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LIBERTE-ME: CASAMENTO

De

Christina Ross
Para os meus amigos e minha família,
e especialmente aos meus leitores, que são tudo para mim.

O apoio de vocês tem sido incrível e agradeço mais do que podem imaginar.
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Primeira edição do e-book © 2021.

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mencionado) é mera coincidência.

Copyright © 2021 Christina Ross


Todos os direitos reservados no mundo todo.
Nota da autora: Em se tratando de oficializar um casamento, não sou padre
nem ministro. No entanto, para este livro, percebi que precisava saber todas
as coisas que um padre diria para Lisa e Tank quando se casassem. Sem ter
ideia, pesquisei na internet e encontrei muitos sites que me deram uma boa
ideia do que é dito de forma geral durante uma cerimônia de casamento.
Nesse processo, encontrei muito do que me pareceu um roteiro, com algumas
poucas variações. Saibam que, para que fizesse o casamento da forma certa,
usei muito desses roteiros. Às vezes, usando literalmente as mesmas palavras.
Outras vezes, mudei as palavras para se adequar ao casamento em questão.
Apenas por motivos de referência, usei particularmente este roteiro e ofereço
a vocês a versão completa: http://bit.ly/2rr98Uv. Exceto por isso, todas as
palavras no livro são minhas.
Muitos leitores perguntaram! ;-)
Eis a ordem de leitura da série Acabe Comigo:

Acabe Comigo, Vol. 1


Acabe Comigo, Vol. 2
Acabe Comigo, Vol. 3
Acabe Comigo, Vol. 4
Acabe Comigo, Edição de Natal, Vol. 5

Liberte-me, Vol. 1
Liberte-me, Vol. 2
Liberte-me, Vol. 3

Acabe Comigo, Vol. 6


Acabe Comigo, Vol. 7
Acabe Comigo, Vol. 8
Incendeie-me
Acabe com Eles, Vol. 1
Acabe com Eles, Vol. 2
Acabe com Eles, Vol. 3
Acabe com Eles: Edição de Natal

Liberte-me: Casamento

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Chance

Encenação
ÍNDICE

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Epílogo
Outros livros de Christina Ross
Lista de e-mail/Mídia Social
LIBERTE-ME: CASAMENTO
De

Christina Ross

CAPÍTULO 1
Cidade de Nova Iorque
Meados de fevereiro

— Você está ferrada.


Não fora minha melhor amiga, Jennifer Wenn, quem dissera o que eu já
sabia. Em vez disso, quem dissera aquelas palavras fora Barbara Blackwell.
Não que ouvi-las dela fosse uma surpresa.
Ela estava sentada à minha frente, usando um de seus vários ternos pretos
da Chanel, com uma mecha do cabelo preto arrumada com estilo ao lado da
bochecha e um diamante solitário em cada orelha. Ela beliscou a salada como
se não tivesse preocupação alguma no mundo, apesar do meu olhar sombrio
no momento.
Nós três estávamos jantando no Milling Room, um restaurante incrível no
Upper West Side de Manhattan e que era o lugar para ir. Não era só o
aconchego do restaurante ou o ambiente lindamente decorado que atraía as
pessoas. O Milling Room fora um saguão de hotel antes de ser transformado
em uma taberna chique com tijolos brancos, uma redoma de vidro na parte de
cima e chão de madeira escura que brilhava. Era também porque o chefe
tinha uma estrela Michelin e a comida era algo para saborear e aproveitar.
Conseguir uma mesa ali era mais do que difícil, ainda mais uma mesa boa.
Mas, como Jennifer decidira que nós três precisávamos discutir os detalhes
do meu casamento naquela noite, ela ligara e reservara. E como Jennifer era
Jennifer Wenn da Wenn Enterprises, uma mulher que a cidade acolhera como
um dos seus, obviamente pegáramos a melhor mesa na casa, que tinha uma
visão completa da área de jantar da parte de trás do cômodo.
Apesar do lugar lindo, bebi meu martíni irritada enquanto observava
Blackwell espetar o garfo em uma rodela de pepino antes de levantar os olhos
para mim, lançando-me um olhar penetrante.
— Eu falei sério. Você está ferrada.
— Sério, Barbara? — disse eu. — Ferrada?
— Ora, por favor — disse ela, balançando o garfo no ar em frente ao meu
rosto. — Como você bem sabe, todas as melhores igrejas já estão reservadas
para junho, assim como os melhores lugares para fazer a recepção. Então,
diga-me: o que você não entendeu? Já ligamos para literalmente todo mundo
nesta cidade e, apesar de nossa influência coletiva, claramente não há nada
disponível.
— Que ódio — resmunguei.
— É porque você ainda está em negação. Lisa, você precisa me ouvir e
absorver esta informação como o vento gelado do Ártico que é: a não ser que
abaixe seus padrões e escolha locais menos populares, como o gueto ou um
beco, você não se casará em Manhattan em junho. Portanto, vou repetir: você
está ferrada.
— Ora, vamos — disse Jennifer para Blackwell enquanto segurava minha
mão e apertava-a. — Não seja tão ruim com ela.
— Se Lisa e Tank tivessem pensado nisso direito, teriam decidido uma
data no momento em que ficaram noivos. Sabe, dois anos atrás? Assim, tudo
estaria bem a essas alturas. Teríamos reservado uma igreja e poderíamos
escolher um bom lugar para a recepção. Mas, até onde eu sei, tudo que Lisa e
Tank conseguiram reservar foi a lua de mel em Bora Bora... e boa sorte com
isso, Lisa, porque, se este casamento não sair, vocês só viajarão, não será
uma lua de mel.
— Ugh! — reclamei. — Tudo bem. O que devo fazer?
— A única coisa que dá para fazer. Mudar a data — disse Blackwell.
— Mudar a data? Não posso fazer isso com Tank. Todos o ouviram na
véspera de Natal. Ele me vê como uma noiva de junho.
— É verdade — disse Jennifer.
— Não é? E como ele está tão empolgado com o casamento, está tirando
um mês de férias do trabalho para que não tenhamos só o casamento dos
nossos sonhos, mas também uma lua de mel prolongada, onde pretendemos
aproveitar muito, se vocês entendem o que quero dizer.
— Que bela, recatada e do lar.
— Olhe só, querida, só para que você saiba, desde que Tank decidiu a
data, o sexo entre nós está incrível. Digo, ontem mesmo ele me pegou no colo
como se eu fosse uma boneca de pano enquanto me comia. Eu juro, quase me
transformei em uma deusa do sexo escandalosa.
— Mais um martíni, senhoritas?
Virei a cabeça e vi nosso garçom bonito à minha esquerda. Havia quanto
tempo que ele estava ali? Será que ele ouvira meu comentário sórdido sobre
novas posições com Tank? Procurei sinais na expressão dele, mas não soube
dizer.
— Bom! — disse Blackwell. — Muito revelador da sua parte, Lisa.
Contos de acrobacias sexuais antes mesmo do tartare de atum. Conte-me —
disse ela, olhando para o garçom —, ela é a primeira a desonrar este lugar?
Se sim, você pode me contar...
— Perdão, senhora? — disse ele.
— Ah, entendi — disse ela com a voz baixa. — Estamos falando em
código, não é, querido? Muito discreto. Muito 007. Dito isso, fico
imaginando se as pessoas ao redor a ouviram...
Eu tinha que fazê-la parar de falar, portanto, acenei e pedi outro martíni.
— Jennifer? Barbara? — perguntei.
— Um é o suficiente para mim — disse Blackwell. — Mas acho que um
copo de gelo seria bom.
O homem franziu a testa para ela. — Só gelo? Quer água mineral ou...
— Só gelo — disse Blackwell, balançando a mão. — Mastigar os cubos
me acalma.
— Também quero outro martíni — disse Jennifer.
— Mas você deve? — perguntou Blackwell. — Digo, pense só nas
calorias, Jennifer.
— Nas calorias? — perguntou Jennifer. — Acho que perdi o peso da
gravidez em tempo recorde, Barbara. Aiden nasceu há apenas oito semanas e
eu me esforcei muito para voltar ao peso de antes da gravidez. Hoje é a
primeira noite em que tive a oportunidade de sair com você e Lisa desde que
pari, portanto, sim, vou beber outro.
Enquanto o garçom acenava e saía, observei Blackwell empurrar o prato
de salada e lançar um olhar a Jennifer.
— Como estão as coisas com Helga? — perguntou ela. — Ainda está tudo
certo?
— Só faz uma semana desde que ela aceitou ser nossa babá em tempo
integral, mas, por mais peculiar que seja, eu gosto dela. E Aiden se apegou
bastante a ela. Eu a contratei antes para garantir que esteja confortável no
apartamento com Aiden antes que eu volte a trabalhar. O que acontecerá
daqui a um mês.
— Com licença — interrompi. — Eu preciso lembrar que meu casamento
é em apenas quatro meses? Podemos, por favor, voltar a nos concentrar
nisso? É por isso que estamos aqui, afinal de contas.
— Olhe — disse Blackwell. — Por que se preocupar se você não está
disposta a escutar a razão? Eu já falei que está com um azar do caralho em se
tratando de se casar em junho em Manhattan. Ou você concorda em mudar a
data para o ano que vem ou precisará dar outro jeito. Não vejo como
contornar isso e, por isso, não vejo por que continuar falando no assunto se
você não está disposta a ceder.
— Não é que eu não esteja disposta a ceder...
— Ora, por favor.
— É verdade. Eu só estou tentando honrar Tank. Ele definiu a data e será a
data em que vamos nos casar.
— Então sugiro que você aborde o assunto com ele — disse Blackwell
quando o garçom voltou com um copo de gelo para ela. Enquanto ele
colocava um martíni na minha frente e outro na frente de Jennifer, só olhei
para Blackwell enquanto ela jogava um cubo de gelo na boca e mastigava-o
com força. — Porque, se não conversar com ele sobre isso, Lisa, e digo
muito, muito em breve, tipo hoje à noite ou amanhã de manhã, você estará
realmente ferrada. Porque, se ele quer que você seja uma noiva de junho
nesta cidade, precisamos começar a planejar seu casamento para junho do
ano que vem, não este ano.
CAPÍTULO 2

Mais tarde naquela noite, quando voltei de táxi para a casa com paredes de
tijolos à vista que Tank e eu chamávamos de lar na Park com a Seventy-
Third, era quase dez horas e eu estava com uma sensação de nó na garganta
em relação às pendências nupciais enquanto destrancava a porta e entrava em
casa.
Tirei o casaco branco de inverno e as luvas de couro pretas e coloquei-os
no armário enquanto ouvia Tank vindo em minha direção da sala de estar.
Eu conhecia meu homem. Àquela hora da noite, provavelmente estava
lendo um de seus suspenses. Assim, quando ele apareceu do canto e entrou
no hall usando uma camiseta branca, uma cueca boxer e os óculos, eu sabia
que era exatamente o que estava fazendo.
— Como você está? — perguntei enquanto caía nos braços dele.
— Com saudade de você — respondeu ele.
— Não diga.
— A casa fica muito vazia quando você não está aqui.
Assim como meu coração ficaria vazio se você não estivesse aqui...
— Você estava lendo? — perguntei.
— Sim.
— O livro é bom?
— Não tão bom quanto ver você agora — respondeu ele. Em seguida,
segurou-me perto do corpo dele.
O corpo de Tank era tão em forma e rígido que abraçá-lo era quase como
abraçar uma parede de tijolos. Não que eu me importasse. Eu amava a
sensação de enterrar o rosto no peito dele e como os braços musculosos se
encaixavam em volta da minha cintura, com os dedos acariciando a curva da
minha bunda. Mas, acima de tudo, amava o cheiro dele, masculino e terreno,
e como ele fazia com que eu me sentisse a salvo quando me abraçava assim.
— Como foi a sua noite com Jennifer e Blackwell? — perguntou ele,
inclinando-se para trás e tirando alguns fios de cabelo da minha testa.
— Complicada.
— Complicada? Eu achei que seria divertida.
— Não foi.
— Por quê?
— Você precisa dormir muito cedo hoje?
— É sábado, lembra? Não trabalho amanhã, portanto, se precisa conversar,
podemos conversar pelo tempo que quiser.
— Então acho que é melhor conversarmos — disse eu.
— Isso não parece bom...
— Você bebeu alguma coisa hoje?
— Só água.
— Vou pegar um uísque para você.
— É tão ruim assim?
— Não sei, Tank. Acho que vamos descobrir. Vou pegar bebidas para nós
e encontro você na sala de estar.
— Vejo você em alguns minutos.
Quando me juntei a ele com as bebidas, um martíni para mim e uísque
para ele, vi que acendera a lareira. Ela iluminava a sala com uma tonalidade
laranja oscilante. Ele estava sentado em sua poltrona de couro preferida com
o Kindle e um copo de água na mesa que ficava ao lado.
— Aqui — disse eu, entregando a bebida a ele e dando-lhe um beijo nos
lábios.
— Sente-se no meu colo — disse ele, dando um tapinha na própria perna.
Sentei-me e passei o braço livre em volta do pescoço dele.
— Conte-me, o que está acontecendo? — perguntou ele depois de beber
um gole da bebida. — Foi algo que Blackwell disse?
— Como você adivinhou?
— Porque raramente é Jennifer. Qual é o problema? Tenho a sensação de
que tem a ver com o casamento.
— E você tem razão.
— Logística?
— Continua a ser um problema — disse eu frustrada. — Tentei envolver
você o mínimo possível porque tinha certeza de que Jennifer, Blackwell e eu
daríamos conta dos detalhes enquanto se concentrava no trabalho. Mas não é
mais tão simples assim.
— Por que não é mais tão simples?
Enquanto eu bebia meu martíni, sabia que não tinha escolha a não ser falar
logo o pior. — Não podemos nos casar em Manhattan.
— Por que já está tudo reservado?
— Sim. Você sabe que tentei de tudo, mas acho que, em se tratando desta
cidade, é necessário se planejar com um ano ou dois de antecedência para
conseguir o que realmente quer. E eu realmente quero ser a sua noiva de
junho.
— Você ainda pode ser se quiser, Lisa.
— Mas como? — perguntei. — Porque com certeza não acontecerá aqui.
— Precisa ser aqui? Porque, se não precisar, tenho uma ideia.
— Que ideia? Pensei que você quisesse se casar aqui.
— O que quero é me casar com você. Em junho. Então, e se nos
casássemos no hotel dos seus pais? Que tal?
— Eu adoraria, mas não posso fazer isso com eles — disse eu. — O hotel
da mamãe e do papai pode ser pequeno, mas é lotado em junho. Eu não quero
colocar essa pressão neles.
— Então, tenho outra ideia... que você provavelmente não gostará.
— A essas alturas, aceito qualquer ideia que você tiver.
— Veremos — disse ele.
— Não pode ser tão ruim — disse eu. — Isto é sobre nós. Sobre nós
finalmente nos tornando marido e mulher! Se você tem algo em mente,
preciso saber porque estou desesperada. Portanto, diga-me, qual é a sua
ideia?
— Acho que você precisa virar seu martíni agora, Lisa — disse ele.
— Como assim?
— Só beba. E não se preocupe, farei o mesmo com o meu uísque porque já
sei que nós dois precisaremos.
— Você está falando sério?
— Estou.
— Tudo bem, então — disse eu, sem saber o que ele estava tramando. —
Vamos nessa!
Virei a minha bebida enquanto ele fazia o mesmo e coloquei o copo vazio
sobre a mesa, pressionando a palma das mãos firmemente contra o peito dele.
— Qual é o seu plano, homem? — perguntei.
— Primeiro, preciso saber se você realmente quer se casar este ano.
Ele está falando sério? Ele realmente não sabe o quanto esperei por isso?
— Eu quero me casar este ano. Em junho. O mais rápido possível!
— Tem certeza disso?
— Tank, mais do que qualquer coisa, quero ser a sua noiva de junho. E
este ano, eu serei sua noiva de junho, não importa o que tenha que fazer.
— Então talvez você possa ser minha noiva de junho em Prairie Home,
Nebraska — disse ele. — Ou Nobraska, como você gosta de falar.
Quase engasguei. — Desculpe, não entendi. Como é?
— Você me ouviu.
— Prairie Home? — perguntei. — Também conhecida como a terra onde
sua mãe me odeia?
— Ela não odeia você.
— Ah, claro que não.
— É verdade. É só que ela não entende como você escreve sobre zumbis,
só isso. Ela é muito religiosa, você sabe disso. É confuso para ela. Ela
preferiria que você escrevesse sobre gatinhos.
— Como se isso fosse acontecer.
— É o seguinte — disse ele, pegando minhas mãos e beijando a parte de
trás delas. — Poderíamos nos casar na propriedade dos meus pais, que é
espetacular. Você sabe que o terreno deles é enorme. Claro, tem muito mato,
mas em volta da casa? Eu sei que você só a conheceu no inverno, mas a terra
é incrível. Se eu falasse para os meus pais que queremos nos casar em junho,
haveria tempo suficiente para construirmos um gazebo grande perto do lago
no quintal, que por acaso é cheio de cisnes.
— Tem cisnes na propriedade? — perguntei.
— Vários deles. Eles voltam todos os anos para procriar. No mínimo, os
cisnes e o lago deixarão tudo mais romântico.
Eu tinha que admitir que era verdade, portanto, foi o que fiz. — Tudo bem,
os cisnes e o lago são uma coisa boa — disse eu. — Assim como o gazebo.
Continue.
— Agora que sabemos que Manhattan está fora de cogitação, temos
bastante tempo para planejar um casamento em Prairie Home. Meus pais
adorariam. Além disso, temos que considerar que minha mãe tem muito
medo de avião. Estávamos planejando trazê-los de ônibus se fôssemos casar
aqui. Se casarmos lá, não precisaremos, o que seria mais fácil para eles.
Enquanto ele falava, eu já estava tendo dúvidas em relação a tudo. Um
gazebo bonito e alguns cisnes não mudariam o fato de que a mãe dele me
odiava. Eu estava prestes a falar quando ele me olhou nos olhos.
— Preciso que meus pais me escutem dizer meus votos a você, Lisa. É
importante para mim. Você é o amor da minha vida. Quero que meus pais,
meus amigos e minha família inteira escutem o que tenho para dizer quando
me casar com você. Quero que eles entendam por que quero passar o resto da
vida com você. E ter uma família com você. Se quer se casar em junho deste
ano, o que eu também quero, esta é a melhor forma de fazer isso acontecer.
Coloquei a mão no ombro dele e beijei-o quando ele disse aquilo, mas
meus pensamentos acelerados estavam me deixando louca.
A mãe dele me despreza, pensei. Quando fomos para lá dois anos atrás,
ela deixou bem claro de todas as formas possíveis que eu não era boa o
suficiente para o filho dela. Várias vezes, ela tentou me envergonhar na
frente dele. Então, o que fará se nos casarmos lá? Tentará me humilhar
ainda mais? Aquela mulher é formidável como Blackwell, pelo amor de
Deus, talvez até pior porque ela esconde sua toxicidade com um sorriso falso
enquanto Blackwell nunca esconde quem é. A mãe de Tank é cruel e
enganadora. Mas Blackwell? Blackwell diria tudo na sua cara.
— Prairie Home — disse eu, desejando não ter terminado meu martíni tão
cedo. Olhei para a taça vazia sobre a mesa de centro como se ela tivesse me
traído. — Quem teria imaginado...
— Olhe — disse Tank. — Eu conheço você e também sei que, se está
sentindo qualquer hesitação, não é por causa de Prairie Home, é por causa da
minha mãe. Eu entendo. Quando passamos o Natal lá, ela foi horrível com
você.
— Ela foi — disse eu. — E não quero parecer desrespeitosa, Tank, mas ela
foi bem escrota. Você sabe. Que droga, você viu. Ela acha que não sou boa o
suficiente para você e nós dois sabemos disso. E, como não me vê desde
aquele Natal, como podemos esperar que ela tenha mudado de opinião em
relação a mim? É claro que não mudou. Por que mudaria? Não voltamos lá
desde então e ela provavelmente acha que sou eu que estou mantendo você
longe dela e do seu pai. Eu sei que você a ama, ela é sua mãe. Mas, comigo,
ela sempre será a boa cristã que não gosta de mim porque escrevo sobre os
mortos-vivos, e não gatinhos, e, por isso, não tinha que estar com o filho dela.
— Sabe o que importa? — perguntou ele. — Que eu gosto do que você
escreve. Não estou nem aí para o que minha mãe pensa sobre o seu trabalho.
E só porque não voltamos para ver meus pais não significa que não falo com
eles toda semana. Nem que eles não sabem o quanto sou apaixonado por
você. Eu já consegui enfiar isso na cabeça deles a essas alturas.
— Sério?
— Claro que sim.
— Eu não sabia.
— Você sabe que ligo para eles todo domingo. Eles estão envelhecendo e
preciso saber se está tudo bem. Portanto, quando a oportunidade aparece,
comento com eles.
— E o que eles dizem?
— Meu pai está feliz por mim. Mamãe levará algum tempo.
— A sua opinião não é o suficiente para ela?
— O argumento dela é que teve só uma semana para conhecer você.
— E para me julgar. Eu fui ótima com ela. Meus pais me criaram com
educação, Tank. Então por que fui destratada?
— Não sei. Talvez seja porque ela sempre pensou que em algum momento
eu voltaria para casa e casaria com uma garota com quem namorei em Prairie
Home.
E, quando ele disse aquilo, só olhei para ele.
— Entendi. Bom, isso veio do nada.
— Porque não tenho interesse nenhum na garota com quem ela queria que
eu me casasse. Além disso, essa mulher já está casada com um cara ótimo
que jogava no meu time de futebol no ensino médio. Eles têm dois filhos.
— Você namorou com ela no ensino médio?
— Isso. E já faz dezessete anos. Eu estava no segundo ano.
— E sua mãe ainda quer que vocês se casem? Por quê? Especialmente
depois de tanto tempo?
— Provavelmente porque Linda faz parte do clube de costura da minha
mãe e elas se veem toda quinta à noite.
— Clube de costura? — perguntei. — Clube de costura? Acho que vou
gritar.
— Por quê?
— Porque não sei costurar! E sua mãe esperará que eu saiba. Ela vai
querer que eu faça uma manta enorme para você ficar quentinho durante o
inverno, assim como Linda faria se ainda estivesse solteira e disponível.
— Olha só, você precisa ficar calma...
— Tank, independentemente do que sua mãe pense sobre mim, tudo que
posso fazer é amá-lo com todo meu coração, mas claramente isso não é o
suficiente para ela. Digo, por favor, meus talentos são esquisitamente
específicos. Eles foram reservados para matar as pessoas no papel e trazê-las
de volta à vida para que possam matar outras pessoas. E depois repetir tudo.
Estou muito longe de ser a deusa doméstica que sua mãe quer para você.
— Lisa, vou ficar bem.
— Como você sabe disso?
— Porque já chamei a atenção da minha mãe em relação ao
comportamento dela.
De onde saiu isso?
— Sério?
— Claro que sim.
— Quando?
— Mais ou menos uma semana depois que fomos embora de Prairie
Home.
— E você só está me contando agora?
— Você me conhece. Gosto de lidar com as coisas sozinho. E, em relação
a como minha família a trata, considero um assunto privado do qual cuidarei
sozinho. Minha mãe ouviu bastante de mim depois da última vez que a
vimos.
— Eu não fazia ideia...
— Bom, foi isso mesmo.
— E como foi?
— Minha mãe quer um relacionamento comigo. E, por causa disso, ouviu
quando eu disse que, se não a tratasse com respeito, ela me veria muito
menos. Eu e você não fomos ver meus pais no último Natal só por causa
disso. Acho que agora ela entendeu. Tenho a sensação de que, quando ela a
vir novamente, você verá uma pessoa completamente diferente.
— Você falou sério assim?
— Sim.
— E eu achando que nada havia sido dito...
— Sempre cuidarei de você, Lisa. Espero que saiba disso. Preciso que
acredite em mim quando digo que minha mãe não será um problema.
— Mas como você pode me prometer isso, Tank? Você não é ela.
— Você está certa — disse ele. — Não sou. Mas chegaremos juntos e ela
saberá que terá que se comportar comigo lá.
Eu não pensara naquilo.
— Então, vamos fazer isso? — perguntou ele. — Vamos nos casar em
Prairie Home?
Onde há outro martíni quando preciso de um? Ah, veja, em lugar nenhum.
— Vamos — respondi. — Porque não vejo outra escolha. Amanhã
podemos ligar para seus pais para ver o que eles acham.
— Eles ficarão muito animados — disse ele.
Ficarão? pensei. Porque não tenho tanta certeza, Tank. Na verdade, acho
que você terá que se preparar para essa ligação.
— Eu tenho uma condição.
— O quê?
— Vamos ligar no viva-voz.
— Por que no viva-voz?
— Porque sua mãe é formidável. Nós dois sabemos disso. Também
sabemos que, se estiver falando só com você, ela poderá resistir. Mas, se ela
souber que nós dois estamos na linha quando você ligar, será muito mais
difícil conseguir fazer isso.
— E é por isso que eu a amo — disse ele.
Eu o beijei.
— Na verdade, que tal subirmos para que eu mostre o quanto a amo? —
sugeriu ele.
— Sério?
— Sério.
Sem mais nenhuma palavra, Tank me pegou nos braços. Ele se levantou e
beijou meu pescoço enquanto eu o abraçava firmemente ao subirmos a escada
para o segundo andar, onde fizemos amor por uma hora maravilhosa.
CAPÍTULO 3

Quando acordei na manhã seguinte, a lembrança de com o que havia


concordado na noite anterior foi a primeira coisa que me veio à cabeça. E,
quando isso aconteceu, foi como um soco na cara.
Com a falta de opções para casar em Manhattan, eu concordara em me
casar com Tank na fazenda de seus pais em Prairie Home, Nobraska. Como
será que era o cheiro daquele lugar com o calor de junho?
Pior, mais tarde naquele dia, tínhamos concordado em ligar juntos para a
mãe de Tank, Ethel, para ver se ela concordaria com o evento. E só Deus
sabia como seria isso, especialmente porque ela sempre quisera que o filho se
casasse com alguém chamada Linda, que já era casada e tinha dois filhos.
Eu estava deitada na cama enquanto Tank roncava levemente ao meu lado.
Olhei para o teto e soube que, de alguma forma, eu precisava ganhar Ethel
durante a ligação. Se fizesse isso, talvez nada fosse tão ruim quanto eu
imaginava.
Assim, sem acordar Tank, deslizei silenciosamente para fora da cama,
coloquei um roupão de seda vermelho bonito que sabia que era o preferido
dele e, depois de entrar no banheiro para pentear o cabelo e jogar uma água
fria no rosto, desci para fazer o café da manhã de que meu homem precisava.
Mas não antes de ligar para Jennifer.
— Você concordou em fazer o quê? — perguntou ela quando contei tudo.
— Você me ouviu — sussurrei na sala de estar, o lugar mais longe do
quarto que consegui para que Tank não ouvisse. — E, sinceramente, que
escolha eu tinha? De um jeito ou de outro, serei uma noiva de junho, Jennifer.
A noiva de junho de Tank. Então, adivinhe só. Em junho, serei oficialmente a
mulher dele.
— Mas e a mãe dele? — perguntou ela. — Você me disse que ela a tratou
muito mal quando a conheceu. Ela já sabe disso?
— Não. O plano é ligar e contar tudo para ela esta manhã.
— Eita — respondeu ela.
— Pois é. Tenho que ganhá-la, Jennifer. Tenho que fazer ela gostar de
mim. Algum conselho?
— Não sei... talvez só ser você mesma?
— Não funcionou na primeira vez, por que acha que funcionará agora?
— Anotado. — Ela ficou em silêncio por alguns momentos. — Ela é
religiosa, não é?
— Completamente. O rosário dela está sempre à mão.
— E se você dissesse para ela que está escrevendo um livro sobre o
segundo advento?
— Muito engraçado. É sério, preciso de algo de verdade.
— Lisa, desculpe, mas não tenho nada.
— Mas você ganhou Blackwell, pelo amor de Deus! Você tem que saber
de alguma coisa.
— Em algum momento, eu a ganhei, mas foi muito difícil, como você bem
sabe. E, pelo que você me disse, a mãe de Tank parece pior.
— Ela é pior. Blackwell só julga o que você está vestindo. Mas Ethel
McCollister? Ela olha dentro da sua alma e julga você.
— Sabe — disse ela. — Aposto que você consegue encontrar uma alma
adequada na Amazon se procurar. Eles vendem de tudo.
— Não é para ser engraçado.
— Só estou tentando deixar as coisas leves e fazê-la rir porque parece que
você precisa. Mas serei sincera com você, Lisa. Não acredito que deixará a
mãe de Tank, entre todas as pessoas, ser a anfitriã do seu casamento depois
de como ela a tratou quando se conheceram.
— E que escolha eu tenho?
Ela suspirou. — Basicamente nenhuma se quer se casar em junho. Porque,
concordo com você, fazer o casamento no hotel dos seus pais seria demais
para eles. Eles mal conseguem dar conta em dias normais.
— Exatamente. Então... é isso. Em algumas horas, vamos falar com Ethel
no telefone por viva-voz.
— Vocês vão conversar por viva-voz?
— Sim. E por um motivo.
— Que motivo?
— Porque não sou idiota. Aquela piranha que adora julgar os outros saberá
que estou na linha quando Tank ligar. O que quer que tenha a dizer sobre o
assunto, ela saberá que estou ouvindo tudo. Portanto, prepare-se para ir para
Prairie Home, Nobraska, em junho porque essa merda acontecerá, mesmo que
seja em uma fazenda!
— Olhe, Lisa, crescemos no Maine e já estivemos em muitas fazendas.
Sabemos que pode ser algo lindo.
— Tank disse que a fazenda é especialmente bonita no verão. Ele também
disse que quer construir um gazebo para nós perto de um lago cheio de
cisnes.
— Cisnes?
— Isso mesmo — respondi. — Aparentemente um monte deles.
— Na verdade, parece bonito — disse ela. — Então, antes de desligar, vou
dizer algo para que pense. Com a organização e o local certos, principalmente
se conseguir colocar a mãe de Tank na linha, Prairie Home pode oferecer
algo muito bom, não acha? Digo, se tudo ficar a seu favor, pense bem: você
estará rodeada de amigos, em um lugar lindo com um gazebo e cisnes em um
lago. Quanto mais penso nisso, mais acho que poderia ser incrível. E a boa
notícia é que, se você decidir isso com os pais de Tank hoje, teremos tempo
mais do que suficiente para planejar algo épico. Porque só Deus sabe o
quanto você quer um casamento épico desde que éramos crianças.
— Eu quero muito — respondi. — Até porque não planejo me casar
novamente. Tank é o cara certo para mim, Jennifer. Ele e eu vamos criar uma
família e envelhecer juntos. Sei disso dentro do meu coração.
— Você tem meu apoio total em relação a isso. Se precisar de algo, é só
pedir.
— Preciso que você e Blackwell me ajudem a encontrar um vestido.
— Pode deixar. Agora, gostaria muito de continuar conversando, amiga,
mas Aiden acabou de golfar no meu ombro e no meu cabelo.
— Você estava falando este tempo todo comigo com ele no colo?
— Eu estava amamentando-o — respondeu ela. — E, falando nisso, é isso
que é a maternidade real. Por mais que ame meu bebê, quando ele vomita em
mim... não é legal.
— Obrigada por me escutar, Jennifer.
— Sempre que precisar. Mantenha-me informada. E boa sorte com Ethel.
Ligue-me mais tarde se precisar. Agora? Agora preciso ir antes que Aiden
golfe de novo.
Antes que eu pudesse falar mais alguma coisa, a linha ficou muda.
CAPÍTULO 4

Depois que Tank acordou e tomamos café da manhã, subimos para o


escritório para ligar para a mãe dele.
— Você está bem? — perguntou ele, apertando minha mão. — É só uma
ligação...
Era mais do que aquilo, mas, quando disse que estava bem, Tank apertou o
botão que nos colocou no viva-voz e o som da ligação chamando encheu o
escritório quando ele digitou uma série de números. Quando a chamada foi
atendida e a voz de Ethel ecoou no cômodo, meu estômago se contraiu.
— Alô? — disse ela. — Mitchell, é você?
— Oi, mãe.
— Eu sabia que era você! — exclamou ela. — Vi seu nome no telefone
que você comprou para mim e para o seu pai. E tenho que dizer que essa
telinha que mostra o nome de quem está ligando é um presente de Deus!
— Como assim?
— Por exemplo, ela me protege daquele horrorosa da Beatrice Kaiser.
Você lembra que falei do último escândalo, né? A filha dele teve um amante!
— Mãe, preciso dizer que Lisa também está ouvindo a ligação...
— Digo, dá para imaginar? — interrompeu Ethel, falando como se não o
tivesse ouvido. — Prairie Home é minúscula, Mitchell, você sabe. Só tem
umas trezentas mil pessoas aqui. E mesmo assim ela continuou com o caso
sórdido com aquele Mark Dawson horrível quando deveria saber que a
notícia se espalharia.
— Mas isso foi a filha dela — disse Tank. — Por que as ações dela
refletem em Beatrice? Vocês sempre foram boas amigas.
— Não desde que o adultério da filha dela veio a público — disse Ethel.
— No momento em que ela foi desmascarada, Prairie Home a abandonou.
Bom, pelo menos as pessoas direitas. E, acredite, guardei quem não fez isso.
Naquele momento, peguei um pedaço de papel e uma caneta na
escrivaninha de Tank e escrevi “Que atitude cristã a dela”.
Ele só me olhou desconfortavelmente enquanto Ethel continuava.
— Enfim, chega de falar dela. Tenho que dizer que ainda estou tentando
entender essa tecnologia que você me mostrou. Como este telefone, que foi
difícil de usar no começo, mas estou me acostumando, e o Kindle que você
comprou para mim no mês passado. Você ficará orgulhoso de saber que sua
mãe finalmente o dominou, provavelmente porque gosto de ler mais do que
gosto de falar ao telefone. Você sabe o quanto gosto dos meus mistérios e
ficções cristãs. Esses são os tipos de livros que gosto, fáceis e bons, não
aquelas porcarias que as pessoas parecem gostar hoje em dia, com certeza.
Digo, meu Deus! Hoje de manhã vi um livro na sessão dos cem melhores da
Amazon que se chamava Anaconda! E, a julgar pela capa indecente, não acho
que ele fale sobre cobra nenhuma!
— Então está gostando do Kindle? — perguntou Tank.
— Estou amando! — declarou Ethel. — Como seu pai vai dormir antes de
mim, sento na sala de estar e leio um pouco antes de deitar. E tenho que dizer
que estou gostando de ler como nunca gostei antes. Digo, aquele dispositivo é
tão fácil. Já tenho uma lista inteira de favoritos e só fico pulando por tudo que
eles escreveram.
Ela parou por um momento depois de dizer aquilo e pigarreou como se
estivesse com algo na garganta.
— Tenho que dizer que vejo os livros da sua amiga Lisa na lista de cem
melhores da Amazon, Mitchell.
— Lisa é mais do que minha amiga, mãe. Ela é minha noiva.
— Ah, é. Isso, isso.
— E, como eu estava tentando falar antes, Lisa está no telefone conosco
agora.
— Desculpe, o quê?
— Antes de você me interromper enquanto falava sobre Beatrice Kaiser,
tentei dizer que eu e Lisa estamos no viva-voz. Estamos ligando para você
por um motivo.
— Olá, sra. McCollister! — disse eu.
— Quem é... É Lisa?
— Sim! — respondi. — Como você está?
— Ah, estou bem, obrigada. E como você está, Lisa?
— Ansiosa pela primavera. Tem sido um inverno infernal.
— Você não tem ideia...
Quando ela disse aquilo, olhei frustrada para Tank. — Sério? — movi os
lábios.
Ele só balançou a cabeça para mim antes de mudar de assunto.
— Como está o pai? — perguntou ele.
— Você está ligando por causa dele?
— Não, só pensei em perguntar sobre ele. Como ele está?
— É engraçado você perguntar. Está tão agitado hoje que tenho contado
meu rosário em agradecimento por ele estar fora de casa. Não gosto muito
desse tipo de energia negativa perto de mim, especialmente no dia do Senhor.
— Qual é o problema?
— Não sei, algo com o encanamento de um dos celeiros dele. Ele falou
sobre o assunto por alguns momentos quando voltamos da igreja, mas não
prestei muita atenção porque seu pai sempre começa com essa história de
celeiro e não tenho o menor interesse nisso.
— Ele parecia estressado? — perguntou Tank preocupado.
— Sim, ele parecia estressado. Ele até falou palavrão! Na minha frente!
Não o vi desde que voltamos. Vamos rezar para que ele encontre Cristo antes
de voltar para casa. Se não, terei que pedir ao Padre Harvey para chamá-lo no
domingo que vem e sugerir fortemente que ele vá se confessar.
Meu Deus do céu, pensei enquanto a ouvia. Eu não tenho a menor chance
com esta mulher, não é nem engraçado. Ela julga tudo e todos. Não há a
menor possibilidade de nós nos darmos bem e termos um relacionamento.
— Sobre a nossa notícia... — começou Tank.
Aqui vamos nós, pensei desesperada.
— Que notícia é essa? — perguntou Ethel. — E por que você disse
“nossa” notícia?
— Lisa e eu decidimos uma data.
— Uma data para o quê?
— Para o casamento.
— Ah! — disse ela depois de um momento. — Ah, minha... minha nossa!
Meu... Meu Deus. Por que a sala está girando? Por que parece que vou
desmaiar? Por que as paredes estão escurecendo? Depois de ouvir isso, acho
que preciso sentar.
— Espero que seja porque está feliz por nós.
— Bom, é claro que estou — disse ela depois de um longo momento. —
Digo, meu único filho vai se casar! Espero este dia há anos!
— Estamos muito animados — disse Tank.
— Com certeza estão — respondeu ela. — Tenho certeza de que vocês
dois estão explodindo de felicidade! Principalmente Lisa. Quando será o
casamento?
— Dia dez de junho, será um sábado.
— Mas junho está tão perto. Será tão rápido!
— Na verdade, a culpa é minha — disse ele. — Na véspera de Natal,
surpreendi Lisa decidindo a data em um cartão que dei a ela. Sempre a vi
como uma noiva de junho.
— E você só está me contando agora? Você já sabe a quase dois meses?
Por que só estou sabendo disso agora?
— Por causa da logística — disse ele. — Já vamos chegar lá.
— Bom — disse ela. — Véspera de Natal. Ah, Mitchell, só com as luzes e
as festividades, deve ter sido tão romântico!
— Tentei fazer com que fosse romântico.
— E ele conseguiu — disse eu enquanto apertava a mão dele. — Foi mais
do que romântico, Ethel.
— Tenho certeza de que foi maravilhoso, Lisa. Você deve ter ficado
emocionada.
— Eu estava nas nuvens — disse eu. — Estou muito feliz.
— Imagino — disse ela. — Mitchell é um bom partido.
— Concordo.
— Então, finalmente está acontecendo — disse Tank. — Vamos nos casar.
E estamos muito animados... mas precisamos da sua ajuda e da ajuda do pai.
— Que tipo de ajuda?
— Não podemos nos casar em Manhattan. Todas as igrejas e os salões de
recepção já estão reservados. E, como os pais de Lisa estão superocupados
com o hotel deles, especialmente nos meses de verão, queríamos saber se
poderíamos nos casar na fazenda em Prairie Home. Você e o pai podem ser
os anfitriões do nosso casamento? Porque adoraríamos nos casar aí.
— Em um dos celeiros?
— Não, não nos celeiros, mãe, como assim?
— Era uma piada, Mitchell. Sua mãe tem senso de humor, sabia? Ela é
mais engraçada do que você pensa. E, se você e Lisa querem se casar aqui, eu
e seu pai estamos dentro.
— Obrigado, mãe.
— Qualquer coisa por você, Mitchell.
— Se estiver tudo bem por você e pelo pai, eu queria construir um gazebo
perto do lago. Lisa e eu vamos nos casar lá, com o lago e os cisnes fazendo
parte do cenário. O que você acha?
— Na verdade, acho que parece divino — disse ela. — Vá em frente e
prepare os planos. Minha nossa! Lisa e você se casarão na casa da sua
família! Seu pai ficará mais do que surpreso, assim como eu estou agora!
Escute, Lisa... está aí?
— Estou aqui! — respondi.
— Ótimo, porque quero participar de absolutamente tudo! Quero ajudá-la
a escolher seu vestido e as flores. Precisamos ver o cardápio do jantar de
recepção. E todas as outras coisas... porque quero fazer parte! O que você
acha?
O quanto você quer participar? pensei. Puta merda!
— Eu adoraria a sua ajuda, sra. McCollister — disse eu. — Obrigada.
— É melhor me chamar de Ethel agora que está prestes a se casar com
meu único filho. Ou pode me chamar de mãe, se quiser. O que acha?
Você realmente quer que eu a chame de mãe? pensei. O que diabos vou
responder? Se eu disser que não, só a ofenderei. E, como está querendo fazer
parte de tudo, ela basicamente me encurralou!
Tank pegou a caneta e escreveu em um pedaço de papel: “Você não
precisa. Não faça isso se não quiser.”
Eu não queria, mas resolvi ceder... pela equipe.
— Eu adoraria chamá-la de mãe — disse eu a Ethel. — Seria uma honra.
Obrigada!
— Obrigada... quem?
— Obrigada... mãe?
— Ah, foi tão bom ouvir isso! — disse ela. — Ah, Lisa, espero que
possamos nos conhecer e ser boas amigas. Eu gostaria muito disso. De
verdade.
— Eu também gostaria muito — disse eu. — Tank é muito importante
para mim. Eu gostaria de ser próxima de você e do sr. McCollister.
— Pense nele como papai de agora em diante. Como Tank pode confirmar,
o pai dele sempre quis uma menina para mimar. E, se eu não tivesse o ovário
preguiçoso, ele provavelmente teria tido uma.
Ovário preguiçoso? Papai? Jesus Cristo! Essa história toda está indo
direto para algum tipo de mundo bizarro.
Mesmo assim, eu não tinha opção além de continuar aquilo.
— Então papai será! — disse eu enquanto Tank apertava meu joelho em
uma demonstração de apoio.
— Perfeito, ele adorará. Agora, presumo que será um casamento católico,
certo? Porque somos uma família católica, Lisa...
Eu era uma católica não praticante e só queria uma cerimônia simples, o
que Tank sabia.
— Temos algo mais simples em mente, mãe — disse Tank. — Nada muito
longo nem muito grande, principalmente porque sabemos que estará bem
quente em junho. Mas seria legal se o padre Harvey pudesse oficializar.
— Está dizendo que não será um casamento católico completo? —
perguntou ela. — Sabe, com todos os rituais clássicos? As orações? A missa?
O negócio todo?
— É o que estou dizendo.
— Mas sempre sonhei que você tivesse um casamento adequado — disse
ela.
— E Lisa e eu planejamos ter esse casamento, mas nos nossos termos.
— Entendi — disse ela. — Bom, não vou esconder minha decepção, mas
pelo menos terá um padre, então acho que é isso.
— É isso — disse Tank firmemente.
— Quando saberei de mais detalhes? — perguntou ela. — Porque não
posso esperar para contar ao seu pai, Mitchell. Ele vai querer saber
principalmente desse seu gazebo.
— Vou pedir para um arquiteto desenhar tudo e enviarei para você e para o
pai assim que estiver com os desenhos na mão. Quero que vocês gostem da
estrutura tanto quanto nós.
— Que bom — disse ela. — Avisarei ao seu pai. Mas, para coordenar as
coisas, imagino que Lisa e eu teremos conversas semanais para pensar em
tudo. Certo, Lisa?
— Ligarei para você todo sábado — disse eu. — Porque eu odiaria
interromper seus domingos, especialmente com a igreja e tal.
— Ah, que sensível da sua parte. Esperarei uma ligação ao meio-dia do
meu horário local todo sábado a partir de agora.
— Está bem.
Por um momento, houve um silêncio longo. Olhei para Tank, imaginando
se a ligação tinha caído quando Ethel disse: — Isso tudo é tão repentino.
— Desculpe, mãe — disse Tank. — Eu deveria ter planejado melhor tudo.
— Não, não, tudo bem porque sou flexível. Mas ainda estou tentando
absorver tudo e acho que vocês dois deveriam vir para cá uma semana antes
do casamento. Como terá muitos detalhes que precisarão ser resolvidos em
pessoa, é melhor vocês chegarem antes. Posso contar com vocês?
Jennifer e Alex darão outra semana de férias para você, escrevi em um
pedaço de papel.
— Podemos fazer isso, mãe — respondeu Tank. — Pegaremos o avião
uma semana antes do casamento.
— Então acho que é isso — disse ela. — E parabéns a vocês dois! Quando
Harold voltar do celeiro, contarei tudo a ele. Lisa, quando for procurar
vestidos, mande-me fotos para que possamos conversar sobre qual é o
melhor. Está bem?
— Está ótimo — menti.
— Conversaremos em breve. Beijos para vocês dois! Agora tenho
novidades que triunfarão sobre o caso da filha de Beatrice Kaiser com aquele
horroroso do Mark Dawson, e pretendo jogar com elas. Toda Prairie Home
vai querer vir, mas apenas alguns poucos serão convidados porque já sei que
será um evento exclusivo e mal posso esperar para fazer parte disso. Quero
arregaçar as mangas, sujar as mãos e cuidar de tudo até que chegue o grande
dia. E, Lisa?
— Sim, Ethel?
— Sim, mãe — corrigiu ela.
Revirei os olhos e decidi só aceitar. — Sim, mãe?
— Espere até ver o quanto gosto de deixar tudo perfeito...
QUATRO MESES DEPOIS

CAPÍTULO 5
Cidade de Nova Iorque
Junho

Na manhã do dia três de junho, apenas sete dias antes do meu casamento com
Tank, coloquei a bolsa de maquiagem dentro de uma das malas, conferi tudo
antes de fechá-la e trancá-la, e fiquei perto de Tank enquanto ele a levantava
e colocava-a ao lado de duas outras malas que já estavam prontas para a
viagem.
— Você está bem? — perguntou ele.
— Estou bem — disse eu, aproximando-me para beijá-lo. — Prometo.
— Desculpe por não poder ir. Desculpe por você ter que ficar cinco dias
sozinha com meus pais antes que eu chegue.
— Um dos seus melhores amigos acabou de morrer, Tank, um homem que
serviu com você na guerra. Brian morreu por causa de um coágulo e muito
jovem. Já conversamos sobre isso. Até onde sei, já está resolvido. Porque não
faria o menor sentido você viajar para Prairie Home e voltar três dias depois
para ir para San Diego passar um dia com a mulher e os filhos dele antes do
funeral. Lidarei com os detalhes finais do casamento com sua mãe antes que
você vá para Nebraska no dia oito. Não será um problema, principalmente
porque parece que sua mãe e eu estamos nos dando bem ultimamente.
— Isso não é totalmente verdade — disse ele. — E você sabe disso. Ela
exigiu muito de você. Ela não tem sido exatamente fácil.
— É só porque ela quer que nosso casamento seja o mais perfeito possível.
Agora, veja, você chegará no dia oito, sua mãe e eu o pegaremos no
aeroporto e voltaremos para Prairie Home juntos. Está tudo planejado. No dia
seguinte, nossos amigos chegarão para o ensaio e o jantar de ensaio. No
sábado, tudo estará em ordem e vamos nos casar. Quero que seja o mais fácil
possível para você. Você merece isso, especialmente depois da sua perda. Eu
só queria ter conhecido Brian, esse é meu único arrependimento. Ele parecia
ser um homem incrível, Tank. Sinto muito que tenha perdido seu amigo.
— Eu também. — Ele me abraçou por um longo momento. — Você é uma
mulher incrível, Lisa Ward.
— Logo serei Lisa McCollister — disse eu no ouvido dele. E, quando
disse aquilo, com a minha bochecha encostada na dele, senti seu sorriso, que
era tudo de que precisava para saber que estava fazendo a coisa certa, apesar
da incerteza que sentia.
Eu estava nervosa por causa da ideia de passar cinco dias sozinha com a
mãe de Tank? Com certeza. No entanto, durante minhas conversas com o pai
dele ao telefone durante os meses anteriores, Harold fora nada além de
genuinamente bondoso comigo, portanto, eu sabia que não tinha nada com o
que me preocupar em relação a ele. Mas e Ethel e eu? Tínhamos um passado
misturado. Por mais que ela tivesse sido boa nos meses anteriores,
literalmente se sobressaindo em muitos casos para ter certeza de que nosso
casamento fosse perfeito, também tivéramos nossa parcela de problemas, do
vestido que eu escolhera, que era revelador demais na opinião dela, ao que
seria servido no bufê, que, nas palavras dela, “Acho que aqui em Prairie
Home não somos tão sofisticados quanto vocês em Manhattan”.
Mas, na maioria das vezes, se era para ser sincera, o casamento significava
muito para ela. Tank era seu único filho e, se Deus quisesse, seria o único
casamento dele. Portanto, nos dias em que ela era difícil, eu entendia. Ela
queria poder opinar e isso vinha com suas dificuldades.
Quanto aos meus pais? Eles eram uns anjos. Diferentemente dos pais de
Jennifer, que eram pessoas horríveis que eu gostaria de matar enquanto
dormiam, meus pais eram incríveis. Minha mãe amara o vestido que eu
escolhera com a ajuda de Jennifer e Blackwell e os dois aprovavam
completamente meu casamento com Tank, a quem tinham adorado quando os
visitáramos pela primeira vez como casal em março. Eles tinham se oferecido
para pagar o casamento e foram maravilhosos o suficiente para fazer isso,
mesmo que eu não estivesse me casando em casa. Mas, como eu sabia que o
valor seria muito mais alto do que eles conseguiriam arcar a essas alturas da
vida, recusei com educação.
Meus pais eram tranquilos, pessoas legais que normalmente aceitavam
tudo como recebiam. Não havia drama na vida da minha mãe e, como eu a
incluía em tudo, sabia que ela se sentira incluída, assim como meu pai.
— Tenho que ir — disse eu. — Jennifer chegará para me buscar logo logo.
— Queria que você me deixasse levá-la.
— Não sei lidar com despedidas em aeroporto — disse eu. — Se você me
levasse para o LaGuardia e a última coisa que eu visse fosse o seu rosto, não
ficaria bem. É melhor que Jennifer me leve até o aeroporto enquanto ela me
consola por deixar você sozinho assim. Acredite, é melhor assim.
— Eu entendo — disse ele. — Vou ficar com saudade de você, Lisa.
— E eu vou ficar com saudade de você, Tank. De verdade. Mas, em alguns
dias, tudo isso terá passado e seremos marido e mulher.
Meu telefone tocou quando disse aquilo e eu sabia que era Jennifer. Ao
tirar o telefone do bolso da calça, olhei o visor. De fato, era ela.
— Alô — disse eu.
— Sou eu, amorzinha. Está pronta? Porque estou parada em fila dupla bem
na frente da sua porta e as pessoas não ficarão muito felizes comigo se eu não
andar logo.
— Estou indo! — disse eu. — Vejo você em alguns segundos.
Desliguei o telefone, coloquei-o no bolso e olhei para Tank. — Jennifer
está lá fora — disse eu. — Preciso ir antes que comecem a buzinar para ela
por parar o trânsito.
Antes que eu fosse embora, Tank me puxou em seus braços com tanta
paixão e sentimento que literalmente senti o coração dele batendo contra o
meu ao abraçá-lo enquanto ele me beijava no pescoço, nas bochechas e nos
lábios. Ele disse que me amava e agradeceu por eu fazer aquilo sem ele. E eu
disse que faria qualquer coisa por ele, absolutamente qualquer coisa. Porque
nosso amor merecia aquilo. Era algo a ser respeitado e eu me recusava a
deixar que qualquer coisa ou qualquer pessoa tentasse acabar com ele.

