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Table of Contents

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 1

JESSICA DAVIS costumava pensar que era uma legı́tima tragé dia
que apenas 26% das mulheres acreditassem no amor verdadeiro.
Claro, isso foi há quase uma dé cada, quando ela nã o conseguia
imaginar como seria ser profunda e apaixonadamente obcecada pelo
homem que um dia seria seu ex.

Esta noite, poré m, em seu terceiro encontro em sete anos, ela


estava surpresa de que o nú mero fosse tã o alto.

— Vinte e seis por cento — ela murmurou, inclinando-se em


direçã o ao espelho do banheiro para aplicar mais batom.

— Vinte e seis mulheres entre cem acreditam que o amor


verdadeiro é real. — Colocando a tampa de volta, Jess riu, e seu re lexo
exausto riu de volta. Infelizmente, sua noite estava longe de terminar.
Ela ainda tinha que aguentar a entrada, os aperitivos duraram quatro
anos. Claro, parte disso provavelmente se devia à tendê ncia de Travis
de falar com a boca cheia, compartilhando histó rias altamente
especı́ icas sobre encontrar sua esposa na cama com seu parceiro de
negó cios e o divó rcio complicado que se seguiu. Mas no que diz
respeito aos primeiros encontros, Jess raciocinou, poderia ter sido
pior. Esse encontro era melhor, com certeza, do que o cara na semana
passada que estava tã o bê bado quando apareceu no restaurante que
cochilou antes mesmo de fazerem o pedido.

— Vamos, Jess. — Ela colocou o tubo de volta em sua bolsa. — Você


nã o tem que fazer, servir ou limpar nada apó s esta refeiçã o. Só os
pratos já valem pelo menos mais uma histó ria amarga sobre a ex-
mulher.

A porta de uma cabine se abriu, assustando-a, e uma loira esguia


emergiu. Ela olhou para Jess com piedade.
— Deus, eu sei — Jess concordou com um gemido. — Estou
falando sozinha em um banheiro. Diz exatamente como está indo
minha noite.

Nã o há uma risada. Nem mesmo um sorriso de polidez, muito


menos camaradagem. Em vez disso, a mulher se afastou o má ximo
possı́vel até o im da ileira vazia de pias e começou a lavar as mã os.

Tudo bem entã o.

Jess voltou a vasculhar sua bolsa, mas nã o pô de deixar de olhar
para o inal do balcã o. Ela sabia que nã o era educado olhar, mas a
maquiagem da outra mulher era perfeita, suas unhas perfeitamente
cuidadas. Como diabos algumas mulheres conseguiam isso? Jess
considerou sair de casa com o zı́per fechado uma vitó ria. Certa vez, ela
apresentou os dados de um ano iscal inteiro para um cliente com
quatro presilhas de borboleta brilhantes de Juno ainda presas à frente
de seu blazer. Essa linda estranha provavelmente nã o foi forçada a
trocar de roupa depois de limpar o glitter de um gato e um de uma
criança de sete anos de idade. Ela provavelmente nunca teve que se
desculpar pelo atraso. Ela provavelmente nem precisava se depilar –
ela era naturalmente lisa em todos os lugares.

— Você está bem?

Jess piscou de volta à consciê ncia, percebendo que a mulher estava


falando com ela. Realmente nã o tinha como ingir que nã o estava
olhando diretamente para o decote daquela estranha.

Resistindo ao impulso de cobrir seus pró prios bens menos que


impressionantes, Jess ofereceu um pequeno aceno envergonhado. —
Desculpa. Eu estava pensando que seu gatinho provavelmente nã o está
coberto de purpurina també m.

— Meu o quê ?

Ela se voltou para o espelho. Jessica Marie Davis, se recomponha.


Ignorando o fato de ainda ter pú blico, Jess canalizou Nana Jo para o
espelho:

— Você tem muito tempo. Vá lá fora, coma um pouco de


guacamole, vá para casa — disse ela em voz alta. — Nã o há reló gio
fazendo tique-taque, nem nada disso.

— SO ESTOU DIZENDO, o tempo está passando. — Fizzy acenou


vagamente em direçã o à bunda de Jess. — Essa bunda nã o será
empinada e irme para sempre, você sabe.

— Talvez nã o, — disse Jess — mas o Tinder també m nã o vai me


ajudar a encontrar um cara de qualidade para segurar.

Fizzy ergueu o queixo defensivamente.

— Eu tive o melhor sexo da minha vida usando o Tinder. Eu juro


que você desiste muito rá pido. Estamos na era das mulheres tendo
prazer e nã o se desculpando por ter o prazer primeiro, segundo e mais
uma vez. Travis pode ser obcecado por essa coisa de ex-mulher, mas eu
vi a foto dele e ele estava bem pra caralho. Talvez ele tivesse abalado
seu mundo por uma ou duas horas depois dos churros, mas você nunca
saberá , porque você saiu antes da sobremesa.

Jess fez uma pausa. Talvez...

— Caramba, Fizzy.

Sua melhor amiga se recostou, presunçosa. Se Felicity Chen


decidisse começar a vender Jequiti, Jess simplesmente entregaria sua
carteira. Fizzy era feita de carisma, bruxaria e mau julgamento. Essas
qualidades a tornavam uma grande escritora, mas també m eram a
razã o pela qual Jess tinha uma letra de mú sica com erros ortográ icos
tatuada na parte interna do pulso direito, teve uma estranha e
desastrosa franja nem um pouco parecida com Audrey Hepburn por
seis deprimentes meses em 2014, e tinha participado de uma festa à
fantasia em Los Angeles que acabou sendo uma cena de BDSM em um
calabouço. A resposta de Fizzy à “Você me trouxe a uma festa de sexo
em um calabouço?" foi: “Sim, todo mundo em LA tem calabouços!”

Fizzy colocou uma mecha de cabelo preto brilhante atrá s da orelha.

— Ok, vamos fazer planos para o seu pró ximo encontro.

— Nã o. — Abrindo seu laptop, Jess logou em seu e-mail. Mas


mesmo com sua atençã o ixada em outro lugar, era difı́cil nã o notar a
carranca de Fizzy. — Fizz, é difı́cil com uma criança.

— Essa é sempre a sua desculpa.

— Porque eu sempre tenho uma criança.

— Você també m tem avó s que moram na casa ao lado e icam mais
do que felizes em cuidar dela enquanto você está em um encontro, e
uma melhor amiga que acha sua ilha mais legal do que você . Todos nó s
só queremos que você seja feliz.

Jess sabia que sim. Foi por isso que ela concordou em testar as
á guas do Tinder em primeiro lugar.

— Ok, eu concordo com você — disse ela. — Digamos que eu


conheço algué m incrı́vel. Onde vou icar com ele? Era diferente quando
Juno tinha dois anos. Agora tenho uma ilha de sete anos com sono leve
e audiçã o perfeita, e a ú ltima vez que fui à casa de um cara estava tã o
bagunçado, que tinha uma cueca boxer grudada nas minhas costas
quando me levantei para usar o banheiro.

— Nojento.

— Concordo.

— Mesmo assim. — Fizzy esfregou um dedo pensativo sob seu


lá bio. — Pais solteiros fazem funcionar o tempo todo, Jess. Veja o Brady
Bunch1.
— Seu melhor exemplo é uma sitcom de cinquenta anos? —
Quanto mais Fizzy tentava convencer, menos Jess realmente queria
voltar lá . — Em 1969, apenas 13% dos pais eram solteiros. Carol Brady
estava à frente de seu tempo. Eu nã o estou.

— Vanilla latte! — O barista, Daniel, gritou por cima do barulho do


café .

Fizzy sinalizou que ela nã o tinha terminado de ser um pé no saco
de Jess antes de se levantar e ir até o balcã o.

Jess vinha à cafeteria Twiggs todos os dias da semana há quase


tanto tempo quanto ela era freelancer. Sua vida, que essencialmente
existia em um raio de quatro quarteirõ es, era extremamente
administrá vel do jeito que era. Ela acompanhava Juno até a escola, na
mesma rua de seu complexo de apartamentos, enquanto Fizzy pegava
a melhor mesa - na parte de trá s, longe do brilho da janela, mas perto
da tomada que ainda nã o tinha quebrado. Jess processava nú meros
enquanto Fizzy escrevia romances e, em um esforço para nã o serem
folgadas, elas pediam algo pelo menos a cada noventa minutos, o que
tinha o benefı́cio adicional de incentivar elas a trabalhar mais, fofocar
menos.

Exceto hoje. Ela já sabia que Fizzy seria implacá vel.

— OK. — Sua amiga voltou com sua bebida e um enorme muf in de


mirtilo, e levou um momento para se acomodar. — Onde eu estava?

Jess manteve os olhos no e-mail à sua frente, ingindo ler.

— Acho que você estava prestes a dizer que é a minha vida e que
devo fazer o que eu achar melhor.

— Nó s duas sabemos que nã o é algo que eu diria.

— Por que eu sou sua amiga?


— Porque eu imortalizei você como a vilã de Renda Carmesim, e
você se tornou a favorita dos fã s, entã o nã o posso te matar.

— As vezes me pergunto se você está respondendo à s minhas


perguntas, — Jess resmungou, — ou continuando uma conversa na sua
cabeça.

Fizzy começou a tirar o papel de seu muf in.

— O que eu ia dizer é que você nã o pode desistir por causa de um


encontro ruim.

— Nã o é apenas um encontro ruim — disse Jess. — E o processo


exaustivo e estranho de tentar ser atraente para os homens. Eu sou
uma freelancer estatı́stica e considero minha roupa mais sexy a minha
velha camisa da Buffy e um par de shorts. Meu pijama favorito é uma
camiseta velha do Pop’s e algumas calças de ioga de maternidade.

Fizzy choramingou um queixoso “nã o”.

— Sim — Jess disse enfaticamente. — Alé m disso, tive uma ilha


quando a maioria das pessoas da nossa idade ainda mentia sobre
gostar de cerveja. E difı́cil me fazer parecer re inada em um per il de
namoro.

Fizzy riu.

— Odeio icar longe de Juno por causa de um cara que


provavelmente nunca vou ver de novo.

Fizzy deixou isso cair por um momento, olhos escuros ixos em


descrença.

— Entã o, você está … desistindo? Jessica, você teve trê s encontros


com trê s homens gostosos, embora maçantes.

— Eu desisto até Juno icar mais velha, sim.

Ela olhou para Jess com suspeita.


— Quanto mais velha?

— Nã o sei. — Jess pegou seu café , mas sua atençã o foi atraı́da
quando o homem que eles chamaram de "Americano" entrou em
Twiggs, indo para a frente precisamente na hora certa – 8h24 da manhã
– com pernas longas, cabelos escuros, carrancudo e com uma vibe
raivosa, sem fazer contato visual com uma ú nica pessoa. — Talvez
quando ela estiver na faculdade?

Quando os olhos de Jess deixaram Americano, o horror estava


ondulando na expressã o de Fizzy.

— Faculdade? Quando ela tiver dezoito? — Ela abaixou a voz


quando todas as cabeças na cafeteria giraram. — Você está me dizendo
que se eu me sentasse para escrever o romance de sua futura vida
amorosa, eu estaria escrevendo uma heroı́na que está feliz mostrando
seu corpo para um cara pela primeira vez em dezoito anos? Querida,
nã o. Nem mesmo sua vagina perfeitamente preservada pode fazer isso.

— Felicity.

— E como uma tumba egı́pcia ali. Praticamente mumi icada —


Fizzy murmurou em um gole.

Na frente, Americano pagou por sua bebida e entã o deu um passo


para o lado, absorvido em digitar algo em seu telefone.

— Qual é o problema dele? — Jess perguntou baixinho.

— Você tem uma queda pelo Americano — disse Fizzy. — Você


percebe que o observa sempre que ele vem aqui?

— Talvez eu ache seu comportamento fascinante.

Fizzy deixou seus olhos caı́rem para sua bunda, atualmente


escondida por um casaco azul marinho.
— Estamos chamando de “comportamento” agora? — Ela se
curvou, escrevendo algo no bloquinho de ideias que mantinha perto de
seu laptop.

— Ele vem aqui e passa a vibe de que se algué m tentasse falar com
ele, ele cometeria um assassinato. — Jess brincou.

— Talvez ele seja um assassino pro issional.

Jess també m o inspecionou de cima a baixo.

— Mais como um professor de arte medieval com prisã o de ventre


e socialmente constipado.

Ela tentou se lembrar de quando ele começou a vir aqui. Há uns
dois anos? Quase todos os dias, à mesma hora todas as manhã s, a
mesma bebida, o mesmo silê ncio taciturno. Este era um bairro peculiar
e Twiggs era seu coraçã o. As pessoas vinham para icar, para saborear,
para conversar. O Americano se destacou nã o por ser diferente ou
excê ntrico, mas por ser quase totalmente silencioso em um espaço
cheio de esquisitõ es amá veis e barulhentos.

— Belas roupas, mas por dentro ele é todo rabugento — Jess


murmurou.

— Bem, talvez ele precise transar, mais ou menos como outra


pessoa que eu conheço.

— Fizz. Eu iz sexo desde o nascimento de Juno — Jess disse


exasperada. — Só estou dizendo que nã o tenho muito tempo de sobra
para compromisso, e nã o estou disposta a suportar encontros chatos
ou terrı́veis apenas para conseguir orgasmos. Eles fazem aparelhos
movidos a bateria para isso.

— Nã o estou falando apenas de sexo — disse Fizzy. — Estou


falando sobre nem sempre se colocar por ú ltimo.
Fizzy fez uma pausa para acenar para Daniel, que estava limpando
uma mesa pró xima.

— Daniel, você ouviu tudo isso?

Ele se endireitou e deu-lhe o sorriso que tinha feito Fizzy escrever


o heró i de Destiny’s Devil com Daniel em mente, e fazer todo tipo de
coisas sujas com ele no livro que ela nã o ousou fazer na vida real.

E nunca faria: Daniel e Fizzy saı́ram uma vez no ano passado, mas
rapidamente terminaram as coisas quando se encontraram em uma
reuniã o de famı́lia. Sua reuniã o de famı́lia.

— Quando nã o podemos ouvir você s? — ele perguntou.

— Bom, entã o, por favor, diga a Jess que estou certa.

— Você quer que eu dê uma opiniã o sobre se Jess deveria estar no
Tinder só para transar? — ele perguntou.

— Ok, sim. — Jess gemeu. — E assim que parece o fundo do poço.

— Ou qualquer site de namoro de que ela goste! — Fizzy gritou,


ignorando ela. — Essa mulher é sexy e jovem. Ela nã o deveria
desperdiçar seus anos quentes restantes com mom jeans2 e camisolas
velhas.

Jess olhou para sua roupa, pronta para protestar, mas as palavras
murcharam em sua garganta.

— Talvez nã o, — disse Daniel, — mas se ela está feliz, importa se


ela é brega ou nã o?

Ela sorriu para Fizzy em triunfo.

— Viu? Daniel está meio que no Time Jess.

— Você sabe... — Daniel disse a ela agora, fazendo uma bola com o
pano nas mã os, presunçoso com conhecimento interno — ...Americano
també m é româ ntico.

— Deixa eu adivinhar — disse Jess, sorrindo. — Ele é o an itriã o de


uma masmorra de sexo com tema Dothraki?

Apenas Fizzy riu. Daniel encolheu os ombros timidamente.

— Ele está prestes a lançar uma empresa de ponta de combinaçõ es


de casal.

Ambas as mulheres icaram em silê ncio. Que porra?

— Combinaçã o de casal? — Jess perguntou. — O mesmo


Americano que é assı́duo aqui neste café e ainda assim nunca sorri
para ningué m? — Ela apontou atrá s dela para a porta pela qual ele
havia saı́do apenas um minuto atrá s. — Aquele cara? Com sua
gostosura intensa prejudicada pelo iltro antissocial e temperamental?

— E esse mesmo — disse Daniel, balançando a cabeça. — Você


pode estar certa que ele precisa transar, mas eu estou supondo que ele
se sai muito bem.

PELO MENOS ESSA rotina com Fizzy em particular acontecia em


uma segunda-feira – Pop’s pegava Juno na escola à s segundas-feiras e a
levava para a biblioteca. Jess conseguiu fazer uma proposta para a
Genentech, marcar uma reuniã o com a Whole Foods para a semana que
vem e examinar algumas planilhas antes de ter que voltar para casa e
começar a atacar o jantar.

O carro dela, de dez anos com apenas trinta mil milhas rodadas, era
usado tã o raramente que Jess nã o conseguia se lembrar da ú ltima vez
que tivera de encher o tanque. Tudo em seu mundo, ela pensou
satisfeita em sua caminhada para casa, estava ao alcance do braço.
University Heights era a mistura perfeita de apartamentos e casas
incompatı́veis aninhadas entre pequenos restaurantes e empresas
independentes.
Francamente, o ú nico benefı́cio do encontro da noite anterior foi
que Travis concordou em se encontrar em El Zarape, apenas duas
portas adiante; a ú nica coisa pior do que ter a conversa de jantar mais
chata do mundo seria dirigir até o Gaslamp para fazer isso.

Com cerca de uma hora até o pô r do sol, o cé u tinha icado com um
tom pesado de cinza-azulado, uma chuva ameaçando que colocaria
qualquer motorista do sul da Califó rnia em uma confusa perturbaçã o.
Uma multidã o esparsa estava criando turbulê ncia no nı́vel de
segundas-feiras no convé s da nova cervejaria dirigida por Kiwi
descendo a rua, e a linha onipresente na Bahn Thai estava rapidamente
se transformando em um emaranhado de corpos famintos, trê s ilas
estavam presas a humanos, atualmente ignorando a placa para os
clientes nã o se sentarem na varanda privativa ao lado do restaurante.
O inquilino de Nana e Papai, o sr. Brooks, instalou uma câ mera de
campainha para as unidades da frente e quase todas as manhã s dava a
Jess um relato detalhado de quantos universitá rios sentavam em seu
degrau enquanto esperava por uma mesa.

O lar apareceu. Juno havia batizado o complexo de apartamentos


de “Harley Hall” quando tinha quatro anos e, embora nã o tivesse a vibe
pretensiosa necessá ria para ser um H Hall maiú sculo, o nome pegou.

Harley Hall era verde brilhante e se destacava como uma


esmeralda contra os tons de terra dos edifı́cios ao lado. O lado voltado
para a rua era decorado com uma faixa horizontal de ladrilhos rosa e
roxos formando um padrã o digno de Arlequina; as caixas de janela rosa
eletrizante derramavam lores de cores vivas na maior parte do ano. Os
avó s de Jess, Ronald e Joanne Davis, compraram a propriedade no ano
em que Pop’s se aposentou da Marinha. Coincidentemente, este foi o
mesmo ano em que o namorado de longa data de Jess decidiu que ele
nã o era do tipo pai e queria manter a opçã o de colocar seu pê nis em
outras mulheres. Jess terminou a escola e, em seguida, embalou Juno,
de dois meses, se mudando para a unidade de dois quartos do té rreo
que icava de frente para o bangalô de Nana e Pop’s nos fundos da
propriedade. Considerando que eles criaram Jess na estrada em
Mission Hills até ela ir para a faculdade na UCLA, a transiçã o foi
basicamente zero. E agora, sua pequena e perfeita vila a ajudou a criar
sua ilha.

O portã o lateral se abriu com um pequeno rangido, depois se


fechou atrá s dela. Por um caminho estreito, Jess entrou no pá tio que
separava seu apartamento do bangalô de Nana Jo e Pop’s. O espaço
parecia um exuberante jardim em algum lugar de Bali ou da Indoné sia.
Um punhado de fontes de pedra assobiava baixinho, e a primeira
sensaçã o que se tinha era brilhante: magenta, coral e buganvı́lias
pú rpura violentas dominavam as paredes e cercas.

Imediatamente, uma criança pequena, com uma perfeita trança


francesa, abordou Jess.

— Mã e, eu tenho um livro da biblioteca sobre cobras, você sabia


que cobras nã o tê m pá lpebras?

— Eu...

— Alé m disso, elas comem a comida inteira, e seus ouvidos estã o


dentro de suas cabeças. Adivinha onde você nã o consegue encontrar
cobras? — Juno olhou para ela, olhos azuis sem piscar. — Adivinha.

— Canadá !

— Nã o! Antá rtica!

Jess a levou para dentro, dizendo: — De jeito nenhum! — por cima


do ombro.

— Sé rio. E lembra daquela cobra em O Garanhão Negro? Bem, as


najas sã o o ú nico tipo de cobra que constroem ninhos e podem viver
até os vinte anos.

Aquilo realmente chocou Jessica.


— Espere, sé rio? — Ela largou a bolsa no sofá perto da porta e foi
até a despensa para procurar opçõ es de jantar. — Isso é insano.

— Sim. Sé rio mesmo.

Juno icou quieta atrá s dela, e a compreensã o caiu como um peso


no peito de Jess. Ela se virou para encontrar sua ilha com a expressã o
de olhos enormes de imploraçã o.

— Juno, querida, nã o.

— Por favor, mã e?

— Nã o.

— Pop’s disse que talvez uma cobra de milho. O livro diz que elas
sã o “muito dó ceis”. Ou uma pı́ton bola?

— Uma pı́ton? — Jess colocou uma panela de á gua no fogã o para


ferver. — Você está louca, criança? — Ela apontou para a gata, Pombo,
adormecida no trecho de luz do dia que entrava pela janela. — Uma
pı́ton comeria aquela criatura.

— Uma pı́ton bola, e eu nã o deixaria.

— Se Pop’s está encorajando você a pegar uma cobra, — disse Jess,


— Pop’s pode mantê -la na casa dele.

— Vovó Jo já disse nã o.

— Aposto que sim.

Juno resmungou, desabando no sofá . Jess se aproximou e se


sentou, puxando-a para um abraço. Ela tinha sete anos, mas era
pequena; ela ainda tinha mã os de bebê com covinhas nos nó s dos
dedos e cheirava a xampu de bebê e a ibra amadeirada de livros.
Quando Juno envolveu os braços pequenos em volta do pescoço de
Jess, ela respirou a menina. Juno tinha seu pró prio quarto agora, mas
ela dormiu com sua mã e até os quatro anos, e à s vezes Jess ainda
acordava no meio da noite e tinha uma pontada aguda de desejo pelo
peso quente de seu bebê em seus braços. A pró pria mã e de Jess
costumava dizer que ela precisava quebrar o há bito de Juno, mas o
conselho dos pais era a ú ltima coisa que Jamie Davis deveria dar a
algué m. Alé m disso, nã o era como se outra pessoa ocupasse aquele
lado do colchã o.

E Juno era uma mestre, uma atleta olı́mpica com medalha de ouro
na categoria aconchego. Ela pressionou o rosto no pescoço de Jess e
respirou fundo, se mexendo mais perto.

— Mamã e. Você teve um encontro ontem à noite — ela sussurrou.

Juno estava animada com o encontro, nã o apenas porque adorava


seus bisavó s e comeu a comida de Vovó Jo enquanto Jess estava fora,
mas també m porque elas assistiram recentemente Adventures in
Babysitting, e Fizzy disse a ela que era um descriçã o de como era o
namoro. Na mente de Juno, Jess pode acabar namorando Thor.

— Você foi ao centro da cidade? Ele trouxe lores para você ? — Ela
se afastou. — Você beijou ele?

Jess riu.

— Nã o, eu nã o beijei. Jantamos e eu voltei para casa a pé .

Juno a estudou, os olhos se estreitaram. Ela parecia bastante certa


de que mais deveria acontecer em um encontro. Parecendo como se ela
tivesse se lembrado de algo, ela correu para sua mochila perto da
porta.

— També m comprei um livro para você .

— Você comprou?

Juno voltou e rastejou em seu colo, entregando-o.


Meia-idade e arrasando!: Guia de initivo de uma mulher para
namorar com mais de 40, 50 anos e além.

Jess soltou uma risada surpresa.

— Sua tia Fizz te convenceu disso?

A risada de Juno rolou para fora dela, encantada.

— Ela mandou uma mensagem para o Pop’s.

Por cima da cabeça, Jess teve um vislumbre do quadro branco ao


lado da geladeira e um formigamento se espalhou da ponta dos dedos
até os braços. As palavras OBJETIVOS DE ANO NOVO foram escritas
na caligra ia borbulhante de Juno.

NANA & POP’S:

Ter um personal trayner

Faser uma caminhada todos os dias

JUNO:

Aprenda a gostar de brocoolis

Arruma minha cama todas as manhãs

Esperimentar algo novo no domigo!

MAMÃE:

Esperimente algo novo no domigo!

Ser mais egoista!

Faser mais coisas que me asustam


Ok, universo, Jessica pensou. Entendido. Se a Sra. Brady podia ser
uma exploradora, talvez fosse hora de Jess tentar també m.
Capítulo 2

O UNICO PROBLEMA com as epifanias: elas nunca chegam na hora


conveniente. Jess tinha uma ilha de sete anos ligeiramente hiperativa
e uma pró spera carreira de freelancer, lidando com todos os tipos de
enigmas matemá ticos. Nenhuma dessas coisas deixava muito tempo
para criar uma lista de aventuras. Alé m disso, sua ilha e sua carreira
eram su icientes para ela; ela tinha quatro bons contratos de freelancer
e, embora eles nã o a deixassem com muito dinheiro extra, ela era
capaz de cobrir as contas – incluindo as astronô micas contas do seguro
– e ajudar seus avó s també m. Juno era uma criança feliz. Elas moravam
em uma boa á rea. Francamente, Jess gostava de sua vida como ela era.

Mas as palavras “Fazer mais coisas que me assustam” pareciam


piscar em né on em suas pá lpebras sempre que ela fechava os olhos
entre uma ideia ou outra.

Sinceramente, sua falta de namoro provavelmente era mais sobre


preguiça do que medo. Não é como se eu tivesse pulado do nada para o
nível de estagnação, Jess pensou. Eu deslizei lentamente para dentro dele,
e percebi só agora que não estou mais questionando se o jeans que tirei do
chão deveria ter sido lavado antes de ser usado novamente. Jess nunca
reclamaria por ter se tornado mã e aos 22 anos – Juno era a melhor
coisa que Alec poderia ter dado a ela, francamente – mas
provavelmente era justo admitir que ela se esforçou mais para
preparar o almoço de Juno do que para considerar, digamos, o que ela
pode procurar em um futuro parceiro. Talvez Fizzy, Nana e a capa da
Marie Claire nã o estivessem errados quando insinuaram que Jess
precisava sair de sua zona de conforto e sonhar algo maior.

— O que é essa cara que você tá fazendo? — Fizzy desenhou um


cı́rculo imaginá rio em torno da expressã o de Jess. — Esqueci a palavra.

— Essa? — Jess apontou para a pró pria cabeça. — Derrota?


Fizzy assentiu, resmungando em voz alta enquanto digitava: —
“Ela desviou o olhar de seu olhar penetrante, a derrota colorindo suas
feiçõ es de um cinza leitoso.”

— Uau. Obrigada.

— Eu nã o estou escrevendo sobre você . Sua expressã o foi


oportuna. — Ela digitou mais algumas palavras e, em seguida, pegou o
café com leite. — Como descobrimos nos tempos antigos da nossa
amizade, você nã o se considera uma heroı́na de um dos meus
romances, portanto, nunca vou fazer de você nada alé m de um
personagem secundá rio ou vilã o.

Fizzy estremeceu com o que era imprová vel ser um gole fresco –
estava claramente na hora de ela pedir outro – enquanto suas palavras
atingiam Jess como um tapa dos Trê s Patetas.

Jess icou quieta, cambaleando em uma consciê ncia de que sua


vida iria passar antes que ela percebesse. Isso quebraria seu coraçã o se
Juno parasse de viver a vida em sua plenitude. Ela apenas vagamente
registrou que deviam ser 8h24 quando Americano entrou na cafeteria,
parecendo um homem gostoso com outros lugares para estar e sem
tempo para a gentalha de Twiggs. Sem dizer uma palavra, ele tirou uma
nota de dez de sua carteira, pegando o troco de Daniel e jogando
apenas as moedas no frasco. Jess olhou ixamente, irritaçã o exagerada
subindo quente em sua garganta.

Ele dá gorjetas de merda! Isso jogou outro registro em seu fogo


mental de Razõ es Mesquinhas pelas quais o Americano é Horrı́vel.

Fizzy estalou na frente de seu rosto, puxando sua atençã o de volta


para a mesa.

— Aı́. Você tá fazendo isso de novo.

Jess franziu a testa.

— Fazendo o quê ?
— Comendo com os olhos. O Americano. — O rosto de Fizzy se
abriu em um sorriso conhecedor. — Você realmente acha que ele é
sexy.

— Eu nã o. Eu estava apenas observando. — Jess se afastou,


insultada. — Credo, Felicity.

— Claro, ok. — Fizzy apontou seu dedo para o homem em questã o,


vestindo jeans escuros justos e um sué ter azul royal leve. Cabelo escuro
enrolado na nuca, Jess notou que era o comprimento perfeito de cabelo
quase crescido e que quase precisa de um corte. Pele oliva, boca cheia o
su iciente para morder. Tã o alto que, quando visto de uma cadeira, sua
cabeça parecia arranhar o teto. Mas seus olhos – agora, esses eram o
acontecimento principal: expressivos e comoventes, com cı́lios
escuros. — Isso é nojento. Qualquer coisa que você diga.

Jess encolheu os ombros, agitada.

— Ele nã o é meu tipo.

— Esse homem é o tipo de todo mundo. — Fizzy riu incré dula.

— Bem, você pode icar com ele. — Franzindo a testa, Jess o


observou limpar sua barra de condimentos de costume com um
guardanapo. — Eu estava pensando como nã o consigo entender a ideia
de que ele está começando uma empresa de casamentos. Isso nã o é
algo que um idiota como aquele faz.

— Pessoalmente, acredito que Daniel nã o tem ideia do que está


falando. Homens ricos com essa aparê ncia sã o casados demais com
seus empregos durante o dia e suas carteiras de investimentos à noite
para pensar na vida amorosa de algué m.

Americano saiu da barra de condimentos para ir embora. Em um


lash, a curiosidade de Jess borbulhou, e ela impulsivamente o pegou
com uma mã o em torno de seu antebraço quando ele passou. Ambos
congelaram. Seus olhos eram de uma cor rara e surpreendente, mais
clara do que ela esperava de perto. Ambar, ela podia ver agora, nã o
marrom. O peso de sua atençã o total parecia uma pressã o fı́sica em seu
peito, empurrando o ar para fora de seus pulmõ es.

— Ei. — Jess avançou com os nervos vibrantes e ergueu o queixo.


— Espera um segundo. Podemos te perguntar uma coisa?

Quando ela o soltou, ele puxou o braço lentamente, olhando para


Fizzy, depois de volta para ela. Ele acenou com a cabeça uma vez.

— Existem boatos de que você é um casamenteiro — disse Jess.

Americano estreitou os olhos.

— “Boatos”?

— Sim.

— Em que contexto surgiu esse boato?

Com uma risada incré dula, Jess gesticulou ao redor deles.

— Marco zero das fofocas de University Heights. O boato da Park


Avenue. — Ela esperou, mas ele continuou a olhar para ela, perplexo. —
E verdade? — ela perguntou. — Você é um casamenteiro?

— Tecnicamente, sou um geneticista.

— Entã o… — Suas sobrancelhas subiram em sua testa. O


Americano aparentemente se sentia muito confortá vel com um
silê ncio agudo. — Isso é um “nã o” para a coisa do casamento?

Ele cedeu com um aceno divertido de uma sobrancelha.

— Minha empresa desenvolveu um serviço que conecta pessoas


com base em tecnologia proprietá ria de per is gené ticos.

Fizzy sussurrou um “Ooooh”.


— Grandes palavras. Parece chique. — Ela se curvou, rabiscando
em seu bloco de notas.

— Tecnologia de per il gené tico? — Jess estremeceu para ele. —


Me dá uma vibe meio futurista, desculpa.

Fizzy foi rá pida em redirecionar a atençã o do Americano para


longe da boca esperta de Jess.

— Eu escrevo romance. Isso soa como minha criptonita. — Ela


ergueu a caneta, sacudindo-a sedutoramente. — Meus leitores iriam
pirar com essas coisas.

— Qual é o seu pseudô nimo? — ele perguntou.

— Escrevo com meu nome verdadeiro — disse ela. — Felicity


Chen.

Felicity ofereceu uma mã o delicada como se fosse para ele beijar e,
apó s um momento de hesitaçã o confusa, o Americano agarrou a ponta
dos dedos dela para um breve aperto de mã o.

— Ela foi traduzida para mais de uma dú zia de idiomas — Jess se
gabou, na esperança de limpar a expressã o estranha de seu rosto.

Funcionou; o Americano pareceu impressionado.

— Uau.

— Vai ter um aplicativo? — Fizzy era implacá vel. — E como o


Tinder?

— Sim. — Ele franziu a testa. — Mas nã o. Nã o é para conexõ es.

— Algué m pode fazer isso?

— Eventualmente — ele disse. — E um... — Seu telefone vibrou em


seu bolso, e ele o puxou, franzindo a testa ainda mais. — Desculpa —
disse ele, colocando no bolso novamente. — Eu preciso ir, mas
agradeço seu interesse. Tenho certeza de que você vai ouvir mais sobre
isso em breve.

Fizzy se inclinou, mostrando seu sorriso con iante.

— Tenho mais de cem mil seguidores no Instagram. Eu adoraria


compartilhar a informaçã o se for algo que minhas leitoras
predominantemente de 18 a 55 anos possam querer ouvir.

O rosto do Americano se suavizou, a testa franzida desaparecendo.

Bingo.

— Vamos abrir o capital em maio, — disse ele, — mas se você


quiser, pode vir ao escritó rio, ouvir o discurso, pegar uma amostra...

— Uma amostra? — Jess deixou escapar.

Ela podia ver o pequeno lash quente de aborrecimento em seus


olhos quando eles voltaram para ela. Se Fizzy era uma investigadora
sedutora, Jess era de initivamente uma investigadora cé tica, e
Americano parecia mal tolerar até mesmo o fascı́nio genuı́no de Fizzy.

Ele olhou Jess nos olhos.

— Cuspe.

Soltando uma risada, Jess perguntou: — Me desculpa?

— A amostra — disse ele lentamente, — é cuspe.

Seus olhos a varreram casualmente do rosto para o colo e de volta


para cima. Dentro de seu peito, seu coraçã o deu um salto estranho.

Entã o ele olhou para o reló gio. Tudo bem.

Fizzy riu com força enquanto olhava para trá s e para frente entre
os dois.
— Tenho certeza de que nó s duas conseguirı́amos cuspir. — Ela
sorriu. — Para você .

Com um sorriso pá lido, ele deixou cair um cartã o de visita sobre a
mesa; fez um baque audı́vel.

— Sem futurismo, — acrescentou ele calmamente, — eu prometo.

Jess o observou sair. A campainha sobre a porta deu uma ú nica


badalada de desapontamento com sua partida.

— Tudo bem — disse ela, se voltando para a amiga. — Ele é um


vampiro?

Fizzy a ignorou, batendo o cartã o de visita contra a borda da mesa.


— Olha isso.

Estreitando os olhos, Jess olhou de volta para fora da janela


quando Americano entrou em um Audi preto elegante no meio- io.

— Ele estava tentando me convencer.

— Este cartã o é legı́timo. — Fizzy semicerrou os olhos para ele,


girando-o na mã o. — Ele nã o mandou fazer essa merda num lugar
qualquer.

— "Cuspe'' — Jess imitou em uma voz profunda e cortada. — Deus,


ele de initivamente nã o está no marketing porque aquele homem tem
carisma zero. Pode apostar e vamos voltar a ela quando eu tiver
noventa anos: ele é a pessoa mais arrogante que eu conheci e vou
conhecer nessa vida.

— Você vai parar de icar obcecada por ele?

Jess pegou o cartã o de visita de Fizzy.

— Você vai parar de icar obcecada com este cart... — Ela parou,
pesando seu peso impressionante em sua mã o. — Uau. E muito grosso.
— Eu te disse.

Jess o virou para examinar o logotipo: dois cı́rculos


interconectados com uma dupla hé lice como ponto de contato. Na
frente, o nome verdadeiro do Americano em letras prateadas pequenas
em relevo na parte inferior.

— Isso nã o é o que eu teria adivinhado. Ele parece um Richard. Ou


talvez um Adam.

— Ele parece um Keanu.

— Se prepara. — Ela olhou para Fizzy e sorriu. — O nome do


Americano é Dr. River Peñ a.

— Oh nã o — Fizzy disse, suspirando. — Esse é um nome quente,


Jess.

Jess riu, Felicity Chen era maravilhosamente previsı́vel.

— E, o homem faz o nome, nã o o contrá rio.

— Incorreta. Nã o importa o quã o quente seja o homem, o nome


Gregg com dois Gs nunca será sexy. — Fizzy afundou ainda mais na
cadeira, corada. — Seria estranho se eu chamasse meu pró ximo heró i
de “River”?

— Muito estranho.

Fizzy anotou assim mesmo enquanto Jess lia o nome da empresa


em voz alta. — GeneticAlly? Aliado Gené tico?

Ela rolou a palavra em sua boca antes de clicar.

— Oh, entendi. Dito como “geneticamente”, mas com A maiú sculo


para “aliado”3. Ouça este slogan: “Seu futuro já está dentro de você .”
Uau. — Ela largou o cartã o e se recostou, sorrindo. — Dentro de você ?
Algué m leu isso em voz alta primeiro?
— Nó s vamos fazer isso. — Fizzy disse, ignorando a reclamaçã o de
Jess e arrumando sua bolsa.

Jess a encarou com os olhos arregalados.

— Você tá falando sé rio? Agora mesmo?

— Você tem mais de cinco horas antes de pegar Juno. La Jolla ica a
meia hora de carro.

— Fizzy, ele nã o parecia exatamente feliz em falar conosco sobre


isso. Ele mal podia esperar para sair daqui.

— E daı́? Considere uma pesquisa: eu tenho que ver este lugar.

HAVIA APENAS quatro carros no amplo estacionamento e, com


uma risada, Fizzy estacionou seu novo, mas sensato Camry azul, ao
lado do reluzente Audi de River.

Ela sorriu para Jess atravé s do console de couro.

— Pronta para encontrar sua alma gê mea?

— Eu nã o estou. — Mas Fizzy já estava fora do carro.

Jess desceu, olhando para o pré dio de dois andares à frente deles.
Ela teve que admitir: era impressionante. A fachada de ripas de
madeira polida trazia o nome da empresa, GeneticAlly, em letras
gigantes de alumı́nio escovado; o segundo andar ostentava concreto
inacabado moderno e janelas amplas e brilhantes.

O logotipo de DNA de dois ané is estava impresso nas largas portas


da frente, que se abriram quando Fizzy deu um puxã o suave. Jess e
Fizzy entraram em um saguã o luxuoso e deserto.

— Uau — Fizzy sussurrou. — Isso é estranho.


Seus passos ecoaram pelo chã o enquanto eles caminhavam até
uma mesa de má rmore gigante, praticamente um campo de futebol
longe da entrada. Tudo gritou caro, elas estavam absolutamente sendo
ilmadas por pelo menos cinco câ meras de segurança.

— Olá . — Uma mulher olhou para elas, sorrindo. Ela també m


parecia cara. — Posso ajudar?

Fizzy, nunca perdendo a postura, encostou os antebraços na mesa.

— Estamos aqui para ver o River Peñ a.

A recepcionista piscou, veri icando o calendá rio com um olhar


selvagem e em pâ nico.

— Ele está esperando por você ?

Jess icou dolorosamente ciente de que ela e Fizzy podem ter


acabado de entrar e pedido para ver a pessoa que literalmente
comandava o lugar.

— Nã o — Jess admitiu assim que Fizzy deu um intitulado: — Ele


está .

Fizz dispensou Jess.

— Você pode dizer-lhe que Felicity Chen e sua associada estã o


aqui.

Jess tossiu uma risada, e a recepcionista cautelosa gesticulou para


um registro de hó spedes.

— Ok, bem, por favor, vá em frente e assine. E eu vou precisar ver
suas identidades. Você está aqui para uma apresentaçã o? — Ela anotou
as informaçõ es de sua identi icaçã o.

Jess franziu a testa.

— Uma o quê ?
— Quero dizer, ele recrutou você para DNADuo? — ela perguntou.

— DNADuo. E isso aı́. — Fizzy sorriu enquanto escrevia seus


nomes no registro. — Ele viu duas lindas mulheres solteiras no café e
apenas implorou que vié ssemos cuspir em frascos.

— Fizzy. — Pela milé sima vez, Jess se perguntou se ela sempre


seguiria Fizzy como uma vassoura e uma pá de lixo varrendo o caos.
Estar perto de Fizzy fazia Jess se sentir ao mesmo tempo mais viva e
entorpecida.

A recepcionista devolveu um sorriso educado junto com suas


identi icaçõ es e indicou que deveriam se sentar.

— Vou deixar o Dr. Peñ a saber que você está aqui.

Nos sofá s de couro vermelho, Jess jurou que parecia que elas eram
as primeiras a se sentar.

Literalmente nã o havia poeira em lugar nenhum, nenhum indı́cio


de que outro corpo já havia tocado aquela mobı́lia.

— Isso é estranho — ela sussurrou. — Temos certeza de que isso


nã o é uma fachada para algum culto da extraçã o de ó rgã os? — Ela
tocou cuidadosamente uma pilha organizada de revistas cientı́ icas. —
Eles sempre usam os bonitos como isca.

— Dr. Peñ a. — Fizzy puxou seu caderno e lambeu timidamente a


ponta de sua caneta. — De initivamente estou nomeando um heró i em
homenagem a ele agora.

— Se eu sair com apenas um rim, — disse Jess, — vou pegar um


dos seus.

Fizzy bateu a caneta contra o papel.

— Eu me pergunto se um River Peñ a teria um irmã o. Luis.


Antô nio...
— E tudo isso custa dinheiro. — Jess passou a mã o no couro
lexı́vel. — Quantos rins você acha que vale um sofá como esse? — Ela
pegou o telefone e digitou na barra de pesquisa, boquiaberta com os
resultados. — De acordo com o Google, o valor atual para um rim é de
$262.000. — Por que estou trabalhando? Eu poderia sobreviver com
apenas um, certo?

— Jessica Davis, você soa como se nunca tivesse saı́do de casa


antes.

— Você é quem está construindo uma á rvore genealó gica ictı́cia!


O que estamos fazendo aqui?

— Encontrando nossa alma gê mea? — Fizzy disse, e entã o sorriu


maliciosamente para ela. — Ou pegando informaçõ es esquisitas para
um livro.

— Você tem que admitir que nã o olha para o Dr. River Peñ a e
pensa: poxa, ele tem uma alma româ ntica.

— Nã o, — admitiu Fizz, — mas eu olho para ele e penso: “aposto


que ele tem um pau fantá stico”. Você viu o tamanho das mã os dele? Ele
poderia me carregar pela cabeça, como uma bola de basquete.

Uma garganta pigarreou e elas ergueram os olhos para encontrar


River Peñ a parado a menos de meio metro de distâ ncia.

— Bem, você s duas com certeza nã o perderam tempo.

O estô mago de Jess desabou no chã o e as palavras saı́ram dela: —


Oh, merda.

— Você ouviu o que eu acabei de dizer? — Fizzy perguntou.

Ele soltou uma exalaçã o lenta e controlada. Ele totalmente ouviu.

— Ouvi o quê ? — ele falou, inalmente.

Fizzy se levantou, puxando Jess com ela.


— Excelente. — Ela fez uma reverê ncia delicada a River. — Vamos
lá .
Capítulo 3

ELAS O SEGUIRAM atravé s de um conjunto de portas duplas


esterilizadas e por um longo corredor, com escritó rios saindo do lado
direito a cada poucos metros. Cada porta tinha um cartaz de aço
inoxidá vel martelado e um nome: Lisa Addams. Sanjeev Jariwala. David
Morris. River Peñ a. Tiffany Fujita. Brandon Butkis.

Jess olhou para Fizzy, que, previsivelmente, já tinha reparado em


tudo.

— Puta merda — ela sussurrou, encantada.

Atravé s de uma porta de escritó rio aberta, Jess viu uma ampla
janela exibindo uma vista da costa de La Jolla. A menos de um
quilô metro de distâ ncia, as gaivotas mergulhavam sobre a á gua de
capa branca e as ondas batiam violentamente contra penhascos
rochosos. Foi espetacular.

O aluguel anual dessa propriedade tinha que ser de pelo menos um


rim e meio.

O trio caminhou em silê ncio, alcançando um conjunto de


elevadores. River apertou o botã o “Subir” com o dedo indicador
comprido e olhou para a frente em silê ncio.

O silê ncio icou pesado.

— Faz quanto tempo você trabalha aqui? — Jess perguntou.

— Desde que foi fundado.

Ótimo. Ela tentou novamente.

— Quantos funcioná rios existem?

— Dezenas.
— E uma pena que você nã o esteja na á rea de marketing — disse
Jess com um sorriso. — Tã o charmoso.

River se virou para olhá -la, e sua expressã o enviou uma onda fria
de sensaçõ es por seus braços.

— Sim, bem. Felizmente, meus talentos sã o pra outras coisas. —


Seu olhar permaneceu no dela por apenas um segundo a mais, e a
sensaçã o se transformou em está tica quente assim que as portas do
elevador se abriram.

Fizzy deu uma cotovelada forte nas costelas. Coisas sexy, ela estava
pensando claramente.

Coisas de assassino, Jess respondeu mentalmente.

Apesar de todas as promessas de explorar esta grande


oportunidade de pesquisa, Fizzy estava estranhamente quieta; talvez
ela també m estivesse intimidada pela presença rı́gida de River. Isso
signi icava que o resto da lenta viagem de elevador foi tã o silenciosa
quanto o centro sombrio da Sibé ria. Quando eles saı́ram, Jess observou
sua melhor amiga começar a rabiscar nota apó s nota sobre – ela
presumiu – o pré dio; o punhado de cientistas almofadinhas pelos quais
passaram no segundo corredor; o ritmo composto de River, postura
perfeita e coxas visivelmente musculosas. Nesse ı́nterim, Jess foi
icando cada vez mais constrangida com o rangido desagradá vel de
seus tê nis no linó leo e com a relativa sujeira de sua roupa.

Fizzy estava vestida como ela normalmente estava – uma adorá vel
blusa de seda com bolinhas e calças lá pis – e River estava vestido como
sempre, uma versã o de revista lustrosa do business casual. Nã o tinha
ocorrido a Jess naquela manhã , enquanto ela vestia apressadamente
um moletom surrado da UCLA, uma calça Levi's velha e um par de Vans
surrados que mais tarde ela estaria passeando por um corredor na
parte mais rica de La Jolla.
No inal do corredor, havia uma porta aberta que dava para uma
sala de conferê ncias. River fez uma pausa e gesticulou para que elas
entrassem na frente dele.

— Podem se sentar aqui — disse ele. — Lisa vai se juntar a você s


em breve.

Fizzy olhou para Jess e depois de volta para River.

— Quem é Lisa?

— Ela é a chefe de relaçõ es com o cliente e lı́der no


desenvolvimento de nosso aplicativo. Ela vai explicar a tecnologia e o
processo de combinaçã o.

Francamente, essa coisa toda se tornou um barco cheio de


segredos confusos.

— Você nã o vai icar? — Jess perguntou.

Ele pareceu afrontado, como se ela tivesse sugerido que ele era o
garoto da á gua da empresa. — Nã o. — Com um sorriso vago, ele se
virou e continuou pelo corredor. Cuzão.

Apenas alguns minutos depois, uma morena entrou. Ela tinha o


look bronzeado, de falsa-nã o-uso-maquiagem e o cabelo ondulado de
praia dos californianos do sul que podiam usar um muumuu disforme e
parecer estilosa.

— Ei! — Ela avançou, estendendo a mã o para cumprimentá -las. —


Eu sou Lisa Addams. Chefe de relaçõ es com clientes da GeneticAlly.
Estou tã o feliz que você s vieram! Eu nã o iz esta apresentaçã o para um
grupo tã o pequeno ainda, será uma explosã o. Você s duas estã o
prontas?

Fizzy assentiu com entusiasmo, mas Jess estava começando a se


sentir um pouco como se tivesse caı́do em um mundo onde era a ú nica
que nã o sabia um segredo importante.
— Você se importaria de me mostrar o banheiro antes de
começarmos? — ela perguntou, estremecendo levemente. — Sabe
como é , café .

Com outro sorriso, Lisa deu instruçõ es a Jess que pareciam


bastante simples. Jess passou por um trecho de grandes portas com
uma vibe de laborató rio distinta. Um foi identi icado como AMOSTRA
PREP. O pró ximo foi SEQUENCIADORES DE DNA, seguido por ANALISES
1, ANALISES 2 e SERVIDORES. Finalmente: uma alcova com banheiros.

Até os banheiros eram futuristas. Jess honestamente nã o tinha


certeza de como se sentir em relaçã o a um bidê pú blico, mas havia
tantos botõ es na coisa – e ei, á gua morna – que ela decidiu aproveitar.
Uma veri icaçã o de seu re lexo enquanto lavava as mã os a informou de
que ela nã o tinha colocado maquiagem naquela manhã e parecia
abatida e esgotada, mesmo na luz fraca, mas lisonjeira. Ótimo.

No caminho de volta, sua atençã o foi atraı́da por uma porta aberta.
Se passou uma eternidade desde que ela esteve em um ambiente
cientı́ ico real, e a nostalgia pulsou no fundo de sua mente. Espiando
para dentro da sala etiquetada AMOSTRA PREP, Jess viu um longo
trecho de bancadas de laborató rio e uma variedade de má quinas com
teclados e mostradores digitais coloridos piscando como algo saı́do de
um ilme.

E entã o ela ouviu a voz baixa e profunda de River: — Nã o há outra
garrafa 10X de tampã o de extraçã o?

— Temos alguns pedidos — respondeu outro homem. — Acho que


tenho o su iciente para terminar esse conjunto.

— Bom.

— Eu ouvi que duas pessoas vieram para uma demonstraçã o?

— Sim — disse River. — Duas mulheres. Uma delas é


aparentemente uma autora com uma grande presença online.
Houve uma pausa que Jess presumiu conter alguma comunicaçã o
sem palavras.

— Nã o sei, cara — disse River. — Eu estava apenas tentando pegar


meu café , entã o sugeri que viessem para que Lisa pudesse lidar com
isso.

Que ótimo.

— Entendi — disse a outra voz. — Se eles enviarem os kits, vou


executar em quadruplicado com algumas sequê ncias de referê ncia.

— Pode ter momentos, logo apó s o lançamento, em que teremos


apenas um punhado de amostras por vez, entã o esse será um bom
teste para começar.

— Realmente.

Ela estava prestes a se virar e voltar para a sala de conferê ncias


quando ouviu River dizer com uma risada: — Uma oportunidade de
provar que há algué m disponı́vel para todos.

O outro homem perguntou:

— Feia?

— Nã o, nã o é feia. — Jess decidiu imediatamente receber isso


como a versã o de River de um elogio, até que ele acrescentou: —
Totalmente normal.

Ela recuou, palma contra peito em genuı́na ofensa, e se assustou


quando uma voz veio atrá s dela.

— Você quer um tour pelo laborató rio depois de sua reuniã o com
Lisa?

O homem atrá s dela ergueu as mã os enquanto Jess se virava para


ele como se ela fosse dar um soco. Ele era alto e magro e parecia com
todos os atores em todos os ilmes interpretando um cientista:
Caucasiano, ó culos, precisava de um corte de cabelo. Ele era Jeff
Goldblum, se Jeff Goldblum també m fosse Benedict Cumberbatch.

Ela nã o tinha certeza se ele estava genuinamente oferecendo-lhe


um tour ou sutilmente a castigando por escutar.

— Oh. Nã o — ela disse. — Está tudo bem. Desculpe. Eu estava


voltando dos banheiros e dei uma olhada.

Sorrindo, ele estendeu a mã o.

— David Morris.

Jess o sacudiu timidamente.

— Jessica.

— Faz um tempo que nã o temos clientes nos escritó rios. E bom ver
um rosto novo. — Quando ele disse isso, seus olhos percorreram
rapidamente o corpo dela e subiram de volta. — Você está fazendo o
DNADuo?

Ela resistiu ao desejo de cruzar os braços sobre o peito para


esconder o fato de que ela veio para este serviço de namoro so isticado
parecendo uma universitá ria de ressaca.

— Eu nã o decidi ainda. Estou aqui com minha melhor amiga. Ela é
autora de romances e enlouqueceu completamente quando o
Americano – Dr. Peñ a, desculpe, mencionou o negó cio para nó s esta
manhã .

David fez um gesto para que ela os conduzisse de volta à sala de


conferê ncias.

— Bem, espero que você s achem a tecnologia atraente.

Jess forçou um sorriso educado.

— Tenho certeza que vamos.


David parou no limiar da sala de conferê ncias.

— Foi um prazer te conhecer, Jessica. Se precisar de mais alguma


coisa, sinta-se à vontade para entrar em contato.

Com outro sorriso tenso, Jess controlou sua inquietaçã o


borbulhante.

— Eu com certeza irei.

Ela voltou para a sala de conferê ncias sentindo-se cerca de dez por
cento mais desajeitada do que antes.

Ou seja, raspando no fundo do barril. Fizzy e Lisa estavam


conversando sobre os benefı́cios e desvantagens de vá rios aplicativos
de namoro, mas se endireitaram como se tivessem sido pegas quando
Jess voltou. Sem que nenhuma das duas tivesse que dizer isso, Jess
sabia que ela absolutamente parecia uma amiga que foi arrastada para
isso e preferia assistir Net lix em seu sofá .

— Pronta para começar? — Lisa perguntou, passando por um


menu em um iPad. A sala escureceu e uma tela enorme desceu do teto
com um zumbido suave.

Fizzy desempenhou seu papel: — Porra, sim! — entã o Jess


interpretou o dela també m: — Claro, por que nã o?

Lisa caminhou até a frente da grande sala com con iança, como se
estivesse falando para uma multidã o de cinquenta em vez de duas.

— Quais sã o seus objetivos — ela começou, — no que diz respeito


aos relacionamentos româ nticos?

Jess se virou com expectativa para Fizzy, que se virou com


expectativa para Jess.

— Ok, bem, acho que vou dar o primeiro tiro — Fizzy disse,
zombando da expressã o vazia de Jess. — Tenho trinta e quatro anos e
gosto de namorar. Muito. Mas suponho que um dia vou me estabelecer,
ter alguns ilhos. Tudo depende da pessoa.

Lisa acenou com a cabeça, sorrindo como se essa fosse uma


resposta perfeita, e entã o se virou para Jess.

— Eu… — ela começou, se agitando um pouco. — Presumo que


haja algué m lá fora para mim, mas nã o estou com pressa de encontrar
ele. Estou prestes a fazer trinta. Eu tenho uma ilha, nã o tenho muito
tempo. — Dando de ombros vagamente, ela murmurou: — Eu
realmente nã o sei.

Claramente Lisa estava acostumada com pessoas com um pouco


mais de energia, mas ela lançou seu discurso de qualquer maneira.

— Você já se perguntou o que é realmente uma alma gê mea? — Ela
perguntou. — O amor é uma qualidade que você pode quanti icar?

— Oh, boa pergunta. — Fizzy se inclinou para frente. Anzol, linha e


chumbada.

— Aqui, acreditamos que sim — disse Lisa. — Combinaçõ es pela


tecnologia de DNA é exatamente o que oferecemos aqui no GeneticAlly,
por meio da DNADuo. O GeneticAlly foi o icialmente fundado há seis
anos, mas o conceito do DNADuo foi concebido pela primeira vez no
laborató rio do Dr. David Morris no Salk Institute em 2003. — Lisa
passou da primeira imagem – o logotipo da DNADuo – para uma vista
aé rea do Salk, uma coleçã o rı́gida de edifı́cios futuristas logo adiante.
— A ideia de combinaçã o gené tica nã o é nova, mas poucas empresas
foram capazes de criar algo, mesmo uma fraçã o tã o extensa quanto o
que o Dr. Morris e seu aluno de graduaçã o, River Peñ a, projetaram.

Jess olhou para Fizzy, que olhou para ela. Se River e seu mentor
inventaram tudo isso, Jess percebeu que nã o poderia dar muita merda
a ele por ser um homem de vendas terrı́vel.

Mesmo que ela pudesse criticar ele por ser um pouco idiota.
Lisa continuou: — A razã o pela qual a DNADuo teve tanto sucesso
em identi icar pares genuı́nos por amor é que a ideia nã o começou com
DNA. — Ela fez uma pausa dramá tica. — Tudo começou com as
pessoas.

Jess sufocou um revirar de olhos quando o slide se tornou


animado, se afastando dos edifı́cios de pesquisa Salk e ao longo de uma
rua até uma coleçã o de alunos gerados por computador em pé no pá tio
de um bar, rindo e conversando.

— Dr. Peñ a primeiro perguntou se ele poderia encontrar um


padrã o complementar no DNA de duas pessoas que se sentem atraı́das.
— O slide de Lisa deu um zoom em um casal falando pró ximo,
lertando.

— Ou seja, estamos programados para achar certas pessoas


atraentes, e podemos prever quais duas pessoas se sentirã o atraı́das
uma pela outra antes de se conhecerem? — Ela sorriu. — Em um
estudo com mais de mil alunos da UC San Diego, uma sé rie de quase
quarenta genes foi encontrada intimamente relacionada à atraçã o. Dr.
Peñ a entã o apontou o laborató rio na direçã o oposta para buscar uma
felicidade duradoura. Ele poderia encontrar um per il gené tico de
pessoas que foram casadas e felizes por mais de uma dé cada?

Lisa deslizou a animaçã o para frente para mostrar um casal mais


velho, gerado por computador, sentado em um sofá , se aninhando. A
imagem foi ampliada para trá s para mostrar um bairro, depois uma
cidade, e depois mais longe, até que o mapa da cidade parecia uma ita
dupla-hé lice de DNA.

— De um estudo com mais de trezentos casais — Lisa continuou:


— Dr. Peñ a encontrou quase duzentos genes que estavam ligados à
compatibilidade emocional de longo prazo, incluindo os mesmos
quarenta genes associados à atraçã o, bem como muitos outros
anteriormente nã o correlacionados. — Ela fez uma pausa, olhando
para eles. — Essa foi apenas a primeira geraçã o do DNADuo.
Ao lado de Jess, Fizzy estava sentado com plena atençã o,
completamente conectada. Mas Jess estava cé tica.

O que Lisa estava descrevendo era essencialmente uma má quina


caça-nı́queis com duzentos rolos. Estatisticamente falando, pousar na
combinaçã o certa era um evento de probabilidade absurdamente
baixa. Mesmo que o GeneticAlly estivesse apenas procurando
compatibilidade de padrõ es, com o nú mero de variantes de cada gene
no genoma humano, esse tipo de algoritmo era tã o complexo que era
quase impossı́vel calcular manualmente. Ela nã o conseguia ver como
eles começariam a processar a quantidade de dados que estavam
enfrentando.

Lisa parecia ler sua mente.

— Duzentos sã o muitos genes, e o genoma humano é composto


por pelo menos vinte mil. Claro, nem tudo isso – talvez nem mesmo a
maioria – está envolvido em nossa satisfaçã o emocional. Mas os drs.
Peñ a e Morris queriam encontrar até o ú ltimo. Eles nã o queriam
apenas identi icar compatibilidade, eles queriam ajudar a encontrar
sua alma gê mea. E exatamente por isso que o Dr. Peñ a colaborou com a
Caltech para desenvolver uma nova rede neural profunda.

Ela deixou essas palavras assentarem enquanto o slide se animava


novamente, mergulhando na dupla hé lice, destacando fragmentos de
base enquanto passava ao longo do comprimento da ita de DNA.

— Este projeto abrangeu testes de personalidade, varreduras


cerebrais, estudos longitudinais de sucesso de relacionamento e, sim,
bem mais de cem mil amostras executadas por meio de
sequenciamento de DNA e aná lise. — Ela olhou cada uma delas nos
olhos. — Os investidores colocaram mais de trinta milhõ es de dó lares
somente na tecnologia. Os desenvolvedores de aplicativos investiram
quase cinco milhõ es. Será que temos um sistema verdadeiramente
inovador? — Ela acenou com a cabeça. — Entre nó s? Com toda
honestidade? Eu acho.
Deslizando para frente, ela ergueu o queixo para a tela, onde uma
mulher estava sozinha contra um fundo totalmente branco.

— E assim que funciona. Desenvolvemos um kit como muitas


empresas de per is gené ticos, que, muito em breve, os clientes poderã o
encomendar pelo correio. Temos kits aqui para compra, se você s
estiverem interessadas.

Jess podia sentir Fizzy ansiosa para sacar seu cartã o de cré dito.
Lisa pegou uma pequena caixa sobre a mesa; era branca, o logotipo
DNADuo simples impresso nas cores do arco-ı́ris.

— Assim que o lançarmos totalmente, os clientes enviarã o sua


amostra para aná lise por nosso algoritmo DNADuo, que agora combina
descobertas de mais de 3.500 genes. Uma vez recebido, a aná lise leva
apenas cerca de trê s dias para os resultados carregarem em seu
aplicativo DNADuo. Enquanto espera, você pode inserir informaçõ es
sobre você em seu per il – da mesma forma que faria em outros sites
de namoro. Informaçõ es sobre sua idade, localizaçã o, pro issã o – tudo
o que você quiser que as pessoas saibam sobre você . Assim que seus
resultados chegarem, compartilharemos com você as pontuaçõ es de
compatibilidade com base nos crité rios que você escolheu.

Jess engoliu em seco. Tudo isso parecia tã o… completo.

O slide agora mostrava duas pessoas lado a lado diante do mesmo


pano de fundo vazio.

— Por meio de aná lises rigorosas, criamos caixas de pontuaçã o.


Ou seja, agrupamos as pontuaçõ es com base na correlaçã o entre elas e
o sucesso do relacionamento. Se você puxar duas pessoas aleató rias da
rua para ver se sã o compatı́veis, verá uma pontuaçã o em mé dia entre
sete e vinte e quatro em nosso algoritmo DNADuo. Essas pontuaçõ es
chegam a cem, entã o vinte e quatro nã o é o ideal, mas també m nã o é
zero. Chamamos essas pontuaçõ es de Partidas de Base.

— Há muitos delas? — Fizzy perguntou.


— Oh, sim — disse Lisa. — A grande maioria dos pares aleató rios
testados uns contra os outros sã o Partidas de Base. Agora — ela
deslizou para frente, e as duas pessoas se viraram uma para a outra,
sorrindo — atraçã o é frequentemente relatada entre casais com
pontuaçã o de vinte e cinco a cinquenta, mas quando os acompanhamos
por um longo prazo, esses indivı́duos raramente encontram
compatibilidade emocional duradoura. Chamamos isso de Silver
Matches, e alguns dos indivı́duos em nosso teste beta optaram por
explorar essas relaçõ es. — Lisa deu de ombros, sorrindo, claramente
rompendo com o roteiro. — Sexo bom é sexo bom, certo?

Fizzy assentiu com entusiasmo, mas Jess apenas deu de ombros


vagamente.

— Qual é o seu limite para “raramente”, quando você diz que eles
raramente encontram compatibilidade duradoura?

Lisa sorriu.

— Com base em nossos estudos iniciais, apenas um Silver Match


em cada trezentos dura alé m do limite de dois anos que consideramos
de longo prazo. Mas é aqui que ica divertido — disse ela, endireitando-
se. Um novo casal apareceu na tela, de mã os dadas enquanto
caminhavam juntos.

— As Golden Matches sã o casais com pontuaçã o de cinquenta a


sessenta e cinco. Um terço das Golden Matches encontrarã o um
relacionamento duradouro, juntos. Esse nú mero sobe para dois terços
com uma pontuaçã o de sessenta e seis a oitenta – o que chamamos de
Platinum Match.

— Uau — Fizzy sussurrou, olhando para o novo casal rindo juntos


durante um jantar ı́ntimo à luz de velas. — E um salto enorme.

Lisa concordou.

— Mas trê s em cada quatro casais encontram o amor de longo


prazo com pontuaçõ es de oitenta a noventa — ela disse. — E essas sã o
as combinaçõ es que esperamos encontrar para todos em nosso banco
de dados. — Ela apontou para um casal que se casaria sob um amplo
arco de lores. — Nó s os chamamos de Titanium.

E certo que Jess teve que esconder seu choque com essa
estatı́stica. Foi impressionante. Ela ainda tinha cerca de um milhã o de
perguntas, poré m, e gesticulou para o casal no cená rio do casamento; a
mulher era asiá tica, o homem de ascendê ncia do Oriente Mé dio.

— Parece com suas ferramentas de marketing que DNADuo nã o


tem um vié s de etnia.

— Correto. E sobre encontrar uma alma gê mea com base em um


conjunto de marcadores bioló gicos. Embora existam algumas
variantes gené ticas encontradas em diferentes etnias, esta tecnologia é
sobre compatibilidade no nı́vel do DNA, nã o simetria. Sem falar de um
ponto muito té cnico, mas em muitos casos, a compatibilidade é mais
forte quando os dois indivı́duos tê m marcadores gené ticos diferentes,
ao invé s do mesmo. E lembre-se, a DNADuo nã o pode levar em conta as
in luê ncias culturais, entã o a importâ ncia de todas essas informaçõ es
tem que ser avaliada pessoalmente pelo cliente. Os clientes podem
indicar todo e qualquer crité rio desejado em seu formulá rio de
admissã o – histó rico cultural, religiã o etc. O algoritmo desconta
quaisquer descobertas de compatibilidade que nã o se enquadrem nos
crité rios prescritos.

— Entã o, se eu sou gay?

— Certo. — Lisa nã o hesitou. — No seu formulá rio de admissã o,


você pode selecionar para ver as combinaçõ es femininas, masculinas,
nã o biná rias ou todas as opçõ es acima. Como empresa, nã o fazemos
discriminaçã o com base em raça, identidade cultural, gê nero,
orientaçã o sexual ou religiã o, e a DNADuo també m nã o. Apenas
algumas das assinaturas de sequê ncia de compatibilidade estã o
localizadas nos cromossomos X ou Y; certamente nã o o su iciente para
anular o conjunto de dados se um determinado genó tipo sexual for
excluı́do.
Jess se recostou na cadeira, reconhecidamente – e
inesperadamente – impressionada.

— Desculpa, mais uma pergunta — Fizzy disse. — Você disse para


considerar as pontuaçõ es de compatibilidade de um a cem... Você já viu
uma pontuaçã o superior a noventa?

Lisa sorriu genuinamente.

— Apenas trê s vezes.

— E? — O coraçã o de Jess começou a bater forte contra o esterno.


Seu cé rebro imaginou uma má quina caça-nı́queis diferente agora, uma
com 3.500 linhas e uma ú nica puxada que alinhava quase todas as
cerejas.

Pela primeira vez desde que entrou na sala, Lisa deixou cair a hiper
competente fachada sur ista-executiva. Ela parecia jovem, esperançosa
e maravilhada.

— E isso que me dá mais con iança nesta empresa. Sim, trê s é um
nú mero baixo, mas os casais que izeram o teste acima de noventa sã o
os trê s casais que obtiveram as melhores pontuaçõ es em estabilidade
emocional, comunicaçã o e colaboraçã o e satisfaçã o sexual. Eles sã o
Diamond Matches. Queremos mais desses? Claro. Quer dizer, o DNADuo
foi testado em cento e quarenta mil pessoas e totalmente validado em
quase vinte mil casais. E um estudo enorme para uma start-up desse
tamanho, mas há pelo menos cinco milhõ es de pessoas no Hinge e
cerca de cinquenta milhõ es de pessoas no Tinder. Até que possamos
obter todo o mundo de dados em nosso servidor, nã o saberemos
quantos Diamond Matches realmente existem.
Capítulo 4

FIZZY ESTAVA LIGANDO.

Fizzy nunca ligava.

Mesmo sendo 8h13 e Jess deveria levar Juno para a escola em dois
minutos, e ainda nã o tinha alimentado sua ilha ou tomado um ú nico
gole de café , e tinha uma reuniã o no centro à s 9h30, e mal se vestira,
ela atendeu.

— Você nunca liga — disse Jess.

— Este aplicativo é uma loucura. — disse Fizzy.

Juno saiu correndo, ainda de pijama.

— Estou pronta para o café da manhã !

Inclinando o telefone longe de sua boca, Jess sussurrou: — Você


precisa usar roupas de verdade, meu amor.

Sua ilha gemeu ao voltar para o quarto.

— Eu estou… — Fizzy disse, e entã o fez uma pausa. — Ok, bom


ponto. Essa camisa é bem transparente. — Outra pausa. — Espere,
como você sabe o que estou vestindo?

— Eu estava conversando com minha ilha — disse Jess, rindo. —


Que histó ria é essa sobre o aplicativo ser insano? Qual aplicativo?

— Consegui vinte e trê s combinaçõ es desde que os resultados do


DNADuo chegaram esta manhã .

Jess fez a matemá tica mental rá pida – fazia apenas dois dias desde
sua visita ao local. Ou o GeneticAlly era insanamente e iciente ou nã o
estava executando muitas amostras atualmente. Ela teve que admitir, a
contragosto, que qualquer empresa que investisse em uma rede neural
exclusiva estava levando seus dados a sé rio.

— Vinte e trê s? — Ela serviu uma xı́cara de café e Pombo abriu


caminho entre as pernas de Jess, ronronando. Jess cometeu o erro de
olhar brevemente para o gato, e sua xı́cara transbordou, fazendo uma
poça de café na bancada. Amaldiçoando, ela se inclinou para abrir a
porta da frente, deixando Pombo sair, entã o cavou em uma gaveta para
pegar um pano de prato. — Sã o muitas almas gê meas.

— Eu lancei uma rede bem ampla — Fizzy concordou. — Eu disse


qualquer coisa acima de treze pontos.

— Treze?

— E divertido ver o que acontece quando você sai com caras sem
expectativas.

O café pingou do balcã o para o chã o, encharcando as meias da


sorte de Jess.

— Porra.

— E apenas um encontro potencialmente terrı́vel, nã o uma


cirurgia plá stica.

— Eu nã o estava te criticando, eu derramei café .

— Pense nisso como um estudo de personagem — Fizzy


continuou. — O que acontece quando você coloca duas pessoas
completamente incompatı́veis juntas? Elas vencerã o as
probabilidades? Ou sairã o lutando... entre si? — Ela fez uma pausa, e
Jess imaginou sua amiga pegando seu caderno. Um alerta estranho
soou ao fundo. — Vinte e quatro!

Juno entrou na cozinha vestida para a escola, mas seu cabelo


continuava como um ninho de passarinho.
— Mamã e, posso tomar um smoothie?

— Meu bem, vá escovar seu cabelo.

— Eu suponho que você estava falando com Juno de novo — Fizzy


disse distraidamente.

— Posso, mamã e?

— Eu estava — disse Jess para Fizzy, e entã o, — E sim, Joaninha,


vou fazer um, mas vá escovar o cabelo e os dentes també m, por favor.
— De volta à cozinha, Jess olhou para o reló gio e gemeu. Ela puxou uma
cesta de morangos da geladeira.

— Tudo bem — disse Fizzy — tenho um almoço hoje com Aiden B.,
um Base Match com treze pontos e um jantar amanhã com Antonio R.,
també m um Base Match, vinte e um.

— Nunca deixe ningué m dizer que você nã o é aventureira.

— Mã e! — Juno chamou do banheiro. — Lembre-se, nã o deixe o


Pombo sair porque o jardineiro está aqui hoje!

Jess se virou e olhou pela janela da frente, para o pá tio sem gatos e
para o caminho que levava ao portã o aberto.

— Fizz, eu preciso correr.

UM LIQUIDIFICADOR EXPLOSIVO, uma perseguiçã o de gato de


quatro quarteirõ es, duas mudanças de roupa (de Jess), um nó duplo de
tê nis (de Juno) e uma entrega tardia depois, Juno estava na escola e
Jess estava inalmente empurrando sua bunda para o centro. Tinha
uma grande reuniã o com Jennings Grocery naquela manhã , dois novos
clientes em potencial à tarde e, em seguida, uma reuniã o da escola à s
seis. Maratona, mas nã o impossı́vel. Mas por que era da natureza do
universo que no dia em que Jess já estava atrasada, houvesse um
acidente na 5, um desvio na saı́da dela e nenhuma vaga para
estacionar? Ela passou ileira apó s ileira de sedã s de luxo e estava
começando a se perguntar se todos os ricos de San Diego estavam no
Gaslamp ao mesmo tempo, mas entã o, puff: suas oraçõ es foram
respondidas por um lash de luzes de ré à sua direita.

Ela rolou para frente, acendendo o pisca-alerta. O alı́vio bombeou


adrenalina atravé s de sua corrente sanguı́nea como se houvesse um
prê mio real para o estacionamento, ao invé s de uma reuniã o intensa
com alguns clientes que ela tinha quase certeza que queria escolher
seus dados para coincidir com suas projeçõ es anuais.

Mas assim que Jess colocou o pé no acelerador para puxar, um


sedan preto desviou na curva da pró xima ileira, deslizando para o
local com um guincho impressionante de Velozes e Furiosos.

Batendo no volante, Jess gritou um agravado: — Oh, qual foi!

Ela ergueu as mã os de forma passiva-agressiva, esperando que o


motorista visse e se sentisse um idiota por tirar a vaga de uma mulher
que nunca tinha feito nada mais egoı́sta do que comer o ú ltimo Ding
Dong e culpar seu avô . Exageros à parte, Jess – sempre capaz de manter
a calma ao volante – estava prestes a colocar a mã o pesada na buzina.
Mas entã o a porta do carro se abriu e uma perna impossivelmente
longa se esticou, enrolada em uma calça de carvã o bem passada e
coberta por um sapato de couro brilhante. Havia algo sobre os ombros
que emergiu, a postura... e entã o a atingiu.

Jess nã o precisava ver seu rosto para saber, porque esse nã o era
qualquer sedan preto, era um Audi preto. Seu Audi preto.

River Peñ a roubou sua vaga no estacionamento.

Ela se inclinou para fora da janela, gritando:

— Ei! — Mas ele já estava andando rapidamente pela calçada e nã o
se incomodou em se virar.
Jess avistou outro carro dando ré a algumas ileiras de distâ ncia e
estremeceu com o guincho audı́vel de seus pneus enquanto ela fazia a
curva. Pronta para pisar na buzina para que ningué m se atrevesse a
ocupar esse lugar, ela conseguiu, estacionou o carro, agarrou tudo que
precisava e correu de salto alto e saia justa em direçã o à entrada.

Quase dez minutos atrasada, mas na ú ltima vez Jennings estava


quinze minutos atrasado, e ela já podia ver os elevadores do outro lado
das portas de vidro. Ela só precisava...

