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CONVITE

O CONVITE
A primeira vez que encontrei Christian Grey foi em um casamento. Recebi
um convite inesperado para um dos locais mais chiques da cidade.

Christian era um padrinho de casamento e possivelmente o homem mais lindo que


eu já vi. Ele me convidou para dançar e nossa química estava fora de série.

Eu sabia que não era uma boa ideia me envolver com ele, considerando o
casamento em que estava. Mas nossa conexão era intensa e eu estava me divertindo
muito.

Embora a diversão tenha chegado ao fim quando Christian percebeu que eu não
era quem disse que era.

Então, sabe aquele convite inesperado que recebi? Bem, na verdade não tinha sido
endereçado a mim - foi enviado ao minha ex-colega de quarto que devolveu um
cheque de dois meses de aluguel e se mudou no meio da noite. Achei que ela me
devia uma noite cara fora, mas acho que, tecnicamente, eu estava invadindo o
casamento.

(...) Esta é a história maluca de como Christian Grey e eu nos conhecemos. Mas
acredite em mim, é apenas a ponta do iceberg.
Capítulo 1

Anastasia

— Não posso fazer isso... — Parei no meio da escada de mármore.

Fisher parou alguns passos à minha frente. Ele desceu de volta para onde eu estava.
— Certamente você pode. Lembra-se de quando estávamos na sexta série e você
teve que fazer aquela apresentação sobre seu presidente favorito? Você estava uma
pilha de nervos. Você pensou que ia esquecer tudo o que memorizou e ficar lá com
todos olhando para você.

— Sim, o que tem isso?

— Bem, isso não é diferente. Você superou isso, não foi?

Fisher havia perdido a cabeça.

— Todos os meus medos se tornaram realidade naquele dia. Levantei-me na frente


do quadro-negro e comecei a suar. Não conseguia me lembrar de uma única
palavra que havia escrito. Todos na classe olharam, e então você me importunou.

Fisher concordou. — Exatamente. Seu pior medo se tornou realidade, e ainda


assim você viveu para ver outro dia. Na verdade, aquele dia acabou sendo o melhor
dia da sua vida.

Balancei minha cabeça, perplexo. — Como assim?

— Foi a primeira vez que estivemos na mesma classe. Achei que você fosse apenas
mais uma garota chata como o resto deles. Mas depois da escola naquele dia, você
me atacou por provocá-la enquanto tentava fazer sua apresentação. Isso me fez
perceber que você não era como as outras meninas. E naquele mesmo dia decidi
que seríamos melhores amigos.

Balancei minha cabeça. — Não falei com você pelo resto do ano letivo.

Fisher encolheu os ombros. — Sim, mas ganhei você no ano seguinte, não foi? E
agora você se sente um pouco mais calma do que há dois minutos, não é?

Suspirei. — Eu acho que sim.

Ele estendeu o cotovelo vestido com um smoking. — Podemos entrar?

Engoli. Por mais apavorada que eu estivesse com o que estávamos prestes a fazer,
também mal podia esperar para ver como o interior da biblioteca parecia com tudo
pronto para um casamento. Passei incontáveis horas sentada nesses degraus,
perguntando-me sobre as pessoas que passavam.

Fisher esperou pacientemente com o cotovelo estendido enquanto eu debatia mais


um minuto. Finalmente, com outro suspiro alto, peguei seu braço. — Se acabarmos
na prisão, você terá que pagar a fiança para nós dois. Estou muito falida.

Ele abriu seu sorriso de estrela de cinema. — Combinado.

Enquanto subíamos os degraus restantes para as portas da Biblioteca Pública de


Nova York, revi todos os detalhes que discutimos no Uber a caminho para cá.
Nossos nomes naquela noite eram Evelyn Whitley e Maximilian Reynard. Max
trabalhava no mercado imobiliário – sua família era dona da Reynard Properties –
e fiz meu MBA na Wharton e recentemente voltei para a cidade. Nós dois
morávamos no Upper East Side – pelo menos essa parte era verdade.
Dois garçons uniformizados usando luvas brancas estavam nas altas portas de
entrada. Um segurava uma bandeja com taças de champanhe e o outro uma
prancheta. Embora minhas pernas de alguma forma continuassem indo, meu
coração parecia estar tentando escapar do meu peito e decolando na direção oposta.

— Boa noite. — O garçom com a prancheta assentiu. — Posso saber seus nomes,
por favor?

Fisher não vacilou enquanto distribuía o primeiro do que seria uma noite cheia de
mentiras.

O homem, que notei que tinha um fone de ouvido, examinou sua lista e acenou
com a cabeça. Ele estendeu a mão para que entrássemos, e seu parceiro nos
entregou cada um dos espumantes. — Bem-vindos. A cerimônia acontecerá na
rotunda. O assento para a noiva fica à sua esquerda.

— Obrigado. — disse Fisher. Assim que estávamos fora do alcance da voz, ele se
aproximou. — Viu? Mole-mole. — Ele tomou um gole de champanhe. — Oooh,
isso é bom.

Eu não tinha ideia de como ele estava tão calmo. Então, novamente, eu também
não tinha ideia de como ele conseguiu me convencer a entrar nessa insanidade.
Dois meses atrás, eu voltava do trabalho para encontrar Fisher, que também era
meu vizinho, invadindo minha geladeira em busca de sobras – uma ocorrência
comum.

Enquanto ele comia frango à milanesa de dois dias, sentei-me à mesa da cozinha
separando minha correspondência e tomando uma taça de vinho. Enquanto
conversávamos, rasguei o verso de um envelope grande sem verificar o endereço
na frente. O convite de casamento mais impressionante estava lá dentro – preto e
branco com folha dourada em relevo. Era como uma obra de arte dourada. E o
casamento era na Biblioteca Pública de Nova York, de todos os lugares – bem
perto do meu antigo escritório e onde eu costumava sentar e almoçar nas escadas
icônicas. Eu não a visitava há, pelo menos, um ano, então estava seriamente
animada para ir a um casamento lá.

Embora eu não tivesse ideia de quem era o casamento – um parente distante que
tinha esquecido, talvez? Os nomes não eram nem vagamente familiares. Quando
virei o envelope, percebi rapidamente o porquê. Abri a correspondência da minha
ex- colega de quarto. Ugh. Não era para mim o convite para um casamento de
conto de fadas em um dos meus lugares favoritos do mundo.

Mas depois de algumas taças de vinho, Fisher me convenceu de que deveria ser
eu, e não Evelyn. Era o mínimo que minha ex-colega de quarto caloteira poderia
fazer por mim, ele disse. Afinal, ela fugiu no meio da noite, levou alguns dos meus
sapatos favoritos com ela, e o cheque que ela deixou pelos dois meses de aluguel
atrasado que ela devia tinha voltado. No mínimo, eu deveria comparecer a um
casamento chique de mil dólares o prato, ao invés dela. Deus sabia que nenhum
dos meus amigos jamais se casaria em um lugar como aquele. No momento em
que terminamos a segunda garrafa de merlot, Fisher decidiu que iríamos no lugar
de Evelyn – invadir o casamento para uma noite divertida, cumprimentos da minha
ex-colega de quarto ruim. Fisher até preencheu o cartão de resposta, escrevendo
que dois convidados compareceriam, e o enfiou no bolso de trás para enviar pelo
correio no dia seguinte.

Honestamente esqueci tudo sobre nossos planos embriagados até duas semanas
atrás, quando Fisher voltou para casa com um smoking que ele havia pegado
emprestado de um amigo para o casamento. Recusei e disse a ele que não invadiria
um casamento caro de pessoas que eu não conhecia, e ele fez o de sempre: me fez
pensar que sua má ideia não era realmente tão ruim.

Até agora. Parei no meio do amplo saguão do que provavelmente foi um casamento
de duzentos mil dólares e senti que poderia literalmente fazer xixi nas calças.

— Beba seu champanhe. — disse Fisher. — Isso vai te ajudar a relaxar um pouco
e dar cor às suas bochechas. Parece que você está prestes a tentar dizer à classe por
que gosta tanto de John Quincy Adams.

Apertei os olhos para Fisher, embora ele sorrisse de volta, sem se intimidar. Eu
tinha certeza de que nada me ajudaria a me soltar. Mesmo assim, engoli o conteúdo
do meu copo.

Fisher enfiou uma das mãos casualmente no bolso da calça e olhou em volta com
a cabeça erguida, como se não tivesse medo do mundo. — Faz muito tempo que
não vejo minha velha amiga animalesca, Ana. — disse ele. — Ela pode vir jogar
hoje à noite?

Entreguei a ele minha taça de champanhe vazia. — Cale a boca e vá encontrar


outro copo antes que eu saia correndo.

Ele deu uma risadinha. — Sem problemas, Evelyn. Você apenas sente e tente não
estragar nosso disfarce antes mesmo de conseguirmos ver a linda noiva.

— Linda? Você nem sabe como ela é.

— Todas as noivas são lindas. É por isso que elas usam um véu – então você não
pode vê-las feias, e tudo é mágico em seu dia especial.

— Isso é tão romântico.


Fisher piscou. — Nem todo mundo pode ser tão bonito quanto eu.

Três taças de champanhe ajudaram a me acalmar o suficiente para assistir à


cerimônia de casamento. E a noiva definitivamente não precisava de um véu. Mia
Grey ou Mia Royce, como seria agora – era linda. Fiquei com os olhos um pouco
marejados ao ver o noivo dizer seus votos. Era uma pena que o casal feliz não fosse
realmente meus amigos, porque um de seus padrinhos era incrivelmente atraente.
Devo ter sonhado que Mimi – é assim que a chamei em minha cabeça – me
arranjaria com o amigo de seu novo marido. Mas, infelizmente, esta noite era uma
fraude e não sou nenhuma Cinderela.

A hora do coquetel aconteceu em uma bela sala em que nunca estive. Estudei as
obras de arte no teto enquanto esperava no bar pela minha bebida. Fisher me disse
que precisava usar o banheiro, mas tive a sensação de que ele realmente escapou
para falar com o garçom bonito que estava de olho nele desde que entramos.

— Aqui está, senhorita. — O barman deslizou uma bebida para mim.

— Obrigada. — Dei uma olhada rápida ao redor para ver se alguém estava
prestando atenção antes de mergulhar meu nariz dentro do copo e cheirar
profundamente. Definitivamente não é o que eu pedi.

— Ummm, com licença. É possível que você tenha feito isso com gin Beefeater e
não com Hendricks?

O barman franziu a testa. — Acho que não.

Funguei uma segunda vez, agora certa de que ele errou.

A voz de um homem à minha esquerda me pegou desprevenida. — Você nem


mesmo provou, mas acha que ele serviu o gin errado?
Sorri educadamente. — Beefeater é feito com zimbro, casca de laranja, amêndoa
amarga e chás mistos, que dão gosto de alcaçuz. Hendricks é feito de zimbro, rosa
e pepino. Cada um tem um cheiro diferente.

— Você está bebendo puro ou com gelo

— Nenhum dos dois. É um gin martini, então tem vermute.

— Mas você acha que pode sentir o cheiro de que ele usou o gin errado, sem nem
mesmo sentir o gosto? — A voz do cara deixou claro que ele não achava que eu
poderia.

— Tenho um olfato muito bom.

O homem olhou por cima do meu ombro. — Ei, Christian, tenho cem dólares que
dizem que ela não pode dizer a diferença entre os dois gins se os alinharmos.

A voz de um segundo homem veio da minha direita, este um pouco atrás do meu
ombro. O som era profundo, mas aveludado e suave – parecido com o gin que o
barman deveria ter usado para fazer minha bebida.

— Ponha duzentos e estou dentro.

Virando-me para dar uma olhada no homem disposto a apostar em minhas


habilidades, senti meus olhos se arregalarem.

Oh. Uau. O cara lindo da cerimônia. Encarei-o durante a maior parte do


casamento. Ele era bonito de longe, mas de perto ele era de tirar o fôlego de uma
forma que fez minha barriga vibrar – cabelo escuro, pele bronzeada, um queixo
esculpido e lábios carnudos e atraentes. A forma como seu cabelo estava penteado,
penteado para trás e repartido para o lado – lembrava-me uma estrela de cinema
dos velhos tempos. O que eu não pude ver da última fila durante a cerimônia foi a
intensidade de seus olhos cinzas. Eles estavam examinando meu rosto como se eu
fosse um livro.

Limpei minha garganta. — Você vai apostar duzentos dólares que posso identificar
um gin?

O homem lindo deu um passo à frente e meu sentido olfativo se


animou. Agora, isso cheira melhor do que qualquer gin. Eu não tinha certeza se
era sua colônia ou algum tipo de sabonete líquido, mas o que quer que fosse, levou
tudo ao meu alcance para não me inclinar em direção a ele e cheirar
profundamente. O homem pecaminosamente sexy cheirava tão bem quanto
parecia. Esse emparelhamento era minha criptonita.

Havia uma pitada de diversão em sua voz.

— Você está me dizendo que é uma aposta ruim?

Balancei minha cabeça e voltei para falar com seu amigo.

— Vou jogar junto com sua pequena aposta, mas vou ganhar duzentos, também.

Quando meus olhos voltaram para o homem bonito à minha direita, o canto de seu
lábio se contraiu ligeiramente.

— Legal. — Ele ergueu o queixo para o amigo. — Diga ao barman para servir uma
dose de Beefeater e uma dose de Hendricks. Alinhe-os na frente dela e não nos
diga qual é qual.

Um minuto depois, levantei o primeiro copo e cheirei. Sinceramente, nem mesmo


era necessário sentir o cheiro do outro, embora o fizesse de qualquer maneira, só
por segurança. Droga... eu deveria ter apostado mais. Isso era muito fácil, como
tirar doce de um bebê. Deslizei um copo para frente e falei com o garçom que
esperava. — Este é o Hendricks.

O barman parecia impressionado. — Ela está certa.

— Droga. — bufou o cara que tinha começado o jogo. Ele enfiou a mão no bolso
da frente, tirou uma carteira impressionante e tirou quatrocentos dólares. Jogando-
os em nossa direção no topo do bar, ele balançou a cabeça. — Vou ganhá-lo de
volta na segunda-feira.

O cara bonitão sorriu para mim enquanto pegava seu dinheiro. Assim que peguei
o meu, ele abaixou a cabeça para sussurrar em meu ouvido.

— Bom trabalho.

Céus.

Seu hálito quente enviou um arrepio pela minha espinha. Fazia muito tempo desde
que tive contato com um homem. Infelizmente, meus joelhos estavam um pouco
fracos. Mas forcei-me a ignorar.

— Obrigada.

Ele se aproximou de mim até o bar e ergueu uma das doses. Trazendo-o para o
nariz, ele cheirou antes de colocá-lo de volta e cheirar o outro.

— Não sinto cheiro de nada diferente.

— Isso significa apenas que você tem um olfato normal.

— Ah, entendo. E o seu é... extraordinário?


Eu sorri. — É sim.

Ele parecia divertido quando me passou uma das doses e segurou a outra em um
brinde. — Por ser extraordinária. — ele disse.

Eu geralmente não bebia muito, mas que diabos? Bati meu copo com o dele antes
de beber. Talvez o álcool ajudasse a acalmar os nervos que este homem parecia ter
despertado.

Coloquei meu copo vazio no bar ao lado dele.

— Acho que isso é algo que vocês dois fazem regularmente, já que seu amigo
planeja ganhá-lo de volta na segunda-feira?

— A família de Jack e a minha são amigas desde que éramos crianças. Mas as
apostas começaram quando estudamos na mesma faculdade. Sou um fã de Notre
Dame, e ele é um fã da USC. Estávamos sem dinheiro naquela época, então
costumávamos apostar um choque de Taser nos jogos.

— Um choque de Taser?

— O pai dele era policial. Ele deu a ele um Taser para manter sob o assento do
carro, apenas no caso. Mas eu não acho que ele imaginou seu filho recebendo
golpes de cinquenta mil volts quando uma interceptação de última hora fez sua
equipe perder.

Balancei minha cabeça. — Isso é um pouco louco.

— Definitivamente não é nossa decisão mais sábia. Pelo menos ganhei muito mais
do que ele. Um pequeno dano cerebral pode ajudar a explicar algumas de suas
escolhas na faculdade.
Eu ri. — Então, hoje foi apenas uma continuação desse padrão?

— Bastante. — Ele sorriu e estendeu a mão. — Sou Christian, a propósito.

— Prazer em conhecê-lo. Sou An... — Peguei-me na hora certa. — Sou Evelyn.

— Então você é aficionada por gin, Evelyn? É por isso que não cheirei nada
diferente entre os dois?

Eu sorri. — Não me consideraria uma aficionada por gin, não. Para ser honesta,
bebo mais vinho. Mas mencionei minha profissão? Eu sou uma química de
fragrâncias – uma perfumista.

— Você faz perfume?

Concordei. — Entre outras coisas. Desenvolvi aromas para uma empresa de


cosméticos e fragrâncias por seis anos. Às vezes era um perfume novo, outras
vezes era o cheiro de um lenço que tira a maquiagem, ou talvez um cosmético que
precisa de um cheiro mais agradável.

— Tenho certeza de que nunca conheci uma perfumista antes.

Eu sorri. — É tão emocionante quanto você esperava?

Ele deu uma risadinha. — Qual é exatamente o treinamento para um trabalho como
esse?

— Bem, tenho um diploma em química. Mas você pode ter toda a instrução que
quiser e ainda não será capaz de fazer o trabalho, a menos que também tenha
hiperosmia.

— E isso é...
— Uma capacidade aprimorada de sentir odores, uma acuidade olfativa
aumentada.

— Então você é boa em cheirar merda?

Eu ri. — Exatamente.

Muitas pessoas pensam que têm um bom olfato, mas não entendem realmente
como esse sentido é intensificado para alguém com hiperosmia. Demonstrar
sempre funcionou melhor.

Além disso, eu realmente queria saber que colônia ele estava usando. Então,
inclinei-me e respirei fundo em Christian.

Exalando, eu disse: — Sabonete Dove.

Ele não parecia completamente vendido. — Sim, mas essa é uma escolha de
sabonete bastante comum.

Eu sorri. — Você não me deixou terminar. Dove Cool Moisture. Tem pepino e chá
verde – também um ingrediente comum em gins, aliás. E você usa shampoo
L'Oreal Elvive, assim como eu. Posso sentir o cheiro do extrato de flor de gardênia
tahitensis, extrato de flor de rosa canina e um leve toque de óleo de coco. Ah, e
você usa desodorante Irish Spring. Não acho que você está usando colônia, na
verdade.

As sobrancelhas de Christian se ergueram. — Isso é impressionante. Os


convidados da festa de casamento ficaram hospedados em um hotel ontem à noite,
e esqueci de embalar minha colônia.

— Qual você normalmente usa?


— Ah... eu não posso te dizer isso. O que faremos em nosso segundo encontro para
entretenimento se não jogarmos o teste do cheiro?

— Nosso segundo encontro? Eu não sabia que teríamos um primeiro.

Christian sorriu e estendeu a mão. — A noite é uma criança, Evelyn. Dança


comigo?

Um nó na boca do estômago me avisou que era uma má ideia. Fisher e eu


deveríamos ficar juntos e limitar o contato com outras pessoas para minimizar
nossas chances de sermos pegos. Mas olhando ao redor, meu par não estava à vista.
Além disso, este homem era seriamente magnético. De alguma forma, antes
mesmo de meu cérebro terminar de debater os prós e os contras, me peguei
colocando minha mão na dele. Ele me levou para a pista de dança e envolveu um
braço em volta da minha cintura, levando o outro. Não surpreendentemente, ele
sabia dançar.

— Então, Evelyn com o extraordinário olfato, eu nunca te vi antes. Você é uma


convidada ou uma acompanhante? — Ele olhou ao redor da sala. — Algum cara
está me olhando feio pelas minhas costas agora? Vou precisar pegar o Taser de
Jack do carro para afastar um namorado ciumento?

Eu ri. — Estou aqui com alguém, mas ele é apenas um amigo.

— Coitadinho...

Sorri. O flerte de Christian era exagerado, mas engoli. — Fisher está mais
interessado no cara que estava distribuindo champanhe do que em mim.

Christian me segurou um pouco mais perto. — Gosto do seu encontro muito mais
do que há trinta segundos.
Arrepios pinicaram meus braços quando ele abaixou a cabeça e seu nariz roçou
brevemente no meu pescoço.

— Você cheira incrível. Você está usando um dos perfumes que faz?

— Estou. Mas não é algo que pode ser encomendado. Gosto da ideia de ter um
verdadeiro perfume exclusivo pelo qual alguém possa se lembrar de mim.

— Não acho que você precise de perfume para ser lembrada.

Ele me conduziu pela pista de dança com tanta graça que me perguntei se ele teve
aulas profissionais. A maioria dos homens de sua idade pensava que dança lenta
significava balançar para frente e para trás e apertar uma ereção contra você.

— Você é um bom dançarino. — eu disse.

Christian respondeu girando-nos. — Minha mãe era uma dançarina de salão


profissional. Aprender não era uma opção; era um requisito se eu quisesse ser
alimentado.

Eu ri. — Isso é muito legal. Você já pensou em seguir os passos dela?

— Absolutamente não. Cresci vendo-a sofrer de bursite no quadril, fraturas por


tensão, ligamentos rompidos – definitivamente não é a profissão glamourosa que
eles fazem parecer em todos aqueles programas de TV de concurso de dança. Você
tem que amar o que faz para um trabalho como esse.

— Acho que você tem que amar o que faz para qualquer trabalho

— Esse é um ponto muito bom.

A música terminou e o mestre de cerimônias disse a todos para se sentarem.


— Onde você está sentada? — Christian perguntou.

Apontei para o lado da sala onde Fisher e eu estávamos sentados. — Em algum


lugar ali. Mesa dezesseis.

Ele assentiu. — Vou acompanhá-la.

Aproximamo-nos da mesa no mesmo momento que Fisher, que vinha de outra


direção. Ele olhou entre Christian e eu, e seu rosto fez a pergunta que ele não disse
em voz alta.

— Umm... este é meu amigo Fisher. Fisher, esse é Christian.

Christian estendeu a mão. — Prazer em conhecê-lo.

Depois de tremer com um Fisher silencioso, que parecia ter esquecido de como
falar, ele se virou para mim e pegou minha mão novamente. — Eu deveria voltar
para minha mesa com o resto da festa de casamento.

— Ok.

—Guarde uma dança para mim mais tarde?

Eu sorri. — Eu adoraria.

Christian se virou para ir embora e depois voltou. Enquanto caminhava para trás,
ele chamou: — No caso de você puxar uma Cinderela para cima de mim e
desaparecer, qual é o seu sobrenome, Evelyn?

Felizmente, ele usando meu nome falso me lembrou de não dar o meu verdadeiro,
como quase fiz da primeira vez. — É Whitley.
— Whitley?

Ai meu Deus. Ele conhecia Evelyn?

Seus olhos varreram meu rosto. — Nome bonito. Vejo você mais tarde.

— Uhh... ok, claro.

Quando Christian mal estava fora do alcance da voz, Fisher se inclinou para perto
de mim. — Meu nome deveria ser Maximilian, querida.

— Oh meu Deus, Fisher. Nós temos que ir.

— Nah. — Ele encolheu os ombros. — Não é grande coisa. De qualquer maneira,


inventamos Maximilian. Sou seu acompanhante. Ninguém sabe o nome da pessoa
que Evelyn trouxe. Embora eu ainda queira bancar o magnata do mercado
imobiliário.

— Não é isso.

— Então, o que é?

— Temos que sair porque ele sabe...


Capítulo 2

Anastasia

Fisher deu um gole em sua cerveja. — Você está sendo paranoica. O cara não tem
ideia. Observei o rosto dele quando você disse o sobrenome de Evelyn, e a única
coisa que ele percebeu foi como você é linda.

Balancei minha cabeça. — Não, ele fez uma cara esquisita. Eu vi.

— Quanto tempo você estava falando com o cara?

— Eu não sei. Talvez quinze minutos? Eu o conheci no bar e ele me convidou para
dançar.

— Ele parecia o tipo de cara que teria vergonha de fazer uma pergunta se tivesse
algum problema?

Pensei sobre isso. Ele realmente não parecia. Christian pareceu mais ousado do
que tímido.

— Não, mas...

Fisher pousou uma das mãos em cada um dos meus ombros. — Respire fundo.

— Fisher, devemos ir.

O mestre de cerimônias voltou a falar e pediu a todos que se sentassem, pois o


jantar seria servido.
Fisher puxou minha cadeira. — Vamos pelo menos comer. Se você ainda quiser
sair depois que terminarmos, nós podemos. Mas estou lhe dizendo, você está
apenas sendo paranoica. O cara não tem ideia.

Meu instinto me disse para sair agora, mas quando examinei a sala, percebi que
éramos os últimos de alguns retardatários em pé, e as pessoas estavam olhando
para nós.

Suspirei. — Bem. Vamos jantar e depois sairemos daqui. Fisher sorriu.

Falei baixinho, ciente dos outros convidados sentados à nossa mesa que estávamos
ignorando rudemente. — A propósito, onde você esteve?

— Conversando com Noah.

— Quem é Noah?

— Um garçom fofo. Ele vai ser ator.

Revirei meus olhos. — Claro que ele é. Devíamos ficar juntos, você sabe.

— Não parecia que você estava muito sozinha. Quem era aquele Adônis, afinal?
Você sabe que não gosto quando você tem homens em sua vida mais bonitos do
que eu.

Suspirei. — Ele era lindo, não era?

Fisher bebeu sua cerveja. — Eu foderia com ele.

Nós dois rimos. — Tem certeza de que não acha que ele percebeu nada? Você não
está dizendo isso só porque quer ficar, está?
— Não, estamos absolutamente bem.

De alguma forma, relaxei um pouco durante o jantar. Embora isso pudesse ter mais
a ver com o garçom que ficava repondo minha bebida sem ser solicitado do que
com a decisão de que Fisher estava certo. Não que eu não achasse mais que
Christian soubesse que éramos impostores, mas sim que o zumbido dos meus
martinis de gim me deixou incapaz de me importar se ele soubesse.

Depois que tiraram nossos pratos, Fisher me convidou para dançar e eu pensei: por
que não? Uma garota poderia ter uma noite pior do que dançar com dois homens
bonitos. Então, fomos para a pista de dança para ouvir uma música pop cativante
e, quando a música diminuiu, Fisher me pegou nos braços.

No meio do caminho, estávamos rindo em nossa própria bolha quando um homem


deu um tapinha no ombro do meu parceiro.

— Importa-se se eu interromper?

Christian.

Meu coração começou a bater forte no meu peito. Eu não tinha certeza se era a
perspectiva de estar de volta nos braços do homem lindo, ou a perspectiva de ser
descoberta.

Fisher sorriu e deu um passo para trás. — Cuide bem da minha garota.

— Oh, eu pretendo.

Algo na maneira como ele disse isso me deixou desconfortável. Embora Christian
me pegou em seus braços e começou a nos mover com a música, assim como ele
havia feito antes.
— Divertindo-se? — Ele perguntou.

— Ummm... Sim. Este é um lugar muito bom para um casamento. Eu nunca estive
aqui antes.

— De quem você disse que era uma convidada? A noiva ou o noivo?

Eu não disse. — A noiva.

— E vocês se conhecem como?

Merda. Olhei para cima, e a boca de Christian se curvou no que parecia um sorriso,
mas definitivamente não era um tipo de sorriso engraçado ha-há. Era mais cínico
do que jovial.

— Eu, uh, costumávamos trabalhar juntas.

— Oh? Foi na Grey Investments?

Eu queria correr. Talvez Christian tenha percebido que eu poderia fazer


exatamente isso, porque, a menos que eu estivesse imaginando, ele me segurava
com mais força. Engoli. — Sim. Trabalhei para a Grey Investments.

A única coisa que eu sabia sobre o trabalho de curta duração de Evelyn era que ela
trabalhava como recepcionista e não suportava o chefe. Ela costumava se referir a
ele como GQ Prick.

— Em que função?

Isso estava começando a parecer um interrogatório. — Como recepcionista.

— Uma recepcionista? Mas eu pensei que você fosse um perfumista?


Merda.

Certo.

Não tinha pensado antes quando fui honesta sobre minha profissão. — Eu, uhh,
estou começando meu próprio negócio e as coisas atrasaram, então eu precisava
de uma renda.

— E que tipo de negócio você está começando?

Pelo menos essa parte não era mentira. — É chamado de Signature Scent. É uma
linha de perfume personalizada por correspondência.

— Como isso funciona?

— Enviamos vinte pequenas amostras de odores para que a pessoa avalie de um a


dez, junto com um questionário detalhado. Com base nos tipos de cheiros de que
gostam e nas respostas à nossa pesquisa, criamos um perfume só para eles. Criei
um algoritmo que constrói a fórmula com base na entrada que coletamos.

Christian examinou meu rosto. Parecia que ele estava tentando descobrir algum
tipo de quebra-cabeça. Quando ele falou novamente, seu tom era mais suave. —
Essa é realmente uma boa ideia.

Talvez fosse o álcool alimentando meus nervos, mas, de repente, fiquei ofendida
por ele parecer surpreso. — Você achou que porque sou loira eu não teria
nenhuma?

Christian me deu o que eu suspeitava que pudesse ser um sorriso verdadeiro, mas
ele rapidamente voltou ao seu rosto estoico. Ele olhou para mim por um longo
tempo enquanto eu prendia a respiração, esperando que ele me chamasse de fraude.
Finalmente, ele disse: — Você vem comigo por um momento?

— Onde?

— Tenho que fazer um discurso, e eu esperava que você pudesse estar por perto.
Seu lindo rosto vai me dar o incentivo de que preciso.

— Umm... claro.

Christian sorriu, mas, novamente, algo parecia estranho. O que ele pediu parecia
inofensivo o suficiente, então, quando ele pegou minha mão e me levou para a
frente da sala, tentei me convencer de que toda a estranheza estava na minha
cabeça, decorrente da minha consciência culpada.

Ele falou com o mestre de cerimônias, e então caminhamos para o lado da pista de
dança para esperar. Ficamos um ao lado do outro quando a música terminou e o
apresentador pediu aos convidados que se sentassem novamente.

— Senhoras e senhores, gostaria de apresentar uma pessoa muito importante aos


noivos. Ele é o irmão de nossa linda noiva e um bom amigo de nosso elegante
noivo. Vamos dar uma grande salva de palmas ao nosso padrinho, Christian!

Oh merda. Ele é o irmão da noiva! GQ Prick!

Christian se inclinou para mim. — Fique bem aqui, onde posso ver seu rosto lindo,
Evelyn.

Balancei a cabeça e sorri, embora tivesse vontade de vomitar.

Nos dez minutos seguintes, Christian fez um discurso eloquente. Ele falou sobre o
quão chata sua irmã tinha sido, e como ele estava orgulhoso da mulher que ela se
tornou. Quando ele explicou que o pai e a mãe deles haviam falecido, fiquei um
pouco chocada. Sua admiração por sua irmã era evidente, e seu discurso era uma
mistura igual de sério e engraçado. Enquanto ele falava, deixei escapar um forte
suspiro de alívio por ele não ter nada incomum na manga. Foi uma pena que o
conheci nas condições atuais, e que me apresentei com um nome falso, porque
Christian parecia um grande partido.

No final do discurso, ele ergueu o copo. — Para Mason e Mia. Que vocês tenham
amor, saúde e riqueza, mas, o mais importante, que tenham uma longa vida juntos
para desfrutar de tudo.

Um murmúrio de saúde percorreu a sala antes que todos bebessem, e achei que
fosse o fim do discurso. Mas não foi. Em vez de devolver o microfone ao
apresentador, Christian se virou e olhou diretamente para mim. O sorriso malicioso
que apareceu em seu rosto me deu calafrios, e não de um jeito bom.

— A seguir...— disse ele— tenho um presente especial para todos vocês. A querida
amiga da minha irmã Evelyn, gostaria de dizer algumas palavras.

Meus olhos se arregalaram.

Ele continuou. — Ela tem uma ótima história sobre como as duas se conheceram.
É realmente divertido, e ela mal pode esperar para compartilhar com vocês esta
noite.

Christian caminhou em minha direção com o microfone na mão. Seus olhos


brilharam com diversão, mas me preocupei que seus sapatos brilhantes estivessem
prestes a serem decorados com vômito.

Acenei para ele e balancei a cabeça, mas isso apenas o incitou.


Ele falou no microfone enquanto pegava minha mão. — Evelyn parece estar em
um acesso de nervosismo. Ela é um pouco tímida. — Ele me puxou e dei dois
passos relutantes em direção ao meio da sala antes de cravar meus calcanhares e
me recusar a ir mais longe.

Christian riu e ergueu o microfone mais uma vez. — Parece que ela precisa de um
pouco de incentivo. O que vocês dizem, senhoras e senhores? Podemos dar uma
salva de palmas para ajudar a Evelyn a se levantar e dizer algumas palavras?

A multidão começou a aplaudir. Eu queria que o chão se abrisse e meu corpo rígido
caísse em um poço sem fundo. Mas estava ficando mais claro a cada segundo que
a única maneira de sair disso era seguir em frente. Todos os olhos estavam em mim
e não havia como sair ilesa. Pensei em como fugir, mas decidi que era melhor ter
apenas algumas pessoas me perseguindo do que o lugar inteiro.

Respirei fundo, fui até a mesa de convidados mais próxima e perguntei a um


homem qualquer se sua bebida continha álcool. Quando ele disse que era vodka
com gelo, me servi, engolindo todo o conteúdo. Então alisei meu vestido, puxei
meus ombros para trás, levantei meu queixo e marchei até Christian, pegando o
microfone com minha mão trêmula.

Ele sorriu e se inclinou para sussurrar em meu ouvido: — Boa sorte, Evelyn.

A sala se aquietou e pude sentir gotas de suor se formando na minha testa e lábio
superior. Um caroço do tamanho de uma bola de golfe ficou preso no meio da
minha garganta, e meus dedos das mãos e dos pés formigaram. Todos os olhos
estavam em mim, e vasculhei meu cérebro para inventar uma história – qualquer
história. Por fim, pensei em uma, embora tivesse que improvisar um pouco. Mas
isso era normal para esta noite, de qualquer maneira, não era?
Limpei minha garganta. — Oi...

Eu estava segurando o microfone com a mão direita. Percebendo que ele estava
tremendo, levantei minha mão esquerda e prendi-o sobre a outra para ajudar a
mantê-lo firme. Então respirei fundo. — Oi. Eu sou Evelyn. Mia e eu nos
conhecemos no jardim de infância.

Cometi o erro de olhar para a mesa onde os recém-casados estavam sentados. O


rosto da noiva estava enrugado de confusão e ela me encarou enquanto sussurrava
para o marido.

É melhor eu fazer isso rápido... — Como Christian mencionou, eu queria


compartilhar como Mimi e eu nos conhecemos. Eu tinha acabado de me mudar
para a cidade no meio do ano letivo e não tinha muitos amigos. Eu era muito tímida
naquela época. Minha pele pálida ficava vermelha brilhante sempre que muita
atenção estava voltada para mim, então evitei falar na aula a todo custo. Um dia,
bebi uma garrafa inteira de água durante o recreio. Eu realmente precisava usar o
banheiro feminino quando voltamos para dentro, mas o Sr. Neu, nosso professor,
já havia começado uma aula e eu não queria interrompê-lo. Ele tinha, tipo, 2,10
metros de altura e era assustador "pra" caramba, e a ideia de levantar minha mão e
ter todas as crianças se virando e olhando para mim quando ele chamasse meu
nome me assustava completamente. Então, segurei durante toda a aula, e cara,
aquele homem poderia falar.

Olhei para a noiva. — Lembra como o Sr. Neu simplesmente falava e contava
todas aquelas piadas cafonas realmente ruins? E então ele seria o único a rir delas?

A noiva olhou para mim como se eu estivesse absolutamente louca. Eu tinha


certeza de que ela estava certa.
Pelos próximos cinco minutos, tagarelei sem parar – parada na frente de uma sala
cheia de pessoas contando como corri para o banheiro quando o professor
finalmente parou de falar. Mas todas as baias estavam ocupadas e eu simplesmente
não conseguia mais segurar. Expliquei como havia voltado para a sala de aula com
as calças molhadas e tentei esconder, mas um menino viu e gritou — Olha! A nova
garota fez xixi nas calças. — Eu estava absolutamente mortificada, com lágrimas
nos olhos, até que minha amiga veio em meu socorro. Em um ato de coragem que
se tornaria um vínculo inquebrável para nós duas, Mia fez xixi nas próprias calças
e depois se levantou e disse a todos que a grama estava molhada lá fora no recreio
e que estávamos sentadas juntas.

Encerrei minha história em uma sala cheia de rostos sorridentes como meu maior
desejo para o casal feliz era que eles tivessem o mesmo amor e risos que
compartilhei com a noiva por muitos anos. Levantando uma mão, levantei um copo
imaginário.

— Um brinde à noiva e ao noivo.

As pessoas começaram a aplaudir e eu sabia que precisava usar o tempo para dar
o fora dali. Christian ainda estava parado ao lado, e se eu não estava enganada,
pensei que ele poderia estar um pouco orgulhoso de mim por não desmoronar. Seus
olhos brilharam e ele me observou atentamente enquanto eu me aproximava e
pressionava o microfone em seu peito.

Ele cobriu a parte superior do microfone e sorriu. — Divertido.

Mostrei a ele um sorriso exagerado e torci meu dedo para ele se inclinar mais perto.

Quando ele o fez, sussurrei em seu ouvido: — Você é um idiota.


Christian soltou uma risada profunda enquanto eu saía furiosa, nunca olhando para
trás para ver se ele estava me seguindo. Felizmente, Fisher já estava caminhando
em minha direção, então eu não tive que procurá-lo antes de sairmos correndo
daqui.

Seus olhos estavam arregalados como frisbees. — Você está bêbada? O que diabos
aconteceu lá em cima?

Agarrei seu braço e continuei andando. — Precisamos dar o fora


daqui rápido. Você está com a minha bolsa?

— Não.

Merda. Pensei em deixá-la, mas minha CNH e cartão de crédito estavam lá dentro.
Então, virei para a esquerda e fui direto para a nossa mesa. Com o canto do olho,
vi Christian e o noivo conversando com o maître e apontando em nossa direção.

— Merda! Precisamos nos apressar. — Corri o resto do caminho para a nossa


mesa, peguei minha bolsa e me virei. Depois de dois passos, girei.

— O que você está fazendo? — Fisher disse.

Peguei uma garrafa fechada de Dom Pérignon de nossa mesa. — Vou levar isso
comigo.

Fisher balançou a cabeça e riu enquanto nos dirigíamos para a porta. Ao longo do
caminho, roubamos garrafas de champanhe de todas as mesas pelas quais
passamos. Convidados confusos não tinham ideia do que fazer com a cena, mas
estávamos nos movendo muito rápido para que eles comentassem. Quando
chegamos à saída, nossos braços estavam ocupados e tínhamos, pelo menos, uma
grande quantidade de espumante.
Na frente, tivemos sorte porque alguns táxis amarelos estavam parados, esperando
no semáforo. Pulando no primeiro vazio, Fisher fechou a porta com força, e nós
dois nos ajoelhamos para olhar pela janela traseira. O maître e os dois seguranças
que haviam verificado as identidades antes estavam no meio da escada de
mármore. Christian estava no topo, casualmente encostado em um pilar de
mármore e bebendo uma taça de champanhe enquanto observava a insanidade de
nossa partida. O sangue correu pelos meus ouvidos enquanto eu olhava para trás e
para frente entre o semáforo e os homens se aproximando de nós. Assim que
chegaram ao meio-fio e saíram, o vermelho mudou para verde.

— Vai! Vai! — Gritei para o taxista.

Ele pisou no acelerador e Fisher e eu ficamos de joelhos, olhando pela janela


traseira enquanto os homens ficavam mais distantes. Assim que viramos à direita
na esquina, virei-me e afundei no assento. Eu não conseguia recuperar o fôlego.

— O que diabos aconteceu, Ana? Num minuto vi você dançando com um homem
lindo que parecia totalmente na sua, e no próximo você estava contando uma
história maluca para uma sala cheia de pessoas. Você está bêbada?

— Mesmo se eu estivesse, estaria sóbria de medo agora.

— O que deu em você?

— Não é o que deu em mim, é quem.

— Não estou entendendo.

— Você conhece o homem lindo com quem eu estava falando?

— Sim?
— Bem, acontece que ele sabia de tudo... — Uma sensação de pânico tomou conta
de mim quando percebi que não tinha certeza de onde meu celular estava.
Frenética, abri minha bolsa e comecei a puxar as coisas. Claramente, não estava lá
dentro, mas tinha que estar. Recusando-me a aceitar o que tinha feito, virei a bolsa
e esvaziei o conteúdo no meu colo.

Sem telefone.

Sem maldito telefone!

— O que você está procurando? — Fisher disse.

— Por favor, diga que está com meu celular.

Ele balançou sua cabeça. — Por que eu estaria?

— Porque se você não o está, isso significa que o deixei sobre a mesa no
casamento...
Capítulo 3

Christian

— Sr. Grey, você tem um telefonema.

Bufei e apertei o interfone. — Quem é?

— É Evelyn Whitley.

Jogando minha caneta na minha mesa, peguei o telefone e recostei-me na cadeira.


— Evelyn, obrigado por me ligar de volta.

— Claro. Como você está, Christian?

Frustrado o suficiente para ligar para a amiga irritante da minha irmãzinha a quem
eu não queria dar um emprego, mas dei de qualquer maneira, apenas para que a
amiga irritante parasse de aparecer para trabalhar dois meses atrás e saiu sem
avisar.

— Estou bem. E você?

— Muito bem. Embora Louisiana seja muito úmida em comparação com Nova
York.

Foi para lá que ela fugiu? Eu não me importava, e uma conversa fiada com Evelyn
não estava na minha agenda lotada hoje.

— Então, a razão pela qual minha assistente rastreou você foi uma mulher que veio
ao casamento de Mia fingindo ser você.

— Eu? Mesmo? Quem faria isso?


— Eu esperava que você pudesse me dizer.

— Jesus, eu não tenho ideia. Eu nem pensei que Mia tivesse me convidado para
seu casamento. Definitivamente não recebi um convite.

— Minha irmã disse que ela o enviou bem na época em que você saiu da cidade.
Foi para seu antigo endereço aqui na cidade. Suas correspondências estavam sendo
encaminhadas ou alguém estava pegando para você?

— Recebo quase todas as minhas correspondências eletronicamente, contas de


telefone, cartões de crédito e outras coisas. Então eu não encaminhei para outro
endereço. Minha antiga colega de quarto ainda mora no apartamento, então ela
poderia ter recebido.

— Você tinha uma colega de quarto?

— Sim, Anastasia.

— Talvez tenha sido Anastasia?

Evelyn riu. — Acho que não. Ela definitivamente não é o tipo que invade um
casamento.

— Vamos ver sobre isso. Como é a sua antiga colega de quarto?

— Eu não sei. Cabelo escuro, talvez um metro e setenta e cinco, pele clara, belas
curvas, olhos azuis... óculos. Sapato tamanho trinta e sete.

A cor do cabelo, as curvas bonitas e a descrição da pele combinavam, e eu suponho


que a mulher poderia ter lentes de contato. Mas quem diabos dá o tamanho do
sapato como parte de uma descrição física?
— Por acaso sua colega de quarto teria o hábito de cheirar coisas?

— Sim! Ana é algum tipo de desenvolvedora de perfume para Estée Lauder. Ou,
pelo menos, ela estava antes de sair. Fomos apenas colegas de quarto por um ano
ou mais, mas ela estava sempre farejando coisas – um pouco estranho, se você quer
saber. Ela também tinha o hábito de contar longas histórias quando tudo que eu
fazia era uma pergunta simples e dar barras de chocolate para as pessoas. Mas
como você sabia que ela cheirava... Oh meu Deus. Foi Ana quem foi ao casamento
se passando por mim?

— Parece que pode ter sido, sim.

Evelyn riu. — Eu não achava que ela tinha isso nela.

Pelo pouco tempo que passei com ela, eu poderia dizer que ela conseguia
surpreender muitas pessoas. A maioria teria fugido porta afora quando os chamasse
para pegar o microfone. Mas não Anastasia. Ela estava uma bagunça instável, mas
ela se recompôs e pegou o que ofereci. Eu não tinha certeza do que era mais sexy
– o jeito que ela parecia, a maneira como ela não desistia de um desafio, ou a
maneira como ela me disse desafiadoramente que eu era um idiota antes de sair.

Fazia oito dias desde o casamento da minha irmã, e eu ainda não conseguia tirar a
maldita mulher da minha cabeça.

— Qual é o sobrenome dela? — Perguntei.

— Steele.

— Por acaso você tem um número de telefone residencial dela?


— Tenho. Está no meu celular. Posso encaminhar a você as informações de contato
dela depois que desligarmos, se você quiser.

— Sim. Isso seria útil.

— Ok.

— Obrigado pela informação, Evelyn.

— Você quer que eu ligue para ela? Diga que ela precisa pagar pelo custo de
comparecimento ou algo assim?

— Não, isso não é necessário. Na verdade, prefiro que você não mencione essa
conversa, se por acaso falar com ela.

— Ok, claro. Qualquer coisa que você precisar.

— Adeus, Evelyn.

Depois que desliguei, esfreguei meu queixo e olhei pela janela para a cidade.

Anastasia Steele... o que fazer, o que fazer com você...

Abrindo a gaveta da minha mesa, peguei o iPhone que o serviço de buffet me


enviou outro dia. Eles disseram que o encontraram na Mesa Dezesseis. Minha
assistente ligou para todos os que estavam sentados à mesa, exceto para a mulher
misteriosa. Ninguém perdeu um telefone. Então, eu tinha certeza a quem pertencia.
A única pergunta era: o que eu faria com isso?
Capítulo 4

Christian

Andrea, minha assistente, espreitou a cabeça para a sala de conferências.

— Sr. Grey, desculpe interromper, mas há alguém aqui para vê-lo. Não há
compromisso na sua agenda, mas ela afirma que você a convidou.

Estendi minhas mãos, apontando para as pessoas sentadas ao redor da mesa. —


Estou no meio de uma reunião. Não tenho mais nada agendado agora.

Ela encolheu os ombros. — Isso foi o que pensei. Vou avisá-la que você está
ocupado.

— Quem é?

— O nome dela é Anastasia Steele.

Bem, bem, bem... Cinderela finalmente veio pegar seu sapato de cristal, não é? Já
fazia seis dias desde que mandei uma mensagem para ela por meio de um bilhete,
então assumi que a Srta. Steele não tinha coragem de aparecer. Eu tinha o endereço
antigo de Evelyn nos registros de nossa empresa, então poderia ter sido legal e
simplesmente devolvido o telefone para ela. Mas que diversão teria? Em vez disso,
enviei meu cartão de visita com uma nota rabiscada no verso.

Se você quer o que deixou para trás, venha e pegue.

— Você pode dizer à Srta. Steele que estou ocupado, mas se ela puder esperar, eu
a verei quando terminar aqui?

— Sim, claro. Vou avisá-la. — Andrea fechou a porta da sala de conferências.


Minha reunião durou mais quarenta minutos, mas provavelmente deveria tê-la
encerrado depois de dois minutos, já que saber o que me esperava no saguão me
distraiu completamente. Finalmente, voltei ao meu escritório, carregando os
arquivos da sala de conferências.

— Você gostaria que eu trouxesse a Srta. Steele de volta? — Andrea perguntou


quando passei por sua mesa.

— Dê-me cinco minutos e depois a traga, por favor.

Eu não tinha ideia do que dizer quando a senhorita invasora de festas entrasse.
Mas, novamente, não era eu que precisava explicar nada. Então decidi tocar de
ouvido e ver onde a conversa ia.

O que foi uma coisa boa, porque assim que ela entrou na porta do meu escritório,
eu mal conseguia lembrar meu próprio nome.

Evelyn – ou melhor, Anastasia – estava ainda mais bonita do que me lembrava.


No casamento, seu cabelo estava preso para cima, mas agora estava solto, e mechas
escuras onduladas emolduravam sua pele de porcelana. Ela usava óculos grandes
de aro grosso que davam a ela uma aparência sexy de bibliotecária, e o vestido de
verão simples azul-marinho e sapatilhas que ela usava a faziam parecer mais
minúscula do que no casamento.

Mantendo meu rosto o mais impassível possível, levantei- me e gesticulei para as


cadeiras de hóspedes do outro lado da minha mesa.

— Por favor, sente-se.

Ela mordeu o lábio inferior, mas, mesmo assim, entrou no meu escritório.
— Você poderia, por favor, fechar a porta atrás de você, Andrea? — Pedi à minha
assistente.

Ela assentiu. — Claro.

Anastasia e eu tivemos um pequeno concurso de encarar antes que ela plantasse a


bunda em um assento do outro lado da minha mesa.

— Não achei que você fosse pegar seu sapatinho de cristal, Cinderela.

Ela cruzou as pernas e entrelaçou as mãos sobre o joelho.

— Acredite em mim, se eu tivesse outra escolha, não estaria aqui.

Arqueei uma sobrancelha. — Devo ficar ofendido? Na verdade, estava ansioso por
sua visita.

Ela franziu os lábios. — Aposto que você estava. Que tipo de humilhação devo
esperar hoje? Você chamará todos os funcionários para rir e apontar?

Meu lábio se contraiu. — Eu não estava planejando isso.

Mas se isso é coisa sua...

Ela suspirou. — Olha, sinto muito pelo que eu fiz. Já escrevi para a noiva uma
carta de desculpas e mandei um presentinho para o endereço do convite. Eu não
quis fazer nenhum mal. Quando o convite veio, eu acidentalmente o abri, e
algumas taças de vinho depois, meu amigo Fisher e eu inventamos a ideia de que
deveríamos ir. Eu estava chateada com minha colega de quarto – a pessoa para
quem o convite foi enviado. Ela se mudou no meio da noite, e um monte de minhas
roupas e sapatos sumiram quando ela se foi. E justamente naquele dia, o cheque
que ela me deixou pelos dois meses de aluguel atrasado que ela devia, havia
voltado. E, para completar, foi meu último dia de trabalho, então eu realmente
precisava da metade do aluguel dela. — Ela parou por um momento, parecendo
recuperar o fôlego. — Sei que nada disso desculpa o que eu fiz. Um casamento
deve ser um evento sagrado e íntimo para famílias e amigos compartilharem, mas
quero que você saiba que é a primeira vez que faço algo assim. — Ela balançou a
cabeça. — Além disso, eu poderia não ter feito isso se fosse em qualquer outro
lugar, mas eu amo aquela biblioteca. Trabalhei a um quarteirão de distância nos
últimos seis anos e almocei nos degraus mais vezes do que eu poderia contar.
Estava morrendo de vontade de ir a um evento lá.

Cocei meu queixo e examinei seu rosto. Ela parecia sincera.

— Por que você demorou tanto para pegar seu telefone?

— Honestamente?

— Não, prefiro que você invente uma história como você fez no casamento. Porque
acabou tão bem...

Ela revirou os olhos e soltou um grande suspiro. — Eu não planejava vir. Até saí
e comprei um novo iPhone. Mas meu aluguel vence em alguns dias e estou sem
dinheiro porque gastei cada centavo que tenho no lançamento do meu negócio, que
agora está atrasado. Tenho quatorze dias para devolver o telefone caro – e o último
é hoje. Não posso pagar mil dólares por um novo celular, especialmente agora que
não tenho uma colega de quarto. Preciso devolver o telefone ou ligar para meu pai
e pedir dinheiro emprestado. Diante da escolha de vir aqui e levar minha punição
por fazer algo estúpido, ou ligar para meu pai... bem, aqui estou.
Minha irmã nem mesmo tinha ficado chateada com o que aconteceu em seu
casamento. Claro que ela ficou confusa sobre quem era a mulher que estava
contando uma história sobre sua infância, mas quando expliquei que a peguei
fingindo ser uma convidada, Mia me atacou por colocar a mulher naquela posição,
em vez de acompanhá-la silenciosamente até a porta.

Para ser honesto, até me senti um pouco mal quando Anastasia começou a suar e
empalidecer com o microfone na mão. Mas eu estava chateado por ela mentir para
mim. No fundo, eu sabia que era em parte porque uma mulher mentindo na minha
cara trouxe de volta alguns lembretes de merda. Também não ajudou o fato de
minha irmã mais nova ter escolhido se casar no mesmo lugar em que meu próprio
casamento havia sido apenas sete anos antes. Portanto, talvez minha raiva por
Anastasia pudesse ter sido levemente deslocada.

Abrindo a gaveta da minha mesa, tirei o celular e deslizei para o outro lado da
minha mesa.

— Obrigada. — disse Anastasia. Ela o pegou e limpou a tela. O telefone acendeu


e vi sua testa franzir. — Ainda está totalmente carregado. Você o carregou?

Concordei. — Estava morto quando o buffet o enviou no dia seguinte ao


casamento.

Ela assentiu com a cabeça, mas pude ver que não respondi a qualquer pergunta que
ela tivesse em mente.

— Você... tentou adivinhar minha senha?

Consegui manter meu rosto reto, embora tenha sido exatamente o que eu fiz. Ela
não precisava saber que passei uma hora tentando diferentes combinações para
desbloquear a maldita coisa porque eu estava muito curioso sobre a mulher que
fugiu do casamento. Então evitei sua pergunta e inclinei meus dedos, falando em
um tom severo. — Eu precisaria ligá-lo para ver se você tinha uma senha, não é?

Anastasia balançou a cabeça e colocou o telefone na bolsa. — Oh. Sim. Claro. Está
certo.

Olhamos um para o outro por alguns segundos, até que o silêncio se tornou
estranho.

— Ok, bem... — Ela se levantou. — Eu devo ir.

Por mais fodido que estivesse, eu não estava pronto para ela ir embora. Eu tinha
uma centena de perguntas que queria que ela respondesse – como o que seu pai fez
para que ela não quisesse ligar para ele, ou por que o lançamento de seu negócio
estava atrasado. Mas em vez disso, segui seu exemplo e me levantei.

Ela estendeu a mão sobre a minha mesa. — Obrigada por guardar meu telefone e,
novamente, peço desculpas pelo que fiz.

Peguei sua mão na minha e segurei por um pouco de tempo. Mas se ela percebeu,
ela não disse nada.

Depois que a soltei, Anastasia se virou para sair, mas voltou atrás. Ela abriu o zíper
da bolsa e a vasculhou. Tirando algo, ela ofereceu para mim.

— Você gosta de chocolate?

Fiquei muito confuso, mas assenti. — Gosto.


— Mantenho uma barra de chocolate Hershey's na minha bolsa o tempo todo para
emergências. Tem anandamida, que é um neurotransmissor e ajuda você a se sentir
mais feliz. — Ela encolheu os ombros. — Às vezes dou para pessoas que parecem
precisar, mas na maioria das vezes acabo comendo sozinha. Eu amo chocolate.
Mandei um presente de desculpas para sua irmã, mas não te mandei nada. É tudo
o que tenho para uma oferta de paz.

Essa mulher estava me entregando uma barra de chocolate para pagar, por invadir
um evento de setecentos dólares o prato? Eu tinha que dar créditos a ela; ela era
única.

Levantei minhas mãos. — Está bem. Estamos bem. Você fica com ele.

Ela manteve o braço estendido. — Vou me sentir melhor se você o pegar.

Consegui conter minha risada quando peguei da mão dela.

— Ok. Obrigado.

Anastasia colocou a bolsa de volta no ombro e se dirigiu para a porta. Segui para
abri-la, mas ela parou abruptamente novamente. Desta vez, em vez de uma oferta
de barra de chocolate, ela se inclinou para mim e respirou fundo.

— Retrouvailles. — disse ela.

Eu falava um pouco de francês e sabia que isso se traduzia em reunião ou algo


parecido.

Vendo a confusão em meu rosto, ela sorriu. — É a colônia que você está usando,
não é? Chama-se Retrouvailles.
— Oh... sim, acho que é.

— Você tem bom gosto. Gosto caro. Mas bom. Eu o criei.

— Mesmo?

Ela assentiu e seu sorriso se alargou. — Você fica bem com ele. As colônias têm
um cheiro diferente em cada pessoa.

Droga, ela tinha um sorriso. Observando, meus olhos caíram em seus lábios.

Porra. Tive vontade de mordê-los.

— Você pulveriza a colônia em seu ponto de pulso? — Ela apontou para o oco no
fundo de sua garganta. — Por aqui?

Eu praticamente salivei, olhando para seu pescoço delicado.

— Eu acho.

— É por isso que dura tanto. Perfumes e colônias são reativados com o calor do
corpo. Muitos homens borrifam nas laterais do pescoço, mas a parte inferior da
garganta é uma das áreas mais quentes porque o sangue bombeia próximo à
superfície da pele. É por isso que a maioria das mulheres também borrifa nos
pulsos e atrás das orelhas.

— Você está usando algum? — Perguntei. Suas sobrancelhas se franziram. —


Perfume? Concordei.

— Sim, é um que eu também desenvolvi.


Mantive meus olhos treinados nos dela enquanto lentamente me inclinei para
frente. Ela não se mexeu quando cheguei a uma polegada de nossos narizes se
tocando, então inclinei minha cabeça para o lado, coloquei meu nariz perto de sua
orelha e respirei profundamente.

Ela cheirava fodidamente incrível.

Relutantemente, puxei minha cabeça para trás. — Você veste bem suas criações.

Ela sorriu mais uma vez, mas o leve brilho de seus olhos me disse que ela se sentia
um pouco fora de forma também. — Obrigada, e obrigada novamente por tudo,
Christian.

Ela se virou mais uma vez para sair do meu escritório e, ao cruzar a soleira, uma
bizarra sensação de pânico tomou conta de mim.

— Anastasia, espere...

Ela novamente parou e olhou para trás.

Antes que eu pudesse me conter, a merda mais louca saiu da minha boca. — Jante
comigo.
Capítulo 5

Anastasia

— Você não teve mais notícias do Príncipe Encantado? — Fisher abriu minha
geladeira e tirou um recipiente com o jantar de ontem, embora fossem apenas 7h
da manhã.

Balancei minha cabeça e tentei esconder minha decepção.

— Provavelmente foi melhor.

— Que faz, tipo, uma semana agora?

— Oito dias. Não que eu esteja contando. — Estou totalmente contando.

Ele me olhou de cima a baixo. — Por que você está vestida tão cedo?

— Acabei de voltar, estava assistindo ao nascer do sol.

— Você sabe, você pode definir o plano de fundo do seu laptop de alguns belos
amanheceres para entardeceres e dormir até tarde. — Fisher arrancou a tampa do
Tupperware e empalou com o garfo uma costeleta de frango inteira à milanesa
como se fosse um pirulito. Ele mordeu um pedaço.

— Isso não é exatamente o mesmo, mas obrigada. Umm... você quer que eu aqueça
isso para você? Te dar um prato e uma faca para cortá-lo? Ou melhor ainda, fazer
alguns ovos para o café da manhã?

— Não há necessidade. — Ele encolheu os ombros e deu outra mordida. — Por


que você não liga para ele?
Olhei para meu melhor amigo sem expressão. — Não posso ligar para ele.

— Por que não?

— Porque ele provavelmente mudou de ideia. Você está se esquecendo de como


nos conhecemos? Estou chocada que ele até pediu meu número de telefone. Estou
pensando que ele teve um lapso temporário de sanidade e pensou melhor depois
que eu saí. Além disso, tenho um encontro amanhã, de qualquer maneira.

— Com quem?

— Ben.

— O cara que você conheceu on-line? Isso foi há algumas semanas, não foi?

— Sim. Eu deveria sair com ele há alguns dias, mas cancelei.

— Por que você cancelou?

— Eu não sei. — Dei de ombros. — Só tinha muito o que fazer.

Fisher me deu uma olhada. — Boa tentativa. Mas não estou acreditando. Você
esperava que o Príncipe Encantado ligasse e queria manter sua agenda aberta.

— Eu não estava esperando uma ligação de Christian.

— Você verificou se há mensagens perdidas em seu telefone mais de uma vez esta
semana?

— Não. — eu disse muito rápido e soando completamente na defensiva.


Totalmente fiz, algumas vezes por dia, na verdade. Mas eu sabia como Fisher
operava. Ele era implacável. É o que o torna um bom advogado. Se ele encontrasse
um cordão pendurado, ele continuaria puxando e puxando até que todo o suéter se
desfizesse. Então, eu não estava prestes a entregar a ele aquele fio em uma bandeja
de prata.

Ele me estudou. — Acho que você é um monte de merda. Revirei meus olhos.

— Sabe, você pode sair com mais de uma pessoa ao mesmo tempo...

Felizmente, nossa conversa foi interrompida por meu telefone fixo tocando, meu
telefone comercial.

— Pergunto-me quem está ligando para o Signature Scent em um sábado. Acho


que pode ser um fornecedor em Cingapura. Ainda é sexta-feira lá, certo?

Fisher deu uma risadinha. — Caminho errado. É domingo lá.

— Oh.

Encontrei o telefone na sala de estar, em cima de uma caixa de amostras. Segurei


o receptor no meu ombro enquanto pegava a caixa também. — Olá?

— Oi, é Anastasia Steele?

Voltando para a cozinha, abri a caixa e tirei um dos pequenos potes de vidro
embalados dentro. — Sim, sou eu. Quem é?

— Meu nome é Mia Royce.


O frasco escorregou da minha mão. Atingiu o ladrilho da cozinha com um estrondo
alto, mas felizmente não se partiu. Atrapalhei-me para pegar o telefone de onde
estava equilibrado no meu ombro. — Você disse Mia Royce?

— Sim. Espero que não se importe que eu ligue. Não consegui encontrar um site,
mas quando pesquisei o nome da sua empresa no Google, esse número apareceu,
então arrisquei.

— Umm... Não, de jeito nenhum. Claro que não.

— Recebi sua nota e presente. Quando mencionei o que você me enviou ao meu
irmão, ele me disse que você estava abrindo uma nova empresa de fragrâncias que
fazia perfumes personalizados. Eu adoraria pedir alguns perfumes para as minhas
madrinhas, mas não consegui te encontrar on-line.

— Uhh... o site ainda não foi lançado.

— Droga. Posso encomendá-los diretamente de você, então?

— Certo. Claro.

— Eeep! Isso é ótimo. Tenho lutado para descobrir o que dar a cada uma das
meninas. Quero algo personalizado e especial. Isso é tão perfeito. Eu
absolutamente amei o meu, a propósito. Obrigada por fazer isso.

Não consegui superar essa conversa. Mia estava me ligando para fazer um pedido,
não para me repreender por invadir seu casamento? Seria possível que ela não
percebesse que eu era a mesma pessoa? Acho que não, já que enviei seu presente
e um bilhete de desculpas na mesma caixa, e ela obviamente teve uma conversa
com Christian sobre mim.
— Obrigada eu. Eu, uh, posso enviar a elas alguns kits e fazer seus pedidos uma
prioridade assim que elas me disserem do que gostam.

— Ah, não. Quero que seja uma surpresa. Sei muito sobre elas – talvez eu pudesse
apenas dizer o que elas normalmente usam e um pouco sobre elas e você poderia
pensar em algo?

Eu não tinha certeza de que seria tão eficaz como normalmente o fazia, mas de
jeito nenhum eu poderia dizer não a ela. — Claro, isso parece bom.

— Que tal segunda-feira às doze e meia?

Minha testa enrugou. — Umm... meio-dia e meia está bom.

— Ok. O Café Luce na rua 53, pode ser? Isso é muito longe para você? Você mora
aqui na cidade?

Meus olhos saltaram. Ela queria me encontrar pessoalmente? Presumi que ela
queria dizer que me anotaria a lápis em sua agenda para um e-mail ou uma ligação.

— Sim, moro na cidade. E o Café Luce parece bom.

— Perfeito! Está marcado. Obrigada, Anastasia! Mal posso esperar para conhecê-
la.

Dez segundos depois, a linha estava muda. Encarei meu telefone. Fisher estava
assistindo toda a conversa se desenrolar em meu rosto.

— Quem era essa? — Ele disse.

— Mia Royce.
— E ela é?

— A noiva cujo casamento nós invadimos.

No dia seguinte, cheguei vinte minutos mais cedo na cafeteria. Ben queria me
pegar para o nosso encontro, mas eu preferia encontrar pessoas que não conhecia
bem em público, então eu sempre tinha controle total sobre quando poderia partir.
Comprei um café com leite descafeinado e me sentei em um sofá ao lado do balcão.
Minha cafeteria local sempre tinha jornais e revistas para as pessoas folhearem
enquanto bebiam seus cafés caríssimos, então peguei o New York Times e comecei
a folhear a seção Sunday Style. No meio, congelei quando vi uma foto. Depois de
piscar algumas vezes para ter certeza de que não estava imaginando coisas,
levantei o papel mais perto para ler o anúncio.

Mia Grey e Mason Brighton Royce se casaram em 13 de julho, na Biblioteca


Pública de Nova York, em Manhattan. O Rev. Arthur Finch, um padre
episcopal, oficiou.

A Sra. Royce, 28, é vice- presidente de marketing. Ela se formou na University


of Pennsylvania e recebeu um MBA pela Columbia.

Ela é filha de Grace Trevelyan Grey e Carrick Grey ambos falecidos, da cidade
de Nova York. O casamento foi organizado por seu irmão, Christian Grey.

O Sr. Royce, também de 28 anos, fundou sua própria empresa de TI e é


especialista em segurança e conformidade. Ele se formou na Universidade de
Boston e recebeu um MS em Tecnologia da Informação pela NYU.
Eu não podia acreditar que tropecei no anúncio do casamento deles. Quais eram as
chances? Eu não lia o New York Times de domingo há anos, então parecia uma
coincidência bizarra. Fisher sempre disse que se você expusesse pensamentos
positivos, coisas positivas voltariam para você. Isso pode explicar isso. Certamente
pensei o suficiente durante a última semana e meia sobre um certo homem que
pediu meu número, mas nunca ligou.

No início desta semana, eu estava mudando de canal e por acaso passei no Dancing
with the Stars. Embora nunca tenha assistido, por algum motivo, continuei
assistindo. Quando os casais dançaram lentamente, lembrei-me de como foi a
sensação de estar nos braços de Christian no casamento de sua irmã. Isso me fez
lembrar de quanto ritmo ele tinha, o que por sua vez fez minha mente vagar
para outras coisas nas quais seu bom ritmo poderia ser útil. Então, na sexta-feira
à noite, quando Fisher veio depois do trabalho, ele me trouxe uma garrafa de gim
Hendricks. Isso me lembrou de como meus braços arrepiaram quando Christian
sussurrou em meu ouvido: — A noite é uma criança, Evelyn. Dance Comigo.

Nunca, em um milhão de anos, esperei que ele me chamasse para sair quando
apareci com o rabo entre as pernas em seu escritório para pegar meu telefone. Mas
uma vez que ele fez, deixei minha imaginação correr sozinha. Até adiei meu
segundo encontro com Ben. Mas depois de passar mais de uma semana na espera
para o meu telefone tocar, finalmente percebi que era idiota evitar um cara
superlegal que tinha me convidado várias vezes, só porque outro cara,
eventualmente, pediu meu número.

Ben entrou alguns minutos antes do horário que deveríamos nos encontrar. Dei
uma última olhada na foto do casamento no jornal antes de fechá-lo. Eu estava
determinada a não arruinar meu encontro, deixando que pensamentos de outro
homem se infiltrassem.
— Ei. — Ben me beijou na boca.

Foi apenas o nosso segundo beijo, já que o nosso primeiro foi no final do nosso
último encontro, mas foi bom o suficiente. Não houve formigamento, e arrepios
não percorreram meus braços nem nada, mas estávamos no meio de um café, então
o que eu esperava? Quando Ben se afastou, ele me entregou uma caixa de chocolate
Godiva que eu não tinha notado em sua mão.

— Eu ia comprar flores para você, mas achei que você teria que carregá-las com
você a noite toda. Isso você provavelmente pode jogar na sua bolsa.

Sorri. — Isso é muito atencioso da sua parte. Muito obrigada.

— Fiz uma reserva em uma churrascaria. Depois, se você quiser, há um clube de


comédia ao lado com uma noite de microfone aberto esta noite.

