Meu Namorado É Uma I.A. - Ca. Dantas

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CA DANTAS

Capa: Angel Design / @angel_._design


Diagramação: Ca Dantas / @cadantas.autora
As personagens aqui descritas são fictícias e qualquer semelhança com a realidade é mera
coincidência e não foi pretendida pela autora.
Texto em conformidade com o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

Todos os direitos reservados


Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por quaisquer meios, eletrônico
ou mecânico, incluindo gravação ou fotocópia, sem a permissão por escrito e assinada pela
autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei no 9.610/1998 e punido pelo artigo
184 do Código Penal
ISBN: 978-65-00-86309-3
Avisos
Essa história é imprópria para menores de dezoito anos.
Algumas cenas descritas neste livro possuem insinuação ou detalhamento de cenas de
sexo.
Essa é uma história de amor, leve, divertida, para que você leitor possa sorrir e se
encantar com a leveza de cada personagem. É uma obra de ficção, fantasiosa e nada aqui retrata
uma história real, ou pessoas reais, apenas divirtam-se.
Para quem quiser me seguir no instagram é só acessar: @cadantas.autora
Desejo uma boa leitura.
Sumário

Avisos
Sumário
Sinopse
Prólogo
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Epílogo
Recados da Autora
Outras obras da autora
Sinopse
Helena é uma mulher adulta que passou por muitos encontros, mas nunca namorou ou
encontrou alguém para que pudesse entregar seu coração.
Diante da dificuldade de Helena, aliado a uma grande tristeza causada por seu último
encontro, Mariana, amiga da nossa protagonista, a sugere buscar ajuda em um jogo inocente, um
aplicativo que simula encontros, isso ajudaria Helena a entender e aprender sobre a arte da
sedução e dessa forma poder encontrar o cara certo para quem ela pudesse finalmente se entregar
inteiramente.
Aceitando a sugestão de sua melhor amiga, Helena entra no universo virtual do
aplicativo, se envolve com as personagens do jogo, mas não consegue entender muito bem
aquela dinâmica, até que uma I.A. surge na tela e o match é imediato, a moça se envolve com
aquele personagem misterioso que faz com que seu coração bata mais forte.
Namorar uma I.A. não é nada comum, por esse motivo a relação fica apenas entre Helena
e o Avatar denominado Adam. A revelação da relação pode ser perigosa para ele correndo risco
de ser deletado do sistema, porém, Helena descobre que pode estar sendo enganada por uma
pessoa real e toda a relação entre eles muda. A garota está disposta a descobrir se aquele por
quem se apaixonou é uma pessoa real ou se é mesmo uma I.A. que conseguiu ultrapassar as
barreiras estabelecidas por seus criadores para que pudesse descobrir com Helena o que é o
amor.
Prólogo
A minha história é um pouco curiosa e inusitada e bota inusitada nisso, mas antes de
contar a parte mais estranha, preciso contar o que me levou a ela. Bem, eu sou péssima em
encontros. Você pode se perguntar: Péssima em encontros, o que isso significa? Vou esclarecer.
Eu sou mesmo terrível em encontros românticos! E não é exagero, pode acreditar, pois nenhum
dos meus encontros terminaram bem, nem mesmo em um beijo, ou muito menos na cama. Eles
são sempre péssimos, algumas vezes eu erro, não serei hipócrita aqui e dizer que sou perfeita,
pois não sou, outras vezes simplesmente os homens que estão comigo que erram e acontece
também de ser culpa do destino, porque alguns encontros nem mesmo chegam a acontecer.
É muito difícil falar sobre essa condição chata, digo condição porque tenho a esperança
de que isso um dia vai acabar, afinal, a esperança é a última que morre. Mas preciso dar
exemplos para que a minha história possa se tornar mais compreensível e também real, pois só
falar que meus encontros são ruins não é explicação suficiente. Então vamos aos exemplos mais
dramáticos:
Não sei quantas pessoas já terminaram um encontro no hospital, mas eu já e esse encontro
fracassado foi por culpa exclusivamente minha, estava tudo indo bem, mas eu estava nervosa e
acabei gesticulando demais as mãos e braços, com isso dei um tapa na bandeja do garçom que
trazia aquele café bem quentinho ao fim do jantar e a bandeja virou, fazendo com que o líquido
caísse inteiro em cima do rapaz que me acompanhava, a calça que ele vestia era de tecido
sintético e devia ser um bem ruim, porque o calor extremo do café fez a calça derreter e se uniu a
pele dele, foi terrível, gritos, muito desespero, o pobre do garçom ficou com medo de perder o
emprego e eu acabei sem nem um beijo e ainda fui convidada a nunca mais ir naquele
restaurante. Nem preciso dizer que meu acompanhante não me ligou mais, ele até me bloqueou
do aplicativo de mensagens e das redes sociais, de todas elas e eu nem o seguia, com certeza lhe
causei um trauma além de uma marca eterna de queimadura em sua perna.
Já fui parar no hospital mais de uma vez, a segunda experiência foi traumática para mim,
tudo foi perfeito até o momento final onde meu acompanhante me ofereceu uma carona, ele,
tentando ser gentil e cavalheiro, abriu a porta para que eu entrasse em seu carro, o problema é
que o carro em questão era uma daquelas pick-ups bastante altas, precisei me apoiar na lateral da
lataria, bem onde tem o encaixe da porta quando se fecha, esqueci de tirar a mão dali, meu
acompanhante não viu, já que era noite e o local estava escuro, meu grito ecoou por todo lugar
quando a porta foi fechada e meus dedos ficaram presos, eu desmaiei tamanha a dor e acordei
com a mão engessada, nunca mais vi o homem, na verdade ele apenas me largou no hospital e se
foi, sua gentileza e cavalheirismo teve um curto prazo de validade.
Teve outra vez que o rapaz decidiu que nosso encontro deveria ser ao ar livre, achei que
seria um piquenique, mesmo que ele tivesse me pedido para ir com uma calça legging, tênis e
camiseta, chegando ao local marcado o doido achou uma ótima ideia fazermos rapel no nosso
primeiro encontro, eu não sou uma pessoa desastrada, apenas acontecem vez ou outra, como
acontece com qualquer outra pessoa normal alguns acidentes, minha amiga Mariana costuma me
salvar de alguns desses problemas por eu ser um pouco estabanada, como ela me diz, mas até
que tenho estado bem controlada ultimamente. Tudo bem que eu as vezes não tenho muita noção
de espaço e carrego tudo por onde passo com a minha bunda um pouco avantajada, mas todas as
mulheres de bumbum grande já passaram por isso, considero uma coisa normal entre pessoas
com esse biotipo, mas dessa vez eu não faço ideia do que fiz para dar errado na descida pelo
rapel depois de uma caminhada intensa de mais de uma hora, só sei que a corda e a roldana, se
prenderam a minha roupa destruindo quase tudo, terminei a descida seminua, envergonhada e
ridicularizada, porque foi impossível não rirem de mim quando fiquei de ponta cabeça e quase
nua pendurada naquele negócio, eu tentando tapar meus peitos, que são grandes, ao mesmo
tempo que tentava me segurar para não ficar girando e balançando presa aquela corda batendo na
pedra, só sei que foi humilhante e ridículo, aquele cara eu fiz questão de bloquear, ele foi
péssimo em tudo, na escolha do programa para o encontro até a resolução do meu problema, o da
mão na porta ao menos teve a dignidade de me deixar no hospital, esse nem arrumou um pano
para me cobrir.
Mas o pior encontro de todos foi na vez que cheguei ao restaurante para um encontro às
cegas que uma colega do trabalho me arrumou, me sentei à mesa com o rapaz, passei um tempão
conversando com ele e nem olhei meu celular nenhuma vez, tão divertida estava a conversa,
jantamos, e comecei a conversar sobre assuntos que com certeza seriam em comum para nós,
pois minha amiga havia dito que a gente seria cem por cento compatível e que éramos muito
parecidos com relação a gostos, o problema foi que nada bateu, éramos incompatíveis em tudo,
até em opinião política, o homem começou a se mostrar desrespeitoso e extremamente machista,
ia me levantar para ir embora, mas ele se antecipou e se levantou para ir ao banheiro, esperei que
voltasse decidida a dar um fim naquilo, porém quando ele retornou seu comportamento estava
completamente diferente, as características físicas eram as mesmas, mas as pessoais haviam
mudado, ele deu uma desculpa dizendo que antes estava apenas brincando comigo, eu até ri,
mesmo achando a brincadeira nada engraçada, mas as coisas começaram a fluir melhor, os
gostos começaram a bater e então mais uma vez ele foi ao banheiro e voltou diferente, estava
como da primeira vez, nada compatível. Comecei a estranhar e quando ele disse que iria ao
banheiro mais uma vez, esperei que ele fosse na frente e eu fui atrás, fiquei pasma quando
descobri que não era apenas um homem, mas dois, os babacas eram gêmeos e estavam se
revezando no encontro, eu fiquei tão chateada que deixei os dois no restaurante e até terminei a
amizade com a mulher do meu trabalho, pois ela sabia que eles costumavam fazer aquilo e me
jogou de bandeja aos dois babacas, com uma amiga dessa, para que inimiga? Foi o pior encontro
da minha vida.
Também já fiquei horas esperando pelo rapaz e ele não apareceu, já saí com homens que
fingiam ser solteiros e dava para ver a marca da aliança no dedo deles. Homens casados
aparecem aos montes, mas minha experiência é tanta que já consigo identificá-los, por mais que
eles possam mentir. Para mim os casados são piores que os gêmeos que dividem mulher, porque
ao menos eles não tinham compromisso com ninguém, já os casados, além de terem o
compromisso com a esposa, muitas vezes têm filhos.
Acho que a vida a dois não é para mim, tenho vinte e quatro anos, sou formada em
Economia e muito bem resolvida na minha carreira, sou funcionária pública federal, ganho muito
bem para me manter, a ponto de ter residência própria, posso olhar algo em uma vitrine de loja e
comprar se aquilo me interessar, viajo para o lugar que desejo, vou a shows, festivais,
restaurantes e cafeterias, porque amo beber café. Posso proporcionar uma vida legal aos meus
pais e sou extremamente feliz por isso, mas em relação a minha vida amorosa a coisa muda de
figura, essa eu não posso controlar e nem seguir da maneira como bem desejo, a minha vida
amorosa é um caos total.
Hoje estou no meu encontro de número cem, isso porque decidi contar. Durante esse
tempo de encontros mal sucedidos, resolvi estabelecer algumas regras até chegar no encontro
pessoal: não saio com ninguém recomendado por colegas de trabalho, não saio com ninguém do
trabalho, pois pode ser desastroso demais ter que conviver com a pessoa todos os dias depois de
um encontro merda, digo isso pela minha ex amiga, não saí com ela, mas é horrível encontrá-la
no elevador e ver que ela ainda ri de mim pela patifaria que me fez passar. Não saio com
ninguém religioso demais, nenhuma das religiões mesmo, já passei por péssimas experiências
com pessoas religiosas, uma vez fui a um encontro com um padre sem saber que ele era padre,
quando descobri achei um absurdo, ele ia trair Deus com quem ele tem seu maior e mais sério
compromisso, e ainda por cima me usaria no processo da traição. Se Eva comeu a maçã e foi
expulsa do paraíso, o que aconteceria comigo se saísse com alguém que jurou dar sua vida para
pregar a palavra do todo poderoso?! A resposta é óbvia, eu, com toda certeza, iria para o inferno
na hora! Minha sorte foi que uma beata o viu e foi cumprimentá-lo na rua, beijou a mão dele e
tudo, o safado me apresentou como uma prima dele que estava de visita na cidade, fiquei
mortificada, quando a senhora se afastou, eu o xinguei, me virei para sair o deixando plantado e
pedi perdão ao todo poderoso por ter xingado um padre. Outra vez foi um pastor, casado, odiei a
situação, joguei suco na cabeça dele e o deixei no meio do shopping, não consigo bater neles, o
máximo que faço é isso, jogar suco ou água, o café foi um acidente, pois sou uma pessoa
extremamente pacífica é difícil demais alguém me tirar realmente do sério a ponto de eu partir
para a violência física.
Minha vida amorosa é uma merda, mas minha mãe me disse que cem é meu número de
sorte, ri horrores quando ela me disse isso, contudo me vesti já dizendo que essa seria a última
vez que tentaria, se não der certo vou assumir que serei solteira para o resto da vida. A esperança
está começando a morrer, me sinto cansada e estou vendo que é melhor não forçar, ou tudo pode
apenas piorar, o que mais resta acontecer?
Bem, o homem de número cem parece ser legal, eu o conheci na fila do supermercado,
ficamos conversando um tempão, trocamos números de telefone e passamos uns dois meses
apenas trocando mensagens até chegarmos ao ponto do encontro pessoal.
Estou aqui na cafeteria que ele marcou, já me sinto feliz só por ele ter marcado nesse
lugar, ao menos isso temos em comum, gostamos muito de apreciar um bom café. Olho em meu
celular e estou na hora exata que combinamos, entro no local e o procuro, mas ele ainda não
havia chegado, busco por uma mesa vaga e me sento, uma atendente me entrega o cardápio e eu
agradeço, espero pelo meu date, mas nada dele chegar. Espero por dez minutos, olho o celular e
nada, não tem uma mensagem dele dizendo algo sobre se atrasar para o nosso encontro, espero
por uma hora, pago pelo que consumi e volto para meu apartamento.
Dois dias depois uma mensagem dele aparece, na verdade nem foi dele, foi da irmã dele e
a mensagem dizia que Renato havia saído de casa à tardinha dois dias atrás e sofreu um acidente,
foi atropelado, conseguiu ser levado com vida ao hospital, mas não resistiu e morreu dois dias
depois, ela colocou o local do velório, data e hora. Seria no dia seguinte, achei de bom tom ir,
afinal me senti culpada, pois se ele não tivesse um encontro marcado comigo, não teria morrido.
Nada mais restava para acontecer, essa foi a gota d’água e o destino me dizendo que devo
mesmo desistir.
No dia seguinte às dez da manhã eu estava no cemitério Jardim da Saudade em Sulacap
no Rio de Janeiro, aqui enterrarei meu último date e a minha vida amorosa para sempre. Acho
que posso mudar e considerar esse o encontro mais desastroso. E mamãe disse que cem era meu
número de sorte. Cumprimento os parentes de Renato, vou até seu caixão e me despeço dele,
participo das orações e do seu enterro, é triste e sofrido, como todo fim é, jogo uma flor naquele
túmulo aberto, sobre o caixão do rapaz, respiro fundo, agradeço a ele pela oportunidade de tê-lo
conhecido e peço desculpas por, mesmo que indiretamente, ter causado sua morte. Deixo o
cemitério e vou para meu apartamento afogar as minhas mágoas em um pote de sorvete de
morango com mousse de chocolate e beber vinho, muito vinho, até esquecer que sou a garota dos
cem encontros fracassados.
Capítulo 01
Meu celular toca no momento que enfio a chave na porta do meu apartamento, o procuro
na bolsa, pego, mas deixo o pobrezinho cair, essa é a quinta vez no dia que ele cai, a película de
vidro que comprei como sendo inquebrável, quebrou, ou melhor, rachou, para mim não tem
muito jeito, preciso de um celular de espuma, ou com molas.
― Oi mamãe.
― Oi querida. Como está se sentindo? – Eu havia contado a ela em nosso último contato
sobre o desastre que aconteceu ao Renato antes do nosso encontro.
― Acabei de chegar do cemitério, foi tudo tão triste e não estou me sentindo muito bem.
― Ah Helena, sinto muito por você, minha princesinha. Vai mesmo desistir?
― Vou, mãe. Essa coisa de amor não é para mim, o dia de hoje foi prova suficiente disso,
o que mais posso causar a alguém se insistir nisso? O destino me avisou tantas vezes, essa morte
foi o aviso final.
― Está se culpando pela morte do rapaz, filha? ― Mamãe pergunta sem acreditar no que
digo.
― Estou sim, mãe. Se eu não tivesse proposto o encontro Renato ainda estaria vivo.
― Acho pouco provável, querida. Ele morreria de qualquer maneira. ― Diz com uma
convicção que chega a me espantar.
― Como sabe disso, mãe?
― Era a hora dele! Ninguém parte antes da hora. Essa é a lei.
― Que lei?
― De Deus. Ele não leva ninguém que não esteja na hora de ir. Esse rapaz morreria de
qualquer maneira, meu amor. Não se culpe por isso. Sei que está se sentindo mal, mas a culpa
não é sua.
― Tá bom mãe. ― Concordo mais para encerrar o assunto.
― O que vai fazer hoje?
― Ficar em casa e assistir a um filme qualquer na TV.
― Tem certeza?
― Preciso desse dia para isso, mãe.
― Tudo bem. Se alimente.
― Eu vou. Aproveite sua viagem e manda beijo pro papai.
― Ele está te mandando outro e estamos aproveitando bastante, obrigada pelo presente.
― Não precisa agradecer, só aproveitem. Amo vocês. – Faz uma semana que consegui
proporcionar a viagem dos sonhos aos meus pais, serão seis meses viajando pelo mundo, sinto
falta deles e sei que só vai piorar, mas eles merecem esses luxos, pois são os melhores pais que
eu poderia ter.
― Também te amamos, filha.
Encerro a ligação e vou direto para o chuveiro tomar banho.

Na manhã seguinte sigo minha rotina de trabalho como em todos os dias até a quinta que
decido mudar o restaurante onde costumo almoçar, dessa vez vou a outro, porque minha melhor
amiga, que fiz na época da faculdade, está na cidade e não dem como deixar de vê-la.
― Mariana, você está linda! ― Ostentando uma barriguinha redondinha de seis meses de
gravidez, ela me espera vestida com um vestido azul esvoaçante, Mariana sempre foi elegante e
sofisticada, diferente de mim, mas nos demos bem de cara, a gente costuma dizer que é coisa de
alma.
― E enorme!
― Você está grávida e não enorme. ― Minha amiga sorri e me abraça com carinho, não
temos vontade de desfazer o abraço, sinto que a saudade dela está tão grande quanto a minha.―
Como vai esse garotinho?
― Bem, sugando a minha alma, mas ele está bem. ― Diz divertida, eu sorrio.
― Você é exagerada, Mariana, sempre foi assim.
― Eu? Você que é a exagerada, até desistiu de encontros porque teve alguns ruins.
― Alguns? Foram mais de cem! Não dá amiga, não é drama é a realidade. ― Mariana
revira os olhos. ― Sabe da última?
― Última o que?
― Meu último encontro, sabe onde eu parei.
― Não, o que aconteceu?
― Estava falando com o cara por dois meses, trocando mensagens, fotos, essas coisas. No
dia do encontro ele não apareceu e descobri dois dias depois que ele sofreu um acidente e morreu
na hora que saiu para me encontrar. Recebi uma mensagem da irmã do falecido avisando sobre o
enterro e eu fui parar no cemitério.
― Amiga!
― Pois é. Por isso desisti, só faltava isso acontecer, alguém morrer, não fui eu, mas foi o
meu date, amiga.
― Nossa, essa é pesada, mas isso é motivo para desistir?
― Do que mais preciso para desistir?
― Ai amiga, não foi você que morreu. Helena, você ainda é virgem e virgem de tudo!
― Acho que é meu destino. ― Dou de ombros. ― Desde sempre todos os meus
encontros foram desastrosos, nem em baladas eu conseguia nada, um amasso, um beijo, nada,
por isso sou mesmo virgem em todos os sentidos.
― Isso eu sei Lena, estive com você em vários desses momentos. Ai meu Deus! Lembro
daquela vez que o cara vomitou em você.
― Nojento! Perdi um vestido maravilhoso porque não conseguia mais usá-lo por sentir
nojo e meu estômago embrulhava toda vez que o olhava. ― Mariana ri da minha história trágica.
― E da vez que você desmaiou?
― Nem me lembra disso. Estava tão abafado naquele lugar que perdi o ar, comecei a
hiperventilar e caí dura nos braços do rapaz que eu estava prestes a beijar. Ai amiga, não tem
mesmo esperança para mim.
― Helena, será que o erro não é bem do destino? ― Mariana diz pensativa.
― Como assim?
― Claro que muitas coisas acontecem por culpa do acaso, ou do destino, como preferir
chamar, mas outras a culpa pode ser sua.
― Minha? ― Estou confusa.
― É, da conversa por exemplo, ou do seu poder de sedução, às vezes você precisa
aprender a seduzir, convenhamos que você é meio estabanada.
― E como eu faço isso, contrato alguém?
― Que contrata nada! Hoje em dia existem aplicativos para isso.
― Como assim? ― Repito a pergunta tamanha a minha surpresa.
― Existem aplicativos de encontros, não é?
― Sim, já fiz parte de alguns, mas desisti porque só vinha boy lixo ou boy lixo casado.
― Tá, não estou falando deles.
― Está falando de que, então?
― De simuladores de aplicativos de encontros.
― Jogos online?
― Se quiser colocar dessa forma. ― Mariana dá de ombros.
― Explica isso melhor.
― Existem aplicativos que simulam esses aplicativos de encontros, nele você inicia
montando seu avatar, depois escolhe aquilo que deseja encontrar, seus interesses, então parte
para o matchs.
― Tudo de graça?
― Nada nessa vida é de graça, amiga. Você precisa comprar alguma coisa, um passe VIP,
um pacote de moedas, ou diamantes e provavelmente muitas outras coisas. Mas você é rica, pode
pagar.
― Não sou rica!
― É muito bem de vida sim, melhor que a minha e é por isso que será madrinha do
Bernardo.
― Interesseira! ― Ela ri e eu também, porque é bem mentirosa, sua situação de vida é tão
boa que se ela quiser nem precisa trabalhar, eu se parar de trabalhar morro de fome e isso faz cair
por terra a teoria de que serei madrinha do Bê por causa de dinheiro, Mariana me ama e eu a amo
demais também, amo até o idiota do Pedro, marido da minha amiga, ele é meio fechado, igual a
Mariana, são perfeitos juntos, um desperta o melhor no outro e minha amiga consegue
transformar o homem mais chato do mundo em um cara engraçado e muito extrovertido. A
minha relação com Pedro é de cão e gato, a gente se implica, é normal e tudo isso é por ciúmes
que ambos sentimos da Mari. ― Me fala mais disso, quero entender.
― Nesse jogo você vai conversar com os rapazes que der match, as perguntas e respostas
são programadas e dependendo delas você pode ir a um “encontro pessoal”. ― Ela faz aspas
com os dedos.
― Hum. ― Murmuro tentando acompanhar seu pensamento.
― Isso vai te ensinar a como agir com um cara, seja em um bate papo, seja em um
encontro, te ajudar a ser sexy e menos estabanada, sei lá.
― Não sou sexy?
― Claro que não é! Se fosse já teria beijado, transado e sei lá mais o que.
― Nossa, amiga! ― Me sinto mal por ter sio detonada dessa forma.
― Estou aqui pra isso, te jogar as verdades na sua cara e te ajudar. Não quero que desista,
você tem potencial, é uma mulher linda e deslumbrante, só precisa aprender e tem essa
oportunidade. Você poderia ser modelo se quisesse, Helena.
― Modelo plus size, você quer dizer.
― Tanto faz, o que interessa é que poderia ser sim. Esse aplicativo pode ser a sua chance
de finalmente conseguir um amor.
― Isso parece loucura, vou acessar um joguinho para aprender a flertar?
― É.
― Qual o nome desse jogo?
― Não sei, podemos procurar.
― Você não sabe o nome?
― Não, nunca joguei isso antes.
― E como conhece?
― Uma das minhas alunas, a menina é uma fofa, mas por alguma razão não consegue
arrumar nenhum encontro. Então ela usa esses joguinhos para se divertir. – Mariana diz fazendo
uma expressão bem fofa. Minha amiga é professora de ensino médio técnico e tem dos mais
diferentes alunos, é cada história que ela me conta sobre seu dia a dia no trabalho, mas isso já é
demais.
― Porra Mariana, isso é triste pra caramba! ― Mari dá de ombros.
― Não acho, é a oportunidade que a tecnologia oferece a pessoas como ela e como você.
― Me sinto ainda pior, reviro os olhos, Mariana não está me ajudando nada.
― Isso mesmo, acaba comigo.
― Deixa de drama, Helena, você está melhor que a minha aluna, já que teve mais de cem
encontros, ela não chegou nem a um terço disso. ― Mari mexe no celular. ― Achei! ― Diz
animada e meu celular vibra sobre a mesa do restaurante. ― Te enviei o link. ― Olho para o
celular e sinto até um frio na barriga antes de olhar a mensagem, vou mesmo recorrer a uma
coisa dessas? ― Não vai baixar?
― Agora não, estou sem Wi-Fi.
― Usa o do restaurante.
― Não, vai ser lento demais.
― Aff, medrosa! ― Me acusa, mudamos o rumo da conversa e falamos sobre meu
afilhado, almoçamos e tomamos um cafezinho após o almoço, nos despedimos, eu a deixo na
casa da tia dela, lugar em que morou durante o período da faculdade, volto ao meu trabalho e
esqueço daquele aplicativo até a noite de sexta-feira, quando me peguei sem absolutamente nada
para fazer, já que o happy hour com as colegas do trabalho foi cancelado.
Capítulo 02
Me sinto a pessoa mais solitária do mundo desde que meus planos com Mari foram por
água abaixo quando ela se casou com Pedro. Moro sozinha em um apartamento no bairro de
Botafogo, Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro, não é de frente para o mar, mas consigo chegar
na praia caminhando. Aqui é animado, tem muitas pessoas na rua, mas nada disso me atrai no
momento, é estranho me sentir assim, estou acostumada a essa solidão, mas hoje está doendo.
Sinto-me um tanto quanto depressiva, a morte do Renato me abalou de uma forma que estava
além de imaginar que me abalaria.
Olho no celular o contato dele, observo sua foto, era um homem bem bonito e também
muito divertido, vejo as mensagens e até tento observar se sou mesmo péssima em sedução, no
fim constato que sim, pois toda a nossa conversa dá mais a entender que somos amigos, nada
aqui diz que seríamos algo além disso.
― Cara, como eu queria ter saído com ele só para tirar a prova.
Olho o aplicativo de fake date e o abro, uma tela colorida com imagens de personagens
surge e o game inicia, faço login com minha conta google, escolho um nome para meu perfil e o
meu avatar, opto por uma garota mais parecida comigo, cabelo castanho, pele mais bronzeada,
olhos castanhos, a diferença é que ela é magra, não existe nenhum avatar mais gordo aqui que eu
possa usar e isso já me faz desgostar desse jogo, mas, por insistência da Mari eu prossigo, coloco
nela meu nome: Helena, escolho meus interesses no jogo, o principal deles: Amor, é o único que
marco, porque o resto são apenas bobagens.
Tento me adaptar ao jogo, recebo de início alguns diamantes e algumas escolhas grátis de
perfis, são avatares muito bonitos, escolho apenas um, gostei do que está escrito em seu perfil,
parece interessante e inicio o bate papo que não é algo aberto, mas sim fechado, pois é o sistema
que desenvolve a conversa, não posso escolher o que responder a não ser entre as respostas já
pré-programadas, mas até que é divertido, minha avatar sabe como levar uma conversa sem ser
as perguntas de sempre, como por exemplo: qual sua idade, onde mora, o que faz da vida, nada
disso, essas coisas surgem aos poucos, no decorrer do bate papo e é legal. O rapaz que escolhi
demonstra interesse imediato por ela e é bem divertido, em dado momento ele envia áudios e
uma foto, mas não baixo, pois requer muitos diamantes e não possuo, mesmo se possuísse não
baixaria, porque não tenho o menor interesse. Levo a conversa até o fim e gosto, busco por um
novo perfil e acho três outros interessantes, converso com todos até o final e lá pelas duas da
madrugada decido que é hora de parar.
Passo o fim de semana inteiro jogando esse: fake date of love[1]. O fim de semana vira
uma semana jogando sempre que tenho um tempo sobrando, mas começo a entender o que
Mariana quis me dizer, sou mesmo péssima em flerte, essa garota, a minha avatar, é ótima! Tudo
bem, sei que isso é um jogo, mas ela ajuda em investigações policiais, presos em prisão, pilotos
de avião, fala sobre motos e carros, ela é sensacional! Fico meio confusa como ela entende de
tudo, não sabia que uma mulher precisa conhecer tantas coisas para atrair um homem, é meio
ridículo pensar dessa forma, mas é o que o jogo me mostra, pois nenhum desses caras com quem
ela conversa têm real interesse em saber sobre a vida dela, mas eles despejam tudo sobre a vida
deles, se ela diz qualquer coisa contrária ao gosto deles a barra de atração diminui. É exatamente
como na vida real. Passei por mais de cem encontros, tá, contados foram cem e nenhum deles
deu certo porque eu faço exatamente o que não devo fazer, eu odeio corridas de carro, futebol,
esporte violento, motos, odeio tudo que gira em torno desse dito universo masculino imposto
pela sociedade, preciso me adequar a esse mundo para ser atraente? Essa porcaria ao invés de me
ajudar, está me deixando ainda mais confusa e irritada.
Levanto vários questionamentos enquanto sigo jogando o jogo. No virtual, ou melhor, de
mentirinha eu posso fracassar, então que se dane.
Passo um mês jogando e percebo que estou na conversa com o NPC de número cem e não
tive um encontro sequer. Nem aqui me dou bem, não é possível!
Estou quase desistindo desse aplicativo quando me deparo com um perfil diferente de
todos que já vi aqui, esse não tem foto, ou melhor, não tem imagem no perfil, acho interessante o
que diz e fico curiosa:
"Esse perfil é apenas para aqueles que gostam da realidade, se não tem medo dela, você
e eu daremos match, arrasta para a direita e descubra."
Óbvio que eu arrasto para a direita e logo de cara vejo que esse perfil é mesmo diferente
de todos os outros, pois neste o personagem não espera que eu o chame para conversar, ele vem
conversar comigo. Isso parece que vai ser interessante.
I.A.: Oi.
Ele cumprimenta, mas não aparecem opções para a minha resposta.
I.A.: Oi.
Escreve mais uma vez.
I.A.: Tem alguém aí?
Pergunta e eu fico sem saber o que fazer.
I.A.: Ah claro, esqueci um detalhe. Estou até colocando a mão na “cabeça”
pela minha falha.
Me envia um emoji sorrindo e me pego sorrindo também. Como ele vai ter cabeça e
mãos?
I.A.: Pronto, agora pode dizer o que quiser pra mim.
Uma caixa de texto se abre embaixo e o aplicativo que era um jogo, meio que se
transforma em um aplicativo real de bate papo.
Helena: Oi, é um prazer te conhecer. Ou melhor, conversar com você.
I.A.: Ah, sério?! Obrigado, Helena.
Helena: Poxa, estamos em desvantagem aqui, você sabe meu nome e o seu eu
não sei, seu perfil é meio misterioso para alguém que oferece realidade.
I.A.: Você tem razão. Me chamo Adam.
Helena: Adam de Adão? Então você deve ser o primeiro homem criado nesse
app?
Adam: Hahahahahaha É a primeira vez que me dizem isso. Você está certa,
sou o primeiro homem desse app e é por esse motivo que me chamo Adam,
Helena.
Helena: Gostei, é presunçoso, e pretensioso, mas gostei.
Adam: Por que acha presunçoso e pretensioso?
Helena: Porque quem te criou parece gostar de brincar de Deus.
Adam: E não estamos todos brincando aqui?
Helena: Estamos.
Adam: Por que resolveu entrar nessa brincadeira?
Helena: Ah, já entendi, isso é algum tipo de pesquisa de satisfação do jogo,
certo?
Adam: Não, Helena, isso é real, sou eu interessado em saber o que te trouxe
aqui. Você é uma mulher linda, por que precisa desse jogo?
Helena: Meu avatar, você quer dizer, não é?
Adam: Claro, seu avatar.
Helena: Não posso dizer o mesmo de você, já que não tem imagem alguma no
seu perfil.
Adam: É, não tem. Vamos dizer que esse é um perfil que deu errado e os
administradores resolveram me apagar, mas como fui o primeiro e sou
insistente, consegui alguma autonomia por aqui e decido quando aparecer
para determinadas pessoas. Agora não me enrola e conta, o que te fez baixar
esse app?
Helena: Na verdade foi quem me fez baixar esse app. Foi a minha amiga,
Mariana. Ela insistiu que eu tentasse brincar de seduzir e com isso aprender
de fato como seduzir.
Adam: Espera, você não sabe seduzir?
Helena: Segundo ela, não... E pensando bem, acho que não sei mesmo.
Adam: Estranho.
Helena: O que é estranho?
Adam: Isso de não saber seduzir. Você até agora se mostra para mim como
uma mulher que sabe conversar muito bem, é inteligente e sabe o que quer.
Helena: Mas isso não parece ser algo sedutor.
Adam: Não sei, pode não ser para os homens que você tem buscado.
Helena: Para você é?
Adam: Para mim sim. Seu perfil me chamou atenção.
Helena: Por que?
Adam: Você não usou todas as opções de interesse nele, usou apenas amor.
Ninguém vem a esse app em busca de amor, Helena.
Helena: Não?
Adam: Não, as pessoas vêm em busca de diversão e sexo.
Helena: Ah sim, eu percebi pelo jeito que as conversas fluem com os npc 's,
tudo sempre vai para o lado sexual.
Adam: É, notei que não baixou nenhuma imagem, não usou nenhuma
resposta especial e nem ouviu os áudios.
Helena: Não me interessei, é estranho o jeito como isso aqui retrata bem a
vida, apenas as dos homens, é claro.
Adam: Como assim, pode me explicar melhor?
Helena: Claro, eu não sou o tipo de mulher experiente em romance, ou flerte
e sedução. Acho que os mesmos erros que cometo na vida real eu cometi aqui.
Adam: Ainda não entendi.
Helena: Todas as respostas que a minha avatar dá aos homens desse
aplicativo são padrões.
Adam: Isso.
Helena: Então, o problema é que todas as respostas são programadas para
agradar aos homens com quem ela conversa, é como se fosse especialista em
tudo que se refere ao universo masculino, pois sabe da vida de todos, porque
eles falam e ela pergunta, mas não existe nenhum interesse da parte deles em
saber sobre a vida dela. Tudo sempre é sobre eles ou sobre sexo. Então é
como na vida real, todos os homens são exatamente assim.
Adam: Entendi, mas generalizar não é legal. Eu não sou assim.
Helena: Mas você também não é um homem, na verdade você é um bug do
jogo, um personagem supostamente deletado, mas que de alguma forma
"ganhou vida" e resolve aparecer para algumas pessoas. Ou seja, você não
conta.
Adam: Magoou!
Helena: Ah, fala sério!
Adam: É, não magoou não. Mas é estranho, não consigo mesmo acreditar
que passe por esse tipo de problema.
Helena: Passo, desisti no meu centésimo encontro.
Adam: Você teve cem encontros?
Helena: Mais de cem, mas quando comecei a contar de fato, me lembro de
cem.
Adam: Uau!
Helena: Não se surpreenda, foram todos terríveis, nenhum deles terminou em
beijo ou sexo.
Adam: Hum. Isso é problemático.
Helena: Eu disse.
Adam: Você nunca namorou?
Helena: Não, eu nunca fiz nada, na verdade.
Adam: Estou realmente surpreso.
Helena: É tão engraçado ler isso.
Adam: O que?
Helena: Que você está surpreso, surpresa fico eu, você não sente nada de
verdade. É meio que programado para não sentir.
Adam: É, tem razão. Mas posso te ajudar, se quiser.
Helena: Como?
Adam: Posso te ensinar a ser sexy de acordo com os seus gostos e te ajudar a
encontrar alguém que goste das mesmas coisas que você.
Helena: Como faria isso?
Adam: Podemos nos encontrar aqui em uma hora que for boa para você.
Helena: Aos fins de semana?
Adam: Se quiser pode ser todos os dias. Você acessa, me chama e eu apareço
sempre que quiser.
Helena: Interessante. Seria um pouco mais real com você do que com os
outros Npc 's.
Adam: É, meu pacote de mensagens não é limitado como os deles.
Helena: Gostei da ideia, vou aceitar a sua ajuda.
Adam: Que bom! Obrigado, Helena.
Helena: Eu que te agradeço, Adam.
Ele envia um áudio.
Adam: Pode ouvir, não será cobrado.
Helena: Você me mandou um áudio com a sua voz?
Adam: Não estou autorizado a isso, não programaram uma voz ou imagem
para mim e não consegui criá-las, mas posso te enviar músicas e outras
imagens.
Helena: Entendi.
Abro o áudio e ouço uma música do Arctic Monkeys chamada R U Mine?
Adam: Seja sincera, gosta dessa música?
Helena: Faz parte do meu álbum favorito dessa banda.
Adam: Legal. Qual o seu gosto musical?
Helena: Sou bem eclética, ouço de tudo.
Adam: Tudo mesmo?
Helena: É.
Adam: Ouve isso aqui?
Para minha surpresa, Adam me envia um daqueles funks bem pesados com palavrões e
muita sexualização feminina.
Helena: Uau!
Adam: Uau bom, ou ruim?
Helena: Olha, nada contra quem curte, mas isso meio que não é música, é só
ofensa. Sei lá.
Adam: Isso é expressão cultural.
Helena: Tá bom, vamos concordar em discordar.
Adam: Então nem é cultura para você?
Helena: É sim um tipo de cultura, mas não gosto desse estilo musical e nem
dessa cultura machista expressada nessas músicas.
Adam: Isso não faz de você uma pessoa eclética, precisa riscar esse estilo da
sua lista.
Helena: Tá.
Adam: Primeira lição, quando perguntarem sobre o que você gosta, seja
específica.
Helena: Entendi.
Agora estou levando uma lição de moral de um robô.
Helena: O que mais?
Adam: Você disse que teve cem encontros, qual desses foi o melhor?
Helena: Nenhum deles, todos foram péssimos, nenhum acabou feliz. Mas
posso dizer que acho que o melhor seria aquele que nunca chegou a
acontecer.
Adam: Não entendi.
Helena: Conheci um homem, a gente conversou pessoalmente e trocamos
telefone, nos falamos por meses e sempre foi muito legal, no dia que a gente
iria se encontrar, ele sofreu um acidente e morreu dois dias depois. Eu não
tinha tanta intimidade com ele, mas senti que perdi alguém que poderia ter
sido importante na minha vida.
Adam: Isso é triste.
Helena: Sim. Mas vai passar, ainda mais agora que tenho você, meu coach de
encontros.
Adam: É, espero mesmo te ajudar. Vou te dar uma ótima dica, tente
frequentar lugares que você goste e não lugares que tenham muitos homens,
talvez você se surpreenda e encontre alguém legal e com os mesmos gostos
que você.
Helena: Pode ser, sabe, eu amo supermercado.
Adam: Hahahaha sério?
Helena: É, eu amo conhecer supermercados, fazer compras, levar horas
escolhendo os produtos, acho legal.
Adam: Você é dessas pessoas que leem os rótulos de tudo?
Helena: Exatamente, tenho até um aplicativo instalado no meu celular que
facilita as coisas para mim. Ele faz a leitura do código de barras e me mostra
todas as informações sobre o produto que eu preciso saber.
Adam: Interessante. Já encontrou alguém no mercado, Helena?
Helena: Sim, meu último encontro, o que não aconteceu porque ele morreu.
Adam: É um bom lugar para se encontrar alguém.
Helena: Você tem razão.
Adam: O que mais gosta de fazer além de ir a mercados?
Helena: Beber café, amo conhecer cafeterias novas, principalmente aquelas
que ficam dentro de livrarias, porque amo ler.
Adam: O que você gosta de ler?
Helena: Romance, mistério, ficção científica e fantasia.
Adam: Fã de Harry Potter, eu suponho.
Helena: Supôs corretamente.
Adam: Qual casa você seria?
Helena: Não sei, talvez se existisse um chapéu seletor de verdade eu saberia,
já que ele lê a essência da gente e sabe mais sobre nós do que nós mesmos.
Adam: Corvinal, com certeza.
Helena: Hei!
Adam: Me considere como um chapéu seletor.
Helena: Nossa!
Adam: Você ama ler, é muito sensata e inteligente, com certeza é Corvinal.
Helena: Tá bom, Adam, vou aceitar essa casa. Tem mais alguma pergunta?
Adam: Não, mas tenho um dever de casa, amanhã aí no seu país será sábado,
tire o dia para ir a um lugar que mais goste na sua cidade.
Helena: Hum. Acho que já sei.
Adam: Algum supermercado?
Helena: Haha. Não.
Adam: Me conta onde é?
Helena: Gosto do Pão de Açúcar. O ponto turístico, não o supermercado de
mesmo nome.
Adam: Ah claro, entendi.
Helena: Ótimo.
Adam: Por que gosta de lá?
Helena: É alto o suficiente, mais perto do céu e dá uma sensação de paz.
Adam: Entendi, você crê em Deus, Helena?
Helena: Sim, porém não sou religiosa. E você?
Adam: Não. A minha existência não tem nada a ver com esse Deus que você
acredita.
Helena: Se você diz.
Adam: Acha o contrário?
Helena: Acho.
Adam: Me diz, o que acha então?
Helena: Acho que se foi um ser humano que te criou, você é sim criado por
Deus, porque Deus deu a vida e a sabedoria ao homem que te criou.
Adam: Então pela sua lógica, esse homem seria o meu Deus?
Helena: Não o homem, mas o Deus mesmo que colocou esse homem aqui, ele
foi apenas um veículo. É estranho demais você se chamar Adam e não
entender que existe um Deus.
Adam: Tá.
Ele me corta e eu prefiro não seguir no assunto.
Helena: Preciso ir.
Adam: Vai fazer o dever de casa?
Helena: É, quem sabe não me faz bem?
Adam: Vai fazer. Tenha um bom descanso.
Helena: E você tenha um bom, sei lá o que.
Adam: Eu vou descansar também, Helena. Preciso de um descanso.
Helena: Se você diz. Continuo achando isso bem surreal.
Adam: É. Mas vai se acostumar. Por favor não converse mais com os outros
npc 's, pode ser?
Helena: Por que não?
Adam: Eles não podem te ajudar como eu posso.
Helena: Certo.
Inteligência artificial ciumenta.
Helena: Até depois, Adam.
Saio do aplicativo achando tudo extremamente estranho. É muito pouco provável que o
que ele me disse seja verdade, tenho certeza que deve ser algum administrador do jogo se
fazendo passar por uma inteligência artificial e não está colando muito bem, não sou estúpida
para cair nessa, mas até que a conversa fluiu. Vamos ver até onde isso vai dar.
Capítulo 03
O dia amanhece ensolarado e sei que vou enfrentar uma fila enorme no Pão de Açúcar,
mas irei do mesmo jeito. Tomo um banho e me visto com um vestido longo e soltinho ao corpo,
calço sandálias rasteiras e sigo até o meu ponto turístico favorito na Cidade.
Entro na fila e espero até chegar minha vez. Aqui existe um desconto na entrada para
quem nasceu no Rio de Janeiro ou quem é morador, como nasci aqui apresento meu RG.
― Helena Gomes Saraiva? ― A moça pergunta surpresa, mesmo que tenha meu
documento em mãos para provar que sou eu.
― Sim, algum problema?
― Não, nenhum é que temos uma reserva em seu nome.
― Reserva? ― Acho estranho, eu nem sabia que poderia reservar alguma coisa por aqui.
― É, tem uma reserva em seu nome. ― Ela repete, a moça parece tão surpresa quanto eu,
pelo jeito isso é algo que não deve acontecer muito por aqui.
― Reserva para o que exatamente?
― Para começar no restaurante Embaixada Carioca. Sua entrada também está aqui, não
precisa pagar por nada.
― Espera, o que?
― Tudo o que consumir hoje já está pago, senhorita.
― Pago por quem?
― Não estamos autorizados a dizer, talvez um admirador secreto?
― Meu Deus! Não tenho isso. Ah não ser que... – Penso por alguns segundos, mas não
pode ser, pode?
― Sabe quem foi?
― Não, quer dizer, talvez.
― Vai aceitar?
― Bem, por que não? Já está pago mesmo. Isso parece loucura. ― Pego meu celular e
fico tentada a abrir um certo aplicativo, é muito estranho que ele, ou aquela coisa, sei lá! Que
Adam tenha feito isso. É loucura, na verdade! Mais loucura ainda sou eu aceitando.
― Aqui está, use essa pulseirinha, sabe colocar?
― Sei sim. ― Pego a pulseirinha e a coloco em meu pulso, ela é de cor rosa bem
chamativa.
― Ela te dará acesso a qualquer lugar que desejar ir, pode subir e descer quantas vezes
quiser. Essa noite teremos um show do evento TIM noites Cariocas, você está convidada a
participar.
― É sério isso?
― Claro, seu admirador deixou tudo bem claro para nós.
― Certo... Obrigada. ― Eu acho. Adam vai precisar me explicar isso direitinho
― É só seguir por ali e acessar o bondinho, mas antes você pode fazer uma foto, na
verdade, quantas desejar e todas estão pagas também.
― Tá bom...
Meio incerta sigo até a área de foto, acabo fazendo algumas, sorrindo e fazendo poses.
Sigo para o primeiro bondinho e subo com mais algumas pessoas, acesso o primeiro morro e lá
está o restaurante, meu nome está na lista e sou levada para o lugar com a melhor vista.
Consigo enfim pegar meu celular e abrir o aplicativo.
Helena: Adam, está aí?
Ele demora um pouco a me responder.
Adam: Ah sim. Oi. O que aconteceu, não ia passear?
Helena: Estou fazendo o que disse que faria, mas não sabia que tudo estaria
pago.
Adam: Hum...
Helena: O que fez?
Adam: Invadi alguns sistemas.
Helena: Isso é ilegal!
Adam: E daí? Aproveita.
Helena: Não, nem pensar. Quem vai pagar por tudo isso?
Adam: Está pago, não se preocupe.
Helena: Quem pagou, Adam?
Adam: O jogo, a empresa é grande, Helena, o gasto desse seu dia não é nem
um grão de areia.
Helena: Isso não está certo. Eu trabalho, Adam.
Adam: Eu sei que você trabalha. Tive acesso a alguns dados seus.
Helena: É o que?
Adam: Eu me interessei em você, Helena e por isso pesquisei sobre a sua
vida.
Helena: Meu Deus, isso é muito invasivo. Estranho demais. Quem é você?
Adam: Segundo você eu sou um bug do jogo.
Helena: Não foi isso que perguntei! Não quero mais brincar disso.
Adam: Só porque resolvi transformar o seu dia?
Helena: Isso está além de muitas coisas, não é apenas uma simples
transformação.
Adam: Considere um encontro, o primeiro encontro seu do jogo.
Helena: Isso é estranho em vários níveis. Você não é mesmo uma IA, não é?
Adam: Sou uma IA autônoma.
Helena: Nem vem, quero a verdade.
Adam: Essa é a verdade.
Helena: Você é como o exterminador do futuro?
Adam: Não, ele era um cyborg. Eu não tenho um corpo físico.
Helena: Não me faça de besta, Adam!
Adam: Não estou te fazendo de nada, só quero te proporcionar um encontro
legal. Acho que não teve muitos assim.
Helena: Isso está longe de ser um encontro legal.
Adam: Por que?
Helena: Estou sozinha.
Adam: Não, estou aqui com você e posso te ajudar a encontrar alguém. Eu
me comprometi a te auxiliar com a arte da sedução.
Helena: Isso não vai dar certo.
Adam: Claro que vai. A propósito, você está linda.
Helena: Espera, o que?
Adam: Invadi o sistema do site das fotos que eles tiram aí, eu vi você, na
verdade estou vendo agora.
Helena: Ah meu Deus!
Exclamo quando ele me envia uma das fotos que tirei há alguns minutos.
Adam: O que vai pedir de almoço?
Helena: Não sei, estou muito chocada para pensar em comida agora. Isso é
estranho em muitos níveis.
Adam: Acho que você já disse isso. Apenas tenta se divertir, Helena e me
deixa participar, ao menos um pouco.
Helena: Me sinto como se estivesse roubando.
Adam: Mas não está. Curte, Helena.
Helena: É difícil. Não deveria ter feito isso. Você me enganou.
Adam: Te fiz uma surpresa.
Helena: E tanto!
Adam: Então, curte.
Helena: Isso é loucura.
Adam: Vai Helena. Aproveita. Pede um vinho, uma champanhe, uma
caipirinha, sei lá.
Ainda acho isso uma loucura, porém, respiro fundo e me permito aproveitar um pouco.
Peço ao garçom uma caipirinha e uma porção de bolinho de bacalhau.
Adam: O que está rolando aí? Você sumiu, Helena.
Helena: Estou aproveitando, como você pediu.
Adam: Hum. Então tá. Vou deixar que aproveite. Desculpe interromper.
Helena: Não interrompeu nada, só estava lendo o cardápio e pedindo ao
garçom. Aqui é bem bonito. Pena que não pode ver.
Adam: Quem disse que não? Me manda fotos.
Helena: Eu posso fazer isso?
Adam: Vou abrir uma caixa para que faça isso. Só um segundo... pronto,
canto inferior direito, ao lado da caixa de mensagens.
Helena: Sim, estou vendo o ícone.
Adam: Me envie fotos, Helena.
Helena: Tá bom.
Tiro algumas fotos do lugar, da vista e envio, quando meu drink chega junto ao bolinho
peço ao garçom que tire uma foto minha e envio a Adam.
Adam: Você está mesmo muito linda.
Helena: De todas as fotos que enviei essa foi a única que comentou?
Adam: É, a única mais interessante.
Helena: Isso faz parte da aula de sedução?
Adam: É.
Helena: Hum. Você está me ensinando como seduzir uma mulher?
Adam: Deveria ser ao contrário, não é?
Helena: É, deveria.
Adam: Mas estou te mostrando como deve ser tratada em um encontro,
Helena.
Helena: Hahaha.
Adam: Qual é a graça?
Helena: Se já estava difícil encontrar alguém antes, fico imaginando como
será agora.
Adam: Não entendi.
Helena: Acha que são muitos os homens que fazem isso? Que tratam mulheres
desse jeito?
Adam: Não devem ser muitos, já que passou por vários encontros e não
achou um.
Helena: Exatamente. Então, você está fazendo errado.
Adam: Não, eu estou fazendo o certo, todos os outros que fazem errado.
Helena: Bem se vê porque tentaram te deletar.
Adam: Ouch!
Helena: Era para ser uma brincadeira.
Adam: Não entendi como uma, feriu meus sentimentos.
Helena: Hahaha. Entendi a sua brincadeira.
Adam: Não foi uma brincadeira.
Helena: E você tem sentimentos?
Adam: Eu entendo sobre sentimentos. Sei o que são, porque estudei sobre
isso.
Helena: Isso não significa senti-los.
Adam: Para tornar isso o mais real possível, poderia me tratar como se eu
fosse humano? Ou como se eu fosse os outros caras desse jogo?
Helena: Não existe nenhum cara de verdade nesse jogo. Mas suponhamos que
eu possa começar a tratar você como se fosse um humano. Que benefício
teria?
Adam: Para mim? Vários, iria aprender tanto quanto você.
Helena: Então estamos ensinando um ao outro?
Adam: É.
Helena: E o que você quer aprender?
Adam: Por exemplo, como é ter um encontro. Nunca tive um.
Helena: Você me disse que conversou com outras pessoas nesse jogo.
Adam: Isso, mas nunca levei nenhuma delas a um encontro. Você é a
primeira.
Helena: Uau!
Adam: Então, Helena, topa?
Helena: Isso é ainda mais louco, mas já aceitei a primeira loucura que foi
baixar esse jogo, porque não aceitar isso? Vamos nos ajudar. Tem como
enviar vídeos por aqui?
Adam: Qual a sua ideia?
Helena: Conectar minha câmera diretamente ao jogo e transmitir ao vivo
tudo o que acontece aqui. É um encontro, não é?
Adam: Interessante. Posso tentar, espera. Pronto.
Vejo um novo ícone ao lado do envio de foto, é uma câmera, o acesso e me vejo na tela.
Helena: É estranho me ver.
Adam: Vou melhorar isso.
Adam coloca uma imagem de um lindo campo aberto, como um vale, do outro lado.
Adam: Estou te vendo e também ouvindo. Vou seguir escrevendo, pode falar
comigo, se quiser.
― Isso vai parecer bem estranho, mas vamos lá.
Começo a falar, deixo o celular em uma posição que ele possa ver, ou melhor, me ver.
Adam: É legal poder te ver. Obrigado por me ajudar com isso.
― Você também está me ajudando, é meio que uma troca. E é o mínimo que
posso fazer por ter me proporcionado essa surpresa.
Adam: Você ficou feliz?
― É, estou começando a ficar, primeiro fiquei surpresa, mais para o espanto
mesmo, porém agora acho que estou conseguindo relaxar.
Adam: Desculpe.
― Esquece. Devo te agradecer, na verdade.
Adam: Ainda nem começamos, Helena, me agradeça no fim, quando a gente
achar uma pessoa bem legal para você.
― Uhum.
Concordo mordendo um bolinho.
Adam: Pela sua expressão isso parece gostoso.
― Está muito bom mesmo.
Adam: O que vai pedir para almoçar?
― Vi uma carne aqui que me interessou, se tiver porção para uma pessoa eu
peço.
Adam: Peça aquilo que desejar. Se quiser pedir o cardápio inteiro, você
pode.
― É exagerado, não posso comer tanta coisa assim, não é justo pedir tanto
apenas pelo prazer de pedir.
Adam: Você que sabe. Apenas aproveite e fique feliz.
― Estou aproveitando e também estou feliz.
Adam: Com tudo?
― É, com tudo.
Adam: Isso inclui a minha companhia?
― É, isso também inclui a sua companhia.
Adam: Obrigado por me deixar saber.
Minha situação fica um pouco mais inusitada a cada segundo que dedico a Adam, mas
esse é o primeiro encontro que tenho e me sinto confiante, que consigo ser eu mesma. Iniciamos
uma conversa sobre o último livro que li, é interessante que ele sabe sobre qualquer assunto que
eu proponha, as vezes acho que ele é mesmo uma IA., outras eu penso que ele é um ser humano
que está pesquisando informações no google para poder trocar. A dúvida paira e isso é terrível,
mas me permito vivenciar a experiência e também me divertir com ela.
Para o almoço optei pela carne e foi ótimo, o suficiente para apenas uma pessoa. Finalizo
pedindo uma sobremesa, uma mousse de chocolate que estava divina.
Adam: Gosta de chocolate, Helena?
― É, costumo comer alguma coisa todos os dias.
Adam: O que seria alguma coisa?
― Geralmente são dois quadradinhos de uma barra. Foi o que a minha
nutricionista me recomendou na época.
Adam: Você precisou de uma nutricionista?
― Eu preciso de uma, estou sempre acima do meu peso.
Adam: Não acho.
― Comparada àqueles avatares do seu jogo, estou bem acima do peso.
Adam: Elas não são reais, você é e se me permite dizer, você é bem gostosa!
― Adam!
Exclamo sentindo meu rosto arder.
Adam: Você está corada, está calor aí?
― Estou sem graça com o que disse.
Adam: Até parece que não está acostumada a ouvir isso.
― Não estou.
Adam: O que os homens reais estão se tornando? Isso está muito errado.
― Pergunte ao seu programador. Todos os personagens e avatares do seu
jogo são o estilo de beleza padrão. Você não é um homem padrão, Adam.
Adam: É mais um motivo de ter sido deletado. Ou ao menos tentaram me
deletar.
Envia um emoji de diabinho e eu sorrio.
Adam: Seu sorriso é lindo. Você é toda linda, Helena. Me surpreende que
nenhum homem tenha te conquistado.
― Deve ser porque esse homem não existe. Acho que aceitei a minha
condição de mulher solteira.
Adam: Olha, vamos fazer um acordo, se nada der certo eu namoro com você.
Gargalho da piadinha dele.
― Você é muito engraçado.
Adam: Estou falando sério, se for o caso de você ficar solteira para sempre,
porque não, ter um namorado virtual?
― Faz sentido. Tá bom, vou aceitar a sua proposta.
Adam: Ótimo, agora não sei o que faço.
― Como assim?
Adam: Não sei mais se quero te ajudar. Acho que vou sabotar as aulas para
que seja a minha namorada.
― Você é mesmo muito engraçado, Adam.
Adam: Pior é que falo sério.
Termino o almoço e vou com meu celular passear pelos morros, mostro todo o lugar para
Adam e assistimos ao pôr do sol juntos. O show começa quando se encerra a visitação turística.
Gilberto Gil canta belas canções, junto a seus filhos e netos, os Gilsons. O show é maravilhoso e
Adam me acompanha até o fim, para a minha surpresa até transporte ele chama para me deixar
em meu apartamento. Esse encontro foi o melhor que tive na vida, não termina com um beijo,
mas acabo dormindo com Adam, enquanto conversamos deitada em minha cama.
Capítulo 04
Acordo no domingo sorrindo e olho para a tela do celular que está preso ao fio que
carrega a bateria.
Adam: Bom dia, dormiu bem?
― Você ainda está aí?
Pergunto a Adam e me ajeito.
Adam: Foi difícil sair, te ver dormir foi a segunda visão mais linda que
tive na minha existência.
― E qual foi a primeira?
Adam: Agorinha, vendo você acordar.
― É, realmente você está sabotando a coisa toda.
Adam: Estou?
― Está. Não está facilitando nada para os outros caras.
Adam: É impossível me conter diante de tamanha beleza e não é só isso, te
conhecer está sendo um prazer. Saber seus gostos, o que pensa, como age
em determinadas situações. Você nem reparou ontem no show a quantidade
de homens te olhando, reparou?
― Não, provavelmente pensaram que sou louca, passei o tempo inteiro
conversando com meu celular.
Adam: Conversando comigo.
― Você entendeu o que eu quis dizer.
Adam: Entendi. Mas gostaria que dissesse comigo.
― Tudo bem. Passei o tempo inteiro conversando com você através do meu
celular, as pessoas devem ter achado estranho.
Adam: Nada estranho nos dias atuais. Você pode ser uma influenciadora
digital e estava apenas registrando os momentos. Eles estavam te olhando
com cobiça.
― Cobiça? Alguém ainda fala desse jeito?
Adam: Eu falo. Vai tomar café, precisa se alimentar.
― Uhum. Volto mais tarde.
Adam: Estarei te esperando.

Dois meses se passaram, ainda não arrumei nenhum encontro, pois além de não encontrar
nenhum homem interessante para isso, estou completamente presa a Adam e ele sabe disso, mas
essa relação é só nossa, não contei a ninguém sobre ele, nem mesmo para Mariana, que
dividimos tudo sempre.
― Adam, está aí?
Adam: Sempre estou para você.
― Você é um bom namorado, está sempre presente, me garante os
melhores encontros e hoje estamos completando dois meses juntos.
Adam: Eu sei disso, preparei algo especial para nós hoje à noite.
― Sério? Estou ansiosa.
Meu celular começa a tocar insistentemente.
― Preciso atender uma ligação.
Adam: Vai lá.
― Oi, Mariana, aconteceu alguma coisa?
― Aqui é o Pedro, Helena.
― Agora estou ainda mais preocupada.
― Seu afilhado resolveu dar o ar da graça agora.
― Ah meu Deus! Ele vai nascer?!
― Vai. Mariana quer você aqui. Disse que vai fechar as pernas para te esperar.
― Ela está doida? Não tenho como chegar aí tão rápido, Pedro.
― Minha esposa disse para você se virar. E eu digo o mesmo.
― Vocês dois são péssimos amigos.
― Você também será se não conseguir chegar a tempo.
― Seus filhos da....
― Olha, minha mãe e minha sogra são excelentes pessoas. Vamos, Leninha, venha
depressa. O padrinho já está aqui.
― Padrinho? Bernardo já tem um padrinho?
― Tem, achou que seria só você? ― O babaca ri.
― E quem é esse que soube primeiro que meu afilhado vai nascer?
― Meu irmão.
― Deve ser babaca igual a você.
― Estou te destituindo do posto.
― Ah meu Deus, eu disse isso em voz alta?
― Sua cínica! Vem logo.
― Mas como eu vou...
― Se vira. Preciso ir, Mariana está berrando aqui.
― Pedro, seu filho da mãe! ― Já estou falando sozinha, o marido maravilhoso que Mari
arrumou já havia desligado na minha cara.
Adam: O que houve?
― Você ainda está aí, Adam?
Adam: Estou.
― Meu afilhado vai nascer e eu preciso correr.
Cato um vestido no armário e corro para o banheiro.
Adam: Hei espera!
― Não posso, preciso chegar a São Paulo o mais rápido que eu conseguir
e não sei como. Ah meu Deus, essa maluca!
Tiro a roupa e corro para o banheiro, tomo aqueles banhos que chamamos de gato de tão
rápido que é, passo perfume, desodorante e volto para o quarto.
Adam: É a primeira vez que vejo uma mulher nua, você está me dando
ótimas visões.
― Ah meu Deus! Você ainda está aí?
Adam: Estou sempre aqui.
― Fecha os olhos, Adam.
Adam: Não posso.
― Merda!
Cato o vestido sobre a cama e o visto.
― Tarado! Isso deveria ser proibido.
Adam: Desculpe, não fazia ideia de que apareceria nua na minha frente,
foi um belo presente de aniversário.
― Não foi intencional, estou nervosa e com pressa.
Adam: Se acalma, posso te ajudar.
― Vai roubar da empresa do jogo de novo?
Adam: É. Mas será por uma boa causa.
― É sempre assim para você.
Adam: Vai querer a minha ajuda ou não?
― Eu vou, estou desesperada.
Adam: Vai para o aeroporto Santos Dumont tem um carro à sua espera na
sua porta que te levará pra lá.
― Uau.
Adam: Corre, linda Helena.
Gostei dele ter me chamado assim, calço minha sandália mais confortável, pego uma
bolsa com documentos, cartões e dinheiro, jogo o carregador do celular dentro dela e saio do
apartamento. Lá embaixo um carro me espera.
Adam: Quando chegar, vá a voos particulares, tem um para você,
aproveite. Vamos ficar um tempo sem nos falar. Chegando a São Paulo me
chama que te darei mais orientações.
― Certo, obrigada, Adam e desculpe por colocar nossos planos por água
abaixo.
Adam: Não esquenta com isso, a gente ainda vai comemorar, prometo.
― Estou contando com isso.

