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É proibida a reprodução total ou parcial desta obra de qualquer forma
ou quaisquer meios eletrônicos, mecânicos e processo xerográfico, sem a
permissão da autora (Lei9.610/98)
 
Essa é uma obra de ficção. Os nomes, lugares, e acontecimentos
descritos na obra são produto da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com nomes acontecimentos reais é mera coincidências.
 
 
 
 
 
 

 
“Para minha pequena vagalume que brilha, mesmo
quando não há sol”

“ Lolo ”  
 
Nota da autora
 
 
Esse é um romance hot que tem como plano de fundo a máfia
italiana, mas se você espera encontrar romantização de abuso e
relacionamento toxico, este livro Não correspondera suas expectativas.
O livro é focado no casal e em superação de alguns traumas.
A história a seguir pode conter gatinhos emocionais e temáticas
delicadas como uso de álcool, drogas, abuso físico e verbal, violência,
tortura, linguagem impropria e conteúdo sexual.
A autora não compactua e nem apoia as ações ilegais e
comportamento de alguns dos personagens retratados nesta obra.
Não leia se não se sentir confortável .
Sinopse
 
 
 
"Eu não era um homem bom, e talvez um dia Kiara me odiasse por
aquilo, por ter mentido, mas eu sabia que mesmo quando ela me odiasse eu
a continuaria “AMANDO”.
 
Kiara se casou com um homem com uma crueldade sem limites,
possessivo, que a marca por dentro e por fora de todas as maneiras
possíveis.
Desesperada, ela foge no meio da noite, na chuva e entra no
primeiro carro que aparece, sem saber que entrava na toca do lobo.
 
Cassiano é como chefe, frio e implacável, dedicado aos únicos
homens que ficaram ao seu lado, mas uma pequena mentirosa pode mudar
tudo.
 
Traído e enganado, pela única mulher que acreditou amar na vida,
ele foi renegado por seu único irmão, excluído da sua organização, mas
agora vai se reerguer, nem que para isso tenha que trair o próprio irmão.
 
Ele decide virar as costas para tudo que acontece, e recomeçar do
zero, mas será que seu passado vai fazer o mesmo?
 
Dois corações desacreditados, vários desencontros, até quando ele
irá chegar no momento certo de salvá-la.
Sumário
Nota da autora
Sinopse
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Epílogo
Agradecimentos
Prólogo
 
 
As gotas da chuva batem forte em meu rosto, tento descer as
escadarias, mas acabo caindo, rasgando um pedaço do vestido.
— Ai! — reclamo me levantando do chão molhado, vendo minha
perna sangrar com o grande ralado.
Mas não podia parar, não com os seguranças dele em minha cola, e
como se eu estivesse os conjurados, dois deles aparecem no topo da escada.
Estou cansada de correr, o ar parece rasgar meus pulmões e minhas
pernas queimam, meus pés doem com aquela perseguição desenfreada, me
levanto o mais rápido que posso e volto a correr, as pessoas me olham
horrorizadas, com meu vestido fino ensopado, minha maquiagem borrada e
eu estou cagando para tudo aquilo, só quero fugir dali o mais depressa
possível.
— Sra. Kiara! — um deles me grita quando eu atravesso a rua
correndo e quase sou atropelada por um motoqueiro que buzina e xinga.
— Sua maluca!
Eu não ligo e continuo a correr, trombo em um casal, mas estou
determinada a não desistir, não pretendo voltar, não depois da última vez.
Em uma calçada eu torso meu pé, e meu salto se quebram, aquilo me
causa uma dor terrível, me apresso em tirá-los e continuar a correr, mesmo
mancando descalça, mas agora não é tão fácil.
Olho para os lados em busca de qualquer refúgio possível, entro em
um beco escuro onde alguns homens fumam.
— Ei delícia, que tal a gente se divertir juntos? — um homem que
estava em grupo que se abrigava da chuva embaixo de um toldo diz fazendo
os outros rirem.
Sigo meio desnorteada sem dar atenção e eles parecem me ignorar,
não sei mais onde estou depois de ter corrido tanto, a chuva está forte, meu
vestido branco está agora transparente, olho para a entrada do beco e vejo
os homens de Heron vir em minha direção e eu volto a correr desesperada.
A noite está fria, mas eu mal consigo sentir minhas pernas que dirá o
frio.
Saio em um beco escuro onde tem um carro parado, parece ter
alguém, corro um pouco mais a frente e tento abrir uma porta que parece ser
os fundos de algum comércio, mas está trancada, então corro até outra, mas
também não tenho sorte, o carro está a poucos metros de distância então
simplesmente abro a porta do passageiro e entro.
— O que pensa que está fazendo? — ouço o homem perguntar, mas
estou atenta ao movimento do lado de fora do veículo.
— Desculpe…— comecei a me desculpar, mas me abaixei ao ver os
seguranças de Heron.
— Acho que você se equivocou, garota, não estou atrás de programa
— ele diz me fazendo levantar meus olhos para finalmente olhá-lo.
Era um homem lindo, que me pareceu inicialmente ter uns 40 anos,
forte e com olhos em um azul-escuro, cabelos negros, vestido todo de preto,
com tatuagens até o pescoço.
Programa? Quem ele achava que eu era?
Olhei para fora e no início do beco havia algumas garotas de
programa, que tentavam se abrigar da chuva, olhei para mim com um
vestido branco molhado que mostrava meus seios e quase morri de
vergonha.
— Eu não sou…— comecei a dizer.
Mas talvez se ele pensasse que eu fosse uma garota de programa me
levasse embora dali, depois daria uma desculpa.
— Isso! É isso mesmo! — respondi quase em desespero— o que
acha de me levar para um hotel e nos divertimos um pouco?
— Como eu disse, não estou interessado. Saia do carro! — ordenou
friamente.
Vi os seguranças entraram no beco e irem perguntar às prostitutas
sobre mim, me procurando em cada buraco que encontravam.
— Eu te dou um desconto, metade do preço — falei amedrontada em
que os seguranças me encontrassem ali.
Eu precisava convencê-lo em sair dali o mais rápido possível ou
então eu seria pega e que Deus me ajudasse se aquilo acontecesse. Ele
olhou para as prostitutas e depois novamente para mim.
— Qual é, está chovendo lá fora, podíamos nos divertir um pouco
invés de ficar no frio, o que acha? — Sussurrei tentando fazer cara de
safada enquanto passava o dedo sobre sua gravata, rezando para ele aceitar.
Estou com meus saltos na mão e os solto para abrir um pouco o
tecido do vestido, mostrando mais minhas pernas, tentando dar mais
credibilidade ao papel, sabendo que se ele me colocasse para fora eu estaria
perdida, Heron não me perdoaria por aquela fuga.
O homem me deu uma última avaliada e voltou seu olhar para fora
antes de dar sinal silencioso para o motorista.
— Sr., Mas e sua…
— Apenas vá Nion — ele ordenou pegando seu aparelho celular e
ligando para alguém.
— Oi, teremos que desmarcar, tive um pequeno imprevisto — ele
falou ao telefone, me fazendo encolher no banco do carro.
Os olhos do estranho percorreram novamente meu corpo e um sorriso
brotou de seus lábios quando tentei cobrir meus seios que estavam a
mostrar pelo vestido molhado.
— Então me diz mocinha, o que mesmo você pretende nesta noite de
diversão que me prometeu — ele falou se aproximando mais e fazendo uma
carícia em meu braço nu.
Eu usava um vestido de festa comprido, mas leve, branco com glitter,
de um ombro só, que tinha um corte de cada lado até o alto de minhas
coxas.
Senti quando sua mão deslizou por minha perna exposta adentrando
dentro do vestido me fazendo prender a respiração e seu rosto chegou tão
próximo ao meu ouvido que podia ouvir o sonido de sua respiração pesada,
e aquilo aplacou totalmente o frio que eu sentia e por mais que tudo aquilo
me assustasse desejei sentir sua mão mais a fundo em mim, quase me
fazendo abrir as pernas para ele.
"Hooo meu Deus o que estou fazendo" pensei sentindo meu corpo se
incendiar com aquela situação indecente, então travei as pernas na intenção
de fazê-lo parar.
— Algum problema "Delícia"? — ele falou como se realmente
aquilo fosse uma doce sensação para ele.
— Não, é que…
— É quê? — ele questionou— desistiu da noite de diversão?
— Não! Quando chegarmos ao hotel— justifiquei e ele sorriu se
afastando e eu respirei aliviada.
Quando chegássemos eu teria que dar um jeito de escapar daquela
situação, mas como? Sem dinheiro, sem documentos, apenas com a roupa
do corpo e um marido furioso atrás de mim.
 
 
Capítulo 1
 
 
— Já chegou? — Boris, meu irmão mais velho perguntou ao
telefone.
 
— Sim, acabei de desembarcar— avisei.
 
— Ótimo! Entre em contato com Ivan e comece a operação, Cas, não
me decepcione — ele disse desligando em seguida.
 
Vínhamos abrindo terreno para expandir nossos negócios na
Inglaterra já há alguns meses e Boris, meu irmão mais velho e chefe da
máfia russa, tinha me dado aquela missão.
 
— Vamos para casa — avisei ao motorista.
 
Tinha organizado tudo para minha chegada, não era o que eu queria,
mas ficaria na Inglaterra por um bom tempo, e eu me perguntava se aquilo
não era um plano de meu irmão para me ver longe.
 
"Foda-se" — pensei, entrando na casa que havia comprado a pouco
tempo.
 
— Sr. Cassiano! — a empregada que eu havia pedido a uma agência
cumprimentou assim que entrei. — Eu sou Ellie, sua nova empregada.
 
— Obrigada Ellie, já terminou seu serviço? — questionei.
 
— Sim, mas…
 
— Está dispensada! — informei. Não queria ninguém ali comigo.
 
— Mas… eu achei…— ela me olhava confusa.
 
— Venha apenas o tempo necessário para organizar tudo e depois
está dispensada, eu me viro com a janta, entendeu? — Ellie apenas deu um
leve aceno baixando a cabeça, antes de se retirar.
 
A casa era grande e bonita, tudo estava como eu havia pedido, mas
ainda assim nada me parecia no lugar.
 
Me levantei buscando um copo da velha e boa Vodka russa e
acendendo um charuto, me sentando novamente no sofá e tentando relaxar.
 
Peguei meu celular ligando para Ivan.
 
— Cas?!
 
— Ivan, meu amigo, quanto tempo?
 
— Quatro anos, eu acho, já chegou? — ele perguntou.
 
— Acabei de chegar.
 
— Ótimo, dou uma passada aí mais tarde — ele avisou.
 
— Tudo certo para hoje à noite? — Perguntei.
 
— Sim, mas vamos deixar para falarmos pessoalmente, não estamos
mais na velha Rússia, meu amigo, aqui todas as paredes têm ouvidos.
 
— Ok, nós vemos em breve então.
Aproveitei para tomar um bom banho e trocar de roupa e eu mal
tinha saído do banheiro quando Ivan chegou.
 
— Se pensa que vou te dar um abraço assim, pode desistir— ele
disse entrando em meu quarto e me vendo apenas de toalha de banho.
 
— Prefere que eu tire? — brinquei indo apertar sua mão.
— E então o que não podia me dizer por telefone? — perguntei
pegando uma roupa para me vestir.
 
— A mercadoria chegou na semana passada, e eu estou em contato
com alguns fornecedores que vão nos apoiar aqui.
 
— Mas? — perguntei, porque era óbvio que teria um, porém no final
de tudo.
 
— Os Japoneses querem uma fatia do bolo — Ele disse e eu dei
risada.
 
— Isso é algum tipo de piada? — perguntei.
 
— Meses trazendo mercadoria, infiltrando nosso pessoal nas gangues
locais, ganhando espaço com os comerciantes e moradores, para agora esses
filhos da puta querer ganhar em cima de nós? — falei irritado.
 
— Soares está nervoso com a situação, eles mataram dois de seus
homens como aviso.
 
Como em todos os lugares, as gangues pequenas ou grandes,
exploravam moradores e comerciantes, cobrando por proteção e eles
reportavam as máfias de cada território, fosse ela Rússia, japonesa ou
italiana, e ali era uma briga de cachorro grande de quem podia mais.
 
Mas ali ainda era como um campo inexplorado, que todos queriam
um pedaço.
 
— Eles querem provar que podem mais — falei pensando.
 
— O que sabe sobre os japoneses? — perguntei.
 
— Não muita coisa, mas talvez Soares consiga te passar mais
informações hoje à noite.
 
Havia marcado uma reunião com o chefe de uma das grandes
gangues mexicanas, que trabalhavam na área, e que havia aceitado trabalhar
distribuindo nossas drogas.
 
— Ótimo! Temos que mostrar para esses merdas quem vai mandar
nessa Porra!

 
 
Estava impaciente, Soares tinha pedido um encontro em um beco
sujo e escuro e ainda por cima não parava de chover.
 
Olhei mais uma vez para o relógio confirmando a hora, tirei o celular
do meu bolso para ligar para Ivan, mas decidi esperar.
 
A porta do meu carro foi aberta de repente e uma moça entrou, me
fazendo levar a mão em minha arma.
 
Ela mal se dignou a olhar para mim, sequer prestando atenção que
havia entrado no carro errado.
 
— O que pensa que está fazendo? — pergunto fazendo sinal para
Nion quando ele também ameaçou pegar sua arma.
 
— Desculpe…— Ela começou a dizer, mas parou se abaixando.
 
— Acho que você se equivocou, garota, não estou atrás de programa.
 
"Era só o que me faltava, uma prostituta fugindo do cafetão" —
pensei.
 
Olhei para a moça que não deveria ter mais que vinte e poucos anos,
pele branca e cabelos curtos, com os olhos marcados por uma maquiagem
digna da própria rainha do Egito, mesmo um pouco borrada pela chuva, um
vestido de grife que estava molhado, deixando a mostra seus pequenos
seios.
 
— Eu não sou…— ela começou a dizer fazendo uma careta, como se
eu a tivesse insultado, mas parou de repente.
 
— Isso! É isso mesmo! — falou confirmando agindo de maneira
estranha.
 
— O que acha de me levar para um hotel e nos divertimos um pouco?
— falou denunciando um sotaque americano.
 
— Como eu disse, não estou interessado. Saia do carro! — Ordenei.
 
Não precisava de mais problemas, tinha uma reunião importante e
passar a noite com uma prostituta não estava nos planos, mesmo sendo uma
linda como ela.
 
— Eu te dou um desconto, metade do preço — ela falou um tanto
desesperada.
 
Observei a garota com um pouco mais de atenção, segurava uma
sandália que tinha o salto quebrado e mesmo não entendendo de moda sabia
que era muito cara, e os brincos que usava provavelmente valiam uma
pequena fortuna, seu vestido chique demais para uma prostituta, estava
rasgado e ela tinha o joelho ralado que ainda sangrava.
 
Olhei para fora aonde tinha dois homens grandes, fazendo perguntas.
 
— Qual é, está chovendo lá fora, podíamos nos divertir um pouco
invés de ficar no frio, o que acha? — Ela sussurrou de uma forma sensual
tentando me convencer e de maneira ousada como se realmente fosse uma
puta abriu mais o corte de seu vestido expondo pernas perfeitas que mesmo
sem intenção fez meu libido aumentar.
 
Com uma pequena satisfação decidi ver até onde aquela pequena
mentirosa levaria aquele jogo.
 
Dei sinal a Nion que desse partida para sairmos dali, Soares estava
atrasado, e eu sem paciência.
 
— Sr., Mas e sua…
 
— Apenas vá Nion — Ordenei.
 
Peguei meu celular e liguei para Ivan avisando que iria remarcar o
encontro, e sem dar mais informações desliguei.
 
— Então me diz mocinha, o que mesmo você pretende nesta noite de
diversão que me prometeu — sussurrei me aproximando dela, acariciando
seu braço, me divertindo vendo-a se encolher.
 
Seu cheiro era tão bom e afrodisíaco, que não sabia se realmente
conseguiria levar aquele joguinho sem tomá-la ali, a visão de seus pequenos
seios à mostra pelo vestido molhado, deixava com água na boca e sem
perceber me peguei tentando imaginá-la nua gemendo em meus braços.
 
Deslizo minha mão por sua perna, desfrutando da maciez de sua pele
e a vejo suspirar com o contato de minha mão quente em seu corpo, e eu me
controlo para não ir além.
 
Ela está arrepiada e ofegante enquanto delicadamente traço uma
trilha com meus dedos até sua virilha, fazendo a travar os olhos me fazendo
rir internamente.
 
— Algum problema "Delícia"? — pergunto com certo deboche.
 
— Não, é que…
 
— É quê? Desistiu da noite de diversão? — pergunto vendo se decide
falar a verdade, mas ao invés disso ela continua o teatrinho dizendo que
prefere esperar chegar no hotel e eu sorrio.
 
"Até onde essa pequena mentirosa irá manter essa farsa" — penso
comigo mesmo enquanto a vejo tentar se manter distante.
 
Entramos em um dos hotéis mais caros da Inglaterra e eu faço reserva
na suíte presidencial.
 
— Tem banheiro aqui? — ela pergunta a recepcionista que lhe
informa a direção.
 
— Preciso ir ao banheiro — ela me informou e eu acho ainda mais
engraçado sua tentativa de me passar a perna.
 
— A reserva já foi feita querida, poderá usar o banheiro da suíte—
falei mostrando a chave e ela pareceu se desanimar.
 
— Por favor, providencie também um vestido para minha
acompanhante.
 
— Quê? — ela perguntou surpresa— não… eu não posso pagar… —
justificou.
 
— Não se preocupe, delícia, tenho certeza de que saberá como me
recompensar por cada libra gasta — Sussurrei vendo-a engolir em seco.
 
E peguei pelo braço de forma delicada e a guiei até o elevador,
apertando o botão do andar de nosso quarto e ela se encostou na parede,
ainda descalça com seus saltos na mão, e só então percebi que não sabia seu
nome.
 
— Como se chama? — eu perguntei enquanto o elevador subia.
 
— Isso importa?! — ela respondeu indiferente — me chame como
quiser!
 
"De pequena mentirosa, acho que lhe cairia muito bem" — pensei.
 
— Kiara! — ela respondeu quando lhe encarei em questionamento.
 
— Kiara…— provei o som de seu nome.
 
— E o seu? — ela quis saber, mas o elevador chegou no andar e nós
descemos.
 
Ela caminhava devagar pelo corredor, como se procurasse qualquer
saída que pudesse fugir.
 
— Não vai entrar? — perguntei quando ela parou na porta da suíte —
A propósito, me chamo pode me chamar de Cas.
 
Ela entrou desconfiada e não foi surpresa para mim ela não parecer
encantada com o luxo do quarto.
 
— Já esteve em um desses? — perguntei tentando pegá-la em suas
mentiras.
 
— Quê? É, sim, quer dizer, muitos clientes às vezes gostam de
ostentar — respondeu.
 
— Tire a roupa! — falei de repente e Kiara estremeceu — e tome um
banho quente, está molhada — acrescentei me divertindo com sua reação de
pânico e alívio.
 
— Ha! Sim, claro, um banho, está certo — falava desconsertada.
Kiara entrou no banheiro e trancou a porta me fazendo achar graça e
eu aproveitei para ligar para Ivan.
 
— Cas, o que aconteceu cara? — ele perguntou assim que atendeu.
 
— Entre em contato com ele, peça um encontro em um lugar
adequado, garanta a ele que vamos resolver todas as questões com os
japoneses — falei sem responder sua pergunta.
 
— Ele não ficou feliz em ter que remarcar.
 
— Ivan, não sou um cara muito paciente, marque com ele e se
certifique de que ele irá chegar no horário — Ordenei.
 
— Ok! Tudo bem!
 
Sabia que o atraso não era a verdadeira razão para eu ter abandonado
o local de encontro, mas era a melhor desculpa que tinha no momento.
 
— Ah! e Ivan! — Chamei antes de desligar.
 
— Marque o próximo encontro em um de nossos galpões, pois da
próxima vez que esse filho da puta marcar em um beco, os japoneses não
vão precisar matá-lo, porque eu mesmo farei isso — avisei desligando.
 
Quando Ivan me avisou que Soares queria um encontro em um lugar
discreto, imaginei um clube, um restaurante reservado, ou até mesmo em
um galpão abandonado, mas um beco no centro da cidade? Aquele filho da
puta estava de brincadeira com a minha cara?
 
"O cara estava com tanto medo dos japoneses, que se recusava a sair
de seu território?"
 
Eu mesmo mataria aquele desgraçado e colocaria outro em seu lugar.
 
Peguei o telefone da recepção e pedi comida e outras coisas que eu
iria precisar e não demorou muito para baterem na porta com o que eu havia
pedido.
 
— Obrigado! — agradeci — será que você pode me fazer só mais um
favor? — perguntei, lhe mostrando uma nota generosa para gorjeta.
 
— Claro, Sr. Orlov — ele pronunciou meu sobrenome.
 
— Apenas Cassiano! — repreendi.
 
Odiava meu sobrenome, nunca o usava, mas ali provavelmente ele
tinha pegado pela reserva e eu detestei me lembrar que ainda o tinha em
meu documento.
 
Eu o orientei no que devia ser feito e depois o dispensei, encho um
copo com whisky, abro a porta da varanda e acendo um charuto apreciando
a vista, a noite está fria, não tão fria quando o clima na Rússia, mas ainda
assim a temperatura começa a cair consideravelmente.
 
Quando terminei minha bebida, ouvi Kiara sair do banheiro, ela
estava vestida em um roupão branco que ela tentava levantar a gola até o
pescoço, tentando tapar o que o vestido tinha revelado.
 
— Estava bom o banho? — perguntei fechando a porta de vidro que
dava para a varanda.
 
— Sim, eu realmente estava com muito frio — ela disse de maneira
simples.
 
— Que bom, agora venha aqui — a chamei.
 
Kiara abraçou o próprio corpo segurando seu roupão com força, e
simplesmente me obedeceu, chegando bem próxima a mim trêmula.
 
— Sente-se aí em cima — Ordenei apontando a mesa atrás de si, e
sem jeito ela simplesmente se sentou, se remexendo até ficar em uma boa
posição.
 
Me abaixei pegando um de seus pés, escorregando meus dedos por
sua perna e depositei um beijo suave em sua pele que a fez suspirar
profundamente, me deixando satisfeito, ouvi sua respiração se elevar, então
toquei na pequena borda de seu roupão afastando o tecido que cobria seu
joelho revelando o arranhão que tinha visto antes.
 
— Vamos cuidar disso aqui! — falei pegando a pequena caixa de
curativos que tinha pedido a recepção.
 
— Hã? — ela perguntou confusa e me pareceu até meia
decepcionada.
 
Com cuidado, limpei o ferimento e coloquei um curativo adesivo
médio, enquanto ela me observava em silêncio confusa.
 
— Pronto! — Falei ao terminar.
 
Ela olhou para mim e avaliou o curativo.
 
— Obrigada! — agradeceu.
 
— Não podia deixar um simples arranhão estragar uma noite regada
a prazer, ou poderia? — perguntei bem perto do seu ouvido.
 
Kiara engoliu em seco e eu quase podia ouvi-la fritar o cérebro
pensando em como sairia daquela enrascada.
 
— Mas antes vamos comer! — falei me afastando e tirando a tampa
das bandejas dos pratos que havia pedido — tomei a liberdade de pedir
carne com batatas para você, espero que não seja vegetariana.
 
— Com certeza não — ela quase sussurrou.
 
Kiara ficou parada olhando a comida e por um momento me
perguntei se não estava exagerando naquele joguinho.
 
— O que foi, não está com fome?
 
— Não, quer dizer, não é isso, é que eu não posso pagar por essas
coisas… e…
 
— Não se preocupe, eu que pedi, não vou cobrar por um prato de
comida — avisei.
 
Kiara permaneceu parada, então puxei a cadeira para que ela se
sentasse e só então ela se moveu.
 
Enchi sua taça de vinho e depois me sentei em sua frente vendo-a
devorar um prime rib ao ponto com batatas assadas.
Capítulo 2
 
Eu nem imaginava que estava com tanta fome, a carne parecia um
suflê de tão macia e as batatas, que delícia, como tudo tão rápido que me
senti envergonhada quando notei que Cas me olhava sem tocar em sua
comida.
 
Havia passado o dia inteiro pensando em como usaria o evento para
escapar das garras de Heron que nem me preocupei em comer.
 
Eu havia aceitado o pedido de casamento de Heron depois de seis
meses de namoro, ele era a pessoa mais carinhosa e compreensiva que já
tinha conhecido na vida.
 
Quando ele me pediu em casamento, não aceitei logo de cara, pois
não queria me mudar para a Inglaterra, abandonar meus amigos, meu
trabalho e tudo que eu tinha nos Estados Unidos, pois parecia um pesadelo.
 
Mas eu mal sabia que o meu pesadelo estava só no começo.
 
Logo após o casamento, Heron fez questão de ir embora para a
Inglaterra e eu acreditava que ele só estava ansioso para me mostrar sua
terra natal, porém assim que colocamos nossos pés na Inglaterra seu
comportamento mudou completamente.
 
— Onde está seu passaporte? — foi a primeira pergunta que ele me
fez quando entramos dentro de sua enorme mansão de pedras á quilômetros
de distância da cidade.
 
— Para que você quer meu passaporte? — estranhei.
 
— Apenas me entregue o que estou lhe pedindo — ele ordenou
friamente como nunca eu o tinha visto fazer.
 
— Heron, aconteceu alguma coisa? — perguntei olhando para seu
segurança que estava o tempo todo ao seu lado, ainda acreditando que ele
apenas estava nervoso com algum problema que poderia ter surgido.
 
— ENTREGUE! — ele gritou me fazendo dar um pulo.
 
Talvez por burrice, por medo ou simplesmente por não ter
alternativas, fui até minha mala e peguei meu passaporte entregando a ele.
 
Heron arrumou seus cabelos que haviam se bagunçado quando gritou
e pegou o documento de minha mão entregando ao seu segurança.
 
— Você achou mesmo que podia me rejeitar? — ele disse com uma
tranquilidade assustadora, afastando uma mecha de meus cabelos que ainda
estavam cumpridos.
 
— Depois de tudo que fiz por você? — suas mãos foram em minha
nuca, agarrando um punhado de cabelo e puxando para trás.
 
— Heron do que você está falando?
 
— Depois de ter te dado tudo?  Você acha que pode me fazer
implorar?
 
— Heron está me machucando, me solte! — Ordenei.
 
Afinal, quem ele achava que era?
 
Ele deu um sorriso diabólico que me deixou aterrorizada e eu o tentei
empurrar.
 
— Heron, Já chega! Pare com essa brincadeira, me solte ou eu vou
embora!
 
Aquela foi a primeira vez que ele me bateu, e durante a noite
enquanto ele se forçava sobre mim, senti suas mordidas em meu corpo me
marcando, ao mesmo tempo que recitava sem parar que eu pertencia a ele e
somente a ele.
 
— Nossa, você estava mesmo com fome — Cas disse me tirando de
meus devaneios, me fazendo ficar ainda mais constrangida.
 
— Desculpa! Não sabia que estava faminta. —  Respondi com
sinceridade.
 
— Se ainda estiver com fome, pode ficar com o meu — ele ofereceu.
 
— Não, muito obrigada, estou satisfeita.
 
— Ótimo! — ele falou se levantando e se aproximando de mim, me
fazendo ficar nervosa.
 
Tentei de todas as formas procurar uma saída daquela situação,
pensei que se usasse o banheiro da recepção talvez conseguisse sair sem
que ele percebesse, pensei em fingir que estava passando mal, mas ele
poderia chamar uma ambulância, cogitei até acionar o alarme de
emergência, mas Cas não tirou seus olhos de mim nem por um segundo,
exceto quando fui tomar banho.
 
Passei a maior parte do tempo no banheiro buscando uma saída, mas
o que eu faria? Pularia a janela no vigésimo andar? E se eu revelasse a
verdade?
 
Ai meu Deus ele me mataria! Chamaria a polícia dizendo que tentei
lhe pregar um golpe.
 
Eu estava zonza com tantas perguntas rodando minha cabeça.
 
Mas e se ele fosse tomar um banho? Eu poderia sair e ele nem
notaria!
 
— Banho?! — falei de supetão me levantando.
 
— Banho? — ele perguntou suavemente enquanto deslizava seu dedo
de baixo para cima em meu corpo.
 
— Sim, você podia tomar um banho, relaxante…
 
— Não…— ele continuou a dizer com aquela voz que parecia me
hipnotizar.
 
— Não? — perguntei sentindo arrepios por meu corpo enquanto seu
dedo não parava.
 
— Não.
 
— E por que não? — perguntei já me sentindo em transe por aquela
sensibilidade que atingia meu corpo.
 
— Porque agora quero apreciar uma refeição, muito mais gostosa do
que essa que pedimos — ele disse me puxando pela cintura, colando seu
corpo ao meu, me fazendo espalmar minhas mãos em seu peito.
 
Cas estava sem seu terno e sua camisa estava entreaberta deixando à
mostra uma parte de seu peitoral, ele era bem mais alto que eu e suas mãos
envolto em minha cintura me fazia sentir cada parte de seu corpo.
 
Ele encostou sua boca em meu pescoço, distribuindo beijos suaves,
que me faziam amolecer em seus braços e quando sua boca procurou pela
minha em um beijo quente, eu me deixei ser levada por aquela sensação
deliciosa que aquele homem despertava em mim e Cas me pegou em seu
colo me fazendo abraçá-lo com minhas pernas, enquanto ele me apoiava
pela bunda.
 
Seu beijo era gostoso, com uma mistura de whisky e nicotina e
quando nossas línguas se tocaram, meu centro respondeu aquela
devassidão. 
 
Ele me depositou sobre a cama, e sua mão entrou por dentro do
roupão, pegando em minha cintura e apertando minha carne, mas sem
machucar.
 
— Mostrarei a você o que realmente é diversão delícia — ele falou
em meio a excitação tocando o laço do roupão para abri-lo.
 
"Meu Deus, o que eu estou fazendo!" Pensei comigo mesma
 
Ele tinha sua boca em meu colo e eu tive que juntar todo meu
autocontrole para dizer:
 
— Não sou garota de programa — falei baixinho.
 
— Quê? — perguntou parando, mas sem de fato sair de cima de
mim.
 
Fiquei estagnada, morrendo de medo de sua reação.
 
— O que você disse? — ele perguntou novamente, fazendo meu
estômago revirar.
 
— Eu não sou garota de programa — falei novamente um pouco
mais alto, travando os olhos apreensiva.
 
— Você estragou a diversão "Delícia" — ele sussurrou em meu
ouvido antes de se levantar, me deixando ali deitada na cama sem entender
nada.
 
Cas pegou seus objetos pessoais em cima da pequena cabeceira, e
jogou seu blazer sobre o ombro antes de dizer.
 
— Aproveite a estadia delícia, é cortesia.
 
— Quê?! — perguntei confusa — Espera, como assim? Você já
sabia?
 
Cas olhou para mim deitada na cama com meu roupão entreaberto
quase exposta e sorriu, e eu me apressei em me levantar e me arrumar.
 
— Desde quando? — voltei a questionar.
 
— Pouco depois que entrou no carro — ele revelou da forma mais
natural possível.
 
— Como?
 
— Seu vestido é de grife, assim como suas sandálias, estava
machucada, mas parecia não se importar e você parecia se esconder dos
caras do lado de fora do carro e os brincos que está usando — ele disse
apontando para minhas orelhas — uma prostituta levaria uma vida para
comprar.
 
— Ah!  Que legal Sherlock Holmes e não te passou pela cabeça me
avisar?
 
— Não, estava divertido vê-la tentar me enganar, a propósito, achei
mesmo que teria coragem de acionar o alarme.
 
— Ahh! — resmunguei horrorizada.
 
Ele sabia desde o início, mesmo assim me deixou fingir ser uma
garota de programa só para se aproveitar de mim.
 
— Você deixou eu me passar por prostituta para se aproveitar?
 
— Isso foi ideia sua delícia — ele disse cortando a distância entre a
gente e sussurrando em meu ouvido — eu só segui o script.
 
— Só queria saber até onde você levaria para revelar a verdade, mas
confesso que adoraria que estivesse esperado mais um pouco — ele falou
baixo e sensual. 
 
E eu puxei o roupão com vergonha, tinha deixado ele me provocar,
tinha me excitado com cada toque seu, com cada sussurro e tudo para ele
não tinha passado de diversão.
 
— Mas como eu disse, aproveite a estadia, e não se preocupe que já
está pago! — ele falou já de costas e depois simplesmente abriu a porta e
saiu me fazendo me jogar na cama e gritar em desespero.
 
Aproveitei a noite naquele quarto de luxo que provavelmente seria o
último que eu teria, sem ideia do que eu faria no dia seguinte.
 
Demorei a pegar no sono preocupada com meu futuro naquele país,
sem documentos ou família, ou amigos que pudessem me ajudar.
 
Acordei no dia seguinte com o sol batendo em meu rosto e com
alguém batendo na porta, então me levantei para abrir.
 
— Sra. Kiara? — A camareira perguntou com um belo café da
manhã e eu afirmei com um aceno olhando para os lados preocupada.
 
— Desculpe, mas não pedi serviço de quarto, não posso pagar por
isso — falei preocupada.
 
— Já está tudo pago, Sra. O Sr. Orlov deixou tudo acertado ontem na
recepção.
 
Ele tinha se preocupado com meu café da manhã?
 
— Ah! Ele também mandou te entregar isso — ela disse me
entregando um pacote e um cabide com o vestido que ele havia pedido na
recepção na noite anterior.
 
— Ah, obrigada! — agradeci.
 
Abri o pacote e havia uma sandália exatamente no meu número com
um bilhete.
 
"Tente não fugir mais de ninguém para não quebrar o salto dessa"
 
Tomei aquele delicioso café da manhã e me troquei e deixei o hotel
sem saber que rumo tomaria.
 
Andei por um bom tempo até que parei em frente a uma loja de
penhores.
 
“Seus brincos, uma prostituta, levariam uma vida para comprar" —
lembrei das palavras de Cas.
 
Atravessei a rua e entrei no pequeno comércio.
 
— Posso ajudar? — o senhor perguntou.
 
— Quanto dá por esses brincos? — perguntei jogando a joia em seu
balcão.
 
Ele pegou sua mini lupa de joalheiro para avaliar a peça e depois de
um tempo respondeu:
 
— Mil libras
 
— Quê? — falei surpresa — isso é um roubo — essa joia vale uns 50
mil ou mais!
 
— É pegar ou largar! — ele falou arrogante.
 
— Ótimo! Tenho certeza de que acho alguma dondoca que paga pelo
menos cinco mil — blefei, porque não tinha tempo, nem conhecimento e
muito menos condições de ir atrás de outra pessoa para comprar.
 
— 3 mil — ele disse quando me virei para sair e eu sorri, não era o
ideal, mas já ajudaria.
 
— 5 mil e te deixo ficar com essa aliança — falei tirando a aliança de
casamento que Heron tinha me dado e colocando junto com os brincos
sobre o balcão, porque para mim aquilo era lixo.
 
Ele pegou as joias e entrou, voltando com um envelope com 5 mil
libras e meu recomeço.
Capítulo 3
 
2 meses depois.
 
Peguei os pacotes com lençóis limpos e toalhas, bati na porta, sem
obter resposta, então bati uma segunda vez para garantir de que não havia
ninguém no quarto e novamente não obtive resposta, então abri a porta e
entrei.
 
Estava arrumando os lençóis da cama, quando ouço um barulho e me
viro.
 
— Aah! — dou um grito e tampo o rosto quando vejo um velho de
uns 60 anos totalmente nu em minha frente.
 
— O quê? O que aconteceu — Mira minha colega de trabalho entra
com uma vassoura na mão, então começa a rir sem parar enquanto eu
continuo tapando os olhos.
 
— Eu bati, mas ninguém respondeu — argumentei.
 
— Ihhh minha filha, esse aí é surdinho — ela disse ainda rindo e me
pegando pelo braço para me tirar do quarto.
 
— COLOQUE O APARELHO SR. MILIAN — ela grita para que ele
escute.
 
— Melhor sempre verificar, antes de começar a arrumar os quartos — Mira
me orienta — O do 203 tem uma mão boba e a do 146 gosta de levar alguns
mimos para casa — ela falou voltando a empurrar seu carrinho.
 
Estava a um pouco mais de um mês trabalhando como camareira no
hotel royalle, não era nenhum hotel cinco estrelas, e para mim era melhor
que não fosse, o salário também não era grande coisa, mas dava para pagar
as despesas e foi o único que consegui, já que não tinha passaporte e nem
visto para estar no país.
 
Terminei de arrumar os quartos e abastecer as mesas para refeição e
subi para o terraço a fim de tomar um pouco de ar.
 
A vista dali de cima era linda, e eu gostava de ver as pessoas e os
carros que passavam parecendo pequenas formigas lá embaixo.
 
— O que está fazendo aqui fora! — meu gerente perguntou entrando
no terraço.
 
— Fumando um cigarro — falei para ele mostrando o tabaco aceso.
 
Na verdade, não fumava, mas gostava de carregar um maço só para
ter a desculpa de subir ali de vez enquanto.
 
— Não demore, tem clientes pedindo refeições no quarto — Avisou,
mal-humorado, saindo e me deixando sozinha me fazendo revirar os olhos.
 
Voltei ao trabalho minutos depois, o serviço não era fácil, e Roger o
gerente conseguiu deixar tudo ainda pior. Eu trabalhava no turno da noite,
já que era ilegal no país e a fiscalização durante a noite era bem mais
tranquila.
 
— Eu estou morta! — Mira reclamou enquanto batia seu ponto na
hora da saída.
 
— Nem me fale, mal consegui parar para comer hoje! — falei
fazendo a mesma coisa.
 
Mira, assim como eu, era uma mexicana que estava na Inglaterra
ilegalmente, mas ao contrário de mim ela tinha esperança de uma vida
melhor.
 
— Está de folga no domingo? — ela perguntou enquanto nos
dirigimos para a saída.
 
— Sim! Finalmente!
 
Geralmente trabalhávamos direto com apenas uma folga durante a
semana e uma única vez ao mês tínhamos uma folga de um final de semana,
que para mim não fazia diferença já que eu não saia para lugar nenhum.
 
— Você não quer trabalhar como garçonete em um evento no centro?
Vão pagar 300 Libras a noite — ela disse animada.
 
— Não amiga, obrigada, mas eu não posso.
 
Para um pagamento como aquele, deveria ser uma festa muito
chique, onde vários milionários participariam e a chance de me encontrar
com um conhecido de Heron ou até mesmo com ele, era um risco que eu
não podia correr.
 
— Ah!  Claro, eu esqueci que a dondoca não precisa de dinheiro —
ela brincou — 300 Libras amiga, onde você vai encontrar um trabalho
desses?
 
— Eu vou ter que sair no domingo, sabe coisas de família — menti.
 
Nunca tinha contado a ninguém o que tinha acontecido comigo,
Heron era um homem influente quanto mais discreta eu me mantivesse,
melhor seria para mim.
 
— Bom, você é quem sabe, mas se mudar de ideia me avise — ela
falou quando paramos no ponto de ônibus.
 
— Meu ônibus— ela disse dando sinal — até amanhã então?
 
— Até amanhã! — falei lhe dando um beijo.
 
Fiquei quase trinta minutos aguardando meu ônibus chegar e quando
entrei me sentei na última cadeira tentando não dormir para não perder o
ponto.
 
Havia alugado um pequeno cômodo que servia como quarto e uma
pequena cozinha. Deixo minhas sapatilhas ao lado da porta e minha bolsa
em cima do pequeno balcão que uso como mesa.
 
Meu pequeno gatinho mia alto chamando minha atenção se
esfregando em minhas pernas, exigindo um pouco de carinho.
 
— Oh, você sentiu saudades? — perguntei o pegando no colo — ou
só está com fome?
 
Falei acariciando seus pelos e ainda com ele no colo abri a despensa
para pegar seu pacote de ração e colocar uma porção em sua tigela,
soltando-o em seguida.
 
— É acho que só estava com fome — afirmei, pra mim mesma, já
que ele não me dava mais atenção.
 
— Minhau — ele simplesmente miou como se fosse uma
confirmação.
 
Tomei um longo e demorado banho e preparei meu café da manhã,
vestida em meu confortável pijama de flanela rosa e depois de finalmente
alimentada me joguei na cama para descansar o resto do dia.
 

 
 
 
Meu celular despertou avisando que estava na hora de me levantar
para ir trabalhar novamente, então me levantei, preparei minha refeição
para comer antes de sair e enquanto cozinhava fui separar minha roupa para
ir trabalhar.
 
Coloquei uma roupa quentinha com um sobretudo bege, e arrumei
minha cama.
 
— Casss! — Chamei atenção do meu gatinho quando ele subiu no
fogão atraído pelo cheiro da comida.
 
— Está tentando virar o prato do dia — falei correndo e pegando ele
no colo e o colocando novamente no chão.
 
Falei me lembrando do lindo e misterioso estranho que me levou a
colocar o seu nome em meu pequeno gatinho.
 
Nunca mais havia visto aquele homem, e o jeito inusitado em que nós
nos conhecemos ainda estava na minha mente, mesmo depois de meses, o
jeito com que suas mãos tocaram meu corpo, me incendiando como uma
brasa sobre a palha, ainda parecia ter o mesmo efeito.
 
— Quando você vai esquecer isso? — me perguntei.
 
Cas era um gatinho rogdoll branco com alguns pelos marrons, eu o
tinha encontrado miando em um dia de chuva no meio do meu lixo,
provavelmente procurando algo para comer.
 
E eu me perguntava todos os dias, porque tinha decidido colocar o
nome daquele estranho no meu gato.
 
— Já pensou se você pega fogo? — briguei com ele.
 
Como rapidamente coloquei a ração do Cas antes de sair às pressas
para não perder o ônibus.
 
Entrei no hotel correndo e tentando não chamar atenção, já que Roger
fazia uma pequena reunião com os funcionários.
 
— Está atrasada! — minha colega disse baixinho enquanto eu
ajeitava o uniforme e me infiltrava juntos aos demais.
 
— O que eu perdi? — perguntei.
 
— Nada de mais, vai chegar uma caravana, com jovens irritantes e
bagunceiros.
 
— Odeio essas caravanas — comentei.
 
— Eu também, mais trabalho, sem horas extras e muita dor de
cabeça.
 
— E não se esqueça de adolescentes tarados — brinquei.
 
— Sim, e adolescentes tarados.
 
— Sta. Mira e Sta. Kiara, tem alguma coisa a acrescentar? — Roger
perguntou ao nos ver conversando.
 
— Não, Sr. — Mira respondeu.
 
— Ótimo! Então vamos trabalhar — ele disse nos dispensando.
 
— Ainda bem que estarei de folga amanhã — falei puxando o
carrinho de produtos do hotel.
 
— Ai que inveja — Mira disse fazendo uma careta — Terei que
trabalhar dois turnos para conseguir ir ao evento.
 
—  Vai trabalhar hoje à noite, amanhã o dia todo e depois que sair
ainda vai para o evento? — perguntei perplexa.
 
— Sim, é muito dinheiro para dispensar.
 
— Você é louca! — falei entrando em um quarto para limpar.
 
Passamos por todos os quartos do andar, cada uma pegando uma
porta de um lado e no final estávamos exaustas.
 
— Kiaraaaa! — Mira quase gritou no refeitório vindo com sua
bandeja na mão enquanto eu comia minha comida — Me socorre pelo amor
de Deus.
 
— O que foi?
 
— Roger disse que não posso trabalhar no turno do dia.
 
— E qual o problema? — perguntei levando um pedaço de cenoura a
boca.
 
— Se eu não trabalhar o turno do dia, não posso ir ao evento— ela
disse quase em desespero.
 
— É só não ir! — afirmei.
 
— Você não está entendendo, eu já confirmei que iria, e agora se eu
não for, sabe quais as chances deles me chamarem para outro como esse?
ZERO! Nunca mais vou trabalhar ganhando extras assim!
 
— Quer que eu converse com Roger para deixar a gente trocar
folgas? — perguntei.
 
— E suportar os adolescentes, tarados, irritantes e bagunceiros? —
ela falou fazendo careta — não seria justo com você amiga. Mas…
 
— Mas…— repeti sua fala.
 
— Você podia ir ao evento no meu lugar, ninguém vai perceber.
 
— Não! — falei me levantando com a minha bandeja.
 
— Eu te dou meu crachá, é a única coisa que eles irão pedir.
 
— Não!
 
— Amiga, você vai entrar às 10 e as 2 horas acaba o evento e você
ainda vai ganhar 300 libras, por favor! — ela pediu juntando as mãos
implorando.
 
— Não, não e não….
 
 

 
 
— Tenham sempre bandejas cheias em mãos e procurem ser bem
atenciosos, se o convidado pedir alguma bebida que não tiver sugira uma
adequada e caso isso não funcione, diga que vai providenciar e me procure
imediatamente — a organizadora dizia a todos.
 
E eu tentava me lembrar em qual parte eu havia deixado Mira me
convencer.
 
Com um colete cinza, gravata e calça social eu estava pronta para o
trabalho e com sorte correria tudo bem. 
 
Peguei uma bandeja com drinks e outras bebidas e saí para o salão
distribuindo e atendendo um ou outro pedido.
 
A noite corria tudo bem, e apesar da correria e de não termos parado
um segundo sequer, Mira tinha razão, valia a pena o trabalho, de vez
enquanto comia um ou outro petisco e até mesmo tomei uma taça de uma
deliciosa champagne.
 
Já passava da meia-noite quando escutei uma risada no meio do salão
e a voz inconfundível de Heron soou tão perto de mim que quase vomitei
no meio dos convidados.
 
Meu coração acelerou tão rapidamente que cheguei a pensar que teria
um infarto e minhas mãos tremeram.
 
As lembranças da última vez em que estivemos juntos me veio à
mente.
 
“— Você é um monstro! — eu disse a ele após ele afirmar que ficaria
feliz em trazer minhas amigas para a Inglaterra, caso eu tenha dito algo a
elas.”
 
Fazia quase um ano que eu havia abandonado tudo nos Estados
Unidos para me mudar para Inglaterra com ele, e desde então falava poucas
vezes com elas por telefone, mas quando Sarah me ligou dizendo que
queriam me visitar eu entrei em pânico, tinha medo do que elas veriam e o
que isso poderia acarretar a elas.
 
Heron era um lunático, narcisista.
 
E só aquilo já era um motivo para mantê-las bem longe de mim.
 
Por isso, antes de fugir, liguei para Sarah, dizendo que estava muito
bem e que eu era muito rica agora e que eu não as queria em minha casa.
 
Ouvir minha amiga decepcionada comigo me doeu, mas saber que
elas estariam seguras e longe de Heron me fez seguir firme naquela decisão.
 
— Sim! Eu disse a ele que não deveria levar para o pessoal! —
escutei ele conversar com um senhor.
 
Eu estava de costas para ele e comecei me afastar devagar.
 
— Srta.! — O homem com quem ele falava me chamou para me
fazendo tremer.
 
Fingi não ter escutado e continuei andando devagar sem me virar.
 
— Garçonete! — Ele me chamou novamente e eu tentei passar entre
as pessoas, mas um grupo me bloqueou. 
 
— Moça! — a voz de Heron soou me chamando e quando eu olhei
através da bandeja e eu soube no mesmo instante que ele também me viu e
me reconheceu.
 
Passei pelo grupo e larguei a bandeja no primeiro balcão que
encontrei na minha frente, e me apressei para a saída tirando a gravata e o
colete.
 
— Kiara? — ouvi quando ele me chamou vindo atrás de mim com
seus seguranças.
 
Então comecei a correr, mas não fui muito longe quando trombei em
alguém e caí no chão e a mão de Heron me segurou me puxando com
violência.
 
— Onde você pensa que vai? — ele falou me puxando para ele.
 
— Me solte Heron! — falei empurrando-o.
 
— Solte a garota Heron! — a voz de Cassiano soou grave e
ameaçadora e só então me dei conta de que havia sido nele que tinha me
esbarrado.
 
— E quem é você? — Heron perguntou-lhe desafiador.
 
— Alguém que você não vai gostar de saber — Cassiano falou.
 
— Você está bem? — Cas perguntou e eu afirmei.
 
— Você tem ideia de quem eu sou? — Heron continuou a desafiar.
 
— Será um monte de merda se não soltar o braço dela agora! — Cas
ameaçou e os seguranças de Heron levaram as mãos em suas armas.
— Tudo bem Sr. Cas? — um segurança perguntou e só então que
notei que Cas também andava com seguranças, pois em poucos segundos
apareceram, cinco homens armados, o que fez Heron largar meu braço.
 
— Ela é minha mulher! — Heron afirmou.
 
— E você é casado com uma simples garçonete? — Cas questionou
— eu não a vejo com uma aliança — ele disse olhando em meu dedo.
 
— Ela fugiu meses atrás — Heron justificou.
 
— Então você tinha uma algema e não uma aliança e ela está comigo
agora! — Cas disse tomando minha frente me protegendo atrás de si.
 
— Você não tem noção de com quem está se metendo, isso não vai
ficar assim! — Heron ameaçou.
 
— Ficarei aguardando — Cas disse olhando em volta onde tinha uma
multidão prestando atenção.
 
Aquilo fez Heron recuar, mas antes de sair ele me encarou fazendo-
me estremecer de medo e disse:
 
— Sabe que vou encontrá-la novamente, Kiara! — falou com um
sorriso ajeitando seu smoking e saiu seguido por seus seguranças.
 
— Temos que parar de nos encontrarmos assim, pequena mentirosa
— Cas disse em um tom baixo próximo ao meu ouvido me fazendo
arrepiar.
Capítulo 4
 
 
Kiara continuava calada, mesmo após eu ter insistido para que ela me
contasse o que estava acontecendo.
 
Era óbvio que ela fugia do tal Heron, tanto na primeira vez em que
nos encontramos como ali, ela fez de tudo para não ser capturada, até
mesmo entrar no carro de um completo desconhecido e se passar por garota
de programa.
 
E mesmo ali, quando ela não tinha ideia de onde estava indo, se
mostrava mais aliviada do que a momentos antes, diante do homem que se
dizia seu marido. 
 
— E então? — questionei.
 
— Olha Sr. Cassiano…
 
— Cas — eu a interrompi — apenas Cas.
 
— Cas, eu agradeço pelo quarto de hotel da última vez e bem… por
hoje, mas se quiser pode me deixar aqui — ela disse apontando para fora —
ou ali no ponto de ônibus, eu posso muito bem pegar o ônibus para ir
embora…— ela parou de falar vendo que já havíamos passado do tal ponto.
 
Ela parecia nervosa, seus cabelos um pouco mais longos que da
última vez caíam sobre seus olhos, e apesar de um pouco mais descuidada
que da última vez, ainda era tão linda quanto.
 
 
— Primeiro vamos conversar! — afirmei — está com fome? —
questionei.
 
— Não, estou bem obrigada! — ela agradeceu
 
Não duvidava, pela hora provavelmente já devia realmente ter se
alimentado, mas eu, por outro lado, estava faminto, então dei ordens a Nion
para passarmos em um drive-thru.
 
— Confesso que amo essas coisas — falei pegando os pacotes e
comendo um pouco das batatas fritas — tem certeza de que não vai querer?
Tome pelo menos um milk shake para me acompanhar.
 
— É… acho que um sorvete com batatas, pode ser?
 
Sorri para ela e fiz seu pedido.
 

 
 
 
 
— Sente-se Srta. Kiara, vamos comer e conversar um pouco. — falei
tirando meu sobretudo e depois o blazer e colocando sobre o braço do sofá.
 
Kiara pareceu desconfortável, mas se sentou no sofá e eu arrumei a
mesa, colocando suas batatas e sorvete em sua frente para que comesse.
 
— Por favor, fique à vontade para comer — Avisei, e ela pegou o
sorvete em pequenas porções com a colher e levando a boca.
 
