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DE
CHRISTINA ROSS
Chance, o primeiro livro da série Mais Uma Noite, é um romance completo e
independente, ligado apenas pelos personagens.
Cada livro da série tem um final feliz. Se você gostou das personagens secundárias,
Brooke e Elle, poderá seguir a história delas nos próprios livros. Especificamente, depois
de Chance, Elle ganha o próprio livro independente em Aiden. Logo, Brooke terá uma
história só dela em Eric. Se a série for popular, outras se seguirão.
CHANCE
E minha família.
E especialmente para os meus leitores. Espero que gostem da história de Abby e Chance.
Direitos Autorais e Aviso Legal: esta publicação está protegida pelo Ato de Direitos
Autorais dos EUA de 1976 e por todas as outras leis internacionais, federais, estaduais e
locais aplicáveis. Todos os direitos são reservados, incluindo os direitos de revenda.
Isenção de Responsabilidade:
Este é um trabalho de ficção. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas (a não
ser que explicitamente mencionado) é mera coincidência. Copyright © 2014 Christina
Ross. Todos os direitos reservados no mundo todo.
ÍNDICE
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Acabe Comigo, Vol. 1 (excerto)
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CHANCE
de
Christina Ross
CAPÍTULO 1
* * *
Durante a hora seguinte, eu era uma mistura de nervos à flor da pele e emoções
primitivas que teriam levado a melhor se não tivesse me concentrado no trabalho e
garantido que a multidão cada vez menor recebesse os drinques.
Em todos os lugares à minha volta, eu estava ciente da presença dele, mesmo durante
aqueles momentos em que não conseguia vê-lo. Mas conseguia senti-lo... ah, eu conseguia
senti-lo. Enquanto andava pelo salão levando drinques para as pessoas ou pegando novos
pedidos, conseguia senti-lo como se estivesse bem ao meu lado. Ele esperaria até que a
última pessoa saísse da festa. E, naquele momento, provavelmente se aproximaria para
continuar de onde paramos.
Eu o vi três vezes durante a última hora da festa, uma vez conversando com um grupo
de homens e mulheres e duas vezes encostado sozinho em uma das colunas imensas do
salão.
Foi durante esses momentos singulares que eu mais o senti, pois, a cada vez, ele
estivera olhando para mim.
Ele me queria, isso estava claro. Pelo menos parte dele sentia que eu estava
considerando as opções. Mas aquilo não significava que alguma coisa aconteceria.
Ele provavelmente também sentia isso.
Eu não me comprometera com o drinque na suíte dele nem com nada que pudesse
acontecer depois. Ele sabia disso e me observava. E, enquanto me observava, eu
continuava a enfrentar meu próprio dilema, que teria sacudido o núcleo religioso da minha
mãe se ela soubesse que era um dilema para mim. Eu poderia ir à suíte dele, tomar um
drinque e decidir naquele momento se queria mais. Ou poderia simplesmente voltar para
casa sozinha, o que sempre fazia porque, honestamente, era mais fácil.
Desde que largara Brian um ano antes, eu dissera não repetidamente à possibilidade de
me envolver romanticamente com alguém, muito menos a de fazer sexo, até que estivesse
emocionalmente pronta para dar aquele passo. Eu era assim. Não pretendia dormir com
alguns homens aleatórios em um esforço para esquecer Brian, como minhas amigas
queriam que eu fizesse. Em vez disso, escolhera o caminho mais lógico, decidindo
analisar minhas emoções e lidar com o fim do relacionamento para não cometer os
mesmos erros duas vezes.
Mas, agora que já lidara com aquelas emoções e estava em um espaço melhor, por
quanto tempo mais poderia esperar? Por quanto mais deveria esperar? Eu estaria mentindo
se dissesse que não sentira falta de fazer sexo com alguém que amasse. Eu sempre fora
uma garota religiosa. Nunca tivera um caso de uma noite só. Não que eu não pudesse
considerar a ideia, simplesmente não acontecera ainda. Se eu fizesse sexo com esse
homem, não saber nada sobre ele diminuiria o impacto do ato? Ou aumentaria?
Considerando a atração que sentia por ele, eu não sabia.
Olhei em volta do salão novamente. Demorou um momento até que eu o encontrasse
perto da ponta do bar, perto de onde eu pegava as bebidas. Ele conversava com um casal
de meia idade que se preparava para ir embora, mas eu sabia por que estava lá. Era o fim
da noite. A festa terminara. Ele se posicionara lá para que eu não saísse sem ser vista. Ele
estava determinado a fazer com que isso acontecesse. Não deixei de ponderar sobre a
frequência com que ele fazia isso. Era algo que buscava em todas as cidades que visitava?
Como Brooke diria, ele era algum tipo de mulherengo crônico?
Qual fora a cantada que usara comigo? Você consegue sentir, não é? Provavelmente é
tão confuso para você como é para mim. E tão surpreendente. Mas está lá, não é?
E fora uma cantada? Ele sentira o mesmo tipo de atração intensa que eu sentira?
Parecera sincero quando dissera aquilo e, com a aparência e o charme que tinha, eu
duvidava que ele precisasse de alguma cantada para pegar mulheres. Sendo bonito como
era, provavelmente poderia entrar em qualquer bar e sair com a mulher que quisesse.
Então, fora apenas uma cantada para me levar para cama ou era algo mais? Eu não tinha
certeza.
Mas o que sabia com certeza era que havia um calor dentro de mim que eu não podia
negar. E isso me deixava frustrada.
Para variar, por que não posso deixar para lá e simplesmente viver? pensei. Por que
não deveria dormir com ele? Ele é lindo. E foi gentil. Apareceu e levantou-me do chão
antes que fosse por água abaixo com o vestido daquela mulher. Por que deveria me negar
a ele? Por que sempre me seguro?
Considerei aquilo por um momento. E soube a resposta. Ela estava bem ali, no meu
ouvido, dizendo-me que era melhor não ir adiante.
Mas, dessa vez, ao andar em direção ao bar, decidi ignorar a minha mãe.
CAPÍTULO 3
Com o salão praticamente vazio, a equipe de limpeza logo chegaria para colocar o lugar
em ordem.
Notei que as outras garçonetes estavam sem as máscaras e soube que era um sinal de
que tinham recebido permissão para retirá-las. Contente por poder tirar a minha, empurrei-
a para cima da cabeça e sacudi os cabelos para que caíssem nas minhas costas em uma
cascata negra brilhante. Ao andar até o bar, notei que Chance se virara na minha direção,
observando-me enquanto eu passava os dedos pelos cabelos.
Quando nossos olhos se encontraram, senti o peso do olhar dele me atingir com tanta
intensidade quanto antes e corei em expectativa do que poderia acontecer. Mas, quando os
lábios dele se separaram e ele afastou o olhar, subitamente não soube ao certo como lê-lo.
Agora que ele vira o meu rosto inteiro, sem máscara, perdera completamente o interesse
em mim por eu não ser o tipo dele ou ficara ainda mais interessado e ponderava sobre
como ir adiante. Eu não sabia ao certo qual. Se conseguisse ver os olhos dele, o que não
conseguia por causa da distância, teria a resposta.
Mas não consigo vê-los. Portanto, veremos se ele vai embora.
Eu virei de costas para ele. Para poupar a nós dois de uma situação constrangedora, quis
dar a ele a oportunidade de voltar para a cobertura, se quisesse, e fui diretamente para o
centro do bar. De qualquer forma, eu pretendia me despedir de Steve antes de partir.
Queria agradecer novamente por ter trabalhado tanto por mim e pelas outras garçonetes.
Ele e a equipe do bar tinham realizado um trabalho incrível.
Coloquei a bandeja e a máscara sobre o bar e Steve olhou para mim com um sorriso. As
primeiras palavras que ele disse confirmaram por que Chance talvez tivesse afastado o
olhar.
— Então, é assim que você é — disse Steve.
Para alguém que nunca se sentira confortável dentro da própria pele, por uma infinidade
de motivos que eu preferia deixar no passado, pois o dano já fora causado, só o que pude
fazer foi dar de ombros. — Para melhor ou para pior?
— Decididamente para melhor.
— Eu estava cansada de parecer o Zorro.
— A não ser que carregue um chicote, nada em você lembra o Zorro. Tenho certeza de
que ele não tinha as suas curvas.
Inclinei a cabeça na direção dele. Foi gentil da parte dele dizer aquilo.
Então, vai dormir com ele também?
Ora, vamos, mamãe.
Eu só precisava me acalmar e recompor-me. Portanto, tentei.
— Bem, isso depende — disse eu. — De que Zorro estamos falando?
— Douglas Fairbanks foi o primeiro ator a fazer o Zorro.
Aquilo me deixou espantada. Ele conhece filmes mudos? Eu adoro filmes mudos.
— E Tyrone Power também fez o Zorro, além de inúmeros outros atores. Posso estar
enganado, mas acho que o último do cinema foi o Antonio Banderas. Catherine Zeta-Jones
também trabalhou no filme. — Ele parou. — Sabe de uma coisa? Se você tivesse os
cabelos ondulados, pareceria muito com ela. Pelo menos, quando ela estava na melhor
forma.
Eu o encarei. — Sério? Catherine Zeta-Jones? Agora você está exagerando.
— Não estou. Quanto mais olho para você, mais acho que se parece com ela. Há uma
grande semelhança.
— Quem me dera.
Ele ergueu as sobrancelhas para mim quando começou a carregar uma das lava-louças.
— Pois acho que seu desejo se tornou realidade.
Ele estava flertando comigo e devo dizer que não me importei. Ele era bonito, no estilo
de um boxeador. O nariz parecia ter sido quebrado um dia, o que dava a ele uma aparência
distinta de que eu gostava.
— Está feliz porque a noite acabou? — perguntou ele.
— Está brincando? Todos nós acabamos de andar pelo fogo do inferno.
— Como estão os seus pés?
— Parecem dois baiacus.
— Inchados?
— Para dizer o mínimo. E os seus?
— Não estão tão ruins, mas também não me pediram para usar sapatos de salto alto. As
mulheres levam a pior nesse aspecto.
Ergui os olhos para o céu. — Finalmente um homem que entende uma das desvantagens
de ser mulher — disse eu.
Ele sorriu quando eu disse aquilo e as covinhas apareceram novamente. Se as coisas não
dessem certo com Chance, aquele era um homem que não só prendera a minha atenção,
mas também parecia um cara genuinamente simpático. Talvez estivesse na hora de subir
na sela novamente, de uma forma ou de outra.
— Escute, sei que está ocupado limpando tudo, ms eu queria passar aqui antes de ir
embora para agradecer toda a sua ajuda hoje. Agradeço muito.
— Obrigado, Abby. Ninguém mais parou aqui para dizer isso.
— Pois deveriam. E, por falar nisso, eu deveria ter lhe escutado mais cedo. Lembra-se
daquela bandeja ridiculamente cheia que você me disse para não levar de uma vez só?
— Lembro.
— No fim das contas, você tinha razão. Quase caí por causa do vestido de uma mulher.
E, se isso tivesse acontecido, aqueles copos todos teriam voado longe.
— Mas não caíram?
— Não, não caíram.
— Conseguiu recuperar o equilíbrio a tempo?
— Digamos apenas que alguém foi muito gentil e segurou-me antes que o desastre
acontecesse.
Quando ele terminou de encher a lava-louças, ligou-a e pareceu tomar uma decisão.
Olhou para mim e disse: — Alguns dos rapazes vão tomar uma cerveja depois daqui. Vou
com eles. Você deveria se juntar a nós. Quer dizer, você sabe, a mim. Eu a apresentarei a
todos eles. É um grupo barulhento, mas você gostará deles.
— Acha mesmo que eu posso ser um dos rapazes?
— Claro que não. Você estaria lá para nos fazer parecer um pouco melhores e para
ajudar o QI do grupo acima do nível normal de trogloditas. Então, o que me diz?
Eu estava prestes a responder quando o vi olhar para a minha esquerda no momento em
que uma mão pousou em meu braço.
— Temos que ir — ouvi uma voz dizer.
Eu me virei e encarei Chance, que ainda estava de máscara. Portanto, ele não fugira
quando me vira sem a máscara. Tive que admitir que isso me deu uma sensação de alívio.
Em se tratando da minha aparência, nunca acreditei nos elogios que recebi. Eles não me
convenciam. Na minha cabeça, eu sempre seria a garota alta, magra, de aparência
desajeitada que fora ridicularizada por anos na escola por ter o rosto manchado pela acne.
Brooke e Elle tinham tentado me ajudar durante aquela época da minha vida, mas as
cicatrizes emocionais frequentemente eram mais profundas do que as físicas. A acne
desaparecera havia muito tempo e a minha compleição, de alguma forma, sobrevivera a
ela, mas eu ainda não via o que os outros viam em mim.
Mas ali estava Chance e eu tinha de admitir que a presença dele me deixou aliviada.
Eu não sabia qual era o gosto dele em relação a mulheres. Mas, quando retirei a
máscara, certamente dera a ele todas as oportunidades de ir embora enquanto podia. Pelo
jeito, ele não fora, pois lá estava, pronto a reclamar o prêmio.
E talvez você deva prestar atenção nisso, Abby.
Era minha voz interna falando agora. Sempre a voz da razão. Sempre lá para me colocar
no caminho certo.
Sempre o diabinho no meu ombro.
Talvez você deva apenas aproveitar o fato de que ele esperou você hoje à noite. Que
obviamente está atraído por você e quer ver o que acontecerá a seguir entre vocês dois.
Talvez seja apenas um drinque. Ou talvez haja potencial para mais. Portanto, vamos,
Abby. É hora de abaixar a guarda e pelo menos ficar aberta às possibilidades.
Eu não sabia ao certo o que fazer.
— A festa terminou — disse eu. — Agora você pode tirar a máscara.
Ele olhou para mim quando eu disse aquilo e, em um movimento fluido, puxou a
máscara para cima da cabeça.
Por um momento, simplesmente absorvi a aparência dele. Fisicamente, ele era
estonteante, muito mais bonito que eu imaginara. Os olhos eram a parte mais bonita, azuis
e emoldurados por cílios longos e escuros que a maioria das mulheres teria matado para
ter. Eu vira muitos homens bonitos durante o tempo que passara em Manhattan, mas
nenhum chegava aos pés desse homem. Ele era muito além do meu tipo. Era muito
masculino e maravilhoso. Tive que me perguntar novamente: por que ele estava ali
comigo? Ele poderia ter qualquer mulheres que quisesse. Por que eu?
Pare com isso, Abby. O que importa é que ele está aqui.
— Está pronta? — perguntou ele. Ele olhou de mim para Steve e estendeu a mão para
ele. — Chance Caldwell — disse ele. — É um prazer conhecê-lo.
— Steve Martel — disse Steve. Mas, quando ele apertou a mão de Chance, foi com uma
firmeza que beirava a agressão, o que me deixou desapontada. Onde estava o cara legal
com quem eu estava conversando um momento antes? Naquele instante, ele parecia
furioso. — O prazer é meu. Ou seu. Depende de como isso se resolver.
— Não sei o que quer dizer com isso — disse Chance.
— Convidei Abby para tomar uma cerveja comigo hoje à noite. Espero que ela aceite.
Chance olhou para mim e depois para Steve. — Quando você a convidou?
— Isso importa?
— Sim, importa.
— Há poucos instantes.
— Mais cedo, eu a convidei para tomar um drinque comigo.
— E ela aceitou?
— Na verdade, não. Mas talvez aceite agora. Ou não. A escolha é dela e eu a
respeitarei. Abby, gostaria de tomar aquele drinque comigo?
Era uma pergunta cheia de significado, pois ambos sabíamos que isso poderia ser muito
mais do que apenas um drinque. Lembrei-me do que ele dissera mais cedo.
Eu estava pensando em um drinque na minha suíte. Há um bar completo lá. E uma bela
vista da cidade.
Sua suíte?
Mantenho uma das suítes da cobertura aqui.
Receio que...
Você não tem motivo para ter receio. Eu não mordo. E é apenas um drinque. Apenas
uma noite. A não ser, claro, que decida que quer mais. E, se isso acontecer, será mais um
motivo para brindarmos.
Antes de tomar uma decisão, olhei para Steve e vi um homem completamente diferente
do homem com quem conversara um momento antes. Ele estava tão consumido pela raiva
que parecia assustador. Eu sabia porque ele se sentia assim e isso me deixou furiosa, pois
ele estava muito enganado. Como Chance viera me buscar no fim da noite, Steve estava
achando que eu fizera o que muitas garçonetes faziam em eventos como esse. Estava
achando que eu vasculhara a multidão em um esforço de ter uma noite lucrativa com um
estranho. A julgar pela expressão dele, era claro que me tomara por uma dessas mulheres,
o que era insultante e ultrajante.
Ainda assim, só para ter certeza, queria ouvi-lo dizer isso.
— Por que está sendo tão hostil? — perguntei.
— Você já sabe o motivo, Zorro.
— Tenha cuidado — disse Chance.
— Ou o quê? Vai fazer com que eu seja despedido?
— Farei melhor do que isso. Mostre um pouco de respeito com ela ou eu lhe mostrarei
meu punho.
Ele disso aquilo em uma voz tão controlada que não havia dúvidas de que falava sério.
— Essa vadia não merece o meu respeito.
Pressionei a mão com força no peito de Chance em um esforço de contê-lo. — Merecer
o seu respeito? — perguntei a Steve. — Como assim, não mereço o seu respeito? O que
diabos eu fiz para você?
— Você quer que eu diga com todas as letras para você e seu macho? Muito bem. Você
é só mais uma garota bonita querendo ganhar dinheiro fácil na cidade grande. Parece que
essa noite pagará alguns meses de aluguel. — Ele se virou para Chance. — Cara, não sei o
quanto ela está cobrando, mas espero que valha a pena.