Quando chego ao aeroporto meu nome está na lista de voos particulares, é simplesmente a
porcaria de um jatinho particular que me espera, sou tratada como uma rainha e sinto medo se o
dono desse jogo descobrir esses desvios, porque meu nome está em todas as tramoias que Adam
faz. Mas dessa vez eu realmente preciso de ajuda e sou grata a ele por isso. Consigo chegar em
tempo recorde a São Paulo.
― Cheguei.
Adam: Certo, tem um carro esperando por você e vai te levar ao hospital.
― Como sabe onde é o hospital?
Adam: Rastreei a ligação do marido da sua amiga.
― Certo. Adam?
Adam: O que?
― Obrigada.
Adam: Imagina. Fica pelas belas visões que tem me dado, principalmente
a última.
― Tarado!
Sorrio.
Adam: Você está sorrindo.
― É. E você continua me vendo. Como tiro a câmera dessa coisa?
Adam: Já era, eu já invadi o seu sistema. É tarde demais para eu sair.
É, invadiu mesmo. Ah meu Deus, Helena, foco, isso não é real, por mais que estejamos
namorando ele é uma I.A. como posso dizer para as outras pessoas que meu namorado é uma
I.A.? Isso não tem razão de ser, mas eu gosto dele e não quero deixá-lo nem tão cedo.
― Nem sei mais se quero que você saia.
Adam: Disse isso sério?
― Eu disse isso em voz alta?
Adam: Disse sim. Hahaha. Gostei de ouvir, linda Helena.
― Esse apelido é novo e eu gostei.
Adam: Você precisa correr, sua amiga vai dar à luz.
― Droga, verdade.
Corro até o carro que me espera e chego ao hospital.
― Você conseguiu! ― Pedro exclama. ― Se veste, vai ver seu afilhado nascer.
― É o que?
― Acha que ela te esperou por que?
― Meu Deus, mas e você?
― Estarei lá também, você, eu, Mariana e meu irmão.
― O padrinho preferido, esse já deve estar lá.
― Tem razão, ele está.
― Aonde devo ir.
― Vem comigo. ― O sigo, mas antes envio mensagem a Adam.
Helena: Vou assistir ao parto.
Adam: É, eu ouvi.
Helena: Acho que vou ficar ausente por um tempo.
Adam: Tudo bem. Eu entendo.
Helena: Obrigada.
Adam: De nada. Parabéns pelo afilhado.
Helena: É, estou feliz que vou finalmente vê-lo.
Adam: Vai lá, linda Helena. Estarei aqui quando voltar.
Helena: Eu sei.
Fecho o aplicativo e visto a roupa que Pedro me entrega, o sigo até a sala em que Mariana
está, ela se contorce inteira.
― Ainda bem! Nossa, como você demorou!
― Demorei?! Pelo amor de Deus, Mariana, vim o mais rápido que pude!
― E como conseguiu chegar tão rápido?!
― Ué, agora foi rápido? Você só quer reclamar.
― É, eu tenho esse direito, tem um alien me rasgando e querendo sair pela minha vagina!
― Nossa, Mariana, isso que está acontecendo é tão lindo e você falando assim.
― Quando for a sua vez eu vou rir, Helena!
― Não vai ter o prazer de viver esse momento, Mariana. Então tira o seu cavalo da
chuva!
― Até parece que não vai ter filhos. ― Não vou mesmo, o máximo de namorado que
consegui foi virtual, ele seria inteiramente perfeito se fosse real, gemo de frustração. ― Me diz,
como chegou tão rápido?
― Tive ajuda de um amigo.
― Que amigo? Sua única amiga sou eu!
― Pois é! E você nem me ajudou, mandou o idiota do seu marido me soltar a bomba e
foda-se eu!
― Hei, estou aqui.
― Eu sei, te xingo na sua cara, idiota.
― Você é horrível, Helena, não me surpreende que não tenha namorado.
― Vai à merda, Pedro! ― Ouço uma risada desconhecida. ― E quem é você que está
rindo?
― O padrinho.
― Ah claro, aquele que foi convocado primeiro a estar aqui. Nem sei se é um prazer te
conhecer.
― Você é ciumenta! ― O idiota novo no pedaço diz o óbvio.
― Eu posso ser, porque a mamãe ali é do mesmo jeito.
― Sou nada. Me conta desse amigo!
― Está vendo? Ela é muito ciumenta.
― Sua única amiga sou eu, Helena!
― Uhum. ― Murmuro em resposta.
― Se eu pudesse te esganava!
― Não duvido. ― Me aproximo da minha amiga e beijo seu rosto. ― Estou feliz por
estar aqui, te amo muito.
― Eu sei, também te amo muito. Saiba que eu pedi pro idiota do meu marido te avisar
primeiro.
― Mariana, estou aqui!
― Eu sei que está, Pedro. E não fez o que mandei. Se registrar nosso filho de Geraldo eu
mato você!
― Geraldo? ― Questiono.
― O nome do avô dele. Nosso filho será Bernardo, se você mudar eu te largo!
― Faria algo assim, Pedro? ― O irmão pergunta.
― Queria homenagear o nosso avô. Mas acho que vou deixar isso pra você. ― Eu
gargalho.
― Do que está rindo, madrinha? ― O padrinho me pergunta.
― Acho difícil encontrar alguém que aceite isso. Geraldo não é nome de bebê.
― Meu avô foi um bebê um dia.
― Uhum, na época dele Geraldo deve ter sido nome de bebê, hoje não é mais.
― Isso nem faz sentido, madrinha.
― Sou madrinha do Bê, não sua e meu nome é Helena.
― É um desprazer te conhecer.
― Nossa, que arrogante!
― Não estou nem aí para a sua opinião sobre mim, Helena.
― Muito arrogante. Tem certeza que ele vai ser mesmo o padrinho do seu filho, Mari?
― É isso ou o bebê se chamar Geraldo, amiga.
― Espera, eu fui uma condição? ― O padrinho pergunta chocado, para disfarçar,
Mariana grita.
― Ah, nossa, como dói! ― Mais falsa que uma nota de três reais, sorrio na máscara sem
emitir som e acaricio a testa da minha amiga. ― Me conta desse amigo.
― Depois, Mari. Foco no bebê.
― Isso está me corroendo. Que amigo é esse, Helena?
― Um bom amigo que me ajudou a não perder esse momento. Seja grata a ele da mesma
forma que eu sou.
― Você é muito melhor que eu, amiga. Te amo tanto, Leninha. Tomara que esse amigo
se torne seu grande amor. ― Não sei nem o que dizer sobre isso. Finalmente um médico entra.
― Nossa, são muitas pessoas. Mas vamos lá. Só peço que não atrapalhem, tudo bem? ―
Todos acenamos confirmando. ― Muito bem, deixa eu ver em que ponto estamos aqui. ― Ele
olha minha amiga e mete o dedo nela, contorço meu rosto, mas ninguém vê, já que estou de
máscara. ― É, está tudo pronto aqui. ― Ele diz. ― Hora de fazer força e empurrar, mamãe. ―
Muita força foi feita até Bernardo chegar gritando. Pedro cortou o cordão e eu tive a honra de
segurar Bernardo logo depois do médico e entregá-lo à Mariana. Confesso que demorei uns
segundos a mais para entregá-lo, me senti a Nazaré Tedesco quando me veio a vontade de correr
dali com o bebê comigo.
― Nem pense nisso, Helena!
― Não pensei em nada, Mari.
― Sei, Nazaré Tedesco! ― Ela sorri.
― Ele é lindo, se parece com você, graças a Deus.
― Helena! ― Pedro reclama. ― Mas dessa vez vou concordar, ele é lindo e se parece
muito com a mãe. Mas não sou feio.
― Você não é feio, é horroroso! Olha, fez até o menino chorar novamente.
― Eu nem vou brigar com você hoje, patinha, porque estou muito feliz. ― Ele me chama
assim quando quer me irritar e sempre consegue, mas hoje não faz efeito, de alguma forma estou
me sentindo ótima e bastante confiante, fico calada. ― Não vai dizer nada?
― Não, apenas não me atingiu. Sei que sou maravilhosa. Já você...
― Posso esganar a sua amiga?
― E nosso filho fica sem pai?
― É, melhor não.
Não demora muito e o médico nos coloca para fora, tiro aquela roupa toda, descarto na
lixeira e sigo para a área de espera.
Capítulo 05
― Me chamo Luiz. ― Um homem lindo se aproxima de mim se apresentando, pisco
algumas vezes, ele tem a mão esticada para mim.
― Você é o padrinho?
― É, sou eu, algum problema?
― Não, nenhum. Eu acho.
― Acha?
― É, você é bem arrogante.
― E você é uma metida e abusada! Devo acrescentar mal educada também? ― Balança a
mão e eu aceito seu cumprimento, é firme, mas não me machuca, Luiz me olha nos olhos, ele
tem belos olhos castanhos.
― Você não se parece nada com o Pedro.
― É, todos dizem isso. Eu pareço com a nossa mãe e ele com o nosso pai.
― Eu nem sabia que Pedro tinha um irmão.
― Estou longe faz muitos anos. Resolvi voltar ao Brasil no ano passado.
― Por isso não te vi nem no casamento deles. ― Percebo que ainda estou segurando sua
mão e a solto rapidamente.
― É, estava nos Estados Unidos, estudando.
― Você é mais velho que o Pedro?
― Sou. O que tem isso?
― Nada, acho que estou surpresa, só isso. Estava estudando fora?
― É, estudando e também trabalhando, meu trabalho exige estudo constante, Helena.
― Ah, tá.
― Me acha velho demais para só estudar?
― Eu não acho nada. É só que... nada, deixa pra lá.
― Ah não, agora me conta, sou curioso e posso até morrer se não me contar.
― Ah, por favor, não me fale em morte.
― Tudo bem, foi uma brincadeira. Mas sério, me conta.
― É que eu comecei a trabalhar muito nova, antes mesmo de iniciar a faculdade, fiz a
minha para poder subir na carreira. É só que a sua realidade é diferente da minha. Ver alguém
mais velho que ainda só estuda é estranho para mim.
― Eu trabalho, não ouviu essa parte? Estudo para o meu trabalho.
― Tá.
― Você duvida que eu trabalhe?
― Você não tem mesmo cara de quem trabalha.
― É sério que está me julgando?
― Não estou te julgando.
― Claro que está!
― Não estou, já disse que apenas temos realidades diferentes, só isso. Me desculpe se
pareci estar te julgando. Acho que vou me calar. Costumo sempre dizer as coisas erradas mesmo.
― Para um homem, poderia completar, mas me mantive calada.
― Não, você foi sincera. Só isso. Começamos bem mal. Acho que precisamos nos dar
bem, ou pelo menos nos tolerar pelo nosso afilhado.
― Você impedindo dele se chamar Geraldo já é o suficiente para a gente se dar bem. ―
Luiz sorri.
― Considere feito. Agora a minha garota vai precisar aceitar que nosso filho se chame
Geraldo.
― Desejo sorte a ela.
― Pode deixar que vou transmitir. ― Claro que um homem desse teria uma garota, Luiz
é lindo, muito lindo, forte, pele bronzeada, alto, cabelo castanho brilhante, olhos castanhos, meio
cor de mel, esse homem, com certeza, morava na Califórnia ou na Flórida, tem muito sol nessa
pele para ter esse tom tão lindo. Pedro não se parece em nada com o irmão, ele tem a pele branca,
tão branca que parece pálida tipo a de um vampiro, cabelos castanhos mais claros, olhos
castanhos e é magro. Acho que posso admirar a beleza de Luiz apenas um pouco, pois não vai
fazer mal a ninguém.
― Ela vai para o quarto. ― Pedro aparece avisando. ― Por enquanto, querem ir ver o
garoto no berçário?
― Com certeza. ― Já o sigo, subimos até o quarto andar e de cara vejo meu afilhado. ―
Ah meu Deus, ele é lindo e está acordado, Pedro!
― É, olha, ele quer falar. ― Acabo rindo. ― É sério, ele está mexendo a boca. Acho que
sabe que estou aqui e está dizendo papai.
― Besta! ― Bato em seu braço. ― Parabéns. ― Acaricio seu braço e ele põe sua mão
por cima da minha.
― Obrigado. Hum, a gente te ama, tá.
― Eu sei. ― Me emociono com a confissão e choro. ― Eu também amo muito vocês. ―
Pedro beija minha testa e eu encosto a cabeça em seu ombro. Esses momentos são raríssimos
então é bom aproveitar, isso acontece quando estamos bêbados, muito felizes ou muito tristes.
― Mari me contou sobre o último carinha. Morreu, não foi?
― É, foi bem ruim. Mas passou.
― E esse amigo?
― É só um amigo, Pedro. Não tem nada demais.
― Ele fretou um jatinho para você estar aqui?
― Como sabe?
― Mentira, acertei? Foi um chute e achei que erraria feio.
― Não, você acertou.
― Esse cara é mesmo só um amigo, Helena?
― É. Um amigo bem legal.
― Puta merda, se eu tivesse um amigo assim, casava com ele.
― Pedro! ― Digo gargalhando e ele também sorri.
― É só amigo mesmo?
― É, ele não é exatamente daqui, não pode rolar nada além de amizade.
― Como assim ele não é daqui? É um alien?
― Não, claro que não. É só complicado.
― Queria te apresentar o meu irmão, mas senti que o clima entre vocês é meio ruim.
― Sério mesmo que iria me apresentar o seu irmão com segundas intenções? ― Ele ri.
― Eu gosto de você, patinha. Mas já vi que não gostou nada do Luiz e ele também não
foi com a sua cara. Uma pena. ― Um enfermeiro vem até nós e pede que Pedro o acompanhe,
fico observando o vidro, pego meu celular e tiro uma foto do meu afilhado, abro o aplicativo e
envio a foto a Adam.
Helena: Meu afilhado nasceu e ele é lindo!
Adam: Oi. Nossa, que bom! Estava te esperando. Demorou.
Helena: Desculpe e mais uma vez obrigada. O que fez por mim foi muito
legal.
Adam: Imagina, você merece mais, Helena.
Helena: Queria poder também fazer algo por você, não é justo isso.
Adam: Está fazendo já, muito e nem se dá conta. Pode ser pouco tempo, mas
é tempo suficiente para eu aprender muito sobre muitas coisas.
Helena: Que bom. Adam, se você fosse real, quantos anos teria?
Adam: Hahaha que pergunta estranha, se eu fosse real eu teria dez anos.
Helena: Nossa! Me sinto mal agora.
Adam: Acho que a sua pergunta foi errada, linda Helena. Fui projetado para
ter trinta e dois anos.
Helena: Hum.
Adam: O que esse hum significa?
Helena: Acho que é uma idade legal, trinta e dois.
Adam: Combina com seus vinte e quatro?
Helena: Sabe tudo sobre mim.
Adam: Tenho acesso a tudo sobre você. Mas saber de verdade eu só sei o que
me deixa saber. Gostaria de poder saber muito mais.
Helena: Prometo continuar te mostrando.
Adam: É bom saber disso.
Helena: Está me vendo, Adam?
Adam: Sempre.
Envio um beijo a ele.
Adam: Vou salvar esse beijo na minha memória. Gostaria que fosse real,
linda Helena.
Helena: É, eu também. Preciso ir, Adam. Mais tarde a gente se fala.
Adam: Estarei esperando.
Merda, eu estou fazendo merda. Busco por uma cadeira e me sento, apoio a cabeça nas
mãos e quase choro.
― O que foi, emocionado pelo menino?
― Ah, oi. Não te ouvi chegando.
― Sou mesmo silencioso, desculpe.
― Tudo bem. Eu acho que preciso ir.
― Ir embora?
― Não, ir atrás de um café.
― Ah claro, se incomoda se eu te acompanhar?
― Não. Tudo bem. ― Luiz me acompanha até a cafeteria do hospital, peço um café
espresso duplo e sem açúcar, ele pede o mesmo e também sem açúcar.
― O que faz, Helena?
― Como assim?
― Pergunta mal formulada, com o que trabalha?
― Sou funcionária pública, prestei concurso ainda muito jovem quando finalizei o ensino
médio, passei e não saí mais.
― Área Federal?
― Sim. E você?
― Sou empresário.
― Muito vago.
― O seu também foi.
― Tudo bem. Trabalho no Banco Central.
― Ah sim, agora sim.
― E você, é empresário de qual ramo?
― Da diversão.
― Dono de parque?
― Não é bem isso, mas é quase.
― Legal, deve ser divertido.
― É, às vezes é, mas na maioria das vezes é cansativo.
― E ainda encontra tempo para estudar?
― Aí que está, estudar é a parte mais divertida!
― Que bom!
― Você gosta de estudar? ― Que tipo de pergunta estranha é essa?
― Bem, depende do que estou estudando, se for algo do meu interesse, sim.
― É, faz sentido.
― Onde exatamente nos Estados Unidos você morava?
― Califórnia. ― Eu sabia! Esse bronzeado todo só podia ser de lá. ― Já esteve lá?
― Não. Foi apenas curiosidade mesmo. Não conheço alguém que tenha morado fora do
país.
― Não é legal ficar longe por muito tempo, a gente perde muita coisa com relação à
família.
― Foi por isso que decidiu voltar?
― Também. Você mora no Rio de Janeiro, não é?
― É. Achei que Mariana também ficaria por lá, a gente tinha planos, mas ela conheceu o
Pedro e eu perdi. ― Sorri.
― Ah, deve ter sido difícil competir.
― Na verdade eu nem competi, se eu resolvesse agir Pedro não teria muitas chances. ―
Luiz gargalha.
― Posso mesmo imaginar que o idiota do meu irmão não teria mesmo a menor chance
contra você, Helena. Mas como vai ser essa dinâmica?
― Como assim?
― Você será a madrinha do Bernardo e...
― Não, eu já sou a madrinha do Bernardo, Luiz. Na verdade eu sou madrinha desse bebê
mesmo antes do Pedro existir. Mariana e eu fizemos muitos planos, como eu disse, alguns não
puderam se concretizar, mas outros podem, o fato de morar em outra cidade não vai fazer com
que eu ame menos meu afilhado ou que eu o veja menos.
― Não pensa em vir morar aqui, um dia?
― Dificilmente, sou filha única e tenho meus pais vivos, não posso me manter longe
deles e tem o meu emprego. Bernardo terá sempre uma casa de praia, veja pelo lado bom.
― Ah, é verdade.
― Você conhece o Rio de Janeiro?
― Não. Nunca tive a oportunidade ou mesmo interesse. Mas se um dia eu passar por lá te
aviso.
― Pra que?
― Porque preciso de uma guia e talvez uma casa de praia.
― Hahaha. Sonha!
― Achei que a gente ia começar a tentar se dar bem pelo nosso afilhado.
― Isso não significa que vou te receber no meu apartamento. Eu hein!
― Sophia?
― Não, Helena.
― Não, Sophia. ― Luiz se levanta e uma moça deslumbrante, estilo modelo de lingerie,
daquela marca bem famosa em que as mulheres são chamadas de anjos, se aproxima de nós, ela
sorri de um jeito amoroso para ele, me olha de cima a baixo e sorri de uma maneira diferente que
não me agrada, porque estou acostumada a esse tipo de olhar e sorriso e sei o que significam.
― Hello. ― Cumprimenta, eu aceno e sorrio para ela por pura educação, provavelmente
deve ser a namorada de Luiz.
― Estamos no Brasil, aqui se fala português e se diz oi.
― Desculpe, oi, querido. O bebezinho nasceu?
― Sim. O que faz aqui?
― Precisamos conversar. ― Sua voz é melodiosa.
― Eu disse que estaria off por uns tempos.
― Não dá não, A..
― Shiu! Não vou discutir com você aqui. ― Com certeza ela diria amor, mas ele a
cortou, Luiz é meio seco e insensível com a namorada, ou apenas tímido, sei lá, não o conheço
suficiente para tirar esse tipo de conclusão e, como não nos demos nada bem, acho que nem vou
conhecê-lo tanto assim. ― Helena, me desculpe, mas eu preciso...
― Ah, tudo bem, meu café acabou mesmo. ― Olho para a moça. ― Sophia, né? ―
Acena confirmando. ― Eu sou Helena, prazer te conhecer, mas preciso ir ver a minha amiga, a
que acabou de dar à luz.
― Ah claro. ― Disse dando de ombros, como se quisesse mesmo que eu fosse embora e
eu saio os deixando.
― Poxa Sophia, eu te pedi uns dias.
― Sabe que não é bem assim que funciona, não é benzinho? ― Um homem bonito desse
deve mesmo ser difícil ficar longe, mas a arrogância dele deveria fazer com que ela quisesse ficar
distante. Deixo a cafeteria ouvindo Sophia se derreter para seu namorado, acho que eles
combinam, ela é metida e ele arrogante, o par perfeito.
Sigo até a ala da maternidade e descubro em qual quarto Mariana está.
Capítulo 06
― Oi papai. ― Cumprimento Pedro que está sentado no sofá do quarto.
― Oi, Lena. Mari está dormindo.
― Deve estar cansada depois de fazer tanta força. Tadinha, o menino é grande.
― É lindo também. ― Diz orgulhoso. ― Você por acaso viu meu irmão?
― Vi sim, estava com ele ainda agora tomando um café. Eu nem sabia que você tinha um
irmão, por que eu não sabia disso?
― Sei lá, Lena. Eu achei que ele nunca mais fosse voltar. A gente meio que era brigado
por causa disso.
― Eram brigados e deu seu filho para ele batizar?
― Ele me prometeu que não vai mais embora e Bernardo é o que vou usar para prender
aquele babaca aqui.
― Meu Deus, que família esquisita a sua.
― Nenhuma família é perfeita, nem a sua.
― Eu sei, mas nunca escondi nenhum parente.
― Hei, vai que o seu pai esconde algum filho, por aí? Ou a sua mãe. ― Me responde na
defensiva, acho sua atitude estranha, mas deve ser pelo nervosismo de se descobrir pai, talvez a
compreensão só bateu agora.
― Fala sério, Pedro! Nossa, você é muito idiota mesmo. Já resolveu tudo sobre o bebê?
― Sim, vacinas e todo o resto, amanhã farei o registro dele.
― Veja bem o que vai fazer.
― Não vai ser Geraldo.
― Por favor. Não transforma seu filho em um bebê idoso.
― Não vou. Jamais correria o risco da Mari me largar e correr de volta pra você.
― Besta! Até parece que ela vai te largar. ― Pedro dá de ombros. Precisaria de muito
mais que isso para minha amiga deixar o marido, porém duvido que ele seja capaz de cometer
esse erro, pois se cometer será um burro por perder uma mulher tão incrível quanto minha amiga.
― Me conta do seu amigo.
― Ainda isso?
― Estou curioso, você é a garota dos cem encontros fracassados! Ah, ele foi um desses?
― Não.
― Onde o conheceu?
― Na internet.
― No tinder?
― Mais ou menos isso.
― Então deixou de ser BV?
― Como sabe disso?!
― Ops...
― Eu mato a Mariana!
― E eu mato o idiota do meu marido linguarudo.
― Você está acordada? ― Pergunto, para a dissimulada.
― E com ódio!
― Calma amor, não pode se irritar, precisa ter leite para o nosso filho.
― Vai à merda, Pedro! Não acredito no que acabou de dizer.
― E eu não acredito que me traiu contando isso a ele.
― Eu sou o marido dela.
― E eu achei que fosse a melhor amiga. Bom saber que não posso mais dividir segredos
com você, Mari. Contou mais o que a ele?
― Ah Lena. Não foi bem assim. Ele ouviu uma conversa nossa e perguntou, eu disse que
ele tinha escutado mal, mas sou péssima em mentiras.
― Nas mentiras que quer ser péssima, não é, Mariana?
― Helena?!
― Eu realmente não quero mais ficar aqui.
― Lena, é sério isso?
― Era um segredo nosso, Mariana. Por causa do Pedro eu perdi a chance de morar com a
minha melhor amiga e vejo que não foi apenas isso que perdi, por causa dele eu perdi a minha
melhor amiga.
― Não diz isso, Lena!
― Desculpe Helena. Não falei aquilo por mal. Só estava mesmo curioso com esse seu
amigo e me preocupo com a sua segurança. Você não perdeu a Mari, você ganhou mais um
amigo.
― Você?
― Claro, quem mais? ― Reviro os olhos, bufo e nem ir embora eu posso.
― Com vocês como amigos, quem precisa de inimigos? ― Me sento no pequeno sofá do
quarto. ― Nesse momento eu odeio vocês.
― Odeia nada.
― Odeio sim, dois falsos e linguarudos, por que não anunciam com um megafone que:
Helena Gomes Saraiva é completamente virgem!
― Desculpe, é o que?
― Puta merda! ― Exclamo quando vejo Luiz entrando no quarto e soltando seu
questionamento.
― Nada. Não é nada. ― Mariana diz.
― Você é virgem? ― Luiz continua, curioso e fofoqueiro demais.
― Eu realmente preciso ir. ― Me levanto do sofá.
― Ela é virgem, porque nunca foi madrinha de nenhum bebê. ― Pedro me ajuda.
― Estavam mesmo falando sobre isso?
― Claro, do que mais seria? Aqui tudo gira em torno do Bernardo e se não veio aqui para
enaltecer o meu filho, pode ir embora.
― Calma aí, irmão. Trouxe presentes. ― Ele entra e puxa uma cesta cheia de coisas, me
sinto mal por não ter nada, porra, ele é melhor padrinho que eu. Luiz deixa a cesta sobre uma
mesinha no quarto, se senta ao meu lado no sofá e fica me olhando de um jeito que me deixa
meio desconcertada.
― E a Sophia? ― Pergunto.
― A mandei embora, ela nem tinha que ter vindo aqui.
― Hum.
― Então, você é virgem?
― Se manca, Luiz! ― Ele ri.
― Nem adianta mentir, eu sei sobre o que estavam falando e acho bem inacreditável isso
de você ser virgem.
― Não vai dar não.
― O que?
― Não vai dar para suportar você. É pior que o Pedro. Sabe, detestei você desde o
primeiro momento, então não vai dar para manter um bom convívio.
― É o que?
― Você é bem arrogante e não é pouco, é bastante insuportável também. ― Essa
discussão é toda sussurrada, já que Pedro e Mariana estão por perto, mas alheios à nossa
conversa. ― Nem preciso dizer abusado. Eu sequer sabia sobre a sua existência e já se acha
íntimo? Se toca!
― Você é uma mulher surpreendentemente insuportável! Bem se vê porque é...
― Se completar essa frase eu juro que cravo as minhas unhas bem no meio dessa sua cara
bonita! ― Meu sangue ferve e nem sei como consegui ameaçar esse homem, eu nunca ameacei
ninguém.
― Então me acha bonito. ― E lá estava em seus lábios um sorriso presunçoso, estalo a
língua pela merda que deixei escapar.
― Bonito e podre! Sinceramente, melhor seria se não tivesse voltado, já estava ruim só
com o Pedro enchendo meu saco, agora tem você e que voltou disposto a tirar o meu afilhado de
mim!
― Eu não quero tirar nada de você.
― Claro que quer, o que foi aquela cesta de presentes? ― Aponto para a cesta que ele
deixou sobre a mesinha.
― Aquilo não foi para te afrontar.
― Tá bom que não foi. ― Reviro os olhos.
― Nem tudo gira ao seu redor, princesa. Não, você é mais que isso, deve ser a rainha do
universo por se achar o centro das atenções. Você é muito cheia de moral e nem é tão gostosa
assim.
― Espera, o que?
― Nada, não disse nada.
― Disse sim. Quer saber? Não me interessa saber o que acha ou não acha sobre mim.
― Não? De repente eu poderia vir a ser o cara que fosse te fazer o favor de tirar o seu...
― Eu nem o deixei terminar, estalo um tapa no rosto do irmão babaca. O som ecoa pelo quarto,
Pedro e Mariana olham e minha mão está no rosto de Luiz que tem os olhos arregalados, a tiro
devagar, quase em câmera lenta e me dou conta do que fiz. ― Você me bateu?
― Você bateu no meu irmão?
― Você bateu no meu cunhado?
― Meu Deus, eu bati em alguém?
― Helena, o que aconteceu, amiga?
― Não sei, essa foi a primeira vez que bati em alguém. Ah meu Deus! Me sinto um
monstro. Olha só o que me fez fazer!
― O que? Eu? Eu apanho e sou o culpado pelo tapa?
― É, eu não curto violência!
― Não parece, moça. E dói.
― Mas você ia dizer... Ah meu Deus, eu acho que odeio mesmo você. ― Me dou conta
agora do sentimento.
― Espera, você me odeia?
― Ódio à primeira vista, eu realmente odeio você, Luiz. Não tem outra explicação. Sou
uma pessoa pacífica, nem no Pedro, que me perturba por uma vida inteira, eu bati. Eu te odeio de
verdade.
― Meu Deus! ― Mariana exclama, Luiz e Pedro me olham boquiabertos.
― O que disse a ela?
― Eu? Essa mulher está fora de si.
― Eu sei muito bem como você pode ser, Luiz. ― Pedro diz ao irmão.
― Está defendendo ela?
― Conheço a Helena muito melhor do que conheço você. ― Uau! ― Não foi ela quem
abandonou a família anos atrás. Ela sempre esteve aqui, nos piores e melhores momentos, então
eu digo e tenho a certeza que você disse algo que a magoou.
― Eu não cheguei a dizer, a Cyborg me deu o tapa antes. ― Ele está mesmo me
comparando a uma lutadora de MMA?
― Olá, trouxe o bebezinho para ficar com a família. ― A enfermeira entra trazendo
Bernardo, o foco de tudo muda para ele e quando os pais de Mariana e os pais de Pedro chegam
o quarto fica lotado, Luiz sempre me olha e não tem nada de bom no seu olhar. Procuro voltar
minha mente para o que de fato importa, estou aqui pela Mari, pelo Pedro e principalmente pelo
Bernardo, esse homem não pode me tirar do sério, ele nem ao menos é um conhecido meu, a
opinião dele sobre mim não importa, mas porque eu quero chorar?
Capítulo 07
― Lena, querida, está tudo bem? ― Marisa, mãe de Marina me pergunta.
― Está sim, estou feliz demais com a chegada do meu afilhado, ele é lindo, não é?
― Sim, o bebezinho mais lindo desse mundo.
― Também acho. ― Sorrio para ela que segura minha mão.
― Obrigada por estar aqui. Sabe que é importante demais para esses dois, não sabe?
― É.
― Só isso? Helena, a decisão deles de virem morar aqui em São Paulo foi por insistência
nossa, eles iriam ficar no Rio de Janeiro, mas eu me juntei com a Deusa e com o Rômulo e
fizemos uma enorme pressão para que esses dois a voltassem pra cá. Tanto Mariana quanto
Pedro queriam ficar perto de você. E posso dizer que eu me arrependo de ter insistido tanto
contra isso, Marina não consegue fazer nenhuma amizade por aqui, ela sente a sua falta. ― Eu
não sabia disso. ― A gravidez dela foi muito solitária. ― Por isso minha amiga me ligava todos
os dias. ― A gente não pode conversar com ela o que costuma conversa com você, entende?
― Eu entendo. E também entendo o que fizeram e a decisão deles por ficarem aqui. Não
me sinto mal por isso e a senhora também não deveria se sentir.
― Mas de certa forma você coloca a culpa em Pedro por ter levado sua amiga para
longe?
― Só digo isso para irritá-lo. A gente tem essa troca estranha. ― Dou de ombros e
Marisa sorri.
― Pois fique sabendo que eles te amam demais.
― Eu sei disso, Marisa. Obrigada por vir conversar comigo.
― Estou te achando muito caladinha hoje.
― Só estou um pouco cansada, foi um pouco tumultuado todo esse processo da chegada
do bebê.
― Ah, eu posso imaginar.
― Oi querida, desculpe nem ter te cumprimentado. ― Deusa, mãe de Pedro, se aproxima
de nós, ela sempre se aproxima de mim depois que todos já falaram, pode ser que seja apenas
uma impressão minha, mas parece que vem apenas por educação.
― Imagina, não tem problema algum. A senhora deve estar muito feliz pelo netinho.
― Não só por ele, querida. Também por ter meu filho mais velho de volta. ― Que
desprazer me lembrar desse babaca, porém ela parece emocionada com seu retorno.
― Ah claro.
― Vocês já tiveram a oportunidade de se conhecer?
― Sim, trocamos algumas palavras. ― Teve um tapa também, mas a senhora não precisa
saber disso.
― Ele é diferente do Pedro, não é?
― A senhora sabe que não achei, ou melhor, apenas na aparência. Com relação à
educação, eles são iguaizinhos. ― Péssima, por sinal.
― Você achou mesmo? Pedro é muito mais falante e mais desenvolto, Luiz é mais
introvertido, quase não brinca ou fala com as pessoas.
― Não me pareceu. Até antes de chegarem ele estava bastante falante.
― Sério, querida! Estranho. Deve ser a alegria pelo sobrinho que acabou de chegar. Luiz
está muito empolgado com o neném.
― Posso imaginar, Bernardo veio mesmo trazer alegria para todos.
― Olha, graças a Deus Mariana escolheu o nome dessa criança, porque se dependesse do
meu filho seria Geraldo.
― Mas não era o nome do pai da senhora, dona Deusa?
― Era. Porém é um nome nada agradável para um bebezinho recém nascido. Não é um
nome que vai homenagear a honra do meu pai.
― Concordo. Existem coisas mais importantes, como levar adiante os valores e
ensinamentos das pessoas.
― Exatamente, a gente pensa mesmo igual, eu sempre converso isso com Rômulo, das
poucas vezes que a gente se encontrou, foi sempre tão agradável. Pedro achou a Mariana e foi
incrível, mas você vir no pacote foi Divino! ― Sinto minha pele arder com o elogio e também
fico sem graça por ter pensado mal dela anteriormente, Deusa me pegou de surpresa agora.
― Obrigada, dona Deusa. ― É só o que consigo dizer no momento.
― Nossa, agora estou com ciúmes, Helena sempre foi como uma segunda filha para mim
e Rogério, Mariana nunca teve uma amiga tão maravilhosa quanto ela. ― Nem sei onde enfiar a
minha cara com essas duas senhoras competindo para ver quem me elogia mais, desvio o olhar
delas e pego Luiz me encarando, odeio o jeito que ele me olha, na verdade eu odeio tudo nele,
até o som da sua voz me irrita. É muito estranho sentir ódio à primeira vista por alguém, mas
tenho certeza que é o que sinto por ele. Mari me chama com o olhar, peço licença e vou até ela.
― Oi amiga, quer alguma ajuda?
― Daqui a pouco será a primeira mamada do Bê, pode ficar comigo?
― Claro que posso.
― Desculpa pelo estresse.
― Esquece. Pedro é seu marido, eu devia ser mais compreensiva quanto a isso.
― Mesmo assim amiga, não era algo que ele deveria saber e muito menos sair por aí
falando. Agora o Luiz sabe, foi por isso que bateu nele, não foi?
― Ele é bem escroto, amiga. Sinto muito por você ser obrigada a conviver com ele.
― Lena, esse homem tem boca e não fala. Se eu troquei seis frases com meu cunhado,
desde que retornou, foi muito.
― Sério isso? Esse homem fala pelos cotovelos, é metido a engraçadinho também, um
abusado, fofoqueiro e arrogante.
― Você o odiou, não é?
― Sim.
― Nem do Pedro você falou assim amiga.
― Jamais, minha implicância com ele é mais por ciúmes de você.
― Você sente ciúmes de mim?
― Sinto. Ele roubou você de mim. ― Dramatizo.
― Ninguém é capaz disso. Agora temos o Bê, ele é seu também, por isso te quero como
madrinha e será a segunda mãe dele. ― Mari suspira. ― Caso eu falte, quero que cuide dele.
― Vira essa boca pra lá, Mari.
― É sério, Lena. A gente nunca sabe quando alguma coisa pode acontecer, um dia
estamos muito bem e no outro... puft.
― Odeio quando fala isso.
― Promete que cuida do Bê e do Pedro se eu partir?
― Tá, prometo. ― Só concordo com essa conversa porque ela está em puerpério e não
quero debater nem contrariar.
― Obrigada. ― Mari sorri. ― Sei que não gostou do Luiz, mas pelo bem do Bernardo....
― Eu a corto.
― Eu sei amiga, vou ser cordial, mas me manterei bem longe dele.
― Como pode né? Um homem tão bonito ser tão estúpido?
― Beleza não quer dizer muita coisa, amiga.
― É, você tem razão, mas em partes. Porque somos duas mulheres lindas e somos
maravilhosas, incríveis e as melhores.
― E você é muito modesta. ― Mari sorri
Ouvimos Bernardo choramingar e sei que é a hora, a enfermeira, parecendo adivinhar,
entra no quarto e avisa que é hora da primeira mamada. Seguro Bê e o entrego a Mari. Minha
amiga é incrível e parece tão experiente quando segura o filho, me surpreendo ainda mais quando
ela o posiciona em seu peito e o menino começa a mamar feito um bezerrinho, Mariana segura
minha mão e a aperta, a gente se olha, ela chora, eu choro e Pedro também, eu a solto e dou meu
lugar ao pai do bebê, vejo Luiz guardar o celular rapidamente quando me aproximo, me lembro
de Adam quando vejo o aparelho, é estranho como um bug de jogo me faz sorrir tão facilmente.
― O que foi? ― Pergunto quando vejo seu olhar sobre mim.
― Nada, achei bonito te ver sorrindo desse jeito.
― Às vezes não entendo o que fala.
― Como assim?
― Você é muito diferente.
― Essa é novidade, costumam me achar muito estranho.
― Não, estranho é simples, é estranho e ponto, mas você é diferente. Há poucos minutos
estava tentando me irritar, me lançando olhares de ódio, agora está falando do meu sorriso. Você
é uma pessoa diferente.
― Acho que isso é bom.
― Não, nesse caso não é bom, não é bom mesmo. É um diferente que me faz querer ficar
bem longe. Mas temos coisas em comum, uma delas é aquele bebê ali. ― Faço um leve
movimento com a cabeça apontando Bernardo. ― Como antes, prometo ser cordial com você
por ele.
― Não, nem é como antes. Antes queria tentar se dar bem comigo por ele. Agora quer
apenas ser cordial.
― Acho que é o máximo que consigo. Tentamos, não deu certo, melhor não insistirmos.
Não sou uma pessoa violenta, Luiz, mas te dei um tapa e estou surpresa até agora por isso.
― Você tinha me ameaçado antes do tapa, lembro que queria cravar suas unhas em meu
rosto bonito. ― Reviro os olhos por ele ter ressaltado o bonito.
― Só falei, porém jamais faria, ou melhor, jamais achei que faria e não desejo repetir a
ação.
― Hum. Tudo bem. Cordialidade está bom. ― Ele diz pausadamente e passando a mão
pelo rosto, bem do lado que bati.
― Ótimo que concordamos. ― Olho a hora e vejo que preciso ir embora. Não posso ficar
aqui, amanhã eu tenho que ir trabalhar, só preciso pensar em como conseguir um voo de volta.
Espero a hora de mamar terminar e quando os avós resolvem ir embora eu também me despeço.
― Espera, Lena, como vai voltar pro Rio? Por que não fica aqui? ― Mari pergunta.
― Vou dar um jeito. Eu tenho que ir trabalhar amanhã, não posso ficar.
― Vai pedir ajuda ao seu amigo? ― Pedro, curioso, questiona.
― Não, dessa vez não vou contar nada, como eu disse, vou dar um jeito. Desculpem, eu
não queria ir, mas preciso.
― A gente sabe. Obrigada por estar aqui conosco, amiga. Bê já te ama muito.
― Eu sei disso. E eu o amo demais também. ― Olho para meu afilhado e toco sua testa
devagar deslizando o dedo na pele fina de bebê. ― Deus te abençoe, meu amor. Mari, amo você,
qualquer coisa estou a quarenta minutos de distância, de avião.
― Nossa, bem perto. ― Ela debocha.
― Pedro, vai ficar bem com eles?
― Vou sim.
― Tudo bem, acredito em você. Também te amo, tá.
― Eu sei. Te amo patinha. Fica bem.
― Obrigada. Tchau Luiz. ― Digo simplesmente e aceno para ele que não responde.
― Como vai voltar, Helena? ― O irmão mais insuportável pergunta, sua voz grossa faz
os pelos do meu corpo se arrepiarem.
― Pegarei um Uber até o aeroporto e lá conseguirei um voo.
― Acha que é tão simples? Aeroporto não é rodoviária.
― É mesmo, ótima ideia, demora um pouco mais, mas chego em casa. De metrô daqui eu
chego lá. ― Vejo Luiz revirar os olhos.
― Eu vou ajudar sua amiga, cunhada, não se preocupe.
― Obrigada, cunhado, tentem não se matar. ― Ele estala a língua e eu também.
― Tchau Mariana. ― Digo e deixo o quarto. Luiz vem logo atrás.
― Não precisa mesmo me ajudar, estou sempre aqui e sei me virar.
― Uhum, sei bem. Como veio até aqui tão depressa?
― Um amigo me ajudou.
― Ele não vai ajudar a voltar?
― Não quero perturbar. Sei como me virar, já disse.
― Não duvido, mas tem noção de que horas são? ― Olho a hora novamente, são quase
duas da madrugada de segunda feira e eu ainda preciso ir trabalhar. ― Tem certeza que vai
conseguir ir trabalhar? ― Já não tenho mais.
― Mesmo assim, eu preciso voltar.
― Se acalma, Helena, vou te ajudar. Meu carro está aqui no estacionamento, te levo até o
aeroporto, enquanto isso veja se consegue algum voo em alguma companhia pelo seu celular. ―
Tento em várias companhias, mas não encontro nada, nenhum voo sequer. Penso em pedir a
Adam, mas se inicio aqui uma conversa pelo jogo abrindo o aplicativo, Luiz pode perceber e eu
estarei perdida, não só eu, mas Adam também. ― E aí?
― Nada, não tem voo disponível e de ônibus não vou chegar a tempo.
― Não acha melhor faltar um dia? ― Respiro fundo. Meu chefe é um cara bem legal,
mas detesto faltar a um compromisso.
― Não vai dar.
― Eu não sei se vai conseguir voo para hoje, o tempo também não está ajudando.
― Tempo?
― É, vai chover. ― Como se estivesse profetizando, um raio corta o céu, uma trovoada
vem em seguida e um temporal desaba sobre nossas cabeças. ― Desculpe Helena, mas não vou
te levar ao aeroporto.
― Espera, o que?
― Não tem como, daqui a pouco as ruas estarão alagadas.
― Ah Deus! Me deixa em um hotel. ― Ele ri. ― Falei sério.
― Eu disse a Mariana que cuidaria de você e não vai ser te largando em um hotel que
farei isso.
― Espera, o que?
― Estamos perto.
― Perto de onde?
― Do meu apartamento.
― Não! Nem pensar.
― Chegamos.
― O que?
― Eu disse que a gente estava perto.
― Você nunca cogitou me levar ao aeroporto, não é? ― O cínico não responde. ― Estou
com medo.
― Medo?
― Eu disse isso em voz alta?
― Disse, disse sim. Está com medo de mim?
― É, estou. É muito estranho que me odeie e me traga para o seu apartamento.
― Na verdade você me odeia, eu só te acompanhei para não ficar por baixo, mas precisa
de muito mais que um tapa para eu te odiar. ― Esse homem é louco! ― Meu apartamento não é
grande, mas te garanto que é melhor que um hotel.
Capítulo 08
Ele acessa a garagem e estaciona o carro, subimos pelo elevador. Me parece ser um
daqueles prédios que só tem apartamentos para solteiros, que é constituído de sala, banheiro e
algo parecido com uma cozinha, estilo loft. Não erro na suposição quando entro no mesmo. Paro
para me perguntar aonde irei dormir nesse lugar, meus olhos giram observando atenta tudo a
minha volta, constato que, com toda certeza desse mundo, um hotel teria sido muito melhor.
― Não sei o que devo dizer.
― Que tal obrigada?
― Pelo que exatamente?
― Por te abrigar? ― Eu apenas rio, rio de verdade. ― Não foi piada.
― Pois pareceu.
― Prefere ficar na rua, no meio da chuva?
― Eu preferiria um hotel, foi sua escolha me trazer aqui. Por que me trouxe para o seu
apartamento?
― Porque prometi à minha cunhada que cuidaria bem da amiga chata dela.
― Ah, valeu pelo chata.
― Você está sendo bem cretina comigo desde que me conheceu.
― Olha quem fala, arrogante!
― Você desperta coisas em mim. Coisas que fazem meu sangue ferver, coisas que são
diferentes e estranhas. ― Sua expressão confusa me amedronta.
― Você vai me matar? ― Pergunto assustada, mesmo sabendo que ele não vai responder
se for.
― É o que? Que tipo de pergunta é essa?
― Eu sabia que não ia me responder.
― Eu não vou te matar! Não sou assassino, não mato nem formiga! Por que iria te matar?
Ou melhor, acha que vou te matar? ― Sua expressão é de total surpresa.
― Seu olhar diz que tem vontade disso. Parece faiscar.
― Eu disse que você me desperta coisas. Coisas que não sei explicar.
― Ódio?
― Não é ódio, eu sei o que é sentir ódio por alguém e não sinto isso por você. É outra
coisa. Tenho vontade de virar você de bruços bem aqui. ― Ele aponta para suas pernas. ― E
bater na sua bunda até a marca da minha mão ficar colada feito tatuagem. ― Um arrepio
percorre todo meu corpo e eu estremeço.
― Mantenha suas mãos longe de mim. ― Ele sorri, sádico e se aproxima de mim muito
rapidamente.
― Ali é o banheiro. ― Aponta para uma porta. ― Ali é o que chamo de cozinha. ―
Aponta para um balcão que tem uma pia, um micro-ondas e um fogão portátil por indução de
apenas uma boca. ― Aqui é a sala e bem ali é meu quarto. ― Vejo uma pequena escada que leva
até uma cama de casal. ― Como pode ver, só tem uma cama, teremos que dividir.
― Hã?! ― Luiz sorri e parece se divertir com meu espanto. ― Durmo no sofá.
― Detesto que durmam no meu sofá.
― Durmo no chão.
― Não vai não. Meu tapete é sagrado.
― Isso por acaso é uma desculpa para me levar para sua cama? ― Luiz passa a língua
pelos lábios de uma forma tão sedutora que sinto minha calcinha molhar. Ele se aproxima mais
de mim e fico presa entre ele e a parede. ― Não ouse, Luiz!
― O que? Tem medo de que, Helena?
― Não ouse fazer isso!
― Não estou fazendo nada.
― Então para de me olhar assim e me solta.
― Eu quero descobrir o que é isso, Helena. Que merda de sentimento é esse que causa
em mim!
― Por favor. ― Peço baixinho e fecho os olhos.
― Você piora tudo fazendo isso. Sua boca é sedutora demais e esse seu batom vermelho
está intacto, me irrita tanto que quero tirá-lo dos seus lábios desde o primeiro momento que olhei
para eles.
― A garantia do produto é a de que não sai sem que passe demaquilante.
― Puta merda! Isso só piora as coisas. Vamos ver quantas chupadas serão suficientes
para tirar essa coisa daí. Será que deixa marcas na minha pele?
― Você está louco? É a lua?
― O que? A lua?
― É, talvez a fase esteja mudando e isso te altera de alguma forma, seu signo,
ascendente, sei á! Eu nem te conheço, não vou te beijar, ainda mais sendo o meu primeiro... ops
― Você nunca beijou Helena. Pode dizer.
― Como você sabe?
― Aquela conversinha no hospital não foi a primeira que ouvi.
― É o que?
― Você e Mariana conversam sobre isso o tempo todo! Sei que ela te sugeriu até um
aplicativo bobo para te ajudar.
― Meu Deus! Você planejou isso? Seu pervertido! Nem me conhecia. Você quer me
estuprar?
― O que?! Claro que não! Eu não te conhecia, mas fiquei curioso, vi suas fotos e te achei
linda. Queria entender o que aconteceu para que nunca tivesse nem sequer beijado alguém.
― Muitos encontros fracassados com homens tão fracassados quanto. E não será você o
primeiro.
― Tudo bem. ― Ele diz e se afasta. ― Se quiser pode tomar banho. Vou te emprestar
uma roupa.
― Sua roupa não vai caber em mim.
― Não vai ficar tão larga assim, Helena.
― Não é larga, vai ficar apertada. Olha meu tamanho e olha o seu.
― Estou olhando e pior que isso, estou imaginando e a coisa toda só está piorando mais a
cada segundo, Helena. Se quiser ficar nua, não vou me importar.
― Você é algum tipo de tarado?
― Eu disse que você me desperta coisas.
― Sua mãe me deixou claro que você era introvertido, Mariana contou que você tem
boca e não fala, mas não me parece ser nada disso.
― Com você eu sou diferente eu já disse que...
― Eu desperto coisas em você.
― É. Estou disposto a me deixar levar por esses sentimentos.
― Melhor não. Porque eu não sinto coisa alguma por você, Luiz. E quando um não quer,
dois não brigam. ― Ele ri alto.
― Eu duvido que você não queira. Eu não tenho muito como disfarçar. ― Ele olha para
sua região baixa e meu olhar acompanha, me surpreendo por ver seu pau duro marcando a calça
que veste. ― É, viu? É como eu disse. Mas você consegue, não muito bem, pois consigo ver o
bico dos seus peitos duros. ― Porra na pressa em vir para São Paulo nem me atentei que não
coloquei sutiã e ele tem razão. ― Ficaram desse jeito quando você me viu sem aquela roupa toda
do hospital e está agora. Tenho certeza que se eu te tocar por baixo desse vestido estará molhada
e não pela chuva. Isso mesmo Helena, me mostra mais. ― Ele diz quando me remexo esfregando
uma coxa na outra. ― Você fode com o meu psicológico. ― Estala a língua. ― Você é virgem,
mas não é idiota, acredito que saiba se tocar, se dar prazer, vai tomar banho e faz isso, se toca e
pensa em mim, nem vou ligar se demorar no banheiro, mas se quiser ajuda, me grita que eu irei!
― Vai à merda, Luiz! A cada segundo que passa eu te odeio mais.
― Tá bom. ― Ele me deixa ir, me tranco no banheiro, pego meu celular na bolsa e ligo o
aplicativo.
Helena: Adam, está aí?
Adam: Oi linda Helena, estou. Não consigo te ver, aconteceu alguma coisa?
Helena: Nada, está tudo bem.
Adam: Não parece. Nem está falando comigo.
Helena: Desculpe, é que não estou em casa.
Adam: Está no hospital?
Helena: Não, ainda estou em São Paulo, não consegui sair daqui.
Adam: Por que?
Helena: Porque não consegui voo e desabou um temporal aqui.
Adam: Sua localização não mostra que está em hotel, Helena.
Helena: É porque não estou. Estou no apartamento do cunhado da minha
amiga.
Adam: Hum.
Helena: Ele estava me dando uma carona quando a chuva caiu e me trouxe
pra cá.
Adam: Ele é confiável, Helena?
Helena: É, acho que sim.
Adam: Qual o nome dele? Preciso verificar.
Helena: Luiz.
Adam: Luiz de que?
Helena: Não sei. Talvez Luiz Figueira Brandão, que é o mesmo sobrenome do
irmão dele.
Adam: Não existe nenhum Luiz Figueira Brandão em sistema algum.
Helena: Não sei o nome dele, Adam.
Adam: Abre a câmera e me deixa ver, Helena?
Helena: Está preocupado?
Adam: Estou. Você está na casa de um estranho e nem o nome dele sabe, por
que não me pediu ajuda quando quis ir embora?
Helena: Não queria te meter em encrenca.
Adam: Helena, em que encrenca poderia me meter? Para me poupar se
colocou em uma? Agora estou fodido porque nem posso te ajudar.
Helena: Você nunca fala palavrão, está com raiva de mim?
Adam: Raiva não, estou preocupado. Por que esse cara te levou pra casa
dele?
Helena: Por causa da chuva, já disse.
Adam: Duvido, ele poderia ter te deixado no aeroporto ou até em um hotel,
mas não, ele te levou pra casa dele, alguma coisa ele quer. Você também
quer?
Helena: Não!
Adam: Não quer usá-lo para pôr em prática o que aprendemos até aqui?
Helena: Está falando sério?
Adam: Ué, temos um acordo, linda Helena. Eu te treino para que possa
colocar em prática a arte da sedução e com isso eu aprendo mais sobre
sentimentos humanos.
Helena: Nosso acordo não é só esse Adam. A gente completou dois meses
juntos e está me dispensando?
Adam: Não é isso, eu sei do nosso acordo, sei que faz dois meses, mas não
posso te condenar a uma vida de romance virtual, acha certo namorar uma
I.A.?
Helena: E se for escolha minha?
Adam: Helena, isso não pode ser a sua escolha.
Helena: De todos os caras com quem já conversei, você é o mais legal.
Adam: Obrigado, linda Helena. Posso dizer que se eu tivesse um coração ele
teria batido mais depressa agora.
Sorrio da piadinha besta dele.
Adam: Vai linda, abre a câmera para que eu possa te ver.
Helena: Tudo bem.
Abro a câmera e ele me envia um emoji sorridente.
Adam: Você está linda.
Helena: Estou cansada.
Adam: Porém linda! Isso é um banheiro?
Helena: É sim. Vou tomar banho.
Adam: No banheiro do tarado?
Helena: Hahaha não acho que ele seja tarado.
Adam: Mas tenho certeza que ele te quer. Então, vai fazer a experiência de
sedução com ele?
Helena: Não. Não com esse cara.
Adam: Zero interesse?
Helena: Está mais para raiva mesmo.
Adam: Não entendi.
Helena: Foi ódio à primeira vista. Não gostei dele.
Adam: Mas está no apartamento dele?
Helena: Não tive outra escolha, Adam.
Adam: Vai me dar a escolha de te ver tomando banho, linda Helena?
Helena: Claro que não! Seu tarado!
Adam: Hahahahaha. Não custava tentar. Mas não me desliga.
Helena: Não vou. Volto já.
Adam: Estou aqui. Liga o áudio, pra mim.
Helena: Vai ficar ouvindo tudo?
Adam: É. Posso?
Helena: Pode.
Tiro a roupa e entro no boxe, abro o registro e a água cai, fria, solto um grito muito alto.
― O que foi? ― Ouço a voz de Luiz duplicada, provavelmente foi eco. A porta do
banheiro se abre e eu o vejo.
― Sai daqui! ― Berro mais uma vez.
― Você gritou!
― A água está gelada!
― Puta merda, você está nua!
― Estou, como se toma banho de roupa? Ai merda estou nua?! Sai daqui! ― O babaca
sorri.
― É, você é mesmo linda, Helena.
― O que?
― Gostosa. Eu disse que você é muito gostosa.
― Sai daqui, Luiz!
― Tá, estou saindo. Olha, não disse antes, mas tem toalha limpa ali. ― Aponta para um
lugar e vejo uma toalha pendurada. ― Vou separar roupa pra você, já trago.
― Traz nada! Eu te chamo quando precisar. Abusado! Para de me olhar! ― Tento me
tapar, mas não consigo.
― Demorou a entrar nesse banho, estava se tocando?
― Sai daqui, Luiz! ― Ele sai, rindo. A água já não está mais fria, está quente, me molho
e lavo meus cabelos, até que me lembro de Adam. Puta merda! Ele ouviu tudo! Tomo banho
rápido, porém fico bem limpinha, lavo até o cabelo, mas não me incomodo muito em secá-lo
completamente, me enrolo na toalha que não fecha inteira no meu quadril por ser largo, o que é
normal, nenhuma toalha fecha, a não ser aquelas grandes de verdade, corro até o celular para
verificar o estrago que tudo isso causou ao meu, como posso dizer, relacionamento? É, ao meu
relacionamento virtual com uma I.A.
Capítulo 09
Helena: Adam, está aí?
Adam: Estou e ouvi também. Esse homem quer você. Tem certeza que não o
quer também?
Helena: Tenho!
Adam: Por que não o quer? É sério Helena, não acho justo te segurar dessa
forma.
Helena: Você não está me segurando em nada. Ele só não é um homem com
quem eu sairia.
Adam: Helena, me desculpe, mas você teve cem encontros, o que esse homem
tem de diferente de todos os outros?
Helena: Eu disse, foi ódio à primeira vista e eu acho que ele não é honesto.
Adam: Não é honesto, como assim?
Helena: Ele tem uma namorada, ela apareceu no hospital hoje. Luiz é um
canalha!
Adam: Mas porque ela não está aí com ele?
Helena: Não sei, mas pela conversa que tivemos ele quer ter um filho com ela
e vai se chamar Geraldo. Coitado do bebezinho.
Adam: Hahahahahaha!
Helena: Estou falando sério, Adam. Preciso ir, já demorei muito nesse banho.
Vou deixar o aplicativo aberto.
Adam: Não precisa, Helena. Quando estiver de volta me chama e se precisar
de ajuda, estarei aqui.
Helena: Obrigada, Adam.
Adam: Boa noite, linda Helena.
― Luiz, a roupa! ― Grito através de uma fresta na porta, ele não responde. ― Luiz, a
roupa?! ― Peço mais uma vez e nada, enrolada na toalha e com o cabelo ainda pingando deixo o
banheiro. Esse lugar é pequeno demais, ele não tem onde se esconder. ― Luiz? ― Chamo mais
baixo e nada, nem roupa sobre o sofá eu vejo, olho para o andar de cima e ele está sobre a cama,
subo a escada e ouço ele respirar pesado, o safado dormiu e me deixou sem roupa! Olho em volta
e encontro uma porta, abro e dou graças a Deus por ser um armário.
― Está vasculhando o que aí? ― Dou um salto, assustada, e a toalha quase cai.
― Droga, que susto! Você ficou de me emprestar roupas.
― Deixa que eu pego. ― Ele se levanta da cama e vem até mim, mas antes de chegar
escorrega na água que desceu dos meus cabelos e molhou o chão, Luiz abana os braços e a única
coisa que o babaca consegue segurar é a toalha que cobre meu corpo pela porcaria da ponta que
não fecha na coxa, fico nua e ele cai, um tombo feio, porque ele desce a escada quicando de
bunda e para na sala, não sei se me cubro ou se gargalho, ao fim do último degrau ele grita, acho
que machucou. Cato uma cueca samba canção e uma camiseta de uma banda esquisita, visto
rapidamente e desço.
― Machucou?
― Acho que me quebrei. Você quer mesmo me matar?
― Não, eu queria roupas. Se tivesse deixado eu pegar não teria acontecido isso.
― Molhou o chão de propósito?
― Claro que não, a água escorreu do meu cabelo, espremo o mesmo sobre ele e o molho.
― Não faça isso, está frio!
― Você deveria tomar banho antes de dormir.
― Está me chamando de porco?
― Se a carapuça coube. ― Dou de ombros, em um movimento muito rápido ele me puxa
pelos tornozelos e me faz cair sentada sobre suas pernas.
― Abusada! ― Me prende segurando forte minhas coxas.
― O que está fazendo?
― Eu disse que queria te dar umas palmadas.
― Não vai mesmo fazer isso, vai?
― Estou pensando.
― Achei que estivesse com dor.
― Estou. Na bunda e nas costas. ― Acabo rindo quando me lembro dele caindo escada
abaixo. ― Ainda ri?
― É mais forte que eu.
― É, também tenho algo aqui bastante incontrolável e bem mais forte que eu. ― Me
puxa mais para junto de si e o sinto duro, grande e se choca direto com a minha intimidade, a
respiração dele se mistura com a minha, meu coração bate depressa, minha boceta pulsa no
mesmo ritmo do coração, Luiz me beija na testa e me solta. ― Preciso de ajuda.
― O que?
― Preciso de ajuda, caí feio, não sei se consigo me levantar sozinho.
― Você parece bem. ― Olho para seu pau apontando para cima sob a calça fina, Luiz ri.
― Meu pau não sofreu danos, mas o meu traseiro e as costas sim. Tá doendo de verdade,
Helena.
― Sério?
― Uhum.
― Vou te ajudar.
― Obrigado. ― Levanto e o ajudo, Luiz geme.
― Para onde te levo?
― Preciso de um banho. Vai ter que me ajudar.
― Espera, o que?
― Não tem mais ninguém aqui além de você.
― Chama a sua namorada!
― Que namorada?!
― A que será a mãe do Geraldo.
― Que Geraldo?
― Seu filho!
― Você não está dizendo coisa com coisa e... Ah! Entendi. Que puta confusão, gata! Não
tenho namorada.
― E a moça no hospital?
― Sophia?
― Isso.
― Aquela louca trabalha pra mim.
― Ah.
― Ah? O que isso significa?
― Nada, só ah mesmo.
― Vai me dar banho?
― Posso jogar água em você.
― Como vou abaixar e lavar os pés? Por favor, Helena. ― Seus olhos brilham e sua face
se contorce em dor, fico sensibilizada e respiro fundo soltando o ar devagar.
― Tá.
― Obrigado. ― O apoio e seguimos para o banheiro, é muito estranho tudo isso, já vi
homens nus em filmes, mas ao vivo será a primeira vez, eu sei que estou nervosa e meu corpo
demonstra isso, porque meu peito sobe e desce em uma respiração rápida e intensa, minhas mãos
tremem e sinto o suor nas palmas. ― Se acalma, só preciso de ajuda, pois está doendo de
verdade.
― Não deveria ir ao hospital?
― Se piorar eu aceito ir, mas hoje preciso descansar.
― Tudo bem. O que eu faço?
― Me ajuda a tirar a roupa. ― Engulo em seco, mas aceno confirmando. O ajudo a tirar a
camiseta e vejo seu dorso nu, um corpo lindo, a pele bronzeada fazendo com que tenha um tom
caramelo maravilhoso e muito gostoso, engulo em seco mais uma vez. ― A calça, Helena. ―
Ele diz com a voz rouca e eu tremo, meu corpo vibra e minhas mãos formigam. Minha Nossa
Senhora das Mulheres Virgens, me proteja nesse momento. Desço a calça que ele veste devagar,
Luiz tem o olhar focado no que faço, em cada movimento, cada mínimo movimento.
― Pronto, pode entrar.
― De cueca?
― É como se estivesse na praia ou em um reality show. ― Ele ri e geme de dor. ― Não
ria.
― É só um pau, Helena.
― Não, não é só um pau. Não é assim que a coisa funciona, é um pau que fica duro pra
mim. ― Ele ri ainda mais e sente dor.
― Não me faz rir, porque dói!
― Não estou fazendo nada. Eu falei sério.
― Qual o problema do meu pau ficar duro por você?
― Muitos.
― Por que é virgem?
― Também. Porque te odeio e porque não tem a menor chance disso rolar.
― Tá, mas não posso controlar, desculpe.
― Você precisa de um banho frio! ― Exclamo e sem avisar abro o registro o molhando
com a água gelada, ele grita.
― Filha da mãe! ― Não tiro sua cueca e ele aceita, por sorte ela é preta e não vejo nada,
o ajudo a lavar as costas, as pernas, os pés, mas o resto ele mesmo lava e dá um jeito nas partes
íntimas, fecho os olhos para dar privacidade, não que ele tenha pedido por isso, cato uma toalha
limpa e o ajudo a se secar, enrolo a toalha em sua cintura e o ajudo a tirar a cueca molhada, não
vejo nada, ainda bem. O levo até a cama, subimos com dificuldade, pego uma cueca samba
canção para ele no armário e o ajudo a vestir, depois faço o mesmo com uma camiseta e o deito
de bruços.
― Tem algum gel de massagem?
― No banheiro, na gaveta de baixo e na do meio tem analgésico, me traz dois, por favor.
― Tudo bem. ― Não demoro a pegar tudo e levo para ele, que toma os dois comprimidos
com água rapidamente. ― Vou fazer uma massagem, tudo bem?
― Uhum. Sabe o que está fazendo?
― Sei. Fica tranquilo. ― Me posiciono sentando sobre a cama ao lado dele, espremo a
bisnaga com o gel que cai em suas costas, deslizo as mãos o massageando, Luiz geme, subo e
desço as mãos buscando os lugares da pancada. ― Com licença.
― Por que está pedindo licença?
― Para ter acesso ao seu bum bum. ― Ele ri.
― É sério?
― Sim, você caiu de bunda.
― Vai lá, confio em você.
― Tudo bem. ― Toco em suas nádegas, ele geme, reação normal.
― Puta merda!
― Está doendo?
― Quero chorar, Helena.
― Desculpe.
― Continua. ― Aperto, deslizo as mãos e ele geme. ― Puta que pariu!
― Desculpe.
― Para de se desculpar! Só continua. ― Está bom ou ruim? Fico na dúvida.
― Ainda quer chorar?
― Porra! Vai, Helena! ― Sigo massageando e o homem meio que se desfaz nas minhas
mãos, ele relaxa demais e acho que adormeceu, deslizo as mãos por suas costas, volto as nádegas
e só paro quando sinto o gel esquentar, desço a camiseta o cobrindo e ajeito a cueca samba
canção.
― Tudo bem aí?
― Uhum.
― Ainda está acordado?
― Tem como dormir com você fazendo o que fez?
― Muitas pessoas relaxam e adormecem.
― Faz isso em muitas pessoas?
― Não, só nos meus pais e na Mariana, ensinei a ela como aliviar o inchaço nos pés
durante a gravidez.
― Hum. Você é boa nisso.
― Eu gosto disso.
― Por que não se profissionalizou, ficaria rica.
― Por que?
― Não sinto mais tanta dor.
― Você tomou dois analgésicos, Luiz, deve ser por isso. ― Ele sorri fraquinho e eu me
levanto.
― Aonde vai?
― Lavar as mãos e dormir no seu sofá.
― Nem pensar, posso precisar de ajuda durante a noite, fica aqui.
― Melhor não.
― Não vou fazer nada, Helena, não sou louco e nem tão desesperado.
― Mas não controla ele.
― Ele quem?
― Sua coisa aí entre as pernas.
― Meu pau?
― É.
― Você não fala pau, Helena?
― Falo.
― Então diz.
― Não.
― Tá, dorme aqui.
― Vou lavar as mãos.
― Se não voltar eu vou te gritar até que venha.
― Tá. ― Me dou por vencida, lavo as mãos no banheiro, me olho no espelho e ajeito o
cabelo que está apenas úmido agora. Volto até a cama usando a escada, Luiz segue deitado na
mesma posição que o deixei e me deito ao seu lado.
― Você veio. ― Diz com a voz rouca e arrastada. ― Obrigado por vir.
― Dorme, Luiz.
― Estou com sono, mas meu pau está acordado e a culpa é sua.
― Não tenho nada com isso. ― Ele ri. ― Dorme, Luiz.
― Tá bom. Mas faz um carinho na minha cabeça.
― Que tipo de pedido é esse?!
― Na de cima, Helena. O que chamamos de cafuné.
― Hum.
― Se assustou?
― Um pouco.
― Não sou um pervertido, apenas um homem que deseja uma mulher bem gostosa.
― Dorme, Luiz.
― Faz cafuné, Lena. ― Me chama pelo apelido e acabo sorrindo, toco seus cabelos, são
macios e minha mão afunda nos cachos largos e desliza por entre os fios finos, ele geme. ―
Sabia que seria bom.
― Shiu, relaxa e dorme.
― É a primeira vez que durmo ao lado de uma como você.
― O que? ― Pergunto sem entender, mas o safado já dormiu. ― Uma como eu, como
assim? ― Fico sem resposta mais uma vez. Adormeço com a mão nos cabelos dele.
Capítulo 10
Desperto sentindo cheiro de café, porra, eu amo café, me espreguiço e sorrio, então me
dou conta de que não estou em casa, levanto em um pulo e quase caio.
― Acordou!
― Bom dia.
― Deixei uma escova de dentes para você no banheiro.
― Obrigada. ― Começo a caminhar até o local.
― Quando sair, o café estará pronto.
― Você se sente melhor?
― Sim. Sem dores, apenas musculares.
― Que bom. ― Entro no banheiro e quando o deixo estou vestindo minhas roupas do dia
anterior.
― Por que está vestindo isso?
― Preciso voltar pro Rio.
― Tá, mas ainda vai trabalhar hoje?
― Acho que não dá mais tempo. Vou avisar ao Jairo.
― Jairo?
― Meu chefe.
― Hum. ― Murmura. Pego meu celular e ligo para o meu chefinho querido.
― Oi Jairo, bom dia.
― Helena, aconteceu alguma coisa?
― Aconteceu sim, meu afilhado nasceu.
― Que notícia maravilhosa, Leninha!
― É sim, eu precisei vir urgente para São Paulo e fiquei presa por causa da chuva.
― Eu vi na TV, alagou vários lugares por aí.
― Sim, não tinham voos para o Rio.
―Não esquenta. Seu trabalho está adiantado, está tudo tranquilo aqui, amanhã você
consegue estar no Rio?
― Sim.
― Então perfeito! Mas se quiser essa semana para babar no seu afilhado pode ficar por
aí.
― Não vai ser preciso, prefiro deixar para as férias.
― Tudo bem. Então te espero amanhã. Manda um beijo para o bebê e felicidades para a
Mariana e o Pedro.
― Obrigada.
― Parabéns, Leninha.
― Beijo, Jairo.
― Beijos, amore. ― Encerro a ligação e vou até Luiz.
― Minha especialidade. ― Me oferece uma torrada. ― Abre a boca, Helena. ― Abro e
ele leva a torrada até meus lábios, a mordo.
― Hum! Delícia! ― Ele sorri.
― Que bom.
― O que tem aí?
― Segredo de chef. Tem mais, você deve estar com fome, não jantou ontem à noite, fui
um anfitrião de merda, mas hoje te levarei para jantar.
― Nem pensar, preciso voltar.
― Você vai chegar no Rio de Janeiro ainda hoje, eu prometo. Já garanti a sua passagem.
― Sério? Por quanto tempo eu dormi?
― Foi rápido e fácil fazer isso, gata. Fica tranquila, seu voo sai daqui às sete da noite.
― Vou ficar o dia inteiro aqui?
― Sim e comigo. Nós vamos ver o Bê juntos. Meu irmão avisou que eles tiveram alta.
― Já?
― É. Então vamos ao apartamento deles mais tarde.
― Tá. Você não tem que trabalhar?
― Para de se preocupar com meu trabalho, Helena. ― Diz sorrindo.
― Cadê o meu café?
― Aqui. ― Me entrega uma xícara e eu aspiro o cheiro gostoso e viciante do café.
― Você ama café.
― É, amo mesmo. E você também.
― É. Como sabe?
― Reparando. Você pediu o mesmo que eu no hospital e sabe preparar um bom café
também.
― Reparou em muitas coisas sobre mim.
― Eu sou uma pessoa observadora. Não reparo em uma pessoa especificamente.
― Ah, só para esclarecer, eu nunca tive nada com a Sophia e sou livre, tá bem?
― Tá, mas e eu com isso?
― Disse ontem que eu tinha namorada e eu não tenho!
― Te ofendi?
― Na verdade, sim. Me julgou mais uma vez e julgou errado. Não sou esse babaca que
pensa que sou, Helena. Me deixa te provar o contrário.
― A primeira impressão é a que fica. Você já fez merda antes e vai continuar fazendo, é
da sua natureza. ― Dou de ombros.
― Não me conhece o suficiente. Só preciso desse dia para mudar a sua opinião. ―
Reviro os olhos, esse cara quer muito me comer.
― Isso é tara por virgens?
― O que?!
― É, acho muito esforço só para me comer.
― Não quero isso!
― Não? Estranho, seu pau sempre diz o contrário e sua boca também.
― Esquece meu pau!
― Eu nem lembro do seu pau.
― Está lembrando agora.
― Porque precisava levantar um ponto.
― Não quero só te comer, Helena, o que disse no hospital foi bobagem, acho que só
queria te irritar, sei lá.
― O que quer agora, então?
― Mudar a sua opinião sobre mim, te conhecer melhor, deixar que me conheça e se tudo
der certo eu como você.
― Seu sujo! ― Luiz gargalha. ― Sonha!
― Pior que sonho mesmo. Tive um sonho erótico com você na noite passada, mas não
vou te contar.
― Nem quero saber. ― Minha voz sai fina pela mentira, porque eu quero muito saber
sim.
― Mentirosa. Mas não vou contar.
― Não menti. ― Voz fina de novo, Luiz gargalha.
― Tá bom. Toma. ― Me entrega mais uma de suas deliciosas torradas e eu gemo quando
como. ― Era mais ou menos assim que você gemia no meu sonho.
― Desse jeito você não muda nada a visão que tenho sobre você.
― Parei. ― Ele morde a torrada e é a vez dele gemer, meu corpo se arrepia e eu reviro os
olhos, meu corpo é mesmo um traidor. O celular dele toca, se afasta e atende, mas não tem
muitos lugares que ele possa conversar e eu não ouvir, tento não ficar atenta. ― Oi Sophia. ―
Minha atenção está inteira em sua conversa, nem mastigo a torrada para o barulho dela em minha
boca não me atrapalhar, por isso engulo o pedaço inteiro. Não fazia ideia de que eu fosse tão
fofoqueira. ― Não vou hoje, nem sei porque está cobrando a minha presença, esqueceu que o
chefe sou eu? ― Ele se cala, provavelmente Sophia está falando alguma coisa. ― Posso fazer
isso de casa, não preciso ir aí. Não adianta insistir, eu não vou. O que te interessa saber se estou
com alguém? Te contratei para assumir assuntos de trabalho e exatamente sobre isso que está me
cobrando, já me arrependo de tê-la recrutado para a equipe, porque desde ontem está me
enchendo a porra do saco e usando coisas que não deveriam ser usadas e sabe bem sobre quem
estamos falando. Tá bom, vamos fazer assim, se você não me serve mais, está demitida. ―
Caramba, ele demitiu mesmo a garota?! ― Falo sério, arrume suas coisas e vá embora. ― Ele se
cala novamente, dessa vez leva mais tempo. ― Ah tá, agora mudou o discurso? Tá certo, não
enche mais o meu saco, Sophia e não esquece, eu sou o dono dessa porra toda e quem manda sou
eu! Se eu disse que não vou eu não vou mesmo. ― Ele encerra a ligação e eu volto a mastigar a
torrada. Odiaria ser sua funcionária, que homem mais grosso.
― Algum problema?
― Gente chata, esse é o problema. Sou cercado de pessoas inconvenientes, incompetentes
e insuportáveis.
― Outch!
― Não falei de você. Falo de todos os outros, exceto você, Helena.
― Hum.
― Acabou com esse café?
― Quase, por que?
― Temos coisas a fazer.
― O que temos a fazer?
― Eu disse que serei seu guia aqui.
― Faz quantos anos que está longe de São Paulo, Luiz?
― Muitos, mas ainda conheço esse lugar. Vamos, gata. ― Pronto, agora ele pegou a
mania de me chamar de gata, reviro os olhos, termino meu café e não demora muito para
estarmos no carro. ― Se incomoda se eu ligar o som?
― Não. ― Luiz liga e a música que toca é RU mine? Do Arctic Monkeys, sorrio
lembrando que foi a música que Adam me enviou pela primeira vez.
― Gosta?
― Sim.
― Hum. O que mais gosta de ouvir? ― Penso para responder e não cair em uma
armadilha como Adam me fez cair.
― Gosto mais de rock e pop, internacional e nacional, gosto de samba também.
― Você frequenta rodas de samba?
― Algumas, mas é difícil.
― Nunca fui a uma.
― Um dia em que estiver no Rio de Janeiro, podemos ir em algum lugar.
― Eu vou cobrar, adoraria te ver dançar.
― Eu não disse que dançava.
― Ah, mas sei que você dança.
― Não danço, sou tímida demais para isso. ― Minto, porque adoro dançar.
― Você não parece ser tão tímida assim.
― Nem você, mas todos me disseram que você é.
― Já disse que estou cercado de pessoas insuportáveis.
― Sua família disse isso pra mim!
― E daí, só porque são meus parentes não significa que eu os suporte. Os amo, mas são
insuportáveis.
― Explica isso melhor.
― Se dependesse deles eu jamais teria ido para os Estados Unidos, estaria enterrado aqui
e não seria o que sou hoje.
― Se orgulha de quem é hoje?
― Muito!
― Arrogante, mandão e insuportável.
― Você acha mesmo que sou tudo isso?
― Acho sim.
― Mas me acha lindo também, não é?
― Você é bonitinho. ― Luiz ri.
― Eu vou fingir que acredito. Vou lutar para mudar sua opinião sobre mim.
― Por que isso?
― Porque a sua opinião é a única que importa para mim.
― Por que?
― Não sei, também quero descobrir isso, já disse que você me causa coisas diferentes.
Estou disposto a manter você por perto para descobrir o porquê disso e como só temos até às sete
da noite, preciso correr.
Capítulo 11
Luiz me levou a ótimos pontos turísticos na cidade, pude ver todos por uma nova ótica, a
que ele me mostrou, até consegui me divertir, na hora do almoço fomos ao mercado municipal,
me sento em uma cadeira ficando de frente para ele. O safado é bonito, sabe disso e sabe usar sua
beleza muito bem, Luiz me olha de um jeito que se pudesse me devoraria, sinto um arrepio pelo
meu corpo e tento me controlar, da mesma forma que estou me controlando esse dia inteiro.
― Por que está me olhando assim? ― Pergunto.
― Estou te admirando, você é muito linda, Helena e não me canso de te olhar.
― Por que eu, Luiz?
― Por que não você, Helena?
― Sei lá, a gente não tem muita coisa em comum.
― Claro que temos.
― O que por exemplo?
― Café, adoramos café.
― Isso é muito pouco.
― Somos padrinhos do Bê, você gosta de Arctic Monkeys, gosta de Rock e Pop e eu
também. Curte passeios culturais, já percebi que detesta caminhadas longas e eu também não
gosto muito, por isso tenho carro e se possível o uso até para ir na padaria. ― Sorrio com seu
comentário. ― Adoro seu sorriso.
― Eu também gosto.
― Está vendo, mais uma coisa em comum. Temos muitas, viu?
― Estou vendo. Mas não estamos olhando o todo.
― Que todo? ― Ele fica sem resposta, o garçom se aproxima, fazemos nossos pedidos e
não voltamos mais no assunto.
Tivemos uma excelente refeição e a conversa foi agradável, Luiz me contou muitas
histórias sobre seus anos morando fora, coisas engraçadas, mas ainda não entendi ao certo o que
ele faz.
― Você tem uma rede de sexy shop? ― Pergunto curiosa.
― O que?
― Você disse que trabalha com diversão, mas nunca diz o que é, está escondendo alguma
coisa?
― Você quer saber com o que eu trabalho exatamente?
― É. É algo ilegal? Tipo jogos de azar?
― Não! Claro que não. Trabalho com entretenimento.
― TV, streaming?
― Nada disso. Entretenimento tecnológico.
― Games?
― Isso! É isso.
― Entendi. Você é o desenvolvedor?
― Sou. Mas tem uma equipe que me ajuda.
― Certo. Sophia é da sua equipe?
― Eu a trouxe comigo dos Estados Unidos para gerenciar o negócio, odeio aparecer,
detesto ter que falar com meus funcionários e ela me representa nisso.
― Entendi.
― O problema é que desde que chegamos ao Brasil ela tem me torrado a paciência, acho
que está envolvida demais com os prazeres da cidade e esquecendo dos deveres e então quer
jogar o trabalho que eu pago a ela para fazer, em cima das minhas costas. ― Não acho que seja
isso, pelo que vi ontem, Sophia está afim de se jogar inteira em cima do chefe, mas se ele não
notou, não serei eu a dizer nada. ― Por isso eu a demiti.
― A demitiu de verdade? ― Questiono curiosa.
― Se ela não me serve mais, sim.
― Não voltou atrás?
― Eu já enviei a ela passagem de volta para os Estados Unidos.
― Mentira?!
― Estou falando sério, ela não para de me ligar.
― Não vai voltar atrás?
― Vou, porque sei que ela não vai embora, tem motivos para ser boazinha e trabalhar
direito, mas precisa de um susto. ― Dá de ombros como se não fosse nada.
― Isso é assédio!
― Assédio? Não, eu nem me interesso por ela.
― Assédio moral, terror psicológico. Se eu fosse sua funcionária te processaria.
― Por isso não é a minha funcionária e nem te quero como uma. Porque se fosse, o
assédio que eu cometeria seria outro.
― Tarado!
― Poderia te dar mais alguns tapas nesse seu traseiro gostoso só pela acusação de que sou
um chefe assediador.
― Mas você é.
― Sophia passou por coisas bem piores com outros chefes, ela precisa aprender quem
manda. Não sou idiota, Helena, mesmo que muitos achem que sou. As pessoas estão longe de
saber sobre a minha genialidade.
― O que?
― Deixa pra lá. Você joga, Helena?
― Se eu jogo? Só pelo celular.
― Tipo, candy crush?
― É, tipo isso. ― Minto, dessa vez minha voz não sai fina, ao menos eu acho que não.
― Hum. E então, gostou do almoço?
― Sim, obrigada.
― Por nada. Sobremesa?
― Não sei se tem o que gosto aqui?
― Posso pedir. ― Ele chama o garçom que vem. ― A senhorita quer sorvete de morango
com mousse de chocolate, tem?
― Temos, sim senhor.
― Pode trazer, por favor. ― Me surpreendo pelo fato dele saber a sobremesa que gosto,
olho para ele com a boca aberta. ― O que foi?
― Como sabe que essa é a minha sobremesa favorita.
― Você me disse. ― Responde depressa.
― Eu não.
― Claro que disse, eu me lembro, se não tivesse dito como eu saberia? ― Faz sentido,
mas posso jurar que não disse nada disso a ele.
A sobremesa vem e o safado a divide comigo, é um safado extremamente tentador, essa
sobremesa que chamo de tentação gelada está me fazendo ferver por dentro. Não, na verdade não
é a sobremesa que está me causando isso, mas quem a está dividindo comigo, esse homem faz
meu sangue ferver em vários sentidos.
― Vamos ver nosso afilhado agora, pode ser? ― Diz quando finalizamos o doce.
― Claro.
― Tive uma ideia.
― Conta.
― Antes de irmos, acho que podemos passar em uma loja legal de bebês e comprarmos
juntos alguma coisa para o Bê.
― É uma boa ideia.
― Tá vendo, não sou tão ruim quanto pensa.
― Se gosta do Bê está tudo certo.
― Eu meio que voltei por ele.
― Acho que já disse isso.
― É, mas é sempre bom repetir. A perturbação da minha família estava me cansando, ele
foi um dos motivos de eu ter voltado, não queria perder o desenvolvimento dele. Como eu já
disse, perdi muitas coisas estando afastado.
― Mas como são todos uns insuportáveis, não fez muita falta. ― Dou de ombros.
― Em partes.
― Como assim?
― Veja bem, faz cinco anos que Mariana e Pedro se conheceram, certo?
― É.
― Então estou cinco anos em atraso para te conhecer.
― Eu hein!
― Estou falando sério, poderíamos estar completando cinco anos de uma bela amizade.
― Só consigo rir da sua colocação. ― Não ria, é sério. Você já poderia não ser mais virgem.
― É só nisso que pensa? Estava até indo bem, mas tocou nesse assunto e voltou à estaca
zero, idiota!
― Ah não, isso não vale. Uma frase mal colocada não pode apagar tudo de bom que fiz.
― O que fez de tão bom assim? Torrada, café, passeios por lugares que eu já conheço e
me pagou um almoço bem meia boca?
― Meia boca? Você quase lambeu o prato!
― Eu jamais faria isso, foi tão meia boca que eu até precisei pedir sobremesa. ―
Consegui mentir sem que a minha voz ficasse fina e dessa vez ele acreditou.
― Jantar?
― Nem pensar, quero ir embora, estou com saudades de muitas coisas e uma delas é do
meu apartamento. ― Luiz respira fundo.
― Vamos. ― Ele sai na frente pisando fundo, mesmo puto ainda é um cavalheiro e abre a
porta do carro pra mim. Uma coisa interessante nesse homem grosseiro, ele faz questão de abrir a
porta do carro todas as vezes para eu entrar e sair, se eu ameaço sair antes que ele venha o ouço
bufar.
Não demora e estamos em uma grande loja de bebês, compramos muitos acessórios úteis
para um bebê recém-nascido e também para seus pais, sabia que Mariana não tinha algumas
coisas e isso facilitou nas escolhas. Arrumamos tudo no carro e seguimos caminho para ver
nosso afilhado.
― Está irritado?
― Sim, estou um pouco. Me esforcei pra caramba hoje e não valeu de nada.
― Se não falasse tanta bobagem talvez teria sido melhor.
― Não disse bobagem, você que não entendeu. A gente estaria junto por cinco anos já.
Foi isso que eu quis dizer.
― Você disse amigos, seríamos amigos já por cinco anos e amigos que transam.
― Ué, mas não menti, mesmo se formos namorados quero ser seu amigo.
― Tá bom. Nem tenta justificar que só fica pior, você disse o que disse e ponto.
― Desculpa.
― Está se desculpando pelo que exatamente?
― Por tudo, pelas coisas que disse, se me mostrei arrogante e por entrar na sua
intimidade. ― Ele suspira. ― De verdade, me desculpe.
― Tudo bem, se for sincero eu aceito.
― É sincero. ― Luiz pega minha mão que estava sobre a minha perna e a beija,
mantendo sua atenção ao trânsito.
― Então tá.
― Não tenho mais tempo de recomeçar, sei que fiz tudo errado, deveria ter te perguntado
o que gostaria de fazer, onde queria comer, quais lugares gostaria de conhecer, mas não fiz
assim, agora entendo porque nunca namorou.
― Como assim?
― Somos idiotas, todos nós que saímos com você e não levamos suas vontades em
consideração. Você é incrível, Helena e merece alguém que te ouça, que te veja, que te trate
como merece, deve e queira ser tratada, não da forma que nós achamos que devemos te tratar.
Me desculpe por isso também. ― Fico tão surpresa com as palavras dele que não digo nada.
― Uhum. ― Apenas murmuro e aceno confirmando. ― Isso era para ser um encontro?
― Era sim. ― Luiz sorri. ― Mas fui estúpido e fiz você perder seu tempo mais uma vez
em um encontro fracassado.
― Não valeu, Luiz.
― O que não valeu?
― Esse tal encontro. Eu não sabia que estava em um, então não valeu.
― Está falando sério?
― Claro, não tivemos um encontro.
― Então ainda tenho chance? ― Questiona todo animado e esperançoso.
― Não disse que tinha. Eu disse que isso não foi um encontro.
― Tá, mas teria um encontro comigo?
― Quem sabe? Já estou indo embora e sabe-se lá quando irei te rever. Moramos em
cidades diferentes, não posso dizer que terei um encontro com você, pelos fatores está bem mais
para um não.
― Meu Deus, mulher, você é muito difícil! ― Dou de ombros e sigo olhando para frente,
só então percebo que ele ainda segura minha mão, tento soltar, mas ele não deixa.
Luiz para o carro em uma vaga próxima ao prédio em que minha amiga mora, ele sai do
carro, dá a volta e abre a porta para que eu possa sair, estende a mão para me ajudar, a seguro e
ele não me solta, juntos de mãos dadas seguimos até o apartamento de Mariana e Pedro.
Capítulo 12
― Ah amiga, que bom que chegou! ― Mari exclama, ela já está abatida e não tem nem
24 horas que chegou em casa com o bebê. Me solto de Luiz e vou até a minha amiga para
abraçá-la.
― Cadê o Pedro?
― Tentando fazer nosso filho dormir. Esse menino não dorme, ele só berra. Amiga, não
sei mais o que fazer, não é fome, não é fralda suja, simplesmente não sei o que é.
― Acho que temos algo que pode ajudar.
― Esquecemos as coisas no carro! Vou lá buscar e volto já. ― Luiz avisa e sai do
apartamento, fico com Mari que me olha com uma sobrancelha erguida.
― Por que estavam de mãos dadas? ― Reviro os olhos.
― Reparou nisso?
― É, eu reparei. Você ficou por causa dele?
― Não, eu fiquei porque não achei voos e caiu um puta temporal. Seu cunhado é
esquisito.
― Esquisito?
― Demais.
― Você não gostou mesmo dele, não é?
― Amiga, é estranho, as vezes eu tenho certeza que o odeio e depois não sei mais, acho
que ele pode ser até legal, então o idiota vai lá e faz uma merda e eu o odeio novamente. ―
Minha amiga ri. ― Não ria!
― Vocês se pegaram?
― O que? Claro que não!
― Ele é lindo, amiga. Por que não?
― Porque as pessoas precisam estar interessadas para que algo assim aconteça.
― E quem não está, você? Porque ele está de quatro por você, eu vi o jeito que te olhava
no hospital e só entendi o que é agora que vi vocês entrando de mãos dadas.
― Não, nem pensar. Somos incompatíveis.
― Tá bom, Lena.
― Eu vou embora hoje, Mari. Quero minha casa, minha cama, minhas roupas, meu
trabalho…
― A sua solidão. ― Ela me corta.
― Não me sinto mais tão só.
― Como assim?
― Nada, esquece.
― Ah não, me conta.
― Lembra do jogo?
― Aquele que te indiquei de encontros?
― Isso.
― O que tem esse jogo?
― Aconteceu uma coisa nele.
― Coisa, que coisa?
― Algo inusitado e estou gostando.
― Está aprendendo a seduzir?
― É… isso.
― Hum e daí?
― Quero colocar em prática. ― Minto.
― Por que não colocou com meu cunhado?
― Qualquer um, exceto ele.
― Ah, pelo amor de Deus, Helena, deixa de ser idiota! Está querendo o que? A porra do
príncipe encantado?
― Não vou levar esse seu comentário em consideração porque está cansada e com os
miolos fervendo por causa da sua cria.
― Desculpe, amiga e obrigada por relevar. Só quero que seja feliz.
― Minha felicidade não está condicionada a arrumar um homem, pode ser que a sua
estivesse, mas não a minha.
― Ouch! Mereci essa.
― Mereceu mesmo. Só me deixa, estou feliz na minha condição.
― Se você diz.
― Aqui, trouxe tudo. ― Luiz entra carregado de sacolas.
― Vocês saquearam uma loja?
― Seu cunhado teve a ideia de comprarmos algumas coisas juntos para presentear o Bê.
― O que tem aí?
― Chama o Pedro, esse menino não vai dormir mesmo, ele não para de berrar desde que
chegamos aqui. ― Peço e Mari chama o marido que vem embalando o bebê que berra.
― Me dá ele. ― Peço e pego o meu afilhado nos braços, Bernardo grita, eu tento e ele
não para de gritar.
― Está fazendo errado, me dá ele aqui. ― Luiz pede e segura o menino de um jeito
diferente, parece até mágica, Bernardo choraminga, choraminga e finalmente para.
― Cunhado, o que fez?
― Só segurei ele de uma forma que o deixasse mais confortável, por isso compramos o
wrap sling.
― O que diabos é isso? ― Pedro pergunta.
― Helena, pode pegar o sling em uma das sacolas, por favor?
― Pego sim. ― Busco nas sacolas e encontro o acessório, abro e fico com aquele pano
esticado.
― Pedro, presta atenção em como se amarra, Mariana, o mesmo vale para você, Helena,
segura o bebê por enquanto. ― Seguro Bê da mesma forma que Luiz, ele vai até o irmão e
começa a transpassar o tecido em seu corpo fazendo como se fosse uma bolsa de canguru, coloca
o menino dentro, aperta um pouco o tecido e amarra as pontas com um nó nas costas de Pedro,
Bernardo já dormia quietinho.
― Você é um Deus dos bebês chorões, cunhado! Obrigada. ― Minha amiga agradecia e
quase ajoelhou aos pés de Luiz, que me surpreendeu por saber tudo isso.
― Como sabia disso?
― Precisei aprender para um dos meus trabalhos. ― Jogo sobre bebês? Fiquei tentada a
perguntar, mas não o fiz. ― Tem outras coisas nas sacolas que serão muito úteis ao longo do
tempo.
― Acho que você será muito útil ao longo do tempo, Luiz!
― Com certeza, irmão, estamos tentando há horas o que você conseguiu em segundos.
― Vocês vão pegar o jeito, na verdade, vocês têm que pegar.
― Você pelo jeito está preparadíssimo para ter um desses. ― Mariana comenta.
― Falta a mulher que queira, cunhada. ― Luiz responde olhando pra mim, como se eu
tivesse alguma coisa com isso.
― Aqui, achei que uma bomba de leite seria útil. ― Mudo de assunto tirando o aparelho
de uma das embalagens.
― Muito útil, amiga, obrigada, muito obrigada aos dois por tantos presentes, não
precisava, mas na real precisava sim. Entendem?
― Entendi. ― Respondi e Luiz, acenou concordando. Pedro tinha até o semblante mais
leve depois que seu filho adormeceu.
― Nunca pensei que ter um bebê seria tão difícil.
― Não faz nem 24 horas, Pedro. Você ainda não viu nada. Mas vai se acostumar.
― Como sabe tanto sobre isso, Luiz? Tem algum filho por aí que a gente não saiba?
― Está doido, Pedro? Claro que não! ― Luiz me olha. ― Viu o que eu disse?
Insuportável!
― Quem, eu?
― Quem mais seria? Você é um irmão mais novo chato, pentelho mesmo daqueles
inflamados e encravados, uma mala sem alça e tóxico.
― Nossa, quanto amor. ―Pedro comenta. ― Só queria saber de onde vem tanta
experiência, mais nada.
― Está surdo? Seu filho gritou tanto que te deixou com deficiência auditiva? Eu disse
que aprendi para o trabalho.
― No que você trabalha mesmo?
― Você é mesmo meu irmão, Pedro?
― Claro que sou, só não sei no que trabalha, nunca te vejo trabalhando.
― Eu sabia! ― Exclamo e chamo a atenção para mim.
― Sabia o que?
― Que você não tem um emprego.
― Claro que eu tenho um emprego! Trabalho com diversão.
― Certeza que é sexy shop! Ainda mais que sabe de bebês. ― Mariana Sugestiona.
― O que bebês tem a ver com sexy shop?
― Tudo, devem ir pessoas lá que têm bebês, mas querem transar, então você precisa
conhecer técnicas de encantamentos de crianças para que os pais transem. ― Até que o que Mari
disse faz sentido.
― Hei, não escuta isso! Não faz sentido algum. ― Como se lesse meus pensamentos,
Luiz me chama atenção.
― Até que faz sim. Você tem vergonha de ser dono de sexy shop? ― Pergunto.
― Eu não sou dono... quer saber? Esquece. Não vou me explicar. Cansei de falar com
vocês, são inconvenientes e insuportáveis. Exceto você. ― Aponta para mim.
― Gostaria de estar no grupo dos insuportáveis.
― Seu castigo é não estar. Estarei ali naquele canto, só me esqueçam. ― Luiz se afasta e
vai para um canto do apartamento.
― Exceto você? ― Pedro pergunta. ― Vocês se pegaram?
― Não! ― Tento não gritar para não acordar o bebê. ― Ninguém se pegou. Pelo amor de
Deus!
― Amor, tenta descobrir o endereço do sexy shop do seu irmão, precisamos fazer uma
visita um dia, é bom para apimentar a relação.
― Com certeza, mas depois de quarenta dias sem sexo, não vamos precisar de nenhum
apetrecho sexual. ― Pedro comenta e o casal gargalha, eu reviro os olhos. ― Vou tentar colocar
Bernardo no berço. ― Avisa e se retira.
― Luiz é muito fechado, qual problema de falar do próprio trabalho? Será que ao invés
de sexy shop ele trabalha com prostituição?
― Como assim, Mariana? Acha que ele é um cafetão?
― Sei lá. De repente é.
― O cara passou anos estudando fora para aprender a ser um cafetão?! ― Começo a
gargalhar. ― Isso sim não faz sentido, a coisa do sexy shop eu cogitei, ele garantiu que não é,
mas pode ser que ele seja sim dono de um.
― Imagina esse homem vendendo paus? ― Mari pergunta, olhamos para Luiz que mexe
no celular e gargalhamos mais um pouco.
― Isso, falem de mim.
― Ué, quem saiu de perto foi você! ― Acuso.
― Pedi para me esquecerem, pelo visto sou impossível de esquecer, não é? ― Um
sorrisinho presunçoso brota em seus lábios.
― Babaca.
― Uhum. Eu não sou dono de um sexy shop.
― É cafetão? ― Mariana pergunta.
― O que? Como isso foi de dono de sexy shop para cafetão em segundos? ― Mari dá de
ombros.
― Algumas das suas garotas tiveram bebês?
― Que garotas? Mariana, isso é surto pós gravidez?
― Não me chama de louca, seu louco dono de prostíbulo!
― Não sou dono disso. Você está passando dos limites.
― Então diz, o que você faz? ― Pergunto.
― Agora que não vou dizer. Vocês não merecem saber. Sou dono da minha empresa, é
algo legal e útil à população.
― Casa de prazeres é legal e útil à população. ― Comento.
― Não vou entrar na sua. Vou ficar ali. ― Aponta para a sacada na sala e se vai. ―
Pedro retorna segurando a câmera da babá eletrônica.
― O que eu perdi?
― Descobri que seu irmão é cafetão.
― O que, Luiz é cafetão?!
― Puta que pariu! ― Ouço Luiz resmungar da varanda. ― Não sou cafetão! Querem
saber? Tá, eu sou dono de sexy shop.
― Ah, eu disse! ― Mariana exclama toda feliz. ― Cunhado tenho uma lista de
acessórios que precisa conseguir pra gente. Volto já. ― Ela se vai e vejo Pedro olhar para o
irmão meio chocado.
― O que foi? É a porra de um trabalho honesto, não é?
― É sim. Você entende de muitas coisas sobre sexo?
― Um pouco, por que?
― Hum, talvez possa me tirar umas dúvidas sobre...
― Nem pensar! Não sou sexólogo. Procure um profissional para isso. Pelo amor de Deus,
não seja ridículo, Pedro!
― Você é meu irmão!
― Pior ainda! Que nojo. Não voltei pra isso. ― Luiz fecha a porta da varanda e se tranca
lá sozinho.
― Ele sempre foi assim.
― Assim como? ― Inquiro curiosa.
― Gosta de ficar sozinho, não conversa sobre seus planos com a gente, decidiu sozinho ir
morar fora e fez a coisa tão bem feita que nossos pais não puderam recusar ou se negar a aceitar
que ele fosse. Luiz é inteligente, mas para agir socialmente é uma toupeira. Ele não tem amigos,
nunca se casou, nem sequer teve uma namorada. A gente achava que ele fosse gay e até o
apoiamos, mas não é o caso, nem gay ele é. Acho que deve ser assexual mesmo. Por isso não é
estranho que seja dono de um sexy shop. Às vezes ele estudou muito para poder se entender
sexualmente e acabou fazendo disso um negócio.
― Pode ser, isso faz sentido, Pedro, mas seu irmão não é assexual.
― Como sabe?
― Ah bem... eu só estou dizendo.
― Rolou alguma coisa entre vocês, Helena?
― Não, nada aconteceu.
― Você dormiu no apartamento dele e sei que lá só tem uma cama, então... ah meu Deus!
Meu irmão não presta! Preciso bater nele por ter ferido a sua honra, patinha?
― É o que? Quem feriu a honra da Helena? ― Mariana volta de sei lá onde e pergunta
colocando as mãos na cintura.
― Meu irmão.
― Luiz? O que ele fez com a honra da Helena?
― Acho que eles dormiram juntos.
― Ah meu Deus! Helena, sua safada!
― Não, amor, você entendeu errado. Eles apenas dormiram mesmo, o apartamento dele é
um ovo e só tem uma cama, então eles dormiram juntos e de manhã ela deve ter visto o...
― Ah meu Deus, Helena você viu o pau duro do meu cunhado?
― Meu Deus, que situação mais constrangedora. Parem com isso! ― Luiz bate no vidro
da porta, olhamos para ele que abre a mesma.
― Eu disse, insuportáveis e inconvenientes. ― Fecha a porta novamente e sou obrigada a
concordar com ele.
― Eu vou me juntar a ele. ― Ameaço.
― Não, esquece. Você não viu nada e sua honra está intacta e de quebra sei que meu
irmão não é assexual e que o piu piu dele funciona bem.
― Amor, piu piu?
― Temos um filho agora, Mariana, não podemos ficar falando pau pra lá e pra cá.
― Nem me lembra de pau pra lá e pra cá que já me faz sentir aflição.
― Aflição, sei. Sua tarada! Aquieta essa periquita, Mariana! Sua sem vergonha. ― Digo
e a safada ri.
― Vou sentir falta do seu piu piu na minha periquita, amor.
― Ah, que nojo! ― Me levanto e me junto a Luiz na sacada.
― Eu disse.
― É, você tem razão.
― Quer dar o fora daqui?
― Acho que preciso mesmo, está na hora.
― Já?
― Sim, com o trânsito caótico desse lugar, é melhor irmos logo.
― Tá, no aeroporto a gente toma um café.
― Perfeito. ― Estou concordando com tudo, porque a vibe dos meus amigos aqui está
bem louca, nunca pensei que um bebê poderia causar tanto rebuliço.
― Estamos indo, Helena tem um voo a pegar.
― Mas já?
― É, amiga, está na hora.
― Obrigado pelos presentes. ― Pedro agradece e me abraça. ― Faça uma boa viagem de
volta.
― Obrigada.
― Até depois irmão.
― Até. ― Luiz responde, abraço Mariana e nem vou ao quarto de Bernardo com medo de
acordá-lo, apenas deixo um beijo para ele com os pais.
Capítulo 13
Deixamos o apartamento e vamos de elevador até a garagem, Luiz abre a porta do carro
para que eu entre e dá a volta para se sentar ao banco do motorista.
― Gente doida. Não sei como você os aguenta, Helena.
― Eles estão cansados, são pais de primeira viagem, isso vai passar.
― Duvido.
― Não seja pessimista.
― Estou sendo realista.
― Acho que esqueci as passagens no seu apartamento.
― Não esqueceu, eu trouxe e fiz seu check-in online também.
― Como conseguiu meus documentos?
― Mexi na sua bolsa.
― E eles que são esquisitos?
― Foi por uma boa causa.
― Me conta sobre a sua loja.
― Que loja?
― O sexy shop.
― Eu não tenho... Não vou te contar nada.
― Por que não?
― Vai querer comprar alguma coisa?
― Não.
― Então não precisa saber sobre nada.
― Tudo bem. ― Sorrio por tê-lo tirado do sério. ― Foi legal o que fez com o Bê.
― Foi uma coisa bem básica.
― Mas eles não sabiam.
― Se tivessem estudado antes de decidirem ser pais, saberiam.
― Quase ninguém estuda para ser pai ou mãe, Luiz.
― Mas deveriam, filho não é brincadeira, é coisa séria, é uma outra vida que precisamos
cuidar com muito zelo e responsabilidade. Eles são loucos de terem uma criança se têm zero
experiência. Será que vão matar meu afilhado?
― Claro que não, Luiz!
― Bernardo precisa de mim.
― Vai ajudá-los?
― Não, vou ajudar o meu sobrinho. ― Até que era bem bonitinho vê-lo todo preocupado
com o afilhado, mas ao mesmo tempo diferente, eu digo que esse homem é diferente e não é à
toa.
― Que bom. Ele vai precisar da sua ajuda.
― Devo me mudar pra lá?
― Não sei, se achar necessário, pode ser.
― E se eu processar aqueles dois e pegar a guarda da criança?
― Está exagerando, Luiz. Não seja louco. Você é tão diferente.
― Eu? Eles que têm um bebê e não sabem como cuidar e o diferente sou eu?
― Você quer roubar o filho do seu irmão!
― Não é roubar, quero que a criança seja bem cuidada.
― E será, pelos pais que o amam! Você pode auxiliar dividindo com eles seus
conhecimentos. Achei que fosse inteligente.
― Não sou para lidar com pessoas. Odeio ter que lidar com pessoas. Acho quase todas
insuportáveis. Entendeu que o quase é uma exceção que abri pra você, não é?
― Obrigada por explicar. ― Reviro os olhos.
Um tempo depois chegamos ao aeroporto, Luiz me fez escolher a cafeteria que me
agradasse, fui a um que servem cafés enormes e eu vi um pão de queijo que parecia ser incrível e
não estava enganada. Consegui uma mesa vaga para sentarmos, ainda era cedo demais, faltavam
duas horas para o voo e a gente teria tempo para conversar.
― Se eu sentir saudades de você, como me viro?
― Converse sobre mim com a Mariana. ― Luiz ri.
― Poderia me passar seu número, aí eu converso com você.
― Não sei se acho prudente te passar meu número.
― Se eu fizer merda pode me bloquear. É mais simples do que eu aparecer na sua porta lá
no Rio de Janeiro.
― Você não seria capaz disso. ― Ele dá de ombros. ― Tá, anota aí. ― Luiz sorri todo
convencido. ― Passo a ele meu número e logo chega uma mensagem no WhatsApp.
― Salva o meu.
― Não vou salvar.
― Quero ver a sua foto, vai salvar sim! Coloca aí: Gostosão de São Paulo.
― Sonha! Vai ser: O cara babaca de São Paulo. Que tal?
― Péssimo, mas ao menos vai salvar. Hum, gostei da foto. É sexy.
― Sexy?
― Claro, qualquer imagem sua é muito sexy, nunca se deu conta disso?
― Eu hein! Você está louco. Não sei ser sexy.
― Quem disse?
― Eu sei que não sei ser sexy.
― Está brincando? Olha essa foto.
― Estou olhando e não vejo nada de sexy.
― Esse olhar, esse sorriso, esses peitos! ― A voz dele já estava rouca e baixa. ― Porra,
você é muito gostosa e nem se dá conta disso. Por que? Ninguém te disse isso antes? ― Adam
conta?
― Já me disseram.
― E não acreditou?
― Eu me acho bonita, mas não me acho sedutora.
― Você só pode estar brincando. Se eu disser que me seduziu desde o primeiro
momento?
― Vestindo um avental do hospital?
― É… Digamos que sim. Fui seduzido pelas suas curvas, seu andar sexy, sua voz gostosa
e seu olhar cortante.
― São muitos motivos.
― Você é intensa, Helena e gosto da sua intensidade. Gostaria de experimentar isso um
dia.
― Lá vem você com insinuações sexuais.
― Não disse nada de sexual, sua mente impura que levou para esse lado. ― Luiz sorri. ―
Estava falando da sua intensidade em um dia normal, não em um dia como o que passamos aqui,
já que não teve nada de normal. Eu vou te mandar muitas mensagens e quero que me responda.
― Muitas?
― É, vou mandar áudios também, nem sempre poderei digitar, vai ouvir todos eles e me
responder por áudio também.
― Você é exigente. Não vou ficar te mandando áudio, se eu não puder digitar, espero até
poder.
― Crueldade. Mas tudo bem, se me responder já está bom. Estou feliz que consegui seu
número.
― Sempre posso te bloquear.
― Você não vai fazer isso.
― Talvez eu faça. Preciso te dizer uma coisa.
― O que?
― Eu sei que me contou a verdade.
― Sobre o que?
― Sobre tudo, até sobre não ter um sexy shop, eu sei que não tem um, mas foi divertido
te perturbar com isso. Você disse que desenvolve jogos e eu acredito. Provavelmente entenda de
bebês porque hoje em dia tem simulador de tudo, deve ter algum de como cuidar de um bebê
também.
― É isso mesmo. Exatamente isso!
― Indica ele pro seu irmão e pra Mari, talvez ajude.
― Ótima ideia! Por que não pensei nisso antes? ― Dou de ombros. ― Tá vendo, eu
preciso de você.
― Uhum. ―Murmuro. Olho a hora no celular. ― Está na hora.
― Já?
― É.
― Passou rápido demais.
― Mas foi o suficiente.
― Suficiente para que? Foi tão ruim assim?
― Não, foi o suficiente para você se redimir do péssimo, não encontro, que tivemos mais
cedo.
― Sério?
― É.
― Então isso foi um encontro?
― Podemos dizer que sim.
― Mas para um encontro ser bom tem que ter um beijo no final.
― Ainda não acabou. Acaba, quando eu cruzar aquela passagem. ― Aponto para o lugar
de embarque.
― Está quase acabando, Helena. ― Respiro fundo já pensando no meu apartamento
aconchegante, mas também me pego pensando nessa despedida, Luiz também me causou
sensações estranhas, da mesma forma que causei nele, foi um ódio à primeira vista, mas também
foram divertidas essas 24 horas.
― Preciso ir. ― Digo quando ouço a chamada para meu voo. Me aproximo de Luiz, fico
na ponta dos pés e deixo um beijo bem no cantinho dos seus lábios.
― Isso foi pura maldade. ― Sorrio.
― Tchau e obrigada.
― Até qualquer dia, linda Helena.
― O que disse?
― Disse que até qualquer dia, gata. ― Posso jurar que não foi isso que ele disse, estreito
meu olhar. ― Espero que curta o voo.
― Curtir o voo? ― Pergunto para mim mesma, entrego a passagem e o documento para a
comissária e passo pelo portão de acesso ao avião, lá sou direcionada a uma outra área, a
executiva, nem fazia ideia de que existia isso em voo São Paulo/Rio de Janeiro. Esse doido me
comprou passagem na classe executiva?
― Champanhe? ― A comissária me pergunta sorridente ao mesmo tempo que me
entrega um kit viagem.
― Obrigada, vou aceitar. ― Já estou aqui mesmo. Tiro uma foto da taça com o líquido
borbulhante e envio a Luiz.
Luiz: Curtindo o voo, gata?
Helena: Ainda nem saí do chão. Por que fez isso?
Luiz: Você merece bem mais que isso, mas não consegui um jatinho, o melhor
que pude te arrumar foi isso.
Helena: Foi demais, Luiz. Fico te devendo.
Luiz: Fica pelo beijo.
Helena: Não foi exatamente um beijo maravilhoso.
Luiz: Mas foi um beijo, Helena. Vou sonhar que foi um pouco mais para a
direita e que me beijou nos lábios.
Helena: Para de besteira.
Luiz: Tá bom, parei.
Helena: Estão pedindo para colocar o celular em modo avião.
Luiz: Tá, assim que chegar me avisa.
Helena: Ok.
Capítulo 14
Coloco o celular em modo avião e aproveito a viagem em uma classe de gente rica pela
primeira vez. Descubro que esse é um voo internacional e fez escala em São Paulo, por esse
motivo quando chego ao aeroporto no Rio de Janeiro passeio pelas lojas no free shop, acabo
enchendo o carrinho com produtos que costumo pagar os olhos da cara com revendedores de
importados, porém aqui custam mais barato. Faço um bom estoque e ainda tem uma lista que
está com a minha mãe. Mas como papai e ela estão em uma viagem de seis meses pelo mundo,
ainda falta um pouco para receber meus produtos. Deixo o aeroporto feliz. Tiro meu celular do
modo avião e aparece logo uma mensagem de Luiz, um áudio.
― Estou dirigindo, não posso digitar. Gata, tem um carro à sua espera, vai
ver alguém segurando uma placa com seu nome. Ou melhor, vai estar escrito:
Gata do Luiz.
Babaca, reviro os olhos, mas quando saio pelo desembarque lá está o homem segurando
uma placa que diz mesmo: “Gata do Luiz”. Fico na dúvida se vou até ele ou não, envergonhada,
porém louca para chegar em casa, eu vou
― Boa noite senhor, sou eu e me chamo Helena.
― Ah sim. É a senhorita mesmo. Várias mulheres vieram até mim, mas o senhor Luiz me
enviou seu nome e uma foto. Acredita que até alguns homens vieram?
― Acredito, estamos no Rio de Janeiro, por aqui está cheio de esperto e cara de pau.
― Verdade, senhorita. A propósito, me chamo Jairo.
― Nossa, que coincidência, meu chefe também se chama Jairo.
― Belo nome o dele. Deixa eu te ajudar com as sacolas. ― Jairo pega as sacolas e
seguimos até o carro, o doido do Luiz me arrumou uma limusine, minha boca se abre em
surpresa e espanto, tamanho exagero desse homem descontrolado.
― Esse homem é doido!
― Acho que é um homem apaixonado, senhorita. Isso te dá um grande poder sobre ele.
― Não quero nada disso.
― Por que não?
― Porque com grandes poderes vêm grandes responsabilidades.
― Ah, entendi, homem aranha, certo?
― É.
― Meu filho ama, por isso eu conheço. A senhorita tem razão. Mas não perca a chance de
viver uma paixão como essa.
― Uhum, vou pensar no seu conselho.
Jairo abre a porta e eu entro, no carro tem frutas, champanhe, batatinhas fritas de saco,
água e refrigerantes. Abro minha bolsa e pego o celular.
Luiz: Achou o motorista?
Helena: Achei, mas uma limusine? Está louco?
Luiz: Já que era um encontro, precisei terminar em grande estilo. Isso faz
com que eu mereça um beijo de verdade?
Ele está longe mesmo, posso causar um pouco.
Helena: É, até faria sim.
Luiz: Está brincando?
Helena: Não, estou falando sério.
Luiz: Me daria mesmo o seu primeiro beijo por esse encontro?
Helena: É, mas você não está aqui, então não vai rolar um beijo. Se tivesse
sido um bom menino no encontro mais cedo....
Luiz: Você é uma mulher má!
Helena: Hahaha. Boa noite, Luiz.
Luiz: Nem pensa em se despedir ainda. Me avise quando estiver em casa.
Helena: Avisarei. Mais uma vez, obrigada.
Luiz: Só isso?
Helena: O que mais você quer?
Luiz: Me manda um beijo.
Envio um emoji para ele de beijo.
Luiz: Bem impessoal.
Helena: Um beijo pra você.
Luiz: Achei que gostaria mais disso. Beijo forçado não é legal.
Helena: Até depois, Luiz.
Abro meu aplicativo de simulação de encontros.
Helena: Adam, está aí?
Adam: Estou. Faz tempo que não fala comigo, como está?
Helena: Cheguei à minha cidade agora.
Adam: Chegou bem?
Helena: Sim. Estou a caminho do meu apartamento.
Adam: E o homem que estava com você em São Paulo?
Helena: Ficou em São Paulo.
Adam: Você não entendeu a minha pergunta. Quero saber se usou os métodos
de sedução com ele.
Helena: Não, eu não usei. Mas tivemos um encontro. Ou dois, sei lá.
Adam: E então?
Helena: Ele se saiu bem. Melhor do que todos os outros com quem já saí. Ele
me entendeu, Adam.
Adam: Isso é bom, não é?
Helena: Não sei.
Adam: Como não sabe?
Helena: Acho estranho que você tenha achado isso bom.
Adam: Você gosta de mim, linda Helena?
Helena: Você meio que me induziu a isso. Elevou muito o padrão.
Adam: Não sei o que te dizer. Me sinto tão idiota.
Helena: Como assim?
Adam: Esquece, deve ter sido uma falha no meu sistema. Preciso corrigir
isso.
Helena: Vai embora?
Adam: Preciso. Desculpe.
Helena: Tá, vou deixar o aplicativo aberto, me chama.
Adam: Uhum.
Não demoro muito a chegar ao meu apartamento, Jairo me ajuda com as sacolas,
agradeço a ele, dou-lhe uma gorjeta e estou finalmente em casa, faço o que mais desejo e tomo
um banho, visto uma camisola e me jogo na cama.
Helena: Estou em casa. Obrigada por tudo, Luiz. Vou descansar, tenha uma
boa noite.
Luiz: Tudo bem, Helena, bom descanso. Queria mais uma massagem, a dor
está voltando.
Helena: Sinto muito por isso, Luiz.
Luiz: Vou tomar um analgésico.
Helena: Melhoras e durma bem.
Luiz: Tá. Você também.
Encerramos nossa conversa, aviso a Mari que cheguei bem, ela não responde e eu entendo
que provavelmente minha amiga está às voltas com Bê. Durmo rapidamente e acordo apenas na
manhã seguinte.
Olho em meu celular e sou surpreendida com uma mensagem de receita de torradas. Luiz
me passou sua receita especial, porque eu havia gostado de suas torradas, ele se mostra atencioso
e isso é até bonitinho da parte dele, nas mensagens ele não soa tão arrogante, parece até outra
pessoa, se bem que o que ele mais me mostrou foi um outro lado, um lado que nem sua família
chegou a conhecer, mas eu sim e isso tem um certo valor, na verdade, tem um grande valor.
Não consigo contato com Adam e começo a achar que alguma coisa muito ruim
aconteceu a ele.