— Isso parece ótimo.

— Você está pronta para ir?

— Sim.

Peguei meu copo de café vazio e joguei no lixo ao sair. Quando alcancei a
maçaneta da porta, Ben me adiantou. — Por favor, permita-me.

— Obrigada.

Lá fora, olhei para a esquerda e depois para a direita. — Para que lado estamos
indo?

— O restaurante fica a poucas quadras daqui. Perto da loja de Christian Louboutin.


— Christian Louboutin?

— Sim, isso é muito longe para andar de salto alto? Posso pegar um Uber para nós.

— Não, não. Isso está bom... — Mas, falando sério... Christian Louboutin?

Começamos a andar. — Ainda não experimentei o lugar. — disse Ben. — Mas


tem críticas incríveis, então espero que seja bom.

— Como é chamado?

— Christian's.

Tive que abafar minha risada. Christian's perto da Christian Louboutin? Tanto
para não deixar pensamentos de outra pessoa rastejarem esta noite...
Capítulo 6

Anastasia

Cheguei ao restaurante alguns minutos atrasada na segunda-feira, mesmo tendo


saído do apartamento muito cedo. O trem local que peguei decidiu se tornar um
expresso e pulou minha parada.

Quando entrei, Mia já estava sentada a uma mesa. Ela parecia tão diferente fora do
traje de casamento que quase não a reconheci. Mas ela acenou e sorriu como se
fôssemos velhas amigas.

Eu tinha uma ideia selvagem presa na minha cabeça de que ela realmente não
queria pedir nenhum perfume, mas estava me atraindo aqui para que ela pudesse
me dar um esculacho em pessoa – ou pior ainda, me prender. Seu sorriso
convidativo fez muito para dissipar minha paranoia.

— Oi. — Coloquei a caixa em meus braços em uma cadeira vazia e puxei a cadeira
em frente a ela. — Desculpa, estou atrasada. Meu trem pulou a parada.

— Sem problemas. — Ela estendeu a mão e inclinou a cesta de pão na minha


direção, mostrando-me que estava vazia. — Como você pode ver, me mantive
ocupada. Não comi carboidrato por seis meses antes do meu casamento. Então,
passei as últimas semanas recuperando o tempo perdido. — Colocando a cesta na
mesa, ela estendeu a mão para mim. — Sou Mia Grey, a propósito. Droga, não,
não sou. Sou Mia Royce agora. Ainda não consigo me acostumar com isso.

Sorri, embora estivesse uma pilha de nervos. — Anastasia Steele. — Descobrindo


que a melhor coisa a fazer era limpar o ar, respirei fundo. — Escute Mia, sinto
muito pelo que fiz. Normalmente não sou o tipo de pessoa que invade um
casamento.
Ela inclinou a cabeça. — Você não é? Isso é uma vergonha.

Achei que íamos nos dar muito bem. Invadi um baile uma vez.

Meus olhos se arregalaram. — Você invadiu?

Mia deu uma risadinha. — Sim. E fiquei com o par de uma garota e voltei para
casa com o lábio grosso.

Meus ombros relaxaram. — Oh, meu Deus. Você não tem ideia de como estou
aliviada por saber que você não está chateada.

Ela me dispensou. — Nah. Não pense mais nisso. Fiquei muito impressionada com
a história que você contou. Alguém realmente fez xixi nas calças para você?

Sorri tristemente. A memória era agridoce agora, considerando que minha irmã e
eu não nos falávamos mais. — Na verdade, fui eu quem fez isso, e foi na pré-
escola. Minha irmã é um ano mais nova e sofreu um acidente durante o treino para
o concurso de Natal. Um menino apontou para seu traseiro molhado e zombou
dela. Eu não poderia deixá-la ficar lá sozinha.

— Agradável. Meu irmão é mais velho. Ele sempre foi ridiculamente protetor
comigo. Mas não tenho certeza se ele teria ido tão longe a ponto de urinar nas
calças para salvar minha pele.

— Ela deu um gole em sua bebida. — Pensando bem, ele provavelmente faria. Ele
simplesmente nunca admitiria que fez isso para me proteger. Ele diria que mijou
nas calças e eu o copiei, provavelmente.

Nós rimos.
— Christian me contou como você apareceu no casamento. Não fiquei surpresa
quando ele me contou o que Evelyn fez com você – fugir no meio da noite e com
o aluguel atrasado. Ela sempre foi pouco confiável. No primeiro ano de faculdade,
passamos as férias de primavera juntas. Ela conheceu um cara que era dez anos
mais velho que nós e só falava francês. Dois dias de viagem, acordei com uma nota
dizendo que ela tinha partido para a França para conhecer a família do cara porque
ela estava apaixonada. Ela me deixou em Cancún sozinha. A cadela levou meu par
de sapatos favorito com ela.

— Oh, meu Deus. Ela também levou meus sapatos favoritos quando se mudou!

Rimos de novo e Mia continuou. — Ela também roubou algo de Elena, a ex-mulher
do meu irmão. As duas se desentenderam e pararam de falar. Então conversei com
meu irmão durão para dar a ela um emprego e, depois de alguns meses, ela parou
de aparecer. Ele nunca vai me deixar esquecer isso. O homem pode guardar rancor
para sempre.

— Christian definitivamente não parece tão complacente quanto você.

— Isso é dizer o mínimo. Ele é superprotetor. Quando eu tinha dezesseis anos e


tive meu primeiro namorado, Christian costumava sentar-se do lado de fora na
escada e esperar que eu voltasse para casa à noite. Claro, isso significava que eu
recebia um beijo na bochecha em vez de uma boa sessão de amassos. Sinto-me
mal por Charlie. Ela provavelmente não terá permissão para namorar antes dos
quarenta.

— Charlie?

— Filha de Christian.
Concordei. Não tenho ideia do porquê, mas não esperava que ele tivesse filhos.
Embora, é claro, eu não soubesse muito sobre o homem além dele ser bonito,
cheirar divino, saber dançar e não ter ligado nos dez dias desde que lhe dei meu
número de telefone.

— Seis parecendo como dezesseis. — Ela riu. — Ele está tão ferrado.

O garçom veio anotar nosso pedido e eu ainda não tinha olhado o cardápio. Mia
pediu uma salada de pera balsâmica com frango. Isso soou bom, então fiz o mesmo.

— Então... — Ela cheirou o pulso. — Diga-me como você conseguiu fazer para
mim o melhor perfume que já cheirei em minha vida. Estou completamente
obcecada por isso.

Sorri. — Obrigada. Peguei minhas pistas do seu casamento. Você tinha gardênias
como peças centrais em seu buquê, então usei isso como meu ponto de partida.
Ouvi uma das mulheres na mesa onde eu estava sentada dizer que você estava indo
para Bora Bora em sua lua de mel. Então, imaginei que você gostasse da praia e
acrescentei calone, que dá aquele toque de brisa do mar. E então seu vestido era
tradicional, mas com um cinto de seda vermelho brilhante, então pensei que você
poderia ter um pouco de travessa em você.

— Isso é incrível. Até o vidro era perfeito.

— Esse design foi um pelo qual me apaixonei, mas não vamos vender. É importado
da Itália, e eu não poderia fazer funcionar com meu orçamento inicial de startups9.

— Isso é uma pena. É tão bonito.

— Espero que no futuro eu possa adicioná-lo.


Durante a hora seguinte, expliquei como funcionava o perfume exclusivo. Dei à
Mia a demonstração completa – ela cheirou todos os vinte pequenos amostradores
e os avaliou, e então eu fiz a ela todas as perguntas que apareceriam no site como
parte do processo de pedido. Ela fez uma tonelada de perguntas, parecendo muito
interessada no lado comercial das coisas. Escrevi notas sobre cada uma das
madrinhas, e ela escolheu os vidros para cada uma delas.

— Então, quando o Signature Scent será lançado oficialmente? — Ela perguntou


quando terminamos.

Fiz uma careta. — Não tenho certeza.

— Por quê? Parece que você tem tudo pronto para começar.

— Faço um planejamento sábio, de qualquer maneira. Mas tive alguns problemas


de financiamento. É uma longa história, mas eu tinha um parceiro e precisei
comprar a parte dele. Usei uma boa parte dos fundos de negócios que tínhamos
para comprar estoque, então comprá-lo drenou cada centavo do que tinha sobrado.
Embora estivesse tudo bem, porque eu tinha uma linha de crédito comercial grande
o suficiente que ainda seria capaz de lançar. Eu havia solicitado o empréstimo
quase um ano antes, para o caso de ficar sem dinheiro. Mas quando fui sacar pela
primeira vez, o banco me disse que eu precisava fazer uma atualização anual para
manter a linha de crédito aberta. Eu não estava ciente disso. Eu tinha acabado de
deixar meu emprego na Estée Lauder e, quando anotei que havia mudado de
emprego, eles puxaram minha linha de crédito. Se eu tivesse feito isso alguns dias
antes, não teria que escrever isso e estaria bem.

— Oh, isso é péssimo.


Concordei. — Sim. E nenhum banco quer emprestar para quem está
desempregado. Candidatei-me a um financiamento governamental. Eles são
praticamente minha última esperança.

O garçom trouxe a conta. Eu a peguei, embora odiasse perder um centavo nesses


dias. Era o mínimo que eu podia fazer por essa mulher gentil cujo casamento eu
invadi.

Mas Mia chegou antes de mim. — Este almoço é por minha conta. Eu convidei
você.

— Não posso deixar você fazer isso. Já te devo uma refeição.

Ela acenou para mim e pegou a carteira da bolsa. Colocando seu cartão de crédito
na pasta de couro da conta, ela o fechou. — Absolutamente não. Eu insisto.

Antes que eu pudesse argumentar mais, ela ergueu a mão e o garçom se aproximou
e pegou a conta.

Suspirei, me sentindo uma perdedora. — Obrigada. Eu agradeço.

— A qualquer momento.

Saímos juntas. Eu estava indo para o centro da cidade para fazer algumas coisas, e
ela estava voltando para o trabalho no centro, então nos despedimos. Mia me puxou
para um abraço como se fôssemos as velhas amigas que eu disse que éramos em
seu casamento.

— Terei seus perfumes prontos na próxima semana. — eu disse a ela. — Posso


enviá-los para você ou para cada pessoa individualmente, se preferir.
Ela sorriu. — Ligue-me quando eles estiverem prontos, e nós descobriremos algo.

— Ok. Eu vou.
Capítulo 7

Anastasia

Uma semana depois, eu estava atolada em caixas de papelão.

— Esta é a última. — Fisher empilhou a última caixa no topo de uma montanha


de caixas com quase um metro e meio de altura. Ele puxou a camiseta e usou a
barra para limpar o suor da testa. — É melhor você fazer manicotti recheado logo
por todo esse levantamento que me mandou fazer hoje.

— Prometo que vou. Não percebi o quanto havia acumulado naquela unidade de
armazenamento. Não posso acreditar que havia duzentas caixas ali. — Em meu
esforço contínuo para cortar custos, convoquei Fisher para me ajudar a realocar
tudo, desde minha unidade de armazenamento pessoal cara para o meu
apartamento. Como eu não tinha mais uma colega de quarto, tinha o espaço aqui.

Fisher enfiou a mão na cintura do short. — Quase esqueci. Peguei nossa


correspondência na última viagem. Este pacote que você recebeu está caindo aos
pedaços. Parece que o carteiro rasgou quando ele enfiou na sua caixa para fazer
com que coubesse.

Tudo estava úmido de suor nas costas. Meu nariz enrugou.

— Nojento. Coloque aqui para mim, por favor.

Fisher jogou a pilha na mesa da cozinha e os envelopes se espalharam. O logotipo


no canto de um chamou minha atenção. SBA. Eu o peguei e examinei.

— Oh meu Deus. Este é um pequeno envelope. Isso não é um bom sinal.

— De quem é?
— The Small Business Administration – eu deveria tomar uma decisão sobre o
empréstimo que solicitei em duas ou três semanas. Mal faz duas.

— Isso é ótimo. Eles provavelmente amaram tanto o seu negócio que mal podiam
esperar para aprová-lo.

Balancei minha cabeça. — Quando você se inscreve para algo e recebe de volta
um envelope fino, nunca é um bom sinal. É como encontrar na caixa de correio um
envelope branco de tamanho normal da faculdade para a qual você se inscreveu,
em vez do grande envelope marrom que enviam com todas as suas coisas de boas-
vindas dentro. Se eles estivessem me aprovando, isso seria complicado.

Fisher revirou os olhos. — A maioria das coisas é feita on- line hoje em dia. Pare
de ser tão negativa e abra essa maldita coisa. Aposto que há um login e uma senha
para você entrar on- line e assinar tudo o que eles precisam que você assine.

Soltei um suspiro profundo. — Não tenho um bom pressentimento, Fisher. O que


farei se eles me recusarem? Já me inscrevi em três bancos. Ninguém está dando
um empréstimo a uma desempregada. Fui uma idiota por largar meu emprego e
pensar que poderia fazer esse negócio seguir em frente. Eles já preencheram minha
vaga na Estée Lauder, e a maioria dos empregos decentes para químicos de
perfume agora está no exterior. Que diabos vou fazer? Como vou pagar meu
aluguel?

Fisher colocou as mãos nos meus ombros. — Respire fundo. Você nem sabe o que
está no envelope ainda. Pelo que sabemos, pode ser uma carta padrão apenas
agradecendo a inscrição, ou informando que há um atraso no processamento.

Eu estava nervosa demais para abri-lo, então estendi o envelope para meu amigo.
— Faça você. Eu não posso.
Fisher balançou a cabeça, mas rasgou o envelope. Observei, prendendo a
respiração enquanto seus olhos examinavam as primeiras linhas. A carranca que
se formou nos cantos de seus lábios me disse tudo que eu precisava saber.

Fechei meus olhos. — Oh Deus...

— Sinto muito, Ana. Eles disseram que você não tem tempo suficiente no negócio
ou um fluxo de caixa positivo forte o suficiente. Mas como diabos você vai ter
qualquer um deles se eles não lhe dão o empréstimo para ajudá-la a colocar o
negócio em funcionamento?

Suspirei. — Eu sei. Isso é basicamente o que todos os bancos disseram também.

— Você pode simplesmente começar bem pequeno, obter alguma experiência e se


inscrever novamente?

Eu gostaria que fosse assim tão fácil. — Não tenho a embalagem e só o suficiente
de algumas das amostras que preciso colocar nas caixas que as pessoas usariam
para fazer o pedido.

Fisher passou a mão pelo cabelo. — Merda. Tenho cerca de nove mil no banco que
estava economizando para uma emergência. É seu. Você nem mesmo tem que me
pagar.

— Eu te amo por oferecer isso, Fisher. Eu realmente preciso. Mas não posso aceitar
o seu dinheiro.

— Não seja ridícula. Você é minha família e é isso que as famílias fazem.
Não queria insultar meu amigo, mas nove mil dólares não seriam suficientes para
o lançamento. — Vou descobrir algo. Mas obrigada pela oferta generosa. Significa
muito para mim que você até considere fazer isso.

— Você sabe o que isso exige?

— O quê?

— Dom. Vou pegar uma daquelas garrafas caras de champanhe que sobrou
daquele casamento.

— Isso pede uma celebração? Estamos comemorando o declínio do meu


empréstimo ou o fato de que meu apartamento agora é um depósito?

Fisher beijou minha testa. — Estamos comemorando que tudo isso vai dar certo.
Lembre-se, se você não pensar positivo, coisas positivas não acontecerão. Volto
já.

Enquanto ele desaparecia em seu apartamento ao lado, olhei em volta. Minha sala
de estar estava um desastre total, o que parecia apropriado agora, já que minha vida
combinava com isso. Um ano atrás, eu estava noiva para me casar, tinha um ótimo
trabalho ganhando seis dígitos, a economia que a maioria dos jovens de 27 anos
não acumulava até os quarenta e o sonho de um novo e empolgante
empreendimento comercial. Agora meu ex-noivo estava noivo de outra pessoa, eu
estava desempregada e falida, e meu novo e excitante negócio parecia mais uma
corda em volta do meu pescoço.

Fiquei olhando para a carta de negação de empréstimo sobre a mesa por um


minuto, então a enrolei em uma bola e a lancei para a lata de lixo da cozinha. Claro,
errei. Atordoada, vasculhei minha correspondência, que era basicamente apenas
anúncios, e então decidi abrir o pacote rasgado que tinha vindo. Presumi que
fossem ainda mais amostras de produtos que pedi antes de o banco fechar minha
linha de crédito – produto que agora eu nunca seria capaz de pagar. Mas quando
abri a caixa, não eram amostras de ingredientes de perfume. Em vez disso, era um
diário que comprei no eBay. Na verdade, eu tinha me esquecido disso desde que
ganhei o leilão quase três meses atrás. O envio do exterior poderia levar uma
eternidade, e este viera da Itália.

Normalmente, quando um novo diário chegava, mal podia esperar para ler o
primeiro Capítulo. Mas este foi apenas um lembrete dos duzentos e quarenta e sete
dólares que desperdicei. Coloquei-o na mesinha de centro da sala de estar e decidi
me lavar antes que Fisher voltasse com o champanhe.

Dez minutos depois, quando saí do banheiro, encontrei meu melhor amigo
esparramado no sofá, bebendo espumante e folheando o novo diário.

— Uh... você sabe que essa mulher não escrevia em inglês, certo? — Fisher
estendeu uma taça de champanhe para mim.

Peguei e sentei na cadeira em frente a ele. — É italiano. E é um homem. O que


significa que paguei a mais por isso e ainda preciso traduzi-lo.

Os diários dos homens sempre tiveram um prêmio em sites de leilão porque eram
muito raros. A última vez que comprei um francês, custou trezentos dólares, mais
cento e cinquenta dólares para um tradutor.

Bebi o champanhe. — Vai acumular poeira por um tempo. Esbanjar por uma
tradução não é tão alto na minha lista de prioridades quanto comer no próximo
mês.
Fisher balançou a cabeça e jogou o velho diário surrado na mesa de centro. —
Achei que você tivesse parado de lê-los depois do que aconteceu no ano passado,
quando ficou muito envolvida nisso.

Suspirei. — Caí da carroça.

— Você é um pássaro estranho, minha Ana. Você sabe disso?

— Isso vindo de um homem que coleciona adesivos que vem nas bananas na parte
interna do armário de casacos.

Meu celular começou a tocar no meu bolso, então o tirei e li o nome piscando na
tela. — Bem, isso é apropriado. É a mulher cujo champanhe nós roubamos.

— Diga a ela para enviar mais.

Ri e tentei responder. — Olá?

— Ei, Anastasia. É a Mia.

— Ei, Mia. Obrigada por me ligar de volta. Eu queria que você soubesse que fiz
os perfumes para suas madrinhas.

— Estou tão animada para vê-los. Ou cheirá-los. Ou vê-los e cheirá-los. Tanto faz.

Sorri. — Espero que suas amigas gostem deles.

— Eu disse a algumas pessoas o que você faz, e todos eles estão interessados em
fazer perfumes. Você sabe quando seu site já estará instalado e funcionando?

Fiz uma careta. — Não em um futuro previsível, infelizmente.


— Ah não. O que aconteceu?

— A SBA recusou meu pedido de empréstimo. Acabei de receber a carta hoje.

— Idiotas. Sinto muito.

— Obrigada.

— O que você vai fazer?

— Eu não sei.

— Que tal assumir um parceiro? Alguém que vai investir em troca de parte do
lucro do negócio.

Eu realmente considerei isso, mas ninguém que eu conhecia tinha muito dinheiro.
— Talvez. Vou pensar um pouco. Esta noite vou tomar algumas bebidas para
esquecer. Amanhã vou começar a formular um novo plano de jogo.

— Boa. Essa é a atitude certa.

— Obrigada. Então, para onde você quer que eu envie seus perfumes?

— Eu poderia te encontrar amanhã, se você estiver livre? Minha dama de honra


parte em dois dias para trabalhar em Londres por alguns meses. Vou encontrá-la
para jantar amanhã à noite. Eu adoraria dar a ela então, se não for muito problema
para eu pegá-los.

— Não, nenhum problema.


— Ok! Tenho uma reunião pela manhã. Tudo bem se eu mandar uma mensagem
quando terminar para avisar sobre um horário? Devo ser capaz de ir para onde você
estiver.

— Claro, tudo bem. Falo contigo depois.

Depois que desliguei, Fisher disse: — Só você faria amizade com a mulher cujo
casamento nós invadimos.

Dei de ombros. — Mia é realmente ótima. Vou dar a ela todos os perfumes que fiz
para suas madrinhas como um presente de desculpas, em vez de cobrar. Achei que
era o mínimo que eu poderia fazer.

— Veja se ela tem mais festas que possamos ir. — Ele ergueu a garrafa de
champanhe antes de encher sua taça. — Não podemos voltar às coisas baratas
depois disso. — Ele bebeu meio copo e soltou um exagerado aaah. — A propósito,
suponho que você não tenha ouvido falar do Príncipe Encantado ou teria dito algo?

Fiz uma careta. — Não. Quando almocei com Mia, ela não mencionou que sabia
que ele tinha me convidado para sair. Então eu também não. Embora ela tenha me
dito que ele tendia a guardar rancor.

— Ele quem está perdendo.

Eu não disse isso, mas parecia uma perda para mim também. Algo sobre
Christiantinha me incomodado e eu estava animada para sair com ele. Na verdade,
não conseguia me lembrar da última vez em que esperava uma ligação de um
homem do jeito que esperava a dele. Razão pela qual, quando ele não ligou, isso
pesou sobre mim um pouco mais do que deveria. Mas, tudo bem. Ben era... legal.
Nas duas horas seguintes, Fisher e eu acabamos com aquela garrafa e uma garrafa
de vinho que eu tinha aberta na geladeira. Pelo menos uma coisa deu certo esta
semana – eu consegui carregar o suficiente como planejado. Quando bocejei,
Fisher entendeu a dica.

— Tudo bem, vou embora. Você não tem que fingir bocejo para se livrar de mim.

— Não foi falso.

— Claro, não foi.

Ele se levantou e levou nossos copos e as duas garrafas vazias para a cozinha.
Quando ele voltou, eu estava debatendo em dormir na cadeira confortável onde eu
estava atualmente relaxada.

Fisher se abaixou e beijou minha testa. — Te amo. Tudo estará melhor amanhã.

Considerando que provavelmente estaria acordando com uma dor de cabeça,


duvidei disso. Mas eu odiava ser uma Debbie Downer. — Obrigada novamente
por tudo, Fisher. Amo você também.

Ele pegou o diário ainda na mesinha de centro. — Vou levar isso e traduzi-lo para
o seu aniversário no próximo mês.

— Uh, não vou fazer vinte e oito por muito tempo. Seu aniversário é no próximo
mês. Você vai fazer o mesmo que o ano passado?

— Sim, todos os mimos são para você, porque você é o meu melhor presente de
todos os tempos. Além disso, fazer você feliz me deixa feliz, Ana. Só não deixe
este diário assumir o controle de sua vida.
Capítulo 8

Anastasia

Quinze anos atrás

Peguei um livro de couro marrom e o levei ao nariz para uma cheirada. Deus, eu
amo esse cheiro. Isso me lembrou de Spencer Knox. Ele carregava uma bola de
futebol para onde quer que fosse e sempre a jogava para o alto e a pegava enquanto
falava. Cada vez que batia em suas palmas, um leve cheiro de couro flutuava e me
fazia sorrir.

A senhora que dirigia a venda de garagem era mais velha e tinha uma pochete
laranja em volta da barriga. Seu cabelo grisalho crespo se projetava em todas as
direções diferentes, me fazendo pensar que ela pode ter recentemente enfiado o
dedo em uma tomada, em vez do plugue da lâmpada que ela estava posicionando
em uma mesa dobrável.

Fui até ela. — Com licença. Quanto é este?

Ela olhou para as minhas mãos. — São cinquenta centavos. Mas paguei dez dólares
por ele quinze anos atrás, na venda de garagem de outra pessoa. Isso é o que
acontece quando você compra porcaria de que realmente não precisa. Você acaba
se livrando dele como a pessoa anterior. Você escreve em um diário?

Eu não tinha realmente notado a palavra Diário gravada na capa até que ela
apontou. Balancei minha cabeça. — Nunca tive um antes.

Uma mulher magra, vestindo um suéter com o cabelo penteado para trás em um
rabo de cavalo elegante, subiu a calçada carregando uma cafeteira em caixa. —
Vou te dar cinco dólares por isso.
A velha apertou os lábios. — Você não consegue ler? O adesivo diz que são vinte.

— Só estou disposta a pagar cinco.

— Bem, então você pode caminhar com sua bunda magrinha de volta para a mesa
em que o pegou e colocá-lo de volta.

A mulher engasgou. — Que rude.

A velha resmungou algo sobre a mulher voltar para seu clube de campo e voltou
sua atenção para mim. — Então, você quer aquele diário ou não? Preciso prestar
atenção aos exploradores. Algumas pessoas não acham que os preços em uma
liquidação de garagem são baixos o suficiente, então eles se ajudam com um
desconto de cinco dedos.

Estive pensando que deveria oferecer vinte e cinco centavos desde que ela
começou aos cinquenta. Minha mãe sempre disse que deveríamos pechinchar essas
vendas. Mas essa mulher não parecia ser do tipo de negociadora. Além disso, eu
tinha os cinquenta centavos, ela pagou dez dólares e eu estava com um pouco de
medo dela. Então, enfiei a mão no bolso e tirei duas moedas. — Vou levar.

Poucos dias depois, fui para o meu quarto depois do jantar e tranquei a porta antes
de pegar o diário. Eu não queria que minha irmã entrasse e descobrisse que eu
estava escrevendo coisas em minha mente. Ela definitivamente tentaria ler quando
eu não estivesse em casa – especialmente se ela soubesse o tipo de coisa em minha
mente ultimamente.

Dois dias atrás, Spencer me pediu para ser sua namorada. Tive a maior queda por
ele desde a quinta série. É claro que eu disse sim, embora meus pais tivessem dito
à minha irmã que ela não poderia namorar até o ensino médio, quando ela pediu,
e eu estava apenas na sétima série. Antes de Spencer se tornar meu namorado, eu
nunca tinha ficado nervosa com garotos. Mas agora eu estava pirando sempre que
ele e eu conversávamos. Eu sabia o motivo – ele tinha saído com Kelly Reed antes
de mim, e eles ficaram juntos. Eu nunca tinha beijado um menino antes, e agora
me preocupava se pudesse fazer isso errado quando chegasse a hora. Portanto,
pensei que seria uma boa entrada em meu novo diário. Talvez isso me ajudasse a
descobrir como lidaria com as coisas, colocando meus medos no papel.

Deitada de barriga para baixo na cama, levantei meus pés no ar atrás de mim
enquanto mastigava a ponta do meu lápis e decidia como começar. Devo
escrever Querido diário ou isso é coisa de nerd?

— Anastasia? — A voz do meu pai e o som dele tentando virar a maçaneta da


minha porta me assustaram.

Pulei e o diário ricocheteou na cama, pousando as páginas no chão. — Uh, quem


é?

— É o seu pai. Que outro homem bate na porta do seu quarto e por que está
trancada?

— Ummm... porque estou me trocando para dormir.

— Oh. Tudo bem. Eu estava entrando para dizer boa noite.

— Boa noite, pai!

— Boa noite, pipsqueak.

Escutei seus passos desaparecerem antes de pegar o diário do chão. Algumas das
páginas do meio estavam enrugadas, então fui alisá-las. Mas quando virei o livro,
encontrei palavras escritas nas páginas. Muitas delas. Confusa, li algumas linhas e
voltei algumas páginas para trás. Meus olhos se arregalaram quando li o topo de
uma das páginas.

Querido Diário,

Oh meu Deus!

Voltei mais páginas. Duas ou três foram preenchidas com palavras, mas então
havia o mesmo início.

Querido Diário,

Páginas e páginas foram preenchidas. Como eu poderia não ter percebido? Eu


poderia jurar que o abri na venda de garagem. Mas, ao passar para o início, percebi
por que não havia notado toda a tinta azul. As primeiras cinco ou seis páginas do
diário estavam completamente em branco.

Mas de quem era o diário? A mulher disse que o comprou em uma liquidação de
garagem anos atrás. Então ela também não percebeu?

Talvez eu deva voltar e devolvê-lo.

Ou dar para minha mãe e ver o que ela acha que eu deveria fazer?

Apesar...

Talvez eu pudesse ler um pouco primeiro e ver se isso me dava alguma ideia de
quem ele pertencia.

Eu não precisava ler a coisa toda. Apenas uma pequena parte.


Seria isso.

Folheei a primeira página para ter certeza de que estava bem no início e, em
seguida, examinei as duas palavras simples da primeira linha.

Querido Diário...

Apenas uma pequena introdução. Não poderia fazer mal.

Eu não tinha ideia de quanto essas palavras voltariam para me assombrar.


Capítulo 9

Anastasia

— Olá?

— Oi, Anastasia. É a Mia.

Coloquei o telefone no outro ouvido para terminar de colocar os brincos. — Como


você está, Mia?

— Estou bem. Mas meu dia está um pouco mais agitado do que eu pensava. Você
acha que poderia vir ao meu escritório hoje com os perfumes? Não tenho certeza
de onde você mora, mas se o centro da cidade é um pé no saco para você, posso
enviar um carro.

Meu apartamento ficava no Upper East Side, então chegar ao centro era bem
inconveniente. Mas eu devia à Mia, então não ia reclamar. — Sem problemas.
Tenho algumas coisas para fazer no centro de qualquer maneira.

— Oh, isso é ótimo. Obrigada. Por volta das duas horas está bem?

— Claro, está perfeito.

— OK. Te vejo então.

Parecia que ela estava prestes a desligar. — Espere, preciso do endereço.

— Oh, desculpe. Pensei que você tivesse.


Por que eu teria o endereço do escritório dela? Ela achou que a persegui
completamente antes de aparecer em seu casamento? Jesus, bem quando comecei
a superar a vergonha.

— Não, eu não.

— É na rua Fifteen Broad. Décimo quarto andar.

Fechei minha caixa de joias. Fifteen Broad? É onde ficava o escritório de


Christian. — Você trabalha no mesmo prédio que seu irmão?

— Oh, presumi que você soubesse. Christian e eu trabalhamos juntos. Grey


Investments era o negócio de nosso pai.

Eu não sabia. E não deveria ter feito nenhuma diferença, mas eu estaria mentindo
se dissesse que a possibilidade de topar com Christian não fez meu pulso disparar.

Quando fiquei quieta por um minuto, Mia erroneamente presumiu o porquê.

— É um pé no saco, não é? Deixe-me enviar um carro para você.

— Não, não. – está absolutamente tudo bem. Vejo você às duas.

— Você tem certeza?

— Tenho certeza. Mas obrigada.

Depois que desliguei, olhei no espelho acima da minha cômoda. Saí do chuveiro e
prendi meu cabelo molhado em um rabo de cavalo. De repente, me deu vontade de
soltá-lo e dar-lhe uma boa secada.

*
— Ei! — Levantei-me da minha cadeira na área da recepção e Mia me deu um
grande abraço. — Desculpe fazer você esperar. Tive uma manhã horrível.

Eu gostaria de estar com os olhos tão brilhantes e alegre como ela estava tendo um
dia ruim.

— Está bem. Não esperei muito.

Ela acenou em direção ao corredor. — Vamos. Você tem que sair imediatamente?
Eu esperava que pudéssemos conversar. Pedi algumas saladas para o caso de você
estar com fome.

Eu ainda não conseguia superar a virada dos eventos – que a mulher cujo
casamento invadi queria ser minha amiga. — Certo. Eu adoraria. Obrigada.

Segui Mia, virando à esquerda e depois à direita. Eu sabia da minha visita para
pegar meu celular que a última porta no final deste corredor era o escritório de
Christian. Conforme nos aproximávamos, minha boca ficou seca. Sua porta estava
aberta, então tentei dar uma olhada lá dentro sem ser pega. A decepção se instalou
quando passamos, e vi que estava vazio. Mas provavelmente foi o melhor. Já havia
perdido tempo suficiente com um homem que não ligou.

O escritório de Mia ficava próximo ao de seu irmão. Era grande e elegante, mas
não exatamente o proverbial escritório de canto com janelas do chão ao teto que
davam para a cidade como seu irmão. Não me interpretem mal, eu ficaria
emocionada em ter um armário neste edifício. Mas achei interessante que seu
espaço fazia parecer que ele ocupava um lugar de destaque na cadeia alimentar
corporativa quando Mia disse que trabalhavam juntos – não que ela
trabalhasse para o irmão.
— Pulei o café da manhã. Você se importa se comermos antes de eu dar uma
olhada nos perfumes? Estou morrendo de vontade de colocar as mãos neles, mas
também sou diabética e não devo pular refeições.

— Sim, claro.

Mia e eu nos sentamos frente a frente. Desenrolei o guardanapo de pano que


continha os utensílios e coloquei-o no colo.

— Isso parece ótimo.

— Espero que você goste. Pedi uma salada com alguns dos mesmos ingredientes
do seu almoço da última vez que nos encontramos. Apenas para estar segura.

Deus, ela era tão atenciosa.

Comemos nossas saladas. — Então, alguma notícia melhor sobre a Signature


Scent? — Ela perguntou.

Forcei um sorriso, tentando não deixar transparecer o quão miserável eu estava. —


Na verdade não. O lançamento será mais atrasado do que eu esperava, já que o
empréstimo da SBA não deu certo.

Ela franziu o cenho. — Sinto muito por isso. Achei que talvez não fosse aprovado
quando conversamos na hora do almoço. Mas eu não queria dizer nada e azarar. Já
trabalhei com eles antes, e eles não são realmente tão amigáveis quanto afirmam
ser.

— Sim. Eles basicamente disseram para voltar quando estiver tudo pronto e com
algum histórico de vendas.
— Você... consideraria pegar um investidor privado? Faz parte do que fazemos
aqui. Grey Investments é uma empresa de gestão de finanças. Oferecemos serviços
típicos de gestão de dinheiro, como gestão de carteiras de investimento em ações,
mas também temos alguns investidores que investem capital em troca de uma parte
de empresas novas ou em expansão.

— Então, você estaria vendendo um pedaço de sua empresa para um monte de


pessoas diferentes?

Ela assentiu. — Sim, mais ou menos. Mas você geralmente mantém o controle de
interesse. E como os investidores têm interesse em seu sucesso, eles não lhe
entregam apenas o cheque. Eles também fornecem ajuda de gerenciamento, como
usar seu poder de compra e outros recursos. Nossa divisão de capital de risco tem
toda uma equipe cuja única responsabilidade é apoiar os negócios em que
investem.

— Hmmm... Será que eu me qualificaria para algo assim? Investi uma tonelada de
minhas próprias economias, mas não tenho mais uma renda estável. Para ser
honesta, terei que conseguir um emprego logo se não começar a ter retorno no que
eu investi.

— Trabalhar com um investidor privado é diferente de um banco. Não se baseia


na renda do proprietário, mas no potencial do próprio negócio. Eu poderia marcar
um encontro para você se você quisesse explorar como uma opção.

— Eu poderia... pensar um pouco sobre isso? É muito generoso de sua parte


considerar meu negócio para

— Claro. Absolutamente.
Mia e eu terminamos nosso almoço, conversando como velhas amigas. Depois,
mostrei a ela todos os perfumes que fiz para suas madrinhas, e ela literalmente
gritou com cada um. A empolgação dela era contagiante e, quando me preparei
para deixar seu escritório, me senti mais animada do que há semanas – pelo menos
desde que o banco havia cancelado minha linha de crédito.

— Obrigada pelo almoço, mais uma vez, Mia.

— A qualquer momento. Foi divertido.

— E entrarei em contato com você o mais rápido possível sobre a possibilidade de


investimento. Só por curiosidade, se decidisse tentar esse caminho, qual seria o
primeiro passo?

— Você se reuniria com a equipe de investimento de capital de risco e falaria sobre


seu negócio, faria uma pequena apresentação aqui no escritório e responderia a
quaisquer perguntas que eles pudessem ter.

Concordei. — Ok. Obrigada.

Mia me acompanhou de volta para a área de recepção e nos abraçamos em


despedida. — Avise-me sobre o que você decidir, e provavelmente posso colocá-
la no calendário para a próxima semana. Acho que Christian está saindo da cidade,
mas só na quinta-feira.

— Christian?

— Sim. Ele é o chefe da equipe de investimento de capital de risco. Eu não


mencionei isso?

Não, você definitivamente não o fez.


*

— Perguntei por aí e não ouvi nada além de coisas estelares sobre Grey
Investments. — relatou Fisher.

Servi uma taça de vinho e me sentei à mesa da cozinha em frente a ele. Ele veio
direto depois do trabalho, então ainda estava de terno e parecia todo elegante.

Dois dias se passaram desde que me encontrei com Mia e ainda não havia decidido
sobre a possibilidade de vender parte do meu negócio a um grupo de investimentos.
O escritório de advocacia em que Fisher trabalhava tinha uma divisão corporativa
que trabalhava muito com IPOs15 e financiamento, embora Fisher trabalhasse com
direito de entretenimento. Então, depois que ele me ensinou sobre a realidade de
trabalhar com um investidor de risco, ele tentou encontrar algumas referências para
a empresa da família de Mia.

— O Príncipe Encantado tem a reputação de ser durão. — disse ele.

Bebi meu vinho. — Bem, acho que há um motivo pelo qual Evelyn costumava
chamá-lo de GQ Prick.

— Mas ele também tem um histórico impressionante de sucesso nos negócios que
eles assumem. É algo que você pode querer considerar seriamente.

Suspirei. — Não sei.

— O que está prendendo você?

— Vender um pedaço do meu negócio antes mesmo de decolar.


Fisher concordou. — Entendo. Realmente entendo. Mas, realisticamente, qual é a
sua alternativa? Levará anos trabalhando em tempo integral para economizar o tipo
de dinheiro de que precisa para lançar da maneira que planejou. E você mesma
disse que muito do inventário que você tem não durará tanto.

— Eu poderia economizar um pouco e lançar em uma escala muito menor.

— Mas então você trabalharia em tempo integral enquanto tenta fazer um negócio
que precisa de sua total atenção.

Meus ombros caíram. — Eu sei.

— Você ia pedir emprestado ao banco, então, tecnicamente, eles seriam donos do


seu traseiro até que você os pagasse de volta de qualquer maneira. Falei com o
sócio responsável pela divisão de negócios da minha empresa. Ele disse que os
investidores de risco não querem possuir os negócios em que investem para
sempre. Eles estão nisso para fazer um bom retorno e sair – para o próximo. Eles
precisam se liquidar ou acabariam sendo donos de um monte de empresas e não
teriam mais capital pronto para o próximo grande acontecimento. O investidor de
risco tem um plano médio de saída dentro de sete a oito anos. E você pode negociar
o primeiro direito de recusa, então quando chegar a hora deles venderem, você terá
a primeira chance de comprar sua propriedade de volta.

— Mesmo?

Fisher concordou. — Um empréstimo bancário levaria esse tempo ou mais para


ser pago de qualquer maneira.

Ele tinha um bom argumento. As razões para não seguir esse caminho estavam
diminuindo rapidamente. Embora eu ainda não conseguisse imaginar que o homem
que chamou minha atenção por invadir o casamento de sua irmã, apenas para me
convidar para sair e não ligar, tivesse qualquer desejo de abrir um negócio comigo.

Tomei um gole de vinho e fiz malabarismos com meus pensamentos. Basicamente,


um investidor de risco era minha única opção. Claro, descobri que havia milhares
deles quando fiz algumas pesquisas por conta própria. Eu poderia tentar trabalhar
com outra empresa. Eu tinha certeza de que Grey Investments não era a única na
cidade com boas referências. Mas, por outro lado, eles tinham Mia, que parecia
quase tão animada e apaixonada pelo meu negócio quanto eu. Essa era uma grande
vantagem. Em seguida, havia Christian. Nesse ponto, ele entrou na coluna
de contra. No entanto, qual era aquele velho ditado? Melhor o diabo que você
conhece do que o diabo que você não conhece – ou algo nesse sentido.

Respirei fundo e olhei para Fisher do outro lado da mesa.

— O que você faria?

Meu celular estava no meio da mesa. Ele estendeu a mão e deslizou na minha
frente. — Eu faria uma ligação antes que sua nova amiga mude de ideia.
Capítulo 10

Christian

— Que diabos, Mia?

— Acalme-se. Acalme-se. É por isso que não te contei até agora. Você reage
exageradamente às coisas.

Joguei o arquivo em que estava trabalhando para o lado da minha mesa. — Estou
exagerando? Uma mulher abre a correspondência de outra pessoa e invade seu
casamento – um casamento que me custou uma pequena fortuna, devo acrescentar
– e você quer que abramos negócios com uma descontrolada? Acho que é mais
como se você tivesse alguns parafusos soltos do que estou explodindo coisas fora
de proporção.

Deixei de fora que chamei a descontrolada para jantar. Felizmente, parecia que a
Little Miss Wedding Crasher também não tinha contado esse boato quando falou
com minha irmã.

Balancei minha cabeça, ainda digerindo que minha irmã havia convidado
Anastasia a se apresentar para a equipe de investimentos. — Não, Mia. Apenas
não.

— Meu Deus, Christian. Lembro-me de quando você não era uma pessoa tão
perfeita. Se minha memória não me falha, papai teve que pagar sua fiança depois
que você foi preso por arrombamento e invasão uma vez.

— Eu tinha dezessete anos e estava bêbado e pensei que era nossa casa...
Minha irmã encolheu os ombros. — E aquela vez em que você explodiu um
banheiro químico em uma construção? A única razão pela qual você não foi preso
dessa vez é porque papai concordou em comprar três novos para o empreiteiro.

— Eu também estava no ensino médio. Era quatro de julho e Jack acendeu a M-


80, não eu.

— Você sabe qual é o seu problema?

Recostei-me na cadeira e suspirei. — Não, mas tenho certeza que você está prestes
a me esclarecer.

— Você não é mais divertido. Cinco anos atrás, você teria rido se alguém tivesse
invadido um casamento que você foi. Agora você está tenso e amargo. Seu divórcio
sugou o senso de humor de você!

Minha mandíbula flexionou. Uma mulher com quem recentemente saí algumas
vezes me disse que eu não sorria o suficiente. Fui educado e evitei dizer que ela
simplesmente não era muito engraçada, mas seu comentário me incomodou. Na
semana anterior, Charlie havia feito um desenho de sua família na escola. Todo
mundo estava sorrindo – ela, minha ex-esposa, a babá, até o maldito cachorro –
exceto eu. Eu estava carrancudo.

Balancei minha cabeça e peguei minha caneta. — Vá embora, Mia.

— Ela está vindo para fazer sua apresentação para a equipe às duas horas de hoje.
Eles podem votar com ou sem você.

Levantei meu queixo em direção à porta do meu escritório.

— Feche a porta atrás de você.


*

— Evelyn. — Balancei a cabeça enquanto entrava na sala de conferências.

Anastasia franziu a testa e minha irmã olhou para mim.

— O quê? — Dei de ombros.

— Você sabe muito bem o nome dela.

Sorri e olhei para Anastasia. — Ah, isso mesmo. Evelyn é o seu alter ego, aquele
que comete crimes. Aparentemente, Anastasia é uma mulher de negócios honesta
que ainda não conheci. Você muda em uma cabine telefônica ou algo assim?

Como eles ainda não haviam começado, tomei meu lugar habitual à cabeceira da
mesa da sala de conferências. Eu estava curioso para ver como Anastasia lidaria
com as minhas alfinetadas. Ela me surpreendeu ao se aproximar com a mão
estendida.

— Oi, Sr. Grey. Sou Anastasia Stelle. É um prazer conhecê-lo. Agradeço a


oportunidade de me apresentar a você hoje.

Apertei sua mão e segurei seus olhos. — Mal posso esperar.

Depois de dizer a mim mesmo que não me incomodaria em comparecer a esta


reunião, fui para a recepção um pouco antes das duas horas. Eu tinha ido colocar
alguma correspondência na lixeira, mas enquanto caminhava pelo corredor perto
da sala de conferências, senti cheiro de perfume e soube que Anastasia havia
chegado. Ela cheirava ainda melhor do que me lembrava. O cheiro trouxe de volta
algumas outras memórias que eu não me importava em lembrar – seu sorriso
fenomenal, uma personalidade corajosa e a maneira como eu não conseguia tirar
meus olhos da leve sugestão de pulso que eu podia ver em seu pescoço quando ela
ria. A mulher me fez sentir como um vampiro, eu queria tanto chupar aquele ponto
em particular.

De volta ao meu escritório, tentei ignorar o que sabia que estava para começar na
sala de conferências. Mas dez minutos depois, desisti, sabendo que não ia terminar
nenhum trabalho de qualquer maneira. Além disso, nunca perdi uma reunião de
apresentação e provavelmente era melhor ficar de olho em minha irmã. Alguém
tinha que evitar que seu bom coração acreditasse em tudo.

Anastasia voltou ao seu lugar. Eu poderia dizer, pela maneira como ela ficava se
mexendo na cadeira e girando o anel, que ela estava nervosa. Embora ela tenha
feito o possível para fingir que não estava, o que respeitei. A equipe de
investimento era composta por três analistas seniores, o diretor de marketing, Mia
e eu. Mas eu geralmente liderava a equipe e fazia a maior parte do questionamento.

Do outro lado da mesa, minha irmã chamou minha atenção e me lançou o que eu
sabia ser um olhar de advertência. Ela queria me lembrar de me comportar da
melhor maneira.

— Por que não começamos, vamos? — Perguntei. Olhando para a minha esquerda,
dei a Anastasia um breve aceno de cabeça.

— O chão é seu, Sra. Stelle.

Ela respirou fundo, não muito diferente da maneira como ela se estabilizou depois
de pegar o microfone na frente da multidão no casamento da minha irmã – e não
muito diferente da imagem que conjurei em mais de uma ocasião nas últimas
semanas enquanto no banho...
Aqueles lindos olhos azuis, lábios carnudos e rosados e rosto inocente – Anastasia
Stelle era linda. Não havia nenhuma dúvida sobre isso. Mas foi a maneira como
ela enfrentou o desafio, forçando a barra para dizer dane-se no final, que me fez
querer afundar meus dentes em sua pele de marfim impecável.

Hoje seu cabelo estava preso, preso em uma espécie de torção atrás, e ela usava
aqueles óculos grossos de aro escuro. Tive a maior vontade de empurrá-la contra
uma pilha de livros, puxar seu cabelo para baixo e jogar seus óculos sobre meu
ombro.

Maduro, Grey. Pensamentos muito maduros. Sem falar em profissional também.

Felizmente, pelo menos uma pessoa na sala parecia estar com a cabeça bem
aparafusada.

Anastasia pigarreou. — Trouxe alguns kits de amostra, uma demonstração do site,


alguns detalhes do que investi até agora e um relatório do inventário em mãos.
Provavelmente é melhor se eu começar com o kit de amostra.

Balancei a cabeça uma vez, mas não disse nada.

Na meia hora seguinte, ouvi sua apresentação. Surpreendentemente, para uma


mulher que agia por impulso, seu planejamento de negócios fora bem pensado. O
site era profissional, com boa marca e navegação simples. Na maioria das vezes,
quando chegavam novos proprietários de negócios, eles acertavam muito, mas não
haviam se importado com a importância do remarketing. Mas não Anastasia. Ela
falou sobre métricas e anúncios posteriores, demonstrando que estava pensando
em longo prazo em vez de curto. A quantidade de capital que ela investiu também
foi impressionante, embora me tenha feito pensar onde ela conseguiu tanto
dinheiro.
— A empresa deve dinheiro a alguém ou tem investidores existentes? —
Perguntei.

— Não. Sem dívida alguma. Tive um sócio que investiu fundos, mas comprei-o
no ano passado.

— Então, os duzentos e vinte e cinco mil que você investiu até agora... isso veio
de...?

— Minhas economias.

Acho que o ceticismo transpareceu em meu rosto, porque ela acrescentou: —


Ganhei cento e dez mil como química sênior em meu último emprego. Levei seis
anos economizando e transformando o pequeno escritório em meu apartamento em
um quarto e enfrentando colegas de quarto. Mas reservo quase metade do meu
lucro líquido todos os anos.

Impressionado novamente, balancei a cabeça. Metade das pessoas que se


apresentaram antes de nós recebeu esmolas da mamãe e do papai, ou devia uma
grande quantia em dinheiro antes mesmo de começar a correr. Eu tinha que dar
crédito a ela pela perseverança necessária para chegar tão longe. Embora eu não
estivesse dando a ela esse crédito em voz alta.

Quando Anastasia chegou à parte de demonstração de sua apresentação, percebi


que minha irmã já estava familiarizada com tudo. Ela basicamente agiu como sua
ajudante, ajudando Anastasia a vender o produto. Elas pareceram se dar muito
bem, e uma continuava de onde a outra parou. Mia acrescentou comentários
anedóticos sobre o quanto todas as suas amigas amavam suas criações. A certa
altura, as duas estavam rindo e me vi observando Anastasia, concentrando-me na
pulsação em seu pescoço. Eu não conseguia tirar os olhos daquela maldita coisa.
Mia olhou para mim e me lançou um olhar engraçado.

— Então, o que vocês acham? — Minha irmã perguntou depois que a apresentação
acabou. — Não é um produto incrível?

Um forte murmúrio percorreu a sala, cada um dos meus funcionários acenando


com a cabeça e dando algum tipo de elogio. O gerente de marketing falou sobre a
lucratividade da indústria de perfumes e a quantidade de produtos de beleza
vendidos em geral. Na maior parte do tempo, fiquei quieto, até que minha irmã
olhou para mim.

— Christian? O que você acha?

— O conceito é interessante o suficiente. Embora eu não esteja convencido de que


avaliar algumas amostras de cheiro e preencher uma pesquisa on-line equivale a
fazer consistentemente um produto que o consumidor gostará.

— Bem, eu amo o meu. — disse Mia. — E as minhas sete madrinhas


enlouqueceram com os delas.

Anastasia se virou e olhou para mim. — Gostaria de fazer um teste você mesmo?
Talvez uma mulher em sua vida experimente.

Minha irmã bufou. — Ele deveria pedir à sua faxineira ou à sua filha de seis anos
para fazer um teste?

Fiz uma careta para Mia.

— Na verdade. — disse Anastasia, — ele pode experimentar sozinho.


— Não gosto muito de usar perfume. Mas, obrigado.

— Eu não quis dizer que você tenha que usá-lo. Você sabe de que cheiro gosta e
de quais não gosta, certo? Se você vai ao balcão de perfumes de uma loja, sente o
cheiro de várias amostras até encontrar aquela que mais lhe agrada. Signature
Scent simplesmente pula as etapas desnecessárias. Se você passar pelo processo, o
perfume que vou criar para você deve ser atraente o suficiente para que você o
comprasse na loja para uma mulher. — Ela encolheu os ombros. — Os homens
gostam de perfume tanto quanto as mulheres. Eles simplesmente não borrifam em
si mesmos.

Por mais que eu achasse que sua apresentação tinha ido bem e ela tinha um bom
produto e um marketing exclusivo, não tinha certeza se ela era uma pessoa com
quem eu queria fazer parceria. Algo não estava bem, mesmo sem considerar o
fiasco do casamento, ou que ela parecia ser a estrela dos meus banhos
pateticamente frequentes ultimamente. Eu simplesmente não conseguia definir o
que era. Embora que minha irmã me deixaria maluco se eu não tivesse um motivo
comercial legítimo para recusar o investimento, talvez essa amostragem pudesse
ser meu motivo.

De pé, abotoei minha jaqueta. — Bem. Dê-me um kit e veremos como isso vai se
resolver.

Mia bateu palmas como se já fosse um negócio fechado. Dei a ela um olhar de
advertência para não aumentar suas esperanças, o que ela, é claro, ignorou.

— Tenho uma reunião para ir. — menti.


Anastasia se levantou. Ela apontou para a merda em toda a mesa. — Vou montar
esta caixa de amostra de volta antes de ir e deixar uma cópia das perguntas que
estarão no site.

— Parece bom.

Quando eu saí, Anastasia me chamou. — Sr. Grey?

Virei-me para encontrá-la novamente estendendo a mão. — Obrigada pelo seu


tempo. Eu realmente aprecio você considerar

isso, especialmente com a forma como as coisas começaram entre nós.

Olhei para sua mão e de volta para seu rosto antes de apertar sua mão. — Boa sorte
para você, Evelyn.
Capítulo 11

Anastasia

Eu não conseguia superar a carta em minhas mãos.

Dez dias se passaram desde minha apresentação na Grey Investments. Como


prometi, deixei o kit de amostra para Christian. No dia seguinte, Mia ligou para
me dizer que ela tinha certeza que ele completou tudo, e ela me mandou uma
mensagem sobre suas avaliações e completou a pesquisa. Quando o pacote chegou,
fiquei chocada ao descobrir que também incluía uma tonelada de gráficos lindos
que Mia havia pedido para seu departamento de marketing fazer uma simulação.
Ela até criou alguns slogans cativantes que pensei que seriam perfeitos do lado de
fora das caixas personalizadas que eu ainda precisava fazer.

Liguei para agradecê-la e passamos quase duas horas no telefone falando sobre
todas as nossas ideias. Também conversamos meia dúzia de vezes desde então.
Sua empolgação era palpável, mas depois das últimas decepções que sofri com
meu financiamento, estava tentando não ter esperanças de novo – embora Mia
tornasse isso impossível.

Quando conversamos há dois dias, ela me disse que recebeu o perfume que criei
para Christian. Ele estava viajando a negócios, mas ela o colocou em sua cadeira
e lhe deixou um bilhete, para que ele o visse assim que voltasse.

O pai de seu marido teve que passar por uma cirurgia cardíaca de emergência,
então Mia estava viajando para a Califórnia por uma semana, mas disse que queria
marcar de sairmos juntas quando voltasse. Honestamente, fui levada a pensar que
a Grey Investments era um negócio fechado, e era por isso que a carta que acabara
de ler pela segunda vez ainda me chocou.
Prezada Sra. Steele,

Muito obrigado pelo seu interesse em trabalhar com a Grey Investments.


Embora seu produto tenha sido impressionante, lamentamos informar que não
poderemos estender uma oferta neste momento. Desejamos-lhe muita sorte em
seus empreendimentos futuros.

Atenciosamente,
Christian Grey

Decepção era um eufemismo para o que eu sentia. Novamente.

Ainda chocada, reli a carta mais uma vez.

Eu não queria ligar para Mia e perguntar o que tinha acontecido desde que ela
estava lidando com a saúde de seu sogro. Além disso, Christian foi quem assinou
a carta, e se eu tivesse que esperar uma semana inteira até ela voltar, escalaria as
paredes. Portanto, decidi ligar diretamente para Christian. Eu precisava, pelo
menos, descobrir o que os fez mudar de ideia, porque eu sabia, com certeza, que
não era o perfume que eu havia criado para ele.

Meus dedos tremeram quando digitei seu número no meu celular. A animada
recepcionista atendeu ao primeiro toque.

— Boa tarde. Grey Investments. Como posso direcionar sua chamada?

— Oi. Posso falar com Christian Grey, por favor?

— Deixe-me ver se ele está disponível.


Segurei por um minuto até que uma voz que reconheci como Andrea, sua
assistente, respondeu. Eu a conheci nas duas ocasiões em que visitei o escritório.
Ela foi super amigável e amou a ideia do perfume exclusivo.

— Oi, Andrea. Aqui é Anastasia Steele. É possível falar com Christian?

— Oi, Anastasia. Ele acabou de voltar de uma reunião. Acho que ele tem uma
pausa na programação, mas deixe-me verificar se ele está disponível.

Ela voltou à linha trinta segundos depois. Sua voz não estava tão otimista.

— Eu... sinto muito, Anastasia. Ele está em outra linha. Posso pedir que ele ligue
de volta?

Algo me disse que ele não estava ao telefone, e ele disse a ela para me dispensar.
Mas eu estava chateada, então isso poderia ter sido apenas minha paranoia.

— Sim, claro.

Deixei meu número de telefone comercial e esperei pacientemente. Mas nenhuma


ligação de retorno veio. Então, na tarde seguinte, liguei e novamente recebi
Andrea. Desta vez, quando ela me disse que Christian não estava disponível, soltei
um suspiro de frustração.

— Você poderia avisá-lo que só preciso de dois minutos de seu tempo? Tenho
certeza que ele está muito ocupado, mas não vai demorar muito.

— Claro, vou avisá-lo. Está tudo bem?


— Na verdade não. — Suspirei. — Recebi a carta que ele me enviou recusando-
se a investir na Signature Scent e queria perguntar a ele o motivo. A carta não dizia
e, pelo menos, quero aprender com isso.

— Oh, uau. Sinto muito. Eu não estava ciente.

Isso foi interessante.

Eu teria esperado que sua assistente fosse a pessoa que digitou.

— Eu não quero ser uma chata. Gostaria apenas de alguns minutos do tempo dele.

— Vou passar a mensagem. E sinto muito que não deu certo, Anastasia. Eu estava
realmente ansiosa por isso.

— Obrigada, Andrea.

Naquele dia, tentei me manter ocupada. Mas verifiquei meu telefone uma dúzia ou
mais vezes. Por volta das seis da tarde, eu já tinha perdido as esperanças – até que
meu telefone tocou enquanto eu estava correndo. Limpei minhas mãos no short e
respondi, ofegante. +

— Olá?

— Oi, Anastasia. É Andrea.

— Oi, Andrea.

— Lamento que Christian não tenha te ligado de volta. Ele estava, uh, ocupado
hoje. Passei sua mensagem e ele me disse para informá-la que o motivo pelo qual
decidiu não prosseguir com o investimento foi porque ele não gostou da amostra
que recebeu. Isso o deixou inseguro quanto ao produto, eu acho.
— Ah, entendo. — Isso foi uma besteira completa. Porque eu fiz para ele o mesmo
perfume que usei na noite do casamento de Mia. E ele me disse duas vezes como
eu cheirava bem.

Algumas semanas atrás, eu estava pronta para desistir e aceitar colocar tudo em
espera por um longo tempo. Mas eu não me sentia mais pronta para aceitar a
derrota. Todas as minhas conversas de planejamento com Mia me deixaram muito
animada para deixar ir tão facilmente desta vez. Eu queria uma última tentativa, já
que sabia que ele estava mentindo sobre o motivo.

— Você acha que seria possível marcar uma hora para falar com Christian
pessoalmente?

A voz de Andrea baixou. Parecia que ela estava colocando o fone no gancho para
que ninguém ouvisse.

— Não quero ter problemas, mas vou ser honesta, acho que se eu perguntar a ele,
ele vai dizer não.

Suspirei. — Ok, obrigada, Andrea. Entendo o que você está dizendo.

— Mas... trabalho para Christian há muito tempo. Sua casca é muito pior do que
sua mordida. Agora, se você simplesmente aparecer... Ele pode não ter escolha. E
ele respeita as pessoas que lutam muito pelo que querem.

Sorri tristemente. — Obrigada. Andrea. Agradeço o conselho. Vou pensar um


pouco.

Na manhã seguinte, cheguei à Grey Investments às 8h.


— Oi. Christian Grey está?

A recepcionista sorriu.

— Ele está. Você tem um compromisso?

Respirei fundo. — Não. Mas só preciso de dois minutos de seu tempo. Seria
possível entrar para vê-lo?

— Deixe-me ver. Qual é o seu nome e a que se refere isso?

— Anastasia Steele, e é referente a Signature Scent.

Ela pegou o telefone e ouvi um lado da conversa.

— Oi, Sr. Grey. Estou com Anastasia Steele aqui para falar com você sobre a
Signature Scent. Ela não tem hora marcada...

Ele definitivamente a cortou. Ouvi o estrondo de sua voz profunda através do fone
de ouvido dela, embora eu não pudesse entender o que ele estava dizendo. Mas
quando seu rosto caiu, eu sabia que não era um bom sinal.

— Umm... ok... você gostaria que eu dissesse isso a ela? — Uma pausa e então ela
ergueu os olhos para encontrar os meus. — Ok. Obrigada.

Ela clicou em um botão no teclado e me deu um sorriso desanimador.

— Sr. Grey disse: 'Se você não tem nada melhor para fazer com seu tempo, sente-
se'. Se ele encontrar dois minutos extras em seu dia agitado, ele verá você. — Ela
fez uma careta. — Desculpa.

— Está tudo bem. — não atire no mensageiro e tal.


Ela apontou para a área de espera. — Quer que eu pegue um café enquanto você
espera?

— Não, obrigada.

— Ok. Sou Ruby. Se mudar de ideia, é só me avisar.

— Obrigada, Ruby.

Sentei-me no sofá e peguei meu telefone para ler os e-mails. Meu instinto me disse
que eu ficaria sentada aqui por um tempo. Tive a sensação de que Christian gostaria
de me fazer esperar. E eu não estava errada.

Três horas depois, a recepcionista saiu de trás da mesa e se aproximou de mim.

— Eu só queria que você soubesse, liguei de volta e o lembrei, para ter certeza de
que ele não se esqueceu de você.

Sorri. — E como foi?

Ela riu e olhou por cima do ombro para se certificar de que não havia ninguém por
perto.

— Ele foi meio arrogante.

— Aposto que sim. Mas está tudo bem. — Acenei para a mesinha de centro de
vidro na minha frente. — Pelo menos você tem todas essas ótimas revistas.

Às cinco horas, imaginei que ele me faria persegui-lo em seu caminho para fora
do escritório, apenas para ser um idiota. Embora eu tivesse debatido a possibilidade
de sair após a primeira ou duas horas desta manhã, agora tinha investido tanto
tempo que não havia como ceder. Coloquei meus fones de ouvido, sentei no sofá
e coloquei música clássica para relaxar. Eu duraria mais que Christian se isso me
matasse. Mas às 17h30, a recepcionista voltou.

Ela franziu o cenho.

— Estou me preparando para sair, então liguei de volta para o Sr. Grey novamente.
Ele disse para informá-la de que não terá dois minutos hoje.

Que bastardo.

Esse tinha sido o seu plano de jogo o tempo todo – fazer-me perder o dia inteiro.

Bem, para minha sorte, eu não tinha trabalho nem para onde ir. Então, em vez de
ficar chateada, decidi cavar.

Levantei-me e levantei minha bolsa até o ombro.

— Você poderia avisar o Sr. Grey que estarei de volta amanhã? Talvez ele consiga
os dois minutos então.

As sobrancelhas da recepcionista saltaram, mas ela sorriu.

— Coisa certa.

No dia seguinte, vim mais preparada. Trouxe meu laptop, alguns lanches, um
carregador para meu celular e minha lista de tarefas. Quando a manhã passou de
novo, e Christian ainda não conseguia encontrar alguns minutos para falar comigo,
pelo menos eu tirei um monte de coisas da minha lista e limpei meus e-mails –
duas coisas que estavam atrasadas.

À tarde, atualizei meu currículo e carreguei mais de mil fotos do meu telefone para
um site de armazenamento e as organizei. Em seguida, passei uma hora e meia on-
line planejando as férias dos sonhos que eu nunca poderia pagar - escolhendo
hotéis de luxo e um veleiro com um capitão particular para me levar entre as ilhas
gregas que eu queria explorar. Novamente às 17h30, a recepcionista veio.

— Boas notícias. Eu acho...

— Oh?

— Liguei de volta e disse a ele que estava indo embora e que você ainda estava
aqui. — Ela encolheu os ombros. — Ele não me disse para pedir para você sair.

Eu ri porque claramente perdi minha cabeça agora.

— Então, eu devo esperar?

Ela apontou para as portas de vidro.

— Ele tem que sair por aquela porta alguma hora...

Concordei. — OK. Tenha uma boa noite, Ruby.

— Você também, Anastasia. Espero não ver você sentada aqui amanhã.

Sorri. — Também espero que não.

Às 18h45, assisti a maioria dos funcionários da Grey Investments sair, e uma


equipe de limpeza entrou e começou a passar o aspirador ao meu redor. Fiz uma
pausa no planejamento das férias dos sonhos para mandar um texto para Fisher por
um tempo.

Quando terminei, abri novamente meu laptop e voltei para o modo de


planejamento de férias. Mykonos era a última ilha em que eu ainda precisava
encontrar o hotel perfeito. Enquanto eu vasculhava as fotos do cenário incrível,
tentando decidir se eu queria estar no lado norte ou sul da ilha, devo ter ficado
absorta no que estava fazendo.

De repente, uma voz profunda me assustou muito e pulei da cadeira. Meu laptop
voou para o chão e minha mão voou para o meu peito.

— Você me matou de susto.

Christian balançou a cabeça.

— Eu deveria apenas ter saído pela porta. Você nem teria notado. — Ele se abaixou
e pegou meu laptop, que felizmente ainda estava iluminado e não quebrado.
Olhando para a tela, ele disse: — Vai de férias para as ilhas gregas? Bom plano de
negócios. Divirta-se com... — Ele apertou os olhos. — The Myconian Real. Parece
caro.

Peguei meu laptop de suas mãos.

— Estou planejando as férias dos meus sonhos, não quer dizer que vou.

Embora ele não tenha sorrido exatamente, eu poderia jurar que o canto de seu lábio
se contraiu.

Christian levantou a manga do paletó, revelando um relógio grande e robusto.


Enquanto eu sentia vontade de socar o bastardo arrogante por me fazer sentar aqui
por dois dias, eu não pude deixar de notar o quão sexy o maldito relógio parecia
em seu pulso masculino. Balançando a cabeça, reprimi esse sentimento.

— Dois minutos. — disse Christian, cruzando os braços sobre o peito. — Comece.


Pelos próximos cento e vinte segundos, divaguei – dizendo a ele que queria saber
a verdadeira razão pela qual ele decidiu recusar o investimento, porque não poderia
ser que ele não gostou do perfume que criei. Eu até disse a ele que era o mesmo
que ele me disse duas vezes que gostou – uma vez no casamento de Mia e depois
novamente em seu escritório quando eu vim pegar meu celular.

Então, por algum motivo insano, comecei a entrar em detalhes sobre as amostras
que ele avaliou e os produtos químicos que usei... de alguma forma, minha diatribe
se transformou em uma aula de ciências. Não acho que respirei fundo ou usei
qualquer pontuação durante os dois minutos inteiros em que falei rápido.

Quando finalmente me calei, Christian me encarou.

— Você já terminou?

— Sim, eu acho.

Ele deu um breve aceno de cabeça.

— Tenha uma boa noite. — Então ele se virou e caminhou em direção à porta.

Pisquei algumas vezes, certa de que ele não poderia estar apenas saindo. Mas
quando ele chegou à porta e a abriu, ficou claro que era exatamente o que o idiota
estava fazendo. Então eu gritei atrás dele.

— Onde você vai? Estou esperando há dois dias para ter essa conversa.

Com a mão na porta, ele não olhou para trás enquanto falava.

— Você pediu dois minutos. Eu os dei a você. O pessoal da limpeza vai fechar
depois que você sair.
Capítulo 12

Anastasia

Se alguma noite merecia vinho, era esta.

Fisher tinha trabalhado até tarde esta noite, mas ele foi o destinatário sortudo do
meu discurso retórico antes, enquanto eu marchava com raiva da Grey Investments
para a estação de metrô. Então ele sabia no que estava se metendo quando entrou
no meu apartamento.

— Querida, estou em casa!

Ele segurava uma grande garrafa de merlot em uma mão e uma flor que ele
definitivamente acabara de arrancar do jardim do nosso prédio vizinho na outra –
o caule ainda tinha uma raiz e terra pendurada. Forcei meu rosto carrancudo a
tentar um sorriso.

— Ei.

— Passei por um policial montado cujo cavalo não tinha a cara tão comprida
quanto você. — Fisher me beijou na testa e apontou para a flor. — O que você
acha? O vaso vermelho ou transparente?

Suspirei dramaticamente.

— Acho que essa coisa precisa de terra mais do que um vaso.

Fisher bateu no meu nariz com o dedo indicador.


— É o vermelho. — Ele foi até o armário e tirou um vaso destinado a um buquê
gigante, não uma flor triste, então o encheu com água da pia da cozinha e enfiou a
haste dentro.

— Acho que você deveria ligar para Mia.

Bebi o vinho já na minha taça.