— Agora me diga, aquele homem lá na festa, é realmente seu
marido? — Perguntei e ela assentiu desconfortável.
 
— E por que estava fugindo dele?
 
— Eu não queria mais ficar casada…— ela falou em um tom baixo.
 
— E pedir o divórcio não era mais eficiente? — questionei, pois, ela
estava dando voltas e não me contava absolutamente nada.
 
Kiara não respondeu, apenas levantou os ombros, como se não
tivesse o que comentar sobre aquilo.
 
— Na primeira vez em que nos encontramos, você estava bem-
vestida, com brincos caros, unhas e cabelo bem-feitos, então me diz o que
levaria a Srta. ou a Sra. Fugir em noite de chuva e fria como aquela? —
perguntei um pouco impaciente.
 
Levantei de minha poltrona e enfiei as mãos nos bolsos da calça, e
noto que Kiara está cada vez mais nervosa.
 
Mantinha a cabeça baixa, evitando o contato visual e embora
continuasse a tomar seu sorvete, eu duvidava de que estava apreciando, e se
não fosse pelos dois seguranças parados à porta eu diria que ela tentaria
correr a qualquer minuto.
 
Kiara engoliu em seco e seus olhos se encheram de lágrimas e uma
escorreu pelo canto de seu rosto.
 
— Acho que é melhor eu ir para casa…— ela disse deixando o
sorvete sobre a mesa.
 
— Srta. Kiara responda minha pergunta! — falei um pouco mais
ríspido com ela.
 
Kiara olhou para a porta e depois novamente para mim.
 
— Saiam! — Ordenei a meus homens e eles se entreolharam e saíram
sem questionar.
 
Kiara se ajeitou novamente no sofá e se manteve silêncio por alguns
minutos antes de quebrar o silêncio da sala.
 
— Eu me casei com Heron a uns dois anos…— ela disse
desconfortável soltando um longo suspiro — ele era uma pessoa
maravilhosa, ou pelo menos eu quis acreditar que fosse — ela sorriu um
pouco triste.
 
— O engraçado é que eu nunca fui uma pessoa de sorte, então não sei
por que realmente acreditei que no amor seria assim.
 
Ela parecia desconfortável com aquela conversa, cautelosa pensando
nas palavras que usaria, como uma boa mentirosa que era.
 
— Por que acha que nunca foi uma pessoa de sorte? — perguntei,
tentando deixá-la mais à vontade para prosseguir.
 
— Fui criada em um orfanato nos Estados Unidos, perdi meus pais
quando ainda tinha sete anos— ela apertava a ponta do dedo médio, em um
sinal claro de nervosismo — passei por alguns lares adotivos, mas não
fiquei em nenhum— ela falou tentando arrumar seus cabelos.
 
— E por quê? Não eram famílias boas? — questionei.
 
— Não, não era isso, mas era difícil para mim, aceitar que meus pais
não voltariam, então eu fugia e fugia sempre para o mesmo lugar, de novo e
de novo até que… um dia simplesmente desistiram de me adotar.
 
Ficamos mais algum tempo em silêncio até que perguntei:
 
— E para onde você ia, quando fugia dos lares adotivos? —
perguntei curioso.
 
— Para casa…— ela disse com uma pequena pausa — mesmo
depois de anos eu acreditava que precisava estar lá, para quando eles
voltassem, mesmo no fundo eu sabendo que isso nunca aconteceria…
 
Apesar de sua cautela em contar aquilo, me pareceu verdadeira, a dor
em suas palavras se referindo aos pais, parecia genuína e eu senti pena dela.
 
— Quando completei 18 anos, comecei a trabalhar no jornal local —
Ela continuou — escrevia pequenas matérias, não eram grandes coisas, mas
dava para pagar meu aluguel e a faculdade.
 
— É jornalista? — Questionei e ela negou com a cabeça.
 
— Me formei a cerca de dois anos, um pouco antes de me casar, mas
nunca exerci.
 
— Eu conheci Heron e me casei com ele um ano depois, no
casamento dos meus sonhos — outra lágrima correu por seu rosto e ela foi
rápida em limpá-la.
 
— E por que está fugindo do seu marido se ele era tão maravilhoso
assim? — voltei a perguntar. 
 
Kiara se levantou calmamente e desabotoou botão por botão de seu
colete e o retirou jogando sobre o sofá.
 
— Srta. Kiara não te trouxe aqui para isso — afirmei vendo seus
dedos finos passarem pelos botões da camisa, abrindo como havia feito com
o colete.
 
Mas então Kiara virou de costas para mim e baixou sua camisa até
embaixo, revelando uma cicatriz em forma de H. Travei os dentes com ódio
ao ver aquilo. A voz de Kiara saiu fraca quando disse:
 
— Ganhei um rubi por essa, um dos maiores já encontrados, que
nunca me serviu para nada além de me lembrar da dor e da humilhação.
 
Fechei minha mão em punho ao ver ela marcada como um gado, com
a inicial de seu dono, a letra cravada em sua pele branca e perfeita.
 
Imaginava como aquilo deve ter sido doloroso para Kiara, que me
parecia tão pequena e frágil comparada a mim.
 
— Essa aqui — ela continuou afastando os cabelos de sua nuca
mostrando uma pequena falha — foram duas semanas depois do casamento,
após eu ter ameaçado denunciá-lo e valeu um par de brincos.
 
Ela se virou de frente para mim e ela estava com sua camisa aberta
mostrando sua barriga e seios sustentados por um sutiã preto tomara que
caia.
 
Eu não me dei conta de que hiperventilava furioso, com cada nova
cicatriz que ela me mostrava.
 
E a única coisa que passava por minha mente é que eu tive o filho da
puta, tão perto de mim e tinha deixado escapar ileso.
 
— Essa ele achou que valia um colar e essa aqui, uma viagem — ela
disse mostrando outras cicatrizes — Então Sr. Cas se o que o senhor quis
dizer com Maravilhoso, for uma vida de fartura e riqueza, então sim eu
tinha um marido maravilhoso — Ela falou voltando a abotoar sua camisa.
— Mas eu prefiro viver miseravelmente, a voltar para aquela casa — Kiara
disse pegando seu colete. — Pode deixar que eu peço um táxi para ir
embora — disse saindo.
 
Eu não a impedi que saísse, nem fiz qualquer comentário sobre o que
havia me contado, apenas fiquei ali parado analisando todas as informações
que ela tinha acabado de me mostrar.
 
— Quero que a sigam e se mantenham próximo a ela por alguns dias
e quero que me mantenham informado — Ordenei assim que ela saiu pelo
portão.
 
Pelo monitor das câmeras de segurança pude ver Kiara entrar no táxi
quase vinte minutos depois e meus homens a seguirem em seguida.
 

 
 
 
— Deixa eu ver se eu entendi, no dia do encontro com Soares, uma
louca entrou no seu carro, fingiu ser uma garota de programa, quando na
verdade, era a mulher de um cara podre de rico, certo? — Meu amigo
perguntou e eu confirmei.
 
Estávamos no escritório da filial da empresa de engenharia em que
havíamos aberto ali na Inglaterra, onde eu ficaria no comando como meu
irmão havia ordenado.
 
Claro que era um bom negócio, pegávamos projetos importantes,
condomínios, reformas e construções de grandes empresas, mas não
passava de uma mera fachada para os nossos principais negócios, a máfia.
 
— Aí dois meses depois você tromba na mesma mulher, dessa vez
fingindo ser uma garçonete, então ela te conta uma história triste e agora
você, manda seguranças segui-la para protegê-la e quer investigar o ex-
marido? Esqueci alguma coisa?
 
Eu não respondi suas perguntas retóricas e continuei a olhar a
paisagem para fora da vidraçaria da empresa, com as mãos nos bolsos da
calça social.
 
— E me diz, por que está fazendo isso? —  Ivan perguntou por eu ter
pedido um relatório completo sobre Kiara e seu ex-marido.
 
Olhei para ele frustrado, pois era uma pergunta que nem mesmo eu
saberia responder.
 
— Qual é! É só uma garota entre muitas que apanha do marido e daí?
Daqui a pouco ela está voltando para ele implorando por uma chance de ter
todo o luxo de volta.
 
— Pode ser! Eu só quero garantir que se ela voltar será por vontade
própria.
 
— E o que isso importa?! — ele perguntou, me fazendo encará-lo
irritado.
 
— Cas… você precisa parar com isso, já não basta a encrenca que
você se meteu…
 
— Isso não tem nada a ver, Ivan.
 
— Jura? Porque para mim tem uma grande semelhança
 
— Kiara não é igual a ela! — Afirmei.
 
— O quê?  Vai me dizer agora que ela é pura? Que é inocente? Será
que você não vê a semelhança das duas.
 
— JÁ CHEGA! — gritei! — DEI A PORRA DE UMA ORDEM,
APENAS FAÇA O QUE MANDEI!
 
Ivan levantou as mãos em rendição e sem dizer nada saiu da sala.
 
Joguei todo meu material de trabalho no chão furioso ao me lembrar
daquela vagabunda, anos haviam se passado e aquela maldita ainda
conseguia me tirar do sério.
 
O telefone tocou e eu respirei fundo, ajeitei meus cabelos que tinham
se bagunçado e tentei me controlar antes de apertar o botão para atender.
 
— Sr. Cassiano, o novo cliente o espera para reunião — Minha
secretária avisou.
 
— Obrigado Aldrey, diga que já estou a caminho — falei desligando.
 
As imagens de Kiara de costas com aquele H gravado em sua pele
não saia de minha cabeça, e eu queria ir atrás de Heron e cravar uma bala
no meio de sua testa, mas e se Ivan tivesse razão? E se mais uma vez eu
tivesse me deixado levar?
 
Eu estava prestes a ligar para meus homens e pedir que esquecessem
as ordens que eu havia dado, quando meu celular tocou.
 
— Chefe?! — um dos seguranças que eu havia colocado para segui-
la falou do outro lado da linha.
 
— Sim! — respondi e, no fundo da ligação eu podia escutar Kiara
gritar e chorar chamando por meu nome.
 
— O que está acontecendo, PORRA! — Questionei.
 
— Invadiram a casa dela chefe, colocaram fogo em tudo!
 
— E onde vocês estavam que não viram isso? — perguntei andando
de um lado para o outro.
 
— Estávamos vigiando-a como senhor havia ordenado, ela estava no
trabalho — ele explicou me fazendo me sentir mais aliviado.
 
—  E como ela está? — perguntei ainda ouvindo ela chorar nos
fundos chamando pelo meu nome.
 
— Ela está bem, abalada, mas bem — ele respondeu.
 
— Tragam-na para mim! — Ordenei.
 
— Sim, chefe! — ele respondeu e eu desliguei indo para a reunião
que tinha marcado.
 
Aldrey me esperava na porta com sua agenda e formalmente vestida
em seu terno feminino e entrou junto comigo na sala de reunião, mas ao
contrário do que eu imaginei encontrar havia apenas um homem na sala,
virado de costas com um quadro na mão onde estava emoldurado um dos
muitos certificados de nossa empresa.
 
E tranquilamente ele colocou o quadro na estante da parede e se virou
em nossa direção.
 
— Você?! — perguntei pego de surpresa — O que faz em minha
empresa!? — falei trincando os dentes de ódio ao ver ser Heron, que sorria
satisfeito.
Capítulo 5
 
 
O táxi parou em frente à minha humilde residência, onde ficava aos
fundos da casa da proprietária, uma senhora simpática que havia me
recebido muito bem em seu lar.
 
Era uma entrada separada, entrava por um portão, passando por um
estreito corredor que chegava ao pequeno cômodo onde eu morava.
 
— Obrigada! — agradeci pegando o dinheiro da corrida no bolso
traseiro da calça e entregando a ele.
 
Com sorte eu não havia levado nenhum tipo de bolsa, apenas o
celular e um trocado para alguma emergência.
 
Entrei em casa me jogando no sofá e Cas veio me dar as boas-vindas
subindo em meu colo e esfregando seus pelos em mim.
 
— A noite não foi boa amigão — falei apertando os pelos de seu
rosto em minhas mãos o encarando.
 
— Acho que se não fosse pelo seu xará, provavelmente eu estaria
bem encrencada agora.
 
— Talvez fosse melhor a gente se mudar, o que acha? Sair da cidade
talvez.
 
Peguei meu celular e fui dar uma pesquisada nas cidades vizinhas,
uma que eu não precisasse de documentos para ir, mas que não ficasse tão
perto.
 
— Merseyside? Que tal? — perguntei ouvindo ele dar uma miada em
resposta.
 
— É você tem razão, muito longe né.
 
Eu passei o restante da noite pesquisando então decidi abrir uma
garrafa de um vinho qualquer e já estava clareando quando decidi tomar um
bom banho e ir me deitar para descansar.
 
Levantei horas depois e resolvi ligar para minha amiga para lhe
contar que havia tido um incidente e por isso não pude ficar na festa.
 
Peguei o celular e disquei seu número enquanto separava alguns
ingredientes para preparar o almoço, a ligação chamou até cair na caixa de
mensagens, então tentei novamente, mas sem sucesso.
 
Preparei meu almoço com calma e depois de comer coloquei um
filme para assistir até a hora de ir trabalhar.
 
Ainda era cedo, então me arrumei com tranquilidade e aproveitei
para sair um pouco mais cedo de casa.
 
Cheguei no trabalho e esperei até que Mira chegasse, olhei na hora
em meu celular e faltava apenas cinco minutos para batermos o ponto e
Mira ainda não havia chegado.
 
Peguei novamente o celular tentando ligar para ela, mas mais uma
vez só chamou e logo em seguida recebi uma mensagem sua.
 
*MIRA*
 
"Não poderei ir trabalhar, não estou passando bem"
 
 
*KIARA*
 
"O que ouve amiga? Precisa de ajuda? "
 
  respondi preocupada .
 
* MIRA*
 
"Não será necessário, é apenas uma gripe forte"
 
*KIARA*
 
"Ok, então, melhoras"
 
desejei indo bater meu cartão de ponto.
 
 
— Kiara?! — Roger me chamou— onde está Mira? — ele
questionou.
 
— Acho que ela não está muito bem, avisou que não vem hoje.
 
— Ótimo! Avise ela que será descontado de seu pagamento.
 
Aquilo não era novidade, como éramos registradas ilegalmente,
Roger procurava qualquer motivo para fazer descontos nosso já tão
miserável pagamento, para mim que era sozinha, não era tão complicado,
mas Mira tinha 2 filhos, uma menina de 5 anos e um menino de 13, seu
marido assim como nós trabalhávamos em uma fábrica e também não
ganhava grande coisa; por isso, ela sempre estava à procura de trabalho
extras.
 
— E você fará o setor dela hoje — ele falou irritado.
 
— E o meu? — perguntei confusa.
 
— Não se preocupe com o seu, eu vou largar meu escritório e fazer
para você — ele disse usando o sarcasmo.
 
— Ah! E se houver reclamações dos hóspedes vou descontar um dia
de trabalho seu! — Ele disse apontando para mim.
 
— O quê?! Roger isso não é justo, vou ter que trabalhar em dobro —
reclamei.
 
— Então sugiro que comece logo! — ele disse já de costas para mim.
 
— Babaca! — Xinguei baixo empurrando o carrinho indo fazer meu
trabalho.
 
Mal havia tido tempo de comer, correndo de um lado para o outro,
procurando deixar todos os quartos limpos e da maneira que cada cliente
gostava.
 
No final do turno eu estava exausta, meus pés doíam e tudo que eu
queria era ir embora, desabar na minha cama e só me levantar no dia
seguinte.
 
— Kiara! — Roger chamou assim que ia bater meu ponto.
 
Olhei para meus colegas de trabalho que estavam em volta já
prevendo que coisa boa não viria daquilo.
 
— Fale Roger!
 
— Falei para você que se houvesse reclamação descontaria do seu
salário, não falei? — ele falou na frente de todos.
 
— Isso é impossível, eu arrumei todos os quartos, não ficou nenhum
sem arrumar, troquei todas as toalhas de banho e os lençóis dos hóspedes
que saíram agora de manhã — informei.
 
— A Sra. Do 146 ligou hoje de manhã avisando que você esqueceu
de fazer a reposição dos acessórios.
 
— O quê? Impossível eu tenho certeza de que fiz a reposição de
todos os quartos! — afirmei convicta.
 
— Está dizendo que a cliente está mentindo? — ele perguntou.
 
Só então me lembrei do que Mira havia me dito, que a Sra. Do 146
era do tipo que roubava e como os clientes frequentes costumavam sempre
pegarem os mesmos quartos, só podia ter sido ela.
 
— Roger essa Sra. Sempre fica hospedada aqui e a Mira me disse que
ela tem esse hábito de pegar produtos para levar para casa, ela pode…
 
— Está acusando uma cliente de roubo? — ele disse elevando o tom
de voz.
 
— Não, não é isso, não estou querendo acusá-la formalmente, mas
aqui todos…
 
— Quer chamar a polícia Kiara? — ele questionou.
 
Eu sabia aonde ele queria chegar, aquilo era somente um pretexto
para descontar do meu salário, ele sabia que eu não podia me envolver com
a polícia e que eu não iria fazer aquilo.
 
— Quer saber! —  Falei jogando meu cartão de ponto em seu peito e
tirando meu avental — fique com essa bosta de emprego, estou indo
embora mesmo, não vou ficar me rebaixando e eu espero um dia ver você
lavando latrina! — falei em sua cara e me virei saindo, mas então voltei e
disse:
 
— Ah! E Roger, VÁ SE FODER! — xinguei mostrando o dedo do
meio para ele.
 
Me sentia aliviada por ter xingado Roger, mas também preocupada, o
dinheiro da venda dos brincos eu tinha gastado comprando alguns móveis
de segunda mão, já que era impossível comprar novos, e paguei o primeiro
mês do aluguel, então não tinha sobrado muita coisa e talvez não fosse o
suficiente para recomeçar, talvez eu tivesse que esperar mais um pouco
antes de me mudar dali.
 
Mas antes precisaria arrumar outro trabalho, havia uma lavanderia
que contratava imigrantes, o salário era ainda mais baixo que o hotel, mas
se não encontrasse outra coisa teria que me virar.
 
Caminhava a passos rápidos em direção a minha casa, mas reduzi as
passadas ao ver o brilho azul e vermelho das sirenes, meu estômago se
revirou, meu corpo tremeu e eu parei segurando minha bolsa lateral na
frente do corpo, estava prestes a voltar para trás, quando vi o carro do corpo
de bombeiros, então dei mais alguns passos e tive uma visão melhor da rua.
 
Homens da polícia e do corpo de bombeiros estavam todos em frente
à minha casa que levantava labaredas de chamas.
 
Corri em direção às chamas com o coração acelerado, Luiza, a
pequena senhora que havia me alugado a casa, estava do lado de fora e
chorava desconsolada enquanto era amparada por sua filha.
 
"Cas" me lembrei do meu gato.
 
Meu coração se apertou ao imaginar que o pobre animal ainda podia
estar lá dentro.
 
— Cas?! — Perguntei a Luiza e ela fez sinal de que não sabia.
 
E senti o desespero me tomar e meu coração se comprimir, as
lágrimas começaram a descer descontroladas.
 
— Cass! — Gritei indo em direção ao portão que dava a minha casa,
mas fui impedida por um bombeiro.
 
— Cas! — Gritei novamente — meu gato? Meu gato está lá dentro!
— falei para ele apontando para o corredor.
 
— A senhora não pode entrar lá, Senhora, é muito perigoso.
 
— Cas…— falei passando a mão nos cabelos.
 
Olhei ao redor e vi dois homens grandes vestidos de terno preto e um
deles falava ao telefone.
 
Em meio a toda aquela confusão, cinzas que caíam do céu, polícias,
bombeiros, vizinhos curiosos e ninguém estava como eles.
 
"Homens de Heron" — deduzi.
 
Recuei um passo e depois outro e outro e quando eles notaram minha
intenção vieram em minha direção e saí correndo.
 
— Srta. Kiara! — um deles chamou, mas não parei.
 
Passamos correndo por uma praça, que estava vazia, a todo momento
olhava para trás, vendo um deles tentar me alcançar, mas eu estava com
uma pequena vantagem e não ia me deixar ser capturada pelos homens de
Heron.
 
— Espere…— Ele voltou gritar.
 
Pulei o pequeno muro que dava para uma rua sem saída e fui
encurralada por seu parceiro que estava de carro.
 
Quando o outro me alcançou ofegante, assim como eu, me pegou
pelo braço me puxando em direção ao carro.
 
— Me solta! — gritei tentando me desvencilhar.
 
— Por que correu? — O que tinha corrido atrás de mim perguntou
 
— E por que eu deveria facilitar para vocês? — perguntei ainda me
esforçando para me soltar.
 
— O chefe só quer conversar com você! — ele disse abrindo a porta
do carro.
 
— Por favor, me deixem ir, eu vou desaparecer, eu juro! Diz para ele,
que não contei a ninguém.
 
— Do que está falando? — um deles perguntou.
 
— Só me deixem ir, por favor!
 
Eu já previa meu encontro com Heron, ele não deixaria barato os
últimos meses e depois do incidente com Cas, seria um milagre eu sair viva.
 
No orfanato, as freiras nos ensinavam a rezar, várias e várias vezes ao
dia, pedindo para Deus por proteção, agradecendo pelos bens feitos, mas
fazia algum tempo que eu havia desistido de rezar.
 
Se Deus existia, ele havia se esquecido de mim a algum tempo.
 
Fui jogada para dentro do carro e ele entrou se sentando ao meu lado,
as portas foram travadas e meu destino selado.
 
Enquanto passávamos por uma rua lateral a minha antiga casa, que
ainda estava em chamas, pude ver Cas caminhar pela calçada, molhado,
como no dia em que eu o havia encontrado.
 
— Cas?! — Chamei batendo no vidro — pare, por favor, deixe eu
pegar meu gato! — pedi batendo com mais força e o motorista parou me
surpreendendo, pois, apesar de insistir naquilo, não achei que ele faria.
 
— Vai lá, pegue o gato — ele disse ao amigo.
 
— Por que eu? O chefe não vai gostar nada disso — ele falou.
 
— Por favor…— pedi e ele bufou abrindo a porta e descendo.
 
— Cas…— falei o abraçando e o colocando dentro do casaco para
esquentá-lo, pois tremia de frio.
 
— Colocou o nome do seu gato de Cas?! — O homem perguntou.
 
— Sim! — respondi dando de ombros.
 
— O chefe não vai gostar disso — ele repetiu.
 
Eu tinha conhecimento do ciúme doentio que Heron tinha, e tem um
bicho de estimação com o nome de outro homem poderia ser fatal para o
pobre bichano
 
— Não diga a ele o nome tá bom, eu mudo o nome dele — falei com
medo do que Heron pudesse fazer com ele.
 
O segurança deu de ombros e eu pensei que talvez tivesse sido
melhor ter deixado o gato.
 
O telefone do motorista tocou e ele atendeu.
 
“Chefe?!”
 
“Sim, estamos com ela.”
 
“Ok, pode deixar”
 
ele disse finalizando
 
— O chefe deu ordens de levá-la para casa.
 
Meu corpo mais uma vez reage ao medo, tremendo descontrolado e
eu me apertei mais a Cas afogando seus pelos com meu nariz.
 
 
Capítulo 6
 
 
Eu ainda aguardava a resposta de Heron, enquanto ele ostentava um
sorriso debochado em seu rosto.
 
Minha mão foi até a parte de trás de meu blazer, em busca de minha
arma, mas me detive me lembrando estar na empresa.
 
— Vou perguntar novamente, o que faz aqui?
 
— É dessa maneira que trata seus novos clientes? — ele questionou
ainda sorrindo.
 
A atmosfera estava tensa e eu cerrava os punhos com ódio, fazendo
minhas veias se saltarem.
 
Olhei para minha secretária que observava tudo sem entender nada,
segurando sua agenda sobre o peito como se estivesse com medo.
 
— Aldrey, está dispensada, pode ir! — Ordenei e a pequena loira saiu
mais que depressa, batendo seus saltos no chão.
 
— Cassiano Orlov…— ele pronunciou meu nome tentando me
intimidar.
 
Eu ri de sua tentativa ridícula.
 
— Se queria saber meu nome, era só ter perguntado, não precisava
ter pesquisado para isso — falei pegando um cartão no bolso do meu blazer
e estendi a ele, onde tinha meu nome em letras grandes e prateadas se
destacando em um cartão preto.
 
— O que veio fazer aqui, Heron? Medir se tem o pau maior que o
meu? — perguntei com deboche — Porque se for isso não deveria se
preocupar tanto, dizem que tamanho não é documento.
 
Ele deu um peteleco em meu cartão, dando risada, mas eu podia ver
as veias de seu pescoço se elevarem.
 
— O que um russo rico como você procura aqui na Inglaterra.
 
— Achei que era meio óbvio — falei abrindo os braços mostrando a
empresa ao redor.
 
— Você é engraçado — foi a resposta que ele deu.
 
— Sabe mais o que é engraçado? Como sua família está sempre
envolvida em negócios ilegais — Ele falou me surpreendendo.
 
— Mexericos de donas de casa desocupadas — falei abrindo o blazer
e me sentando.
 
— Seu pai foi investigado por envolvimento na morte de pelo menos
3 vítimas queimadas em Omsk.
 
— Nada foi provado — justifiquei tranquilamente.
 
— Seu irmão mais velho, qual é mesmo o nome dele? — ele estalava
os dedos fingindo pensar — Sim, é verdade, Boris.
 
Como aquele desgraçado tinha aquelas informações?
 
Apesar de Heron deixar claro que tinha informações privilegiadas de
mim e da minha família, eu me mantinha visivelmente tranquilo, como se
nada do que me dissesse fosse novidade, como realmente não era.
 
— Boris, embora tenha sido pego em uma operação com 300 quilos
de cocaína, saiu milagrosamente ileso no dia seguinte — Heron disse um
pouco mais alto se baixando bem próximo a mim.
 
— O que eu posso dizer? Hora errada e lugar errado — falei dando
de ombros.
 
— O fato de sua família estar sempre envolvida com os Bratva…
 
— O quê?! Máfia? — Ri alto, me fingindo de desentendido.
 
— Eu sei quem você é, sr. Cassiano! — ele gritou batendo com a
mão na mesa.
 
— Isso é um interrogatório? Deveria chamar meu advogado? —
questionei me levantando.
 
Heron se endireitou, notando que havia se excedido.
 
— Você pisou em meu território, Sr. Orlov…
 
— Já mediu? — debochei — porque a menos que queira pegar uma
régua eu tenho mais o que fazer — falei voltando a abotoar meu blazer e lhe
dando as costas.
 
Do lado de fora peguei meu celular e liguei para Ivan.
 
— Oi, quero você na minha sala e quero tudo sobre Heron, agora
mesmo! — Ordenei.
 
Entrei em minha sala, busquei uma garrafa de whisky e enchi um
copo e virei, enchendo novamente em seguida.
 
Houve uma batida na porta.
 
— Entre! — Ordenei e Ivan entrou com um tablet na mão.
 
— Não está muito cedo para beber? — Ivan questionou me vendo
com o copo cheio na mão.
 
— Aquele desgraçado…— rugi apontando para Ivan — esteve bem
aqui, me ameaçando!
 
— Quem? Ryou? — ele perguntou se referindo ao filho do chefe da
máfia japonesa que vinha dando problema desde o dia em que havia
chegado na Inglaterra.
 
— Heron! Aquele filho da puta!
 
— Como ele pode ter acesso a informações da minha família?! —
questionei, puto de ódio.
 
— Ele é procurador-geral — ele disse me entregando o tablet.
 
No tablet tinha sua foto com todas as informações profissionais e
pessoais.
 
— Porra! — Xinguei jogando o tablet sobre a mesa.
 
— Você tem noção de onde está se metendo? — Ivan disse. — Esse
cara pode ser uma pedra em nosso sapato Cas.
 
— E o que você sugere?! — perguntei frustrado — que eu recue?
 
— De oque ele quer! — ele falou— Entregue a garota a ele.
 
E eu quis esganá-lo.
 
— Você está se ouvindo?! — perguntei avançando sobre Ivan e o
pegando pelo colarinho.
 
— Que merda Cas! — ele disse puxando minhas mãos de sua roupa
— É só uma garota porra! Você nem a conhece direito.
 
— Não é pela garota! Ele veio aqui, zombou da minha cara e você
quer que eu dê o que ele quer?!
 
Ivan ficou em silêncio por um tempo pensando no que eu havia
falado.
 
— Preciso ganhar esse território! E não será demonstrando fraqueza
que irei conseguir.
 
— Falou com ele? — Ivan perguntou se referindo a meu irmão.
 
— Não! Teve uma razão para ele me mandar aqui para Inglaterra, me
ver bem longe — falei voltando a admirar a paisagem do lado de fora me
lembrando de meu irmão.
 
— Ele não pode te afastar para sempre, Cas — meu amigo falou.
 
Eu sorri desgostoso.
 
— Na verdade, se tem uma pessoa que pode, essa pessoa é o Boris.
 
— Não é justo ele te culpar por tudo, se seu pai…
 
— Shiii, — o interrompi — esquece o velho, se Boris quiser um dia
me perdoar, estarei bem aqui, mas não vou dizer que me arrependo.
 
Ivan era o único com quem eu conversava sobre aquele assunto, sabia
que todos os outros me julgariam pelo que eu havia feito.
 
Todos haviam virado as costas para mim e os poucos que não tinham
feito, eu havia levado junto comigo.
 
Não pretendia voltar para a Rússia, não depois de tudo.
 
— Sabe que estou contigo! — meu amigo falou segurando meu
ombro direito.
 
— Sim! E sou grato, aliás muito grato por isso.
 
Quando Ivan se retirou, peguei meu celular e liguei para os
seguranças que estavam com Kiara.
 
— Chefe?!
 
— Estão com a garota?
 
— Sim, estamos com ela.
 
— Levem ela para a mansão e certifiquem de que ela fique à vontade
até que eu chegue.
 
— Ok, pode deixar
 
O dia mal havia começado e minha cabeça queria explodir, sento-me
em minha cadeira revendo alguns relatórios, projetos e gráficos, quando
tenho uma ideia.
 
Fiz uma breve pesquisa, e não foi difícil encontrar as pessoas certas
que se encaixam em meu plano.
 
— Aldrey! — chamei por minha secretária.
 
— Me chamou Sr. Cas?
 
— Sim! Aquele cliente de hoje cedo, Heron, ligue para sua secretária
e agende com ele um almoço no restaurante Louise Flomione com o Juiz
Theodore.
 
Louise era um dos restaurantes mais caros ali do centro, com um
chefe Italiano muito bem-conceituado e que demorava uma eternidade para
conseguir uma reserva, mas com os contatos certos se conseguia tudo.
 
— Quero também que ligue para a secretaria do Juiz e o convide para
almoçar em nome de Heron, e convide também a promotora de justiça
Jhulia e se possível o ministro.
 
Aldrey me olhava com os olhos arregalados, como se eu tivesse lhe
pedido para cometer um assassinato.
 
— Eu devo dizer que é um pedido seu Sr? — ela perguntou me
irritando mais do que eu já estava.
 
— Claro que não, Aldrey! Eles são velhos amigos e eu e Heron
queremos fazer uma surpresa, já que há muito tempo eu não os vejo, por
isso deve dizer que é Heron que está convidando — falei, a tranquilizando.
 
— Há! Tá…— ela disse se virando e saindo.
 
E eu me perguntava como ela podia cair em uma conversinha
daquelas.
 
— Mas então por que temos que marcar com o Sr. Heron se ele já
sabe? — ela perguntou voltando.
 
— Só faça o que lhe pedi! — Ordenei e ela imediatamente voltou
para sua mesa. 
 
Eu havia pesquisado, Heron tinha ligação com cada uma daquelas
pessoas, mas ao contrário dele, o Juiz, a promotora de justiça e o ministro
eram pessoas honestas, que a anos vinham lutando contra as máfias ali na
Inglaterra.
 
 
— E então? Fez o que lhe pedi? — perguntei a minha secretária
voltando a vestir o blazer.
 
— Sim senhor!
 
— Ótimo! Mande preparar meu carro, há e eu não volto para a
empresa depois do almoço, qualquer coisa me chame no celular — avisei
pegando o elevador.
 
Paramos em frente ao restaurante, e aguardamos até que todos
estivessem chegados.
 
Vi quando Heron entrou arrogante, cumprimentando todos com um
sorriso falso, tentando entender o motivo para ter sido chamado para aquela
reunião.
 
Caminhei em passos largos e confiantes até onde todos estavam
sentados e antes de chegar à mesa falei em alto e bom som, chamando a
atenção de todos para mim.
 
— Heron, amigo! — falei sorrindo e me aproximando.
 
Heron me olhava surpreso sem entender nada.
 
— Se eu soubesse que almoçaria aqui, poderíamos ter vindo juntos.
 
— Ah desculpa! Cassiano Orlov — falei me apresentando vendo a
cara de todos modificar ao reconhecer meu sobrenome.
 
— Orlov?! Da família Orlov? Filho de Dimitri Orlov? — Jhulia
perguntou boquiaberta.
 
Odiava escutar meu sobrenome, mas ali até que me trazia certa
satisfação.
 
— Conhece minha família? — perguntei casualmente.
 
— Vocês são amigos? — O juiz perguntou.
 
— Não…— Heron tentou negar.
 
— Sim, acabamos de nos encontrar, Heron é um grande amigo meu!
Não é mesmo Heron?
 
— Não, não é nada disso — ele dizia sem jeito.
 
— O que pensa que está fazendo? — ele sussurrou.
 
— Mostrando a você como se mede um pau — sussurrei de volta.
 
Os rostos de desdém, surpresa e até raiva na mesa eram os melhores.
 
E eu tinha certeza de que havia alcançado meu objetivo.
 
— Ah? Caramba, olha minha indelicadeza, isso era uma reunião né?
Não se preocupem, vou deixar vocês comerem em paz, só vou trocar meia
dúzia de palavras com meu amigo aqui — falei puxando Heron.
 
Nós nos afastamos alguns passos sendo seguidos pelos olhares
julgadores de seus colegas de trabalho.
 
— Que palhaçada foi essa?! — ele questionou.
 
— Não fique bravo, Heron, porque agora somos velhos amigos, e se
eu ser investigado adivinha quem estará na mira da justiça juntinho comigo,
então eu pensaria duas vezes antes de abrir qualquer tipo de investigação, a
menos que você não tenha nada a esconder, ou será que tem? — falei
piscando para ele e dando uma batidinha em seu peito.
 
— Agora vá lá — sugeri apontando para mesa onde seus colegas o
esperava, com certeza com mil perguntas para ele — e aproveite, a refeição
é por conta da casa! — falei indo embora.
Capítulo 7
 
 
Eu não sabia dizer se era Cas que tremia de frio em meus braços ou
se era eu que tremia de medo.
 
Havia passado por aquilo tantas vezes, e eu nunca me acostumava.
 
Será que deveria? Algum dia pararia de tremer e temer diante dos
ataques de fúria dele? Eu duvidava.
 
Se ainda fosse uma criança, provavelmente estaria me mijando de
medo.
 
Parecia que ainda sentia sua mão pesada sobre meu corpo, me
fazendo encolher apavorada, e eu tentava imaginar qual seria o pior que ele
poderia fazer para me castigar.
 
— Chegamos! — o motorista disse me assustando.
 
— Espere! Mas essa é a casa do Sr. Cassiano — falei ao reconhecer
onde estávamos.
 
— Sim, e para onde mais você achou que iria?
 
— Vocês não são seguranças de Heron?
 
Um olhou para o outro confusos.
 
— Não, Srta. Somos segurança do Sr. Cas — ele respondeu tirando
um peso gigantesco que estava sobre mim.
 
O alívio que senti foi tão grande e repentino que cheguei a me seguir
zonza.
 
— Srta.?! Você está bem? — o homem ao meu lado perguntou.
 
— Sim… eu só achei… obrigada! — agradeci.
 
Eu não sabia explicar aquele sentimento que me atingiu com tanta
violência que comecei a chorar, não era tristeza ou alegria, era só aquela
sensação de leveza.
 
Os homens de Cas, fingiram não notar aquele meu pequeno
descontrole emocional, eu agradeci aos céus por aquilo, pois não saberia
lidar com a pena deles.
 
O homem ao meu lado desceu e me deu alguns minutos dentro do
carro, enquanto eu me recuperava.
 
— Vamos Srta. Kiara — ele disse abrindo a porta do carro para mim,
e eu assenti com um sorriso.
 
— Eu acho melhor deixar o gatinho aqui! — ele disse pedindo o Cas.
 
— Por quê? — perguntei me apertando ao bichinho.
 
— O chefe não vai gostar nada dele dentro de casa!
 
— Então eu espero aqui fora! — falei voltando para o carro.
 
— Não podemos deixá-la aqui Srta. Kiara, o chefe deu ordens de que
a deixasse confortável até que ele chegasse.
 
— Bom, nesse caso, então eu vou ficar mais confortável com meu
gato — falei usando o que ele havia dito contra ele mesmo.
 
Ele olhou para seu amigo que deu risada e fez um sinal.
 
— Que seja! Depois não diga que não avisei. — Ele disse dando
sinal para que eu saísse do carro.
 
Dei um salto satisfeita, Cas deveria estar com fome e se eu fosse
sincera, eu também.
 
A mansão de Cas era simples, comparada à ostentação que Heron
gostava de mostrar.
 
Na última vez em que estive ali reparei que ele gostava de móveis
frios, não havia quase nenhuma decoração, e as cores eram neutras e sem
vida, dando um ar um pouco sombrio ao lugar.
 
Notava-se que faltava um toque feminino em tudo aquilo.
 
No centro da sala um grande sofá preto com poltronas brancas uma
de cada lado, um grande tapete felpudo cinza e uma luminária de metal, as
cortinas combinavam com o tapete e os tons escuros dos móveis.
 
Coloquei Cas no chão, e caminhei até a estante, havia alguns quadros
com diplomas e prêmios emoldurados, mas nenhuma foto.
 
— Melhor não mexer em nada! — a voz feminina soou me fazendo
dar um pulo de susto — desculpa não queria te assustar, sou a Ellie a
empregada do Sr. Cas, ele me pediu que ficasse à sua disposição hoje,
então, já tomou café?
 
Ellie era baixa e usava óculos com lentes grandes e apesar de magra
tinha um rosto arredondado, ela vestia um uniforme marrom com branco e
tinha os cabelos presos em um coque no alto da cabeça.
 
— Não, na verdade, ficaria feliz em comer alguma coisa.
 
— Ótimo! Então me acompanhe que vou servi-la.
 
Eu segui Ellie, com Cas miando logo atrás, até chegar na sala de
jantar, onde já havia uma grande mesa posta com diversos tipos de
alimentos.
 
Fui ao banheiro rapidamente e lavei minhas mãos, e quando me olhei
no espelho me assustei com minha própria imagem, meu rosto estava sujo e
meus cabelos desgrenhados pela corrida.
 
Minhas roupas não estavam em melhor situação já que eu havia
pulado um muro.
 
Joguei uma água no rosto tentando limpar o máximo que conseguia e
passei a mãos nos cabelos tentando alinhá-los.
 
— Nossa! Muito obrigada! — agradeci me sentando e pegando uma
fatia de presunto e oferecendo a Cas.
 
Depois me servi de uma xícara de café e pão com queijo e bolo que
dividi com meu gatinho.
 
— Quando terminar, posso lhe mostrar o quarto de hóspedes —Ellie
disse parada à beira da mesa.
 
— Quarto? — Perguntei confusa.
 
— Sim, fiquei sabendo que você trabalhou a noite toda, então seria
bom que tomasse um banho e descansasse um pouco.
 
Sim, havia me esquecido daquilo, os últimos acontecimentos tinham
absorvido toda minha atenção.
 
— Um banho me cairia muito bem — falei olhando novamente a
situação deplorável em que me encontrava — mas, eu não tenho nada para
me trocar — lembrei.
 
Havia perdido tudo que tinha conquistado nos dois últimos meses em
apenas algumas horas, tudo consumido pelo fogo.
 
Agora estava sem trabalho, sem casa, e absolutamente sem nada para
recomeçar.
 
— Venha, acho que conseguimos achar alguma coisa para você vestir
— Ouvi Ellie dizer.
 
Ela me levou a um quarto grande, com uma decoração tão fria quanto
a sala, mas sem dúvida muito mais confortável do que o pequeno quarto
que morei nos últimos meses.
 
— Tome um banho. Eu volto já! — ela falou se retirando.
 
Entrei no banheiro, e comecei a tirar a roupa.
 
Havia uma banheira oval em acabamento em mármore negro.
 
— Acho que ele não vai se importar, né? — falei com Cas que já
havia se acomodado no pequeno tapete.
 
Regulei a água em uma temporada morna e quando já havia uma
quantidade de água significativa eu entrei, quase suspirando com a sensação
deliciosa que aquela água proporcionava.
 
Fechei os olhos e recostei minha cabeça no encosto e relaxei
profundamente e teria cochilado ali mesmo se Ellie não tivesse dado uma
leve batida na porta.
 
— Entre! — pedi.
 
— Olha, consegui essas roupas, eu espero que não se importe, por
serem masculinas, estão limpas, eu mesma as lavei. — Ela disse mostrando
um conjunto de roupas impecavelmente dobradas.
 
— Está perfeito, é só para que eu descanse um pouco — respondi.
 
— Vou lavar suas roupas e pôr na secadora, ok?
 
— Sim, muito obrigada Ellie.
 
Ellie saiu carregando minhas roupas e eu aproveitei para sair daquele
banho que já começava a deixar meus dedos enrugados.
 
Me sequei e vesti a roupa que Ellie havia me arrumado, era uma
camiseta que sem dúvida caberia duas de mim, e uma bermuda de elástico
que ia até abaixo do joelho.
 
Dei uma boa olhada no espelho, vendo a quão ridícula eu ficava com
aquelas roupas, que além de masculinas, eram o dobro do meu tamanho,
mas que eram extremamente confortáveis.
 
Cas, miou me olhando.
 
— O quê? Pelo menos são confortáveis — justifiquei. — Está
anotado, assim que voltar a trabalhar vou comprar esse tipo de roupas para
dormir— falei comigo mesma.
 
Me deitei na enorme cama, com lençóis macios e travesseiros tão
fofinhos que parecia que estava me deitando sobre uma nuvem, puxei o
edredom sobre meu corpo vendo, Cas se aninhar ao meu lado e
simplesmente apaguei.
 
Acordei horas depois com meu gatinho miando sem parar, tentando
chamar minha atenção. O dia já tinha ido embora e eu havia dormido o dia
todo.
 
— Está com fome? — Perguntei ao bichinho acariciando seus pelos.
 
Procurei pelo quarto por minhas roupas, mas não havia nem sinal de
que alguém havia entrado ali.
 
— Tá! Tá bom, eu já entendi! — falei quando ele não parava de miar.
 
Abri a porta do quarto saindo na ponta do pé, a casa estava
completamente escura e eu não fazia ideia para que lado ir.
 
Precisava encontrar minhas roupas.
 
Passei pelo corredor que dava para a sala e Cas pulou de meu colo
para o chão, e saiu correndo na frente.
 
— Cas… — Sussurrei — volte aqui! — disse procurando-o em meia
ao escuro.
 
— Procura alguma coisa Srta. Kiara — Cassiano falou acendendo a
luminária da sala me dando um baita susto.
 
— Ai meu Deus! — falei levantando a mão ao coração que batia
acelerado.
 
— Eu… estava procurando… — falei olhando em volta para ver se
achava o gato fujão — Minhas roupas.
 
— E de quem são essas?! — ele perguntou apontando para meus
trajes.
 
— Hum... para ser sincera, não faço ideia!
 
— Costuma invadir carros de estranhos, ir para hotéis com
desconhecidos e usar roupas de quem não faz ideia de quem seja? — ele
questionou com um leve sorriso.
 
— Bem, depois de minha casa pegar fogo com tudo que eu tinha
dentro, eu aceitaria vestir a roupa até de um monge Sr. Cas.
 
— Não deveria confiar tanto assim em estranhos, Srta.
 
— E pelo visto nem nos conhecidos, Sr. Cas. — falei me lembrando
que havia namorado com Heron quase um ano e nunca imaginei que ele
seria o monstro que era.
 
— É isso você…
 
Atchim (espirro)
Atchim…
Atchim…
 
Cas, espirrou três vezes seguidas, interrompendo o que eu dizia e o
gato pulou em seu colo.
 
— O que…
 
Atchim…
 
— Esse animal está…
 
Atchim…
 
— Fazendo aqui?! — ele finalmente conseguiu concluir parecendo
furioso, então corri para pegar o gato de seu colo.
 
— Ele é meu gato — falei me afastando e apertando o pobre
bichinho.
 
— Tire ele… Atchim… daqui! — ele disse fazendo careta para um
novo espirro.
 
Eu corri para fora, tentando encontrar um lugar para deixar Cas e
acabei encontrando a lavanderia, então aproveitei para pegar minhas roupas
que ainda estavam dentro da secadora.
 
— Você se comporte, eu volto já!  — Falei fechando a porta
deixando-o miando lá dentro.
 
Voltei para dentro me sentindo envergonhada, Cas havia me ajudado
mais de uma vez e em troca eu tinha levado para dentro da sua casa algo
que lhe fazia mal, mesmo depois de o segurança ter me alertado.
 
"Mas, eu não podia deixar meu gato na rua" — pensei comigo
mesma.
 
— Desculpa! Eu não sabia que era alérgico — falei vendo Cas tomar
um medicamento.
 
Seus olhos já estavam vermelhos e ele mexia o nariz como se alguém
passasse uma pena em sua ponta.
 
— Tudo bem! — snif, snif, ele fungava com o nariz já trancado —
Não tinha como saber.
 
— Bem, o que você queria comigo? — perguntei.
 
— Vá trocar de roupa e então iremos conversar — ele disse
apontando para as roupas que eu segurava.
 
Eu não tinha para onde ir, nem para quem recorrer, talvez se eu
implorasse Cas me permitisse passar a noite ali.
 
Assenti com um aceno de cabeça e voltei para o quarto.
 
Os poucos dias que tinha para receber do trabalho no dia seguinte,
mal daria para pagar uma pensão.
 
"Talvez Mira conhecesse alguém que aceitasse dividir um quarto
comigo."
 
Pensando em minha amiga, peguei o celular para saber se havia
respondido alguma coisa, mas não havia nem sinal, então resolvi lhe
mandar outra mensagem.
 
*KIARA*
 
Mira, você está melhor? Preciso falar com você, me ligue quando
puder
 
Pensei por um momento e decidi que no dia seguinte, voltaria ao
hotel, implorando o perdão de Roger, diria que estava nervosa e que havia
feito sem pensar, talvez conseguisse meu emprego de volta e uma chance
pequena de recomeçar, mais uma vez.
 
Cas arrumava a mesa para o jantar quando voltei para a sala.
 
— Deixe que eu faço isso! — Falei tomando a frente, tentando ser
educada.
 
Era a única coisa que eu podia fazer depois de tudo que ele tinha
feito, mas Cas não se incomodou e apenas continuou a arrumar.
 
— Heron esteve na minha empresa hoje — falou, me fazendo parar o
que estava fazendo.
 
Meu estômago se revirou e tive que pôr os talheres na mesa quando
eles começaram a se bater, enquanto tremia sem parar. 
 
— Ele disse alguma coisa? — perguntei já com choro entalado em
minha garganta.
 
Meus olhos ardiam por conta das lágrimas que ameaçavam cair e
minha garganta parecia se secar.
 
— Me disse muitas coisas, mas nada do que realmente valesse a pena
repetir.
 
— Desculpe, eu não queria te causar confusão…— pedi sem encará-
lo de cabeça baixa e uma lágrima teimosa escapou caindo no chão.
 
— Não causou!
 
Virei de costas tentando não demonstrar o quão afetada havia ficado
com aquela informação e sequei os olhos.
 
— Não, você não entende, eu conheço Heron, se ele foi atrás de
você, ele está apenas começando, eu tenho que ir embora! — falei saindo.
 
— Sente-se! — Cas disse em um tom firme.
 
E quando eu não obedeci e fiquei parada no meio do caminho de
costas para ele, Cas foi até a mim e me pegou pelos ombros com suavidade,
me guiou até uma cadeira e me sentou.
 
— Primeiro vamos comer enquanto conversamos e depois se quiser
ir embora eu mesmo chamarei um táxi.
 
Ele foi até a cozinha e pegou algumas panelas colocando sobre a
mesa.
 
Ele me serviu e depois a si mesmo e quando comecei a comer estava
delicioso.
 
— Você quem fez? — perguntei comendo mais um pouco.
 
— Não! Ellie que prepara e eu só esquento. — Ele respondeu
provando.
 
— Está delicioso! — elogiei.
 
— Acha que foi Heron que causou o incêndio a sua casa? — Cas
perguntou.
 
— Não, ele não tinha como saber onde eu estou.
 
Cas parou de comer como se eu tivesse falado algum absurdo e se
encostou na cadeira.
 
— Se eu a encontrei, como você acha que ele não conseguiria?
 
Eu não tinha pensado naquilo, como Cas havia me encontrado,
quando eu não deixei com ele nenhuma informação.
 
— Como…
 
— A empresa de taxi, quando Heron apareceu lá na empresa, pedi
para os seguranças puxarem nas câmeras o táxi que pegou ontem à noite e o
resto não foi difícil. — Ele explicou.
 
— Você trabalhou para aquela empresa de buffet, quem te garante
que Heron não conseguiu seus dados com…
 
— Mira! — falei me levantando da mesa, rapidamente.
 
— O quê?! — Cas perguntou confuso.
 
Saí da mesa sem lhe dar qualquer explicação, precisava ligar para
minha amiga, ela não havia me atendido o dia todo e apenas respondeu uma
mensagem de forma estranha.
 
Não! Não! Não podia ser! Ela tinha que estar bem!
 
Meu coração batia acelerado, corri até o quarto em busca do meu
celular, disquei seu número e novamente só chamou.
 
Cas entrou no quarto vendo meu desespero, andando de um lado para
o outro, com o telefone no ouvido, enquanto a ligação só caia na caixa
postal.
 
— Pode me explicar o que está acontecendo?! — ele questionou.
 
— O dia da festa, estava cobrindo uma amiga, não eram minhas
informações que a empresa tinha e sim as dela — falei tentando mais uma
vez.
 
— Vamos Mira atenda, por favor atenda! — pedi já chorando.
 
— Kiara! Se acalme, por que acha que pode ter acontecido algo com
sua amiga?
 
— Mira não foi trabalhar hoje, e não atendeu minhas ligações! —
falei pegando meu casaco e a pequena bolsa e saindo.
 
Cas me seguiu e me parou no meio da sala.
 
— Kiara, pare! aonde você vai?
 
— Eu preciso ver como ela está! — falei tentando passar por ele.
 
Me sentia desesperada, Mira tinha filhos, marido e eu não queria
imaginar o que Heron era capaz de fazer para me encontrar.
 
— Como?! — Cas perguntou me trazendo a minha realidade.
 
Sim, como eu faria aquilo se não tinha um tostão no bolso.
 
— Se acalme e vamos primeiro tentar resolver sua situação e depois
te levo até sua amiga — ele disse me animando.
 
— Jura?! — perguntei
 
— Juro! Agora volte a comer sua comida — ele falou apontando para
a sala de jantar.
 
Voltei a me sentar na mesa, mas sem apetite para voltar a comer, mas
confiante que Cas me levaria até Mira depois.
 
Revirei a comida sob o olhar de Cas, tentando não parecer mal-
agradecida, me esforçando para comer um pouco.
 
— Achei que tinha achado a comida de Ellie boa — ele disse
terminando de comer sua comida.
 
— Desculpe, eu perdi a fome…
 
— Costuma ficar sempre se desculpando por tudo? — questionou
limpando os lábios com o guardanapo.
 
— E o que mais me restaria fazer?  depois de ter causado tantos
transtornos.
 