E quem estava no elevador senã o River Peñ a? Jess o observou


estender a mã o, pressionando o botã o. A luz acima dele piscou e as
portas se abriram. Ele deu um passo à frente e Jess apertou o laptop
contra o peito, disparando.

— Segura, por favor!

Se virando, ele olhou por cima do ombro e entã o desapareceu no


elevador.

— Filho da puta. — Jess murmurou.

A sede da Jennings Grocery icava apenas trê s andares acima,


entã o, em vez de esperar, ela subiu as escadas.

Dois degraus de uma vez. Visivelmente sem fô lego quando ela
correu da escada para o corredor, Jess colidiu imediatamente com a
parede de tijolos de um homem. Para o registro, ele cheirava
incrivelmente bem. Era irritante.

— Cuidado — ele murmurou, os olhos em seu telefone enquanto


ele a contornava, continuando pelo corredor.

Mas Jess havia chegado ao ponto de ebuliçã o: — Americano!

Hesitando apenas brevemente, ele se virou. Seu cabelo escuro caiu


sobre um olho e ele o afastou para o lado.
— Perdã o?

— Desculpas nã o aceitas. Você pegou minha vaga de


estacionamento.

— Eu peguei a sua...?

— E você nã o segurou o elevador — disse ela. — Estou atrasada,


você me viu e nã o se preocupou em segurar a porta.

— Eu nã o vi você . — Ele soltou uma risada curta e incré dula. —


Talvez você devesse sair um pouco mais cedo da pró xima vez.

— Uau. Você realmente é um idiota.

Ele franziu a testa, estudando-a.

— Eu te conheço?

— Você tá brincando? — Ela apontou para o peito. — Twiggs?


Cuspir em um potinho? Totalmente normal? Isso te lembra alguma
coisa?

A compreensã o foi uma nuvem que se moveu em seu rosto.


Surpresa, reconhecimento, constrangimento.

— Eu… — Seus olhos piscaram sobre ela e entã o pelo corredor


como se pudesse haver reforços chegando a qualquer momento. —
Você estava... completamente irreconhecı́vel. Eu nã o sabia que era
você .

Pela vida dela, Jess nã o conseguia descobrir se isso era uma
queimadura doentia ou um elogio indireto.

— Sinto muito, nã o me lembro do seu nome, Sra...? — ele


perguntou uniformemente.

— Você nunca perguntou para saber.


E havia aquele olhar que a encantou – aquele que dizia que ele mal
tolerava a conversa. Rompendo o contato visual, ele inalmente olhou
para o reló gio.

— Você disse algo sobre estar atrasada?

Merda!

Jess passou por ele, correndo trê s metros pelo corredor até a Suı́te
303, os escritó rios do Jennings Grocery.

TRINTA E UM POR CENTO DOS lares da Califó rnia sã o


administrados por pais solteiros, mas Jess nunca teria imaginado isso
pelas pessoas que luem para a reuniã o da Alice Birney Elementary
Science-Art Fair.

Ser mã e solteira em um evento escolar era como ser solteira em


uma festa de casal. Sem a parte do vinho. Se Nana ou Pop’s nã o estavam
com ela, Jess icava intensamente ciente de que os outros pais nã o
tinham ideia de como interagir com uma mã e solteira. A conversa mais
longa que teve com algué m foi no recital de fé rias da primeira sé rie,
quando uma mã e perguntou se o marido de Jess estaria sentado na
cadeira vazia ao lado dela. Quando ela disse:

— Sem marido, cadeira livre — a outra mulher sorriu


desajeitadamente por alguns instantes antes de rolar sem fô lego por
cinco minutos sobre o quanto ela sentia por nã o conhecer nenhum
homem solteiro legal.

Mas, pela primeira vez em um desses eventos, ela percebeu ao


entrar no corredor, Jess icou aliviada por estar sozinha; ela nã o teria
que conversar. Ela nã o tinha certeza se seria capaz de fazer isso esta
noite; cada reuniã o que ela teve hoje foi um beco sem saı́da. Bem,
exceto a reuniã o da Jennings Grocery. Isso foi um desastre completo.
Um dos maiores pecados da estatı́stica é a escolha seletiva –
escolher quais conjuntos de dados incluir na aná lise apó s a conclusã o
do estudo. Existem muitos motivos legı́timos para descartar valores
discrepantes: os dados nã o sã o coletados corretamente etc. Mas, se um
ponto de dados afeta tanto os resultados quanto as suposiçõ es, ele
deve ser incluı́do. E, como Jess suspeitava, a Jennings Grocery nã o
queria apenas excluir alguns pontos de dados do conjunto que eles lhe
enviaram; eles queriam eliminar territó rios enormes inteiramente em
seu relató rio aos acionistas, porque os nú meros nã o correspondiam à s
suas metas de vendas projetadas.

Ela recusou – embora tivesse passado quatro meses projetando


meticulosamente a aná lise, escrevendo o có digo, construindo o
programa. Durante a reuniã o, os executivos trocaram longos perı́odos
de contato visual silencioso e, por im, expulsaram Jess da sala, dizendo
que entrariam em contato.

Era estupidez ser tã o in lexı́vel com sua maior conta? Ela nã o
conseguia afastar a sensaçã o de pâ nico. Se ela perdesse Jennings,
perderia um terço de sua renda anual. Juno poderia precisar de
aparelho ortodô ntico e ela estaria dirigindo em oito anos. E se ela
quisesse começar a fazer competiçõ es de dança? E se ela adoecer?

Nana e Pop’s també m nã o estavam icando mais jovens.

Um movimento em sua visã o perifé rica chamou sua atençã o, e Jess


observou a professora da segunda sé rie de Juno, a Sra. Klein, e o
diretor, o Sr. Walker, virem para a frente da sala. A Sra. Klein estava
vestida como uma mistura de cientista e artista: jaleco, ó culos, boina,
paleta de tinta. O Sr. Walker estava vestido, Jess supô s, como uma
criança: shorts largos, meias até o joelho e um boné de beisebol do
Padres. Eles se sentaram em cadeiras de frente para os pais reunidos.

O ilho do diretor cruzou os braços e fez um muxoxo dramá tico, e a


sala icou silenciosa.
— Eu nem entendo o que é uma feira de artes cientı́ icas. Eu tenho
que fazer isso?

— Você nã o tem que fazer a feira de ciê ncia-arte — Sra. Klein disse,
cantarolando para a multidã o — você DEVE fazer a feira de ciê ncia-
arte!

A sala se espalhou com risadas educadas, e o resto da equipe da


segunda sé rie distribuiu apostilas com informaçõ es enquanto a
pequena peça continuava. Jess examinou as pá ginas grampeadas,
folheando as instruçõ es para ajudar as crianças a encontrar um projeto
de arte baseado em alguma á rea da ciê ncia: vida vegetal, vida animal,
engenharia, quı́mica. Uma planta de papel maché com vá rias estruturas
etiquetadas. Uma pintura de um esqueleto de cachorro. Uma casa feita
de palitos de picolé . Era uma das coisas que Jess amava nesta pequena
escola – o currı́culo criativo, a ê nfase no aprendizado integrado –, mas
com o murmú rio de vozes subindo da multidã o, ela foi puxada para
fora de sua pequena bolha. Nos assentos ao seu redor, cabeças se
juntaram em uma conversa animada. Equipes de marido e mulher
discutiam projetos divertidos para os ilhos, e o pavor no estô mago de
Jess se embrulhou de solidã o. Ela estava separada por um assento
vazio de cada lado, uma pequena zona para proteger os outros pais da
infecçã o da solteirice.

Ainda de mau humor, apesar – ela tinha que admitir – de algumas


piadas bastante engraçadas do Sr. Walker e da Sra.Klein, Jess
praticamente rastejou pelo estacionamento. Seu carro estava
estacionado ao lado de um Porsche branco pé rola que fazia seu Corolla
2008 vermelho parecer um velho patim sem seu companheiro. Jess nã o
podia sentir vergonha da tralha, no entanto; esse carro a levou da
maternidade para casa e depois para a formatura da faculdade apenas
um mê s depois. Levou a vá rias saı́das para o Experimentar Algo Novo
No Domingo e viagens à Disneylâ ndia e...

— Jessica!
Ela se virou ao som de uma voz vibrante e se virou para encontrar
uma mulher loira alta e magra acenando para ela. Dawn Porter:
Presidente da Associaçã o Escolar, Mã e do Ano e Garganta Profunda,
provavelmente. Jess se preparou para se sentir uma mã e de merda
pelos pró ximos cinco minutos.

— Dawn! Ei. — Jess estremeceu em um pedido de desculpas


preventivo. — Foi um longo dia e...

— Oh Deus, totalmente. Eu sei que você está – tipo, exausta o


tempo todo. Pobrezinha. Se eu puder ter apenas um segundo? Eu
queria veri icar o site de leilã o que você iria construir. A arrecadaçã o
de fundos para o novo equipamento do playground?

Merda.

O site em que Jess estava trabalhando quando Juno vomitou na


escola e precisava ser pega, entã o quando um cliente tinha uma
reuniã o de acionistas de ú ltima hora e precisava que ela passasse 12
horas em Los Angeles, entã o quando ela foi interrompida por um
telefonema de sua mã e pedindo ajuda para pagar o aluguel.

O site que Jess havia esquecido até aquele segundo. Bom trabalho,
Jess.

— Estou totalmente trabalhando nisso, Dawn — disse ela. — Só


iquei um pouco ocupada ultimamente.

— Ugh, eu sei, estamos todos muito ocupados. — Dawn apertou


um botã o no chaveiro em sua mã o. As luzes do Porsche reluzente
piscaram e a porta traseira se abriu com um toque delicado.
Penduradas no banco de trá s de Dawn estavam pequenas bolsas
organizadas, cada uma com a monograma dos nomes de seus ilhos –
Hunter, Parker, Taylor – e palavras como Lanches e Livros e Coisas
Divertidas!

No porta-malas do carro de Jess havia um par de coleiras de gato


emaranhadas, uma dú zia de sacolas de supermercado incompatı́veis,
uma corrente de absorventes que Juno havia construı́do enquanto
esperavam com um pneu furado e pelo menos trinta e dois outros itens
que ela pretendia tirar de dentro... algum dia.

Dawn colocou o pacote de papé is escolares em uma bolsa, tirando


um pouco da limpeza a seco com um gancho para fora do caminho,
depois apertou o chaveiro novamente para fechar o porta-malas com
um sussurro.

Ela se voltou para Jess.

— Eu só estou perguntando por que Kyle – você conheceu meu


marido, Kyle? — Ela gesticulou para um homem conversando com dois
outros pais do outro lado do estacionamento. — De qualquer forma, ele
disse que poderia pedir a um dos pais de Porter, Aaron, e Kim para
preparar alguma coisa. Nã o seria um problema – eles adoram ajudar, e
toda vez que eu olho para você , eu penso, “Pobre Jé ssica está tã o
cansada!”

Sua atitude defensiva disparou: — Entendi.

Dawn inclinou a cabeça, surpresa com a força da reaçã o, e Jess quis


apagar as palavras. Foi necessá ria uma mistura bastante intensa com
seu bastã o de base de farmá cia para fazer as olheiras desaparecerem
esta manhã , e ela tinha certeza de que as luzes de led do
estacionamento nã o eram sua melhor iluminaçã o. Hoje tinha sido um
inferno, e a ú ltima coisa que Jess queria era se tornar o assunto da
Mamã e Fofoca. Ela pensou nas dezenas de coisas que ela poderia fazer
com aquele tempo porque, realmente, o que ela se importava com
quem vai construir o site idiota?

Porque quero ser uma boa mãe, pensou ela. Eu quero estar presente
para Juno, mesmo que alguns dias eu sinta que estou falhando.

— Sé rio — Jess garantiu a ela. — Está quase terminado.

— Graças a Deus.
— Eu devo ter algo para você em breve.

— Bom. Isso é ó timo, entã o! Vou avisar a diretoria para que parem
de reclamar para mim!

— Otimo — Jess repetiu enquanto Dawn entrava no lado do


passageiro de seu carro. — Excelente.

— ESTOU ME ESCONDENDO no banheiro, chorando na privada —


disse ela quando Fizzy atendeu uma hora depois.

A amiga de Jess soltou uma risada e um: — Aww, adoro quando


você ignora os limites. Normalmente, essa é a minha praia.

— Tive um dia terrı́vel. — Jess passou a mã o pelo nariz. — Estou


solitá ria. E me sinto uma idiota reclamando, mas você sempre vai ser
uma idiota maior do que eu, entã o posso reclamar para você .

— Eu juro, Jessica, você sabe exatamente o que dizer para fazer


meu coraçã o derreter. — O engraçado era que Fizzy falava sé rio. — Me
conta tudo.

Jess fechou os olhos, recostando-se na caixa d'á gua.

— Tudo parece tã o pequeno. Depois que desligamos o telefone


esta manhã , meu dia inteiro desmoronou. Pombo escapou, meu
liquidi icador explodiu em toda a minha camisa, está vamos atrasadas.
Tive uma reuniã o na Jennings Grocery, mas o Americano roubou minha
vaga...

— Você viu o Americano na rua?

— Eu vi — ela disse. — Ele continua terrı́vel. Entã o minha grande


reuniã o foi horrı́vel e eu tive que voar para a escola para essa coisa de
arte-ciê ncia, e sentei no fundo e apenas olhei para todos aqueles casais
felizes que estavam se vendo no inal do dia, e juro por Deus, Fizz,
nunca me senti tã o só em toda a minha vida. E entã o Presidente Dawn
me lembrou de terminar o site de arrecadaçã o de fundos, e eu estou
acabada, mas é provavelmente uma bagunça sagrada e nã o consigo
encontrar um osso em mim que se importe.

Antes que Fizzy pudesse falar, Jess acrescentou:

— E nã o diga nada, porque eu sei como isso soa… tipo “coitada de
mim, e estou sozinha”. Eu sei que tenho sorte. Eu tenho a melhor ilha, e
Nana e Pop’s estã o aqui para me ajudar sempre que eu precisar deles.
Eu tenho você –

— Corta essa — Fizzy disse. — Sim, você tem Nana e Pop’s, você
tem uma ó tima ilha, você tem a mim. Estou aqui para você todos os
dias, para sempre, mas por favor, Jess. Nã o é a mesma coisa. Você está
falando sobre querer ter algué m para voltar para casa, para conversar
e, sim, para icar pelada. Nã o é egoı́smo querer isso. Você nã o está de
alguma forma colocando Juno em segundo lugar, ocasionalmente
colocando suas necessidades em primeiro lugar. Juno precisa de uma
mã e feliz.

— Nã o é só isso — Jess disse baixinho. — Eu me preocupo em


apresentar Juno a um homem algum dia? Sim, completamente. Mas a
ideia de me colocar lá fora é , honestamente, mais exaustiva do que
qualquer coisa. Tive que trocar de camisa duas vezes esta manhã para
a reuniã o, primeiro por causa da explosã o do smoothie e, segundo,
quando babei um monte de pasta de dente no meu peito.

— Razã o nú mero um pela qual sempre escovo os dentes pelada —


brincou Fizzy, e Jess riu. — E observaçã o? Você provavelmente está
muito linda, independentemente do que você pensa.

— Obrigada...

— Estou falando sé rio — Fizzy pressionou. — Me escuta. Você é


tã o linda, é estú pido. Seus olhos? Tipo, eu tento descrever esse azul nos
livros, e soa apenas clichê . Você tem o corpinho mais fofo e
literalmente os melhores lá bios. E de graça! As pessoas geralmente
tê m que pagar por bocas como essa.

Jess riu em meio a um soluço.

— Se eu nã o soubesse que você é meio louca da cabeça, eu mesmo


te chamaria para sair.

— Você me vê assim por que me ama — Jess disse, o queixo


tremendo. — Namorar na casa dos trinta é diferente. Exige que nos
recomponhamos e, na maioria dos dias, ser apenas mã e e me esforçar
para manter minha cabeça acima da á gua leva tudo o que tenho. Onde
vou encontrar tempo e energia para caçar um cara bom quando a
maioria dos caras do Tinder acha que uma bebida rá pida faz com que
eles façam sexo?

Jess praticamente podia ouvir a boca de Fizzy do outro lado da


linha.

— Acabamos de assistir a uma apresentaçã o em uma empresa que


pede para você cuspir em um frasco e eles vã o entregar uma lista de
almas gêmeas em potencial. — Ela pronunciou a ú ltima palavra, de
modo que se estendeu por trê s longas sı́labas. — Ningué m está
pedindo para você caçar.

— Até o DNADuo ainda requer namoro! — Jess disse a ela, rindo.


— Nã o é como se eu ganhasse um nome e fugı́ssemos! Ainda há
tentativa e erro.

— Você poderia especi icar apenas combinaçõ es de alto nı́vel —


argumentou Fizzy. — Você nã o tem que fazer o que estou fazendo e
pegar tudo que vier em seu caminho. Inferno, diga a eles que você só
quer matchs de setenta pontos ou mais. O que você tem a perder? —
Ela fez uma pausa e acrescentou mais suavemente: — Se coloca em
primeiro lugar esta noite, Jessie. Só por dez minutos. Considere isso
um presente de aniversá rio para o grande Trinta.

— Nã o me lembre.
Fizzy riu.

— Você nã o tem que responder a nenhuma das combinaçõ es se


mudar de ideia, mas para esta noite, imagine um mundo onde você
encontre algué m que é perfeito para você , e está lá para você , e é o
ombro no qual você pode se apoiar no im do dia.

Quando desligaram, os olhos de Jess pousaram na caixa DNADuo


que Fizzy colocara em suas mã os quando elas saı́ram do GeneticAlly.

Antes que pudesse se convencer do contrá rio, pegou a caixa, abriu,


cuspiu no frasco, fechou tudo no envelope e foi até a caixa de correio.
Capítulo 5

JESS AJUSTOU a tira elá stica sob o queixo. Era assim que parecia
ter trinta anos? Passar seu aniversá rio em um café com uma louca que
faria a sala inteira cantar “Feliz Aniversá rio” se Jess tentasse tirar esse
chapé u brilhante de aniversá rio?

Fizzy ergueu os olhos abruptamente.

— Sua monstra. Deixe o chapé u em paz.

— E coceira! Me conta tudo sobre seu encontro com Aiden B.

Fizzy acenou para fora, já sobre ele.

— Ele mora com a irmã .

— Isso é uma desquali icaçã o automá tica?

— Quero dizer, eles vivem juntos como se compartilhassem um


quarto. — Ela balançou a cabeça, claramente nã o querendo que Jess
perguntasse mais. — E um territó rio desconhecido para mim. Nã o
estou disposta a explorar o que isso signi ica.

Jess riu.

— Justo. Se bem me lembro, ele tinha apenas vinte anos, o quê ?


Treze pontos? E sobre o…? — Ela estava tentando lembrar o nome do
outro cara.

— Antonio? — Fizzy completou. — Ele era gostoso.

— Ele tinha vinte e um?

— Sim. Jantamos, transamos. — Fizzy encolheu os ombros,


resumindo. — Nã o vamos nos ver de novo, no entanto. — Como se ela
se lembrasse de algo, ela pegou seu caderno e anotou algumas
palavras.

— O que você acabou de escrever?

Os lá bios de Fizzy se curvaram.

— Tatuagem no pau.

Jess també m curvou os seus.

— O que? Nã o.

— Alé m disso — Fizzy disse, — ele queria que eu falasse


sacanagem, entã o eu falei, mas aparentemente eu fui muito suja.

Jess começou a rir novamente.

— Você icou suja demais para um cara com uma tatuagem no pau?
Felicity Chen, meu Deus. — Ela levou o café aos lá bios. — Mas para ser
justa, você está se preparando para isso. Por que você está lançando a
rede tã o ampla? Basta iltrar os resultados. Eu nã o entendo.

Fizzy teve aquele olhar que tinha quando estava prestes a icar
realmente intensa.

— Escuta. O Tinder é o maior aplicativo de namoro do mundo por


um motivo. As vezes, as pessoas só querem se divertir. O benefı́cio aqui
é que podemos escolher o nı́vel de investimento que queremos, e
agora, para mim, esse nı́vel está pairando em algum lugar em torno de
sexo com pessoas que não me sinto obrigado a ligar novamente. — Ela
ergueu o queixo. — Estou testando as á guas sem toda a pressã o de
sempre.

Levantando as mã os em defesa, Jess disse:

— Nã o estou julgando. Escreva esta dissertaçã o e envie ao


Americano.
Fizzy deu a ela o dedo do meio.

— De qualquer forma, tenho um encontro com um 23 pontos,


chamado Ted amanhã – ele mesmo tem apenas 21 anos – e no sá bado
vou jantar com um 31 pontos, chamado Ralph.

— Trinta e um? Uau, isso é um Silver. Subindo de nı́vel.

Fizzy abriu a boca para responder quando, na mesa entre elas, um


telefone emitiu um toque revelador.

Jess presumiu que era outra pontuaçã o de compatibilidade


medı́ocre chegando à caixa de entrada de Fizzy, e Fizzy parecia assumir
o mesmo, pegando seu telefone – entã o, as duas demoraram um
segundo para registrar que o som viera do telefone de Jess... e levou
outro para que Jess se lembrasse de que havia enviado sua “amostra”
para aná lise.

A traiçã o ampliou cada uma das caracterı́sticas de Fizzy.

— Jessica Davis. Estou aqui contando sobre tatuagens no pau e


você nem me diz que mandou sua saliva!

Jess soltou uma risada desconfortá vel.

— Eu posso explicar!

— E melhor mesmo!

Ela foi incapaz de controlar sua risada borbulhante. Fizzy parecia


genuinamente furiosa de uma forma levemente engraçada.

— Foi na ú ltima quinta-feira, lembra? Eu te chamei do banheiro.


Por impulso, coloquei no correio depois que desligamos, baixei o
aplicativo e preenchi as informaçõ es bá sicas e, em seguida, perdi tudo.

Fizzy pegou o telefone de Jess, batendo nele para ligar com um


golpe punitivo de seu dedo indicador. Ao digitar a senha, ela olhou
confusa para a tela enquanto Jess a encarava com confusã o
semelhante.

— Nã o me lembro de ter dado a você minha senha.

— O aniversá rio de Juno. Você deveria escolher uma senha mais


segura. Nunca se sabe que tipo de maluco pode entrar no seu telefone.

Jess ergueu uma sobrancelha irô nica.

— Nã o me diga.

Fizzy virou a tela para encará -la.

— E vermelho. O que isso signi ica?

— O que é vermelho? — A diversã o de Jess com a situaçã o estava


desaparecendo, rapidamente substituı́da pela percepçã o de que seu
aplicativo DNADuo acabara de alertar.

Ela excluiu combinaçõ es abaixo de setenta por cento.

Ela tinha uma combinaçã o de Platina ou superior.

De repente, ela entendeu o desejo de Fizzy de mergulhar o dedo do


pé nas á guas da alma gê mea em vez de mergulhar de cabeça. Jess nã o
estava pronta. Ela nem tinha certeza se estava curiosa.

— A coisa — Fizzy disse, apontando agressivamente. — O pequeno


cı́rculo de noti icaçã o sobre o ı́cone do aplicativo que signi ica que
você tem um resultado!

A perspectiva de tomar uma decisã o com base em uma pontuaçã o


numé rica deixou Jess imediatamente cansada. Ela pegou o telefone de
volta, tentada a deletar o aplicativo junto com qualquer impulso que a
tivesse mandado cuspir naquele frasco em primeiro lugar.

— Vermelho é ruim?
— Todos os meus sã o verdes — explicou Fizzy. — Quer seja uma
pontuaçã o de compatibilidade de doze ou trinta e um, as noti icaçõ es
de match foram verdes.

Ok, se as noti icaçõ es de match eram verdes, pelo menos Jess sabia
que uma alma gê mea em potencial nã o estava apenas casualmente
saindo em sua caixa de entrada.

— Posso sugerir que sua intensidade sobre isso está agora à s


onze?

Fizzy respondeu: — Para o meu coraçã o amante do romance, este


aplicativo é o jogo mais fascinante de todos os tempos. Eu sei que você
concorda.

— Provavelmente signi ica que havia algo errado com minha


amostra — disse Jess, o alı́vio se expandindo por dentro. — Eu iz isso
depois de escovar os dentes, e diz para esperar uma hora depois de
comer ou beber qualquer coisa antes de cuspir. — Ela colocou o
telefone de volta na mesa, com a tela voltada para baixo. — Eu vou lidar
com isso mais tarde.

Ela deveria saber que nã o era tã o fá cil.

— Uh. Nã o. — Fizzy imediatamente devolveu o telefone para ela.


— Quero saber o que signi ica vermelho.

— E meu aniversá rio e posso ignorar isso se quiser.

Fizzy balançou a cabeça.

— O que é um presente de aniversá rio melhor do que uma alma


gê mea?

Com um suspiro, Jess clicou no ı́cone DNADuo. Nenhuma


noti icaçã o na guia “Pontuaçã o de compatibilidade”, mas ela tinha uma
pequena bolha vermelha indicando uma nova mensagem. Os olhos de
Jess examinaram rapidamente as palavras, mas seu cé rebro demorou
para processá -las. Recomeçando, Jess leu devagar, palavra por palavra,
embora fossem apenas nove: Ligue para o nosso escritório o mais rápido
possível.

— O que tá escrito?

Jess entregou o telefone.

— E do GeneticAlly. Preciso ligar para eles o mais rá pido possı́vel.


Isso é estranho. Nã o é estranho? Tipo, por que nã o me dizer que outro
kit de amostra é necessá rio?

Fizzy leu, carrancuda.

— Eles enviaram na caixa de entrada do seu aplicativo, entã o você


pode responder, certo? Vamos apenas perguntar do que se trata. — Em
vez de devolver o telefone, ela fez isso sozinha, ditando cada palavra à
medida que digitava.

— Posso perguntar... por que... isso... é ... preocupante? — Fizzy


olhou para a tela e, depois de apenas alguns segundos, suas
sobrancelhas se ergueram animadamente. — Algué m está digitando de
volta!

Enquanto isso, o estô mago de Jess estava subindo pela garganta.


Ela já odiava como tudo parecia intenso; isso era muito investimento e
expectativa para algo que ela fez por impulso e com um humor
pé ssimo.

— Tenho certeza de que é apenas uma amostra, apenas–

— Shh.

— Fizz — Jess disse, — me dê meu telefone. Eu nã o me importo


com nada…

Fizzy ergueu a mã o.


— Eles estã o digit… — Oh. — Suas sobrancelhas franziram. — Ok,
você está certa. Isso é estranho.

Ela devolveu o telefone e o estô mago de Jess se revirou ao ler a


nota.

Você se importa em entrar? disse. Mandamos um carro.

ELES ENVIARIAM UM carro?

Porra.

Jess conseguiu descobrir cerca de mil coisas importantes que ela


precisava fazer imediatamente. Ela precisava marcar uma consulta no
DMV para renovar sua licença, agendar seus exames fı́sicos anuais e
consultas ao dentista com Juno. Ela saiu para correr; ela tomou um
longo banho. Ela até comprou um sué ter novo para comemorar o
aniversá rio. Ela almoçou com Nana e Pop’s, limpou seu apartamento,
dobrou todas as peças de roupa que encontrou, pegou Juno na escola e
leu quase um romance inteiro de Judy Blume com ela antes de Juno
pedir a Jess que saı́sse do apartamento para que Nana e Pop’s
pudessem vir e preparar a festa surpresa.

Surpresa!

Com duas horas para matar e a noti icaçã o como uma farpa em seu
polegar, Jess desistiu e ligou para Lisa Addams.

O pré dio do GeneticAlly estava escuro por fora, mas uma luz no
saguã o se acendeu quando o carro parou no meio- io. Lisa emergiu,
saindo rapidamente e abrindo a porta do carro.

— Jessica — disse ela sem fô lego. — Obrigado por vir em tã o
pouco tempo.

Mesmo ao anoitecer, Jess notou o rubor nas bochechas de Lisa, a


forma como a linha do cabelo parecia um pouco suada. Ela caiu mais
um tique na escala inquieta.

— Sem problemas. Eu só tenho cerca de uma hora, no entanto.

— Claro. Entre.

Lisa se virou, levando-as para o pré dio vazio. Nada disso parecia
um protocolo normal, o que fez Jess se sentir como se tivesse engolido
á cido de bateria.

— Tenho que admitir que estou muito confusa sobre porque isso é
tã o urgente.

— Vou explicar tudo assim que entrarmos.

Jess a seguiu pelas portas duplas e pelo longo corredor que ela
andou da ú ltima vez que esteve aqui. Todo mundo claramente
trabalhava só durante o dia; os escritó rios estavam escuros e vazios de
uma forma que fazia até espaços inó cuos parecerem assustadores.

Na sala de conferê ncias, Lisa gesticulou para seis pessoas sentadas


ao redor de uma grande mesa. River nã o estava entre elas.

— Jessica, gostaria de apresentá -la à nossa equipe executiva.

Nossa o que, porra?

— Este é David Morris, o principal investigador responsá vel pela


pesquisa original e CEO da GeneticAlly.

Um homem à sua direita se levantou, estendendo a mã o, e Jess o


reconheceu como a pessoa que ela conheceu depois de ouvir River
chamá -la de "totalmente normal".

— Jessica. E tã o bom ver você de novo.

— Você també m. — Ela enxugou a palma da mã o na calça antes de


tremer. E entã o ela percebeu: pesquisa original. CEO. — Certo. Acho
que nã o percebi quem estava encontrando no corredor outro dia.
Ele deu uma grande risada de boca aberta.

— Bem, parece um pouco presunçoso dizer: “Sou o CEO David


Morris.”

— Talvez, — disse Jess, — mas você mereceu o direito de ser.

— Sou amigo de Alan Timberland, da Genentech — disse ele, ainda


sorrindo. — E ele mencionou uma ajuda analı́tica que teve. Depois de
olhar suas informaçõ es de entrada no outro dia, juntei dois e dois e
percebi que você é o cé rebro por trá s de seus novos algoritmos de
triagem de alto rendimento.

Jess era uma garrafa de vinho, lentamente aberta. Oh, isso é sobre
dados? GeneticAlly a trouxe aqui para falar sobre algoritmos?

— Alan é ó timo — ela disse cuidadosamente. Com a perspectiva de


que ela estava aqui para se consultar, nã o porque ela tivesse DNA de
lê mure, a ná usea lentamente passou.

Lisa gesticulou para um homem excessivamente bronzeado à


esquerda de David.

— Brandon Butkis é nosso chefe de marketing.

Outra mã o se fechou em torno da de Jess, outro rosto deu-lhe um


sorriso urgente e vibrante. Tudo o que ela podia ver eram dentes
incrivelmente brancos.

Depois que Jess apertou todas as mã os na sala, Lisa fez um gesto
para que ela se sentasse na cadeira central direta à mesa.

— Provavelmente é inesperado entrar em uma sala cheia como


essa — Lisa começou.

— Um pouco, — concordou Jess, — mas sei como é importante


organizar os dados e como é difı́cil fazer isso quando o conjunto de
dados é tã o grande quanto o seu.
David e Brandon trocaram um olhar rá pido. O sorriso de Lisa
sumiu por apenas um segundo, mas Jess percebeu.

— Isso é de initivamente verdade. Tenho certeza de que você sabe


disso melhor do que ningué m.

Um homem – Jess achou que seu nome era Sanjeev – do outro lado
da mesa chamou a atençã o de Lisa.

— Peñ a está vindo para isso?

— Ele estará aqui — Lisa disse, e entã o se virou para Jess. —


Desculpe fazer você esperar, Jessica.

— Jess está ó timo — disse ela, acrescentando


desnecessariamente: — Quer dizer, me chamar de Jess está ó timo. —
Outra pausa estranha. — Eu nã o estava me referindo a mim mesmo na
terceira pessoa.

Depois de algumas risadas de cortesia, a sala caiu em um silê ncio


absoluto. Parecia que todos, exceto Jess, sabiam do que se tratava, mas
ningué m poderia contar a ela até que River chegasse. Infelizmente,
ningué m sabia onde ele estava.

— Ele disse que estava subindo de seu escritó rio há dez minutos
— disse Sanjeev à mesa de limpar a garganta e embaralhar papé is.

Nem ningué m conseguia pensar em algo para dizer. Entã o, é claro,


sua boca se abriu e as palavras saı́ram.

— Todos você s devem estar muito animados com o lançamento.

As cabeças balançaram ao redor da mesa, e Brandon Butkis


proferiu um entusiasmado: — Muito!

— Todos você s deram amostras també m? — ela perguntou.

Houve uma estranha troca de olhares em torno da mesa antes de


David dizer com cuidado:
— Demos, sim.

Jess estava prestes a quebrar e pedir alguma informaçã o sangrenta


quando a porta se abriu e River fez uma entrada grandiosa, muito
parecida com suas chegadas radicais e irritantes em Twiggs.

— Estou aqui. E aı́?

Uma energia tangı́vel encheu a sala. Todos se sentaram mais


eretos. Todos os olhos o seguiram enquanto ele se movia para seu
assento. Sim, era ó timo olhar para ele, mas parecia haver mais no peso
de sua atençã o, como a vibraçã o baixa e sussurrante da adoraçã o ao
heró i.

O olhar de River passou pelo grupo, passando por Jess antes de


parar e voltar para o rosto dela.

— Por que ela está aqui?

— Sente-se, Riv — disse Lisa, depois se virou para uma pequena


mulher asiá tica à sua direita. — Tiff? Você quer distribuir os dados?

Dados. Sim. Excelente. Os ombros de Jess relaxaram e ela pegou


uma pasta quando a pilha apareceu.

O folheto continha muito menos informaçõ es do que Jess


precisaria para dar um feedback ú til sobre um empreendimento
comercial dessa escala. Dois IDs de clientes foram listados no canto
superior esquerdo e um cı́rculo vermelho ao redor de um nú mero no
canto superior direito. Noventa e oito. Abaixo estava uma tabela com
um resumo simples de um conjunto de dados: nomes de variá veis,
mé dias, desvios e valores P com muitos, muitos zeros apó s o decimal.

Houve uma descoberta altamente signi icativa nestes dados; a


urgê ncia dessa reuniã o estava icando clara.

River soltou um suspiro que soou como se tivesse sido arrancado


dele.
— Uau — disse Jess. — Noventa e oito. Isso é uma pontuaçã o de
compatibilidade? Eu sei que sou nova nisso, mas isso é enorme, certo?
— Ela voltou à memó ria da apresentaçã o de Lisa. — Diamante?

A energia nervosa à mesa dobrou; todos, exceto uma cabeça


assentiram. River ainda estava olhando para o pedaço de papel.

— Sim — disse Lisa, e seu sorriso era tã o intenso que a pele icou
apertada ao redor dos olhos. — A pontuaçã o mais alta que vimos no
DNADuo é noventa e trê s.

— Ok, entã o estamos perguntando sobre uma forma de con irmar


essa interaçã o? — Jess se inclinou, olhando para as variá veis. — Sem
os dados brutos, posso apenas supor, mas parece que você
personalizou suas estatı́sticas usando uma aná lise do tipo N – que é
exatamente o que eu teria usado. Mas tenho certeza de que você sabe
que o maior problema com isso é que os limites que normalmente
usarı́amos para um algoritmo tı́pico se tornam menos e icazes.
Embora, — ela riu, — olhando para este valor P, estou supondo que
com este par as interaçõ es estã o em toda parte, mesmo com limites
mais rı́gidos. Eu poderia criar uma mé trica nã o euclidiana, algo como
uma estrutura de dados multidimensional – como uma á rvore kd ou
á rvore de cobertura... — Ela parou, olhando para cima. Ningué m estava
balançando a cabeça animadamente; ningué m estava participando de
um brainstorm. Talvez nã o houvesse outro estatı́stico na sala. — Estou
mais que feliz em mergulhar em suas aná lises post hoc, embora com o
nú mero de genes em sua matriz, eu possa precisar de algumas
semanas.

Constrangida agora, ela colocou a pasta sobre a mesa, alisando


com a mã o esquerda. A sala icou tã o silenciosa que o som da palma da
mã o sobre o papel parecia ecoar ao redor deles. Mas ningué m mais
estava realmente olhando para a apostila, ou mesmo parecia estar
ouvindo. Todos estavam olhando para River.

E quando Jess olhou para ele, com o choque cru em sua expressã o,
uma corrente de eletricidade correu por ela, quase como se ela tivesse
acabado de tocar um io elé trico.

Ele limpou a garganta e se virou para Tiffany.

— Tiff, você olhou os dados brutos?

Ela acenou com a cabeça, mas ela estava olhando para David, que
estava trocando outro olhar pesado com Brandon.

A sala parecia profundamente silenciosa, e Jess percebeu que


estava faltando um contexto importante para a gravidade aqui.

A consciê ncia afundou tã o rapidamente quanto um peso na á gua.


Jess olhou novamente para as informaçõ es do cliente.

Cliente 144326.

Cliente 000001.

Oh Deus.

— Hum... quem é o cliente nú mero um?

River pigarreou; ele icou branco como uma folha e agarrou o papel
com as duas mã os.

— Eu.

Oh. Bem, Jesus Cristo, nã o admira que ele quisesse con irmar a
aná lise. Um Diamond Match para o cientista original do projeto foi uma
grande notı́cia, especialmente tã o perto do lançamento.

— Tudo bem, eu já entendi — Jess respirou fundo, se recostando,


pronta para começar a trabalhar. — Como posso ajudar?

River olhou para Lisa entã o, seus olhos pesados com a pergunta
ó bvia. Literalmente, todos os outros na sala estavam olhando para ele,
esperando que ele dissesse: Con irmamos o ensaio? Nós replicamos a
descoberta com uma amostra de backup?
Mas nã o foi isso que ele perguntou. Em voz baixa e trê mula, River
murmurou:

— Quem é 1-4-4-3-2-6?

Cada cabeça girou na direçã o de Jess e –

Quando ela percebeu o que estava acontecendo, por que todos


estavam lá , por que enviaram um carro, por que nã o a izeram assinar
um NDA para ins de dados, porque River nã o sabia que ela estaria lá e
porque todos os outros estava olhando para Jess com aquela força
vibrante e febril em suas expressõ es, parecia um pouco como cair de
um meio- io, só que ela estava sentada.

Era tã o absurdo que ela começou a rir.

Noventa e oito!

— Oh. — Jess ainda estava rindo com as pernas trê mulas. Seu
batimento cardı́aco era uma cacofonia pulsante em seus ouvidos. —
Nã o estou aqui para aconselhar sobre as estatı́sticas.

Noventa e oito. Valores de P com pelo menos dez zeros após o decimal.
Seu cé rebro vasculhou, procurando uma maneira de sair disso.

— Jess… — Lisa começou.

— Isso nã o está certo — Jess a interrompeu, procurando por sua


bolsa.

— Executamos os dados em todos os nossos programas de aná lise


padrã o — acrescentou Tiffany em voz baixa.

— Nã o, quero dizer, tenho certeza de que suas estatı́sticas sã o... —
Jess começou, mas percebeu que nã o poderia terminar a frase porque
seria mentira. Claramente, suas estatı́sticas eram uma merda e eles
estavam todos delirando. E, infelizmente, Jess nã o havia dirigido até
aqui. — Preciso ligar para algué m para vir me buscar.
Jess olhou para River – que já estava olhando para ela com olhos
selvagens e escuros – e depois para a sur ista chique Lisa, Brandon
“Dentes Brancos” , e Benedict Cumberbatch de Jeff Goldblum, e todas as
outras pessoas na sala que també m nunca haviam lidado com isso em
particular situaçã o.

— Foi tã o bom conhecer todos. Muito obrigado por me receberem.


Desculpe pela divagaçã o sobre as aná lises do tipo N.

Ela se virou, abrindo a porta com uma mã o que ela nã o tinha
certeza de que iria cooperar, e praticamente correu de volta por onde
veio.
Capítulo 6

AS MAOS DE JESS tremiam de forma tã o incontrolá vel que,


enquanto caminhava, ela mal conseguia digitar uma mensagem de
texto implorando para que Pop’s viesse buscá -la com o endereço do
pré dio. De alguma forma, o salã o havia se estendido; levou um sé culo
para chegar ao elevador e, quando apertou o botã o, ouviu seu rangido
lento vindo do andar inferior.

Pé s correram pelo corredor. Eles nã o pareciam os saltos de Lisa, e


sim – quando Jess olhou para cima, ela viu River vindo em sua direçã o.

— Jessica — disse ele, levantando a mã o. — Espere um segundo.

Ele estava falando sé rio? Jess se virou e continuou em direçã o à


porta rotulada SAIDA, empurrando para a escada.

Dez passos apressados para baixo antes que a porta se fechasse


atrá s dela; o som era tã o estridente que a fez se abaixar. Meio vô o
acima, a porta se abriu novamente. Passos tap-tap-tap desceram em
direçã o a ela, e Jess acelerou, correndo até o primeiro nı́vel e
emergindo no saguã o.

River conseguiu retirar apenas um paciente, repetindo "Jessica,


espere" antes que a porta da escada do saguã o se fechasse.

Nã o importava; ele com certeza a pegaria do lado de fora. Porque,


embora Pop’s tivesse respondido que estava pegando o bolo e poderia
chegar lá rapidamente, nã o era como se ele pudesse dirigir até La Jolla
em trê s minutos. Pelo menos lá fora ela podia respirar um punhado de
segundos preciosos de ar fresco, podia pensar sem a pressã o da
atençã o atordoada de todos sobre ela. O que eles estavam pensando,
deixando cair algo tã o pessoal em uma sala cheia de estranhos?

Envolvendo os braços em volta de si, Jess andou pela calçada em


frente ao pré dio, esperando. Quando ela ouviu River emergir, ela
esperou que ele começasse a falar imediatamente, mas ele nã o o fez.
Ele se aproximou dela devagar, com cautela, e parou a cerca de trê s
metros de distâ ncia.

Por talvez trê s segundos, Jess gostou dele por lhe dar espaço. Mas
entã o ela se lembrou de que ele geralmente nã o era tã o atencioso... e
ele supostamente era sua alma gêmea.

O absurdo daquele encontro inalmente a atingiu como um tapa, e


ela tossiu uma risada oprimida.

— Ai meu Deus. O que acabou de acontecer?

Ele falou atravé s do silê ncio frio.

— Foi uma surpresa para mim també m.

Suas palavras soaram como um eco entre eles. Eles o


surpreenderam?

— Como? Você – você conhece todos naquela sala. Por que eles
diriam isso a você ? — ela perguntou. — Por que eles estariam todos lá ,
como uma espé cie de reality show?

— Só posso presumir que eles queriam que todos nó s tivé ssemos
uma conversa sobre como lidar com isso.

— “Lidar com isso”? — ela repetiu. — Você realmente tá morto por
dentro, né ?

— Eu quis dizer a situaçã o para a empresa. Tenho certeza de que já


ocorreu a você que a ó tica de um dos fundadores com a maior
pontuaçã o de compatibilidade, alma gê mea bioló gica, registrada é
fantá stica e preocupante, do ponto de vista do marketing.

— Qualquer mulher teria sorte de ouvir essas palavras: — Jess fez


aspas com os dedos — “Alma gê mea bioló gica”.

Ele exalou lentamente.


— Eu també m suponho que eles estavam preocupados de que se
dissessem a você remotamente, você nã o acreditaria. — River deu de
ombros, deslizando uma das mã os no bolso da calça. — Sanjeev – o
chefe de desenvolvimento de testes – é um amigo pró ximo. Eu
mencionei nosso encontro no centro para ele, e você explodindo sobre
mim...

— Eu “explodindo” sobre você ?

— E provavelmente a notı́cia se espalhou quando o resultado veio


e seu nome foi associado.

— Associado? — Improdutivo, mas a ú nica coisa em que ela


conseguia se concentrar era na maneira como ele falava como se
estivesse lendo um livro em voz alta. Deus, Siri tinha uma voz mais
familiar.

— Lamento que tenhamos que considerar as implicaçõ es de


negó cios de tudo isso — disse River — mas presumo que você entenda
que isso é realmente um grande negó cio, em vá rios nı́veis.

Jess o encarou, dando-lhe o benefı́cio da dú vida de que ele estava


permitindo que pelo menos um desses nı́veis fosse a emoçã o humana.

— Uh, sim, eu entendo isso. Mas nós nã o temos que considerar
qualquer coisa. Quero dizer– nã o tem como, River. Ambos sabemos que
é um erro, certo? Ou se nã o for um erro, que o paradigma de
compatibilidade nã o se aplica a nó s.

— Por que é sua primeira suposiçã o de que a tecnologia está


errada?

— Por que nã o é a sua?

Ele riu secamente, olhando alé m dela.

— O DNADuo foi validado milhares de vezes. Se obtivé ssemos


noventa e oito o tempo todo, icaria mais cé tico.
— Nã o consigo imaginar ser menos cé tico. Cada pensamento aqui
— Jess apontou para a cabeça dela, — é “Porra, nã o” ou “Certamente
você está brincando”. — Ela fez uma pausa, observando-o. — Como
você pode me olhar com uma cara sé ria agora?

Ele levantou a mã o, passando pelo cabelo.

— A compatibilidade bioló gica independe de gostarmos ou nã o


uns dos outros.

Uma risada horrorizada saiu dela.

— Esse é o slogan da empresa ou sua melhor frase de propaganda?

— Escuta, eu nã o… — River parou, exalando um longo e lento


suspiro. — Como procedemos?

— Eu nem tenho certeza do que isso signi ica, “proceder”. — Jess


enganchou o polegar por cima do ombro. — Eu estou indo para casa.

— Signi ica que veremos se a ciê ncia fez uma previsã o correta.

— Você é o cliente nú mero um — ela o lembrou. — Se estamos


tendo essa conversa, suponho que você seja solteiro e nenhuma de
suas outras combinaçõ es funcionou també m. Vamos supor que este
seguirá essa trajetó ria.

— Você é a minha primeira — ele disse com naturalidade,


acrescentando, em resposta à sua expressã o perplexa. — Eu nã o tive
nenhum outro match. Eu de ini crité rios rigorosos.

— Como– o que isso signi ica?

River deu um passo cauteloso para mais perto.

— Selecionei ver apenas os matchs de Diamante.

Jess manteve contato visual com ele por cinco... dez... quinze
segundos. Seu olhar era irme, sem piscar e racional, e um pensamento
abrupto bateu em sua mente: Aposto que ele é bom em tudo que põe em
sua mente. E se, apenas por um minuto, eu me permitir imaginar que isso
é real? O que então?

Seus olhos mergulharam brevemente em sua boca, e Jess teve a


sensaçã o de que ele estava se perguntando a mesma coisa. Seus
pensamentos foram inesperadamente sequestrados por uma imagem
piscante dele olhando para ela, sem camisa, observando sua reaçã o à
pressã o de sua mã o entre suas pernas.

Jess teve que piscar – com força – para limpar a imagem.

— Por que você de iniria seus crité rios tã o rı́gidos?

Ela sabia seus motivos, mas e os dele? Uma alma româ ntica diria
que eles estavam interessados apenas no amor verdadeiro, mas a
hesitaçã o de River disse a ela que sua resposta estava baseada em algo
muito mais ló gico.

— Inicialmente porque o objetivo nã o era encontrar uma parceira


— disse ele. — Foi um estudo longitudinal demorado e todos nó s nos
concentramos em chegar a esse ponto. Parei de pensar sobre minhas
pró prias informaçõ es de cliente há muito tempo.

Nã o foi a pior resposta; Jess podia entender quanto foco era
necessá rio para manter um negó cio à tona, quanto mais um com
funcioná rios. Tudo isso parecia completamente impossı́vel para ela.

Ela ouviu o velho clunker de Pop’s entrando no estacionamento, e o


rosto anguloso de River foi brevemente iluminado pelos faró is. Sua
carranca cautelosa tornava seu per il irritantemente mais bonito.

Algo em sua expressã o deve ter suavizado, porque ele deu alguns
passos mais perto.

— Vamos conversar mais sobre isso — disse ele. — Nã o tem que
ser hoje à noite.
— Vou pensar sobre isso.

— E emocionante — disse ele calmamente. — Nã o é ?

Se ela pudesse se convencer desse resultado, aprender a tolerar o


rosto dele pelo bem da ciê ncia nã o seria a pior coisa do mundo, seria?

— Eu acho que sim.

River deu a ela um sorriso tı́mido que a atingiu como um raio.

— E o momento nã o poderia ser melhor para o lançamento.

NO MEIO DO JANTAR de aniversá rio dela, o telefone de Jess tocou.


Nã o era o aplicativo DNADuo – ela havia excluı́do aquela coisa assim
que eles se afastaram do meio- io do lado de fora do GeneticAlly – era
seu e-mail de trabalho. Normalmente ela nã o iria veri icar até de
manhã , mas ela icou cozinhando o dia todo e a Jennings Grocery nã o
tinha entrado em contato. Entã o, enquanto Juno distraia Nana e Pop’s
com uma encenaçã o dramá tica de Cole Mason prendendo o pau no
zı́per da escola, Jess disfarçadamente pegou o telefone dela.

Sra. Jessica Davis,

Esta é uma noti icação formal de que estamos rescindindo seu


contrato, conforme detalhado no Artigo IV.

O saldo remanescente devido de $725,25 para FÓRMULA


ESTATÍSTICA + MARKETING

ALGORITMO será depositado diretamente conforme acordado na


conta XXXXXXXXX-652. Gostaríamos de lhe agradecer o trabalho que nos
prestou durante os últimos três anos e desejar-lhe apenas o melhor.

Se você tiver alguma dúvida, não hesite em nos contatar.

Cumprimentos,
Todd Jennings

Jennings Grocery

Jess sentiu como se tivesse puxado o pino de uma granada e


engolido. Setecentos dó lares depositados em sua conta, mas os
restantes dezoito mil nã o viriam este ano, ou nunca. Trinta por cento
de sua renda se foi. A ansiedade a invadiu – quente, febril – e ela fechou
os olhos, respirando profundamente dez vezes.

Um, dois…

Ela ainda tinha trê s contratos ativos. Alé m dos impostos, ela ainda
poderia arrecadar trinta mil dó lares este ano. Seria apertado e, a
menos que ela conseguisse alguns novos clientes, nã o sobraria muito
para extras, mas ela seria capaz de cobrir o aluguel e o seguro saú de.

Três... Quatro... Cinco...

Talvez ela pudesse conseguir um plano de pagamento para a aula


de balé de Juno.

Seis, sete…

Elas nã o morreriam de fome.

Oito, nove…

Elas tinham um teto sobre suas cabeças.

Dez...

Lentamente, seu pulso voltou ao normal, mas a noti icaçã o a


deixou exausta e desanimada.

Virando o telefone para baixo sobre a mesa, Jess pegou a garrafa de


vinho e se serviu, parando apenas quando o lı́quido formou um
menisco brilhante na borda do copo.
— Uau. — Pop’s assobiou. — Tá tudo bem aı́?

— Sim. — Jess se abaixou, sugando o primeiro gole para poder


levantar o copo sem derramar. É meu aniversário, ela pensou. Estou
sendo esmagada.

Pop’s trocou um olhar com Nana antes de se virar para Juno.

— Senhorita Joaninha? — ele disse.

Ela sorveu um macarrã o espaguete em sua boca.

— Hmm?

— Acha que poderia voltar para minha casa e encontrar meus


ó culos? Tem algumas pistas de palavras cruzadas nas quais eu preciso
da ajuda de sua mã e.

A cadeira de Juno rangeu longe da mesa, e ela apertou os olhos com


descon iança, apontando um dedo com a ponta cheia de molho para
ele.

— Nã o coma bolo sem mim.

— Nã o ousaria.

Eles observaram enquanto ela corria para fora da porta dos fundos
e atravé s do pá tio para o bangalô , Pombo atrá s dela.

— Bem, isso nos dá cerca de trinta segundos — disse Nana com
uma risada.

— Vou dar a ela sessenta. — Pop’s en iou a mã o no bolso do sué ter
e tirou os ó culos do estojo. Ele deu uma piscadela de provocaçã o para
Jess antes de colocá -los. — Agora, é seu aniversá rio, Jessica. — Ele se
inclinou, ingindo estudá -la. Seus olhos estavam pá lidos, lacrimejantes,
cheios de amor. — Que cara é essa? Tem a ver com o fato de eu ter te
buscado mais cedo? O homem lá fora?
— Nã o.

— Ele com certeza parecia chateado quando partimos.

— Ele é um idiota, mas isso nã o é sobre ele. — Se fosse apenas


sobre River e seu teste idiota, seria fá cil. Jess havia excluı́do o
aplicativo e poderia ignorá -lo em Twiggs. Pronto.

Mas nã o era tã o simples.

— Entã o o que é ? — Nana Jo perguntou.

Jess colocou os cotovelos na mesa e apoiou a cabeça nas mã os. Ela
pesava cerca de quarenta quilos.

— Ai... só a vida. — Ela pegou o celular novamente, ligando antes


de entregar para que eles lessem o e-mail dos Jennings. — Esta era
uma das minhas maiores contas. Discordamos sobre como seguir em
frente e eles estã o me despedindo.

O rosto de Nana caiu e ela colocou a mã o na de Jess.

— Sinto muito, docinho.

— O dinheiro nã o é um problema — disse Pop’s. — Nó s sempre


vamos te ajudar.

Jess apertou a mã o dele em um agradecimento sem palavras. Eles


criaram Jamie e Jess e agora ajudavam com Juno. Ela deveria estar
cuidando deles neste momento de sua vida, nã o o contrá rio.

— Nã o é só o dinheiro. — Jess respirou fundo, tentando organizar


seus pensamentos em algum tipo de ordem. — Eu quero dizer que é,
mas també m sou eu. Eu sinto que estou nesse padrã o de espera,
criando Juno, fazendo face à s despesas, tentando manter as coisas em
movimento até que minha vida realmente comece. Eu estava
começando a pensar como isso é bobo e como preciso sair mais. Mas
agora isso — ela disse, acenando com o telefone para dar ê nfase. — Eu
trabalhei muito por essa conta, e eles vã o me substituir amanhã
porque há uma centena de outras pessoas com moral mais lexı́vel que
podem fazer o que eu faço. — Jess pressionou os dedos nas tê mporas.
— Eu preciso procurar um segundo emprego. Eu nã o quero que você s
cuidem de mim.

— Você tá brincando? — Pop’s argumentou. — Quem nos leva aos


nossos compromissos? Quem nos ajuda quando nã o sabemos usar um
maldito iPhone? Quem encontrou nosso treinador e ajuda a Nana Jo
com o jardim? Você trabalha duro, Jessica, e está criando aquela
garotinha incrı́vel.

A pró pria menina incrı́vel saltou de volta e apontou


acusadoramente para seu bisavô .

— Pop’s! Seus ó culos estã o no seu rosto!

— Você pode acreditar nisso! — Ele os ajustou sobre o nariz,


puxando suas palavras cruzadas para mais perto para examiná -las. —
Aposto que você conhece uma palavra de dez letras para
“arrependimento”, nã o é , Jess?

Jess sorriu.

— Lamentaçã o.

— Viu? O que farı́amos sem você ? — Ele sorriu para ela por cima
dos ó culos antes de escrever a palavra.

Depois que seus avó s foram embora, Jess se encostou na porta


fechada. O cansaço se instalou fracamente em seus mú sculos, doendo
profundamente em seus ossos. Ela se sentia muito mais velha do que
trinta anos. Caminhando pelo apartamento silencioso, ela pegou os
sapatos de Juno, as meias perdidas, os brinquedos do gato, mais de um
copo meio cheio de leite, lá pis, pedidos de comida em post-its de Juno
e Pop’s brincando de restaurante. Ela ajustou a má quina de café ,
embalou a mochila de Juno, carregou a má quina de lavar louça e olhou
ao redor do espaço em busca de qualquer outra bagunça antes de
apagar a luz e caminhar pelo corredor até o quarto da ilha.

Juno tinha adormecido com o livro Frog and Toad Are Friends
aberto em seu peito novamente, sua luz de sereia ainda acesa. Jess
depositou Pombo em seu chique poste de gato de trê s camadas perto
da janela, mas ela imediatamente saltou para a cama, se enrolando
felizmente aos pé s de Juno.

Jess fechou o livro de Juno e o colocou na mesinha de cabeceira,


ajeitou os cobertores até o queixo e se sentou com cuidado na beira do
colchã o ao lado dela. Em seu sono, Juno franziu a testa. Seu cabelo
espalhou acobreado pela fronha rosa claro. Jess nã o via Alec há quase
dois anos, mas olhar para a ilha era como ver ele todos os dias de
qualquer maneira. Ela tinha os olhos de Jess, mas tinha seu cabelo
castanho impressionantemente metá lico, um sorriso com covinhas e
uma ruga mal-humorada no meio da testa. Jess alisou o polegar na
testa quente e suada de criança de Juno e respirou fundo duas vezes
para desejar que ele estivesse aqui, antes de lembrar que ela nã o o
amava há muito tempo e nã o precisava de sua ajuda. A companhia
vazia era mais solitá ria do que estar sozinha.

Alec nã o era um cara ruim, ele só nã o queria ser pai. Ele nunca
pressionou Jess para interromper a gravidez, mas ele deixou claro
onde ele estava. No inal, Jess escolheu Juno em vez dele, e os dois
tiveram que conviver com isso. Ele começou a aproveitar seus vinte
anos, mas cada um de seus amigos pensava que ele era um idiota; Jess
teve uma ilha adorá vel, mas teve que aprender a se esforçar para
sobreviver. Ela nunca se arrependeu de sua escolha por um ú nico
suspiro, poré m, e tinha certeza de que ele també m nã o.

Pesada de exaustã o, Jess apagou a lâ mpada e saiu silenciosamente


do quarto, se assustando no corredor quando a campainha rompeu o
silê ncio. Pop’s deixou os ó culos na casa de Jess mais noites do que
levou embora e, puxando o sué ter com mais força em volta do peito,
Jess caminhou em silê ncio até a sala de estar para espiar pela janela.
Mas nã o era Pop’s.
Era Jamie.

Jess costumava sentir uma potente mistura de reaçõ es quando via


a mã e – alı́vio, ansiedade, excitaçã o – mas a essa altura era
principalmente pavor, e como mã e agora, ela achou essa compreensã o
profundamente dolorosa.

Respirando fundo, Jess hesitou com a mã o na maçaneta antes de


abrir a porta.

Jamie Davis tinha muitos ró tulos – garçonete de coqueté is, viciada,
porteiro de está dio, namorada, viciada em recuperaçã o, sem-teto –
mas nenhum deles jamais foi "mã e presente". Nas raras ocasiõ es em
que ela compareceu a um dos eventos da escola de Jess ou a um jogo de
softball, ela geralmente estava de ressaca – à s vezes ainda bê bada – e
cheirando a cigarro ou maconha. Ela daria um show, torcendo por Jess,
se orgulhando dela. As vezes, ela trazia um grupo de seus amigos
turbulentos que se autodenominavam "Esquadrã o de Torcida de
Jessie". Por dentro, Jess morreria de vergonha e depois entraria em
pâ nico porque Jamie veria em seu rosto, que ela iria embora em um
acesso de raiva e nã o voltaria por semanas.

E lá estava ela, ainda bonita – ela sempre foi bonita – mas com um
acabamento em pó em sua beleza agora, algo tanto arti icial quanto
monó tono. Uma vida inteira de maus há bitos inalmente apareceu.

— Minha garota! — Jamie avançou, envolvendo a ilha em um


rá pido abraço de um braço só antes de recuar e empurrar um conjunto
de espumas de banho nas mã os de Jess. Elas começaram a se
desintegrar dentro do celofane, e a poeira colorida vazou para os dedos
de Jess. Ela conhecia a mã e bem o su iciente para adivinhar que Jamie
as comprou pensando bem, enquanto pegava um pacote de lâ mpadas
mentoladas na loja de conveniê ncia da rua.

Jamie a contornou e entrou na sala escura.

— Ei — disse Jess, fechando a porta. — Qual é a ocasiã o?


Sua mã e colocou sua bolsa gigante na mesa de centro e olhou para
ela, magoada. Seu batom lentamente sangrou nas pequenas linhas ao
redor de sua boca.

— Nã o posso ver meu bebê no vigé simo oitavo aniversá rio?

Jess nã o disse que Jamie estava fora por dois anos, ou os muitos
outros aniversá rios que ela perdeu.

Francamente, Jess icou surpresa por sua mã e se lembrar de sua


data de nascimento; suas visitas esporá dicas geralmente nã o eram
cronometradas para eventos de vida.

— Claro que você pode — disse Jess. — Você quer se sentar? Posso
pegar algo para você ?

— Nã o, nã o. Estou bem. — Jamie entrou na cozinha, batendo as


unhas de acrı́lico ao longo do balcã o, e entã o olhou para o corredor. —
Juno, querida? Onde está minha linda neta?

— Ela está na cama, mã e. — Jess a silenciou. — Está tarde e ela


tem aula amanhã .

Jamie lançou um olhar irritado para ela.

— As crianças deveriam dormir quando estã o cansadas. Todas


essas regras apenas os deixam ansiosos e deprimidos. E por isso que
temos tantos deles sob medicaçã o atualmente.

Ela examinou o teste de ortogra ia de Juno na geladeira, o cartã o


de aniversá rio que izera para Jess, uma lista de compras.

— As pessoas precisam ouvir seus corpos. Se você está cansado,


durma. Se você está com fome, coma alguma coisa. Os pais precisam
parar de programar a morte dessas crianças.

Cuidadosamente, Jess colocou as espumas de banho no balcã o.


— Eu tomo um antidepressivo todos os dias — ela disse com
calma cuidadosa. — Acho que a teoria do nã o cronograma nã o é uma
coisa certa.

Jamie ignorou isso para continuar sua leitura do apartamento,


casualmente olhando para as lombadas dos livros da biblioteca sobre a
mesa, folheando algumas pá ginas de Juno sobre cavalos. O Dia de Açã o
de Graças foi a ú ltima vez que Jess viu sua mã e. Jess havia transferido
quinhentos dó lares para o cheque de Jamie e nã o tinha ouvido uma
palavra desde entã o. Na é poca, Jamie morava em Santa Ana. Elas se
encontraram em um Denny's – Jess pagou – e Jamie lamentou como
seus serviços pú blicos foram fechados porque o banco cometeu um
erro. Eles haviam feito a retirada automá tica mais cedo, ela insistiu.
Essas taxas izeram com que outros pagamentos saltassem, e a partir
daı́ começou a crescer. Mas nã o foi culpa dela. Nunca foi culpa dela.

— Entã o, como você está ? — Jess perguntou agora, abafando um


bocejo enquanto se sentava no sofá . — Como está ... John?

Assim que o nome saiu, Jess estremeceu. Ela pensou que o nome
dele era John. Talvez Jim.

— Oh — Jamie disse com um você não vai acreditar nisso se inclinar


para uma ú nica palavra. — Sim, ele era casado.

A surpresa de Jess foi genuı́na.

— Espere, sé rio? Como você descobriu?

— A esposa dele me ligou. — Jamie apagou um cigarro antes de se


lembrar que nã o podia fumar no apartamento e meio que brincou com
isso como se fosse sua intençã o o tempo todo. — Honestamente, eu
deveria saber. Ele tinha um emprego, bom cré dito e uma receita de
Viagra. Claro que ele era casado.

Jess soltou uma risada.

— Esses sã o os crité rios hoje em dia?


— Ai, querida. Nã o deixe a idade dos homens com boa circulaçã o
passar por você . Con ie em mim. — Ela se sentou na beirada da mesa
de centro em frente à ilha, apoiando a mã o na perna de Jess, e o sopro
de camaradagem genuı́na fez o coraçã o de Jess se inclinar para frente.
— Como você está ? — Jamie perguntou. — Como está sua amiga
escritora? Ela é tã o engraçada.

— Estou bem. Você sabe, trabalhando. E Fizzy — Jess disse com


uma pequena risada. — Fizz está sempre bem.

— Você está namorando algué m?

Sem ser convidada, a voz de River invadiu a mente de Jess.

E o momento não poderia ser melhor para o lançamento.

— De initivamente nã o estou namorando.

A decepçã o de Jamie era palpá vel.

— Você vai icar solteira para sempre? Nã o conheço um namorado


seu desde o pai de Juno. E seu aniversá rio. Você deveria estar fora!

— E noite de escola e Juno está dormindo no inal do corredor.

Jamie apontou como se Jess pudesse estar entendendo.

— E entã o ela nem saberia caso você saı́sse.

O coraçã o de Jess voltou à sua cã ibra familiar, e ela disse com uma
inalidade paciente: — Nã o quero sair, mã e.

Segurando as mã os para cima em rendiçã o defensiva, Jamie


gemeu: — Tudo bem, tudo bem.

Jess bocejou novamente.

— Escute, e eu–
— Eu te contei sobre meu novo show?

Seu tom abruptamente brilhante disparou sinos de alerta.

— Seu novo o quê ?

— Meu novo trabalho. — Jamie se sentou. — Ok... nã o diga nada


aos seus avó s, porque você sabe que eles sã o antiquados e nunca
entende como essas oportunidades sã o empolgantes, mas você está
olhando para o mais novo membro da equipe da Skin Glow
Incorporated.

Jess procurou em seu cé rebro, mas nenhum reconhecimento


acendeu.

— Quem sã o eles?

— Você está brincando. — Jamie balançou a cabeça em descrença.


— Os comerciais deles estã o por toda parte, Jess. Eles fazem
tratamentos faciais em casa. Deus, quero dizer que é uma boa empresa,
mas é mais do que isso, é todo um estilo de vida. Uma forma de
empoderar as mulheres. Eu recebo uma parte de cada tratamento
facial que faço e–

Jess nã o conseguiu evitar a irritaçã o da voz.

— Uma parte?

— Bem, sim– quero dizer, para começar. No inal, terei meninas


trabalhando para mim e farei com que um pouco de tudo o que elas
façam e as pessoas que trazem a bordo.

— Entã o, como um esquema de pirâ mide.

— Como uma empresá ria. — As palavras de Jamie foram cortantes


de ofensa. — Eu sou capaz de mais do que servir mesas, você sabe.

— Me desculpe mamã e. Eu nã o quis dizer isso.


— Bem, essa é uma oportunidade realmente rara. Maureen disse
que a senhora que a apresentou já está fazendo seis dı́gitos! E custa
apenas trezentos dó lares para começar.

Claro.

— Você precisa de dinheiro.

— Apenas um empré stimo. — Jamie acenou com a mã o


casualmente. — Eu vou te pagar de volta com meu primeiro
pagamento.

— Mã e, nenhum bom trabalho exige que você pague para começar.

A expressã o de Jamie escureceu.

— Por que você sempre me faz sentir assim? Nã o posso cavar para
fora do buraco com você ? — Ela se levantou e se abaixou para pegar
sua bolsa. — Estou limpa há dezoito meses!

— Nã o é sobre você – espera. — Jess estava prestes a contar a


Jamie que ela tinha seus pró prios problemas de dinheiro com que se
preocupar. Jamie se sentou no sofá e o silê ncio se estendeu entre elas.

— Você parou na casa da Nana e do Pop’s? — ela perguntou ao


invé s. — Eles provavelmente ainda estã o acordados.

Jamie meio que revirou os olhos, e Jess se surpreendeu se


perguntando, novamente, quando ela se tornara a mã e e Jamie se
tornou a criança.

— Eles nã o querem me ver.

— Você sabe que isso nã o é verdade. Se você conseguiu um novo


emprego e está limpa, eles adorariam ver você . Eles amam você , mã e.

Jamie manteve os olhos ixos na parede.

— Bom. Eles sabem onde me encontrar.


Era surpreendente que algué m como Jamie viesse de Joanne e
Ronald Davis. Com apenas trê s anos, Jess passava a maior parte das
noites na casa de Nana e Pop’s. Quando ela tinha seis anos, Jamie
desistiu de ingir que estava tentando, e Jess estava morando
permanentemente com os avó s. Jamie estava por perto, de modo geral,
mas nunca era está vel. Considerando que Nana e Pop’s estavam
envolvidos em todos os aspectos da vida de Jess, desde o nascimento
até este momento, ela aprendeu desde cedo que Jamie escolheria
drogas e homens em vez da famı́lia, todas as vezes.

Por mais que ela tentasse nã o repetir nenhum dos padrõ es de sua
mã e, Jess a seguiu de uma maneira: ela engravidou jovem. Mas, com
sorte, foi aı́ que as semelhanças terminaram. Jess se formou na
faculdade, conseguiu um emprego e tentava economizar um pouco
cada vez que chegava um cheque. Ela levou a ilha ao dentista. Ela
tentava colocar Juno em primeiro lugar todos os dias.

Jess tentou pensar no que Jamie faria agora se suas posiçõ es


fossem invertidas. Jamie me daria o dinheiro?

Nã o. Jamie diria que ela precisava crescer, parar de esperar


esmolas e assumir a responsabilidade por si mesma.

De pé , Jess foi até o balcã o. Ela abriu o aplicativo do banco do


telefone, estremecendo ao digitar $300 para transferir o dinheiro para
a conta de Jamie.

Eu não sou minha mãe, ela se lembrou. Eu não sou minha mãe


Capítulo 7

MUITO CEDO na manhã de segunda-feira, Fizzy brilhantemente


entrou em Twiggs. Ela marchou para a mesa de costume, largou o
laptop e, mesmo sabendo o que veria, ainda olhou duas vezes para Jess
que estava atrá s do balcã o.

— Essa nova situaçã o, — disse Fizzy, deixando cair a bolsa na


cadeira, — vai demorar um pouco para se acostumar.

Jess sorriu, passando um pano no balcã o antes de apontar para um


café com leite fumegante de baunilha no inal do balcã o.

— Se estiver uma merda, minta para mim.

Fizzy apoiou o cotovelo no balcã o e pegou a xı́cara.

— Eu sinto que deveria ter feito para você um pequeno lanche ou


algo assim. Como está o seu primeiro dia?

— O vaporizador é assustador, e eu nã o coloquei a tampa do


liquidi icador durante todo o rush da manhã , mas nã o muito ruim.

Fizzy soprou a tampa de sua bebida e provou. Suas sobrancelhas se


ergueram em uma aprovaçã o surpresa.

— Acho que a terceira vez é realmente um encanto — disse Jess.

Fizzy olhou ao redor da cafeteria silenciosa.

— E aqui que estamos e fofocamos de agora em diante?

De onde ele estava limpando as mesas, Daniel proferiu um simples


“Nã o”, mas Fizzy o ignorou, se inclinando para mais perto.

— Escute, Jess, sei que você quer pensar que essa coisa de
pontuaçã o de compatibilidade é besteira, mas Ralph era bom. O que
estou dizendo é que se eu representasse gra icamente essas
pontuaçõ es de compatibilidade em relaçã o à minha satisfaçã o sexual,
como você s nerds fariam, haveria um declive de initivo para a linha.

Demorou um pouco para Jess conectar os pontos antes de se


lembrar de Ralph, o Silver Match. A inquietaçã o era um dedo indicador
cutucando seu ombro, sussurrando: Não pergunte. Mas a curiosidade
venceu o desconforto.

Com um olhar culpado para Daniel por cima do ombro de Fizzy, ela
deu um passo mais longe no bar para obter um pouco de privacidade.

— Oh, sim?

Fizzy a seguiu do outro lado do balcã o.

— Jantamos no Bali Hai.

Jess concordou com inveja.

— Era muito fá cil conversar com ele. Cada um de nó s


provavelmente tomou mai tais demais, mas nã o foi um problema
porque nó s dois levamos Lyfts lá e dividimos uma casa Lyft... — Fizzy
sorriu. — Aliá s, ele tem um apartamento fofo.

Um nú cleo inesperado de angú stia atingiu os pulmõ es de Jess, e ela


o limpou com uma tosse e começou a limpar a barra à sua frente.

— Entã o, mais compatı́vel do que com Aiden ou Antonio?

— Sem dú vida.

— Você acha que vai ver ele de novo?

— Infelizmente, tenho a sensaçã o de que ele está muito ocupado


para realmente levar algué m a sé rio. — Fizzy franziu a testa. — Por que
ele se inscreveria no DNADuo durante o lançamento se ele apenas
quisesse brincar?
Rindo, Jess disse:

— Acho que me lembro de fazer exatamente essa pergunta a você


alguns dias atrá s. Olhe para você , pronta para se comprometer depois
de uma ú nica noite de mai tais e bom sexo.

Do nada, Daniel se materializou, batendo no ombro de Jess e


apontando para a caixa registradora.

— Você tem um cliente.

— Opa, desculpa. — Ela o golpeou com o pano de limpeza. Jess


correu alguns metros até o caixa antes de olhar para o rosto lindo, mas
desprezı́vel, de ningué m menos que o Dr. River Peñ a.

Para ser justa, Jess nã o deveria ter icado surpresa; se ela olhasse
para o reló gio, ela saberia que eram 8h24 e River estava na hora certa.
Mas de alguma forma seu cé rebro falhou ao lembrar de que ela poderia
realmente ter que esperar por ele durante seu primeiro turno como
uma barista Twiggs. E esta foi a primeira vez que ela o viu depois de
sua nã o despedida no meio- io, quatro dias atrá s. Embora Jess nã o
esperasse exalar fogo de verdade na pró xima vez que icassem cara a
cara, ela també m nã o conseguia explicar a transfusã o de calor que
atingiu sua corrente sanguı́nea. Por alguns segundos, ela o olhou
estupidamente, percebendo o mesmo choque em sua expressã o.

Ele desviou o olhar atordoado dela para olhar para Daniel, no


balcã o, atrá s do La Marzocco. Entã o, com aquele seu jeito sem pressa
de marca registrada, River olhou para Jess novamente.

— O que você está fazendo aı́? — Seus olhos percorreram


vagarosamente todo o corpo dela. — De avental?

— Oh, certo. — Ela fez uma reverê ncia estranha. — Eu trabalho


aqui agora. — Quando ele nã o disse mais nada, ela ofereceu um
arti icialmente alegre: — O que posso fazer por você , senhor?
Ele franziu a testa e suas sobrancelhas escuras se uniram; olhos
brilhantes e cintilantes a olharam com ceticismo.

— Você trabalha aqui? Desde quando? Pensei que você trabalhasse


para... — Ele olhou para a mesa onde Fizzy agora estava sentado
sozinha, observando com ar furioso. Jess ergueu uma sobrancelha em
diversã o quando ele se virou para ela e parecia estar montando o
quebra-cabeça em sua cabeça. Finalmente, ele conseguiu apenas: —
Pensei que você trabalhasse... em outro lugar.

Interiormente, ela gemeu. Por que ele nã o estava apenas pedindo,
pagando e dando um passo para o lado para olhar para o telefone? Ele
havia esquecido que estava muito ocupado para conversar com os
plebeus?

