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Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 1
JESSICA DAVIS costumava pensar que era uma legı́tima tragé dia
que apenas 26% das mulheres acreditassem no amor verdadeiro.
Claro, isso foi há quase uma dé cada, quando ela nã o conseguia
imaginar como seria ser profunda e apaixonadamente obcecada pelo
homem que um dia seria seu ex.
Jess voltou a vasculhar sua bolsa, mas nã o pô de deixar de olhar
para o inal do balcã o. Ela sabia que nã o era educado olhar, mas a
maquiagem da outra mulher era perfeita, suas unhas perfeitamente
cuidadas. Como diabos algumas mulheres conseguiam isso? Jess
considerou sair de casa com o zı́per fechado uma vitó ria. Certa vez, ela
apresentou os dados de um ano iscal inteiro para um cliente com
quatro presilhas de borboleta brilhantes de Juno ainda presas à frente
de seu blazer. Essa linda estranha provavelmente nã o foi forçada a
trocar de roupa depois de limpar o glitter de um gato e um de uma
criança de sete anos de idade. Ela provavelmente nunca teve que se
desculpar pelo atraso. Ela provavelmente nem precisava se depilar –
ela era naturalmente lisa em todos os lugares.
— Meu o quê ?
— Caramba, Fizzy.
— Você també m tem avó s que moram na casa ao lado e icam mais
do que felizes em cuidar dela enquanto você está em um encontro, e
uma melhor amiga que acha sua ilha mais legal do que você . Todos nó s
só queremos que você seja feliz.
Jess sabia que sim. Foi por isso que ela concordou em testar as
á guas do Tinder em primeiro lugar.
— Nojento.
— Concordo.
Fizzy sinalizou que ela nã o tinha terminado de ser um pé no saco
de Jess antes de se levantar e ir até o balcã o.
Exceto hoje. Ela já sabia que Fizzy seria implacá vel.
— Acho que você estava prestes a dizer que é a minha vida e que
devo fazer o que eu achar melhor.
Fizzy riu.
— Nã o sei. — Jess pegou seu café , mas sua atençã o foi atraı́da
quando o homem que eles chamaram de "Americano" entrou em
Twiggs, indo para a frente precisamente na hora certa – 8h24 da manhã
– com pernas longas, cabelos escuros, carrancudo e com uma vibe
raivosa, sem fazer contato visual com uma ú nica pessoa. — Talvez
quando ela estiver na faculdade?
— Felicity.
— Ele vem aqui e passa a vibe de que se algué m tentasse falar com
ele, ele cometeria um assassinato. — Jess brincou.
Ela tentou se lembrar de quando ele começou a vir aqui. Há uns
dois anos? Quase todos os dias, à mesma hora todas as manhã s, a
mesma bebida, o mesmo silê ncio taciturno. Este era um bairro peculiar
e Twiggs era seu coraçã o. As pessoas vinham para icar, para saborear,
para conversar. O Americano se destacou nã o por ser diferente ou
excê ntrico, mas por ser quase totalmente silencioso em um espaço
cheio de esquisitõ es amá veis e barulhentos.
E nunca faria: Daniel e Fizzy saı́ram uma vez no ano passado, mas
rapidamente terminaram as coisas quando se encontraram em uma
reuniã o de famı́lia. Sua reuniã o de famı́lia.
— Você quer que eu dê uma opiniã o sobre se Jess deveria estar no
Tinder só para transar? — ele perguntou.
Jess olhou para sua roupa, pronta para protestar, mas as palavras
murcharam em sua garganta.
— Você sabe... — Daniel disse a ela agora, fazendo uma bola com o
pano nas mã os, presunçoso com conhecimento interno — ...Americano
també m é româ ntico.
O carro dela, de dez anos com apenas trinta mil milhas rodadas, era
usado tã o raramente que Jess nã o conseguia se lembrar da ú ltima vez
que tivera de encher o tanque. Tudo em seu mundo, ela pensou
satisfeita em sua caminhada para casa, estava ao alcance do braço.
University Heights era a mistura perfeita de apartamentos e casas
incompatı́veis aninhadas entre pequenos restaurantes e empresas
independentes.
Francamente, o ú nico benefı́cio do encontro da noite anterior foi
que Travis concordou em se encontrar em El Zarape, apenas duas
portas adiante; a ú nica coisa pior do que ter a conversa de jantar mais
chata do mundo seria dirigir até o Gaslamp para fazer isso.
Com cerca de uma hora até o pô r do sol, o cé u tinha icado com um
tom pesado de cinza-azulado, uma chuva ameaçando que colocaria
qualquer motorista do sul da Califó rnia em uma confusa perturbaçã o.
Uma multidã o esparsa estava criando turbulê ncia no nı́vel de
segundas-feiras no convé s da nova cervejaria dirigida por Kiwi
descendo a rua, e a linha onipresente na Bahn Thai estava rapidamente
se transformando em um emaranhado de corpos famintos, trê s ilas
estavam presas a humanos, atualmente ignorando a placa para os
clientes nã o se sentarem na varanda privativa ao lado do restaurante.
O inquilino de Nana e Papai, o sr. Brooks, instalou uma câ mera de
campainha para as unidades da frente e quase todas as manhã s dava a
Jess um relato detalhado de quantos universitá rios sentavam em seu
degrau enquanto esperava por uma mesa.
— Eu...
— Canadá !
— Nã o.
— Pop’s disse que talvez uma cobra de milho. O livro diz que elas
sã o “muito dó ceis”. Ou uma pı́ton bola?
E Juno era uma mestre, uma atleta olı́mpica com medalha de ouro
na categoria aconchego. Ela pressionou o rosto no pescoço de Jess e
respirou fundo, se mexendo mais perto.
— Você foi ao centro da cidade? Ele trouxe lores para você ? — Ela
se afastou. — Você beijou ele?
Jess riu.
— Você comprou?
JUNO:
MAMÃE:
— Uau. Obrigada.
Fizzy estremeceu com o que era imprová vel ser um gole fresco –
estava claramente na hora de ela pedir outro – enquanto suas palavras
atingiam Jess como um tapa dos Trê s Patetas.
— Fazendo o quê ?
— Comendo com os olhos. O Americano. — O rosto de Fizzy se
abriu em um sorriso conhecedor. — Você realmente acha que ele é
sexy.
— “Boatos”?
— Sim.
Felicity ofereceu uma mã o delicada como se fosse para ele beijar e,
apó s um momento de hesitaçã o confusa, o Americano agarrou a ponta
dos dedos dela para um breve aperto de mã o.
— Ela foi traduzida para mais de uma dú zia de idiomas — Jess se
gabou, na esperança de limpar a expressã o estranha de seu rosto.
— Uau.
— Sim. — Ele franziu a testa. — Mas nã o. Nã o é para conexõ es.
Bingo.
— Cuspe.
Fizzy riu com força enquanto olhava para trá s e para frente entre
os dois.
— Tenho certeza de que nó s duas conseguirı́amos cuspir. — Ela
sorriu. — Para você .
Com um sorriso pá lido, ele deixou cair um cartã o de visita sobre a
mesa; fez um baque audı́vel.
— Você vai parar de icar obcecada com este cart... — Ela parou,
pesando seu peso impressionante em sua mã o. — Uau. E muito grosso.
— Eu te disse.
— Muito estranho.
— Você tem mais de cinco horas antes de pegar Juno. La Jolla ica a
meia hora de carro.
Jess desceu, olhando para o pré dio de dois andares à frente deles.
Ela teve que admitir: era impressionante. A fachada de ripas de
madeira polida trazia o nome da empresa, GeneticAlly, em letras
gigantes de alumı́nio escovado; o segundo andar ostentava concreto
inacabado moderno e janelas amplas e brilhantes.
— Ok, bem, por favor, vá em frente e assine. E eu vou precisar ver
suas identidades. Você está aqui para uma apresentaçã o? — Ela anotou
as informaçõ es de sua identi icaçã o.
— Uma o quê ?
— Quero dizer, ele recrutou você para DNADuo? — ela perguntou.
Nos sofá s de couro vermelho, Jess jurou que parecia que elas eram
as primeiras a se sentar.
— Você tem que admitir que nã o olha para o Dr. River Peñ a e
pensa: poxa, ele tem uma alma româ ntica.
Atravé s de uma porta de escritó rio aberta, Jess viu uma ampla
janela exibindo uma vista da costa de La Jolla. A menos de um
quilô metro de distâ ncia, as gaivotas mergulhavam sobre a á gua de
capa branca e as ondas batiam violentamente contra penhascos
rochosos. Foi espetacular.
— Dezenas.
— E uma pena que você nã o esteja na á rea de marketing — disse
Jess com um sorriso. — Tã o charmoso.
River se virou para olhá -la, e sua expressã o enviou uma onda fria
de sensaçõ es por seus braços.
Fizzy deu uma cotovelada forte nas costelas. Coisas sexy, ela estava
pensando claramente.
Fizzy estava vestida como ela normalmente estava – uma adorá vel
blusa de seda com bolinhas e calças lá pis – e River estava vestido como
sempre, uma versã o de revista lustrosa do business casual. Nã o tinha
ocorrido a Jess naquela manhã , enquanto ela vestia apressadamente
um moletom surrado da UCLA, uma calça Levi's velha e um par de Vans
surrados que mais tarde ela estaria passeando por um corredor na
parte mais rica de La Jolla.
No inal do corredor, havia uma porta aberta que dava para uma
sala de conferê ncias. River fez uma pausa e gesticulou para que elas
entrassem na frente dele.
— Quem é Lisa?
Ele pareceu afrontado, como se ela tivesse sugerido que ele era o
garoto da á gua da empresa. — Nã o. — Com um sorriso vago, ele se
virou e continuou pelo corredor. Cuzão.
No caminho de volta, sua atençã o foi atraı́da por uma porta aberta.
Se passou uma eternidade desde que ela esteve em um ambiente
cientı́ ico real, e a nostalgia pulsou no fundo de sua mente. Espiando
para dentro da sala etiquetada AMOSTRA PREP, Jess viu um longo
trecho de bancadas de laborató rio e uma variedade de má quinas com
teclados e mostradores digitais coloridos piscando como algo saı́do de
um ilme.
E entã o ela ouviu a voz baixa e profunda de River: — Nã o há outra
garrafa 10X de tampã o de extraçã o?
— Bom.
Que ótimo.
— Realmente.
— Feia?
— Você quer um tour pelo laborató rio depois de sua reuniã o com
Lisa?
— David Morris.
— Jessica.
— Faz um tempo que nã o temos clientes nos escritó rios. E bom ver
um rosto novo. — Quando ele disse isso, seus olhos percorreram
rapidamente o corpo dela e subiram de volta. — Você está fazendo o
DNADuo?
— Eu nã o decidi ainda. Estou aqui com minha melhor amiga. Ela é
autora de romances e enlouqueceu completamente quando o
Americano – Dr. Peñ a, desculpe, mencionou o negó cio para nó s esta
manhã .
Ela voltou para a sala de conferê ncias sentindo-se cerca de dez por
cento mais desajeitada do que antes.
Lisa caminhou até a frente da grande sala com con iança, como se
estivesse falando para uma multidã o de cinquenta em vez de duas.
— Ok, bem, acho que vou dar o primeiro tiro — Fizzy disse,
zombando da expressã o vazia de Jess. — Tenho trinta e quatro anos e
gosto de namorar. Muito. Mas suponho que um dia vou me estabelecer,
ter alguns ilhos. Tudo depende da pessoa.
— Você já se perguntou o que é realmente uma alma gê mea? — Ela
perguntou. — O amor é uma qualidade que você pode quanti icar?
Jess olhou para Fizzy, que olhou para ela. Se River e seu mentor
inventaram tudo isso, Jess percebeu que nã o poderia dar muita merda
a ele por ser um homem de vendas terrı́vel.
Mesmo que ela pudesse criticar ele por ser um pouco idiota.
Lisa continuou: — A razã o pela qual a DNADuo teve tanto sucesso
em identi icar pares genuı́nos por amor é que a ideia nã o começou com
DNA. — Ela fez uma pausa dramá tica. — Tudo começou com as
pessoas.
Jess podia sentir Fizzy ansiosa para sacar seu cartã o de cré dito.
Lisa pegou uma pequena caixa sobre a mesa; era branca, o logotipo
DNADuo simples impresso nas cores do arco-ı́ris.
— Qual é o seu limite para “raramente”, quando você diz que eles
raramente encontram compatibilidade duradoura?
Lisa sorriu.
Lisa concordou.
E certo que Jess teve que esconder seu choque com essa
estatı́stica. Foi impressionante. Ela ainda tinha cerca de um milhã o de
perguntas, poré m, e gesticulou para o casal no cená rio do casamento; a
mulher era asiá tica, o homem de ascendê ncia do Oriente Mé dio.
Pela primeira vez desde que entrou na sala, Lisa deixou cair a hiper
competente fachada sur ista-executiva. Ela parecia jovem, esperançosa
e maravilhada.
— E isso que me dá mais con iança nesta empresa. Sim, trê s é um
nú mero baixo, mas os casais que izeram o teste acima de noventa sã o
os trê s casais que obtiveram as melhores pontuaçõ es em estabilidade
emocional, comunicaçã o e colaboraçã o e satisfaçã o sexual. Eles sã o
Diamond Matches. Queremos mais desses? Claro. Quer dizer, o DNADuo
foi testado em cento e quarenta mil pessoas e totalmente validado em
quase vinte mil casais. E um estudo enorme para uma start-up desse
tamanho, mas há pelo menos cinco milhõ es de pessoas no Hinge e
cerca de cinquenta milhõ es de pessoas no Tinder. Até que possamos
obter todo o mundo de dados em nosso servidor, nã o saberemos
quantos Diamond Matches realmente existem.
Capítulo 4
Mesmo sendo 8h13 e Jess deveria levar Juno para a escola em dois
minutos, e ainda nã o tinha alimentado sua ilha ou tomado um ú nico
gole de café , e tinha uma reuniã o no centro à s 9h30, e mal se vestira,
ela atendeu.
Jess fez a matemá tica mental rá pida – fazia apenas dois dias desde
sua visita ao local. Ou o GeneticAlly era insanamente e iciente ou nã o
estava executando muitas amostras atualmente. Ela teve que admitir, a
contragosto, que qualquer empresa que investisse em uma rede neural
exclusiva estava levando seus dados a sé rio.
— Treze?
— E divertido ver o que acontece quando você sai com caras sem
expectativas.
— Porra.
— Posso, mamã e?
— Tudo bem — disse Fizzy — tenho um almoço hoje com Aiden B.,
um Base Match com treze pontos e um jantar amanhã com Antonio R.,
també m um Base Match, vinte e um.
Jess se virou e olhou pela janela da frente, para o pá tio sem gatos e
para o caminho que levava ao portã o aberto.
Jess nã o precisava ver seu rosto para saber, porque esse nã o era
qualquer sedan preto, era um Audi preto. Seu Audi preto.
— Ei! — Mas ele já estava andando rapidamente pela calçada e nã o
se incomodou em se virar.
Jess avistou outro carro dando ré a algumas ileiras de distâ ncia e
estremeceu com o guincho audı́vel de seus pneus enquanto ela fazia a
curva. Pronta para pisar na buzina para que ningué m se atrevesse a
ocupar esse lugar, ela conseguiu, estacionou o carro, agarrou tudo que
precisava e correu de salto alto e saia justa em direçã o à entrada.
Dois degraus de uma vez. Visivelmente sem fô lego quando ela
correu da escada para o corredor, Jess colidiu imediatamente com a
parede de tijolos de um homem. Para o registro, ele cheirava
incrivelmente bem. Era irritante.
— Eu peguei a sua...?
— Eu te conheço?
Pela vida dela, Jess nã o conseguia descobrir se isso era uma
queimadura doentia ou um elogio indireto.
Merda!
Jess passou por ele, correndo trê s metros pelo corredor até a Suı́te
303, os escritó rios do Jennings Grocery.
Era estupidez ser tã o in lexı́vel com sua maior conta? Ela nã o
conseguia afastar a sensaçã o de pâ nico. Se ela perdesse Jennings,
perderia um terço de sua renda anual. Juno poderia precisar de
aparelho ortodô ntico e ela estaria dirigindo em oito anos. E se ela
quisesse começar a fazer competiçõ es de dança? E se ela adoecer?