— Não quero incomodá-la. E qual é o ponto? Ela mesma me disse que Chrirstian
estava no comando da divisão. Além disso, ela já foi tão generosa comigo. Não
quero que ela se sinta mal.

— Não acredito que aquele idiota pediu o seu número de telefone e nunca ligou,
depois fez você ficar sentada ali por dois dias. Esse cara deve deixar de ser idiota
fazendo você esperar por ele. E tive a sensação de que vocês dois acabariam se
divertindo.

Zombei. — Eu e o Christian? Você é louco? O homem obviamente me odeia.

Fisher puxou o nó da gravata enquanto caminhava até o sofá onde eu me sentava


chafurdando.

— Assisti vocês dois juntos no casamento. Mesmo quando ele ferrou com você e
fez você deu aquele discurso, havia um brilho em seus olhos. Havia química real
lá.

Terminei meu vinho. — Alguma química leva a explosões. Confie em mim, eu sei.

— Mas por que convidar você para sair e nunca mais ligar?
Balancei minha cabeça. — Ficar quite. Pelo mesmo motivo que ele me deixou
sentada no saguão.

Durante a hora seguinte, Fisher e eu bebemos vinho. Porque ele era o melhor amigo
de todos os melhores amigos, ele me deixou repetir tudo que eu disse a ele ao
telefone antes, sem reclamar.

Mas o longo dia sentada e consumindo muito álcool acabou me afetando, então,
quando bocejei pela segunda vez, ele se levantou para ir embora.

— Vou deixar você descansar um pouco. Você tem dois dias. Hoje era para ficar
puta e beber. Amanhã é para chafurdar. Quinta-feira, vamos montar o cavalo e
descobrir para onde ir a partir daqui. Faremos isso funcionar. Eu não queria ser
uma deprimente ainda maior e dizer que não tinha para onde ir, exceto talvez a fila
do desemprego.

Fisher tinha boas intenções.

— Obrigada por me ouvir.

— A qualquer hora, minha princesa. — Ele se inclinou e beijou minha testa antes
de ir para a porta. Pegando seu paletó na cozinha, ele disse. — Quase esqueci...
você tinha correspondência em sua caixa. Você quer isso no sofá?

— Nah. Vou olhar amanhã.

Ele o colocou no balcão da cozinha.

— Durma um pouco, minha Ana Bella.

— Boa noite, Fisher.


Depois que ele fechou a porta, forcei-me a levantar e caminhei pelo meu
apartamento cheio de caixas, desligando as luzes.

Na cozinha, um envelope grosso de papel manilha na parte inferior da pilha de


correspondência chamou minha atenção.

Conheço esse logotipo...

Mas não pode ser...

Já que eu não estava de óculos, eu o peguei para olhar mais de perto.

Com certeza, o círculo com o G entrelaçado era exatamente o que eu pensava que
era. O que diabos a Grey Investments estaria me enviando? Outra carta vai se
ferrar? Talvez desta vez com uma conta detalhada da comida e das bebidas que
tomei no casamento de Mia, junto com uma fatura pelo precioso tempo de
Christian? Já tive tortura suficiente para o dia e provavelmente deveria ter deixado
para amanhã. Mas deixar para amanhã nunca foi meu forte.

Enfiei meu dedo sob o selo e abri o envelope. Dentro havia uma carta de
apresentação escrita no mesmo papel timbrado da que recebi alguns dias atrás.
Embaixo parecia um monte de documentos legais... Folha de Termos, Acordo de
Direitos do Investidor, Acordo de Compra de Ações...

Que diabos é tudo isso?

Pegando meus óculos, voltei para a carta de apresentação para ler.

Prezada Srta. Steele,


Após cuidadosa reconsideração, a Grey Investments tem o prazer de estender
uma oferta de investimento à sua empresa, a Signature Scent, LLC. A estrutura
proposta, os valores e os termos podem ser encontrados na Folha de Termos.
Por favor, leia o documento anexado discutindo os detalhes de nossa proposta.
Como nossa oferta afeta os direitos de voto e sua participação acionária em sua
empresa, sugerimos enfaticamente que seu advogado analise toda a
documentação antes de assinar. Temos o prazer de convidá-lo a fazer parte da
família Grey Investments e estamos ansiosos para trazer seu produto inovador
ao mercado.

Atenciosamente,

Christian Grey

Isso era algum tipo de piada?

Será que o que eu disse durante os dois minutos que ele me concedeu esta tarde
mudou de ideia, e ele enviou esta carta? Mas como um mensageiro teria entrado
em minha caixa de correio trancada?

Ainda sentindo que devia haver algum tipo de engano, reli a carta de apresentação
antes de examinar os documentos. Parecia uma oferta legítima.

Certo, eu não entendia a maior parte legal, mas parecia que a Grey Investments
queria investir na Signature Scent em troca de uma participação de quarenta por
cento na empresa. E a primeira linha dizia respeito a consideração e não
consideração.

Eu simplesmente não conseguia acreditar.


Eu realmente o fiz mudar de ideia hoje? Nos miseráveis dois minutos que ele me
concedeu antes de sair?

Fiquei na cozinha com a boca aberta – até que percebi a data no topo da carta.

Não foi hoje. Estava datado de três dias atrás.

Pegando o envelope que deixei cair sobre a mesa, examinei o carimbo do correio.
Com certeza, tinha sido enviado pelo correio três dias atrás. O que significava...
Christian tinha enviado isso antes de me deixar sentar na sala de espera por dois
dias.

Que diabos?
Capítulo 13

Anastasia

Que diferença uma semana pode fazer.

Em vez de sentar no saguão da Grey Investments, esperando por uma chance de


ver o rei do castelo, fui apresentada no escritório como "nossa mais nova parceira
Grey. A reviravolta de 180 graus ainda fazia minha cabeça girar, mas eu não
perderia mais tempo pensando nisso. Eu tinha um produto para lançar em apenas
alguns meses.

Mia me ligou na manhã seguinte que recebi o pacote de oferta. Ela ainda estava na
Califórnia cuidando do sogro, mas disse que queria verificar se eu estava feliz com
os termos do negócio. Eu gentilmente toquei no assunto da carta de recusa que
recebi, e ela se desculpou, dizendo que era uma confusão. No entanto, por algum
motivo, não achei que fosse verdade. Meu instinto me disse que havia mais nisso
do que apenas o envio de uma carta de forma errada. Mas ela estava animada para
seguir em frente, então decidi seguir seu exemplo e me concentrar no que estava
por vir, não olhar para trás.

— Ana, esta é Marta. Ela é a gerente de contabilidade. — disse Mia. — Para sua
informação, Marta bebe seu café puro e prefere o blend Kenya da lojinha do
quarteirão, em vez do Starbucks. Acredite em mim, chegará um momento em que
você precisará ir até ela com o café na mão e o rabo entre as pernas, porque você
está prestes a implorar para obter algo aprovado que está acima do orçamento.

Marta riu e estendeu a mão. — É um prazer conhecê-la, Ana. E acredite em mim,


se o seu produto for tão incrível quanto Mia disse, você não teria que implorar. —
Ela piscou. — Basta trazer perfume.
Sorri, mas para estar segura, também anotei a preferência de café de Marta
enquanto Mia e eu passávamos para o próximo departamento.

Depois que Fisher mandou alguém de seu escritório revisar todos os documentos
legais para mim, assinei na linha pontilhada e, alguns dias atrás, Mia e eu nos
encontramos para almoçar para discutir a logística básica. Sua função era chefe de
marketing, mas Grey Investments também forneceria uma série de assistência em
tudo, desde o desenvolvimento da web até a contabilidade, como parte de sua
participação recém-adquirida em minha empresa. Tudo isso me pouparia uma
tonelada de dinheiro que eu não tinha.

Mas o primeiro passo foi decidir onde seria meu novo escritório corporativo. Mia
disse que muitos sócios optaram por abrir um escritório na suíte Grey Investments,
uma vez que utilizariam muitos dos funcionários e serviços lá. Considerando que
meu escritório corporativo anterior tinha sido o sofá da minha sala de estar, cercado
por caixas de parede a parede, achei que poderia parecer mais profissional
encontrar pessoas aqui – pelo menos até que eu pudesse comprar algo meu.

No final da excursão introdutória, Mia me levou a um escritório vazio e me


entregou uma chave.

— Esta é a sua nova casa. O banheiro feminino fica no final do corredor. Pedi à
minha assistente que preparasse suprimentos básicos para você, mas diga a ela o
que mais você precisa. Tenho uma reunião às onze horas para a qual tenho que
correr. Talvez possamos almoçar mais tarde por volta de uma e meia?

Concordei. — Isso seria bom.

Depois que Mia desapareceu, sentei-me atrás da minha grande e moderna mesa e
respirei fundo. A Signature Scent não só conseguiu mais financiamento do que
precisava para lançar, como também conseguiu pessoal, sistemas e um endereço
de escritório chique no centro da cidade que eu só poderia sonhar. Parecia surreal.
Cada pessoa que conheci hoje parecia genuinamente feliz com nossa nova parceria
e animada para começar a trabalhar. Tudo era bom demais para ser verdade. Que
me fez lembrar, tem pelo menos uma pessoa aqui que provavelmente não está tão
feliz sobre a minha presença.

Quando passei pelo escritório de Christian durante minha visita, sua porta estava
fechada. Mas eu sabia que ele estava dentro ou tinha saído recentemente, porque
senti o cheiro de sua colônia. Ele e eu estávamos atrasados para uma discussão,
então depois que fui ao banheiro feminino, fiz um desvio pelo corredor que levava
ao seu escritório. Desta vez, a porta estava aberta. Minha pulsação acelerou quando
me aproximei. Ele estava de costas para a porta, procurando algo em uma
prateleira, quando bati.

— Apenas deixe na minha mesa. — ele disse sem se virar.

Presumi que ele estava esperando outra pessoa. — Oi, Christian. É Anastasia. Eu
esperava que pudéssemos conversar um pouco.

Ele se virou e olhou para mim. Deus, seus olhos tinham ficado mais intensamente
cinzas desde a última vez que o vi? Imediatamente comecei a torcer o anel que
usava no dedo indicador, algo que fazia quando estava nervosa. Mas me contive e
parei. Eu não podia deixar Christian me intimidar.

Então, embora minhas entranhas parecessem enjoadas, empurrei meu queixo e


pisei na porta. — Não vai demorar muito.

Christian cruzou os braços sobre o peito e encostou-se ao aparador, em vez de


sentar-se à mesa. — Certamente, entre. Você já me interrompeu.
Claramente ele estava sendo sarcástico, mas aproveitei a oportunidade de qualquer
maneira. Com uma respiração profunda, fechei a porta do escritório atrás de mim.
Christian permaneceu quieto, mas seus olhos observaram cada passo meu
enquanto eu caminhava para sua mesa enorme e igualmente intimidante.

— Você se importa se eu me sentar?

Ele encolheu os ombros. — Claro, por que não.

Sentei-me em uma das duas cadeiras de convidados e esperei que ele se juntasse a
mim. Mas ele nunca se mexeu. — Você não vai se sentar?

Seus olhos brilharam. — Não. Estou bem em pé.

Levei um momento para organizar meus pensamentos, mas o cheiro da colônia de


Christian flutuou no ar. Ele tinha que cheirar tão bem? Achei muito perturbador.
Quando me peguei mais uma vez tentando pegar meu anel para girar, agarrei os
braços da cadeira para ocupar minhas mãos.

— Mia disse que a carta de recusa que recebi foi enviada por engano. Isso é
verdade?

Os olhos de Christian caíram para minhas mãos agarrando a cadeira antes de


encontrar as minhas. — Isso importa? Você está aqui.

— Isso é importante para mim. Trabalhei em meu negócio por cinco anos e
coloquei meu coração e minha alma nisso. Grey Investments agora é um
coproprietário, e eu preferiria limpar o ar de quaisquer problemas que estejam no
caminho para que as coisas possam ocorrer da melhor maneira possível.
Christian esfregou o lábio inferior com o polegar enquanto parecia considerar
minhas palavras. Eventualmente, ele disse.— Não.

Minha testa enrugou. — Não o quê? Você não quer limpar o ar?

— Você perguntou se a primeira carta foi enviada por engano. Não foi.

Era o que eu suspeitava, mas ainda doía ouvir. — Então, o que fez você mudar de
ideia?

— Minha irmã. Ela é um pé no saco quando coloca algo na cabeça.

Isso me fez sorrir. Eu realmente adoro Mia. — Você não queria ter um negócio
comigo por causa do meu produto ou por minha causa?

Christian procurou meu rosto antes de responder. — Por sua causa.

Fiz uma careta, mas apreciei sua franqueza. Contanto que ele estivesse sendo real,
achei que deveria continuar. — A data na carta de oferta era um dia antes do
primeiro dia em que sentei no saguão esperando para ver você. No entanto, você
me deixou sentada lá por dois dias inteiros. Por quê?

O canto de seu lábio deu a menor contração. — Você pediu dois minutos. Estava
ocupado.

— Mas você poderia apenas ter dito à recepcionista para me avisar que mudou de
ideia, e uma oferta estava no correio.

Desta vez, ele não conseguiu conter o sorriso. — Sim, eu poderia.

Olhei para ele, o que o fez rir. — Se essa é sua cara intimidadora, você pode querer
trabalhar nisso.
Seu sorriso era perigoso. Isso me fez sentir um pouco sem fôlego. Ainda assim,
endireitei minhas costas na cadeira. — Será que vamos ter problemas em trabalhar
juntos? Mia disse que você está muito envolvido com todas as startups.

Christian novamente me considerou. — Não se você for uma trabalhadora


esforçada.

— Eu sou.

— Acho que veremos sobre isso.

O interfone na mesa de Christian tocou antes que a voz da recepcionista saísse do


alto-falante. — Sr. Grey?

Seus olhos nunca deixaram os meus quando ele respondeu. — Sim?

— Seu compromisso das onze e meia chegou.

— Diga a Dan que estarei com ele em breve.

— Vou dizer.

Ela desligou e Christian inclinou a cabeça. — Há mais alguma coisa?

— Não, acho que é isso.

Quando me levantei e me virei para sair, ele falou novamente. — Na verdade,


tenho mais uma coisa.

— Ok...
Ele cruzou os braços sobre o peito. — Como Mia mencionou, estou muito
envolvido com o lançamento dos novos negócios em que investimos. Portanto,
você provavelmente deve dar a Andrea o seu número de telefone celular verdadeiro
quando sair, apenas no caso de eu precisar entrar em contato com você.

— O que você quer dizer com meu número real? Dei a você no dia em que vim
pegar meu telefone.

Sua boca formou uma linha sombria. — O número que você me deu era da Vinny's
Pizza.

— O quê? Não, não era.

— Sim, era. Eu liguei.

— Você deve ter escrito errado. Eu não te dei o número errado.

— Você digitou no meu telefone.

Vasculhei meu cérebro, tentando me lembrar daquela tarde. Ele não tinha anotado
meu número? Então me dei conta – ele pediu meu número e, imediatamente depois,
sua assistente entrou no escritório. Enquanto eles falavam, ele enfiou a mão no
bolso e me entregou o celular.

Oh meu Deus.

— Posso ver seu telefone? — Perguntei.

Christian ficou quieto por um minuto. Por fim, ele estendeu a mão para a mesa e
pegou o celular. Senti que ele me observava enquanto eu digitava meu nome em
seus contatos e li o número que havia inserido. Meus olhos se arregalaram. O
último dígito do meu número era nove, mas eu tinha digitado seis – o dígito acima
do nove no teclado.

Olhei para ele. — Digitei o número errado.

Seu rosto estava perfeitamente impassível. — Estou ciente.

— Mas foi sem querer.

Ele não disse nada.

Meu cérebro parecia estar em câmera lenta enquanto eu processava o que isso
significava. — Então... a razão pela qual você não me ligou foi porque você pensou
que eu tinha intencionalmente lhe dado o número errado? Mas sua irmã me ligou.
Ela conseguiu encontrar o número do meu negócio.

— Não tenho o hábito de perseguir mulheres que me dão um número errado


quando as convido para sair.

— Eu nunca faria isso.

Olhamos um para o outro. Era como se as peças do quebra-cabeça que faltavam


finalmente tivessem se encaixado no lugar. — E é por isso que você gostou de me
deixar sentada na sala de espera por dois dias. Você pensou que eu tinha te
dispensado, e você estava me dispensando em troca. — Balancei minha cabeça. —
Mas eu ainda não entendo. O que o fez mudar de ideia sobre o investimento?

Christian fez aquela coisa de coçar o queixo que ele sempre parecia fazer. —
Minha irmã é muito apaixonada pelo seu negócio. Ela passou por maus bocados
no trabalho desde a morte de nosso pai. Quando eliminei todo o resto, seu negócio
é aquele em que eu estaria interessado em circunstâncias diferentes. Achei que não
era justo segurar o fato de que você me deu um fora contra você e decepcionar Mia

— Mas eu não te ignorei. Fiquei desapontada quando você não ligou.

Christian olhou para os meus pés. Tive a sensação de que ele estava tão incerto
sobre o que fazer com essas novas informações quanto eu. Novamente o telefone
em sua mesa tocou.

— Sim, Andrea? — Ele disse.

— Você tem Esme na linha um.

Ele suspirou. — Vou atender. Apenas diga a ela que vou demorar um minuto, por
favor.

— Ok. E vou pegar um pouco de café para Dan e colocá-lo na sala de conferências.
Vou avisá-lo que você vai demorar mais alguns minutos.

— Obrigado, Andrea.

Christian finalmente ergueu o olhar, mas ele o fez trabalhando lentamente para
cima, da ponta dos pés. No momento em que nossos olhos se encontraram, meu
corpo estava formigando. A sugestão diabólica de um sorriso malicioso em seu
rosto não fez as coisas melhorarem.

— Então você estava dizendo... você ficou desapontada por eu não ter ligado?

Engoli, sentindo-me um pouco como um cervo pego pelos faróis. — Ummm...


O fantasma de um sorriso malicioso de Christian se transformou em um sorriso
aberto. — Esme é minha avó, então tenho que atender esta ligação. Podemos
terminar outra hora?

Balancei a cabeça lentamente. — Umm... sim... claro.

Virei-me e me dirigi para a porta. Mas antes que eu pudesse abri-la, a voz de
Christian me parou. — Anastasia?

— Sim?

— Dei o perfume que você fez para mim para minha avó. Ela gostaria de mais.

Sorri. — Sem problemas.


Capítulo 14

Anastasia

Mais tarde naquela noite, a equipe de limpeza bateu à porta do meu escritório para
perguntar se eles poderiam entrar e esvaziar minha lata de lixo.

— Oh. Claro. — Eu não teria imaginado que já era hora para eles, mas fiquei
absorta em digitar minha lista de fornecedores e fazer anotações sobre quais
produtos comprei, de quem, e os termos. Definitivamente, seria uma tarefa mover
todo o conhecimento de onde eu atualmente o mantive – na minha cabeça – para
os diferentes sistemas oferecidos pela Grey Investments. Mas no final, eu sabia
que seria o melhor.

Peguei meu celular e fiquei chocada ao descobrir que já eram 18:30. Olhei para a
hora depois que Mia disse boa noite, e era um pouco antes das cinco horas. Isso
parecia apenas dez minutos atrás.

Uma senhora sorridente despejou o conteúdo da minha cesta de lixo em uma lata
de lixo maior no corredor e voltou carregando um aspirador.

— Você se importaria? Isso levará menos de cinco minutos.

— Oh, não mesmo. Preciso esticar as pernas e usar o banheiro feminino de


qualquer maneira. — Fechei meu laptop e caminhei até o banheiro.

Quando me aproximei, encontrei Christian encostado na parede ao lado da porta,


olhando para seu telefone celular.

— Esperando para pular e assustar alguém quando sair do banheiro feminino? —


Provoquei.
Ele franziu a testa e apontou para a porta.

— Você vai aí?

— Eu estava prestes a ir. — Minhas sobrancelhas se juntaram.

— Existe alguma razão para eu não ir?

Ele se afastou da parede e passou a mão pelo cabelo.

— Minha filha está lá – Charlie. Ela se perde em banheiros, diz que gosta dos clue
sticks.

— Clue sticks?

— Acústica. Eu a corrijo, mas ela diz que soa melhor do jeito dela.

Eu rio.

— Você quer que eu a apresse?

Ele olhou para o relógio.

— Tenho uma ligação importante com um investidor estrangeiro às seis e meia.

— Vai. Vou me certificar de que ela esteja bem e levá-la de volta ao seu escritório.

— Tem certeza?

— Claro. Sem problemas.

Christian ainda parecia hesitante.


Revirei meus olhos.

— Invadi um casamento uma vez, mas prometo que não vou perdê-la.

Ele soltou um suspiro profundo.

— Ok, obrigado.

Entrando no banheiro, fiquei absolutamente curiosa. Charlie não estava em lugar


nenhum, mas uma coisa rapidamente se tornou aparente – por que ela estava
preocupada com a acústica. A vozinha mais doce estava cantando... Era "Jolene"?
A velha música da Dolly Parton? Sim, sim, era. E a pequena Charlie parecia saber
todas as palavras. Notei suas perninhas balançando sob o primeiro boxe do
banheiro.

Fiquei quieta, ouvindo com o maior sorriso no rosto. Ela realmente sabia cantar.
Sua voz era minúscula, mas pelo tamanho de suas pernas, suspeitei que se
encaixava no corpo. Ainda assim, ela cantava no tom e colocava um vibrato que
normalmente não saía de uma menina.

Quando a música terminou, eu não queria ficar ali olhando e a assustar, então bati
suavemente na porta do box.

— Charlie?

— Sim?

— Oi. Meu nome é Anastasia, mas pode me chamar de Ana. Seu pai me pediu para
levá-lo de volta ao escritório dele quando você terminar aqui. Só vou ao banheiro.
Mas não saia sem mim. — Ok, senhora pode me chamar de Ana.
Entrei na cabine ao lado dela e comecei a me aliviar.

No meio do xixi, Charlie disse: — Ana?

— Sim?

— Você gosta da Dolly?

Sufoquei minha risada.

— Gosto.

— Você tem uma música favorita?

— Hmmm. Tenho, na verdade. Não sei se é muito popular, mas minha avó morava
no Tennessee e a música "My Tennessee Mountain Home" sempre me faz lembrar
dela. Portanto, devo dizer que é provavelmente a minha favorita.

— Eu não sei essa. Mas a do meu pai é "It's All Wrong, But It's All Right". Ele
não me deixa cantar essa, porque diz que as palavras são muito antigas para mim.
Mas eu as memorizei de qualquer maneira. Quer ouvir?

Certamente que sim – ainda mais agora que ela me contou que seu pai disse que
ela não podia cantar. Mas me impedi de dizer a ela para cantar. A última coisa que
eu precisava era Christian pensando que corrompi sua filha.

— Hmmm... Por mais que eu adoraria ouvir, provavelmente devemos obedecer a


seu pai.

O som da descarga do vaso sanitário foi sua resposta, então me apressei e terminei
para que ela não pudesse sair correndo do banheiro sem mim.
Charlie estava na pia lavando as mãos quando saí da cabine. Ela era absolutamente
adorável, com cabelo louro claro encaracolado que parecia não ser fácil de domar,
nariz de botão e grandes olhos cinzas. Ela usava roxo da cabeça aos pés, incluindo
meia-calça, tênis, saia e camiseta. Algo me disse que Charlie escolheu suas
próprias roupas.

— Você é a "pode me chamar de Ana"? — Ela perguntou.

Mais uma vez, tive que controlar minha risada. Éramos as únicas pessoas no
banheiro.

— Sou. E você deve ser Charlie.

Ela balançou a cabeça e me observou atrás dela no espelho.

— Você é bonita.

— Ora, obrigada. Quanta gentileza. Você também é linda.

Ela sorriu. Fui até a pia ao lado dela para me lavar.

— Você tem aulas de canto, Charlie? Sua voz é realmente incrível.

Ela assentiu. — Vou nas manhãs de sábado às nove e meia. Meu pai me pega para
me levar porque minha mãe precisa de seu sono de beleza.

Sorri. Essa garota é hilária e não tinha ideia.

— Oh, isso é legal.


— Eu também faço caratê. Mamãe queria que eu fizesse balé, mas eu não queria.
Papai me levou para me inscrever em aulas de caratê sem avisar, e ela não ficou
muito feliz.

Eu ri. — Aposto que sim.

— Você trabalha com meu papai?

— Sim, na verdade.

— Você quer vir jantar conosco? Vamos de metrô.

— Oh, obrigada, mas ainda tenho algum trabalho a fazer.

Ela encolheu os ombros. — Talvez na próxima vez.

Eu não conseguia parar de sorrir com tudo que saía da boca dessa menininha.

— Talvez.

Nós duas secamos nossas mãos e então a acompanhei até o escritório de seu pai.
Christian ainda estava ao telefone, então perguntei se ela queria vir ver onde eu
ficava. Quando ela assentiu, gesticulei para que Christian soubesse que a estava
levando para o meu escritório. Charlie se jogou em uma cadeira, com os pés
balançando e balançando.

— Você não tem nenhuma foto?

— Isso é porque hoje é o meu primeiro dia. Eu não tive a chance de decorar ainda.

Ela olhou em volta.


— Você deveria pintar seu escritório de roxo.

Eu ri. — Não tenho certeza se isso cairia tão bem com seu pai.

— Ele me deixou pintar meu quarto de roxo. — Charlie fungou algumas vezes.

— Seu escritório cheira bem.

— Obrigada. Na verdade, sou perfumista. Faço perfumes.

— Você faz perfumes?

— Sim. É um trabalho legal, não é?

Ela assentiu rapidamente.

— Como você faz isso?

— Bem, é muita ciência, na verdade. Mas o que seu pai e eu estamos trabalhando
juntos em fazer um perfume baseado no quanto as pessoas gostam de um monte
de cheiros diferentes. Você gostaria de experimentar algumas das minhas
amostras?

— Sim!

Trouxe alguns kits de amostra comigo hoje, então peguei um da gaveta da minha
mesa e sentei ao lado dela. Abrindo a caixa, tirei um dos potes de cheiro e ofereci
a ela. Era calone, o que me dizia se uma pessoa tinha inclinação para cheiros
parecidos com a brisa do mar.

— O que esse cheiro lembra você?


Seus olhos brilharam.

— Mmm... sorvete de chocolate com banana.

Minhas sobrancelhas franziram e levantei o frasco para cheirá-lo eu mesma,


embora eu tivesse sentido o cheiro do oceano assim que abri a tampa.

— Isso cheira a sorvete para você?

— Não. Mas papai me levou à praia na semana passada e depois tomamos sorvete
no calçadão. Ganhei banana split porque é meu favorito. Isso cheira a praia, mas
agora a praia só me faz pensar naquele sorvete gostoso.

Perguntei a ela o que o cheiro a lembrava e não como ele cheirava. Então sua
resposta estava certa. Peguei a banana que tinha ficado na minha mesa o dia todo.

— Você também é fã de banana, hein? Você quer compartilhar esta?

— Não, obrigada. — Ela balançou as pernas. — Meu pai escreve nas minhas
bananas quando empacota meu almoço. Às vezes, laranjas e tangerinas também.
Mas nunca maçãs, porque você não descasca maçãs.

— Ele escreve nas suas frutas? Ela assentiu.

— O que ele escreve?

— Coisas tolas. Tipo "Laranja, você está feliz que é sexta-feira?" Às vezes ele
escreve uma piada. No Halloween, ele escreveu "Qual é a fruta favorita de um
fantasma? Uma boo-nana." Entendeu?

Achei aquilo muito interessante.


Eu não teria imaginado Chrisian fazendo algo idiota assim.

— Posso cheirar um pouco mais? — Charlie perguntou.

— Claro.

Abri outro frasco. Este cheirava a sândalo – óleo do sândalo indiano.

Ela torceu o narizinho. — Isso cheira a dor de barriga.

Eu não tinha ideia do que isso significava.

Eu o trouxe ao meu nariz para tentar descobrir.

— Mesmo? Faz sua barriga doer só de cheirar?

Ela deu uma risadinha.

— Não. O sorvete azedo sim.

Isso cheira como o homem na sorveteria na esquina do meu pai. Não vamos mais
lá porque o sorvete pode estar ruim.

Ohhh, bem, isso fazia mais sentido.

O sândalo estava em muitas colônias masculinas populares. Charlie tinha jeito para
isso. Ela também gostava muito de sorvete.

— Você sabe... — eu disse. — Essa é a segunda resposta que você mencionou


sorvete. Estou sentindo um padrão.

Uma voz profunda atrás de mim interrompeu: — Já percebeu isso, hein?


Virei-me para encontrar Christian encostado no batente da porta do meu escritório.
Parecia que ele estava escutando por um tempo.

— Charlie aqui tem um ótimo olfato.

Christian acenou com a cabeça.

— Ela também ouve coisas a um quilômetro de distância, especialmente a porta


do freezer. Se eu abrir, ela vem correndo, pensando que um sorvete pode estar
envolvido.

Charlie franziu o nariz novamente.

— Ele gosta de sorvete de morango.

— Acho que você não gosta? — Perguntei.

Ela balançou a cabeça.

— É nojento. Cheio de sementes.

— Terei que ficar do lado do seu pai nesta. Morango é um dos meus favoritos.

Christian sorriu, e percebi que pode ter sido o primeiro sorriso genuíno que vi em
seu rosto bonito desde a noite do casamento.

— Você está pronta para ir, Charlie? — Ele olhou para mim. — Nós vamos jantar.

— Eu sei. Você vai pegar o metrô.

O lábio de Christian se contraiu.

— O metrô, Dolly Parton e sorvete. Ela não é difícil de agradar... ainda.


— E notas escritas em frutas e cor roxa. — Fiz um gesto para o meu escritório.

— Charlie sugeriu que eu pintasse meu escritório de roxo. Eu disse a ela que
pensaria sobre isso. Christian sorriu.

— Não perderia meu tempo se fosse você. Charlie me surpreendeu pulando de sua
cadeira para me dar um abraço.

— Obrigada por me mostrar suas coisas fedorentas.

— Você é bem-vinda querida. Aproveite seu jantar.

Ela saltou pelo meu escritório e agarrou a mão de seu pai.

— Vamos, pai.

Ele balançou a cabeça como se ela fosse um incômodo, mas eu poderia dizer que
ela era provavelmente a única pessoa no mundo que ele gostava de ser comandado.

Acenando para mim, ele disse: — Não fique até muito tarde.

— Não vou.

Depois que eles desapareceram, pude ouvir Charlie falando por todo o corredor.

— Ana vai jantar conosco da próxima vez... — disse ela.

— Charlie, o que eu disse a você sobre convidar pessoas que você acabou de
conhecer para as coisas?

— Ela não cheira bem?


Houve uma pausa e pensei que talvez eles tivessem ido tão longe que eu não
conseguia mais ouvi-los.

Mas então Christian resmungou: — Sim, ela cheira bem.

— E ela é bonita também, certo?

Novamente houve uma longa pausa.

Aproximei-me da porta para ter certeza de ouvir a resposta.

— Sim, ela é bonita, mas não é assim que você decide quem convidar para jantar,
Charlie. Nós trabalhamos juntos.

— Mas no mês passado, quando mamãe me deixou cedo em sua casa no sábado
de manhã, havia uma mulher lá, e ela era bonita e cheirava bem. Você disse que
ela era alguém com quem você tinha negócios e ela voltou pela manhã porque
havia esquecido o guarda-chuva. Perguntei se ela poderia vir almoçar conosco, e
você disse outra hora. Mas você nunca a trouxe.

Oh cara.

Coloquei minha mão sobre minha boca.

Charlie era um chicote, e eu estava curiosa para saber como Christian iria se sair
dessa. Infelizmente, em vez de ouvir sua resposta, ouvi a porta do saguão abrir e
fechar, e esse foi o fim do show.

Suspirei e voltei para a minha mesa – onde rapidamente ficou claro que eu não
conseguia mais me concentrar. Hoje foi um turbilhão. Ser apresentada a tantas
pessoas aqui na Grey Investments, meia dúzia de reuniões diferentes, novos
sistemas de contabilidade, estoque, pedidos e uma interface de site de alta
velocidade totalmente nova. Foi muito impressionante.

Mas nada disso era tão emocionante quanto as pequenas palavras que Christian
havia dito hoje cedo.

— Vamos terminar em outra hora...


Capítulo 15

Anastasia

Posso ter ficado um pouco ansiosa demais na manhã seguinte. Mia me disse para
encontrá-la no escritório às 8 da manhã para que pudéssemos começar a trabalhar
com sua equipe no plano de marketing da Signature Scent. No entanto, o sol mal
havia nascido quando cheguei aos escritórios da Grey Investments.

Como cheguei tão cedo, desci algumas portas até uma padaria 24 horas e resolvi
pegar uma xícara de café e um muffin. Aparentemente, eu não era a única que tinha
começado cedo hoje. A fila estava cheia de homens e mulheres vestidos com
ternos, cada um deles com o nariz enterrado em seus telefones enquanto
esperavam.

Quando finalmente cheguei ao caixa, um garoto que parecia que deveria estar se
preparando para o ensino médio em vez de trabalhar anotou meu pedido.

— Como posso te ajudar? — Enquanto falava, ele pegou seu telefone e olhou para
ele. Achei que talvez ele tivesse que digitar meu pedido para que outra pessoa o
fizesse atrás.

— Vou querer um café, pouco açúcar, e um crumb-cake muffin por favor.

Ele ergueu um dedo e mandou uma mensagem em seu telefone. Quando ele
terminou, ele digitou algo na caixa registradora.

— Um café, com pouco açúcar e um muffin de mirtilo. Isso vai dar seis e setenta
e cinco. Qual o seu nome?
— Bem, meu nome é Ana, mas eu queria um crumb-cake muffin, não um muffin
de mirtilo.

O garoto franziu a testa como se eu o estivesse irritando. Ele apertou mais alguns
botões na caixa registradora, mas então seu telefone vibrou, então sua atenção se
voltou para lá novamente.

Peguei uma nota de dez da minha carteira e estendi para ele, mas ele ignorou minha
mão esperando.

Quando dois minutos sólidos se passaram e ele ainda não tinha tirado os olhos do
telefone, eu me inclinei e olhei para o que ele estava fazendo.

Mensagens de texto.

O garoto não estava colocando meu pedido em seu telefone, ele estava enviando
uma mensagem de texto para alguém chamada Kiara.

Balancei meu pulso em uma tentativa de chamar sua atenção.

— Umm... Aqui está.

Novamente, ele ergueu um dedo.

Inacreditável.

Eventualmente, ele arrancou a nota da minha mão e me deu o troco. Então ele
pegou uma xícara de café grande, abriu uma caneta e rabiscou um nome nela.

Aurora.

Minhas sobrancelhas se juntaram.


— Isso é para ser meu?

Ele bufou.

— Tem o seu nome, não é?

Em vez de discutir, sorri.

— Certo. Tenha um dia maravilhoso.

— Próximo!

Presumi que era sua maneira de me pedir que me afastasse para que ele pudesse
levar o próximo cliente.

Algumas pessoas estavam circulando do outro lado do balcão, então fui me juntar
a elas e comecei a fazer o que todo mundo estava fazendo: olhar para o meu celular.
Fisher mandou uma mensagem alguns minutos atrás.

Fisher: Boa sorte trabalhando no marketing hoje. Sei que essa é a sua parte
favorita!

Mandei uma mensagem de volta.

Ana: Obrigada! Estou nervosa, mas animada.

Ele então me enviou uma foto de um homem do mais novo site de namoro que ele
ingressou. O cara usava apenas uma cueca boxer cinza justa. Seu sorriso era bonito
e ele tinha um cabelo bonito. Mas quando fiz uma panorâmica para o resto dele,
meus olhos se arregalaram. Agora eu sabia por que ele tinha enviado para mim.

Outro texto chegou embaixo.


Fisher: Você me disse para parar de escolher os homens pelo abdômen e procurar
um sorriso genuíno. Essa coisa está definitivamente sorrindo. ;)

Ana: Isso não pode ser real...

Levantei meu telefone mais perto e ampliei a protuberância.

De jeito nenhum isso era tudo dele. O cara tinha que ter uma banana enfiada ali
em algum lugar. Não, esqueça isso, era definitivamente uma abobrinha.

O pênis tinha esse tamanho? Certamente nenhum que eu já tenha visto.

Uma voz profunda por cima do meu ombro me assustou.

— E pensar que começo minha manhã folheando o The Wall Street Journal...

Pulei e meu celular caiu de minhas mãos, batendo no chão.

Abaixei-me para pegá-lo e fiz uma careta.

— Oh meu Deus, por que você se aproximou de mim desse jeito?

Christian riu. — Como eu poderia deixar de interromper quando você está


assistindo pornografia?

— Não estou vendo pornografia. — Senti meu rosto ficar vermelho. — Meu amigo
me enviou a foto de um cara de um site de namoro.

Ele parecia cético. — Sei.

Envergonhada, tentei convencê-lo de que era verdade segurando o telefone para


mostrar a ele – apenas para perceber que eu estava dando um zoom no pau do cara.
— Não mesmo...

Christian ergueu a mão para bloquear a visão.

— Vou acreditar na sua palavra. Obrigado. Mas estou feliz em ver que você e seu
amigo estão se concentrando nas qualidades importantes de um homem.

Balancei minha cabeça.

Incrível. Continuei causando uma boa impressão após a outra com esse cara.

Suspirei em derrota.

— Aurora! — O barista gritou. Eu o ouvi, mas não deu um clique a princípio. —


AVA!

Merda – era eu.

Aproximei-me do balcão e peguei meu café e muffin.

Christian estava balançando a cabeça quando voltei para onde ele estava.

— O quê? — Perguntei.

— Um novo nome?

— O garoto que anotou meu pedido não estava ouvindo quando eu disse meu
nome.

Christian deu um aceno cético.

— Certo. — Ele encolheu os ombros. — Que razão eu teria para não acreditar em
você?
Revirei meus olhos.

— Christian! — O barista gritou.

Christian sorriu. — Ele parece capaz de acertar o meu nome.

Depois de pegar seu café, ele acenou com a cabeça em direção à porta. — Você
está indo para o escritório?

— Sim.

Saímos da loja e descemos a rua lado a lado.

— Sua filha é absolutamente adorável. — eu disse. — Ela me deu umas


gargalhadas sem nem tentar ontem.

Christian balançou a cabeça.

— Obrigado. Ela tem seis anos, vai para vinte e seis e não tem filtro.

— Ela canta lindamente também.

— Deixe-me adivinhar, Dolly, enquanto está sentada no banheiro?

Eu ri. — 'Jolene'. Presumo que seja uma ocorrência frequente?

— O banheiro e a banheira são seus locais preferidos de apresentações.

— Ah... — eu disse. — Isso é provavelmente por causa da acústica.

Christian sorriu sem proteção. — De fato.


Uma mulher sem-teto estava sentada em frente ao prédio ao lado do nosso. Ela
tinha um carrinho de compras cheio de latas e garrafas e estava enrolando os
trocados de um copo de plástico em embalagens de papel para moedas.

Em nosso prédio, Christian abriu a porta para mim.

— Você pode... — Cavei em minha bolsa. — Espere um segundo.

Deixei Christian segurando a porta aberta e voltei para a mulher. Estendendo


minha mão com o que eu poderia oferecer, eu disse: — Eu também estou meio
sem dinheiro. Mas eu quero que você fique com isso.

Ela sorriu. — Obrigada.

Quando voltei para Christian, sua testa estava enrugada.

— Você deu dinheiro a ela?

Balancei minha cabeça.

— Dei a ela minha barra de Hershey's.

Ele me olhou engraçado, mas acenou com a cabeça antes de apertar o botão do
elevador.

— Então você é um grande fã de música country? — Perguntei. — É aí que sua


filha consegue seu amor por Dolly?

— Não. E nem minha ex-mulher ou qualquer outra pessoa que conhecemos. Ela
simplesmente ouviu uma das músicas de Dolly no rádio do carro uma vez e gostou.
Ela começou a cantar as partes de que conseguia se lembrar em casa e então decidiu
pedir ao professor de canto que lhe ensinasse toda a música. Agora é a única artista
que ela canta. Ela sabe de cor uma dúzia de canções da Dolly.

— Fantástico.

— No ano passado, para o Halloween, quando todas as outras meninas queriam


ser princesas da Disney, Charlie queria que sua mãe colocasse meias em sua
camisa e comprasse para ela uma peruca platinada.

— Uau, indo com platinada e sutiã recheado. É como se ela já tivesse treze anos.

Christian gemeu. — Nem quero pensar sobre isso.

Entramos juntos no elevador para subir até os escritórios.

Assim que as portas se fecharam, um cheiro familiar invadiu meu nariz.


Instintivamente, inclinei-me em direção a ele para sentir o cheiro melhor.

Christian levantou uma única sobrancelha.

— O que você está fazendo?

— Você tem um cheiro que não é colônia, sabonete líquido ou shampoo. Estou
tentando identificá-lo. — Farejar. Farejar. — Simplesmente não consigo
identificá-lo. —

Suponho que você seja o tipo de pessoa que tem uma necessidade incessante de
saber a resposta para um problema. Você ficará louca se não o fizer?

Funguei novamente. — Certamente irei.

O elevador apitou, indicando nossa chegada ao décimo quarto andar.


Christian estendeu a mão para que eu saísse primeiro e depois destrancou a porta
do escritório. Assim que entramos, ele contornou a mesa vazia da recepção e
acendeu vários interruptores para acender as luzes.

Esperei do outro lado.

— Então qual é o cheiro? Algum tipo de loção, talvez?

Christian sorriu.

— Não. — Ele se virou e começou a andar na parte de trás com passadas largas.

— Espere... onde você está indo?

Ele falou sem se virar. — Para o meu escritório trabalhar. Você deveria tentar fazer
o mesmo.

— Mas você não me disse qual é o cheiro. Eu o ouvi rir enquanto continuava a
andar.

— Tenha um bom dia, Aurora.


Capítulo 16

Anastasia

Mia e eu passamos a manhã revisando alguns planos iniciais de publicidade, mas


seu gerente de marketing realmente queria ver como as coisas funcionavam em
ação. Então, levei-os ao laboratório que produziria os perfumes e trouxe um kit de
amostra para lhes mostrar o processo pelo qual cada pedido passaria. Amei como
eles estavam animados para aprender mais sobre o produto.

Depois que terminamos, Mia teve que ir para uma reunião, e o gerente de
marketing estava indo se encontrar com um amigo para um almoço tardio, então
fiquei no laboratório por um tempo antes de pegar um trem de volta para o
escritório.

A porta de Christian estava aberta quando passei, então bati.

Ele ergueu os olhos de uma pilha de papéis e ergui uma caixa.

— Mais do perfume que sua avó gostou.

Christian jogou a caneta na mesa.

— Obrigado. Você vai ficar até tarde de novo esta noite?

Concordei. — Tenho muito que fazer. Sua equipe está a todo vapor e já me deram
muito para revisar.

— Estive examinando seu estoque e fornecedores e tenho algumas ideias que


gostaria de apresentar a você.

— Certo. Seria ótimo. Quando você quer fazer isso?


Ele apontou para as pilhas de papéis em sua mesa. — Preciso de um pouco de
tempo para terminar. Que tal às seis?

— Parece bom.

— Ana? — Christian chamou quando me virei para sair.

— Sim?

Ele apontou com o queixo em direção à caixa em minha mão.

— Você se esqueceu de me dar o perfume.

Sorri. — Oh. Não, não esqueci. Você vai receber quando me contar qual era o
cheiro esta manhã.

Ele balançou a cabeça com um sorriso.

— Traga-o para a sala de conferências às seis.

Pouco depois das cinco, a assistente de Christian ligou para perguntar se eu gostava
de comida chinesa. Aparentemente, Christian e eu jantaríamos no trabalho. Eu
estava definitivamente intrigada sobre passar algum tempo a sós com ele. Esta
seria minha chance de corrigir minha primeira – e segunda e terceira – impressão
e mostrar a ele que eu não era realmente volúvel.

Às seis em ponto, fui para a sala de conferências, armada com um arquivo gigante
de dados de inventário, um caderno e o perfume que fiz. Christian já estava lá
dentro com os papéis espalhados e caixas de comida chinesa no meio da mesa,
junto com pratos e utensílios.

— Você pediu frango com alho, hein?


Christian balançou a cabeça.

— Como diabos você faz isso? Nem abri a embalagem.

Sorri. — O papelão não contém alho.

Christian estava sentado na cabeceira da mesa, então me acomodei em uma cadeira


à sua esquerda.

— Além disso, eu estava indo e voltando entre frango com alho e o que eu pedi,
então eu estava pensando em frango com alho.

— O que você pediu?

— Camarão com brócolis.

— Podemos compartilhar se você quiser.

— Ok. Vamos comer primeiro ou depois?

— Definitivamente primeiro. — disse ele. — Eu não almocei, então estou


morrendo de fome. Christian e eu colocamos comida em nossos pratos.

Ele ergueu o queixo para a caixa de perfume e disse: — Óleo para luvas de
beisebol. Agora passa isso, espertinha.

Sorri. — Você joga beisebol às seis da manhã?

— Não, mas Charlie quer se juntar a um time de softball mirim. Ela queria a única
luva roxa que eles tinham na loja. Claro que é um pedaço de merda. Então, estou
tentando deixá-la mais macia massageando-a com óleo para que ela possa, pelo
menos, abrir a maldita coisa com suas mãozinhas.
— Ah. — Balancei a cabeça e empurrei a caixa de perfume para ele. — Lanolina.
Não sei como não o identifiquei.

— Talvez você deva ficar com gim.

Christian piscou e senti uma pequena vibração na minha barriga.

Deus, eu era patética.

Por que uma simples piscadela de Ben não conseguia me deixar toda excitada e
incomodada? Tínhamos tido dois encontros e... nada ainda.

Coloquei um camarão na boca.

— Posso te perguntar uma coisa?

— Você pararia se eu dissesse não?

Sorri. — Provavelmente não.

Ele deu uma risadinha. — Não admira que você e minha irmã se deem tão bem.
Qual é a sua pergunta?

— Quando exatamente você descobriu que eu não era quem eu disse que era no
casamento de Mia?

— Quando você me disse que seu sobrenome era Whitley. Evelyn Whitley e minha
irmã eram amigas desde o colégio. Ela também foi próxima da minha ex-mulher
por um tempo. As três andam no mesmo círculo social. Suponho que poderia haver
duas mulheres chamadas Evelyn Whitley, mas uma vez que você me disse que
trabalhou na Grey Investments, isso obviamente confirmou minhas suspeitas.
Mordisquei meu lábio inferior.

— Então, antes disso... quando dançamos pela primeira vez, você não tinha ideia?

Christian balançou a cabeça.

— Nenhuma pista.

— No entanto, você me convidou para dançar?

A sugestão de um sorriso ameaçou no canto de seus lábios.

— Sim, sim.

Meu coração acelerou.

— Por quê?

— Por que eu te convidei para dançar?

Concordei.

Os olhos de Christian caíram para os meus lábios e permaneceram por alguns


segundos.

— Porque eu achei você interessante.

— Oh... ok.

Ele se aproximou e abaixou a voz.

— Achei você interessante e bonita.


Minhas bochechas coraram.

— Obrigada.

Christian continuou olhando para mim. Eu praticamente arranquei os elogios do


homem, mas meu rosto estava radiante.

Ele tamborilou os dedos na mesa.

— Algo mais?

— Não.

Ele sorriu. — Você tem certeza?

Concordei.

Mas, mais uma vez, após um minuto refletindo sobre as coisas, mudei de ideia.

— Na realidade...

— Deixe-me adivinhar. Mais uma pergunta?

— Quando vim ao seu escritório para pegar meu celular, você me convidou para
jantar, mas eu meio que tive a estranha sensação de que você estava chateado
consigo mesmo por ter convidado.

Ele inclinou a cabeça.

— Você é muito perceptiva.

Mordi meu lábio, debatendo minha próxima pergunta. Mas eu realmente queria
saber a resposta.
— Será que teríamos saído se eu não tivesse acidentalmente lhe dado o número
errado?

O canto do lábio de Christian se contraiu novamente.

— Eu liguei, não liguei?

— Oh, sim. Bem, acho que tudo deu certo de qualquer maneira. Vamos trabalhar
juntos e não queremos turvar as águas.

Os olhos de Christian pousaram nos meus lábios novamente.

— Então, se eu te convidasse para sair agora, você diria não dessa vez – porque
não quer sujar as água e tudo?

Cada parte do meu corpo queria sair com este homem... exceto a parte do meu
cérebro que investiu cinco anos no meu negócio. Eu simplesmente não conseguia
fazer isso.

Fiz uma careta.

— Quase não fui em frente com o Signature Scent por causa da confusão que fiz
com meu último parceiro de negócios.

— Você mencionou durante sua apresentação que tinha um parceiro, mas o


comprou.

Concordei.

— Sim, não deu certo.

Christian parecia esperar por mais explicações.


Suspirando, eu disse: — Meu noivo era meu parceiro. Quando ele se tornou meu
ex-noivo, comprei a parte dele.

Christian acenou com a cabeça.

— Ele também é químico de perfumes?

Zombei. — Definitivamente não. Jack é um poeta. Pelo menos é o que ele diz às
pessoas. Sua ocupação remunerada é ensinar inglês em uma faculdade
comunitária.

— Um poeta? Isso não soa como um parceiro de negócios muito útil.

— Ele não era. Ele não ajudou em nada com o desenvolvimento, mas contribuiu
com os fundos iniciais.

— O que veio primeiro? A parceria de negócios rompida ou o relacionamento


rompido? — Christian pegou um pedaço de camarão e o comeu.

— Hmmm... acho que o que veio primeiro foi ele fazendo sexo com alguém que
não era eu.

Christian começou a engasgar.

— Merda. Você está bem?

Ele estendeu a mão e falou com voz tensa.

— Sim. — Ele pegou sua garrafa de água e engoliu a comida. — Só me dê um


minuto.
Assim que seus olhos pararam de lacrimejar e ele estava com as vias respiratórias
abertas novamente, Christian balançou a cabeça. — Seu noivo estava dormindo
por aí?

Sorri tristemente. — Sim, mas tudo acabou dando certo – para o meu negócio, de
qualquer maneira.

— Como assim?

— Bem, eu não sei se eu teria chegado tão longe se Jack e eu não tivéssemos nos
separado.

— Por quê? A compra da parte dele não causou a tensão inicial em suas finanças?

— Sim. Jack contribuiu com cento e vinte e cinco mil dólares ao longo dos anos.
Então, o dinheiro que economizei para o resto do estoque inicial foi para comprá-
lo. Mas não tenho certeza se conseguiria ser lançado, mesmo se ainda tivesse todo
aquele dinheiro. Jack e eu éramos jovens quando nos conhecemos. Naquela época,
ele era muito encorajador e aos poucos começamos a depositar fundos juntos em
uma conta poupança conjunta. No início não era muito, mas com o passar dos anos
o dinheiro foi aumentando. E então, Jack começou a se interessar em usá-lo para
comprar propriedades de investimento. Provavelmente deveria ter sido um sinal de
alerta que ele não estava interessado em usá-lo para comprar uma casa para
morarmos juntos, embora tivéssemos namorado por anos e ainda não dividíssemos
um apartamento. Mas, de qualquer maneira, ele disse que as propriedades para
investimento eram menos arriscadas do que minha ideia de negócio. Ele sugeriu
que comprássemos uma propriedade e depois começássemos a economizar para a
Signature Scent. Christian franziu a testa.

— Seu ex parece um idiota de verdade.


Sorri. — Ele é. Mas muitas vezes eu o deixava me influenciar quando eu não
deveria. Alguns meses antes de nos separarmos, começamos a procurar imóveis
para alugar. Meu sonho não era o sonho dele, e eu estava prestes a desistir do meu
e aceitar o dele. Eu tinha um bom emprego e ele me fazia sentir egoísta por querer
ainda mais. — Pausei. — Nosso rompimento foi terrível por muitos motivos, mas
a única coisa boa que resultou disso foi que decidi retomar meu futuro.

Christian me contemplou por um momento.

Eventualmente, ele acenou com a cabeça. — Bom para você.

— Acho que sim.

— Embora eu ache que há mais de uma coisa boa que saiu da sua separação.

Minhas sobrancelhas se juntaram. — O que mais?

— Você não vai se casar com um idiota.

Eu ri. — Sim, acho que também tem isso.

Meu celular começou a tocar de seu lugar na mesa, e o nome de Ben apareceu na
tela. Peguei ele e apertei ignorar, mas não antes de Christian ler também o nome
de quem ligou.

— Se você precisa atender isso... — ele disse.

— Não. Está bem. Ligo para ele mais tarde.

Ele esperou alguns segundos e, quando não ofereci mais, ele inclinou a cabeça.

— Ben. É aquele cara com quem você estava no casamento?


Balancei minha cabeça. — Era Fisher.

— Certo. — Ele assentiu. — Fisher.

Mais uma vez, um silêncio constrangedor encheu o ar. Eventualmente, ele ergueu
uma sobrancelha curiosa.

— Irmão?

— Não. Não tenho nenhum. Somos apenas eu e uma irmã.

Quando eu mais uma vez não ofereci nada mais, Christian riu.

— Você vai me fazer perguntar, não é?

Sorri inocentemente.

Christian segurou meus olhos por alguns segundos antes de limpar a garganta.

— Por que não começamos? Posso explicar algumas das coisas que gostaria de
discutir enquanto você termina de comer. Christian parecia pronto para virar um
botão e seguir em frente, mas minha cabeça estava muito confusa agora. Ele
começou a cuspir números e datas e, enquanto eu assentia e fingia que estava
seguindo, tudo parecia entrar por um ouvido e sair pelo outro. Nem percebi que
ele havia parado para me perguntar algo até que olhei para cima e o encontrei
esperando por mim.

— Sinto muito. O que você perguntou?

Seus olhos se estreitaram.

— Você ouviu alguma coisa que eu disse?


Espetei meu garfo em um camarão e o enfiei na boca, apontando para os lábios
para mostrar que agora não era capaz de responder. Pensei que estava sendo fofa
e evitando sua pergunta, mas isso só fez Christian se perder em meus lábios.
Parecia que ele estava faminto, mas não de comida chinesa.

Minha barriga sentiu uma vibração familiar, e quando Christian lambeu os lábios,
essa vibração caiu mais. Terminei de mastigar e engoli, limpando minha garganta.

— Você acha que poderia repetir a pergunta?

Aquela pequena contração no canto da boca estava de volta. Se eu não o


conhecesse bem, poderia pensar que ele tinha um tique facial.

Fiquei aliviada quando Christian assentiu e começou a repetir o que estava


dizendo. Desta vez, fui capaz de me concentrar na maior parte disso. E fiquei
impressionada com o quanto ele tinha feito em tão pouco tempo.

Ele fez sua equipe de compras obter várias cotações em todos os meus materiais
de amostra e conseguiu economizar pelo menos cinco centavos por peça na maioria
dos itens. Não parecia muito, mas com cada caixa recebendo vinte amostras
diferentes, e os descontos de frete que seu poder de compra tinha em cima disso, o
total acabou sendo bastante significativo.

— Uau. — Recostei-me na cadeira e sorri. — Você é definitivamente melhor do


que Jack.

Seus olhos brilharam.

— A economia que você conseguiu quase cobrirá o custo de ter um sócio já no


primeiro ano. — Eu não sei o que dizer. E aqui eu pensei que tinha feito um bom
trabalho de negociação.
— Você fez. Muitas dessas economias vêm do pré-pagamento e da compra a
atacado, o que você não era capaz de fazer antes com suas restrições de fluxo de
caixa.

O telefone de Christian tocou um lembrete. A palavra Charlie apareceu na tela e


ele olhou para o relógio como se para verificar se a hora estava certa em seu
telefone.

— Eu não sabia que tinha ficado tão tarde. Você pode me dar licença por um
momento? Preciso ligar para minha filha para dizer boa noite.

— Claro.

Preciso correr para o banheiro feminino de qualquer maneira.

Depois de entrar no banheiro, voltei para a sala de conferências. Como Christian


estava quieto, não percebi imediatamente que ele ainda estava ao telefone.

Quando percebi, fiz sinal de que esperaria do lado de fora, mas ele acenou para
que eu entrasse. Então, me sentei e escutei um lado de sua conversa.

— Eu só estava brincando quando disse isso. Você não deveria ter repetido isso
para sua tia, Charlie.

Uma pausa e então ele fechou os olhos.

— Você contou para toda a sua classe sobre isso?

Isso me deixou intrigada.

— Ok, bem, tenho certeza que a professora entendeu que era uma piada, mesmo
que a mamãe e a tia Rachel não entendessem.
Christian olhou para mim. — Na verdade, diga à sua mãe que não tenho um minuto
agora. Ainda estou no trabalho. Vou falar com ela quando ligar amanhã à noite.

Pausa. — Amo você também.

Depois que ele desligou o telefone, ele balançou a cabeça.

— Tenho que lembrar que uma criança de seis anos nem sempre entende meu
senso de humor.

Eu sorri. — O que aconteceu?

— Minha ex-cunhada está grávida. Ela está prestes a explodir. Rachel faz minha
ex-mulher parecer uma bola de diversão. Nenhuma das duas tem senso de humor.
Na outra noite, Charlie me perguntou o que eu achei que poderia ser um bom nome
para seu primo que está para nascer. Não tenho ideia do motivo, mas disse a ela
que tia Rachel ia chamar o bebê de Mano e depois passei cinco minutos
convencendo-a de que era verdade quando ela duvidou de mim.

Minhas sobrancelhas saltaram.

— Mano?

— Eu estava obviamente brincando, mas então a entrega de comida interrompeu


nossa discussão, e acho que não disse a ela que não estava falando sério.

— E ela repetiu para a mãe? Acho que não deu muito certo.

Christian balançou a cabeça. — Fica pior. Alguns meses atrás, eu estava discutindo
com minha ex-mulher. Ela me disse para não dar mais sorvete à Charlie porque
sua irmã disse que ser intolerante à lactose era hereditário. Eu não tinha certeza se
isso era verdade ou não, mas Charlie definitivamente não é intolerante à lactose –
ela toma sorvete o suficiente para sabermos se ela fosse. Nós conversamos sobre a
irmã dela metendo o nariz novamente, e eu chamei Rachel de intolerante a
laughtose*. Após a discussão, eu nem me lembrava de ter dito isso até que Charlie
mencionou novamente. Eu não tinha ideia de que ela estava ouvindo. Mas ela
ouviu. — Ele respirou fundo. — Hoje foi a vez de Charlie mostrar e contar na aula,
e ela trouxe uma foto da última ultrassonografia do bebê de sua tia. Ela disse a
todos que seu novo primo se chamaria Mano, e quando a professora disse que
quem quer que tenha dito a ela que poderia estar brincando, Charlie disse que sua
tia não contava piadas porque ela era intolerante a laughtose...

(*Laughtose: Ele fez uma piada, laugh significa rir ou dar risada e ele quis dizer
que a ex cunhada e intolerante a risadas).

Cobri minha boca. — Oh meu Deus. Isso é terrivelmente hilário.

Christian sorriu. — É, não é?

Concordei. — Pena que minha ex-mulher perdeu o senso de humor há muito


tempo.

— Bem, se isso ajuda em alguma coisa, eu acho que é engraçado como o inferno.
A maioria das crianças definitivamente compartilha demais. Nos dez minutos em
que me sentei com Charlie outro dia, descobri que você foi à praia na semana
passada, uma vez ela teve uma dor de barriga em uma sorveteria e você escreve
piadas nas cascas de frutas em sua lancheira. A propósito, acho muito fofo que
você faça isso.
— Quando ela começou o jardim de infância, ela ficou muito ansiosa na hora do
almoço porque não sabia com quem se sentar. Escrevi a ela as notas para ajudá-la
a relaxar enquanto desempacotava sua comida. Meio que pegou.

— Eu amo isso.

Ele sorriu.

— Está ficando tarde. Por que não encerramos o dia e podemos reiniciar de onde
paramos amanhã? Eu gostaria que o departamento de marketing estivesse
envolvido quando chegarmos aos próximos tópicos de qualquer maneira.

— Oh, ok... Claro.

Voltamos para nossos respectivos escritórios.

Poucos minutos depois, Christian saiu e parou.

— Planos com Ben esta noite?

Sorri.

— Não.

— Bom. — Ele bateu os nós dos dedos contra o batente da porta. — Não fique até
muito tarde. Você é a última aqui, e o pessoal da limpeza já entrou e saiu, então
vou trancar a porta quando sair.

— Ok, obrigada. Só tenho mais algumas coisas que quero terminar antes de sair
também.

Ele assentiu e se virou para sair, mas deu um passo para trás.
— A propósito, ouvi você alto e claro antes, então não vou te chamar para sair de
novo.

O sorriso no meu rosto murchou.

— Oh... ok.

Ele piscou.

— Vou esperar você me perguntar desta vez. Boa noite, Ana.


Capítulo 17

Anastasia

Quando Christian saiu, minha concentração foi com ele. Mas eu precisava
trabalhar um pouco antes de voltar para casa. Haveria muito tempo para analisar
cada palavra que o homem disse mais tarde – talvez enquanto eu estivesse nua em
um banho quente ou enquanto me desestressasse com o vibrador que mantinha na
minha mesa de cabeceira.

No momento, eu precisava trabalhar na planilha que vinha procrastinando para


terminar o dia todo. Eu queria ter tudo pronto para repassar à equipe logo pela
manhã. Mas o Excel não era minha praia para começar, e estava ficando tarde.
Então, depois de abrir a planilha, apenas olhei para os números.

Incapaz de me concentrar, decidi tirar meus fones de ouvido da bolsa. A música


clássica sempre me ajudou a entrar no clima. Mas enquanto eu trabalhava, o
escritório começou a ficar muito quente. O ar condicionado devia estar com um
temporizador. Já que eu usaria qualquer desculpa para fazer uma pausa no trabalho
em uma planilha, decidi que precisava pegar um pouco de água fria no refeitório
no final do corredor.

"As Quatro Estações" de Vivaldi, tocava enquanto eu enchia meu copo grande com
gelo picado da porta da geladeira, e não pude evitar. Cada vez que o ouvia, fingia
ser o maestro.

Ninguém estava por perto, então que diabos?

Coloquei meu copo no balcão, fechei meus olhos e deixei a intensidade da música
guiar meus braços enquanto eles balançavam no ar. Nada aliviava minha mente
como liderar uma orquestra.
Fiquei tão envolvida no momento que me perdi.

Até... Senti alguém me agarrar por trás.

Assustada, eu me virei. Agindo puramente por instinto e adrenalina, cerrei meu


punho, inclinei-me para trás e balancei com todas as minhas forças.

Conectei-me com o que parecia ser uma parede de tijolos, embora eu não pudesse
ter certeza, já que meus olhos estavam bem fechados.

Mas então ouvi uma voz por cima da música.

— Foda-se. — ele rosnou.

E meu estômago embrulhou.

Não.

Simplesmente não.

Eu não poderia ter.

Por favor, querido Senhor, que seja qualquer um menos ele. Meus olhos se abriram
para confirmar o que eu já sabia.

Deus não estava ouvindo.

Porque eu acabei de acertar um soco bem no nariz...de Christian

Christian

— Que porra é essa! — Minhas mãos voaram até meu nariz.


— Oh meu Deus! Christian! Sinto muito. Você está bem?

Meus olhos começaram a lacrimejar, então presumi que fosse a umidade que
sentia. Até que tirei minhas mãos e percebi que estavam cobertas de sangue.

— Puta merda! Você está sangrando! — Anastasia pegou um rolo de toalhas de


papel do balcão. Arrancando um monte, ela os enrolou em uma bola e tentou enfiar
na minha cara.

Eu o tirei de suas mãos.

— Sinto muito. Eu... você... você me assustou!

Pressionei as toalhas de papel no meu nariz que jorrava. — Eu disse seu nome duas
vezes, mas você não respondeu.

Ela tirou um fone de ouvido sem fio da orelha. — Coloquei isso aqui e a música
estava alta.

Balancei minha cabeça. — Você estava agitando os braços – pensei que estava
sufocando.

Ana franziu a testa. — Eu estava regendo.

— Regendo?

— Sim, você sabe, fingindo ser o maestro em uma sinfonia.

Eu a encarei como se ela tivesse duas cabeças. — Não, eu não sei. Não é sempre
que conduzo uma sinfonia na cozinha do escritório.

— Bem, isso é uma pena. Você deveria tentar. É bom para a alma.
— Acho que vou pular essa tentativa, considerando o quão bem sua tentativa
acabou de funcionar. — Apontei para o rolo de papel toalha. — Você pode me
passar isso?

— Oh, Deus... ainda não está parando.

Troquei as toalhas de papel ensanguentadas por algumas novas. Anastasia


começou a ficar um pouco pálida.

— Você deveria se sentar.— ela disse. — Coloque sua cabeça para trás.

— Tenho certeza de que é você quem deveria estar sentada. Você parece um
fantasma. Sente-se, Ana.

Ela se segurou na mesa enquanto se sentava em uma cadeira. — Eu não gosto de


sangue. Isso me deixa enjoada. Talvez nós dois devêssemos sentar.

Já que não parecia que meu nariz planejava parar tão cedo, sentei-me em frente a
ela.

Ana continuou balançando a cabeça. — Desculpe-me. — Ela levou a mão ao peito.


— Eu não posso acreditar que bati em você. Foi uma reação instintiva. Eu nem vi
quem estava lá. Tudo aconteceu tão rápido.

— Está bem. É minha culpa. Eu deveria saber agora que você ficaria nervosa. E
você não sabia que eu voltei. Interpretei mal a situação.

— Você não deveria inclinar a cabeça para trás?


— Não. Essa é a última coisa que você deve fazer quando ficar com o nariz
sangrando. Você aperta a parte mole acima das narinas. Inclinar a cabeça para trás
só faz você engolir o sangue.

Seu rosto se enrugou e ela cobriu a boca. — Isso é nojento.

Pela primeira vez, percebi que os nós dos dedos dela estavam vermelhos. Dois
estavam começando a inchar. Levantei meu queixo e apontei. — Como está sua
mão?

— Oh... eu não tenho certeza. — Ela esticou os dedos e cerrou o punho antes de
abri-lo novamente. Não parecia que eles estavam quebrados. — Está dolorido, na
verdade. Acho que a adrenalina estava correndo por mim, então não senti isso até
agora.

Levantei-me e fui até a geladeira. O melhor que pude encontrar no freezer foi um
Lean Cuisine. Enrolei-o em uma toalha de papel e entreguei a ela. — Segure isso
contra os dedos.

Dez minutos depois, o sangramento do meu nariz finalmente começou a diminuir.


— Você tem um bom soco para uma coisa tão pequena.

Ela balançou a cabeça. — Ainda não consigo acreditar que fiz isso. Nunca bati em
ninguém na minha vida. Achei que estava sozinha no escritório.

— Fui embora. Mas esqueci uma coisa para uma reunião que tenho no Upper Side
da cidade amanhã de manhã, então voltei. Ouvi a máquina de gelo quando passei
pelo refeitório e percebi que você ainda estava aqui. Achei melhor avisá-la de que
ligaria o alarme ao sair, mas acho que você tem a segurança protegida com esse
gancho direito.
Ela sorriu, mas rapidamente se tornou uma carranca quando ela olhou para o meu
nariz. — Eu realmente sinto muito.

— Estou bem. O nariz sangra muito. Vou ao banheiro masculino me lavar antes
de sair. — Apontei meus olhos para a mão dela. — Tem certeza que está bem?

Stella tirou o gelo improvisado e flexionou os dedos. — Sim, vou ficar bem.

Fiquei de pé. — Não fique até muito tarde, Rocky.

♥♥♥

— O que diabos aconteceu com você? — Flynn recostou-se na cadeira com um


sorriso gigante no rosto.

O filho da puta estava gostando deste momento um pouco demais.

Esta manhã eu estava cuidando da minha vida normal, escovando os dentes,


quando olhei para o espelho e encontrei dois olhos negros refletidos de volta para
mim. Parecia muito pior do que era. Meu nariz não doía muito, a menos que eu
tocasse. Mas ambos os olhos estavam inchados, com anéis pretos e roxos abaixo
deles. Coloquei óculos escuros antes de sair de casa, então foi fácil esquecer o
problema – até que os tirei no escritório do meu amigo agora mesmo.