***

Quando saí de casa, fiquei aliviada ao ver que as pessoas conseguiam


manobrar pela limusine de Jennifer e ninguém estava buzinando para ela.
Tudo parecia estar bem quando Cutter saiu do carro, cumprimentou-me e foi
ajudar Tank a colocar todas as malas no porta-malas do veículo.
— Então, é isso — disse eu a Tank quando senti o calor do sol forte em
meus ombros. — Dê-me um beijo.
Quando ele me beijou, foi um beijo tão carregado de amor que só o
absorvi enquanto estávamos na calçada e uma multidão de pessoas passava
por nós para ir trabalhar. Eram sete horas da manhã e Manhattan estava
acordando.
— Vamos nos ver antes que percebamos — disse ele para mim.
— Estou contando com isso.
— Mas, enquanto isso, vou sentir muito a sua falta, Lisa.
— Estamos fazendo a coisa certa — prometi a ele. E eu falara sério porque
sabia que, se não fosse ao funeral do amigo, ele se arrependeria. E isso eu não
poderia aceitar. — Não se esqueça de falar de mim para a família e a esposa
de Brian. Eu sei que não o conheci, mas quero que saibam que estou com eles
em espírito.
— Garantirei que eles saibam disso — disse ele.
Olhei para o carro quando Cutter abriu a porta de trás para mim. E, ao
fazer isso, uma onda de emoções me engoliu. Tank e eu estávamos nos
separando naquele momento e não pude evitar que lágrimas surgissem em
meus olhos.
— É melhor eu ir — disse eu. — Agora. Antes que eu comece a chorar.
— Vejo você em breve — disse ele.
— Muito em breve. Eu amo você, Tank. Saiba que estarei sempre com
você.
E, com uma profundidade surpreendentemente cheia de emoções na voz,
Tank, que raramente revelava emoções para alguém, compartilhou-a comigo
naquele momento. — Você é a melhor coisa que já aconteceu na minha vida.
Preciso que saiba disso.
— Eu sei disso — eu disse a ele. — Porque você me mostra todos os dias.
Mas preciso ir. Não vou aguentar se não for.
Assim, com um beijo final nos lábios dele, entrei no carro e, ao fazer isso,
a mão que veio até mim não foi a de Jennifer.
Em vez disso, foi a de Blackwell.
CAPÍTULO 6

— Bom — disse Blackwell quando Cutter fechou a porta atrás de mim. —


Não deve ter sido fácil. Digo, olhe só para Tank, pelo amor de Deus. Olhe
para o rosto dele. Se aquela não é a definição de amor puro, não sei o que é.
Ela me observou quando disse aquilo e sua mão imediatamente revirou a
bolsa para pegar um lenço. Eu estava sentada ao lado dela e em frente a
Jennifer, que me olhava com expressão preocupada.
— Aqui — disse Blackwell, entregando-me o lenço. — Eu sei que isso é
difícil para vocês dois. Pegue, querida. Use. Porque parece que você precisa.
— Obrigada — disse eu, passando o lenço embaixo dos olhos enquanto
Cutter se sentava no banco dianteiro e saía com o veículo. Olhei por cima do
ombro e vi Tank uma última vez. Ele estava parado na calçada com a mão
direita levantada enquanto abanava para mim. E, só de vê-lo daquele jeito,
sozinho com o fardo de ter que ir ao funeral do amigo na semana do nosso
casamento, aquilo me rasgou por dentro ao ponto de cair no choro.
— Desculpe — disse enquanto Tank sumia de vista. — Normalmente, sou
mais forte do que isso.
— Ser forte é uma virtude — disse Blackwell. — Serei a primeira a
brindar a isto. Mas ser humano também é. Nunca se esqueça disso, Lisa. O
amor que Jennifer e eu acabamos de ver entre você e Tank é exatamente o
motivo pelo qual vai casar com ele. E ele com você.
Quando Jennifer se inclinou para frente e colocou a mão sobre o meu
joelho, eu soube que ela, assim como Blackwell, tinha sentido minha dor. Em
seguida, dei um longo suspiro para tentar me recompor. Eu raramente
chorava na frente das pessoas. Eu odiava chorar na frente das pessoas. Não
era como eu funcionava.
— Desculpem — disse eu enquanto me acalmava.
— Lisa, você está sob tanta pressão, por que não ficaria chateada por Tank
não estar com você agora? — perguntou Jennifer. — Eu trouxe Blackwell
comigo por um motivo: porque, se há alguém que pode dizer as palavras
certas a você, é ela.
Olhei para Blackwell, que usava um terno Chanel amarelo-claro com
saltos altos com a mesma cor, e peguei sua mão.
— Obrigada por vir — disse eu. — Não sabia que você estaria aqui. Achei
que estaria trabalhando agora.
— Já estive na Wenn — disse ela. — Jennifer e eu planejamos isso assim
que soubemos que Tank precisava ir para o funeral do amigo. Neste
momento, as pessoas na Wenn acham que estou em alguma reunião aleatória
que se arrastará por horas. Então, não se preocupe comigo. Estamos bem.
Estou onde deveria estar.
— Obrigada por cuidarem de mim — disse eu para as duas. — Porque não
vou mentir, foi difícil pra caramba. Eu deveria ir para o funeral com ele, mas
estou aqui.
— Tank precisa se despedir do amigo — disse Blackwell. — E também
precisa passar um tempo com a família de Brian. Enquanto isso, você tem um
casamento para preparar, o que também é importante. A sincronia foi
horrível, Lisa, mas é o que é. E vocês dois estão fazendo a coisa certa.
— Por que não deixamos isso para trás e falamos sobre a semana à frente?
— sugeriu Jennifer. — Porque Barbara e eu achamos que você pode precisar
de orientação sobre ficar sozinha com a mãe de Tank e queríamos dar
algumas dicas antes de chegar lá.
— Que dicas? — perguntei?
— Antes de começar, você não vai viajar na primeira classe como achou
que seria — disse Jennifer. — Em vez disso, você viajará em um dos jatos
privados da Wenn.
— Vou viajar em um... quê? — perguntei.
— Isso mesmo que você ouviu — disse ela. — Pense nisso como um
presente de casamento.
— Mas por quê? — perguntei.
— Porque, agora, você merece um voo privado — disse Blackwell. —
Você merece ficar sozinha com seus pensamentos antes de ter que lidar com
a mãe de Tank.
— Mas o que isso significa? Ela tem sido bem legal comigo ultimamente.
E eu sei que ela está animada com o casamento.
— Eu entendo que ela esteja se comportando, mas Jennifer e eu tivemos
uma conversa no caminho até aqui e achamos que você não deve baixar a
guarda em se tratando dela.
— Não estou entendendo.
— Por meses, ela achou que o filho chegaria com você — disse Blackwell.
— O fato de ele não estar junto muda tudo. Logo logo, ficará só com você, e
não pense que ela não sabe disso. Nunca se esqueça de que um leopardo pode
se esconder à vista, Lisa, e isso nunca muda. Você deve prestar bastante
atenção em como aquela crente a tratará sem Tank para protegê-la.
— Não preciso ouvir mais nada — disse eu .
— Podemos estar erradas — disse Blackwell. — E espero que estejamos.
Mas não há como saber e só queríamos que você estivesse preparada para
tudo.
— Falando em Ethel — disse eu. — Ela acha que chegarei em um voo da
United. Como aparentemente estou indo em um voo particular, o que digo a
ela? Porque tenho que dizer algo a ela. E, quando ela ficar sabendo, achará
que sou pretensiosa.
— Deixe ela pensar o que quiser — disse Blackwell. — Diga que mudou
de ideia sobre a United e decidiu pegar um voo particular. Não precisa dizer
mais nada porque a outra mensagem que mandará já deixará tudo implícito.
— Que outra mensagem?
— Que você pode pegar um voo particular. De tudo que me disse sobre
ela, Ethel McCollister não entende o quanto você tem sucesso. Ou, pior, ela
não quer entender. De qualquer forma, chegar em um jato particular pode
mudar a perspectiva dela sobre você. Porque, se isso não a impressionar,
Lisa, não sei o que fará isso.
— Não quero impressioná-la, Barbara.
— Então você não entendeu nada. Porque, quando disser que decidiu
pegar um voo particular, ela a verá com novos olhos. Olhos que, com sorte,
terão mais respeito.
— Eu a conheço melhor do que isso. Ela só verá isto como uma
demonstração de dinheiro espalhafatosa.
— Ah, meu amor — disse Blackwell. — Nunca, nunca subestime o poder
do dinheiro. Porque o dinheiro sempre fala, e ele tem o poder de influenciar
os outros a ficarem em silêncio. Meu palpite é de que você impressionará sua
nova “mãe” com esse jatinho. — Ela se virou para Jennifer. — Quando e
onde Lisa chegará?
— No voo da United, ela chegaria por volta das quatro. Mas, conosco,
chegará às três.
— Então, vamos fazer isso? — perguntou Blackwell.
Pensei no assunto por um momento, decidindo finalmente que Blackwell
estava certa de novo, para variar. Eu deveria ir para Prairie Home com uma
sensação de confiança. Isso ajudaria.
— Certo, vamos fazer isso. — disse eu. — Mas não vou fingir que paguei
sozinha. Não vou mentir. Quero que Jennifer me cobre. Sem discussão.
— Lisa, isso não é necessário — disse Jennifer.
— Só serve se for assim — disse eu. — Estou falando sério.
— Tudo bem — disse ela com um suspiro. — E, na verdade, eu entendo.
Você não quer se sentir uma fraude se ela a questionar.
— Exatamente. Então, você me cobrará?
— Não quero, mas tudo bem.
— Tenho que mandar uma mensagem para ela sobre as mudanças — disse
eu, pegando meu SlimPhone da bolsa e ligando-o. — Onde ela me buscará?
Ela precisará saber.
Jennifer me disse.
— Ela me julgará por causa disso — disse eu quando comecei a digitar a
mensagem.
— Ou vai venerá-la — disse Blackwell. — Lisa, Ethel McCollister pode se
ressentir em segredo por você pegar um jato absurdamente caro da Learjet,
mas, pelo que me contou, acho que ela se gabará para os amigos por causa
disso. Acha que estou errada?
— Colocando as coisas dessa forma? Claro que não.
— Então, pronto.
Enviei a mensagem.
— Agora, vamos colocá-la no avião.

***

Quando estávamos no LaGuardia e chegou a hora de me despedir de Jennifer


e Blackwell, ouvi meu telefone tocar dentro da bolsa.
— Ela acabou de me responder — disse eu.
— O que ela disse? — perguntou Jennifer enquanto eu pegava o celular da
bolsa e lia a mensagem.
— Bem o que eu falei — disse eu. — Posso ler?
— Por favor — disse Blackwell.
— “Você pegará um voo particular?” — li. — “Minha nossa, Lisa, não
precisa de voo particular para vir para cá, acredite, porque não há ninguém
para impressionar. Digo, certamente não a mim. Pode ser você mesma aqui e
espero que seja. De qualquer forma, eu estarei esperando quando chegar.
Vejo você em breve. Tudo de bom, Mãe”. — Olhei para as duas. — Dizer
“tudo de bom” é o pior de tudo. Ela já me odeia de novo.
— Na verdade, sabendo disso — disse Blackwell. — Ela já está
repensando tudo em relação a você.
— Como assim?
— Se ela não entendeu antes, agora sabe que você tem dinheiro, que não
comprometerá sua vida por ninguém e que a subestimou. Por causa disso,
você nunca será um peão dela. Claro, ela pode tentar transformá-la em um se
quiser e pode tentar. Mas, de alguma forma, ela sabe que isso será muito mais
difícil do que esperava.

***

Vinte minutos depois, após me despedir, eu estava sentada no jato


extravagantemente projetado bebendo um bloody mary forte antes da
decolagem da viagem de cinco horas até Prairie Home, onde só Deus sabia o
que me esperava.
CAPÍTULO 7

O que me esperava quando saí do avião, atravessei o asfalto quente e entrei


no hangar que os aviões particulares usavam em vez dos portões do
aeroporto, era Ethel McCollister em pessoa. Quando a vi enquanto entrava
em um saguão pequeno, percebi de quem Tank puxara a beleza.
Mais nova, Ethel deveria ter sido maravilhosa porque, mesmo agora, era
linda.
— Lisa — disse ela, levantando-se e estendendo os braços para mim —
Venha aqui para que eu possa vê-la. Quanto tempo!
Ethel era uma mulher alta, por volta dos sessenta anos, embora, por causa
da boa genética, parecesse bem mais nova. O cabelo dela era loiro, o rosto
levemente bronzeado com um brilho bonito, os lábios estavam com um tom
vermelho escuro e ela estava vestida completamente de branco, com calças
elegantes, um blazer justo com um botão fechado na cintura e uma camiseta
que não tinha nem um milímetro de decote.
Se ela estivesse sentada em uma nuvem, poderia ser confundida com um
anjo, o que provavelmente era a intenção.
Mas o que quase me fez parar no meio do caminho foi que a bolsa
pendurada no ombro esquerdo dela era uma Double V Louis Vuitton bege,
que eu sabia que custava pelo menos uns quatro mil dólares. Mesmo que
soubesse que os McCollister eram ricos, Tank e eu nunca conversáramos
sobre o quanto eram ricos. Agora, aquela bolsa estava ali para deixar claro
que os McCollister tinham muito dinheiro.
Sério? pensei enquanto andava na direção dela com um sorriso. Você me
julga por pegar um voo particular e vem me buscar com esta bolsa? Quem
está tentando impressionar quem, Ethel?
Sempre que andava de avião, eu me vestia confortavelmente. Naquele dia,
isso significava uma calça sarja Dolce & Gabbana e uma camisa de gola alta
branca Givenchy. Nos pés, eu usava sandálias abertas Christian Louboutin
com a sola vermelha. No braço, uma bolsa Prada. Eu estava vestida de forma
mais casual que Ethel, mas ainda estava arrasando. E graças a Deus porque,
enquanto me aproximava para abraçá-la, eu a vi me avaliar com um olhar
rápido e calculado.
— É bom ver você — disse eu perto do ouvido dela. — Obrigada
novamente por todo o trabalho e a ajuda. E por nos deixar fazer o casamento
aqui.
— O prazer é nosso — disse ela enquanto dava um passo atrás e olhava
para mim. — Você está perfeita e maravilhosa, Lisa. De verdade.
— Digo o mesmo sobre você — disse eu, sinceramente. — Não só este
blazer incrível, mas estou maravilhada com sua bolsa. Ela é muito linda.
— Eu a comprei na cidade semana passada — disse ela. — Fui fazer umas
compras, algo raro. A bolsa, é claro, foi um presente para o casamento do
meu filho e eu simplesmente a adorei, mesmo que Harold tenha quase
desmaiado ao ver o preço. Mas, como nosso filho só se casará uma vez, acho
que desta vez passará. Eu também comprei roupas para o ensaio, o jantar de
ensaio e o casamento. Vou mostrá-las a você mais tarde, quando se
acomodar, porque adoraria sua opinião sobre cada uma delas. Você está
sempre tão chique, Lisa, e não de uma forma urbana e obscena porque não é
isso que quero dizer de forma alguma.
Ela já começou?
Eu não tinha certeza, portanto, continuei.
— Obrigada — respondi.
— Srta. Ward — disse uma voz atrás de mim. Virei-me e vi um jovem
parado perto da porta com um carrinho com minhas malas. — Você tem
algum carro?
— Sim, sim — disse Ethel. — É só sair, no estacionamento. É o Lincoln
Navigator. — Ela olhou para mim. — Eu sabia que você traria algumas
malas, então trouxe o monstro comigo. Você adorará, ele é um charme, mas é
enorme. Tenho que admitir que, algumas vezes, é difícil ver os retrovisores, o
que me deixa assustadíssima, e pode assustar você também! Então, vamos?
Tenho muitos planos para hoje à noite e Prairie Home nos aguarda!

***

Depois que todas as minhas malas foram colocadas no porta-malas, dei a


volta até a porta do passageiro, lembrando-me, com uma sensação de alívio,
de que o percurso até Prairie Home era relativamente curto. Dependendo do
tráfego, a casa dos McCollister ficava a trinta minutos de carro, o que era
perfeito porque Ethel gostava muito de falar.
Quando abri a porta e estava prestes a entrar, vi vários livros empilhados
no meu lugar, uma mistura de dois romances de capa dura e outro em papel
maleável, e, com um olhar rápido e horrível, vi que eram meus. Eles tinham
sido colocados ali de propósito. Era para eu vê-los.
Mas por quê?
— Ah! — disse ela quando entrou no carro e fechou a porta. — Desculpe!
Eu deveria tê-los colocado no banco traseiro.
— Você comprou meus livros? — perguntei.
— Na verdade, comprei! Parei na Barnes & Noble no caminho e procurei-
os para que possa lê-los durante a semana que vem. Eu queria todos em capa
dura, mas seu primeiro livro não está mais sendo impresso, portanto,
consegui com a capa maleável. Eu sei que deveria tê-los lido antes, e peço
desculpas por não fazer isso porque essas capas me matam de medo, mas
resolvi lê-los enquanto está aqui, Lisa. E, como leio rápido, vou terminar bem
rápido. Depois, poderemos sentar e discuti-los! — Ela apontou um dedo para
mim. — Estou fazendo isso porque quero saber o que tem dentro da sua
cabeça. Se vai casar com meu filho e virar minha nora, quero saber do que
você é capaz. Sabe, em relação à sua arte. O que acha?
Que fico com vontade de vomitar só de pensar em como serão essas
conversas, Ethel? Que tenho a sensação de que você os lerá com o terço na
mão? Que você me acordará de manhã jogando água benta na minha cara?
— Estou honrada — disse eu enquanto ela ligava o carro e o ar-
condicionado.
— Como você sabe, eu nunca leio nada deste gênero, mas com certeza
posso tentar, não é? Especialmente porque são seus livros. E olhe só para
mim! Eu nem os comprei no meu Kindle porque um dia posso querer exibi-
los em nossa biblioteca.
Um dia? Pode querer?
— Livros físicos são especiais — disse ela. — Eles podem durar uma
eternidade. Agora, aqui — disse ela, colocando os livros no banco traseiro.
— Sente-se, coloque o cinto e relaxe. Só posso imaginar como você deve
estar exausta depois daquele seu voo particular, que deve ter sido cansativo.
Por que não descansa enquanto escutamos algo especial no caminho para
Prairie Home?
— O que é? — perguntei enquanto fechava a porta depois de entrar.
— Tenho ouvido uma série de audiobooks fascinante e há um que estou
adorando muito! Sei que você não é religiosa, Lisa, portanto, me desculpe
porque esta série de livros é muito religiosa. Não é minha intenção entediá-la
com os ensinamentos da igreja, então pense da seguinte forma: quando
começar a ouvir, se não gostar, é só dormir.
— Não é que eu não seja religiosa — disse eu. — Porque acredito em
Deus. Muito. Espero que saiba disso.
— Na verdade, eu não sabia.
— Bom, é verdade.
— É um alívio ouvir isso. Você se importa se conversarmos um pouco
sobre isso? Porque a igreja é algo muito importante para mim, Lisa. Tenho
certeza de que Mitchell falou para você.
Em algum momento, teremos esta conversa, Ethel, portanto, que seja
agora.
— Podemos conversar sobre o que você quiser.
— Você vai à igreja?
— Não vou a uma igreja há anos.
— E mesmo assim acredita em Deus?
— Não ir para a igreja não acabou com a minha fé. Sou uma pessoa muito
espiritual.
— Espiritual ou religiosa?
— Não vejo diferença. Para mim, acreditar em Deus é acreditar em Deus.
— Que interessante. Seus pais a levavam à igreja quando era criança?
— Por muitos anos, eles me levaram. Mas isso eventualmente acabou
quando meus pais compraram um pequeno hotel em Bangor. Como não
estavam muito bem de dinheiro na época e não podiam gastar com
camareiras, só havia nós três no hotel, o que era difícil. Havia o prédio
principal para limpar, que tinha nove quartos, e dez chalés ao lado direito do
prédio, alguns completos com salas de estar e cozinhas. Nós três
precisávamos limpá-los rapidamente para que pudéssemos alugá-los de novo.
— Então, seus motivos para não ir à igreja se resumem a trabalho?
— Assim como muitas outras pessoas, Ethel.
— Quantos anos você tinha quando parou de ir à missa?
— Por volta dos nove, acho.
— Minha nossa — disse ela, arregalando os olhos para mim. — Tão
nova...
— Meus pais fizeram o melhor possível. Não era uma vida fácil.
— Isso consigo entender completamente. Digo, imagine como era difícil
para nós com a fazenda, especialmente com tantas galinhas e vacas que
precisavam de cuidados. Como você sabe, antigamente também éramos só
nós três, mas conseguíamos tirar mais ou menos uma hora para ir à igreja
todo domingo. Às vezes, não sei como conseguíamos, mas conseguíamos.
Provavelmente por causa da graça de Deus. É uma pena que seus pais não
tenham conseguido achar um tempo para ir e levar você.
— Domingo era a segunda noite mais cheia para nós — disse eu com um
pouco de irritação na voz. — Era também o dia de cortar toda a grama, que
era parte do meu trabalho. Não havia tempo para a igreja.
— Espero que não ache que estou julgando você — disse ela.
— Também espero que não esteja, Ethel.
— É a segunda vez que me chama pelo meu primeiro nome, sabia?
— Eu sei.
— Ah, espero que eu não a tenha deixado chateada com esta conversa
sobre igreja. Eu só quero conhecê-la, Lisa... para entendê-la melhor, pois
realmente quero que isso aconteça, especialmente porque estou prestes a
fazer parte da sua vida pelo resto da vida. É um dos motivos pelos quais vou
ler seus livros enquanto está aqui. Nós duas praticamente não nos
conhecemos e, em uma semana, você casará com meu único filho. É
importante para mim conhecer minha futura nora e a melhor forma de fazer
isso é conversando, não é?
— Eu entendo — disse eu. — E tenho certeza de que conversaremos
bastante durante a próxima semana.
— É melhor irmos — disse ela. — Mas, antes, deixe-me mostrar o que
ouviremos. Eu ainda não comecei, mas estou ansiosa!
Ela se inclinou para frente e pegou uma caixa de CD do porta-luvas do
Navigator.
— Aqui, veja — disse ela ao me entregar.
A primeira coisa que vi foi o título: Ex-satanista se torna católica. A
segunda coisa que notei foi a imagem de um padre segurando um crucifixo
grande abaixo do título como se estivesse acabando com Lúcifer.
Impressionada por ela ter me entregado aquele CD depois da conversa, virei a
caixa e li a descrição do livro:

Qual é o tamanho da ameaça do oculto? Neste testemunho provocativo, a


ex-satanista Betty Brennan compartilha a história de sua incrível jornada da
existência sombria da adoração ao diabo para a satisfação da verdade em
Jesus Cristo e na igreja católica. Você conhecerá a história incrível dela,
sua busca por libertação e sua missão de abrir os olhos dos outros em
relação à verdade sobre o diabo.

Primeiro, os livros. Depois, a conversa. Agora isto? Ela está me


encurralando para ver minha reação.
Portanto, reagi.
— “A verdade sobre o diabo” — disse eu, devolvendo o CD a ela com um
sorriso. — Sabe, acho que preciso mesmo ouvir algo exatamente assim agora.
Obrigada pela sugestão.
— O prazer é meu — disse ela enquanto colocava o CD no reprodutor do
rádio e batia de leve no meu joelho. — Vamos compartilhar esta experiência
juntas, Lisa. Vamos ouvir Betty nos contar sobre o diabo e como ele se revela
de muitas formas. E, se quiser, depois podemos rezar. Ou não. O que você
quiser. Agora, vamos. Prometi a Harold que eu e você faríamos o jantar
juntas hoje à noite porque, se cozinhará para nosso filho, estou morrendo de
vontade de ver suas habilidades na cozinha.
E ela continua.
— O que cozinharemos? — perguntei.
— Ué, a comida preferida de Mitchell, é claro — disse ela. — Você com
certeza já sabe a estas alturas. E, deixe-me dizer algo, minha querida, a Mãe
mal pode esperar para ver você prepará-la!
CAPÍTULO 8

Uma hora e meia depois, após sair da cidade para o interior luxuoso do
Nebraska, partes que me faziam lembrar de casa em Iowa, o que me deixou
com saudade, estávamos perto da casa dos McCollister quando Betty
Brennan pronunciou pelos alto-falantes do Navigator que ela eventualmente
encontrara coragem para tirar o diabo de sua vida à força e deixar Deus
entrar.
— Não foi inspirador? — exclamou Ethel ao desligar o rádio.
— Muito — disse eu, olhando para fora pela janela para acres e mais acres
de uma fazenda linda. Em seguida, só porque eu sabia que ela me fizera ouvir
aquela bosta de propósito, não pude deixar de ir além do normal. — Se um
dia eu precisar, saberei como tirar o diabo da minha vida à força.
— Considere o assunto para um próximo livro. Acho que seria incrível.
— Você não acha que não foi nem um pouquinho exagerado? —
perguntei.
— Nem um pouco. Acabamos de ouvir uma ex-satanista que passou
literalmente pelo inferno para encontrar Deus. Não deve ter sido fácil.
— Bom, com certeza não pareceu fácil porque, no mínimo, Betty passou
sua história adiante com coragem. Teve um momento em que achei que ela
perderia a voz, particularmente quando canalizou a versão dela do diabo.
Agora, aquela parte não tinha como. Até você tentou segurar o riso quando
ela começou a guinchar que nem um porco.
— Se eu estava fazendo alguma coisa, era segurar as lágrimas.
Ah, pelo amor de Deus, pensei. Sério? Querida, dê alguma esperança
para o nosso relacionamento, apesar da merda que você me fez passar hoje.
Jennifer e Blackwell estavam certas, eu precisava vir armada hoje. Graças a
Deus elas garantiram que eu não estivesse confortável demais com você.
— Enfim — disse ela. — Chegamos.
Quando me virei para olhar para a propriedade dos McCollister, não era
nada como eu me lembrava.
Na última vez em que eu vira a casa e o terreno, eles estavam mascarados
por uma camada de neve. Mas agora, na metade de junho, a grama estava tão
verde que parecia emanar uma luz própria. Havia também os jardins em volta
da casa, que estavam florescidos com um conjunto de cores vibrantes. A
maioria das coisas que reconheci eram plantas perenes: erva daninha
borboleta, mertensia virginica, gerânio e aster, mas alguns lugares tinham
outras flores lindas que floresceriam durante todo o verão.
A casa enorme tinha o estilo colonial da virada do século com três
mansardas que se estendiam pelo telhado enorme. Pintadas de branco com
persianas pretas, ela parecia ter mais de uma dúzia de janelas viradas para o
caminho circular de cascalho, que dava para uma varanda apoiada em seis
pilares. Enquanto Ethel passava em frente à casa, notei o pórtico fofo, sob o
qual ela estacionou o SUV.
— Sua casa é maravilhosa — disse eu a ela. — Na última vez em que a vi,
não pude ver os detalhes, havia muita neve. É realmente incrível.
— Bom, obrigada, Lisa. Eu também gosto muito dela. Harold e eu a
pintamos ano passado, portanto, considere-se com sorte porque agora está
especialmente bonita. Eu nunca fiz um casamento nesta propriedade, mas há
muitos eventos de caridade e encontros sociais, o que é um dos motivos por
termos tanto cuidado com ela.
— Tank me disse que a casa foi construída no começo do século XIV, mas
parece tão nova — disse eu. — O cuidado de vocês é impecável. E veja o
terreno ali. É este o campo de que Tank falou?
— Isso mesmo, e o lago e o gazebo estão à direita, não dá para ver daqui.
Vou mostrá-los para você depois. Primeiro, vamos falar com Harold. Sei que
ele está ansioso para vê-la. — Ela abriu a porta e saiu, mas não antes de eu
ouvi-la dizer: — Só não sei se ele está trabalhando em um dos celeiros ou se
está em casa.
Abri a porta, espreguicei-me ao sair e vi Ethel dar a volta no carro com o
celular na orelha.
— Chegamos — disse ela com a voz animada. — Cadê você? Na cozinha?
Já entraremos. Não, fique aí. Chame um dos trabalhadores e peça que ele leve
as malas de Lisa para dentro de casa. Você não precisa fazer isso e
provavelmente daria um mau jeito nas costas se tentasse. Digo, minha nossa,
Lisa trouxe quatro malas. — Ela piscou para mim ao dizer aquilo. — Quando
vi quanta bagagem havia com ela, levei um susto porque, por um momento,
achei que estava se mudando para nossa casa. Tudo bem, certo. Veremos
você em alguns segundos.
Ela desligou o celular, jogou-o na bolsa Louis Vitton e andou em direção à
porta preta ao lado da casa. — Vamos? — perguntou, abrindo-a. — Odeio
deixar Harold esperando, o que é um dos vários motivos pelos quais estamos
casados há mais de quarenta anos. Nunca deixe o homem da casa esperando,
Lisa. É bom que me escute em relação a isso. A cozinha, você deve se
lembrar, é pelo hall de entrada, só ir em linha reta pelo corredor central.
Agora vamos, Papai quer ver você.

***

Quando entrei na cozinha grande e ensolarada que tinha paredes amarelo-


claro, piso de carvalho dourado e equipamentos de aço inox profissionais,
Harold McCollister, um homem alto com aproximadamente a mesma idade
da esposa, mas que parecia mais velho, provavelmente porque a vida na
fazenda não era fácil para ninguém, sorriu para mim de uma forma que eu
sabia que era genuína.
Tank podia ter herdado a beleza da mãe, mas herdara a bondade de espírito
do pai. Durante os meses anteriores, eu falara com ele pelo telefone com
frequência sobre o casamento e, a cada conversa, conseguia sentir um vínculo
crescendo entre nós. E eu apostava que aquilo irritava muito Ethel.
— Lisa — disse ele quando se aproximou para apertar minha mão. — É
ótimo ver você.
— Obrigada... papai — disse eu, tendo um ataque internamente por
concordar em chamá-lo de algo que uma menina de seis anos usaria para falar
com o pai. — É bom ver você também.
Sou uma adulta, pensei enquanto apertávamos as mãos e ele me olhava um
pouco confuso. Por que eu deixei que ela me pressionasse a chamá-los de
mãe e papai? Pela esperança de que as coisas fossem mais tranquilas entre
nós? Aparentemente. Deveria ter escutado quando Tank me disse que eu não
precisava fazer aquilo. Mas, enfim. Agora já era.
— Papai? — perguntou ele, parecendo surpreso. Provavelmente tendo
visto o desconforto no meu rosto, ele se virou para a esposa, que estava à
minha esquerda. — Você a convenceu a fazer isso, não foi, Ethel?
— Como assim?
— Desde quando Lisa me chama de papai? Como ela está chamando
você? Mamãe?
— Na verdade, escolhi mãe — disse Ethel. — Lisa está prestes a se tornar
nossa nora, Harold. Quero que ela nos considere parte da família agora,
especialmente porque será oficialmente uma McCollister em alguns dias.
— E ela foi educada demais para recusar. — Ele olhou para mim. —
Esqueça isso. Sempre serei Harold para você, Lisa. E Ethel será Ethel.
Portanto, agora que está resolvido, vamos deixar isso de lado. Como foi a
viagem?
— Ela pegou um avião particular — disse Ethel antes que eu pudesse falar.
— Nada além de luxo para esta daí.
Piranha, por favor.
— Particular? — perguntou ele. — Deve ter sido legal. Que bom. Que tipo
de avião era?
— Acho que era um Learjet.
— Não é seu?
— Não, não, eu aluguei.
— Você trabalha duro — disse ele. — E alcançou o sucesso. Por que não
se mimar um pouco antes do seu casamento? Tenho certeza de que este foi o
motivo e de que foi muito relaxante.
— Foi, sim — disse eu, querendo mudar de assunto. — Como tem
passado, Harold?
— Do mesmo jeito que estava quando a vi há dois anos, Lisa, feliz e
saudável, que são as duas coisas mais importantes. Além disso, minha vida é
basicamente minha rotina. As coisas não mudam aqui, exceto quando algo
acontece em algum dos celeiros. Acho que a única diferença que você pode
ter notado foi meu cabelo, que está passando de grisalho para branco.
— Combina com você — comentei. — Agora seus olhos parecem mais
azuis que os de Tank, o que é bastante.
— Acho que sim — disse ele, sorrindo. — Então, diga-me, está
trabalhando em algum livro novo?
— Acabei de terminar um, que está com meu editor. Começarei o próximo
assim que eu e Tank voltarmos da lua de mel.
— Qual é o nome do que você terminou?
Meu pai do céu, por favor, não me faça dizer o nome a eles.
— Eu com certeza gostaria de ouvir o nome — disse Ethel.
Aposto que sim, Ethel. Então, tudo bem. Vou falar para você.
— Ele se chama Os Mortos Levantarão — disse eu.
Ao meu lado, Ethel literalmente se contorceu antes de fazer uma
genuflexão.
— Pare com o show, Ethel — disse Harold.
— Não sei do que está falando, Harold.
Ele lançou um olhar de advertência para ela antes de se virar para mim. —
É um nome chamativo — disse ele. — Aposto que ficará em primeiro lugar,
assim como os outros. E, sabe de uma coisa, Lisa? Será legal ter uma
escritora na família.
— Obrigada — respondi — Agradeço muito.
— Falando nisso — disse Ethel. — Parei em uma livraria no caminho para
o aeroporto e comprei todos os livros dela! Eles estão no banco de trás do
Navigator. Planejo ler todos antes do casamento. Sabe, para que eu possa
conhecer Lisa melhor. Entender como a mente dela funciona e tal.
— Ela não é um experimento de laboratório, Ethel.
— Eu nunca disse que era, Harold.
— Lisa é uma escritora.
— É claro que é.
— E ela escreve sobre ficção.
— Eu entendo completamente. — Ela olhou fixamente para ele. — Minha
nossa, você está bem animado esta tarde.
— Só estou fazendo o trabalho do Senhor — disse ele. E, ao dizer aquilo,
Harold McCollister sorriu para mim.
— Sabe — disse Ethel depois de pigarrear. — Lisa e eu cozinharemos para
você hoje à noite.
— Hoje à noite? — perguntou ele. — Mas Lisa acabou de viajar horas
para chegar até aqui. Provavelmente quer se acomodar e que você cozinhe
para ela. Tenho certeza de que ela está doida para ver o gazebo pessoalmente,
não só pelas fotos que mandamos. E o lago com os cisnes. Por que quer que
ela cozinhe?
— Porque achei que seria divertido para nós. Digo, ela não teve um dia
exatamente cansativo. Afinal, pegou um voo particular. Achei que Lisa
ficaria feliz em preparar a refeição preferida de Mitchell para nós, assim, a
mãe dele poderia ir para o túmulo sabendo que ela está fazendo tudo
direitinho porque há uma boa chance de que não esteja. Naturalmente, eu
ajudarei. Posso ser a sous chef dela, sabe. Para direcionar e supervisionar
tudo. Depois, todos poderemos desfrutar de uma refeição incrível!
Ela se virou para mim quando disse aquilo e encarou-me. — Você sabe
qual é a refeição preferida de Tank, não sabe?
— Acho que ele nunca me contou — disse eu. E eu estava falando sério,
Tank nunca me contara.
— Sério? — perguntou Ethel. — Você realmente está me dizendo que não
sabe?
— Lamento, mas não.
— Mas ele sempre pede esta refeição quando vem para casa! Ele espera
que eu cozinhe para ele. É a empada de frango da avó dele. A que eu servi
para vocês na última vez em que vieram. E você nunca fez para ele?
— Receio que não.
— Não acredito nisso — disse ela. — Tem mais de um ano que meu filho
comeu a empada de frango preferida dele. Você cozinha alguma coisa?
Vamos ver, Ethel. Quando Jennifer e eu nos mudamos para Manhattan,
dominei a arte do miojo porque era o que conseguíamos comprar. Mas estou
aqui para dizer que ficava uma delícia! Também sei fazer comida congelada,
sou profissional em pedir delivery, sou ótima em comer fora e sei fazer um
martíni maravilhoso. Além disso, sou mais que perfeita em relação a
alimentar meus zumbis. Na verdade, acho que um deles quer morder você
agora mesmo.
— Normalmente, quem cuida da comida é Tank — respondi.
— Ele o quê?
— Ele cuida da comida. Diz que é relaxante.
— Minha nossa — disse ela. — Eu não fazia ideia de que isso acontecia.
— Não é como se fosse o fim do mundo, Ethel — disse Harold. — Tank
sempre gostou de cozinhar, você sabe disso.
— Uma mulher deveria cozinhar para o homem de sua vida, assim como
sempre cozinhei para você. — Ela olhou para mim. — Você pelo menos sabe
como cozinhar?
Quando seu filho e eu estamos na cama, Ethel, vamos dizer que
certamente sei como deixar as coisas quentes.
— Na verdade, não.
— Sua mãe não a ensinou?
— Não havia muito tempo. Digo, ela cozinhava para nós, mas nunca me
ensinou.
— Porque todos estavam ocupados com o hotel, presumo.
— Sim.
— Então, eu a ensinarei — disse ela com determinação na voz. — Mas
talvez Harold tenha razão. Você parece estranhamente cansada agora,
portanto, cozinharei hoje à noite e amanhã nós duas cozinharemos juntas.
Você precisa aprender a fazer esse prato.
— Ficarei feliz em aprender.
E, no momento em que disse aquelas palavras, eu soube que logo me
arrependeria.
— Ethel? Harold? — chamou uma voz atrás de nós.
— É Stan — disse Ethel. — Ele provavelmente está com as malas de Lisa.
— Traga-as para a cozinha, Stan! — gritou Harold. Em seguida, ele olhou
para a esposa. — Que tal assim: você leva Stan com as malas para o quarto
que preparou para Lisa enquanto eu a levo até o gazebo. Ela veio para cá para
se casar, Ethel, e tenho a sensação de que a última coisa na cabeça dela no
momento é aprender a cozinhar. Mas acho que ela gostaria de ver onde se
casará com Mitch. — Ele olhou para mim. — Quer ver onde será?
— Ah, eu adoraria ver o gazebo — respondi. — Estou superansiosa para
vê-lo.
— Então deixe-me levá-la — disse ele. — Só nós dois.
— Mas e eu? — perguntou Ethel.
— Você está oficialmente encarregada das malas.
— Bom — disse ela. — Então, por favor, cuidado com os carrapatos
enquanto estiverem no campo, lá é cheio deles.
CAPÍTULO 9

— É tão lindo aqui — disse eu a Harold quando saímos da casa e fomos


banhados com o sol do final da tarde. Enquanto andávamos em frente à casa,
admirei os canteiros de flores que a rodeavam. Olhei para cima, para o céu
azul claro, e soube que, diferentemente de Manhattan, se eu saísse ali de
noite, conseguiria ver um mar de estrelas mapeando o universo para mim. E
havia também o próprio ar, que era tão limpo e fresco que me lembrou mais
uma vez do Maine.
— Fico feliz que goste daqui, Lisa — disse Harold.
— Eu gosto. Fico feliz por Tank ter pensado em se casar aqui. Sabe, se não
fosse tão plana, a paisagem me lembraria de onde eu cresci.
— Não há muitas montanhas aqui — disse ele.
— É tão verde. Morando na cidade, temos basicamente que ir ao Central
Park para ver algo remotamente parecido com isso. Caso contrário, com
exceção de alguns parques na cidade, não há nada além de arranha-céus e
prédios atrás de prédios, residenciais e comerciais.
— Você gosta da cidade? — perguntou ele.
— Claro — respondi. — Foi onde conheci seu filho.
Olhei para os sete celeiros enormes ao longe à minha esquerda e pensei
que pareciam intocados. Deveria haver várias centenas de cabeças de gado
nos campos perto deles, o que me trazia uma lembrança da fazenda dos meus
avós em Harmony, Maine. A fazenda deles não chegava nem perto do
tamanho da dos McCollister, mas eu adorava passar tempo lá, no mínimo
para ficar com meus avós... e minha vaca preferida, Annabelle. Com exceção
de Jennifer, durante boa parte da minha juventude, eu considerara Annabelle
uma das minhas melhores amigas, além de ser a mais paciente ao me ouvir.
Parecia bobo para mim naquele momento, mas, quando eu era criança, os
segredos que compartilhei com ela tinham sido profundos.
Depois de aproximadamente dez minutos andando pela grama cortada,
chegamos ao campo, que tinha um caminho largo e perfeitamente desenhado
do centro dele à direita.
— Tank não estava brincando — disse eu. — Ele disse que o gazebo e o
lago ficavam longe dos celeiros. Não consigo nem vê-los.
— Ainda temos mais um tanto para andar.
— Quantos acres vocês têm aqui?
— Mais ou menos novecentos.
— Novecentos?
— Mais ou menos isso.
— Você deve adorar aqui.
— Eu adoro — disse ele. — O trabalho é difícil, mas, como meu pai
sempre dizia, trabalho duro é bom para a alma. Deus sabe que ele me disse
isso várias vezes, mas estava certo, mesmo que fosse um filho da puta sem
coração.
Surpresa pelo que acabara de dizer, apenas me virei para ele.
— Desculpe — disse ele. — Ethel detesta quando falo palavrão, portanto,
tento não falar muito perto dela para que não queira rezar pela minha alma.
Mas tenho que avisá-la, Lisa, às vezes, não consigo me segurar. Espero que
eu não a tenha ofendido.
— Harold, escrevo sobre zumbis que comem pessoas — disse eu. — Você
não me ofendeu porque sei como é, às vezes também não consigo me segurar.
— Não precisa se segurar perto de mim. Mas, perto de Ethel, talvez seja
uma coisa inteligente a se fazer.
— É, acho que já ficou bem claro.
— Tenho certeza de que sim — disse ele, revirando os olhos.
Continuamos andando em frente pelo caminho aparado enquanto abelhas,
insetos voadores, borboletas e pássaros passavam pelos campos à nossa volta.
— Sabe — disse ele. — Eu quis ir até o gazebo com você por um motivo,
que é Ethel. Ela não tem sido muito fácil com você, Lisa. E sinto muito por
isso.
— Não precisa — disse eu. — Apesar de ser pequena, Harold, sou
surpreendentemente forte. E às vezes um pouco grossa.
— Você deve ser tratada com respeito.
— Ethel e eu tivemos nossos momentos e acho que, com o casamento
aproximando-se, talvez tenhamos mais alguns por causa da pressão. Mas
entendo por que às vezes ela é como é. Vou me casar com o único filho dela
e ela quer o melhor para ele.
— Ela com certeza quer alguém que possa fazer aquela maldita empada de
frango para ele.
Ri quando disse aquilo e, pela primeira vez naquele dia, senti o estresse
indo embora só por estar com ele.
— Farei o possível para aprender a receita — disse eu.
— Mesmo assim, não será suficiente para ela.
— Eu entendo — respondi. — E vamos passar por isso.
— Sabe, eu amo Ethel, Lisa. Mesmo que não dê para acreditar agora, ela é
uma boa pessoa, especialmente quando passa a confiar em você e amá-la,
assim como ama Mitch e eu. Mas sei que ela pode ser difícil. Ela acha que
está prestes a perder Mitch para você e isso é difícil. Sei que está descontando
em você de todas as formas possíveis e peço desculpas por isso também.
Tentarei ajudá-la a ir pelo melhor caminho o máximo possível, apesar de nem
sempre conseguir. Se ela for longe demais, fale comigo e farei o possível para
resolver as coisas, tudo bem?
— Mas, se eu fizer isso, só a estarei dedurando — disse eu. — E isso fará
com que ela não confie em mim, o que é a última coisa que quero em nosso
relacionamento. Estou tentando fazê-la ver que sou a mulher certa para Tank,
Harold. Eu amo seu filho mais do que acho que ela consegue entender.
— Ela sabe — disse ele. — Só não quer admitir. Ela foi horrível com você
na primeira vez em que esteve aqui. Vi como ela estava comportando-se e
acho que eu deveria ter dito algo naquele momento. Mas era Natal e eu não
queria brigar com ela, então, por favor, aceite minhas desculpas pelo que
aconteceu.
— Eu agradeço — disse eu. — Só quero que saiba que farei o possível
para mudar as coisas entre nós.
— Como ela se comportou ao buscá-la no aeroporto?
— Foi tudo bem até ela me obrigar a ouvir um certo audiobook.
— Que audiobook?
— Se eu me lembro bem, acho que se chamava Ex-satanista se torna
católica.
— Meu pai do céu — disse ele. — Aquela mulher não se aguenta.
— Está tudo bem. Na verdade, para ser sincera, até que foi divertido.
— Acho que ela tem algum problema com os seus livros.
— Ela tem. Mas, quando lê-los, verá que provavelmente não é o que está
esperando. Meus livros não são só sobre mortos-vivos comendo pessoas,
apesar de ter muito disso. Na essência, eles são sobre os mortos-vivos
sofrendo com a ideia de que Deus de alguma forma os deixou para trás para
ser algo que não entendem. Eles se sentem abandonados por Deus. Sofrem
com a perda d’Ele. O que Ethel não sabe é que a religião tem um papel
importante nos meus livros. Acho que ela verá isso.
— Não crie muitas expectativas — disse ele. Em seguida, apontou para
frente. — Agora, que tal olhar para lá?
Eu estava tão concentrada nele e em nossa conversa que não percebi que o
gazebo e o lago estavam à vista. E que vista. O gazebo era grande e oval, fora
pintado com um branco brilhante e tinha um telhado cinza com duas
camadas, sobre o qual havia um detalhe de metal adornado com um florão de
madeira. Em volta dele, os canteiros exibiam flores com cores incríveis em
pequenos arbustos e uma variedade de plantas.
Logo atrás do gazebo, estava o lago, que reluzia com a luz do sol enquanto
vários cisnes deslizavam pacificamente pela água, com os pescoços graciosos
altos o suficiente como se soubessem que a adição do gazebo não tinha como
competir com a beleza deles. Enquanto absorvia aquela visão, desejei que
Tank estivesse comigo para que pudéssemos ter aquele momento juntos. Eu
já sentia muita falta dele.
— É maravilhoso — disse eu quando finalmente nos aproximamos. — E a
paisagem! Eu não a vi em nenhuma das fotos que você me mandou.
— É porque Ethel a terminou há alguns dias. Ela queria fazer uma
surpresa.
Eu me virei quando ele disse aquilo. — Foi Ethel que fez isso?
— Com alguma ajuda. Mas ela planejou tudo e trabalhou nisso durante as
últimas duas semanas. Ela escolheu cada flor, cada planta e cada arbusto.
Ethel queria que ficasse lindo e, como raramente falha quando decide algo,
foi o que fez.
— Terei que agradecer a ela — disse eu. — O que ela fez foi incrível.
Posso subir e dar uma olhada?
— Claro — respondeu ele. — Agora, que tal se eu deixá-la sozinha um
pouco? Acho que poderá ser bom para você. O que me diz?
— Obrigada, Harold.
— O prazer é meu, Lisa. Volte para a casa quando estiver pronta. — Ele
começou a se virar para ir embora quando vi um brilho em seus olhos. — E
não se esqueça... — começou ele.
— O quê?
— Cuidado com os carrapatos.