— Você nã o tem que fazer a feira de ciê ncia-arte — Sra. Klein disse,
cantarolando para a multidã o — você DEVE fazer a feira de ciê ncia-
arte!
— Jessica!
Ela se virou ao som de uma voz vibrante e se virou para encontrar
uma mulher loira alta e magra acenando para ela. Dawn Porter:
Presidente da Associaçã o Escolar, Mã e do Ano e Garganta Profunda,
provavelmente. Jess se preparou para se sentir uma mã e de merda
pelos pró ximos cinco minutos.
Merda.
O site que Jess havia esquecido até aquele segundo. Bom trabalho,
Jess.
Porque quero ser uma boa mãe, pensou ela. Eu quero estar presente
para Juno, mesmo que alguns dias eu sinta que estou falhando.
— Graças a Deus.
— Eu devo ter algo para você em breve.
— Bom. Isso é ó timo, entã o! Vou avisar a diretoria para que parem
de reclamar para mim!
— E nã o diga nada, porque eu sei como isso soa… tipo “coitada de
mim, e estou sozinha”. Eu sei que tenho sorte. Eu tenho a melhor ilha, e
Nana e Pop’s estã o aqui para me ajudar sempre que eu precisar deles.
Eu tenho você –
— Corta essa — Fizzy disse. — Sim, você tem Nana e Pop’s, você
tem uma ó tima ilha, você tem a mim. Estou aqui para você todos os
dias, para sempre, mas por favor, Jess. Nã o é a mesma coisa. Você está
falando sobre querer ter algué m para voltar para casa, para conversar
e, sim, para icar pelada. Nã o é egoı́smo querer isso. Você nã o está de
alguma forma colocando Juno em segundo lugar, ocasionalmente
colocando suas necessidades em primeiro lugar. Juno precisa de uma
mã e feliz.
— Obrigada...
— Nã o me lembre.
Fizzy riu.
JESS AJUSTOU a tira elá stica sob o queixo. Era assim que parecia
ter trinta anos? Passar seu aniversá rio em um café com uma louca que
faria a sala inteira cantar “Feliz Aniversá rio” se Jess tentasse tirar esse
chapé u brilhante de aniversá rio?
Jess riu.
— Tatuagem no pau.
— O que? Nã o.
— Você icou suja demais para um cara com uma tatuagem no pau?
Felicity Chen, meu Deus. — Ela levou o café aos lá bios. — Mas para ser
justa, você está se preparando para isso. Por que você está lançando a
rede tã o ampla? Basta iltrar os resultados. Eu nã o entendo.
Fizzy teve aquele olhar que tinha quando estava prestes a icar
realmente intensa.
— Eu posso explicar!
— E melhor mesmo!
— Nã o me diga.
— Vermelho é ruim?
— Todos os meus sã o verdes — explicou Fizzy. — Quer seja uma
pontuaçã o de compatibilidade de doze ou trinta e um, as noti icaçõ es
de match foram verdes.
Ok, se as noti icaçõ es de match eram verdes, pelo menos Jess sabia
que uma alma gê mea em potencial nã o estava apenas casualmente
saindo em sua caixa de entrada.
— Shh.
Porra.
Surpresa!
Com duas horas para matar e a noti icaçã o como uma farpa em seu
polegar, Jess desistiu e ligou para Lisa Addams.
O pré dio do GeneticAlly estava escuro por fora, mas uma luz no
saguã o se acendeu quando o carro parou no meio- io. Lisa emergiu,
saindo rapidamente e abrindo a porta do carro.
— Jessica — disse ela sem fô lego. — Obrigado por vir em tã o
pouco tempo.
— Claro. Entre.
Lisa se virou, levando-as para o pré dio vazio. Nada disso parecia
um protocolo normal, o que fez Jess se sentir como se tivesse engolido
á cido de bateria.
— Tenho que admitir que estou muito confusa sobre porque isso é
tã o urgente.
Jess a seguiu pelas portas duplas e pelo longo corredor que ela
andou da ú ltima vez que esteve aqui. Todo mundo claramente
trabalhava só durante o dia; os escritó rios estavam escuros e vazios de
uma forma que fazia até espaços inó cuos parecerem assustadores.
Jess era uma garrafa de vinho, lentamente aberta. Oh, isso é sobre
dados? GeneticAlly a trouxe aqui para falar sobre algoritmos?
Depois que Jess apertou todas as mã os na sala, Lisa fez um gesto
para que ela se sentasse na cadeira central direta à mesa.
Um homem – Jess achou que seu nome era Sanjeev – do outro lado
da mesa chamou a atençã o de Lisa.
— Ele disse que estava subindo de seu escritó rio há dez minutos
— disse Sanjeev à mesa de limpar a garganta e embaralhar papé is.
— Sim — disse Lisa, e seu sorriso era tã o intenso que a pele icou
apertada ao redor dos olhos. — A pontuaçã o mais alta que vimos no
DNADuo é noventa e trê s.
E quando Jess olhou para ele, com o choque cru em sua expressã o,
uma corrente de eletricidade correu por ela, quase como se ela tivesse
acabado de tocar um io elé trico.
Ela acenou com a cabeça, mas ela estava olhando para David, que
estava trocando outro olhar pesado com Brandon.
Cliente 144326.
Cliente 000001.
Oh Deus.
River pigarreou; ele icou branco como uma folha e agarrou o papel
com as duas mã os.
— Eu.
Oh. Bem, Jesus Cristo, nã o admira que ele quisesse con irmar a
aná lise. Um Diamond Match para o cientista original do projeto foi uma
grande notı́cia, especialmente tã o perto do lançamento.
River olhou para Lisa entã o, seus olhos pesados com a pergunta
ó bvia. Literalmente, todos os outros na sala estavam olhando para ele,
esperando que ele dissesse: Con irmamos o ensaio? Nós replicamos a
descoberta com uma amostra de backup?
Mas nã o foi isso que ele perguntou. Em voz baixa e trê mula, River
murmurou:
— Quem é 1-4-4-3-2-6?
Noventa e oito!
— Oh. — Jess ainda estava rindo com as pernas trê mulas. Seu
batimento cardı́aco era uma cacofonia pulsante em seus ouvidos. —
Nã o estou aqui para aconselhar sobre as estatı́sticas.
Noventa e oito. Valores de P com pelo menos dez zeros após o decimal.
Seu cé rebro vasculhou, procurando uma maneira de sair disso.
— Nã o, quero dizer, tenho certeza de que suas estatı́sticas sã o... —
Jess começou, mas percebeu que nã o poderia terminar a frase porque
seria mentira. Claramente, suas estatı́sticas eram uma merda e eles
estavam todos delirando. E, infelizmente, Jess nã o havia dirigido até
aqui. — Preciso ligar para algué m para vir me buscar.
Jess olhou para River – que já estava olhando para ela com olhos
selvagens e escuros – e depois para a sur ista chique Lisa, Brandon
“Dentes Brancos” , e Benedict Cumberbatch de Jeff Goldblum, e todas as
outras pessoas na sala que també m nunca haviam lidado com isso em
particular situaçã o.
Ela se virou, abrindo a porta com uma mã o que ela nã o tinha
certeza de que iria cooperar, e praticamente correu de volta por onde
veio.
Capítulo 6
Por talvez trê s segundos, Jess gostou dele por lhe dar espaço. Mas
entã o ela se lembrou de que ele geralmente nã o era tã o atencioso... e
ele supostamente era sua alma gêmea.
— Como? Você – você conhece todos naquela sala. Por que eles
diriam isso a você ? — ela perguntou. — Por que eles estariam todos lá ,
como uma espé cie de reality show?
— Só posso presumir que eles queriam que todos nó s tivé ssemos
uma conversa sobre como lidar com isso.
— “Lidar com isso”? — ela repetiu. — Você realmente tá morto por
dentro, né ?
— Uh, sim, eu entendo isso. Mas nós nã o temos que considerar
qualquer coisa. Quero dizer– nã o tem como, River. Ambos sabemos que
é um erro, certo? Ou se nã o for um erro, que o paradigma de
compatibilidade nã o se aplica a nó s.
— Signi ica que veremos se a ciê ncia fez uma previsã o correta.
Jess manteve contato visual com ele por cinco... dez... quinze
segundos. Seu olhar era irme, sem piscar e racional, e um pensamento
abrupto bateu em sua mente: Aposto que ele é bom em tudo que põe em
sua mente. E se, apenas por um minuto, eu me permitir imaginar que isso
é real? O que então?
Ela sabia seus motivos, mas e os dele? Uma alma româ ntica diria
que eles estavam interessados apenas no amor verdadeiro, mas a
hesitaçã o de River disse a ela que sua resposta estava baseada em algo
muito mais ló gico.
Nã o foi a pior resposta; Jess podia entender quanto foco era
necessá rio para manter um negó cio à tona, quanto mais um com
funcioná rios. Tudo isso parecia completamente impossı́vel para ela.
Algo em sua expressã o deve ter suavizado, porque ele deu alguns
passos mais perto.
— Vamos conversar mais sobre isso — disse ele. — Nã o tem que
ser hoje à noite.
— Vou pensar sobre isso.
Cumprimentos,
Todd Jennings
Jennings Grocery
Um, dois…
Ela ainda tinha trê s contratos ativos. Alé m dos impostos, ela ainda
poderia arrecadar trinta mil dó lares este ano. Seria apertado e, a
menos que ela conseguisse alguns novos clientes, nã o sobraria muito
para extras, mas ela seria capaz de cobrir o aluguel e o seguro saú de.
Seis, sete…
Oito, nove…
Dez...
— Hmm?
— Nã o ousaria.
Eles observaram enquanto ela corria para fora da porta dos fundos
e atravé s do pá tio para o bangalô , Pombo atrá s dela.
— Bem, isso nos dá cerca de trinta segundos — disse Nana com
uma risada.
— Vou dar a ela sessenta. — Pop’s en iou a mã o no bolso do sué ter
e tirou os ó culos do estojo. Ele deu uma piscadela de provocaçã o para
Jess antes de colocá -los. — Agora, é seu aniversá rio, Jessica. — Ele se
inclinou, ingindo estudá -la. Seus olhos estavam pá lidos, lacrimejantes,
cheios de amor. — Que cara é essa? Tem a ver com o fato de eu ter te
buscado mais cedo? O homem lá fora?
— Nã o.
Jess colocou os cotovelos na mesa e apoiou a cabeça nas mã os. Ela
pesava cerca de quarenta quilos.
Jess sorriu.
— Lamentaçã o.
— Viu? O que farı́amos sem você ? — Ele sorriu para ela por cima
dos ó culos antes de escrever a palavra.
Juno tinha adormecido com o livro Frog and Toad Are Friends
aberto em seu peito novamente, sua luz de sereia ainda acesa. Jess
depositou Pombo em seu chique poste de gato de trê s camadas perto
da janela, mas ela imediatamente saltou para a cama, se enrolando
felizmente aos pé s de Juno.
Alec nã o era um cara ruim, ele só nã o queria ser pai. Ele nunca
pressionou Jess para interromper a gravidez, mas ele deixou claro
onde ele estava. No inal, Jess escolheu Juno em vez dele, e os dois
tiveram que conviver com isso. Ele começou a aproveitar seus vinte
anos, mas cada um de seus amigos pensava que ele era um idiota; Jess
teve uma ilha adorá vel, mas teve que aprender a se esforçar para
sobreviver. Ela nunca se arrependeu de sua escolha por um ú nico
suspiro, poré m, e tinha certeza de que ele també m nã o.
Jamie Davis tinha muitos ró tulos – garçonete de coqueté is, viciada,
porteiro de está dio, namorada, viciada em recuperaçã o, sem-teto –
mas nenhum deles jamais foi "mã e presente". Nas raras ocasiõ es em
que ela compareceu a um dos eventos da escola de Jess ou a um jogo de
softball, ela geralmente estava de ressaca – à s vezes ainda bê bada – e
cheirando a cigarro ou maconha. Ela daria um show, torcendo por Jess,
se orgulhando dela. As vezes, ela trazia um grupo de seus amigos
turbulentos que se autodenominavam "Esquadrã o de Torcida de
Jessie". Por dentro, Jess morreria de vergonha e depois entraria em
pâ nico porque Jamie veria em seu rosto, que ela iria embora em um
acesso de raiva e nã o voltaria por semanas.
E lá estava ela, ainda bonita – ela sempre foi bonita – mas com um
acabamento em pó em sua beleza agora, algo tanto arti icial quanto
monó tono. Uma vida inteira de maus há bitos inalmente apareceu.
— Nã o posso ver meu bebê no vigé simo oitavo aniversá rio?
Jess nã o disse que Jamie estava fora por dois anos, ou os muitos
outros aniversá rios que ela perdeu.
— Claro que você pode — disse Jess. — Você quer se sentar? Posso
pegar algo para você ?
Assim que o nome saiu, Jess estremeceu. Ela pensou que o nome
dele era John. Talvez Jim.
O coraçã o de Jess voltou à sua cã ibra familiar, e ela disse com uma
inalidade paciente: — Nã o quero sair, mã e.
— Escute, e eu–
— Eu te contei sobre meu novo show?
— Uma parte?
Claro.
— Mã e, nenhum bom trabalho exige que você pague para começar.
— Por que você sempre me faz sentir assim? Nã o posso cavar para
fora do buraco com você ? — Ela se levantou e se abaixou para pegar
sua bolsa. — Estou limpa há dezoito meses!
Por mais que ela tentasse nã o repetir nenhum dos padrõ es de sua
mã e, Jess a seguiu de uma maneira: ela engravidou jovem. Mas, com
sorte, foi aı́ que as semelhanças terminaram. Jess se formou na
faculdade, conseguiu um emprego e tentava economizar um pouco
cada vez que chegava um cheque. Ela levou a ilha ao dentista. Ela
tentava colocar Juno em primeiro lugar todos os dias.
Eu não sou minha mãe, ela se lembrou. Eu não sou minha mãe
Capítulo 7
— Escute, Jess, sei que você quer pensar que essa coisa de
pontuaçã o de compatibilidade é besteira, mas Ralph era bom. O que
estou dizendo é que se eu representasse gra icamente essas
pontuaçõ es de compatibilidade em relaçã o à minha satisfaçã o sexual,
como você s nerds fariam, haveria um declive de initivo para a linha.
Com um olhar culpado para Daniel por cima do ombro de Fizzy, ela
deu um passo mais longe no bar para obter um pouco de privacidade.
— Oh, sim?
Para ser justa, Jess nã o deveria ter icado surpresa; se ela olhasse
para o reló gio, ela saberia que eram 8h24 e River estava na hora certa.
Mas de alguma forma seu cé rebro falhou ao lembrar de que ela poderia
realmente ter que esperar por ele durante seu primeiro turno como
uma barista Twiggs. E esta foi a primeira vez que ela o viu depois de
sua nã o despedida no meio- io, quatro dias atrá s. Embora Jess nã o
esperasse exalar fogo de verdade na pró xima vez que icassem cara a
cara, ela també m nã o conseguia explicar a transfusã o de calor que
atingiu sua corrente sanguı́nea. Por alguns segundos, ela o olhou
estupidamente, percebendo o mesmo choque em sua expressã o.
Interiormente, ela gemeu. Por que ele nã o estava apenas pedindo,
pagando e dando um passo para o lado para olhar para o telefone? Ele
havia esquecido que estava muito ocupado para conversar com os
plebeus?
Fizzy riu.
— Você está brincando? Isso seria o início de uma incrı́vel histó ria
de amor.
— Nã o, Dan — disse Fizzy, irritada com ele sem um bom motivo. —
Porque eles combinam.
Jess gemeu.
— Eu saı́ — disse ele. — Foi bom, mas acho que nó s dois tı́nhamos
essa expectativa estranha de que era bom, mas estatisticamente
imprová vel de ir a algum lugar?
Jess riu.
— Culpada.
Daniel se virou para Fizzy, que por sua vez deu a Jess um olhar que
buscava permissã o ou emitia um aviso.
Jess esperava que ele explodisse: Como você pode ignorar isso? e Se
eu tivesse um Diamond Match, largaria meu emprego e transaria o dia
todo! Mas, assim como Fizzy fez quando Jess contou a ela, Daniel
estudou Jess muito silenciosamente e com muita atençã o.
— Nã o.
— E o River?