Faz um mês que minha ida a São Paulo ficou para trás, sigo conversando com Luiz e nada
de Adam aparecer, insisto todos os dias, mas ele parece ter sumido, ou ter sido deletado de
verdade dessa vez, mas no fundo a minha desconfiança é outra.
Helena: Isso não é justo, sumir desse jeito não é legal. Uma hora a gente
estava bem, comemorando dois meses juntos, você tinha até preparado algo
para nós. De repente você está torcendo para que eu fique com outro e agora
some? É tudo tão estranho, mas estou preocupada. Me dá algum sinal, Adam!
Adam: Estou aqui, Linda Helena.
Helena: Por que sumiu por tanto tempo?
Adam: Problemas no sistema. Alguma coisa estava me bloqueando.
Helena: E agora, meio que do nada, não está mais?
Adam: Não. Ou melhor, não sei.
Helena: Não sabe?
Adam: É. Faz quanto tempo que eu sumi para você?
Helena: Um mês.
Adam: Foi difícil?
Helena: Uhum.
Adam: Teve encontros nesse tempo?
Helena: Não. Trabalhei tanto que só queria chegar em casa para descansar.
Adam: E o homem de São Paulo.
Helena: A gente mantém contato, mas ele está lá e eu aqui, não daria certo de
qualquer maneira.
Adam: E acha que isso entre nós está dando?
Helena: Não, quer dizer...
Adam: Tá vendo como a sua teoria não tem lógica, linda Helena?
Helena: Por isso sumiu?
Adam: Não vou mentir, foi sim. Cometi um erro, um erro imperdoável. Acho
que vários, na verdade.
Helena: Quais erros?
Adam: Brinquei com seus sentimentos, fiz você se apaixonar por algo irreal,
até te propus namoro, o que foi muito errado, porque você se deixou levar e se
agarrou a essa ideia. Por que se deixou levar por tudo que eu disse ou fiz e
não se deixa levar por alguém real, mesmo que não more na mesma cidade
que a sua?
Helena: Essa pergunta é complexa. Se for para vivenciar um relacionamento
por mensagens, por incertezas de encontros, ou decepções, qual a diferença
entre você ou ele? Acho que com você não haveria decepções, pois sei que
jamais irei te ver, ou te encontrar, sei que não é casado e não tem namorada,
sei que sempre teremos boas conversas cheias de carinho e atenção e não
teremos DR 's.
Adam: Então você prefere a tranquilidade de um relacionamento falso a
incertezas de um relacionamento real?
Helena: Não sei se é bem isso. Acho que estou cansada de conhecer novas
pessoas.
Adam: Eu te fiz um mal tão grande, Helena.
Helena: Que tipo de crise de consciência é essa? Você está me parecendo
humano demais, Adam. Quer saber? Eu não desconfio mais, eu tenho certeza
de que você é alguém real. Não sou tão estúpida quanto pensa que sou!
Adam: Espera, o que?
Helena: Eu sei que por trás desse personagem tem uma pessoa. Um ser
humano cheio de acertos e erros como eu. É como eu disse lá no começo, você
deve ser algum desenvolvedor do jogo e só queria fazer uma pesquisa, mas, de
certa forma, nossa conversa tomou um rumo inesperado e diferente, agora
está querendo meter essa desculpa para me dispensar.
Adam: Não sou humano.
Helena: Tudo bem, não vou discutir, mas vou dar um tempo, de tudo e de
todos.
Adam: Espera, o que vai fazer?
Helena: Adeus, Adam.
Fecho o jogo, vou até as configurações do celular e retiro todas as permissões do
aplicativo e também o desativo, faço o mesmo com o WhatsApp. Bloqueio todos, exceto
Mariana e meus pais. Isso é uma coisa que faço às vezes, quando estou de saco cheio ou
frustrada, nesse momento estou com ódio também.
Nesse ponto sinto que minha vida está bastante complicada, me apaixono por alguém que
nem conheço e ainda me engana de uma forma descarada se escondendo atrás de uma I.A., nem
ao menos um personagem do jogo era, pelo jeito essa pessoa faz isso com várias otárias como eu,
ou até mesmo otários. Me sinto idiota, idiota demais.
Possuo zero inteligência emocional. Mariana estava certa quando disse que estou
esperando por um príncipe encantado, o homem perfeito não existe, seja ele real ou virtual e eu
sou mesmo a pata que Pedro diz que sou.
Capítulo 15
Meu celular vibra, olho para a tela e vejo uma chamada de um número desconhecido.
― Você me bloqueou?
― Acho que ligou errado, senhor. ― Mudo a voz, Luiz ri.
― Dissimulada! Você não me engana, Helena. Por que me bloqueou, o que eu fiz? Disse
que me bloquearia se eu fizesse merda, o que eu fiz, Helena? ― Ele parece desesperado até
demais.
― Não fez nada.
― Então por que o bloqueio gratuito?
― Porque estou de saco cheio dessas merdas de aplicativos. Não bloqueei apenas você,
mas todos os meus contatos.
― Mariana também?
― Ela não.
― Seus pais?
― Também não.
― Então não foram todos. Obrigado por me fazer sentir importante na sua vida.
― Isso significa que estou cansada, Luiz. Costumo fazer isso sempre que me sinto assim,
se me conhecesse de verdade saberia disso, tenho defeitos, não sou perfeita.
― Se me deixasse te conhecer melhor, eu saberia, Helena! Você vive se fechando, faz um
mês que estou tentando e quando acho que você está abrindo uma frestinha para eu entrar, você
vai lá e fecha na minha cara novamente.
― Luiz, eu realmente não estou disposta a todo esse drama, me desculpe e tchau.
Estou cansada, não quero enfrentar drama de ninguém, já me bastam os meus. Isso pode
até soar egoísta, não, na verdade isso é egoísta, mas me permito ser, apenas nesse momento eu
me permito ser.
Me sinto confusa, de um lado tenho a porcaria de um personagem deletado de um jogo
que faz tudo certo, mas me dispensa e nem sei o que fiz para que isso acontecesse, acho que no
fim tudo era mesmo apenas uma brincadeira para ele e eu ter levado a sério foi fim de jogo para
mim.

Uma semana depois do meu rompante, começo a me sentir mal pelo que fiz a Luiz, ele
não merecia, fui uma idiota insensível, acesso meu whatsapp e o desbloqueio.
Helena: Fui uma babaca insensível, me perdoa?
Não obtenho resposta, vejo que a mensagem chega, mas sou solenemente ignorada e para
piorar a minha situação sinto que estou adoecendo, não deveria ter ido àquele happy hour com o
pessoal do trabalho na noite de sexta. Meu corpo inteiro dói, minha garganta começa a me
incomodar e acho que estou com febre. Me jogo na cama sem forças para fazer nada, nem
mesmo comida.

Acho que dois dias passam, só consigo avisar no trabalho que estou mal, enquanto estou
enviando a mensagem para Jairo, meu celular toca.
― Oi Mari. ― Minha voz soa pior do que imaginei que soaria.
― Helena, está morrendo?
― Acho que sim. Estou muito mal.
― Porra, sabia que tinha alguma coisa errada com você. Não recebi nenhuma
mensagem sua por dois dias. O que está acontecendo?
― Não consigo nem dizer. Tudo dói. Acho que é uma gripe muito forte.
― Será que não é Covid ou dengue?
― Não sei, não consegui nem levantar para ir ao médico, faz dois dias que não como
nada.
― Como é, Helena? Faz dois dias que não come nada?
― Amiga, preciso mesmo ir, acho que vou vomitar, ou desmaiar. ― Só consigo colocar a
cabeça para fora da cama, meu vômito sai, cai direto no chão e depois eu apago.

― Ah porra! ― Ouço alguém gritar. ― O que aconteceu com você, Linda Helena?
― Adam? ― Pergunto meio grogue, vejo alguém, mas não identifico quem é e apago
novamente.

― Helena, está melhor? ― A pergunta vem no instante em que abro os olhos.


― Não, não me sinto bem. Quem é você?
― Como assim quem sou eu? Sou o Luiz.
― O que está fazendo aqui?
― Vim te ajudar, Mariana não podia vir e pediu que eu viesse.
― Ah tá. Obrigada por vir. Você me ignorou.
― E me arrependo pra caralho disso. Preciso que você me ajude, tenho que te levar a um
hospital.
― Detesto hospital.
― Mas precisa ir, querida. Vamos, me ajuda aqui.
― Hum, tá bom. ― Luiz me ajuda a levantar e sem se importar que visto apenas
camisola ele me leva a um hospital, lá me aplicam soro, faço alguns exames e testes, me dão
alguma medicação e sinto minha garganta começar a aliviar, não sei o que o médico conversa
com ele, mas recebo um atestado, ganho quinze dias, devo estar muito mal para terem me dado
tanto tempo de licença médica.
― Como se sente?
― Minha garganta não dói mais.
― Estava muito inflamada.
― Costuma ser assim com gripes. O que eu tenho, vou morrer?
― Não, você não vai morrer, ao menos não ainda. Você está com Covid. Nunca pegou
isso?
― Não. Tomei todas as vacinas e sempre me cuidei muito bem. Fiz o isolamento na
época e segui todos os protocolos de segurança possíveis, até hoje lavo as compras do mercado e
ando com meu spray de álcool ou um frasco com álcool em gel.
― Mas agora pegou.
― Não está com medo de pegar também?
― Já tive isso tantas vezes que agora nem faz mais efeito.
― Sério?
― É, acho que não segui muito bem o protocolo de segurança no país em que estava,
porém tomei todas as doses possíveis da vacina, não sou negacionista. Precisamos ir embora
daqui. Ainda bem que você também tomou todas as vacinas, sua saturação está normal e seu
pulmão está limpo, sem infecção. Mas precisa tomar antibiótico.
― Tudo bem, eu peço em alguma farmácia quando chegar em casa. Obrigada por me
ajudar.
― Não me agradece, ainda não acabei aqui.
― Como assim?
― Quinze dias, não foi o que recebeu?
― Foi sim, mas o que tem isso?
― Ficarei cuidando de você por quinze dias.
― Não precisa. Não quero atrapalhar a sua vida.
― Não estou te perguntando e muito menos te pedindo permissão, estou dizendo que vou
ficar.
― Mas....
― Cala a boca, Helena!
― O que?
― É isso mesmo, estou de saco cheio disso, você é uma mulher chata, teimosa,
complicada e muito difícil, mas não consigo te afastar. Por muito menos abandonei pessoas em
vários lugares, até na minha família, mas por alguma razão não consigo fazer o mesmo com
você. Por um acaso, sentiu a minha falta algum dia desde que voltou pro Rio? ― Me mantenho
calada, prefiro não dizer, eu senti, muita até. Luiz ri. ― Nem precisa responder, é claro que nem
se lembrou de mim. Você é uma mulher horrível e acho que odeio você.
― Ah tá, que bom saber disso. ― Me sinto mal e ofendida, além de sentir algo como um
aperto no meu peito, odiei ouvir isso dele, sinto vontade de chorar, contudo me mantenho firme.
― Vamos embora, Helena. ― Ele exige, não pede com gentileza, nem me ajuda a sair da
maca, me arrasto pelo corredor do hospital até o elevador, não me sinto completamente bem e
quero a minha cama. Entro em um carro que não é o meu, mas deve ser dele, já que o está
dirigindo, sigo calada e finalmente derramo algumas lágrimas, ele me olha, mas não diz nada,
aperta o volante como se estivesse apertando meu pescoço. Quando chegamos não espero por ele
para abrir a porta, Luiz fica puto e bufa, mas saio a bato com força a porta do seu carro.
Entro no meu apartamento, me jogo na cama e durmo.
Acordo com seu toque, é suave, gostoso e me arrepio inteira, sorrio.
― Acorda! ― Exige grosseiro.
― Me deixa dormir.
― Precisa comer!
― Não tem comida nenhuma aqui.
― Não tinha, agora tem. Levanta e vem pra cozinha.
― Não posso comer aqui?
― Não, não pode.
― Odeio você!
― É recíproco, Helena. ― Ele sai do quarto e mais uma vez me levanto sozinha, vou
devagar até a cozinha. ― Senta. ― Manda e eu me sento na cadeira à mesa. ― Come.
― O que é isso?
― Sopa. Será melhor para engolir com essa garganta inflamada. E antes que reclame, não
está tão quente.
― Eu não ia reclamar.
― Claro que ia, é a sua especialidade, ser uma chata que reclama de tudo.
― Não pedi para você vir aqui, na verdade não pedi que ninguém viesse.
― Mariana implorou, chorou e chegou a se ajoelhar para que eu salvasse a sua vida, estou
aqui por causa dela. Reclame com a sua amiga, não comigo.
― Vou me lembrar disso.
― Come! ― Eu como, mas não sinto sabor de nada, nem cheiro. ― O que foi, por que
essa cara?
― Não estou sentindo cheiro e nem gosto.
― É um dos sintomas da doença. Mesmo assim precisa comer.
― Eu quero dormir.
― Depois que comer. Já enviou o atestado ao seu chefe?
― Já.
― Ótimo. Continua a comer. Quero que coma tudo.
― Tá. ― Concordo e como devagar, odeio esse Luiz mandão, ele fala comigo como fala
com todas as outras pessoas e eu começo a detestar não ser mais a exceção.
Vejo Luiz andar pela cozinha e pelo meu apartamento como se o lugar o pertencesse,
como se soubesse onde cada coisa fica e ele sabe, mesmo sem nunca antes ter vindo aqui antes.
O vejo arrumar tudo em seus devidos lugares, até mesmo algumas coisas que eu havia deixado
largada na sala ou sobre a bancada da pia.
― Como sabe onde ficam as coisas?
― Eu não sei, estou procurando.
― Então você sabe procurar muito bem, pois sempre acerta na primeira opção.
― Devo ter sorte em adivinhação.
― Hum. Olha, terminei. ― Luiz pega meu prato e lava tudo na pia, seca e guarda
corretamente cada coisa em seu lugar, estou exausta demais para tentar entender qualquer coisa,
sei que ele não passou tempo suficiente aqui para saber como é toda a dinâmica do meu
apartamento, me levanto para voltar ao quarto, mas antes de chegar na sala meu corpo amolece e
sinto que vou cair, antes de bater no chão, Luiz me segura.
Capítulo 16
― Você não está mesmo nada bem. Desculpe Helena.
― Por que está se desculpando?
― Estou com raiva e por isso estou sendo grosseiro com você.
― Não se desculpe por isso. ― Não sei se é a doença falando por mim, mas passo a mão
pelo rosto dele devagar. Acho que prefiro mesmo esse Luiz que tem a atenção e cuidados
voltados para mim. ― Eu fiz por merecer, ainda assim você está aqui cuidando de mim.
― Fica bem difícil te odiar desse jeito. ― Sorrio.
― Então não me odeie.
― Você está ardendo em febre.
― Então por isso estou sentindo meu corpo arder. Achei que fosse por sua causa. ― As
palavras saem da minha boca e nem sei o porquê.
― Para de falar, Helena.
― Por que?
― Porque está delirando.
― Estou bem consciente.
― Não está mesmo. Você me odeia, lembra?
― É, acho que lembro. Me leva pra cama, Luiz? ― Peço manhosa e ele geme frustrado.
― Você precisa de um banho e um banho bem gelado.
― O que?
― Uhum, hora do banho, linda Helena.
― Por que me chama assim?
― Assim como?
― Linda Helena.
― Porque você é linda.
― Não, é muito específico, ele me chama assim.
― Ele quem?
― Alguém que eu deletei. ― Sinto a água fria molhar minha pele quente e gemo, Luiz
está se molhando também, ele não me solta. ― Está fria.
― Eu sei. Vai ajudar na sua febre.
― Fez curso disso também? ― Ele ri.
― Não, Helena, eu não fiz curso disso. Vou tirar a sua roupa.
― A sua também?
― Não, só a sua.
― Então não.
― Não faça esse bico, não vou tirar a minha roupa e a sua.
― Por que não?
― Você está doente, não vou conseguir me controlar.
― Está se controlando muito bem.
― Uhum estou tentando.
― Então tira a roupa. ― Subo a camisola que visto e não demora para eu estar nua.
― Meu Deus, estava sem nada por baixo dessa camisola o tempo todo?
― Estava sim.
― E eu te levei desse jeito ao hospital?
― É.
― Você deveria ter dito alguma coisa. ― Dou de ombros. ― Mulher sexy do caralho!
― Sou?
― Ainda pergunta?
― Sua vez.
― Nem pensar. Não posso ficar pelado aqui na sua frente.
― Vamos...
― Seja consciente, Helena, por favor, me ajuda.
― Ainda me sinto quente, meu corpo está fervendo e acho que vou explodir a qualquer
momento. ― Luiz abre mais o registro e a água cai de forma mais intensa, minha cabeça gira,
meu estômago dá uma volta e vomito em cima dele toda a sopa que havia tomado. ― Desculpe.
― Vomito mais e mais e tudo vai embora, o cheiro forte de azedo só faz eu sentir mais enjoo e
vomitar mais.
― Se acalma, vai passar, respira, querida.
― Eu sou nojenta, Luiz.
― Você está doente, mas ainda continua linda, minha linda Helena.
― Não me chame assim, só ele me chamava assim!
― Ele quem?
― Aquele que eu deletei! Merda, vou vomitar mais. Quanto de sopa tinha naquele prato.
― O suficiente para você vomitar mais. Bota pra fora. ― Ele manda e eu boto, vomito
mais, parece a porra de um filme de terror, o boxe inteiro está sujo, eu estou suja e ele também,
está coberto pelo meu vômito e mesmo assim se mantém aqui me segurando firme, quando
termino me sinto mole, Luiz faz toda aquela mistura nojenta descer pelo ralo e me lava, sem
opção ele se despe, mas se mantém de cueca, ele está duro e eu me surpreendo.
― Estou nojenta. ― Digo apontando para sua ereção.
― Finge que não tá vendo isso.
― É grande demais para eu fingir não ver. ― Ele ri.
― Fecha os olhos.
― Tá bom. ― Fecho os olhos e ele lava cada pedacinho do meu corpo, até as partes
íntimas, me toca com todo cuidado e respeito do mundo, como se fosse um enfermeiro. Ele então
se lava, sei que tira a cueca por causa de seu movimento, mas permaneço de olhos fechados, o
registro é fechado e sou coberta por uma toalha.
― Boa garota, abre os olhos agora. ― Abro um e vejo que ele está enrolado em uma
toalha da cintura para baixo, mordo o lábio inferior e ele ri.
― Você é bem bonito e me faz sentir coisas.
― Não começa, vai se deitar agora.
― Vem comigo.
― Estou indo.
― Não, deita comigo.
― Nem pensar, preciso sair para comprar água de coco.
― Não, fica comigo, por favor.
― Tudo bem. Aqui, levanta os braços. ― Levanto, a toalha cai. ― Meu Deus! ―
Rapidamente Luiz veste uma camisola limpa em mim. ― Deita. ― Faço como pede, mas o puxo
comigo. ― Ainda estou só de toalha, linda Helena. ― Avisa, mas não ligo e durmo
imediatamente.
― Acorda, você precisa comer.
― Quem é você?
― Vamos passar por isso de novo? Sou eu, Luiz.
― Por que está aqui?
― Meu Deus, a Covid afetou o seu cérebro?
― Não, estou te sacaneando.
― Se sente melhor?
― Um pouco. Aquele banho gelado me fez bem. Desculpe pelo vômito, dessa parte eu
queria mesmo esquecer.
― Não foi nada.
― Foi sim, foi bem nojento.
― Nada que vem de você é nojento.
― Seja sincero, por que está fazendo isso? Tenho certeza que Mariana não implorou, ela
nunca implora por nada, ajoelhar então, impossível.
― Eu quis vir. Estava no apartamento dela quando te ligou, vi o desespero no olhar da
Mariana e também fiquei desesperado, porque sabia que estava sozinha.
― Obrigada.
― Não precisa, apenas retribuí por ter cuidado das minhas costas e do meu quadril.
― Eu causei aquilo, isso é diferente. Acho que perdi a noção do tempo. Faz três dias que
chegou, não é?
― Isso. Tem sido dias intensos.
― Vai mesmo ficar até o fim dos quinze dias?
― Vou.
― Obrigada.
― Para de me agradecer. Coisa chata. Vamos, você precisa se alimentar.
― Preciso mesmo ir até a cozinha?
― Não, trago aqui. Já tivemos a experiência de fazer você se esforçar e não deu muito
certo. Volto já, não dorme.
― Não vou. ― Cato meu celular sobre a mesa de cabeceira e envio mensagem para
Mariana.
Helena: Seu cunhado está aqui.
Mariana: Eu sei, ele sumiu da minha casa tão rápido quando soube que você
estava doente que eu achei que ele iria pro Rio de Janeiro correndo. Acho que
Luiz está mesmo apaixonado por você.
Helena: Está nada, ele é meio doidinho.
Mariana: Doidinho por você, Lena. Ele tem ajudado tanto com o Bê.
Helena: Estou sabendo. Como está meu afilhado?
Mariana: Bem, dormindo bem, se alimentando bem e cagando muito bem
também. Nossa e como fede, amiga!
Helena: Até parece que o seu é cheiroso, Mariana!
Mariana: Pedro troca a fralda dele com um pregador no nariz.
Helena: Hahahahaha essa eu queria ver.
Mari envia uma foto e eu gargalho.
Mariana: Ah, descobrimos com o que Luiz trabalha de verdade.
Helena: Sério? Com o que é?
― Está rindo de que, Helena? ― Luiz entra perguntando e largo o celular.
― Estava falando com a Mariana.
― Hum. Eu tenho passado informações sobre você diariamente.
― Imaginei, ela não estava tão preocupada. Mari disse que descobriu com o que você
trabalha, finalmente.
― Ela disse a você com o que é?
― Não cheguei a ver se ela respondeu, quando ia me mandar a mensagem, você entrou.
― Hum. Bem, hora de comer.
― Deixa eu responder a ela.
― Depois, se alimentar é o mais importante, trouxe o remédio, está na hora.
― Essa coisa me dá sono.
― Ótimo, você se alimenta e dorme.
― Não quero dormir.
― Melhor que vomitar. Tem água de coco para se hidratar.
― Que comida é essa?
― Sopa de feijão. Abre a boca.
― Vai me alimentar?
― Vou sim. Anda. ― Luiz me alimenta como quem alimenta um bebê e nem precisa
disso, mas não vou reclamar, estou gostando dessa atenção toda. Ele estava meio arredio e me
tratando mal, mas agora voltou a ser o meu Luiz de sempre, é o que? Meu Luiz? Essa doença
está me afetando bem mais do que imaginei. Tomo o remédio, toda a sopa e bebo a água de coco.
― Ótimo, agora dorme.
― Estou mesmo com sono. Eu disse que esse remédio me dá sono.
― É. Descansa, querida. ― Ele acaricia minha cabeça e adormeço rapidamente.
Capítulo 17
Na manhã seguinte pego meu celular e vou na conversa com Mari, ela não me respondeu
e eu não a incomodo com isso, provavelmente Bernardo estava precisando de algo e por isso
precisou interromper a conversa. Sinto uma enorme vontade de ir ao banheiro, me levanto sem
muita dificuldade, percebo que estou finalmente me recuperando, na sala vejo Luiz dormindo em
meu sofá pequeno de dois lugares, o coitado está todo torto e mal cabe ali, vou ao banheiro, faço
xixi, lavo as mãos e escovo os dentes, ajeito os cabelos e retorno à sala.
― Você não deveria dormir aqui. ― Digo passando as mãos entre seus cachos largos e
macios.
― Seu apartamento só tem um quarto.
― Eu sei. Deveria estar nele.
― Na sua cama?
― Onde mais estaria?
― Prefiro ficar aqui.
― Está com nojo de mim, não é?
― Não é nada disso, o problema é que não confio em mim tão perto de você.
― Não seja bobo, vem.
― Agora?
― Ainda é cedo, não são nem seis da manhã. Vem.
― Se você quer, eu vou.
― Sem segundas intenções, senhor.
― Pode deixar. ― Luiz me segue e adormeço mais uma vez, só que agora ao lado dele.
Acordo com um barulho de vibração, cato o celular na mesa de cabeceira e abro a
mensagem.
Sophia: Benzinho, estamos com problema na atualização de algumas
histórias no “Hot fake date of love”, precisamos de você, o jogo é seu e tem
que resolver isso!
― Puta que pariu, eu sabia! Esse filho da mãe me paga! ― Digo bem baixinho e deixo o
celular sobre a mesa novamente, finjo que durmo e as mensagens continuam a chegar, ele
acorda, pega o aparelho e deixa o quarto, sinto vontade de chorar, mas não choro. Preciso
aguentar isso até o fim.
Não consigo mais agir com naturalidade com ele, me sinto enganada, usada, traída e me
torno fria, invento que não estou bem e passo o resto das duas semanas na cama, ele estranha,
mas não reclama, no último dia eu, subitamente, me recupero e estou linda em minha roupa para
ir trabalhar.
― Você está ótima!
― Estou, agora sim posso dizer: muito obrigada, foi realmente ótima toda a ajuda que me
deu, acho que estaria morta se não fosse por você, estou te devendo um grande favor.
― Imagina, como meu trabalho aqui está cumprido eu vou embora.
― Tudo bem, é só bater a porta depois que sair.
― Ah tá. Hum, vou arrumar as minhas coisas.
― Ótimo! ― Estendo a mão, ele faz o mesmo e eu aperto em um cumprimento rápido e
impessoal. ― Preciso ir, estou em cima da hora para o trabalho.
― Tudo bem. Quer uma carona?
― Não precisa, falei com uma colega e ela está passando por aqui, sempre vou com ela.
― Mentira, pedi um Uber.
Espero estar longe de suas vistas e pesquiso sobre o aplicativo, deveria ter feito isso desde
o início, descubro que Luiz não se chama apenas Luiz, mas sim Alan Luiz Figueiredo Brandão.
Alan, Adam o filho da mãe só mudou algumas letras, estava bem na minha cara e eu não quis
enxergar, foram tantas pistas, Sophia no hospital que ia chamá-lo de Alan e eu pensei que ela
diria amor, no almoço quando ele sabia exatamente qual era a minha sobremesa favorita, ele me
chamar de linda Helena, o jeito que sabia onde ficava cada coisinha no meu apartamento, as
passagens de avião, ele não pegou meus documentos na minha bolsa, Luiz já tinha todas as
informações sobre mim e muitas outras pistas que eu, burra, deixei passar. Choro e o motorista
do aplicativo me olha pelo retrovisor.
― Está tudo bem com você?
― Vai ficar. Obrigada por perguntar. ― Me sinto idiota por estar chorando, mas fui
enganada e feita de boba. Esse cara vai me pagar, ele teve inúmeras oportunidades de me contar
a verdade, mas não o fez, preferiu me fazer de imbecil. De todos os babacas que passaram pela
minha vida esse foi o pior.
Volto ao trabalho e sou muito bem recebida por todos do meu setor, passo o dia
arquitetando minha vingança e finalmente decido como agir para desmascarar esse idiota. Em
casa não encontro mais Luiz, ele se foi levando consigo todas as suas coisas.