***

Quando Harold sumiu de vista, peguei meu SlimPhone do bolso e liguei para
Tank, que atendeu no segundo toque.
— O que você está vestindo? — perguntei.
— Um short. Acabei de terminar de me exercitar.
— Está sem camisa?
— Na verdade, estou.
— Aposto que está todo suado — disse eu.
— Você deveria me ver.
— Eu queria — disse eu ao me virar e olhar para o lago. — Sei que só vim
para cá hoje de manhã, mas já estou com saudades, Tank.
— Também estou com saudade. Queria poder estar aí com você.
— Especialmente agora — disse eu. — Porque estou no centro do gazebo
e ele é lindo, Tank. Muito mais lindo pessoalmente do que nas fotos que seus
pais mandaram. Obrigada por pensar nisso. É mágico aqui.
— Achei que você fosse gostar.
— Eu adorei.
— Como tem sido com a minha mãe? — perguntou ele. — Fiquei
preocupado.
— Sua mãe é sua mãe. E ela é o que é.
— O que isso quer dizer?
Eu contei a ele sobre o dia com ela.
— Não acredito que ela a fez ouvir aquele audiobook — disse ele.
— Como eu disse ao seu pai, eu realmente não me importei porque foi
hilário. E, falando nele, adoro seu pai.
— O pai é ótimo — disse Tank. — Ele é direto. Já minha mãe, ela prefere
as coisas de forma mais indireta.
— É verdade.
— Como você se sente com o fato de ela querer ler seus livros?
— Eu só espero que ela consiga ver além dos aspectos sensacionalistas,
ver a essência dos livros. Só o tempo dirá, eu acho, porque tenho certeza de
que ela ficará ansiosa para compartilhar a opinião dela comigo. Lidarei com
as coisas quando isso acontecer.
— Não aceite nenhuma merda dela, Lisa.
— Prometo que respeitarei meu limite e não aceitarei nada além disso. Ela
já me testou hoje e viu que me irritou. Logo depois, recuou.
— Fico feliz em ouvir isso.
— Vamos nos casar em uma semana e darei o meu melhor para mudar a
percepção dela em relação a mim. Quero que ela fique feliz quando nos
casarmos, não decepcionada. Quero que ela sinta que sou a mulher certa para
você. Tentarei fazer com que isso aconteça, mas, você sabe, não sou capacho.
Meu limite vai só até certo ponto.
— Caso ela passe dos limites, você tem todo o meu apoio para colocá-la
no lugar.
— Eu agradeço, mas vamos torcer para que não precise.
— Concordo. E aí, o que mais aconteceu? — perguntou ele.
— Acho que a única coisa que não contei a você foi que Ethel me ensinará
a fazer o seu prato preferido amanhã. Ela deixou absurdamente claro que
ficou chocada por eu não o estar servindo a você desde que passamos a morar
juntos.
— Do que ela está falando? — perguntou ele. — Qual é o meu prato
preferido?
— Ora, por favor — respondi. — Você poderia ter me contado. Com a
ajuda de Jennifer, eu teria descoberto como fazer.
— Não, é sério — disse ele. — Eu não tenho um prato preferido.
— Não?
— Não. Não sei do que ela está falando.
— Ela está falando da empada de frango da sua avó.
Ele riu quando eu disse aquilo. — Na verdade, esse é o prato preferido
dela. Não que seja ruim porque ela sabe cozinhar muito bem. Em algum
momento, ela deve ter tido a impressão de que era minha comida preferida.
Isso explicaria por que, toda vez que vou para casa, ela a prepara para mim.
E, como o bom filho que sou, eu como. Agora, ela quer que você faça para
testar suas habilidades culinárias — disse ele. — Ela provavelmente está
armando para você, Lisa. Você precisa saber disso.
— Acredite, eu sei o que me espera. E, apesar de eu não conseguir
cozinhar nem se minha vida dependesse disso, tentarei o máximo que puder.
Será um esforço para deixá-la mais tranquila, o que é basicamente uma
missão impossível. A boa notícia é que não temos muito tempo para esse tipo
de coisa mesquinha porque temos um casamento para organizar. Com sorte,
logo poderei me concentrar nisso, apesar dos esforços dela para me tirar da
linha.
— Sobre o casamento — disse ele. — Faça-me um favor e olhe em volta
por um momento. O campo foi aparado o suficiente para as cadeiras e para a
tenda? Ou meu pai ainda está esperando um pouco para isso?
— Não, já está tudo aparado — respondi, olhando para o gramado
imaculado em frente ao gazebo. — Há um espaço grande para todos se
sentarem e, além dele, deve ser o espaço onde ficarão as duas tendas com ar-
condicionado, uma para você e os padrinhos e uma para mim e minhas
madrinhas. Eu queria que você pudesse ver, especialmente os canteiros de
flores que sua mãe fez em volta do gazebo. São incríveis. Seu pai me contou
que ela mesma assumiu o controle do projeto porque queria que ficasse
perfeito. E ficou. Portanto, estou mais do que feliz por ela estar ajudando. Ela
saiu bastante da zona de conforto por nós, Tank.
— Há espaço suficiente no gazebo para todos?
— Mais do que suficiente. Estou no meio dele agora, que é onde ficará o
padre. Olhando para os convidados, posso ver você à direita e eu à esquerda
dele. Ao meu lado, estará Jennifer, Blackwell, Daniella e Alexa como minhas
madrinhas. À sua esquerda, Alex, seu tio Sam, Cutter e seu primo Taylor
como seus padrinhos. Há bastante espaço.
— Perfeito.
— Acho melhor eu ir — disse eu. — Tenho que desfazer as malas e Ethel
deve estar imaginando por que estou demorando tanto. Jantaremos em breve.
— Que tal se você me ligar mais tarde? — perguntou ele. — Sabe, hoje à
noite. Quando estiver indo deitar.
— É claro que eu ligarei para dar boa noite.
— Não era exatamente o que eu tinha em mente.
— O que você tem em mente?
— Talvez eu queira um pouco mais do que isso.
Estreitei os olhos quando ele disse aquilo. — O que você pretende? —
perguntei.
— Só porque estamos longe um do outro, não significa que não possamos
deixar as coisas interessantes.
— Você está falando de sexo pelo telefone?
— E se for?
— Mas e se os seus pais me ouvirem? Você sabe como eu sou quando
estou no clima. Viro uma sirene!
— Acho que devíamos experimentar — disse ele. — Vamos. Podemos
conversar sobre todas as coisas que eu queria fazer... começando com a
minha boca no meio das suas pernas.
— Agora você está me deixando excitada.
— E isto é um problema porque...?
— Porque não posso voltar para a casa com os faróis acesos.
— Vamos, Lisa. Deixe-me aproveitá-la mais tarde.
— Ai, meu Deus...
— Você sabe que quer.
— Eu quero. Na verdade, depois de hoje, você não sabe o quanto eu
preciso.
— Então me ligue — disse ele. — Logo antes de deitar. O quarto dos
meus pais fica no primeiro andar e do lado oposto da casa dos quartos do
segundo andar, onde você estará. Acredite, eles não vão ouvi-la. A casa é
grande demais.
— Tem certeza?
— Tenho certeza — disse ele. — Eu conheço aquela casa. Ela foi feita que
nem um forte.
— Tenho que admitir que parece um pouco atrevido — disse eu. — Pense
só, eu meio que transando na casa que Deus construiu. E se a gente for além?
Vamos fazer por FaceTime!
— Ver você pelada seria ainda melhor.
— Certo, vamos fazer. Ligarei para você mais ou menos umas dez horas.
— Estarei esperando — disse Tank. — Com as mãos cheias.
— Você é terrível.
— Espere até ver o quanto sou terrível.
Eu disse a ele que o amava e desliguei o telefone, colocando-o de volta no
bolso da calça, mas não antes de olhar para baixo e notar que meus mamilos
tinham se enrijecido ao ponto de ficarem pressionados contra a camiseta.
Como era uma longa caminhada até a casa, eu sabia que eles voltariam ao
normal antes de chegar lá. Portanto, respirei fundo, tentei relaxar e comecei o
caminho de volta.
CAPÍTULO 10

Quando cheguei à casa, meus mamilos já tinham saído da situação em que


Tank os colocara, apesar de a minha mente estar cheia de pensamentos
ilícitos sobre a noite clandestina que teria com ele mais tarde, quando tivesse
certeza de que Ethel e Harold estavam deitados e dormindo profundamente.
Tank e eu nunca fizéramos sexo por telefone, ainda mais por vídeo,
simplesmente porque era muito raro que ficássemos separados. Portanto, eu
tinha que imaginar como aquele nosso pequeno experimento seria.
Digo, onde eu seguraria o telefone? Perto da minha larissinha, como dizia
Epifania? Perto dos meus peitos, para que Tank visse o que estava perdendo?
Ou talvez sexo por vídeo fosse mais sobre as expressões faciais que eu faria
enquanto estávamos ali. Ou sobre arquear as costas, revirar os olhos e puxar
meu cabelo enquanto eu fazia variações da minha cara de orgasmo.
Depois, considerei a iluminação, que era importantíssima porque nada
dava um ar de sedução como uma luz fraca sobre a pele. A iluminação
precisava ser quente, sedutora e convidativa. Eu ainda não vira meu quarto,
mas duvidei que as luzes tivessem esmaecimento. Mesmo assim, eu era
criativa. Sempre era possível colocar um pedaço de tecido sobre a lâmpada
para dar um ar mais romântico ao quarto.
E o que eu vestiria? Vamos apenas dizer que eu estava grata por levar
tantos négligés na mala para quando Tank chegasse mais tarde porque, caso
contrário, estaria ferrada.
Quando entrei na casa e andei em direção à cozinha, vi Ethel sentada no
banco acolchoado perto da janela grande que dava para a frente da casa. Nas
mãos, ela tinha uma edição do primeiro livro que eu publicara com a Wenn:
Só Se Morre Duas Vezes. Pelo que parecia, ela estava quase na metade, o que
só confirmava que Ethel McCollister era uma leitora rápida para caralho. Eu
só estivera fora por algumas horas, pelo amor de Deus, e ela estava engolindo
meu livro.
— Ora, ora — disse ela quando olhou para mim. — Eu estava bem
pensando que você tinha fugido.
Pensando ou esperando?
Decidi não ouvir a cutucada.
— Ethel, tenho que agradecê-la — disse eu.
— Por quê?
— Por todo o trabalho que você fez em volta do gazebo. Harold me disse
que você escolheu pessoalmente cada flor, arbusto e planta, e que
supervisionou a conclusão de tudo. Está mais do que incrível. Obrigada por
tirar um tempo para fazer aquilo por nós.
— O prazer foi meu, Lisa. Queria que tudo ficasse perfeito.
— E está — respondi.
— E estou aliviada. Agora, diga-me... porque tenho que dizer que estive
pensando nisso. Você realmente acredita em aborto?
Como já chegamos aqui?
— Como assim?
— Aborto — repetiu ela. — Arrancar uma criança não nascida do útero da
mãe. — Ela bateu com a ponta do dedo indicador no livro. — Acabei de
terminar uma parte particularmente triste em que uma das suas personagens
decide realizar um aborto, o que me fez pensar... Será que Lisa faria um? Ou,
sei lá, será que ela já fez um? Não que seja da minha conta, claro, mas tenho
que dizer que você me fez pensar nisso, já que a cena era tão rica em
detalhes. Pareceu inspirada em uma experiência pessoal. Espero que não seja
o caso.
— Eu nunca fiz um aborto, Ethel. E, na cena que você está falando, a
personagem em questão tinha acabado de ser mordida e estava infectada. Ela
estava morrendo e sabia que, quando morresse, se transformaria em um
monstro capaz de qualquer coisa. Ela escolheu fazer um aborto porque não
queria que seu filho também fosse infectado pelo sangue dela ou por causa do
que poderia fazer se desse à luz e ele estivesse saudável.
— Você está sugerindo que ela poderia ter comido o próprio filho?
— Ela poderia e sabia disso. Ela abortou em um ato de amor desesperado
pelo filho que nunca conheceria.
— Mas se ele não estivesse infectado, com certeza um dos sobreviventes
com quem ela estava poderia ter pegado a criança — disse Ethel. — Para
deixá-lo em segurança, garantir que fosse amado. Então, por que ela
escolheria aquele caminho? No fim das contas, havia uma chance de o bebê
estar bem. Ela poderia ter escolhido a vida, não poderia?
— Acho que poderia, mas esta não foi a direção que escolhi para o livro.
— Porque você acredita no pecado do aborto.
Não foi uma pergunta. Na verdade, foi uma afirmação carregada. Ela
estava desafiando-me abertamente, mas até onde eu deveria ir? Ela realmente
já estava procurando uma discussão? Ou só estava jogando verde para ver
como eu reagiria? De qualquer forma, se ela insistisse naquilo, poderia virar
uma briga que eu não queria ter, principalmente no meu primeiro dia ali.
Não aceite nenhuma merda dela, Lisa. As palavras de Tank ecoaram na
minha mente.
Prometo que respeitarei meu limite e não aceitarei nada além disso.
Aquilo era real e eu não poderia aceitar mais do que o meu limite.
Portanto, apesar das consequências inevitáveis, decidi enfrentá-la.
— Acredito que a minha personagem fez a coisa certa.
— Mas isso não responde à minha pergunta.
— Então deixe-me ser clara, Ethel. Acredito no direito de escolha das
mulheres.
— Foi o que pensei — disse ela. — Todos vocês liberais acreditam. Como
você já deve ter adivinhado a essas alturas, eu acredito na santidade da vida.
Apesar de eu ser, de fato, liberal, quis saber por que ela me rotulara como
uma. — O que faz você pensar que sou liberal? — perguntei.
— Ah, não sei, Lisa. Talvez por causa da cena da qual acabamos de falar.
Ou talvez seja por causa do seu uso liberal da palavra do Senhor em vão em
seus livros, o que realmente não consigo entender, já que há outras formas de
expressar seu descontentamento. Ou talvez seja só por causa dos personagens
de forma geral, pelo menos neste livro. Eles são crus e grosseiros, não são?
Eu folheei duas cenas de sexo até agora e estou só na metade do livro. Só
Deus sabe o que mais virá.
— É um livro, Ethel. Ficção. Entretenimento para as massas.
— Só ficção? — perguntou ela diretamente. — Sabe, uma vez eu li que
escrever é uma extensão da personalidade de uma pessoa. Como se sente em
relação a isso? Acha que é verdade?
— Com certeza.
— Então, você abortaria uma criança?
— Isso dependeria da situação. Mas que tal colocarmos de outra forma,
Ethel?
— E que forma seria essa, Lisa?
— Por um momento, que tal pensar um pouco sobre os mistérios que você
lê? De forma geral, há um assassinato, não é?
— De forma geral.
— Então deixe-me perguntar uma coisa. Quando você lê esses livros,
automaticamente presume que os autores são assassinos? Que a ideia de que
escrevem sobre assassinato é uma extensão da personalidade deles e quem
eles são como pessoa? Ou você só lê os livros pela diversão sem pensar em
quem os escreveu ou como devem ser como seres humanos?
— Estou vendo o que está fazendo — disse ela, pegando o laço vermelho
próximo a ela e colocando-o no livro antes de fechá-lo com força. — Você
está tentando fugir.
— Não, não estou. Na verdade, acho que você é quem está tentando fugir.
Não dá para ter os dois, Ethel. Você não pode julgar a minha moralidade
quando se recusa a julgar seus autores preferidos da mesma forma.
— As mulheres que leio não escrevem sobre essa sujeira — disse ela. —
Mas você escreve.
Levantei as mãos quando ela disse aquilo antes que as coisas saíssem de
controle.
— Pra mim, chega — disse eu. — Não temos mais nada para conversar
hoje. Estou cansada. Preciso desfazer as malas. E, em breve, estarei na cama.
— Mas ainda temos o jantar — disse ela enquanto levantava. — Está no
forno.
Quem está no forno sou eu, querida, e acredite, você não quer me ver
queimar.
— Não estou mais com fome.
— Não seja ridícula. Só estávamos conversando.
— Não houve conversa, Ethel. Só houve julgamento puro da sua parte em
relação a como me vê. É verdade e você sabe. Agora, se puder me mostrar
meu quarto, quero me acomodar, desfazer as malas e tentar esquecer sobre
hoje e o que foi dito a mim. Assim, com sorte, poderemos recomeçar amanhã.
— Harold vai querer saber por que você não está jantando conosco. Ele
sentirá que há algum problema.
— Isso é problema seu, não meu. Além disso, tenho certeza de que você é
absolutamente capaz de encontrar uma ótima desculpa para a minha ausência
que não tenha nada a ver com o motivo real de eu não estar lá.
— Então, agora você está me chamando de mentirosa?
— Pode chamar do que você quiser. — Eu me inclinei na direção dela e,
ao fazer isso, ela arregalou os olhos. — Você acha que me conhece, Ethel,
mas não conhece. Nem de longe. Minha esperança é de que você não
continue a julgar este livro aqui em particular pela capa porque está muito
errada em relação a mim. Mas, chega disso. Por favor, mostre-me meu
quarto. Estou cansada, vou me retirar mais cedo. E, sinceramente, prefiro
ficar sozinha do que sentar à mesa para ser julgada por você pela forma que
como.
— Eu não faria isso.
— Até parece. Então, meu quarto? Vejo você pela manhã.
CAPÍTULO 11

Mais tarde naquela noite, depois de desfazer as malas no quarto de hóspedes


grande que Ethel preparara para mim, minha barriga roncou e eu sabia que
iria para cama com fome por causa da conversa ridícula para a qual ela me
atraíra.
Por um momento, esperei que Harold viesse para ver como eu estava.
Entretanto, ele não viera, o que significava que Ethel conseguira fazê-lo
acreditar que eu realmente estava cansada demais para comer e decidira ir me
deitar mais cedo.
Enfim...
Eu estava arrumando as coisas no banheiro da suíte quando vi a hora no
relógio e pensei em Tank. Eram oito e meia, o sol já se pusera e a luz
arroxeada da noite enchia o quarto. Andei até a janela grande no lado oposto
da cama, fechei as cortinas e imaginei se conseguiria fazer o que eu e Tank
havíamos planejado para aquela noite.
Se você não conseguir, ela realmente terá ganhado. É isto que você quer?
Pensei naquilo por um momento e soube que não era o que eu queria.
Aquela era a semana do meu casamento e, apesar de eu e Tank não estarmos
juntos por causa de circunstâncias que nenhum de nós poderia ter previsto ou
evitado, aquilo não significava que não poderíamos estar juntos,
independentemente do método.
Tenho que me recuperar, pensei, olhando para mim mesma no espelho do
banheiro. Não posso deixá-la mexer comigo... nem arruinar o que pode ser
uma noite divertida com o amor da minha vida. Tank merece ter tudo de
mim. Portanto, foda-se Ethel McCollister e o que ela acha sobre mim. Deixe
que ela pense.
Com aquilo resolvido, fui até o antigo armário do outro lado do quarto,
abri o conjunto de portas duplas e retirei uma lingerie sensual que deixaria
muito pouco para a imaginação quando a vestisse. Ela era vermelho vivo e
Tank ainda não me vira usando-a. Enquanto eu a virava de um lado para o
outro, decidi que seria perfeita para aquela noite.
Eu a coloquei no encosto da poltrona e olhei em volta com novos olhos.
Como eu suspeitava, a luz era muito forte, mas, depois de pegar uma toalha
de rosto marrom escuro do banheiro e colocá-la por cima do abajur perto da
cama, o quarto se transformou em algo perfeito e sensual. A única exceção
era a roupa de cama florida, que era como se Ethel tivesse feito a cama ela
mesma. Com um giro do pulso, eu o tirei da cama, deixando lençóis brancos
e limpos à vista.
Não está tão ruim assim...
Naquele momento, pensei no meu telefone, que eu não carregara desde
que saíra de Nova Iorque. Eu o peguei, liguei-o e vi que a bateria estava
quase no fim. Rapidamente, tirei o carregador da bolsa, encontrei uma
tomada perto da mesa de canto e conectei o adaptador. A boa notícia era que
o telefone carregava depressa, portanto, eu provavelmente revertera a crise.
Sapatos, pensei. Preciso de sapatos bonitos...
Voltei até o armário e olhei para todos os sapatos que eu levara comigo.
Havia quase uma dúzia deles, todos alinhados na parte inferior do armário. A
maioria deles era perfeitamente adequada para qualquer ocasião, um par era
para o dia do casamento, outro par era para o ensaio do casamento e o jantar
de ensaio e três pares eram só sensuais o suficiente para as poucas noites que
eu passaria com Tank quando ele chegasse depois de ir ao funeral de Brian.
Para aquela noite, eu decidi usar sandálias de couro metálicas Gianvito
Rossi com saltos de dez centímetros, que Tank também não vira ainda.
Tirando-os do armário, coloquei-os perto da cama. Antes de entrar no banho,
fui até a porta do quarto e percebi que não havia tranca.
Como assim? pensei em horror. Sem trancas? Sério?
E o que eu podia fazer em relação àquilo? Nada. Portanto, eu me
concentrei no momento.
O tempo passou e certifiquei-me de que tudo estivesse certo no quarto.
Olhei para o relógio, vi que eram nove horas e fiquei imaginando que horas
Ethel e Harold iam dormir. Ou se já estavam na cama àquelas alturas. Pensei
em abrir a porta para ver se havia movimento ou conversa no andar debaixo,
mas não ousei. Se um deles me ouvisse, poderia me chamar, o que eu não
queria, especialmente considerando o que eu e Tank estávamos prestes a
fazer. Como a luz do meu quarto estava acesa, no mínimo queria que eles
achassem que eu já estava na cama, talvez lendo um livro antes de dormir.
Não poderei fazer nada com Tank se eles estiverem acordados, pensei. É
arriscado demais. Não vale a pena. Mas Tank saberá que horas eles
geralmente se deitam. E também saberá a melhor forma de verificar.

***
Depois de tomar banho, secar o cabelo e passar a maquiagem, coloquei a
lingerie e, em seguida, os sapatos, que se mostraram um verdadeiro desafio,
já que eu não sabia muito bem como cruzar as tiras em volta dos tornozelos e
das panturrilhas.
Quando finalmente descobri, sentei-me na cama, estiquei as pernas em
direção ao teto e chutei com os pés algumas vezes no ar como se não me
importasse com nada. Depois, apoiei os sapatos nos saltos enquanto
pressionava a mão contra meu sexo, fechando os olhos com antecipação pelo
prazer que viria.
Com sorte, para nós dois.
Faltavam vinte minutos para as dez quando me lembrei de que levara uma
garrafa de Grey Goose na bolsa, sabendo que não encontraria bebida alguma
ali, já que os McCollister não bebiam.
Mas eu bebia.
Precisando de um pouco de coragem líquida para relaxar e entrar no clima,
corri até o armário e peguei a garrafa da bolsa. Apesar do fato de que eu não
tinha gelo para resfriar a vodca, pelo menos havia um copo perto da pia.
Servi uma quantidade generosa, virei-a e olhei para o espelho. Baguncei o
cabelo, passei mais uma camada de brilho labial e voltei para o quarto para
pegar o telefone. A bateria agora estava em noventa por cento, o que era
suficiente para o que eu e Tank tínhamos em mente.
Ou talvez não, dependendo de até onde formos...
Antes de ligar para ele, sentei-me na cama, liguei o telefone e olhei para
mim mesma na câmera enquanto me posicionava.
Nada mau, pensei enquanto arrumava os seios e bagunçava mais o cabelo.
A luz é boa, no final das contas. Virei-me de barriga para baixo, movi a
câmera um pouco para que mirasse na minha bunda e virei o pescoço para
ver como ficava na câmera. Minha nossa, pensei. Estou mais do que pálida,
mas pelo menos minha bunda está em forma. Mas o que fazer com a
larissinha? Será que ouso olhar pelo celular? Tank vai querer que eu a
mostre? E se ele quiser e eu não tiver visto primeiro pela câmera? Ah, meu
Deus, preciso ver.
Mas não consegui. Não tinha como. Portanto, depois de simular várias
fotos que pensei que Tank gostaria, toquei no nome dele na lista de contatos e
pressionei o ícone de vídeo. Antes que eu notasse, estava olhando para Tank,
que estava deitado sem camiseta em nossa cama... e poderia até estar pelado,
até onde eu sabia, porque a parte inferior do corpo estava coberta com um
lençol.
— Você está incrível — disse ele. — Estive esperando este momento por
horas.
— Espero que eu não o decepcione.
— Não tem como, considerando o que está vestindo. Nunca vi você com
isso antes.
— Era para você ver quando estivéssemos aqui, mas, como não tem como
estar aqui, está vendo agora. — Levantei as pernas e apontei a câmera em
direção aos meus sapatos. — E também temos isso — disse eu. — Você
gosta?
— A câmera está tremendo um pouco — disse ele. — Se está falando das
suas pernas, já sabe o quanto gosto delas. Na verdade, eu queria poder passar
a língua pela parte de dentro das suas coxas agora mesmo.
— Não, não. Estou falando dos sapatos. Você gosta deles?
— No momento, eles são só um borrão meio prateado.
Merda! pensei. Estou muito nervosa, minhas mãos estão tremendo.
— O que acha? — disse eu, segurando o telefone com as duas mãos.
— São muito sensuais.
Virei a câmera de volta para o meu rosto.
— Tank, antes que façamos qualquer coisa, preciso ter certeza de que seus
pais estejam dormindo. Porque não vou conseguir fazer isso sem ter certeza
absoluta de que eles estejam dormindo.
— Isso é fácil — disse ele. — Eu já sei que eles estão na cama. Eles
normalmente vão se deitar às nove e meia.
— Ainda preciso ter certeza.
— Você só precisa abrir a porta do quarto e ver se as luzes estão acesas no
andar debaixo. Se estiverem, um deles ainda estará acordado. Mas, se não
estiverem, eles já foram dormir.
— Se um deles estiver acordado, vai me ouvir. E vai querer saber o que
estou tramando.
— Você está sendo paranoica. Você sabe como a casa é grande, ninguém
ouvirá sua voz.
Sua mãe é como um falcão. Se ela estiver acordada, escutará.
De qualquer forma, resolvi verificar.
— Está um breu — sussurrei enquanto fechava a porta silenciosamente.
— Então, eles estão dormindo.
— O que fazemos agora?
— Cibersexo.
— Você já fez isso antes?
— Claro que não.
— Como começamos?
— Como sempre começo com você — disse ele. — Com meus lábios
pressionados contra o seu.
— Só para deixarmos tudo claro — disse eu. — Você quer que eu beije a
tela quando diz algo assim? É isso que devo fazer? Ou devo fazer outra
coisa?
— É só me escutar, Lisa. Deixe-se levar, assim como eu, e vamos olhar
um para o outro enquanto falamos.
— Olhar para que parte um do outro?
— Agora, pense nesta primeira parte como as preliminares. Pense que
estamos no mesmo quarto juntos, com você nos meus braços. Sabe, com você
derretendo em cima de mim, como sempre faz.
— Consigo fazer isso — disse eu.
— Feche os olhos.
Eu os fechei.
— Imagine minha boca na sua.
Eu imaginei, sentindo meu corpo formigar com uma memória sensorial.
Ninguém em minha vida me beijara como Tank. Sempre que nossos lábios se
tocavam, eu conseguia sentir o amor dele por mim, o que era transcendental.
E foi isso que senti naquele momento, ao imaginar os lábios dele nos meus.
— Você está fora da câmera — disse ele.
Em meu delírio, minha mão esquerda se mexera um pouco para a
esquerda. Eu a arrumei e apontei o telefone para o meu rosto. — Desculpe.
— Você está linda hoje — disse ele.
Olhei para ele no SlimPhone e achei que estava lindo. Depois, pensei que
isso era quase pornografia! Ele estava deitado de lado na cama, mas,
diferentemente de mim, não estava com o telefone nas mãos. Na verdade, a
mão direita dele estava ocupada alisando o abdômen rígido enquanto sorria
de forma desconcertante para a câmera. De onde ele estava deitado, pude ver
que posicionara o telefone na minha mesa de cabeceira e apontara-o para si,
para que eu pudesse vê-lo totalmente. Por que eu não pensara nisso?
Isso importa? Só continue. Divirta-se!
— Por que há uma parte de você coberta com o lençol? — perguntei.
— Por que está perguntando?
— Porque é cruel da sua parte.
— Cruel por quê?
— Você sabe por quê.
— Diga-me.
— Porque adoro ver você pelado — disse eu.
— Você quer ver mais de mim?
— Eu sempre quero ver mais de você.
— Eu poderia dizer o mesmo de você. Mas vamos manter a calma. Por que
você não pega a mão livre e chupa o dedo indicador para mim?
Espere aí... o quê? Desde quando eu chupo o dedo indicador? Ao falar um
com o outro desta forma, estamos prestes a revelar mais sobre nossas
fantasias do que se estivéssemos fazendo amor pessoalmente, que geralmente
não tem muita conversa... quando tem alguma.
Eu não sabia, mas, em relação a Tank, estava aberta a basicamente tudo
porque o amava e confiava nele. Portanto, coloquei o dedo indicador na boca
e comecei a chupá-lo gentilmente.
— Hmm — disse eu.
— Qual é o gosto?
De vodca.
— De você — disse eu.
— Agora, pegue este dedo, coloque-o por dentro da roupa e esfregue-o em
um dos seus mamilos.
Ao fazer isso, senti uma ponta de empolgação e surpresa tomando conta do
meu corpo enquanto ele respondia ao toque do dedo úmido. Tank me fizera
colocar o dedo na boca por um motivo. Com ele tão molhado, a sensação foi
mais erótica.
— Agora, belisque-o — disse ele. — Com força.
Ao beliscar meu mamilo, a sensação foi de que ele fizera aquilo.
— Quero que você imagine minha boca entre suas pernas — disse ele. —
Você sabe como é. E sabe como posso ir fundo.
Eu sabia exatamente como ele podia ir fundo.
— Pense em mim lá embaixo agora.
— Quero me tocar — disse eu frustrada. — Mas não consigo porque tenho
que segurar o telefone.
— Então pegue o travesseiro aí perto, coloque-o ao seu lado e posicione o
telefone nele para que eu veja você inteira... e para que você me veja inteiro.
Segui a sugestão dele e, com as mãos finalmente desocupadas, eu me senti
livre para deixar as coisas mais quentes. Virei a cabeça para olhar para ele
enquanto esticava o braço para tocar em mim mesma. Enquanto isso, Tank
removeu o lençol para revelar a ereção para mim, o que me deixou mais
excitada porque eu o queria dentro de mim. Por vários momentos, apenas
olhamos um para o outro enquanto nos dávamos prazer antes de eu virar de
lado para ele que pudesse ver minha bunda.
— Queria que você pudesse dar um tapa — disse eu.
— Eu também. Por que não faz isso por mim?
Eu fiz. Em seguida, dei outro tapa.
— Isso é mais gostoso do que eu achei que seria — disse Tank.
— Falando nisso — disse eu. — Acho que você achará isso gostoso. —
Sentei-me e puxei a parte de cima da lingerie para baixo para que ele pudesse
ver meus seios, que estavam tão inchados com a excitação que os mamilos
pareciam querer passar pela tela do celular para terem a boca de Tank
pessoalmente.
— Meu Deus, você é linda — disse ele enquanto apertava o pênis com a
mão inteira.
— Quero seu pau — disse eu. — Eu o quero na minha boca.
— Ele está na sua boca.
— Mas é grande demais para a minha boca.
— Você já conseguiu antes. Pegue-o agora.
— Estou colocando-o na boca. — disse eu enquanto levantava as pernas
para o ar. Deslizei a mão esquerda para dentro da calcinha e comecei a
esfregar o clitóris gentilmente com os dedos antes de colocar dois dedos
dentro de mim... e começar a perder o controle.
— Pense que estou dentro de você — disse ele com um rosnado baixo. —
Primeiro, gentilmente, mas depois com mais força à medida que você se abre
para mim.
— Isso mesmo — disse eu enquanto fechava os olhos. — Você está sobre
mim. Está beijando-me. Agora, sua boca está em um dos meus peitos. O
direito — disse eu, colocando a mão livre sobre ele. — Seu hálito é quente
contra a minha pele. Você está mordendo meu mamilo.
— Que tal se você morder o meu?
— Estou mordendo-o.
Enquanto nossa conversa ia cada vez mais longe em um ritmo acelerado,
pude sentir que estava ficando mais molhada e aproximando-me a do clímax.
— Enfie esse pau em mim — disse eu. — Vamos, Tank, me coma.
— Estou comendo você.
— Com mais força!
— Estou comendo você com mais força.
— Quero a sua pele batendo contra a minha.
— Estou metendo com muita força.
— E estou pegando na sua bunda. Estou puxando-o para mais perto de
mim. Quero que você me coma, Tank! Estou quase lá.
— Segure a base do meu pau e puxe cada centímetro meu para dentro de
você.
— Acabei de fazer isso! — disse eu com a voz mais alta e estrangulada. —
E é uma delícia.
— Você está tão molhada — disse ele.
— Estou! E você é tão grande! E eu, tão apertada! E tudo isso está
acontecendo na casa de Ethel McCollister! Estou com o pau enorme do filho
dela dentro de mim enquanto ela tem pesadelos com abortos, maldade e todas
as coisas que não sou! Ai, meu Deus, estou quase lá!
— Lisa... — disse ele. — Que porra é essa?
Enquanto eu colocava mais um dedo dentro de mim, belisquei um dos
mamilos e transformei-me no próprio sexo desenfreado, contorcendo-me na
cama. Olhei para Tank. — Venha comigo — disse eu. — Vamos, Tank. Goze
em mim. Ou dentro de mim. O que você quiser, eu aceitarei. Mas você
precisa se apressar porque estou perto para caralho.
— O que foi isso...?
— Quer ver como estou perto? Quer? Então, deixe-me mostrar — disse eu,
levantando-me e removendo a lingerie antes de deitar novamente. Levantei as
pernas, abrindo-as o máximo que consegui, peguei o telefonei e apontei-o
diretamente para meu sexo enquanto enfiava os dedos dentro de mim.
— Eita porra — disse ele. — Você perdeu o controle.
— Eu precisava — disse eu. — Especialmente depois de hoje. Agora,
trepe comigo! Por favor! Só acabe comigo! Porque, agora, estou sendo fodida
na casa que o deus de Ethel construiu... pelo filho dela! E nunca foi tão
gostoso!
Quando eu disse aquilo, ouvi um movimento na porta. Em choque e
horror, virei a cabeça assim que Ethel entrou no quarto com uma bandeja de
comida nas mãos. Quando ela me viu pelada com o telefone a alguns
centímetros das minhas áreas privadas, arregalou os olhos, cambaleou para a
esquerda e seu ombro bateu no batente da porta. Em seguida, seus lábios se
abriram em um terror distorcido.
— O que você está fazendo?! — exclamou ela.
— O que está acontecendo? — ouvi Tank dizer. — É a minha mãe?
— É a sua mãe! — disse Ethel enquanto olhava para mim. — E vocês dois
estão corrompendo a minha casa! Vocês a transformaram em um antro de
iniquidade!
— O que está fazendo aqui? — perguntei ao me sentar, jogar o telefone
para o lado e cobrir-me rapidamente com o lençol. — A porta estava fechada
por um motivo.
— Estou vendo!
— Você não pode só entrar, Ethel. Você não pode...
— Posso fazer o que eu quiser na minha casa!
— Então é melhor eu ficar em um hotel!
— Se é assim que se comportará, talvez seja melhor mesmo!
— Mãe, você precisa me escutar — disse Tank do SlimPhone. — Lisa e eu
somos adultos. Estamos comprometidos. Em um relacionamento. E você
precisa ir embora agora porque isso não é da sua conta.
— Isso não é da minha conta? — perguntou ela com uma voz aguda
estranhamente perfurante. — Isso não é da minha conta?! Está falando sério,
Mitchell? Você ao menos sabe onde parece que acabei de entrar? Em um
bordel, isso sim! Um palácio de pornografia!
Enquanto a raiva tomava conta do corpo dela, e seus olhos ficavam
sombrios, a bandeja que ela carregava nas mãos começou a tremer.
— E pensar que eu estava deitada na cama sentindo-me culpada por causa
da conversa que tivemos mais cedo — disse ela para mim. — E pensar que
eu não estava conseguindo dormir por causa disso! Sei que você não come
nada desde que saiu de Manhattan e isso estava me incomodando, já que
decidiu não jantar conosco depois da nossa conversinha sobre o conteúdo do
seu livro. Então, decidi subir e fazer para você um sanduíche de salada de
frango, Lisa. Até servi um copo de leite. Eu estava preocupada com você e o
que ganho com isso? Você se filmando de formas tão obscenas e
indescritíveis que quero vomitar.
— Saia do quarto, mãe — disse Tank com a voz surpreendentemente séria.
— Agora. Para mim, já chega. E para Lisa também.
— Tudo bem — disse ela ao andar até a escrivaninha e jogar a bandeja
com força em cima dela. — Aqui está seu sanduíche, Lisa. E seu leite.
Considere-os um reabastecimento para o resto de suas aventuras noturnas
com meu filho porque você provavelmente precisa disso agora para ter forças
para sabe lá Deus o que virá a seguir. Mas, isso? O que acabei de ver? O fato
de eu ter testemunhado meu próprio filho nu e sendo carregado para suas
fantasias sexuais esquisitas? Isso não dá. Não aceitarei. Então, é o seguinte,
garota. Como você viu no caminho do aeroporto até aqui, há vários motéis
entre Prairie Home e Lincoln. Quando acordar, terá uma lista com todos e
alguém a levará até um deles, pois claramente não quero que fique aqui se
você e meu filho farão isto. — Ela andou em direção à porta, passou por ela e
disse um “boa noite” intenso antes de bater a porta atrás de si.