— Esse é o plano.
Jess deu a sua amiga um olhar de advertê ncia. Nã o que Fizzy
estivesse errada por si só , mas Jess tinha mais em que pensar do que
apenas ela mesma. Ela nã o podia jogar a cautela ao vento. Esse era um
luxo que as pessoas sem ilhos tinham, pessoas com tempo livre e
menos responsabilidades. Planos chatos e seguros ainda nã o a tinham
feito errar.
Capítulo 8
MAS O PLANO, por assim dizer, virou fumaça trê s dias depois por
volta das 5h17 da noite, quando um Tesla prateado parou ao lado de
Jess em sua caminhada para casa e abriu uma janela do lado do
passageiro fortemente escurecida. Era de sua natureza ignorar todos
os carros que pararam em um meio- io, mas este nã o estava gritando.
— Jessica.
Ela deve ter parecido que gostaria de outra reuniã o tanto quanto
ela gostaria de um tratamento de canal porque Brandon riu.
— Essa noite?
Ele assentiu.
— Acho que entendo a ciê ncia — disse ela, antes que ele pudesse
lançar-se em qualquer discurso que estava formulando em seu grande
cé rebro. — Pelo menos, eu entendo que você identi icou uma grande
variedade de genes que acredita estarem envolvidos na satisfaçã o
emocional e, uh – sexual em um relacionamento. Eu entendo como o
algoritmo poderia funcionar, em teoria. Acho que o que questiono é se
essa descoberta em particular é real. Se você nunca teve uma
pontuaçã o de noventa e oito antes, como sabemos o que isso signi ica?
Foi exatamente a pergunta que ela se fez apenas alguns dias atrá s.
— Pode ser mais fá cil acreditar em má s notı́cias do que em boas
notı́cias.
Ela riu.
— Você está tã o quieto. Isso preocupa você també m, sabe. Sei que
seu nı́vel de energia padrã o é Cardboard Cutout, mas nã o posso te
conhecer se você nã o falar.
Ele ergueu a á gua, tomando um longo gole. Com uma mã o irme e
sem pressa, ele pousou o copo e encontrou o olhar dela.
— Nã o sei.
A ú ltima coisa que ela queria que acontecesse era que algué m se
machucasse, mas era difı́cil desistir de trinta mil dó lares. Quã o difı́cil
seria passar algumas horas com este homem por uma quantia que
realmente tornaria a vida dela e de Juno mais fá cil?
Jess nã o tinha certeza de que mulher pensaria que essa resposta
era boa o su iciente. Embora ela pudesse avaliar isso do ponto de vista
intelectual, esse era exatamente o problema: era para se tratar de uma
quı́mica instintiva e nã o quanti icá vel.
Nã o era?
— Você sabia que as girafas fê meas voltam para onde nasceram
para dar à luz?
— Acho que se sua mã e for uma girafa, seria uma queda muito
grande.
Juno inclinou o livro para ela, exibindo a foto de uma girafa e seu
bebê .
Jess ouvia enquanto a ilha lia, mas sua cabeça era um ciclo, a
conversa do jantar girando inde inidamente por dentro. Ela nã o tinha
certeza se estava mais insultada com a sugestã o de que concordaria,
ou furiosa por estar pensando em concordar. Ela seria louca se
perdesse algo assim, certo? Isso compensaria a conta de Jennings,
cuidaria dos planos de saú de pelo resto do ano.
Quando Jess mudou o foco, ela percebeu que Juno já havia fechado
o livro.
— Que cara?
— Aquela que Tia Fizzy nã o pode mais fazer por causa do Botox.
Jess mordeu os lá bios, tentando conter uma risada encantada. Essa
criança estava repetindo exatamente o que ela diria se suas posiçõ es
fossem invertidas.
NANA E POP’S estavam jogando crı́quete no pá tio, Jess pegou uma
cerveja na geladeira e um sué ter do encosto do sofá e saiu para se
juntar a eles.
— Eu vou cuidar deles. Eu sei que você usa essa vassoura todos os
dias.
— Obrigado, Jessica. Nã o podemos ter crianças correndo para
cima e para baixo na rua aqui. Muitos carros, muitas pessoas. E eles
nã o fazem mais aquela vassoura. Já consertei uma vez.
— Foi esclarecedor.
Pop’s olhou para ela por cima dos ó culos; as luzes de fada
suspensas no alto re letidas nas lentes grossas. Uma vela cintilou na
mesa; grilos cantavam em um vaso pró ximo.
Nana largou uma carta e, em seguida, moveu seu pino para a frente
dois.
— Parece Fizzy.
Jess hesitou.
Pop’s assobiou.
O murmú rio silencioso dos clientes da Bahn Thai passou por cima
da cerca, fazendo Jess se perguntar se eles també m podiam ouvir. Ela
baixou a voz.
— Oh, merda.
— Quanto?
— Nó s realmente nã o nos damos bem, mas pelo que eu posso
dizer, ele nã o é um sociopata. Ele nã o é encantador o su iciente para ser
um. — Quando nenhum deles riu disso, Jess disse: — Ele tem muito a
ganhar com a empresa, obviamente. Eu nã o acho que jogar meu corpo
em uma lixeira valeria a pena perder os milhõ es que ele pode ganhar se
eles tiverem um lançamento bem-sucedido.
Aquilo foi um porra de Jess, mas Fizzy deu um pulo, dando uma
olhada no inseto de 15 centı́metros de comprimento que Pombo
claramente nã o tinha ideia do que fazer com ele. Ela o prendeu, bateu
nele com uma pata e, ao mesmo tempo, pareceu meio enojada com a
coisa toda.
— Você acha que nã o saberia usar trinta mil dó lares?
Fizzy riu.
— Você é a aventureira.
— Tudo o que estou dizendo é que você seria louca se nã o izesse
isso.
Elas estavam juntas desde quase sete e meia daquela manhã , e ela
só estava mencionando isso agora?
— Ah. — Jess voltou sua atençã o para Juno, que havia desistido de
passear com Pombo e estava deixando outras crianças acariciarem o
gato. — Você deveria testar o banqueiro Rob para ver como ele se
compara aos outros encontros.
Jess riu. O que ela poderia realmente dizer a Fizzy quando ela
pró pria estava lutando com a preocupaçã o oposta: as pessoas que
receberam uma pontuaçã o de noventa e oito simplesmente
presumiram que essa pessoa seria seu feliz para sempre?
— Mm-hmm.
Essa dissociaçã o fı́sica nã o era nova para ela. Ela sentiu isso
dentro e fora de sua infâ ncia, e a terapia revelou que isso acontecia
quando ela estava evitando pensar sobre o que tudo isso signi icava.
Mas toda vez que ela pensava sobre a perspectiva de que o DNADuo
realmente estava certo e que ela e River poderiam realmente ser bons
juntos, uma parede se erguia dentro dela e todo o monó logo mental
escurecia.
E agora que ela estava aqui, Jess nã o tinha ideia se havia tomado a
decisã o certa ao dizer a David que iria ao escritó rio para se encontrar
com eles. Seu advogado estaria presente. Eles iriam assinar um
contrato... depois disso, Jess nã o tinha ideia.
— Somos dois.
O que você ganha com isso? Ela queria perguntar. É sobre glória,
dinheiro ou outra coisa? Ele certamente nã o estava aqui em busca do
amor.
Jess mordeu o lá bio inferior, engolindo um sorriso incré dulo. Ele
estava tentando.
— Muito bom.
— Basicamente.
Ela nã o foi rá pida o su iciente desta vez, e a risada surpresa
escapou.
— Tudo bem — disse ele, sorrindo para seus sapatos. — Acho que
mereço isso.
— Ok.
E entã o ele se virou e continuou pelo corredor.
Foi só isso? Sé rio? Ele fez a pergunta difı́cil e ela respondeu
honestamente e ele acenou com a cabeça e seguiu em frente?
River esperou na soleira da sala por ela e gesticulou para que ela
entrasse na frente dele.
— Eu sei. E estranho.
Nã o havia muito mais a ser dito, entã o todos se arrastaram para
suas cadeiras. Omar abriu uma pasta e tirou uma pequena pilha de
papé is.
... pelo menos três (3) interações por semana, incluindo, mas não se
limitando a, passeios, telefonemas...
Ele assentiu.
Ele olhou para ela, piscou. Por im:— Minhas preocupaçõ es foram
tratadas antes de você chegar.
— Quais?
Jess olhou para baixo, passando para a segunda pá gina... nenhum
contato ísico é obrigatório por parte do Indivíduo A ou do Indivíduo B
durante a vigência do Contrato, e qualquer contato ica a critério
exclusivo das partes listadas neste documento. GeneticAlly LLC, e seus
agentes, cessionários, executivos e Conselho de Administração, são por
meio deste indenizados contra qualquer reclamação de ação ou danos
resultantes decorrentes de qualquer contato.
Seu cé rebro feminista estava aplaudindo River de pé por garantir
que ela nã o se sentisse pressionada a nada fı́sico. Mas a besta insegura
lá dentro estava mais barulhenta. River queria em preto e branco que
eles nã o tivessem que se tocar? Senhoras e senhores: essa era sua alma
gê mea.
O humor veio em sua defesa.
— Correto.
— Correto.
Olhando para trá s, para Omar, Jess disse: — Uma coisa que nã o
vejo aqui – e é bom, eu acho – mas gostaria que declarasse
explicitamente que nã o quero minha ilha envolvida contratualmente
de forma alguma. Nã o quero que ela seja fotografada ou incluı́da em
nenhuma dessas saı́das ou entrevistas.
— Vou cuidar do meu lado, mantendo ela fora dos holofotes, só nã o
quero que você presuma que també m pode usá -la como suporte.
Ele estava falando sé rio? Ele queria con irmar agora? Quando eles
tinham um contrato pela frente e Jess estava prestes a assinar para ser
sua falsa namorada pelos pró ximos trê s meses?
— Estamos – quer dizer, eu presumi que você já teria feito isso.
— Nã o sobrou ningué m no pré dio esta noite que possa tirar
sangue. Tudo bem?
— Hum... o quê ?
— Você tem olhos muito bonitos — disse ela, e respirou fundo. Ela
nã o quis dizer isso em voz alta. Ela pigarreou. — Desculpe. Aposto que
você entendeu.
Ele concordou.
— Feche o punho.
— Sim.
— Lisa nã o revisou os primeiros estudos na apresentaçã o? — A
carranca dele para baixo em seu braço parecia uma preocupaçã o
pro issional, o inı́cio de um castigo que ele entregaria a Lisa mais
tarde.
— Ai meu Deus.
Ele riu, e o som completo e genuı́no deu um choque eró tico como
uma surra. — Sim. A medida que tu fazes. Está vamos conversando
sobre as implicaçõ es de conhecer cada gene, a maneira como a
informaçã o pode ser manipulada. Você poderia, por exemplo,
selecionar pessoas para determinados empregos com base em seu
per il gené tico?
— Certo? — Ele veri icou embaixo da gaze para ver se ela estava
sangrando e, satisfeito, pegou um novo quadrado, prendendo-o em seu
braço com um esparadrapo. — De qualquer forma, acho que as bebidas
luı́ram e eventualmente eu perguntei se era possı́vel identi icar a
atraçã o sexual atravé s do DNA. Rhea riu e disse que foi a coisa mais
estú pida que ela já ouviu.
— E só isso?
Com o rosto inclinado para baixo, Jess foi capaz de encarar ele
diretamente. Pele lisa e oliva, sombra de barba por fazer, lá bios
carnudos. Jess nã o tinha certeza, mas ela achava que ele tinha trinta e
poucos anos. Ela colocou o iltro mental do tempo em seu rosto,
imaginando-o com sal e pimenta nas tê mporas, as pequenas linhas de
riso nos cantos dos olhos.
— Medo.
Esta nã o era... a resposta que ela esperava. Jess o seguiu com os
olhos enquanto ele se movia com a prateleira de frascos até o balcã o.
Ele nã o estava deixando nada ao acaso. Até Jess sabia o su iciente
para saber que ele poderia fazer essa preparaçã o de amostra na
bancada do laborató rio, mas ela nã o icou surpresa que ele estivesse
usando uma té cnica esterilizada. Mesmo assim, a ansiedade que
crescia em seu estô mago havia chegado a um ponto de ebuliçã o: ela
precisaria encontrar uma maneira de explicar se os resultados
voltassem a noventa e oito.
Jess ergueu o queixo para as duas má quinas enormes idê nticas do
outro lado da sala.
Mas, de costas para ela, ela nã o sabia se ele esboçava um sorriso.
Sua postura assumiu a forma de um foco renovado.
— Normalmente estou aqui de qualquer maneira.
Ele zombou – apreciando sua piada tanto quanto ela esperava que
ele izesse. Jess percebeu que estava sendo dispensada educadamente.
De pé , ela empurrou a manga de volta para baixo.
— Estava em algum canal de histó ria. — Ele virou uma pá gina. —
Praticamente um documentá rio.
— Um documentá rio sobre bordé is, Pop’s? Nã o pode esperar até
que ela tenha, eu nã o sei, dez anos?
— Young Guns? — ela disse incré dula. — Minha ilha de sete anos
assistiu Young Guns.
Juno pulou para o lado de Jess e olhou para seu laptop. Claramente
Jess estava se agarrando a qualquer coisa; ela realmente digitou
Projetos de arte da segunda série na barra de pesquisa.
— Já sei o que quero fazer pelo meu projeto — disse Juno. — Eu
quero fazer um parque de diversõ es de ita de arte com uma
montanha-russa, um carrossel, pequenas pessoas gritando e um Tilt-A-
Whirl.
Juno virou a pá gina para uma montanha-russa de cores vivas, uma
com um laço tã o grande que o estô mago de Jess embrulhou só de
imaginar.
Jess olhou para Pop’s novamente, mas a culpa ainda nã o o induziu a
tirar os olhos das palavras-cruzadas.
Jess estava tã o despreparada para ver seus olhos enrugados e seu
sorriso perfeito e desigual que sentiu aquele estranho rubor de raiva
defensiva. Ela pegou dicas de seu sorriso de passagem, mas geralmente
apenas como diversã o presunçosa ou lashes de risadas
envergonhadas. Jess nunca tinha visto isso assim: brilhante e sincero.
— Sim!
Jess começou a discutir, mas seu telefone vibrou na mesa. Era uma
mensagem do mesmo nú mero desconhecido.
Era real.
Ela sabia que era sua vez de dizer algo, mas suas mã os estavam
vagamente dormentes. Parando, ela clicou no nú mero de telefone e o
inseriu em Americano Flebotomista em seus contatos.
Finalmente, os trê s pontos apareceram, indicando que ele estava
digitando.
Bahn Thai. Park & Adams. 19h00. Estacione no beco nos fundos
— E?
Jess puxou o sué ter pela cabeça, jogou na cama e pegou uma
camisa de cambraia desgastada que ela comprou em uma butique em
Los Angeles no verã o passado. Nã o combinava exatamente com o
benefı́cio do sutiã acolchoado de Fizzy, mas até Jess teve que admitir
que ela (eles) parecia muito bem.
— E aı́?
Ela riu.
Sem exagero: eles estavam bem ali. O restaurante que Jess havia
escolhido icava do outro lado da rua, o que signi icava que ela já
estava sentada em uma mesa do lado de fora quando River apareceu.
Ele estava cinco minutos adiantado, mas pela sua expressã o de
surpresa, Jess só podia presumir que ela atrapalhou seu plano de
chegar lá primeiro, icar confortá vel e estar sentado com facilidade
quando ela chegasse.
Ele parou quando a viu, no meio de um passo, estranhamente pego
de surpresa.
Jess se entregou a uma varredura rá pida. Mesmo que fosse sá bado,
ela presumiu que ele tinha acabado de chegar do trabalho – ele estava
vestindo calça azul-marinho escuro, uma camisa de botã o branca com
o colarinho aberto – mas suas roupas pareciam impecá veis, e seu
cabelo estava recé m-lavado e penteado com os dedos.
Que maneira de deixar bem claro que ela nunca trouxe um cara
aqui antes.
— Precisa de um minuto?
Ele levou a á gua aos lá bios, e Jess de initivamente nã o os viu se
separar e fazer contato com o copo. Ela també m nã o viu seu pomo de
Adã o balançar enquanto ele engolia.
— Isso é intencional?