— Sou uma freelancer estatı́stica — disse ela, mantendo o sorriso


educado. — Mas eu perdi uma grande conta outro dia. Visto que tenho
uma ilha e muitas contas... — Ela estendeu os braços para dizer Voilà.

Jess icaria feliz em tirar dezesseis horas por semana com um


salá rio-mı́nimo e o golpe para o clã por servir River Peñ a se isso
signi icasse que Juno poderia continuar fazendo balé com a Sra. Mia.

Sem sutileza, os olhos de River dispararam para sua mã o esquerda.


Ela estava imaginando a maneira como sua testa relaxou? Ele estava
procurando por uma aliança de casamento?

— Uma criança — ela con irmou baixinho, — sem marido. — Por


um breve segundo ela se permitiu se divertir com este cená rio
potencial. — Uau, isso teria sido um comunicado de imprensa estranho
para o GeneticAlly: “A alma gê mea do fundador já é casada”.

— Pessoas casadas tendem a nã o enviar amostras de DNA. —


River respondeu com um brilho divertido nos olhos. — E ouvi dizer
que elas preferem trair usando aplicativos com menos formulá rios de
admissã o.
A autopreservaçã o brotou quente em sua garganta, e ela podia ver
a mesma compreensã o passar por ele: essa troca parecia
suspeitosamente como um lerte nerd.

— O que eu posso fazer por você ? — Jess perguntou novamente.

Sua expressã o se fechou.

— Desculpe, eu quero… — Ele segurou seu olhar e o contato


pareceu um enxame em seu peito. — Pensei que você tivesse me
chamado de “Americano” outro dia — disse ele.

Puta que pariu, Jessica.

Rabiscando o pedido da bebida em um copo, ela se moveu para


entregá -lo a Daniel, que lhe deu um olhar vazio.

— Eu já iz, Jess.

Claro que sim. Daniel sorriu desculpando-se em nome de sua nova


funcioná ria, entregando a bebida a River. O silê ncio caiu enquanto
observavam sua luta para encontrar a entrada correta para o
Americano na tela.

— Está embaixo de bebidas com café expresso — disse Daniel


calmamente.

River, corpulento, inclinou-se para olhar a tela de cabeça para


baixo.

— Tá embaixo do–

Seu dedo pousou na tela assim como o de Jess, suas mã os


brevemente se juntando.

— Entendi — disse ela, humilhada. Ele se afastou e ela apertou o


botã o, perturbada pelo contato que, de alguma forma, podia sentir todo
o braço. Sem dú vida, suas bochechas pareciam ter levado um tapa. —
Isso vai dar trê s e oitenta e cinco.
Ele hesitou, e Jess percebeu seu erro. Ela aumentou para a bebida
grande.

— Desculpa. Quatro e setenta e quatro.

Seu desconforto compartilhado os empurrou, um convidado


barulhento e indesejado na estranha festa para dois. Jess pegou o
dinheiro dele e contou o troco. Mas o que realmente a abalou foi que,
apó s a menor hesitaçã o, ele jogou tudo – incluindo a nota de cinco
dó lares – no frasco de gorjetas.

Fizzy se aproximou do balcã o quinze minutos depois, quando


pareceu avaliar que Jess nã o estava mais morti icada.

— Ei. — Ela ofereceu um pequeno sorriso simpá tico de melhor


amiga e estendeu o braço por cima do balcã o para dar um tapinha no
rosto.

— Ei. — Jess pigarreou, encontrando os nó s dos dedos de Fizzy. —


Aposto que um inal como esse nunca virou um romance.

Fizzy riu.

— Você está brincando? Isso seria o início de uma incrı́vel histó ria
de amor.

— Nã o a minha histó ria.

Jess sentiu sua melhor amiga estudando-a enquanto ela ingia


estar muito absorta em reorganizar a caixa de doces. Fizzy icou
estranhamente calada sobre o assunto River. Depois de ouvir sobre o
resultado do DNADuo, o resumo da desastrosa reuniã o do GeneticAlly e
a teoria de Jess de que as estatı́sticas eram completamente falsas e
provavelmente invalidavam todo o plano de negó cios, Fizzy olhou para
ela em silê ncio por alguns instantes antes de dizer apenas: — Entendi.

— Você está bem? — ela perguntou agora.


Daniel decidiu que aquele era um bom momento para se juntar à
conversa, colocando dois sacos lacrados de feijã o na mesa de café
expresso. Ele franziu a testa.

— O que há de errado?

— Nada — Jess murmurou no momento em que Fizzy


praticamente gritou:

— Você nã o viu aquele encontro estranho com o Americano?

— Por que foi estranho? — Daniel parou para se lembrar e disse:


— Ah, sobre a bebida? Eh, nã o se preocupe com isso. E o seu primeiro
dia.

— Nã o, Dan — disse Fizzy, irritada com ele sem um bom motivo. —
Porque eles combinam.

Parecia que toda a cafeteria icou em silê ncio em resposta.

Jess gemeu.

— Fizzy, juro por Deus, vou socar sua cara…

— Quantos pontos? — Daniel perguntou.

— O que você quer dizer com “quantos pontos”? — Jess icou


boquiaberta com ele.

Ele rasgou um saco de grã os de café expresso e despejou na


má quina.

— Se estamos falando sobre DNADuo, eu fui uma das amostras


originais — disse ele com orgulho. — De volta aos meus dias na
faculdade. Quando eles ainda estavam colhendo... amostras.

Demorou um segundo para entender, e quando isso aconteceu,


tudo o que uma Jess corada conseguiu foi silê ncio.
— Que nojo, Dan.

— Eu quis dizer amostras de sangue.

— Nã o soou como se você quisesse dizer sangue.

— De qualquer forma, iz isso de novo há cerca de um ano e meio,


quando eles pediram que as pessoas ajudassem a validar seu kit de
saliva. — Ele puxou o telefone do bolso de trá s e mostrou a tela como
se eles pudessem ver um io de matchs alinhado ali. — Mas eu nunca
consegui nada acima de trinta e sete.

O interesse de Fizzy foi despertado.

— Você saiu com ela?

— Eu saı́ — disse ele. — Foi bom, mas acho que nó s dois tı́nhamos
essa expectativa estranha de que era bom, mas estatisticamente
imprová vel de ir a algum lugar?

— Eu pensei sobre esse aspecto — disse Fizzy. — Eu saı́ com um


Silver outro dia, mas, tipo, se você conseguir algo abaixo de um Gold,
você simplesmente presume que provavelmente nã o vai funcionar?

— Mesmo assim — Jess cortou calmamente, — se você acreditar


nos dados deles, as chances sã o signi icativamente melhores de
encontrar um relacionamento duradouro com um Silver do que com
um namoro normal...

Fizzy icou boquiaberta.

— Diz a mulher que nã o acredita em sua pró pria pontuaçã o.

— Quanto deu? — Daniel perguntou novamente.

Jess riu.

— Nã o importa. Fizzy está certa. Eu nã o acredito nisso. — Ela


enxugou as mã os no avental e olhou para Daniel. — Qual é a pró xima,
chefe? Pratos? Reabastecer?

Ele ergueu o queixo, implacá vel.

— Era uma combinaçã o de base?

Fizzy olhou para ela, uma sobrancelha apontada nitidamente para


o cé u.

— Sim, Jess. Foi uma combinaçã o de base?

Jess lançou um olhar paciente para a amiga.

— Você está colocando fogo?

— Culpada.

Daniel se virou para Fizzy, que por sua vez deu a Jess um olhar que
buscava permissã o ou emitia um aviso.

Aviso, aparentemente, porque alguns segundos depois, Fizzy disse:


— Era um Diamond.

Jess esperava que ele explodisse: Como você pode ignorar isso? e Se
eu tivesse um Diamond Match, largaria meu emprego e transaria o dia
todo! Mas, assim como Fizzy fez quando Jess contou a ela, Daniel
estudou Jess muito silenciosamente e com muita atençã o.

— Você nã o está curiosa? — ele perguntou, por im.

— Nã o.

Daniel parecia estar tentando entender isso.

— E o River?

Jess encolheu os ombros.

— Quem sabe? Nó s realmente nã o conversamos desde que


descobrimos alguns dias atrá s.
— Entã o, você vai, o quê ? Fazer nada?

Ela acenou com a cabeça para Daniel.

— Esse é o plano.

Fizzy revirou os olhos e repetiu com um tom exasperado: — Esse é


o plano. O plano chato e seguro.

Jess deu a sua amiga um olhar de advertê ncia. Nã o que Fizzy
estivesse errada por si só , mas Jess tinha mais em que pensar do que
apenas ela mesma. Ela nã o podia jogar a cautela ao vento. Esse era um
luxo que as pessoas sem ilhos tinham, pessoas com tempo livre e
menos responsabilidades. Planos chatos e seguros ainda nã o a tinham
feito errar.
Capítulo 8

MAS O PLANO, por assim dizer, virou fumaça trê s dias depois por
volta das 5h17 da noite, quando um Tesla prateado parou ao lado de
Jess em sua caminhada para casa e abriu uma janela do lado do
passageiro fortemente escurecida. Era de sua natureza ignorar todos
os carros que pararam em um meio- io, mas este nã o estava gritando.

Este motorista sabia o nome dela.

— Jessica.

Ela se virou para encontrar Brandon “Dentes Brancos” Butkis no


banco do motorista. Seu braço esquerdo estava enrolado no volante
enquanto ele se inclinava em direçã o a ela, sorrindo como se tivesse
um pacote inteiro de chicletes que queria mostrar. Ele estava vestido
casualmente com uma camisa de botã o azul aberta no colarinho.

— Você tem um segundo?

— Na verdade… — Ela apontou dois quarteirõ es, na direçã o de seu


pré dio. — Eu preciso começar o jantar.

— Eu estava me perguntando se havia algué m que pudesse cuidar


da sua ilha esta noite — disse ele, e seu sorriso se tornou hesitante.
Apesar do tamanho intimidante de seus dentes, seus olhos eram
quentes e castanhos, com rugas nas bordas. Ele nã o parecia um homem
que queria tirar Jess da rua, plugar ios em sua pele e transformá -la em
uma bateria humana. Jess registrou vagamente que ela precisava
desacelerar, no que diz respeito à imaginaçã o.

Aproximando-se do carro, ela se abaixou, apoiando os antebraços


no parapeito da janela.

— Tenho certeza de que é frustrante para você , mas realmente nã o


estou interessada em prosseguir com isso.
— E nã o vamos te forçar — disse ele rapidamente. — Nossa
intençã o nã o é ser intrusivo. Eu sei que essa tem sido uma... situaçã o
estranha. David e eu só querı́amos ter certeza de fazer o
acompanhamento.

Jess teve que admitir que eles icaram surpreendentemente


silenciosos, dada a urgê ncia do primeiro encontro, a enormidade da
descoberta e a maneira apressada com que ela fugiu de seu quartel-
general. Até agora foram silê ncio e alguns grilos no fundo.

— Você nã o está sugerindo outra reuniã o, está ?

Ela deve ter parecido que gostaria de outra reuniã o tanto quanto
ela gostaria de um tratamento de canal porque Brandon riu.

— Nã o. Essa reuniã o foi um erro. Erro nosso. E provavelmente a


pior maneira de dizer a você s dois. Ficamos muito entusiasmados,
como cientistas, querı́amos que você experimentasse aquele momento
de descoberta conosco, mas deverı́amos ter exibido mais é tica. — Ele
se mexeu no banco. — Quero levar você para jantar.

— Essa noite?

Ele assentiu.

— Você está livre?

Ela se virou e olhou para a rua novamente, considerando isso. Jess


nã o era cega – River era objetivamente lindo –, mas ela nã o conseguia
nem dizer que gostava dele como pessoa. Alé m disso, ela ainda nã o
conseguia entender o nú mero em sua mente ló gica. Suas prioridades,
em ordem, eram sua ilha, seus avó s e suas contas. Ela nã o iria
prosseguir com isso, nã o importa o que eles dissessem esta noite.

— Eu tenho muito para fazer — Jess disse a ele. — Eu aceitei outro


trabalho; tenho uma ilha pequena em casa, como você sabe. Eu
realmente nã o acho que tenho–
— Eu prometo, Jessica — Brandon interrompeu gentilmente, e
quando a atençã o dela voltou para o rosto dele, ele deu outro sorriso
hesitante. — Nã o vamos fazer você perder seu tempo.

JESS SOUBE assim que Brandon parou o manobrista em frente a


Addison no Grand Del Mar que aquele nã o seria um tipo de jantar
descontraı́do. Eles nã o estariam comendo tacos com as mã os ou
dividindo jarras de cerveja. Uma refeiçã o no Addison custava mais do
que seu aluguel.

Ela olhou para seu colo, limpando iapos inexistentes da saia de


seu vestido. Brandon estaria para sempre na coluna Gosto por dar a ela
quinze minutos para trocar as calças de ioga e o top que você -mal-
consegue-ver-a-mancha Lululemon que Juno escolheu para ela no
Goodwill. O vestido azul que ela puxou era elá stico, por isso ainda
servia.

Brandon agarrou seu casaco esporte bem-passado de onde estava


pendurado em um gancho no banco de trá s, deu um sorriso
reconfortante e fez um gesto para que Jess andasse na frente dele.

— Por aqui, Sr. Butkis.

O maı̂tre acenou com a cabeça, conduzindo-os atravé s de uma


impressionante sala circular forrada com portas francesas em arco.
Talheres batiam suavemente na porcelana, gelo tilintava em copos
altos; ao redor deles, a conversa zumbia em um murmú rio baixo e
agradá vel. As mesas estavam espalhadas por toda a sala, emolduradas
por cadeiras baixas de veludo estofadas em escarlate e ouro.

— David vai nos encontrar?

Brandon olhou por cima do ombro para ela.

— Eles já deveriam estar aqui.


Eles. O estô mago de Jess caiu rapidamente de joelhos: eles. David e
River pararam em sua chegada em uma mesa na outra extremidade da
sala.

Congelada enquanto Brandon estendia a cadeira para ela, ela


sentiu River observando, cuidadosamente avaliando sua reaçã o. Sua
boca se curvou em um pedido de desculpas.

— Eu pensei – bem, presumi que você perceberia que todos


estarı́amos aqui.

— Está tudo bem — disse ela calmamente, tomando seu assento e


lutando para recuperar a compostura. River estava sentado
imediatamente à sua direita, e seu desconforto sobre o desconforto
dela era palpá vel. — Eu entendi errado.

Ela correu o risco, encontrando seu olhar, e sua expressã o


permaneceu praticamente ilegı́vel, exceto por uma pequena ruga na
testa, a sugestã o de preocupaçã o em seus olhos. Se ele fosse uma
pessoa mais intuitiva, ela poderia ter interpretado seu olhar como uma
pergunta: Tudo bem?

Jess piscou para longe, colocando o guardanapo no colo. Quando


eles se acomodaram, a mesa caiu em silê ncio. Jess olhou para cima
para encontrar os trê s homens assistindo enquanto ela tentava
antecipar porque eles a convidaram para este jantar.

— Está tudo bem — ela disse novamente. — Vamos fazer isso.

— Vamos estudar o cardá pio primeiro, — sugeriu David, — e entã o


talvez River possa lhe contar um pouco mais sobre a empresa e nossa
tecnologia.

Eles examinaram em silê ncio pesado antes de concordar com o


menu degustaçã o de cinco pratos. Eles pediram coqueté is, comida e
entã o os quatro apenas... se sentaram. Era insuportá vel.

— River? — David inalmente disse em um tom paternal.


River pigarreou e ajeitou o guardanapo. Ele estendeu a mã o para
mexer em seu copo de á gua.

Que estranho para ele, ser colocado na posiçã o de tentar convencer


Jess de que tudo isso era real quando parecia que ele també m nã o
queria acreditar.

— Acho que entendo a ciê ncia — disse ela, antes que ele pudesse
lançar-se em qualquer discurso que estava formulando em seu grande
cé rebro. — Pelo menos, eu entendo que você identi icou uma grande
variedade de genes que acredita estarem envolvidos na satisfaçã o
emocional e, uh – sexual em um relacionamento. Eu entendo como o
algoritmo poderia funcionar, em teoria. Acho que o que questiono é se
essa descoberta em particular é real. Se você nunca teve uma
pontuaçã o de noventa e oito antes, como sabemos o que isso signi ica?

— Se tivé ssemos vinte e dois — perguntou River — você teria


acreditado nisso?

Foi exatamente a pergunta que ela se fez apenas alguns dias atrá s.

— Sim, — ela admitiu, — porque isso se alinha com os meus


sentimentos sobre você em geral. Um noventa e oito, para mim,
implica que serı́amos atraı́dos um pelo outro. Que terı́amos quı́mica
instantâ nea.

Houve uma calmaria que foi misericordiosamente interrompida


pelo garçom trazendo pã o e coqueté is. Quando eles icaram sozinhos
novamente, David perguntou cuidadosamente: — E você nã o quer?

— Eu geralmente quero cometer um crime quando o vejo — Jess


disse, uma faca de manteiga na frente dela. — Nã o tenho certeza se
isso é um sinal de compatibilidade româ ntica.

River exalou, se recostando na cadeira.

— Isso é uma perda de tempo.


Inclinando-se para frente, Brandon a envolveu com seu sorriso.

— Pode ser mais fá cil acreditar em má s notı́cias do que em boas
notı́cias.

— Nã o sou pessimista — disse ela. — Eu acreditaria em boas


notı́cias se algué m me dissesse que ganhei na loteria. Mas estou
olhando para ele – e ele está olhando para mim – e tenho certeza de que
ambos estamos pensando: “Nã o há como”.

Brandon se virou para River.

— Você a acha atraente?

— Este teste nã o é uma medida de atraçã o — disse River


suavemente. — E uma medida de compatibilidade.

Jess largou o pã o.

— Você realmente acabou de dizer isso.

— Jessica — disse David, redirecionando sua atençã o. — E você ?

Ela riu.

— River é atraente. Todos nó s podemos ver isso. — Ela cometeu o


erro de instintivamente olhar para ele quando disse isso e notou um
pequeno mú sculo se contraindo no canto de seus lá bios. Isso a fez se
sentir mais suave, se inclinando em direçã o a ele, e a autopreservaçã o
cresceu em sua garganta. Ela odiou. — Mas falar com ele é como
conversar com uma calculadora rabugenta.

David escondeu uma risada surpresa com uma tosse,


corajosamente batendo no pró prio peito e pegando sua á gua.

A direita de Jess, River exalou longa e lentamente.

— Deixa eu tentar uma abordagem diferente — disse Brandon,


enquanto o garçom trazia o primeiro prato. — Acreditamos nesta
ciê ncia. — Ele gesticulou para os homens de cada lado dele. — Nã o
quero dizer apenas que esperamos que funcione porque podemos
ganhar muito dinheiro. Isso é verdade, claro, mas nã o é tudo. Sim, a
histó ria de você s dois pode ser muito atraente para o nosso
lançamento, mas també m é uma curiosidade cientı́ ica para nó s. Até
agora, todos os casais que receberam pontuaçõ es superiores a oitenta
ainda estã o juntos e pontuam fora dos grá icos em muitas medidas de
satisfaçã o no relacionamento. Temos que nos perguntar: Quã o
satisfeito um casal icaria com 98 pontos?

— Todas as combinaçõ es acima de oitenta foram bem-sucedidas?


— ela perguntou, imaginando suas palavras. — Eu pensei que Lisa
disse trê s de quatro.

— Legalmente, nã o podemos dizer cem por cento, porque nem


todo Titanium Match se conectou pessoalmente ainda.

— Isso deve ser chato para você — ela brincou.

Desta vez, a risada de David estava crescendo.

— Você nã o tem ideia.

— Você s sã o jovens, atraentes e solteiros — disse Brandon,


rolando com sua leviandade momentâ nea.

— Nã o estamos pedindo que você se case com ele — acrescentou


David.

— Com licença — interrompeu River. — Posso entrar nessa


conversa?

— Sim — Jess concordou. — Onde você está com tudo isso?

A comida estava abandonada na mesa em frente a eles enquanto


todos esperavam por sua resposta.

— E claro que acredito nisso — disse River. — Eu inventei isso.


Você realmente acredita que nosso resultado pode ser real? Que
poderíamos ser almas gêmeas? Ela queria perguntar, mas as palavras
pareciam enormes demais para passar por seus lá bios. Ela cavou em
suas vieiras em vez disso.

— Estamos pedindo a você s dois para passarem algum tempo


juntos — Brandon pediu.

— Exatamente — disse David, balançando a cabeça. — Para se


conhecerem melhor. Dê um pouco de tempo.

— Infelizmente — disse ela, levando uma mordida à boca. Se nada


desse certo, pelo menos ela estava ganhando o jantar com isso. —
Tempo é o que eu nã o tenho para dar. Nã o tenho certeza se River icar
mudo cinco minutos em Twiggs todas as manhã s nos fará mergulhar
muito fundo.

— E se houver uma recompensa? — Brandon perguntou.

Sua mã o congelou, o jantar de repente esquecido. Um silê ncio caiu


sobre a mesa. River olhou bruscamente para Brandon, mas David
estava olhando apenas para ela. Eles planejaram isso.

Eu prometo, Jessica. Não vamos perder seu tempo.

— Sinto muito... — disse ela com voz rouca. — ...o quê ?

— E se você receber uma compensaçã o… — Brandon repetiu


calmamente. — Permitindo que você reserve um tempo em sua agenda
para conhecer River?

Ela cuidadosamente colocou a faca na borda do prato.

— Você quer me pagar para namorar com ele?

River exalou bruscamente, pegando seu uı́sque.

— Considere isso uma remuneraçã o por participar de um aspecto


de um experimento maior — disse David. — Você poderia sair da
cafeteria e ter mais tempo livre. Você é uma parte importante de nosso
estudo de pesquisa, metade de uma pontuaçã o que precisamos validar
– ou invalidar – nosso paradigma de binning antes do lançamento.

Jess se recostou na cadeira, o coraçã o disparado.

— Entã o, você precisa de nó s para... explorar isso até depois do


lançamento?

Brandon riu um pouco disso.

— Bem, você pode explorar até ...

— Supondo que não nos apaixonemos um pelo outro, — ela


esclareceu, — qual é a duraçã o do estudo?

— O lançamento é 6 de maio — disse David com naturalidade. —


Hoje é vinte e oito de janeiro. Entã o, pouco mais de trê s meses.

E lá estava a verdade, claramente exposta.

— Quanta compensaçã o estamos falando?

David e Brandon trocaram um olhar. Jess levou o copo de á gua aos


lá bios com a mã o trê mula, o gelo tilintando suavemente contra o copo.

— Dez mil por mê s.

Uma tosse aquosa explodiu de sua garganta, aguda e urgente. River


se aproximou e colocou a mã o em suas costas, esfregando suavemente.

O toque foi constante, mas elé trico, arrancando uma respiraçã o de


seu peito, fazendo-a tossir novamente. Sua palma era enorme e quente,
um zumbido vibrante em sua pele.

— Estou bem — ela inalmente conseguiu dizer, e colocou o copo


na mesa.

Ele se afastou, fechando a mã o em punho no colo.


— E o que essa quantia compra para você ? — Jess perguntou uma
vez que ela con iou em sua voz para sair irme.

— Você sai para tomar um café . Você namora. — Brandon estendeu


as mã os, encolhendo os ombros, antes de pegar o garfo. — Talvez você
tenha uma ou duas apariçõ es pú blicas. Basicamente, você dá uma
chance.

David acenou com a cabeça.

— Você vai conhecer ele, Jessica.

Ela se virou para River.

— Você está tã o quieto. Isso preocupa você també m, sabe. Sei que
seu nı́vel de energia padrã o é Cardboard Cutout, mas nã o posso te
conhecer se você nã o falar.

— Estou pensando — ele admitiu em um resmungo baixo.

Honestamente, sua mente estava girando. Ela nunca tinha


participado de uma situaçã o como essa. Ela estava isicamente atraı́da
por ele? Sim. Obviamente, sim. Mas muito dele parecia inacessı́vel e
profundamente irritante.

— Você sente…? — Ela nã o sabia como fazer a pergunta. Ela


recomeçou: — Com tudo o que você sabe e tudo que você viu, você
acha que esse nú mero está certo?

Ele ergueu a á gua, tomando um longo gole. Com uma mã o irme e
sem pressa, ele pousou o copo e encontrou o olhar dela.

— Nã o sei.

No fundo, ela estava ciente de Brandon e David cavando em sua


comida, tentando ser discretos enquanto ouviam o que provavelmente
deveria ser uma conversa particular. Jess odiava a forma como seu
estô mago aquecia, a sensaçã o de que havia bolhas subindo de sua
corrente sanguı́nea para a superfı́cie de sua pele.

— Você ... quer descobrir?

A ú ltima coisa que ela queria que acontecesse era que algué m se
machucasse, mas era difı́cil desistir de trinta mil dó lares. Quã o difı́cil
seria passar algumas horas com este homem por uma quantia que
realmente tornaria a vida dela e de Juno mais fá cil?

River fechou os olhos e engoliu em seco. Quando ele os abriu


novamente, ela viu o mesmo con lito em seu rosto que ela sentia por
dentro.

— Eu nã o sei — ele disse novamente.

— Entã o, por que você está disposto a fazer isso?

Ele ergueu um ombro.

— Quero provar que estou certo.

Jess nã o tinha certeza de que mulher pensaria que essa resposta
era boa o su iciente. Embora ela pudesse avaliar isso do ponto de vista
intelectual, esse era exatamente o problema: era para se tratar de uma
quı́mica instintiva e nã o quanti icá vel.

Nã o era?

De pé , ela colocou o guardanapo sobre a mesa.

— Eu preciso pensar sobre isso. Eu vou te ligar.


Capítulo 9

JESS ACENOU PARA Nana pela janela da cozinha e se dirigiu para os


fundos do apartamento. Juno já estava en iada na cama com um livro.
Novamente. Falha, falha, falha. Se Juno convencesse Pop’s a deixar ela
comer palitos de peixe congelados para o jantar novamente, isso
de initivamente levaria Jess ao limite.

Todas as mã es se sentiam assim? Jess trabalhou muito ou nã o


trabalhou o su iciente. Ela estava estragando Juno ou Juno nã o estava
recebendo tudo que precisava. Jess era uma mamã e urso, ou ela estava
ignorando sua ilha. Na maioria das vezes, Jess estava convencida de
que cada decisã o que tomava estava arruinando a infâ ncia de Juno de
alguma forma.

— Ei, Joaninha — disse ela, contornando um cesto de roupa suja e


desabando na cama ao lado da ilha. Pombo se levantou e se
espreguiçou, subindo no colchã o para se enrolar no espaço entre elas.

Juno virou uma pá gina.

— Você sabia que as girafas fê meas voltam para onde nasceram
para dar à luz?

Jess passou os dedos pelo cabelo de Juno; os ios ainda estavam


ú midos do banho.

— Eu nã o sabia disso.

— O bebê simplesmente cai no chã o. — Juno jogou os braços para


fora em um splat dramá tico.

— Acho que se sua mã e for uma girafa, seria uma queda muito
grande.
Juno inclinou o livro para ela, exibindo a foto de uma girafa e seu
bebê .

— Mas o bebê apenas se levanta e sai correndo. — Ela virou a


pá gina. — E seus pescoços tê m o mesmo nú mero de vé rtebras que os
humanos. Você sabe quantos sã o?

— Eu acho que sete?

— Sim. — Juno acenou com a cabeça uma vez. — Bom trabalho.

Jess ouvia enquanto a ilha lia, mas sua cabeça era um ciclo, a
conversa do jantar girando inde inidamente por dentro. Ela nã o tinha
certeza se estava mais insultada com a sugestã o de que concordaria,
ou furiosa por estar pensando em concordar. Ela seria louca se
perdesse algo assim, certo? Isso compensaria a conta de Jennings,
cuidaria dos planos de saú de pelo resto do ano.

— Isso me lembra de quando o Sr. Lannis teve que usar um colar


cervical porque teve um nervo comprimido no karaokê . Ei, mã e?

Quando Jess mudou o foco, ela percebeu que Juno já havia fechado
o livro.

— O quê , meu bem?

— Por que você tá fazendo essa cara? — ela perguntou.

— Que cara?

Juno passou o dedo pela testa.

— Aquela que Tia Fizzy nã o pode mais fazer por causa do Botox.

— Eu nã o estou carrancuda — disse Jess. — Só estou pensando.


Algué m me pediu para fazer algo e nã o tenho certeza se deveria.

Agora Juno franziu a testa.


— E uma coisa ruim?

— Nã o. Nada ruim.

Ronronando, o gato subiu no peito de Juno.

— Algué m vai se machucar?

— Espero que nã o — disse Jess. — Acho que nã o.

— Você se sente insegura?

Jess mordeu os lá bios, tentando conter uma risada encantada. Essa
criança estava repetindo exatamente o que ela diria se suas posiçõ es
fossem invertidas.

— Nã o. — Se inclinando, ela deu um beijo em sua cabeça. — Nã o


me sinto insegura.

Assim que ela se sentou novamente, sua ilha a encarou com um


olhar severo.

— Você vai ter que mentir?

Você é uma parte importante de nosso estudo de pesquisa, metade de


uma pontuação que precisamos validar – ou invalidar – nosso paradigma
binning antes do lançamento.

Ela balançou a cabeça.

— Eu nã o vou mentir.

Juno colocou seu livro na mesa de cabeceira e pegou Pombo antes


de aninhar os dois em seu edredom.

— Você aprenderia alguma coisa?

Jess sentiu uma pulsaçã o intensa de orgulho em sua ilha, e a


resposta negativa automá tica evaporou em sua boca.
Porque... talvez ela quisesse.

Ela teve um vislumbre de si mesma no espelho no inal do corredor


e se perguntou como o caos dentro dela nã o era mais visı́vel. Se seu
exterior combinasse com seu interior, ela se pareceria com uma
escultura de Picasso: cabeça de lado, nariz onde seus olhos deveriam
estar, olhos em seu queixo. Em vez disso, ela ainda era apenas Jess:
cabelo castanho, olhos azuis cansados e o que parecia o inı́cio de uma
espinha de estresse em sua testa. Incrível.

NANA E POP’S estavam jogando crı́quete no pá tio, Jess pegou uma
cerveja na geladeira e um sué ter do encosto do sofá e saiu para se
juntar a eles.

O Sr. Brooks abriu a janela quando a viu, sua camiseta branca


listrada e um par de suspensó rios cinza.

— Jessica — disse ele, se inclinando para fora. — Eu preciso falar


com você .

Jess compartilhou um olhar com Nana e caminhou de volta para o


pré dio novamente, olhando para o segundo andar.

— Sim, Sr. Brooks?

— Estou postando duas fotos no aplicativo Nextdoor. Há algumas


crianças que icam andando de scooters para cima e para baixo nas
calçadas, e nã o gosto da aparê ncia delas. Tem uma calçada inteira, mas
eles insistem em andar bem ao lado da minha varanda. — Ele cerrou o
punho e o achatou contra a moldura da janela. — Eu nã o quero que eles
derrubem minha vassoura.

— Eu vou cuidar deles. Eu sei que você usa essa vassoura todos os
dias.
— Obrigado, Jessica. Nã o podemos ter crianças correndo para
cima e para baixo na rua aqui. Muitos carros, muitas pessoas. E eles
nã o fazem mais aquela vassoura. Já consertei uma vez.

Ela acenou com a cabeça em solidariedade e, satisfeito, o Sr.


Brooks se inclinou para dentro e fechou a janela.

Jess tirou a tampa da cerveja e se sentou à mesa.

— Para ser justo, — disse Pop’s, organizando as cartas em suas


mã os, — é uma vassoura muito boa.

— Eu nã o sou nenhuma conhecedora de vassouras, entã o devo


acreditar em sua palavra. — Jess envolveu Nana com os braços e
apoiou a cabeça no ombro da avó , fechando os olhos. — Eu já te disse o
quanto eu te amo?

Nana Jo deu um tapinha no braço dela.

— Nã o nos ú ltimos trinta minutos.

Jess beijou sua bochecha.

— Tudo bem entã o. Eu te amo muito.

— Como foi o jantar?

Jess riu secamente. Em primeiro lugar, ela saiu antes de terminar


de comer. Um crime. Em segundo lugar... por onde começar?

— Foi esclarecedor.

— Oh? — Nana perguntou, o interesse aguçado. Nana adorava um


pouco de drama.

Sentando-se, Jess traçou uma linha atravé s da condensaçã o em sua


garrafa de cerveja. Nana e Pop’s retomaram o jogo.
— Você s sabem quanto custa criar um ilho hoje em dia? — Ela
inalmente perguntou.

— Muito mais do que quando está vamos fazendo isso, tenho


certeza — disse Pop’s, em seguida, jogou um á s para trinta e um e
acertou dois.

— Estimado em pelo menos $233.610. Isso é habitaçã o — Jess


começou, contando nos dedos: — Comida, transporte, roupas, plano de
saú de, creche e outros. E isso só até os dezessete anos.

Pop’s assobiou e pegou sua pró pria cerveja.

— A mensalidade de uma faculdade como a UCSD é de cinquenta e


dois mil para um diploma de quatro anos — disse Jess. — E essa é uma
escola pú blica estadual. Juno poderia querer sair do estado e isso
quadruplicaria o preço. Eu mal posso pagar aulas de balé . — Ela deu
um longo gole em sua cerveja e se levantou para pegar outra.

Pop’s olhou para ela por cima dos ó culos; as luzes de fada
suspensas no alto re letidas nas lentes grossas. Uma vela cintilou na
mesa; grilos cantavam em um vaso pró ximo.

— Acho melhor você nos contar sobre este jantar.

Jess voltou ao seu lugar.

— Você se lembra do serviço de encontros em que Fizzy entrou?

Nana largou uma carta e, em seguida, moveu seu pino para a frente
dois.

— Aquele em que você cuspiu no tubo?

— Sim. — Jess se virou para Pop’s. — E você se lembra do cara lá


fora? Na noite em que você me pegou?

— Alto, bonito? — Ele fez uma pausa, seu sorriso presunçoso. —


Entã o, seu humor naquela noite era por causa dele.
— Nã o, mas esse humor é . — Ela riu. — Esse serviço de namoro
nã o é realmente um serviço de namoro. Ou... é , mas eles nã o apenas
arrumam encontros para você . Você fornece uma amostra, eles criam
um per il gené tico e, em seguida, fornecem uma lista de
correspondê ncias com base nos crité rios selecionados. Fizzy
conseguiu cinco milhõ es de matchs porque de iniu parâ metros muito
amplos e baixos.

Pop’s acenou com a cabeça.

— Parece Fizzy.

— E você fez isso? — Nana perguntou.

Jess hesitou.

— Fizzy me comprou um kit de aniversá rio, e eu tive um momento


de insanidade temporá ria. Na noite em que Pop’s me pegou, os chefõ es
tinham acabado de me contar sobre a pessoa com quem eu fui
combinada. Hoje à noite, no jantar, eles izeram uma proposta para
mim.

As sobrancelhas de Nana desapareceram sob seu cabelo ondulado


prateado.

— Eu dei a eles crité rios muito rı́gidos. Aparentemente, eu


correspondi em um nı́vel estatisticamente inacreditá vel com o cara
com quem Pop’s me viu discutindo. — Jess respirou fundo. — O nome
dele é River Peñ a. Ele é PhD, o principal cientista do serviço e um dos
fundadores de tudo.

Pop’s assobiou.

— O que você quer dizer com estatisticamente inacreditá vel?

— A maioria dos bons matchs pontua mais de cinquenta. De


sessenta e seis a noventa seria incrı́vel. — Jess olhou para sua garrafa
vazia, incapaz de olhar para eles quando disse: — Nossa pontuaçã o foi
de noventa e oito.

Nana pegou seu vinho.

— Sim — Jess disse, e entã o soltou uma expiraçã o longa e lenta.

— Com que frequê ncia eles conseguem um noventa e oito? —


Nana perguntou.

— Nunca. Esta é a combinaçã o mais alta que eles tiveram até o


momento.

— E você gosta deste Dr. Peñ a? — ela perguntou.

Jess amaldiçoou a vibraçã o traidora que disparou atravé s de seu


sangue.

— Ele é atraente, mas tem uma vibe irritada. — Ela colocou no


contexto de Nana Jo: — Pense no Sr. Darcy, mas sem as lindas
proclamaçõ es. Ele me chamou de mediana, nã o segurou o elevador, fala
com menos luê ncia emocional do que Alexa4 na sua cozinha e nã o sabe
nada sobre etiqueta de estacionamento.

Nana Jo gentilmente deixou a mesquinhez de Jess se instalar no


espaço entre eles enquanto ela e Pop’s brincavam com o resto das
cartas.

— Ok, etiqueta do estacionamento à parte, você poderia gostar


dele? — ela inalmente perguntou.

O murmú rio silencioso dos clientes da Bahn Thai passou por cima
da cerca, fazendo Jess se perguntar se eles també m podiam ouvir. Ela
baixou a voz.

— Alé m da pontuaçã o, eu realmente nã o sei.

Nana e Pop’s trocaram um olhar sobre a mesa.


— E a proposta? — Nana perguntou.

— Que possamos nos conhecer. — Os olhos de Nana se


arregalaram e Jess rapidamente esclareceu. — Nã o assim, caramba. Só
– ver se os dados estã o corretos, se somos de alguma forma
emocionalmente compatı́veis.

Aparentemente satisfeita com a resposta, Nana Jo baixou os olhos


para as cartas antes de contar em voz alta os pontos que tinha. Ela
moveu o pino no tabuleiro do jogo e entã o voltou sua atençã o para Jess.

— Você parece mais em con lito com isso do que se simplesmente


nã o gostasse dele.

— Bem… — Jess olhou para o abismo escuro de sua garrafa. — Eles


se ofereceram para me pagar.

Nana pegou o vinho novamente.

— Oh, merda.

Pop’s ixou em Jess seu olhar lacrimejante.

— Quanto?

Ela riu. Claro que essa seria a pergunta de Pop’s.

— Muito. — Eles esperaram. — Muito tipo dez mil por mê s.

Ambos piscaram. O silê ncio se estendeu. Um carro passou veloz;


algué m riu do restaurante ao lado.

— Só para se conhecerem — esclareceu Nana. — Sem sexo.

— Certo. — Jess ergueu um ú nico ombro. — Eles precisam validar


a ciê ncia. E eu de initivamente gostaria de $30.000.

— Mas você está hesitando — disse Pop’s.


— Claro que estou.

Pop’s a imobilizou com uma expressã o sé ria.

— Ele parece inofensivo?

— Nó s realmente nã o nos damos bem, mas pelo que eu posso
dizer, ele nã o é um sociopata. Ele nã o é encantador o su iciente para ser
um. — Quando nenhum deles riu disso, Jess disse: — Ele tem muito a
ganhar com a empresa, obviamente. Eu nã o acho que jogar meu corpo
em uma lixeira valeria a pena perder os milhõ es que ele pode ganhar se
eles tiverem um lançamento bem-sucedido.

Pop’s tirou os ó culos.

— Entã o eu nã o sei o que você tem que pensar.

— Ronald Davis — censurou Nana. — Isso tem que ser decisã o


dela.

— O que? — disse ele, com as mã os levantadas em defesa. — Você


recusaria esse tipo de dinheiro?

— Agora nã o, obviamente. — Ela acenou para si mesma antes de


dar a Jess uma piscadela conspirató ria. — Me pergunte há quarenta
anos e teria uma resposta diferente.

— Nana Jo, estou chocada — disse Jess com um sorriso


provocador.

— Se você visse ela quarenta anos atrá s, nã o estaria. — Pop’s se


recostou, esquivando-se do tapa brincalhã o de Nana em seu ombro. —
Ningué m está me perguntando, mas acho que você deveria fazer isso.
Contanto que nã o estejam pedindo para você mentir, trapacear ou
roubar um banco — disse ele. — Vá a alguns restaurantes. Tenha uma
conversa, ouça algumas histó rias. No mı́nimo, você vai ganhar um
pouco de tempo para respirar. — Ele pegou suas cartas novamente. —
UCSD nã o está icando mais barata.
— SUA FILHA ME mata.

Sentadas em um banco de parque, Fizzy e Jess assistiram Juno


tentar ensinar Pombo a andar com a coleira. A garota deu um passo à
frente e esperou pacientemente que o gato a seguisse. Ao redor deles,
cachorros perseguiam bolas, lambiam rostos e latiam, abanando o
rabo. Agachada no chã o no arnê s e descon iada de cada sombra, som e
folha de grama, Pombo parecia que estava prestes a correr dela, estilo
cartoon.

— Alé m da Grande Perseguiçã o do Gato, algumas semanas atrá s,


ela nunca saiu do pá tio — Jess disse. — Tenho certeza de que ela se
sente da mesma forma que sentirı́amos se fô ssemos colocados em
uma coleira e pousados em Marte.

Para os habitantes de San Diegans, qualquer horá rio forçado em


ambientes fechados era quase intolerá vel e, por volta das trê s horas da
tarde de sexta-feira, o primeiro dia de sol em mais de uma semana, o
parque Trolley Barn estava cheio de pessoas em busca de sol. O ar tinha
aquele cheiro brilhante e frio depois que toda a poluiçã o foi lavada das
nuvens e a sujeira foi removida dos galhos das á rvores. O cé u era de um
azul royal irreal. E as tranças castanhas de Juno eram uma faixa de
vermelho alegre contra o fundo azul esverdeado.

— Nã o a puxe — Jess a lembrou suavemente.

— Eu não estou puxando.

Com o canto do olho, Jess viu o rabo de Pombo se contorcer


momentos antes de ela mergulhar para frente, pegando algo triunfante
em suas patas. Todo esse tempo ela esteve agachada, ela esteve na
caça.

Juno gritou, encantada.


— Mamã e! — Ela acenou para Jess, e Jess parou assim que Juno
disse: — Pombo pegou um louva-a-deus.

Aquilo foi um porra de Jess, mas Fizzy deu um pulo, dando uma
olhada no inseto de 15 centı́metros de comprimento que Pombo
claramente nã o tinha ideia do que fazer com ele. Ela o prendeu, bateu
nele com uma pata e, ao mesmo tempo, pareceu meio enojada com a
coisa toda.

— Juno — disse Jess, rindo. — Querida, peça a Pombo para deixar o


bichinho ir.

Juno se abaixou, separando as patas da gata e soltando o louva-a-


deus, que se afastou calmamente.

Fizzy se acomodou no banco e, de alguma forma, Jess sabia o que


estava por vir.

— Todos nó s poderı́amos aprender muito com aquela gata.

— Lá vamos nó s — disse ela.

— Pulando direto em uma oportunidade quando aparece.

— Mm-hmm — Jess respondeu, distraı́da.

— Tipo, claro — Fizzy continuou, ignorando-a — Eu estou sendo


cuidadosa, mas quando surgir a oportunidade, aproveite.

— Como Pombo fez? — Jess disse, rindo. — Ela pegou aquele


coitado e nã o tinha ideia do que fazer a seguir.

Ela sentiu Fizzy virar para olhar para ela.

— Você acha que nã o saberia usar trinta mil dó lares?

— Na verdade, essa é a parte em que estou presa – o maior


incentivo e a maior desvantagem. Preciso de dinheiro, mas, de certa
forma, acho que seria mais fá cil fazer isso puramente por uma questã o
de ciê ncia ou qualquer outra coisa. — Ela encolheu os ombros, virando
o rosto para o cé u. — Ser paga para “conhecer River” parece
vagamente... ilegal.

Fizzy riu.

— E veja, eu coloquei isso na coluna de “pró s”.

— Você é a aventureira.

— Tudo o que estou dizendo é que você seria louca se nã o izesse
isso.

Jess soltou um longo e lento suspiro.

— Acredite em mim, estou pensando seriamente nisso.

— Bom. — Depois de um longo perı́odo de silê ncio, Fizzy


acrescentou: — Aliá s, conheci algué m de quem gostei muito na noite
passada.

Elas estavam juntas desde quase sete e meia daquela manhã , e ela
só estava mencionando isso agora?

— Mesmo? Ele é compatı́vel?

— Ele é conhecido na ciê ncia como um “match orgâ nico” —


brincou Fizzy. — Daniel convidou algumas pessoas, e esse cara, Rob,
estava lá . Ele é amigo da faculdade do irmã o de Daniel e agora é
banqueiro, que eu sei que soa tã o gené rico que tem que ser falso, mas
eu iz ele me mostrar seu cartã o de visita e é legı́timo. Na verdade, diz
“Banqueiro”. Ele é engraçado e bonito, e eu estava no auge do modo
Fizzy ontem à noite e ele parecia encantado com isso.

— Auge do modo Fizzy como no seu monó logo sobre o impacto


positivo dos romances na sociedade? Ou o auge do modo Fizzy, como
em colocar espontaneamente papel de parede em seu quarto à meia-
noite com pá ginas de seus livros favoritos?
— Auge do modo Fizzy como em trê s doses de tequila e recrutando
Rob para me ajudar a esconder os sapatos de Daniel por toda a casa.

— Ah. — Jess voltou sua atençã o para Juno, que havia desistido de
passear com Pombo e estava deixando outras crianças acariciarem o
gato. — Você deveria testar o banqueiro Rob para ver como ele se
compara aos outros encontros.

— Nã o tenho certeza se quero isso — disse Fizzy. — Eu tinha a


pontuaçã o para aqueles outros caras e nos divertimos, mas sabendo
que eles provavelmente nã o funcionariam a longo prazo tornou mais
fá cil nã o levarmos a sé rio. Eu nã o esperava que meus encontros
mudassem minha vida, e eles nã o mudaram. Foi porque o teste está
certo ou porque eu nã o esperava que fossem almas gê meas?

— Quero dizer, estatisticamente, é mais prová vel que você consiga


uma alma gê mea com um match de prata do que com um match de
titâ nio.

— Você está me analisando.

Jess riu. O que ela poderia realmente dizer a Fizzy quando ela
pró pria estava lutando com a preocupaçã o oposta: as pessoas que
receberam uma pontuaçã o de noventa e oito simplesmente
presumiram que essa pessoa seria seu feliz para sempre?

— E eu continuo pensando que você é louca por nã o conhecer


River — Fizzy continuou, — mas se eu ganhasse um Diamond Match,
eu me sentiria oprimida pela pressã o e pelo dinheiro també m?

Jess riu da simetria mental delas.

— Mm-hmm.

— Entã o, novamente, eu acho que se eu conseguisse um match de


ouro, icaria muito feliz. — Fizzy puxou uma perna por baixo dela, se
virando para encarar Jess. — Há algo sobre saber que você se alinha de
acordo com todos esses fatores bioló gicos que torna mais fá cil
imaginar o comprometimento em algumas das formas que eu de ini na
minha rotina. — Ela fez uma pausa. — Mas ainda. — Ela exalou,
estufando as bochechas. — Eu gosto do Rob. Nã o quero saber ainda se
ele e eu nã o devemos acabar juntos.

— Entã o você acredita? — Jess perguntou, cutucando suavemente


o joelho de Fizzy com o dedo indicador. — Todas essas coisas de
DNADuo?

Fizzy pegou a mã o dela e entrelaçou os dedos.

— Acho que a questã o mais importante é : você acredita?


Capítulo 10

CONSUMIDA POR uma estranha desorientaçã o, Jess desceu do


carro em frente ao pré dio do GeneticAlly.

Já passava das sete e o estacionamento estava vazio, mas o


silê ncio era de alguma forma mais inquietante. Suas mã os pareciam
lutuar a trê s metros de seu corpo; parecia que ela estava mais
deslizando do que andando.

Essa dissociaçã o fı́sica nã o era nova para ela. Ela sentiu isso
dentro e fora de sua infâ ncia, e a terapia revelou que isso acontecia
quando ela estava evitando pensar sobre o que tudo isso signi icava.
Mas toda vez que ela pensava sobre a perspectiva de que o DNADuo
realmente estava certo e que ela e River poderiam realmente ser bons
juntos, uma parede se erguia dentro dela e todo o monó logo mental
escurecia.

E agora que ela estava aqui, Jess nã o tinha ideia se havia tomado a
decisã o certa ao dizer a David que iria ao escritó rio para se encontrar
com eles. Seu advogado estaria presente. Eles iriam assinar um
contrato... depois disso, Jess nã o tinha ideia.

Ela esperava ser recebida pela recepcionista ou talvez Lisa. Mas


desta vez, esperando por ela perto dos sofá s intocados estava River.

Sua respiraçã o icou presa na garganta. Escondido nas sombras,


ele parecia um arranha-cé u alto e angular. O pensamento de saborear,
tocar ele... a fez se sentir tonta.

Ele tirou a mã o do bolso e ergueu com um aceno cuidadoso.

— Ei. — Sua mã o hesitou, insegura, levantando-se para coçar a


nuca. — Eu nã o sabia se você realmente iria aparecer.

— Somos dois.
O que você ganha com isso? Ela queria perguntar. É sobre glória,
dinheiro ou outra coisa? Ele certamente nã o estava aqui em busca do
amor.

Inclinando levemente a cabeça para o lado, ele a conduziu de volta


pelas portas duplas, pelo corredor, até o elevador, onde apertou o botã o
“Subir” com aquele dedo indicador comprido.

— Como foi seu dia?

Jess mordeu o lá bio inferior, engolindo um sorriso incré dulo. Ele
estava tentando.

— Hum, foi bom, como foi o seu?

— Muito bom.

— Você sempre trabalha até tã o tarde?

— Basicamente.

As portas se abriram; eles entraram e foram engolidos no


minú sculo recipiente juntos.

— Você tem alguma pergunta para mim? — Ele perguntou.

Ela nã o foi rá pida o su iciente desta vez, e a risada surpresa
escapou.

— Sim. Milhares. Que gentileza sua perguntar.

— Tudo bem — disse ele, sorrindo para seus sapatos. — Acho que
mereço isso.

— A ú nica coisa que acho que realmente preciso saber antes de


entrarmos na sala de conferê ncias é : é verdade que você nã o está
atualmente se relacionando com ningué m?

River balançou a cabeça.


— Eu nunca faria isso se estivesse.

— Ok, bom — disse ela, e acrescentou rapidamente quando as


sobrancelhas dele se ergueram lentamente: — Eu també m.

— Eu tenho uma pergunta — ele disse quando chegaram ao


segundo andar. As portas se abriram e eles saı́ram para o corredor, mas
entã o pararam e se encararam, ainda fora do alcance da audiçã o da sala
de conferê ncias. — Por que você fez o teste em primeiro lugar? Você
nã o parece estar muito animada com a perspectiva de qualquer match,
muito menos um Diamond.

— Essa — disse Jess, sorrindo e apontando para ele, — é a questã o


do dia. — Seu sorriso se desvaneceu, a mã o caiu e ela percebeu que nã o
ia sair dessa com desvio ou humor. A sua foi uma boa pergunta. Ela
genuinamente sentiu um desejo de começar a fazer sua pró pria vida
maior naquele momento, entã o por que ela estava aqui agora, se
sentindo resistente a todo o processo?

Jess soube imediatamente: a ideia de encontrar a Alma Gê mea –


era demais.

— Eu tive um dia muito ruim — ela disse calmamente. — Naquele


dia encontrei você no centro. Você pegou minha vaga de
estacionamento. Você nã o segurou o elevador. Eu perdi uma grande
conta, tive que sentar em uma sala cheia de casais presunçosos, fui
para casa e me senti paté tica. Eu cuspi no frasco e enviei, mas nã o
deveria.

Ela observou a reaçã o a isso passar por seus traços.

— Todos nó s nos sentimos pior à noite — disse ela. — Eu deveria


ter esperado até de manhã .

Ele acenou com a cabeça uma vez.

— Ok.
E entã o ele se virou e continuou pelo corredor.

Foi só isso? Sé rio? Ele fez a pergunta difı́cil e ela respondeu
honestamente e ele acenou com a cabeça e seguiu em frente?

O que ele estava pensando? Este homem era um cofre.

River esperou na soleira da sala por ela e gesticulou para que ela
entrasse na frente dele.

Ela esperava que uma sala cheia de pessoas testemunhasse a


assinatura do contrato cerimonial entre dois Diamond Matches que, na
melhor das hipó teses, toleravam um ao outro. Mas em vez disso, havia
apenas duas pessoas lá dentro: David e um homem que Jess nã o
conhecia, mas que se parecia tanto com Don Cheadle que ela sentiu um
sorriso animado estourar em seu rosto antes de perceber que ele era
apenas um doppelgä nger muito pró ximo.

David observou a reaçã o dela e riu.

— Eu sei. E estranho.

— Eu sou Omar Gamble — disse Don Cheadle. — Sou o principal


advogado da GeneticAlly. Prazer em te conhecer, Jessica.

— Apenas Jess. — Ela estendeu a mã o, apertando a mã o dele.

O que eles estavam pensando dela agora? Desesperada? Estúpida?


Oportunista? Honestamente, poré m, por tanto dinheiro, ela se
importava com o que eles pensavam?

Nã o havia muito mais a ser dito, entã o todos se arrastaram para
suas cadeiras. Omar abriu uma pasta e tirou uma pequena pilha de
papé is.

— Sabemos que você nã o trouxe um advogado, mas gostaria de lhe


dar algum tempo para examinar isso.
— Você gostaria que River e eu saı́ssemos da sala? — Perguntou
David.

River começou a se levantar, o que a irritou. Pelo menos deixe ela


decidir.

Obstinadamente, ela disse:

— Nã o. Fique, se você nã o se importa.

Lentamente, River se acomodou em seu assento.

Honestamente, essa situaçã o foi a primeira. Ela e River se


sentaram lado a lado, de frente para David e Omar, e ela tinha acabado
de pedir que eles icassem e, basicamente, assistirem-lhe ler cinco
pá ginas densas de juridiquê s. O mais cuidadosamente que pô de sob a
pressã o de sua atençã o conspı́cua, ela leu o contrato.

CONSIDERANDO QUE o indivíduo A (JESSICA DAVIS) indicou


GENETICAMENTE LLC e o indivíduo B (RIVER PEÑA) a disposição de se
envolver...

... O Indivíduo A concorda ainda em limitar a divulgação de


Informações Con idenciais...

... pelo menos três (3) interações por semana, incluindo, mas não se
limitando a, passeios, telefonemas...

... aparições publicitárias e / ou entrevistas não excedendo duas (2)


por semana...

... declarar explicitamente que nenhum contato ísico é


contratualmente obrigado por parte do Indivíduo A ou do Indivíduo B
durante o...

… Será compensado no valor de dez mil dólares ($10.000) por mês


durante a vigência do contrato, com início no dia 10 de fevereiro…
... EM TESTEMUNHO DO QUE, o Indivíduo A e o Indivíduo B assinaram
este contrato por conta própria ou izeram com que este Contrato fosse
executado por seu representante nomeado na data de assinatura abaixo.

Jess se recostou, exalando lentamente. Isso era... muito para


absorver.

— Nã o tenha pressa — disse Omar com um sorriso que encheu


seus olhos. — E uma situaçã o estranha, entendemos.

Ela olhou para River.

— Você leu isso?

Ele assentiu.

— Você teve alguma objeçã o?

Ele olhou para ela, piscou. Por im:— Minhas preocupaçõ es foram
tratadas antes de você chegar.

— Quais?

— Eu solicitei o item quinze.

Jess olhou para baixo, passando para a segunda pá gina... nenhum
contato ísico é obrigatório por parte do Indivíduo A ou do Indivíduo B
durante a vigência do Contrato, e qualquer contato ica a critério
exclusivo das partes listadas neste documento. GeneticAlly LLC, e seus
agentes, cessionários, executivos e Conselho de Administração, são por
meio deste indenizados contra qualquer reclamação de ação ou danos
resultantes decorrentes de qualquer contato.

Seu cé rebro feminista estava aplaudindo River de pé por garantir
que ela nã o se sentisse pressionada a nada fı́sico. Mas a besta insegura
lá dentro estava mais barulhenta. River queria em preto e branco que
eles nã o tivessem que se tocar? Senhoras e senhores: essa era sua alma
gê mea.
O humor veio em sua defesa.

— Entendi, nã o estou sendo paga para acariciar a besta.

Omar acenou com a cabeça, reprimindo um sorriso.

— Correto.

— Alé m disso, se eu nã o conseguir manter minha libido sob


controle — disse ela, — e River surpreender a todos nó s e perceber que
sangue e nã o lodo corre por essas veias, e eu icar grá vida, nã o é
problema de você s.

River tossiu fortemente e Omar sufocou o sorriso com o punho.

— Correto.

Ela sorriu melancolicamente para River.

— Nã o se preocupe. Excelente adiçã o, Americano.

— Pareceu um esclarecimento necessá rio — disse ele rigidamente.

Olhando para trá s, para Omar, Jess disse: — Uma coisa que nã o
vejo aqui – e é bom, eu acho – mas gostaria que declarasse
explicitamente que nã o quero minha ilha envolvida contratualmente
de forma alguma. Nã o quero que ela seja fotografada ou incluı́da em
nenhuma dessas saı́das ou entrevistas.

— Eu concordo — disse River imediatamente. — Sem ilhos.

Foi o tom, como unhas arranhando em um quadro-negro, que a fez


se levantar.

— Você simplesmente nã o é fã de humanos de qualquer tamanho


ou...?

Ele deu a ela um sorriso divertido.


— Você quer que eu te apoie aqui ou nã o?

Ela se voltou para Omar.

— Você pode adicionar?

Ele fez uma anotaçã o em sua có pia da impressã o.

— Posso fazer essa mudança de nossa parte — disse ele com


precisã o cuidadosa — mas nã o teremos controle sobre o que a
imprensa escreverá se um repó rter descobrir que você tem uma ilha.
Tudo o que podemos garantir é que GeneticAlly nã o discutirá sua
existê ncia com a imprensa ou qualquer um de nossos investidores ou
a iliados.

— Vou cuidar do meu lado, mantendo ela fora dos holofotes, só nã o
quero que você presuma que també m pode usá -la como suporte.

Omar olhou rapidamente por cima da mesa para o homem sentado


ao lado dela. Jess viu a expressã o de Omar vacilar por um momento
enquanto os dois homens compartilhavam alguma comunicaçã o
silenciosa. Demorou o su iciente para Jess registrar que ela disse algo
meio de merda. Eles estavam perto da linha de chegada de algo em que
acreditaram por anos.

Jess queria reformular o que ela disse, mas o momento mudou;


Omar rolou para frente.

— Vou fazer essa alteraçã o e enviar o contrato para você o mais


rá pido possı́vel.

— Otimo, obrigado por—

— Na verdade — River interrompeu, e entã o hesitou, esperando


que ela olhasse para ele. Quando seus olhos se encontraram, sua caixa
torá cica se contraiu, seu sangue parecia muito espesso em suas veias.
— Eu gostaria de con irmar — disse ele hesitantemente,
acrescentando depois de um longo momento de confusã o: — Os
resultados do teste.

Ele estava falando sé rio? Ele queria con irmar agora? Quando eles
tinham um contrato pela frente e Jess estava prestes a assinar para ser
sua falsa namorada pelos pró ximos trê s meses?

— Estamos – quer dizer, eu presumi que você já teria feito isso.

— Nó s con irmamos com sua amostra de saliva — ele se apressou


em esclarecer. — Mas eu gostaria de fazer uma rá pida amostra de
sangue e fazer o teste. Ao lado do meu.

Suas bochechas decidiram esquentar com a sugestã o de que seu


sangue descansasse em tubos lado a lado em uma centrı́fuga.

— Certo. Tanto faz.

Seus olhos voltaram a se concentrar nos dela, e Jess percebeu que


River tinha acabado de perceber seu rubor.

— Claro — disse ele com um pequeno sorriso. — Tanto faz. Me


siga.

Ele reuniu tudo o que precisariam em uma bandeja perto de duas


cadeiras. Uma prateleira com frascos esté reis. Um torniquete, agulha,
compressas embebidas em á lcool, gaze de algodã o e band-aid.
Enquanto esperavam a chegada do lebotomista, River lavou as mã os
exaustivamente na pia, secou-as em uma pilha de toalhas de
laborató rio limpas… e calçou um par de luvas de nitrilo azuis.

— Você vai fazer isso? — Jess perguntou, a consciê ncia caindo


como um martelo.

Ele congelou logo depois que a segunda luva se encaixou no lugar.

— Nã o sobrou ningué m no pré dio esta noite que possa tirar
sangue. Tudo bem?
— Hum... o quê ?

Ele soltou uma risada curta.

— Desculpe, eu nã o disse isso direito. Eu tenho um certi icado


para fazer isso. Nã o estou apenas preenchendo porque ningué m mais
está aqui.

Jess queria manter distâ ncia emocional, queria manter isso


pro issional. Mas ela nã o pô de evitar seu tom brincalhã o:

— Você está me dizendo que é um geneticista, um CSO e um


lebotomista?

Um pequeno sorriso apareceu e desapareceu.

— Nos primeiros dias, — disse ele, — quando está vamos testando


as amostras de sangue total, recrutamos um grande grupo de alunos de
universidades locais. Foi tudo mã os à obra. — Ele piscou até o rosto
dela, depois voltou para o braço. — Eu fui certi icado.

— Prá tico. Você sabe de jardinagem e cozinhar també m?

Isso foi um rubor? Ele ignorou a pergunta dela, provavelmente


presumindo que fosse retó rica, e os devolveu com segurança à ciê ncia.

— Eu nã o estou mais no laborató rio. Eu costumava examinar cada


arquivo de dados que saı́a de lá — disse ele, apontando para uma das
duas peças quadradas de equipamentos de alta tecnologia do outro
lado do laborató rio. — Agora tudo é tã o simpli icado que nunca sou
necessá rio aqui.

— Deixa eu adivinhar — disse Jess — você é o cara das reuniõ es.

Ele sorriu, acenando com a cabeça.

— Reuniõ es interminá veis com investidores.


— Envie o cientista gostoso, certo? — Ela disse, e imediatamente
quis engolir o punho.

Ele riu de sua bandeja de suprimentos, gesticulou para que ela se


sentasse, e puta merda, de repente estava setecentos graus no
laborató rio.

— Você poderia...? — River gesticulou para que ela enrolasse a


manga esquerda.

— Certo. Desculpa. — Sem jeito, ela empurrou para cima e sobre os


bı́ceps. Muito gentilmente, mas com absoluta calma, River colocou a
mã o sob seu cotovelo, movendo seu braço para frente, e correu o
polegar sobre a dobra, olhando clinicamente para a paisagem de suas
veias. Muito menos clinicamente, Jess – coberta de arrepios por causa
da mã o em seu cotovelo – olhou para os olhos dele. Eles eram,
francamente, absurdos.

Ela se viu inclinada para a frente, ligeiramente fascinada, e


desejando que ele erguesse os olhos novamente.

— Você tem olhos muito bonitos — disse ela, e respirou fundo. Ela
nã o quis dizer isso em voz alta. Ela pigarreou. — Desculpe. Aposto que
você entendeu.

Ele concordou.

— E por que os caras sempre tê m cı́lios grossos? — ela perguntou.


— Eles literalmente nã o se importam com eles.

O canto de sua boca se apertou com a sugestã o de outro sorriso.

— Uma verdade dolorosa.

Satisfeito com a situaçã o das veias, ele pegou o torniquete,


amarrando a faixa ao redor de seu braço.
— Eu vou te contar um segredo, no entanto — ele disse
conspirativamente, levantando seus olhos para os dela e entã o de volta
para baixo. — Eu honestamente pre iro levar um soco no queixo a
levar um daqueles ilhos da puta no meu olho.

Uma risada inesperada saiu de sua garganta. O olhar de River


voltou para o dela, se demorando agora, e suas entranhas reviraram.
Ele era tã o bonito que a deixou furiosa.

Um pouco disso deve ter mostrado em sua expressã o, porque seu


sorriso de resposta desapareceu e ele voltou sua atençã o para o braço
dela, rasgando dois blocos de á lcool e esfregando com cuidado.

Sua voz era um estrondo suave:

— Feche o punho.

É uma ideia horrível?

Ele estendeu a mã o para a agulha, destampando-a com um puxã o


experiente do polegar e do indicador. Sim, foi uma ideia horrı́vel.

Jess precisava de uma distraçã o.

— Qual é a histó ria? — Ela perguntou.

— A histó ria? — Concentrado, River se aproximou e inseriu a


agulha com tanta habilidade que ela mal sentiu o aperto.

— Sua histó ria. — Ela limpou a garganta, desviando o olhar da


agulha em seu braço. — A histó ria da origem.

Ele se endireitou quando o primeiro frasco se encheu.

— Você quer saber sobre isso?

— Sim.
— Lisa nã o revisou os primeiros estudos na apresentaçã o? — A
carranca dele para baixo em seu braço parecia uma preocupaçã o
pro issional, o inı́cio de um castigo que ele entregaria a Lisa mais
tarde.

— Ela revisou. Sobre seu estudo sobre atraçã o — Jess disse


rapidamente, e de initivamente nã o viu sua garganta se mover
enquanto ele engolia. — E, hum, felicidade conjugal de longo prazo. Mas
estou mais curiosa para saber como você chegou lá , o que lhe deu essa
ideia em primeiro lugar.

Ele retirou o primeiro frasco e fechou a tampa com uma pressã o


prá tica do polegar, ixando simultaneamente o novo frasco no lugar
com a mã o esquerda. Essas demonstraçõ es de destreza eram muito
sexualmente perturbadoras.

— Você quer dizer como um idiota como eu começou a estudar o


amor em primeiro lugar?

— Nã o tenho certeza se você está tentando me fazer sentir mal,


mas deixa eu te lembrar: essa é a sala onde você disse ao seu amigo
que eu era “totalmente normal”.

Ele revirou os olhos de brincadeira.

— Eu nã o esperava que você ouvisse isso.

— Oh. Nesse caso, nã o é um insulto.

— Você … — Ele puxou os olhos para cima, sobre o peito, pescoço,


brevemente para o rosto e de volta para o braço. — Você é uma cobaia
perfeita. Do ponto de vista cientı́ ico, a mé dia nã o é um insulto. Você é
exatamente o que procuramos. — Ela nã o tinha certeza, mas na luz
fraca, as pontas das orelhas dele pareceram icar vermelhas.

Ele trocou o segundo frasco e fechou facilmente um terceiro,


liberando o torniquete.
— De qualquer forma, aquela manhã estava ocupada. — Ele sorriu
para si mesmo antes de acrescentar: — E eu provavelmente iquei
desanimado com sua atitude.

— Ai meu Deus.

River riu baixinho.

— Vamos. Estou brincando. E ó bvio que nenhum de nó s gostou do


outro no inı́cio.

— Você nã o gostou quando eu te parei em Twiggs.

— Isso me assustou — disse ele, sem encontrar os olhos dela. Ele


pigarreou. — Eu ico perdido na minha cabeça à s vezes. Você deve ter
notado que eu posso ser um pouco... — Ele soltou o sorriso novamente,
mas apenas brevemente. E entã o se foi. — Intenso.

— Eu percebi isso uma ou duas vezes.

Habilmente, ele desatarraxou o ú ltimo frasco.

— Entã o: histó ria de origem. Enquanto eu estava na pó s-


graduaçã o, tinha uma mulher no laborató rio de David chamada Rhea.

Uma mulher, Jess pensou. Claro.

— Eramos rivais, de certa forma.

A maneira como ele acrescentou as trê s ú ltimas palavras à frase


comunicou claramente os rivais que também transam.

River retirou a agulha e imediatamente cobriu o local da punçã o


com um pedaço de algodã o. Ele o segurou irmemente com o polegar, o
resto da mã o levemente enrolado em torno do braço dela.

— Uma noite, em uma festa na casa de algué m — disse ele —


começamos a falar sobre o Projeto Genoma Humano dos anos 90.
— Como todo mundo faz em uma festa.

Ele riu, e o som completo e genuı́no deu um choque eró tico como
uma surra. — Sim. A medida que tu fazes. Está vamos conversando
sobre as implicaçõ es de conhecer cada gene, a maneira como a
informaçã o pode ser manipulada. Você poderia, por exemplo,
selecionar pessoas para determinados empregos com base em seu
per il gené tico?

— Parece Brave New World.

— Certo? — Ele veri icou embaixo da gaze para ver se ela estava
sangrando e, satisfeito, pegou um novo quadrado, prendendo-o em seu
braço com um esparadrapo. — De qualquer forma, acho que as bebidas
luı́ram e eventualmente eu perguntei se era possı́vel identi icar a
atraçã o sexual atravé s do DNA. Rhea riu e disse que foi a coisa mais
estú pida que ela já ouviu.

Jess o encarou, esperando o resto, e o efeito aquecido de sua risada


foi desaparecendo lentamente.

— E só isso?

— Quer dizer, nã o é só isso — disse ele, sorrindo timidamente. —


Se tornou um verdadeiro empreendimento cientı́ ico, mas se você está
se perguntando se o projeto teve inı́cio quando uma mulher zombou de
mim, nã o está totalmente enganada. Mas nã o sã o nı́veis de supervilõ es
de insegurança ou vaidade; foi uma curiosidade genuı́na no inı́cio.
Como uma aposta. Por que ela pensou que seria possı́vel traçar o per il
de algué m para um trabalho de engenharia versus cargo de design
grá ico, mas nã o para relacionamentos? Em ú ltima aná lise, ambos nã o
se tratam de adequaçã o e grati icaçã o?

Ele tinha razã o.

Com o rosto inclinado para baixo, ele riu baixinho enquanto


veri icava as etiquetas.
— De qualquer forma, Rhea nã o foi a ú ltima pessoa a zombar da
ideia.

— O que isso signi ica?

— Imagine ser um jovem geneticista bastante respeitado e de


repente se espalha que você está planejando usar sua experiê ncia para
descobrir quem vai se apaixonar por quem.

— As pessoas foram idiotas sobre isso?

Ele inclinou a cabeça de um lado para o outro, um “mais ou menos”.

— Os cientistas costumam ser bastante crı́ticos em relaçã o a


outros cientistas e ao que escolhemos fazer com nosso tempo e
conhecimento.

— Parece o mundo literá rio e Fizzy.

Suas sobrancelhas se ergueram.

— Oh, sim? Como assim?

— Você nã o acreditaria nas coisas que as pessoas dizem a ela


sobre escrever romances. Chamando seus livros “inú til'', como se
fossem algo para se envergonhar. Até em entrevistas. Ela foi
questionada sobre o que seu pai pensa sobre ela escrever cenas de
sexo.

— Sim, eu entendo. No inı́cio, quase todos que me conheciam


perguntavam: “Você está tã o desesperado para encontrar uma
namorada?” Eles obviamente nã o sabiam que, em 2018, quinze por
cento dos americanos estavam usando sites de namoro e os mesmos
quinze por cento gastavam quase trê s bilhõ es de dó lares por ano com
isso. Imagine esse nú mero indo de quinze por cento para quarenta e
dois vı́rgula cinco por cento–
— A porcentagem atual de pessoas solteiras com mais de dezoito
anos.

Seus olhos se encontraram e se prenderam enquanto eles


compartilhavam este momento profundo – e surpreendentemente
sensual – de conversa sobre estatı́sticas.

— Bom. — Ela piscou e voltou a piscar. — Tenho certeza de que


você está rindo por ú ltimo, e acho isso legal. — Ele olhou para ela sem
acreditar. — Eu realmente quero dizer isso. Eu só ... — Jess estremeceu
e a pergunta ó bvia pairou entre eles, um sinal oscilante ao vento. — Te
incomoda que eu nã o acredite em nossa pontuaçã o?

— Na verdade. Admiro seu ceticismo natural. — Ele deu a ela um


pequeno sorriso auto-indulgente. — E temos dados su icientes para
me sentir bastante con iante de que sabemos o que estamos fazendo
aqui. Você apenas terá que decidir o que pensar se este teste voltar
com a mesma pontuaçã o.

— O que você está esperando?

— Vou acreditar no teste se disser que somos biologicamente


compatı́veis, mas nã o sou um faná tico cientı́ ico, Jess. Eu reconheço o
elemento da escolha. — Ele tirou as luvas e as jogou na bandeja. —
Ningué m vai forçar você a se apaixonar por mim.

Com o rosto inclinado para baixo, Jess foi capaz de encarar ele
diretamente. Pele lisa e oliva, sombra de barba por fazer, lá bios
carnudos. Jess nã o tinha certeza, mas ela achava que ele tinha trinta e
poucos anos. Ela colocou o iltro mental do tempo em seu rosto,
imaginando-o com sal e pimenta nas tê mporas, as pequenas linhas de
riso nos cantos dos olhos.

Ela se mexeu um pouco no banco, sentindo uma dor desconhecida.

— Quando você viu a primeira pontuaçã o de compatibilidade


acima de noventa, qual foi sua reaçã o imediata?
Ele se levantou e calçou um novo par de luvas.

— Medo.

Esta nã o era... a resposta que ela esperava. Jess o seguiu com os
olhos enquanto ele se movia com a prateleira de frascos até o balcã o.

— Medo? Sé rio?

— Acima de noventa é onde entramos na gama de pontuaçõ es que


podem confundir completamente a nossa curva. — Ele colocou a
prateleira dentro e entã o tirou as luvas, virando-se para encarar ela. —
Já havı́amos visto uma grande compatibilidade com pontuaçõ es de até
noventa. As pontuaçõ es provenientes das avaliaçõ es comportamentais
e de humor monitoradas. Foi tudo linear. Nã o sabı́amos o que esperar.
Ela poderia permanecer linear? Como icaria isso emocionalmente?
Uma curva sigmoidal fazia mais sentido – as pontuaçõ es de satisfaçã o
emocional podem se nivelar em algum ponto acima dos oitenta e
chegar a uma assı́ntota. Mas imaginar que em uma compatibilidade
bioló gica mais alta podemos ver uma compatibilidade emocional
inferior – isso é o que me assustou. Realmente nã o queremos ter a
forma de um sino, mas simplesmente nã o temos muitos dados de
qualquer maneira.

Ele pareceu ouvir sua pró pria divagaçã o e parou abruptamente,


corando.

River autoconsciente era demais para aguentar. Jess empurrou o


carinho para longe.

— Você é muito nerd.

— Só estou dizendo, — disse ele, rindo de forma autodepreciativa,


— se a compatibilidade emocional real despencasse com nú meros
DNADuo mais altos, isso estreitaria nossa gama de combinaçõ es
possı́veis e tornaria mais difı́cil argumentar que os estivemos
descartando no caminho certo.
— Mas nã o foi isso que aconteceu — disse Jess. — Né ? Eles estã o
todos juntos e felizes.

— Aqueles que conhecemos, sim. Mas, como eu disse, há apenas


um punhado no topo da escala.

Ele se sentou junto ao banco, calçou um novo par de luvas, borrifou


á lcool e colocou um segundo par sobre o primeiro.