***

— Lisa — ouvi Tank dizer do SlimPhone. — Pegue o telefone. Olhe para


mim. Ficará tudo bem. Eu garantirei. Ligarei para ela amanhã de manhã e
resolveremos isso.
Segurando o lençol contra os seios nus, eu estava em tal estado de choque
que só encarei a bandeja que Ethel deixara na escrivaninha, sentindo-me
enjoada só de olhar para ela.
Acabou, pensei. Para ela, estou morta. Já era. E eu precisei de menos de
um dia para conseguir isso, portanto, parabéns para mim. Ela nunca me
aceitará depois do que viu. A imagem de uma Lisa deitada na cama com as
pernas abertas e a câmera apontada para as partes íntimas para que Tank
visse ficará na mente dela pelo resto da vida. Principalmente quando ela
olhar para mim. E o que ela dirá a Harold, meu único aliado aqui? Como
isso mudará o meu relacionamento com ele? Porque mudará. Eu sei que
mudará. Nem ele conseguirá esquecer isso. O que eu fiz?
— Lisa, por favor. Pegue o telefone. Fale comigo, pelo amor de Deus.
Peguei o telefone e olhei para ele. Ele estava sentado na beira da cama
com um lençol enrolado na cintura. Vi a cicatriz no lado direito do queixo
dele, da bala que levara por mim e soube que ele estava prestes a levar outra,
especialmente se estivesse planejando ligar para Ethel na manhã seguinte.
— Sua mãe não gostava de mim antes, Tank, e depois do que viu? Não há
como salvar nosso relacionamento agora. Ela nunca me perdoará por isso.
— Posso falar com ela — disse ele.
— E dizer o quê? Para ela esquecer o que acabou de ver? Isso não vai
acontecer. E, como sei que não vai acontecer, vou embora amanhã de manhã.
Vou para um hotel. Não posso ficar em uma casa onde não sou bem-vinda.
Ou onde sempre serei julgada como uma péssima escolha para ser sua esposa.
É aí que me encaixo e preciso do seu apoio em relação à minha decisão.
— Você terá meu apoio de formas que nunca imaginou — disse ele. —
Mas, antes que faça qualquer coisa, primeiro deixe-me pelo menos falar com
ela porque a culpa não é só sua. Eu também estava aqui. Se ela for julgá-la,
também terá que julgar o próprio filho porque eu estava aqui, feliz e de bom
grado. Caramba, eu estava me divertindo com minha futura esposa e não vou
me desculpar por isso.
— Você não conseguirá convencê-la, Tank. Não conseguirá.
— Isso não é necessariamente verdade.
— Eu acho que é e posso dizer por quê: você não viu como ela olhou para
mim. Não viu o nojo no rosto dela nem o ódio em seus olhos ao sair. O ódio
dela por mim era palpável. E quer saber a verdade? — disse eu. — Eu não a
culpo, especialmente ao entrar e ver aquilo. Se eu estivesse no lugar dela, não
consigo nem imaginar como estaria me sentindo agora.
— Desculpe — disse ele. — Por tudo. A ideia de fazer isso hoje foi minha
e, acredite, ela saberá disso. Direi que a ideia foi minha. Não fizemos nada de
errado.
— Eu discordo — disse ela. — Nós pensamos que poderíamos fazer isso
na casa dela, mas não. Ela é religiosa. Ela não fez nem questão de esconder.
Deveríamos ter respeitado isso. No que diabos estávamos pensando?
— Se eu estivesse com você agora, teríamos feito amor neste quarto.
Minha mãe e meu pai saberiam disso e não teriam dito nada. Então, quem se
importa se tentamos fazer pelo telefone?
— Sua mãe me perguntou hoje se eu já tinha feito um aborto, Tank.
— Ela fez o quê?
— Você me ouviu. Ela está lendo o primeiro livro que publiquei pela
Wenn. E, por isso, quando voltei do gazebo, depois de falar com você, ela me
emboscou, fazendo várias perguntas invasivas, como se eu já tinha feito ou se
acreditava em aborto. Ela me atacou cheia de julgamentos e com uma
presunção que me deixaram na defensiva.
— O que ela falou para você?
Eu disse a ele, contando também o que eu dissera a ela.
— Ela mereceu cada palavra — disse ele.
— Mas, sabe o que é, Tank? Ela não só fez de propósito, como fez no meu
primeiro dia aqui. Ela não me deu nem um dia ou dois para me acomodar
antes de começar os ataques contra mim. Ela foi direto na jugular no caminho
do aeroporto até aqui com aquele audiobook ridículo que me fez ouvir. E,
mais tarde, quando estava lendo Só Se Morre Duas Vezes, ela foi direto no
assunto do aborto, o que deixou o momento tão ácido entre nós que não quis
jantar. Ela tem um propósito e acho que agora ficou muito claro qual é. Ela
não quer que este casamento aconteça. Acho que, de alguma forma distorcida
e fodida, ela está tentando me expulsar da sua vida enquanto ainda pode sem
você aqui para impedi-la.
— Isso não vai acontecer.
— Eu sei que não vai acontecer, mas tente dizer isso a ela.
— É o que pretendo fazer.
— Ela provavelmente fingirá que escutou e entendeu o que você disser,
mas será só conversa fiada. As coisas não mudarão até que você chegue aqui.
Ela só tornará a semana cada vez pior para mim, o que não aceitarei. Sairei
daqui amanhã de manhã.
— Talvez eu deva só esquecer o funeral de Brian e ir para Prairie Home
agora mesmo.
— Não — disse eu firmemente. — Você irá para o funeral do seu amigo.
Isso já foi resolvido e não aceitarei de nenhuma outra forma. A mulher e os
filhos dele precisam de você lá. E você também precisa estar lá para prestar
respeito ao seu amigo. Eu sei o quanto isso é importante para você, portanto,
está fora de questão para mim.
— Lisa, sei que você quer que o casamento seja perfeito.
— Quero.
— Mas, se sair da casa dos meus pais, quem estará aí para ter certeza de
que seja o casamento que deseja? Que todos os detalhes sejam atendidos?
Porque, se for embora, quem tomará essas decisões será minha mãe, o que sei
que você não quer.
— Ligarei para Jennifer e Blackwell — disse eu. — Contarei a elas tudo
que aconteceu desde que cheguei aqui. Elas são minhas melhores amigas e
largarão tudo para cuidar disso para nós. Quando eu encontrar um hotel,
ligarei para elas do quarto e posso garantir que elas estarão em um avião o
mais rápido possível. Porque sei de coração que significo para elas tanto
quanto significam para mim. Elas cuidarão de tudo em relação a isso. Elas
intervirão e Blackwell sozinha conseguirá lidar com sua mãe muito melhor
do que eu. Quero dizer, por favor, imagine Ethel contra ela.
— Não chegará a isso — disse ele. — Por favor, deixe-me falar com ela
antes que tome uma decisão. Eu sei como colocá-la na linha.
— Como?
— Deixarei as coisas bem claras para ela. Ou ela a trata com respeito ou
direi que abandonaremos os planos de nos casarmos em casa. Como nossos
amigos e familiares já têm planos de ir para Prairie Home, vamos nos casar
em uma das igrejas na cidade para não incomodá-los, o que não será um
problema. Só que não será convidada para o casamento e direi a ela. Sou o
único filho dela, pelo amor de Deus, e isso deveria ser o suficiente para
acordá-la em relação a nós.
— Tank, não quero ser a pessoa que criará conflitos entre você e sua mãe.
Sei que você é próximo dela. Não quero esse fardo. Acho que é melhor eu só
ir embora de manhã e trazer Jennifer e Blackwell.
— Que tal isto? — perguntou ele. — Depois de falar com ela, se eu achar
que não consegui mudar as coisas, mandarei uma mensagem para você.
Assim, você saberá exatamente o que fazer.
Aquilo pareceu razoável, portanto, concordei.
— Tudo bem — disse eu. — Você pode pelo menos tentar. Mas, se sua
mãe não mudar completamente a forma como me trata amanhã de manhã,
sairei daqui, Tank. Se as coisas não forem bem entre vocês, reservarei uma
igreja aqui por perto e ligarei para minhas amigas para me ajudarem com os
detalhes. Ela precisa entender que nós nos casaremos, na casa dela ou em
algum outro lugar.
— Lisa, desculpe por tudo isso.
— Não precisa se desculpar. — Suspirei. — Nós dois sabíamos onde
estávamos nos enfiando quando vim para cá sozinha. Só não tínhamos ideia
de como estariam as coisas depois de apenas um dia. Estamos nessa juntos,
Tank. E, não importa o que aconteça, nós nos casaremos no sábado.
— Pode me fazer um favor?
— Eu faria qualquer coisa por você.
— Minha mãe levanta por volta das cinco. Não saia do quarto até receber a
minha mensagem. Como nós dois sabemos que ela vai querer bisbilhotar
depois de eu falar com ela, conversaremos por mensagem e direi a você o que
acho que deveria fazer ao descer a escada. Não mentirei para você, Lisa.
Nunca menti e não vou fazer isso agora. Se eu achar melhor que vá embora e
ligue para os reforços, direi a você. Mas, se eu achar que coloquei minha mãe
na linha e que é melhor que você fique, também direi.
— Você tem uma bela de uma luta à espera, Tank, especialmente se acha
que ela mudará o suficiente para que eu queira ficar aqui.
— Deixe-me entrar na luta — disse ele.
— Se é o que quer.
— Vou fazê-la recuar, Lisa. Tenho meus meios.
E eu precisava confiar nele, portanto, só dei de ombros. — Eu amo você,
Tank.
— Eu amo você, Lisa. E desculpe pela noite.
— Está tudo bem — respondi. — Só o que quero é que tenhamos uma boa
noite de sono. Amanhã lidaremos com o que acontecer. Acordarei e ficarei
esperando sua mensagem. E farei o que sugeriu. Depois? — Inclinei a cabeça
para ele. — Acho que só saberemos mais tarde.
CAPÍTULO 12

Depois de uma noite agitada revirando-me na cama, acordei na manhã


seguinte às quatro e meia sentindo-me estranhamente desperta. Apesar da
série de eventos exaustivos do dia anterior, eu deveria estar cansada demais
até para sair da cama, mas não estava.
Em vez disso, eu estava nervosa. Meus circuitos já estavam em alerta.
Virei-me de lado, peguei o celular na mesa de cabeceira e verifiquei se
Tank mandara alguma mensagem. Nada ainda. Provavelmente porque ele
queria falar comigo depois de tomar uma decisão definitiva do que eu deveria
fazer naquele dia.
Desejei uma xícara de café, mas sabia que não teria uma sem descer até o
andar debaixo, o que não aconteceria em breve. Portanto, decidi tomar um
longo banho quente, que durou pelo menos cinquenta minutos enquanto eu
deixava a água acabar com a tensão no pescoço, nos ombros e nas costas.
Quando terminei, sequei-me, vesti o roupão branco e parei para me olhar no
espelho.
Achei que eu estava horrível.
Havia olheiras sob meus olhos. Apesar de ter a pele bem clara, achei que
estava incomumente pálida naquela manhã, embora eu devesse estar corada
por causa do banho. Quando saíra de Manhattan no dia anterior, eu não
estava assim. Agora? Depois de passar menos de vinte e quatro horas com
Ethel McCollister, eu parecia um dos meus personagens mortos-vivos.
Enquanto esperava Tank mandar a mensagem, fiz todo o processo para me
deixar com a melhor aparência para encontrar Ethel e Harold. Lembrando-me
do que Bernie me ensinara, fiz tudo: maquiagem completa, prancha nos
cabelos e lábios vermelhos-vivo que diziam que, se alguém tentasse me foder
naquele dia, eu arrancaria seu coração e comeria-o com satisfação.
Com acompanhamentos.
Como eu não queria que parecesse que estava esforçando-me demais,
escolhi uma calça capri casual branca e uma camisa azul-marinho para
complementar o visual. Nos pés, eu usava um par de sandálias baixas, caso
precisasse sair dali o mais rápido possível.
Quando terminei, derramei na pia o leite que Ethel trouxera na noite
anterior e coloquei o copo de volta sobre a bandeja na escrivaninha ao lado
do sanduíche. Depois, só esperei o tempo passar enquanto andava de um lado
para o outro com o celular na mão, sabendo que, como já eram cinco e dez,
Tank provavelmente estava falando com a mãe.
O que ele está dizendo para ela? pensei. Como ela está reagindo?
Cinco e quinze, meu celular apitou, mostrando que uma mensagem
chegara. Imediatamente liguei o telefone e li o que Tank enviara.
— Depois da conversa, acho que você ficará bem hoje, amanhã e todos os
dias até o casamento — escreveu ele. — Fui muito claro com ela. Ela não
deve julgá-la, deve ser educada e não deve tentar prejudicá-la. Tivemos uma
conversa muito séria, Lisa, e, dado meu tom de voz, sei que ela me ouviu. Ela
sabe que, se sair da linha só mais um pouquinho, você vai para um hotel,
faremos o casamento em qualquer outro lugar de Prairie Home e não a
convidaremos. Mande-me uma mensagem se precisar. Estou aqui para você.
Eu amo você. -Tank”
Então, ele conseguiu, pensei enquanto digitava uma mensagem. Talvez
esse problema ridículo entre eu e Ethel tenha finalmente chegado ao fim...
— Ela contou a Harold o que viu?
— Contou. Também falei com ele. Como sempre, meu pai é inabalável.
Mas será que é mesmo? pensei. Ou será que está só fingindo na sua
frente, Tank, porque o ama?
Não havia como saber a resposta a essa pergunta, o que meu chateou
porque eu realmente gostava de Harold e queria que ele gostasse de mim.
— Tudo bem — digitei. — Vamos ver o que acontecerá e depois
decidiremos o que fazer.
— Se ela sair da linha de novo, vá embora.
— Eu vou — disse eu. — Amo você, Tank. Deseje-me sorte. Admito que
estou um pouco nervosa de encará-la agora.
— Eu entendo, mas seja você, Lisa, a mulher por quem me apaixonei. Se
isso não for o suficiente para minha mãe, ela que sofrerá as consequências.
Mande-me uma mensagem assim que puder e conte-me como estão as coisas.
— Pode deixar. Nós nos falamos depois. Beijos.
Levei meia hora para criar coragem de pegar a bandeja e levá-la para a
cozinha, no andar debaixo, onde só Deus sabia o que me esperava.

***
— Ora, bom dia — disse Ethel quando entrei na cozinha. Ela estava na frente
da pia e vi em um olhar rápido que estava usando a própria armadura:
maquiagem completa no rosto, cabelos lavados e escovados, uma camiseta
branca bonita que complementava sua compleição bronzeada e uma calça
cáqui justa.
— Bom dia, Ethel — disse eu.
— Tive a sensação de que você também levantava com as galinhas —
disse ela ao andar em minha direção. — Aqui na fazenda, temos que acordar
cedo, como imagino que você também tinha quando trabalhou no hotel dos
seus pais. Harold já tomou o café da manhã e está trabalhando nos celeiros
com o resto dos rapazes. Esta manhã, somos só nós duas.
Aquilo fora uma ameaça? Eu não tinha certeza. A voz dela parecia
agradável o suficiente, mas, como não confiava nela, sinceramente não sabia
no que estava me metendo.
Dê uma chance, pensei. Você disse que daria.
— Ah, deixe-me pegar isso — disse ela ao pegar a bandeja das minhas
mãos. — E deixe-me fazer algo para você. Deve estar faminta... e não diga
que não está.
Faminta era pouco perto de como eu me sentia, portanto, só acenei com a
cabeça quando ela se virou, esperando que eu respondesse.
— O que quer comer?
— Torrada? — sugeri. — Talvez uma xícara de café?
— Você deve estar com mais fome do que isso. Gosta de ovos? Porque eu
faço os melhores ovos.
— Você já comeu?
— Sim, com Harold. Mas não tem problema, Lisa. Deixe-me fazer seu
café da manhã e, depois, podemos começar a falar sobre o casamento. Porque
temos muito o que fazer antes do grande dia. Quando Tank chegar no final da
semana, vocês dois encontrarão o padre Harvey juntos, portanto, não
precisamos nos preocupar com isso agora. Mas nós duas temos uma grande
lista de coisas para ver, o que inclui decidir onde as tendas serão construídas,
ir à floricultura para garantir que as flores que você escolheu estejam certas,
ir à empresa do bufê para ter certeza de que não esquecemos nada em relação
ao jantar de ensaio... e, depois, o bolo, que é tão importante que acho que
você deveria conhecer a moça que o fará. E, como há tantas coisas para fazer,
você precisa de energia. Então, que tal café, torrada e alguns ovos feitos da
forma que mais gostar?
Quem é você? pensei, olhando surpresa para ela.
— Seria ótimo — respondi.
— Então deixe-me começar a preparar o café. Como quer os ovos?
Escalfados? Fritos? Mexidos? Cozidos?
— Mexidos — disse eu.
— Fechado. Agora, sente-se à mesa da cozinha e deixe-me colocar a mão
na massa. Ficará tudo pronto em minutos.
E ficou. Quando ela se sentou do outro lado da mesa com a própria xícara
de café, tive que admitir que os ovos estavam deliciosos.
— Obrigada — respondi ao terminar. — Estava uma delícia.
— Hoje mais tarde, eu e você faremos o prato preferido de Tank, a famosa
empada de frango da avó dele. Mal posso esperar para mostrar a você como
prepará-la.
— Eu sou horrível na cozinha — disse eu.
— Não se preocupe. Muitas pessoas pensam que cozinhar é difícil, mas é
bem simples, na verdade. Tenho uma forma infalível de fazer. Você verá.
Uso meu processador de alimentos e fica perfeito toda vez. O segredo é usar
cubos de manteiga gelados e deixar a massa descansar durante trinta minutos
na geladeira antes de enrolá-la. Além disso, o resto do prato também é bem
fácil. Eu vou fazendo com você e nós três a jantaremos à noite.
— Ethel — disse eu. — Talvez devêssemos conversar sobre ont...
— Não — interrompeu ela. — Acho que não seria bom para ninguém.
Vamos considerar hoje um novo dia e uma nova página. Vamos virar a
página juntas, Lisa? Porque nosso livro terá um final ótimo. Será o melhor
final. Tank me disse hoje de manhã.
Por que não acredito nisso?
Ela sorriu de forma doce para mim, mas o sorriso não estava refletindo em
seus olhos. Em vez disso, os olhos dela pareciam estranhamento intensos,
como se comportar-se de forma simpática estivesse de alguma forma
envenenando-a.
— Você verá — disse ela. — Ficará tudo bem. Eu prometo!

***

— Antes de começarmos, você se importaria se eu desse uma volta pelos


campos? Quero esticar as pernas e aproveitar um pouco o sol e o ar fresco.
— Claro que não — respondeu Ethel. — Vá dar sua volta. Vá até o
gazebo. Diga olá aos cisnes por mim. Respire o ar fresco e exercite-se um
pouco, e depois começaremos.
— Obrigada pelo café da manhã — disse eu ao me levantar da mesa. —
Estava muito bom, Ethel.
— O prazer é meu. Quanto tempo acha que demorará?
— Talvez uma hora?
— Perfeito. É o suficiente para eu limpar as coisas e lavar as roupas. Nós
nos veremos quando você voltar.
Quando saí da casa, eu tinha uma missão: encontrar Harold para saber
como estávamos.
Quando finalmente o vi, ele estava no terceiro celeiro a partir da casa e
cercado por três homens. Ouvi um gemido baixo que parecia um animal
sofrendo. Como o celeiro estava cheio de vacas, imaginei que alguma delas
não estivesse muito bem.
— Calma, garota — ouvi Harold dizer ao andar em direção a ele e aos
outros três homens. Eles estavam de pé, olhando para algo que eu não
conseguia ver. — Ficará tudo bem.
— Harold? — disse ao me aproximar.
Ele olhou para mim quando disse seu nome e rapidamente acenou com a
mão para que eu me aproximasse. — Mable está parindo. Venha, rápido.
Você precisa ver isso, Lisa, porque é algo que nunca esquecerá.
Quando cheguei ao lugar e vi a vaca marrom enorme deitada de lado com
uma das pernas esticadas enquanto fazia força, ele fez um movimento com a
mão para os homens em volta. — Scotty, Mark e Luke, esta é Lisa, a noiva
do meu filho.
— É um prazer conhecê-los — disse eu ao apertar a mão deles. Olhei para
Mable, que parecia angustiada, e virei-me para Harold. — Ela ficará bem?
— É o primeiro bebê dela, veremos. Mas ela é forte, então, aposto que
sim.
— Aposta que sim? Algo pode dar errado?
— Sempre pode dar algo errado, mas normalmente dá tudo certo.
Normalmente?
— Posso fazer algo? — perguntei.
— Dê apoio a ela. Converse, se quiser. Acalme-a com sua linda voz, que é
muito mais gentil que a nossa. Acho que ela ficaria feliz com isso.
Como eu amava animais, aquilo seria fácil.
— Mable — disse eu ao observar a cabeça enorme dela levantar e cair na
cama de feno. Ela era uma vaca enorme, provavelmente uma Jersey, mas,
apesar de ser muito forte, estava muito vulnerável e exposta. Ela gemia,
ofegava, o que me deixou triste porque aquele momento, de dar à luz, era
uma vida que ela própria não conhecia até então. — Estamos com você, meu
amor. Estamos aqui. E estamos torcendo por você. Não está fácil agora, mas
você terá que fazer força, depois respiraremos fundo antes que faça força de
novo.
Mable me observou de lado durante um momento quando eu disse aquilo.
Senti a dor em seu olhar. Em seguida, ela virou a cabeça e começou a mugir
alto novamente. Ao fazer aquilo, ela também fez força, fazendo com que três
coisinhas aparecessem de uma vez: dois cascos e um focinho.
— Eita porra — disse Harold, olhando para mim. — Você deve ser uma
encantadora de vacas, Lisa, sem nem saber. Porque, pelo que os rapazes me
disseram, ela entrou em trabalho de parto ontem à noite. Estou com ela há
uma hora e nenhum de nós chegou tão longe. Continue conversando com ela.
Ela está respondendo à sua voz. Deixa-a ouvi-la e sentir-se reconfortada por
ela.
— Posso tocar nela? — perguntei.
— Acho melhor não. Só converse com ela.
— Mable — disse eu com a voz baixa e calma ao me agachar. — Você
está prestes a dar à luz ao seu primeiro bebê. Vamos, garota. Faça força mais
uma vez. Você consegue. Sei que consegue.
Quando Mable contorceu o corpo no feno e fez força mais uma vez, o
bezerro deslizou metade do corpo para força enquanto ela arqueava as costas.
Por um momento, Harold só olhou surpreso para mim. — Eu deveria
contratá-la — disse ele. — Você tiraria de letra. Mable claramente responde a
você.
— Não sei — disse eu. — Ela está em trabalho de parto desde ontem, só
cheguei no momento certo. Acho que quem merece os créditos é Mable, não
eu.
— Besteira — disse um dos homens. — Ela está escutando você.
Virei-me e vi que quem dissera aquilo fora Luke. Ele era um jovem bonito
com pouco mais de vinte anos, cabelos loiros escuros e olhos verdes. Ele
vestia uma calça jeans, uma camiseta branca suja, botas de couro desgastadas
e um chapéu de caubói.
— Não deve demorar — disse ele. — Agora, deve ser bem rápido.
Converse com ela de novo, Lisa.
Eu conversei e, ao fazer aquilo, os últimos momentos foram rápidos.
Enquanto Mable fazia cada vez mais força, o bezerro deslizou para fora.
— É um boi — disse Harold. — E bem grande. É por isso que ela estava
tendo tanta dificuldade. Afaste-se antes que ela levante, Lisa. Vamos dar
espaço para ela.
— O bezerro está bem? — perguntei. — Ele não está se mexendo.
— Ele parece bem — disse ele enquanto Mable tentava levantar antes de
começar a limpar o filhote com a língua. Ao fazer aquilo, vi que Harold
estava certo. O bezerro começou a responder ao toque da mãe. Seus olhos se
abriram e piscaram, ele levantou a cabeça com esforço e grunhiu baixinho
enquanto Mable continuava a limpá-lo.
Com exceção do parto de Jennifer, aquilo fora a coisa mais linda que eu já
vira.
— Lisa, quer dar um nome a ele? — perguntou Harold.
— Tem certeza de que é macho?
— Não tem como não ter certeza.
— Então, que tal Nico? — perguntei.
— Nico? — perguntou ele. — Por que Nico?
— Porque, um dia, ele será muito popular entre as meninas da fazenda e
chamar-se Nico não será nada ruim. Pode confiar.
— Então é Nico. Luke, fique de olho em Mable e Nico por algumas horas.
Scotty e Mark, de volta ao trabalho.
— Sim, senhor — disseram eles em uníssono.
— Agora — disse Harold para mim. — Tenho a sensação de que você não
veio me procurar para ver uma vaca dando à luz, embora espero que tenha
sido uma experiência nova.
— Foi incrível — disse eu enquanto observava Mable cuidar do filhote. —
Meus avós tinham uma fazenda, mas nunca vi as vacas deles darem à luz.
Não acredito no que acabei de testemunhar.
— A natureza faz sua magia, e Mable fez a dela... com a sua ajuda de
encantadora de vacas, claro.
Ele estendeu a mão para mim, andei em sua direção e peguei-a com a
minha. Andamos para fora, onde centenas de vacas pastavam nos campos que
se estendiam à nossa frente. Bem além delas, vi o que pareciam ser centenas
de galinhas andando livremente pela terra.
— Então, o que a está incomodando, jovem? — perguntou ele. — Deixe-
me adivinhar: ontem à noite? Porque, se for por isso, não temos que
conversar nada além do fato de que estou feliz por meu filho ter encontrado
uma mulher que esteja disposta a embarcar nas sugestões criativas dele com
um celular em um esforço de deixar os dois felizes.
Tank realmente contara tudo a eles. Eu não sabia se me contorcia ou se
ficava feliz. Como Mable alguns momentos antes, eu também me sentia
vulnerável e exposta.
— Ethel fez aquela confusão porque é assim que é, mas preciso que você
saiba que não sou ela, Lisa. O que quer que tenha visto ontem à noite não me
diz respeito, não diz respeito a ela e não deveria chatear você. Porque,
sinceramente, não há nada de errado. Eu sei que você é a mulher certa para
meu filho, já vi como vocês se olham. Também sei que, em algum momento,
quando minha esposa finalmente esquecer a ideia idiota de que está perdendo
o filho para outra mulher, ela também verá o que vejo em Mitch e você: uma
combinação perfeita.
— É por isso? — perguntei a ele. — Ela acha que, porque eu e Tank
vamos nos casar, ele não continuará presente na vida dela?
— Acho que sim. Acho que Ethel ama Mitch mais do que me ama. Não é
que ela não me ame, porque sei que ama. Mas, desde que ele nasceu e o
médico disse a ela que não poderia ter outro filho, Mitch sempre foi centro de
seu mundo.
— O médico disse a ela que não poderia ter mais filhos?
— Disse. E por motivos pessoais que nem Mitch sabe. — Ele olhou para
mim por um longo momento e pareceu tomar uma decisão. — Ethel teve dois
abortos antes de ter Mitch. Quando descobriu que estava grávida dele,
começou a rezar todos os dias para que não acontecesse a mesma coisa mais
uma vez. Nós dois queríamos um filho mais do que tudo e acho que a pressão
que ela sentiu para engravidar foi um dos motivos pelo quais começou a ir
para a igreja. Por um tempo, ela praticamente morou lá, pelo menos até que a
gravidez começasse a mostrar riscos, quando foi ordenada a ficar de cama
pelos vários últimos meses da gravidez.
— Eu sinto muito — disse eu. — Não fazia ideia de nada disso.
— Ethel acredita que, sem as orações, ela teria perdido Mitch assim como
perdeu os outros. E sabe de uma coisa? Quem sou para julgar? Ela pode estar
certa. Aquela mulher rezou todos os dias. No final, tivemos nosso filho.
— Tank não sabe de nada disso? — perguntei.
— Não. E foi uma escolha de Ethel. Ela vê os abortos como falhas, sinais
profundos da fraqueza dela, provavelmente algo que poderia ter sido evitado
se tivesse ido antes à igreja. Depois que tivemos Mitch, nunca mais falamos
sobre eles porque era doloroso demais para ela pensar sobre tudo que
perdemos. Em vez disso, ficamos gratos pelo que tínhamos, Mitch.
E ali estava, o motivo pelo qual Ethel era tão protetora com Tank, e
também o motivo de ser religiosa. Mas aquilo dava a ela o direito de me
julgar? De me provocar? De dificultar as coisas para mim? Não. Ethel
passara por coisas horríveis, mas ela não tinha o direito de descontar em mim.
— Agora, escute — disse ele. — Só estou contando isso a você para que
possa entendê-la. Ela é superprotetora com Mitch e agora sabe por quê. O que
quer que esteja acontecendo entre vocês não tem nada a ver com você, Lisa.
Porque, acredite, se Mitch estivesse com outra garota, ela estaria passando
pela mesma coisa que você. Isso é de alguma forma uma desculpa para o
comportamento dela? Não, não é. Depois que eu e ela saímos do telefone
com Mitch hoje de manhã, eu mesmo disse a ela que deveria deixar você em
paz se não perderíamos Mitch. Depois daquela ligação, estou aqui para dizer
que ele deixou tudo bem claro para a mãe. Se ela for esperta, não
desrespeitará o pedido dele. Mas, como estamos falando de Ethel, não posso
prometer que não fará isso. Ela pode começar a perturbá-la de novo. Você
precisa estar preparada para isso.
— Eu ia embora hoje — disse eu a ele. — Estava planejando ir para um
hotel.
— Eu não a culparia se tivesse ido. Eu mesmo a teria levado, apesar do
fato de que sentiria sua falta aqui. Espero que você fique. Espero que Ethel
lhe dê o respeito que merece.
— E se ela não der?
Ele deu de ombros e vi em seus olhos azuis que não sabia como Ethel se
comportaria dali em diante.
— Se ela não der, ou você terá que ir para um hotel e ter o casamento em
outro lugar, ou terá que enfrentá-la — disse ele. — Ela sabe o que está em
jogo aqui: não ir ao casamento do próprio filho. Se ela for tola o suficiente
para arriscar e continuar a provocá-la, a culpa será dela e terá o que merece.
O que Ethel passou há trinta e poucos anos não é desculpa para o
comportamento dela agora, Lisa. Só contei a você sobre o passado dela para
que tenha uma ideia melhor de com quem está lidando e como ela se
transformou nessa mulher.
— Não falarei nenhuma palavra sobre o assunto — prometi. — Nem a
Tank nem a ninguém. Mas obrigada por me contar, Harold, porque me ajuda
a entender melhor as coisas. Eu sinto muito pelas perdas de vocês.
— No final, eu e Ethel ganhamos. Temos nosso Mitch, que nos orgulhou
durante toda a vida. Formou-se na escola e na faculdade com honras. Foi a
estrela do time de futebol americano da universidade. Tornou-se um fuzileiro
naval. Um veterano de guerra. Chegou a uma posição no topo de uma grande
corporação em Nova Iorque. Ele é um bom homem. E agora está prestes a se
casar com você. Eu não poderia estar mais feliz, Lisa. Sempre quis uma filha,
sabia? E, até onde sei, uma nora é a segunda melhor coisa.
— Posso abraçar você? — perguntei.
— Achei que nunca pediria — disse ele com um sorriso.
CAPÍTULO 13

Quando voltei para a casa, encontrei Ethel sentada na cozinha no banco perto
da janela. Ela usava um avental azul pastel, as pernas estavam esticadas à
frente e tinha nas mãos o segundo romance que eu publicara com a Wenn, Os
Mortos se Levantarão.
Ela já terminou o Só Se Morre Duas Vezes? pensei incrédula. Como essa
mulher lê rápido! Ela deve ter terminado de ler enquanto eu estava com
Harold, Mable, Nico e os rapazes, pois ainda está perto dela. O que será que
passou pela cabeça dela ao terminá-lo? Ela provavelmente só quer que eu
morra uma vez mesmo, nem precisa da segunda. E, de preferência, antes do
casamento.
— Ora, olá! — disse ela, olhando por cima do livro. — Como foi a
caminhada? Conseguiu um pouco de ar fresco? Viu Harold?
— Vi — disse eu. — Vi mais do que só Harold.
— Como assim?
— Vi Mable dar à luz.
— Mable? — perguntou ela alarmada. — Quem é Mable e por que ela deu
à luz na minha propriedade?!
— Ela é uma das suas vacas — respondi.
— Ah — respondeu ela. — Harold dá nome para algumas das preferidas.
Não passo muito mais tempo nos celeiros, portanto, não conheço Mable. —
Os olhos dela se arregalaram. — Mas isso deve ter sido impressionante para
você.
— Foi incrível — disse eu. — Nunca vi nada parecido.
Ela se inclinou para a frente quando eu disse aquilo. — Ver com os
próprios olhos algo tão sagrado e milagroso como o início de uma nova vida
pode ser impressionante, não é? — disse Ethel enquanto tamborilava com os
dedos na capa do livro. — Especialmente quando se é negada uma vida.
Por favor, não comece, pensei. Agora não. Vamos só continuar com o dia.
Mas ela não começou. Em vez disso, ela colocou o livro no parapeito da
janela e levantou, alisando o avental. — Sabe, dar à luz a Mitchell foi o
melhor dia da minha vida — disse ela. — Casar-me com Harold fica em
segundo lugar, bem perto. Mas passar pela dor do parto e depois ter a
recompensa de segurar Mitchell nos braços pela primeira vez? Depois, ouvir
o médico dizer que ele estava saudável? Nenhum momento em minha vida
foi tão poderoso quanto esse, Lisa.
Quando os olhos dela subitamente brilharam com o pensamento de dar à
luz a Tank, ela rapidamente piscou para limpar as lágrimas e pediu desculpas,
constrangida. Ao vê-la daquele jeito, soube que a conexão dela com Tank era
mais forte do que eu imaginara e, sinceramente, por um bom motivo.
Mas o que isso significa em relação a seguirmos em frente?
— Desculpe — disse ela. — Sempre que penso naquele momento, fico
emocionada. Peço desculpas. Eu não sou assim.
— Não precisa se desculpar — disse eu.
— Enfim — disse ela, balançando rapidamente a cabeça. — Que tal se
cozinharmos? Vamos fazer o prato preferido de Tank, a empada de frango
abençoada por Deus da avó dele. Eu a guiarei e, assim, você poderá fazê-la
para ele quando estiverem... você sabe, casados.
— Estou dentro — disse eu, ignorando a hesitação na voz dela. — Mas,
por favor, não espere muito de mim, Ethel. Minha mãe tentou me ensinar a
cozinhar algumas vezes, mas ela e meu pai estavam sempre tão ocupados que
não foi o suficiente para eu aprender.
— Eu entendo, mas isso não quer dizer que eu não consiga ensiná-la. Ali
na bancada há um avental para você. Coloque-o enquanto pego os peitos de
frango no congelador. Está vendo a assadeira na ilha?
— Estou — disse eu, passando o avental pela cabeça.
— E a garrafa de azeite perto dela? E o sal e a pimenta?
— Vejo tudo.
Ela fechou a porta do congelador, passou por trás de mim e colocou um
pacote com seis peitos de frango na ilha. — Frango, sal, pimenta e azeite de
oliva: tudo de que você precisa para fazer uma refeição deliciosa. Adicione
uma salada ou batatas assadas e não há como errar. É muito fácil, até mesmo
um tolo conseguiria.
Eu era a tola? Não tinha certeza. Eu realmente não sabia onde estava com
ela depois da noite passada. E, como ela se recusava a conversar sobre o
assunto, eu provavelmente nunca saberia, o que significava que desconfiaria
de tudo que ela dissesse, especialmente se soasse desdenhoso.
E aquilo acabara de soar desdenhoso.
— Mas faremos mais do que meros peitos de frango hoje, portanto, escute
bem para conseguir o melhor resultado. Preciso que se lembre de que, ao
fazer esta receita, use sempre frango com os ossos. Nunca use filés sem ossos
porque, se usar, o frango tenderá a secar em vez de ficar suculento. Acredite.
A conexão da carne com o osso fará toda a diferença.
— É bom saber — comentei. — É melhor que eu anote tudo?
— Não precisa. Enviei a receita para você por e-mail quando saiu para
caminhar.
— Entendi — respondi. — Obrigada.
— De nada. Agora, aqui... pegue o frango, coloque os peitos na assadeira,
coloque um pouco de azeite de oliva sobre a pele e dê a cada peito uma boa
quantidade de sal e pimenta, mas cuidado para não colocar demais.
Eu fiz o que ela pediu.
— Perfeito — disse ela, pegando a assadeira e colocando no forno. — Eles
ficarão no forno por mais ou menos trinta e cinco minutos a cento e oitenta
graus. Por que um fogo tão baixo? Porque proteína sempre cozinha melhor
com fogo baixo, Lisa. Como os ovos que fiz para você hoje mais cedo. Eu os
fiz com a menor temperatura possível para que não ficassem duros. São esses
tipos de dicas que farão de você uma cozinheira de mão cheia.
— Obrigada.
— Enquanto o frango está no forno, vamos cortar os legumes, fazer o
molho e, depois, o que muitos acreditam que é a parte mais difícil: fazer a
massa. Já contei a você que meu método é tão simples que qualquer um pode
dominá-lo. Até você.
Até eu? Piranha, o que acha que está fazendo?
Em vez de reagir, comecei a cortar cenouras, cebolas e salsas enquanto ela
me observava sem dizer nada. Quando terminei, Ethel só acenou com a
cabeça em aprovação e mostrou-me como fazer o molho, onde colocamos os
legumes que cortei e um pacote de ervilhas congeladas.
— Nunca tenha medo de usar ervilhas congeladas — disse ela
— Por quê?
— Porque elas são tão boas quanto ervilhas sem casca. Acredite, já
experimentei e não há diferença alguma. Considere uma economia de tempo.
— Vou lembrar disso — comentei.
— Consegue sentir o cheiro do frango? — perguntou ela.
— Sim, consigo.
— O cheiro é uma delícia, não é?
— É melhor do que os frangos que eu faço. — E aquilo era verdade.
— O segredo é a temperatura — disse ela. — Que temperatura você usa
para fazer o frango?
— Duzentos graus?
— Então, você está prestes a ver a diferença que meros cinquenta graus
podem fazer. É só esperar. Agora, acredite, Mitchell precisa que você faça
este prato para ele, especialmente no inverno. Não consigo nem imaginar o
quanto ele deve sentir falta dele. Nem que a última vez que ele o comeu foi
há mais de um ano. Mas vamos resolver isso agora, não vamos? Quando
acabarmos, você terá dominado o prato.
E se eu não tiver dominado o prato?
— Tenho certeza de que sim — respondi.
— Ótimo. Agora, para a massa — disse ela. — A receita da minha mãe é
excelente, mas, quando vi aquela condessa gorda fazer a versão dela na TV,
decidi que, como ela estava gemendo de felicidade no final, eu
provavelmente deveria dar uma chance. E, adivinhe só. Ficou fenomenal,
como dá para imaginar só de olhar para ela. Digo, pense só em quantas
massas ela deve ter comido para se tornar quem é hoje. Pela aparência, eu
diria que ela come muita manteiga, bacon e frituras o dia todo. Mas estou
divagando. Porque tenho que admitir, aquela mulher sabe o que está fazendo.
— Que caridoso da sua parte — comentei.
— Não é? Quando uma mulher deixa acontecer aquilo, é uma vergonha,
devo dizer, porque o marido dela merece algo melhor, não merece? Não que
eu ache que você tenha algum problema com o peso. Que tamanho você
veste, aliás?
— Meu tamanho é zero.
— Quê?
— Zero.
— Mas isso significaria que você não existe. Significaria que você nem
está aqui agora.
Não tenha tanta esperança, querida.
Em seguida, ela só apontou um dedo para mim. — Ah, entendi — disse
ela. — Você está falando do mundo da moda, não é? Está falando de haute
couture. Digo, onde mais no mundo você seria reduzida a zero além daquele
mundo? No meu mundo, você provavelmente veste tamanho dois. Talvez
menos. Mas zero? Zero não existe na Macy’s, Lisa, que é onde geralmente
faço compras.
— Você comprou sua bolsa da Louis Vitton lá? — perguntei com um
sorriso.
— Minha nossa, não! Aquilo foi um presente. Mas chega dessa conversa
sobre moda. Para fazer a massa, usaremos a magia do processador de
alimentos. Você sabe o que ele faz?
— Acredito que processa alimentos.
Os olhos dela se estreitaram por causa do meu sarcasmo, mas ela pareceu
se recompor e, em um segundo, sua expressão voltou ao normal.
— Espertinha — disse ela. — E sempre tão rápida! Sabe, é só neste
quesito que você me lembra da primeira namorada de Tank, Linda, que
também era rápida nas respostas. Somos amigas até hoje. Nós duas
frequentamos o mesmo clube de costura. Às vezes, fazemos compras e
almoçamos juntas, pelo menos uma vez por mês. Coisas assim. Uma garota
maravilhosa. Mas ela e Mitchell se encontraram muito cedo na vida para que
algo sério acontecesse entre eles, como casamento e filhos. Às vezes, fico
imaginando o que teria acontecido se tivessem se conhecido mais tarde.
— Acho que nunca saberemos — disse eu.
— Não — respondeu ela com o olhar pensativo. — Provavelmente não. —
Ela levantou uma sobrancelha para mim. — Pode me passar a farinha? E o
sal e o açúcar?
Entreguei-os a ela.
— Agora, preste bastante atenção no que acontecerá — disse ela enquanto
colocava os três ingredientes na cumbuca do processador, que tinha uma
lâmina de aço acoplada. — Porque, se não prestar, esse nosso pequeno
experimento poderá explodir na nossa cara.
— Está falando da massa? — perguntei.
— Ora, é claro — disse ela sem olhar para mim. — Digo... o que mais
poderia ser?

***

Depois que a massa descansara na geladeira por trinta minutos, durante os


quais Ethel voltou para meu livro enquanto eu verificava e-mails e
mensagens, e passeava pelo Facebook no SlimPhone, terminamos o resto da
receita.
— Toque nos peitos — disse ela para mim ao colocar a assadeira do
frango resfriado à minha frente.
— Você quer que eu toque nos peitos?
— Ora, é claro. Eu toco... e por um bom motivo. Toque neles. Coloque o
dedo. Se a carne ceder, não estará no ponto. Mas, se estiver firme, estará
pronta.
Eu fiz o que ela pediu.
— Está cedendo? — perguntou ela.
— Não.
— Perfeito. É assim que sabemos se o frango está pronto.
Prosseguimos, removendo os ossos, cortando a carne em cubos pequenos
e, em seguida, colocando o frango com a mistura de molho e legumes antes
de dividir tudo em três cumbucas. Ao terminarmos, cobrimos cada cumbuca
com a massa e Ethel me pediu para passar a batida de ovo em cima deles para
que ficassem “com uma cor dourada e marrom, brilhante e linda”.
— Você foi bem — disse ela ao pegar uma faca e começar a furar
agressivamente a parte superior das massas. — Acho que você pegou o jeito.
— Facada, facada, facada. — Realmente acho.
— Obrigada — respondi.
— O prazer é meu. — Ela colocou a faca sobre a bancada e bateu palmas.
— Então! — disse ela, removendo o avental. — Que tal se as deixarmos
descansar por mais ou menos uma hora antes de colocá-las no forno? Levará
mais ou menos uma hora para assar e, até lá, será a hora do jantar. Mas,
enquanto esperamos, não podemos perder tempo. Vamos lá fora para
começar a tomar algumas decisões.
— Tipo o quê?
— Você sabe, onde colocaremos as tendas. Como você quer que as flores
sejam dispostas no gazebo e em outros lugares. Esse tipo de coisa. Só temos
alguns dias para terminar de organizar o casamento, Lisa. Como Harold
pedirá para os rapazes montarem as tendas, além dos ar-condicionados com
propano que ficarão nelas, acho que deveríamos decidir onde colocá-las, para
que possam ser posicionadas logo. A não ser que algo tenha mudado, teremos
três tendas, certo?
— Sim — respondi.
— Uma perto da casa para o jantar de ensaio e duas perto do gazebo,
certo?
— Isso mesmo.
— As duas tendas perto do gazebo serão divididas entre Mitchell e os
padrinhos e você e suas madrinhas? Mitchell e você querem o ar-
condicionado para que não tenham que se preocupar com o calor. É isso?
— Sim, é.
— Portanto, mãos à obra — disse ela. — Porque, acredite, Lisa, agora que
já se acomodou, há muita coisa a fazer. Os próximos dias passarão tão
depressa que nem veremos!
CAPÍTULO 14

Ethel tinha razão. Os dias seguintes passaram em um piscar de olhos


enquanto eu e ela uníamos forças para preparar meu casamento com Tank.
Durante os três dias seguintes, pegamos nossa lista de tarefas para fazer o
máximo possível antes que Tank chegasse. Assim, quando estivesse ali,
poderíamos relaxar e passar tempo com ele. Talvez pela quantidade de coisas
a serem feitas, nós nos concentramos tanto nas tarefas que não discutimos
nenhuma vez.
Concordamos em relação aos locais das três tendas, fomos até o bufê para
garantir que tudo estivesse certo para o jantar de ensaio e, no dia seguinte,
fomos à floricultura escolher vários arranjos de flores para o casamento,
incluindo meu buquê de noiva. Como Ethel era alérgica a vários tipos de
flores, vimos o que poderíamos ou não usar e chegamos a um resultado bom
para todos.
No terceiro dia, a centena de cadeiras brancas que solicitáramos de uma
empresa local foram entregues e posicionadas em frente ao gazebo. Um
tapete vermelho largo eventualmente dividiria as cadeiras e levaria aos
degraus do gazebo. Enquanto eu e Ethel supervisionávamos a melhor forma
de posicionar as cadeiras, unidades de ar-condicionado que usavam propano
foram montadas do lado de fora das tendas para jogar ar frio dentro delas, o
que era muito necessário, já que ali fazia muito calor.
Ao terminarmos, Ethel e eu fomos visitar a mulher que faria o bolo de
casamento. Em um primeiro momento, fiquei preocupada porque vi que ela
fazia os bolos em casa, não em uma loja, mas, quando me ofereceu uma
amostra do que eu deveria esperar, fiquei aliviada.
O bolo era simplesmente delicioso. E a cozinheira, Nancy, disse que
planejara fazê-lo bem cedo na manhã de domingo, assim, ele estaria fresco e
o mais perfeito possível para o casamento.
Quando saímos da casa dela, soube que eu e Tank estávamos em boas
mãos.
Durante as noites, eu ia para o quarto depois do jantar para conversar com
Tank, minha família e meus amigos pelo celular. Falei com meus pais, que
estavam mais do que empolgados por mim e Tank, que disseram que mal
podiam esperar para conhecer Ethel e Harold. Como eu não queria preocupá-
los, só disse a eles que as coisas estavam bem e que queria vê-los logo.
Mas quando falei com Tank, Jennifer e Blackwell, contara a verdade,
ganhando o apoio deles. Cada dia que passava antes da chegada de Tank, que
era naquele dia, graças a Deus, todos nós concordáramos que ele colocara a
mãe na linha porque, com a exceção de algumas indiretas passivo-agressivas
de Ethel, estávamos trabalhando bem juntas e as coisas estavam realmente
andando. Sinceramente, eu sabia que não poderia ter feito nada daquilo sem a
ajuda de Ethel, o que dissera a ela quando tomáramos café da manhã juntas
na manhã do dia anterior.
— Eu agradeço, Lisa — dissera ela. — E, de nada, mas nunca se esqueça
de que também estou fazendo isso pelo meu filho. Também é o dia dele.
Anotado, querida, pensara eu naquele momento. Mas vamos ser claras:
você insistiu em convidar vários dos seus amigos próximos para o nosso
casamento por um motivo específico, o que mostra que esse dia também é
aparentemente seu. Você quer que seus amigos fiquem maravilhados com
como tudo está lindo. Quer que as pessoas vão embora pensando em como os
McCollister são bons, mesmo que meus pais, Tank e eu paguemos as contas.
Você quer que seus amigos vejam a casa e o terreno da melhor forma
possível, e está prestes a ter sucesso por nossa causa. Mas, por favor, não
pense nem por um momento que acho que está fazendo isso por mim e Tank
porque sei que não é o caso. Consigo ver quem você é, Ethel. E este
casamento? Eu já sei que deixará claro para todos que foi tudo feito por
você.
A não ser que eu pudesse intervir...