— Não me causou transtorno algum, menina — ele disse me
encarando.
 
Cas era mais velho que eu uns doze anos talvez, claro que não seria
indelicada em perguntar sua idade, mas chutaria uns 37 anos, ainda assim
me chamar de menina seria um exagero já que tinha 25 anos, porém decidi
não comentar aquele detalhe.
 
— Você tem para onde ir? — ele perguntou me, deixando
constrangida.
 
— Eu… vou conversar com Mira, ver se ela consegue me arrumar
um canto até eu ter para onde ir — falei sem olhá-lo nos olhos.
 
— E depois?
 
— Bem, vou pedir para Roger meu emprego de volta.
 
Pedir não era a palavra certa a ser usada, implorar seria mais
adequado, mas não iria dizer isso a ele.
 
— Foi demitida? — ele perguntou impressionado e eu ficava cada
vez mais constrangida.
 
— Tecnicamente eu me demiti — tentei me justificar.
 
Cas, deu um leve sorriso.
 
— E o que aconteceu para que você se demitisse?
 
— É uma longa história, não saberia como te explicar.
 
— Vamos tente! Srta. Kiara.
 
— Roger o idiota do meu gerente disse que iria descontar meu dia só
por causa de alguns produtos que faltaram em um dos quartos, então
mandei ele ir se foder! — falei irritada ao me lembrar da cena demais cedo.
 
Cas começou a rir e eu fiquei surpresa com sua risada, então comecei
a rir também, mas de repente ele parou me encarando e achei que havia
feito algo de errado.
 
— O que foi? — perguntei passando a mão no rosto achando que
talvez tivesse alguma coisa.
 
— Ainda não tinha te visto sorrir — ele disse sério — consegue ficar
ainda mais bonita quando sorri, srta. Kiara.
 
Fiquei ali olhando a verdade daquelas palavras dentro de seus olhos,
a tensão pairou no silêncio da sala e eu me assustei quando um de seus
homens entrou e Cas, fez sinal para que ele se aproximasse.
 
Seu segurança cochichou algo em seu ouvido e Cas concordou com
um aceno e fez um sinal discreto para que ele se retirasse.
 
— Acho que ficará contente em saber que sua amiga está bem!
 
— Hã? Como você sabe? — Perguntei.
 
— Pedi para que um de meus homens verificasse.
 
"O quê? Quando? Como ele sabia onde ela morava? Como conseguiu
encontrá-la tão rapidamente?"
 
"Será que ele era algum tipo de psicopata"
 
— Certo! Eu acho então que tenho que ir — falei me levantando
assustada saindo.
 
— Kiara aonde vai? — ele perguntou se levantando e quando eu
menos esperava Cas, já tinha me alcançado.
 
Ele entrou em minha frente segurando em meu braço, e embora não
me apertasse ou me machucasse, fiquei apavorada.
 
— Me dê licença! — pedi em um tom firme, mas completamente
assustada.
 
— Kiara, o que foi? Por que está agindo assim?
 
— Eu só preciso ir embora! Você disse que depois que jantássemos,
você mesmo chamaria um táxi para mim — falei encarando sua mão que
ainda me segurava e Cas me soltou.
 
— Sim, depois que conversarmos!
 
— Não tenho mais nada para conversar com você, só me deixe ir
embora — respondi um pouco mais dura.
 
— O que aconteceu? O que eu te fiz?
 
— Por que está fazendo tudo isso?
 
— Isso o quê? — ele perguntou confuso.
 
— Me ajudando, indo atrás de mim? Como me encontrou, como
encontrou Mira? — questionei.
 
— Eu já te disse quando Heron foi atrás de mim, fiquei preocupado,
então tive que dar um jeito de te encontrar e a única maneira foi subornar a
empresa de táxi para me passar seu endereço e Mira nós só precisamos ligar
para ela! — ele disse tentando se justificar.
 
— E como conseguiu o telefone dela? — perguntei desconfiada.
 
Cas apontou para o pequeno broche do hotel que eu havia esquecido
de tirar.
 
— Meu segurança ligou para seu gerente idiota e não foi difícil
convencê-lo a passar o número dela e como ela não conhecia o número
atendeu sem problemas.
 
— Vamos, vá em frente, ligue para ela do meu celular e confirme —
ele disse me estendendo seu celular.
 
Peguei o aparelho desconfiada e disquei o número de Mira que tocou
algumas vezes e logo ela atendeu.
 
— Mira?! Graças a Deus! Estava preocupada, por que não me
atendeu?
 
— Kiara? — ela perguntou confusa
 
— Sim, estou falando do telefone de um… amigo — falei olhando
para Cas.
 
— Kiara me perdoe, fiquei com vergonha de falar com você, mas eu
não tive opção, ele ameaçou me deportar, disse que meus filhos iriam para
um orfanato — Mira disse começando a chorar.
 
— Você passou meu endereço para ele? — deduzi.
 
— Kiara, me perdoe, eu nem sabia que você tinha um ex-marido, ele
apareceu aqui e disse que podia fazer de nossas vidas um inferno…
 
— Está tudo bem Mira, fique calma — falei tentando tranquilizá-la.
 
— Amiga, você está bem? — ela perguntou.
 
— Sim, não se preocupe.
 
— Vai trabalhar amanhã?
 
— Não, acho que não vai ser possível.
 
Não contei a ela sobre a demissão, nem que eu não poderia mais
voltar, provavelmente Heron me procuraria por lá.
 
Eu não podia mais contar com a ajuda de Mira e voltar trabalhar no
hotel estava fora de cogitação.
 
— Kiara?! — ela chamou — mais uma vez, me desculpe.
 
— Mira, alguém mais além de Heron foi atrás de você hoje? —
perguntei olhando para Cas, que acompanhava a conversa.
 
— Agora que você perguntou, ligou um homem a pouco tempo, disse
que era do hotel, mas só queria confirmar se eu estava bem e se iria
trabalhar amanhã, estranho né? — ela disse.
 
— É, muito... — disse antes de me despedir e desligar.
 
— Satisfeita? — Cas questionou e eu me senti culpada por ter
duvidado dele.
 
— Você mesmo havia dito que eu não deveria confiar em estranhos
— justifiquei envergonhada e Cas riu.
 
— Acho que não devemos mais nos considerar estranhos, depois de
uma noite de diversão em um quarto de hotel — ele falou daquela voz
grossa e sensual, fazendo os pelos de meu corpo se arrepiarem 
 
— Então, agora podemos conversar? — Cas falou se afastando indo
até o bar e enchendo uma pequena taça de licor.
 
Caminhei até ele aceitando a taça que me oferecia, decidida a escutar
o que tinha a me dizer.
Capítulo 8
 
 
Eu não podia dizer a Kiara que havia mandado meus homens a
seguirem.
 
Vi como ela se assustou só de imaginar que eu poderia ter feito tal
coisa.
 
Eu não a julgava, a pobre garota estava com a vida virada, e era
difícil imaginar o que passava em sua mente.
 
Kiara era jovem, bonita, tinha a vida inteira pela frente, que estava
sendo desperdiçada.
 
— Você disse que trabalhou em um jornal em Nova York?! —
perguntei me sentando com meu copo de whisky enquanto ela bebericava
uma taça de licor de café com creme.
 
— Sim, mas escrevia colunas pequenas, apenas sobre esportes locais,
ou eventos, matérias insignificantes, só para preencher folha, mas eu
gostava — ela respondeu com um leve sorriso.
 
— Tenho uma secretária, e ela é muito eficiente, no entanto, sempre
acabo sobrecarregando-a com trabalhos que não são de sua obrigação, por
isso preciso de uma Auxiliar, alguém que possa fazer alguns relatórios, tirar
cópias e…
 
— Eu aceito — ela disse me interrompendo.
 
— Mas eu nem terminei de falar.
 
— Não importa, se você quiser que eu esfregue o chão, eu farei —
ela disse empolgada — Qualquer coisa que não me obrigue a me humilhar
para Roger pedindo meu emprego de volta.
 
— Não, Kiara não a quero limpando o chão — respondi calmamente.
 
Mas Kiara de repente pareceu perder o brilho.
 
— O que foi Kiara? — perguntei.
 
— É que não posso trabalhar em sua empresa. — Ela falou triste e de
cabeça baixa.
 
— E posso saber qual a razão?! — questionei levantando uma de
minhas sobrancelhas.
 
— Heron está com meus documentos, e provavelmente não tenho
mais nem visto para estar no país.
 
De início fiquei confuso, de como ela poderia acreditar naquilo, mas
então, me lembrei que ela já havia me dito que não passava de uma órfã
antes de conhecer Heron, e que provavelmente nunca havia saído do país.
 
— Quem te falou isso, Kiara? — perguntei, já prevendo sua resposta.
 
Kiara parecia chateada, colocou a taça de licor sobre a mesa de
centro, e respirou fundo como se tentasse controlar seus sentimentos.
 
— Heron vivia dizendo que se eu fugisse não iria a lugar algum, que
estaria ilegal no país, e que…— ela parou de falar de repente como se
sentisse vergonha do que diria.
 
— E quê? — a incentivei a continuar.
 
— E que eu acabaria virando uma puta barata que os homens não
pagariam nem dez libras para me comer.
 
Tive que me controlar para não me levantar e ir atrás daquele verme
asqueroso, porque como se não bastasse tudo que ele havia feito
fisicamente a ela, também havia a destruído psicologicamente.
 
— Você é americana Kiara! — falei em tom firme que a assustou.
 
Pigarrei tentando controlar minha raiva, respirei profundamente,
pedindo aos céus que consumissem aquele ódio que ameaçava me
corromper.
 
— Não precisa de visto para estar aqui na Inglaterra — finalizei
baixando o tom de voz, massageando as têmporas.
 
Kiara me olhava assustada, como se estivesse nascendo um terceiro
olho em minha testa.
 
— Mas Roger…
 
— Roger só queria uma empregada com medo de ser deportada e
com custo baixo, que não precisasse pagar os direitos, ele nunca daria essa
informação para você — completei.
 
— Aquele filho da…— ela xingou — Então, quer dizer que eu posso
voltar para os Estados Unidos? — ela disse quase sem acreditar.
 
— Sim! Só precisa tirar outro passaporte e novos documentos.
 
Ela pareceu desanimar novamente, e eu sabia exatamente o que
passava em sua mente.
 
Kiara havia perdido tudo, estava sozinha, sem dinheiro, sem casa,
sem trabalho, tirar novos documentos, exigia tempo, dinheiro, coisas que no
momento ela não tinha.
 
— Não se preocupe stra. Kiara irei providenciar isso, pode ficar
tranquila — avisei.
 
Os olhos de Kiara marejaram e eu me senti desconfortável, quando
ela me olhou de forma tão terna como se eu fosse algum anjo da guarda.
 
— Eu não sei como eu posso te agradecer? O que você está
fazendo…
 
— Não precisa, só descanse um pouco pois, amanhã você terá um dia
cheio — avisei despreocupadamente a dispensando. 
 
Kiara se levantou em um salto do sofá.
 
— Isso quer dizer que poderei ficar essa noite? — ela perguntou
contente já sabendo a resposta.
 
— E para onde mais iria uma hora dessa e nesse frio? — Perguntei
sem encará-la, dando atenção ao meu whisky.
 
— Muito obrigada, obrigada, muito obrigada mesmo — ela disse
antes de se retirar.
 
Começava a chover novamente, estávamos no final de outubro e o
inverno parecia querer chegar mais cedo naquele ano, me trazendo
lembranças que eu me esforçava para esquecer.
 
Claro que o frio dali, não se comparava ao frio do sul da Rússia, onde
eu havia passado boa parte dos últimos anos.
 
— Vai mesmo deixar a garota ficar aqui? — ouvi Ivan perguntar,
entrando com um pote de amendoim nas mãos.
 
— E desde quando costuma ouvir atrás das portas? — perguntei
desviando o olhar para fora. — Já não deveria ter ido embora?
 
— É, na verdade tinha, mas resolvi ficar e ver o que iria fazer — ele
respondeu, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
 
— Cara, o que você está fazendo? Vai mesmo querer arrumar
encrenca com um procurador-geral, por causa de….
 
— Cuidado com o que vai dizer! — falei friamente o encarando.
 
Ivan e eu éramos velhos amigos, se eu fosse pensar bem, ele era o
único que realmente havia me restado depois de tudo.
 
— Qual é o seu problema com essas garotas? Já não basta tudo que
aconteceu com Laila?
 
— Não compare Kiara com Laila, elas são muito diferentes uma da
outra.
 
— E como você sabe disso?! Você acabou de conhecer a garota?
 
— São diferentes, porque não estou apaixonado, só quero ajudá-la e
quando ela estiver com seus documentos, cada um vai seguir por seu
caminho.
 
— Você acredita mesmo nisso, não é? — Ivan perguntou levando
uma porção de amendoim na boca.
 
— E por que não deveria acreditar?
 
A verdade era que nem eu sabia o que me levava a querer ajudar
Kiara, mas toda vez que via seus olhos tristes, era mais forte do que eu,
parecia uma compulsão querer ajudá-la.
 
— Deixe-me pelo menos investigar a garota, saber se o que ela diz é
verdade.
 
— Faça! — Dei permissão.
 
— Cas, não cometa os mesmos erros, ela parece ser uma garota doce
e meiga, mas você sabe melhor do que ninguém como elas podem ser
manipuladoras — Ivan me alertou.
 
— Eu posso ter cometido erros, ter me deixado ser enganado, mas
você sabe que eu não me arrependo — Falei me lembrando de como Laila
havia me manipulado a fazer suas vontades — ele mereceu! — Finalizei
com ódio ao lembrar de meu pai.
 
— Nem mesmo por seu irmão? — Ivan questionou.
 
Boris e eu éramos muito próximos na adolescência, mesmo ele sendo
quase vinte anos mais velho que eu, não tínhamos a mesma mãe, já que
nosso pai já estava no quarto casamento.
 
Eu nunca fui próximo ao meu pai, ao contrário, eu o odiava, acho que
já havia nascido com aquele sentimento dentro de mim, mas quando minha
doce e meiga mãe se suicidou, quando eu não tinha mais que dez anos de
idade, aquele ódio só cresceu ainda mais.
 
A mãe de Boris, havia morrido em um acidente de carro, que nunca
tivemos certeza se havia sido um acidente ou assassinato.
 
— Boris fez a escolha dele, não o julgo por isso!
 
Me sentia culpado por ter acabado com nosso relacionamento, mas
eu não faria nada diferente.
 
Ivan bufou inconformado.
 
— Um caralho! Ele deveria ter te apoiado, não ter virado as costas
para você! Ele não podia ter feito o que fez, tirar seu posto, colocar você
como um soldado qualquer? — Ivan disse irritado.
 
Depois de tudo, Boris não falou mais comigo por 5 anos inteiros.
 
Ele assumiu a liderança, após a morte de nosso pai e deu ordens para
que eu fosse cuidar dos negócios da família do outro lado, no sul da Rússia,
onde eu era tratado como um leproso, claro que ninguém ousava
desobedecer a minhas ordens, ou falar em minha cara o que realmente
pensavam sobre mim e eu estava cagando para aquilo.
 
Que se dane!
 
Cinco anos depois, Boris me chamou de volta, e eu acreditei que
faríamos as pazes, achei que sua raiva havia finalmente passando, e que
tinha me chamado para dizer, para esquecermos o passado, mas não, ele só
queria me tirar da liderança do sul e colocar nosso primo e eu não passaria
de um simples soldado.
 
— Foda-se! Não queria mesmo aquela merda! — Respondi.
 
Ivan riu em deboche.
 
— E ter sofrido 23 tentativas de assassinato, você queria?
 
— 25! Se você contar com a vez que tentaram me envenenar com a
garrafa de rum e a vez que tentaram no meio da missão.
 
— Quem tenta matar outro homem envenenado? — Ivan perguntou e
nós dois rimos.
 
— Pior, quem achou que eu ia mesmo acreditar, que alguém gostasse
de mim o suficiente para me dar uma garrafa de rum de presente?
 
— E você deu a mesma garrafa de presente no aniversário do filho
dele — Ivan lembrou, me fazendo rir.
 
Demos risadas juntos por algum tempo e depois voltamos a ficar
sérios novamente.
 
— Isso aqui é um recomeço para você, meu amigo — Ele falou com
a voz controlada — você tem homens leais ao seu lado agora, pode levantar
seu próprio império aqui, longe de toda essa merda! — ele falou muito
tranquilo e sério.
 
— Não deixe que aquilo — meu amigo disse apontando para onde
Kiara havia entrado para ir dormir — estrague tudo.
 
Eu me mantive calado pensando no que ele havia me dito, então meu
amigo me cumprimentou com um aperto de mão e foi embora.
 
Ivan era um bom amigo, havíamos crescido juntos e nos apegamos
ainda mais depois que minha mãe morreu.
 
Depois de tudo ele sempre me apoiou, sempre esteve ao meu lado,
mesmo quando todos me odiavam, nos afastamos anos antes quando como
se fosse para me provocar, Boris o havia mandado para a Inglaterra.
 
Acendi um charuto e me sentei na varanda coberta apreciando a
chuva e o frio, aquela época do ano me trazia péssimas lembranças, e a
melancolia da chuva sempre me lembrava a morte de minha mãe.
 
Respirei fundo aquela umidade fria que a brisa trazia de fora e dei
mais um trago em meu charuto.
 
Ainda podia sentir a pontada de dor em meu peito ao encontrá-la em
seu quarto, parecia que ainda sentia o cheiro do sangue, o desespero de um
garoto que tinha acabado de perder a mãe.
 
Depois de tantos anos eu ainda não conseguia compreender o que
aconteceu naquele dia.
 
Sabia que minha mãe nunca teve uma vida feliz, prometida em
casamento ao meu pai, em uma aliança entre as famílias, ela nunca soube o
que realmente era amar
 
— Você é a única coisa boa que tenho na vida — era o que ela
sempre me dizia.
 
E parecia que ainda podia ouvir sua voz triste e serena, cantando suas
canções pela casa, mesmo quando meu pai a criticava.
 
Ela era a criatura mais doce e meiga que já havia conhecido na face
da terra.
 
Ela nunca se queixou das traições, ou das humilhações que meu pai a
fazia passar, nunca a vi chorar em minha frente, mesmo que eu soubesse,
por ver seus olhos inchados.
 
Semanas antes, ela se manteve quase o tempo todo no quarto, quase
não comia ou saía para nos ver, então naquele dia a chamei para me ajudar a
montar nossa árvore de Natal como em todos os anos.
 
Minha mãe mesmo desanimada, desceu.
 
— Mãe, algum problema? — perguntei enquanto separava algumas
bolas.
 
Ela deu um sorriso fraco, passou a mão no meu rosto como sempre
fazia.
 
— Não, meu querido! Eu só quero que saiba que você é a única coisa
boa que tenho nessa vida!
 
Meia hora depois eu subi em seu quarto e a encontrei com os pulsos
cortados.
 
— Odeio essa época do ano! — falei comigo mesmo jogando o
charuto no chão e pisando em cima.
 
Entrei e passei pelo quarto de Kiara que estava com a porta
entreaberta, dei uma leve batida, mas ninguém respondeu, então entrei.
 
Kiara dormia encolhida e descoberta, e uma lágrima correu de seus
olhos fechados e molhou o travesseiro.
 
Ela havia chorado, tinha chorado até pegar no sono.
 
Me senti incomodado ao percorrer meu olhar sobre seu corpo e ver
que vestia as mesmas roupas masculinas que estava anteriormente, e tremia
de frio.
 
Desdobrei a colcha que estava sobre a poltrona de seu quarto e cobri
seu corpo.
 
Daria um jeito naquilo na manhã seguinte.
Capítulo 9
 
 
Aproveitei que Kiara ainda dormia e me levantei bem cedo, queria ir
até o hotel onde trabalhava antes que o turno do tal gerente noturno
acabasse, então tive que levantar antes mesmo que o sol nascesse.
 
Aguardava pacientemente Roger o ex-gerente de Kiara vir falar
comigo, sentado no hall da recepção do hotel.
 
— Sr. Cassiano — ele cumprimentou com um aperto de mão quando
chegou — como posso ajudá-lo?!
 
— Receio dizer que eu estou aqui para te ajudar! — falei lhe
apontando um lugar para que se sentasse.
 
— Desculpe, mas não entendi — ele perguntou estranhando enquanto
aceitava meu convite para se sentar.
 
— Bom, então deixe-me ser mais claro. Ontem uma funcionária sua
pediu demissão após ser ameaçada de ter um dia inteiro de trabalho
descontado de seu salário, por um possível erro, correto?
 
Vi o pequeno homem gorducho, ficar branco e sem jeito.
 
— O senhor é advogado?! — ele questionou me fazendo rir com
sarcasmo.
 
— Não, apenas um velho conhecido de Kiara — respondi cruzando
as pernas.
 
— Então sr. Cassiano, Kiara cometeu um erro e ainda acusou uma de
nossas hóspedes frequentes de furto, infelizmente para nossa empresa isso
não é um simples erro, então eu lamento informar que se veio aqui pedir
para que reconsideremos nossa decisão, não há nada que possamos fazer!
 
— Não, sr. Roger, Kiara nunca mais irá precisar trabalhar nessa
espelunca que vocês chamam de hotel! — falei vendo o homem se indignar.
 
— Escute aqui…
 
— Me escute você! Kiara trabalhou aqui por dois meses, sem
qualquer registro, com um salário bem abaixo da média e nenhum tipo de
benefício, então a menos que você queira que meus advogados abram um
processo contra sua empresa e você vá parar no olho da rua, eu sugiro que
quando Kiara vir aqui hoje a noite buscar seu acerto, você peça desculpas a
ela e lhe pague todos seus direitos, inclusive a diferença dos dois meses de
trabalho que ela deveria ter recebido.
 
Roger parecia ter ficado entalado com as palavras, pois não
conseguiu responder nada.
 
— Eu seria demitido se eu fizesse isso…— ele disse parecendo
nervoso se levantando e eu também me levantei ficando ao seu lado.
 
— E será demitido se não fizer, mas com um diferencial, não vai
precisar usar seu plano de saúde se fizer o que te estou pedindo — falei
passando minha mão por seus ombros para lhe falar baixinho.
 
Roger me encarou assustado e deu uma virada de pescoço olhando
para os dois seguranças atrás de si, engoliu em seco e concordou com um
leve aceno de cabeça.
 
— Ótimo! — Falei dando risada e dando uma leve batida em seu
ombro — sabia que você era um homem sensato! 
 
— Ah, e Sr. Roger! Espero não ter que voltar aqui — falei ao me
despedir dando uma boa apertada em sua mão.
 
Roger saiu tão rápido da minha frente que parecia ter o próprio diabo
em seu encalço.
 
Olhei para a recepção e duas moças me olhavam desconfiadas e eu
fiz um pequeno aceno de cabeça em comprimento para elas antes de me
retirar. 
 

 
— Café! — falei com Aldrey assim que cheguei na empresa —Forte
e sem açúcar, na minha mesa agora! — Ordenei.
 
— Claro! Bom dia, sr. Cas. — Ela disse se levantando às pressas.
 
Entrei em minha sala e aguardei que Aldrey retornasse.
 
— Aqui está! Sr. — ela falou colocando a xícara de café sobre a
minha mesa — quer que eu passe a agenda de hoje?
 
Aldrey diariamente me passava o que eu deveria fazer durante o dia,
reuniões marcadas, compromissos em obras, almoço com determinados
clientes e até alguns eventos como inaugurações e lançamentos de alguns
projetos, parcerias, e eu tentava consolidar tudo com os negócios obscuros
que eu tinha por fora, me deixando quase sem tempo para nada mais.
 
— Antes, quero que providencie uma mesa menor, aqui dentro da
minha sala!
 
— Aqui?! — ela perguntou confusa.
 
— Sim! Acho que ali! — apontei para o canto da parede do lado
direito da minha mesa.
 
— Sim, sr. — disse se virando para se retirar.
 
— Aldrey?! — a chamei de volta — onde compra suas roupas? —
perguntei notando que ela sempre andava bem-vestida.
 
— Hum? — ela perguntou confusa — minhas roupas?
 
— Sim, suas roupas, onde você as compra?
 
— Tenho uma prima que trabalha em uma loja de roupas no centro,
então ela consegue me dar um bom desconto…
 
— Ótimo! Me passe o telefone de sua prima, quero falar com ela! —
falei e Aldrey ficou parada no meio da sala tentando entender.
 
— Já pode ir srta. Aldrey. — falei dispensado.
 
Depois de falar com a gerente da loja de roupas, liguei para Ellie
pedindo que ela avisasse a Kiara de que deveria ir à loja antes de ir
trabalhar.
 
Aldrey rapidamente conseguiu uma equipe para instalar a mesa onde
Kiara iria trabalhar.
 
— Uma moça chamada Kiara, vai vir aqui e quando ela chegar, quero
que a mande direto para minha sala, ok?! — Orientei, minha secretária.
 
— Alguma reunião ou compromisso importante para agora de
manhã? — perguntei.
 
Ela conferiu na agenda, negando logo em seguida.
 
— Nesse caso, vou resolver algumas questões, volto mais tarde —
falei pegando meu blazer do encosto da cadeira e saindo.
 
Um de meus homens havia me ligado informando sobre um dos
membros da yakuza capturado depois de ter assassinado três traficantes
como aviso. 
 
Aquilo estava virando um lupin sem fim, eles matavam nossos
traficantes tentando amedrontá-los, a gente matava os deles.
 
Uma semana antes, treze deles haviam sido mortos em uma
emboscada, em um dos nossos galpões, tentando roubar nossas cargas e eu
não conseguia pensar em algo para acabar de vez com aquela merda!

 
Entrei no galpão onde meus seguranças batiam sem parar no homem
de Ryou, o filho do chefe da máfia japonesa, dava para escutar seus urros a
cada golpe desferido, chutes e socos o atingiam, enquanto ele estava jogado
no chão.
 
Quando notaram minha presença cessaram os golpes me dando
passagem até ele, um de meus homens arrastou uma cadeira e outro o
colocou sentado.
 
Seu rosto estava ensanguentado e ele mal conseguia manter o peso da
própria cabeça.
 
Mesmo depois de ter apanhado tanto, ele não havia falado
absolutamente nada, era um homem de coragem, eu tinha que admitir.
 
Me sentei em sua frente em outra cadeira e fiquei olhando sua
situação deplorável por alguns minutos.
 
— Quais são mesmo as tradições de sua organização? — fiz uma
pergunta retórica.
 
Uma tantŌ, uma pequena espada japonesa me foi oferecida por um de
meus homens e eu passei meu dedo sobre ela até fazer um minúsculo corte,
de onde saiu uma pequena gota de sangue.
 
— Eu admiro as tradições de vocês, é sério! A lealdade de vocês, a
união, e o jeito que lidam com a insubordinação é lindo de se ver — falei
me levantando e dando a volta por trás dele.
 
— Como é mesmo que funciona? — perguntei pegando uma de suas
mãos — uma falha, um dedo mindinho.
 
Passei a lâmina em seu dedo, vendo-o se contorcer e travar os dentes
com a dor, mas sem gritar ou implorar por clemência como já havia visto
muitos fazerem. 
 
Seu sangue espirrou em meu rosto, me fazendo virar.
 
— Tá vendo, é disso que eu estou falando! — falei pegando um
lenço e limpando seu sangue do meu rosto.
 
Meus homens riram e eu não gostei.
 
— Respeitem! Ele tem mais coragem que muitos de vocês — os
repreendi e eles se calaram imediatamente.
 
Eu voltei a me sentar e cruzar as pernas apoiando minhas costas na
cadeira.
 
— Mas e se houver outra falha? — perguntei e fiz sinal para que
meus homens cortassem o outro dedo mindinho.
 
Ele olhava para mim, com ódio no olhar e dentes trincados enquanto
lutava contra a dor de ter mais um dedo arrancado.
 
Fiquei ali sentado vendo suas mãos sangrarem, ele hiperventilava,
ofegante com a cabeça baixa.
 
— Eu te deixaria viver por sua coragem se seu chefe não estivesse
me causando tantos problemas — falei me levantando — mas infelizmente
para você, sua bravura acaba aqui!
 
— Ryou vai matar todos vocês — ele disse em sua língua com um de
meus homens com sua tantō em seu pescoço.
 
Eu pedi para que meu segurança esperasse um pouco e me aproximei
dele.
 
— Não se eu o matar primeiro! — falei também em sua língua e logo
depois sua cabeça foi cortada.
 
— Mande para seu chefe em meus comprimentos — Ordenei aos
meus soldados e fui me retirando.
 

 
Cheguei em meu escritório irritado com toda aquela merda e para
piorar Aldrey não estava em sua mesa como de costume.
 
— Aldrey! — chamei e nada dela aparecer — Aldrey! — Chamei
novamente.
 
— Sim, sr. Cassiano — ela apareceu às pressas, correndo desajeitada
como sempre era, com duas pastas na mão.
 
— Onde diabos você estava? — perguntei sem paciência.
 
— É que o Sr. Ivan…
 
— Ivan? É secretária do Ivan agora, srta. Aldrey? Quer que eu a
demita para que Ivan possa a contratar como sua secretária? — perguntei
vendo ela balançar a cabeça em negativa assustada.
 
— Então que isso não se repita!
 
— A Stra. Kiara já chegou? — perguntei abrindo uma das pastas que
ela carregava e que havia colocado sobre a mesa, vendo que eram papéis de
contratos antigos e sem qualquer importância.
 
— Não Sr. — ela respondeu e de relance vi Ivan se virando para
voltar a sua sala.
 
— Você! — o chamei — na minha sala agora! — Ordenei.
 
— Pare de ficar flertando com Aldrey! — falei assim que Ivan entrou
e fechou a porta.
 
— Eu? Jamais faria isso, só pedi um pequeno favor a ela já que você
não me disponibiliza uma secretária.
 
— Você não precisa de uma, já que não faz porra nenhuma aqui!
 
— Assim você me ofende— ele falou se sentando.
 
— E aí resolveu o que tinha para resolver?
 
— Sim, digamos que Ryou terá uma cabeça a mais para pensar—
falei sério jogando meu celular sobre a mesa — já tentei pensar em uma
forma de acabar com esse inferno e mandar esses filhos da puta para casa,
mas não consigo achar uma saída — falei colocando a mão na cintura e
olhando a paisagem lá fora.
 
— Você sabe que a única forma de matar a cobra é cortando a
cabeça!
 
— Não quando essa cobra tem mais de uma cabeça, matar Ryou seria
declarar guerra contra os japoneses, não só os que estão aqui. — falei me
virando para ele — e isso seria um erro gigantesco nesse momento.
 
— Não temos força contra ele — ele me lembrou.
 
— Não, não temos e meu irmão deixaria sermos massacrados
enquanto assistia de camarote com um balde de pipoca — comentei.
 
— Bem, seja como for, tenho certeza de que você vai dar um jeito. —
Ele falou se levantando.
 
Ivan se virou para sair, mas parou ao notar a nova mesa em minha
sala.
 
— Mandou colocar outra mesa em sua sala? — ele perguntou
apontando.
 
— Sim! — eu respondi sem dar explicações.
 
— E por quê? — ele questionou fazendo uma cara engraçada.
 
— Porque será onde Kiara irá trabalhar! — respondi organizando
minha mesa sem olhá-lo.
 
— Aqui! Dentro da empresa, na mesma sala que você?
 
— Sim!
 
— Quem é que está flertando com quem?
 
— Não seja tolo! Ela só irá trabalhar aqui no começo para que eu
possa ensiná-la.
 
— Sei o que você está querendo ensiná-la — ele disse fazendo um
gesto obsceno.
 
— Você é um porco! — o xinguei.
 
— Eu sou o porco? Sei— ele disse saindo.
 
— E fique longe da minha secretária! — eu gritei sem me importar se
Aldrey ouviria ou não. 
 
— Não ligue para ele, ele só está nervoso porque sua garota o
colocou de castigo — eu o ouvi dizer para minha secretária.
 
— Ivan, seu desgraçado, eu escutei isso! — gritei furioso.
Capítulo 10
 
 
Entrei no quarto me sentindo aliviada de poder passar a noite ali e
melhor ainda consegui outro trabalho.
 
“E eu nem tinha combinado um valor com ele” — pensei — mas
acho que seria rude da minha parte falar sobre salário depois de tudo que
ele estava fazendo por mim! Ou não? Bem enfim, no dia seguinte eu
perguntaria sobre aquilo”
 
Tirei minhas roupas voltando a colocar as roupas que Ellie havia me
arrumado e me deitei na cama grande e confortável, me sentindo leve e
tranquila.
 
Mas aquela sensação não durou por muito tempo, eu logo me peguei
pensando em como havia sido burra permitindo Heron me manipular
daquela maneira, tinha sido uma tola todo aquele tempo, deixando que ele
jogasse sobre mim aquela baboseira psicológica me prendendo só pelo
medo.
 
Meus olhos se encheram aos poucos e se derramaram sobre o
travesseiro ao me lembrar das muitas vezes que enquanto ele me usava me
lembrava de que ninguém mais me amaria, uma órfã, pobre e sem graça
como eu. 
 
E ele tinha razão, ninguém amaria aquela Kiara, fraca, ingênua e
manipulável, ninguém amaria uma mulher, medíocre de amor-próprio como
eu era em seu domínio.
 
Chorei ao lembrar do medo que sentia todas as noites, chorei
lembrando de como fui fraca e chorei mais ainda com a vergonha que me
atingiu fazendo meu corpo ser sacudido pelos soluços, então abracei meu
próprio corpo e chorei querendo gritar de ódio de mim mesma, me sentindo
impotente, fraca e suja.
 
E eu não sabia dizer exatamente em qual momento eu peguei no
sono, mas acordei no dia seguinte parecendo que tinha bebido uma adega
inteira.
 
Meu corpo estava coberto e eu me lembrei que havia esquecido de
fechar a porta.
 
Chegava a ser engraçado como eu me sentia mais segura ali na casa
de um homem que mal conhecia do que na casa do homem que eu havia me
casado.
 
Sobre a poltrona perto da cama havia uma cesta com todos os
produtos de higiene pessoal.
 
“Será que ele me achou fedida?” — pensei comigo mesma
levantando o braço e cheirando a mim mesma com o frasco de desodorante
na mão e depois conferindo meu próprio hálito.
 
— É acho que ele tem razão — falei comigo mesma notando que
realmente precisava escovar os dentes depois de uma noite inteira de sono.
 
Coloquei uma música em volume baixo em meu celular, tomei um
bom banho e lavei meus cabelos, escovei meus dentes e voltei a colocar a
única roupa que tinha.
 
— Bom dia, Ellie — Falei animada.
 
— Bom dia, srta. Kiara, pelo jeito está animada hoje.
 
— E como eu não estaria? Consegui um emprego novo, e logo
poderei voltar para os Estados Unidos — falei indo até a mesa do café da
manhã.
 
— Que bom que está animada, porque o Sr. Cas já deixou um
trabalho para você!
 
— Caramba, ele não brinca em serviço mesmo em! Mas não vou
reclamar, estou super ansiosa para começar a trabalhar — falei pegando
uma fatia de pão.
 
— Ótimo! Falou para ir nesse endereço aqui! — ela falou me
entregando um pedaço de papel com algumas anotações. 
 
— E o que eu devo fazer? — perguntei olhando o endereço.
 
— Não sei! — ela disse dando de ombros — ele disse que deveria
procurar pela Brenda e que ela saberia o que fazer.
 
— Eu em — falei estranhando.
 
— Ah ah! — falei a impedindo de me servir.
 
— Aqui eu sou empregada como você! Então deixe que eu mesma
me sirvo — falei tomando de sua mão a garrafa de café.
 
— E como eu vou nesse lugar?! — perguntei voltando a me sentar,
lembrando que eu não tinha um tostão sequer.
 
— Eu irei levá-la — um homem entrou vestido com um uniforme de
motorista — o Sr. Cas me deu ordens para levá-la onde precisar e que não
devo deixá-la sozinha.
 
— Empregada é? Eu não tenho esses privilégios — Ellie disse
entregando um prato com bolo, que eu nem a tinha visto colocar.
 
Depois de ter tomado um café reforçado, pois não sabia como seria
meu dia de trabalho, eu e o motorista que se apresentou como Joe me levou
a uma loja no centro.
 
— É aqui? Tem certeza? — perguntei olhando o endereço no papel e
depois olhando para a loja de roupas femininas.
 
— É o endereço que está aí! — Joe disse.
 
— Com licença! Eu poderia falar com a Brenda? — falei com uma
vendedora loira com um batom vermelho nos lábios e um uniforme que
dava de dez a zero nas minhas roupas simples.
 
A mulher me olhou de cima a baixo, dando uma parada nas minhas
sapatilhas de pano, que eu tinha que concordar que podiam ser confortáveis,
mas eram um crime contra a moda.
 
— Brenda! — ela chamou fazendo um sinal para uma mulher que
estava do outro lado do balcão.
 
Uma mulher elegante em um salto alto, com cabelos negros e beleza
estonteante veio ao meu encontro com um sorriso nos lábios.
 
— Você deve ser a Kiara certo? — afirmei com um aceno e ela me
deu um beijo no rosto pegando em meus ombros — Prazer sou a Brenda a
gerente da loja — ela se apresentou.
 
“Achei que ia trabalhar na empresa” — pensei comigo — “Mas, que
fosse, trabalho era trabalho e se Cas achava melhor eu trabalhar ali, então
pra mim, estava tudo bem”
 
— É garota, Cas tinha razão, você está mesmo precisando de uma
repaginada — Brenda falou me deixando sem graça olhando minhas roupas.
— Venha, vou pegar alguns modelos e te ajudar a encontrar o que melhor
combina com você e esse rostinho lindo! — ela disse dando um leve toque
em meu queixo.
 
— O quê? Como assim? — perguntei confusa — eu achei que eu ia
trabalhar aqui.
 
Brenda deu uma risada alta.
 
— Claro que não querida, o Sr. Cas me ligou pessoalmente hoje bem
cedinho e me deixou instruções de que eu deveria te ajudar a escolher
roupas adequadas para trabalhar em sua empresa.
 
“Ah, claro, Cas não queria que eu começasse trabalhar com aquelas
roupas simples, aquilo fazia sentido”
 
Brenda me apresentou alguns vestidos lindos estilo tubinho, que
caíram perfeitamente em meu corpo e sapatos de salto e eu quase caí para
trás quando entrei em um dos provadores e vi o valor de um dos vestidos.
 
“Se eu tivesse que pagar por aquilo, certamente teria que vender
minha alma ao diabo” — pensei tirando-o rapidamente.
 
Verifiquei o preço de cada um deles e escolhi dois modelos simples
com cintinhos, próprios para trabalhar em um escritório, um sapato preto e
um casaco pois estava chegando a época do frio.
 
— Irei levar esses — falei entregando a ela.
 
— Só? Mas o Sr. Cas disse que não tinha limite para gastos.
 
— Ele pode não ter, mas eu tenho, provavelmente terei que trabalhar
uma vida inteira para pagar essas poucas peças.
 
— Vai usando esse? — ela perguntou apontando para o modelito azul
com gola social que eu havia escolhido.
 
— Sim! — respondi com um leve sorriso passando a mão sobre o
vestido.
 
— Ah e por favor, você pode emitir uma nota? — pedi quando ela
começou a colocar as coisas na sacola.
 
Peguei a nota e o pacote com as roupas e sai, Joe ficou o tempo todo
na porta me esperando e quase não me reconheceu quando sai.
 
— E agora? — ele perguntou quando entramos dentro do carro.
 
— Agora vamos trabalhar! Que aqui provavelmente já ficou um ano
do meu salário — falei e ele riu dando partida.
 
Joe parou no estacionamento do prédio da empresa, um prédio
grande todo espelhado com um jardim na frente.
 
— Tudo isso aqui é a empresa dele? — perguntei boquiaberta.
 
— Não! O Sr. Cas não precisa do prédio todo para administrar seus
negócios, ele só precisa de dois andares — ele falou enquanto entrávamos
no elevador do subsolo.
 
— Mas, o Prédio é dele — ele finalizou.
 
Subimos até o 12⁰ andar e quando entramos o lugar parecia calmo e
tranquilo.
 
— Kiara! Graças a Deus! — uma mulher baixinha de cabelos loiro
veio ao meu encontro. —  Sou a Aldrey a secretária do Sr. Cas, ele me disse
que você viria e te aguarda em sua sala — ela falava de maneira rápida e
afobada.
 
Aldrey me acompanhou até uma sala com uma porta grande e deu
uma leve batida.
 
— Sr. Cas a Srta. Kiara acabou de chegar.
 
— Mande-a entrar! — ele ordenou.
 
Eu entrei na sala que certamente daria para fazer uma casa, ali dentro,
em uma mesa no centro havia uma grande maquete, no canto uma estante
com tubos de projetos, livros e pastas.
 
Perto da vidraça estava sua mesa e encostada na parede uma mesa um
pouco menor com um notebook e muita papelada em cima.
 
— Entre! Vamos — Cas disse ao me ver parada observando tudo.
 
— Achei que nunca ia te ver surpresa com alguma coisa — ele disse
vindo ao meu encontro.
 
— Com o que você trabalha? — finalmente perguntei, pois nunca
havia pensado sobre aquilo.
 
— Arquitetura! Construímos, reformamos e transformamos — ele
falou abrindo os braços mostrando a grande maquete do que parecia ser um
shopping.
 
— Nossa, eu nunca iria imaginar — falei me abaixando para ver
melhor os detalhes da maquete.
 
Ficamos em silêncio por alguns minutos até que Cas disse:
 
— Que bom que aproveitou as compras hoje!
 
— Ah sim, eu agradeço, falei pegando a nota de dentro da sacola e
lhe entregando — vou fazer o possível para te pagar cada libra.
 
— Mas que porra é essa? — ele perguntou olhando a nota me
assustando.
 
— Quantos vestidos você comprou? — ele questionou olhando a
sacola.
 
“ Merda! Eu sabia que aqueles vestidos estavam muito caros”
 
Ia perder o emprego sem nem mesmo ter começado.
 
— Sr. Cas eu comprei dois, tentei pegar os mais baratos que tinha,
mas a loja que o Sr…
 
— Dois?! — ele me interrompeu — Eu te dou a oportunidade de
comprar roupas novas sem limite de gastos e você me compra dois vestidos
e um sapato? — ele disse olhando a nota.
 
— E um casaco — eu o corrigi— e só isso aí eu já vou levar uma
vida para pagar.
 
Cas deu risada alto e se escorou em sua mesa, me deixando sem jeito.
 
— Vamos dizer que isso é um bônus de contratação — ele falou
divertido indo para trás de sua mesa.
 
— Sente-se srta. Kiara — Ele pediu desabotoando o blazer e se
sentando só do outro lado da mesa.
 
Coloquei o pacote no chão e me sentei.
 
— Este aqui é o seu contrato, leia e depois assine, ainda não é nada
formal, pois você ainda não tem seus documentos, mas já entrei em contato
com nossos advogados e eles irão providenciar o mais rápido possível.
 
Peguei a folha de papel, notando uma pequena mancha de sangue
onde Cas havia segurado.
 
— Você se machucou — falei tocando-lhe a mão vendo um pequeno
corte em seu dedo do meio.
 
O contato de nossas mãos fez uma corrente elétrica percorrer meu
corpo me fazendo arrepiar, e eu quase cedi ao impulso de levar seu dedo aos
lábios e tive que morder os lábios para me controlar.
 
O clima na sala de repente ficou mais tenso, o ar se tornou mais
pesado, Cas me olhava faminto e eu finalmente saí daquele transe
envergonhada.
 
— Isso?! Não foi nada, me cortei em algum pedaço de papel.
 
Baixei a cabeça pegando o contrato e tentando prestar a atenção no
que estava escrito, mas não conseguia focar nas letras, toda vez que
começava a ler me perdia em pensamentos indecentes que eu jamais teria
coragem de pronunciar. Tive que ler três vezes o que estava descrito ali,
para finalmente conseguir compreender.
 
— Mas aqui tem três vezes mais o que eu ganhava! — falei surpresa
ao ver o valor do salário.
 
— Porque você ganhava três vezes menos do que deveria — ele
justificou.
 
— E você também terá direito a plano de saúde, e direito à
alimentação.
 
Eu quase não conseguia acreditar que aquilo realmente estava
acontecendo, depois de tudo que eu havia passado todos aqueles anos, eu
finalmente havia encontrado uma pessoa boa em minha vida.
 
Assinei o contrato com os olhos embaçados pelas lágrimas que
ameaçavam cair e devolvi a ele.
 
— Eu agradeço muito por ter me dado essa oportunidade, juro que
farei o possível para que não se arrependa — agradeci sem conseguir olhá-
lo nos olhos.
 
— Tenho certeza disso — Cas disse em um tom malicioso que, ao
mesmo tempo que me assustava me fez lembrar da noite no hotel.
 
Suas mãos trilhando um caminho quente em minha pele fria, seu
hálito soprando em meu pescoço, a sensação de seu corpo duro e firme
sobre minhas mãos e eu tive que comprimir minhas pernas para tentar
aplacar o desejo que se instalou entre elas.
 
Mas quando olhei para ele, Cas apontava para a grande pilha de
papéis que estava sobre a outra mesa.
 
— Vou trabalhar aqui?!
 
— Sim, mandei instalar essa mesa especialmente para você — ele
disse com um sorriso — Por quê? Há algum problema?
 
Eu balancei a cabeça em negativa, mas tinha quase certeza de que
tinha a boca aberta e um pensamento de que estaria muito ferrada passando
o dia todo dentro de uma sala fechada com ele.
Capítulo 11
 
Kiara trabalhava concentrada em sua mesa, separando contratos,
organizando projetos, ela havia andado de um lado para o outro quase a
manhã toda, tirando cópia e criando pastas que nem eu sabia para que ela
queria tantas.
 
— Não vai almoçar? — perguntei notando que já havia passado do
horário de almoço.
 
— Sim, Aldrey me disse que aqui tem um refeitório, pretendo ir lá
comer alguma coisa, daqui a pouco — ela respondeu mexendo, focada em
alguma coisa em seu celular.
 
Me levantei e fui até sua mesa verificar o que ela via de tão
importante, que mal conseguia me dar atenção.
 
— O que está fazendo? — perguntei me sentando sobre sua mesa.
 
— Desculpe Sr. Cas, é que estou falando com um rapaz que está
procurando alguém para dividir uma casa, não muito longe daqui — ela
respondeu me fazendo estremecer e eu imediatamente tomei o celular de
suas mãos.
 
Imaginar Kiara dividindo um apartamento, ou seja, lá o que fosse
com outra pessoa, me deixava extremamente desconfortável, e não segurei
o impulso de verificar de quem se tratava.
 
A foto de perfil era de um homem jovem, mas barbudo de cabelo
grande.
 
— Isso não é uma casa, é um quarto! — falei vendo as fotos de um
pequeno cômodo, com duas camas e uma sala minúscula —Você não pode
morar em um lugar assim!
 
— É o que eu posso pagar por enquanto — ela respondeu voltando a
tomar seu celular —Hoje a noite vou ao hotel pegar o acerto dos meus dias
trabalhados e depois de comprar algumas coisas que preciso, mal irá sobrar
para as dispensas, então alugar algo melhor seria improvável! 
 
— Então eu lhe dou um adiantamento, assim você pode procurar algo
melhor — falei vendo-a continuar a procurar lugares em seu telefone.
 
— Ainda que me dê um adiantamento, existem coisas que preciso
com muito mais urgência do que um lugar mais confortável, por enquanto
só preciso de uma cama e um teto para dormir — ela falou sem me encarar.
 
— Então devia continuar lá em casa! — respondi lhe tomando
novamente o celular que ela tentou inutilmente pegar.
 
— Não deveria ser tão imprudente, sabia! Esse cara pode ser um
tarado! — falei levantando o braço para impedi-la de tomá-lo novamente.
 
— Até onde eu sei “você” poderia ser um tarado — Kiara falou
espalmando suas mãos em meu peito.
 
“É talvez eu fosse realmente um tarado” — pensei comigo mesmo
sentido meu pau reagir aquele contato delicioso com seu corpo.
 
— Se eu fosse um tarado, teria me aproveitado de você, em minha
casa, tão vulnerável, enquanto dormia com a porta aberta — falei
aproximando nossos rostos.
 
Kiara parou de tentar pegar o aparelho por alguns segundos, ficando
sem graça pelo que eu havia falado, mas logo voltou a tentar novamente.
 
— Eu não posso ficar na sua casa de favor! Não seria justo! — Ela
disse dando pulinhos, enquanto tentava pegar seu celular e eu ri de suas
tentativas frustradas, mas estava adorando vê-la tentar.
 
— Você pode me pagar um aluguel, o que acha? Assim não seria de
favor!
 
— Quê? Você está louco? Eu não tenho dinheiro para pagar um
aluguel desse tipo!
 
— Você pode me pagar o mesmo que iria pagar pela espelunca—
falei, lhe devolvendo o celular e pegando o meu.
 
Entrei no meu celular rapidamente e baixei o mesmo aplicativo em
que ela procurava uma casa e fiz um pequeno anúncio com a foto da minha
casa e com o valor que ela estava procurando.
 
— Claro que não, isso não seria justo! — ela respondeu.
 
— A casa é minha e eu que específico o valor — falei tomando
novamente seu celular.
 
— Dá para parar de ficar pegando meu celular? — ela disse enquanto
eu pesquisava em seu aparelho o anúncio que eu havia acabado de fazer e
quando encontrei voltei a entregar para ela.
 
— Se eu fosse você aceitaria, antes que outra pessoa aceite, e eu não
gostaria nada de ter que dividir minha casa, com um homem cabeludo, de
barriga grande que assiste pornografia em meu sofá da sala.
 
— Você é louco! — Kiara disse dando risada e aceitando o anúncio.
 
— Agora vamos almoçar! Que eu estou morrendo de fome — eu a
chamei e ela correu para pegar sua bolsa.
 
 
Quando voltei do almoço, Kiara já estava de volta concentrada em
cada documento designado a ela.
 
— Sr. Cas! — Aldrey chamou dando uma leve batida na porta.
 
— Sim! Pode entrar — avisei.
 
— O Sr. Diógenes está aqui.
 
— Peça para ele entrar, por favor! — Ordenei.
 
Diógenes era um de nossos advogados, e eu havia pedido para ele
verificar o caso de Kiara.
 
— Boa tarde, Cassiano, tudo bem? — ele me cumprimentou ao
entrar.
 
— Sim, com certeza, sente-se, por favor! — pedi-lhe apontando a
cadeira.
 
— Então você pediu para eu verificar o caso da sra. Kiara — ele
falou pegando uma pasta e chamando a atenção de Kiara.
 
— Kiara, esse é o Sr. Diogenes, ele é um dos advogados da empresa
e eu pedi que desse uma olhada no seu caso — revelei a convidando para se
juntar a nós.
 
Kiara mais que depressa deu a volta em sua mesa e se sentou ao meu
lado.
 
— É um prazer sra. Kiara. — Apertou sua mão em um cumprimento
rápido.
 
— Eu entrei com o pedido de um novo passaporte, porém surgiu um
empecilho no percurso.
 
— Que tipo de empecilho — Kiara quis saber, ansiosa.
 
O advogado respirou fundo e retirou da pasta uma folha de papel.
 
— Seu ex-marido abriu uma queixa contra a senhora — ele disse, e
antes que ele conseguisse continuar, Kiara já havia lhe tomado o papel.
 
Ela passava os olhos pela folha, suas mãos tremiam fazendo o papel
balançar.
 
— Isso não pode ser verdade…— ela sussurrou.
 
— Deixe-me ver isso — falei pegando o papel de suas mãos.
 
— Ele alega que a senhora Kiara fugiu, levando uma quantia em
dinheiro que não lhe pertencia, mais um par de brincos que custavam uma
pequena fortuna, que foram roubados de seu cofre.
 
— Isso é mentira! Ele me deu aquelas joias — ela rebateu.
 
— E como vocês são casados com separação total de bens — Ele
continuou — A polícia aceitou o processo.
 