Ele nã o estava deixando nada ao acaso. Até Jess sabia o su iciente
para saber que ele poderia fazer essa preparaçã o de amostra na
bancada do laborató rio, mas ela nã o icou surpresa que ele estivesse
usando uma té cnica esterilizada. Mesmo assim, a ansiedade que
crescia em seu estô mago havia chegado a um ponto de ebuliçã o: ela
precisaria encontrar uma maneira de explicar se os resultados
voltassem a noventa e oito.

Mesmo que estivesse começando a parecer que o River Peñ a


poderia nã o ser o pior homem vivo.

Jess ergueu o queixo para as duas má quinas enormes idê nticas do
outro lado da sala.

— Esses sã o os DNADuos?

Ele seguiu sua atençã o brevemente e acenou com a cabeça.

— Nomeados de forma criativa como DNADuo Um e DNADuo Dois.


— Ela podia ouvir seu sorriso. — DNADuo Dois está fora do ar agora.
Será consertado na pró xima semana. Ele estará pronto e funcionando
em maio, espero. Você é bem-vinda para icar e passar um tempo —
acrescentou ele — mas o ensaio leva oito horas, entã o os dados nã o
serã o analisados até amanhã de manhã .

— Uma noite de sexta-feira selvagem para você ? — ela brincou.

Mas, de costas para ela, ela nã o sabia se ele esboçava um sorriso.
Sua postura assumiu a forma de um foco renovado.
— Normalmente estou aqui de qualquer maneira.

— Falou como um verdadeiro namorado dos sonhos.

Ele zombou – apreciando sua piada tanto quanto ela esperava que
ele izesse. Jess percebeu que estava sendo dispensada educadamente.
De pé , ela empurrou a manga de volta para baixo.

— Acho que vou para casa, para Juno.

— Eu te ligo amanhã — ele disse sem se virar. — Vou ligar de


qualquer maneira.
Capítulo 11

— MAE, VOCE sabia que a primeira montanha-russa foi construı́da


para manter as pessoas longe dos bordé is?

Jess arrastou os olhos para longe do Google para se concentrar em


seu pijama de sete anos, pendurado de cabeça para baixo no encosto
do sofá . Seu cabelo estava quase na cintura, e Pombo fez para si um
pequeno ninho agradá vel onde se acumulou na almofada.

— Olá , pequena humana. Como você sabe o que é um bordel?

Juno olhou para ela por trá s do livro.

— Eu ouvi em algum lugar.

Ela ergueu o queixo para o que Juno estava lendo.

— Seu livro da biblioteca sobre lagartos menciona bordé is?

— Nã o, foi em um ilme que assisti com Pop’s.

Jess apoiou o cotovelo na mesa de jantar ao lado de sua tigela


abandonada de mingau de aveia e deslizou o olhar para Pop’s sentado
inocentemente na espreguiçadeira.

Ele examinou suas palavras-cruzadas, dizendo casualmente:

— Estava em algum canal de histó ria. — Ele virou uma pá gina. —
Praticamente um documentá rio.

— Um documentá rio sobre bordé is, Pop’s? Nã o pode esperar até
que ela tenha, eu nã o sei, dez anos?

Juno de cabeça para baixo sorriu para ela vitoriosamente.

— Eu pesquisei no dicioná rio que você me comprou.


Droga.

Pombo disparou para fora do sofá apenas um segundo antes de


Juno deslizar o resto do caminho para o chã o, caindo em uma pilha
amarrotada e risonha. Sentando-se com o lado direito para cima
novamente, ela jogou a cabeça para trá s, deixando seu cabelo uma
bagunça emaranhada em volta da cabeça.

— Era um ilme sobre Billy the Kid.

Jess olhou para Pop’s novamente.

— Young Guns? — ela disse incré dula. — Minha ilha de sete anos
assistiu Young Guns.

— Em minha defesa, — ele disse, ainda sem se preocupar em olhar


para cima, — nó s está vamos assistindo Frozen novamente e eu
adormeci. Quando acordei, ela mudou de canal e assistiu. Você quer
que eu a impeça de aprender histó ria?

Juno pulou para o lado de Jess e olhou para seu laptop. Claramente
Jess estava se agarrando a qualquer coisa; ela realmente digitou
Projetos de arte da segunda série na barra de pesquisa.

— Já sei o que quero fazer pelo meu projeto — disse Juno. — Eu
quero fazer um parque de diversõ es de ita de arte com uma
montanha-russa, um carrossel, pequenas pessoas gritando e um Tilt-A-
Whirl.

— Querida, embora eu aprecie sua ambiçã o, isso é muito trabalho.


— Jess fez uma pausa. E gigante, e bagunçado, com cinco mil
pedacinhos pegajosos que acabariam em Juno, Jess, a mobı́lia e o gato.

— Alé m disso, estou preocupada de que você conte à Sra. Klein


como chegou à s montanhas-russas para se inspirar na arte.

— Eu nã o diria a ela que sei o que sã o bordé is.


— Talvez pudé ssemos começar nã o repetindo a palavra bordel. —
Jess colocou uma mecha de cabelo atrá s da orelha de Juno. — Que tal
uma colagem de balã o de ar quente? Podemos cortar fotos de revistas e
colá -las em uma cartolina.

Sua ilha claramente nã o se sentiu inspirada.

Jess voltou para a tela e clicou em uma lista de projetos.

— Esses cataventos sã o lindos. Ou uma ponte de picolé ?

Juno balançou a cabeça, a testa franzida presa irmemente na sua


ideia. Olá de novo, Alec. Ela pegou um livro de uma pilha sobre a mesa e
mudou para uma pá gina listando os dez melhores parques de
diversõ es em todo o mundo.

— Quero fazer algo bacana e me inscrever no North Park Festival


of Arts. — Juno apontou uma unha pintada com brilho para uma foto
antiga. — Esta é a ferrovia Switchback Gravity. E o que o cara construiu
para que as pessoas viessem aqui em vez dos — ela se inclinou,
sussurrando — bordéis. — Se endireitando, ela voltou ao volume
normal. — Mas eu nã o quero fazer isso porque só andava seis milhas
por hora e isso é apenas duas milhas por hora mais rá pido do que a
scooter Rascal de Nana quando ela quebrou o joelho.

Pop’s riu de sua cadeira.

— Pensei que ela fosse atropelar algué m naquela coisa.

Juno virou a pá gina para uma montanha-russa de cores vivas, uma
com um laço tã o grande que o estô mago de Jess embrulhou só de
imaginar.

— Acho que quero fazer Full Throttle no Magic Mountain — disse


ela. — Já que você nã o precisa mais trabalhar na Twiggs, talvez
pudé ssemos ir amanhã para o Experimentar Algo Novo no Domingo?
Jess tinha ligado para Daniel em seu caminho para casa do
GeneticAlly na noite passada. Ele parecia ligeiramente aliviado quando
Jess avisou; ela nã o tinha mostrado nenhuma habilidade como uma
barista.

— E uma longa viagem — Jess disse a ela.

— Nó s poderı́amos pegar o trem — Juno cantarolou.

— Nã o sei se o trem vai tã o para o norte — Jess cantarolou de


volta.

Sua ilha se aproximou, pressionando a ponta do nariz contra o de


Jess.

— Sim. Pop’s veri icou.

Jess olhou para Pop’s novamente, mas a culpa ainda nã o o induziu a
tirar os olhos das palavras-cruzadas.

— Você é alta o su iciente para entrar nisso? — ela perguntou.

— Vamos colocar saltos em seus sapatos — disse Pop’s, ao que


Juno respondeu com um grito ensurdecedor enquanto corria para
enfrentá -lo.

Jess esfregou as tê mporas, erguendo os olhos quando seu telefone


vibrou na mesa com um nú mero desconhecido. Quem estaria ligando
à s 8h15 de um sá bado?

A janela nebulosa de sua mente foi limpa. River.

Ela deveria atender. Ela deveria. Ele provavelmente tinha os


resultados do teste. Mas ela nã o conseguia fazer o polegar deslizar
sobre a tela. Ela apenas deixou vibrar em sua mã o antes de ir para o
correio de voz.

Nã o foi pâ nico com a possibilidade de os resultados terem sido


con irmados na noite anterior. Era o contrá rio: ela icara acordada até
depois das duas da manhã , pensando no que faria com o dinheiro.

Economias da faculdade. Um aparelho auditivo melhor para Pop’s.


Uma pequena almofada no banco. Agora que ela deu o salto e assinou o
contrato, Jess nã o queria que ele fosse roubado.

A tela do telefone dela escureceu. Ela esperou... e esperou. Sem


correio de voz. Excelente. Agora ela teria que ligar para ele.

Jess voltou ao laptop, o dedo pairando distraidamente sobre o


teclado. Ela resistiu a fazer isso até agora, mas o desejo era muito
tentador. Jess digitou Dr. River Peñ a na barra de pesquisa e pressionou
Enter. Os resultados povoaram a pá gina: artigos mé dicos, publicaçõ es
de ex-alunos da UCSD, prê mios. LinkedIn, ResearchGate. Ela clicou na
guia da imagem, e miniaturas de baixa resoluçã o encheram a tela. A
primeira foto foi tirada por um corpo docente, de acordo com a
legenda, enquanto ele era um pesquisador de pó s-doutorado na
Divisã o de Gené tica Mé dica da UCSD. També m havia mais recentes:
fotos com investidores em vá rios eventos de arrecadaçã o de fundos.
Em cada uma, ele parecia fá cil em sua pele. Em cada uma, ele estava
sorrindo.

Jess estava tã o despreparada para ver seus olhos enrugados e seu
sorriso perfeito e desigual que sentiu aquele estranho rubor de raiva
defensiva. Ela pegou dicas de seu sorriso de passagem, mas geralmente
apenas como diversã o presunçosa ou lashes de risadas
envergonhadas. Jess nunca tinha visto isso assim: brilhante e sincero.

E apontou direto para ela.

— Oh, quem é esse?

— Ningué m. — Ela fechou o laptop e pegou o café com toda a


sutileza de um desenho animado. Pega no pulo. — Eu estava só … —
Com foco renovado, ela abriu o livro de Juno novamente. — Entã o,
montanhas-russas?
A ilha avaliou a mã e astutamente. A suspeita deslizou pelas
feiçõ es de Juno, mas foi rapidamente substituı́da pela percepçã o de
que ela acabara de conseguir o que queria.

— Sim!

Fechando o livro, ela o pegou com os outros e correu em direçã o ao


seu quarto.

— Vou ver a programaçã o dos trens no seu iPad!

Jess começou a discutir, mas seu telefone vibrou na mesa. Era uma
mensagem do mesmo nú mero desconhecido.

Você gostaria de jantar? (É River.)

Seus pulmõ es se encheram de hé lio.

Isso signi ica que você achou o resultado?

David acabou de enviar o grá ico por e-mail. Liguei para


compartilhar os resultados.

Mas é um sim sobre o resultado?

98, con irmado.

Jess olhou para o telefone enquanto seu coraçã o decidia


enlouquecer completamente dentro de seu corpo.

Virando, sacudindo, socando. Era real.

Era real.

Ela sabia que era sua vez de dizer algo, mas suas mã os estavam
vagamente dormentes. Parando, ela clicou no nú mero de telefone e o
inseriu em Americano Flebotomista em seus contatos.
Finalmente, os trê s pontos apareceram, indicando que ele estava
digitando.

Você está livre hoje à noite?

Lentamente, uma letra cuidadosamente batida de cada vez, ela


conseguiu responder.

Bahn Thai. Park & Adams. 19h00. Estacione no beco nos fundos

— Cinco letras abaixo — disse Pop’s do outro lado da sala. — A


primeira letra é S. “Obstá culo”.

Empurrando o telefone de lado, Jess se abaixou para descansar a


cabeça nos braços cruzados.

— Salto — disse ela.

— HONESTAMENTE, JESSICA, nã o tenho trabalho em escolher


roupas como essa desde que escrevi Nicoline em His Accidental Bride.
— Fizzy deu um passo para trá s para julgar o que deveria ser a
mudança de roupa nú mero 142. — E você nem está ingindo ser uma
virgem escolhendo o que vestir em sua noite de nú pcias da era
vitoriana. Se acalma.

Jess observou seu re lexo, estilizado e polido e hilariantemente


desconhecido em um sutiã push-up acolchoado e um sué ter com
decote em V com um decote tã o profundo que quase chegava ao
inferno.

— Fizzy, nã o posso usar isso.

— Por que nã o?

— Para a primeira vez? — disse ela, apontando para o espelho. —


Quase consigo ver meu umbigo.
Fizzy piscou.

— E?

Jess puxou o sué ter pela cabeça, jogou na cama e pegou uma
camisa de cambraia desgastada que ela comprou em uma butique em
Los Angeles no verã o passado. Nã o combinava exatamente com o
benefı́cio do sutiã acolchoado de Fizzy, mas até Jess teve que admitir
que ela (eles) parecia muito bem.

Ela acrescentou um colar em camadas, en iou a camisa na frente da


calça jeans escura e se virou para Fizzy.

— E aı́?

Fizzy a olhou de cima a baixo, um sorriso separando seus lá bios


vermelho-cereja.

— Você está gostosa. Como você está se sentindo?

— Como se eu fosse vomitar.

Ela riu.

— E o jantar — Fizzy disse. —Porta ao lado. Você vai querer um


pouco de tom ka, um pouco de curry verde de pato e, se a qualquer
momento achar que cometeu um erro, deixa ele com a conta e volta
para casa. Ouça seu instinto. Estaremos bem aqui.

Sem exagero: eles estavam bem ali. O restaurante que Jess havia
escolhido icava do outro lado da rua, o que signi icava que ela já
estava sentada em uma mesa do lado de fora quando River apareceu.
Ele estava cinco minutos adiantado, mas pela sua expressã o de
surpresa, Jess só podia presumir que ela atrapalhou seu plano de
chegar lá primeiro, icar confortá vel e estar sentado com facilidade
quando ela chegasse.
Ele parou quando a viu, no meio de um passo, estranhamente pego
de surpresa.

— Oh. — Ele olhou ao redor da calçada. — Eu– desculpa, pensei


que você tivesse dito sete e meia.

Jess se entregou a uma varredura rá pida. Mesmo que fosse sá bado,
ela presumiu que ele tinha acabado de chegar do trabalho – ele estava
vestindo calça azul-marinho escuro, uma camisa de botã o branca com
o colarinho aberto – mas suas roupas pareciam impecá veis, e seu
cabelo estava recé m-lavado e penteado com os dedos.

— Eu disse. Eu moro bem ali. — Ela apontou para a esquerda e


seus olhos seguiram para o pré dio.

— Ah. — Puxando a cadeira, ele se sentou à mesa pequena dela e


fez sua pró pria inspeçã o – seus olhos contornando o comprimento de
seu corpo e rapidamente voltaram. Uma trilha de calor seguiu o
caminho. Ele pigarreou. — Isso é ú til.

Rama, um garçom musculoso de vinte e poucos anos que era o


heró i de Jess porque frequentemente chutava as pessoas da varanda
do Sr. Brooks, parou na mesa deles. Ele sorriu para ela, e entã o
signi icativamente deslizou seu olhar para River.

— Ei, Jess, quem é seu amigo?

Que maneira de deixar bem claro que ela nunca trouxe um cara
aqui antes.

— Pare com isso, Rama. O nome dele é River.

Os dois homens apertaram as mã os e River avaliou Rama


enquanto ele despejava á gua em seus copos.

— Precisa de um minuto?

— Claro, isso seria ó timo.


Quando Rama os deixou para examinar o menu, Jess ergueu o
queixo.

— Você veio do trabalho?

Ele levou a á gua aos lá bios, e Jess de initivamente nã o os viu se
separar e fazer contato com o copo. Ela també m nã o viu seu pomo de
Adã o balançar enquanto ele engolia.

— Eu parei em casa para me trocar. — Ele respondeu ao sorriso


dela com um dos seus. — Nã o tenho companheira, ilhos ou animais de
estimaçã o. Trabalho é praticamente tudo o que tenho.

— Isso é intencional?

Suas sobrancelhas franziram e Jess percebeu que ele estava


realmente considerando a questã o.

— Pode ser? Quero dizer, assim que obtivemos alguns resultados


iniciais no estudo de atraçã o, minha curiosidade meio que... assumiu.
Tem sido difı́cil pensar em outra coisa.

— O que é engraçado, — ela ressaltou, — já que você ica pensando


em namoro e relacionamentos o dia todo, mas nunca para você .

— Eu vejo de uma certa distâ ncia — disse ele. — Eu estava tã o


mergulhado nas ervas daninhas, olhando para alelos especı́ icos e
variantes gené ticas, que até talvez o ú ltimo ano ou dois, o quadro geral
era fá cil de ignorar.

Jess nã o tinha certeza se havia uma maneira melhor de formular


sua pró xima pergunta, entã o ela simplesmente a deixou sair:

— Há uma parte de você que se sente meio incomodado com esse
resultado?

River riu e ergueu o copo novamente. Nesse momento, Rama


voltou.
— Você s estã o prontos?

— Salvo por Rama — disse ela.

Os olhos de River seguraram os dela.

— Salvo. — Ele ergueu a mã o com a palma para cima, gesticulando


para ela fazer o pedido.

Jess suspirou e ergueu o rosto.

— Você sabe o que eu quero.

— Sim. — Rama voltou-se para River. — E você ?

— Espera, o que ela quer?

— Sopa Tom ka — Rama recitou. — E o curry verde de pato.

River franziu a testa.

— Oh. — Ele abriu o menu novamente. — O que... hum mais você


recomendaria?

Jess icou boquiaberta com ele.

— Nã o me diga que você ia pedir a mesma coisa?

River acenou com a cabeça em seu menu.

— Druken Noodles?

— Eles sã o ó timos — ela con irmou. — Vamos querer sopa para
dois e as duas entradas. — Ela olhou para River. — Quer uma cerveja ou
algo assim?

Ele parecia genuinamente encantado com a maneira como ela


assumiu o comando.

— Agua está bom.


Eles entregaram seus cardá pios a Rama, e Jess olhou para seu par
do outro lado da mesa.

— Mas, sé rio: você não ia pegar o pato.

— Eu ia.

Ela nã o sabia de onde vinha a vontade de rir e gritar, mas engoliu
com um gole de á gua gelada.

— Trabalhou hoje? — ele perguntou rigidamente, claramente


esperando que ela tivesse esquecido o que tinha perguntado antes de
serem interrompidos. Francamente, se ele nã o queria responder, Jess
provavelmente nã o queria ouvir a verdade de qualquer maneira.

— Nana sempre foi uma defensora de que, se eu nã o tiver que


trabalhar, sá bado é um dia de famı́lia.

— Você mora com sua avó ? — ele perguntou.

— Sim e nã o. Nana Jo e Pop’s sã o os donos do condomı́nio. Eles


moram no bangalô e eu moro no apartamento do outro lado do pá tio.

— Com sua ilha? — Ele con irmou, e ela acenou com a cabeça. —
Qual é o nome dela?

Depois de uma pausa de um segundo, Jess balançou a cabeça. O


mal-estar torceu por ela.

— Eu sei que ela está fora dos limites no que diz respeito ao
experimento — disse ele. — Eu só estava perguntando sobre a sua
famı́lia. Conhecendo. — Ele fez uma pausa, sorrindo alegremente. —
Por exemplo, tenho duas irmã s intrometidas.

— Oh, você tem sorte entã o. Mulheres intrometidas mantê m o


mundo funcionando.

— Elas adorariam isso. — Ele riu, caloroso e claro. — Ambas mais


velhas: Natalia e Pilar. Ambas autoritá rias.
— Mais novo. Huh. — Jess tomou um gole de á gua. — Eu nã o
apostaria nisso.

A diversã o ergueu o canto de sua boca.

— Por quê ?

Rama se materializou novamente com uma grande tigela de sopa


fumegante. Ele a colocou entre eles e eles compartilharam alguns
momentos de silê ncio fá cil enquanto serviam suas porçõ es, passando o
molho de pimenta e os condimentos pela mesa.

Jess se abaixou para cheirar o conteú do de sua tigela – o caldo


picante era um de seus alimentos favoritos – e registrou que River
tinha acabado de espelhar seu movimento com precisã o.

Ele percebeu quase ao mesmo tempo e se endireitou na cadeira.

— Por que você está surpresa que eu sou o mais novo? — ele
perguntou, seguindo em frente.

— Os ilhos mais novos costumam ser menos “intensos” — disse


ela com um sorriso, usando sua pró pria descriçã o contra ele. — Você s,
perfeccionistas tensos, tendem a ser os ilhos mais velhos.

— Entendi. — Sua risada rolou por ela, e ele se curvou, dando uma
colherada na sopa. O gemido profundamente sexual que ele deixou
escapar quando provou estava destinado a assombrar os melhores e
piores sonhos de Jess.

— E você ? — Ele perguntou. — Algum irmã o?

Ela balançou a cabeça.

— Filha ú nica.

Ele deu outra colherada.


— Eu acho que nó s dois terı́amos perdido uma aposta, entã o. Eu
teria dito mais velha, com pelo menos um irmã o.

— Por quê ?

— Você parece responsá vel, inteligente, meticulosa. Mandona. Eu


imagino você imitando seus pais e—

Jess bufou e riu e estendeu a mã o para cobrir a boca com o


guardanapo. A pró pria ideia de imitar Jamie era absurda.

— Desculpa, isso foi só — Ela alisou o guardanapo no colo


novamente. — Nã o, sou ilha ú nica.

Ele acenou com a cabeça em compreensã o e, para seu cré dito,


mudou de assunto.

— Entã o, conversamos sobre como cheguei aqui — disse ele. —


Mas como você acabou sendo freelancer estatı́stica? Admito que
combina com você .

Ela ergueu uma sobrancelha.

— Você parece muito competente — acrescentou. — E


reconfortante. Atraente.

Jess o observou evitando os olhos dela. Ele nã o tinha como saber,
mas chamando ela de “competente” era facilmente o melhor elogio que
ele poderia ter feito a ela.

Ele pousou o copo novamente.

— Mas a minha pergunta...

Jess cantarolou, pensando.

— Acho reconfortante que os nú meros nã o mentem.

— Mas eles podem ser enganosos.


— Só se você nã o souber o que procurar. — Ela tomou um gole de
sopa. — Eu sempre fui uma nerd de nú meros. Quando eu era criança,
contava meus passos em todos os lugares que ia. Eu contaria quantos
andares havia em um pré dio, quantas janelas por andar. Eu tentava
estimar a altura de um pré dio e depois procurava quando chegava em
casa. E quando iz minha primeira aula de estatı́stica, estava acabado.
Adoro trabalhar com nú meros signi icativos de forma mais ampla.
Previsã o de terremotos ou desastres naturais, campanhas polı́ticas,
resultados de pesquisas de atendimento ao cliente ou—

— Gené tica — disse ele calmamente.

Ahh. O elefante branco na sala. Ela sentiu o topo de suas bochechas


aquecer e olhou para baixo, surpresa de novo que seus seios estavam
muito mais pró ximos de seu rosto neste sutiã do que normalmente
estavam. Maldita Fizzy. Jess pigarreou.

— Exatamente. Contanto que você tenha dados su icientes, você


pode descobrir qualquer coisa.

— Eu entendo — disse ele na mesma voz calma. — Há algo


grati icante em resolver pequenos quebra-cabeças todos os dias. —
Eles comeram em silê ncio por um momento, e Jess se perguntou se ela
estava imaginando a maneira como o olhar dele parecia permanecer
em seu pescoço, e mais abaixo, por seus braços...

— Essas sã o… — ele perguntou, estreitando os olhos e apontando


para o antebraço direito dela, onde ela puxou a manga um pouco para
cima — Letra de Fleetwood Mac?

— Oh. — Sua mã o esquerda se moveu para cobrir a tinta. — Sim.


— Ela virou o braço, mas ele se inclinou, envolvendo o polegar e o
indicador em torno de seu pulso, virando para que pudesse ver a pele
macia de seu braço.

— “Felisidade só acontece” — ele leu, os olhos se afastando da


palavra incorreta e indo para o rosto dela. — “Felisidade”? –
Jess revirou os olhos.

— Felicity. — Esperançosamente, ela percebeu que simplesmente


dizer o nome dela explicaria tudo.

Ele deve ter entendido, porque riu e passou levemente o polegar


pelas letras. Nada como a maneira clı́nica que ele a tocou na noite
passada, dessa vez era devagar, explorando. E ela estava derretendo.

— E outra peça do quebra-cabeça se encaixa.

— Ela – Fizzy – tem a outra metade da linha. “Quando está


chovendo” exceto que nã o há u em quando. — Com ele olhando para ela
e tocando-a daquele jeito, foi preciso muita concentraçã o para formar
pensamentos e transformá -los em palavras. — No meu vigé simo
quinto aniversá rio, ela me levou para comemorar. Foi uma noite
realmente perfeita e eu enviei um e-mail quando cheguei em casa para
dizer obrigado. Eu estava absolutamente bê bada, e Pop’s achou tã o
engraçado que nã o me deixou usar a tecla Backspace para corrigir
meus erros de digitaçã o. — Ela encolheu os ombros. —
Aparentemente, eu enviei a ela por e-mail a letra completa da mú sica
que cantamos no karaokê para provar quã o só bria eu estava.

Seus olhos brilharam quando ele olhou para o rosto dela. Com um
olhar que pode ser de arrependimento, ele soltou o braço dela.

— Essa é uma boa histó ria.

Jess riu entre as ú ltimas duas colheradas em sua sopa.

— Pop’s é basicamente um monstro.

— Um monstro com senso de humor.

— Estou cercada de palhaços — ela admitiu.

— Você é sortuda.
Havia algo em seu tom que a pegou, atraiu seus olhos de volta aos
dele. Nã o que ele parecesse solitá rio, exatamente, mas havia uma
vulnerabilidade ali que a deixou um pouco desequilibrada.

— Eu sou sortuda. — Ela arranhou dentro de sua cabeça por algo


para dizer. — Me conta sobre todos na GeneticAlly. Você conhece todos
eles há muito tempo?

— A maioria desde que começamos. David, é claro. E Brandon era


amigo de Dave da faculdade.

Ele mexeu a sopa e saiu do caminho quando Rama voltou com os


pratos principais.

— E uma equipe muito unida.

— Algum deles teve uma combinaçã o? — Jess perguntou, cavando


nas travessas.

— Brandon, sim — disse ele. — Ele conheceu a esposa no... —


River ergueu os olhos, pensando, e Jess se maravilhou com seus olhos
de uı́sque de cı́lios escuros de novo. — Acho que era a terceira fase do
teste beta. Talvez quatro anos atrá s. Eles eram um Golden Match.

— Uau.

Ele acenou com a cabeça, servindo um pouco de comida em seu


pró prio prato.

— Eu sei. Ele foi o primeiro e foi realmente um grande negó cio. —


Nada assim, embora pendurado nã o dito entre eles. — Entã o, Tiffany –
você a conheceu na Reuniã o Desastre — ele disse com uma piscadela, e
Jess começou a rir. — Ela é nossa analista chefe de dados – ela
conheceu sua esposa, Yuna, quando eles se casaram. Eu acredito que
elas tinham oitenta e quatro pontos, e Yuna se mudou para cá de
Cingapura para icar com Tiff.

— De quantos paı́ses você retirou amostras?


Ele nem mesmo teve que pensar.

— Cinquenta e sete.

— Uau.

— Sim. — Limpando a boca com o guardanapo, River era um


retrato de boas maneiras e classe em frente a ela. Isso a tornava uma
pessoa terrı́vel, o fato de estar surpresa por esse encontro nã o ser
horrı́vel? A conversa luiu, os silê ncios foram fá ceis. Ela nã o derramou
nada em sua camisa, e ele a chamou de competente. Foi o melhor
encontro que ela teve em sete anos. — E todos os outros já namoraram
amplamente, se forem solteiros e interessados.

— Você acredita que é uma chatice para qualquer um deles que


nã o teve uma correspondê ncia de ouro ou superior? Tipo, você se
preocupa, dentro da empresa, que vai se tornar uma coisa competitiva
ou – eu acho, tipo, uma coisa de status?

Ele olhou para ela e entã o piscou.

— Você faz perguntas realmente investigativas.

Imediatamente, Jess icou morti icada.

— Eu sinto muito. Eu só estou — Ugh. — Desculpa.

— Nã o, nã o, está tudo bem, é muito... atencioso.

O calor se espalhou como uma onda espinhosa ao longo de sua


pele.

— Eu quero saber sobre isso — ela admitiu. — Eu quero saber


sobre você , e isso, e o que você pensa sobre tudo isso. Quer dizer,
estamos aqui agora. Eu disse que iria entrar neste acordo
genuinamente.

— Eu sei — disse ele, e parecia estar silenciosamente avaliando-a


com novos olhos. — Eu agradeço.
— Mesmo? — Ela perguntou, sentindo seu coraçã o bater por
dentro como um punho enluvado.

— Eu realmente nã o conheço outra maneira de ver isso. — Ele


pegou sua á gua e tomou um gole. — Você me perguntou antes se esse
resultado era um inconveniente. Nã o é . Nã o é um inconveniente, mas
admito que nã o tenho certeza do que pensar sobre isso. Se eu levar
isso a sé rio, isso reorganiza minha vida inteira. Se eu nã o levar isso a
sé rio, estou descartando tudo pelo que trabalhei.

— O que, aliá s, també m reorganiza sua vida — disse Jess, rindo.

Ele riu també m.

— Exatamente.

— Bem, nesse caso — disse ela — posso estar a bordo do Projeto


Seja Genuíno, mas Cauteloso.

Ele limpou a mã o no guardanapo e estendeu o braço sobre a mesa


para um aperto de mã o. Com o batimento cardı́aco em seus ouvidos,
ela pegou a mã o dele, e a dela pareceu estranhamente pequena em seu
aperto.

— O que acontece agora? — ela perguntou.

— Acho que nos encontraremos quando estivermos livres — disse


ele, e seu cé rebro começou a girar sobre como isso funcionaria, onde
isso poderia ir.

E para onde ela queria que fosse.

— Tudo bem.

— Caso contrá rio, esperamos por ordens e direçõ es de Brandon


sobre qualquer apariçã o pú blica.

— Brandon Butkis — Jess sussurrou, em parte para quebrar a


tensã o de imaginar forjar um relacionamento pessoal com River
depois desta noite e em parte porque – como ela poderia nã o dizer
isso? — Vamos lá , você tem que admitir que é um ó timo nome.

Rama largou a nota na mesa deles e River agradeceu antes de


colocar a pequena carteira de couro em seu colo. Sem perder o ritmo,
River deu a pró xima informaçã o com uma cara admiravelmente sé ria:

— O sobrenome da esposa dele é Seaman.

Jess engasgou.

— Nã o.

Finalmente, um sorriso apareceu em seu rosto.

— Sim.

— Eles separaram os sobrenomes? — Ela se inclinou. — Por favor,


me diga que eles separaram.

River riu.

— Nã o.

Passos pequenos pisaram na calçada, e o peso e o ritmo foram


registrados no cé rebro de Jess apenas uma fraçã o de segundo antes de
um par de braços pequenos serem jogadas em seu pescoço.

— Você me deixou um pouco de pato?

Jess espiou por cima da cabeça da ilha para lançar um olhar


morti icado e apologé tico para River. Segurando sua ilha com o braço
estendido, Jess fez a Cara de Mã e mais convincente que ela conseguiu.

— O que você ainda está fazendo acordada, querida? Você nã o


deveria estar aqui.

— Eu podia ouvir sua risada no pá tio.


— Mas o que você estava fazendo no pá tio?

— Batendo Pop’s nas damas.

— Pop’s? — Jess chamou.

— Ela é muito rá pida — respondeu Pop’s atrá s da cerca.

Juno deu uma risadinha.

— Estou com ela — disse Jess de volta. Ela cedeu e beijou a testa
de Juno antes de virar o rosto para River. Aparentemente, isso estava
acontecendo. — Desculpa pela interrupçã o.

Ele balançou a cabeça e sorriu calorosamente para Juno.

— Sem problemas.

— Juno, esse é o Dr. Peñ a.

Juno estendeu a mã o, e ele envolveu sua pequena mã o na grande.

— River — disse ele, tremendo suavemente. — Você pode me


chamar de River.

Sentando-se no colo da mã e, Juno inclinou a cabeça, considerando.

— Você també m tem um nome ú nico.

River concordou.

— Eu tenho.

— Você gosta disso? — ela perguntou.

— Absolutamente.

— Meu nome do meio é M-E-R-R-I-A-M. Recebi o nome de


montanhas. Qual é o seu?
— Nicolas, por causa do meu avô .

Ela franziu os lá bios, menos impressionada.

— Hmm. Isso é normal, eu acho. Algué m já provocou você por ser
chamado de River Nicolas?

— Algumas vezes — ele admitiu. — Mas eu pre iro ser provocado


por ter um nome que ningué m mais tem do que um que uma tonelada
de pessoas tem. Estou disposto a apostar que ningué m mais se chama
Juno Merriam Davis. Só você .

Jess se recostou, absorvendo tudo isso, confusa com a sensaçã o de


calor em seu estô mago.

Juno se mexeu no colo e Jess ouviu o minú sculo sino da gata do


outro lado da cerca que separava o pá tio do restaurante do quintal do
apartamento.

— Minha mã e é Jessica Marie Davis — Juno disse com simpatia


exagerada. — Pesquisamos uma vez e havia quatrocentos delas. — Ela
fez uma pausa e, com um timing cô mico surpreendentemente bom,
acrescentou: — Na Califó rnia.

— Sim. — Ele chamou a atençã o de Jess e sorriu para Juno. — Mas


eu aposto que há realmente apenas uma pessoa como sua mã e no
mundo todo.

O quê?

— Isso é verdade — Juno concordou com uma inocê ncia


desenfreada.

Ele imediatamente desviou o olhar, limpando a garganta, e o


coraçã o de Jess arranhou uma videira, balançando
descontroladamente atrá s de suas costelas.
River puxou sua carteira, deslizando suavemente quatro notas de
vinte na pasta de notas.

— Eu provavelmente deveria ir.

Jess sorriu.

— Obrigado pelo jantar.

— A qualquer momento. — Ele sorriu para Juno novamente, e


entã o rapidamente para Jess. — Sé rio.

Eles se levantaram, e Jess deixou sua ilha de pijama subir em suas


costas para ser carregada para a cama.

No beco, River parou e olhou por cima do ombro de Jess para o


complexo de apartamentos atrá s deles.

As pontas tenras das videiras podiam ser vistas balançando ao


longo do topo da cerca.

— Obrigado por me deixar estacionar aqui.

— Temos um local para convidados. O estacionamento na rua é


uma chatice total.

— As pessoas se sentam nos carros na frente — acrescentou Juno.


— Sr. Brooks ica tão bravo.

River franziu a testa, levando essa informaçã o adoravelmente a


sé rio. —

Ele ica?

— Nosso vizinho — Jess explicou. — E um elenco de personagens


de desenhos aqui.

River olhou para o reló gio enquanto estendia a mã o para a porta
do carro e a destrancava.
— Estou vendo isso.

Jess procurou por isso, ela realmente fez, mas nã o havia nada em
seu tom que a izesse pensar que ele estava reclamando.

— Boa noite, Jessica Marie e Juno Merriam.

Juno apertou o pescoço de Jess.

— Boa noite, River Nicolas.


Capítulo 12

PANQUECAS QUEIMADAS, um tê nis laranja faltando, vô mito de


gato na mochila, café fervendo sem á gua na pia e uma mã e gritando
com sua ilha que se ela nã o queria cortar o cabelo, entã o ela precisava
deixar a mã e trançar antes de dormir. Em outras palavras, um colapso
clá ssico antes das oito da manhã . Jess nã o teve a chance de se olhar no
espelho, muito menos veri icar seu e-mail, até que deixou Juno na
escola com segurança, e ela icou feliz por isso, porque a noti icaçã o e o
fato de ela e River terem sido convidados para uma entrevista pelo San
Diego Union-Tribune a teria feito vomitar bem ao lado do gato.

— Recebi seu e-mail — disse ela assim que Brandon atendeu.

— Oh, ó timo! — Dentes, dentes, dentes. Era tudo que Jess podia
imaginar. — Parece que o encontro foi bom?

Ela mordeu o lá bio. Tudo tinha corrido bem. Melhor que o
esperado. River nã o deveria ser engraçado, e ele de initivamente nã o
deveria encantar sua ilha. E ainda sim.

— Sim, foi bom.

— O horá rio da entrevista funciona? Eu sei que é o curto prazo de


amanhã .

— E menos uma questã o de tempo — Jess admitiu — do que uma


questã o de coragem.

— Você ? — Ele riu generosamente. — Você é adorá vel. Pare com


isso.

— Nã o estou acostumada a ser pressionada. — Jess rapidamente


acrescentou: — Eu sei que é para isso que me inscrevi, mas eu
esperava começar com jantares pequenos, entã o talvez alguns tweets
que ningué m percebe, uma pequena entrevista em um blog sobre
namoro online e, eventualmente, trabalhando nosso caminho até o Trib.

— Michelle estará fazendo a entrevista e ela é um amor — Brandon


garantiu. — Ela vai adorar você . Ela e River se conhecem há muito
tempo.

Jess queria perguntar se isso era có digo para foder, mas nã o
perguntou.

Brandon leu atravé s do silê ncio dela:

— Ela fez um artigo sobre ele há vá rios anos. Isso é tudo.

— Mm-hmm. Entã o, amanhã — ela disse, mordendo o lá bio. —


Amanhã ao meio-dia, Shelter Island. — Jess fez uma pausa e um calafrio
ú mido percorreu seu pescoço. — Por que Shelter Island?

— Lugar perfeito para fotos. — Ele con irmou seus temores, e ela
quase engoliu a lı́ngua. Ela já tinha virado o armá rio de cabeça para
baixo para o jantar, e uma camisa de cambraia e jeans era o melhor que
ela poderia inventar. Este era exatamente o tipo de coisa que ela temia.

— Eu tenho que ir à s compras.

— Jessica, honestamente, tudo o que você estiver vestindo está


bom.

— Brandon. Você nã o diria isso se pudesse me ver agora.

Ele riu.

— Só quero dizer que você vai icar bem de qualquer maneira.

Ela iria? Ela olhou para sua camiseta cinza-clara surrada e seu
moletom cinza-carvã o. Ela, honestamente, nã o podia icar ao lado do
River “Modelo” Peñ a em frente à baı́a de San Diego em nada que
estivesse em seu armá rio.
Por outro lado, no inal do dia, uma alma gê mea te amava pelo que
havia por dentro, certo?

DE TODOS OS LUGARES bonitos de San Diego – e realmente havia


muitos – poucos eram tã o espetaculares quanto Shelter Island. Se ela
pegasse Harbor até Scott, virasse à esquerda na Shelter Island Drive e
depois outra à esquerda no cı́rculo, um longo estacionamento dava
para uma das melhores vistas da cidade: uma vista completa de San
Diego

Baı́a com o horizonte do centro em uma gló ria perfeita e cristalina.


Coronado era visı́vel à distâ ncia. A noite, a vista era tã o deslumbrante
que parecia entrar em um cartã o postal.

Mesmo durante o dia – especialmente depois de uma chuva


matinal que deixou o cé u azul e claro – era tã o lindo que Jess parou por
um segundo assim que saiu do carro, olhando para um lado do centro
de San Diego que ela deveria apreciar mais. Os edifı́cios pareciam
espadas lustrosas e brilhantes à distâ ncia. Nuvens grandes e fofas de
algodã o pontilhavam o cé u, e veleiros balançavam na superfı́cie da
baı́a. Acrescente a isso a visã o de River, em calças escuras, um longo
casaco de camelo sobre um sué ter azul-marinho, o cabelo voando ao
vento como algo saı́do de um ilme de Jane Austen. Seria estranho se
ela icasse aqui e apenas... olhasse para ele? Tirar uma ou duas fotos?
Ningué m a culparia.

Por um segundo – de verdade, apenas um segundo – Jess se


arrependeu de nã o estar mais insegura com suas roupas antes de sair
de casa. Ela inalmente decidiu por jeans preto, uma camiseta branca e
sapatilhas pretas.

Simples, mas apropriado.

Embora talvez muito simples. Ao lado de River estava uma mulher


– Michelle, Jess adivinhou. Ela era bonita do tipo jornalista, o que
signi icava que podia se dar ao luxo de nunca ser o assunto de sua
pró pria histó ria; como ela se vestia realmente nã o importava. Jess
icou ao mesmo tempo divertida e magoada por ela e Michelle estarem
basicamente usando a mesma roupa, com a ú nica exceçã o de que
Michelle fora esperta o su iciente para usar um cardigã por cima da
camiseta branca. Era meio-dia de um lindo dia de inı́cio de fevereiro,
mas Jess havia se esquecido de como a Shelter Island estava exposta.
Com o vento soprando por eles em rajadas geladas, ela congelaria sua
bunda.

Percebendo sua chegada, eles encerraram a conversa. Os dois


avançaram e, atrá s de onde estavam, Jess notou um homem instalando
diligentemente o que parecia ser um monte de equipamento
fotográ ico. Essa era uma produçã o muito maior do que ela previra.

Seu estô mago murchou.

Michelle era ainda mais bonita de perto, confortá vel em sua pele,
com um sorriso amigá vel. E, claro, havia River, arrancado das grossas
pá ginas de uma revista, parecendo tã o fora do alcance de Jess que ela
só conseguia rir da abordagem dele.

Ele percebeu e deu um sorriso inseguro.

— O que é engraçado?

— Nada. — Ela ergueu a mã o e a deixou cair em derrota. — Claro,


você só – parece tã o bem.

Ele parou na frente dela e baixou o olhar de sua cabeça para seus
pé s e vice-versa. Sua voz era um arranhã o de lixa.

— Você també m.

— Mentiroso.

Ele esboçou um sorriso.

— Nã o.
É tudo uma atuação, ela pensou. Até o Drácula era notoriamente
charmoso.

Entã o, tã o rapidamente que ela se perguntou há quanto tempo ele
estava trabalhando nisso, ele se abaixou e beijou sua bochecha. Jess
icou tã o chocada com essa reviravolta que ela pode muito bem ter
estendido um ú nico dedo e tocado sua testa, no estilo ET. Michelle
provavelmente estava assistindo a isso e escrevendo a manchete em
sua cabeça: Uau, eles são namorados totalmente falsos.

Subtı́tulo: E eles são péssimos nisso.

— Oi — disse Jess, porque seu cé rebro nã o se lembrava de outras


palavras.

River sorriu esse sorriso desconhecido e privado e repetiu de


maneira fofa para ela:

— Oi.

Revisã o de legenda: E ela é péssima nisso.

Michelle os lembrou de que ela estava ali també m.

— Você s dois sã o fofos.

Jess teve que literalmente morder a lı́ngua para nã o responder:


Não, não somos.

River parecia també m ter esperado que ela voltasse com algo
contrá rio e ofereceu um orgulhoso aceno de sobrancelha antes de se
voltar para Michelle.

— Michelle, essa é a Jess. Jess, Michelle.

As duas mulheres apertaram as mã os e Michelle gesticulou para


um a loramento de rochas perto da á gua.
— Devemos começar? — Enquanto caminhavam, ela apontou para
o homem com todas as câ meras. — Jess, este é Blake. Ele vai tirar
algumas fotos. Por enquanto, vamos apenas conversar enquanto ele
con igura. — Ela inclinou a cabeça para Blake, mas manteve os olhos
em Jess. — Se você ver ele por aı́, ele está apenas tirando fotos. Eu
prometo que vamos fazer você icar linda. Apenas tente relaxar o
má ximo possı́vel, seja natural.

Jess respirou fundo e exalou tã o completamente quanto pô de,


percebendo que no processo seus ombros caı́ram de perto das orelhas
de volta à posiçã o normal.

Confortavelmente, como se passasse a maior parte do dia na frente


de uma equipe de ilmagem, em vez de em reuniõ es de investidores,
River se sentou em uma rocha logo abaixo da altura da cintura e abriu
o braço, gesticulando para que Jess se sentasse ao lado dele.

Jess deu trê s passos para mais perto e se sentou tropeçando, as


pernas juntas desajeitadamente para evitar se inclinar em seu corpo
longo e só lido. Com facilidade, ele a moveu para mais perto de uma
superfı́cie mais plana, e agora ela estava em uma posiçã o mais
confortá vel, mas eles estavam sentados juntos como pessoas que eram
ı́ntimas sem esforço.

O que eles nã o eram.

— Jess — disse Michelle, e entã o acrescentou: — Espero que nã o


haja problema em te chamar de Jess. E como River se referiu a você ...?

— Jess está ó timo.

— Otimo — ela repetiu. — Já entrevistei River para um artigo


sobre a empresa, entã o tenho um bom histó rico lá , mas é a primeira
vez que converso com ele como cliente. Antes de falarmos com ele,
estou interessado em saber como você entrou em tudo isso. O que fez
você fazer o teste em primeiro lugar?
— Honestamente — disse Jess — fui arrastada por uma amiga. Ela
e eu – e River – somos frequentadores assı́duos deste café , e um dos
baristas mencionou que River estava começando algum tipo de site de
namoro — ela apontou para ele — Quero dizer, seja honesta, ele parece
mais com um professor de histó ria medieval gostoso, né ?

Michelle riu, balançando a cabeça.

— Ele realmente parece. — Ela escreveu algo.

— Mas ele nos convidou para ir aos escritó rios — disse Jess, e
olhou para River para encontrá -lo sorrindo para ela com ternura.
Estava sacudindo e a tirou de seu ritmo fá cil e inconsciente. — Entã o,
nó s fomos.

— E como foi para você conhecer Jess? — ela perguntou a River.

— Nã o tı́nhamos nos conhecido o icialmente até aquele dia —


disse ele, e estendeu a mã o para passar a mã o pelo cabelo como um
lindo modelo. — Eu a vi — ele disse, olhando para ela novamente e
deixando seu olhar se mover completamente sobre suas feiçõ es. — Eu
a vejo lá há alguns anos, mas nã o tinha ideia de qual era o nome dela.

— Você queria saber?

Ele olhou para Michelle com um pequeno sorriso malicioso.

— Claro que sim. Olhe para ela. — Ele gesticulou para Jess.

— Acima da mé dia? — Jess rosnou, incapaz de se conter.

Ele deu a ela um sorriso brincalhã o, mas cauteloso.

— Muito acima da mé dia. Só um idiota sugeriria o contrá rio.

Michelle observou essa troca com interesse.

— Estou sentindo que há uma histó ria de fundo aı́, mas vou seguir
em frente. Jess, você pode me falar um pouco sobre você ?
Enquanto Jess fazia um resumo bá sico de sua vida – seu trabalho
de graduaçã o na UCLA, seu primeiro emprego no Google e seu trabalho
posterior como freelancer –, a atençã o de River na lateral de seu rosto
era como a prensa de um ferro em brasa. Ela podia sentir ele sorrindo,
acenando com a cabeça para essas vá rias informaçõ es. Ela podia até
ouvir os pequenos zumbidos de a irmaçã o que ele oferecia de vez em
quando. Como um namorado orgulhoso.

Ele era bom nisso.

— E o que você pensou quando teve a pontuaçã o DNADuo de


noventa e oito? — Michelle perguntou.

Pelo menos ela poderia responder verdadeira aqui.

— Eu nã o acreditei.

River riu.

— Eu també m nã o.

— Posso imaginar — disse Michelle.

— Pense nisso — disse ele. Jess engoliu cerca de um litro cú bico de
ar quando River enroscou os dedos da mã o esquerda com os da direita.
Ele era muito bom nisso. — Eu vi centenas de milhares dessas
pontuaçõ es na ú ltima dé cada. Eu nunca tinha visto um noventa e oito.
Quais sã o as chances de ser eu?

— Eu diria que elas eram muito poucas.

— De pouco a nenhum. Na verdade — River disse a ela — Jess


provavelmente poderia calcular essas probabilidades.

— Eu poderia, com certeza — ela disse, sorrindo. — Essa


pontuaçã o é , como nó s, matemá ticos, gostamos de dizer,
“profundamente inesperado”.
Os dois riram e River apertou a mã o dela em um pequeno gesto de
bom trabalho. Pelo menos, ela assumiu que era isso que ele queria
dizer. Poderia facilmente ter sido mais como Não diga a palavra com P
na frente do repórter.

— Entã o, você s tiveram a pontuaçã o, os dois levaram um tempo


para digeri-la. Entã o o quê ?

— Entã o — disse River com uma calma melosa — saı́mos para


jantar.

— Como foi?

Ele olhou para Jess, os olhos sorrindo.

— Eu diria que correu bem.

— Entã o — Michelle cantarolou suavemente — você diria que


estã o o icialmente juntos?

Instantaneamente, a mã o de Jess icou escorregadia e suada nas


mã os de River. O mais secretamente que pô de sem que Michelle
percebesse, ela a desenroscou, enxugando na coxa.

— Uh — disse ela, semicerrando os olhos para o horizonte como se


a pergunta exigisse um cá lculo profundo. — River?

Assim que ela disse o nome dele, River deu um “Nó s estamos”
de initivo.

Michelle riu.

— Sim, estamos, estou apenas brincando — disse Jess, enquanto


acrescentava: — Pelo menos, estamos abertos para o que o futuro
reserva.

Sorrindo, Michelle se abaixou para escrever algo novamente. Jess


lançou a River um olhar assassino. Ele jogou um de volta. Eles
provavelmente deveriam ter previsto esse tipo de pergunta. Eles se
viraram e ixaram sorrisos em seus rostos pouco antes de Michelle
erguer os olhos novamente.

— Entã o, acho que podemos concordar que é novo — disse ela.

— Muito novo — eles responderam em unı́ssono e riram


forçadamente.

River pegou a mã o dela novamente e apertou enfaticamente.


Enquanto isso, Blake, o fotó grafo, pairava no fundo, formando um arco
ao redor deles, planejando seu ataque – ou fotos espontâ neas. As
palmas das mã os de Jess icaram ú midas de novo.

— Desculpa — ela murmurou.

River se curvou para ingir que tossia com a mã o livre.

— Está bem.

— Entã o, falando sé rio, — disse Michelle, — acho que a maioria


das pessoas vai querer saber se isso é diferente. A primeira vez que
você s se viram, quero dizer, realmente olharam, houve algum tipo de
reaçã o interna? Uma pontuaçã o de noventa e oito – você deve saber em
algum nı́vel bioló gico.

Aí está. Ali. Ela descobriu a vulnerabilidade de River. A biologia


disso, a suposiçã o de que seu corpo, de alguma forma, simplesmente
saberia. Jess nã o conseguia superar a improbabilidade do nú mero. Ele
nã o conseguia superar a maneira que sabia que deveria sentir em cada
cé lula de seu corpo.

— Atraçã o, sim — ele disse sem hesitaçã o. — Mas nó s só estamos
programados para pensar sobre os primeiros encontros em um nı́vel
muito primitivo. Sexo. Acasalamento. Somos animais, em ú ltima
aná lise.

O calor subiu por seu pescoço, e ela foi tratada com uma imagem
mental de River atrá s dela, seu peito apertado sobre suas costas, os
dentes pressionados na pele nua de seu ombro.

— Mas nã o somos realmente programados para nos perguntar à


primeira vista se algué m é nossa alma gê mea. Pelo menos, nã o sou. —
Ao lado dela, ele encolheu os ombros. — Pode ser irô nico, dado que
quero encontrar para outras pessoas, mas de alguma forma nã o me
inseri em nenhuma das descobertas do DNADuo. Verdadeiramente.
Visto que estamos a alguns meses de meu primeiro lançamento e
tendo de inido meus pró prios crité rios tã o altos, a ú ltima coisa que eu
esperava era uma noti icaçã o em meu pró prio aplicativo. Entã o, se
você está perguntando se eu iquei surpreso com o resultado, a
resposta é sim... e nã o.

Seu cé rebro parecia estar mastigando, digerindo cada uma de suas
palavras. Ele parecia tã o sincero, mas o que era real e o que era apenas
ingimento? A voz de Michelle a tirou de seus pensamentos.

— Jess?

Jess pigarreou.

— Como eu disse, eu iz o teste por capricho. Eu nã o estava


procurando um relacionamento. Tinha acabado de desistir de namorar,
na verdade. — Michelle riu de fá cil compreensã o. — Entã o, sim, iquei
surpresa. — Ela olhou para o rosto aberto de River e, talvez porque
suas defesas estivessem baixas, um zumbido baixo começou em seus
ossos. A vibraçã o profunda a percorreu, sincronizando com a sensaçã o
de energia de alta frequê ncia ao longo da superfı́cie de sua pele. Ele era
tã o lindo que a deixou tonta. — E nã o — acrescentou ela calmamente.
— Por outro lado, nã o iquei nem um pouco surpresa.

— River, eu tenho que perguntar: compartilhar essa descoberta


publicamente é um con lito de interesses? — Perguntou Michelle.

— Eu esperava que você suspeitasse mais de que era um golpe da


mı́dia.

Ela sorriu.
— E?

— Nã o.

Ela gesticulou ao redor deles.

— Mas você está aproveitando isso, com certeza.

— E extraordiná rio. Nã o signi ica que seja falso.

— Jess, — disse Michelle, se inclinando, — a pressã o para se


apaixonar por ele é ... intensa?

— Sim — ela admitiu. — Eu nã o sei como é a sensaçã o de


encontrar sua alma gê mea. Eu nunca encontrei a minha antes,
obviamente. E, nesse caso, duvido de todos os sentimentos, mesmo
quando parecem genuı́nos.

— River, ouvir isso te deixa inquieto?

— De jeito nenhum. — Sua voz soou verdadeira. — Nó s dois somos


cientistas. Nã o seria nossa natureza mergulhar de cabeça em nada.

— Talvez seja por isso que você s combinaram — Michelle meditou.

Jess ergueu os olhos para ele. Ele olhou para ela. Ela nã o pô de
evitar espelhar seu novo sorriso particular.

— Talvez — ele concordou, e baixou a voz, inclinando para


sussurrar em seu ouvido. — Projeto Seja Genuı́no, mas Cauteloso. —
Jess quase estremeceu com a sensaçã o.

Michelle cortou a tensã o com uma faca, batendo palmas.

— Vamos tirar algumas fotos perto dos bancos de lá . — Ela se


levantou e, se estava ciente da densa né voa emocional que nublava Jess
e River, nã o demonstrou. Ela e Blake conversaram e acenaram para
eles. — Gostarı́amos de ter a á gua como pano de fundo, entã o se você
pudesse icar — ela colocou as mã os nos ombros de Jess, virando-a
para icar de frente para o estacionamento — aqui. River logo ao lado e
um pouco atrá s dela, sim, bom, e confortá vel para você s. Eu vou estar
aqui, nã o estamos ouvindo. Apenas – conversem um com o outro. O
mais naturalmente possı́vel. Esqueça que estamos aqui!

Jess queria olhar para ela com profunda incredulidade


desmascarada. Ela e River estavam basicamente no segundo encontro,
e Michelle queria que eles icassem juntos e fossem conscientemente
fotografados apenas – conversando intimamente? Naturalmente? Para
um jornal com tiragem na casa das centenas de milhares? Eles nem
eram bons em ser naturais quando estavam sozinhos.

— Sem pressã o — Jess murmurou.

— Só ... — disse ele, procurando — ...me diz alguma coisa sobre o
seu... carro.

— Meu... carro?

Ele riu e se aproximou dela.

— E a primeira coisa que me veio à cabeça. Nã o pense que sou


melhor do que você nisso.

— Eu absolutamente penso isso — disse ela, sorrindo enquanto


Blake erguia a câ mera até o rosto. — Olhe para você .

— O que isso signi ica? — River perguntou.

— O que signi ica o quê ?

— “Olhe para você ” — ele repetiu.

Jess riu.

Blake clicou no obturador.

— Signi ica — disse Jess — que é isso que você faz. E claro que
espero que você seja mais suave em todas as coisas relacionadas a
namoro e apariçõ es pú blicas. Quer dizer, eu sou—

— Se você disser “normal”, vou te jogar na baı́a.

— Eu nã o ia — disse ela, rindo. Clique.

River exalou um suspiro longo e lento atrá s dela, quente em seu


pescoço. Um arrepio percorreu seu corpo, sacudindo sua espinha.

Ele percebeu: — Você está com frio?

— Congelando — ela admitiu.

Jess o sentiu mudar, entã o ele icou totalmente atrá s dela. No


momento em que ela ia perguntar o que ele estava fazendo, ele esticou
os braços e ela se viu envolta em um calor suave, pressionada contra
uma parede de forte calor. River a en iou em seu casaco, fechando-a
dentro dele com ele.

Clique.

Ele nã o estava tremendo ou instá vel. Ele a segurou com irmeza,
sua frente pressionada ao longo de suas costas como se nã o fosse
grande coisa. Os sentidos de Jess icaram confusos.

Michelle riu.

— Jess, você está corando.

Ela nã o podia nem ingir que isso era normal.

— Tenho certeza que estou.

— Entã o, eu entendo o lado fı́sico de–

— Sem comentá rios — River interrompeu, a voz a iada.

Mas agora a imagem estava realmente acendendo em sua mente:


Sexo com River. Ele sobre ela. Suado embaixo dela. Rosnando e
comandando atrá s dela. O corpo de Jess a traiu, se arqueando um
pouco para trá s, e seu pequeno gemido abafado disse a ela que o
movimento havia sido registrado.

Michelle se virou e conversou com Blake sobre algo na tela da


câ mera dele, e Jess se inclinou minuciosamente para frente para um
resfriamento fı́sico, mas River a puxou de volta contra ele novamente,
envolvendo os braços em volta da cintura dela. Pressionado contra ela.

— Você está com frio — ele a lembrou, murmurando em seu


cabelo.

— Nã o tanto agora — ela disse baixinho, e ele riu calorosamente.

Clique.

Jess mordeu o lá bio inferior, contendo uma risada histé rica que
borbulhou em sua garganta.

— Você está excitado?

Sua voz era uma mistura de constrangimento e naturalidade perto


de seu ouvido.

— Eu posso estar.

— Ai meu Deus.

— Você só – se pressionou contra mim.

Jess se curvou, sufocando uma risada. Clique. Clique. Mas isso


apenas empurrou sua bunda de volta para ele e ele soltou um assovio
baixo, puxando-a para mais perto.

— Jessica.

Ela soltou a risada. Por apenas uma pequena batida, ela exerceu o
poder de todo o universo. Jess entrou no formidá vel River Peñ a.
Clique.

— Você está gostando disso — ele rosnou.

— Claro que sim. Você també m, aparentemente.

— Eu gostaria mais se nã o tivé ssemos um pú blico.

Clique.

— Você está dando em cima de mim?

— Parece que estou. — Ele parecia tã o surpreso quanto ela.

— Nó s gostamos um do outro?

Ele ajustou os braços ao redor dela, pesado e seguro.

— Ainda em revisã o.

Clique.

Ele suspirou.

— Eu acho... bem, eu nã o sei você , mas estou começando a gostar


de você .

Mais fá cil ser corajosa enfrentando o estacionamento em vez de


seu rosto bonito, seus braços a impedindo de lutuar.

— Eu nã o sei sobre alma gê mea, mas eu admito a luxú ria. — Ela
virou o rosto para o lado.

Sua boca estava tã o perto da dela.

River se acalmou e olhou para os lá bios dela.

— Isso está certo?


Seu tom prendeu Jess, que inalmente se sentiu corajosa o
su iciente para encontrar seus olhos. O calor derreteu por ela.

Clique.
Capítulo 13

PROVAVELMENTE DEVERIA ter ocorrido a Jess que ela embrulhada


no casaco de River seria a foto perfeita, mas absolutamente nã o lhe
ocorreu que eles iriam acabar na primeira pá gina.

Do San Diego Union-Tribune.

Fizzy deixou cair uma có pia sobre a mesa antes de tirar a bolsa de
seu ombro.

— Puta merda, Jessica Davis.

Jess levou a caneca aos lá bios, escondendo uma careta por trá s
dela.

— Eu sei. Eu vi no meu iPad essa manhã .

— Quã o fodidamente adorá veis você s dois sã o?

Ela colocou a caneca de volta na mesa.

— Para com isso.

Fizzy pigarreou, lendo em voz alta.

— “O par tem o brilho cintilante e o nervosismo de um novo amor.


Aparentemente sem perceber, Jess se inclina para ele quando ela fala.
River olha para Jess como se tivesse esperado a vida inteira por ela. Mas,
apesar da impressão externa de que o amor está no ar, nenhum dos dois
acreditou no resultado quando ele apareceu pela primeira vez. ‘Nós dois
somos cientistas’, disse Peña francamente. ‘Não seria nossa natureza
mergulhar de cabeça em nada.’ Mesmo assim, é di ícil não acreditar
quando você os vê juntos”.

Jess gemeu.
— E sé rio. Para, por favor.

— Nã o, nã o — disse Fizzy, levantando a mã o e passando para a


segunda pá gina. — A pró xima parte é a minha favorita. “Quando o vento
aumentou e Jess estava visivelmente com frio, River a envolveu em seu
casaco. Meu fotógrafo e eu icamos em silêncio, testemunhas da história
de amor que se desenrolava à nossa frente. O GeneticAlly pode estar
entrando em um mar lotado de aplicativos de namoro experientes, mas
está claro que eles estão acertando as coisas importantes.”

A essa altura, Jess estava apoiando a cabeça na mesa, desejando


que o pré dio desabasse.

— Podemos parar agora?

— Se for preciso. — Ela ouviu Fizzy dobrar o papel e colocá -lo


sobre a mesa. — Foi divertido?

— Nã o — Jess disse imediatamente, de forma re lexiva. Ela se


sentou, e a mentira icou suspensa entre elas. — Sim?

Ela tomou um gole de café muito quente e tossiu.

— Quer dizer, não. Nã o foi divertido no sentido que você quer
dizer. Foi estranho e esquisito..., mas bom? — Ela fechou os olhos com
força. — Pare com isso, Fizzy.

— Parar o quê ?

— Para de me olhar assim.

Fizzy riu dela.

— Seu sistema está realmente derretendo.

— Ele é um homem bonito, ok? — Jess concordou. — Entã o, sim,


há um efeito de proximidade aı́.
Apontando para o sorriso risonho de Jess na foto, Fizzy disse: —
Parece que você quer que ele te coma no jantar.

— Ok, nã o. — Jess se endireitou, puxando o cabelo em um coque.


— Nã o quero mais falar sobre isso.

— Derretendo. — Fizzy olhou para ela maravilhada antes de entrar


em açã o e desempacotar seu laptop. Elas precisavam trabalhar; Fizzy
escreveu, Jess analisou os dados. Mas ela podia sentir Fizzy olhando
para ela de vez em quando, estudando como uma amostra em uma
lâ mina. E ela sentiu o peso de sua inspeçã o tã o isicamente que Fizzy
poderia muito bem estar parada atrá s dela, as mã os em seus ombros,
pressionando para baixo. Sorte para a cabeça de Fizzy e o disco rı́gido
externo na mesa entre elas, ela desviou o olhar antes de Jess pegar algo
para jogar nela.

Jess sabia que Fizzy provavelmente tinha mil perguntas sobre tudo
isso. Ela també m. O que diabos ela e River estavam realmente fazendo?
Como ela se sentia por estar tã o isicamente atraı́da por algué m que ela
nã o tinha certeza se realmente gostava? O que ela deve fazer com todo
esse interesse em seus lombos?

E em todo esse questionamento silencioso, nunca ocorreu a Jess


que 8h24 estava chegando.

A porta se abriu com um ding alto, e seu coraçã o deu um salto, em


ritmo acelerado.

Passos, passos, passos.

River passou pelo ambiente com a con iança arrebatadora de um


rei em uma corte, e Jess sentiu o ar mudar ao redor deles, uma
mudança honesta na pressã o atmosfé rica.

Fizzy se inclinou para o lado, avistando River, seus olhos se


arregalando.

— Puta merda.
Jess nã o precisou se virar para saber que todo mundo estava
olhando para ele. E entã o, mesmo de costas para a sala, Jess sentiu
todos se virarem para olhar para ela.

Ignorando a sensaçã o, ela se virou. River estava sorrindo... para as


pessoas? Um rubor saudá vel em suas bochechas, um pequeno, mas
inconfundı́vel aumento de sua boca.

A voz de Fizzy brilhou com admiraçã o:

— O que você fez com ele?

— Nó s não–

— Ele está sorrindo–

— Eu sei — Jess retrucou. — E estranho. Cala a boca.

Ela nã o calou a boca: — Quando você s dois realmente...

Se inclinando, Jess sibilou: — Shhh!

Ela ingiu estar muito, muito absorta em seu trabalho, mas era
inú til. E ela sabia, sem ter que observá -lo, que uma vez que ele pegasse
sua bebida, ele estava vindo em sua direçã o.

Ele colocou duas xı́caras na mesa.

— Ei.

Jess e Fizzy olharam estupidamente para ele. Ele era tã o lindo e
dominante que tudo que Jess conseguiu responder foi um simples "o
quê ?".

Ele acenou com a cabeça para as bebidas que colocou na mesa. Um


café . Um café com leite de baunilha.

— Achei que você iria querer um novo logo — ele disse.


— Obrigado — Fizzy e Jess disseram em unı́ssono monó tono e
robó tico.

O canto esquerdo de sua boca dobrou.

— De nada. — Ele sustentou o olhar de Jess, e o peso escuro dele


acendeu o estopim que levou à explosã o em sua libido. — Você viu o
jornal?

Seu pescoço e bochechas coraram quando ela se lembrou de como


era ter ele atrá s dela.

— Uh, eu vi, sim.

River sorriu com conhecimento de causa, esperando por mais, mas


ela era incapaz de tirar a roupa dele mentalmente e dizer palavras ao
mesmo tempo. Por im, ele disse:

— Acho que Michelle fez um bom trabalho.

Por que ela estava sem fô lego?

— Foi muito bom. Ela foi legal. Mesmo que ela tenha mencionado
minhas mã os ú midas.

Ele riu, balançando a cabeça.

— Você foi ó tima.

— Obrigada. — Imaginou River pelado e embaixo dela no chã o, o


que explicava por que ela demorou alguns segundos para acrescentar:
— Você també m foi.

Ele olhou para o reló gio.

— Tudo bem, entã o… te vejo mais tarde. — Com um sorriso inal


divertido de lá bios franzidos, ele se virou para deixar Twiggs com o
Americano na mã o. Passos, passos, passos. A campainha da porta tocou
quando ele saiu.
Fizzy icou olhando para ele.

— O que acabou de acontecer?

— Ele comprou café para nó s. — Jess foi extremamente casual.


Nem um pouco instá vel. — Relaxa, Fizz.

Enquanto isso, seu cé rebro gritava em letras maiú sculas.

— Minha vagina simplesmente se desenrolou como uma lor —


disse Fizzy, ainda olhando para a porta.

— Nã o.

— Como a porra de uma lor, Jess.

Jess segurou a testa com as mã os. Seria um longo dia.

HORAS DEPOIS, a atençã o de Fizzy estava de volta ao jornal.

— Olhe para essa maldita quı́mica. — Elas saı́ram para almoçar,


mas, ambas dentro do horá rio, voltaram para trabalhar um pouco mais
antes de encerrar o dia. — Está molhando essas pá ginas malditas. Me
diz que você nã o acredita nessa merda.

— Para.

— Você s vã o colocar fogo na cidade. Todo mundo está transando


essa noite.

— Oh meu Deus, você ... — Jess parou abruptamente, a


compreensã o caindo como uma bigorna. — Ai, merda.

— Você pode simplesmente transar com ele e depois descrever–

— Fizzy. Sé rio, espera. — Jess ergueu os olhos para ela. O efeito da
consideraçã o de River essa manhã havia passado, e o calafrio de pavor
tomou conta dela, da cabeça aos pé s. — Hoje é segunda-feira.
— E?

— Juno e Pop’s vã o à biblioteca na segunda-feira.

— E?

Jess apontou o dedo indicador para baixo em sua có pia do jornal.

— Fizzy, há cerca de setenta có pias desta imagem na biblioteca!


Minha ilha vai me ver na capa do jornal embrulhada como uma gata
com tesã o no casaco do River! Você sabe quantas perguntas ela faz
sobre vé rtebras de girafa? Você sabe quantas ela vai fazer sobre isso?

Fizzy se endireitou, virando à esquerda, virando à direita, antes de


en iar apressadamente o laptop na bolsa. Jess seguiu o exemplo,
arrumando as bolsas como se Twiggs estivesse pegando fogo.

NORMALMENTE era uma caminhada de dez minutos de Twiggs até


a biblioteca da University Heights. Elas izeram em seis.

Fizzy parou na calçada do lado de fora, com as mã os nos joelhos.

— Puta merda. Por que escolhi um trabalho tã o sedentá rio?


Quando os zumbis vierem, estou fodida.

Jess se encostou no ponto de ô nibus e ofegou: — Eu també m.

— Se o objetivo era chegar aqui rá pido, poderı́amos, nã o sei, ter
pegado um carro?

Jess se endireitou, olhando para ela.

— Eu entrei em pâ nico, ok? Parece muito mais fá cil quando eu
ando.

Ela respirou fundo, maravilhada com o quã o profundamente sem


fô lego ela estava. Adicionar à lista de tarefas: Mais cardio. Ela olhou para
o reló gio.

— A escola de Juno saiu há quatro minutos. Eles estarã o aqui em


cerca de dez. Precisamos correr.

Fizzy escovou as pontas de seu cabelo escuro atrá s do ombro.

— O que poderia dar errado?

Elas subiram a rampa que levava à entrada principal, sorrindo


despreocupadamente para uma mulher mais velha enquanto
passavam. Nada para ver aqui. Apenas uma ida normal à biblioteca para
esconder todas as cópias do seu jornal diário. Emily, a bibliotecá ria
favorita de Juno, estava no computador na mesa principal, e Jess
diminuiu a velocidade até parar.

— O que estamos esperando? — Fizzy disse por cima do ombro de


Jess quando ela colidiu com as costas.

— Emily está lá em cima — ela sussurrou. Emily era a favorita de


Juno em parte porque ela era uma querida e sabia onde estava tudo, e
em parte porque seu cabelo era rosa e ela andava em uma Vespa azul
brilhante para trabalhar todos os dias. — Se ela me ver entrar, ela vai
querer dizer oi. Juno nos verá e estamos fritas.

— A bibliotecá ria boazinha — Fizzy disse sarcasticamente,


estreitando os olhos. — O pior tipo.

Jess olhou para Fizzy por cima do ombro.

— Silê ncio.

— Você ica quieta. Eu sinto que estou cometendo um crime real


estando aqui — Fizzy sussurrou atrá s dela. — Estou atrasada para
renovar meu cartã o da biblioteca!

— Nã o é como se um alarme fosse disparar — disse Jess. — Eles


nã o nos examinam quando você entra pela porta. — Um cliente se
aproximou do balcã o e ela observou enquanto Emily ouvia, sorria e
assentia, gesticulando para que a pessoa a seguisse. Jess pegou a mã o
de Fizzy. — Vamos.

Elas deslizaram pela porta e foram direto para os fundos perto do


Centro de Atendimento para Adultos, correndo atrá s de uma estante de
livros quando viram um homem mais velho parado bem na frente da
gigantesca prateleira de jornais. Fizzy olhou em volta nervosamente.

— Quer parar? — Jess sussurrou-sibilou. — Você escreveu uma


sé rie inteira de suspense româ ntico sobre uma assassina. Estamos
escondendo jornais. Por que isso parece mais difı́cil para você do que
quando percebeu, no meio de um jogo de sinuca, que apostaria um
bando de Hells Angels que poderı́amos chutar a bunda deles?

— Eu nã o sou boa com pressã o de grupo, ok? Normalmente sou eu


que estou falando com você para fazer algo estú pido. Dessa vez é tudo
ao contrá rio.

Jess olhou ao virar da esquina, gemendo ao ver o homem ainda


parado ali.

— Posso ver seis có pias da primeira pá gina bem ali. Só precisamos
pegar todos elas.

Uma mulher mais velha caminhou pelo corredor e as duas


tentaram parecer casuais. Fizzy se encostou na estante; Jess pegou um
livro de receitas de escargot da prateleira e tentou parecer absorta.

A mulher olhou para elas com cautela ao passar.

Fizzy pegou o livro dela e o colocou de volta no lugar.

— Nó s realmente temos que fazer isso? — Ela olhou em volta. —


Isso parece estranhamente errado.

Jess honestamente nunca esperou que Fizzy tivesse um lado


medroso.
— Você lembra de quando estava escrevendo Meu Alter Ego e me
pediu para colocar minha perna atrá s da cabeça para — Jess fez aspas
no ar — “ver se uma pessoa normal poderia fazer isso”?

Fizzy franziu a testa, pensando.

— Vagamente.

— Eu puxei meu tendã o e mal pude andar por uma semana. Para
você e seu livro. Mas você ainda disse a Daniel que eu distendi um
mú sculo vaginal em um acidente sexual. Você me deve essa.

— Eu vou matar você no meu pró ximo livro.

Nã o foi a primeira vez que ela ameaçou, de initivamente nã o seria
a ú ltima.

— Certo.

As duas olharam em volta da estante novamente, aliviadas quando


viram que a barra inalmente estava limpa. Jess já podia se ver sentada
em frente ao policial malvado na delegacia, recebendo café sujo em um
copo de isopor e imagens de vigilâ ncia dela se esgueirando até a seçã o
de mı́dia adulta, desenrolando uma braçada de Union-Tribunes da
prateleira e correndo para longe. Ela faria uma promessa silenciosa a
Juno e ao condado de San Diego de que seria voluntá ria e leria na hora
da histó ria até que sua ilha izesse dezoito anos se pudesse impedir
Juno de ver esses jornais... ou ela.

Elas caminharam pela biblioteca como se tivessem todo o direito


de carregar dois braços cheios de jornais e, em seguida, os colocaram
cuidadosamente atrá s de uma longa ileira de livros de bolso de Mary
Higgins Clark.

— Pegamos todos eles? — Fizzy perguntou, o rosto corado quando


ela olhou por cima do ombro.

— Sim. Vamos sair daqui.


Elas caminharam pelo corredor e pararam assim que a entrada
apareceu. Jess puxou Fizzy de volta, abaixando a cabeça apenas o
tempo su iciente para ver Juno e Pop’s entrarem pela porta.

— Ai meu Deus — disse Fizzy. — Essa foi por pouco.

— Sim. — Jess olhou novamente, o coraçã o acelerado enquanto os


observava caminhar direto para os jornais.

— Vamos. Ela vai deixar Pop’s nos jornais e ir direto para a nã o-
icçã o infantil. Temos cerca de trinta segundos.

Fizzy acenou com a cabeça, e com as costas de Juno e Pop’s viradas,


elas correram direto para as portas.

FIZZY FICOU O su iciente para terminar um copo de chá gelado de


Nana e anotar os detalhes de sua aventura antes de ir para casa fazer
algumas coisas nas redes sociais e se preparar para uma noite com
Rob.