***

— Que dia lindo — disse Ethel quando saímos da casa, entramos no


Navigator enorme e fomos para a estrada para buscar Tank no aeroporto, o
que estava me deixando nervosa porque eu estava desesperada para vê-lo
novamente.
— Estou começando a achar que é sempre lindo aqui — disse eu. — Digo,
desde que cheguei, o sol está brilhando. Onde cresci, mais ao nordeste, era
muito mais variado. Dizíamos que era a temporada da lama de primavera. Era
úmido desse jeito. E era horrível.
— Aqui em Nebraska, desejamos essa mistura — disse ela ao descermos a
estrada. — Se você está em um poço, onde estamos, a água às vezes pode ser
escassa. Claro, quando há uma tempestade ocasional, recebemos muita
chuva. Mas não o suficiente para saturar a terra. Em vez disso, como é tão
seco aqui, a terra não absorve a água e só causa inundações.
Sempre estragando o clima...
— Bom, ainda é lindo — comentei.
— Fico feliz que goste daqui, Lisa. Talvez, depois desta semana, você e
Tank nos visitem mais. Porque só Deus sabe que eu e o pai dele não estamos
ficando mais jovens. Eu odiaria pensar que você está mantendo nosso filho
longe de nós.
— Como? — perguntei.
— Que você decidiu que não valia o tempo fazer visitas frequentes.
Porque você já deve saber que sempre ficaremos felizes com uma visita de
vocês dois. E se, por acaso, você não puder manter seus prazos de escrita e
suas obrigações com a sua, hm, carreira de escritora, espero que deixe
Mitchell vir sozinho. Porque sentimos muita falta dele.
— Ethel, só para ficar claro, Tank é dono de si mesmo e toma as próprias
decisões. Eu nunca o mantive longe de vocês.
— Será que não manteve?
— Não. Não mantive. Não viemos no último Natal por causa de outras
obrigações. Mas estamos aqui agora, prestes a nos casar na sua casa. Isso tem
que significar alguma coisa.
— Fico pensando se significa.
— O que isso quer dizer?
— Até onde sei, você não teve escolha a não ser se casar aqui.
— Isso não é verdade. Eu poderia ter escolhido me casar na casa dos meus
pais.
— Você quer dizer no hotel deles?
— Sim, a casa deles fica na mesma propriedade. E é uma casa linda
cercada de campos muito bonitos. Mas meus pais estão tão ocupados durante
os meses de verão que não quis pedir que parassem tudo para que o
casamento fosse lá, mesmo que eu soubesse que eles teriam aceitado sem
pensar duas vezes. Mas não pedi. Meus pais não são ricos, Ethel. O que você
precisa entender é que o dinheiro do hotel é como eles conseguem pagar as
contas. Quando Tank sugeriu que nos casássemos aqui, fiquei grata pela
ideia.
— E nós a acolhemos — disse ela ao dirigir. — Abrimos os braços e a
casa para você. Nos últimos dias, trabalhei incansavelmente ao seu lado.
— E eu agradeço muito — respondi. — Mas sei aonde isso vai levar,
portanto, antes que essa conversa saia de controle e uma de nós diga algo do
qual se arrependerá, sugiro que você reconheça que eu tinha outra opção, que
preferi não escolher, e que nunca manteria Tank longe de vocês. Estamos
entendidas?
— Acho que sim — suspirou ela. — Chega de conversa por enquanto. No
porta-luvas, há um novo audiobook que quero ouvir. Pode pegá-lo? Porcos
no Salão. Eu o escolhi pensando em você.
Ah, não acredito que você fez isso.
— Porcos no Salão? — perguntei. — Sério, Ethel? E você escolheu
pensando em mim?
— Depois de ler todos os seus livros, sim, escolhi pensando em você. Não
por causa do título, mas por causa do conteúdo. Leia a descrição. Porque
estou preocupada com você, Lisa.
— Preocupada com o quê?
— Os motivos são falados no livro.
Não vou deixá-la mexer comigo, Ethel. Isso não acontecerá, não hoje. Não
quando estou prestes a ver Tank. Não vou me rebaixar a essa idiotice e vou
só fingir que não é comigo.
Assim, retirei o CD do porta-luvas e li a descrição em voz alta. — Em
Porcos no Salão, Frank Hammond explica a aplicação prática da ministração
da libertação, padronizada depois da ministração de Jesus Cristo. Ele
apresenta informações em alguns tópicos, como por exemplo: como os
demônios entram, quando a libertação é necessária, os sete passos para
receber e ministrar a libertação, os sete passos para manter a libertação,
manifestações demoníacas e conselhos práticos para o ministrador da
libertação. Os Hammond também apresentam uma lista categorizada de
cinquenta e três agrupamentos demoníacos, incluindo vários padrões de
comportamento e vícios.
Chocada, apenas virei-me para ela. — Você realmente acredita que tenho
uma manifestação demoníaca?
— Não sei ao certo.
— E o que isso quer dizer?
— Estou em conflito.
— Como assim, está em conflito?
— Por causa das coisas que você escreve e a facilidade com que faz isso. E
porque você as escreve de forma tão convincente que tenho que acreditar que
há um motivo para isso. Que você de alguma forma teve experiências com as
coisas sobre as quais escreveu para poder dar tantos detalhes.
— Tipo, comer o cérebro de alguém?
Ela não respondeu e, por causa disso, não tive certeza se ria ou se socava a
cara dela.
— Você ao menos sabe qual é a definição de uma manifestação
demoníaca, Ethel? Porque eu sei. Pesquisei para os meus livros.
— É claro que sei o que significa — respondeu ela.
— Sabe mesmo? — perguntei incrédula. — Tem certeza?
— Já disse que sei.
— Tudo bem. — Tirei o SlimPhone da bolsa e liguei-o. — Então, já que
sabe, deixe-me mostrar como está sendo mal educada com uma definição
precisa do que é. — Pressione o botão do celular e falei: — Glo, qual é a
definição de manifestação demoníaca?
— Deixe-me ver — respondeu Glo. — Ok! Aqui está o que encontrei
sobre manifestação demoníaca na internet. Características: odores corporais
pútridos, ouvir vozes animalescas, levitação ou projeção astral, rosnados ou
rugidos com ódio ou malícia, revirar de olhos nas órbitas, fala maligna, ouvir
vozes e espuma na boca. Gostaria de saber mais, Lisa?
— Sim — respondi.
— Bom, eu não — disse Ethel, enrijecendo o corpo no banco ao meu lado.
Mas Glo não quis saber se Ethel queria ou não ouvir mais, ela só
continuou falando.
— Ok! — continuou Glo com a voz tão animada e alegre que nem cabia
naquele veículo. — Aqui estão mais algumas características de manifestação
demoníaca: babar; latir ou sibilar de forma desinibida; surtos de força
aumentada e violenta; alegria ou satisfação pela tragédia de outra pessoa;
espasmos; sacudidas ou colocar a língua para fora; tormento contínuo; e
padrões de risadas estridentes, arrogantes e irritantes...
— Chega — interrompeu Ethel.
— Chega mesmo — concordei, bloqueando o telefone. — Você acabou de
passar dos limites comigo de novo, e de forma deliberada, o que me faz
pensar: por que continua a me provocar? Você tem algum tipo de satisfação
estranha com isso? E por que acha que vou deixá-la fazer isso comigo para
sempre? Porque não vou. Minha paciência com você acabou.
— Estou tentando salvá-la de você mesma! — disse ela.
— Desculpe. De quê?
— De você mesma! Para o meu filho!
— Nós não queremos nem precisamos da sua ajuda. Mas, direi uma coisa,
Ethel, se eu tiver que usar o plano reserva, usarei.
Quando eu disse aquilo, ela me lançou um olhar seriamente preocupado.
— Que plano reserva?
— Dois dias atrás, liguei para uma igreja logo ao sair de Prairie Home.
Contei para eles a situação em que eu estava e eles concordaram em me
ajudar caso as coisas não dessem certo entre nós. Portanto, poderei me casar
lá no sábado.
— Com quem você falou? Qual igreja? Eu sou conhecida nesta cidade!
Este tipo de fofoca se espalhará! Ah, meu Deus, isso me transformará na
nova Beatrice Kaiser da cidade!
— Com quem falei não é da sua conta — respondi. — Mas veja bem,
Ethel. Eu vou me casar com Tank, na sua casa ou na igreja. Obviamente, na
primeira opção, você será convidada, se ela realmente acontecer, mas, se
continuar julgando-me e pressionando-me, não será, jamais, convidada para a
segunda. Tank chamou sua atenção em relação a isso há alguns dias e você já
está voltando a mostrar como realmente se sente em relação ao nosso
casamento. E estou aqui para dizer que não vou aceitar isso. Se não entrar na
linha e começar a me tratar com respeito, cancelarei nosso casamento na sua
casa e Tank e eu vamos nos casar em qualquer outro lugar com nossos
amigos e familiares por perto. Você já sabe que seu filho apoiará qualquer
decisão que eu tomar. Portanto, meu conselho é que você pare com essa porra
dessa palhaçada comigo. Porque, se não parar, darei minha cartada final e
você estará fora do casamento de vez.

***

Apesar do sol forte, o caminho para o aeroporto foi gelado. Depois que Ethel
estacionou o Navigator e saímos do carro, ela liderou o caminho com o passo
acelerado e determinado, e eu fiquei vários passos atrás enquanto entrávamos
no terminal e íamos em direção ao portão de chegada de Tank. Aquele era um
aeroporto regional pequeno com apenas seis portões. Enquanto eu andava, vi
mais ou menos umas cem pessoas esperando voos ou esperando para buscar
entes queridos.
Mas Ethel e eu teríamos que esperar para buscar o nosso. Quando paramos
para olhar o painel dos voos de chegada, vimos que o avião de Tank atrasara
trinta minutos.
Enquanto eu me sentava, Ethel andou até a parede de vidro e parou ali,
com sua raiva por mim sendo palpável. Eu fora dura demais com ela? Nem
um pouco. Eu sabia, pela minha adolescência, que a única forma de parar um
valentão era se opor a ele. Todos tinham um ponto de ruptura pessoal e, se
um valentão passasse dele, era necessário se preparar para atacar.
E foi o que eu fiz.
Depois da situação com Porcos no Salão, Ethel essencialmente partira
para a briga. Se eu me arrependia de alguma coisa, fora de ter usado um
palavrão, mas só porque sabia que ela usaria aquilo contra mim, dizendo que
eu fizera um show de desrespeito contra uma mulher cristã.
Não há nada que eu possa fazer agora, pensei. É melhor tirar isso da
cabeça.
E foi o que eu fiz.
Momentos antes da chegada do voo de Tank, Ethel se aproximou de mim.
— Posso me sentar? — perguntou ela.
— Se quiser, é claro.
Em vez de se sentar à cadeira ao meu lado, ela jogou a bolsa nela e sentou-
se na cadeira ao lado dela.
— Mitchell sentirá a tensão entre nós no momento em que sair do avião —
disse ela.
— Você está certa — disse eu. — Ele sentirá.
— E ele perguntará o que aconteceu.
— Você está certa — repeti. — Ele perguntará.
— Então, agora você me afastará? — perguntou ela. — É isso? Não vai
nem falar comigo?
Olhei para ela e vi a tensão em seu rosto, mas não me importei com como
ela estava se sentindo. Ela fora cruel demais comigo para que me importasse,
passara demais dos limites para que eu ligasse. Eu chegara oficialmente ao
meu limite com ela.
— Eu já deixei claro — disse eu. — Mas, caso você tenha ficado surda,
deixe-me reiterar o que disse no carro. Você me emboscou de propósito no
caminho até aqui com aquele seu CD, insultando-me, assim como fez com o
primeiro. E, quanto mais fico aqui sentada, pensando em como me tratou no
passado e em como continua a me tratar, mais considero a opção de me casar
naquela igreja. Que se dane a sua casa, Ethel. Tank e eu não precisamos dela.
— Preciso ver meu filho se casar. Você não me negará isso.
— É o meu casamento, Ethel. Tank sabe de tudo. E posso fazer o que eu
bem entender.
— Não quando eu falar com ele. Conheço o homem a quem dei à luz, Lisa,
e ele não aceitará isso. Eu sei no fundo do meu coração que ele não aceitará.
Quando terminarmos de conversar, tudo que ele verá é quem você é de
verdade.
— Justamente, Ethel — disse eu com a voz calma e confiante. — É
justamente isso que você não parece entender. Tank me vê como sou de
verdade e ele me ama por isso. Tanto quanto eu o amo.
Do lado oposto ao nosso, um dos empregados perto do portão abriu as
portas, o que significava que o avião de Tank pousara.
— Ele chegou — disse eu.
— Por favor, seja razoável — disse ela, entrando em desespero. — Se eu
não for convidada para o casamento, Harold não irá. Pense em como ele
ficará. Em como você o fará ficar!
E foi ali que ela conseguiu o que queria. Porque eu adorava o marido dela.
E sabia que Ethel estava certa. Se tentasse mantê-la de fora do casamento,
também estaria privando Harold de ver o filho se casar, o que eu não podia
fazer.
Caralho! pensei. Ela tem razão, não posso fazer isso com Harold... nem
com Tank.
Eu podia estar me sentindo derrotada ao me levantar, mas tentei manter a
compostura quando olhei para ela com expressão impassível. — Se ama seu
filho, sugiro que se recomponha. Você é uma boa atriz, Ethel, então faça sua
melhor cara para Tank agora. Porque, depois do que passou após a morte e o
funeral do amigo dele, ele precisará do nosso apoio agora.
— Não preciso de orientações vindas de você, garota.
— Então você está ferrada, Ethel. Sabe disso tanto quanto eu. Agora, eu
estou com as cartas na mão. O que precisa pensar é em como vou lidar com
você em relação ao nosso casamento.
Quando Tank passou pelo portão e olhou-me com um sorriso largo, meu
olhos brilharam e minha raiva sumiu no mesmo momento. De forma rápida,
corri na direção dele e joguei-me em seus braços, dizendo-o que o amava
enquanto ele dizia o mesmo para mim. Quando ele me levantou no ar e
começou a me girar enquanto me beijava nos lábios e no pescoço, vi de
relance Ethel nos olhando... e tentando se recompor do horror daquilo tudo.
CAPÍTULO 15

Quando voltamos para Prairie Home, Harold estava na entrada para nos
receber enquanto Ethel manobrava o Navigator abaixo do pórtico.
— Chegamos! — exclamou ela. — E ali está seu pai, Mitchell. Ele ficará
tão feliz em vê-lo!
No caminho de volta do aeroporto, Tank e eu escolhemos nos sentar no
banco traseiro do Navigator para que pudéssemos ficar perto um do outro.
Ele e a mãe bateram um papo, mas eu fiquei calada, pensando se Tank
conseguia sentir a tensão entre nós.
— É bom estar em casa — disse ele.
— Não é? — perguntou ela.
Ao sairmos do veículo, vi o olhar de alegria no rosto de Harold enquanto
ele apertava a mão do filho antes de eles darem um tapa firme nas costas um
do outro e soube, naquele momento, que não tinha escolha a não ser me casar
ali. Eu não podia negar a Harold o prazer de ver o filho se casar, eles eram
próximos demais. Significavam demais um para o outro. E, sinceramente, por
mais que não aguentasse Ethel, eu sabia que, se não deixasse a mãe ver o
casamento do próprio filho, havia uma boa chance de que me arrependesse
um dia.
Portanto, o que eu deveria fazer? Dizer a Tank o que ela fizera comigo
naquele dia? Arruinar tudo antes do casamento? Ou esconder tudo de Tank
para evitar que aquilo acontecesse? Eu estava em um conflito tão grande que
não sabia o que fazer, especialmente porque nunca escondera nada de Tank.
Espere e veja como as coisas andam...
— Olhe a tenda! — disse Ethel alegre ao passar pela parte da frente do
carro e colocar a mão nas costas de Tank. — Aquela é a do jantar de ensaio.
Não é enorme? E olhe como está perto da casa. Ela tem ar-condicionado, luz,
cadeiras, mesas... tudo! As outras duas estão perto do gazebo, que você
precisa ver. Lisa e eu trabalhamos incansavelmente juntas para deixar tudo
perfeito, e seu pai e alguns dos rapazes dele também nos ajudaram.
— Muito bom — disse Tank. — Obrigado.
— Você precisa ver o gazebo e as outras tendas — disse ela. — Que tal se
todos nós dermos uma volta para ver? Podemos levar suas malas para o seu
quarto quando voltarmos.
— Você quer dizer nosso quarto, né? — disse Tank.
— Ora, por favor — disse ela. — Faltam só dois dias para o casamento.
Para aumentar a empolgação, eu estava pensando que vocês dois poderiam
dormir em quarto separados até lá.
— Obrigado pela ideia, mas vou dormir com Lisa hoje à noite. Nós
moramos juntos há alguns anos, mãe. Tenho certeza de que você sabe que
não temos quartos separados.
— O que você quiser — disse ela com um olhar sombrio, que rapidamente
se suavizou. — Então, vamos todos até o gazebo para que você mesmo possa
ver onde vai se casar com Lisa.
— Na verdade, se não se importarem, eu gostaria de vê-lo só com Lisa.
— Por quê? — perguntou Ethel.
— Porque não vejo Lisa há algum tempo e gostaria de ficar um pouco com
ela.
— Mas você não vê eu e seu pai há mais de um ano.
— Ethel... — disse Harold com um tom de advertência.
— Bom, é verdade — disse ela. — E eu queria ver a reação de Mitchell.
— Você já me viu surpreso e feliz — disse Tank ao se inclinar e dar um
beijo na bochecha da mãe. — Obrigado por entender.
Ele pegou a minha mão.
— Talvez demoremos um pouco — disse ele. — Não venha atrás de nós,
ok?
— Ora, que misterioso — disse ela. — Quanto tempo demorarão?
— Não sei. Voltaremos até as... três?
— Mas isso é daqui a três horas. Só para ver o gazebo?
— E para conversar. E para ficarmos sozinhos. Veremos você e o pai em
breve — disse ele.
— Bom — disse ela, olhando vagamente em pânico para mim. Tank e
Harold poderiam interpretar o olhar dela da forma que quisessem, mas eu
sabia o motivo por trás daquele pânico. Ao ficar sozinha com Tank, ela sabia
que havia uma boa chance de eu contar a ele tudo que acontecera entre nós
duas naquele dia. — Acho que veremos vocês em algumas horas.
— Três horas — disse ele.
— É claro. — Ela olhou para mim com um sorriso forçado. — Lisa, como
não poderei ir junto para fazer eu mesma, por favor, mostre a Tank tudo o
que fizemos para deixar este casamento perfeito. Porque, com todos os seus
amigos nova-iorquinos chegando amanhã, se as coisas não estiverem do jeito
certo, ainda teremos tempo para deixar tudo perfeito. Não pode haver
margem de erro neste casamento — disse ela. — Não sob os meus cuidados!

***

— O que está acontecendo com a minha mãe? — perguntou Tank quando


estávamos longe o suficiente para que não pudessem nos ouvir. — Ela está
estranha.
— Deve ser estresse — respondi.
— Por causa do casamento?
— Ah, ela definitivamente está estressada por causa do casamento.
— Muito estressada?
— Muito estressada.
— E você?
Com raiva ou sobrecarregada?
— Estou bem.
— Só bem? — perguntou ele, colocando o braço em volta do meu ombro
enquanto andávamos pelo caminho que levava ao gazebo. Ele me puxou para
perto e inclinou-se para me dar um beijo nos lábios. Assim, paramos e
ficamos abraçados. — Se ainda houver coisas para fazer, Lisa, estou aqui
agora e posso ajudar.
— Não, estamos bem. Está tudo pronto. E todos estão animados para
amanhã. Até mesmo Blackwell, apesar de eu ter a sensação de que ela não
saberá o que fazer em uma fazenda. Digo, a Bergdorf não é exatamente perto,
né? Então, tem isso. Falei para ela trazer um par de sapatos sem salto, mas
Blackwell se recusou. Ela não tem ideia de onde está se metendo.
— Na verdade, acho que será divertido de ver — disse ele ao sairmos do
abraço e continuarmos andando.
— Ou um desastre total. E também há Epifania. Só Deus sabe o que ela
trará para a festa, apesar de eu estar muito animada em segredo para ver
porque tudo com Epifania é excelente. Mas sabe quem vai gostar muito
daqui?
— Isso é fácil — respondeu ele. — Alexa.
— Eu já marquei várias árvores para ela abraçar.
Ao avançarmos em silêncio, senti Tank segurar minha mão.
— Bom — disse ele quando um beija-flor passou por nós e flutuou acima
de algumas flores silvestres à minha direita. — Isso foi interessante.
— O pássaro?
— Não. Eu estava falando de como minha mãe estava comportando-se
como uma maluca agorinha e como você não quer conversar sobre isso.
Então, qual é o problema? Porque conheço você, Lisa. E conheço minha mãe.
Houve um motivo para você ter ficado tão quieta no caminho do aeroporto
até aqui. E também houve um motivo para minha mãe não querer que
viéssemos ver o gazebo sozinhos. Portanto, qual é o motivo?
— Tank...
— Contamos tudo um ao outro, Lisa. Sempre fizemos isso. E não podemos
parar agora.
— Não é que eu queira parar. É que às vezes não tenho certeza se vale a
pena tocar no assunto.
— Não vale a pena tocar em que assunto?
Ai, meu Deus...
— Se eu contar, isso só o chateará, o que não quero fazer. O que você
precisa saber é que lidei com a situação.
E falhei completamente.
— Que situação? Presumo que tenha a ver com a minha mãe. Ela começou
com você de novo? Começou, não foi? Mesmo que eu a tenha alertado que
não fizesse isso.
Olhei para ele. — Você realmente quer saber? Porque, se eu contar, você
só ficará com raiva.
— Sou um mestre em lidar com a raiva, Lisa. Conte-me o que aconteceu.
Não havia como escapar. Portanto, apesar do que pudesse acontecer,
contei a ele tudo que acontecera entre eu e a mãe dele naquele dia. Detalhe
por detalhe.
— Porcos no Salão? — perguntou ele. — Isso é uma piada, né?
— Eu queria que fosse. Aparentemente, depois de ler os meus livros, sua
mãe chegou à conclusão de que devo ter uma manifestação demoníaca.
— Uma manifestação demoníaca?
— Ah, você sabe, que posso ser capaz de todo tipo de maldade porque
meu espírito foi tomado pelo demônio. Caso você esteja pensando o que isso
significa, deixe-me contar. A qualquer momento, posso ouvir animais
falando, levitar ou ter uma projeção astral, posso grunhir ou rugir com ódio
ou maldade, meus olhos podem revirar nas órbitas e, a qualquer momento,
posso espumar pela boca. E isso é só uma parte porque ainda tem coisa para
caralho.
— Ela fez você ouvir esse CD?
— Ela tentou, mas eu me recusei. Tivemos uma discussão e falei um
monte. O que você também precisa saber é o que ela lhe contará no momento
em que ficarem sozinhos.
— E o que é?
— Dois dias atrás, com medo de que algo desse errado entre eu e sua mãe
de novo, reservei uma igreja para nós logo ao sair da cidade. Podemos nos
casar lá no sábado se quisermos, a igreja não tem nada programado e eles
receberiam a nós e a nossos amigos. Contei à sua mãe que, se ela continuasse
a me tratar assim, nós nos casaríamos lá e não aqui. E que ela não seria
convidada.
— Eu concordo — disse ele. — Eu já disse a ela o que aconteceria se não
recuasse.
— Mas o problema é o seguinte: isso parecia uma boa ideia no momento,
mas não temos escolha a não ser nos casar aqui.
Ele franziu as sobrancelhas para mim. — Por quê? Podemos nos casar
onde quisermos. Fodam-se as tendas. Foda-se o gazebo. É o nosso
casamento, pelo amor de Deus. Se ela não estiver conosco, não a quero lá.
— Mas seu pai está conosco, Tank. Ele tem sido maravilhoso comigo
desde que cheguei aqui. Ele me protegeu de formas que você não consegue
nem imaginar. E, por causa disso, não posso negar a ele a alegria de ver o
filho se casar. Porque ele quer ver você se casar. Ele não deveria ser punido
por causa da desaprovação da mulher dele em relação a mim. Se formos para
a igreja e Ethel não for convidada, de que lado acha que seu pai ficará?
— Ele ficará do lado da minha mãe — respondeu ele. — Ele dificilmente
vai contra ela.
— Então está decidido — disse eu. — Independentemente do que sua mãe
pense de mim, nós nos casaremos aqui porque não posso deixar seu pai de
fora. Ele foi meu único aliado aqui enquanto você não chegava. E, por isso, e
especialmente porque sei o quanto você significa para ele e o quanto ele
significa para você, continuaremos como o planejado. Sua mãe achará que é
uma grande vitória sobre mim, mas que se foda. Não vou permitir que nossos
problemas arruínem tudo para você e seu pai.
— Você sabe que ela só continuará a provocá-la, Lisa, especialmente
quando eu não estiver por perto.
— E estou preparada para isso — respondi. — Só espero que você me
apoie se ela passar dos limites e eu tiver que me impor.
— Você tem todo o meu apoio —disse ele, balançando a cabeça em
seguida. — Minha mãe é realmente maluca. Eu só queria saber por quê.
Como eu não podia dizer a ele por quê, não disse, pois prometera a Harold
que nunca o trairia quando ele contara o passado de Ethel a mim. E se, um
dia, Tank descobrisse de alguma forma que eu tinha descoberto antes dele,
também sabia que ele me respeitaria por manter o segredo do pai. Ele não
veria como uma traição. Em vez disso, ele veria como uma honra.
Durante vários minutos, continuamos andando em silêncio até que o
gazebo, as tendas e as cadeiras brancas ficaram à vista.
— Olhe — disse eu. — Ali está o gazebo.
— Parece tão pequeno daqui.
— Acredite, é enorme.
Ao nos aproximarmos do gazebo, Tank andou em volta dele, maravilhado.
— É mais bonito do que parecia nas fotos. É perfeito.
— Sua mãe que cuidou pessoalmente da jardinagem — disse eu. — Antes
mesmo de eu chegar aqui, ela escolheu cada planta, arbusto e flor plantado
em volta do gazebo. Não tive nada a ver com isso.
— Ela fez isso tudo?
— Sua mãe é uma mulher complicada, Tank, mas, sim, ela fez tudo.
— Está incrível — disse ele ao subirmos os degraus e pararmos no centro
do gazebo. — E também é meio surreal. É aqui que vou me casar com você.
É aqui que começa a nossa nova vida.
Meus olhos se encheram de lágrimas quando ele disse aquilo.
— Não tenho como dizer há quanto tempo espero este momento — disse
eu. — Estou tão feliz por estar quase chegando.
Ele me abraçou quando eu disse aquilo, beijando-me em seguida. E, ao me
beijar, as coisas começaram a esquentar tanto que Tank me pegou nos braços,
desceu os degraus do gazebo e começou a me levar para uma das tendas.
— O que está fazendo? — perguntei.
— Terminando o que deveríamos ter terminado há alguns dias — disse ele
com a voz baixa enquanto me colocava sobre a grama e abria a entrada da
tenda à nossa direita. — Sabe, quando fomos interrompidos pela minha mãe
enquanto transávamos pelo telefone. Estou maluco por você desde então. —
Ele deu um tapa na minha bunda. — Entre.
— Mas e se sua mãe vier nos procurar? — perguntei.
— Ela não virá. Entre.
— Mas não confio nela. Se fizermos isso, terá que ser uma rapidinha.
— Rapidinha? Eu não faço isso.
— Você está prestes a fazer agora.
— Veremos — disse ele. — Agora, vá. Tire a roupa. Quero você.
E eu o queria, portanto, entramos.
Felizmente, o chão de cada tenda fora coberto e, pelo menos, eu não
voltaria para casa de Ethel com marcas de grama nas mãos e nos joelhos, nas
costas ou na cara. Mas, com o ar-condicionado desligado, a tenda estava uma
sauna.
— Não há ar aqui — disse eu quando ele começou a tirar minha roupa e
corri as mãos em volta da curva da bunda dele. — Mas quem liga? Nossa,
você é tão gostoso. Todinho. Acho que consigo senti-lo contra minha coxa
neste momento.
— Você me sentirá em outro lugar bem em breve. Levante os braços.
Eu os levantei e, de repente, minha camiseta e o sutiã tinham sumido. O
que, na verdade, foi ótimo porque deixou minha pele respirar.
— Deixe-me tirar sua camisa — disse eu.
— Faça isso depressa.
Ele vestia uma camisa polo branca que ficava tão justa sobre o peito largo
que não consegui levantá-la.
— Desculpe — disse eu. — Apertada demais.
Sem problemas — disse ele, arrancando-a. — Livre-se da calça.
— Da sua ou da minha?
— Você tira a sua e eu tiro a minha.
Desabotoei o botão superior da calça e comecei a tirá-la. — Estou com
muito medo e estranhamente excitada com o fato de que Ethel pode nos
encontrar. Imagine só. A visão de realmente nos ver transando, sem ser pelo
telefone, provavelmente faria o terço derreter na mão dela.
Em seguida, só fiquei parada ao vê-lo nu e ereto na minha frente. Tank era
tão grande, musculoso e maravilhoso que parecia um deus para mim. — Senti
sua falta — disse eu. Depois, olhei para a virilha dele. — E também senti sua
falta.
— Deite de costas — disse ele.
Fiz o que ele pediu enquanto Tank se ajoelhava e cobria minha boca com
um beijo. Passei as pernas em volta do quadril dele, puxei-o para mais perto
de mim e senti meu corpo queimar com desejo quando começamos a nos
tornar um só.
Quando nossos lábios se separaram, Tank desceu a boca para um dos meus
seios. Primeiro, sua língua provocou meu mamilo, o que me fez gemer de
prazer e surpresa antes de ele mordiscar levemente minha carne sensível, o
que me levou ao delírio. O raio de desejo que senti naquele momento me
consumiu de tal forma que tive que recuperar o fôlego... o que me foi negado
quando a boca dele exigiu o outro mamilo. Enquanto ele o chupava, brincava
e experimentava-o, soube que Tank entrara naquela tenda com muito mais
seriedade do que eu. Ele fora até ali planejando tudo. Aquele era o motivo
real para os pais deles não irem nos procurar.
Ele não queria esperar para fazer amor comigo naquela noite, quando
fôssemos para o quarto. Ele me queria antes. Ele me queria naquele
momento.
Olhei para cima para ele e vi não só o calor do desejo em seus olhos, mas
também concentração e determinação, o que era excitante e erótico. Ele
estava ali para me dar prazer de formas que não podia quando estávamos
transando pelo telefone. Ele estava ali para me fazer esquecer dos dias
difíceis em que ficáramos separados.
Com a ponta dos dedos dele passeando levemente pela parte interna dos
meus braços estendidos, meu estômago vibrou ao sentir o calor irradiar por
mim, finalmente achando meu núcleo quando os dedos dele passaram pelas
minhas costelas, depois para minha barriga, quando ele começou a provocar
minhas pernas com seu toque.
Ele deixou que um dedo esfregasse meu clitóris, dando-me um meio
sorriso quando meu corpo ficou tenso em resposta, mas não continuou. Em
vez disso, posicionou-se de forma que senti todo o peso dele pulsando contra
meu abdômen antes que abaixasse a cabeça novamente e deixasse a língua
seguir a curva suave do meu corpo antes que subisse para exigir minha boca
novamente.
Apesar do calor na tenda, nosso sexo ficou ainda mais quente. Pingando e
com a pele grudando de suor, abaixei a mão para segurá-lo. Senti o peso de
sua circunferência e desejei-o dentro de mim.
Mas Tank tinha outros planos.
Com um movimento rápido, ele se levantou e ajoelhou enquanto me
pegava nos braços. De alguma forma, eu estava de repente montada nele
enquanto seus lábios acariciavam meu pescoço e suas mãos acariciavam
minhas costas. Meus seios, tensos e inchados, rasparam contra o peito dele,
enviando calafrios de êxtase pelo meu corpo enquanto eu os pressionava com
mais força contra ele. Cada vez que seus lábios tocavam na minha pele, eu
sentia o coração acelerar e o mundo se afastar, com aquele momento
tornando-se cada vez mais profundo porque era apenas sobre nós dois.
Sobre ele me dar prazer.
E sobre eu dar prazer a ele.
Libertei-me dele, ajoelhei-me e coloquei-o na boca. Ouvi-o engasgar
quando minha língua encontrou a pele sensível e senti o corpo dele responder
com um calafrio forte. Quando comecei a massageá-lo, sentir seu gosto e
brincar com ele, senti seus dedos começarem a passar pelos meus cabelos
quando ele começou a ficar mais ofegante.
Ao chegar no ponto em que não aguentava mais, ele me posicionou
gentilmente deitada de costas. Vi nos olhos dele o desejo que sentia e
observei sua cabeça ir em direção ao meu sexo antes que ele o capturasse
com a boca e, depois, com a língua.
Ele me chupou de forma lenta e constante antes que a barba por fazer do
queixo esfregasse contra mim. Quase gozei quando aquilo aconteceu, mas
Tank não parou. Na verdade, pareceu passar uma eternidade abençoada antes
que ele parasse e finalmente me penetrasse.
Eu estava tão molhada que nossos corpos se juntaram de forma
surpreendentemente fácil antes que Tank começasse a investir contra mim,
sussurrando várias vezes que me amava ao fazer aquilo. Eu disse o mesmo a
ele ao levantar o quadril em um esforço para tê-lo inteiro dentro de mim, o
que consegui. Passei os braços em volta dele, fazendo movimentos com o
quadril enquanto ele investia e, em seguida, fechei os olhos e deixei que me
levasse para além dos confins daquela tenda, para longe do inferno que
Prairie Home estava sendo e para um éden que eu nunca vira antes.
Nem mesmo com ele.
Ao fazermos amor no tecido de plástico no chão, chegamos a uma mistura
de agressão e delicadeza profunda. E, quando os olhos de Tank encontraram
os meus, imaginei se o sexo com ele só melhoraria depois que nos
casássemos. Porque, aquilo? Aquilo estava além de qualquer coisa que
passáramos juntos. Ao levarmos um ao outro ao clímax, senti quase certeza
de que seria assim. Da mesma forma que tinha quase certeza de que Ethel
provavelmente ouvira nossos gritos ao gozarmos.
CAPÍTULO 16

— Ela saberá — comentei, deitada com Tank de costas sob a sombra do


gazebo. Estávamos lá havia pelos trinta minutos, tentando nos secar. — Vi
meu reflexo no lago e, nossa senhora... sabe, quando um dos cisnes me
acertou na testa. Quem acharia que eles seriam tão agressivos?
— Eu sabia.
— Obrigada por me avisar.
— Eu estava de costas quando você fez aquilo.
— Na verdade, até que foi engraçado — disse eu. — Por um momento,
pensei que fosse cair. Talvez eu devesse ter caído, assim, pelo menos teria
um bom motivo para estar com a aparência que estou.
Ele virou a cabeça na minha direção e estendeu o braço para fazer carinho
na minha bochecha com a parte de trás do dedo indicador. — Você está
ótima. Na verdade, está mais linda do que nunca. Está com um brilho.
— Se estou brilhando, é porque me transformei em um reator nuclear do
nervosismo. Você sabe que ela vai sentir o cheiro do sexo em nós, não sabe?
— Deixe que sinta. Eu não me importo. E você também não deveria.
— Você não pode dizer isso porque ela se curva para você. Ela não ousará
contrariá-lo. Mas eu? Não tenho tanta sorte.
— Lisa, acho que está se subestimando. Eu me apaixonei por você por
causa da sua força, sua inteligência e sua exuberância. Além disso, você sabe
mesmo como fazer amor com seu homem, o que acabou de me mostrar
naquela tenda bem ali.
— Acho que esse evento ficará conhecido como o sexo no forno.
— Ficou bem quente aqui, não é?
— Das melhores e piores formas.
Ele se sentou e fiz o mesmo.
— Acho que é melhor irmos — disse ele. — Só estamos aqui há duas
horas. Vamos voltar e deixá-la feliz por não termos demorado as três horas
que falei. Não sei você, mas quero tomar um banho.
— Eu também, mas preciso beber algo antes. Estou com sede.
— Que tal pegar algo para beber e entrar no banho comigo?
— Não vamos exagerar. Tome seu banho enquanto pego meu chá gelado
e, enquanto isso, fico arrumando suas malas.
— Só para que você saiba, pretendo tomar um banho bem longo e frio.
— Planejo fazer o mesmo quando você terminar.
Ele ficou de pé e estendeu a mão para mim. — Vamos — disse ele,
ajudando-me a levantar e colocando um braço em volta da minha cintura ao
descermos os degraus do gazebo. — E não se preocupe com a minha mãe. Se
ela estiver na cozinha quando chegarmos, esperarei que pegue seu chá gelado
para subirmos para o quarto juntos. Você não ficará sozinha com ela e duvido
que diga algo enquanto eu estiver junto.
— Combinado — disse eu. — Vamos.

***

Mas, quando chegamos à casa e entramos na cozinha, Ethel não estava à


vista. Em silêncio, olhei para Tank, que só deu de ombros, colocou um dedo
sobre os lábios e apontou para a geladeira.
— Ela provavelmente está do lado de fora mexendo em algum dos jardins
— disse ele com a voz baixa. — O pai provavelmente está em um dos
celeiros. Pegue seu chá e encontre-me lá em cima.
— Serei rápida — disse eu. — Vá.
Depois de me dar um beijo na boca, ele saiu da cozinha e ouvi-o subir a
escada. Enquanto isso, peguei uma jarra de chá gelado da geladeira, uma
bandeja de gelo do congelador e coloquei alguns cubos em um copo que
peguei no armário acima da pia. Foi quando comecei a servir o chá que ouvi
a voz de Ethel vindo de fora da cozinha, pela porta que dava ao salão, que era
na outra extremidade da casa.
Meu Deus, pensei, não querendo encontrar com ela daquela forma. Claro
que ela está aqui. Preciso ir.
Mas, de repente, parei ao ouvir a voz dela ficar mais alta: — Pelo amor de
Deus, você é minha irmã, Margaret. Você sabe como tenho tentado acabar
com esse casamento deles. Aparentemente, falhei. Porque ele acontecerá e
agora posso dizer oficialmente que você e Stan precisarão estar aqui amanhã
à noite para o jantar e no sábado à tarde para ver meu filho se casar com o
próprio diabo.
Tentando acabar com o nosso casamento? pensei horrorizada. Ela vem
tentando acabar com a porra do nosso casamento? Se ela disse à irmã que é
o que está tentando fazer, quantas outras pessoas envenenou contra mim?
Quantos amigos e familiares dela sentarão no gazebo no sábado sabendo o
que ela pensa sobre mim e que falhou em se colocar entre eu e o filho?
Naquele momento, eu não sabia exatamente quem tinha me tornado
porque, quando ouvi aquelas palavras, a bola de fogo de raiva que cresceu
dentro de mim foi forte o suficiente para que eu visse tudo vermelho.
E não era um bom tipo de vermelho.
Era o tipo de vermelho que se via na capa de um toureiro. E naquele
momento? Naquele momento, eu era o touro enfurecido que estava prestes a
atacar a mulher que armara toda aquela coisa inacreditável, nefasta e cruel
desde o início.
Mas, por mais enfurecida e traída que me sentisse, eu sabia que precisava
ser inteligente. Não podia me entregar. Queria que ela continuasse falando
sem saber que tínhamos voltado mais cedo. Portanto, coloquei a jarra de chá
gelado sobre a bancada, tirei os sapatos, peguei o telefone do bolso da calça e
comecei a andar silenciosamente para o corredor que dava para a porta
fechada da biblioteca.
— Qual a opinião de Harold? — ouvi quando ela perguntou. — Ele foi
frio com ela quando se conheceram há mais ou menos um ano porque exigi
que fosse duro, dado o assunto que escreve. Mas, depois daquilo? Desde que
começamos a nos telefonar depois que Mitchell decidiu se casar aqui? De
alguma forma, ele passou a gostar dela de verdade, o que realmente não
consigo compreender.
Continue falando, meu amor. Eu só preciso de uma faísca.
— Não, você não entende, Margaret. Harold nunca foi sensível a essas
coisas como eu. Ele não vê a maldade que vejo nela. Contei a você que li os
livros dela? Não? Deve ter sido outra pessoa, talvez Linda, porque ela ficou
tão horrorizada quanto eu. Sim, Linda. Você se lembra, a primeira namorada
de Mitchell. A que eu gosto.
Continuei aproximando-me, fazendo o possível para não me revelar antes
da hora. Para uma casa tão antiga, ela era bem sólida e, por sorte, o chão de
madeira não fazia barulho.
— Enfim, sobre os livros. Li todos eles esta semana debaixo do nariz dela.
E você não vai acreditar na sujeira que tem neles. Você realmente não vai
porque sei que seu sangue ficaria gelado, assim como aconteceu comigo, só
de olhar para as capas. No nosso mundo, só Cristo se levantou. No mundo
dela? Os mortos se levantam um atrás do outro! E ainda fica pior! Há cenas
vívidas de mulheres tendo abortos, que são tão detalhadas que tenho certeza
de que ela já abortou várias vezes, mesmo que eu tenha perguntado e ela
tenha negado. Sei reconhecer uma mentira. Ela é o sacrilégio em pessoa!
Pensar que essa mulher, essa besta pagã horrível, um dia dará à luz aos meus
netos me deixa enojada.
Minha pressão sanguínea disparou quando ela disse aquilo. Eu amava
crianças. Como ela ousava dizer algo assim sobre mim?
— Mas o que posso fazer? — perguntou ela. — Nada. Como falhei na
missão de separá-los, estou literalmente sem esperanças. Não, de verdade. Ela
lançou algum tipo de feitiço vodu no meu filho porque acho que Mitchell
realmente acredita que está apaixonado. Não sei mais o que dizer ou fazer
porque, olhe, fiz tudo ao meu alcance para acabar com isso desde que ela
chegou aqui naquele jatinho privado chique dela. Tudo que posso fazer agora
é aceitar a derrota e saber que aquele demônio ganhou, como sempre. O que
está feito, está feito.
Abri a porta quando ela disse aquilo, fazendo-a girar de surpresa, olhando
para mim aterrorizada. Quando viu meu telefone, que estava apontado
diretamente para ela, seu queixo caiu.
— O telefone está ligado, Ethel — disse eu. — Eu estava gravando a
conversa com a sua irmã no corredor e agora estou filmando você.
Quase que de uma vez só, a cor fugiu do rosto dela quando percebeu que
pelo menos parte da conversa com a irmã estava presa no meu telefone e que
eu provavelmente tinha provas de que ela estava metendo-se no meu
relacionamento com o filho dela... ao ponto de querer quebrá-lo.
— O qu... Desligue isso!
Chutei a porta atrás de mim e dei um passo na direção dela.
— Obrigue-me.
— Obrigá-la? Obrigá-la? Acha mesmo que serei violenta com você?
— Depois do que acabei de ouvir, não duvido de nada de você, Ethel.
Nada.
— Pedi para você desligar o telefone. Exijo que faça isso agora.
— Que tal você desligar o telefone, Ethel? Desligue agora porque chegou
a hora de termos uma conversinha. Vamos ver se conseguimos chegar a um
acordo e, dependendo do que acontecer, vou embora... e depois veremos o
que fazer.
Ela se mexeu para falar, mas quando viu o aço em meus olhos, e que meu
telefone ainda estava apontado para a cara dela, levantou o telefone e disse:
— Margaret? Ligo para você depois. O quê? Sim, ela está aqui comigo agora.
Nós nos veremos amanhã. Ou não. Não sei. Ligo para você mais tarde.
Ela desligou o telefone e olhou para mim com ódio nos olhos por ter a
verdade de que estivera tentando me atingir revelada não só para mim, mas
para a câmera. De uma forma estranha, eu estava grata por finalmente ver
como ela se sentia em relação a mim, assim, eu saberia a verdade e não teria
que adivinhar nada. Não precisaria ficar imaginando se teríamos como mudar
nosso relacionamento depois do casamento. Porque, depois do que eu acabara
de ouvir, soube que isso nunca aconteceria, que eu nunca a perdoaria e que
ela nunca me aceitaria.
Mas isso não significava que eu não poderia ganhar dela no final.
— Desligue o telefone agora ou gritarei para o meu marido — disse ela.
— Por favor, faça isso — disse eu. — E também chame Tank, se quiser.
Porque o resto de nossa vida está agora em suas mãos, Ethel, especialmente
em relação a como seu marido e seu filho a verão se eu mostrar isso a eles.
Portanto, decida... Os dois podem saber que você tentou acabar com meu
relacionamento com Tank tentando me enlouquecer esta semana. Ou
podemos manter este segredinho entre nós. A escolha é sua. Grite agora ou
cale a porra da boca e escute o que tenho a dizer.
— Como saberei se está realmente me filmando agora? — perguntou ela.
— Que gravou alguma coisa? Você poderia estar mentindo para mim porque
é isso que vocês fazem de melhor.
Àquela altura, eu já tinha vídeo suficiente para conseguir o que queria
dela. Portanto, apertei o botão vermelho para parar, segurei o telefone com a
tela virada para ela e reproduzi o vídeo. Com uma intensidade quase palpável
entre nós, Ethel ouviu a própria voz, viu quando abri a porta e comecei nossa
conversa. Quando o vídeo terminou, ela estava pálida como um fantasma.
— Se mostrar isso a Mitchell, ele nunca me perdoará — disse ela.
— Você está certa. Ele não a perdoará.
Ela tremia visivelmente, de raiva ou de medo, ou possivelmente uma
combinação dos dois. Em seguida, ela disse: — O que quer de mim? Porque
obviamente quer alguma coisa, consigo ver nos seus olhos.
— O que eu queria de verdade era dar um tapa nessa sua cara horrorosa
com tanta força que você cuspiria alguns dentes e sangue. Mas, como não sou
uma pessoa particularmente violenta, Ethel, apesar do que você acha por
causa dos meus livros, quero outra coisa em troca do segredo do vídeo.
— E o que é?
— De agora em diante, você parará de interferir no meu relacionamento
com seu filho. Isso acaba agora. Também será uma pessoa civilizada comigo,
como tenho sido com você desde que a conheci. Você será educada, mesmo
que isso a mate, porque cheguei oficialmente ao meu limite com a forma
como me trata. Ou você concorda ou levarei a gravação para Tank e
mostrarei para ele agora. Mas, por favor, saiba de uma coisa. Se concordar
com meus termos e tentar alguma merda mais para frente, saiba que mostrarei
o vídeo para ele. E, se achar por um momento sequer que apaguei o vídeo
sem querer do telefone ou que o perdi, saiba que todas as informações que
acabei de gravar já estão guardadas na nuvem.
— Que nuvem? — perguntou ela. — Eu nem sei o que isso significa.
— Não achei que fosse saber, então deixe-me explicar para você. Tudo no
meu telefone, fotos, vídeos, e-books, pode escolher, é guardado
instantaneamente de forma remota e fica em segurança nos servidores de uma
empresa assim que adiciono algo novo. Como este vídeo, por exemplo. Ele já
está lá, esperando que eu o acesse. Se não entende isso, vou dizer de uma
forma que não deixará dúvidas, Ethel: se algo acontecer ao meu telefone ou
se o vídeo por algum acaso for corrompido nele, ele já está guardado em
outro lugar em uma cópia reserva que posso recuperar no momento em que
eu quiser. Portanto, daqui em diante, se você for idiota o suficiente para
pensar em me testar novamente, lembre-se sempre de que terei uma cópia
desse vídeo para mostrar ao seu filho. E, se eu fizer isso, o que farei porque
esta é a última chance de salvar seu relacionamento com Tank, acho que nós
duas sabemos que você nunca mais o verá. Estamos entendidas?
— Você faria isso comigo, não faria?
— Sem pensar duas vezes. Farei qualquer coisa para proteger meu
casamento com Tank, especialmente da porca que está no salão comigo
agora. Portanto, concorde ou discorde, porque preciso voltar para encontrar
Tank.
— Naturalmente, eu concordo. Que escolha eu tenho?
— Se quer seu filho na sua vida, nenhuma. — Coloquei o telefone no
bolso da calça e só olhei para ela. — Você deveria estar grata por eu não
levar isso para ele agora, Ethel, porque poderia ter feito isso. Não vou porque
quero proteger Tank de quem a mãe realmente é, a não ser que você me dê
um motivo muito bom para não fazer isso. Considere isso daqui para frente.
Você não fará mais nada para prejudicar o nosso relacionamento de novo,
será educada comigo e serei educada com você. Mesmo que nós duas
estejamos fingindo, é isso que acontecerá.
Antes de me virar para ir embora, olhei para ela mais uma vez. — Falando
nisso, vamos nos casar aqui. Nada mudou, contanto que você cumpra sua
parte do combinado. E... ah! — disse eu, quase como se tivesse me
esquecido. — Se estiver imaginando porque estou tão desarrumada agora, é
porque Tank e eu fomos até o gazebo, ele quis fazer amor comigo, portanto,
deturpamos uma das tendas enquanto estávamos lá. E foi incrível, Ethel.
Magia pura. Na verdade, uma parte de mim queria que você estivesse lá para
ver, no mínimo para que pudesse nos ver fazendo amor ao vivo e não pelo
telefone. E para que visse o que é o amor verdadeiro.

***

Mais tarde, depois de colocar cubos de gelo frescos no copo de chá gelado,
subi a escada para o quarto, abri a porta e vi Tank vestindo-se perto do pé da
cama.
— Onde você estava? — perguntou ele.
Eu nunca poderia contar a verdade a ele, no mínimo porque não queria ser
a culpada de não ter um relacionamento com a mãe nunca mais, talvez até
com o pai, se Harold decidisse ficar do lado dela.
— Sua mãe me encontrou — disse eu. — Mas está tudo bem. Ela não
perguntou nada sobre a minha aparência.
Aquela parte era verdade... compartilhei o motivo daquilo por vontade
própria.
— O que ela queria?
— Só falar de coisas do casamento — disse eu, pegando o telefone do
bolso, colocando-o em uma das mesas de cabeceiras e começando a tirar a
roupa. — Coisas chatas do casamento. Agora, com licença, garotão, porque
esta garota aqui precisa de um banho.
— Você só quer que eu dê licença quando está nua na minha frente assim?
Sabendo que já tinha o suficiente contra Ethel McCollister para mantê-la
na linha pelo resto da vida, olhei maliciosamente para ele.
— Não sei — respondi. — Você tem certeza de que tomou banho
direitinho? Digo, só com esses ombros largos e essas costas, pode ser difícil
limpar tudo.
— Está sugerindo que não tirei todo o sabonete de mim?
— Estou mais do que sugerindo. Portanto... entre no banho comigo.
Com um sorriso de lado, Tank tirou a camisa polo azul-marinho e deu um
tapa na minha bunda quando passei por ele rindo em direção ao chuveiro.
Quando ele se juntou a mim, fizemos amor pela segunda vez naquele dia.

