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Dama de Prata
REVISÃO:
Lucas Inácio
PREPARAÇÃO:
Cristina Machado
DIAGRAMAÇÃO:
Eduarda S. Augusto.
CAPA:
Giulia Rebouças (@gialuidesing)
Esta obra foi revisada segundo o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
É proibida a reprodução de total ou parcial desta obra, de qualquer forma ou por qualquer meio
eletrônico, mecânico, inclusive por meio de processos xerográficos, incluindo o uso de internet, sem
permissão expressa do autor (Lei 9.610. de 19/02/0998)
Impresso no Brasil
ISBN 978-65-00-57939-0
revnaliteraria@gmail.com
Sumário
Aviso
Capítulo 01
CAPÍTULO 02
CAPÍTULO 03
CAPÍTULO 04
CAPÍTULO 05
CAPÍTULO 06
CAPÍTULO 07
CAPÍTULO 08
CAPÍTULO 09
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
Cohen Archer
Agradecimentos
Aviso
Esta é uma releitura não fiel do clássico Cinderella, destinada a
maiores de 18 anos, em uma perspectiva real, no entanto, ainda é uma
ficção. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.
https://www.instagram.com/autoradudaross/
Anya Amstrong
Cohen vai ganhar uma aposta.
Foi só o que consegui pensar quando entrei na cafeteria e vi uma
fila quilométrica para fazer o pedido, isso porque eu saí exatamente dez
minutos atrasada, e faltavam apenas oito para dar o meu horário de entrada.
Vou me atrasar e perder a aposta se tiver que enfrentar essa fila. Não
importa se meu pedido era para o dono daquele prédio, eu não tenho passe
livre, mas eu tenho Joe, o atendente que acenou para mim com um sorriso,
mostrando-me o pedido já pronto no balcão de espera.
— Joe, você acaba de salvar a minha vida! — disse entregando meu
crachá a ele.
A cafeteria é conveniada à empresa, todos que frequentam aqui são
funcionários da Archer, e claro, convidados e estudantes que visitam os
polos todos os dias. Portanto, eu não precisava pagar em dinheiro, bastava
que Joe encostasse meu crachá naquela maquininha, e os dois copos diários
de café extraforte com ⅔ de leite cremoso adoçado com calda de caramelo e
salpicado com canela, eram descontados diretamente do meu salário.
Ah, eu disse dois. Bem... isso porque o segundo é a porcaria de um
café descafeinado.
Qual a lógica de beber cafeína... sem cafeína? Eu também não sei
dizer.
Na minha cabeça é a mesma coisa que pedir água gaseificada, sem
gás.
— Estão prontos desde às sete e quarenta e cinco em ponto.
Finalizei quando vi você entrar correndo pelo saguão. — Brincou com um
sorriso tímido de canto devolvendo-me o crachá.
— Te devo mais um dia invicta.
— Ele deve estar em contagem regressiva.
— Planejando o que vai fazer com minha folga de domingo. —
Completo com uma risadinha tirana.
Não vai ser dessa vez, Cohen!
— Sabe... Anya, eu estava pensando se...
— Tenho menos de cinco minutos para chegar lá em cima —
interrompo às pressas, pegando o combo de dois copos bem lacrados para
aguentar a corrida. — Desculpe Joe, muito obrigado. Nos falamos depois?
Deixei o loiro de cabelos desgrenhados dentro da boina com a
logomarca marrom para trás.
Ele sorriu rendido.
— Legal.
Agradeci o meu atraso, se não fosse isso eu teria que — mais uma
vez — explicar por que motivo não posso me envolver com ninguém
agora.
O motivo estava longe de ser algo relacionado a ele, pois admitia
constantemente para Holly que Joe tem seu charme.
Tudo bem, admito, um pouco mais do que isso. Não é à toa que
vejo boa parte das mulheres que frequentam aquela cafeteria lançando
olhares nada discretos a ele, mas seu estranho interesse em mim veio em
uma época inoportuna.
Estou no último ano da faculdade, minha vida está uma loucura
com as penúltimas provas se aproximando e um TCC corrompendo todo
meu tempo ocioso, e com esse tempo todo estou me referindo às minhas
poucas horas livres, já que, na maior parte do meu dia eu me encontro aqui,
dedicando minha disposição e tempo para organizar — e ser uma agenda
viva. —, de Cohen Archer.
Ninguém menos que a mente brilhante que move essa corporação
iniciada pelo seu aposentado pai, que viu seu império multiplicar em
incontáveis dezenas, talvez centenas de vezes, depois que Cohen começou a
administrar tudo. Não é um fato incomum saber disso, sua vida está
estampada em todas as colunas e tabloides de fofoca, sejam elas com
manchetes de "Bilionário solteiro mais cobiçado de Washington." a "CEO
implacável inova mais uma vez no mercado de softwares"
Ele está em todas!
No começo foi estranho ver o rosto do meu chefe em todas as
esquinas e páginas de fofoca que surgiam no meu feed. Era só abrir uma
rede social e ele estava lá, ao lado de grandes empresários, modelos e até
mesmo os donos das redes, já que a corporação Archer atua diretamente na
evolução e manutenção desses aplicativos.
Tudo bem que parte dessa exibição constante e exagerada tem a ver
com os algoritmos, devido às minhas pesquisas em todos os meios possíveis
para estar por dentro dos planos de lançamento e expectativas de eventos,
que sim, eu precisava marcar presença, sempre consultando sua equipe de
relações públicas. Pessoas que basicamente controlam seus passos e
maquiam sua vida pessoal da mídia.
São esses pequenos detalhes que garantem minha permanência
irrevogável na vaga de secretária pessoal de Cohen Archer, há quase dois
anos, graças ao meu orientador da faculdade que me agenciou na empresa
terceirizada que emprega os funcionários da corporação. Uma vaga nada
planejada, e confesso, até um pouco movida pela sorte, já que de última
hora, tiveram que mandar alguém para cobrir a última secretária demitida
por ele, e eu coincidentemente estava na sala do gestor, preenchendo os
requisitos para um estágio bem longe daqui.
Sinceramente, eu não sei o que Archer viu em mim, pois meu
primeiro dia foi um completo desastre, afinal, o que uma estudante de
publicidade sabia sobre software? Nada! Mas, eu tinha um copo de café
extremamente doce na mão quando ele reclamou que o seu estava amargo, e
consegui por suficientes quinze minutos melhorar seu humor, até entender
que minha única obrigação naquele dia, era não deixar ninguém entrar
naquela sala, fato que eu impeço com meu próprio corpo e vida, há quase
dois anos. E minha principal ameaça a perder esse feito invicto estava bem
ali, prestes a entrar na sala dele quando pisei meus pés no hall do andar
presidencial.
Drizella Hummer, a modelo capa de todos os eventos de
lançamento da Archer, e claro, a vida pessoal de Cohen Archer.
Corri equilibrando os copos de café como se minha vida dependesse
disso, e barrei a loira antes que ela conseguisse colocar seus dedos
compridos e finos na maçaneta lustrada.
— Mas... de onde você saiu? — Sua voz estridente ecoa nos meus
pesadelos às vezes.
— Do útero da minha mãe, há vinte e três anos. — Drizella
contorce seu rosto magro em uma careta. — Agora dá meia volta, pois nem
eu entrei nessa sala ainda.
— Não até falar com o Cowl. — Retorci meu rosto enojada com o
apelido. — O Evento de lançamento da Archer está chegando e ele ainda
não decidiu a paleta de cores, sabe o que isso significa? Que meu vestido
ainda não está sendo confeccionado, e se por um acaso eu não estiver na
paleta de cores da festa, a culpa será sua!
— Nossa... — Dramatizo minha entonação. — Acontece que nem
eu sei qual é, então garanto que o Sr. Archer sabe menos ainda.
— Como você é cínica! — Ela passa seus olhos pelo meu cabelo
com a mesma expressão contorcida. Olhei pelo espelho do elevador
minutos atrás, sei que ele nem está em seu pior dia. Nada comparado ao
brilho sedoso do loiro dela, na verdade, o meu é completamente o oposto,
longo, castanho escuro e em seus melhores dias, com um ondulado natural
pesado até as pontas, mas sei que esse olhar não tem a ver com meu cabelo,
simplesmente tem a ver comigo, e com o jeito que ela acha que pode olhar
para alguém, apenas por ser filha de um dos acionistas braço direito do
Cohen. — Sai da minha frente!
— Não! Ninguém chega no Cohen se não passar por mim. Já barrei
muitos marmanjos, não vão ser seus um e setenta e seis de altura que vão
conseguir. Volta mais tarde, Drizella. O café dele está esfriando e se eu não
estiver dentro da sala em cinquenta segundos, garanto que a paleta de cores
vai ser bem fúnebre. Você não vai querer ir de pretinho básico, vai?
Como se aquilo realmente fosse a maior preocupação da sua vida, a
loira bufou e deu as costas, mas antes de entrar no elevador virou-se de
volta para mim.
— Você é muito específica com números e isso é assustador!
— Sabe o que é mais específico? Os centavos no boleto do hospital,
e eu gosto de ver os zeros no saldo devedor do mês depois que eu pago, faz
os dezenove segundos que faltam para eu estar dentro da sala valerem a
pena.
Drizella bufou mais uma vez e finalmente sumiu do meu alcance de
vista.
Suspirei recuperando a postura e finalmente me vi de frente para a
porta exageradamente grande, e assustadoramente preta com cinza espacial,
e um único detalhe de recorte da curva de Hipérbole que brilhava tanto
quando lustrado, que mais parecia um espelho. Esse mesmo design está nos
logotipos espalhados pelo prédio inteiro e qualquer coisa que tem como
criador e desenvolvedor, o nome Archer.
— É o seu recorde de quase atraso — Cohen diz assim que entro.
Ele estava digitando algo em seu computador, o qual eu apelidei
gentilmente de Jarvis. Os olhos nem se deram o trabalho de me fitar.
Agradeci, pois eu ainda estava acelerada pela corrida nada habitual de uma
sedentária assumida.
— Não seria, se não tivesse que barrar a entrada da senhorita pavor
por cálculos — Respondo caminhando diretamente para o bar da sua
gigantesca sala, onde abro seu copo térmico e despejo o pobre do café
descafeinado em uma xícara, grata por ainda estar quente.
Em seguida, abri o meu e com a ajuda de uma colher descartável,
misturei uma única colher no seu e caminhei com uma habilidade
aprimorada de andar enquanto equilibrava uma xícara cheia até a boca.
— Eu ouvi. Isso me lembra de pedir para colocar acústico na porta.
Odeio aquele apelido! — Murmurou pegando o café da minha mão.
Cohen olhou por cima dos cílios e piscou sorrindo depois de provar,
ainda que seus lábios estivessem novamente encobertos pela porcelana
branca.
Não preciso dizer que já tive sonhos bem quentes com esse mesmo
sorriso prazeroso encoberto por outra coisa, mas neste caso só significa que
ele gostou do café mesmo.
Sacudi meus pensamentos começando a recolher os papéis
espalhados pela sua mesa e enfileirado do seu lado. Separei o que era lixo
do que eu precisaria para ser lançado, dado baixa e agendado.
O fato é que a fama de Cohen não dependia somente do seu império
e nome, ainda que ele não tivesse esses bônus, continuaria sendo um dos
homens mais bonitos que já vi pessoalmente.
Tudo bem, talvez ele lidere esse ranking também.
Lembro da primeira vez que dei de cara com ele. Vergonhoso é
pouco para resumir esse encontro, pois pela primeira vez na vida, eu
esqueci como se fala. Eu esqueci meu nome. Esqueci como andar e respirar.
Tudo o que eu via, eram incríveis íris em um azul opaco, quase cinza, que
me observava debaixo de linhas endurecidas.
O que esperar de um gênio da programação?
Eu fiz essa pergunta de frente para o espelho no meu primeiro dia, e
o caminho todo eu o imaginei com uma camiseta de algum jogo,
sobrepondo uma camiseta de manga longa, cercado por telas de
computador, no mínimo. Sheldon Cooper era minha referência, mas, o cara
estava mais para um Tony Stark da vida, e o computador tem apenas uma
tela, mas eu sei que pessoas morreriam para ter acesso a ele.
Geralmente um arsenal como o dele vem acompanhado daquele
brilho no olhar capaz de tirar o fôlego, mas eu lembro de me pegar
pensando no quanto aqueles olhos refletiam o peso de seu sobrenome.
Eu só não sabia que aquele era o Cohen que todos conheciam.
Propositalmente intimidador.
Com a convivência, conheci aos poucos um homem ainda jovem
que precisava usar suas artimanhas ao seu favor, e para somente alguns, ele
mostrava sua veia de humor atrás desse sorriso que nem todos tinham
acesso.
