa fácil de distinguir.
No entanto, eles passaram a preocupar-se com a alma e negaram o culto aos
deuses romanos e, consequentemente, ao culto imperial. Negar o culto imperial
era similar a negar Roma, nenhuma outra religião dos povos conquistados pelos
romanos havia proibido essa religião.
Diante disso, Ste Croix (1974) assevera que a negação foi uma das grandes
motivações para a perseguição dos cristãos, mas, como o cristianismo era visto
inicialmente como uma “superstição” (os romanos não sabiam ao certo como
funcionavam seus ritos) e categorizado como “má religião”, muitos foram perse-
guidos simplesmente por serem cristãos. Na maior parte do tempo, os convertidos
viveram em paz integrados à sociedade; muitas das perseguições eram localiza-
das e fora da cidade de Roma. O que conhecemos atualmente são três grandes
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O Império Romano
158 UNIDADE IV
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caro(a) aluno(a), chegamos ao final da quarta unidade. Espero que você tenha
compreendido os acontecimentos de Roma em seus contextos e sem preconcei-
tos, bem como tenha percebido os traços dessa cultura que se perpetuou pelo
tempo, e que muitas vezes é vista como o berço do mundo ocidental.
Você pôde conhecer como ocorreu a formação da cidade de Roma, seus
antecedentes e as versões sobre sua fundação, observando a localização e a geo-
grafia da região. Em seguida, estudamos sobre a realeza romana, como o governo
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monárquico funcionava e como a sociedade se organizava.
Em seguida, discutimos a respeito do modelo República, sobre o funciona-
mento político da cidade, os principais conflitos internos e externos, a política
expansionista e, por fim, os eventos que levaram à formação e à consolidação
do Império.
Também vimos sobre as organizações do Império Romano e você pôde com-
preender como a historiografia atual divide o período imperial: Principado – o
início do Império, cujo governante era visto como o princeps – e Dominato – a
segunda metade do modelo imperial, que demonstrou as maiores transforma-
ções nas estruturas romanas, preponderantes na Idade Média Ocidental. Sobre
este período, foi discutida a organização da sociedade e os funcionamentos polí-
tico, cultural e econômico. Estudamos, ainda, os eventos decorridos em Roma,
que transformaram expressivamente as estruturas da civilização e expusemos
brevemente o que era ser cristão naquele período.
Roma
Ano: 2005
Sinopse: contando com 22 episódios, a série se inicia em 52 a.C., quando
o general romano Júlio César derrota seu inimigo Vercingetórix na batalha
de Alésia. Seu êxito desequilibra a batalha pelo poder contra o cônsul de
Roma, Pompeu, que representa a luta entre o povo que apoia César e os
patrícios, que apoiam Pompeu. A série trata dessa luta de poderes, na qual
César, triunfante, tenta transformar a República Romana em um Império.
Este objetivo, entretanto, somente será atingido por seu sobrinho-neto,
Otávio Augusto, no ano 27 a.C. Para ambientar esta troca histórica, a série
se baseia não apenas nos líderes desse período, como César, Pompeu e
Otávio, mas também nas vidas dos legionários Lúcio Voreno e Tito Pulo,
personagens mencionados no livro V dos Comentários sobre a Guerra das
Gálias, que se trata de um drama fictício baseado nos fatos históricos
relevantes do período.
Material Complementar
164
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS ON-LINE
¹ Em: https://en.wikipedia.org/wiki/Latin_War#/media/File:Italy_IV_century_BC_-_
Latina.svg. Acesso em: 23 maio. 2019.
165
GABARITO
1. Alternativa C.
2. Alternativa D.
3. Alternativa E.
4. Alternativa A.
5. Alternativa B.
Professora Me. Adriele Andrade Ceola
V
HISTÓRIA ANTIGA: A PRÁTICA
UNIDADE
DO OFÍCIO DO HISTORIADOR
DA ANTIGUIDADE
Objetivos de Aprendizagem
■ Apresentar as características específicas do trabalho do historiador
classicista;
■ Explicar os passos de um historiador classicista para a análise de
documentos;
■ Fornecer trechos de documentos das civilizações trabalhadas no
decorrer do livro.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ As especificidades do trabalho da História Antiga;
■ Pontos a serem considerados na análise de um documento;
■ Documentos de referência: Oriente Próximo Antigo, Egito Antigo,
Grécia Antiga e Roma Antiga.
169
INTRODUÇÃO
Antigo, Grécia Antiga e Roma Antiga. Para esta unidade, você deverá munir-se
dos conhecimentos adquiridos nas unidades anteriores para compreender com
maior êxito a instrumentalização do ofício do classicista.
No cenário brasileiro, os estudos referentes à Antiguidade têm crescido
expressivamente e, junto a esse interesse, muitos especialistas têm se preocu-
pado em sistematizar métodos, traduzir fontes e reafirmar os cuidados que se
deve ter ao trabalhar com periodizações separadas da contemporaneidade por
milhares de anos.