E lá estava, eu tinha razão. Ele achava que eu era uma puta. Assim que aquelas palavras
foram ditas, tive que segurar Chance novamente quando ele avançou e agarrou Steve pelo
casaco com as duas mãos.
— Não — disse eu. — Ele não vale a pena.
— É claro que não.
— Você e eu sabemos a verdade. Deixe ele dizer o que quiser. Quem se importa? Ele
está errado e nós dois sabemos disso. É isso que importa.
Eu soava como se estivesse totalmente controlada. Mas, por dentro, estava enfurecida.
Senti o rosto vermelho de raiva, vi o humor de Steve mudar para algo
irrecuperavelmente mais sombrio e percebi que esse não era mais o mesmo homem com
quem eu conversara. Era outra pessoa. Era alguém que tinha problemas. O que ele acabara
de me dizer fora além dos limites e não merecia resposta alguma. Portanto, eu me virei
para Chance, que olhava com tanto ódio para Steve que percebi que precisava afastar um
do outro. Eles estavam prestes a voar na garganta um do outro.
— Já terminei aqui — disse eu. — Que tal aquele drinque?
Ele não se mexeu. Pude ver que estava pensando em saltar sobre o bar e derrubar Steve,
coisa que eu nunca deixaria acontecer, mesmo que o filho da puta merecesse. Causar dano
físico ou emocional em alguém era algo inaceitável para mim e, com certeza, não deixaria
que acontecesse por minha causa.
— O drinque — disse eu. — Vamos embora.
Ele precisou de um momento, mas finalmente largou Steve, olhou para mim e segurou a
minha mão. — Venha comigo — disse ele.
E, sem mais uma palavra para Steve Martel, fomos embora.
CAPÍTULO 4
* * *
Duas horas depois, enquanto Chance dormia e o alvorecer surgiu no horizonte além das
janelas do quarto dele, deslizei silenciosamente para fora da cama e olhei para ele com
afeição.
Eu achava que ele era tão bonito, tão perfeito, que não queria deixá-lo naquele
momento. Mas sabia o que precisava fazer. Éramos de dois mundos diferentes e a noite
anterior fora um começo fervoroso de um fim incrível. Em certo nível, eu sabia que a
intimidade que dividíramos não significara nada. Mas, em outro, ela significara tudo.
Você foi maravilhoso, pensei enquanto estudava o rosto sereno dele. Obrigada por tudo,
especialmente por deixar que eu confiasse em alguém novamente. Juro que nunca me
esquecerei disso. Nem de você, Chance.
Apesar de eu querer muito ficar, sabia que tinha que partir antes que ele acordasse. A
noite anterior fora uma anomalia. Fora especial, fora gentil e, em alguns momentos, fora
maravilhosamente brutal. Mas agora pertencia ao meu passado.
Eu precisava partir enquanto o sexo entre nós ainda estava doce. A última coisa que eu
queria era qualquer tipo de estranheza da manhã seguinte, sobre a qual Brooke e Elle
tinham me advertido várias vezes. Portanto, juntei minhas roupas do quarto e da sala de
estar, arrumei-me em frente ao espelho grande que ficava pendurado na entrada e, em
seguida, escrevi um bilhete para ele com o papel e a caneta que encontrara na cozinha da
suíte.
— Obrigada — escrevi. — Pela primeira vez na vida, eu me senti uma mulher na noite
passada. Você fez isso. Pedi que fizesse amor comigo como se realmente me amasse, e
você fez isso. Eu sei que estava pedindo demais e sei que foi tudo uma ilusão, mas, ainda
assim, acreditei. Você foi bom assim, e muito atencioso. E fico grata por tudo isso. Espero
que um dia encontre uma mulher que mereça você. Nós não nos veremos novamente, mas
isso não significa que não haverá momentos na minha vida em que você se insinuará nos
meus pensamentos. Quando isso acontecer, será com afeição. Abby.
Eu reli o bilhete e fiquei horrorizada ao ver quanta emoção colocara naquelas palavras.
O que tinha na cabeça? Estava tão desesperada assim para fazer sexo? Não reconheci a
pessoa que escrevera aquele bilhete. Meu subconsciente deveria ter perdido a razão. Eu
sabia que não podia me expor daquele jeito a ele. Portanto, amassei o bilhete, procurei
uma lata de lixo, que estava perto da ilha da cozinha, e joguei-o dentro dela.
Voltei ao bloco de papel e escrevi simplesmente: "Obrigada. Foi maravilhoso. Abby".
Sem mais nada a dizer, saí da suíte, peguei o elevador até o saguão e deixei Chance e o
Plaza para trás.
* * *
Quando saí do hotel e comecei a percorrer a Quinta, Manhattan ainda não voltara à
vida. Eram apenas cinco horas da manhã de sábado e somente as pessoas mais
determinadas estavam na rua, a maioria delas correndo nas calçadas antes que ficasse
quente demais.
Pensei em Brooke e Elle e ocorreu-me que provavelmente estavam preocupadas
comigo. Eu fora tão consumida pelo que acontecera na noite anterior que esquecera de
enviar uma mensagem para elas, o que era uma regra que não podia ser violada. Coloquei
a mão dentro da bolsa e peguei o celular. E, claro, havia várias mensagens das duas.
Não adiantaria nada enviar uma mensagem agora, pois elas provavelmente estariam
dormindo. Portanto, telefonei para Elle, que atendeu no terceiro toque.
— Onde você está? — perguntou ela. A voz não estava sonolenta como se eu tivesse
acabado de acordá-la. Em vez disso, estava inflamada e alerta. — Por que não telefonou?
Estávamos morrendo de preocupação com você. Eu ia esperar só mais uma hora antes de
telefonar para a polícia.
Ela estava extremamente furiosa e tinha todo o direito de estar. Eu nunca fizera nada
parecido antes, mas isso não era desculpa para não seguir as regras que Elle determinara
quando nós nos mudamos para Manhattan. Se alguma de nós planejasse não voltar para
casa à noite, por qualquer motivo que fosse, deveríamos telefonar ou enviar uma
mensagem para pelo menos uma outra pessoa no grupo para que todas ficassem tranquilas
pelo resto da noite. Eu não fizera aquilo. Estava sentindo-me horrível por causa disso e
aceitei totalmente a culpa.
— Eu sinto muito — disse eu. — Não sei onde estava com a cabeça. Eu deveria ter
telefonado. Ou enviado uma mensagem. Mas fiquei tão envolvida com o momento que
nem pensei nisso. Eu juro que não pensei, não que seja desculpa. Não é. Sou uma idiota.
— Abby, você sempre vem para casa. Brooke e eu ficamos morrendo de medo por
você. Você nunca não vem para casa depois do trabalho. E então, onde esteve? Por que
não telefonou? — Ela fez uma pausa por um momento e a voz sumiu. Eu a conhecia bem
o suficiente para saber que estava pensando no assunto e juntando as peças de um quebra-
cabeça que me colocaria na parede.
Logo depois, ela falou novamente. — O que quer dizer com ficou tão envolvida com o
momento que nem mesmo pensou em telefonar? O que isso significa? O que você andou
aprontando? Melhor ainda, vamos direto ao ponto. Com quem você esteve na noite
passada?
— Faça um café — disse eu. — Eu pretendia andar até em casa, mas mudei de ideia.
Meus pés ainda doem do turno da noite passada. Vou pegar um táxi e chegarei em casa
daqui a pouco. Quando chegar, conto tudo sobre a noite passada para você.
— Você dormiu com alguém, não foi? — perguntou ela.
— Não sei do que está falando.
— Ora, vamos, posso farejar isso. Então, admita.
— Não vou admitir nada agora.
— Então, você dormiu com alguém. Finalmente, dormiu com alguém. Tirou a sua mãe
da cabeça e desistiu para o bem de todas nós. Graças a Deus.
Uma pessoa passou correndo por mim e não pude deixar de sorrir com o comentário de
Elle. Finalmente, ela e Brooke conseguiram o que queriam: que eu me libertasse o
suficiente para ser livre. — O café — disse eu. — Faça café. Dê-me quinze minutos para
chegar em casa e contarei a você o que aconteceu. Está bem?
— Brooke me matará se eu a acordar do sono de beleza dela.
— Achei que ela tinha ficado acordada com você.
— Ela tinha, mas eu disse a ela que ficaria de vigília. Ela foi para a cama há cerca de
uma hora. Mas não se preocupe. Quando você chegar aqui, nós duas estaremos prontas
para ouvir tudo sobre a sua noite sórdida, mesmo que eu tenha que dar uns tapas em
Brooke para que ela acorde. Você sabe como ela é impossível quando se trata de dormir,
mas cuidarei dela. E depois cuidaremos de você. Vejo você em quinze minutos, bonitinha.
Enquanto isso, prepare-se, pois passará pela maior sessão de perguntas e respostas da sua
vida.
CAPÍTULO 9
Quando entramos no quarto que eu dividia com Brooke, ela se sentou à escrivaninha,
abriu o notebook, executou um navegador e acessou a página do Google.
— Meus poderes incríveis de internet estão prestes a serem revelados — disse ela.
— Só porque você trabalha com tecnologia da informação, não quer dizer que tenha
poderes incríveis de internet — disse eu.
— É claro que quer. Observe. Qual é o nome dele?
— Ele só disse o sobrenome quando se apresentou para Steve antes que tudo fosse por
água abaixo. Mas acho que disse ser "Caldwell".
— Chance Caldwell tem um som bonito, então Chance Caldwell será. Vamos primeiro
pesquisar uma imagem. Se você o reconhecer, saberemos que o nome está certo.
Quando ela digitou o nome dele no computador e pressionou Enter, o que apareceu na
tela foram centenas de fotografias dele, de fotografias em eventos de smoking a fotografias
sem camisa tiradas em uma ilha tropical. E parecia que os únicos momentos em que não
tinha uma mulher pendurada no braço eram nas poucas imagens em que estava sendo
entrevistado.
— É ele? — perguntou Elle ao se aproximar um pouco mais da tela. Ela estava parada
logo atrás do ombro esquerdo de Brooke. — Se for, pelo amor de Deus, ele é um gato.
— É ele — disse eu.
— E ele ficou babando, todo apaixonado, por você?
— Posso ter ficado sexualmente reprimida durante o ano passado, Beyoncé, mas ainda
tenho qualidades femininas que você nem pode imaginar. E, sim, ele ficou.
— Por que será que quero lamber a tela? — perguntou Brooke. — Quero dizer, olhe
para ele nessa foto. Olhe para esse corpo. Esse peito, esse rosto, esse abdômen. Doçura
pura. A legenda da foto diz "CEO da Caldwell International, Chance Caldwell, na
Martinica". Quem é a mulher que está com ele?
Só vê-lo novamente foi suficiente para que meus braços se arrepiassem de cima a baixo.
Quase não consegui olhar para os olhos azuis dele, que eram uma das coisas mais bonitas
nele. E havia também os lábios dele, dos quais eu me lembrava muito bem, provavelmente
por causa de todos os lugares em que eles passearam na noite anterior.
— Como vou saber? — perguntei.
— Esse cara é perfeito — disse Elle. — É o único jeito de explicar todas essas mulheres
que aparecem nas fotografias com ele. Puro material para um caso de uma noite. — Ela
me lançou um olhar de aprovação. — Que bom para você, Abby. Com um cara assim,
você pode aproveitar bem tudo o que aconteceu entre vocês, mas continuar em frente com
o coração intacto.
Fiquei imaginando se conseguiria. Apesar de saber que eu nunca mais veria Chance,
não pude deixar de sentir uma onda de desapontamento, o que nunca admitiria para as
garotas, pois elas ficariam zombando de mim. Afinal de contas, fora ele que sugerira que
ficar com outras mulheres não era o jeito dele. Portanto, por que havia tantas fotos dele na
internet com outras mulheres? Ele também sugerira que a noite anterior poderia se
transformar em algo mais que apenas um caso de uma noite. Aquilo também fora uma
mentira?
Eu decidi que nunca saberia.
É melhor deixar para lá.
Ainda assim, estava curiosa para saber quem era esse homem. Portanto, coloquei a mão
no ombro de Brooke. — Chega de fotos — disse eu. — Vamos descobrir quem ele é. O
que a Caldwell International faz? Pode procurar?
— Deixe-me só observar esse corpo maravilhoso por mais alguns minutos...
— Procure logo, Brooke.
— Acalme-se. Você é muito possessiva.
— Não sou possessiva. Só estou interessada em descobrir quem é o homem que estava
sobre mim na noite passada.
— E dentro de você.
— Isso mesmo.
Eu vi Elle tirar o mouse da mão de Brooke e clicar na fotografia de Chance em um terno
escuro. Ele parecia um modelo. Por que eu me sentia tão apegada a ele? Não fazia o
menor sentido. Tivemos uma noite maravilhosa, sem promessa alguma, mas era só isso.
Então, qual era o meu problema? Emocionalmente, eu precisava aceitar a noite passada
pelo que fora e esquecer tudo o que ele podia ter ou não sugerido durante a conversa
comigo.
— Ok, vamos em frente. Alguém pesquise a Caldwell International.
Quando Brooke o fez, descobrimos o que ela era.
— Pelo jeito, ele é cheio de dinheiro — disse ela. — Olhe só quantos negócios e
corporações ele tem. Meu Deus. A lista é imensa. Que idade tem esse cara?
— Ele disse que tinha trinta e um anos.
— Não se fica rico tão depressa aos trinta e um anos. Talvez o pai dele tenha morrido e
Chance herdou tudo.
— Há alguma coisa sobre ele na Wikipédia? — perguntou Elle.
— Excelente pergunta — disse Brooke, com os dedos dançando sobre o percurso. —
Bingo — disse ela quando o perfil dele apareceu no site da Wikipédia. — Então, vejamos
quem é essa máquina do sexo. — Ela começou a percorrer a página. — Nasceu em Idaho.
Família de classe média. Os pais eram fazendeiros. Foi para o MIT com uma bolsa de
estudos integral, mas saiu quando tinha vinte anos para abrir uma empresa chamada
SlimDisk ao criar o precursor do pendrive.
Quando ela disse aquilo, ficamos paradas atônitas.
— O precursor do quê? — perguntei.
— Do pendrive — disse ela. — Diz aqui que, há nove anos, a Microsoft comprou a
empresa dele e a tecnologia por mais de trezentos milhões de dólares. Ele tinha apenas
vinte e dois anos quando aceitou a oferta e usou a maior parte do dinheiro para abrir a
Caldwell International. No início, ela era composta principalmente de aquisições
relacionadas a tecnologia. A Forbes escreveu um artigo elogiando Chance pelo senso
comercial. Há cinco anos, ele foi listado na primeira posição dos 30 Com Menos de 30
anual dela.
— Você está de sacanagem — disse Elle.
— Não. Há uma citação dele sobre como se tornou tão bem-sucedido: "O que foi
reforçado desde o início é que o mais importante é a equipe. Para alguém que está
começando, eu diria para atrair os melhores e mais inteligentes. Não se acomode. Desde
que vendi a SlimDisk, tive o imenso prazer de trabalhar com algumas das pessoas mais
esforçadas e mais dedicadas do mundo. Meu sucesso inicial pode ter começado com uma
tecnologia comprada pela Microsoft, mas meu sucesso geral se deve diretamente à minha
equipe."
— Cheio de classe — disse Elle.
Mas Brooke ainda não terminara. Ela estava fascinada. Continuava procurando mais
informações. — À medida que a Caldwell International cresceu, Chance e o conselho
diretor começaram a comprar corporações inteiras, tanto domésticas quanto internacionais.
A fortuna pessoal dele está listada aqui como sendo de quase um bilhão. Mas quem sabe
quando ela foi atualizada pela última vez? A essas alturas, pode ser mais.
— Então, procure no Google o valor da fortuna pessoal dele — disse Elle.
Brooke procurou. E, quando fez isso, encontrou um artigo de apenas alguns meses antes
que colocava Chance Caldwell firmemente no clube dos bilionários.
— Então, você dormiu com um bilionário — disse Elle. — Você é tão exagerada.
Eu não tinha ideia do tamanho da fortuna dele quando fora até o quarto com Chance.
Portanto, eu a corrigi: — Eu dormi com alguém que achei atraente — disse eu. — E
alguém que foi gentil comigo. Não dormi com ele por causa do dinheiro dele.
— Eu só estava brincando.
— Eu sei que estava. Mas é verdade. Eu quero que isso fique registrado. Muito bem,
garotas, isso é tudo o que eu tenho a oferecer. E agora preciso dormir um pouco, caso
contrário, não conseguirei trabalhar hoje à noite.
Nem deixar isso tudo para trás.
Andei até a minha cama, puxei o vestido por sobre a cabeça e deitei-me sob o lençol. —
Estarei de pé em algumas horas. Mas quero pedir desculpas de novo por ter esquecido de
mandar uma mensagem. Eu esqueci, honestamente. Amo vocês duas.
— Só não faça isso de novo — disse Brooke.
Ela saiu do quarto e, um momento depois, Elle sussurrou alguma coisa para mim da
porta. Ela falou tão baixinho que tive que me virar e olhar para ela. — O que você disse?
— perguntei.
— Tente não pensar em Chance.
O tom dela estava sério. Aquela não era a Elle cuja mente rápida podia atear fogo em
um ambiente. Essa era a outra Elle que a maioria das pessoas não conhecia. A amiga que
sempre cuidava de mim.
— O que a faz pensar que farei isso?
— Porque eu conheço você. E porque vi o olhar no seu rosto quando eu disse que você
estava livre para seguir a vida com o coração intacto. Você pareceu arrasada. E em
conflito. Lembre-se do que ele foi, Abby, apenas um caso de uma noite. Então, deixe que
seja apenas isso, ok? Não ache que foi mais do que o que aconteceu. E, pelo seu próprio
bem, tente tirá-lo da cabeça, pois já sei que ele está começando a ocupar um espaço lá
dentro.
— É claro que sim. Só fizemos sexo.