É claro que também não me lembro de como o conquistei, mas
creio que foi quando admiti para mim mesma, que Cohen Archer era meu
chefe, e uma linha invisível que limitava meus interesses foi estabelecida.
Bem, pelo menos era nisso que eu acreditava, me comparando com as
mulheres que davam em cima dele, e o tratamento que elas recebiam.
Cohen é maleável, e como disse, até sarcástico quando quer, mas é
preciso saber que quando envolve trabalho, seu fodido profissionalismo era
quem respondia por ele.
— Não é tão ruim, se não fosse pelo fato de que seu nome é curto
suficiente para não ser apelidado — falo. E continuo organizando aquela
bagunça interminável em sua mesa.
— Engraçado ouvir isso de quem tem uma letra a menos que a
minha no nome, e mesmo assim consegue ser apelidada — ele disse,
voltando a digitar sem tirar os olhos cinzentos da tela.
— E depois me perguntam por que sou tão específica com números
— murmurei empurrando algumas bolinhas de papéis para a lata de lixo.
A mesa dele pela manhã é uma completa e inexplicável bagunça.
— Ser de exatas, não significa que você precisa viver de exatas.
— Eu ouvi isso de um engenheiro de Software? — ironizei,
arrancando uma risada gostosa, abafada mais uma vez pela xícara de café
na sua boca.
Me estiquei para pegar alguns papéis perto do teclado enquanto
isso, tomando cuidado para não tocar em Jarvis. Tenho a sensação de que
um botão errado e eu posso vazar algum dado ou cortar a comunicação
global.
Eu não estou exagerando se disser que já tive pesadelos com isso.
Em um deles, o prédio inteiro era invadido pela segurança nacional, e a
culpa era minha.
— Anya, nem eu sabia que o desenho da porta era uma curva da
matemática. — Cohen se levantou de repente.
Odeio quando ele faz isso, geralmente estou quase debruçada para
alcançar os papéis na ponta da mesa, e é como se ele me lembrasse de que
eu não pedi licença.
Exprimia os lábios enquanto ele caminha até o bar onde meu copo
ainda intocado de café descansava.
— Ainda quero saber que mistura é essa. Uma colher disso adoça o
meu café. Como você consegue tomar isso? — Pergunta pegando meu copo
na mão.
Abracei as pastas empilhadas de trabalho que me ocupariam por
uma manhã inteira e caminhei diretamente até ele, tomando minha bebida
da sua mão.
— Não vai saber. Ainda acho que é essa mistura que segura meu
emprego, e não o fato de eu saber que o logotipo da sua empresa, é uma
Hipérbole — Abro a porta com dificuldade, mas ainda antes de sair, Cohen
chamou minha atenção novamente.
— Anya... — Virei-me equilibrando as pastas e o copo de café com
uma mão só, já que a outra segurava a maçaneta. — Quem é Joe?
Ele forçava sua vista para ler algo no copo que eu jurava ter jogado
no lixo. Quando ele finalmente me mostrou, vi uma inscrição em
manuscrito do que parecia ser um número de telefone.
— Deve estar pedindo emprego. Ele sabe que esse café é seu. —
Mais uma vez ele riu, jogando o copo de volta no lixo, recostando-se no bar
enquanto eu me esforçava para fechar a porta. — Eu vou matar o Joe!
— Agenda com o cara do acústico.
A voz dele chegou abafada até mim, mas chegou.
Forcei os lábios e larguei a pilha de pastas na mesa, dando
finalmente uma golada no meu café perfeitamente doce, mas não doce
melado, doce na medida certa, pois o gosto predominante era do leite
cremoso caramelizado, o café mesmo que ainda forte, apenas saboreava
minha bebida.
Meu dia não foi muito diferente de uma quarta-feira qualquer.
Aprovei compromissos, confirmei presença em alguns eventos; Reuniões;
Palestras; até reiterar mais uma vez, que essa vida no cotidiano tem muito
mais contras do que prós, afinal, do que adianta tanto dinheiro e status se
não se tem tempo para aproveitá-lo de alguma maneira? A verdade seja
dita, faz dois anos que estou aqui e já tive mais férias que o próprio Cohen.
Bem, deve ser por isso que ele é um bilionário e não eu. É claro que
isso também abre brecha para um bom discurso sobre meritocracia, mas
qual é, o cara simplesmente não tem vida, se tem, parabéns a equipe de
relações públicas, nunca vazou uma foto mais íntima do que uma mão na
cintura de socialites, e por Deus, até eu sei que é jogada de interesses.
Alguns dizem que Cohen não mede esforços para ter o que quer,
custe o que for preciso. Já eu digo que o homem, na verdade, é
competitivo!
O último evento que ele compareceu, por exemplo, foi logo depois
de sair em uma coluna de um jornalista crítico, que seus negócios se
limitavam a mídias superficiais e comunicativas, dizendo que a Archer já
foi muito mais do que isso. Como engenheiro de software, ele desenvolveu
um sistema de proteção de dados bancários que foi vendido para vários
países.
Este é o ponto, tudo para ele é um desafio, e ele gosta de provar o
quanto é bom nisso.
Minha cabeça estava prestes a escorregar da mão, já que eu apoiava
o peso da mesma sobre os cotovelos, quando meu computador brilhou em
um e-mail que ficava sempre em primeira tela. Era Cohen, e o assunto
principal tinha como título "Caso ela volte". Quando abri o e-mail, avistei a
paleta de cores que eu deveria entregar a Drizella caso ela voltasse. Não
tive tempo de dizer que estava curiosa, pois neste momento eu estava mais
surpresa e horrorizada do que qualquer coisa.
Não pude esperar para comemorar com a Holly como ela merecia,
mas prometi me render ao seu pedido de comemoração em um bar depois
do trabalho, já que hoje não teríamos aula na faculdade
Meu cabelo se manteve preso como Stella havia deixado, e
confesso que eu estava até animada para sair mais tarde depois da dose de
autoestima que ganhei no ateliê. Eu me sentia bem, de uma forma diferente.
Um pouco mais confiante, até considerando realmente usar aquele vestido
contradizendo minha vontade, mas tudo caiu por terra quando cheguei
novamente no andar presidencial e dei de cara com Drizella aguardando
sentada no sofá de couro preto à espera.
Ela notou quando me aproximei, e se levantou com uma risadinha.
— A porta está trancada. E antes que impeça minha passagem,
coloquei meu nome na agenda, ou seja, você deve me anunciar ao Cohen —
disse andando em passos precisos e irritantemente lentos em minha
direção.
— Anunciar é uma coisa, se ele vai permitir sua entrada é outra —
falei, dando a volta no balcão discando o ramal da sala do Cohen. Longos
segundos se passaram sem que ninguém respondesse. — Ele deve ter ido
embora, ninguém atende.
— Fala a verdade, Gata borralheira, você nem ligou. Meu pai
estava com ele ainda há pouco.
Ela deu a volta no balcão tentando discar ela mesma, mas soquei o
telefone no gancho.
— Não me chama assim! — ralhei, olhando no fundo dos seus
olhos azuis, que eu morreria sem saber se eram lentes.
Drizella soltou uma risada forçada ficando praticamente cara a cara
comigo.
— E como você quer ser chamada?
— Ele não está! Vai embora, Drizella. — Pedi, engolindo seu olhar
autossuficiente.
— Prendeu o cabelo e está se sentindo gente? — Zombou, puxando
do meu cabelo o palito personalizado do ateliê Stella Valêncio, e por ler sua
inscrição, a loira riu enquanto meu coque se desmanchava nos ombros. —
Isso aqui não é pra gentinha como você, Anya, mas... guarda de recordação
— disse colocando o prendedor palito no meu porta canetas. — É tudo o
que seus valiosos centavos que sobram no fim do mês podem comprar.
Fechei os olhos quando uma ardência indicou que em breve
estariam turvos de raiva. Mordia meu próprio maxilar para não revidar suas
provocações, e ela sabe o quanto estou segurando e parecia querer testar até
onde eu aguentava
— Vou deixar você trabalhar, essa é a parte em que você anota um
recado. Diz ao Cohen que eu volto de noite para bagunçarmos a mesa que
você arruma todos os dias.
A palma da minha mão ardeu para esfolar aquela cara pálida.
Seu olhar debochado não ajudava.
— Anotado. — Declarei apenas, apertando o telefone contra o
gancho com ainda mais força ao vê-la sumir do hall com seu andar
apelativo e um sorriso fino que por si só me reduzia a nada.
Dessa vez, não controlei a vontade de me olhar pelo reflexo da
vidraça, e encarar uma temporária fracassada que vivia em prol dos outros.
Me sentei sem vontade na cadeira, espalhando meu cabelo pelo
ombro até que caísse totalmente em seu comprimento abaixo do meio das
costas. Fitei o visor do meu celular acendendo sobre minha mesa com a foto
da minha família e sorri, mesmo que muito desanimada.
Era por eles, sempre foi e sempre vai ser.
Mamãe, papai e Tom, meu irmão caçula de apenas 9 anos de idade
que estava sendo beneficiado com o plano de saúde da Archer.
Com o tratamento avançado, em breve meu garotinho teria a
oportunidade de escutar pela primeira vez, e era por ele que eu saía da cama
todos os dias, sabendo que a cada passo mais perto de me formar, mais
perto eu ficava de voltar para Minnesota, e cuidar de todos eles.
Estava pronta para me entregar a lágrimas frustradas quando o
aparelho do ramal tocou, acendendo em uma luz que indicava estar vindo
de dentro daquela sala.
— Só pode estar de brincadeira com a minha cara!
Me levantei movida pela raiva, abri a porta gigantesca agora
destrancada, e dei de cara com Cohen sentado em sua cadeira de frente para
a porcaria do computador.
— Com todo respeito, Sr. Archer, mas eu não sou paga para levar
esporro das suas amantes enquanto você finge que não tem ninguém na
sala. — Despejei sob o olhar opaco de Cohen Archer e sua postura
impassível. — Adoraria dizer que sou paga para anotar recado, mas graças
à sua porta sem acústico, suponho que isso não seja necessário, o que me
livra da vergonha de dizer que sua amante, incapaz de me chamar pelo meu
curto nome com apenas quatro letras, dispensável de apelidos como os que
ela me batiza, marcou presença em cima dos relatórios que eu organizo e
folheio todos os dias.
Um silêncio perdurou por longos minutos enquanto eu me
recuperava e criava consciência do que tinha feito.
Descontei no meu chefe, minha fodida vida.
Não me importei com sua expressão que dizia que ele teve um
péssimo dia. Que sua conversa de horas com Winter o deixou em sua pior
versão possível, e era perceptível, não só pela sua cara, mas pelas luzes
baixas que mal iluminavam sua sala propositalmente, como se ele tivesse
escolhido ficar na companhia do escuro.
— Anya — Começou testando meu nome. — Não atendi a
senhorita Hummer, porque eu posso sim, fingir que não tem ninguém na
sala, e eu faria isso pelo resto da tarde, se não tivesse acabado de receber
uma resposta da agência que você trabalha.
Falhei um passo para trás, apreensiva com seu tom sério e o
semblante rígido.
— Uma resposta... — Repito, agora dez tons abaixo de quando
entrei nessa sala. — Para qual pergunta?
Meu coração tamborilava contra as costelas em um aviso.
— Não sou o cara que pergunta, sou o cara que pede. E eu pedi para
que você fosse desligada da agência.
Disse assim, com tamanha frieza e calmaria, arrancando todo o
calor do meu sangue, que eu já nem sentia.
A única coisa que consegui pensar, foi no meu último ano da
faculdade. Eu estava no meu fodido último semestre, com os pés na minha
formatura, recebendo praticamente a notícia de que tinha ferrado com tudo.
Mais uma vez. E mais uma vez a culpa era minha, mas prejudicava mais de
uma pessoa, pessoas por quem eu morreria.
CAPÍTULO 04
Você é um fantasma da vida real, mas você está se movendo com tanto cuidado.
Vamos começar a viver perigosamente.
Cake By The Ocean - DNCE
“Quem é?”
“Anya.”
Respondi, esquecendo-me daqueles segundos de espera que Cohen
me aconselhou dar em nome do suspense, em contrapartida, quem me
deixou esperando foi o próprio Joe.
Cas? Ele está achando que estou brincando com a cara dele?
E por que essa Cas faria isso?
Para isso ela teria que saber sobre mim, o que me leva a mais uma
pergunta mental: Será que ele já falou de mim para alguém?
“Prova!”
Jurei que sua resposta seria imediata, pois, é óbvio que ele se
lembraria disso, a menos que tenha contado para alguém que também
poderia ser essa Cas.