A princípio, estudaremos as especificidades do historiador que pesquisa o
período da Antiguidade, evidenciando seus desafios, documentos e cuidados.
Em seguida, serão apresentadas as considerações que devem ser feitas ao realizar
uma análise de documento da Antiguidade, isto é, alguns pontos que auxiliam
no olhar crítico sobre uma fonte. Serão oferecidos trechos de documentos histó-
ricos com breves comentários, que completam as unidades trabalhadas durante
este livro e que, futuramente, poderão servir-lhe de instrumentos de trabalho
para seu exercício de docência, visto que o trato com os documentos históricos
durante as aulas é primordial no ensino de história.
Convido-o(a), então, a conhecer o mundo do historiador classicista, suas
dificuldades e seus desafios.
Bons estudos!
Introdução
170 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
seja, até então você conheceu alguns fatos his-
tóricos sobre estas civilizações. Nesta unidade,
você verá os assuntos metodológicos sobre o
trato das fontes da Antiguidade.
Apresento-lhe as especificações do trabalho
do historiador classicista, isto é, a necessidade
do diálogo com outras disciplinas, a heteroge-
neidade da natureza das fontes e a escassez de
documentos históricos. Demonstro-lhe alguns
dos principais métodos que devem ser utilizados
para tratar uma fonte histórica, a fim de evitar o
anacronismo e extrair o máximo de informações
de um material, além de trechos de documentos
Clio no carro da história. Na antiga Câmara
específicos das civilizações apresentadas. do Senado, no Capitólio dos EUA.
Você já refletiu sobre como o historiador
especialista da Antiguidade alcança suas informações? Certamente, ser histo-
riador classicista é encontrar muitos desafios no ofício, a começar pela distância
temporal em que nossa sociedade se encontra das civilizações da Antiguidade, o
que significa que muitas lacunas estão presentes, muitos materiais se perderam e
muitos documentos históricos não foram produzidos com a intenção de registrar
para o futuro, mas para responder algum anseio de seu momento de produção.
Hartog (2003, p.195) aponta algumas das características que devem ser o
ponto de partida para compreender o trato da história antiga:
Deste excerto, podemos destacar duas características essenciais das fontes para
os estudos da Antiguidade: a raridade e a heterogeneidade. A raridade documen-
tal se relaciona à escassez de documentos históricos, que nos permite conhecer
esse período tão distante de nós e se deve à falta de preservação dos materiais,
assim como à ação do tempo sobre objetos e escritos pouco resistentes. A hete-
rogeneidade se liga à ideia da corrente historiográfica da Nova História, isto
é, estudar a Antiguidade estritamente por fontes escritas é limitar o conheci-
mento acerca do período, o que significa que não podemos desprezar as fontes
imagéticas, literárias, epigráficas, numismáticas entre outras. Diante de tama-
nha diversidade, é necessário questionar as fontes a fim de extrair informações.
A Nova História faz parte da terceira geração da École des Annales, uma corren-
te historiográfica que despontou na década de 70, encabeçada por Jacques
Le Goff e Pierre Nora. Ela carrega consigo todas as características dos Annales,
compreende, portanto, a importância do uso de fontes de diversas naturezas
e do diálogo entre as ciências irmãs e a história. Além disso, a Nova História se
pauta na criticidade do historiador, isto é, o pesquisador não é passivo diante
dos dados, mas deve questionar e interpretar seus significados.
Fonte: a autora.
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não são contínuos e nem dialogam entre si.
Finley (1994) apontou que uma ciência é dependente da outra, isto é, a arqueolo-
gia necessita da história antiga para significar o material encontrado, compreender
o que é, como foi utilizado e qual a sua importância; ao mesmo tempo, a história
antiga necessita da arqueologia para ampliar seu campo documental. Além disso, não
podemos dizer que uma fonte arqueológica é superior a uma fonte escrita, ou vice-
-versa, pois o que determinará a superioridade de uma fonte é o questionamento do
pesquisador. Para explicar essa colocação, tomemos como exemplo a mumificação
realizada no Egito Antigo: se o pesquisador pretende estudar os processos de mumi-
ficação, a múmia será a melhor fonte de estudo. Contudo, se o pesquisador tem a
pretensão de estudar os aspectos ideológicos de uma mumificação, os encantamen-
tos escritos em papiros e nas paredes dos sepulcros são as fontes mais adequadas.
Hartog (2003) afirma que o historiador classicista atua na ausência de fontes, o
que significa que todo material sobrevivente do período é igualmente importante,
independentemente de ser uma fonte arqueológica ou escrita, e que a arqueologia
beneficiou os estudos antigos, pois abriu novas possibilidades de informações. Para
esse profissional, não há distinção entre fontes primárias e secundárias, visto que
todas dizem algo e são relevantes no processo de construção histórica, por exem-
plo: ao descobrir um novo papiro, tanto o material (fonte primária) quanto o seu
escrito (fonte secundária) são primordiais no processo histórico. A importância é
atribuída de acordo com o questionamento que se faz e o objetivo do historiador.