— O que quero dizer é que acho que ele ficará aí dentro por algum tempo. Não deixe
isso acontecer. Confie em mim, passei por isso mais vezes do que consigo contar. É
melhor esquecê-lo e passar para o próximo cara, se quiser. Você verá.
Antes que eu pudesse responder, ela acenou, soprou um beijo e fechou a porta atrás de
si. Mas não antes que eu visse de relance a expressão dela, de pura preocupação.
CAPÍTULO 11
Mais tarde, quando saí da cama, não foi porque me sentia revigorada. Foi porque estava
tão quente dentro do quarto que não aguentei mais. Olhei para o relógio na mesinha de
cabeceira e vi que dormira por cinco horas.
E foi o suficiente.
A luz do sol do começo da tarde entrava pela única janela do quarto, que estava coberta
por uma cortina escura que bloqueava a maior parte do brilho. Saí da cama vestindo
apenas sutiã e calcinha, encontrei uma bermuda e uma camiseta em um cesto de roupas
sob a janela e carreguei-as comigo para fora do quarto. Eu me sentia grudenta e suja. Pior
ainda, ainda conseguia sentir o cheiro dele em mim, da mesma forma que Elle conseguira
mais cedo.
Hora de tomar um banho.
O ar fresco me envolveu quando saí do quarto. Mas, apesar do esforço barulhento do ar-
condicionado, não estava fresco o suficiente. Eu me sentia como se estivesse em uma
fábrica, meio que esperando encontrar Elle e Brooke abaixadas sobre máquinas de costura
trabalhando em metros e metros de tecido.
Mas elas não estavam lá. O apartamento parecia estar vazio.
Que dia era aquele? Sábado? Era sábado. Diferentemente de mim, nenhuma das duas
trabalhava nos fins de semana. Fui até o quarto de Elle, bati de leve na porta e abri uma
fresta quando ela não respondeu. A cama estava arrumada e ela não estava lá.
Onde elas estão?
Fui até a cozinha. Lá, encontrei um bilhete sobre a mesa que dizia:
Querida, nosso pequeno Inferno na Terra se transformou oficialmente em um forno.
Portanto, saímos para um passeio, o que significa, na verdade, que sentaremos por
algumas horas no céu com ar-condicionado, também conhecido como Starbucks.
Voltaremos por volta de uma hora da tarde. Coma alguma coisa, há um resto de
macarrão na geladeira. Queríamos que estivesse aqui conosco, mas decidimos deixá-la
dormir depois da sua maratona de sexo durante a noite. Amamos você! Brooke e Elle.
Eu sorri ao ler o bilhete e desejei estar lá com elas, pois sabia que estava perdendo um
tempo divertido. Sempre que saíamos para observar as pessoas, era bastante épico. Pensei
em comer, mas desisti da ideia. Eu precisava mesmo era de um banho frio.
O único banheiro do apartamento ficava situado entre os dois quartos e, de forma
parecida com o resto do lugar, era uma piada. No início, nós tínhamos chegado à
conclusão que, considerando a idade do prédio, o banheiro provavelmente fora um closet
em algum momento. Era tão pequeno que só havia espaço para o vaso sanitário, a pia e o
chuveiro. Nada de banheira.
Não que eu me importasse muito com uma banheira naquele momento. Precisava de um
banho para voltar a me sentir eu mesma. Eu acabara de ligar a água quando o celular
começou a tocar.
Sério?
Desliguei a água e corri até a porta de entrada, onde deixara a bolsa mais cedo. Procurei
o celular dentro dela, tirei-o e parei quando vi quem estava telefonando.
Era a minha mãe.
Por um momento, fiquei simplesmente olhando para o aparelho. É claro que ela
telefonaria no meu momento de vergonha. Naturalmente, ela tinha que telefonar enquanto
eu estava parada, só de roupas íntimas, e com o cheiro dele ainda em mim.
Considerei a ideia de não atender, mas não poderia fazer isso com a minha mãe. Ela era
a única pessoa em casa que ainda se preocupava o suficiente para me telefonar todos os
sábados desde que eu fora para Manhattan. Apesar de não acreditar mais na religião em
que fora criada e de saber que ela tinha os próprios planos de me manter na linha, mesmo
assim, nunca deixara de telefonar. E aquilo significava muito para mim. Em um nível
profundo, que não tinha nada a ver com os ideais dela, minha mãe me amava e
preocupava-se comigo. E eu a amava, especialmente quando conseguia me desviar das
perguntas dela.
Ela não vai deixar passar hoje, pensei. Então, lide com isso. Use aquela voz animada,
garota.
Eu atendi. — Olá, mamãe.
— Como está a minha garota?
Ainda recuperando-me um pouco da olimpíada sexual da noite passada, obrigada por
perguntar. Você tem alguma dica de como diminuir a dor entre as minhas pernas? Talvez
algum creme? Talvez não? Achei que não. Mas eu amo você!
— Estou bem. Estou ótima!
— Você está comendo?
— É claro que estou comendo. Por que não estaria?
— Porque assisti à CNN esta manhã e todos estão falando sobre esse calor que está
engolindo o nordeste do país. Você sabe que não me importo com o calor, sinto-me
perfeitamente bem com ele. Consigo sobreviver a ele. Mas você? Sempre foi essa flor
delicada em se tratando de calor. Você simplesmente desaba como se subitamente tivesse
apodrecido. Achei que provavelmente não estava alimentando-se direito por causa disso.
— Comi um pão esta manhã — disse eu. Era mentira, mas não queria que ela se
preocupasse comigo mais do que já se preocupava. Ela tinha o suficiente com o que lidar
só de cuidar do meu pai e da fazenda.
— Um pão? Isso dificilmente será suficiente para o dia inteiro. Eu fazia ovos com
bacon e torradas para você. Dava a você um café da manhã decente.
— Isso foi há muito tempo, mamãe.
— Não faz tanto tempo assim. E então, como está o calor aí?
— Digamos apenas que, se eu saísse para a rua por alguns segundos, poderia fritar um
ovo na bochecha.
Ótimo, você deveria fazer isso. E comê-lo. Isso deixaria a sua mãe feliz.
— Você é muito engraçada. Quanto ao calor, estamos todas sobrevivendo a ele. Que
opção temos?
— Lembre-se sempre do poder de um banho frio.
— Você deveria registrar essa merda, mamãe.
— Não fale palavrões, Abigail.
— Desculpe. Foi mal. O estranho é que eu estava prestes a tomar um banho frio quando
você telefonou.
— O banho pode esperar. Como foi a sua semana?
Mudou a minha vida. Tive um caso de uma noite só, mamãe, meu primeiro. Foi um
tanto incrível. Eu adoraria conversar com você sobre ele, mas por que acabar com a sua
vida tão cedo? De qualquer forma, só para que saiba, na noite passada, joguei um monte
de merda no nome da família. É verdade. Sua filha, agora, é oficialmente uma vagabunda.
E, o que é pior, ela nem mesmo se importa. Que tal isso para começar? Ora, que tal isso
para me considerar um grande desapontamento? Na verdade, conheci uma mulher na
noite passada que concordaria totalmente comigo. Gostaria de chorar no ombro dela?
Porque tenho a impressão de que ela adoraria contar a você como se sente sobre mim.
— A mesma coisa de sempre — disse eu. — Só trabalho.
— Você trabalha demais. Estou preocupada com você. Deveria sair mais com as
garotas. Divertir-se um pouco, mas mantendo-se longe dos garotos. Você não precisa de
garotos nesse momento, especialmente esses garotos da cidade grande. Eles são o
demônio. São os piores. Não têm valores nem morais. Só o que querem é sexo. E, além do
mais, você já está com o prato cheio.
Isso é engraçado, pois, na noite passada, esse prato em particular foi o prato principal.
Que tal isso, mamãe? Em certo momento, eu parecia um frango, deitada de costas com as
pernas abertas. E, mamãe, você deveria ter visto aquilo. O homem mais faminto do
planeta me devorou completamente.
— Você tem razão — disse eu. — Preciso mesmo.
— Escute — disse ela. — Eu sei que está absurdamente quente aí e que você quer
tomar um banho, mas sua tia Marion está aqui comigo e quer dizer olá. Ela está
praticamente arrancando o telefone da minha mão enquanto tento falar. Você sabe como
ela é. Pare com isso, Marion, ainda não terminei. Ora, pelo amor de Deus, pare com isso.
Ah, meu Deus, não. Não a tia Marion. Eu a adorava, mas ela era muito mais esperta e
bisbilhoteira que a minha mãe, provavelmente porque ela saíra de Vermont quando era
jovem e morara em Paris entre os vinte e os trinta anos.
Mais do que qualquer outra pessoa na família, ela sabia como era morar em uma cidade
grande na minha idade. Quando eu era criança, sempre a achara glamorosa e sofisticada, o
espírito livre que a minha mãe nunca tivera. Eu costumava usá-la como exemplo por causa
disso. Ela nunca se casara, mas eu sabia, de escutar algumas das conversas escandalizadas
que ela tivera com a minha mãe, que passara por vários homens. Como ainda era criança,
eu achava que a minha tia vivera aquela vida incrivelmente romântica que só era possível
viver ao sair de Vermont.
O que, naturalmente, foi um dos motivos pelos quais eu saí de Vermont.
— Como você está, mon petit gâteau? — perguntou ela ao pegar o telefone. — Ainda
não perdeu as calças?
No fundo, ouvi minha mãe reclamando com ela antes de responder: — Ainda não, tia
Marion. E como você está?
— Você sabe o que dizem sobre a tia Marion. Que ainda estou praticamente de quatro
esses dias. Que vivo viajando com uma infinidade de estranhos bonitos. Que bebo demais
para o meu próprio bem. E que adoro cigarrilhas finas por causa da atenção que elas
atraem. E, adivinhe só, a maior parte é verdade. E como o mundo está tratando você,
bonitona? Não conversamos há... uma vida ou algo assim. Sua mãe me disse que você se
tornou uma maldita freira. Por quê? O que há de errado com você? Você está em
Manhattan. Deveria estar aproveitando o lugar e fazendo sexo com a maior frequência que
conseguir.
Novamente, ouvi a voz da minha mãe e, dessa vez, tinha um tom alto e histérico.
— Por favor, Martha, acalme-se. É óbvio que só estou brincando com ela. Bem, mais
ou menos. Todo mundo deve se divertir. Vá fazer uma de suas tortas de maçã ou coisa
parecida. Ou uma faxina, você parece adorar isso. Um pouco demais, acho. Mas faça
qualquer coisa que acalme os seus nervos.
— Você está com um humor excelente — disse eu, rindo.
— Você não faz ideia. Sempre que venho aqui, acho que ela quer me mergulhar em
uma pia batismal ou algo assim. Talvez até mesmo rezar sobre a minha cabeça. Não é de
se espantar que você sempre tenha sido a garota boazinha. Que escolha tinha?
Na noite passada, um garanhão maravilhoso me fodeu de todos os jeitos, tia Marion.
Ele era grande como um cavalo. E houve um tempo longo durante o qual não consegui
ver o rosto dele, pois estava enterrado no meio das minhas pernas. Então, imagine só,
sou, na verdade, a garota boazinha que se perdeu.
— Só preciso terminar a universidade. Depois disso, eu me divertirei.
— Você será velha demais para se divertir quando isso acontecer.
— Velha demais? Terei vinte e seis anos quando eu me formar.
— Chéri, você não sabe de nada. Vinte e seis anos é como ter quarenta e seis. Estou
falando por experiência própria, os homens gostam das jovens. Quanto mais jovem,
melhor. — Ela hesitou e, quando falou novamente, foi em tom de conspiração. — Mas
você já se divertiu um pouco, não foi, querida? Nenhuma garota com a sua aparência vai
para a cidade grande e consegue renunciar a todos os garotos, apesar da culpa católica
com que a sua mãe a sufocou durante todos esses anos. Então, bote para fora, Abigail.
Quem é o cara de sorte? Ou, devo dizer, quem são os caras de sorte?
A única forma de conseguir passar por aquilo era contar a verdade, na qual ela não
acreditaria nem por um segundo. Por outro lado, se eu mudasse de assunto, ela poderia
suspeitar de que havia alguma coisa. — Na verdade, fiz sexo na noite passada, tia Marion.
— Mentira, não fez.
— Na verdade, fiz, sim. Eu estava servindo bebidas nesse evento de caridade chique
quando um cara me encontrou. Parece que ele é um bilionário ou coisa assim. E, de longe,
um dos homens mais atraente que já conheci, sem falar que é um dos mais atenciosos e
sexualmente intensos. Não conte isso para a mamãe, mas ficamos horas fazendo sexo na
noite passada. Foi incrível. Primeiro, nós nos pegamos em um elevador. Depois em um
corredor no Plaza e, quando essa velha no hotel nos pegou e condenou-me por ser uma
filha horrível, fomos para o quarto dele. Acho que ele me chupou por uns bons trinta
minutos para que eu estivesse molhada o suficiente para acomodá-lo.
— Eu... você está mentindo.
— É claro que sim.
Ela suspirou. — Se pelo menos seguisse o meu exemplo e fizesse realmente isso.
— Farei quando estiver pronta. Mas, nesse momento, só quero saber de trabalhar e
estudar.
— Meu Deus, que tédio. Acho que você deveria arrumar um amante. Ou vários
amantes. Talvez até mesmo uma amante lésbica, só para variar um pouco. — Novamente,
ouvi minha mãe gritando no fundo. — Olhe só que surpresa, sua mãe acha que sou uma
influência ruim para você. Lá vem ela para cima de mim com um daqueles crucifixos de
plástico. Nada diz "Eu amo Jesus" como um crucifixo de plástico comprado no Wal-Mart.
É melhor encurtarmos a história, querida, antes que ela tente exorcizar o demônio de mim.
— Adoro conversar com você, tia Marion.
— Eu também, querida. Estou com saudades de você.
— Eu também.
— Antes que eu seja exorcizada, eis um conselho de uma antiga profissional. Arrume
um amante. Divirta-se um pouco. Mas, quando finalmente encontrar alguém e ficar com
um homem, não fique toda emotiva, ok? Faça sexo com ele, aproveite e passe para o
próximo até encontrar o homem certo, se isso for possível. Não foi exatamente assim que
aconteceu comigo, mas quem sabe? Talvez algum dia aconteça. Afinal de contas, sou uma
eterna otimista. — Ela fez uma pausa. — Martha, se você ousar encostar esse crucifixo na
minha testa, juro por Deus que vou dar uma de Linda Blair para cima de você. Estamos só
brincando. Você sabe como eu sou e sabe que sua filha precisa disso. Está bem, vou sair
do telefone. Obviamente, eu já a corrompi o suficiente.
— Não se preocupe, não conseguirá me corromper — disse eu. Eu deixei que isso
acontecesse por conta própria, não que eu me arrependa de alguma coisa.
— Diga isso para a sua mãe. Ela quer que eu saia do telefone antes que prejudique
ainda mais o seu caráter. Portanto, sayonara por enquanto, gatinha. Se precisar de alguma
ajuda no departamento masculino, telefone para a minha casa e sua tia lhe dará uma
infinidade de conselhos. Beijos, querida. Beijos, beijos. Sinto saudades de você como
sinto saudades de uma boa noite de sexo. E reze pela minha alma, pois sua mãe está
prestes a roubá-la de mim. Você devia ver o fogo nos olhos dela. Ah, tire essa coisa de
perto de mim, Martha! Pare de sacudir isso na minha cara! Eu já disse, não há nada de
errado...
A linha ficou muda.
Quando desliguei, fiquei imaginando quantas mentiras acabara de contar. Mas decidi
que não importava, pois nada do que eu dissera tinha a intenção de magoar ninguém. Eu
só as contara para manter a minha privacidade e, com sorte, conseguira. Afinal de contas,
eu era uma mulher de vinte e cinco anos. Minha família não tinha o direito de esperar
acesso completo à minha vida pessoal. Aqueles dias tinham oficialmente terminado.
Fui para a cozinha, coloquei o telefone sobre a mesa e peguei uma garrafa de água na
geladeira. Tomei um longo gole e senti o líquido descendo pela garganta até o estômago.
Eu estava com muito calor.
O poder de um banho frio, pensei. Nunca é cedo demais.
Mas, quando comecei a andar de volta para o banheiro, o telefone tocou novamente.
Parei exasperada e simplesmente olhei para o teto, sabendo quem era antes mesmo de
pegar o aparelho. Depois daquela pequena conversa com a tia Marion, minha mãe
provavelmente estava pronta para tentar conter o estrago. Mas eu queria escutá-la? Não
exatamente. Ainda assim, talvez fosse melhor enfrentar logo a situação e acalmar os
receios dela. Caso contrário, ela telefonaria a semana inteira até que conseguisse falar
comigo. Peguei o telefone e o meu coração parou quando vi quem era.
Não era a minha mãe. Era Chance Caldwell.
Por um momento, fiquei simplesmente olhando para o nome dele no telefone. Como
diabos ele conseguira o número do meu telefone? E por que estava me ligando? Eu
deveria atender ou ignorá-lo? Elle teria me dito para ignorá-lo. Mais cedo naquela manhã,
ela me avisara para ficar longe dele. Minha mãe teria me dito para correr até a igreja mais
próxima e lançar-me aos pés de Cristo. Brooke teria me dito para lembrar que fora apenas
um caso de uma noite.
Mas a tia Marion, a heroína da minha infância? Teria insistido para que eu atendesse.
Então, que diabos. Eu atendi.
CAPÍTULO 12
* * *
Mais tarde naquela noite, depois de tomar outro banho, sequei os cabelos com um
secador, usei uma chapinha para alisá-lo e apliquei a maquiagem.