Joe não me respondeu.
Deixei meu celular de lado e me concentrei em comer. Minhas
considerações finais acerca dos conselhos do Cohen, é que essa coisa de
esperar ou fazer esperar por suspense é uma tortura.
Só quero perguntar se ele topa mudar de ideia e me fazer
companhia amanhã, mas já estava considerando uma má ideia.
Ok, talvez esteja exagerando. O que são alguns minutos para
alguém que esperou meses? Foi quando meu celular vibrou.
“É você mesma!”
“Perto do palco.”
Respondi. E aguardando pela sua resposta foi que as luzes de todo
salão se apagaram de vez, e uma frequência sonora vibrou dentro de mim.
Uma onda proposital, emocionante, sentida e entorpecente.
Um misto de sensações com a pouca visão e somente aquela
frequência vibrando no peito, uma voz ecoou, seguido de uma presença no
palco com luz limitada a sua silhueta masculina.
— Para alguns, isso é tudo! — Reconheci a voz de Cohen, calando
todos os comentários e atraindo a atenção para o palco, onde a luz sobre ele
se intensificava. — Isso que vocês estão sentindo é somente a frequência
sonora de uma música que tocou há pouco. Falar de tecnologia e
desenvolvimento é arcaico, quando tanto poder em nossas mãos não é
acessível para todos. Nos limitamos quando o que conhecemos por
desenvolvimento, não opera com igualdade e acessibilidade.
Me arrepiei dos pés à cabeça, e aos poucos o som foi voltando.
Entendi que ele havia começado seu discurso de lançamento.
— Vocês devem estar achando tudo bem diferente do que a Archer
já proporcionou em lançamentos anteriores. Luxo, avanços..., mas, o evento
da Archer esse ano não é um lançamento, mas sim o fim de uma era arcaica
e banalizada. É o nascimento de uma era acessível a todos.
O telão atrás dele se acendeu como em um clarão, surpreendendo
todos os convidados com o novo logotipo da Archer. Um teaser com mais
frequências sonoras do que sons, ondulações futuristas formando pontos em
Braille no cinza espacial e as novas funções sendo reveladas ao público,
com um guia de libras e saliências de acessibilidade, que se uniram
formando diversos aparelhos. Celulares, Notebooks, Tabletes... todos se
unindo em um único buraco negro, atravessando a luz como uma explosão,
simbolizando o nascimento de tudo, tal como a nova corporação Archer, e
seus sistemas de acessibilidade que se conectavam a praticamente tudo.
Esse sistema de integração, assim como os outros que a Archer
desenvolvia seria vendido a grandes empresas que associadas a ela,
iniciavam uma nova era para usuários com algum tipo de portabilidade,
visual e auditiva.
Os aplausos eram incessantes a cada fala, até que um dos
representantes dessas empresas que já adquiriram esse sistema e plano
operacional, anunciaram seu preço final.
Eu estava impressionada até o momento, mas isso se desfez quando
tocaram em meu ponto mais sensível.
Os sensores auditivos que essa empresa produzia para trabalhar
junto com o sistema de inteligência da Archer, tinham números exorbitantes
no telão e, em meio ao silêncio atencioso para ouvir o homem ao lado de
Cohen, eu ecoei minha indignação em um murmuro irônico.
Quando notei que minha voz interrompeu a fala do homem, e que
nesse momento todas as cabeças se empertigaram para procurar o protesto
involuntário — Em minha defesa, sincero e incontrolável —, foi que os
olhos de Cohen caíram sobre mim, e seguindo seu olhar intrigado, todos os
convidados torceram seu pescoço e atenção para onde eu estava.
— Desculpe, senhorita? — Disse o homem sem reação.
Senhorita...
Eu não era Anya, eu não era a secretária do Cohen.
Eu era, debaixo de uma máscara e alta costura, uma convidada com
voz ativa e opinião respeitada, e que seria ouvida.
Sem temer ou hesitar, caminhei em passos lentos, surgindo na parte
iluminada como uma protestante enviada, causando cada vez mais um
silêncio ensurdecedor e atraindo toda a atenção.
— Desculpe, Sr. Archer. — Falei diretamente com ele. — Mas você
acha mesmo que esses números são acessíveis?
Cohen tirou a máscara, e em completo estado de ultraje e
indignação, aquele vinco no meio das sobrancelhas se fizeram presentes,
desafiando-me a seguir com meu protesto.
Eu não seguiria adiante, se não estivesse protegida pela evidência
do seu desconhecimento acerca da minha identidade.
O que eu vi ao meu redor, foram apenas milhares de olhares de
desentendimento.
Nada, aqueles números não representavam nada para essas pessoas.
Foi então que dei mais um passo para frente.
— Falar de acessibilidade, é falar de uma minoria injustiçada pela
infeliz falta de interesse que as grandes marcas têm de introduzi-los numa
sociedade com proporções, não iguais, mas minimamente semelhantes,
pois, para oferecer o que nós temos a eles, é preciso entender que avanços
particulares precisam ser implantados. Cada deficiência necessita de um
estudo próprio e soluções práticas para o mesmo direito.
— E não é exatamente o que eu estou fazendo? — Inquiriu Cohen,
aproximando-se em passos lentos de onde eu estava.
Uma luz reluzia sobre meu corpo, dando-me ainda mais
importância. A essa altura, dezenas de fotógrafos apontam suas câmeras
para mim, como se aquilo fosse realmente uma represália.
Ri com nervosismo do julgamento estampado no rosto de tantas
pessoas, ignorantes diante da desigualdade.
— Acessibilidade deveria ser um direito de todos, Sr. Archer. Olhe
para esses números, acha mesmo que isso é acessível? Pode até ser para
alguns, mas uma minoria, dentro de uma parcela já pequena de pessoas.
Isso... — Apontei para o telão. — É afunilar ainda mais a desigualdade
entre elas. É dizer para uma criança que está há anos na fila de um aparelho
auditivo que custa milhares de dólares, que ela precisa escolher entre ter a
chance de ouvir novamente, ou esperar mais alguns anos se quiser um
aparelho que promete conectar ela a nossa tecnologia. Facilitar a vida
dessas pessoas deveria ser um dever, com o que já é possível, não fazer
disso mais um produto. Do que adianta ter tecnologia inclusiva, se ela é
acessível apenas pela minoria? Volte atrás nos seus conceitos, desenterre a
Archer e lance isso como um produto, visando lucrar e não incluir. É
melhor do que vender uma nova era. Afinal, o que tem de novo ao
escancarar que somente quem tem poder pode usufruir de certas regalias?
Um murmuro uníssono foi manifestado, e o que não poderia ficar
pior, ficou, pois as palmas se generalizaram até se misturarem com os
murmúrios de indignação.
Classes divididas de pessoas que por causa dele estavam
misturados.
Detendo seu olhar em brasa e chamas sobre mim, Cohen entregou o
microfone para o homem ao seu lado e pediu para que continuasse de onde
parou.
Acreditei que aquilo era somente um ato de superioridade,
ignorando minha manifestação, até vê-lo descer pelo outro lado do palco.
Meu coração disparou.
As pessoas ainda me olhavam quando retenho alguns passos.
Aproveitando a vantagem que eu tinha estando do outro lado do
salão, me esgueirei pelas pessoas, ignorando os comentários e olhares na
minha direção, fugindo descaradamente pela segunda vez de Cohen. Olhei
para trás uma ou duas vezes, respirando aliviada por não o ver atrás de
mim, e tomei alguns corredores para longe.
Não pude me controlar, foi mais forte do que eu. Vendo aquele
valor no telão eu só consegui pensar no meu irmão que jamais poderia ter
um se dependesse das nossas condições, e ele não precisava se sentir ainda
mais inferior por isso.
Sua condição não deve ser um instrumento para gananciosos que se
dizem visionários. Vender inclusão não deveria ser um bônus.
Incluir é integrar, unir, facilitar.
Meu pequeno Tom merece o mundo, e me corrói saber que o
mundo custa caro demais para ambiciosos como Cohen encarecer ainda
mais, em nome de uma nova era a qual pessoas como minha família e
especialmente Tom, não podem ter acesso.
Meu celular vibrou na minha mão e, ansiosa, procurando pela saída
mais próxima, foi que lembrei do Joe e somente por isso parei em um canto,
abrindo sua mensagem atrás de um corredor de incontáveis pilastras que
davam no saguão da escadaria para saída.
Eu não fui?
Como assim eu não fui? Ele realmente pensa que eu não fui!
Que a mulher que o expôs na frente de todos os convidados e
depois praticamente se pegou com ele as escondidas, de repente, foi
agraciada com uma benção dos deuses, dos astros, da união das forças
cósmicas.
Eu deveria estar furiosa com isso, mas a minha vontade era de
comemorar.
Um sorriso incontrolável surgiu, mais forte do que eu, mais forte do
que tudo o que já fui capaz de suportar um dia, tanto quanto o que me fez
retribuir aquele beijo, sem que eu ao menos pensasse duas vezes.
Cohen olhou para minha boca, encarando aquilo como um
desaforo, um ultraje a tudo o que ele acabou de me dizer. Eu não
gargalhava, não emitia um som sequer, mas não pude evitar de sorrir e ele
estava perto demais para não perceber.
— Está sorrindo?! — Mordi meu próprio lábio como se pudesse
desfazer o que fiz.
Se eu não vou ser demitida pelo fato de Cohen não saber que era eu,
eu certamente vou ser por ter feito pouco caso da sua indignação.
— Desculpe, eu... eu acabei de... eu rio quando estou nervosa. E o
senhor está me deixando nervosa. — Gaguejei.
Eu malditamente, gaguejei!
Não sei se foi delírio ou um vislumbre distante, mas pude jurar que
vi a sombra de um sorriso em Cohen também. Como se houvesse alguma
nota de diversão.
— E a senhorita, Anya, mentiu pra mim!
Ponderei sobre dizer que eu estava sim no evento, Joe poderia
comprovar isso, mas mentir me livraria de qualquer possível suspeita. Eu
seria a pessoa menos provável na culpa, se eu nem tivesse pisado os pés
naquela festa. Se eu dissesse que estava, Cohen me faria perguntas. Com
quem eu estava, que roupa eu usava, como e por que não nos vimos...
Então de uma forma ou de outra eu precisaria mentir.
E uma mentira é melhor que muitas, daqui alguns dias ele se
esqueceria de tudo isso e tudo o que eu precisaria fazer é me redimir.
— Desculpe. — Pedi por tê-lo chamado de Senhor.
Nunca estive tão confusa.
Voltar a ser Anya não estava sendo nada fácil, fingir que a linha de
profissionalismo entre Cohen e eu nunca foi ultrapassada, menos ainda.
Uma coisa me passou em branco, apenas uma. Enquanto minha
alegria ultrapassava a confusão, não me atentei ao que Cohen acabou de
dizer.
E se era na sua presença que eu estava interessado, deveria ter
pedido pessoalmente...
Por que a minha presença lhe interessava tanto? Bom, eu não estava
lá para descobrir.
— Não é o suficiente, preciso de respostas. — Uma mentira bem
elaborada, eu entendi.
— Como no ano passado, eu passei o dia inteiro estudando sobre o
lançamento. Eu sei tudo o que aconteceu. — Um vinco surgiu entre suas
sobrancelhas.
Eu não menti!
Eu não disse que não estava lá, não inventei uma desculpa qualquer.
Tudo o que eu fiz foi deixar a interpretação livre, já que no ano passado eu
não fui realmente para o evento, mas passei o dia estudando sobre o
lançamento para não ficar alheia a agenda de Cohen.
— Sabe mesmo? — Perguntou estufando o peito, como se me
desafiasse. — Então você viu o que aconteceu durante o discurso de um
parceiro meu.
Assenti, sabendo que ele estava se referindo a minha interrupção.
— Imagino como esteja furioso, eu sinto muito.
— E qual sua opinião sobre isso?
— Sobre o que ela disse, ou sobre o lançamento?
— Sobre o que aconteceu, você acha que teve necessidade?
— Olha, sinceramente eu achei um pouco demais, mas... sendo bem
sincera eu acho que você já viu que a suma maioria concorda com o que ela
falou.
Era tão estranho falar de mim na terceira pessoa, defendendo minha
opinião parecendo ser a de outra. Vi nisso uma oportunidade de amenizar o
que eu fiz.
— Você estuda publicidade, Anya. Por um lado, eu agradeço não
ter ido, queria mesmo uma opinião sincera de quem está de fora. Eu quero
saber se posso contar com a sua ajuda.
Ok, isso sim me pegou desprevenida.