— Quem bateu em você? — Ele se inclinou para olhar mais de perto. — Quem
quer que seja fez um trabalho melhor do que eu naquela noite em que começamos
uma briga de bêbados para ver quem venceria uma briga de bêbados, se tivéssemos
uma. Eu mal deixei uma marca quando dei um soco em você, mas eu tive que levar
treze pontos quando você se levantou do chão e me socou de volta.

— A pessoa que fez isso foi definitivamente muito mais forte do que você.
— Quem era?

Eu sorri. — Ana... Seu merda.

As sobrancelhas de Flynn saltaram. — Uma mulher fez isso? Quem diabos é Ana?

— Lembra da mulher que te falei que conheci no casamento da Mia? Aquela que
cheirou os gins no bar? Ganhei duzentos dólares por ela ser capaz de identificar a
marca do gim ao cheirá-lo.

— A penetra?

— É essa mesma.

— OK. Então e ela?

— O nome dela é Anastasia.

O rosto de Flynn se enrugou. — Pensei que o nome daquela mulher era Evelyn.

Eu ainda não tinha contado ao meu amigo a merda que rolou desde o casamento,
embora eu realmente tivesse vindo hoje para discutir a Signature Scent. Flynn era
o vice-presidente de um dos maiores conglomerados de mídia – que por acaso era
dono da estação de televisão de compras em casa mais popular. Achei que talvez
ele pudesse me apresentar a alguns dos figurões de lá para discutir a possibilidade
de fazer com que o perfume de Ana fosse apresentado como produto em um de
seus programas.

— Ela estava invadindo um casamento, idiota. Ela não estava usando seu nome
verdadeiro.
— Ah, merda. Ok, isso faz sentido. Então, a garota farejadora gostosa é realmente
Ana.

— Está correto.

— E ela te deu um soco por quê...

Provavelmente seria mais fácil se eu fizesse backup e explicasse desde o início,


então o fiz. Começando pelo telefone perdido, falei do coração simpático de minha
irmã e finalmente terminei com o propósito da minha visita hoje.

Quando terminei, Flynn recostou-se na cadeira e coçou o queixo. — Você teve


muitos investimentos em empresas para as quais poderia ter usado minhas
conexões. Algumas vezes eu até disse que você era burro por não vir até mim. Sua
resposta é sempre que você não gosta de misturar negócios com amizade. O que
mudou?

— Nada.

Ele inclinou a cabeça. — No entanto, aqui está você...

— Estou pedindo uma apresentação, não para você se arriscar.

Flynn encolheu os ombros. — Você teve uma dúzia de produtos com os quais
poderia ter pedido minha ajuda ao longo dos anos. No entanto, este é o primeiro
sobre o qual você está sentado do outro lado da minha mesa. Quer saber o que eu
acho?

— Não dou a mínima para o que você pensa, então não.

Ele sorriu. — Acho que você gosta da farejadora e quer impressioná-la.


Por que diabos todos na minha vida me perguntam se eu quero saber o que eles
pensam e então quando eu digo não, eles me dizem mesmo assim?

Balancei minha cabeça. — Estou investindo financeiramente na empresa, idiota.

A última coisa que eu precisava era que Flynn soubesse que a mulher que me deu
dois olhos negros basicamente me amarrou. Ele ainda estaria explodindo minhas
bolas sobre isso quando estivermos fazendo apostas em nossas cadeiras de rodas.

— Você investiu em todas as empresas sobre as quais poderia ter me procurado.


— disse ele.

Revirei meus olhos. — Você vai me ajudar ou não?

— Sim, mas você sabe por quê?

— Porque, você me deve quatro mil favores?

— Talvez, mas não é por isso que vou fazer. Vou fazer isso porque faz muito tempo
que você não se esforça com uma mulher. Você está acostumado a simplesmente
entrar em um bar, mostrar aquele rosto bonito e fazer a escolha da ninhada para
casa. Isso é bom. Odeio passar tanto tempo com o marido da irmã de Alana. Ele é
um idiota.

— Estou perdido. O que o marido da irmã de sua esposa tem a ver com essa
conversa?

— Simples. Se você tivesse uma maldita namorada, poderíamos sair para jantar
com você e ela às vezes, em vez de Allison e Chuck. Quem diabos com menos de
sessenta anos se chama Chuck, afinal?
— Eu não vou sair com Ana. — Até ela pedir.

Flynn sorriu. — Veremos.

Meu melhor amigo pode ser um pé no saco, mas ele tinha ótimas conexões. Nas
duas horas seguintes, ele não apenas me apresentou ao chefe da equipe de compras
da rede de compras, como também me levou ao set para assistir ao final do show
que eles estavam gravando no momento. Quando ele terminou, ele conseguiu
convencer a famosa anfitriã sobre o conceito do Signature Scent e a fez convidar
Ana e eu para almoçar no dia seguinte.

— Muito obrigado pelas apresentações. — Apertei a mão de Flynn no saguão do


prédio. — Preciso voltar para o escritório, mas devo uma cerveja a você em breve.

Flynn sorriu. — Nah. Vamos deixar, pois você vai me impedir de ouvir mais
histórias de Chuck sobre joanetes. Ele não poderia ser, pelo menos, um
ginecologista em vez de um podólogo?

— Eu te ligo na próxima semana para aquela cerveja.

— Você quer dizer jantar comigo, Alana e Ana?

— Mais uma vez, não vou sair com Ana.

Flynn sorriu. — Veremos sobre isso...

Eu estava com uma mão na porta quando Flynn gritou de novo: — Talvez eu me
junte a você no almoço amanhã – para conhecer a nova melhor amiga da minha
esposa.
Capítulo 18

Christian

Ana bateu no batente da porta do meu escritório. — Ei, você tem um segundo? Eu
estava revisando esses relatórios que Andrea trouxe e... — Seus olhos se
arregalaram em pires quando olhei para cima. — Oh, meu Deus! Por favor, me
diga que não fiz isso?

Concordei. — Ok. Você não me deu dois olhos roxos. Tive uma briga com o garoto
na padaria do quarteirão. Ele escreveu meu nome errado no meu copo, e isso me
irritou.

— Mesmo?

— Não, claro que não. — Acenei minha mão em meu rosto. — Isso tudo é obra
sua, Rocky.

Seus olhos se fecharam. — Sinto muito. Eu me sinto absolutamente horrível. Isso


dói?

— Sim, estou com uma dor terrível.

— Oh Deus.

Ela parecia muito chateada, então eu tive que tirá-la de seu sofrimento. — Relaxe.
Estou brincando. Parece ruim, mas me sinto bem.

— Não acredito que fiz tudo isso.

— Como está sua mão?


Ela abriu e fechou. — Meus dedos estão doloridos, mas vou sobreviver. Sério,
Christian, sinto muito por ter batido em você. — Ana estava com um saco de papel
branco na outra mão e o estendeu para mim. — Aqui, pegue este muffin. Ainda
está quente. Acabei de pegá-lo na padaria do quarteirão.

Ela estava me oferecendo um muffin para compensar dois olhos roxos? — Sem
barras Hershey's?

Ela sorriu. — Na verdade, eu estou. Comi meu estoque de emergência ontem à


noite depois que você saiu. Isso é tudo que tenho a oferecer.

Eu ri e levantei a mão. — Eu estou bem. Obrigado de qualquer maneira.

— Por favor, pegue. Isso vai me fazer sentir melhor.

Esta mulher era alguma coisa. Ela caminhou até minha mesa e colocou a sacola no
canto.

Balancei minha cabeça. — Bem. Obrigado. Então, qual era a sua pergunta?

— Minha pergunta?

— Algo sobre os relatórios que Andrea trouxe?

— Ah, sim, tenho algumas perguntas sobre os pedidos de compra que Andrea me
pediu para aprovar. Você tem algum tempo? — Ela passou o dedo por cima do
ombro. — Posso voltar correndo ao meu escritório e pegá-los. Eu vim esta manhã,
mas você ainda não tinha chegado.
Olhei para o meu relógio. — Tenho uma ligação em alguns minutos. Não deve
demorar – talvez cerca de meia hora. Por que não passo no seu escritório quando
terminar.

— Isso seria bom. Vejo você em breve.

Depois que ela se afastou, olhei para a porta vazia por um minuto. Era só eu ou a
energia no escritório mudou desde que ela começou a trabalhar aqui? Eu tinha dois
olhos roxos e mais trabalho do que nunca, mas me sentia mais equilibrado do que
o normal.

Suspirei e voltei ao trabalho. Provavelmente foi apenas o golpe no rosto.

Depois que terminei minha ligação, desci para encontrar Ana. A porta do escritório
dela estava aberta, mas seu rosto estava quase todo escondido atrás de um enorme
buquê de flores coloridas em sua mesa. Seu nariz também estava enterrado em
papéis, então ela não me notou imediatamente.

— Belas flores. — Levantei uma sobrancelha. — Ken?

— Se você quer dizer Ben, então não. As flores são para o aniversário do meu
amigo.

— E você as trouxe ao invés de mandar pra ele?

Ela balançou a cabeça. — Hoje é o aniversário dele. Mas ele me mandou flores
porque não gosta de comemorar o dia. A mãe de Fisher faleceu há dois anos no
aniversário dele, então é um dia difícil para ele. Em vez de comemorar, parece que
agora ele me envia presentes.
Isso era incomum para a maioria das pessoas, mas parecia certo para Ana. — Você
está pronta para analisar os relatórios sobre os quais tinha dúvidas?

— Sim, por favor.

Sentei-me do outro lado de sua mesa. Enquanto ela se virava para vasculhar alguns
papéis no aparador atrás dela, meus olhos se fixaram em um livro de couro em uma
caixa aberta ao lado das flores – ou mais especificamente, a palavra gravada nele.

— Escrevendo suas fantasias sobre mim? — Perguntei. — Eu já disse que tudo


que você precisa fazer é me convidar para sair.

A testa de Ana se enrugou, então apontei meus olhos para o livro com a palavra
Diário na capa.

— Oh... não, isso não é meu. O mensageiro que entregou as flores trouxe. É outro
presente de Fisher.

— Você mantém um diário?

— Não, pertence a outra pessoa. Ou, pelo menos, pertencia. — Ela estendeu a mão
por cima da mesa e o agarrou, guardando-o em uma gaveta.

Como de costume, quando se tratava de Ana, eu estava perdido. — E você tem o


diário de outra pessoa por quê...

Ela suspirou. — Podemos simplesmente esquecer que você viu?

Balancei minha cabeça lentamente. — Sem chance.

Ana revirou os olhos. — Bem. Mas se eu te contar, você não pode tirar sarro de
mim.
Cruzei meus braços sobre meu peito. — Isso está ficando mais intrigante a cada
momento. Mal posso esperar para ouvir essa história.

— Não é uma história, realmente. É apenas um hobby meu.

— Escrever em diários?

— Não. Eu não escrevo neles. Eu os leio.

Minhas sobrancelhas se ergueram. — Como exatamente você encontra esses


diários? Você os rouba ou algo assim?

— Claro que não. Não sou uma ladra. Geralmente compro no eBay.

— Você compra o diário de outras pessoas no eBay?

Ela assentiu. — Há um grande mercado para eles, na verdade. Algumas pessoas


gostam de assistir reality shows. Prefiro ler meu drama. Ler o diário de alguém não
é tão diferente.

— Uh-huh...

— Não mesmo. Milhões de pessoas assistem aos programas Real Housewives e


Jersey Shore. É a mesma coisa, se você pensar sobre isso – pessoas lavando suas
roupas sujas e guardando segredos.

Cocei meu queixo. — Como exatamente alguém entra neste hobby?

Ela suspirou. — Quando eu tinha doze anos, fui a uma venda de garagem. Vi um
livro de couro marrom sobre uma mesa, então o peguei para cheirá-lo.

— Claro que você fez.


Ela estreitou os olhos. — Não interrompa ou não vou terminar minha história.

— Continue...

Nos cinco minutos seguintes, ela divagou sobre cheirar um diário em uma venda
de garagem, sua paixão por um garoto que jogava futebol e como ela não tinha
ideia de que o diário estava escrito quando ela o comprou. No momento em que
ela respirou, eu até sabia o quanto ela pagou pela maldita coisa quinze anos atrás.

Apenas continuei olhando para ela, tentando acompanhar e esperando-a ir direto


ao ponto. Embora Ana não parecesse notar. Então ela olhou para mim como se
quisesse ter certeza de que eu a estava seguindo. Então concordei. — OK...

— Percebi que tinha comprado um diário usado e não ia ler, mas a minha
curiosidade me dominou. Acontece que era um diário de trinta anos escrito por
uma garota um ano mais velha do que eu na época. Nas primeiras introduções, ela
escreveu sobre um garoto de quem gostou e seu primeiro beijo. Eu estava fisgada
e não conseguia parar. Li tudo em uma noite. Depois disso, verifiquei todas as
vendas de garagem que fui durante seis meses, tentando encontrar outro diário.
Mas nunca achei. Eu tinha praticamente esquecido os diários quando me deparei
com um no eBay alguns anos depois. Foi quando soube que havia um mercado
inteiro para diários usados. Tenho comprado desde então. A maioria das pessoas
assiste a um ou dois programas antes de ir para a cama. Gosto de ler uma escrita
ou duas por noite.

— Então, seu amigo comprou para você um diário usado de aniversário?

— Na verdade, eu comprei o diário. Mas está escrito em italiano. Fisher mandou


traduzir para mim no seu aniversário.
Processei isso por um momento. — Por curiosidade, quanto um diário como esse
custa no eBay?

— Varia. Se você comprar o diário de uma mulher, geralmente custará entre


cinquenta e cem dólares. Algumas pessoas vendem diários fotocopiados, esses são
mais baratos, pois podem vendê-los para várias pessoas. Diários originais do
século dezoito podem valer muito mais, e os diários dos homens, não importa a
idade, são sempre um prêmio.

— Masculino? Homens escrevem em diários?

— Alguns fazem. Mas eles são raros e podem ficar muito caros.

Fiquei pasmo. Existia um mundo inteiro do qual eu nada sabia. Levantei meu
queixo em direção à gaveta onde ela guardou o diário. — A quem pertence aquele
que você tem?

— O nome dele é Marco. Ele mora na Itália.

— Qual é a história dele?

— Ainda não tenho certeza. Não comecei a ler. Mas estou muito animada para
isso. Terei de ser rigorosa em relação a apenas ler uma página por noite, ou
terminarei de uma vez. Os diários italianos são os melhores. As pessoas lá são tão
apaixonadas por tudo.

— Se você diz. Você sabe que seu hobby é um pouco estranho, certo?

— Eu sei. Mas e daí? Isto me faz feliz.


Acertou em cheio o modo como algo tão simples poderia fazê-la feliz. Não havia
muito que tivesse feito isso por mim nos últimos anos desde meu divórcio – nem
mesmo as mulheres com quem eu saí. Talvez eu estivesse com um pouco de inveja.

Apesar de tudo, tínhamos trabalho a fazer. Então limpei minha garganta. — Por
que você não me mostra o queria discutir quando veio ao meu escritório?

Ana e eu respondemos às perguntas dela e corrigimos alguns erros que o


departamento de compras cometeu ao preparar os pedidos de produtos. Eu tinha
uma reunião à tarde para ir, então disse a ela para me avisar se precisasse de mais
alguma coisa e me levantei para sair.

Na porta, percebi que não tinha contado a ela as boas novas. — Quase esqueci... –
usei uma conexão para falar sobre o seu produto com os executivos de uma rede
de compras em casa.

— Mesmo? Eles gostaram?

— Muito, na verdade. Tanto o comprador principal quanto a apresentadora de um


dos programas adoraram o conceito. Eles querem ver pessoalmente. Robyn nos
convidou para almoçar amanhã. Espero que você não tenha planos.

Sua boca estava aberta. — Robyn? Tipo, Robyn Quinn? A rainha do Home
Shopping Channel?

— É essa mesma.

— Oh meu Deus! Isso é enorme! Como você pode ter vindo aqui e me deixar
balbuciar pela última hora e não mencionar isso antes?

— Acho que esqueci. Ouvir suas histórias faz meu cérebro perder força.
Ela balançou a cabeça. — Vou deixar isso passar e não socar você de novo, já que
marcou um compromisso que pode mudar minha vida.

Sorri. — Robyn vai me enviar um e-mail com o horário e detalhes. Vou


encaminhá-lo quando conseguir.

— Ok! Uau. Este está sendo um grande dia. Talvez eu tenha que comemorar lendo
duas escritas de Marco esta noite.

— Você é uma mulher realmente selvagem.

Ela encolheu os ombros. — Posso não ser, mas às vezes as pessoas em meu diário
são.
Capítulo 19

Anastasia

Dezessete meses atrás

— Podem ser eles.

Apontei para um casal sentado a poucos passos de onde estávamos almoçando nas
escadas da biblioteca. As sobrancelhas de Fisher franziram-se.

— Eles poderiam ser quem?

— Susannah e Jasper.

Sua testa enrugou. — O casal daquele novo diário que você está lendo? Aquele
que sua colega de quarto deu a você de aniversário?

Concordei.

— Foi muito gentil da parte dela.

— Eu nem tinha percebido que ela sabia que era meu aniversário, mas ela me deu
o diário mais incrível de presente. Estou obcecada com isso.

Fisher desembrulhou seu sanduíche e deu uma grande mordida.

Ele falou com a boca cheia. — Achei que você não soubesse o nome do namorado.

— Eu não. Mas decidi chamá-lo de Jasper, já que ela se refere a ele como J. Isso o
faz parecer mais real na minha cabeça quando penso neles.
— Querida, você sabe que te amo. Mas a maior parte da merda que se passa na sua
cabeça não é real.

Dei uma cotovelada nele de brincadeira. Ultimamente, comecei a vir sentar na


escada da biblioteca para almoçar – a escada exata onde grande parte da história
que estava passando no diário que eu estava lendo havia ocorrido. Eu gostava de
ler minhas listas diárias de anotações aqui e imaginar que algumas das pessoas
sentadas por perto eram as que estavam nas páginas em minhas mãos.

— Este diário é a melhor coisa que já li. Um dia, na semana passada, o marido de
Susannah voltou mais cedo do trabalho para ver como ela estava. Na noite anterior,
ela disse a ele que não estava se sentindo bem quando ele tentou começar a fazer
sexo. Mas a verdade era que ela fez sexo com Jasper apenas algumas horas antes,
então ela não gostava de sexo com seu próprio marido. Enfim... quando ele voltou
para casa para ver como ela estava, ela estava tirando uma soneca porque naquela
manhã ela tinha ido mais uma vez se encontrar com Jasper, e ela estava fisicamente
esgotada. Seu marido sempre trabalha até tarde, então ela não pensou nada sobre
deixar o telefone no balcão da cozinha carregando. Mas quando ele entrou, ele
pegou uma mensagem de texto aparecendo na tela dela. Era Jasper dizendo a ela
quando encontrá-lo no dia seguinte. Felizmente, ele estava apenas em seus
contatos do telefone como J. Quando o marido perguntou a ela sobre o texto, ela
disse que era relacionado a uma surpresa para o aniversário dele, e ele acreditou.
O pobre coitado ainda parece não ter noção do caso dela. Mas ela se tornou
paranoica sobre onde ela deixa seu telefone agora.

Fisher balançou a cabeça.

— Pobre rapaz? Você quer dizer pobre idiota.


— Eu sei. Sinto-me mal pelo marido dela. O casamento deles foi bem aqui na
biblioteca. — Estendi minhas mãos. — E agora ela às vezes encontra Jasper nestes
mesmos degraus para que eles possam transar no beco da esquina atrás de uma
lixeira. Eu não entendo. Ela parecia tão apaixonada pelo marido no ano passado,
antes do casamento.

Ele deu outra mordida em seu sanduíche.

— O quê? Você comprou vários volumes do diário dessa pessoa ou algo assim?
Um diário não abrange anos, certo?

— Este sim, porque ela não escreve nele com muita frequência. O tempo pula –
são meses entre as escritas em alguns pontos. Ela escreveu muito antes do
casamento, descrevendo tudo o que estava planejando. Mas então parou
principalmente depois. Acho que ela não teve nada de empolgante para escrever
por um ou dois anos... até que começou a dormir com o amigo do marido.

— É melhor você ir devagar. Parece que você vai ter que ter um afastamento dos
diários depois de terminar esse.

— Eu sei. É porque a mulher a quem pertencia e todos sobre quem ela escreve
estão aqui na cidade. Nunca li um diário local antes, muito menos um que se passa
na mesma rua do meu trabalho. Faz com que tudo pareça tão real – como se
estivesse acontecendo agora, em vez de quando ela escreveu. Não consigo parar
de pensar nas pessoas da história e de me perguntar se não estou passando por uma
delas. Outro dia eu estava no Starbucks e o crachá do barista dizia Jasper. Deixei
cair meu café com leite gelado no chão porque fiquei tão animada, pensando que
poderia ser ele. Fiquei sentada dentro da loja até ele terminar seu turno. Felizmente,
seu namorado veio buscá-lo, então isso o descartou como amante da mulher do
diário.

— O barista era fofo?

— Ele era, na verdade. Mas eu estava perseguindo um homem porque seu nome
era Jasper! Eu nem sei o nome verdadeiro do cara com quem a mulher do meu
diário estava tendo um caso.

— Que Starbucks era? Um barista gay gostoso parece mais meu tipo do que o seu.

Eu ri. — Sério, Fisher. O que eu faria depois de esperar duas horas para que aquele
pobre rapaz saísse do trabalho? Segui-lo todo o caminho para casa?

— Você está começando a parecer um pouco obcecada.

Suspirei. — Isso é o que Jack disse. Recentemente, tivemos uma briga porque meu
telefone estava descarregado, eu tinha esquecido de colocá-lo no carregador e,
quando fui procurar o celular dele para mandar uma mensagem para você dizendo
que chegaria atrasada para o jantar, percebi que ele nunca mais deixa o telefone
por perto. Isso me deixou desconfiada por causa do quão paranoica Susannah é
sobre ser pega, e Jack e eu acabamos discutindo. Ele não fez nada de errado.

Fisher balançou a cabeça. — Talvez você deva fazer uma pausa na leitura.

Finalmente abri o recipiente de salada que fiz para o almoço.

Enfiando um garfo nele, suspirei.

— Sim, talvez você esteja certo.

Fisher bufou e riu. — Você é tão cheia de merda.


Capítulo 20

Christian

Nosso almoço havia se transformado em uma festa. Robyn, a apresentadora do


programa, convidou seu coapresentador e produtor do segmento, o comprador
principal estava trazendo alguém junto, e Flynn também decidiu nos agraciar com
sua presença. Com tantas pessoas, e Ana querendo levar caixas de amostra para
todos, dirigi para tornar mais fácil.

Meu carro estava estacionado em uma garagem a alguns quarteirões do escritório,


então saí mais cedo e disse à Ana que me encontrasse lá embaixo em quinze
minutos. Ela estava esperando na frente do prédio quando parei no semáforo na
esquina. Isso me deu a chance de observá-la sem que ela soubesse.

Dois grandes vasos de flores ficavam de cada lado da entrada principal do


escritório. Eles eram velhos barris de vinho e eu nunca tinha pensado muito neles,
embora eu passasse por eles todos os dias, a não ser para perceber que a
manutenção do prédio trocava as flores de vez em quando.

Observei à distância Ana olhar em volta, quase como se para ver se alguém estava
prestando atenção, e então se inclinou. Achei que ela fosse sentir o cheiro das
flores, mas ela se abaixou e levou o nariz até o barril embaixo.

Ela acabou de cheirar o barril?

Ri para mim mesmo com o quão maluca ela era.

Sempre que eu pensava que sabia o que ela ia dizer ou fazer, rapidamente descobria
que minha suposição estava errada. Era estranhamente refrescante.
Cinco minutos depois de conhecer a maioria das mulheres, eu poderia adivinhar a
salada que elas pediriam, ou que ioga ou tênis eram seus passatempos prediletos.
Mas não Ana – não havia nada de padrão sobre ela. Ela foi até o vaso de flores do
outro lado da porta e novamente verificou se a área estava limpa antes de entrar
para cheirar. Só que desta vez, ela não dobrou os joelhos. Ela se dobrou ao meio
na cintura. O que me deu uma visão desobstruída de sua bunda – sua bunda
fenomenal.

Ótimo.

Simplesmente ótimo.

Apertei o acelerador assim que o sinal mudou e parei na frente do prédio. Trouxe
as caixas para o saguão antes de ir para o estacionamento, então saí e entrei.

— Por que você não entra, já que estou estacionado em fila dupla, e vou pegar as
coisas da segurança? — Eu disse a ela enquanto passava.

— Oh... ok.

Depois de terminar de carregar o porta-malas, fechei-o com força e esperei que o


tráfego diminuísse o suficiente para poder abrir a porta do motorista e entrar sem
ser atropelado.

— Obrigada por cuidar disso. — disse Ana.

— Temos uma hora antes de chegarmos ao restaurante, mas provavelmente vai


demorar quase tanto tempo com esse tráfego. — Olhando por cima do meu ombro,
demorou um pouco antes que houvesse uma lacuna nos carros grande o suficiente
para me afastar do meio-fio.
Ana fungou algumas vezes.

— Isso é novo?

Meu carro tinha na verdade três anos, mas parecia novo porque eu não dirigia
muito.

— Tem alguns anos.

— Ainda tem aquele cheiro de carro novo.

— Oh sim? Você gosta mais desse cheiro do que dos vasos de flores fora do
escritório?

Ana suspirou.

— Você viu isso, hein?

— Sim, sim.

— Eu estava curiosa para saber se eles eram realmente barris envelhecidos que
foram usados para vinho.

— E eles eram?

— Não tenho certeza. Tudo o que eu podia sentir era o cheiro de terra.

Sorri. — Grandes quantidades de solo tendem a cheirar assim.

— Que tipo de carro é esse? O interior é tão bonito.

— É um Maybach S 650.
— É um carro impressionante?

— Não sei. Diga-me você. Você está impressionada?

Ela sorriu. — Na verdade não. Não dirijo, então não sei muito sobre carros.

— Quer dizer que você não tem carro porque mora aqui na cidade?

— Não, quero dizer, não tenho carteira de motorista. Tive uma licença uma vez, e
meu ex tentou me ensinar anos atrás, mas bati em um hidrante virando uma esquina
e, bem, isso foi o fim de tudo.

Avançamos lentamente em nosso caminho para o Upper Side da cidade. A certa


altura, um carro apareceu do nada e me cortou, então tive que pisar no freio. Ana
e eu estávamos usando os cintos de segurança, então estávamos bem, mas a bolsa
dela voou do banco e caiu no chão. Ela caiu de cabeça para baixo e, quando ela foi
pegá-la, o conteúdo se espalhou por todo o lugar.

— Desculpe por isso. — eu disse.

Quando ela se inclinou para pegar seus pertences, notei a caixa com o diário de
ontem.

— Minha ex-mulher costumava escrever em um desses de vez em quando. Eu a


encontrava escrevendo depois de discutirmos. Certeza que tudo que ela fez era
reclamar. Não é principalmente para isso que as pessoas usam isso? Desabafar?

— Às vezes eles são assim. — disse Ana. Ela endireitou o livro na caixa e colocou
a tampa de volta. — Consegui alguns desses. O vendedor geralmente publica
algumas capturas de tela das páginas para fornecer uma amostra. Isso me ajuda a
descartar muito, mas às vezes você não pode dizer a partir de apenas um pequeno
trecho.

— Você começou a ler os segredos de Nico?

— É o Marco, e sim, eu fiz.

— Bem... como foi?

Ana suspirou.

— Li quase metade do diário em uma noite.

Eu ri. — Isso é bom, hein?

Ela levou a mão ao peito.

— Ele está apaixonado por uma mulher mais velha. Amália é dezenove anos mais
velha que ele e bibliotecária do pequeno vilarejo onde moram. Ele é produtor de
uvas. Ela acha que é apenas paixão e vai passar, mas ele soa como se estivesse
louco por ela. Ele está pensando em trazer outra mulher, na esperança de despertar
algum ciúme para fazê-la admitir que tem sentimentos por ele também. Mas estou
preocupada que o tiro saia pela culatra e a afaste ainda mais.

— Acho que Amelia, ou qualquer que seja o nome dela, provavelmente está certa.
Marco é apenas um garoto com tesão. Isso vai passar. Todo jovem tem fantasias
com uma bibliotecária gostosa em algum momento. Ele não está apaixonado por
ela. Ele está com luxúria.

— Você nem leu o diário. Como você pode saber como ele se sente?

Dei de ombros.
— A maioria dos relacionamentos termina no mesmo lugar de qualquer maneira.

— Alguém é extremamente cínico...

— Não sou cínico; sou realista. Mesmo se eles ficarem juntos, quais você acha que
são as chances de um cara de quarenta anos não procurar em outro lugar quando
sua noiva bibliotecária tiver sessenta?

— Não quando ele a ama tanto quanto Marco ama Amália.

Zombei. — Tudo começa como diversão e jogos...

— Tanto faz.

— Você disse que seu ex estava dormindo com outra pessoa. E ainda assim você
acredita em contos de fadas?

— Só porque fui queimada não significa que não acredito no amor. Fiquei arrasada
quando Jack e eu terminamos. Levei muito tempo para seguir em frente e encontrar
a felicidade novamente. Caramba, ainda estou trabalhando para encontrar minha
felicidade. Mas uma das coisas que mantém meu ânimo é acreditar que todos nós
devemos ter um futuro feliz. O meu simplesmente não era para ser com Jack.

Meus olhos brilharam para os dela e depois de volta para a estrada.

— Qualquer coisa que você diga...

— Se você é tão amargo sobre relacionamentos, por que me convidou para sair?

— Tenho que permanecer celibatário só porque não acho que tudo termina em
corações e rosas?
— Oh. — Ela revirou os olhos. — Então você só queria transar. Estou feliz por
termos esclarecido isso. Na verdade, prefiro conhecer alguém e passar um tempo
com ele, além da intimidade física.

— Não coloque palavras na minha boca. Também gosto de passar tempo com uma
mulher. Às vezes, apenas temos expectativas diferentes de onde as coisas vão
acabar.

Ana balançou a cabeça. — Você sabe do que você precisa? Experimentar meu
sistema de felicidade.

— Seu sistema de felicidade?

Ana assentiu. — Eu sei, precisa de um nome melhor.

Resmunguei. — Posso pensar em alguns.

— Eu ouvi isso, mas estou optando por ignorar. De qualquer forma, quando estava
lutando e me sentindo mal-humorada o tempo todo, fiz uma lista de coisas que me
deixam feliz. Coisas pequenas – não coisas que estavam fora do meu alcance e
difíceis de realizar. Por exemplo, tento elogiar alguém todos os dias. Isso pode não
parecer muito, mas faz com que você encontre algo de bom em, pelo menos, uma
pessoa a cada dia. Depois de um tempo, isso ajuda a mudar sua mentalidade. Outra
coisa que faço é reservar dez minutos para meditar todas as manhãs. Também vejo
o nascer ou o pôr do sol pelo menos uma vez por semana. E tento fazer algo que
nunca fiz antes a cada fim de semana.

Eu sorri. — Se precisar de ajuda para fazer algo que nunca fez neste fim de semana,
é só me avisar.

Ela revirou os olhos. — Alguma coisa, não alguém.


Eu ri. — Nossos sistemas de felicidade devem funcionar de maneira um pouco
diferente.

O trânsito estava mais leve e já estávamos na metade do caminho para o


restaurante.

— Por mais fascinante que seja esta conversa, por que não te conto sobre a rede
antes de irmos almoçar? Estaremos no restaurante em breve.

— Eu já li.

— Está bem então. Diga-me o que você sabe.

Ana começou a recitar fatos sobre a propriedade da rede, estatísticas sobre os tipos
de produtos que vendiam, quais eram seus itens de melhor e pior desempenho e as
qualidades que procuravam nos parceiros. Em seguida, ela detalhou informações
pessoais e profissionais sobre o anfitrião e o coanfitrião. Ela fez mais lição de casa
do que eu.

— Você é minuciosa. — eu disse.

— Obrigada.

Paramos em um sinal vermelho e Ana se mexeu na cadeira. Ela descruzou as


pernas e as cruzou novamente na direção oposta. Tinha sido inocente o suficiente,
provavelmente feito um esforço para ficar mais confortável, já que estávamos
sentados no carro por um tempo agora, mas o jeito que meus olhos cobiçaram sua
coxa exposta era tudo menos inocente.

Sistema de felicidade.
Um pequeno ato de cruzar as pernas funcionou para mim.

Por que as mulheres sempre têm que complicar demais essas merdas?
Capítulo 21

Christian

Quem era a mulher que sentei ao lado no almoço?

A mesma mulher que passou quinze minutos me contando todos os detalhes de


uma venda de garagem que ela foi aos doze anos, quando tudo que perguntei foi
como ela começou a ler diários usados, a mesma mulher que estava cheirando
barris apenas algumas horas atrás, havia se transformado em uma mulher de
negócios astuta.

Em vez de divagar com histórias, ela ouviu – realmente ouviu – e rapidamente


encontrou o ponto fraco de cada um dos principais jogadores no almoço. Em
seguida, ela sutilmente direcionou a conversa para essas áreas quando falou. Ela
tinha figurões da rede comendo na palma da sua mão. Robyn Quinn até a convidou
para um almoço de liderança feminina para falar sobre como ela pegou uma ideia
e a transformou em um negócio inovador.

O manobrista trouxe meu carro primeiro, então apertei a mão do grupo. Stella
recebeu abraços das mulheres. Assim que voltamos para a estrada, ela olhou para
mim.

— Então... vá em frente. Diga-me o que fiz de errado.

Olhei para ela e de volta para o tráfego à minha frente.

— Errado? O que te faz pensar que fez algo errado?

— Você está quieto.

— Então?
— Você geralmente fica quieto e fica olhando para mim antes de dizer algo
sarcástico. Mas você está dirigindo, então seus olhos estão presos na estrada.

— Na verdade, eu estava pensando em como o almoço foi bem. Você fez um ótimo
trabalho. Posso ter feito a apresentação, mas você selou o acordo.

Da minha visão periférica, vi Stella piscar algumas vezes.

— Isso foi... um elogio? Você está testando meu sistema de felicidade?

Paramos em um semáforo, então olhei para ela.

— Definitivamente não. Embora eu seja capaz de elogios quando for devido.

Seus lábios se curvaram em um sorriso adorável.

— Fui bem, não fui?

— Já te dei um elogio, não vamos pescar outro tão cedo.

Ela riu. — Tudo bem. Acho que vou pegar o que puder.

***

Três dias depois, minha assistente entrou no meu escritório.

— Flynn está na linha para você.

— Obrigado.

Recostei-me na cadeira e peguei o telefone.

— Sei que ainda te devo uma cerveja, mas são apenas oito da manhã.
Flynn riu. — Como se não tivéssemos bebido cerveja no café da manhã antes.

Eu sorri. — Isso foi há muitos anos.

— Fale por você mesmo. Você não foi à despedida de solteiro de Frank alguns
meses atrás.

Eu ri. — O que está acontecendo?

— Tenho algumas notícias que devem render a você muitos pontos com sua
namorada.

Eu sabia exatamente a quem ele estava se referindo, mas disse: — Não há nenhuma
mulher na minha vida no momento. Além disso, se houvesse, eu não precisaria da
sua bunda para me ajudar a ganhar pontos com ela.

— Então você não deve querer ouvir as notícias...

— Fale logo. E aí?

— Há boas e más notícias. A boa notícia é que o novo Steamer-Beamer – algum


tipo de engenhoca que permite tirar as rugas das roupas enquanto as usa – causou
queimaduras de segundo grau em um de nossos produtores.

— Alguém com quem você trabalha se queimou? Essa é a boa notícia? Vou odiar
ouvir as más notícias.

— Obviamente é uma má notícia para aquele cara. Mas é uma boa notícia para
você. O Home Shopping Channel teve que arrancar o Steamer-Beamer de seu local
programado, e isso significa que eles têm uma vaga para um produto com algum
tempo de transmissão imediato.
— Oh sim? Acha que a Signature Scent pode ter uma chance?

— Melhor do que uma chance. O espaço é seu se você puder ficar pronto mais
rápido do que o planejado originalmente. O lançamento foi definido para nove
semanas a partir de agora, mas poderíamos definitivamente acelerar um pouco as
coisas, se necessário.

— Sem problemas. Quando precisaríamos estar prontos?

— Essas são as más notícias. Você teria que estar pronto na próxima semana.

— Semana que vem? — Balancei minha cabeça. — Isso é impossível.

— Bem, o show seria filmado então. Ele iria ao ar no fim de semana seguinte. Mas
eles estimam duas a quatro semanas para a entrega. Então, você teria algum tempo
para colocar as mercadorias no mercado.

Soltei um suspiro profundo. — Não sei se podemos acelerar tanto as coisas.

— Já mencionei o volume que eles estão prevendo?

— Não, do que estamos falando?

Demorava muito para fazer meu queixo cair, mas o número que saiu da boca de
Flynn me deixou pegando moscas.

— Jesus. Isso é mais do que prevíamos vendendo durante todo o primeiro ano.

— As mulheres comem os produtos que vendem naquele canal. Robyn precisa de


uma resposta dentro de uma hora. Se você não puder fazer isso, ela tem uma lista
de pessoas ansiosas com produtos que podem. Então é melhor você descobrir essa
merda.
Capítulo 22

Christian

— Sério? Eles acham que podem vender isso tudo? — Anastasia sentou-se, como
se o número fosse grande demais para digerir em pé.

— De acordo com Flynn, a previsão de vendas deles é bastante precisa. Eles


conhecem seu público e seu poder de compra.

— Meu Deus. Isso é louco. Mas não podemos estar prontos tão cedo.

— Sim, nós podemos! — Mia entrou na conversa. — Não temos escolha. Esta é
uma oportunidade única na vida. Temos que estar prontos.

Ana levou a mão à testa. — Mas como? Acabamos de encomendar alguns dos
produtos de que precisamos e eles vêm do exterior. Só o transporte leva quase dois
meses. Não teremos nada pronto na próxima semana.

— Bem, temos mais tempo do que na próxima semana. — eu disse. — O programa


seria filmado na próxima semana, mas iria ao ar no sábado seguinte. Em seguida,
eles permitem duas a quatro semanas para o envio. Portanto, poderíamos esticar
isso antes de começar a enviar os produtos. Teríamos que acelerar as coisas que
estão faltando – colocá-las em um avião em vez de um navio. Ou encontrar
fornecedores locais para começar a enviar até que todo o estoque chegue. Talvez
os dois.

Ana balançou a cabeça. — Isso tudo vai custar muito caro.

— Poderíamos aumentar o preço para ajudar a compensar. — disse Mia.

Ana parecia cética.


— Eu não sei. O perfume é realmente sensível ao preço quando você não é uma
marca bem conhecida ou não tem o apoio de uma celebridade.

— O canal de compras vende seus produtos em um plano de três pagamentos. —


disse Mia. — Portanto, os itens não são tão sensíveis ao preço como normalmente
são. Algo que cinquenta e nove vírgula noventa e nove pode ser difícil de engolir,
mas quando se torna três pagamentos fáceis de dezenove e noventa e nove, é muito
mais acessível para o consumidor.

— Bem, se vocês acham que podemos fazer funcionar, é obviamente uma


oportunidade incrível. — disse Ana. — Talvez podemos dar a resposta ou então
descobrir o que seria necessário para que isso acontecesse?

Balancei minha cabeça. — Não temos um dia. Eles precisam de uma resposta mais
cedo.

— Quanto mais cedo? — Ana perguntou.

Olhei para o meu relógio. — Temos cerca de cinquenta minutos restantes.

Nós nos reunimos novamente na sala de conferências cinco minutos antes de eu


ligar de volta para Flynn com uma decisão.

Ana jogou um bloco de notas com merda rabiscada sobre a mesa.

— Posso obter metade do que precisamos de fornecedores locais, com exceção de


dois itens – calone e ambreta. O preço é muito mais alto, mas se comprarmos em
atacado, na verdade não será tão terrível quanto pensei que seria. E o laboratório
está disponível para misturar os ingredientes assim que os pedidos chegarem. Com
esse tipo de volume, pode levar alguns dias para atender aos pedidos, mas é
possível dentro do tempo de resposta.
Concordei.

— Posso obter os dois itens que você não pode obter localmente com muito pouca
diferença de preço, aumentando o tamanho do pedido.

— Nós dois olhamos para Mia.

Ela sorriu. — O impressor disse que pode operar as impressoras a noite toda, se
for preciso. Ele só precisa de um aviso de vinte e quatro horas para a equipe e,
claro, nossos arquivos PDF finalizados, que não estão prontos, mas podem estar
em breve. E o site não é um problema. A equipe estava trabalhando em algumas
coisas cosméticas, mas poderíamos ir ao ar em uma hora, se necessário.

Ana não conseguiu esconder a emoção em seu rosto.

— Oh meu Deus, nós realmente vamos fazer isso?

— Parece que sim. — eu disse. — Embora eu tenha esquecido de mencionar um


pequeno detalhe.

— O quê?

— Eles querem você na TV para vender o produto com Robyn.

Seus olhos se arregalaram. — Eu? Na TV? Eu nunca fiz isso antes.

— Acho que há uma primeira vez para tudo. — Eu sorri. — Você poderá fazer
bom uso do seu sistema de felicidade.
Capítulo 23

Christian

— Ela é gostosa pra caralho.

A cabeça de Flynn moveu-se junto com as pernas de Ana enquanto ela entrava no
palco. Ela se curvou para que o cara do som pudesse conectar seus microfones, e
não dei a ele a chance de dizer mais nada. Minha mandíbula flexionou.

— Não seja desrespeitoso, seu idiota.

Ele zombou. — O quê? Como se você não estivesse olhando para aquela bunda
agora?

Não respondi.

— Bela bunda também.

Um ruído gorgolejou da minha garganta.

Flynn se virou com um sorriso malicioso estampado no rosto.

— Você acabou de rosnar para mim?

— Cale-se.

— Admita. Você não me quer olhando porque gosta dela. Você já é territorial sobre
essa mina.

— Essa mina? Voltamos a 1985 aqui no estúdio? Você se refere a seus


funcionários assim?
— Pare de desviar. Você gosta dessa mulher e sabe disso.

Flynn pode ser vice-presidente de uma grande empresa agora, mas partes dele
estavam eternamente presas na sexta série. Eu sabia que se não desse algo a ele,
ele nunca calaria a boca. Então tentei acalmá-lo.

— Ela acabou se revelando uma trabalhadora e uma boa pessoa, sim.

— Então você não acha que ela é gostosa?

Revirei meus olhos. — Ela é atraente, sim.

— Mas você não quer transar com ela?

— Ana e eu temos uma relação comercial.

— Oh... então é o relacionamento comercial que é o problema? Então, se você não


tivesse negócios com ela, tentaria transar com ela?

— Estou farto desta conversa.

Flynn enfiou as mãos nos bolsos e encolheu os ombros.

— Ok. Então você não se importa se eu trouxer Sawyer para conhecê-la, então?

— Sawyer?

— Fenway. Você se lembra dele da faculdade, certo? Alto, bonito – provavelmente


o único que lhe deu uma chance para ganhar seu dinheiro naquela época. Ele
trabalha aqui agora. Parece o mesmo, exceto pelos músculos. Ainda solteiro...

— Foda-se.— eu disse.
Ele sorriu. — Isso foi o que pensei.

Pouco depois, Flynn olhou para o relógio.

— Tenho uma reunião. Você vai esperar a gravação?

— Sim. Mia não pôde estar aqui, então eu disse a ela que viria.

— Eles provavelmente vão demorar algumas horas.

Levantei meu telefone. — Tenho muito o que fazer para me manter ocupado.

Ele se levantou e bateu no meu ombro. — Tenho certeza que sim. Mas eu apostaria
minha conta bancária que você não vai tirar os olhos daquele palco.

Foi uma coisa boa eu não ter feito essa aposta – não que eu jamais admitisse que
passei as últimas três fodidas horas assistindo cada movimento de Ana no palco.
Quando Flynn me disse que queriam Ana no ar, uma parte de mim não tinha
certeza se era uma jogada de negócios inteligente. Claro, ela era linda e a câmera
provavelmente a adoraria, mas ela não tinha experiência. Embora depois de sentar
ao redor nas últimas horas e observá-la, entendi completamente o que a anfitriã
tinha visto que a fez querer que Ana fizesse parte do campo.

Ela era apaixonada e engraçada, e tinha uma qualidade inocente que fazia você
acreditar em tudo que ela dizia lá – como se ela fosse muito saudável para mentir.
Inferno, eu queria comprar aquele perfume maldito e possuir parte da empresa.

Pouco depois das cinco horas, eles finalmente encerraram as filmagens. Ana
conversou com a anfitriã e a equipe por um tempo, depois se virou para olhar para
a plateia. Ela colocou as mãos sobre as sobrancelhas, protegendo os olhos da luz
do teto. Encontrando-me ainda sentado na quarta fileira de trás, ela sorriu e se
dirigiu para as escadas ao lado do palco.

Levantei-me e desci o corredor para encontrá-la.

— Oh meu Deus. — disse ela. — Aquilo foi muito divertido!

— Você parecia estar se divertindo.

— Espero não parecer uma estranha. — Ela ergueu as mãos e mexeu os dedos. —
Senti-me... como se tivesse sido eletrocutada ou algo assim. Não de uma forma
que cozinhe seus órgãos, mas como um choque ininterrupto de energia correndo
pelo meu corpo.

Eu ri. — Você foi ótima – divertida, mas sincera.

Virei-me ao som da porta do palco atrás de nós abrindo e fechando. Flynn estava
de volta, e o filho da puta não estava sozinho. Eu ia chutar seu traseiro esquelético.

Ele se aproximou, exibindo o maior sorriso exultante.

— Christian, você se lembra do Sawyer, certo?

Cerrei meus dentes e estendi minha mão. — Lembro. Como está indo, Sawyer?

Ainda estávamos apertando as mãos quando os olhos do idiota se fixaram em Ana.


Ele não conseguia soltar minha mão rápido o suficiente.

— Não acho que nos conhecemos. Sawyer Fenway.

Ana sorriu. — Fenway como o estádio?


— Primeiro e único. Você já esteve lá?

— Na verdade, não.

— Talvez eu possa levar você algum dia.

Sério? Ele estava na sala há menos de trinta segundos e já estava dando em cima
dela?

Quanto tempo até que ele mijasse nela como se ela fosse um hidrante?

Flynn me deu uma olhada e balançou para frente e para trás nos calcanhares. Ele
parecia muito orgulhoso de si mesmo.

— Isso soa como um encontro divertido. Você não acha, Christian?

Olhei para ele. — Sou um fã dos Yankees.

— Vi Robyn no meu caminho de volta. Ela quer nos ver. — Flynn apontou para a
porta pela qual acabara de passar. — Ela está em seu escritório. Fica no final do
corredor.

— Ok. — Não poderia dizer que estava chateado por me despedir de Sawyer tão
cedo. Balancei a cabeça para ele. — Bom ver você. — Estendi a mão para Ana. —
Depois de você...

Flynn abanou a cabeça. — Na verdade, ela só pediu para ver você e eu, Christian.
Ana pode ficar aqui atrás. Tenho certeza que Sawyer pode lhe fazer companhia.

Sawyer deu um sorriso que eu queria socar.

— Absolutamente.
No minuto em que saímos no corredor, Flynn cutucou o urso.

— Sawyer parece bem, não é?

Olhei em resposta.

— Eles formam um casal fofo, ele e Ana.

— Você fez o seu ponto. Agora vá dizer a ele para voltar ao trabalho.

Flynn sorriu. — Não posso fazer isso. Ele não trabalha para mim.

Felizmente para o meu amigo, Robyn saiu de seu escritório.

— Aí está você. Tenho boas notícias para compartilhar.

Tive que colocar uma cara feliz quando tudo que eu queria era matar meu amigo e
usar seu corpo flácido como um morcego para nocautear o garoto bonito que estava
no estúdio.

— Estamos aqui e você acabou de arrasar no palco, gravando o comercial do


Signature Scent. — disse Flynn. — Acho que já estamos dando boas notícias.

Robyn me entregou um pacote de papéis. — Normalmente testamos produtos em


potencial com um grupo de foco antes de contratá-los – para ver se eles atraem
nosso público conhecido e para descobrir o que eles mais querem saber sobre o
produto. Não tínhamos tempo para isso com o Signature Scent, já que era um
acréscimo de última hora, mas tínhamos um grupo aqui hoje para outro projeto.
Pedi a Mike, o produtor do segmento, que apresentasse alguns minutos do que
gravamos no início do dia e está bombando. Acho que precisamos aumentar nossa
previsão de vendas.
Olhei para os números. Ela não estava brincando.

PESQUISA:

Qual a probabilidade de você comprar o produto – 94%: extremamente provável.

Você encontrou um produto semelhante em algum outro lugar – 0%: produto


único.

Quão identificável foi o anfitrião convidado – 92%: identificável.

E assim por diante – três páginas de números realmente notáveis.

Folheei, examinando todos eles.

— Isso é... — Balancei minha cabeça. — É incrível.

— Você sabe o que mais é? — Disse Flynn..

Nós dois olhamos para ele.

— Motivo de celebração.
Capítulo 24

Christian

Naquela noite, Ana e eu dirigimos juntos para o restaurante. Robyn e Flynn nos
encontrariam lá, e estávamos dez minutos adiantados e os primeiros a chegar.

— Uma bebida no bar? — Perguntei a ela.

— Isso parece ótimo.

Dissemos à recepcionista para onde íamos e encontramos dois banquinhos um ao


lado do outro. O barman se aproximou e colocou um guardanapo na frente de cada
um de nós.

— O que eu posso fazer por vocês?

Olhei para Ana. — Vou querer um merlot, por favor.

— Gostaria de ver a carta de vinhos para escolher uma?

Ela balançou a cabeça. — O vinho da casa está bom.

Ele olhou para mim. — E para você?

— Vou pegar um Coors Light.

Depois que ele se afastou, levantei uma sobrancelha para Ana.

— Sem gim para cheirar?

Ela sorriu. — Não essa noite. Não acho uma boa ideia misturar negócios com
bebidas destiladas.
— Você também não acha uma boa ideia misturar negócios com namoro. No
entanto, você vai me convidar para sair.

Ela riu. — Oh, eu vou?

Passei o dia inteiro olhando para ela à distância. O pessoal da maquiagem a pintou
com muito mais do que ela normalmente usava, incluindo um batom vermelho
brilhante que ainda não tinha saído depois de todas aquelas horas.

Eu não conseguia tirar os olhos de sua boca.

Engoli, olhando para os lábios dela.

— Algumas regras foram feitas para serem violadas.

Ela soltou uma risada nervosa. — Você é um quebrador de regras, Christian? Sinto
que você sabe muito sobre mim, mas não sei muito sobre você.

— O que você gostaria de saber?

O barman trouxe nossas bebidas e Ana levou o vinho aos lábios.

— Eu não sei. Você é divorciado. O que aconteceu?

Fiz uma careta. — Isso é para ser uma celebração, não um funeral.

Ela sorriu. — Tão ruim assim?

— Dei a ela o anel da minha avó quando eu a pedi em casamento. Alguns dias
depois, voltei para casa e ela estava com um anel diferente. Ela vendeu o anel e
comprou um do qual gostou mais.
Os olhos de Ana se arregalaram. — Oh, meu Deus.

Engoli minha cerveja. — Bem feito para mim, já que me casei com ela de qualquer
maneira.

— Por que você fez isso?

Essa foi uma pergunta muito boa. As pessoas sempre perguntam por que
terminamos, mas nunca por que me casei com Suzie, para começo de conversa.

— Se você tivesse me perguntado isso antes do casamento, eu teria dito que era
jovem e tínhamos muito em comum – ambos gostávamos de viajar, estávamos no
mesmo círculo social...

— Mas a resposta não é a mesma agora?

Balancei minha cabeça. — A retrospectiva é muito mais clara. Minha mãe havia
morrido no ano anterior. Eu estava trabalhando no negócio da família, assumindo
cada vez mais responsabilidades porque meu pai havia se afastado um pouco
depois do primeiro ataque cardíaco. Parecia o que deveria acontecer a seguir.
Parece muito ignorante dizer isso em voz alta hoje, mas minha família estava se
desintegrando e acho que eu só queria o que tinha, então comecei a fazer a minha.
Já estava com Suzie há alguns anos, então dei os próximos passos. Basicamente,
eu era um idiota.

— Não acho que você foi um idiota. Acho que é doce que você estava tentando
manter sua vida familiar. Acho que seus pais tiveram um casamento forte?

Concordei. — Eles tinham. Andavam de mãos dadas, e sempre que um deles


percebia que eram cinco e treze em um relógio, eles desejavam um feliz
aniversário. Eles se casaram no dia 13 de maio.
— Aww... isso é muito romântico.

— E você? Os pais ainda são casados?

— Eles são. Mas eles têm um... casamento interessante... — Ela hesitou. — Meus
pais são poliamorosos.

Minhas sobrancelhas saltaram. — Uau. Então seu pai é casado com várias pessoas?

Ela balançou a cabeça. — Não, isso é poligamia. Eles apenas têm um


relacionamento aberto. Sempre tiveram.

— Como isso funciona?

— Cresci em uma casa de dois andares em Westchester. Tínhamos um pequeno


apartamento de dois quartos no andar de baixo e três quartos no andar de cima. No
andar principal, a vida era normal. Minha irmã e eu tínhamos nosso próprio quarto,
e meus pais dividiam um quarto. Mas sempre recebíamos muitos amigos dos meus
pais para ficar nos quartos de hóspedes do andar de baixo. Eles nunca esconderam
realmente seu estilo de vida de nós, mas foi só quando eu tinha oito ou nove anos
que percebi como o relacionamento deles era diferente. Nosso banheiro estava
sendo refeito no andar principal, e acordei no meio da noite. Eu precisava ir, então
desci. Enquanto eu ia em direção ao banheiro, uma mulher saiu de calcinha. Eu a
conheci antes, mas não esperava ver ninguém, então gritei. Meu pai saiu correndo
do quarto no fim do corredor em sua cueca. No dia seguinte, meus pais sentaram
minha irmã e eu e explicaram as coisas.

— Isso deve ter sido difícil de entender nessa idade.

Ela assentiu. — Definitivamente lutei com isso por um tempo. Nenhum dos pais
dos meus amigos era assim, nem os casais na TV – especialmente há vinte anos.
Então eu não entendia porque meus pais tinham que ser diferentes. Isso me fez
pensar se minha vida seria assim. Lembro-me de perguntar à minha mãe um dia se
o que eles tinham era hereditário.

Meus olhos se arregalaram. — Você não... você não é...

Ana deu uma risadinha. — Definitivamente não. Aceitei o casamento dos meus
pais pelo que é, mas soube desde cedo que não era um estilo de vida que queria.
Sou uma pessoa muito ciumenta quando se trata de meus relacionamentos. Sou
muito territorial para compartilhar.

Sorri, pensando em como me senti quando Flynn trouxe Sawyer. Inferno, Ana e
eu nem estávamos namorando, e eu queria dar um soco no cara.

— Entendi.

Lembrei-me de que ela havia aludido a um relacionamento ruim com o pai no dia
em que veio ao meu escritório para pegar o celular.

— Eles ainda moram em Westchester?

Ela assentiu. — Mesma casa. Pelo que eu sei, eles têm o mesmo quarto conjugal
no andar de cima e o andar de baixo para suas atividades extras. Mas eu não vou
lá há mais de um ano. — Ela tomou um gole de vinho. — Nós tivemos uma...
briga, acho que você poderia dizer. Se você não se importa, não quero falar sobre
isso. Hoje foi um dia tão bom, e não estou pronta para descer do alto de tudo.

— Sim, claro.

Ela tomou um gole de vinho. — E a sua família? Você tem irmãos além de Mia?
Balancei minha cabeça. — Apenas uma. Graças a Deus. Eu não poderia pagar
outro casamento.

— Tenho certeza de que um casamento na biblioteca deve ter custado uma pequena
fortuna. Uma das mulheres cujos diários li há pouco também se casou lá.
Apaixonei-me pela maneira como ela descreveu. Na época em que eu estava lendo,
eu trabalhava nas proximidades e costumava sentar-me nas escadas da biblioteca
para almoçar todos os dias e ler algumas páginas. Sempre olhei em volta e me
perguntei se o homem com quem ela se casou poderia estar de passagem, já que
eles obviamente moraram na região uma vez.

— Você me disse que os diários são sua versão do reality show. Mas parece mais
fantasia romântica do que realidade, se você me perguntar.

— Na verdade... — ela disse. — Aquele diário em particular acabou sendo mais


como uma história de terror. Foi parte do motivo pelo qual descobri que Jack estava
me traindo.

— Como assim?

— O diário tinha grandes lacunas no tempo e durava alguns anos. Mas depois do
casamento na biblioteca, as coisas aparentemente azedaram. Ela passou de
descrições do belo local e suas flores, a como estava encobrindo um caso. Algumas
das coisas que ela estava fazendo me atingiram porque notei as mesmas mudanças
em Jack – como se ele tivesse começado a trabalhar até tarde e depois tomar banho
assim que voltava para casa. A mulher descreveu o quanto odiava tirar o cheiro de
seu amante, e disse que na verdade se ressentia do marido porque precisava tomar
banho imediatamente quando voltava para casa depois de um de seus encontros.
Isso me levou a começar a fazer perguntas a Jack. No começo, ele me fez pensar
que eu era paranoica. Ele culpou os diários que li por plantar coisas que não
existiam na minha cabeça. Mas, cada vez mais, as coisas me faziam suspeitar que
algo estava acontecendo. Na verdade, estou com muita vergonha de como fiquei
louca no final.

— O que você poderia ter feito para se envergonhar? Parece que seu ex é quem
deveria ter vergonha.

Ana desviou o olhar por um momento. — Como começamos a falar sobre mim de
novo? Deveríamos estar falando sobre você.

— Acho que a menção do casamento da minha irmã na biblioteca nos levou por
um caminho. Acho que não te disse, mas também me casei lá.

— Mesmo? Sua irmã se casou no mesmo lugar que você?

Concordei. — Nossos pais se casaram lá também. Desde pequena, Mia dizia que
nossos casamentos aconteceriam lá. Estou feliz que ela não deixou meu resultado
tirar isso dela.

Terminamos nossas bebidas, mas nem Flynn nem Robyn apareceram. Olhei para
o relógio e percebi que estavam vinte minutos atrasados.

Ana percebeu. — Deveríamos encontrá-los às sete, certo?

Balancei a cabeça e olhei para a entrada da frente. Ninguém estava esperando.

— Deixe-me verificar. Talvez eu tenha errado a hora. — Peguei meu telefone e


cliquei na mensagem de texto que Flynn havia enviado. Estávamos no lugar certo
na hora certa, então enviei uma mensagem ao meu amigo.
Christian: Você mudou o restaurante, ou algo assim? Ana e eu somos os únicos
no The Nomad.

O vinho de Ana estava vazio. Apontei para o copo dela.

— Você quer outro?

— Eu não deveria.

— Mas você quer um?

Ela riu. — Vou passar. Quero manter a cabeça limpa durante o jantar com Robyn.
Um minuto depois, meu telefone tocou com uma resposta de Flynn.

Flynn: Esqueci de mencionar que a comemoração foi cancelada hoje à noite?


Robyn não conseguiu uma babá. Ela vai me avisar quando será possível na
próxima semana.

Digitei de volta.

Christian: Mas que merda cara? Sim, você esqueceu.

Flynn: Acho que devo ter esquecido. Vá comemorar sem nós esta noite. A menos
que você não esteja pronto para isso? Sempre posso enviar uma mensagem de texto
para Sawyer para tirar Ana de suas mãos...

Balancei minha cabeça.

Christian: Você é um idiota. Você fez isso de propósito, não foi?

Flynn: De nada, meu amigo.


Joguei meu telefone no bar.

— Tudo certo? — Ana perguntou.

— Aparentemente algo aconteceu e o jantar foi remarcado. Meu amigo idiota


esqueceu de me avisar.

— Oh. Uau. Ok.

As táticas do meu amigo podem ter sido dissimuladas, mas não posso dizer que
esteja insatisfeito com o resultado.

— Estamos do mesmo lado agora, certo?

As sobrancelhas de Ana franziram.

— O que você quer dizer?

— Você não queria tomar outra bebida porque íamos jantar com colegas de
trabalho. Mas você e eu não somos parceiros de negócios, somos coproprietários.
Portanto, estamos do mesmo lado.

Ela sorriu. — Acho que tenho menos com que me preocupar agora, considerando
que já fiz papel de boba na sua frente várias vezes.

— O que você acha de termos aquela segunda bebida enquanto pedimos o jantar?
Ainda devemos comemorar.

Ela mordeu o lábio inferior. Estendi o polegar, esfregando até que ela o soltou.

— Pare de se preocupar. Não é um encontro. Somos apenas parceiros de negócios


e amigos jantando. Não vou maltratar você até que você me convide para sair.
Capítulo 25

Anastasia

— Você não vai pedir outro?

Christian ergueu a mão.

— Estou dirigindo.

Solucei.

— E estou embriagada. Prazer em conhecê-lo, dirigindo.

Ele deu uma risadinha. — Você fica fofa quando está bêbada.

Balancei minha cabeça. — Eu não estou bêbada. Estou embriagada.

— E a diferença é?

— Tonta, ainda estou no controle.

— Então bêbada você perde o controle? — Christian parou nossa garçonete, que
por acaso estava passando. — Podemos ter outro vinho quando você tiver uma
chance? E realmente encha a taça, por favor.

Eu ri. — Esta noite foi definitivamente mais divertida do que meu último encontro.
Espere... — Acenei minha mão. — Isto não é um encontro.

— Claro que não. — Ele sorriu e tomou um gole de água. — As coisas não estão
indo muito bem com Ken?

— Ben.
— Tanto faz. Problemas no paraíso?

Suspirei. — Ele é um cara muito legal. Simplesmente não há... química, eu acho.

Os olhos de Christian caíram para meus lábios. — Sem química?

O ar na sala começou a estalar tão alto que fiquei surpresa que todos jantando não
estavam olhando ao redor para encontrar o barulho.

Isso...

Isso era o que faltava entre Ben e eu.

Christian só precisava me olhar de uma certa maneira e minha temperatura


corporal aumentava.

Engoli. — Ele me trouxe flores no nosso primeiro encontro e Godiva no segundo.


Ele é muito atencioso. Acho que espero que a conexão se desenvolva.

Os olhos de Christian escureceram. — Não vai.

— Como você sabe?

— Porque você não pode forçar a química a existir onde não existe – da mesma
forma que você não pode impedir que ela exista onde você não quer. Existem
algumas coisas sobre as quais somos impotentes.

Senti-me um pouco impotente no momento. Como se Christian enfiasse a mão por


baixo da mesa e levantasse minha saia, eu não seria capaz de impedi-lo.
Felizmente, a garçonete trouxe meu vinho, que estava praticamente cheio até a
borda. Ela piscou para Christian de forma conspiratória.
— Gostaria de ver o menu de sobremesas?

Ele assentiu. — Isso seria bom. Obrigado.

Quando ela voltou com os menus, disse que nos daria alguns minutos. Achei que
a interrupção poderia ajudar Christian e eu a mudar de assunto, mas ele pousou a
taça e obviamente tinha outras ideias.

— Então, quando vamos largar Len?

Eu sorri.

— Nós? Você vai largá-lo comigo?

— Ficarei feliz em fazer isso por você. — Ele estendeu a mão. — Passe-me seu
telefone.

Eu ri. — Obrigada, mas acho que posso lidar com isso sozinha.

— Mas você vai lidar com isso? Quer dizer adeus, ao garoto Benny?

— É claro que você consegue acertar o nome dele quando estamos falando sobre
dispensá-lo. — Revirei meus olhos. — Além disso, você e eu olhamos para os
relacionamentos de maneira diferente.

Os olhos de Christian se estreitaram.

— Como assim?

— Você mesmo disse que gosta de passar tempo com mulheres, mas tem
expectativas diferentes sobre como as coisas vão acabar.
— Eu quis dizer que interrompo as coisas se não puder ver um futuro e a mulher
que estou vendo parece ter sentimentos crescentes. Não sou avesso a um
relacionamento, se é isso que você está pensando.

— Oh.

Ele sorriu.

— Com você e eu, nossos sentimentos são mútuos. Portanto, não é um problema.

Eu ri. — Então, presumo que você não esteja saindo com ninguém agora?

— Não no momento, mas estou trabalhando nisso. — Seus olhos brilharam.

— Quando foi a última vez que você teve um encontro?

— Acho que foi no fim de semana antes do casamento da minha irmã.

— E como foi isso?

— Bem, nós fomos a um restaurante mexicano. Ela me perguntou se eu gostaria


de compartilhar um aperitivo e me disse para escolher um, então pedi chips e
guacamole. Quando terminei, minha acompanhante virou-se para o garçom e disse:
'Guatemala. Ele quer dizer chips e Guatemala'.

Eu ri. — Você está inventando isso?

Ele balançou sua cabeça.

— Quem dera estivesse.

— Acho que você não saiu com ela de novo?


— Não. Embora eu tenha conhecido alguém que despertou meu interesse no
próximo fim de semana, de qualquer maneira. Ela é meio difícil de tirar da minha
cabeça, então não seria justo sair com outra pessoa, mesmo que soubesse a
diferença entre a Guatemala e o guacamole.

Tentei esfriar a sensação de calor na minha barriga com meu vinho. Mas a maneira
como Christian estava me observando não facilitou.

— Você conheceu a Srta. Guatemala em um site de namoro?

— Não. Na verdade, a conheci em uma arrecadação de fundos. Não estou em


nenhum site de namoro.

— Mesmo? Então, como você conhece pessoas? À moda antiga?

— Sim, pago prostitutas.

— Mentiroso. — Eu sorri. — Você nunca teve que pagar por isso em sua vida. Eu
quis dizer bares. É onde você conhece mulheres?

— Às vezes. Eu não sei. Em qualquer lugar.

Revirei meus olhos e acenei minha mão em seu rosto.

— Você não tem problemas para conhecer pessoas porque você é assim.

— Você está dizendo que gosta do que vê?

— Você sabe que é gostoso. Você tem espelho em casa, não tem? Tenho certeza
de que tudo que você precisa fazer é entrar em um bar e estalar os dedos e as
mulheres se atropelam.
Christian riu. — O que sou eu, o Fonz?

— Talvez? — Nós dois rimos. Seu sorriso desapareceu enquanto seus olhos
percorriam meu rosto.

— Você fica muito bonita quando ri.

Olhei para baixo, sentindo-me um pouco tímida. — Obrigada.

Christian ainda estava me observando atentamente quando a garçonete voltou. Ela


parecia ter um timing impecável – para mim, pelo menos. Porque quando os olhos
de Christian caíram para os meus lábios, eu estava um fio longe de sugerir algo
que não estava no menu de sobremesa.

— Vê algo que gostaria de experimentar? — Ela disse.

Os olhos de Christian brilharam, e a menor contração no canto de sua boca


confirmou que estávamos na mesma página.

— Vou deixar para a senhorita decidir o que ela quer.

Engoli e foquei no menu. — Umm... Eles têm cheesecake de crème brûlée. Você
quer compartilhar um pedaço?

Mais uma vez, seus olhos piscaram em meus lábios por um momento.

— O que você estiver com vontade.

Esta foi definitivamente minha última taça de vinho.

Balancei a cabeça para a garçonete. Christian pegou meu menu e ergueu com o
dele para ela pegar de volta.
— Obrigado.

Depois que ela saiu, tomei um gole de vinho e Christian e eu conversamos mais
um pouco. Não conseguia me lembrar da última vez em que a conversa fluiu tão
facilmente quando saí com alguém. Eu também sorri a noite inteira. Embora, claro,
este não fosse um encontro. E eu sempre me esquecia disso.

No momento em que meu copo estava vazio novamente, entrei no curto corredor
que levava de embriagada à bêbada. Provavelmente foi por isso que perdi meu
filtro.

— Por quanto tempo é considerado normal ficar sem sexo?