Não coloquei maquiagem demais. Eu queria um rosto fresco e lábios ousados, que
pintei de um vermelho profundo. Adicionei apenas um toque de rímel nos cílios, nada
dramático, mas ainda assim sensual. Eu não ia para uma noite cara na cidade. Ia comer
hambúrguer com batatas fritas em um restaurante pequeno com um homem com quem
planejava dormir mais tarde. Portanto, vesti-me de forma apropriada para isso.
Com a ajuda de Brooke e Elle, encontramos uma roupa perfeita, calças jeans justas
escuras e uma camiseta folgada de renda cinza metálico que eu comprara por uma
pechincha na Century 21. Eu as vesti, calcei os sapatos Louboutins que Elle pegara de um
dos vestiários da Vogue e fui até o quarto dela, que tinha o único espelho de corpo inteiro
do apartamento. Fiquei parada em frente a ele, virando de um lado a outro, e decidi que
gostava do que via.
Mas, agora, vem o teste de verdade.
Andei até a sala de estar, onde Brooke e Elle tomavam martínis antes de saírem para a
noite mais tarde. Quando elas me viram, a conversa parou.
— Então? — perguntei. — O que acham?
— Perfeito — disse Brooke. — Adorei a calça jeans. E adorei especialmente o que fez
com os cabelos. Ficou muito chique.
Sempre a especialista em moda, Elle ergueu o martíni até os lábios e levou um
momento para me estudar antes de falar. — Olhe, seus seios são o que são, eles são tão
grandes e sempre parecerá que você passou alguns meses passeando por Chernobyl. Não
que algum homem reclamará disso. Ou deles. Ainda assim, você foi inteligente ao usar
essa camiseta. Em vez de ter um decote muito fundo, você mostra o suficiente para
parecer sensual, não uma vagabunda. A maquiagem está perfeita. Também adorei o
cabelo. Amei, amei muito. E, por falar nisso, esses sapatos fazem com que você pareça
ridiculamente alta e magra. Eu diria que está mais do que pronta para ir.
— Além do relógio, não estou usando joia alguma. Deveria usar?
— Eu gosto da aparência limpa — disse Brooke. — Não acho que você precise de mais
alguma coisa. Elle?
— Nesse caso, o simples é melhor. É uma questão de linhas e não queremos
interrompê-las. Eu não usaria mais nada.
— Que bolsa pretende usar?
— A vermelha.
— Para combinar com o batom?
— Exatamente.
— Você tem dinheiro suficiente para pegar um táxi, se for preciso?
— Sim, tenho.
— E está com o telefone, para que possa mandar uma mensagem para nós?
— Eu vou mandar uma mensagem de qualquer forma. Prometo.
— Ele vem buscar você, certo? — perguntou Elle.
— Às oito. Daqui a dez minutos. Veremos se ele é pontual.
— Você sabe como ele virá? Aposto como virá de limusine — disse Brooke.
— Ou de Rolls. Ou talvez até mesmo com um carro esportivo supercaro.
— Isso realmente importa?
— É claro que sim — disse Elle. — Se ele está tentando impressioná-la, fará isso
primeiro com o carro. Depois, falando sobre a Caldwell International no jantar. E, depois,
quando levá-la para a cama, mostrando aquela cobra imensa dele novamente. Você verá.
Mas, quando Chance ligou no meu celular exatamente às oito horas da noite para dizer
que estava esperando do lado de fora, não disse que estava em uma limusine, em um Rolls
nem em algum tipo de carro esportivo. Em vez disso, falou que estava esperando em
frente ao prédio, encostado em um táxi.
— Um táxi? — comentou Elle.
— Lá se vai a primeira impressão — disse Brooke.
— Na verdade, acho que ele causou uma impressão muito sensível.
— O que quer dizer?
— Olhe onde moramos — disse eu, correndo para o banheiro para dar uma última
olhada no rosto e nos cabelos. — Ele sabe que tenho dois empregos. Sabe que estou
tentando terminar a faculdade. Ele não é burro, sabe que não está sendo fácil.
Provavelmente sabe que moramos em um buraco na parede. E que, se aparecesse aqui
com algo caro ou chamativo, pareceria um idiota. Então, acho que ele não é um idiota.
— Ela tem um argumento válido — disse Brooke.
Mas Elle, que fora contra desde o início, permaneceu em silêncio. Eu não estava brava
com ela por não me dar apoio. Sabia que a única preocupação dela era com o meu bem-
estar emocional e eu era grata por isso. Mas o que eu não contara a elas era que Chance
partiria de Manhattan no dia seguinte à tarde. Decidi não contar isso naquele momento
porque, quando contasse, queria que percebessem que eu era capaz de entrar naquilo com
os olhos bem abertos. Eu não estava agindo de forma burra. Precisavam ver que eu podia
cuidar de mim mesma. Eu pretendia me divertir naquela noite e, depois, continuar com a
minha vida. Porque, independentemente do que acontecesse à noite, se Chance não
morava lá, e realmente não morava, não adiantava nada investir mais tempo nele. Amanhã
ele continuaria a vida dele e eu, a minha.
— Preciso ir — disse eu.
As duas se aproximaram e abraçaram-me.
— Você está linda — disse Brooke. — Divirta-se.
— Lembre-se de enviar uma mensagem — disse Elle.
— Sim e sim — disse eu. E, com isso, saí do apartamento e desci a escada. Quando
cheguei ao térreo, parei para respirar fundo e acalmar os nervos. Em seguida, abri a porta
do prédio.
Chance me esperava na calçada como prometera. Ele usava calças jeans Levis
desbotadas e uma camiseta branca. Os braços musculosos estavam cruzados sobre o peito
e ele estava encostado no táxi com um sorriso no rosto.
— Você está linda — disse ele quando eu me aproximei.
A voz dele tinha um tom baixo e rouco que eu não ouvira antes. Ao cruzar a distância
entre nós, uma brisa quente bateu e levantou os cabelos dos meus ombros, revelando o
pescoço nu. E os meus seios, que eram tão cheios, pressionaram-se sugestivamente contra
a camiseta.
Vi a expressão dele ficar um pouco tensa com uma espécie de necessidade quando ele
me olhou de cima a baixo. Em seguida, inesperadamente, ele se afastou do táxi, andou na
minha direção e beijou-me de forma tão intensa que me deixou sem fôlego.
Eu não consegui resistir. Não pretendia resistir a nada naquela noite e correspondi com
a mesma paixão, beijando-o com tudo o que tinha.
Quando ele me soltou, apoiei as mãos no peito dele para me equilibrar e o que senti sob
a camiseta foi um corpo feito de aço. Segurando as mãos dele, dei um passo para trás para
admirá-lo. Foi então que vi o volume obsceno nas calças dele, que era tão ridículo quanto
sensual.
Na festa da noite anterior, vestindo smoking, ele estava lindo. Mas isso era diferente.
Com calças apertadas e camiseta branca, ela parecia ainda mais bonito, caso isso fosse
possível. Pelo jeito, era. Ele não exalava apenas sexo. Ele era sexo com um ponto de
exclamação, algo que exigia um quarto o mais depressa possível.
— Você parece um colegial — disse eu.
Ele ergueu a sobrancelha. — Um colegial?
Olhei para as calças dele. — Basta um beijo e você está pronto para ir em frente.
— Talvez. Mas não sou nenhum colegial. Você descobrirá isso mais tarde, Abby.
— Já estive com você. Eu sei o que esperar.
Ele me lançou um olhar divertido e balançou a cabeça antes de me beijar de novo. Mas
não foi um beijo qualquer. Dessa vez, foi um beijo tão gentil e carinhoso que sugeria uma
intimidade profunda que ainda não tínhamos alcançado. Mas lá estava, bem sobre a minha
boca, um beijo tão significativo que parecera feito para que eu nunca o esquecesse.
Foi naquele momento que percebi que seria um milagre se conseguíssemos terminar de
jantar sem tirar as roupas.
CAPÍTULO 15
Quando ele terminou de me beijar, coloquei a palma da mão no rosto dele, acariciando a
barba por fazer com o polegar, e vi a intensidade implacável nos olhos dele.
Era como se ele tivesse ido até lá para me reivindicar. Mas não havia como aquilo
acontecer. Mais cedo, ele parecera falar sério quando dissera que pretendia derrubar as
minhas barreiras. Naquele momento, vi que ele realmente falara sério. Ele obviamente
fora até lá decidido. Era claro que fora preparado para a batalha. E eu já perguntava a mim
mesma se estava preparada para impedi-lo.
Eu me virei e olhei para o prédio de apartamentos.
— Não é uma beleza? — perguntei.
Ele deu de ombros. — Provavelmente foi, em algum momento. Aposto como, na época
áurea, esse prédio era incrível. Pode-se ver isso nos detalhes.
— Agora, nem tanto.
— Isso não é nada. Você devia ter visto onde eu morei durante o primeiro ano na
faculdade. Era um buraco, mas, pelo menos, eu tinha um teto sobre a cabeça.
— Eu convidaria você para entrar para que pudesse ver o prédio em toda a sua glória
decadente, mas minhas amigas provavelmente o encheriam de perguntas. E garanto a você
que não é uma boa ideia.
— Você quer dizer aquelas duas lá em cima? — Ele acenou com a mão para cima e,
com uma sensação de horror, olhei e vi o rosto de Brooke e de Elle na janela da sala de
estar. Brooke acenou de volta e Elle ergueu o martíni para nós. Depois, provavelmente
porque foram pegas observando-nos e estavam constrangidas, elas saíram da janela.
— Desculpe — disse eu. — Elas só são curiosas.
— E protetoras, o que é uma coisa boa. Há quanto tempo vocês se conhecem?
— Desde que tínhamos seis anos de idade.
— Então são praticamente família.
— Sim, somos.
— Quem me dera ter amigos tão próximos assim — disse ele. — Eu tive alguns amigos
muito próximos , mas tudo mudou quando minha vida deu essa reviravolta estranha. Acho
que eles viram alguém diferente depois do que aconteceu comigo, apesar de eu ainda ser a
mesma pessoa por dentro. Levei um tempo para processar isso. Mas, em certo momento,
percebi que foram eles que mudaram, não eu.
Ele estava referindo-se ao negócio com a Microsoft? Devia estar. — Sinto muito —
disse eu.
— Eu também sinto. Eu amava aqueles caras como se fossem irmãos. Mas, pelo menos,
agora sei com quem posso contar e não é com eles. — Ele pegou a minha mão e a voz dele
ficou mais animada. — Mas isso não é mais importante. Foi há muitos anos. A essas
alturas, já passou. Então, está com fome?
Eu não comera durante o dia inteiro. — Estou morrendo de fome.
— Eu também. Vamos.
Ele se afastou um passo para que eu pudesse entrar no carro e, em seguida, sentou-se ao
meu lado. Ele estava tão próximo que consegui sentir um traço do perfume que usara na
noite anterior. Não era demais, simplesmente no ponto certo. Eu sempre ouvira dizer que
usar colônia ou perfume devia ser uma experiência íntima. Fiquei feliz ao ver que Chance
sabia disso.
Ele colocou o braço em volta dos meus ombros, puxou-me para mais perto e perguntou
novamente onde iríamos.
— No Ruby's — disse eu. Dei o endereço ao motorista. — Ir nesse restaurante é como
voltar para casa para mim. Acho que você gostará de lá.
Ele pegou minha mão e segurou-a sobre o colo. Novamente, pensei em como a palma
da mão dele era áspera e perguntei a mim mesma se aquela era realmente a mão de alguém
que administrava uma corporação internacional. A gentileza do toque dele contrastava
com os calos na pele, que me deixaram intrigada.
Há tanta coisa que não sei sobre você, Chance Caldwell, pensei. E tanta coisa que
permanecerá um mistério depois de hoje à noite.
Quando ele beijou as costas da minha mão, senti como se estivesse derretendo com o
beijo. E com ele.
Recomponha-se, garota.
Depois de vê-lo de jeans e camiseta? Está começando a ficar difícil.
Então acabe com isso enquanto pode.
Nem pensar. Quero passar mais uma noite com ele.
Você poderá se arrepender disso.
Eu duvido muito.
Em seguida, o táxi entrou no fluxo do trânsito e fomos embora.
* * *
Quando chegamos no Ruby's, senti uma espécie de emoção. Eu adorava aquele lugar.
Não sabia se Chance gostaria dele, mas esperava que ele visse no restaurante o mesmo que
eu vira. Não era apenas a comida que o tornava tão bom. Era que, por algum motivo, em
uma das maiores cidades do mundo, havia um lugar como aquele que lembrava de casa no
momento em que se entrava nele.
Como nós dois tínhamos crescido em ambiente rural, fiquei imaginando se ele gostaria
do lugar tanto quanto eu.
— É aqui? — perguntou ele quando o motorista parou perto da calçada.
— Sim, aqui é o Ruby's.
— É realmente um restaurante pequeno.
Ele falou aquilo em tom alegre, o que me deixou contente.
— Eu falei que era. Vejamos se você gostará dele. Preciso de um hambúrguer.
Ele pagou ao motorista e saímos do táxi. Na calçada, ele pegou novamente a minha
mão. Era uma noite quente de julho e as ruas estavam cheias de pessoas andando pelas
calçadas. Um grupo de cinco adolescentes passou por nós em skates, gritando ao
atravessarem a multidão em um borrão vermelho, branco e de tons brilhantes de verde.
Havia casais passeando pelas calçadas, alguns deles com crianças. Eu senti o cheiro de
cachorros-quentes, pimenta e cebolas assando na grelha de um vendedor ambulante
próximo. À distância, ouvi alguém tocando violão.
Eu adorava West Village por estes motivos simples, a energia e a diversidade que
apresentava. De longe, era o meu bairro favorito em Nova Iorque e onde eu me sentia
mais confortável. As corporações norte-americanas tentavam mudar a paisagem de Nova
Iorque. Mas, em sua maior parte, aquela seção da cidade parecia determinada a resistir, em
um esforço de reter a identidade. Eu a admirava por isso.
Olhei de relance para Chance, que observava a placa de neon vermelho do restaurante
Ruby's com um sorriso no rosto.
— A placa lembra o lugar onde eu cresci — disse ele.
— Eu esperava que isso acontecesse. As garotas e eu viemos aqui algumas vezes. Não
temos dinheiro para vir sempre. Mas, quando queremos fazer uma extravagância, esse é o
nosso lugar.
— Então vamos lá. — Ele colocou a mão nas minhas costas e conduziu-me até a porta
da frente, que abriu para que eu passasse. — Você primeiro — disse ele.
Eu entrei e fiquei aliviada ao ver que algumas mesas estavam vazias. O bar estava
muito movimentado, mas era como sempre estava.
— Nós podemos nos sentar — disse eu. — Que tal essa mesa aqui? Ela tem vista para a
rua.
— Não vou olhar para a rua.
— Bem, talvez olhe.
— Eu duvido muito. Prefiro olhar para você.
Sentamos de frente um para o outro nas cadeiras acolchoadas de vinil vermelho.
— Tenho uma pergunta estranha a fazer — disse eu.
— Pode perguntar.
— Por que as suas mãos são tão calejadas? Você administra essa empresa imensa. Essas
duas coisas não combinam.
— É porque você não me conhece. Quando conversamos mais cedo pelo telefone, senti
que estava tentando projetar algo em mim que viu nas páginas do Google. Você acha que
me conhece, mas não conhece. Está completamente errada.
— Parece justo. Então, o que eu deveria saber?
— Sobre o quê?
— Vamos começar com esses calos em suas mãos.
— Meus pais ainda têm uma fazenda em Idaho. E, sempre que posso, vou até lá e
ajudo-os com ela. Você conhece a vida na fazenda, pois disse que também cresceu em
uma. É um trabalho duro. Mas eu gosto daquele tipo de trabalho, pois é um trabalho físico
e porque o meu pai é o patrão. Não eu. Ele não tem o menor problema em me dar uma
bronca quando faço algo de errado. Gosto dessa dinâmica que não existe na minha vida
normal.
Eu me inclinei mais perto e abaixei a voz. — Então, secretamente, você é submisso.
Ele riu alto. — Dificilmente.
— Ora, vamos. O papai estala os dedos e você vai correndo.
— Ele não aceitaria qualquer coisa diferente disso.
— Você se dá bem com os seus pais?
— Eu adoro os meus pais.
— Eles devem sentir orgulho do que você conquistou.
— E sentem. Mas, no fim do dia, eles não se importam nem um pouco, o que eu
entendo. Posso ser adulto, mas ainda sou filho deles. Eles não me tratam de forma
diferente do que sempre trataram. No mínimo, como estão ficando mais velhos, estão cada
vez mais exigentes comigo.
Ele tinha razão. Eu não o conhecia. E tive que perguntar a mim mesma: se ele não era o
que o Google dizia, então quem era de verdade?
Uma garçonete jovem, com cabelos loiros na altura dos ombros e um rosto animado,
parou ao lado da nossa mesa e perguntou se gostaríamos de começar com alguma bebida.
— Eu adoraria um chá gelado — disse eu. — Sem açúcar.
— Com certeza. — Ela se virou para Chance. — E você?
— Vocês têm Glenfiddich?
— Sim, temos.
— Eu quero um puro. Na verdade, duplo, por favor. Se puder trazer também um copo
de água com gelo, seria ótimo.
— Você vai tomar um drinque? — perguntei a ele.
— E por que não?
Eu me virei para ela. — Se ele vai, então eu também quero. Pode trazer também um
martíni de Grey Goose? Com três azeitonas e dirty. Além do chá gelado.
— Está bem — disse ela. Em seguida, entregou os cardápios. — Vocês já conhecem o
Ruby's? — perguntou ela.
— Eu já, mas ele não.
— Então você adorará — disse ela para Chance. — O especial de hoje é um
hambúrguer de contrafilé com queijo azul Maytag, tomates, cebolas, alface e um molho
habanero. É simplesmente divino. Comi um desses no jantar antes de começar a trabalhar.