A única vez em que mencionei algo relacionado ao meu estudo com
Cohen, foi há quase um ano, quando tive que negociar meus horários com
ele e explicar, torcendo para compreender, o porquê eu precisaria chegar
depois de todos os funcionários, sem me importar de sair depois, somente
para conseguir ir direto para faculdade e otimizar tempo, e ainda me sobrar
poucas horas pela manhã para me dedicar aos trabalhos acadêmicos.
Cohen não viu problema, mas ele também não perguntou nada
sobre meu curso.
Uma informação aqui é outra ali, não deve ter sido base para de
repente, ele querer minha opinião profissional nisso.
Mais do que isso, minha ajuda, a ajuda de uma publicitária.
— Claro, o que eu puder fazer, eu vou fazer.
— Preciso reverter o que ela fez, os acionistas estão me cobrando
uma posição e isso graças a maioria das opiniões que apoiam o discurso
dela!
— Você está em pauta, está entre os assuntos mais discutidos nas
redes sociais, seu nome está em todos os lugares. Eu acho que você poderia
usar isso ao seu favor.
Cohen caminhou perdido em seus próprios pensamentos até sua
mesa. Seu blazer preto estava no encosto da sua cadeira, lembrei que eu
geralmente o tirava dali, e o pendurava, mas hoje isso não ia acontecer.
Ele deixou sua xícara em cima da mesa, e ainda em silêncio
arregaçou as mangas da camisa preta, deixando parte do seu antebraço de
fora.
Me amaldiçoei por lembrar daquelas mãos segurando meus braços
para cima, e uma linha de arrepios me lembrou de cada trajeto que ela
percorreu. Então admiti que admirar Cohen, nunca será como antes, pois,
quando acontece, meu corpo automaticamente responde ansiando pelas
sensações.
— É por isso que preciso da sua ajuda! — disse, tirando-me do
meu estado de transe, dando a volta na sua mesa para abrir uma gaveta,
onde pegou algo que coube na palma da sua mão.
Suspirei discretamente tentando espantar o calor, e as batidas mais
intensas do meu coração. Foi por muito pouco que não comprimi as minhas
coxas, só não fiz isso pois seu olhar caiu sobre mim. Então meu coração
pareceu falhar umas batidas, enquanto meu rosto esquentava
gradativamente, era como se ele soubesse o que estava acontecendo, o que é
impossível, já que tudo isso é fruto do meu psicológico traiçoeiro, que me
leva até a noite da festa.
É isso, eu precisava trabalhar a minha mente, e agir como Cohen
estava agindo nesse momento. Frio e calculista. Duvido que essas
lembranças ganhem espaço sabendo ele que está diante da sua secretária de
sempre. E ainda que ele fale dela pra mim, eu só consigo sentir raiva, é isso
o que ele sente por ela, e é exatamente por isso, que essa raiva não pode ser
direcionada a mim.
Com a mascarada ele se viu de mãos atadas, o único poder que ele
exerceu, e ainda exerce, sobre ela é o prazer, e isso jamais voltará a
acontecer, então certamente essa é uma situação que fere muito mais o seu
ego, do que seu nome na mídia.
Com a postura menos ereta e tensa, Cohen parecia mais relaxado e
mais próximo do que eu conhecia. Ele veio até mim em passos lentos, o
tempo que eu agradeci ter, para me recompor internamente, e no meio dessa
batalha que eu travava com meus próprios pensamentos, não me atentei a
etiqueta que ele segurava propositalmente entre os dedos como uma carta
de baralho, ou cigarro aceso.
— Ninguém sabe nada sobre ela. Estão chamando-a de Dama de
Prata. Eu quero encontrá-la! E você vai me ajudar com isso!
Por um momento eu perdi a força sobre meus comandos faciais.
Minha expressão cedeu, todos os meus músculos relaxaram.
Só então olhei para a etiqueta entre seus dedos e vi que era do
vestido.
Ateliê Stella Valêncio, por Holly Price.
Uma simples etiqueta, que dava a ele os primeiros passos por onde
começar a procurar. De repente minha vida ganhou uma contagem
regressiva.
Ele ia saber mais cedo ou mais tarde, isso era um fato.
E não é profissionalmente falando, que ele precisa da minha ajuda.
Nada tem a ver com meus conhecimentos na área.
Minha vida e minhas expectativas, isso se desfez assim, do nada.
— Encontrá-la? — Cohen assentiu.
— Nós vamos achar essa mulher. Essa é a única pista que eu tenho.
Não queira saber como conquistei, isso ultrapassa nossos limites
profissionais, mas... como amigo, eu posso te garantir que não foi pedindo.
Minha mente me traiu, e mais uma vez as imagens daquela noite
surgiram como um único flash e gemidos roucos. E foi muito pior, tendo os
olhos de Cohen diante de mim.
— Eu sou só uma assistente, não detetive. Não tenho ideia do que
fazer para ajudar.
— Vai saber. Por hora, eu sei que ela usou um vestido consignado
desse Ateliê de alta costura. Não fica muito longe daqui, assim que essa
pressão é falação infernal na empresa diminuir, nós vamos até lá.
Acabe logo com isso, Anya! Mais cedo ou mais tarde ele vai
descobrir e além de ter que lidar com minha vida desmoronando, também
vou ter que tratar desse incômodo entre as pernas cada vez mais ardente.
— Como quiser. — Foi tudo o que eu consegui dizer. Foi o melhor
que consegui, levando em consideração que eu nem pensei pra falar.
A sombra de um sorriso semicerrou seus olhos, como se Cohen
esperasse por mais do que apenas isso.
— A propósito, não sei se o tal Joe falou, mas a partir de hoje eu
pago nosso café, então você não precisa mais passar na cafeteria quando
chega.
Só pode ser brincadeira!
Quando foi que minha vida começou a dar tão errado assim?
Em um momento eu era apenas uma secretaria responsável, com
trabalho estável, futuro certo, estudo em dia e agora... estou no banco do
passageiro do carro do Cohen a caminho do Ateliê, rezando para que Holly
não me entregue, nem ela nem ninguém que esteja lá.
O caminho até o carro já foi absurdamente humilhante. As pessoas
abriram espaço para o Cohen como se a qualquer mínimo olhar, elas fossem
se desintegrar.
— Desculpe pelo meu irmão. — Cohen diz de repente. Perdida em
pensamentos, eu mal digeri sua voz.
— O que disse?
— Casper, ontem. Ele nunca sabe a hora de parar, e pode ser bem
desagradável às vezes.
— Ah, sim. Estou acostumada com o humor dele. Apesar de nunca
saber quando ele está brincando ou falando a verdade.
— Como eu disse.
Assenti suspirando por um momento. E voltamos aquele silêncio. A
sensação era a de que eu não tinha aguentado um dia completo.
Estava a caminho do ateliê, então Casper Archer é a menor das
minhas preocupações.
Estar em um carro sozinha com Cohen, também não deveria ser
grande coisa comparado ao que estávamos indo fazer, no entanto, parecia
faltar aquela distância segura, e ar fresco.
— Algum problema com sua família? — Cohen irrompeu o silêncio
novamente.
— Como?
— Sua família. Longe de me intrometer, mas a porta ainda não tem
acústico. Ouvi você chorando e achei que pudesse ter algum problema. —
Não tive muito tempo para pensar se deveria ou não responder.
— Nada que eu consiga resolver. — Ele buscou meu olhar
rapidamente. — Era um choro de… saudade e raiva.
— Raiva de quem? — Ignorei a quase preocupação na sua voz.
— De mim mesma. — Fui sincera, direcionando meus pensamentos
na voz cansada e aparência exausta da minha mãe. Nas dores que papai
sentia no fim do dia, e na empolgação do Tom que eu morreria se alguém
ousasse tirar aquele brilho esperançoso dos seus olhos. — A impotência é
uma merda… desculpe!
— Não precisa se desculpar! — Disse em um sorriso franco. — Eu
sei exatamente como é!
Anui reprimindo o ímpeto de debochar. Cohen não faz ideia do que
é se sentir impotente diante de uma situação como essa. Não quando, para
começo de conversa, ser quem ele é, elimina qualquer chance de passar por
problemas como os que minha família estava enfrentando.
— Que cara é essa? — inquiriu ofendido, mas um sorriso de canto
nasceu ali. Na minha tentativa de esconder o que estava sentindo, devo ter
criado uma careta que dizia por si só. — Acha que eu não sei o que é se
sentir impotente?
— Não é isso. Quem sou eu pra dizer o que o que já sentiu ou não,
mas… as situações são bem diferentes, acredite.
— Então você acha que alguém como eu não tem o direito de se
sentir impotente?
— Me diga o que o seu dinheiro não compra, Archer. — O desafiei.
Um silêncio perdurou por longos minutos, ele perdeu seus olhos na estrada,
calando-se sem pretensão alguma de me dar uma resposta.
Ele não tinha uma resposta.
Foi isso que pensei quando também desviei meu olhar para além da
janela, mas sua voz chegou tão fria quanto a chuva de uma madrugada
escura.
— Tem muitas coisas que meu dinheiro não compra. — Duvidei se
eu realmente tinha escutado aquilo, quando ele mesmo continuou. — O que
você tem, por exemplo.
Fixei meus olhos nos seus lábios que provaram de um sorriso sem
calor algum, sem vontade.
Estranhamente eu entendi o que ele quis dizer com isso. O vazio
dentro do carro me fez questionar se Cohen realmente conhecia o amor de
uma mãe ou de um pai, e ao julgar pelo seu relacionamento conturbado com
o irmão, não sei dizer se ele sente por Casper o mesmo que eu sinto pelo
Tom.
Isso era frustrante. É errado pensar que a vida dá um jeito de ser
justa? Pois, o que parecia é que pessoas como ele, realmente não podiam ter
tudo. Que o dinheiro tem sim seu preço, ele é distante para uns, e te torna
distante para outros.
— Não, não compra. — Repeti concordando.
No meu caso, eu tinha todo amor do mundo, mas não conseguia
comprar a distância que me separava da minha família, nem o tempo que eu
não tinha para estar com eles, tampouco a saúde que eles mereciam, e se
estou nesse carro agora, é para garantir o mínimo que eu ainda conseguia.
Meu coração falhou algumas batidas quando paramos de frente para
o Ateliê da Stella. Engoli seco antes de descer do carro atrás de Cohen. Ele
foi o primeiro a entrar pela porta de vidro, que na verdade, foi aberta como
se ele fosse incapaz de tocar a maçaneta por conta própria.
A primeira imagem que tive foi da Holly atrás do balcão,
conferindo algo alheia às vendedoras. Uma delas veio imediatamente ao
encontro de Cohen, e ao pronunciar seu nome em alto e bom tom, todos
direcionaram seu olhar para ele. Holly foi uma delas, arregalando os olhos
com espanto ao me encontrar junto com Cohen, há apenas um passo para
trás.
Balancei minha cabeça discretamente de forma negativa, esperando
que ela compreendesse.
— Estou procurando por Stella Valêncio. — Ele disse à vendedora.
— Ela está no Ateliê, vou mandar chamá-la. — Disse a vendedora.
— Enquanto isso, com quem posso falar a respeito dessa etiqueta?
— perguntou, tirando a mesma do bolso.
A vendedora fina e elegante, observou mais atentamente antes de se
virar para o balcão, onde Holly fingiu que não estava trocando olhares
comigo.
— Holly Price é a designer que assinou essa peça. Algum
problema? — inquiriu devolvendo a etiqueta ao Cohen.
— Quero saber quem comprou?! — O olhar da moça ficou perdido.
Foi quando Holly se aproximou disfarçadamente.
— Posso olhar a etiqueta? — Como se aquele não fosse o primeiro
e único modelo que ela já assinou para a marca.
— Eu acho que você sabe de qual peça estou falando. — Minha
amiga me fitou brevemente, apenas para capturar minhas caretas
gesticulando o incompreensível, pegando a maldita etiqueta.
Um pedaço de papel do tamanho de um cartão de visita, que
acompanha todos os modelos emprestados que saem da loja.
Cohen também procurou meus olhos, consegui conter meu
semblante a tempo, então ele voltou sua atenção a Holly.
— Todos sabem. — Holly não conteve um meio sorriso, muito
provavelmente devolvendo a forma como ele falou com ela. — E ele não
foi vendido. Foi consignado na noite de sábado, e sim, já foi devolvido. —
Disse com naturalidade.
— Eu posso ver? — Seu pedido me fez saltar os olhos. Holly
soprou um sorriso.
— Por acaso ele é evidência de algum crime? — A voz que chegou
de surpresa era de ninguém menos que Stella Valêncio, sustentando um
sorriso presunçoso, elegante como sempre.