Caro(a) aluno(a), não sugiro que o historiador especialista em Antiguidade
seja melhor do que os demais profissionais da história, nem ao menos que seu
trabalho seja mais árduo comparado ao demais. Afinal, o historiador classicista é,
acima de tudo, um historiador, mas suas preocupações, limites e dificuldades são
distintas. Tomando-as como direção, utilizemos como exemplo o historiador do
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tempo presente, que detém a dificuldade inversa: a abundância de fontes e, den-
tre elas, tem a possibilidade de utilizar as fontes orais – documentos históricos de
natureza nada simples, com diversos desafios –, que podem ocultar e demonstrar
o que seu falante intenciona, e questionar uma fonte oral pode causar indignação
do locutor. No entanto, como um historiador da Antiguidade pode trabalhar com
fontes orais? Infelizmente, a comunicação com os mortos ainda não é possível!
Retomando o tema da escassez de fontes e da heterogeneidade dos materiais
disponíveis, os historiadores especialistas em Antiguidade devem desenvolver a
prática de retomar e de revisar os documentos que já foram exaustivamente tra-
balhados, bem como retomar os trabalhos já escritos referentes a eles. Conforme
Hartog (2003), os demais especialistas da história visualizam essa prática como
“ruminação” e repetição, mas é uma atividade necessária para o classicista.
A escrita historiográfica é um reflexo de seu próprio tempo, já que novos
questionamentos são constantemente realizados e um novo olhar sobre o pas-
sado é lançado. Para elucidar essas questões da repetição e da revisão do passado,
podemos citar o próprio caso do Império Romano. Guarinello (2010) assevera
que durante o período de imperialismos, entre os séculos XIX e XX, os estudos
sobre o Império Romano se pautavam no império como unidade sólida, con-
sistente e com províncias completamente romanizadas. Esse tipo de abordagem
dizia mais dos séculos XIX e XX, e a intencionalidade de imperialismos sólidos,
do que do Império Romano em si. Atualmente, vivemos em um contexto em
que as diferenças são consideradas e este aspecto se reflete em nossas aborda-
gens sobre o Império Romano, ou seja, os estudos atuais envolvem questões de
gênero, de sexualidade e de diferenças territoriais no Império Romano.
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autores da Antiguidade, devemos ter cautela para não depositar confiança em
tudo o que é escrito. Os autores possuíam métodos de escrita: escreviam pau-
tados em fontes confiáveis e priorizavam assuntos políticos, militares e étnicos,
entretanto, não admitiam lacunas e, quando se deparavam com “vazios”, eles os
preenchiam com invenções, suposições e explicações míticas. Ademais, os his-
toriadores escreviam conforme suas realidades, carregados de juízos de valor e
descreviam os fatos conforme suas visões.
Sobre os escritos literários, em muitos estudos historiográficos datados do século
XVI ao século XIX sobre a Antiguidade, encontramos a referência à história antiga
como a “época dos heróis”, devido ao caráter literário das fontes escritas. Apesar de
poético, a Antiguidade não era composta somente de heróis, mas de homens comuns,
como eu e você, que trabalhavam, divertiam-se, sofriam, adoeciam e possuíam crenças
em seus deuses ou Deus. Isso significa que não podemos ler as fontes sem critici-
dade, caso contrário, consideraremos os antigos como “heróis”. É necessário ler os
documentos literários sempre questionando-os, de forma semelhante a outras fontes.
Apesar do caráter fantasioso que os escritos literários possuem, dizem muito a
respeito de uma época. Tomando o exemplo de Odisseia, de Homero, quando há a
referência de Odisseu como rei, ao mesmo tempo em que sua propriedade parece
mais bucólica e possível de não ser transmitida de forma hereditária, podemos inter-
pretar que, no momento em que a obra foi produzida, a sociedade era composta
de reis que atuavam em suas propriedades e que, dentro de uma sociedade maior,
existiam diversos reis. Apesar desse caráter monárquico, nem sempre o poder era
transmitido hereditariamente. Em suma, apesar de uma narrativa mítica, Homero
demonstrou as características de uma sociedade que possui a existência comprovada.
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Caro(a) aluno(a), você deve ter observado como o trabalho do historiador classi-
cista é complexo, visto que requer muitos cuidados e diálogo com outras ciências,
pois trabalha com a escassez de fontes. Diante dos limites dos estudos acerca da
Antiguidade, Venturini (2010a) sistematizou alguns pontos para realizar a aná-
lise de documento:
■ Considerar o contexto histórico adequado a cada documento;
■ Analisar o conteúdo do documento e esclarecer os termos específicos
utilizados;
■ Pesquisar a respeito dos nomes próprios citados;
■ Identificar a importância do documento para o processo analisado.