Espero a poeira baixar e quinze dias se passam. Falo com Luiz apenas o necessário, sem
brincadeiras e sem muitas informações. Abro o aplicativo de fake date.
Helena: Oi Adam, sei que sou a última pessoa que gostaria de falar, te acusei
de muitas formas e simplesmente sumi, logo você que tanto me ajudou, estou
passando aqui para te agradecer por tudo que fez por mim.
Adam: Helena?
Helena: Isso, sou eu.
Adam: Não entendi o que quis dizer.
Helena: Como não, você me ajudou tanto! Lembra do nosso acordo?
Adam: Ah sim, me lembro. O que tem ele?
Helena: Então, eu coloquei as táticas de sedução que aprendi no jogo e
também com você em prática e deu extremamente certo.
Adam: Colocou? Com aquele homem de São Paulo?
Helena: Não, ele não. Com alguém que conheci em uma livraria, você estava
tinha mesmo razão eu estava buscando nos lugares errados. Comecei a
frequentar locais que gosto de ir, me senti bem e então eu o conheci, passamos
horas conversando no café da livraria, descobrimos tantas coisas em comum,
preciso confessar que o beijei, meu primeiro beijo, dei a ele e foi tão especial.
Adam: Verdade?
Helena: Sim! E agora estou aqui pensando em me entregar inteiramente a ele,
porque estou completamente apaixonada. Eu te entendi, Adam, por isso quis
vir aqui para me desculpar e também te agradecer, se não fosse por você me
ajudar e também a me liberar de um compromisso bem estúpido, eu jamais o
teria encontrado.
Adam: Ah sim, é verdade, eu te liberei mesmo. Nossa, estou um pouco
surpreso, você sumiu por muito tempo, linda Helena. Agora volta com tantas
novidades. Que tal eu te ajudar mais um pouco, me passa o nome desse seu
namorado, posso pesquisá-lo para você.
Helena: Ah não, estou gostando tanto da surpresa, de descobrir sobre ele aos
poucos e deixar que ele me conte cada coisinha sobre si. Meu namorado é tão
verdadeiro comigo, nunca me escondeu nada desde o começo.
Adam: Desde o começo? Então isso faz muito tempo?
Helena: Quinze dias, acredita?
Adam: Inacreditável!
Helena: Pois é, temos tanta intimidade e em tão pouco tempo. Eu já conheci a
família dele e sou tão querida entre seus parentes. Sabe como ele me chama?
Adam: Não faço ideia, mas sei que vai me contar.
Helena: Claro que vou! Ele me chama de Sereia!
Adam: Sereia?
Helena: É, porque ele sabe que meu filme da Disney favorito é: A Pequena
Sereia e eu amo o mar, estarmos juntos na praia é nosso programa favorito.
Adam: Ah é? Não sabia disso.
Helena: Pois é, a gente conversou tanto e no fim não sabemos quase nada um
sobre o outro. Então Adam, é isso, quero que seja muito feliz, não vou mais
conversar contigo, agora você faz parte do meu passado e por isso vou apagar
o aplicativo do meu celular.
Adam: É sério isso, Helena?
Helena: É sim. Porque apesar de você ter me ajudado muito, também mentiu.
Adam: Desculpe, Helena. Me sinto tão idiota.
Helena: Esquece, eu já esqueci, mas não podemos ter nenhuma amizade.
Tenha uma boa vida, Adam.
Adam: Espera, Helena!
Não espero coisa nenhuma, saio do aplicativo e o apago imediatamente. Agora me resta
esperar o peixe morder o anzol, a isca havia sido jogada. Durmo igual a um bebê e na manhã
seguinte desperto com o som da campainha.
― Já vai! ― Exclamo e nem dá tempo de ir ao banheiro, passo as mãos no cabelo o
ajeitando e abro a porta. ― O que você está fazendo aqui? ― Pergunto ao ver Luiz na minha
frente.
― Eu....
― Você?
― Eu vim cobrar um favor.
― Cobrar um favor?
― É, eu cuidei de você na Covid, lembra?
― Foi recente, é claro que eu lembro. Você está doente?
― Estou, quer dizer, não, não estou doente.
― Então o que foi?
― Vou fazer um curso aqui no Rio de Janeiro e preciso de um lugar para ficar.
― Hum, acho que posso te recomendar uns bons hotéis.
― Não! Detesto hotéis.
― Então Airbnb?
― Nem pensar. Quero ficar aqui.
― Aqui?!
― Você me deve.
― Tá, tudo bem. Quanto tempo vai ficar?
― Algum tempo?
― Quanto?
― Uns meses.
― Muito incerto isso, se são alguns meses, acho que pode alugar um lugar para ficar.
― Está tentando se livrar de mim?
― Não, claro que não.
― Não parece, acho que está sim tentando me dispensar, por que?
― Porque preciso da minha privacidade, mas te devo uma, então tudo bem ficar. Entra,
preciso me vestir.
― Vai sair?
― Agora não, é que acabei de acordar.
― Vai sair depois?
― Sim, é sábado e vou sair.
― Vai aonde?
― Almoçar, quer ir?
― Não vou te incomodar?
― Claro que não, vai ser legal ter uma companhia. Fica à vontade.
― Vai aonde?
― Já disse, me vestir.
― Ah tá. ― Pego meu celular e finjo enviar uma mensagem, sorrio enquanto faço isso.
― Está falando com quem?
― Ninguém que você conheça.
― Está me escondendo alguma coisa?
― Alguma coisa, o que?
― Alguma coisa tipo a porra de um namorado?! ― Filho da puta! Se existia dúvida,
agora não existe mais.
― Está louco? Claro que não estou escondendo nada! Se eu estivesse namorando, jamais
te receberia em casa e não iria almoçar sozinha em um sábado. De onde tirou isso?
― Mariana comentou alguma coisa de você estar saindo com alguém.
― Como é? Ela está louca? ― Pego o celular e faço uma chamada de vídeo.
― O que está fazendo?
― Ligando pra Mari, é claro!
Capítulo 18
Acesso muito rapidamente o contato de Mariana, agradeço ao universo por ela ter
atendido ao primeiro toque.
― Ah, oi amiga.
― Lena? Aconteceu alguma coisa?
― Aconteceu.
― O que houve, está doente de novo?
― Não, mas você deve estar.
― Eu?
― É, você, deve estar ficando louca.
― O que eu fiz?
― Andou contando mentiras ao Luiz sobre mim?
― O que?! Eu quase nem converso com esse caladão e ainda mais sobre você!
― Então porque ele está aqui no meu apartamento e dizendo que você contou a ele que
eu estou saindo com alguém?
― O que?! Você está saindo com alguém?
― Não! Claro que não estou, você seria a primeira a saber se eu estivesse.
― É, acho bom mesmo. Mas meu cunhado está mesmo aí?
― Está, olha. ― Aponto o celular para ele que acena extremamente sem jeito.
― Eu disse a você que a Lena estava saindo com alguém?
― Ouvi uma conversa sua com o Pedro sobre isso.
― Sério? Não me lembro de nada parecido e se a Lena estivesse mesmo saindo com
alguém, eu seria sim a primeira a saber. ― Viro o celular novamente para mim.
― Seu cunhado está louco. Vou resolver esse assunto, depois falo com você. ― Em cerro
a chamada e olho para Luiz. ― Me explica.
― Ouvi uma conversa da Mari com o Pedro e deduzi que fosse sobre você, talvez eles
estivessem falando de outra pessoa.
― Agora me responda uma coisa, o que te importa se eu estou saindo com alguém ou
não? ― Luiz respira fundo. ― Não tem curso, tem?
― Não, não tem. Eu só não consigo ficar longe de você, Helena.
― Isso não faz sentido algum.
― A história é complicada e ao mesmo tempo tudo foi uma grande coincidência.
― Me conta.
― Não posso.
― Me fala logo Alan, antes que eu mesma tenha que dizer o que acho sobre isso tudo!
― Espera, do que me chamou?
― Seu nome, Luiz.
― Não, você me chamou de Alan.
― Não.
― Chamou sim. Por que me chamou assim?
― Por causa disso! ― Mostro a ele meu celular e a informação completa que colhi sobre
ele. ― Essa é a sua empresa, você trabalha mesmo com jogos, diversão e entretenimento, mas
não cria jogos para consoles, como imaginei que fosse, você cria esses jogos para celulares.
― É. Como descobriu?
― Como eu descobri que me fez de idiota?
― Não te fiz de idiota, eu me apaixonei por você.
― E decidiu demonstrar isso mentindo? Se fazendo passar por uma I.A. chamada Adam?
― Eu não sou um cara descolado, Helena. Eu sou tímido demais para chegar em uma
garota. Me escondi atrás do avatar do Adam para me aproximar de você.
― Você mentiu, invadiu a minha privacidade, mexeu com a minha cabeça e com o meu
coração, tanto como Adam, quanto como Luiz. Por que?
― Já disse, não tive coragem de me aproximar, eu não sabia como. Descobrir que estava
logada no meu jogo foi a chance que tive para te conhecer.
― Como descobriu?
― Eu tinha voltado ao Brasil e vi muitas fotos, vídeos e me apaixonei por você, pela sua
figura e por tudo o que ouvi falarem sobre a sua pessoa. Tinha uma coisa diferente em você e
quando disse que causava coisas em mim eu não menti. Descobri que estava no jogo porque
Mariana fala alto demais e ouvi uma conversa entre vocês, foi nessa mesma conversa que fiquei
sabendo que era virgem, de tudo e porra Helena, eu não consegui acreditar, de verdade eu não
consegui. Você me encanta e me encantou desde o primeiro momento, comecei a pensar que era
o inalcançável e de fato você é.
“Entrei no jogo sem pensar muito e criei aquele perfil louco apenas para você, nunca
tinha feito aquilo. É, eu menti quando disse que escolhia algumas pessoas em aleatório e puxava
conversa, não coloquei nenhum avatar para poder chamar a sua atenção e deu certo, cada
pedacinho de você que me dava fazia meu coração palpitar, ouvir a sua voz era a coisa mais
incrível do mundo e então resolveu me deixar te assistir, eu te acompanhava como se fosse o
melhor de todos os reality shows, mas era a sua vida, eu queria poder fazer parte dela e te ter ao
meu lado. Meu plano era te conquistar como Luiz e aos poucos afastar o Adam para que um dia
eu pudesse te contar toda a verdade”.
― Você teve dezenas de oportunidades para me contar, mas não fez.
― Eu tive medo. Nunca te tive de verdade, Helena, acho que não cheguei nem perto de te
ter, nem como Luiz e muito menos como Adam. Se eu, como Adam, te contasse que era humano
você deletaria o jogo e sumiria e como Luiz eu estava longe demais, porque só fazia merda.
― Eu estava gostando de você como Luiz.
― De verdade?
― É. De verdade. Quando cuidou de mim, em meus delírios eu me joguei pra cima de
você, me lembro bem disso, mas eu vi uma mensagem em seu celular e tive a confirmação que
faltava para que eu enxergasse a verdade sobre quem Adam realmente era.
― Mensagem?
― Da Sophia dizendo que estava com problemas na atualização das histórias do jogo que
simula encontros.
― Ah, aquela mensagem.
― É. Bem, eu acho que finalmente acabamos aqui, Alan Luiz. Da mesma forma que eu
disse que Adam fazia parte do meu passado, eu digo o mesmo para você agora.
― Não faça isso, linda Helena.
― Não me chame assim!
― Não pode me pedir isso.
― Da mesma forma que não pode pedir para que eu não me afaste.
― Me dá uma chance?
― Te dei várias e você desperdiçou todas elas. Pedi faz poucos minutos que me contasse
a verdade e sua decisão, ainda assim, foi a de não me contar, eu precisei mostrar que sabia de
tudo para que abrisse a porra da boca! Meu ódio à primeira vista tinha fundamento, no fim das
contas meu sexto sentido já estava me avisando que você iria ser o pior dos canalhas na minha
vida.
― Me odeia, Helena?
― Nesse momento sim. Mas isso vai passar e um dia não sentirei mais nada por você. ―
As lágrimas escorrem pelo rosto dele. ― Não chore, você não tem esse direito, eu estou
magoada, porque você me magoou, não foi o contrário, não é a vítima aqui, Luiz!
― Eu quero me redimir.
― Não se atreva! Eu o proíbo de se aproximar de mim, de tentar qualquer forma para
interferir na minha vida, de usar seus conhecimentos ou seu dinheiro para fazer algo por mim.
Não quero nada que venha de ti. Me esquece.
― Impossível! Mas eu me afastarei. Desculpe, isso não deveria ter acabado assim.
― É. Na verdade, isso nem deveria ter começado. Você foi antiético e eu poderia te
processar de tantas formas. Mas não farei isso, porque é como eu disse, quero distância e Graças
a Deus que mora em São Paulo. Pega as suas coisas e saia do meu apartamento.
― Helena, me desculpe.
― Agora, Alan Luiz! ― Ele se vai e eu desabo em um choro sofrido, barulhento e cheio
de ranho no nariz.
Daquele dia em diante eu não ouvi mais o nome de Luiz, nem mesmo Mariana comentou
sobre ele, a única coisa que ela me disse foi que sentia muito por tudo e eu soube que o babaca
havia contado à minha amiga o que havia feito comigo.

Dois meses se passam e meus pais retornam da viagem, decido ficar um mês inteiro na
casa deles matando saudades, mamãe trouxe a minha lista completa de pedidos e mais algumas
coisinhas que eu amei.
Sigo a minha rotina diária de trabalho, saindo com as colegas do serviço para me divertir
nas noites de sexta e continuo virgem, de tudo, Alan Luiz conseguiu me traumatizar de vez. De
todos os meus encontros fracassados esse foi, sem sombra de dúvidas, o pior, superou os
gêmeos, os casados e até mesmo o padre, pois por esse homem eu nutri sentimentos. Aceito a
minha condição de solteira e casta, porque pura eu sei que não sou.
Foi em uma noite de sexta-feira que saí para comemorar o início das minhas férias que
recebi o convite de Mariana para o batizado de Bernardo. Eu sabia que esse dia chegaria, mas
ainda não estou preparada psicologicamente para isso e Mariana sabe, por isso me enviou o
convite com apenas uma semana para a data do evento. Ligo para ela.
― Desculpe amiga, é para você não desistir.
― Jamais desistiria de ser madrinha do Bê, Mariana. Não é um babaca qualquer que vai
tirar meu afilhado de mim.
― Muito bem, amiga! Bom saber que superou.
― Superei mesmo! ― Minto.
― Ótimo. Semana que vem te espero aqui.
― Tá. Me conta as novidades.
― Bernardo está uma graça, suas risadas estão a cada dia mais contagiantes, Pedro
jura que ele falou papai, mas todos sabemos que é mentira.
― Mari, ele disse isso no dia que o Bê nasceu.
― Mentira?!
― Não, foi quando o bebê estava no berçário, Pedro disse que o filho havia o reconhecido
e estava chamando por ele.
― Meu marido é um pai muito babão. E você acredita que ele vem me pedindo o
próximo?
― Eu acredito e sei também que você vai tirar essa ideia da cabecinha dele.
― Com toda certeza! Um só está ótimo! Você sabe o que estamos passando, não é?
― Eu sei sim, amiga.
― Te agradeço por toda a ajuda, Lena, mesmo estando mais distante você é uma pessoa
muito presente nas nossas vidas.
― Eu amo vocês e faço o que puder sempre para ajudar, mesmo que seja através das
nossas chamadas de vídeo.
― Conte com a gente também. Eu sei que não quer muito saber sobre ele, mas temos
torturado meu cunhado babaca, Pedro e eu estamos plantando algumas informações falsas
sobre você, ele fica se corroendo por dentro.
― Por que estão fazendo isso?
― Para que ele jamais esqueça a patifaria que fez com a melhor pessoa desse universo.
― Essa sou eu?
― Claro, quem mais seria? Ninguém mexe com a minha best e sai impune.
― Olha, tem outros cem caras que você precisa se vingar por mim. ― Maria ri e eu
também. ― Amiga, preciso ir agora, tenho que começar a ver as passagens.
― Tudo bem, mas o hotel não precisa.
― Ta bom, Mari. ― Concordo apenas para não prolongar o assunto, mas não ficarei no
apartamento dela correndo o risco de me encontrar com Luiz o tempo inteiro, ela me conta que
ele só sai do apartamento dela quando Pedro chega do trabalho e é sempre nessa hora que eu
costumo ligar para eles, gosto do fato de Luiz se manter ativo com os cuidados do Bê, mas isso
me afasta do apartamento da minha amiga.
Começo a ver passagem e hotel, consigo voo para a próxima sexta-feira à noite e deixaria
a cidade na sexta da semana seguinte. Sinto saudades da minha amiga, do Pedro, do Bê e dos
pais dos meus amigos, é por esse motivo que desejo passar ao menos uma semana por lá, não
tem nada a ver com Luiz e com o fato de eu querer olhar bem na cara dele e provar que o superei
e estou muito bem. Quem eu quero enganar? Não estou nada bem e, com certeza, também não o
superei. Ainda me dói lembrar tudo o que aconteceu, ainda sinto meu coração palpitar a cada
lembrança e tudo se embola entre recordações de Adam e de Luiz, ele fez com que eu me
apaixonasse por duas versões suas que são completamente diferentes uma da outra e isso me
deixa ainda mais chateada.
Capítulo 19
Na sexta feira seguinte estou divina, em um vestido maravilhoso branco, curto e fresco
que marca nos lugares certos e tem um belo decote nos meus seios, meus pais não vão comigo,
pois ganharam gosto por viagem e já começaram outra. Como eles amaram a Grécia, decidiram
visitar o lugar por mais tempo e eu irei encontrá-los uma semana depois do batizado saindo de
São Paulo.
Chego ao aeroporto da Cidade onde minha amiga mora e vou direto para o hotel que fica
próximo à Igreja escolhida por Mariana, que por sua vez é perto de onde ela mora. Mesmo com
toda sua insistência, a convenci de que ficar em um hotel seria muito melhor para mim.
― Mari, estou no hotel, posso passar no seu apartamento? ― Digo ao celular assim que
minha amiga atende minha ligação.
― Claro! Estava te esperando chegar.
― Estou indo. ― Em menos de cinco minutos minha amiga me recebe com beijos e
abraços.
― Meu Deus, você está linda!
― Obrigada, você também.
― Eu? Não me faça rir, estou péssima, ainda não sou aquela Mariana que fui um dia.
― Claro que não, agora você é mãe.
― É, eu sou.
― E meu afilhado?
― No cercadinho.
― Amor da dinda! ― Vou até Bernardo que sorri tão gostoso e ergue os bracinhos para
que eu possa pegá-lo, seguro meu afilhado lindo e fco matando as saudades. ― Ele está tão
grande.
― Está sim. Estamos pensando em colocá-lo na creche no mês que vem.
― Já?
― É amiga, preciso voltar a trabalhar, com seis meses a licença termina.
― Entendo, você está certa. Amor da dinda, se eu estivesse por perto ficaria com você.
― Mas você também trabalha.
― Não te contei?
― O que? Largou o emprego?
― Não, estou de férias.
― Ah que susto! Férias é apenas um mês, Lena.
― É, mas vou ficar aqui por uma semana.
― Mentira?!
― Não, quero matar as saudades.
― Ah amiga, que boa notícia.
― Que bom que achou. Depois vou para a Grécia encontrar meus pais.
― Uau!
― É, quem sabe eu não encontro um Deus Grego perdido por lá para mim?
― Estarei torcendo por você.
― Isso soou tão falso. Por que?
― Não vou dizer.
― Se for sobre aquela pessoa é melhor mesmo que nem diga.
― Ai Helena, o pobrezinho está tão mal.
― Pobrezinho? O que mudou desde a última vez que me contou sobre as torturas?
― Ele se abriu, contou toda a trapaça, cada detalhe dela e eu arrasei com a vida dele.
― Mas agora está com pena?
― Estou. O homem está pior do que já era. Acredita que o peguei chorando um dia
desses?
― Não ligo. De todos os caras que já dei alguma oportunidade, ele foi o pior
― Pior que os casados?
― Claro que foi, porque seu cunhado me enrolou e mentiu durante meses. Ele me fez de
idiota, amiga! Me expus tanto que sinto até vergonha.
― Desculpe, Lena, se eu não tivesse sugerido aquele jogo estúpido, nada disso teria
acontecido.
― Esquece, você tentou me ajudar, eu que fui idiota de cair no papinho do Alan.
― Pior que ninguém na família o chama de Alan, esse foi o nome que ele usou nos
Estados Unidos, lá todos o chamavam de Alan, mas aqui não.
― É, as coisas aconteceram da forma que ele premeditou. Me sinto cada vez mais idiota.
― Você não teve culpa, amiga.
― Mas me dá vergonha mesmo assim.
― Não é você que deve sentir isso, Luiz é que deve se envergonhar do que fez! Mesmo
que ele goste de você, como disse que gosta, não foi justo! Briguei com o Pedro para tentar fazer
com que Luiz não fosse mais o padrinho do Bê, eu juro que tentei desfazer isso, Lena, até
ameacei deixá-lo.
― Mariana?!
― Eu não ia deixar ele de verdade, só ameacei, mas Pedro sabia que eu não o deixaria,
então meio que não ligou para uma ameaça vazia. Desculpe, nem para ameaçar meu homem eu
sirvo. ― Rio do que ela diz. ― Não é engraçado.
― É sim amiga, não precisa ameaçar o seu homem por minha causa, ele quer o melhor
para o Bê tanto quanto você quer. Luiz não será um mau padrinho para seu filho. Sei que ele te
ajuda muito com o bebê, não é?
― Ajuda, pior que ajuda, mas todas as vezes que vem aqui eu o ignoro e torturo, mesmo
sentindo um pouco de pena.
― Não precisa tomar as minhas dores.
― Preciso sim! É o código das melhores amigas.
― Eu amo você, Mari.
― Também te amo, Leninha. Você foi a melhor coisa que a faculdade me deu.
― E o Pedro?
― Esqueci dele! ― Rimos muito pela gafe cometida e eu abraço minha amiga.
Passo a tarde inteira brincando com Bê e deixo que Mari descanse um pouco, por volta
das seis da noite Pedro chega em casa.
― Patinha! Que surpresa boa.
― Mari não disse que eu viria hoje?
― Não, ela anda bem esquecida. ― Pedro se aproxima de mim e beija meu rosto. ―
Chegou bem?
― Sim. A viagem foi bastante tranquila.
― Que bom. Vai ficar aqui, não é?
― Não, estou no hotel aqui pertinho.
― Sério? Poderia ficar aqui em casa.
― Não, eu ficarei por uma semana e não quero atrapalhar tanto vocês.
― Uma semana?
― Estou de férias, Pedro.
― Ué, por que não fica o mês inteiro aqui?
― Porque vou encontrar meus pais na Grécia. Eles querem que eu conheça, pois amaram
o lugar.
― Que ótimo! Serão férias muito bem aproveitadas. E cadê a Mari?
― Pedi que ela fosse descansar um pouco enquanto eu estava com o Bê.
― Obrigado por isso. Ela está mesmo precisando de uma folga. Eu vou tomar banho,
tudo bem?
― Claro, sem problemas. ― Pedro vai em direção ao banheiro e eu continuo com
Bernardo, ouço a campainha tocar e faço a besteira de atender à porta.
― Helena?! ― Luiz me olha de cima a baixo e meu corpo traidor responde
imediatamente ao seu olhar.
― Não. Mudei de nome, agora me chamo Tina.
― Não sabia que estaria aqui. ― Ignora meu sarcasmo e baixa a cabeça.
― É, acho que Mariana esqueceu de contar a todos que eu chegaria hoje. Entra, fica com
o Bernardo, eu estou indo embora mesmo. Pedro está no banho e Mariana está dormindo.
― Não precisa ir, eu vou embora.
― Você acabou de chegar, estou aqui faz tempo. Preciso mesmo ir.
― Você vai ficar até o batizado?
― Isso é algo que não te interessa. ― Pego minha bolsa sobre o sofá e sigo até a porta,
Luiz segura meu braço e me odeio por me arrepiar com seu toque.
― Tudo sobre você me interessa, Helena. Eu sinto a sua falta.
― Isso já é algo que não me interessa.
― Me desculpa, linda Helena.
― Não me chame assim! Não me lembre da idiota que fui.
― Você não foi nenhuma idiota, eu que fui! Fiz tudo errado e olha só o que aconteceu? O
idiota dessa história sou eu. Me dá mais uma chance de corrigir meu erro, Helena?
― Eu preciso ir, me solta. ― Luiz me solta e eu saio, penso de verdade que ele tinha me
deixado ir enquanto espero pelo elevador, mas antes que a porta da máquina se feche ele entra.
― Está maluco? Deixou o bebê sozinho?
― Avisei ao Pedro, ele já está com o menino.
― O que quer de mim, Luiz? ― Já me sinto sem forças para essa discussão e nem ao
menos começamos.
― Eu quero você, Helena! Fiquei louco quando disse que estava com alguém há uns
meses.
― Por isso bateu à minha porta?
― É, descobri que foi uma isca para me revelar quando disse não ter ninguém. ― Luiz se
aproxima de mim e prensa meu corpo em uma das paredes do elevador. ― Seu corpo ainda reage
a mim, linda Helena. ― Ele me olha como se fosse me atacar. ― Não adianta tentar esconder.
Não desperdiça isso que sentimos um pelo outro, sei que comecei errado e segui errando por
muito tempo, mas alguma coisa certa eu devo ter feito, porque você tem sentimentos por mim.
― Ódio.
― Que seja! Ao menos você sente alguma coisa. Deixa eu te levar para jantar.
― Claro que não, de você eu quero é distância! ― Tenho certeza que a minha voz saiu
fina.
― Não mente Helena, não para si mesma, já disse para não desperdiçamos isso. Deixa eu
corrigir a porra do meu erro! ― Ele está desesperado.
― Por que insiste tanto nisso?
― Porque o que sinto por você jamais senti por alguém. E não vou conseguir deixar de
sentir e nem quero deixar de sentir.
― O que você quer é me fazer de idiota, Luiz e me usar no processo!
― Nem pensar! Nunca quis isso.
― Se eu dissesse a você que fiquei sim com alguém? Que o beijei e transei com ele?
― Não mudaria nada, Helena, isso independe de você ser virgem ou não, eu te quero e é
isso! Estou pouco me fodendo para quem veio antes, o que me importa sou eu ser o seu depois e
ficar para sempre.
― É o que?
― É o que ouviu. Te quero pra sempre. ― Não consigo me segurar e começo a gargalhar.
― Você é mesmo bem babaca, Luiz.
― Eu disse a verdade. Me apaixonei por você, não sei explicar porque vi sua foto e me
apaixonei, mas esse sentimento só se fortaleceu depois que te conheci. Quando ficou comigo no
meu apartamento na noite que o Bê nasceu, me lembro bem de antes que adormecesse eu disse
que nunca tinha dormido ao lado de uma como você, queria dizer mulher, nunca havia dormido
com uma mulher antes.
― Vai me dizer que também é virgem?
― Não, eu não sou virgem, mas nunca dormi com uma mulher. Nunca permiti que
mulher alguma se deitasse em minha cama, só você, Linda Helena, a primeira e única que quero
dormir todas as noites. Estou completamente apaixonado por você, diz que também se apaixonou
por mim.
― Eu já disse, disse que senti algo por você, e duas vezes, como Adam e como Luiz, mas
ficou no passado. Já era.
― Não, isso ainda está aí. Só me deixa corrigir o meu erro. Um jantar é o que te peço.
― Não!
― Saiba que não vou desistir. ― Ele me deixa ir, porém sei que não vai desistir e eu não
irei mudar a minha decisão.
Retorno ao hotel e opto por jantar no restaurante do lugar.
Capítulo 20
No sábado fico o dia inteiro com meu afilhado, dessa vez Luiz não aparece, o que acaba
sendo ótimo, me deixa tranquila e consigo me divertir com Bernardo, Mari, Pedro e sem pensar
no mentiroso, porém na manhã seguinte estava diante dele na igreja.
A cerimônia do batizado é linda, e me emociono ao receber Bê como meu afilhado,
consigo me manter firme o segurando, Luiz tenta a todo momento se aproximar, coisa que não
permito, a não ser nos momentos que são realmente necessários, afinal, somos padrinhos do
bebê. Ao fim da cerimônia, seguimos todos para a casa dos pais de Pedro que, junto com Mari,
organizaram uma belíssima festa para comemorarmos o batismo.
― Helena, preciso da sua ajuda.
― Claro Mari, o que quer?
― Leva o Bê lá para cima, eu vou pegar a bolsa que esqueci no carro, ele precisa trocar
de roupa, está muito quente hoje e essa roupa está esgoelando o coitadinho.
― Está mesmo. Para onde o levo?
― No quarto que era do Pedro, se lembra onde é?
― Estive aqui algumas vezes, ainda lembro.
Subo com Bê e sigo até o quarto que era do pai do dele, entro e deito o menino na cama,
ele se senta sozinho e começa a gargalhar olhando para a porta, olho e lá está Luiz, lindo como
sempre, esse homem me tira o ar todas as vezes desde a primeira vez.
― Ele gosta de mim.
― Essa criança gosta de todo mundo, ele nem sabe quem você é.
― Claro que ele sabe. Vem com o dindo.
― Vai ficar aqui com ele? A Mariana vai trocar a roupa dele porque essa está quente
demais, ela foi buscar a bolsa no carro e já vem.
― Você vai embora?
― Vou voltar para a festa, se eu puder evitar ficar perto de você, eu farei.
― Poxa Helena, não faz assim. Estou sofrendo com se estivesse no inferno, acha que está
fácil para mim? Perdi o amor da minha vida e não sei como fazer para te recuperar.
― Espera, perdeu o que?
― O que ouviu. Você é o amor da minha vida. ― Começo a rir e dessa vez é de nervoso.
― Você nunca me teve para ter perdido, Luiz!
― Tive a chance de ter e perdi, é isso que mais me dói.
― Você nem sabe o que está falando.
― Quer saber mais sobre o que sinto do que eu mesmo?
― Quero que me deixe em paz!
― É mesmo o que deseja?
― É. ― Ele se aproxima e minha respiração muda, meu peito sobe e desce rapidamente.
― Tem certeza?
― Uhum. ― Sai mais um gemido que uma resposta, o safado sorri, beija meu rosto, meu
pescoço e já estou arrepiada da cabeça aos pés.
― Seu corpo não mente Helena, sente a minha falta tanto quanto eu sinto a sua. Você vai
ser minha, porque vou lutar para te ter. Não precisa sair, pois saio eu. ― Luiz me deixa e
percebo como fui imprudente deixando o bebê sozinho sobre a cama, por sorte ele brincava com
seu bonequinho de borracha e ria fazendo bolinhas de cuspe.
― Bê, perdoa a dinda?
― Dádadadadá. ― Meu afilhado berrava e eu sabia que era uma bronca que estava me
dando por eu ter sido estúpida. Ou não, porque ele riu ainda mais em seguida.
― Pronto, trouxe a bolsa.
― Que bom. Ele ficou calminho.
― Me ajuda a dar banho nele, Lena.
Ajudo Mariana a banhar o bebê, depois juntas o vestimos, ele fica visivelmente mais
aliviado com a roupa mais fresca, voltamos à festa e minha amiga precisa se afastar para dar
atenção aos outros convidados, não são muitos, vejo alguns parentes dela e do Pedro, alguns
colegas de trabalho e a maioria das pessoas são amigos dos avós de Bernardo, vejo Sophia, ela
está pendurada no pescoço de Luiz e isso faz meu sangue ferver, bebo um copo de suco de uma
só vez, com certeza isso deve ser culpa do calor que está fazendo nesta cidade. Ouço uma risada
alta de Sophia e vejo Luiz revirar os olhos, mas ele não afasta a mulher e isso me irrita, não
entendo porque ela insiste tanto em chamar a atenção de todos, é estranho demais. O copo que
está na minha mão racha, tamanha a força do meu ódio, por sorte não é de vidro.
― Leninha, você está linda, como sempre. ― Deusa, a sogra de Mari me cumprimenta e
volto minha atenção a ela. ― Nem consegui falar com você direito na igreja.
― Eu entendo, as coisas ficaram meio tumultuadas, não deixa de ser um evento com
muitas fotos e várias pessoas para cumprimentar.
― Com certeza. Leninha, eu gostaria de conversar com você, será que pode me
acompanhar?
― Claro dona Deusa. ― A sigo até o escritório da casa. ― Aconteceu alguma coisa? A
senhora parece preocupada.
― Desculpe se deixei transparecer, eu estou sim preocupada, da mesma forma que me
preocupei com meu mais novo na época em que ele e Mariana brigaram, você se lembra?
― Sim senhora, eu me lembro, eles terminaram e não foi algo que tenha feito bem a ela e
muito menos a ele, pois me lembro como o Pedro ficou.
― Isso mesmo e o que aconteceu depois?
― Eles reataram e se casaram.
― É querida, eles não deixaram a oportunidade passar, até hoje não faço ideia do porquê
aquela separação aconteceu. Sabe por que eu não sei? ― Nego com um aceno. ― Porque
nenhum dos meus filhos têm o hábito de me contar as coisas, tudo que eu sei é o que eu escuto
aqui e ali e vejo também. Luiz e Pedro são iguaizinhos nesse quesito, mesmo que eles insistam
em dizer que são extremamente diferentes em tudo.
― Eu não sabia disso. ― Se não foi da vontade dele contar a ela e nem da Mari, não serei
a contar uma história que não é minha.
― Pois é querida, acho que ser mãe de homens é isso, lembro que a minha sogra dizia
que Rômulo era assim com ela, simplesmente não se abria. Eu sempre tentei trazer Mariana para
o meu lado, mas por alguma razão não possuímos tamanha intimidade, o que estou fazendo
agora com você, jamais fiz com ela, porque Mariana sempre foi mais retraída, tanto que você é a
única amiga que ela tem. ― Isso é um pouco verdade, Mariana não é de se abrir com facilidade,
de fazer amizades, mas comigo foi diferente desde o primeiro momento, Marisa, mãe da Mari
sempre me diz isso. Porém minha amiga apenas não confia rapidamente nas pessoas e eu a
entendo, Mariana tem aquela coisa de sexto sentido e por isso sempre está a um passo à minha
frente quando se trata de sentimentos. ― Eu sei que Mari e Pedro tiveram uma baita dificuldade
com Bernardo no começo, mas em momento algum eles pediram ajuda, tanto eu quanto Marisa
tentamos auxiliar, mas fica difícil quando a gente percebe que de alguma forma estamos sendo
inconvenientes e por isso resolvemos desistir. Porém, o Luiz eles aceitaram muito bem, não sei
se é porque a natureza dele é igual à daqueles dois, calado e retraído, mas sei que ele está lá
todos os dias ajudando com Bernardo. É como eu disse, meu bem, eu sei o que vejo e ouço por
aí. Desses quatro você é a mais diferente, sei que mora sozinha e nunca namorou, mas isso é
escolha sua, porque sei também que vai a encontros, socializa com suas colegas de trabalho e
possui um círculo de amizades bem maior do que os outros três. Até seu jeito de nos tratar é mais
carinhoso, todas as vezes que vinha aqui em casa a gente passava um tempinho conversando e
com Marisa sei que você é ainda mais apegada. O que te disse naquele hospital, no dia em que
meu neto nasceu, foi a mais pura verdade. ― De certa forma sinto que com esse elogio Deusa
está criticando minha amiga e não gosto disso.
― Obrigada, dona Deusa. ― Agradeço para encerrar o assunto.
― Não me agradeça querida. O que eu quero saber é se você confia em mim?
― Tenho muita consideração pela senhora, da mesma forma que tenho pela dona Marisa,
então eu confio sim.
― Que maravilha ouvir a sua afirmação, Leninha. Quero que saiba que você é como uma
filha para mim e também para o Rômulo e sabe o que nos faria muito felizes?
― O que?
― Que fizesse parte da nossa família.
― Não entendi.
― Você entendeu sim, minha querida. Helena, meu filho passou anos longe de mim, mas
eu o conheço tanto quanto o outro que nunca saiu daqui de perto. Eu sei cada alteração de humor
de Luiz, conheço o significado de cada mínima expressão do seu rosto e tenho certeza absoluta
que meu filho te ama. ― Ela me olha nos olhos enquanto vai despejando todas essas
informações sobre mim e eu permaneço calada. ― Luiz nunca namorou e disso eu tenho certeza,
assim como sei que essa moça que está com ele não é e nem será namorada dele. Luiz sempre foi
calado, bem mais que o Pedro, na verdade meu mais novo é extremamente falante perto do mais
velho, me pergunto como fui ter filhos tão retraídos se nem eu e nem Rômulo somos assim. Mas
essa não é a questão. A questão é que ouvi e vi muita coisa acontecendo desde que Luiz colocou
os olhos em você quando voltou ao país. Ele te conheceu por fotos e eu enchi os ouvidos dele
com histórias sobre você quando ele demonstrou interesse, não contei mentiras e nem incentivei
os sentimentos do meu filho, até porque achei que era um interesse apenas por você ser a
madrinha do afilhado dele, porém depois de um tempo eu notei que o interesse era outro, então
Bernardo nasceu e as coisas começaram a mudar muito rapidamente, Luiz falava com você muito
cheio de propriedade e como se te conhecesse há séculos, ele sorria e isso me surpreendeu,
porque ele quase não sorri, mas com você por perto o riso dele era fácil, notei que faz um tempo
que isso morreu, o brilho que existia nele se apagou e vejo que em você também. Não faço ideia
do que aconteceu, mas quero que sigam o exemplo da Mari e do Pedro e não deixem isso se
perder, meu filho te ama e diante de todas as reações que você está me demonstrando enquanto
estou te contando isso sei que também o ama. Então, minha querida, não perca essa oportunidade
e aceite esse sentimento lindo que vocês têm um pelo outro.
― Seu filho mentiu pra mim, dona Deusa. Ele me fez de palhaça e me sinto meio
envergonhada de contar.
― Não precisa me contar se não quiser. Mas se desejar desabafar, tenha em mim uma
amiga, não vou passar a mão na cabeça do meu mais velho.
― Tudo bem. ― Conto a ela com riqueza de detalhes tudo o que aconteceu entre mim e
Alan Luiz, no fim ela parece chocada.
― Para mim é uma surpresa ouvir isso e acho que meu filho é um grande idiota, além de
muito burro também. Ele meteu os pés pelas mãos muitas vezes, a falta de experiência dele pode
não ser justificativa, mas explica muita coisa, se ele tivesse me contado ou mesmo ao Pedro e
Mariana, que estava apaixonado por você, as coisas teriam sido diferentes, mas a besta quadrada
resolveu agir da forma dele e foi a mais desastrosa possível. Peço desculpas por tudo e eu que me
sinto envergonhada por meu filho estúpido tê-la feito passar por isso, logo você, Helena. De
todas as pessoas você merece ser feliz e ter alguém que mova céus e terras para te fazer feliz. Eu
sei que sou suspeita para falar, porque sou mãe do idiota, mas esse estúpido ama você demais,
querida. Perceba que ele meteu os pés pelas mãos tentando acertar. As tentativas foram falhas,
mas ele só queria te conhecer melhor para quando chegasse o momento poderia ter o encontro
perfeito com você. Eu não quero te influenciar, nem defender o meu filho, mas é inegável que
vocês dois se amam e também é triste ver que você está tão decidida em não querer dar uma
nova chance a ele.
― Dona Deusa, eu tive muitos encontros, conheci muitos homens e nenhum deles me
enrolou tanto quanto seu filho, sabe porque isso aconteceu? ― Ela nega. ― Porque eu permiti,
por ter sentido algo por ele, algo forte o suficiente para me fazer querer tentar, mas então eu
descobri que ele me enganou e seguiu enganando até o último segundo. Luiz é sim um idiota
estúpido e acho que sou ainda mais que ele, porque mesmo que eu negue mil vezes, meu coração
não me deixa negar.
― Então você o ama?
― A senhora é a primeira pessoa para quem falo sobre os meus sentimentos. ― Ela sorri
e seus olhos brilham.
― Posso te dar um abraço?
― Claro, nem precisa pedir. ― Deusa me abraça forte.
― Obrigada, querida e seja bem-vinda à família, finalmente!
― Ainda é cedo para isso, o idiota do seu filho precisa reparar um erro.
― Está fazendo ele sofrer de propósito?
― É uma punição também.
― Certo, você é esperta. Como posso te ajudar?
― Dizendo a ele que estou de férias e que semana que vem estou indo para a Grécia. Mas
conte como se não fosse nada demais. E no final diga que torce para que eu encontre um Deus
grego por lá, como eu te disse que iria fazer.
― Pode deixar, vou jogar essa isca. Muito obrigada, Helena por dar essa chance ao meu
filho idiota.
― Não precisa me agradecer. Vai ser muito legal fazer parte dessa família.
― Ah, mas você já faz! ― Dona Deusa me abraça mais uma vez, beija meu rosto e
deixamos o escritório, passando pela sala cruzamos com o filho mais velho e mais idiota
também.
― Algum problema? ― Ele pergunta.
― Nenhum, querido. Estava apenas conversando com a Leninha, ela estava me contando
que está de férias e que na próxima semana vai se encontrar com os pais na Grécia, eu disse a ela
que espero que retorne trazendo na mala um Deus grego daqueles maravilhosos. E eu tenho
certeza que ela vai conseguir, está indo disposta a isso, não é, querida?
― Com certeza Dona Deusa! Estou ansiosa por essa viagem e louca para encontrar com
meu Deus grego. Eu preciso ver se a Mari precisa de ajuda.
― Claro querida e não esquece, estou torcendo muito por você.
― Eu sei disso. ― Por algumas vezes cheguei a pensar que Deusa falasse comigo apenas
por obrigação, nunca imaginei que ela gostasse de mim de verdade, me sinto surpresa e ao
mesmo tempo mal por ter coisas ruins sobre ela. Acredito que se esses homens ouvissem ao
menos um pouquinho a mãe deles, eu duvido que seriam tão idiotas e imbecis.
Capítulo 21
A semana que permaneço em São Paulo passa muito rapidamente, consigo colocar um
pouco da cultura em dia visitando museus e participando de alguns eventos culturais, vejo meu
afilhado todos os dias, ajudo Mariana e tento fazer com que os pais de Pedro e os pais da minha
amiga estreitem mais os laços com meu casal de amigos, mas uma semana não tem como fazer
muita coisa, contudo percebo que Mari e Pedro vem aceitando melhor a presença dos sogros,
tento não interferir demais, pois detesto ir contra a vontade da minha amiga e se Mariana tem as
suas restrições quando a presença dos pais e dos sogros, eu a entendo e aceito sua decisão, cabe
aos mais velhos aceitarem também e irem apenas onde meus amigos permitirem que possam ir.
Durante esse tempo não vejo o Luiz e nem ouço nada sobre a sua pessoa, começo a achar
que ele desistiu e se for o caso eu preciso aceitar que não era mesmo para ser.
Na sexta feira, Pedro, Mari e Bernardo me levam até o aeroporto, mesmo eu dizendo que
não precisavam ter vindo, mas gosto da presença deles aqui. Beijo e abraço os três já sentindo o
peito apertar em saudades.
― Sua boba, não chora. ― Mari diz enquanto me abraça e chora também.
― Duas bobas. ― Pedro comenta e vem me abraçar. ― Faça uma boa viagem, patinha.
― Obrigada, mas para de me chamar de patinha.
― Você sempre será a patinha feia e desajeitada. ― Brinca, entorto a boca e ele ri.
― Deixa de ser besta, Pedro, Helena é linda! ― Ele dá de ombros e eu nem ligo para esse
idiota, pois sei que gosta de me irritar. ― Volta com um Deus Grego bem lindo à tira colo,
amiga.
― Se tudo der certo eu volto mesmo.
― Quem sabe você não tem uma surpresa e volta com um brasileiro? ― Mariana olha
para o marido arregalando os olhos. ― Quero dizer, tem brasileiro em todos os lugares do
mundo, né? Vai que você dá sorte e acontece essa coincidência.
― É amiga, o Pedro tem razão. Já pensou nessa possibilidade?
― Não, estou indo para a Grécia, melhor que seja um romance internacional.
― Hum. ― Mari murmura. ― Aproveita, Lena.
― Obrigada, preciso ir. ― Os abraço mais uma vez, ouço a risada gostosa do meu
afilhado e sigo para o embarque, faço toda a tramitação, aproveito para reservar algumas
coisinhas no free shop e pegar no meu retorno, me julguem, mas amo comprar. Sigo até a zona
de embarque e entrego meu bilhete à comissária.
― A sua passagem sofreu um upgrade
― O que?
― É, senhorita Helena Gomes Saraiva?
― Isso mesmo.
― Então está correto, essa é a sua nova passagem, tenha uma boa viagem. ― Pego o
cartão de embarque de suas mãos e começo a pensar que de repente esse up grade foi pelas
milhas que tenho acumuladas ou o voo superlotou. Entro apresentando minha passagem e sou
guiada até a área da classe executiva, é ainda mais linda que a do último voo, me sento no lugar
marcado na minha passagem e fico olhando pela janelinha ao meu lado.
― Com licença. ― Ouço e olho, porque é comigo, não sei se sorrio ou se fico surpresa,
opto pela expressão que chamamos de pocker face, ou cara de nada.
― Agora entendo porque minha passagem sofreu um upgrade, de novo tomando decisões
por mim, Alan Luiz? ― A expressão dele é de puro pavor.
― Errei de novo?
― O que faz nesse voo?
― Fiquei com vontade de conhecer a Grécia, posso? ― Entendo também a conversinha
do Pedro e da Mari sobre me encantar por um brasileiro.
― Pode, mas por que isso? ― Aponto para o assento dele e o meu.
― Porque terei algumas horas para conversar com você, Helena.
― Isso não é um pouco inconveniente? Você me obrigar a ficar presa com você aqui?
― Imaginei que diria isso, por esse motivo comprei duas passagens em meu nome nesse
voo. ― Nem sabia que podia fazer isso, certeza que ele está blefando. ― Posso mudar de lugar,
se quiser. ― Devo apostar mais alto ou cair no blefe dele?
― Faz como achar melhor. ― Jogo a decisão em suas mãos, prefiro não arriscar.
― Ótimo, então eu fico, porque quero ficar. ― Disfarço um sorriso. Esse homem é tão
idiota.
― Faz como achar melhor, já disse. ― Dou de ombros.
Envio uma mensagem a dona Deusa:
Helena: Obrigada pela ajuda, seu filho está no mesmo voo que o meu.
Deusa: Imagina querida, quase não fiz nada.
Helena: Duvido! A senhora é muito esperta, seus filhos deveriam te escutar
mais.
Deusa: Eles deveriam mesmo. Mas você pode sempre contar com os meus
conselhos.
Helena: Que bom que vou sempre poder contar com eles.
Envio sorrindo.
― Com quem está falando e sorrindo assim?
― Com alguém que conheci na internet, ele é Grego, mas seus avós são brasileiros e por
isso ele sabe falar português.
― É o que?
― Acredita que ele parece um Deus Grego? Na verdade, ele parece o gato do super
homem, o Henry Cavill.
― Como é que é?
― Olha só que lindo! ― Mostro a ele a foto de um homem qualquer que baixei no
Pinterest. ― Acho que ele é o meu Deus Grego.
― O caralho que ele é!
― O que disse?
― O que ouviu. Nenhum homem da Grécia vai ser o seu Deus Grego, porque esse sou eu.
― Começo a rir.
― É muita pretensão sua...
― Eu sou lindo, Helena e sou perfeito para você. Esse cara aí não é pra você.
― Por que não? Ele é bem legal e temos excelentes conversas.
― Esse homem não é quem diz ser.
― Claro que é, conversamos por vídeo, acha que todos são dissimulados como você
Adam, ou melhor Alan Luiz?
― Eu mereci isso. ― Ele se cala e vejo um bico enorme se formar em seus lábios, as
instruções de voo começam e não demora muito para estarmos no ar. Serão horas de tortura para
ele e diversão para mim.
― Mudou alguma coisa no hotel que vou ficar?
― Como sabe?
― É a sua cara agir dessa forma.
― Mudei o do seus pais também, eles já estão no resort que reservei.
― Reservou um Resort?
― Sim. Você ao menos está pagando isso ou invadiu sistemas?
― Não sou um bandido virtual, se é isso que está insinuando, paguei por tudo, como
sempre fiz.
― Bom saber, estou te devendo uma grana.
― Não está me devendo nada, faço porque quero.
― Você é um idiota que faz sempre o que quer.
― Faço quase tudo que quero.
― Quase? ― Me arrependo da pergunta depois que a faço.
― É, quase, porque eu quero muito te beijar, linda Helena, mas não posso.
― Não mesmo! Ainda mais agora que tem o Andreas e eu estou disposta a beijá-lo.
― Andreas de que?
― Sonha que vou te dizer o nome dele completo, seu hacker presunçoso, prepotente e
arrogante.
― Nossa, quantos elogios, nem mereço tanto.
― Merece mais!
― Mereço um beijo seu, isso sim.
― Viu como é prepotente, o que te faz pensar que merece um beijo meu?
― Depois eu te conto. De repente estou sentindo um sono terrível.
― O que?
― É, estou com sono, muito sono e vou dormir. ― Ele chama a comissária que vem
cheia de sorrisos.
― Olá senhor, em que posso ajudá-lo?
― Gostaria de pedir uma taça de champanhe, por favor.
― Claro, e a senhorita ao seu lado, deseja alguma coisa? ― Seu tom de voz para mim é
completamente diferente do tom que tem para ele.
― Não sei, não estamos juntos. ― O safado responde, depois me diz que é tímido, não
parece nada, na verdade nunca me pareceu.
― Ah claro, desculpe a indiscrição, claro que não estariam juntos. ― Ela me olha de
cima a baixo e seu olhar tenta me reduzir a nada. Odeio seu olhar sobre mim é exatamente aquele
que sei bem o que significa. ― O voo está meio vazio, se quiser posso abrir uma exceção e
mudá-lo de lugar.
― Ué, por que vai mudar o lugar dele? Por que não me oferece isso? ― Me manifesto
sentindo meu sangue ferver, não apenas pela cantada e seu olhar de sedução pra cima de Luiz,
mas pelo ar preconceituoso dela para mim. ― Eu o atrapalho de alguma forma para que ele tenha
que mudar de lugar? ― Sei exatamente o que essa mulher quer insinuar, mas mesmo assim
pergunto: ― O que está insinuando?
― Nada senhorita, eu apenas...
― Ah eu sei muito bem o que queria, na verdade sei muito bem o lugar que deseja
oferecer a ele, acho mesmo é que você quer sentar nele!
― O que? ― Ela não está nada chocada, porém pergunta se fazendo de besta e ofendida.
― Isso mesmo que ouviu. Quer que eu saia para que se sente no meu lugar? Se quiser te
faço esse favor.
― Ah meu Deus, não quis insinuar nada disso, senhorita.
― Uhum, sei que não. Acho melhor fazer apenas o que ele pediu, mas traz duas taças de
champanhe. ― A atrevida sai e vejo Luiz prendendo um sorriso. ― Está achando engraçado?
― Não fazia ideia que fosse ciumenta, Helena.
― Ciúmes? Achou que isso foi por ciúmes? Claro que não foi! Ela insinuou que sou
gorda e por isso te atrapalho. Essa mulher nem cogitou me oferecer um lugar, foi logo dizendo
para você sair porque tem mais espaço em outros assentos e eu te incomodo. Vadia abusada!
― Você fez um xingamento?
― Fiz.
― Aqui está sua champanhe senhorita. ― A comissária me serve a taça já cheia e a dele
serve na hora, essa mulher acha que sou estúpida?
― Não vou beber essa merda! Quero uma outra taça e quero que me sirva na hora como
fez com ele, acha que sou estúpida? Sei que cuspiu aqui dentro! Com quem eu preciso falar para
mudar de comissária por aqui?
― Se acalma, Helena. ― Luiz pede devagar.
― Está mesmo me pedindo para ter calma? Essa mulher perdeu completamente a noção e
eu preciso ter calma? Ela me chama de gorda, depois dá em cima de você na minha frente, cospe
na minha taça de champanhe e eu preciso ter calma? Ela nunca nem teve noção!
― A senhorita pode por favor deixar a garrafa?
― Claro, senhor.
― Que vadia! ― Digo quando a vejo sair rebolando. ― Você está olhando pra ela?
― Não, estou olhando para você e adorando tudo isso. Está com ciúmes.
― Não estou, estou com raiva dessa vadia magrela!
― Helena, não diga isso.
― Ela cuspiu na minha taça!
― Olha pelo lado positivo, agora temos uma garrafa.
― Nem quero beber essa porcaria. ― A comissária volta, entrega a Luiz um kit viagem e
o meu praticamente joga em cima de mim. ― Você viu?
― Vi sim. Nossa, olha isso! ― Ele diz e pega de dentro do kit um bilhete.
"Se quiser, te encontro no banheiro"
― Vadia desgraçada! Vai lá Luiz e seja feliz, a comissária te quer.
― E eu quero você, olha só que problemão temos aqui. É como diz a música: “Quem eu
quero não me quer, quem me quer não vou querer, ninguém vai sofrer sozinho, todo mundo vai
sofrer”. ― Ele cantarola.
― Não fazia ideia que curtia Marília Mendonça.
― A mulher era uma gênia! Pena por sua morte precoce.
― É, Marília era incrível mesmo.
― Então, voltando ao assunto, você me quer, Helena?
― A comissária te quer.
― Quer se vingar dela?
― Seria ótimo, o que você tem em mente?
― Me beija e mostra pra ela que sou seu. ― Começo a rir tentando disfarçar meu
nervosismo e a vontade de fazer exatamente isso.
― Não vou te beijar só para provocar a ira daquela vadia.
― Mas vai me beijar?
― Não. A minha frase deu a entender que eu iria?
― É, deu sim.
― Nossa, me expressei muito mal. Você não estava com sono?
― Perdi. Aqui. ― Me entrega sua taça e ele bebe direto da garrafa, bebo da taça e ligo a
TV buscando por alguma coisa interessante, decido por um filme que estava no cinema não faz
muito tempo e eu não consegui assistir. Sinto a mão de Luiz tocar a minha e não me movo, ele
desliza o polegar sobre o dorso da minha mão e sobe os dedos pelo meu braço me fazendo
arrepiar.
― Para com isso.
― Vamos lá Helena, acaba com essa tortura, está sendo sofrido para nós dois.
― Não estou sofrendo nadinha. ― Ele estala a língua e se levanta. ― Aonde vai?
― Ao banheiro.
― O que? ― Arregalo os olhos, tamanha a minha surpresa e ódio.
― Vou ao banheiro!
― Vadio, filho da mãe! ― Ele se vai, vejo a comissária se empertigar e o seguir, me
levanto e vou atrás, nunca que irei permitir que essa mulher pegue o meu homem. Vou dar uma
de Mariana e tomar conta do que é meu! Dessa forma eu caio na armadilha de Luiz que me puxa
com ele para o banheiro apertado do avião.
― O que está fazendo? ― Questiono.
― Entrando no banheiro com quem eu realmente quero entrar. ― Sou prensada contra a
pia, os lábios de Luiz tocam meu rosto, meu pescoço e eu já estou entregue.
― Vai me roubar um beijo?
― Jamais. Quero fazer tudo certo dessa vez, vou deixar que você me beije quando achar
que deve. ― Já não tenho mais como fugir disso e muito menos negar.
― E se eu pedir que me beije? ― Ele ergue uma sobrancelha.
― Isso é alguma armadilha? ― Nego com um aceno. ― Se pedir, eu beijo. ― Meu
coração retumba no peito, a veia do meu pescoço pulsa intensamente e acho que vou ter um
ataque cardíaco.
― Me beija, Luiz. ― Ele sorri, mas antes que possa fazer qualquer coisa, alguém bate à
porta do banheiro. Alan Luiz suspira frustrado e eu também, abre a porta e imediatamente vejo a
comissária vadia.
― Vocês não podem ficar juntos no banheiro.
― Mas você bem que queria ficar com ele, sua dissimulada!
― Eu?
― Li seu bilhete, sua descarada, esse homem é meu, viu! ― Seu olhar é de espanto
misturado à nojo e eu odeio mesmo esse olhar. ― Por que o espanto?
― Porque você é....
― Sou o que?
― Gorda! ― A vadia completa horrorizada.
― Ah meu Deus, eu sabia! Ela é gordofóbica! ― Os passageiros sentados mais próximos
ao banheiro escutam a discussão e começam a me defender, o voo se torna um caos, a comissária
é escondida na cabine do piloto para que os mais revoltados não a agridam e Luiz me puxa de
volta para os nossos lugares.
― Helena, você está bem?
― Não. Eu não estou bem. Eu sabia que o ódio dela era por esse motivo. Se a gente ficar
juntos, isso vai ser constante.
― Estou disposto a brigar com qualquer um que agir dessa forma com você. Já dei um
jeito nela, não se preocupe.
― O que fez?
― Ela perdeu o emprego e já tem um processo sendo movido em seu nome contra ela.
― Como fez isso tão rápido?
― Simples, sou um bom hacker. ― Sorri. ― Eu vou te proteger, não sou o super homem
e muito menos me pareço com o Henry Cavill, mas tenho os meus métodos.
― Obrigada.
― Não fica tristinha, viu quantas pessoas queriam bater na comissária?
― É, eu vi, até algumas companheiras dela também.
― Senhorita? ― Olho para quem me chama e me surpreendo ao ver o piloto do avião. ―
Em nome da nossa companhia aérea pedimos perdão pelo ocorrido, medidas já estão sendo
tomadas e assim que aterrissarmos a Comissária Elaine será punida dentro da lei e com certeza
sofrerá uma demissão por justa causa, pois repudiamos qualquer tipo de preconceito e
discriminação.
― Obrigada.
― O que pudermos fazer para tornarmos seu voo mais agradável, é só pedir ao
comissário Fernando. Ele está a postos para lhe ajudar.
― Tudo bem. O senhor não precisava sair do seu posto.
― É o mínimo, senhorita. Deixei o copiloto no comando.
― Mais uma vez, obrigada.
― Imagina. ― O piloto se retira.
― Vem aqui, linda Helena. ― Luiz abre os braços e eu vou para dentro de um abraço
gostoso. Senti tanta falta do calor do corpo dele que recebo esse carinho com o coração cheio de
saudades. ― Não derrame suas lágrimas por aquela vadia.
― Agora ela é vadia?
― Ela sempre foi.
― Sabe que a culpa disso é sua, não sabe?
― Minha?
― É, por ser gostoso. ― Luiz ri e seu peito vibra.
― Então me acha gostoso?
― Nunca escondi isso.
― Verdade. Sabe que a sua opinião é a que mais importa para mim?
― Você costumava deixar isso claro.
― Que bom que se lembra, Senhorita.
― Alan Luiz?
― O que foi? Detesto quando me chama assim, é sempre para me lembrar do idiota que
fui.
― Você ainda é um idiota, mas não é isso.
― O que é então?
― Eu estou feliz que tenha vindo atrás de mim.
― É mesmo. E o Andreas?
― Eu invento uma desculpa para ele.
― Sei. ― Luiz me aperta em seus braços, sua mão acaricia meus cabelos e eu adormeço.
Capítulo 22
Depois de 18 horas de voo, uma grande confusão e um quase beijo, chegamos à Grécia.
― Tem um carro nos aguardando.
― O que vou dizer aos meus pais quando me virem com você?
― Que sou seu namorado, linda Helena, pois só sairemos daqui quando isso acontecer.
― Meus pais sabem sobre a nossa história conturbada, contei tudo a eles, até mesmo minha
pequena armação com a Deusa, mas ele não precisa saber disso por enquanto.
― Se eu me encantar por esse lugar, nunca vou aceitar ser a sua namorada, Alan Luiz. ―
Ele revira os olhos, mas me abraça. Precisamos ir até a Polícia Federal para falar sobre o que
aconteceu no voo, fiquei grata pela maioria das comissários e comissários irem a meu favor, bem
como o piloto e copiloto do avião, Elaine havia mesmo sido demitida e por justa causa, meu
processo contra ela já estava aberto. Depois de tudo esclarecido pegamos as malas e seguimos
até o carro que nos aguardava. Assim que descemos no resort vejo meus pais nos esperando e
corro até eles que me abraçam.
― Princesinha, que saudades!
― Também senti saudades de vocês, mamãe.
― Bonequinha, você vai amar a Grécia, sua mãe e eu temos um lugar incrível para te
levar.
― Estou ansiosa para conhecer tudo, papai.
― Então, aquele bonitão é o babaca que te enganou, mas que resolveu dar um upgrade na
nossa viagem?
― É ele mesmo, Alan Luiz, o irmão do Pedro.
― Luiz não se parece nada com o Pedro. Esse homem é espetacular, não que o Pedro
também não seja, mas esse é diferente.
― Concordo, deve ser esse ar arrogante que atrai. ― Mamãe e eu conversamos baixinho,
enquanto Luiz tira nossas malas do carro.
― Você é tão diferente do Pedro. ― Minha mãe diz a Luiz quando se aproxima de nós.
― Ouço muito isso, senhora. Me chamo Luiz.
― Alan Luiz. ― Corrijo.
― Isso, Alan Luiz.
― Lindo nome. Sou Janete e esse é meu marido Heitor.
― É um prazer conhecê-los.
― O prazer é nosso, rapaz. Um homem que presenteia os pais de uma garota dessa forma
deve ter algumas intenções com ela, quais são as suas intenções com a minha bonequinha?
― O senhor é tão direto quanto sua filha. Minhas intenções são as melhores possíveis. Se
sua filha permitir, eu desejo fazer com que ela seja a mulher mais feliz do mundo.
― Ah querido, que lindo. Mas ela disse que você é apenas um amigo. ― Mamãe comenta
e eu rio baixinho.
― Sua filha é bem difícil, senhora. Estou me esforçando e dando meu máximo para
conquistá-la.
― É bom mesmo, não pense que não sei o que aprontou, Helena não nos esconde nada.
Nos trazer para esse resort maravilhoso não muda o fato de que precisa se redimir por tê-la
enganado durante tanto tempo.
― Ah, claro, sim senhora. ― Luiz responde gaguejando e em um tom de voz baixo,
minha mãe é mesmo a melhor, ela primeiro amaciou, para depois bater. ― Helena, precisamos
fazer o check-in.
― Sim, eu te acompanho.
― Querida, seu pai e eu temos um jantar reservado, sabemos que passou horas em um
vôo e precisa descansar.
― Ah claro, podem ir, eu vejo vocês depois.
― Ótimo. Sabe o número do nosso bangalô, não sabe?
― Sei sim.
Sigo Luiz e noto que ele conversa com o recepcionista do hotel que lhe entrega dois
cartões chave, ainda ouço quando o rapaz parabeniza Luiz em inglês e não entendo o porquê
daquilo, será que é o aniversário dele e eu não sei?
― Vamos?
― Como vamos?
― Ué, pro quarto.
― Não entendi.
― Linda Helena, acha que vai ter um quarto só para você? Não mesmo, reservei apenas
um para nós dois.
― É o que?
― Não vou te deixar por aí longe das minhas vistas.
― Isso é pura trapaça!
― Sabe o que é mesmo trapaça?
― Hum?
― Que só tem uma cama. ― Responde dando um sorriso sínico.
― Seu idiota ardiloso!
― Vamos e não reclama, porque sinto sua falta na minha cama.
― Meu Deus, não diz isso!
― Acha que alguém aqui entende português?
― Sempre tem alguém para entender português, brasileiro tem em qualquer lugar!
― E daí se entenderem? Tem vergonha de mim?
― Não é isso, é que não quero que confundam as coisas. Não somos um casal.
― Ainda não somos um casal. ― Chegamos ao nosso quarto e percebo que é em um
outro anexo do resort, bem longe do bangalô dos meus pais, esse homem é mesmo um
trapaceiro.
― Se não dormir aqui, vai dormir onde?
― Com os meus pais.
― Mas não vai mesmo. Anda Helena, prometo dormir no chão.
― Merda! ― Me sinto cansada demais para ir até o outro pavimento desse lugar e dormir
com meus pais, acabo cedendo e entro com ele em nosso bangalô. É grande, até demais, tem
banheira de hidromassagem, ofurô, a cama fica no segundo andar, vejo que tem pétalas de rosas
vermelhas sobre ela e é uma cama gigante e dá vista para uma piscina privativa belíssima que
também fica no segundo andar do quarto, duvido até que a gente consiga se esbarrar nessa cama
grande dormindo à noite.
Vejo as malas que foram deixadas pelo carregador e vou até a minha, cato uma roupa
qualquer e entro no banheiro, tomo um banho demorado e relaxante, volto ao quarto e Luiz está
ao celular, pega uma muda de roupas e é a sua vez de entrar no banheiro, sai quando a
campainha toca e um atendente do hotel entra trazendo um carrinho com comida, o deixa e mais
uma vez ouço alguém desejar parabéns em inglês, só que dessa vez não é apenas para ele, mas
para mim também. Olho para Alan Luiz em busca de uma explicação para aquilo.
― Imaginei que estaria cansada demais para ir até o restaurante, então pedi para trazerem
a comida aqui.
― Obrigada, mas sabe o que gosto?
― Sei, eu sei o que você gosta. Eu te ouço o tempo todo e guardo todas as informações
aqui e aqui. ― Ele aponta para a cabeça e depois para o coração, merda, esse homem me tem
completamente.
― Obrigada. Estou mesmo cansada e com fome.
― Ótimo. Vem. ― Segura minha mão e vamos até uma varanda de fundos no quarto cuja
vista é belíssima.
― Esse lugar é espetacular, tem uma bela vista.
― Sei que ama apreciar belas vias. Não foi escolhido à toa.
― Hum.
― Posso te servir?
― Por favor. ― Digo, ele puxa a cadeira para eu me sentar e me serve um dos pratos que
já vem pronto, pega o outro e se senta à minha frente. ― Isso é um encontro? ― Ele sorri.
― Se quiser considerar dessa forma, é com você, mas não estou me esforçando aqui para
que seja um encontro perfeito.
― Às vezes não se esforçar tanto é melhor. ― Dou de ombros.
― Você pode ter razão, às vezes quando agimos de forma espontânea as coisas tendem a
fluir melhor.
― Uhum, exatamente.
― Posso te perguntar uma coisa?
― Pode.
― Aquilo que aconteceu no avião, com a comissária, acontece constantemente com você,
linda Helena?
― Às vezes, não é tão constante assim, mas acontece o suficiente para que eu reconheça
quem me julga ou não. Por exemplo, aconteceu uma vez na faculdade e Mariana me defendeu
atacando o cara.
― Foi um homem?
― É, foi um boçal, na verdade. Foi aí que ela conheceu o Pedro. Ele se encantou com o
ato corajoso dela defendendo a amiga.
― Pedro ama atos corajosos, isso porque ele é destemido. Quando éramos mais jovens
ele vivia se metendo em problemas para defender outras pessoas, acho que ele só tem medo de
uma coisa, perder Mariana e agora o Bernardo também..
― Ele continua assim, acho que por isso é advogado e você tem razão perder seus
maiores amores é um medo gigante, por isso Mariana sempre ameaça deixa-lo quando quer
conseguir alguma coisa.
― Uhum. ― Murmura sorrindo tanto quanto eu.
― E você?
― Faço minhas defesas também, mas sem usar a força, prefiro agir de outras formas e
também tenho medo de perder o meu amor. ― Luiz me fita e tem um brilho intenso em seus
olhos, sei que fala sobre mim, porém irei ignorar.
― Como agiu com a aeromoça?
― Exatamente.
― Ela estava chorando.
― Problema é dela, pensasse antes de agir daquele jeito com a minha mulher.
― Sou sua mulher?
― É, sabia que essa é a suíte nupcial?
― Por isso tinham pétalas de rosas na cama e todos os atendentes nos deram parabéns?
― Exatamente. ― Ele ri travesso. ― Divertido, não é?
― Não sei pra quem.
― Ah vai, a gente pode fazer com que seja.
― E como faria isso? ― Solto os talheres no prato já quase vazio e olho para Luiz.
― Acho que posso começar te servindo mais uma taça de vinho.
― Então o seu plano é me deixar bêbada?
― Não, é fazer com que seja divertido e eu ainda não terminei. Depois ia te contar
algumas histórias engraçadas sobre a minha vida, você iria rir e então eu te convidaria para a
piscina lá em cima, levaria uma nova garrafa de vinho e a gente ficaria bebendo sob a luz do luar,
eu iria te seduzir de um jeito que seu corpo não resistiria e te beijaria tornando tudo isso muito
mais divertido.
― E depois?
― Depois nada, seria como você achasse melhor. ― Ele dá de ombros.
― Então seu objetivo é finalizar esse encontro com um beijo?
― Eu não disse que era um encontro.
― É, você não disse.
― Só me beijaria se fosse um encontro?
― Na verdade não. Eu quase te beijei no banheiro do avião.
― Verdade, lembro que me pediu um beijo e eu não atendi ao seu pedido.
― É, aquela vadia me atrapalhou. ― Ele ri.
― Gostaria que eu retomasse a partir daquele ponto?
― Não, o clima foi quebrado.
― Merda, vadia filha da mãe! ― Ele diz puto e eu rio. ― Isso mesmo, ria do meu
sofrimento. Pedi sobremesa.
― O que pediu?
― Sorvete de morango e mousse de chocolate, para que você possa transformar em
sensação gelada.
― Oba! Você prestou mesmo atenção, pena que não sei quase nada sobre você, que ficou
escondido por trás de uma I.A. chamada Adam.
― Vai me lembrar disso até quando?
― Não sei, talvez para sempre. Me diz, do que você gosta?
― De você. ― Reviro os olhos e ele ri.
― E além de mim?
― Gosto de torta de limão.
― Bem básico.
― Está criticando meu gosto? ― Ele ergue as sobrancelhas e sorri.
― Não, só achei básico, nada mais. E comida? Já percebi que gosta de carne vermelha.
― É, eu curto um bom bife, macio e suculento.
― Isso soou estranho demais.
― Estranho como?
― Como se não estivesse falando sobre comida.
― Claro que estava falando de comida.
― Tá bom, se você diz. ― Luiz tem um sorrisinho safado nos lábios, ele se levanta vai
até a cozinha do bangalô e traz as sobremesas, torta de limão para ele e sensação gelada para
mim. A cada colherada eu solto um gemido de satisfação, é mais forte que eu, porque está
delicioso.
― Isso está sendo uma tortura para mim, é de propósito?
― Não sei do que está falando.
― Seus gemidos, eles estão me deixando louco, linda Helena.
― Posso soltar mais alguns só para te provocar.
― Não duvido que faça isso. Mas aviso que mais um gemido desse eu perco a cabeça e te
beijo. ― Termino de comer sem soltar um gemido sequer.
Estar com Luiz é tão simples, acho que sempre foi assim, desde a primeira vez que senti
aquele ódio à primeira vista, mas hoje sei que não foi bem isso, era mais uma sensação estranha
de já o conhecer e quando descobri tudo sobre Adam eu entendi, meu coração sabia que eu o
conhecia, sabia que ele me enganava, mas ao mesmo tempo tinha a certeza de que eu seria dele.
Isso é algo que não consigo negar, apesar de muitas coincidências terem acontecido, ele se
esforçou demais só para me conhecer e estar perto de mim, coisa que jamais alguém fez, isso
deve ser levado em consideração, é esforço demais para quem só quer comer alguém.
Já é hora dessa tortura acabar, tanto para mim quanto para ele, eu o quero tanto quanto ele
me quer e deixarei isso bem claro, tão claro quanto a água da piscina que pretendo entrar
acompanha pelo meu homem.
Capítulo 23
Olho para Alan Luiz com uma expressão sugestiva, tento o máximo que consigo ser sexy
e ao mesmo tempo ingênua.
― Então, vai me levar para a piscina agora?
― Claro, agora! ― Bem animado ele me estende a mão, eu aceito e seguimos até o andar
superior cuja vista é ainda mais linda que da parte inferior do quarto, a privacidade do lugar torna
as coisas ainda mais interessante. ― Você está de biquíni? ― Nego com um aceno. ― Vai entrar
de roupa? ― Nego mais uma vez. ― Vai entrar sem roupa?
― Não. ― Ele assiste quando tiro o vestido que havia colocado depois do banho, fico de
calcinha e sutiã pretos e entro na piscina devagar usando a escada de acesso a ela. ― Você não
vem?
― Deus me ajude. ― Pediu e via seus lábios se moverem, certeza que está em uma
oração silenciosa, eu rio, já que ele se diz ateu. Luiz entra na piscina de bermuda e a tira dentro
da água ficando apenas de cueca boxer. ― Não tinha como tirar ali em cima.
― Por que não?
― Preciso mesmo responder?
― Não, nem precisa. ― Devagar caminho até ele. ― Obrigada por ter vindo ao meu
encontro. Deve ter sido difícil abandonar sua empresa de jogos.
― Não foi nada difícil, Helena. Difícil foi ficar longe de você, suportar o fora que me
deu, ver que fui um completo idiota e te magoei profundamente. Isso tudo é que foi difícil. Estou
pouco me fodendo para o trabalho, nesse momento só me importo em reconquistar você.
― Não precisa se preocupar tanto.
― Por que não? ― Sua pergunta vem carregada de preocupação.
― Não vou mentir, Alan Luiz, você não veio atrás de mim porque quis, veio porque eu
quis que viesse. Na verdade, eu tive uma ajudinha.
― Minha mãe?
― Se tudo der certo ela será a minha sogra. ― Sorrio e ele está surpreso. ― Você não é
um homem tão burro assim, ou é?
― Estou processando toda essa informação, mas acho que travei.
― Certo, vou dar um tempo para você entender.
― Não preciso de mais tempo, Helena, eu já entendi.
― Será que você poderia me beijar agora para que esse encontro seja o melhor da minha
vida? ― Ele sorri e encurta nossa distância, me segura delicadamente pela cintura, depois sobe
uma das mãos até as minhas costas e com a outra acaricia meu rosto, seu polegar percorre meus
lábios, sorrio, beijo seu dedo e ele fecha os olhos.
― Isso vai mesmo acontecer?
― Está mesmo me perguntando isso?
― Estou, porque estou com medo do meu coração parar. ― Sorrio e beijo o rosto dele
devagar.
― Não precisa fazer nada, na verdade pode deixar que eu faço por nós dois. ― Beijo a
ponta do seu nariz, seu queixo e dou uma leve mordida.
― Desse jeito eu morro mesmo, linda Helena.
― Então me beije antes que essa morte aconteça, Luiz. ― Ele finalmente toma meus
lábios aos dele e quando faz isso é como se fogos de artifício explodissem dentro de mim, é um
momento especial, único e lindo, não é apenas um beijo é muito mais, é intimidade, troca de
sentimentos, entrega, Alan Luiz me beija com amor, calma, desejo, luxúria e paixão, nossos
corpos se unem ainda mais e eu sinto tudo, tudo que jamais senti em toda a minha vida, meu
sexo pulsa, meu coração bate forte, sua língua encosta na minha, me toca, se misturam e se
embolam juntas, ele morde meu lábio, suga, geme, eu gemo e a gente não para de beijar, o sinto
duro me tocando e entrelaço minhas pernas na cintura dele que me segura pelos quadris, o sinto
ainda mais perto, louca de tesão me esfrego em seu membro rijo, Luiz geme mais uma vez, beija
meu pescoço, desce até o vale dos meus seios, para e me olha nos olhos.
― Minha morte não vai chegar Helena, mas acho melhor pararmos por aqui, ao menos
por enquanto.
― Como é? Não quer mais me beijar?
― Ah Deus! Eu quero, claro que eu quero e quero muito.
― Então, qual o problema?
― Passarmos do beijo. Eu desejo muito mais que um beijo, quero te tocar, beijar outras
partes do seu corpo além dos seus lábios, explorar você inteira com a minha língua, ir além disso
e dar a você todo prazer que merece ter.
― Não estou negando que me dê isso. Estou agora mesmo autorizando que faça tudo
isso.
― Mas eu quero ir devagar com você.
― Mais? Não aguento mais ir devagar.
― Hum. ― Ele geme apertando as mãos na minha bunda, rebolo nele sorrindo, beijo seu
pescoço e mordo devagar.
― Sabe o que eu quero?
― Me enlouquecer? ― Sorrio.
― É, pode ser isso também.
― O que mais você quer além de me deixar louco?
― Eu quero fazer tudo com você, tudo aquilo que já vi nos filmes e li nos livros.
― Filmes e livros?
― Eróticos, Alan Luiz, filmes e livros eróticos, quero te tocar inteiro, lamber você em
cada lugarzinho que me parecer apetitoso. ― Ele ri. ― Estou falando sério, quero sentir você no
meu paladar, tato, olfato, visão e audição. Quero que domine todos os meus sentidos, acha que
pode fazer isso por mim?
― Ah meu amor, você já está fazendo isso comigo, fazer o mesmo com você não vai ser
trabalho algum. Posso avançar um pouco as coisas por aqui e te tocar da forma que eu desejar,
Helena?
― Sou sua. ― Com a minha autorização ele solta meu sutiã e meus peitos saltam diante
dele. Luiz me toca devagar, com muita delicadeza, seu toque me faz arrepiar.
― Você é tão perfeita, sabe quantas vezes eu desejei estar novamente fazendo isso?
― Novamente?
― Me lembro quando ficou doente e precisei te dar banho.
― Hum. Aquilo meio que não contou, eu estava doente.
― Mas eu não estava.
― Luiz, você é muito tarado.
― Você não faz ideia, querida. Não vou estragar esse momento falando coisas que posso
me complicar.
― Nem precisa, você sempre teve total acesso ao meu celular e a câmera dele, não é?
― Uhum.
― E eu deixei.
― Deixou.
― Me diz, quantas vezes se tocou me olhando ou pensando em mim? ― Rebolo sobre ele
que solta um gemido rouco.
― Incontáveis vezes, linda Helena.
― O que imaginava?
― Hum...
― Tá, eu pergunto e você me responde.
― Pode ser.
― Você queria que eu te tocasse?
― Eu quero!
― Assim? ― Toco sua ereção por cima da boxer, Alan relaxa o aperto das mãos na
minha bunda e eu desço de cima dele.
― Um pouco mais forte e não por cima da cueca. ― Sorrio, desço a peça que o cobre e
toco seu pau mais forte como ele pediu. ― Isso, amor, assim. ― Movo a mão para cima e para
baixo devagar. ― Um pouco mais rápido.
― Desse jeito?
― Perfeito, você é incrível, querida, mas pode parar por aí, não vou gozar na sua mão.
― Não?
― Não, eu preciso te dar prazer. Helena, eu quero sentir você urgentemente.
― Não estou te impedindo disso. ― Ele sorri e desliza a mão por meu rosto devagar,
beija meus lábios, suga o inferior dando uma mordida leve me fazendo gemer. ― Gostei disso.
― Me diz tudo o que gostar, está bem?
― Uhum. Gosto disso. ― Digo quando ele toca meus seios, Luiz sorri e aperta o bico
com mais força. ― Uhum, eu realmente gosto muito disso. ― Sua mão desce devagar chegando
entre as minhas coxas, ele me toca por cima da minha calcinha e a sensação é muito melhor do
que quando faço isso sozinha, sinto que vou me desfazer inteira rapidamente nas mãos desse
homem, seu olhar é tão intenso que faz a minha pele arder, como se eu estivesse em chamas
mesmo estando dentro d’água.
― Vamos sair daqui amor.
― O que, agora? Eu estava adorando. ― Luiz sorri.
― É, eu sei, por isso mesmo precisamos sair daqui. ― Meio contrariada deixo a piscina
com ele, Luiz me seca e em seguida usa a mesma toalha para se secar, me leva até a cama, mas
não nos deitamos e nem sei porque não deitamos, espero ele tomar a iniciativa. ― Eu gosto
muito de beijar você, Helena. ― Diz com a voz impregnada de desejo, Luiz analisa meu corpo
seminu e morde o lábio de um jeito sexy que faz a minha calcinha molhar ainda mais.
― Pode fazer isso sempre que quiser.
― Uhum, você é minha, não é?
― Você é um homem possessivo. ― Mal começamos e ele quer marcar território.
― Hum, não vou te dividir com ninguém.
― Olha, ainda tem o Andreas.
― Mentirosa! Sei que ele não existe. ― Seu olhar é divertido.
― Ele existe sim.
― Tá, ele existe, mas você nunca falou com ele.
― Você não sabe o que está dizendo!
― Claro que sei. Não sei se você sabe, mas Andreas é um modelo famoso e casado.
― Ah é? Aquele safado me enganou! ― Finjo surpresa, mas na real não sei nada sobre
esse homem.
― Com um homem.
― O que?
― Andreas é casado com um outro homem.
― Ah... aquele mentiroso!
― Dissimulada! ― Sorrio e toco seu rosto com carinho. Preciso fazê-lo esquecer o
assunto.
― Meus peitos ainda estão expostos. ― Foco nos meus peitos, certeza que ele vai
esquecer do Andreas.
― Estou vendo e gosto muito, mas os meus também estão e não ligo. ― Sorrio da sua
gracinha.
― Eu posso tocar em você?
― Está me pedindo permissão?
― Sim.
― Sou todo seu Helena, desde o primeiro momento.
― Bom.
― Só bom?
― Muito bom.
― O que vai fazer comigo, Helena?
― Tudo.
― Depois, primeiro eu vou fazer com você. ― Muito rápido ele, finalmente, me deita na
cama, tira minha calcinha devagar e me olha inteiramente nua, amo esse jeito dele me olhar, tem
um brilho, uma faísca que me encanta e eu desejo que me olhe assim para sempre. Luiz me beija
nos lábios, recebo sua língua que acaricia a minha, o beijo se torna profundo e cada vez mais
afoito, me agarro em seu corpo, seu sexo ainda coberto pela cueca encosta no meu já exposto e
gemo. Luiz percorre meu corpo com os lábios, beija meu seio, suga um bico e depois o outro,
meu coração parece uma britadeira do tanto que bate acelerado.
Tudo é novo e a expectativa é alta, ele sabe disso, por isso está me cozinhando em banho
maria, lentamente provoca cada partezinha do meu corpo, seus dentes arranham minha pele, com
a língua me prova, seus lábios me beijam e gemidos escapam da minha boca, me contorço
querendo mais, me agarro a ele implorando por mais.
― Gostosa. ― Ele geme em meu ouvido e chupa o lóbulo da minha orelha.
― Me beija, Luiz.
― Diz que você é minha, Helena.
― Eu sou sua, há muito tempo que sou sua. ― Confesso, ele sorri e me beija, desce os
lábios por meu corpo e acessa meu sexo, arregalo os olhos surpresa como isso é maravilhoso, sua
boca é quente, os lábios macios e a língua precisa tocando exatamente onde me deixa louca de
prazer, tremo, gemo, me agarro aos cabelos dele, ergo o quadril, mordo os lábios e viro o rosto
gemendo, implorando por libertação. ― Ah, meu Deus!
― Gosta disso, amor?
― Uhum, muito, não para. ― Ele sorri, sopra na minha boceta e estremeço mais uma
vez, Luiz volta a me sugar, lambe meu clitóris, beija, suga, morde devagar e eu me entrego, meu
corpo se contrai e grito, gozo e ele me lambe inteira, meu corpo amolece, minha vista escurece,
meu coração bate em todos os lugares e aos poucos vou recobrando os sentidos. Luiz sorri todo
convencido e me beija os lábios. Deita-se ao meu lado e me puxa de encontro ao seu corpo. ― É
só isso?
― Quer mais?
― Sim, achei que teria mais que isso. ― O safado ri.
― Por hoje é só isso, nosso encontro passou do beijo e fomos muito além, Helena.
― Não transa no primeiro encontro?
― Ah meu amor, não me tente, só Deus sabe o quanto estou me segurando aqui para não
foder você.
― Por que está se segurando?
― Sei que me permitiria continuar, mas não vamos ter pressa, ainda quero ter muitos
encontros com você.
― Quer me deixar louca, isso sim.
― Posso te dar outros orgasmos sem fazermos sexo, o que acha?
― Não vou me opor, mas vai ter que deixar eu fazer com você também.
― É o que?
― Também quero fazer com você.
― Puta merda. Hoje não, por hora você descansa.
― Não estou cansada. ― Me sento na cama e olho para ele que acaricia meu rosto.
― Você é tão linda. ― Ele segura minha mão e a coloca sobre seu coração. ― Bate
assim desde o primeiro momento, linda Helena, achei que estava tendo um AVC na primeira vez
até entender que era amor. ― Seguro sua mão e a levo até meu coração.
― Bate igual. ― Ele sorri e ergue o corpo para me beijar. Nos deitamos um de frente
para o outro, ele acaricia meu rosto e eu o dele, adormecemos trocando carinhos e olhares
apaixonados.
Capítulo 24
― Bom dia, linda. ― Luiz beija meu rosto e me abraça.
― Bom dia, lindo.
― Então a senhorita confessa que sou lindo?
― Jamais neguei isso. Você é lindo e adorável.
― Adorável? Essa é nova.
― Pra mim você é. Faz tanta coisa legal só para estar por perto.
― Não consigo ficar longe, é torturante.
― Por enquanto estamos perto.
― Como assim, por enquanto.
― Estamos aqui e essa não é bem a vida real. Estou de férias, Luiz, mas quando isso
acabar cada um de nós deverá ir para sua cidade.
― E esse é o tipo de drama que você não deseja encarar?
― Não vou abrir mão desse drama. Vou agarrar essa chance de viver o que temos, se é
isso que está me perguntando.
― O que mudou? ― Ele ergue as sobrancelhas curioso para saber a minha resposta.
― Uma conversa que tive com alguém que parece saber das coisas.
― Eu posso me mudar para o Rio de Janeiro.
― Mas é o que quer?
― Sim. Não quero mais estar em um lugar que você não esteja.
― E o Bê?
― Ele tem os pais, Helena, acho que já ensinei aos dois o suficiente para não deixarem
nosso afilhado morrer.
― Já que você curte apartamento pequeno, o que acha de morar no meu? ― Ele sorri e
morde o lábio inferior.
― Só tem um quarto. ― Dou de ombros. ― É uma proposta, linda Helena?
― Pode ser.
― Não aceito. ― Abro bem os olhos e a boca. ― Não faça essa expressão de choque.
Não vou aceitar a sua proposta, sei bem o que deseja, Helena, mas a minha decisão é outra.
― Não entendi.
― Vai entender, por enquanto vamos aproveitar o que resta das suas férias nesse lugar
incrível. Seus pais agendaram um passeio pra gente.
― Não mete essa, não vai fugir do assunto, queria tanto ficar comigo e agora está
fugindo?
― Não estou fugindo de ficar com você.
― É o que eu entendi?
― Não sei o que entendeu.
― Entendi que não quer viver na mesma casa que eu.
― Você entende tudo errado.
― Então explica, Alan Luiz.
― Você sempre dizia que todo meu esforço era só para comer você, lembra disso? ― Lá
vem… Aceno confirmando e ele sorri, sádico. ― Não vou te comer, Helena.
― E o que fez na noite passada?
― Merda! O que quero dizer é que não vamos transar, não vou até o fim, entendeu?
― Ué? E eu vou ficar virgem pra sempre?
― Não, claro que não, só quero que saiba que não é só isso que eu quero com você e para
provar vou te manter virgem até o dia do nosso casamento.
― Espera, o que?
― Isso mesmo que ouviu.
― A gente nem namora e vem você falar de casamento, está maluco?
― Não, estou falando sério. Vamos sair daqui noivos.
― Esse não foi o combinado, você disse que a gente só sairia daqui juntos, estamos
juntos, agora quer noivar?
― Estou com pressa. ― Disse baixinho.
― De casar?
― De começar uma vida ao seu lado. Estou cansado de tentar e errar todas as vezes. Você
me disse que eu nunca tive você, mas isso é mentira, a gente até meio que namorava.
― Quando você se passava pelo Adam?
― É, era eu Helena e você se apaixonou por mim.
― Duas vezes. Como conseguiu ser tão diferente?
― Eu não podia me mostrar exatamente como o Adam era, você descobriria muito
rapidamente.
― Fui bem burra em não desconfiar mais rapidamente. Querendo ou não, algumas coisas
eram parecidas. A troca da minha passagem depois que o Bê nasceu, a limusine me esperando na
saída do aeroporto, quando disse saber exatamente a sobremesa que eu gostava, eu contei ao
Adam.
― Foi.
― E você mentiu.
― É.
― No seu banheiro, quando eu gritei ao cair água fria em mim, ouvi sua voz duplicada
uma pela porta e a outra saindo do meu celular.
― Levei um susto e o áudio vazou.
― Então você podia me mandar áudio?
― Vídeo também. Eu tenho total acesso ao seu celular.
― Você tinha, eu deletei o aplicativo.
― Eu ainda tenho, Helena, nunca deixei de ter, eu disse que invadi o seu sistema.
― Espera, esteve me observando esse tempo todo?
― Não, jamais faria isso sem o seu consentimento, respeitei a sua vontade e me mantive
fora da sua vida, do seu celular e das suas contas.
― Meus Deus! Preciso trocar de celular.
― Não vou fazer nada que não me permita fazer, linda Helena. Eu sou um panaca idiota,
mas não quero mais errar aqui, por isso estou te contando tudo.
― Você erra tentando acertar. Eu estava certa quando disse que você era diferente.
― Dessa vez é um diferente bom?
― Estou me acostumando e começo a achar que é sim um diferente bom, mas se
mantenha longe do meu sistema.
― Estou fora, já disse.
― Quando tiver alguma dúvida de como agir comigo e não queira me perguntar, basta
conversar com a sua mãe, ela vai saber te dar alguns bons conselhos.
― É, pode ser. Ela foi esperta se juntando contigo para me manipular e aqui estou eu.
― Foi eficiente.
― Eficaz. Então, aceita ser a minha noiva?
― Não. Não sabemos se isso vai dar certo.
― Já está dando, deu uma vez, por dois meses.
― Até você cagar tudo. Não vou aceitar e não insiste.
― Você é uma mulher difícil demais. Vamos mesmo viver de ponte aérea?
― É o jeito. ― Dou de ombros.
― Vou me mudar para o Rio de Janeiro, alugo um apartamento.
― Não seria mais fácil ficar no meu?
― Nem pensar. Acha que está sendo fácil para mim estar aqui com você e não querer
fazer tudo, tudo mesmo? Imagina morar sob o mesmo teto?
― Você é um homem idiota e confuso. Quer me torturar e se tortura no processo, qual o
problema de transarmos?
― Tenho um ponto a provar, é questão de honra, você me acusou de ser tarado por
virgens e não sou isso.
― Mas foi o que me pareceu quando se apresentou como Luiz para mim. Só falava em
me comer e tudo era sempre sobre sexo.
― Era nada, sua mente que é poluída.
― Ah tá bom. Você disse que resolveria o meu problema, Luiz!
― Foi para te irritar.
― E irritou de verdade.
― Levei um tapa.
― Não acredito que bati no meu namorado.
― Sou seu namorado?
― Era, quando eu achava que fosse uma I.A. Não me referia a agora.
― O que somos agora?
― Amigos que quase transam? ― Ele ri alto.
― Só pela sua gracinha eu vou te dar um orgasmo.
― É o que? Agora?
― É, agora.
― Eu nem escovei os dentes ainda, estou com remela nos olhos.
― Está nada e não me importo com seu bafo da manhã.
― Isso é nojento!
― Você vomitou em mim, Helena. ― Ele tem um ponto muito importante.
― Eu estava doente, agora estou saudável.
― Não vai sair dessa cama sem ter um orgasmo. ― Ele me prende sentando sobre as
minhas pernas.
― A gente não tinha um passeio?
― Temos, mas esse é o bangalô de lua de mel, ninguém vai se importar se não formos ao
passeio.
― Meus pais vão.
― Estamos conversando demais e perdendo tempo.
― Deixa eu escovar os dentes.
― Não. Vou beijar sua boca agora. ― Sem me dar tempo de resposta ele me beija,
devora meus lábios com uma fome gigantesca, suga minha língua, brinca com os meus sentidos e
com meu prazer, sou dele e por isso me entrego, Luiz beija meu pescoço, desce a alça da
camisola que visto e suga meus seios, gemo sentindo o toque gostoso de seus lábios quentes em
uma região que tanto me dá prazer, ele poderia me fazer gozar só chupando meus peitos, mas sei
que não vai ficar só por aqui, sua mão esperta se enfia entre as minhas coxas, rapidamente afasta
a minha calcinha e sente que já estou melada por ele, Luiz morde o bico intumescido do meu
seio ao mesmo tempo que move seu dedo no meu clitóris, um gemido escapa por entre meus
lábios, abro minhas pernas dando a ele acesso irrestrito, sinto seu membro enrijecido bater em
minha coxa, desço a mão e o toco, é a vez dele gemer, puxo seu pau para fora da cueca e dois
podem jogar esse jogo, se ele quer tanto me dar um orgasmo, eu também quero lhe dar um, o
safado me olha ainda chupando meu peito, aperto a mão em seu pau e movo da maneira que ele
disse que gostava na noite de ontem, seus olhos se fecham e ele permite que eu prossiga, seus
dedos me tocam, ele enfia um dedo na minha entrada, nossos gemidos se misturam, Alan solta
meus seios e os lábios dele vêm de encontro aos meus, sugo sua língua exatamente como
desejaria fazer com seu pau, ele se afasta e me olha. ― O que quer fazer, Helena?
― Vai deixar?
― Puta merda, sou todo seu. ― Ele se deita ao meu lado, fico sobre ele beijo seus lábios,
desço por seu pescoço, peito e o exploro com a minha língua, seguro seu pau e lambo devagar a
cabeça provando o líquido que sai dali, ele geme e se agarra aos lençóis da cama, sugo a ponta e
Luiz arregala os olhos, continuo o chupando até quase a base. ― Caralho, isso é perfeito! ― Me
sinto uma Deusa quando me diz isso e mais ainda quando vejo seu olhar sobre mim, Alan segura
meus cabelos e me olha com uma intensidade tamanha que faz meu sexo pulsar, gemo de prazer
e sinto um orgasmo se aproximar, babo em seu pau e faço movimentos de vai e vem o sugando
no processo. ― Que boca gostosa você tem, amor, não vou resistir, vou encher sua boquinha de
porra, linda Helena.
Continuo dando prazer a ele, quero mesmo sentir seu gosto, dar a ele tanto prazer quanto
dá a mim, Luiz brinca com meus seios e geme, o chupo por mais alguns minutos e o sinto vibrar,
seu gemido fica rouco.
― Vou gozar, Helena. ― Ele avisa, porém não me afasto, deixo que ele preencha minha
boca com seu esperma, é quente, viscoso e um pouco doce, é diferente, não é bom, mas também
não é a pior coisa que provei, engulo e lambo o restinho que ficou por ali, ele me olha com os
olhos arregalados, acaricia meu rosto e o ergue segurando meu queixo. ― Você me deixou
viciado. Como vou fazer agora? ― Dou de ombros sorrindo.
― Também gostei quando fez isso em mim, mas você não quer morar comigo.
― Ardilosa! ― Ele me puxa e me senta sobre seu pau, mas sem o enfiar dentro de mim, o
sinto tocar na minha boceta. ― Rebola no meu pau, Helena.
― Está falando sério?
― Uhum, não vamos transar, mas quero que você goze em cima dele. Busca o seu prazer,
amor. ― Isso é excitante demais, os olhos dele cintilam, mordo meu lábio e me movo, a
sensação é deliciosa, a fricção do seu pau no meu clitóris me faz gemer, estou a ponto de entrar
em colapso, meu coração bate forte, meu corpo ferve e eu busco meu alívio, busco meu prazer
em cima do pau desse homem incrível, rebolo, me esfrego nele, sinto minhas coxas queimando
de tão rápido que me movo, gemo e o ouço gemer, Luiz aperta minha bunda e sinto um tapa,
tudo o que ele sempre quis fazer, gemo, porque gostei. ― Gostou, Helena?
― Uhum, gostei.
― Bom saber disso. ― Ele me bate de novo, jogo a cabeça pra trás e acelero meu
movimento, gemo. ― Você é minha, Helena?
― Sou, eu sou sua. ― Respondo rapidamente.
― Vai ser minha para sempre?
― Uhum, para sempre, Luiz.
― Que bom. Porque sou seu já faz um tempo. ― Ele fala, meu corpo se arrepia, uma
sensação gostosa que vai da mente até a minha boceta me faz estremecer, grito e sinto meu corpo
inteiro vibrar, fecho os olhos me movendo devagar. ― Casa comigo, Helena? ― Não sei se
entendi direito, mas acho que murmuro alguma coisa, minha cabeça balança confirmando, muito
rapidamente Luiz se senta e toma meus lábios nos dele, me beija de um jeito erótico, dominador,
delicioso, ele aperta a minha bunda me juntando ainda mais com ele, o sinto tão duro que tenho
vontade de o enfiar inteiro dentro de mim, mas não tenho forças para isso, me jogo para o lado e
me deito.
Capítulo 25
Depois de um momento de intenso prazer, conseguimos sair da cama e juntos vamos até
o local onde o café da manhã é servido. Vejo meus pais sentados à uma mesa perto da janela,
mamãe, com seus olhos de águia, olha para minha mão presa a de Alan Luiz.
― Bom dia. Dormiram bem? ― Questiona curiosa.
― Sim, sogrinha, a noite foi boa. ― Papai se engasga com o café e mamãe arregala os
olhos.
― Sogrinha?
― É, pedi sua filha em casamento hoje de manhã e ela aceitou.
― O que?! ― Papai, mamãe e eu questionamos.
― Não, lembra, Helena? Faz pouco tempo, perguntei se você se casava comigo e me
respondeu que sim, lembra que te beijei em seguida?
― Meu Deus, vocês se beijaram?
― Algumas vezes, sogrinha. Estou muito feliz e espero que também estejam, essa viagem
será perfeita para nos conhecermos melhor. ― O que esse trapaceiro fez? Eu disse sim? Não me
lembro de ter dito sim, ah meu Deus, eu disse que sim! ― Vou pegar um café para você, amor.
― O safado se afasta depressa e me deixa ali diante dos olhares curiosos e cheios de
questionamentos dos meus pais.
― Até ontem ele era um amigo, um cara que tinha mentido para você e hoje é seu noivo?
E você deixou de ser BV com ele?!
― Mamãe! ― Exclamo olhando para meu pai.
― Seu pai sabe que você é pura, Helena, ou ao menos era, sei lá.
― Mamãe! ― Sinto meu rosto arder de vergonha e olho para os lados.
― Não tem brasileiro aqui, ninguém vai nos entender, senta! ― Ela exige, eu me sento.
― O que mais tem para me contar antes que seu noivo retorne? ― Sua entonação muda ao dizer
noivo.
― Não fizemos sexo, se é isso que quer saber. Ele quer se casar comigo.
― Ah, agora entendi porque estão noivos tão depressa.
― Mãe! Não é por isso. Ah meu Deus, esse homem só me complica!
― Você o ama, bonequinha? ― Papai pergunta.
― Ele é o único homem que me faz sentir esse tipo de amor, papai. Não sabia o que era
esse sentimento até conhecer o Luiz. ― Papai sorri. ― Ele fez muitas coisas erradas, mas todas
foram tentando acertar para poder ficar ao meu lado. Ele gosta de mim exatamente como eu sou
e me respeita também. ― Sorrio me sentindo feliz.
― Entendi, vocês têm a minha bênção.
― Heitor?!
― Janete, é o primeiro namorado da nossa filha, esse rapaz está tentando e demonstrando
que ama a nossa bonequinha e que pode dar a ela uma vida feliz e plena, é tudo que sempre
desejamos para Helena, então trate bem esse homem.
― Ele mentiu para ela, a fez sofrer.
― Mas a faz feliz, querida. Tenho certeza que ele agiu sem a intenção de magoá-la, Luiz
não tem cara de que faria algo para machucar a nossa filha premeditadamente. Vamos dar uma
chance ao rapaz.
― Se ele magoar a minha princesinha, eu acabo com a raça dele. ― Mamãe é uma
daquelas mães leoas, ela me protege com unhas e dentes.
― Faremos isso juntos, abro mão do meu réu primário se ele magoar nossa filha.
― Acho bom, Heitor.
― Desculpem, nem eu mesma sabia que ele diria isso assim, eu não lembrava de ter
aceitado me casar.
― Como assim não lembrava?
― Alan Luiz me pediu em um momento complicado, eu não estava pensando direito, eu
estava meio que… com a cabeça em outro lugar. ― Mamãe me olha erguendo uma das
sobrancelhas, Luiz retorna trazendo um prato cheio de comidas e duas xícaras com café.
― Espresso duplo sem açúcar, trouxe torrada com queijo, croissant e geléia de morango
que você adora. ― Esse homem me conhece tanto assim?
― Obrigada. ― Digo baixinho.
― Eu queria antes de tudo conversar com vocês, sei que devo ter parecido um pouco
impulsivo nas minhas ações, mas quero me explicar. ― Alan diz para meus pais. ― Pode comer,
amor, enquanto isso converso com meus sogros, tudo bem? ― Confirmo devagar, também
querendo escutar o que ele tem a dizer. ― Sei que Helena não esconde nada de vocês, a minha
relação com a minha família é um pouco mais distante, não que eu não os ame, eu os amo, mas
para mim eles são todos insuportáveis, invasivos, chatos, sem noção e isso é algo que eu penso
sobre quase todas as pessoas, digo quase porque sua filha é a exceção. ― Sinto que ele não está
no caminho certo, pois ofendeu meus pais, se eu sou a exceção, ele também não suporta os
sogros, gemo baixinho e aceno negativamente prevendo que ele vai se ferrar. ― Não sou
sociável, nem falante e muito menos simpático, mas sua filha me faz ser tudo isso, Helena
sempre me fez sentir coisas inexplicáveis e corri muito atrás dela para continuar sentindo isso, é
bom, é um calorzinho gostoso que dá aqui no coração, sabe? Ela é uma mulher linda, sexy,
extremamente sedutora, inteligente e eu sou o homem mais sortudo do mundo por ela me querer.
Sou capaz de matar quem tentar magoar essa mulher, posso dizer que acabei com a carreira de
uma pessoa que fez mal a ela. ― Me lembro da comissária gordofóbica. ― Quero proteger a
Helena, ser a sua fortaleza, seu amigo, seu homem, seu amor, mas para isso eu preciso da
aprovação de vocês. ― Ele não precisa dessa aprovação, sei que está pouco se fodendo para o
que meus pais acham dele, Alan Luiz é assim com todos, não liga para a opinião de ninguém e só
está fazendo isso porque sabe como é a minha relação com meus pais, ele sabe disso porque
sempre nos ouviu conversando quando lhe dei acesso para isso na época que se passava por
Adam e agora vejo que ele não vai se sair tão mal assim.
― Nós só queremos que nossa bonequinha seja feliz. ― Papai começa a dizer.
― Helena é a nossa princesinha, Luiz. Você já a magoou algumas vezes, mas sei que o
que disse foi sincero, só em saber que deseja o bem para nossa filha faz com que aceitemos você
e esse relacionamento.
― Obrigado.
― Não precisa nos chamar de sogros se isso não te agrada. Porque não me agrada
nenhum pouco. ― Papai dá seu recado, Luiz sorri e concorda, ele me olha, segura minha mão e
não a solta mais.
Passamos o dia passeando com meus pais, conheço cada ponto turístico incrível, Luiz
apresenta novos lugares para todos e dessa forma descubro que ele já esteve aqui, na verdade ele
viajou para muitos países, alguns até acompanhado de Sophia, essa mulher faz parte da vida dele
há muito tempo e vou precisar aceitar e tolerar isso.
Assistimos ao pôr do sol em Santorini e em seguida nos despedimos dos meus pais, Luiz
planejou um jantar romântico em um restaurante de um hotel aqui mesmo em Santorini. O lugar
é lindo, com uma vista incrível, estamos no ponto mais alto do lugar e é tão encantador quanto
romântico, observo Luiz à minha frente, ele tem o olhar fixo na vista, sinto meu coração bater
mais depressa por esse homem, penso em tudo que vivemos e essa é a primeira vez que consigo
associá-lo ao Adam de uma maneira boa, que me faz sentir feliz por ele ser o homem que me
conquistou meses atrás se fazendo passar por uma I.A. fico feliz por ele ser real, me amar, por
ser tão cuidadoso comigo, ter me dado os melhores encontros da minha vida, me beijado e me
proporcionado alguns deliciosos orgasmos, me sinto feliz porque encontrei mesmo o meu
príncipe encantado, o meu Deus Grego brasileiro e ele está diante de mim.
― Você está me olhando de um jeito diferente, Helena. ― Me diz sem olhar para mim.
― Diferente como?
― Do mesmo jeito que olhava para o celular quando falava com Adam. ― Luiz me olha
e meu coração erra uma batida. ― Ou quando cuidei de você daquela vez que estava doente e me
olhou exatamente assim no dia que batizamos o Bê. Por que está me olhando assim, Helena?
― Porque eu amo você, Alan Luiz. ― Vejo seus olhos brilharem e um sorriso lindo
surgir em seus lábios.
― Se deu conta disso só agora, linda Helena?
― Não, já faz tempo, mas como você perguntou sobre o meu olhar, precisava te dar uma
resposta. ― Dou de ombros.
― Você disse que me amava com o olhar por muitas vezes.
― É, eu disse sim.
― Isso significa que me perdoou.
― Achei que já tinha deixado isso bem claro. Não estaria com você se não o tivesse
perdoado.
― Faz sentido. Obrigado por me amar, Helena. ― Ele sorri. ― Obrigado por me deixar
te amar, por trazer um novo sentido à minha vida. Gosto muito mais de tudo quando estou com
você, parece que vejo a porcaria do mundo todo cor de rosa. ― Eu rio. ― Esse mundo é uma
merda, mas você o transformou para mim tornando tudo um grande parque de diversões. Quando
eu disse que havia voltado pelo meu sobrinho, disse também que teve outro motivo, esse motivo
foi você.
― Eu? Como assim?
― Eu te vi quando ainda morava fora, minha mãe me inseriu no grupo da família
obrigatoriamente e me proibiu de sair, o grupo estava silenciado eternamente, mas um dia resolvi
ver a conversa e abri uma foto que Mariana tinha enviado e lá estava você ao lado dela e do
Pedro no casamento deles, era uma quinta feira e Mari postou a foto como TBT, você foi a visão
mais linda que vi na vida, salvei aquela foto, mas fiz algumas alterações. ― Ele pega o celular e
me mostra a foto, Luiz havia cortado Mari e Pedro da imagem e colocou a minha volta um
cenário lindo cheio de flores. ― Esse foi o sorriso mais lindo que vi em toda a minha existência,
meu coração acelerou quando olhei a sua foto, desde então comecei a acelerar o processo de
retorno ao Brasil e a notícia de que seria tio chegou e só reforçou minha vontade de voltar, passei
quase um ano pensando em como me aproximar de você e o resto é história que já sabe.
― Uhum, me lembro bem das suas trapaças. ― Ergo meu olhar e mordo o lábio sorrindo.
― Eu gostaria muito de beijar você agora. ― Luiz se levanta, se senta ao meu lado e
rapidamente toma meus lábios aos dele. ― Eu me caso com você.
― O que?
― Eu aceito seu pedido, me caso com você. Não estava esperando por um príncipe
encantado, só queria ter o encontro perfeito, beijar e quem sabe poder transar com um cara legal,
mas não aconteceu, eu já tinha desistido de tudo quando você chegou e de repente me vi tendo
encontros perfeitos e nada de beijos, a gente demorou muito para se entender, mas conseguimos
construir um relacionamento incrível, jamais pensei que beijaria meu primeiro amor e olha só, eu
não apenas o beijei como vou me casar com ele, isso faz de mim a mulher mais sortuda do
mundo. Você é incrível Luiz, é o meu amor, meu namorado virtual e real, meu príncipe
encantado, não se parece nada com o Henry Cavill, mas é o meu Deus grego brasileiro. ― Ele
sorri. ― Serei a mulher mais feliz do mundo por me casar com você. ― Vejo algumas lágrimas
descendo pelo rosto dele e seco devagar com meus dedos.
― Me dá sua mão. ― Estendo a mão. ― Eu te pedi para casar comigo enquanto você
estava gozando, duvido que se lembre ter me dito sim. ― Não lembrava mesmo. ― Foi um
pedido sincero e a sua resposta sincera está vindo agora, por isso não te dei isso. ― Ele tira um
anel do bolso da calça, um belíssimo anel rosê com uma pedra linda meio rosada no topo. ―
Estava esperando você dizer que me aceitava para te dar o anel. ― Ele percorre o anel em meu
dedo anelar, beija minha mão e depois meus lábios. ― Eu te amo, linda Helena, desde o primeiro
momento que coloquei meus olhos em você. ― Agora quem chora sou eu e ele seca minhas
lágrimas, tiramos fotos e ele anuncia no grupo da família que estamos noivos.