Ele vem com batatas fritas e salada de repolho. Mas você pode trocar essa salada por uma
salada da casa, se preferir. Só para que saiba, ela custa um dólar a mais. Deixe-me
primeiro pegar os drinques e anotarei o pedido. Precisam de mais alguma coisa enquanto
isso?
— Acho que não — respondi.
— Ok, já voltarei.
Quando ela foi embora, olhei Chance nos olhos. — E então, não parece que estamos em
casa?
— Se ela tivesse cinquenta anos e fosse um pouco rechonchuda, eu estaria me sentindo
em Idaho. Cresci comendo em restaurantes como esse. Obrigado por escolher esse daqui.
É difícil acreditar que estamos em Manhattan.
— Mais um motivo pelo qual adoro esta cidade — disse eu.
— Concordo.
— Por falar nisso, não perguntei ainda. Onde você mora?
— A minha sede é em Chicago.
— Sede?
— Tenho uma casa lá. Mas, como viajo tanto, não parece realmente ser o meu lar. Por
isso, chamo, de "sede". Parece mais preciso.
— Por que Chicago?
— Meu negócio fica lá. O que é intencional, pois me deixa bem no meio do país. Com o
aeroporto O'Hare lá, posso chegar a qualquer uma das costa em questão de horas, em vez
do tempo que levaria se eu morasse na costa leste ou oeste. É uma questão de eficiência.
— Você voltará para Chicago amanhã?
— Não, vou para Los Angeles por alguns dias. Depois, para Londres. Em seguida,
Paris. Depois, não sei onde estarei. Com sorte, de volta a Nova Iorque para que eu possa
encontrar você.
Eu já deixara bem claro para ele que aquela era a última noite que passaríamos juntos e
ele acabara de confirmar os motivos. Se queria acreditar que passaria daquela noite, que
conseguiria derrubar as minhas barreiras, era problema dele. E não havia problema algum
se estava apenas sondando o terreno para ver se eu queria mais, mas isso não mudou nada
para mim. Precisava permanecer firme na minha decisão de não me deixar envolver por
ele porque, sinceramente, achava que, se morasse lá, provavelmente eu me apaixonaria
por Chance. Para me proteger, precisava manter a guarda erguida. Portanto, só sorri para
ele. A última coisa que eu queria era arruinar o clima ou a noite.
— Parece que você leva uma vida movimentada — disse eu.
— Parece que você acabou de driblar a ideia de me ver novamente.
Eu abri a boca para falar, mas ele só ergueu a mão. — Minha vida pode ser intensa —
disse ele. — Mas, com tudo o que você faz, provavelmente não é mais intensa do que a
sua. Quantas horas você trabalha por dia?
— No verão? Pode chegar até quinze horas. Quando tenho aulas, pode ser um pouco
mais, principalmente porque também preciso estudar.
— Você ainda mantém dois empregos durante a época de aulas?
— Eu preciso. Caso contrário, não consigo pagar o aluguel. — Eu dei de ombros. —
Mas não estou reclamando. As coisas são assim e pronto. E tudo isso estará no passado
daqui a um ano.
— E depois disso? Permanecerá em Nova Iorque?
— Com certeza. Eu adoro esse lugar e espero encontrar um bom emprego aqui.
— Você encontrará — disse ele.
— Espero que sim, porque esse é mais ou menos o plano.
— O que quer fazer depois que se formar?
— Estou pensando em algumas opções. Eu poderia trabalhar em um dos museus da
cidade, o que seria recompensador. Poderia dar aulas, mas isso não paga muito bem. Ou
poderia trabalhar em alguma empresa, especialmente na área de marketing. Cada vez
mais, acho que é essa a direção que tomarei.
— E por quê?
— Porque é algo criativo. Se eu tiver sorte, poderei entrar para alguma equipe de
discussões incrível. E outros tipos criativos estariam à minha volta. No ambiente certo,
isso pode ser fantástico.
— Se você quiser que isso aconteça, acontecerá, Abby. E que lugar melhor do que
Nova Iorque para isso?
— Exatamente.
Antes que os drinques chegassem, continuamos a conversar e entramos em uma troca
de informações casual que pareceu estranhamente natural. Havia um ritmo entre nós que
fazia parecer que nos conhecíamos havia anos, não apenas dois dias.
Na noite da festa, ele me perguntara se eu sentira algo entre nós. Eu não sabia o que ele
quisera dizer naquele momento, mas entendia agora. Havia algo entre nós e era enervante.
Aquela noite estava cada vez mais parecendo um segundo encontro do que um caso de
segunda noite, como eu propusera.
Mantenha a guarda levantada.
Estou tentando.
Quando os drinques chegaram, nenhum dos dois tinha olhado o cardápio ainda. —
Desculpe — disse eu para a garçonete. — Nem olhamos o cardápio ainda. Pode nos dar
alguns minutos antes de fazermos o pedido?
— Sem problemas. Voltarei daqui a uns dez minutos. Está bem assim?
— Perfeito.
Quando ela se afastou, senti a perna de Chance encostar na parte de dentro da minha
coxa e começar a subir em direção à virilha. Quando ele a encontrou, ficou claro que, em
algum momento, tirara o sapato. Ele pressionou os dedos do pé firmemente contra mim e
começou a me acariciar, mantendo o olhar fixo no meu rosto.
— O que você está fazendo? — sussurrei.
— Mudando de assunto.
— Desse jeito?
— E por que não?
— Porque estamos em público.
— Mas isso não é parte da diversão?
Eu comecei a me sentir excitada.
— Aqui não é o lugar certo.
— Peça-me para parar e eu pararei.
O pé dele começou a pulsar contra o meu sexo. Eu me sentia exposta, mas também
excitada. E se alguém nos visse? Olhei em volta do restaurante. Mas a luz estava tão fraca
que eu duvidava que alguém conseguisse ver o que ele estava fazendo.
Ainda assim...
Ele pressionou o pé com mais força e senti uma onda de prazer invadindo-me o corpo
que fez com que meus mamilos ficassem rígidos. As sensações rítmicas que me
percorriam rapidamente se tornaram tão intensas que tive que colocar as costas da mão
sobre a boca.
— Isso é demais — disse eu.
— Como eu disse, peça-me para parara e eu pararei. Ou posso fazer com que goze bem
aqui. Em questão de segundos. Com todas essas pessoas à nossa volta. Fiz você gozar na
noite passada praticamente sem tocá-la. Posso fazer isso de novo... se você quiser. Basta
dizer as palavras, Abby.
Mas eu não tinha palavras.
— Deixe-me perguntar uma coisa a você — falou ele. — Quer viver a vida com
momentos de aventura? Ou quer que a vida passe como a maioria das pessoas o fazem. De
forma segura e protegida, sem surpresas? É essa a vida que você quer?
— Não.
— Então por que acho que não é isso? Por que sinto essa luta dentro de você?
Por causa da minha mãe. Por causa da forma como fui criada. Porque garotas
católicas comportadas não fazem isso.
— Eu não sei.
— Não sabe?
Eu não respondi. Mas a verdade era que, mais do que nunca, o que eu queria era o que
me deixava em conflito. Como minha tia comentara mais cedo, eu sempre fora a garota
comportada, e ela tinha razão. Eu sempre fui aquela que preferia um relacionamento de
longo prazo, não a que tinha casos de uma noite só... nem a que planejava um caso de duas
noites. Aquele ainda era um território estranho para mim. E Chance ainda era um estranho.
Eu não o conhecia bem o suficiente para que me tomasse daquele jeito. E, ainda assim,
permitia que fizesse exatamente aquilo. Eu ainda não o impedira, e era improvável que o
fizesse. Isso significava que, em algum nível, havia uma parte de mim que queria aquilo.
Algo tão arriscado como aquilo.
Quem era eu agora? Eu sempre fora essa pessoa? Ou simplesmente quisera ser essa
pessoa?
Chance prometera que derrubaria minhas barreiras naquela noite, mas eu nunca
esperara que ele fosse tão longe. Nem que eu fosse gostar.
Você quer viver uma vida sem surpresa alguma? Ou uma com aventuras?
A pergunta parecia ridícula, na verdade. Era óbvio que eu queria uma vida cheia de
aventuras. Era uma pergunta calculada, destinada a me instigar. E claramente funcionara,
pois fizera com que eu pensasse no assunto mais a fundo.
Minha tia vivera uma vida definida por aventuras, enquanto que minha mãe optara por
viver uma vida temente a Deus, envolta em uma coberta de segurança. Apesar de eu amar
e respeitar minha mãe, não fora ela que cativara minha imaginação durante minha
adolescência. Em vez disso, fora com a vida da minha tia que eu me identificara. Se a vida
dela fosse uma conta de banco, eu costumava pensar, então devia estar repleta de
aventuras e experiências românticas. Ainda achava isso.
Então por que não está vivendo a sua vida como ela viveu a dela? Sem limites. Sem
fronteiras.
Eu não tinha resposta para aquilo.
A verdade deprimente era que havia muito tempo que eu achava que não conseguiria ter
uma vida semelhante à da minha tia, nem que fosse porque isso acabaria com a minha
mãe. Eu sabia que ela desaprovava o caminho que a irmã dela escolhera. Por tempo
demais, eu soubera também que minha mãe era perita em manipular as pessoas. Quando
eu era jovem, sabia que ela sentira que havia alguma parte de mim que queria viver como
minha tia. E, portanto, em algum momento, ela devia ter me convencido a questionar as
decisões de minha tia, que considerava perigosas.
Eu fora criada para querer o que muitas mulheres da geração dela queriam: um caminho
previsível e em linha reta para o casamento, filhos e, talvez, se houvesse tempo, conseguir
alguma coisa parecida com uma carreira nesse meio tempo. Durante toda a minha vida,
minha mãe fizera de tudo para garantir que essa não era apenas a vida que eu deveria
querer, mas que era a vida que eu merecia. Ela reforçara a ideia de que, apesar de minha
tia parecer feliz, não podia ser feliz. Como poderia ser feliz sem amor na vida? Sem
filhos? Sem alguém que a estivesse esperando em casa? Alguém com quem poderia dizer
que estava apaixonada e que a amava?
Segurança.
E eu acreditara em tudo aquilo.
— Abby? — chamou Chance.
Olhei para ele e percebi que, em algum momento, ele retirara o pé. Eu nem notara.
— Você está bem?
— Sim, estou bem.
— No que estava pensando?
— Em nada. — Balancei a cabeça. — Ou em tudo. Provavelmente em tudo.
— Gostaria de conversar sobre isso?
— Agora não.
— Por um momento, você parecia assombrada.
Talvez eu estivesse. Talvez acabara de me ver como realmente era e quem eu não
queria me tornar. Talvez esse homem estivesse deixando-me mais perto de enfrentar o
passado e de reconsiderar o que eu queria para o futuro. Quando ele me telefonara mais
cedo, fora por impulso que decidira concordar com o encontro daquela noite. Quando
pedira para me ver, eu nem mesmo pensara duas vezes. Simplesmente concordara. Havia
um motivo para isso. Apesar de eu saber que precisava proteger o coração, também sabia,
só de ouvir a voz de Chance, que queria fazer sexo com ele novamente. Que queria os
lábios dele sobre mim de novo. Que eu queria que ele me abraçasse, queria senti-lo dentro
de mim novamente. Mas, mais do que tudo, em algum nível subliminal, eu devia ter
tomado a decisão de me libertar da pessoa em que fora moldada.
Apesar de eu não estar ciente disso na noite anterior, a mudança pela qual passava
começara aquele momento.
— Se você ficou chateada com o que eu disse, desculpe.
— Na verdade, quero agradecer por ter dito aquilo.
— Não entendi.
— Digamos apenas que acabei de resolver algumas coisas.
— Não sei o que quer dizer.
Não quero ser igual à minha mãe.
— Não importa. Mas importa. Dê-me o seu pé.
— Tem certeza?
— Eu não teria pedido se não tivesse certeza.
Ele levantou a perna, eu estendi a mão para pegar o pé dele e pressionei-o novamente
entre as pernas. Apertei o pé dele com as coxas. Em seguida, olhei para ele. — Faça com
que eu goze — disse eu em voz baixa. — Bem aqui, na frente de todo mundo. Quero saber
como é.
— Abby...
— Está tudo bem, Chance. — Acabei de ter um momento de revelação. — Eu quero
isso.
Apesar de parecer perplexo, ele obedeceu.
Apesar do ar-condicionado, que estava no máximo, não demorou muito para que eu
começasse a ficar com calor à medida que ele esfregava o pé em mim. O tempo passava e
as sensações aumentavam. Olhei em volta do restaurante e era como se olhasse por uma
lente olho de peixe. As pessoas estavam distorcidas. Minha respiração ficou curta e rápida.
Comecei a me sentir um pouco bêbada, apesar de nem ter tocado no martíni. Observei
quando ele levou o copo de uísque aos lábios e fiquei imaginando a sensação da boca dele
em mim naquele momento.
Todas as vezes que esfregava o pé em mim, ele fazia questão de passar sobre o clitóris.
Estava acariciando-me como se estivesse tocando um instrumento musical. E não era um
amador. Era um mestre naquilo. Com cada movimento delicioso do pé de Chance, o
restaurante parecia ficar mais escuro. Os sons diminuíram a ponto de eu só conseguir
ouvir o bater rápido do meu próprio coração. Em seguida, com uma certa violência, ele
empurrou o pé e torceu os dedos para que se enterrassem em mim. Antes que eu soubesse
o que estava acontecendo, o orgasmo explodiu.
Empurrei os quadris na direção dele e, ao fazer isso, arquejei, mesmo sabendo que
precisava me conter. Eu estava em um local público e o que sentia naquele momento não
era para diversão pública.
O mais discretamente possível, agarrei a beira da mesa em um esforço de me controlar
quando comecei a tremer com o toque dele. Senti que ficava mais molhada. Fiquei
extasiada quando o orgasmo me invadiu. Levei uma das mãos aos lábios para esconder o
que sentia, mas não sem antes, e de forma intencional, passar a mão de leve em um dos
mamilos, o que me deixou ainda mais excitada. Tive que reprimir um gemido ao sentir o
orgasmo e esperar que ele passasse.
Quando terminou, eu senti como se tivesse acabado de receber um passe para o outro
lado, onde minha tia vivera a maior parte da vida. Envolta em uma névoa, olhei para
Chance... e pisquei rapidamente.
— Beba o martíni — disse ele. — Pediremos o jantar e sairemos daqui. Você está bem?
Isso foi demais? Não foi o suficiente? Eu acho que não foi o suficiente. Parece que você
quer mais. E não se preocupe, não precisa dizer nada agora. Sinceramente, Abby, o olhar
no seu rosto diz tudo que preciso saber sobre você.
CAPÍTULO 16
Quando saímos do restaurante, não havia um táxi à espera. Dessa vez, era uma
limusine. Longa, preta e brilhante. O jantar fora um borrão que passara em um silêncio
febril. Eu mal encostara na comida, mas pedira outro martíni. Bebi o suficiente para que
me sentisse relaxada para enfrentar o que acabara de decidir e o que aconteceria mais
tarde.
— Não serve um táxi agora — disse Chance ao andarmos em direção ao veículo. —
Precisamos de privacidade.
Em que momento ele pedira um carro? Eu não fazia ideia.
Chance segurou a porta aberta, entrei no banco traseiro e ele se sentou ao meu lado. —
Leve-nos para o Plaza — disse ele ao motorista. Sem falar mais nada, ele pressionou um
botão que levantou um vidro, dando-nos a ilusão de estarmos sozinhos. Quando o carro
partiu, Chance colocou a boca sobre a minha. Senti um traço de uísque na língua e nos
lábios dele. Em seguida, ele se afastou e encontrou o meu olhar.
— Não sei o que está acontecendo com você nesse momento, mas não importa. Pelo
menos, não agora. Você estava linda lá no restaurante. Vi o momento em que você se
libertou. Vi quando deixou o véu cair.
Ele conseguia me enxergar tão facilmente? Eu era tão transparente assim? Antes que
pudesse responder, ele afastou minhas pernas e ajoelhou-se entre elas.
— Tire a calça — disse ele em voz rouca. — Quero sentir o seu gosto. Quero sentir o
gosto do que perdi mais cedo.
Eu fiz o que ele pediu, mas, pelo jeito, não fui rápida o suficiente. Ainda estava abalada
e lutei por um momento com o botão da calça jeans até que ele assumisse o controle.
Chance tirou meus sapatos, abriu a calça e deslizou-a pelas minhas pernas.
Prendendo os dedos nos dois lados da calcinha vermelha delicada que eu usava, ele a
puxou para baixo, mas não sem antes aproximá-la do nariz e sentir o meu cheiro. Chance
não tinha pudor algum relacionado ao sexo e eu o invejava por isso. Ele se sentia livre
para abraçar todos os aspectos do sexo e eu queria ser livre daquele jeito.
Quando jogou a calcinha para o lado, um raio de luz de um poste da rua atravessou o
vidro escuro à direita dele e passou-lhe sobre o rosto. Apesar de ter sido algo rápido,
quando vi a expressão dele, notei que estava tão excitado quanto eu.
Ele começou a me acariciar com a língua e minha respiração ficou irregular. A barba
por fazer no rosto dele encostou na pele macia da parte interna das minhas coxas e fez
com que eu sentisse ondas de prazer. Abaixei a mão, passei os dedos pelos cabelos escuros
dele e fiquei maravilhada ao notar como eram macios. Como eram densos.
Exatamente como ele...
Apesar de eu estar quente, molhada e pronta para ele, ainda assim cobri a boca com a
mão quando Chance enfiou os dedos em mim.
Para que fosse mais fácil, deslizei o corpo para baixo no banco e afastei as pernas um
pouco mais. Senti-me ridiculamente exposta a ele naquele momento, como se o que
estávamos fazendo fosse ilegal. Mas havia claramente uma guerra acontecendo dentro de
mim, pois o que acontecia me deixava excitada e, de alguma forma, libertada.