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tam outros passos de uma análise de documento a partir dos métodos anteriores:
1. Lugar de origem e datação do documento: significa que é preciso identi-
ficar onde o documento foi produzido e qual o ano exato ou aproximado;
2. Estudo da forma adotada pelo texto: (por exemplo: texto de ficção –
romances, tragédias, comédias, epopeias, sátiras –, cartas, leis, narrativas
imagéticas, entre outros) identificar qual o tipo de material apresentado,
para utilizar as teorias e os métodos adequados de análise do documento;
3. Resumo do conteúdo do texto: identificar o assunto central e os assun-
tos secundários de um documento;
4. Identificação e estudo do contexto histórico em que o documento está
inserido: pesquisar a respeito dos acontecimentos da época em que o
documento foi produzido;
5. Estudo minucioso dos termos utilizados no documento: realizar leitura
crítica a fim de identificar os conceitos específicos de cada época, bem
como seus significados originais. Neste ponto, também é possível inserir
a pesquisa sobre nomes próprios de pessoas e de lugares;
6. Apresentação do autor, reconhecendo seu meio cultural e o momento
de produção do texto: reconhecer quem produziu o documento, qual a
sua trajetória, as suas funções e as condições de vida;
7. Discussão da temática sugerida pelo documento no quadro das abor-
dagens historiográficas: relacionar o conteúdo do documento com as
produções historiográficas, isto é, ler como os escritos históricos atuais
analisam o documento escolhido e quais as formas de leitura possíveis;
8. Reconhecimento da relação autor-público do documento: identificar
para quem o autor produziu o material e o motivo de um documento
dessa natureza ser dirigido para determinado público.
Ressalto que muitos pontos são apresentados para o trato de uma fonte histórica, toda-
via, nem todos os documentos responderão ou possuirão os passos apresentados. Por
exemplo, muitos testemunhos, principalmente os arqueológicos, sobreviveram em
fragmentos, o que significa que não é possível identificar todo o seu conteúdo. Outros
não possuem assinatura de autoria, assim, não é possível identificar o autor e o seu
meio sociocultural. Os passos apresentados são uma forma mais eficaz de olhar criti-
camente um material histórico, mas isso não significa que seja um modelo engessado.
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Até este momento, você se deparou com diversos conteúdos e debates historio-
gráficos de informações referentes às civilizações da Antiguidade. Todavia, a
história antiga não se traduz unicamente pela interpretação crítica dos dados,
mas também na reunião destes por meio de fontes históricas, sejam elas escri-
tas ou materiais.
A seguir, há uma proposta prática do ofício do classicista, isto é, serão apre-
sentados trechos de documentos históricos e de comentários críticos de como
devem ser lidos os documentos, a fim de que você tenha contato inicial com as
fontes. Para tanto, dividimos os materiais de acordo com suas respectivas socie-
dades de origem.
É importante relembrar que as civilizações orientais – Oriente Próximo
Antigo e o Egito Antigo – possuem menor quantidade de documentos históri-
cos sobreviventes, quando comparadas à Grécia e a Roma antigas.
Documentos de Referência: Oriente Próximo Antigo, Egito Antigo, Grécia Antiga e Roma Antiga
182 UNIDADE V
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Hieróglifos egípcio.
Dilúvio Sumério
Minha humanidade, em sua destruição eu vou...
(37 linhas perdidas)
Para Mintu eu vou devolver o... de minhas criaturas,
Eu vou devolver o povo aos seus povoados,
Das cidades, em verdade eles construirão seus lugares de
(divinos) rituais, eu farei pacífica sua sombra,
De nossas casas, em verdade eles assentarão seus tijolos
Em lugares puros,
Os lugares de nossas decisões em verdade eles estabelecerão
Em lugares puros
Ele dirigiu o... dos lugares sagrados
Aperfeiçoou os ritos e as exaltadas divinas ordenações,
Na terra ele... ou colocou, o ... ali.
Depois que Anu, Enlil, Enki, e Ninhursag
Haviam modelado o povo cabeça-negra
A vegetação exuberou da terra,
Animais, criaturas quadrúpedes da planície, foram habilmente criados
(PINSKY, 2003, p. 43-44)
Documentos de Referência: Oriente Próximo Antigo, Egito Antigo, Grécia Antiga e Roma Antiga
184 UNIDADE V
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Ele abriu sua boca e disse para Ea,
Ele aconselha o que ele ponderou em seu coração:
Eu juntarei sangue para formar osso,
Eu darei existência a Lullu, cujo nome será “homem”
Eu criarei Lullu-homem.
No qual o esforço dos deuses será deixado para que estes descansem.