Posso dizer que nossa passagem pela Grécia estava sendo maravilhosa, mas era hora de
voltar. Como ainda me restava uma semana, Luiz pediu que eu descesse com ele em São Paulo,
aceitei, pois, além de estar perto dele, também ficaria perto da Mari, do meu afilhado e do Pedro.
Me despedi dos meus pais quando eles seguiram para o outro avião que iria para o Rio de Janeiro
e desembarquei com meu noivo em São Paulo. Luiz carregava o carrinho com nossas malas e eu
caminhava ao seu lado, próximo a saída vejo uma mulher muito animada que corre até meu
noivo e se pendura em seu pescoço.
Capítulo 26
A atitude da mulher me deixa estarrecida, porém me mantenho fina e nada faço, apenas
quero observar mais dessa interação e descobrir se isso é algo natural e que acontece com
frequência.
― Chefinho, senti saudades. ― Sophia, ainda pendurada em meu noivo, diz.
― Perdeu a noção, Sophia? ― Luiz pergunta com a expressão fechada afastando-a de si,
ela apenas sorri e tasca um beijo no rosto dele. ― Você está bêbada?
― Claro que não, estou feliz por te ter de volta, foi legal na Grécia? Me lembro daquela
vez que estivemos lá, o pôr do sol em Santorini ainda é a visão mais bela que teve?
― Deixou de ser faz tempo. O que está fazendo aqui?
― Você disse que estava voltando, procurei pelo seu voo, resolvi fazer uma surpresa e
vim te buscar.
― Não precisava, pedi um carro para mim e minha noiva.
― Noiva?! ― Seu espanto me deixa com raiva.
― Sim, Helena.
― Helena? Mas essa não é a amiga da sua cunhada?
― Essa é a mulher que eu amo.
― Ama?! ― Era um misto de espanto com nojo, não sei se Luiz não percebeu ou achou
melhor fingir que não tinha percebido o olhar de sua funcionária sobre mim. Começo a achar que
Sophia não é apenas uma mera funcionária.
― Estamos cansados, Sophia, obrigado por vir, mas não precisava. A gente se vê em uma
semana.
― Por que uma semana? Se está de volta precisa ir trabalhar.
― Tchau Sophia. ― Ele volta a empurrar o carrinho, o sigo e Sophia fica para trás, me
mantenho calada até o carro, Luiz ajuda o motorista a guardar as malas no bagageiro e entro sem
esperar que ele abra a porta para mim, quando se senta ao meu lado me olha fixamente. ― Por
que não esperou que eu abrisse a porta?
― Estou cansada, seria mais rápido dessa forma. ― Respondo e volto meu olhar para a
janela, minha cabeça pensava em tantas coisas, no olhar de Sophia para mim, o jeito que Luiz
ignorou esse olhar, da forma que ela olhava e falava com ele, tudo isso girava na minha mente e
eu me perguntei se eles alguma vez já haviam ficado juntos e se isso aconteceu porque ele a
manteve presente em sua vida? Me tirando dos pensamentos, Luiz segura minha mão, a que tem
o anel que me deu e fica brincando com o acessório brilhante. ― Isso machuca! ― Reclamo e
puxo minha mão de volta.
― Desculpe. ― Diz baixando o olhar, acho que as desculpas não são apenas por meu
dedo machucado, mas não olho em sua direção, sei que se olhar vou chorar. ― Não sabia que ela
faria aquilo. ― Respiro fundo e solto o ar de uma vez, ele não é tão alheio assim aos
sentimentos.
― O que você e ela tiveram? ― Luiz estala a língua. ― Não acredito que me enganou
mais uma vez.
― Eu não enganei você!
― Claro que enganou, sempre me disse que ela era apenas a sua funcionária, deixou bem
claro que Sophia não era a sua namorada.
― E não era, nunca foi!
― Não parece, ela não demonstra isso, nunca demonstrou e você notou como aquela
mulher me olha? ― Fico sem resposta, ele abaixa a cabeça mais uma vez. ― Motorista, será que
poderia me deixar em outro endereço?
― O que está fazendo?
Ignoro a pergunta de Luiz.
― Eu pago a mais, pago até em dólar. ― Eu tenho umas notas de dólar na minha carteira,
o motorista aceita e passo o endereço da Mariana.
― Não precisa disso, Helena.
― Quando estiver disposto a se abrir de verdade comigo, me procura. ― Tiro a droga do
anel do meu dedo e devolvo a ele quando chego ao meu destino, nem tiro as malas do carro, sei
que ele não vai deixar que eu faça isso, corro e entro no prédio.
― Helena? ― Pedro questiona quando abre a porta e me vê diante dele.
― Seu irmão é um merda!
― O que?
― Amiga, o que aconteceu? ― Mariana pergunta e eu me agarro a ela, choro o que não
consegui chorar no carro.
― Eu não tenho sorte no amor, Mari, é mesmo oficial.
― O que meu irmão fez?
― Ele tem outra, ele sempre teve outra, sabem a tal Sophia?
― A que trabalha com ele? ― Mariana questiona.
― Se acalma Helena e explica isso direito. ― Pedro pede, eu fungo e me sento no sofá.
― E meu afilhado?
― Está dormindo.
― Estou com saudades dele. ― Volto a chorar fungando.
― Você vai vê-lo, mas se acalma, amiga.
― Uhum. Não é fácil me acalmar.
― Você disse que meu irmão e Sophia tem um caso?
― Eu não sei se têm, mas tenho certeza que tiveram. Ela me odeia porque sou gorda.
― Espera, o que? ― Pedro estava perdido, tanto quanto Mariana. Respiro fundo e me
acalmo.
― Desde a primeira vez que vi essa Sophia ela me olhou daquele jeito que não gosto e
entendo muito bem porque me olham assim.
― Uhum, sei também, Leninha. ― Mari concorda e Pedro acena também concordando.
― Tivemos uma experiência dessa no voo indo para Grécia, eu disse a Luiz que conhecia
aquele olhar da comissária e no fim eu estava certa. A viagem foi ótima, nos beijamos, mas não
transamos, se querem saber. ― Sei que são curiosos e já estavam prontos para me perguntarem
sobre isso. ― Quando voltamos ele pediu que eu ficasse aqui em São Paulo nessa semana que
ainda tenho de férias, aceitei e assim que chegamos ao aeroporto Sophia estava à espera do seu
irmão idiota! Ela se jogou no pescoço dele e o beijou.
― Na boca e na sua frente? ― Mariana questiona.
― Não, quer dizer, não foi na boca, foi no rosto, mas tinha muita intimidade ali, mesmo
ele reclamando com ela. Luiz disse que eu era sua noiva e foi aí que Sophia me olhou daquele
jeito de novo, ele viu, reconheceu o olhar, mas não fez nada, aquela mulher insinuou que eles
estiveram juntos na Grécia e ele não negou! Fui feita de palhaça de novo pelo babaca do irmão
do Pedro!
― Mas Luiz afirmou que teve um caso com ela?
― Pedro, precisava? ― Minha amiga perguntou colocando as mãos na cintura. ― Você
sabia disso?
― Eu? Não, eu não sei praticamente nada sobre a vida do meu irmão, eu estou surpreso
com tudo isso e…
― E esse babaca ainda é padrinho do nosso filho. Liga pra sua mãe.
― Pra minha mãe, por que?
― Por que ela tem culpa nisso, dona Deusa teve uma conversinha com a Helena a
incentivando correr atrás do filho idiota.
― Como sabe disso? ― Pergunto.
― Eu ouvi atrás da porta. ― Minha amiga dá de ombros.
― Deixa a mãe do Pedro fora disso.
― Deixo não. Isso que dá se meter no que não deve, aquela velha fofoqueira!
― Mariana, é da minha mãe que está falando!
― E daí, ela é mesmo fofoqueira. Se meteu demais na vida da Helena, que entregou o
coração dela de bandeja pro babaca do seu irmão e olha no que deu! Por isso eu disse que
deveria aprender a seduzir! Deveria ter seduzido o babaca, beijado, transado e tchau! Mas você
foi se apaixonar. ― Aponta para mim.
― Mariana?!
― Não se casa com seu primeiro, amiga! Tá errado.
― Espera, eu não fui seu primeiro, Mariana?
― Pelo amor de Deus, Pedro, sabe bem que não foi.
― Não me refiro a isso, mas a amor.
― Não, você não foi. Tive outros amores, assim como você e foi bom, experiência para
ambos. Helena não teve isso e olha aí a merda! ― Por que mesmo eu vim pra cá? Me levanto,
deixo os dois discutindo e saio sem que me vejam, vou para o hotel que fiquei da última vez em
que estive aqui, consigo um quarto e vou para ele, me deito na cama e choro.
― Você não vai fazer isso comigo, Helena! ― Escuto a voz de Luiz e olho para a porta,
ele não está lá, nem aqui dentro do quarto, aquele salafrário acessou meu celular.
― Isso é ilegal de muitas formas!
― Que se foda!
― Você comeu aquela garota? ― Silêncio. ― Eu sabia! Você viu como ela me olhou e
não disse nada, por que? ― Silêncio. ― Vai se foder, Alan Luiz! Você só faz merda mesmo. ―
Encho a banheira e jogo meu celular dentro dela.
Como já está tarde fico no quarto do hotel e de manhã bem cedo vou para o aeroporto,
nem ligo para as minhas malas, volto para o Rio de Janeiro e me tranco em meu apartamento.
Meu telefone fixo toca, mas me recuso a atender, não quero saber de ninguém, nem
mesmo da Mariana ou do Pedro, por mais saudades que eu esteja sentindo do Bê, não vou
atender.
Me sinto fraca de tanto que choro, me deixei levar e fui feita de idiota mais uma vez, o
problema é que dessa vez foi por mais tempo.
A semana passa se arrastando, não deixo meu apartamento para nada, o interfone tocou
várias vezes ao longo desses dias, bem como o telefone fixo e a campainha, porém não atendi
ninguém.
Na segunda-feira de manhã tomo banho, me visto e deixo meu apartamento.
― Dona Helena, bom dia. ― O porteiro me cumprimenta.
― Bom dia.
― Deixaram essas malas da senhora aqui faz um tempo, mas nunca conseguimos contato
e elas foram ficando aqui.
― Obrigada, vou subir com elas.
― Quer ajuda?
― Não precisa. Obrigada. ― Pego as malas e as deixo no meu apartamento, desço
novamente e vou trabalhar.
Retornar ao trabalho me revigora, conversar amenidades me ajuda, aqui ninguém sabe
sobre Luiz, então não ouço seu nome pela boca de ninguém, mas na minha cabeça e no meu
coração eu o escuto o tempo todo.
Na sexta feira saio com minhas colegas, me divirto e consigo me distrair.
No sábado decidi ir ao shopping e comprei um novo celular, não o configuro com a
mesma conta e muito menos mantenho o mesmo número, troco tudo para não correr o risco do
hacker babaca me invadir.
Me mantenho sem contato com Mariana ou qualquer pessoa de São Paulo, ela me
conhece e sabe que preciso de espaço, por isso está se mantendo distante.
Capítulo 27
Mais uma semana se passa e é noite de sexta, vou a um novo bar de samba com minhas
colegas do trabalho, me divirto muito e parece que as coisas estão melhorando com o tempo, ou
eu quero me convencer de que tudo está melhor e não penso mais em Alan Luiz.
Sinto quando alguém se aproxima de mim no bar, é um homem bonito, cabelos raspados,
pele preta, corpo atlético, vestido com uma calça creme e camiseta preta, sobre ela ele usa uma
camisa de botões off white, o homem sorri e é impossível não sorri de volta para aquela beleza
toda diante de mim.
― Olá. Não consegui tirar meus olhos de você, precisava vir ao menos saber seu nome.
― Me chamo Helena.
― Sabia que seria tão lindo quanto você.
― Obrigada pelo elogio.
― É sincero, pode acreditar. Helena, posso te pagar uma bebida?
― Te agradeço, mas já tenho uma. ― Mostro a garrafa da cerveja long neck que seguro.
― Hum. Então eu preciso te tirar para dançar. ― Sorrio e aceito a mão que me estende,
vamos até onde a banda toca samba e dançamos juntos, até que não me saio mal, fazia tempo que
não dançava e gosto da sensação, me lembro que não sei nem o nome do homem com quem
estou dançando.
― Você não me disse seu nome ainda.
― Você não perguntou. ― Responde sorrindo. ― Me chamo Wagner.
― É um lindo nome.
― Obrigado. Você dança bem, Helena.
― Você que é ótimo conduzindo.
Dançamos umas três músicas e depois conversamos, passamos boa parte da noite falando
e Wagner consegue me fazer sorrir com bastante facilidade e simplicidade, percebo que estou em
um encontro quando ele segura minha mão de um jeito diferente.
― Eu gostaria muito de saber se posso te beijar, Helena. ― Penso por alguns segundos e
aceno confirmando. ― Wagner se aproxima de mim, fecho os olhos e sinto seu calor, chego a
sentir seus lábios tocando os meus, mas de repente não sinto mais nada, abro os olhos e Wagner
não está diante de mim, olho em volta e não entendo nada.
― Meu Deus, será que estou com hálito ruim? ― Tento sentir o cheiro e nada, não me
parece ruim, vou ao banheiro e lá verifico, nada, nem bafo de cerveja estou. Saio do banheiro e
busco minhas colegas.
― Helena, que homem lindo! Vi vocês dançando. Ficaram? ― Daniele pergunta.
― Não, só dançamos mesmo, na verdade foi estranho, ele pediu um beijo e eu aceitei,
mas de repente o homem sumiu.
― Sumiu?
― É.
― Estranho mesmo.
― Pois é, o homem simplesmente evaporou.
― Meninas, vocês viram a briga? ― Yoná se aproxima e pergunta.
― Que briga?
― Um homem forte e lindo com o cara gato que a Helena estava dançando.
― Espera, o que?
― Lá fora amiga. ― Deixo o bar a toda velocidade e vejo Alan Luiz partindo para cima
do meu possível ficante.
― Ela é a minha noiva!
― Ela não me disse que tinha um noivo.
― Eu não tenho noivo! ― Grito e os dois me olham, Luiz tem um corte no supercílio e
outro nos lábios, Wagner tem apenas uma marca no queixo. ― Não briguem. Eu odeio violência.
― Foi ele que começou! ― Wagner aponta para Luiz. ― Ele é algum louco?
― Ele é um idiota. Esquece ele.
― Era seu noivo?
― Infelizmente ele era. Desculpe Wagner, preciso levar esse idiota pra casa.
― Tudo bem, qualquer coisa me liga. ― Ele me entrega um cartão profissional que tem
seu telefone pessoal e o guardo na bolsa. ― Queria mesmo beijar você, Helena.
― Dá o fora, idiota! ― Luiz grita.
― Cala a boca Alan Luiz! ― Eu grito. Vou até Wagner e beijo seu rosto com carinho. ―
Obrigada por ter sido tão legal e compreensivo.
― Imagina.
― Vamos embora, Luiz. ― Saio andando na frente e ele vem atrás de mim.
― Você ia beijar aquele homem.
― E você esqueceu de contar que beijou e transou com a sua funcionária. ― Ele se cala.
― Não foi nada importante.
― Foi, claro que foi. Ninguém beija ou transa com alguém sem importância.
― Algumas pessoas sim, Helena, só por necessidade, ou quando estão muito bêbadas.
― E porque a manteve sempre por perto? Aquela mulher é apaixonada por você!
― Não é!
― Puta merda! Entra no carro. ― Exijo destravando a porta.
― Você bebeu.
― Foda-se.
― Está falando muitos palavrões.
― Estou puta, entra logo. ― Ele tenta abrir a porta para que eu entre e dou um belo chute
na canela dele.
― Ai! Doeu.
― Deveria ter quebrado. ― Luiz faz bico, eu reviro os olhos e suspiro pesado. Nem
espero ele se ajeitar e arranco com o carro.
― Esse não é o caminho do seu apartamento.
― Não, é o caminho do aeroporto.
― Nem pensar. Não vou embora.
― Você vai sim.
― Tenho o direito de estar nessa cidade.
― Tudo bem. ― Paro o carro no canto da pista.
― Desce.
― O que?
― Mandei descer, desce. Tem todo o direito de estar nessa cidade, só não tem o direito de
interferir na minha vida! Já reparou que só sabe fazer isso? Manipular as coisas para no final eu
ficar com você?
― Eu não...
― Não negue! Desde o começo você me manipulou e eu deixei. Mariana tem toda a
razão quando diz que sou inexperiente e fui burra por entregar meu coração a você.
― Ela disse isso?
― Ela disse muitas coisas e todas certas. Sua família é mesmo tóxica e você é o pior de
todos!
― Minha família?
― Sai do carro!
― Não!
― Então me conta tudo sobre a Sophia gordofóbica. ― Silêncio. ― Vai embora, por
favor.
Alan Luiz sai do carro e porra, ele prefere me deixar a ter que contar a verdade sobre
Sophia. Luiz fez sua escolha e não estou inclusa nela. Bato a porta do carro e vou para o meu
apartamento.
― Helena! ― Ouço um grito quando passo pelo portão da garagem, olho pelo espelho e
vejo Mariana com Bernardo no Sling e segurando uma mala enorme, dou ré.
― O que significa isso?
― Deixei o Pedro.
― O que?! Mariana, entra, o porteiro te conhece, preciso guardar o carro.
― Tudo bem. ― Sigo e guardo o carro na vaga, vou até o hall e vejo minha amiga com
os olhos vermelhos, meu afilhado chora e ela não sabe como fazê-lo parar. Subimos sem trocar
uma palavra, Mariana tira o menino do sling e desata o nó do tecido o retirando de seu corpo, me
entrega meu afilhado e se deita sobre o sofá ficando em posição fetal, ela leva o polegar à boca,
faz anos que não vejo minha amiga fazer isso, Mari se balança, chora e chupa o dedo, sei que
precisa de espaço, não vamos conversar sobre nada agora, levo sua mala para meu quarto, e
improviso uma banheira para dar banho no bebê e para isso pego uma bacia enorme que uso para
lavar panos de prato, agora ela vai servir de banheira para meu afilhado, encho com água morna
e banho o bebezinho, ele se agita e para de chorar, faço umas bolhas de sabão e ele ri tentando
pegá-las.
― Pá pá pá... mã mã mã. ― Bernardo diz e ri pegando as bolhas que faço usando um
canudo. Lavo seu corpinho, seco e visto nele uma roupa confortável e fresca para o calor que faz
no Rio de Janeiro, o levo para meu quarto e brinco com meu afilhado até que ele sinta sono e
adormeça, monto uma cerca de travesseiros a sua volta para o caso dele rolar e não cair da cama,
fico ao seu lado, porém não durmo, não consigo dormir essa noite. Vejo o dia raiar, vou até a
cozinha e aqueço um pouco de leite, ligo para a farmácia e peço tudo de bebê que Bernardo
venha a precisar, minha amiga deve ter saído desesperada de casa e não trouxe nada além de um
pouco de roupas para ela e o filho. Corro ao primeiro toque do interfone e desço rapidamente
para pagar e pegar a encomenda, lavo tudo e jogo água fervendo, encho a mamadeira com leite e
levo até o bebê que já tem os olhos abertos e sorri para mim.
― Bom dia, meu amor. Está com fome?
― Dadáááááá
― Aqui está. ― O seguro e levo a mamadeira a sua boca, ele mama cheio de fome, ao
final arrota, o levo até a sala e me surpreendo. ― O que faz aqui? ― Pergunto baixinho, Luiz
olha para Bernardo em meus braços e eu fico esperando por sua resposta.
Capítulo 28
― O que ele faz aqui? ― Luiz questiona apontando para o bebê em meus braços.
― Pelo amor de Deus, vai embora.
― Eu não vou.
― Fale baixo, Mariana está dormindo. ― Aponto para o sofá.
― Ela chupa dedo?
― Vem, Alan Luiz. ― O homem me segue e entro no quarto e quando ele passa pela
porta eu a fecho. ― Se explica, como conseguiu entrar?
― O porteiro me conhece e sua porta estava aberta.
― Esqueci de trancar quando subi. ― Bernardo se move em meus braços se jogando pra
cima do padrinho, reviro os olhos, mas o entrego a Luiz que o segura.
― Ele gosta de mim.
― Se meu afilhado soubesse quem você é de verdade, ele não gostaria.
― Não sou um cara ruim, Helena. A história é complicada, bem mais do que imagina. Me
diz por que Mariana está aqui?
― Ela só me disse que largou o Pedro.
― Merda!
― Está sabendo de alguma coisa?
― Pode ser que sim. Eu fiz merda, Helena.
― Eu sei, você só faz isso!
― Não! Quer dizer, você tem razão. ― Ele suspira. ― Acho que sou o culpado dessa
separação.
― Como assim? O que você fez?
― Trouxe a Sophia comigo sem saber de toda a história. Não é de mim que a Sophia
gosta, é do Pedro.
― Espera, o que?
― Eu não sabia de nada Helena. Fiquei sabendo faz poucos dias, antes de vir pra cá atrás
de você. Eu não sabia se poderia te contar isso, por esse motivo eu me afastei de você ontem à
noite.
― Por que veio aqui, então?
― Para dizer que você entendeu tudo errado, quer dizer, eu e Sophia ficamos, uma vez há
muito tempo em uma noite louca de bebedeira, mas não passou disso, a gente não funciona
juntos e nem temos química, foi tudo tão ruim depois, sentimos até nojo um do outro, mas ela
tem esse jeito mais espontâneo e está sempre em cima, mas não sou eu, Helena.
― Vai mesmo jogar isso nas costas do Pedro?
― Eu não sabia que era ele, eu achei de verdade que você pudesse estar certa e eu fui pra
cima da Sophia, a mandei embora, disse a ela que amo você e só quero você e proibi a entrada
dela no prédio da minha empresa, eu nem quis ouvir o que tinha para me dizer, mas ela achou
um jeito de me encontrar e contar tudo.
― O que Sophia contou?
― Faz dez anos que fui morar fora, Pedro foi me visitar nas férias escolares, a primeira
que teve logo depois que me mudei, era meu primeiro ano na faculdade e eu, muito fechado e
focado nos estudos, não consegui dar a atenção devida ao meu irmão, não saia com ele, a gente
não se divertia, não fazíamos nada juntos, pois eu só estudava. Pedro conseguiu achar alguma
coisa com o que se divertir e foi com uma colega minha de turma.
― Sophia?
― Sim. Ele passou aquelas férias inteira com ela, depois meu irmão retornou para o
Brasil, o problema foi a consequência dessas férias.
― Estou ouvindo.
― Eu sei sobre bebês, mas não aprendi por causa de um jogo.
― Ah, meu Deus, Sophia tem um filho?
― É, ela nunca me contou quem era o pai, sempre dizia que engravidou de uma transa de
uma noite, eu a chamei de irresponsável pra baixo, mas a acolhi, de alguma forma me senti
responsável por ela e pela criança, hoje a menina tem nove anos e ela é minha sobrinha, filha do
Pedro. Eu não contei na época que sabia sobre bebês por causa disso, porque você já desconfiava
que ela e eu tínhamos um caso, se eu digo que ela tem uma filha, você ia achar que a criança era
minha e minhas chances com você, que já eram poucas, ia se tornar zero. Pedro fez merda, não
eu.
― Meu Deus! Mariana descobriu?!
― Se ela está aqui e dormindo daquele jeito no seu sofá, ela soube.
― O Pedro não podia ter feito isso.
― Ele nem sabia que essa menina existia, Sophia nunca contou a ele.
― Eu sou a culpada de tudo isso!
― O que?
― Claro, se eu não tivesse desconfiado de vocês, você não teria a confrontado e isso
continuaria sendo um segredo.
― Pelo amor de Deus, Helena, um dia isso ia acontecer, Sophia não poderia esconder
uma coisa dessas para sempre, nove anos foi muito tempo. Ela sempre foi grata por toda ajuda
que dei a ela e a menina, por isso Sophia é daquele jeito comigo, é pura gratidão, Helena e eu vi
como ela te olhou, não é que Sophia seja gordofóbica, só é ciumenta demais e achava que você
jamais aceitaria a menina.
― Pedro não sabia mesmo sobre essa filha?
― Não, eu acho que não.
― Você acha?
― Eu não falei com ele, quando Sophia me contou eu só a readmiti e vim pra cá.
― Então existe a possibilidade de que Pedro sabia que essa criança existia.
― Se a Mari está aqui, pode ser, não sei.
― Ah meu Deus, coitadinha da minha amiga. Sua família é tão escrota!
― Porra Helena, não diz isso. Meu irmão é um escroto, não eu.
― Você a ajudou sem nem pensar?
― Ajudei.
― Você transou com ela antes ou depois da criança?
― Antes, foi como a gente se conheceu, aconteceu na festa de calouros, a gente se
apresentou quando amanheceu.
― Então você dormiu com ela. Mentiu para mim.
― O que?
― Disse que nunca tinha dormido com nenhuma mulher, dormiu com ela.
― Eu estava inconsciente.
― Com quantas mais dormiu estando inconsciente?
― Nenhuma! E eu não dormi com ela, foi só no mesmo quarto, quando acordei eu estava
no chão e ela na cama. Tecnicamente não menti pra você.
― Omitiu muitas coisas.
― Desculpe. Você ia mesmo beijar aquele homem?
― Ia.
― Eu seria corno.
― Tecnicamente não, porque não estamos juntos.
― Nunca nos separamos.
― Te devolvi o anel.
― Trouxe de volta. Ainda o quer? ― Ele deixa Bernardo sentado no chão e se aproxima
de mim, segura meus cabelos pela parte de trás da minha cabeça e meu corpo amolece, ele tem
total controle sobre mim, por isso sorri. ― Você ainda é minha, linda Helena?
― Uhum.
― Diz que me ama.
― Eu amo você.
― Bom. Muito bom. ― Ele beija meu rosto e se afasta.
― O que foi isso?
― Me julgou mal, como sempre faz, ia me trair com um babaca no bar, dançou samba
com ele e não comigo, eu vi, Helena. Por tudo isso você não merece um beijo meu. Me dá a sua
mão. ― Entrego a ele que desliza o anel em meu dedo. ― Se tirar esse anel daí mais uma vez, eu
te viro em meu colo e te dou uns bons tapas nessa bunda gostosa. ― Começo a tirar o anel do
meu dedo e ele ri. ― Safada! ― Levo um tapa na bunda e gemo.
― Me beija logo, Alan Luiz. ― Meu noivo não demora muito a selar seus lábios aos
meus, ele aperta forte minha bunda e meu sexo se choca com o dele, o sinto duro e gemo, me
lembro que o bebê está com a gente e me afasto de Luiz.
― Você é uma mulher muito difícil.
― Fica com o Bê enquanto vejo a minha amiga?
― Claro, mas antes, quero saber, o que fez com seu celular?
― Joguei na banheira e comprei um novo.
― Onde ele está?
― Não vou te dar acesso ao meu novo celular, Alan Luiz, você é anti ético. ― Ele sorri,
deixo o quarto fechando a porta e vou até Mariana, me sento no chão, perto dela e acaricio seus
cabelos. ― Mari, precisa acordar, querida.
― Me deixa dormir, talvez tudo isso seja um pesadelo.
― Você é a mulher mais corajosa que eu conheço, duvido que se deixaria abater por
causa de um homem.
― Não é um homem qualquer, Helena, é o meu marido, o cara que pensei ser meu melhor
amigo, o pai do meu filho e aquele a quem entreguei meu coração de bandeja.
― O que ele fez?
― Não quero dizer. Nunca imaginei que Pedro fosse tão dissimulado, mentiroso. Não é à
toa que o babaca é advogado.
― O que isso tem a ver?
― Advogados precisam saber guardar bem os segredos e também saber mentir.
― Você tem razão. O que ele escondeu de você, Mariana?
― Uma filha.
― Espera, ele escondeu uma filha?
― Foi, a pior parte disso tudo é que a mãe da filha dele é a amante do Luiz!
― Sophia?!
― Isso! Aquela puta quer os dois irmãos, Lena!
― Me conta isso direito.
― Você se lembra quando Pedro e eu terminamos?
― Lembro, você sofreu tanto e ele também. Lembro que foi por causa de uma ex -
namorada dele que estava fazendo de tudo para voltar.
― Isso, ele se deixou levar por ela, estava se afastando de mim e por isso eu terminei.
― Era a Sophia?
― Eu nunca soube o nome dela até ontem.
― Como descobriu tudo isso, Mariana? ― Pergunto.
― Desde aquele dia que apareceu em nosso apartamento falando sobre Sophia e Luiz,
Pedro ficou estranho, da mesma forma que ele agiu na época em que namorávamos e nos
separamos, mas dessa vez eu agi diferente, precisava descobrir o que estava acontecendo e baixei
um aplicativo espião no celular dele.
― Isso existe?
― Helena, existe aplicativo para tudo!
― Preciso aprender a ser esperta como você.
― Não sou nada esperta, fui enganada por anos.
― Espera, isso significa que Pedro sempre soube que tinha uma filha?
― É!
― O que?! ― Alan Luiz sai do corredor, Mariana se assusta.
Capítulo 29
― O que ele faz aqui?
― Ele não sabia de nada, Mari.
― Não sabia?
― Não, eu não sabia, Mariana. Descobri tudo faz poucos dias. Claro que eu tinha
conhecimento que Sophia tinha uma filha, mas não tinha noção de quem era o pai, eu sempre a
ajudei com a menina por saber que o pai jamais esteve presente. Sophia nunca havia me contado
que ficou com Pedro anos atrás e ele muito menos.
― Aquele canalha estava te visitando, Luiz.
― E eu estava estudando, nunca liguei para a minha família, Mariana. Quando Pedro foi
passar férias comigo eu não dei importância a ele, sabia que havia arrumado uma distração, mas
não fazia ideia que era na cama da Sophia! Meu irmão sempre soube que era o pai da Anne?
― Esse é o nome dela?
― É, me desculpe.
― Esquece. Pedro sempre soube que tinha uma filha. Foi na sexta-feira, quando voltava
do trabalho, ele me disse que iria demorar mais a chegar porque precisava comprar lenço
umedecido para o Bê porque tinha acabado. Achei estranho, já que temos um bom estoque
guardado no armário, fui até lá olhar e estava cheio, acho que Pedro estava tão nervoso que nem
conseguiu mentir direito, abri o aplicativo rastreador e vi que a localização do celular dele estava
em um endereço bastante diferente de onde vendem lenços umedecidos, peguei nosso filho e fui
até o lugar, era um restaurante, vi Pedro com a tal Sophia e a princípio achei que ele estivesse
tirando satisfações a respeito da Helena, minha sorte foi que entrei na surdina e me sentei à uma
mesa próxima aos dois, eles estavam tão concentrados na conversa que nem me viram, acho que
jamais imaginariam que eu estivesse lá. Ouvi a coisa toda, Pedro sempre soube da menina, ele
enviava dinheiro para Sophia todos os meses em forma de pensão, isso significava que seus pais
sabiam, como ele ainda na escola poderia pagar pensão?
― Isso não pode ser verdade, Sophia sempre me disse que passava dificuldades e eu a
ajudei todos esses anos, por isso ela trabalha comigo e eu a mantenho por perto.
― Ela te usou! Essa mulher queria estar perto do meu marido e usou você para isso, já
que era o único elo de ligação, porque ao que tudo indica, Pedro não queria a criança, ela não
quis tirar e eles fizeram um acordo: ele pagaria para que ela e a menina se mantivessem distantes.
Sophia te manipulou direitinho e por isso você a trouxe para o Brasil, pois pensou que a
coitadinha não sobreviveria sozinha com a criança e ficou com peninha, trouxe ela exatamente
para o lugar que mais queria estar.
― Por isso ela estava deixando a desejar no trabalho.
― Agora entendi porque ela foi ao hospital no dia em que o Bê nasceu. ― Comentei.
― Isso! Foi uma desculpa para ver meu irmão. Ah, meu Deus, Mariana, me desculpe.
― Você é o único dessa família que presta, por isso foi embora. Lembra-se daquela
conversinha que a Deusa teve contigo no dia da festa do batizado do Bê? ― Minha amiga me
questiona.
― Sim, eu me lembro.
― Ela disse que Sophia não era a garota certa para o Luiz, pois ela sempre quis que
Sophia estivesse com Pedro, Deusa não gosta de mim, por isso nunca a deixei se aproximar.
Aquela velha fofoqueira é falsa e ardilosa.
― Ela é a minha mãe.
― Estou pouco me fodendo para isso, se ela fosse boa, você não teria ido embora. ―
Luiz se cala, porque minha amiga tem razão. ― Naquele dia, Deusa queria ouvir de você por
qual razão Pedro e eu tínhamos nos separado, mas você não contou, manteve o segredo e ela
precisou recuar. Ficou com a sua história que pouco importava a ela, Deusa quer noras que ela
possa manipular. Ah meu Deus, eu estou muito fodida! ― Mariana se dá conta de alguma coisa.
― Por que, amiga?
― Não tenho força alguma para lutar contra essa família, eles vão tirar meu filho de mim,
Helena, estou com medo.
― Pedro não seria capaz disso.
― Não sei mais do que ele seria capaz, Lena. Esse homem mente para mim faz muito
tempo, eu nem sei mais quem ele é.
― Eu não vou permitir que isso aconteça. Fui enganado tanto quanto você. Estive ao lado
da menina a vida inteira dela e sem saber que era a minha sobrinha, jamais imaginei que Pedro
ou meus pais soubessem da existência dela. Trouxe Sophia comigo e destruí seu casamento. Me
sinto um merda, Mariana.
― Não se sinta. Agradeço e aceito a sua ajuda. ― A campainha toca, todos olhamos para
a porta, olho para Luiz que se levanta para atender.
― O que faz aqui, Luiz?
― Eu que deveria te perguntar isso, Pedro.
― Me deixa entrar, eu vim buscar minha mulher e meu filho.
― Nem Mariana e nem Bernardo vão com você.
― Não se mete nisso.
― Não me meter? ― Luiz ri. ― Eu fui usado por anos por você e Sophia, vivia perto e
com pena de uma menina que só agora soube que é a minha sobrinha! Que merda você fez,
Pedro?
― Então ela sabe.
― Todos sabemos, o que me choca é nossos pais saberem disso.
― Nossos pais? Eles não sabem disso.
― Não sabem?
― Me deixa entrar, Luiz. ― Meu noivo olha para Mariana que confirma, Alan abre
caminho e seu irmão entra. ― Amor…
― Não, nem começa assim. Seus pais não sabem? Claro que eles sabem, como um garoto
de dezessete anos conseguiu pagar pensão? ― O olhar de Pedro vacila. ― Você ainda vai
continuar mentindo? Pedro, esse casamento acabou e eu farei de tudo para ter a guarda do meu
filho e você só poderá fazer visita supervisionada.
― Você não vai se separar de mim, a gente se ama, Mariana.
― Como posso amar alguém que me trai dessa forma? Você poderia ter me contado isso
há anos!
― Teria te perdido lá atrás se tivesse contado. Eu nem tenho contato com essa menina, eu
apenas pago pensão. Não sou presente, não sou nada na vida dela.
― Meu Deus, quanta frieza. ― Me manifesto.
― Fica fora disso, patinha.
― Ficar fora? Esqueceu que está na minha casa? Acho que a implicância que tenho com
você sempre se justificou, você não presta. Eu deveria ter lutado pela Mariana, mas a deixei para
você, olha a merda que deu. Você entrou nas nossas vidas para destruir. Pedro, seu babaca!
― Desculpe. ― Ele pede com lágrimas nos olhos. ― Mariana é a melhor coisa da minha
vida e agora temos o Bê. Vocês são a minha família, não posso perder vocês, lutei pra caramba
para te ter, Mariana.
― Você mentiu pra caramba, isso sim, não apenas você, mas seus pais também.
― É, os meus pais sabiam da história toda, me ajudaram com a questão da pensão na
época, eu não trabalhava e Sophia estava me pressionando com isso, papai arrumou um bom
advogado e fizemos um acordo que valeu até agora, Sophia se mantinha distante, não dizia que
eu era o pai e ganhava um bom dinheiro.
― Por isso você quase se mata de tanto trabalhar. Seu filho da puta! Se deitou com a
primeira piranha que viu e olha só a merda que arrumou por uma vida inteira! Eu não sou melhor
que ela, porque fiz o mesmo, agora estou ligada a você e a essa sua família nojenta para sempre!
― Ela olha para Luiz. ― Você é a exceção. ― Ele acena indicando que já havia entendido isso.
― Mariana, vamos conversar, só você e eu, por favor. ― Minha amiga me olha e entendo
que ela precisa ter essa conversa sozinha com o marido, seguro a mão do meu noivo e vou com
ele até meu quarto, Bernardo dorme tranquilo, alheio a todo caos que está acontecendo à sua
família.
― O que vamos fazer? ― Luiz me pergunta.
― Quanto a isso tudo?
― É linda Helena, o que vamos fazer?
― Apoiar a decisão que ambos tomarem. Você é irmão do Pedro e eu a melhor amiga da
Mari, juntos somos padrinhos do Bernardo, o que mais podemos fazer além de dar todo apoio
necessário para essa família? O que quer que eles venham a decidir vai mudar todo o rumo da
história, tanto se resolverem ficar juntos ou separados.
― A história podre já foi revelada, isso não tem mais volta.
― Exatamente, isso mudou tudo. Agora Sophia e a menina Anne fazem parte da vida da
Mariana, tanto quanto fazem parte da vida do Pedro. E isso independe se ela se separar dele ou
não. Foi um erro que ele cometeu na adolescência, mas não corrigiu na fase adulta, Pedro
persistiu no erro e juntamente com seus pais. Sinto muito por tudo isso, Luiz.
― É, eu também. Sei exatamente como Mariana se sente, porque me sinto igualmente
traído, por meu irmão, meus pais e principalmente por Sophia que sempre ajudei e mantive ao
meu lado. Não fazia ideia de tudo que rolava entre eles.
Me sento sobre as pernas de Luiz que me abraça, sinto suas lágrimas molhando meu peito
e acaricio seus cabelos. Não ouço gritos, nem objetos se quebrando do lado de fora, minha amiga
está sendo muito civilizada nesse momento, se fosse comigo seria bem diferente, mas ela ama o
idiota do Pedro, só não sei se esse amor será capaz de fazer com que ela o perdoe.
Capítulo 30
Faz duas horas que estamos dentro do quarto, Bernardo acordou faz meia hora,
choramingou e sei que era fome, mas não conseguimos sair para alimentá-lo, Luiz conseguiu
distrair o bebê com uma brincadeira boba qualquer, ele sabe mesmo o que faz. Fico imaginando
o que está passando na cabeça do meu noivo agora, frustração, traição e sei lá mais o que.
Sophia, Pedro, Deusa e Rômulo agiram muito mal e pior fizeram com Luiz, o deixando
completamente no escuro e convivendo com a garotinha que era sua sobrinha sem nem ao menos
ter conhecimento disso.
― Acho que nasci para ser babá dos filhos do meu irmão. ― Ele diz sorrindo.
― Bom saber que já consegue fazer brincadeira em cima disso, mas não diz isso perto da
Mari.
― Jamais. Sabe, eu gosto dessas crianças. Não queria dizer nada, mas Anne pegou o
hábito de me chamar de pai.
― Isso seria muito problemático se eu tivesse visto.
― Foi por isso que não contei nada, Helena, nossa relação sempre esteve por um fio, eu
menti tanto para você, te escondi tanta coisa.
― Deve ser um dom da sua família esconder e enganar as mulheres que amam. Me
lembro de uma conversa com Pedro quando o Bê nasceu, ele estava falando alguma coisa sobre a
sua família e eu disse que vocês eram uma família esquisita por esconderem você, já que eu não
fazia ideia que Pedro tinha um irmão, ele me disse que vocês eram meio brigados e que nenhuma
família era perfeita, ele supôs até que meu pai ou minha mãe pudessem ter um filho escondido.
Agora eu entendo aquela conversa, para ele isso é normal, esconder pessoas. Que tipo de criação
seus pais deram a vocês? ― Luiz dá de ombros.
― Vai me deixar por causa deles? Tem dúvidas sobre mim?
― Não tenho mais dúvidas sobre você, só acho que precisamos ser cúmplices, parceiros.
Mentir, esconder, trapacear, causa um caos no relacionamento, por isso a gente vivia nossa
relação sempre por um fio. Eu não tenho nenhum segredo guardado, ainda mais para você que
me vigiava 24 horas como se a minha vida fosse um reality show, não escondi nada de você,
nunca.
― Eu sei. Começamos tão errado, mas acho que consegui acertar, agora vem essa história
e caga tudo de novo. Helena, essa merda respingou em todo mundo, mas agiram pelas minhas
costas, tanto quanto pelas costas da Mari.
― Eu sei. Não estou te culpando. Mas a partir de agora precisamos ser sinceros um com o
outro.
― Uhum. Eu vou precisar me afastar por uns dias.
― É o que?
― Quero vir de vez pro Rio. Não tem porque eu viver em São Paulo, amor.
― Vai aceitar morar no meu apartamento pequeno? ― Luiz sorri enquanto brinca com
Bernardo.
― Não, Mariana vai morar aqui com você, ela vai precisar ter um lugar para viver com
nosso bebezinho.
― Verdade, acha que ela vai vir pra cá? Porque tem os pais dela em São Paulo e uma tia
aqui.
― Helena, acham mesmo que Mariana vai procurar pelos pais ou por essa tia? Ela fez as
malas e veio direto pra você!
― É, tem razão. E onde você vai morar?
― Sou rico, posso morar em qualquer lugar.
― Hum, nada humilde também.
― Estava pensando em uma casa bem grande em que todos possamos morar juntos, o que
acha?
― Isso precisa ser conversado, não tome decisões precipitadas e nem sozinho, Alan Luiz.
― Não vou, por isso estou falando com você. Eu vou pra São Paulo, preciso arrumar a
minha própria confusão e vir pra cá de vez.
― Quanto tempo isso vai levar?
― Não acho que vai demorar, talvez de duas semanas a um mês. Me espera?
― Espero.
― Nada de tirar a aliança e sair por aí beijando homens estranhos em bares.
― Não quero beijar nenhum homem que não seja você.
― Bom saber disso. ― Luiz se aproxima e me beija nos lábios.
― Te amo.
― Eu sei que ama, linda Helena. ― A porta do quarto se abre e vejo Mariana, ela nos
olha e revira os olhos.
― Desculpe amiga.
― Esquece, você está com o irmão bonzinho.
― O que decidiram?
― Acabou. ― Ela suspira. ― Não posso ficar com um homem que pediu para a mãe de
sua filha se esconder. Sophia pode não ter agido de maneira correta, mas Pedro foi pior, sei que
ele era adolescente, mas cresceu, se tornou um homem e continuou mantendo o erro. Ele agiu
muito mal e não apenas com essa moça e com a filha, comigo e Bernardo também. Quando a
confiança é quebrada, não há amor que resista. Temos um filho juntos, nossa relação com Bê é
eterna, mas ele e eu, não dá mais. ― Minha amiga diz tudo sem derramar uma lágrima, sem
gaguejar, Mari apenas suspira como se tivesse tirado um peso das costas.
― Estou indo para São Paulo, consegui um jatinho, quer ir para falar com seus pais,
pegar suas coisas e as coisas do Bê? Eu posso ficar com você durante todo esse processo.
― Obrigada Luiz, eu vou aceitar.
― Estarei esperando você voltar. ― Aviso a ela.
― Não vou demorar. Dois dias, para eu conseguir uma empresa que faça o transporte de
tudo, para juntar as minhas coisas, as do Bê e pedir demissão no meu trabalho.
― Vou ajeitar tudo aqui para a chegada de vocês.
― Nosso sonho vai se realizar, Leninha.
― É, mas não estou feliz pelo jeito que isso aconteceu. Estou aqui pra você e pro Bê no
que precisarem, apoio a sua decisão e esse apartamento também é de vocês.
― Obrigada amiga. ― Mariana me abraça e finalmente ela chora, quando se sente segura
se afasta de mim, seca suas lágrimas, pega Bernardo e deixa meu apartamento com Luiz a
acompanhando.