Jess recebeu algumas mensagens de River mencionando a


possibilidade de uma festa, e que Brandon estaria mandando um e-
mail para os dois... de initivamente nada que justi icasse o lash de
calor que subiu por seu pescoço. Ela icou tentada a começar uma
releitura brilhante dela e da pequena onda de crimes de Fizzy, mas se
conteve por medo de começar uma conversa que ela realmente nã o
queria ter. Jess nã o icou chateada por River ter conhecido Juno, mas
també m nã o tinha certeza se queria que acontecesse de novo. A futura
Jess de initivamente teria que lidar com isso, mas depois do dia que ela
teve, essa Jess só queria tomar uma taça de vinho e fazer espaguete.

Ao arrumar o apartamento e começar o jantar, ela encontrou um


conforto novo e ainda desconhecido: lembrar a si mesma que nã o
precisava se preocupar com dinheiro, pelo menos por alguns meses.
Ela nunca teve o luxo de uma almofada antes, e era quase indulgente
imaginar pagar um ano de plano de saú de adiantado ou gastar com
Tylenol verdadeiro em vez do gené rico. Tempos loucos.

Pombo se enrolou em torno de seus pé s e Jess estava adicionando


macarrã o à á gua fervente quando a porta se abriu e Juno correu para
dentro.

— Mamã e! Como construir a melhor montanha-russa do mundo em


dez etapas fáceis! Eu entendi! — Ela tirou os sapatos e abriu a bolsa no
meio da sala, derramando o conteú do no chã o recé m-aspirado de Jess.

Colocando a colher de pau na pia, Jess se afastou do fogã o e se


encostou na ilha. Ela parecia culpada?

— Eu era a nú mero dois na lista de espera, mas algué m nã o


atendeu, entã o, quando eu estava lá , Emily disse que eu poderia dar
uma olhada. — Juno jogou o livro no balcã o e inalmente voltou a
respirar. — Eu tenho que começar meu projeto.

— Olá para você també m. — Jess parou o ser rodopiante com um


braço em volta de seus ombros e puxou a ilha para dar um beijo no
topo de sua cabeça. — Cadê o Pop’s? — Ela olhou para o pá tio, mas nã o
o viu.

Juno desapareceu na sala de estar, voltando com uma pasta azul,


pelo menos uma dú zia de pedaços de papel tentando escapar dela.

— Ele está levando Nana para comer comida etı́ope. — Ela


derrubou uma pilha de correspondê ncia enquanto espalhava os papé is
no balcã o à sua frente. Jess os pegou novamente. — As instruçõ es
dizem para usar um pedaço de papelã o nove por doze, mas també m
posso usar um trinta e seis por quarenta e oito. — Ela fez uma pausa.
— Nó s temos isso?

— Você está perguntando se eu tenho um pedaço de papelã o de


mais de um metro por aı́? Desculpa. Vou pegar. — Jess mexeu a massa e
desligou o fogã o. — Meu bem, vamos tentar manter isso
administrá vel? Onde poderı́amos colocar algo tã o grande?
Juno olhou ao redor do apartamento e apontou para a mesa da sala
de jantar.

— E onde comerı́amos?

— Na Nana e no Pop's.

Jess olhou para a ilha por cima do ombro enquanto ela escorria o
macarrã o.

— O que mais você precisa para iniciar este projeto?

— Fita de arte, o tipo grande. Um monte disso. Você sabia que na


Filadé l ia algué m fez um casulo de cento e vinte e oito metros com ita
translú cida? Vinte e um metros daqui! Você pode escalar nele e tudo
mais.

— Uau. — Jess puxou os pratos e os trouxe para o balcã o.

— També m preciso de cola, ita adesiva normal e papel de


construçã o para fazer as pessoas. — Ela apontou para o iPad de Jess
sobre a mesa. — Posso pesquisar?

— Pode — Jess disse automaticamente, e colocou o macarrã o no


prato, cobrindo com o molho.

Juno pegou Pombo da cadeira e ergueu o iPad para acordá -la.

— Como foi a escola hoje? — Jess perguntou, virando assim que


uma imagem carregou na tela.

Uma foto dela e de River.

A capa do Union-Tribune que ela estava lendo esta manhã . Pooorra–

— Mamã e! — Juno gritou. — Essa é você e o River Nicolas!

Era possı́vel perder todo o sangue do corpo sem realmente


sangrar?
— Ele é seu namorado?

Como Jess deveria responder a isso? Que ela estava apenas


ingindo com River porque eles estavam pagando a ela? Que eram
amigos que por acaso foram fotografados enrolados nas roupas um do
outro? Como foi que ela tentou tanto proteger Juno, mas como sempre
estragou tudo?

Ela parou o jantar com as mã os trê mulas.

— Isso é … — Jess procurou por palavras, em pâ nico, suando,


surtando. — Fomos–

Eu não sou minha mãe. Não estou colocando Juno por último. Eu
posso explicar.

Antes que Jess pudesse falar, poré m, Juno inclinou a cabeça.

— Você ica bonita com seu cabelo assim. — E entã o, com a mesma
rapidez, sua atençã o foi atraı́da para o prato. — Oh, espaguete! — Ela
deu uma garfada enorme, os olhos fechados enquanto mastigava.

Atordoada, Jess só conseguiu olhar enquanto Juno inclinava o copo


no rosto e o colocava na mesa, deixando uma lua brilhante de leite
sobre o lá bio superior. Ela sorriu vitoriosamente para sua mã e.

— Posso comprar uma ita depois do jantar?

— Sim, quantas itas você quiser — disse Jess.

— OK! — Juno girou mais macarrã o em seu garfo. — Posso ter de


cores diferentes? Como azul e laranja e verde e vermelho? — Ela deu
outra mordida gigante e Jess voltou para a cozinha.

Ela abriu a geladeira e tirou uma garrafa de vinho.

— Claro — ela respondeu, e se serviu de uma bebida. Cor de rosa?


Roxo? De bolinhas? Se divirta, garota. Jess nunca teve o luxo de ser
liberal antes; parecia estranho, mas també m maravilhoso. Ela
observou Juno terminar seu jantar e pegar o iPad novamente,
cantarolando enquanto colocava materiais de arte em seu carrinho.

Quem disse que dinheiro nã o traz felicidade nunca tinha visto essa
cena.
Capítulo 14

SEGUNDO O RELATO DE BRANDON, Trevor e Caroline Gruber eram


pessoas completamente adorá veis. Sim, eles eram investidores do
GeneticAlly e, sim, depois daquele per il do Union-Tribune, eles queriam
oferecer um coquetel para conhecer Jess junto com alguns dos outros
doadores importantes, mas eles são despretensiosos, Jess, Brandon
insistiu. Você vai amar eles.

Trevor era uma espé cie de gê nio da tecnologia de Detroit, e


Caroline era uma ortopedista pediatra de Rhode Island. Mundos
colidindo, amor verdadeiro, tudo isso.

O fato de eles terem escolhido dar alguns milhõ es legais para uma
empresa cujo objetivo era combinar as pessoas com suas almas
gê meas deu a Jess a esperança de que eles e seus convidados nã o se
pareceriam com o homem do Banco Imobiliá rio.

Havia milhares de bons investimentos nessa á rea de biotecnologia


em expansã o, mas como algué m que manipulava dados e ajudava
empresas a avaliar riscos, nem mesmo Jess poderia dizer com certeza
que, em circunstâ ncias diferentes, ela escolheria dar dinheiro para a
GeneticAlly.

Dito isso, bastava olhar para River quando ele a pegou na frente de
seu pré dio e ela icaria feliz em jogar sua carteira e senhas bancá rias
em quem quer que estivesse perguntando. Ele estava em um terno
azul-marinho sob medida. Sapatos polidos. Cabelo perfeito quase
comprido demais, olhos brilhantes. O pomo de adã o que ela pensou em
lamber mais de uma vez desde a entrevista em Shelter Island, uma
semana atrá s. Brandon tinha falado com ela antes, insistindo que
GeneticAlly compraria seu vestido e mandaria algué m para fazer seu
cabelo e maquiagem. Um gesto atencioso e generoso, serviu
principalmente para destacar que o evento era Muito Fodidamente
Importante, o que deixou Jess respirando fundo em um saco de papel.
E justo quando ela se convenceu de que era socialmente há bil e
atraente o su iciente para aguentar icar nos braços do Dr. River Peñ a a
noite toda, ele saiu de seu carro parecendo um mú sculo só lido e
energia sexual derramada por uma má quina so isticada de engenharia
alemã em um terno.

Jess deu um salto voador de uma ponte mental. Ela estava


completamente fodida. Ela baixou a ponte levadiça para os
pensamentos sexuais e agora eles estavam disparando. Francamente,
se ela e River algum dia transassem, ele teria muito o que fazer. River
ictı́cio era uma maravilha na cama.

Ele se curvou e beijou sua bochecha novamente – desta vez ela


estava pelo menos preparada para isso, mas ela nã o estava preparada
para o ataque de sensaçõ es. Ele cheirava... diferente.

Ele inalou profundamente pró ximo ao ouvido dela.

Eles falaram em unı́ssono:

— Você está usando perfume?

— Você está usando colô nia?

Sua pergunta ecoou por ú ltimo, e mais alto. Ele está corando?

— Um pouco. Minhas irmã s... — ele limpou a garganta. — Me


disseram para ir à Neiman Marcus e pegar algumas recomendaçõ es.

Jess puxou um saco mental de lechas e mirou na vendedora


imaginá ria que enxugou sua pele com vá rias colô nias e chegou perto o
su iciente para cheirá -lo.

— Suas irmã s te disseram para comprar… Colô nia?

— Elas estã o investidas. Nisso. — Ele suspirou, mas ela sabia que
ele estava apenas ingindo estar exasperado.
Suas irmã s estavam investidas neles? Isso era adorá vel ou
assustador?

— Isso é muito doce — Jess conseguiu dizer.

River riu secamente.

— Essa é uma palavra para descrever.

— Bem, a colô nia é boa. — Eufemismo do caralho. Jess queria


comer ele e engolir com o resto do frasco.

Ele se inclinou novamente.

— O que é esse cheiro?

Jess icou chocada por um momento quando registrou que eles


estavam cheirando um ao outro. E reconhecendo a diferença. Isso era
normal? Isso era estranho? Ela decidiu seguir em frente.

— Está – tudo bem, parece estranho, mas é toranja. E uma coisa de


toranja... — Ela nã o sabia como dizer. — Nã o é perfume, exatamente.
Gosta de ó leo? E um rolinho... — Jess calou a boca e apenas ingiu
mexer algo em seu pulso. — Perfume me dá dor de cabeça, mas isso —
ela sentiu o topo de suas bochechas em chamas — isso eu posso usar.

— Eu gosto disso. — Ele parecia lutar para encontrar as palavras.


— Muito.

O que ela estava ouvindo em sua voz? Restriçã o estranha e dura.


Parecia que ele estava dizendo a um prato de bife amanteigado
Wellington, eu aguentaria dar uma mordida, quando na verdade ele
queria dizer, quero isso na minha cara.

Será que River Peñ a... queria ela na sua cara?

Jess teve que diminuir um nı́vel. Ela pode ter estado


constantemente obcecada desde o aconchego na Ilha Shelter, mas ela
nã o podia fazer suposiçõ es sobre onde ele estava com tudo isso.
Alé m disso, ao entrarem no carro, Jess lembrou a si mesma que
logo estariam na cobertura de um investidor para um coquetel. Ou seja,
River – e todos os presentes esta noite – tinham interesse inanceiro
em que ela o olhasse com olhos cheios de tesã o. Jess já sabia que River
escolheu suas palavras com cuidado; por tudo que ela sabia, suas irmã s
podiam ser realmente investidas, nã o apenas sentimentais e
intrometidas.

A ó bvia atraçã o dela por ele ajudou a aumentar a con iança em sua
empresa, o que ajudou seu bolso, e també m ajudou a con irmar tudo o
que ele havia dito do ponto de vista cientı́ ico todo esse tempo. Jess
sabia como era importante para River que o mundo visse o impacto de
seus dados.

E, francamente, olha o que Jess estava disposta a fazer por trinta


mil dó lares. Nã o, nã o era difı́cil comprar vestidos na conta do
GeneticAlly e andar de mã os dadas com cé rebro de ciê ncia vestido de
sexo em uma festa chique, mas seus trinta mil foi uma gota no balde
em comparaçã o com o que River estava ganhando. Milhõ es.

— O que você está pensando aı́? — ele perguntou, interrompendo


seu silê ncio ponderado.

Nã o machucaria ser honesta.

— Oh, apenas questionando cada escolha que eu iz.

Isso o fez rir.

— Eu també m

Mentiroso.

— Me dê um exemplo.

Ele olhou para ela e depois de volta para a estrada enquanto


pegavam a rampa de acesso 163.
— Mesmo?

— Mesmo.

Depois de uma longa pausa, durante a qual Jess presumiu que ele
decidira ignorar o pedido dela, River inalmente falou.

— Ok: você pensou em mim quando colocou esse vestido?

Do peito à testa, sua pele icou quente. Jess olhou para seu vestido.
Era de um azul profundo, com alças inas pretas. Delicados bordados
metá licos de poeira estelar estavam espalhados em pequenos grupos
artı́sticos por todo o vestido, dando a sensaçã o de um cé u estrelado
suave. A guarniçã o sutil de renda preta cruzou acima e abaixo dos seios
e ronronou vestido sensual, mas Juno e Fizzy – suas duas cervejas –
literalmente icaram sem palavras quando ela saiu do provador
usando, entã o Jess con iou em suas reaçõ es sobre ela, sem a hesitaçã o
de que ela pudesse estar mostrando muita pele.

— Eu sei que você está sendo paga para estar aqui — acrescentou
ele calmamente. — Entã o, aı́ está a minha pergunta. Você pensou?

— Mesma pergunta, mas com a colô nia — disse Jess com uma
rolha de emoçã o em sua garganta. — E você está recebendo muito
mais dinheiro.

— Potencialmente. — Ele riu.

— Mas é exatamente isso. Se izermos um bom trabalho essa noite,


você poderá ganhar muito mais do que trinta mil. Suas irmã s lhe
disseram para comprar um pouco de colô nia – seria um conselho
inteligente de seduçã o, especialmente se elas forem acionistas.

— Elas sã o — ele reconheceu.

Eles caı́ram em um silê ncio denso; Jess nã o estava disposta a


responder até que ele o izesse. Ela apostou seus trinta mil inteiros que
ele sentia o mesmo.
— Entã o, conselho inteligente de seduçã o, hein? — ele pressionou,
sorrindo maliciosamente para ela, antes de voltar para a estrada.

— Cheira muito bem em você — ela admitiu baixinho, e icou


instantaneamente morti icada com o baixo rosnado em sua voz. Ela
pigarreou.

Jessica Davis, se recomponha.

Ao lado dela, River se mexeu no banco do motorista.

— Bem, pelo que vale a pena, esse vestido é … — Sua voz també m
saiu rouca, e ele tossiu em seu punho. — També m parece muito bom
em você .

DOIS CARAS BEM PARECIDOS, com vinte e poucos anos, correram


enquanto River encostava o carro no meio- io.

— Cada detalhezinho me deixa mais nervosa — Jess admitiu


baixinho depois que River deu uma gorjeta aos manobristas –
sobrinhos dos an itriõ es, eles descobriram – e a encontrou na calçada.

Ele se aproximou, olhando para ela com preocupaçã o.

— Todos que estã o aqui sã o incrivelmente legais.

— Tenho certeza — disse Jess. — E que até ontem, minha roupa


mais chique foi o ú nico outro vestido que você me viu usar. Este
vestido custou mais de dois meses das aulas de balé de Juno.

— Vale a pena cada centavo, se isso faz você se sentir melhor.

— Sim — ela disse, alisando a frente do vestido com as mã os. —


Continue me dizendo que estou bonita e tudo vai icar bem. Ah, e vinho.
O vinho vai ajudar.
Rindo baixinho, ele a deixou conduzi-los para dentro do pré dio. O
saguã o com piso de má rmore estava vazio, exceto por uma mesa de
segurança, um belo sofá de couro e dois elevadores no inal.

O segurança ergueu os olhos quando eles se aproximaram.

— Está aqui para o evento Gruber?

A palma quente de River desceu sobre suas costas e cada


pensamento em seu cé rebro foi incinerado.

— River Peñ a e Jessica Davis — River con irmou, e o homem


veri icou seus nomes em uma lista antes de programar o elevador de
onde estava sentado.

— Vá para o elevador à direita — disse ele. — Vai levá -los direto
para cima.

Quando as portas se fecharam, Jess se lembrou das outras vezes


em que estivera em um elevador com River – o silê ncio tenso, o
desdé m tá cito entre eles. Voltando a isso parecia que seria mais
simples do que essa atraçã o imensurá vel e incontrolá vel.

River cortou o silê ncio.

— Acho que preciso esclarecer algo. — Jess olhou para ele, os olhos
ixos na parede à frente. — Sobre minhas irmã s.

— Oh? — Ela nã o tinha ideia de para onde isso estava indo, mas o
ritmo do segundo elevador mais lento do mundo sugeria que haveria
muito tempo para descobrir.

— Elas são investidoras — disse ele. — Ambas colocaram dinheiro


no inı́cio do projeto. Mas nã o é isso que eu quis dizer com “investidas”.
— Finalmente, ele olhou para ela. — Sobre a colô nia.

Jess reprimiu uma risada. Ele estava tã o sé rio.

— OK.
— Elas acham que isso — ele gesticulou entre eles — é muito… —
Ele fez uma pausa, e entã o deu a ela um sorriso forçado. — Muito
emocionante. Mas — ele acrescentou rapidamente — por favor, nã o se
sinta pressionada pelo entusiasmo delas.

Acenando com a cabeça, Jess deu a ele outro "Ok" baixo.

— E estou te dizendo isso agora porque lá em cima tem uma sala
cheia de pessoas esperando que, você já sabe, estã o profundamente
investidas inanceiramente em como você e eu interagimos, e eu nã o
quero que você vá lá pensando que tudo é ingimento. — River en iou a
mã o no bolso interno do terno e tirou o telefone. Ele o ligou, abriu em
suas fotos e começou a rolar. Finalmente, ele encontrou o que estava
procurando e virou a tela para encarar ela.

Por um segundo, Jess nã o teve ideia do que estava vendo. Um dublê
esquisito de River era seu melhor palpite. Ele tinha vinte e poucos
anos, mas sua postura parecia ainda mais jovem, muito menos
con iante.

— Você reconhece ele? — ele perguntou.

Ela estava com medo de adivinhar. Esta criança esquelé tica,


curvada e incompatı́vel nã o poderia ser–

— Sou eu. — Ele folheou mais alguns, mostrando a ela vá rias fotos
da mesma versã o idiota de realidade alternativa dele mesmo.

— Shorts xadrez e camisa listrada foram uma verdadeira escolha


estilosa — disse Jess, rindo.

— Eu saı́ de casa quando tinha dezesseis anos — disse ele, e as


portas do elevador se abriram.

Seu estô mago saltou em sua garganta porque nos ú ltimos dez
segundos, ela tinha esquecido onde eles estavam. Eles saı́ram, mas
River parou no saguã o de má rmore que levava a uma ú nica porta da
frente.
— Eu me formei no colegial cedo e comecei em Stanford quando eu
estava a quatro meses de completar dezessete anos.

— Puta merda.

— Eu provavelmente tinha 20 anos nessa foto – embora você


nunca adivinhe – e você pode ver que, uma vez que minhas irmã s nã o
puderam mais exercer in luê ncia diá ria, eu nã o tinha ideia de como me
vestir.

Jess começou a rir, dando um sorriso de volta.

— Se nã o fosse por elas, provavelmente ainda estaria usando


aqueles shorts xadrez.

— Por favor, nã o. Suas irmã s estã o fazendo um trabalho muito


melhor.

Ele riu agora.

— E assim que elas sã o. Elas foram para a escola na Costa Leste
quando eu estava no ensino mé dio e... nem sempre... Elas se sentem
responsá veis por mim. — River lambeu os lá bios e olhou para a porta
antes de voltar para ela. — Tudo isso é para dizer: eu nã o estava
pensando nessa sala cheia de pessoas quando usei a colô nia mais cedo.
Eu estava pensando em você .

Ela nã o sabia mais o que dizer alé m de

— Obrigada por me contar.

Jess estava dividida ao meio: excitada com sua con issã o e


apavorada com ela.

Felizmente, ele nã o parecia precisar de uma resposta maior. Se


endireitando, River virou-se para enfrentar as portas dupla da frente e
respirou fundo. Ela esperava que ele tocasse a campainha, mas ele nã o
o fez.
Depois de alguns longos e cada vez mais estranhos momentos de
silê ncio, Jess perguntou:

— Você está bem?

— Odeio essas coisas — admitiu.

Foi um pouco como ser atingida no rosto com o bastã o óbvio.

Claro: River nã o era um idiota rude e insensı́vel. Ele era tímido. Ter
que fazer essa parte do trabalho provavelmente era pé ssimo para ele.
Jess sentiu isso tã o claramente como se ela tivesse acabado de ler em
um pan leto intitulado Instruções para sua alma gêmea. Enquadrar
cada uma de suas interaçõ es passadas atravé s desta lente apenas
solidi icou para ela que River nã o era nada como Brandon – todo
sorrisos e charme fá cil. Ele se sentia mais confortá vel de frente para o
balcã o de costas para a sala, apenas ele e alguns tubos e bilhõ es e
bilhõ es de nucleotı́deos emparelhados.

Ela teria que ser a corajosa aqui. Se abaixando, Jess entrelaçou os


dedos com os dele.

O calor subiu em espiral das pontas dos dedos, estalando ao longo


de cada centı́metro até o ombro dela e atravé s do peito.

— Nó s vamos conseguir — disse ela.

Ele apertou a mã o dela. — Nã o temos muita escolha.

— Vamos apenas icar juntos, ok?

— Sim — ele sussurrou. — Bom plano.

Em unı́ssono, eles tomaram uma respiraçã o profunda e


estimulante. Avançando, River apertou a campainha.
Capítulo 15

NO MOMENTO EM QUE a porta se abriu, eles puderam ouvir a


comoçã o lá dentro parar por um momento, antes de estourar em uma
confusã o de vidros tilintando, farfalhar de joias e endireitar de
jaquetas. Um coro de vozes sussurrou seus nomes e eles estão aqui!,
seguido por alguns aplausos.

Um empregado deu um passo discreto para o lado quando um


homem negro alto e anguloso se aproximou, casualmente lindo em um
terno estiloso, e deu a Jess um sorriso que de alguma forma transmitia
uma vibe calorosa. Você pode con iar em mim. Sua mã o estava
estendida, e apenas alguns passos atrá s dele estava uma mulher,
brincando e arrastando os pé s em saltos altos para alcançá -lo.

— Trevor Gruber — disse ele a Jess, apertando a mã o dela.

— Jess Davis.

— Prazer em te conhecer, Jess. — Ele puxou River para um abraço.


— E bom ver você , cara. E essa — disse ele a Jess quando a pequena
mulher asiá tica chegou ao seu lado — é minha esposa, Caroline. Muito
obrigado por vir essa noite.

— Oi, você s dois! — Caroline abraçou Jess primeiro e depois deu


um passo à frente para abraçar River. Seu vestido se agarrava e luı́a
sobre seu corpo em um equilı́brio tã o gracioso que Jess queria elogiar.
Quando Caroline se afastou, Jess notou um bufê praticamente se
materializar do nada.

Caroline ofereceu a River um sorrisinho malicioso e se esticou


para pegar um copo alto da bandeja erguida pelo garçom. Ela colocou a
bebida na mã o de River.

— Viu? Um passo na porta, como eu prometi. — Ele riu, e ela se


espreguiçou, beijando sua bochecha, sussurrando — Eu disse que nã o
seria tã o ruim.

Jess a amou imediatamente.

River olhou por cima dos ombros deles, mais profundamente na


sala.

— Isso nã o é ruim?

Jess seguiu seu olhar e fez uma estimativa rá pida de que havia
mais de cinquenta pessoas na ampla sala de estar com janelas do chã o
ao teto com vista para a baı́a de San Diego e a ponte Coronado. Cada
um deles em trajes formais, cada um deles olhando para o casal
Diamond.

Se virando para seus an itriõ es para elogiar a vista, Jess parou ao


ver a expressã o de River, engolindo suas palavras. Ele icou vagamente
pá lido e ú mido. Ele levou a bebida aos lá bios e entã o cantarolou
apreciativamente, murmurando com reconhecimento algum nome
obscuro de á lcool que Jess nã o entendeu, e agradecendo baixinho a
Caroline.

Com um sorriso direcionado a Jess, Caroline se virou e pegou o


outro item da bandeja do bufê – uma taça de vinho branco.

— River disse que você gosta de brancos semi-secos. — Ela olhou


docemente para ele para con irmaçã o. — Esse é um Viognier-
Marsanne.

— Saú de — Jess brindou estupidamente, e para seu alı́vio, Caroline


riu.

River prestou atençã o ao que ela pediu no jantar com David e


Brandon e se lembrou de todo esse tempo?

Ele usava colô nia para ela.

Ele queria comer ela como bife à Wellington nesse vestido.


Caroline se virou para encarar a festa.

— Todo mundo está morrendo de vontade de te conhecer, Jess. —


Ela se inclinou de volta para eles.

— Mas vamos deixar eles suarem um pouco. E a minha festa. —


En iando o braço no de Trevor, ela se inclinou conspiratoriamente. —
Adoramos a capa do jornal – River é meu cara favorito, alé m daquele
com quem me casei, e aquelas fotos? Oh meu Deus. Aquela de você com
o casaco dele? — Ela bateu levemente no braço de Jess. — Esqueça. Eu
caı́ morta no local. Mas temo que esta festa me escapou assim que
mencionei a ideia à minha amiga Tilly. — Ela apontou vagamente para
o outro lado da sala onde essa Tilly devia estar. — Eu disse: “Nã o seria
tã o divertido receber Jess e River?” Ela conversou com Brandon e tudo
se transformou em uma coisa toda. — Caroline revirou os olhos em
pedido de desculpas. — Eu quis dizer como um jantar. Claro, os dois
tinham todo o conselho da GeneticAlly e todos os investidores
convidados antes mesmo de eu contar a Trevor.

Trevor riu, balançando a cabeça.

— Entã o, viu? Você nã o é a ú nica pessoa que temia isso.

— Eu nã o estava com medo! — Jess insistiu, sorrindo seu melhor


sorriso mentiroso.

— Eu quis dizer River — Trevor brincou.

— Vem — disse Caroline, e segurou o braço de Jess. Jess agarrou


cegamente a mã o livre de River antes que eles pudessem se separar, se
sentindo estranhamente em pâ nico. — Deixa eu te apresentar a
algumas pessoas.

Claro, River já conhecia todos aqui; ela era a novidade.

Os primeiros foram os Watson-Duggars, um casal de cinquenta e


poucos anos que, em trinta segundos, sugeriu – sem sutileza – que
seria ó timo se Jess e River pudessem se casar antes do lançamento. E
entã o havia os Lius, que era o dono do pré dio onde eles estavam. A Sra.
Liu admitiu para Jess em um sussurro sem fô lego que eles estavam
casados há 27 anos, mas ela nã o icou nem um pouco surpresa ao
descobrir que eles foram um Match de base. Estranho!

Os Romas pareciam querer achar buracos na possı́vel conexã o de


Jess e River, e Jess se lembrou – enquanto eles a questionavam sobre a
histó ria de River, a maioria das quais ela errou – que eles estavam
apenas tentando proteger seu investimento, nã o atacá -la.

Albert Mendoza nã o conseguia parar de olhar para o peito de Jess.


Pior, ela estava preocupada que sua esposa pudesse realmente
estender a mã o e acariciar os bı́ceps de River, do jeito que ela icava
olhando para ele com olhos tã o descarados de sexo. O Dr. Farley
McIntosh e o marido eram arquitetos proeminentes de San Diego e
queriam principalmente saber se Jess tinha ouvido falar de algum dos
edifı́cios deles.

Durante tudo isso, a mã o de River foi icando cada vez mais suada
em seu aperto.

Eles se moviam de grupo em grupo, como uma noiva e um noivo


em sua recepçã o. Eram espé cimes a serem cutucados, cutucados,
questionados e interrogados.

É uma conexão que você pode sentir quando olha para ele?

O sexo é, você sabe... surreal?

Quanto tempo antes dos sinos do casamento?

Você já conheceu as irmãs de River?

Seus ilhos vão ser deslumbrantes!

O que acontece se você combinar assim com outra pessoa?


Jess e River tropeçaram nas respostas juntos, mã os entrelaçadas
desesperadamente, sorrisos tensos no lugar, mas a ú ltima pergunta
parou Jess, e ela se desculpou por precisar ir ao banheiro, seguindo as
instruçõ es de River pelo corredor até a segunda porta do deixou. O
lugar era enorme, e Jess ansiava por escapar, explorar, ver quantos
quartos estavam realmente mobiliados.

Mas foi o su iciente apenas para sair da confusã o e entrar em um


espaço silencioso por alguns minutos. Seu coraçã o estava disparado,
rasgando tudo em seu peito. Se ela nã o estivesse usando uma
maquiagem tã o habilmente aplicada, Jess teria jogado á gua no rosto,
mas como estava, ela apenas se inclinou para frente, respirando fundo
algumas vezes. Cada vez que ela pensava que tinha um controle sobre o
que tudo isso signi icava, outra pergunta surgia na esquina, como uma
bola curva. Primeiro, ela nã o acreditou no resultado, e entã o ela nã o
precisou porque – dinheiro. E entã o ela suspeitou que a pontuaçã o
DNADuo poderia ser verdade, mas nã o importava porque ela nã o
estava procurando por amor, caramba. E agora, estar ao lado de River a
noite toda e sentir que eles estavam nisso como um time desde o
primeiro passo fez a farsa parecer tã o real.

Quando algué m perguntou sobre outra alma gê mea em algum


lugar, ela teve vontade de vomitar.

Muito, muito rápido.

Jess lavou as mã os, reaplicou o batom e deu uma olhada dura, mas
encorajadora, no espelho. Essa festa deve ter custado milhares de
dó lares. Ela estava usando um vestido que outra pessoa pagou. Quem
ela estava ingindo ser? Apenas supere isso e vá para casa.

Mas quando ela saiu para o corredor, River estava lá esperando, um
tornozelo cruzado sobre o outro, apoiado casualmente contra a parede
oposta. A postura dele era tã o inconscientemente con iante, tã o
sensual que Jess sentiu as pernas apertarem com força em resposta.

Ele se endireitou.
— Você está bem?

— Sim, só ... — Ela apontou por cima do ombro. — Precisava de um


segundo.

Um sorriso aliviado apareceu em seus lá bios.

— Eu preciso també m.

Ela soltou um suspiro lento.

— Esse nã o é meu mundo de forma alguma. — O efeito da


proximidade dele ferveu logo abaixo de sua pele e ela sentiu as
palavras escaparem: — Espero nã o estar bagunçando tudo para você .

Um lampejo de emoçã o percorreu seu rosto e ele deu um passo à


frente.

— Você é ... Nã o. Você é incrı́vel. — Ele olhou de volta para o


corredor. — E eu sinto muito que Brandon nã o esteja aqui. Esta é a
praia dele. Nã o é a minha.

— Eu entendo — Jess disse calmamente. — Eles querem ver seu


investimento em açã o.

Ela percebeu imediatamente que ele nã o gostava dessa frase... mas
també m nã o podia discordar.

— Deve ser especialmente surreal para você — disse ela. — Já


conhecer essas pessoas e tê -las vendo você essa noite nã o como o
cientista-chefe, mas como uma das grandes descobertas.

— Sim. Talvez trê s pessoas naquela sala soubessem alguma coisa


sobre minha vida pessoal. Agora, todos esses estranhos se sentem
confortá veis fazendo comentá rios sobre nossa vida sexual e me
perguntando quando vou propor casamento.

Jess soltou uma risada nervosa.


— Certo.

— Me ocorreu — ele começou, e entã o virou o rosto para o teto. —


Quando Esther Lin nos perguntou sobre... você sabe... combinar com
outra pessoa...

Jess esperou que ele terminasse, seu coraçã o batendo como o de


um corredor na linha de partida.

— Você era casada com o pai de Juno? — ele inalmente perguntou.

Ela exalou.

— Nã o. — Houve uma longa pausa em que parecia que ele queria
mais, mas eles estavam parados em um corredor em uma festa, e ela
honestamente nã o sabia o quanto mais havia a dizer sobre ela e Alec.
Em retrospecto, eles nunca foram só lidos. A gravidez nã o acabou com
as coisas; apenas acelerou a morte. — Ele nã o está presente — ela
terminou, eventualmente. — Ele nunca foi realmente. Nó s terminamos
antes de Juno nascer.

Ela podia ver sua curiosidade visivelmente saciada. Eles se


viraram e começaram a caminhar vagarosamente de volta pelo
corredor em direçã o à festa.

— Você mencionou que sempre morou perto de seus avó s. Seus


pais morreram ou–?

— Minha mã e lutou contra o vı́cio – ainda luta – e abriu mã o da


minha custó dia quando eu tinha seis anos. Eu nunca conheci meu pai.

— Oh. — Ele parou de andar e se virou para ela, os olhos


arregalados. — Uau.

A dor em sua expressã o parecia genuı́na. Jess balançou a cabeça


lentamente, sem saber onde olhar.

— Sim.
— Sinto muito, Jess.

— Nã o, sé rio, Nana Jo e Pop’s sã o as melhores pessoas que eu já
conheci. Eu sabia desde muito jovem que estava melhor com eles.

— Eles parecem incrı́veis.

Ela de repente se sentiu nua. Lá estava ela, o ex-namorado nem


queria criar uma ilha com ela, a mã e optou pelas drogas em vez dela,
criada pelos avó s e ainda morando com eles. River tinha duas irmã s
que o adoravam tanto que o ajudaram a descobrir como se vestir para
atingir seu potencial de gostosura total.

— Que expressã o é essa? — ele perguntou, se inclinando. — O que


eu disse?

Jess icou inquieta com a rapidez com que ele a leu. Um pâ nico que
ela nã o entendeu completamente subiu em sua garganta, fazendo ela
querer procurar uma saı́da. Essa festa era o tipo de coisa que acontecia
com a heroı́na da histó ria, nã o com a melhor amiga. O que ela estava
fazendo aqui?

O humor, como sempre, era sua melhor defesa.

— Só de imaginar como, da sua perspectiva, o Diamond Match tem


um caminhã o cheio de bagagem.

Ele nã o riu.

— Nã o temos todos?

Seu sorriso se desvaneceu.

— E?

— Nó s temos. Mas vamos. Eu te conheço bem o su iciente para


saber que você nã o está carregando bagagem. — Ele estava segurando
seu olhar, e ela se sentiu isicamente incapaz de desviar o olhar. — Você
escolheu suas circunstâ ncias, Jess. Eu gosto disso sobre você . Você
pega o que quiser e deixa o resto para trá s. Você decide.

Ele estava certo. Ela sentiu que se endireitava, inclinando para ele.

— Aı́ está você ! — uma voz gritou. — River, desça aqui e traga
aquela sua jovem.

Ainda segurando os olhos dela, ele lutou contra um sorriso.

— Essa minha jovem está pronta para um pouco mais de


socializar?

Jess riu.

— Eu recarreguei minha bateria o su iciente, sim.

Pegando a mã o dela, ele a levou de volta pelo corredor para a festa,
em direçã o ao minú sculo velho que gritou seu nome. Ele devia estar na
casa dos oitenta anos, usando ó culos de aro metá lico e um terno preto
surrado.

Ao lado dele estava uma mulher com uma espessa trança de cabelo
branco em volta do topo da cabeça e sem maquiagem. Ela estava
usando um vestido preto simples com gola de renda e pé rolas.

De alguma forma, ela era ainda menor do que o marido.

— Como eles convenceram você a sair? — River perguntou,


sorrindo.

— Caroline se apoiou em Dorothy — disse o homem com um forte


sotaque alemã o.

— E por “apoiar” — Dorothy entrou na conversa — ele quer dizer


que Caroline me prometeu que eu ia ver você .

River se curvou para beijar sua bochecha macia.


— Johan, Dotty, essa é minha Jessica.

Minha Jessica.

Seu coraçã o desmaiou, do peito aos pé s.

— Jess, Johan e Dotty Fuchs.

Ela nem mesmo teve tempo para se recuperar; os dois minú sculos
octogená rios vinham em sua direçã o, cada um querendo um abraço.

Ela se curvou, abraçando-os por sua vez.

— Oi. Prazer em conhecê -los, Sr. e Sra. Fuchs.

— Jess — River disse baixinho, reverentemente — Johan e Dotty


foram nossos primeiros Diamond Match. A neta deles os trouxe para
nó s em 2014, e ela estava certa: eles chegaram com uma pontuaçã o de
noventa e trê s. Nossa primeira pontuaçã o nos anos 90.

Dotty assentiu, apertando o braço de Johan.

— Estamos casados desde 1958. Sessenta e trê s anos.

Jess nã o era uma pessoa emocional por natureza; ela adorava a
ilha e os avó s até as estrelas e vice-versa, mas nã o chorava em
comerciais e era a ú nica pessoa em sua vida que conseguia ouvir
“Someone Like You” de Adele sem chorar. Mas o momento a pegou
como um anzol, e ela sentiu uma onda de emoçã o subir, salgada, em sua
garganta.

Durante esse momento emocional profundo e arrebatador –


enquanto ela lutava para equilibrar reverê ncia e entusiasmo – Jess
notou a roupa de Johan. Ele estava vestindo um blazer e calça social,
mas por baixo do casaco havia uma camiseta, nã o uma camisa social.
Nele havia um anel de benzeno com á tomos de ferro substituindo o
carbono e, abaixo dele, as palavras RODA FERROSA.
— Sei que é um caso extravagante, mas usei para River — disse
Johan, notando sua diversã o. — Ele adora trocadilhos cientı́ icos
terrı́veis.

— Ele adora? — Jess perguntou, olhando para o homem em


questã o.

O Sr. Fuchs pigarreou, levantando um dedo.

— O que Gregor Mendel disse quando descobriu a gené tica? — Ele


esperou uma batida e entã o cantou: — Whoopea5!

Foi brega, mas sua entrega foi fantá stica. Alé m disso, ele pode ter
sido o menor e mais doce velho que Jess já vira. Ela riria de qualquer
piada que ele contasse pelo resto do tempo.

— Muito inteligente — concordou River, os olhos brilhando.

— Qual é a maneira mais rá pida de determinar o sexo de um


cromossomo? — ele perguntou. — Puxe seus genes para baixo.

Todos gemeram.

— Potá ssio e oxigê nio foram em um encontro — disse Johan,


sorrindo quando o jogo começou a rolar. — Foi OK6.

Dotty gemeu ao mesmo tempo que Jess disse: — Ok, essa aqui é
fofa.

— Eu gostaria de ser adenina — disse River, e piscou para ela. —


Entã o eu poderia ser pareado com U.7

Todo mundo fez um Awwwn audivelmente, e entã o trê s pares de


olhos se voltaram para Jess com antecipaçã o. Depois de uma batida, ela
caiu: ela estava pronta para rebater.

— Hmm — disse ela, vasculhando os limites empoeirados de seu


cé rebro em busca de uma piada cientı́ ica. — Ok, algué m conhece
alguma piada boa sobre só dio? — Ela examinou seus rostos, sorrindo.

— Ou “Na”?

O Sr. e a Sra. Fuchs se entreolharam.

— Acho que nã o — disse Dotty, franzindo a testa. — Você conhece


alguma, querida?

— Nã o, é ... — Jess gaguejou.

— Eu nã o — disse Johan. — Bem, vamos ver agora. Esse é um


pedido bastante especı́ ico. Só dio. Piadas de só dio…

— Nã o — disse ela. — A piada é … — Ela desistiu enquanto eles


continuavam a conversar, resmungando um com o outro.

— Desculpa, querida — disse Dotty. — Sem piadas sobre só dio,


mas estou muito feliz em te conhecer. — Ela sorriu para River. — E
bom ver você , querido. Você cuida dela, ok?

— Eu vou. — Ele se curvou, beijando sua bochecha novamente.


Jess e River os viram caminhar juntos, de mã os dadas.

O silê ncio caiu sobre os dois, e Jess riu baixinho

— Uau.

— Só as melhores piadas exigem explicaçã o depois — disse ele, os


olhos dançando para ela.

— Eles me chamaram de Sem Graça.

— Eles chamaram? — ele perguntou.

— Se nã o, deveriam. — Ela sorriu para ele. — Eles sã o


incrivelmente adorá veis.

— Nã o sã o? Eles sã o as pessoas mais legais també m.


— Para a sorte deles, eles já eram casados quando descobriram
que eram um Diamond Match.

Ele acenou com a cabeça, suavizando os olhos.

— Tira um pouco da pressã o, imagino.

Jess desviaria o olhar, mas nã o conseguiu. Seus sentimentos nã o


estavam crescendo de forma linear e medida.

Na ú ltima hora, elas se expandiram exponencialmente, como uma


onda dentro dela. Era o jeito que ela imaginava que um tsunami
poderia se aproximar de San Diego: superfı́cie calma do oceano até que
uma parede estava repentinamente caindo sobre a costa. Ela olhou
para ele, e tudo que ela conseguia pensar era o quanto ela queria que
ele a tocasse.

Uma taça tilintou na sala; foi silencioso e discreto no inı́cio, mas


construı́do em um barulho de prata em cristal ao redor deles. Jess
olhou em volta, confusa. A consciê ncia afundou, mas River ainda exibia
uma expressã o de franca confusã o.

— Oh, merda — ela sussurrou.

— O que? — ele perguntou freneticamente enquanto todos


começavam a entoar: “Beija, beija, beija.”

Os olhos de River se arregalaram e Jess testemunhou o momento


em que a compreensã o pousou.

— Ai, Deus.

— Tudo bem. — Ela colocou um sorriso caloroso no rosto e se


virou para encará -lo. Eles tinham uma audiê ncia. River era tı́mido e
Jess era profundamente reservada, e isso era um pesadelo! Mas nã o é
grande coisa! Almas gê meas! Quando apresentados a essa sala cheia de
investidores, Jess e River se beijavam, assim, o tempo todo.
Ele imitou o sorriso dela, mas Jess esperava que o dela fosse mais
convincente.

— Devı́amos ter previsto isso — ele rangeu.

— Bem, nó s nã o previmos — ela sussurrou, passando uma mã o


tı́mida pelo peito dele. A sensaçã o era um pouco como estar submersa
em champanhe quente. — Nã o precisamos se você nã o quiser.

— Nã o, nó s podemos — disse ele imediatamente, se inclinando e


brincando intimamente com uma mecha de cabelo dela. — Quero dizer,
a menos que você nã o queira?

Seu há lito cheirava a hortelã e uı́sque. Para falar a verdade, Jess
queria.

River olhou para ela em dú vida enquanto o barulho se


intensi icava. Mas entã o seus olhos se desviaram nervosamente.

— Ei. Sou só eu.

Sua testa relaxou e ele acenou com a cabeça, a respiraçã o


tremendo.

— OK.

Os olhos de River pousaram em sua boca.

Estamos fazendo isso?

Ele se aproximou dela – acho que estamos fazendo isso – dobrando,


deslizou uma mã o por seu pescoço para cobrir sua mandı́bula e
deixando um rastro de calor queimando em sua pele. Ele se inclinou –
ela parou de respirar – e sua boca se aproximou da dela.

Juntos, eles exalaram de alı́vio e tudo sumiu: som, luz, outras


pessoas. Ela sentiu a franqueza nele també m, a con irmaçã o de que
eles estavam certos em pensar que seria tã o bom. Um beijo curto, e
depois um mais longo, apenas sua boca cobrindo a dela e depois
voltando para provar novamente. Só para ver.

Uma valente coleçã o de neurô nios em seu cé rebro gritou um


lembrete de que cinquenta pares de olhos estavam neles, naquele
segundo, mas mesmo essa consciê ncia nã o a impediu de alcançar as
lapelas de seu casaco, puxando River contra ela.

Jess engoliu um gemido quando seu outro braço veio em volta de


sua cintura, os dedos espalhando amplamente abaixo de suas costelas.
Foi tã o bom que enviou um dor febril direto de sua boca para o umbigo,
um surto atravé s dela. River desviou um pouco, e Jess esperava que o
beijo terminasse, provavelmente deveria, mas ela percebeu que ele
estava apenas mudando de posiçã o, vindo para ela de um novo â ngulo,
en iando os dedos em seu cabelo.

Ela deixou escapar o menor som, um gemido indefeso que ela


pensou que só ele podia ouvir, mas pareceu empurrá -lo para a
consciê ncia, e ele se afastou, permanecendo a apenas alguns
centı́metros de seu rosto.

Sem fô lego, eles se encararam com olhos selvagens e chocados.


Provavelmente foram apenas alguns segundos, mas o beijo mudou a
trajetó ria deles, imediatamente. Ela queria mais e podia ver em seus
olhos que ele també m queria. Jess nã o questionou por um ú nico
segundo que a atraçã o fı́sica era mú tua.

Ela se assustou quando a sala inteira explodiu em barulho e


comoçã o. Ela desviou o olhar por um instante e depois de volta para
River. Sua atençã o, ao que parecia, permanecera inteiramente ixa em
sua boca.

— Eu acho que acabamos de ganhar muito dinheiro para a sua


empresa — ela murmurou, sorrindo enquanto pressionava
cuidadosamente as pontas dos dedos nos lá bios formigantes.
Ele nã o esboçou um sorriso. Jess nã o tinha certeza se ele a tinha
ouvido.

— Eu suspeito que a maioria das pessoas vai comentar sobre os


seus olhos — ele disse calmamente, passando a ponta do dedo pela
clavı́cula dela. — Esse azul brilhante e surpreendente.

Certamente ele podia sentir seu coraçã o escalando sua traqueia.


Ele nã o parecia se lembrar de mais ningué m na sala.

— Mas eu pre iro sua boca.

— Você prefere? — Jess conseguiu.

— Eu pre iro — ele disse, e se curvou, beijando sua testa. — Você


nã o distribui esses sorrisos de graça.
Capítulo 16

GRAÇAS A um amigo de um amigo de um amigo, Jess se encontrou


com um novo cliente em potencial na terça-feira. Ela realmente nã o
tinha espaço em sua agenda para ningué m novo – quem diria que
namoro falso seria uma perda de tempo? – mas o trem da alegria
terminaria quando o GeneticAlly viesse a pú blico em maio, e Jess nã o
pretendia ser pega com suas calças arriadas quando isso acontecesse.

Kenneth Marshall dirigia uma pequena empresa de engenharia em


Wyoming e estava na cidade para receber seus pró prios clientes. Eles
concordaram em se encontrar para almoçar em seu hotel, que tinha a
vantagem adicional de ter vista para o centro de convençõ es e a baı́a de
San Diego. Infelizmente, també m tinha vistas de Shelter Island e do
pré dio alto dos Grubers, o que signi icava que Jess precisava de um
esforço monumental para se concentrar na conversa sobre estudo de
probabilidade e aná lise de regressã o, e não no beijo ardente do
coquetel.

Como algué m aprendeu a beijar assim? River teve uma aula?


Assistiu a vı́deos no YouTube, como quando Jess aprendeu a consertar
a vá lvula de enchimento do vaso sanitá rio? Ela estava deitada na cama
ontem à noite pensando em sua boca e na pressã o urgente de seus
dedos em sua mandı́bula, sobre a realidade preocupante de que Jess fez
sexo de verdade que a deixou menos satisfeita do que o beijo de River.

Sexo com River pode realmente acabar com ela.

Ela icou muito feliz quando o encontro com Kenneth terminou, e


ainda mais feliz quando ele ofereceu um depó sito para manter seu
lugar em sua programaçã o até o inal da primavera. Mas em vez de ir
imediatamente em direçã o ao manobrista, ela saiu para o pá tio dos
fundos do hotel para apreciar a vista. Gaivotas voavam lá em cima e as
ondas balançavam suavemente os barcos ancorados na marina.
Tirando uma foto, ela enviou uma mensagem rá pida para Fizzy, que
estava em Los Angeles se encontrando com seu agente.

Jess viveu na Califó rnia toda a sua vida, mas raramente chegava ao
oceano. Parecia muita preparaçã o – a areia, as multidõ es, encontrar um
estacionamento – mas uma vez que ela estava lá , ela invariavelmente
se perguntaria por que ela nã o fazia isso com mais frequê ncia.

Mais ou menos como sexo.

Jess pensou no beijo de novo, a maneira como River inclinou a


cabeça para capturar sua boca mais profundamente, como ele prendeu
a respiraçã o e soltou um suspiro trê mulo quando eles se separaram.
Ela se perguntou se teria sido difı́cil parar se eles estivessem sozinhos.
Ela se perguntou se ele fodia como beijava.

Seu telefone tocou em sua mã o, assustando-a. Ela esperava ver o


rosto de Fizzy preenchendo a tela, mas em vez disso havia trê s
palavras: SCRIPPS MERCY HOSPITAL.

— Olá ? — Jess disse apressada, os olhos varrendo o horizonte


enquanto seu coraçã o começava a bater Juno, Juno, Juno contra seu
esterno.

— Posso falar com Jessica Davis? — uma mulher perguntou. Ao


fundo, Jess ouviu vozes, um apito de elevador, telefones tocando e o
murmú rio distante de um interfone.

— E a Jessica. — Seu pulso bateu forte no nome de sua ilha.

— Este é o Hospital Scripps Mercy. Temos uma Joanne Davis aqui.


Seu avô , Ronald, está perguntando por você . Por favor, venha o mais
rá pido possı́vel.

JESS NAO SE LEMBRAVA da espera no manobrista ou da ida ao


hospital, da caminhada desde o estacionamento ou de conversar com
ningué m na recepçã o, mas nunca se esqueceria da visã o de Nana no
leito do hospital.

Jess icou enraizada na porta, imó vel enquanto as má quinas


zumbiam e buzinavam em torno de Nana, e Pop’s pairava ao lado de
sua esposa, segurando sua mã o. Ambas as pernas de Nana foram
imobilizadas e amarradas a uma tala. Havia um IV em seu braço
esquerdo. O cheiro de anti-sé ptico queimava o nariz de Jess. Uma
enfermeira passou por ela no corredor, e ela conseguiu entrar no
quarto.

— Nana?

Pop’s se virou para encará -la; cada grama da dor de Nana estava
re letida em sua expressã o. Ele abriu a boca, mas nã o saiu nada.

— Estou aqui — disse Jess, cruzando a sala para envolver um braço


ao redor dele. — O que aconteceu?

— Ela caiu.

— Estou bem — disse Nana com uma respiraçã o instá vel. —


Acabei perdendo o equilı́brio.

Pop’s apertou sua mã o, os olhos treinados em seu rosto. O avô de


Jess sempre foi a pessoa mais forte e está vel que ela conhecia. Mas
agora, parecia que um vento leve poderia derrubá -lo.

— Eles acham que é uma fratura no fê mur, — disse ele, — mas
estamos esperando o mé dico. Está vamos jogando boliche naquele
novo lugar em Kearny Mesa e ela escorregou. — Ele colocou a mã o
sobre a boca. — Eles tiraram os raios-X vinte minutos atrá s, mas
ningué m veio me dizer...

Nana estremeceu e, se possı́vel, o rosto de Pop’s icou ainda mais


pá lido.
— Ok, ok — disse Jess, guiando-o para longe da cama e para uma
cadeira. — Vamos sentar e ver o que está acontecendo. Eles deram a
ela alguma coisa para a dor?

Seus dedos tremiam quando ele os empurrou pelo cabelo ino e


fofo.

— Acho que no IV.

— Já volto — disse Jess, e se inclinou para que Nana pudesse vê -la.
— Nana Jo, já volto.

Jess parou a primeira enfermeira que viu no corredor.

— Com licença, eu estava no quarto 213. Você pode me dizer o que


está acontecendo com Joanne Davis?

— Você é famı́lia?

— Eu sou a neta dela, sim.

— Demos a ela alguns analgé sicos e esperamos seus resultados de


raios-X a qualquer momento. — A enfermeira apontou para uma
mulher de uniforme azul caminhando pelo corredor em direçã o a eles.
— Dra. Reynolds está chegando. Ela vai falar com você sobre isso.

A Dra. Reynolds voltou com Jess para o quarto, onde Pop’s mudou
sua cadeira para a cama e voltou a segurar a mã o de Nana. O suor
gotejava em sua testa, e era claro que ela estava com dor, mas
trabalhando bravamente para esconder isso.

Dra. Reynolds cumprimentou Nana e Pop’s, e uma nova enfermeira


tirou os sinais vitais de Nana. Prendendo o ilme de raios-X a uma lousa
iluminada, a mé dica explicou que Nana tinha uma fratura
subtrocanté rica, entre as duas saliê ncias ó sseas do fê mur.

— Teremos que operar — ela explicou. — Colocaremos uma haste


que desce aqui. — A Dra. Reynolds desenhou a imagem com a ponta do
dedo. — E um parafuso que sobe em seu quadril. A cirurgia nã o vai
demorar muito porque sua fratura é muito alta. Provavelmente vai
icar por aqui. — Ela traçou um dedo sobre o raio-X onde a haste de
metal terminaria. — E entã o você terá outra haste que irá subir atravé s
da fratura até o seu quadril. Isso é mais forte do que o seu osso real,
entã o você será capaz de andar, se levantar e se mover muito
rapidamente. Mas nã o há mais boliche por pelo menos oito semanas.

— Quanto tempo ela vai icar aqui? — Pop’s perguntou.

— Digamos cinco dias se tudo correr como planejado e você puder


trabalhar com mobilidade rapidamente. Possivelmente mais cedo. —
Dra. Reynolds encolheu os ombros. — Ou mais, se houver complicaçõ es
ou tivermos outras preocupaçõ es.

O estô mago de Jess caiu. Ela imaginou Pop’s dormindo na cadeira


rı́gida do hospital todas as noites até que Nana recebesse alta e soube
que ele se sentiria infeliz. Mas ela tentou imaginá -lo em casa enquanto
Nana estava aqui, e isso parecia ainda menos prová vel. Se ele e Jess
pudessem se revezar com Nana, ela poderia convencer ele a comer, a
descansar, a cuidar de si mesmo. Jess olhou para o reló gio,
reorganizando mentalmente os prazos, horá rios e pickups.

O pâ nico borbulhou: Juno sairia da escola em menos de uma hora.

A mé dica saiu e os olhos de Nana estavam pesados de sedaçã o.

— Pop’s — Jess sussurrou. — Eu preciso fazer algumas ligaçõ es,


ok? Eu volto já .

Ele acenou com a cabeça, entorpecido, e ela pediu licença para ir ao


corredor. Sua rede de segurança tinha um buraco: Fizzy estava em LA.
Nana e Pop’s estavam obviamente indispostos. Ela percorreu seus
contatos, se sentindo muito, muito sozinha. Pausando no nome de sua
mã e, Jess raciocinou todos os resultados possı́veis. Jamie chegaria na
hora, mas fumando. Ela se atrasaria e Juno icaria sozinha e
preocupada. Jamie chegaria na hora, nã o fumaria, mas encheria a
cabeça de Juno com crı́ticas e estocadas estranhas. Ela chegaria na
hora, nã o fumaria, nã o encheria a cabeça de Juno de lixo, mas
encontraria a garrafa de vinho aberta na geladeira de Jess e descobriria
por que não.

Jess nã o gostou de nenhuma das opçõ es. Ela caiu pesadamente em
uma cadeira.

Seu telefone tocou em sua mã o, e ela olhou para baixo para ver o
nome de River.

Jess nem pensou; ela atendeu depois de um toque, sua voz


falhando em seu nome.

— River?

— Ei. Eu... — Uma pausa. — Está tudo bem?

Ela enxugou os olhos, o queixo tremendo.

— Nã o.

Seu tom suavizou com preocupaçã o.

— O que está acontecendo?

— Estou no hospital. — Suas palavras saı́ram estranguladas.

Parecia que ele tinha acabado de se levantar.

— Ah nã o.

— Nana quebrou o quadril e eu preciso de algué m para pegar Juno


na escola. — Jess enxugou os olhos dela novamente. — Eu sei que isso
nã o fazia parte do acordo, mas Fizzy nã o está e minha mã e…

— Nã o, ei. Claro que vou pegar ela. Eles vã o me deixar pegá -la?
— Eu posso ligar e... — As lá grimas transbordaram e Jess se
curvou, pressionando o rosto contra a mã o. — Oh meu Deus, eu recebi
uma ligaçã o à s quatro. E amanhã –

— Vamos fazer uma lista — ele cortou suavemente. Sim, um plano.


Ordem. Seu cé rebro se agarrou à corda de salvamento. — O mais
importante primeiro: ligue para a escola. Vou mandar uma mensagem
para você com uma foto da minha licença com todas as minhas
informaçõ es para que você possa apenas ler para eles, ok? Ligue para a
escola, avise-os.

— OK.

— Ela tem alguma coisa depois da escola à s terças-feiras?

Jess se sentiu mais clara, mas lenta. Ela imaginou o calendá rio na
cozinha, as caixinhas minú sculas com os coraçõ es de Juno e uma
caligra ia borbulhante.

— Ela tem balé , mas pode pular. Você pode trazer ela aqui?
Estamos na Scripps.

— Jess, posso levar ela ao balé .

Jess imediatamente balançou a cabeça; ela já havia cruzado muitos


limites.

— Nã o, está tudo bem, eu–

— Eu prometo, nã o é um problema, e tenho certeza que ter ela no


hospital nã o será mais fá cil para você .

Ela icou em silê ncio, incapaz de discordar.

— Já assisti a muitos recitais de balé . Lembra das irmã s


intrometidas? — ele disse. — Eu sei o que é um plié e tudo mais.

Deixando escapar um som suave, nem uma risada, nem um soluço,


Jess estava exausta demais para discutir.
— Eles nunca se separaram — disse ela. Ela precisava de outra
pessoa para saber o quanto seus avó s se amavam. — Cinquenta e seis
anos. Nã o sei o que Pop’s faria se algo acontecesse com ela.

— Vai icar tudo bem — disse River suavemente. Jess acenou com
a cabeça. Ela precisava acreditar també m.

Ela ligou para a escola e providenciou para que River pegasse Juno.
Ele mandou uma mensagem assim que a pegou, enviando uma foto dos
dois fazendo caretas idiotas, e depois outra de Juno seguramente
a ivelada no banco de trá s de seu Audi preto brilhante. Francamente,
Juno parecia encantada por estar ali. Jess só podia imaginar o assé dio
que teria para comprar um carro novo, “como o de River Nicolas”.

Nana foi levada para a cirurgia algumas horas depois, e uma


enfermeira entregou a Pop’s um pequeno pager que parecia o tipo
usado em um restaurante.

— Isso vai vibrar quando tivermos notı́cias — disse a enfermeira.


— Traga-o para a mesa e nó s o atualizaremos. Se nã o disparar, nã o há
nada de novo para lhe contar.

Pop’s alternava entre segurar a mã o de Jess na sala de espera e


fazer longas caminhadas ao redor do pré dio. Seus olhos estavam
avermelhados quando ele voltou, seu corpo pesado quando ele afundou
na cadeira de frente para ela.

— Nada? — ele perguntou.

— Ainda nã o. — Jess se inclinou para frente, pegando as mã os dele


e puxando-as para o colo. — Você se lembra daquela vez que Nana
comprou luvas de jardinagem para nó s e nã o percebeu que a “estampa
loral” era na verdade maconha?

— A maneira como ela insistia que era um bordo japonê s. — Seus


ombros tremeram com uma risada silenciosa.
— E Joaninha ainda aponta “a planta favorita de Nana” sempre que
ela vê uma em uma camiseta ou em uma placa.

O som de risadas familiares ecoou pelo corredor, e Jess olhou para


cima a tempo de ver River e Juno virando a esquina para a sala de
espera. Juno ainda estava vestida para o balé com seu collant rosa claro
e meia-calça, mas suas botas de cowboy rosa favoritas batiam forte no
chã o de linó leo. Seu cabelo estava preso em um coque torto e ela
segurava River com uma das mã os, segurando um buquê de girassó is
com a outra. A visã o de suas mã os entrelaçadas arrancou um suspiro
da garganta de Jess.

— Aı́ está minha garota — disse Pop’s, os olhos brilhando.

— Trouxemos sanduı́ches! — Juno sussurrou e meio que gritou, e


Jess olhou para River. Ele deve ter explicado a ela que aquilo era um
hospital e que pessoas doentes estavam tentando descansar. Jess nã o
conseguia imaginar outro cená rio em que Juno Merriam Davis nã o
entrasse na sala no volume má ximo procurando por sua vovó .

Ela entregou as lores a Jess, deu um beijo nos lá bios da mã e e
subiu no colo de Pop’s.

Jess se levantou, pegando a sacola de papel branco que River


ofereceu.

— Você nã o precisava fazer isso.

— Pensamos que a ú ltima coisa em sua mente seria jantar — disse


ele.

Ela sentiu o cheiro de almô ndegas e sua boca encheu de á gua.

— Graças a Deus, porque estou faminta.

— Como ela está ?

— Sim, como está Nana Jo? — Juno perguntou.


— Ela ainda está em cirurgia — disse Jess. — Eles estã o esperando
que ela ique bem, estamos apenas esperando. — Ela entregou um
sanduı́che a Pop’s e apontou com o dela para o pedaço de magia
masculina na frente deles. — Pop’s, esse é River Peñ a. River, esse é meu
avô Ronald Davis.

River estendeu a mã o para apertar a mã o de Pop’s.

— E um prazer conhecer você . Eu ouvi grandes coisas.

— Da mesma forma. — Pop’s devolveu o aperto de mã o e Jess teve


que morder o lá bio para nã o sorrir. — E obrigado por cuidar da nossa
pequena Joaninha aqui. Foi uma tarde e tanto.

— Nã o foi nenhum problema — disse River. — As vezes é divertido


levar um Muppet ao balé .

Juno se mexeu descontroladamente no colo de Pop’s, en iando os


dedos nas orelhas, franzindo o rosto.

— Aı́ está ela — disse River com ternura.

Juno parou abruptamente, parecendo se lembrar de algo.

— Nana terá sua scooter de novo?

— Nã o tenho certeza — disse Pop’s. — E melhor tirarmos minhas


botas com bico de aço do armá rio, para o caso.

O pager disparou no colo de Jess: o disco iluminado com luzes


vermelhas, vibrando em sua coxa.

Pop’s se levantou abruptamente, depositando Juno em seu assento


antes que ele pegasse o pager e se apressasse para o posto das
enfermeiras.

— Ela deve ter saı́do da cirurgia — Jess disse, observando.


— Vou deixar você fazer isso, entã o. — River olhou para Juno. —
Obrigado por passar a tarde comigo, Juno Merriam. Já se passou muito
tempo desde que fui para uma aula de balé .

— De nada — disse ela. — Você pode voltar se quiser.

— Bem, talvez eu volte. — Ele sorriu, se virando para Jess. — Me


liga se precisar de mais alguma coisa?

— Eu vou. — Palavras que ela queria dizer emaranhadas em seu


peito em uma obstruçã o emocional. Gratidã o, luxú ria, medo e saudade.
Ela nã o queria que ele fosse embora. Ela queria se levantar, deslizar os
braços em volta da cintura dele sob a jaqueta e sussurrar seu
agradecimento no calor de seu pescoço. Mas, em vez disso, ela
simplesmente disse: — Obrigada, River.

NANA PASSOU por uma cirurgia com louvor. Ela foi levada para a
recuperaçã o e, enquanto Pop’s podia passar algum tempo com ela, Jess
e Juno izeram um pequeno piquenique com sanduı́ches, frutas e
biscoitos na sala de espera da famı́lia.

— Como foi sua tarde com o Dr. Peñ a?

— Eu chamo ele de River Nicolas, e ele me chama de Juno Merriam


— ela corrigiu com a boca cheia de tangerina. — Fomos para a aula de
balé e ele conheceu a Sra. Mia e ia esperar na sala dos pais, mas
perguntei à Sra. Mia se ele poderia nos assistir praticando nosso
recital. Ele se sentou no chã o perto do espelho e nos observou, mã e. Ele
viu como somos bons.

— Aposto que ele icou impressionado. — O peito de Jess apertou


com força com a imagem de River de um metro e noventa sentado de
pernas cruzadas no chã o do estú dio de dança.

— Então nó s compramos um pretzel e algumas lores, mas ele


achou que você s poderiam estar com fome, entã o pedimos sanduı́ches
també m. — Ela mastigou sua laranja e entã o olhou para Jess com
grandes olhos azuis. — Você sabia que eu disse a ele que você nã o
gosta de cebola crua e ele disse que també m nã o gosta de cebola crua?

— Eu nã o sabia disso, mas foi muito gentil da parte de você s


trazerem o jantar para nó s. — Ela passou a mã o pelo cabelo acobreado
de Juno.

— Agora ele é seu namorado? — Juno encontrou seus olhos e entã o


desviou o olhar em uma rara demonstraçã o de timidez. — Porque hoje
ele me pegou na escola como um papai faria.

— Oh. — Uma dor aguda subiu do estô mago de Jess até o esterno.
— Bem, nó s somos amigos. Entã o, quando eu precisei de ajuda para te
buscar, ele se ofereceu para me ajudar como amigos fazem.

Juno parecia desapontada.

— Ah.

— Mas estou muito feliz que você goste dele. — Jess se inclinou
para frente, beijando a testa da ilha. — Foi um longo dia, nã o foi?

— Nã o estou cansada — a irmou Juno, bocejando. — Mas aposto


que Pombo está se perguntando onde estamos.

Jess sorriu enquanto limpavam a comida, vendo Juno icar mais


murcha a cada segundo que passava. Ela pensava que era uma criança
grande, mas assim que as oito horas chegaram, a exaustã o tomou
conta dela como uma deriva no mar. Com Nana dormindo, elas se
despediram de Pop's. Jess o fez prometer dormir um pouco també m, e
prometeu que voltaria pela manhã . Ela ergueu Juno, e passou os
bracinhos em volta do pescoço de Jess, as pernas em volta da cintura
de Jess.

As portas do elevador se abriram para o andar té rreo e Jess saiu,


parando quando viu River empoleirado em uma cadeira perto da saı́da.
Se aproximando dele, Jess equilibrou Juno em seus braços.
— River, ai meu deus, você ainda está aqui?

Ele ergueu os olhos do telefone e se levantou abruptamente.

— Ei.

— Oi. — Jess riu desconfortavelmente. A culpa gotejou por ela. —


Espero que você nã o tenha achado que tinha que icar.

Ele parecia envergonhado e sonolento. Jess nã o tinha certeza do


porquê , mas isso a fez querer chorar.

— Eu queria ver como ela estava — disse ele. — Sua avó .

— Ela é uma campeã . Correu tudo bem. — Jess sorriu. — Ela está
dormindo agora, mas tenho certeza que ela vai começar a importuná -
los para deixá -la ir amanhã .

— Bom. — Ele en iou o telefone no bolso e olhou para Juno,


adormecida como um saco de batatas por cima do ombro. — També m
queria agradecer por con iar em mim hoje. — Ele se inclinou para o
lado, con irmando que Juno estava dormindo. — Ela mencionou algo
no carro para mim sobre Krista e Naomi...?

— Essas sã o as duas melhores amigas dela na escola.

Ele estalou a lı́ngua, estremecendo um pouco.

— Acho que ela teve um dia difı́cil. Nó s conversamos um pouco,


mas parece que elas nã o foram muito legais com ela no almoço. Só
queria que você soubesse.

O coraçã o de Jess se apertou. Sua garota do sol raramente falava


sobre a escola; deve ter sido difı́cil se ela mencionou.

— Vou perguntar a ela sobre isso. Obrigada. Você é incrı́vel.

— Ela é incrı́vel, Jess. Você está fazendo um ó timo trabalho.


Ela teve que engolir duas vezes antes que pudesse pronunciar as
palavras.

— Obrigado por dizer isso.

O orgulho a aqueceu de dentro para fora. Juno era uma criança


incrı́vel, prova de que Jess era uma boa mã e – na maioria das vezes.
Nã o tinha sido fá cil, mas elas estavam conseguindo. Seu elogio
afrouxou algo nela, poré m, e Jess de repente icou exausta també m.

— Posso te acompanhar até o seu carro?

Ela assentiu e eles se viraram, passando pelas portas automá ticas


e saindo para a noite ú mida e fria.

Em seu carro, Jess procurou as chaves em sua bolsa.

— Eu posso te ajudar com alguma coisa? — ele perguntou, rindo


como se se sentisse inú til.

— Nah. Você deveria ter me visto quando ela era mais jovem. Uma
cadeira de carro, sacola de fraldas, carrinho de bebê e mantimentos. Eu
daria um excelente polvo. — Com o controle remoto na mã o, ela
destrancou o carro.

— Estou começando a ver isso.

River abriu a porta de trá s e ela se abaixou para depositar


cuidadosamente uma Juno mole no assento, colocando-a no cinto.
Quando ela se endireitou, fechando a porta, ele ainda estava lá . O cé u
estava escuro; o estacionamento estava quase vazio. Grilos piaram de
um arbusto pró ximo. Jess se perguntou se ele iria beijá -la. A dor por ele
pareceu se expandir dentro dela como uma estrela.

— Obrigada de novo — ela disse.

O momento se estendeu e entã o ele se inclinou, desviando


ligeiramente para a esquerda no ú ltimo segundo, de modo que seus
lá bios pressionaram o canto de sua boca. Teria sido tã o fá cil para ela
virar a cabeça ligeiramente para um lado ou para o outro, e os dois
sabiam disso. Ela poderia ter tornado isso mais ı́ntimo, ou ela poderia
ter recusado. Em vez disso, ela os manteve ali neste limbo estranho,
sentindo os lá bios dele tã o perto dos dela, sua respiraçã o quente
soprando em sua pele. Ela era partes iguais de cautela e luxú ria. Ela
precisava proteger sua pequena famı́lia; ela queria sua boca aberta, o
calor dele. Ela precisava de uma prova de que isso nã o era tudo falso;
ela queria as mã os dele empurrando suas roupas para longe.

Ela estava sendo uma covarde.

Ele se endireitou e deu a ela um ú ltimo e prolongado sorriso.

— Boa noite, Jess.

Antes que ele pudesse se virar, ela segurou seus dedos com os dela.

— River. Ei.

Ele franziu a testa para ela, esperando, mas quanto mais ela icava
lá olhando para ele, mais sua expressã o mudou de preocupaçã o para
compreensã o. Finalmente, ele virou a mã o na dela, entrelaçando os
dedos.

— Você está bem?

Ela assentiu com a cabeça, engolindo o emaranhado de angú stia


em sua garganta. Pressionando a mã o em seu peito, ela se espreguiçou,
e ele icou cuidadosamente parado enquanto ela roçava a boca na dele.
Quando ela se afastou, ele olhou para ela com o mesmo controle
ilegı́vel. Se ela estivesse menos exausta, Jess se sentiria uma completa
idiota.

— Sim, me desculpa. Só ... Queria fazer isso.

River estendeu a mã o, guiando suavemente seu cabelo atrá s do


ombro.
— Mesmo sem pú blico? — ele perguntou baixinho.

— Estou surpresa por termos feito isso com pú blico.

Um sorriso apareceu lentamente em seu rosto, começando pelos


olhos e descendo até os lá bios que se curvaram em um alı́vio tı́mido. Se
curvando, River colocou aqueles lá bios nos dela, e a mesma sensaçã o
de lutuar a atingiu como uma droga. Ele deu a ela uma sé rie de beijos
doces e breves, e inalmente inclinou a cabeça para puxar seu lá bio
inferior, cutucando sua boca, persuadindo-a a se abrir para que ele
pudesse saboreá -la.

O primeiro contato com a lı́ngua dele foi como uma injeçã o de


adrenalina em seu coraçã o, enviada com clareza e velocidade
chocantes por cada extremidade. Um silencioso som de alı́vio escapou
de sua garganta e algo se revirou nele; suas mã os voaram ao redor dela,
puxando-a contra ele.

Jess teve o desejo agudo de rastejar dentro dele de alguma forma,


beijando-o com o tipo de intensidade crescente e concentrada que ela
nunca sentiu antes. Nem mesmo no coquetel. Sozinhos na escuridã o do
estacionamento, com um cé u negro ao redor e dedos do ar frio e ú mido
de fevereiro mergulhando sob seus colarinhos, River nã o deixou
espaço, segurando-a perto e enviando sua mã o quente e larga sob a
bainha de seu sué ter, pressionando sua mã o espalmada na parte
inferior de suas costas.

Sons tensos e famintos escapavam sempre que eles se afastavam e


voltavam para mais. Ele se curvou possessivamente, uma mã o
segurando irme em suas costas, a outra deslizando por seu pescoço,
segurando sua mandı́bula, afundando em seu cabelo. Jess pô de, em um
instante, ver com que facilidade ele a devoraria. Uma corrente vibrou
quando eles se juntaram; ele se tornou pura energia, os braços
tremendo com moderaçã o. Ela imaginou se recostando na cama,
observando-o rondar para frente, antecipando como seria deixar ele
fazer o que quisesse com ela. Implorando por ele.
River interrompeu o beijo, respirando com di iculdade e apoiando
a testa na dela.

— Jess.

Ela esperou por mais, mas parecia ser tudo, a exalaçã o silenciosa
de seu nome.

Lentamente, com a clareza do ar fresco e cortante em seus


pulmõ es e o espaço do peso inebriante de seu corpo contra o dela, ela
voltou a si. O cé u noturno fez có cegas em sua nuca; uma luz de led
zumbiu acima.

— Uau — ela disse calmamente.

— Sim.

Ele se afastou e olhou para ela, uma corda conectando algo dentro
dela a ele. Eles estavam quietos, mas o ar nã o parecia vazio.

River tirou a mã o de debaixo da blusa dela, deixando a pele de suas


costas repentinamente gelada sem o calor da palma da mã o. E entã o a
sensaçã o dobrou – quando ela se recostou no lado frio do carro, um
arrepio violento percorreu seu corpo.

De repente, a proximidade deles apareceu.

Seu carro.

Juno.

Jess se virou, horrorizada ao se lembrar, apenas pela primeira vez


em vá rios minutos, que sua ilha poderia assistir isso pela janela. Jess
respirou de alı́vio ao descobrir que Juno ainda estava inconsciente.

O que eu estava pensando?

River se afastou, segurando seu pescoço.


— Merda. Eu sinto muito.

— Ai meu Deus. — Jess levou as mã os ao rosto, sem fô lego por um
motivo inteiramente novo. — Nã o, eu comecei. Eu sinto muito.

Ela deu a volta para o lado do motorista, encontrando seus olhos


por cima do carro. Ela estava perdendo a cabeça. Tudo isso estava
acontecendo rá pido demais, e ela teve a sensaçã o de que nenhum dos
dois estava sob controle.