— Quase isso. — Cohen responde. — Cohen Archer. — Disse
estendendo o braço para cumprimentá-la.
— Eu sei. E sei também por que está aqui. Por aqui, por favor. —
Ela pede, esperando Cohen passar antes de me lançar uma piscadela
cúmplice.
Holly segurava uma risada pavorosa, e eu segurava a minha
vontade de gritar e sair correndo.
Embora, sair de fininho não seja uma péssima ideia.
Chegamos a um cômodo reservado para clientes, algo mais íntimo e
exclusivo, e foi impossível não paralisar ali mesmo, depois da porta, pois o
único modelo que estava exposto em um manequim, era o bendito, bem de
frente para a vidraça exuberante de vidro, dando ao mesmo ainda mais
brilho.
O ar me faltou por alguns segundos, principalmente ao ver Cohen
circundando o manequim lentamente, como um predador espreitando sua
presa. Eu pude me imaginar dentro daquele vestido novamente, e ainda que
seu olhar não estivesse direcionado a mim, eu sentia a intensidade dele.
Cohen parou de frente para o vestido, sua respiração também
parecia mais pesada, enquanto algo se revirava dentro de mim. Queria saber
o que se passava na sua cabeça. Se as mesmas lembranças que me
invadiam, também dominavam seus pensamentos.
— Modestamente, uma das peças mais lindas que já saíram do meu
Studio. — Stella quebrou o silêncio.
— Estou atrás da pessoa que alugou esse vestido na noite de
sábado. — Declarou sem tirar seus olhos dele.
Holly me cutucou discretamente, enquanto Stella apenas sorria.
— Ninguém alugou esse vestido, Sr. Archer. — Respondeu ela, de
forma branda, ganhando a atenção de Cohen. — Essa peça é um modelo
único de Holly Price, minha mais nova desingner do Ateliê. E sua criação
fez parte de um projeto que eu mesma lancei. A Dama que estava usando-o
na noite de sábado, é na verdade uma convidada minha, e em hipótese
alguma, sua identidade será revelada.
Cohen estremeceu, provavelmente tentando controlar seu ego
ferido.
— Foi uma ótima jogada de marketing, admito, e ela com certeza
tem seu preço. Me diga o seu.
Stella sorriu.
— Não se trata apenas de mim. Ela não quer ser exposta, e está
enganado Sr. Archer, esse vestido tem um preço, não a minha palavra.
Principalmente agora, que eu sei para que fim quer encontrá-la.
— Sabe mesmo? — Ele a desafiou.
— Vingança. Pelo que ela fez com você na festa. Estou certa?
Foi a vez de ele sorrir.
— Não, não está! — Cohen olhou rapidamente para a quantidade
limitada de pessoas naquela sala. Apenas Holly, eu e Stella. Holly apenas
me encarava exasperada. — Não estou atrás de vingança, ela e eu... apenas
temos assuntos inacabados.
— Eu posso tentar uma conversa, talvez, com a garantia de que ela
não será procurada, pois esse foi o nosso acordo.
— Então você sabe onde ela está. — Concluiu Cohen.
— Certamente.
— Então diga que eu vou encontrá-la! E isso não é uma escolha que
cabe a ela. Por ora, vou me contentar com a proposta e dar a ela um prazo,
mas sugiro que não teste minha paciência. — Sua voz fria e pesada
arrancou meu medo mais profundo, sendo ele uma mistura de ansiedade e
excitação, pela promessa disfarçada.
— Espero que isso não seja uma ameaça, caso contrário essa
mensagem nunca chegará a ela.
— Não sou de fazer ameaças, eu apenas cumpro promessas, ao
contrário dela. — Engoli seco sentindo cada terminação nervosa
estremecer, e o sangue que corria em minhas veias borbulhar.
— Engraçado, você parece saber mais coisas sobre ela do que eu.
— Brincou Stella. Nesse momento eu quis dar um chacoalhão nessa mulher
e mandá-la ficar quieta.
— Ela também pareceu saber muito sobre mim. O suficiente, na
verdade. — Soltei o ar em uma fechada rápida de olhos. — Quando
perguntei quem a enviou na festa, ela se recusou a me dar nomes, me diga
que ela estava se referindo a vocês.
Stella suspirou tranquilamente.
— A única pessoa que enviou aquela mulher à sua festa, está em
sua frente, e não, não houve intenção alguma senão a visibilidade da minha
marca. Presumo eu, Sr. Archer, que o senhor tocou em um assunto delicado
para ela.
E agradeço ter contado esse detalhe, porque em momento algum eu
pedi que ela preservasse a autoria.
O modo como Cohen suspirou, mesmo que discretamente, não se
parecia com nada exceto alívio, e então ele ficou pensativo.
— Isso me preocupava. Mas, meu desejo de encontrá-la nada tem a
ver com seu discurso. — Estreitei meus olhos com ultraje.
Quase não acredito nas suas palavras.
— Ah, eu duvido, e é por isso que estou preservando a sua
identidade. No mínimo alguma proposta tem aí, Sr. Archer. E já vou
avisando que a imagem da Dama de Prata é de uso exclusivo.
Era uma disputa por poder. Cohen não intimidava Stella. Talvez
pelo mesmo motivo que ele não conseguiu me intimidar dentro daquele
vestido, muito embora os impérios sejam de pesos com diferenças
exorbitantes, cada um é considerado imperadores em seu nicho.
— Minha proposta é de cunho extremamente pessoal e nada
decente.
O sorriso de Stella aumentou gradativamente, enquanto ela entendia
o que ele queria dizer.
— Acho que ela não ganhou qualquer visibilidade. Está encantado
com a moça!
— Não vou me expor mais do que já fui exposto. Como você disse,
esse vestido tem um preço e eu quero saber qual é.
— Vai comprá-lo?
Cohen observou o vestido por um bom tempo com um sorriso
traiçoeiro de canto. Não sei se por delírio do nervosismo ou visão de ótica,
mas pelo reflexo do vidro da janela, eu encontrei seus olhos, e meu coração
tamborilou contra as costelas. Quem me visse agora, saberia que o
desconforto é evidente, ele molhava minha testa com gotículas de
desespero.
— Olha eu até aceito o fato de você ter dado para o seu chefe, ele é
o tremendo de um gostoso. O que não dá para aceitar é você não ter me
falado nada! — Insistiu Holly enquanto almoçamos juntas a algumas
quadras da Archer.
— Eu não dei! Nós só nos pegamos! — Corrigi, confusa se ela
estava feliz ou irritada por isso.
— Defina pegar para você, porque ele está te procurando até
debaixo do tapete. Anya, ele quer você, isso ficou mais do que claro.
Holly não me deixou em paz, desde que deixei o Ateliê. Quando
cheguei no escritório meu celular estava repleto de chamadas perdidas e
uma amiga em cólicas para saber todos os mínimos detalhes, e agora ela
insiste que Cohen precisa saber da verdade. Os dez primeiros minutos no
restaurante foram ouvindo seus protestos por eu não ter dito nada.
Eu não disse justamente por saber que ela surtaria, e começaria a
fantasiar situações e um futuro menos caótico do que a dura realidade.
— Não, ele quer a mulher que estava naquele vestido, não a Anya.
E ele está tão certo de que ela virá, que eu quero estar por perto quando os
dias se passarem e ele não tiver nenhuma notícia. Vai ser no mínimo
engraçado ver o ego dele sendo ferido dia após dia. — Comentei rindo
antes de dar uma garfada generosa. Afinal, Cohen disse que estava
gostando daquele jogo, o que significa que eu posso me divertir também,
pois uma coisa é certa, todos as convicções dele sobre a Dama de Prata,
cairão por terra.
— Enquanto isso vai bancar a secretária amiga? Pelo amor que eu
tenho a seda, você está brincando com perigo. Quando ele ligar os pontos, e
isso não vai demorar de acontecer, Cohen vai te foder com tanta força que
você nunca mais vai conseguir andar reta outra vez.
— Holly! — Quase me engasguei com a boca cheia. Isso me obriga
a dizer que nenhuma das suas fantasias são de classificação livre.
— Ah, não vem bancar a samaritana aqui não, Anya. Você perdeu
sua auréola enquanto rebolava no colo do Cohen.
— Por que ainda me surpreendo com você? — Me rendi largando
os talheres.
— Porque eu não escondo nem meus brinquedos eróticos de você,
quem dirá o que penso.
— Não quero pensar nisso enquanto como.
— Anda, confessa, você não pensa mesmo em dizer a verdade a
ele?
— Não, isso custaria meu emprego, minha carreira, meu futuro e,
dada a situação, meus direitos trabalhistas também.
— Isso é tão emocionante! Eu nem sei o que faria no seu lugar... —
Ela parou para pensar de boca cheia. — Bem, eu sei sim, eu já teria dado
para o Cohen há muito tempo.
Ri sozinha imaginando que Holly e as três secretárias se dariam
muito bem. Desmioladas, sem grandes responsabilidades que priorizam
seus desejos sexuais.
— Minha vida não se resume a sexo, Holly. Estou muito perto de
me formar, Tom está há dias de ouvir pela primeira vez e...
— Eu sei. Você se sente responsável por isso. — Completou, sem
desdenhar ou fazer pouco caso. Ela apenas já tinha ouvido essa mesma
desculpa milhares de vezes.
— Sou a única chance que meu irmão tem. Quanto mais tempo
passa as chances dele diminuem e... Holly minha família não consegue sem
mim. — Conclui caindo na realidade.
— Está sendo pessimista.
— Realista! Conto de fadas não existe! Minha única fada madrinha
me aconselha a transar com dois ao mesmo tempo, e o sapatinho de cristal é
só um vestido que me rendeu uma única noite. Uma noite que jamais vai
acontecer outra vez.
— Você não sabe o que está perdendo. — Disse apertando os
lábios. A expressão travessa.
— Sei sim, o ego inflado e a obsessão de Cohen.
— Não, estou falando do trisal mesmo.
Revirei os olhos desistindo de contra-argumentar, ela sequer me
olhava nesse momento, estava de olho em um cara próximo a nossa mesa.
Foi nesse momento que meu celular vibrou, era uma mensagem de alguém
que eu não estava esperando, e por algum motivo despertou-me algo bom.
Algo que é sólido e seguro, como Joe.
Mandei tudo de uma vez, não soltei meu lábio enquanto Joe não me
respondeu.
"Também".
Respondi apenas.
Joe não respondeu mais nada depois. E meu almoço encerrou com
minha amiga trocando números com o rapaz da mesa ao lado. O que
significava que ela provavelmente não dormiria em casa hoje.
“Está acordada?”
“Estou.”
“Bem acordada, na verdade.”
“Desculpe.”
Não, ele não precisa saber que foi Cohen quem me incentivou, e eu
não precisava admitir que foi a melhor coisa que fiz graças a ele.
Imagens do seu beijo invadiram minha cabeça, quase como se
pudesse me corrigir.
Beijá-lo foi a melhor coisa que fiz.
Encarei a tela do celular por algum tempo, quase desistindo de
esperá-lo responder.
“Estou esperando.”
Voltei para a cozinha e dali avistei Holly sentada na ilha com seu
taco ao lado, sua expressão fechada, como quem aguardava atentamente
qualquer movimentação para atacar.
Disse, sem dizer nada, que estava tudo bem. Cohen é inofensivo
nesse estado, diferente das pessoas que ela conhecia sob o efeito da bebida.
Do outro lado da casa, sentado preguiçosamente em um sofá estava
Casper, mexendo em seu celular. Ele notou minha presença e arqueou uma
sobrancelha, como quem tentava se livrar da culpa.
— Ele vai ficar bem. — Falei, preparando as coisas para fazer um
café. — Por que o deixou beber tanto?
— Ele não larga o copo de Whisky desde que você deixou a sala,
mas dessa vez exagerou. Acha que está ruim bêbado? É porque você não o
viu sóbrio.
Tentei imaginar o cenário e meu estômago embrulhou, mas o que
eu podia fazer? Ele mesmo me afastou.
— Não fale como se fosse culpa minha.
— Eu sei que não é, mas queria que eu fizesse o quê? É a terceira
noite seguida.
— Não vem com essa. — Holly respondeu. — A culpa é toda sua!
— Claro que é. Sempre é. — Holly se inclinou com a ironia na voz
dele.
— Me dê um motivo para não tirar você e o idiota do seu irmão da
minha casa!
— Eu não sabia que ele ficaria desse jeito. — Foi tudo o que ele
disse para se defender.
— Graças a você, Cohen desconfiou dela.
— Ele nunca desconfiou dela. — Rebateu firme.
— Você por outro lado.
— Motivos não faltaram.
— Já chega! — Holly se levantou.