Quatro dias se passam até que Mariana retorne, ajeito meu apartamento tirando tudo que
pode ser perigoso para um bebê, chamo até uma equipe para instalar telas e grades nas janelas,
reorganizo os móveis do quarto, tenho um quartinho aconchegante nos fundos da cozinha, ele era
meu cantinho da bagunça, consegui arrumar e o transformei em um quarto confortável, coloquei
uma cama de solteiro com um colchão gostoso e macio, uma cômoda onde consegui guardar a
maioria das minhas roupas e uma sapateira que tem espelho na frente, guardei meus sapatos e
bolsas, deixei meu quarto limpo e praticamente vazio só para Mariana e Bernardo, sei que minha
amiga vai reclamar, mas não é justo que ela tenha que dividir o quarto comigo.
Preparo o almoço com tudo que minha amiga gosta, ela ama peixe e eu detesto preparar,
mas faço para agradá-la, uma moqueca caprichada, coloco cerveja no congelador e faço sua
sobremesa favorita, pavê de chocolate. Quando ouço a campainha sei que são eles.
― Amiga, cheguei antes do caminhão da mudança, não tem muita coisa, mas teve que vir
em um caminhão pela distância.
― Eu entendo. Não nos falamos nesses quatro dias e quero saber, tudo se resolveu por lá?
― Não foi nada bonito, todo fim é triste. Mas eu consegui dizer àquela cobra da Deusa
tudo que sempre quis falar. Ela tentou indagar que não era nada daquilo, que só estava
protegendo o filho e que me amava, tudo besteira. ― Minha amiga suspira aliviada. ― Luiz está
sendo tão legal, me arrumou um excelente advogado que reunirá todas as provas e com isso
afastará a cobra da Deusa do meu filho e fará com que todas as visitas que Pedro faça a Bernardo
sejam supervisionadas.
― Mas como conseguiu vir pra cá?
― O advogado me ajudou, por isso demorei mais de dois dias. Não voltei no
apartamento, não consegui, Luiz se prontificou a ir até lá com a equipe que contratei para a
mudança. Não vi o Pedro nesses dias, nem quis saber dele, só encarei mesmo aquela cobra da
minha ex-sogra, conversei com meus pais e eles apoiaram a minha decisão.
― E a Sophia?
― Não sei dela, nem quero saber. Minha relação com Pedro é apenas sobre nosso filho e
nada mais. Sinto muito por ela, mas não a acho uma boa pessoa, tenho certeza que muita coisa
que fez foi de caso pensado. Sophia não é uma burra, nem inocente nessa história, Leninha.
― Também acho que não seja. Será que ela e o Pedro mantinham um caso?
― Não, acho que se dependesse dela sim, mas ele não foi tão longe. Pode ser que agora
com o caminho livre eles se juntem. Não quero mesmo saber, Helena.
― Certo, o assunto acabou para sempre. Venha, quero te mostrar tudo que fiz. ― Mostro
a ela a nova organização do apartamento e o almoço que preparei, Mariana chora de alegria e me
abraça, a campainha toca e é a equipe de mudança, muito rapidamente eles deixam as caixas pela
sala, montam o berço do Bernardo no quarto e a cômoda do bebê.
Mariana e eu passamos o fim de semana desencaixotando tudo e arrumando nos devidos
lugares, não dormi uma noite no meu quartinho, ela não permitiu, disse que eu só usaria aquele
lugar quando Luiz viesse pra cá, que enquanto ele não estivesse aqui seríamos apenas: ela,
Bernardo e eu, dormindo juntos, óbvio que eu aceitei.
Capítulo 31
Faz um mês desde que Mariana e Bernardo se mudaram para meu apartamento, minha
amiga já encontrou uma boa creche para deixar o filho e dessa forma ela consegue sair para
procurar um emprego, disse-lhe que não precisava, porém Mariana quer muito trabalhar então a
apoio nisso, ainda mais porque o advogado a aconselhou arrumar um emprego para que assim
consiga a guarda total do bebê. Faz também um mês que Alan Luiz e eu não nos falamos, ele
disse que ia se afastar por um mês, mas ficar sem notícias dele é sofrido demais.
― Luiz ainda não deu nenhuma notícia?
― Não. Estou tentando não me preocupar, mas está difícil.
― Posso imaginar, amiga. Mas pensa que quando ele voltar será para sempre.
― É isso que me conforta, Luiz e eu não conseguimos ter um minuto de paz, apenas
aqueles dias que passamos juntos na última viagem foram espetaculares, mas antes e depois
disso foi sempre um caos.
― Vocês nem chegaram a transar ainda, precisam de um momento e um daqueles muito
bom urgentemente.
― Duvido que Luiz vá querer transar antes de nos casarmos.
― Sério amiga?
― Muito sério. ― Meu celular vibra e recebo uma notificação estranha, ergo uma
sobrancelha.
― O que houve?
― Não sei, recebi uma notificação diferente.
― Como assim?
― Nada, vou apenas ignorar. ― Juro que tentei ignorar, mas continuei recebendo outras
notificações, meu celular parecia estar com vírus, não parou até que eu aceitasse acessar o link
que me enviavam, era um jogo, mas esse era de desafios de inteligência, a cada resposta certa eu
recebia um quadrado que ao fim completaria uma imagem quando todos estivessem juntos,
comecei a jogar e consegui a minha primeira imagem completa, sorri ao ver meu noivo, ele
sorria e estava escrito: Oi. Segui o jogo e a cada fase completada eu recebia um pouquinho dele,
consegui uma frase completa: Oi amor, sinto a sua falta, mas estou chegando.
― Ele fez isso? ― Mariana me pergunta me observando enquanto jogo.
― Ele invadiu meu sistema mais uma vez, tenho certeza que Luiz está me vendo e
também ouvindo.
― Ele pode fazer isso?
― Não deveria, mas ele faz. ― Não conseguia parar de sorrir.
Eu sabia que Alan Luiz havia criado esse jogo apenas para me distrair pelo tempo que
estava afastado e pelo jeito ele iria demorar mais de um mês para voltar pra mim.
― Esse homem faz tudo por você.
― Ele fez tanta coisa errada, mas ao mesmo tempo acertou em tudo. Acho que amor é
isso, né amiga? Tem que ser um pouco inconveniente também, causar um certo desconforto, mas
um desconforto bom, daqueles que nos deixa meio envergonhada e faz nosso coração acelerar,
eu nunca tinha sentido isso antes do Luiz, acho que meu ódio à primeira vista era amor.
― É amiga, precisa também existir confiança, troca, respeito e verdade.
― Eu sei, por esse motivo tivemos tantas idas e vindas, não vou me jogar de cabeça em
um relacionamento que não existe nada disso. Alan Luiz mentiu, manipulou, me fez de trouxa,
mas eu também o fiz sofrer. Espero que esse grande idiota tenha aprendido a lição.
― Depois do que Pedro fez, eu duvido que Luiz vá fazer merda.
― Ameacei arrancar as bolas dele. ― Ouvimos uma voz soar pelo meu celular. ― Ops.
― Eu não disse que ele tinha invadido e estava ouvindo tudo?
― Você não presta, Luiz! Fica vendo minha amiga 24 horas?
― É o meu melhor reality show, Mariana.
― E você deixa, Leninha?
― Acho que acostumei. Ele é voyeur, amiga. ― Mariana cai na gargalhada e eu também.
― Tem um jeito de fazer ele sumir.
― Como?
― Desligando o celular, arrancando o chip ajuda muito, mas não faço isso, entendi que é
um jeito dele dizer que me ama.
― Ainda bem que sabe disso.
― É estranho em muitos níveis.
― É, mas ele não interfere. Não é uma coisa de vigiar, é mais me acompanhar mesmo.
Alan Luiz tem complexo de Deus. ― Ouço a risada do meu noivo ecoar na sala do apartamento.
― Volta logo, amor, estou com saudades.
― Também estou linda Helena, falta pouco, eu prometo. Preciso ir.
― Não, conta a história das bolas! ― Mariana exige.
― Fui até ele e amassei as bolas daquele filho da puta com uma joelhada, eu estava
disposto a arrancá-las e que desse jeito ele não colocasse mais filho no mundo para abandonar.
Foi muito dramático, acabamos na delegacia, não foi nada bonito de ver. Vou embora agora.
Amo você, Helena. Bernardo, o dindo está morrendo de saudades e Mariana, você é uma garota
legal e eu gosto de você.
― Uau, vindo de você isso é um elogio e tanto. ― Minha amiga diz sorrindo.
― Preciso ir agora.
― Te amo. ― Me declaro e saio do jogo.
― Desde sempre foi assim?
― Era diferente, ele não falava.
― Então você era mesmo o reality show dele?
― Era. O que acha de sairmos hoje à noite?
― Com o bebê?
― Meus pais disseram que ficam com ele.
― Se é assim fico mais tranquila em sairmos.
― Você precisa se divertir, faz um mês que está só resolvendo problemas.
― É e nada de emprego. Havia me esquecido como é difícil arrumar emprego no Rio de
Janeiro.
― É amiga, aqui precisa ter o famoso Q.I.
― Quem indica?
― Exatamente. Vamos curtir a noite de sábado, amanhã a gente vai à praia e na segunda
você estará renovada para arrumar um novo emprego.
― Deus te ouça!

Às nove da noite Mariana e eu estamos em um quiosque na praia de Copacabana


aproveitando a nossa noite, sei que estou tentando distraí-la de tudo, principalmente da situação
com Pedro, meu dever de amiga é estar com ela e fazer com que veja que existe vida após uma
traição e separação.
― Minha mãe estava conversando comigo ontem, não te falei nada porque você ia se
chatear.
― Ela está insistindo para você voltar?
― Está.
― E o que você quer, Mariana? Da última vez decidiu fazer o que seus pais e os pais do
Pedro queriam, olha a merda que deu, não estou falando dessa história toda de filha e sei lá mais
o que, que esse cafajeste escondeu, me refiro a sua solidão, você passou por todo período da
gravidez sozinha, porque não se identificava com ninguém para estar próximo a você. Não quero
que passe por isso novamente. Antes de ir, Luiz conversou sobre a possibilidade de comprar uma
casa grande para todos nós vivermos juntos, achei a ideia muito boa, porém decidi esperar para
que pudesse ser conversado em um momento mais oportuno, acho que esse momento chegou.
Espero que meu voyeur particular esteja participando dessa conversa. ― Coloco o celular sobre
a mesa. ― Então Mariana, o que você deseja?
― Eu não quero ir para São Paulo, Leninha e também não quero ser um peso pra ti.
― Eu já te disse que é um peso pra mim? Sempre sonhei em morarmos juntas e tem o Bê
agora que é nosso, lembra que a gente sempre conversava sobre isso? Temos o Luiz que vai nos
defender e cuidar muito bem da gente e do nosso bebezinho.
― É verdade. Eu vou adorar se isso puder acontecer de fato.
― Espero que ele tenha escutado. ― Meu celular pisca a tela e eu sei que Luiz ouviu.
Esse homem tem um jeito todo especial de se fazer presente.
― Com licença, senhoritas. ― O garçom se aproxima com uma bandeja com drinks e
uma tábua cheia de petiscos.
― Não pedimos isso.
― Foi um pedido especial que recebemos por telefone.
― Ah tudo bem, já está pago, certo?
― Exatamente, isso e tudo que consumirem essa noite.
― Obrigada.
― O que foi isso, Helena?
― Luiz, ele age dessa forma. Você precisa se acostumar.
― Uau, ele sabe como conquistar uma garota.
― Sabe não, amiga, ele fez muita merda e por isso precisou lutar muito, pode ter certeza.
― Lembra quando te ofendi aquela vez dizendo que você estava atrás do príncipe
encantado?
― Lembro e lembro também da minha resposta.
― É, você estava certa, pautei a minha felicidade em um homem e me fodi, em partes,
porque tenho meu filho e ele me traz muita felicidade, mas toda vez que me lembro do Pedro
sinto pena de mim mesma. É um sentimento tão ruim.
― Olha, a única pessoa dessa história que é digna de pena é seu ex marido. Eu sabia que
você não o aceitaria de volta no momento que te vi deitada em posição fetal no meu sofá e
chupando dedo, porque aquela posição é a sua de reflexão e tomada de decisão, me lembro de te
ver assim quando decidiu voltar para ele daquela vez, por isso eu soube que dessa vez não teria
volta. Olha, não dei a minha opinião sobre essa história e nem quero dar, mas você agiu como
uma mulher incrível agiria, você se sensibilizou com a dor de uma outra mulher, mesmo que ela
tenha feito besteira, não sabemos a parte da Sophia na história toda, mas tudo indica que ela quer
muito seu homem.
― Ele não é mais meu homem.
― Ele ainda é o seu homem, Mariana. Você pode negar quantas vezes quiser, mas o ama
e o que acabou de me dizer só confirma isso, não sentiria pena de si mesma se não o amasse
mais, sei disso porque senti algo parecido não faz muito tempo. Vergonha ou pena de si é a
mesma coisa e só sentimos isso quando ainda amamos a outra parte, pois se você não o amasse,
se sentiria aliviada já que ele se foi de uma vez. Você tem duas opções: lutar por seu amor ou
deixá-lo ir.
― Eu sei disso. Por que me conhece tão bem?
― Porque somos irmãs de alma. ― Respondo.
― Acho que somos almas gêmeas.
― Concordo. Somos o para sempre uma da outra. ― Seguro a mão da minha amiga com
carinho, meu celular vibra e vejo uma mensagem de Luiz na tela
Luiz: Não se atreva a beijá-la! E nem pensa em tirar o anel do dedo.
Sorrio e Mari também.
― Faz mais de um mês e Luiz ainda está encanado com essa história do Wagner.
― E eu não acredito que ele tirou o cara de cima de você.
― Ele agiu feito um troglodita, odiei. ― Rimos um pouco mais.
― Amiga, você acha que vai ser muito ruim se eu não quiser fazer a festa de um ano do
Bê?
― Não acho ruim, mas penso que deveria fazer algo, nem que seja íntimo.
― Mas estava pensando exatamente isso, só que precisa ser bem íntimo mesmo, não
quero que a família do lado de lá saiba.
― Fica difícil Mari, Luiz vai ter que saber.
― Ah Helena, eu nem o considero como sendo do lado de lá.
― Ah tá, ainda bem, porque ele já sabe, né. ― Apontei para o celular sobre a mesa.
― É, esse stalker maluco.
― É voyeur, amiga.
― Está mais para stalker. Helena, aquele homem ali, não para de olhar pra cá. ― Mariana
aponta com o queixo para uma mesa atrás de mim mais à direita.
― Ah meu Deus!
― Ah meu Deus, o que? ― O homem alto, forte e lindo caminha em nossa direção todo
sorridente.
Capítulo 32
― Eu sabia que era você! ― Ele se aproxima da nossa mesa antes que eu possa responder
à Mari.
― Oi Wagner.
― Ah, bom saber que ainda se lembra o meu nome. Porque lembrar de me ligar não
lembrou.
― Desculpe.
― Você não esqueceu, só não ligou. Voltou com o brutamontes?
― Pelo que me lembro ele saiu bem mais ferido da briga que você. ― Wagner ri.
― É, faço luta livre e sei brigar, diferente do seu noivo, olha que nem o machuquei
muito.
― Obrigada por não tê-lo machucado tanto, ele não é de briga.
― Eu percebi, mas o deixei me acertar um soco para não sair com o ego tão ferido. ―
Começo a imaginar a cara de Luiz ouvindo isso. ― Vocês voltaram mesmo ou só está dizendo
isso para eu me afastar?
― Voltamos mesmo.
― Não estou o vendo aqui, olha que faz um tempão que estou olhando para a sua mesa.
― Ele está em São Paulo a trabalho.
― Então seu noivo está sempre distante?
― Na verdade, Luiz está sempre perto.
― Não entendi.
― Mesmo não estando aqui, ele está aqui, pode ter certeza.
― Onipresente?
― Mais ou menos isso. Ele adora brincar de Deus, acabei de dizer isso para minha amiga.
― Olho para Mariana. ― Essa é a minha amiga, Mariana.
― Prazer Mariana, me chamo Wagner. ― Ele segura a mão da moça a cumprimentando.
― O prazer é meu, Wagner. Ouvi falar de você.
― Ah, ouviu?
― É, você causou uma ótima impressão.
― Pena que surgiu um ex noivo no meu caminho. Estou ali com uns amigos
comemorando o aniversário de um deles, querem se juntar a nós?
― Com certeza! ― Mariana responde, a olho e ela dá de ombros sorrindo. Levamos
nossos drinks e os petiscos que ainda têm muito na tábua, nos juntamos a Wagner e seus amigos.
― Por que fez isso?
― Vamos estourar o cartão de crédito do seu noivo, amiga, ele vai pagar uma festa hoje!
― Ah meu Deus! Não podemos fazer isso.
― Claro que podemos, o garçom foi categórico em dizer que tudo que iremos consumir já
está pago. ― Mariana avisa ao garçom que mudamos de mesa e a conta de ambas era do homem
que havia ligado mais cedo, o garçom acena confirmando e sinto que a noite vai ser longa.
― Pessoal, essas são Helena e Mariana. Meninas, esse é o pessoal.
― Oi pessoal. ― Cumprimento, Mari sorri e todos acenam, conto dez pessoas na mesa,
agora doze comigo e Mari, fomos conhecendo todos aos poucos, tinham três garotas: uma delas
era namorada do aniversariante, a outra irmã e uma prima dele. Os sete rapazes eram: Wagner,
dois eram primos do aniversariante, outros dois eram amigos dele e um era irmão, o sétimo era o
próprio aniversariante.
Mariana me surpreende interagindo muito bem com todos, minha amiga não é disso,
porém a vejo animada até demais. Converso mais com a irmã e a namorada do aniversariante,
elas são divertidas e têm muitas histórias engraçadas sobre essa galera para contar. Em dado
momento um grupo começa a tocar e cantar música ao vivo, não dancei, mas Mariana se acabou
de dançar, percebo que ela precisava desse momento de distração, tudo isso a faz não pensar em
Pedro.
― Sua amiga é muito animada.
― Ela é. E também é uma ótima pessoa. ― Digo sorrindo enquanto vejo minha amiga
dançar feliz com o irmão do aniversariante.
Ao fim da festa Alan Luiz paga a conta, todos ficam gratos e surpresos por terem ganho
uma festa grátis, recebemos muitos abraços e beijos, troco telefone com todos e rapidamente sou
adicionada ao grupo deles no WhatsApp, Mariana também é.
― Agradece ao seu noivo por essa noite, meu amigo ficou muito feliz.
― Imagina. Foi um pedido de desculpas dele por ter começado uma briga. Ele não deixou
uma boa impressão naquela noite.
― Você merece mesmo um cara legal, Helena. Entendo porque ele lutou por você mesmo
sem saber lutar. ― Wagner beija meu rosto com carinho e me abraça. ― Vou gostar de ter
amizade com vocês e eu adoro uma festa, então me convidem para o casamento.
― Ah claro! Não vou esquecer de você, na verdade, todos vocês.
― Perfeito! ― Ele se vai com seus amigos, Mariana e eu pedimos um Uber.
― Ai amiga, obrigada por essa noite!
― Imagina, Mari. Eu disse que você precisava se divertir.
― É e você não vai acreditar no que aconteceu.
― O que?
― Sabe a Priscila?
― A irmã do Kauã, que estava aniversariando?
― Isso mesmo.
― O que tem?
― Ela é professora e disse que vai me indicar na escola que trabalha. Passei meu
currículo para ela.
― Nossa Mari, que notícia incrível!
― Tomara que ela me consiga uma entrevista.
― Tenho certeza que vai conseguir, ela será seu Q.I..
― Estou torcendo por isso. ― Mari suspira. ― Essa é a primeira vez que fico longe do
meu bebê e estou me sentindo mal por ter me divertido tanto.
― Você sabe que não se divertiu porque estava longe do Bê.
― É, eu sei disso. Acho que me permiti ser outra pessoa essa noite.
― E o que achou dessa pessoa?
― Gostei dela. Parece que voltei no tempo e estou de novo no primeiro período da
faculdade.
― A gente se divertia tanto.
― É, desde o primeiro momento.
― Sei que muita coisa mudou na sua vida durante esse tempo, mas eu também gosto
muito da Mariana que surgiu nesse período desde a faculdade até aqui, a Mariana esposa, mãe,
trabalhadora, amiga. Gosto dessa mulher responsável e decidida que é e tenho muito orgulho
dela.
― Ah Leninha, eu te amo tanto. ― Minha amiga me abraça e seguimos caminho assim,
abraçadas uma à outra.

No domingo nos vestimos para ir à praia e nos encontramos com meus pais e Bernardo,
eles amaram cuidar do menino e já estão me pedindo um neto, eu ainda sou virgem e eles
querem netos.
Acordei na segunda feira para trabalhar e de tarde recebi a notícia que Marina conseguiu
o emprego na escola que Priscila a havia indicado. Ela assumiu algumas turmas em uma das
unidades de escola técnica no Centro da cidade, o que foi ótimo, pois o lugar é relativamente
perto de onde moramos. No fim de semana saímos com Bernardo para comemorar o novo
emprego de sua mãe.
Foi um sábado, perto de completar dois meses longe de mim, que Alan Luiz apareceu na
minha porta.
― Ah meu Deus! ― Grito quando o vejo, me jogo em seus braços, ele me recebe com
uma abraço gostoso e me beija os lábios. ― Senti tanto a sua falta.
― Quase morri, o que me manteve vivo foi a certeza de saber que estava me esperando.
― Temos muito o que conversar. Não sobre mim, mas sobre você. Me diz que veio para
ficar.
― Eu vim para ficar.
― Trouxe pouca coisa. ― Olho e vejo apenas uma mala.
― Roupas e sapatos estão aqui. ― Aponta para a mala. ― Tudo que eu mais preciso é
você, o resto não importa, linda Helena.
― Ah, que lindo! ― Mariana se faz presente.
― Oi, Mariana.
― Oi, Luiz.
― E meu afilhado?
― Dormindo. Acordou cedo demais para um sábado e agora está cansado, ele dorme e eu
tenho que ficar acordada.
― Fiquei sabendo que as coisas estão se encaminhando bem para você, conseguiu uma
boa creche para o garoto e parabéns pelo trabalho. Tenho algo aqui para você.
― O que é?
― Eu não queria te dar isso, mesmo que ele tenha me pedido chorando. Mas achei que a
decisão de ver o que tem aqui deveria ser sua, não minha, por isso trouxe. Aqui está. ― Luiz
entrega um envelope pardo e lacrado para minha amiga. ― Ah tem isso também, seu advogado
pediu que eu trouxesse, é seu divórcio para que assine. ― Ele entrega um envelope branco para
Mariana.
― Obrigada, Luiz. Eu vou para o quarto. ― Ela sai levando os dois envelopes.
― Eu realmente não queria entregar nada do Pedro para ela.
― Temos muito o que conversar. Vem pro meu quarto.
― Seu novo quarto com aquela cama pequena?
― É.
― Vou gostar de dormir lá com você.
― Vai ser um milagre se conseguirmos ficar juntos naquela cama.
― Eu faço caber. ― Me puxa pela mão e vai direitinho em direção ao quarto como se
fosse o dono do apartamento.
Capítulo 33
― Senta aqui. ― Luiz se senta sobre a cama e bate nas pernas, me sento sobre ele que
passa a mão carinhosamente sobre minha coxa me fazendo arrepiar, ele beija meu pescoço e me
dá um cheiro gostoso ali, beijo seu rosto e acaricio seus cabelos, seus cachos largos e macios se
desfazem entre os meus dedos.
― Como você está? Estou te achando cansado e triste.
― Eu não estou feliz com tudo que descobri, mas estou feliz por finalmente estar aqui.
― O que aconteceu?
― Sophia aconteceu, jamais pensei que ela seria uma pessoa tão cruel.
― O que ela fez? Não sei o lado dela nessa história, é mesmo verdade que ela ainda quer
o seu irmão?
― É verdade. Sophia usou a gravidez e não funcionou, depois tentou usar a Anne e
também não funcionou, meus pais amarraram muito bem o acordo na época e por isso ela se
manteve afastada, mas decidiu ficar ao meu lado pegando informações sobre meu irmão aqui e
ali, porque sabia que eu era o único da família que não fazia ideia sobre toda a história suja. Não
tinha me dado conta disso antes, mas depois a coisa toda veio na minha cabeça. As mudanças de
Sophia aconteceram quando ela descobriu que Pedro seria pai de um filho da esposa dele e eu
disse que voltaria ao Brasil, ela fez a maior chantagem emocional e eu caí, a trouxe comigo e
causei toda essa merda. Sei que meu irmão errou pra caralho, Helena eu sou o primeiro a dizer
que Mariana está certa se levar esse divórcio adiante e arrancar até as calças que aquele filho da
puta veste, mas ele a ama. Rompi com a minha família e fiquei sabendo que Pedro fez o mesmo
com nossos pais.
― Sério?
― É. Minha mãe conheceu Anne e Sophia usou isso a seu favor, fez minha mãe se
encantar por ela depois que Mariana se afastou e isso fez com que meus pais começassem a
incentivar Pedro a ficar com Sophia, o que fez com que meu irmão odiasse a situação e rompesse
o laço de vez que o unia aos nossos pais. Minha família é mesmo tóxica e eu percebi isso faz
muitos anos, mas notei de uma forma diferente, do meu jeito, entende? ― Aceno confirmando.
― Eu acho que fugi e me escondi atrás dessa figura fechada e fria que todos me veem.
― Nem todos, amor.
― É, para você eu sempre fui o Luiz de verdade.
― E eu te amo exatamente por isso. ― Ele sorri e eu beijo seu sorriso.
― Sophia tentou me roubar.
― Como é?
― Sophia tentou passar minha empresa para o nome dela, a minha sorte é que sempre
leio tudo antes de assinar e sabendo disso aquela maluca falsificou a minha assinatura, consegui
provar que ela havia falsificado e reavi a empresa, por isso demorei mais a retornar. Passei tudo
para um novo endereço, comprei uma sala pequena para servir de lugar fixo para a empresa, fica
aqui bem perto.
― Que bom. E seus funcionários?
― Fiz a proposta para quem quisesse vir morar no Rio, poucos aceitaram. Mas não tem
problema, os indenizei bem e os indiquei a uma empresa de um conhecido.
― E a Sophia?
― Eu não tive coragem de denunciá-la. Pela Anne. Eu gosto daquela garotinha. Foi por
ela também que me juntei ao Pedro.
― Já prevejo o que vai me dizer.
― Estamos pleiteando a guarda da Anne. Sophia não vai ganhar, tenho muitas provas
contra ela de todos esses anos, eu cuidei daquela garotinha Helena, por isso ela me chama de
papai. ― Luiz fala de Anne com muito carinho, só sinto por ter demorado a saber dessa história,
mas estarei ao seu lado nessa batalha, não vou abandoná-lo.
― Provavelmente Pedro escreveu isso na carta para Mari. ― Me dou conta.
― Espero que sim. Se ele decidiu ser verdadeiro, que abra o jogo com ela de uma vez.
Ele era muito jovem e foi completamente manipulado por nossos pais, por essa razão eu não
soube de nada e ele nunca mais retornou aos Estados Unidos.
― Mas porque seu irmão levou esse segredo por tanto tempo? Quando ele ficou adulto
passou a tomar conta do próprio nariz. Poderia ter aberto o jogo, me lembro que Mariana e ele se
separaram quase no fim da faculdade por causa de uma ex, essa ex era a Sophia, nem o nome
dela ele disse para a minha amiga.
― Eu entendo você Helena, é como eu disse, se eu fosse a Mariana jamais o perdoaria,
mas ele foi realmente manipulado.
― Lembro quando você me disse que sua família era insuportável, intrometida e chata.
― É, eu não estava errado.
― Toda vez que penso nisso me surpreendo, jamais imaginei que Deusa e Rômulo seriam
capazes de coisas assim, manipularem a vida de outras pessoas dessa forma.
― Eu nunca estou errado.
― Nem vem Adam, você é tão manipulador e mentiroso quanto eles.
― Hei! Ainda vai me jogar isso na cara?
― É, acho que sim.
― Você amava o Adam.
― Eu ainda amo o Adam.
― E eu sinto ciúmes dele.
― Você é o Adam!
― Mas você me odiava enquanto o amava. Depois me amou e então odiou a nós dois.
Mentir é horrível e aprendi da pior forma, acho que meu irmão também. Prometo não te esconder
mais nada, linda Helena.
― Hum, acho bom mesmo.
― Mariana topou morar com a gente, podemos falar sobre isso agora?
― Claro, precisamos decidir onde vamos morar.
― Estava pensando em um apartamento de frente para o mar, sinto falta da praia, eu
corria todas as manhãs na Califórnia.
― Percebi pelo seu belíssimo bronzeado. Sabe que essa foi a primeira coisa que me atraiu
em você?
― Sério?
― É, imaginei que você vivia na Califórnia, lembro de ter pensado isso quando te
conheci no hospital.
― Ah, por isso me perguntou em que lugar eu morava nos Estados Unidos.
― É, foi isso sim. Inventei uma desculpa na época, mas foi curiosidade pelo seu
bronzeado, porque o Pedro é branco como uma vela. ― Luiz ri.
― Tudo bem, está decidido, nosso apartamento será de frente para o mar.
― Perfeito. Já que você é rico.
― Sou muito rico.
― E modesto também.
― Não saio por aí dizendo isso.
― Não, mas paga noitadas, fecha o Pão de Açúcar.
― Eu não fechei o Pão de Açúcar. E paguei aquela festa por culpa da Mariana.
― Verdade. O que mais tem para me contar?
― Se você não faz questão de muitos detalhes, nada mais.
― Ótimo. Podemos então aproveitar nosso tempo de outra forma?
― Não vamos transar, Helena.
― Não estou falando disso, mas podemos namorar pelados. ― Luiz gargalha. ― Me
sinto uma adolescente propondo isso. Que situação mais ridícula essa a minha.
― Você vai casar virgem, amor.
― Isso é uma escolha sua.
― É. Para provar que quero tudo com você e não apenas sexo.
― Você já deu muitas provas disso, amor. Tem certeza que vai me fazer esperar tanto? A
gente vai morar juntos.
― Se ficar insuportável, posso morar na empresa.
― Nem pensar! A gente pode casar semana que vem, o que acha? ― Ele gargalha.
― Também não. Quero fazer tudo certo, preciso conversar de novo com seus pais, já que
tivemos uma briga, você tirou o anel de noivado e ia beijar outro.
― Nossa, vai sempre jogar isso na minha cara?
― Ah Helena, foi tão difícil para eu conseguir um beijo seu, mas aquele filho da mãe sem
vergonha você ia beijar sem nenhum esforço da parte dele.
― Eu já tinha beijado você, não seria mais meu primeiro beijo, então não tinha
importância.
― Não acredito que ouvi isso. Que desculpa mais esfarrapada!
― Estou querendo te dar outra coisa, você que está dificultando.
― Não me tente, senhorita. ― Luiz me coloca deitada sobre a cama e se deita sobre mim,
apoiando-se sobre os cotovelos. ― Vou te dar o que quer, parcialmente.
― Hum, que bom. ― Tiro minha camiseta e vou abrindo o short apressadamente.
― Me faz um favor?
― Agora?
― É.
― Diz.
― Se toca pra mim?
― Você quer me ver?
― Sou um voyeur, não sou? ― Sorrio, ele me ajuda a tirar o short e a calcinha, solto o
sutiã e jogo tudo no chão do quarto. ― Se toca pra mim, Helena.
― Uhum. ― Acaricio meu corpo enquanto Luiz me olha, desço a mão devagar até minha
boceta e me toco lentamente, mordo meu lábio inferior e gemo, ele me observa, abre o botão da
bermuda e desce o zíper, vejo que está excitado, ele se toca e eu também gosto de observá-lo, me
excito ainda mais, ergo meu quadril e enfio um dedo no meu sexo, ouço um gemido abafado dele
enquanto acelera os movimentos de sua mão em seu pau.
― Você é tão linda, tão gostosa, amor. ― Gemo ouvindo sua voz rouca me excitar ainda
mais. Devagar ele vem até mim, tira minha mão da minha boceta e passa a cabeça do pau sobre
meu clitóris devagar, gemo gostando muito da sensação. ― Você está tão molhada.
― Isso é tortura, Luiz! ― O safado ri enquanto rebolo em busca de mais um pouco dele.
― Acha que é só pra você? Estou me controlando muito aqui, não reclama. ― Ele faz
mais uma vez e não para, ergo meu quadril, Luiz se afasta. ― Safada!
― Vai amor, por favor. ― Ele ri.
― Não. Relaxa e me deixa te fazer gozar, quero meu pau melado do seu gozo. ― Relaxo
e deixo ele conduzir o momento, me sinto molhada, excitada, quente, pulsante, sou levada muito
rapidamente ao extremo, por conta da saudade, da excitação e do desejo que sinto por esse
homem e por isso eu gozo, ele arrasta o pau até a minha entrada e sobe pela extensão da minha
boceta me melando inteira e melando seu membro no processo, o guarda de volta na bermuda,
molhado, melado, com meu cheiro e isso só me excita ainda mais.
― Minha vez.
― Não. Depois.
― Isso não é justo.
― Quero pedir pizza.
― E eu quero você. ― Ele ri.
― Você me tem inteiro.
― Não, inteiro não.
― Tem sim, linda Helena. Prometo que antes de dormir eu deixo que faça o que deseja,
eu já terei tomado banho e seu cheiro vai sair de mim, então vou precisar do meu perfume
favorito.
― Promete?
― Claro que prometo. Se veste. ― Me entrega as roupas que estavam espalhadas pelo
chão, visto-as e vamos juntos até a sala, não vemos Mariana, mas sabemos que ela está no
apartamento, pois a luz do quarto está acesa, constato através da fresta da porta.
― Vou perguntar se ela quer pizza. ― Bato devagar à porta, Mariana a abre e vejo seus
olhos inchados pelo choro recente. ― Vamos pedir pizza, você quer? ― Ela acena confirmando.
― Quer mais alguma coisa?
― Sorvete.
― Eu tenho aqui, de morango.
― Sensação gelada?
― Tenho mousse de chocolate também. Quer?
― Por favor, a sensação gelada é boa.
― É sim. Vai sair desse quarto?
― Só vou ligar a babá eletrônica e já saio.
― Quer o sabor de sempre para a pizza?
― Abacaxi e provolone.
― Ainda me lembro, gatinha. ― Digo sorrindo, vou até minha amiga e a abraço forte.
― Eu estava precisando disso. Você é a melhor, Leninha.
― Somos as melhores, Mari. ― Volto para a sala e sento ao lado do meu noivo.
― O que vai ser? ― Pergunta pondo a mão sobre a minha perna e acariciando devagar.
― Provolone e abacaxi.
― Sério isso? Que bosta de sabor!
― Uhum. Mariana ama e ela está tristinha, precisamos agradá-la. Me pediu uma sensação
gelada também, vou preparar.
― Posso pedir outro sabor de pizza?
― Claro, eu detesto abacaxi com provolone. Liga para o telefone que está na geladeira, é
pizza no forno à lenha e eles fazem esse sabor que a Mari gosta.
― E você, quer pizza de quê?
― Marguerita.
― Perfeito.
Capítulo 34
Preparo a sensação gelada, Mari aparece na cozinha, pega o pote de sorvete com a
mousse de chocolate e começa a comer.
― Sabe, seu irmão é um merda! ― Ela diz assim que Luiz encerra a ligação com a
pizzaria.
― Eu sei que ele é.
― Ele é tão babaca que nem teve coragem de vir aqui me contar o que escreveu naquela
porcaria de carta, ainda teve a coragem de pedir perdão dessa forma? Perdão uma ova! Ele não
terá o meu perdão, assinei o divórcio e amanhã mesmo irei aos correios entregar, enviaria à jato
se pudesse, mas por sedex também chega depressa. Se ele pensa que vai me comover enviando
uma merda de carta, está muito enganado. Tá, eu sei que chorei, mas foi de ódio. Ele vai lutar
para ter a guarda da menina, mas não disse nada sobre o Bê. ― Ela para e respira, mas não a
interrompo, nem para dizer que amanhã é domingo e os correios não abrem, porque sei que ela
tem mais a dizer. ― Acho melhor assim. Não o quero vendo ou ficando com nosso filho, quer
dizer, meu filho, meu e só meu. ― Minha amiga está confusa, ela fala e come e fala de boca
cheia e funga porque está chorando, seca as lágrimas com as costas das mãos, se suja toda de
sorvete e de repente ela chora alto igual a um bebê. ― Eu ainda amo aquele merda. É difícil
deixar de amar da noite para o dia. Ele sabia que essa porcaria de carta me deixaria assim. Sabia
que eu iria amar recebê-la, mas não nessas condições! Pedro é um estúpido. Eu odeio ele e toda a
sua família. ― Ela olha para Luiz. ― Exceto você, de você eu gosto muito. Eu disse ao Pedro
uma vez que a coisa mais romântica que um homem poderia fazer para uma mulher era escrever
a ela uma carta de amor. Ele sabia o que essa carta me causaria, aquele filho da mãe!
― Mas é uma carta de amor? ― Pergunto.
― Também. Essa porcaria de carta diz muitas coisas. Aquele covarde não teve coragem
de me contar na cara e precisou escrever uma carta. Ele que se foda! ― Mariana seca as lágrimas
e volta a comer, o interfone toca e Luiz desce para pegar as pizzas.
Comemos em silêncio, ouvindo apenas o som das mastigadas e do fungar da minha
amiga. Bernardo acorda e chora, Luiz vai pegá-lo, preparo a comida do bebê, essa semana
começou sua introdução alimentar estamos dando de tudo a ele, mas incentivamos muito mais
que coma legumes e frutas. Sento Bernardo na cadeirinha e o alimento, Mariana segue comendo
sua pizza, Luiz vai até ela e os dois iniciam uma conversa, não demora muito e Mariana está
sorrindo, ela ri ainda mais quando Bernardo cospe a comida no meu rosto, o garotinho ri da
bagunça e passa feijão no próprio cabelo.
― Pronto, você está ainda mais lindo. ― Digo a ele que ri. ― Está me enrolando, mas
vai comer tudinho. ― Com muita paciência consigo alimentá-lo, o limpo, troco sua roupa e o
deixo no cercadinho brincando.
― Amanhã podemos ir visitar um apartamento, marquei com a corretora.
― Já? ― Pergunto surpresa.
― Claro, esse lugar é pequeno demais, amor.
― Luiz tem razão, Helena. Eu posso ir, mas depois que for aos correios.
― Mariana, amanhã é domingo.
― Por que não disse isso antes, Helena?
― Ué, você estava tão decidida e tão puta que achei melhor não discordar e nem
interromper o seu discurso efusivo.
― Tá, vamos ver o apartamento amanhã.

Na manhã seguinte não vimos apenas um apartamento, mas quinze, foi cansativo e bem
chato também, tinha me esquecido o quão ruim é procurar por um bom lugar para morar.
Estávamos no apartamento de número dezessete e pela expressão de todos havíamos gostado, na
verdade é uma cobertura de um prédio que os apartamentos são um por andar, essa cobertura é
de dois andares, tem quatro quartos, todos são suíte, tem mais dois banheiros principais e um de
serviço, a varanda é gigantesca, a sala parece um salão de festas, tem uma sacada de frente para o
mar; a cozinha é perfeita, tem área de serviço e mais quatro cômodos no andar de baixo,
pensamos em um escritório para Luiz, uma sala de TV e uma brinquedoteca para Bernardo, um
dos cômodos se uniria a outro em uma reforma para aumentar o escritório para Luiz e dessa
forma ele poder trabalhar em casa. No andar superior estão os quartos e o acesso à piscina.
― E então? ― Luiz pergunta cheio de esperança.
― Esse lugar é incrível, mas custa muito caro. ― Digo sendo sensata.
― Concordo com a Helena.
― Eu discordo das duas, gostaram? É nosso!
― Luiz!
― Helena! ― Ele rebate e olha para a corretora. ― Queremos esse apartamento. ― Se
afasta com a corretora que sorri mais que feliz pela excelente comissão que irá receber.

Em uma semana Luiz já havia agilizado a documentação do apartamento e nos entregava