— Obrigada — ela disse, ciente da maneira inteligente e calculista


como ele a observava. Interiormente, Jess se sacudiu; ela mal o
conhecia. Ela estava deixando essa coisa de alma gê mea chegar até ela.

— Boa noite — disse ele calmamente.

— Boa noite — Jess respondeu, com a voz rouca. Ela se preocupou


com seu pâ nico, luxú ria e confusã o claramente em seu rosto. Ela deve
ter parecido uma luná tica – de olhos arregalados e sem fô lego – mas o
carinho aqueceu seu olhar de dentro para fora, como se ele estivesse
vendo exatamente a pessoa que queria ver.
Capítulo 17

POP’S NAO ESTAVA ATENDENDO ao telefone. Ele provavelmente se


esqueceu de carregá -lo.

Apesar da sorte de um bom café e do lastro emocional de sua


melhor amiga – Fizzy tinha voltado de Los Angeles na noite passada –
Jess decidiu se arriscar com um café de hospital e foi direto para lá ,
encontrando Pop’s parado ao lado da cama de Nana, só ... olhando
preocupado com ela. Nana permaneceu ligada a todos os tipos de
monitores de hospital, com uma perna cuidadosamente apoiada e
enrolada da panturrilha ao quadril, mas ela dormia paci icamente.
Apesar disso, um olhar para o rosto de Pop’s disse a Jess que ele nã o
tinha fechado os olhos por mais de um piscar de olhos desde que ela e
Juno o deixaram na noite anterior.

Ela cruzou a sala, envolvendo os braços em volta dele por trá s e


beijando seu ombro.

— Ei você .

Ele deu um tapinha na mã o dela, virando o rosto para ela.

— Oi, querida.

— Você icou aqui assim a noite toda?

Sua risada saiu como uma tosse.

— Nã o. Cochilando e acordando, no entanto. Há tantos bipes,


tantas pessoas checando, luzes acesas, luzes apagadas. Que bom que
ela dormiu durante a maior parte do tempo.

— Ela tem o benefı́cio de analgé sicos e uma cama — disse Jess. —


Você deve estar se sentindo pé ssimo.
Ele acenou com a cabeça, alcançando para coçar a bochecha
barbuda com as pontas de seus dedos grossos.

— Só estou preocupado com ela.

Jess abriu a boca, mas imediatamente fechou novamente. Parar


essa vigilâ ncia por meia hora? Jessica Davis sabia melhor. Ela nem
mesmo considerou sugerir que ele fosse para casa para tomar banho e
dormir algumas horas em sua pró pria cama.

Pode muito bem dar a ele um pouco de forti icaçã o na forma de


cafeı́na.

— Eu ia pegar um café lá embaixo. Quer um pouco?

— Sim — ele murmurou, grato. — E algo para comer, por favor.

Jess beijou seu ombro novamente.

— Claro. Volto em alguns minutos.

No corredor, era impossı́vel ignorar a energia estressante do


hospital. Enfermeiras levaram monitores para os quartos; os mé dicos
folheavam os prontuá rios, carrancudos. Um ruı́do branco constante de
bipes nã o sincronizados emanava de todas as direçõ es.

As estatı́sticas giraram em seus pensamentos – expectativa de


vida apó s uma fratura de quadril: a taxa de mortalidade em um ano
variou de 14 a 58 por cento, com uma mé dia de 21,2 por cento. As
chances de sobrevivê ncia pioram com o aumento da idade, é claro;
felizmente, os homens eram mais vulnerá veis e os escores de
mobilidade in luenciaram signi icativamente o resultado. Nana era
ativa e mulher...

O que signi ica que, na melhor das hipó teses, ela só tinha uma
chance em cinco de morrer este ano.
Entorpecida, Jess pediu café na lanchonete, pegando uma salada de
frutas e bagel para Pop’s. Ela se curvou, inalando as xı́caras, tentando
enganar seu cé rebro e desviá -lo de uma espiral de pâ nico. Um cheiro
fraco da bebida mal foi registrado.

Ela se sentou em uma cadeira dura do refeitó rio e levou um


segundo para veri icar seus e-mails – Kenneth Marshall havia enviado
alguns conjuntos de dados de amostra e ela tinha um novo pedido por
meio de seu site de um negociante de joias em Chula Vista. Ela
precisaria reagendar a reuniã o que ela teve que adiar ontem, e dar um
mergulho profundo em epidemiologia analı́tica para alguns dados que
vinham da UCSD. Nã o havia como ela passar por tudo isso hoje, fazer
Pop’s descansar, falar com o cirurgiã o de Nana e estar lá para a retirada
da escola. Pelo menos Juno correu com entusiasmo para Krista e
Naomi na hora da entrada, entã o Jess nã o teve que se preocupar com
ela.

Engolindo um gole amargo de café , ela mandou uma mensagem


para Fizzy:

Minha caixa de mensagens é assustadora e acho que vou precisar


icar aqui hoje para que o Pop’s descanse um pouco.

Fizzy respondeu imediatamente, antecipando o que Jess iria


perguntar enquanto ela estava digitando a pergunta:

Isso signi ica que eu consigo Juno hoje? Yesssssss!

Jess fechou os olhos, virando o rosto para o teto. Gratidã o e culpa


picaram quente e fria por ela.

Obrigado. Eu não vou me atrasar.

Não tenho mais nada acontecendo. Rob está em uma viagem de


trabalho, e eu senti falta da sua ilha.

Obrigada. Me desculpe, eu juro que vou chegar em casa o mais cedo


possível.
Cala a boca. É sério.

Lá grimas inesperadas surgiram na superfı́cie de seus olhos e a


picada a trouxe à consciê ncia.

Pop’s provavelmente estava morrendo de fome; Nana pode


acordar logo. Se controla, Jess.

De volta ao piso ortopé dico, vozes se iltraram do quarto de Nana


pelo corredor. Jess ouviu o estrondo baixo de Pop’s, as palavras lentas e
suaves de Nana... e entã o a voz profunda e baixa que a deixou se
revirando a noite toda.

Ela virou a esquina para ver River parado de costas para a porta,
bem ao lado de Pop’s ao lado da cama de Nana. Nana Jo estava
acordada, com os olhos embaçados, mas sorrindo. Visto de trá s, a
postura de Pop’s parecia mais animada do que em 24 horas, e ele
segurava uma xı́cara para viagem na mã o esquerda.

— E bom ver você acordada — disse River. — Eu conheci o Sr.


Davis, mas nã o cheguei a conhecê -la ontem.

Nana ainda nã o tinha visto Jess na porta – ela estava quase toda
escondida pelo corpo de River – mas Jess teve um vislumbre dela
sorrindo para ele. Jess nã o podia culpar sua avó ; Dr. Peñ a era, sem
dú vida, mais bonito do que ela demonstrara.

— Bem, você é um doce por vir, querido. Jess nos contou tudo
sobre você .

Isso o fez rir.

— Ela contou? Ops.

— Bem, — Nana se esquivou, rindo levemente, — nã o tanto quanto


eu gostaria, eu admito. Essa garota é uma armadilha de aço.
— Isso parece certo. — Desta vez, eles riram com conhecimento de
causa juntos, e Jess fez uma careta atrá s deles. — Estou feliz que você
parece estar se sentindo melhor hoje.

Nana Jo empurrou para se sentar, estremecendo.

— Eles provavelmente vã o me tirar da cama e me mandar embora


em breve.

Pop’s acenou com a cabeça.

— Isso mesmo. Você está pronta para isso, Docinho?

— Vou dar o meu melhor — disse Nana calmamente. Di icilmente.

Congelada na porta, Jess nã o sabia o que fazer ou dizer. River nã o
estava colocando Nana e Pop’s no modo “Nó s temos companhia” nem
um pouco.

— Parece que você tem uma empresa muito chique lá em La Jolla
— disse Pop’s.

River assentiu, colocando a mã o no bolso.

— Nó s estamos esperando. Se você s dois quiserem fazer o teste,


serã o uma boa adiçã o aos nossos dados do Diamond Match.

Nana riu, acenando para ele.

— Oh, você é um doce.

— Mas ele está certo — disse Pop’s, curvando-se para beijar sua
testa. — O que você acha? Devemos ver se fomos feitos um para o
outro?

Nana bateu em seu peito, rindo, e Jess sentiu outra necessidade


misteriosa de chorar.
Mas quando ela deu um passo para trá s para sumir de vista, seu
sapato rangeu no linó leo e todas as cabeças se viraram em sua direçã o.
River girou totalmente, abrindo um sorriso.

— Ei, Nana — disse Jess, caminhando até a cabeceira dela e se


curvando para beijar sua bochecha macia. — Como você está se
sentindo, superstar?

— Muito melhor com dois homens bonitos e minha neta favorita


no meu quarto.

River riu e estendeu um café de Twiggs para Jess.

— Eu nã o acho que você teve seu café especial essa manhã — ele
disse. — Fizzy disse que você nã o tinha aparecido.

Seus olhos se encontraram brevemente, e Jess foi a primeira a


desviar o olhar. Ela corou com a memó ria de sua boca na dela.

— Vim direto para cá depois de deixar Juno na escola. — Ela


colocou a porcaria do café do hospital no peitoril da janela (em caso de
emergê ncia) e a comida de Pop’s na mesinha ao lado da cama de Nana.
— Obrigada — Jess disse, pegando a xı́cara de River. Seus dedos se
roçaram e pareciam preliminares, rasgando roupas.

River fechou a mã o em punho, en iando no bolso da frente da calça.

— Só queria parar no caminho para o trabalho.

— Isso é muito legal da sua parte.

Nana Jo deu a Jess uma carranca como se dissesse Isso é tudo que
você tem a dizer a ele, e quando River olhou para o lado ao som de um
monitor bipando, Jess respondeu desamparada, dando de ombros. O
que mais você quer que eu diga?

Nana Jo revirou os olhos e Jess voltou a olhar para River, que


infelizmente havia pegado o im dessa conversa nã o verbal. Ele
pigarreou e puxou a manga para olhar o reló gio.

— Eu provavelmente deveria ir.

— Obrigado por passar aqui — Jess respondeu.

— Sim — disse River hesitantemente. — Claro.

Jess tentou novamente.

— Posso te acompanhar?

Ele acenou com a cabeça, e ela o seguiu para o corredor.

— Me desculpe se estou me intrometendo — ele disse


imediatamente.

— Nã o. — Ela ergueu o café para ele. — Isso vai me salvar hoje.

Franzindo a testa, ele murmurou: — Bem, estou feliz.

O que realmente seria ú til seria entrar em seus braços e deixar de


se preocupar com tudo por algumas horas. River parecia disposto a ser
essa pessoa.

A noite anterior foi como cair em um poço profundo cheio de


estrelas. Jess poderia ter icado nos braços dele por horas sem subir
para respirar. Mas agora nã o era o momento para se distrair com
pensamentos constantes de entrar nas calças de River.

Ele se endireitou.

— Trouxe algo para Juno. — Remexendo em sua bolsa, ele tirou


algumas folhas de papel. — Algumas coisas da montanha-russa que
imprimi ontem à noite.

Jess pegou os papé is sem olhar para eles, incapaz de desviar o


olhar do rosto dele. Seu coraçã o estava acelerando, mas sua mente
tinha icado inesperadamente muda.
Essas formas pequenas e fá ceis de cuidar: sanduı́ches, café , buscar
na escola, pesquisa na montanha-russa.

O coraçã o de Juno foi construı́do para se expandir. Ele me pegou na


escola como um papai faria. Ela ia se apegar, mas se o relacionamento
dele com Jess nã o desse certo depois do experimento, ele iria partir.
Juno conheceria o abandono – depois de cada pequeno e enorme
esforço que Jess izera para construir um mundo seguro e duradouro
para ela.

E Jess nã o podia negar: ela també m sentiria a perda. Ela nã o queria
que ele se tornasse indispensá vel e precioso para ela. Ela nunca
precisou de ningué m, exceto seu pequeno cı́rculo. Ela nã o sabia se era
capaz de con iar – cair de costas nos braços de outra pessoa.

Era injusto depois de tudo que ele tinha feito por ela nas ú ltimas
vinte e quatro horas, mas o medo rastejou dentro dela como uma
trepadeira rastejante e estranguladora de qualquer maneira.

— Obrigada por fazer isso — ela respondeu roboticamente,


levantando os papé is.

River franziu a testa, perdido contra seu tom em branco.

— Ok, bem, isso é tudo que tenho. — Ele ajustou a alça em seu
ombro, a testa franzida em confusã o. A Jess desta manhã nã o era a
mesma mulher que ele beijou fora do carro na noite anterior. — Eu te
busco mais tarde.

Ele se virou, rigidamente, e começou a caminhar em direçã o ao


elevador.

Passos, passos, passos.

Algo descongelou nela.

— River. — Ela ouviu a maneira como sua voz soou no corredor,


seu tom estranho e desesperado. — Espera.
Ele se virou lentamente, a expressã o cautelosa.

— Me desculpe, eu estou tã o… — Ela se aproximou dele, parando a


alguns metros de distâ ncia enquanto lutava para encontrar as palavras
certas. — Me desculpe por ser estranhamente nã o verbal hoje. Estou
muito grata por sua ajuda com Juno na noite passada, e adorei que você
me trouxe um café .

Ele a encarou, esperando o resto.

— E só … nada disso faz parte do nosso contrato. Eu espero que


você saiba que eu sei disso. Eu nunca iria querer tirar vantagem.

Se ela pensava que sua expressã o era plana antes, ela estava
errada. Porque com isso, sua boca se endireitou, a sobrancelha icou
completamente lisa.

— Você está certa — disse ele. Ele olhou para os sapatos por um
momento esclarecedor, e entã o sorriu rigidamente para ela. — Me
desculpe se eu iz você se sentir desconfortá vel na noite passada, ou
hoje. Me avisa se precisar de mais alguma coisa.

Ele começou a se virar novamente, e um desespero cortante


cresceu nela ao vê -lo se afastando.

Ela o queria aqui, ela o queria bem aqui, mas esse sentimento exato
a estava fazendo querer estender a mã o e empurrar ele para longe.

— E que nã o sei o que fazer com o que estou sentindo — Jess
admitiu de repente.

Lentamente, River se virou para ela e soltou uma risada


gentilmente perplexa.

— Nenhum de nó s sabe.

— Você pode ganhar muito dinheiro — disse ela. — Como pode


nã o estar constantemente em minha mente? O que eu teria feito se
você nã o tivesse ajudado com Juno ontem? Mas está sempre aqui —
disse ela, batendo com urgê ncia na tê mpora com o dedo indicador —
para questionar se é genuı́no. Uma coisa é se você está me enganando,
outra é quando é minha ilha.

Sua sobrancelha relaxou.

— Nã o estou aqui pelo preço das açõ es, Jess. Eu já disse isso antes.
Nã o é sobre o dinheiro.

— Isso é algo que só as pessoas que estã o preocupadas com


dinheiro dizem.

River suspirou, piscando para longe e depois de volta para ela.

— A noite passada pareceu uma atuaçã o para você ? — Quando ela


nã o respondeu, ele deu um passo mais perto, suavizando o tom. —
Você entende o que estou tentando te dizer? O DNADuo pode nos unir,
mas nã o pode fazer com que nos apaixonemos um pelo outro. Nã o
pode conhecer o seu passado ou o meu, ou prever o que nos assustaria
ou nos motivaria a icarmos juntos. Tudo isso depende de nó s, nã o do
algoritmo.

Jess fechou os olhos e estendeu a mã o, esfregando o rosto com a


mã o. Tudo o que ele disse parecia tã o ló gico. Mas ainda sim. Ela estava
assustada.

Ela se ressentia da punhalada persistente de sua paixã o em cada


momento de vigı́lia. Ela estava atraı́da por River mais do que qualquer
coisa que sentira antes, mas era emocional també m. Era o tipo de
atraçã o que cria raı́zes abaixo da superfı́cie.

Esse novo e tenro tipo de tortura a fez desejar ele em todos os


aspectos de sua vida. No travesseiro ao lado do dela. Do outro lado da
mesa no jantar. Segurando a mã o dela no hospital. River era gentil,
atencioso e vulnerá vel. Ele era brilhante e silenciosamente engraçado.
Ele era tudo o que ela sempre quis em um parceiro, mesmo que ela nã o
percebesse até que ele estivesse bem aqui, dizendo a ela que era tudo
para eles tentarem, ou nã o.

Jess lançou um pequeno luxo de ansiedade:

— Estou com medo, ok? Eu nã o quero me machucar, e eu realmente


nã o quero que Juno se machuque. Ela nunca... — Ela parou
bruscamente, reformulando. — Juno nunca teve algué m que ela amava
desaparecendo antes.

O olhar irme de River se suavizou e ele deu mais um passo para


perto dela.

— Eu també m nã o quero isso. Mas nã o sou um soldado nem um


robô . Nã o estou aqui a negó cios do GeneticAlly. Estou seguindo o que
estou sentindo. — Ele olhou para trá s e para frente entre os olhos dela
por um tempo antes de algo em sua expressã o clarear, relaxando. —
Você nã o teria como saber disso, mas eu sou pé ssimo em ingir
emoçõ es. — Jess riu em meio a um soluço baixo. — E eu entendo que é
mais complicado por causa de Juno, mas o que mais eu devo fazer alé m
de perguntar? Eu quero passar um tempo com você .

— Nó s estamos passando tempo juntos — Jess disse sem muita


convicçã o.

— Eventos o iciais e conversas nos corredores do hospital? — ele


perguntou, franzindo a testa. — Isso é o su iciente para você ?

Ele podia ver o não nos olhos dela?

— Nã o sei o que mais é possı́vel agora.

— O que isso signi ica? — River fechou o ú ltimo pedaço de


distâ ncia entre eles, alcançando sua mã o livre. Parecia frio contra o
calor de seus dedos. Ele olhou ao redor do corredor que os rodeava. —
Isso faz parte da vida, Jess. Emergê ncias e responsabilidades e
gerenciamento de pequenos incê ndios o tempo todo – mas é apenas
parte disso. També m existem momentos de silê ncio. Bons momentos.
Momentos em que podemos pedir mais.

— Nã o é a parte em que sou muito boa.

— Eu nã o tinha percebido. — Ele deu um sorriso irô nico.

Isso a fez rir.

— O que você está dizendo?

— Eu pensei que era ó bvio. — Seu sorriso icou tı́mido.

— Mesmo?

— Mesmo. Eu quero estar aqui para te trazer café . Quero levar você
para jantar fora e pedir a mesma comida e ouvir você recitar as
probabilidades de que nos encontrarı́amos. Eu quero odiar – participar
de eventos sociais so isticados juntos.

Jess riu, uma explosã o de surpresa de som, e seu tom suavizou.

— Eu quero que você me ligue quando precisar de ajuda, sem um


pedido de desculpas já na ponta da lı́ngua. Quero sentir que posso
beijar você de novo ao lado do seu carro no inal da noite. — Ele
engoliu em seco. — Eu quero você na minha cama.

Jess estava com um pouco de medo de que seus pé s derretessem


no chã o. Que as chamas subiriam por suas pernas e queimariam um
buraco direto atravé s dela. Ela queria isso. Mas se ela se apaixonasse
por River, nã o haveria saı́da fá cil.

— Eu posso dizer que você nã o tem certeza do que dizer — ele
disse, se curvando para beijar sua bochecha. — Tudo bem. Você sabe
onde me encontrar quando estiver pronta.
Capítulo 18

— POP’S, QUE TAL você sair daqui um pouco?

Ele a ignorou.

— O que é uma palavra de treze letras para “velho”?

— Eu diria Ronald Davis, — disse Jess, — mas sã o apenas onze.

Nana riu da cama, onde ela estava meio sonolenta assistindo TV no


mudo.

— Entã o? — ele perguntou, cansado e irritado.

Jess balançou a cabeça.

— Nã o.

— O que você quer dizer com “nã o”? — ele resmungou.

— Eu nã o estou te ajudando — ela respondeu. — Você fede e está


caindo no sono em sua cadeira.

— Ela está certa — Nana murmurou.

Ele olhou para Nana Jo, depois para Jess, e entã o piscou,
desamparado, para as palavras-cruzadas.

— Octogená rio?

Ele contou nos dedos e grunhiu de aborrecimento.

— Septuagená rio? — Vitorioso, ele começou a escrever.

— Sã o quatorze letras — disse Jess. — Você está se esquecendo do


U aı́, nã o está ?
Irritado, Pop’s largou as palavras-cruzadas na mesa, derrotado.

— Vá para casa um pouco — disse Nana, sonolenta. — Eu nã o


preciso de você me observando o dia todo.

— Bem, nã o é minha culpa que eu nã o posso tirar meus olhos de
você . Você é muito bonita.

Nana Jo revirou os olhos, mas suas palavras a izeram brilhar como


uma á rvore de Natal.

— Tudo bem, vou para casa, tomar banho e dormir. — Ele se


levantou, se espreguiçando. Algo estalou em suas costas e ele soltou
um gemido tenso antes de beijar Nana na testa. Ele olhou por cima do
ombro para Jess.

— Você nã o vai deixar ela sozinha? — Jess perdoou o tom


acusató rio; ele estava exausto.

Estava na ponta da lı́ngua para brincar que ela prometeu sair


apenas se icasse entediada ou com fome, ou se um enfermeiro gostoso
quisesse se esgueirar em um armá rio de suprimentos, mas agora nã o
era a hora.

— Eu nã o vou deixar ela sozinha. — Silenciosamente, ela


acrescentou: — Pensionista.

Deixando escapar um baixinho "Droga, eu deveria saber", ele


voltou e rabiscou a palavra no quebra-cabeça.

POP’S VOLTOU EM TORNO DE trê s horas, parecendo


signi icativamente mais limpo e um pouco mais descansado. Ele
chegou apenas alguns minutos antes que o isioterapeuta viesse tirar
Nana da cama pela primeira vez, e Jess icou feliz porque os trê s
precisaram falar com a mulher normalmente destemida atravé s do
pâ nico de colocar peso na perna.
Jess nã o teve tempo de sentir a emoçã o de ver Nana tã o frá gil e
assustada; demorou uma hora para levantá -la e dar os dez passos
assistidos até a porta, onde uma cadeira de rodas a levava para a sala
de PT, e outra hora lá , trabalhando com força e equilı́brio.

Quando Nana Jo voltou para a cama, já passava das cinco e, embora
Jess tivesse icado sentada a maior parte do dia, estava tã o esgotada
mentalmente que só queria se enrolar na cama… inferno, ela felizmente
encontraria um lugar no chã o de linó leo. Mas mais do que isso, ela
queria algum tempo com Juno enquanto sua ilha estava acordada. E
comida. Ela nã o comia desde que pegou um muf in seco por volta das
dez daquela manhã , e seu estô mago embrulhou de aborrecimento.

Enviando a mensagem de texto para Fizzy avisando que entregaria


o jantar, Jess entrou no carro, deu um pedido para Rama e ligou o
burburinho suave do National. A mú sica encheu o carro e foi um golpe
de calma inebriante.

Você disse que o amor te preenche...

Eu peguei pior do que qualquer outra pessoa

Seus ombros icaram tensos e ela desligou a mú sica.

No silê ncio, seus pensamentos imediatamente se inundaram com


River. A mistura paradoxal de té dio e caos do hospital tinha retido
tudo, mas na solidã o escura de seu pró prio carro, a emoçã o se
derramou sobre ela.

Eu pensei que era óbvio.

Quero ouvir você recitar as probabilidades de que teríamos nos


encontrado.

— “Quero você na minha cama” — ela repetiu em voz alta.

Jess estacionou em sua vaga no beco e ouviu o barulho do motor


no silê ncio. Ela podia sentir o cheiro de curry de pato por todo o
caminho e enviou um agradecimento silencioso a Rama.

Lá dentro, Juno e Fizzy estavam à mesa, festejando e jogando


cartas. Elas estavam usando chapé us de papel feitos à mã o e Fizzy
tinha colocado... muita maquiagem em Juno.

— Estamos ilmando tutoriais de maquiagem para minha mã e —


disse Fizzy, se levantando para se aproximar e dar um abraço em Jess.

Jess reprimiu uma risada com os lá bios exagerados da ilha.

— Eu estou vendo.

Com uma necessidade irreprimı́vel de desmaiar de cansaço, Jess


considerou simplesmente abaixar o corpo até o chã o. Mas ela queria
tanto seus braços ao redor de sua ilha que doı́a. Na mesa, Jess levantou
Juno e a colocou no colo enquanto a ilha terminava de comer,
pressionando o rosto no pequeno trecho entre as omoplatas delicadas.

— Senti sua falta, Joaninha.

— Eu nã o fui embora, boba! — Juno se curvou em seu aperto,


manobrando uma mordida em sua boca.

Depois que se empanturrou até o ponto de desconforto, Juno se


acomodou no sofá para assistir O Rei Leão, e Fizzy e Jess
permaneceram na cozinha com taças de vinho.

— Nã o gosto quando você está fora da cidade — disse Jess com um
bocejo. — Eu te culpo por ontem.

— Parece razoá vel. — Fizzy engoliu um gole e mordeu o lá bio,


estudando Jess com os olhos estreitos. — Juno disse que River Nicolas a
pegou e a levou para o balé ?

Jess acenou com a mã o, despreparada para falar sobre isso ainda.

— Como vã o as coisas com você e o banqueiro Rob?


— Quentes e fantá sticas.

Ela ergueu uma sobrancelha.

— Ele vai para a sua casa mais tarde?

Fizzy balançou a cabeça, balançando o copo com o pulso


delicadamente dobrado.

— Ele está fora da cidade, lembra? O que signi ica que você nã o
conseguirá evitar a conversa sobre River. — Sua melhor amiga se
sentou à mesa e deu um tapinha na cadeira ao lado dela.

— Ah. Certo. — Jess se sentou, mas imediatamente desabou,


apoiando a cabeça nos braços. — Estou muito cansada, Fizz.

— Me diz o que está acontecendo. Você parece... — ela se inclinou,


levantando o cabelo de Jess para espiar seu rosto. — Isso parece mais
do que apenas preocupaçã o com Nana Jo.

Se endireitando, Jess descarregou tudo em silê ncio, parte por


parte. Ela admitiu que estava começando a sentir pena de River –
sentimentos muito grandes para ponderar quando parecia que tudo
em sua vida estava batendo na porta para ser resolvido. Ela admitiu
que nã o sabia se as intençõ es de River eram completamente
con iá veis, embora ele jurasse que eram. Ela contou a Fizzy sobre o
coquetel, jurou por Deus, um dos amassos mais intensos que o
estacionamento do Scripps Mercy já viu. Ela contou a Fizzy sobre como
nã o conseguia parar de pensar nele. Ela contou a Fizzy todos os
detalhes que poderia pensar em contar, como se estivesse purgando
seus pecados.

— Ele disse o que? — Fizzy sussurrou, descon iado das orelhas


pequenas, mas excelentes, na outra sala. — Ele realmente disse as
palavras “eu quero você na minha cama”? Bem desse jeito?

Jess acenou com a cabeça.


— Com contato visual?

— Firme, ardente, eu-vou-te-foder-até -encontrar-uma-religiã o


contato visual — Jess con irmou.

Fizzy gemeu, pegando sua bolsa, puxando seu caderno e anotando.

Jess se curvou sobre seus braços novamente, exalando um suspiro


enorme.

— Eu só preciso de algum tempo para descobrir tudo isso. Está


acontecendo tã o rá pido.

Fizzy deixou cair sua caneta, zombando disso.

— Vamos. Nã o, você nã o precisa.

Surpresa, Jess ergueu os olhos para ela.

— O que você quer dizer com nã o preciso?

— Você conhece ele há semanas. Você está me dizendo que ele
disse que queria te levar para jantar e ouvir você ser nerd. Ele quer
estar ao seu lado sem que você se sinta culpada. Ele admitiu que quer
você na cama dele – esse pobre garoto está apaixonado, Jess, e você vai
– o quê ? Empurrar para o lado?

Jess a encarou, sem compreender.

— Você está procurando uma maneira de nã o sentir nada — disse


Fizzy — mas você está claramente louca por esse cara.

— Eu nã o tenho certeza se “louca”–

— Você está com medo, e isso é clichê .

Ela exalou uma risada chocada.

— Uau, seja sincera comigo, Felicity.


— Você acha que ter sentimentos por River é egoı́sta.

— Quer dizer, essa situaçã o realmente me afasta do trabalho e de


Juno — disse ela. — Eu mal vi ela nos ú ltimos dois dias.

— E? — Fizzy desa iou.

— O que…? Eu — Jess icou nervosa. — Ela é minha ilha. Eu quero


ver ela.

— Claro que sim, — Fizzy disse, — mas ela é de Jo e Pop’s e minha


també m. Ela e eu nos divertimos muito esta noite, e gostaria de poder
ver mais ela. Mas você age como se pedir ajuda fosse egoı́smo, você vê
querer algo só para si mesmo como egoı́smo, você vê tirar qualquer
tempo longe de sua ilha como egoı́smo e, se você for egoı́sta, entã o
deve estar se transformando em sua mã e.

Ouvir em voz alta foi como levar um soco.

— Mas você nã o é sua mã e, Jess. — Fizzy pegou a mã o dela,
levando à boca para beijá -la. — Nã o há nem uma gota de Jamie Davis
em você .

A voz de Jess falhou.

— Eu sei.

— E se você pudesse fazer qualquer coisa esta noite quando Juno


for para a cama, o que seria?

Ela esperava que a palavra Dormir saı́sse de sua boca. Mas em vez
disso: — Eu iria para a casa dele.

Os olhos escuros de Fizzy brilharam com vitó ria presunçosa.

— Entã o vá . Vou icar aqui com a criança o tempo que você
precisar.

— Fizz, você nã o precisa fazer isso.


— Eu sei que nã o. — Ela beijou a mã o de Jess novamente. — Esse é
o ponto principal. Você faz coisas para mim porque me ama. Eu faço
coisas por você porque te amo. Dã .

Jess procurou pela ú ltima desculpa restante. Felizmente, foi bom:

— Nã o sei onde ele mora.

— Bem, você poderia mandar uma mensagem para ele. Ou... —


Fizzy estendeu a mã o sobre a mesa para pegar um pedaço de papel e
entregou a ela. Nele, em uma letra pequena e apertada, estava o nome
River Nicolas Peña e um endereço em North Park.

— Espere, — disse Jess, rindo incré dula, — como isso acabou na


minha mesa?

— Eu me perguntei a mesma coisa quando eu encontrei na


mochila de Juno — Fizzy disse com espanto ingido. — E Juno explicou
que ela queria enviar a ele alguns desenhos de Pombo. Que gentileza
dele dar isso a ela.

RIVER ABRIU a porta e sua boca icou frouxa.

— Jess. — Ele estendeu a mã o para o ombro dela, preocupado. — O


que você está –? Você está bem?

De repente, ela nã o tinha ideia do que dizer. Ele estava parado na
frente dela com calças justas que caı́am na cintura e uma camiseta
desgastada de Stanford. Ele estava descalço e de banho tomado. Seu
cabelo estava molhado e penteado para trá s com os dedos; seus lá bios
eram suaves e perfeitos. Desembaraçada e nua, Jess sabia em seus
ossos que ele era seu noventa e oito.

— Eu queria ver você .

A compreensã o alterou sua expressã o, e seus olhos dispararam


para trá s dela e rapidamente de volta. Ele lambeu os lá bios.
— E a Ju–

— Fizzy.

Ele olhou, a respiraçã o saindo em rajadas cada vez mais curtas.


Talvez trê s segundos depois, Jess nã o sabia quem estava se movendo
primeiro, se ele a puxou para dentro ou se ela saiu da noite fria e
ú mida, mas ela estava em sua entrada apenas um momento antes de a
porta bater e ela ser empurrada para trá s contra isso. River apoiou as
mã os ao lado da cabeça dela, olhando com descrença selvagem. E entã o
ele se curvou, pressionando um beijo e um gemido em sua boca.

A sensaçã o disso, a pressã o e o â ngulo perfeitos, transformaram


seu desejo em uma fome impressionante.

As mã os de Jess tremeram enquanto fechavam em punhos no


tecido macio de sua camisa, e quando ele a provou – lá bios
entreabertos, lı́ngua provocando – ela foi atingida por um desejo tã o
intenso que parecia respirar fundo demais para segurar.

Ela teve que se afastar, ofegando por ar.

— Eu nã o posso acreditar que você está aqui — ele rosnou,


raspando os dentes em sua mandı́bula, chupando, mordendo seu
pescoço. — Você veio aqui para isso?

Jess assentiu, e mã os gananciosas amontoaram sua roupa


enquanto subiam por seu torso, procurando pele. A perda de contato
enquanto ele se afastou para puxar o sué ter para cima e sobre a cabeça
dela era uma tortura, e Jess o puxou para trá s, colocando as mã os entre
eles para tirar a camiseta o mais rá pido que seus dedos frené ticos
permitiam. Sob seu toque, ele era duro e macio, um doce para suas
mã os quentes.

Jess riu um pedido de desculpas em sua boca quando ela conseguiu


ter seu cotovelo brevemente emaranhado em uma de suas mangas.
— Está tudo bem — ele respirou, jogando a camisa fora. Seus olhos
encontraram os dela por uma batida elé trica antes de seu cabelo cair
para frente e ele se inclinar para beijá -la.

Enquanto a boca dele descia por sua mandı́bula e pescoço, por


cima do ombro e ao longo do interior sensı́vel de seu pulso, ela
observou seus dedos memorizarem cada centı́metro perfeito de seu
torso. Os ombros de River eram largos, mas nã o maciços, de inidos,
mas nã o volumosos. Seu peito també m, e mais abaixo, onde seu
estô mago se contraiu sob seu toque. Jess queria cavar, morder,
consumir. E quando as unhas dela arranharam suas costas, sobre as
curvas de seus ombros, traçando suas clavı́culas perfeitas, sua
respiraçã o icou presa na garganta.

Com o olhar em seu rosto, River estendeu a mã o para trá s,


liberando o fecho de seu sutiã . Suas mã os eram á speras e quentes, e
Jess queria pegar cada pequena mudança em sua expressã o, cada
reaçã o ao senti-la. O jeito que ele olhou para ela – a doce devastaçã o
beliscando sua testa – fez Jess se sentir como se ela estivesse ligada
diretamente ao sol. Empurrando-o para trá s, ela caiu de joelhos,
drogada e quase delirando de necessidade.

Ele soltou um sussurro “Oh, Deus” enquanto ela abaixava suas


calças e boxers; River a transformou em Medusa com os dedos em seu
cabelo, e com uma voz que havia icado rouca, ele implorou
silenciosamente por mais do que o calor de sua respiraçã o. Ela olhou
para cima e, quando seus olhos se encontraram, a fome a atravessou
dolorosamente. Jess nunca se sentiu tã o desejada ou tã o poderosa.
Nunca tendo desejado nada em excesso como isso antes, ela queria
puxar ele para cada pedacinho de seu corpo de uma vez, queria quebrar
pedaços grandes demais para consumir.

A voz de River passou de sú plicas sussurradas para advertê ncias


quebradas e rosnadas, e com um grito, ele puxou os quadris,
envolvendo a mã o em seu braço e a guiando para icar de pé . Puxando-
a para perto, ele en iou a cabeça dela sob o queixo enquanto
recuperava o fô lego. Com a pausa no frenesi, Jess icou ciente de quã o
rá pido sua pró pria respiraçã o estava vindo, como parecia que seus
coraçõ es estavam batendo em lados opostos da mesma porta.

Eu quero nunca me acostumar com isso, ela pensou, segurando-o. Se


essa noite é para ser egoísta, então aqui está o meu desejo egoísta: Espero
que nunca nos acostumemos com isso.

Ele se afastou, enviando as mã os sobre o corpo dela – avidamente


tocando os seios, as costelas e a parte curvada de suas costas – e Jess
fechou os olhos, inclinando a cabeça enquanto a boca dele deslizava
por sua garganta.

Provocando, seus dedos brincaram com o botã o de sua calça jeans.

— Posso tirar isso?

Com o aceno dela, River soltou o botã o, sorrindo e chutando sua


pró pria roupa enquanto descia as dela por suas pernas. Se inclinando,
ele agarrou e jogou algo no chã o, e quando ele a abaixou
cuidadosamente, Jess percebeu que ele puxou um cobertor de macio
do sofá .

Suas costas encontraram o cobertor, e seus quadris deslizaram


entre suas coxas. Ela recebeu um beijo gentil antes que o calor da boca
dele descesse por seu pescoço, sugando e beijando seus peitos, os
dedos cavando nos quadris e umbigo e, em seguida, sentindo
suavemente, acariciando, antes que seu beijo chegasse embaixo
també m. O alı́vio foi como ser destampada e derramada no chã o, e os
dedos dela fecharam os punhos em seu cabelo enquanto Jess fechou os
olhos contra a sobrecarga de sensaçõ es.

Ela tateou cegamente pela bolsa que deve ter deixado cair assim
que suas costas bateram na porta, e se atrapalhou com a né voa de
luxú ria, puxando o quadrado de papel alumı́nio.

River ouviu a murmú rio, erguendo a cabeça e arrastando a boca


por seu corpo. Ele tinha o gosto dela, mas parecia um homem à beira
de quebrar quando ela o agarrou, rolando a camisinha.
Mas ele icou imó vel sobre ela, e ela fez uma pausa també m,
movendo as mã os para apoiá -las em seus quadris.

— Muito rá pido?

Ele balançou a cabeça e sorriu para ela.

— Só me certi icando.

Jess estendeu a mã o para tirar o cabelo de seus olhos e acenou com
a cabeça, incapaz de pronunciar as palavras.

— Diga — disse ele, curvando para beijá -la. — Tenho certeza. Você
tem?

Ela nã o conseguia espalhar as mã os o su iciente; mesmo com seu


corpo alinhado ao longo do dela, ela precisava se aproximar.

— Eu quero — disse ela. — Por favor.

River encostou a testa em sua tê mpora, deixando ela ser a ú nica a
recebê -lo. Os dois pararam para uma pausa sem fô lego, e naquele
tempo Jess existia apenas no io da navalha a iada da felicidade e
desconforto. Cuidadosamente, se mantendo quieto, ele a beijou – tã o
doce e penetrante – e ela pô de inalmente exalar.

— Você está bem? — River beijou sua boca novamente, e Jess o


sentiu se afastar e observar sua expressã o. — Nó s podemos parar.

Ele estava falando sé rio? Eles absolutamente nã o podiam parar.
Seu corpo de rainha do drama tinha certeza de que morreria se
tentasse.

— Nã o. Nã o pare.

— OK. — Seus lá bios se arrastaram por sua mandı́bula e ela pô de
sentir seu sorriso. — Eu nã o vou.
Ele a beijou novamente, afastando-se com uma mordida suave.
Quando ele sussurrou em meio a uma risada:

— Sinto muito. Eu nã o sei por que estou tremendo — e ela sentiu a
verdade sob suas mã os, ela pô de exalar um pouco mais porque a fez
pensar que talvez ela nã o estivesse sozinha nesse sentimento – tã o
desesperada por ele que ela poderia chorar.

River se moveu sobre ela – lento, entã o aumentando o ritmo,


pressionando repetidamente, liberando um grunhido baixo a cada
movimento para frente – e de repente ela sentiu o peso rolando por sua
espinha como uma pedra de aço em uma armadilha pronta para saltar.

Jess disse apenas duas palavras – “Eu vou” – antes que a atingisse
como uma explosã o, a divisã o de calor e alı́vio se espalhando por todo
seu corpo. Ela ainda estava muito confusa para apreciar o abandono de
River, mas icou gravado no fundo de sua mente como ele gemeu seu
nome contra seu pescoço, icando irme e imó vel sobre ela.

Depois de uma pausa preenchida apenas com o som de suas


respiraçõ es curtas e gaguejantes, River se apoiou em seus braços e
olhou para ela. Seu cabelo era uma bagunça de cachos escuros caindo
nos olhos, mas Jess teve a estranha sensaçã o de se olhar no espelho de
qualquer maneira; seu olhar transbordava com o mesmo choque e
espanto que ela sentia vibrar em seu sangue. Aquilo a atingiu com uma
verdade nı́tida e surpreendente: durante toda a sua vida ela havia sido
mal interpretada de uma forma minú scula, invisı́vel e crı́tica. E ter
aquela peça alterada apenas o su iciente para ela deslizar no lugar de
repente mudou tudo.

— Você pode icar? — ele perguntou, recuperando o fô lego. —


Ficar aqui essa noite?

Seu coraçã o apertou dolorosamente e Jess passou a mã o pelo peito


suado, sobre o estô mago.

— Acho que nã o.


Assentindo, ele se afastou com um estremecimento, e ela
imediatamente sentiu dor por ele. River sentou sobre os calcanhares e
passou a palma da mã o quente ao longo de sua perna, do quadril ao
joelho.

Ela icou maravilhada com aquele homem que, um mê s atrá s, ela
conhecia apenas como “Americano”, como ranzinza, quieto e egoı́sta.
Esse homem tı́mido e brilhante ajoelhado na frente dela que apareceu
sem ser perguntado, que colocou a bola em sua quadra, que perguntou
se ela tinha certeza e disse que eles podiam parar. Ela sentiu seu
controle escapando por entre os dedos, e as duas sı́labas de seu nome
tatuaram um eco permanente dentro dela.

Os ombros de River subiam e desciam com sua respiraçã o ainda


difı́cil, e ele fechou os olhos, deslizando as mã os pelos quadris dela
novamente, pelo umbigo.

— Eu nã o tenho que dizer isso, tenho?

— Talvez nã o — Jess disse, olhando para ele. — Eu ainda quero que
você diga.

De alguma forma, ela sabia exatamente como ele seria sem um


pedaço de roupa, mas ela deu uma leitura visual vagarosa de qualquer
maneira.

— Isso foi surreal, nã o foi? — ele inalmente disse. — Nã o me sinto
a mesma pessoa de uma hora atrá s.

— Eu estava pensando exatamente a mesma coisa.

Ele riu baixinho.

— Nã o acredito que izemos no chã o. Em todas as vezes que


imaginei isso, nã o imaginei o chã o.

— Eu provavelmente nã o deixei você ir muito alé m da entrada.


— Eu gosto de uma mulher focada.

Com olhos famintos e curiosos, Jess o observou se levantar e


caminhar sem vergonha, nu, pelo ambiente até sua cozinha elegante e
austera. Ela nem mesmo deu uma olhada ao redor da casa dele, mas era
exatamente o que ela esperava: planta baixa aberta, linhas limpas,
mó veis simples, decoraçã o de parede discreta.

Nã o havia, por exemplo, desenhos em giz de cera de hipopó tamos


colados na geladeira ou meias desemparelhadas espalhadas pelo chã o.

Ele voltou um momento depois, se aproximando dela como um


animal predador nas sombras.

— Vou pensar nisso constantemente agora.

Jess riu, admitindo: — Eu já penso.

— Como quando? — ele sussurrou.

Ela revirou os olhos, pensando.

— Hum. Shelter Island–

— Eu també m.

Seus olhos encontraram os dele novamente.

— E o beijo na festa–

— Claro.

— O estacionamento do hospital.

— Quase pedi para te seguir até em casa.

Ela estendeu a mã o, deslizando o polegar sobre o lá bio inferior.

— Estou feliz que você nã o pediu. Eu teria dito sim, mas nã o estava
pronta ontem.
Ele abriu a boca, mordendo suavemente a ponta do dedo.

— Eu sei. Espero que você esteja esta noite.

Ela assentiu, hipnotizada pela visã o dos dentes dele ao redor de


seu dedo.

— Eu estou. Eu vivi de expectativas. Excedeu as expectativas.

— Eu queria você antes de Shelter Island — ele disse calmamente.

Jess se afastou um pouco, surpresa.

— Quando?

— Na noite em que soubemos da combinaçã o, quando está vamos


lá fora. Eu me perguntei como seria beijar você . — Ele se curvou,
dando-lhe um pequeno selinho. — E no jantar, com Dave e Brandon. —
Ele a beijou novamente. — No laborató rio quando eu tirei seu sangue.
Nosso primeiro encontro. Quase toda vez que eu pensava em você .

— Você acha que é porque o algoritmo disse para você me querer?

Ele balançou sua cabeça.

— Eu acredito no algoritmo, mas nã o tanto. Eu lutei contra isso.


Assim como você lutou.

Jess olhou para ele, passando a palma da mã o em seu peito. Um


leve eco de desconforto registrado em suas costas, e ele deve ter
sentido ela estremecer porque ele a empurrou para cima, estendendo a
mã o e ajudando-a a se levantar.

River se curvou, puxando a cueca boxer antes de colocar o cobertor


em volta dos ombros dela. Pegando a mã o dela, ele os levou para o sofá ,
gesticulando para que ela se sentasse primeiro, mas Jess deu um passo
à frente, empurrando-o suavemente até que ele se sentasse, e entã o
colocou um joelho de cada lado de seus quadris, montando nele.
Trazendo o cobertor sobre os ombros, ela os selou juntos abaixo do
pescoço.

Sob o cobertor, River passou as mã os por suas coxas nuas e soltou
um suspiro longo e lento.

— Você vai me matar.

De repente, tudo parecia muito surreal.

— Sinceramente, nã o posso acreditar que estou aqui e acabamos


de fazer sexo no seu chã o

River deu um beijo e riu contra sua boca.

— Juno sabe que você está aqui?

— Nã o.

Ele ergueu uma sobrancelha.

— Ela sabe que somos...?

— Ela me perguntou algumas vezes se você era meu namorado,


mas... — Jess balançou a cabeça. — Eu realmente nã o estou falando
sobre isso com ela ainda.

Ele franziu o cenho levemente e tirou o cobertor dos ombros dela,


desenhando espirais preguiçosas sobre as clavı́culas.

— Mas presumo que Fizzy saiba.

— Ela praticamente me empurrou porta afora com seu endereço


na mã o.

Ele olhou para o rosto dela, a compreensã o surgindo.

— Merda. Esqueci de contar sobre os desenhos da gata e de dar


meu endereço a ela. Eu nã o queria ultrapassar, mas aquela garota é
persuasiva.

Com uma risada, Jess dispensou isso.

— Acredite em mim, eu sei como ela trabalha. E por isso que


brincamos que ela é metade da Fizzy.

— Mesmo assim. Desculpa nã o ter mencionado isso.

— Você está brincando? — Ela o beijou novamente. — Sinto muito,


porque sem dú vida ela fez você se sentir incrivelmente culpado,
questionando tudo sobre você , antes de inalmente ceder.

Ele riu, inclinando a cabeça para trá s e dando a ela uma visã o
deliciosa de sua garganta.

— Acho que nã o deveria icar surpreso que você saiba exatamente
como aconteceu.

— Ela de initivamente nã o consegue a persuasã o do gê nio do mal


de mim.

O sorriso de River vacilou; Alec estava lá com eles agora. River
estendeu a mã o para torcer uma longa mecha de cabelo dela em torno
de seu dedo.

Jess pigarreou.

— Ou o pai dela, nesse caso. Como eu disse: ela é metade da Fizzy.

— O pai dela nã o está na foto? — River perguntou baixinho.

— Alec, e nã o.

— Entã o ele nunca vai–

— Tentar compartilhar a custó dia? — Jess antecipou o im da


pergunta, balançando a cabeça. — Nã o. Ele renunciou a seus direitos
antes de Juno nascer.
River soltou um suspiro de surpresa.

— Que idiota.

Ela adorou que essa fosse sua reaçã o, mas ela nã o precisava disso.

— Estou feliz que ele fez isso.

Ele sorriu para ela, inseguro, e ela teve um pequeno vislumbre de


River, o homem cauteloso e tı́mido que ainda nã o havia puxado seu
proverbial al inete e feito com que ela se des izesse.

— O que? — ela perguntou, estendendo a mã o e desenhando uma


linha sobre o vinco em sua testa.

— Juno já conheceu um de seus namorados?

Jess riu e ele a moveu para frente, mais perto. Ela desviou.

— E isso que somos? Namorados?

— Assim que eu disse essa palavra, parecia tanto uma presunçã o


quanto uma sub-representaçã o.

— Por causa de noventa e oito — disse ela, sorrindo.

Ele se inclinou, beijando seu pescoço.

— Por causa de noventa e oito.

— A pergunta mais precisa — disse ela enquanto ele beijava a


curva de sua mandı́bula — é se eu tive um namorado desde Juno.

River se acalmou e entã o se afastou, olhando para ela.

— Ela nã o tem sete anos?

— Ela tem. Eu vi algumas pessoas aqui e ali, mas ningué m que eu


consideraria um namorado.
Ele desenhou outra forma suavemente enrolada em sua clavı́cula,
cantarolando.

— Uau.

— Isso é estranho? — Jess perguntou.

— Nã o sei. Eu també m nã o tenho certeza de como eu lidaria com


isso, se eu tivesse um ilho.

— Você namora muito?

Ele trouxe as duas mã os para baixo do cobertor novamente e as


colocou em seus quadris. Ficava difı́cil se concentrar em suas palavras,
mesmo quando ele dizia:

— Nã o muito. Um pouco. Algumas vezes por mê s, talvez? Eu


trabalho cem horas por semana.

— Nã o essa semana.

River sorriu.

— Nã o, nã o essa semana. Esta semana nã o consegui parar de


checar minha Diamond Match.

Ela o beijou novamente, mais profundamente.

— Estou feliz que você seja persistente.

— Um de nó s tem que ser.


Capítulo 19

— OK, UMA EM cada mã o. — Ela esperou até que Juno puxasse as
luvas de forno com garras de lagosta até o im.

— Vai estar quente, entã o tome cuidado.

Juno abriu a porta do forno e as duas estremeceram com a


corrente de ar quente que passou por seus rostos. Jess a ajudou a puxar
cuidadosamente a assadeira da prateleira superior e colocou no fogã o
para esfriar.

O apartamento inteiro cheirava a canela e mingau de aveia quente,


os favoritos de Nana.

Juno rosnou como uma criaturinha faminta e respirou fundo na


frigideira.

— Nana vai icar muito feliz. Que dia ela volta para casa?

Usando uma espá tula, elas moveram cada biscoito para a grade de
resfriamento.

— Em trê s dias — disse Jess. — Normalmente as pessoas icam


apenas alguns dias, mas ela é mais velha, entã o eles querem ter certeza
de que ela está de pé e se movendo bem antes de deixá -la ir.

Juno franziu os lá bios em concentraçã o.

— Entã o, domingo?

— Isso mesmo.

— Talvez o Experimentar Algo Novo no Domingo possa trazer Nana


do hospital para casa. Nunca izemos isso antes.

— Excelente plano.
— Nó s poderı́amos apenas ter abraços e um dia de cinema aqui.
Nana provavelmente vai estar cansada.

— Eu aposto que você está certa. Acho que ela adoraria.

— Entã o, podemos pegar os biscoitos dela hoje à noite; Sexta-feira


é minha festa do pijama na casa de Naomi. — Ela engasgou como se
estivesse se lembrando de algo. — Eu te disse que ela tem um
cachorro? Ele é meio poodle, entã o ele é muito doce e nã o baba. — Ela
piscou para a mã e. — Um cachorro nã o comeria nossa gata.

— Criança, estamos explodindo nas costuras. Talvez quando


tivermos um quintal onde um cachorro possa correr. —
Redirecionando suavemente, ela continuou: — Entã o sexta-feira é a
festa do pijama...

Juno bufou um pequeno som, mas cedeu.

— Sim, entã o no sá bado talvez eu possa icar um pouco na casa da


Naomi? E Nana estará de volta no domingo. — Uma pontada de
desconforto percorreu a espinha de Jess ao ouvir o nome de Naomi.
Quando ela perguntou, Juno disse que elas tiveram uma briga, mas
parecia ter sido esquecida. Ela sabia que as crianças precisavam
aprender a resolver con litos por conta pró pria, mas a mamã e ursa
dentro dela nunca hibernava muito abaixo da superfı́cie.

— Tem certeza de que quer fazer uma festa do pijama? — Jess


perguntou. — Poderı́amos ir ao cinema juntas. Talvez o zooló gico?

— Nã o, é o aniversá rio da Naomi, e eu já comprei um presente


para ela. Elas estã o fazendo uma noite de hula hula.

— Você comprou um presente para ela?

— Usei meus tı́quetes de cidadã e ganhei duas pulseiras slap e


alguns adesivos de glitter.

Dando um high ive, Jess disse a ela:


— Eu tenho algumas sacolas de presentes no armá rio; talvez
possamos usar um deles e colocar um vale-presente nele també m?

Com o plano em prá tica, elas deslizaram o resto da massa do


biscoito para carregar outra folha assim que a campainha tocou.

— Vamos terminar isso para que possamos ir antes do inal do


horá rio de visita — disse Jess.

— Use a colher para colocar o resto na panela, e eu já volto. Nã o


toque no forno.

Na sala de estar, seu coraçã o deu um salto quando ela espiou pela
janela e viu River parado do outro lado.

Jess olhou para baixo, gemendo. Iria matá -la vestir algo diferente
de moletom?

Ele olhou para cima ao som da porta se abrindo e sua respiraçã o


icou fraca. Seu sorriso era de alguma forma tı́mido e travesso; as
curvas musculosas de seus ombros e peito eram visı́veis sob o tecido
de sua camisa, e Jess queria rasgá -la como um saco de batatas fritas.

— Ei. — Ela tentou se controlar.

Sua voz era baixa e secreta:

— Espero que esteja tudo bem eu ter passado por aqui.

— Está bem. — Jess engoliu em seco. — Você ... hum, você quer
entrar?

Ele entrou, hesitando por apenas um segundo antes de se curvar e


colocar cuidadosamente sua boca na dela. O calor estourou em suas
veias, e mesmo que fosse apenas um toque e ele se afastasse antes que
eles fossem pegos, Jess sabia que parecia que ela estava prestes a
pegar fogo de qualquer maneira.

— Oi — ele disse calmamente.


— Oi.

— Você está bem?

Ela acenou com a cabeça.

— De initivamente bem agora.

Radiante, ele olhou alé m dela, e ela se viu seguindo cada ponto de
sua atençã o, tentando ver o apartamento atravé s de seus olhos. Nã o
era minú sculo, mas també m nã o era grande. Ela esbanjou no sofá
amarelo e cadeiras azuis brilhantes, mas repintar os armá rios da
cozinha nã o era o mesmo que comprar novos, e em vez de arte
cobrindo as paredes, ela tinha fotos emolduradas e projetos de arte do
ensino fundamental.

— Sua casa é ó tima — ele disse, girando em um cı́rculo. — E tã o


aconchegante.

Jess fechou a porta com uma risada.

— Aconchegante signi ica pequena. Acho que todo esse lugar


caberia na sua sala de estar.

— Sim, mas minha casa parece um showroom pelo qual você anda
para escolher os acessó rios do armá rio. — Ele sorriu para uma foto de
Jess e Juno na praia. — Nã o é um lar.

— Quem está aqui? — Juno gritou da cozinha, seguido pelo som do


banquinho raspando nos ladrilhos e seus pé s batendo no chã o. — River
Nicolas, você está aqui para fazer biscoitos conosco?

— Você está brincando, Juno Merriam? — Eles executaram


algumas saudaçõ es de dança complicadas com os nó s dos dedos, tapas
e danças. — Estou sempre aqui para fazer biscoitos.

— Uau, o que foi isso? — Jess perguntou.


Ambos a ignoraram – obviamente era um aperto de mã o secreto –
e Juno sorriu para ele.

— A gente tá fazendo pra levar pra Nana Jo. Você quer ver meu
quarto?

River sorriu.

— Eu adoraria ver seu quarto. Mas você acha que eu poderia falar
com sua mã e por um segundo primeiro?

— OK! Eu vou deixar isso pronto. Alé m disso, mamã e disse que
podemos pegar um cachorro! — Ela correu para fora da sala de estar e
pelo corredor. — Estarei esperando!

— Eu disse quando tivermos um quintal — Jess gritou atrá s dela.


Ela se virou para River, que estava reprimindo um sorriso. — Um aviso,
o quarto dela é um desastre — Jess disse-lhe con idencialmente —
entã o isso nos dá alguns minutos, pelo menos.

Quando ela olhou para ele, ele já estava olhando para ela, os olhos
ixos em sua boca. A tensã o apertou seus ombros e ele passou a mã o
pelo cabelo.

— Talvez possamos conversar lá fora?

— Certo. — A inquietaçã o enviou um ilme legal sobre seu humor.


— Juno, — ela chamou, — nó s estaremos no pá tio. Nos dê dez minutos.

Do lado de fora do apartamento, escondido da vista, River agarrou


o braço de Jess e a puxou em sua direçã o. Sua boca veio sobre a dela, e
ele a pressionou contra a porta, beijando-a com uma fome que
combinava com a dela. Mas ele se afastou novamente, claramente
consciente do risco. Seus olhos brilhantes, quando ele a olhou, ferviam
com aquela familiar intensidade aquecida.

E entã o eles se abraçaram e ele se curvou, soltando um grunhido


longo e frustrado contra o pescoço dela.
Jess riu um simpá tico: — Sim, eu sei.

Ela empurrou os dedos na parte de trá s do cabelo dele, saboreando


o momento de silê ncio. Os braços dele envolveram sua cintura,
envolvendo-a até que ele foi pressionado tã o perto que era como ter
outro batimento cardı́aco.

Eles nã o podiam icar assim por muito tempo, mas Jess fechou os
olhos e respirou fundo. A estranha dor vazia em seu peito se acalmou.

Ela icou aliviada por ele estar tã o claramente envolvido nisso
quanto ela. Ela estava ansiosa para colocar as mã os de volta na pele
dele, para sentir aquela conexã o reverberando por seus ossos. Ela se
sentia culpada por nã o poder simplesmente convidar ele para icar,
mas també m se preocupava em como eles manteriam o
relacionamento de Juno, ou se isso era mesmo a coisa certa a fazer. E
ela tinha certeza de que esses sentimentos icaram evidentes em seu
rosto quando ela se afastou e olhou para ele.

Mas entã o ela se lembrou.

River se endireitou com seu suspiro, alarmado.

— O quê ?

— Adivinha de quem é a ilha que tem uma festa do pijama na casa


de Naomi amanhã ?

— Se a resposta nã o for você , — disse ele, franzindo a testa, —


entã o vou admitir que nã o gosto muito deste jogo.

Jess riu.

— Você tem razã o! Sou eu!

— Isso signi ica que a mã e de Juno també m terá uma festa do
pijama?

— Ela com certeza quer.


Ele se inclinou novamente, beijando sua mandı́bula, sua bochecha,
seu...

O telefone de River vibrou contra seu quadril.

— Guarde as vibraçõ es para amanhã — sussurrou Jess, brincando,


enquanto ele o puxava.

Ele engoliu uma risada, respondendo com um fá cil: — Ei, Brandon.

River fez uma pausa, ouvindo e balançando a cabeça para ela em


exasperaçã o simulada enquanto ela lhe dava um sorriso idiota com os
dentes de Brandon. Mas entã o sua expressã o suavizou em choque.

— O que? Espera, espera, espera, nó s dois estamos aqui. — River


ligou o viva-voz e segurou entre os dois.

— Oh, bom! — Disse Brandon. — Como vai você , Jess?

Ela se inclinou para frente.

— Eu estou bem. Como você está ?

— Eu estou fantá stico. E como eu estava dizendo a River, você s


dois estã o prestes a icar fantá sticos també m, porque o programa
Today quer você s.

Seu olhar disparou para River, e ela murmurou: O quê?

Ele encolheu os ombros, os olhos arregalados.

— Eles já ilmaram um segmento do GeneticAlly, — continuou


Brandon, — mas depois de ouvir sobre nosso Diamond Match, eles
mudaram as coisas e querem você em Nova York amanhã para uma
entrevista. Podemos fazer isso acontecer?

— Amanhã ? — Sua mente disparou. Eles teriam que tirar o olho


vermelho e ir direto para o estú dio. Ela deveria dizer sim, porque era
literalmente para isso que a estavam pagando, mas Nana voltaria do
hospital no domingo e começaria na clı́nica de reabilitaçã o na segunda.
Algué m precisava cuidar de Pop’s. E Juno nunca perdoaria sua mã e se
ela perdesse uma festa do pijama por causa de complicaçõ es na
agenda. — Hum–

River interrompeu suavemente.

— Isso nã o vai funcionar — disse ele. — Se eles quiserem nos


pró ximos dias, vamos ver se eles podem ilmar nossa parte da
entrevista localmente.

Ela abriu a boca para dizer que nã o era necessá rio, eles poderiam
descobrir algo, era o programa Today, pelo amor de Deus – mas ele
balançou a cabeça com irmeza.

— E melhor para nó s fazermos lá — Brandon insistiu.

— Nã o, entendi... — disse River com irmeza, colocando a mã o de


brincadeira sobre a boca de Jess para impedi-lá de fazer algo que nã o
deveria por culpa. — Mas a avó de Jess acabou de passar por uma
cirurgia e ela precisa estar aqui. Você trabalha com marketing,
Brandon. Venda isso para eles. — Ela olhou para ele por trá s de sua
mã o, querendo beijar ele até que os dois tivessem que parar para
respirar. Como ele sabia exatamente o que ela precisava?

Houve uma pausa antes de Brandon falar novamente.

— Entendido. Vamos descobrir e entrar em contato com você .

— Obrigado — disse River. — Nos informe. — Ele encerrou a


ligaçã o.

O silê ncio se estendeu entre eles.

— Bem, olá , Sr. Executivo Mandã o.

Ele inclinou a cabeça, dando a ela uma sobrancelha sedutora.

— Você gostou disso?


— Era tã o vintage Americano. — Jess se espreguiçou, beijando-o.

— Bem, — disse ele, beijando ela mais uma vez antes de se


endireitar, — eu admito que també m gostaria de icar pela cidade por
um motivo egoı́sta.

— Festa do pijama e vibraçõ es, estou certa?

— Sim. — Ele franziu a testa. — Mas... també m por causa das


minhas irmã s.

— Sim?

— Elas estã o na cidade de Sã o Francisco. — Ele estremeceu. —


Posso ter mencionado que você e eu adorarı́amos nos juntar a elas
para jantar amanhã à noite. Você sempre pode dizer nã o.

Exultante, Jess olhou para ele.

— Histó rias embaraçosas?

— Elas tê m vá rias dessas.

— Sujeira em seus dias pré -quentes?

Ele riu.

— Você nã o tem ideia. Tenho certeza de que trarã o fotos da vez em
que cortaram meu cabelo antes de um baile na escola. Nã o parecia
incrı́vel. Foi també m na fase em que a palavra do meu dentista era lei, e
eu usava meu capacete o dia inteiro. Estou absolutamente certo de que
vou me arrepender disso.

TODAY ENTREVISTA TRANSCRIPT

Narração: E se algué m lhe dissesse que namorar é coisa do


passado? Que encontrar sua alma gê mea está apenas a um simples
cotonete de distâ ncia? Pode parecer bom demais para ser verdade,
mas em San Diego, Califó rnia, uma empresa de biotecnologia em
expansã o a irma que pode fazer exatamente isso.

Por meio de uma sé rie de testes de personalidade, varreduras


cerebrais e, sim, aná lise de DNA, o GeneticAlly pode identi icar sua
alma gê mea bioló gica.

Usando um algoritmo patenteado chamado DNADuo, seu DNA será


comparado a centenas de milhares de outros indivı́duos no banco de
dados do GeneticAlly. O software proprietá rio deles entã o coloca suas
pontuaçõ es de compatibilidade, de zero a cem, em uma variedade de
categorias: Base Match. Silver. Golden. Platina. Titanium. Trê s em cada
quatro partidas de Titanium terminam em relacionamentos irmes.
Entã o, o que dizer dos casais que marcam mais do que os cobiçados
noventa?

Apenas quatro Diamond Matches foram encontrados até o


momento, e em uma reviravolta surpreendente, um deles é um
membro da equipe GeneticAlly. Especi icamente, o inventor e cientista-
chefe da DNADuo, Dr. River Peñ a. Peñ a, um geneticista de 35 anos,
começou suas pesquisas nos laborató rios do Instituto Salk.

River Peña: Eu queria ver se conseguia encontrar um fator


gené tico comum em casais que se descreviam como tendo
relacionamentos amorosos de longo prazo por mais de duas dé cadas.

Natalie Morales: Quantos casais você estudou naquele primeiro


teste?

River: Trezentos.

Natalie: E o que você encontrou?

River: Em todos os casais que relataram satisfaçã o no


relacionamento de longo prazo, encontrei um padrã o de
compatibilidade entre duzentos genes.
Narração: Mas o Dr. Peñ a e sua equipe nã o pararam por aı́. Um
estudo de mil cobaias cresceu para mais de cem mil, e o padrã o inicial
de duzentos genes é agora um ensaio patenteado de mais de trê s mil e
quinhentos.

Natalie: Entã o, os humanos tê m vinte mil genes.

River: Entre vinte e vinte e cinco mil, sim.

Natalie: E sua empresa agora encontrou correlaçõ es entre 3.500


daquelas que levam à compatibilidade? Isso parece muito.

River: E verdade. Mas pense nisso: tudo em que nos tornamos é


codi icado por nossos genes. A maneira como reagimos a estı́mulos, a
maneira como aprendemos e crescemos. Trê s e quinhentos é
provavelmente apenas o começo.

Narração: GeneticAlly tem planos de abrir o capital em maio e


espera ter seus kits DNADuo no varejo e em lojas online até o verã o.
Com a receita de namoro online este ano chegando a novecentos
milhõ es de dó lares apenas nos Estados Unidos, os investidores estã o
fazendo ila.

River: Compatibilidade nã o se limita apenas a relacionamentos


româ nticos. Imagine encontrar o zelador mais compatı́vel com seus
ilhos, ou um mé dico para seus pais, a equipe administrativa certa para
conduzir seu negó cio.

Narração: O cé u é o limite. Mas voltando à pontuaçã o do Diamond


DNADuo. Em janeiro, Jessica Davis, uma estatı́stica freelancer de trinta
anos, fez o kit de teste DNADuo por capricho.

Jessica: Eu tinha esquecido completamente até receber a


mensagem do GeneticAlly me pedindo para entrar.

Narração: Jessica era o cliente 144326. Seu par? Cliente 000001,


Dr. River Peñ a.
Natalie: Qual foi a combinaçã o mais alta que você encontrou até
aquele momento?

River: Noventa e trê s.

Natalie: E qual foi a sua pontuaçã o e a de Jessica?

Rio: Noventa e oito.

Narração: Um noventa e oito. Isso signi ica que, dos trê s mil e
quinhentos pares de genes que pontuam a compatibilidade, noventa e
oito por cento deles foram considerados idealmente compatı́veis.

Natalie: River, como cientista principal, qual foi sua reaçã o inicial?

River: Descrença. Fizemos um exame de sangue para con irmar.

Natalie: E?

River: Noventa e oito.

Natalie: Entã o, biologicamente, você s dois sã o compatı́veis em


quase todos os sentidos? Como é isso?

Jessica: E... difı́cil de descrever.

Natalie: Existe atraçã o?

River: [risos] De initivamente há atraçã o.

Narração: A atraçã o pode ser moderada. Fora das câ meras, os


membros da equipe comentaram que parecia que havia algo palpá vel
entre os dois.

Natalie: Entã o, o que vem a seguir para você s dois? Você s estã o
namorando?

Jessica: Vamos apenas dizer... estamos gostando de nos conhecer.

River: [risos] O que ela disse.


/ Corte para as apresentadoras /

Savannah Guthrie: Está calor aqui ou sou só eu?

Natalie: Eu ia dizer isso! Estou suando.

Savannah: GeneticAlly está programado para ser amplamente


lançado em maio. Eu tenho que admitir, eu acho que isso poderia
mudar toda a face da indú stria de aplicativos.

Natalie: Sem dú vida.


Capítulo 20

O DIA TINHA sido tã o caó tico que nã o ocorreu a Jess icar ansiosa
com o jantar com as irmã s de River até que as duas estavam
literalmente entrando no restaurante. Mas do lado de fora das portas
em arco de vidro, seus pé s icaram grudados na calçada e ela deu
alguns passos para longe, se pressionando contra a lateral do pré dio.

— Ah, merda. — Inclinando-se para trá s, Jess olhou para o cé u, azul
incandescente no crepú sculo. Hoje tinha sido bom – melhor do que
bom, foi perfeito – entã o por que ela estava pirando?

River continuou andando, olhando para trá s apenas quando


percebeu que ela nã o estava mais ao lado dele. Ele voltou para ela.

— Tudo certo?

— Vou conhecer sua famı́lia.

Ele sorriu pacientemente e en iou a mã o no bolso de sua calça


perfeitamente cortada. Calça perfeita, camisa perfeita, rosto perfeito.
Perfeitamente à vontade esperando que seu pâ nico diminuı́sse.

As pessoas passavam na calçada e os carros avançavam


lentamente ao longo da Fifth, virando na G Street.

— Eu nunca iz isso antes — confessou Jess. Um rubor quente


subiu por seu pescoço. — Tipo, nunca conheci a famı́lia de algué m. Alec
e eu está vamos juntos enquanto está vamos na escola, e sua famı́lia era
da Fló rida. Eu nunca os conheci.

Os olhos de River procuraram seu rosto, os cı́lios roçando suas


bochechas a cada piscada divertida. Finalmente, ele entrou em seu
espaço, as mã os em sua cintura.
— Eu prometo que isso será muito mais doloroso para mim do que
para você .

— E fá cil dizer isso agora, quando seus anos difı́ceis já passaram.
— Ela apontou para a testa. — Você nã o vê minha espinha de estresse?

— Nã o, desculpa, eu só vejo beleza. — Ele se inclinou e colocou sua


boca na dela para um beijo doce. — Você s trê s vã o se divertir à s
minhas custas, e entã o vamos voltar para a minha casa e talvez
realmente fazer isso na minha cama desta vez.

— Senhor, você está me subornando com sexo alucinante?

Ele riu, seu olhar brilhando na luz fraca. Quanto mais ela olhava,
mais segura icava. Ele se comunicava muito com aqueles olhos.
Tranquilidade, claro, mas també m atraçã o, alegria e algo mais – algo
que parecia muito com adoraçã o.

— Eu gosto muito de você , Jessica Marie — disse ele calmamente.

Um punho envolveu seu coraçã o.

— Eu també m gosto de você .

— E se isso faz você se sentir melhor, — disse ele, — també m


nunca apresentei uma namorada à minha famı́lia.

River se abaixou, entrelaçou seus dedos e a conduziu para dentro.

O restaurante estava aberto e gritantemente alto, mú sica pop


saindo dos alto-falantes e sons de risos e conversas latejando nas
paredes. Com pé direito alto e um bar no centro do salã o, a decoraçã o
era eclé tica e moderna. Sofá s e poltronas formavam uma mistura
descolada de con iguraçõ es de assentos, e luzes feitas de globos de
vidro, vasos e potes de pedra balançavam do teto por uma corda
espessa e eriçada. Uma recepcionista desamparada conduziu-os
atravé s do piso de tá buas de madeira até uma mesa situada sob uma
gigantesca gravura de metal com o brasã o COMA.
Duas mulheres sentadas lado a lado ergueram os olhos de seus
coqueté is quando Jess e River se aproximaram. A semelhança era
inegá vel. Uma tinha cabelo comprido e escuro, as pontas cortadas
repicadas, franja reta e lisa como brilho sob as luzes brilhantes. A outra
era alguns anos mais jovem, com cabelos cacheados destacados com
um vermelho acobreado. Ambas as mulheres compartilhavam os olhos
castanho-dourados de River, a pele oliva perfeita e a boca em formato
de coraçã o. Os genes da famı́lia Peñ a eram uma maravilha.

Gritando uma com a outra, elas se levantaram, envolvendo River


em um abraço grupal apertado antes de se afastarem para mexer nele
simultaneamente.

— Seu cabelo está tã o comprido!

— Estou dizendo a mamã e, você está tã o magro. Suas calças


parecem sacos de lixo!

Jess seguiu sua atençã o para suas caras calças cor de carvã o,
passadas com perfeiçã o. Elas… nã o pareciam sacos de lixo, mas Jess
gostou da brincadeira de irmã de qualquer maneira. Obviamente, toda
a famı́lia poderia entrar e sair das pá ginas de uma revista de moda
confortavelmente.

River conseguiu se soltar, estendendo a mã o para alisar seu cabelo


despenteado. Ele tinha batom em cada bochecha – que as duas
mulheres tentaram borrar.

— Jess, essas sã o minhas irmã s desagradá veis, Natalia e Pilar. Por
favor, nã o acredite em nada que elas te digam.

A mais velha – Natalia – envolveu Jess em um abraço apertado.

— Puta merda, você é tã o bonita. — Ela se virou para a irmã . — Ela
nã o é tã o bonita?

— Bonita demais para ele — disse Pilar, puxando Jess para um


abraço també m.
— Prazer em conhecer você s. River me falou muito sobre você s.

Natalia olhou com cautela para o irmã o.

— Tenho certeza que sim.

Eles se sentaram, pediram coqueté is para Jess e River e alguns


aperitivos para compartilhar. Jess soube que a mã e deles era
farmacê utica e o pai vendia seguros. Natalia era casada e analista de
pesquisa em Palo Alto; Pilar havia voltado recentemente para a escola
para ser enfermeira e morava com a namorada em Oakland. Estava
claro que elas adoravam seu irmã o. Mas, como River havia prometido,
elas adoravam encher seu saco.

— Entã o. — Natalia apoiou o queixo na mã o. — Ouvi dizer que


você s dois nã o se davam exatamente bem antes de tudo isso.

Jess olhou para River, passando essa para ele. Mas entã o suas
pró prias perguntas borbulharam à superfı́cie. Elas sabiam do dinheiro?
Quã o honesta ela deveria ser aqui?

River olhou Natalia do outro lado da mesa.

— Minha irmã nã o tã o sutil está tentando perguntar se eu era o


idiota.

Os dois sorriram e Jess se animou.

— Oh, ele de initivamente era.

— Ei — ele disse. — Eu nã o era tã o ruim.

Jess se virou em sua cadeira para encarar ele.

— Você me chamou de “completamente normal”.

Pilar soltou um assobio baixo.

— Cara, você é cego?


— Nã o foi na cara dela! — ele corrigiu, e se voltou para Jess. — E
em minha defesa, a primeira vez que você falou comigo, você –

— Nã o termine essa frase — sussurrou Pilar, rindo. — Con ie em


mim.

— Estava vestindo um moletom velho e largo.

Todos elas olharam ixamente para ele. River inalmente exalou.

— Eu era o idiota.

Pilar ergueu o queixo.

— Jess, posso te contar um segredo de famı́lia importante?

— Se eu saı́sse daqui sem nenhum, icaria arrasada.

Ela riu.