Eu irei habilidosamente alterar a organização dos deuses:
Embora eles sejam honrados como um, eles serão divididos em dois.
Ea respondeu, como ele dirigiu uma palavra a ele,
Expressando seus comentários sobre o descanso dos deuses.
Deixe um irmão deles ser dado a mim.
Deixe-o perecer para que as pessoas sejam modeladas.
Deixe os grandes deuses se reunirem.
E deixe o culpado ser entregue para que eles possam permanecer.
Marduk reuniu os grandes deuses,
Usando magnanimidade ele deu sua ordem,
Enquanto ele falava, os deuses o ouviam:
O rei dirigiu a palavra aos Anunnaki,
Seu antigo juramento foi de fato verdadeiro,
Agora também digam a mim a solene verdade:
Quem foi aquele que instigou a guerra,
Documentos de Referência: Oriente Próximo Antigo, Egito Antigo, Grécia Antiga e Roma Antiga
186 UNIDADE V
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Por um ano eles fizeram os tijolos necessários.
Quando chegou o segundo ano,
Eles ergueram o pico do Esagil, uma réplica do Apsu.
Eles construíram o imponente zigurate de Apsu
E para Anu, Enlil e Ea, eles estabeleceram seus [...] como uma moradia.
Ele sentou em esplendor diante deles,
Suas pontas [do zigurate] estavam voltadas para a base de Esharra.
Depois que eles completaram o trabalho do Esagil
Todos os Anunnaki construíram seus próprios santuários.
300 Igigi do céu e 600 do Apsu, todos eles, se reuniram.
Eu assentei os deuses, seus pais, no banquete
No imponente santuário o qual eles construíram para sua morada,
Esta é Babilônia, sua morada fixa,
Tirem proveito aqui! Sentem-se alegremente!
Os grandes deuses sentaram-se,
Canecas de cerveja foram dispostas e eles sentaram para o banquete
(THE ENUMA ELISH, 1902, adaptação da autora).
Documentos de Referência: Oriente Próximo Antigo, Egito Antigo, Grécia Antiga e Roma Antiga
188 UNIDADE V
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Trecho da carta da princesa Nin-Sata-Pada da cidade de Uruk
Isso é o que Nin-Sata-Pada, a mulher escriba,
Comentário: a carta data do século XVIII a.C. e foi escrita pela princesa Nin-
Sata-Pada. Esta foi uma sacerdotisa na cidade de Durum e se reconhecia como
uma escriba.
Apesar de curto, o trecho tem muito a dizer sobre os orientais antigos. A prin-
cípio, podemos verificar que a função de escriba não era exclusividade do sexo
masculino. Adiante, identificamos que as princesas das cidades-estados orientais
antigas nem sempre eram utilizadas como meio de conseguir alianças políticas,
tendo em vista que eram educadas a desempenharem diversas funções. Ainda,
apontamos mais uma vez o forte laço que ligava o poder político das sociedades
orientais antigas à religião e às religiosidades.
Caro(a) aluno(a), até aqui você visualizou alguns documentos referentes aos
povos do Crescente Fértil Antigo. Neste momento, você entrará em contato com
alguns documentos escritos e imagéticos do Egito Antigo com o mesmo rigor
crítico. Boa leitura e boa análise!
Paleta de Narmer
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Figura 1 – Frente e costas da Paleta de Narmer – Royal Ontario Museum, Toronto, Canadá
Fonte: Wikipédia ([2019], on-line)¹.
Documentos de Referência: Oriente Próximo Antigo, Egito Antigo, Grécia Antiga e Roma Antiga
190 UNIDADE V
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renda aos deuses], então milhões perecem entre os homens. (Aquela)
que produz voracidade de tal maneira que o país inteiro sofre; o grande
e o pequeno erram. (Mas) [os homens se reúnem] quando ela se apro-
xima, quando Khnoum a cria. Quando ela aparece, então o país exulta,
então todo o mundo se regozija. Cada dentadura aparece no riso, cada
dente é descoberto [...].
XIII. Engrossa, Cheia, para que te tragam oferendas... Que se façam
oferendas a cada deus, [tais como as que se faz a Cheia]: incenso e azei-
te fino, bois de longos chifres, bois de curtos chifres e aves em holocaus-
to (VENTURINI, 2010b, p. 118, adaptação da autora).
Comentário: o texto foi escrito pelo vizir Duaf a seu filho Khety com o obje-
tivo de convencer seu filho a tornar-se um escriba. Não é possível saber com
exatidão a data do documento, mas é provável que tenha sido elaborado no perí-
odo do Reino Novo.
Com o propósito de introduzir seu filho na escola de escribas, Duaf des-
creve as desgraças da vida de um camponês, considerando os esforços físicos e
as suscetibilidades às doenças.
Atribuições de um vizir: texto da tumba de Reckimire
Sua majestade diz a ele:
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[...] Vê bem, ser vizir não é coisa doce e agradável, é mesmo, por vezes,
ofício amargo como fel.