Se a noite anterior abrira algumas portas para mim, aquela noite prometia explodir meu
mundo inteiro e como eu me via dentro dele. Quem era eu? Estava realmente descobrindo-
me aos vinte e cinco anos de idade? Talvez eu fora aquela pessoa o tempo todo, só
estivera escondida sob a sombra das crenças pessoais da minha mãe e do que ela
acreditava sobre sexo e religião. Mais do que tudo, eu queria continuar a ser a mulher que
era naquele instante, alguém que podia se soltar e entregar-se totalmente, sem culpa nem
arrependimentos.
A pergunta era: isso era temporário ou permanente?
Quando ele colocou o polegar sobre o meu clitóris e começou a acariciá-lo, enquanto
continuava a me sondar por dentro com os dedos, tentei reprimir os gemidos, mas não
consegui. E não queria reprimi-los. Queria que aquilo fosse permanente. Por que não me
entregar ao prazer? Minha tia teria silenciado o que estava sentindo? Não, não teria. Ela
dividiria com o amante o que sentia. Portanto, novamente eu me soltei. Deixei que ele
ouvisse a minha voz e, quando fiz isso, vi Chance olhar para mim... e sorrir. Ele ergueu a
mão livre, deslizou-a por dentro do meu sutiã e acariciou um dos mamilos. Isso fez com
que eu arqueasse a cabeça para trás e começasse a estremecer sob o toque dele enquanto o
carro continuava o percurso em direção ao hotel.
— Quero sentir o seu gosto — disse eu.
— Ainda não.
— Sente-se perto de mim.
— Não.
— Por que não posso fazer a mesma coisa com você?
— Você vai fazer a mesma coisa comigo, mas não aqui. Você gozará de novo, Abby. E,
quando isso acontecer, farei com que sinta como se estivesse prestes a deixar o corpo.
Porque, só depois que viver isso várias vezes, acreditará que nunca deve negar essa
sensação a si mesma.
— Nada fará com que eu me reprima novamente. Eu quero isso.
— Você merece isso.
Eu agarrei a camiseta de Chance e puxei-a sobre a cabeça dele. Apesar de a iluminação
ser fraca dentro do carro, as luzes da cidade foram suficientes para que eu visse o suor
brilhando no peito musculoso. Estendi a mão para tocá-lo, mas ele não deixou. Retirando
os dedos de dentro de mim, ele segurou minhas mãos ao lado do corpo e prendeu-me no
lugar contra o encosto do banco.
— O importante não sou eu agora — disse ele.
— Mas eu quero...
— O importante é você. Pare de interferir. Você terá sua chance em breve.
Novamente, ele colocou a cabeça entre as minhas pernas. De novo, ele me levou à beira
do clímax e recuou logo antes de eu gozar. Pedi que me fodesse, mas ele não o fez.
Implorei, mas ainda assim ele se recusou. Em vez disso, a língua dele voltou às minhas
dobras, lambendo-as e acariciando-as de uma forma que nenhum homem fizera antes.
Estava tão determinado a fazer com que eu atingisse o clímax que a respiração dele ficou
acelerada com desejo enquanto aquecia a área entre as minhas coxas. Durante todo o
tempo, guardei cada detalhe na memória para que pudesse saboreá-los no dia seguinte, no
mês seguinte e nos anos que viriam. Aquilo não aconteceria comigo de novo, não daquele
jeito. Como algum outro homem conseguiria superar aquilo? Chance era tão habilidoso
que eu não imaginava que isso pudesse acontecer. Fechei os olhos e aproveitei o momento
como se fosse o último.
Quando cheguei ao clímax novamente, joguei a cabeça para trás no momento em que a
sensação me invadiu. A explosão foi tão intensa que gritei. Enquanto estremecia sob o
toque dele, lembrei que aquele era o início do fim para nós. No dia seguinte, ele partiria
para Los Angeles. Depois para Londres e, por fim, Paris.
A ideia da partida dele acabou por me arrancar do momento.
* * *
Quando chegamos ao The Plaza, nós nos vestimos novamente dentro do carro.
Enquanto colocava a blusa, a única coisa em que conseguia pensar era que aquela seria
a última vez em que eu estaria com Chance e como era importante que protegesse o meu
coração. Eu já sabia que poderia me apaixonar por ele. Mas também sabia que, se isso
acontecesse, só resultaria em um coração partido, o que era algo que eu não queria nem
aguentaria.
A vida dele era tão intensa. Ele era uma pessoa tão ocupada. Nem sabia quando estaria
de volta a Nova Iorque, o que era inaceitável para mim. Não importava o que acontecesse
entre nós nas horas seguintes, nem o que fosse dito no calor da paixão, eu precisava me
lembrar de que aquela noite só seria de sexo. A lição que eu precisava levar de tudo o que
acontecera e aconteceria era que podia me soltar e aproveitar o sexo sem medo, culpa nem
desculpas.
Se eu ignorasse a verdade da situação por um segundo, sabia que meu coração
desafiaria a mente na manhã seguinte e, talvez, nunca mais conseguisse me livrar dela.
Conferi a maquiagem em um dos espelhos da limusine e vi que não só os cabelos
estavam emaranhados, mas que o batom estava todo borrado. Abri a bolsa, peguei um
estojo de pó de arroz e uma escova de cabelos, e ajeitei o rosto e os cabelos para que
estivesse pelo menos apresentável ao sair do carro.
Em seguida, peguei o celular.
— Só um minuto — disse eu a Chance. — Prometi às garotas que enviaria uma
mensagem de texto para que não se preocupassem comigo. Preciso fazer isso.
— Não tem problema — respondeu ele. — Envie a mensagem.
Olhei para a marca no rosto dele e sorri. — Primeiro, deixe-me limpar isso.
— Limpar o quê?
Estendi a mão, esfreguei a mancha de batom no rosto dele e ergui o dedo sujo. — Isso
— disse eu. — Você não pode entrar no The Plaza assim.
— Isso não precisa terminar hoje à noite, Abby.
E lá vamos nós...
Mantive a cabeça abaixada enquanto digitava a mensagem. — Para sermos justos um
com o outro, nós dois sabemos que terminará.
— Por quê?
Enviei a mensagem e olhei para ele, não com raiva, mas com uma sensação de perda
que não consegui esconder na expressão. Queria que nossos momentos juntos fossem
memoráveis. Maravilhosos. Algo de que cada um de nós pudesse se lembrar com carinho.
Eu não queria que o impossível ficasse no caminho e falei com ele o mais gentilmente que
consegui. — Vamos para a sua suíte — disse. — Podemos conversar sobre isso amanhã de
manhã, se quiser. Mas não agora. Por que arruinar o tempo que ainda temos juntos?
Quando ele não respondeu, guardei o telefone na bolsa.
Chance bateu uma vez no vidro. Ouvi o motorista abrir a porta e sair do carro. Um
momento depois, a minha porta foi aberta.
Quando saí, o motorista não olhou para mim nem uma vez, mas eu ainda me sentia
como se estivesse fazendo a segunda caminhada da vergonha em dois dias. Ele sabia o que
acabara de acontecer, era claro que sabia. Provavelmente ouvira tudo. Mas ele era muito
profissional e só nos desejou uma noite agradável ao andarmos em direção à entrada do
The Plaza. Em seguida, andamos para dentro do prédio, atravessamos o saguão e entramos
em silêncio em um dos elevadores.
* * *
Apesar de o meu impulso ser o de fugir, decidi não ir embora antes que Chance
acordasse. Em vez disso, respeitei o desejo dele e fiquei. Fiz uma xícara de café na
cozinha da suíte. Bebi enquanto pensava sobre o que seria melhor para um de nós à frente
e esperei que ele acordasse para que pudéssemos conversar.
Passaram-se duas horas até que ele acordasse.
Olhei para Chance por sobre o ombro quando ele saiu do quarto usando um roupão
felpudo branco amarrado frouxamente na cintura. Eu ainda estava nua, mas não
importava, mesmo que ele não pudesse me ver completamente, pois eu estava de costas.
Ele vira minha alma. Ora, e o que ele não vira nos dois dias anteriores? Parecia conseguir
enxergar através de mim, então o que havia a esconder? Nada. E, além do mais, eu não
queria esconder nada dele, especialmente naquele momento. Ele merecia mais do que isso.
— Bom dia — disse ele.
— Bom dia.
— Estou feliz por ver que ainda está aqui.
—Algumas vezes, há um momento em que não é possível simplesmente correr, Chance.
Algumas vezes, as pessoas na nossa vida merecem mais do que isso.
Ele olhou para mim como se não tivesse entendido o que eu dissera, mas percebi que
era apenas porque ainda estava meio sonolento.
— O café provavelmente já está frio — disse eu. — Quer que eu passe um café novo
para você?
— Eu posso fazer isso.
— Está bem, faça isso e depois conversaremos. — Acenei na direção do quarto. — Há
outro roupão lá?
— No banheiro adjacente. Deixe que vou buscar para você.
Eu levantei da cadeira e fiquei parada nua em frente a ele. Vi os lábios dele se abrirem
quando percebeu que eu não estava vestindo nada.
— Eu posso pegá-lo — disse eu ao andar na direção dele. Nunca me sentira tão viva,
tão vulnerável e tão liberta. Mas aquele conflito de emoções era o que eu passara a esperar
de Chance. Olhei para ele com afeição ao me aproximar. Meu coração e meu cérebro
começaram uma batalha. Os dois queriam vencer. Os dois exigiam vencer. Mas somente
um deles poderia subir ao trono.
E eu já sabia qual seria.
— Faça o café — disse eu. — Voltarei em um instante.
* * *
No banheiro, joguei água fria no rosto, encontrei uma escova para pentear os cabelos e
olhei meu reflexo no espelho. Fiquei imaginando quem era aquela pessoa e como chegara
onde estava agora. Tudo acontecera tão depressa, que cheguei à conclusão de que não
sabia. Fora tudo um borrão. Por algum motivo, a vida me dera uma emboscada nos dois
dias anteriores. Mas o que eu deveria levar daquilo? O que deveria aprender disso? Não
apenas do fato de que eu conseguia me libertar sexualmente com alguém, mas de tudo o
que acontecera?
Talvez eu descobrisse no dia seguinte. Talvez não.
— Quer mais um pouco de café? — perguntou ele da cozinha.
— Seria ótimo tomar mais uma xícara.
— Como você quer o café?
— Preto.
Usei o banheiro e peguei o roupão extra que estava pendurado atrás da porta fechada. O
roupão era imenso, mas extremamente luxuoso. Enrolei-me nele e segurei-o fechado perto
do pescoço. Ao fazer isso, senti um traço do perfume dele, o que foi demais para os meus
sentidos.
Meu estômago se contorceu. Abri a torneira da pia no máximo e vomitei no vaso
sanitário. Quando terminei, eu estava praticamente esgotada. Dei descarga e lavei a boca
com água fria. Em seguida, abri um dos frascos pequenos de antisséptico bucal, derramei
na boca, bochechei por cerca de um minuto e cuspi. Eu não levara escova de dentes
comigo e aquilo teria que servir. Em algum momento, provavelmente quando estava
preparando-se na noite anterior, ele usara aquele roupão. Eu conseguia sentir o perfume
dele e isso só serviu para me deixar mais ansiosa sobre o que estava prestes a acontecer.
Vá até lá e enfrente-o.
Quando me juntei a ele novamente na sala de estar, Chance estava sentado em um dos
sofás, com o roupão meio aberto revelando o peito musculoso. Havia duas xícaras de café
sobre a mesinha de centro. Elas estavam perto uma da outra, indicando que ele queria eu
sentasse ao seu lado.
Mas eu não podia. Não naquele momento. Talvez nunca mais.
Sentei-me no outro sofá e olhei para as duas xícaras. — Qual das duas é minha? —
perguntei. — As duas têm café preto.
— O que é meu é seu — disse ele. — Escolha o seu veneno.
Ele não era canhoto. Portanto, escolhi a xícara à esquerda dele e tomei um gole. —
Você dormiu bem? — perguntei.
— Sim, até o momento em que você saiu. Depois disso, só fiquei deitado, cochilando de
vez em quando. Quer tomar café da manhã? Posso chamar o serviço de quarto.
— Não estou com fome — respondi. — Mas, por favor, se você estiver, telefone e peça
o que quiser. Eu não me importo.
Ele me estudou por um momento e disse: — Então por que não conversamos, Abby?
Você está acordada há horas remoendo a situação na cabeça, a ponto de se sentir mal.
Ouvi você no banheiro e detesto o fato de estar se sentindo assim. Portanto, por que não
conversa comigo? Tenho a sensação de que sei onde isso vai dar e posso dizer, nesse
minuto, que não gosto da direção que você está tomando. Mas preciso ser justo com você
e tenho que respeitar os seus desejos. Então, diga-me, o que está pensando? E por que está
com esse ar tão triste?
Eu não percebera isso.
— Não devemos dividir a conversa?
— Não se você já tomou uma decisão sobre nós.
Na maior parte, eu já tomara uma decisão, mas decidi adiar o momento porque havia
uma pergunta que precisava fazer. — Você se lembra do que me disse na noite passada?
— Eu disse um monte de coisas na noite passada. Algumas delas provavelmente foram
bem obscenas.
— Algumas foram, sim. Não que eu tenha me importado muito. Estou falando sobre o
que você me disse logo antes de cair no sono. Você se lembra do que me disse? Ou foi
apenas por causa do sono e você não sabia o que estava dizendo?
Ele inclinou o corpo para a frente e pegou a xícara de café. — É claro que eu me lembro
do que disse. E disse aquilo por um motivo. Pedi a você que não fosse embora. Pedi a
você que nos desse uma chance.
Aquilo me surpreendeu. Na noite anterior, achei que ele estava sonolento demais para
lembrar muito do que dissera. Mas eu estava errada. Ele se lembrava, o que significava
que devia estar falando sério.
— Você achou que eu não lembraria? — perguntou ele.
— Achei que já estivesse meio dormindo.
— Eu falei sério. Quero que você fique. Quero mais tempo com você. Quero ver como
isso se desenrolará.
— Você parte para Los Angeles hoje. Depois para Londres e Paris. Você mesmo me
disse que não sabe quando voltará novamente para Manhattan. Então, preciso perguntar,
Chance. De que adianta levar isso mais adiante?
— O problema é o que está bem aqui, entre nós. O problema é que não devemos ignorar
isso, seja lá o que for. É por isso.
— Na noite passada, fui clara com você. Disse a você que não mantenho
relacionamentos à distância. Esse tipo de estilo de vida não seria justo comigo nem com
você. É a receita do fracasso. É a receita para a mágoa.
— E se eu mudasse isso?
— Como?
— E se eu me mudasse para cá?
— Quando?
— Não sei quando, mas se eu me mudasse para cá?
— Muito bem. Então você se muda para cá. Mas ainda viajará durante a maior parte do
tempo, o que significa que não estará aqui de verdade. Estará em Los Angeles. Madri.
Istambul. E sabe-se lá para onde mais você costuma viajar. Você me disse que mora em
Chicago, mas só considera a sua casa como uma base. Há quanto tempo mora lá?
— Sete anos.
— E ainda assim não é o seu lar? Como espera que Manhattan se torne o seu lar?
— Porque você estaria aqui.
— E eu teria que esperar semanas ou meses até que você encontrasse espaço na sua
agenda para me visitar. Não vê como isso seria difícil para nós? Ou está preparado para
parar de viajar? Para administrar os seus negócios de Manhattan? Para contratar alguém
que assuma os seus deveres para que possamos explorar isso? Porque, se não estiver, devo
dizer, para o nosso próprio bem, não há por que continuar. Só vamos nos machucar.
Ele não respondeu e eu sabia o porquê. Ele amava o trabalho. Dissera que estava pronto
para ver como as coisas se desenrolariam entre nós. Mas o fato de ter evitado a minha
última pergunta sugeria que não estava.
— Não dará certo, Chance. Passei um tempo maravilhoso com você nos últimos dois
dias, mas já está claro que nada mudará muito, exceto talvez você se mudar para
Manhattan. Esses últimos dois dias foram especiais. Você me fez enxergar que estou
pronta para seguir a vida e namorar novamente. Eu queria que fosse com você, mas acho
que está envolvido demais nos negócios para ter tempo para mais alguma coisa.
— Você não sabe.
— Está bem. Digamos que eu esteja errada. Digamos que você consiga encontrar tempo
para nós. O que me preocupa é que, em algum momento, você começará a se ressentir e
jogar a culpa em mim. Por tê-lo afastado do trabalho. É algo com o que eu não conseguiria
conviver.
Ele balançou a cabeça. — Você realmente supõe coisas demais, Abby.
— Então questione o que estou dizendo.
— Há alternativas para isso tudo.
— Que alternativas?
— Você precisa me dar algum tempo para pensar nelas.
— Então, você não tem uma resposta.
— Obviamente, eu precisaria de tempo para resolver as coisas. Não há nada de absurdo
nisso. — Ele estreitou os olhos. — Por que você está tão disposta a ficar jogando
obstáculos?
— Porque eu sou realista.
— Ah, isso de novo.
— Alguém precisa ser. Escute, sou uma mulher tentando terminar a universidade, o que
demorará mais um ano. Você é um homem que já conseguiu isso. Você tem uma
corporação internacional que exige seu tempo e sua atenção. Diga-me como uma situação
como esta pode ter um final feliz? Eu não acho que tenha. Então, é com afeição que eu
digo que devo simplesmente ir embora. Será melhor para nós dois.
— Sabe de uma coisa, Abby? As vezes em que você mais resiste são as vezes em que
deveria esquecer toda a resistência. O seu medo está lhe dizendo que isso é algo que não
deseja enfrentar, por algum motivo. Mas talvez deva enfrentar.
— Que medo?
— De que eu vá pular fora. De que eu não levarei isso a sério.
— E quanto tempo levaria a mudança para Manhattan? Um ano? Dois?