— Eu entendo que meu irmã o se parece assim agora, mas isso nem
sempre foi verdade. Picar as roupas de outras pessoas teria sido a
menor de suas preocupaçõ es.

— Ele disse isso, — disse Jess, — mas acho difı́cil de acreditar.

Pilar se curvou, percorrendo o telefone, localizando rapidamente o


que queria... quase como se ela tivesse colocado lá para fá cil acesso.
Jess icou olhando quando Pilar virou a tela para encará -la.

— Para com isso. — Ela olhou para River e depois de volta para a
foto. — Esse nã o é você .

Uma criança magricela, com corte de cabelo em formato de tigela e


capacete, olhou para fora do telefone de Pilar. Em busca de qualquer
semelhança com seu namorado, ela olhou para ele por tempo
su iciente para River empurrar o telefone para longe, rindo.

— Até os 21 anos, ele nã o tinha jeito para falar — disse Pilar.
River riu.

— E verdade. Mas eu consegui.

— Sim, você conseguiu — disse Natalia. — Lembro que no colé gio


havia um jogador de futebol que o incomodava constantemente.
Anthony alguma coisa. River ensinou metade da turma a melhorar.
Anthony reprovou e foi expulso da equipe.

— Isso se chama soluçã o de problemas — River murmurou em seu


copo.

— Ele fez a mesma coisa quando concorri com Nikki Ruthers para
o conselho estudantil — disse Pilar. — Ele ofereceu sessõ es de tutoria
em grupo para todos que votassem em mim. Eu ganhei com uma
enorme diferença.

River cuidadosamente selecionou um pedaço de endı́via grelhada


embrulhada em presunto de um prato.

— O verã o mais longo da minha vida.

— Ok, isso é realmente muito doce — disse Jess, colocando a mã o


sob a mesa e dando-lhe um pequeno aperto.

— Eu sei que é difı́cil imaginar com seu exterior resmungã o, mas


ele era o menino mais doce. — Natalia pô s a mã o no braço de Pilar. —
Você se lembra da maneira como ele seguia a Abuela?

O rosto de Pilar se contraiu em um dramá tico soluço tenro.

— E assistia à s novelas dela com ela!

— Ah, cara, eu nã o esperava por isso — disse River.

— Eu sou dois anos mais velha que River — Natalia disse a Jess —
e Pilar é um ano mais velha que eu, entã o ele era como nosso bebê
també m. Nossos pais trabalhavam em tempo integral e, naquela é poca,
nã o havia como pagar um acampamento de verã o para as trê s crianças,
entã o nossos verõ es eram passados com a Abuela. River era seu
pequeno ajudante, e todas as tardes eles se sentavam juntos e
assistiam a novelas.

River examinou os aperitivos como se fossem conjuntos de dados.

— Fã de novela mexicana? — Jess disse. — Todos nó s temos uma


identidade secreta, mas isso? Seria mais fá cil acreditar que você era
um assassino.

— Elas estã o apenas sendo dramá ticas — ele disse, e entã o riu
dela, murmurando — Assassino? Sé rio?

— Nã o dê ouvidos a ele, Jess — disse Natalia. — Ele assistiu a


muitos delas e se aprofundou. Eu pensei que ele cresceria para ser uma
estrela de novela ou algo assim, mas toda essa coisa de amor por DNA
faz sentido quando você pensa sobre isso.

Jess se virou para olhar para ele e o encontrou olhando para ela
com uma diversã o tã o terna que era quase como se ele tivesse acabado
de passar os braços em volta dela bem na mesa.

— A coisa do amor do DNA faz sentido quando você pensa sobre


isso — ela concordou baixinho.

As mã os deles se entrelaçaram no caminho para a casa dele, ambas


descansando em sua coxa, e os aquecedores de assento do Audi
izeram Jess sentir como se estivesse derretendo em uma pilha de
gosma feliz.

— Isso foi divertido — ela murmurou, cheia de comida fantá stica e


um pouco embriagada de tanto vinho.

— Natalia já me mandou uma mensagem dizendo que as duas


adoraram você e se eu estragar tudo, elas vã o me castrar.

Jess fez uma careta.


— Por favor, nã o estrague isso. Você tem um grande, lindo...

River se virou e sorriu para ela.

— Cará ter — ela terminou, sorrindo de volta. — E ser castrado


seria um tanto deprimente.

— Estou feliz que você tenha tanto carinho pelo meu cará ter —
disse ele, voltando sua atençã o para a frente novamente.

— Um ponto fraco, pode-se até dizer — ela brincou.

Ele olhou para ela novamente, escandalizado de brincadeira.

— Quanto vinho você bebeu, mulher?

— A quantidade perfeita.

Eles icaram no restaurante até tarde, comendo e bebendo, e rindo


mais do que Jess tinha feito em anos. Ela tinha se sentido confortá vel
com suas irmã s quase da mesma forma que estava com Fizzy; a
maneira como falavam uma com a outra e nã o se levavam muito a
sé rio deu a sensaçã o de sentar para jantar com velhos amigos, em vez
de pessoas que ela estava encontrando pela primeira vez. E agora, o
contentamento luı́a, quente e doce, por ela. Nana Jo icaria bem; Juno
estava prosperando. Fizzy estava se apaixonando por algué m e, pela
primeira vez na vida, Jess tinha dinheiro e uma sensaçã o de segurança,
alé m de uma pessoa pró pria. Ela se virou e olhou para o lado do rosto
de River.

— Gosto de você .

— Eu també m gosto de você . — Ele apertou a mã o dela. — Muito,


muito.

Era assim que parecia a alegria? Segurança?

Ela acenou com a cabeça em direçã o a sua casa enquanto eles se


aproximavam.
— Será que vamos icar malucos?

— Sem dú vida. — Ele riu, parando em sua garagem e inclinando-se


para beijá -la depois de estacionar o carro.

Lá dentro, River acendeu um abajur na espaçosa sala de estar,


acendeu outra luz na cozinha e pediu licença para pegar um copo
d'á gua para cada um. Jess mandou uma mensagem para a mã e de
Naomi para checar sua ilha, agradavelmente surpresa ao saber que
Juno estava se divertindo muito.

Largando o telefone, ela se virou no sofá para assistir River


enquanto ele mexia na cozinha.

— Nã o sei o que fazer comigo mesma — disse ela. — Ningué m


precisa de mim agora.

River voltou com dois copos, colocou-os na mesinha lateral e


rastejou sobre ela no sofá . Sua boca se moveu de seu pescoço até os
lá bios.

— Eu preciso.

E entã o ele se afastou e sorriu, como se talvez estivesse apenas


brincando, mas Jess viu a sinceridade em sua expressã o. Seu pró prio
carinho subiu à superfı́cie, o zumbido silencioso da paixã o.

Ela estava começando a precisar dele també m.

Seu telefone estava preso debaixo de suas costas, e ela estendeu a


mã o para pegá -lo, jogando no chã o. Rastreando com os olhos, River
perguntou: — Como está Juno?

— Bem. A mã e de Naomi disse que elas estã o assistindo a um ilme


na piscina.

— As coisas estã o bem com as amigas dela, entã o?

Jess ergueu um ombro.


— Alguns dias uma delas está malvada, louca ou cansada e isso cria
um pequeno tornado dramá tico que leva uma semana para superar.
Estou aprendendo que é melhor as mã es icarem de fora. Crianças
discutem. As vezes, ela atinge nossos pró prios botõ es, e nó s o
transformamos em mais do que o necessá rio.

Ele concordou com isso, se apoiou sobre ela nos cotovelos e


brincou com as pontas de seu cabelo. Ainda estava enrolado da
entrevista daquela manhã , e ele distraidamente enrolou uma mecha
em volta do dedo.

— Aposto que é difı́cil nã o ser superprotetora à s vezes. Eu me


senti assim quando ela falou sobre isso no caminho para o balé , e estou
apenas começando a conhecê -la.

Jess se esticou, beijando-o por isso. E entã o ela se lembrou de algo.

— Eu nã o consigo superar a ideia de você ser obcecado por


novelas. Nã o é à toa que você e Fizzy se dã o bem.

Ele enterrou o rosto em seu pescoço.

— Eu nã o pensava nisso há muito tempo. Irmã s nunca esquecem.

— Quando você passou de novelas a geneticista intenso?

— Minha avó morreu quando eu tinha quatorze anos — disse ele,


se levantando para se sentar e puxando as pernas dela sobre o colo. —
Ela foi morar conosco nos ú ltimos sete ou mais anos de sua vida e foi
absolutamente o aspecto mais feliz da minha infâ ncia. Meus pais nã o
se davam muito bem, e sem ela como um amortecedor, esse
ressentimento se espalhou por tudo.

Jess franziu a testa, estendendo a mã o para puxar uma de suas


mã os nas dela.

— Alé m disso, eles nã o sã o... pessoas calorosas por natureza, entã o
icou muito quieto quando a Abuela morreu. Papai nunca foi fã de me
ver sentado com ela, assistindo a novelas. Ele nã o entendeu – e quando
tentei a assistir depois que ela morreu, como uma forma de icar
conectado a ela, ele nã o aceitou. Ele queria que eu tirasse minha cabeça
das nuvens e pensasse sobre um futuro que poderia sustentar uma
famı́lia.

— Minha mã e, Jamie, é a mesma, mais ou menos. — Jess sorriu


ironicamente. — Mas a versã o dela era sempre me lembrar o que os
homens querem e procuram. Sugerindo que meu tempo seria melhor
gasto encontrando uma maneira de ser cuidada, em vez de aprender a
fazer merda sozinha.

Foi a sua vez de franzir a testa com simpatia.

— Eu sempre fui bom na escola, — disse ele, — entã o eu só …


melhorei. A ciê ncia veio naturalmente para mim.

— Já havia ocorrido a você antes de Natalia dizer esta noite que o
que você está fazendo agora está – de uma forma indireta – meio que
conectado a tudo isso? Aposto que sua abuela teria adorado.

— Nã o foi, mas eu acho que é verdade. Pense em quantas histó rias
de amor iremos construir.

Jess inclinou a cabeça e olhou para ele. Ela nã o podia acreditar que
icou nua com esse homem.

Ele deu uma segunda olhada constrangida.

— O quê ?

— Você é muito gostoso, sabia disso? — Jess disse. — E meio que


maravilhoso. Acho que estou ainda mais interessada em você agora do
que antes.

O canto de sua boca se ergueu.

— Como isso é possı́vel? Eu pensei que já tinha te prendido.


Jess se esticou no sofá , sorrindo para ele e lentamente tirando a
camisa.

— Algué m nã o disse algo sobre icar maluco aqui?

Capítulo 21

JESS E JUNO estavam a cerca de um quarteirã o de distâ ncia da


escola uma manhã quando Juno parou e perguntou:

— Agora River Nicolas é seu namorado?

— O que a fez pensar nisso no caminho para a escola? — Jess


desviou.

— Só estou me perguntando se você vai ver ele essa manhã .

Ela considerou cuidadosamente esta declaraçã o; sua ilha estava


jogando verde.

— Provavelmente o verei em Twiggs mais tarde.

— Oh. — Juno ergueu os olhos para ela. — Pensei ter visto as


coisas dele em casa.

O pescoço de Jess esquentou, sua mente começou a correr. Na


ú ltima semana, River tinha vindo todas as manhã s por uma hora ou
mais apó s deixar Juno na escola e antes que ambos começassem o
trabalho do dia – era a ú nica vez que estavam totalmente sozinhos –
mas Jess nã o tinha ideia de que ele estava deixando evidê ncias para
trá s. Ela adivinhou na né voa de sexo no chã o, na cama, no chuveiro,
curvada sobre a cô moda e, uma vez na ilha da cozinha, até mesmo um
cientista hiperorganizado estava propenso a esquecer algo.

— Hmmm... — ela disse, protelando.


— Ontem — disse Juno casualmente, com os olhos ixos em frente
— ele deixou alguns shorts.

— Oh. — Jess se esforçou para encontrar uma explicaçã o


adequada, mas a imagem de River sofrendo durante um dia de trabalho
sem cueca a fez tossir e dar uma risadinha. — Ele provavelmente usou
nosso apartamento para se trocar depois de, hum, sair para correr?

Juno acenou com a cabeça e chutou um pedaço de pau na rua.

— Sim. Provavelmente.

Elas pararam na fronteira da propriedade da escola, e Jess se virou


para encarar a ilha, precisando ver seus olhos quando ela perguntou:

— Como você se sentiria se estivé ssemos namorando?

— Eu gostaria — disse Juno distraidamente, e seus olhos se


desviaram para o lado quando ela começou a vasculhar o parquinho
em busca de seus amigos.

Jess guiou seu queixo para que Juno estivesse olhando para ela
novamente.

— Tem certeza? Porque signi ica que à s vezes ele estará conosco,
fazendo coisas.

Os olhos de sua ilha icaram vidrados.

— Eu sei.

— Mas você ainda é a coisa mais importante do mundo para mim.

A atençã o de Juno começou a se desviar para o lado novamente.

— Eu sei.

Deus, nã o era a hora nem o lugar para ter essa conversa.
— Juno — disse Jess com autoridade gentil. — Olhe para mim.

Seus olhos clarearam.

— O quê ?

— E importante para mim que você ouça isso — disse Jess. — Você
perguntou sobre River, entã o eu quero dizer isso agora. Você é minha
famı́lia. Somos você e eu, e ningué m pode mudar isso, entendeu?

Juno acenou com a cabeça.

— Eu sei, mamã e. Eu gosto de River. E eu sei que você me ama.

A alguns metros de distâ ncia, Naomi e Krista gritaram o nome de


Juno. Ela icou tensa de excitaçã o, saltando sobre seus pé s, mas
obedientemente manteve o olhar em sua mã e, esperando a liberaçã o
do beijo de despedida.

Jess o pressionou contra a testa.

— Eu te amo, Juno Merriam.

— Eu també m te amo, Jessica Nicolas! — Com uma risadinha


encantada, ela disparou em direçã o a suas amigas.

O CABELO DE RIVER ESTAVA uma bagunça emaranhada dos dedos


de Jess enquanto ele beijava seu caminho de volta para cima por seu
corpo, e sua expressã o rapidamente se tornou arrogante com a visã o
de sua boneca de pano esticada na cama.

— Isso foi inspirador — ela murmurou.

Ele a beijou uma vez, sem fô lego e sorrindo, e entã o caiu para o
lado em sua pró pria poça de exaustã o.

— Bom.
Jess rolou, meio esparramada sobre o peito, e sorriu para ele.

— Como foi o comando no trabalho ontem?

Soltando uma gargalhada, ele estendeu o braço livre e passou a


mã o pelo rosto.

— Você pensaria que eu notaria a falta de boxers algum tempo


antes de sair para o trabalho.

— Sexo bê bado.

Concordando, ele sorriu para um beijo e entã o icou


completamente imó vel quando a compreensã o surgiu.

— Merda. Fizemos sexo na cozinha ontem. — Ele apertou os olhos


se desculpando para ela. — Juno as encontrou, nã o foi?

Jess dispensou isso.

— Ela pensou que eram shorts.

Ele estremeceu, o rosto sombrio.

— Sinto muito, Jess.

— Nã o, é bom. — Ela apoiou o queixo no punho, olhando para ele.


— Eu disse a ela que estamos juntos, no entanto. Espero que esteja
tudo bem.

River reprimiu um sorriso.

— Claro que está .

— Honestamente, estou surpresa de que seus amigos da escola


nã o tenham perguntado sobre o artigo do jornal. Ou o programa Today,
por falar nisso.

— Ela está bem com a gente?


Ela se esticou para beijar ele, porque essa era a primeira pergunta
perfeita.

— Acho que ela está emocionada, River Nicolas. — Voltando para


seu poleiro em seu peito, ela acrescentou: — Nã o quero que ela se
preocupe se as coisas vã o mudar muito rá pido.

Ele arrastou os dedos longos e preguiçosos pelo cabelo dela e


olhou sem foco para o rosto dela.

— Eu perguntaria o que você está pensando, — disse ela, — mas


aposto que a resposta é , tipo, ediçã o de RNA ou enzimas de restriçã o.

— Na verdade, espertinha, eu estava pensando em como você é


linda.

Um circuito importante entrou em curto em seu cé rebro; ela nã o


tinha ideia de como responder articuladamente enquanto a alegria
fervia em suas veias.

— Ah. Entã o… não ediçã o de RNA.

River sorriu, se curvando para beijá -la.

— Nã o. — Ele se acomodou no travesseiro. — Estava pensando em


como estou feliz.

Suas cé lulas sanguı́neas se levantaram e deram uma ovaçã o


estrondosa de pé .

— Exatamente como sua má quina extravagante previu.

— Nunca me senti assim antes — disse ele, ignorando a


brincadeira dela. — E muito cedo para dizer isso?

Jess icou sem fô lego.

— Claro que nã o.


— Nã o vou para casa há anos, mas me sinto em casa com você .

Ela se abaixou e pressionou o rosto contra o peito dele, fechando


os olhos com força e tentando nã o hiperventilar.

— Você está bem?

— Só estou tentando nã o surtar — disse ela, e rapidamente


acrescentou: — Bom surto. Surtar do tipo profundamente apaixonada.

— Essa é uma boa loucura ou– Ah. — Quando ela olhou para cima
em resposta ao seu tom, um sorriso inquieto espalhou-se pela boca e
ele empurrou o travesseiro para poder ver ela melhor. — Eu queria te
dizer isso assim que cheguei aqui, mas–

— Mas eu estava esperando por você pelada? — ela interrompeu


com um sorriso.

— Sim, exatamente. — Ele riu. — Temos pessoas chegando aos


escritó rios na segunda-feira.

— …tudo bem?

Ele olhou para ela e depois riu da sua confusã o.

— Temos a revista People chegando aos escritó rios na segunda-


feira. Eles vã o se encontrar conosco pela manhã , eu acho — disse ele,
gesticulando para incluı́-la — e entã o David, Brandon, Lisa e eu
teremos uma entrevista à tarde. Entã o, a menos que você e Fizzy
pretendam remover todas as có pias do supermercado, provavelmente
é bom que Juno tenha descoberto hoje.

DEPOIS DE TENTAR algo novo no domingo – River se juntou a


todos os quatro Davises no zooló gico, e segurar a mã o dele em pú blico
era a novidade – a segunda-feira chegou e ela nem mesmo acordou em
pâ nico. Ela estava se acostumando a todas essas situaçõ es de alta
pressã o – entrevistas, festas, sessõ es de fotos – embora sem dú vida
ajudasse o fato de que seu relacionamento com River parecia uma
corneta estridente, um tapete vermelho se desenrolando, fogos de
artifı́cio sobre o oceano, o primeiro de seu tipo em toda a histó ria.

També m ajudou que ele dormisse em sua cama no domingo à


noite. De dia, River era contido e cauteloso. Como amante, ele era
expressivo e generoso. E no sono, ele era um carinho: pressionado
contra ela a noite toda, sua conchinha.

As seis, seu alarme disparou e ele acordou bruscamente como se


tivesse sido içado por cordas, puxando as roupas com sono –
veri icando se ele estava com todas as roupas – beijando-a e saindo
silenciosamente antes que Juno acordasse.

Meia hora depois, ele estava na porta delas “surpreendendo” Jess e


Juno com café e chocolate quente.

Juno saiu arrastando os pé s de seu quarto, e os trê s se sentaram à


mesa de jantar para o café da manhã .

River puxou alguns papé is para revisar; o pé dele passou por cima
do de Jess, lembrando-a de que nem mesmo uma hora atrá s ele estava
ao lado dela, em sua cama. Ela tentou nã o deixar o pensamento se
desenrolar, imaginando os trê s sentados ali em um silê ncio fá cil todas
as manhã s pelo resto de suas vidas.

Juno cutucou com sono seu cereal.

— Por que você saiu tã o cedo para tomar um café ? Mamã e tem
uma má quina de café na cozinha.

River e Jess icaram completamente imó veis. Finalmente, ele


conseguiu dizer um: — Hmmm, é ?

Eles seguiram o caminho do dedo apontado de Juno até o balcã o, e


River murmurou.

— Oh, eu nã o sabia disso. Obrigado.


Ele olhou para Jess por cima da cabeça de Juno e fez uma careta de
ajuda. Jess teve que morder os lá bios para nã o perder o controle.

Eles levaram Juno para a escola juntos, colocando-a entre


parê nteses, cada um segurando uma de suas mã os. Ela caminhou como
um caranguejo; eles a balançaram.

— Você precisa ser mais alta, mã e — disse Juno. — River Nicolas
pode me balançar muito mais alto.

Ele olhou para ela, exultante.

E tudo isso parecia o topo da montanha-russa, a sensaçã o de


antecipaçã o antes da emoçã o da queda.

Obviamente, Jess estava apavorada.

O que estava bem, porque havia muito para distraı́-la daqueles


sentimentos enormes e assustadores. Quando eles chegaram aos
escritó rios da GeneticAlly – o estacionamento estava mais lotado do
que Jess jamais vira – tudo explodiu em movimento e excitaçã o. Lisa os
cumprimentou no meio- io, disparando informaçõ es sobre a
programaçã o assim que eles desceram do carro. Jess e River
levantaram-se primeiro por duas horas, entã o, a repó rter, Aneesha,
levaria River para se encontrar com David, Lisa e Brandon perto do
Salk. Antes que ela tivesse a chance de colocar a bolsa no chã o, Jess foi
conduzida ao escritó rio de Lisa, onde um maquiador e cabeleireiro
começou a trabalhar.

— Parece que você foi carregada aqui de cabeça para baixo —


disse Aneesha, rindo. Ela era uma linda mulher negra com pele
brilhante e as maçã s do rosto mais perfeitas que Jess tinha visto em
toda a sua vida. — Totalmente em estado de choque.

Jess riu enquanto o maquiador trabalhava ao seu redor.

— Eu nã o estou — para dizer o mı́nimo — acostumada a este


tratamento.
Nos 20 minutos seguintes, Jess soube que Aneesha Sampson
entrevistou Brad Pitt no im de semana passado, deu uma risada
irreprimı́vel, chamada River “Keanu Banderas”, e abraçou decotes
profundos e brincos pendentes que roçavam os ombros em seu estilo
pessoal. Jess nã o sabia se ela queria pedir ela em casamento ou propor
uma troca de vida.

— Vamos começar no laborató rio, se funcionar para você — disse


Aneesha enquanto todos saı́am para o corredor. — Apenas River no
inı́cio.

Lisa parecia um pouco preocupada.

— Jess, você está bem apenas esperando?

Jess ergueu seu laptop.

— Tenho muito trabalho a fazer. Você pode me colocar em


qualquer lugar.

Enquanto Aneesha se dirigia ao elevador e Lisa se abaixava para


responder a uma mensagem em seu telefone, River se inclinou e beijou
Jess.

— Ok. Te vejo em breve. Eu amo você .

O ruı́do branco rugiu em seus ouvidos e seus olhos se arregalaram.

— O quê ?

River olhou para ela, sua expressã o relaxada com o choque. Mas ele
nã o retirou. Ele apenas… começou a rir. Ele acenou de lado para Lisa,
dizendo baixinho: — Nã o é o lugar que eu planejei dizer, mas
corredores e pú blico parecem ser a nossa praia.

Lisa se virou para atender uma ligaçã o e Jess abriu um sorriso,


jogando os braços em volta do pescoço dele. Ela plantou uma dú zia de
beijos minú sculos por todo o rosto.
— Eu també m te amo.

A verdade era tã o ó bvia; Jess nã o sabia como eles nã o disseram eu
te amo desde aquele primeiro dia.

Com seu sorriso se endireitando e um calor brilhante como um


raio em seus olhos, ele moveu os lá bios para sua bochecha e para sua
orelha.

— Vejo você em alguns minutos.

— River, eles estã o prontos para você . — Lisa acenou para ele no
corredor.

Com um selinho inal, ele desapareceu no elevador e Lisa voltou.

— Jess, eu colocaria você no escritó rio de River, mas eles estã o


preparando algumas fotos. — Colocando o polegar no escritó rio
diretamente atrá s dela, Lisa disse: — Vamos colocar você no escritó rio
do David por enquanto. Ele nã o vai se importar.

Jess ergueu seu laptop.

— Eu estou bem em qualquer lugar.

Lisa tentou abrir a porta, entã o tirou as chaves e destrancou-a,


estremecendo imediatamente ao se virar para Jess.

— Está tudo bem? Esqueci como ele é bagunceiro. Eu nunca entro


aqui.

E... uau. O escritó rio de David era a versã o oposta do de River. Onde
a mesa de River estava vazia, exceto por seu computador, a de David
tinha a aparê ncia de uma mesa encontrada nos escombros pó s-
furacã o. Estava coberta de folhas de dados impressas, copos de papel
vazios, guardanapos amassados, post-its e pilhas de artigos de jornal.
Suas prateleiras estavam repletas de uma coleçã o empoeirada e
desorganizada de brindes convencionais: uma bola anti stress da
marca Merck, uma caneca de viagem Sano i, uma molé cula de DNA de
plá stico da Genentech, uma pilha de canetas da marca.

Mas ouça. River Nicolas Peñ a acabara de dizer que a amava. Lisa
poderia deixar Jess na Bourbon Street bem cedo em uma manhã de
sá bado e ela icaria bem.

— Isso é ó timo.

— Nó s vamos pegar você quando Aneesha estiver pronta. — Lisa


sorriu antes de sair, fechando a porta atrá s dela.

Olhando para a mesa de David, Jess se perguntou se deveria usar o


laptop no colo real, antes de imaginar que poderia colocá -lo
cuidadosamente em cima e nã o perturbar o caos. Enquanto o
computador inicializava, Jess olhou os detritos cientı́ icos. Entre os
papé is, havia folhas e folhas cheias com centenas de linhas de dados.
Uma corrente elé trica passou por ela. Talvez esse fosse o motivo pelo
qual ela e River eram um Diamond Match – os dois estavam
profundamente encantados com os nú meros.

Mais ou menos na metade de uma pilha bagunçada de papé is, um


canto de um estava para fora. Os olhos de Jess encontraram algo
escrito no canto superior esquerdo, e ela cuidadosamente puxou o
grosso aglomerado de ichá rio.

Cliente 144326.

Seu sangue icou carbonizado quando ela registrou o que estava


vendo. Era ela. Dados de Jess. E abaixo de seu nú mero havia outro:
Cliente 000001.

River.

Abaixo, em negrito, estava a informaçã o que eles ouviram mil


vezes no mê s anterior: Quociente de compatibilidade: 98.
Ela nunca tinha visto suas pontuaçõ es antes, mas havia algo
estranhamente sagrado em segurar os dados em suas mã os.

Ok. Te vejo em breve. Eu amo você. Suas palavras ecoaram em sua


mente.

Sorrindo, Jess examinou as ileiras e mais ileiras de nú meros com


reverê ncia. Os nú meros do cliente e a pontuaçã o de compatibilidade
estavam no canto superior esquerdo, e no canto superior direito
estavam as informaçõ es do ensaio: data, hora, qual má quina DNADuo
executou o ensaio, etc. Abaixo disso havia cerca de sessenta linhas de
nú meros, divididos em trê s grupos de colunas, cada uma com trê s
colunas de largura. Atrá s desta folha, havia pá ginas e mais pá ginas de
nú meros inteiros.

Jess icou arrepiada ao perceber que, no momento, guardava


informaçõ es sobre os cerca de 3.500 genes pelos quais ela e River se
aliaram. Era realmente possı́vel que sua conexã o – seu amor –
estivesse codi icado em suas cé lulas? Ela foi programada desde o dia
em que nasceu para se sentir tã o feliz – mesmo quando Jamie estava
deixando-a repetidamente, quando as meninas brincavam com ela no
campo de futebol por causa de sua mã e bê bada nas laterais, quando
Alec olhava mudo para o teste de gravidez para um punhado de
minutos e inalmente disse, “Eu nunca quis ilhos”? De todos os
homens com quem Jess poderia se relacionar, River era seu par
perfeito o tempo todo?

A ideia a deixou enjoada e alta. Ela olhou para baixo, se inclinando


para se concentrar em cada pequena linha de informaçõ es. As duas
primeiras colunas de cada conjunto mostravam o que ela presumia ser
as informaçõ es do gene – nomes dos genes e nú mero de sessã o do
GenBank. As terceiras colunas continham pontuaçõ es de
compatibilidade brutas, com nú meros que pareciam variar de zero a
quatro. Quase todas as pontuaçõ es foram superiores a 2,5. Entã o, de
alguma forma, essas pontuaçõ es se juntaram no algoritmo da rede
neural e noventa e oito surgiram no inal. Claramente, Jess podia ver
agora, os dados eram cientı́ icos, mas també m pareciam
profundamente má gicos. Ela era uma convertida. Mostre-a ao
GeneticAltar.

Ela arrastou um dedo pela pá gina, querendo sentir a informaçã o


por si mesma.

O ensaio mais recente havia sido concluı́do em 30 de janeiro –


River tirou seu sangue na noite anterior com uma formalidade tã o
cuidadosa. Eles tinham sido tã o estranhos perto um do outro, tã o
cautelosos. Jess reprimiu uma risada, lembrando. Puta merda, ela nã o
tinha ideia: ele a queria desde entã o.

Levantando os olhos para con irmar que a porta do escritó rio de


David estava fechada, ela tirou uma foto rapidamente. Ela sabia que
nã o deveria; pode até ser ilegal – alé m disso, ela poderia simplesmente
pedir a River uma có pia dele de qualquer maneira.

Mas Jess sabia que ela gostaria de olhar para ele novamente e
novamente. Folheando, ela começou a tirar fotos de cada pá gina,
ileiras e mais ileiras de dados. Cada um tinha alguns valores
circulados, anotados, chamados – ela adivinhou – por ser totalmente
incrı́vel.

Talvez ela estruturasse isso para ele como um presente em algum


momento.

Talvez cada um escolhesse seu gene favorito e tatuasse esse valor.

Talvez ela estivesse começando a soar como uma das heroı́nas de


Fizzy agora e provavelmente deveria calar a boca.

Sorrindo como uma idiota, Jess passou para a pá gina seguinte,
pronta para tirar uma foto, mas parou. O pró ximo conjunto de dados
era do primeiro ensaio DNADuo, o do kit de saliva dela. Nessa pilha,
algumas cé lulas estavam circuladas a lá pis e algumas anotaçõ es
rabiscadas nas margens, quase ilegı́veis. Jess se maravilhou de que
seus dados tivessem sido examinados assim. Seu cé rebro de trilha
sonora crescente cantou que seus dados poderiam até revelar
verdades maiores sobre o amor e a conexã o emocional.

E ainda havia mais. Jess folheou mais pá ginas, esperando notas e
correspondê ncia, mas encontrou outra primeira pá gina. Uma
duplicada? Nã o. Era uma primeira pá gina diferente – de outra pessoa –
de um ensaio em 2014.

Cliente 05954

Cliente 05955

Quociente de compatibilidade: 93

Esta deve ser a pilha de matchs de diamante de David, presumiu


Jess. Mas seu cé rebro tropeçou em uma coincidê ncia no canto superior
direito. Ela alternou entre este e o papel de cima de River, comparando.

As datas do ensaio foram diferentes em todos os trê s casos, mas o


tempo de té rmino do ensaio foi exatamente o mesmo.

Toda vez.

Jess piscou, inclinando suavemente em direçã o à inquietaçã o,


voltando à s primeiras pá ginas para con irmar. Sim: para todos os trê s
ensaios, o tempo de execuçã o terminou à s 15:45:23.

Seu estô mago se contraiu. Estatisticamente, isso era...


profundamente imprová vel. De 86.400 segundos a cada vinte e quatro
horas, havia apenas 0,0012% de chance de dois eventos pousarem no
mesmo segundo.

Mesmo que Jess assumisse que os ensaios geralmente começavam


e terminavam quase ao mesmo tempo – digamos dentro da mesma
janela de quatro horas – ainda era uma probabilidade de 0,007 por
cento, ou 7 em 100.000 chances, de que o ensaio de Jess e River e outro
ensaio concluı́do em um dia diferente teria terminado exatamente ao
mesmo tempo. Mas todos os trê s? Era quase impossı́vel. As chances –
Jess fechou os olhos para fazer as contas – de trê s ensaios terminarem
aleatoriamente no mesmo segundo exato em dias diferentes eram de
aproximadamente 1 em 2,5 milhõ es.

Jess tentou pensar logicamente. Ela afastou o rugido em seus


ouvidos. Talvez as má quinas tenham sido programadas para começar e
terminar ao mesmo tempo para reduzir certas variá veis? Nã o seria
iné dito.

Exceto em 29 de janeiro, River havia começado o teste quase


imediatamente apó s tirar seu sangue. Na verdade, ele havia enluvado e
enrolado até a coifa antes mesmo de ela sair do quarto. Na manhã
seguinte, ele mandou uma mensagem para ela, pedindo um encontro, e
disse que o teste havia sido con irmado. Mas, embora a data impressa
estivesse certa, como era possı́vel que River tivesse os dados pela
manhã se o ensaio nã o estivesse concluı́do até as 15:45h daquela
tarde? Ele mentiu para ela que tinha recebido a con irmaçã o? Isso nã o
soava como River.

— Que porra é essa? — Jess exalou as palavras, confusa. Eu tenho...


eu tenho que estar perdendo alguma coisa.

Seus pulmõ es doı́am. Seu estô mago revirou. Seus olhos ardiam
com a tensã o de seu foco intenso. Ela nã o conseguia piscar. E entã o –
seu coraçã o parecia se encher de agulhas – Jess percebeu que todos os
trê s testes foram executados no DNADuo 2. Ela se lembrou de ter visto
as duas má quinas na noite em que ele examinou as amostras de
sangue e perguntou sobre elas.

— Esses são os DNADuos?

— Nomeados de forma criativa como DNADuo Um e DNADuo Dois.


DNADuo Dois está desativada agora. Primeiros atendimentos serão na
próxima semana. Ela estará pronta e funcionando em maio, espero.

Um pensamento bateu em sua cabeça. Ela estava frené tica agora.


Folheando as respectivas pá ginas nos dois conjuntos de dados, ela
examinou as colunas nas duas folhas de papel. Ela tentou encontrar
diferenças nos conjuntos de dados entre ela e River, os noventa e oito, e
o outro casal, os noventa e trê s.

Ela nã o podia; eles eram idê nticos. Cada valor – tanto quanto ela
poderia dizer – era exatamente o mesmo. Tudo icou embaçado quanto
mais ela olhava. Foram muitas linhas. Muitos nú meros minú sculos.
Seria como procurar uma agulha em um palheiro enquanto seu cabelo
e o palheiro estavam em chamas. E, ela pensou desesperadamente,
para contagens elevadas, talvez a maioria dos pontos brutos eram
idê nticos? O que ela estava perdendo?

Com o medo afundando em seu peito, Jess registrou que os


nú meros circulados em sua primeira folha de dados foram circulados
por um motivo. Seu olhar deslizou para uma igura oval desenhada a
lá pis na planilha original de 19 de janeiro.

Jess levou a mã o trê mula à boca. Na folha dela e de River, ela viu:
OT-R GeneID 5021 3.5

Mas no outro casal:

OT-R GeneID 5021 1.2

Dentro de outro cı́rculo em sua folha original – para o gene PDE4D


– Jess e River tinham um 2.8. Seu coraçã o saltou em sua garganta. O
outro casal tinha 1,1.

Jess só teve estô mago para con irmar mais dois valores circulados
– um AVP de 3,1 no dela e no de River, um 2,1 no do outro casal; para
DRD4, um 2,9 no deles, um 1,3 no outro casal.

Pelo que Jess podia ver, os únicos valores que eram diferentes –
talvez apenas trinta em todo o conjunto de dados de quase 3.500 –
eram os que haviam sido circulados em seu primeiro DNADuo. Para
chamar a atençã o para eles. Se nã o fosse pela data e hora idê ntica e
pelo misté rio DNADuo 2, Jess poderia ter mentido para si mesma, que
esses valores estavam circulados porque diferenciavam ela e River do
outro ensaio. Mas ela sabia que eles nã o eram circulados porque eram
especiais. Eles foram circulados para manter o controle de quais foram
alterados. Algué m tinha, propositalmente, alterado uma pontuaçã o de
compatibilidade de noventa e trê s para uma de noventa e oito.

Johan e Dotty foram nossos primeiros Diamond Matchs, disse River


no coquetel. A neta deles os trouxe para nós em 2014, e ela estava certa:
eles chegaram com uma pontuação de noventa e três.

Ela ia vomitar. Com as mã os trê mulas, Jess tirou uma foto de cada
pá gina do ensaio que ela tinha quase certeza de pertencer a Johan e
Dotty Fuchs. Ela quase derrubou a pilha duas vezes. Ela estava
entorpecida quando se abaixou e guardou seu laptop. Ela guardou o
telefone. E entã o ela se sentou em silê ncio. Esperando que Aneesha
viesse buscá -la, Jess nã o tinha ideia de como iria sobreviver à
entrevista, sabendo o que sabia agora.

River e Jess nunca foram um Diamond Match.


Capítulo 22

NOS ULTIMOS 20 minutos, River perguntou quatro vezes se ela


estava bem.

Claro que sim; qualquer criatura com pulso poderia sentir que
havia algo de errado com ela no momento. Mas ela nã o podia falar
sobre isso ainda, e nã o podia falar sobre isso aqui no escritó rio, e
mesmo se pudesse – ela nã o tinha certeza se estava preparada para
ouvir sua resposta à pergunta mais simples: Você sabia de tudo esse
tempo todo?

Entã o, ela colocou uma má scara frá gil de felicidade e respondeu à s
perguntas de Aneesha. Mas a preocupaçã o silenciosa de River
repetidamente lembrava a Jess que seu estresse estava tã o claro em
seu rosto quanto uma febre. O choque foi como uma gripe.

Eles tiraram algumas fotos juntos do lado de fora; eles pegaram


alguns no laborató rio, rindo e olhando com adoraçã o nos olhos um do
outro. Mas, por trá s de seu sorriso, a pergunta invadiu os pensamentos
de Jess como a sirene aguda de um carro de polı́cia. Até que soubesse a
resposta, ela nã o poderia nem mesmo deixar a pró xima pergunta
encaixar no lugar, embora pressionasse contra o vidro de qualquer
maneira: O que eu sinto é real?

Estatisticamente falando, ela e River eram milhares de vezes mais


propensos a encontrar sua alma gê mea em uma Match Base do que em
um Diamond Match autê ntico, entã o mesmo que sua pontuaçã o
verdadeira fosse vinte e cinco, nã o era como se eles nã o pudessem
estar bem juntos. Mas era muito mais fá cil con iar naquelas reaçõ es
iniciais e profundas quando os nú meros a apoiavam.

Mas ela estava se adiantando e sem informaçõ es – sem dados – era


a ú ltima coisa que ela podia se permitir fazer. Jess mentalmente
amassou os pensamentos em uma bola de papel e ateou fogo. Um
momento de cada vez, e agora nã o era o momento para um colapso.

Aneesha terminou no local e deu a Jess e River tempo para se


despedirem antes que ele tivesse que sair com a equipe da People para
se encontrar com David e Brandon. Até mesmo pensar em David
naquele momento fazia o estô mago de Jess azedar. E se River
soubesse... ela nã o sabia o que faria; suas emoçõ es seriam muito
in lamadas e gigantes e impossı́veis de controlar.

No momento em que icaram sozinhos, River puxou Jess para um


corredor, curvando para olhá -la diretamente nos olhos.

— Eu sinto que estou perdendo alguma coisa — ele disse


calmamente. — Você está com raiva de mim?

Essa ela realmente poderia enfrentar. Você está bem? tinha sido
grande demais para responder baixinho com Aneesha e seu fotó grafo a
trê s metros de distâ ncia.

— Eu nã o estou brava com você . Mas podemos nos encontrar mais
tarde?

Ele riu, confuso.

— Claro. Eu presumi que nó s...

— Só nó s.

O sorriso evaporou, e uma carranca revestiu sua testa. River deu


um passo mais perto, deslizando a mã o pelo braço dela e ligando seus
dedos quentes aos dela. — Fiz algo errado?

Jess odiava dizer “Nã o sei”, mas era verdade.

— Algo aconteceu — ela admitiu, — e preciso perguntar a você


sobre isso, mas agora nã o é o momento. — Ela engoliu em seco. — Eu
sei que é uma merda e tenho certeza de que você vai se preocupar com
isso até que possamos conversar sobre isso.

— Uh, sim.

— Eu vou icar tensa també m. Você apenas tem que con iar em
mim que nã o podemos fazer isso aqui, e precisamos de mais do que os
dez minutos que temos antes que você e Aneesha tenham de ir.

River olhou para ela e pareceu decidir que isso era o melhor que
ele faria naquele momento.

— Ok. Eu con io em você . — Ele a puxou para seu peito.


Honestamente, nã o havia nada que Jess quisesse mais do que ser capaz
de colocar os braços com con iança em volta da cintura dele e se perder
no cheiro cı́trico dele.

Mas suas juntas estavam travadas, a postura rı́gida.

— Conversamos depois? — ele perguntou, se afastando para olhar


para ela, segurando seus cotovelos.

— Sim. — Seu telefone zumbiu no bolso de trá s e ela o recuperou,


esperando uma noti icaçã o de algum e-mail de trabalho ou uma
mensagem de Pop’s sobre os planos para o jantar.

Mas era de Fizzy, e a preocupaçã o imediatamente empurrou todo o


aperto no peito de Jess para a garganta.

Eu preciso de você o mais rápido possível.

Sinal entre melhores amigas.

— Desculpe — Jess sussurrou. — E Fizzy. Ela…

Jess respondeu rapidamente:

Você está bem?


Estou segura e não estou ferida. Mas não. Eu não estou bem.

Com o coraçã o batendo forte, Jess olhou para River. Ela nã o
gostava de deixar coisas assim, mas ela teria que deixar.

— Eu realmente preciso ir.

Sua voz era uma mistura baixa de exasperado e preocupado, e ele


agarrou o braço dela.

— Jess–

— Ela precisa de mim. Fizzy nunca precisa de mim. Me liga quando


estiver tudo pronto?

Ele acenou com a cabeça e deu um passo para trá s, deixando-a ir.

Se afastando, Jess digitou enquanto caminhava:

Onde está você?

Em casa. Você está vindo?

Sim. Chego em 20 min.

A PORTA DA FRENTE DE FIZZY estava aberta; o interior da casa


estava sombreado atrá s da porta de tela. Jess nã o ouviu soluços ou
gritos – o que era reconfortante – mas Bon Iver tocava baixinho nos
alto-falantes da sala. Para algué m como Fizzy, cujo humor geral tendia
mais para um pop animado do que uma balada tranquila, Bon Iver deu
a Jess um motivo legı́timo para se preocupar.

E assim, River foi colocado de lado para depois. Jess tinha muita
experiê ncia em compartimentalizaçã o. Jamie tinha aparecido na
formatura do ensino mé dio de Jess depois de passar o dia chapada de
metanfetamina e perseguiu os corredores procurando por ela entre o
mar de colegas de classe. Cerca de trinta segundos depois que ela
escalou Jerome Damiano e Alexa Davidson para chegar até sua ilha,
Jamie foi escoltada para fora pelo segurança do campus. Mesmo assim,
Jess se levantou e foi até a frente do auditó rio quando seu nome foi
chamado.

E, Jess lembrou, ela e Alec terminaram cerca de uma hora antes de


ela apresentar sua tese para todo o departamento de matemá tica,
quando ela estava grá vida de seis meses de Juno. Ela jogou toda a sua
raiva e desapontamento de lado, entrou na apresentaçã o com um
sorriso enorme e slides lindamente projetados e tirou um A.

Um olhar para Fizzy enrolada em uma bola em seu sofá , olhos com
contornos vermelhos, cabelo em um coque estranhamente bagunçado
e uma parede familiar deslizada para o lugar.

Ela se sentou, colocando um dos pé s descalços de Fizzy em seu


colo.

— Me conta.

Alcançando para limpar o nariz, Fizzy disse simplesmente: — Ele é


casado.

— Quem é casado?

Fizzy voltou seus olhos escuros lacrimejantes para o rosto de Jess.

— Rob.

— O Banqueiro Rob?

— Sim.

— Casado? Com uma pessoa?

— Sim.

Jess olhou para ela, sem acreditar.


— Ele nã o era amigo do irmã o de Daniel? Como ningué m disse
nada para você ?

— Aparentemente, ele é , tipo, um amigo de um amigo de um


amigo, e Rob se casou nos ú ltimos dois anos, quando eles nã o estavam
saindo tanto.

— Que lixo humano. — A mandı́bula de Jess icou aberta. — Como


você descobriu?

— Ele me encontrou em Twiggs e me contou.

— Ele te contou em pú blico?

Fizzy acenou com a cabeça, sombria.

— Ele sentou em sua cadeira.

Ela engasgou.

— Como ele ousa?!

— Eu sei.

— Entã o o que você fez?

Fizzy respirou fundo e se recompô s.

— Eu me levantei, pedi a Daniel uma jarra de á gua gelada e joguei


no colo de Rob.

— Aplausos — sussurrou Jess, impressionada.

— Acho que ele começou a pirar pensando que seria pego. Uma
noite, em Little Italy, encontramos algué m que ele conhecia e ele me
apresentou ao cara como sua “amiga Felicity”, que na é poca, eu estava
tipo – “Isso é justo, ainda somos muito novos”, mas agora eu sei o
porquê . — O rosto de Fizzy se contraiu. — Gostei muito dele, Jess, e
você me conhece — disse ela, soluçando. — Nunca gostei de ningué m.
Eu cozinhei para ele e conversei sobre livros com ele, e nó s tı́nhamos
piadas internas – e ele é casado, porra. E eu juro que ele queria cré dito
por ter confessado tudo para mim. Tipo, ele estava genuinamente
chocado por eu estar tã o chateada. — Ela enxugou o nariz novamente.

— Venha aqui. — Jess afastou o pé de Fizz e a puxou para seus


braços, apertando com força enquanto a amiga chorava.

— Você sabe a pior parte? — Fizzy perguntou, sua voz abafada pela
camisa de Jess.

— O quê ?

— Acabamos de enviar as amostras dele de saliva.

— Para o GeneticAlly? — Jess perguntou, e Fizzy assentiu. — Achei


que você nã o fosse fazer isso.

Fizzy lamentou.

— Eu nã o ia!

— Deus, — Jess disse, — que idiota. O que ele esperava que


acontecesse?

— Certo? — Sua melhor amiga riu em meio a um soluço. — E


agora, e se eu descobrir que somos, tipo, perfeitos um para o outro, e
isso nã o importa porque ele é casado? Nã o quero saber se devemos
icar juntos!

Os sentimentos do outro cô modo espiaram pelo pequeno canto


compartimentado de Jess, perguntando se já era hora de sair. Jess
balançou a cabeça. Nã o era.

— Bem, logisticamente, você pode solicitar que a conta dele nunca


seja vinculada à sua, entã o você nã o precisa saber, mas tenho quase
certeza de que ele nã o pertence a nenhum lugar perto de sua bunda
perfeita, gentil e atrevida, de qualquer maneira. Qualquer pessoa que
faria algo assim está podre por dentro. Aposto que o DNA dele parece
bolor preto de banheiro.

— Como grandes cilindros de muco — Fizzy concordou.

— Eu poderia continuar essa metá fora, mas só vai icar mais
grosseira. — Jess a apertou novamente. — Sinto muito, meu bem. Eu
quero saber onde ele mora para que eu possa en iar a cabeça na bunda
dele até que ele possa lamber a pró pria orelha.

— A esposa dele estaria lá — Fizzy disse calmamente. — Acho que


é por isso que nunca fomos à casa dele.

— Lixo humano — Jess sussurrou com raiva.

Fizzy enxugou o nariz na camisa de Jess antes de se afastar e


inspecionar. A suspeita endireitou sua carranca enquanto sua atençã o
se movia do pescoço de Jess para seu rosto e cabelo. Ela fungou.

— Por que você está toda arrumada?

— Fizemos a entrevista para a People hoje nos escritó rios.

A versã o chorosa e inchada de sua melhor amiga gemeu, caindo


dramaticamente nas almofadas.

— Eu enviei o sinal de melhores amigas quando você estava com a


revista People, oh meu Deus. — Depois de uma batida pensativa, ela se
sentou e jogou os braços em volta de Jess novamente. — E você veio!

— Seria do meu interesse pegar essas estrelinhas douradas da


amizade e nã o dizer que já tı́nhamos terminado quando recebi sua
mensagem — disse Jess. — Mas a mentira anularia os pontos dourados
da amizade. E eu juro que teria vindo de qualquer maneira.

— Mas você poderia estar fazendo sexo comemorativo com sua


alma gê mea, e eu poderia apenas ter usado vinho e queijo para apoio
emocional.
Alma gêmea.

Jess lançou um olhar de advertê ncia aos sentimentos que agora


tramavam sua fuga.

— Eu sempre preferi que você se apoiasse em mim do que em


vinho e queijo. — Ela fez uma pausa antes de acrescentar: — E River
ainda nã o terminou a entrevista.

— Estou honrada por ser sua segunda escolha.

— Terceira — Jess a lembrou.

Fizzy se recostou e riu.

— Você é uma merda.

— Talvez, mas eu te amo.

— Eu també m te amo. — Ela olhou para o reló gio na parede. —


Falando nisso, você precisa pegar sua primeira opçã o na escola?

— E segunda-feira — disse Jess. — Pop’s vai pegar ela, e eles vã o


fazer a coisa da biblioteca. Tenho trê s horas para fazer o que puder
para você se sentir melhor.

FIZZY E JESS se recostaram no sofá com Razão e Sensibilidade


passando calmamente ao lado de seu banquete de queijo e torradas.
Eventualmente, Jess deu-lhe um ú ltimo aperto, foi para casa e
alimentou Juno, deu banho, se aconchegou e bebeu – e entã o pegou um
copo cheio de vinho para si mesma antes de abrir as comportas do
pâ nico.

Mas entã o elas se abriram e os pensamentos sobre River abafaram


todo o resto. A vantagem de empurrar tudo para trá s da parede era que
ela fora capaz de funcionar normalmente durante todo o dia; a
desvantagem era que ela nã o estava mentalmente preparada para a
conversa que a esperava.

Nã o adiantava adiar. Jess puxou seu telefone, mandando


mensagem para ele.

Você pode vir pra cá?

Ele respondeu imediatamente, quase como se estivesse esperando


com o telefone na mã o:

Sim. Agora?

Agora é bom.

Ela clicou em Enviar e imediatamente respondeu novamente.

Espera.

Ela digitou o mais rá pido que pô de porque sabia que a Espera
provavelmente o deixara em pâ nico.

Isso pode parecer estranho, mas você já viu nossos dados brutos?

Claro.

Jess mastigou a unha do polegar enquanto considerava como


formular o que queria dizer em seguida, sem lhe dar tempo para
preparar uma desculpa se ele estava envolvido na fabricaçã o de dados
o tempo todo. Ela queria ser capaz de ler a verdade em seu rosto. Por
outro lado, se ele tinha uma có pia dos dados em casa, ela queria que ele
a trouxesse.

Felizmente, River poupou o trabalho de formular a pergunta.

Eu tenho a cópia aqui. Quer que eu leve?

Jess exalou um luxo lento e quente de tensã o.


Isso seria bom.

Eu deveria ter te dado isso há muito tempo. Desculpa. É disso que se


trata?

Ela optou por nã o responder a isso.

Está vindo agora?

Sim.

Ele morava a apenas dez minutos de distâ ncia, mas River estava
em sua porta em oito. Antes, se ele tivesse aparecido no apartamento
dela depois que Juno estava dormindo, Jess estaria em seus braços
imediatamente. Mas esta noite, os dois pareciam saber que o afeto
estava em espera.

Sem palavras, ele entrou, sem fô lego do que Jess só poderia
imaginar ser uma corrida de seu carro.

— Ei.

Ela engoliu um soluço que parecia surgir do nada.

— Ei. Como foi o resto da entrevista?

Ele acenou com a cabeça, passando a mã o na testa, ainda


recuperando o fô lego.

— Bem. Sim, acho que foi bem. Fizzy está bem?

Balançando a cabeça, Jess caminhou até a mesa de jantar e se


sentou, os ombros caı́dos.

— Rob é casado.

River lentamente tirou sua bolsa do ombro, colocando-a sobre a


mesa.
— Você está brincando.

— Nã o. E eu acho que eles acabaram de enviar seu kit DNADuo.

River estremeceu.

— Merda.

E entã o eles icaram quietos. O elefante branco estava parado bem


em cima deles. Resmungando — Bem… — River tirou uma folha de
papel de sua bolsa e entregou a ela. Era muito enrugado e gasto, como
se tivesse sido levantado e largado vá rias vezes, estudado mil vezes.

— Nossos dados. — Ele estendeu a mã o, enxugando a testa


novamente. — Você vai me dizer o que está acontecendo?

O grá ico de dispersã o colorido foi impresso em uma vista de


paisagem e ocupou a pá gina inteira. Uma exibiçã o magistral de
habilidade computacional e o melhor amigo de um estatı́stico: aná lise
de componentes principais. Depois de apenas alguns segundos, Jess
percebeu que ele capturou todos os dados que ela viu nas mesas do
escritó rio de David.

O grá ico tinha dois eixos: o eixo Y vertical era rotulado de zero a
quatro - as pontuaçõ es compostas com as quais Jess já estava
familiarizado. O eixo X horizontal tinha doze ró tulos diferentes. Ela
presumiu que eles representavam as categorias das famı́lias de genes
incluı́das no DNADuo: Neuroendó crino, Imunoglobulina, Metabó lico,
Transduçã o de Sinal, MHC Classe I / II, Olfativo, Proteı́nas Regulató rias,
Transportadores, Choque Té rmico, SNARE, Canal Iô nico e FGF / FGFR. E
no pró prio grá ico, havia milhares de pequenos pontos, aparentemente
um para cada uma de suas pontuaçõ es em cada gene individual,
codi icados por cores e agrupados por categoria.

Era uma maneira muito mais fá cil de olhar para as pontuaçõ es
brutas – Jess podia ver imediatamente as tendê ncias aqui que ela nã o
podia na tabela – mas como havia tantos dados, estava claro para ela
que, se isso era tudo que River tinha visto, teria sido quase impossı́vel
decifrar que era quase idê ntico a um teste que ele viu anos atrá s.

E, o mais importante, as informaçõ es que a alertaram – o horá rio


de té rmino da execuçã o, a data, a má quina DNADuo – nã o foram
incluı́das neste teste. Esse grá ico tinha apenas nú meros de clientes, a
pontuaçã o de compatibilidade e, no canto inferior direito em letras
minú sculas, a data em que este grá ico foi gerado.

Talvez River nã o soubesse. A esperança era uma luz fraca brilhando
na escuridã o de seu humor. O mais casualmente possı́vel, Jess
perguntou: — E assim que você s sempre olham os dados?

Ele riu baixinho.

— Tenho certeza de que, para um matemá tico, é enlouquecedor


nã o olhar para os nú meros reais, mas passamos a con iar nesses
grá icos de dispersã o. E mais fá cil ver valores discrepantes desta forma
e saber se precisamos refazer o ensaio por qualquer motivo. — Ele se
inclinou, apontando para um grande aglomerado de pontos em seu
grá ico. — Veja, você pode dizer que estamos particularmente bem
alinhados em genes metabó licos e imunoglobulina. E nossas
pontuaçõ es mais baixas parecem ser para proteı́nas regulató rias, mas
essa nã o é uma conclusã o muito signi icativa, porque mesmo essas
pontuaçõ es sã o muito altas. Depois de obter uma pontuaçã o acima de
oitenta, a maioria dos testes é semelhante.

Ela engoliu em seco, aliviada. Ele con irmou que nã o poderia
imediatamente saltar para ele que os dados haviam sido manipulados.

— Como você gera isso?

— Na verdade, são dados brutos. Tudo em uma tabela é mostrado


aqui. Tiffany acabou de trabalhar com o pessoal da Caltech para que a
rede neural criasse esse enredo para nó s como uma equipe, porque é
muito mais fá cil de olhar. Mas podemos gerar um desses para qualquer
casal que corresponda.
— Entã o Fizzy teria um milhã o desses — ela disse.

Ele riu de novo.

— Quer dizer, em teoria. Nã o fazemos upload deles para os


aplicativos ou mesmo os geramos rotineiramente mais, a menos que
solicitado porque os arquivos sã o enormes, mas com certeza, você
poderia, teoricamente, criar grá icos de dispersã o como este
comparando-o a qualquer outro indivı́duo no mundo. Isso
simplesmente nã o seria muito ú til. — Ele encontrou os olhos dela,
quase timidamente. — Mas é claro que izemos um para o nosso teste.
Eu queria olhar bem de perto. No começo porque eu era cé tico, e
depois porque era incrı́vel.

As lá grimas encheram seus olhos e ela se abaixou para descansar a


cabeça na mesa. O alı́vio a invadiu como um analgé sico, uma mor ina. A
cabeça de Jess estava tã o pesada e, antes que ela pudesse evitar, um
soluço escapou de sua garganta.

— Santo– Jess... — River se inclinou, puxando-a para seus braços.


— Querida, o que há de errado?

Ele nunca a chamou de “querida” antes, e isso só a fez chorar mais.
Ela icou aliviada por ele nã o ter mentido para ela o tempo todo. Mas
agora ela tinha que dizer a ele que eles nã o eram noventa e oito. Ela
estava apaixonada por ele – e Jess odiava o quanto isso iria machucá -
lo. Sua con iança em David seria irreparavelmente dani icada. Até ela
aparecer, GeneticAlly tinha sido a vida inteira de River.

— Eu odeio o que estou prestes a dizer a você .

Ele icou imó vel em torno dela.

— O que é ? Basta dizer.

Ela se afastou, se levantando e indo para a cozinha para recuperar


as fotos que ela imprimiu antes. Suas mã os tremiam quando ela as
entregou.
River parecia familiarizado o su iciente com as mesas para saber
imediatamente o que estava segurando.

— Onde você conseguiu isso?

— Escritó rio de David — Jess admitiu. — Fique bravo comigo


depois de olhar para eles. Eles estavam em sua mesa quando Lisa me
colocou lá para esperar minha parte na entrevista. Nã o era minha
intençã o bisbilhotar, mas quando vi nossos nú meros de clientes, iquei
muito animada. Como você disse, é meio incrı́vel olhar para ele e saber
como começamos. — Ela mordeu o lá bio. — E havia algumas coisas
sobre ele que eram estranhas para mim.

Ele franziu a testa, olhando para baixo, sem ver ainda.

— Como o quê ?

Jess estendeu a mã o, enxugando os olhos.

— Basta olhar para eles por alguns minutos.

Ela o deixou estudar, entrando na cozinha para pegar um copo


d'á gua. Gelado, queimou um caminho gé lido de seus lá bios até seu
estô mago.

Cerca de trinta segundos depois, um silencioso: — Que porra é


essa? — Veio da sala de jantar.

Jess fechou os olhos. Papé is farfalharam com urgê ncia renovada, e


o som deles se espalhando sobre a mesa foi acelerado.

— Jess. — Ela podia dizer pela tensã o em sua voz que sua
mandı́bula estava cerrada. — Você pode voltar aqui, por favor?

Respirando fundo, ela colocou o copo na pia e se juntou a ele na


sala de jantar. Ele estava de pé , os braços apoiados na mesa enquanto
se abaixava e olhava para baixo.

— Quem circulou esses valores?


— Nã o sei. — Ela colocou os braços em volta da cintura dele por
trá s e descansou a testa entre as omoplatas. Aliviado por ele saber, Jess
achou que eles poderiam começar a descobrir isso juntos.

— Você está bem?

Uma risada seca, e entã o: — Nã o. O que estou vendo? Isso é para
valer?

— Você sabia? — ela perguntou baixinho.

Sua voz saiu tensa, como se entre os dentes cerrados.

— Claro que nã o.

Fechando os olhos, Jess o apertou com mais força. Mas ele nã o se
virou; na verdade, Jess percebeu que ele permaneceu completamente
rı́gido em seu abraço. E pela primeira vez ocorreu a ela – como só
estava ocorrendo a ela agora – que, embora Jess con iasse na magia da
anomalia estatı́stica, River poderia olhar para a pontuaçã o adulterada
e ver que eles nunca foram feitos um para o outro.
Capítulo 23

APOS UMA batida atordoada, Jess se afastou e deixou seus braços


caı́rem para os lados. River nã o pareceu notar; sua atençã o ainda
estava mudando para as ileiras de nú meros enquanto ele ia de pá gina
em pá gina e vice-versa. Seu coraçã o havia se alojado em algum lugar de
sua traqueia.

River soltou um gemido baixo e baixou a cabeça.

— Eu deveria ter visto.

— Como? — Jess perguntou, incré dula. — Há trê s mil e quinhentos


nú meros lá . Neste ponto, você envia essas informaçõ es para a caixa
preta e é simpli icado de forma tã o extensa que você nunca saberia se
algo estava errado.

— Você nã o entende — disse ele, virando e passando por ela, indo
para a sala de estar. — A quantidade de tempo que passei estudando os
dados dos Fuchs. Eu deveria ter visto.

— Nem mesmo um cé rebro como o seu pode memorizar 3.500


nú meros de quase uma dé cada atrá s. — Jess se moveu para colocar a
mã o em seu braço, mas ele deu de ombros, virando para a janela.

Suas mã os agarraram seu cabelo e ele soltou um rosnado baixo.

— Isso é uma catá strofe.

Jess olhou para as costas dele. Ele estava certo. Era uma coisa
terrı́vel de descobrir, e David ia ter que pagar muito, mas nã o havia um
toque de serendipidade nisso també m? Ainda os havia unido.

— Eu sei que você tem muito em que pensar, — ela começou


calmamente, — mas eu quero que você saiba que eu te amo. O que
aconteceu nã o muda isso.
Ele icou imó vel, como se estivesse pensando em como reagir a
isso, mas entã o abruptamente olhou para o reló gio.

— Merda. David provavelmente ainda está no escritó rio. Eu


preciso ir lá agora.

Jess girou tã o rá pido quanto seu coraçã o e cé rebro permitiram.

— Ok. sim. Bom. — Um plano. Ela pegou seu telefone, deslizando


para Favoritos e pressionando a foto de Pop’s. Já estava tocando
quando ela o levou ao ouvido. — Deixa eu pedir para o Pop’s icar com
Juno–

— Jess. — Ele estendeu a mã o para o telefone, puxando-o


delicadamente de suas mã os. Com os olhos na tela, ele encerrou a
ligaçã o antes que Pop’s atendesse.

— O que você está fazendo? Eu nã o posso sair sem—

Oh.

River ainda estava olhando para sua tela, para a foto de Juno, de
quatro anos, vestida de polvo no Halloween. Seus olhos estavam
grudados na imagem. Ele olhou para Jess uma vez desde que viu os
dados?

— Eu preciso falar com ele sozinho.

Jess exalou uma risada chocada.

— Você nã o está falando sé rio.

— Essa é a minha empresa, Jess.

— Mas essa situaçã o me envolve també m. Tenho o direito de saber


por que ele fez isso.

Seus ombros enrijeceram.


— Se ele fez isso. Nã o sabemos se isso nã o foi um descuido ou erro
ou, ou – algum tipo de falha do computador. Eu conheço o homem
desde sempre. Eu tenho que dar a ele uma chance de explicar, e eu
preciso fazer isso sozinho.

Jess sentiu sua mandı́bula apertar.

— Você realmente espera que eu apenas relaxe aqui, sozinha?

Ele acenou com a cabeça irmemente.

— Você vai vir mais tarde?

— Nã o tenho certeza. — River respirou fundo e inalmente


encontrou seus olhos. — Sinto muito, eu realmente tenho que ir, agora.
— Ele pegou sua bolsa sobre a mesa e empurrou tudo dentro antes de
se dirigir para a porta.

Jess o seguiu, mas ela nã o conseguiu sair rá pido o su iciente.
Mentalmente, River já havia partido.

Ela icou parada na porta, observando a visã o familiar de algué m


que ela amava se afastar.

— River.

Ele murmurou:

— Eu ligo para você — e entã o desapareceu no pá tio escuro.

MAS RIVER NAO ligou. Jess icou acordada até quase trê s,
alternando entre assistir TV e checar o telefone. Finalmente, ela
adormeceu encostada desajeitadamente em seus travesseiros,
acordando para encontrar a TV ainda ligada e seu telefone ainda sem
mensagens.

Ela estava de pé ssimo humor quando a rotina matinal começou.


— Juno, estou tentando fazer seu almoço. Você pode deixar a gata
sozinha e se vestir? Agora, por favor.

Juno fez beicinho de onde estava agachada no tapete balançando


uma das penas de brinquedo de Pombo para frente e para trá s.

— Eu nã o sei o que vestir.

— Você tirou roupas ontem à noite. E me traga seus pratos,


Joaninha.

— Mas hoje temos educaçã o fı́sica e quero usar leggings.

Jess jurou que sua ilha tinha algum tipo de radar que focalizava
exatamente o quã o curta a paciê ncia de sua mã e estava em um
determinado dia, e entã o transformou a iluminaçã o em um esporte
olı́mpico.

— Tudo bem, use leggings.

— Eu nã o sei onde elas estã o.

— Você tem pelo menos dez pares delas.

— Eu quero as pretas com estrelas.

— Você colocou elas na lavanderia? — Jess pegou as uvas na


geladeira e en iou um cacho na lancheira de Juno. Seu telefone estava
virado para baixo no balcã o, mas ela o deixou intocado. Olhar só a faria
se sentir pior.

Juno rolou no chã o, gritando quando o gato começou a mastigar as


pontas de seu cabelo.

— Eu acho que sim.

— Entã o olhe na secadora. — Jess jogou uma xı́cara de purê de


maçã , um saco de palitos de cenoura e o ú ltimo tubo de iogurte,
fazendo uma anotaçã o mental para ir à loja.
— Você pode pegar elas para mim? — Mais risadas, mais guinchos.
Sem se vestir.

— Juno! — Jess gritou. Sua voz estava tã o alta que até ela se
assustou.

Silenciosamente, Juno se levantou e saiu furtivamente da sala.

Freneticamente, Jess limpou o balcã o e fechou a porta da geladeira


com tanta força que ela se abriu. Outra olhada em seu reló gio. Merda. A
porta da secadora bateu e um gato assustado saiu correndo pelo
corredor, pulando na mesa de centro e derrubando a tigela de cereal
pela metade de Juno. Leite e Rice Krispies encharcados pingaram
lentamente no chã o.

— Quantas vezes preciso dizer sem comida na sala!

— Foi culpa da Pombo!

— Vai se vestir! — Sua voz parecia ecoar pelo apartamento


repentinamente silencioso.

O lá bio inferior de Juno projetou para fora e ela entrou no quarto
novamente. Jess se jogou no sofá , exausta. Mal eram oito da manhã .

Elas caminharam para a escola em um silê ncio tenso; Juno estava


brava, mas nã o tã o brava quanto Jess estava consigo mesma. Ela
percorreu as memó rias de Jamie tendo uma discussã o com qualquer
homem com quem ela estava na é poca e descontando em Jess, Nana ou
Pop’s.

Jess estava em uma espiral de vergonha quando chegaram à s


portas da escola.

Precisando consertar isso, Jess se agachou na grama na frente de


Juno.

— Você tem seu esboço para a feira de arte?


Ela balançou a cabeça, mas nã o encontrou os olhos de Jess, em vez
disso se concentrando no parquinho sobre o ombro da mã e. Sua
pequena testa estava tã o mal-humorada.

— E o seu almoço está na sua mochila?

Outro aceno curto.

— Me desculpe por ter gritado essa manhã . Nã o dormi o su iciente


e acordei de mau humor. Eu deveria ter contado até dez.

— Pop’s pode me buscar depois da escola?

A traiçã o era uma faca a iada torcendo em seu peito.

— Ele vai estar com a Nana Jo na reabilitaçã o. Nã o tenho reuniõ es,
por isso venho te buscar hoje.

— Pode ser o River Nicolas em vez disso?

A faca empurrou mais fundo. Nã o era que Juno quisesse algué m
especı́ ico, era que ela especi icamente nã o queria Jess. Jess sabia que
era irracional se sentir magoada – Juno estava com raiva, e isso era o
que crianças loucas faziam – mas ser uma mã e de merda essa manhã
era a ú ltima coisa que o coraçã o de Jess precisava.

Como ela poderia dizer que nã o tinha ideia de onde River estaria
depois da escola? Ou na pró xima semana? Ou no pró ximo ano?

Se ela fosse Jamie, ela iria aparecer mais tarde hoje com um
presente dois anos muito jovem para os interesses de Jess ou chamá -la
de pirralha e nã o aparecer. Eu não sou minha mãe Jess envolveu sua
ilha em um abraço.

— Vou perguntar a ele, mas de qualquer forma, estarei aqui na


hora da saı́da — disse ela. — Eu te amo muito.

Juno amoleceu em seus braços.


— Eu també m te amo muito.

FIZZY E ELA estavam sentadas à mesa em Twiggs fazia vinte


minutos, mas Jess ainda nã o tinha se conectado ao computador.

— Terra para Jess.

Ela desviou os olhos da janela.

— Desculpa, o quê ?

— Eu estava perguntando sobre Nana.

— Certo. — Jess olhou para o topo espumoso de seu café especial


intocado. — Ela está bem. Melhor do que bem, na verdade. Ela faz
isioterapia ambulatorial todos os dias por algumas semanas. Eles
estã o trabalhando em exercı́cios de fortalecimento e colocando algum
peso nessa perna. Sua densidade ó ssea é boa, entã o eles nã o estã o
muito preocupados com o deslocamento dos pinos. Ela é um raio
naquela scooter.

— E Pop’s?

— Ele está mais feliz agora que ela está em casa — Jess disse
categoricamente. — Ele encantou a maioria dos funcioná rios da clı́nica
de reabilitaçã o, entã o é claro que consegue o que quer.

— Deixa eu ingir surpresa — disse Fizzy, e depois icou quieta e


imó vel na frente de Jess enquanto virava o telefone e olhava para a tela.
Nada. — Você quer me dizer o que há com você hoje?

— Eu?

Fizzy sorriu.

— Jess, minha intuiçã o de melhor amiga é o nı́vel de Deus, nı́vel


cinco mil, o um por cento do topo. Você acha que eu nã o posso dizer
quando algo está errado? Você está preocupada com Nana ou aquelas
crianças do milho na classe de Juno?

Jess riu pela primeira vez durante todo o dia. O problema era que
ela nã o podia falar sobre isso. Nã o só nã o era problema dela
compartilhar, ela nem tinha certeza de quã o grande era o problema.

— Estou bem, apenas dormi como um lixo e briguei um pouco com


Juno esta manhã . — Levando o copo aos lá bios, ela perguntou: —
Alguma atualizaçã o sobre Rob?

— Tenho certeza que ele tentou ligar — Fizzy disse — mas eu o


bloqueei. Do meu telefone, Insta, Facebook, Snapchat, WhatsApp,
TikTok, Twitter e... — Ela levantou o telefone, bateu na tela algumas
vezes e acrescentou: — LinkedIn.

— Você tem tudo isso?

Fizzy encolheu os ombros, arrancando um pedaço de muf in.

Jess estendeu a mã o sobre a mesa para pegar a mã o livre de Fizzy.

— Você acha que verá mais algum de seus matchs?

— Quem sabe. Meu tesã o social está muito fraco agora.

— Essa frase faz muito sentido.

A campainha tocou na porta e a atençã o de Jess voou em direçã o


ao som. River. Ela olhou para o telefone. Já passava das nove. Ele estava
atrasado.

Contornando o balcã o da frente, ele caminhou direto para a mesa.


Seu cabelo estava um pouco mais despenteado do que o normal, e seus
olhos pareciam pesados e vermelhos, mas suas roupas estavam
passadas, sua postura perfeita. Jess odiava a rapidez com que seu
corpo traidor queria esquecer sua partida abrupta ontem, sua falta de
comunicaçã o, e apenas levantar e se jogar em seus braços.
— Ei — ele disse a ela, e entã o se virou para Fizzy. — Eu ouvi sobre
o idiota.

— Hoje me re iro afetuosamente a ele como O Babaca.

— Bem, eu nã o queria que você recebesse um alerta, entã o


desativei sua combinaçã o por enquanto e bani O Babaca da plataforma.
O sistema pode ter enviado acidentalmente um recibo duplicado para o
endereço de cobrança dele, mas obviamente eu nã o sei nada sobre
isso. Com alguma sorte, sua esposa é quem está recebendo a
correspondê ncia.

Fizzy sorriu calorosamente para ele e pegou sua mã o.

— Eu sabia que você era meu favorito dos muitos amantes de Jess.

Jess apenas icou lá , assistindo os dois interagirem como se tudo


estivesse normal. Mas nã o estava. Ele nã o olhou para ela novamente.
Uma rachadura á spera estava se formando no centro de seu coraçã o.

River deu uma risada estranha.

— Bem, isso é seu, se você quiser. — Ele entregou a Fizzy um


envelope com o logotipo colorido da DNADuo gravado em um dos
lados.

Cautelosa, ela o pegou dele, virando nas mã os.

— E o que eu acho que é ?

— E a sua pontuaçã o de compatibilidade com Rob.

Ela o largou como se estivesse pegando fogo.

— Eca. Acho que nã o consigo abrir.

Fiel ao tipo, River nã o disse nada. Ele apenas olhou para ela com
uma empatia gentil.
— Você que sabe.

— E se disser que somos iguais? — Fizzy disse, dolorosamente


vulnerá vel. — Eu nunca estarei com algué m que traiu sua esposa, nã o
importa o quã o perfeitos a biologia diga que somos um para o outro. —
Ela deslizou de volta sobre a mesa. — Apenas destrua.

— Você tem certeza? — ele perguntou. Ele nã o estendeu a mã o


para pegá -lo.

— Se tivesse a chance que você e Jess podem nã o ser almas


gê meas, você gostaria de saber?

Deixe para Felicity Chen acertar o prego na cabeça, mesmo sem


saber.

O olhar de River voou para Jess e depois se afastou, visivelmente


dolorido. Ele pegou o envelope, colocando em seu blazer.

— Pode ser. Nã o sei. — Quando ele respirou fundo, gaguejou, Jess
teve a sensaçã o de que ela estava testemunhando seu desgaste nas
bordas. River precisava de uma pontuaçã o especı́ ica para ter certeza
sobre ela?

— Posso falar com você por um minuto? — Jess perguntou.

Ele encontrou os olhos dela e acenou com a cabeça uma vez.

Com um pequeno estremecimento para Fizzy – que sem dú vida


estava captando todas as vibraçõ es estranhas que eles estavam
emitindo – Jess o seguiu porta afora, virando-se para ele assim que
saı́ram.

— Cara.

— Eu sei que nã o liguei ontem à noite e sinto muito — ele disse
imediatamente, enviando uma mã o agitada em seu cabelo. — Era
muito para processar.
— Você gostaria de compartilhar algum de seus processos comigo?