Vê, o vizir é o cobre que protege o ouro da casa de seu senhor, ele não
baixa seu rosto diante de altos funcionários e juízes, e ele não faz de
qualquer pessoa o seu cliente. Se um homem reside na intimidade de
seu senhor, deve, por eles, agir da melhor forma que puder, mas não
tem que fazer o mesmo por qualquer outro.
Documentos de Referência: Oriente Próximo Antigo, Egito Antigo, Grécia Antiga e Roma Antiga
192 UNIDADE V
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DOCUMENTOS REFERENTES À GRÉCIA ANTIGA
Comentário: Os Trabalhos e os Dias foi elaborado por volta do século VIII a.C.
por Hesíodo, originário da Beócia, na Grécia. Os assuntos principais da obra se
ligam às descrições de sua vida, ao trabalho rural, às trocas comerciais e ao sen-
timento de injustiça diante da decisão dos juízes na partilha dos bens de seu pai
entre ele e seu irmão Perses. Apesar da temática, Hesíodo transparece, em seus
escritos, sua visão de mundo, isto é, seu conhecimento de como o mundo foi
Documentos de Referência: Oriente Próximo Antigo, Egito Antigo, Grécia Antiga e Roma Antiga
194 UNIDADE V
criado. Nesse sentido, no excerto apresentado, ele expõe as raças humanas que
existiram na terra: as de ouro, de prata, de bronze, de heróis e de ferro.
Decreto Soloniano citado por Aristóteles (Constituição de Atenas, 12, 4)
Repartirei a Atenas, sua pátria fundada pelos deuses, muitos homens
que haviam sido vendidos, ilegalmente ou não, outros, ainda foram le-
vados ao exílio e que nem mais falavam a língua ática, como acontece
quando vagamos por meio mundo. Outros, enfim, que aqui mesmo
viviam na escravidão infame, sofrendo os caprichos dos seus senhores,
alforriei. Isso tudo o fiz pela força da lei, unindo a força bruta à justiça.
Fui até o fim, como bons, aplicando para cada qual a reta justiça. Se
alguém estivesse no meu lugar, alguém malvado e arrogante, não teria
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mantido o apoio popular (VENTURINI, 2010b, p. 122-123).
Documentos de Referência: Oriente Próximo Antigo, Egito Antigo, Grécia Antiga e Roma Antiga
196 UNIDADE V
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Roma era já era tão forte, que seu potencial bélico estava a altura de qual-
quer outra cidade vizinha; mas, devido a falta de mulheres sua grandeza
estava condenada a durar uma geração, ao não ter em si a possibilidade de
perpetuar-se e nem existir matrimônios com os povos fronteiriços. Então,
por conselho do Senado, Rômulo enviou uma ligação aos povos circun-
dantes para apresentar uma petição de aliança e enlaces matrimoniais com
o novo povo: que também a cidade, como as demais, nasceram de quase
nada, mas, depois, tinham a seu favor seu próprio valor e aos deuses la-
vravam um grande poder e um grande nome; que de sobra sabiam que
os deuses haviam propiciado o nascimento de Roma, e que o valor não ia
faltar; que, por conseguinte, não recusassem, homens como eram, mesclar
seu sangue e sua raça com outros homens. A legação não foi escutada favo-
ravelmente em parte alguma [...] (LÍVIO, 2007, s/p, adaptação da autora)
Comentário: Tito Lívio (59 a.C.-17 d.C.) de família de ordem equestre, era pro-
veniente de Pádua. Ab Urbe Condita é uma de suas obras mais conhecidas, e que
nos foi legada quase em sua totalidade. Seu projeto contou com o objetivo de nar-
rar toda a história de Roma – de sua fundação até os dias do governo de Otávio.
O trecho apresenta um dos grandes problemas da fundação da cidade de
Roma, isto é, a falta de mulheres, que levou os romanos a tentarem alianças para
consegui-las e constituir um povo de origem romana, mas, devido à obscuridade
da origem dos primeiros cidadãos de Roma, nenhuma proposta foi aceita. Este
problema inicial levou Rômulo a planejar o rapto das sabinas.
Ode, Horácio (V, livro IV)
Tu que fizeste nascer a bondade dos deuses, guardião excelente da raça de
Rômulo, tu tens estado longe de nós há muito tempo. Tu tinhas prometi-
do um pronto retorno ao conselho venerável dos Pais, voltas. Devolves a
luz à tua pátria, ó bom chefe! Pois desde que teu rosto, em outra prima-
vera, brilhou aos olhos dos povos, os dias foram mais agradáveis e os sóis
tiveram mais brilho (HORÁCIO [s.d.], apud SILVA, 2001, p. 48).
Comentário: Horácio (65 a.C.-8 a.C.) foi um poeta lírico e satírico de Roma.