— Você sabe que tenho uma suíte aqui.
— Uma suíte não é um lar. Escute, fui honesta com você ontem, Chance. Eu lhe disse,
quando me telefonou, que a noite passada seria a última para nós. Mas você pareceu
determinado a complicar as coisas.
— É porque eu sei que isso pode dar certo. Eu esperava que você quisesse a mesma
coisa. Consegue realmente ficar aí sentada e negar que não há alto tangível entre nós?
— Não, não consigo.
— E com que frequência isso acontece com você, Abby?
— Com essa rapidez, nunca aconteceu — admiti.
— E devemos simplesmente ignorar isso?
— Neste caso, talvez seja melhor ignorar.
— Meu Deus, você é frustrante.
— Não é essa a intenção.
— Acho que você só está com medo.
— Por todos os motivos que citei, por que não estaria? Eu adoraria assumir o risco e
tentar ir adiante com você? Sim. Mas somente se as circunstâncias fossem diferentes. Eu
não quero ser a mulher que pediu a você que se mudasse para Manhattan e desistisse do
verdadeiro amor da sua vida, o seu trabalho. Se eu fizesse isso, nada disto terminaria bem.
Tenho a sensação de que você vive mais para o seu trabalho do que faria por qualquer
relacionamento.
— Você continua repetindo isso e agora estou começando a ficar realmente irritado.
Diga-me, como você chegou a essa conclusão quando não faz a menor ideia do que há
dentro do meu coração nem do que quero para o meu futuro? Seja com você ou com
qualquer outra pessoa?
— Porque você dedicou anos ao seu negócio. Trabalhou muito duro para chegar onde
está. Só tivemos dois dias juntos. Estou sendo irracional? Por que eu deveria pensar
diferente? — Eu me inclinei na direção dele. — Deixe-me perguntar uma coisa, Chance.
Você já esteve em um relacionamento sério?
Ele se remexeu no sofá e vi um brilho de algo indesejado no rosto dele. — Uma vez.
— Quanto tempo durou?
— Quatro anos.
— E por que acabou?
Quando ele olhou para mim, parecia inquieto, abalado e como se eu tivesse acabado de
evocar uma lembrança terrível. — Acabou porque ela morreu de câncer — disse ele.
E, quando ele disse aquilo, a única coisa que consegui fazer foi fechar os olhos. O que
eu acabara de fazer a ele? Eu me senti enjoada novamente. — Eu sinto muito, mesmo —
disse eu. — Não fazia ideia.
— Não há motivo para sentir. Como poderia saber? Eu não contei a você sobre Beth.
Mas eis o que eu aprendi com ela, Abby. Quando nós nos conhecemos, tínhamos vinte
anos. Foi como mágica e a conexão foi instantânea. — Ele estalou os dedos. —
Instantânea. Mais de uma vez, eu disse a você que o que está acontecendo entre nós é
raro. Agora você sabe por que eu disse isso. E por que continuarei dizendo. Só senti isso
uma vez na vida e foi com Beth. Ela morreu há sete anos. Até dois dias atrás, isso não
tinha acontecido comigo de novo. Mas aqui está você agora, sentada à minha frente e
posso jurar a você que aconteceu de novo. Mesmo depois de eu ter achado que não
poderia acontecer.
Eu não disse nada. Não havia nada a dizer. Ele acabara com todos os meus argumentos.
— A coisa agora ficou séria, hein?
O que eu poderia dizer a ele depois daquela confissão?
— Do que você tem medo, Abby?
— Eu já lhe disse. De que isso não dê certo. De sair machucada. E de possivelmente
machucar você. Eu não quero fazer isso com você. E nem comigo.
— Eu acho que é um pouco mais profundo que isso. Acho que você tem medo de se
arriscar.
— Arriscar o meu coração? Concordo. Ele já foi partido duas vezes. Levei um ano para
me recuperar da última vez. Ele me traiu. Quando eu me comprometer com outro homem
novamente, quero ter certeza de que dará certo.
— E como pode ter certeza?
— Eu acho que...
— E como pode ter certeza? — insistiu ele.
— Eu acho que não posso.
— O seu problema é que prefere ficar nessa prisão segura e protegida do que se
aventurar no desconhecido.
— Por que está fazendo isso? — sussurrei.
— Porque quero mais de você. Porque acho que vale a pena lutar por você. Porque
quero ver o que acontecerá entre nós.
— A que custo?
— A todo custo. Você vive dizendo que só nos conhecemos há dois dias. Bem, eu
conhecia Beth havia um dia e ficamos juntos por quatro anos antes de ela ser roubada de
mim. Não terminou porque não estávamos mais apaixonados um pelo outro. Terminou
porque ela morreu. O que você não entendeu disso?
Aquilo era demais. Nada estava indo do jeito como eu planejara. Ele estava sendo mais
resistente do que eu imaginara e estava ficando visivelmente furioso comigo. Ele estava
usando argumentos que eu não esperara. Eu me sentia desconcertada naquele momento.
Perdida. No fundo do coração, não conseguia ver sinceramente como aquilo poderia dar
certo entre nós. Se conseguisse, eu ficaria. Mas não conseguia e levantei-me para me
vestir e ir embora antes que as coisas ficassem realmente feias.
— Você precisa pegar um avião daqui a pouco — disse eu.
— Eu só preciso pegar aquele avião daqui a quatro horas e ele é meu. Posso cancelar o
voo no momento em que eu quiser. Não que isso importe. Já vi que você quer ir embora e
não vou impedi-la.
— Sinto muito, Chance.
— Sobre o quê?
— Sobre o fato de que isso não dará certo.
Ele esperou que eu chegasse ao quarto e disse: — Quem disse que não deu certo? Quem
disse que não dará?
* * *
* * *
— Do que está falando? — perguntei a ela. — Isso vindo de você? Dentre todas as
pessoas?
— É óbvio que ele está louco por você. Ele chegou a dizer isso com todas as letras?
Não, mas isso é uma coisa dos homens. Antes de irmos adiante, a pergunta é: você está
louca por ele? Então, vamos ouvir a sua resposta: está louca por ele?
— É complicado — respondi.
— Muito bem. Já que estamos aqui, vamos deixar de rodeios. Está louca por ele ou
não?
— Acho que você já sabe a resposta.
— Ótimo, então você está completamente louca por ele. Ótimo. Excelente. Já entendi. E
ele sente a mesma coisa, apesar de nenhum dos dois ter dito isso em voz alta.
— Não com todas essas palavras, mas estava implícito. Estávamos andando sobre ovos
durante a conversa. Bem, pelo menos eu estava. Pude ver que ele estava frustrado comigo
porque tinha mais certeza sobre isto tudo que eu. Ele estava centrado. Tinha mais
argumentos. Mas o meu medo levou a melhor. A última coisa que eu disse a ele era que
não daria certo. E, mesmo assim, ele não se abalou pelo comentário. Antes de eu ir
embora, ele falou: "Quem disse que não deu certo? Quem disse que não dará?"
— Bem, tem isso — disse Brooke.
— Deixe-me entender isso direito — falou Elle. — Ele disse que estava disposto a se
mudar para cá por você?
— Disse, mais de uma vez.
— E quando você perguntou a ele se reduziria as viagens, ele disse que precisava de
tempo para resolver isso?
— Isso mesmo.
— E você recuou?
— Recuei. Por que não recuaria? Ele não me deu uma estimativa de tempo. Eu deveria
esperá-lo um ano ou mais?
— De onde você tirou esse tempo?
— Não sei. Só supus que, dada a posição dele, levaria esse tempo todo.
— Com base em quê?
— Com base em nada, acho. Sou a primeira a admitir que não conheço o mundo dele.
Mas grandes negócios são grandes negócios. No mínimo, achei que estava sendo justa.
— Esse homem tem os meios para fazer o que quiser no tempo que quiser. Portanto,
vamos dar a ele o benefício da dúvida. Se ele está sendo honesto com você, então tenho
que concordar com ele. Ele administra uma corporação internacional. Se falou sério sobre
explorar alguma coisa a mais com você, sabe que precisaria contratar alguém para assumir
essas obrigações e que isso levaria tempo. Não há nada de absurdo nisso. Na verdade, faz
muito sentido. Mas é algo mais profundo que isso. Pelo que você nos disse, esse é um cara
que pode ter qualquer mulher que quiser. Então, por que teria esse trabalho todo para
convencer você a dar a ele uma chance se não estivesse falando sério? Foi isso que me fez
repensar o caso. Por que se preocupar com isso se não está falando sério? Se ele só
quisesse sexo, não agiria desse jeito. Não teria dito que queria resolver as coisas. Em vez
disso, teria simplesmente partido para a próxima mulher, é assim que as coisas são com a
maioria dos homens. Mas preste atenção. Não foi isso que ele disse. — Ela ergueu as
mãos. — Eu acho que ele falou muito sério.
— Então eu estraguei tudo — disse eu. — Que ótimo.
— Não. Só acho que tudo o que ele jogou em cima de você esta manhã foi demais.
Você não estava preparada. Acho que ficou assustada.
— Foi o que ele disse. E vocês dois estão certos. Eu estou assustada.
— Por quê? Porque poderia se machucar novamente?
— Em parte, sim. Mas não é a maior parte.
— E qual é a maior parte?
— Não consigo aceitar o fato de que ele está disposto a mudar a vida por alguém que só
conhece há dois dias.
— Está bem, você precisa superar isso. Como eu disse, algumas vezes essas coisas
simplesmente acontecem. Também parece que ele está dizendo que teria feito a mesma
coisa por Beth quando eles se conheceram. E que ele acha que tem com você o que
poderia ter tido com ela. Se vamos aceitar a palavra dele, o que acho que ele merece a
essas alturas porque teria sido mais fácil simplesmente continuar a vida, ele não teve um
relacionamento sério desde que ela morreu. Mas, subitamente, aí está você na vida dele.
Brooke e eu sabemos como você é especial. Ele também viu isso. Então, deixe-me
perguntar uma coisa a você: agora que conversamos sobre o assunto, como se sente?
— Como se tivesse cometido um erro.
— E quer consertá-lo?
— Como posso consertar isso, Elle?
— Por causa do que ele disse a você antes que viesse embora. Então, responda à minha
pergunta. Você quer ou não consertar isso? Quer dar a esse cara uma chance ou quer
continuar a vida? A escolha é sua. Não há pressão alguma. Brooke e eu apoiaremos você,
não importa o que decidir. Mas o tempo está acabando. Diga-nos o que quer fazer.
— Quero consertar — respondi.
— Então vamos fazer isso.
— Como?
— Você disse que ele parte para Los Angeles hoje. Em um jatinho particular?
— Ele disse que era dono do avião.
— Então é um jatinho particular. A que horas sai o voo?
— Quando eu o deixei, ele falou que o voo sairia quatro horas depois. Mas também
disse que poderia cancelar o voo a qualquer momento.
Ela se levantou do sofá. — O problema é que não sabemos se ele cancelará, o que
significa que precisamos sair daqui o mais depressa possível. — Ela se virou para Brooke.
— Encontre alguma coisa para ela vestir. Passe a ferro. Algo bonito. Aquele vestido
branco de verão será perfeito.
— Que vestido branco de verão? Ela tem vários.
— Aquele que você está sempre tentando roubar dela. O que tem as rosas. Não há
tempo para um banho, mas ela não precisa dele. Posso fazer com que os cabelos e o rosto
dela pareçam tão frescos como se tivesse acabado de sair do banho. — Ela se virou para
mim. — Faremos isso juntas. Levaremos você ao aeroporto para que possa interceptá-lo
antes que ele vá embora.
— Mas não sei de que aeroporto ele sairá — disse eu.
— Merda — disse Elle. — Brooke, como podemos descobrir?
— Posso pesquisar no Google qual é o aeroporto que a empresa dele normalmente usa.
Se isso não der certo, telefonarei para todos os aeroportos até descobrir. Não é nada
complicado e não deve demorar muito. Vou cuidar disso.
— Então cuide disso depressa. Não há tempo a perder.
CAPÍTULO 19
* * *
— É Chance — sussurrei.
— Ah, não, mentira — disse Elle.
— Não estou pronta — disse Brooke. — Não ouse deixá-lo entrar.
— É ele. Juro por Deus que é ele.
— Como ele conseguiu entrar no prédio?
— Alguém deve ter saído do prédio e ele entrou enquanto a porta estava aberta. Ou vai
saber, em se tratando dessa merda de prédio? A maldita porta pode ter ficado entreaberta.
A fechadura pode estar quebrada. Depressa!
— Eu consigo escutar vocês do outro lado da porta — disse Chance em uma voz alta e
profunda o suficiente para que eu escutasse. — E vocês têm razão, esperei alguém sair
antes de entrar. Esperei quarenta e cinco minutos para que isso acontecesse. Então, sabe,
espero que me deixem entrar. Pelo menos, pela minha perseverância.
— Pelo amor de Deus, e agora? — disse Elle.
— O que eu faço?
— Você me deixa entrar — disse ele.
— Ele consegue escutar tudo? — perguntou Brooke. — Será que escutou eu fechando o
sutiã?
— Isso não — respondeu ele.
— Você ouviu aquilo?
— Ele trouxe flores — disse eu em voz mais baixa.
— E elas precisam de água — retrucou ele.
— Ele realmente consegue escutar tudo.
— Praticamente tudo, sim.
— Estou vestida — disse Elle, saindo do quarto.
— Eu também — disse Brooke.
— Então, vamos lá, abra a porta — disse Elle. — Vamos resolver isso logo.
Respirei fundo para criar coragem para abrir a porta. Mas, por algum motivo, quando eu
a abri e vi Chance encostado no batente da porta, parecendo tão feliz em me ver, a
coragem desapareceu.
* * *
* * *
Quando nossos lábios se separaram, ele procurou o meu olhar e colocou a palma da
mão no meu rosto antes de me beijar novamente.
— Meu Deus, ele é um gato — disse Brooke.
Naquele momento, só o que eu consegui fazer foi balançar a minha cabeça para ele.
Quando Chance entrou no apartamento, parecia não haver lugar para ele. O teto era baixo
demais e os ombros dele, largos demais. Ele praticamente enchia o espaço da porta. Ele
me entregou o buquê de rosas, que cheirei antes que Elle o tomasse de mim.
— Deixe-me colocá-lo em um vaso — disse ela. — Depois, Brooke e eu deixaremos
vocês dois sozinhos para que possam conversar.
— Onde vamos vestidas desse jeito? — perguntou Brooke.
— Para a Starbucks — disse Elle por entre os dentes. — Como fizemos ontem.
— Você é tão grossa, Elle, eu só estava perguntando. Mas, sim, a Starbucks serve. E,
por falar nisso — disse ela, olhando Chance da cabeça aos pés —, você é muito alto.
— Sou um garoto da fazenda que gosta de legumes — disse ele ao estender a mão para
ela. — Sou Chance.
— Quem mais você poderia ser?
— E você é?
— Brooke. Elle é a controladora que está cuidando das rosas. Por que não consigo
afastar o olhar de você? O que é essa coisa hipnótica que você tem? Meus olhos estão
cheios de estrelas?
Coloquei a mão nas costas dela. — Talvez porque a sua taxa de açúcar no sangue esteja
baixa demais — respondi. — Você ainda não tomou café da manhã. E não dormiu o
suficiente.
— Eu duvido muito que seja esse o motivo. Eu acho que é porque Chance é um pedaço
de mau...
— Brooke!
— De qualquer forma — disse Elle ao voltar para a entrada do apartamento —,
estaremos na Starbucks. — Ela se apresentou para Chance e eles apertaram as mãos. — É
um prazer conhecê-lo, Chance.
— O prazer é meu, Elle. E sinto muito por achar que precisa sair correndo. Vocês
podem ficar. As melhores amigas de Abby deveriam ouvir o que tenho a dizer a ela.
— Então, lamento, mas nós ficaremos — disse Brooke.
— Não, não vamos — disse Elle. — Estaremos observando as pessoas na Starbucks. É
isso o que faremos. Agora, vamos dar a esses dois um pouco de privacidade. — Ela olhou
para mim. — Telefone quando quiser que voltemos para casa. Não precisa ter pressa, está
bem?
— Obrigada, Elle — disse eu.
Quando elas passaram por mim e Chance, vi o olhar no rosto de Elle. Ela estava tão
abalada pela presença dele quanto Brooke, mas era contida o suficiente para não
demonstrar tão facilmente. Ela permaneceu calma, mas eu notei, pela forma como abriu os
lábios ao passar por ele, que o achava tão atraente quanto eu.
— Até mais tarde — disse ela. Quando abriu a porta, ela pegou a mão de Brooke e
arrastou-a para o corredor. Eu a fechei atrás delas e fiquei novamente sozinha com
Chance.
CAPÍTULO 20
* * *
Mais tarde, depois de telefonar para as garotas e avisar que poderiam voltar para casa,
acompanhei Chance até a porta. Ele estava de terno e eu de roupão.
— Jantar hoje à noite? — perguntou ele.
— Acho que não tem problema ligar para o trabalho e dizer que ainda estou doente.
— Se você for demitida, posso lhe oferecer um emprego.
— Olhe só para mim, já estou dormindo com o chefe.
— Estou falando sério. Mas também sei que quer manter a sua independência. Então,
cruzaremos esta ponte se e quando chegarmos a ela. Mas lembre-se de que a ponte existe,
está bem? — Ele se inclinou e beijou-me nos lábios enquanto vestia o paletó. — E, por
falar nisso, aposto como pago mais.
— Se e quando chegarmos a essa ponte, conversaremos sobre o assunto — respondi. —
Mas obrigada pela oferta. E obrigada por todo o resto, Chance. Falo sério.
— Lembre-se deste momento, Abby.
— Por que este momento?
— Porque, quando olharmos para trás daqui a vários anos, este será um dos momentos
mais importantes que teremos. Este será o momento em que tudo mudou. No meu coração,
e acredito nisso, este é o momento que nos levará a uma vida inteira de felicidade.