— Ele admitiu tudo... tudo isso. Ele e Brandon.

Jess se sentia insegura onde estava.

— Os dois? — Ela precisava se sentar.

— Eles sabiam que eu levaria isso a sé rio. Que eu... — ele fez uma
pausa, soltando um suspiro. — Que para uma pontuaçã o como essa, eu
faria o meu melhor para tentar.

— Puta merda.

— Eles mudaram os valores do teste dos Fuchs. Eles nã o estavam


errados ao dizer que seria um grande impulso para a empresa. Eu nem
sei o que estamos enfrentando, honestamente.

— Quais foram nossas pontuaçõ es reais?

Ele encolheu os ombros.

— David nunca deixou nenhum de nossos testes terminar. Ele nã o


queria uma trilha de dados.

Jess olhou para ele, atordoada. Eles nem tinham pontuaçã o?


Nunca?

— Essa foi a primeira vez ou houve outras? A coisa toda é falsa?

River balançou a cabeça com veemê ncia.

— Eu tive minhas mã os em todos os dados até cerca de seis meses


atrá s, quando as coisas icaram muito mais ocupadas — disse ele, as
palavras todas esmagadas. Jess nunca tinha visto ele assim: olhos
selvagens e injetados de sangue, energia tumultuada. Qualquer que
fosse o poder que o mantinha composto em Twiggs, estava
desmoronando aqui na calçada. — Quer dizer, até eu estar sempre me
encontrando com investidores. Dave e Brandon a irmam que nossos
per is sã o os ú nicos que eles forjaram. — Ele colocou as duas mã os em
seu cabelo agora e olhou para a calçada. — Vou ter que con irmar isso.

— Nã o entendo. Se eles fossem escolher apenas um conjunto de


partituras para fabricar, por que me incluir? Você é lindo e pode vender
isso melhor do que ningué m. Tenho trinta anos e sou uma mã e solteira
falida. Por que nã o manter as coisas simples e escolher uma
superestrela barra modelo?

— Dave viu você quando você e Fizzy entraram no escritó rio —


disse River, a voz irme. — Ele achou você linda e icaria ó tima na
câ mera.

Jess pensou naquele dia.

— Eu estava de jeans e um moletom. Eu parecia um aluno do


quinto ano.

— Dave me conhece há quase treze anos. Como ele disse, ele “sabia
no que eu me envolveria”.

Suas sobrancelhas se ergueram lentamente.

River esclareceu rapidamente.

— Ele quis dizer você. Para ser justo, ele nã o estava errado. —
River tentou sorrir, mas na melhor das hipó teses foi uma careta. — A
ideia se consolidou quando eles aprenderam mais sobre você . Uma
estatı́stica, um local, ajudando a cuidar dos seus avó s. Eles nã o sabiam
sobre Juno até mais tarde e...

— E eu disse que nã o a queria envolvida.

— Exatamente. — Ele olhou para trá s em direçã o ao café , olhos


estreitos contra a luz da manhã . — Você nã o disse a Fizzy?

— O que eu diria a ela? Cinco minutos atrá s, eu nem tinha certeza


do que estava acontecendo. Alé m disso — ela disse, e deu um passo à
frente, tirando uma de suas mã os de seus braços cruzados — isso é
uma bagunça para sua empresa, mas nã o é uma bagunça para nó s. —
Ela tentou puxar ele para mais perto, mas ele estava tã o apertado
quanto uma fechadura; em nenhum lugar em seu comportamento atual
estava seu namorado deliberado e focado. — Ei. Olhe para mim. Nã o
importa qual seja a nossa pontuaçã o, estou nisso a longo prazo. As
estatı́sticas nã o podem nos dizer o que vai acontecer, elas podem
apenas nos dizer o que pode acontecer.

Ele nã o respondeu, nã o olhou para ela. Em vez disso, ele abaixou a
cabeça e puxou cuidadosamente sua mã o da dela. O silê ncio de River
pressionou ao seu redor, pesado e sufocante.

— Certo? — ela pressionou.

Ele olhou para cima.

— Claro que sim. Estou uma bagunça essa manhã .

Ela nã o se sentiu nem um pouco confortada.

— O que vai acontecer com eles?

— O conselho se reunirá e teremos algumas conversas realmente


difı́ceis. O que eles izeram foi antié tico na melhor das hipó teses e
ilegal na pior. Eles provavelmente serã o substituı́dos, e todos os dados
dos ú ltimos seis meses – cerca de quatorze mil amostras – terã o que
ser executadas novamente. — Ele empalideceu, olhando para a
grandiosidade disso.

Uma pergunta loresceu, empurrando para fora de sua boca.

— Você executou nossas amostras?

— Nã o — ele disse imediatamente. Simplesmente. — Desativei


meu per il.
Jess nã o conseguia decidir se isso era um alı́vio ou um soco no
estô mago. Eles nã o tinham pontuaçã o pró pria e agora nunca mais
teriam. Era difı́cil para ela imaginar que River nã o precisasse saber seu
ı́ndice de compatibilidade com a namorada.

A nã o ser que…

— Oh. — Ela olhou para os sapatos deles – os dele lustrados, os


dela arranhados. Eles estavam a apenas alguns metros de distâ ncia,
mas parecia que ele estava a um quilô metro de distâ ncia. — Acho que é
isso.

A energia inquieta dele sangrou em sua dor no coraçã o e a fez se


sentir inquieta també m.

— Vai — disse ela, inalmente. — E muito para digerir.

River exalou lentamente, voltando o olhar para o rosto dela.

— E.

Ele procurou seus olhos por um longo tempo antes de se curvar


para dar um beijo rá pido em sua bochecha. Depois de correr de volta
para pegar seu Americano, ele nã o parou na mesa novamente no
caminho para fora da porta.
Capítulo 24

NA NOITE SEGUINTE, no mercado, Jess ergueu os olhos da lista de


compras e percebeu que Juno ainda estava olhando para os oitocentos
metros de opçõ es de cereais.

— Joaninha, você pode escolher um? Ainda temos que dirigir para
casa, descarregar isso, levar você para o banho e para a cama. — Jess
olhou para o reló gio, temendo a quantidade de trabalho que ainda teria
que fazer quando chegasse em casa. Com suas noites subitamente
livres de River, ela deveria ter se recuperado, com muito tempo de
sobra. Mas nã o. Seu foco tinha sido terrı́vel, e quando ela nã o estava
ocupada icando triste e olhando para o nada, ela estava ajudando Juno
com o dever de casa ou, como mais cedo essa noite, indo para o centro
de reabilitaçã o fı́sica com Nana e Pop’s.

Juno olhou para as caixas coloridas, os olhos se estreitaram


enquanto ela considerava. Quando uma criança de sete anos ouve pela
primeira vez na vida que pode colher o cereal que quiser, é uma grande
decisã o.

— Hmm. — Ela bateu no queixo. — Cinnamon Toast Crunch parece


bom, mas Trix é frutado. — Ela pegou a caixa. — Vou com Trix.

— Você sabe que nã o é fruta de verdade, né ?

A ilha dela: sempre con iante.

— Sim, é . Olha, diz “sabores de frutas naturais”.

Jess guardou a liçã o sobre publicidade complicada para melhorar o


humor e jogou a caixa no carrinho.

Uma quantia chocante de dinheiro depois, elas estavam colocando


mantimentos no porta-malas quando o telefone dela tocou com um
nú mero desconhecido.
— Vá em frente e entre. Vou terminar — Jess disse a Juno, e
sinalizou que tinha uma ligaçã o. — Alô ?

— Jessie!

Uma mú sica minú scula encheu a linha e Jess olhou para o nú mero
novamente.

— Esta é a Jessica. Quem é ?

— Jessie? E a mamã e.

— Mã e? Eu mal posso te ouvir.

Ao fundo, o som de risadas embaralhadas e abafadas, e entã o Jamie


estava de volta, a linha mais silenciosa de qualquer sala para onde ela
havia se mudado. Ela soltou um escá rnio irritado e soou como se
estivesse falando com outra pessoa quando disse:

— Idiotas nã o recusariam.

Jess carregou a ú ltima bolsa e encostou-se na parte de trá s do


carro, ouvindo com atençã o.

— Você está usando o telefone de quem? Nã o reconheci o nú mero.

— Eu tenho um novo. Estava recebendo tantas ligaçõ es


indesejadas. Sempre.

O coraçã o de Jess afundou. Colecionadores de contas. Este foi o


terceiro novo nú mero de Jamie em tantos anos. E agora que Jess podia
ouvir melhor, ela registrou um murmú rio de initivo.

— Mã e, você está bebendo?

Seu Só um poquin saiu como uma sı́laba luida, o que signi ica que o
que ela disse a seguir nã o tinha credibilidade:

— Só cerveja. Nã o estou bê bada, no entanto. Eu prometo.


Fechando os olhos, Jess respirou fundo para se acalmar e, em
seguida, fechou o porta-malas. Tanto para icar limpa por dezoito meses.

— Escute, Jamie, saı́ com Juno e temos um carro cheio de


mantimentos. Eu tenho seu novo nú mero agora, entã o te ligo mais
tarde.

— Nã o, espere. Baby, eu preciso que você venha me buscar.

Jess trabalhou para manter o tom irritado de sua voz.

— Desculpe, nã o posso essa noite. Preciso levar Juno para casa e
tenho muito trabalho a fazer. Durma e falo com você amanhã . — Ela se
virou para pegar o carrinho de volta.

— Jessie, acho que estou com problemas.

Jess parou.

— Que tipo de problema?

— Com os policiais — disse ela, soando como se tivesse colocado a


mã o em concha ao redor do telefone. — Eu dirigiria até sua casa, mas
bebi um pouco e provavelmente nã o deveria.

Jess voltou para o carro.

— Mã e, você nã o pode vir à minha casa se a polı́cia estiver


procurando por você , você está falando sé rio agora?

— Isso é tudo que você tem a dizer? — perguntou sua mã e. — Você
nã o está nem um pouco orgulhosa de mim?

O queixo de Jess caiu e por alguns segundos ela honestamente nã o


tinha ideia do que dizer.

— Eu estou–? Por icar bê bada? Por ter um problema com a


polı́cia?
— Por nã o dirigir — Jamie retrucou. — Quer saber, nã o importa.
Vou esperar vinte minutos e depois dirigir.

— Mã e, espere. — Jess fechou os olhos e contou até cinco. O sol já
estava começando a se pô r. Nana e Pop’s tinham saı́do com alguns de
seus amigos da marinha; Fizzy tinha um prazo inal, e Jess nã o poderia
continuar correndo para ela de qualquer maneira. River – River estava
aparentemente fora de cena. Ela estava sozinha.

— Nã o dirija — disse ela. — Só ... me envia o endereço. Eu vou


agora.

O ENDEREÇO que Jamie enviou foi para a casa de sua amiga Ann
em Vista, a mais de meia hora de carro de distâ ncia. Jess conhecera
Ann algumas vezes e sabia que ela nã o era a pior dos amigos de Jamie –
ela era, a inal, responsá vel o su iciente para ter um lar está vel. Alguns
carros ocupavam a longa e larga entrada de automó veis – Jess nã o viu o
de Jamie, mas isso nã o signi icava nada – e o som do rock clá ssico
iltrado pelas janelas abertas.

— De quem é essa casa? — Juno perguntou, olhando atravé s do


pá ra-brisa para a casa de estuque laranja de dois andares. Ela torceu o
nariz. — Tem o cheiro daquela loja de quadrinhos que fomos.

Erva. Cheirava a maconha. Mas essa era a menor das preocupaçõ es


de Jess.

— E a casa da amiga da vovó Jamie. — Jess ajudou a ilha do banco


de trá s e pegou a mã o dela. — Quero que segure minha mã o o tempo
todo e nã o fale com ningué m. — Elas subiram a calçada, mas Jess
parou. Quem sabia o que encontrariam lá dentro? — Só – nã o olhe para
nada se puder evitar.

Juno acenou com a cabeça, segurando a mã o ú mida de sua mã e em


sua pequena mã o. Jess tentou esconder a maioria das coisas ruins de
sua ilha, mas Juno sabia o su iciente sobre Jamie para nã o fazer muitas
perguntas.

A porta da frente estava parcialmente entreaberta e Def Leppard


explodiu bruscamente na varanda da frente. Juno deu a sua mã e uma
carranca cautelosa antes de Jess empurrar a porta e dar um passo para
dentro.

— Olá ?

Jamie dobrou a esquina com um copo de lı́quido â mbar na mã o,


mas quando viu a ilha, ela imediatamente o colocou sobre uma mesa
desordenada. Ela estava descalça e usava um vestido de verã o que ia
até os joelhos; Jess reforçou seu aperto em Juno enquanto ela olhava
inquieta ao redor da sala. Havia um homem desmaiado em um sofá ,
uma mulher na cozinha andando ansiosamente enquanto murmurava
ao telefone.

Só Deus sabia o que estava acontecendo lá em cima.

— Pegue suas coisas, mã e. Hora de ir.

Jamie avistou Juno, e seu rosto se iluminou, os braços se abriram.

— Aı́ está minha garotinha. — Sua voz era muito alta, o sorriso
muito largo. — Dê um abraço na vovó . — Juno deu um passo para trá s,
envolvendo os braços em volta da cintura de Jess e se escondendo
atrá s de suas pernas. Abatida, Jamie se endireitou e voltou sua atençã o
para a ilha. — Nã o pensei que você estaria aqui tã o rá pido.

Jamie nã o parecia estar caindo de bê bada, mas sua pele estava
pá lida e vagamente suada. Ela balançou de onde estava. Como se lesse
os pensamentos de Jess, Jamie limpou, constrangida, o rı́mel manchado
sob os olhos e passou as mã os trê mulas pelos cabelos.

— Está tarde — Jess disse categoricamente. — E uma noite de


escola. Todos nesta casa provavelmente estã o bê bados ou drogados,
incluindo você .
— Por que você sempre pensa o pior de mim?

Jess nã o estava com humor para discutir. Pegando Juno, ela se
virou em direçã o à porta.

— Eu estarei no carro. Se você nã o estiver lá em trê s minutos, vou


embora sem você .

Quase exatamente trê s minutos depois, Jamie saiu, ainda descalça,


e subiu no banco da frente.

Ao passar na frente dos faró is, Jess pô de ver instantaneamente que
ela havia perdido peso. Jamie sempre foi magra, mas icava magra
quando estava usando drogas.

— Onde estã o seus sapatos? — Jess perguntou, colocando o carro


em marcha à ré e dando ré para fora da garagem.

Nã o que isso importasse; Jess nã o voltaria para pegar eles. Ela
desistiria de seus pró prios sapatos primeiro.

Jamie olhou para seus pé s sujos e franziu a testa.

— Oh... nã o tenho certeza.

Foi preciso muito esforço para Jess se concentrar em dirigir com


segurança. Ela estava tã o furiosa, tã o decepcionada, que teve medo até
de abrir a boca. Uma olhada no espelho retrovisor a tranquilizou de
que Juno estava assistindo a A Dama e o Vagabundo no iPhone de Jess,
os olhos pesados de exaustã o e os fones de ouvido bem colocados. Com
sorte, ela estaria dormindo antes mesmo de chegarem à rodovia.

Os quilô metros passaram em um silê ncio tenso enquanto se


dirigiam ao apartamento de Jamie mais para o interior – um novo
endereço há apenas alguns meses.

— Você nã o precisava ter vindo — Jamie inalmente disse,


claramente tentando suavizar as coisas sentando-se ereta e sé ria. Jess
raramente icava zangada com ela. Sua mã e havia se esquecido dos
feriados, a maioria das vezes perdia a formatura do colé gio e mentia
abertamente para Jess sobre sua sobriedade mais vezes do que ela
conseguia contar, mas Jess sempre deixava passar. Jamie era sua mã e.
Ela nã o tinha outra escolha.

Mas agora, Jess estava tã o cansada.

— Você me pediu para vir te buscar.

— Eu poderia ter ligado para um Uber ou algo assim pela manhã .

— Você disse que estava com problemas.

— Eu disse? — Jess exalou um luxo lento e calmante de ar. Nã o


valia a pena entrar nisso. — Você disse que está só bria há dezoito
meses, entã o o que está fazendo bebendo na Ann's?

— Eu bebi uma cerveja. — Jamie soltou uma risada curta e se virou


para a janela do passageiro. — Claro, para você isso estraga tudo. Você
é sempre tã o rá pida para julgar.

— Eu nã o estou julgando. Estou chateada por ter 150 dó lares em
mantimentos no meu porta-malas, incluindo coisas congeladas que
provavelmente estã o estragadas. Estou chateada por ter deixado tudo
para trá s, em vez de ter minha ilha dormindo em sua pró pria cama,
tive que arrastar ela para uma festa de drogas, e você nem consegue
ser franca comigo. O que está acontecendo? Como diabos você teve
problemas com a polı́cia?

— E um mal-entendido estú pido.

— Com quem?

— Skin Glow — disse Jamie. — Encomendei alguns produtos para


vender. Mas agora a dona diz que vai apresentar queixa se eu nã o pagar.
E ridı́culo. Como vou pagar a ela por um produto que ainda nem vendi?
— Produtos?

— Alguns cremes e soros, vitaminas. Esse tipo de coisa.

— Entã o, você comprou açõ es a cré dito e pagaria de volta com o


lucro, suponho?

— Sim.

— Mã e, tenho certeza de que tudo isso está nos termos de


qualquer acordo que você assinou para comprar.

Jamie balançou a cabeça.

— Quando fui para a entrevista, eles disseram que sou muito boa
em vendas e que deveria entrar no nı́vel Azul. E muito importante ouvir
isso, acredite em mim, e Trish entendeu que eu estava assumindo
muitos inventá rios. — Ela ergueu o queixo. — Mas eu tive muitas
pessoas que queriam comprar as coisas e muitas outras que estã o
interessadas em comprar, elas estã o apenas esperando para serem
pagas.

Jess sentiu que nã o conseguia respirar, como se soubesse o que


estava por vir, mas nã o queria ouvir.

— Algumas contas icaram um pouco à frente de mim, entã o usei o


dinheiro das minhas primeiras vendas para cobri-las. Eu estava
planejando pagar de volta. Eu só nã o tive a chance ainda, e ela está
sendo uma vadia sobre isso. Ela diz que relatará todo o inventá rio
como roubado. — Sua mã e semicerrou os olhos para ela, indignada. —
Você consegue acreditar nisso?

— Você encomendou um produto, vendeu alguns e usou o dinheiro


para suas contas em vez de pagar pelo produto que encomendou?

Jamie assentiu, voltando o rosto para a janela.


— Nã o é como se eu nã o fosse boa para isso. Se Trish con iava em
mim para entrar no nı́vel Azul, entã o por que ela nã o pode con iar em
mim para vender esses pedidos?

Jess apertou ainda mais o volante.

— Quanto? — Jamie nã o respondeu e um pavor gelado percorreu


sua pele. — Mã e, quanto você deve?

— Nã o sei. Tipo dez mil.

Jess icou boquiaberta com ela, os olhos arregalados de horror e


teve que desviar para permanecer em sua pista.

— Dez mil dólares?

Revirando os olhos, Jamie murmurou: — Lá vamos nó s.

— Você pediu dez mil dó lares em creme facial? Atacado?

Jess... nã o conseguia nem entender isso. E entã o ela percebeu.

Provavelmente Trish nã o era a ú nica pessoa a quem sua mã e devia
dinheiro.

— Você já tem dois crimes — disse Jess, e suas mã os tremiam no
volante agora. — A Califó rnia é um estado de trê s crimes. Você entende
o que aquilo signi ica? Se essa mulher prestar queixa, você pode ir para
a prisã o por 25 anos.

Jamie acenou para longe.

— Nã o vai chegar a esse ponto. Eu só tenho que pagar Trish de
volta.

— Mã e– como? Como você vai fazer isso?

Suas narinas dilataram-se e ela apertou a mandı́bula.


— Vou pagar com minha parte do produto que ainda tenho para
vender.

— Você realmente acha que pode vender dez mil dó lares em
produtos para a pele para seus amigos? — Jess olhou para ela e depois
de volta para a estrada. Os amigos de Jamie també m nã o tinham
dinheiro.

— Sim, isso nã o vai ser um problema, sé rio, todo mundo adora
essas coisas. Mas posso precisar que você me empreste para que eu
possa tirar ela da minha bunda...

Desviando os olhos da estrada novamente, Jess gritou: — O que


diabos te faz pensar que tenho tanto dinheiro por aı́?

Jamie a estudou astutamente. Depois de uma longa pausa, ela


disse:

— Achei que você poderia pedir ao seu novo namorado.

Jess se sentiu como se tivesse levado um soco no peito.

— O quê ?

— Eu vi o programa Today — Jamie teve a coragem de parecer


ferida ao olhar para a ilha. — O cara que começou aquela empresa que
vai ser um grande negó cio?

Jess teve que empurrar as palavras garganta acima.

— Eu nã o sei se ele e eu estamos–

— Você nem ia me contar. Provavelmente porque você presumiu


que eu apenas procuraria você em busca de dinheiro.

Ela olhou boquiaberta para o asfalto preto à frente, para a marca


de milha que ela passou, o sinal de limite de velocidade.

— Nã o é isso que você está fazendo?


— Nã o é uma esmola! Jesus Cristo, Jessica, estou falando em pagar
dentro de um mê s! Eu só preciso disso agora porque a porra da Trish
me encurralou! Ela nunca se atrasou em uma conta? Nã o é ?

Olhando para o banco de trá s, Jess icou aliviada ao descobrir que


Juno havia adormecido. Ela se virou e olhou para frente, piscando para
conter as lá grimas. Jess tinha o dinheiro. Ela o estava segurando por
colchetes, seguro e um dia chuvoso, mas ainda o tinha.

Por que você não pode ser apenas minha mãe?

— Está tudo bem — disse Jamie. — Vou resolver alguma coisa ou


vou para a prisã o, mas de qualquer forma nã o é problema seu.

Jess piscou para o espelho novamente. A boca de Juno estava


suavemente aberta, sua cabeça balançando suavemente com os
pequenos solavancos na estrada. Jess nã o podia continuar fazendo
isso.

— Vou te dar o dinheiro.

O rosto de Jamie virou-se para Jess.

— Você vai? Eu vou te pagar de volta com meu primeiro cheque.


Estou te dizendo, Jessie, antes de tudo isso acontecer, Trish disse que
nunca tinha visto ningué m vender como eu.

Ela entrou no complexo de apartamentos que o fazia parecer um


palá cio e estacionou na primeira vaga vazia que encontrou.

— Nã o me pague de volta — Jess disse categoricamente. — Estou


dando isso para você . Mas depois que eu izer isso, nã o quero que você
me ligue mais e nã o quero que você apareça.

— O que? Por que–

— Vou transferir o dinheiro, mas acabou. Nã o quero nunca mais


ver você .
O carro parou e o silê ncio se estendeu entre elas. Jess nã o tinha
ideia do que mais dizer. Jamie pagaria suas dı́vidas ou pegaria o
dinheiro e fugiria?

Honestamente, nã o importava. Jess estava farta.

Jamie olhou para a neta no banco de trá s, e seu olhar parecia


só brio ao passar pelo rosto adormecido de Juno.

Resolvida, ela se virou.

— Você ainda tem o nú mero da minha conta?

Tristeza e alı́vio trançaram quentes e doloridos pelos membros de


Jess.

— Sim.

Sua mã e acenou com a cabeça e lentamente olhou para frente


novamente.

— Ok. — Seus dedos envolveram a maçaneta da porta. — Ok. — Ela


a abriu e saiu para a escuridã o.
Capítulo 25

SURPREENDENTEMENTE, O MUNDO nã o parou de girar quando


Jess cortou relaçõ es com sua mã e.

Juno e Jess se levantaram na manhã seguinte e se prepararam em


um ritmo doce e fá cil. Juno parecia saber ser carinhosa com a mã e e
nã o precisava ser lembrada de se vestir, levar pratos para a cozinha ou
escovar os dentes.

Ela segurou a mã o de Jess por todo o caminho até a escola.

— Estava pensando que poderı́amos sair para jantar hoje à noite,


— disse Jess, — só eu e você . Algum lugar especial.

Com um aceno entusiasmado, Juno se esticou, beijando a bochecha


de Jess, e entã o saiu correndo para se encontrar com suas amigas.

Jess a observou até que o sinal tocou e Juno desapareceu em sua


sala de aula. Depois de transferir o dinheiro, Jess teve que se lembrar
que ainda estava melhor do que antes de toda aquela loucura começar.
Ela tinha novos clientes, nova visibilidade. Ela poderia se reconstruir.

Ela estava muito melhor do que poderia, ela sabia. Alé m disso, ela
tinha uma ilha incrı́vel pra caralho.

SEIS DIAS DEPOIS, Fizzy choramingou melancolicamente em seu


fone de ouvido extravagante:

— Esta con iguraçã o nã o parece a mesma.

Jess olhou para a imagem carrancuda de Fizzy no Zoom em seu


iPad.
— Bem, é o melhor que você consegue. Você disse que nã o queria
voltar.

— Eu sei, mas... você nã o sente falta de Daniel?

— E um bom café e um Wi-Fi con iá vel? — Jess respondeu. — Sim,


claro que eu sinto.

Outras coisas que Jess perdeu:

O namorado dela.

Seu bom humor.

Os dez mil dólares que estavam em sua conta alguns dias atrás.

A possibilidade de que sua mãe mudasse.

Fizzy rosnou novamente e desapareceu de vista quando, presumiu


Jess, ela saiu para preparar outra xı́cara de café medı́ocre.

Trê s coisas que Fizzy a lembrava constantemente agora que eles


pararam de ir a Twiggs:

1. Ela odiava café em gotas, mas tinha preguiça de pegar até


mesmo um Nespresso bá sico.

2. O Wi-Fi dela era pé ssimo.

3. A falta de observaçã o de pessoas matou seu encanto fofo.

Mas, embora o café de Jess també m fosse menos satisfató rio do


que um Twiggs lat white, e ela tivesse di iculdade em se concentrar no
trabalho em sua mesa de jantar, ela nã o conseguia encontrar forças
para voltar para Twiggs e ingir que nã o havia um milhã o de memó rias
impressas em cada superfı́cie arranhada. Twiggs foi onde ela conheceu
River, onde ela primeiro recebeu a noti icaçã o de DNADuo, onde ela o
viu pela ú ltima vez, e – o mais importante – onde ela absolutamente
nã o queria correr o risco de topar com ele à s 8h24 da manhã de um dia
da semana.

Embora, para ser totalmente franca, seria mais difı́cil se Jess


descobrisse que ele també m nã o iria mais a Twiggs. Que ele havia
apagado cada pedacinho de sua histó ria compartilhada
completamente.

E nã o era como se Fizzy estivesse realmente pressionando para


voltar. Rob espalhou suas vibraçõ es de trapaceiro nojentas por toda a
mesa antes de Fizzy o encharcar com á gua gelada. Deus, Twiggs tinha
sido contaminado pelos fantasmas de suas antigas personalidades
despreocupadas. As que, dois meses antes, cobiçavam alegremente o
Americano, fofocavam impunemente, nã o tinham o coraçã o partido.
Jess sentia falta de ser uma dessas mulheres.

Mas trabalhar em casa nã o era de todo ruim. Jess estava


economizando dinheiro e poderia até perder alguns quilos sem sua
ingestã o diá ria de muf ins de mirtilo. Ela poderia trabalhar em casa
com a porta de tela aberta, vestindo uma camiseta e sem calça porque
estava quente lá fora. Ela poderia estar ao lado de Nana Jo em vinte
segundos (depois de colocar as calças) se necessá rio.

Jess e Fizzy ingiram que estavam sentadas à mesa juntas; elas


tentaram trabalhar juntas pessoalmente, mas acabaram no sofá
assistindo Net lix depois de cerca de meia hora. O Zoom era melhor
para os prazos.

Seu telefone apitou na mesa, e ela olhou para a noti icaçã o do Wells
Fargo assim que Fizzy retornou.

Fizzy se acomodou em sua cadeira e ajustou a tela.

— Que cara é essa?

— Provavelmente o banco da minha mã e aceitando o… — Jess fez


uma pausa e se abaixou para olhar mais de perto. Um arrepio
percorreu seu corpo. — Hum, nã o. Sou eu reagindo aos dez mil dó lares
sendo depositados na minha conta.

— Reembolso de imposto? — Fizzy contraiu o rosto, sem entender.

Jamie recusou o dinheiro? Jess abriu o aplicativo e sentiu o coraçã o


apertar.

— Oh. E um pagamento da GeneticAlly.

Fizzy icou quieta do outro lado da tela, os olhos arregalados.

— Caramba. — E entã o sua sobrancelha clareou. — Mas... um


momento conveniente?

Olhando para ela, Jess estremeceu.

— Eu nã o posso icar com isso.

— O inferno que você nã o pode — Fizzy respondeu. — Você


manteve sua parte no negó cio.

Jess sabia que Fizzy estava certa, mas nã o tinha certeza se isso
importava. Pelo menos para ela.

— Será que River sabe que a empresa ainda está me pagando?

— Talvez esse detalhe tenha se perdido no escâ ndalo — Fizzy


murmurou, soprando em seu café quente.

— Quã o embaraçosa seria essa conversa? — ela perguntou. — “Eu


sei que você está me evitando, mas eu só queria enviar mais uma nota
para agradecer por continuar a me pagar para ser sua namorada. E
bom estar com o coraçã o partido, em vez de estar só com o coraçã o
partido e pobre”.

O que sua melhor amiga poderia dizer sobre isso? Entã o, de


coraçã o partido para coraçã o partido disse apenas: — Sinto muito,
querida.
Jess quase pulou da cadeira quando uma batida forte bateu na
porta de tela, chocantemente alta, seguida por uma voz profunda e
cheia de fumaça.

— Ei-ei, Jess.

— Ai meu Deus — ela assobiou. — O cara dos Correios está aqui


para uma coleta e eu nã o estou usando calças.

Fizzy pegou seu caderno, sussurrando baixinho enquanto anotava:

— Cara dos Correios... sem... calças.

Jess puxou a blusa até a altura das coxas, agarrou o envelope de


remessa da mesa e foi até a porta.

Pat – agora com cinquenta e poucos anos, olhos gentis e rugas


profundas de anos de exposiçã o ao sol – era o mesmo entregador que
eles tiveram por quase uma dé cada. Ele desviou o olhar assim que
registrou que Jess estava escondendo sua metade inferior atrá s da
porta, e Jess entregou a ele o envelope com os contratos assinados para
Kenneth Marshall.

— Desculpa — ela murmurou. — Vamos ingir que isso nunca


aconteceu.

— Combinado. — Ele se virou e desceu o caminho até o portã o.

— Talvez estar longe de Twiggs nã o seja tã o ruim para minha
inspiraçã o — Fizzy disse quando Jess voltou para a mesa. — Esse pode
ser o melhor começo para uma histó ria que tive em algumas semanas.
Talvez eu inalmente consiga escrever algo diferente de cenas de sexo
que fazem a transiçã o para uma lesã o peniana agressiva e intencional.

— Por favor, nã o escreva um romance estrelado por mim e Pat.

— Você sabia que os paus podem ser fraturados e estrangulados?


— Fizzy fez uma pausa. — Mas nã o procure no Google.
— Fizzy, eu juro que vou–

Se possı́vel, Jess se assustou ainda mais quando a segunda batida


veio. Eu esqueci de colar a etiqueta? Derrotada, ela gritou:

— Pat, espere um pouco, eu preciso colocar as calças.

Uma voz baixa e tranquila ressoou por sua espinha.

— Quem é Pat?

Os olhos de Jess se arregalaram e ela se virou para icar


boquiaberta com Fizzy na tela.

— O que? — Fizz sussurrou, inclinando como se pudesse ver


atravé s de sua tela para a porta, movendo-se tã o perto que seu nariz e
boca apareceram. — Quem é esse?

— River! — Jess sussurrou e gritou.

Fizzy se inclinou para trá s e fez um movimento de enxotar com a


mã o, sussurrando:

— Vai!

— O que eu falo? — Jess assobiou.

— Faça ele falar! — Ela fez sombra em sua cadeira e se esqueceu


de sussurrar o resto: — Foda-se ele! Diga a ele que eu disse!

River pigarreou e disse um seco: — Oi, Fizzy — pela porta de tela.

— Ah, ótimo. — Rosnando para ela, Jess se levantou, foi até a porta
e a abriu.

River olhou para o rosto dela e, em seguida, baixou os olhos antes


de olhar imediatamente para cima. Um rubor quente subiu por seu
pescoço. Certo. Calças. E enquanto eles se encaravam, River fez um
grande esforço para nã o deixar seus olhos caı́rem abaixo de seus
ombros novamente.

Ou... talvez nã o fosse valente. Talvez nã o tenha sido nada difı́cil.
Talvez para ele, desligar os sentimentos fosse como desligar o
interruptor no inal de um experimento.

Pontuaçã o acima de noventa: juros sobe.

Pontuaçã o desconhecida: juros fora.

— Oi — disse Jess. Bem, mesmo que ele pudesse calar seus


sentimentos, o mesmo certamente nã o era verdade para ela.

Na verdade, seu amor por River de alguma forma se solidi icou em


um tijolo em seu peito: se ela nã o estava realmente apaixonada por ele,
entã o por que chorava até dormir todas as noites? Por que ele era a
primeira pessoa que ela queria abraçar quando inalmente chegou em
casa depois de deixar Jamie na outra noite?

Mas ao ver ele – como Jess poderia imediatamente dizer que ele
cortou o cabelo recentemente, como ele ainda era o homem mais lindo
que ela já tinha visto, mesmo com as olheiras, e como estar tã o perto
dele ainda fazia uma corda de desejo se esticar da garganta ao
estô mago – a tristeza se dissipou e ela icou com raiva. Mais do que
brava, Jess estava puta. Fazia oito dias. Oito dias de silê ncio completo
de algué m que disse a ela que nã o se sentia como se estivesse em casa
desde sempre, até que a conheceu. Algué m que a beijou como se
precisasse dela para respirar. Que disse “eu te amo” do nada e nã o
tentou voltar atrá s. E entã o ele foi embora.

— O que você está fazendo aqui?

Sua mandı́bula cerrou e ele fechou os olhos, engolindo em seco.

— Você ... quer colocar uma calça?


Jess o encarou, muda de choque. Essa foi a primeira coisa que ele
disse? Vai se vestir?

Honestamente, ser confrontado com a versã o arrogante e idiota de


River tornou muito mais fá cil diminuir o amor e aumentar o ó dio.

— Nã o. — Jess esperou que ele olhasse para o rosto dela


novamente e colocou a mã o em seu quadril, ignorando
deliberadamente quando sua camisa se levantou. — O que você está
fazendo aqui?

River exalou tremulamente, piscando para o lado e entã o olhando


para ela.

— Você se importa se eu entrar?

Seu primeiro instinto foi dizer que ela se importava. Ela se


importava muito, na verdade, porque ter ele em seu espaço a faria
lembrar que ele começou a tratá -lo como seu espaço també m. Ela jogou
fora o desodorante que ele deixou em seu banheiro, as meias que ela
pescou do cesto de roupa suja, o leite de aveia que ele guardou em sua
geladeira. Mas ela sabia que eles precisavam ter essa conversa. Eles
tinham que terminar, o icialmente.

Dando um passo para o lado, Jess o deixou entrar e entã o se virou e


caminhou pelo corredor, gritando: — Fique aı́.

Quando ela voltou, ela estava usando calças, mas seu humor, de
algum jeito, havia piorado. Passar pelo quarto de Juno foi como
derramar suco de limã o em um corte. River nã o tinha simplesmente
desaparecido da vida de Jess; ele tinha desaparecido da vida de sua
ilha també m. Sua garotinha, que nunca foi deixada antes, havia
perdido duas pessoas em uma semana. Seria bater abaixo da cintura
contar a ele que Juno pediu para ver River nada menos do que quatro
vezes? Jess se repreendeu por contar a Juno sobre o relacionamento
deles.
Jess o encontrou empoleirado na borda da almofada do sofá , as
mã os presas entre os joelhos. Ele olhou para ela e pareceu relaxar um
pouco, os ombros caindo.

— Por que você está aqui, River?

— Eu esperava que pudé ssemos conversar. — Ele disse como se


fosse ó bvio, mas ele estava brincando?

Seu queixo caiu.

— O que você acha que eu estava tentando fazer quando liguei


para você na semana passada? Quando eu mandei uma mensagem?
Você nunca respondeu.

Ele respirou fundo e soltou o ar lentamente.

— Eu nã o estava pronto.

— Oh? — ela disse em choque silencioso. — Eu estava aqui


perdendo totalmente a cabeça pensando que tı́nhamos acabado. Eu
estava com o coraçã o partido, River. Devo me sentir melhor ao ouvir
que você nã o ligou porque nã o estava pronto para ter uma conversa
relativamente simples?

— Jess, por favor. Você disse que era muito para digerir també m.
Eu estava mergulhado em dados até o pescoço. E quando você nã o
ligou de novo, eu... eu nã o tinha certeza se você precisava de espaço.

— Nã o me torne a vilã aqui. — Ela imediatamente apontou o dedo


para ele. — Eu entendo que isso assustou você –

Seus olhos brilharam quando ele interrompeu.

— E você ?

— Claro que eu també m. També m me assustou!

— Nã o é a mesma coisa — ele disse, a voz a iada.


— Talvez nã o, mas você nã o tinha o direito de me largar do jeito
que fez.

— O que? — Seus olhos se arregalaram. — Eu nã o terminei com


você .

— Veri icaçã o da realidade: quando algué m ica completamente


em silê ncio por oito dias, nã o é porque está planejando um grande
gesto elaborado. — Cruzando os braços, Jess se encostou na parede. —
E você sabe disso, River. Sei que sou fá cil de abandonar, mas esperava
que você fosse melhor do que isso.

Ele parecia ter levado um soco.

— Você nã o é “fácil de abandonar”. Nada disso foi sobre meus


sentimentos por você. Eu estava totalmente destruı́do com o trabalho,
preocupado que terı́amos que divulgar a violaçã o, preocupado que
toda a minha empresa fosse à falê ncia.

Jess desviou o olhar, apertando a mandı́bula enquanto lutava para


nã o chorar. Ela estava sendo injusta? Seu mundo inteiro desmoronou,
mas ela só podia se concentrar em todos os estilhaços que ele deixou
nela.

— Eu entendo isso, mas nã o torna meus sentimentos menos


vá lidos — ela disse, tomando cuidado para evitar que sua voz
tremesse. — Eu tive uma semana realmente pé ssima. Eu precisei de
você . Mesmo que você també m estivesse passando por isso, eu
precisava de você . E você nã o consegue fazer isso, sabe? Apenas
desaparecer? Lembre-se disso na pró xima vez, com a pró xima mulher.
Se você disser sentimentos como “amor”, você deve a ela mais do que
me deu essa semana.

Ele a olhou confuso por alguns longos momentos antes de se


curvar e colocar a cabeça entre as mã os.

— Eu sei que isso nã o muda nada, — disse ele calmamente, — mas
me senti despedaçado. — Ele nã o se moveu por vá rios longos
momentos. — Eu estava totalmente humilhado, Jess. Sim, sã o apenas
dados, mas foi a coisa mais cruel que eles poderiam ter feito. Pessoas
que conheço e em quem con io há quase quinze anos se aproveitaram
de minha crença genuı́na nessa tecnologia. Eles me manipularam
pessoalmente e ao projeto em que passei toda a minha vida adulta –
porque sabiam que, se eu conseguisse aquela pontuaçã o, faria tudo ao
meu alcance para explorar as implicaçõ es pessoais disso. — River
ergueu os olhos para ela e Jess viu que os olhos dele estavam
avermelhados. — Fui esmagado como cientista e enganado como
homem. Eu senti como se o mundo inteiro estivesse — ele tossiu —
rindo de mim.

— Eu nã o estava rindo de você — Jess o lembrou. — Já é ramos


muito mais do que um nú mero em um pedaço de papel. E se você
tivesse vindo para mim, você teria algué m ao seu lado, pronto para
lutar contra qualquer um que te machucasse. Pronto para lutar por
você .

— Eu nem sabia como entender isso em minha pró pria mente. Eu...
eu... — Ele lutou para encontrar as palavras, sentando-se e olhando
para ela com seriedade. — Fiquei dias sem sair do escritó rio. Analisei
cada linha de dados de cada Gold Match ou superior que tivemos.
Sanjeev e eu re izemos as amostras vinte e quatro horas por dia para
ter certeza de que a empresa nã o teria que fechar.

— Você ainda poderia ter ligado.

Ele abriu a boca para se defender e entã o exalou, inclinando o


rosto para o teto antes de encontrar os olhos dela.

— Eu poderia. Eu deveria ter ligado. Sinto muito, Jess. O tempo voa


para mim quando estou assim. Mas eu só estive em casa para tomar
banho e me trocar.

Ela nã o pode evitar, mas deixou seu olhar subir, estudando seu
novo corte de cabelo.
Ele balançou a cabeça, entendendo imediatamente.

— Cortei o cabelo um pouco antes de vir ver você .

— Para que você pudesse icar bonito para o nosso té rmino?

De repente, River se levantou.

— E isso que você pensa que é ?

Jess soltou um suspiro a iado.

— Desculpa, o que?

— Estamos terminando? — ele perguntou, a voz irme.

— Quais sã o as outras opçõ es? — Ela ingiu veri icar o reló gio. —
Quero dizer, é um pouco tarde para o nosso encontro sexual em pé , e
tem sido uma semana estranha, mas por que nã o, como nos velhos
tempos?

— Jess, — ele murmurou, — para com isso.

Ela cruzou a sala e icou bem na cara dele.

— Você para com isso. Por que você está mesmo aqui? Eu entendo
que você precisava de espaço. Mas eu me apaixonei por você . Juno se
apaixonou por você . — Ele reagiu como se tivesse levado um empurrã o
no estô mago e Jess empurrou. — Você sabe o que isso signi ica? — Ela
pressionou as pontas dos dedos contra o peito, morti icada quando sua
garganta começou a queimar. — Eu abri minha vida para você . Eu dei a
você o poder de acabar comigo se você desaparecesse, e você sabia
disso, e fez isso de qualquer maneira. Eu entendo que você també m
estava lutando. Mas apenas uma palavra – uma mensagem – e eu teria
esperado.

Ele esfregou as mã os no rosto.


— Eu gostaria de ter lidado com isso de forma diferente. Eu
estraguei tudo.

— Você estragou.

— Eu sinto muito. — Ele abaixou a cabeça. — Eu nã o sabia como


você se sentiria uma vez que nã o fosse obrigada a icar comigo.

Isso a surpreendeu.

— River, eu nunca me senti obrigada a estar com você . Nã o do jeito


que está vamos juntos no inal.

Ele deu um passo mais perto, rosnando: — Pare de chamar isso de


inal.

— Eu nã o entendo o que você acha que está acontecendo aqui!


Você nã o pode sumir da face da terra por uma semana e depois agir
confuso.

— Você se lembra do que me disse da ú ltima vez que nos vimos? —


ele perguntou, fechando a distâ ncia entre eles. — Você disse: “As
estatı́sticas nã o podem nos dizer o que vai acontecer, eles podem
apenas nos dizer o que pode acontecer.” E você estava certa. Um
Diamond Match é tã o raro que duas pessoas aleató rias tê m dez mil
vezes mais chances de encontrar sua alma gê mea com um match de
base do que de marcar acima de noventa com outra pessoa.

— Eu poderia ter te dito isso — disse Jess baixinho, acrescentando


com um sorriso relutante — E aposto que você nem mesmo usou a
aná lise certa para calcular.

Ele riu secamente.

— Acho que precisava ver por mim mesmo.

Jess nã o pô de deixar de lançar um olhar exasperado para ele.


Timidamente, ele sorriu. Mas diminuiu em face de seu silê ncio
pedregoso.

— Você realmente quer terminar?

Jess nã o tinha ideia do que dizer sobre isso. Ela nã o esperava ter a
opçã o. Ela pensou que era um negó cio fechado.

— Eu não quero, mas, quero dizer–

— E um sim ou nã o — disse ele, mas gentilmente, estendendo a


mã o para pegar a mã o dela. — E para mim a resposta é nã o. Eu te amo.
Eu amo Juno. Eu precisava colocar minha cabeça no lugar, mas assim
que consegui, a primeira pessoa com quem eu queria falar era você .

— Cerca de uma semana atrá s, — disse Jess, — minha mã e ligou.


Ela estava bê bada na casa de um amigo em Vista. Tive que dirigir para
buscar ela em uma noite de escola, entrar em uma casa cheia de gente
fodida com minha ilha de sete anos e dar à minha mã e dez mil dó lares
para que ela pudesse evitar ser presa por roubar uma grande
quantidade de mercadoria.

River empalideceu.

— O quê ?

— Eu disse a ela que, se eu desse o dinheiro, ela nunca mais


deveria entrar em contato comigo ou com Juno. Quando eu cheguei em
casa para colocar minha cabeça no lugar, a primeira pessoa que eu
queria falar era você . Mas eu nã o tive essa opçã o.

Para seu cré dito, River nã o estremeceu, franziu a testa ou


tensionou a mandı́bula defensivamente. Ele apenas engoliu em seco,
acenou com a cabeça uma vez e o absorveu.

— Eu deveria estar aqui. Eu odeio nã o estar.


— Como posso saber que você vai estar aqui da pró xima vez? —
ela perguntou. — Eu entendo que isso foi terrı́vel para você . Posso
imaginar como você nem olha para cima quando está em pâ nico no
trabalho. Mas eu realmente queria ser a pessoa para quem você recorre
durante tudo isso. E você mesmo me disse uma vez: Coisas ruins
acontecem o tempo todo. Isso é a vida. Entã o, se algo grande acontecer
no trabalho, e você nã o souber como processar, devo me preocupar se
você vai se isolar e nã o falar comigo por oito dias?

— Nã o. Eu vou trabalhar nisso. Eu prometo.

Jess olhou para ele. Olhos escuros, cı́lios grossos, boca carnuda.
Aquele pescoço liso que ela fantasiava lamber e morder seu caminho
até as clavı́culas mais musculosas do mundo. Dentro daquele crâ nio
estava um cé rebro de gê nio, e – quando ele saiu do laborató rio para
respirar – River Peñ a tinha a profundidade emocional de um homem
que já viveu uma vida inteira. Ele falava de estatı́sticas com ela, e o
coraçã ozinho que assistia a histó rias com sua abuela ainda batia em
seu peito. Ele me ama e ama minha ilha.

— També m nã o quero terminar — Jess admitiu.

Ele abaixou a cabeça, exalando lentamente.

— Oh meu Deus. Eu realmente nã o tinha certeza de que caminho


isso iria tomar. — Alcançando Jess, ele segurou sua nuca e gentilmente
a guiou para frente, para dentro dos seus braços. — Puta merda, sobre
sua mã e. Eu... essa é uma conversa mais ampla, eu sei.

— Mais tarde — Jess disse, se afastando e apoiando a mã o em seu


peito. — A empresa está falindo?

Ele balançou sua cabeça.

— No inal, eles apenas forjaram o nosso teste. Todo o resto é


reproduzido dentro da margem de erro padrã o.

A pró xima pergunta de Jess surgiu, trê mula, e veio à tona.


— Você já executou nossas amostras juntas?

— Eu iz. — Alcançando o bolso do blazer, ele puxou um pequeno


envelope lacrado. — Para você .

Uma potente mistura de medo e excitaçã o a percorreu.

— Você sabe qual é a resposta?

Ele encolheu os ombros, sorrindo.

— Isso é um sim ou um nã o?

Assentindo uma vez, River admitiu:

— Eu nã o con iava em ningué m para comandar, mas temia que


algué m o izesse, eventualmente, por curiosidade.

Mordendo o lá bio, ela lutou na batalha interna. Ela deveria olhar?
Ela nã o deveria? Com a voz tensa, Jess disse a ele:

— Eu nã o me importo qual é a nossa pontuaçã o. Eu nunca me


importei.

Ele riu.

— Portanto, nã o olhe.

— Você se importa com a nossa pontuaçã o?

River balançou a cabeça lentamente.

— Nã o.

— E fá cil para você dizer isso porque você já viu. — Ela fez uma
pausa. — Isso signi ica que é ruim?

Ele balançou a cabeça novamente.

— Nã o.
— E algo selvagem? Como o noventa e oito estava realmente certo?
— Ele fez uma pausa, mordeu o lá bio e balançou a cabeça lentamente
pela terceira vez. Jess soltou um suspiro de frustraçã o. — Você se sente
melhor com isso agora?

— Jess, — ele disse gentilmente, — tudo que você precisa fazer é


abrir o envelope para saber.

Ela fechou os olhos com força.

— Eu nã o quero. Eu entendo que você precisava ver os dados, mas


odeio que você precise ver para me escolher.

Ele reagiu rapidamente, passando o braço pela cintura dela.

— Eu nã o precisei. Eu estou dizendo a você ; essa pontuaçã o nã o


importa para mim. Eu te amo porque te amo, quer deva ou nã o.

Jess apertou os olhos para ele, separando essas palavras.

— Ok, vou presumir que somos um match de base.

Ele acenou com a cabeça, satisfeito, e guardou o envelope.

— Soa bem.

— Nó s somos?

River sorriu, dizendo: — Nã o — e ela rosnou.

A expressã o dele se suavizou, e ele olhou para a boca dela e entã o


de volta para os olhos dela.

— Você quer que eu diga a você ou nã o?

— Não. Você sabe o que nó s, estatı́sticos, dizemos: todos os


modelos estã o errados, mas alguns sã o ú teis. — Ele riu. — Nã o quero
saber o placar, River.
— Eu nunca vou oferecer novamente. — Ele deu um passo à frente
e passou o outro braço em volta da cintura dela. — Posso fazer isso?

Jess assentiu, olhando para ele por entre os cı́lios. Era tã o bom ter
ele tã o perto. Quando ela fechou os olhos, ela foi capaz de se concentrar
no desejo vibrando em seu sangue como uma droga. Eles tinham horas
antes de Juno voltar para casa.

Ela estendeu a mã o e passou a mã o pelo peito dele, ao longo do


pescoço, e traçou o lá bio inferior com o polegar.

— Eu nã o posso acreditar que você está aqui.

— Senti a sua falta.

— Eu estive aqui o tempo todo. — Ela beliscou suavemente o


queixo dele.

— Estou me sentindo incrivelmente pegajoso. — River se curvou e


pousou os lá bios nos dela. — Eu amo você .

A emoçã o brotou em sua garganta, e Jess colocou os braços em


volta do pescoço.

— Eu també m te amo.

— Para sua informaçã o, — disse uma voz desencarnada do iPad, —


se você s acham que nã o escrevi cada palavra disso, você s dois estã o
chapados.

COM UM SORRISO, River se virou e foi até o iPad, encerrando a


reuniã o do Zoom com um toque rá pido de um dedo. Quando ele olhou
para Jess, seu sorriso imediatamente assumiu um tom voraz.

— Acho que nã o fui o ú nico que esqueceu que ela estava ali.
O “desculpe” de Jess se dissolveu entre eles enquanto River se
aproximava dela, o olhar escurecendo; a adrenalina derramou quente e
insistente em sua corrente sanguı́nea. Deslizando os braços em volta
da cintura dela, ele se inclinou para beijar seu pescoço.

— O que há entre nó s e o pú blico?

— Nã o sei, mas estou feliz por nã o termos um agora. — Ela fechou
os olhos, focada nos beijos doces e minú sculos que ele deu em sua pele,
da clavı́cula até o queixo.

Curvando e alcançando a parte de trá s de suas coxas, River a


ergueu, envolvendo as pernas em sua cintura para carregá -la pelo
corredor.

— Está tudo bem?

— Se por “tudo bem” você quer dizer transar sem ilhos em casa,
entã o sim. Está tudo muito bem.

Enquanto ele caminhava, seus beijos assumiam o tipo de


intensidade de lá bios machucados e doloridos que dizia a Jess, ainda
mais do que suas palavras, o quanto ele sentia falta dela. Mas quando
ele a colocou na cama, e se apoiou sobre ela daquele jeito faminto dele,
ele ergueu uma mã o gentil para tirar alguns ios de seu cabelo de seu
rosto e disse:

— Nó s nunca realmente conversamos sobre isso – isso era tã o sem
importâ ncia na é poca, mas nã o estive realmente em um
relacionamento desde que fundamos o GeneticAlly.

Jess se empurrou de volta no travesseiro, olhando para ele.

— Sé rio?

River concordou.
— Trabalho era tudo — ele disse cuidadosamente. — Eu
simplesmente nã o estava emocionalmente envolvido em nenhum
outro lugar. Até você . Entã o, eu sei que nã o é uma desculpa, mas agora
eu sei que devo estar ciente se tivermos outra crise de trabalho. — Ele
fez uma pausa, reconsiderando. — Quando tivermos outra crise de
trabalho. Eu voltei para aquele modo tã o rá pido que todo o resto caiu.
Até essa manhã , pensei que se passaram apenas dois ou trê s dias
desde que nos falamos.

Jess teve que parar para absorver isso.

— Por que você nã o me disse isso no segundo em que entrou pela
porta?

— Eu queria seu perdã o antes de me defender.

Ela estendeu a mã o, colocando-a em volta do pescoço dele e


puxando-o para ela. Seu beijo começou lento, seus lá bios absorvendo
sua exalaçã o de alı́vio, mas entã o ele se abriu para prová -la.

A provocaçã o de lerte lembrou Jess muito de como foi fazer amor


com ele, como ele poderia ser mandã o e doce em um equilı́brio quase
impossı́vel. As mã os dela icaram gananciosas, movendo por baixo das
roupas dele, empurrando-as. Ela queria sua pele contra a dela, suave e
quente com a fricçã o. Eles chegaram lá rapidamente, nus juntos em um
raio de sol da tarde passando por sua cama. River alcançou com um
braço comprido a mesa de cabeceira dela e entã o se ajoelhou na frente
dela, rasgando a embalagem do preservativo com os dentes.

Jess arrastou os dedos sobre o pró prio estô mago, mordendo o


lá bio enquanto olhava.

— Eu realmente gosto de assistir você fazer isso.

Ele sorriu para suas mã os.

— Sim? — E entã o ele se mexeu, apoiando a palma da mã o perto


de sua cabeça e se inclinou, beijando-a. — Acho que pre iro ver você
fazer isso.

Seu sorriso persistiu – brincalhã o e sedutor – e aquela pulsaçã o


familiar e carregada ecoou nela como um segundo batimento cardı́aco.
Com foco duradouro, River se moveu, provocando a princı́pio, olhando
paralisado para a expressã o de felicidade em seu rosto. Ele a observou
cair e entã o, exalando um suspiro de descrença, virou o rosto para o
teto e a seguiu para o prazer.

Ele icou sobre ela por um longo tempo, os braços prendendo-a


protetoramente, o rosto pressionado contra o pescoço dela. Assim que
os dois recuperaram o fô lego, ele lidou com a camisinha e voltou
exatamente para onde estava.

Jess nunca teve isso antes: algué m que era, sem dú vida, dela. Ela o
segurou com os braços em volta de sua cintura e as pernas
preguiçosamente ao redor de suas coxas, se apaixonando sem
palavras.

O que signi ica que eles acordaram assim um bom tempo depois,
duros, com calor e gemendo. River rolou para longe, caindo de costas e
alcançando a nuca rı́gida. Ao lado dele, Jess tentou endireitar as pernas,
choramingando.

— Eu nã o quero parecer paranoica, — ela disse, — mas eu juro que


algué m deve ter nos atingido com um dardo de relaxante da minha
porta. Nó s literalmente desmaiamos.

Ele riu.

— Eu nã o cochilo assim desde que estava no jardim de infâ ncia. —


Rolando para ela, ele a puxou para perto novamente, com olhos doces e
sonolentos. — Acho que nossos corpos precisavam que nossos
cé rebros desligassem por alguns minutos.

— Eu acho que você está certo. — Jess o beijou, incapaz de fechar


os olhos. Ela pensou que já se sentia segura nisso antes, mas o amor
que eles acabaram de fazer cimentou algo diferente entre eles. Com a
ponta do dedo, ela traçou a forma de sua mandı́bula, sua boca, e entã o
um pensamento lhe ocorreu. — Posso te perguntar algo sobre a
empresa, ou você quer icar na bolha um pouco mais?

— Eu pretendo viver nesta bolha com você , entã o pergunte o que


quiser. Nã o vai prejudicar meu encanto de Jess.

Ela sorriu, mas entã o desapareceu.

— O que está acontecendo com sua equipe executiva?

— David e Brandon se foram. O conselho os demitiu no mesmo dia


em que te vi em Twiggs. Tiffany també m.

Jess engasgou.

— Ela sabia?

— Acho que ela teve que fazer isso — disse River, e estendeu a mã o
para esfregar os olhos. — Os ú nicos que sobraram da equipe original
sou eu, Lisa e Sanjeev. — Quando ele puxou a mã o, ele olhou para ela,
desprotegido, e Jess teve um vislumbre de como ele estava exausto. —
Trouxemos um geneticista da UCSD e o chefe de quı́mica da Genentech
para fazer parte do conselho interino. Fui promovido a CEO. Sanjeev se
tornará CSO. Estamos trazendo um novo chefe de marketing, que
provavelmente começará na pró xima semana.

— Você vai ter que fazer algum tipo de anú ncio o icial?

— Sim, amanhã . Estamos apenas esperando Amalia con irmar o


pacote de CMO que oferecemos e, em seguida, a nova lista executiva
será exibida em nosso site.

Ela balançou a cabeça.

— Nã o, eu quis dizer um anú ncio sobre os resultados.

— Os resultados? — Suas sobrancelhas se juntaram em confusã o.


— Só ... — Jess hesitou, esperando que isso nã o fosse insensı́vel ou
intrusivo. — Quero dizer, que tal o jornal e o programa Today, e a ediçã o
People sai sexta-feira, certo?

River olhou para trá s e para frente entre seus olhos por um
segundo, e entã o disse baixinho: — Tivemos que incluir na auditoria
IPO, mas de outra forma, nã o. Nã o estamos fazendo uma declaraçã o
sobre isso.

— Isso é … — Mais uma vez, ela odiava a possibilidade de que isso


o insultasse. — Isso é legal? Quero dizer–

— Jess.

— A pontuaçã o original afetou sua avaliaçã o e–

Ele se inclinou, beijou-a lentamente e depois se afastou.

— GeneticAlly nã o vai divulgar uma declaraçã o.

A inquietaçã o cresceu em seu peito, fazendo-a se sentir como um


barco em á guas rochosas. Ele estava falando em legalê s?

— Tudo bem — disse ela, franzindo a testa.

Ele estudou a reaçã o dela e mordeu o lá bio, sorrindo.

— Para com isso.

— Parar o que? — ela disse, piscando até os olhos dele.

— Eu sei o que você está pensando. Que estou sendo antié tico ou
evasivo. Eu nã o estou. Você apenas tem que con iar em mim.

— Sim, é só –

Ele a acalmou com outro beijo, um mais longo, profundo e


explorador com a mã o em sua mandı́bula e seu torso subindo de volta
sobre o dela.
— Escuta, nã o sei como responder a essa pergunta de outra
maneira, entã o vou apenas beijar você até que você pare de perguntar.

— Estou dizendo, porque amo você e nã o quero que sua empresa...

— Jess. — Ele a beijou novamente. Um beijo alto e de initivo. —


Você me disse que nã o quer saber nossos resultados. — Ele a olhou
ixamente. — Entã o, você tem que deixar isso para lá .

Em choque, ela o viu se levantar e sair da cama, sorrindo por cima


do ombro para ela antes de ir para o banheiro. Ela ouviu a á gua
correndo, e o tempo todo Jess icou olhando sem foco para a porta que
ele acabara de passar. Eles nã o iriam divulgar uma declaraçã o. River
nã o parecia pensar que eles precisariam. Isso signi icava...?

Seu coraçã o de alguma forma se transformou em um pá ssaro


dentro dela.

River voltou e se aproximou do pé da cama para pegar sua boxer,


puxando-a. Jess tinha um milhã o de perguntas, mas nã o podia fazer
nenhuma delas.

Bem, talvez mais uma. Ela franziu a testa quando ele vestiu as
calças. —

Você vai... trabalhar?

Ele a ivelou o cinto e, antes de pegar a camisa, curvou-se para


beijá -la novamente.

— Nã o. Eu nã o vou trabalhar. — Endireitando-se, ele icou em


silê ncio por um segundo e disse: — Mas você acha que estaria tudo
bem se eu pegasse Juno na escola?

Jess se endireitou, mergulhando para pegar o telefone. Merda. Eles


teriam dois minutos para fazer a caminhada de sete minutos.

— Quero dizer — ele esclareceu — eu quero ir buscar ela.


— Eu sei. Deixa eu só ... — Ela se levantou, pegando suas roupas.

— Jess. — Colocando as mã os em seus ombros, ele a colocou de


volta na cama. — Estou dizendo que quero icar com ela. Deixa eu te
ajudar. — E entã o ele passou as mã os pelos cabelos e respirou fundo
para se acalmar. — Se estiver tudo bem. Eu tenho que consertar as
coisas com minhas duas meninas hoje.


Capítulo 26

Dois meses depois

NA COMOÇAO de pais passando e crianças tagarelando


animadamente sobre suas criaçõ es, Fizzy deslizou um pequeno item
de plá stico na mã o de Jess, em seguida, enrolou os dedos em torno
dele.

— Surpresa!

Jess olhou para o drive USB, parando no corredor lotado.

— Isso é o que eu acho que é ?

— Se o que você acha que é o mais novo romance de Felicity Chen,


Base Paired, sobre um cientista gostoso e uma mã e solteira sexy
fazendo uma conexã o amorosa atravé s de um aplicativo de namoro
baseado em DNA, — disse Fizzy, — entã o sim.

River pairou atrá s, inclinando um queixo curioso sobre o ombro de


Jess.

— E tã o sujo quanto seus outros livros?

Fizzy acenou com a cabeça orgulhosamente.

— Provavelmente mais sujo.

Suas sobrancelhas se ergueram.

— E difı́cil saber se eu deveria icar estranho com isso — ele


meditou — ou orgulhoso. — Alcançando a cintura de Jess, River pegou
o USB. — Vou começar hoje à noite. — Ao olhar de Jess, ele
acrescentou: — Considere uma pesquisa.
Jess riu, e sua grande mã o envolveu a dela, guiando-a pelo labirinto
de mesas e exibiçõ es, sabendo exatamente aonde ir porque ele esteve
aqui há uma hora daquela tarde ajudando Juno a arrumar. Por quase
um mê s, River e Juno trabalharam incansavelmente na montanha-
russa. Sugerir que ele havia investido mais nisso do que Juno seria
injusto – ela era, a inal, frequentemente encontrada acordada quando
deveria estar na cama, veri icando trê s vezes a cola em qualquer um
dos dois mil pontos de contato entre todos os palitos de picolé – mas
ele també m tinha sido previsivelmente intenso sobre isso. Eles haviam
abandonado a ita de arte por algo mais robusto (leia-se: maior e mais
rá pido) e construı́ram quatro carros diferentes para testar na
montanha-russa antes de inalmente escolherem rodas que
precisavam ser encomendadas da Alemanha. No armá rio do corredor,
Jess agora tinha trê s caixas restantes de trilhos de trem modelo HO
com a qual ela nã o tinha ideia do que faria.

No inal, a montanha-russa tinha mais de um metro de


comprimento e 60 centı́metros de altura. Tinha sido um trabalho
á rduo, e depois de algumas noites observando-os com felicidade
estourando o ová rio, Jess inalmente registrou que sua presença nã o
era necessá ria e passou o tempo feliz lendo ou assistindo seus
programas sozinha na cama.

Quando o projeto inalmente foi concluı́do, trê s noites atrá s, River


levou as duas para tomar um sorvete para comemorar.

Entã o ela sabia que era melhor nã o pensar que mesmo o
lançamento o icial da GeneticAlly no dia seguinte o manteria longe.
Ainda assim, eles tinham um jantar de empresa esta noite, e ela
esperava que River estivesse no escritó rio até bem depois da meia-
noite – e provavelmente tivesse ido embora antes que Jess acordasse.
O preço inicial da açã o era mais alto do que até mesmo o subscritor
havia sonhado que poderia ser, e todos estavam ansiosos, esperando
que ela nã o caı́sse no mercado de açõ es. Se ela se mantivesse está vel
ou subisse, a equipe original do GeneticAlly – sem David, Brandon e
Tiffany, que violou uma clá usula contratual importante – valeria cada
uma dezena de milhõ es da noite para o dia.

— A que horas você precisa sair? — ela perguntou.

Ele encolheu os ombros distraidamente, e ela nã o foi capaz de


importunar uma resposta dele porque entã o eles estavam na mesa de
Juno, e ambos River e Juno estavam radiantes de tanto orgulho que por
um segundo Jess quis perguntar de quem a arte-ciê ncia era. Mas como
ela poderia provocar aqueles rostos? Enquanto pais, professores e
colegas estudantes vieram ao redor da sala para ouvir a apresentaçã o
de Juno - River estava obedientemente quieto, mas permaneceu
orgulhoso por perto - Jess sentiu o peso dos ú ltimos meses pressionar
seu peito como um saco de areia. O destino també m poderia ser uma
escolha, ela percebeu. Acreditar ou nã o, ser vulnerá vel ou nã o, apostar
tudo ou nã o. Lá grimas picaram a superfı́cie de seus olhos e ela se virou
para Fizzy, ingindo que um cı́lio havia atingido um. Fizzy, para seu
cré dito, puxou um lenço de papel e um espelho de sua bolsa, dando
dignidade a Jess.

— Ele é incrı́vel — Fizzy concordou em um sussurro. Ela observou


River sem nenhum traço de tensã o ou inveja em sua expressã o; depois
de passar do desastre de Rob, Fizzy percebeu que ela estava pronta
para o negó cio real, atualizou seus crité rios DNADuo e estava con iante
de que seu pró prio Titanium-ou-acima-disso nã o estava muito longe.

Quando os juı́zes terminaram de ver os projetos e tabular as


pontuaçõ es, os alunos foram incentivados a encontrar suas famı́lias e
aguardar no auditó rio pelos resultados.

Era uma cena familiar: ileiras de cadeiras dobrá veis e conversas


animadas. Crianças mais novas corriam entre os corredores enquanto
os pais davam tempo para conversar um com o outro. Nã o era muito
longe no espelho retrovisor quando uma noite como aquela teria
atiçado as brasas da solidã o e sido seguida por dias de ardê ncia em sua
pró pria insistê ncia de que Era Melhor Solteira. Mas essa noite, ela se
sentia como o coraçã o satisfeito de uma famı́lia muito forte. Sua
famı́lia perfeita ocupava uma ileira inteira: Nana Jo e Pop’s no inal do
corredor com a scooter de Nana; Fizzy à sua esquerda, e River, entã o
Juno à sua direita. Nã o há mais zona cadeiras vazias.

— Nã o estou dizendo que os outros projetos nã o foram ó timos —


disse River, inclinando-se para sussurrar. — Quer dizer, alguns foram
terrı́veis e alguns foram ó timos, mas de forma totalmente objetiva,
Juno deveria ganhar essa competiçã o.

— Totalmente objetiva, hein? — Jess reprimiu uma risada. Os


genes de competiçã o de River eram profundos; competiçõ es de arte e
ciê ncia de segundo grau aparentemente nã o eram imunes. —
Ganhando ou perdendo, estou impressionada com você s dois. — Ela
puxou a manga dele, olhando para o reló gio. Já eram seis e meia. —
Você nã o tem que sair logo?

Ele seguiu sua atençã o para seu pulso. Alguns meses atrá s, Jess
imaginou, River teria disparado ao ver as horas. Mas ele apenas exalou,
calculando, e disse:

— Eles estã o prestes a fazer a premiaçã o. Eu vou embora depois


disso.

— Como você se sente sobre amanhã ?

O momento da verdade.

— Nervoso, — admitiu, — mas principalmente aliviado por


inalmente estar aqui.

Ele pegou a mã o dela e ela as ergueu, beijando seus nó s dos dedos.
Era como se a traiçã o de David tivesse aliviado um pouco a tensã o
nele: as coisas tinham dado terrivelmente errado, mas acabou dando
certo no inal.

Melhor ainda. A nova equipe executiva foi revigorada e teve uma


conexã o estreita e instantâ nea. River testou pessoalmente centenas de
amostras. Ultimamente havia muito boato na mı́dia sobre GeneticAlly,
Jess estava ciente de que muitos pais sabiam quem ela e River eram e
nã o porque seus ilhos estudavam juntos.

E por mais que ele insistisse que nã o importava, Jess sabia que seu
novo score de Diamond havia con irmado que uma vez ele descobrira
algo autê ntico e realmente conseguira fazer algo com isso para tornar
o mundo melhor.

Ao lado dele, Juno estava ocupada conversando com um amigo na


ileira à frente, debatendo com entusiasmo os mé ritos das cobras de
milho contra os reis da Califó rnia. Jess fez uma nota mental para
lembrar River a nã o ceder um centı́metro na frente da cobra.

— Juno é uma garota curiosa e criativa — disse River, seguindo a


atençã o de Jess. — Precisamos ter certeza de que conseguiremos uma
casa com espaço su iciente para seus projetos—

Suas palavras pararam abruptamente, seus olhos se encontrando


enquanto cada um parecia registrar a magnitude do que ele acabara de
dizer. Precisamos ter certeza de que conseguiremos uma casa. Eles
estavam juntos - é claro - mas nã o haviam realmente conversado sobre
o que viria a seguir.

River virou o rosto para a frente, dando a Jess uma visã o doce de
suas bochechas escurecendo.

— Eu ia falar com você mais tarde, mas... — ele limpou a garganta.


— Um dos professores mais cedo me confundiu com o pai de Juno. Juno
explicou, mas ela parou por um segundo primeiro. Isso me fez pensar
que talvez eu nã o tenha sido claro o su iciente sobre o que quero.

O coraçã o de Jess bateu forte e sua palma icou ú mida e ú mida


contra a dele. Ela rapidamente virou os olhos para a esquerda, para
con irmar que Fizzy e Pop’s ainda estavam rindo juntos por causa de
alguns vı́deos de cabras no Instagram.

— Você tem um lançamento amanhã — ela o lembrou. — Essa


conversa pode esperar.
— Por quê ? — ele perguntou, angulando seu olhar para ela e
sorrindo. — Vai ser difı́cil ou estressante de alguma forma?

Ela sorriu em torno de seu lá bio inferior.

— OK. Ponto anotado. O que você quer?

— Você . — Ele deixou a sı́laba pairar por uma batida signi icativa.
River a queria, e ele queria elas. Seus olhos castanhos uı́sque
mantinham o calor que tinham no meio da noite, quando ele a acordou
com um beijo e acendeu o abajur de cabeceira antes de guiá -la sobre
ele.

Mas entã o sua intensidade cedeu e ele continuou com uma serena
sinceridade:

— E Juno. Talvez um cachorro. — Ele espiou por cima do ombro. —


Eu quero a loucura de Fizzy e a comida de Jo. Pescar nos inais de
semana com Ron. Eu sei que é muito cedo para realmente decidir
qualquer coisa, mas quando você estiver pronta para dar o pró ximo
passo, seja ele qual for, eu estou dentro.

— Você está dizendo que quer morar juntos?

Ele riu um pouco disso.

— Claro que eu quero. Minha casa tem mais espaço, mas nã o
parece um lar, e sei o quanto você s amam o apartamento. Mas
poderı́amos encontrar algo grande o su iciente para todos nó s. Com
uma cozinha gigante e quartos no té rreo para seus avó s, ou até mesmo
um lugar pró prio nos fundos.

Jess nã o sabia o que dizer. Ela já tinha tanto, parecia quase
ganancioso querer mais. Acordar juntos todas as manhã s ou a
intimidade silenciosa de tarefas mundanas, como fazer compras no
mercado, fazer orçamento e apenas ... dividir a carga diá ria. Ela se
imaginou movendo-se em torno de si no inal da noite - colocando o
ú ltimo copo na má quina de lavar louça, compartilhando um gemido
silencioso de que Juno deixou as meias no sofá novamente. Ela
imaginou nã o ter que dizer adeus a ele na porta, nunca.

Peça tudo isso. O que você tem a perder?

— Neste verã o — disse Jess, erguendo o queixo como se o


desa iasse a resistir. — Junho ou julho. Se você está falando sé rio,
vamos encontrar um lugar.

Sua boca se curvou no canto.

— Sim?

Ela nã o conseguiu resistir; ele era muito doce. Jess se inclinou para
um beijo.

— Sim.

Mas foi interrompido pelo aparecimento da Sra. Klein na frente da


sala. River se afastou, batendo no ombro de Juno. Jess observou
enquanto eles se olhavam, e depois para frente, e abafou uma risada
com a ponta dos dedos. Ela sempre brincou que Juno era metade Fizzy,
mas agora ela tinha que admitir que havia uma in luê ncia ainda mais
dominante em andamento. Porque, em unı́ssono, os olhos de Juno e
River icaram grandes e redondos, suas espinhas icaram retas.

Entã o, Jess desejou mais uma coisa.

E quando a sala explodiu em aplausos, e River ergueu Juno em um


abraço de comemoraçã o, Jess rapidamente expressou mais alguns
desejos para garantir. Mas mesmo se nada fosse do jeito que eles
tinham planejado para amanhã , o GeneticAlly já havia feito pelo menos
uma coisa espetacular e extraordiná ria. Juno fechou os olhos enquanto
colocava os braços em volta do pescoço dele.

— Conseguimos, River Nicolas!

Sim, Jess pensou, observando eles. Nós conseguimos.


Notas
[←1]
The Brady Brunch foi uma sitcom americana exibida na dé c ada de 70, onde
Carol Brady, que tê m trê s ilhos, casa-se com Mike, que també m tem trê s ilhos.
Juntos, os seis sã o guiados pelos pais e pela governanta Alice, enquanto se à
adaptam nova vida em famı́lia.
[←2]
Modelo de calça jeans
[←3]
Em inglê s, geneticamente signi ica “genetically”, por isso a Jess faz esse
trocadilho com o nome da empresa.
[←4]
Assistente conversacional da Amazon.
[←5]
Os experimentos gené ticos de Gregor Mendel eram feitos em ervilhas (pea, em
inglê s). Whoopea deveria fazer o som de “Iupi!”, como um sinal de animaçã o.
[←6]
O é o sı́mbolo de Oxigê nio e K o sı́mbolo do Potá ssio. Por isso o trocadilho com
“Ok”.
[←7]
Adenina (A) pareia com Uracila (U). River usa “U” como abreviaçã o para “you”,
dizendo que gostaria de ser Adenina para formar um par com a Jess.

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