— Há uma parte de você que se sente meio incomodado com esse
resultado?
— Druken Noodles?
— Eles sã o ó timos — ela con irmou. — Vamos querer sopa para
dois e as duas entradas. — Ela olhou para River. — Quer uma cerveja ou
algo assim?
— Eu ia.
Ela nã o sabia de onde vinha a vontade de rir e gritar, mas engoliu
com um gole de á gua gelada.
— Com sua ilha? — Ele con irmou, e ela acenou com a cabeça. —
Qual é o nome dela?
— Eu sei que ela está fora dos limites no que diz respeito ao
experimento — disse ele. — Eu só estava perguntando sobre a sua
famı́lia. Conhecendo. — Ele fez uma pausa, sorrindo alegremente. —
Por exemplo, tenho duas irmã s intrometidas.
— Por quê ?
— Por que você está surpresa que eu sou o mais novo? — ele
perguntou, seguindo em frente.
— Entendi. — Sua risada rolou por ela, e ele se curvou, dando uma
colherada na sopa. O gemido profundamente sexual que ele deixou
escapar quando provou estava destinado a assombrar os melhores e
piores sonhos de Jess.
— Filha ú nica.
— Por quê ?
Jess o observou evitando os olhos dela. Ele nã o tinha como saber,
mas chamando ela de “competente” era facilmente o melhor elogio que
ele poderia ter feito a ela.
Seus olhos brilharam quando ele olhou para o rosto dela. Com um
olhar que pode ser de arrependimento, ele soltou o braço dela.
— Você é sortuda.
Havia algo em seu tom que a pegou, atraiu seus olhos de volta aos
dele. Nã o que ele parecesse solitá rio, exatamente, mas havia uma
vulnerabilidade ali que a deixou um pouco desequilibrada.
— Uau.
— Cinquenta e sete.
— Uau.
— Exatamente.
— Tudo bem.
Jess engasgou.
— Nã o.
— Sim.
River riu.
— Nã o.
— Estou com ela — disse Jess de volta. Ela cedeu e beijou a testa
de Juno antes de virar o rosto para River. Aparentemente, isso estava
acontecendo. — Desculpa pela interrupçã o.
— Sem problemas.
River concordou.
— Eu tenho.
— Absolutamente.
— Hmm. Isso é normal, eu acho. Algué m já provocou você por ser
chamado de River Nicolas?
O quê?
Jess sorriu.
Ele ica?
River olhou para o reló gio enquanto estendia a mã o para a porta
do carro e a destrancava.
— Estou vendo isso.
Jess procurou por isso, ela realmente fez, mas nã o havia nada em
seu tom que a izesse pensar que ele estava reclamando.
— Oh, ó timo! — Dentes, dentes, dentes. Era tudo que Jess podia
imaginar. — Parece que o encontro foi bom?
Ela mordeu o lá bio. Tudo tinha corrido bem. Melhor que o
esperado. River nã o deveria ser engraçado, e ele de initivamente nã o
deveria encantar sua ilha. E ainda sim.
Jess queria perguntar se isso era có digo para foder, mas nã o
perguntou.
— Ela fez um artigo sobre ele há vá rios anos. Isso é tudo.
— Lugar perfeito para fotos. — Ele con irmou seus temores, e ela
quase engoliu a lı́ngua. Ela já tinha virado o armá rio de cabeça para
baixo para o jantar, e uma camisa de cambraia e jeans era o melhor que
ela poderia inventar. Este era exatamente o tipo de coisa que ela temia.
Ele riu.
— Só quero dizer que você vai icar bem de qualquer maneira.
Ela iria? Ela olhou para sua camiseta cinza-clara surrada e seu
moletom cinza-carvã o. Ela, honestamente, nã o podia icar ao lado do
River “Modelo” Peñ a em frente à baı́a de San Diego em nada que
estivesse em seu armá rio.
Por outro lado, no inal do dia, uma alma gê mea te amava pelo que
havia por dentro, certo?
Michelle era ainda mais bonita de perto, confortá vel em sua pele,
com um sorriso amigá vel. E, claro, havia River, arrancado das grossas
pá ginas de uma revista, parecendo tã o fora do alcance de Jess que ela
só conseguia rir da abordagem dele.
— O que é engraçado?
Ele parou na frente dela e baixou o olhar de sua cabeça para seus
pé s e vice-versa. Sua voz era um arranhã o de lixa.
— Você també m.
— Mentiroso.
— Nã o.
É tudo uma atuação, ela pensou. Até o Drácula era notoriamente
charmoso.
Entã o, tã o rapidamente que ela se perguntou há quanto tempo ele
estava trabalhando nisso, ele se abaixou e beijou sua bochecha. Jess
icou tã o chocada com essa reviravolta que ela pode muito bem ter
estendido um ú nico dedo e tocado sua testa, no estilo ET. Michelle
provavelmente estava assistindo a isso e escrevendo a manchete em
sua cabeça: Uau, eles são namorados totalmente falsos.
— Oi.
River parecia també m ter esperado que ela voltasse com algo
contrá rio e ofereceu um orgulhoso aceno de sobrancelha antes de se
voltar para Michelle.
— Mas ele nos convidou para ir aos escritó rios — disse Jess, e
olhou para River para encontrá -lo sorrindo para ela com ternura.
Estava sacudindo e a tirou de seu ritmo fá cil e inconsciente. — Entã o,
nó s fomos.
— Claro que sim. Olhe para ela. — Ele gesticulou para Jess.
— Estou sentindo que há uma histó ria de fundo aı́, mas vou seguir
em frente. Jess, você pode me falar um pouco sobre você ?
Enquanto Jess fazia um resumo bá sico de sua vida – seu trabalho
de graduaçã o na UCLA, seu primeiro emprego no Google e seu trabalho
posterior como freelancer –, a atençã o de River na lateral de seu rosto
era como a prensa de um ferro em brasa. Ela podia sentir ele sorrindo,
acenando com a cabeça para essas vá rias informaçõ es. Ela podia até
ouvir os pequenos zumbidos de a irmaçã o que ele oferecia de vez em
quando. Como um namorado orgulhoso.
— Eu nã o acreditei.
River riu.
— Eu també m nã o.
— Pense nisso — disse ele. Jess engoliu cerca de um litro cú bico de
ar quando River enroscou os dedos da mã o esquerda com os da direita.
Ele era muito bom nisso. — Eu vi centenas de milhares dessas
pontuaçõ es na ú ltima dé cada. Eu nunca tinha visto um noventa e oito.
Quais sã o as chances de ser eu?
— Como foi?
Assim que ela disse o nome dele, River deu um “Nó s estamos”
de initivo.
Michelle riu.
— Está bem.
— Atraçã o, sim — ele disse sem hesitaçã o. — Mas nó s só estamos
programados para pensar sobre os primeiros encontros em um nı́vel
muito primitivo. Sexo. Acasalamento. Somos animais, em ú ltima
aná lise.
O calor subiu por seu pescoço, e ela foi tratada com uma imagem
mental de River atrá s dela, seu peito apertado sobre suas costas, os
dentes pressionados na pele nua de seu ombro.
Seu cé rebro parecia estar mastigando, digerindo cada uma de suas
palavras. Ele parecia tã o sincero, mas o que era real e o que era apenas
ingimento? A voz de Michelle a tirou de seus pensamentos.
— Jess?
Jess pigarreou.
Ela sorriu.
— E?
— Nã o.
Jess ergueu os olhos para ele. Ele olhou para ela. Ela nã o pô de
evitar espelhar seu novo sorriso particular.
— Só ... — disse ele, procurando — ...me diz alguma coisa sobre o
seu... carro.
— Meu... carro?
Jess riu.
— Signi ica — disse Jess — que é isso que você faz. E claro que
espero que você seja mais suave em todas as coisas relacionadas a
namoro e apariçõ es pú blicas. Quer dizer, eu sou—
Clique.
Ele nã o estava tremendo ou instá vel. Ele a segurou com irmeza,
sua frente pressionada ao longo de suas costas como se nã o fosse
grande coisa. Os sentidos de Jess icaram confusos.
Michelle riu.
Clique.
Jess mordeu o lá bio inferior, contendo uma risada histé rica que
borbulhou em sua garganta.
— Eu posso estar.
— Ai meu Deus.
— Jessica.
Ela soltou a risada. Por apenas uma pequena batida, ela exerceu o
poder de todo o universo. Jess entrou no formidá vel River Peñ a.
Clique.
Clique.
— Ainda em revisã o.
Clique.
Ele suspirou.
— Eu nã o sei sobre alma gê mea, mas eu admito a luxú ria. — Ela
virou o rosto para o lado.
Clique.
Capítulo 13
Fizzy deixou cair uma có pia sobre a mesa antes de tirar a bolsa de
seu ombro.
Jess levou a caneca aos lá bios, escondendo uma careta por trá s
dela.
Jess gemeu.
— E sé rio. Para, por favor.
— Quer dizer, não. Nã o foi divertido no sentido que você quer
dizer. Foi estranho e esquisito..., mas bom? — Ela fechou os olhos com
força. — Pare com isso, Fizzy.
— Parar o quê ?
Jess sabia que Fizzy provavelmente tinha mil perguntas sobre tudo
isso. Ela també m. O que diabos ela e River estavam realmente fazendo?
Como ela se sentia por estar tã o isicamente atraı́da por algué m que ela
nã o tinha certeza se realmente gostava? O que ela deve fazer com todo
esse interesse em seus lombos?
— Puta merda.
Jess nã o precisou se virar para saber que todo mundo estava
olhando para ele. E entã o, mesmo de costas para a sala, Jess sentiu
todos se virarem para olhar para ela.
— Nó s não–
Ela ingiu estar muito, muito absorta em seu trabalho, mas era
inú til. E ela sabia, sem ter que observá -lo, que uma vez que ele pegasse
sua bebida, ele estava vindo em sua direçã o.
— Ei.
Jess e Fizzy olharam estupidamente para ele. Ele era tã o lindo e
dominante que tudo que Jess conseguiu responder foi um simples "o
quê ?".
— Foi muito bom. Ela foi legal. Mesmo que ela tenha mencionado
minhas mã os ú midas.
— Nã o.
— Para.
— Fizzy. Sé rio, espera. — Jess ergueu os olhos para ela. O efeito da
consideraçã o de River essa manhã havia passado, e o calafrio de pavor
tomou conta dela, da cabeça aos pé s. — Hoje é segunda-feira.
— E?
— E?
Jess apontou o dedo indicador para baixo em sua có pia do jornal.
— Se o objetivo era chegar aqui rá pido, poderı́amos, nã o sei, ter
pegado um carro?
— Eu entrei em pâ nico, ok? Parece muito mais fá cil quando eu
ando.
— Silê ncio.
— Posso ver seis có pias da primeira pá gina bem ali. Só precisamos
pegar todos elas.
— Vagamente.
— Eu puxei meu tendã o e mal pude andar por uma semana. Para
você e seu livro. Mas você ainda disse a Daniel que eu distendi um
mú sculo vaginal em um acidente sexual. Você me deve essa.
Nã o foi a primeira vez que ela ameaçou, de initivamente nã o seria
a ú ltima.
— Certo.
— Vamos. Ela vai deixar Pop’s nos jornais e ir direto para a nã o-
icçã o infantil. Temos cerca de trinta segundos.
— E onde comerı́amos?
— Na Nana e no Pop's.
Jess olhou para a ilha por cima do ombro enquanto ela escorria o
macarrã o.
Eu não sou minha mãe. Não estou colocando Juno por último. Eu
posso explicar.
— Você ica bonita com seu cabelo assim. — E entã o, com a mesma
rapidez, sua atençã o foi atraı́da para o prato. — Oh, espaguete! — Ela
deu uma garfada enorme, os olhos fechados enquanto mastigava.
Quem disse que dinheiro nã o traz felicidade nunca tinha visto essa
cena.
Capítulo 14
O fato de eles terem escolhido dar alguns milhõ es legais para uma
empresa cujo objetivo era combinar as pessoas com suas almas
gê meas deu a Jess a esperança de que eles e seus convidados nã o se
pareceriam com o homem do Banco Imobiliá rio.
Dito isso, bastava olhar para River quando ele a pegou na frente de
seu pré dio e ela icaria feliz em jogar sua carteira e senhas bancá rias
em quem quer que estivesse perguntando. Ele estava em um terno
azul-marinho sob medida. Sapatos polidos. Cabelo perfeito quase
comprido demais, olhos brilhantes. O pomo de adã o que ela pensou em
lamber mais de uma vez desde a entrevista em Shelter Island, uma
semana atrá s. Brandon tinha falado com ela antes, insistindo que
GeneticAlly compraria seu vestido e mandaria algué m para fazer seu
cabelo e maquiagem. Um gesto atencioso e generoso, serviu
principalmente para destacar que o evento era Muito Fodidamente
Importante, o que deixou Jess respirando fundo em um saco de papel.
E justo quando ela se convenceu de que era socialmente há bil e
atraente o su iciente para aguentar icar nos braços do Dr. River Peñ a a
noite toda, ele saiu de seu carro parecendo um mú sculo só lido e
energia sexual derramada por uma má quina so isticada de engenharia
alemã em um terno.
Sua pergunta ecoou por ú ltimo, e mais alto. Ele está corando?
— Elas estã o investidas. Nisso. — Ele suspirou, mas ela sabia que
ele estava apenas ingindo estar exasperado.
Suas irmã s estavam investidas neles? Isso era adorá vel ou
assustador?
A ó bvia atraçã o dela por ele ajudou a aumentar a con iança em sua
empresa, o que ajudou seu bolso, e també m ajudou a con irmar tudo o
que ele havia dito do ponto de vista cientı́ ico todo esse tempo. Jess
sabia como era importante para River que o mundo visse o impacto de
seus dados.
— Eu també m
Mentiroso.
— Me dê um exemplo.
— Mesmo.
Depois de uma longa pausa, durante a qual Jess presumiu que ele
decidira ignorar o pedido dela, River inalmente falou.
Do peito à testa, sua pele icou quente. Jess olhou para seu vestido.
Era de um azul profundo, com alças inas pretas. Delicados bordados
metá licos de poeira estelar estavam espalhados em pequenos grupos
artı́sticos por todo o vestido, dando a sensaçã o de um cé u estrelado
suave. A guarniçã o sutil de renda preta cruzou acima e abaixo dos seios
e ronronou vestido sensual, mas Juno e Fizzy – suas duas cervejas –
literalmente icaram sem palavras quando ela saiu do provador
usando, entã o Jess con iou em suas reaçõ es sobre ela, sem a hesitaçã o
de que ela pudesse estar mostrando muita pele.
— Eu sei que você está sendo paga para estar aqui — acrescentou
ele calmamente. — Entã o, aı́ está a minha pergunta. Você pensou?
— Mesma pergunta, mas com a colô nia — disse Jess com uma
rolha de emoçã o em sua garganta. — E você está recebendo muito
mais dinheiro.
— Bem, pelo que vale a pena, esse vestido é … — Sua voz també m
saiu rouca, e ele tossiu em seu punho. — També m parece muito bom
em você .
— Vá para o elevador à direita — disse ele. — Vai levá -los direto
para cima.
— Acho que preciso esclarecer algo. — Jess olhou para ele, os olhos
ixos na parede à frente. — Sobre minhas irmã s.
— Oh? — Ela nã o tinha ideia de para onde isso estava indo, mas o
ritmo do segundo elevador mais lento do mundo sugeria que haveria
muito tempo para descobrir.
— OK.
— Elas acham que isso — ele gesticulou entre eles — é muito… —
Ele fez uma pausa, e entã o deu a ela um sorriso forçado. — Muito
emocionante. Mas — ele acrescentou rapidamente — por favor, nã o se
sinta pressionada pelo entusiasmo delas.
— E estou te dizendo isso agora porque lá em cima tem uma sala
cheia de pessoas esperando que, você já sabe, estã o profundamente
investidas inanceiramente em como você e eu interagimos, e eu nã o
quero que você vá lá pensando que tudo é ingimento. — River en iou a
mã o no bolso interno do terno e tirou o telefone. Ele o ligou, abriu em
suas fotos e começou a rolar. Finalmente, ele encontrou o que estava
procurando e virou a tela para encarar ela.