***

Depois de um jantar perfeitamente civilizado com os pais dele, onde Ethel


saiu da zona de conforto para conversar animadamente sobre todos os
convidados que chegariam no dia seguinte e sobre o casamento que
aconteceria, esperei um tempo antes de pedir licença.
— É melhor eu ligar para Jennifer — disse eu a Tank. — Eles sairão
amanhã de manhã. Que tal se continuar conversando com seus pais enquanto
vou lá fora ligar para ela rapidinho? Não demorarei. Só quero garantir que
esteja tudo certo antes que cheguem.
— Pode deixar — disse ele.
Do lado de fora, comecei a descer o caminho que levava ao gazebo ao
ligar para Jennifer. O sol estava escondido, mas ainda estava um dia claro,
sem estar tão quente. Quando ela atendeu, ouvir sua voz foi como um
bálsamo para mim.
— Sirva-me um martíni — disse eu.
— Considere servido. E aí, meu amor? Pronta para o grande dia? Ou está
estressada com ele, dado o martíni solicitado?
Contei a ela tudo o que acontecera entre eu e Ethel.
— Eu sinto muito, Lisa — disse ela. — Que porra é essa? Ela realmente
tentou fazer isso com você?
— Tentou.
— Mas você, de todas as pessoas, não merece esse tratamento. Mesmo
assim, se serve de consolo, que bom que fez o que fez. Pegar o telefone foi
uma coisa incrível.
— Vamos dizer que foi o instinto. Acho que, quando a ouvir dizer à irmã
que não tinha conseguido acabar com o meu relacionamento com Tank, de
alguma forma inconsciente eu soube que precisava de provas do que estava
sendo dito, no mínimo para usar contra ela no futuro. A mente é uma coisa
estranha, Jennifer, e a minha entrou em frenesi.
— Você acha que as coisas estão sob controle agora?
— Por enquanto, sim. A longo prazo, provavelmente. Acho que ela se
enfiou em um buraco tão fundo que sabe que, se quiser continuar a ter um
relacionamento com o filho, precisará recuar, ser educada e deixar-nos em
paz.
— Espero que esse seja o caso.
— Por Tank, eu também espero. Porque, se ela não se comportar,
mostrarei o vídeo a ele, Jennifer. Não terei outra escolha porque não posso ter
esse tipo de toxicidade em nossa vida. Especialmente não depois de nos
casarmos.
— Não a culpo.
— Enfim — disse eu. — Chega disso porque, sinceramente, já estou
exausta. Como você está? Pronta para ser minha madrinha de honra?
— É claro! — disse ela animada. — Só queria que madrinha de honra não
me fizesse soar tão velha.
— Soar velha e estar velha são duas coisas diferentes.
— É verdade...
— E você está longe de ser velha, portanto, acho que deveria carregar o
título com honra.
— Era o que eu teria feito de qualquer forma.
— Escute — disse eu. — Eu disse a Tank e aos pais dele que seria rápido,
mas há outro motivo para eu ter ligado.
— Que motivo?
— Preciso que faça algo para mim.
— Diga.
— É para amanhã.
— Por que tudo parece tão enigmático de repente?
— Porque o que tenho em mente pode não ser muito legal.
— O que não é muito legal?
Contei a ela.
— Sério? — perguntou ela. — Você não aprendeu nada com Michelle
Obama? Sabe, “quando eles batem no fundo, nós subimos o nível”?
— Sentimento fofo, mas inútil para mim agora. Quero que você me escute.
— Tudo bem — disse ela.
— Quero que alguém os ofereça a ela amanhã como presente, mas precisa
ser de uma forma muito específica.
— Que forma?
Contei a ela. — Se não for feito assim, ela saberá, portanto, garanta que
esteja tudo certo. Se não, se ela notar, já era.
— Tem certeza disso? Porque, se acontecer, ela pode...
— Eu quero que aconteça. Ela merece que isso aconteça.
— Na verdade, depois do que você me disse, ela merece mesmo.
— Você consegue dar um jeito? Não precisa ser de você. Digo, outra
pessoa pode fazer isso.
— Como Blackwell? — perguntou ela. — Se me deixar contar a ela o que
Ethel tentou fazer com você, Blackwell fará sem pensar duas vezes. Se não
for ela, poderá ser Daniella, com certeza. Ela sempre topa esse tipo de
maldade.
— Você pode perguntar a Blackwell primeiro? Eu adoraria que fosse dela.
— Perguntarei, mas já sei que ela aceitará, no mínimo porque ficará brava
quando eu contar por que quer que isso seja feito. — Ela parou por um
momento. — Isso pode dar muito errado, você sabe, né?
— Não com aquele vídeo nas minhas mãos!
— Tudo bem. Considere isso outro presente de casamento. Nós nos
veremos amanhã ao meio-dia, minha malevolazinha. Diga olá a Tank por
mim. Amo você, boneca.
— Eu amo você mais — disse eu.
E, em seguida, com uma pontada de empolgação pelo que viria no dia
seguinte, desliguei o telefone e voltei para a casa.
CAPÍTULO 17

Às onze horas da manhã seguinte, eu estava no quarto, desamarrotando do


véu de noiva com o dispositivo a vapor, quando recebi uma mensagem de
Jennifer dizendo que tinham chegado bem e que estariam a caminho em
breve.
— Blackwell está armada e perigosa — disse ela. — Diga-me agora se
ainda quer continuar com isso.
— Com certeza — respondi, grata por estar sozinha. Tank estava com o
pai em um dos celeiros. Por um lado, eu sabia que o que tínhamos em mente
para Ethel era errado, mas, depois de ouvi-la admitir que tentava acabar com
meu relacionamento com Tank havia anos? Aquela era uma traição grande
demais e não havia como deixá-la se safar só com um sermão. E, como eu
não podia evitar, faríamos aquilo. — Pode mandar ver.
— Mandaremos ver. E, sim, seguimos suas instruções. Veremos você em
breve. E, prepare-se, porque a coisa está prestes a ficar séria!
Está mesmo, pensei ao andar até uma das janelas do quadro e abri-la para
que pudesse ouvir quando chegassem. E estou perfeitamente bem com
qualquer coisa que aconteça.
Mais ou menos trinta minutos depois, eu acabara de terminar de garantir
que o vestido estivesse perfeito quando ouvi o som de vários carros virando
na entrada da casa.
— Lisa! — ouvi Ethel me chamar. — Seus amigos chegaram!
Finamente, eles chegaram.
Desci a escada correndo no momento em que Ethel saiu rapidamente da
cozinha. Ao mesmo tempo, paramos e lançamos uma à outra um olhar frio.
Naquele dia, observei, Ethel usara suas melhores cartas.
Maquiagem e cabelo completos, que eu era obrigada a admitir, estavam
perfeitos, e uma calça bege que combinava perfeitamente com um suéter azul
escuro. Nos pés, ela usava um par de sandálias bonitas que não só
combinavam com a cor do suéter, mas eram Christian Louboutins, o que
reconheci ao primeiro olhar.
Ela provavelmente os comprou porque achou que tinham sido feitos por
um cristão, pensei. Como será que ela reagiria ao saber que o homem que
criou estes sapatos é gay? Provavelmente tentaria rezar até que sumissem.
— Já pedi para avisarem no celeiro — disse ela. — Mitchell e Harold
estão vindo para cá.
— Ótimo — disse eu. — Enquanto isso, deixe-me apresentá-la aos nossos
amigos.
— Mas não deveríamos esperar os rapazes?
— E deixar os convidados esperando? — perguntei. — Isso seria falta de
educação. Vamos falar com eles agora.
— Então, vá na frente — disse ela, acenando em direção à porta.
Por que tenho que ir primeiro? Para que possa me esfaquear pelas
costas?
Mas, quando abri a porta e vi as três limusines pretas compridas brilhando
em frente à casa, tive que segurar uma risada. Se Ethel achara que vira algo
sequer da minha vida quando eu usara um jato privado, ela não saberia o que
fazer quando visse Jennifer e Alex, que eram basicamente sempre um casal
de atores famosos prontos para o carpete vermelho. E, depois, tínhamos
Blackwell, que naturalmente estaria toda de Chanel. Se aquilo não fosse
suficiente, Alexa, Daniella, Cutter, Bernie, Epifania e seu boy, Rudman,
também estavam naqueles carros. Como todos eles tinham acabado de chegar
de Nova Iorque, eu tinha certeza absoluta de que não estavam vestidos com
estilo country.
— Nossa, mas que espetáculo — disse Ethel ao meu lado na varanda. —
Digo, isso é realmente necessário? Estamos em Prairie Home, Nebraska, pelo
amor de Deus. Como eu disse a você quando pegou seu voo particular, não
há necessidade de impressionar ninguém aqui, Lisa. Nós não ligamos para
esse tipo de coisa.
Foi por isso que gastou quase mil dólares nesses Louboutins, querida? E
quatro mil na sua bolsa Louis Vitton?
— Eu e meus amigos estamos longe de querer impressionar alguém, Ethel
— disse eu. — Andar de limusine é tão natural para eles quanto é para você
andar no Navigator. Você sabe que Alex é um bilionário. Esta é a forma
como eles vivem. Não estão tentando impressionar ninguém.
— Bom, imagino que vida deve ser — disse ela. — Espero que eles doem
para a caridade. Especialmente por causa do tipo de dinheiro deles.
— Todos eles são muito generosos, principalmente com a Planned
Parenthood. — Eu disse aquilo com um sorriso tão doce que o objetivo era
deixá-la enjoada. — Você deveria ver o tanto que eles doam para essa
organização. Dezenas de milhares.
Quando enfiei aquilo goela abaixo nela, ela se mexeu para falar, mas se
segurou e continuou em silêncio. — Os motoristas estão abrindo as portas —
disse eu. — Vamos lá cumprimentá-los. Veja, ali estão Jennifer e Alex.
Jennifer! — gritei ao descer os degraus da entrada rapidamente.
— Aí está a noiva! — disse ela com um sorriso enorme.
— Você está de salto. Cuidado com o caminho de cascalho.
— Estou bem. Venha me dar um abraço.
— Você está mais do que bem — disse eu ao abraçá-la. E aquilo era falar
por baixo. Ela vestia uma camisa listrada Ralph Lauren Capri aberta no
pescoço e com um nó na altura do umbigo, calça jeans branca e sandálias de
couro envernizado Fendi com tira dourada. O cabelo longo e castanho
brilhava acima dos ombros e pelas costas em ondas grossas e soltas. — Você
está maravilhosa. Estou tão feliz por estar aqui. Não sei nem dizer.
Dei um passo atrás e, por um momento, nós só nos olhamos.
— Lisa, você vai se casar — disse ela.
— Eu sei. Também não consigo acreditar.
— Como foi seu dia? — perguntou ela com a voz mais suave.
— Por enquanto, tudo bem.
— Consigo ver Ethel na minha visão periférica...
— Desculpe. Você pode dar um soco na cara dela por mim?
— Eu faria isso se pudesse.
— Não é o suficiente.
— Olá — disse Alex ao parar ao nosso lado.
— Meu Deus — disse eu ao me virar para ele. — Olhe só para você, sr.
Wenn. Está um gatão.
Ele vestia uma calça jeans, uma camiseta branca e óculos escuros
aviadores. Eu sabia que Alex estava em ótima forma física, mas não sabia
que era tão boa assim, especialmente porque geralmente o via de terno.
— E de onde veio isso? — perguntou ele.
— Você me conhece. Não tenho filtro. — Dei um grande abraço nele e
olhei para Jennifer por sobre o ombro dele. — Ele precisa se vestir mais
assim. Suas ações disparariam!
— Você é terrível — disse ela. — Mas tenho que concordar.
Ouvi os outros saindo dos carros. Ao olhar para cima, vi Blackwell, que
arqueou uma sobrancelha para mim antes de me soprar um beijo. No carro
atrás dela, vi Epifania sair para o sol e Rudman logo em seguida, com a mão
firme nas costas dela. Quando ela me viu, gritou para mim.
— Olhe só para você, biscoito! — disse ela. — Graças a Dolly Yama,
Epifania finalmente chegou! Porque e se não tivesse chegado? Esse
casamento seria uma chatice, isso sim! — Em seguida, ela jogou as mãos
para cima ao olhar para a propriedade. — Heyzeuz Cristo, a última vez que vi
algo tão plano assim foi antes de fazer minha cirurgia dos peitos! — Ela
pegou Rudman pelo braço e apontou para algo nos campos que se estendiam
à frente deles. — Olhe, meu Rudsy delicioso, está vendo aquele touro lá?
Como só pode haver um touro enquanto estamos aqui, Epifania acha que
você deve ir lá e acabar com ele. Porque todo mundo sabe que você é o
verdadeiro touro! O graaande touro! O tourão!
Meu Deus do céu... Eu a amo tanto que poderia desmaiar!
Acenei animadamente para Epifania e Rudman antes de voltar a atenção
para Jennifer e Alex, que estavam tentando manter a expressão neutra. —
Não ousem rir — disse eu a eles com a voz baixa.
— Não é fácil — disse Alex.
— Estamos tentando nos segurar — disse Jennifer.
— Podem ser esforçar mais!
— Com Epifania aqui, você já sabe que está pedindo algo impossível.
— É verdade — disse eu. — E anotado. — Abaixei a voz. — Agora,
deixe-me apresentá-los para a mãe de Tank porque esta é a melhor forma de
dar boas-vindas a vocês ao meu mundo assobrado.
— Cadê Tank? — perguntou Alex. — Eu não o vi ainda.
— Ele e o pai devem chegar em breve. Eles estavam em um dos celeiros.
— Virei-me para Ethel, que não saíra da varanda e olhava para nós com um
sorriso desconfortável, provavelmente porque a louca da Park Avenue,
também conhecida como Epifania Zapopa, abrira a boca de formas que Ethel
achava vulgar. E, sinceramente, se aquele fosse o motivo, eu não podia culpá-
la porque não havia filtros em se tratando de Zapopa.
Não que eu me importasse. Meus amigos eram minha família, não Ethel.
— Ethel, gostaria de conhecer Alex e Jennifer Wenn?
— Na verdade, sim, gostaria.
Ao descer a escada, Ethel se moveu com tal elegância que eu só vira nela
uma vez, quando ela me pegara no aeroporto, o que só mostrava como era
uma ótima atriz. Eu sabia que, no fundo, ela não queria conhecer nenhum dos
meus amigos. Mesmo assim, com um sorriso caloroso, ela praticamente
flutuou em nossa direção, como se estivesse em uma nuvem, sendo entregue
pelo próprio menino Jesus.
— Olá — disse ela ao apertar a mão deles. — Sou Ethel McCollister, mãe
de Mitchell. É ótimo finalmente conhecer vocês.
— Ouvimos tanto sobre você — disse Jennifer. — Também é um prazer
conhecê-la, sra. McCollister.
— Por favor, pode me chamar de Ethel. Mas estou naturalmente curiosa
para saber o que ouviu.
— Que você é uma excelente cozinheira, por exemplo — disse Jennifer,
sem perder a pose. — E que você deixou o entorno do gazebo lindo. Lisa nos
contou. Ela ficou muito animada com isso.
Ethel apenas piscou.
— Foi mesmo?
— Foi mesmo. Ela disse que você escolheu todas as plantas pessoalmente.
E que o que você fez por Tank e por ela ficou incrível. Mal posso esperar
para ver, inclusive o lago e os cisnes.
— Eu também — disse Alex.
— Bom — disse Ethel. — Que ótimo. Muito bondoso da parte dela. Lisa
tem um coração muito generoso, não é?
Depois do acordo que fizemos ontem à tarde, é melhor acreditar que tenho
mesmo.
— Ei! — Ouvi Tank gritar atrás de mim. — Olhe quem está aqui!
— Todo mundo! — disse eu, virando-me para ver ele e Harold andando
em nossa direção. — Bom, todo mundo de Manhattan, no caso. Ainda vão
chegar mais algumas pessoas durante o dia, incluindo meus pais, que mal
posso esperar para ver.
— Ah! — disse Ethel ao olhar para Tank e Harold. — Olhe só a bagunça
que vocês estão! Parece que estavam rolando no feno, pelo amor de Deus,
enquanto nossos convidados parecem ter saído de uma revista de moda!
— Eles são nossos amigos, mãe — disse Tank para ela ao andar em nossa
direção. — Nenhum deles liga para como eu e o pai estamos.
— Mesmo assim!
— Não é um problema, não vamos transformá-lo em um.
— Ah, eu só...
— É bom ver você, amigo — disse Tank a Alex ao apertarem as mãos e
trocarem um abraço. — Pronto para me apoiar amanhã?
— Assim como você sempre me apoiou.
— Pai, este é Alex Wenn. Alex, este é meu pai, Harold.
Os homens apertaram as mãos.
— É um prazer finalmente conhecer você, Alex — disse Harold. —
Obrigado por dar ao meu filho uma oportunidade única na vida.
— Seu filho é meu melhor amigo — disse Alex. — Ele salvou a minha
vida e a da minha esposa mais vezes do que consigo contar. E ele foi
fundamental para salvar a vida de Lisa. Seu filho é um herói, Harold. Sei que
não precisa que eu diga isso, mas é verdade. Eu o considero o irmão que
nunca tive.
— Não me faça chorar — disse Tank.
Alex riu daquilo e deu um soco no braço de Tank. Mas o que Alex dissera
sobre Tank era verdade. E eu sabia que Tank também se sentia da mesma
forma em relação a Alex. Depois de tantos anos de amizade, eles eram
praticamente irmãos.
— Este lugar parece um pouco com o Maine — ouvi Daniella dizer à
distância. — Não há um arranha-céu, mas há uma caralhada de grama e
árvores.
E aquela ali já era...
— O que são aquelas coisas ali? — eu a ouvi perguntar à irmã.
— Você sabe exatamente o que são, Daniella — disse Alexa. — Se não
sabe, é oficialmente uma idiota.
— Estou brincando! — disse ela. — Eu sei o que é uma vaca. Mas a que
Epifania apontou mais cedo é diferente. Parece aquela estátua de bronze na
Wall Street.
— Aquilo é um touro — disse Alexa. — O resto são vacas. E você pode
agradecer a elas pela sua calça de couro preferida porque vacas morreram em
algum lugar para fazê-las.
— Todo mundo morre — disse Daniella. — Até você morrerá, Alexa,
apesar do seu estilo de vida vegano e sem pesticidas. Portanto, por favor,
poupe-me desse papinho político. O que você precisa saber é que eu estou de
boa com as vacas porque aquela calça de couro me deixa pegando fogo
quando a uso. Cutter gosta dela. Não é, Cutter?
— Eu gosto de basicamente tudo que você veste, Daniella — disse ele. Em
seguida, aproximou-se do ouvido dela e sussurrou algo tão baixo que não
consegui ouvir.
— Ah — disse Daniella. — Desculpe. Esqueci.
Esqueceu de ter cuidado com o que fala? Obrigada, Cutter.
— Boa tarde — ouvi Blackwell dizer ao se aproximar de nós.
— Barbara! — disse eu.
— É bom ver você, minha querida. — Como esperado, Blackwell estava
completamente armada com Chanel. Desta vez, na forma de um terninho
branco com riscas pretas. Ela pintara e cortara o cabelo recentemente,
provavelmente com Bernie, exibindo um novo corte estiloso. E, devido a uma
boa injeção de Botox ou à magia de Bernie com os pincéis, ela me parecia
bem mais jovem.
— Estou tão feliz por você estar aqui — disse eu ao nos abraçarmos.
— Onde mais eu estaria, minha pequena escritora?
— Não sei... talvez na Bergdorf?
— Apesar de sentir muita falta de lá, eu não perderia isso por nada no
mundo. Agora, enquanto tenho sua atenção e ninguém está nos ouvindo,
ainda iremos em frente com aquele seu plano insidioso, porém maravilhoso?
— Mas com certeza.
— Bom — disse ela antes de se afastar de mim e olhar para Ethel. —
Então vamos acabar com isso.
Senti um frio na barriga quando ela disse aquilo.
— Olá — disse ela ao se aproximar e apertar a mão de Ethel. — Barbara
Blackwell. É um prazer conhecê-la, Ethel. E é um prazer conhecê-lo, Harold.
Ouvi muitas coisas boas sobre vocês dois.
— Este parece ser um tema recorrente — disse Ethel de forma insinuosa.
— Minha nossa, como Lisa falou bem de nós, Harold. Até de mim! Eu
provavelmente deveria estar com vergonha.
Na verdade, deveria mesmo, piranha, porque todo mundo sabe como você
é uma escrota manipuladora.
— É bom finalmente ver vocês dois — disse Blackwell. — A casa de
vocês e os arredores são divoon.
— São o quê? — perguntou Ethel.
— Divoon, querida. Divoon.
— Não sei o que isso quer dizer.
— Significa uma coisa boa, mas, como não dá para traduzir, não se
preocupe com isso. Por favor, deixe-me apresentar minhas filhas a vocês,
Alexa e Daniella.
— É um prazer conhecê-las — disseram as duas em uníssono quando
Blackwell acenou em direção a elas.
— E é um prazer conhecer garotas tão fofas — disse Ethel.
— Este é Cutter — disse Blackwell. — Como sabem, ele trabalha para
Tank na Wenn. O que podem não saber é que ele está com minha filha,
Daniella.
— É um prazer — disse Cutter aos dois ao apertarem as mãos e
cumprimentarem-se.
— São todos tão bonitos — disse Ethel. — Muitos de vocês parecem
celebridades.
— É porque muitos de nós somos — disse Blackwell sem hesitação,
parando em seguida durante um momento para olhar em volta. — Agora,
Bernie — disse ela. — Mas cadê ele? — gritou ela. — Bernie, querido, cadê
você? Bernie! Bernie! Como é possível que eu não o veja? Você fugiu? Vir
para o interior foi demais? Ah, veja! Aí está você, parado ao lado da nossa
limusine. Por que está olhando para os celeiros? O que chamou sua atenção
lá? As vacas ou os vaqueiros? Não importa, eu já sei. Venha, venha conhecer
os pais de Tank.
— É um prazer — disse Bernie. Ao andar em nossa direção, eu o observei
com afeição genuína. Bernie era um homem alto, esguio, estiloso e muito
bonito, por volta dos cinquenta anos com um corte de cabelo militar que
reluzia como prata e olhos azuis claro. Ao longo dos anos, ele se tornara um
das minhas pessoas preferidas, especialmente porque adorava compartilhar
suas histórias sobre o passado. Como Jennifer, eu os adorava.
— Bonjour — disse Bernie a Ethel ao apertarem as mãos.
— É um prazer — disse Ethel, avaliando-o com um olhar rápido e crítico
que me fez querer dar um soco na cara dela.
— Sou Harold, Bernie — disse Harold quando os dois homens apertaram
as mãos. — É um prazer tê-lo aqui.
— Naturellement. Je ne serais nulle part ailleurs — disse ele.
— Como? — disse Ethel.
— Desculpe — disse ele. — Sempre que vejo uma terra tão vasta, um céu
tão azul e um ar tão fresco, naturalmente me lembra do tempo que passei em
Provença, aí acabo escorregando para o francês.
— Que coisa mais peculiar — disse Ethel. — Sua esposa está com você,
Bernie? Ela veio junto?
— Minha o quê?
— Sua esposa.
— Essa é nova — disse ele. — Muito engraçado, Ethel.
— Mas era uma pergunta séria.
Ele olhou para Ethel por um momento e, em seguida, virou-se para
Blackwell. — Ela está sugerindo que passo despercebido em Nebraska?
— Talvez para ela, meu querido — disse Blackwell, arrumando o cabelo.
— Mas se ficar perto demais do meu terno, posso pegar fogo.
— Ethel, não tenho uma esposa — disse ele a ela.
— Mas você é tão bonito... veste-se tão bem. Como certeza deve haver
uma esposa. E uma com um ótimo olho para a moda.
— Não tem.
— Imagino por que seja...
— Imagino por que você imagina. Sou gay, Ethel. Não há esposa. Apesar
de eu ter que dizer que, depois de ver alguns dos homens que trabalham na
sua fazenda, vejo várias possibilidades de relacionamento.
— Ah, temo que não haverá nada disso — disse ela.
— Veremos — disse ele. — Nunca se sabe. O amor está no ar, no final das
contas. Enfim, também é um prazer conhecê-la.
— E eu e Rudsy? — ouvi Epifania perguntar. — Este calor me lembra de
todos os anos que passei na porra da folha de bananeira! É de morrer aqui,
com certeza! Mas não estou aqui para choramingar, então! E se eu e Rudsy
dermos oi para os papais e todos nós entrarmos antes de desmaiarmos com
esse calor do caralho? Porque, se desmaiarmos? Epifania aqui vai falar a
verdade: essa merda não vai ser bonita pra ninguém.
— Quem exatamente é esta mulher que está vindo na minha direção? —
perguntou Ethel horrorizada.
— Uma das minhas melhores amigas — respondi. — Seja legal ou ela
lançará um feitiço em você.
— Ela o quê?
— É uma brincadeira. Diga olá.
Depois de Epifania e Rudman se apresentarem a Ethel e Harold, olhei para
Blackwell, que capturou meu olhar antes de dar um tapinha na testa e dizer:
— Ah... como eu pude me esquecer?
— O quê? — perguntei a ela com um frio na barriga.
— Meu presente para sua futura sogra!
E lá vamos nós!
— Deixe-me pegar na limusine, voltarei em um segundo! — Ela andou até
o carro e voltou com uma caixa branca longa nas mãos. — Isto é para você,
Ethel — disse ela. — Obrigada por cuidar tão bem da nossa menina enquanto
estávamos em Nova Iorque.
— Nossa, eu não fazia ideia... — disse Ethel ao pegar a caixa de
Blackwell. — Obrigada! Que surpresa maravilhosa!
Blackwell levantou a mão e olhou para as unhas. — Imagine, o prazer é
meu.
Naquele momento, logo antes de Ethel começar a abrir a caixa, meu
coração acelerou. Vi Jennifer me lançar um olhar longo recheado de medo
em relação ao que viria a seguir. Olhei para Tank enquanto sua mãe tentava
abrir a tampa e vi no olhar dele que sabia que eu estava tramando algo. E aí?
Só por causa do olhar dele, eu quis voltar atrás. No entanto, antes que eu
pudesse fazer algo, a caixa estava aberta.
— Ah, minha nossa — disse Ethel ao mostrar para Harold. — Que buquê
de flores mais lindo. Elas são maravilhosas. Parece ser uma grande mistura
do que é possível encontrar por aqui, o que foi muito legal da sua parte,
Barbara. Obrigada! — Com um sorriso no rosto, ela começou a levantar o
buquê da caixa. — Realmente não precisava — disse ela. — Digo, eu não
mereço.
— Ah, eu discordo completamente — disse Blackwell. — Você merece
sim, Ethel. Merece mesmo!
Quando o buquê foi retirado da caixa, vi as liláses escondidas no centro.
Mas Ethel, talvez pela surpresa de ter recebido um presente, não as notou.
Em vez disso, fechou os olhos, pressionou o buquê contra o nariz e inspirou
profundamente ao dar um sorriso feliz. Ela respirou a essência do buquê mais
uma vez antes de seus olhos se arregalarem quando o pânico tomou conta
dela.
— Ah, não — disse ela ao espirrar. — Não, não, não. Não, liláses! Sou
muito alérgica a elas. Fico cheia de urticárias por causa delas! Meus olhos e
meu nariz começarão a inchar, tenho certeza! — Ela jogou o buquê no chão
de cascalho com tanta força que algumas das pétalas foram arrancadas e
espalhadas em volta de nós. — Isso é terrível!
— Mas este é um buquê de verão — disse Blackwell. — Tudo neste
arranjo está em alta em todos os jardins por aí! — Ela suspirou. — Achei que
gostaria dele.
— Achou que eu gostaria? — perguntou Ethel horrorizada. — Que eu
gostaria dele? Meus lábios já estão começando a inchar! Consigo senti-los
formigando. E meus olhos estão começando a arder, o que significa que
daqui a pouco ficarão tão inchados que mal conseguirei abrir os olhos!
— Eu não fazia ideia — disse Blackwell com uma empatia forçada na voz.
— Eu só queria dar flores a você. Que horror. Desculpe-me.
— As urticárias estão começando a aparecer, Ethel — disse Harold. —
Consigo vê-las surgindo no seu pescoço como vários rubis.
— É porque tenho alergia a fragrâncias! — disse ela desesperada. — E
lilás é veneno puro para mim! À noite, estarei um show de horrores. E
amanhã? No dia do casamento do meu filho? Estarei irreconhecível, no pior
estado de todos! Como isso pode ter acontecido? Como?
Em seguida, ela olhou diretamente para mim.
— Você fez isso — disse ela de forma acusadora.
— Como assim?
— Quando escolhemos o seu buquê, contei a você que não podia me
aproximar de várias flores, inclusive lilás, lírio, margarida e gerânio! Eu
contei a você o que acontece comigo. Como eles me destroem!
— Você realmente acredita que eu lembraria disso? — perguntei. — Meu
Deus, Ethel, Barbara só deu o buquê a você por bondade! Não precisa fazer
com que ela se sinta pior do que está agora!
— Ficarei bem — disse Blackwell, reprimindo um bocejo.
— Ethel — disse Harold alarmado. — Seus lábios estão começando a ficar
muito inchados.
— É calaro que extão — disse ela desesperada. — E só vão ficar piorex.
— Eita porra — disse Epifania. — Olha como crescem! Eles estão
começando a parecer aqueles barcos infláveis que minha família e eu usamos
para vir para este país maluco!
— Eu sugiro um Allegra — disse Blackwell quando Ethel começou a subir
a escada. — Se não tiver, avise-nos que compraremos em uma das lojas pelas
quais passamos no caminho para cá.
Quando ela disse aquilo, Ethel já tinha corrido para a escada e para dentro
de casa, provavelmente para procurar algum remédio. Ela já não estava mais
ali e, ao me ver longe da presença dela, tive que admitir que merecera tudo
aquilo. E, mesmo que Tank me questionasse sobre isso, naquele momento,
não liguei para a opinião de ninguém. O que mais importava para mim era
que Ethel tentara acabar comigo e com Tank. Ela merecia o que eu e meus
amigos fizéramos com ela. Além disso, eu não sentia um pingo de culpa.
Na verdade, eu estava triunfante.
CAPÍTULO 18

Mais tarde, depois que os funcionários do bufê chegaram e passei um tempo


com meus pais enquanto Tank visitava o tio Sam e o primo Taylor, que eram
dois dos padrinhos dele, ele me encontrou no quarto quando eu estava tirando
o vestido do ensaio de casamento do armário. Era um Oscar de la Renta sem
mangas e com um decote em V cor de ameixa com apliques florais
vermelhos. Era um vestido midi e achei-o incrível ao estendê-lo
cuidadosamente sobre a cama. Eu também o usaria no jantar, que seria logo
após o ensaio.
— Olá — disse eu.
Ao fechar a porta atrás de si, ele olhou para o vestido. — É isto que usará
no ensaio?
— Sim, é.
— É um belo vestido.
— Espere até ver meu vestido de noiva.
— Amanhã — disse ele ao se aproximar e pegar-me nos braços. — Ou, se
quiser, podemos dar uma espiada nele juntos agora.
— Nem pensar — disse eu ao olhar para ele. — Não só traz azar como
quero que me veja nele pela primeira vez quando eu sair da tenda e começar a
andar em sua direção. Bernie evocará os deuses para que você me veja o mais
bonita possível amanhã.
— Mas quem cuidará de mim? — perguntou ele. — Quem garantirá que
eu esteja no meu melhor amanhã? Porque não será minha mãe, posso dizer.
Não tenho nem certeza se ela conseguirá ir ao ensaio, que dirá para o jantar.
Eu me afastei dele. — Está tão ruim assim? — perguntei, sentindo uma
pontada de culpa me invadir. Não era a primeira vez que eu tinha dúvidas
sobre o que fizera com ela. Com o passar do tempo, Ethel ficara uma mistura
de inchaço com urticária em pessoa, o que me fizera sentir que talvez tivesse
ido longe demais. E pior, eu não podia começar o casamento com uma
mentira entre eu e meu futuro marido.
— Está bem ruim — disse ele. — Mas acho que o Allegra está começando
a fazer efeito. Os lábios dela pararam de inchar, apesar de não parecer que
vão desinchar tão cedo. O inchaço já espalhou para o rosto e o pescoço. O
que é pior que Allegra dá sono. Temos algumas horas antes do ensaio e do
jantar, e ela está insistindo que participará dos dois, mas não tenho certeza.
Vamos ver o acontecerá.
Aquilo foi o suficiente para mim.
— Tank, eu sou a pessoa responsável pelo que aconteceu com a sua mãe
— disse eu, sem querer nem conseguir mentir para ele. — Eu sabia que ela
tinha alergia a lilás. Planejei tudo.
— Eu sei — respondeu ele.
Ele sabia? Ah, que grande merda! E agora?
— Como você sabe?
— Porque consegui ver no seu rosto no momento em que aconteceu. Você
não é tão habilidosa em esconder as coisas como pensa que é, Lisa, portanto,
lembre-se disso no futuro, beleza? Além disso, só para você saber, não a
culpo pelo que fez. Depois do que ela disse a você ontem, minha mãe
mereceu. Durante todo este tempo, ela tentou nos separar e veja o que
conseguiu. Primeiro, o vídeo. Agora, as flores. Vamos esperar que ela tenha
aprendido a lição.
Surpresa, só olhei para ele. — Como você sabe sobre o vídeo? —
perguntei.
— Ontem, ouvi vocês duas na biblioteca.
— Mas você estava aqui em cima no banho quando aconteceu.
— Quando você começou a demorar para voltar com o chá gelado, achei
que minha mãe talvez tivesse entrado em casa. Como eu sabia que você
estava preocupada com a sua aparência depois que transamos, e como
conheço minha mãe muito bem, não queria que ficasse sozinha com ela. Mas,
quando desci, não achei vocês na cozinha. Em vez disso, eu as ouvi
discutindo na biblioteca.
— O que você ouviu?
— O suficiente para saber que, se tivesse ido até lá, o que quase fiz, as
coisas teriam se transformado em merda em um segundo, e eu provavelmente
nunca mais falaria com a minha mãe. Ou ela nunca mais falaria comigo
depois do que eu dissesse. Eu queria enfrentá-la, Lisa, mas também sabia
que, se tivesse feito isso, teria acabado com o dia do nosso casamento.
Portanto, enquanto esperava lá e pesava o que fazer, eu ouvi. E, enquanto
ouvia, soube que, ao filmá-la e ameaçá-la com a gravação, você a encurralou.
Nunca fiquei tão orgulhoso de você como naquele momento porque o
conhecimento da minha mãe sobre o vídeo é poderoso. Por mais ridícula que
seja, ela não é burra. Ela sabe que o vídeo pode ser usado contra ela a
qualquer momento e isso a deixa com medo de provocá-la novamente.
Acredite... porque nós dois sabemos que ela jamais iria querer que eu
soubesse. Ela não quer que eu a veja como é.
Ele me abraçou e disse no meu ouvido: — O que você fez manteve esta
família unida. O que eu faria só teria acabado com tudo. Portanto, obrigado
por ter tido a coragem de enfrentá-la de novo. Peço desculpas por tudo que
ela a fez passar. E desculpe pelo fato de ela não a ver como eu a vejo. Mas
meu pai a vê e estou grato por isso. Porque, pela forma como você lidou com
a mulher dele, pelo menos ele poderá ver o filho se casar. E não teria
acontecido isso se eu tivesse me envolvido, Lisa. Meu pai teria sido um
cavalheiro e teria ficado do lado da minha mãe, mesmo que ele não
concordasse com ela. Ele acabaria não indo ao ensaio, ao jantar nem ao
casamento.
Antes que eu pudesse falar algo, ele pegou meu rosto com as mãos, beijou-
me intensamente nos lábios e sorriu para mim. — Obrigado por me contar a
verdade.
— Eu precisava. Agi por raiva e pedi que meus amigos fossem meus
aliados. Como me amam e estavam bravos por mim, eles me ajudaram. Eu
devo desculpas a você, e também a Jennifer e Blackwell. Eu estava com tanta
raiva da sua mãe que me senti vitoriosa quando ela pegou o buquê. Mas,
desde então, eu soube que não poderia me casar com você sem contar a
verdade antes. Tank, o que eu fiz foi errado e...
— Eu discordo — disse ele, interrompendo-me. — Olhe, Lisa. Visão
geral, ok? Sim, minha mãe ficará com a aparência prejudicada por alguns
dias, mas ela tem sorte. Ela se recuperará de uma reação alérgica àqueles
liláses. Mas, se você não tivesse feito o que fez, o que teria acontecido
conosco? Nós teríamos conseguido nos recuperar dela? Não quero nem
pensar nisso, portanto, acho que ela mereceu. Ela foi detida... e agora entende
até onde você está disposta a ir. Por causa daquela gravação, não acho que
teremos que nos preocupar com ela de novo.
— Você acha que ela sabe que eu estava por trás dos liláses?
— Ah, claro — disse ele. — Com certeza, ela sabe.
— Merda. Ela disse algo para você?
— Ela não consegue exatamente falar agora, mas os olhos dela me
disseram que ela sabe. E eles estavam com medo... com medo de você.
— Mas veja bem — disse eu. — Eu nunca quis que ela tivesse medo de
mim. Meu Deus, Tank!
— Ela mereceu, Lisa. O carma a pegou de jeito. O que você precisa saber
é que, por mim, está tudo bem, porque minha mãe precisava acordar. — Ele
me deu outro beijo e, em seguida, um tapa na minha bunda. — Mas chega de
falar disso — disse ele. — Eu e você temos um ensaio de casamento para ir e,
depois, um jantar. — Ele acenou com a cabeça em direção ao banheiro. —
Portanto, que tal se tomarmos um banho? Sabe... juntos.
— Eu amo você, Tank.
— Eu sei disso, Lisa. Você mostra seu amor por mim, e por nós, o tempo
todo. Só estou feliz que minha mãe não tenha conseguido assustá-la porque
isso teria me matado.
— Não vai acontecer — disse eu a ele. — A partir de amanhã, você estará
preso a mim para o resto da vida.
— Eu não escolheria outra coisa — disse ele. — Agora, vamos tomar
aquele banho.
— Por que acho que não vamos só tomar banho?
— Porque também vou me casar com você pela sua inteligência. Agora, vá
para o banheiro.
E, com um grande alívio, eu fui.

***

Quando chegou a hora do ensaio, Ethel McCollister não apareceu, o que era
um sinal de que estava realmente mal ou que estava punindo Tank pelo que
eu fizera com ela.
Eu não tinha certeza e realmente não me importava.
Por causa da ausência dela e dos julgamentos que fazia, tudo ocorreu
muito mais suavemente do que se ela estivesse presente.
Com a ajuda do padre Harvey, um homem alto e de aparência bondosa
com cabelos brancos e inteligência que gostei no momento em que o vi,
ensaiamos duas vezes enquanto nossos amigos participavam ou observavam
da primeira fileira de bancos. Depois de aproximadamente uma hora, já era
quase hora do jantar.
— Amanhã vai ser aquele loucura! — ouvi Epifania dizer.
— Diga-me — disse Blackwell. — Quando exatamente você pretende
aprender o inglês correto?
— Provavelmente quando você fisga um homem, querida.
— Então acho que não devo esperar que aconteça em breve.
— Por que se rebaixar?
— Meu amor, por favor. São os homens que estou rebaixando, não eu.
Depois que eu e Tank agradecemos ao padre Harvey pela ajuda e pela
orientação, ele começou a conversar com o pai, Alex e os padrinhos enquanto
fui na direção de Jennifer e Blackwell, que estavam sentadas na primeira
fileira de bancos.
— Você está incrível — disse Blackwell. — J’adore o vestido.
— É claro que adora — disse eu. — Foi você que o escolheu para mim.
— O que é o motivo pelo qual eu o j’adore.
— Preciso que vocês duas me escutem enquanto temos a chance.
— Como você é positivamente misteriosa... — disse Blackwell.
— É sério. Escutem, por favor.
Contei a elas que Tank sabia de tudo.
— Ele sabe? — perguntou Blackwell. — Ótimo. Agora, por causa dessa
sua boca enorme, vou parecer um cão de guarda para ele. Muito obrigada,
Lisa. Considere o meu presente de casamento a você cancelado.
— Ele não está bravo — disse eu. Olhei por sobre o ombro e vi Tank com
o braço em volta do ombro do pai enquanto Alex ria e dava um tapa em suas
costas. Eles ainda conversavam animados, o que permitiu mais tempo do que
eu esperava que tivesse. — Deixe-me contar o que aconteceu, o que
esclarecerá tudo.
Assim, contei a elas. Tudo.
— Bom — disse Blackwell. — Admito que agora as coisas não parecem
tão ruins.
— Tank é incrível — disse Jennifer. — Ele sempre foi.
— Nada além de um príncipe — concordou Blackwell.
— Fico feliz que tenha contado a verdade a ele, Lisa — disse Jennifer. —
Foi a coisa certa a se fazer.
— Minha consciência foi mais forte do que eu, como sempre. O tempo foi
passando e soube que precisava contar a ele, no mínimo para que não nos
casássemos com uma mentira enorme entre nós.
— Você está certa — disse ela. — Não teria como. Mas fico feliz que ele a
tenha apoiado. Que ele veja a mãe da forma que ela realmente é.
Blackwell estreitou os olhos para mim. — Isto ainda não acabou — disse
ela. — E se Ethel não aparecer para o jantar? Ou para o casamento?
— Acho que ela pode faltar ao jantar — respondi. — Nós vimos como ela
estava quando correu para dentro de casa. Mas, depois de muitos Allegra e
uma boa noite de sono? Ela estará no casamento.
— Sabe, não tenho tanta certeza — disse Blackwell. — Na verdade, acho
que você precisa se prepara para o pior, não para o melhor, em relação a isso.
Concordo com a parte do jantar. Depois de nós três termos lançado a peste
negra sobre ela, pode ser que não apareça. Mas, se Ethel escolher não ir ao
casamento, ela só estará mostrando a todos que não a aprova nem ao
casamento. Se Ethel for tão longe, imagine só o que os amigos e familiares de
Tank pensarão, especialmente depois de ela “avisá-los” sobre você, como fez
com a irmã, Margaret?
— O que está querendo dizer, Barbara?
— Não é óbvio? Se ela não aparecer amanhã, você será escrutinada e será
a vilã de uma multidão hostil no dia do seu casamento, especialmente se
Ethel estiver sentada em sua cama neste momento, ligando para todos em
uma tentativa de envenenar os amigos e familiares ainda mais contra você.
Não estou falando isso para assustá-la, Lisa. Estou falando isso para que
esteja preparada para o que quer que aconteça. Ethel McCollister não me
parece uma mulher que gosta de perder e a última coisa que sobrou no
arsenal dela foi seu poder de influência. Você e Tank se casarão amanhã
como o planejado, mas tenho que pensar sob quais condições, especialmente
se ela está planejando jogá-la aos leões.
CAPÍTULO 19

Quando entramos na tenda mais próxima à casa, Harold pediu licença para
ver como Ethel estava, dizendo-nos que demoraria apenas um minuto. Ao
voltar, parecia que Blackwell estava certa. Por ele, Ethel mandara suas
desculpas por, infelizmente, não poder comparecer ao jantar nem ao
casamento devido à sua “saúde questionável”.
— Desculpe-me — ela escrevera em um cartão que Harold lia para nós
enquanto bebíamos champanhe. — Mas minha reação alérgica grave àquelas
flores acabaram comigo de tal forma que estou acamada. Por favor, saibam
que desejo ao meu filho e à noiva dele tudo de bom hoje à noite e amanhã.
Estarei em espírito com vocês.
— Minha mãe, a mártir — disse Tank com raiva, pegando minha mão.
Estávamos dentro da tenda, que fora decorada com vários arranjos de
flores sobre as mesas com toalhas e iluminada com uma iluminação âmbar
suave das lâmpadas vintage acima de nós. Como só havia dezesseis pessoas
— na verdade, quinze sem Ethel — eu escolhera uma mesa redonda enorme
bem no centro da tenda para que todos nós pudéssemos jantar juntos em vez
de nos sentarmos em mesas menores separadas. Logo, empregados da
empresa de bufê que contratáramos de Lincoln começariam a oferecer os
aperitivos.
— Ela está brincando conosco, Lisa — disse Tank. — Não a deixe afetá-la
porque não vou deixar que aconteça comigo. Se ela não aparecer amanhã,
isso será uma mancha pelo resto da vida dela.
Contei a ele sobre as preocupações de Blackwell.
— Ela pode deixar as coisas bem desconfortáveis para nós — eu disse a
ele. — Especialmente para mim, se virar sua família e os amigos dela contra
mim.
— Vou resolver tudo — disse ele.
— Como?
— Não vamos nos preocupar com isso agora. Só saiba que cuidarei de
tudo.
— Beleza — respondi. Levantei minha taça de champanhe para ele e
brindamos. — Um brinde à nossa última noite solteiros — disse ele.
Ele tomou um gole da bebida. — Um brinde. Eu só queria que tivéssemos
feito isso antes. Mas estamos aqui agora, não estamos? Em alguns dias,
estaremos em Bora Bora, onde poderemos planejar o resto de nossa vida
juntos.
— Eu amo você, Tank.
— Eu sei disso e sou muito grato. Só espero que saiba que eu a amo tanto
quanto... quem sabe até mais.
Olhei para ele, vi o amor em seus olhos e soube que me amava.
Apesar de tudo que aconteceu esta semana, Tank e eu estamos bem. Só
precisamos passar pelo resto dela.
— Antes que os aperitivos e o jantar sejam servidos, deveríamos passar
mais tempo com meus pais — disse eu. — Eles não conhecem muita gente
aqui, não quero que se sintam excluídos.
— Claro. Vá na frente.
— Olá, mamãe e papai — disse eu ao andarmos em direção a eles.
— Lisa — disse minha mãe ao me abraçar. — Eu estava falando ao seu pai
agora mesmo como está linda neste vestido.
— Gostou do seu?
— Eu o adorei — disse ela. — Mas, diga-me, o que há para não adorar?
Meus pais não tinham muito dinheiro. E, como muitos dos meus amigos
tinham, eu queria que ela se sentisse confortável no ensaio, no jantar e no
casamento. Várias semanas antes, eu ligara para ela e pedira que acessasse o
website da Bergdorf's. Depois de uma persuasão suave da minha parte,
escolhêramos juntas dois vestidos e dois pares de sapato.
— São meu presente para você — dissera eu. — Por sempre me apoiar,
especialmente quando algumas mães nunca apoiam os filhos.
— Você está falando de Jennifer, não é? — ela perguntou.
— Estou. Eu ganhei na loteria com você e papai. Jennifer não teve tanta
sorte. Portanto, por favor, deixe-me mimá-la um pouco. É o mínimo que
posso fazer, considerando tudo o que vocês fizeram por mim.
E, naquele momento, Gert, apelido de Gertrude, não só estava usando um
vestido maravilhoso Carolina Herrera branco e dourado, como tinha ido
sozinha a um cabeleireiro para cortar o cabelo e pintar as unhas com um novo
profissional. Com os cabelos loiros caindo em cachos logo acima dos
ombros, pensei que, naquele momento, aos cinquenta anos, ela parecia mais
vibrante e viva do que eu jamais a vira.
— Sabe — disse minha mãe. — Acho que nunca me senti tão glamourosa.
Pelo menos não desde que me casei com seu pai.
— Eu já vi as fotos — comentei. — Você estava linda naquele dia, mãe. E
estou feliz por ter gostado do vestido. Ficou lindo em você. Como estão os
sapatos?
— Eu nunca usei um sapato assim na vida — disse ela, levantando o pé
direito para que eu pudesse admirar a sandália Dior dourada. — Digo, olhe só
para eles! São incríveis.
— Eles são tão incríveis quanto você — disse eu.
— Deixe-me dizer que ela tem razão — disse Tank.
— Venha aqui e dê um beijo na sua futura sogra — disse minha mãe a ele.
— Porque Al e eu estamos animadíssimos que você se tornará parte da
família, Tank. Não poderíamos ter ganhado um genro melhor.
Enquanto Tank dava um beijo em cada bochecha da minha mãe e virava-se
para apertar a mão do meu pai, meu coração se aqueceu. Era assim que nosso
casamento deveria ser, com pessoas que estavam genuinamente felizes por
nós, não tentando nos separar. Ao ver Tank interagir com meus pais, eu me
lembrei de que havia muitas pessoas que estavam ali não só para comemorar
conosco, mas que realmente queriam o melhor para nós. Ao mexer comigo,
Ethel me distraíra de todo o amor que cercava eu e Tank naquele momento. E
não podia permitir que ela fizesse aquilo porque, apesar dos esforços dela
para o contrário, eu era a mulher mais sortuda do mundo.
— Como você está, papai? — perguntei ao me aproximar dele.
Ao me abraçar, senti o odor amadeirado da colônia dele, que me levou
direto para minha juventude, já que me pai sempre tivera aquele cheiro.
Albert Ward tinha a idade da minha mãe, mas, por causa da calvície precoce,
parecia um pouco mais velho, apesar da feição animada.
— Orgulhoso da minha filha — disse ele. — E feliz por ela. No voo para
cá, fiquei pensando em tudo que conquistou desde que você e Jennifer saíram
do Maine para ir para Manhattan. Veja o sucesso que teve com seus livros. E
agora, veja o homem com quem está prestes a passar o resto da vida. Você
nunca nos decepcionou, Lisa.
— Eu nunca tentei.
— Bom, é verdade. Não até então.
— Está pronto para me levar ao altar amanhã?
— Se você tivesse escolhido outra pessoa que não fosse Tank, talvez eu
tivesse minhas dúvidas. Mas não tenho nenhuma. — Ele olhou para Tank. —
Será meu prazer levar minha filha até você.
— Isso significa muito para mim — disse Tank. — Obrigado, Al.
— Obrigado. Agora, veja — disse ele, virando-se para mim. — Vocês dois
devem ir socializar. Não se preocupem com a sua mãe e eu. Estaremos
andando por aqui e apresentando-nos a todo mundo.
— Concordo — disse minha mãe. — Vão se divertir com seus amigos.
Xô!
— Eles são os melhores — disse eu a Tank quando nos afastamos deles.
— Eles são mesmo — concordou ele. — Queria que sua mãe fosse minha
mãe.
— Ué — disse eu ao passar a mão em volta da cintura dele. — Agora ela
será.