— Eu serei presa? — Kiara perguntou com os olhos cheios de água.
 
— Não, ainda não — O advogado respondeu.
 
— Eu já entrei com o recurso, você é réu primária, irá responder em
liberdade, mas não pode sair do país enquanto não for julgada.
 
— E qual será o próximo passo? — perguntei devolvendo.
 
— Primeiro a Sra. Kiara precisa se apresentar na delegacia, explicar
que não estava ciente da situação. Não se preocupe, eu estarei com a Sra. O
fato de não ter tentado sair da cidade ou do país ajuda, pois podemos alegar
que a senhora não tinha nenhuma intenção de fugir. — O segundo passo é
entrar com o pedido de divórcio…
 
— Eu posso? — Kiara o interrompeu, mais uma vez e eu fiz um sinal
sutil para que ela o deixasse concluir.
 
— Na verdade, deve! — ele respondeu — vamos dizer que sua única
intenção foi fugir do relacionamento. A senhora ainda tem as joias? — ele
perguntou.
 
— Não! Eu as vendi — ela disse envergonhada.
 
— Vendeu? Quando? — perguntei.
 
— No dia em que nos conhecemos — ela respondeu triste — eu
precisava de dinheiro e você mesmo havia dito que elas valiam um bom
dinheiro, então os vendi, por cinco mil libras.
 
Kiara se sentiu envergonhada por aquilo e baixou a cabeça, ela se
sentava na ponta da cadeira com as mãos juntas sobre o colo, apertando
com força nervosa. Levei minha mão sobre as dela, e Kiara voltou a me
encarar com os olhos represados de lágrimas.
 
— Tudo bem, não tem mais importância — disse para tranquilizá-la.
 
— Bom, se me dão licença. — Diógenes se levantou pegando sua
pasta.
 
— Muito obrigada Doutor! — agradeci levando-o até a porta e
quando me virei Kiara estava em pé de cabeça baixa enquanto lágrimas
molhavam sua roupa.
 
Senti meu coração se apertar e não resisti ao impulso de lhe envolver
em meus braços. Kiara olhou para cima, encontrando meu olhar e depois se
encostou em meu peito.
 
— Isso nunca vai acabar? — ela perguntou.
 
— Não fique assim…
 
— Ele só está fazendo isso para me prender…
 
— Mas ele não vai conseguir— garantir.
 
— Você não o conhece, Heron sempre consegue o que quer — ela
falou se afastando. — Ele vai infernizar minha vida e a sua e de todos que
se meterem em seu caminho.
 
Era revoltante a forma que Kiara temia Heron, aquilo me enfurecia,
ela não deveria temer ninguém, pelo menos não enquanto estivesse ao meu
lado.
 
— Não me importo! — respondi com firmeza — se ele quiser
infernizar, vou lhe apresentar ao próprio capeta! — respondi furioso
batendo sobre a mesa.
 
Kiara olhou assustada para mim.
 
— Eu vou voltar ao trabalho…— ela falou mudando de assunto e
indo se sentar em sua mesa.
 
Fiquei ali em pé alguns minutos vendo-a mexer em alguns papéis,
sem ter a coisa certa a dizer, então me direcionei a porta para sair, mas antes
que eu me retirasse Kiara me chamou:
 
— Cas! — Parei com a porta já aberta e olhei para ela. — Obrigada!
— ela agradeceu e eu fiz um aceno com a cabeça e saí.
 
Procurei uma varanda onde eu pudesse acender um de meus charutos
e tomar um café amargo sem que ninguém me incomodasse, mas para o
meu azar Ivan não pretendia colaborar com aquilo.
 
— E aí, como vai o caso de Kiara? Ela já pode ir embora? — ele
perguntou fumando seu próprio cigarro.
 
— Não, Heron abriu uma queixa contra ela, ela não pode sair do país
enquanto não for julgada.
 
Ivan riu alto, com deboche como se já esperasse por aquilo.
 
— Julgada! Por um roubo? — Ele perguntou e eu afirmei.
 
— Inacreditável! Você ainda tem alguma dúvida que essa garota será
uma pedra no seu sapato?
 
— Ele alega que ela roubou seu cofre antes de fugir — contei dando
mais um longo trago.
 
— E como você sabe que não é verdade? — ele questionou.
 
— Porque eu estava com ela no dia, se esqueceu?
 
Ivan ficou quieto e logo terminou seu cigarro, amassando no cinzeiro
mais próximo.
 
— Espero que saiba o que está fazendo — ele falou enfiando as mãos
nos bolsos e saindo me deixando mais nervoso do que eu já estava. 
Capítulo 12
 
 
Passei parte do meu almoço procurando um lugar acessível para mim
pela internet. Cas havia me oferecido sua casa, mas eu achava um abuso da
minha parte aceitar sua generosidade.
 
Sabia que ele não queria dividir sua casa com ninguém, e ainda que
quisesse com certeza não seria com alguém que não tinha dinheiro para
pagar nem o aluguel de seu banheiro.
 
— O que está fazendo? — Aldrey perguntou aproximando a cabeça
para ver no que eu mexia.
 
— Preciso de uma casa para morar o mais rápido possível!
 
— E vai buscar assim? Pela internet? Você não tem medo?
 
Eu quase ri, se ela soubesse as loucuras que eu havia feito nos
últimos meses para me livrar de alguém conhecido, não se preocuparia
tanto com o desconhecido. 
 
— Não tenho muitas opções, tenho pouco dinheiro e menos ainda
tempo.
 
Aldrey levou uma rodela de pepino na boca, fazendo barulho ao
mastigar.
 
— Tenho uma amiga que mora em uma pensão, posso ver com ela se
não tem um quarto vago.
 
— Não sei se meu dinheiro daria para pagar uma pensão — falei.
 
— Há eu posso conversar com ela, ela conhece bem o dono da
pensão, já ficou com ele algumas vezes, talvez ele aceite uma metade agora
e metade depois que você receber.
 
Me empolguei com a expectativa e decidi que se desse certo, pensaria
em uma forma de agradecer Cas e negar sua generosa oferta.
 

 
 
— E então vamos? — Cas me chamou no fim do dia.
 
Meu primeiro dia havia sido corrido e eu agradecia aos Deuses por
aquilo, pois era difícil não encarar Cas a cada segundo vago que tinha no
meu dia e eu me perguntava o que estava acontecendo comigo.
 
Tinha medo de estar me apegando rápido demais aquele homem
maravilhoso.
 
Mas quem podia me julgar? Anos ao lado de um homem que só tinha
me mostrado o que era dor, sofrimento e angústia e de repente eu caio nos
braços de um homem como aquele, como ignorar aquilo?
 
Talvez eu precisasse de um psicólogo para tratar meus mil traumas
diferentes, ou eu só precisava dar uma bem dada com aquele homem, que
toda vez que se aproximava de mim, testava meus batimentos cardíacos.
 
Depois que o advogado de Cas, havia me informado que eu poderia
ser presa, meu mundo girou em 360 graus e eu me senti fora do lugar. Nem
mesmo a beleza de Cas foi o suficiente para me distrair.
 
Apesar de ele ter me garantido que tudo ficaria bem, e ter
demonstrado ser verdadeiramente meu amigo, me arrumando um advogado,
ele não conhecia Heron.
 
Sabia que meu ex-marido transformaria sua vida em um verdadeiro
inferno e eu não queria aquilo.
 
— Eu tenho que ir ao hotel buscar o pagamento dos dias trabalhados
— Avisei, organizando minhas coisas.
 
— Então vá com o Joe — ele sugeriu, desligando seu computador,
também se preparando para ir embora. 
 
— Não, Sr. Cas, isso não será necessário — recusei, pois ele já estava
fazendo muito por mim. — Seria um abuso da minha parte aceitar isso.
 
— Então prefere que eu mesmo a leve? — ele perguntou pegando as
chaves do carro.
 
— Não, claro que não, eu posso muito bem ir de ônibus, não é tão
longe daqui.
 
— Não seja tola, Heron pode estar te esperando por lá!
 
A mera menção de seu nome foi o suficiente para fazer meu corpo
estremecer e eu achei que não conseguiria segurar as pastas que tinha nas
mãos.
 
Por quê? Por que eu era assim tão fraca e medrosa diante dele?
Porque eu não podia viver uma vida tranquila, sem que ele me assombrasse
a cada minuto do meu dia.
 
Passei o dia tentando não pensar no que seria de mim se caísse
novamente em suas mãos, tentando não me borrar de medo toda vez que ele
me vinha em mente.
 
Aquele nervosismo que me fazia querer vomitar, que me impedia de
comer direito e de relaxar sem imaginar, que ele ou algum de seus capangas
estariam por perto me vigiando.
 
Eu parecia sufocar com a ideia de passar por tudo novamente, de ter
que encará-lo.
 
“Não, isso não, eu preferia morrer a ter que voltar para suas mãos”
 
Se existia um inferno, Heron era meu demônio pessoal.
 
— Kiara! — Cas, me chamou, me fazendo voltar a realidade.
 
— E então? — Ele quis saber a resposta de algo que eu não tinha
ouvido ele perguntar.
 
— Quê? — perguntei, tentando não parecer rude.
 
— Venha, vamos Kiara, eu mesmo a levarei — ele disse saindo na
frente, me parecendo um tanto irritado.
 
— Não, espere. — Corri atrás dele sem entender exatamente o que
havia feito que o tinha ofendido.
 
— Você não precisa ir, eu vou com o Joe — falei desengonçada atrás
dele
 
— Ai! — gritei ao torcer o pé e cair antes de conseguir alcançá-lo no
elevador.
 
— Kiara, você está bem? — ele disse vindo em minha direção e me
ajudando a levantar.
 
O pacote com as roupas foi jogado para longe e eu nem sabia onde
um de meus sapatos tinham ido parar, algumas pessoas que ainda estavam
no andar me olhavam querendo rir, e “bem” não era a definição de como
me sentia naquele momento.
 
— Sim, eu estou… aí — reclamei sentindo uma fisgada de dor, ao
tentar ficar em pé
 
Tentei apoiar novamente meu pé, e meu coração disparou e me
assustei, quando meu corpo foi tirado do chão como uma simples boneca e
Cas me pegou em seu colo, não se importando com quem estava ao redor
olhando.
 
Eu estava ainda surpresa quando ele caminhou comigo em seus
braços em direção ao elevador, sob o olhar dos curiosos que estavam tão
surpresos quanto eu. Vi um grupo de mulheres cochichando e meu rosto
queimou de vergonha.
 
Não conseguia ter nenhuma reação. Seu corpo quente e musculoso
me segurando com tanta firmeza que por um momento só me deixei ser
levada, olhando seu rosto sério e indiferente como se não estivesse
levantando 55 quilos.
 
— Pode me colocar no chão, eu consigo andar — falei mexendo os
pés tentando descer, mas Cas em um movimento rápido me impulsionou em
seu colo me apertando ainda mais contra seu peito me impedindo de descer.
 
— Fique quieta ou vai cair novamente e se machucar ainda mais —
falou tão sério que não consegui rebater.  
 
Passei minhas mãos por seu pescoço tentando me segurar melhor, e
me encostei em seu peito, próximo ao vale de seu pescoço e seu cheiro
alcançou meu nariz, me fazendo sentir coisas que há muito tempo eu não
sentia.
 
Suas mãos firmes e ainda assim cuidadosas sobre meu corpo. Engoli
em seco sentindo meu coração disparar com aquela sensação de excitação
crescendo a cada minuto dentro de mim.
 
“Meu Deus, como aquele homem cheirava tão bem?” — pensei
tentando não o encarar.
 
Um cheiro masculino, que me incendiava, eu mordia os lábios
imaginando beija-lo novamente e meu corpo reagia aquela lembrança, sua
língua lasciva em minha boca, seu gosto, e eu só conseguia pensar em como
seria ter seu cheiro misturado com o meu, em um quarto fechado regado a
sexo.
 
Cas entrou no estacionamento e me colocou sobre o capô de seu
carro, se abaixando para verificar meu calcanhar.
 
E eu pedi a Deus perdão pelos pensamentos pecaminosos que aquilo
me trouxe.
 
— O que foi? Está doendo tanto assim?
 
— Ãh?! Quê? Não, acho que não — respondi confusa.
 
— E por que está vermelha desse jeito? — ele perguntou me fazendo
levar a mão ao rosto notando que pegava fogo.
 
Pior que eu nem podia dizer que era calor, já que o frio do inverno
começava a aparecer.
 
— Vergonha! Você viu a vergonha que acabei de passar? Todo
mundo estava me olhando cair feito uma fruta podre.
 
Cas deu risada e se abaixou novamente tocando de leve meu pé.
 
— Doí? — ele perguntou enquanto mexia de um lado para o outro.
 
— Não, eu já disse que estou bem!
 
Mas ele não se deu por satisfeito, continuou apalpando, devagar e
com delicadeza me fazendo sentir sensações que a muito tempo não sentia,
até ele chegar no calcanhar, seu toque delicado espalhando aquela sensação
deliciosa por minha pele me fazendo queimar de desenho.
 
— Ai, ai dói — que por mais que eu me esforçasse para sair de uma
forma firme, saia quase um gemido.
 
— Vem vou te levar ao pronto-socorro — Avisou, mas ao lhe encarar,
nossos rostos estavam tão próximo que conseguia sentir seu hálito quente.
Me enchendo com aquela sensação familiar de frio no estômago e coração
acelerado. Por um momento, apenas um momento, fechei meus olhos e
umedeci meus lábios, como uma súplica, desejei poder sentir seu gosto em
minha boca só mais uma vez. Apesar do frio, meu sangue parecia ferver em
minhas veias. Um transe que logo foi quebrado quando ele me ajudou a
descer e seguimos para o pronto-socorro.
 
— Mas eu preciso ir ao hotel — lembrei.
 
— Primeiro hospital, depois se quiser eu te levo ao hotel — Cas disse
em meu ouvido com um duplo sentido.
 
 

 
 
Cas ficou ao meu lado em todo momento em que era atendida pelo
médico.
 
— Isso foi uma torção de leve, uma faixa e um pouco de gelo e ficará
bem — o médico falou começando a enfaixar. — Tente não se esforçar por
uns três dias.
 
— Quê? Não posso ficar três dias com o pé enfaixado, comecei a
trabalhar hoje! Não posso ficar sem trabalhar.  — Falei sem conseguir
acreditar no azar que eu tinha.
 
— Então seu chefe terá que entender que você não pode se esforçar
— o médico falou.
 
— E ele entende Dr. — Cas respondeu.
 
— Agora vamos para casa, você ouviu o médico dizendo que você
não deve se esforçar — Cas disse me ajudando a ir para o carro.
 
— Eu preciso ir ao hotel — insisti.
 
— Mas…
 
— Por favor! — pedi juntando as mãos — prometo que não te peço
mais nada! — falei juntando as mãos.
 
— Tudo bem, mas vou entrar com você. — disse abrindo a porta do
carro para que eu entrasse.
 
Com um pouco de dificuldade eu entrei e Cas aguardou
pacientemente que eu me ajeitasse, só para então entrar.
 
Ele estava sério, e concentrado em seu celular, e eu admirava a
beleza de seu rosto.
 
— Obrigada! — quebrei aquele silêncio.
 
— Não foi nada de mais, pequena mentirosa — Cas disse guardando
seu celular no bolso e me encarando.
 
— Quê? Por que me chama assim? — falei 
 
— Não ouviu mesmo o que eu te disse na minha sala, né?!
 
Eu tentava me lembrar do que Cas havia me dito antes de sair da sala
me fazendo correr atrás dele, mas a verdade era que não tinha ouvido.
 
— Eu… não estava prestando atenção — falei envergonhada.
 
Cas olhou para fora da janela.
 
— Sei que planejava passar no hotel, e aceitar o acordo de aluguel de
um quarto.
 
Ele disse me surpreendendo, eu ainda não tinha conseguido tocar
naquele assunto com ele.
 
— Eu pretendia te contar…
 
— Vou falar outra vez para que dessa vez você escute e entenda de
uma vez por todas — Cas disse se aproximando de mim, fazendo meu
corpo inteiro reagir a sua aproximação — você não vai a lugar nenhum sem
mim Kiara, porque se Heron colocar as mãos em você novamente eu coloco
fogo nessa cidade para encontrá-lo, mas eu mato aquele desgraçado!
 
Eu senti uma ponta de medo, aquela obsessão que eu já tinha visto
milhares de vezes, que estava cravada em mim em cada cicatrizes
escondidas em pontos estratégicos, por debaixo das roupas.
 
Eu recuei por um momento, e senti meu corpo estremecer, como um
reflexo natural.
 
Cas se afastou olhando no fundo de meus olhos, ao reconhecer meu
temor, mas o que vi nos dele não era a mesma observação que via nos de
Heron, era uma ternura.
 
Cas recuou mais um pouco me dando espaço para respirar e vi a
vergonha em seu rosto.
 
— Me desculpe Kiara, eu só não suporto a ideia de você ser
machucada novamente.
 
Aquelas palavras elevaram meu coração ao máximo, fazendo ele
acelerar com uma sensação muito diferente da que eu sentia a minutos atrás.
 
— É por isso que sempre agradeço — falei pegando em sua mão e
sorrindo para ele.
Capítulo 13
 
 
— Tem certeza de que não quer que eu a acompanhe — perguntei a
Kiara quando chegamos no saguão do hotel.
 
— Sim, eu consigo ir sozinha.
 
— Mas qualquer coisa, estarei sentado bem aqui! — avisei.
 
Kiara mancava de uma perna por causa da torção, ainda assim estava
linda, com um vestidinho social, que se moldava em seu corpo e uma
pequena bolsa lateral.
 
Eu não fazia ideia do que estava fazendo, Ivan tinha razão quando me
dizia que estava me deixando envolver, pela pequena baixinha de cabelos
curtos.
 
Mas alguma coisa em mim, havia se apegado a Kiara e vê-la com
medo, como tinha visto há pouco dentro do carro, me parecia um absurdo.
 
Ainda me lembrava das imagens de seu corpo, quando se despiu em
minha frente para me mostrar suas marcas, e eu só queria mantê-la segura,
nem que para isso eu colocasse fogo naquela cidade.
 
Eu não ia negar a atração que tinha por ela. Kiara era uma mulher
atraente, com um lindo rosto e um corpo que me tirava dos eixos. Mas, era
muito mais nova do que eu e eu jamais me aproveitaria da situação para tê-
la.
 
Não queria que ela pensasse ter qualquer obrigação por eu estar
ajudando-a.
 
Nunca fui um homem de impor minhas vontades sobre as mulheres,
muito diferente de meu pai, que havia sido casado quatro vezes e nenhuma
delas realmente o amaram.
 
— Vamos! — Kiara falou perto de mim, sorrindo, com um envelope
em mãos.
 
— O que aconteceu, que te deixou tão feliz — perguntei, mas já
sabendo a resposta.
 
— Te conto quando chegarmos em casa — Ela disse dando um
pulinho.
 
— Ai! — Ela reclamou sentindo o pé doer.
 
— Venha, vamos para casa, colocar gelo nesse pé — falei a ajudando
a andar.
 

 
— Sinta-se em casa. Ela agora é tão sua quanto minha — Falei
quando entramos para dentro.
 
— Cas, você tem certeza? Posso encontrar um lugar para ficar — Ela
disse toda sem graça, que achei a coisa mais fofa do mundo.
 
— E ficar preocupado se você está bem ou não? Não, você fica aqui!
 
— Então, tome. — Disse me oferecendo o envelope. — Roger por
alguma razão pagou a diferença do que eu devia ter recebido nos meses em
que trabalhei lá, então… fique com ele — Ele balançou o envelope,
mantendo-o estendido bem na minha frente. — Sei que isso ainda não deve
ser o suficiente para pagar minha estadia aqui, mas já é mais do que aquele
valor ridículo que você pediu.
 
— Nem pensar, eu só coloquei aquele valor, pois eu sabia que não
aceitaria sem pagar nada.
 
— E se você não pegar, irei sair e procurar outro lugar. Que é
exatamente o que eu deveria fazer. — Ela afirmou fazendo um aceno com a
cabeça em direção a porta.
 
Respirei fundo relutante. Não queria seu dinheiro, mas também não
queria que fosse embora.
 
Peguei o envelope de sua mão, vendo-a sorrir satisfeita, e eu balancei
a cabeça em negação, vendo-a feliz por ter me convencido daquilo.
 
— Agora se me der licença, vou cuidar do meu gatinho e depois
aproveitar um bom banho na minha nova bandeira.
 
Kiara saiu balançando seu pequeno rabo de cavalo, enquanto
mancava indo atrás de seu gato. 
 
Abri o envelope, retirei as notas, mas coloquei de volta no lugar e
larguei sobre a mesa.
 
Fui até meu armário no compartimento de medicamentos e peguei o
antialérgico, que graças ao pequeno mascote de Kiara teria que fazer o uso
contínuo e depois fui tomar um longo e demorado banho.
 
Tirei minhas roupas, jogando de qualquer jeito no cesto do banheiro e
entrei embaixo da ducha quente.
 
As lembranças de Kiara em meu colo vinham me atormentar, me
deixando dolorido com o desejo que aquilo me causava.
 
“Será que ela sabia o efeito que tinha sobre mim?”
 
Seu corpo tão colado ao meu, me fazendo ter pensamentos de como
seria tê-la totalmente nua a minha disposição, me fazendo imaginar que
tipos de barulhos Kiara faria durante um sexo selvagem.
 
Era difícil não ficar duro, quando eu andava tendo aquele tipo de
pensamentos.
 
Desliguei a ducha, puxei uma toalha que estava pendurada e sai ainda
molhado, tirando primeiro o excesso de água dos cabelos, quando ouvi a
voz de Kiara sussurrando por meu nome.
 
 
Kiara.
 
 
Assim que abri a porta da lavanderia, Cas saiu correndo em
disparada.
 
— Cas! Seu gato levado, volte aqui. — Falei indo atrás dele, mas
cada vez que eu me aproximava ele volta a escapar. — Você não pode ficar
bravo comigo, por não te deixar entrar em casa, temos que agradecer a ele
por nos dar um teto, sabia? — Falei quando ele subiu em uma árvore. —
Ah, não! Desça já daí. — Ordenei brava.
 
— Pelo visto ele não está feliz com você — O segurança de Cas,
Nion, falou tragando um cigarro.
 
— Ele só está bravo, porque não pode entrar em casa. — Falei
olhando para cima — Gato malvado! Malvado!
 
— Espere, deixe que eu pego ele — Ele falou jogando a bituca de
cigarro e começando a subir na árvore, mas antes que ele se aproximasse,
Cas pulou da árvore correndo para longe.
 
— Ah, você só pode estar de brincadeira! — falei indo atrás dele. —
Ai não! Não entre…
 
Antes que eu pudesse terminar Cas, pulou por uma janela aberta,
entrando na casa.
 
Dei a volta correndo, para tentar encontrá-lo, antes que Cas o
encontrasse primeiro.
 
— Cas… pss, pss, aqui, gatinho bonitinho da mamãe — Sussurrei e
ouvi ele miar do corredor que ia para os quartos. — Aqui Cas… pss, pss —
chamei esfregando os dedos.
 
Cas entrou em um dos quartos, que a porta tinha uma pequena fresta
aberta e meu coração quase saiu pela boca ao notar ser o quanto de
Cassiano.
 
— Cas, volte aqui… pelo amor de Deus, eu juro que te compro a
melhor ração quando eu receber — Sussurrei da porta.
 
Olhei para um lado e depois para o outro, então dei uma leve batida
na porta e depois outra quando ninguém respondeu.
 
“Ótimo ele não estava ali, era só eu entrar, pegar o gato e sair,
rapidinho que ele nem iria perceber” — pensei abrindo a porta bem
devagar, conferindo se realmente o quarto estava vazio.
 
O quarto era enorme, e tinha uma estante com livros que se parecia
com uma minibiblioteca, uma enorme cama no centro do quarto e um canto
com sofá e mesa.
 
— Cas, onde você se meteu? — perguntei procurando nos cantos do
quarto.
 
Me abaixei para olhar embaixo da cama.
 
— Cas… — Chamei mais uma vez e quando fui me levantar dei de
cara com Cassino totalmente nu em minha frente.
 
Ele acabava de sair do banho e ainda tinha o corpo molhado e usava a
toalha para secar os cabelos, deixando todo o resto bem ali na minha frente
amostra.
 
— Aí meu Deus! — Falei me levantando rapidamente e virando o
rosto, mas desisti de virar quando vi o tamanho do seu membro. — Meu
Deus! Quanta ignorância — Falei surpresa levando a mão à boca.
 
Cas não pareceu se incomodar, não pareceu envergonhado ou fez
menção de se cobrir.
 
— Olha, já deram vários atributos a ele, grande, grosso, gostoso, mas
ignorante, é a primeira vez — Cas disse sorrindo, e só então percebi que
encarava seu pau descaradamente.
 
— Aí, desculpa! Eu só… — Falei, finalmente me virando e tapando
o rosto. — É que, meu gato… fugiu e entrou, aqui. Achei que você não
estava, eu bati, mas… — eu comecei a falar rápido, e não consegui finalizar
nada do que eu dizia, pois não conseguia tirar da cabeça a imagem de seu
membro ali bem na minha frente.
 
Tirando o dia que eu havia me passado por garota de programa, não
me lembrava de ter vivido um momento tão constrangedor e excitante como
aquele, minhas roupas pareciam estar em chamas com o calor que me
atingia, e meu centro latejava, com o que minha cabeça imaginava.
 
— Seu gato? Achei tê-la escutado chamar por mim — Ele falou e eu
disfarçadamente olhei vendo que ele havia se enrolado na toalha.
 
Olhei seu peitoral ainda com gotas de água, e seu braço coberto por
tatuagens que iam até o pescoço e comecei a me sentir, como se estivesse
dentro de uma fogueira e eu não duvidava, pois iria direto para o inferno
com os pensamentos pecaminosos que surgiam em minha cabeça.
 
— Não, é que… — Naquele exato momento, o gato decidiu aparecer,
miando e se esfregando em minhas pernas, como se pedisse desculpa.
 
— Cas… Seu gato levado, agora você decidiu aparecer? — falei me
abaixando e pegando ele em meu colo.
 
— Espere! Colocou o nome do seu gato de Cas? — Ele perguntou,
me fazendo ficar ainda mais envergonhada, se é que aquilo era possível.
 
— Sim, é que… eu o encontrei perdido e molhado, igual ao dia que
conheci você, então… — Cas miou alto, eu tapei sua boca.
 
Fiquei parada ali no meio do seu quarto, encarando-o, admirando
cada músculo de seu corpo e aquele v que se formava logo acima da toalha
que se enrolava em sua cintura.
 
Cassiano sorriu de uma forma maliciosa que me fez apertar Cas em
meu colo e se aproximou fazendo minha calcinha se encharcar e sussurrou:
 
— Acho que agora você deveria sair, a menos que queira…
 
— A é, verdade, aqui é seu quarto, né? Onde você dorme e toma
banho e… — Comecei a falar coisas óbvias e sem sentido nenhum,
andando de ré trombando nas coisas, mas aproveitando os últimos segundos
que tinha para admirar aquele monumento de homem   — É, eu vou para o
meu.
 
Não sabia nem como eu havia conseguido encontrar a saída de tão
desnorteada que estava.
 
— Isso tudo é culpa sua! — acusei o gato que parecia pouco se
importar — Agora como eu vou tirar aquilo, da minha cabeça? — perguntei
levando-o novamente para fora.
 
— Meu Deus, o que foi aquilo? — falei comigo mesma da visão
privilegiada que havia tido de seu pau.
 
Levei Cas, o gato, para seu lugar e voltei para meu quarto, quando
entrei havia várias sacolas sobre a cama, quando fui verificar, eram roupas
de variados tipos.
 
— Eu não acredito! — falei comigo mesma pegando pelas alças das
sacolas e saindo com elas do quarto.
 
— O que é isso? — perguntei para Cas, que agora estava na sala e
usava uma calça de moletom e uma camiseta regata.
 
Ele levantou uma sobrancelha para mim, andou devagar até às
sacolas que eu havia colocado sobre o sofá e abriu uma delas.
 
— Me parece calcinhas — ele disse retirando uma renda vermelha de
dentro de uma delas.
 
— Não é isso que estou perguntando! — falei tomando a peça de sua
mão morrendo de vergonha e enfiando novamente dentro a sacola. — Quem
mandou você comprar roupas para mim? Ainda mais roupas íntimas.
 
— Eu só achei que você gostaria de trocar a calcinha que está usando
há dois dias — Ele respondeu com um sorriso sarcástico.
 
Meu Deus, quanta vergonha uma única pessoa podia passar em um
único dia? Já não era castigo suficiente ter caído na frente de todos, ter
entrado no quarto dele quando ele, estava nu e agora aquilo?
 
Abri o mesmo sorriso de sarcasmo que o dele andei devagar, igual ele
quando tentava me intimidar e sussurrei do jeitinho que ele havia me
ensinado.
 
— E quem te disse que eu estava usando calcinha? — Falei me
afastando, pegando as sacolas e voltando para meu quarto.
 
— Isso não é verdade, não é Kiara? — Cas perguntou em um tom de
voz afetado. — Kiara! Isso não é verdade, não é mesmo? — Ele falou mais
alto, quando eu ignorei sua primeira pergunta e lhe dei as costas. — Kiara!
 
Eu sorri satisfeita, podia estar morrendo de vergonha, mas não ficaria
por baixo.
Capítulo 14
 
 
Entrei no meu quarto deixando as sacolas sobre a cama, satisfeita em
ter conseguido perturbar Cas. Depois do dia vergonhoso que havia tido,
aquela era uma vitória merecida.
 
Meu pé latejava e eu aproveitei para tomar um bom banho e relaxar
um pouco. O dia, apesar de cansativo, não se comparava a rotina do hotel.
 
Dei uma boa olhada nas roupas que Cas havia comprado para mim, e
agradeci por poder ter opção para vestir.
 
Depois daria um jeito de pagar a ele tudo que havia sido gasto.
 
— Hum, estou faminta — falei quando voltei a sala sentindo o cheiro
que vinha da cozinha.
 
— Antes deixe-me ver esse pé — Cas disse me pedindo para me
sentar no sofá.
 
— Eu estou bem, estava doendo um pouco, mas já tomei um dos
medicamentos que o médico receitou e já está bem melhor — falei tentando
mexer um pouco para provar que está bem.
 
A verdade é que ainda doía, mas não queria que Cas se preocupasse
com aquilo, não quando ele já havia feito tanto.
 
— Sente-se Kiara! — ele ordenou sério que não tive como rebater.
 
Andei devagar até o sofá e mais uma vez Cas foi verificar meu
tornozelo e aquela sensação familiar voltou a me consumir assim que senti
o contato de nossas peles.
 
Cas parecia alheio ao que eu sentia, e alcançou um vidro de óleo que
já estava preparado e começou fazer uma deliciosa massagem em meu pé,
focando principalmente no tornozelo ferido, tomando todos os cuidados
para que eu não sentisse dor.
 
Fechei os olhos e mordi os lábios tentando não gemer com aquela
sensação incrível e me lembrar das vergonhas que tinha passado durante o
dia me ajudava a não me deixar render aquela excitação. Afinal, era
vergonha o suficiente para um único dia.
 
Seu dedo se deslizava por causa do óleo, sobre minha pele, fazendo
movimentos circulares com o polegar, trazendo uma sensação de prazer que
eu mal conseguia controlar. Era extremamente satisfatório sentir a leve
pressão que ele fazia para massagear a carne.
 
“Deus me ajude, ou eu juro que terei um orgasmo com esse homem
me tocando dessa maneira” — pensei comigo mesma me sentindo cada vez
mais excitada.
 
— Prontinho! — Ele disse me fazendo abrir os olhos. — Esse é um
óleo curativo, extraído de raízes e plantas medicinais. Ele vai ajudar na
recuperação do seu tornozelo.
 
O óleo realmente tinha um cheiro de raízes misturado com aloe vera,
e deixava uma sensação refrescante no local aplicado.
 
— Obrigada! — agradeci com a boca seca, ainda sentindo aquele
desejo queimar dentro de mim.  
 
Cas usou uma faixa para enfaixar o tornozelo, e quando fiz menção
de me levantar ele não permitiu.
 
— Fique aí, eu já volto — pediu, e quando voltou tinha um prato de
macarrão em mãos.
 
— Obrigada! — agradeci quando todo prestativo, ele me ofereceu o
prato.
 
— Coma e descanse, se precisar de alguma coisa, não hesite em
pedir. — Ele disse voltando à cozinha.
 
Depois de ter comido, levei o prato para a cozinha e coloquei na lava
louças. Cas não estava por ali, então me sentei no sofá e liguei a televisão
para assistir alguma coisa, mas logo estava dormindo.
 
Tive leve impressão de ter sido levantada, mas estava tão cansada
que não abri os olhos para ter certeza, apenas me agarrei a algo quente e
voltei a dormir.
 
Acordei horas depois, em minha cama coberta com um cobertor
grosso e quentinho.
 
Era de madrugada e a porta estava entreaberta, uma fresta de luz
fraca que vinha da sala brilhava pela abertura.
 
Me levantei descalça e caminhei até a sala, Cas estava com um se
seus seguranças e ele tinha um corte em seu ombro.
 
— Meu Deus! O que aconteceu? — perguntei começando a andar
mais rápido, mas logo senti uma fisgada de dor em meu pé.
 
— Você não deveria estar descansando? — Ele perguntou.
 
— Posso descansar depois. Você não deveria ir para um hospital?
 
Nion limpava seu ferimento e eu me aproximei, preocupada.
 
— Eu apenas me machuquei na garagem — Cas disse vendo que eu
estava aflita. — Nion foi médico do exército russo. Fique tranquila, ele sabe
o que está fazendo.
 
Olhei para Nion que me deu um aceno de confirmação enquanto
fazia o curativo.
 
— Como você conseguiu fazer isso? — perguntei confusa.
 
— Uma barra de ferro que estava solta, mas já dei um jeito nela.
 
— Há essa hora? — perguntei vendo que eram quase quatro horas da
madrugada.
 
— Eu havia perdido o sono, então fui procurar uma ferramenta que
vou precisar para a nova maquete da empresa.
 
Aquilo me parecia estranho, mas Cas parecia muito tranquilo, então
deixei para lá.
 
— Vá descansar Kiara. Nion cuidará disso — Ele disse tentando me
convencer a voltar para o quarto.
 
— Nem pensar! — falei um pouco alto demais.
 
Quem ele pensava que eu era?
 
Ele havia cuidado de mim, com tanto carinho e dedicação e achava
agora que eu iria deixá-lo?
 
Esperei pacientemente que Nion acabasse o curativo e quando ele
finalmente terminou, eu o ajudei a limpar o local e levei Cas até a porta de
seu quarto.
 
— Se precisar de alguma coisa é só chamar — falei ainda na porta.
 
— Obrigada pequena, mas não será preciso — ele garantiu.
 
— Ainda assim, chame para qualquer coisa — voltei a dizer.
 
— Qualquer coisa? — ele perguntou com um sorriso malicioso.
 
— Boa noite Cas. — falei sem responder sua pergunta, mas com um
sorriso travesso nos lábios.
 
— Boa noite, pequena.
 
Quando cheguei em meu quarto, ainda sorria feito uma boba e me
repreendi por aquilo.
 
“Ele é seu chefe agora” — falei conversando comigo mesma.
 
Há quem eu estava tentando enganar? Cas, era um homem
maravilhoso, maduro e gentil, era quase impossível resistir.
 
Mordi os lábios mais uma vez lembrando de seu corpo nu bem na
minha frente, me dando uma visão mais que privilegiada de seus atributos e
sorri.
 
Voltei para cama, pensando naquele homem, que nos últimos dias
tinha tomado conta de meus pensamentos e logo voltei a dormir.
 
Acordei no dia seguinte, sonolenta, passando a mão no rosto para
tentar afastar o sono.
 
— Puta merda! — quase gritei quando olhei no celular e vi que tinha
dormido quase uma hora a mais.
 
Me levantei o mais rápido que consegui e tomei o banho que
considerei o mais rápido da minha vida.
 
— Bom dia, Elie — cumprimentei pegando uma fatia de pão.
 
— Aonde você vai tão cedo? — ela perguntou colocando meu café e
eu não reclamei, pois estava realmente atrasada.
 
— Cedo? Eu estou super atrasada — disse com a boca cheia. —
Tenho que ir trabalhar.
 
— Eu acho que não, o Sr. Cas disse que você tinha que ficar em casa
hoje se recuperando do pé torcido — ela disse apontando para baixo.
 
— O Sr. Cas é meu patrão, e não meu pai, eu não posso faltar no meu
segundo dia de trabalho ou todo mundo vai achar que ele está me
privilegiando.
 
Aquilo não era uma mentira, via quando algumas pessoas me
olhavam de cara torta, principalmente quando me perguntavam em que área
eu trabalhava.
 
E faltar no segundo dia daria muita coisa para eles falarem nas
minhas costas.
 
— Então, pelo menos mastigue antes de engolir! — Ellie brigou
comigo, me fazendo desacelerar.
 
Ela tinha razão, eu não precisava sair correndo, podia chegar um
pouco mais tarde, com certeza Cas não ligaria.
 
— Escute! — ela falou se escorando na mesa, olhando em volta para
ver se ninguém ouvia. — Você e o chefe…
 
— Quê? Não! — tratei de negar — mas eu bem que gostaria —
brinquei e ela deu risada.
 
— E quem não? Aquela pose de malvado… — ela começou a dizer,
mas Joe apareceu e pigarrou, chamando sua atenção.
 
— Você não deveria estar na cozinha? — ele perguntou sério, lhe
fazendo um sinal que ela respondeu antes de sair.
 
E eu fiquei ali sem entender absolutamente nada.
Capítulo 15
 
 
Via que Kiara se esforçava para não demonstrar estar sentindo dor,
então esquentei sua comida e levei para ela no sofá.
 
Quando voltei a cozinha para pegar um copo de suco e minha própria
comida, meu celular tocou com uma ligação de Ivan.
 
— Fale! — atendi ouvindo barulho de tiros no fundo.
 
— Cas preciso de reforços agora! Estamos sendo atacados no galpão
de drogas.
 
Eu não esperei que ele terminasse para sair pela porta dos fundos,
fazendo sinal para alguns de meus homens, que estavam de segurança ali na
mansão aquela noite.
 
— Vamos! Ivan está em apuros — Ordenei entrando em um dos
carros.
 
Nion estava no volante e ligava para o restante dos homens que
estavam de folga ou em outros postos.
 
Levamos cerca de quinze minutos para chegarmos até o galpão e
assim que chegarmos vimos que eles estavam cercados cerca de uns quinze
homens ou mais. O carro ainda estava em movimento quando coloquei meu
corpo para fora da janela e comecei a atirar, fazendo eles se dispersarem, se
escondendo entre os veículos que estavam parados na frente do galpão.
 
Quando Nion derrapou com o carro no chão de terra, levantando
poeira para dificultar a visão de nosso inimigo e nos dar tempo para nos
posicionar, eu desci do carro e corri me escondendo atrás de alguns paletes
que estavam empilhados não muito longe.
 
Recarreguei minha arma às pressas e voltei a atirar. Havia cerca de
três homens escondidos em um veículo a menos de dez metros de mim e foi
fácil atingir dois deles antes que conseguissem reagir, mas o terceiro
conseguiu trocar de pente e abriu fogo contra mim, me obrigando a
esconder. 
 
Ele usava duas pistolas e atirava sem parar, se escondendo
novamente assim que suas balas acabavam. Parecia contar exatamente o
tempo ou a quantidade de tiros que dava.
 
Nion e os outros homens não estavam em melhor situação. Ele
juntamente com mais três homens meus atiravam e um grupo um pouco
maior, que estavam mais adiante. Eu tinha uma visão melhor dos homens
que Ivan atacava, então aproveitei para derrubar dois do grupo inimigo,
porém me descuidei do único homem que precisava abater. Senti uma
fisgada no ombro e quando me dei conta ele vinha em minha direção
atirando e se não fosse por Ivan aparecer por trás dele o abatendo
provavelmente não teria tempo para reagir.
 
— Obrigado! — Agradeci me levantando.
 
— Eu que agradeço. Já estávamos nos considerando homens, mortos.
— Ele disse apertando minha mão.
 
— Vamos deixar os comprimentos para depois. Os outros ainda
precisam de ajuda. — Falei pegando minha arma e trocando o pente.
 
Quando tudo acabou, eu tinha um tiro de raspão no ombro, um de
nossos homens havia sido morto, oito dos inimigos tinham morrido e os que
não tinham fugido acabaram se rendendo.
 
— Quantos se renderam? — perguntei para um de meus homens.
 
— Três, chefe.
 
— Descubra quantos eram e a mando de quem eles vieram. —
Ordenei.
 
Meu ombro queimava devido ao ferimento e eu me encostei no capô
do carro para dar uma verificada e logo Ivan e Nion estava ao meu redor.
 
— Me deixe dar uma olhada nisso — Nion pediu já afastando o
tecido da camiseta.
 
— Temos que tomar mais cuidado de agora em diante. — Ivan disse
acendendo um cigarro.
 
— Acha que foi a Yakuza? — Nion perguntou tentando limpar o
local com um pedaço de pano.
 
— Não, os japoneses pagam por seus serviços sujos — Afirmei.
 
— Acha que pode ser quem eu estou pensando? — Ivan perguntou
me fazendo encará-lo.
 
— Talvez, mas só saberemos quando interrogarmos os homens que
sobraram.
 
Ivan assentiu irritado e jogou sua bituca de cigarro no chão.
 
As suspeitas de que Heron poderia ter contratado um grupo tentando
me atingir era uma possibilidade e Ivan não ficava feliz com aquilo, nem eu
mesmo estava feliz, mas não iria entregar Kiara aos lobos para evitar
problemas.
 
Segurei o pano que Nion limpava o ferimento e fiz sinal para que Ele
nos deixasse a sós.
 
— Sei que acha que isso é minha culpa — falei suspirando fundo.
 
— Eu falei desde o começo que aquela garota era um problema. Mas
você quis me ouvir? Não! Você simplesmente quis fazer suas vontades —
Ele falou irritado.
 
Ivan era o que eu tinha mais perto uma de família depois de tudo que
havia acontecido.
 
— E o que você queria que eu fizesse? — perguntei calmo.
 
— Deixa-se que a garota lidasse com seus próprios problemas! — ele
falou furioso se virando — Esses homens confiam em você! Vieram por
você — Ivan disse apontando para os homens que se reagrupavam na
entrada do galpão, alheios a nossa discussão.
 
— Eu disse a você que não queria essa merda! — Também respondi
com raiva — Você insistiu que eu viesse, que aproveitasse a oportunidade…
 
Quando Ivan soube que Boris me mandaria para a Inglaterra, ele
juntou os poucos homens que acreditavam em mim e ficariam ao meu lado.
 
No início não quis aceitar a ideia de iniciar minha própria
organização, colocando todos na fogueira, correndo o risco de Boris vir
atrás de nós.
 
Ainda não havia declarado aquilo abertamente, então para meu irmão
eu ainda estava sob seu comando.
 
— Sim, eu insisti que viesse, porque confio em você, esses homens
confiam em você — Ele falou mais calmo.
 
— E eu sou eternamente grato por isso. Mas vocês me escolheram
por uma razão — Eu o lembrei.
 
— Porque você não é como os outros. — Ele respondeu a uma
pergunta que eu não havia feito.
 
Tanto Ivan quanto os outros homens, estavam cansados da crueldade
empregada dentro do Bratva, homens, mulheres e crianças, inocentes
mortos sem qualquer decência. E acreditavam que eu podia ser diferente e
eu era.
 
— Como eu seria diferente se eu a deixasse com ele? — perguntei.
 
— Não somos heróis! — ele falou alterado um pouco a voz.
 
— Não, não somos, mas também não somos monstros.
 
Ivan se manteve calado por um longo tempo, e depois disse:
 
— Se foi realmente ele, o que vai fazer?
 
— Vamos mostrar para esse filho da puta o que acontece com quem
mexe com nossa organização. — falei me levantando.
 
Nion e eu voltamos para casa e ele fazia um curativo quando Kiara
apareceu.
 
Eu já havia imaginado que ela podia ver o ferimento, então já tinha
planejado exatamente o que lhe diria.
 
Apesar de tudo que lhe tinha acontecido, Kiara ainda era muito
ingênua, e tinha acreditado exatamente em tudo que eu lhe tinha dito e
quando acordei no dia seguinte para ir para a empresa deixei ordens de que
ela devia descansar aquele dia.
 
Ela ainda tinha o pé machucado e eu não queria que ela se esforçasse.
 
— Bom dia! Aldrey.
 
— Bom dia, Sr. Cas.
 
— Passe minha agenda, consiga um horário para o evento de hoje à
noite e me traga um café.
 
— Evento? Que evento? O senhor havia dito que não iria. — Ela
falou nervosa se levantando desajeitada.
 
— Agora estou dizendo que vou! — Afirmei indo em direção a
minha sala. — Ah, e Aldrey, levarei uma acompanhante. — Falei fechando
a porta.
 
Aldrey apareceu minutos depois com meu café e mil perguntas.
 
— Senhor, eu havia confirmado que o senhor não iria ao evento de
hoje a noite, como tinha me pedido anteriormente.
 
— Então ligue para o organizador e confirme minha presença e de
minha acompanhante.
 
— Mas está em cima da hora!
 
— Isso é um problema Aldrey? — perguntei me divertindo como ela
ficava nervosa.
 
— Não, claro que não senhor, é só que…
 
— É só quê? — perguntei me sentando desabotoando o blazer.
 
— Nada! Só que nada. Vou tentar fazer isso agora mesmo — falou
saindo. — Ah! Senhor Cas, qual o nome de sua acompanhante?
 
— Kiara.
 
Apesar de Aldrey ficar surpresa, não se atreveu a comentar ou
questionar nada.
 
Algum tempo depois uma leve batida soou na porta.
 
— Com licença, Senhor Cas — ouvi Kiara dizer antes de entrar.
 
— O que você pensa que está fazendo aqui? — Perguntei me
levantando.
 
— Trabalhando. — Ela respondeu indo direto para sua mesa.
 
— Eu não havia dito que você deveria ficar em casa descansando?
 
— Sim, mas como você é meu patrão e não meu pai, eu decidi vir
assim mesmo. — Ela falou sem me encarar.
 
Caminhei até ela e do outro lado da mesa segurei de leve em seu
queixo, para que me encarasse e olhei bem no fundo de seus olhos.
 
— Repita o que acabou de dizer Kiara — Ordenei sério, sentindo seu
corpo estremecer do jeito que eu queria. — Você tem sorte de que eu
realmente não seja seu pai Kiara, ou te colocaria de bruços e te daria umas
boas palmadas nesse seu traseiro.
 
Kiara engoliu em seco e levou sua mão a minha, mas sem retirá-la se
seu rosto.
 
— Você gostaria disso, Kiara? — Perguntei. Me abaixando e
sussurrando bem próximo aos seus lábios, vendo-a umedecê-los como se
pedisse para ser beijada.
 
Kiara deu um leve aceno como a cabeça concordando, mas logo se
deu conta de que fazia o sinal errado e balançou a cabeça freneticamente
dizendo que não. Eu sorri satisfeito, vendo-a desnorteada pelo desejo.
 