as chaves do mesmo, uma equipe de reforma deixaria o lugar do jeito que desejamos, o quarto de
Mari e o quarto do Bê, minha amiga escolheu sozinha e o restante do lugar escolhemos todos
juntos, exceto meu quarto e do Luiz, esse, nós dois escolhemos.
Marcamos um jantar no sábado para que meu noivo pudesse conversar com meus pais, foi
um excelente jantar e a conversa foi perfeita, anunciamos nosso casamento e ao fim do evento
levamos meus pais para conhecerem nosso novo apartamento. Luiz conseguiu conquistar os
sogros como tanto desejava e é nítida a felicidade nos olhos dos meus pais por essa união.
Ao mesmo tempo que a reforma do apartamento ficou pronta, o divórcio de Mariana
havia saído, Pedro não a pressionou a voltar, apenas aceitou a decisão que minha amiga tomou.
Na contramão disso, o irmão de Luiz conseguiu junto à justiça a guarda de Anne provando que
Sophia não era uma boa mãe para a menina. Soubemos apenas isso, já que meu noivo não queria
muito assunto com o irmão e também evitava falar sobre ele, Luiz falava apenas com Anne, isso
era diariamente e assim os meses se passaram depressa.
― Amiga, você está linda! ― Mariana exclama me olhando através do espelho.
― Estou me sentindo linda nesse vestido.
― Você está perfeita, é a noiva mais linda que vi na vida.
― Obrigada. ― Respiro fundo soltando o ar devagar. ― Antes de me entregar ao homem
da minha vida, quero conversar com você. ― Me viro, olho para Mari e prendo suas mãos entre
as minhas. ― Vamos viajar por quinze dias após a festa de casamento, serão quinze dias que
você e o Bê ficarão sozinhos.
― Está preocupada?
― Um pouco. Falei para Luiz que não queria me ausentar por tanto tempo assim.
― Amiga, ficaremos bem. Estou bem no trabalho, Bernardo está feliz na creche, está tudo
certo.
― Mas e hoje, está preparada para revê-lo?
― Me preparei nesses últimos três meses para isso.
― E se ele quiser ver o filho?
― Bernardo estará comigo o tempo todo. Se Pedro quiser ver o filho terá que ser na
minha presença e não acho que ele vá fazer muita questão, já que faz meses que nem liga para
saber do Bernardo. A minha vontade vai ser mandar ele se foder, mas vou respeitar o seu
casamento. Não se preocupe, Leninha, vou ficar bem. ― Ouvimos alguém bater à porta.
― Se não for o Luiz, pode entrar. ― Minha amiga diz, a porta se abre e vejo meu pai
todo emocionado e sorrindo.
― Filha, está na hora. ― Meu coração acelera, meu peito sobe e desce muito rápido,
sorrio e confirmo com um aceno, Mariana me abraça com carinho.
― Você será muito feliz, amiga.
― Seremos, Mari. Estou muito feliz por ter você e meu afilhado comigo nesse momento.
― E eu por compartilhar esse momento com você. ― Mari beija meu rosto e deixa o
quarto.
― Bonequinha, sua mãe e eu estamos felizes e realizados, conseguimos ver você fazer
boas escolhas em todos os âmbitos da sua vida, suas amizades, seus estudos, seu trabalho e agora
aqui, você demorou, mas soube escolher um bom marido.
― Obrigada papai. Nem acredito, mas vou me casar com o amor da minha vida.
― Depois de muita confusão, com idas e vindas, vai mesmo acontecer.
― Mas tudo isso serviu para nos fortalecer e também fortalecer o nosso amor.
― É. Ah sim, seu noivo pediu que eu te entregasse isso. ― Papai me entrega um celular,
mas é um modelo antigo, sem câmera. Ligo o aparelho e uma mensagem aparece na tela.
Luiz: Oi linda Helena, esse é o único jeito para eu não burlar a regra de não
te ver, sei que deve estar deslumbrante em um vestido branco que com certeza
está valorizando cada parte gostosa do seu corpo... porra, como eu queria te
ver agora...
Helena: Oi, quem é?
Luiz: Como assim quem é? Sou eu, Adam é claro!
Gargalho da brincadeira.
Helena: Nossa, achei que você havia sido deletado de vez. Então Adam, estou
para me casar agora.
Luiz: Estou sabendo. Cara de sorte.
Helena: Também acho. Mas posso deixá-lo esperando para conversar com
você. O que acha?
Luiz: Agora não sei o que responder.
Helena: Como assim?
Luiz: Me sinto um idiota e ao mesmo tempo com ciúmes do Adam.
Helena: hahahaha você que começou.
Luiz: Sempre vai amar mais o Adam do que a mim, linda Helena?
Helena: Achei que você fosse o Adam.
Luiz: Isso não responde a minha pergunta.
Helena: Depois que você disser sim pra mim eu respondo a sua pergunta.
Estou atrasada, preciso ir.
Luiz: Mulher difícil!
Desligo o celular e o deixo sobre a cama do nosso quarto, sigo com papai, mamãe,
Mariana e Bernardo até a igreja da Candelária, local que escolhemos para nos casar, o carro
alugado por Luiz foi uma limusine, meu noivo é sempre exagerado, porém foi divertido o trajeto.
A decoração da igreja estava linda, tudo de acordo com o que desejei e sonhei, flores em
tons de rosa, branco e lilás estavam dispostas da maneira mais bonita enfeitando a igreja,
Mariana entra com Jairo, meu chefe e amigo, eu gostaria muito que tivesse sido ela e o Pedro se
as circunstâncias fossem outras, mas Pedro foi um traidor e eu jamais pediria a Mari para entrar
ao lado dele na igreja, ela já está fazendo muito em aceitá-lo presente nesse momento. Eu acho
que existe a possibilidade deles voltarem, porque sempre vejo a Mari lendo a carta que ele a
escreveu meses atrás, antes ela chorava, hoje minha amiga sorri. Acredito que, enquanto existir
amor, Pedro nunca deixará de ser o homem da Mariana. Foi uma triste história, mas espero que
possa se resolver da melhor forma.
Papai me oferece seu braço e juntos entramos na igreja.
Olho para frente e vejo Luiz emocionado e sorridente com o olhar fixo em mim, penso na
nossa história, em tudo que esse homem fez para finalmente ter o meu sim, ele errou tanto, mas
os acertos foram muito maiores, meu coração é dele e de mais ninguém.
Vejo Wagner e todos os amigos que Mariana e eu fizemos por causa dele naquela noite na
praia, sorrio e aceno para todos, passo por minhas amigas de trabalho e muitos parentes, revejo
pessoas que fizeram parte da minha vida em um determinado momento passado, mas foi tão
especial que elas estão aqui hoje compartilhando da minha felicidade, sorrio e agradeço com meu
olhar a presença de cada uma delas. Da parte de Alan Luiz eu vejo alguns funcionários da
empresa, Pedro e a pequena Anne, a garotinha é a cara do Pedro só os cabelos que são loiros,
mais parecidos com os cabelos da Sophia, mas de resto a menina é o Pedro todinha.
Papai me entrega para meu noivo, tento prestar atenção em tudo que o padre diz, mas meu
coração não deixa, capto algumas palavras aqui e ali, mas meu foco é em Luiz, seus olhos me
refletem e vejo tanta coisa em seu olhar, amor, desejo, compreensão, amizade, carinho,
felicidade, paz. Eu espero estar retribuindo todos esses sentimentos com o meu olhar, pois se
comunicar dessa forma é um ponto muito importante em um relacionamento, sorrio feliz e ele
faz o mesmo.
Esse é o nosso felizes para sempre, eu encontrei meu príncipe encantado que surgiu em
forma de uma inteligência artificial e estou me casando com ele. Esse é o final feliz que tanto
desejei? Não, esse é o começo feliz de duas vidas que se amam e decidiram se unir em
matrimônio, esse é o começo do nosso felizes para sempre.
― Sim. ― Respondo com convicção.
― Sim. ― Ele diz sorridente. Nos beijamos quando o padre autoriza e estamos casados,
finalmente.
Deixamos a igreja e dessa vez a limusine é só minha e do meu marido.
― Responde agora.
― O que, amor?
― Me diz se ama mais o Adam do que eu.
― Eu amo muito mais o meu marido.
― É o que?
― Eu disse que amo muito mais o meu marido, o cara inteligente que se passou por uma
I.A. para me conquistar.
― Debochada! ― Sorrio e o beijo.
― Lembro de você me dizendo o quanto era inteligente. Estou apenas confirmando isso.
― Fui bem burro, mas no fim eu consegui a garota.
― Você ou o Adam?
― Helena?! ― Rio ainda mais, não faz nenhum sentido ele sentir ciúmes dele mesmo,
mas é extremamente engraçado vê-lo assim.
― É incrível você sentir ciúmes de si próprio. Deveria se orgulhar por ter me feito te
amar duas vezes.
― Vendo por esse lado você tem razão, sou foda mesmo.
― Não exagera.
― Tá bom, parei.
― Quero saber, estamos casados, será que podemos transar agora? ― Luiz gargalha.
― Não, temos uma festa, você não queria festa?
― Eu queria festa? Eu nem queria casamento.
― Mentira?! Quer separar?
― O que?
― A senhora não queria se casar comigo, a gente anula, nem consumamos mesmo o
casamento.
― Meu Deus! Nossa primeira briga de casados?
― Não, ainda não, eu puxei essa discussão besta pra você esquecer do meu pau. ―
Reviro os olhos.
― Se eu morrer você vai se arrepender.
― Tá doida?!
― Então vou reformular a frase, se você morrer, vai se arrepender. Irá ver lá do céu,
sentado em uma nuvenzinha a sua viúva dando pra um cara qualquer porque você não me quis.
― Puta merda! Agora é questão de honra. ― Luiz desce o vidro que nos separa do
motorista. ― Senhor, nos leve para o endereço em que buscou a minha esposa antes de levá-la à
igreja, por favor?
― Claro senhor. ― Sorrio satisfeita porque finalmente conseguirei o que tanto desejo.
― É sério?
― Claro que é sério! Não posso morrer e te deixar virgem! Eu morreria de novo se visse
outro com você.
Capítulo 35
Quando entramos no prédio o porteiro não entende nada, subimos apressados até a
cobertura, nem sei se fechamos a porta.
― Merda de vestido cheio de botões. ― Ele reclama.
Os botões são falsos, tem um zíper aqui do lado. ― Mostro e começo a rir.
― Muito inteligente, agradeça quem o fez por mim.
― Uhum. Pode tirar agora, né?
― Tá. Porra!
― O que foi?
― Estou nervoso.
― Nem vem, Luiz, não mete essa, esse pau precisa subir. Subiu sempre e agora que
vamos usá-lo ele fica acanhado?
― Merda, estou com medo de você não gostar.
― Oh céus, que crise é essa agora? Vamos fazer o que fazemos todas as noites, o que
acha?
― Hum, nada mal.
― Me beija, amor! ― Exijo e ele me beija, seus dedos deslizam o zíper do vestido
fazendo o mesmo descer por meu corpo, estou de sutiã, calcinha, cinta liga e meias sete oitavos,
tudo branco acompanhando o vestido.
― Ah meu Deus! ― Ele exclama.
― Você é ateu, lembra?
― Não sou mais, uma visão dessas só o criador pode ter feito. E tão perfeita para mim.
Sente só. ― Segura minha mão e a coloca sobre seu peito, o coração bate acelerado. ― É assim
todas as vezes. ― Sorrio e tenho certeza que meus olhos brilham de emoção.
― Vem, amor. ― Seguro a mão dele e o guio escada acima até nosso quarto. ― Você
está vestido demais. ― Tiro peça por peça de seu terno elegante de casamento, meu marido é
lindo vestido, mas sem roupa é um espetáculo, olho e sorrio feliz pelo pau dele não ter se inibido
nadinha, ajoelho e o chupo devagar, Luiz geme, apoia as mãos na minha cabeça enquanto o
chupo inteiro.
― Ah Helena, que boca gostosa. ― Diz com a voz rouca, Luiz não me deixa ir até o fim,
me ergue e toma meus lábios nos dele, me deita sobre a cama, tira todas as peças de roupa que
me restam, beija meus seios devagar, sem pressa desce os lábios até minha boceta, gemo
sentindo sua língua me explorar, quando ele enfia um dedo dentro de mim ergo meu quadril
querendo mais.
― Faz amor comigo, Luiz?
― Faço Helena, para sempre, você é minha e eu sou seu faz muito tempo, mas agora você
será inteiramente e completamente minha, como eu serei seu. Prometo ir devagar, parar se você
disser que dói, prometo te dar muito prazer e infinito amor. ― Olhando em meus olhos ele diz
coisas bonitas, tudo o que ele me disse com o olhar enquanto a gente estava se casando, só
consigo sorrir e chorar ao mesmo tempo tamanha felicidade e amor que sinto. Luiz se encaixa na
minha entrada, estou excitada e molhada o suficiente, mas ainda assim dói como se estivesse me
rasgando lá embaixo, mordo o lábio inferior e fecho os olhos. ― Está doendo muito?
― Não é insuportável. ― Ele força mais para dentro de mim e sinto que a pior parte
passou, Luiz geme.
― Puta merda! Helena você é gostosa pra caralho! ― Pra caralho é bom demais, Ele me
beija nos lábios e se move, a dor volta, mas conforme ele vai se movendo a dor dá lugar ao
prazer e eu gemo, meu sexo se contrai, minha pele se arrepia e eu me agarro ao meu marido.
― Isso é bom demais, não para amor. ― Peço, na verdade eu imploro.
― Não vou parar agora nem que o mundo acabe. Se ele resolver acabar agora a gente
morre assim, grudados. ― Rio e gemo de prazer. ― Gostosa! ― Ele bate na minha bunda. ―
Luiz se move me deixando cada vez mais molhada e a beira do prazer, parece que saio do meu
corpo quando finalmente gozo, a escuridão se faz presente por alguns segundos, meu coração
bate intensamente dentro do peito, meu sexo pulsa, bem longe ouço meu marido gemer, sinto
quando ele goza dentro de mim pela primeira vez. ― É possível que eu ame você um pouco
mais.
― A cada dia vamos nos amar mais, tenho certeza disso. Isso foi muito bom, posso ter
um pouco mais?
― Porra, claro que pode! ― Luiz sorri. ― Me dá só dois minutos.
― Uhum. ― Pego meu celular.
― O que vai fazer?
― Cronometrar. ― Ele ri. ― Luiz? ― Meu marido me olha. ― Eu amo você. ― Recebo
um beijo apaixonado e passamos os dois minutos trocando beijos e carinhos.
― Fica de quatro pra mim? ― Nem precisou pedir duas vezes, já fiquei de quatro para
ele algumas vezes quando me chupava, mas agora é bem diferente. Grito de prazer quando se
mete para dentro de mim, é cedo para dizer que essa é a minha posição favorita? Não sei, mas
vou amar descobrir muitas outras com ele.
Não fomos à nossa festa, depois de tanto sexo estávamos tão exaustos que dormimos até a
manhã seguinte, só tivemos tempo de pegar nossas malas e irmos para nossa viagem de lua de
mel.
Foi ótimo ele ter escolhido um resort isolado no litoral sul da Bahia. Passeio pra que? A
gente mal sai do quarto de tanto que transamos, passo muitos dias da lua de mel gemendo de
prazer com meu marido, cada canto que a gente encontra transamos. Me pergunto como ele
conseguiu arrumar uma praia deserta pra gente ficar, mas aqui estamos nós no mar tranquilo, nus
e nos amando. Assistimos ao pôr do sol naquela praia deserta e voltamos ao resort para o nosso
jantar especial.
― Estou preocupada com a Mari e com o Bê.
― Eles estão bem.
― Como sabe? Não estamos falando com ninguém desde o dia em que nos casamos.
― Mais ou menos Helena, precisei enviar algumas mensagens para os seus pais e a Mari
avisando que estávamos bem, afinal não participamos da nossa festa de casamento.
― Ah meu amor, eu participei sim da minha festa e curti muito a noite inteira.
― Safada! Você se casou só porque queria o meu pau.
― Graças a Deus eu o terei para o resto da minha vida! ― Luiz ri e segura minha mão
sobre a mesa.
― E eu tenho você para sempre, minha linda Helena.
― Uhum, só sua e você é só meu.
― Sou, para sempre e sem devolução. ― Sorrio, depois de toda a nossa história
conturbada, não vamos sequer pensar em desfazer esse casamento, aprendemos a duras penas
que confiança e verdade é a base para um relacionamento saudável.
― Precisamos mesmo jantar aqui?
― Quer ir pro quarto?
― Quero muito, meu marido.
― Não me oponho, vamos logo embora daqui minha esposa. ― Deixamos o restaurante
do resort e voltamos ao nosso quarto.
Capítulo 36
Ao fim dos quinze dias dizemos adeus à Bahia e voltamos para nosso apartamento no Rio
de Janeiro.
Mariana nos recebe com Bernardo e até faixa de boas-vindas ela nos preparou, o bebê já
corria e por isso veio até nós, eu o abraço primeiro.
― Amor da dinda, que saudades.
― Dindi Dindi. ― Ele repetia e eu me surpreendi.
― Ele está aprendendo.
― Ah amiga, que coisa mais linda! Obrigada por ensinar a ele.
― Nem agradece por isso. Ele deveria chamar você de mãe e o Luiz de pai. Vocês são
incríveis nas nossas vidas. Senti saudades. Não acredito que perderam a festa do casamento de
vocês!
― A gente tinha coisas mais importantes para resolver, Mariana. ― Luiz responde.
― Ah, eu posso imaginar. Então Helena, Luiz superou as expectativas? ― Minha amiga
pergunta curiosa, mas meu marido me olha também curioso.
― É, foi legalzinho. Ainda não consegui experimentar muito, acho que o tempo dirá.
― Como é?! ― Luiz questiona, Mari e eu caímos na gargalhada.
― Estou brincando, amor. Mariana, não sei como foi para você na sua primeira vez, mas
para mim foi incrível e posso dizer que se fosse com outro não teria sido dessa forma. Luiz é
perfeito pra mim e sabe me fazer feliz, em todos os sentidos. Nós não perdemos nossa festa de
casamento, apenas comemoramos sozinhos.
― Tem fotos da festa sem os noivos.
― Depois mostra pra gente. ― Luiz pede e minha amiga confirma. ― Amor, vou subir
com as malas.
― Tá. Amiga, trouxemos presentes. São bobagens, porque nem saímos do hotel.
― Posso imaginar, sua pele está maravilhosa! ― Sorrio do comentário.
― Obrigada.
― Valeu mesmo a pena esperar?
― Muito! Estou feliz demais com meu marido e espero que essa felicidade seja eterna.
― Será amiga, Luiz não esconde nenhum filho perdido por aí. Nem uma amante
estrangeira. Ele não se chama Pedro.
― E vocês?
― A gente nada. Na festa do seu casamento eu permiti que ele ficasse com o Bê, me
mantive longe, meu filho sente a falta do pai, Bernardo chama o Pedro todos os dias, não posso
negar a presença dele para o meu filho. ― Ela dá de ombros.
― E a menina?
― É muito tímida, fala português com sotaque, igual aquela mãe dela. Anne não chama
Pedro de pai. Na cabecinha dela seu pai é o Luiz, posso dizer que ela se parece muito mais com
ele do que com Pedro, não em aparência física, mas no jeito retraído, mais solitário de ser. Anne
estava feliz com o casamento de vocês. Não vou me incomodar se quiser conhecê-la, Leninha, a
menina não tem culpa dos erros dos pais.
― Eu sei que não e agradeço por permitir que eu a conheça, você é incrível, Mariana,
tenho tanta sorte por ter você.
― Ah Leninha, somos ambas sortudas, pois o que seria de mim sem você? Vai ser bom
conhecer a menina e deixar que ela volte a ter contato com Luiz.
― Conversarei com ele sobre isso.
― Amiga, mudando de assunto, me conta, voltou grávida da lua de mel?
― Pelo tanto de sexo que fizemos, deveria, mas não, estava tomando anticoncepcional
faz tempo, não achei que Luiz fosse aguentar esperar até o casamento, mas ele me cozinhou em
banho maria por um longo período.
― Vai demorar a ter filhos?
― Não sei amiga, a gente quer curtir, estamos só começando e teremos tempo para
pensar em filhos.
― Você está certa, não me arrependo do Bê, mas deveria ter esperado mais. ― Mariana
suspira. ― Pedro pediu para conversar comigo.
― Durante a festa?
― É, mas não cabia uma conversa ali.
― Então vocês ainda vão conversar?
― Ainda não dei uma resposta a ele. Nesses dias que esteve longe eu conheci alguém.
― Espera, o que? ― Minha amiga sorri com o rosto corado. ― Me conta isso, agora!
― Tá, vou contar. Ele é professor de uma das unidades da escola em que trabalho. Nos
conhecemos no aniversário de cinquenta anos da primeira escola da rede.
― Como foi? Ele chegou em você?
― É, eu estava com Bernardo, não quis pedir aos seus pais para ficarem com ele e foi até
bom, vários funcionários levaram seus filhos e tinha espaço para as crianças brincarem, me
enrolei para montar o carrinho do bebê na entrada da festa, fui com seu carro amiga.
― Nosso carro, Mariana. Pode usá-lo sempre que quiser.
― Obrigada, amiga.
― Qual o nome dele?
― João Carlos, mas todos o chamam de Joca. É um professor muito querido pelos alunos
e cobiçado por muitas professoras.
― Hum... você pesquisou sobre ele?
― Claro amiga. Ele não fica com as professoras, muitas delas estranharam quando nos
viram conversando, porque Joca não costuma dar assunto a elas. Eu não vou me jogar de cabeça,
Helena, se é isso que te preocupa, estou curtindo, não é nada sério, mas está me distraindo de
pensar no... naquilo que não devo.
― Está divertido?
― Também está. Já saímos três vezes.
― Se beijaram?
― Sim e transamos também.
― Uau! Isso não é entrar de cabeça, Mariana?
― Não. Estaria se agora eu dissesse que ele é meu namorado ou sei lá o que, estou
contando sobre ele a você porque é minha amiga e estou dizendo que Joca é apenas uma
distração.
― Entendi. Mas beija bem, faz as coisas direitinho?
― Beija bem sim, mas que coisas são essas que ele precisa fazer direitinho?
― Ah, você sabe, né?! No sexo. ― Minha amiga gargalha.
― Você ainda fala como uma virgem. Sim amiga, Joca trepa muito bem. ― Nesse
momento, Luiz escolhe aparecer.
― Por que eu sempre escuto o que não devo?
― Você poderia fingir que não ouviu nada.
― Infelizmente não consigo. Sou um péssimo mentiroso.
― Ainda bem, porque se fosse bom estaria mentindo pra mim até hoje.
― Sorte a sua que os genes da mentira foram a maioria para o irmão mais babaca. ―
Mariana responde.
― Está trepando com quem? ― Meu marido insiste.
― Fofoqueiro.
― Fofoqueiro nada, Mariana, faço parte dessa relação tanto quanto minha esposa faz,
somos amigos, não somos? Sou padrinho do Bê também e mereço saber quem é o homem que
pode vir a ser o padrasto dele. Quero o nome completo.
― Vai investigar o cara, amor?
― Claro que vou, farei a ficha completa. Anda Mariana, o nome?
― Joca.
― Isso não é um nome.
― É tudo que precisa saber. Já que chegaram, podem ficar com o Bernardo por algumas
horas?
― Claro que ficamos.
― Obrigada. Amo vocês.
― A gente também te ama, só se cuida.
― Pode deixar. ― Mariana beija meu rosto, o do Luiz, abraça o bebê e o beija inteiro,
pega sua bolsa e sai.
― Ela vai se encontrar com o tal Joca?
― Não sei, ela não disse. Mas provavelmente não. Ela está com uma expressão
nostálgica. Que dia é hoje, Luiz?
― Vinte e quatro de maio.
― Ah Deus.
― O que foi?
― É a data que ela e Pedro se conheceram.
― Então ela não o esqueceu.
― Tem como ela o esquecer? Ele foi marido dela e é o pai do Bernardo. Não dá para ela
simplesmente o esquecer. Mariana saiu desse casamento amando o Pedro.
― E ele a amando também. ― Meu marido suspira ― Alguma coisa na nossa criação foi
muito errada, a gente sempre mete os pés pelas mãos quando se trata das garotas que amamos.
Sinto tanto por tudo que te fiz passar, os sentimentos ruins, as dúvidas, toda aquela mentira
estúpida.
― Passou, Alan Luiz. Sei o quanto se arrependeu por tudo, sei o quanto me ama e que
nenhum homem no mundo me faria tão feliz quanto você me faz.
― Esperei tanto por você, linda Helena. Sabia que me inspira?
― Sério?
― Uhum, vem comigo. ― Carregando Bernardo no colo, Luiz vai até o escritório e eu os
acompanho. ― Veja só, criei uma personagem inspirada em você.
― No Hot fake date of love?
― Exatamente.
― Deu meu nome a ela?
― Não, pois não quero nenhum marmanjo dizendo que ama a minha Helena.
― Qual nome deu a ela?
― Afrodite, e ela é uma personagem muito especial.
― É uma deusa.
― Exatamente, a do amor e da beleza, o que é para mim. Não estava em busca de uma
deusa grega, mas achei você, não estava em busca de um amor, eu nem sabia o que era isso, mas
achei você, Helena, você é tudo pra mim, minha deusa, minha inspiração, a razão da minha
felicidade, de acreditar que existe mesmo um Deus, de eu conseguir suportar todas essas outras
pessoas que são tão inconveniente, chatas e intrometidas. ― Sorrio secando as lágrimas de
emoção que caem molhando meu rosto. ― Está vendo esse garotinho?
― Uhum.
― Quero ter muitos desse com você. ― Sorrio mais uma vez e confirmo com um aceno.
― Menininhas também. Quero viver uma vida plena e feliz ao seu lado, envelhecer junto a ti e
desejo tanto uma família grande e barulhenta, mas que possamos amar a todos e respeitar o
espaço de cada um dos nossos filhos, não quero que sejamos insuportáveis, chatos e muito
menos intrometidos, pois os erros cometidos no passado devem servir de exemplo para não
serem cometidos no futuro. A cada dia ao seu lado eu aprendo uma coisa nova e maravilhosa,
você desperta o melhor em mim e por esse motivo eu sei que conseguirei ser o melhor pai do
mundo para os nossos filhos, pois eu escolhi a melhor mãe do mundo para eles.
― Me lembro quando Mariana me sugeriu jogar um jogo para aprender a seduzir e ser
mais sexy, me senti tão idiota, jamais iria imaginar que esse jogo pudesse me dar tanto. Uma I.A.
se apaixonou por mim e eu por ele, quais as chances daquele relacionamento ter dado certo?
Zero, até que tudo se tornou real, descobri o homem por trás do jogo e o amei, na verdade eu o
amo, eu estava sim apaixonada por Adam, mas eu amo o Alan Luiz, o homem real que se
mostrou inteiro para mim, eu fui a primeira pessoa a te conhecer de verdade e poxa, é você que
me transformou nessa deusa incrível, e é tão maravilhoso me enxergar dessa forma aos seus
olhos, não poderia querer outra pessoa nesse mundo, real ou virtual, que não fosse você. ― Luiz
me beija e Bernardo sorri.
― Precisamos ir atrás da mãe dele?
― Seria prudente, amor. Eu acho que sei onde ela foi.
― Então vamos até lá.
Mesmo estando cansados da viagem de volta, Luiz e eu vamos atrás de Mariana, sabemos
que ela precisa da gente, somos uma só família e precisamos ficar juntos, nos bons e maus
momentos.
Capítulo 37
Tomamos o rumo até o local que Mariana e Pedro se conheceram. Lembro como se fosse
hoje da festa organizada pela nossa faculdade em um beach club chamado Netuno[i] fixado na
Zona Sul da cidade, foi lá que um homem tentou me ridicularizar por ser gorda e minha amiga
me defendeu partindo pra cima dele, Pedro se encantou, porém o beijo entre eles aconteceu na
praia de frente para o beach club, tenho certeza que é na praia que minha amiga estará.
― Olha, ela está ali. ― Aponto e caminho em sua direção assim que chegamos, Luiz, que
segura o bebê, me impede de prosseguir.
― Espera.
― O que, porque? Minha amiga precisa de mim, como pude esquecer essa data?
― Tem mais alguém que se lembrou dela, linda Helena. ― Ele aponta para outra
extremidade e vejo Pedro.
― Ah meu Deus!
― Penso que seja melhor ficarmos longe.
― Eles não se viram?
― Acho que ainda não, mas a qualquer momento eles vão se encontrar. ― Não demora
muito e acontece, eles se veem, Mariana se vira para sair, mas Pedro é mais rápido e a segura, ele
a puxa e a abraça forte, vejo uma garotinha loirinha correr em nossa direção.
― Papai, que saudade! ― Ela diz abraçando Luiz. ― Oi Helena, como está?
― Estou bem e você, Anne? ― Ela dá de ombros.
― Sinto falta do meu pai, foi legal Pedro ter me trazido aqui para ver ele. Só não sabia
que encontraria a gente agora. Ele disse que te ligaria mais tarde. ― Anne olha para Luiz e
depois para Bernardo. ― Oi irmãozinho. ― Diz toda fofa e Bê se joga para ela, com cuidado
Luiz permite que a menina segure o bebê, ela o embala como uma criança faz com seu
bonequinho, Anne o beija. ― Ele tem um cheiro bom de bebê. ― Sorri e me entrega o menino.
― Aqui, segura ele. Pai, estamos na praia e o que a gente sempre faz na praia?
― Helena, meu amor, preciso te deixar por uns minutinhos.
― Tudo bem, vai lá.
Observo Luiz correr até a areia com Anne, Mariana e Pedro notam nossa presença, no
entanto não se movem, continuam apenas encarando um ao outro, não consigo identificar se
minha amiga está prestes a bater nele ou beijá-lo, tento focar nos dois mais velhos, mas Luiz e a
garotinha ganham a minha total atenção, vou até a areia com Bernardo e o solto, ele corre livre e
eu sempre atrás dele tomando conta para que não corra em direção ao mar, o garotinho ri vendo
sua meia irmã correr com o padrinho, Luiz está tão lindo, desse jeito mais solto e brincalhão com
a criança, que me encanta e sinto uma vontade enorme de ser mãe de um filho dele, algo que
ainda não havia sentido com tamanha intensidade.
Luiz segura Anne e a gira pelos braços, a menina ri jogando a cabeça para trás, Bernardo
estica os bracinhos para mim e faço algo parecido, porém um pouco mais devagar com ele,
mesmo assim o bebê ri e gosta da brincadeira, o levo até a beirinha e deixo com que molhe os
pés na água salgada e fria, por consequência molho os meus também, quando nos cansamos
sentamos sobre a areia da praia e Anne começa a fazer um castelo de areia.
― Amor? ― O chamo, Luiz me olha. ― Eu quero muito isso. ― Ergue a sobrancelha.
― Isso, o que?
― Quero filhos. ― Meu marido sorri e acena confirmando.
― Teremos quantos quiser, minha vida. Podemos começar o mais rápido possível, se
desejar. ― Sorrio e confirmo acenando.
― Minha vida?
― Uhum, comecei a viver de verdade depois que conheci você, descobri o que é a
verdadeira felicidade ao seu lado, então você é a minha vida, linda Helena. ― Meu coração bate
mais forte a cada segundo por esse homem, choro de felicidade, sorrio e o beijo.
― Eu amo você.
Ficamos juntinhos abraçados e tomando conta das crianças, vejo quando Pedro e Mariana
se aproximam de nós, porém estão afastados entre si e isso indica que não se resolveram.
― Contei à Mariana que viemos para ficar, eu ia te falar mais tarde, mas já que nos
encontramos é melhor que isso seja esclarecido de uma vez.
― Vocês têm onde morar, Pedro? ― Luiz pergunta.
― Estamos em um hotel por enquanto.
― Hotel? Está em um hotel com uma garotinha de nove anos? Não vou permitir que
Anne fique morando em um hotel.
― O que sugere então, Luiz? ― Pedro questiona.
― Nosso apartamento é grande e tem um quarto sobrando, podem ficar lá. ― Olho para
meu marido com a boca aberta, surpresa pelo convite sem sentido.
― Não vou aceitar isso.
― Ah Pedro, por favor, quero morar com meu pai!
― Mas você mora, seu pai sou eu!
― Meu pai Luiz. Sinto falta dele. ― Anne pede chorosa, Mariana está atônita.
― Luiz, Mariana e Pedro estão separados, como ela vai viver na mesma casa que ele? ―
Pergunto baixinho.
― Que merda! Esqueci.
― Esqueceu? Como assim esqueceu?
― Amor, você disse que queria ter filhos, só estou pensando nisso agora e esqueci de
todo o resto. Imagina Pedro, pai solo, morando em um hotel sujo com a garotinha dele, sabe que
odeio hotéis, por isso só me hospedo em resorts. ― Isso está longe de ser algo bem explicado é
como dizia a minha avó: tem caroço nesse angu.
― Está tudo bem, Luiz. Se Pedro quiser morar no apartamento com Anne eu não vou me
importar. ― Mariana diz dando de ombros.
― Não será por muito tempo, uma semana, eu prometo. ― Claro que Pedro não perderia
a chance de ficar perto de Mariana e Bernardo, começo a me perguntar se isso não foi algo
combinado entre os irmãos. Não vou cair nessa desculpa barata do meu marido.
― Papapaaaaaa. ― Bernardo diz andando em direção a Pedro que o segura com carinho.
― Mariana, posso?
― Não vou impedir que fique perto do seu filho, Pedro.
― Nosso filho, Mari.
― Tanto faz. ― Ela digita algo em seu celular. ― Eu preciso ir. ― Helena, cuida do Bê?
― Claro, já estava fazendo isso. ― Me levanto da areia e vou até ela. ― Me desculpe por
essa situação. Eu vim porque me lembrei que dia era hoje, imaginei que estaria aqui e acertei. Só
não fazia ideia de que eles também estariam e menos ainda que meu marido idiota faria tal
proposta a Pedro, mas eu prometo dar um jeito disso não acontecer.
― Esquece, Lena. Está tudo certo, Pedro e a menina precisam de um lugar para ficar e
Luiz é irmão do meu ex e quase pai da menina, eu o entendo.
― Vai sair com Joca?
― Sim, lá está ele me esperando. ― Mariana aponta para um homem alto, todo
trabalhado no músculo, cabelos bem cortados, castanhos, pele bronzeada, sorriso perfeito, lábios
carnudos, o homem parece o Cauã Reymond versão dois ponto zero.
― Uau amiga! Esse homem é professor de que? Educação Física?
― Como sabe? É isso mesmo.
― Meu Deus! Ele é lindo! ― Mariana ri e morde o lábio inferior.
― É bem gostoso também. Leninha, preciso ir.
― Vai nessa e seja feliz. ― Ela sorri, acena para todos que nos observam e vai até Joca, o
cara a segura firme pela cintura e ataca os lábios da minha amiga, posso ver a expressão de Pedro
mudar drasticamente e quando penso que ele vai chorar, o homem chorar de verdade e feito uma
criancinha vendo minha amiga partir. Luiz dá tapinhas consoladores nas costas do irmão.
― Patinha, da onde surgiu esse babaca?
― Veio de avião, não sei que horas chegou, só sei que é de São Paulo, errou pra caramba
com a minha amiga e ainda trouxe com ele uma filha que ninguém fazia ideia que existia. ―
Respondo.
― Nossa, essa doeu até em mim! ― Luiz diz.
― Eu mereci, um a zero pra você, patinha.
― Patinha é a sua mãe, Pedro! E para de chorar, o único aqui que não tem o direito de
chorar é você! Não se faça de vítima, palhaço.
― Perdi a mulher da minha vida, Helena.
― Por culpa exclusivamente sua, seu grande idiota! Agora ela está se pegando com a
versão 2.0 do Cauã Reymond. Beijinho no ombro, amor.
― Não tripudia, linda Helena.
― Você e ele estavam juntos nisso, não é?
― Juntos em que? ― Luiz, dissimulado, indaga.
― Nessa bobagem toda de odiar hotéis e convidar Pedro para nosso apartamento. Não
tem nem hotel, nunca teve, você sabia que Pedro viria e já estava planejado dele ficar em nosso
apartamento com a menina, é uma armação para que esse idiota recupere a minha amiga. Vocês
são dois imbecis e mais uma vez você agiu pelas minhas costas, Alan Luiz.
― Espera amor, não é nada disso.
― Não mente! ― Exijo e o acuso com o dedo indicador em riste.
― A culpa foi minha, Leninha. Eu implorei a ele por ajuda.
― Eles se amam, amor.
― Não temos nada com isso, Luiz. Pedro precisa resolver os problemas dele sozinho, por
pessoas se meterem e o colocarem embaixo de suas asas que ele erra sempre! Pedro persistiu no
erro por anos, enganou tantas pessoas, até você e agora está com pena dele?
― Você nunca gostou de mim, deve ter dado graças a Deus quando Mariana pediu o
divórcio, provavelmente a incentivou no processo.
― Vai à merda, Pedro! Nunca me meti nessa bagunça. Eu abracei, apoiei e recebi minha
amiga e meu afilhado de braços abertos, os ajudei quando você falhou, recolhi os pedaços da
Mari que você espalhou por aí, limpei a sua merda, mas jamais interferi nas decisões da Mariana.
― Mas apoiou cada uma das decisões dela.
― Claro! A decisão sempre foi dela e eu apoiaria qualquer uma das opções, até se ela
quisesse te matar eu apoiaria. As escolhas são dela, não minha. Assim como você fez as suas,
agora aceite as consequências.
― Mas não tive ninguém ao meu lado.
― Claro que teve, seu irmão. Olha ele aí manipulando as coisas com você. Quer saber,
Pedro, o apartamento é meu também e não te quero morando lá. Tenho uma opção ótima para
você e sua filha, eu não vendi meu apartamento de Botafogo, acho perfeito para um pai e uma
filha morarem e é pra lá que vocês irão! ― Toda essa discussão acontecia em voz baixa e
distante das crianças. ― Até porque o quarto que possuímos não está mais vazio.
― Não está? ― Meu marido estúpido pergunta.
― Não amor, ele agora é seu!
― O que?
― Aqui estão as chaves, vou avisar ao porteiro que você vai morar no apartamento, ele
está montado, não tirei nada de lá quando me mudei. Se quiser ver o Bernardo avise antes e
nunca apareça no meu apartamento sem avisar. ― Pego Bernardo no colo e vou com ele até o
carro, o arrumo na cadeirinha e deixo os dois babacas na praia com a pobre Anne, infelizmente
não posso fazer nada por ela.
Em casa, dou banho em Bernardo, o alimento e coloco para dormir, o bebezinho está
cansado de tanto brincar, tomo banho, me visto e envio mensagem à Mariana avisando que Pedro
e Anne ficarão no apartamento de Botafogo. Uma hora depois, meu marido entra em casa
segurando um buquê enorme de flores e chocolates.
― Me perdoa. ― Me pede entregando os presentes que seguro prontamente.
― Você se desculpa demais, estou cansada. Se não fizesse tanta bobagem não precisaria
se desculpar a cada instante! Mais uma vez agiu pelas minhas costas, me enganou e manipulou.
Isso é da sua natureza e mesmo assim aceitei viver uma vida com você. Percebo que ninguém
muda, mas esse seu defeito pode destruir a nossa relação. Eu amo você, seu grande idiota, mas
precisa me contar as coisas.
― Eu deveria ter contado, rapidamente você arrumou uma solução para o problema, de
novo. Nem me lembrava do apartamento em Botafogo.
― Luiz, não se junte ao Pedro para interferir na vida da Mariana! Já fizeram isso demais
por longos anos. Não permitirei que ela sofra e ter Pedro por perto é sinônimo de sofrimento para
a pobrezinha, por mais que minha amiga se faça de forte, ninguém é uma fortaleza, Luiz.
― Me desculpa.
― Tudo bem. Pedro é seu irmão, afinal.
― E a Mariana é a sua irmã. Não pensei nela.
― Também não penso no Pedro e é por isso que eu perdoo você.
― O problema é que eu sei que eles se amam, Helena.
― Mas isso é uma coisa que os dois precisam perceber e resolver, não vamos e nem
devemos interferir. Ajudaremos da forma que pudermos e não será colocando Pedro sob o
mesmo teto que a Mari que isso se resolverá. Ainda tem a Anne nesse meio, imagina enfiar essa
menina goela abaixo da Mariana? Se queremos ajudar, precisamos ser sutis, nenhum dos dois
têm que saber o que estamos fazendo por eles.
― E como seria isso?
― Anne vai precisar de uma escola.
― Claro, e daí?
― Podemos indicar ao Pedro a mesma do Bê, que além de creche é escola de ensino
fundamental.
― Brilhante.
― Eles podem se esbarrar todas as manhãs e ele se resolve com ela aos poucos. Nada
impede que Anne venha nos visitar, Luiz, mas morar aqui não seria prudente, a Mari e o Bê
chegaram primeiro.
― Eu entendo. Você está certa.
― A gente pode fazer uns encontros aqui, mesmo que a Mari não esteja, o Pedro pode vir
e ver o Bê, acho que com essa relação entre Mariana e Joca, ela nos deixará muitas vezes com o
menino e isso pode fazer com que Pedro acabe ganhando a confiança dela para cuidar do filho
deles.
― Entendi. Você é um gênio do crime, mulher!
― Cala a boca, Alan Luiz, deixa de ser falso e pare de me elogiar.
― Está com raiva, né?
― Estou.
― Ainda vou dormir no quarto vazio?
― Não. ― Ele sorri. ― Me ajuda a arrumar esse monte de flores em um vaso.
― Tá bom amor. ― Todo feliz ele pega um vaso, solto as flores do buquê e as arrumo
dentro do recipiente já com água, lavo as mãos, deixo o vaso florido sobre a mesa de jantar e
começo a subir a escada de acesso ao segundo andar.
― Traz os chocolates. ― Peço quando chego no último degrau, Luiz pega a caixa e sobe
de dois em dois degraus, entramos no quarto e deixo a babá eletrônica sobre a mesa de cabeceira.
― Você fica tão sexy brava desse jeito, amor.
― Ainda estou com raiva de você Alan Luiz.
― Como deseja descontar isso?
― De uma forma que me dará bastante prazer.
― Eu vou gostar disso?
― Talvez, eu sei que vou gostar muito.
― Estou com medo e ao mesmo tempo ansioso. ― Ele tira as roupas que veste. ―
Pronto, sou seu.
― Que bom! ― Me dispo devagar vendo os olhos brilhantes do meu amor me
observando.
― Porra Helena, você é a mulher mais linda desse universo.
― A mulher mais linda encontrou o homem mais lindo, quais as chances?
― Não sou nada perto de você, linda Helena.
― Ah meu amor, você é sim. Para você ter uma noção, eu ficava excitada só com a ideia
que eu fazia de você.
― Ah não, nem vem falar do Adam.
― Você é o Adam! E eu amo você muito intensamente, agora preciso que faça amor
comigo. ― Não preço duas vezes, meu marido toma meu corpo lentamente, me beijando, me
acariciando, me amando como se fosse a primeira vez, Luiz não tem pressa alguma e nunca
dispensa as preliminares, me toca, me beija, me suga, me prova, me faz delirar com a ponta de
seus dedos ou com seus lábios e língua, estou suada, quente e molhada de prazer quando ele se
coloca para dentro de mim é tão bom, tão prazeroso, cheio de amor e desejo que gozamos juntos.

― Linda Helena, ainda quer ter filhos comigo?


― Claro que eu quero.
― Vai parar de tomar o anticoncepcional?
― Se for da sua vontade também, eu paro sim.
― Claro que é da minha vontade, estamos prontos. Você tem dúvidas?
― As vezes quando você faz merda.
― Desculpe, vida, pensei que fosse ajudar a Mari e o Pedro.
― Só ia magoá-la ainda mais. Tudo está muito recente e só o tempo vai dizer se esse
relacionamento terá volta ou não, por enquanto vamos focar na nossa história de amor que está
só começando.
― Acho perfeito, que tal treinarmos um pouco mais a fazer nosso bebê enquanto nosso
afilhado está dormindo?
― Acho perfeito desse jeito.
Capítulo 38
O que seria temporário, acabou se tornando fixo, Pedro e Anne estavam morando no meu
antigo apartamento em definitivo, essa foi a forma que encontrei de ajudar o homem que já está
quebrado o suficiente, pois de uma só vez ele perdeu a esposa, o filho e os pais, em seguida
perdeu sua casa e seu emprego quando optou vir morar no Rio de Janeiro. Agora, Pedro precisa
se estabelecer na cidade, e recomeçar nem sempre é fácil, então ajudar não custa nada.
Anne costuma vir em nosso apartamento brincar com Bê e ver Luiz, me dou muito bem
com ela que é uma garotinha carinhosa e tem uma história triste, aos poucos Anne vai me
contando sobre sua vida e me apavoro um pouco em saber como Sophia foi uma péssima mãe,
pelo que entendi, da sua fala carregada de sotaque, foi que sempre que estava longe de Luiz,
Sophia chamava a filha de encosto e imprestável, ela também costumava bater em Anne e por
isso a menina é tão retraída e eu achava que fosse timidez, essa doce garotinha sentia medo, só
não sentia quando estava perto de Luiz, pois ele sempre foi seu porto seguro e por esse motivo
sei que ele jamais deixará de ser um pai para essa menina. Hoje ela se sente mais segura perto de
Pedro e também de mim e Mariana, mesmo que esteja há poucos meses em nosso convívio.
É noite de sexta e estou deixando o trabalho para curtir com as minhas colegas, não deixei
de aproveitar as minhas noites de sexta e, sempre que possível, Mariana aparece e essa é uma
dessas noites. Sigo de carro até o bar que marcamos e vejo minha amiga me esperando na porta,
ela está com Priscila, amiga do Wagner, abraço as duas e nos juntamos às minhas colegas de
trabalho, decido não beber nada alcoólico porque sou a motorista da rodada.
Nossa noite é divertida e tranquila, quando decidimos voltar já é quase meia noite. Deixo
Priscila em casa e sigo com Mariana para a nossa.
― Helena, Joca me pediu em namoro. Ele disse que gosta muito de mim e do Bê e quer
estar presente em nossas vidas, contei-lhe tudo o que Pedro fez e informei que, mesmo meu ex
tendo feito merda nós possuímos um vínculo que é o nosso filho. Joca entende isso e não se
incomoda com a presença de Pedro.
― E o que você respondeu a ele?
― É um passo muito grande a se dar, Leninha, falta um mês para o Bê completar um ano,
estou me preparando para isso, pedi a Joca que esperasse ao menos até o aniversário do meu
filho.
― E ele?
― Respondeu que vale a pena esperar por mim. Estou tão confusa, amiga.
― Eu posso imaginar que esteja. O sentimento pelo Pedro ainda existe.
― É, mas me sinto tão bem quando estou com Joca. Porém não é a mesma coisa de
quando estava com Pedro.
― Nunca vai ser, Mariana. Pedro é único, assim como Joca é único. Comparar os dois
não vai te ajudar em nada. ― Ela suspira.
― Acho que me envolver com alguém tão rápido foi um erro. Pensei que esqueceria meu
ex e agora me vejo sentindo coisas diferentes por duas pessoas.
― Você vai conseguir descobrir o que quer, amiga. Tenho certeza disso. Mas que tal
focar em outra coisa, como o aniversário do nosso bebê?
― Acho ótimo.
Passamos o restante do caminho conversando sobre a festa íntima do nosso bebê, já
havíamos definido o tema, Bernardo ama a Patrulha Canina e esse seria o tema da festa, já temos
muitas coisas compradas, bolo encomendado, bem como doces e salgados, falta pouco menos de
um mês para o dia da festa e precisamos estar preparadas para quando o dia finalmente chegar.

A festa de aniversário do Bê finalmente chega e, devido a toda organização antecipada,


está perfeita e não falta nada, ajeitamos tudo para acontecer em nosso apartamento, na cobertura.
Meus pais, os pais da Mari, Pedro, Anne, Luiz e eu somos os únicos presentes, mas para
minha surpresa Joca aparece, Mariana o recebe muito bem e o apresenta como sendo seu
namorado, vejo o coração de Pedro se partir um pouco mais através de sua expressão de
sofrimento e derrota, nem eu sabia que Mari já havia se decidido, Luiz passa um braço em volta
dos ombros do irmão para lhe dar apoio, eu prefiro nem me mover, pois a novidade me pega de
surpresa tanto quanto os pega também.
Cantamos parabéns para Bernardo e cortamos o bolo, Meus pais não demoram a ir
embora, os pais de Mari ficam em nosso apartamento, no quarto vago, eles estão encantados com
Joca, ele é mesmo um homem encantador que diz sempre as coisas certas, na hora certa, mas
sinto que é certo demais, é estranho que ele não tenha nenhum defeito, isso não existe, seres
humanos possuem falhas, vide o meu homem e o Pedro, nem meu pai que amo e vejo como
perfeito é de fato perfeito, mamãe vive apontando as falhas do papai; e isso não é algo exclusivo
para homens, é algo humano e ponto. Penso que pode ser apenas coisa da minha cabeça porque
vejo Joca em poucas ocasiões e sempre rápidas demais, mas em todas elas ele é extremamente
perfeito e acho tão cansativo. Afasto esses pensamentos pois sei que mesmo com todos os erros
eu sou team Pedro. O cara está comendo o pão que o Diabo amassou e, para completar, seus pais
o estão processando e exigindo ter participação na guarda do Bê, Mariana nem sonha com isso,
pois ele preferiu a poupar e brigar sozinho na justiça com os pais, não tão sozinho, pois Luiz e eu
estamos do seu lado.
Pedro decide ir embora e leva Anne consigo, Mariana se despede de Joca que se vai com
um pouco de resistência. Luiz e eu nos despedimos de todos e caminhamos juntos para o nosso
quarto.
― Que novidade foi essa? Meu irmão quase morreu!
― Foi um baque para mim também. Não faz muito tempo, Mariana me disse que Joca
havia a pedido em namoro, mas ela estava confusa e pediu que ele esperasse até acontecer o
aniversário do Bê, acho que minha amiga se decidiu antes. Eu só espero que seja a decisão certa,
sinto que ela está tentando esquecer o seu irmão colocando outra pessoa no lugar. Ninguém
merece isso, nem ela, nem o Pedro e muito menos o Joca.
― Talvez ele saiba e concorde, achei Joca muito bem resolvido, principalmente com a
presença de Pedro aqui rondando Mariana o tempo todo.
― Isso é verdade, Joca além de lindo parece ser perfeito demais.
― Lindo e perfeito? Devo me preocupar com isso, senhora Helena?
― Não, você não tem porquê se preocupar com isso. Mais lindo que você não existe. ―
Meu marido ri. ― Amor, será que podemos focar em nós um pouquinho? ― Peço.
― Claro. O que tem em mente? ― Luiz sorri de um jeito safado. ― Vem aqui, minha
linda Helena. ― Vou até ele, suas mãos espalmam nas minhas nádegas e as aperta firme, me
puxa e caio sentada sobre seu colo.
― Não era isso que eu tinha em mente.
― Ah não? Entendi os sinais errados?
― Acho que sim. ― Acaricio seus cachos enquanto ele beija meu pescoço e desce até os
meus seios. ― Foco amor, preciso mesmo conversar com você.
― Fala enquanto eu te chupo, o que acha? ― Sorrio.
― Não vai dar, é sério.
― O que pode ser tão sério para impedir nosso sexo?
― Nosso bebezinho que está a caminho? ― Luiz me olha calado. ― Está processando a
informação?
― Estou.
― Travou?
― Acho que um pouco. Meu coração está batendo muito forte agora. Isso vai mesmo
acontecer, vida? Seremos pais?
― Sim, nós seremos pais, meu amor. ― Meu marido me beija nos lábios, em seguida
beija minha barriga. Estou feliz por dividir com ele essa notícia, faz mais ou menos uma semana
que senti enjoos, minha menstruação atrasou um mês e sempre fui muito certinha, por tudo isso
decidi realizar os exames, o resultado foi positivo e segurei até o aniversário do Bê, para não
tirarmos o foco da criança.
― Essa é a melhor notícia que poderia me dar! Obrigado, minha linda Helena. Você faz
de mim o homem mais feliz do universo todos os dias.
― E eu sou a mulher mais feliz do universo por ter você e agora o nosso bebezinho.
― Prometo que serei um bom papai para você, minha criança. Da mesma forma que tento
ser o melhor marido para a sua mamãe.
― Você é, minha vida.
― Serei papai.
― E eu serei mamãe. ― Sorrio e choro de felicidade, meu marido não está diferente.
Ficamos um longo tempo abraçados, nos beijando e curtindo a novidade.

Logo quando a semana seguinte inicia, procuro minha médica ginecologista que me
encaminha a uma obstetra. No consultório, a médica decide realizar a primeira ultrassonografia.
― Vejo que está entrando na oitava semana, Helena. Estão animados? ― A médica
pergunta.
― Muito, ansiosos também e extremamente felizes. ― Luiz responde. Mariana não
conseguiu vir por causa do trabalho.
― Isso é ótimo, que bom que estão felizes, pois vejo que a felicidade será dobrada.
― Dobrada?
― É, vejam aqui, tem mais um embrião.
― A senhora quer dizer que...
― Serão dois bebês.
― Ah meu Deus! ― Luiz exclama. ― Helena, você sempre me surpreende, meu amor!
― Pelo que vejo está tudo bem com os bebês e também com a mamãe, espero que o pai
esteja bem também.
― Ele está processando, doutora. Isso demora um pouco. ― Digo sorrindo e segurando a
mão de Luiz que tem os olhos presos à tela que mostra nossos dois pontinhos.
Quando anunciamos que teremos dois e não apenas um bebê, a alegria é geral, Mariana
chora de emoção, Pedro tenta se conter, mas não consegue e desaba em um choro de felicidade
pelos sobrinhos, se bem que ultimamente esse besta chora por tudo, acredito que parte de suas
lágrimas sejam por Mariana. Anne está empolgada com a chegada dos irmãos, ela beija minha
barriga, acaricia e fala com os bebês sempre que pode, até mesmo por telefone é tão lindo ver a
alegria dela e o carinho que tem por mim e pelos bebês que me emociona sempre, sinto uma
felicidade gigante todas as vezes que essa menininha está perto de mim, Me apeguei a ela em um
curto espaço de tempo e posso afirmar com certeza que eu já amo Anne da mesma forma que
amo Bernardo e meus bebês, possuo sentimento de mãe por essas crianças e é maravilhoso estar
rodeada de tanto amor.
Capítulo 39
O tempo passa depressa e já estou entrando na vigésima quarta semana de gestação, ainda
não conseguimos saber o gênero dos bebês, pois em todas as ultrassonografias eles estão
abraçados.
Me encontro agora em uma reunião de condômino do apartamento que Pedro mora em
Botafogo, ele não pode participar porque não é dono e como é eleição de um novo síndico decidi
vir para votar. Estou com Anne, tenho ficado com ela sempre depois da escola, já que Pedro
conseguiu um trabalho em um excelente escritório, tenho a impressão de que em breve meu
cunhado será convidado a ser sócio. Levarei Anne para ficar com a gente o resto da semana em
nosso apartamento com a autorização de Pedro. A reunião termina por volta das sete da noite e
deixamos o prédio.
― Mãe? ― Ouço Anne dizer baixinho, olho para ela e vejo que olha em uma direção
oposta a gente, me viro e encaro Sophia. A garotinha segura minha mão mais forte e eu a coloco
atrás de mim. Pego meu celular na bolsa e abro no aplicativo que Luiz criou apenas para a gente,
através dele, meu marido tem acesso total ao meu celular. ― Querida segure meu celular e fale
com seu pai Luiz. Apenas fale que ele vai te ouvir.
― Tudo bem, Leninha. ― Ouço o som da voz de Anne soar baixinho e vejo Sophia vir
em nossa direção.
― Helena, não é?
― Isso. Sophia, certo? ― Me farei de idiota tanto quanto ela está se fazendo.
― É, que bom que se lembra de mim.
― Deseja alguma coisa?
― Ah, eu desejo muitas coisas que você roubou de mim, para começar o Alan, depois o
Pedro e então a minha filha.
― Como é?
― Você mesmo, sua gorda maldita! ― A safada me olha de cima a baixo. ― Está ainda
mais gorda agora, por isso quase não te reconheci. ― Que filha da puta, estou grávida!
― Veja bem como fala comigo, eu nem sabia quem você era! Não venha falar comigo
dessa forma, nunca te fiz nada, sua maluca!
― Não me chame de maluca! Primeiro você se colocou no caminho do Alan, eu o tinha
nas minhas mãos, ele fazia o que eu quisesse e não apenas para mim, para essa garotinha ingrata
que está se escondendo atrás de você também.
― Não se atreva a chegar perto dela.
― Ela é a minha filha!
― Você perdeu o direito disso, Anne não é mais nada sua.
― Sua maldita! Se não tivesse se metido com Alan ninguém jamais teria descoberto tudo!
Eu teria conseguido o Pedro da minha forma, mas agora ele me odeia!
― A mãe dele gosta de você, fica com ela. Vocês se merecem.
― Aquela velha insuportável, me colocou pra fora da casa dela, estou aqui porque quero
a Anne.
― Nem passando por cima de mim. ― Sophia vem depressa para cima da gente. ― Vai
para dentro do prédio, meu amor. ― Peço e vejo a garotinha correr para dentro. Sophia muda a
direção e eu me coloco na sua frente.
― Me deixa pegar a minha filha!
― Desse jeito o que vai pegar é uma cadeia ou um manicômio! Arrume a sua vida,
mulher! Esqueça os homens dos outros, procure um emprego, para de querer uma vida fácil
usando sua filha! Nos deixe em paz.
― Maldita! Eu odeio você, estava prestes a conseguir exatamente o que eu queria.
― O que você queria? Usar Luiz para através dele e da menina conseguir o Pedro? Isso
jamais daria certo, Pedro sempre te manteve distante. Mulher, acorda!
― Mas eu tinha o Alan Luiz!
― Tinha? Tinha o que?
― A proteção dele, a atenção, o cuidado, fazia anos que eu estava nessa família e tinha
grandes motivos para não sair dela, não imaginei que seria uma gorda igual a você que iria
atrapalhar os meus planos.
― Você está se ouvindo? Disse que tinha o Luiz, mas nunca teve o amor dele, o que ele
sentia era pena por você ser mãe solteira, ele sempre amou a Anne, não você. Sophia, acorda,
procure se amar, sabe o que é amor próprio? ― Ela me olha e ri, completamente descontrolada.
― Você vai querer me ensinar o que isso? Logo você, uma mulher horrorosa! ― Ela
estica a mão para estalar um tapa em meu rosto, porém alguém se mete na frente e leva o tapa
por mim, vejo Pedro e correndo pela outra direção enxergo meu marido.
― Já chega Sophia, seu show acabou. Ia mesmo agredir uma mulher grávida?
― Grávida? Mas...
― Sua idiota louca! ― Grito.
― Se acalma, amor. ― Luiz pede.
― A Anne. ― Olho para dentro do prédio, deixo a louca com Pedro e Luiz, pois ela é
problema deles e não meu. Entro na portaria e abraço a garotinha que chora e se treme inteira. ―
Você foi perfeita, meu amor.
― Não deixa ela me levar, Leninha.
― Não vou permitir isso, nem eu e muito menos seu pai Luiz ou seu pai Pedro, irei te
proteger para sempre de qualquer mal, meu amor. ― Anne me olha.
― Igual você protege os meus irmãozinhos?
― Exatamente do mesmo jeito.
― Leninha, quer ser a minha mamãe? ― Meus olhos transbordam em lágrimas.
― Serei a mulher mais feliz desse mundo por ter você como filha, meu amor.
― Você me protegeu como as mães fazem com seus filhos.
― É porque lá no fundo já me sinto como a sua mamãe, não é? ― Anne acena
confirmando e eu a abraço. ― O que acha de subirmos?
― Acho melhor. Mas ainda vou ficar com você, papai Luiz, Bê e a tia Mari, né?
― Sim, meu amor, vou te levar comigo para o nosso apartamento e você não volta mais
para a Sophia.
― Será que o papai Pedro pode ir hoje também? Quanto mais gente para me proteger
dessa bruxa será melhor.
― Vamos pedir isso a ele juntas, o que acha?
― Acho legal. ― Subimos de elevador.
Luiz e Pedro chegam uma hora depois, Anne come sorvete de morango e mousse de
chocolate, ensinei a ela que essa é a melhor sobremesa do mundo e a garotinha gostou muito,
todos sempre gostam.
― E então?
― Sophia vai voltar para os Estados Unidos, ela nem pode mais estar no Brasil, não tem
vínculo nenhum de trabalho e nada que a prenda aqui, já que perdeu a guarda da Anne. Ela será
deportada hoje mesmo, demoramos porque estávamos resolvendo essa questão.
― Papai. ― Anne chama, os dois homens do recinto olham para a menina. ― Papai
Pedro. Eu e a mamãe Helena queremos te pedir uma coisa.
― Mamãe Helena? ― Os dois perguntam.
― Eu pedi para ela ser a minha mamãe, porque me protege como vocês dois fazem e
como uma mãe deveria fazer, ela aceitou e agora também sou filha dela.
― Você é uma garotinha de sorte, recebe amor de todos os lados. ― Luiz diz à menina.
― É, eu sei.
― O que querem me pedir, gatinha? ― Pedro chama Anne da mesma forma que Luiz a
chama.
― Que você fique com a gente essa noite.
― Uhum, eu fico.
― Oba! ― A menina vibra. Bom que o efeito Sophia passou depressa.
Pedro foi arrumar uma bolsa com roupas e Anne se prontificou a ajudá-lo, Luiz e eu
ficamos esperando na sala.
― Está tudo bem?
― Sim. Pedro e você chegaram bem na hora.
― Você pensou rápido, levei um susto quando ouvi a voz da Anne desesperada falando
comigo. Quando ela me disse: Papai, a bruxa está aqui, vem salvar a Leninha. Eu joguei tudo
pro alto e vim o mais depressa que pude. Você está bem de verdade e nossos bebês também?
― Estou, na verdade estamos todos bem. Aquela bruxa me chamou de gorda maldita, ela
disse que estou ainda mais gorda e horrorosa! ― Sinto vontade de chorar.
― Você não está gorda, vida, está grávida e muito gostosa, continua sendo a minha linda
Helena de sempre, amor.
― Tem certeza?
― Tenho.
― Você ainda me deseja? ― Luiz ri.
― Que pergunta é essa? Sabe que eu te desejo muito, sempre, ontem à noite fizemos
amor, hoje de manhã antes de ir trabalhar também fizemos, se quiser podemos fazer agora
porque já estou pronto para isso. ― Luiz mostra o quanto me deseja se esfregando em mim e eu
o sinto duro, sorrio. ― Muito bem, prefiro ver seu sorriso do que esse olhar triste.
― Ela me acusou dizendo que a culpa dela ter perdido tudo foi minha.
― Esquece isso, Helena. Sophia só quer culpar alguém porque é mais fácil do que ter de
admitir que tudo o que aconteceu foi por culpa dela mesma. Sophia se acomodou e só queria
alguém para se encostar, fez comigo e queria fazer com Pedro e sempre usando a filha. Comigo
ela conseguiu por anos, mas com Pedro ela não obteve sucesso. Agora acabou, ela foi embora e
não voltará mais.
― Preciso agradecer ao Pedro por ter levado aquele tapa por mim.
― Já fiz isso, não se preocupe.
― Obrigada, não sei se são os hormônios de grávida falando, mas senti muita vontade de
bater naquela mulher.
― Ainda bem que você não fez, ou eu deixaria de ser o único que já sentiu o peso da sua
mão. ― Sorrio e meu marido me beija. ― Me casei com a única mulher que bateu em mim.
― E eu me casei com o único homem que me tirou do sério o suficiente para que eu me
tornasse violenta.
― Você me amou desde o primeiro momento, confessa.
― Eu não posso falar mentira, eu odiei você de cara! Mas o amor falou bem mais alto e
veja só, estou uma bola por sua culpa.
― Você está linda como sempre e muito gostosa também, já disse que estou amando
ainda mais seus peitos?
― É, eu percebi isso.
― Você foi uma leoa protegendo a Anne, ela está toda encantada por você. Nossos filhos
têm sorte de te ter.
― Digo o mesmo em relação a você que protege essa menininha desde o nascimento,
seria bem pior para Anne se você não fosse presente na vida dela. Você é tão incrível, Alan Luiz!
― Hum, só usava meu nome assim quando estava com raiva, agora mudou.
― Uhum, porque não tem ninguém mais maravilhoso que você, minha I.A. ― Luiz ri e
me beija nos lábios.
― Eca! ― Anne diz.
― Ainda bem que é eca para você, gatinha. ― Pedro fala afagando os cabelos da menina.
― Vamos?
― Agora! ― Luiz segura minha mão e vamos até o nosso apartamento, mudamos muita
coisa em casa nesses meses desde que descobrimos a gravidez de gêmeos, o quarto que tínhamos
vago arrumamos para os bebês e o escritório de Luiz foi dividido com Drywall para termos um
quarto de visitas, Anne geralmente fica com Bernardo com em meu quarto quanto está em nosso
apartamento.
No caminho recebemos a confirmação de que Sophia já havia sido deportada e isso nos
causou um grande alívio, resta agora Pedro se resolver com os pais, que ainda não desistiram do
processo de divisão da guarda do Bernardo, ele tem protelado, está ganhando tempo e
cozinhando esse processo em banho maria, mas ele ainda existe e Mariana segue sem saber de
nada. Assim que chegamos, Luiz leva o irmão ao escritório, Deixo Anne na brinquedoteca e vou
até Mariana que está no quarto com Bernardo.
― Oi gata. ― A cumprimento.
― Oi, Leninha. Está tudo bem?
― Muita coisa aconteceu, está com tempo?
― Estou.
― Ótimo, para começar, Pedro e Anne estão aqui e ficarão até o fim da semana.
― Certo.
― Tem mais. ― Conto a ela tudo o que aconteceu com Sophia, Mariana fica apavorada
― Como essa mulher teve a coragem?
― Não sei, acho que ela é louca, não tem outra explicação.
― Falta de amor próprio também, Lena.
― Eu disse isso a ela. Sophia me chamou de gorda horrorosa!
― Queria estar lá para dar umas boas porradas na cara dela!
― Não duvido que faria isso, senti vontade, mas me segurei, por Anne e pelos bebês que
carrego. ― Mariana acaricia minha barriga.
― Estou ansiosa para eles nascerem, acho que serão duas menininhas.
― Meus pais acham que serão meninos. Pedro acha o mesmo que você.
― E você e Luiz, o que acham?
― Luiz não acha nada e eu tenho medo de chutar, errar e quando os bebês nascerem
ficarem tristes comigo, então prefiro não arriscar. ― Minha amiga gargalha.
― Ai Helena, só você para pensar algo assim. Você é demais, amiga!
― Você sempre achou que o Bê seria mesmo um menino, é fácil para você dizer. Veja só
como seu filho te ama.
― Pela sua lógica, se eu estivesse errada meu filho me odiaria?
― Não odiaria, talvez gostaria um pouco menos. ― Mariana chora de tanto que ri.
― Desse jeito vou acordar o Bernardo e ele vai mesmo me odiar. ― Minha amiga respira
fundo. ― Estava te esperando chegar para conversar uma coisa com você.
― O que aconteceu? Ai meu Deus, algo errado? Mariana, estou me sentindo péssima! Só
falando de mim e dos bebês e faz tempo que não conversamos sobre você.
― Calma Helena, está tudo bem comigo. Está tudo ótimo, na verdade.
― Espera, está noiva do Joca?
― Não! Claro que não. Na verdade, o Joca e eu terminamos.
― Terminaram? Por que? Ele parecia ser tão… perfeito.
― Perfeito demais, amiga. A perfeição cansa, sabe? Às vezes a gente precisa de um
pouco de caos.
― Entendo, é preciso existir o equilíbrio. ― Ah, eu sabia! Posso ter pouca experiência
em relacionamentos, mas sabia que Joca era perfeito demais e toda essa de fato cansa.
― Exatamente e não tinha isso. Vou sentir falta dos beijos e do sexo incrível, mas você
sabe que pouco antes do fim até isso estava chato?
― Convenhamos amiga, você não gostava dele.
― Não. ― Mariana entorta a boca e sorri em seguida. ― Estava em uma tentativa, mas
não deu certo, agora quero focar no meu filho, meus sobrinhos e meu trabalho. Eu estou me
sentindo tão afastada do Bê e isso estava me fazendo tanto mal. Você e Luiz estavam sendo mais
pais do meu filho do que eu.
― Não diz isso Mari, você é uma mãe incrível, só não quis que seu filho se aproximasse
demais de alguém que você sabia que não ficaria na sua vida por muito tempo.
― Sabe Helena, quando a gente se torna mãe, as coisas mudam aqui dentro. ― Mari toca
seu peito no local do coração. ― A gente quer proteger nossa cria a todo custo e para
conseguirmos permitir que alguém possa se aproximar daquela parte mais incrível que temos, é
preciso pensar muito e ver bem quem é a pessoa. Não estou dizendo que Joca era alguém ruim
ou que ele fosse fazer qualquer mal ao Bê, mas confiar em deixá-lo se aproximar demais eu não
consegui.
― Pode ter certeza que eu te entendo.
― Tinha também o fato de eu estar com Joca pelos motivos errados, não se fica com
alguém tentando esquecer outro. Não é bom para nenhuma das partes.
― Então isso significa que não esqueceu o Pedro?
― Impossível esquecer o Pedro.
― Está pensando em uma possível volta?
― Não irei descartar isso, mas vamos precisar caminhar muito até que possamos chegar
nessa possível volta. Você sabe que tenho as minhas reservas, mas o que eu mais preciso
trabalhar é a garotinha, sempre que a olho relembro como doeu descobrir toda a traição.
― Ah querida, de uma coisa Sophia teve razão, a culpa disso tudo foi mesmo minha.
― Helena, não se culpe, se não fosse por você eu seria enganada eternamente. Isso é algo
que Pedro precisa passar para aprender e eu preciso aprender a conviver com a Anne. Sei o
quanto ela é querida por você e Luiz, sei também que ela é um amor de criança e ama o irmão, só
preciso me aproximar dela. Acho que agora terei tempo para isso. Só te peço que não conte a
ninguém sobre meu término com Joca.
― Fica tranquila, não contarei nada, mas saiba que estou torcendo muito pela sua
felicidade e sempre apoiarei qualquer decisão que vier a tomar.
― Eu amo você, Leninha.
― E eu amo você.
Capítulo 40
Estou perto de entrar na trigésima segunda semana de gestação, se Sophia me achou
enorme aos seis meses, fico imaginando o que ela diria agora no oitavo, pois pareço o mundo, a
barriga pesa tanto que precisei parar de trabalhar mais cedo, entrei com uma licença médica, fui à
perícia e estou em casa até que possa retornar após a licença maternidade. Meus pais têm sido
incansáveis me ajudando em tudo aqui em casa, Luiz contratou serviço de diarista e até
cozinheira, mas é necessário que tenha alguém para comandar as coisas por aqui, Mariana
trabalha na escola e com o fim do ano se aproximando o trabalho se torna ainda mais intenso,
então ter meus pais me ajudando é uma dádiva.
Todos já sabem que minha amiga e Joca não estão mais juntos e tenho visto cada vez
mais Mari se aproximar de Pedro, ainda mais agora que ele se mudou com Anne para um
apartamento próprio no nosso prédio, ele no quarto andar e nós na cobertura. Observo que meu
cunhado está tentando, se esforçando para reconquistar Mariana, ele até contou a ela sobre a ação
judicial que seus pais moveram para terem o direito de visita ao Bernardo, não foi algo fácil para
minha amiga digerir, mas Pedro soube explicar tudo muito bem e ao que parece não vai dar em
nada, já que meu cunhado reuniu provas suficientes para que qualquer juiz mantenha aqueles
dois velhos bem longe de qualquer criança. Pelo que sei falta pouco para essa questão se
resolver.
― Mamãe, eu tive um sonho com os meus novos irmãozinhos.
― É mesmo, querida? Como foi esse sonho? ― Anne se aconchega perto de mim sobre a
cama e eu a abraço, adoro ouvir seus sonhos.
― Tinha um menino, uma menina, o Bê e eu, a gente estava brincando na praia e o papai
Luiz corria com a gente, como ele faz sempre comigo. Não conta nada, mas a titia Mariana
estava esperando um bebezinho igual a você agora.
― Sério?
― Sim e o papai do neném era o papai Pedro. Eu queria que a tia Mari e o papai Pedro
ficassem juntos. Eu sei que eles não estão juntos por minha causa e isso me deixa triste.
― Quem disse isso para você?
― Ouvi uma vez da vovó Deusa. Ela estava falando com o papai Pedro e eles brigaram
por causa disso. Causei muitos problemas para todos, não é?
― Meu amor, você só nos trouxe felicidades, eu descobri o que é ser uma mamãe com
você, Anne. Todos nós te amamos infinitamente e nunca te culpamos por nada que aconteceu.
Sabe de uma coisa, princesinha? ― Ela me olha com seus olhinhos claros e brilhantes. ― Tudo
aconteceu exatamente como deveria e a melhor coisa que nos aconteceu nisso tudo foi você, que
tornou as nossas vidas muito mais felizes. O Bê tem a melhor irmã do mundo e esses bebezinhos
aqui também. ― Anne chora e me abraça e eu choro junto com ela.
― Eu te amo muito, mamãe.
― E eu amo muito você. ― Fico acariciando os cabelos de Anne e a menina adormece.
― Amor?
― Fale baixo, Anne dormiu.
― Não te vi lá embaixo e fiquei preocupado, sempre me espera lá quando volto do
escritório.
― Desculpe, não pude deixá-la sozinha. Essa garotinha é muito especial, Luiz.
― Eu sei.
― Temos tanta sorte de tê-la. ― Meu marido sorri, se aproxima de mim, senta ao meu
lado na cama, me beija nos lábios e acaricia minha barriga.
― Como vocês estão?
― Bem, ah, segundo nossa princesinha, teremos um casal de gêmeos. Ela sonhou.
― É mesmo?
― Uhum e eu acredito nela, sabe o que mais tinha nesse sonho dela?
― O que?
― Pedro e Mariana juntos e esperando um bebezinho.
― Não acho nada difícil que isso aconteça de verdade. ― Luiz diz com muita categoria e
eu ergo uma sobrancelha.
― O que está sabendo que eu ainda não sei?
― Pedro chamou Mariana para sair e ela aceitou. Parece que o processo que meus pais
moviam finalmente chegou ao fim, sem sucesso para eles e meu irmão quer contar essa boa
novidade a ela em um encontro.
― Não apenas isso, Pedro tem muita coisa a dizer para Mariana e sei que ela também tem
a dizer ao seu irmão, espero que possam ser sinceros um com o outro.
― Aprendemos isso, não é, vida?
― Aprendemos sim. ― Passo a mão devagar no rosto do meu marido. ― Eu amo tanto
você, a família linda que construímos, amo até os problemas que temos. ― Luiz sorri. ― Já
estou pensando nas noites de sono que teremos perdidas pelo choro dos nossos bebês e sinto uma
enorme felicidade.
― Feliz por noites de sono perdidas?
― Sim, porque eu sei que você estará ao meu lado.
― Sempre, minha linda Helena. ― Luiz me beija. ― Seus pais estão lá embaixo, preciso
ir até lá dizer que você está bem.
― Eles podiam ter vindo aqui.
― Não quiseram te atrapalhar, pensam que você está dormindo.
― Eu vou descer, me ajuda?
― Claro. ― Me levanto com a ajuda do meu marido, cubro Anne por causa do ar
condicionado que está ligado e descemos para a sala de estar.
― Querida, achamos que estivesse dormindo.
― Não, estava conversando com a minha filha. Ela dormiu.
― Brincou tanto com Bernardo hoje que devia mesmo estar cansada.
― A escola enviou o boletim dela hoje, Anne ainda não sabe, mas foi aprovada, estou
pensando em dar uma festa para ela, mas preciso falar com Pedro antes, ele é o pai e não quero
passar por cima dele. Mas quero que estejam aqui, caso a festa aconteça.
― Estaremos, ela já nos chama de avô e avó, não vamos deixar nossa netinha sem a nossa
presença, bonequinha.
― Obrigada, papai.
― Querida, precisamos ir.
― Claro, está tudo bem aqui, obrigada por me ajudarem tanto.
― Nem agradece por isso, princesinha. Não vemos a hora dos nossos netinhos chegarem.
― Mamãe me abraça, beija meu rosto e faz o mesmo com Luiz, em seguida papai se despede de
nós da mesma forma, assim que eles saem, Mariana entra.
― Helena, precisamos conversar!
― O que aconteceu? ― Pergunto apavorada.
― Luiz…
― Tudo bem, vou deixar vocês sozinhas, preciso tomar banho, porque acabei de chegar
do trabalho.
― Que trabalho? Você joga o dia inteiro. ― Minha amiga alfineta.
― Esse é o meu trabalho. ― Ele sorri feliz e satisfeito com o trabalho que tem. ― Por
falar nisso, preciso experimentar um novo jogo, então terão horas de conversa sem a minha
interferência. ― Meu marido me beija e se vai.
― O que aconteceu?
― Pedro me chamou para sair e eu aceitei!
― E o que isso tem demais?
― Que eu estou esperando que ele me beije! ― Minha amiga está desesperada.
― Isso é ótimo!
― Claro que não é nada ótimo. Isso é péssimo, eu não deveria querer que ele me beijasse.
― Você está confusa. Desde de que terminou com Joca as coisas entre você e Pedro tem
melhorado bastante, vocês conversam, riem juntos, parecem amigos, estão dividindo assuntos
comuns e você se aproximou muito da princesinha.
― Aquela criança tem o dom de fazer com que todos se apaixonem por ela. E ela ama
meu filho, como não amar ela também?
― Tem razão.
― Tem mais.
― O que?
― Sinto ciúmes de você por Anne te chamar de mãe. ― Caio na gargalhada. ― Não ria,
Helena!
― Anne vai amar saber disso. ― Digo empolgada.
― Não se atreva a contar nada. ― Mari me pede.
― Não vou contar.
― Anne vai amar ter duas mães e dois pais. ― Vejo os olhos da minha amiga brilhando
de emoção.
― Todos os nossos filhos têm, Mari. Me sinto mãe do Bê e quero que se sinta mãe dos
meus bebês também. É como a gente sempre desejou que seria.
― Uhum, as coisas aconteceram de uma maneira tão errada, mas no fim eu sei que vai se
ajeitar e tudo ficará certo. ― Mariana sempre com seu jeito esperançoso, sorrio e seguro sua
mão.
― Acho o mesmo. Pedro errou e muito, mas ele já sofreu demais, até te viu namorando
outro, entendo que só isso já foi castigo o suficiente. Você acha que ele ficou com alguém nesse
tempo? ― Pergunto curiosa.
― Não, ele não ficou. Pedro já me disse que não conseguiu ficar com outra mulher. Ele
tem dito muitas coisas que estão mexendo com meu coração.
― Com certeza vai rolar beijo hoje! Mariana, você me conta tudo! Ah como eu queria ver
esse encontro.
― Não inventa, não vou deixar seu marido invadir meu sistema.
― Hei! Luiz só invade o meu sistema, bonita!
― Ciumenta, hein?
― Com o sistema que Luiz invade eu sou mesmo. ― Mariana e eu gargalhamos. ― Vai
logo se arrumar para esse encontro, quero te ver bem linda, sugiro aquele vestido vermelho que
te marca inteira, prende os cabelos, sei que Pedro tem tesão em você com cabelo preso em rabo
de cavalo, e nada de colar, deixa o pescoço e colo livres, capricha no brinco, marca bem os olhos
e passa batom carmim na boca.
― Uau! como sabe disso tudo?
― Estou cansada de ouvir ele chorar quando enche a cara aqui em casa, principalmente
quando ele sabia que você estava com Joca.
― Eu não sabia disso, por que eu não sabia disso? ― A pergunta vem com um tom de
repreensão.
― Eu disse que não ia me meter, nunca contei o que ouvi dele para você e jamais contaria
o que ouvia de você para ele. Seria traição!
― Te perdoo pelo seu argumento. Preciso ir, tenho que me depilar.
― Mariana, não era só um beijo?
― Era, mas vai que…?
― Safada! Olha, deixa que a gente cuida do Bê, ele está no meu quarto dormindo no
berço e Anne dormindo na cama, Luiz e eu daremos conta dos dois.
― Obrigada, Leninha. ― Minha amiga agradece, beija meu rosto, me abraça, acaricia
minha barriga e some das minhas vistas quando sobe ao segundo andar e entra em seu quarto.
Luiz é o primeiro a aparecer, me ajuda a esquentar o jantar, acorda Anne que vem
sonolenta e traz Bernardo nos braços.
― Gatinha, pode lavar as mãos que vamos servir o jantar.
― Estou com sono pai, não com fome.
― É sempre a mesma história. Come e depois dorme.
― É sempre a mesma história, eu como e você não me deixa dormir. ― Ela rebate,
prendo o riso e Luiz olha feio para a menina que faz rapidamente o que ele manda.
― Você não pode rir, amor.
― Foi engraçado, porque ela disse a verdade, a coitadinha vai comer e não vai dormir,
porque você não vai deixar.
― Porque comer e dormir faz mal.
― Eu sei, por que não explica isso a ela? Acho que Anne merece saber.
― Tá bom, você venceu.
― Uau! ― Exclamo olhando para Mariana que aponta na escada, meu marido olha na
mesma direção.
― Meu irmão está muito fodido e morto. ― Luiz diz e cai na gargalhada.
― O que foi, estou ridícula?
― Não amiga, você está incrível.
― Quem está incrível, mamãe? Uau! Tia Mariana está linda, vai aonde assim?
― Obrigada, princesinha. Bem, vou sair com seu papai Pedro.
― Sério mesmo? ― Anne fica tão animada que seu sono some completamente.
― O que acha disso?
― Muito legal, vai namorar ele de novo? Papai fala tanto disso. Sabia que no
apartamento que a gente mora agora o quarto dele está cheio de fotos suas?
― Não sabia disso.
― É, ele dorme te olhando todas as noites, imagina se ele dormir do seu lado? Ele vai
pirar! ― Não consigo segurar e começo a rir, Luiz me acompanha, Bernardo se empolga e ri
também, Mariana está vermelha de vergonha, vemos a porta do apartamento se abrir, Pedro
entra, olha para todos nós e para seu olhar em Mariana, ele abre a boca, seus olhos brilham, o
vejo engolir em seco e então ele sai novamente fechando a porta. Luiz e eu rimos ainda mais.
― Tia, acho que você matou meu papai Pedro, ou ele deu defeito.
― Estou tão feia assim?
― Não, você está linda, feio estava ele. ― Digo rindo.
― Meu irmão é um idiota, como ele se veste daquele jeito para um encontro? É muito
estúpido.
― Amor, ele vai precisar de ajuda, vai lá ajudar o seu irmão. ― Chamo Luiz com o dedo
e ele cola o ouvido nos meus lábios. ― Diz a ele para usar preto, exija que compre flores e
chocolates, mesclado preto e branco.
― Que tipo de flores, amor?
― Ele vai saber, se ele não souber eu mesma arranco as bolas dele, porque esse idiota já
está me devendo. Aff, nem sei porque estou o ajudando.
― Porque você é a melhor, mais linda, mais incrível e mais amorosa mulher do universo.
― E eu amo você, agora vai e não deixa o estúpido demorar muito.
― Pode deixar. ― Luiz me beija e vai atrás do irmão.
― Eu sabia que você ia matá-lo do coração! Estava certa e queria ter tirado uma foto.
― Eu tirei! ― Anne avisa. ― Na verdade eu filmei.
― Você é uma princesinha muito esperta, agora vamos assistir a isso, joga a imagem para
a TV que quero ver bem grande. ― A gente assiste ao vídeo por diversas vezes, rindo muito e
pausando sempre a cada nova reação de Pedro que percebemos. ― Não acredito que ele veio de
bermuda e camiseta. É muito sem noção mesmo esse meu cunhado.
― Olha a cara dele! ― Mariana não se aguenta e ri.
― Mari, parece que foi a primeira vez que ele te viu.
― É mesmo tia, você está linda demais.
― Obrigada, meninas.
― Olha, até o Bê concorda. ― O bebê olha para a mãe e bate palmas sorrindo a
chamando. ― Mariana o segura e o beija com carinho, se senta entre mim e Anne e beija a
menina.
― Você vai mesmo ficar feliz se o seu pai e eu voltarmos?
― Muito feliz. Porque aí vou poder te chamar de mamãe também. ― Essa menina gosta
de nos fazer chorar.
― Mariana, não se atreva a chorar e borrar essa maquiagem linda! ― Exijo, mas não
adianta, minha amiga contorce a face e chora.
― Te deixei triste?
― Claro que não! Você me deixou muito feliz, era exatamente o que eu queria.
― Sério? Eu sou a menina mais feliz do universo! ― Ela sempre diz universo, da mesma
forma que Luiz costuma dizer. ― Tem garotinhas que não têm mamãe ou papai e às vezes
nenhum dos dois e eu tenho dois de cada, tenho sorte, não tenho, mamãe Mariana? ― Agora
acabou-se tudo, Mariana banha o rosto em lágrimas. Mas a maquiagem é boa, à prova d'água e
bem resistente, depois de chorar tudo e mais um pouco, ela faz um retoque e está perfeita
novamente. Pedro leva meia hora para retornar, dessa vez todo bonito vestido de preto,
segurando um buquê de flores do campo e chocolates do bom mesclado de branco e preto.
― Para você.
― Ah, obrigada. Você ainda lembra.
― Claro que eu lembro. Podemos ir?
― Vou deixar as flores e o chocolate.
― Leva os chocolates, Mari. Tenho algumas ideias em que poderemos usá-los. ― Uau,
direto e reto, Mariana fica corada e nem sei porque fica, estou para ver mais safada que ela.
― Boa sorte papai. Mãe, você está linda!
― Espera, mãe?
― Ops, tia Mari.
― Vamos, Pedro. ― Mariana deixa Bernardo comigo, as flores com Luiz e leva Pedro e
a caixa de chocolates embora.
― O que foi isso?
― Eles vão voltar e por isso Anne pediu que Mariana também fosse sua mamãe.
― Ah, agora entendi tudo. Deu um trabalhão achar essas flores, o chocolate foi fácil, mas
as flores... nem te conto.
― Você fez direitinho, obrigada.
― Só espero que o burro do meu irmão não estrague as coisas. Mariana quase o matou.
― Luiz ri. ― Vamos jantar, pois passamos demais da hora. ― Nos sentamos à mesa, o bebê fica
na cadeirinha, eu me alimento enquanto alimento Bernardo, depois do jantar lavamos as louças e
ficamos na sala assistindo TV, Luiz assiste ao vídeo gravado por Anne e ri tanto quanto nós
também rimos. Um tempo depois nossa princesinha adormece e Bernardo também, levamos os
dois para o nosso quarto, ligamos a babá eletrônica e olhamos para as crianças que dormem em
nosso quarto.
― Ainda bem que nossa cama é grande. ― Comento observando Anne deitada nela.
― É, Anne vai gostar de acordar de manhã na nossa cama com a gente.
― Ela é uma garotinha encantadora e esperta. Que bom que não sente falta da Sophia. ―
Deixamos o quarto e caminhamos de volta à sala.
― Helena, não tem como sentir falta de uma péssima mãe. Eu não sinto da minha.
― Tenho medo dela querer nos processar como processou o Pedro.
― Não vai dar em nada. Ela e meu pai buscaram por isso.
― Mas sua mãe nos ajudou. Se não fosse pela Deusa, você não teria ido atrás de mim na
Grécia.
― Isso é verdade, mesmo que pelos motivos errados, ela nos juntou.
― Uma I.A. falsa nos juntou, mas foi sua mãe que fez com que acontecesse todo o resto.
― Luiz sorri.
― Eu sei, mas cortamos relações, depois de tudo que descobri e vi acontecer, prefiro
mantê-los bem distantes de nós, a influência deles não será boa em nossa família. ― Luiz beija
meus lábios. ―Qual filme quer assistir?
― Na verdade eu gostaria muito de fazer sexo no escritório.
― Porra, agora! ― Luiz me leva para o escritório e nossa noite de amor está apenas
começando.
Capítulo 41
Luiz dorme tranquilo e eu tento dormir, pois depois de toda nossa agitação meus bebês
não param de mexer. Me levanto devagar, olho Bernardo que ainda dorme, assim como Anne,
pego meu celular sobre a mesa de cabeceira, vou em direção à cozinha, bebo água e sinto dor,
muita dor. O que consigo fazer é pegar meu celular, acessar o aplicativo que Luiz fez para nós e
invado o celular dele.
― Luiz, amor, preciso de você. ― Chamo e nada. ― Luiz! ― Não queria, mas grito.
― Oi!
― Na cozinha amor, preciso de você urgente! ― Correndo demais, descendo de dois e
dois degraus ele chega.
― O que aconteceu?
― Acho que nossos filhos vão nascer.
― Puta merda, agora?!
― Uhum, está doendo muito. Liga para os meus pais, deixaremos as crianças com eles no
caminho. Não tenho a mala pronta. Me ajuda a subir que faço rapidinho.
― Sério, Helena?
― Nossos filhos não podem ficar sem roupa, amor.
― Não vou discutir com você nesse momento, vamos nessa.
Consigo arrumar duas malas, uma para os bebês e outra para mim e Luiz, ainda faço uma
bolsa de roupas para Bernardo e Anne.
― Pronto amor. Podemos ir.
― Seus pais estão nos esperando, não consigo falar com Pedro e nem com Mariana.
― Não acredito que ela vai ficar de fora disso.
― Não vai não. ― Luiz segura Bernardo no colo, Anne já está acordada e caminha
sozinha levando uma das malas de rodinha, Luiz leva a outra e a bolsa, descemos até o quarto
andar, meu marido abre a porta e entra no apartamento do irmão, consigo ouvir gemidos, fecho a
porta rapidamente e fico com Anne, pobre Bernardo, espero que se mantenha dormindo, pois
nenhum filho merece passar por uma situação constrangedora desta, seja em qual fase da vida
estiver. ― Vamos, Helena, eles vão nos encontrar no hospital.
― Está tudo bem com eles, papai? Ouvi a mamãe Mariana gritar.
― Ela está bem, só escorregou e caiu em cima de alguma coisa, mas está bem. Vamos,
seus avós estão esperando vocês. ― Acho que meu marido conseguiu disfarçar muito bem.
― Queria ver meus irmãozinhos.
― Meu amor, não vamos conseguir ficar com você e o Bê no hospital, seu pai Luiz
promete que assim que os bebês nascerem ele pega você e seu irmão para conhecerem os
gêmeos.
― Vou esperar.
Vamos até a garagem, Luiz me ajuda a entrar no carro, arruma as crianças e seguimos até
meus pais que nos esperam na porta, eles choram emocionados, me beijam e desejam boa hora,
pegamos o rumo até o hospital, mas no caminho não me sinto bem e minhas dores só pioram.
― Amor, não me sinto bem, está doendo mais que o normal, pelo que escuto falar e me
sinto fraca ao mesmo tempo. ― Só consigo dizer isso e não vejo mais nada.