Teve formação influenciada pelos helenos, foi muito conhecido em seu tempo e
mencionado na posteridade. A obra Odes é dividida em quatro livros de longos
poemas líricos de assuntos diversos – geralmente, sobre a mitologia. O excerto se
constitui de um elogio a Otávio, enquanto este estava nas Gálias, referenciando
o imperador como o restaurador da República romana.
Epigramas, Marco Valério Marcial
- Oh Sexto, qual é a coisa, qual é a ousadia que te trai à Roma? O que tu
esperas aqui? O que tu procuras? Dize-me.
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Louco. Todos os que tu vês tremer de frio, sob capas ralas, são Ovídios
e Virgílios.
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198 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
religião de sua preferência. Assim, Deus que mora no céu ser-nos-á
propício a nós e a todos os nossos súditos. Decretamos, portanto, que,
não obstante a existência de anteriores instruções relativas aos cristãos,
os que optarem pela religião de Cristo sejam autorizados a abraçá-la
sem estorvo ou empecilho, e que ninguém absolutamente os impeça ou
moleste (LACTÂNCIO, 2000, s/p).
Comentário: Cecílio Firmino Lactâncio (250 d.C.- ?), de origem africana, foi um
professor de retórica não cristão que se converteu ao cristianismo. Suas obras
mais conhecidas são as de temática cristã: De opificio Dei, De ira Dei, Institutiones
Divinae e De mortibus persecutorum.
O texto apresentado é um trecho do edito realizado pelos imperadores
Constantino e Licínio. Proferido no ano 313 d.C., assegurou a tolerância e a liber-
dade do culto dos cristãos por todos os domínios do Império Romano.
Caro(a) aluno(a), até aqui você pôde visualizar diversos trechos de documen-
tos datados desde o Oriente Próximo Antigo a Roma Antiga. Cabe ressaltar que
não inseri todas as fontes históricas utilizadas, somente aquelas imprescindíveis
para os estudos das unidades. Além disso, os comentários não se constituíram
de análises dos documentos, mas são direcionamentos para a compreensão dos
trechos e para o seu auxílio no exercício da leitura crítica.
Espero que tenha apreciado esta unidade. Bons estudos!
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
200
História Antiga
Norberto Luiz Guarinello
Editora: Contexto
Sinopse: embora seja uma disciplina consolidada em muitas
universidades no mundo, não há definição explícita do que seja a história
antiga. Na prática, tanto no ensino quanto na pesquisa, a história antiga
costuma estudar os primórdios do Ocidente, após uma pré-história vaga
e geral. Não é a história antiga do mundo, portanto, mas a história de um
recorte específico do passado: o das origens do Ocidente. Grécia e Roma
ganham destaque especial, ao lado de capítulos sobre os estudos acerca
da Antiguidade.
Comentário: disponível na Biblioteca Pearson.
A Odisseia
Ano: 1997
Sinopse: adaptação da epopeia Odisseia, de Homero. Após dez anos, a
Guerra de Tróia chega ao fim e o herói Odisseu faz uma viagem de volta
para casa. Ele enfrenta criaturas mitológicas, deuses e outros inimigos
poderosos. Essa adaptação revela a força e a bravura do herói mítico e a
sua luta para voltar ao lar, onde é aguardado por sua esposa Penélope.
205
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS ON-LINE
1. Alternativa A.
2. Alternativa A.
3. Alternativa D.
4. Alternativa E.
5. Local de origem e datação do documento: o documento foi elaborado na
cidade de Roma ou em Pádua (cidade de origem do autor). Acredita-se que a
obra tenha sido composta nos momentos das guerras civis que levaram ao fim
do período republicano, mas foi publicada entre os anos 27 a.C. e 25 a.C., isto é,
em um momento impreciso, que não sabemos afirmar se foram os anos finais
da República ou os anos iniciais do Império, haja vista que não há consenso com
datas na Roma Antiga.
Meio sociocultural do autor: o autor da obra é Tito Lívio, que viveu entre os
anos 59 a.C. até 17 d.C. Nasceu na atual região de Pádua (nordeste da Itália) e,
embora fosse de família abastada, não pertenceu à ordem senatorial, mas era
proveniente da ordem equestre. Ele nunca exerceu nenhuma magistratura, visto
que dedicou sua vida à filosofia e aos escritos. Apesar do distanciamento da vida
política, ele foi próximo ao imperador Otávio e demonstrou preferência pelo sis-
tema político republicano.
Temática central do excerto: a obra inteira (Ab VRBE Condita) é composta por
142 livros e tem por objetivo contar a história de Roma desde sua fundação,
em 753 a.C., até o governo de Otávio. O trecho em questão possui como tema
central a dificuldade em conhecer os primórdios dessa civilização, visto que as
informações que sobreviveram para Lívio misturavam os feitos dos homens e
dos deuses. Apesar da dificuldade, o autor não negou a ancestralidade divina de
Roma, devido ao crescimento rápido da cidade e ao poder militar que possuíam.