— Holly. — A chamei, tranquilizando com o olhar. Eu não tirava a
razão do Casper. Por outro lado, ele não tinha o direito de colocar contra o
Cohen, e simplesmente aparecer aqui como se eu fosse culpada pelo seu
estado. — Por favor.
Os dois se fulminaram ainda por um tempo. Deixei que os nervos
se acalmassem, enquanto passava o café.
— Você está dentro da minha casa! Se acusar a Anya mais uma vez,
não vai ter picanha no mundo que conserte sua cara.
— Não estou acusando ninguém, e aquilo não era picanha!
— Você não sabe absolutamente nada!
— E o que você sabe?
— O que eu sei? O que eu sei é que a mulher que você defende
mandou pegar aqueles documentos.
Senti o olhar de Casper em mim, e eu quis matar Holly. Suspirei me
encostando na pia. Encarei Holly ainda sentada e depois Casper que se
sentou de frente para ela, do outro lado da ilha.
— Que história é essa? — Ele me questionou.
— Drizella o pegou, no mesmo dia em que eu recebi e os deixei na
mesa.
— Está com ela? — Neguei com a cabeça.
— Não, ela entregou.
Casper me encarou por tanto tempo, que seus lábios
empalideceram.
— Desgraçado! — Casper rosnou. Eu passei a observar seu olhar
cada vez mais distante. — Se ela entregou para o Winter, por que ele ainda
está desconfiando da Hannah? Você tem certeza de que foi a filha dele que
pegou? — Eu assenti. Encaixando mais coisas do que gostaria agora.
— E já pedi de volta... mas eu não falei que ela entregou para o
Winter.
— Eu não disse pra você ficar fora disso? — Até o tom de voz dele
mudou.
— É você disse, depois de ter me acusado de algo que não fiz, e
mesmo assim, trouxe Cohen até aqui. — Cruzei os braços enquanto
encarava Casper, revendo sua reação mentalmente. Algumas coisas ficaram
claras diante de mim. — Foi você que mandou mensagem para Drizella.
Conclui, mas Casper continuou inexpressivo.
— Me acusou porque os papeis nunca chegaram no Winter, para
quem você queria realmente ter mandado. — Ele não precisou dizer mais
nada. Estava nítido.
— Anya tira as ervilhas freezer! Vou precisar delas. — Holly se
levantou e Casper se levantou junto, praticamente se colocando atrás da
cadeira, tentando se explicar em questão de segundos.
— Só queria que ele parasse de desconfiar da Hannah! — Disse
exasperado, barrando Holly no meio do caminho. — Winter a quer fora da
Archer de qualquer jeito, ele inclusive falou dela para o meu pai. Então sim,
eu desconfiei que você tivesse pegado antes dela, tem sua assinatura no
recibo.
— Por que eu faria isso?
— Expor os desvios?
— Você não entendeu ainda que estão confundindo minha irmã
com outra pessoa? — Holly interveio com a voz firme. — Até podia ter
alguém naquele maldito evento que queria fazer isso, mas não era a Anya!
E se quer saber, Hannah já me contou tudo sobre a relação dela com o
chefe. Cansei de ficar assistindo, eu mesma vou resolver isso.
Casper se empertigou atrás da cadeira.
— O que isso tem a ver?
— Hannah e eu temos muito em comum, inclusive um certo apetite
sexual.
Ele pareceu ficar desconfortável, como se entendesse a verdadeira
intensão nas suas palavras.
— Você e ela? — Sua voz estava mais densa, percebi que Casper
estava respirando mais profundamente.
— E o chefe dela! Vai ser um benefício mútuo.
— Holly. — Pigarreei, sem saber como dizer aquilo. Casper não
tirava os olhos dela. — Quando ela te convidou, estava falando do... —
Tentei apontar com olhos.
— Do chefe dela! Você sabe do que estou falando, ela já te
convidou também. Sabe? Aquela história de dividir que você me contou.
Pois bem, eu aceito o convite, nós trepamos e depois convenço ela a parar
de procurar por você.
Pigarreei novamente, enquanto Casper, parecia estar visualizando
mentalmente a cena, pois seus olhos estavam presos nela boquiaberto, havia
um brilho convencido nele.
— Ela trabalha para o Casper. — Despejei, observando seus
neurônios trabalharem.
Holly piscou algumas vezes.
— Não. É esse outro nome, Winter...
Eles se olharam, então minha amiga começou a ficar pálida, ao
mesmo tempo em que um rubor violento ocupou a região da sua maçã.
— Ela apenas trocou de departamento, mas é com ele que ela... —
Deixei subentendido.
Fiquei sem palavras, até porque eu não pedi que ela fizesse nada
disso, mas Holly colocou na cabeça que Hannah escutaria o que ela tinha a
dizer. Não fazia ideia de que ela estava confundindo.
— Eu vou levar um café para o Cohen. — Desviei de seu olhar,
mas não deixei de reparar que provavelmente Casper estava com seus
pensamentos longe. Também pudera, ele acaba de saber que estavam
organizando um ménage com ele.
— Anya! — Ri da sua súplica, ouvindo também a risada nasalar de
Casper, que agora tinha motivos para atormentar Holly como ele fazia com
o irmão.
— Eu não demoro, tenho que despertar um bêbado. — Falei,
voltando para o meu quarto, deixando os dois em uma troca de olhares
perigosa.
Cohen já dormia, foi a cena que tive logo depois de fechar a porta.
Boba, eu acariciei seu cabelo antes de chamá-lo, uma, duas vezes,
até ouvir seu resmungo e seus olhos que se abriram pesados.
O ajudei se sentar, e o obriguei tomar o café forte e amargo, foi
quando reparei que ele estava quente.
— Acho que está com febre. — Toquei seu rosto e nem precisei de
um termômetro. — Cohen, você está queimando!
Percebi que sua letargia não se dava somente pela bebida, mas pelo
corpo chegando ao seu limite. Eu era acostumada com isso, vivia me
automedicando para não ter que ir ao médico, portanto minha gaveta estava
repleta de remédios. Procurei por um antitérmico e o fiz tomar.
— Como se sente? — Perguntei tocando em seu rosto ainda quente
enquanto ainda engolia a água, ele me olhou e sorriu.
— Você fica tão linda preocupada. Se eu soubesse que teria seus
cuidados tinha vindo antes.
— Não brinca com isso, por favor. Me responde, como se sente?
Preciso saber.
— Me sinto o homem mais sortudo do mundo por ter você como
enfermeira, e o mais otário por ter te magoado tanto.
— Cohen! — O repreendi, ganhando mais um sorriso fraco. Ele
pelo menos, não parecia tão fora de si como chegou.
— Estou bem, juro, mas se você sair de perto de mim outra vez,
sinto que posso morrer.
— Não vou sair, seu dramático. Pelo menos não agora.
Me sentei na beira da cama ao lado do travesseiro e apoiei minhas
costas na cabeceira com um pano úmido para encostar em sua testa.
Sem pensar muito bem, apenas me aninhei do seu lado e permiti
que ele me abraçasse. A verdade é que estava morrendo de preocupação.
Nunca nem ouvi falar que Cohen esteve doente. Nesses dois anos, se
alguma vez pegou um resfriado sequer, não deixou que eu percebesse,
nunca se queixou de qualquer coisa que não fosse cansaço.
Ele deitou sua cabeça no meu peito, como se quisesse ouvir as
batidas do meu coração, e abraçou meu corpo com tudo o que podia. O
mais forte que podia, como se eu realmente pudesse ir embora a qualquer
momento, então percebi o quanto estava fraco, pois eu conseguiria sair se
quisesse, muito embora seu braço me envolvia como se só ele tivesse
metade do meu peso todo.
De alguma maneira Cohen estava diferente, sua mudança física,
ainda que pouca, mas considerável para apenas uma semana me fez pensar
na hipótese de ele ter descontado seu emocional em algo mais exaustivo.
Não passou muito tempo até sentir seus dedos rolarem pela minha
barriga, iniciando uma caricia. Sentia seu corpo levemente trêmulo e quis
fazer com que aquilo parasse, eu o queria bem.
— Tem treinado? — Me atrevi a perguntar. Cohen não me
respondeu imediatamente, ponderou por tempo suficiente de considerar que
aquilo era um sim, mas de um modo desconfortável.
— Ocupa minha mente.
Pode ser coisa da minha cabeça, mas não gostei nenhum pouco de
saber disso. Me preocupou mais ainda.
— Não vou melhorar enquanto não tiver você de volta se é o que
quer saber. — Me arrependi de ter permitido que ele estivesse tão próximo,
pois com certeza ouviu meu coração acelerando.
— Vamos conversar quando estiver melhor, pode ser?
— Me diz qualquer coisa, que seja um não, eu vou ser obrigado a
entender e talvez me entregue agora mesmo. — Não sabia que ele podia ser
tão dramático. — Mas se me disser que ainda tenho uma pequena chance,
eu prometo que nada nem ninguém vai estar acima de você.
Eu conheço sua resistência, conheço ainda mais, sua persistência, e
eu posso dizer com todas as letras que sou forte, mas não o bastante para
impedi-lo de entrar novamente na minha vida, se assim ele quisesse.
Mas isso era uma escolha que cabia somente a ele.
— Eu jamais pediria isso. Não quero ficar entre você e seu irmão.
Não percebi em que momento exatamente comecei a acariciar seu
cabelo, imersa em devaneios, meu corpo apenas acalentou o seu. Sabia que
aquela cena ficaria marcada em mim para sempre, pela naturalidade, pelo
modo como aquilo parecia certo, pelo silêncio confortável e por toda
saudade de uma semana acumulada.
Uma semana em que me entreguei aos estudos para ocupar todo
meu tempo. Uma semana trabalhando em modo automático, e parando as
vezes, para pensar que não era mais somente uma porta nos separando, mas
sim um pavilhão inteiro.
Quantas vezes não quis procurá-lo, quantas vezes não senti que ele
estava me olhando e eu sabia... sabia que tinha alguma coisa de muito
errado com ele, mas não me atrevi a chegar perto, justamente por medo
disso, dessa pouca distância que dissolvia qualquer ressentimento.
— Ele sabe que eu te amo! — Pisquei e senti como se tivesse
sofrido uma queda brusca.
Meu corpo todo petrificou.
Duvidei que tivesse ouvido, meu corpo todo duvidou. Parei de
respirar no mesmo momento, achando segundo após segundo que não
passou de um delírio meu.
— Amo desde o dia em que me fez sorrir pela primeira vez, eu senti
que algo mudou, senti que você me acrescentou, algo que eu nunca
experimentei antes. Eu me acostumei com você, me acostumei com suas
nuances no meu dia e não enxerguei, o quanto eu esperava por isso. Mas, eu
não podia, era isso que eu repetia tentando me convencer, só que nem eu
acredito mais, eu posso, eu quero você!
— Cohen...
— Estou ouvindo seu coração acelerando. — Me interrompeu... ou
foi eu que me calei, não lembro. Estava completamente sem chão. — Eu
sei que você sente alguma coisa. Eu sinto isso quando estamos juntos. Eu
não tenho que me afastar pra te proteger, posso fazer isso com você. É
ainda mais fácil.
Se eu pudesse desejar algo, desejaria tirar isso dele, como ele
mesmo implorou.
Sua mão quente subiu pela lateral do meu corpo, deixando um
rastro quente em minha costela.
O mundo parecia tão silencioso e aquele momento tão sublime, que
em certo momento, eu é quem tive que fechar os olhos, para apenas senti-
lo.
— Fala, quero ouvir a sua voz. — Ele pediu.
Desejo transcendia em cada toque. O calor deixou meu peito. Sabia
que ele estava me observando, então o medo de abrir os olhos e sucumbir
ao seu me consumiu. Sua mão continuou um caminho lento, indelicado e ao
mesmo tempo sutil até chegar na linha dos meus seios, ainda por cima da
minha blusa fina.
Seu corpo se moveu na cama, deixando o ar pesado com sua
proximidade.
Eu tinha muito o que dizer.
Pensei em começar pedindo desculpas, pensei em contar a ele sobre
meu irmão. Pensei em dizer o quanto me machucou quando Casper
desconfiou de mim, mas que sobretudo eu compreendia, e não estava com
raiva, apenas decepcionada.
E no final descobri que eu sou incapaz de conviver sabendo o
quanto ele também estava sendo atormentado.
Cohen apenas se precipitou ao dizer que confiávamos um no outro.
Sabemos que não existe confiança em um pilar de mentiras e omissões.
Precisávamos conquistar isso primordialmente, antes de falarmos
de amor.