— Que bom! Então não me desobedeça mais, entendeu? —
perguntei, e sem conseguir pronunciar as palavras ela mais uma vez acenou
concordando. 
Capítulo 16
 
 
Agradecia por estar sentada, pois caso contrário minhas pernas
provavelmente não suportariam o peso do meu próprio corpo que, aliás,
tremia involuntariamente pela excitação que aquelas palavras me fizeram
sentir.
Cas se afastou me deixando com a boca seca, as pernas bambas e a
calcinha totalmente molhada.
Ainda tinha em minha mente a ilusão de meu corpo de bruços em seu
colo, com o bumbum à mostra enquanto ele espalmava sem piedade até que
ficasse vermelho.
“Senhor, que tipo de pensamentos eram aqueles?”
Mas também quanto tempo fazia? Dois meses? Não, sexo de verdade,
um sexo prazeroso, que eu gozasse até ficar sem forças nas pernas tinha
pelo menos mais de dois anos.
Sem perceber, eu me abanava afetada pelo calor intenso que vinha do
vale de minhas pernas e subia pela barriga até o pescoço me fazendo abrir
alguns botões de minha blusa para ver se conseguia entrar um pouco de ar.
Cas me olhava de sua mesa com um sorriso malicioso e eu tive que
disfarçar ou pelo menos tentei, me ajeitando na cadeira e mexendo no
computador. 
Me levantei desajeitadamente e fui para o banheiro privativo que
tinha em sua sala. Assim que tranquei a porta, olhei meu rosto vermelho no
espelho e minha camisa social com alguns botões abertos. Abri a torneira
pegando um pouco de água com as mãos e levando ao rosto, repetindo
algumas vezes, até sentir que a temperatura havia baixado um pouco.
Molhei de leve à nuca tentando recuperar um pouco do meu autocontrole e
depois peguei a pequena toalha para me secar.
Olhei meu reflexo no espelho ainda secando o rosto com a toalha e
vendo minha camisa social branca, molhada com um pouco de água que
havia caído ali.
— Droga! — Xinguei tentando secar com a toalha — Agora essa
merda vai ficar toda transparente — reclamei, mas logo me surgiu uma
ideia e eu sorri satisfeita.
Abri alguns botões de minha camisa deixando uma boa parte de meus
seios à mostra e voltei para a sala do meu chefe, lindo e gostoso, com um
sorriso de canto a canto nos lábios.
Cas notou minha mudança de humor, mas não fez nenhum
comentário, apenas me seguiu com o olhar até que eu me sentasse em
minha mesa.
— O que vai fazer hoje à noite? — Ele perguntou juntando alguns
papéis.
— Eu? — perguntei apontando para mim mesma — Nada, que eu
saiba.
— Ótimo! Então irá me acompanhar em um evento da empresa. 
— Evento? Que tipo de evento? — Questionei.
— É a inauguração de um novo hotel no centro.
— E todos os funcionários têm que ir? Eu nem trabalhei nesse
projeto — falei
— Não, não são todos os funcionários que irão, apenas alguns foram
convidados. Mas você irá, porque quero que vá como minha acompanhante.
— Sua acompanhante? Eu nem tenho roupa para esse tipo de evento
— falei surpresa.
— Não por isso, tire a tarde de folga, faça as unhas, o cabelo,
maquiagem e tudo isso que vocês mulheres gostam de fazer antes de um
evento como esse. — Ele disse vindo em minha direção e tirando um cartão
de crédito preto com letras douradas. — E compre o vestido que achar
melhor.
— E… — comecei a dizer, mas Cas me interrompeu antes mesmo
que saísse a frase de meus lábios.
— E antes que você diga que não pode aceitar, porque não pode
pagar e dizer que eu não posso ficar comprando essas coisas para você,
saiba que isso por ser um evento da empresa, todo funcionário ganha um
extra para os gastos com o evento. — Ele disse me estendendo o cartão.
Estreitei meus olhos, desconfiada, mas aceitei o cartão, afinal se ele
queria que eu fosse aquela festa, nada mais do que justo, ele pagar pelos
gastos.
Guardei o cartão em minha bolsa e voltei ao trabalho.
Já que compraria um vestido, faria questão de comprar um bem
provocante, planejei em minha mente.
De vez em quando eu parava para admirar Cas trabalhando sério,
concentrado, enquanto eu mordia sem parar a tampa da caneta pensando em
mil safadezas com aquele homem.
Era a visão mais sexy que eu já tinha visto, tirando o dia que eu tinha
o visto totalmente nu, uff aquilo sim foi o auge do tesão, mas ainda assim
ver aquele homem, lindo, sarado e tatuado, tão sério trabalhando. Era isso
ou certamente eu estava delirando.
Respirei fundo buscando me concentrar e vi quando Cas levantou o
olhar para mim e eu logo dei um jeito de disfarçar.
Cas manteve seus olhos sobre mim e eu fiquei um pouco sem graça,
então ele retribuiu o olhar, sem disfarçar, com um meio sorriso que brincava
em seus lábios.
Então peguei a pequena garrafa de água que estava sobre a mesa e
comecei a tomar, deixando propositalmente que um pouco escorresse pelo
canto na boca e se derramasse sobre minha camisa.
— Дерьмо![1] — Ouvi Cas xingar e me surpreendi deixando cair
mais água do que eu planejava sobre mim.
— Droga! — reclamei tentando secar.
E quando eu menos esperava, Cas estava bem ao meu lado.
Agora minha blusa estava bem mais molhada do que eu pretendia e
não tinha a menor condição de eu sair daquela maneira.
— Merda! Merda! Merda, como eu vou sair desse jeito? —
perguntei.
Minha camisa estava toda transparente, mostrando toda a lingerie que
eu usava por baixo que por sinal era bem provocante.
Dei a volta pelo outro lado indo novamente em direção ao banheiro.
— Onde você vai? — ele perguntou.
— Preciso tentar secar, não posso sair assim.
Cas retirou seu blazer e começou a desabotoar a própria camisa,
ficando somente de calça social.
— Tome, use a minha enquanto a sua seca. — ele disse me
oferecendo sua camisa.
— Quê? E você vai ficar sem? — perguntei, pegando de sua mão.
— Melhor alguém entrar aqui e me encontrar sem camisa do que
você, não acha?
Eu assenti e fiz exatamente o que ele havia sugerido. Fui ao banheiro
e tirei minha camisa molhada e pendurei para secar, e depois coloquei a sua,
que ficava gigante em mim. 
Quando terminei de abotoar sua camisa, levei o colarinho ao nariz
sentindo o aroma gostoso de seu perfume e fechei os olhos amando aquela
sensação gostosa que aquele cheiro me trazia. Era como voltar ao dia em
que ele havia me pego em seu colo, parecia estar envolvida por seus braços,
sentindo seu cheiro, até o calor de seu corpo parecia ainda estar ali.
— Está gostando? — ouvi a voz de Cas bem atrás de mim, e vi seu
reflexo no espelho, me assustando e me fazendo virar para ele.
— O que… o que… faz aqui — perguntei desesperada.
Ele tinha me visto cheirar suas roupas? — pensei comigo mesma
totalmente sem graça.
— Deixou a porta aberta Kiara. Só não sei se foi de propósito ou se
realmente se esqueceu. — Cas disse se aproximando sorrateiro me fazendo
recuar, mas logo esbarrei com a pia bem atrás de mim. — E então Kiara?
Me diga, está tentando me provocar? — ele perguntou, mas eu não
conseguia responder.
Meu coração batia acelerado. Levei uma das mãos ao peito nu de Cas
tentando barrá-lo, mas ele levou a mão em minha nuca e sussurrou em meu
ouvido.
— Diga pequena mentirosa, diga que não passou a manhã pensando
em como me provocar?
— Cas… — minha voz saia como uma súplica desesperada.
— Esse é meu nome Kiara, e quero ouvi-lo exatamente assim quando
eu lhe foder — Cas disse com uma mão em minha cintura e a outra em
minha nuca, me levantando, fazendo eu me sentar sobre o balcão e beijando
minha boca com necessidade.
Seus lábios faziam uma carícia macia nos meus, enquanto os
movimentos de nossas cabeças se intercalavam em um ritmo perfeito, me
fazendo sentir uma grande excitação somente através daquele beijo. 
Cas se encaixava entre minhas pernas que se abria para ele e subia
suas mãos sobre minhas coxas, sem parar de me beijar.
Senti quando sua mão subiu por minha cintura sobre as roupas e
alcançou meu seio com o polegar acariciando meu mamilo me fazendo
jogar a cabeça para trás. Cas então desceu sua boca pelo meu pescoço até
encontrar meu sutiã afastando o tecido, deixando amostra meus mamilos
que ele não esperou para abocanhar sugando e se divertindo com os dois.
Meu centro latejava e me fazia contorcer sem parar.
E quando sua mão entrou por dentro de minha saia achando minha
boceta, ele afastou o tecido mergulhando seus dedos com facilidade me
fazendo soltar um gemido.
Mas quando achei que ele, continuaria, Cas retirou seus dedos e
levou aos lábios provando meu sabor.
— Exatamente como imaginei — ele disse meu ouvido —
Molhadinha, saborosa e esperando por mim.
Sua provocação me deixou ainda mais excitada e eu estava louca
para ser fodida ali mesmo, no banheiro de seu escritório, quando ouvimos
um barulho do lado de fora do escritório.
Cas olhou para mim estranhando e depois me ajudou a descer. Ele
saiu, indo verificar do que se tratava e eu fiquei ali me arrumando.
— Onde ele está! — uma voz familiar gritou e por alguma razão eu
saí para fora encontrando com Heron que estava furioso no escritório de
Cas.
Heron olhou para mim que usava a camisa de Cas e depois voltou a
olhar para Cas que estava sem camisa.
Meu coração ameaçou a sair pela boca, e meu corpo tremia
aterrorizado, e eu quis voltar correndo para o banheiro, mas minhas pernas
não se moviam.
O olhar assassino de Heron sobre mim, quase me fez me urinar
aterrorizada, mas Cas se colocou entre mim e ele.
— É por isso, sua vagabunda que você quer o divórcio? Para ficar
trepando com outro? — Ele gritou para mim levantando e amassando os
papéis bem na minha frente.
— O que está fazendo aqui, Heron? — Cas perguntou, mas foi
totalmente ignorado.
Seu ódio estava todo direcionado a mim, vestida na camisa de outro
homem.
Aldrey olhava tudo horrorizada perto da porta de saída e logo Ivan
apareceu com Nireu outro funcionário.
— Não se aproxime dela! — Cas disse de forma ameaçadora e Heron
riu debochado.
— Acha que pode ficar com ela? — ele perguntou — Ela é minha!
Minha! — ele gritava — Minha propriedade. Até que a morte nos separe,
lembra amor? — Heron dizia alucinado.
— Kiara não é sua propriedade e nem de ninguém! — Cas afirmou.
As lágrimas desciam pelo meu rosto, eu não conseguia explicar o
tamanho do pavor que sua voz causava em mim.
Lembranças de quando ele me tocava, estando daquela mesma
maneira me atingia. Parecia que ainda podia sentir as mordidas, os socos,
seu corpo sobre o meu e eu quis vomitar.
Eu queria me encolher em um canto e chorar, me esconder dele, me
esconder do mundo, mas eu não me mexia.
— Diga a ele amor como você gemia e pedia por mais…— antes que
ele terminasse, Cas desferiu um soco em sua cara tão violento que Heron
caiu no chão, mas se levantou com a boca sangrando e um sorriso no rosto
— Sua sorte é estarmos…
— Cas! — Ivan disse o repreendendo e o impedindo de bater nele
novamente.
— É o que ele quer cara! Se acalme — ele disse tentando acalmar o
amigo.
— Aproveite enquanto pode Cassiano, porque ela ainda vai voltar
para mim, não é mesmo baby? — ele disse me jogando um beijo ainda
segurando o rosto onde Cas o havia esmurrado e saiu quando os seguranças
do prédio que chegaram para tirá-lo da sala.
Ivan e Nireu os acompanharam e Aldrey saiu deixando somente Cas
e eu novamente.
Cas veio até mim, secou minhas lágrimas e me abraçou até que meu
corpo parou de tremer.
— Não quero mais vê-la tendo medo deste merda, está escutando
Kiara? — Cas disse segurando em minha nuca me fazendo encará-lo — A
próxima vez que nos encontramos, vou fodê-la na frente dele e só quero vê-
la tremendo enquanto goza — ele disse se abaixando e devorando minha
boca, fazendo aos poucos todo o medo ir embora, abrindo espaço para uma
nova excitação.
Capítulo 17
 
 
Eu ainda tinha Kiara em meus braços em um beijo quente quando
Ivan entrou.
— Cara, o que você estava pensando? — Perguntou sem se dar conta
do que acontecia, e se calou esperando impaciente.
— Vá pequena, compre uma camisa nova para você.  — Pedi lhe
dando um último beijo na testa.
— E você vai ficar assim? — Ela questionou apontando para meu
peito nu.
— Ivan certamente tem uma camisa reserva em sua sala para me
emprestar — Falei olhando para Ivan, que concordou, querendo se livrar o
mais rápido possível de Kiara.
Ela me lançou um último olhar triste e envergonhado de desculpas e
caminhou até sua mesa, pegou sua pequena bolsa.
— Nos vemos mais tarde? — Ela perguntou abrindo a porta.
— Com certeza! — Confirmei e ela saiu deixando-me a sós com
Ivan.
— Você perdeu a cabeça de vez? — Ivan questionou assim que Kiara
fechou a porta atrás de si.
— Quero esse desgraçado morto! Entendeu? — Falei avançando em
Ivan, fazendo ele esbarrar na prateleira do meu escritório.
Havia tentado controlar meu ódio por causa de Kiara que estava
amedrontada, mas, aquilo havia gastado todo o meu autocontrole para não ir
até minha gaveta, pegar minha arma e meter uma bala na cabeça de Heron,
bem ali em minha sala, na frente de todos.
Eu me considerava um homem paciente, tranquilo, frio. Que sabia
esperar o momento certo para agir.
Havia suportado anos de humilhação dentro de minha própria
organização, suportado todos me desprezando pelo que eu havia feito com
meu pai. Aguentei meu próprio irmão, sangue do meu sangue, minha única
família me renegar e cuspir em minha cara, seu desprezo, mas Heron,
Heron estava alcançando meus limites muito mais rápido do que qualquer
ser humano havia sido capaz.
Ivan não respondeu, apenas ficou me encarando surpreso com minha
reação. Ele mais que ninguém conhecia minha paciência e sabia que aquela
atitude não era comum. Ele deixou que eu notasse que ele não era o alvo de
meu ódio.
Aos poucos fui soltando seu colarinho e ele foi baixando a guarda.
— Tenho que te lembrar a todo momento que aqui você não pode ser
investigado? — Ele disse batendo com o indicador sobre a madeira da
mesa. — Se esse merda morrer, você é o primeiro suspeito e se chegar a ser
preso, seu irmão irá deixar que você apodreça na cadeia.
— Ahhhh! — gritei furioso dando um chute em minha cadeira que
bateu com força no vidro temperado do escritório, o trincando e depois
voltou. 
Aldrey surgiu na porta assustada com o barulho, mas logo voltou
correndo ao notar meu mau-humor.
Ivan observava tudo atento, me seguindo com o olhar. 
— Eu não quero saber, quero ele morto! Acidente de carro, afogado,
envenenado — Falei me lembrando do idiota que havia tentado me matar
daquela maneira uma vez — Só faça!
— Claro, por que matar as pessoas é a sua solução para tudo, né Cas?
— Ivan jogou na minha cara, me fazendo encará-lo com mais ódio do que
eu já estava.
— Ivan, não faça isso, não estou em um bom dia. — Alertei, mas ele
parecia não querer me ouvir. 
— Matou os homens que se envolveram com Laila — ele acusou.
— Isso não é justo…— falei me lembrando do quanto tinha sido
manipulado.
— Matou sua madrasta! — Ele continuou fazendo meu ódio crescer.
Eu me virei não querendo encará-lo, tentando buscar um pouco de
autocontrole, mas nada parecia me acalmar.
— Pare! Eu não quero brigar com você — Falei com sinceridade,
mas sentia que não conseguiria me controlar se Ivan continuasse naquele
caminho. — Você sabe que ela teve uma morte muito melhor do que
merecia! — gritei apontando o dedo para ele.
— Matou seu próprio pai! — Ele cuspiu a verdade em minha cara,
me fazendo mais uma vez ir para cima dele, o esmurrando.
Eu o soquei e soquei, várias e várias vezes, até me cansar e Ivan estar
com a cara toda machucada e cheia de sangue. Então me joguei para o lado
ofegante com as mãos doloridas, o ombro machucado ardendo e ficamos ali
deitados calados sem falar nada.
Ivan foi o primeiro a se levantar, retirou um lenço de seu bolso e
começou a limpar o sangue de seu rosto, tranquilamente, como se nada
tivesse acontecido.
Só então me dei conta de que ele não havia revidado, não havia
tentado se defender, apenas tinha recebido os golpes como se fosse
exatamente o que queria.
— Está mais calmo agora? — perguntou me estendendo a mão para
me ajudar a levantar.
Eu olhei para sua mão estendida e dei um tapa dispensando, irritado
demais com ele para aceitar sua ajuda.
— Por que merda fez isso?
— E de que outra forma você iria extravasar toda essa raiva? — ele
falou indo até o bar e pegando um pouco de gelo.
— Você é um babaca! — Falei ainda nervoso.
— Você quebra a minha cara e eu sou o babaca? — Ivan disse
enchendo um copo com whisky e virando de uma única vez.
Olhei para ele querendo esmurrar sua cara novamente. Ivan sabia o
quanto todo aquele assunto era delicado para mim, o quanto aquilo me
incomodava e ainda assim, havia usado aquilo justo aquilo para me
provocar.
— Venha, vamos pegar uma camiseta para você — ele disse, mas
para mim aquele dia já tinha dado o que tinha de dar.
Peguei minhas coisas e meu blazer e sai sem dar qualquer satisfação
a ele.
— Aonde vai? — ele perguntou ao me ver saindo — Está sangrando
— ele me avisou, mas eu não dei importância, coloquei meu blazer sentindo
o molhado do sangue de meu ombro machucado e saí.
— Cancele todos meus compromissos de hoje — Ordenei a Aldrey
que parecia assustada.
— Eu… eu…— ela gaguejou me fazendo ficar mais irritado ainda.
— Devo desmarcar sua presença e dá…
— Não! — respondi seco e fui para o elevador.
Todos os olhares estavam sobre mim até o momento em que as portas
de metal se fecharam.
Quando cheguei em casa, enchi um copo de whisky, chamei Nion
que fez outro curativo em meu ombro e eu fui direto para o meu quarto, me
sentei em uma das poltronas e fiquei ali pensando no que Ivan tinha jogado
em minha cara.
Ainda me doía muito lembrar como eu havia me deixado ser
manipulado por Laila. Não, meu pai nunca havia sido um homem bom, ao
contrário, eu sempre o odiei, desde o dia em que minha mãe havia tirado
sua própria vida e eu nem pude ir em seu velório. Cinco dias depois ele já
estava à procura de outra mulher, mais bonita e mais jovem, como se ela
não fosse nada para ele. Sim, poucos meses depois ele já estava casado com
outra e quando ela também morreu alguns anos depois, ele se casou
novamente com Laila.
Eu ainda era jovem, tinha acabado de completar 17 anos, Laila era
bonita, jovem e tinha uma aparência inocente, meiga e doce.
Eu havia acabado de voltar, tinha passado anos nos Estados Unidos
estudando e treinando.
Lembro que Laila me recebeu em casa naquele dia, pois Boris e
nosso pai estavam em uma missão.
Me encantei com seus olhos extremamente verdes, sua pele clara e
seus lábios carnudos, no mesmo dia, mas não era louco para me envolver
com a atual mulher de meu pai. Ou pelo menos achava que não.
Assim como minha mãe, Laila vivia uma vida infeliz, ciente de que
apesar de ser esposa, não passava de um troféu nas mãos de meu pai, para
ser exibida em festas e eventos.
Com o passar dos meses nós começamos a conversar frequentemente.
Naquele dia eu e minha equipe estávamos responsáveis pela
segurança da casa e dos galpões, ela estava no jardim, sentada perto ao
portão de entrada, então fui até ela.
— Não deveria ficar sentada aqui. — Avisei — É perigoso, pode ser
morta facilmente desse ângulo. — Informei olhando em volta para ver se
não tinha nenhum perigo.
— Não seria uma benção? — Ela disse com um sorriso.
— Quê? Do que está falando? — perguntei confuso, fazendo sinal
para os homens no portão, para que dobrassem a segurança na entrada.
— Ser morta facilmente. Um tiro. — Ela disse fazendo sinal com os
dedos em sua própria cabeça. — E em milésimos de segundos tudo teria
fim. — Completou jogando o corpo para trás para aproveitar o pouco sol
que ainda restava.
Lembro de ter pensado que ela era maluca, que havia perdido a
sanidade como minha mãe, mas a verdade era que Laila tinha tudo
planejado.
 
Capítulo 18 
 
 
Quando eu saí do escritório de Cas, minhas pernas ainda tremiam, me
sentia péssima com tudo que tinha acontecido, por minha culpa Cas havia
sido exposto de forma ridícula para todos na empresa.
Os olhares de todos foram direcionados a mim do momento em que
abri a porta da sala até o momento em que o elevador fechou suas portas de
metal.
Dentro do elevador eu dei graças a Deus por estar sozinha, mas isso
não durou, logo um grupo de mulheres entrou no andar seguinte,
conversando sem prestar muita atenção em mim. Um nó se formava em
minha garganta e eu sentia uma necessidade enorme de chorar.
Antes de descer ao subsolo, parei em um andar qualquer e procurei
pelo toalete.
Quando entrei, duas mulheres me olharam de forma estranha e só
então me dei conta que era pelo fato de eu estar usando a camisa de Cas que
era quase duas vezes maior do que eu.
Entrei em uma das cabines, me sentei sobre a privada e chorei. Os
gritos de Heron ainda soavam em minha mente como um sino, balançando
minhas estruturas.
Sabia que quem estava do lado de fora podia ouvir meus soluços,
mas eu não me importei, aquilo não era nada perto do que eu havia acabado
de passar. As garotas logo deram um jeito de sair me deixando sozinha.
Por que tinha que ter sido justo naquela hora?
Por que eu me sentia suja e envergonhada, quando não tinha feito
nada de errado?
Por que Heron me despertava aquele tipo de sentimento?
Ele sempre conseguia me derrubar, fosse com suas palavras ou com
agressão física, ele sempre conseguia alcançar seu objetivo.
Fiquei ali por alguns minutos e quando ouvi alguém entrando. Sequei
minhas lágrimas, respirei fundo tentando me controlar e sair.
Tentei dar uma ajeitada em meu visual no espelho e desci para o
estacionamento onde Joe já me espera.
Eu não tinha ânimo nenhum de sair para procurar roupa para festa,
mas ainda assim parei em uma loja para comprar uma outra camisa, como
Cas havia sugerido.
— Posso já ir usando? — perguntei à vendedora depois de escolher a
primeira camisa que me foi oferecida.
Ela concordou com um aceno e depois cobrou no cartão de crédito
que Cas havia me oferecido.
— Vai querer levar esta, ou posso jogá-la fora?  — Ela perguntou se
referindo a camisa de Cas.
Olhei a camisa de Cas, que tão prestativo havia tirado de seu próprio
corpo e me entregado.
— Não, eu vou levá-la, tive que pegar emprestada de um amigo —
Justifiquei, não querendo me desfazer daquela peça que para mim tinha um
grande significado.
Cas provavelmente deveria ter dúzias como aquela, e para ele, aquela
camisa poderia não ser nada, mas para mim tinha um valor sentimental.
— Se quiser, tem uma ótima lavanderia aqui dentro do shopping. —
A vendedora sugeriu.
— Não, eu tenho uma de minha própria preferência — falei pegando
pacote.
Não tinha intenção nenhuma em devolver a camiseta de Cas, menos
ainda de lavá-la, pelo menos não ainda.
Caminhei a passos lentos, desanimada demais para qualquer coisa,
mas bati os olhos em um vestido preto curtinho, com um lindo decote e
muito elegante e mesmo me sentindo tão para baixo decidi ir até a loja e
experimentar.
Entrei na loja pouco empolgada para ver aquele modelito, mas
quando a vendedora me disse o preço eu quase desisti de comprar, porém,
ela insistiu que eu provasse juntamente com um lindo scarpin meia pata de
salto alto.
Quando me olhei no espelho, era como uma pontinha de luz se
iluminasse dentro de mim e eu soube que aquele era um conjunto que
deveria levar se quisesse realmente impressionar Cas.
Não sabia se conseguiria andar por muito tempo com o ferimento no
pé, que apesar de não ter sido nada grave, de vez em quando ainda sentia
doer, mas ainda assim decidi arriscar e já que ele havia dito que era um
bônus na empresa, então não me fiz de rogada.
Apesar de feliz por ter encontrado o modelito para festa e ter amado
cada detalhe dele, eu ainda andava como se tivesse um peso sobre minhas
costas, e eu não queria voltar para casa, não ainda, precisava pensar, talvez
chorar mais um pouco ou apenas respirar um pouco de ar.
Mas Joe me seguia para onde quer que eu fosse e aquilo começava a
me incomodar.
— Não precisa ficar me seguindo, quando eu terminar posso te
avisar. O que acha? — Perguntei, quase implorando para que ele me
deixasse sozinha. 
— Não posso, o senhor Cas me deu ordens para nunca a deixar
sozinha — ele avisou.
“Quê? Como assim” — pensei comigo mesma.
— Você não é só um motorista? — Questionei, e ele acenou negando.
— Então o que você é?
— Sou seu segurança particular — ele respondeu me deixando de
boca aberta.
— Cas contratou você para fazer a minha segurança? — Questionei.
E ele assentiu.
— Vamos embora. — Chamei encabulada com o que ele havia me
dito.
Joe era um homem sério de poucas palavras e sempre estava atento a
movimentação ao redor, mas nunca havia passado pela minha cabeça que
ele fosse um segurança particular.
O que levaria um homem pagar um segurança para uma mulher que
não tinha nada?
Cas havia contratado Joe sem falar nada comigo e antes mesmo de
termos alguma coisa, se é que realmente eu podia considerar o que rolou em
seu escritório como alguma coisa.
Chegamos à mansão, eu fui dar atenção ao meu gatinho que vinha
passando muito tempo sozinho, aproveitei para me sentar com ele e lhe
fazer um grande chamego, fiquei ali alisando seu pelo.
— O que você acha? — Perguntei para ele como se ele pudesse me
responder. — Acha que Cas é como Heron? Que no final vai acabar me
trancando e me privando de tudo? — Falei puxando os pelos de seu rosto
fazendo seu olho se esbugalhar e ele miou reclamando.
— Eu não sei — respondi levando aquilo como uma resposta —
Tenho tanto medo, que às vezes me esqueço dos outros sentimentos, ou do
que realmente quero.
Cas miou novamente e eu o puxei para encará-lo.
— O que você entende? Não conhece Heron, se conhecesse também
ficaria morrendo de medo — Reclamei. — Talvez eu devesse falar com
Cas. Affs esse nome de vocês dois às vezes me confunde sabia, acho que
seria uma boa ideia se eu te desse um apelido, o que acha?  Casmiando?
Não, horrível né. Deixa depois eu penso em alguma coisa — Falei
colocando-o novamente em seu canto e saindo.
Cas já estava em casa, então aproveitei para ir conversar com ele.
Bati em sua porta com delicadeza o suficiente só para ele escutar.
— Entre. — Ele respondeu à batida.
Quando entrei, Cas estava sentado sobre uma das poltronas de seu
quarto com um copo de whisky na mão. Ele estava sério e parecia chateado
e eu fiquei pensando se aquele era realmente o melhor momento para
questioná-lo.
— Diga Kiara. — Ele falou olhando profundamente para mim.
— É, eu… eu volto em outro momento. — falei com medo de sua
reação caso eu o confrontasse naquele momento.
Cas estranhou e virou um pouco a cabeça de lado tentando entender.
— E por que não agora? — Perguntou.
Meu corpo todo se arrepiou e eu senti medo.
— Está com medo de mim? — Cas perguntou me vendo estremecer.
— Venha até aqui Kiara — Ele ordenou e eu hesitei por alguns segundos.
Óbvio que eu não deveria ter ido questioná-lo, homem nenhum
gostava daquilo depois de tudo, eu já deveria ter aprendido.
Tinha perdido as contas de quantas vezes havia apanhado por
simplesmente ter perguntado onde Heron tinha passado a noite, ou aonde
ele iria, que dirá questionar sobre suas decisões.
Andei devagar até ele, e quando me aproximei ele bateu em seu
próprio colo, indicando para que eu me sentasse.
Estranhei seu gesto, mas me sentei.
Cas passou a mão por minha cintura me aconchegando melhor sobre
seu colo e depois me deitou em seu peito, afastando meus cabelos de meu
pescoço, esfregou seu nariz logo abaixo de minha orelha me fazendo sentir
mil borboletas se remexerem em meu estômago. 
Todo o medo que eu sentia foi embora em um simples passe de
mágica e foi abrindo espaço para uma nova excitação, ele cheirava meu
pescoço enquanto apertava a carne da minha cintura me pressionando mais
e mais contra seu membro.
Cas levantou um de meus braços, e passou a mão pela lateral do meu
corpo, descendo do meu antebraço, passando por minha axila, me fazendo
sentir cócegas até chegar na lateral de meus seios e descer por minha
cintura, aflorando meu desejo, despertando todos meus sentidos.
Era algo torturador, mas também gostoso, algo que me fazia querer
remexer sem parar e gemer, mas ao mesmo tempo me impulsionara a tentar
pará-lo, mas Cas não permitia levantando meu braço toda vez que tentava
baixá-lo.
A tensão sexual subia violentamente e eu ofegava tentando respirar
com toda aquela necessidade por ser tocada e aliviada.
— É somente assim que quero vê-la tremer Kiara — ele disse em
meu ouvido de uma forma tão sexy que eu quase gemi. — Agora me diga,
por que estava com medo? — ele perguntou em meu ouvido, pegando o
copo de whisky gelado e passando sobre meu pescoço.
— Eu... eu...  achei — eu mal conseguia pronunciar as palavras,
minha cabeça estava uma bagunça e o corpo pedia para ser tocado. —
Achei que estava nervoso. — Confessei, mas agora sem nenhum medo,
apenas dando lugar aquele desejo.
— E estou nervoso Kiara, mas porque acha que deveria temer quando
estou nervoso? — Ele perguntou sem parar de estimular meu corpo.
Meu coração batia acelerado, minha intimidade pulsava em total
agonia.
— É que Heron…
— Eu não sou Heron — Ele me interrompeu — e você é a única
pessoa em todo esse mundo que eu não quero que me tema. Entendeu
pequena? — Cas disse chupando meu pescoço enquanto sua mão entrava
por dentro da minha blusa. — Você sabe por que Kiara? — ele perguntou,
apertando o bico de meu seio, me fazendo levantar meu corpo em total
agonia pelo tesão.
Eu balancei a cabeça em negativa, lavando minha mão as suas
tentando acabar com aquela tortura e Cas se divertiu vendo minha agonia.
— Porque não me envolvo com qualquer mulher, pequena mentirosa,
nem fisicamente e nem emocionalmente, mas no exato momento em que
você entrou em meu carro, mentindo ser uma prostituta, meu pau soube que
precisava estar dentro de você. — Ele disse rouco em meu ouvido e meu
corpo convulsionou em um pequeno orgasmo com aquelas palavras.
Cas deslizou sua mão por dentro da minha saia encontrando minha
fenda molhada e meu clitóris totalmente inchado e quando ele pressionou
seu dedo sobre ele com movimentos suaves e circulares, não levei um
minuto inteiro para gozar em seu colo.
Hum… tão sensível assim é? — ele perguntou — Eu gosto disso.
Agora vá se trocar porque temos uma festa para ir. — Ele ordenou tirando
sua mão de dentro da minha saia e virando meu rosto para si, para me dar
um longo e demorado beijo.
Eu me levantei com as pernas bambas e quando estava perto da porta
ouvi ele perguntar.
— O que você ia falar quando chegou?
Há, sim, é verdade, acabei me esquecendo totalmente do que tinha
ido fazer ali.
— Contratou Joe para fazer minha segurança particular? —
questionei, ainda sentindo minhas pernas tremerem pelo orgasmo.
— Joe já era meu segurança, eu apenas o designei para você. Venho
de uma família importante na Rússia, Kiara, e não quero que passe por
dificuldades por minha causa — ele esclareceu.
— É só por isso? — questionei.
— E pelo que mais séria?
Para mim não tentar fugir — pensei — mas lembrei dele me dizendo
que não era Heron, e meu corpo voltou a se esquentar com a lembrança.
— É russo? — perguntei, pois sabia que ele não era inglês ou
americano, mas nunca imaginei que fosse russo.
— Sim, por quê? Tem alguma restrição contra russos?
Eu neguei com um sorriso e dei meia volta para meu quarto.
Enchi a banheira e entrei, relaxando com um banho quente. 
O tecido do vestido deslizou por meu corpo, e eu fui para frente do
espelho para conseguir fechar melhor e ver como havia ficado, passei a mão
sobre o tecido sentindo sua textura e admirando a beleza da peça e sorri
admirada em como caía perfeitamente em meu corpo.
Meu cabelo está um pouco maior que o normal e eu aproveitei para
jogá-lo de lado, passando a escova tentando deixá-lo mais comportado,
porém acabei desistindo, comecei passar os dedos entres os fios para deixá-
lo com um ar mais rebelde.
Me afastei do espelho para verificar se havia ficado bom e fiquei
satisfeita com o resultado.
Dei uma última retocada na maquiagem que havia levado quase uma
hora para fazer e lamentei não ter um perfume para dar um toque final em
tudo aquilo.
Coloquei os scarpins nos pés e testei para ver se conseguiria andar
sem me machucar ainda mais.
Provavelmente se encontrasse o médico com aquele salto, ele me
daria uma baita bronca.
Dei uma volta pelo quarto e de vez em quando sentia uma leve
fisgada, mas ainda assim   peguei a pequena bolsa e saí.
Cas me aguardava sentado na poltrona da sala, vestido em um
smoking preto básico, uma camisa social branca que era muito parecida
com a que havia me emprestado e abotoaduras prateadas e quadradas que
dava um chame ao seu look. Ele estava sério e fumava um charuto que fez
questão de apagá-lo assim que me ouviu entrar. Ele se levantou e ficou
boquiaberto, confesso que fiquei um pouco envergonhada, mas muito
satisfeita, pois era exatamente o que eu queria causar. Ele caminhou e parou
bem próximo me examinando.
— Você está maravilhosa — ele elogiou.
— Obrigada! — agradeci sem graça. — Você também está lindo.
Cas manteve os olhos sobre mim, por algum tempo, como se
estivesse perdido nos detalhes do meu corpo.
— Ah, achei que gostaria disso — ele falou pegando uma caixa sobre
a pequena mesa da sala.
Com a caixa ainda em suas mãos, eu abri a tampa encontrando um
frasco de perfume vintage, bem diferenciado de tudo que eu já tinha visto.
O vidro era decorado com pedras azuis e não tinha nenhum borrifador.
Peguei o pequeno frasco e puxei a tampa de vidro, olhei para Cas que me
acompanhava com o olhar, calado. Molhei o pulso com a colônia e levei ao
nariz para sentir a fragrância e fiquei encantada.
O perfume era de ótimo gosto, suave e floral, com uma leve
refrescância, bem diferente e com um toque bem natural.
— Nossa, é delicioso. — Elogiei espalhando um pouco sobre meu
pescoço.
— É exclusivamente seu — ele revelou.
— Exclusivamente? Tipo uma fragrância só minha? — perguntei
surpresa.
— Sim, tenho um amigo perfumista aqui na Inglaterra que é
maravilhoso nisso e ele estava criando esse em particular, então quando
passei para vê-lo outro dia pensei imediatamente em comprá-lo para você,
quando senti a fragrância soube que ele tinha que ser seu.
Eu estava encantada com o que ele estava me falando, não pelo
presente em si, mas pela delicadeza do gesto. Era tão encantador que me
sentia derretida.
— Muito obrigada! — agradeci — Acho que foi o presente mais
lindo que já ganhei. — falei emocionada pela delicadeza do presente.
— Será? — ele perguntou colocando a caixa sobre o sofá e retirando
do bolso da calça a caixinha comprida de uma gargantilha, Cas abriu a
tampa em minha frente mostrando um
lindo e delicado colar, com pedras de brilhantes e ele me pediu que
eu me virasse para colocar em meu pescoço.
— Ela é magnífica — falei passando a mão sobre ela, virada de
costas para ele enquanto ele a colocava em meu pescoço.
— Não mais que você — ele disse passando de leve seus dedos sobre
minha pele exposta na parte de trás do vestido, me fazendo arrepiar com a
suavidade de seu toque. — Amo essa sensibilidade sua — Ele sussurrou em
meu ouvido, aumentando ainda mais minha excitação — e eu quero
explorá-la muito essa noite. — Ele afirmou cheirando meu pescoço me
fazendo suspirar de ansiedade.
— Agora vamos, que já estamos atrasados — falou me guiando com
a mão em minha cintura.
Quando chegamos no evento, o lugar já estava lotado, tinha muitos
carros parando na entrada e alguns fotógrafos aproveitavam a chegada de
algumas pessoas importantes para tirarem fotos.
Quando Cas desceu, que entregou as chaves ao manobrista e veio
abrir a porta para mim, muitos flashes dispararam em nossa direção.
Eu não imaginava que Cas fosse uma pessoa tão importante, nem
sabia que ele tinha tanta fama.
— Sr. Orlov, uma pose para uma foto? — um dos fotógrafos gritou
do outro lado da barreira.
Cas me estendeu a mão me ajudando a descer e eu quase caí quando
senti uma fisgada forte em meu tornozelo, mas Cas foi rápido em me
sustentar pela cintura, parando para uma foto, para disfarçar.
— Eu não sabia que era famoso — comentei, sem graça, quando
vários fotógrafos começaram a fotografá-lo.
— Disse que vinha de uma família importante. — Ele me lembrou do
que havia me dito um pouco mais cedo.
— Nunca tinha ouvido falar de você— comentei.
— Não vai me encontrar nas revistas de moda e de fofocas, docinho
— ele disse sorrindo, voltando a me guiar para dentro.
Assim que entramos uma moça, muito elegante nos acompanhou até
uma mesa já preparada para nós, alguns convidados circulavam pelo
saguão, bebendo e conversando.
— Achei que não apareceriam mais — Ivan disse e eu me assustei ao
ver seu rosto todo machucado.
— Meu Deus, Ivan. O que aconteceu? — perguntei horrorizada.
— Ah, isso? — disse apontando para o próprio rosto — não foi nada,
um pequeno acidente de carro.
— Quê? — perguntei mais surpresa ainda —. Você não deveria estar
em um hospital? — questionei.
— Vem Kiara, vamos tomar alguma coisa — Cas chamou me tirando
da mesa.
— Ele não deveria estar em um hospital? — questionei novamente,
me deixando ser levada.
— Ele irá ficar bem, não se preocupe. — Ele afirmou parecendo
irritado.
No bar, Cas pediu uma taça de champanhe para mim e um copo de
whisky para ele, e logo apareceu um casal com quem começamos a
conversar.
Quando um homem elegante subiu ao microfone para dar um
discurso, Cas me chamou para voltarmos a mesa, mas quando estávamos no
meio do caminho, eu vi Cas se desviar para uma mesa diferente e meu
coração disparou, eu empalideci e meu sangue fugiu, quando percebi quem
estava sentado nela, junto com uma mulher bonita e elegante.
— Heron, velho amigo! — Cas cumprimentou e eu fiquei ali parada
sem conseguir entender nada. — Nossa, fico muito feliz que tenha vindo
em um evento de inauguração da minha empresa — ele continuou. Olhei
para Cas incrédula e ele me deu uma leve piscada. — Você não se importa
se nós nos sentamos aqui, não é mesmo? — ele disse puxando uma cadeira
para que eu me sentasse.
O que ele estava fazendo? — Me perguntei, sem conseguir sair do
lugar.
— Quê?! — Minha voz saiu estranha quando finalmente consegui
abrir a boca.
Heron engolia em seco furioso, destilando seu veneno, mas sem
conseguir jogá-lo em nós.
Sabia que Cas era um dos principais colaboradores daquele evento,
por mais que Heron quisesse se negar, a verdade era que ele nada podia
fazer se Cas quisesse se sentar ali.
— Venha Kiara, sente-se aqui. — Ele indicou novamente o lugar.
— O que você está fazendo? Por favor, só vamos para nossa mesa —
eu tremia quase implorando, para que ele parasse com aquilo.
Eu não conseguia acreditar que Cas estava me fazendo passar por
aquela situação, eu senti uma vontade de chorar e quis me virar e ir embora,
mas Cas insistiu:
— Vamos querida, vamos nos sentar com um velho amigo — Disse
fazendo sinal para que eu me sentasse.
Contrariada, eu me sentei na cadeira, na ponta da cadeira, como se
mesma tivesse espinhos, e meu estômago se embrulhou. A verdade era que
eu estava apavorada, como sempre e mal conseguia encarar meu ex-marido.
Minhas mãos suavam e eu parecia engolir cacos de vidro toda vez
que me esforçava para engolir em seco.
Heron estava acompanhado com uma mulher de cabelos negros
compridos e olhos verdes, marcados por uma maquiagem forte demais para
seu tom de pele branco.
“Será que ela passava pelo mesmo que eu passei?” — pensei comigo
mesma.
“Será que a maquiagem era apenas um disfarce, como muitas vezes
fui obrigada a usar?”
“Não, ela parecia feliz demais, talvez ele ainda não tivesse mostrado
sua verdadeira face a ela.” 
Vestida em um vestido vermelho no mesmo tom de seu batom, ela
cochichou alguma coisa em seu ouvido que o fez concordar e ela sorriu para
mim.
Ele me encarava com ódio, fazendo meu estômago se embrulhar e eu
só queria sair dali correndo o mais rápido possível.
Cas se sentou ao meu lado e puxou minha cadeira para perto dele,
quase colando uma na outra, fazendo meu coração disparar ainda mais. Ele
passou seu braço sobre meus ombros, claramente tentando irritar ainda mais
Heron e sussurrou em meu ouvido.
— Você está comigo agora e "Mulher minha" não teme nada e nem
ninguém, entendeu Kiara?
Eu engoli em seco espantada com suas palavras, e não consegui
responder.
Eu não conseguia entender os motivos que levaram ele a agir daquela
maneira, mas estava me assustando e eu não sabia por quanto tempo
conseguiria manter as aparências.
Senti quando a mão de Cas entrou por entre minhas pernas em uma
leve carícia me fazendo paralisar. Ele traçou um caminho entre minhas
coxas, suave e lentamente, fazendo meus batimentos aumentarem a cada
centímetro de pele que ele percorria com seus dedos e deu risada quando
seus dedos alcançaram minha intimidade nua, sem calcinha.
— Você está sem calcinha Kiara? — Ele praticamente rosnou em
meu ouvido afetado pela excitação e senti sua mão apertar a carne me
minha coxa me fazendo suspirar com a sensação que subia do centro de
minhas pernas.
Olhei para o outro lado da mesa onde os outros olhavam nossa
interação, alheios ao que acontecia por debaixo da mesa.
Aquela era a situação mais absurda que eu já tinha me envolvido e
ainda assim sentia meu corpo responder a cada toque libidinoso de Cas.
— Está mesmo tentando me provocar, não é mesmo, pequena
mentirosa — ele disse afundando seu dedo em minha entrada escorregadia e
molhada, quase me fazendo gemer.
Eu estava tensa, e ainda assim totalmente rendida ao tesão daquela
situação degenerada e viciosa que me fazia remexer desconfortável sobre a
cadeira em busca de mais.
— Lembra o que eu te disse Kiara? — ele voltou a sussurrar
aprofundando ainda mais seus dedos, em meu interior — que a próxima vez
que nos encontrássemos com Heron eu a foderia bem na frente dele e que
eu só queria vê-la tremer enquanto gozava. — Falou usando o polegar para
estimular meu clitóris.
Tive que pegar uma taça de vinho que já estava sobre a mesa e virar
de uma só vez para segurar o grito que queria dar, quando o prazer
aumentou me deixando descontrolada.
Capítulo 19
 
 
Kiara estava mais uma vez aterrorizada com a presença de Heron. 
Eu já imaginava que ele iria ao evento, seu ego não o permitiria
perder a oportunidade de me afrontar publicamente.  Mas Heron não me
conhecia. 
Eu realmente não tinha a intenção de ir naquela inauguração, aquele
era um tipo de evento que sempre acontecia e na maioria das vezes Ivan que
me representava, mas logo assim que imaginei que ele estaria ali, fiz
questão de ir e levar Kiara como minha acompanhante.  Ela estava radiante
em um vestido preto curto, com as costas aberta e um decote generoso. 
Me sentei ao seu lado e a puxei o máximo para perto de mim,
passando a mão por seu ombro, ficando bem colado nela. 
— Você está comigo agora e “Mulher minha” não teme nada e nem
ninguém, entendeu Kiara? — Falei vendo Kiara engolir em seco.
Mas não importava o que eu dissesse a ela, Kiara havia vivido anos
de abuso físico e psicológico por aquele verme e não seria meia dúzia de
palavras que lhe faria perder o medo e acreditar que estaria segura ao meu
lado. 
Eu levei minha mão em suas coxas vendo Kiara se surpreender.
Deslizo meus dedos por entre suas pernas vendo sua respiração se alterar
conforme me aproximo de sua boceta e quando finalmente atinjo meu
objetivo tenho uma surpresa que fez um comichão atravessar meu pau, o
fazendo doer de tão duro que ficou. 
Eu sorri não acreditando naquilo e perguntei com a voz totalmente
afetada pelo desejo: 
— Você está sem calcinha Kiara?
Kiara ficou vermelha e olhou para o outro lado da mesa, onde Heron
conversava com sua acompanhante, mas sem tirar seus olhos de nós. 
Talvez ele tivesse ciência do que exatamente acontecia ali, talvez já
conhecesse cada reação do corpo de Kiara e pensar naquilo me enchia de
ódio. Ou talvez ele fosse só um babaca, que nunca tinha prestado atenção
em nada daquela linda mulher ali em sua frente.  Kiara tinha uma
sensibilidade inacreditável que me deixava alucinado. Não precisava de
muito para satisfazê-la, mas eu queria dar-lhe tudo. 
— Está mesmo tentando me provocar, não é mesmo, pequena
mentirosa — Sussurrei em seu ouvido, sentindo sua boceta latejar em meus
dedos. — Lembra o que eu te disse Kiara?
— Falei aprofundando ainda mais meus dedos dentro dela. 
Kiara estava tensa, tentando se controlar, e apertava a borda da
cadeira tentando não gemer. 
— Que a próxima vez que nos encontrássemos com Heron eu a
foderia na frente dele e eu só queria vê-la tremer enquanto gozasse — Eu a
lembrei. 
Kiara pegou uma taça de vinho e virou ao entender o que eu
pretendia ali e eu aproveitei seu movimento e mexi meus dedos quase a
fazendo cuspir o vinho. 
Heron observava tudo, espumando de ódio e eu saboreava sua reação
e a de Kiara e era tão prazeroso que eu nem saberia descrever. 
Kiara tentava disfarçar, mas suas impressões eram inconfundíveis e
quanto mais eu a estimulava mais vermelha e ofegante ela ficava. 
 
— Diga Kiara querida, o que andou fazendo nos últimos meses? —
Heron perguntou levando a taça de vinho aos lábios. 
Kiara arregalou os olhos sem saber o que responder e eu pressionei
mais seu clitóris a fazendo cuspir as palavras para não gemer bem ali na
frente de todos. 
— Eu… eu… trabalhei! — foi tudo o que ela conseguiu responder. 
— Mais vinho? — um garçom perguntou com uma garrafa em mãos
e Kiara levantou sua taça na mesma hora, quase em desespero, me fazendo
rir e aliviar meu toque, mas sem deixar de estimulá-la.
Eu também sentia meu corpo responder aquilo. Queria levar Kiara
até o toalete mais próximo, arrancar aquele vestido de seu corpo e fodê-la
para festa inteira ouvir, mas tinha que me segurar, e naquele momento
satisfazê-la já seria o suficiente. 
Kiara mais uma vez levou a taça a boca, virando quase de imediato
todo o líquido.  — Nossa ela está com sede — a acompanhante de Heron
comentou confusa vendo a
Reação dela.
— É que… está muito bom…— Kiara falou quase revirando os
olhos. 
— Jura, tão bom assim? Eu também quero — ela falou também
pedindo para encher sua taça, mas quando bebeu, não sentiu a empolgação
que Kiara havia sentido. — Não é tão bom assim — Ela reclamou.  
— É porque fazia… tempo que não tomava uma… safra tão… tão…
— Ela falava enquanto eu pressionava cada vez mais seu clitóris — Mas tão
boa — Ela finalizou e eu pude sentir seu corpo estremecer e relaxar em
seguida se rendendo ao orgasmo.  — Nossa ela gosta mesmo de vinhos né?
—  A garota perguntou. 
— Você nem imagina — Eu respondi usando o dedo que a pouco
estava dentro dela para mexer o gelo de meu drink e depois levá-lo aos
lábios sugando seu prazer, regado a um bom wisky. 
— Esse realmente é o melhor que existe — falei encarando Heron,
tendo certeza de que ele sabia exatamente do que eu dizia. 
— Vamos querida, vamos para nossa mesa, afinal não queremos
atrapalhar esse casal maravilhoso — Chamei Kiara que estava com o corpo
mole. 
Eu a ajudei a levantar a guiando pela cintura.
— Não deveria beber tão rápido, querida — falei com um sorriso
malicioso, alto o suficiente para que eles escutassem. 
Ela olhou incrédula para mim e eu só continuei a guiá-la. 
— Você é maluco? — ela perguntou mais recuperada — Como você
pode? 
— Você não me pediu que parasse — eu falei e só então ela pareceu
se dar conta daquele detalhe. 
— É... é... porque… é, que fiquei surpresa. — Ela justificou. 
— Surpreso fiquei eu, quando descobri que estava sem calcinha e
quando você gozou em meus dedos — Eu cochichei em seu ouvido fazendo
ela olhar para os lados verificando se ninguém havia ouvido. 
— Marcava meu vestido — ela sussurrou de volta. 
— É? E meu dedo não? 
— Eu… espere, nossa mesa é por ali! — ela questionou ao ver que
eu a direcionava para a saída ao invés da nossa mesa. 
— Nós vamos embora — avisei continuando a andar. 
— Mais e o evento, a inauguração? 
— Não tem a menor possibilidade de continuarmos nesse evento
comigo nesse estado Kiara — falei bem próximo a ela, sentindo meu pau
oprimido pela cueca e pela calça. Eu sentia uma necessidade urgente de me
enterrar naquela mulher ou ficaria louco.
— Que se dane esse evento, vamos embora que eu quero te foder até
você ficar rouca de gritar. 
 