As sobrancelhas de Christian quase alcançaram a linha do cabelo.

— Você está perguntando porque acha que ultrapassou qualquer que seja o limite
aceitável?

Meu sorriso estava torto. — Talvez.

Ele gemeu. — Eu disse que não iria te convidar para sair de novo. Mas eu poderia
oferecer alguma ajuda para cuidar desse problema para você.

Eu ri. — Sério. O que é normal?

— Eu não tenho a mínima ideia.

— Bem, quanto tempo faz para você?

— Eu não sei. Alguns meses agora, eu acho. E quanto a você?

Encolhi-me. — Mais como um ano.


— Não é fã de conexões de uma noite, suponho?

— Theo James conta?

— O ator? Você ficou com ele?

— Bem, não... não o ator real. Mas eu meio que chamo meu vibrador em
homenagem a ele.

Christian gemeu novamente.

— Não me diga essa merda.

— O quê? Isso é muito pessoal? Certamente não é um choque que uma mulher
solteira tenha um.

— Não é isso não. Mas agora eu quero dar um soco em Theo James.

Eu ri. Christian balançou a cabeça.

— Acho que você o nomeou assim porque é isso que você... imagina?

Mordi meu lábio.

Theo tinha sido minha fantasia favorita por anos, embora, ultimamente, meu
namorado movido a bateria devesse ter sido renomeado para o homem cujos olhos
estavam ficando mais escuros enquanto conversávamos.

Fiquei grata que a garçonete foi rápida e voltou com a sobremesa. Pelo menos
minha boca grande ficaria ocupada por um tempo.
Algum tempo depois, olhei em volta do restaurante e percebi que estava quase
vazio.

— Que horas são?

Christian consultou o relógio.

— Quase onze. Eu não sabia que era tão tarde. Não admira que a garçonete tenha
nos verificado três vezes desde que trouxe a sobremesa. Ela provavelmente quer
dar o fora daqui.

— Acho que você está certo.

Saímos do restaurante e Christian me levou para casa. Como de costume, não havia
estacionamento na frente do meu prédio, então ele estacionou algumas portas
abaixo.

— Vou acompanhá-la.

— Isso não é necessário.

— Sim, é.

Ele saiu e deu a volta para o meu lado do carro para abrir a porta, então estendeu
a mão.

— Obrigada.

Ele assentiu.

Ficamos em silêncio enquanto caminhávamos para o meu prédio. Debati se deveria


convidá-lo para um café ou algo assim, e ainda não tinha decidido quando
entramos no saguão e paramos na frente do elevador. Claro, a coisa degradada
geralmente leva dez minutos, mas esta noite as portas se abriram imediatamente
depois que apertei o botão.

Christian colocou uma das mãos na borda para impedir que fechasse e estendeu a
outra para que eu entrasse – embora ele não tenha me seguido.

— Parabéns novamente por hoje. Você arrasou.

Eu sorri. — Obrigada. Por tudo, Christian... dando uma chance a mim,


conseguindo-me a oportunidade na rede, todas as coisas que você fez para ajudar
a fazer tudo acontecer, e até mesmo comemorando comigo esta noite. Acho que
ainda não caiu a ficha que estarei no Home Shopping Channel mostrando ao
mundo a Signature Scent. E, sinceramente, devo tudo a você.

Ele balançou sua cabeça. — Apenas abri algumas portas. Todo o resto foi você.

Olhamos um para o outro até o elevador tentar fechar. A mão de Christian parou,
mas ele interpretou isso como sua deixa.

— Boa noite, Ana.

— Boa noite, Christian.

Ele deu um passo para trás, removendo a mão.

Os mais longos quinze segundos se passaram enquanto eu estava no elevador,


esperando as portas se fecharem novamente. Uma sensação de pânico tomou conta
de mim quando eles finalmente começaram a se mover e, no último segundo,
coloquei minha mão entre elas, fazendo com que se abrissem novamente. Christian
tinha se virado para sair, mas olhou para trás quando ouviu o elevador abrir.
— Você... gostaria de subir para um café ou algo assim? — Meu coração batia
forte enquanto esperava que ele falasse.

— Café? — Ele finalmente disse.

Mordi meu lábio e balancei a cabeça.

Christian procurou meu rosto.

— Tem certeza que quer que eu suba?

Quando demorei muito para debater minha resposta, ele sorriu tristemente.

— Isso foi o que pensei.

Soltei um suspiro de alívio e balancei a cabeça.

— Sinto muito.

— Nada para se desculpar. Eu provoco você que estou esperando você me convidar
para sair, mas não é realmente sobre você dar o primeiro passo. É sobre sua cabeça
estar clara sobre o que você quer. Isso ainda não acabou. Estou apenas esperando
que aquele pequeno sussurro em sua cabeça fique alto o suficiente para você ouvir.

— Que sussurro?

— Aquele que vive dizendo a você que, apesar de seus problemas de confiança e
preocupações sobre nosso relacionamento comercial, você me quer tanto quanto
eu quero você.

Eu sorri sem entusiasmo, e Christian pegou minhas duas mãos nas dele. Ele ergueu
o queixo para o espaço vazio na cabine aberto atrás de mim.
— Agora, por que você não volta para o elevador antes que eu perca o último
resquício de autocontrole que tenho e me junte a você. — Ele levou uma das
minhas mãos aos lábios e beijou o topo. — Vá.

Balancei a cabeça e voltei para dentro.

Apertando o botão no painel da porta, eu disse baixinho: — Obrigada, Christian.

Ele piscou quando as portas começaram a se fechar. — Aproveite Theo.


Capítulo 26

Anastasia

O resto da semana voou. Mia e eu trabalhamos dia e noite para finalizar todos os
materiais de marketing, enquanto Christian se concentrava no lado de pedidos e
financiamento. No sábado de manhã, apenas alguns dos carregamentos haviam
chegado, então, era muito assustador que o programa que gravei iria ao ar às três
horas desta tarde, e os pedidos poderiam começar a chegar. Pelo menos eu esperava
que chovessem.

Tudo estava em movimento, mas eu não respiraria aliviada até que o armazém
estivesse cheio de todos os produtos necessários para iniciar o envio. Para
aumentar esse estresse, eu estava uma pilha de nervos por me ver na TV. Nos
últimos dias, comecei a surtar que o Signature Scent poderia ser uma bomba. Eu
sabia que o programa mostrava a quantidade restante como um relógio na parte
inferior da tela da televisão, e tive um pesadelo recorrente de que em todo o
programa eu vendia apenas três caixas e havia 49.997 sobrando depois de minha
hora acabar.

Eu realmente queria ficar em casa e assistir ao programa de hoje sozinha, enquanto


alternava entre roer as unhas e esconder meu rosto sob uma coberta. Mas Mia havia
organizado uma festa de exibição em seu apartamento. Ela foi tão gentil e
apoiadora, era impossível dizer não. Então, aqui estava eu, no Uber no centro da
cidade com duas dúzias de cupcakes caseiros no meu colo para assistir ao programa
com uma dúzia de pessoas do escritório.

Eu obviamente sabia que a família Grey não era pobre, já que seu negócio era
emprestar dinheiro para outras empresas, mas quando paramos no endereço que
Mia me deu na Murray Street, minha respiração parou.
Uau. Ela morava em um dos novos arranha-céus chiques de Tribeca – uma torre
moderna de vidro turvo que se alargava à medida que subia.

O projeto era superelegante, o tipo de edifício apresentado na Architectural Digest,


ou em alguma outra revista brilhante. Até a entrada era intimidante. Ele se
projetava para a rua de uma forma imponente, como se para mostrar às pessoas
que precisavam se mover para eles.

Saindo do Uber e olhando para cima, de repente desejei não ter feito os cupcakes
que trouxe e, em vez disso, pegado algo mais profissional de uma das dezenas de
cupcakeries caríssimas que apareceram por toda a cidade nos últimos poucos anos.
Eu também realmente gostaria que Fisher não tivesse saído da cidade neste fim de
semana a negócios. Eu poderia usá-lo ao meu lado hoje.

Suspirei e tentei o meu melhor para não me sentir inferior só porque não conseguia
nem pagar as enormes plantas do lado de fora da porta da frente.

O apartamento de Mia ficava no 53º andar, mas tive que fazer o check-in em uma
mesa no saguão. O segurança me deu um cartão-chave para entrar no painel do
elevador, em vez de apertar um botão. Assim que o inseri, as portas se fecharam e
o botão cinquenta e três acendeu.

Respirei fundo enquanto o elevador veloz subia, mas a cada andar que passava,
meus nervos ficavam cada vez mais em frangalhos.

Quando as portas se abriram, eu esperava ter alguns minutos para me recompor no


corredor, mas em vez disso, entrei diretamente no apartamento de Mia. Ela me
cumprimentou com seu entusiasmo borbulhante de costume e me deu um abraço.

— Eeep! Estou tão animada! Mal posso esperar! Você é a primeira aqui.
— Isso faz uma de nós. Acho que vou vomitar.

Mia riu como se eu estivesse brincando, mas meu estômago estava bem enjoado
no momento.

Ela me conduziu da entrada para a cozinha. Por mais sofisticado que eu achasse
que seu apartamento seria, baseado no edifício visto de fora, eu subestimei. A
cozinha era linda, completa com eletrodomésticos de última geração, granito
cintilante e duas grandes ilhas. Mas a sala de estar era a cereja no topo do bolo.

— Uau. Sua vista é apenas... — Balancei minha cabeça. — É incrível.

Janelas do chão ao teto alinhavam-se na sala de estar adjacente, exibindo amplas


vistas da água e da cidade.

Mia acenou para ele.

— Veja esses cupcakes parecem deliciosos. Você se importa se eu der uma


mordida em um agora?

Eu ri. — Claro que não. E acho que você pode comer mais do que uma mordida.
Na verdade, eles não contêm açúcar. Encontrei a receita em um site de diabetes.
Comi um no café da manhã enquanto estava assando, e eles são muito bons, se é
que posso dizer.

— Você é um anjo! — Ela abriu a tampa de um dos recipientes de plástico e


escolheu um de baunilha com cobertura de chocolate. Tirando o papel do fundo,
ela apontou para as janelas gigantes das quais eu não conseguia tirar os olhos. —
Eu costumava pensar que era tudo o que eu queria. E então Christian comprou sua
brownstone no Brooklyn no ano passado. Ele não tem vista, mas tem um pequeno
quintal, e o prédio tem muito caráter. Parece que ele vive em uma casa de verdade.
Este lugar... — ela balançou a cabeça e lambeu uma linha de cobertura do topo do
cupcake. — Não sei... Parece que estou ficando em um hotel de luxo ou algo assim.
Charlie fica com o pai apenas alguns dias por semana, e ela já tem amigos que
moram no quarteirão deles. Moro aqui há dois anos e não conheço ninguém no
prédio. Meio que sinto que vivo em uma torre de marfim aqui. — Ela riu. — Não
diga a Christian que eu disse isso. Eu não gostaria de mexer com nossa dinâmica
delicada. Ele acha que é seu trabalho me ensinar sobre a vida, e finjo que não
preciso dele.

Eu sorri. — Seu segredo está seguro comigo.

Uma campainha soou acima, e Mia caminhou até um sistema de intercomunicação


na parede e apertou um botão.

— Tenho uma entrega de Cipriani. — disse a voz. — Ótimo. Envie-os, por favor,
Dave.

Assim que ela desligou o interfone, um homem que reconheci – embora não o
tivesse conhecido – saiu de um corredor do outro lado da sala.

Ugh. Eu estava tão ocupada me preocupando em me ver na TV e como a Signature


Scent faria que eu não tinha parado para pensar que o marido de Mia estaria em
casa em uma tarde de sábado. Claro que me desculpei com Mia várias vezes. Na
maior parte do tempo, não me senti mais envergonhada quando falava com ela. De
alguma forma, tínhamos sido capazes de deixar o que fiz para trás. Mas eu nunca
falei com o marido dela e rezei para que não fosse muito estranho. Embora o
sorriso em seu rosto quando ele caminhou em direção à cozinha tenha me assustado
um pouco.

Mia acenou entre nós.


— Mason, esta é a convidada de honra, Ana. Ana, este é meu marido, Mason.
Mase, a comida está aqui. Por que você não faz uma bebida para Ana enquanto
cuido da entrega?

Meu rosto esquentou com vergonha renovada quando ele estendeu a mão.

— Prazer em conhecê-la finalmente.

— Oi. — Encolhi-me e balancei minha cabeça. — Realmente sinto muito pelo seu
casamento. Pedi desculpas à sua esposa, mas deveria ter lhe enviado um bilhete
também.

Mason balançou a cabeça. — Totalmente desnecessário. A coisa toda foi muito


engraçada, especialmente a história que você contou. Além disso, Liv nunca para
de falar sobre você, então tudo deu certo. Acho que nunca a vi tão animada com
algo a ver com o trabalho. Ela realmente investiu no que você criou.

Soltei um suspiro de alívio e sorri. — Ela está. Sou muito sortuda. Para ser honesta,
eu não tinha certeza sobre como abrir um negócio com um investidor. Mas ela me
deu muito mais do que apoio financeiro. Sinto que tenho uma parceira que se
importa tanto quanto eu.

Mason concordou. — Ela é assim. — Ele olhou por cima do meu ombro para ela
antes de abaixar a voz. — Ela passou por um período difícil depois que seu pai
morreu no ano passado. A única coisa que parecia tirá-la disso era o planejamento
de nosso casamento. Então eu estava um pouco preocupado com o que aconteceria
quando tudo acabasse. Mas você aconteceu, e sinto que recuperei minha velha Liv
recentemente. Então, embora você possa pensar que me deve um pedido de
desculpas, sou realmente eu quem lhe deve um grande agradecimento.
Uau.

Balancei minha cabeça.

— Não sei o que dizer – na verdade, eu sei. Vocês dois foram feitos um para o
outro. Vocês dois são incríveis.

Ele sorriu e novamente olhou por cima do meu ombro.

— Eu a vejo procurando em sua bolsa por dinheiro para uma gorjeta. Ela nunca
carrega um dólar, então não sei por que está procurando. Em cerca de dez
segundos, ela vai chamar meu nome para que possa vasculhar minha carteira.
Então, o que você quer beber? Uma bebida mista, cerveja, vinho?

— Adoraria um copo de vinho. Merlot, se você tiver.

— Claro. Mia gritou da cozinha.

— Mase?

Ele sorriu e puxou sua carteira.

— Voltarei com o seu vinho depois de dar uma gorjeta ao entregador. Fique à
vontade.

Eu poderia ter ficado na janela e olhado para a vista da cidade o dia todo, mas a
cornija sobre a lareira chamou minha atenção. Havia meia dúzia de fotos
emolduradas nele, então me aproximei por ser curiosa e dei uma olhada.

A grande moldura de prata no centro exibia uma foto do dia do casamento. Mia
estava curvada de rir enquanto estava ao lado de um bolo de casamento de várias
camadas, um pedaço do qual ela obviamente tinha acabado de jogar na cara do
marido. A língua de Mason de fora enquanto ele tentava lamber o bolo do rosto
com um sorriso. Amei que eles escolheram aquela foto para emoldurar, em vez de
uma pose perfeita. Isso realmente mostrava sua felicidade, e seu sorriso tornou-se
contagiante enquanto eu olhava para ele.

Ao lado da foto do casamento havia uma foto de um casal mais velho. Eles estavam
parados na chuva usando capas de chuva amarelas, mas os sorrisos em seus rostos
irradiavam sol. Eles tinham que ser os pais de Mia e Christian, porque o homem
era basicamente uma versão mais velha de Christian.

Ao lado dessa foto havia uma foto de Mia e Mason na praia – usando bonés de
beisebol virados para trás e bebendo cerveja. Novamente, os sorrisos em seus
rostos eram positivamente contagiosos.

Dei uma olhada em mais algumas fotos do casal feliz com vários amigos, e então
meus olhos pousaram na última foto emoldurada no final. Aquela eu peguei para
dar uma olhada mais de perto nas duas crianças – uma jovem Mia e Christian. O
garotinho devia ter uns nove ou dez anos, mas seus lindos olhos cinzas brilhantes
eram inconfundivelmente de Christian. Ele também tinha um sorriso malicioso
com o qual me tornei muito familiar.

Ele estava pairando sobre um bolo de aniversário, prestes a apagar as velas. Mia
sentada à sua esquerda, e Christian estava com o braço estendido, uma das mãos
cobrindo a boca da Mia.

Uma voz profunda por cima do meu ombro me assustou.

— Algumas merdas nunca mudam.

Christian.
— Jesus. Você me assustou. Você não aprendeu a lição sobre se aproximar
sorrateiramente das pessoas? Não ouvi você entrar.

— Subi com a comida. A propósito, agradeça por ela ter feito o pedido e não ter
tentado cozinhar hoje.

— Tenho certeza de que ela não é má cozinheira.

— No Natal passado ela fez duas bandejas de camarão ao parmesão. Todos nós
quase quebramos os dentes quando mordemos.

— Ela cozinhou demais o camarão?

Ele balançou sua cabeça.

— Ela seguiu uma receita que dizia camarões com casca. Ela pensou que era para
cozinhá-los com a casca e servir assim.

Eu ri.

— Ohhhhhh...

Ele acenou com o queixo em direção à foto em minha mão.

— Ainda sinto vontade de fazer isso, pelo menos, uma vez por semana.

— Por que você estava cobrindo a boca dela?

— Porque ela achava que os bolos de aniversário de todo mundo eram para ela e
apagava as velas. Meus pais achavam fofo e a deixavam fazer isso. Mas naquele
ano, fiz um desejo que realmente queria que se tornasse realidade e não queria
correr nenhum risco.
Eu ri. — Qual era o seu desejo?

— Eu queria um cão.

— Você conseguiu um?

Ele balançou sua cabeça.

— Não.

— Bem, é uma imagem adorável.

— Minha mãe tinha emoldurado em sua mesa de cabeceira. Ela disse que resumia
nosso relacionamento perfeitamente, e ela não estava errada. Minha irmã deve ter
pego quando limpamos as coisas dos meus pais.

Mason se aproximou e me entregou uma taça de vinho. Ele entregou uma cerveja
a Christian. Erguendo sua própria garrafa, ele a inclinou para nós.

— Boa sorte hoje, vocês dois.

Christian brindou com sua cerveja, então segui seu exemplo.

— Obrigada.

O resto dos convidados se amontoou logo em seguida, e Christian e eu fomos


puxados em direções opostas.

Vi algumas pessoas na equipe de marketing que eu sabia que trabalharam para nós,
mas eu não tinha passado muito tempo com elas. Então, fiz questão de procurá-los
e dizer obrigada por tudo o que fizeram.
Algumas vezes, enquanto Christian e eu estávamos conversando com pessoas
diferentes, meus olhos encontraram os dele. Seu lábio se contraia e seus olhos
brilhavam, mas nenhum de nós fez qualquer tentativa de falar novamente.

Poucos minutos antes das três horas, Mia apontou o controle remoto para a TV
acima da lareira e então o usou para tilintar contra sua taça.

— Tudo bem, todo mundo. Já era hora! Isso é muito mais emocionante do que uma
festa idiota do SuperBowl, não é? Quem precisa de uma bebida antes do início?

Eu estava muito nervosa, então fui para a cozinha para aceitar a oferta antes que
eu tivesse que ver meu rosto em sua TV gigante.

Mason estava parado perto do vinho e ergueu o Merlot quando me viu chegando.

Sempre ocorre um grande show durante o intervalo.

— Você está parecendo eu quando eles começaram a tocar o coro nupcial.

Abri e fechei minhas mãos.

— Suas pontas dos dedos ficaram dormentes de nervosismo?

Mason encheu minha taça até a borda e a devolveu para mim com um sorriso.

— Dormente da cabeça aos pés. Com certeza é por isso que a pessoa que entrega
a noiva levanta o véu e o padrinho segura o anel. As mãos do noivo estão muito
trêmulas para fazer qualquer coisa.

Bebi meu vinho.

— Bem, espero poder fingir tão bem quanto você. Porque você parecia calmo.
Um braço enganchado no meu.

— Vamos. — disse Mia. — Quero sentar ao seu lado!

Bebi o máximo de vinho que pude enquanto nos acomodávamos no sofá juntas.
Imediatamente depois de nos sentarmos, a música no início do programa começou,
e a apresentadora, Robyn, saiu, acenando para uma plateia ao vivo no estúdio. Foi
muito engraçado de assistir, porque eu estava lá quando ela fez aquela caminhada,
e as únicas pessoas na plateia eram Christian e seu amigo Flynn. No entanto, agora
a câmera girou para uma multidão aplaudindo.

Mia entrelaçou seus dedos com os meus e apertou.

— Aqui vamos nós!

Ela aumentou o volume e o barulho na sala diminuiu. Robyn fez sua apresentação
usual do lado do palco, e então caminhou até o balcão onde ela sempre ficava.
Caixas e amostras de Signature Scent estavam empilhadas por toda parte. Parecia
completamente surreal.

A adrenalina correu em minhas veias, deixando-me um pouco tonta.

Nos minutos seguintes, Robyn fez sua melhor impressão de Vanna White,
levantando as caixas e acenando com as mãos bem cuidadas, o que eu agora sabia
que era para manter os olhos dos espectadores no produto e não no apresentador.
Quando ela começou a apresentar seu coanfitrião convidado do dia, prendi a
respiração. Foi uma loucura me ver na televisão, ao lado de uma personalidade tão
conhecida. Robyn Quinn era uma celebridade muito grande.
Durante a gravação, o diretor me fez subir ao palco enquanto acenava quase uma
dúzia de vezes. Enquanto eu assistia, sorri diretamente para a câmera e acenei
como se meu fã-clube pessoal estivesse na plateia.

Oh meu Deus, pareço um presunto!

Todos do escritório começaram a gritar e uivar, e deixei cair meu rosto em minhas
mãos, com vergonha de assistir. Ouvi atores dizerem que não assistiam a seus
filmes e pensei que era uma loucura. Mas agora entendi por quê. Eu estava ciente
de todos os pequenos hábitos nervosos que tinha, bem como de quão pesado era
meu sotaque de Nova York, e isso me deixou incapaz de me concentrar em
qualquer coisa além de minhas falhas – todas pareciam altamente amplificadas no
momento.

Encolhi-me e balancei minha cabeça.

— Deus, isso é tão difícil de assistir.

— Você está brincando comigo? — Perguntou Mia. — Você é natural e está sendo
incrível!

O momento da verdade veio dez minutos após o início do show. Robyn apontou
para o canto da tela, e o preço e o número do telefone piscaram algumas vezes.
Trinta segundos depois, um relógio de contagem regressiva também apareceu.

— Tudo bem, senhoras... e senhores que querem impressionar suas damas... vamos
abrir as linhas agora e permitir que vocês comecem a fazer seus pedidos.
Continuaremos a falar sobre a Signature Scent, mas acho que todos vocês já sabem
que querem. Então aqui está o que você estava esperando, sua contagem regressiva
para a abertura de nossos telefones e pedidos on-line. Você sabe o que fazer... E
cinco, quatro, três, dois, um. Estamos abertos!

Em segundos, a contagem regressiva da quantidade restante começou a rolar.


Lentamente no início, mas depois começou a voar. Eu não poderia te dizer sobre
o que Robyn ou eu conversamos durante o show – meus olhos estavam grudados
naquele relógio de contagem regressiva.

Quando os segundos começaram a diminuir em um ritmo rápido, pensei que


poderia hiperventilar, e realmente precisava de um momento.

— Você se importaria se eu descesse para tomar um pouco de ar? Só vou demorar


alguns segundos.

Mia parecia preocupada. — Claro que não, mas você está bem?

— Sim. É um pouco demais e preciso de um minuto. Não vou demorar muito.

— Claro. Claro. Mas não desça. — Ela apontou para o corredor de onde seu marido
tinha vindo antes. — A última porta à esquerda leva a um quarto de hóspedes. Tem
uma varanda privada e um banheiro também.

— Você não se importa?

— Claro que não. Vá. Leve o tempo que precisar.

— Obrigada.

O ar frio lá fora era incrível. Fechei meus olhos e respirei fundo algumas vezes.
Depois de apenas um ou dois minutos, me senti calma o suficiente para abri-los e
desfrutar da vista deslumbrante. Daquela altura, a cidade parecia estranhamente
quieta, o que teve um verdadeiro efeito tranquilizante em meu estado mental. Então
me senti um pouco melhor quando ouvi o som da porta se abrindo atrás de mim, e
me virei para encontrar Christian.

— Você está bem? — ele perguntou.

Concordei. — Fiquei um pouco sobrecarregada assistindo aquele relógio, e meu


coração começou a disparar.

— Compreensível. — Ele sorriu e estendeu algo para mim. — Aqui.

Olhei para baixo e minha testa enrugou. — Uma banana?

— Roubei da cozinha da minha irmã. Ela não tinha laranjas. Sou mais criativo com
isso.

Eu estava confusa até que percebi que ele havia escrito nela.

Você vai descascar qualquer outro que já tiver passado por aquele programa.

Christian encolheu os ombros.

— Eu não tive muito tempo para pensar em algo e ainda seguir você até aqui..

Eu ri. — É muito doce. Obrigada. Posso ver por que Charlie gosta tanto das suas
mensagens na lancheira.

Ficamos um ao lado do outro, olhando para a cidade. O pequeno truque de frutas


que ele usou com sua filha realmente me ajudou a relaxar. Ou talvez fosse apenas
a presença de Christian.

Suspirei. — Isso tudo é tão surreal.


— Imagino que sim. — Ele sorriu.

Sim, eu estava no meio de um colapso mental, mas ainda percebi como Christian
parecia bonito. Ele não estava apenas vestido casualmente em um par de jeans, ele
também tinha uma barba por fazer em seu rosto que eu realmente gostei. Ele estava
silenciosamente me observando olhar para ele, então me senti compelida a dizer
algo.

— Esta é a primeira vez que te vejo com a barba por fazer e com roupas normais.

Ele deu um de seus meio sorrisos sexy.

— E?

Inclinei minha cabeça.

— Gosto disso.

— Você está dizendo a verdade ou apenas tentando cumprir sua cota diária de
elogios do seu plano de felicidade?

Eu ri. — Não, eu gosto disso. A barba em sua mandíbula lhe dá uma aparência
misteriosa.

Ele inclinou a cabeça.

— Esse é o seu tipo? Parecer misterioso? Não foi exatamente isso que imaginei
quando você disse que seu ex era poeta.

Eu ri. — Oh, Jack é tão limpo quanto eles vêm. Esse sempre foi meu tipo. Eu nunca
fui para os meninos maus. Acho que nunca namorei alguém com uma cicatriz ou
tatuagem.
— E você gostaria de mudar isso?

Dei de ombros, brincando e provocando.

— Talvez.

Os olhos de Christian brilharam.

— Isso é bom. Porque posso ajudar. Tenho ambas.

— Você tem?

Ele assentiu.

— Onde elas estão?

— Ah... essa é uma informação que guardarei para outra hora.

Eu ri. — Ultrassecreto, hein?

Uma leve rajada de vento empurrou uma mecha de cabelo no meu rosto. Christian
usou o dedo para movê-lo.

— Sente-se melhor?

Respirei fundo e relaxei meus ombros.

— Sim. Obrigada.

Ele inclinou a cabeça em direção à porta.

— Por que não voltamos, então? Por mais que eu prefira estar bem aqui, não quero
que você perca nada.
Concordei.

De volta à sala de estar, sentei-me ao lado de Mia no sofá e olhei para a contagem
regressiva para ver como as coisas estavam indo. Pisquei algumas vezes lendo o
número. Eu não tinha saído por mais de cinco minutos, mas já estávamos quase
completamente esgotados.

— Tenho assistido a esse programa todos os dias há uma semana e meia, — disse
Mia. — E eles nunca se esgotam tão rápido. Você simplesmente arrasou com isso.
Eu estava preocupada que você perdesse a parte em que Robyn diz seu grande
slogan indo... indo e tchau! Com certeza, apenas alguns minutos depois, o lado da
tela com a contagem regressiva começou a piscar.

— Uh-oh. — disse a anfitriã. — Estamos prestes a esgotar. Apresse-se e faça seu


pedido! — Ela fez uma pausa e balançou a cabeça. — É melhor eu dizer antes que
seja tarde demais. Indo... Indo... — Ela ergueu a mão e acenou... —... e tchau! —
Um grande selo apareceu sobre o relógio de contagem regressiva na tela.
ESGOTADO.

Todos na sala aplaudiram. Mia me abraçou e as pessoas se revezaram para nos dar
os parabéns. Quando me virei para olhar a TV, o próximo produto já estava sendo
lançado. O alívio tomou conta de mim por termos nos saído bem, e eu não teria
mais que ver meu rosto naquela TV gigante. Mia e seu marido estouraram
champanhe e ela entregou taças. Quando ela estendeu uma para mim, meus olhos
encontraram os de Christian do outro lado da sala. Ele silenciosamente ergueu a
dele e sorriu. Mia olhou entre nós dois antes de enganchar o braço em volta do
meu pescoço. Ela nos virou para que ficássemos de costas para Christian e falou
em voz baixa.
— Ele realmente gosta de você.

— Quem?

Ela revirou os olhos. — Uh, o homem que não tirou os olhos de você desde que
entrou. Christian, é claro. Vejo a maneira como ele olha para você.

— Ele está animado com o dia de hoje... com a Signature Scent.

Ela apontou o dedo para mim. — Ele está animado com você.

Olhei por cima do ombro para Christian e nossos olhos se encontraram novamente.
Eu não podia negar que me senti o centro de seu foco hoje. Ele olhou entre sua
irmã e eu, e seus olhos se estreitaram. Ele sabia perfeitamente que estávamos
falando sobre ele.

Suspirei. — Ele é um cara ótimo.

— Então... — Mia deu de ombros. — Por que vocês dois ainda estão brincando de
gato e rato?

— Estamos no negócio juntos. Ele é um investidor da minha empresa.

— E...

— Eu não sei. — Balancei minha cabeça. — Se não funcionar, pode ficar bem
bagunçado.

Mia tomou um gole de champanhe.

— A vida é uma bagunça. Você sabe a única vez que não é? Quando você não está
vivendo isso – quando você está apenas cumprindo as regras.
— Eu sei, mas...

Ela me interrompeu.

— O que aconteceu com a mulher que invadiu meu casamento e saiu correndo
rindo e bebendo champanhe?

Eu ri.

— Deus, esse é um bom exemplo de ser uma bagunça.

— Talvez. — Ela encolheu os ombros. — Mas olhe para onde essa confusão a
levou. Para um novo negócio e uma nova melhor amiga – e se você me perguntar
quem é a nova melhor amiga, vou dar um soco em você. Estamos em um momento
aqui.

Eu ri. — Entendo o que você está dizendo, mas eu disse a você o que aconteceu
com Jack.. Muitas de nossas lutas centravam-se em fazer negócios juntos. Ele
questionava como eu gastava dinheiro e nós discutíamos sobre a direção que as
coisas deveriam seguir. Foi realmente o começo dos nossos problemas.

Mia abanou a cabeça. — Acho que você está errada. Não quero ser grosseira, mas
o início dos seus problemas foi ele enfiar o pau em outra mulher.

— Não que seja uma desculpa válida, mas ele recorreu a outra pessoa porque não
estávamos nos dando bem.

— Não, ele não fez. Ele se virou para outra pessoa porque ele é um pedaço de
merda. Essa foi apenas a desculpa mais conveniente.

Suspirei. — Eu acho...
— Eu já te disse que meu marido e eu nos conhecemos no trabalho?

— Mesmo? Na Grey Investments?

Ela assentiu. — Christian o trouxe como diretor de TI. Ele ficou lá por três anos,
e nós namoramos por dois deles. Trabalhamos juntos em alguns projetos e nem
sempre concordávamos.

— Ele possui sua própria empresa de TI, certo? É por isso que ele saiu?

— Não. Não havia nenhum lugar para ele crescer em Grey. Temos apenas alguns
funcionários de TI e ele queria continuar crescendo. Mas o que quero dizer é que
trabalhamos juntos e brigávamos. Isso não o levou a me trair. — Mia olhou para o
marido e sorriu. — Ocasionalmente isso levava a algum sexo de reconciliação
gostoso e raivoso na minha mesa, entretanto... — Ela ergueu as mãos e seu rosto
se contraiu. — Oh Deus. Não faça isso com meu irmão porque meu escritório é
muito próximo. Uma vez encontrei nossos pais e ainda não superei isso.

Eu ri.

— Sério, Ana. Se você não curte Christian, tudo bem. Mas não deixe o que
aconteceu com seu ex, ou seu medo de as coisas ficarem bagunçadas, arruínem o
que poderia ser uma coisa boa. Algumas das melhores coisas da vida são uma
bagunça – pãezinhos, lençóis depois de um bom sexo, bolo de lava, melancia. Eu
preciso continuar?

Eu sorri. — Não. Entendi.

Christian se aproximou com uma garrafa de champanhe e encheu nossas taças.


Percebendo o rótulo, eu disse: — Não é à toa que isso é tão delicioso. São as coisas
boas. As garrafas que roubei do casamento de Mia acabaram, então você pode
querer esconder as que sobrou quando eu estiver saindo.

Mia riu. — Vou colocar mais comida. Vocês dois continuem a celebração sem
mim. — Ela se afastou, mas olhou por cima do ombro para que Christian não visse
e piscasse.

Eu sorri.

— Sua irmã é incrível.

— Ela não é tão ruim. — Christian concordou. — Mas não diga a ela que eu disse
isso.

Ele se aproximou para encher nossas taças, mas não tinha uma para ele.

— Onde está o seu champanhe?

— Tenho planos. — Christian olhou para o relógio. — Eu realmente preciso ir. Eu


estava vindo para me despedir.

— Oh. — A decepção tomou conta de mim, junto com talvez um pouquinho de


ciúme.

Eu forcei um sorriso.

— Bem, divirta-se.

Os olhos de Christian se estreitaram antes que ele finalmente sorrisse.

— Você está com ciúmes porque tenho um encontro?


— Não. — eu disse, rápido demais.

Ele enfiou as mãos nos bolsos e exibiu um sorriso presunçoso.

— Você está.

— Não estou.

Ele se inclinou para frente, seu nariz quase tocando o meu, e sussurrou: —
Ciumenta.

— Você é tão cheio de si. Você nem consegue dizer a diferença entre feliz por
você e ciumenta.

Ele puxou a cabeça para trás. — Oh sim? Você está feliz por eu ter um encontro?

Abri um sorriso e apontei para minha boca. — Sim. Vê?

O olhar no rosto de Christian me disse que minha tentativa de sorrir saiu pela
culatra. Ele deu uma risadinha.

— Vou pegar Charlie na casa de uma amiga. Minha ex foi a uma consulta médica
com sua irmã que está grávida e pode não chegar a tempo, então eu disse a ela que
a levaria para casa.

— Oh. Ok.

— Feliz que não é um encontro real?

Sim.

Dei de ombros. — Tanto faz. É o seu negócio.


Ele coçou o queixo. — Estava pensando em voltar depois. Acha que ainda estará
aqui?

— Talvez eu tenha um encontro esta noite. Isso te incomodaria?

A mandíbula de Christian flexionou.

— Não sou eu quem finge que não estou interessado, então não acho que você
ficará surpresa em saber que incomodaria sim.

Eu estava provocando, e saiu pela culatra. Seu rosto estava sério demais para
brincar.

Suspirei. — Não tenho um encontro. Provavelmente estarei aqui.

Christian balançou a cabeça.

— Você é um pé no saco.

Bebi meu champanhe.

— Bem, aparentemente você gosta de pés no saco.

Seus olhos caíram para meus lábios.

— Você sabe que estou contando todas as vezes que você me tortura.
Eventualmente, vou me vingar.

— E como você vai fazer isso?

Ele se inclinou e beijou minha bochecha, em seguida, moveu seus lábios no meu
ouvido. — Com minha boca.
Pisquei algumas vezes, observando o sorriso de Christian enquanto ele se afastava.

Ele falou por cima do ombro. — Segure esse pensamento, Ana. Seu sussurro está
quase alto o suficiente para que eu possa ouvi-lo.

Oh, cara. Estou em apuros.


Capítulo 27

Anastasia

Comecei a pensar que Christian não voltaria. Fazia horas desde que ele saiu,
embora com o estresse do show acabado, relaxei muito e pude me divertir. Mas eu
estaria mentindo se dissesse que não estava vigiando a porta constantemente.
Metade dos convidados tinha ido embora e mais alguns estavam se preparando
para partir.

Fui ao banheiro e pensei em encerrar a noite também. Mas quando saí, Christian
estava sentado na ilha bebendo uma cerveja.

— Você voltou. Achei que você tivesse mudado de ideia.

Seus olhos piscaram para minhas pernas antes de retornar para encontrar meus
olhos.

— Definitivamente não.

Senti aquela vibração na minha barriga – ultimamente ela havia se transformado


em parte da saudação do homem.

— Já que eu pegaria Charlie, minha ex-esposa decidiu fazer uma massagem


também. Deve ter sido uma semana difícil sem fazer nada.

Eu sorri.

— Acho que ela não trabalha então?

Ele balançou sua cabeça.


— Foda-se, preciso convidar você para sair. Talvez eu deva propor. Você parece
um bom ex-marido.

Ele deu uma risadinha.

— Bem-vinda de volta. — Minha testa enrugou, então ele explicou. — Você tem
estado estressada. Aparentemente, isso fez com que sua esperteza interior entrasse
em hiato.

— Oh. — Eu ri. — Sim, tenho estado estressada.

— Sente-se melhor agora que acabou?

— Sinto. — Esfreguei minha nuca. — Embora eu também precise de uma


massagem.

Ele mexeu os dedos.

— Eu poderia te ajudar. Sou muito bom com as mãos.

Eu sorri.

— Aposto que sim.

— Você está pronta para continuar a celebração?

Estou ligada e longe de estar pronta para ir para casa.

— O que você tem em mente?

— Vamos tomar uma bebida. Há um bar no quarteirão.

Mordi meu lábio. — Hmmm... Você está me chamando para sair?


— Não. Estou levando uma colega para comemorar.

— Vou pensar sobre isso.

Christian franziu a testa.

— Você vai pensar sobre isso?

— Sim.

Ele parecia um pouco chateado, mas encolheu os ombros. Quando ele pegou sua
cerveja, dei um tapinha em seu ombro.

— Pensei sobre isso.

— E?

— Vamos comemorar mais um pouco.

***

— Ainda não consigo superar que vendemos cinquenta mil caixas da Signature
Scent em menos de uma hora hoje. — Balancei minha cabeça. — Há um mês,
estava pensando que nunca veria o dia em que uma caixa fosse encomendada.

— Tivemos sorte. — disse Christian.

— Não. Não tivemos sorte. Sorte significa que algo cai em seu colo. Você saiu e
fez isso acontecer.

— Não poderia ter acontecido sem um bom produto.

Bebi meu vinho.


— Sabe, eu não esperava que você fosse tão humilde.

— Confie em mim. Eu não sou. Só dou crédito quando é devido.

Estávamos sentados em uma mesa em um bar sofisticado a poucos quarteirões do


apartamento de Mia. A garçonete veio verificar como estávamos. Ela era linda,
mas Christian não a cobiçou. Na verdade, ele mal parecia olhar para ela, o que me
deixou curiosa.

— Conte-me sobre a última mulher que você namorou. Não incluindo a senhorita
Guatemala. Uma mulher com quem você saiu mais de uma vez?

Suas sobrancelhas baixaram.

— Por quê?

Dei de ombros.

— Só curiosidade. Você tem um certo tipo? Uma aparência que o atrai?

Ele sorriu. — Sim, cabelo escuro e olhos azuis..

Eu ri. — Não mesmo.

— Não sei. — Ele balançou sua cabeça. — Acho que a última mulher com quem
saí foi uma morena. Alta. Olhos escuros.

— Quanto tempo isso durou?

— Saímos algumas vezes.

— Por que acabou?


Ele olhou para trás e para frente entre os meus olhos.

— Você quer a verdade?

— Claro.

— Tudo o que ela falava era sobre a irmã que tinha acabado de ter um bebê. Parecia
que ela estava no caminho certo para se casar e ter filhos.

— E você não quer se casar de novo ou ter mais filhos?

Ele deu um gole na cerveja.

— Eu não disse isso. Simplesmente não vi isso com ela.

— Então, se ela quisesse algo casual, as coisas não teriam acabado?

— Não sei, porque não era essa a situação. Mas não sou avesso a compromissos,
se é isso que você quer dizer. Não parei de vê-la porque ela estava procurando um
futuro com alguém. Parei de vê-la porque a pessoa certa para ela não era eu.

Concordei.

— A garçonete é linda...

Christian inclinou a cabeça.

— É?

— Muito.

Ele coçou o queixo.


— Você está tentando me armar?

— Você quer que eu arme para você?

— Existe uma razão para estarmos apenas falando em perguntas?

Eu sorri. — Eu não sei? Existe?

Depois de alguns segundos olhando para mim, Christian encerrou nosso joguinho.

— Não tenho interesse na garçonete.

Quando eu não disse nada, ele inclinou a cabeça.

— Você não vai perguntar por que não?

Pelo jeito que ele estava olhando para mim, eu já sabia a resposta para essa
pergunta.

Terminei meu vinho e sorri. — Não.

Ele deu uma risadinha.

— Como vão as coisas entre você e Ken?

— É Ben e você sabe disso. — Eu sorri e balancei a cabeça. — Não estou mais
saindo com ele. Não tínhamos química.

O sorriso de Christian se estendeu de orelha a orelha.

— Sinto muito por ouvir isso.

Revirei meus olhos.


— Sim, parece que você sente.

Christian parou nossa garçonete quando ela passou.

— Com licença. Podemos conseguir outra rodada quando você puder?

— Claro.

Depois que ela se afastou, ele murmurou: — Ela não é tudo isso. — Então ele
terminou sua cerveja e se levantou. — Com licença um minuto. Vou ao banheiro.

Enquanto ele estava fora, mandei uma mensagem para Fisher e contei a ele o resto
da tarde. Nós tínhamos mandado mensagens algumas vezes mais cedo hoje, e dei
a ele atualizações sobre o quão bem o Signature Scent estava, mas eu não pegava
meu telefone há algum tempo.

Fisher: Como está The Rose?

Ana: Como você sabe que estou aqui?

Fisher: Rastreei você no seu telefone meia hora atrás, quando você não respondeu
à minha mensagem por duas horas. Você nunca demora tanto para responder, então
fiquei preocupado. Acho que a festa mudou para lá?

Algumas pessoas podem não gostar de ser rastreadas, mas dei a Fisher acesso à
localização do meu telefone por um motivo, e apreciei sua preocupação.

Ana: Parte do grupo mudou para cá...

Eu sorri, vendo os pontos imediatamente pularem.

Fisher: Só você e o Adônis?


Ana: Viemos beber depois da festa.

Fisher: Você vai finalmente pular em seus ossos?

Ana: Não acho que isso esteja no cardápio...

Fisher: Querida, os homens estão sempre no menu. É simples. Apenas diga a ele
que você está com vontade de um coquetel.

Balancei minha cabeça com um sorriso.

Ana: Vou manter essa linha no meu arsenal. Obrigada.

Quando Christian voltou do banheiro, desliguei o telefone. Ele deslizou de volta


para o assento em frente a mim.

— Então, o que está acontecendo com Marco atualmente?

— Marco?

— O menino brinquedo.

— Oh. — Eu ri. — Ele está lendo The Thorn Birds. Ele perguntou a Amalia quais
eram seus livros favoritos e todas as semanas vai à biblioteca, devolve um e tira
outro. Então ele puxa conversa com ela sobre o livro que acabou de terminar. Ele
está tentando mostrar a ela o quão comprometido ele é e encontrar coisas em
comum. É tão romântico.

— The Thorn Birds? Parece familiar, mas acho que nunca o li.

— Oh, você deveria. Na verdade, é um dos meus favoritos também.


— Então, a não-sei-o-nome está caindo nessa?

— Amalia... e acho que está. Ele começou a aparecer nas noites em que ela fecha
a biblioteca e ela o deixa acompanhá-la para casa.

Christian balançou a cabeça.

— Quantos anos tem este diário? Soa como um monte de trabalho. Acho que eles
ainda não tinham o Tinder?

Eu ri. — Bem, suponho que seja muito mais fácil deslizar para a esquerda ou direita
– o que quer que seja. Mas é provavelmente por isso que as pessoas que você
conhece dessa maneira geralmente não são o amor da sua vida.

— O que aconteceu com o outro plano dele – deixá-la com ciúmes ao trazer uma
garota?

— Felizmente, ele decidiu seguir o caminho da maturidade e mostrar a ela que é


dedicado.

Um celular começou a zumbir. Virei o meu pensando que era ele, mas não era.

— Seu telefone está vibrando?

— Merda. — Ele enfiou a mão no bolso. — Nem percebi. — Lendo o nome na


tela, as sobrancelhas de Christian baixaram. Ele olhou para o relógio. — É minha
ex-mulher. Eu deveria atender. Ela nunca liga tão tarde.

— Claro. Continue.

Ele limpou e levou o telefone ao ouvido.


— E aí?

Ouvi uma voz de mulher, mas não consegui entender o que ela estava dizendo.

— Onde está o Mark? — Christian perguntou depois de um momento. Pausa. —


Merda. Ok. Sim. Estarei aí assim que puder.

Ele desligou o telefone e imediatamente levantou a mão para chamar a garçonete.

— Sinto muito. Preciso ir.

— Está tudo bem com Charlie?

— Sim, ela está bem. A irmã da minha ex quer ir ao hospital com ela e precisa que
eu a encontre lá para pegar Charlie.

— Oh, que excitante. Aposto que Charlie mal pode esperar para conhecer o
pequeno Homeslice.

Christian riu. — Ela vai implorar para que eu fique no hospital a noite toda.

A garçonete se aproximou e ele entregou a ela seu cartão de crédito.

— Espere. — Peguei minha bolsa e tirei minha carteira. — Permita-me, por favor.

Ele balançou a cabeça e acenou para a garçonete, que nem esperou que eu
discutisse.

— Você pagou o jantar outra noite... — protestei. — Eu queria pagar por este.

— Vou te dizer uma coisa, vou deixar você pagar quando me convidar para sair.

— Mas e se eu nunca te convidar para sair? Isso não seria justo.


— Só mais um motivo para você convidar. Porém, não está no topo da lista de
razões.

— Não?

A garçonete voltou com seu cartão de crédito e um recibo para ele assinar.
Christian tirou uma gorjeta generosa de sua carteira e a enfiou dentro do fólio de
couro. Ele jogou a caneta na mesa.

— Está pronta?

— Sim, mas também estou esperando para ouvir o que está no topo da sua lista de
motivos pelos quais eu deveria convidá-lo para sair.

Christian se levantou e estendeu a mão para me ajudar a levantar. Peguei, mas


depois que fiquei de pé, ele não me soltou. Em vez disso, ele me puxou contra ele
e baixou os lábios no meu ouvido.

— Prefiro mostrar a você do que dizer. Dê uma chance, Ana.


Capítulo 28

Anastasia

Christian não estava no escritório nos próximos dois dias. Mia me disse que a irmã
de sua ex-mulher deu à luz ontem à tarde depois de um longo trabalho de parto,
então imaginei que ele não estava por perto por causa disso.

Hoje verifiquei com sua assistente porque eu queria executar os termos de um


pedido dele, mas ela disse que ele ficaria fora do escritório o dia todo em uma
empresa na qual eles estavam investindo. Por mais que eu odiasse admitir, eu sentia
falta dele quando ele não estava no escritório. Eu estava ansiosa para vê-lo, e não
apenas porque ele era inteligente e uma boa caixa de ressonância para o meu
negócio. Portanto, provavelmente foi bom termos um pouco de separação. Eu
precisava colocar meus sentimentos crescentes por ele sob controle.

Nosso relacionamento não mudou – éramos parceiros de negócios. Embora eu


tivesse que trabalhar cada vez mais para lembrar por que isso é tudo que
poderíamos ser.

— Ei, boas notícias. — Mia entrou em meu escritório. — Consegui fazer a Phoenix
Mets fotografar as imagens de que precisamos para a última peça de marketing.

— Oh, isso é incrível! — Eu sorri, mas não pude evitar e gargalhei. — Sinto muito.
Não tenho ideia de quem é Phoenix Mets.

Mia sorriu. — Ele é um fotógrafo de celebridades. Ele fez aquela foto de Anna
Mills grávida que saiu na capa da Vogue.

— Oh. Uau. Essa foi uma bela foto.


— Ele vai fazer você parecer ainda melhor.

— Eu? — Meu nariz enrugou. — Sim. Depois de assistir você arrasar no Home
Shopping Channel, fiz alguns ajustes nos anúncios propostos. — Ela abriu uma
pasta e colocou alguns esboços na minha mesa. — Pedi a Darby que simulasse
isso, mas não acho que devemos usar um modelo.

Peguei os papéis. Era um desenho tosco, mas a mulher no anúncio se parecia muito
com a pessoa que vi no espelho esta manhã.

— Você quer que eu apareça nos anúncios?

Ela assentiu. — Você é a cara da Signature Scent. As pessoas respondem a você.

— Mas sou estranha nas fotos. Nunca fiz um ensaio fotográfico profissional ou
algo assim. Mia encolheu os ombros.

— Você também nunca tinha aparecido na TV antes e veja como foi ótimo.

— Eu não sei...

— Esta campanha é sobre beleza e ciência, e quem melhor para vender isso do que
você?

Continuei olhando para os anúncios. A mulher desenhada para ser eu usava óculos
grossos e estava com o cabelo preso. Ela sentava em frente a uma mesa de
laboratório com todos os tipos de béqueres e equipamentos científicos espalhados.
No entanto, sua perna estava saindo de trás da mesa, e ela usava um sapato de
fundo vermelho. Era definitivamente um anúncio que eu pararia e olharia – mas,
novamente, sou uma geek da ciência.
— Que tal isso... — disse Mia. — Vamos fotografar o que tínhamos planejado
originalmente e estes. Você pode fazer a chamada final. — Ela apontou para o
anúncio simulado. — Mas estou te dizendo, isso pode ser algo incrível. Não pude
dizer não depois que ela disse isso. Mia tinha sido maravilhosa, e eu sabia que ela
devia acreditar em sua ideia ou não estaria pressionando. Ela não tinha nada além
das melhores intenções para tornar a Signature Scent um sucesso.

Então, respirei fundo e assenti.

— Ok. Vou tentar.

Mia bateu palmas.

— Ótimo. A filmagem é depois de amanhã – sexta-feira de manhã.

— Apenas me diga o que preciso fazer para ficar pronta. Você quer que eu traga
algumas roupas? — A foto tinha uma blusa de botão branca e o que parecia ser
uma saia lápis preta. — Definitivamente, tenho uma camisa branca e uma saia
escura.

— Não. Estamos prontas. — Mia sorriu apreensivamente. — Já encomendei tudo


o que precisamos. As roupas, os adereços de aparência científica, até os sapatos.
Eu não tinha certeza do seu tamanho, então encomendei um pouco de tudo.

Eu ri. — Ok.

— Tudo que preciso que você faça é aparecer.

— Posso cuidar disso.


— Meu administrador está fazendo reservas agora. Vou reservar nosso voo para
casa no domingo, se estiver tudo bem, apenas no caso de precisarmos de um
segundo dia no sábado.

Minhas sobrancelhas franziram.

— Voar? Onde está o ensaio?

— Oh. O fotógrafo fica em LA. Não mencionei isso?

— Você não falou. Mas tudo bem. Nunca estive na Califórnia.

— Você vai adorar. Provavelmente teremos muito tempo de inatividade. Posso


bancar de guia turística.

— Ok. Isso parece ótimo. Obrigada, Mia.

***

Na manhã seguinte, acordei e fiquei pronta cedo. Tomei uma melatonina antes de
ir dormir na noite passada, sabendo que ficaria ansiosa e me viraria. Já era ruim o
suficiente meu rosto ficar estampado em todo o material de marketing; eu não
queria ter olheiras, se pudesse evitar. Nosso voo era às 9h30, mas tínhamos que
sair para o aeroporto às 6h30. Às 6h15, eu estava bebendo minha segunda xícara
de café e olhando pela janela, vendo o sol nascer, quando uma limusine preta parou
na frente do meu prédio. Nunca havia vaga, então corri para a cozinha e despejei
o resto do meu café, depois lavei minha caneca e peguei minha bagagem.

No corredor, apertei o botão do elevador, mas percebi que tinha esquecido minha
outra bolsa com meu laptop. Então, deixei minha bagagem e corri de volta para
meu apartamento.
No final do corredor, ouvi o elevador apitar sua chegada enquanto eu fechava
minha porta pela segunda vez. Eu não queria que o carro desse a volta no
quarteirão, então me apressei para pegar minha bolsa quando as portas se abriram.
Não esperando que ninguém estivesse dentro do elevador, entrei sem prestar
atenção e bati direto em alguém que tentava sair.

— Merda. — Larguei a alça da mala que estava arrastando atrás de mim, ela
tombou e caiu no chão. Abaixando-me para pegá-la, continuei: — Desculpe! Você
está ok... — Parei no meio do caminho enquanto olhava para cima. — Christian?

— Acho que deveria ser grato por você não ter me atingido.

— O que você está fazendo aqui?

— Estou pegando você para ir ao aeroporto. — Ele encolheu os ombros. — O que


mais eu estaria fazendo aqui?

Eu estava completamente confusa.

— Mas onde está Mia?

— Oh, isso mesmo. Eu disse à Mia que lhe diria que iria no lugar dela. Deve ter
escapado da minha mente. Desculpe-me por isso.

— Mas por que você vai em vez de Mia?

— Ela teve uma mudança em sua programação. Isso é um problema?

Além do meu coração já martelando depois de estar perto desse homem por um
minuto – e agora eu teria que passar dias ao lado dele – qual poderia ser o problema
com isso?
Olhei em seus olhos, sem ter certeza do que estava procurando. Então finalmente
exalei. Eu era uma profissional; eu poderia lidar com isso.

Endireitando minha coluna, eu disse: — Não. Sem problemas.

Eu poderia jurar que vi um brilho em seus olhos. Mas não tive tempo para explorá-
lo, já que Christian agarrou minha bolsa subitamente e estendeu a mão para que eu
entrasse no elevador que ainda estava esperando.

— Depois de você.

Senti-me muito fora de forma, mas consegui entrar. Minha mente disparou com
um milhão de pensamentos enquanto caminhávamos para o saguão, embora uma
questão em particular me saltasse. Meu prédio não tinha porteiro. Tínhamos um
sistema de campainha e os visitantes precisavam ser acionados.

— Como você entrou?

— Fisher. Ele estava saindo para correr quando cheguei. Eu teria que me lembrar
de agradecer ao meu amigo pelo aviso.

Ele sabia que eu pensava que iria com Mia. Ele invadiu minha geladeira enquanto
eu fazia as malas e contei a ele tudo sobre minha viagem na noite anterior. Mas
tanto faz – eu tinha peixes maiores para fritar. Quanto como eu manteria minha
distância do homem ao meu lado no elevador quando ele parecia tão bom.
Christian estava com uma calça azul marinho simples e uma camisa social branca.
Eu estava meio passo atrás dele e era impossível não notar o quão bem o material
abraçava sua bunda redonda. Aposto que ele faz um monte de agachamentos.
Ele olhou para mim e meus olhos pularam para os dele na hora. Pelo menos eu
esperava que eles tivessem. Embora o canto de sua boca pudesse ter dito o
contrário.

Ótimo.

Simplesmente ótimo.

Esta vai ser uma viagem muito longa.

Christian teve que atender uma ligação internacional durante a viagem para o
aeroporto e, quando chegamos, ele foi enviado para uma linha diferente, já que ele
tinha pré-verificação de segurança e eu não. Fiquei grata pelo adiamento. Só depois
de embarcarmos no avião é que realmente tivemos tempo para conversar.
Estávamos sentados um ao lado do outro na terceira fileira da primeira classe, o
que eu não esperava.

— Bem, isso é confortável. — Afivelei meu cinto de segurança. — Nunca sentei


na primeira classe antes.

— Eu poderia trabalhar como econômica anos atrás, quando havia mais espaço
entre os assentos, mas nos últimos dez anos eles tornaram impossível para alguém
com mais de um metro e oitenta de altura sentar-se confortavelmente –
especialmente em um voo de seis horas para a Costa Oeste. Uma comissária de
bordo se aproximou com uma bandeja de suco de laranja em taças de champanhe.

— Mimosa?

— Uh, claro. — eu disse. — Vou querer um. Ela me passou uma taça e olhou para
Christian.
Ele ergueu a mão. — Não, obrigado. Mas vou querer um café quando você puder.

— Claro. Depois que ela se afastou, levantei minha taça para Christian.

— Não é um bebedor matinal?

Ele sorriu. — Normalmente não.

— Eu provavelmente deveria ter pulado também, mas estou com os nervos em


frangalhos.

— Nervosa sobre voar?

— Não, na verdade não. Embora, às vezes eu fique um pouco enjoada se houver


turbulência.

— Ótimo. — Ele apontou para o corredor. — Incline a cabeça assim.

Eu ri. — Acho que você é do tipo que nem percebe que está em um avião. Você
provavelmente trabalha na metade dele e, em seguida, fecha os olhos e tira uma
soneca.

— Quase. Normalmente trabalho durante a maior parte do voo.

A aeromoça voltou para entregar o café de Christian. O serviço era definitivamente


melhor aqui do que na econômica.

— Então, por que você está nervosa? — Ele perguntou. — Se não é pelo voo?

— Oh, eu não sei... talvez ser fotografada por um fotógrafo famoso e ter minha
foto colada em todos os materiais de marketing do Signature Scent?
Christian olhou para trás e para frente entre meus olhos.

— Você quer saber um segredo?

Eu sorri.

— Claro.

Ele se inclinou e sussurrou.

— Você pode fazer qualquer coisa.

Eu ri. — Esse é o segredo?

— Bem, tecnicamente não é um segredo, já que a única pessoa que parece não
saber é você.

Suspirei. — Isso é muito gentil, mas não tenho certeza se é verdade.

Novamente Christian parou um momento para olhar para mim. Parecia que ele
estava debatendo se deveria dizer algo.

— Você se lembra do seu primeiro dia de trabalho no escritório? — Ele finalmente


perguntou.

— Em Grey? Sim, por quê?

— Você me perguntou por que mudei de ideia sobre investir na sua empresa.

— Você disse que sua irmã era muito persuasiva, ou algo nesse sentido.

Ele assentiu. — Essa não era toda a verdade.


— Não?

Christian balançou a cabeça e seus olhos caíram para os meus lábios.

— Eu queria te conhecer. Na semana seguinte ao casamento da minha irmã, não


conseguia parar de pensar em você. Não porque você é linda – não me entenda
mal, você é. Mas fui atraído por sua força. Você não é uma mulher que precisa de
um homem. Você é uma mulher de que um homem precisa. Não tenho certeza se
reconheceria a diferença anos atrás. Mas você torna impossível esquecer agora.

Pisquei algumas vezes.

— Uau. Acho que pode ser o melhor elogio que já recebi.

Ele franziu um pouco a testa.

— Presumi que aquele seu ex imbecil era um idiota pela merda que ele fez para
você. Mas agora tenho certeza de que ele é um idiota colossal.

A aeromoça interrompeu nossa conversa para pegar nossas bebidas, pois


estávamos prestes a nos afastar do portão. Então a verificação de segurança
começou, e vimos a mulher parada a poucos metros de nós colocar um colete salva-
vidas de plástico não inflado e nos mostrar como afivelar os cintos que já
estávamos usando.

Enquanto taxiamos na pista atrás de uma fila de aviões se preparando para decolar,
Christian me ofereceu um jornal. Recusei preferindo colocar meus fones de ouvido
e tentar relaxar. Porém, no minuto em que fechei os olhos, sabia que isso não
aconteceria.
Agora eu não conseguia parar de pensar no que Christian havia dito. Ele me viu
linda e forte, duas coisas que eu não sentia há muito tempo. E sabe de uma coisa?
Ele estava certo – pelo menos na parte da força, de qualquer maneira. Ultimamente,
eu me sentia nas nuvens com tudo que havia conquistado. Eu estava nervosa em
aceitar um investidor, mas acabou sendo a melhor decisão que tomei até agora. E
eu estava com medo de ir ao ar no Home Shopping Channel, e isso tinha sido um
sucesso retumbante. Então, por que eu deveria ter medo de tirar algumas fotos e
colocar meu rosto no marketing da minha empresa? Eu não deveria.

Essa foi a resposta a essa pergunta.

Respirei fundo algumas vezes e senti meus ombros relaxarem. Tudo que eu
precisava era um pouco de Vivaldi, e eu poderia realmente ser uma daquelas
pessoas que poderia tirar uma soneca no voo. Quem sabe? Quando a música
começou, olhei para o homem sentado ao meu lado. Christian percebeu meus olhos
nele e mostrou um rosto adorável, um que era meio sorriso torto e meio confuso –
como se ele estivesse tentando descobrir o que eu estava pensando, mas feliz que
seja lá o que fosse, eu estava olhando para ele. Tirei o fone de ouvido do lado dele
e me inclinei para ele.

— Obrigada. — eu disse.

— Pelo quê?

— Por me ver do jeito que você vê. Sei que posso ser agressiva às vezes.

Christian olhou nos meus olhos.

— Você é. Mas não se preocupe. — Ele piscou.

***
— Bem-vindo ao Hotel Bel-Air. Vocês estão chegando hoje?

— Sim, está no nome Grey. — disse Christian. — Deve haver duas reservas.

A mulher atrás da recepção bateu as unhas compridas no teclado enquanto eu


olhava boquiaberta para o saguão do hotel. Eu esperava que fôssemos ficar no
centro de L.A. em algum hotel da moda, mas este lugar era mais como um
santuário escondido na floresta.

O Hotel Bel-Air tinha um ar da velha escola de Hollywood. Tinha todos os toques


de luxo padrão – colunas e balcões de mármore, pisos de calcário, tetos de madeira
natural – mas algo o fazia parecer sereno e privado, em vez de chamativo.

Christian percebeu que eu estava olhando em volta.

— Os jardins são lindos. Você quase esquece que está em L.A. Já fiquei aqui uma
vez, mas o fotógrafo escolheu desta vez. Vamos filmar aqui.

— Oh, uau. Isso é bom e fácil. Mal posso esperar para olhar em volta.

A funcionária do hotel ergueu dois cartões de papel. Ela ergueu um.

— Este é para a suíte Stone Canyon. — Ela levantou a outra mão. — E este é para
o quarto deluxe.

Christian pegou a chave do quarto e me entregou a chave da suíte.

— O quê? Não. Eu não preciso de uma suíte. Você pega.

— Você vai ter uma equipe de cabelo e maquiagem amanhã de manhã. Você
precisa de espaço. Além disso, o fotógrafo planeja filmar algumas das sessões no
pátio do seu quarto. Ele solicitou aquela suíte específica.
— Oh... — Eu ainda me sentia esquisita em tomá-la, mas acho que fazia sentido.
— Ok.

Christian me acompanhou até meu quarto. Ele empurrou minha mala enquanto fui
direto para as duas portas abertas na sala de estar. Elas levaram direto para um
pátio privado.

— Santíssimo, há uma lareira e uma grande jacuzzi aqui. Christian saiu atrás de
mim. Ele apontou para uma área de estar com um cenário de plantas exuberantes
e vegetação.

— Acho que é aqui que ele quer se estabelecer amanhã. Ele enviou um e-mail
sobre algumas maquetes na noite passada com alguns móveis que alugou para o
dia.

Apontei para a Jacuzzi. — Eu sabia que deveria ter trazido um maiô.

— É um pátio privado. — Ele encolheu os ombros. — Não pense que você precisa
de um.

— Ooohh. Isso é ainda melhor.

Outro conjunto de portas duplas levava a um quarto, então fui verificar também,
antes de entrar no banheiro mais luxuoso que já vi.

Christian parecia divertido com meu entusiasmo.

— Não quero sair deste quarto. — eu brinquei.

Ele olhou para a cama e de volta para mim.

— Que faz dois de nós.


Eu ri, mas meus olhos permaneceram na cama. Quando meu olhar se ergueu,
encontrei Christian me observando.

Ele pigarreou. — Eu deveria ir. Tenho algum trabalho para colocar em dia. O
fotógrafo achou que seria uma boa ideia jantar esta noite, mas eu não tinha certeza
se você se sentiria bem.

— Estou bem. O jantar seria bom.

Christian deu um breve aceno de cabeça.

— Vou dizer cinco, já que serão oito para nós, hora de Nova York.

— Boa ideia.

Caminhamos até a porta.

— Você está planejando ir a algum lugar? — Ele perguntou. — Você quer as


chaves do carro alugado?

— Hmm... Tenho algum trabalho a fazer, mas talvez eu pudesse ir comprar um


maiô. Passamos por um monte de boutiques fofas não muito longe. Embora não
tenha carteira de motorista, não precisarei do carro. — Dei de ombros. — Talvez
eu pegue um Uber mais tarde, se tiver tempo.

— Esqueci que você não dirige. — disse Christian. — Pensando bem, eu não
preciso trabalhar. Você precisa de uma carona... e de alguém para modelar
biquínis.

Eu ri. — Acho que sou boa em escolher biquíni sozinha.


Ele enfiou as chaves do carro no bolso. — Me avise se quiser companhia na
banheira de hidromassagem quando voltar.

— Você trouxe uma sunga?

Christian sorriu. — Não.


Capítulo 29

Anastasia

Mudei de roupa três vezes. Então, quando Christian bateu na minha porta cinco
minutos antes do jantar, eu não estava pronta.

— Ei... — Abri a porta. — Oh... você está usando jeans.

Ele olhou para baixo. — Eu não deveria?

Balancei minha cabeça. — Não, não. Está bem. Eu só não tinha certeza do que
vestir. Eu estava de jeans, mas pensei que poderia estar vestida muito casualmente.
Então desci para o restaurante para ver como é chique. Parecia muito bom, então
mudei... duas vezes.

Christian me olhou de cima a baixo. Decidi-me por um vestidinho preto simples


sem mangas com salto nude.

— Não sei o que você estava usando antes... — disse ele. — Mas não posso
imaginar que poderia ser melhor do que o que você está vestindo. Você está bonita.

Senti aquela sensação de calor na minha barriga.

— Obrigada. Você também está bem. Eu realmente gosto de você com um pouco
de barba.

— Vou jogar fora todas as minhas navalhas logo após o jantar.

Eu ri e me afastei. — Só vou demorar um minuto. Preciso passar batom e trocar


minhas joias.
Christian se sentou no sofá da sala enquanto fui ao banheiro terminar.

— Recebi notificações de envio para um monte de produtos...— gritei enquanto


alinhava meus lábios. — Se tudo der certo, podemos estar prontos para começar a
enviar caixas ainda mais cedo do que esperávamos.

— Bem, então acho melhor terminarmos essa fotografia amanhã. — ele gritou da
outra sala.

Depois que terminei meu batom, coloquei um par de brincos turquesa para
adicionar um pouco de cor, junto com uma pulseira grossa combinando. Corri
meus dedos pelo meu cabelo uma última vez e respirei fundo, olhando no espelho.

Como se estar perto de Christian não fosse estressante o suficiente, jantar com um
fotógrafo que estava acostumado a fotografar modelos e celebridades famosas
adicionava outro nível de pressão. Eu não queria que ele olhasse para mim e
pensasse: Oh merda... como vou fazer isso parecer bom o suficiente para vender
perfume para mulheres? Mas era o que era, e mais cinco minutos de preparação
não mudariam as coisas. Então fui para a sala de estar e peguei minha bolsa da
mesa de centro.

Jogando algumas coisas dentro, eu a fechei.

— Você conseguiu terminar todo o seu trabalho esta tarde?

Christian se levantou.

— Sim. E quanto a você?

— Fiz a maior parte. Mas então eu não pude resistir a experimentar a Jacuzzi.
— Você foi comprar um biquini?

Balancei minha cabeça e sorri.

— Não, eu fui nua.

Os olhos de Christian passaram por mim e ele resmungou: — Devíamos ir.

Sua frustração me deu o impulso de confiança de que eu precisava no momento.