***

Meia hora antes de o jantar ser servido, Tank foi passar um tempo com Alex
e Cutter enquanto fui falar com Jennifer e Blackwell. Elas estavam com uma
taça de champanhe na mão e admiravam um dos arranjos de flores.
— Não cheguem perto demais — eu as adverti ao me aproximar. — Não
quero que aconteça nada com vocês. Ethel já foi o suficiente.
— Ela é uma herege — disse Blackwell. — Anunciar que não aparecerá
amanhã daquele jeito foi mais do que cruel.
— E ridículo — disse Jennifer. Naquela noite, ela vestia um vestido
vermelho maravilhoso, os cabelos estavam presos em um coque e achei que
estava tão graciosa quanto linda. — Mesmo assim, depois de tudo que ela a
fez passar, Lisa, você está melhor sem a presença dela, a não ser que Tank
não se sinta da mesma forma. Digo, ela é a mãe dele, no final das contas.
Como ele está?
— Ele está irritado — respondi. — Quando o jantar terminar, acho que ele
vai conversar com ela. Ela deveria levá-lo ao altar amanhã. Quem fará isso se
ela não aparecer?
— Eu o levarei — disse Blackwell. — Na verdade, seria uma honra.
— Eu avisarei a ele, Barbara. Obrigada por se oferecer.
— Seria um prazer porque, a essas alturas, todos sabem que considero
Alex e Tank meus filhos postiços.
— Assim como você é meu útero postiço — provocou Jennifer.
— Apesar de não soar tão bem, querida, aprecio o sentimento.
— Olha, mas olha, são os biscoitos! — ouvi Epifania gritar. — Epifania
vai entrar de penetra na sua festa!
Olhei por sobre o ombro quando ela começou a se aproximar de nós e tive
que admitir, Epifania se vestira apropriadamente para o evento. Em vez de
parecer uma sereia sensual, ela parecia revigorada, sem vexames e chique.
Ela usava um vestido justo Naeem Khan com mangas curtas que ia até um
pouco abaixo do joelho. Ele era dourado, brilhante e elegante, com a frente
bordada com paetês e uma silhueta que complementava as curvas dela. Em
relação às joias, ela usava diamantes apenas nas orelhas e um anel de
diamante solitário no dedo anelar esquerdo.
O que fez meu queixo cair quando o vi.
— Epifania — disse eu assim que ela se juntou a nós. — Isto é o que acho
que é? Você e Rudman estão noivos?
— Ah, minha nossa senhora — disse ela com empolgação na voz. — Sim,
estamos! Mas vocês não deveriam ter notado ainda. Estive tentando esconder
de vocês porque o final de semana é seu, não meu! A atenção deveria estar
em você!
— Eu não ligo para nada disso — disse eu, abraçando-a. — Estou tão feliz
por você! Você esperou anos até que o homem certo aparecesse e Rudman é
perfeito. Acho que todos aqui concordariam comigo.
— Ele com certeza é o homem certo para ela — disse Jennifer.
— Eu não poderia concordar mais — disse Blackwell. — Rudman ama
Epifania. Partes de mim ainda estão tentando processar como pode ser, é
claro, dado o passado sórdido dela. Mas eu sei que, independentemente disso,
ele a ama.
— Por que está enchendo meu saco, querida?
— Foi uma piada e você sabe disso — disse Blackwell. — Como eu já
disse, sou totalmente a favor do seu casamento com Rudman. Porque ele é o
cara certo para você. Qualquer um que tenha olhos consegue ver o quanto
aquele cara está caidinho por você.
— Quando ele a pediu em casamento? — perguntei. — Como ele a pediu
em casamento? Quero saber tudo!
— Mas eu não deveria falar sobre isso agora — disse Epifania. — Este é o
seu final de semana, não meu.
— Fale logo! — disse eu.
— Bom... Está bem. Se é o que você quer. Foi super-romântico — disse
ela.
— Continue...
— Há alguns dias, ele me convidou para jantar na casa dele, como já fez
um milhão de vezes antes. Ele não deixou transparecer nada. Zero. Em vez
disso, foi só um jantar normal no apartamento dele. Bebemos. Beijamo-nos.
Comemos. De repente, ele estava de joelhos, o que me surpreendeu! Porque,
depois do jantar, geralmente sou eu que fico de joelhos!
— É, tem isso — disse Jennifer.
— Com ele de joelhos, olhando para mim com aqueles grandes olhos
azuis... comecei a entrar em desespero porque Epifania não é boba, ela sabia
o que aquilo significava. Depois de dizer que me amava, ele tirou uma
caixinha de veludo preta do bolso e abriu-a. Eu vi aquela pedrona e, logo
depois, ele me pediu para casar com ele.
— E o que você disse? — perguntei.
— Ai, Heyzeus Cristo, é aí que fica constrangedor — disse ela.
— Não é constrangedor — disse Jennifer. — Sua reação foi sincera, real e
doce.
— Eu comecei a chorar — disse Epifania. — Eu respondi que era óbvio
que me casaria com ele. Porque Rudsy me entende. O que eu sei que não é
fácil, mas ele me entende. Sei no fundo do meu coração que ele está
apaixonado por mim, não pelo meu dinheiro. E agora? Agora, esta garota está
finalmente fora do jogo!
— Vocês já decidiram a data?
— Ainda não. Porque Rudsy e eu vamos nos divertir primeiro! Vamos
viajar pelo mundo, vamos comprar um apartamento enoooorme que seja bom
para nós dois. Depois, decidiremos uma data e vamos nos casar. Lisa, quero
que seja uma das minhas madrinhas. Também quero que a Morte Negra aqui
seja uma.
— Que gentil da sua parte — disse Blackwell. — Vou usar meu vestido
gótico invernal.
— Vestido infernal? Nunca ouvi falar nisso!
— Não... deixe para lá — disse Blackwell, polindo a taça de champanhe
ao revirar os olhos. — Só me considere presente, Epifania. É só o que precisa
saber.
— Digo o mesmo — comentei.
— Que perfeito — disse ela. — Epifania tá tão feliz!
Em seguida, ela se virou para Jennifer.
— Yennifer, sei que ainda não falei com você, mas espero que também
seja uma das minhas madrinhas de honra.
— A honra seria minha, Epifania. E sabe quais são as boas novas? Depois
de amanhã, sua madrinha saberá de verdade o que diabos fazer!

***

Depois de um jantar no qual os convidados puderam escolher entre filé


mignon, escalopinhos à provençal ou um suflê de espinafre com gorgonzola,
além de uma variedade de sobremesas, chegou a hora dos brindes. Alex bateu
na lateral de seu copo de água, limpou a garganta e levantou-se.
— Agora chegou o momento em que as coisas ficam interessantes — disse
ele ao grupo com um sorriso de lado. — Agora é a hora de o padrinho se
divertir um pouco.
— Pegue leve comigo — disse Tank com uma risada.
— Aí é que está — disse Alex, ficando inesperadamente sério. — Isso é
fácil para mim. — Ele olhou para mim e, em seguida, para o resto dos
convidados sentados à mesa antes de pegar sua taça de champanhe e falar
diretamente para Tank. — Nós nos conhecemos há tanto tempo e já passamos
por tanta coisa juntos que é quase demais para compartilhar, não é?
Tank passou o braço em volta dos meus ombros e assentiu com a cabeça.
— Então, quando pensei no que dizer hoje à noite, sabia que poderia fazer
algumas piadas fáceis sobre quando íamos a bares juntos antes de eu
conhecer Jennifer, mas desisti dessa ideia. Você merece mais do que isso,
Tank. Você merece algo que tenha significado. E, para conseguir isso, eu
sabia que tinha um grande desafio à frente porque, de alguma forma,
precisava definir a essência do que torna você você. Isso acabou sendo mais
difícil do que eu esperava porque você é mais complicado do que as pessoas
acham. Muitos o veem como o tipo de homem forte e silencioso, o que é
verdade. Mas, para as pessoas sortudas o suficiente para o conhecerem de
verdade, você é muito mais do que isso.
Alex parou por um momento e varreu a mesa com o olhar.
— Quando Tank veio trabalhar comigo na Wenn há seis anos como chefe
de segurança, eu o conhecia apenas como Mitch McCollister. E, até hoje,
consigo me lembrar da primeira vez em que o vi. Eu estava entrevistando
algumas pessoas para o emprego, sentado à mesa, esperando a próxima
pessoa chegar, quando de repente um cara enorme entrou no meu escritório
armado com um dos currículos mais impressionantes que eu já tinha visto.
Graduação em West Point. Ex-fuzileiro naval. Não tinha como ficar melhor
do que aquilo e eu sabia. Assim, conversamos durante um tempo. Perguntei a
ele o que era importante em sua vida e Tank me disse que, mesmo que agora
fosse um civil, ainda vivia de acordo com a ética dos fuzileiros navais. Ele
me contou que se via como alguém que estava disposto a servir, fosse seu
país ou seu futuro chefe. Disse que seu caráter e sua integridade o definiam
como homem. E, em seguida, garantiu-me que sua palavra era tudo para ele.
Durante toda a entrevista, ele foi direto e sincero. E, sinceramente, quando a
entrevista acabou, eu dei o emprego a ele bem ali. Eu seria um idiota se não
tivesse feito isso.
O grupo riu.
— Mal sabia eu que, durante os anos, ele se tornaria meu melhor amigo,
um homem que eu admiraria e com quem poderia compartilhar tudo. Não
demorou muito para que eu entendesse que, com Tank, minha vida pessoal
jamais seria traída, o que é algo que ele me provou várias e várias vezes, e
algo que sempre foi verdadeiro na minha vida. Estar sob o olhar das pessoas,
algo que eu nunca quis, mas que não tive escolha além de assumir... Não
tenho como dizer o quanto tudo isso significou para mim. Portanto, obrigado,
Tank. Obrigado por ser verdadeiro com sua palavra.
Tank sorriu e acenou com a cabeça para ele.
— Todos aqui sabem que eu seria relapso se não falasse sobre essa
tranquilidade sem esforço de Tank — disse Alex. — Não é algo forçado. Na
verdade, é natural. Acho que essas qualidades devem ser o motivo pelo qual
seus companheiros de guerra o apelidaram de Tank. Porque ele realmente é
sólido como aço, é fisicamente intimidador e sempre cuidará de você,
especialmente nas situações mais difíceis, como muitos nesta mesa sabem. E,
agora, ele está sentado ali, na véspera de seu casamento com a irmã mais
nova que nunca tive, Lisa Ward, que é uma prova viva de que Tank não é
rápido quando se trata de assuntos do coração.
Ri quando Alex disse aquilo e inclinei-me para beijar Tank na bochecha.
— Ele é muito cuidadoso — disse Alex. — Muito respeitoso. Ele esperou
para se casar e começar uma família porque, em um mundo onde geralmente
os valores são esquecidos, eles significam muito para Tank. Acho que todos
aqui sabem que, como Lisa e Tank resolveram se casar no tempo deles,
ficarão juntos para sempre.
Naquele momento, Alex levantou sua taça.
— Um brinde a você, meu amigo. Eu o amo como a um irmão. E você
acertou em cheio ao escolher Lisa para ser sua esposa. Você esperou, fez as
coisas no seu tempo, certificou-se de que ela fosse a pessoa certa. No final, o
que você criou é precioso, cara. Portanto, aproveite. Saiba que estarei
honradíssimo por estar ao seu lado como padrinho e que sempre o apoiarei
como melhor amigo.
Quando todos beberam um gole e começaram a aplaudir, olhei para Tank
com lágrimas nos olhos e disse: — Isso foi incrível.
— Alex é assim — disse Tank. Ao dizer aquilo, sua voz pareceu
incomumente anasalada. Fiz carinho nas costas dele, sabendo que o que Alex
dissera no discurso não só comovera Tank como também significara muito
para ele.
— Bom — disse Jennifer, ficando de pé e colocando a mão sobre o ombro
de Alex. — Vai ser difícil falar depois de Alex, mas sei que conseguirei
honrar minha garota.
Ela olhou para mim.
— Amizades — disse ela. — As verdadeiras são difíceis de aparecer, não
são? Especialmente as que sabemos que durará uma vida inteira. Uma vez,
ouvi alguém dizer que as pessoas entram e saem da nossa vida por um
motivo, mas o que também é verdade é que algumas delas permanecem na
nossa vida por um motivo. Tenho sorte de ter alguns amigos aqui que sei que
estarão comigo até o dia em que eu morrer... E, como a amizade de Alex com
Tank, eu os valorizo muito, principalmente minha amizade com você, Lisa.
Nós nos conhecemos desde que éramos crianças. Se pararmos para pensar,
estivemos juntas em quase todas as nossas experiências, o que me
impressiona, porque quantos amigos têm histórias assim juntos? Não são
muitos. Mas nós temos e, por isso, tive o prazer de vê-la crescer e tornar-se a
mulher poderosa, bem-sucedida, destemida, bizarramente engraçada, fofa e
incrível que é hoje.
Coloquei a mão sobre o peito quando ela disse aquilo e forcei-me a não
perder o controle quando Jennifer pegou a própria taça de vinho e levantou-a.
— Como somos amigas há quase trinta anos, o que faz com que tenhamos
vinte e cinco anos para quem está contando, Daniella, é difícil saber onde
começar quando falo da nossa amizade e quais histórias compartilhar com
todo mundo. Há muitas delas. Portanto, hoje, decidi tirar alguns momentos
para compartilhar como foi quando Lisa e eu saímos do Maine e chegamos
em Manhattan pela primeira vez. Porque, se não tivéssemos feito essa loucura
juntas, Lisa não estaria aqui com Tank agora, muito menos na véspera do
casamento deles, e eu não estaria aqui com meu amado Alex. Nossa decisão
de sair do Maine acabou sendo uma mudança tão grande em nossa vida, que
ainda me assusta. Lisa, pense em como aquela decisão mudou tudo
completamente. Eu conheci Alex. Você conheceu Tank. Mas, antes de eles
aparecerem, as coisas não eram tão boas assim, não é?
— Não — respondi. — Não era. Eu e você passamos por dificuldades.
— Passamos mesmo, mas sempre nos apoiamos, não foi? Especialmente
quando eu não conseguia achar um emprego de jeito nenhum, você estava lá
comigo. Isso foi algo que nunca esqueci. É só um dos motivos pelos quais
tenho orgulho de ser sua amiga e sua madrinha de casamento.
Observei o olhar dela ao falar para nossos amigos e familiares.
— Quando Lisa e eu chegamos pela primeira vez na cidade no amado
carro dela, Gretta, o Jetta, sua carreira como escritora estava começando a
decolar. Durante nossa segunda semana lá, ela publicou de forma
independente seu primeiro romance de terror na Amazon, que vendeu tão
bem que Lisa começou imediatamente a escrever outro. Não tenho como
dizer o orgulho que tive dela naquela época. Porque, acima de qualquer coisa,
Lisa sempre quis ser uma escritora. Três meses depois e com muito trabalho
duro, Lisa estava prestes a publicar seu segundo livro enquanto eu ainda
tentava encontrar um emprego. Àquela altura na minha vida, havia
literalmente uma bomba presa à minha conta bancária que estava prestes a
explodir se eu não achasse um emprego. Com o dinheiro acabando, contei
para Lisa que eu provavelmente teria que voltar para o Maine. Mas ela não
me ouviu. Em um dos piores momentos da minha vida, ela assumiu a parte
financeira e sustentou-nos até que eu finalmente encontrasse o trabalho na
Wenn. Foi porque ela acreditou em mim que consegui ficar em Manhattan, o
que me levou a Alex, o amor da minha vida.
Quando ela disse aquilo, pareceu um pouco nervosa. Observei quando ela
respirou profundamente antes de continuar.
— Lisa, quero que saiba que palavras não são suficientes para expressar
minha gratidão pelo que você fez por mim naquela época. Sua crença em
mim e sua completa generosidade com a nossa situação financeira são
diretamente responsáveis pela vida que tenho agora com meu marido e nosso
filho. Porque, se eu tivesse que ter voltado para casa, nunca teria conhecido
Alex, o que não consigo nem imaginar. Foi porque você insistiu que eu
ficasse, e por ter cuidado de nós quando eu não conseguia encontrar um
emprego, que pude conhecê-lo, apaixonar-me e casar-me com ele, e dar à luz
ao nosso filho. O que você fez por mim foi tão profundo e altruísta que nunca
esquecerei. Nunca. Eu amo você, Lisa. E desejo que você e Tank tenham uma
vida inteira de amor, felicidade, saúde e muitos, muitos filhos.
Nós duas tínhamos lágrimas nos olhos quando ela levantou a taça de
champanhe na minha direção, e nossos amigos e familiares fizeram o mesmo.
— Um brinde a você — disse ela, soprando-me um beijo. — Amor para
você. Meu coração para você. Saiba que eu não estaria aqui hoje sem você.
Não acho que um dia entenderá o quanto significa para mim, mas espero que,
depois de hoje, dê para ter uma boa ideia.
Fiquei tão tocada com o que ela dissera que me levantei da cadeira. Tank
me encorajou a ir até lá, portanto, corri na direção dela e abracei Jennifer com
todas as minhas forças. Juntas, nós tínhamos conseguido. Juntas, nós
triunfáramos. Só estávamos onde estávamos por causa da nossa amizade:
felizes, com sorte e apaixonadas.
— Obrigada — respondi no ouvido dela. — O que você disse foi lindo. Eu
amo você, Jennifer. Onde estaríamos uma sem a outra nessa vida?
— Não quero nem pensar nisso — disse ela quando senti as lágrimas dela
tocarem a base do meu pescoço. — Na verdade, não quero nunca saber. Mas
nós conseguimos — disse ela, afastando-se para olhar para mim com um
sorriso enorme no rosto. — Nós realmente conseguimos, Lisa. Amanhã, o
ciclo se fechará para nós. Um dia, fomos só duas garotas do Maine cheias de
sonhos, mas, apesar de tudo que esteve contra nós, conseguimos. Quem
imaginaria naquela época onde estaríamos hoje?
— Ninguém — respondi.
Por um momento longo e feliz, olhamos uma para a outra e absorvemos o
significado de como chegáramos ali. Em seguida, Jennifer me deu um beijo
firme na testa e abraçou-me de novo. — Depois, vamos comemorar como
sempre fazemos — disse ela no meu ouvido. — Porque, quando o assunto é
nós duas, não há melhor forma de comemorar do que bebendo um martíni
com você.
— Um suave, sedoso e gelado como janeiro? — perguntei.
— Quando o assunto é nós duas, há alguma outra forma?
CAPÍTULO 20

No dia do meu casamento, acordei com um sobressalto.


— Qual é o problema? — perguntou Tank sonolento.
Olhei rapidamente para o relógio na mesa de cabeceira para ver que horas
eram — apenas cinco da manhã — e descansei a cabeça no travesseiro
aliviada. — Desculpe — disse eu. — Fico achando que vou dormir demais.
Ele se virou de lado e observou-me.
— Animada? — perguntou ele.
— Você não faz ideia.
— Está pronta para ser minha esposa?
— Como diria Daniella, estou animadíssima para essa merda toda.
— E estou animadíssimo por ouvir isso.
Ri enquanto ele me abraçava e beijava a base do meu pescoço.
— É bom demais — disse eu.
— É mesmo — respondeu ele.
— Vamos fazer isso hoje.
Ele começou a beijar meu ombro. — Vamos.
— Às vezes, eu me pergunto como consegui ter tanta sorte. Como alguém
com você me quer como esposa.
Ele parou de me beijar quando eu disse aquilo e virou-me para que olhasse
nos olhos dele.
— Não acha que eu sinto o mesmo? Porque sinto, Lisa. Alex acertou
ontem à noite. Esperei para me casar porque só planejo fazer isso uma vez.
Levei anos para encontrá-la. Você é e sempre será o amor da minha vida.
— E agora vou chorar de novo — disse eu. — Meu Deus, é de se pensar
que eu esteja no período menstrual porque nunca sou tão emocional. Estive
assim a semana inteira e não só por causa desse motivo.
— É por causa do casamento — comentou ele. — E também pela forma
como minha mãe a tratou. Na verdade, provavelmente é mais por causa dela.
Você esteve muito estressada e desculpe por isso. Eu queria poder ter estado
aqui para não deixar que isso acontecesse.
— Não tinha como você estar aqui — respondi. — Você tinha que ir ao
funeral de Brian. Não havia como você não ir. Eu queria que o apoiasse e a
família dele e estou feliz que, mesmo tendo perdido um amigo, pelo menos
você teve a chance de se despedir.
Virei-me de lado e olhei para Tank.
— Ontem à noite, antes de eu subir, você disse que conversaria com sua
mãe. Mas você demorou e, provavelmente por causa dos vários martínis que
bebi com Jennifer, dormi antes que voltasse. O que ela disse? O que
aconteceu entre vocês?
— Não conversei com minha mãe — respondeu ele.
— Não? Mas achei que era isso que ia fazer.
— Mudei de ideia. Decidi que ela não merece meu tempo. Em vez disso,
conversei com meu pai. Fomos para o salão e contei tudo a ele. E, no final,
perguntei o que faria se estivesse no meu lugar. Pedi o conselho dele e ele me
deu.
— Está dizendo que ele sabe sobre o vídeo?
— Ele sabe.
— Ai, meu Deus. Diga-me que ele não sabe sobre as flores.
— Não falei sobre isso.
— Seu pai não é burro, Tank. Ele sabe.
— Se sabe, não acho que ele se importa porque estava muito bravo com
ela ontem à noite quando contei o que você passou desde que chegou aqui.
— O que ele disse?
— Ele disse que sentia muito pela forma como minha mãe a tratou. Disse
que tentou ao máximo apoiar você enquanto estava aqui, mas, por causa das
responsabilidades com a fazenda, não pôde vê-la o tempo todo. Meu pai não
é cego em relação às coisas que a esposa dele faz, Lisa. Ele sabe do que ela é
capaz. No fim, ele disse que havia uma boa chance de que a mãe não vá ao
casamento, que o orgulho dela é tão grande que deixaria de me levar ao altar,
apesar dos danos que isso causaria ao nosso relacionamento. Disse que a
perda maior seria dela e que me apoiaria, mesmo se ela não fizesse isso. Ele
está furioso. Está puto por ela ter tentado nos separar, especialmente depois
de termos decidido nos casar aqui por causa da animação deles. Ele não usou
exatamente essas palavras, mas está bem indignado com ela agora. Ele
também me pediu para dizer a você que a apoia e que a ama,
independentemente do que Ethel ache.
— Eu amo seu pai — disse eu. — Ele foi maravilhoso comigo desde que
cheguei aqui.
— Ele sente o mesmo. E sabe que você é a pessoa certa para mim.
— Então, já que Ethel não o levará até o altar, será Blackwell? Contei a
você ontem à noite que ela ficaria feliz em fazer isso.
— Enquanto você estava dormindo, depois de conversar com meu pai,
liguei para ela e perguntei se poderia fazer isso. Ela disse que ficaria honrada.
Também disse que o vestido que escolheu para usar no casamento seria
“perfeitamente adequado” para me levar até o altar.
— O que sua família e os amigos de Ethel pensarão sobre isso, Tank?
— Eu realmente não me importo com o que pensarão, Lisa, e você
também não deveria. Hoje o dia é nosso. Estou falando sério.
— Tentei de tudo com sua mãe — disse eu. — Eu me esforcei muito para
que ela gostasse de mim. Preciso que saiba disso. Porque realmente dei tudo
de mim... até que as palavras e as ações delas foram ofensivas demais e não
aguentei.
— Ela decidiu tomar aquelas atitudes e agora as consequências chegaram.
Eu não a quero aqui hoje. Minha mãe pode ter me dado à luz, mas depois do
que tentou fazer com a gente? Ela não tem o direito de ver o filho se casar.
Alguns têm sorte de ter mães maravilhosas na vida, enquanto outros têm sorte
de ter uma figura materna maravilhosa. Barbara é essa figura para mim.
Portanto, ela me levará ao altar hoje. Olhe, tomei minha decisão e estou feliz
com isso. Hoje, não só seguiremos em frente sem minha mãe, mas sabendo
que teremos o apoio total do meu pai.
CAPÍTULO 21

Quatro horas antes do nosso casamento, Tank e eu tomamos banho, vestimos-


nos e comemos o café da manhã com o pai dele. Ethel permanecia em
silêncio no quarto.
Que seja, cara, pensei naquele momento. A sua recusa em mostrar a cara
esta manhã e pedir desculpas ao seu filho e a mim diz tudo. Você tomou sua
decisão. Você decidiu mesmo perder o casamento do próprio filho e, ao fazer
isso, também se recusou a levá-lo ao altar. Pode não saber disso ainda, mas
essas decisões a assombrarão pelo resto da vida.
Depois de comermos, Harold pediu a um dos trabalhadores da fazenda que
levasse nossas roupas para as tendas. Como o meu vestido, o smoking dele e
nossos sapatos estavam selados em sacos plásticos resistentes, não havia a
chance de que sujassem no caminho até lá. Eu e Tank estávamos lavando a
louça na pia da cozinha quando ouvi o som de carros entrando na
propriedade. Olhei pelos vidros da janela ensolarada à minha frente e vi três
limusines parando em frente à casa.
— Acho que seus amigos chegaram — disse Harold. — Lisa, tenho a
impressão de que Barbara e Bernie vão querer começar a transformá-la na
princesa que é. É melhor ir encontrá-los logo para que tudo possa ser feito
com calma. — Ele se virou para o filho. — Provavelmente é melhor você se
juntar a Alex, Cutter e Rudman na sua tenda. Seu tio Sam e o primo Taylor
chegarão em breve e eu os levarei até lá quando estiverem aqui.
— Obrigado, pai — disse Tank.
— Sem problemas. — Em seguida, Harold apenas olhou para cada um de
nós e falou sobre o elefante na sala. — Eu esperava que Ethel mudasse de
ideia e tomasse o café da manhã conosco, mas, como não fez isso, e como a
conheço como a palma da mão, se não está aqui agora, ela não estará no
casamento. Sinto muito por isso.
— Não precisa — disse Tank. — A escolha foi dela, pai. Mas estou feliz
por você estar lá conosco. Sei que ela provavelmente descontará em você por
isso, mas saiba que eu e Lisa apreciamos muito o seu apoio.
— Eu não perderia o casamento do meu filho por nada — disse Harold e,
ao dizer aquilo, a expressão em seu rosto se mostrou completamente
derrotada apenas durante um segundo antes que ele se recompusesse, mas foi
o suficiente para que eu notasse que ele não conseguia acreditar que a esposa
iria tão longe para punir o filho. Mas ela fora e era fácil saber, só de olhar
para Harold, que aquela situação em particular estava sendo difícil de engolir.
Ele estava constrangido pelo comportamento da esposa e eu quis reconfortá-
lo. Ethel era Ethel e nem mesmo o marido de décadas dela poderia mudar
suas decisões.
— Agora, ouçam — disse ele, batendo a palma das mãos. — Sei que Ethel
deveria coordenar a chegada de todos, mas, na ausência dela, não há motivo
para que eu não cuide disso, portanto, podem deixar comigo. Cuidarei de
tudo: do bolo, do bufê e dos convidados. Não quero nenhum de vocês dois
preocupado com nada, portanto, que tal? Parece bom?
Naquele momento, ouvi passos em nossa direção.
— Isso não será necessário — disse Ethel. — Não se meu filho e minha
nora me aceitarem, claro.
Surpresa, eu me virei para a direita e olhei para o longo corredor que
levava à cozinha. E lá estava Ethel em pessoa, andando em nossa direção em
um vestido lindo amarelo pastel que descia aproximadamente até os joelhos e
enfatizava como ela estava magra e em forma. Ao entrar na cozinha e parar à
nossa frente, vi que, com exceção de algumas lesões no pescoço, que ela
cobrira quase totalmente com maquiagem, seu rosto parecia normal para
mim.
— Ethel — disse Harold.
— Você se importa de ir receber os convidados de Mitchell e Lisa,
querido? Tenho algumas desculpas a pedir.
— É tarde demais para isso — disse Tank a ela. — Ninguém aqui quer
ouvir nada do que tem a dizer.
— Deixe-a falar, Mitch — disse Harold. — Deixe-a fazer as pazes.
Enquanto Harold ia até a porta e avisava a todos que sairíamos em alguns
minutos, Tank ficou parado em silêncio até finalmente virar para mim. —
Você quer ouvir isso? Porque não precisamos.
— Acho que devemos ouvir, pelo menos pelo lado da família — respondi,
o que era verdade. Depois de tudo que Ethel fizera, ela estava prestes a perder
o filho. E, apesar de tudo, eu não queria que aquilo acontecesse. Eu não
queria que aquela família fosse dividida se Ethel pudesse de alguma forma
mudar as coisas. Por causa de como ela me tratara, e de como nos traíra, eu
não sabia se aquilo seria possível. Mas estava curiosa para ouvir o que tinha a
dizer, portanto, olhei para ela. Vi uma expressão rara de vulnerabilidade em
seus olhos e assenti.
— O que tem a dizer, Ethel? — perguntei.
Ela tirou o chapéu, colocando-o sobre a mesa, e pareceu procurar as
palavras certas.
— Só uma coisa — disse ela baixinho para nós. — Meu comportamento
foi tão ruim que não sei o que dizer além de pedir desculpas por isso e por
como minhas atitude os afetaram. Tive um dia inteiro para pensar sobre o
assunto e o que posso dizer é que estou com vergonha. Fiz coisas horríveis
que nunca poderei mudar, mas quero que saibam que eu mudaria se tivesse a
chance. Ontem à noite, da janela do meu quarto, ouvi a festa da tenda. Abri a
janela e ouvi o brinde de Alex a você, Mitchell, e o brinde de Jennifer a Lisa.
O que eles disseram foi lindo e sincero e, por causa das minhas ações, não
pude ver esse momento em pessoa.
Ela olhou para mim.
— O problema não é você, Lisa — disse ela. — Também não são seus
livros. Você não fez nada de errado. No mínimo, você tentou lidar comigo,
até que ficou impossível. O problema sou eu. Começa e termina em mim. Se
você fosse qualquer outra pessoa, eu provavelmente teria feito o mesmo. A
pergunta é por quê. Por que eu fiz isso? Pensei nisso hoje de manhã, depois
de Harold me repreender. Ao fazer isso, ele me obrigou a me encarar, o que é
o motivo de eu estar aqui agora. Eu claramente tenho um medo irracional de
perder meu filho para outra pessoa. Tenho minhas teorias sobre o motivo
disso, que são pessoais demais para compartilhar. É difícil demais revisitar
aquela época da minha vida. Mas, ao pensar em tudo isso hoje de manhã, eu
soube que não podia usar o que aconteceu comigo quando era jovem como
desculpa pelo meu comportamento. Porque, se fizesse isso, só perderia tudo
que tenho de mais precioso.
Ela está falando dos abortos, pensei. E, por mais terrível que tenha sido,
ela está certa, não é desculpa. Eles aconteceram há muito tempo.
Eu não sabia o que pensar. Ela estava sendo sincera? Eu deveria acreditar
no que ouvia? Ou ela estava apenas manipulando-nos de novo? Eu queria
acreditar nela, queria que aquela confusão entre nós acabasse, mas não havia
como ter certeza. Seria possível confiar nela de novo?
— Sei que tenho que mudar — disse ela. — E estou pronta para mudar. É
por isso que estou aqui agora, arrumada para o dia e pronta para ajudar de
qualquer forma para que tudo ocorra da forma mais suave possível para
vocês. Não mereço ser perdoada, mas espero que me deem uma chance para
me redimir. — Ela olhou para Tank. — E que você dê a chance de sua
verdadeira mãe levá-lo até o altar. Porque eu o amo, Mitchell, e espero que
você e Lisa me permitam consertar o que fiz.
— Não sei o que dizer — disse Tank.
— Que me dará essa chance?
— Você foi longe demais — disse ele. — Passou de todos os limites.
Tentou interferir no meu relacionamento, pelo amor de Deus! Isso é demais
para engolir, mãe. Você me pressionou tanto que não quis nem saber se
estaria aqui ou não hoje. Pense nisso por um momento.
— Não sei o que dizer além de pedir desculpas sinceras.
— Acho que suas desculpas podem ser sinceras — disse eu e, quando
disse aquilo, Tank olhou surpreso para mim. Mas eu sabia mais que Tank
sobre o passado da mãe dele e como aquilo claramente a deixara maluca. Não
era meu lugar revelar a verdade, eu prometera a Harold que manteria segredo,
o que faria. Mas, depois de ouvir tudo o que ela acabara de dizer, era difícil
não acreditar que Ethel analisara tudo muito bem naquela manhã. Talvez ela
tivesse mesmo percebido as consequências dos seus atos. Talvez ela
realmente tivesse chegado no momento de “encontrei Jesus”.
— Eu a perdoo — disse eu. — Mas, se tentar se meter em nossa vida de
novo, Ethel, acabou. Preciso que isso fique bem claro.
Seus olhos se encheram de lágrimas quando eu disse aquilo e ela
rapidamente as limpou, como se o ato de demonstrar emoções fosse algo do
qual se envergonhar. — Obrigada — disse ela. — Eu entendo por que meu
filho a ama. Porque você é boa, Lisa. É bondosa. Desculpe pelo que fiz.
— O que aconteceu no seu passado? — perguntou Tank. — O que
aconteceu quando era mais nova que a fez se comportar assim? Preciso saber,
já que claramente a afetou o suficiente para magoar a mulher que amo... e eu.
— Não consigo falar — disse ela.
— Bom, você precisa — disse Tank.
— Ethel, vai ficar tudo bem — disse Harold da porta. — Talvez você deva
contar a ele. Não há do que se envergonhar.
— Mas eu nunca quis contar para ninguém — disse ela. — Só você sabe...
porque precisava saber. E você jamais saberá o quanto odiei decepcioná-lo
naquela época, Harold. Como me senti humilhada toda vez que aconteceu.
— Toda vez que aconteceu o quê? — perguntou Tank.
Ethel olhou para o marido, que acenou para que ela falasse. Ao se virar
para Tank, ela tentou olhá-lo nos olhos, mas não conseguiu.
— Antes de você nascer, tive dois abortos — disse ela. — Minha médica
disse que eu não poderia ter filhos. Foi quando encontrei Deus. Assim,
comecei a rezar. O motivo de eu acreditar tanto na minha fé é porque Deus
me deu você, Mitchell. Foi uma gravidez difícil e tive que ficar de cama
durante meses, mas, mesmo assim, rezei... até o dia em que você nasceu.
Ainda me lembro da cara da médica quando o entregou a mim. Ela disse que
era um milagre e concordei porque sabia que você era, de fato, um milagre.
Quando segurei você nos braços pela primeira vez, fiquei com tanto medo de
perdê-lo que prometi que ninguém nunca o machucaria. Que eu o protegeria
pelo resto da vida. Quando você decidiu entrar na marinha, achei que pudesse
perdê-lo. Quando foi para a guerra, tive certeza de que poderia perdê-lo. E,
desde que começou a trabalhar com segurança pessoal, minha vida ficou um
inferno porque quase o perdi várias vezes quando estava no trabalho. Uma
vez, você quase morreu por Lisa. Você levou um tiro por ela. Você levaria
outro? Sim, claro que sim, porque a ama. E, se não fosse ela, você faria isso
por qualquer outra pessoa. E, um dia, você morreria.
— Meu Deus — disse Tank.
— Desculpe — disse ela. — Eu já disse a você que não é desculpa. Nunca
quis compartilhar nada disso com você. Eu só queria descer e ver se
poderíamos, de alguma forma, recomeçar.
Tank ficou em silêncio por um momento, até que chegou a uma decisão.
— Podemos tentar — disse ele.
Quando ele disse aquilo, Ethel o olhou com tanta gratidão que consegui
sentir porque, em seus olhos, vi tudo o que ela sentia: felicidade, vergonha,
alívio e constrangimento. Ela estava finalmente sendo verdadeira conosco?
Parecia que sim e, pela primeira vez em muito tempo, imaginei se
conseguiríamos deixar tudo isso para trás e tornar-nos uma família.
Era o que eu esperava, mas sabia que sempre teria que tomar cuidado.
— É tudo que peço — disse ela. — Você aceita minhas desculpas?
— Por enquanto, sim — disse Tank.
— Assim como eu — disse eu. — Porque, acredite ou não, Ethel, eu quero
que esta família seja unida. Seria ótimo se pudéssemos ser amigas um dia. Se
isso acontecerá, é com você, não comigo.
— Justíssimo — disse ela.
Olhei a hora no relógio e soube que precisava ir encontrar meus amigos,
no mínimo para que Bernie não precisasse fazer nada com pressa. Ele tinha
que fazer não só o meu cabelo e a minha maquiagem, como os de Jennifer,
Blackwell, Daniella e Alexa.
— Preciso ir — disse eu para Tank ao ficar na ponta dos pés para beijá-lo
na bochecha. — Estão todos me esperando. — Em um esforço para melhorar
o péssimo humor que pairava no ar, disse a ele: — Tentarei parecer uma
princesa na próxima vez que nos vermos.
— E tentarei ao máximo ser o seu príncipe. Divirta-se com Bernie e as
garotas, está bem?
— E você se divirta com os rapazes. — Olhei para Harold e apontei para
Tank com o polegar. — Você vai garantir que ele esteja perfeito?
— Pode contar comigo, Lisa.
— Sei que posso, Harold. — Em seguida, olhei para Ethel, que parecia
perdida, como se estivesse desconfortável na própria casa. Na própria pele.
Depois de tudo que ela nos dissera, decidi tentar ser aberta para diminuir o
peso em seus ombros. — E verei você no casamento, certo?
— Você verá — disse ela.
— Tank, Ethel o levará até o altar? Preciso avisar a Blackwell.
— Você quer? — perguntou Tank à mãe.
— Mais do que tudo, Mitchell.
— Diga a Blackwell que agradeço o apoio que me deu, mas minha mãe me
levará até o altar.
— Pode deixar. — Olhei para Ethel. — Estou feliz que esteja aqui, Ethel.
Obrigada por cuidar de tudo enquanto nos arrumamos.
— O prazer é meu, Lisa — disse ela. — De verdade.
E, ao dizer aquilo, só a gratidão no olhar dela me convenceu.
Ela realmente estava falando a verdade.
CAPÍTULO 22

— Que coisa mais absolutamente, espetacularmente e positivamente


melodramática — disse Blackwell quando contei a todos o que acabara de
acontecer na cozinha. Depois de nos cumprimentarmos na entrada, estávamos
andando em direção às tendas e ao gazebo. A manhã estava quente e o sol
brilhava, mas pelo menos havia uma brisa, pela qual eu estava muito grata.
— Ah, realmente foi tudo isso! — disse eu.
— Aquela mujer é das maluca — disse Epifania. — E eu disse maluca,
não masturba, tá? Porque, só para vocês saberem, minha galerinha, eu nunca
confundo os dois!
— Beleza — disse eu, rindo.
— Lisa, acho que você lidou muito bem com a situação — disse Jennifer.
— Andar pelo campo minado e decidir onde parar não deve ter sido fácil.
— Que metáfora maravilhosa — disse Blackwell caprichosamente. — E
nada clichê.
— Mulher... — advertiu Jennifer.
— Ah, sorria, mamãe. Estou tentando levantar o astral. Olhe para mim,
pelo amor de Deus. Uma soldado andando por um caminho infinito de grama
enquanto tento desviar de montanhas de esterco. E em saltos altos Dior, para
piorar. Se isso não me dá alguns pontos, não sei o que dará. Neste calor, será
um milagre se chegarmos à tenda vivos, portanto, vamos pelo menos rir no
caminho. Porque, se morrermos e a rigidez cadavérica chegar, quem nos
encontrar dirá “bom, pelo menos eles morreram rindo”.
— Sabe — disse Jennifer — na verdade, isso foi absolutamente,
espetacularmente e positivamente melodramático.
— Ah, minha querida! — disse Blackwell. — Ainda está cedo e acabei de
começar!
— Montanhas de esterco — ouvi Alexa dizer atrás de mim com a voz
estranhamente sonhadora. — Algum de vocês sabe a quantidade de nutrientes
que há nelas? Sei que a maioria das pessoas as vê como nada além de
estrume...
— Merda — corrigiu Daniella. — Pilhas de merda de vaca, Alexa, porque
é o que são. Não tente dizer que são outra coisa além disso.
— Tudo bem, merda de vaca — disse Alexa. — Mas você deveria ser
grata por ela, Daniella, porque com certeza se beneficia dela.
— O que isso quer dizer?
— Como só vi gado e galinhas sendo criados aqui, tenho a impressão de
que os McCollister vendem o esterco para outros fazendeiros para cultivar
coisas como trigo, que é comum no centro-oeste. E, como sei que você ama
um bom espaguete, acho que também deve saber que o trigo que produziu o
seu espaguete foi provavelmente adubado com uma grande quantidade de
merda de vaca. Então, pense nisso por um momento.
— Acho que todos nós estamos pensando nisso — disse eu.
— Está dizendo que o macarrão que eu como é feito com merda? —
perguntou Daniella.
— Estou dizendo que ele se beneficia dos nutrientes dela. Jesus, você
realmente não sabe nada a essas alturas da vida?
— Sei que você é uma lésbica no armário.
— E lá vamos nós de novo — disse Alexa. — Que seja.
— Um dia, vou adorar vê-la sendo a líder das Dykes and Bikes.
— Fofa — disse Alexa. — Se isso acontecer algum dia, eu a procurarei no
seu grupo. Sabe, Whores on Wheels.
— Muita engraçadinha.
— Garotas... — disse Blackwell.
— Ah, por favorzinho, Barbara, não acaba com a diversão agoura! —
disse Epifania. — Porque essa porra tá ficando boa!
— Lisa? — chamou Bernie.
— Sim, Bernie?
— Você por algum acaso sabe o nome daquele vaqueiro sensual que
acabamos de ver? Sabe, o de cabelo preto? O que estava encostado contra um
dos celeiros e que precisa dos meus dedos no cabelo dele mais tarde? Ele
usava Levis e calça de couro, como se estivesse pronto para ir a um bar de
couro.
— Um bar de couro? — perguntei.
— Sim, um bar de couro. Ele a estava usando bem para cima para mostrar
a mala volumosa no meio das pernas. Naturalmente, vê-lo daquela forma me
interessou.
— Defina “interessou” — disse Blackwell.
— Você já sabe o que quero dizer, mulher — disse ele com uma voz
estranhamente rouca.
— E essa agitação que acredito que sentiu — disse ela. — Aconteceu sem
Viagra? Sem a magia daquelas pílulas azuis, você ainda conseguiu ter uma...
— Consegui — disse ele. — E nenhuma pílula azul foi necessária quando
coloquei os olhos naquele lá.
— Mon Dieu!
— Je connais…
— Está falando de Phil? — perguntei a Bernie.
— É esse o nome dele? — perguntou Bernie. — Porque se este for mesmo
o nome dele, melhor ainda.
— Você é incorrigível.
— Só quero o número dele. Você com certeza pode me conseguir isso.
Sabe, para que eu possa mandar um nude!
— Não posso, Bernie. Desculpe. Se Ethel descobrir, ela com certeza vai
pirar... no momento em que preciso dela bem.
— Nude — disse Daniella. — J’adore, como diria minha mãe. Cutter e eu
trocamos nudes o tempo todo.
— Até no trabalho? — perguntou Jennifer.
— Ele ficará encrencado se eu disser que trocamos nudes enquanto ele está
no trabalho?
— Acho que você acabou de admitir que é exatamente o que fazem.
— Não, não admiti nada. Eu só estava perguntando.
— Daniella, por favor. Você não pode mandar nudes para Cutter enquanto
ele está trabalhando. Você sabe disso.
— Tudo bem, então. Nós não trocamos nudes no trabalho.
— Ah, meu Deus, eles trocam — disse Jennifer a mim. — Que nojo. Às
vezes, acho que Cutter está só respondendo a uma mensagem, mas pode ser
outra coisa. Pode ser ela. E ele pode estar excitado!
— Por favor! — disse Blackwell. — Tente ser a mãe dela. As coisas que
sou obrigada a ouvir daquela ali todos os dias...
— Pelo menos você não me escuta quando solto vários peidos vaginais —
disse Daniella.
— Você não disse isso — disse Alexa.
— Eu disse. E sem vergonha nenhuma. Porque Cutter tem um pauzão.
Quando fazemos amor, faço todos os tipos de barulhos não naturais. Até eu
me surpreendo.
— É como se você tivesse peidando, não é? — perguntou Epifania. —
Mas não do bumbum, e sim da pepeca!
— Sim! Graças a Deus, você me entende, Epifania. É como se parte de
mim estivesse peidando em lugares que não deveriam peidar.
— Ah, que bom, minha chiquita. Porque não é brincadeira. Significa que
Cutter realmente é grande!
— Estamos mesmo tendo esta conversa? — perguntei. — No dia do meu
casamento.
— Estamos com certeza — disse Daniella. — Olhe para Tank, Lisa. Com
um homem daquele tamanho, você com certeza teve sua parcela de peidos
vaginais no mundo.
— Não vou responder.
— Não responda — disse Alexa. — É nojento. A gente realmente precisa
ouvir isso? Por favor, Daniella, pelo menos tenha um pouco de decência na
frente das pessoas.
— Cutter e eu estamos em um relacionamento — disse ela. — Além disso,
achei que compartilhar nossa vida era um livro aberto neste grupo. Contamos
tudo uns aos outros, sempre fizemos isso. Diga-me se estou errada.
— Você está errada — disse Blackwell. — Pelo menos em relação a esse
tipo de detalhe. Se só vai falar disso, Daniella, é melhor ficar quieta.
— Mas eu amo ouvir sobre um pauzão — disse Bernie.
— É claro que ama, Bernie, mas esta é minha filha. Tente entender.
— Cutter tem um pauzão, Bernie.
— Detalhes!
— Não haverá detalhes, Bernie. Daniella, já chega.
— E ele sabe muito bem como usá-lo.
— Vou deserdá-la se continuar.
— Tudo bem — disse Daniella. — Parei... agora que todos vocês sabem
sobre o pauzão de Cutter.
— Você é a rainha das marias-jeba.
— Falou a mulher que só teve como experiência outra mulher lambendo o
clitóris dela.
— Eu não preciso ouvir isso agora — disse Jennifer.
— Mas é a verdade — disse Daniella.
— Ah, deixe-me em paz — disse Alexa. — Você sabe que não é verdade.
E, mesmo que fosse verdade, e daí? A humanidade é muito mais complicada
do que você consegue entender, Daniella. Alguns homens gostam de outros
homens, como Bernie.
— Aqui, aqui! — disse ele.
— E algumas mulheres gostam de outras mulheres...
— Como você — disse Daniella.
— ... e o resto de nós gosta do sexo oposto.
— O resto de nós — disse Daniella de forma zombeteira. — Como se você
fosse o resto de nós, Alexa. Você não consegue me enganar, pois estou de
olho.
— Você é uma piranha — disse Alexa.
— E você queria estar de calça jeans e camisa de flanela no casamento.
— Então! — disse eu a todos ao nos aproximarmos da tenda. — A boa
notícia é que finalmente chegamos. — Mas, antes de entrarmos, virei-me para
eles. — E obrigada — disse eu.
— Pelo quê? — perguntou Blackwell.
— Por tentarem me fazer rir no caminho até aqui.
— Era isso que a gente tava fazendo? — perguntou Epifania confusa. —
Achei que a gente tava só andando e falando. Sabe, teve a parte dos peidos
vaginais, que Epifania entendeu completamente porque meu Rudsy também
deixa minha pepeca com soluço. E depois falamos sobre como Alexa
pertence às Dykes on the Bikes, o que a gente só aceitou porque... o que
vamos fazer, né? Olha só pra ela. Depois, a gente descobriu que Daniella
come merda no jantar, o que, nossa, é nojento. Tirando isso, acho que foi uma
conversa legal.
E ela realmente acredita nisso, o que é um dos motivos pelos quais eu a
amo.
— Enfim, obrigada por melhorarem o meu humor porque partes do que
acabou de ser dito foram tão engraçadas quanto horrorosas, e eu precisava
disso agora.
— A gente foi tão transparente assim? — perguntou Blackwell.
— Sim — disse eu ao entrarmos na tenda com ar-condicionado, que estava
tão fresca que tivemos um choque de boas-vindas. — Mas eu agradeço.
Olhei para Bernie.
— Pronto para me transformar? — perguntei.
— Sabe de uma coisa? — disse ele. — Depois de ver Phil, eu me sinto
estranhamento inspirado. Mas quero que você seja a última, Lisa. Alexa e
Daniella só querem que eu escove o cabelo delas. Jennifer e Barbara querem
algo um pouco mais detalhado. Portanto, deixe-me arrumá-las primeiro e
depois será a sua vez, para que esteja impecável ao sair daqui.
— Teremos tempo para tudo isso? — perguntei.
— Temos tempo suficiente — disse ele. — Porque, sem Phil na minha
vida, esta mona está oficialmente em uma missão para afugentar a solidão.
Agora, preciso que vocês deem um passo atrás e deixem-me ter meu
momento! Porque, agora... observem e aprendam, queridas, porque estou
prestes a me tornar a porra de um mágico!
CAPÍTULO 23