Por um segundo, Jess nã o teve ideia do que estava vendo. Um dublê
esquisito de River era seu melhor palpite. Ele tinha vinte e poucos
anos, mas sua postura parecia ainda mais jovem, muito menos
con iante.
— Sou eu. — Ele folheou mais alguns, mostrando a ela vá rias fotos
da mesma versã o idiota de realidade alternativa dele mesmo.
Seu estô mago saltou em sua garganta porque nos ú ltimos dez
segundos, ela tinha esquecido onde eles estavam. Eles saı́ram, mas
River parou no saguã o de má rmore que levava a uma ú nica porta da
frente.
— Eu me formei no colegial cedo e comecei em Stanford quando eu
estava a quatro meses de completar dezessete anos.
— Puta merda.
— E assim que elas sã o. Elas foram para a escola na Costa Leste
quando eu estava no ensino mé dio e... nem sempre... Elas se sentem
responsá veis por mim. — River lambeu os lá bios e olhou para a porta
antes de voltar para ela. — Tudo isso é para dizer: eu nã o estava
pensando nessa sala cheia de pessoas quando usei a colô nia mais cedo.
Eu estava pensando em você .
Claro: River nã o era um idiota rude e insensı́vel. Ele era tímido. Ter
que fazer essa parte do trabalho provavelmente era pé ssimo para ele.
Jess sentiu isso tã o claramente como se ela tivesse acabado de ler em
um pan leto intitulado Instruções para sua alma gêmea. Enquadrar
cada uma de suas interaçõ es passadas atravé s desta lente apenas
solidi icou para ela que River nã o era nada como Brandon – todo
sorrisos e charme fá cil. Ele se sentia mais confortá vel de frente para o
balcã o de costas para a sala, apenas ele e alguns tubos e bilhõ es e
bilhõ es de nucleotı́deos emparelhados.
— Jess Davis.
Jess seguiu seu olhar e fez uma estimativa rá pida de que havia
mais de cinquenta pessoas na ampla sala de estar com janelas do chã o
ao teto com vista para a baı́a de San Diego e a ponte Coronado. Cada
um deles em trajes formais, cada um deles olhando para o casal
Diamond.
Durante tudo isso, a mã o de River foi icando cada vez mais suada
em seu aperto.
É uma conexão que você pode sentir quando olha para ele?
Jess lavou as mã os, reaplicou o batom e deu uma olhada dura, mas
encorajadora, no espelho. Essa festa deve ter custado milhares de
dó lares. Ela estava usando um vestido que outra pessoa pagou. Quem
ela estava ingindo ser? Apenas supere isso e vá para casa.
Mas quando ela saiu para o corredor, River estava lá esperando, um
tornozelo cruzado sobre o outro, apoiado casualmente contra a parede
oposta. A postura dele era tã o inconscientemente con iante, tã o
sensual que Jess sentiu as pernas apertarem com força em resposta.
Ele se endireitou.
— Você está bem?
— Eu preciso també m.
Ela percebeu imediatamente que ele nã o gostava dessa frase... mas
també m nã o podia discordar.
Ela exalou.
— Nã o. — Houve uma longa pausa em que parecia que ele queria
mais, mas eles estavam parados em um corredor em uma festa, e ela
honestamente nã o sabia o quanto mais havia a dizer sobre ela e Alec.
Em retrospecto, eles nunca foram só lidos. A gravidez nã o acabou com
as coisas; apenas acelerou a morte. — Ele nã o está presente — ela
terminou, eventualmente. — Ele nunca foi realmente. Nó s terminamos
antes de Juno nascer.
— Sim.
— Sinto muito, Jess.
— Nã o, sé rio, Nana Jo e Pop’s sã o as melhores pessoas que eu já
conheci. Eu sabia desde muito jovem que estava melhor com eles.
Jess icou inquieta com a rapidez com que ele a leu. Um pâ nico que
ela nã o entendeu completamente subiu em sua garganta, fazendo ela
querer procurar uma saı́da. Essa festa era o tipo de coisa que acontecia
com a heroı́na da histó ria, nã o com a melhor amiga. O que ela estava
fazendo aqui?
— E?
Ele estava certo. Ela sentiu que se endireitava, inclinando para ele.
— Aı́ está você ! — uma voz gritou. — River, desça aqui e traga
aquela sua jovem.
Jess riu.
Pegando a mã o dela, ele a levou de volta pelo corredor para a festa,
em direçã o ao minú sculo velho que gritou seu nome. Ele devia estar na
casa dos oitenta anos, usando ó culos de aro metá lico e um terno preto
surrado.
Ao lado dele estava uma mulher com uma espessa trança de cabelo
branco em volta do topo da cabeça e sem maquiagem. Ela estava
usando um vestido preto simples com gola de renda e pé rolas.
Minha Jessica.
Ela nem mesmo teve tempo para se recuperar; os dois minú sculos
octogená rios vinham em sua direçã o, cada um querendo um abraço.
Jess nã o era uma pessoa emocional por natureza; ela adorava a
ilha e os avó s até as estrelas e vice-versa, mas nã o chorava em
comerciais e era a ú nica pessoa em sua vida que conseguia ouvir
“Someone Like You” de Adele sem chorar. Mas o momento a pegou
como um anzol, e ela sentiu uma onda de emoçã o subir, salgada, em sua
garganta.
Foi brega, mas sua entrega foi fantá stica. Alé m disso, ele pode ter
sido o menor e mais doce velho que Jess já vira. Ela riria de qualquer
piada que ele contasse pelo resto do tempo.
Todos gemeram.
Dotty gemeu ao mesmo tempo que Jess disse: — Ok, essa aqui é
fofa.
— Ou “Na”?
— Uau.
— Ai, Deus.
Seu há lito cheirava a hortelã e uı́sque. Para falar a verdade, Jess
queria.
— OK.
Jess viveu na Califó rnia toda a sua vida, mas raramente chegava ao
oceano. Parecia muita preparaçã o – a areia, as multidõ es, encontrar um
estacionamento – mas uma vez que ela estava lá , ela invariavelmente
se perguntaria por que ela nã o fazia isso com mais frequê ncia.
— Nana?
Pop’s se virou para encará -la; cada grama da dor de Nana estava
re letida em sua expressã o. Ele abriu a boca, mas nã o saiu nada.
— Ela caiu.
— Eles acham que é uma fratura no fê mur, — disse ele, — mas
estamos esperando o mé dico. Está vamos jogando boliche naquele
novo lugar em Kearny Mesa e ela escorregou. — Ele colocou a mã o
sobre a boca. — Eles tiraram os raios-X vinte minutos atrá s, mas
ningué m veio me dizer...
— Já volto — disse Jess, e se inclinou para que Nana pudesse vê -la.
— Nana Jo, já volto.
— Você é famı́lia?
A Dra. Reynolds voltou com Jess para o quarto, onde Pop’s mudou
sua cadeira para a cama e voltou a segurar a mã o de Nana. O suor
gotejava em sua testa, e era claro que ela estava com dor, mas
trabalhando bravamente para esconder isso.
Jess nã o gostou de nenhuma das opçõ es. Ela caiu pesadamente em
uma cadeira.
Seu telefone tocou em sua mã o, e ela olhou para baixo para ver o
nome de River.
— River?
— Nã o.
— Ah nã o.
— Nã o, ei. Claro que vou pegar ela. Eles vã o me deixar pegá -la?
— Eu posso ligar e... — As lá grimas transbordaram e Jess se
curvou, pressionando o rosto contra a mã o. — Oh meu Deus, eu recebi
uma ligaçã o à s quatro. E amanhã –
— OK.
Jess se sentiu mais clara, mas lenta. Ela imaginou o calendá rio na
cozinha, as caixinhas minú sculas com os coraçõ es de Juno e uma
caligra ia borbulhante.
— Ela tem balé , mas pode pular. Você pode trazer ela aqui?
Estamos na Scripps.
— Vai icar tudo bem — disse River suavemente. Jess acenou com
a cabeça. Ela precisava acreditar també m.
Ela ligou para a escola e providenciou para que River pegasse Juno.
Ele mandou uma mensagem assim que a pegou, enviando uma foto dos
dois fazendo caretas idiotas, e depois outra de Juno seguramente
a ivelada no banco de trá s de seu Audi preto brilhante. Francamente,
Juno parecia encantada por estar ali. Jess só podia imaginar o assé dio
que teria para comprar um carro novo, “como o de River Nicolas”.
Ela entregou as lores a Jess, deu um beijo nos lá bios da mã e e
subiu no colo de Pop’s.
NANA PASSOU por uma cirurgia com louvor. Ela foi levada para a
recuperaçã o e, enquanto Pop’s podia passar algum tempo com ela, Jess
e Juno izeram um pequeno piquenique com sanduı́ches, frutas e
biscoitos na sala de espera da famı́lia.
— Oh. — Uma dor aguda subiu do estô mago de Jess até o esterno.
— Bem, nó s somos amigos. Entã o, quando eu precisei de ajuda para te
buscar, ele se ofereceu para me ajudar como amigos fazem.
— Ah.
— Mas estou muito feliz que você goste dele. — Jess se inclinou
para frente, beijando a testa da ilha. — Foi um longo dia, nã o foi?
— Ei.
— Ela é uma campeã . Correu tudo bem. — Jess sorriu. — Ela está
dormindo agora, mas tenho certeza que ela vai começar a importuná -
los para deixá -la ir amanhã .
— Nah. Você deveria ter me visto quando ela era mais jovem. Uma
cadeira de carro, sacola de fraldas, carrinho de bebê e mantimentos. Eu
daria um excelente polvo. — Com o controle remoto na mã o, ela
destrancou o carro.
Antes que ele pudesse se virar, ela segurou seus dedos com os dela.
— River. Ei.
Ele franziu a testa para ela, esperando, mas quanto mais ela icava
lá olhando para ele, mais sua expressã o mudou de preocupaçã o para
compreensã o. Finalmente, ele virou a mã o na dela, entrelaçando os
dedos.
— Jess.
Ela esperou por mais, mas parecia ser tudo, a exalaçã o silenciosa
de seu nome.
— Sim.
Ele se afastou e olhou para ela, uma corda conectando algo dentro
dela a ele. Eles estavam quietos, mas o ar nã o parecia vazio.
Seu carro.
Juno.
— Ai meu Deus. — Jess levou as mã os ao rosto, sem fô lego por um
motivo inteiramente novo. — Nã o, eu comecei. Eu sinto muito.
— Ei você .
— Oi, querida.
O que signi ica que, na melhor das hipó teses, ela só tinha uma
chance em cinco de morrer este ano.
Entorpecida, Jess pediu café na lanchonete, pegando uma salada de
frutas e bagel para Pop’s. Ela se curvou, inalando as xı́caras, tentando
enganar seu cé rebro e desviá -lo de uma espiral de pâ nico. Um cheiro
fraco da bebida mal foi registrado.
Ela virou a esquina para ver River parado de costas para a porta,
bem ao lado de Pop’s ao lado da cama de Nana. Nana Jo estava
acordada, com os olhos embaçados, mas sorrindo. Visto de trá s, a
postura de Pop’s parecia mais animada do que em 24 horas, e ele
segurava uma xı́cara para viagem na mã o esquerda.
Nana ainda nã o tinha visto Jess na porta – ela estava quase toda
escondida pelo corpo de River – mas Jess teve um vislumbre dela
sorrindo para ele. Jess nã o podia culpar sua avó ; Dr. Peñ a era, sem
dú vida, mais bonito do que ela demonstrara.
— Bem, você é um doce por vir, querido. Jess nos contou tudo
sobre você .
Congelada na porta, Jess nã o sabia o que fazer ou dizer. River nã o
estava colocando Nana e Pop’s no modo “Nó s temos companhia” nem
um pouco.
— Parece que você tem uma empresa muito chique lá em La Jolla
— disse Pop’s.
— Mas ele está certo — disse Pop’s, curvando-se para beijar sua
testa. — O que você acha? Devemos ver se fomos feitos um para o
outro?
— Eu nã o acho que você teve seu café especial essa manhã — ele
disse. — Fizzy disse que você nã o tinha aparecido.
Nana Jo deu a Jess uma carranca como se dissesse Isso é tudo que
você tem a dizer a ele, e quando River olhou para o lado ao som de um
monitor bipando, Jess respondeu desamparada, dando de ombros. O
que mais você quer que eu diga?
— Posso te acompanhar?
— Nã o. — Ela ergueu o café para ele. — Isso vai me salvar hoje.
Ele se endireitou.
E Jess nã o podia negar: ela també m sentiria a perda. Ela nã o queria
que ele se tornasse indispensá vel e precioso para ela. Ela nunca
precisou de ningué m, exceto seu pequeno cı́rculo. Ela nã o sabia se era
capaz de con iar – cair de costas nos braços de outra pessoa.
Era injusto depois de tudo que ele tinha feito por ela nas ú ltimas
vinte e quatro horas, mas o medo rastejou dentro dela como uma
trepadeira rastejante e estranguladora de qualquer maneira.
— Ok, bem, isso é tudo que tenho. — Ele ajustou a alça em seu
ombro, a testa franzida em confusã o. A Jess desta manhã nã o era a
mesma mulher que ele beijou fora do carro na noite anterior. — Eu te
busco mais tarde.
Se ela pensava que sua expressã o era plana antes, ela estava
errada. Porque com isso, sua boca se endireitou, a sobrancelha icou
completamente lisa.
— Você está certa — disse ele. Ele olhou para os sapatos por um
momento esclarecedor, e entã o sorriu rigidamente para ela. — Me
desculpe se eu iz você se sentir desconfortá vel na noite passada, ou
hoje. Me avisa se precisar de mais alguma coisa.
Ela o queria aqui, ela o queria bem aqui, mas esse sentimento exato
a estava fazendo querer estender a mã o e empurrar ele para longe.
— E que nã o sei o que fazer com o que estou sentindo — Jess
admitiu de repente.
— Nã o estou aqui pelo preço das açõ es, Jess. Eu já disse isso antes.
Nã o é sobre o dinheiro.
— Mesmo?
— Mesmo. Eu quero estar aqui para te trazer café . Quero levar você
para jantar fora e pedir a mesma comida e ouvir você recitar as
probabilidades de que nos encontrarı́amos. Eu quero odiar – participar
de eventos sociais so isticados juntos.
— Eu posso dizer que você nã o tem certeza do que dizer — ele
disse, se curvando para beijar sua bochecha. — Tudo bem. Você sabe
onde me encontrar quando estiver pronta.
Capítulo 18
Ele a ignorou.
— Nã o.
Ele olhou para Nana Jo, depois para Jess, e entã o piscou,
desamparado, para as palavras-cruzadas.
— Octogená rio?
— Bem, nã o é minha culpa que eu nã o posso tirar meus olhos de
você . Você é muito bonita.
Quando Nana Jo voltou para a cama, já passava das cinco e, embora
Jess tivesse icado sentada a maior parte do dia, estava tã o esgotada
mentalmente que só queria se enrolar na cama… inferno, ela felizmente
encontraria um lugar no chã o de linó leo. Mas mais do que isso, ela
queria algum tempo com Juno enquanto sua ilha estava acordada. E
comida. Ela nã o comia desde que pegou um muf in seco por volta das
dez daquela manhã , e seu estô mago embrulhou de aborrecimento.
— Eu estou vendo.
— Nã o gosto quando você está fora da cidade — disse Jess com um
bocejo. — Eu te culpo por ontem.
Jess acenou com a mã o, despreparada para falar sobre isso ainda.
— Ele está fora da cidade, lembra? O que signi ica que você nã o
conseguirá evitar a conversa sobre River. — Sua melhor amiga se
sentou à mesa e deu um tapinha na cadeira ao lado dela.
— Você conhece ele há semanas. Você está me dizendo que ele
disse que queria te levar para jantar e ouvir você ser nerd. Ele quer
estar ao seu lado sem que você se sinta culpada. Ele admitiu que quer
você na cama dele – esse pobre garoto está apaixonado, Jess, e você vai
– o quê ? Empurrar para o lado?
— Mas você nã o é sua mã e, Jess. — Fizzy pegou a mã o dela,
levando à boca para beijá -la. — Nã o há nem uma gota de Jamie Davis
em você .
— Eu sei.
Ela esperava que a palavra Dormir saı́sse de sua boca. Mas em vez
disso: — Eu iria para a casa dele.
— Entã o vá . Vou icar aqui com a criança o tempo que você
precisar.