Christian foi rápido em abrir a porta da minha suíte, o que me fez rir.

Caminhamos lado a lado até o restaurante do hotel.

— Você já conheceu Phoenix antes? — Perguntei.

— Não. Achei que não seria muito difícil encontrá-lo. Os fotógrafos geralmente
têm uma certa aparência e ele estará sozinho.

Quando fizemos o check-in no restaurante, a recepcionista disse que o outro


membro do nosso grupo já havia chegado e estava tomando um drinque no bar.
Fomos nos juntar a ele, mas havia alguns caras sentados sozinhos.

— Qual você acha que ele é? — Perguntei.

Christian olhou em volta e apontou para um cara na outra extremidade do bar. Ele
tinha cabelo desgrenhado, uma camisa de cor brilhante e pulseiras no meio do
braço – ele parecia totalmente na moda.

— Ele. — Ele apontou.

Eu só conseguia ver os outros dois homens de costas, mas um tinha cabelos


grisalhos e usava um terno de tweed, e o outro cara tinha ombros largos o suficiente
para ser um jogador de futebol, então imaginei que Christian provavelmente estava
certo. Mas o deixei assumir a liderança, de qualquer maneira.

Ele se aproximou e perguntou: — Phoenix?

O cara balançou a cabeça.

— Acho que você pegou o cara errado.

— Desculpa.

Christian e eu olhamos para os outros homens do outro lado do bar, que agora
podíamos ver de frente – e... uau, o cara com ombros de defensor era
absolutamente lindo. Ele percebeu que estávamos olhando e sorriu.

Levantei meu queixo. — Acho que é ele.

— Ele não parece um fotógrafo. — disse Christian.

— Eu sei. Ele parece mais um modelo.

O cara se levantou e caminhou em nossa direção.

— Estou supondo que vocês são da Signature Scent? — Ele disse.

— Nós somos. — Eu sorri.

Eu não queria soar tão jovial ou ansiosa, mas acho que saiu assim, porque Christian
me lançou um olhar estranho quando estendi minha mão.

— Anastasia. Prazer em conhecê-lo.


— Ah. Minha musa. — Ele ergueu minha mão e beijou o topo dela. — Vejo que
será um trabalho fácil.

Christian parecia estar procurando um rosto impassível quando se apresentou e


apertou a mão do homem bonito, mas eu vi a carranca espreitando em seus olhos.
Nós três pedimos uma mesa e fui primeiro, seguindo a anfitriã até nossos lugares.
Notei mais de uma mulher virando a cabeça para olhar para os homens atrás de
mim. Eu não poderia culpá-las. Christian e Phoenix eram muito diferentes, mas
cada um lindo por si mesmo.

Christian foi puxar minha cadeira, mas Phoenix se adiantou.

— Obrigada. — eu disse.

Assim que nos acomodamos, Phoenix iniciou a conversa.

— Então, há quanto tempo você trabalha como modelo? — Ele me perguntou.

— Oh, eu não sou um modelo. Sou criadora da Signature Scent.

— Mesmo? Poderia ter me enganado.

Christian pegou o menu de bebidas e resmungou.

— A informação sobre quem você iria fotografar estava no artigo de marketing


enviado a você. Acho que você perdeu.

Tentei amenizar o comentário de Christian.

— Há quanto tempo você é fotógrafo?


— Profissionalmente, cerca de cinco anos. Fui modelo por dez antes disso, então
foi assim que aprendi o negócio. Os modelos envelhecem muito rapidamente.
Enquanto eu ainda estava reservando muitos empregos, fiz algumas aulas para ter
algo em que voltar.

— Inteligente.

— Então você inventou o produto e vai ser a modelo? Beleza e inteligência. Seu
marido é um homem de sorte.

— Obrigada. — Corei. — Mas eu não sou casada.

Phoenix sorriu e Christian revirou os olhos.

Fiz questão de colocar Christian na conversa e evitar mais chances de flerte.


Enquanto eu estava lisonjeada com a atenção de Phoenix, e foi divertido ver uma
centelha de ciúme do homem à minha esquerda, este era um jantar de negócios.
Além disso, não importava o quão bonito Phoenix era, eu não tinha interesse nele.
Eu não tinha certeza se eram meus esforços ou talvez os dois uísques com gelo que
Christian bebeu durante o jantar, mas ele pareceu relaxar enquanto comíamos.
Conversamos sobre o Signature Scent – tudo, desde como foi desenvolvido até os
planos de marketing que Mia tinha feito.

Quando a garçonete sugeriu café e sobremesa, Christian recusou, então eu segui o


exemplo.

— Nove horas da manhã para começar está bom? — Phoenix perguntou. — Cabelo
e maquiagem podem chegar até você às oito. Seu guarda-roupa está pronto?

Christian respondeu. — Mia me mandou uma mensagem dizendo que o último


pacote foi entregue no hotel há pouco tempo.
— Perfeito. — disse Phoenix. — Acho que poderemos encerrar no início da tarde,
para que você possa sair e aproveitar um pouco do sol da Califórnia.

Eu sorri. — Oh, bom. É a minha primeira vez aqui, por isso adoraria ver a cidade.

— Sou um menino nascido e criado em L.A. Se você estiver pronta para isso, posso
mostrar-lhe tudo depois do final das filmagens.

Meus olhos se inclinaram para encontrar os de Christian. Eu poderia dizer que ele
estava chateado, mas se absteve de dizer qualquer coisa.

— Na verdade... — Sorri educadamente para Phoenix. — Já tenho planos. Mas,


muito obrigada pela oferta.

Nós três caminhamos juntos para o saguão. Christian estava quieto, mas
profissional, ao dizer boa noite ao nosso companheiro de jantar.

— Preciso parar na recepção para pegar os pacotes que Mia mandou para você. —
Christian disse depois que Phoenix foi embora.

— Oh, ok. — Concordei.

Eu não poderia dizer se ele estava chateado comigo ou apenas de mau humor. Ele
manteve sua postura severa ao perguntar à funcionária do hotel sobre a entrega.
Ela apertou algumas teclas do teclado e olhou para a tela.

— Parece que foi entregue no seu quarto. Quarto 238.

— Ok, obrigado.
Como o quarto 238 era dele e eu precisava experimentar algumas coisas, eu disse:
— Você se importa se eu ficar no seu quarto agora? Quero me preparar o máximo
que puder esta noite, para não perder o tempo de ninguém pela manhã.

— Isso é bom.

Ele ficou quieto novamente enquanto caminhávamos para o seu quarto. Ele
destrancou a porta e segurou-a aberta para eu entrar, mas assim que a porta se
fechou, o silêncio ficou ensurdecedor e eu não aguentava mais.

— Você está com raiva de mim?

Os olhos de Christian olharam entre os meus.

— Não.

— Ok... você está cansado? Foi um longo dia com a viagem e tudo.

Ele balançou sua cabeça. — Eu não estou cansado.

Balancei a cabeça, com a intenção de deixá-lo sozinho. Mas isso durou apenas
trinta segundos. Eu não pude evitar.

— Quando eu disse que nunca tinha estado em L.A. e queria dar uma olhada, não
estava insinuando que ele deveria me convidar para sair. — Balancei minha
cabeça. — Eu nem sei se ele estava me chamando para sair, mas seja o que for que
ele estava oferecendo, eu não estava tentando abrir uma porta para ele me mostrar
o lugar.

Os olhos de Christian fixaram-se em mim.

— Oh, ele estava te chamando para sair. Não se engane sobre isso.
— Mas eu...

Ele me interrompeu. — Você foi perfeitamente educada e profissional. Você não


fez nada de errado.

Balancei minha cabeça. — Então, por que você acha que sim?

Christian olhou para seus pés pelo que provavelmente foram apenas alguns
segundos, mas pareceram uma hora. Eventualmente, seus olhos encontraram os
meus.

— Eu sou apenas um idiota ciumento. Não quero descontar em você. Peço


desculpas.

Oh... uau. Não achei que ele fosse tão honesto.

Eu sorri tristemente. — Obrigada. Pelo que vale a pena, se os papéis fossem


invertidos e a fotógrafa fosse uma linda ex-modelo que se oferecesse para mostrar
a cidade a você, eu também ficaria com ciúmes.

Christian olhou nos meus olhos. — Sabe, não ficamos com ciúmes das coisas que
não queremos.

— Querer nunca foi o problema para mim. É que... tanta coisa pode dar errado.

— Ou tanto poderia dar certo. — Christian forçou um sorriso e acenou com a


cabeça. — Mas eu entendo. — Ele olhou ao redor da sala. — Eu não vejo as caixas
aqui. Deixe-me verificar o quarto. Você tem uma lista do que deveríamos ter
recebido?

— Sim... — suspirei. — Posso olhar no meu telefone.


Sentei-me no sofá e tirei meu telefone da bolsa. Quando comecei a rolar, notei algo
saindo do canto do sofá, escondido entre as almofadas. Parecia um livro. Sem
pensar, puxei-o para fora e coloquei-o na mesinha para que não se perdesse. Mas
quando li o título na frente, fiquei surpresa. The Thorn Birds. Christian e eu
havíamos conversado sobre este livro outro dia. Ele disse que não tinha lido.
Peguei o livro de volta e comecei a folhear as páginas. Cerca de três quartos, um
dos cartões de visita de Christian estava enfiado dentro como um marcador.

— Eles entregaram duas caixas... — Christian congelou. Seus olhos se ergueram


para encontrar os meus, mas ele não disse nada.

— Você está lendo isso?

Ele colocou as caixas na mesa de centro na minha frente.

— Você mencionou que gostava outro dia. Costumo ler muito enquanto viajo.

Meu coração inchou dentro do meu peito, deixando-me um pouco sem fôlego.

Balancei minha cabeça. — Você sabia que eu achava que Marco ler os favoritos
de Amalia era romântico.

Christian ficou quieto por um momento antes de bater nas caixas.

— Quantos faltam para serem entregues?

— Umm... — Eu não tinha terminado de procurar para descobrir. Deslizei para o


meu e-mail e procurei o que Mia havia enviado com as confirmações de envio. —
Acho que são só as duas... Todos os adereços serão entregues amanhã de manhã
por uma empresa local.
Ele assentiu. — Vou levar isso para o seu quarto para você.

Balancei minha cabeça. — Tudo bem. São apenas algumas roupas. Posso levá-las.

Christian enfiou as mãos nos bolsos e manteve os olhos baixos. O comportamento


tímido não era nada parecido com o de Christian. Tantas emoções passaram pela
minha cabeça e me levantei, sem saber o que dizer, embora a conversa sobre o
livro parecesse inacabada.

Eventualmente, ficou estranho, então peguei as caixas e achei que era hora de ir.

— Obrigada novamente pelo jantar. Vejo você de manhã?

— Estarei no seu quarto quando eles começarem.

— Ok. Obrigada.

Ele abriu a porta e nossos olhares se encontraram mais uma vez.

Por que parecia que meu coração estava se partindo?

— Boa noite, Christian.

Desci para o meu quarto, mas não consegui entrar. Eu tinha duas caixas nas mãos,
mas apenas olhei para a minha porta. O que diabos estou fazendo?

Nas últimas semanas, estive lendo um diário e torcendo para que um homem
conseguisse a garota por causa de todos os seus gestos doces. Ainda assim, em
minha vida pessoal, tenho um homem que me ouviu, um homem que me perdoou
por ter invadido o casamento de sua irmã e por lhe dar um olho roxo. Eu o chamei
de idiota em mais de uma ocasião, mas ele não fez nada além de me ajudar a tirar
meu negócio do chão e ficar ao meu lado o tempo todo. Ele também era um pai
adorável, o que diz muito sobre um homem. Sem mencionar que eu estava
ridiculamente atraída por ele. Então, por que diabos não me arrisco?

Eu disse a mim mesma que não era uma boa ideia misturar negócios com prazer
por causa da maneira como as coisas tinham acontecido com Jack. Mas meu
negócio já havia superado todas as minhas expectativas e ainda não tínhamos
colocado o site no ar para o público em geral. Então não era isso.

Pensei na minha conversa com Christian alguns minutos atrás.

— Tanta coisa pode dar errado. — eu disse.

Mas talvez o que ele disse fosse mais importante.

— Tanta coisa poderia dar certo.

A verdade é que estava com medo de arriscar. Mas percebi agora que, ao não
arriscar, posso perder algo realmente lindo. Minhas mãos começaram a suar,
porque eu sabia o que precisava fazer. Eu também sabia que se entrasse em meu
quarto e começasse a pensar demais nas coisas, poderia ter medo. Então tinha que
ser agora.

Agora mesmo.

Larguei as caixas no chão em frente à minha porta e corri de volta para o quarto
de Christian.

Parada na frente de sua porta, meu primeiro instinto foi parar um momento e me
recompor. Mas fazer isso me daria tempo para perder a coragem. Então me forcei
a apenas bater – embora com toda a adrenalina e os nervos passando por mim,
minha batida saiu mais como um estrondo, uma batida muito alta e rápida.
Christian abriu a porta. Seu rosto estava com raiva, mas ao me ver, ele saltou para
o modo protetor.

— O que aconteceu? Você está bem? — Ele deu um passo para fora do quarto e
olhou para o corredor, primeiro para a direita e depois para a esquerda. — Ana, o
que está acontecendo? Está tudo bem?

— Está tudo ce...

Esqueci o que estava dizendo no meio da frase. Quando ele abriu a porta e me
assustou, tudo que vi foi um rosto zangado. Mas agora... Eu não conseguia tirar
meus olhos dele.

Meu senhor.

A camisa social de Christian estava desabotoada. Seu cinto estava aberto e o zíper
de sua calça estava abaixado, revelando uma cueca boxer escura. Mas não foi seu
estado de nudez que me impediu de formar palavras, foi o que estava por baixo
das roupas. Eu sabia por nossas conversas que ele se exercitava, então esperava
que ele estivesse em boa forma. Mas Christian era muito mais. Ele era... magnífico.
Linda pele lisa e bronzeada, peitorais esculpidos e um pacote de oito músculos
ondulados. Uma linha fina de cabelo ia de seu umbigo até sua boxer, a visão do
que me fez salivar.

— Ana? Você está bem?

Ao ouvir a preocupação em sua voz, pisquei algumas vezes.

— Oh, sim. Estou bem.

— Embora não tão bem quanto você.


— Você bateu na minha porta como se houvesse um incêndio, ou algo assim.

— Desculpa. — Balancei minha cabeça. — Eu estava apenas ansiosa.

— Ansiosa com o quê? A sessão de fotos amanhã?

— Não... sim... não... bem, estou ansiosa com a sessão de fotos de amanhã, mas
não era por isso que eu estava ansiosa quando bati na sua porta.

Christian ainda parecia confuso. Mas é claro, por que não faria isso quando eu
estava tagarelando como uma idiota? Então, respirei fundo e me estabilizei.

— Eu... eu... você gostaria de jantar amanhã à noite?

— Jantar?

Balancei a cabeça e engoli.

— Sim... como um encontro?

Toda a confusão e raiva desapareceram de seu rosto.

Ele balançou sua cabeça.

— Já estava na hora do caralho.

Revirei meus olhos.

— Não seja tão arrogante sobre isso. Você quer ou não?

Ele sorriu. — Sim, eu gostaria muito de sair com você, Ana.


Minha barriga deu uma pequena cambalhota. De repente, me senti como se
estivesse no ensino médio e o garoto mais popular tivesse me dito que gostava de
mim também.

Nervosa, olhei para baixo.

— Ok, então amanhã? Após a sessão. Vamos jantar ou algo assim?

Christian parecia divertido.

— Sim, é assim que geralmente funciona – jantar ou algo assim.

Fiz uma careta para ele.

— Isso não é fácil, você sabe. Você não precisa tornar as coisas ainda mais difíceis
sendo um idiota.

Seus olhos brilharam. — Vou trabalhar nisso.

— Bom. — Nunca convidei um homem para sair na minha vida, então não tinha
certeza do que viria a seguir. Mas quando me peguei agarrando o anel, que sempre
torcia quando me sentia nervosa, achei que o melhor seria dizer boa noite. — Tudo
bem, vejo você amanhã, então.

Fui embora, mas Christian saiu de seu quarto e agarrou minha mão.

— Espere um segundo. Você esqueceu algo.

Minhas sobrancelhas baixaram.

— O quê?
Ele puxou minha mão, então tropecei e caí em seu peito. Então, em um golpe
rápido, ele se inclinou, me levantou e nos virou de forma que minhas costas
estivessem contra a porta de seu quarto. Minhas pernas envolveram sua cintura e
Christian se empurrou em mim, prendendo-me com seu corpo.

Ele segurou minhas bochechas e olhou nos meus olhos.

— Isso,você esqueceu isso.

A boca de Christian caiu na minha. O suspiro que estava na metade dos meus lábios
foi engolido, junto com qualquer timidez que senti um minuto atrás. Enfiei meus
dedos em seu cabelo grosso e puxei, querendo-o ainda mais perto. Christian
gemeu. Ele inclinou minha cabeça para aprofundar o beijo, e nossas línguas
colidiram freneticamente.

O inferno começou depois disso. Christian se esfregou entre minhas pernas


enquanto uma de suas mãos serpenteava para a parte de trás da minha cabeça, onde
ele agarrou um punhado do meu cabelo. A aspereza de suas ações juntamente com
a sensação de seu corpo quente e duro empurrando contra mim trouxe um gemido
de algum lugar dentro de mim.

— Porra.— Christian rosnou enquanto sua boca se movia para o meu pescoço. Ele
chupou ao longo da minha pulsação antes de beijar o caminho de volta aos meus
lábios. — Faça isso de novo. Faça aquele som de novo.

Não era um som que tentei fazer, então eu não tinha certeza se poderia repeti-lo.
Embora quando ele esfregou seu pau para cima e para baixo entre as minhas pernas
abertas, eu não tive que me preocupar em tentar fazer isso, porque mais uma vez
veio de algum lugar dentro de mim. Christian resmungou.
— Porra, sim. Eu não tinha certeza de quanto tempo ficamos assim – agarrando e
puxando, moendo e tateando – mas quando nosso beijo finalmente terminou,
estávamos ambos ofegantes. Estendi a mão e senti meus lábios inchados.

— Uau.

Um sorriso se espalhou pelo rosto de Christian quando ele encostou sua testa na
minha.

— Demorou tempo suficiente.

Eu ri. — Cale-se. Eu tinha um bom motivo para estar com medo.

Christian empurrou uma mecha de cabelo da minha bochecha e seu rosto suavizou.

— Não tenha medo. Não vou te machucar.

Um som do outro lado do corredor interrompeu o momento íntimo. Um casal mais


velho estava descendo o corredor em nossa direção.

— Merda. — Christian disse enquanto me colocava de pé. Em um movimento


realmente adorável, ele puxou meu vestido preto para baixo e o endireitou para
mim. Eu ri e apontei meus olhos para suas calças.

— Uhh... não acho que é comigo que você precisa se preocupar em parecer
obsceno. A testa de Christian se enrugou até que ele olhou para baixo e viu sua
ereção saindo de suas calças.

— Merda.
— Não se preocupe. — eu disse. — Eu te ajudo. — Pisei na frente dele e me
inclinei para protegê-lo até que o casal passasse. Então ele puxou o zíper e afivelou
parcialmente o cinto.

— Vamos. — ele disse. — Vou acompanhá-la até o seu quarto.

— Você não tem que fazer isso.

— É no caminho.

Minhas sobrancelhas franziram.

— Caminho de onde?

— Para a recepção. Tranquei-me para fora do meu quarto.

Eu ri. — Suave, Grey. Suave.

Ele respondeu dando um tapa na minha bunda. — Seja legal ou não serei um
cavalheiro quando chegarmos à sua porta.

— Talvez eu não queira que você seja um cavalheiro.

Ele passou o braço em volta do meu ombro enquanto começamos a andar.

— Eu disse que seria um cavalheiro quando estivermos na sua porta. Acredite em


mim, o cavalheirismo vai ficar estacionado do lado de fora quando estivermos em
algum lugar menos público.

Quando chegamos à minha porta, Christian me beijou suavemente nos lábios.

— Você... quer entrar?


Ele acariciou minha bochecha.

— Sim, eu quero. Mas não, não vou. Você tem que se levantar de manhã. Além
disso, você merece um bom encontro, e vou lhe dar isso antes de prosseguirmos
com as coisas. Se formos para o seu quarto, vou acabar tentando deixá-la nua. Você
é impossível de resistir. Acredite em mim, estou tentando pra caralho.

Eu sorri e me levantei na ponta dos pés para outro beijo doce.

— Boa noite, Christian.

— Que bom que você finalmente ouviu o sussurro.

— Eu realmente não tive escolha. Meu sussurro tem sido mais como um grito
ultimamente.
Capítulo 30

Christian

Na manhã seguinte, apareci na porta de Ana às sete e meia. Ela a abriu embrulhada
em uma toalha.

— Ei. Você chegou cedo.

Meus olhos arrastaram para cima e para baixo em uma porrada de pele exposta.
Balancei minha cabeça.

— Parece que vim na hora perfeita.

Ela riu, e juro que o som pode ter sido ainda melhor do que a vista, e a vista era
espetacular pra caralho.

Ana entrou. — O pessoal do cabelo e da maquiagem vai chegar às oito, então


esperei para tomar um banho para que meu cabelo ainda estivesse úmido.

Estar dentro de sua suíte parecia completamente diferente do que quando estive
aqui ontem. Por exemplo, agora eu poderia fazer isso...

No momento em que a porta se fechou, eu a peguei em meus braços e esmaguei


meus lábios nos dela. Na noite anterior, adormeci pensando no gosto dela e esta
manhã acordei morrendo de fome. O gemido suave que quase me matou ontem fez
uma aparição novamente – cruzou de seus lábios para os meus e viajou direto para
o meu pau. Porra. Ela provavelmente não me pararia se eu deslizasse a toalha em
torno dela, embora isso só piorasse as coisas. Se apenas um beijo me faz sentir
como um selvagem, não havia nenhuma maneira no inferno de que só vê-la nua
seria o suficiente. Então eu me afastei de sua boca.
Ana ergueu a mão e esfregou dois dedos ao longo do lábio inferior.

— Acho que nunca senti o que se passava na mente de alguém apenas por beijá-
lo.

— O que você quer dizer?

— Seus beijos. Eles dizem muito. Seja um beijinho doce nos lábios ou o que
acabou de acontecer, eu simplesmente sei o que está acontecendo em sua cabeça
quando nossos lábios se encontram.

— Oh, sabe? — Eu disse. — O que estava acontecendo na minha cabeça agora?

— Você queria tirar minha toalha, mas sabia que não era uma boa ideia, porque as
pessoas vão chegar a qualquer minuto.

Minhas sobrancelhas se ergueram.

— Como diabos você sabia disso?

Ela balançou a cabeça. — Não sei explicar. Apenas sei.

— Isso é perigoso – para mim.

Ela sorriu e ajeitou o canto dobrado de sua toalha.

— Eu deveria ir me vestir antes que as pessoas comecem a chegar.

Por mais que eu odiasse vê-la se encobrir, de jeito nenhum eu queria compartilhar
a aparência dela com ninguém – especialmente o fotógrafo idiota.

Concordei. — Vá.
Ana foi embora, mas na porta do quarto ela gritou de volta. — Christian?

— Sim?

Ela deixou a toalha cair no chão. Eu gemi.

Este seria um longo dia.

Antes que Ana terminasse de se vestir, a primeira pessoa chegou. Dig – pelo menos
eu tinha certeza de que foi isso que ele resmungou quando se apresentou – era
estilista. Ele rolou um baú sobre rodas e olhou em volta para ver onde se instalar.
Um minuto depois, o maquiador bateu, seguido por três caras entregando móveis
alugados, serviço de quarto, um técnico de iluminação e um cara qualquer cujo
sotaque era tão forte que eu não tinha ideia do que diabos ele disse que fazia. Todos
eles se lançaram sobre Ana assim que ela saiu do banheiro.

Depois de quarenta e cinco minutos cercada por uma equipe de pessoas se


preparando, ela parecia um pouco sobrecarregada. Então fiz um prato com algumas
frutas e um croissant do café da manhã e coloquei na sua frente.

— Você já comeu?

Ana balançou a cabeça. Olhei para o cabeleireiro que tinha acabado de envolver
sua cabeça inteira em rolos e depois para os dois caras a flanqueando em ambos os
lados.

— Vocês poderiam dar a ela cinco minutos, por favor?

— Ah, claro.

Balancei a cabeça em direção às bandejas de comida.


— Por que vocês não se servem de algo para comer? Há uma mesa do lado de fora
no corredor.

Uma vez que ela não estava mais sendo cutucada, Ana soltou um grande suspiro.

— Obrigada. Como você sabia que eu precisava de uma pausa?

Dei de ombros. — Da mesma forma que você sabia que eu estava a cerca de dois
segundos de rasgar sua toalha durante aquele beijo anterior.

Ela sorriu e pegou a banana que coloquei em seu prato. Enquanto ela ia descascá-
la, ela pegou meu rabisco e leu em voz alta.

— Mal posso esperar para te mostrar minha banana. Ooh... — Ela riu. — Acho
que vou gostar muito mais dessas notas agora.

Eu sorri, mas apontei para o prato dela.

— Coma. Eles estarão de volta aqui pintando merda em seu rosto em alguns
minutos.

— Pensando bem, vou guardar isso para mais tarde. — Ana largou a banana e
pegou um pedaço de melão. — Então, o que vamos fazer hoje à noite para o nosso
encontro? Sei que te convidei para sair, mas é minha primeira vez na Califórnia.

— Achei melhor alimentá-la e mostrar-lhe Los Angeles, já que você nunca esteve.

— Oh, isso parece incrível. — Ela mordeu o melão e fez um som Mmmmm. —
Esse melão é realmente bom.

— Tenho uma ligação às quatro da tarde que não posso adiar, mas se encerrarmos
as coisas aqui com antecedência, posso fazer isso na estrada.
— Se você está muito ocupado para sair mais tarde... — Ela sorriu. — Posso pedir
a Phoenix para me mostrar os arredores.

Meus olhos se estreitaram.

Ana ergueu o pedaço de melão em direção aos lábios para outra mordida, mas
peguei seu pulso e redirecionei a fruta para minha própria boca, mordendo de leve
seus dedos enquanto a pegava.

— Oww...

— Você tem sorte de termos uma multidão e eu não poder colocá-la sobre meus
joelhos e bater na sua bunda por esse comentário.

Ela deu uma risadinha.

— Podemos ir para a outra sala...

— Não me tente, Ana. — Meus olhos caíram para seus lábios. — Vou limpar
totalmente esta suíte se você quiser jogar esse jogo.

Os olhos de Ana brilharam, desafiando-me a cumprir minha ameaça. Mas uma


batida na porta interrompeu nossa conversinha. Foi um esforço não fazer cara feia,
encontrando Phoenix do outro lado. No entanto, eu o recebi com um breve aceno
de cabeça.

— Dia.

O filho da puta caminhou direto para Ana sem nem mesmo me reconhecer.

Fechando a porta atrás dele, resmunguei: — Bom ver você também.


Decidindo que provavelmente não era bom agir como um namorado ciumento
antes do primeiro encontro, pensei em ver o que estava acontecendo lá fora.

A mobília e o pessoal de apoio estavam trabalhando no pátio desde que chegaram.


A pequena área externa foi transformada em uma cena de Bill Nye: The Science
Guy, com a adição de um pouco de estrogênio. Havia uma mesa de laboratório
arrumada com provetas e equipamentos, mas também potes de pétalas de rosa
vermelhas brilhantes, areia e várias flores coloridas. A frente da mesa tinha sido
equipada com o logotipo da Signature Scent, e uma bandeja espelhada exibia todos
os diferentes frascos de perfume.

Dig se aproximou e enxugou o suor da testa.

— O que você acha?

— Parece ótimo.

Eu sabia que minha irmã estaria acordada e apreciaria ver tudo arrumado, então
tirei algumas fotos e mandei uma mensagem para ela.

Mia: Parece incrível! Sou uma gênia.

Eu ri e mandei uma mensagem de volta.

Christian: Que modestia.

Mia: Onde está Ana? Quero ver como ela está.

Olhei para dentro e vi o cabelereiro tirando os rolos enquanto uma mulher pintava
mais merda no rosto.

Christian: Eles ainda estão trabalhando nela.


Mia: Envie-me algumas fotos assim que começarem! Aposto que ela vai arrasar.

Claro que ela vai.

Olhei de volta para a suíte novamente, e meus olhos encontraram os de Ana. Os


cantos de seus lábios se curvaram com o sorriso mais doce, que ela tentava conter,
mas não conseguia. Eu sabia, porque meu rosto parecia exatamente da mesma
maneira na maioria dos dias desde que eu a conheci.

O resto da manhã foi caótico e voou. Ana estava incrível nas fotos. Basta perguntar
ao bom e velho Phoenix – ele disse a ela várias vezes. Eu entendia que os
fotógrafos precisam encorajar seus modelos com elogios, tirá-los de sua concha
para a sessão, mas há uma diferença entre dizer a alguém que eles estão indo muito
bem e estão lindos, e arrulhar para a modelo como ela está sexy – enquanto a chama
de amor e baby.

Cada vez que ele reposicionava o cabelo de Ana ou arrumava seu colarinho, eu
observava o filho da puta como um falcão.

Quando paramos para o almoço, o estilista sugeriu que Ana trocasse de roupa para
que ela não sujasse a roupa. Ela foi ao banheiro e saiu vestindo shorts e uma
camiseta regata.

— Como eu me saí? Não é fácil sorrir por tanto tempo. Comecei a sentir que
poderia parecer Joaquin Phoenix como o Coringa.

— Você foi ótima. Talvez Heath Ledger, mas não tão ruim quanto Joaquin.

Ana bateu no meu abdômen. Ela estava de costas para mim, então ela não percebeu
que Phoenix tinha se sentado em uma mesa dobrável do lado de fora no pátio, bem
do outro lado das portas de vidro deslizantes. Mas eu definitivamente fiz. Pegando
sua mão, puxei Ana para mim e tirei uma mecha de cabelo de seu rosto.

— Você está indo muito bem. Você está linda e os anúncios ficarão perfeitos.

— Você só está dizendo isso porque quer entrar nas minhas calças.

Deslizei dois dedos sob seu queixo e inclinei sua cabeça para cima.

— Estou dizendo isso porque é a verdade. Embora eu queira entrar em suas calças.
Dê-me um beijo.

Ela sorriu e ficou na ponta dos pés, pressionando seus lábios macios nos meus. Eu
teria preferido beijar a merda fora dela, mas faria isso sem uma equipe completa
na sala ao lado e no pátio. Quando olhei para cima, meus olhos encontraram
Phoenix, que acabara de assistir a coisa toda.

Isso resolve o problema...

A sessão da tarde foi tão tranquila quanto a da manhã, exceto que o fotógrafo era
muito mais profissional. Tirei algumas fotos de Ana com todos os adereços e enviei
para minha irmã. Embora a que tirei dela se inclinando para cheirar um ramo de
flores roxas pendurado sobre a cerca quando ela pensou que ninguém estava
olhando? Essa foi para mim.

Às três horas, o fotógrafo finalmente encerrou o dia. Todos começaram a se limpar


e Ana foi ao banheiro para se trocar novamente.

Phoenix estava desmontando sua câmera e colocando as peças em uma caixa


quando ergueu o queixo para mim.
— Tenho um monte de coisas boas. Vou repassar tudo e dar um retoque nas que
acho que são as melhores. Mas também enviarei as provas não editadas para que
você analise, caso uma foto que não escolhi chame sua atenção. Sei que você
precisa o mais rápido possível, então terei tudo para você na segunda-feira.

Concordei. — Obrigado.

Ele fechou o estojo da câmera. — E... te devo desculpas. Eu não sabia que você e
Ana...

Eu poderia ter dito que era novo ou que ontem à noite, no jantar, ela ainda não
tinha concordado em sair comigo – eu poderia tê-lo deixado saber. Mas, em vez
disso, eu simplesmente disse: — Sem problemas.

— Obrigado. — Ele estendeu a mão. — Ela parece uma ótima garota.

Apertei sua mão, dando-lhe um aperto mais firme do que socialmente aceitável.

— Mulher. Ela é uma ótima mulher.

Ele ergueu as duas mãos.

— Entendi.

Quando todos foram embora, eram quase quatro horas e eu tinha uma ligação a
fazer. Eu precisava do meu laptop para isso, então tinha que voltar ao meu quarto.

Peguei uma das mãos de Ana. — Você ainda está com vontade de sair esta noite?

— Definitivamente. Mas eu gostaria de tomar um banho rápido, se você não se


importa. Sinto que estou usando uma máscara de lama com toda essa maquiagem
e meu cabelo tem cinco quilos de spray.
— Tenho aquela ligação das quatro horas para atender. Então, por que você não
desce ao meu quarto quando estiver pronta.

— Ok.

Ana me acompanhou até a porta.

— Então o que devo vestir?

— Vista algo sexy.

— Oh, certo. Então é sofisticado?

— Na verdade não. Só quero que você vista algo sexy.

Ela riu. — Vou tentar o meu melhor.

Inclinei-me e beijei sua bochecha. — Você nem precisa tentar.


Capítulo 31

Christian

— Uau. Isso é lindo. — Ana se acomodou em sua cadeira, olhando para o oceano.

Eu a levei para o Geoffrey's em Malibu porque era uma bela noite, e jantar no deck
de trás significava uma vista panorâmica imbatível do Oceano Pacífico. Apaga isso
– o que ela estava olhando não se equiparava ao que eu estava olhando no
momento.

— Você está linda.

Ana corou. — Obrigada.

Eu amava que ela era tão humilde. A mulher realmente não tinha ideia de que ela
fez girar todas as cabeças quando passamos pelo restaurante.

— Você já comeu aqui antes?

— Já. Um cliente me trouxe aqui há alguns anos. Na maioria dos lugares, você
obtém a vista ou a comida. Este é um dos raros lugares em que você consegue os
dois.

Ela ergueu o guardanapo de pano da mesa e colocou-o no colo.

— Na verdade, estou morrendo de fome.

Meus olhos caíram para os lábios, que estavam pintados com o mesmo batom
vermelho ousado que ela usou na sessão de hoje. Acho que deveria ser grato por
ela normalmente usar algo mais discreto, porque, do contrário, eu não faria
nenhum trabalho no escritório.
Levantei meu copo de água, nunca tirando meus olhos dela.

— Eu também estou morrendo de fome.

Ana percebeu o tom sugestivo da minha voz e seus olhos encontraram os meus
com um brilho.

— É assim mesmo? Digame, Sr. Grey, qual é a sua ideia de uma refeição
satisfatória?

Eu podia sentir que estava começando a endurecer sob a mesa. Estar perto dela me
fez sentir como um virgem de quinze anos com tesão.

E ela me chamando de Sr. Grey? Eu nunca tinha jogado papéis antes, mas vi uma
cena de chefe e funcionária em nosso futuro próximo.

Limpei minha garganta. — É melhor mudarmos de assunto.

Ela olhou para mim com um rosto verdadeiramente inocente.

— Por quê?

Olhei ao nosso redor.

As mesas estavam perto, então me inclinei para frente e baixei minha voz.

— Porque estou duro só de pensar no que realmente quero comer.

Ela corou. — Oh.

A garçonete veio anotar nosso pedido de bebida. Ana leu a carta de vinhos
enquanto eu estava aliviado por ter um minuto para me controlar. Eu precisava ter
uma mente concentrada esta noite, e eu não queria que ela tivesse a impressão de
que sexo era a única coisa que me interessava – embora certamente parecesse assim
ultimamente. Era apenas nosso primeiro encontro, então eu provavelmente deveria
me abster de dizer a ela que toda vez que ela corava, eu não conseguia parar de me
perguntar que cor sua pele cremosa ficava quando ela gozava.

Quando a garçonete desapareceu para pegar nosso vinho, direcionei a conversa


para um território mais seguro.

— Então, qual seu próximo passo agora que a Signature Scent está quase pronta
para decolar?

Ana recostou-se na cadeira.

— Sabe, Robyn me perguntou a mesma coisa durante um dos intervalos do set


algumas semanas atrás. Ela perguntou se eu tinha planos de lançar produtos
complementares, como colônias masculinas ou qualquer outra coisa relacionada à
beleza.

— É isso que você gostaria de fazer?

Ela encolheu os ombros. — Talvez. Mas não estou com pressa. Eu gostaria de ter
certeza de que tudo corra bem com a Signature Scent por um tempo. Trabalhei
nisso enquanto trabalhava em tempo integral por muito tempo e, depois que deixei
meu emprego, me lancei ainda mais fundo. — Ana fez uma pausa e olhou para o
oceano. Sorrindo, ela disse: — Acho que gostaria de conquistar a felicidade a
seguir.
A garçonete trouxe nosso vinho. Ana mergulhou o nariz na taça para cheirar e
sorriu, então eu sabia que seria bom. Depois, a garçonete encheu nossas taças e
disse que voltaria em alguns minutos para anotar nosso pedido.

— Você está dizendo que seu sistema de felicidade não está funcionando? —
Provoquei.

— Não, não mesmo. Eu só... trabalhar quatorze horas por dia pode trazer satisfação
financeira, mas isso não é a única coisa que importa.

Meus olhos percorreram seu rosto.

— Sim, estou começando a perceber isso.

Ela sorriu e inclinou a cabeça. — Você está feliz?

— No momento, muito mesmo.

Ela riu. — Estou feliz. Mas eu quis dizer em geral, em sua vida.

Bebi meu vinho e pensei um pouco. — Essa é uma grande questão. Acho que há
coisas na minha vida com as quais estou muito feliz – meu trabalho, ter estabilidade
financeira, meus amigos, minha família... Mas há coisas com as quais não estou
feliz, como não ver minha filha todas as noites quando chego em casa, voltar para
uma casa vazia...

Ana assentiu. — Acho que grande parte da razão pela qual me esforcei para ser
feliz nos últimos um ou dois anos foi porque minha vida acabou sendo muito
diferente do que eu imaginava. Eu precisava deixar de lado o que eu pensava que
minha vida deveria ser para escrever uma nova história.
E pensar que quando conheci essa mulher, achei que ela era estranha. Poucos
meses depois, estou percebendo que ela é quem tem um controle firme sobre a vida
e sou eu que tenho muito a aprender.

Ainda mais louco do que isso, espero que, quando ela escrever essa nova história,
eu consiga fazer parte dela.

***

Eu não pude deixar de beijá-la. Depois de um dia e uma noite inteiros olhando para
ela com apenas um toque, comecei a me sentir como um homem que não comia há
dias, e ela era um bife grande e suculento. Então, quando o garoto manobrista saiu
correndo para pegar meu carro alugado, puxei a mão de Ana e a levei para a lateral
do prédio.

— O que você está fazendo?

— Vou comer seu rosto.

Ela deu uma risadinha.

— Comer? Isso não parece muito romântico.

— Confie em mim. — Envolvi um braço em volta da sua cintura e puxei-a contra


mim, enquanto minha outra mão agarrava seu pescoço e o. inclinava sua cabeça
onde eu queria. — Vou ser romântico com você. Sussurrando em seu ouvido,
enviando notas para que você saiba que estou pensando em você. Você pode querer
proteger seu telefone quando estiver perto de outras pessoas, antes de abrir minhas
mensagens.

Ela mordeu o lábio inferior e eu gemi.


— Dê-me isso. — Minha boca desceu sobre a dela, e ela me surpreendeu pra
caralho quando pegou meu lábio e mordeu.

Puxando a cabeça ligeiramente para trás com minha carne entre os dentes, ela deu
um sorriso maligno. — Posso comer seu rosto primeiro.

Nós dois ainda estávamos rindo enquanto eu selava minha boca sobre a dela para
um beijo longo. O som de um casal próximo foi a única coisa que me impediu de
apalpá-la do lado de fora do restaurante.

Voltamos ao posto de manobrista e, quando nosso carro alugado parou, acenei para
o garoto quando ele foi abrir a porta de Ana. Entreguei-lhe uma gorjeta enquanto
ela entrava. Eu estava feliz por ter uma longa viagem para mostrar a ela todas as
merdas turísticas, porque eu precisava de algum tempo para me recuperar depois
daquele beijo.

Sentando-me atrás do volante, me curvei. — Eu estava pensando que poderíamos


ir até o letreiro de Hollywood e depois até o Hollywood Boulevard para dar uma
volta. É onde fica a Calçada da Fama. Talvez amanhã possamos conferir o Santa
Monica Pier, Venice Beach e alguns outros lugares.

— Você se importaria de mudar os planos? — ela perguntou. — Eu estava


pensando que poderíamos simplesmente voltar para o hotel.

Por mais que eu odiasse merdas turísticas, eu estava ansioso para mostrar o lugar
a ela. Eu definitivamente não estava pronto para encerrar nosso primeiro encontro
oficial. Mas hoje foi um longo dia para ela, então escondi minha decepção.

— Certo. Claro. Você deve estar cansada. Eu não estava pensando.


— Na verdade... — Ela estendeu a mão e colocou a mão na minha coxa. — Não
estou nem um pouco cansada.

A mulher continuou me surpreendendo.

Virei minha cabeça e peguei seu olhar. — Tem certeza?

Ela assentiu com um sorriso tímido. — Quanto tempo dura a viagem de volta? Eu
não estava prestando atenção no caminho para cá.

— Cerca de meia hora. — Coloquei o carro em movimento. — Mas eu vou nos


levar lá em vinte minutos.

Repassei Ana me dizendo que ela queria voltar para o hotel repetidamente em
minha mente enquanto quebrei meia dúzia de leis de trânsito no caminho.

Ela colocou suas cartas na mesa. Ela queria ficar sozinha comigo, mas eu não
queria assumir que isso significava que ela queria fazer sexo. Eu teria que me
lembrar disso, porque eu tendia a ir de zero a cem sempre que meus lábios tocavam
os dela.

Tínhamos saído para jantar cedo, pois planejávamos ir passear depois, então
quando entramos no saguão do hotel eram quase oito horas.

— Você quer tomar uma bebida no bar? — Perguntei.

— Não toquei no bar do meu quarto e está muito bem abastecido.

Eu sorri. — Para o seu quarto então...


De volta a sua suíte, Ana tirou os sapatos enquanto eu caminhava atrás do bar para
ver o que tinha. Ela não estava exagerando; a coisa tinha mais opções do que
qualquer quarto de hotel em que eu já havia me hospedado.

Peguei uma garrafa de merlot e uma garrafa grande de gim.

— Você está com vontade de mais vinho ou outra coisa?

Ana estava remexendo em sua bolsa. Ela suspirou exasperada enquanto a jogava
no sofá.

— Você tem preservativos?

Está bem então. Outra coisa.

Larguei as garrafas e saí de trás do bar, mantendo alguns metros de distância entre
nós.

— Tenho.

— Com você agora?

Eu ri. — Sim, comigo agora.

Ela engoliu em seco. — Voltei a tomar a pílula algumas semanas atrás, mas você
precisa tomá-la um mês inteiro antes de estar protegida.

Dei um passo para mais perto dela.

— Estamos bem.

— Quantos você tem com você?


Minhas sobrancelhas saltaram. — Grandes planos para a noite?

Ela deu o sorriso mais bobo. — Já faz um tempo para mim. Muito tempo.

Eu sorri e fechei a distância entre nós.

Tirando o cabelo de seu ombro, inclinei-me e dei um beijo suave em sua pele
cremosa.

— Tenho dois comigo. Mas tenho mais na minha mala no meu quarto.

— Ok... — Ela desviou o olhar por alguns segundos, e pude ver as engrenagens
em sua cabeça girando enquanto seus olhos perdiam o foco.

— Há algo mais que você queira falar so...

Não consegui terminar a pergunta porque Ana se lançou sobre mim. Pego de
surpresa, dei alguns passos para trás, mas consegui mantê-la em meus braços. Já
tinha ouvido o ditado de estar subindo pelas paredes antes, mas nunca realmente
experimentei.

De uma só vez, ela pulou, colocou as pernas em volta da minha cintura e os braços
em volta do meu pescoço, e seus lábios desabaram sobre os meus.

— Eu quero você.— ela murmurou entre nossos lábios unidos.

Sua ansiedade foi uma surpresa total, mas adorei isso. Eu teria ido devagar,
demorado para não apressar as coisas. Mas isso? Isso era muito melhor. Tínhamos
a noite toda para ir devagar.
Dando passos largos, eu a carreguei pela sala de estar e para o quarto. Ana
empurrou seus seios contra mim e apertou suas pernas abertas para cima e para
baixo no meu pau já duro.

Eu gemi. — E eu aqui pensando que você queria romance.

— Acho que prefiro que você coma meu rosto agora.

Eu a coloquei na cama e caí de joelhos. — Querida, não é isso que vou comer...

Eu estava tão consumido com a ideia de enterrar meu rosto entre suas pernas, que
não pude ser gentil em tirar sua calcinha. Estendendo a mão, agarrei o tecido frágil
de sua calcinha e o arranquei direto de seu corpo. O suspiro que saiu de sua boca
foi quase o suficiente para me fazer gozar, e ela ainda não tinha colocado um dedo
em mim. Abri uma de suas pernas mais larga e joguei a outra por cima do meu
ombro.

Sua boceta estava lindamente nua e brilhante, me fazendo salivar. Eu mal podia
esperar para devorá-la. Achatando minha língua, mergulhei para um longo golpe,
lambendo de uma ponta à outra. Quando alcancei seu clitóris, eu o chupei em
minha boca e o inspirei profundamente.

— Ahh... — Ela se arqueou para fora da cama.

O som me deixou selvagem. Eu estava tão empolgado que não era o suficiente para
ter minha língua dentro da ação sozinha. Então, empurrei meu rosto inteiro em sua
boceta molhada, usando meu nariz, bochechas, mandíbula, dentes e língua. E
enquanto eu estava lá, parei para respirar fundo. Mais tarde, eu teria que me
lembrar de ver se Ana poderia desenvolver isso como um de seus perfumes
estranhos personalizados – apenas para minha coleção particular.
Seus quadris resistiram contra mim enquanto eu chupava e sugava, e quando ela
gritou meu nome, eu sabia que ela estava perto de gozar. Então coloquei dois dedos
dentro dela. Os músculos de Ana se contraíram com força enquanto eu bombeava
para dentro e para fora. Quando suas costas arquearam para fora da cama
novamente, estendi a mão e pressionei seus quadris no colchão, mantendo-a
imobilizada enquanto continuava meu banquete.

Ela gemeu. — Ah... eu vou... ah...

Comecei a ficar preocupado se poderia terminar ao mesmo tempo que ela. E se


fosse esse o caso, meu final seria em um par de calças de trezentos dólares e seria
uma reminiscência de um adolescente. Mas o som dela perdendo o controle era
simplesmente bom pra caralho, e eu realmente não me importava se fosse isso,
porque não havia nenhuma maneira no inferno que eu pudesse parar.

As unhas de Ana cravaram em meu couro cabeludo. Ela puxou meu cabelo
enquanto gemia cada vez mais alto e então... de repente ela me soltou e eu sabia
que ela estava gozando.

— Oh, Deus... Ohhhhhhh... Deus...

Continuei lambendo-a até que cada tremor passou por seu corpo. Então limpei meu
rosto com as costas da mão e rastejei para cima da cama, pairando sobre ela. Ana
fechou os olhos com força, mas o maior sorriso se estendeu por seu rosto. Ela
colocou um braço sobre os olhos para escondê-los.

— Oh meu Deus. Estou tão envergonhada.

— Do que você está envergonhada?

— Eu ataquei você.
— E foi a melhor coisa do caralho que me aconteceu desde que me lembro. —
Afastei o braço de seu rosto e ela abriu um olho. — Me ataque sempre que tiver
vontade.

Ela mordeu o lábio.

— Você é... muito bom nisso.

Eu sorri. — Eu sou muito bom em muitas coisas. A noite está apenas começando,
baby. Ela abriu o outro olho e seu rosto suavizou.

— Você me chamou de baby. Gosto disso.

— Bom. — Beijei seus lábios suavemente antes de me levantar da cama.

Ana se apoiou nos cotovelos e me observou enquanto calçava os sapatos.

— Onde você vai?

— Para o meu quarto.

— Por quê?

Voltei e beijei sua testa. — Para pegar o resto dos preservativos. Dois não serão
suficientes.
Capítulo 32

Anastasia

Nunca dormi até tarde. Silenciosamente colocando meu telefone de volta na mesa
de cabeceira, lembrei-me dos muitos motivos pelos quais dormi até quase meio-
dia. Quantas vezes Christian e eu fizemos sexo? Três? Quatro? Fazia anos que eu
não fazia sexo mais de uma vez em um período de vinte e quatro horas.

Mesmo no início das coisas com Jack, eu só conseguia me lembrar de um punhado


de vezes que fizemos sexo duas vezes – e certamente nunca foi nada mais do que
isso. Um sorriso se espalhou pelo meu rosto quando me lembrei da noite passada
– e de manhã cedo. Christian estava insaciável. Na verdade, nós dois estávamos.
Nós transamos com ele por cima, eu por cima enquanto acariciava por trás... Mas
o meu favorito tinha sido hoje de manhã, enquanto estávamos ambos deitados de
lado e conversando. Nunca esquecerei a conexão que tínhamos quando ele deslizou
para dentro e para fora de mim e nos olhamos nos olhos. Foi possivelmente a coisa
mais íntima que eu já experimentei. Até pensar nisso agora me tirava o fôlego.

Ainda sorrindo com a memória, decidi talvez acordar o Sr. Dorminhoco com
minha boca. Virei-me esperando encontrar Christian dormindo profundamente,
mas em vez disso, tudo que encontrei foi uma cama vazia.

Apoiei-me em um cotovelo e chamei: — Christian?

Sem resposta. Mas agora que estava acordada, precisava levantar e responder à
Mãe Natureza. Saindo da cama, meu corpo doía. Mas eu aceitaria algumas dores
em troca das horas de prazer em qualquer dia da semana.

Depois que terminei no banheiro, decidi pegar meu telefone para ver se Christian
havia me deixado uma mensagem. Mas, quando dei a volta ao pé da cama, notei
algo em seu travesseiro – uma caixa branca com um laço vermelho e uma nota
adesiva amarela anexada.

Tive uma teleconferência às onze e meia. Não queria te acordar. Estarei de volta
quando acabar.
Fique nua.

Christian.
Ps.:Vamos começar a escrever isso.

Vamos começar a escrever isso? O que diabos isso significa?

Eu não tinha certeza, mas meu sorriso brilhou quando desamarrei o laço vermelho
e abri a caixa. Dentro havia um lindo livro com capa de couro. Levei um minuto
para perceber o significado, mas quando o fiz, meus olhos encheram de lágrimas.

Vamos começar a escrever isso.

Na noite anterior, no jantar, eu disse a Christian que lutava para ser feliz porque as
coisas não tinham funcionado do jeito que eu as imaginava, que precisava
abandonar o passado e escrever uma nova história.

Deus, primeiro a experiência sexual mais linda que já tive, agora um lindo
presente. Uma garota poderia realmente se acostumar com isso.

Pela meia hora seguinte, praticamente flutuei enquanto tomava banho e me


preparava para o novo dia. Assim que comecei a fazer minha maquiagem, ouvi a
porta da minha suíte abrir e fechar.

— Christian?
— Ana?

Eu ri.

— Estou no banheiro me preparando.

Christian entrou carregando duas sacolas. Ele ergueu uma e falou com meu reflexo
no espelho.

— Café da manhã. — Ele levantou a outra sacola. — Almoço. Eu não tinha certeza
do que você queria.

— Se você tiver café em qualquer uma dessas, serei sua melhor amiga para o resto
da vida. Ele abriu um saco e ergueu um recipiente de isopor.

— Acho que Flynn está fora. Vou ter que avisá-lo.

Eu sorri quando me virei e aceitei o café.

— Muito obrigada pelo livro. É lindo, e o sentimento realmente significa muito


para mim.

Christian acenou com a cabeça. Ele puxou um segundo recipiente de café da sacola
e levantou a guia de plástico de cima.

— Eles também tinham diários. Mas eu não tinha certeza se você escrevia em um
ou apenas preferia bisbilhotar o de outras pessoas.

— Na verdade, eu mesma nunca escrevi em um diário. O que é engraçado, porque


comprei aquele primeiro com a intenção de escrever nele. Simplesmente me levou
por um caminho totalmente diferente.
— Oh, você escolhe um caminho diferente, certo...

Eu ri. — Cale-se. Quando você conseguiu isso? Você deve ter acordado bem cedo
para ir à loja e deixá-lo aqui antes mesmo de eu acordar.

— Peguei depois de dar uma corrida esta manhã.

— Você foi correr? Tenho sorte de ter conseguido andar da cama para o chuveiro.

Christian riu. — Bem, termine aqui e saia e coma algo para que você tenha um
pouco de energia. Quero pegar a estrada para mostrar os pontos turísticos para que
possamos voltar para o hotel mais cedo.

— Ok. Só preciso secar meu cabelo, talvez dez minutos. Na verdade... é melhor
quinze. Eu amo esse banheiro.

As sobrancelhas de Christian se juntaram.

— Você ama o banheiro?

— Uhhh, sim. — Acenei minhas mãos para o que eu pensei que era óbvio. — É
cerca de dez vezes maior que o que tenho em casa, tem uma banheira e olha toda
essa iluminação linda.

Christian sorriu. — Acho que você vai gostar da minha casa.

— Você está dizendo que tem um grande banheiro com banheira?

Ele assentiu. — Você é definitivamente meu novo melhor amigo.

Um segurador de mão. Eu nunca teria imaginado.


Eu sorri para Christian. Ele me olhou desconfiado.

— O quê?

— Nada. — Dei de ombros. — Você está segurando minha mão.

— Eu não deveria?

— Não, eu adoro isso. Eu simplesmente não pensei que você fosse um segurador
de mãos.

Christian balançou a cabeça.

— Não tenho certeza se isso é um elogio ou deveria me sentir insultado.

***

Estávamos caminhando pela Hollywood Boulevard havia meia hora, lendo os


nomes das estrelas nas ruas. Até agora, tínhamos ido para Muscle Beach em Venice
(achei que seria mais sofisticado; os pesos estavam enferrujados), o letreiro de
Hollywood (Ele me enganou para fazer caminhadas... eca.) E o Santa Monica Pier
(Nota para si mesmo: os machos preferem andar em uma roda-gigante frágil do
que admitir ter um pouco de medo de altura. A pele de Christian fica em um
adorável tom de verde.)

— É uma coisa de casal.

— Então?

— Eu não sei. — Dei de ombros. — É isso que somos?

Christian parou de andar abruptamente.


— Sério?

— O quê? Eu não queria presumir apenas por causa da noite passada.

Christian franziu a testa. — Bem, deixe-me esclarecer isso para você. Nós somos.

Não consegui esconder o sorriso que surgiu no meu rosto.

— Ok... namorado.

Ele balançou a cabeça e começou a andar novamente. Depois de mais uma hora e
uma dúzia ou mais de quarteirões de caminhada, entramos no Roosevelt Hotel,
para um lugar sofisticado que servia hambúrgueres e as melhores batatas fritas com
trufas para o jantar.

— Qual sua comida favorita? — Acenei com uma batata frita para ele.

— Fácil. Macarrão com queijo.

— Mesmo?

— Sim. Charlie e eu tentamos... acho que temos até quarenta e dois tipos diferentes
de caixas.

Eu ri. — Não fazia ideia que existiam quarenta e dois tipos diferentes de caixas de
macarrão com queijo.

— Nós fazemos um quase todos os fins de semana que ela passa comigo.
Examinamos os do supermercado, então agora eu os compro on-line. Ela mantém
um gráfico com nossas avaliações.

— Isso é tão engraçado.


Christian deu um gole em sua cerveja.

— E você?

— Essas batatas fritas com trufas estão em segundo lugar. Mas eu teria que dizer
tortellini carbonara – o tipo que tem ervilhas e pedacinhos de presunto dentro.

— Você mesma cozinha?

Fiz uma careta. — Não, minha mãe costumava fazer isso para mim. Na verdade,
ela também faz um macarrão com queijo assado incrível. Não tenho nenhuma das
receitas.

Olhando para baixo, agitei a batata frita no ketchup. Fiquei triste ao pensar quanto
tempo fazia desde que falei com minha mãe.

Christian deve ter percebido que fiquei quieta.

— Você mencionou que não fala com seu pai.— disse ele. — Você e sua mãe não
são próximas?

Suspirei. — Não nos falamos há mais de um ano. Costumávamos ser muito


próximas.

Christian ficou quieto por um momento.

— Você quer falar sobre isso?

Balancei minha cabeça. — Na verdade, não.

Ele assentiu.
Tentei voltar a comer e não estragar o dia. Eu odiava pensar sobre o que tinha
acontecido, muito menos falar sobre isso. Mas agora que o assunto havia surgido,
eu sabia que não deveria deixar a oportunidade passar totalmente.

Contar a Christian pelo menos um pouco do que aconteceu entre Jack e eu e minha
família pode ajudá-lo a entender meus problemas de confiança um pouco mais.

Então, respirei fundo. — Eu disse que meu ex me traiu, mas não mencionei que
meus pais também me traíram.

Christian largou seu hambúrguer e deu-me toda a atenção.

— Ok...

Olhei para baixo.

— Eles sabiam sobre o caso de Jack.

— E eles não te contaram?

Olhei para baixo, me sentindo envergonhada.

— Não, eles não disseram uma palavra. Foi uma bagunça. — Não consegui me
obrigar a contar o resto da história sórdida.

Christian balançou a cabeça. — Merda. Sinto muito.

Concordei. — Obrigada. Honestamente, em retrospectiva, não era Jack que foi tão
difícil de superar. Foi que eu também perdi minha família ao mesmo tempo. — Fiz
uma careta. — Sinto falta de falar com minha mãe.

Christian passou a mão pelo cabelo.


— Você acha que pode perdoá-la e superar isso em algum momento?

No último ano, nunca pensei que isso fosse possível. Eu estava tão amarga e triste
com tudo que, em algum nível, poderia ter considerado meus pais tão responsáveis
quanto fiz com Jack. Talvez tenha demorado a ser feliz pela primeira vez em muito
tempo, mas hoje não me senti tão amarga e não tinha certeza se deveria guardar
rancor contra minha família para sempre.

Balancei minha cabeça. — Não sei se consigo esquecer. Mas talvez eu pudesse
tentar perdoar. Você seria capaz de fingir que nada aconteceu se estivesse na minha
situação?

— Nunca estive em uma situação semelhante para dizer com certeza, mas como
alguém que perdeu os dois pais, eu não gostaria de ter arrependimentos quando
eles se forem. Não acho que perdoar seus pais signifique desculpar o
comportamento deles. Acho que o perdão é mais sobre não permitir que ele destrua
mais o seu coração.

Senti suas palavras em meu coração. — Uau. De onde você veio, Christian Grey?
Isso foi profundo e maduro. Os homens que costumo atrair são superficiais e
imaturos.

Ele sorriu. — Acho que me lembro que você me encontrou em um casamento no


qual invadiu.

— Oh sim... acho que sim. Bem, pelo menos um de nós é maduro.

Pelas próximas horas, nós apreciamos o pôr do sol de Malibu, boa comida e vinho,
e a companhia um do outro. Agora que cedi aos meus sentimentos, parecia que
alguém havia colocado vitamina neles em vez de apenas nutri-los com água. Meu
coração estava tão cheio e contente. E essa sensação permaneceu comigo durante
toda a noite e todo o caminho de volta para a minha suíte de hotel.

Deitei na cama, observando Christian se despir e admirando a vista. Quando ele


desabotoou a camisa e a jogou em uma cadeira próxima, eu não tinha certeza para
onde olhar primeiro – seus peitorais esculpidos, abdômen com oito ou o V
profundo que me deu água na boca.

Christian desabotoou o cinto e baixou o zíper, fazendo com que meus olhos se
deleitassem com outra das minhas partes favoritas do seu corpo – sua trilha sexy e
feliz.

Havia tanto o que desfrutar neste homem, pensei que talvez ele devesse apenas
ficar ali por um tempo, totalmente nu.

Ele se abaixou para tirar as calças e peguei um vislumbre da tatuagem que corria
pelo lado de seu torso. Eu tinha visto ontem à noite, mas na hora, estávamos
ocupados demais violando um ao outro para eu perguntar sobre isso.

Levantei meu queixo, apontando para a tatuagem.

— Isso é o batimento cardíaco de alguém?

Christian acenou com a cabeça.

Ele torceu o corpo e ergueu o braço para me dar uma visão melhor.

— Meu pai tinha um grande senso de humor e uma risada muito distinta. Era uma
verdadeira gargalhada – parecia que vinha de algum lugar dentro dele. Qualquer
pessoa que o conhecesse o reconhecia por ela, e isso sempre fazia as pessoas ao
seu redor sorrirem – até mesmo estranhos. Ele esteve no hospital na última semana
de sua vida. Um dia, eu o estava visitando enquanto ele fazia um eletrocardiograma
ao lado da cama. Ele contou uma piada cafona e começou a rir. A piada nem era
tão engraçada, mas o som da risada dele fez nós três – a técnica, meu pai e eu –
rirmos. Por alguma razão, simplesmente não conseguíamos parar de rir. Ela teve
que refazer o exame porque a leitura teve vários grandes picos. Os eletrodos
pegaram o coração do meu pai de tanto rir. Perguntei à enfermeira se poderia ficar
com a impressão que ela ia jogar fora, e recebi alguns dias depois que ele morreu.

— Isso é tão incrivelmente fofo.

Christian sorriu tristemente. — Ele era um homem muito bom.

— Então, onde está sua cicatriz?

— Cicatriz?

— Na semana passada, eu disse que nunca tinha namorado ninguém com tatuagem
ou cicatriz, e você disse que tinha as duas.

— Ah. — Ele torceu o corpo na outra direção e ergueu o braço para revelar uma
linha irregular de sete centímetros. — Tenho algumas, mas esta é provavelmente
a pior.

— Como você conseguiu isso?

— Festa da Fraternidade. Bebendo, um escorregador e um pedaço de pau


escondido sob a lona.

— Ai.
— Não é o meu melhor momento. Não era tão grande no início. Flynn me ajudou
a enfaixá-lo, e então ele se abriu mais amplamente quando continuei a mergulhar
no escorregador.

— Por que você não parou depois que foi cortado?

Ele encolheu os ombros. — Fizemos uma aposta.

Balancei minha cabeça. — Você ganhou, pelo menos?

O sorriso de Christian era adorável. — Sim.

Ele terminou de se despir e continuei a admirar seu físico incrível.

Pegando-me olhando mais uma vez, Christian semicerrou os olhos.

— O que está acontecendo nessa sua cabeça?

Falei com seu corpo, sem querer levantar meus olhos ainda.

— Perdi meses indo para a cama sozinha quando eu poderia ter gasto meu tempo
tocando isso. Como você se sentiria em ficar aí por um tempo para que eu possa
dar uma boa olhada? Duas ou três horas? Isso deve servir.

Ele riu e terminou de tirar as calças antes de subir na cama e pairar sobre mim.
Levando meu dedo aos seus lábios, tracei o contorno.

Christian pegou minha mão e a ergueu para um beijo suave.

— Por que você me rejeitou por tanto tempo? E não me diga que é porque sou um
investidor na sua empresa. Nós dois sabemos que isso é um monte de besteira.
— Você só me convidou para sair uma vez.

Christian fez uma careta que dizia que você sabe que está mentindo.

— Semântica. Você sabia que eu estava interessado desde o primeiro dia. Deixei
a bola no seu campo, mas ainda assim deixei você saber que estava interessado
com bastante frequência.

Suspirei. — Eu sei. Eu acho... eu só estava com medo.

— Medo de quê?

Balancei minha cabeça. — Meu último relacionamento e suas consequências


foram realmente difíceis de superar. Estou com medo de me machucar de novo...
com medo de você...

— De mim?

— Sim. Você me deixa nervosa de várias maneiras. Mesmo agora, Christian. A


maioria das coisas em minha vida parecia realmente ótima vista de fora – o
casamento de meus pais, meu noivado. Sou o tipo de mulher que acredita em um
feliz para sempre, um conto de fadas. Às vezes, isso me cega e me impede de ver
coisas que não quero ver. Achava que era uma idealista, mas depois que meu ex
me traiu, fiquei pensando se eu era apenas uma idiota. Além disso, você é
basicamente o Príncipe Encantado – um rosto lindo, esse corpo, bem-sucedido,
gentil – quando você quer ser, maduro, independente... — Dei de ombros. — Você
é quase bom demais para ser verdade, e acho que tenho medo de me apaixonar por
um conto de fadas novamente. Você sabe, Fisher e eu costumávamos nos referir a
você dessa forma.

A testa de Christian enrugou. — Referir de que forma?


— Príncipe Encantado.

Ele desviou o olhar por um momento antes de seus olhos encontrarem os meus.

— Não sou um Príncipe Encantado, Ana. Mas gosto muito de você.

— Por quê?

— Por que eu gosto de você?

Concordei.

— Muitos motivos. Gosto que quando lhe entreguei aquele microfone no


casamento de Mia, você aceitou o desafio e me chamou de idiota com fogo nos
olhos. Você não desiste. Você é destemida, embora de alguma forma pense que é
uma covarde. Eu amo que, mesmo que você tenha passado por algumas situações
de merda, você se recusa a deixá-las te derrubar. Em vez de deixar todas as
porcarias negativas da vida te consumirem, você criou um sistema de felicidade.
Adoro que quando você vê uma pessoa sem-teto, você dá a ela uma barra de
Hershey's porque você sabe que pode fazer alguma substância química em seu
cérebro para ajudá-la a se sentir um pouco melhor, mesmo que por apenas alguns
minutos. Adoro que você seja criativa e tenha inventado seu próprio produto, e
seja inteligente o suficiente para escrever um algoritmo que eu não teria a menor
ideia de como formular. E amo que você seja teimosa e não desista.

Ele olhou para o meu corpo e levou um segundo para examinar meu rosto antes de
balançar a cabeça.

—Tudo isso, mais a sua aparência. A melhor pergunta é: que motivo eu teria para
não gostar de você?
Meus olhos começaram a lacrimejar. Christian se inclinou e pressionou seus lábios
nos meus.

— Você está com medo agora? — Ele sussurrou.

Meu pulso disparou. — Mais do que nunca.

Ele sorriu. — Bom.

— Bom? Você quer que eu tenha medo?

— Não... Mas pelo menos, eu não estou sozinho nisso. Só temos medo das coisas
que significam muito para nós.

Segurei sua bochecha. — Estou tão feliz que você me esperou.

— Eu sabia que valeria a pena esperar por você.

Christian pressionou sua boca na minha em um beijo apaixonado.

Havíamos passado uma grande parte das últimas vinte e quatro horas nesta cama
com nossas bocas entrelaçadas, mas este beijo parecia diferente – mais cheio de
emoção do que nunca.

Ele segurou meu rosto entre as mãos e passei meus braços em volta de seu pescoço.
Mas o que começou devagar esquentou rapidamente. Nosso beijo se tornou
selvagem e fervente enquanto nos ajudamos a tirar o resto de nossas roupas.

Havia uma sensação frenética no ar. Ainda assim, algo sobre a maneira como
Christian olhou nos meus olhos me disse que ele sabia que eu ainda estava frágil
de várias maneiras. Nossos olhares nunca se quebraram enquanto ele se alinhava
na minha entrada e empurrava para dentro de mim.
Christian era grosso e já fazia mais de um ano desde que fiz sexo até a noite
anterior. Então ele tomou seu tempo, indo devagar enquanto afundava mais a cada
impulso medido.

Uma vez que ele estava totalmente enterrado, ele circulou seus quadris, e eu podia
sentir sua pélvis pressionando contra meu clitóris. Era tão bom, tão perfeitamente
certo. Meu coração estava tão cheio quanto meu corpo, e minhas emoções
tornaram-se quase impossíveis de segurar.

Lágrimas picaram em meus olhos, que fechei na tentativa de contê-las.

— Abra, linda. — A voz de Christian estava rouca.

Meus olhos se abriram novamente e encontraram os dele. O que vi tornou


impossível conter as lágrimas. Os olhos de Christian estavam tão cheios de emoção
quanto os meus. Ficamos assim, conectados de todas as maneiras possíveis,
enquanto nossos orgasmos cresciam.