 
Capítulo 20
 
 
A viagem até a mansão foi de tensão e expectativa. Cas pousava sua
mão sobre minha coxa e fazia uma leve carícia com o dedo, fazendo meu
coração aumentar os batimentos a cada minuto que se passava.
— Está brava comigo pequena? — ele perguntou quebrando aquele
silêncio esmagador.
Eu estava? Não sabia dizer, e sentia raiva de mim mesma por causa
daquilo.
Cas conseguia manipular meus sentimentos, me deixando à mercê de
si mesmo e de suas vontades.
Eu não respondi e ele me puxou pela cintura, quase me fazendo
sentar em seu colo.
Quando chegamos na mansão eu não o esperei, fui direto para dentro.
— Está realmente brava comigo? — ele perguntou confuso.
— Eu não sei! E é isso que me incomoda — respondi nervosa.
— Kiara eu só quero que perca o medo daquele idiota, ele não manda
mais em você!
— Mas e você? — perguntei com o peito subindo e descendo.
— Claro que não! Eu sempre deixei você fazer o que queria, nunca te
forcei a nada.
— Não perguntou se eu queria aquilo…— falei apontando para fora
— Você sabia que ele estaria lá? Planejou aquilo? — Questionei.
— Sim! — Ele respondeu calmamente. — Sabia que ele estaria e
sim, planejei aquilo, porque eu odeio o controle que ele tem sobre você,
odeio como você se treme e empalidece todas as vezes que se encontra com
ele, então se para provar para você que ele não é nada perto de mim, eu
tiver que tirar sua roupa e fodê-la na frente dele, enquanto ele olha e não
pode fazer nada porque você é minha agora! Então assim, eu farei. — Ele
disse como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo.
Eu fiquei surpresa com suas palavras e excitada ao mesmo tempo.
Me virei e andei apressada de volta ao meu quarto, mas quando me
virei ele estava bem atrás de mim, seu rosto a poucos centímetros do meu.
Senti todo meu corpo estremecer. Cas estava tenso e hiperventilava. Recuei
um passo para trás, mas suas mãos foram em minha cintura, impedindo que
eu me afastasse, e até ao contrário, me colando ainda mais em seu corpo.
Meu coração batia em um ritmo frenético, e minha boca secou.
Minhas mãos estavam sobre seu peito e podia sentir cada músculo sob o
tecido de sua camisa. Seu cheiro se infiltrava em minhas narinas, me
afetando ainda mais.
— Responda a minha pergunta, Kiara! — Ele rangeu em meu
ouvido. — Diga que não gostou enquanto meus dedos mergulhavam em sua
boceta, diga que não quis gritar e gemer e ter meu pau no lugar deles? —
Ele perguntou fazendo meu corpo ser tomado pela excitação.
Meu corpo estava mole e eu mal conseguia assimilar o que ele dizia,
só conseguia sentir aquela sensação de queimação entre as pernas, fazendo
todo meu corpo obedecer àquele desejo de ser tocada por aquele homem.
Cas segurava minha nuca e mantinha a outra mão em minha cintura,
me sustentando, como se soubesse que eu desabaria a qualquer momento,
sem força nas pernas.
— Diga que não foi aquela festa sem nada por baixo para me
provocar — ele falou, fazendo uma suave carícia em meu maxilar com seus
lábios.
— Não… eu… eu… só… — minha voz falhava, enquanto fechava
meus olhos apreciando aquela sensação deliciosa.
Aquela mistura, de brutalidade e suavidade ao mesmo tempo, na
medida exata, pra me enlouquecer, como se soubesse exatamente como me
fazer me render aquela excitação, seu corpo duro colado ao meu, me
fazendo sentir seu membro duro em minha barriga, me fazendo imaginar
como seria acomodar tudo aquilo dentro de mim.
— Gosta de me provocar Kiara? — ele perguntou continuando
aquela carícia torturante.
Ele desceu sua mão até minha bunda e começou a subir o tecido do
vestido, e eu quase desmoronei quando senti a sensação de pele com pele de
suas mãos em minha nádega. E quando Cas apalpou com firmeza meu
traseiro pressionando ainda mais seu pau em meu corpo se esfregando
descaradamente e eu gemi em uma súplica baixinha.
— Entrou em meu carro me prometendo uma noite de prazer, talvez
eu deva fazê-la cumprir sua promessa.
Eu não o rejeitava, ou tentava impedir qualquer um de seus avanços,
ao contrário, meu corpo convulsionava por mais dele, meu centro latejava
implorando por aquele homem. Ainda assim, Cas perguntou, seguindo o
que eu havia dito a pouco.
— Se não quiser isso, tem que me pedir para parar agora. — Eu não
respondi. O que saiu da minha boca foi apenas o resmungo de um gemido,
quando sua mão entrou por baixo do meu vestido procurando por meus
seios.
— Diga que não quer Kiara — ele sussurrou, tão afetado quanto eu
— E paro imediatamente.
Minha resposta foi levar minhas mãos em seus cabelos procurando
por seus lábios, pois precisava urgentemente sentir seu sabor.
Ele tinha lábios macios e suculentos, e quando nossas línguas se
tocaram, buscando o prazer uma na outra, tão necessitadas e desesperadas,
mais uma vez meu corpo reagiu, me dando uma carga generosa de prazer.
Cas, me pegou em seu colo e eu envolvi minhas pernas em sua
cintura, sem parar de beijá-lo. Ele caminhou até a cama, me colocando
deitada sobre o colchão.
Ele puxou a alça de meu vestido, e se aproveitou que eu estava sem
sutiã para expor meus seios para si e acariciou meus mamilos suavemente,
como uma leve pena, me levando à loucura.
Repetiu várias e várias vezes aquele processo, admirando minha
reação a cada vez que sentia o choque do contato de meus mamilos com seu
dedo.
— Aí, que delícia — Murmurei quando senti a sensação úmida e
quente de sua boca em meus seios.
Cas usava sua língua para chicotear meu mamilo, enquanto usada a
mão para apalpar e estimular o outro. Mas logo ele abandonou aquela
carícia com a mão, para descer ela sobre meu corpo e encontrar minha
buceta molhada lá embaixo. Seus dedos afastaram minha calcinha, abrindo
espaço entre meus lábios me invadindo, me fazendo tirar o corpo do
colchão.
— Parece que gosta disso — ele disse pagando o seio que mamava
deliciosamente.
— Sim, amo… — Senti meu corpo estremecer junto com as palavras.
Sim, Ohhhh como eu amava aquilo.
Alcançou o outro mamilo, devorando-o sem dó ou delicadeza, me
levando cada vez mais à loucura. Seus dedos procuravam um ponto exato
dentro de mim, mexendo e explorando cada parte de minhas entranhas e
quando finalmente pareceu encontrar, Cas se aproveitou daquilo para me
levar ao auge do meu prazer, fazendo me retorcer com um orgasmo forte e
intenso.
Sua boca voltou a procurar pela minha, em um beijo delicioso, de
quem ainda não estava satisfeito só com aquilo.
Levantou meu vestido me ajudando a retirá-lo e por um momento
fiquei com vergonha, quando ele olhou as marcas em meu corpo, seu
polegar passou por uma delas sobre minha costela, e vi em seu olhar o
quanto aquilo o incomodava, e me senti ainda pior. Mas então, Cas se
abaixou e depositou um beijo sobre ela e disse:
— Ninguém nunca mais irá tocá-la dessa maneira Kiara, não importa
para onde for ou quão longe estivermos um do outro, eu juro que mato o
desgraçado que lhe ferir novamente.
Meu coração se aqueceu ao ouvir aquelas palavras. Depois da morte
de meus pais nunca alguém tinha demonstrado tanto zelo por mim.
Tinha aprendido a me virar sozinha, ser sozinha e quando conheci
Heron, acreditei que um jantar caro e presentes eram demonstração de amor
e carinho, mas havia aprendido da pior forma que nada comprava afeição.
— Cas…— falei verdadeiramente emocionada.
Ele voltou a me beijar, me fazendo sentar em seu colo de frente para
ele, manipulando meu corpo e minha mente de uma maneira que eu só
conseguia pensar ali naquele momento, em nossos corpos juntos, do
jeitinho que eu havia desejado.
Puxei sua camisa, expondo seu peitoral, dedilhei as bordas de suas
tatuagens, vendo suas veias dilatarem com o contato de meus dedos. 
— São lindas — falei imitando o gesto que ele havia feito com a
minha cicatriz.
— Não, linda é você, linda e saborosa — ele disse deitando-se
novamente, descendo até estar no meio de minhas pernas. Suas mãos foram
em minha cintura e me puxaram para ele.
— Espere! — tentei dizer — Deixe-me tomar um banh… — Mas já
era tarde, pois Cas, se deliciava com cada parte de minha intimidade.
Brincando com meu clitóris e sugando todo meu fluido.
Eu tentava não gemer alto, mas falhava miseravelmente, pois a cada
investida de seus dedos para dentro de mim, somado com sua habilidade em
estimular meu nervo com a língua. Era como estar em uma montanha-russa
de prazer, e eu simplesmente me soltava, gemendo e me contorcendo até
alcançar outro orgasmo.
Achei que estava totalmente sem força. Ainda sentia meu corpo
convulsionar pelas ondas de prazer, quando Cas, me puxou pela cintura, me
abraçando por trás.
— Vou te dar dois minutos para se recuperar — ele disse se
levantando da cama. — É o tempo que tenho para ir até meu quarto e
buscar um preservativo. Quando eu voltar, vou mostrar o quão ignorante ele
pode ser. — Cas disse fazendo eu sentir um frio na barriga.
“Meu Deus, aquele homem acabaria comigo em uma única noite” —
pensei me afundando no colchão.
Ele depositou um beijo em meu pescoço exposto pelo corte que
mesmo um pouco mais comprido ainda era curto e saiu me deixando
estirada no colchão, deitada de bruços.
Mas não demorou para voltar e quando retornou tinha um pacote de
preservativos em sua mão, separou um da cartela e colocou sobre o criado
mudo.
— Espero que tenha se recuperado — disse em meu ouvido beijando
meus ombros.
Me virei para ele recebendo sua boca com satisfação, descendo
minha mão por seu abdômen, entrando em sua calça, encontrando seu
membro grande e duro. Desabotoei sua calça e puxei seu pau para fora,
vendo o quanto era generoso e o levei a boca o quanto pude, me esforçando
ao máximo para acomodá-lo por completo em minha boca.
Ele jogou sua cabeça para trás soltando um gemido mudo de
satisfação.
— Essa é uma visão que eu gosto muito de ter — disse, afastando
algumas mechas de meu cabelo que lhe atrapalhava ter uma visão
privilegiada de minha boca sugando seu pau.
Minha língua se esfregava em sua base enquanto ele ia fundo em
minha garganta e ainda assim não era possível acomodá-lo por completo.
Os gemidos de Cas me incentivavam a me esforçar mais, pois queria lhe
proporcionar o mesmo prazer que havia me presenteado a poucos minutos.
Cas não se forçava contra minha garganta, me deixando descobrir até
onde ia meus limites, mas de vez em quando me ajudava fazendo
movimentos com o quadril.
Comecei a massageá-lo com mais impulso, notando que ele não
demoraria para alcançar seu clímax.
Então ele segurou minha cabeça para conseguir alcançar o ritmo de
movimento necessário e não demorou até chegar em seu orgasmo.
Cas passou o polegar sobre meus lábios e depois me beijou.
— Deite-se Kiara — ele ordenou, massageando seu membro que
havia esmorecido por causa do gozo recente, mas que não demorou a ficar
duro como ferro novamente.
Com agilidade colocou o preservativo e se deitou sobre mim se
encaixando entre minhas pernas, posicionando seu membro em minha
entrada.
— Vou colocá-lo Kiara e quero que me diga exatamente como se
sente sendo preenchida por ele — ele disse começando a empurrá-lo me
laceando pouco a pouco. — Não estou te ouvindo dizer Kiara — falou
quando não fiz o que me havia ordenado.
Ele queria mesmo que eu descrevesse para ele como que me sentia?
Quando eu mal conseguia raciocinar.
— Sinto minhas paredes se abrindo para você — falei e aquilo
pareceu elevar ainda mais o meu prazer.
— E isso é bom? — ele perguntou se afundando um pouco mais.
— Sim… — minha voz saiu apenas um fio do que realmente era.
Em uma única estocada se enterrou em mim me fazendo soltar um
gemido alto arqueando meu corpo.
— Diga o que sente Kiara?
— Está fundo… — falei desnorteada pelo prazer.
— O quão fundo? — ele sussurrou passando o braço por de trás de
minhas costas e se impulsionando ainda mais.
— Muito… fundo — Gemi em desespero.
Cas iniciou estocadas profundas e duras dentro de mim, se chocando
contra o limite de meu canal, indo aonde eu achava não ser possível chegar.
— Isso é ignorante o suficiente para você? Minha pequena mentirosa.
— Ele disse em meu ouvido enquanto se investia sobre mim, me fazendo
cravar minhas unhas em suas costas.
Cas alcançou meus seios sem parar seus movimentos, sugando meus
mamilos com vontade e depois segurando minhas mãos sobre minha cabeça
e deslizou sua língua pelo vale de meu pescoço.
Sentia a cada estocada um choque de prazer que se espalhava por
todo meu corpo, me levando a cada minuto à loucura.
Eu me contorcia, e buscava qualquer coisa física para me apegar em
busca de autocontrole.
Me sentia como se estivesse drogada por aquele prazer, me segurei
nele, acreditando ter finalmente pegado em algo que me mantivesse com a
mente ali, Cas levou sua mão ao meu clitóris me fazendo chegar ao
orgasmo com um simples toque. Eu gritei quando fui atingida por aquela
corrente de prazer, minha boceta se contraia apertando ainda mais Cas,
dentro de mim e eu o ouvi xingar em uma língua que eu não conhecia.
— Porra, Kiara assim eu não aguento — ele disse logo em seguida,
mas eu mal conseguia ouvi-lo ainda afetada demais por aquele prazer.
Ele não esperou que eu me recuperasse e continuou a me penetrar, até
alcançar seu próprio prazer.
Não sei exatamente o momento em que Cas me posicionou de lado
me abraçando e beijando meu pescoço e ombro.
E acho que apaguei por alguns minutos, pois quando acordei ele me
admirava com uma travessa de morangos e uvas.
— Coma. — disse ao pegar uma uva e aproximá-la de minha boca.
— Precisa recuperar suas energias — ele falou se sentando ao meu lado.
Já estava vestido em uma calça de moletom e eu tive que usar meu
resto de energia para me sentar.
— Acho que dormi — falei usando o lençol para me cobrir.
— Só alguns minutos — ele disse tirando mais uma uva e me
oferecendo novamente.
Era delicioso, ser tratada daquele jeito depois do sexo que havíamos
acabado de fazer.
— Vou tomar um banho — Avisei pegando um morango.
— Eu já preparei para você — ele disse colocando a travessa sobre o
criado mudo. — Tome um banho e descanse pequena — ele disse
depositando um beijo suave em meus lábios e se afastou.
Entrei no banheiro encontrando uma banheira cheia de água quente
com sais que emanava um delicioso cheiro.
Quando terminei de tomar banho estava tão esgotada e mal me deitei
e já estava dormindo.
Capítulo 21
 
 
Sentado na poltrona a meia luz do quarto, eu admirava Kiara dormir.
O lençol sobre seu corpo, cobrindo apenas parte dos seios e de suas
nádegas, deixava à mostra as lindas curvas de sua cintura e suas costas.
 
Olhar aquele H marcando em sua pele, tão linda e delicada, me
levava a insanidade do ódio, mas me fazia ter uma ideia do que faria com
Heron quando colocasse minhas mãos nele.
 
— Cas! — Ouvi Ivan chamar da sala.
 
Notei que ele se aproximava do meu quarto já acostumado a chegar e
ir entrando, então me levantei e o encontrei já na porta do meu quarto.
 
Ivan deu uma olhada para dentro vendo Kiara deitada em minha
cama e eu fechei a porta para que ele não pudesse mais vê-la.
 
— Dormiu com ela? — ele sussurrou.
 
— Shiii — pedi que fizesse silêncio o chamando para voltar para
sala.
 
— O que faz aqui uma hora dessas? — questionei.
 
Ivan pegou algumas fotos de dentro de seu blazer e me entregou.
 
Eu peguei as imagens e comecei a olhá-las, vendo que em todas
Heron estava com o japonês, em restaurantes, galpões e portos.
 
— Ele está trabalhando com eles? — perguntei vendo uma das fotos
onde ele apertava a mão do filho do chefe da yakuza.
 
— Aparentemente o ex da sua nova namoradinha, não é só um
procurador-geral, é um procurador corrupto.
 
Claro que aquilo não era novidade para mim, sabia que Heron era
corrupto, mas não esperava que ele estivesse trabalhando justo com a
yakuza.
 
— Você tem noção da merda que isso é? — Ivan alterou a voz —
Sabe como podemos estar ferrados? — ele disse e eu deixei as fotos sobre o
balcão e fui para o bar buscar um drink.
 
— Espere! Deixe-me pensar — pedi.
 
— Pensar no quê? — Kiara perguntou entrando sonolenta na sala
com minha camisa e descalça. — Ivan? O que faz aqui?
 
— Ivan só veio me contar como foi o evento e tentar me convencer a
ir ao próximo, não é mesmo Ivan? — eu tentei disfarçar e me lembrei das
fotos de Heron sobre o balcão, quando Kiara passou por elas despercebida.
 
Fiz sinal para Ivan, que estava mais próximo as escondesse.
 
— O que faz em pé pequena? — perguntei indo até ela.
 
— Estou com a boca seca, preciso de um copo de água — falou e eu
lhe dei um beijo em sua boca e deixei que seguisse para a cozinha.
 
Eu e Ivan ficamos em silêncio esperando que ela voltasse.
 
— Você vem depois? — ela perguntou quando passou por nós.
 
— Daqui a pouco — confirmei e ela voltou a se deitar.
 
— Acha que vai esconder isso dela até quando? — Ivan disse baixo.
 
— Ela irá saber no momento certo. Agora quanto a Heron, ache um
hacker e vaze essas informações, ele irá não somente perder a credibilidade
como procurador como também estará com dificuldade com os japoneses.
 
— Sabe que isso não será o suficiente — ele me alertou.
 
— Será por enquanto, ele irá precisar se manter cauteloso, vai esperar
a poeira baixar e enquanto isso poderemos ganhar força, coisa que não
temos por enquanto.
 
Ivan concordou, era a melhor decisão a ser tomada naquele momento,
com a reputação manchada e com seu nome na imprensa, Heron teria que se
conter, sua reputação estaria manchada e ele teria que tomar muita
precaução com seus negócios por fora.
 
Não era atoa que ele era tão rico, não era só por ser procurador, ele
deveria estar trabalhando com máfia japonesa há muito tempo.
 
Kiara era a melhor fachada de bom samaritano que ele tinha, um
renomado procurador que se apaixona e casa com a garota órfã, simples e
pobre e o amor vence todas as barreiras.
 
Aquele pensamento me enchia de ódio, ele a tinha usado, humilhado,
maltratado e ainda não estava satisfeito?
 
— Procure incluir o máximo de provas possíveis junto com o
vazamento, para que ele não consiga negar — Ordenei. — E mantenha meu
nome e nome da minha família o mais longe possível disso tudo.
 
Ivan confirmou e foi embora me deixando sozinho com meus
pensamentos.
 
Eu me sentia um merda, ainda não tinha nome nem status o suficiente
para bater de frente com a yakuza e se não fosse pelo fato de os japoneses
acreditarem fielmente que eu tinha o total apoio de Boris, provavelmente já
teríamos sido massacrados.
 
Claro que Boris nunca admitiria aquilo, ele jamais deixaria vazar a
informação que o irmão mais novo matou o pai porque estava apaixonado
pela madrasta.
 
Não, com certeza não. Eu ainda não entendia por que Boris não havia
me matado, talvez no fundo do jeito dele, ele ainda me amasse como seu
irmão.
 
Mas o fato era que eu era um mafioso renegado pela minha
organização, tentando me reerguer em um país totalmente diferente do meu.
Sim, eu queria Heron morto como nunca quis nada na vida, mas eu teria o
meu momento e saberia ser paciente por aquilo. No momento certo, Heron
pagaria por cada coisa que havia feito a Kiara.
 
Fui ao quarto onde Kiara havia voltado para dormir, tirei minhas
roupas e me deitei ao seu lado e ela se aconchegou ronronando como uma
gatinha e eu a puxei para mim, cheirando seu cangote.
 
— Hummm isso é bom — ela murmurou.
 
— É? E isso? — Perguntei beijando sua nuca e descendo por seu
ombro.
 
— Hummm…
 
Eu a virei de bruços enquanto beijava suas costas e ela só ronronava
sonolenta aproveitando a mistura de sono e tesão que aquilo proporciona.
 
Ela continuava com os olhos fechados e eu fui descendo meus beijos
por seu corpo até chegar à curva de sua bunda perfeita, deslizei a mão por
sua lombar e passei meus dedos por sua fresta já molhada.
 
— Parece ansiosa, querida. — Falei quando ela remexeu a bunda ao
encontro dos meus dedos.
 
— Pare de brincar ou me deixe dormir — Ela ronronou
preguiçosamente me fazendo sorrir.
 
— Está com sono? — Falei alcançando um preservativo e o
colocando em meu membro ereto.
 
— Você esgotou com o meu último fio de energia, terá que trabalhar
sozinho — Kiara falou com um sorriso e eu a puxei com força a fazendo
sentar em meu colo e ela soltou um gritinho rindo.
 
— Vai dormir enquanto meto em você? — perguntei encaixando meu
membro em sua entrada molhada e deslizando para dentro, a fazendo arfar
com a sensação de ser totalmente preenchida. — Tente dormir Kiara,
enquanto eu a fodo.
 
Ela passou as mãos pelo meu pescoço e senti umas fisgadas quando
ela sem querer se apoiou sobre meu ferimento, mas eu não parei, continuei
a golpear sem parar, tentando a sustentar pela bunda, logo Kiara me ajuda
com os movimentos, rebolando e gemendo. Quando senti meus braços
cansarem, voltei deitá-la sobre o colchão impulsionando meu corpo sobre o
dela, sentindo nossas pélvis se chocarem.
 
Nossos corpos suavam e Kiara arranhava minhas costas, busquei sua
boca enquanto massageava seu seio e depois desci meus lábios por seu
pescoço até encontrar seu bico intumescido pelo desejo.
 
Ela gemeu e se arqueou quando mordisquei seu mamilo. Levei minha
mão ao seu clitóris e iniciei uma massagem suave, vendo Kiara aumentar
cada vez mais sua respiração até atingir um orgasmo, se impulsionando
mais contra meu membro.
 
Era delicioso vê-la se entregar aos prazer daquela maneira, então
aumentei meu próprio movimento até atingir meu próprio orgasmo.
 
Capítulo 22
 
 
Acordei nua pela manhã, enrolada em lençóis quentinhos e
confortáveis com a visão de Cas se trocando e não sabia ao certo se aquilo
era um sonho, uma miragem ou se realmente tinha passado a noite com
aquele deus grego.
 
Peguei meu celular em cima do criado mudo, vendo que ainda eram
7:30 da manhã.
 
— É final de semana, por que está acordado tão cedo? — perguntei
sonolenta vendo-o colocar a camisa na frente do espelho.
 
— É final de semana para você, pra mim, tem um monte de
compromisso que não posso faltar. — Ele disse vindo em minha direção e
se sentando ao meu lado, depositando um beijo em minha testa. — Bom
dia, dormiu bem? — Ele perguntou, me fazendo levar o lençol na boca com
vergonha.
 
Era muito cedo e eu nem tinha feito minha higiene bucal, e tentava
dar uma ajeitada nos cabelos com os dedos.
 
— Muito — respondi sobre o lençol que ele puxou para me dar um
selinho.
 
Olhei sem graça para ele e depois fechei os olhos.
 
— O que foi? — ele perguntou vendo meu embaraço.
 
— Preciso escovar meus dentes — Falei apontando com o dedo para
minha boca que voltei a cobrir com o lençol.
 
Cas riu alto, uma risada gostosa e cheia de vida.
 
— Acho que já fomos um pouco além de bafo matinal não acha não?
— ele disse enfiando sua mão por baixo do lençol, encontrando minha coxa
nua, fazendo meu corpo incendiar com o simples contato de nossas peles.
 
“Meu Deus, como aquele homem conseguia mexer tanto com minha
libido? Um simples toque de suas mãos eram o suficiente para despertar um
vulcão dentro de mim”
 
Aos poucos afastei o lençol, já ansiando por uma manhã cheia de
prazer, mas ao contrário do que imaginei, Cas depositou outro selinho em
meus lábios e disse:
 
— Uma pena que tenho um compromisso tão cedo.
 
— Jura?! — falei fazendo uma careta. — Achei que fosse o chefe e
podia folgar quando quisesse — Disse me sentando e procurando minhas
roupas.
 
Fiquei algum tempo observando Cas e depois finalmente lembrei de
perguntar.
 
— Como está seu ombro? — Ele passou a mão por cima do
ferimento e deu de ombros.
 
— Nada que eu não possa suportar. E seu tornozelo? — disse se
virando para mim.
 
— Bem, muito melhor do que eu imaginava.
 
Cas fez um sinal com a cabeça de que ficava satisfeito em ouvir
aquilo e volta a abotoar sua camisa.
 
— Durma mais um pouco, descanse, aproveite o dia. Volto assim que
der — ele disse, ajeitando a gravata, me dando um último beijo e saindo.
 
Me joguei novamente na cama aproveitando mais um pouco aquela
preguiça e quando voltei a acordar já eram mais de dez da manhã.
 
O dia pela época do ano estava frio e eu agradecia por estar em uma
casa com aquecedor, já que a última eu não sabia se fazia mais frio dentro
ou fora.
 
Levantei, tomei um bom banho, coloquei roupas limpas e fui para a
cozinha tomar um reforçado café da manhã. Ellie estava mais calada e séria
que o normal e eu estranhei.
 
— Algum problema Elli? — perguntei quando sem um sorriso, ou
questionamentos, ela serviu o café.
 
Ela olhou para a porta e depois voltou a olhar para mim, o que me fez
estranhar.
 
— Não, senhorita Kiara — Ela falou tão formal que me fez parar,
mastigando bem devagar tentando entender o que se passava ali.
 
— Elli? Diga o que está acontecendo? — Falei mais alto, já perdendo
um pouco minha paciência.
 
“Que tipo de palhaçada era aquela? Ela estava zoando com a minha
cara?” — pensei franzindo a testa.
 
— É que… — ela começou a dizer novamente olhando para a porta
— Agora que você e o senhor Cas, estão juntos, dizem que você será a nova
dona da casa… — Ela sussurrou me fazendo cuspir o café.
 
Eu comecei a rir e ela se assustou, Joe apareceu curioso pelo barulho
e eu lhe pedi desculpas com um gesto de mãos incapaz de falar.
 
— Quem te falou essa besteira? — perguntei igualmente baixo
quando Joe voltou a seu posto.
 
— Todos os seguranças estão comentando — Ela cochichou trocando
minha xícara. — Falam que o senhor Cas nunca mais se envolveu com
ninguém depois…
 
— Hum, hum, hum — Joe pigarreou a interrompendo me fazendo
querer furar seus olhos de raiva.
 
— Joe, o Cas me disse que se eu precisasse de qualquer coisa deveria
pedir a você — Falei seriamente como se aquilo fosse realmente verdade.
 
Talvez eu realmente estivesse virando uma pequena mentirosa, como
Cas costumava me chamar, mas queria me livrar de Joe, e se para aquilo
fosse preciso mentir, então que seja.
 
Ele fez um aceno em concordância e eu continuei.
 
— Cas, está meio para baixo ultimamente, vá ao supermercado e
compre uma boa ração para ele.
 
Joe me olhou incrédulo sem entender.
 
— O gato Joe, o meu gato Cas. — Eu o lembrei.
 
Joe me olhou irritado em ter que fazer um serviço tão inferior, mas eu
não dei importância e esperei que ele saísse.
 
— Vamos, agora me diga, Cas nunca mais se envolveu com ninguém
depois… — eu a incentivei a falar, mas naquela altura Ellie já havia sido
coagida a guardar aquele segredo.
 
— Nada, me desculpe, eu não devia me meter na vida de vocês.
 
— O quê?! Não eu não ligo, vamos me conte — mas já era tarde
Ellie já havia arrumado uma bandeja e saído.
 
Fiquei ali sentada com a pulga atrás da orelha.
 
Cas havia me dito em mais de uma ocasião que não se envolvia com
qualquer mulher e eu nunca tinha levado a sério, afinal aquilo era o tipo de
coisa que qualquer homem diria para levar uma mulher para a cama, mas
agora ouvindo aquilo, me fazia questionar, o que tinha acontecido com ele,
para deixá-lo tão apreensivo com as mulheres.
 
Terminei de tomar meu café da manhã e aproveitei que Cas não
estava para ir buscar meu garotinho, quando o encontrei surpreendi, Cas
havia mandado fazer um canto para ele com tudo que tinha direito, uma
bela e confortável cama e um arranhador, brinquedos e até mesmo um tipo
de escova massageadora onde Cas o gato, podia se esfregar.
 
— Ah, então é por isso que você não tem me procurado, né seu
traidor? — Eu o acusei e ele miou em resposta. — É assim que você me
agradece, depois de tudo que fiz por você? — falei o pegando no colo. Eu
deveria ter te deixado lá na chuva, sabia?
 
Eu o peguei no colo e voltei ao meu quarto e apesar da companhia de
Cas que se esfregava em mim, eu me senti sozinha. Já fazia um tempo que
não falava com Mira, então decidi ligar para minha amiga.
 
— Alô! Mira?
 
— Kiara! Mulher por onde você anda? A dias não falo com você, eu
estava preocupada. Fiquei com medo de ligar e…
 
— Eu entendo amiga, mas não se preocupe, eu não estou com Heron.
 
— Graças a Deus! — ela desabafou aliviada.
 
— Mas, eu não liguei para falar disso. Queria poder te ver.
 
Mira era a única amiga que eu tinha ali, a única que eu ainda podia
contar, claro que tinha Solange e Mídia, mas a anos não falava com elas,
não desde que Heron tinha as ameaçado.
 
— Eu vou trabalhar hoje, mas acho que podemos tomar um café
antes, o que acha? — ela sugeriu.
 
— Seria ótimo!
 
Nós conversamos um pouco mais e combinamos um horário, então
nos despedimos.
Capítulo 23
 
 
Apesar de querer passar o dia ao lado de Kiara, havia assuntos que eu
não poderia deixar de resolver, principalmente naquele momento, onde
minha presença era primordial para os negócios.
 
Saí de manhã bem cedinho para me encontrar com um grande
fornecedor de drogas que iria garantir o abastecimento nas ruas.
 
— A quantidade que você está querendo é muito grande, e dá muito
trabalho trazer esse volume do México. — Rico disse tentando conseguir
um pouco mais de dinheiro.
 
Rico era do cartel mexicano, e fazia distribuição para vários países.
 
— Se for complicado demais para você, posso procurar os
colombianos, tenho certeza de que eles ficariam felizes em um negócio
desse tamanho. — falei desabotoando meu blazer e me encostando no
estofado vermelho do restaurante.
 
Estávamos em um pequeno restaurante de fachada no centro, o lugar
estava vazio, tirando meus homens que faziam minha segurança em pé ao
meu lado e os homens se Rico e estavam bem atrás dele.
 
Rico olhou para seus homens e depois voltou a olhar para mim com
um sorriso que eu não gostava.
 
— Como eu vou saber que isso não é uma armadilha? — Ele
perguntou, me fazendo respirar profundamente, irritado.
 
— Do mesmo jeito que eu, não vai. Se você quiser fechar o negócio,
o acordo é esse! — Afirmei — Você traz a mercadoria, eu pago um terço
antecipado, e o restante quando eu estiver com o produto em mãos, caso
contrário irei procurar quem queira. — Falei perdendo minha paciência.
 
— Ei calma, Tranquiliza-te — ele disse em seu idioma. — Vamos
fechar o acordo. — Rico concordou e eu já me preparava para sair
impaciente — mas meu chefe quer brindar aos nossos novos negócios.
 
Aquilo me deixou furioso e Ivan achou suspeito, pois olhou
atravessado para os seguranças se manterem alerta.
 
— Se seu chefe quisesse brindar, teria vindo pessoalmente fechar
esse negócio! — eu disse já em pé.
 
— Qual é? Achei que queria essa mercadoria, é só um brinde — Rico
disse também se levantando.
 
Eu encarei Ivan, que concordou.
 
— Um drink, e eu espero não ser nenhuma gracinha ou juro que vão
se arrepender.
 
— Gracinha? Da nossa parte? — Ele perguntou extrovertido demais
para o meu gosto — Mexer com os Bratvas ? — Ele disse tentando me
convencer.
 
Ivan concordou e então o acompanhamos.
 
Rico nos levou a uma mansão onde tinha som alto, várias pessoas
bebendo e se drogando, mulheres pulavam nuas na piscina enquanto outras
eram fodidas abertamente.
 
— Gostam? — Rico perguntou puxando uma morena com os peitos
para fora e sugando seus mamilos em nossa frente sem nenhum pudor — O
quê? Não gostam? São gays? Não julgo, temos homens também — Ele
disse, dispensando a morena e apontando para um grupo de homens um
pouco mais a frente. — Não? — Ele perguntou quando notou que
estávamos sérios.
 
— Só nos leve até seu chefe — Ordenei.
 
Ele nos levou até um escritório. No centro tinha uma mesa de vidro
com carreiras de cocaína e um homem sentado no sofá com uma loira
sentada em seu colo gemendo enquanto cavalgava em seu membro, do
outro lado da escrivaninha tinha um rapaz sentado, com o rosto tatuado,
dava para ver os pés de uma mulata que estava ajoelhada enquanto fazia
sexo oral nele.
 
— Chefe! — Rico chamou a atenção do mais jovem.
 
Ele finalmente parou para nos avaliar.
 
— Ei, querida, continuamos mais tarde ok — ele disse puxando de
leve os cabelos da mulata e depois lhe dando um beijo na boca.
 
A mulher se levantou, limpou o canto da boca nos encarando e saiu
nos deixando a sós.
 
— Cassiano Orlov — Juan disse abrindo os braços.
 
Embora já houvesse trabalhado com alguns de seus homens, eu
nunca o havia encontrado pessoalmente, e era muito raro ele aparecer
naquelas bandas.
 
— É um prazer recebê-los aqui. Vamos ficar à vontade. Uma
carreira? — Ele ofereceu apontando para a mesa, finalmente notando a
presença do casal que continuava a transar como se nada estivesse
acontecendo.
 
Juan foi até eles e empurrou a mulher, fazendo ela cair do colo do
homem que se assustou.
 
— Se mandem daqui! Não estão vendo que temos visita? — Ele
gritou, fazendo os dois se levantarem apressados e saírem.
 
— Por favor me desculpem, mas podem se sentar. — Ele pediu. 
 
— O que exatamente estamos fazendo aqui, Juan? — Perguntei
abrindo o botão do meu blazer e me sentando junto com Ivan.
 
— Direto ao ponto, gosto disso! — Ele respondeu com um sorriso.
 
Juan era desequilibrado, vestia um roupão e uma calça de pijama com
pantufas de bichinho, mas tinha um olhar de sociopata.
 
— O irmão do chefe dos Bratvas, pessoalmente fazendo um negócio
de grande porte como esse me fez pensar — Ele disse enchendo um copo de
whisky — Por quê? — Ele perguntou se virando para nós com um sorriso
que mais parecia o curinga.
 
— Porque eu preciso, estamos expandindo nossos negócios, o
produto que temos é pouco e como sabe estamos tendo uma certa
dificuldade com os japoneses, mas no que isso importa? Você quer vender,
eu quero comprar, não é o bastante? — Questionei friamente.
 
— Japoneses, russos, bolivianos… isso tudo eu já sei, “mas” a
pergunta é, porque o grande Bratva quer uma quantidade tão exorbitante de
entorpecentes quando ele já tem seu próprio fornecedor.
 
Eu me remexi em meu assento desconfortável.
 
O fato era que aquela carga não era para os Bratvas era para nós,
nossa própria organização, iríamos tomar o espaço que havíamos
conquistado em nome do Bratva.
 
— Acho que nossa conversa acaba por aqui! — Falei me levantando
e abotoando novamente meu blazer.
 
— Eii, tranquilo, tranquilo — ele falou fazendo sinal com as mãos —
Não tenho a intenção de te prejudicar — Ele disse chegando mais perto de
mim com aquele sorrisinho medonho. — Estou aqui para ajudá-lo.
 
— Me ajudar? Quem te disse que precisamos de ajuda? — Perguntei
arrogante.
 
Juan mais uma vez sorriu e eu já estava perdendo minha paciência.
 
— Como prova da minha lealdade, vou te dar uma pequena
informação que você não sabe — Ele disse agora sério bem próximo a mim,
fazendo meus homens ficarem abertos e tocando na barra do meu blazer.
 
— Que tipo de informação? — Questionei arrumando o punho da
minha camisa.
 
— Uma que você vai gostar… não — ele se corrigiu — Uma que
você precisa saber.
 
Olhei desconfiado para Ivan e depois voltei o olhar para Juan e mais
uma vez aquele olhar de uma pessoa sociopata e descontrolada está lá.
 
— Faz mais ou menos uns 50 minutos que Boris desembarcou na
Inglaterra — Ele disse me surpreendendo olhando no seu relógio de ouro —
O que você acha que ele veio fazer aqui? — Juan perguntou, mas eu não dei
mais ouvidos.
 
Fiz sinal para meus homens enquanto Ivan pegava o telefone para
confirmar aquela informação.
 
Merda! Logo agora?
 
Se Boris estava ali, exatamente naquele momento, era porque ele
sabia, ele sabia o que eu pretendia.
 
E de repente meu estômago se revirou e meu sangue sumiu em
minhas veias, quando eu finalmente lembrei e me dei conta
 
Cas
 
 
Entrei na mansão desesperado, havia tido a informação de que Boris
já me aguardava em casa e eu me preocupava com o que ele podia fazer
com Kiara.
 
— Boris! — Entrei praticamente correndo e chamando, encontrando
Kiara com um olhar confuso na sala e Boris sentado em um dos sofás.
 
Observei os dois, tentando imaginar o que Boris poderia ter dito a
ela.
 
— Olá para você também, irmão — Boris disse se levantando.
 
— Irmão? — Kiara perguntou olhando para nós dois.
 
— Boris, irmão mais velho de Cas, mas por sua surpresa acho que ele
não havia mencionado — Boris disse indo até ela — E você é? —
Perguntou se sentando sobre os braços do sofá bem próximo a Kiara.
 
— Kiara — ela respondeu e eu senti um calafrio.
 
— E é mulher de quem? — Ele questionou.
 
— Quê?
 
— Bom, pelo histórico do meu querido irmãozinho, aposto que é
mulher de alguém — Ele disse venenoso.
 
Kiara me olhava assustada e eu não sabia o que responder naquele
momento.
 
— Boris, o que faz aqui? — perguntei atravessando a sala e me
aproximando dos dois.
 
Boris ainda ficou um tempo olhando para Kiara, com um olhar
avaliativo e depois se virou para mim, para dizer.
 
— Eu não sabia que precisava de um convite formal para vir visitar
meu irmãozinho — ele disse se afastando de Kiara.
 
Peguei em suas mãos, verificando se estava tudo bem.
 
— Você está bem?
 
— Sim, o que está acontecendo? — ela perguntou baixinho.
 
— Vá para seu quarto, depois te explico melhor as coisas — Pedi e
ela concordou.
 
— Bom, foi um prazer te conhecer — Ela disse antes de sair.
 
— Acredite, o prazer foi todinho meu, querida — Boris respondeu
com um meio sorriso. 
 
Esperei que Kiara se afastasse, para chamá-lo.
 
— Venha, vamos para o meu escritório.
 
Quando entramos eu fiz questão de fechar a porta.
 
— Diga, o que quer aqui Boris? — perguntei ainda de costas com a
mão na maçaneta.
 
— Não posso querer ver meu irmão? — Ele respondeu tranquilo
demais.
 
— Me ver? Depois de todo esses anos me evitando, agora você quer
me ver? — Eu o acusei indo para perto da escrivaninha.
 
— Sim, te ver, uma última vez — Ele falou avaliando o escritório.
 
— Quê? Como assim? — Me fiz de desentendido e Boris sorriu se
sentando na poltrona.
 
— Eu não posso dizer que não esperava por isso — Ele falou em um
tom debochado, mas eu não sabia se ele falava de Kiara ou dos planos que
eu tinha.
 
— E o que você esperava que eu fizesse? Depois de você ter virado
as costas para mim, depois de todos na organização me desprezarem. —
Falei em um tom acusatório. — VOCÊ ME DESLIGOU DE SUA VIDA.
 
— Foi preciso — Ele respondeu baixo e rapidamente.
 
— Praticamente me expulsou da organização.
 
— Foi preciso! — Disse elevando sua voz e se levantando como se
não conseguisse se manter parado com aquele assunto.
 
— ME OBRIGOU A MATÁ-LA. — Eu gritei com ódio.
 
— O QUE VOCÊ QUER QUE EU DIGA?!  — Ele gritou de volta,
abrindo os braços.
 
— Foi preciso! Você matou nosso pai, traiu a organização, me traiu.
 
— ISSO NUNCA TEVE A VER COM VOCÊ!
 
— Tem tudo a ver comigo. — Ele respondeu sem explicação.
 
— Sim! Sim e sim!  — Ele gritou — Fiz e faria mil vezes
novamente. Escolher entre matar meu irmão mais novo e como castigo
mandá-lo matar a vadia que traiu nossa família e que o manipulou para
matar nosso pai foi a escolha mais fácil que já tive que fazer e eu faria mil
vezes novamente se preciso fosse! — Ele disse batendo o indicador sobre a
mesa da escrivaninha me encarando.
 
— Fez para me castigar — falei me endireitando.
 
— Sim! — Ele respondeu sem nem um pingo de remorso.
 
— Quis castigá-lo por ter se deixado levar, sim, te afastei por raiva,
sim, quis milhões de vezes te expulsar da organização, mas não fiz. — Ele
falou a última frase em um tom mais baixo, como se aquilo o inquietasse.
 
— Por quê? — Perguntei.
 
Nós ficamos em silêncio por algum tempo, encarando um ao outro.
 
— Ele merecia, você sabe disso — eu justifiquei. — Eu não vou me
desculpar — falei com a voz mais calma.
 
Boris se virou para mim, me analisando com calma.
 
— Não espero que faça — Ele falou desviando o olhar.
 
Boris era mais velho que eu e apesar dos cabelos negros ele já tinha
alguns cabelos grisalhos, ele nunca havia se casado ou tido filhos e eu
nunca questionei seus motivos. Ele era alto e forte, mas parecia mais magro
que o normal.
 
Nós tínhamos uma personalidade muito parecida e isso nos fazia
sempre confrontar nas mínimas coisas.
 
— O que realmente veio fazer aqui Boris? — Perguntei mais uma
vez.
 
— Quando éramos jovens, lembra como eu sempre sabia que você
estava fazendo alguma coisa errada? — Ele perguntou. — Eu sempre sabia,
não importava o quanto você tentasse esconder, eu sempre descobria.
 
— Não sei onde você quer chegar — falei, mas eu sabia exatamente
onde Bóris queria chegar.
 
Ele havia descoberto que nós planejamos nos desmembrar dos Bratva
e eu não conseguia entender sua tranquilidade diante daquilo.
 
— Eu sempre tentava te livrar… — Ele continuou e sorriu se
lembrando pegando uma foto onde eu posava com um cavalo— Lembra da
vez que você botou fogo no estábulo do papai e eu tive de dizer que eu
fumei lá dentro e provavelmente havia incendiado sem querer?  — Ele
lembrou.
 
Meu pai era apaixonado por cavalos, e quando não estava
trabalhando, estava com seus premiados garanhões, então no dia da minha
apresentação que ele não apareceu, eu decidi destruir algo que ele amava.
 
Ele ficou em silêncio por um longo tempo olhando em volta do
escritório como se quisesse gravar tudo em sua mente. Então se virou para
mim, atravessou a sala, ficando a poucos centímetros.
 
— Isso é um adeus Cas — Ele falou e eu não precisei perguntar nada
para saber o motivo.
 
Boris estava ali para realmente se despedir, era um aviso do tipo que
a próxima vez que nossos caminhos se cruzassem estaríamos de lados
opostos da guerra.
 
Boris passou por mim, e foi até a porta.
 
— E Cas! — Ele disse de costas com a mão na maçaneta da porta. —
Espero que não cometa com Kiara o mesmo erro que cometeu com Laila.
— Ele disse antes de abrir e sair me deixando ali pensativo.
 
Fui até o bar e peguei uma bebida e acendi um charuto tentando me
acalmar.
 
“O que foi aquilo?” — Me perguntei.
 
Boris havia ido ali, somente para dizer que sabia exatamente o que eu
estava fazendo
 
Ouvir a porta abrindo e sem precisar me virar, sabia que era meu
amigo entrando, preocupado com o que havia acontecido.
 
— E então? — Ele perguntou confuso.
 
— Ele sabe — Respondi.
 
— Então temos que nos preparar. Ele disse se vai mandar mais
homens? Ameaçou você?
 
— Não, ele não disse. — Revelei.
 
— Quê? Como assim?
 
— Ele só disse adeus.
 
— O quê? Como assim, o que exatamente isso significa? — Ivan
perguntou.
 
— Eu não sei, mas não podemos recuar agora. Finalize os negócios e
garanta que os traficantes começarão a trabalhar em nosso nome o mais
rápido possível — Ordenei e Ivan foi logo tomar as providências.
 
Eu me sentei na poltrona, com minha bebida.
 
Boris não estava errado quando disse que foi preciso fazer tudo
aquilo.
 
Quando matei meu pai, Boris assumiu como sucessor e como tal,
tinha como obrigação tomar as providências exigidas. E ainda assim, das
possíveis alternativas ele havia optado pela opção mais tênue e eu nem
imaginava o que aquilo poderia ter lhe custado.
 
Ser o chefe em uma organização não era tão fácil como muitos
pensavam.
 
As lembranças começaram e se formar em minha mente, aquele
porão sujo, Laila ajoelhada e a dor que eu senti a vendo suja, magra e
desgrenhada.
 
— Diga! — Boris gritou para ela lhe apontando uma arma.
 
Ela não chorava ou implorava por sua vida. Fria, com os olhos cheios
de ódio, ela me encarava engolindo em seco.
 
— DIGA! — ele ordenou esbofeteando seu rosto e eu me
impulsionei para ir ao seu encontro, mas Boris apontou sua arma para mim
me fazendo parar.
 
Ela cuspiu o sangue voltando a se endireitar.
 
— Ele nunca tocou em mim! — ela revelou, me fazendo perder um
pedaço de meu chão.
 
— É mentira, eu vi… vi as marcas… — Eu disse incrédulo.
 
— Você viu somente o que eu quis que visse — ela falou me
encarando com os olhos banhados de lágrimas, mas não eram lágrimas de
tristeza ou de felicidade, eram lágrimas de ódio.
 
— Impossível… eu tenho certeza…
 
— Que ele me bateu? Que me estuprou? — Ela disse com a sombra
se um sorriso nos lábios — Eu te disse tudo aquilo para te convencer, as
marcas foram seus próprios homens que fizeram enquanto me fodiam
loucamente — Laila despejou com desprezo cada palavra.
 
Boris veio até a mim e colocou a arma em minha mão.
 
— Mate ela, ou eu juro que a entrego aos homens e deixo eles
fazerem o que bem entenderem com ela.
 
Apesar da raiva, da dor que sentia em meu peito, eu ainda a amava e
minhas mãos tremeram sob a arma.
 
— Eu… eu não posso…
 
— Faça! — ele ordenou friamente.
 
Minha mão se fechou sobre a arma e eu caminhei até Laila que
continuava ajoelhada e mirei em sua cabeça, porém não conseguia apertar o
gatilho.
 
E nós ficamos ali nos encarando por um longo período.
 
— Seria uma benção, não é? — Ela repetiu o que havia me dito no
jardim.
 
Ainda assim fui incapaz de atirar.
 
— Eu vou facilitar as coisas para você Cas — Laila disse — Eu
odiava seu pai por ter matado o homem que eu amava para me fazer casar
com ele, eu odeio os Bratvas, odeio seu irmão e toda sua maldita família, eu
espero que queimem no inferno e eu odeio você! — Ela disse por último
fazendo uma careta de nojo. — Usei você como um meio para atingir seu
pai e me vingar e quer saber? Eu não me arrependo…
 
O som do cão da arma a fez parar de falar, mas não de perder o meio
sorriso que me fazia ter náuseas, então com o ódio que ela mesma havia
plantado, eu apertei o gatilho, vendo seu corpo cair e sangrar.
 
Os homens que estavam ali para presenciar a execução foram
embora, Boris foi embora, mas eu fiquei, fiquei e vi a vida sair de seus
olhos, e sua última gota de sangue se esvair de seu corpo e ainda assim eu
não tinha vontade de ir a lugar nenhum além de dali.
 
Uma mistura de amor e ódio, e sentimentos que eu jamais saberia
descrever e só quando alguns homens entraram para fazer a retirada do
corpo, que olhei para a arma em minha mão e a deixei sobre uma mesa e
saí, sem rumo certo.
 
As lembranças me deixavam um gosto amargo na boca e virei minha
bebida tentando afastar aquelas memórias.
 
Dei um último trago em meu charuto e voltei a tomar mais um gole
de whisky, antes de me virar e ir procurar por Kiara.
Capítulo 24
 
 
— E as investigações sobre o desaparecimento do agente da
corregedoria Arthur marinho continua — A repórter da tevê disse fazendo
meu estômago revirar — Já são quase 4 meses sem novas informações e o
delegado do departamento de política disse que não irá arquivar o caso
enquanto não descobrir o que de fato aconteceu com o agente.
 
Minha cabeça deu uma volta e eu me senti tonta, senti minhas mãos
suando frio e meu corpo tremer ao me lembrar daquele dia.
 
— Kiara?! — Cas chamou dando leves batidas na porta e não
esperou que eu respondesse, apenas foi entrando devagar.
 
Eu estava sentada na cama já vestida em um pijama confortável e Cas
estava largado em meu colo sobre o cobertor enquanto recebia um carinho
em seus pelos.
 
— Não deveria ficar aqui, vai atacar sua alergia — Eu me preocupei,
pois da última vez ele parecia bem afetado.
 
— Já tomei um antialérgico — Ele disse sentando-se na beira da
cama e pegando cas de meu colo — Está chateada? — perguntou notando
meu desconforto.
 
De fato, havia ficado bem chateada ao descobrir que ele tinha um
irmão e nunca havia me dito nada, mas então refleti por algum tempo e
notei que não tivemos muito tempo para nos conhecer o suficiente, sempre
tinha algo acontecendo.
 
— O que exatamente seu irmão quis dizer? — Eu questionei, pois
aquilo martelava minha cabeça sem parar.
 
Cas suspirou profundamente, demonstrando que aquele assunto era
algo delicado que ele não gostava de compartilhar e eu quase desisti de
querer saber, quando ele começou a contar.
 
— Quando eu era bem jovem, meu pai se casou com uma mulher. Já
era seu quarto casamento. — Ele revelou me surpreendendo — ela era nova
e bonita, poucos anos mais velha do que eu. — Ele começou a contar
alisando meu gatinho — Meu pai nunca foi um homem ligado a família, ele
vivia viajando ou em boates e eu e Laila acabamos nos aproximando mais
do que realmente deveríamos… — Ele hesitou por alguns segundos —
então quando meu pai descobriu já estava apaixonado por ela — Ele
confessou envergonhado.
 
— Meu Deus — Falei levando a mão à boca surpresa. — E o que
aconteceu? — Eu perguntei curiosa.
 
— Minha família passou a me odiar. Meu irmão me culpa pela morte
de nosso pai até hoje, e Laila foi embora e nunca mais a vi.
 
“Então era por isso que ele nunca mais se envolveu com outra
mulher.”
 
“Era aquele assunto que era proibido entre os funcionários”
 
“E por isso Boris havia dito que Cas gostava de mulheres casadas,
porque ele tinha roubado a mulher do pai”
 
Eu me senti um pouco desconfortável, mas então decidi perguntar:
 
— Ainda gosta dela?
 
— Não, Laila era uma mulher fria e manipuladora e faz muito tempo
que ela morreu, para mim.
 
Ao falar dela, seu olhar mudou para algo sombrio e eu fiquei
imaginando o que tanto aquela mulher poderia ter feito para despertar tanto
ódio em Cas.
 
— Eu sinto muito — falei sem realmente ter o que dizer.
 
— Não sinta, eu realmente mereci — Ele disse me fazendo sentir
compaixão por ele.
 
Eu lhe dei um abraço e quando meus braços estavam em volta de seu
pescoço, eu vi a foto de Heron na televisão e me apressei para pegar o
controle e aumentar novamente o volume.
 
— E no dia de hoje várias informações que podem comprometer o
procurador-geral Heron Mitchell foram vazadas nos principais blogs de
notícias e fofocas. Agora à noite tentamos uma entrevista com o procurador
— A moça dizia em frente ao tribunal geral que era onde Heron trabalhava
e mostrava vários repórteres tentando falar com ele, mas sem sucesso. —
Mas ele se recusa a dar qualquer tipo de declaração.
 
— Você não parece surpresa — Cas perguntou desconfiado me
encarando e encarando a televisão.
 
— Porque não estou, Heron é capaz de tudo — justifiquei um pouco
sem graça.
 
— Já está pronta para dormir? — Ele finalmente pareceu notar.
 
— Sim, estou cansada.
 
— Está? — Ele perguntou mudando seu tom de voz — Muito? —
Meu corpo começou a se acender só de cogitar o que viria a seguir.
 
Cas, levou a mão ao laço que prendia meu pijama e o desfez,
expondo mais meus seios, enquanto soltava o gato, e se inclinou para beijar
minha boca. Seus dedos roçaram meu bico e eu ronronei ao sentir o toque
suave de suas mãos.
 
Esperei que ele avançasse, que aprofundasse mais seu beijo, seus
toques, que mergulhasse em mim, mas não aconteceu, Cas me olhava com
chama nos olhos e estimulava meu corpo com uma suavidade torturante,
que ia me deixando cada segundo mais obcecada em tê-lo.
 
Levei minhas próprias mãos aos meus seios em busca daquela
sensação que me faltava e que sua ausência me consumia.
 
— Já se tocou antes Kiara? — Cas perguntou ainda me castigando,
vendo meu total desespero por senti-lo mais profundamente dentro de mim.
— Responda Kiara, já se tocou antes? — Ele exigiu uma resposta
beliscando o bico de meu seio com as costas dos dedos.
 
— Sim… — eu gemi com aquela sensação que fazia meu centro
latejar.
 
— Já se tocou pensando em mim? — Ele perguntou bem próximo
aos meus lábios usando as duas mãos para massagear meus seios que se
encaixam em suas mãos grandes e fortes.
 
— Sim… muitas e muitas vezes, nos últimos meses — respondi
como uma súplica para que ele continuasse, mas ao invés disso, Cas se
afastou, levantou da cama, arrastou a poltrona para mais perto de minha
cama e se sentou nela de forma relaxada escorando suas costas e de pernas
abertas.
 
— Toque-se para mim, Kiara — Ele pediu me fazendo sentir uma
mistura de vergonha e desejo — deixe-me ver como você se dava prazer,
pensando como eu a foderia.
 
Senti meu rosto queimar, mas não ousei desobedecer, me alcancei o
interruptor perto da cama deixando que somente a claridade da televisão me
iluminasse e coloquei e com o controle coloquei uma música ambiente.
 
Me deitei na cama tentando me concentrar somente em mim mesma,
tentando me esquecer que Cas estava bem ali me observando e enfiei minha
mão por dentro da minha roupa começando a tocar meus seios.
 
— Tire sua roupa Kiara. Quero vê-la completamente nua enquanto se
toca — ele disse em um tom de ordem e aquilo elevou ainda mais minha
excitação.
 
Me senti estranha quando me levantei e comecei a tirar minhas
roupas desajeitadamente.
 
— Shiiii — ele fez um sinal com a mão — Devagar, devagar
pequena, quero saborear esse momento bem lentamente.
 
Eu diminuí a velocidade tentando ser sexy, mas só conseguia me
achar ridícula.
 
— Toque seus seios Kiara — Ele disse quando passei minha blusa
pelo pescoço e assim eu o fiz e quando meus dedos tocaram meus mamilos
senti o quanto eu estava sensível. Talvez inconscientemente eu gostasse
daquela situação. Ser observada por ele enquanto me toco, imagino coisas
sujas em minha mente que provavelmente nunca teria coragem de
expressar.
 
— Isso… — Ele sussurrou ao notar minha excitação — Solte-se para
mim e me mostre o que você pode fazer sozinha, delícia. 
 
Eu passei a mão pelo cós da calça, junto com a calcinha, descendo
até que caísse no chão e me ajoelhei na cama virada de bunda para ele, lhe
dando uma boa visão da minha intimidade. Devagar me deitei de bruços.
Fechei meus olhos e levei meus dedos à boca para lubrificá-los e desci por
meu corpo até encontrar meu centro já molhado de desejo.
 