De repente, ela nã o tinha ideia do que dizer. Ele estava parado na
frente dela com calças justas que caı́am na cintura e uma camiseta
desgastada de Stanford. Ele estava descalço e de banho tomado. Seu
cabelo estava molhado e penteado para trá s com os dedos; seus lá bios
eram suaves e perfeitos. Desembaraçada e nua, Jess sabia em seus
ossos que ele era seu noventa e oito.
— Fizzy.
Ela tateou cegamente pela bolsa que deve ter deixado cair assim
que suas costas bateram na porta, e se atrapalhou com a né voa de
luxú ria, puxando o quadrado de papel alumı́nio.
Jess estendeu a mã o para tirar o cabelo de seus olhos e acenou com
a cabeça, incapaz de pronunciar as palavras.
— Diga — disse ele, curvando para beijá -la. — Tenho certeza. Você
tem?
River encostou a testa em sua tê mpora, deixando ela ser a ú nica a
recebê -lo. Os dois pararam para uma pausa sem fô lego, e naquele
tempo Jess existia apenas no io da navalha a iada da felicidade e
desconforto. Cuidadosamente, se mantendo quieto, ele a beijou – tã o
doce e penetrante – e ela pô de inalmente exalar.
Ele estava falando sé rio? Eles absolutamente nã o podiam parar.
Seu corpo de rainha do drama tinha certeza de que morreria se
tentasse.
— OK. — Seus lá bios se arrastaram por sua mandı́bula e ela pô de
sentir seu sorriso. — Eu nã o vou.
Ele a beijou novamente, afastando-se com uma mordida suave.
Quando ele sussurrou em meio a uma risada:
— Sinto muito. Eu nã o sei por que estou tremendo — e ela sentiu a
verdade sob suas mã os, ela pô de exalar um pouco mais porque a fez
pensar que talvez ela nã o estivesse sozinha nesse sentimento – tã o
desesperada por ele que ela poderia chorar.
Jess disse apenas duas palavras – “Eu vou” – antes que a atingisse
como uma explosã o, a divisã o de calor e alı́vio se espalhando por todo
seu corpo. Ela ainda estava muito confusa para apreciar o abandono de
River, mas icou gravado no fundo de sua mente como ele gemeu seu
nome contra seu pescoço, icando irme e imó vel sobre ela.
Ela icou maravilhada com aquele homem que, um mê s atrá s, ela
conhecia apenas como “Americano”, como ranzinza, quieto e egoı́sta.
Esse homem tı́mido e brilhante ajoelhado na frente dela que apareceu
sem ser perguntado, que colocou a bola em sua quadra, que perguntou
se ela tinha certeza e disse que eles podiam parar. Ela sentiu seu
controle escapando por entre os dedos, e as duas sı́labas de seu nome
tatuaram um eco permanente dentro dela.
— Talvez nã o — Jess disse, olhando para ele. — Eu ainda quero que
você diga.
— Isso foi surreal, nã o foi? — ele inalmente disse. — Nã o me sinto
a mesma pessoa de uma hora atrá s.
— Eu també m.
— E o beijo na festa–
— Claro.
— O estacionamento do hospital.
— Estou feliz que você nã o pediu. Eu teria dito sim, mas nã o estava
pronta ontem.
Ele abriu a boca, mordendo suavemente a ponta do dedo.
— Quando?
Sob o cobertor, River passou as mã os por suas coxas nuas e soltou
um suspiro longo e lento.
— Nã o.
Ele riu, inclinando a cabeça para trá s e dando a ela uma visã o
deliciosa de sua garganta.
— Acho que nã o deveria icar surpreso que você saiba exatamente
como aconteceu.
O sorriso de River vacilou; Alec estava lá com eles agora. River
estendeu a mã o para torcer uma longa mecha de cabelo dela em torno
de seu dedo.
Jess pigarreou.
— Alec, e nã o.
— Que idiota.
Ela adorou que essa fosse sua reaçã o, mas ela nã o precisava disso.
Jess riu e ele a moveu para frente, mais perto. Ela desviou.
— Uau.
River sorriu.
— OK, UMA EM cada mã o. — Ela esperou até que Juno puxasse as
luvas de forno com garras de lagosta até o im.
— Nana vai icar muito feliz. Que dia ela volta para casa?
Usando uma espá tula, elas moveram cada biscoito para a grade de
resfriamento.
— Entã o, domingo?
— Isso mesmo.
— Excelente plano.
— Nó s poderı́amos apenas ter abraços e um dia de cinema aqui.
Nana provavelmente vai estar cansada.
Na sala de estar, seu coraçã o deu um salto quando ela espiou pela
janela e viu River parado do outro lado.
Jess olhou para baixo, gemendo. Iria matá -la vestir algo diferente
de moletom?
— Está bem. — Jess engoliu em seco. — Você ... hum, você quer
entrar?
Radiante, ele olhou alé m dela, e ela se viu seguindo cada ponto de
sua atençã o, tentando ver o apartamento atravé s de seus olhos. Nã o
era minú sculo, mas també m nã o era grande. Ela esbanjou no sofá
amarelo e cadeiras azuis brilhantes, mas repintar os armá rios da
cozinha nã o era o mesmo que comprar novos, e em vez de arte
cobrindo as paredes, ela tinha fotos emolduradas e projetos de arte do
ensino fundamental.
— Sim, mas minha casa parece um showroom pelo qual você anda
para escolher os acessó rios do armá rio. — Ele sorriu para uma foto de
Jess e Juno na praia. — Nã o é um lar.
— A gente tá fazendo pra levar pra Nana Jo. Você quer ver meu
quarto?
River sorriu.
— Eu adoraria ver seu quarto. Mas você acha que eu poderia falar
com sua mã e por um segundo primeiro?
— OK! Eu vou deixar isso pronto. Alé m disso, mamã e disse que
podemos pegar um cachorro! — Ela correu para fora da sala de estar e
pelo corredor. — Estarei esperando!
Quando ela olhou para ele, ele já estava olhando para ela, os olhos
ixos em sua boca. A tensã o apertou seus ombros e ele passou a mã o
pelo cabelo.
Eles nã o podiam icar assim por muito tempo, mas Jess fechou os
olhos e respirou fundo. A estranha dor vazia em seu peito se acalmou.
Ela icou aliviada por ele estar tã o claramente envolvido nisso
quanto ela. Ela estava ansiosa para colocar as mã os de volta na pele
dele, para sentir aquela conexã o reverberando por seus ossos. Ela se
sentia culpada por nã o poder simplesmente convidar ele para icar,
mas també m se preocupava em como eles manteriam o
relacionamento de Juno, ou se isso era mesmo a coisa certa a fazer. E
ela tinha certeza de que esses sentimentos icaram evidentes em seu
rosto quando ela se afastou e olhou para ele.
— O quê ?
Jess riu.
— Isso signi ica que a mã e de Juno també m terá uma festa do
pijama?
Ele engoliu uma risada, respondendo com um fá cil: — Ei, Brandon.
Ela abriu a boca para dizer que nã o era necessá rio, eles poderiam
descobrir algo, era o programa Today, pelo amor de Deus – mas ele
balançou a cabeça com irmeza.
— Sim?
Ele riu.
— Você nã o tem ideia. Tenho certeza de que trarã o fotos da vez em
que cortaram meu cabelo antes de um baile na escola. Nã o parecia
incrı́vel. Foi també m na fase em que a palavra do meu dentista era lei, e
eu usava meu capacete o dia inteiro. Estou absolutamente certo de que
vou me arrepender disso.
River: Trezentos.
Narração: Um noventa e oito. Isso signi ica que, dos trê s mil e
quinhentos pares de genes que pontuam a compatibilidade, noventa e
oito por cento deles foram considerados idealmente compatı́veis.
Natalie: River, como cientista principal, qual foi sua reaçã o inicial?
Natalie: E?
Natalie: Entã o, o que vem a seguir para você s dois? Você s estã o
namorando?
O DIA TINHA sido tã o caó tico que nã o ocorreu a Jess icar ansiosa
com o jantar com as irmã s de River até que as duas estavam
literalmente entrando no restaurante. Mas do lado de fora das portas
em arco de vidro, seus pé s icaram grudados na calçada e ela deu
alguns passos para longe, se pressionando contra a lateral do pré dio.
— Ah, merda. — Inclinando-se para trá s, Jess olhou para o cé u, azul
incandescente no crepú sculo. Hoje tinha sido bom – melhor do que
bom, foi perfeito – entã o por que ela estava pirando?
— Tudo certo?
— E fá cil dizer isso agora, quando seus anos difı́ceis já passaram.
— Ela apontou para a testa. — Você nã o vê minha espinha de estresse?
Ele riu, seu olhar brilhando na luz fraca. Quanto mais ela olhava,
mais segura icava. Ele se comunicava muito com aqueles olhos.
Tranquilidade, claro, mas també m atraçã o, alegria e algo mais – algo
que parecia muito com adoraçã o.
Jess seguiu sua atençã o para suas caras calças cor de carvã o,
passadas com perfeiçã o. Elas… nã o pareciam sacos de lixo, mas Jess
gostou da brincadeira de irmã de qualquer maneira. Obviamente, toda
a famı́lia poderia entrar e sair das pá ginas de uma revista de moda
confortavelmente.
— Jess, essas sã o minhas irmã s desagradá veis, Natalia e Pilar. Por
favor, nã o acredite em nada que elas te digam.
— Puta merda, você é tã o bonita. — Ela se virou para a irmã . — Ela
nã o é tã o bonita?
Jess olhou para River, passando essa para ele. Mas entã o suas
pró prias perguntas borbulharam à superfı́cie. Elas sabiam do dinheiro?
Quã o honesta ela deveria ser aqui?
— Eu era o idiota.
Ela riu.
— Eu entendo que meu irmã o se parece assim agora, mas isso nem
sempre foi verdade. Picar as roupas de outras pessoas teria sido a
menor de suas preocupaçõ es.
— Para com isso. — Ela olhou para River e depois de volta para a
foto. — Esse nã o é você .
— Até os 21 anos, ele nã o tinha jeito para falar — disse Pilar.
River riu.
— Ele fez a mesma coisa quando concorri com Nikki Ruthers para
o conselho estudantil — disse Pilar. — Ele ofereceu sessõ es de tutoria
em grupo para todos que votassem em mim. Eu ganhei com uma
enorme diferença.
— Eu sou dois anos mais velha que River — Natalia disse a Jess —
e Pilar é um ano mais velha que eu, entã o ele era como nosso bebê
també m. Nossos pais trabalhavam em tempo integral e, naquela é poca,
nã o havia como pagar um acampamento de verã o para as trê s crianças,
entã o nossos verõ es eram passados com a Abuela. River era seu
pequeno ajudante, e todas as tardes eles se sentavam juntos e
assistiam a novelas.
— Elas estã o apenas sendo dramá ticas — ele disse, e entã o riu
dela, murmurando — Assassino? Sé rio?
Jess se virou para olhar para ele e o encontrou olhando para ela
com uma diversã o tã o terna que era quase como se ele tivesse acabado
de passar os braços em volta dela bem na mesa.
— Estou feliz que você tenha tanto carinho pelo meu cará ter —
disse ele, voltando sua atençã o para a frente novamente.
— A quantidade perfeita.
— Gosto de você .
— Eu preciso.
— Alé m disso, eles nã o sã o... pessoas calorosas por natureza, entã o
icou muito quieto quando a Abuela morreu. Papai nunca foi fã de me
ver sentado com ela, assistindo a novelas. Ele nã o entendeu – e quando
tentei a assistir depois que ela morreu, como uma forma de icar
conectado a ela, ele nã o aceitou. Ele queria que eu tirasse minha cabeça
das nuvens e pensasse sobre um futuro que poderia sustentar uma
famı́lia.
— Já havia ocorrido a você antes de Natalia dizer esta noite que o
que você está fazendo agora está – de uma forma indireta – meio que
conectado a tudo isso? Aposto que sua abuela teria adorado.
— Nã o foi, mas eu acho que é verdade. Pense em quantas histó rias
de amor iremos construir.
Jess inclinou a cabeça e olhou para ele. Ela nã o podia acreditar que
icou nua com esse homem.
— O quê ?
Capítulo 21
— Sim. Provavelmente.
Jess guiou seu queixo para que Juno estivesse olhando para ela
novamente.
— Tem certeza? Porque signi ica que à s vezes ele estará conosco,
fazendo coisas.
— Eu sei.
— Eu sei.
Deus, nã o era a hora nem o lugar para ter essa conversa.
— Juno — disse Jess com autoridade gentil. — Olhe para mim.
— O quê ?
— E importante para mim que você ouça isso — disse Jess. — Você
perguntou sobre River, entã o eu quero dizer isso agora. Você é minha
famı́lia. Somos você e eu, e ningué m pode mudar isso, entendeu?
Ele a beijou uma vez, sem fô lego e sorrindo, e entã o caiu para o
lado em sua pró pria poça de exaustã o.
— Bom.
Jess rolou, meio esparramada sobre o peito, e sorriu para ele.
— Essa é uma boa loucura ou– Ah. — Quando ela olhou para cima
em resposta ao seu tom, um sorriso inquieto espalhou-se pela boca e
ele empurrou o travesseiro para poder ver ela melhor. — Eu queria te
dizer isso assim que cheguei aqui, mas–
— …tudo bem?
River puxou alguns papé is para revisar; o pé dele passou por cima
do de Jess, lembrando-a de que nem mesmo uma hora atrá s ele estava
ao lado dela, em sua cama. Ela tentou nã o deixar o pensamento se
desenrolar, imaginando os trê s sentados ali em um silê ncio fá cil todas
as manhã s pelo resto de suas vidas.
— Por que você saiu tã o cedo para tomar um café ? Mamã e tem
uma má quina de café na cozinha.
— Você precisa ser mais alta, mã e — disse Juno. — River Nicolas
pode me balançar muito mais alto.
— O quê ?
River olhou para ela, sua expressã o relaxada com o choque. Mas ele
nã o retirou. Ele apenas… começou a rir. Ele acenou de lado para Lisa,
dizendo baixinho: — Nã o é o lugar que eu planejei dizer, mas
corredores e pú blico parecem ser a nossa praia.
A verdade era tã o ó bvia; Jess nã o sabia como eles nã o disseram eu
te amo desde aquele primeiro dia.
— River, eles estã o prontos para você . — Lisa acenou para ele no
corredor.
E... uau. O escritó rio de David era a versã o oposta do de River. Onde
a mesa de River estava vazia, exceto por seu computador, a de David
tinha a aparê ncia de uma mesa encontrada nos escombros pó s-
furacã o. Estava coberta de folhas de dados impressas, copos de papel
vazios, guardanapos amassados, post-its e pilhas de artigos de jornal.
Suas prateleiras estavam repletas de uma coleçã o empoeirada e
desorganizada de brindes convencionais: uma bola anti stress da
marca Merck, uma caneca de viagem Sano i, uma molé cula de DNA de
plá stico da Genentech, uma pilha de canetas da marca.
Mas ouça. River Nicolas Peñ a acabara de dizer que a amava. Lisa
poderia deixar Jess na Bourbon Street bem cedo em uma manhã de
sá bado e ela icaria bem.
— Isso é ó timo.
Cliente 144326.
River.
Mas Jess sabia que ela gostaria de olhar para ele novamente e
novamente. Folheando, ela começou a tirar fotos de cada pá gina,
ileiras e mais ileiras de dados. Cada um tinha alguns valores
circulados, anotados, chamados – ela adivinhou – por ser totalmente
incrı́vel.
Sorrindo como uma idiota, Jess passou para a pá gina seguinte,
pronta para tirar uma foto, mas parou. O pró ximo conjunto de dados
era do primeiro ensaio DNADuo, o do kit de saliva dela. Nessa pilha,
algumas cé lulas estavam circuladas a lá pis e algumas anotaçõ es
rabiscadas nas margens, quase ilegı́veis. Jess se maravilhou de que
seus dados tivessem sido examinados assim. Seu cé rebro de trilha
sonora crescente cantou que seus dados poderiam até revelar
verdades maiores sobre o amor e a conexã o emocional.
E ainda havia mais. Jess folheou mais pá ginas, esperando notas e
correspondê ncia, mas encontrou outra primeira pá gina. Uma
duplicada? Nã o. Era uma primeira pá gina diferente – de outra pessoa –
de um ensaio em 2014.