Não querendo que o momento acabasse, tentei me conter enquanto suas estocadas
ficavam mais fortes e mais rápidas. Mas os sons que ecoavam pela sala me
mataram. Nossos corpos molhados bateram um contra o outro enquanto ele me
fodia com seu corpo e alma.

— Christian...

Sua mandíbula tensa enquanto ele continuava.

— Deixa ir... deixa tudo ir.

E eu deixei.
Com um grito voraz, meu corpo assumiu o controle de minha mente e ondas e mais
ondas de êxtase percorreram meu corpo.

Assim que começou a diminuir, o orgasmo de Christian bateu, e o calor dele


derramando em mim fez meu corpo continuar a ondular com ondas de choque.
Depois, eu não tinha ideia de como ele conseguia manter a cabeça erguida, muito
menos ainda estar semiduro enquanto deslizava para dentro e para fora de mim.

— Uau... isso foi...

Christian sorriu e me beijou suavemente.

— Muito bom para ser verdade. — ele sussurrou.

Eu sorri de volta e um pouco de esperança acendeu dentro de mim.

Talvez, apenas talvez, ele fosse o único homem que não iria me decepcionar.
Capítulo 33

Anastasia

Dezesseis meses atrás.

— Você sabe o que é Drummond Hospitality? — Perguntei.

Jack estava sentado na sala de estar de seu apartamento corrigindo papéis enquanto
eu me sentava à mesa da cozinha lendo meus e-mails.

— Hmmm?

— Está no extrato do seu cartão de crédito por cento e noventa e dois dólares. A
outra cobrança eu reconheço.

Os olhos de Jack se estreitaram.

— Como você conseguiu minha fatura de cartão de crédito?

— Chega no meu e-mail agora. Lembra que alguns meses atrás, eu disse que recebi
um aviso de que o Bank of America estava evitando usar papel e que você teria
que solicitar se quisesse extratos em papel de agora em diante? Você me pediu
para enviá-lo para meu e-mail, já que tudo vai para spam quando você usa seu e-
mail de trabalho.

— Achei que você estivesse se referindo ao nosso extrato bancário conjunto.

Balancei minha cabeça. — Não, seu cartão de crédito.

— Há quanto tempo está indo para você?


Dei de ombros. — Dois meses, acho? Metade do tempo você não tem nenhuma
atividade. Você raramente usa seu cartão. No mês passado, o saldo foi zero.

O olhar no rosto de Jack me incomodou.

— Isso é um problema? — Perguntei. — Você não quer que eu veja o que você
está gastando, ou algo assim?

Ele jogou a caneta em cima da pilha de papéis e desviou o olhar. — Claro que não.
Só não sabia que não receberia mais a fatura de papel.

— Ok... bem, você sabe qual é a cobrança? Drummond Hospitality?

— Nenhuma ideia. A única coisa que paguei foi o jantar quando fomos ao
Alfredo's há algumas semanas. Deve ser um engano. Vou acessar on-line e
contestar isso mais tarde.

— Você quer que eu faça isso, já que estou on-line de qualquer maneira?

— Não, está bem. Vou fazer isso.

Algo não estava certo. Mas eu deixei passar, pois Jack e eu já tivemos algumas
brigas sobre minhas suspeitas nos últimos meses. Houve uma vez em que vi uma
mensagem estranha em seu telefone, e outra vez ele disse que estava indo para seu
escritório na faculdade em um sábado para trabalhar nas notas, o que normalmente
fazia em casa. Decidi surpreendê-lo com um almoço, já que ele estava trabalhando
muito, e ele não estava lá. Então, recentemente, ele voltou para casa cheirando a
perfume e ficou na defensiva quando perguntei por que – gritando que se eu não
tivesse nosso apartamento inteiro cheirando a amostras de perfume para um
negócio que não existia, suas roupas não cheirariam a um bordel barato.
Como eu sempre fornecia a ele o resumo dos diários que lia, ele sabia que a mulher
no diário que eu estava lendo estava traindo o marido e me convenceu de que eu
estava vendo coisas que não existiam por causa do quão ridiculamente envolvida
fiquei com as pessoas sobre as quais lia. Mesmo agora, me perguntei se talvez ele
estivesse certo.

Na semana passada, li uma narrativa em que Susannah havia escrito sobre seu
marido questionando uma cobrança em sua fatura de cartão de crédito. Ela
reservou uma suíte de hotel para um de seus encontros com Jasper, e então ele
pagou em dinheiro quando eles se registraram. Mas o hotel havia acidentalmente
feito uma cobrança duplicada. Então, atribuí minha paranoia ao que Jack me
criticou.

Não era diferente de se eu tivesse assistido a um filme de terror e de repente


precisasse checar embaixo da minha cama antes de deitar. O estresse que você
coloca em sua mente faz com que seu cérebro vá a lugares que normalmente não
iria.

— Tudo bem. — eu disse. — Acho que você pode simplesmente ter pago a parte
do restaurante da conta, então. É mais do que o pagamento mínimo, de qualquer
maneira.

— Bom. — Jack voltou a corrigir os papéis. Porém, um minuto depois, ele disse:
— Provavelmente removerei o cartão do faturamento eletrônico e voltarei a
receber meus extratos pelo correio. Gosto de ter cópias em papel para fins fiscais,
pois às vezes compro coisas para o trabalho.

Novamente, por que isso me incomoda?


Seu raciocínio fazia todo o sentido. Eu realmente estava procurando por monstros
debaixo da minha cama e precisava parar.

— Parece bom.

Um mês depois, havia esquecido completamente da fatura do cartão de crédito.


Jack e eu tínhamos acabado de voltar de um encontro com um de seus colegas para
bebidas, e eu estava hospedada em sua casa. Em nosso caminho para cima, peguei
a correspondência da caixa de correio. Na pilha estava o extrato do cartão de
crédito do Bank of America. Coloquei a correspondência na mesa, mantendo
aquele envelope na minha mão.

— Como foi a discussão com o Bank of America?

Os olhos de Jack caíram para a correspondência, e ele a arrancou de minhas mãos.

— Bem. Eles cancelaram. — Ele enfiou-a no bolso interno de sua jaqueta esporte.
Mais uma vez, eu não tinha ideia de por que ele pegar a conta me incomodava.
Mas aconteceu.

Jack caminhou em direção ao seu quarto.

— Vou tomar um banho rápido.

— Ok.

Enquanto ele estava fora, me servi de um copo de merlot e tentei não pensar mais
nisso. Embora esta semana eu tivesse lido um diário inteiro sobre como o marido
de Susannah era estúpido e confiava. Ela parecia gostar de quase ser pega e ser
capaz de mentir para se livrar das coisas... Eu sabia que provavelmente estava
sendo ridícula. Mas no mês passado fiquei acordada metade da noite depois que a
coisa boba do cartão de crédito pesou sobre mim. Jack não precisaria saber que eu
estava on-line para dar uma olhada em sua conta. E depois de fazer isso, seria capaz
de esquecer tudo, de uma vez por todas. Embora... eu ainda estaria violando sua
confiança ao verificar, mesmo que ele não tivesse ideia sobre isso.

Então, enquanto tentava me convencer a não fazer o que queria tanto fazer, fui para
o quarto me trocar. Abri a cômoda de Jack para pegar uma de suas camisetas velhas
e joguei meu jeans e blusa em uma cadeira no canto.

No meu caminho para a sala de estar, a jaqueta de Jack chamou minha atenção da
porta do armário aberta. Eu podia ouvir a água do chuveiro ainda correndo no
banheiro ao lado, então me aproximei e o tirei. Mas em vez de vasculhar a conta
do cartão de crédito, levei a jaqueta ao nariz e respirei fundo. O cheiro
inconfundível de jasmim encheu meu nariz. Jasmim não era um perfume que eu
tinha em casa para minhas amostras de perfume exclusivo. Não era nem mesmo
um com quem eu estava trabalhando ultimamente.

O banheiro ficou quieto, e demorei um minuto para perceber que era porque a água
do chuveiro havia parado. Merda.

Rapidamente coloquei a jaqueta de volta no armário e saí do quarto. O pânico


tomou conta de mim. Não havia nenhuma maneira que eu seria capaz de dormir
esta noite do jeito que estava me sentindo, nem seria capaz de deitar ao lado de
Jack e fingir que estava tudo bem. Não era mais uma questão de saber se eu violaria
a confiança dele acessando seu cartão de crédito on-line. Eu tinha que fazer para
manter minha sanidade.

Meus dedos tremiam enquanto eu acessava o site no meu telefone. A maldita coisa
demorava uma eternidade para carregar, e a cada dois segundos eu olhava para a
porta entreaberta do nosso quarto. Quando os dados finalmente foram preenchidos,
rolei para a conta deste mês. O alívio me inundou quando vi que não havia
nenhuma cobrança.

Oprimida pela culpa, ia fechar, mas então percebi que a seção de pagamentos tinha
um pagamento de $261. Achei que era provavelmente apenas a maneira como eles
mostraram um crédito dado pela cobrança incorreta, mas como me deixou uma
sensação mesquinha, cliquei para verificar. E congelei ao ver que era um
pagamento real feito semanas atrás de uma conta bancária que terminava em 588.

Senti o sangue escorrendo do meu rosto.

Essa era a conta corrente de Jack. Deve ser um engano.

Cliquei na guia de cobranças. Sem cobranças nos últimos noventa dias. Sentindo-
me assustada e perdida, fechei o site e fiz algo que deveria ter feito há um mês.
Pesquisei Drummond Hospitality. Os resultados enviaram meu coração à minha
garganta.

Drummond Hospitality é proprietária de quatro hotéis pequenos em Nova York.


Capítulo 34

Anastasia

— Eu certamente poderia me acostumar...

Acordei para encontrar Christian em pé no meu fogão, vestindo nada além de


shorts e um boné de beisebol virado para trás. Suas costas esculpidas eram tão
musculosas e bronzeadas. Passei meus braços em volta de sua barriga e o apertei
por trás, colocando um beijo em seu ombro.

— Acabei de voltar de uma corrida e ainda não tomei banho. Você provavelmente
está beijando suor seco.

— Tenho certeza que minha pele não está muito diferente depois da noite passada.

Christian se virou e passou os braços em volta da minha cintura.

O sorriso sujo em seu rosto me disse que ele estava se lembrando de como
tínhamos ficado suados.

Ele sorriu. — Você quebrou a cama.

Afastei-me. — Eu não quebrei a cama; você que quebrou.

— Tenho certeza de que era você quem estava em cima de mim quando o estrado
cedeu.

— Talvez, mas você não estava apenas deitado lá. Você de cima para baixo, você
sabe.

Christian riu. — Que diabos isso significa?


— Você pode parecer que me deixa assumir o controle, mas nunca desiste de
verdade.

Seu rosto mudou e ele parecia um pouco preocupado.

— E você não gosta disso?

Eu sorri. — Não, gosto muito. Mas isso significa que você contribuiu para quebrar
a cama.

Christian sorriu e deu um tapa na minha bunda. — Vá se sentar. As panquecas


estão quase prontas.

— Ok.

A semana desde que voltamos da Califórnia para casa foi uma bênção absoluta.
Christian e eu éramos inseparáveis. Trabalhamos até tarde todas as noites
preparando as coisas para a Signature Scent, e alternávamos entre dormir na casa
dele no Brooklyn e no meu apartamento aqui na cidade. Eu provavelmente deveria
ter me preocupado por estarmos passando muito tempo juntos, mas estava feliz
demais para deixar qualquer coisa estragar tudo.

Christian colocou um prato na minha frente.

Eu ri. — Isso é adorável.

Ele fez uma grande panqueca e a decorou com um sol sorridente com morangos
cortados pela metade formando raios de sol pontiagudos e bananas e morangos
criando um rosto.
— É assim que Charlie gosta. Mas não fique muito impressionada. É o único prato
que faço além de macarrão com queijo. Não quero que você aumente suas
expectativas.

— Ok, não vou.

Christian poderia ser um idiota com todo o resto e eu ainda estaria caída por ele
com base em quão atencioso ele era – e quão incrível na cama. Dizer que eu estava
me apaixonando por este homem seria um eufemismo. Algumas vezes nesta
semana, me peguei sentada na minha mesa sorrindo aleatoriamente. Eu nem estava
pensando em nada em particular. Apenas me senti... feliz.

— Caso isso não a encha o suficiente... — Christian colocou uma banana ao lado
do meu prato.

Eu já ia dizer que nunca comeria panqueca e banana quando vi a escrita na casca


amarela: sou uma banana por você. Quando olhei para cima, Christian piscou e
voltou para o fogão como se ele não tivesse acabado de transformar minhas
entranhas em uma pilha de mingau.

Ele olhou por cima do ombro, apontando para o meu prato com uma espátula. —
Coma. Não espere por mim. Vai ficar frio.

Assim que coloquei a primeira mordida na minha boca, minha porta da frente se
abriu.

— Querida, cheguei!

Merda. Fisher.
Eu estava solteira desde que ele se mudou para o apartamento ao meu lado.
Christian se virou, Fisher o avistou e congelou.

— Merda. Desculpe-me, cara.

— Está bem. Entre. — Eu disse.

Fisher olhou para mim e balancei a cabeça, então ele entrou na cozinha.

Christian estendeu a mão. — Christian Grey. Acho que não fomos apresentados
formalmente.

Fisher estremeceu. — Acho que o casamento não conta. Fisher Underwood.

Christian apontou para a mesa com a espátula. — Sente-se. Ana já me informou


que alimentar você é parte do pacote que consigo com ela.

Fisher sorriu. Ele pegou um punhado de mirtilos do recipiente aberto ao lado do


fogão e colocou alguns na boca.

— Você tem minha bênção para se casar com ele.

Christian e eu rimos. Ele fez para Fisher um prato de panquecas com um lado de
frutas, mas não o lindo sol sorridente que ele fez para mim. Surpreendentemente,
o café da manhã não foi estranho, uma vez que nós três estávamos na mesa. Fisher
enfiou quase meia panqueca na boca.

— Então, o que vocês vão fazer neste fim de semana?

— Christian tem sua filha. Tenho algumas tarefas a fazer, mas além disso, estou
disponível. Você vai estar por aqui?
— Eu estava pensando em entrar no mercado de pulgas. — disse Fisher. — É o
aniversário da minha assistente jurídica na semana que vem, e ela amou as canecas
de cerâmica feitas à mão que você escolheu para ela no ano passado, então resolvi
voltar e ver o que mais eles têm.

— Oh, incrível. Talvez eu vá.

A testa de Christian se enrugou.

— Pensei que íamos levar Charlie para o parque. Você disse algo sobre o Ancient
Playground.

Pensei na conversa que tivemos antes.

— Você disse que estava pensando em levar Charlie para o Central Park, e
perguntei se você já a tinha levado para o Ancient Playground. Eu não sabia que
você queria que eu fosse também.

— Acho que apenas assumi que você iria...

— Tudo bem, bem, eu adoraria passar um tempo com você e Charlie – se você não
acha que é muito cedo.

Christian balançou a cabeça.

— Não acho que ela esteja pronta para vê-la na minha cama ainda, mas ela precisa
começar a passar um tempo conosco para chegar a isso, certo?

Uau. Senti uma sensação confusa em saber que não estava sozinha em ver um
futuro para nós.

Alcançando, apertei sua mão. — Isso parece ótimo.


— Vou te dizer uma coisa, tenho que parar em casa antes de ir buscá-la às duas.
Por que vocês não vão ao mercado de pulgas, e podemos nos encontrar no parque
depois?

Olhei para Fisher e ele deu de ombros.

— Parece um plano para mim.

Depois que terminamos de comer, Fisher foi embora e Christian tomou um banho
rápido antes de colocar as roupas que vestiu para trabalhar ontem. Assisti da porta
do quarto enquanto ele puxava uma de suas meias. Ele deve ter me sentido lá
porque falou antes mesmo de olhar para cima.

— Acha que poderíamos manter algumas coisas na casa um do outro? Então, talvez
eu não tenha que vestir meias usadas e um terno para minha caminhada da
vergonha de sábado de manhã de volta para casa?

Eu sorri e uma sensação de calor percorreu meu corpo.

— Eu gostaria muito disso.

Poucos minutos depois, Christian me deu um beijo de despedida.

— Você tem planos para o jantar esta noite com Charlie? — Perguntei.

— Normalmente, apenas pedimos comida quando saímos durante o dia.

— Você acha que seria demais se eu fizesse o jantar para vocês? Posso pegar o
que preciso no caminho.

— Eu adoraria. Mas posso pegar o que você precisar. Apenas me envie uma lista.
— Não. Eu quero que seja uma surpresa.

Christian sorriu e beijou minha testa. — Mal posso esperar.


Capítulo 35

Anastasia

— Então, você e Christian parecem muito próximos.

Fisher e eu passeamos lado a lado pelos corredores do mercado de pulgas.

Suspirei. — Ele é incrível.

Ele balançou as sobrancelhas. — Eu sei. Tive uma visão daquele peito no café da
manhã.

Eu ri. — Isso não foi o que eu quis dizer. Mas sim, seu corpo também é incrível.

— Provavelmente não devia te contar isso, mas ele não disse para não contar, e
você sabe que não posso guardar um segredo, especialmente de você...

— O quê?

— Ele bateu na porta do meu apartamento hoje ao sair.

— Para quê?

— Ele perguntou se eu estaria em casa amanhã de manhã. Aparentemente, ele vai


tentar entregar algo para você.

— Ele disse o quê?

Fisher balançou a cabeça.


— Não, mas eu dei a ele meu número para que ele possa me enviar uma mensagem.
Espero não ligar acidentalmente para ele depois de algumas bebidas. Seu número
está logo abaixo do Chris.

— O cara com quem você fica às vezes?

— Sim, e não temos conversa fiada. Acho que da última vez que tomei algumas
bebidas, mandei uma mensagem para ele perguntando "Quer foder?" e ele
respondeu com sua localização.

Eu ri. — Ok, bem, espero que você não faça isso. Mas você não tem ideia do que
ele quer que seja entregue?

— Não. Esperançosamente é espuma.

— Espuma?

Fisher concordou. — Para colocar atrás de sua cabeceira. Ouvi vocês fodendo
ontem à noite.

— Oh, Deus, por favor, me diga que você está brincando.

— Sua cama divide a parede com minha televisão na sala de estar. Tenho aquela
estante que contém o receptor de TV a cabo e alguns livros embaixo. Você
derrubou Stephen King no chão.

Cobri meu rosto com as mãos. — Deus, eu não gostaria de ouvir você fazendo
sexo. Na verdade, quebramos a estrutura da cama na noite passada. Vou afastá-la
da parede.
— Agradável. Uma vez quebrei a cadeira de um dentista quando estava dormindo
com aquele ortodontista. Mas nunca uma cama.

Meu nariz enrugou. — Obrigada por compartilhar. Agora, toda vez que for ao
dentista, vou me perguntar de quem é a bunda nua que fez sexo onde estou sentada.

— De nada. — Fisher piscou. — Mas, falando sério, o quão dramático eu soaria


se dissesse que você parece radiante? Algo em você mudou, mas não consigo
definir o que é.

— Provavelmente é porque quebrei meu período de seca de um ano. Talvez você


esteja apenas vendo os músculos do meu rosto relaxarem pela primeira vez em
muito tempo.

— Mmmm... — Ele me avaliou. — Não, você tinha isso acontecendo esta manhã.
O cabelo selvagem e fodido foi uma boa aparência para você, a propósito. Mas é
algo mais... você parece mais leve ou algo assim.

Não havia ninguém na Terra que pudesse me ler como Fisher – o que realmente
dizia muito sobre meu relacionamento anterior. Jack nunca tinha prestado atenção
suficiente para saber se algo estava me incomodando.

Estendi a mão e peguei a mão de Fisher. Enlaçando meus dedos com os dele, eu
apertei.

— Você é tão bom em ser meu amigo. Eu não ia dizer nada, porque não quero
tornar mais do que é, mas liguei para minha mãe hoje, um pouco antes de sairmos
para o trem, na verdade.

As sobrancelhas de Fisher se ergueram. — O que fez você fazer isso?


— Tenho pensado muito sobre o perdão... e tentando seguir em frente com minha
vida. — Dei de ombros. — Quero fazer para Christian algo que ela sempre
cozinhou para mim e que eu adorava, então pensei que seria um bom lugar para
começar.

— Ela deve ter ficado feliz em ouvir sua voz.

Fiz uma careta.

— Ela ficou. Não conversamos por muito tempo, no entanto. Perguntei se poderia
pegar a receita e depois perguntei se eles estavam bem. Ela definitivamente parecia
hesitante. Tive a sensação de que ela estava com medo de dizer algo errado.
Ficamos no telefone por uns cinco minutos. Quando nos despedimos, ela
perguntou se eu ligaria de novo em breve e eu disse que tentaria.

Desta vez, foi Fisher quem apertou minha mão.

— Bom para você. Acho que está na hora.

Depois que terminamos de fazer compras, Fisher e eu pegamos o metrô de volta


para a cidade. Estávamos indo em direções opostas, então nos despedimos na
Grand Central Station.

Ele beijou o topo da minha cabeça e me deu um grande abraço.

— Estou feliz por você. — disse ele. — Tenho um sentimento muito bom sobre as
coisas entre você e o Adônis. Vejo um futuro brilhante.

Sempre com medo de me azarar, eu disse obrigada, em vez de dizer a ele que
concordava. Mas, no fundo, também via algo brilhante no futuro. Simplesmente
nunca esperei que esse brilho viesse de uma explosão gigante.
Capítulo 36

Christian

— O que vocês duas estão fazendo aí?

Charlie estendeu a mão. — Você não tem permissão para entrar aqui, papai.

— Por que não?

— Porque estamos fazendo uma surpresa!

— Mas eu sou o único que vai ficar surpreso, já que vocês duas estão nisso?

Minha filha deu uma risadinha. — As surpresas podem ser para uma pessoa, papai.

Peguei o olhar de Ana e pisquei. — Por que não coloco um pouco de música
enquanto vocês trabalham na cozinha? Talvez um pouco de Katy Perry ou Taylor
Swift...

Como esperado, Charlie saltou para cima e para baixo. Ela apertou as palmas das
mãos como se precisasse orar para que eu fizesse algo que ela pedisse – como se
eu não pulasse de um penhasco para fazê-la feliz.

— Você pode colocar Dolly?

Eu ri. — Certo.

Liguei o som, sentei-me na sala e coloquei os pés na mesinha de centro. Pegando


o controle remoto da TV, liguei a ESPN com legendas ocultas e comecei a ler a
parte inferior da tela. Eles estavam entrevistando um novo running back que os
Giants haviam escolhido para a próxima temporada. Big Blue era minha equipe,
então eu estava definitivamente interessado, mas não conseguia manter o foco.

A cada poucos minutos, meus olhos vagavam de volta para a cozinha. Eu podia
ver Ana e Charlie trabalhando no que quer que estivessem cozinhando. Ana se
levantou, enquanto minha filha se sentou no balcão misturando algo. Eu não
conseguia ouvir o que elas estavam dizendo, mas vi minha filha cobrir a boca
enquanto ria. O sorriso no rosto de Ana era fantástico pra caralho também.

Sem querer soar como um maricas, mas tenho essa plenitude no peito que me deu
uma sensação de calor. Ah... fodase, quem eu estava enganando? Eu não me
importava se soava como um maricas. Estou realmente, fodidamente feliz. Fazia
anos que eu não sentia que tinha uma família de verdade e, embora só conhecesse
Ana há alguns meses, e esta foi a primeira vez que nós três saímos, minha casa
parecia um lar hoje.

Eu estava olhando para a cozinha, mas devo ter perdido o juízo enquanto pensava,
porque quando meus olhos voltaram a focar, Ana estava semicerrando os olhos
para mim. Ela sorriu, como se dissesse: O que está acontecendo nessa sua
cabeça? Ela provavelmente presumiu que eu a estava imaginando nua na minha
cozinha ou me lembrando de todos os lugares em que a fodi na minha casa na
semana passada, ao invés de sonhar acordado em passar noites com minhas duas
mulheres, jogando jogos de tabuleiro e fazendo fogo para elas neste inverno na
lareira que nunca usei.

Meia hora depois, a mesa estava posta e finalmente pude ver o que as duas estavam
preparando. Ana colocou uma caçarola coberta com uma toalha na mesa, e Charlie
se inclinou, olhando para Ana, que acenou com a cabeça.
— Ta-da! — Minha filha arrancou a toalha.

— Macarrão com queijo? Vocês duas encontraram uma nova caixa para
experimentar?

Charlie balançou a cabeça. — Nós fizemos isso com zero!

Ana sorriu. — Isso seria do zero, querida. Fizemos do zero.

— Parece delicioso. — Olhei ao redor da mesa teatralmente. — Mas onde estão os


seus? Esse é só para mim, certo?

Charlie deu uma risadinha. — Temos que compartilhar, papai. Há o suficiente para
todos nós.

Salivei enquanto Ana servia para cada um de nós um prato cheio com minha
comida favorita. Eu não podia esperar para começar.

— Isso é muito bom. — eu disse alguns momentos depois.

— Obrigada. Eu... liguei para minha mãe para saber a receita dela hoje.

Eu não esperava que ela dissesse isso e não queria mencionar nada com Charlie
perto, então falei enigmaticamente.

— Como foi?

Ana encolheu os ombros.

— Foi agradável, eu acho.

Concordei. — Bom, obrigado. É realmente delicioso.


Ela sorriu. — Já era tempo.

Alheia à minha troca significativa com Ana, minha filha falou com a boca cheia.
— Papai, depois do jantar podemos tomar sorvete e brincar de segredos?

Apontei para o prato dela com meu garfo. — Você não está nem na metade com o
que está na sua frente e está preocupada com a sobremesa? Talvez você esteja
cheia demais para tomar um sorvete.

Charlie riu como se eu tivesse acabado de contar uma piada. — Sempre há espaço
para sorvete, papai. Ele derrete assim que está na sua barriga, então nem é
realmente comida.

— Qual é o jogo dos segredos? — Ana perguntou. — Acho que nunca joguei antes.

— Não é realmente um jogo. Nós apenas tomamos sorvete e nos revezamos


contando segredos um ao outro. — Não queria explicar na frente de Charlie que
era algo que meu pai tinha feito com minha irmã e eu depois que nossa mãe foi
diagnosticada com câncer. Era sua maneira de nos ensinar que sempre podíamos
confiar nele – confiar nele para guardar nossos segredos e nos contar os dele.

— Pode ser qualquer segredo? — Ana perguntou.

— O que você quiser. — eu disse.

Ela sorriu. — Estou dentro.

O macarrão com queijo deixou todos nós cheios, então nos retiramos para o sofá
depois do jantar para assistir a um filme. Charlie deitou a cabeça no meu colo com
o corpo espalhado à minha esquerda e Ana sentou-se à minha direita. No meio de
Divertida Mente, Charlie estava roncando. Eu não poderia culpá-la. Uma soneca
parecia muito boa depois daquela refeição, e tínhamos assistido a esse filme, pelo
menos, cinquenta vezes.

A certa altura, Ana se levantou para ir ao banheiro, saí debaixo da minha filha e
cuidadosamente abaixei sua cabeça. Então esperei no corredor. Quando Ana abriu
a porta, agarrei seu braço e a puxei para o quarto de hóspedes adjacente.

Ela riu e coloquei minha mão sobre sua boca.

— Shhh... ela tem audição muito boa.

Ana acenou com a cabeça, então tirei minha mão. Ela sussurrou: — O que você
está fazendo?

— Eu queria dizer obrigado pelo jantar.

— Você já fez.

— Eu quis dizer, agradecer corretamente.

Segurando sua nuca, selei meus lábios nos dela.

— Você sempre cheira tão bem. — gemi.

Ela chupou minha língua. — Você sempre tem um gosto tão bom.

Foda-se. Provavelmente foi uma ideia idiota. Eu já podia sentir que estava ficando
excitado. Mas eu não tive um minuto a sós com ela desde que ela chegou aqui, e
eu precisava disso. Pressionando-a contra a porta, tomei sua boca em um beijo
áspero. Quando terminei, nós dois estávamos respirando pesadamente.

Limpei seu lábio inferior enquanto falava. — Você ligou para sua mãe.
Seu rosto se suavizou. — Sim. Não acho que jantarei lá tão cedo, mas o que você
disse realmente ressoou em mim. A vida é curta e você nunca sabe o que o amanhã
trará. Não quero ter arrependimentos e estou pronta para seguir em frente.

Olhei para trás e para frente entre seus olhos e segurei sua bochecha.

— Estou feliz.

Ela virou a cabeça e beijou minha palma.

— Você acha que Charlie vai dormir à noite toda? Talvez eu deva ir.

— Definitivamente não. Ela vai acordar e pedir sorvete a qualquer minuto.

Ana sorriu.

— E então irei ouvir um de seus segredos. Eu estava ansiosa por isso.

— Oh, sim?

Ela assentiu.

— Bem, deixe-me contar um agora. — Torci meu dedo para ela se aproximar.
Quando ela o fez, movi minha boca para seu ouvido e sussurrei: — Sou louco por
você, Ana.

Ela olhou para mim e sorriu.

— Eu também sou louca por você.

***
Com certeza, Charlie acordou cerca de dez minutos antes do filme terminar. Ela
esticou os braços sobre a cabeça.

— Podemos tomar sorvete agora?

Eu ri. — Você mal está acordada.

— Estou acordada o suficiente para tomar um sorvete.

— Tudo bem. Por que vocês duas não vão se sentar à mesa, e farei tigelas para
nós. Você quer as obras?

Charlie acenou com a cabeça rapidamente com um sorriso dentuço.

Eu levantei meu queixo para Ana. — E quanto a você?

— O que seriam as obras?

— Chantilly, granulado, nozes, rodelas de banana e calda de chocolate.

Ela lambeu os lábios. — Definitivamente.

Na cozinha, preparei três tigelas. Colocando-os na mesa, eu disse: — Tudo bem.


Quem quer ir primeiro?

Charlie apontou para Ana. — Ana! Quero saber o segredo dela.

— Nossa... — disse Ana. — Você precisa me dar um minuto para que eu possa
pensar em um.

Colocamos sorvete na boca até que Ana finalmente levantou a mão.


— Pensei em um! — Ela se inclinou sobre a mesa em direção a Charlie e baixou
a voz. — Ninguém sabe disso. Tem certeza que pode guardar um segredo?

Os olhos da minha filha estavam arregalados de alegria e ela assentiu rapidamente.

— Ok. Bem, quando eu tinha cerca de oito ou nove anos – não muito mais velha
que você – encontrei esta tartaruga no parque. Era apenas deste tamanho. — Ana
fez um círculo do tamanho de uma bola de golfe com as mãos. — Eu a trouxe para
casa e perguntei aos meus pais se poderia ficar com ela, mas eles disseram que não
porque achavam que ela pertencia à natureza. Então, no dia seguinte, voltei ao
parque e tentei libertá-la. Eu a coloquei de volta na área da grama onde a havia
encontrado, mas ela se misturou tão bem que, pelo menos, meia dúzia de crianças
quase a esmagou enquanto corriam brincando. Eu só sabia que se a deixasse lá, ela
se machucaria. Então, naquela noite, eu a coloquei de volta em casa e a mantive
em uma gaveta no meu quarto. Uma semana depois, minha mãe a encontrou
quando ela estava no meu quarto guardando a roupa. Ela me fez ir colocá-la de
volta. Eu fiz, mas toda chance que tinha, eu ia ver como ela estava. Tentei colocá-
la em um canto do parque que fosse mais seguro, mas ela encontrava o caminho
de volta para áreas onde as crianças corriam. Preocupei-me muito com ela.
Algumas semanas depois, minha família estava indo para a Flórida de férias – para
a Disney e o SeaWorld. Então, coloquei a tartaruga em minha mochila, coloquei-
a furtivamente no SeaWorld e a deixei livre dentro da exibição de tartarugas. Achei
que ela estaria segura lá.

Levantei uma sobrancelha.

— Você contrabandeou um animal para o SeaWorld?

Ana assentiu. — Gosto de pensar nisso como ajudá-la a conseguir abrigo, mas sim.
— Papai, podemos ir para o SeaWorld? Talvez possamos ver a tartaruga que a Ana
salvou.

Não tive coragem de dizer a ela que a coisa provavelmente estava morta há muito
tempo.

— Talvez algum dia.

Charlie colocou uma colher cheia de sorvete na boca. — Sua vez, papai.

Admiti que nunca estive no SeaWorld e depois passei a palavra para minha filha.
Ela bateu o indicador nos lábios enquanto as rodas em sua cabeça giravam.

— O meu pode ser um segredo que Ana não conhece? Não consigo pensar em
nada que você não saiba, papai.

— Certo.

Charlie se inclinou na direção de Ana, imitando o que Ana havia feito antes. Ela
colocou as duas mãos em volta da boca e sussurrou: — Meu nome não é realmente
Charlie.

— Uau. Ok. Esse é um grande segredo. Eu não fazia ideia. — Os olhos de Ana
piscaram para os meus e balancei a cabeça em confirmação antes que sua atenção
voltasse para minha filha. — Charlie é diminutivo de alguma coisa? — Ela
perguntou.

Minha filha balançou a cabeça. — Meu nome do meio é Charlotte.

— Então Charlie é a abreviação de Charlotte, que é o seu nome do meio? Mas


então qual é o seu primeiro nome?
— O nome da mãe da minha mãe... Laken.

— Laken? — As sobrancelhas de Ana se juntaram. — Então, seu nome é Laken


Charlotte?

Charlie concordou. — Papai, posso ter mais chantilly no meu sorvete? — Ela
inclinou sua tigela para mim e franziu a testa. — O meu acabou.

— Isso é porque você comeu. Mas acho que sim. Vá pegar a lata da geladeira, ok?

Charlie pulou da cadeira, já encerrando o jogo dos segredos e seguindo em frente,


mas Ana parecia confusa.

— O nome dela é Laken Charlotte? Essa não pode ser uma combinação de nome
comum.

Dei de ombros. — Provavelmente não. A mãe da minha ex mulher faleceu alguns


meses antes de Charlie nascer. Ela queria dar o nome de sua mãe, então
combinamos de homenagea-lá. Mas depois que Charlie nasceu, Suzie teve um
pouco de depressão pós-parto, e cada vez que chamava o bebê de Laken, ficava
emocionada e chateada. Então começamos a chamá-la pelo nome do meio –
Charlotte, mas abreviamos para Charlie. Acabou pegando. Quando ela tinha um
ou dois meses de idade, Charlie era Charlie, e chamá-la de qualquer outra coisa
não parecia certo.

— Laken Charlotte. — Ana repetiu.

Parecia que isso a incomodava por algum motivo.

— Não é algo que eu penso, porque ela é apenas Charlie para mim. Você está
chateada por eu não ter mencionado isso?
Ana balançou a cabeça.

— Não é isso não. Eu só... Esperei que ela dissesse mais, mas ela apenas olhou
para o lado, com a cabeça em outro lugar.

— Suzie é abreviação de alguma coisa?

Minhas sobrancelhas se juntaram.

— Suzie da minha ex mulher?

Ana assentiu.

— O nome completo dela é Susannah , mas todos a chamam de Susi/Suzie. Por


quê?

Ana ficou pálida e seus olhos se arregalaram. Ela parecia assustada.

— Algo está errado?

Ela balançou a cabeça.

— Não. Não, eu... só estou com dor de cabeça.

— Uma dor de cabeça? — Fiz uma careta. — Quando começou?

— Uuuhhh... agora.

Meu instinto me disse que ela estava cheia de merda, mas Charlie voltou para a
mesa com a lata de chantilly e empurrou sua tigela na minha frente. Borrifei mais
do que deveria e deslizei de volta para ela antes de voltar minha atenção para Ana.

— Você quer um pouco de Tylenol?


— Não. Na verdade... acho que simplesmente vou indo.

Algo estava definitivamente errado.

— Você nem terminou o seu sorvete.

— Eu sei. Sinto muito. — Ela se levantou e levou sua tigela para a cozinha.

Eu a segui, falando baixinho para que Charlie não ouvisse.

— Há algo mais incomodando você? Por que sinto que acabamos de fazer algo
para te chatear?

Ana sorriu, mas foi claramente forçado.

— Vocês não fizeram. Eu só... preciso deitar, eu acho.

Olhei entre os olhos dela, então balancei a cabeça.

— Tudo bem. Bem, deixe-me chamar um Uber.

— Posso pegar o trem.

— Não, vou chamar um Uber. Você não está se sentindo bem. — Tirei o telefone
do bolso e abri o aplicativo. Digitando o endereço de Ana, a tela mostrou que o
motorista chegaria muito rápido. Virei a tela e mostrei a ela. — Quatro minutos.

— Ok. Obrigada.

Ana passou um minuto recolhendo suas coisas e disse boa noite a Charlie, que lhe
deu um grande abraço.
— Volto em um segundo. — falei para minha filha. — Termine seu sorvete
enquanto levo Ana para fora.

— Ok, papai.

Na porta da frente, saí com Ana e fechei-a parcialmente atrás de mim.

— Tem certeza que está bem?

— Sim, tenho certeza. — Ela olhou para baixo.

— Às vezes, uma dor de cabeça pode me deixar com náuseas, então acho que é
melhor eu chegar em casa.

Novamente, eu não estava acreditando, mas concordei mesmo assim.

— Ok. Um carro que correspondia à descrição do Uber parou no meio-fio, então


segurei o rosto de Ana e beijei seus lábios suavemente.

— Verifique a placa do carro antes de entrar. Deve terminar em 6FE. E me mande


uma mensagem quando chegar em casa.

Ela assentiu.

— Boa noite.

Observei Ana contornar o carro, ler a placa traseira e entrar no banco de trás. Ela
falou com o motorista, e esperei que ela olhasse para trás e acenasse mais uma vez.
Mas ela não o fez. O carro simplesmente se afastou do meio-fio.

Algo estava definitivamente errado e meu instinto me disse que não tinha nada a
ver com dor de cabeça.
Capítulo 37

Christian

Ana não estava no trabalho quando cheguei na segunda de manhã. Passei pelo
escritório dela três vezes antes da minha reunião das nove. Quando ela ainda não
tinha aparecido, mandei uma mensagem rápida.

Christian: Tudo bem?

A falta de zumbido do meu telefone causou mais distração do que se tivesse tocado
muito alto durante a apresentação que eu deveria estar assistindo. Não conseguia
me concentrar.

Outra noite, depois que Ana saiu, consegui me convencer a pensar que havia
analisado demais a merda – que era apenas uma dor de cabeça e que tudo voltaria
ao normal no domingo de manhã. Mas obviamente isso não aconteceu.

Quando minha reunião terminou, eram quase onze horas e eu ainda não tinha
ouvido falar de Ana. A porta do escritório dela estava trancada e a recepcionista
disse que ela não a tinha visto hoje, então desci para falar com minha irmã.

— Ei. Você conversou com Ana hoje? Ela ainda não chegou.

Minha irmã parou de escrever e ergueu os olhos.

— Oi, Christian. É bom ver você nesta linda manhã também. Estou bem, obrigada
por perguntar.

— Eu não estou no clima...

Ela franziu o cenho.


— O que rastejou na sua bunda?

— Você pode apenas me dizer se você falou com Ana hoje?

Mia suspirou. — Sim, falei com ela duas vezes. Ela está trabalhando em casa. Ela
não mencionou isso para você?

Balancei minha cabeça. — Ela está se sentindo bem?

Uma expressão de preocupação registrada no rosto de minha irmã.

— Ela disse que teve uma dor de cabeça que a manteve acordada nas últimas duas
noites, mas estava se sentindo melhor.

Está tudo bem com vocês dois?

Passei minha mão pelo meu cabelo. — Sim. Acho que sim.

Minha irmã me deu uma olhada, e seus lábios formaram uma linha sombria.

— Você acha que sim? Mas você não tem certeza. O que você fez?

— Eu? Por que você acha que fiz algo?

— Normalmente, quando um homem não tem certeza se fez algo errado, ele fez.

Dei de ombros. — Tanto faz.

Quando voltei ao meu escritório, meu telefone finalmente tocou depois de mais de
duas horas de espera.

Ana: Está tudo bem. Trabalhando de casa hoje.


Senti um mínimo de alívio por ela não estar me ignorando completamente, mas
não o suficiente para fazer a inquietação na boca do estômago passar. Então escrevi
de volta.

Christian: Foi embora a dor de cabeça?

Parecia uma pergunta bastante simples, mas observei enquanto os pequenos pontos
começaram a se mover, pararam e recomeçaram antes de parar completamente.

Dez minutos depois, uma resposta finalmente veio.

Ana: Sim, a dor de cabeça passou. Obrigada por perguntar.

Obrigada por perguntar parecia muito com – Agora, me deixe em paz.

Tanto faz. Eu tinha trabalho a fazer.

Então, ao invés de perder mais horas do que já havia analisado demais as merdas,
joguei meu telefone na minha mesa. Talvez eu simplesmente não entendesse as
mulheres.

***

No dia seguinte, fiquei feliz como um merda ao ver a luz fluindo do escritório de
Ana quando cheguei às sete horas.

— Ei. Você está aqui...

Ana estava com o nariz enterrado no laptop.

Ela olhou para cima e sorriu, mas não chegou a atingir meus olhos.
— Sim. Desculpe por não ter vindo ontem.

— Nada para se desculpar. Você não trabalha para mim. O espaço aqui é seu para
usar quando precisar. Eu só estava preocupado, talvez algo mais estivesse
acontecendo do que uma dor de cabeça...

Ana mexeu em alguns papéis sobre a mesa e evitou o contato visual.

— Não, nada acontecendo. Apenas uma dor de cabeça. Eu as tenho às vezes.

Alguns dias atrás, eu teria entrado em seu escritório, fechado a porta atrás de mim
e tomado sua boca em um beijo que me deixaria com um tesão furioso. No entanto,
no momento, a vibração que senti me manteve em sua porta.

Em outras palavras, não foi apenas uma dor de cabeça. Mas ela estava trabalhando,
e eu tinha uma reunião para a qual precisava me preparar, então não ia insistir
agora.

Acenando em direção ao meu escritório, eu disse: — Tenho uma reunião que vai
ocupar a maior parte da minha manhã. Você quer se reunir esta tarde e checar as
entregas que ainda não chegaram? Podemos conversar sobre qualquer outra coisa
que você queira que eu participe.

— Na verdade, passei pelas entregas ontem. Estamos no caminho certo a partir de


agora. Acho que tenho controle sobre as coisas. Vou sentar-me com Mia e passar
pelas coisas finais de marketing daqui a pouco.

— Oh... ok. — Dei de ombros. — Talvez almoçar mais tarde, então?

— Vou trabalhar durante o almoço com Mia. E tenho uma reunião no final da tarde
no escritório de Fisher.
— Escritório de Fisher?

— Não tem nada a ver com a Signature Scent.

Claramente ela estava me ignorando, mas eu era estúpido...

— Jantar mais tarde?

Ela franziu o cenho.

— Provavelmente vou comer alguma coisa com Fisher depois.

Eu não conseguia fazer meus lábios se virarem para cima para fingir que estava
tudo bem, não importa o quanto eu tentasse. O melhor que pude reunir foi um
aceno de cabeça para fingir compreensão.

— Deixe-me saber se houver algo que você precise de mim.

— Obrigada, Christian.
Capítulo 38

Anastasia

Três noites atrás

Deve ser uma coincidência. Eu sabia que não era verdade, mas continuei dizendo
a mim mesma que era enquanto o Uber se afastava do meio-fio. Do contrário, tinha
quase certeza de que vomitaria no banco de trás do pobre coitado. Eu estava
completamente apavorada.

No minuto em que chegamos ao meu apartamento, saí voando do carro e corri para
o elevador. Quando não veio em dois segundos, decidi que preferia me manter
ocupada subindo oito lances de escada do que ficar esperando enquanto o interior
do meu peito parecia uma bomba-relógio.

No meu apartamento, corri direto para o meu quarto e me joguei no chão para
pegar as latas de plástico que mantinha guardadas embaixo da cama. Em meu
pânico, não conseguia me lembrar de como era o lado de fora do diário que estava
procurando, ou mesmo qual caixa de armazenamento tinha os livros mais recentes.
Peguei a primeira caixa e comecei a puxá-los um por um.

A primeira caixa tinha pelo menos trinta diários diferentes embalados que
colecionei ao longo dos anos, mas nenhum que fosse recente. Não me preocupei
em colocar nada de volta antes de rasgar a tampa do próximo recipiente de plástico.
Depois de alguns livros, levantei um volume encadernado em couro vermelho que
enviou uma onda de eletricidade pelo meu corpo. Dez segundos atrás, eu não
poderia tê-lo identificado em uma linha, mas no minuto em que o segurei em minha
mão, eu soube. Eu simplesmente sabia que era esse.
Ao contrário de todos os outros livros que peguei, não o abri imediatamente e corri
para ler. Em vez disso, respirei fundo e me equilibrei quando a seriedade da
situação me atingiu novamente. Se o que eu suspeitava estava certo... Oh Deus, eu
sei que estou certa.

Uma onda de náusea passou por mim e minhas mãos tremeram quando abri o livro
e comecei a ler.

Querido Diário,

Esta é a primeira página de um novo livro, o que parece muito adequado


enquanto estou sentada aqui e escrevo hoje. Sei que já faz um tempo desde a
última vez que escrevi, mas todas as páginas do meu antigo diário estavam cheias
e eu não tinha nada de bom sobre o que escrever para começar um novo.

Felizmente, as coisas mudaram recentemente. O verão está longe de ser chato.


Na verdade, acho que este verão foi um daqueles sobre o qual os músicos
escrevem canções. Você vê, conheci o amor da minha vida. Ele é doce e gentil,
mas também meio taciturno e duro. Em maio, quando voltei da faculdade para
casa, meus pais me arrastaram para uma festa chata que um de seus amigos
estava dando. Eu não queria ir, mas estou muito feliz porque conheci o homem
com quem vou me casar um dia!

Em breve escrevo mais – S.

Parei para microanálise de cada palavra. Christian não mencionou como ele e sua
ex-esposa se conheceram especificamente, mas ele disse que suas famílias eram
amigas e eles pertenciam ao mesmo círculo social.
Enquanto eu montava o quebra-cabeça, tudo se encaixou. Minha ex-colega de
quarto Evelyn me deu este diário de aniversário. Evelyn e a ex-mulher de Christian
eram amigas. Talvez Susannah tivesse dado a ela o diário para mantê-lo seguro,
ou quem sabe – talvez Evelyn o tivesse roubado. Deus sabe que ela tinha uma
queda por roubar coisas dos amigos.

Susannah se casou na Biblioteca Pública de Nova York –disso eu tinha certeza. Li


todos os detalhes de seu planejamento. Christian também se casou lá, assim como
seus pais antes dele. Eu também tinha 99,99% de certeza de que a criança sobrea
qual Susannah escrevera se chamava Laken Charlotte. Lembrei-me porque foi a
única vez que a escritora usou o nome de alguém além do seu.

Em todos os outros lugares ela se referia a pessoas com iniciais, mas no dia em
que sua filha nasceu, ela havia escrito seu nome. Laken Charlotte. Não era um
nome comum, mas eu precisava daquele cem por cento extra de certeza, e
precisava agora. De jeito nenhum eu poderia continuar lendo desde o início e
esperar até chegar a esse ponto. Então virei freneticamente até encontrar a seção
que me lembrava.

Querido Diário,

Hoje me tornei mãe.

Uma mãe.

Tive que escrever de novo porque ainda não consigo acreditar. O nascimento foi
todas as histórias horríveis de dor que ouvi, e mais algumas. Mas, quando
colocaram minha filha em meus braços, esqueci completamente a agonia do
parto. Ela é perfeita em absolutamente todos os sentidos.
Às 2:42 de hoje, minha vida mudou. Dei uma olhada nos olhos do meu bebê e
soube no fundo do meu coração que precisava ser uma pessoa melhor. Uma
pessoa mais forte. Uma pessoa mais altruísta. Uma pessoa honesta. Tenho muito
orgulho de ser a mãe da minha doce menina, e hoje faço a promessa de me
tornar uma pessoa de quem ela possa se orgulhar um dia também.

Bem-vinda ao mundo, Laken Charlotte.– S

Deixei cair o livro no meu colo e fechei os olhos.

A ex-esposa de Christian era a mãe de Laken Charlotte – mãede Charlie. Mas,


infelizmente, isso foi tudo que pude dizer com certeza. Porque, de acordo com
outras anotações em seu diário, isso era tudo que Susannah podia dizer com
certeza. Ela manteve um segredo de seu marido – um grande segredo.

Desta vez, não consegui conter minha náusea. Corri para o banheiro e despejei o
conteúdo do meu estômago no vaso sanitário.
Capítulo 39

Anastasia

Quinze meses atrás.

— Você cheira a perfume, Jack. — Dei um passo para longe dele depois do nosso
abraço.

Ele suspirou. — Isso de novo não. Você tem amostras em todos os nossos
apartamentos, é claro que alguns deles ficam presos nas minhas roupas.

Ele se virou e caminhou para seu quarto.

Eu segui. — Você cheira a jasmim. Não tenho isso aqui ou na sua casa.

— Bem, então é provavelmente uma combinação da merda que você tem por aí.
Você, entre todas as pessoas, sabe que quando você combina muitos cheiros, você
faz um novo. O que quer que meu casaco de lã tenha recolhido, deve estar
combinando.

— Onde você estava esta noite?

— Provas intermediárias de avaliação em meu escritório. Quer que eu receba um


recado do segurança que eu passar na minha saída de agora em diante? A melhor
pergunta é: onde você estava? Você ainda está de sapatos e suas bochechas estão
vermelhas de frio. Então, suponho que você mesma trabalhou até tarde.

— Eu estava no laboratório trabalhando no algoritmo.

Jack revirou os olhos.

— O algoritmo... certo. Achei que devíamos deixar isso de lado. Com esse dinheiro
vamos comprar uma casa.

— Só porque concordei que poderíamos usar nossas economias para comprar uma
casa não significa que preciso parar de trabalhar no meu produto.
— Não, mas como eu sei que você realmente estava lá?

— Você não... Mas não sou eu que cheira a perfume e tenho despesas de hotel no
meu cartão de crédito.

— Não vou fazer essa merda de novo, Ana. — Jack colocou as mãos nos quadris.
— O hotel era uma reserva para meus pais que estavam vindo para a cidade. Fiz
isso há muito tempo e esqueci de cancelar depois que cancelaram sua viagem para
Nova York. Eu tinha esquecido completamente quando você me perguntou. Uma
semana depois, lembrei-me, então paguei a conta. Achei que não precisava
informar você.

A história que ele me contou fazia sentido, só que ele nunca mencionou que seus
pais estavam vindo para a cidade, e quando eles faziam no passado, eles sempre se
hospedavam em um hotel perto de seu apartamento – não do outro lado da cidade.

Ultimamente era sempre a mesma coisa. Ele tinha uma explicação para tudo – a
cobrança do hotel, cheiro de perfume, quando meu amigo do trabalho o viu em um
restaurante com uma mulher morena parecendo bem aconchegante, uma
mensagem suspeita. Não era uma coisa, mas um monte de pequenas coisas que se
somavam.

— Veja. — Jack se aproximou e colocou as mãos nos meus ombros. — Esses


diários idiotas estão plantando merda na sua cabeça.

Eu queria tanto acreditar nele. Mas eu não conseguia esquecer todas as


semelhanças entre a maneira como Susannah estava tratando seu marido e as coisas
entre Jack e eu ultimamente.

Susannah voltava para casa e ia direto para o chuveiro para lavar o cheiro de seu
amante – assim como Jack começou a fazer nos últimos meses se eu estivesse em
seu apartamento quando ele chegasse em casa.
Susannah era supercautelosa com seu telefone. Jack até levava o seu para o
banheiro quando ele tomava banho agora – exceto por aquela vez que ele estava
no chuveiro quando cheguei em sua casa. Encontrei seu celular carregando em sua
mesa de cabeceira e tentei dar uma olhada em suas mensagens de texto enquanto
a água ainda estava correndo, apenas para descobrir que ele mudou sua senha
daquela que usava desde sempre.

Olhei nos olhos de Jack.

— Você me promete? Prometa-me que não há nada acontecendo com mais


ninguém. Simplesmente não consigo afastar a sensação, Jack.

Ele se aproximou e falou diretamente nos meus olhos. — Você precisa confiar em
mim.

Balancei a cabeça, embora não me sentisse bem.

Naquela noite, fomos dormir como na maioria das noites ultimamente – com um
beijinho rápido nos lábios e sem sexo. Essa foi mais uma coisa que mudou nos
últimos seis meses e só aumentou minhas suspeitas.

Na semana seguinte, quase tudo voltou ao normal – até que Fisher ligou uma
manhã enquanto eu estava fazendo torradas.

— Ei. Você me disse que Jack estava saindo da cidade esta noite, certo? Esse é um
dos motivos pelos quais você mudou nossa noite mensal de cinema de domingo
para sexta-feira.

— Sim. Ele vai a uma conferência no interior do estado sobre a incorporação de


novas tecnologias nas palestras da faculdade. Por quê?

— Encontrei aquele cara estranho, Simon, com quem ele trabalha – aquele que
separa o cabelo ao meio e o escova nas laterais. Fiquei preso conversando com ele
na sua festa de Natal alguns anos atrás, e ele passou meia hora explicando como
os balões de hélio são ruins para o nosso ambiente marinho.

— Lembro-me de Simon. O que tem ele?

— Bem, nós vamos para a mesma academia. Eu o vejo de vez em quando e tento
evitá-lo. Mas esta manhã, a única esteira vazia estava ao lado dele. Então tive que
correr ao lado do cara. Ele percebeu minha garrafa de água e começou a me dar
um sermão sobre os efeitos do plástico na Mãe Terra. Tentei mudar de assunto,
então perguntei se ele iria à conferência.

— Ok…

— Ele disse que foi no fim de semana passado.

— O quê? — Parei com a faca de manteiga espalhada no meio, esquecendo minha


torrada. — Talvez eles tenham durante alguns fins de semana?

— Isso é o que imaginei. Sei que você tem tido dificuldade em confiar em Jack
ultimamente, então eu não ia mencionar isso para você, mas estava me
incomodando. Então pesquisei a conferência no Google. Foi no fim de semana
passado – apenas no fim de semana passado, Ana.

Depois de um longo tempo sem dizer nada, ouvi a preocupação na voz de Fisher.

— Você está bem?

Estranhamente, me senti meio entorpecida, não frenética e assustada como quando


comecei a suspeitar de algo. Talvez no fundo eu soubesse a verdade o tempo todo.
Mas eu tinha certeza de que Jack nunca admitiria nada.

— Sim, estou bem.

— O que você vai fazer?

— Você acha que pode pegar emprestado o carro do seu amigo de novo?
— Provavelmente. Por quê?

— Você poderia fazer isso e estar aqui às quatro?

— Pensei que a noite de cinema fosse começar às seis?

— Ia. Mas mudança de planos. Jack vai sair às quatro, e quero segui-lo.

***

— Ali está ele. — Apontei para Jack enquanto ele saía pela entrada da frente de
seu prédio, carregando sua bagagem. Fisher e eu estávamos estacionados a quatro
carros de distância, esperando.

Afundei em meu assento, embora Jack tivesse virado à esquerda, na direção oposta
de onde estávamos. Ele manteve seu Prius em uma garagem a cerca de dois
quarteirões de distância.

— Devo segui-lo? — Fisher disse.

Balancei minha cabeça. — Ele vai levar alguns minutos para descer até a garagem,
e então demorará pelo menos dez minutos para o manobrista dar a volta com o
carro. Provavelmente deveríamos esperar até que ele entre para que não nos veja.

— Ok.

Seguir alguém não era tão fácil quanto parecia na TV, especialmente em Nova
York. Como apenas alguns carros de cada vez passam em um determinado
semáforo, a ansiedade crescia dentro de mim cada vez que nos separávamos. Mas
de alguma forma conseguimos não o perder.

Seguimos alguns carros atrás na FDR Drive e depois o seguimos pela I-87.

— Parece que ele está indo para o interior do estado. — disse Fisher. — Mas liguei
para o local que realizou a conferência para que ele disse que iria. Definitivamente
foi apenas no fim de semana passado.
Balancei minha cabeça. — Não sei o que pensar. Talvez ele esteja encontrando
uma mulher onde é a conferência, de qualquer maneira? Então, uma nova cobrança
de hotel faz sentido?

— Talvez. Você o criticou por tantas coisas que ele sabe que você suspeita.

Nós dirigimos por um tempo, tempo suficiente para que parecesse ser exatamente
o que Jack estava fazendo, e nós estaríamos na estrada por um tempo. Mas quando
nos aproximamos da saída perto de onde Fisher e eu crescemos, Jack ligou o pisca-
pisca e mudou-se para a pista da direita.

— Ele conhece a área, então provavelmente precisa de uma pausa para ir ao


banheiro ou combustível e decidiu parar por aqui.

Fisher recuou um pouco, deixando alguns carros extras ficarem entre nós, para que
não ficássemos bem atrás dele quando paramos na luz da rampa de saída.

— Você é estranhamente bom nessa coisa de seguir, Fisher.

Ele sorriu. — Não é meu primeiro rodeio, amor. Homens gays não podem mantê-
lo nas calças por muito tempo. Infelizmente, já fiz isso antes.

— Sem mim?

Ele encolheu os ombros. — Achei que você iria me dar um sermão por seguir
alguém.

Ele provavelmente estava certo.

Um ano atrás, eu teria o perturbado se ele sentisse necessidade de seguir alguém,


se a pessoa não tivesse sua confiança e se o relacionamento estivesse condenado.
No entanto, aqui estava eu ... Era um lembrete gritante para não julgar os outros, a
menos que eu tivesse pisado em seus sapatos.

— Onde diabos ele está indo? — Fisher perguntou.


Jack passou por todas as pequenas lojas e pelo posto de gasolina logo depois da
avenida. Ele estava realmente indo em direção ao bairro onde Fisher e eu
crescemos – onde meus pais e o pai de Fisher ainda moravam.

Quando Jack entrou à direita no bairro onde meus pais moravam, tivemos que
recuar muito, pois não havia carros entre nós.

Novamente afundei em meu assento.

— Ele está indo para a casa dos meus pais? O que diabos ele iria fazer lá?

Fisher balançou as sobrancelhas.

— Talvez ele seja um dos convidados da sua mãe lá embaixo.

— Eca... não seja nojento.

Estávamos brincando, mas com certeza, Jack virou à esquerda e dirigiu pelo
quarteirão dos meus pais.

— Não vire. — eu disse. — Se ele está indo para a casa dos meus pais, devemos
ser capazes de ver daqui. Você pode encostar na esquina o suficiente para que
possamos espiar?

Fisher estacionou bem na placa de pare e nos inclinamos para espiar o quarteirão.
O Prius diminuiu a velocidade e parou na garagem dos meus pais.

— O que diabos ele está fazendo? Por que ele não me disse que estava vindo aqui?
Acabei de falar com minha mãe outro dia e ela não mencionou que ele estava
passando por aqui.

Fisher encolheu os ombros.

— Talvez eles estejam planejando uma festa surpresa para você ou algo assim?

— Meu aniversário é daqui nove meses.


Depois que Jack saiu do carro e desapareceu dentro de casa, Fisher e eu decidimos
puxar o quarteirão. Estacionamos algumas casas adiante e deslizamos em nossos
assentos.

Durante a hora seguinte, continuei repassando todas as coisas que me deixaram


desconfiada.

Finalmente suspirei.

— Talvez Jack esteja certo e o diário que estou lendo me deixou paranoica,
fazendo-me ver coisas que não existem.

— Você já tinha suspeitas antes de começar a ler este. — Fisher me lembrou.

— Sim... Mas... — Balancei minha cabeça. — Não sei. Definitivamente fiquei


obcecada com a ideia de que Jack pode estar me traindo, e acho que muito disso
pode ser por causa das coisas que estou lendo. Quer dizer, é a terceira vez que leio
este maldito diário, e me sento na escada da biblioteca me perguntando se as
pessoas ao meu redor podem ser Susannah ou seu marido. Só não entendo como
ela pode traí-lo – e depois não dizer que o bebê que ela deu à luz pode nem ser
dele.

— E o cara com quem ela está dormindo, ele é amigo do marido dela, certo?

Concordei.

— É terrível. É como a traição final – sua esposa e seu amigo.

— Sim, isso é uma merda. — disse Fisher.

— Não fica muito pior do que isso.

A porta da casa dos meus pais se abriu e meu coração deu um pulo no peito.

— Alguém está vindo.


Fisher e eu nos abaixamos o máximo que podíamos, mas ainda podíamos ver pela
janela. Meus pais e minha irmã saíram e ficaram no último degrau, conversando
com Jack por alguns minutos. Eventualmente, minha mãe e meu pai disseram
adeus e voltaram para dentro, enquanto minha irmã acompanhava Jack até o carro.

Quando eles chegaram ao Prius, os dois deram a volta para o lado do passageiro e
Jack abriu a porta para Leila entrar. Quando ela entrou, ele agarrou a mão dela. O
resto parecia se desenrolar em câmera lenta. Jack a puxou contra ele e a empurrou
contra o carro. Uma brisa soprou seus longos cabelos escuros na frente de seu
rosto, e ele os afastou... logo antes de se mover para um beijo.

Atordoada e ainda em algum tipo de negação insana, de alguma forma eu esperava


que minha irmã o empurrasse – como se esta fosse a primeira vez que isso
acontecia. Ela o acertaria no rosto e o afastaria. Mas ela não fez nada disso. Minha
irmã colocou os braços em volta do pescoço do meu noivo e o beijou de volta –
dois participantes dispostos envolvidos em um beijo apaixonado... na garagem dos
meus pais.

Não consegui dizer uma palavra. Minha boca abriu em choque completo e
absoluto.

Eu tinha esquecido que Fisher estava sentado ao meu lado até ele falar.

— Estou corrigindo. Há coisas piores do que sua esposa transando com seu amigo,
como no diário que você está lendo. — Ele balançou a cabeça em descrença
enquanto olhava boquiaberto para mim. — Essa é ainda pior.
Capítulo 40

Anastasia

— Você está me zoando? — Fisher balançou a cabeça. — É mesmo possível?

Eu não tinha planejado contar nada ao meu amigo – muito menos a história toda –
mas foi exatamente o que fiz. Eu disse a Fisher que Christian poderia não ser o pai
de Charlie antes de contar a Christian, e me senti muito culpada por violar sua
privacidade. Mas Fisher sabia que algo estava errado comigo a semana toda.

Hoje à noite, quando ele entrou e me encontrou de pijama amassado, cabelo que
não era penteado há dois dias e olhos inchados... eu realmente não tive muita
escolha.

Suspirei. — Tenho quase certeza de que estou certa. Todos os fatos se alinham –
além disso, recebi aquele diário de Evelyn.

— Como Evelyn conseguiu isso?

— Não faço ideia. — Dei de ombros. — Mia mencionou uma vez que Evelyn e a
ex de Christian tiveram um desentendimento porque Evelyn roubou algo dela.
Talvez o que ela roubou tenha sido o diário.

— Tudo bem. — Ele colocou as mãos nos quadris e pensou por um momento. —
Aqui está o que vamos fazer. Você vai escovar o cabelo e lavar o rosto, e vou até
a casa ao lado pegar um bloco de notas e duas garrafas de vinho. Quando eu voltar,
você vai me contar todos os fatos e veremos se chego à mesma conclusão. Se eu
fizer isso, vamos descobrir seu plano de jogo.

Afundei-me mais no sofá. — Eu não quero um plano de jogo.

Fisher agarrou minhas mãos e me puxou para ficar de pé.


— Não me importo. Quando você começou a suspeitar que Jack estava te traindo,
eu ignorei. Eu deveria ter sentado com você imediatamente e ouvido e bolado um
plano de jogo para chegar ao fundo das coisas. Não o fiz, e você passou meses
estressada e sofrendo. Não vamos seguir por esse caminho novamente. Precisamos
de resolução. — Fisher olhou o topo da minha cabeça. — Além disso, acho que
pode haver um ou dois ratos fazendo ninhos aqui. Então vá escovar o cabelo. Volto
em cinco minutos.

Fiquei de mau humor, então Fisher me acompanhou até meu quarto. Ele beijou
minha testa e me empurrou em direção à porta do banheiro.

— Vá.

Dez minutos depois, encontramo-nos no sofá. Fisher acenou com a cabeça para
uma embalagem vazia.

— Você comeu aquele chocolate inteiro que foi entregue?

Fiz uma careta.

Na manhã seguinte que corri para fora da casa de Christian, um lindo buquê de
flores exóticas foi entregue, junto com uma enorme barra de Hershey’s de dois
quilos. A nota de Christian dizia:

Você me faz sentir melhor do que qualquer quantidade de chocolate.

Comi a coisa toda nos últimos dias enquanto me perguntava se aquela afirmação
algum dia seria verdade novamente. Nenhuma quantidade de anandamida poderia
me tirar do meu medo.

— Não me lembre. — eu disse. — Sinto-me horrível. Christian deve estar pirando


sobre por que desapareci e continuo evitando suas ligações e mensagens. Mas não
consigo olhá-lo nos olhos com o que sei. Não posso, Fisher. Sou louca por ele.
Estou machucando-o agora, mas vai ser muito pior quando eu contar a ele.
Fisher apertou minha mão. — Ok, querida. Mas você fez a coisa certa. Este não é
o tipo de coisa que você salta sobre alguém se não tiver certeza absoluta. E quando
tiver certeza, você precisa descobrir como dar a notícia com calma.

— Fisher... — Balancei minha cabeça. — Não há delicadeza. Estamos falando


sobre a filha dele.

— Ok. Mas você precisa relaxar um pouco, para que possamos repassar todos os
detalhes. Vamos beber um pouco de vinho, pelo menos. Você parecia menos
nervosa ao contar a quatrocentos convidados como conheceu a noiva no casamento
de uma mulher que você nunca tinha visto antes. — Fisher serviu dois copos
grandes de Merlot e endireitou-se, a caneta pronta. Ele parecia muito no modo de
advogado. — Vamos começar. Quando Evelyn lhe deu este diário?

— Foi um presente de aniversário – cerca de dezoito meses atrás. Lembro-me de


ter ficado surpresa por ela ter me dado alguma coisa, porque eu nem sabia que ela
sabia que era meu aniversário. — Pensei de volta. — Você me mandou flores.
Quando Evelyn as viu, perguntou sobre o que eram. Eu disse que era meu
aniversário e então ela foi ao quarto e saiu com o diário. Não estava embrulhado
nem nada.

— Há alguma indicação de época no diário – de programas de televisão ou algo


assim?

Balancei minha cabeça.

— Li pelo menos uma dúzia de vezes de capa a capa nos últimos dias. Não
encontrei nenhuma.

— Ok. — Fisher rabiscou dezoito meses em seu bloco de notas e destacou com
duas barras em negrito. — E quando Christian e sua ex se divorciaram?

— Ele disse que Charlie tinha cerca de dois anos. Isso seria há quatro anos.
— Então, o diário poderia ter sido escrito em qualquer lugar de um ano e meio
atrás a cem anos atrás?

Dei de ombros. — Eu acho. Mas as páginas não estão amareladas nem nada, então
não acho que seja muito antigo.

— Ok... então a linha do tempo funciona, mas provavelmente funcionaria para um


milhão de outros cenários também. Vamos passar para os nomes. O nome da sua
mulher era Susannah. Sabemos que é o nome da ex-mulher de Christian com
certeza?

Concordei.

— Christian apenas se referiu a ela como Suzie, mas na outra noite, quando Charlie
mencionou seu nome completo, eu perguntei qual era o nome de sua mãe. É
Susannah... e, a propósito, ela também mantinha um diário. Christian uma vez
mencionou isso de passagem.

— Ok. São dois nomes em comum. E quanto a Christian? O diário alguma vez diz
o nome dele?

Balancei minha cabeça. — Ela se refere a ele apenas como marido. E o cara com
quem ela estava tendo um caso é o melhor amigo do marido, e ela o chama de J.
Mas eu não conheço nenhum amigo dele que tenha um nome com J. E o único
amigo do Christian que eu conheço se chama Flynn. O que não descarta ele ter um
amigo com J.