Eu sentia meu prazer crescer a cada movimento e rebolava tentando
aumentar o atrito. Com a outra mão eu massageava meus mamilos. Quando
abri meus olhos, Cas tinha seu membro em mãos, fazendo movimentos de
vai e vem. Sua respiração ofegante mostrava o quanto ele falava do que via
e aquilo alimentou ainda mais meu desejo e eu gemi voltando a fechar os
olhos, introduzindo ao máximo meus dedos, arqueando o corpo em busca
de me preencher.
 
Senti quando Cas trocou de leve minha perna, ele estava em pé ao
meu lado ainda se massageando e abriu ainda mais minhas pernas para ter
uma visão melhor do que eu fazia e quando seu polegar pressionou meu
clitóris, enquanto meus próprios dedos me penetravam e gozei tremendo e
gemendo loucamente me dissolvendo relaxada sobre a cama e Cas se
esporrou sobre mim me lambuzando satisfazendo seu próprio desejo.
Capítulo 25
 
 
A visão do corpo de Kiara ofegante sobre a cama era extremamente
sexy, seus olhos fechados e o som baixo de seus dedos brincando com sua
própria intimidade era a dose certa para me levar à loucura.
 
Eu tentava controlar minha própria respiração irregular enquanto
sentia o prazer correr em choques pelo meu corpo.
 
Levei minha mão em sua intimidade enquanto continuei os
movimentos de vai e vem em meu membro duro de desejo e quando Kiara
gemeu atingido seu prazer, não consegui me segurar e gozei em seu corpo.
 
Ela estava relaxada sobre o colchão ainda afetada pelo orgasmo que
havia acabado de ter.
 
Eu me deitei ao seu lado e procurei sua boca em um beijo casto.
 
— Vamos, te darei um banho já que te sujei — chamei me
levantando.
 
Estendi a mão a ela para que segurasse e eu a ajudei a se levantar e a
guiei até o banheiro.
 
Liguei o chuveiro e entramos juntos no box. Coloquei uma
quantidade generosa de sabonete líquido na esponja e comecei a esfregar
seu corpo perfeito, passando pelos seios e na barriga onde mais havia
sujado e quando estava tudo limpo, virei Kiara para que eu pudesse esfregar
suas costas.
 
Fiquei parado por um instante vendo a marca que Heron havia feito e
então levei meus dedos sobre a cicatriz e senti Kiara estremecer com o
toque delicado.
 
— Sinto muito você ter que vê-la toda vez — Ela sussurrou.
 
Eu a abracei por trás beijando sua nuca, sentindo seu corpo nu
grudado ao meu de forma tão carinhosa.
 
— Não se desculpe por isso. Juro que nunca mais ninguém vai tocá-
la assim, Kiara, Juro por tudo que é mais sagrado… — Falei com uma dor
no peito ao pensar o quanto aquilo devia doer nela.
 
— Me diz o que você quer fazer? Posso procurar um cirurgião
plástico ou podemos cobri-la com uma tatuagem, o que você quiser fazer eu
vou providenciar, para que nunca mais você precise ver essa marca em seu
corpo.
 
Kiara se virou ainda colada em mim, ficando a menos de centímetros
de minha boca e a água batia em nossas cabeças e escorria por nossos
rostos.
 
— Por enquanto só quero que me faça esquecer que um dia ele
existiu — Ela disse passando os braços por meu pescoço me puxando para
um beijo quente e molhado cheio de desejo e novamente nossos corpos
estavam em chamas pela excitação.
 
Eu a virei novamente a empinando para mim e me enterrei nela sem
delicadeza, atendendo a urgência de nosso tesão.
 
Kiara gemia e se empinava mais a cada estocada e tentava receber
mais e mais de mim dentro de si, me deixando alucinado.
 
O som de minhas pélvis se chocando contra sua bela bunda,
misturada com seus gemidos e com minha respiração ofegante, era sensual
e aumentava meu desejo de gozar dentro dela.
 
— Está protegida Kiara? — Questionei tentando me segurar.
 
— O quê? — Ela perguntou sem entender no início, mas logo
compreendeu do que eu falava — Não, não goze dentro, não estou tomando
pílula.
 
— Não sei se consigo me controlar pequena — Falei sentindo meu
membro ser pressionado por sua intimidade, Kiara tentava se segurar, então
passou uma de suas mãos por trás de meu pescoço colando seu corpo ao
meu e eu aproveitei para levantar uma de suas pernas para ajudá-la a atingir
seu orgasmo.
 
Lutava para segurar meu próprio prazer querendo vê-la atingir o dela
e só quando tive certeza de que Kiara havia alcançado seu ápice que
alimentei mais movimentos e gemi alto quando o orgasmo se aproximou,
conseguindo tirar no último minuto.
 
Estava esgotado, escorado contra seu corpo nu, ainda sentindo aquela
deliciosa sensação.
 
— Por favor, comece a tomar pílulas — falei ofegante, sentindo
minha boca seca.
 
Kiara ficou quieta por um tempo e do nada começou a rir do meu
estado e eu a acompanhei.
 
Saímos do banho e fomos para a cozinha atrás de qualquer coisa
comestível, pois estávamos morrendo de fome.
 
— Que tal pedirmos uma pizza? — Eu sugeri abrindo a porta da
geladeira.
 
— Com muito queijo — Ela pediu e eu fechei a porta e peguei o
celular para fazer o pedido.
 
Kiara foi até a geladeira e pegou um pote de picles e começou a
comer.
 
— Não vai esperar a pizza?
 
— Vou, mas estou com fome — disse dando outra mordida no pepino
fazendo barulho.
 
Eu fiz o pedido e fiquei a observando comer escorada no balcão da
minha cozinha, vestida com minha camisa com um leve sorriso nos lábios,
e uma sensação de calor se instalou em meu peito e eu não me lembrava
qual havia sido a última vez que tinha me sentido tão bem antes.  
 
Caminhei até ela ficando bem à sua frente e ela enfiou a mão dentro
do pote e me ofereceu um pedaço e eu mordi me arrependendo logo em
seguida.
 
— Isso é azedo — Reclamei fazendo uma careta.
 
— É picles, você queria que fosse doce? — Ela perguntou dando
risada.
 
Seu sorriso era lindo e eu só desejei passar aquele momento em
câmera lenta para desfrutar melhor. O clima era leve e extrovertido e eu
nunca havia me imaginado em tal ambiente.
 
— Me encanto em seu sorriso, sabia? — Eu falei de repente e Kiara
parou de sorrir me encarando com os olhos cheios de ternura.
 
O clima simplesmente mudou e nós ficamos nos encarando em um
olhar profundo e significativo.
 
— Tenho medo de me machucar — Ela confessou me fazendo sentir
um aperto no peito — Tenho medo de acordar um dia e descobrir que tudo
foi um sonho…
 
— Você está se tornando meu sonho, pequena… — Eu disse tocando
suavemente seu rosto sentindo a maciez da sua pele.
 
Kiara fechou os olhos virando a cabeça mais ao encontro de minha
mão desfrutando da carícia e eu me inclinei e beijei suavemente seus lábios.
 
Eu queria ter certeza que nunca a machucaria, mas não sabia se
aquilo era possível, gostaria de prometer a ela que eu seria seu porto seguro,
mas aquilo talvez estivesse longe da realidade.
 
— Kiara… — falei hesitante, tentando encontrar as palavras certas
para contar a ela exatamente o que eu era — Tem coisas sobre mim que
você precisa saber, coisas que eu não te contei.
 
— Sim, eu estava exatamente pensando nisso hoje à tarde — Ela
disse um pouco empolgada.
 
— Estava? — Estranhei.
 
— Claro. Sei que se tivesse tido oportunidade teria me contado mais
sobre você, mas as coisas entre a gente aconteceram muito rápidas e a
verdade é que não sabemos quase nada um do outro — Ele disse indo até a
mesa e colocando o pote sobre a mesa.
 
— Sim, isso também… — Respondi desconfortável, pois não era
exatamente o que eu queria dizer.
 
— Mas teremos tempo para isso…— Kiara disse se virando para
mim.
 
— Kiara não é só sobre o caso que tive com minha madrasta — tentei
voltar ao ponto.
 
— Sim, e eu entendo isso, sei que tem muitas coisas que temos que
descobrir um no outro e vamos fazer isso com calma — Ela falou vindo até
a mim e pegando minha mão.
 
— Não sei se quando me conhecer de verdade vai gostar do meu
outro lado — falei encarando seus olhos brilhantes de expectativa.
 
— Acho que não existe uma versão sua que eu não goste — Ela disse
com um sorriso tão lindo que fui incapaz de contrariá-la, por isso a puxei
para meus braços e voltei a beijá-la.
 
Então meu celular tocou com a notificação de um de meus homens
avisando que o motoboy havia chegado.
 
— Acho que nossa pizza chegou — avisei saindo para ir buscar.
 
Kiara quis assistir um filme e mesmo eu não gostando fiquei com ela
até o final.
 
— Amanhã podíamos ir almoçar em um restaurante de um amigo
meu, o que me diz? — perguntei vendo-a concentrada no conteúdo da tevê.
 
— Onde exatamente? — ela quis saber.
 
— Fora da cidade.
 
Ela me olhou e sorriu e eu puxei as mechas de seu cabelo para trás de
sua orelha para ter uma visão melhor do seu rosto.
 
— Acho uma ideia excelente. — Ela respondeu.
 
— Que maravilha, depois vou ligar para ele e fazer as reservas —
avisei e Kiara concordou e se achegou mais a mim, se deitando em meu
peito.
 
Vê-la aninhada a mim, parecendo um animalzinho carente, me fazia
refletir.
 
Eu me perguntava se realmente era o melhor para Kiara, o que ela
pensaria de mim, quando descobrisse toda a verdade, quando descobrisse
que eu não era o herói que ela pintava, que nossa história não era um conto
de fadas e que provavelmente seu coração partiria em mil pedaços quando
enxergasse meu verdadeiro eu.
 
Kiara já cochilava em meu peito quando me senti sufocado por tantas
questões e eu a deixei deitada no sofá para ir para fora tomar um ar.
 
Acendi um charuto e olhei o céu estrelado.
 
Estava sendo egoísta em mantê-la comigo mesmo sabendo de tudo
aquilo.
 
Mas eu não era um homem bom, e talvez um dia Kiara me odiasse
por aquilo, por ter mentido, mas eu sabia que mesmo quando ela me odiasse
eu a continuaria “AMANDO”.  
Capítulo 26
 
 
Cas havia me acordado quase de madrugada em pleno domingo para
irmos a um “lugar especial”, como ele mesmo havia dito, para minha total
surpresa fomos para uma mini pista de pouso, onde uma aeronave pequena
nos esperava.
 
— Aonde vamos tão cedo? — perguntei quando entramos na
aeronave.
 
— Em breve você verá! — Foi toda a resposta que ele me deu.
 
Uma aeromoça nos ofereceu um belo café da manhã que eu comi até
a última migalha, ainda me atrevi a roubar algumas batatas fritas de Cas. 
 
— Como você pode comer um lanche desse tamanho uma hora
dessas — Falei vendo-o devorar seu hambúrguer.
 
— Já lhe disse que amo essas coisas — ele respondeu enfiando uma
porção de batatas na boca.
 
— Como você não engorda comendo tanta besteira? — Perguntei
pensando para onde ia tanta gordura.
 
Ele deu de ombros.
 
— Treino, eu acho.
 
Pousamos em um lugar totalmente isolado em um campo verde com
apenas uma pista de terra para pouso, eu ficava cada vez mais intrigada para
onde iríamos.
 
Havia um carro com um motorista que nos esperava e outro para os
seguranças.
 
Quando chegamos no pequeno vilarejo eu me senti em um filme
medieval, algumas casas eram totalmente de pedras com jardins e sacadas,
mais campos verdes de perder de vista. O sol começava a se levantar,
trazendo mais beleza àquele cenário.
 
— Ainda não chegamos onde quero te levar — Cas disse ao me ver
admirar a paisagem.
 
Eu me encolhi pelo frio que estava fazendo e Cas retirou um casaco
grosso de dentro de uma mochila que carregava, colocando sobre meus
ombros.
 
— Pra onde vamos é mais frio, então coloque isso também — Falou
me entregando um par de luvas.
 
Ele estava bem agasalhado, mas como eu não sabia para onde
iríamos, Cas tomou o cuidado de se precaver por mim.
 
Eu aceitei e o segui por uma pequena trilha, que no final, dava início
a uma longa escada. Começamos a subir e parecia que nunca teria fim, eu já
me sentia cansada.
 
Cas ia na minha frente, eu parei cansada, observando o campo aberto
com a névoa da manhã, ainda cobrindo a maior parte dele, então ele me
ofereceu um cantil de aço, com água.
 
— Falta pouco — Ele me avisou.
 
Quando chegamos ao topo, havia um arco de pedras e lá embaixo
uma praia, uma visão de tirar o fôlego! Apesar do frio e do cansaço que era
ter ido até ali, o meio sorriso que brincava nos lábios de Cas misturando a
beleza daquele lugar, fazia tudo valer a pena.
 
— É… — Eu procurei as palavras descrever, mas acreditava que
nada do que eu dissesse, faria jus a beleza do local.
 
— Inexplicável? — Ele perguntou, me olhando e eu concordei com
um aceno.
 
— Que lugar é esse? — Eu perguntei curiosa, pois até aquele
momento ele não havia me falado.
 
— Tintagel — Ele revelou me puxando para seus braços, tentando
me aquecer — Diz a lenda que foi aqui que o Rei Arthur nasceu, pelas
mãos de Merlin — Olhei para ele com um olho só, pois o vento batia forte
em meu rosto e sorri.
 
Ficamos ali por mais algum tempo e Cas me contou história sobre o
lugar.
 
— Como você sabe de tudo isso? — perguntei, pois Cas era russo.
 
— Quando eu era pequeno, minha mãe me contava histórias sobre
muitos lugares do mundo, mas esse era o que eu mais gostava de ouvir,
então foi o primeiro lugar que quis conhecer depois que ela morreu. — Ele
me contou triste.
 
— Eu sinto muito. — Falei sentindo sua dor, pois eu sabia bem como
era — Como ela... — Não consegui finalizar a pergunta e me arrependi de
ter começado quando notei o quanto aquilo o afetava.
 
— Ela se matou, nas vésperas do Natal — Cas respondeu sem me
olhar, como se fosse difícil demais me encarar naquele momento.
 
— Cas, me desculpa, eu não...
 
— Está tudo bem... — ele forçou um meio sorriso e ficamos em
silêncio por alguns minutos, só admirando a paisagem.
 
— Venha, vamos ao restaurante do meu amigo que nos aguarda com
uma caneca de chocolate quente — ele disse depois de um tempo, me
guiando de volta para as escadas.
 
Quando descemos, Cas me levou a um restaurante que se parecia
com uma caverna. Era intrigante a beleza do lugar feito de pedras cinzas
com mesas e cadeiras de madeira maciça.
 
— Cas! — Um homem grande e forte gritou de braços abertos assim
que entramos no estabelecimento.
 
— Pastry! — Cas respondeu indo até ele e sorrindo.
 
  “Pastry?” — Pensei comigo um homem daquele tamanho, muito
maior do que Cas que já era alto e mais forte com um apelido de “Pastel”?
 
Seu amigo sorriu e o abraçou forte.
 
— Quanto tempo velho amigo — Seu amigo disse se afastando.
 
— Está é Kiara — Cas disse me apresentando — E esse é um velho
amigo, Pastry.
 
— Mas, vamos sentar, vou mandar preparar um chocolate bem
quente para vocês — Ele disse fazendo sinal para uma mulher que estava do
outro lado.
 
Eu retirei meu casaco e me sentei em uma das mesas junto com Cas,
enquanto seu amigo se afastou e voltou minutos depois com uma bandeja
com duas canecas.
 
— Hum que delícia — falei tomando um grande gole da bebida
aquecida, que tinha um gosto um pouco diferente das que eu estava
acostumada.
 
— O segredo é uma pitada de canela e rum — O grandão disse se
sentando à mesa conosco.
 
— Como vai á família? — Cas perguntou e Pastry olhou para os
fundos para verificar se não era ouvido.
 
— Celina está de 7 meses e com um gênio do cão, os gêmeos estão
deixando ela maluca e ela joga toda culpa em mim — Ele sussurrou.
 
— É porque a culpa é sua! — Uma mulher baixinha e linda saiu da
cozinha com um barrigão — Estamos no quinto filho e você parece não
estar satisfeito — Ela reclamou e quando se aproximou o suficiente foi
arrebatada pelo marido que a colocou sentada em seu colo.
 
— O que eu posso fazer se eu tenho a mulher mais linda do universo
— Ele disse e ela revirou os olhos.
 
Sem me dar conta, ri daquela cena.
 
Eles eram um casal incomum, e ainda assim o amor dos dois era
visível e lindo.
 
Pastry começou a contar as histórias que haviam acontecido durante
o tempo que não se viram e depois de um tempo Celine voltou para dentro,
deixando apenas nós três.
 
— Esse homem aqui — Pastry disse para mim, apontando para Cas
— Ele é um completo maluco. Nós estávamos em uma missão…
 
— Pastry…— Cas disse em um tom de advertência.
 
— Missão? Vocês eram do exército?
 
— Exército? — Ele perguntou confuso olhando para Cas — Ah, sim,
era quase isso — respondeu, retomando a história — Eu tinha sido atingido.
Nós estávamos cercados por uns 5 ou 6 homens e eu sangrava — Ele disse
afastando o tecido da blusa mostrando a cicatriz de um tiro no ombro. — Eu
tinha a perna machucada e não conseguia andar direito, então eu disse a ele:
vai, me deixe aqui, eu vou segurá-los para você fugir — Ele contava
animado fazendo gestos e sorrindo — mas Cas me ajudou a levantar e saiu
atirando enquanto praticamente me carregava — Ele disse imitando,
enquanto Cas ria e fazia um sinal de que ele estava exagerando. — É graças
a ele que eu estou hoje aqui — Pastry finalizou em um tom melancólico.
 
— Pare de falar tanta besteira e traga mais disso aqui para nós — Cas
disse desconversando.
 
Mas eu já o encarava encantada, pensando se aquele homem era
mesmo de verdade e se realmente eu tinha tido a sorte de o encontrar.
 
Depois de batermos um longo papo e Pastry contar diversas histórias
da época em que haviam servido juntos. Cas me levou antes do almoço a
um castelo e eu fiquei maravilhada com tudo, mas o frio aumentava a cada
minuto e decidimos voltar à taberna antes que congelássemos. 
 
Pastry e sua esposa nos serviram uma deliciosa sopa de carne com
legumes no pão.
 
— Nossa, isso estava divino — falei para Celina quando terminei de
comer me sentindo estufada.
 
— Que bom que gostou — Ela disse com um sorriso retirando os
pratos e eu fui ajudá-la a levar para a cozinha — Depois que fomos embora
da Rússia, Pastry procurou fazer o que amava — Ela disse vendo seu
marido e Cas de longe conversarem. — Então abrimos essa pequena
taberna — Falou mostrando tudo em volta.
 
A taberna era aconchegante, com uma lareira quentinha para os
clientes se aquecerem. Uma escada de pedras e madeiras dava para o andar
de cima onde ficavam os quartos.
 
O lugar não era cheio, mas sempre tinha um cliente, turistas que iam
conhecer o castelo e o pequeno vilarejo onde a lenda do Rei Arthur havia
começado e todos eram sempre bem recebidos por Celina e por Pastry.
 
— Ele não parece o tipo de homem que gosta de cozinhar —
comentei reparando no homem grande e careca com tatuagens nas mãos e
na nuca.
 
— De onde viemos nem sempre fazemos o que queremos — Ela
disse em um tom triste — Mas sou muito grata a Cas por ter nos ajudando a
sair daquela vida — Celina disse me deixando um tanto confusa — Se não
fosse por ele, hoje não teríamos esse lugar e a família que temos — Ela
disse com sorriso passando a mão na barriga. 
 
— O que exatamente vocês faziam na Rússia? — perguntei curiosa.
 
— Mamãe tô com fome e a Paty me bateu — uma garotinha de uns 5
anos entrou falando toda agasalhada com luvas, toucas, botas e cachecol.
 
— É mentira! Eu só te ajudei a descer mais rápido do ônibus — A
outra disse entrando em seguida e logo mais dois garotos um pouco mais
velhos que pareciam ser gêmeos entraram.
 
— E acabou o sossego — Celina reclamou revirando os olhos. — E
como você pode ver, essa é a minha família — E eu ri quando ela estapeou
a mão do que parecia ser o mais velho quando ele tentou pegar um bolinho
sobre a mesa.
 
— Vão lavar as mãos, o almoço já está pronto — Ela ordenou e todos
saíram correndo.
 
— Ei pequena, vamos? O tempo está virando e não quero enfrentar
uma tempestade no ar — Cas nos interrompeu.
 
— Já?! — Eu reclamei, pois estava gostando muito do ambiente ali.
 
— Sim, podemos voltar em um outro final de semana para que você
possa conhecer todos do vilarejo, mas por hoje precisamos ir embora.
 
Eu queria ter ficado mais um pouco, mas Cas tinha razão, voar com o
tempo chuvoso não era bom, então nós nos despedimos do casal e voltamos
à pista de pouso.
 
Entramos na aeronave e Cas se sentou em minha frente, mas logo que
a aeronave decolou eu soltei meu cinto e me sentei em seu colo, me
encolhendo o suficiente para caber em seu colo. Cas me acolheu em seus
braços e usou uma manta para me cobrir.
 
— Obrigada por hoje — eu agradeci.
 
— Eu que devo agradecer pequena, nunca havia dividido essa parte
da minha vida com ninguém, mas te trazer aqui me fez sentir parte de
alguma coisa — Cas disse em um tom baixo e eu levantei a cabeça para vê-
lo melhor.
 
— Mas você faz parte de alguma coisa — Respondi com sinceridade
— Faz parte de mim.
 
Cas me apertou ainda mais em seu abraço e aquilo aqueceu minha
alma.
 
 

 
 
— Bom dia, Aldrey — Cumprimentei assim que cheguei na empresa
 
— Hummm, bom dia. Pelo jeito o final de semana foi bom para
alguém. — Ela respondeu sorrindo e se levantando de sua cadeira.
 
— Você nem imagina…
 
— Que bom que você está de bom humor, porque vai precisar de
todo ele para suportar aquele ali — Falou apontando para sala de Cas.
 
— Ele tá pegando no seu pé de novo?
 
— Eu não entendo como um homem tão bonito pode ser tão mal-
humorado — Disse mordiscando a tampa da caneta. — Como você
aguenta? — Ela perguntou me deixando confusa.
 
— Quê? Como assim?
 
— Como aguenta trabalhar na mesma sala que ele?
 
— Ah, isso. Eu fico mais na minha sabe. E apesar de seu mau-
humor, ele até que é inofensivo — Aldrey fez uma careta.
 
Depois do incidente constrangedor de Heron no escritório, eu contei
a Aldrey o motivo de eu estar com a camisa do chefe e que não havia nada
entre nós além de cortesia profissional.
 
— É melhor você ir, ou daqui a pouco ele começa a pegar no seu pé
também.
 
Quando entrei na sala de Cas ele estava no telefone e fez apenas um
sinal para mim. Eu acreditei que logo ele desligaria, mas aquela ligação se
estendeu por horas e quando ele finalmente terminou, mal conseguiu me dar
um beijo e Aldrey já estava na porta o chamando para uma reunião.
 
Já era hora do almoço e Cas ainda não tinha voltado.
 
— Ei… escuta, Ele não vai mais sair dessa reunião? — perguntei a
Aldrey como se não quisesse nada, antes de sair para o almoço.
 
— O quê? Cas? Ele saiu, foi em um compromisso fora da empresa,
só volta mais tarde — Ela me avisou me deixando chateada.
 
— Jura? Que saco…— Aldrey me olhou confusa. — Que ele não vai
passar o dia inteiro fora, esse é o dia mais sossegado que já tive desde que
comecei trabalhar aqui — Disfarcei.
 
— Eu que o diga, não ter ele me gritando a cada minuto é um alívio.
 
— E então? Vamos almoçar. — Ela chamou — Abriu um restaurante
aqui perto, podíamos ir lá comer alguma coisa hoje, o que acha?
 
— Para mim está ótimo, queria mesmo sair para comprar umas
roupas novas — Falei pegando minha carteira.
 
— E então você conseguiu achar um lugar para você?
 
— Sim, uma amiga me ajudou, mas muito obrigada pela ajuda —
Agradeci.
 
— Confesso que fiquei preocupada quando você disse que não iria
poder ir para a pensão, e depois… bem teve aquele incidente…— Ela disse
desconfortável.
 
— É… mas não se preocupe, eu estou bem, Heron é um babaca, mas
não é doido — eu respondi, mas não acreditava naquilo.
 
Heron era além de insano, e eu me perguntava como ele estava
lidando com tudo que estava acontecendo.
 
Quando chegamos no restaurante o lugar estava cheio e o garçom
demorou um pouco para nos atender, então aproveitei para mandar uma
mensagem para Cas.
 
 
Kiara
 
Estou me sentindo solitária hoje, quando você volta?
 
Apesar de minha mensagem ter chegado para ele, Cas não visualizou,
então eu e Aldrey pedimos nosso almoço e só quando estávamos quase
terminando que recebi sua mensagem de volta.
 
 
 
*Cas*
 
Me perdoe pequena, o dia não está fácil para mim hoje.
Estou tentando resolver alguns problemas, volto assim que possível.
 
 
Eu suspirei frustrada, pois esperava que ele fosse voltar logo, mas
pelo que parecia ele ainda iria demorar.
 
 
*Kiara*
 
Pensei que talvez eu pudesse melhorar seu dia �� .
 
 
Enviei a mensagem e fui a uma loja de roupas, procurar algumas
peças novas, pois mesmo com tudo que Cas havia comprado ainda sentia
falta de algumas coisas.
 
— O que você acha desse? — perguntei a Aldrey mostrando um
modelito preto com alças finas.
 
— Ótimo, se preparando para uma noite com o namorado? Não pense
que não notei esse brilho de quem teve um final de semana regado a sexo
bom e quente — Ela disse sussurrando para que a vendedora não ouvisse e
eu neguei com a cabeça sem acrescentar nenhum comentário.
 
“Hum não era uma má ideia” — Pensei comigo mesma — podia
comprar algo para impressionar Cas e comecei a olhar alguns modelos bem
provocantes.
 
— Não fale como se você também não aproveitasse — respondi
retirando um vermelho sangue.
 
— Quem eu? Huhu, não — ela falou se escorando no balcão com um
pacote de balas — Acho até que já criei teia de aranha — Ela brincou.
 
— Mas e o Ivan? Ele parece viver correndo atrás de você —
Comentei.
 
— Ivan é um tarado que correria atrás até de uma palmeira se ela
passasse na frente dele — ela falou bufando e largando a bala que estava
prestes a pôr na boca.
 
— Vou provar esses aqui — Disse a vendedora — E se você tiver
também queria ver algumas lingeries
 
Meu celular vibrou com a resposta de Cas.
 
 
*Cas*
 
Não seja maldosa comigo, pequena, estou em uma reunião
importante e não posso me desconcentrar.
 
 
Eu ri e entrei no provador, o vestido preto era simples e delicado,
próprio para um jantar romântico talvez, mas o vermelho era provocante e
realçava em minha pele branca, não era curto, mas tinha uma abertura que
ia até o alto de minha coxa.
 
Eu saí do provador para que Aldrey visse o resultado.
 
— Garota, espero que seu homem não tenha problemas cardíacos,
caso contrário vai matá-lo do coração — Ela disse me fazendo sorrir
satisfeita.
 
— Vou levar os dois, por favor — Falei à vendedora.
 
— E pelo jeito ele é rico também — Aldrey comentou e eu fiquei
muito sem graça.
 
— Aí desculpa, isso não é da minha conta — Ela disse batendo na
própria boca.
 
— Não, tudo bem — sorri ainda desconsertada — É, que acabei
recebendo mais do que eu imaginei do último emprego, então decidi me dar
um mimo — Expliquei, mas eu sabia que não era de todo verdade.
 
— Me desculpe Kiara, eu realmente não devia ter feito esse
comentário infeliz, o que você faz ou deixa de fazer da sua vida, ou do seu
dinheiro realmente não é da minha conta — Ela se desculpou parecendo
realmente sincera.
 
— Vamos esquecer isso — falei sorrindo dando uma olhada nas
lingeries e ela assentiu rapidamente aliviada.
 
— Hum, o que você acha desse aqui? — Ele perguntou-me
mostrando um corpete vermelho, no mesmo tom do vestido — Tenho
certeza de que seu namorado iria amar.  
 
Eu escolhi um conjunto lindo com pedrarias e tiras que achei que iria
ficar perfeito em meu corpo e que iria combinar muito bem com o vestido.
 
— Kiara vamos! Já estamos 10 minutos atrasadas se Cas chega e não
estamos, eu não sei nem o que aquele homem é capaz de fazer — ela disse
quase me arrastando depois de eu ter pago as compras.
 
— Tá! Calma, já estou indo.
 
Quando chegamos no escritório para a minha tristeza e alegria de
Aldrey, Cas ainda não havia chego.
 
Entrei em sua sala e tirei o vestido da sacola, imaginando qual seria
sua reação ao me ver vestida nele.
 
Então peguei o celular e respondi sua mensagem.
 
 
*Kiara*
 
Jamais faria tal coisa, apenas estou tendo ideias do que precisaria
fazer para tornar seu dia mais satisfatório
 
 
 
Dei um sorriso de menina travessa e enviei a mensagem, mas Cas
visualizou e não me respondeu.
 
— Droga! — Xinguei frustrada.
 
“Ele não conseguia nem me responder? Que raiva” — pensei me
sentando com um bico voltando a fazer meu trabalho.
 
Quase duas horas depois eu olhei meu celular para ver se ele havia
respondido, mas não havia nenhuma notificação, então voltei a colocar o
celular sobre a mesa virado com a tela para baixo e me encostei na cadeira
de braços cruzados.
 
Meus olhos bateram na sacola do vestido e eu pensei em prová-lo
novamente.
 
— Por que não? — falei me levantando, pegando a sacola e indo para
o banheiro.
 
Coloquei o vestido alisando o tecido que estava um pouco
amarrotado e virei de um lado para o outro me olhando no espelho vendo a
perfeição que ele ficava no meu corpo.
 
Peguei o celular e tirei algumas fotos, puxei um pouco a alça
expondo meu ombro e tirei outra foto e uma sentada sobre a pia com as
pernas cruzadas com minhas pernas a mostra e outra e depois mais outra e
depois fui verificar como haviam ficado e me impressionei com o resultado.
 
Voltei a olhar o aplicativo de mensagem para ver se Cas havia me
respondido, mas nada.
 
— Mas que saco! O que… — parei de falar quando a ideia me surgiu
— Hum, quero ver ele me ignorar agora.
 
Selecionei as fotos mais provocantes e acrescentei a seguinte
legenda.
 
 
*Kiara*
 
Já que não posso melhorar seu dia pessoalmente, tente imaginar o
que tenho por baixo do vestido e quem sabe as coisas se torne mais
suportáveis ����
 
 
Capítulo 27
 
 
— Não, vamos conseguir fazer isso sozinhos, não vou me aliar ao
cartel, não foi para isso que saímos da Rússia — Falei ao telefone com Ivan
que havia me ligado informando quais eram as reais intenções de Juan.
 
— Eu estou de acordo com você Cas, sabe bem disso, mas ter aliados
nesse momento seria bom para nossa organização.
 
Uma leve batida soou na porta e Kiara entrou em seguida. Ela estava
linda como sempre, mas nem consegui lhe dar a devida atenção.
 
— Eu sei o quanto isso é importante para nossos negócios, ainda
assim eu não procuro esse tipo de investidor para minha empresa.
 
— Kiara está aí né? — Ivan perguntou notando minha mudança nas
palavras. — Cara, quando vai contar a ela sobre quem você realmente é?
 
— Esse não é um assunto a ser discutido agora. Quero saber se a
encomenda do material que precisamos e já pagamos uma parte está
garantida — perguntei sobre os entorpecentes que havíamos encomendado
com Juan.
 
Ivan começou a passar todas as informações sobre o andamento da
distribuição e eu tentava não chamar atenção de Kiara para o que eu
conversava, logo depois tive que ir a uma reunião com um novo cliente da
empresa e antes mesmo de eu sair Ivan voltou a me ligar.
 
— Que merda, Ivan, o que foi agora? — Perguntei já irritado, pois
mal tinha conseguido parar para respirar.
 
— Juan teve problemas com a mercadoria.
 
— O quê?!
 
“Porra era só o que me faltava” — pensei saindo às pressas.
 
— Aldrey tenho que sair agora, volto mais tarde — Avisei já
entrando no elevador. 
 
Quando entrei no galpão, os homens estavam todos desanimados e
seguravam Rico.
 
Eu cheguei um pouco sem paciência, passei o braço pelo ombro de
Rico como se faz com um velho amigo.
 
— Me diga Rico, o que acontece quando você faz uma encomenda de
quase 300 quilos de cocaína e ela não chega? — peguei mordendo os
lábios.
 
— Cas isso foi só um imprevisto, cara, essas coisas acontecem.
 
— Imprevisto… — Falei rindo sarcástico olhando para meus
homens. — Sabe o que eu acho? — Falei o guiando até mais a frente —
Acho que seu chefe está me subestimando.
 
Levei Rico até um grande tambor e afundei sua cabeça dentro
esperando um longo momento e quando ele estava quase desfalecendo eu
tirei e esperei que ele se recuperasse.
 
— Cas… foram os japoneses… eles souberam… — ele tentava dizer
enquanto lutava para respirar.
 
— Aqueles filhos da puta! — Eu xinguei furioso.
 
— Eu paguei pela mercadoria Rico e esperava tê-la hoje em minhas
mãos. E vou ter! — Afirmei voltando a afundar sua cabeça.
 
— Cas, não faça isso… Juan vai dar um jeito — ele tentou me
convencer.
 
— Ah, Juan vai dar um jeito? Sério? E como ele vai fazer isso? Vai
roubar os japoneses? Me diga onde ele vai conseguir 300 quilos de cocaína
ainda hoje? — Perguntei puxando seus cabelos.
 
— Cas eu não sei, mas ele vai dar um jeito só nos de um tempo.
 
— Um tempo? — falei sorrindo soltando-o no chão enquanto meus
homens o rodeavam. — Eu vou te dar um tempo, aliás eu vou te dar todo
tempo do mundo, depois que você conhecer os quatro elementos — Falei
dando ordens para que meus homens o levantassem.
 
— Cas, não, não faça isso, Juan nunca te dará as drogas se você fizer
isso…
 
— Me dar? Me dar? Quem disse que Juan tem que me dar alguma
coisa? Cansei de bancar o bonzinho, hoje eu vou pôr fogo nessa cidade e
vou tomar o que é nosso por direito! — Eu falei e meus homens urraram
animados. — Você já conheceu a água, sabe qual o próximo elemento Rico?
— eu perguntei, mas antes que ele respondesse, Ivan colocou um saco
plástico em sua cabeça o privando de respirar.
 
— Sabe qual a diferença para a água e o ar? — Fiz a pergunta
retórica — É que na água você tem que imediatamente prender a respiração
ou seus pulmões enchem de água e você se afoga, já o ar, a respiração vai
ficando cada vez mais difícil e seus pulmões vão exigindo mais e mais até
não sobrar mais nada.
 
O plástico já colava em seu rosto enquanto ele lutava para puxar o ar
que não existia mais dentro do plástico e quando ele estava perto de perder
a consciência, Ivan tirou o plástico o fazendo se engasgar desesperado por
ar.
 
— Mas você sabe que dos 4 elementos o que eu menos prefiro é o
fogo — falei vendo Rico se desesperar — O cheiro da carne queimada e as
bolhas, aquilo é repugnante.
 
— Cas… por favor… — Ele pediu, mas eu não fiquei mais ali para
ouvir, sai dando sinal para que meus homens continuassem.
 
Peguei meu celular e tinha uma mensagem de Kiara enviada há
algum tempo, mas eu mal consegui respondê-la, pois tinha que me reunir
com meus homens, então mandei uma mensagem rápida e fui para reunião.
 
Os homens estavam todos reunidos no galpão, e conversavam
criando um burburinho, mas assim que entrei todos fizeram silêncio
esperando que eu falasse algo.  
 
— O que vamos fazer agora? — um dos rapazes perguntou por todos.
 
— Vamos fazer exatamente o que eu disse, vamos tomar o que é
nosso, mais do que isso, vamos tomar o que é deles também. Hoje à noite
vamos invadir o território dos japoneses e vamos mostrar para que viemos
— Eu disse em voz alta e eles se animaram gritando e batendo nas
madeiras. — Quero as informações de onde eles armazenam as drogas e as
armas — pedi a um dos homens que estavam mais perto.
 
— Agora? — ele perguntou.
 
— Sim, vamos planejar como vamos atacá-los e não quero dar
chance de eles retalharem.
 
Algum dos homens saíram para buscar as informações que eu
precisava e Kiara havia mandado outra mensagem.
 
*KIARA*
 
“Pensei que eu pudesse melhorar seu dia”
 
Eu ri de sua mensagem, e naquele momento aquilo parecia até um
castigo, pois eu não podia ir até ela e matar aquele desejo que parecia que
crescia a cada dia.
 
Então apenas respondi:
 
*CAS*
 
“Não seja maldosa comigo pequena, estou em uma reunião
importante e não posso me desconcentrar”
 
Vi que ela havia mandado outra mensagem.
 
*KIARA*
 
“Jamais faria tal coisa, apenas estou tendo ideias do que precisaria
fazer para tornar seu dia ainda mais satisfatório”
 
  com um pequeno emoji de cara de safada no final.
 
Comecei a digitar uma resposta, mas logo fui interrompido, pois mais
homens chegaram trazendo nossas armas para a distribuição e eu começava
a delegar a função que cada um teria no ataque, já que não iríamos atacar
somente um lugar.
 
— Você tem certeza disso? — Ivan me perguntou — Não temos
homens o suficiente para fazer esse tipo de ataque Cas, alguns homens estão
inseguros.
 
Eu me virei para todos que também se ocupavam limpando e
verificando armas e equipamentos.
 
— Escutem! — chamei a atenção de todos — Eu sei que estamos em
menor número e se formos pensar bem, isso é quase um plano suicida, mas
nos mantemos na defensiva por muito tempo e chegou a hora de virarmos o
jogo. Temos um plano e essa é a nossa vantagem, eles não vão estar nos
esperando e vamos atacar cada grupo ao mesmo tempo, não dando a eles
condições de chamarem reforços — Falei mostrando o mapa em um telão
improvisado. — Quando o grupo de Ivan atacar o galpão com as drogas,
Nion estará destruindo o armazenamento de armas e Beron irá os encurralar
no centro. Vai ser rápido, barulhento e quando eles menos esperarem vão
estar sem drogas, sem armas e a única opção que terão é voltar para o
Japão!
 
Os homens se animaram e Ivan voltou a se reunir com sua equipe. Eu
fui conversar com cada grupo, planejar exatamente como seria feito o
ataque e só depois consegui olhar meu celular e havia várias outras
mensagens.
 
*Kiara*
 
Já que não posso melhorar seu dia pessoalmente, tente imaginar o
que tenho por baixo do vestido e quem sabe as coisas se torne mais
suportável ����
 
 
Seguidas de algumas fotos suas em um vestido para lá de provocante.
 
— Ela só pode estar querendo me ver morto — falei em voz alta já
duro, imaginando o que ela teria por baixo daquele tecido fino.
 
— Quê? — Ivan perguntou.
 
— Nada! Consegue dar conta do resto? — perguntei pegando minhas
coisas.
 
— Claro, já está tudo em ordem, vai lá.
 
— Obrigado amigo, nós vamos conseguir — falei.
 
— Tenho certeza que sim.
 
— Agora deixe eu voltar para a empresa.
 
— Nos vemos a noite? — ele perguntou quando já estava na porta.
 
— Sem dúvida.
 
Saí do galpão o mais rápido possível e pela velocidade que fui em
direção a empresa, provavelmente levaria muitas multas, mas eu não estava
nem aí.
 
Meu pau quase não cabia dentro da calça de tão duro e chegava doer,
e eu ensinaria uma boa lição para Kiara quando eu chegasse.
 
Quando cheguei na empresa, Kiara estava na recepção e trocava
sorrisinhos com um dos funcionários do desenvolvimento, que babava em
cima da minha mulher, o que me deixou furioso.
 
— Kiara! — Chamei nervoso e alto, o que a fez dar um pulo de
susto. — Na minha sala, agora!
 
— Cas…, quer dizer Senhor Cas, algum problema? — Ela
praticamente gaguejou e o covarde saiu de perto dela, a deixando com toda
a bronca.
 
— Você já irá descobrir — falei indo para o meu escritório.
 
 
Kiara
 
Quando Cas não respondeu à mensagem, eu decidi ir tomar um café
na recepção.
 
 
— Você é a Kiara né? — Um rapaz mais ou menos da minha idade
perguntou enquanto enchia sua xícara.
 
— Isso mesmo e você é?
 
— Sou Lucas, faço parte da equipe de criação e desenvolvimento —
ele respondeu com um sorriso apertando minha mão.
 
— Ah, é um prazer.
 
— Eu sempre a vejo, mas nunca tivemos a oportunidade de
conversarmos.
 
— É que eu trabalho dentro da sala do chefe…
 
— É, o chefe é esperto, ter uma visão privilegiada como essa todos
os dias não é para qualquer um — ele disse me deixando sem graça e sorri
nervosa.
 
— Acho que isso não é coisa que se fale na primeira vez que
conversa com uma mulher, senhor Lucas — falei ainda em tom de
brincadeira, mas tentando que ele entendesse que estava tomando o
caminho errado.
 
— Me des…
 
— Kiara! — a voz de Cas soou como um trovão no ambiente e eu dei
um pulo, quase derramando meu café — Na minha sala agora.
 
Meu Deus, Cas nunca havia falado comigo daquela maneira, o que eu
havia feito de tão errado? Será que foi por causa das mensagens? Pensei.
 
— Cas…, quer dizer Senhor Cas, algum problema? — falei quase
tremendo.
 
— Você já irá descobrir — ele disse indo para sua sala.
 
Aldrey lançou um olhar que dizia boa sorte e eu engoli em seco.
 
Assim que entrei na sala não vi Cas e logo o senti me pegar por trás
com brutalidade pressionando sua necessidade em minha bunda, meu corpo
inteiro estremeceu e quando suas mãos apertaram meus seios, o meu
estômago se encheu de borboletas, sua mão segurou meu queixo levantando
minha cabeça para ele e seus lábios devoravam minha boca me enchendo de
desejo.
 
— Gosta de me provocar pequena mentirosa? Tirar minha
concentração — ele disse me empurrando para dentro do banheiro.
 
Seus dentes arranharam meu pescoço e sua mão tentava levantar
minha saia com necessidade.
 
Eu já me entregava aquele desejo que me consumia e eu só não
queria que ele parasse.
 
Cas me colocou de bruços sobre a pia e subiu minha saia apertando
com força a carne de minha bunda, me dando um tapa ardido depois.
 
— Hoje eu não serei gentil Kiara, está me ouvindo? — ele perguntou
e eu concordei.
 
Ele rasgou minha meia calça.
 
— Já que gosta de andar sem calcinha, acho que não vai precisar
disso — Cas disse levando as duas mãos na lateral da minha calcinha e
puxando com força, estourando o tecido com facilidade.
 
Eu já sentia minhas pernas tremerem e eu mal conseguia respirar com
a tensão que me tomava, na expectativa.
 
Cas cuspiu em seus próprios dedos e os introduziu de uma só vez em
mim, me fazendo gemer alto.
 
— Me responda, estava flertando com o rapaz na recepção Kiara? —
ele disse mexendo seus dedos para baixo e para cima rápido e sem
delicadeza me fazendo revirar os olhos e me empinar ainda mais para ele.
 
— Não… — consegui pronunciar as palavras case sem força.
 
— Não? Então por que parecia que ele estava dando em cima de
você, pequena mentirosa? — Ele grunhiu em meu ouvido. — Sabe como
fiquei furioso vendo você sorrir para ele enquanto ele babava sobre você?
— Ele disse aumentando seus movimentos me fazendo segurar na torneira
para não gritar.
 
Quando eu estava prestes a atingir meu orgasmo, Cas parou quase me
fazendo desabar no chão, mas ele me segurou, colocando uma de minhas
pernas sobre a pia e sem que eu esperasse ele me preencheu com seu
membro grande e grosso de uma única vez.
 
Cas tirou e voltou a colocar duro e rude como tinha avisado que seria,
mas eu não reclamava, apenas gemia sentindo meu corpo tremer com cada
investida.
 
Sua mão foi a minha boca abafando meus gemidos e suas investidas
aumentava a cada instante.
 
— Sabe como fiquei duro imaginando você em meu banheiro
colocando aquele vestido para mim Kiara? — Ele disse se debruçando
sobre mim para sussurrar em meu ouvido. — Era isso que você queria, sua
safada?
 
— Sim. — Afirmei — Era exatamente o que eu queria.
 
Quando disse isso, Cas segurou em minha cintura e se afundou ainda
mais dando uma estocada profunda me fazendo gozar e eu tive que morder
a toalha para não gritar.
 
Cas não parou ou diminuiu sua intensidade, continuou a investir
sobre mim até atingir seu próprio prazer.
 
— Você… você… — tentei falar ofegante sentindo meu corpo mole
— gozou dentro? — consegui dizer preocupada.
 
— Droga! Me desculpe eu… — ele disse pagando a toalha tentando
me limpar.
 
Eu comecei a rir me ajeitando, pois parecia que eu tinha sido
atropelada.
 
— Como vou trabalhar agora sem meias, sem calcinha e com porra
escorrendo entre as pernas? — falei vendo meu estado deplorável no
espelho.
 
— Sabe que isso só me enche mais de tesão, né? — ele disse
beijando meu pescoço. — E a culpa é sua por ficar me provocando.
 
Eu sorri, pois, estava mais que satisfeita com o resultado e ainda
sentia minha intimidade latejar pelo sexo bruto e o orgasmo que tinha
acabado de ter.
 
— Eu não tenho mais idade para essas coisas, pequena — ele disse
me virando e me abraçando.
 
— Não foi o que me pareceu — justifiquei ainda rindo.
 
Cas me beijou e disse.
 
— Tire o resto do dia de folga, vá para casa, tome um banho e
aproveite passe na farmácia para tomar uma pílula. — Ele aconselhou e eu
concordei.
 
Me ajeitei o melhor possível, dei um beijo de despedida e sai.
 
— Já vai embora? Ele te suspendeu? — Aldrey perguntou assim que
sai da sala. — Não fique assim Kiara, Cas é bruto assim mesmo, mas você
se acostuma.
 
Eu quase ri das suas palavras, pois ela nem imaginava o quanto
aquilo fazia sentido, mas apenas agradeci e fui embora.
Capítulo 28 
 
 
Depois que Kiara saiu do escritório, resolvi rapidamente algumas
pendências e voltei ao galpão onde meus homens já me esperavam.
 
Quando a noite chegou, estávamos todos preparados.
 
— Você vai precisar se infiltrar e instalar explosivos nesses pontos —
Falei com um de meus homens que ficaria responsável por explodir o
depósito de armas. — A explosão tem que acontecer no exato momento em
que Ivan atacar a boate e nós invadirmos o armazenamento das drogas —
Afirmei batendo com o dedo sobre a mesa, com os mapas e plantas.
 
— Pode deixar, chefe.
 
— Não há espaço para falhas, um único erro e toda a operação vai
por água baixo — avisei.
 
— E nós, chefe? — Salon, um dos meus seguranças particulares
perguntou com o grupo de 5 homens que havia deixado fora da operação.
 
— Vocês vão para casa, cuidar da segurança de Kiara, ninguém entra
ou sai enquanto eu não voltar, entendeu? — eles pareceram não gostar da
ideia, mas não ousaram refutar minhas ordens.
 
Olhei para Ivan que balançava a cabeça em negativa.
 
— Cara, você está mesmo muito amarrado nessa garota, não é
mesmo? — ele perguntou quando os homens se afastaram.
 
— Eu só não sei o que seria capaz de fazer se algo acontecesse com
ela — falei estremecendo com a ideia de vê-la ferida por minha causa.
 
— Acha mesmo que ela vale a pena? — ele questionou.
 
— Tanto quanto o ar que eu respiro — ele me olhou surpreso e
depois sorriu.
 
— Esse é você, não é mesmo?  Nunca se entrega pela metade.
 
— Você entenderia se um dia sentisse o que eu sinto — Justifiquei.
 
— Acredite, eu sei exatamente como se sente.
 
— O quê? Não vai me dizer… — perguntei impressionado.
 
— Podemos não ser bons, velho amigo, mas ainda temos um
coração. — Ivan disse me dando um tapinha no ombro e saindo.
 
Ivan não entrou em detalhes e eu não achei certo especular sobre sua
vida pessoal.
 
Aproveitei a pequena brecha de tranquilidade e liguei para Kiara.
 
— Boa noite, pequena. — Saudei assim que ela atendeu a ligação.
 
— Boa noite, já está chegando? — ela perguntou animada.
 
— Não, me desculpe minha linda, mas não irei para casa hoje, surgiu
um imprevisto e eu terei que sair da cidade para resolver…
 
— Ah, sim, claro — Ela me interrompeu um pouco desconfortável.
 
— Não está chateada, está?
 
— Não, não, claro que não, eu entendo perfeitamente, não se
preocupe comigo.
 
“Como não me preocupar com ela?” — pensei comigo mesmo —
“quando a única coisa que me fazia sentir medo era de algo lhe acontecer”
 
— Kiara… — comecei a dizer, mas parei quando Ivan me chamou.
 
— Sim, ia dizer alguma coisa?  — Ela perguntou.
 
— Tenha um boa noite, pequena.
 
— Boa noite, Cas. — Ela respondeu desanimada e desligou.
 
“Que merda! Ela não podia ficar chateada comigo por causa de uma
única noite que não pude passar com ela, aquilo não estava certo, Kiara
tinha que entender que eu era um homem que tinha muitas
responsabilidades”
 
— O que foi? — perguntei um pouco sem paciência.
 
— Temos um imprevisto. Ryou acabou de sair em um comboio.
Quatro carros e nove seguranças.
 
— Merda! — xinguei — Quantos homens podemos deslocar de cada
grupo.
 
— Dois no máximo — Ele respondeu, já chamando o líder de cada
equipe.
 
— Ótimo, será o suficiente, vou deslocar mais dóis da segurança da
mansão e será o suficiente — Afirmei — Quero dois atiradores de longa
distância e dois carros — falei já me preparando para sair.
 
— O que pretende? — Ivan perguntou
 
— Vamos atacar agora! Ele irá sair da cidade — Afirmei — quero
que o atrasem bem aqui, para dar tempo de nos organizar — falei
mostrando um ponto no mapa.
 
— Mas eu não instalei explosivos ainda.
 
— Você tem 30 minutos para fazer isso, ou todo nosso plano estará
perdido, acha que consegue? — Perguntei.
 
Meu soldado confirmou com um aceno e saiu de imediato para
começar seu trabalho, assim como todos os outros homens.
 
— Vocês são os atiradores? — perguntei vendo os homens com
armas de longa distância. — Preciso de você nesse ponto e você nesse aqui,
quando nós atacarmos por terra, Ryou tentará fugir usando seus homens
como escudo, então será vocês que impedirão isso, entendeu?
 
Os dois afirmaram e nós saímos assumindo nossas posições.
 
Já era quase uma da manhã quando os carros de Ryou passaram pelas
correntes de pregos furando os pneus, na saída da cidade.
 