Cliente 05954
Cliente 05955
Quociente de compatibilidade: 93
Toda vez.
Seus pulmõ es doı́am. Seu estô mago revirou. Seus olhos ardiam
com a tensã o de seu foco intenso. Ela nã o conseguia piscar. E entã o –
seu coraçã o parecia se encher de agulhas – Jess percebeu que todos os
trê s testes foram executados no DNADuo 2. Ela se lembrou de ter visto
as duas má quinas na noite em que ele examinou as amostras de
sangue e perguntou sobre elas.
Ela nã o podia; eles eram idê nticos. Cada valor – tanto quanto ela
poderia dizer – era exatamente o mesmo. Tudo icou embaçado quanto
mais ela olhava. Foram muitas linhas. Muitos nú meros minú sculos.
Seria como procurar uma agulha em um palheiro enquanto seu cabelo
e o palheiro estavam em chamas. E, ela pensou desesperadamente,
para contagens elevadas, talvez a maioria dos pontos brutos eram
idê nticos? O que ela estava perdendo?
Jess levou a mã o trê mula à boca. Na folha dela e de River, ela viu:
OT-R GeneID 5021 3.5
Jess só teve estô mago para con irmar mais dois valores circulados
– um AVP de 3,1 no dela e no de River, um 2,1 no do outro casal; para
DRD4, um 2,9 no deles, um 1,3 no outro casal.
Pelo que Jess podia ver, os únicos valores que eram diferentes –
talvez apenas trinta em todo o conjunto de dados de quase 3.500 –
eram os que haviam sido circulados em seu primeiro DNADuo. Para
chamar a atençã o para eles. Se nã o fosse pela data e hora idê ntica e
pelo misté rio DNADuo 2, Jess poderia ter mentido para si mesma, que
esses valores estavam circulados porque diferenciavam ela e River do
outro ensaio. Mas ela sabia que eles nã o eram circulados porque eram
especiais. Eles foram circulados para manter o controle de quais foram
alterados. Algué m tinha, propositalmente, alterado uma pontuaçã o de
compatibilidade de noventa e trê s para uma de noventa e oito.
Ela ia vomitar. Com as mã os trê mulas, Jess tirou uma foto de cada
pá gina do ensaio que ela tinha quase certeza de pertencer a Johan e
Dotty Fuchs. Ela quase derrubou a pilha duas vezes. Ela estava
entorpecida quando se abaixou e guardou seu laptop. Ela guardou o
telefone. E entã o ela se sentou em silê ncio. Esperando que Aneesha
viesse buscá -la, Jess nã o tinha ideia de como iria sobreviver à
entrevista, sabendo o que sabia agora.
Claro que sim; qualquer criatura com pulso poderia sentir que
havia algo de errado com ela no momento. Mas ela nã o podia falar
sobre isso ainda, e nã o podia falar sobre isso aqui no escritó rio, e
mesmo se pudesse – ela nã o tinha certeza se estava preparada para
ouvir sua resposta à pergunta mais simples: Você sabia de tudo esse
tempo todo?
Entã o, ela colocou uma má scara frá gil de felicidade e respondeu à s
perguntas de Aneesha. Mas a preocupaçã o silenciosa de River
repetidamente lembrava a Jess que seu estresse estava tã o claro em
seu rosto quanto uma febre. O choque foi como uma gripe.
Essa ela realmente poderia enfrentar. Você está bem? tinha sido
grande demais para responder baixinho com Aneesha e seu fotó grafo a
trê s metros de distâ ncia.
— Eu nã o estou brava com você . Mas podemos nos encontrar mais
tarde?
— Só nó s.
— Uh, sim.
— Eu vou icar tensa també m. Você apenas tem que con iar em
mim que nã o podemos fazer isso aqui, e precisamos de mais do que os
dez minutos que temos antes que você e Aneesha tenham de ir.
River olhou para ela e pareceu decidir que isso era o melhor que
ele faria naquele momento.
Com o coraçã o batendo forte, Jess olhou para River. Ela nã o
gostava de deixar coisas assim, mas ela teria que deixar.
— Jess–
Ele acenou com a cabeça e deu um passo para trá s, deixando-a ir.
E assim, River foi colocado de lado para depois. Jess tinha muita
experiê ncia em compartimentalizaçã o. Jamie tinha aparecido na
formatura do ensino mé dio de Jess depois de passar o dia chapada de
metanfetamina e perseguiu os corredores procurando por ela entre o
mar de colegas de classe. Cerca de trinta segundos depois que ela
escalou Jerome Damiano e Alexa Davidson para chegar até sua ilha,
Jamie foi escoltada para fora pelo segurança do campus. Mesmo assim,
Jess se levantou e foi até a frente do auditó rio quando seu nome foi
chamado.
Um olhar para Fizzy enrolada em uma bola em seu sofá , olhos com
contornos vermelhos, cabelo em um coque estranhamente bagunçado
e uma parede familiar deslizada para o lugar.
— Me conta.
— Quem é casado?
— Rob.
— O Banqueiro Rob?
— Sim.
— Sim.
Ela engasgou.
— Eu sei.
— Acho que ele começou a pirar pensando que seria pego. Uma
noite, em Little Italy, encontramos algué m que ele conhecia e ele me
apresentou ao cara como sua “amiga Felicity”, que na é poca, eu estava
tipo – “Isso é justo, ainda somos muito novos”, mas agora eu sei o
porquê . — O rosto de Fizzy se contraiu. — Gostei muito dele, Jess, e
você me conhece — disse ela, soluçando. — Nunca gostei de ningué m.
Eu cozinhei para ele e conversei sobre livros com ele, e nó s tı́nhamos
piadas internas – e ele é casado, porra. E eu juro que ele queria cré dito
por ter confessado tudo para mim. Tipo, ele estava genuinamente
chocado por eu estar tã o chateada. — Ela enxugou o nariz novamente.
— Você sabe a pior parte? — Fizzy perguntou, sua voz abafada pela
camisa de Jess.
— O quê ?
Fizzy lamentou.
— Eu nã o ia!
— Eu poderia continuar essa metá fora, mas só vai icar mais
grosseira. — Jess a apertou novamente. — Sinto muito, meu bem. Eu
quero saber onde ele mora para que eu possa en iar a cabeça na bunda
dele até que ele possa lamber a pró pria orelha.
Sim. Agora?
Agora é bom.
Espera.
Ela digitou o mais rá pido que pô de porque sabia que a Espera
provavelmente o deixara em pâ nico.
Isso pode parecer estranho, mas você já viu nossos dados brutos?
Claro.
Sim.
Ele morava a apenas dez minutos de distâ ncia, mas River estava
em sua porta em oito. Antes, se ele tivesse aparecido no apartamento
dela depois que Juno estava dormindo, Jess estaria em seus braços
imediatamente. Mas esta noite, os dois pareciam saber que o afeto
estava em espera.
Sem palavras, ele entrou, sem fô lego do que Jess só poderia
imaginar ser uma corrida de seu carro.
— Ei.
— Rob é casado.
River estremeceu.
— Merda.
O grá ico tinha dois eixos: o eixo Y vertical era rotulado de zero a
quatro - as pontuaçõ es compostas com as quais Jess já estava
familiarizado. O eixo X horizontal tinha doze ró tulos diferentes. Ela
presumiu que eles representavam as categorias das famı́lias de genes
incluı́das no DNADuo: Neuroendó crino, Imunoglobulina, Metabó lico,
Transduçã o de Sinal, MHC Classe I / II, Olfativo, Proteı́nas Regulató rias,
Transportadores, Choque Té rmico, SNARE, Canal Iô nico e FGF / FGFR. E
no pró prio grá ico, havia milhares de pequenos pontos, aparentemente
um para cada uma de suas pontuaçõ es em cada gene individual,
codi icados por cores e agrupados por categoria.
Era uma maneira muito mais fá cil de olhar para as pontuaçõ es
brutas – Jess podia ver imediatamente as tendê ncias aqui que ela nã o
podia na tabela – mas como havia tantos dados, estava claro para ela
que, se isso era tudo que River tinha visto, teria sido quase impossı́vel
decifrar que era quase idê ntico a um teste que ele viu anos atrá s.
Talvez River nã o soubesse. A esperança era uma luz fraca brilhando
na escuridã o de seu humor. O mais casualmente possı́vel, Jess
perguntou: — E assim que você s sempre olham os dados?
Ela engoliu em seco, aliviada. Ele con irmou que nã o poderia
imediatamente saltar para ele que os dados haviam sido manipulados.
Ele nunca a chamou de “querida” antes, e isso só a fez chorar mais.
Ela icou aliviada por ele nã o ter mentido para ela o tempo todo. Mas
agora ela tinha que dizer a ele que eles nã o eram noventa e oito. Ela
estava apaixonada por ele – e Jess odiava o quanto isso iria machucá -
lo. Sua con iança em David seria irreparavelmente dani icada. Até ela
aparecer, GeneticAlly tinha sido a vida inteira de River.
— Como o quê ?
— Jess. — Ela podia dizer pela tensã o em sua voz que sua
mandı́bula estava cerrada. — Você pode voltar aqui, por favor?
Uma risada seca, e entã o: — Nã o. O que estou vendo? Isso é para
valer?
Fechando os olhos, Jess o apertou com mais força. Mas ele nã o se
virou; na verdade, Jess percebeu que ele permaneceu completamente
rı́gido em seu abraço. E pela primeira vez ocorreu a ela – como só
estava ocorrendo a ela agora – que, embora Jess con iasse na magia da
anomalia estatı́stica, River poderia olhar para a pontuaçã o adulterada
e ver que eles nunca foram feitos um para o outro.
Capítulo 23
— Você nã o entende — disse ele, virando e passando por ela, indo
para a sala de estar. — A quantidade de tempo que passei estudando os
dados dos Fuchs. Eu deveria ter visto.
Jess olhou para as costas dele. Ele estava certo. Era uma coisa
terrı́vel de descobrir, e David ia ter que pagar muito, mas nã o havia um
toque de serendipidade nisso també m? Ainda os havia unido.
Jess girou tã o rá pido quanto seu coraçã o e cé rebro permitiram.
Oh.
River ainda estava olhando para sua tela, para a foto de Juno, de
quatro anos, vestida de polvo no Halloween. Seus olhos estavam
grudados na imagem. Ele olhou para Jess uma vez desde que viu os
dados?
Jess o seguiu, mas ela nã o conseguiu sair rá pido o su iciente.
Mentalmente, River já havia partido.
— River.
Ele murmurou:
MAS RIVER NAO ligou. Jess icou acordada até quase trê s,
alternando entre assistir TV e checar o telefone. Finalmente, ela
adormeceu encostada desajeitadamente em seus travesseiros,
acordando para encontrar a TV ainda ligada e seu telefone ainda sem
mensagens.
Jess jurou que sua ilha tinha algum tipo de radar que focalizava
exatamente o quã o curta a paciê ncia de sua mã e estava em um
determinado dia, e entã o transformou a iluminaçã o em um esporte
olı́mpico.
— Juno! — Jess gritou. Sua voz estava tã o alta que até ela se
assustou.
O lá bio inferior de Juno projetou para fora e ela entrou no quarto
novamente. Jess se jogou no sofá , exausta. Mal eram oito da manhã .
— Ele vai estar com a Nana Jo na reabilitaçã o. Nã o tenho reuniõ es,
por isso venho te buscar hoje.
A faca empurrou mais fundo. Nã o era que Juno quisesse algué m
especı́ ico, era que ela especi icamente nã o queria Jess. Jess sabia que
era irracional se sentir magoada – Juno estava com raiva, e isso era o
que crianças loucas faziam – mas ser uma mã e de merda essa manhã
era a ú ltima coisa que o coraçã o de Jess precisava.
Como ela poderia dizer que nã o tinha ideia de onde River estaria
depois da escola? Ou na pró xima semana? Ou no pró ximo ano?
Se ela fosse Jamie, ela iria aparecer mais tarde hoje com um
presente dois anos muito jovem para os interesses de Jess ou chamá -la
de pirralha e nã o aparecer. Eu não sou minha mãe Jess envolveu sua
ilha em um abraço.
— Desculpa, o quê ?
— E Pop’s?
— Ele está mais feliz agora que ela está em casa — Jess disse
categoricamente. — Ele encantou a maioria dos funcioná rios da clı́nica
de reabilitaçã o, entã o é claro que consegue o que quer.
— Eu?
Fizzy sorriu.
Jess riu pela primeira vez durante todo o dia. O problema era que
ela nã o podia falar sobre isso. Nã o só nã o era problema dela
compartilhar, ela nem tinha certeza de quã o grande era o problema.
Jess estendeu a mã o sobre a mesa para pegar a mã o livre de Fizzy.
— Eu sabia que você era meu favorito dos muitos amantes de Jess.
Fiel ao tipo, River nã o disse nada. Ele apenas olhou para ela com
uma empatia gentil.
— Você que sabe.
— Pode ser. Nã o sei. — Quando ele respirou fundo, gaguejou, Jess
teve a sensaçã o de que ela estava testemunhando seu desgaste nas
bordas. River precisava de uma pontuaçã o especı́ ica para ter certeza
sobre ela?
— Cara.
— Eu sei que nã o liguei ontem à noite e sinto muito — ele disse
imediatamente, enviando uma mã o agitada em seu cabelo. — Era
muito para processar.
— Você gostaria de compartilhar algum de seus processos comigo?
— Eles sabiam que eu levaria isso a sé rio. Que eu... — ele fez uma
pausa, soltando um suspiro. — Que para uma pontuaçã o como essa, eu
faria o meu melhor para tentar.
— Puta merda.
— Dave me conhece há quase treze anos. Como ele disse, ele “sabia
no que eu me envolveria”.
— Ele quis dizer você. Para ser justo, ele nã o estava errado. —
River tentou sorrir, mas na melhor das hipó teses foi uma careta. — A
ideia se consolidou quando eles aprenderam mais sobre você . Uma
estatı́stica, um local, ajudando a cuidar dos seus avó s. Eles nã o sabiam
sobre Juno até mais tarde e...
Ele nã o respondeu, nã o olhou para ela. Em vez disso, ele abaixou a
cabeça e puxou cuidadosamente sua mã o da dela. O silê ncio de River
pressionou ao seu redor, pesado e sufocante.
— E.
— Joaninha, você pode escolher um? Ainda temos que dirigir para
casa, descarregar isso, levar você para o banho e para a cama. — Jess
olhou para o reló gio, temendo a quantidade de trabalho que ainda teria
que fazer quando chegasse em casa. Com suas noites subitamente
livres de River, ela deveria ter se recuperado, com muito tempo de
sobra. Mas nã o. Seu foco tinha sido terrı́vel, e quando ela nã o estava
ocupada icando triste e olhando para o nada, ela estava ajudando Juno
com o dever de casa ou, como mais cedo essa noite, indo para o centro
de reabilitaçã o fı́sica com Nana e Pop’s.
— Jessie!
Uma mú sica minú scula encheu a linha e Jess olhou para o nú mero
novamente.
— Jessie? E a mamã e.
Seu Só um poquin saiu como uma sı́laba luida, o que signi ica que o
que ela disse a seguir nã o tinha credibilidade:
— Desculpe, nã o posso essa noite. Preciso levar Juno para casa e
tenho muito trabalho a fazer. Durma e falo com você amanhã . — Ela se
virou para pegar o carrinho de volta.
Jess parou.
— Isso é tudo que você tem a dizer? — perguntou sua mã e. — Você
nã o está nem um pouco orgulhosa de mim?
— Mã e, espere. — Jess fechou os olhos e contou até cinco. O sol já
estava começando a se pô r. Nana e Pop’s tinham saı́do com alguns de
seus amigos da marinha; Fizzy tinha um prazo inal, e Jess nã o poderia
continuar correndo para ela de qualquer maneira. River – River estava
aparentemente fora de cena. Ela estava sozinha.
O ENDEREÇO que Jamie enviou foi para a casa de sua amiga Ann
em Vista, a mais de meia hora de carro de distâ ncia. Jess conhecera
Ann algumas vezes e sabia que ela nã o era a pior dos amigos de Jamie –
ela era, a inal, responsá vel o su iciente para ter um lar está vel. Alguns
carros ocupavam a longa e larga entrada de automó veis – Jess nã o viu o
de Jamie, mas isso nã o signi icava nada – e o som do rock clá ssico
iltrado pelas janelas abertas.