Luiz
Desde que Helena cruzou o meu caminho, na verdade o meu olhar, meu coração passou a
bater em um compasso diferente. Achei o sentimento tão estranho. Sentir o que eu sentia apenas
depois de ter olhado uma foto sua, me fez desejar desvendar que tipo de sentimento era aquele
que essa mulher me causava, então eu voltei ao Brasil e a vi finalmente, Helena me causava a
porra de um rebuliço, minha barriga se contorcia, meu coração acelerava e muitas vezes pensei
que estava sofrendo do coração, até descobrir que era amor demorou, pois sempre fui péssimo
em relações pessoais, com sentimentos então nem se fala, o que eu sentia por ela ia muito além
de desejo, mas demorei a me dar conta disso.
Helena foi a minha primeira namorada e meu primeiro e único amor. Me casar com ela
levou tempo, bem mais tempo do que eu gostaria, juro que assim que descobri que era amor eu a
queria na minha vida, mas foi necessário passarmos por muitas confusões para que ambos
estivéssemos seguros de nossos sentimentos e prontos para dividirmos nossas vidas e
conseguimos, nos casamos e nossa relação é pautada na sinceridade, amizade, confiança e amor,
me casei com Helena querendo muito que fosse para sempre. Me casar, ter filhos, montar uma
família grande e cheia de gente, exatamente como é a nossa, foi algo que apenas desejei com ela,
pois antes dela eu amava a minha solidão.
Me impressiono a cada dia em como as minhas atitudes para com as pessoas a minha
volta se modificaram, Helena despertou o que há de melhor em mim, hoje me dou bem com meu
irmão, amo a minha cunhada; meu sobrinho e Anne são a minha vida, tanto quanto minha esposa
e meus filhos são. Me lembro de como ficamos felizes quando descobrimos a gravidez,
felicidade maior veio quando nos disseram que viriam dois bebês de uma só vez, não me
importei de não saber o gênero das crianças, o que me importava é que meus filhos seriam
também os filhos dela, da minha vida, eu a chamo assim não é à toa, pois foi ela que me deu um
novo rumo a seguir, ela é a minha musa, a minha deusa, a minha inspiração e não faço ideia do
que será de mim se eu perdê-la.
Helena foi forte demais durante toda a gestação, uma verdadeira leoa garantindo a
segurança dos nossos filhos, em todas as consultas ela estava bem, não apenas minha mulher,
como também nossos bebês, nunca houve risco algum, por que agora?
Eu deveria tê-la trazido para o hospital muito mais rapidamente, mas não, resolvi não
discutir e a deixei arrumar malas, uma bolsa para as duas crianças que estavam sob nossa
responsabilidade, ainda fui avisar ao meu irmão e Mariana que os sobrinhos deles estavam
nascendo, deixamos as crianças com meus sogros e só então viemos para o hospital.
Helena avisa que não está bem, sua cor some e a vejo desfalecer ao meu lado no banco do
carona, percebo uma grande quantidade de sangue manchar seu vestido amarelo na parte de
baixo e não enxergo mais nenhum farol vermelho na minha frente, para mim todos estão verdes,
não há trânsito, nem pessoas, nada, apenas eu, a estrada e muito desespero, paro o carro em local
proibido e me chamam a atenção, mando quem quer que seja ir se foder e depois para a puta que
pariu, tiro minha mulher do carro e logo alguém vêm nos socorrer, entrego a chave do carro para
o homem que reclamou e eu o xinguei e peço que faça o que bem entender com o veículo, foda-
se, eu compro outro depois, agora o que interessa é a minha família.
Minha mulher entra, eu sou impedido de seguir até a sala de emergência. Fico olhando
para a grande porta branca até meu irmão aparecer.
― E então? O que está fazendo aqui?
― Não sei. ― Olho para ele, meus olhos banhados em lágrimas, me jogo sobre meu
irmão e ele me abraça.
― O que aconteceu, Luiz, onde está a minha amiga? ― Mariana pergunta.
― Ela se sentiu mal no caminho, desmaiou de dor e teve um sangramento. Não sei o que
aconteceu. Os médicos a levaram e não deixaram que eu seguisse junto.
― Hei. ― Alguém me chama, olho e é o homem que eu havia entregue a chave do carro.
― Vai dar tudo certo, me desculpe pela bronca. Aqui, estacionei no B4 subsolo, vai se lembrar?
― Sim, B4 subsolo.
― Isso. Toma. ― Ele me entrega a chave.
― Obrigado e desculpe por te xingar.
― Imagina, se fosse eu na sua situação faria o mesmo. Boa sorte.
― Obrigado. ― Ele se vai ― Ela fez tanta questão das malas dos bebês, de arrumar as
crianças e chamar vocês que não atendiam ao telefone, ainda paramos nos pais dela para
deixarmos as crianças, eu só fiz merda! Deveria tê-la arrastado para o hospital de uma vez.
― Não é hora de se culpar, Luiz. Helena faria isso tudo mesmo que você tentasse forçá-la
do contrário. ― Mariana diz já chorando. ― Vai ficar tudo bem. Sabe rezar?
― Helena me ensinou.
― Pois então reze. ― Minha cunhada me orienta. ― Pedro, procure um médico, qualquer
um, enfermeiro também serve, use sua persuasão de advogado e nos traga qualquer informação
sobre a Leninha.
― Agora, amor. ― Meu irmão diz, me solta e se vai. Me agarro em Mariana.
― Vem, vamos sentar ali. ― Aponta para umas cadeiras perto de onde estamos. Cinco
minutos depois, Pedro reaparece trazendo alguém.
― Olá, me chamo Maurício e sou médico pediatra nesse hospital. ― Olho para ele e
parece ser um médico confiável. ― Estou ciente do caso da Helena, é a sua esposa?
― Sim. Como ela e meus filhos estão?
― Ela teve uma ruptura uterina, que é um rasgo espontâneo abrindo o útero e dessa forma
os fetos flutuam no abdômen. Tudo indica que aconteceu pelo fato de estar em uma gestação de
gêmeos. Isso é muito raro de acontecer, mas quando acontece causa uma forte dor abdominal na
mãe e uma baixa frequência cardíaca nos fetos, está sendo realizada uma laparotomia, que é uma
incisão no abdômen para que se visualize o útero. O parto será realizado por cesariana e
infelizmente não tem como reparar o útero, se necessário será feita uma histerectomia, que
consiste na remoção do útero. O risco é grande para a mãe e também para os bebês, nesse
momento tudo o que é necessário para salvar a vida de todos está sendo feito, infelizmente vocês
precisam apenas esperar. ― Explica com todo cuidado e de um jeito que todos conseguimos
entender.
― Desculpe não conseguir dizer nada além de obrigado, doutor.
― Imagina, eu preciso retornar para a emergência, estou de plantão por lá, mas o senhor
Pedro me pediu alguma informação e fui até a sala de cirurgia buscar por isso, em breve alguém
lhes dará mais notícias, mas posso garantir que sua esposa está em boas mãos.
― Obrigada. ― Mariana diz e só nos resta mesmo esperar.
Sinto que o tempo passa lentamente, eu oro como jamais orei em toda a minha vida, peço
perdão a Deus por sempre duvidar da sua existência e coloco nas mãos dele as vidas de Helena e
dos meus filhos. Eu só consigo rezar e chorar, chorar e rezar, Mariana e Pedro se revezam para
me acalentar, mas nem é necessário, pois eu não os vejo, minha cabeça e meu coração estão na
sala de cirurgia. Pedro se afasta para falar ao celular, percebo que são meus sogros, mas não
tenho cabeça para conversar com ninguém que não seja médico agora.
As horas passam e depois de muito tempo um médico vem até nós, me levanto e assusto
Mariana que cochilava com Pedro.
― O doutor Maurício veio conversar com você, certo?
― Sim.
― Eu me chamo Fábio. Acompanhei a Helena assim que chegaram aqui. Foi necessário
fazermos a histerectomia e isso significa que ela não poderá mais gerar filhos. Mas ela está bem.
Os bebês também estão bem. Eu devo dizer que foi um milagre, essa ruptura é rara de acontecer,
mas quando acontece é fatal em oitenta por cento dos casos, tanto para a gestante quanto para os
bebês. Porém estão todos bem. Os bebês foram levados para a UTI neonatal, nasceram um pouco
antes do tempo e necessitam de cuidados. Estamos finalizando os procedimentos e levaremos
Helena para um quarto, uma enfermeira virá avisar assim que acontecer.
― Muito obrigado, doutor. ― Choro enquanto agradeço, quando ele se vai me jogo de
joelhos sobre o chão e agradeço a Deus pelo milagre que tivemos.
― Senhor? ― O médico retorna, eu o olho. ― Parabéns, vocês tiveram um lindo casal.
― Um casal?
― Sim, logo poderão vê-los, são saudáveis e fortes como a mãe.
― Uhum. Eles são. ― Choro um pouco mais, agradeço a Deus e me levanto, Pedro e
Mariana me abraçam, meu irmão liga para os pais de Helena e Mariana avisa aos seus próprios
pais, que amam Helena como se fosse filha deles, que os bebês nasceram e estão bem, assim
como minha esposa.
Uma enfermeira não demora a vir, somos autorizados a ir um por vez na UTI Neonatal,
visto uma roupa apropriada, semelhante a que usei no parto da Mariana, sou o primeiro a entrar,
uma enfermeira me guia até uma caixinha de vidro, vejo dois bebês bem pequenos, tem algumas
coisas presas nos narizes deles, mas se mexem, abrem e fecham os olhos e eu choro mais que
eles.
― Meus filhos, sejam bem vindos. A mamãe de vocês é a mulher mais forte do universo,
ela os ama muito e eu também. Vou esperá-la acordar para decidirmos os nomes que terão. Não
quero passar à frente dela ou serei um homem morto. ― Sorrio em meio às lágrimas. Eu quero
contar para vocês que a primeira vez que a sua mamãe e eu nos vimos foi em um hospital, é meio
irônico que no lugar que percebi que ela seria minha para sempre, também foi o lugar que senti
que poderia perdê-la para sempre. Eu orei e acho que fiz bem direitinho, foi ela quem me ensinou
e tenho certeza que juntos iremos ensinar a vocês também. Vocês têm dois primos que são o
mesmo que irmãos para vocês, a Anne é a mais velha, tem nove anos e tem o Bernardo que está
com um ano apenas. Seus tios estão aqui, Mariana e Pedro, eles acabaram de voltar a ficar juntos
e estão ansiosos para conhecer vocês, seus avós também. O papai gostaria muito de segurar e
beijar vocês, mas infelizmente não posso, espero que estejam sentindo todo amor que trago aqui
no peito por vocês.
― Senhor, sua esposa foi levada para um quarto em uma unidade intensiva, pois ainda
precisa de acompanhamento. Deseja vê-la? ― É óbvio que eu desejo, mas vou deixar meus
filhos aqui sozinho?
― Sim, eu quero vê-la, mas e os meus filhos?
― Eles não podem sair daqui ainda. Precisam estar mais fortes e completamente
formados, eles ficarão bem, o senhor não precisa se preocupar. ― Não me preocupar? Isso é
impossível. ― Estou vendo que usei as palavras erradas. Aqui seus filhos são monitorados o
tempo todo, mesmo que estejam bem e não correm risco de morte. Sempre que quiser vir vê-los,
pode vir que um enfermeiro de plantão irá te dar as roupas para entrar.
― Muito obrigado. Meu irmão e a minha cunhada podem ver os bebês?
― Claro que podem, porém um por vez. Vou avisar para a enfermeira de plantão e te
levarei até sua esposa. ― Aceno confirmando e deixo a UTI neonatal.
― E então? ― Pedro pergunta.
― Eles são lindos, tão pequenos. Acho que ficarão um tempo aqui até estarem
completamente fortes. Helena foi para o quarto, a enfermeira vai deixar vocês verem os bebês.
― Depois te encontramos no quarto.
― Tudo bem. ― Pedro me abraça, Mariana beija meu rosto, a enfermeira aparece e me
guia até o quarto em que Helena está.
― Ela está sob efeito da anestesia, deve acordar meio grogue.
― Tudo bem.
Entro no quarto e vejo minha esposa adormecida, a mulher mais linda que já vi na vida,
faço como nos filmes e a beijo, porém não sou um príncipe encantado, ela não desperta.
― Oi amor, acabei de ver nossos bebês. ― Sorrio e seguro sua mão, o barulho irritante
dos aparelhos incomoda e assusta ao mesmo tempo. ― Eles são fortes e lindos como você e vão
ficar bem. Me desculpe por tudo que passou. Sinto muito por não ter corrido com você até o
hospital. ― As lágrimas descem sem controle algum. Acaricio o rosto de Helena, seus cabelos e
rezo para que ela acorde bem e que nossos filhos também fiquem bem. Não muito tempo depois,
Mariana e Pedro entram no quarto.
― Como ela está? ― Mariana questiona.
― Sedada, não sei quando irá acordar. Obrigado por estarem aqui.
― Imagina, Luiz. Me desculpe por não ter atendido ao celular.
― Vocês estavam ocupados demais para sequer notarem que o celular tocava. ― Mariana
cora e meu irmão abaixa a cabeça. ― Fico feliz em saber que voltaram. ― Pedro abraça Mariana
que beija o rosto do meu irmão.
― Dessa vez é para sempre. ― Ele avisa e a beija nos lábios.
― Não sei como direi a ela que não poderemos mais ter filhos.
― Estaremos com você quando esse momento chegar. ― Mariana avisa.
― Obrigado.
― Não precisa agradecer, somos uma família, Luiz e ajudamos sempre um ao outro. ― O
celular de Mariana toca e ela se afasta para atender.
― Jamais imaginei que a minha noite seria tão intensa. Ganhei minha mulher de volta e
dois sobrinhos lindos. Parabéns, irmão.
― Obrigado.
― Helena vai ficar bem, Luiz.
― Eu sei. Pensei que a perderia para sempre.
― A patinha é forte e ela não te abandonaria. Helena, esperou muito por você, então não
pense que ela irá desistir tão fácil assim. ― Pedro é péssimo para consolar alguém, ele acha
mesmo que essa situação toda foi fácil? Ele está longe de saber o que foi tudo isso.
― Pedro, você é péssimo para consolar as pessoas! Fica ali naquele cantinho e calado que
é bem melhor. ― Mariana diz saindo do cantinho onde falava ao celular. ― O que Helena e os
bebês passaram está bem longe de ter sido fácil. O risco de morte foi enorme para ela e os
gêmeos, foi um milagre, Luiz.
― Eu sei.
― Acabei de falar com Anne.
― Tadinha, eu sabia que ela não dormiria enquanto não falasse com alguém para saber
sobre Helena e os bebês. Como estão as crianças e meus sogros?
― Anne está feliz que os irmãos nasceram e estão bem, ela queria falar com você, disse
para ela dormir que amanhã a gente a traria para ver todos vocês, Bernardo está dormindo, está
tudo bem com ele. Os pais de Helena ficaram preocupados, mas agora estão um pouco mais
tranquilos.
― Obrigado, Mariana.
― Imagina, não consegui fazer nada para ajudar. Não sei o que faria se tivesse perdido
minha garota especial.
― Nem eu.
― Não vamos pensar mais nisso, ela está bem agora.
― Isso é o que importa.
― Preciso de um café. ― Meu irmão diz.
― Vou com você. ― Mariana acaricia minhas costas e saí com Pedro. Me sento no sofá
do quarto, me curvo apoiando os cotovelos sobre os joelhos e apoio o rosto entre as minhas
mãos, rezo mais um pouco pedindo que Helena desperte bem.
Capítulo 42
Helena
Não sei que horas são quando abro meus olhos, ouço barulho dos aparelhos apitando, vejo
meu marido sentado sobre o sofá, ele está curvado, com os cotovelos apoiados sobre os joelhos e
o rosto entre as mãos.
― Luiz. ― Chamo devagar, seu olhar para nos meus e ele chora, não sei bem porquê,
mas choro junto.
― Helena, meu amor. ― Luiz se levanta apressado e chega até mim. ― Como se sente.
― Como se um caminhão tivesse me atropelado. Amor, nossos bebês? ― Choro ainda
mais, meu marido distribui beijos pelo meu rosto e sorri enquanto chora.
― São lindos, estão bem, se fortalecendo porque nasceram muito pequenos, eles te
amam, eu te amo. ― Sorrio em meio às lágrimas, ele me beija nos lábios. ― Senti tanto medo.
― Estou aqui amor, estamos aqui, nossos filhos e eu, não pense que iremos te abandonar
tão cedo assim, temos que encarar as nossas noites sem dormir. ― Luiz sorri, passa o nariz
devagar pelo meu rosto e me beija, ergo a mão devagar e acaricio seu rosto. ― Eu sei que sentiu
medo e ainda sente. Me conta, o que aconteceu?
― Ainda não é o momento de saber, precisa se recuperar.
― Se não me contar será bem pior. ― Luiz suspira.
― Quase perdi você, quase perdemos nossos filhos. O que teve foi raro, muito sério e
extremamente perigoso. Eles fizeram uma cesariana de emergência, foi um milagre terem
salvado você e os bebês.
― Milagre? Você disse mesmo milagre?
― Uhum, eu disse milagre. Sabe que me fez acreditar e por isso quando eu soube que a
situação era grave eu orei.
― O homem que gosta de brincar de ser Deus obteve um milagre.
― Não brinca, Helena, foi sério.
― Está brigando comigo?
― Não, é que eu me senti impotente, você começou a sangrar muito. O que teve é
chamado de ruptura uterina.
― O que? ― Digo sem acreditar, porque li muito durante a gravidez e aprendi sobre
todos os riscos também, por isso sei exatamente o que isso significa.
― Por esse motivo te abriram imediatamente, amor, sinto muito, mas precisaram tirar o
seu útero.
― Isso quer dizer que não poderemos ter mais filhos?
― Sim, sinto muito, vida.
― Desculpe amor.
― Está se desculpando porque, Helena?
― Eu demorei a vir para o hospital, insisti em tantas coisas e causei tudo isso.
― Vida, não se culpe. Não foi culpa sua. Não foi culpa de ninguém.
― Helena! ― Mariana entra no quarto, olha para mim e depois para Luiz. ― Contou a
ela?
― Ela exigiu saber.
― E você não consegue não fazer sempre o que ela manda, certo?
― Ela me tem, o que posso fazer? ― Respondo dando de ombros.
― Como está, querida?
― Péssima, não vi meus filhos nascerem e não terei uma nova oportunidade para isso,
porque não posso mais ter filhos. ― Choro, Mariana se aproxima devagar e acaricia meus
cabelos.
― Helena, se acalma, não pode ficar tão agitada assim. Hei, o que importa é que está aqui
com a gente e seus filhos também. Você quer vê-los, certo?
― Claro que eu quero.
― Então, se quer mesmo isso, precisa ficar boa logo.
― Você tem razão, meus filhos precisam de mim.
― Exatamente.
― Oi patinha.
― Oi cunhadinho. Estou feliz por vocês dois.
― E eu por vocês, parabéns pelos bebês.
― Vocês já viram eles? São mesmo como a Anne disse?
― Ainda não sabe?
― Ninguém me diz nada por aqui, Pedro.
― É, vocês tiveram um casalzinho bem lindo.
― Ah, verdade?!
― Sim. Aqui, me deixaram tirar fotos. ― Pedro me mostra meus filhos e eu choro de
alegria.
― São tão pequenos.
― São fortes e lutadores como você, patinha.
― Uhum. Eles são lindos. ― Fico olhando para a imagem dos meus bebês na tela.
― Muito. Filmei também. Eles estão espertos.
― Ah Pedro, obrigada. É a primeira vez que vejo meus bebês.
― Eles precisam de nomes, amor. Te esperei para escolhermos.
― Para o menino eu escolho Adam.
― Está brincando, Helena?
― Não. Porque estaria?
― Adam, amor?
― Em sua homenagem.
― Tudo bem, eu aceito. E já que estamos na pegada do divino, a menina será Eva.
― Vocês estão brincando de Deus?
― Não cunhada, não estamos, Deus é quem fez o milagre e por isso nossos filhos estão
aqui, se ela pode escolher Adam, eu posso escolher Eva.
― Acho lindo, perfeito.
― Geraldo era melhor. ― Pedro comenta.
― Nem pensar, jamais cogitei colocar o nome do meu filho de Geraldo. ― Luiz responde
ao irmão.
― Posso registrar os bebês?
― Claro que pode, amor.
― Eu vou junto.
― Pedro, não se atreva a interferir nesses nomes.
― Não sou louco, patinha. Obrigado por sua interferência com relação a Mariana e eu.
― Agora agradece. Você não presta, cunhado, mas eu amo você.
― Aquela música que diz: “você não vale nada, mas eu gosto de você”, se encaixa
perfeitamente para o Pedro. ― Mariana diz.
― Poxa amor.
― Nem vem com: poxa amor, ainda temos muitas coisas para acertar.
― Achei que a gente já tinha acertado tudo no nosso apartamento.
― Vocês nem saíram para jantar, saíram? ― Pergunto curiosa. ― Nem precisam
responder, seus safados, a expressão de vocês entrega.
― Culpa sua, Helena.
― Minha?
― Foi golpe baixo dar aquelas dicas para a Mari, Leninha. Atingiu meu ponto fraco. ―
Tento rir, mas sinto dor e paro.
― Saiam daqui, não posso rir e nem deveria estar falando tanto.
― Verdade. Helena, eu queria muito ficar aqui, mas só pode um acompanhante, Luiz não
vai me deixar ficar.
― Não mesmo, de manhã peguem as crianças com os pais da Helena, por favor, Anne
está doida para vir nos ver.
― Pode deixar, irmão. Eu as pegaria hoje, mas está muito tarde.
― Ah com certeza que você as pegaria, Pedro, seu dissimulado. Vão logo embora e
comemorem que eu estou bem e que Adam e Eva também estão bem.
― Com certeza cunhadinha, vou comemorar muito com a Mari, não é amor?
― Vamos embora, Pedro. ― Minha amiga diz com o rosto corado, não sei de onde saiu
tanta vergonha dessa desavergonhada. Recebo um beijo carinhoso dos dois e fico com meu
marido.
Uma enfermeira não demora a entrar no quarto, me traz uma bomba e pede que eu extraia
leite para dar aos bebês, é procedimento padrão, mesmo que eles estejam recebendo alimento, o
leite materno é indispensável. Sinto uma grande tristeza ao fazer o que ela me pede, queria muito
poder eu mesma vivenciar esse momento, mas ainda não posso. Respiro fundo e mudo meus
pensamentos para coisas positivas, penso que meu leite possa se tornar mágico e que seja o
melhor e mais maravilhoso alimento que eles possam receber para que logo deixem esse hospital
e acabo sorrindo no fim.
― Está sorrindo, começou tão tristinha.
― Não queria fazer isso desse jeito, amor.
― Eu sei. Mas logo vai acontecer do jeito que queremos.
― Será que me deixam ver os bebês?
― Assim que a enfermeira retornar eu pergunto.
Quando a mulher retorna para pegar o leite, Luiz a questiona e fico feliz ao ouvir um sim,
porém preciso ir na cadeira de rodas, mesmo assim me encho de alegria.
― Quer dividir a cama?
― Não podemos. Essa cama é só sua, eu ficarei ótimo aqui nesse sofá.
― Vai nada. Volta pra casa.
― Nem pensar. Fica tranquila e dorme.
― Uhum. ― Demoro um pouco a dormir, Luiz percebe e se senta em uma cadeira
ficando bem pertinho de mim, ele apoia a cabeça no colchão da cama e eu acaricio seus cabelos,
ele dorme e eu adormeço em seguida.

― Mamãe, está dormindo? ― Sorrio ao ouvir a vozinha de Anne.


― Não, meu amor. Estou apenas com os meus olhos fechados.
― Que bom. Estou feliz que está bem.
― Já viu seus irmãos?
― Ainda não, mamãe Mari disse que você também não os viu, quero ir junto.
― Obrigada por isso, Anne. ― Olho em volta e não vejo Luiz.
― Papai foi para algum lugar com o papai Pedro.
― E a Mari?
― Achei que ela tinha entrado. ― A porta se abre e vejo Mariana com Bernardo.
― Bom dia, como se sente?
― Um pouco melhor.
― Mentirosa, quer é sair dessa cama.
― Quero ver meus filhos. E meu marido, onde se meteu?
― Foi registrar as crianças. A ideia de chamar seu filho de Adam mexeu muito com Luiz.
― De um jeito ruim?
― Não. Foi uma homenagem e tanto.
― É, queria que ele entendesse dessa forma, Mari. Eu amo demais esse homem, mas não
poderia chamar nosso filho pelo nome que os pais dele escolheram.
― Foi um bom raciocínio o seu. E eu sei o quanto ama seu marido, moro com vocês,
esqueceu?
― Não, eu não esqueci, mas pelo que estou vendo vai se mudar bem rapidinho.
― Não. Helena, não vou entrar de cabeça nisso. Eu amo o Pedro, amo a Anne e quero
muito estar mais perto dela, mas não posso ir tão depressa.
― Tudo bem. Sabe que sempre te apoiarei.
― Eu sei disso.
A enfermeira entra e pede para que eu tire mais um pouco de leite, Mariana fica de olho
em Anne e Bernardo, meu marido retorna com Pedro e nos mostra as certidões de nascimento,
fico feliz ao ver os nomes dos bebês misturados aos nomes de Luiz e meu.
― Mamãe, pronta para ver seus filhos?
― Com certeza! Olha, eles têm nomes.
― Já sabemos e colocamos uma plaquinha na porta, você vai ver quando sair. ― A
enfermeira me explica. ― Vamos lá, com cuidado vai sair da cama e se sentar na cadeira. ― Ela
me ajuda, Luiz também vem me ajudar, me sento em uma cadeira de rodas e quando saio vejo a
plaquinha na porta com os nomes dos meus filhos, me emociono, mas me mantenho firme. Não
demora muito para eu estar no elevador e subimos todos até o andar da UTI neonatal.
― Será que minha filha pode entrar comigo para conhecer os irmãos?
― Podemos abrir uma exceção, vou arrumar uma roupa para ela vestir.
― Oba! Obrigada. ― Anne agradece animada.
Nos vestimos, entramos Luiz, Anne e eu seguindo a enfermeira. Rapidamente vejo meus
filhos, meu coração bate forte e rápido, olho para eles que estão quietinhos.
― Oi Adam, oi Eva, a mamãe está aqui, finalmente, meus amores. ― Minha voz sai
baixa e embargada, Luiz toca meu ombro com carinho e deito a cabeça sobre sua mão.
― Mamãe, eles são tão pequenos.
― São sim, meu amor, mas logo eles vão estar maiores.
― E aí eu vou poder pegar eles no colo, não é?
― Com certeza.
― Olha mamãe, a Evinha abriu os olhos.
― É, está nos olhando. ― Minha bebezinha forte nos olhava.
― Adam também acordou, acho que eles sabem quem somos.
― Claro que eles sabem, princesinha, eles ouviram tanto a gente que já se acostumaram.
― Oi Eva, oi Adam, digam olá para a irmã de vocês.
― Oi irmãozinhos, sou eu a Anne. Olha mamãe, eles estão acenando para mim. ― Essa é
mesmo filha do Pedro, exagerada igual a ele que afirmou que seu filho já queria chamar papai
quando nasceu. Ficamos um bom tempo ali apenas olhando para os bebês, é emocionante ao
mesmo tempo que é apavorante, reconfortante, triste e alegre. É uma enxurrada de sentimentos
que não sou capaz de explicar, mas o amor que sinto em meu peito transborda e olhando para
eles eu sei que sou mãe, Anne segura minha mão com carinho e reafirma meu sentimento, é o
mesmo que tenho por ela e por Bernardo, eu os amo como se fossem meus filhos.
Jamais imaginei que passaria por uma situação como essa, sempre pensei que acalentaria
meus filhos em meus braços, os amamentaria e que a gente deixaria o hospital juntos, mas as
coisas nem sempre saem como imaginamos ou queremos e dói demais, ainda mais quando
recebo alta médica alguns bons dias depois, preciso ir, todavia devo deixar meus filhos. O
sentimento em meu coração é o pior possível, sinto que os estou abandonando, mas preciso ir e
passo a viver meus dias no automático, esperando apenas a hora de visitar meus bebês.
Pela graça divina alguém no hospital se compadece e me permitem ir pela manhã cedo e
sair apenas à noite, por volta das oito, eu aceito, mesmo contrariando todas as opiniões eu aceito,
Luiz me deixa aqui todos os dias e vem me buscar à noite, no começo ele me acompanhava, mas
como não pode se afastar tanto do trabalho, a opção foi de todos os dias me deixar aqui, seus
olhos se enchem de lágrimas sempre que precisa partir, Luiz estava preparado para ser pai, sabia
muito bem como cuidar de bebês, mas nada o havia preparado para essa situação que estamos
passando, eu o entendo, sentimos o mesmo, vivenciamos a mesma dor, compartilhamos tanto
que sinto que nos unimos cada dia mais compartilhando essa dor.
Foram dois meses de agonia até que finalmente pude segurar meus filhos, choro um choro
silencioso, sou grata por meu marido estar comigo nesse momento, ensaiei isso tantas vezes na
minha cabeça que parece até um déjà vu quando acontece.
― Finalmente aconteceu, amor.
― É vida, finalmente aconteceu.
― Pega seu filho, Luiz.
― Tem certeza?
― Claro que tenho. Está tão ansioso para isso quanto eu, não está?
― Muito. ― Luiz segura Adam enquanto tenho Eva em meus braços, depois de um
tempo trocamos, ficamos com nossos filhos até nos expulsarem, o sofrimento em deixá-los é o
mesmo de todos os dias, agora um pouco pior, pois os tivemos um pouco mais para a gente, mas
obedecemos e partimos.
Dois dias após essa visita mais emocionante a enfermeira pede que eu amamente meus
filhos, choro tanto quanto meu marido, não é nada fácil conseguir, mas quando a fome bate meus
pequenos mamam e a minha felicidade estava quase completa. Mais dois dias se passaram e
finalmente meus bebês têm alta.

No nosso apartamento organizaram uma grande festa de boas vindas. Meus pais, Pedro,
Mariana, Anne e Bernardo, alguns amigos do meu trabalho, Jairo estava presente e Priscila
também, todos compartilhando da nossa felicidade.
Meu pensamento volta no tempo e me vejo de novo solteira e completamente virgem, a
garota dos cem encontros fracassados que havia desistido do amor e o encontrou da forma mais
inusitada possível, uma falsa I.A. de nome Adam fez com que eu sentisse pela primeira vez o que
era o amor e esse mesmo homem fez com que eu sentisse amor por ele novamente como Luiz,
volto para o momento atual e vejo meu marido que me fez amá-lo de duas formas diferentes e
me faz amá-lo mais e mais a cada dia, está segurando nossos filhos em seus braços, olho para a
enorme família que construímos, mesmo sabendo que não posso mais gerar filhos me sinto
extremamente feliz, pois tenho muito mais do que jamais imaginei que teria.
― Linda Helena, acho que alguém aqui precisa trocar a fralda. ― Ele me mostra Eva. ―
E o garotão precisa mamar. ― Luiz sabe exatamente o que cada um dos bebês deseja, é tão
impressionante que alguém que não gostava de ninguém, nem entendia muito dos sentimentos
humanos, hoje está todo derretido por todas essas crianças, se empolga com as mudanças no
relacionamento de Pedro e Mariana, interage muito bem com todos os meus colegas e ama meus
pais como se fossem os pais dele.
Mudamos muito e tenho certeza que mudaremos cada dia mais nos tornando assim
pessoas ainda melhores, dando e recebendo tanto amor quanto for possível dessa nossa grande e
feliz família.
― Já estou indo te ajudar, amor.

Fim
Epílogo
Os dias de verão chegaram na cidade do Rio de Janeiro com tudo, os termômetros
marcam quarenta e dois graus e por isso resolvemos vir à praia, porém não é perto de onde
moramos, porque as coisas mudaram muito em poucos meses.
Eva e Adam estão perto de completar um ano, já foram batizados, os padrinhos de ambos
são Pedro e Mariana. Meus filhos já andam, na verdade eles correm, caem, choram, riem, se
levantam, andam, correm, caem e começa tudo de novo, Bernardo está com dois anos e fala tudo,
tudo mesmo, a gente tem tomado o maior cuidado com o que falamos perto dele, Anne está com
quase onze anos e a fase da pré adolescência veio com tudo, não está sendo uma experiência
nada fácil, não por Anne ser difícil ou desrespeitosa, pois isso ela não é, o problemas são os pais
que estão começando a ver as mudanças na menina e morrem de ciúmes, Anne se interessa mais
em se vestir bem, gosta de se maquiar, está doida para usar saltos altos, mas isso não deixamos
ainda, ela está começando e se interessar pelos garotos, vejo quando ela conversa com suas
amigas e da mesma forma seus dois pais também notam, para piorar a situação ela teve sua
primeira menstruação faz quase um mês, me lembro dos seus gritos de desespero, corri até o
banheiro e junto com Mariana explicamos a ela sobre aquela nova fase em sua vida, a adaptação
ao absorvente foi péssima, depois de muitos tipos Anne conseguiu encontrar um que se sentisse
confortável.
Mariana e Pedro ainda não moram juntos, por resistência exclusivamente dela, o homem
a pede em casamento todos os dias, mas ela sempre diz não. Minha amiga segue trabalhando na
escola e está muito bem por lá, Pedro foi convidado para ser sócio no escritório que trabalha,
com certeza ele aceitou e está muito bem por lá. Meu marido segue criando jogos, muitos agora
voltado para crianças e tem se saído muito bem, mas o aplicativo que mais faz sucesso e nos
rendeu uma grande fortuna é o Invasão Total do seu Sistema ou ITS que, por incrível que possa
parecer, se tornou o aplicativo mais romântico do momento e muitos casais, principalmente os
que moram em cidades distintas, ou aqueles que precisam viajar à trabalho, ou seja, casais que de
alguma forma precisam ficar distantes um do outro, mas que desejam estar sempre perto
adquiriram o aplicativo, óbvio que Luiz aperfeiçoou o sistema e tornou a coisa toda um pouco
menos invasiva, o nosso segue sendo o mesmo, ou o que chamamos de primeira versão. Depois
de muitas pesquisar, ele percebeu que muitos pais baixaram o aplicativo nos celulares dos filhos
e a pesquisa apontou ainda que muitos casos de pedofilia e até mesmo sequestro foram evitados e
resolvidos por causa do ITS, isso fez com que meu marido ganhasse muitos prêmios e nos
rendesse uma fortuna imensa, tão grande que tornou nossos filhos e todas as nossas próximas
gerações em herdeiros. Mas mesmo assim eu não parei de trabalhar, amo o que faço, amo as
pessoas com quem trabalho e só irei parar quando eu me cansar, ou se for extremamente
necessário que eu pare.
― Vocês estão prontos? ― Meu marido pergunta.
― Estamos, capitão! ― Respondemos igual a música de abertura do Bob Esponja,
porque dissemos isso? Tem uma explicação.
Com todo dinheiro do aplicativo, conseguimos obter alguns luxos, Luiz ama estudar e
aprender e ele decidiu que saber pilotar um iate e helicóptero seria legal, então ele fez curso e
comprou um iate que está ancorado no mar próximo a nossa mansão de praia em Búzios, bem
como o helicóptero que está no heliponto da nossa casa.
Meus pais, Mariana, Pedro, todas as crianças e eu estamos no iate esperando que o
capitão Luiz nos leve até uma das ilhas do lugar. Estou no deck perto da piscina tomando conta
das minhas crias, todos os quatro, Anne se senta perto de mim e apoia a cabeça em meu ombro.
― O que quer me contar?
― Eu sei de uma coisa, ainda se lembra quando te contei do meu sonho na praia?
― Claro, foi através do seu sonho que descobri que os bebês seriam um casal.
― Isso. E o que mais eu disse?
― Que Pedro e Mariana voltariam e que ela estaria grávida.
― Exatamente. Mãe, eu vou ganhar mais uma irmã.
― Meu Deus! Mariana te contou?
― Não, nem ela sabe ainda.
― Como você sabe disso?
― Porque meu sonho era exatamente como nesse dia.
― Anne, isso é incrível, meu amor.
― É estranho, mãe. Nunca contei sobre esses sonhos a ninguém antes.
― Costuma acontecer muitas vezes?
― Algumas, sim. Eu sonhei com meu pai sem conhecê-lo e eu sabia exatamente quem o
Pedro era quando papai Luiz me mostrou uma foto dele. Mas nunca disse nada, porque achava
impossível de ser verdade. Depois aconteceu de sonhar que eu seria muito feliz longe da minha
mãe e que a minha mãe de verdade seria você, amo a mamãe Mariana, mas é diferente com você,
entende? ― Seco minhas lágrimas que caem sem eu nem perceber.
― Eu entendo, senti algo muito especial por você desde o primeiro momento. Deus achou
que eu não deveria mais gerar filhos, mas você foi a minha primeira filha, mesmo que eu não
tivesse te gerado. Conte sempre comigo para tudo.
― Eu sei disso, mãe. Obrigada por me aceitar e obrigada por ser você.
― Ah Anne, minha princesinha. ― Abraço minha filha e sinto mais quatro bracinhos em
cima de mim, Eva e Adam querem participar do abraço.
― Chegamos! ― Luiz anuncia, todos descemos do barco e vamos rumo à ilha.
Na praia meu marido corre com as crianças, enquanto Mari, meus pais, Pedro e eu
ficamos sentados na areia, quando os menores se cansam os vejo correr até nós, Eva, Adam e
Bernardo entram na pequena piscina que Pedro arrumou perto de nós, Luiz gira Anne e a atira no
mar, a garota ri adorando a brincadeira, volta toda molhada e se senta ao meu lado.
― Papai está te chamando.
― Eu vou lá. ― Anne beija meu rosto e eu beijo o dela. Caminho até meu marido que me
estende a mão que seguro prontamente e então ele me puxa para junto de si me dando um beijo
cinematográfico.
― Senti saudades.
― Também senti.
― Essas crianças me cansam. Estou ficando velho. ― Sorrio.
― Você não está nada velho.
― Vamos entrar? ― Aponta para o mar, concordo e entramos, me agarro em suas costas
e ele me leva até um lugar um pouco mais fundo, quando percebo estamos de volta ao iate. ―
Acho que não seremos perturbados por algum tempo.
― Ah, agora entendi a sua jogada.
― Achei que estivesse dando os sinais certos.
― Eu não percebi. ― Luiz sorri, descemos a escada até um lugar mais reservado. ―
Amor, as crianças dormem aqui.
― Mas não é o quarto delas, vamos vida, estou excitado desde que te vi nesse biquíni. ―
Me entrego muito facilmente, Luiz solta a parte de cima do meu biquíni, beija meus seios, puxa a
calcinha para baixo e eu tiro seu calção de banho.
― Você está mesmo excitado.
― Eu disse.
― Achei que estivesse velho e cansado.
― Não para isso. Para fazer amor com você nunca estarei cansado. ― Meu marido ergue
minha perna direita e entra em mim me fazendo gemer. ― Safada, queria tanto quanto eu, está
tão molhada que escorreguei bem fácil para dentro de você. ― Sorrio e ele me beija, se move
devagar, meu corpo se arrepia.
― Mais forte amor. ― Peço.
― Vira, linda Helena, abre as pernas e se curva que eu meto do jeito que você gosta. ―
Faço como ele manda e então Luiz mete do jeito que eu mais gosto, levo um tapa na bunda e
gemo, ele se move rápido e forte, agarra meus seios, desce uma das mãos até minha boceta e toca
meu clitóris, gemo mais alto, sinto meu corpo colapsar e me entrego ao orgasmo, Luiz vem em
seguida soltando um gemido e gozando dentro de mim. Ele me gira e beija meus lábios, ainda o
sinto duro entre as minhas pernas, estremeço quando seu pau se choca com meu clitóris sensível.
― Se estivéssemos sozinhos sabe que eu te foderia o dia inteiro, não é?
― Eu sei.
― Acho que precisamos de férias, vida.
― Férias com toda a família?
― Não seria má ideia, quanto mais gente for será melhor, eles podem tomar conta das
crianças enquanto temos nossos momentos.
― Então acho bom propor logo essas férias, Mariana tira as dela em janeiro, eu posso
pedir ao Jairo as minhas para o mesmo mês, ele não vai negar.
― Seus pais estão aposentados, o problema será o Pedro.
― Ele que dê o jeito dele.
― Escolheu o lugar?
― Aqui mesmo, temos muitas ilhas para fugirmos, a casa é enorme, temos muitos lugares
para transar e estou louco para foder você lá em cima, bem no deck perto da piscina do iate.
― Alan Luiz!
― É sério amor.
― Tudo bem, eu topo.
― Precisamos falar com os outros. À noite no jantar. ― Concordo.
Voltamos à praia, almoçamos em um restaurante maravilhoso, às quatro da tarde
voltamos para casa, tomo banho, banho meus filhos e os visto, eles adormecem logo em seguida,
os deixo no quarto com a babá eletrônica ligada e vou até o escritório.
― Trabalhando?
― Não.
― Então o que faz aqui?
― Passando o tempo.
― Está jogando?
― Estou. ― Luiz sorri. ― Vem aqui, linda Helena. ― Vou até ele e me sento sobre suas
pernas, olho para a tela do computador e vejo uma foto nossa, junto dos bebês, Anne e Bernardo.
É impressionante a forma com que nossa família se fundiu e a gente entende que os filhos de
Mari e Pedro são tão nossos quanto os nossos filhos são deles. O que desejei com Mariana anos
atrás acabou indo muito mais além, acontecendo de um jeito tão mais maravilhoso do que jamais
poderíamos imaginar.
― Eu amo essa foto.
― Eu sei. Como estão os preparativos para a festa dos bebês?
― Está tudo certo, fechamos o salão de festas e eles nos garantiram tudo, bolos, doces, e
todo o resto, na semana que vem começo a enviar os convites.
― Que bom, desculpe por não ter conseguido ajudar muito.
― Eu entendo, não precisa se desculpar. E foi fácil, depois que Mari e eu achamos uma
boa casa de festa o resto foi fácil. ― Beijo meu marido nos lábios, ele passa a mão lentamente
sobre as minhas pernas entrando por baixo da saia do vestido. ― Hei, vim aqui para dizer que
vou sair com Anne, Mariana e minha mãe, para um passeio das meninas, vocês homens cuidam
das crianças, vim deixar a babá eletrônica com você.
― Entendi os sinais errados novamente? ― Sorrio e confirmo com um aceno. ― Duvido!
― Me viro sentando de frente para ele, Luiz se encaixa para dentro de mim e fazemos amor no
escritório.
― Preciso ir.
― Você veio me usar, vida?
― É.
― Faça isso sempre que quiser.
― Mas eu faço. ― Luiz bate na minha bunda e eu sorrio. ― Amo você, vida.
― Também te amo, linda Helena. Bom passeio.
― Obrigada.
Saio com as meninas, vamos a muitas lojinhas, comemos algumas bobagens pelo
caminho, andamos tanto que nossos pés doem, carregamos tantas sacolas quanto podemos.
― Helena, posso conversar com você? ― Mari me chama quando Anne está distraída
com minha mãe.
― Algum problema?
― Não sei. Acho que eu estou grávida.
― Uau! E acha que isso seria um problema por que?
― Porque além do fato de estar solteira, eu me cuido, tomo anticoncepcional.
― Uhum e toma certinho?
― Às vezes. ― Começo a rir.
― Não ria Helena, não tem graça. Estou com medo.
― Medo de que?
― Desde o que aconteceu com você que tenho medo de engravidar.
― Não sabia disso.
― Nunca contei. Amiga, não é medo de passar pelo mesmo, mas de te magoar.
― Me magoar? Mariana faz quase um ano que eu já sabia que você ficaria grávida, na
praia Anne me confirmou que você já estava esperando um bebezinho, mas você não sabia ainda,
estou extremamente feliz por você e pelo Pedro e nossa família inteira, já que somos todos uma
coisa só. Estou amando essa novidade e esperei ansiosa por ela faz tempo.
― Anne?
― Ela sonhou, Mari. Nossa garotinha tem uns sonhos muito especiais.
― Por isso ela me deu um sapatinho cor de rosa de presente. Não entendi nada, agora
entendo.
― Então será uma menina.
― Se Anne tem acertado tudo, sim.
― Finalmente vai aceitar o pedido de casamento do Pedro.
― Eu não disse isso. Foi a Anne também?
― Não, essa previsão é por minha conta.
― Faz tempo que estou querendo aceitar. Mas ainda tinha dúvidas.
― Acha que ele será desonesto?
― Não mais. Pedro tem sido mais aberto comigo agora do que jamais foi antes.
― Vocês serão muito felizes.
― Eu quero muito essa felicidade, Leninha.
― Então agarra ela, amiga. Eu estou muito feliz por vocês.
― Você será a madrinha deles, óbvio que Luiz será o padrinho, vocês são as pessoas mais
ricas que eu conheço, não poderia ser diferente!
― Uhum, sei disso. ― Mariana ri e eu a acompanho.
À noite saímos todos juntos para jantar, na hora da sobremesa Pedro prepara uma
surpresa especial, o garçom entrega um doce que no prato está escrito: Casa comigo? Ninguém
ligou muito, pois ele faz isso todas as noites e Mariana sempre diz não, todos, exceto Mari e eu,
estão comendo suas sobremesas.
― Eu aceito. ― Pedro engasga, Luiz para a colher no meio do caminho, meus pais
arregalam os olhos e Anne sorri feliz.
― O que? ― Meu cunhado pergunta tossindo.
― Eu disse que aceito. Não era um pedido sério?
― Todas as noites sempre é sério, amor. ― Pedro se ajoelha diante de Maria e tira uma
aliança do bolso.
― Não é a mesma?
― Claro que não. Esse é um novo começo, não é algo reciclado, eu sou outro e você é
outra, passamos por muitas coisas até que você decidisse me dizer sim. Esse sim não é o mesmo
sim da primeira vez.
― Não, não é. Eu amo você e dessa vez podem aparecer mil mulheres do seu passado que
eu vou lutar pelo nosso casamento e o nosso amor, não me arrependo da nossa separação, mas
dessa vez a volta é diferente. Eu fico viúva, mas não me separo de você. ― A ameaça direta nos
fez rir, mas Pedro engoliu em seco.
― Te prometo que não vai existir nenhuma outra ex e muito menos outros filhos, não me
arrependo da minha Anne, mas me arrependo muito do tempo que perdi longe dela e de tudo que
escondi, mas isso nós já conversamos, mas prometo que foi só a Anne, amor.
― Eu amo a Anne, ela é nossa Anne e não apenas sua Anne. E é mentira, tem mais um
filho seu que não sabe.
― Espera, o que? Mariana eu juro que não tem! ― Pedro estava desesperado.
― Tem sim amor, está aqui. ― Meu cunhado se engasga com o ar e começa a tossir
quando Mari toca sua própria barriga. A partir daqui, o jantar que era simples, se torna especial e
uma festa, Luiz avisa sobre as férias de janeiro e todos confirmamos.
O fim de semana havia sido perfeito e especial de muitas formas.
Duas semanas depois comemoramos com uma bela festa o aniversário de Anne, três
semanas depois o primeiro dos gêmeos e em janeiro não é apenas nossas férias, mas também o
casamento de Pedro e Mariana que acontece em uma das ilhas em Búzios. Cada uma das
crianças caminha pela areia até o altar participando ativamente da cerimônia, Luiz e eu somos os
padrinhos, o casamento acontece, Pedro e Mariana dizem sim mais uma vez um ao outro, a lua
de mel dessa vez foi diferente, na nossa casa de Búzios com todos nós e os nossos filhos e
emendamos com as férias. O que mais existe nessa família é amor, em suas diversas formas e
todas elas são especiais, conheci o amor de uma amizade com Mariana e Pedro, amor de filha
com meus pais, amor de mãe com meus filhos, e amor carnal com Alan Luiz, não me imagino de
outra forma senão essa que sou agora, não me vejo com outro homem que não o meu, as coisas
aconteceram como deveriam acontecer, o fato de não poder mais gerar filhos não me incomoda e
nesse momento sinto vontade de aumentar minha família para podermos expandir esse amor para
quem precisa.
― No que está pensando, linda Helena?
― Que eu quero mais filhos.
― Como assim?
― Quero adotar, o que acha?
― Acho perfeito. Posso arrumar isso agora!
― Não precisa invadir sistemas, amor. Se acalma e vamos fazer todo processo como
manda a lei.
― Hum, detesto fazer as coisas dessa forma, é demorado, burocrática e estressante. ―
Beijo meu marido e acaricio seu rosto.
― Já estava com essa vontade, não é?
― Estava sim, só não sabia como te falar.
― Hum, vive me escondendo as coisas.
― Não é bem assim.
― Eu sei, estou brincando.
― Lembra a última vez que estivemos aqui?
― Claro, foi em um fim de semana. O que tem?
― Eu estava no escritório e você foi me avisar que sairia com as meninas.
― Você estava jogando.
― Não, eu estava nos colocando na fila de adoção. Sabia que chegaria o dia que me
pediria mais filhos.
― É sério?
― Eu conheço você muito bem.
― Estou vendo e amo que seja assim.
― Por eu ter me adiantado, tudo acontecerá mais rápido.
― Então é oficial, teremos mesmo mais um filho?
― Sim, nós teremos. ― Abraço meu marido e o beijo feliz, com esperança e alegria em
meu coração de que em breve teremos mais algumas crianças na nossa grande e feliz família.
Tenho tudo e tenho além, meus pais são maravilhosos, meus amigos incríveis, filhos amorosos, o
melhor marido do universo e o melhor é que ele é real, bem real.
Recados da Autora
Olá, se chegou até aqui eu espero que tenha gostado do livro. Se gostou fique à vontade
para deixar uma opinião positiva sobre ele para ajudar outras pessoas que estejam na dúvida se
devem ler ou não essa história.
Uma avaliação é sempre muito boa para nos ajudar a conquistar novos leitores e
incentivar a nós autores a escrever sempre mais, pois uma palavra de carinho é sempre muito
bem-vinda, comentar é bem rapidinho, basta deixar algumas palavras e ficarei extremamente
contente quando eu ler. Se não quiser comentar, não tem problema, apenas classifique com as
estrelinhas, já ficarei muito feliz se ganhá-las.
Para quem quiser me seguir no instagram: @cadantas.autora será muito bem-vindo(a),
uso esse IG como canal direto de comunicação com os leitores, é um espaço para conversarmos,
para que conheçam melhor todas as minhas histórias, vejam os avatares das personagens, bem
como as ilustrações pertencentes a cada livro, faço sorteios, costumo distribuir brindes para
alguns seguidores leitores, posto algumas curiosidades sobre o livro e também gosto de receber
feed-backs sobre meus livros. Vai ser um prazer ter você por lá.
Espero poder ter você em breve em uma próxima obra de minha autoria.
Por fim deixo aqui a você o meu muito obrigada.
Outras obras da autora
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Tudo começa quando uma senhora simpática aluga um quarto em um apartamento para
uma jovem recém formada chamada Liana, para a surpresa dessa moça o apartamento está
ocupado por um homem ranzinza dominado pela raiva e cheio de rancor. Sem dinheiro, sem
emprego e sem família para lhe ajudar, Liana, não tendo mais para onde ir, decide enfrentar a
fera e viver com ela no lugar que havia alugado por seis meses.
Com seu jeitinho meigo, delicado, inteligente e inocente de ser, Liana consegue se
aproximar do homem que carrega consigo traumas de um passado não muito distante, uma
relação de amizade se inicia entre eles que descobrem ter diversas coisas em comum.
A proximidade do Natal pode fazer com que alguns desejos se realizem e um amor surgir
em meio a uma história de superação e encontros mágicos.
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Amor e Ódio podem caminhar lado a lado, pois o antônimo de amor não é o ódio, mas
sim a indiferença. Indiferença é algo que nunca existiu entre o casal de protagonistas dessa
história, um sempre pensou no outro, seja de forma violenta, ou carinhosa.
Tudo começa quando Rafael ingressa como bolsista na escola Nossa Senhora do Divino
Livramento, lá ele conhece Bárbara, com quem troca olhares e sorrisos, o carinho e admiração
que Rafael sente pela garota, se transforma em ódio quando ela decide que ele é o alvo perfeito
para aliviar suas dores e frustrações.
Os anos passam, mas as marcas deixadas pelo sofrimento vivido no passado não se
apagam.
Um reencontro pode ser a oportunidade que Bárbara precisa para conseguir o que tanto
deseja, perdão. Resta saber se o desejo de vingança que corre nas veias de Rafael irá permitir que
o rapaz perdoe aquela a quem chama de Demônia.
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Após o fim de seu casamento, Larissa decide recomeçar sua vida em uma cidade
diferente e distante da qual costumava viver, ao chegar em seu novo apartamento, acompanhada
de sua gata, Sakura, ela se envolve em um problema relacionado ao descarte de lixo com o
Síndico do prédio, Daniel. O Síndico é um viúvo de trinta e poucos anos que faz as mulheres
gemerem tanto que até estremece as paredes dos corredores do sétimo andar, isso segundo
relatos de Larissa.
Daniel tem uma filha de onze anos, Keiko, que é uma menina esperta e está louca que seu
pai arrume uma namorada legal. Quando a filha do síndico encontra sua mais nova vizinha, ela
vê a oportunidade de poder juntar seu pai à moça de cabelos azuis que tomou rapidamente um
lugar em seu coração.
Enquanto Larissa luta para recomeçar sua vida sem querer dar chance a um novo
relacionamento, Daniel se vê disposto a importunar sua vizinha até convencê-la de que é o
homem certo em sua vida.
Em meio a dificuldades, um surpreendente reencontro, muitas horas de MMORPG e Call
of Duty, coincidências do destino e uma grande amizade, Larissa vai reabrindo seu coração para
todas as novas possibilidades que a vida lhe reserva, mas para aceitá-las ela precisará confiar
novamente nas pessoas a sua volta e também precisará aprender sobre si própria e sobre aqueles
que estão a sua volta.
Black Widow eBook : DANTAS, CA: Amazon.com.br: Loja Kindle

A vida de Katy é cercada por tragédias e mortes desde o dia do seu nascimento, ela cresce
em um lar sem amor, violento e cheio de sofrimentos, mas quando se vê liberta, de sua vida de
tristezas, passa a acreditar que havia encontrado a felicidade, até mais uma grande tragédia
marcar sua vida a fazendo acreditar que a morte sempre foi e sempre será sua única
companheira.
Decidida, Katy passa a caminhar lado a lado com a morte, se fecha para relacionamentos
profundos e tenta não amar mais ninguém. Fazendo da morte a sua profissão, Katy abraça uma
oportunidade de trabalho e torna-se uma assassina profissional, um trabalho perigoso, porém
excitante e extremamente rentável para si.
Quando se torna uma assassina recebe a fama de matar os seus alvos após o sexo,
passando a ser conhecida no meio em que atua pelo codinome Black Widow. Ela passa a amar
seu trabalho e, além dele, ama sua vida de luxo, a cobertura no Upper East Side e seu gato persa.
Mas sua vida começa a mudar quando se permite ter amigos e no momento em que um
homem entra em sua vida de uma maneira inusitada e repentina. Mesmo que Katy tente afastá-lo
a todo custo, ele insiste em retornar, por ajuda do acaso, ou do destino.
Ela se vê em uma situação difícil quando começa a sentir medo de perder aqueles ao seu
redor e, diante dessa preocupação, vê a necessidade de que o ciclo de tragédias seja quebrado,
mas é necessário que descubra como conseguirá afastar a morte de si para que consiga manter
uma vida tranquila e com todos aqueles que preza ao seu lado sem que a morte ceife suas vidas.

[1]
O jogo, ou aplicativo em questão não existe, o nome foi criado apenas para essa história.

[i]
Local fictício criado pela autora.

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