— Eu me preocupo com você, mas não posso te prometer mais do
que meus sentimentos. Cabe a você acreditar neles ou não e... eu não sei, se
consigo colocar a prova a única coisa que tenho para oferecer. Não duvide
de quem eu sou Cohen, quando estou com você.
— Quem é você, Anya Amstrong? Me deixa te conhecer! É da
minha natureza ser desconfiado, é normal pra mim ter que provar a todo
tempo que sou capaz. Eu convivo com pessoas assim desde que nasci. —
Entendi que ele estava se referindo a pessoas da sua família. — Eu quero
você, eu quero merecer você, me molda se for necessário. Me faça seu e
enquanto isso, seja minha também.
Ele me desarmou por inteira.
Toquei seu rosto como se pudesse tirar aquele desespero inflamável
dos olhos dele.
— Sou sua, Cohen.
Ele cravou seus dedos na pele do meu quadril.
— Me perdoa, por favor. Nunca estive tão louco e tão certo. Não
quero te perder. Não aceito mais um segundo sabendo que te magoei e só
quero saber se podemos reconstruir isso. — A baixa luz me incentivava,
Cohen era apenas uma montanha de músculos em volta de mim, porém sua
saúde ainda estava frágil.
— Primeiro quero que se deite e descanse, você ainda está quente e
não consigo pensar em mais nada além disso! — Ordenei. — Tudo o que
posso prometer agora é que vou estar aqui quando acordar.
A contragosto ele se deitou, o cobri apenas com um lençol até a
febre passar e quando ia me afastando, ele agarrou meu pulso e puxou.
— Não vou dormir na sua cama sem você! — Grunhiu não me
dando escolha.
Me rendi deitando minha cabeça no seu peito, preocupada com sua
pele tão febril.
Cohen dormiu ainda antes que eu, abraçando-me como se eu fosse
um travesseiro. Ou talvez só quisesse garantir que eu não sairia dali. Cada
palavra sua ecoou repetidas vezes em minha mente. Até meu coração
decorou as batidas e continuava acelerando, falhando apenas quando Cohen
estremecia dormindo. Seus leves trancos serviam para conferir se eu ainda
estava com ele e eu era constantemente aninhada mais um pouco.
Não reparei em que momento peguei no sono, mas deve ter sido
apenas um cochilo, pois ainda estava escuro quando percebi o corpo suado
dele embaixo de mim.
Cohen estava completamente molhado de gotículas, seu corpo se
livrando da febre, mas ele não podia ficar assim, ou teria calafrios. Então
ciente da minha jornada de enfermeira particular, o chamei, acordando-o
para novamente levá-lo para um banho quente.
A casa estava silenciosa, então presumi que Casper havia se
acomodado em algum lugar.
No banheiro outra vez, Cohen apenas deixou a toalha cair, não
reclamando quando sentiu a água em uma temperatura agradável.
Aos poucos ele despertou do torpor causado pela febre e seus olhos
não saíram mais de mim, detendo-se em um longo tempo.
— Obrigado por cuidar de mim. — Disse com a voz serena, não
havia preocupação ou qualquer linha expressiva.
— Como se sente? — Quando perguntei isso, tive que segurar o
receio dele dizer que estava bem e que nem se lembrava como foi parar ali.
A ideia de que tudo o que ele disse não passou de um delírio ou coisa assim
cutucou meus pensamentos.
— Como você acha? — Meus olhos foram atraídos para sua mão
no próprio membro, apertando sua ereção. — Minha mulher está me vendo
tomar banho, e ainda pergunta como me sinto? Me sinto duro.
— Cohen! — Tensionei por inteira. Era muito para administrar em
tão pouco tempo. Suas palavras, seu estado, seu olhar e agora isso. A frieza
indecente e sem filtro, que despertava meu corpo em questão de segundos.
— Não vou ser discreto com você! Não vou ser gentil, porque eu
percebi, Anya, que eu preciso ser seu oposto.
Arfei sentindo meu rosto esquentar e o pulsar na minha intimidade
começar a ficar incomodo, vendo seu movimento de vai e vem se exibindo
para mim deliberadamente.
Ele estava duro, de fato, e em combinação com seu corpo
malditamente bem definido, e a água escorrendo por seu abdômen trincado,
me fizeram esquecer meu próprio nome,
Naquele momento eu tive certeza de que ele não se lembrava de
nada do que disse, porque ele prometeu recomeçar paciente, e não se
recomeça desse jeito.
— Acha que estou te torturando? Não, é você quem me tortura
olhando desse jeito.
Juro que nunca senti nada igual antes, era estranho, porque Cohen
já me sentir muitas coisas, mas água na boca, foi a primeira vez.
Mordi meu lábio tentando conter minha respiração forte. A essa
altura eu já estava completamente molhada e pulsante. Meus seios pesaram
dolorosamente. Meu corpo respondia ao dele e jogava meu emocional para
bem longe.
Cohen apoiou sua mão no vidro e sua expressão foi de prazer. O
infeliz estava se tocando enquanto me olhava, provocava sem sequer
oferecer um convite.
Seus olhos desceram e pela espessura da minha blusa fina, eu sabia
o que ele estava olhando. Aquele maldito sorriso de lado surgiu.
— Vai ficar só olhando? — Dei ombros atrevidamente.
— Posso me tocar também. — Sua mão se fechou em punho, e no
mesmo momento em que seu sorriso sumiu o meu nasceu.
— Me deixaria louco. — Meu sexo pulsou com sua voz carregada
de tensão. — Estou pronto, amor. Por favor não me faça terminar isso
sozinho.
Seus movimentos eram lentos e com um simples objetivo de me
deixar latejando de tanto desejo pulsando entre minhas pernas.
Eu precisava dele!
Preciso de tudo aquilo na minha boca o quanto antes.
— Não ouse.
— Minha situação já está irreversível, não ajuda ter você me
assistindo.
Olhei descaradamente para o que ele estava fazendo. Sua mão
deslizando, indo e vindo por todo o membro.
— Posso ficar aqui até você terminar isso. Mas garanto que pode
ter volta, e você vai ter que assistir eu me tocando.
— Porra, Anya. — Cohen grunhiu com seu punho no box de vidro.
— Eu
assistiria, eu assistira feliz, mas te faria implorar para terminar o
serviço.
Meus seios pesaram, e o incômodo entre minhas pernas já estava
latente.
— Que se dane! — Invadi o box e em questão de segundos nossos
lábios estavam se chocando. Ele grunhiu duro, tomando-me também em um
beijo faminto e sedento. Sua língua sugando meu gosto com vontade. Era
urgente, mas sem pressa, profundo e entorpecente, como eu gostava.
Ele agarrou meu cabelo e pressionou minha nuca, cheio de
saudade e desespero, não queria me deixar sair, e por mais gostoso que
estivesse seu beijo, eu me sentia insaciável, um desejo jamais sentido antes,
ou talvez não explorado.
Mais rápido do que meu primeiro arfar longe do seu toque, Cohen
enlaçou minha cintura, imprensando meu corpo contra a parede mais
próxima, onde tomou minha boca novamente com voracidade.
Sua língua agiu rápido, não me deixando escolha, eu me entreguei
tocando seus braços e ombros. Sem dificuldade alguma, ele me tirou do
chão, obrigando nossos corpos a se encaixarem. Abracei seu quadril com as
pernas, sendo completamente dominada por uma chama, desejo, puro e
simples.
Avassalador.
Mais do que isso, era agressivo, severo e brutal. Estava muito além
do nosso controle. E essa chama nos consumiu cada vez mais, até estarmos
totalmente entregues àquele prazer. Explorando enquanto sua dureza
pressionava minha entrada. Todo meu pijama molhado e colado ao corpo.
Meus seios eram pressionados contra seu peito e Cohen se movia me
excitando cada vez mais.
Um beijo repleto de palavras não ditas, repreensão das que já
foram, e do desejo reprimido por tanto tempo, libertado com selvageria.
Era pouco, nossos corpos já se movimentavam e quando o ar nos
faltou, fomos obrigados a cessar o beijo, contudo, ele não se afastou, traçou
uma trilha de beijos, mordidas e arrepios pelo meu pescoço. Movido pela
luxúria, grunhindo e rosnando por um prazer volúvel, perto do que ainda
estava por vir.
Suas mãos passeavam por toda lateral do meu corpo, e quando
agarrou minha bunda, foi minha vez de gemer, ao sentir seu membro duro
em meu ponto pulsante, quente e encharcado.
Ele fez questão de esfregar nossos sexos, me levando à beira da
loucura.
Cravei minhas unhas nas suas costas, gemendo de prazer ao vê-lo
me acompanhando. Não havia delicadeza, sutileza nem cuidado. Somente
luxúria, e a busca pelo prazer que sabemos o quanto um pode proporcionar
ao outro.
Esfreguei deliberadamente, sentindo o pulsar da sua carne quente.
Segurei seu pau entre meus dedos, e ele ofegou, gemendo rouco
entre o beijo.
— Me toca, amor, me faça seu. — Tive a mais bela visão ao
movimentar minha mão e o ver entregando-se ao prazer.
Toda sua virilidade controlada ao meu reles toque, ao meu
comando, e isso era inexplicavelmente revigorante.
Enlouquecedor.
— Cohen...
— Hmn... — grunhiu mordendo meu lábio, suas mãos apertando
minha bunda.
— Quero seu pau na minha boca. — Cohen paralisou, mas seu
membro pulsou entre meus dedos.
Não sei de onde veio à vontade, tampouco a coragem, só sei que vi
seus olhos tomarem um brilho novo.
— Caralho, Anya! — Ele capturou mais um beijo. — Isso não se
faz com um homem em estado de pré morte. Posso muito bem estar
ouvindo coisas.
Sorri enquanto meus pés tocavam o chão. Como ele conseguia ser
tão dramático?
— Não, você não entendeu errado, eu quero! — Mordisquei seu
lábio na ponta do pé. Cohen estremeceu, e eu fiquei plana, apenas para
mordiscar sua pele também, descendo minha mão pelo seu abdômen
contraído. Muito mais delineado.
— É tudo seu, faça o que quiser. Eu não sou louco de negar isso a
você. Não sou louco de negar isso a mim mesmo! — Disse rouco, com o
polegar acariciando meu lábio se baixo, qual eu mordisquei também, e seu
membro pulsou na mesma medida que seus olhos refletiram o desejo
inflamável. — Não me diga que uma semana fez isso com você?
Assenti, e no momento em que me sentei sob meu calcanhar, e
envolvi seu membro entre meus dedos..
Surpreso e inexpressivo, sua boca semiaberta como se não
acreditasse que estava prestes a presenciar aquilo. Eu, todavia, quando
toquei minha língua em sua extensão, tive a certeza de que era exatamente o
que eu queria.
— O que eu quiser?
Cohen tensionou, enrijeceu-se por inteiro. Arquejou quando chupei
o topo do seu membro, e gemeu lindamente quando o coloquei na minha
boca, olhando fixamente em seus olhos. Chupei e saboreei, até sentir que o
poder do seu prazer estava inteiramente comigo.
— Não é possível! — Fraquejou tentando se agarrar a algo.
Abocanhei a extensão do seu membro, e suguei seu sabor por
inteiro, refiz o movimento uma, duas vezes, até me acostumar ao tamanho,
lambendo, chupando, completando-o com meus dedos, que me ajudavam na
busca dos seus grunhidos lindos de prazer.
Ele não escondia o que estava sentindo, jogava sua cabeça para traz
e todos os seus músculos do abdômen se contraíram, olhava em meus olhos
e vibrava.
E era nesse momento que eu me satisfazia, cada vez mais
confortável, cada vez mais insana e insaciável.
Seus gemidos roucos me inspiravam, me preenchiam, o sentia cada
vez maior, cada vez mais duro, como se isso fosse possível.
A água respingava em meu rosto, mas a maior parte nas suas costas.
Escorria pelo seu peito, desenhava seus músculos proeminentes, e todas as
veias do seu corpo saltavam em evidência.
— Anya... vai me matar desse jeito. — Tirei minha boca em um
sorriso, sugando tudo lentamente. — Eu não disse que quero continuar
vivo.
Seus dedos se enroscaram por baixo do meu cabelo, ele me puxou
com sua mão na minha nuca e um sorrisinho desenhou meus lábios
satisfatoriamente.
— É isso que eu quero, Cohen. — O tomei ainda mais voraz, e seu
gemido rouco em combinação com seus dedos emaranhados no meu cabelo
me fizeram intensificar os movimentos.
Eu ouvia sua respiração descompassada, seus ruídos de prazer e
tudo explodiu, quando ele me puxou para um beijo enquanto me
imprensava no box de vidro. Senti seu membro pulsando na minha barriga.