Três horas depois, atrás de uma divisória que fora montada para todas nós na
parte traseira da tenda, fiquei de pé de frente para um espelho de corpo inteiro
e olhei-me enquanto ouvia Arioso, de Bach, tocando do lado de fora da tenda
e Blackwell e Jennifer garantiam que meu vestido estivesse perfeito.
— Lisa — disse Jennifer ao dar um passo atrás. — Você está tão linda que
Tank não saberá o que fazer quando a vir assim.
— Ele não saberá mesmo — disse Blackwell — Porque, vamos ser
sinceras, este vestido, este cabelo e esta maquiagem são algo triunfal. Em
relação ao vestido, graças a Deus por Chloe na Bergdorf porque, sem a ajuda
dela, nunca teríamos conseguido colocar as mãos em algo conhecido como o
raro e cobiçado vestido de casamento Vera Wang Galilea. Wang só fez
quatro desses este ano... e cada um por oito mil, aquela gananciosa. Mas é
divoon, não é, meu amor? Vale cada centavo. Olhe só como veste bem —
disse ela ao trocarmos olhares no espelho. — O detalhe no pescoço, o laço de
macramê. As costas de tule francês. O véu delicado feito à mão. É mais do
que maravilhoso. Além disso, olhe o que Bernie fez com seu cabelo. Ele deu
a você um estilo “solto e simples” favorecido por Gigi Hadid, o que está
absolutamente na moda agora. E a maquiagem... tão polida e viva. Você
parece uma princesa. De verdade. E, falando nisso, minha querida, preciso
parabenizá-la por não cair naquela besteira de “algo novo, algo velho, algo
emprestado, algo azul”. Porque você não precisa de nada disso agora.
— Eu nem me reconheço — disse eu. — Digo, sei que sou eu, mas é como
se eu tivesse sido editada no Photoshop. Eu nunca achei que poderia ter esta
aparência.
— Esta é você no seu melhor — disse Blackwell. — E o fato de você ter
escolhido usar apenas a aliança de diamante foi a coisa certa porque é a única
joia que todos devem ver hoje. Bravo! Muito bem! Perfeição! Champanhe?
— Estou tão nervosa agora que uma taça seria bom, mas vou passar.
Porque, como vocês sabem, Tank e eu trocaremos votos. Decidimos que,
quando chegar a hora, queremos estar inteiros para ouvir o que virá do
coração do outro.
— Que ousada — disse Blackwell. — Mas muito romântica. Você já sabe
o que dirá?
— Olhe, não sou burra... tenho alguma ideia, mas é só o que preciso.
Quando eu olhar para Tank e dizer meus votos, direi exatamente como me
sinto em relação a ele e a nós.
— Que coisa mais Philippe Petit — disse ela.
— Quem?
— Philippe Petit. Ele era de outra época, da metade dos anos setenta, e
andou em uma corda esticada entre as Torres Gêmeas. As torres não existem
mais hoje em dia, claro, o que ainda me deixa arrasada pelos amigos que
perdi naquela época. Mas a coragem que ele mostrou ao andar naquela corda
se assemelha de alguma forma ao que você e Tank estão prestes a fazer...
dizer os votos sem uma rede de segurança.
— Só espero ser coerente.
— Você será — disse Jennifer. — Você é uma escritora, afinal de contas.
— De zumbis.
— É, tem isso — disse Jennifer. — Mas você se sairá bem.
— Vamos mostrar aos outros como você está? — perguntou Blackwell.
— Vamos — disse eu. — Mas, antes disso, deixe-me tirar um momento
para olhar para vocês duas.
Eu pedira a todas as madrinhas que usassem algo sofisticado e elegante
com tons de rosa pastel para o casamento, mas, como Jennifer era a madrinha
principal, o vestido dela precisava se sobressair um pouco, o que acontecia de
uma variedade de formas sutis. Era uma regra conhecida que ninguém
deveria ofuscar a noiva e Jennifer, Blackwell, Alexa e Daniella não faziam
isso. Jennifer usava um vestido midi Carolina Herrera sem mangas com um
tom claro e bonito de rosa. Bernie fizera um coque dramático no cabelo dela.
E, como eu decidira usar apenas a aliança de noivado, Jennifer seguira a
deixa e também só usava as alianças de noivado e casamento.
Achei que ela estava perfeita.
Assim como Blackwell, o que não era surpresa alguma para quem a
conhecia. Ela usava algo que não tinha exatamente o mesmo drama que o
vestido de Jennifer, mas era chique demais. Com a ajuda de Chloe, elas
entraram em contato com a Gucci vários meses antes para ver se conseguiam
variações diferentes para Blackwell e as filhas do vestido de capa Cady de
mangas curtas com um detalhe de tafetá na linha do pescoço e rebites. Cada
vestido era diferente o suficiente para permitir que Blackwell e as filhas
tivessem sua individualidade e, ainda assim, fizessem parte de algo planejado
e coeso.
— Lisa, sua mãe e seu pai estão aqui — disse Alexa. — Eles disseram que
você só tem mais dez minutos. Epifania já foi se sentar com Rudman. Todas
nós precisaremos ir até o altar em breve. Você precisa vir aqui agora.
— Ai, meu Deus — disse eu. — Isso está realmente acontecendo.
— Está — disse Blackwell. — E rápido... finalmente.

***

Depois que Alexa, Daniella e Blackwell saíram para ir até o altar com os
padrinhos com quem faziam par, Jennifer se virou para olhar para mim antes
de ir encontrar Alex.
— Como você está? — perguntou ela.
— Acho que estou começando a ter uma crise de ansiedade — disse eu.
— Sério? Ou está só brincando? Não brinque comigo agora, Lisa. Porque
está tudo acontecendo e preciso sair para encontrar Alex. Você está bem?
— Estou bem — respondi, depois de respirar fundo. — Nervosa, mas bem.
Então... vá. E obrigada por tudo, Jennifer. Vejo você em um instante.
— Antes, deixe-me arrumar seu véu — disse ela enquanto ajustava-o
rapidamente. — Pronto, agora você está perfeita. E estou indo — disse ela
para mim. — Eu a amo.
E, em seguida, ela saiu da tenda com as rosas brancas à sua frente... e
parecendo totalmente a estrela que era.
Para o meu buquê, eu escolhera algo simples com girassóis tão claros
quanto o dia. Uma flor que cercara Tank neste campo enquanto crescia na
fazenda. Ethel compartilhara aquela informação comigo quando fomos à
florista, quando cometeu o erro de apontar tudo a que era alérgica. — Mas
esses girassóis? — dissera ela para mim no dia. — Eles o levarão à juventude
dele. Ele se lembrará dos campos no outono. Eles significarão algo para ele.
Assim, eu os comprei, esperando que fizessem mesmo isso.
Ao observar Jennifer pegar a mão de Alex e começar a andar em direção
ao gazebo ao som de Clair de Lune de Debussy, meu pai se aproximou por
trás e colocou a mão sobre o meu ombro. — Agora, é meu dever dizer a você
que não precisa continuar com este casamento. Portanto, você não precisa
continuar com este casamento, Lisa. Dito isso, está pronta para continuar com
este casamento?
Sorri quando ele disse aquilo e assenti. — Mais do que tudo, pai.
— Sua mãe e eu estamos orgulhosos de você — disse ele. — Você e
Jennifer encontraram homens bons com quem passar o resto da vida. Sua mãe
e eu amaremos Tank como se fosse nosso filho.
— Eu agradeço, pai — disse eu, abraçando-o. — Obrigada por sempre me
apoiar.
— Está na hora de irmos? — perguntou ele.
Espiei o lado de fora da tenda e vi o padre Harvey subindo os degraus do
gazebo. — Acho que está — respondi. — O padre Harvey está lá. As pessoas
estão procurando-nos. Vamos.
— Então... vamos.
Passei o braço pelo braço dele e fomos.
Quando saímos da tenda, a primeira coisa que senti foi o sol quente sobre a
pele, um calor opressor pressionando-me por todos os lados. Em seguida,
senti repentinamente uma energia direcionada diretamente a mim porque,
quando papai e eu começamos a andar em direção ao gazebo, as pessoas
começaram a sorrir e tirar fotos de nós dois, o que eu não esperava de forma
alguma. Por causa da influência de Ethel, eu esperava enfrentar uma multidão
especialmente hostil, o que era o motivo pelo qual me sentira tão nervosa
alguns momentos antes. Mas, ao andarmos pelo tapete e passarmos pelos
convidados, hostilidade foi a única coisa que não senti. Eu sentia que as
pessoas estavam felizes por me ver. Que estavam prontas e ansiosas para que
aquele casamento acontecesse.
Será que Ethel fez alguma coisa?
Fiquei imaginando por causa do que eu a ouvira dizer à irmã Margaret
pelo telefone, o que não fora uma acusação leve. Eu também sabia que ela
influenciara outras pessoas contra mim. Depois de sair da casa naquela
manhã para encontrar meus amigos, ela de alguma forma encontrara tempo
para fazer algumas ligações em um esforço para mudar as coisas para mim e
Tank? Ou ela já tinha feito aquilo quando desceu para se desculpar?
Qualquer que seja o caso, ela deve ter feito algo, pensei enquanto eu e
papai andávamos pelo mar de rostos sorridentes. Talvez ainda haja esperança
para nós, no final das contas...
Ao me apoiar em meu pai, olhei para frente e vi Tank observando-me
enquanto nos aproximávamos. Ao encará-lo, ele estava à direita do padre
Harvey, com Alex e o resto dos padrinhos ao lado dele. Senti um ímpeto de
amor ao vê-lo.
Ele parece feliz, pensei ao sorrir para ele. Parece tão empolgado quanto eu
agora. E veja só como está maravilhoso com esse smoking. Tem como ele
ficar mais lindo? Não. Como acabei nesta vida? Como consegui ser tão
sortuda para me casar com um homem tão bondoso, inteligente, corajoso e
generoso?
Papai e eu subimos os degraus e, quando vi que Blackwell tinha lágrimas
de verdade dos olhos, com Jennifer alegremente acompanhando-a, quase me
descontrolei ali mesmo.
E teria se o padre Harvey não começasse a falar naquele momento.
— Quem apresenta esta mulher a ser casada com este homem? —
perguntou ele alto o suficiente para que todos ouvissem.
— Eu e a mãe dela — disse meu pai.
— Muito bem — disse padre Harvey, acenando com a cabeça para que
meu pai se sentasse depois que eu o beijei. Em um torpor, parei ao lado de
Jennifer enquanto observava meu pai descer os degraus para se juntar à
minha mãe na primeira fileira. Quando olhei para mamãe, ela acenou
discretamente antes de colocar a mão sobre o coração.
— Estamos reunidos aqui hoje para unir essas duas pessoas em
matrimônio — disse o padre Harvey. — A decisão de Tank e Lisa de se
casarem não foi fácil e, hoje, eles declaram sua devoção particular um ao
outro. A essência deste comprometimento é a aceitação de cada um de forma
completa, como amantes, companheiros e amigos. Um relacionamento bom e
equilibrado é aquele no qual nenhuma pessoa tem poder sobre a outra ou é
absorvida pela outra, aquele no qual nenhuma pessoa é possessiva com a
outra, aquele no qual os dois dão amor livremente e sem ciúmes. Casamento
é compartilhar responsabilidades, esperanças e sonhos. É preciso esforço para
crescer em conjunto, sobreviver a tempos difíceis e ser amoroso e altruísta.
Ele pediu que Tank e eu ficássemos um de frente para o outro, o que
fizemos.
— Vocês dois se comprometem a compartilhar a vida abertamente um
com o outro e falar a verdade no amor? Vocês prometem honrar e cuidar,
alegrar e encorajar um ao outro na alegria e na tristeza, na saúde e na doença
até que a morte os separe?
— Sim — eu e Tank respondemos em uníssono.
— Vocês se comprometem a compartilhar o amor e as alegrias do
casamento com todos à volta, para que aprendam com seu amor e sejam
encorajados a crescer?
— Sim — dissemos novamente.
Em seguida, padre Harvey pediu a Jennifer e Alex que apresentassem as
alianças. Ao abrir as duas caixas de veludo preto, o significado profundo
daquele momento me acertou. Em alguns segundos, Tank e eu nos
tornaríamos oficialmente marido e mulher, o que me deixou exultante, assim
como sabia que deixara Tank. Porque, quando as alianças foram apresentadas
por nossos amigos, ele olhou para mim e vi seus olhos brilharem com uma
emoção inesperada. Após todos aqueles anos, depois de tudo que passáramos
juntos, aquele momento finalmente chegara.
— Que essas alianças sejam abençoadas como um símbolo da sua união —
disse o padre Harvey. — Sempre que olharem para elas, que não sejam
lembrados apenas deste momento, mas também dos votos que fizeram e da
força do comprometimento que têm um com o outro. — Ele olhou para os
convidados. — A noiva e o noivo decidiram dizer os próprios votos. Lisa e
Tank, deem um passo à frente e virem-se um para o outro.
E foi o que fizemos.
— Tank — disse o padre Harvey. — Compartilhe seus votos com Lisa.
Assim como ela, sua família e seus amigos ficarão de pé para ouvi-los.
— Será um prazer — disse Tank ao padre. Ao se virar para mim, ele olhou
diretamente em meus olhos. Meu pulso acelerou e minha mente girou com a
velocidade com que tudo estava acontecendo. Naquele momento, eu me
lembrei do que minha mãe dissera pouco antes de sair da tenda.
Lembre-se deste momento, dissera ela. Nunca se esqueça. Eu sei que será
demais e você sentirá muitas emoções, mas tente ao máximo relaxar e
absorver o que conseguir. Você me agradecerá depois. Eu amo você, Lisa.
Portanto, eu me concentrei assim que Tank começou a falar.
— Lisa, estar aqui com você hoje é exatamente onde quero estar — disse
ele. — E, se há algo de que tenho certeza sobre o futuro, é que você sempre
estará comigo. Eu a pedi em casamento há mais de dois anos e estou muito
feliz por hoje finalmente nos tornarmos um. A partir de hoje, meu coração
será seu abrigo e meus braços serão seu lar. Darei a você minha lealdade e
meu amor eterno porque é a única mulher de que sempre precisarei.
Ele deu de ombros.
— Como poderei fazê-la tão feliz quanto me faz? — perguntou ele. —
Como poderei fazê-la rir da forma como faz comigo, especialmente porque
seu senso de humor é uma das coisas que mais amo em você? O que posso
prometer a você é que tentarei. Pelo resto de nossa vida, tentarei garantir que
você sempre saiba que é a pessoa mais importante no mundo para mim. Nós
nos escolhemos e preciso que saiba que esta foi a melhor decisão que já
tomei na vida. Desde que nos apaixonamos, você tem sido minha base, meu
porto seguro, minha eterna fonte de motivação. É por isso que prometo, na
frente de todos os nossos amigos e familiares, apoiá-la incondicionalmente.
Cuidarei de você enquanto conseguir. Eu a amo, Lisa, e mal posso esperar
para começar nossa vida de casados.
Eu fiquei tão emocionada com os votos de Tank que meus olhos se
encheram de lágrimas, o que me fez pensar se teria forças para dizer os meus
votos a ele. Mas, quando olhei nos olhos de Tank, toda a força de que eu
precisava estava bem ali, esperando-me. Naquele momento de amor
incondicional que acontecia entre nós, eu sabia tudo que queria dizer a ele.
— Tank — comecei. — Estou aqui hoje para prometer a você que eu o
amarei pela eternidade. Você é um dos homens mais corajosos e incríveis que
já conheci. Além disso, também é meu melhor amigo, minha verdadeira alma
gêmea. Depois de todo este tempo, ainda me surpreendo com seu altruísmo,
sua humildade, seu cuidado e sua natureza cheia de respeito. Obrigada pelo
apoio incondicional à minha carreira ao longo dos anos e por me fazer sentir
amada, mesmo que às vezes eu parecesse não merecer. Mais importante de
tudo, quero agradecer a Jennifer por ter nos apresentado no saguão do nosso
antigo apartamento na Quinta. Foi ali que me apaixonei. Primeiro, a atração
foi física. Mas, quando fomos conhecendo-nos, tornou-se muito mais do que
isso. E, hoje, aqui, acredito de verdade que sou a mulher mais sortuda do
mundo. Eu sempre apoiarei os seus sonhos e expressarei meu amor por você
pelo resto de nossa vida junto, mesmo quando estivermos distantes. Jamais
farei pouco caso da nossa união. Eu sempre o amarei incondicionalmente,
Tank. Nos melhores e nos piores momentos, na riqueza e na pobreza, na
saúde e na doença até que a morte nos separe, mesmo que você de alguma
forma vire um zumbi. Porque, se isso acontecer, acho que todos nós sabemos
que eu ainda o amarei e que provavelmente terei uma estratégia perfeitamente
sã para trazê-lo de volta à vida, onde é o seu lugar. Eu amo você, Tank. Do
fundo do meu coração.
Depois de trocarmos as alianças e o padre Harvey nos declarar marido e
mulher, ele pediu a Tank que beijasse a noiva. Para a minha surpresa, não era
apenas um selinho nos lábios que Tank tinha em mente. Em vez disso, ele
literalmente me deitou no ar, dando-me um grande beijo nos lábios, que eu
retribuí.
— Eu amo você — disse eu no ouvido dele.
— Eu a amo demais, Lisa. Obrigado por ser minha esposa.
Quando ele me posicionou gentilmente de volta sobre o chão do gazebo, vi
o olhar de Ethel na multidão, percebendo que olhava para nós enquanto
limpava as lágrimas dos olhos. Ela acenou para mim com a cabeça, eu acenei
de volta, e vi Harold colocar o braço em volta dos ombros da esposa em um
gesto de amor tão grande que eu sabia que olhava para um homem que levava
seus votos a sério. Apesar de tudo que Ethel fizera, e independentemente do
motivo, ele estava lá com ela. E, por causa da bondade que mostrava a ela, eu
me emocionei.
— Vão em paz e vivam com amor, compartilhando as bênçãos mais
preciosas que têm: as de uma vida em comunhão — disse o padre Harvey. —
Que o tempo de vocês nesta terra seja longo, juntos como um.
Quando os convidados se levantaram e a multidão explodiu em aplausos e
assobios, Tank pegou minha mão, que apertei com toda força, e olhamos nos
olhos um do outro. A grandeza daquele momento me deu calafrios.
Juntos, descemos os degraus, finalmente como marido e mulher. Ao
andarmos pelo tapete vermelho, rindo embaixo da chuva de arroz enquanto
dezenas de fotos eram tiradas, imaginei se já me sentira tão inundada de
felicidade como naquele momento. Ele era perfeito. E completo.
E era nosso... poderíamos revivê-lo para sempre.
EPÍLOGO
Cidade de Nova Iorque
Um mês depois

Dois dias depois que Tank e eu voltamos da lua de mel em Bora Bora,
Jennifer me ligou para saber se queria almoçar com ela.
— Por favor, diga-me que está livre esta tarde — disse ela. — Dei dois
dias inteiros para que se acomodasse e não aguento mais. Você ficou longe
por muito tempo, senti muita saudade. Diga-me que está livre.
Eram nove horas da manhã, Tank já fora trabalhar e eu estava prestes a
sentar no computador para começar meu próximo livro, que obviamente
poderia esperar mais um dia. — Estou completamente livre — disse eu. — E
adoraria almoçar com você. É só me dizer onde e estarei lá.
— Que tal irmos ao Ruby’s? — perguntou ela.
— Ruby’s Diner? Não sei nem quando foi a última vez que comi lá. Tank
e eu tivemos nosso primeiro encontro lá.
— Alex e eu íamos muito lá, mas, por algum motivo, paramos. Tenho me
sentido um pouco nostálgica, portanto, pensei em ir lá hoje. Porque,
sinceramente, também não consigo me lembrar da última vez que fui lá.
— Pois é — disse eu. — Eu adoraria comer lá. Que ótima ideia pensar
nisso. Pode contar comigo só pela nostalgia toda.
— Combinado — disse ela. — Que tal me encontrar ao meio-dia no
escritório de Blackwell? Porque, quando contei ontem que ligaria para você
para combinar o almoço, ela deixou bem claro que queria saber tudo sobre a
sua lua de mel, como eu. Vamos conversar um pouco no escritório dela,
depois, tenho uma surpresa e aí sim podemos ir almoçar.
— Que surpresa?
— Você verá — disse ela. — É melhor levar um lenço!
— O que quer dizer com isso?
— Você verá. Vejo você ao meio-dia!

***

Pouco antes de meio-dia, cheguei de táxi à Wenn Enterprises com pequenas


gotículas de suor na testa. Estava ensolarado, quente e úmido na cidade, a
temperatura devia estar mais ou menos trinta e cinco graus, o que era quase
um inferno, e, mesmo com o ar-condicionado do táxi, quase não era o
suficiente.
Paguei à motorista, agradeci-a, saí do carro e andei rapidamente pela
calçada movimentada da Quinta Avenida até entrar no saguão da Wenn, que
estava muito mais fresco. Mesmo estando de calça capri, uma regata branca e
sandálias bonitas, a sensação era de que a maquiagem já estava derretendo no
meu rosto, o que Blackwell não aceitaria.
Assim, antes de pegar o elevador para o 51º andar, onde ficava o escritório
dela, fui ao banheiro do saguão, sequei o rosto com batidas leves de um papel
toalha e peguei o pó da bolsa para retocar a maquiagem. Quando tive certeza
de que estava pronta, no nível de Blackwell, peguei o elevador até o andar
dela, que estava cheio de pessoas correndo de um lado para o outro. Conheci
muitas daquelas pessoas ao longo dos anos e cumprimentei todos antes de
chegar à porta de Blackwell, que estava aberta.
— Toc, toc — disse eu ao me aproximar da porta.
— Escute só isso — disse Blackwell ao jogar um cubo de gelo na boca e
recostar-se na cadeira. Jennifer estava sentada à minha frente e virou-se para
olhar para mim com um grande revirar de olhos. — Não tem nem vergonha
de começar com um clichê. E ainda tem a audácia de se chamar de escritora.
Em seguida, Blackwell se inclinou para frente.
— Mas vou entrar no jogo, Lisa. Devo? Quem é?
— Sério?
— Continue o maldito jogo.
— Tudo bem. Que tal... uma nova noiva?
— Não foi o suficiente — disse Blackwell. — Portanto, deixe-me corrigi-
la. Que tal... uma mulher cujos mamilos estão prestes a explodir nos olhos da
pobre Jennifer?
— Do que está falando? — perguntei.
Ela apontou para os meus seios. — Deles.
Olhei para baixo e vi, com uma sensação de humilhação, os dois faróis
acesos. — Acabei de sair de um calor de trinta e cinco graus — disse eu. — E
entrei no saguão da Wenn, que estava com metade da temperatura. Dê-me um
tempo.
— Acho que é mais do que isso. Acho que seu corpo já está sentindo falta
de Tank.
— Não tenho nenhum argumento contra isso, querida.
Com um pulo, ela se levantou e aproximou-se para me abraçar. — Então,
como foi? — perguntou ela perto do meu ouvido. — E não seja tímida
porque Jennifer e eu queremos saber tudo. Como foi Bora Bora, Bam Bam?
— Sério? — perguntou Jennifer. — Bora Bora, Bam Bam?
— Por favor — disse Blackwell. — Olhe só para ela. Parece uma entrega
para a multidão que gosta de pornografia na internet.
— Não pareço — disse eu.
— Acredite, querida, foi um elogio — disse Blackwell ao voltar para a
cadeira e sentar-se. — E você deveria aceitá-lo porque só posso imaginar
quantos homens e mulheres usariam os cartões de crédito para vê-la como
está agora.
— Enfim — disse eu, sentando-me perto de Jennifer. — A lua de mel foi
incrível.
— Descreva incrível de formas que não tenham nada a ver com você
deitada de costas com Tank por cima — disse Blackwell. — Nem com você
de quatro com ele investindo por trás. Porque, se conseguir uma resposta para
esta pergunta, ficarei surpresa.
— Por quê?
— Não é óbvio? Vocês ficaram lá durante três semanas inteiras e, mesmo
assim, você conseguiu voltar sem nem um bronzeado, o que me diz tudo.
Você e Tank fugiram dos prazeres do sul do Pacífico e decidiram gastar o
tempo concentrados no sul do seu Pacífico.
— E se tiver sido?
— Na verdade, fico feliz que tenha sido — disse ela sem o tom zombeteiro
na voz. — Na verdade mesmo, fico muito feliz que tenha sido. Agora,
brincadeiras à parte, conte tudo. Como foi Bora Bora? Apesar deste nome
horrível, sempre quis ir lá.
— Foi mágico — disse eu. — Antes de alugarmos nossa cabana, mandei
para vocês duas um link on-line para aprovarem. E, por mais que as fotos que
vimos parecessem bonitas, era muito mais pessoalmente. A cabana se
estendia por uns 30 metros acima do oceano e a água era tão cristalina e
azul... Dava para sentar no deque e ver todos os tipos de peixes nadando
abaixo. Se tivessem uma internet melhor, eu consideraria morar lá.
— Sem uma Bergdorf? — perguntou Blackwell. — Nem pensar. Você já
falhou em me convencer.
— A parte de compras é melhor do que você pensa — disse eu.
— Sério? Então diga-me nomes. Lojas. Designers. Tudo.
— Não é tanto em relação às roupas — disse eu. — Na verdade, é mais
sobre as joias que encontra lá. E não estou falando só de diamantes e outras
pedras que há por aqui. Estou falando mesmo das pérolas, o que faz sentido
dado o local, né? Um dia, quando Tank e eu saímos, passei pelo colar de
pérolas mais lindo que já vi.
— Isto foi antes ou depois de Tank dar a você o próprio colar de pérolas?
— perguntou Blackwell.
— Você é nojenta.
— O que sou é Blackwell, o que é um nome que agora pode ser
pesquisado na internet. De alguma forma, eu virei uma sensação da internet!
— Tudo de que seu ego precisa — disse Jennifer.
— Aceite que dói menos, garota.
— Como fizeram com as refeições? — perguntou Jennifer. — Tank
cozinhou na cabana ou vocês saíram para comer?
— Vamos dizer que, enquanto estávamos lá, Tank deu uma de Free Willy.
Como estava pelado a maior parte do tempo, geralmente cozinhava para nós
na cabana.
— Minha nossa — disse Blackwell. — Espero que óleo quente não tenha
espirrado nele. E que tenha tomado cuidado ao usar uma faca.
— Eu garanti. Mas chega de falar de mim. Como eu praticamente não
tinha sinal para falar com vocês enquanto estava lá, não tenho ideia do que
estava acontecendo aqui. Como as duas estão?
— Estou ótima — disse Jennifer depois de olhar para Blackwell com um
olhar longo e preocupado. — Aiden está feliz e crescendo. Alex está nas
nuvens em relação ao filho. E, pela primeira vez em muito tempo, não parece
ter nenhum drama em volta da Wenn. Então, vamos só comemorar neste
momento.
— Concordo — disse Blackwell.
— E você, Barbara? — disse eu, olhando para ela com novos olhos. —
Como está você e as garotas?
— Eu estou bem — disse ela, abanando a mão. — Assim como Daniella e
Alexa. Enquanto você e Tank estavam tendo suas aventuras sexuais, o resto
de nós estava vestido e vivendo vidas mais previsíveis.
— Então... por que Jennifer olhou estranhamente para você? — perguntei.
— Olhei? — perguntou Jennifer, virando-se para mim.
— Olhou.
— Olhe — disse Blackwell. — Hoje o assunto é você, Lisa. Não eu.
— Então tem algo — disse eu. — Nós três sempre compartilhamos tudo e
sempre sabemos quando algo está estranho, como agora. O que aconteceu?
Qual é o problema? Preciso saber.
— Eu realmente não quero falar sobre isto hoje — disse Blackwell. —
Mas, como sei que, quando está assim, você fica que nem cachorro com um
osso, é melhor que eu conte logo. Jennifer, você pode fechar a porta, por
favor?
Ela fechou.
E, ao fazer aquilo, Blackwell olhou para mim. — Enquanto você estava
em lua de mel, perdi uma das minhas amigas mais próximas — disse ela.
— Barbara — disse eu. — Eu sinto muito. Como?
— Ela estava dirigindo para o trabalho um dia de manhã quando se
envolveu em uma colisão frontal. O nome dela era Miranda Hart. Ficamos
amigas rapidamente há décadas quando estávamos na faculdade e
permanecemos assim desde então. Mas o pior, Lisa, é que Miranda só tinha
cinquenta e quatro anos. Estava casada há mais de trinta anos. Agora, não só
o marido dela está em choque, mas os três filhos ficaram sem a mãe. Não vou
mentir para você, tem sido muito difícil.
— Meu Deus — disse eu. — Barbara, eu não fazia ideia...
— Claro que não fazia, mas agora você sabe. Sempre tentei lidar com
esses tipos de acontecimentos da vida sozinha, mas este específico está sendo
particularmente difícil, especialmente porque os filhos de Miranda têm mais
ou menos a idade das minhas filhas. O que aconteceu com ela poderia
acontecer comigo e é isso que não consigo tirar da cabeça. Por muito anos,
tenho vivido a vida como se fosse invencível, o que claramente não sou. A
morte de Miranda me ensinou uma lição... o clichê é real. Nenhum de nós
deve fazer pouco caso das coisas porque, em um piscar de olhos, tudo pode
ser tirado de nós.
Ela olhou para o relógio, ficou de pé e começou a dar a volta na
escrivaninha.
— Agora, escutem, não quero deixar ninguém deprimida antes do almoço
e serei a primeira a admitir que estou incomumente emotiva agora. Mas, com
a morte de Miranda, e em relação às minhas filhas, Jennifer e você, Lisa, fico
me pegando pensando no fim repentino das coisas. Duas semanas atrás, foi o
que aconteceu com o marido de Miranda, e os filhos e amigos dela. Tudo só
acabou. As coisas só foram interrompidas.
Ela andou em direção à porta.
— E se vocês saírem por esta porta e nós três nunca mais nos vermos? E se
este for o nosso último momento? E se descobrirmos que esta foi nossa
última dança? Porque nenhuma de nós sabe se é isto mesmo. Nossas últimas
lembranças umas das outras podem acabar aqui. Portanto, antes de irem para
o almoço que provavelmente acabei de arruinar, e peço desculpas por isso,
deem-me um abraço e saibam que amo muito as duas. E que sempre as
amarei.
Depois de Jennifer abraçá-la, eu a abracei. — Eu sinto muito — disse eu
novamente, encontrando-me sem palavras.
— Eu também — disse ela ao se afastar de mim. — Mas vocês duas
precisam seguir meu conselho agora. Todas nós precisamos aprender com a
morte repentina da minha amiga, no mínimo para vivermos a vida ao
máximo. Planejo começar a fazer isso agora. Planejo gastar menos tempo no
trabalho e mais tempo com as minhas meninas e as minhas amigas. Porque as
oitenta horas que gasto aqui são demais. Preciso viver a vida. Um dia, espero
ter um relacionamento. Com a morte de Miranda, descobri que preciso
repensar tudo. Enquanto você e Jennifer seguem a vida, espero que não
cometam os mesmos erros que eu. A vida não é só carreira. Também é sobre
os relacionamentos que você valoriza. Planejo pensar mais nisso, comemorar
a companhia de quem amo e melhorar nisso. Porque é algo de que preciso. E,
como carreiristas, espero que você e Jennifer também façam isso.

***

— Minha nossa — disse eu a Jennifer quando saímos do escritório de


Blackwell e andamos em direção aos elevadores no final do saguão. — O que
foi aquilo?
— Aquilo foi Barbara encarando o fato de que o tempo é limitado para
todos nós — disse ela. — E, falando nisso, o que você acabou de ver foi o
estado emocional dela duas semanas depois da morte de Miranda. Não tenho
como explicar o quanto ficou abalada ao receber a notícia. Na verdade, ela
está bem melhor agora. Foi até bom vê-la agindo normalmente quando você
chegou. Ela está voltando. Acho que ela fará mudanças na vida, assim como
acredito que voltará ao seu antigo eu logo logo.
Quando entramos em um dos elevadores e começamos a descer, perguntei
a ela sobre a surpresa que tinha na manga para mim.
— Você verá. Cutter nos levará até lá antes de irmos para o Ruby’s.
— Por que o mistério? Você sabe que odeio não saber das coisas. Eu era a
criança que sempre vasculhava a casa algumas semanas antes do Natal para
ter certeza de que minha mãe tivesse acertado com os presentes.
— Eu me lembro — disse ela. — E também me lembro de que isso sempre
levava a uma certa decepção quando você descobria que ela não tinha
acertado.
—O que minha mãe nunca entendeu era que eu nunca queria uma Barbie,
queria mesmo os bonecos do Drácula e do Frankenstein.
— Na verdade, acho que sua mãe entendeu isso quando você começou a
desfigurar suas Barbies. Sabe, quando você fazia uns X nos olhos , costurava
a boca e raspava o cabelo delas para poder usar seu giz de cera verde para
expor o que deveria ser o cérebro tóxico de uma Barbie.
— Coitada da minha mãe — disse eu, pensando naquela época. — O mais
maravilhoso de tudo foi que ela nunca me desencorajou.
— Era porque ela tinha medo. — O elevador desacelerou e as portas
abriram. — Deixe-me mandar uma mensagem para Cutter — disse ela. —
Ele trará o carro e poderemos ir.
— Mas para onde? — perguntei ao sair do elevador. — E por que você me
falou para trazer um lenço?
— Você verá — disse ela.
— Pare de dizer isso, é irritante.
— Que seja — disse ela. — Vamos.

***

— Jesus — disse eu a Jennifer quando Cutter parou a limusine em frente ao


nosso antigo prédio na East Tenth Street, onde conseguíramos nosso primeiro
apartamento de um quarto ao nos mudarmos para Manhattan. — Olhe para
ele. Achei que parecia cansado naquela época, mas veja agora. Está
literalmente murchando no calor. Parece que precisa de água.
— Não sei — disse Jennifer com carinho na voz. — Vê-lo depois de tanto
tempo é meio que mágico, não é?
— Sinceramente, é meio que mágico a gente ter saído daí antes de ser
engolida por ele.
— Ora, por favor — disse Jennifer ao olhar para fora pela janela. — Pense
por um momento. Tudo começou aqui. Está vendo aquela janela no terceiro
andar? Foi ali que você escreveu seu primeiro livro.
— Tudo de que me lembro foi que quase morri de exaustão por causa do
calor naquele apartamento. Você se lembra como era quente no verão? Sabe,
antes de conseguirmos juntar dinheiro para comprar aquele nosso ar-
condicionado usado?
— O que fazia as janelas tremerem?
— Este mesmo.
— Bom, ele servia — disse Jennifer. — Assim como a vodca horrível que
tomávamos naquela época.
— Café da manhã dos campeões.
— Você tem alguma lembrança preferida aqui?
— Quero.
— Conte-me.
— Foi do dia que saímos deste lixo de lugar e conseguimos um lugar
melhor na Quinta com a ajuda de Blackwell.
Ela só balançou a cabeça para mim decepcionada. — Deveria estar
acontecendo um momento aqui entre nós. Por que não está levando a sério?
— Porque não sou do tipo sentimental?
— Eu conheço você.
Isso claramente significa algo para ela... mas por quê?
Em um esforço para descobrir, segurei a mão dela. — Vamos sair do carro
— disse eu. — Se vamos fazer isso, precisamos dar uma boa olhada nele.
— Vamos — disse Jennifer. — Cutter, que tal dar uma volta no
quarteirão? Nós o avisaremos quando estivermos prontas para voltar.
— Pode deixar, Jennifer.
Na calçada, nós duas aproveitamos a sombra de uma árvore próxima e
olhamos em silêncio para o prédio dilapidado que uma vez chamáramos de
lar.
— Não me espanta que eu escreva sobre zumbis — disse eu a ela. —
Sério. Antigamente, eu de alguma forma me sentia em casa aqui... e este
lugar é horrível. Agora, tudo faz sentido para mim. Primeiro, as coisas que eu
fazia com as Barbies, que, no mínimo, eram questionáveis. Depois, o fato de
que eu estava realmente feliz de morar neste prédio, que com certeza é
assombrado.
— E, mesmo assim, nós nos divertimos aqui, não foi?
Ao dizer aquilo, olhei para ela e pensei naquela época, lembrando-me de
como nos divertíramos ali. Olhei para as janelas do nosso antigo apartamento
e lembrei-me de como fiquei animada e com medo quando descobríramos
que tínhamos conseguido. Parecia uma outra vida e, mesmo assim, só havia
se passado alguns anos.
— Foi mesmo — disse eu depois de um longo momento. — Nós
aproveitamos ao máximo, Jennifer. Por mais horrível que seja este prédio, ele
pelo menos nos ofereceu um teto para que tentássemos a vida aqui.
— Esta foi a forma perfeita de colocar as coisas — disse ela.
— Por que está tão nostálgica de repente? — perguntei. — Não parece
você. Nunca a vi vivendo a vida pensando no passado. Você geralmente olha
para a frente. O que está acontecendo? Estou confusa.
— Não sei — disse ela. — Acho que o que aconteceu com Blackwell
quando você estava na lua de mel também me afetou. Porque, em se tratando
de nós, Lisa, parece que nossa história está passando rápido demais. Você e
Tank estão casados. Nossa vida está encaminhada. Não somos mais duas
meninas que vieram para cá tentar a vida. Naquela época, nenhuma de nós
sabia que chegaríamos onde estamos hoje. Acho que sinto um pouco de falta
daquela animação... quando não sabíamos o que aconteceria.
— Você parece quase arrependida — disse eu.
— Não foi o que quis dizer. Sou muito grata por nós duas termos
encontrados homens bons. Estou nas nuvens por ter um filho que amo e um
marido que amarei para sempre. Um dia, você e Tank começarão uma
família. E nossos filhos crescerão juntos. Essas são coisas maravilhosas que
valorizo muito. Mas, antigamente, quando nos mudamos para cá? Às vezes,
sinto um pouco de falta da vida simples que tínhamos, especialmente sem os
eventos infernais aos quais sobrevivemos. Quando chegamos aqui, a energia
era diferente, era algo urgente. Elétrico. E foi isso que nos trouxe aonde
estamos agora. Quis vir aqui hoje para comemorar o que conquistamos. E
também para agradecê-la por acreditar em mim.
— Eu nunca não acreditei em você, Jennifer.
— Naquela época, alguém tinha que fazer isso, e foi você, Lisa. Você me
apoiou de uma forma sem limites. Eu nunca esquecerei o que fez por mim.
— Jennifer, naquela época, você editava meus livros para mim — disse eu.
— E pense no tanto que fez por mim depois disso. Você me apresentou a
Tank, pelo amor de Deus! Você literalmente mudou minha vida.
— Você não vê? — disse ela sem hesitação ao se virar para olhar para
mim. E, ao fazer aquilo, vi que seus olhos estavam cheios de emoção. — Eu
faria qualquer coisa por você. E faria de novo tudo o que fiz. E de novo e de
novo. Obrigada por ser minha melhor amiga. Obrigada por me acompanhar
até onde estou hoje. Porque sei no fundo do meu coração que não estaria
onde estou sem você ao meu lado ou sem o seu apoio.
Ela olhou em direção à rua quando disse aquilo e começou a procurar
Cutter quando finalmente limpou a garganta. Antes que eu pudesse falar, ela
pegou minha mão sem olhar para mim.
E, naquele momento, escolhi só olhar para ela e admirá-la. Apesar do
passado com pais abusivos, no final, Jennifer ganhara. Ela provara ser uma
sobrevivente. Ela lutara e conseguira. Ela era uma das pessoas mais fortes
que eu conhecia, o que era um dos motivos pelos quais a amava.
Uma brisa leve fez os cabelos esvoaçarem sobre os ombros dela. Ela
levantou uma mão e segurou os cabelos enquanto que, com a outra, apertou
de leve a minha. O sol passava pelas folhas da árvore, iluminando-a com um
mosaico lindo de luz e cores enquanto pessoas passavam apressadas por nós
na calçada.
— Tenho mais uma surpresa para você — disse ela sem olhar para mim.
— Não sei se aguento outra — disse eu. E, depois de tudo que acabara de
acontecer entre nós, eu falava sério.
— Esta você aguentará. — disse ela ao se virar para mim. E, ao fazer
aquilo, vi em seus olhos o amor que tinha por mim.
— O que é? — perguntei.
— Escolhi almoçar no Ruby’s por um motivo.
— Eu já entendi isso.
— Não — disse ela. — Não acho que tenha entendido. Pelo menos, não
tudo. Porque há mais.
— Não estou entendendo...
— Alex e eu tivemos nosso primeiro encontro lá, assim como você e Tank.
— Nós tivemos — disse eu. — Mas o que isso tem a ver com hoje?
— Hoje é o fechamento de um ciclo para mim — disse ela. — Agora que
você está casada com Tank, hoje marca o começo, o meio, o fim e o futuro de
todos nós. Espero que veja o dia de hoje da mesma forma que eu porque
chamei Alex e Tank para almoçar conosco. Nós quatro nos encontraremos no
Ruby’s por um motivo.
— Para comemorar aonde chegamos — disse eu, entendendo a
profundidade do momento.
— Isso mesmo — disse ela e, ao ver Cutter virar a esquina, Jennifer
levantou a mão para chamar a atenção dele. Ele se aproximou do meio-fio. —
Para mim, termos compartilhado a mesma mesa naquele restaurante
milagroso aquela vez pareceu tão insignificante para nós... e agora é como
um ponto de exclamação na nossa vida.
— Nós nunca fomos lá juntos — disse eu. — Não nós quatro.
— Então vamos agora — disse ela ao irmos em direção à limusine
enquanto Cutter saía do carro para abrir a porta para nós. — Vamos lá
almoçar com nossas almas gêmeas no mesmo lugar onde o amor apareceu
pela primeira vez para cada um de nós.
— Ciclo fechado — disse eu.
— Exatamente — disse ela ao cumprimentarmos Cutter e entrarmos no
conforto fresco da limusine. Antes de Cutter sair com o carro, Jennifer
colocou a mão no meu joelho e apontou para o prédio do nosso apartamento.
— Uma vez, éramos só duas garotas do Maine que vieram para cá com um
sonho. E olhe só para nós agora. Nós conseguimos, Lisa — disse ela. —
Quem teria imaginado?
— Nós imaginamos — disse eu. — Porque não viemos para cá por
capricho. Viemos para lutar e ganhar. Mas você tem razão, Jennifer. Nós
conseguimos. Realmente conseguimos.
Ela se inclinou para a frente e deu um tapinha no ombro de Cutter. —
Vamos ao Ruby’s, Cutter. — Ela se virou para mim com um sorriso. —
Porque Lisa e eu temos um encontro com nossos maridos.

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Eis a ordem de leitura da série Acabe Comigo:

Acabe Comigo, Vol. 1


Acabe Comigo, Vol. 2
Acabe Comigo, Vol. 3
Acabe Comigo, Vol. 4
Acabe Comigo, Edição de Natal, Vol. 5

Liberte-me, Vol. 1
Liberte-me, Vol. 2
Liberte-me, Vol. 3

Acabe Comigo, Vol. 6


Acabe Comigo, Vol. 7
Acabe Comigo, Vol. 8
Incendeie-me
Acabe com Eles, Vol. 1
Acabe com Eles, Vol. 2
Acabe com Eles, Vol. 3
Acabe com Eles: Edição de Natal

Liberte-me: Casamento

Outros livros de Christina Ross

Chance

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