Fisher rabiscou mais algumas notas. — Há milhares de pessoas com J. É comum.


Aposto que Susannah também. Novamente, tudo circunstancial.

— Mas ela escreveu o nome da filha no dia em que nasceu – Laken Charlotte.

As sobrancelhas de Fisher se juntaram.

— E o nome da filha de Christian é definitivamente Laken Charlotte?


Concordei.

— Bem, essa não é uma combinação tão comum, obviamente. Nunca conheci
ninguém chamado Laken, mas tenho certeza de que há vários em Nova York.
Temos mais de oito milhões de pessoas que moram aqui.

— Há mil seiscentas e sessenta e duas pessoas chamadas Laken nos Estados


Unidos que têm menos de treze anos, de acordo com o Census Bureau. Procurei
por isso.

— Merda. Ok. Bem, isso ainda é mais de 1.600 pessoas.

— Mas quando coloco o nome e o sobrenome – Laken Grey – eles estimam que
haja apenas uma.

— Estimativa? O Census Bureau não tem certeza.

— Eles falam com base em dados antigos. É mais uma coisa do tipo estatístico do
que uma contagem exata. Mas, basicamente, não é uma combinação de um nome
popular.

— Tudo bem, o que mais?

— Susannah se casou na Biblioteca Pública de Nova York. Christian e Suzie


também.

— Ugh. Isso não está parecendo muito bom.

— Susannah e o marido também moravam no Upper West Side, assim como Suzie
e Christian.

Fisher soltou um suspiro profundo.

— Portanto, definitivamente há muitas coincidências. Mas uma vez li sobre um


casal de gêmeos separados no nascimento. Ambos foram chamados de James por
seus pais adotivos, e ambos cresceram e se tornaram policiais e se casaram com
mulheres com o mesmo nome. Eles também tiveram filhos com o mesmo nome,
depois se divorciaram e casaram com mulheres com o mesmo nome no segundo
casamento. Eles não perceberam nada disso até que se conheceram mais tarde na
vida. Coisas tão estranhas podem acontecer.

Suspirei. — Eu acho. Mas o que eu faço? Digo: “Ei, a propósito, acho que há uma
possibilidade de sua filha não ser sua? Ah, e ela pode ser de um grande amigo seu
de longa data, alguém chamado J, porque ele estava secretamente transando com
sua ex-mulher?”

Fisher balançou a cabeça.

— Jesus. — Ele bebeu o resto de sua taça de vinho. — Não acho que você tenha
outra escolha.

— Eu poderia queimar o diário e fingir que nunca o vi.

— E depois? Nunca dizer ao cara que sua filha pode não ser dele? Conheço você,
Ana. Isso faria um buraco no seu estômago.

Olhei nos olhos de Fisher. — Ela é a luz da vida dele. Acho que prefiro fazer um
buraco no meu estômago do que partir o coração de Christian.

— Mas você não consegue funcionar. Você não teve uma conversa de verdade
com ele desde que descobriu tudo isso. Você não pode mantê-lo, a menos que
esteja deixando a vida dele inteiramente. — Fisher franziu a testa. — Cristo, se é
verdade... Pense em quantas vidas aquele diário arruinou. Você poderia nunca ter
descoberto o que Jack estava fazendo se não estivesse lendo. E agora isso. É muito
louco. — Ele fez uma pausa, balançando a cabeça. — Mas você precisa dizer a
ele, querida. Ele tem o direito de saber.

Parecia que havia uma bola de golfe presa na minha garganta.

Engoli. — Eu sei.
Depois de nossa conversa, Fisher e eu começamos a esvaziar as duas garrafas de
vinho. Eu estava tentando afogar meu cérebro, esperando que talvez me permitisse
parar de pensar sobre o que eu precisava fazer por apenas alguns minutos. Mas
tudo o que o álcool parecia fazer era me deixar mais triste.

Senti as lágrimas ameaçando. — Não quero perdê-lo, Fisher. Sinto falta dele como
uma louca, e faz menos de uma semana desde que eu o vi.

Fisher acariciou meu cabelo. — Vi o jeito que Christian olha para você. Esse
homem é louco por você também. Você não vai perdê-lo, mas precisa falar com
ele. Não pode mais ser evitado.

Suspirei. — Eu sei. Sinto-me tão paralisada nos últimos dias.

***

Acompanhei Fisher até a porta por volta das dez.

— Vou trazer o café da manhã para nós quando você estiver sóbria, para que
possamos conversar sobre como você vai contar a ele. — disse ele.

Suspirei. — Ok. Obrigada.

Ele ergueu meu queixo. — Você vai ficar bem?

— Sim. Vou ficar bem. Vejo você amanhã.

Depois de fechar a porta, limpei as taças de vinho e joguei as garrafas vazias no


lixo. Quando fui desligar a luz da cozinha, vi que Fisher havia deixado a chave do
meu apartamento no balcão. Presumi que ele descobriria de manhã quando viesse
com o café da manhã, então apaguei a luz da cozinha e decidi que não poderia mais
adiar o banho.

No banheiro, tirei a roupa enquanto deixava a água vaporizar o quarto. Assim que
coloquei um pé no chuveiro, minha campainha tocou.
Suspirei.

Fisher percebeu que não tinha a chave. Enrolando uma toalha em volta de mim,
peguei a chave no meu caminho para a porta da frente. Talvez o álcool tenha me
feito agir de forma descuidada, mas nunca me ocorreu que poderia ser outra pessoa
que não Fisher.

Então, sem verificar o olho mágico, abri a porta.

— Eu sei, eu sei. Você esqueceu sua cha... — Congelei, encontrando um homem


que definitivamente não era Fisher do outro lado da porta.

As sobrancelhas de Christian formaram um V. perturbado.

— Esperando outra pessoa?

Capítulo 41

Anastasia

— Eu... Fisher esqueceu a chave, então presumi que fosse ele.

Christian e eu ficamos parados olhando um para o outro. Senti-me tão abalada


depois de termos falado sobre ele por horas que não sabia o que dizer ou fazer.

Inferno, eu não sabia o que dizer ou fazer há uma semana.

Eventualmente, ele suspirou.

— Tudo bem se eu entrar?

— Oh... sim, claro. Desculpa.

Fechei a porta atrás dele e tentei recuperar meu juízo, mas estava tão nervosa que
não conseguia descobrir como funcionar.

Novamente nos encaramos sem jeito.

Christian teve que quebrar nosso silêncio.


— Desculpe, não liguei antes de vir.

Apertei a ponta da minha toalha.

— Tudo bem.

— É isso? Não liguei porque imaginei que você diria não se eu ligasse, e agora
parece que não está tudo bem eu estar aqui.

Eu odiava estar fazendo com que ele se sentisse mal recebido.

— Sinto muito. Eu só não estava esperando você. Fisher acabou de sair e bebemos
vinho, e eu estava prestes a tomar um banho rápido e pular na cama.

Ele franziu a testa.

— Posso ir…

— Não, não... — Balancei minha cabeça. — Você não precisa ir.

Christian chamou minha atenção.

— Eu esperava que pudéssemos conversar.

Balancei a cabeça e apontei para a porta do meu quarto.

— Claro, sim. Deixe-me desligar a água e me vestir.

— Por que você não toma seu banho? Vou esperar.

Eu precisava de alguns minutos para organizar meus pensamentos. Planejei


deliberar por pelo menos alguns dias sobre como dizer a ele o que eu sabia. Agora
eu só tinha tempo para tomar um banho.

— Se você não se importa, isso seria ótimo. Obrigada. — Fiz um gesto em direção
ao sofá. — Fique à vontade.

No chuveiro, minha cabeça estava uma bagunça e me senti um pouco tonta. Mas
eu não tive tempo para um colapso completo, então fiquei embaixo d'água, fechei
os olhos e respirei fundo algumas vezes até que parecia que o mundo havia parado
de girar tão rápido. Não havia uma maneira fácil de começar a conversa que eu
precisava ter, e eu não podia mais me esconder atrás de quaisquer dúvidas que
havia inventado sobre as informações.

Tudo alinhado.

Até Fisher estava convencido. Então imaginei que teria que começar do início.

Christian já sabia que eu lia diários e tinha quase certeza de que contei a ele sobre
aquele em que a mulher se casou na Biblioteca Pública de Nova York. Então,
suponho que algo como li este diário há pouco... é como eu começaria. Mas e daí?
Eu diria: Ei, a propósito, você alguma vez suspeitou que sua esposa estava tendo
um caso?

Isso me fez hiperventilar.

E se eu estiver errada?

E se eu estiver certa? E

se contar a ele acabar com a coisa mais sagrada de sua vida?

Estou arruinando a vida de uma menina?

Eu gostaria de saber se meu pai não era realmente meu pai?

Oh Deus.

Esse pensamento fez minha cabeça girar ainda mais.

Pela maneira como meus pais dormiam, era perfeitamente possível que meu pai
não fosse meu pai.

Oh senhor.

Quem se preocupa com minha família?


Eu queria que fosse comigo que isso estivesse acontecendo, não com Christian e
sua linda garotinha.

Durante o resto do meu banho, pensamentos aleatórios surgiram em minha cabeça,


e alternei entre tentar acompanha-los e tentar me acalmar com uma respiração
lenta.

Eu morreria se escalasse a janela do meu quarto para escapar?

Quando minhas mãos começaram a ficar enrugadas, eu sabia que tinha que
controlar minha merda. Então, desliguei a água, sequei, escovei meu cabelo e vesti
um moletom e uma camiseta antes de limpar o vapor do espelho e me dar uma
pequena conversa interna.

Tudo vai ficar bem. Não importa qual seja o resultado, eventualmente as coisas
vão se encaixar da maneira que deveriam estar.

Pode ser um caminho acidentado, mas se um diário sobre um homem pelo qual
sou louca chegou às minhas mãos antes de eu conhecê-lo, há uma razão para isso.
De alguma forma Deus colocou isso em minhas mãos e, no final, tudo vai dar certo.

Respirei fundo uma última vez e sussurrei para mim mesma: — Está tudo nas mãos
do destino agora.

Então abri a porta do quarto. Só para descobrir que não estava nas mãos do destino.
Estava nas mãos do Christian. Porque eu tinha deixado o diário na mesa de centro
e ele estava lendo no momento.

Ele olhou para cima.

— Por que diabos você está com o diário da minha ex-mulher?


Capítulo 42

Christian

— Eu não entendo. Porque Suzie venderia seu diário no eBay e como diabos você
acabou com isso?

Ana balançou a cabeça. — Não comprei aquele diário no eBay. Evelyn me deu de
aniversário.

— Evelyn? Evelyn Whitley?

— Sim.

— Como Evelyn conseguiu isso?

— Não tenho absolutamente nenhuma ideia.

— Quando ela deu a você?

— No meu aniversário no ano passado – cerca de dezoito meses atrás.

Eu não tinha certeza do que diabos estava acontecendo, mas sabia que Evelyn e
Suzie não se falavam mais. Lembrei-me de um dia, alguns anos atrás, quando fui
buscar Charlie e minha ex-esposa estava com um humor particularmente péssimo.
Ela me perguntou se eu mantive contato com Evelyn. Claro, eu não tinha. Evelyn
era amiga da minha irmã, e não uma de quem eu gostasse muito para começar.

— Acabei de ler a primeira página. Começa no dia em que nos conhecemos.

Ana parecia pálida.

— Eu sei.

Esfreguei a nuca, sentindo algo entre confuso e zangado, mas tentei manter a
calma.
— Então só aconteceu de você receber o diário da minha ex-mulher? Da mulher
que você estava fingindo ser na noite em que nos conhecemos?

— Parece estranho. Eu sei disso. Mas, sim, foi o que aconteceu. Não fazia ideia
que pertencia à sua ex-mulher até a outra noite.

— A outra noite? Na minha casa quando você disse que estava com dor de cabeça
e saiu correndo?

Ela assentiu. — Foi quando tudo se encaixou.

Repassei aquela noite em minha cabeça uma dúzia de vezes, tentando descobrir o
que diabos tinha acontecido. Em um minuto estávamos bem e rindo, e no seguinte
ela saiu porta afora.

Balancei minha cabeça. — Não entendo, Ana.

Ela suspirou. — Você acha que podemos sentar para conversar sobre isso?

Passei a mão pelo cabelo. — Sente-se. Preciso ficar de pé.

Hesitante, ela caminhou até a cadeira e se sentou. Comecei a andar na sala de estar.

— O que aconteceu na outra noite na minha casa?

Ana olhou para baixo e falou com as mãos.

— Charlie disse o nome completo dela, e me lembrei dele de um diário que li um


tempo atrás. Lembra que eu disse que li o diário de uma mulher que se casou na
biblioteca? Que costumava ir e me sentar nas escadas e procurar as pessoas sobre
as quais tinha lido?

Eu estava tão confuso. — Você estava procurando por mim e Suzie?

Ana assentiu. — Eu não sabia na época, mas sim... acho que sim.
Parecia incrédulo que o diário da minha ex-mulher pudesse cair nas mãos da minha
nova namorada por coincidência. Mas mesmo que tenha sido exatamente o que
aconteceu, ainda não entendi por que Ana ficou tão assustada outro dia.

Levantei o diário. — Então é por isso que você está me evitando? Por que você
percebeu que tinha lido o diário da minha ex-mulher?

Ela continuou evitando meus olhos. — Sim.

Andei algumas vezes, tentando ver o quebra-cabeça completo, mas estavam


faltando algumas peças.

— Por quê? Se tudo isso foi uma grande coincidência, por que não me contar?

Ana ficou em silêncio por um longo tempo. Isso estava me assustando.

— Responda-me, Ana.

Ela ergueu os olhos pela primeira vez. Seus olhos estavam cheios de lágrimas e ela
parecia completamente perturbada. Senti-me dividido entre querer abraçá-la e
gritar com ela por qualquer maldita loucura que ela estava escondendo.
Infelizmente, o último ganhou, e eu lati: — Maldição, Ana. Me fala!

Ela saltou em sua cadeira e as lágrimas escorreram pelo seu rosto.

— Porque... há coisas... no diário.

— Que coisas?

Suzie e eu não tínhamos um ótimo relacionamento, especialmente no final. Mas


nunca fui cruel com ela. Não dei a ela nenhum motivo para escrever sobre que
deixasse Ana assustada.

Ana começou a chorar ainda mais. — Não quero machucar você.

Eu não aguentava vê-la chateada, então me aproximei e me ajoelhei na frente dela.


Empurrando mechas de cabelo molhado de seu rosto, falei baixinho.
— Relaxe. Pare de chorar. Nada que Suzie poderia ter escrito em algum diário vai
me machucar. Isso me machuca, ver você tão chateada. O que está acontecendo,
Ana?

Tentar acalmá-la parecia perturbá-la ainda mais. Ela soluçou, com os ombros
pesados. Então a puxei para um abraço e a segurei até que ela se acalmasse um
pouco.

Assim que ela fez isso, levantei seu queixo para que nossos olhos se encontrassem.

— Fale comigo. O que está chateando você?

Seus olhos pularam entre os meus, e parecia que eu estava assistindo seu maldito
coração quebrar.

— Suzie... — Ela fungou. — Ela fala sobre ter um caso.

Pisquei algumas vezes. — Tudo bem... bem, eu não sabia que ela tinha um caso.
Mas acho que não posso dizer que estou chocado. Eu a peguei mentindo sobre
coisas sem sentido ao longo dos anos, e em um ponto suspeitei que ela pudesse
estar saindo com alguém, embora ela sempre negasse. Suzie é muito egoísta e fez
algumas merdas obscuras, incluindo esconder dinheiro e desaparecer até tarde da
noite. É isso que está perturbando você? Você pensou que eu ficaria chateado ao
descobrir isso? Não é agradável ouvir, mas essa parte da minha vida acabou.

Ana fechou os olhos e balançou a cabeça.

— Tem mais.

— Certo, o quê? O que mais?

— O homem com quem ela estava dormindo, ela escreveu que ele era seu melhor
amigo.

Meu rosto se enrugou. — Flynn?


— Não, provavelmente outro amigo. Mas ela nunca diz o nome dele, mas se refere
a ele com a letra J... E... — Ana engoliu em seco mais uma vez e respirou fundo.
— Suzie não sabe quem é o pai.

Eu tinha que negar seriamente, porque não tinha ideia do que diabos ela estava
falando.

— Pai de quem? O que você quer dizer?

Os lábios de Ana tremeram.

— Charlie. Ela não sabe quem é o pai de Charlie. Ela estava dormindo com vocês
dois na época em que engravidou.

***

Até uma semana atrás, eu sentia que tinha o mundo nas minhas mão. Lembro-me
de ver minha filha cozinhar para mim o jantar com a mulher por quem eu estava
louco – as duas rindo e sorrindo – e pensando em como tudo parecia certo depois
de tanto tempo. E agora... parecia que o mundo me tinha nas mãos.

No começo, eu não acreditei. Não que Suzie não fosse capaz de fazer esse tipo de
merda, mas eu não conseguia acreditar que meu melhor amigo era. No mínimo,
essa parte tinha que estar errada. J poderia representar mil nomes, mesmo
lembrando que o primeiro nome do meu amigo era John. John Flynn.

Não

Não havia como Flynn fazer isso comigo.

Mas quando eu estava no meu terceiro uísque, sentado em um bar onde encontrei
meu amigo inúmeras vezes, me lembrei de um determinado Dia dos Namorados
anos atrás. Estive em Boston a negócios por alguns dias. Meu voo de volta para
casa estava marcado para a noite. Eu disse a Suzie que a levaria para jantar quando
chegasse em casa, mas terminei mais cedo e decidi pegar um voo do meio-dia para
surpreendê-la.

Quando entrei, Flynn estava em nosso apartamento. Lembro-me de ter tido uma
sensação passageira de inquietação, mas então Flynn disse que tinha convidado
Suzie para ir às compras com ele para algo para sua nova namorada – agora sua
esposa – um presente de Dia dos Namorados. Ele disse que ela amava esmeraldas
e lembrou que Suzie tinha um colar com uma, então ele imaginou que ela seria
capaz de ajudá-lo a escolher uma pedra de qualidade para um anel. Eu
honestamente não pensei mais nisso – esta era minha esposa e meu melhor amigo,
pelo amor de Deus.

Mas Suzie também era uma das únicas pessoas que chamava Flynn pelo seu
primeiro nome.

Alguns anos depois, sentei-me em frente a Suzie no escritório do meu advogado.


Ela estava com as mãos cruzadas sobre a mesa da sala de conferências e notei uma
enorme esmeralda brilhando em seu dedo. Nossas negociações tinham ficado
controversas naquele ponto, então fiz um comentário sobre seus gastos ridículos e
apontei para o anel. Ela deu um sorriso malicioso e disse que o tinha há anos – um
presente de um homem que realmente a apreciava. Eu nunca tinha visto o anel
antes, mas Suzie tinha uma porrada de joias, então, novamente, considerei que
minha ex estava apenas tentando me irritar.

Sacudindo os cubos de gelo que mal haviam derretido no meu copo, decidi fazer
uma ligação. Eu não me importava se fosse 2:30 da manhã.

A voz de uma mulher grogue atendeu ao terceiro toque.

— Olá?

— Você tem um anel de esmeralda?


— Christian? É você?

Ouvi a voz de um homem resmungar ao fundo, mas não consegui entender o que
ele disse.

— Sim, é Christian, Alana.

— É o meio da noite.

— Você pode apenas me dizer se você tem um anel de esmeralda?

— Eu não entendo...

Minha voz explodiu.

— Apenas responda à pergunta. Você tem ou não tem um anel de esmeralda do


seu marido?

— Não, eu não. Mas o que está acontecendo, Christian? Está tudo bem?

Alana deve ter coberto o telefone, porque ouvi vozes abafadas e, alguns segundos
depois, meu suposto melhor amigo entrou na linha.

— Christian? O que diabos está acontecendo?

— Sua esposa não tem a porra de um anel de esmeralda.

— Você está bêbado?

O ignorei. Se eu estava bêbado ou não, isso não mudou os fatos.

— Você sabe quem tem uma porra de anel de esmeralda?

— Do que você está falando?

— Minha ex-mulher. É quem tem a porra do anel de esmeralda. Aquele que você
me disse que foi comprar para sua nova namorada quando cheguei de Boston anos
atrás.

A linha ficou quieta por um momento.


Eventualmente, Flynn pigarreou.

— Onde você está?

— O bar no quarteirão de sua casa. Traga seu traseiro esquelético aqui, ou estarei
em seu apartamento em dez minutos. — Sem esperar por uma resposta, desliguei
e joguei meu telefone no bar. Então levantei meu copo vazio para o barman. —
Quero outro.
Capítulo 43

Christian

Flynn não disse nada enquanto se acomodava no banquinho ao meu lado. Eu não
conseguia nem olhar para ele. Minha voz estava estranhamente calma enquanto eu
olhava para o meu copo.

— Como você pôde?

Ele não respondeu imediatamente. Por um momento, pensei que ele fosse tentar se
fazer de bobo, ou pior, negar – mas, pelo menos, ele me respeitou muito.

— Eu gostaria de ter uma resposta para essa pergunta. — disse ele. — Além de
que sou um pedaço de merda.

Zombei e levei minha bebida aos lábios.

— Provavelmente a primeira coisa honesta que ouvi da sua boca em anos.

Flynn ergueu a mão para o barman e pediu um uísque duplo. Esperamos até que
seu copo estivesse cheio para continuar.

— Quanto tempo? — Perguntei.

Ele bebeu metade do copo e o colocou no balcão.

— Cerca de um ano.

— Você estava apaixonado por ela, pelo menos?

Flynn abanou a cabeça.


— Não. Era apenas sexo.

— Ótimo. — zombei. — Vinte e cinco anos de amizade apenas por sexo.

Pela minha visão periférica, vi Flynn baixar a cabeça.

Ele balançou por um longo tempo.

— Acho que queria ganhar alguma coisa. — disse ele. — Você sempre foi mais
inteligente, mais forte, mais alto, mais popular e teve todas as garotas que você
poderia lidar. Depois de namorarmos por algumas semanas, Alana admitiu que na
noite em que a conhecemos naquele bar, ela e sua amiga vieram falar conosco
depois que ela escolheu você. Até minha esposa teria escolhido você ao invés de
mim se ela pudesse. — Ele balançou a cabeça novamente. — Estávamos bêbados
da primeira vez, se é que serve de consolo.

— Não serve.

Ficamos sentados lado a lado por sólidos dez minutos sem que nenhum de nós
dissesse outra palavra. Terminei meu quarto uísque enquanto meu amigo leal bebia
de volta seu duplo. Eu não bebia muito, então o álcool realmente me atingiu. Minha
visão estava embaçada e senti a sala começar a girar.

Respirando fundo, virei-me para encarar Flynn pela primeira vez. Ele fez o mesmo,
encontrando meus olhos enquanto soltava uma exalação irregular.

— Ela é sua? — Apenas fazer a pergunta causou uma dor física no meu peito, e
minha voz falhou quando falei novamente. — Minha filha é sua?

Flynn engoliu em seco. — Suzie nunca teve certeza. Pelo que eu sei, ela ainda não
tem.
Peguei minha carteira. Jogando duzentos no bar, levantei minha mão para chamar
o barman.

— Cem para as bebidas. O troco é para não o ajudar.

O barman parecia confuso, então enquanto eu me levantava e me firmava, apontei


para o homem de merda que chamei de meu melhor amigo por mais de duas
décadas.

— Ele estava transando com minha esposa enquanto eu era casado com ela.

As sobrancelhas do barman se ergueram e ele olhou entre nós.

— Vire-se. — murmurei para meu amigo mais antigo.

Flynn se virou em sua cadeira para me encarar. Tive que fechar um dos meus olhos
para ver apenas um dele, mas ele nunca levantou as mãos enquanto eu o puxava
para trás e acertava um soco bem no centro de seu rosto.

Era o mínimo que ele poderia ter feito – aceitou como um homem.

— Não diga à merda da minha de ex-mulher que eu sei. — avisei antes de me virar
para a porta.

Não me preocupei em olhar para trás para ver se o barman o ajudou a se levantar.
Capítulo 44

Anastasia

Quase uma semana se passou e eu ainda não tinha visto Christian. Embora eu
achasse que ele tinha mais direito de desaparecer do que eu quando o evitei.
Suspeitei que ele disse algo à irmã, já que Mia nunca mencionou seu nome.

A última das amostras da Signature Scent chegou, a arte que filmamos na


Califórnia para as caixas foi aprovada e hoje, quinta-feira, o depósito começou a
enviar os pedidos que vieram do Home Shopping Channel. Foi um dia
monumental; o sonho que tive por anos havia se tornado realidade. No entanto, eu
não queria nada mais do que ir para casa e subir na cama. Mas Fisher não deixaria
a ocasião passar despercebida, não importa quantas vezes eu disse a ele que não
estava com vontade. Então, acabei encontrando-o para jantar depois de deixar o
depósito.

Ele já estava sentado em uma mesa quando cheguei, um balde de gelo colocado ao
lado da mesa. Deslizei para o assento em frente a ele.

— Tudo bem, agora eu sei que as coisas estão ruins. Acabei de ver você entrar. A
anfitriã tem um vaso gigante de flores em seu pódio, e você nem tentou cheirá-las.

Tentei sorrir. — Não sinto que deveria estar cheirando as flores hoje.

— É aí que você está errada. Hoje é justamente o dia em que você deveria parar
para cheirar as flores, Ana. Você colocou seu coração neste negócio, e hoje seus
primeiros pedidos começaram a ser enviados. — Ele tirou a garrafa do balde de
gelo e encheu uma taça vazia na minha frente antes de encher o seu. — Até comprei
as coisas boas.
Embora ele, é claro, tivesse boas intenções, ver o rótulo dourado da garrafa de
champanhe – o rótulo que estava no espumante que roubamos do casamento de
Mia meses atrás – parecia um círculo completo. E o círculo agora estava fechado.
Christian e eu começamos e terminamos com essas garrafas.

Uma sensação de peso se instalou em meu peito.

Fisher ergueu a taça em um brinde.

— Para minha garota superinteligente. Você trabalhou na chuva por anos e


finalmente conseguiu seu arco-íris.

Eu sorri. — Obrigada, Fisher.

O garçom veio e anotou nossos pedidos. Eu não estava com vontade de comer,
mas senti que precisava dar o melhor de mim porque Fisher estava se esforçando
muito.

— Então acho que você não ouviu falar de Christian?

Suspirei enquanto meus ombros murcharam.

— Ele não esteve no escritório. Recebo e-mails de negócios às vezes, mas esses
sempre chegam muito cedo pela manhã – tipo quatro da manhã. Ele ainda está
trabalhando, mas em casa, e não está falando comigo em um nível pessoal.

Fisher tomou um gole de champanhe. — Então você nem sabe se ele confrontou a
ex-mulher? Disse a ela que sabe sobre o diário e tudo nele?

Balancei minha cabeça. — Ele pegou o diário quando saiu, mas não tenho ideia do
que fez com ele ou com quem falou.

— Ele não pode usar isso contra você para sempre. Nada disso é sua culpa.
— Nem tenho certeza se ele acredita em mim que seja uma coincidência eu ter o
livro.

— Como não poderia ser uma coincidência?

— Pense nisso. Simplesmente apareci no casamento de sua irmã – uma mulher que
eu nunca conheci antes – depois de ler o diário de sua ex-esposa?

— Mas você não sabia que era a ex-mulher dele.

Dei de ombros. — Eu sei... mas parece terrivelmente conveniente.

— Então o que ele pensa? Você o perseguiu ou algo assim? Você leu o diário da
ex-mulher dele, de alguma forma descobriu quem ele é e decidiu fazê-lo se
apaixonar por você?

Balancei minha cabeça. — Não sei o que ele pensa.

— Bem, você quer saber o que eu acho?

— Tenho escolha?

— Claro que não, garota boba. — Fisher estendeu o braço sobre a mesa, pegou
minha mão e apertou. — Não creio que nada do que aconteceu seja coincidência.
Acho que a vida é uma série de etapas que se ramificam em todas as direções
diferentes. Não temos ideia do caminho que devemos seguir, então tendemos a
andar em linha reta e seguir as pedras maiores, porque essa é a coisa mais fácil de
fazer. Coincidências são as pedras menores que o conduzem por um caminho que
se desvia. Se você for corajosa o suficiente, siga aquelas pedras e acabará
exatamente onde deveria estar.

Eu sorri tristemente. — Isso é bonito. Quando você se tornou tão iluminado?


— Cerca de dez minutos atrás, quando eu estava sentado nesta mesa e o garçom
se aproximou. A recepcionista me perguntou se eu queria uma mesa alta ou uma
cabine. Eu disse uma cabine mas ela me acompanhou até a mesa de qualquer
maneira. Eu poderia ter dito a ela que não era o que eu havia pedido, mas em vez
disso, segui uma das pedrinhas por um novo caminho e veja o que isso me trouxe.

Minha testa enrugou.

— Estou perdida. O que isso trouxe para você?

Nosso garçom se aproximou, carregando uma bandeja com nosso aperitivo. Ele
colocou o prato no meio da mesa e deu um sorriso deslumbrante para Fisher.

— Posso servi-lo em algo mais?

— Não no momento. Mas talvez mais tarde?

Os olhos do garçom brilharam.

— Ok.

Depois que ele se afastou, Fisher pegou um palito de muçarela e piscou para mim.

— Ele. Esse caminho me trouxe ele, e acho que é exatamente onde devo estar em
algumas horas.
Capítulo 45

Anastasia

Na sexta à noite, saí do escritório por volta das sete. A Signature Scent estava
sendo enviada sem problemas e, na semana seguinte, o site entraria no ar para
pedidos do público. Mia conseguiu me dar tempo em alguns programas de notícias
matinais locais para vários segmentos que apresentavam mulheres no mundo dos
negócios, e algumas revistas concordaram em fazer entrevistas comigo.

Tudo o que sonhei por tanto tempo estava se tornando realidade, mas eu não
conseguia encontrar em mim o que aproveitar.

Esta manhã desabei e mandei uma mensagem para Christian dizendo “Sinto sua
falta”. Pude ver que ele leu, mas nenhuma mensagem de retorno veio.

Eu estava com o coração partido.

Uma vez, quando eu era criança, eu estava pulando ondas na praia e uma delas me
atingiu com força. Isso me puxou para baixo e tropecei como uma boneca de pano,
perdendo de vista qual era o caminho para cima. Foi assim que me senti esta
semana sem falar com Christian. Tive que arrastar minha bunda para fora da cama
para ir trabalhar.

Agora era fim de semana, mas por algum motivo, eu não estava pronta para ir para
casa. No trem, meio que me perdi enquanto ele se dirigia para a parte alta da cidade.

A certa altura, olhei para cima quando estávamos entrando em uma estação, e o
nome da parada pintada na parede chamou minha atenção enquanto reduzíamos a
velocidade. Bryant Park – Rua 42. Fiquei de pé.

O trem estava lotado, então abri caminho por entre uma dúzia de pessoas para
chegar até as portas e sair. A Biblioteca Pública de Nova York estava logo virando
a esquina. A última coisa que eu deveria fazer era sentar nos degraus, relembrando
a noite em que Christian e eu dançamos pela primeira vez, mas eu não poderia ter
me impedido de ir mesmo se tivesse tentado.

Era outono, então os dias estavam ficando mais curtos, e não muito depois de me
sentar no mesmo lugar que me sentei cem vezes antes, o sol começou a se pôr. O
céu se iluminou em um laranja púrpura, e respirei fundo e fechei os olhos por um
minuto, tentando deixar a beleza da natureza elevar meu espírito.

Quando os abri, meu olhar baixou os degraus e se fixou em um homem parado na


parte inferior, olhando para mim.

Pisquei algumas vezes, presumindo que minha imaginação estava pregando peças
em mim. Mas não foi.

Meu coração parecia pular a cada batida enquanto Christian subia os degraus até
onde eu estava sentada.

— Importa-se se eu me sentar com você? — Seu rosto estava ilegível.

— Não, claro que não.

Christian se acomodou ao meu lado no degrau de mármore. Suas pernas se


espalharam e ele apertou as mãos entre os joelhos e olhou para baixo por um longo
tempo. Isso me deu a chance de olhar para ele.

Apenas uma semana ou mais se passou desde que o vi pela última vez, mas eu
poderia dizer que ele perdeu algum peso. Seu rosto parecia abatido, ele tinha
olheiras em volta dos olhos e sua pele – normalmente bronzeada e brilhante –
parecia pálida e opaca.

Tantas perguntas passaram pela minha cabeça.

Ele veio me procurar? Ou ele veio para fazer seu próprio pensamento?

Ele estava bem? O que havia acontecido na semana anterior?


Com base no rosto de Christian, parecia que as coisas haviam piorado. Mas
também parecia que ele tinha algo a dizer, e o que quer que fosse, não era fácil.
Então pesquei na minha bolsa a barra de Hershey’s e ofereci a ele.

Ele sorriu tristemente.

— Parece que você poderia usá-la tanto quanto eu. Quer compartilhar?

Pelos próximos dez minutos, nós nos sentamos um ao lado do outro em silêncio
nos degraus da Biblioteca Pública de Nova York – o lugar que ele se casou, o lugar
que nos conhecemos, o lugar de seus pais, cujo relacionamento ele tanto
reverenciava, também fizeram seus votos – e compartilhamos uma barra de
chocolate enquanto assistíamos ao pôr do sol.

Eventualmente, ele limpou a garganta. — Você está bem?

— Já estive melhor. E quanto a você?

Ele sorriu tristemente. — O mesmo.

Novamente ficamos em silêncio por longos momentos.

— Lamento ter desaparecido. — ele finalmente disse. — Eu precisava de algum


tempo para descobrir as coisas.

Mexi-me e virei-me para encará-lo, embora ele continuasse olhando para frente e
não me olhasse enquanto eu falava.

— Você conseguiu? — Perguntei. — Descobrir as coisas, quero dizer?

Ele encolheu os ombros. — Tanto quanto posso, eu acho.

Concordei.

Christian olhou para o pôr do sol enquanto as lágrimas se acumulavam em seus


olhos.

Ele engoliu em seco antes de falar.


— Era o Flynn. Ele admitiu.

Meu coração doeu.

Eu não tinha mais ideia do que éramos um para o outro, mas isso não me impediu
de oferecer compaixão.

Apertei minha mão com a dele e segurei com força.

— Sinto muito, Christian. Sinto muito.

— Decidi não falar com Suzie sobre isso.

Uau. Eu teria pensado que era o primeiro lugar que ele iria.

— Ok…

— A única coisa que deixá-la saber faria é me dar a satisfação de gritar com ela.
Não me faria nenhum bem, nem a Charlie. Minha cabeça não está boa o suficiente
para lidar com as coisas. No que me diz respeito, Suzie é a inimiga, e nunca é uma
boa ideia avisar o inimigo sobre seus planos. Preciso saber exatamente onde estou
e, se necessário, quais são meus direitos, antes de lidar com ela. — Christian
engoliu em seco novamente. Sua voz estava rouca quando ele continuou. —
Charlie é minha filha. Isso não vai mudar se... se... — Ele não conseguia nem dizer
as palavras. Lágrimas encheram meus olhos. — Você está absolutamente correto.
E você é um pai incrível... um homem incrível por colocar os sentimentos de
Charlie em primeiro lugar em um momento em que seria muito fácil ser irracional.

— No entanto, fiz nosso teste de DNA. Limpei sua bochecha enquanto ela dormia
e deixei no laboratório ontem, junto com uma amostra minha. Realmente não quero
saber os resultados, mas acho que seria irresponsável não o fazer. Deus me livre
que algo aconteça e ela precise de sangue, ou algo assim. — Ele fez uma pausa e,
desta vez, falhou em conter suas emoções. Sua voz falhou. — Vou saber em cerca
de uma semana.
Ele não tinha me dado nenhuma indicação de que as coisas entre nós estavam bem.
Mas isso não importou. Christian era um homem quebrado, e eu não poderia
simplesmente sentar aqui e vê-lo desmoronar.

Passei meus braços em volta dele. — Sinto muito. Sinto muito que você esteja
passando por isso, Christian.

Seus ombros tremeram enquanto eu o segurava. Ele não fez nenhum som, mas eu
sabia que ele estava chorando porque senti a umidade no meu pescoço, onde seu
rosto estava enterrado. Achei que ele se sentiria melhor se soltasse – chorar é uma
liberação física da dor. Mas eu também conhecia o tipo de homem que Christian
era. Ele guardaria um pouco para se torturar – porque, no fundo, provavelmente
sentia que era em parte sua culpa.

Ele se culparia por trabalhar demais e não dar atenção suficiente à esposa, ou por
não trazer flores para casa sem motivo. Era uma culpa extraviada, é claro, mas ele
era um homem tão honrado que eu tinha certeza de que ele não veria dessa forma.

Eventualmente, Christian recuou. Ele olhou diretamente nos meus olhos pela
primeira vez.

— Desculpe, eu precisava de um tempo.

Balancei minha cabeça.

— Não há razão para se desculpar. Compreendo. Escondi-me de você por um


tempo também. Mas, por favor, saiba que nunca quis esconder nada de você.
Realmente não fiz a conexão até aquela noite em seu apartamento. E então... eu
não sabia como te dizer. Eu não queria te magoar.

— Sei disso agora. Eram apenas muitas coincidências para entender de uma vez.
Eu precisava de algum tempo para absorver tudo, e então perceber que nada disso
era uma coincidência.
Afastei-me.

— O que você quer dizer?

Christian empurrou uma mecha de cabelo do meu rosto.

— Por que você está aqui agora?

— Você quer dizer na biblioteca?

Ele assentiu.

— Eu não sei. — Balancei minha cabeça. — Eu estava voltando do trabalho para


casa no trem, olhei para cima e vi uma parada. Algo me obrigou a vir.

— Você sabe por que estou aqui?

— Por quê?

— Eu também estava no trem, mas indo para o seu apartamento. Olhei para cima
por meio segundo e, em meio ao mar de pessoas amontoadas no vagão do metrô
na hora do rush, vi você descendo no Bryant Park. Meu trem parou na linha em
frente ao seu. Tentei descer, mas começamos a nos mover antes que eu pudesse
fazer isso. Então, desci na próxima parada e corri todo o caminho de volta para cá.

Meus olhos se arregalaram.

— Então só aconteceu de você olhar para cima e me ver sair de um trem e descer
numa parada aleatória?

— Se eu não tinha certeza do que estava acontecendo antes, agora tenho. — Ele
segurou minhas bochechas e encontrou meu olhar. — Nada disso é uma
coincidência, Ana. É o universo conspirando para que fiquemos juntos. Tem sido
desde o início – antes mesmo de nos conhecermos.

Lágrimas correram aos meus olhos novamente.


O vazio que senti em meu peito na última semana começou a se encher de
esperança. Pensei sobre o quanto nós dois nos machucamos – Christian, é claro,
muito pior do que eu.

Aquele maldito diário estava na raiz de tudo, mas ele estava certo. Foi mais do que
apenas uma série de coincidências. Sempre houve um poder superior trabalhando
por nós.

Sorri e me inclinei para roçar meu nariz no dele.

— Sabe, acho que provavelmente deveríamos ceder. Não temos chance se o mundo
inteiro está conspirando.

— Ana, eu não tive chance desde o momento em que olhei para você.
Penúltimo Capítulo

Christian

A última semana foi cansativa. Embora a manhã de ontem tenha sido a pior. Eu
deveria receber os resultados do meu DNA às 9h, mas o laboratório estava
atrasado. Ana ficou por perto, para ficar comigo quando eu descobrisse, mas ela
teve um almoço com um vendedor que ela não poderia perder. O que acabou sendo
o melhor, porque chorei como um maldito bebê quando eles finalmente ligaram
por volta do meio-dia e confirmaram que minha garotinha... não era realmente
minha.

No momento em que Ana apareceu à noite, eu estava entorpecido – e bêbado.


Desmaiei por volta das nove horas, o que provavelmente era porque eu estava
acordado desde às 3 da manhã agora, olhando para o teto.

Como diabos eu olharia nos olhos de Charlie sabendo que ela não era minha?

Me sentiria como uma porra de uma fraude mentindo para ela.

Ela tinha apenas seis anos, mas sempre fui honesto com ela. Eu queria que ela
confiasse na minha palavra, como eu confiava na do meu pai. E agora tudo estava
arruinado.

Fiquei pensando em uma conversa que tivemos alguns meses atrás. Ela me disse
que não quebrou a maçaneta de um armário da cozinha – uma que frequentemente
a peguei usando como um banquinho para chegar ao balcão. Por causa da forma
como o parafuso estava torto, eu sabia que ela estava mentindo para mim. Então a
sentei e expliquei que não importa o quão ruim a situação fosse, mentir sobre isso
sempre era pior do que qualquer coisa que você estivesse tentando encobrir.
Naquela noite, ela veio até mim com a verdade e me disse que seu estômago doía.
Eu tinha certeza de que a culpa havia torcido sua pequena barriga em um nó. Eu
estava prestes a ter uma úlcera por causa da mentira que estaria encobrindo.

Por volta das 6 da manhã, o sol começou a entrar pela janela do quarto. Um raio
de sol cortou uma linha fina no belo rosto de Ana e me virei para vê-la dormir. Ela
parecia tão em paz, o que me deu algum conforto, já que eu sabia que as últimas
semanas tinham sido tão estressantes para ela quanto foram para mim. Eu não
conseguia imaginar como ela se sentiu quando montou o quebra-cabeça maluco.
Deve ter sido muito como me sentia agora, como se o meu mundo tivesse caído no
fundo do poço e eu não tivesse mais base para me sustentar.

Como se ela me sentisse olhando para ela, seus olhos se abriram.

— O que você está fazendo? — Ela perguntou meio grogue. — Apreciando a vista.
Volte a dormir.

Seus lábios se curvaram em um sorriso sonolento.

— Há quanto tempo você está acordado?

— Não tem muito tempo.

Ela sorriu. — Horas então, hein?

Eu ri. O problema com as almas gêmeas era que, quando você compartilhava um
vínculo diferente de tudo que experimentou com outro humano, eles eram muito
bons em apontar sua besteira quando você tentava esconder sua dor no coração.

Afastei uma mecha de cabelo de seu rosto.

— Não sei o que teria feito sem você na semana passada.

— Sem mim, você não teria a pior semana da sua vida.


Balancei minha cabeça. — Teria sido descoberto algum dia. Você pode fugir das
mentiras, mas a verdade sempre alcança você.

Ela suspirou.

— Acho que decidi como vou lidar com as coisas com minha ex-mulher.

— Sim?

Concordei. — Acho que é melhor eu continuar a não dizer nada para Suzie.

— Oh... uau. Ok. Como você tomou essa decisão?

— O mais importante é que Charlie não se machuque. Sou o único pai que ela
conheceu, e agora ela é muito jovem para lidar com a descoberta de que tudo em
sua vida é uma mentira. Ela precisa de estabilidade, rotina e previsibilidade – não
que eu revire as coisas apenas para arruinar minha ex-mulher. Suzie quer pensão
alimentícia de mim. Flynn está indo bem hoje em dia, mas ele não pode pagar a
vida confortável pela qual eu pago a conta – acredite em mim. Então eu acho que
é melhor ela achar que está guardando algum grande segredo. Se ela soubesse que
eu sei, ela se sentiria financeiramente ameaçada, e eu não passaria por cima dela
ser rancorosa e dizer a uma criança de seis anos que seu pai não é realmente seu
pai.

Esfreguei o braço de Ana. — Mandei uma mensagem para Flynn mais cedo para
avisá-lo, porque parecia a coisa certa a fazer. Ele disse que a biologia não faz uma
família e ela é minha. Ele não parece interessado em tentar entrar na vida de
Charlie. Desprezo o cara, mas ele está certo. Charlie é minha filha, não importa o
que a biologia diga. Não ter meu DNA não muda isso. Algum dia, quando ela
estiver mais velha e pronta... — Comecei a engasgar com as palavras. — Vou dizer
a ela que ela não é biologicamente minha.
Ana sorriu tristemente. — Acho que faz muito sentido. Embora eu não possa
imaginar que será fácil para você lidar com sua ex-mulher, sabendo o que você
sabe.

Balancei minha cabeça. — Definitivamente não. Mas tudo bem. Farei o que for
melhor pela minha filha... por Charlie.

Ana estendeu a mão e segurou minha bochecha. — Não se corrija quando disser
minha filha. Você é o pai de Charlie. Porque um pai é alguém que coloca as
necessidades do filho antes das suas, e tenho quase certeza de que você é o único
dos três adultos nesta equação que sempre fez isso.

Concordei.

Ana acariciou meu braço em silêncio por alguns minutos.

Deitamos de lado, um de frente para o outro, e minha mão descansou na cama entre
nós. Embora quando ela tentou entrelaçar seus dedos com os meus, percebi que
minha mão não estava realmente apoiada na cama. Estava fechada em um punho.

Ela soltou meus dedos. — Você está tão tenso.

— Sim. Eu provavelmente deveria dar uma corrida para queimar um pouco da


tensão.

— Você tem que estar em algum lugar hoje, ou fazer alguma coisa?

Balancei minha cabeça. — Não estou planejando ir ao escritório no sábado como


normalmente faço.

Ela ergueu minha mão e levou-a aos lábios.

— Sabe, posso pensar em uma maneira muito mais agradável de você queimar um
pouco da tensão do que bater na calçada.
Mesmo com uma noite sem dormir e a conversa que tínhamos acabado de ter, a
sensação dos lábios de Ana na minha mão e a menção de “bater” já fizeram meu
humor mudar para melhor.

— Oh sim? O que você teria em mente?

Ela gentilmente me cutucou para rolar de costas e subiu em cima de mim.


Sentando-se escarranchada em meus quadris, ela levantou a camiseta que usava
para dormir e sobre a cabeça. Seus seios fartos tinham o melhor caimento natural.
Quando me sentei para pegá-los, Ana ergueu o dedo indicador e o sacudiu para
frente e para trás.

— Não. Este é o seu alívio do estresse. Apenas deite-se e deixe-me fazer todo o
trabalho.

Cruzei os braços atrás da cabeça, presumindo que ela quisesse dizer que ficaria por
cima. Mas em vez disso, ela balançou para trás e sentou-se nas minhas coxas. Sua
pequena mão puxou meu pau para fora da minha calça de moletom, e seus dedos
o envolveram com força. Ela deu um aperto firme e lambeu os lábios, então se
curvou na cintura e deslizou a língua pela minha coroa. Seus olhos brilharam
diabolicamente quando ela lambeu um pouco do meu pré-gozo da ponta e olhou
para mim.

— Mostre-me. Mostra-me como você quer que eu te chupe.

Gemi e deslizei meus dedos em seus cabelos. Os olhos de Ana se fecharam. Ela
baixou a mandíbula e tomou quase todo o meu comprimento em sua boca em um
movimento suave.

Foda-se. Muito melhor do que correr.

Isso ia ser constrangedoramente rápido, mas era tão fodidamente necessário.


Como se sentisse exatamente o que seria necessário, Ana começou a trabalhar.
Meu eixo inteiro logo ficou encharcado com sua saliva – o tipo de umidade que
toda vez que ela balançava e puxava para trás, fazia o som mais sexy de gorgolejo.
Ela me pegou até que bati no fundo de sua garganta e então deslizei para trás –
uma e outra vez. Foi a sensação mais gloriosa e ainda uma tortura ao mesmo tempo.

Eu queria tanto levantar meus quadris e empurrar o resto do caminho em sua


garganta, mas eu não queria machucá-la.

Depois de alguns minutos, ela me soltou e olhou para cima. Minha mão ainda
agarrava seu cabelo, e Ana a cobriu com a dela e cavou mais fundo.

— Mostre-me. Mostre-me.

Foda-se.

Ela abaixou a boca novamente, e desta vez, depois de dois deslizamentos para
baixo, eu não aguentava mais. Fiz exatamente o que ela pediu, e quando ela chegou
ao ponto em que é afundar ou nada – aquele lugar na parte de trás de sua garganta
onde ela começaria a recuar, gentilmente empurrei sua cabeça mais para baixo. E
ela abriu a porra da garganta – abriu bem e me engoliu todo o caminho.

— Poooooorra.

Ela era capaz de fazer isso o tempo todo e esperou que eu pedisse por isso.

Jesus Cristo.

Ela já era perfeita. Mas agora…

Ana se afastou, sua boca criando o perfeito O enquanto ela me chupava até a ponta.
Ela fez um doce murmúrio de aprovação quando envolvi seu cabelo
confortavelmente em meu punho e empurrei sua cabeça para baixo novamente. Só
aguentei mais duas chupadas antes de minha liberação de repente cair sobre mim.

— Vou gozar... — Gemi e afrouxei meu aperto em seu cabelo.


Mas ela não parou.

— Ana... querida... — Desta vez, usei o cabelo ainda solto na minha mão para
puxá-la um pouco para trás, sem saber o quão alto minha voz estava. Mas isso só
fez com que ela me levasse mais fundo.

Porra. Ela quer que eu goze na sua garganta.

Ana não teve que esperar muito. Depois de mais uma chupada, deixei escapar um
fluxo pulsante que parecia nunca ter fim. Na verdade, comecei a ficar um pouco
preocupado sobre quanto tempo isso durou, mas minha doce menina engoliu cada
gota. Mesmo que ela tivesse feito todo o trabalho duro, minha cabeça tombou para
trás no travesseiro e eu estava completamente sem fôlego.

Ana enxugou a boca e subiu no meu corpo. Ela tinha o sorriso mais bobo em seu
rosto.

— Jesus... isso foi... sinto que devo aprender a andar novamente.

Ela deu uma risadinha.

— Isso significa que seu estresse foi aliviado?

— Sim. A menos que eu pense em como diabos você aprendeu a fazer isso.

— Na verdade, história engraçada, uma mulher em um de meus diários estava se


esforçando para tentar fazer isso, então ela comprou um vídeo instrutivo. Comprei
também porque estava curiosa.

Fechei meus olhos e ri. — Aqueles diários. Eles vão ser a minha morte, não vão?
Último Capítulo
Christian
8 meses depos

Querido Diário,

Esta noite Ana adormeceu antes de mim e a observei. De vez em quando, havia
uma pequena contração no canto de seu lábio e sua boca se curvava para
cima. Não durou muito, um ou dois segundos, mas achei hipnotizante. Espero
que ela esteja sonhando comigo, porque quero realizar todos os seus sonhos –
assim como ela realizou os meus.

– Christian

Apertei meu novo diário contra o peito.

Sério? Como eu tive tanta sorte?

Christian e eu tínhamos nos mudado para sua casa alguns meses após o lançamento
público da Signature Scent – não que eu precisasse mais de um colega de quarto.

Pela primeira vez na vida, pude pagar minha própria casa na cidade de Nova York.
Eu poderia ter feito um bom depósito em minha própria casa, já que meu negócio
tinha se saído melhor do que eu poderia ter imaginado em meus sonhos mais
selvagens. Oprah tinha até colocado minha pequena invenção em sua lista de
presentes favoritos para dar este ano. Agora temos uma edição especial da caixa
da Signature Scent para o Dia dos Namorados e em breve uma versão masculina
estaria pronta para ser lançada.

Trabalhei longos dias escrevendo os novos algoritmos, mas agora a equipe


experiente da Rothschild Investments assumiu o controle e finalmente senti que
havia encontrado o equilíbrio entre vida pessoal e profissional que sempre quis.
Christian Grey havia tornado todos os meus sonhos realidade, e mais alguns.
Ele até me surpreendeu com uma viagem à Grécia para comemorar o envio de
nosso primeiro produto internacionalmente. Tínhamos ficado no hotel mais
incrível de Mykonos.

Quando paramos, parecia vagamente familiar. Mas demorei até que entrei em
nossa suíte para perceber o porquê. O hotel que ele reservou para nós foi o que
escolhi há quase um ano, enquanto planejava as férias dos sonhos no saguão de
seu escritório e esperava para falar com ele. Ele se lembrou apenas da rápida olhada
que deu na tela do meu computador.

Quanto ao meu hobby de ler diários... bem, parei de comprá-los. Eu temia que ter
diários por perto pudesse lembrar Christian de memórias difíceis.

Alguns meses atrás, ele percebeu e perguntou por que eu parei. Eu disse a ele que
não precisava mais ler sobre a vida de outras pessoas, porque minha história de
amor superava qualquer coisa que outra pessoa pudesse escrever. Eu não estava
mentindo, é claro, mas Christian me conhecia bem. Ele sabia que eu sentia falta de
lê-los e provavelmente sabia o motivo pelo qual desisti deles. Razão pela qual ele
me surpreendeu com um diário na semana passada – um que ele manteve
secretamente por meses. Foi a coisa mais doce e romântica que alguém já fez por
mim.

Bem, a maioria das escritas era doce – algumas eram apenas sujas.

Caso em questão... virei uma dúzia ou mais de páginas para trás e reli uma das
minhas favoritas.

Querido Diário,

Hoje foi um dia particularmente difícil – trocadilhos não intencionais, mas,


maldição se não for a verdade. Minha garota está na Costa Oeste há quase
uma semana. Esta manhã, quando acordei, estava deitado em seu travesseiro.
Inalar seu cheiro fez com que minha ereção matinal normal fosse impossível
de esvaziar sozinha. Em vez de lutar, fechei os olhos e puxei o travesseiro dela
para cobrir meu rosto. Respirando fundo, acariciei meu pau, imaginando que
meu punho apertado era sua linda boceta. Não havia substituto para a coisa
real, mas imaginei que ela estava sentada em cima de mim, esfregando-se com
força para tomar cada centímetro dentro dela. Ela jogou a cabeça para trás
quando se aproximou, seus lindos seios saltando para cima e para baixo e
doendo para ter minha boca neles. Eu esperaria até depois que ela gozasse e
então empurrasse tão fundo que um pouco do meu esperma ainda estaria
dentro dela na próxima vez que ela tivesse que sair.

– Christian

Outro dos meus favoritos estava algumas páginas atrás. Foi uma história que ele
nunca me contou, mas aqueceu meu coração.

Querido Diário,

Hoje levei Charlie para tomar café e disse a ela que Ana estava se mudando.
Depois, estávamos voltando para casa e passamos por um parque. Lá dentro
estavam duas meninas, talvez um ano mais novas do que ela. Elas estavam
pulando para cima e para baixo com os olhos arregalados e sorrisos enormes
estampados em seus rostos.

Apontei para as meninas e disse: — Por que você acha que elas estão tão
animadas?

A resposta de Charlie foi:

— Talvez a namorada do papai delas também esteja se mudando.

– Christian
O homem por quem eu estava babando saiu para o quintal. Sentei-me em uma
cadeira de balanço no deck ao lado da fogueira, com Hendricks aos meus pés.
Christian balançou a cabeça.

— Meu fiel companheiro parece esquecer quem é seu mestre.

Eu sorri. O cão que comprei para Christian no Natal tinha se tornado minha sombra
recentemente. Eu não tinha certeza do por que, já que tudo que eu parecia fazer era
gritar com ele por comer meus sapatos e móveis. Ele está demorando uma
eternidade para aprender, apenas para adquirir o adorável novo hábito de roer
pernas de mesa de centro de mil dólares.

Para ser honesta, Hendricks era um pé no saco, na maior parte. Mas ver a expressão
no rosto de Christian na manhã de Natal – quando ele percebeu que finalmente
conseguiu o cachorro que desejou quando era menino – fez todo o caos valer a
pena.

Eu agora tinha uma cópia da foto que Mia mantinha emoldurada na lareira da sala
de estar na minha mesinha de cabeceira – aquela com Christian soprando as velas
de aniversário e desejando um cão enquanto cobria a boca de Mia.

E sim, ele deu ao nosso cachorro o nome do gim que nos uniu.

— É só porque sou eu que costumo alimentá-lo. — eu disse.

Os olhos de Christian focaram no diário em minhas mãos. — Lembre-se do nosso


acordo – você só deve ler um por dia.

— Eu sei. Eu estava relendo alguns dos meus favoritos. Ainda tenho o meu de hoje
para ler.

— Ok. Vou correr até a loja para comprar uma garrafa de vinho para levarmos para
a casa de Mia esta noite. Vou levar Hendricks para uma caminhada. Algo mais que
devo fazer enquanto estou fora?
Hoje era o aniversário de um ano de casamento de Mason e Mia, então íamos jantar
na casa deles. Eles tinham acabado de se mudar de Manhattan para uma casa a
alguns quarteirões de distância. Perguntei-me se Christian percebeu que não era
apenas o aniversário deles, era o nosso também.

Hoje, um ano atrás, cheirei um pouco de gim e conheci o amor da minha vida.
Embora amor não fosse exatamente o sentimento que tive quando pulei no táxi
para fugir da cena naquela noite.

Eu tinha comprado a ele um pequeno presente para comemorar o aniversário do


nosso encontro e pensei em dar a ele mais tarde, quando chegássemos em casa.

— Não, eu não acho que precisamos de nada além de vinho. Já fiz um bolo para a
sobremesa.

— Tudo bem. Estarei de volta em vinte minutos.

— Ok. Podemos assistir ao pôr do sol antes de partir para a casa de Mia.

Christian começou a entrar na casa, mas parou e se virou com um dedo em alerta.

— Lembre-se, uma escrita. Sem ler mais à frente.

— Não vou.

Ouvindo seus passos se afastarem, suspirei e abri meu diário novamente. Só tinha
mais umas vinte páginas restantes. E a próxima foi muito curta. Eu provavelmente
poderia ler o diário inteiro antes que ele voltasse, e ele nem saberia. Mas, em vez
disso, vou saborear as páginas como ele queria. Pelo menos... foi o que planejei.

Até eu realmente ler a próxima...

Querido Diário,

Hoje fui às compras.


Não sei muito sobre joias, então levei minha irmã comigo. Ela foi um pé no
saco real.

Eu sorri, imaginando Christian e Mia fazendo compras. Sua ideia de fazer compras
era entrar em uma loja com o objetivo de comprar três ternos e sair em meia hora.
Mia, por outro lado, fazia tantas compras quanto comia. Ela compraria um par de
sapatos para usar com um vestido e voltar para casa com um novo conjunto de sala
de jantar, um casaco para Mason, um brinquedo para Charlie e algum dispositivo
eletrônico para o escritório da The Sharper Image. Os sapatos que ela pretendia
comprar não seriam mais necessários, pois ela também teria um vestido novo.

Na verdade, fui com ela uma vez, quando ela foi comprar sapatos para usar com
uma roupa e voltou para casa com um conjunto completamente diferente – apenas
para perceber que ela ainda precisava de sapatos para usar com o novo item que
trouxera para casa. Mia era a mulher que sairia de um shopping com quatorze
sacolas de compras diferentes.

Christian era o homem que pedia que lhe enviassem seus ternos quando
terminassem de ser costurados, para que ele não precisasse voltar à loja. Mas
quando voltei a ler, percebi que Christian não havia mencionado que tinha feito
compras com sua irmã. Ele também não tinha voltado para casa com nenhuma joia
nova recentemente... então, curiosamente, voltei ao meu diário.

Fomos a seis lojas. Tudo o que eu gostava, Mia odiava. Qualquer coisa que ela
gostasse, rejeitei. Depois de um dia inteiro, fui para casa de mãos vazias e
irritado. Minha linda garota voltou para casa cerca de dez minutos depois –
cheirando a floresta. Ela estava no laboratório desde o início desta manhã
trabalhando em seu novo perfume exclusivo para homens. Mas ela colocou os
braços em volta do meu pescoço, roçou aqueles lábios carnudos com os meus, e
meu dia de merda evaporou. Foi quando percebi que o problema de comprar
uma joia para minha amada era que eu não tinha encontrado nada tão
especial quanto ela.

Levei trinta e um anos para finalmente encontrá-la, e eu não iria comprar


qualquer coisa, eu não faria isso, quero mostrar a ela o quão especial ela é
para mim.

– Christian

Oh meu Deus. Não tinha como parar de ler aqui.

Christian estava comprando joias para serem especiais para mim?

Poderia ser...

Olhando por cima do ombro, olhei para dentro da casa. Tudo estava parado.
Christian levaria, pelo menos, vinte minutos para caminhar até a loja de bebidas e
voltar com o cachorro. Tive que ler um pouco mais – mais uma, pelo menos.

É claro que uma escrita levava a duas e duas levavam a três, e de repente eu estava
na última página. Christian tinha feito meia dúzia de viagens de compras, escrito
outra vividamente fumegante sobre coisas que ele queria fazer comigo e escreveu
algumas páginas emocionantes sobre a noite em que meus pais vieram jantar.

Levou muito tempo, mas sim, meus pais e eu finalmente nos vimos pessoalmente.
Tive que trabalhar para isso, e eu estava uma pilha de nervos, mas no final, a noite
foi agradável. Eu ainda não tinha reacendido meu relacionamento com minha irmã,
embora eu finalmente tivesse contado a Christian a história completa e admitido
com quem Jack teve um caso. Fiquei esperançosa de que talvez um dia encontrasse
uma maneira de perdoar Leila também.

Pelo que ouvi, ela e meu ex terminaram – depois que ela o encontrou a traindo com
uma de suas amigas. Provavelmente deveria ter me sentido bem sabendo disso,
mas não me senti. Senti-me mal por Leila, e é por isso que me deu esperança de
que havia uma chance para nós, afinal.

Nenhuma das escritas de Christian dizia especificamente que tipo de joia ele estava
comprando, mas era bastante óbvio que era um anel.

Que outro tipo de joia tinha que ser tão perfeito e exigia tantas viagens às compras?

Meu pulso disparou enquanto eu lia as páginas finais.

Oh, meu Deus! Ele comprou algo. E ele escondeu onde tinha escondido meu
presente de Natal em nosso quarto ano passado! E ele não está pensando em me
dar até seu aniversário.

O aniversário de Christian demoraria mais dois meses!

De jeito nenhum eu poderia esperar tanto tempo para descobrir. Christian não tinha
ideia que tropecei em seu pequeno esconderijo no fundo de seu armário no ano
passado. Então eu poderia... – não, eu realmente não deveria.

O sangue jorrou em meus ouvidos e minhas mãos começaram a suar.

Talvez eu pudesse ir ver se era uma caixa de anel? Não precisava abri-lo nem nada.

Imagine a expectativa que se formaria nos próximos meses... Agora imagine o que
aconteceria quando o grande dia finalmente chegasse, se ele me entregasse uma
caixa quadrada com... brincos? Não haveria nenhuma maneira no mundo de
esconder minha decepção depois de esperar meses.

Quase parecia que eu tinha que olhar agora.

O que quer que ele estivesse comprado, havia demorado muito. Ele se sentiria
péssimo se eu explodisse em lágrimas, incapaz de esconder o quanto me sentia
decepcionada. Então, em certo sentido, eu estaria fazendo isso por ele.

Com certeza, estou fazendo isso por ele.


Olhei para o relógio e olhei por cima do ombro para a casa mais uma vez. Talvez
eu devesse esperar até um momento em que ele demorasse mais...

Não.

Balancei minha cabeça, embora estivesse respondendo aos meus próprios


pensamentos. Eu definitivamente não podia esperar.

Então, corri para dentro de casa e fui direto para a porta da frente. Abrindo, olhei
para a direita e depois para a esquerda para ter certeza de que Christian já não
estava descendo o quarteirão. Encontrando a costa limpa, corri para o quarto.

A porta estava fechada e eu estava com os nervos em frangalhos e tive que parar
um momento para me equilibrar. Minha mão tremia quando respirei fundo antes
de girar a maçaneta.

Mas meu coração parou quando entrei.

— Procurando por algo? — Christian ergueu uma sobrancelha. Ele estava sentado
na beira da nossa cama com Charlie em seus joelhos. Hendricks deitado a seus pés.

Pisquei algumas vezes. — O que você está fazendo aqui? Achei que você tivesse
ido na loja.

Ele incitou sua filha a pular de seu colo e se levantou.

— O que estou fazendo aqui? Eu poderia te perguntar a mesma coisa. O que você
está fazendo no quarto agora, Ana?

— Eu, uh...

Ele caminhou até onde eu estava, congelada.

Com um sorriso, ele pegou minha mão.

— Você não leu o resto do diário, não é?

Minha mente estava tão confusa.


Quando ele voltou da loja? E de onde Charlie veio?

O que diabos estava acontecendo?

Embora eu não precisasse esperar muito pela resposta. Christian estendeu a mão
para a filha. Charlie aceitou com um sorriso de orelha a orelha. Se eu pensei que
estava nervosa antes, não era nada comparado a como eu me sentia enquanto
observava o homem que eu amava se ajoelhar.

Ele levou minha mão trêmula aos lábios.

Ver um pouco de nervosismo em seu rosto quando ele olhou para cima ajudou a
me acalmar.

— Um ano atrás, conheci uma mulher bonita e inteligente. — ele começou. —


Quando ouvi você contar a história de como nos conhecemos e sobre você ter
invadido o casamento da minha irmã. Me dei conta que não foi apenas isso que
aconteceu, naquele dia você invadiu meu coração também. Você é a pessoa mais
gentil, calorosa, estranha e incrível que já conheci.

Levantei minhas mãos para cobrir minha boca e lágrimas de felicidade encheram
meus olhos enquanto eu ria.

— A mais estranha? Você faz isso parecer uma coisa boa.

Christian sorriu. — Isto é. E eu te amo porque você é um pouco estranha às vezes.


Você passou anos lendo as histórias de amor de todo mundo, e hoje à noite você
leu o último capítulo da minha... — Ele piscou. — ...mesmo que você não devesse.
Mas meu último capítulo é apenas o começo. — Ele olhou para Charlie, que puxou
uma pequena caixa preta das costas e entregou a seu pai. — Anastasia Steele,
deixe-me dar-lhe o seu felizes para sempre. Seja minha esposa, e prometo fazer o
meu melhor para tornar sua vida melhor do que qualquer coisa que você já leu em
um diário.
Ele abriu a pequena caixa preta e dentro estava algo que eu nunca tinha visto antes.
A caixa forrada de veludo continha dois anéis. À direita estava um lindo diamante
de corte esmeralda incrustado em ouro branco com pequenas baguetes em toda a
volta. No lado esquerdo havia uma réplica minúscula do anel de noivado.

Ele tirou o primeiro da caixa e o estendeu para mim.

— Eu não estou apenas pedindo para você se casar comigo. Estou te pedindo para
ser minha família com Charlie. Então mandei fazer o seu e depois uma mini réplica
em zircônia cúbica para ela – minhas duas garotas. Você aceita, Ana? Seja nossa
família?

Olhei para Charlie. Ela tinha um sorriso gigante no rosto enquanto pegava algo nas
costas e o segurava. Uma banana com algo escrito.

Diga sim, então nunca nos separaremos.

Por mais bobo que fosse, a banana acabou comigo. As lágrimas de felicidade agora
escorriam pelo meu rosto. Limpando-as, murmurei eu te amo para Charlie antes
de pressionar minha testa na de Christian.

— Sim. Sim! Meu coração já pertence a vocês dois.

Depois que Christian colocou o anel no meu dedo, ajudamos Charlie a colocar o
dela. Nós três nos abraçamos por um longo tempo antes do meu noivo dizer a ela
para ir se lavar para ir para a casa de sua tia.

— Finalmente... um minuto a sós. — Christian segurou meu rosto e puxou minha


boca para a dele. — Agora me beije direito.

Como de costume, ele me deixou sem fôlego.

— Você sabe, entre seu diário e esse pedido, acho que você pode ser um verdadeiro
romântico no coração, Sr. Grey.

— Oh sim? — Ele sorriu. — Vou negar se alguém perguntar.


Eu ri. — Está bem. Saberei a verdade. Sob esse exterior rígido está um grande e
velho molenga.

Christian pegou minha mão e a deslizou até a virilha. Ele segurou meus dedos ao
redor de uma ereção de aço.

— Tenho um exterior mais rígido para você mais tarde.

Eu sorri. — Mal posso esperar.

Ele roçou seus lábios com os meus.

— Gostou do diário?

— Amei. Foi a melhor história de amor que já li. Mas minha parte favorita foi o
final.

Christian balançou a cabeça.

— Aquilo não foi um final, Ana. Foi apenas o nosso começo. Porque uma
verdadeira história de amor como a nossa nunca termina.

Fim.

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