— Olá ?
— Aı́ está minha garotinha. — Sua voz era muito alta, o sorriso
muito largo. — Dê um abraço na vovó . — Juno deu um passo para trá s,
envolvendo os braços em volta da cintura de Jess e se escondendo
atrá s de suas pernas. Abatida, Jamie se endireitou e voltou sua atençã o
para a ilha. — Nã o pensei que você estaria aqui tã o rá pido.
Jamie nã o parecia estar caindo de bê bada, mas sua pele estava
pá lida e vagamente suada. Ela balançou de onde estava. Como se lesse
os pensamentos de Jess, Jamie limpou, constrangida, o rı́mel manchado
sob os olhos e passou as mã os trê mulas pelos cabelos.
Jess nã o estava com humor para discutir. Pegando Juno, ela se
virou em direçã o à porta.
Ao passar na frente dos faró is, Jess pô de ver instantaneamente que
ela havia perdido peso. Jamie sempre foi magra, mas icava magra
quando estava usando drogas.
Nã o que isso importasse; Jess nã o voltaria para pegar eles. Ela
desistiria de seus pró prios sapatos primeiro.
— Eu nã o estou julgando. Estou chateada por ter 150 dó lares em
mantimentos no meu porta-malas, incluindo coisas congeladas que
provavelmente estã o estragadas. Estou chateada por ter deixado tudo
para trá s, em vez de ter minha ilha dormindo em sua pró pria cama,
tive que arrastar ela para uma festa de drogas, e você nem consegue
ser franca comigo. O que está acontecendo? Como diabos você teve
problemas com a polı́cia?
— Com quem?
— Sim.
— Quando fui para a entrevista, eles disseram que sou muito boa
em vendas e que deveria entrar no nı́vel Azul. E muito importante ouvir
isso, acredite em mim, e Trish entendeu que eu estava assumindo
muitos inventá rios. — Ela ergueu o queixo. — Mas eu tive muitas
pessoas que queriam comprar as coisas e muitas outras que estã o
interessadas em comprar, elas estã o apenas esperando para serem
pagas.
Provavelmente Trish nã o era a ú nica pessoa a quem sua mã e devia
dinheiro.
— Você já tem dois crimes — disse Jess, e suas mã os tremiam no
volante agora. — A Califó rnia é um estado de trê s crimes. Você entende
o que aquilo signi ica? Se essa mulher prestar queixa, você pode ir para
a prisã o por 25 anos.
— Nã o vai chegar a esse ponto. Eu só tenho que pagar Trish de
volta.
— Você realmente acha que pode vender dez mil dó lares em
produtos para a pele para seus amigos? — Jess olhou para ela e depois
de volta para a estrada. Os amigos de Jamie també m nã o tinham
dinheiro.
— Sim, isso nã o vai ser um problema, sé rio, todo mundo adora
essas coisas. Mas posso precisar que você me empreste para que eu
possa tirar ela da minha bunda...
— O quê ?
— Sim.
Ela estava muito melhor do que poderia, ela sabia. Alé m disso, ela
tinha uma ilha incrı́vel pra caralho.
O namorado dela.
Os dez mil dólares que estavam em sua conta alguns dias atrás.
Seu telefone apitou na mesa, e ela olhou para a noti icaçã o do Wells
Fargo assim que Fizzy retornou.
Jess sabia que Fizzy estava certa, mas nã o tinha certeza se isso
importava. Pelo menos para ela.
— Ei-ei, Jess.
— Talvez estar longe de Twiggs nã o seja tã o ruim para minha
inspiraçã o — Fizzy disse quando Jess voltou para a mesa. — Esse pode
ser o melhor começo para uma histó ria que tive em algumas semanas.
Talvez eu inalmente consiga escrever algo diferente de cenas de sexo
que fazem a transiçã o para uma lesã o peniana agressiva e intencional.
— Quem é Pat?
— Vai!
— Ah, ótimo. — Rosnando para ela, Jess se levantou, foi até a porta
e a abriu.
Ou... talvez nã o fosse valente. Talvez nã o tenha sido nada difı́cil.
Talvez para ele, desligar os sentimentos fosse como desligar o
interruptor no inal de um experimento.
Mas ao ver ele – como Jess poderia imediatamente dizer que ele
cortou o cabelo recentemente, como ele ainda era o homem mais lindo
que ela já tinha visto, mesmo com as olheiras, e como estar tã o perto
dele ainda fazia uma corda de desejo se esticar da garganta ao
estô mago – a tristeza se dissipou e ela icou com raiva. Mais do que
brava, Jess estava puta. Fazia oito dias. Oito dias de silê ncio completo
de algué m que disse a ela que nã o se sentia como se estivesse em casa
desde sempre, até que a conheceu. Algué m que a beijou como se
precisasse dela para respirar. Que disse “eu te amo” do nada e nã o
tentou voltar atrá s. E entã o ele foi embora.
Quando ela voltou, ela estava usando calças, mas seu humor, de
algum jeito, havia piorado. Passar pelo quarto de Juno foi como
derramar suco de limã o em um corte. River nã o tinha simplesmente
desaparecido da vida de Jess; ele tinha desaparecido da vida de sua
ilha també m. Sua garotinha, que nunca foi deixada antes, havia
perdido duas pessoas em uma semana. Seria bater abaixo da cintura
contar a ele que Juno pediu para ver River nada menos do que quatro
vezes? Jess se repreendeu por contar a Juno sobre o relacionamento
deles.
Jess o encontrou empoleirado na borda da almofada do sofá , as
mã os presas entre os joelhos. Ele olhou para ela e pareceu relaxar um
pouco, os ombros caindo.
— Jess, por favor. Você disse que era muito para digerir també m.
Eu estava mergulhado em dados até o pescoço. E quando você nã o
ligou de novo, eu... eu nã o tinha certeza se você precisava de espaço.
— E você ?
— Eu sei que isso nã o muda nada, — disse ele calmamente, — mas
me senti despedaçado. — Ele nã o se moveu por vá rios longos
momentos. — Eu estava totalmente humilhado, Jess. Sim, sã o apenas
dados, mas foi a coisa mais cruel que eles poderiam ter feito. Pessoas
que conheço e em quem con io há quase quinze anos se aproveitaram
de minha crença genuı́na nessa tecnologia. Eles me manipularam
pessoalmente e ao projeto em que passei toda a minha vida adulta –
porque sabiam que, se eu conseguisse aquela pontuaçã o, faria tudo ao
meu alcance para explorar as implicaçõ es pessoais disso. — River
ergueu os olhos para ela e Jess viu que os olhos dele estavam
avermelhados. — Fui esmagado como cientista e enganado como
homem. Eu senti como se o mundo inteiro estivesse — ele tossiu —
rindo de mim.
— Eu nem sabia como entender isso em minha pró pria mente. Eu...
eu... — Ele lutou para encontrar as palavras, sentando-se e olhando
para ela com seriedade. — Fiquei dias sem sair do escritó rio. Analisei
cada linha de dados de cada Gold Match ou superior que tivemos.
Sanjeev e eu re izemos as amostras vinte e quatro horas por dia para
ter certeza de que a empresa nã o teria que fechar.
Ela nã o pode evitar, mas deixou seu olhar subir, estudando seu
novo corte de cabelo.
Ele balançou a cabeça, entendendo imediatamente.
— Para que você pudesse icar bonito para o nosso té rmino?
— Desculpa, o que?
— Quais sã o as outras opçõ es? — Ela ingiu veri icar o reló gio. —
Quero dizer, é um pouco tarde para o nosso encontro sexual em pé , e
tem sido uma semana estranha, mas por que nã o, como nos velhos
tempos?
— Você para com isso. Por que você está mesmo aqui? Eu entendo
que você precisava de espaço. Mas eu me apaixonei por você . Juno se
apaixonou por você . — Ele reagiu como se tivesse levado um empurrã o
no estô mago e Jess empurrou. — Você sabe o que isso signi ica? — Ela
pressionou as pontas dos dedos contra o peito, morti icada quando sua
garganta começou a queimar. — Eu abri minha vida para você . Eu dei a
você o poder de acabar comigo se você desaparecesse, e você sabia
disso, e fez isso de qualquer maneira. Eu entendo que você també m
estava lutando. Mas apenas uma palavra – uma mensagem – e eu teria
esperado.
— Você estragou.
Isso a surpreendeu.
Jess nã o tinha ideia do que dizer sobre isso. Ela nã o esperava ter a
opçã o. Ela pensou que era um negó cio fechado.
River empalideceu.
— O quê ?
Jess olhou para ele. Olhos escuros, cı́lios grossos, boca carnuda.
Aquele pescoço liso que ela fantasiava lamber e morder seu caminho
até as clavı́culas mais musculosas do mundo. Dentro daquele crâ nio
estava um cé rebro de gê nio, e – quando ele saiu do laborató rio para
respirar – River Peñ a tinha a profundidade emocional de um homem
que já viveu uma vida inteira. Ele falava de estatı́sticas com ela, e o
coraçã ozinho que assistia a histó rias com sua abuela ainda batia em
seu peito. Ele me ama e ama minha ilha.
Mordendo o lá bio, ela lutou na batalha interna. Ela deveria olhar?
Ela nã o deveria? Com a voz tensa, Jess disse a ele:
Ele riu.
— Nã o.
— E fá cil para você dizer isso porque você já viu. — Ela fez uma
pausa. — Isso signi ica que é ruim?
— Nã o.
— E algo selvagem? Como o noventa e oito estava realmente certo?
— Ele fez uma pausa, mordeu o lá bio e balançou a cabeça lentamente
pela terceira vez. Jess soltou um suspiro de frustraçã o. — Você se sente
melhor com isso agora?
— Soa bem.
— Nó s somos?
Jess assentiu, olhando para ele por entre os cı́lios. Era tã o bom ter
ele tã o perto. Quando ela fechou os olhos, ela foi capaz de se concentrar
no desejo vibrando em seu sangue como uma droga. Eles tinham horas
antes de Juno voltar para casa.
— Eu també m te amo.
— Acho que nã o fui o ú nico que esqueceu que ela estava ali.
O “desculpe” de Jess se dissolveu entre eles enquanto River se
aproximava dela, o olhar escurecendo; a adrenalina derramou quente e
insistente em sua corrente sanguı́nea. Deslizando os braços em volta
da cintura dela, ele se inclinou para beijar seu pescoço.
— Nã o sei, mas estou feliz por nã o termos um agora. — Ela fechou
os olhos, focada nos beijos doces e minú sculos que ele deu em sua pele,
da clavı́cula até o queixo.
— Se por “tudo bem” você quer dizer transar sem ilhos em casa,
entã o sim. Está tudo muito bem.
— Nó s nunca realmente conversamos sobre isso – isso era tã o sem
importâ ncia na é poca, mas nã o estive realmente em um
relacionamento desde que fundamos o GeneticAlly.
— Sé rio?
River concordou.
— Trabalho era tudo — ele disse cuidadosamente. — Eu
simplesmente nã o estava emocionalmente envolvido em nenhum
outro lugar. Até você . Entã o, eu sei que nã o é uma desculpa, mas agora
eu sei que devo estar ciente se tivermos outra crise de trabalho. — Ele
fez uma pausa, reconsiderando. — Quando tivermos outra crise de
trabalho. Eu voltei para aquele modo tã o rá pido que todo o resto caiu.
Até essa manhã , pensei que se passaram apenas dois ou trê s dias
desde que nos falamos.
— Por que você nã o me disse isso no segundo em que entrou pela
porta?
Jess nunca teve isso antes: algué m que era, sem dú vida, dela. Ela o
segurou com os braços em volta de sua cintura e as pernas
preguiçosamente ao redor de suas coxas, se apaixonando sem
palavras.
O que signi ica que eles acordaram assim um bom tempo depois,
duros, com calor e gemendo. River rolou para longe, caindo de costas e
alcançando a nuca rı́gida. Ao lado dele, Jess tentou endireitar as pernas,
choramingando.
Ele riu.
Jess engasgou.
— Ela sabia?
— Acho que ela teve que fazer isso — disse River, e estendeu a mã o
para esfregar os olhos. — Os ú nicos que sobraram da equipe original
sou eu, Lisa e Sanjeev. — Quando ele puxou a mã o, ele olhou para ela,
desprotegido, e Jess teve um vislumbre de como ele estava exausto. —
Trouxemos um geneticista da UCSD e o chefe de quı́mica da Genentech
para fazer parte do conselho interino. Fui promovido a CEO. Sanjeev se
tornará CSO. Estamos trazendo um novo chefe de marketing, que
provavelmente começará na pró xima semana.
— Você vai ter que fazer algum tipo de anú ncio o icial?
River olhou para trá s e para frente entre seus olhos por um
segundo, e entã o disse baixinho: — Tivemos que incluir na auditoria
IPO, mas de outra forma, nã o. Nã o estamos fazendo uma declaraçã o
sobre isso.
— Jess.
— Eu sei o que você está pensando. Que estou sendo antié tico ou
evasivo. Eu nã o estou. Você apenas tem que con iar em mim.
— Sim, é só –
— Estou dizendo, porque amo você e nã o quero que sua empresa...
Bem, talvez mais uma. Ela franziu a testa quando ele vestiu as
calças. —
Capítulo 26
— Surpresa!
Entã o ela sabia que era melhor nã o pensar que mesmo o
lançamento o icial da GeneticAlly no dia seguinte o manteria longe.
Ainda assim, eles tinham um jantar de empresa esta noite, e ela
esperava que River estivesse no escritó rio até bem depois da meia-
noite – e provavelmente tivesse ido embora antes que Jess acordasse.
O preço inicial da açã o era mais alto do que até mesmo o subscritor
havia sonhado que poderia ser, e todos estavam ansiosos, esperando
que ela nã o caı́sse no mercado de açõ es. Se ela se mantivesse está vel
ou subisse, a equipe original do GeneticAlly – sem David, Brandon e
Tiffany, que violou uma clá usula contratual importante – valeria cada
uma dezena de milhõ es da noite para o dia.
Ele seguiu sua atençã o para seu pulso. Alguns meses atrá s, Jess
imaginou, River teria disparado ao ver as horas. Mas ele apenas exalou,
calculando, e disse:
O momento da verdade.
Ele pegou a mã o dela e ela as ergueu, beijando seus nó s dos dedos.
Era como se a traiçã o de David tivesse aliviado um pouco a tensã o
nele: as coisas tinham dado terrivelmente errado, mas acabou dando
certo no inal.
E por mais que ele insistisse que nã o importava, Jess sabia que seu
novo score de Diamond havia con irmado que uma vez ele descobrira
algo autê ntico e realmente conseguira fazer algo com isso para tornar
o mundo melhor.
River virou o rosto para a frente, dando a Jess uma visã o doce de
suas bochechas escurecendo.
— Você . — Ele deixou a sı́laba pairar por uma batida signi icativa.
River a queria, e ele queria elas. Seus olhos castanhos uı́sque
mantinham o calor que tinham no meio da noite, quando ele a acordou
com um beijo e acendeu o abajur de cabeceira antes de guiá -la sobre
ele.
Mas entã o sua intensidade cedeu e ele continuou com uma serena
sinceridade:
— Claro que eu quero. Minha casa tem mais espaço, mas nã o
parece um lar, e sei o quanto você s amam o apartamento. Mas
poderı́amos encontrar algo grande o su iciente para todos nó s. Com
uma cozinha gigante e quartos no té rreo para seus avó s, ou até mesmo
um lugar pró prio nos fundos.
Jess nã o sabia o que dizer. Ela já tinha tanto, parecia quase
ganancioso querer mais. Acordar juntos todas as manhã s ou a
intimidade silenciosa de tarefas mundanas, como fazer compras no
mercado, fazer orçamento e apenas ... dividir a carga diá ria. Ela se
imaginou movendo-se em torno de si no inal da noite - colocando o
ú ltimo copo na má quina de lavar louça, compartilhando um gemido
silencioso de que Juno deixou as meias no sofá novamente. Ela
imaginou nã o ter que dizer adeus a ele na porta, nunca.
— Sim?
Ela nã o conseguiu resistir; ele era muito doce. Jess se inclinou para
um beijo.
— Sim.