* * *
Quando Brooke e Elle voltaram para casa, estavam cheias de perguntas, incluindo o
motivo de eu estar diante delas de roupão.
— Como se vocês não soubessem — disse eu.
— Bote para fora — disse Elle.
Fomos para a sala de estar e sentamo-nos. Contei a elas tudo o que fora dito e tudo o
que acontecera.
— Estou tão feliz por você — disse Brooke. — Isso precisava de um final feliz e você
conseguiu. Você merece um final feliz.
— Estou pensando nisso como um começo feliz.
— Eu também — disse Elle. — Por falar nisso, gostei dele à primeira vista. Gostei
especialmente da forma como ele cuidou da situação, que era complicada. Ele parece um
homem bom. Agora entendo por que você estava tão dividida hoje de manhã. Que bom
para você, Abby. Concordo com Brooke, você merece isso. Aproveite o que vier.
— Quando você o encontrará novamente?
Virei-me para Brooke. — Hoje à noite, para jantar.
— Mas você trabalha à noite.
— Vou telefonar dizendo que continuo doente.
— Quem se importa? — comentou Elle. — Olhe, você trabalhou naquele buraco por
um ano inteiro e só faltou uma vez, que foi ontem. E daí? Sua gripe ficou pior. Acontece.
As pessoas ficam doentes. Você ficará bem.
— É, também acho.
— Onde vocês vão jantar?
— Ele não disse.
— Será que ele fará com que você goze em público novamente? — perguntou Brooke.
— Aquilo foi bem excitante.
— Estou achando que talvez isso deva se tornar um hábito.
— Estou achando que você devia procurar um psiquiatra.
— O que ele fará esta tarde? — perguntou Elle. — Por que você não está com ele
agora?
— Em primeiro lugar, porque eu queria conversar com vocês duas sozinha. Em segundo
lugar, ele precisa resolver alguns negócios antes de se afastar por duas semanas. Pelo jeito,
acho que em breve vamos procurar um apartamento para ele.
— Lembre-se de olhar para o apartamento como um possível lugar em que vá morar.
— Não vamos botar o carro na frente dos bois, Elle.
— Escute bem — disse ela. — Estou falando sério. Você precisa pensar assim.
Ninguém sabe o que futuro trará. Hoje é uma prova disso.
— Diga a ela o que aconteceu — disse Brooke.
— O que aconteceu onde? — perguntei.
— Você nem vai acreditar nisto — disse Brooke.
— Acreditar no quê?
— Você se lembra de Aiden Shaw? — perguntou Elle.
Demorei um pouco, mas acabei lembrando dele. — Aquele garoto com rosto de bebê
que você namorou durante o primeiro ano na faculdade?
— Ele mesmo.
— O que tem ele?
— Nós o vimos na Starbucks. Ele mora aqui agora. E digamos apenas que ele perdeu
aquele rosto de bebê. Ele está incrivelmente bonito. — Ela puxou os cabelos escuros para
trás e prendeu-os em um coque na nuca. — Ele também me chamou para sair.
— Aiden? — perguntei. — Mas ele era tão...
— Chato? Você não me entendeu? Incrivelmente excitante na cama, motivo pelo qual
eu fiquei com ele por tanto tempo? Sim, é ele mesmo.
— Você pretende sair com ele?
— Por que não? As pessoas mudam.
— E esse cara mudou — disse Brooke. — Abby, você deveria vê-lo. Ele parece uma
versão refinada do que era. Está lindo, mas também muito charmoso, algo que não lembro
de ele ser. Sempre achei que ele era um pouco metido a besta, mas o tempo parece tê-lo
deixado mais manso. Ele está muito mais refinado agora.
— Você tinha dezoito anos quando saiu com ele pela primeira vez, certo? — perguntei
a Elle.
— Isso mesmo, uma criança ainda.
— Nada como sete anos para ajudar alguém a crescer. Talvez ele tenha crescido. O que
ele faz agora da vida?
— Não faço ideia. Ele disse que me telefonaria em breve. Veremos se telefonará
mesmo. E se telefonar? Eu já me decidi. Depois do que vi hoje, vou dar ao Aiden Versão
2.0 mais uma chance.
# # #
Obrigada por dar uma chance a CHANCE. AIDEN é o próximo da série "Mais Uma
Noite", a ser lançado em breve! Como CHANCE, ele também será um romance
independente.
A seguir, está um breve excerto do meu bestseller internacional, que foi traduzido em
vários idiomas e vendeu mais de 2.000.000 cópias em todo o mundo: Acabe Comigo. É
minha primeira série. Se ainda não o fez, confira!
CAPÍTULO 1
* * *
Abalada pela conversa, saí do escritório da mulher e caminhei cegamente pelo corredor
até os elevadores. Dezenas de homens e mulheres andavam em minha direção ou
passavam por mim, e todos tinham um emprego. O que há de errado comigo? Por que
não consigo um emprego? Estou quase sem dinheiro. Se não encontrar alguma coisa
logo, não sei o que farei.
Senti as lágrimas queimando nos olhos, mas não iria chorar, de jeito algum, e as engoli.
Você é melhor do que isso. Isso não é para você. Foi tudo culpa dela. Escute Lisa.
Pense em um emprego de garçonete. Poderia lhe dar o tempo de que precisa para
encontrar o emprego que deseja. Você tem experiência como garçonete. E precisa do
dinheiro. Concentre-se nisso.
Fui até um dos elevadores e pressionei o botão para descer. Apesar do ar-condicionado,
senti mais calor do que sentira no apartamento. Fiquei esperando que o elevador chegasse
e não pude evitar de ouvir mentalmente a voz do meu pai.
Você vai fracassar, sabia? Você vai fracassar e voltar correndo para nós. Bem, eis
como as coisas são, garota. Se fracassar, talvez não a queiramos de volta. Talvez eu e sua
mãe estejamos muito bem sem você. Pense nisso se for embora.
Na verdade, fora aquela conversa que me convencera a partir. Lisa e eu tínhamos nos
formado na semana anterior. Telefonei para contar a ela o que o meu pai dissera e, no fim
daquela semana, garantimos nosso pequeno apartamento horroroso por meio de um
corretor em Nova Iorque, colocamos nossas coisas dentro do Golf de dez anos de Lisa,
que tínhamos apelidado de Gretta muito tempo antes, e deixamos o Maine e nossas vidas
anteriores para trás.
— Gretta nos tirará daqui — dissera Lisa quando chegamos na I-95 Sul. — Pode ser um
carro velho mas nunca me deixa na mão. Faremos isso juntas. Meu livro está pronto, a
capa é demais, mas o texto precisa de uma boa revisão sua antes que eu o coloque na
Amazon. Quem sabe o que acontecerá com ele? Talvez estoure. Mas, mesmo que isso não
aconteça, temos uma à outra, como sempre. Nós conseguiremos juntas. Não deixe aquele
bêbado do seu pai afastá-la dos seus sonhos. E, por favor, não deixe que ele entre ainda
mais na sua cabeça e a prejudique mais do que já fez.
Era mais fácil falar do que fazer. As palavras do meu pai me assombravam, como
sempre o fizeram. Talvez ele visse a verdadeira Jennifer Kent. Talvez ele me visse como
eu realmente era: um fracasso. Alguém que, depois de quatro meses, não conseguira um
maldito emprego em uma das maiores cidades do mundo.
As portas do elevador se abriram. Não havia ninguém dentro dele, o que era uma
bênção. Entrei, pressionei o botão para o térreo e encostei-me na parede do elevador.
Não vou chorar.
Mas chorei. Eu estava brava, furiosa, e achava que não tinha outra opção além de
encontrar um emprego como garçonete em um restaurante chique. Isso, claro, significaria
outra rodada de entrevistas, pois precisava encontrar um excelente restaurante que pagasse
bem. Eu me senti desanimada com a perspectiva de ter que começar tudo de novo. Meus
olhos começaram a se encher de lágrimas por causa da frustração.
Para meu horror, quando as emoções assumiram o controle, o elevador desacelerou ao
se aproximar do 47º andar. Rapidamente limpei as lágrimas dos olhos, preocupada por ter
borrado o rímel, e baixei a cabeça quando as portas se abriram para que ninguém
conseguisse ver como eu estava tão profundamente triste, furiosa e desesperada.
Mas não fui rápida o suficiente. Por um instante, o homem que entrou no elevador me
encarou. Ele olhou para mim com preocupação, viu que o botão do térreo já estava aceso e
ficou parado ao meu lado.
As portas se fecharam. Um silêncio desconfortável se estendeu entre nós.
Ele era lindo. Claro que era. Por que não seria lindo? Por que o universo pararia de me
sacanear agora?
Só foi preciso um rápido olhar para ver como ele era bonito. Provavelmente um metro e
noventa, cabelos escuros penteados para trás em torno de um rosto anguloso, com uma
sombra de barba, lábios grossos e olhos da cor do mar. Os olhos eram o que mais
chamavam a atenção: azuis esverdeados e envoltos por cílios grossos. Eu vira muitos
homens atraentes durante o tempo que passara em Manhattan, tendo ignorado todos eles,
pois precisava encontrar um emprego antes de pensar em sair com alguém. Mas esse
homem era além do meu nível. Dada a minha onda de extrema sorte, naturalmente eu
estava uma bagunça quando ele me viu pela primeira vez.
Tire-me daqui. Por favor, faça com que o elevador ande mais depressa e leve-me até a
rua. Eu caminharei para casa no calor. Não me importo. Só me tire daqui, agora.
— Desculpe-me — disse ele. — Mas você está bem?
Foda-se a minha vida. — Receio que a alergia tenha me atacado com vontade hoje.
Meus olhos estão queimando.
— É só isso?
Ele sabe que não. Sabe que estou mentindo. E daí? Ele é um estranho. De acordo com
a srta. Blackwell, nunca mais a verei novamente, nem a ele. Por que não queimá-la
enquanto posso? Talvez eu me vingue dela.
— Na verdade, não é verdade.
— E qual é a verdade?
— Vim aqui tentar um emprego de secretária. Tenho diploma em administração, estou
em Nova Iorque desde maio e nada deu certo. Não consigo encontrar um emprego.
Aparentemente, de acordo com a srta. Blackwell no 51º andar, que obviamente está tão
furiosa por estar enfrentando um divórcio difícil que acabou descontando em mim, não
posso nem mesmo atender ao telefone nem gerenciar um sistema de arquivo. Pelo amor de
Deus. Eu esperava colocar o pé na porta e subir na empresa, mas hoje foi apenas mais um
dia de desapontamentos. — Eu olhei para ele, vi o que parecia um ar de irritação no rosto
dele e consegui abrir um sorriso. — Desculpe-me pelo desabafo.
— Fui eu quem perguntou. Você encontrou a srta. Blackwell?
— Sim, mas não se aproxime dela. Ela é o inferno na Terra. Ela ameaçou entrar em
contato com os caçadores de talento que conhece na cidade e avisá-los sobre mim.
A testa dele se franziu. Vi raiva nos olhos dele. — Por que ela faria isso?
— Porque ela não consegue imaginar por que eu estaria interessada em um emprego de
baixo nível para o qual sou qualificada demais. Disse que desperdicei o tempo dela.
Trocamos algumas palavras. Não foi bonito, mas ela não foi profissional. Ela tratou o
assunto como se fosse algo pessoal. Portanto, agora sou uma mercadoria danificada para
qualquer caçador de talento que eu procure.
— O que ela fez foi difamação.
— Foi. Não que eu possa fazer alguma coisa a respeito. Estou quebrada. — Respirei
fundo e mudei de assunto. Aquele cara não era só incrivelmente sexy, mas parecia gentil e
sincero, parecido com a taxista que me levara até lá. Eu adorava aquela cidade. Mas
naquele momento? Por causa de Blackwell? Ela podia muito bem ir para o inferno.
Ergui a mão atrás da cabeça e soltei o grampo que prendia o cabelo para cima e para
longe do rosto. Eu o sacudi e deixei que caísse sobre os ombros em ondas castanhas
suaves. Foi uma sensação libertadora.
— Você gosta daqui? — perguntei. — Supondo que seja um funcionário. Estou
perdendo alguma coisa incrível? Apesar da bruxa negra da morte lá em cima, sinto que
estou.
Ele estava olhando para o meu cabelo, mas pareceu despertar e seu olhar encontrou o
meu. — Trabalhar aqui não era exatamente parte dos meus planos, mas aqui estou. É bom.
E me mantém ocupado, que é importante.
— O que você faz?
— Apenas coisas de negócio. Não vou entediá-la com o assunto.
— Eu adoraria ser entediada com "apenas coisas de negócio".
Eu admirei a roupa cara dele e o relógio brilhante que usava no pulso e decidi que ele
provavelmente era um diretor sênior ou algum outro cargo cujo trabalho era intenso. Olhei
rapidamente para o rosto dele, vi que ele me olhava intensamente e não pude negar a
atração que senti. Que idade ele tinha? Trinta? Será que era solteiro? Com a aparência que
tinha, não podia ser solteiro. A não ser que ele preferisse daquela forma. Não que
importasse. Ele era de um nível completamente diferente do meu — o custo do relógio
apenas provavelmente poderia me manter no apartamento por um ano inteiro — e, quando
o elevador começou a desacelerar, fiquei aliviada. Eu realmente queria ir para casa.
— Qual é o seu nome? — perguntou ele.
Apesar de ser muito atraente, eu nunca dizia meu nome inteiro para qualquer um. — É
Jennifer — disse eu. Eu não queria saber o dele e não perguntei.
Mas ele o disse mesmo assim.
— Sou Alex.
Ele estendeu a mão, que eu apertei no momento em que o elevador parou e as portas se
abriram.
— Foi um prazer conhecer você — eu disse, consciente da descarga elétrica que senti
quando nos tocamos. A palma da mão dele era macia e incomumente quente. —
Novamente, desculpe-me pelo desabafo.
— Parece que você tinha todos os motivos para desabafar.
Aquele cara era real? Uma parte de mim não queria ir embora, mas eu fui. Precisava
chegar em casa e começar a procurar um emprego de garçonete. Não tinha tempo para
homens, nem mesmo para aquele.
— Tenha um bom dia — eu disse.
Saímos do elevador juntos. Eu apressei o passo para andar adiante dele, mas podia
senti-lo atrás de mim. Conseguia ouvir os passos dele. Conseguia sentir os olhos dele em
mim. Com a pasta na mão direita, passei a outra mão pela roupa para garantir que não
estivesse amassada quando saísse do prédio. Puxei o casaco para baixo, passei os dedos
pelo cabelo e o sacudi. Empurrei a porta para abri-la e esperei que ele a agarrasse atrás de
mim. Mas ele não o fez. Quando me virei para ver onde ele estava, eu o vi parado na porta
com as mãos nos bolsos. Ele sorria para mim.
Sorri de volta e, para meu horror, colidi com alguém na calçada.
A pasta foi arrancada da minha mão e caiu no chão com tanta força que se abriu. Em
um pé de vento súbito, os currículos extras que eu mantinha dentro dela começaram a voar
pela Quinta Avenida. O homem mais velho com quem colidi me disse para cuidar por
onde andava e foi embora irritado.
— Minha nossa — eu disse para mim mesma. Rapidamente, comecei a recolher os
currículos que conseguia. A impressão deles em um papel decente custara muito dinheiro.
Um dinheiro que eu não tinha para imprimi-los novamente. E precisaria deles mais tarde
quando começasse as entrevistas em restaurantes. — Não acredito nisso — resmunguei.
A porta se abriu atrás de mim. — Nunca conseguiremos pegar todos eles — eu o ouvi
dizer. — Mas podemos pegar alguns. Vou ajudá-la.
Para minha surpresa, ele correu pela Quinta, esgueirando-se pela multidão na calçada
larga e pegando os currículos que ainda estavam ao alcance. Eu fiz o mesmo. Quando
terminamos, eu o vi correndo pela avenida na minha direção, com vários currículos na
mão. O rosto dele estava coberto de suor. Estava infernalmente quente do lado de fora,
mas ele era mais do que suficiente para fazer com que o calor desaparecesse. Ele parecia
um deus. Eu não recordava ter me sentido tão atraída fisicamente por um homem. Na
verdade, eu nunca me sentira assim antes. Geralmente dispensava os homens.
— Você está bem? — perguntou ele.
— Estou bem — respondi. — Envergonhada, mas bem. Muito obrigada. — Peguei os
currículos da mão dele. — Você não precisava ter feito isso.
— Pelo jeito, o cara em quem você tropeçou não pretendia ajudá-la. Foi um erro
honesto. Algumas vezes, não entendo por que as pessoas precisam ser tão rudes.
— Esse dia precisa terminar — disse eu. — Obrigada novamente. Agradeço muito,
Alex. — Sentindo-me como uma idiota, fechei a pasta, disse um adeus rápido e
desajeitado e andei para longe dele, mesmo sentindo que ele estava prestes a dizer algo
quando me virei para partir.
* * *
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Se quiser deixar uma avaliação deste ou de qualquer outro dos meus livros, eu agradeço.
Avaliações são essenciais para todos os escritores. Nem que seja uma avaliação breve.
Obrigada!
Table of Contents
CHANCE
LIVROS DE CHRISTINA ROSS NO KINDLE
CHANCE
ACABE COMIGO, LIVRO 1
LIBERTE-ME, LIVRO 1
ÍNDICE
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Acabe Comigo, Vol. 1 (excerto)
Livros de Christina Ross
CHANCE
Cidade de Nova Iorque
Julho
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
Obrigada novamente por todo o seu apoio!
LIVRO 1
CAPÍTULO 1
Cidade de Nova Iorque
Agosto
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
Em breve na Amazon!
LIVROS DE CHRISTINA ROSS:
CHANCE
ACABE COMIGO, LIVRO 1
LIBERTE-ME, LIVRO 1