207
CONCLUSÃO
Caro(a) aluno(a), chegamos ao fim da nossa trajetória pela História Antiga. Espero
que este livro tenha sido instrutivo, visto que foi pensado para transmitir novas in-
formações e novos métodos para sua formação acadêmica, e instigante, para inspi-
rá-lo a buscar novas informações.
Espero que você tenha compreendido que as civilizações da Antiguidade se cons-
tituíram de forma distinta da nossa realidade, parecendo, por vezes, fazer parte de
outro mundo. Apesar disso, eram compostas por homens que viveram há milha-
res de anos e buscavam a sobrevivência, sentiam fome, sede, frio e calor, amavam,
guerreavam, protegiam a si e a seus familiares, enfim, com sentimentos similares
aos nossos.
Para concluir, gostaria de destacar alguns pontos: a primeira e a segunda unidade
foram referentes ao mundo oriental antigo. Na primeira, é importante compreender
que as características apresentadas sobre o Oriente Próximo Antigo foram aspectos
comuns entre as distintas sociedades que se desenvolveram na região entre os rios
Tigre e Eufrates. Na segunda, é preciso destacar que o Egito Antigo foi um reinado
unificado, longo e com modificações lentas.
A terceira e a quarta unidades dizem respeito a civilizações do mundo ocidental
antigo. Na terceira, é fundamental que tenha ficado claro que a Grécia nunca foi
um reino unificado, mas deve ser vista como uma sociedade dividida em cidades
quase autônomas. Nosso enfoque se resumiu em duas cidades: Atenas e Esparta. Na
quarta unidade, é preciso que você tenha entendido que nosso estudo foi focado
na cidade de Roma, visto não ter sido possível tratar de todas as províncias romanas
neste momento.
A quinta unidade teve como objetivo demonstrar a você a instrumentalização do
ofício do historiador classicista e que, apesar de suas especificações, é um historia-
dor, que necessita de instrumentos e de métodos para desenvolver suas pesquisas.
Desejo-lhe sucesso na vida acadêmica!
GLOSSÁRIO
Hieróglifo: estilo de escrita egípcia mais famoso. Inventado em fins do período pré-
-dinástico e aperfeiçoado sob as primeiras dinastias. Composto por fonogramas e
pictogramas.
Homo Novus: etimologicamente, significa “homem novo”. Esta expressão era utili-
zada para designar os indivíduos de Roma que eram desejosos por estabelecer uma
carreira de honras, mas não eram cidadãos romanos de nascimento.
Hoplitas: soldados espartanos especializados no uso de lanças, encouraçados,
combatiam a pé e em fileiras cerradas. A partir do período clássico, grande parte das
cidades-estados gregas passaram a treinar soldados nesta categoria.
Imperator: título romano que faz referência à posição de comandante supremo dos
exércitos.
Imperium: denotava muito mais do que extensão territorial. Utilizado desde os
tempos da República, significava, além de território, o poder dos magistrados e, pos-
teriormente, do imperador, das leis e dos exércitos. O emprego do termo mudou
de sentido com o tempo e foi simplificado (já na Idade Moderna) como o modelo
político depois da aclamação de Otávio Augusto.
Latifundium: propriedades de terra dos aristocratas romanos. Essas terras geral-
mente eram espalhadas em lotes por diferentes regiões.
Libertas: concepção filosófica romana relacionada à República com sentido aproxi-
mado à “liberdade”. Acreditava-se que a libertas só era alcançada no Estado romano
a partir do bom governo dos magistrados, do Senado e, por vezes, do Imperador,
visto que os demais períodos ou tipos de governo eram propensos à monarquia e à
perda da liberdade dos cidadãos.
Libertos: antigos escravos que, por compra ou por presente de seus senhores, con-
quistaram a liberdade. Esses homens não atingiam a condição de cidadãos plenos
dentro de Roma, mesmo se fossem enriquecidos, mas seus filhos poderiam gozar
desse privilégio. Era costume, mesmo depois da conquista da liberdade, eles conti-
nuarem leais aos seus senhores e prestar-lhes serviços, bem como serem herdeiros
de fortunas dos aristocratas sem descendentes. Muitos deles exerciam funções ad-
ministrativas no império e habitavam o palácio dos imperadores.
Metecos: estrangeiros livres que residiam em Atenas. Não tinham direitos políticos,
estavam proibidos de adquirir terras, mas podiam dedicar-se ao comércio e ao ar-
tesanato.
Musas: filhas de Zeus e da Memória. Sempre presentes, sabem de tudo o que é,
o que foi e o que será. Na mitologia grega, elas inspiravam os aedos e os poetas a
cantarem as informações que elas lhes transmitiam.
211
GLOSSÁRIO