Foram segundos intermináveis até ele se livrar daquilo, o êxtase
inebriado e brutalmente lindo enquanto ele gozava duro.
— Olha o que fez comigo, amor. Olha o que faz, comigo! —
Rosnou com seus lábios pressionando minha boca. Sua respiração estava
ofegante.
— Cohen... — Arfei sentindo sua mão apertando minha bunda,
puxando-me para si, roçando deliberadamente em mim.
Logo eu, que estava tonta.
Por um momento seus olhos cravaram em mim, e ele pareceu ser
preenchido de algo novo. Uma certeza eminente e um brilho lindo ao dizer,
sem nenhuma ressalva.
— Eu te amo... eu te amo pra cacete, Anya!
Meu peito inflou em uma lufada só, e foi mais forte do que eu,
quando percebi estava assentindo, como se meu corpo quisesse que ele
entendesse.
— Eu também! — Seu olhar paralisou em mim, tudo nele se
resumia a sua respiração profunda, e um sorriso satisfeito e tão breve, que
se eu não estivesse tão atenta não teria visto. — Eu também te amo,
Cohen!
— Porra...
O sorriso se amplificou, e no mesmo momento ele me beijou.
Foi languido, profundo, gradativamente enlouquecedor.
— Sua amiga que me perdoe, mas eu vou te comer do meu jeito. —
Franzi minha testa, arquejando quando ele desceu seus lábios para o meu
pescoço enquanto massageava meu seio por cima da camiseta de pijama
completamente colada em meu corpo.
Senti sua mão entrando por baixo dela, em minha barriga, onde ele
praticamente afundou para dentro do cos do meu shorts fino, e o arrancou
de uma só vez, junto com minha calcinha.
Ainda estava com a dúvida interna do porquê ele precisaria pedir
desculpas a Holly, até que sem dificuldade ele me virou de frente para o
vidro, e preparou meu quadril para recebê-lo. Com calma, iniciando em
movimentos lentos para lubrificar a cabeça de seu membro em minha
entrada, arrancando-me ondas que passeavam por todo meu corpo em
expectativa, sentindo Cohen atrás de mim.
— Anya... — rosnou esfregando seu nariz próximo a minha orelha.
Meus seios sentiram sua voz pesando dolorosamente, estava a ponto de
implorar. — Nunca te disse isso, mas sua bunda, era minha visão favorita
de todos os dias.
“Meu chefe não olha para minha bunda”
Canalha!
— Quanta falta de ética! — Cohen riu, então o senti me penetrando.
Sem aviso, de uma só vez.
— Sabe o que mais falta? — Perguntou movendo lentamente para
fora. — Algumas marcas da minha mão nela.
Meu gemido rasgou quando ele estocou ao mesmo tempo que
espalmou minha pele. Foi de longe a melhor sensação que eu já tive. Juntou
a vontade de xingá-lo com o desejo insano de pedir com mais força.
Então entendi.
Ele pediria desculpas por fazê-los escutar o que ele fazia comigo.
Não era sexo, Cohen me fodia!
Me venerava com os lábios enquanto suas mãos estavam firmes em
meus seios, as vezes na minha nuca, as vezes no meu pescoço.
Não tínhamos condições de sair dali. Estávamos com saudades,
estávamos com um sentimento novo, algo mais amplo e profundo, mais
duradouro.
Não consegui me livrar da camiseta de dormir completamente
molhada e colada ao meu corpo, mas Cohen fez isso por mim, em um
processo tortuoso, beijando e sugando cada centímetro da minha pele à
medida que era exposta.
Ele deu atenção aos meus seios com a boca. Sugando e roçando sua
barba por fazer entre eles, devorando um de cada vez, concentrando sua
língua habilidosa em meus mamilos doloridos.
Eu arranhava suas costas apenas para ouvir seu grunhido grosso de
prazer, e seu olhar que prometia me punir, da melhor maneira possível.
— Se estivéssemos em uma cama agora, eu te colocaria de quatro e
você pagaria por isso. — Me arrepiei com sua voz gravemente rouca e
linda, acompanhado do seu olhar fixo enquanto me penetrava.
— Só por isso? — Passei minhas unhas de novo e sorri, quando seu
corpo arquejou. Cohen trincou o maxilar, fechando os olhos para sentir,
depois fixou os mesmos em mim.
— Por uma semana, sem esse seu sorrisinho atrevido. — Não
resisti quando ele diminuiu os movimentos, só para que eu sentisse toda sua
ereção me preenchendo aos poucos, parecia uma tortura. Eu queria muito.
— Uma semana, Anya, para ter certeza de que quero você para minha vida.
Ofeguei com as batidas do meu coração que esqueceu seu ritmo.
— Quero que seja minha. Qualquer coisa, desde que seja.
— Cohen... — Choraminguei quando seu pau me deixou e não
entrou novamente. — Depois que eu gozar você pode me chamar do que
quiser.
E quando finalmente conseguimos terminar aquele banho, Cohen
me secou, enquanto escondia um sorrisinho traiçoeiro.
Fui virada de frente para o espelho, enquanto ele penteava meu
cabelo ainda molhado, nos olhamos através do reflexo, e eu vi o brilho de
um homem apaixonado, com um semblante misterioso.
Olhei para o meu corpo, eu estava toda arrepiada, seus olhos me
procuraram, e ele sorriu quando me pegou no flagra.
— Eu amo seu cabelo. — Sorri genuinamente. — Amo o
cumprimento, a cor, o quanto ele te deixa linda. O quanto eles
Ele se curvou e beijou meu ombro, depois roçou os lábios no lóbulo
da minha orelha. Senti sua mão novamente na minha nuca, subindo
lentamente, tortuosamente me excitando
— Amo mais ainda, quando estão enrolados no meu punho. —
Ofeguei ouvindo sua voz rouca, recebendo o puxão sem dor quando ele fez
o que dizia. — Olha pra mim!
Não percebi ter fechado os olhos, mas abri. Meu peito subia e
descia quando ele empinou meu quadril, roçando seu membro na minha
intimidade molhada, pronta de novo. E ele me penetrou olhando-me através
do espelho.
— Cohen... — Arqueei querendo senti-lo, eu precisava disso tanto
quanto precisava do ar que respiro.
Era incrível vê-lo despido, não só de roupa, mas de toda a capa da
civilidade que o escondia.
Era incrível ver o quanto ele me tinha, o quanto éramos perfeitos
juntos.
Cada estocada era uma onda de prazer. Arqueava meu corpo para
trás e ele apalpava meu seio, enquanto a outra continuava enroscada em
meu cabelo.
E novamente chegamos ao ápice, com ele sussurrando no meu
ouvido o quanto me amava, e que nada depois daquilo nos separaria.
Eu ainda não fazia ideia da força dessas palavras.
CAPÍTULO 33
Eu não estava preparada pra você.
Construí estes muros por toda parte. Você queimou essa merda até o chão.
Not Prepared For You – Diane Warren
— Ela pegou os papeis de volta e você acha que a Hannah não vai
desconfiar de nada? — Holly estava na minha cama e essa já era sua quarta
ou quinta pergunta, que antecedeu um ataque sobre o quanto foi idiota, pois
ela mesmo queria ter falado com a Hannah.
— Eu não sei como Drizella pegou, mas sei que não foi pedindo.
— E por que você acha que eu iria até esse encontro? Eu mesma
conversaria com ela.
— Que ótimo, agora você pode recusar.
— E você pode continuar vivendo sua vida como se não soubesse
que ela está te procurando. — Rebateu com ironia.
— Quem não está? — Repliquei enquanto fechava minha mala.
— Quem garante que essa descascada mesmo não falou pra ela?
Tive que admitir algo para mim mesma antes de suspirar, olhando
para Holly.
— Porque se tem uma coisa que Drizella não faria, é prejudicar o
Cohen. Ela só fez isso por ele.
— É, mas a Hannah prejudicaria. Ela inclusive tem mais um motivo
agora. E o que vocês vão fazer? Viajar como se nada estivesse
acontecendo.
Sorri colocando minha mala no chão.
— Obrigado pela preocupação, mas minha mãe está em Minnesota
e você deveria estar feliz, mas... não vou te cobrar isso porque é uma viajem
a trabalho.
Holly bufou me olhando com tédio.
— Você acredita mesmo nisso? — Ignorei seu olhar e continuei o
que estava fazendo.
— Cohen já deve estar chegando, eu volto em dois dias.
— E a faculdade?
— Enviei uma nota ao Lee, ele vai me passar uma retificação para
repor.
Ela bufou em cima da pilha de roupas que estava na minha cama.
— O cara mal chegou e já está levando minha melhor amiga.
— Está com ciúmes, Holly? Não é você quem disse que eu tinha
que aproveitar mais minha vida? Eu cumpri com quase toda a lista.
Deixei a mala próximo a porta e me olhei uma última vez no
espelho.
— Mas ele está te levando pra longe, e eu não decidi se confio nele
ainda. — Eu ri, olhando para ela por cima dos ombros.
— No começo eu também não concordei, mas quer saber? Não
quero estar aqui quando você for se encontrar com a Hannah, já disse para
desistir dessa ideia. Estão todos sabendo, Holly. Cohen deixou que todos
soubessem.
Holly acredita que Hannah está com mais raiva do Cohen do que de
mim, e tentaria fazê-la parar de querer expor a Dama de Prata aos
executivos e acionistas.
— Ela só precisa parar de procurar a pessoa que estava debaixo
daquela máscara.
— Isso está muito perto de acabar. Cohen vai investigar os
envolvidos e em breve eu deixarei de ser um risco.
— E os papéis?
Travei, me encarando através do espelho. Vislumbrei mentalmente
a pasta dentro da minha gaveta no quarto, e sacudi meus pensamentos.
— Entregue ao Casper, ele sabe o que fazer com eles.
No fundo eu não achava essa atitude sensata, e não é como se eu
estivesse tentando provar alguma coisa, mas se Cohen me colocou como
prioridade, acho justo que ele faça o mesmo com Hannah, e tire ela disso.
Tempo...
Que palavra miserável, tão miserável quanto a falta dele.
Eu não tenho tempo, eu tenho que agir, eu tenho que novamente
colocar meu irmão no topo da minha lista de problemas e focar todos os
meus esforços nisso.
Visitei clínicas, falei com médicos, especialistas, recebi contatos,
uma lista interminável de pessoas que poderiam lidar com o caso do Tom.
Eu estava com todos os seus exames impressos, fui altamente
orientada e agradeci, por um momento, pelo tempo que Cohen me deu para
pensar antes de qualquer coisa, pois graças a isso eu estava conseguindo me
dedicar ao meu irmão.
Tive que me desligar totalmente da Archer.
Tudo isso, enquanto o caos premeditado se alastrava. A Dama de
Prata ganhou um rosto.
Eu estava estampada novamente em notícias e recebia por meio de
mensagens e visitas inesperadas um Cohen desesperado por um beijo,
qualquer coisa que o lembrasse de nós. Que de alguma forma nosso amor
sobreviveria.
Eu não tinha dúvidas disso.
Passei a noite encarando sua última mensagem com a saudade
cutucando meus olhos, formigando em meus dedos para pedir que venha,
que passe a noite comigo e que por algumas horas esquecêssemos de que
tudo estava acontecendo, mas eu resisti.
Minha vida estava revirada, mas a dele posso dizer que passou um
furacão. Tudo veio à tona. Tudo explodiu como temíamos. A Archer agora
estava sendo atacada e por incrível que pareça, a mulher que a expôs...
Não.
— Certo, quando podemos marcar essa visita? — Indaguei pelo
telefone.
Estava há horas perambulando pelo apartamento sob o olhar da
Holly. A coitada nem unha mais tinha. A cada ligação destroçava seus
dedos e esperava aflita para o resultado de mais uma conversa, mais uma
ligação.
— No fim do próximo mês. — Disse a atendente.
— É muito. — Respondi. — Eu preciso para o quanto antes.
— Sinto muito, o Dr. David só chega em Minnesota no próximo
mês, está com a agenda cheia em Washington.
— Washington? — saltei de onde estava. — Ele está em
Washington?
— Sim, senhora.
— Em que cidade?
— Ele tem uma clínica em Bellevue.
— Pode me passar o endereço?
— Só um minuto. — Esperei, encarando Holly a procura de uma
caneta e um bloco de notas. Anotei o endereço da clínica assim como o
telefone, e bastou que desligasse para Holly disparar perguntas sobre o
médico que o professor Leeson indicou.
— Ele tem uma clínica em Bellevue.
— É a meia hora daqui! — Disse o que eu já sabia.
Não muito depois eu estava ligando para a clínica e anotando os
horários que poderia encontrá-lo.
"Desculpe”.