O primeiro carro perdeu o controle e saiu da estrada, fazendo os
outros três pararem. O último tentou dar ré, mas meus homens apareceram
com uma suv preta atirando, matando quem estava dentro, como eu havia
previsto, os seguranças de Ryou tentaram descer formando um escudo a fim
de proteger seu chefe e tentando chamar reforços que não chegariam, pois
as outras equipes estavam naquele momento atacando os outros pontos.
 
O primeiro segurança foi atingido pelo meu atirador, posicionado nas
colinas, com um tiro na cabeça. 
 
Eles não tinham uma boa visão de onde estavam e não conseguiam
nos localizar, já nós, tínhamos uma visão privilegiada deles iluminados
pelos faróis de seus próprios carros.
 
Outro homem foi atingido deixando todos em alerta.
 
— Atirador! — um deles gritou e eles tentaram se esconder atrás do
carro sem saber que tínhamos outro atirador do lado oposto.
 
— Tenho todos na mira — Meu homem disse no comunicador.
 
— Mate todos, deixe somente Ryou vivo — Ordenei.
 
Vários tiros com pausa de alguns segundos foram disparados,
matando um por um dos homens da Yakuza.
 
— Não atirem! — Ryou pediu com as mãos levantadas, saindo de
trás do carro. — Não atirem, estou desarmado — Ele voltou a pedir e eu
finalmente saí da escuridão que me cobria.
 
Ryou tinha sangue de seus homens pelo rosto, e me olhava com um
olhar assassino.
 
— Você? Vai se arrepender muito de ter feito isso! — Ele falou
engolindo a seco.
 
— Na verdade, não vou não — falei apontando uma arma para sua
cabeça o fazendo ajoelhar. O farol de um carro foi aceso para nos iluminar
melhor e eu continuei — Roubou nosso território, nossas drogas e matou
nossos homens, então me dê um único motivo para deixá-lo vivo — Falei
em voz alta.
 
— Você… — ele começou a dizer, mas foi interrompido pela voz do
pai.
 
— Dou a minha palavra que se o poupar ele nunca mais lhe causará
problemas — Seu pai garantiu assistindo à cena pelo celular que meu
soldado segurava.
 
Meu soldado saiu das trevas, chegando bem perto de Ryou para que o
pai visse com clareza.
 
— Pai! — Ryou se surpreendeu.
 
O líder da Yakuza tinha um olhar de decepção para o filho, mas seria
incapaz de deixar o próprio filho morrer por uma falha.
 
— Que garantias eu terei que vocês não tentarão retalhar depois? —
perguntei ainda com a arma apontada para Ryou.
 
— Isso é uma ofensa à nossa cultura! — O homem disse do outro
lado da linha — A Yakuza nunca quebra uma promessa — Afirmou furioso.
 
Aquilo era uma verdade, por mais vergonhoso que fosse para eles
perderem uma batalha, eles acreditavam ser ainda mais desonroso
descumprir uma promessa.
 
— Ok, vou confiar em sua palavra e vou mandar seu filho inteiro.
Embora acredite que não continuará assim por muito tempo — Sussurrei a
última parte no ouvido de Ryou, por causa de suas tradições — E espero
que se lembrem da minha generosidade, pois não acontecerá novamente. —
Falei e meu homem desligou a chamada.
 
— Meu pai pode esquecer o que aconteceu aqui, mas eu jamais irei
me esquecer — Ryou disse antes de ser levado.
 
Quando cheguei no galpão, os homens estavam em festa,
comemorando a vitória.
 
Quase não havíamos tido perdas, nossas drogas tinham sido
recuperadas e a Yakuza finalmente iria sair do nosso pé.
 
— Você fez um ótimo trabalho! — Ivan elogiou com uma garrafa de
whisky na mão, sorrindo para comemorarmos.
 
— Se eu o matasse, daria motivos para o pai retalhar e eu não sei se
teríamos força o suficiente, mas agora mesmo que ele decida quebrar a
promessa, perderia grandes aliados de sua própria organização, nos dando
condições de enfrentá-los — Justifiquei, enchendo um copo de whisky e
tomando.
 
Apesar de a yakuza ser uma máfia fria e cruel, honra e lealdade eram
algo sagrado para eles, o que me deixava com a certeza de que seu líder, iria
cumprir sua palavra.
 
— Hoje demos um grande passo. Nos tornamos mais fortes,
mostramos para o que viemos e amanhã tomaremos as ruas! — Falei para
todos os homens e eles gritaram e levantaram bebidas para o alto para
brindar aquilo.
 
— Já foi um, só falta mais um — falei pensando em Heron.
 
Me despedi de meus homens e de Ivan, que ficaram comemorando, e
fui embora, satisfeito em tudo ter acabado bem e rapidamente.
 
Quando entrei na mansão entendi o motivo de Kiara ter ficado tão
chateada.
 
Na sala de jantar tinha uma mesa preparada para dois com vinho e
luz de velas e ela dormia no sofá do lado da taça ainda meio cheia. Suas
sandálias de salto estavam em um canto e ela ainda vestia o vestido
vermelho que tinha comprado para me provocar.
 
Peguei a garrafa que estava jogada no tapete da sala quase no fim e
coloquei sobre a mesa, afastei a taça que estava no chão e me ajoelhei ao
seu lado.
 
— Me desculpe pequena. — Sussurrei afastando uma mecha de
cabelo que cobria seu rosto.
 
— Não ligo… juro que não ligo… — Ela murmurou ainda dormindo.
 
— Sei que liga, e me doeria se não ligasse, mas estou aqui agora
minha menina, só para você e prometo te recompensar amanhã — Prometi
lhe pegando no colo e levando para o quarto.
 
Tirei sua roupa vendo que ela tinha uma lingerie sensual por baixo do
vestido, mostrando o quanto tinha se dedicado aquela noite, e me senti
culpado por aquilo, mas sabendo que não tinha como evitar. Então a vesti
em uma camiseta minha, para que dormisse mais confortável e me agarrei a
ela beijando seu pescoço.
 
— Amanhã você terá tudo que merece — falei em seu ouvido.
 
— Jura… — ela voltou a dizer sonolenta e eu dei risada, admirando
seu sono e sua beleza, com a certeza de que tudo que eu precisava estava
bem ali em meus braços.
 
— Sim, eu juro… 
Capítulo 29
 
 
— Droga! — Xinguei ao desligar o telefone, olhando a mesa
perfeitamente arrumada.
 
Havia preparado tudo para uma noite romântica, não somente para
agradecer a Cas por tudo que ele tinha feito por mim, mas para que
tivéssemos um momento especial juntos.
 
Peguei um tomate pequeno e enfiei na boca me sentindo frustrada.
 
“Ele é um homem importante, Kiara, não será sempre que vai
conseguir te dar atenção”
 
Eu tentava me convencer, mas nada tirava aquela sensação de
desapontamento.
 
No fundo, sabia que estava sendo irracional e infantil, mas ainda
assim era algo que eu não conseguia controlar.
 
Nunca fui do tipo imatura, mas saber que ele não viria, depois de
tudo o que eu havia feito para recebê-lo, faz eu me sentir exatamente assim,
imatura, infantil e bem lá no fundo, insegura.
 
— Eu devo estar ficando maluca — falei comigo mesma, pegando a
garrafa de vinho e uma taça. Tirei as sandálias de salto, jogando em um
canto qualquer e me sentei no sofá, bebendo rápido demais a primeira taça.
 
“Já que ele não virá, não vou desperdiçar um bom vinho” — pensei,
enchendo novamente a taça.
 
Em algum momento me irritei com o vestido vermelho e sensual
demais para estar bebendo sozinha, mas fui convencida a ficar com ele,
quando lutei para abrir o zíper e simplesmente não consegui, pois já estava
embriagada demais.
 
“Porque me sentia tão insatisfeita?”
 
“Imprevistos como esse sempre vão acontecer, Kiara” — Meu
subconsciente me dizia.
 
— Claro que sim, eu não ligo para essas coisas — Comecei a
conversar com ele, já que não tinha outra pessoa para quem eu pudesse
desabafar. — Eu juro que não ligo.
 
“Então, porque está tão chateada”
 
— Não estou chateada, estou tomando um belo vinho — falei
tentando pegar a garrafa, mas ela caiu da minha mão no tapete da sala e só
não derramou, porque eu praticamente já havia terminado com ela.
 
“Ele não tinha como saber que você fez tudo isso” — ouvi minha
voz interior defendê-lo.
 
— Eu… já disse… — falei tombando no sofá — Eu não ligo…
 
E em algum momento, entre minha pequena discussão com meu
subconsciente e minha embriaguez, eu capotei.
 
Acordei no dia seguinte com uma baita dor de cabeça e uma ânsia de
vômito, que fazia eu me arrepender de ter nascido.
 
Passei a mão nos cabelos descendo pelo rosto, esfregando os olhos.
Eu não estava mais na sala. Passei minha mão pelo meu corpo percebendo
que alguém havia trocado minha roupa. Minha cabeça girava sem parar e eu
vi o vestido estendido sobre a poltrona do quarto de Cas.
 
“Cas? Droga!” — pensei me lembrando da noite anterior e tentei me
levantar, rápido demais, pois eu sentia minha cabeça latejar, um gosto
amargo me subiu a boca, então tive que correr para o banheiro. Senti que
vomitaria até soltar meu intestino dentro da privada, e quando eu achava
que já havia terminado, outra onda de ânsia vinha destruindo meu
estômago.
 
— Kiara! — Cas apareceu na porta preocupado.
 
— Não entre! — Pedi estendendo a mão pedindo que ele não se
aproximasse, voltando a vomitar. — Não quero que me veja desse jeito. Vá
embora! — mandei.
 
Mas Cas não me deu ouvidos, se ajoelhou ao meu lado e juntou a
ponta de meus cabelos que já estavam sujos, por eu estar debruçada com a
cara na privada.
 
— Vá embora! — pedi envergonhada.
 
— Não seja boba, quem nunca tomou um porre algum dia na vida?
— Ele justificou.
 
— Eu até ontem à noite… — confessei.
 
Já havia bebido em várias ocasiões em minha vida, talvez tenha
ficado um pouco alegre, mas nunca havia passado tanto dos meus limites
como na noite anterior.
 
Cas pareceu desconfortável e alcançou uma toalha para limpar as
pontas do meu cabelo.
 
— Venha vamos tomar um banho, que eu preparei um café da manhã
para você.
 
Meu estômago se revirou, só com a ideia de colocar qualquer coisa
sólida nele, e mais uma vez eu voltei a vomitar.
 
— Me lembre de nunca mais beber na vida… — Murmurei enojada.
 
— Beba! — Cas ordenou me oferecendo um suco verde e um
comprimido, depois que tomei banho e troquei de roupa.
 
— Hummm…. — Resmunguei fazendo cara de triste.
 
— Vai ajudá-la com a ressaca e com a dor de cabeça — ele disse me
estendendo o copo, eu peguei e cheirei para ter certeza de que meu
estômago não rejeitaria.
 
Tomei um gole notando que não era tão ruim quanto eu imaginava.
 
— Tome tudo, porque hoje temos muita coisa para fazer.
 
Droga! Tinha me esquecido que tinha que ir trabalhar. Tratei de
tomar tudo rapidamente quando Cas saiu, e me troquei às pressas, pois já
estava atrasada.
 
Quando cheguei a cozinha, Cas ainda vestia calça de moletom e
estava sem camisa e fazia algo no fogão.
 
— Cadê Ellie? — perguntei me sentando à mesa.
 
— Eu a dispensei hoje — ele respondeu colocando panquecas no
meu prato.
 
— Sabe cozinhar? — me surpreendi tirando um belisco com as
pontas dos dedos e levando a boca.
 
Cas se aproximou para derramar calda sobre as panquecas e
aproveitou para sussurrar meu ouvido:
 
— Sei um pouco de tudo, Kiara, tenho certeza de que com o tempo
irá descobrir isso.
 
Eu virei o rosto encontrando seu olhar carregado de desejo e ele se
abaixou um pouco mais encostando nossos lábios.
 
— Hoje seremos só nós dois pequena — ele disse sobre meus lábios
— E juro que vou te recompensar, por ter falhado ontem à noite contigo —
ele disse, me fazendo sentir uma comichão em meu estômago.
 
— Não vamos trabalhar hoje? — perguntei em um tom baixo e
afetado.
 
Cas encostou sua boca em meu ouvido, e disse em um tom baixo e
sensual, causando um efeito que só sua voz era capaz de fazer:  — Depende
do que você chama de trabalho…
 
Eu engoli em seco, tentando não imaginar o que ele havia preparado
para aquele dia, enquanto Cas voltou a fazer panquecas, depois sentou-se à
mesa, bem na minha frente.
 
— Se não vamos trabalhar, o que iremos fazer? — perguntei levando
uma porção de panquecas na boca.
 
Ele levantou o olhar parecendo desconfortável e eu parei de comer
esperando que ele me respondesse.
 
— O advogado ligou hoje bem cedo — ele falou fazendo todo meu
corpo ficar em alerta. — Vamos nos encontrar com o juiz hoje para assinar
seu divórcio.
 
— Eu deduzo que Heron estará lá. — falei limpando a boca no
guardanapo dando meu café da manhã por encerrado.
 
— Estarei o tempo todo com você Kiara — disse estendendo a mão e
segurando a minha por cima da mesa.
 
— Obrigada! — Agradeci engolindo em seco.
 
— Podemos comemorar depois que saímos de lá, um almoço, quem
sabe mais uma garrafa de vinho — tentou me animar, brincando.
 
— Acho que nunca mais vou querer beber vinho na minha vida —
falei me deixando levar.
 

 
Eu estava nervosa quando chegamos ao local, que ao contrário do
que imaginei era apenas uma sala com uma mesa de reuniões.
 
Cas se sentou ao meu lado e o advogado no lado oposto, enquanto
Heron já estava posicionado à minha frente. Ele me encarava com ódio sem
se importar com quem estava na sala.
 
Como orientado pelo advogado de Cas eu me mantive calada, apenas
abri a boca para confirmar que era da minha vontade aquela separação.
 
Eu sentia minhas mãos suando e mais uma vez as mãos de Cas
encontraram as minhas me trazendo conforto, seu olhar era doce e
compreensivo e eu o amei um pouco mais naquele momento, porque era
como se não existisse mais nada em volta além de nós dois e aquele toque
que demonstrava todo o carinho que ele tinha por mim.
 
— Senhora Kiara? — O advogado chamou quando eu não o escutei
falar da primeira vez.
 
Olhei para ele sem entender.
 
— Precisa assinar — ele esclareceu, me mostrando os papéis à minha
frente.
 
Rapidamente assinei, sentindo como se estivesse abrindo as portas da
minha liberdade. Respirei tão fundo quando larguei a caneta que meus
pulmões reclamaram.
 
Heron quase amassou o papel quando o assinou e assim que o fez nós
nos levantamos para sair.
 
Paramos em um corredor e Cas falava com o advogado sobre o
processo de roubo que ainda continuava em andamento quando senti uma
mão pesada me puxar.  
 
— Pensa que se livrou de mim! — Heron disse apertando meu braço
com tanta força que pensei que fosse quebrar.
 
Meu coração falhou algumas batidas e mais uma vez o medo estava
ali marcando presença e Cas parecia tão longe naquele momento.
 
— Me solte! Está me machucando — reclamei tentando me soltar de
seu aperto.
 
— Se afaste dela, seu desgraçado! — Cas gritou vindo ao nosso
encontro.
 
— Você nunca irá se livrar de mim, ratinha!
 
Senti meu rosto queimar, escutei um estalo e senti a palma de minha
mão arder e só então me dei conta que havia acertado um tapa na cara de
Heron.
 
— Sua vaga… — antes que ele terminasse, Cas o acertou com tanta
força que ele foi jogado ao chão.
 
Cas se abaixou e disse alguma coisa que somente eles puderam ouvir
e eu saí correndo pela primeira saída de emergência que encontrei.
 
Parei em frente as escadas e fiquei ali estarrecida tremendo.
 
A porta se abriu atrás de mim, revelando Cas, e eu corri para seus
braços chorando, e tremendo sem parar.
 
— Shiiii, está tudo bem… estou muito orgulhoso de você, muito
orgulhoso mesmo. — Ele disse levantando meu queixo.
 
Ficamos ali abraçados, até que ele sentiu que eu me acalmei.
 
— Quero te levar a um lugar hoje!
 
— Hum… e que lugar seria esse? — perguntei pensando ser um
lugar para comemorarmos.
 
— Você verá — foi tudo o que ele respondeu.
 
Cas me levou ao que parecia ser um prédio abandonado, as portas
estavam trancadas e pela quantidade de pó tinha pelo menos uma década
que ninguém ia ali. O lugar estava escuro e quando entramos Cas me
deixou sozinha por alguns minutos.
 
— Cas… — Chamei — O que estamos fazendo aqui? — perguntei
achando tudo aquilo muito estranho.
 
Ouvi um barulho e as luzes foram acesas e um ringue surgiu bem no
centro.
 
— Hoje você deu o primeiro passo para sua liberdade, mas não quero
vê-la dependendo de mais ninguém, nem mesmo de mim, por isso a partir
de hoje vamos todos os dias vir aqui treinar você — Cas falou vindo ao meu
encontro.
 
E para mim aquilo tinha um significado tão grande, que acho que
nem mesmo ele tinha noção daquilo.
 
Quis correr e abraçá-lo e dizer que o amava, mas ao invés disso
joguei minha bolsa de lado e desabotoei minha camisa social fazendo um
nó na parte de baixo.
 
— O que está fazendo? — ele perguntou, vendo me preparar.
 
— Me preparando para começar a aula.
 
Cas começou a rir e veio até a mim e me abraçou.
 
— Esse lugar está todo sujo, minha pequena, e você está de salto alto
e calça social, então a menos que queira treinar de calcinha e sutiã. — Ele
disse em um tom de malícia, beijando meus cabelos — Te juro que não
ligaria…
 
E antes mesmo que ele terminasse, eu já estava começando a tirar
minhas roupas.
 
— É! Esse será um dos treinos mais difíceis que já tive que fazer na
vida — ele disse com um sorriso que fez meu corpo de arrepiar.
Capítulo 30
 
 
— Não se preocupe, eles estão dificultando o máximo que podem,
mas Kiara é ré primária e não pode ser condenada — meu advogado
respondeu quando lhe perguntei sobre o processo.
 
— Me solte! Está me machucando — ouvi ela reclamar e quando me
virei Heron estava apertando seu braço. Todos olhavam, mas não faziam
absolutamente nada.
 
— Se afaste dela, seu desgraçado! — Ordenei sentindo meu sangue
subir para a cabeça, fervendo de ódio.
 
— Você nunca irá se livrar de mim ratinha! — Ele disse a apertando
ainda mais e ela tentava se livrar de seu aperto puxando o braço, mas o
desgraçado não permitia.
 
“Eu vou matar esse filho da puta! Fode-se, o que pode acontecer, vou
matá-lo”
 
De repente, vejo ela fechar os olhos e desferir um tapa na cara de
Heron. Todos ficaram surpresos, até o próprio Heron pareceu não acreditar
no que havia acabado de acontecer.
 
— Sua vaga… — Ele começou a dizer, mas antes que terminasse eu
o golpeei com toda minha força e Kiara aproveitou para sair correndo.
 
— Você cavou sua própria cova, Heron, é melhor que conheça um
bom esconderijo, pois juro que de hoje você não passa! — Ameacei me
abaixando perto dele, em um tom que somente ele pudesse ouvir.
 
Procurei por Kiara que não estava mais ali e fui atrás dela pela saída
de emergência.
 
Quando abri a porta, ela correu em minha direção tremendo e
chorando e eu a abracei com vontade, sentindo meu coração se apertar em
vê-la daquela maneira, mas orgulhoso por ela finalmente ter criado coragem
de enfrentá-lo.
 
E naquele momento eu tomei uma decisão, ela precisava aprender a
se defender sozinha. Meu mundo era cruel e talvez nem sempre eu estivesse
por perto, isso considerando que me perdoasse e me aceitasse um dia.
 
E foi pensando nisso que eu a levei a uma antiga academia de luta. 
 
— Você tem mesmo que fazer isso assim? — Perguntei vendo-a com
a bunda empinada para mim só de calcinha e sutiã, para passar um pano
úmido no tatame tirando o pó acumulado.
 
— Temos que limpar isso antes de usarmos — Ela se justificou, mas
eu sabia muito bem o que ela estava tentando fazer. — Pronto, acho que já é
o suficiente — Declarou, batendo uma mão na outra.
 
— Ótimo, então venha para o meio — Ordenei e ela pegou um
elástico para prender os cabelos.
 
— Acha que terá tempo de prendê-los se for atacada? — perguntei
sério e ela estranhou.
 
Ali eu começava a deixar de ser seu namorado, focando apenas em
instruí-la. Isso se eu conseguisse manter a postura vendo seu corpo exposto.
 
— A primeira coisa que você tem que ter em mente, é a suspeita.
Desconfie de tudo, esteja sempre atenta ao seu redor — Falei rodando seu
corpo enquanto ela se mantinha parada no centro — Preste atenção nos
detalhes, não se deixe levar pelo rostinho bonito ou pela generosidade.
 
— Então devo desconfiar de você? — ela perguntou e eu apliquei
uma rasteira, lhe fazendo cair de bunda.
 
— Aí! — Ela reclamou.
 
— De todos, minha pequena — Respondi lhe ajudando a levantar.
 
— Isso não valeu, eu não estava preparada — justificou passando a
mão na bunda me fazendo rir.
 
— Você nunca estará preparada se não prestar atenção nos detalhes.
Observe a linguagem corporal. Hoje vamos treinar só o básico, caso você
seja atacada por trás, mas vamos treinar no dia a dia para aprender a ler
melhor as pessoas.
 
Ela fez um aceno com a cabeça e nós iniciamos o treinamento.
 
Eu a agarrava por trás e a instruía de como deveria fazer pra se livrar.
 
— Se alguém agarrar seu cabelo assim — Falei pegando na raiz dos
seus cabelos, sem muita força — Jogue sua cabeça para trás, com a intenção
de acertar seu nariz e queixo, isso vai fazê-lo soltar, então você vira — Ela
seguia minhas orientações ao pé da letra. — e o chute onde mais dói —
Mostrei a ela a região interna da coxa, virilha e as partes íntimas. — E fuja,
corra e grite o máximo que puder, não tente enfrentá-lo, muitas das vezes
você estará na desvantagem, física e emocionalmente e não vai conseguir
dar conta da situação.
 
Agora vamos tentar direito.
 
Ela ficou na posição e eu a agarrei pelos cabelos, Kiara me deu uma
cabeçada forte e depois se virou e me acertou sem muita força na virilha e
depois se afastou.
 
— Muito bem, mas e se te agarrarem assim? — Perguntei a pegando
por trás e segurando seu pescoço, com firmeza, mas não com força
suficiente para enforcá-la.
 
O corpo de Kiara estremeceu e sua respiração se alterou e eu soube
naquele momento que ela havia se excitado e fiquei duro só de imaginar.
 
— Depende de quem me pegar… — ela disse quase em um gemido
pressionando mais seu corpo ao meu e eu aproveitei para descer meus
lábios pela pele de seu pescoço e ouvi ela ronronar de satisfação.
 
— Você é muito safada, sabia? — falei deslizando minha mão por
sua barriga até encontrar seus seios.
 
— Você é o único culpado…— ela disse com a voz afetada,
amolecendo o corpo se entregando ao desejo — Eu não tenho culpa se a
todo momento você invade meus pensamentos com ideias sujas e
tentadoras. — Ela respondeu passando a mão por detrás da minha nuca e eu
dei outra rasteira nela a assustando, mas desta vez eu a segurei e a depositei
com delicadeza sobre o tatame me debruçando sobre seu corpo.
 
— É? E que tipo de ideias são essas? — perguntei enquanto traçava
pequenos beijos molhados no centro do seu corpo, vendo ela comprimir a
barriga conforme eu me aproximava de sua intimidade.
 
— Ideias de como seria ser jogada nesse tatame enquanto um homem
lindo e gostoso beija meu corpo, me fazendo estremecer de tesão, em como
seria gostoso sentir seus dedos e seu pau me invadir lentamente e depois
violentamente me levando a loucura — Kiara narrou tão eroticamente que
achei que meu membro explodiria de tão duro que ficou. 
 
Eu a abocanhei por cima na calcinha e ela arqueou todo o corpo em
resposta, afastei o tecido mergulhando fundo minha língua em sua
intimidade, ouvindo-a gemer de satisfação se agarrando em meus cabelos,
desesperada pelo prazer. Usei meus dedos para penetrá-la enquanto minha
língua trabalhava em cima de seu nervoso dilatado.
 
Ela levava as mãos aos próprios cabelos, gemendo desinquieta, pelo
deleite do momento e às vezes tentava conter seus gemidos.
 
Sem conseguir mais resistir, troquei meus dedos por meu membro
ansioso por estar dentro dela e Kiara fechou os olhos e suspirou
profundamente apreciando minha invasão. Quando senti a sensação quente
de seu interior envolver meu pau foi como estar no paraíso.
 
A sensação de estar dentro de Kiara era a coisa mais deliciosa que já
havia sentido. Seu interior era macio, quente e molhado e eu tive que me
controlar para não atingir o orgasmo logo de primeira como um adolescente
inexperiente.
 
— Você é a coisa mais gostosa que já provei na vida pequena — falei
parado, sentindo meu pau pulsar dentro dela.
 
Sua mão alcançou meu quadril cravando as unhas em minha carne,
ansiosa para que eu me movesse e ardeu quando ela apertou ainda mais me
castigando por não dar o que ela queria, então me afastei devagar e voltei a
me enterrar nela e repetir de novo, pegando um ritmo profundo e duro.
 
Seus seios se balançavam com os movimentos de minha pélvis se
chocando com a dela e ela tinha os olhos fechados enquanto eu tinha a
visão mais linda de vê-la estimular seus seios com uma das mãos enquanto
chupava os dedos da outra alucinada pela febre do prazer.
 
Levei meu polegar ao seu clitóris tentando acelerar seu orgasmo e ela
começou a gemer ainda mais alto e eu aproveitei para aprofundar minhas
estocadas.
 
— Ahhhh... eu vou... — Ela quase gritou quando seu orgasmo se
aproximou e eu quase perco o controle.
 
— Goze Kiara, goze para mim. — Eu respondi e ofegantes nós
atingimos o clímax.
 
Eu me joguei para o lado exausto e com a boca seca enquanto Kiara
ainda tremia pelo prazer.
 
Ficamos ali deitados se recuperando por algum tempo.
 
— Me sinto como um adolescente perto de você — Falei me virando
de lado, apoiando a cabeça na mão.
 
— A energia de um com certeza você tem — ela disse rindo.
 
— Isso é porque você me deixa louco — falei a puxando para mim e
a beijando.
 
Passamos um tempo ali deitados e Kiara repousava em meu peito
coberta apenas com minha camisa social que eu havia jogado sobre seu
corpo.
 
— Por que aqui? Por que não na sua casa ou em uma academia? —
Ela perguntou.
 
— Quê? E vê-la treinar com um bando de macho? Nem fodendo. Só
eu posso ver essa bunda empinada — Respondi lhe apalpando.
 
— Ah! Não acredito, me trouxe aqui com ciúmes de que me vissem
no treinamento? — ela disse em um tom de brincadeira levantando um
pouco o corpo.
 
— Já viu o tanto de segurança que tem na mansão? Nem fodendo vou
deixar te verem de top e calça sport colada.
 
— Só por isso vou treinar com ele — ela disse me provocando e eu
virei seu corpo me sentando sobre sua barriga e segurando suas mãos sobre
a cabeça.
 
O clima de brincadeira se transformou e mais uma vez Kiara estava à
minha mercê e parecia gostar muito daquilo me deixando outra vez duro.
 
— Faça isso e juro que compro um chicote e açoito essa sua bunda
branca até ficar assada — Ameacei vagamente e ela ofegou fazendo seu
peito subir e descer descontrolado, então encarei seu olhar afetado e me
aproximei devorando sua boca.
Capítulo 31
 
 
— Já está pronta? — Cas perguntou me abraçando por trás.
 
Ele havia me convidado para ir jantar fora, conhecer o chefe do
restaurante de um dos hotéis que ele havia construído recentemente.
 
— Quase. — Respondi vendo nosso reflexo no espelho da
penteadeira do meu quarto.
 
Alcancei o frasco de perfume, abrindo a tampa, depositando uma
pequena quantidade em meu pulso para depois distribuir para o pescoço e
Cas aproveitou pra cheirá-lo.
 
Eu me sentia viciada em seus carinhos, em seu cuidado. Cas parecia
uma fantasia que eu havia criado de tão perfeito.
 
Ele me apertava em seus braços e era tão bom estar ali que tinha
vontade de nunca mais sair.
 
Cas o gatinho passou por entre nossas pernas exigindo um pouco de
atenção e Cassiano se abaixou o pegando no colo.
 
— Acho que devíamos dar um apelido a esse gatinho, o que acha? —
ele perguntou acariciando os pelos do bichinho.
 
— Eu também pensei nisso, mas não consegui pensar em nada
criativo.
 
— Que tal manhoso? — Ele sugeriu.
 
— Manhoso? Por quê?
 
— Porque toda vez que você o põe para fora, ele dá um jeito de
entrar e vai lá para o meu quarto — ele disse acariciando o felino, se
escorado na penteadeira.
 
— Por falar nisso… — Comecei a dizer me aproximando dele de
mansinho. — Já que até meu gato já está dormindo com você…
 
— Achei que nunca ia pedir — disse me arrebatando pela cintura
quase esmagando o gato, que pulou de seu colo incomodado com o aperto. 
 
— É acho que manhoso será um bom apelido — falei rindo quando
não satisfeito ele veio se esfregar em mim, pedindo atenção.
 
— Eu disse, sempre tenho boas ideias — Cas se gabou.
 
— Manhoso, o que acha? — perguntei o pegando no colo e ele miou
em resposta.
 
— É também acho — Respondi como se realmente ele tivesse dito
algo.
 
— O que você também acha? — Cas perguntou rindo por eu
conversar com meu gato.
 
— Que é melhor do que ser confundido toda hora com você. 
 
Quando chegamos no hotel, ele cumprimentou algumas pessoas e eu
esperei que ele me guiasse até nossa mesa.
 
Uma mulher elegante e bonita nos guiou até uma mesa mais
reservada no fim do restaurante que dava vista para uma fonte do jardim do
hotel, mas protegida por uma parede de vidro que mantinha o local
aquecido.
 
— É lindo aqui — Elogiei.
 
— Sim, é verdade, projetei o restaurante para que os clientes
pudessem desfrutar da bela visão do jardim — ele disse se referindo às
passagens abertas que dava para um jardim interno.
 
O lugar era muito bonito, as colunas eram trabalhadas dando um ar
medieval e os arcos das portas com cortinas creme dava uma leveza ao
local.  As mesas redondas, com toalhas em tons combinando com as
cortinas, cadeiras almofadadas passando a impressão de que estávamos no
palácio.
 
— Você é muito bom nisso — elogiei reparando os detalhes.
 
— Bom mesmo é o chefe daqui — mencionou chamando o garçom
— Traga uma garrafa de vinho…
 
— Não, vinho não…— falei lembrando do porre que eu tinha
tomado e Cas riu.
 
— Ok, então, traga um suco para ela e pra mim uma taça de Château
— Ele disse de referendo a um vinho caro.
 
— Então quer dizer que não vai mais beber? — ele perguntou depois
que o garçom saiu.
 
— Não nessa vida, pelo menos — brinquei enquanto olhava o menu.
— O que vai pedir? — perguntei vendo vários pratos sofisticados, caros e
com nomes complicados que eu não dava a mínima, porque por mim,
comeríamos um hambúrguer com batatas no sofá de casa, mas Cas insistiu
para que saíssemos aquela noite.
 
— Bacalhau ao limão-siciliano com batatas rissolées — Ele
respondeu sem pensar muito e fechou o cardápio como se não desse a
mínima.
 
— Bom, nesse caso acho que vou pedir o mesmo… — Respondi
estranhando.
 
— Na verdade, estamos aqui por outro motivo — Revelou colocando
o menu sobre a mesa.
 
— Outro motivo? Achei que íamos jantar.
 
— Também, mas também vamos treinar.
 
— Aqui?! — Falei um pouco mais alto, espantada, chamando a
atenção de algumas pessoas em volta e fiquei sem graça.
 
O garçom chegou com meu suco e com o vinho de Cas, então
aproveitamos para fazer nossos pedidos.
 
— Como vamos treinar aqui? — perguntei mais baixo.
 
— Ali — Cas disse apontando para o homem sentado no balcão
bebendo um drink. — Me diz o que você acha daquele cara. — Ele
perguntou e eu franzi a testa tentando entender onde ele queria chegar.
 
— Jovem, bonito, parece bem-sucedido — respondi reparando que
ele estava bem-vestido e bebia um whisky.
 
— Ele está aqui para pressionar alguém, provavelmente seu primeiro
encontro com uma garota que gosta, e provavelmente deve trabalhar em um
serviço pesado e não é muito bem remunerado — Cas disse se encostando
na cadeira arrogantemente.
 
— Claro que não… — parei de falar quando uma loira charmosa
entrou e o rapaz se levantou rapidamente se mostrando nervoso.
 
— Rick! Desculpa a demora — Ouvimos ela dizer — Fiquei presa
no trânsito.
 
— Não tem problema, Bárbara, fico feliz que pode vir ao nosso
encontro.”
 
Cas me olhou levantando uma sobrancelha, como se dissesse “não
falei”.
 
— Isso não quer dizer nada, foi só uma coincidência — Justifiquei.
 
— Veja o terno que ela usa, parece ser caro, mas é um modelo muito
usado em casas de aluguel, e o relógio é falsificado — Cas disse baixo para
que somente eu observasse — e os sapatos já são bem gastos para alguém
bem-sucedido como ele quer aparentar.
 
— Tá espertinho, e como sabe que ele faz serviços braçais?
 
— Repara como ele tem as mãos grossas e como ele tem os lábios
queimados do frio que andou fazendo ultimamente. Se fosse alguém que
trabalhasse dentro de um escritório não ficaria assim.
 
— Tem muitas coisas que podem justificar isso — Falei não me
dando por convencida.
 
— Preste atenção no chaveiro que ele tem na mão.
 
O rapaz conversava com a moça enquanto esfregava os dedos em um
sinal de nervosismo, o molho de chaves em sua mão e no chaveiro dizia
“Rick transportadora”.
 
— Droga! Como você pode ser tão bom nisso? — reclamei
boquiaberta.
 
— Detalhes Kiara, leia os detalhes, o olhar, as mãos, objetos, esteja
atenta a tudo.
 
— Por isso descobriu que eu não era uma garota de programa aquele
dia — eu me lembrei
 
— Sim, tudo em você gritava riqueza, enquanto você dizia ser uma
garota de programa de um beco — Cas me relembrou, me fazendo ficar
envergonhada.
 
— Me desculpe por aquilo…
 
— O quê? — ele perguntou surpreso com meu pedido — Se não
fosse você ter invadido meu carro naquela noite eu não a teria para mim
hoje, então “obrigada, minha pequena” — ele disse carinhosamente.
 
Nosso jantar foi servido e conversamos um pouco sobre o chefe e a
sua comida maravilhosa e quando chegou a hora da sobremesa eu
perguntei: — E aquele ali — apontei discretamente para um casal que
jantava.
 
— Hum deixa eu ver… — ele observou por alguns minutos, para
depois responder — Ela está achando que a noite é especial hoje, mas ele
vai terminar com ela, porque está a traindo.
 
— Ah, para essa você inventou — Eu disse rindo.
 
— Não, olha o olhar dela, cheio de esperança, enquanto ele olha a
todo momento para o celular recebendo mensagens de alguém.
 
— Pode ser do trabalho…— Justifiquei.
 
— Repare que de vez em quando ele leva o celular para debaixo da
mesa e tenta responder discretamente, quem provavelmente deve ser sua
amante.
 
— Para! Você deve estar equivocado — Respondi.
 
Cas não respondeu e começou a dar várias dicas de como eu poderia
ler o comportamento das pessoas à minha volta, dizendo que assim seria
difícil eu ser pega desprevenida.
 
— Acabou? — ele perguntou quando finalizei minha sobremesa.
 
— Sim, estava delicioso.
 
— Bom, então vou ao banheiro e já volto para irmos embora.
 
Eu concordei com um aceno e ele se levantou para sair.
 
Pouco tempo depois, o garçom que havia nos atendido, apareceu com
uma taça de sorvete de limão, um dos meus favoritos.
 
— Desculpa, mas não pedi isso — eu o avisei.
 
— Não, senhora, isso foi mandado pelo senhor que estava… — o
garçom parou de falar quando procurou a pessoa e não encontrou. — Ele
estava bem ali…
 
Ainda assim, ele deixou a taça e saiu.
 
Eu olhei e vi que embaixo tinha um bilhete.
 
“Não pode fugir de mim, ratinha ”
 
Meu estômago se revirou e eu me levantei rapidamente assustada,
olhando para os lados buscando por quem havia me mandado aquilo.
 
Eu olhava fixamente a taça, mas minha mente me leva aquele dia.
 
Eu coloquei a babá eletrônica na sala, para saber exatamente o
momento que Heron chegasse e corri para o meu quarto.  Eu a tinha
comprado pela internet dizendo ser um presente para uma conhecida.
 
Eu mal a tinha ligado quando escutei Heron chegar, ele não subiu e
eu estranhei, então desci as escadas devagar com medo de como estaria seu
humor naquele dia.
 
Ele discutia com alguém.
 
— Você não sabe com quem está lidando Arthur! — A voz de Heron
soou — Pare enquanto é tempo.
 
— É tarde demais Heron as provas já estão na minha mesa, amanhã
de manhã estará tudo nas mãos da Júlia.
 
Heron riu e balançou a cabeça em negativa.
 
“ Eu descia as escadas pé a pé, tentando não fazer nenhum barulho,
apenas observando.
 
— Então eu lamento, mas tenho que fazer isso — Heron respondeu e
apontou uma arma para Arthur e disparou duas vezes me fazendo perder o
ar e escorregar assustada, chamando sua atenção.
 
Tentei me levantar e voltei a escorregar, mas me segurei no corrimão
e corri o máximo que pude.
 
— Não pode fugir de mim, ratinha! — Heron gritou, vindo atrás de
mim.
 
Meu coração batia em total desespero, eu entrei no quarto e tranquei
a porta e procurei qualquer lugar para me esconder.
 
As lágrimas caiam do meu rosto, aterrorizada e eu nem me dava
conta, passei a mão espalhando tudo até os cabelos e corri para o closet,
como se ele não fosse me procurar ali.
 
Ouvi quando ele arrombou a porta.
 
— Ratinha! Apareça — Heron chamou e eu me senti em um filme de
terror e comecei a chorar desesperadamente.
 
— Ah! — eu gritei quando senti sua mão agarrar meu cabelo e me
arrancar de dentro do closet.
 
— O que pensa que está fazendo? — Ele perguntou me jogando com
violência no chão.
 
— Heron… por favor, eu não vi nada, eu juro, não vou contar nada
para ninguém… — eu implorei chorando.
 
Ele se aproximou me agarrando mais uma vez pelos cabelos me
fazendo gemer de dor e se aproximou bem de mim.
 
— Eu sei que não vai, caso contrário terá o mesmo fim! — Ele
ameaçou me soltando e saindo me deixando aterrorizada.
 
Assim que tive a primeira oportunidade, quebrei toda a babá
eletrônica, mas antes retirei seu cartão de memória, se Heron desconfiasse
que eu tinha aquilo seria meu fim.”
 
— Pronta? — Cas disse me fazendo dar um pulo de susto.
 
— O que foi algum problema? — ele perguntou me vendo assustada.
 
— Não… não, eu só… — falei amassando o bilhete para que ele não
visse.
 
— O que é isso? — ele questionou vendo a taça de sorvete.
 
— Não é nada, o garçom entregou errado — Falei tentando parecer
normal — vamos? — chamei nervosa para ir embora o mais rápido
possível.
 
— Vamos! — ele respondeu me dando passagem.
 
— Seu desgraçado, filho da puta — A Mulher que jantava com seu
parceiro no restaurante agora o xingava no estacionamento, chamando a
atenção dos outros e batendo no ex-marido.
 
E mais uma vez Cas me olhou como quem diz “eu disse”
Capítulo 32
 
 
— Como não encontram? Com certeza ele não abriu uma cova e se
enfiou dentro! Encontrem ele! — Ordenei aos meus homens pelo telefone.
 
Kiara tinha ficado estranha no jantar e havia recebido uma sobremesa
que não havíamos pedido.
 
Notei ela encarando a taça como se estivesse perdida em algum lugar,
e quando me aproximei ela amassou um pequeno papel em suas mãos e
jogou na lixeira do estacionamento.
 
Eu ordenei discretamente pelo celular que um de meus homens o
pegar para mim.
 
Olhei para o papel amassado sobre a minha escrivaninha do
escritório.
 
“Não pode fugir de mim, ratinha”
 
Dei um soco na mesa, furioso.
 
Eu já havia encomendado a morte de Heron, mas o desgraçado havia
sumido do mapa, fugindo como o grande covarde que era.
 
— Quando eu colocar minhas mãos… — falei amassando ainda mais
o papel o jogando longe.
 
Fui para o quarto onde Kiara dormia tranquilamente e me sentei
vendo-a descansar, com seu gato esticado folgadamente sobre nossa cama.
 
Alcancei a gaveta do meu criado mudo e peguei o pequeno saquinho
preto com a caixinha da aliança e abri admirando o anel.
 
Tinha comprado a alguns dias, mas não tive coragem de fazer o
pedido, não quando eu ainda me escondia por trás de mentiras.
 
Senti um aperto no peito ao me lembrar que ainda não havia sido
sincero com ela e que Kiara merecia mais do que aquilo.
 
Aquela vida, eu, nada daquilo jamais seria o melhor para ela.
 
E como eu queria o melhor para ela, como queria vê-la sempre sorrir,
como queria vê-la com a barriga inchada de um filho meu, enquanto
passeávamos pela praia descalços em um dia ensolarado.
 
Um sonho muito longe da minha realidade.
 
Me levantei, peguei o manhoso colocando em seu canto e me deitei
ao seu lado, a puxando para mim, me aconchegando em seu corpo quente.
 
— Será que um dia vai me perdoar? — Sussurrei e Kiara ronronou
sonolenta.
 
Eu havia planejado contar a ela diversas vezes, ensaiado outros
milhões e ainda assim nunca me parecia ser o momento ideal.
 
Me apertei ainda mais nela e tentei pegar no sono.
 
 
— Vamos? — perguntei a Kiara depois do café da manhã.
 
— O quê? Juntos? — Ela questionou, pois nunca fomos para
empresa juntos.
 
— Sim, e por que não?
 
— Mas e se nos verem chegando juntos?
 
— E você se importa? — perguntei e ela negou discretamente.
 
— Então vamos embora.
 
Quando chegamos na empresa que entramos no elevador, Kiara
tentou manter uma certa distância de mim, para que ninguém desconfiasse,
mas quando a porta abriu no andar eu me aproximei, peguei em sua mão e a
puxei para fora do elevador. Ela pareceu perder o ar e ficou vermelha sob os
olhares dos demais funcionários, mas eu não ligava. Kiara era minha
mulher e queria que todos soubessem daquilo.
 
Ouvi alguns cochichos e dei risada do espanto dos funcionários.
 
— Bom dia, senhor… — Aldrey perdeu a fala quando nos viu de
mãos dadas.
 
— Na minha sala, agora Aldrey! — Ordenei e ela rapidamente se
recompôs.
 
— Por que fez aquilo? — perguntou assim que entramos na minha
sala. — Agora todo mundo vai comentar…
 
— Vai comentar o quê? Que o chefe arrumou uma namorada linda e
gostosa? — Falei a puxando contra meu corpo e nesse momento Aldrey
entrou sem bater e ficou desconcertada.
 
— Ah… desculpe eu vol…
 
— Entre! — Ordenei.
 
— Claro, sim, chefe.
 
Ela entrou lançando um olhar desconfiado para Kiara, que desviou o
olhar envergonhada.
 
— Quero que prepare uma sala para Kiara. — Ordenei.
 
— Kiara será promovida? — Aldrey perguntou.
 
— Está sugerindo que Kiara está comigo para ganhar uma promoção
Aldrey? — perguntei perdendo minha paciência.
 
— Não, não é isso senhor é que como ela vai receber uma sala.
 
— Que fique claro que Kiara é minha noiva.
 
— Quê?! — Kiara quase gritou.
 
— Namorada! — eu corrigi. — E tudo irá continuar exatamente
como está, só estou dando uma sala a ela porque quero vê-la trabalhar mais
à vontade.
 
— Claro senhor, me desculpe, isso não é da minha conta.
 
— Sim, nisso você tem razão. — Respondi a dispensando.
 
— Por que você a trata tão mal? — Kiara questionou, chateada.
 
— Porque Aldrey é uma excelente profissional, e futuramente eu a
quero em minha equipe, mas para isso ela tem que aprender a lidar com
situações frustrantes.
 
— Você está querendo me dizer, que a trata mal para treiná-la? —
perguntou. 
 
— Mais ou menos, mas também é porque gosto de vê-la
desconcertada — brinquei.
 
— Você não existe, sabia? — ela disse vindo me abraçar.
 
— Kiara eu… — tentei me afastar para pensar direito no que iria
dizer — as coisas não são assim tão perfeitas como você imagina. —
Comecei a dizer — Tem coisas sobre mim que você precisa saber… e
talvez você não me veja com os mesmos olhos.
 
Kiara pareceu se preocupar, mas eu precisava continuar, tinha que
contar a ela.
 
— Por que está dizendo isso? Eu sempre vou amar você — ela disse
franzindo a testa.
 
— Sr. Cas?! — Aldrey chamou na porta.
 
— Agora não Aldrey, estou ocupado! — respondi.
 
— Sr. É importante — Ela insistiu.
 
— Entre! — Ordenei sem tirar meus olhos de Kiara que parecia
confusa.
 
— O detetive Marques está aqui Sr. e exige falar com você.
 
Eu me virei vendo que o homem já entrava em minha sala junto com
seu parceiro sem esperar ser convidado.
 
— Sr. Orlov, espero não estar atrapalhando — o mais velho disse —
eu sou detetive Marques e esse é meu parceiro William.
 
Eu me aproximei e apertei a mão de cada um formalmente.
 
— Kiara será que pode nos dar licença — eu pedi.
 
— Não, por favor, se possível queríamos que ela participasse, assim
não precisamos falar com ela no particular depois.
 
Eu estranhei e perguntei.
 
— Do que se trata? — indiquei lugares para que eles se sentassem.
 
— Ontem à noite o procurador Heron foi dado como desaparecido
pela funcionária de sua residência. — Ele me respondeu se sentando.
 
— E o que eu ou Kiara temos a ver com isso?
 
— Por acaso vocês não o viram por volta das 10 da noite?
 
Kiara ficou visivelmente desconfortável e engoliu em seco.
 
— Sua casa foi totalmente revirada — o detetive disse me mostrando
algumas fotos.
 
Tá aquilo podia ter sido os meus homens. — Pensei comigo mesmo.
 
Kiara se aproximou e me encarou assustada.
 
— Heron pode ter fugido, afinal ele está sendo investigado por
corrupção — Justifiquei.
 
— Essa possibilidade também está sendo investigada, mas você não
respondeu minha pergunta — o detetive perguntou encarando Kiara,
farejando o medo nela.
 
— Nesse horário estávamos no restaurante do palácio hotel —
respondi por ela — pode verificar com o chefe e com os garçons no local,
todos podem confirmar.
 
Os detetives olharam um para o outro e se levantaram.
 
— Bom, se souberem de alguma coisa, por favor nos avise — disse
me entregando um cartão.
 
—  Com certeza! — Afirmei.
 
— Se cuide, senhorita Kiara — ele disse antes de sair.
 
— Cas… — Ela disse correndo até a mim.
 
— Se acalme, está tudo bem! Você não fez nada — tentei tranquilizá-
la.
 
— Cas… eu não contei, porque não queria te preocupar e porque
estava assustada, mas Heron esteve ontem no restaurante — ela finalmente
revelou — ele que mandou aquela sobremesa com um bilhete.
 
— Tudo bem! Está tudo bem, eu já sabia disso, fique tranquila.
 
— Já sabia? Mas… como… eu
 
— Não importa como, o importante é que você está bem e não
precisa se preocupar com nada disso.
 
Falei encostando sua cabeça em meu peito e a abraçando.
Capítulo 33
 
 
Os últimos dias haviam sido tranquilos e Heron não havia dado
nenhum sinal de vida.
 
Eu não conseguia dormir, pensando o que Heron andava planejando.
 
“Será que ele realmente havia sumido? Ou será que tinha só usado
uma desculpa para fugir”
 
Eu me sentei na cama incapaz de pegar no sono e Cas passou a mão
em minha cintura e me arrastou de volta.
 
— Porque está desinquieta, pequena? — ele murmurou me apertando
em seus braços.
 
— Não consigo pegar no sono — reclamei manhosa.
 
— E por quê?
 
— Você acha que Heron se meteu com pessoas erradas e… está
morto?
 
— Infelizmente não — Cas respondeu se ajeitando melhor na cama.
— Seria bom demais para ser verdade. Mas uma pergunta dessas a esta
hora?
 
— Eu não sei… é só um pressentimento ruim, sabe — Respondi
levando as mãos ao peito.
 
— Ei, não se preocupe, não importa onde ele esteja, ele não poderá
lhe fazer nenhum mal — Cas disse me olhando profundamente segurando
meu queixo.
 
— Venha, deite-se aqui — ele me ofereceu seu peito.
 
Sentir seu corpo colado ao meu, trouxe a tranquilidade que eu
precisava para pegar no sono.
 
— Acorde pequena — Cas me acordava logo cedo com uma xícara
de leite quente.
 
— Meu Deus, você não descansa? — perguntei tacando o travesseiro
na cara. — Você sabe o que significa final de semana? Dormir até mais
tarde? — reclamei abafado minha voz com o travesseiro.
 
— Não é tão cedo assim, e pra quê perder o final de semana
dormindo, quando podemos aproveitar juntos? — Cas disse deixando a
xícara sobre o criado mudo e abrindo as cortinas. — Ellie fez um
maravilhoso café da manhã e… — ele falou se aproximando e beijando a
ponta do meu nariz — Nós vamos em um parque treinarmos tiro ao alvo.
 
Ouvindo aquilo, pulei rapidamente da cama animada, Cas havia
prometido me ensinar a atirar em um de nossos treinamentos e eu estava
super ansiosa para aquilo.
 
— Já me levantei — Falei juntando meus cabelos que estavam cada
dia maior e amarrei em um rabo de cavalo.
 
— Mas antes vamos a um consultório médico — Ele avisou e eu
fiquei envergonhada.
 
Eu já havia tomado 2 vezes a pílula do dia seguinte e como mulher eu
sabia muito bem que aquilo não era nada saudável, muito mesmo eficaz,
mas saber que ele havia tomado aquela iniciativa me fazia corar.
 
Fomos para a cozinha e tomamos um Belo café da manhã e eu me
arrumei o mais rápido possível para sairmos.
 
Entramos em um hospital enorme onde tinha várias alas.
 
— Temos consulta marcada com o Dr. Roger por favor — Cas avisou
na recepção e entregaram a ele 2 crachás.
 
— Oitavo andar! — A moça informou.
 
O lugar estava bem vazio e Cas deu uma leve batida na porta e entrou
em seguida.
 
— SR. Cas, que bom vê-lo — Um médico de cabelos grisalhos o
cumprimentou — E você deve ser a Kiara nossa nova paciente.
 
— Como eu expliquei para o senhor, gostaria que o senhor visse
pessoalmente e fizesse conforme ela desejar — Cas falou e eu achei que iria
morrer de vergonha.
 
— Sim, claro! Deixe-me dar uma olhada — o médico pediu e eu
encarei Cas implorando para ele saísse do consultório.
 
— O que foi meu amor? Deixe o Dr. Roger ver — ele insistiu quando
eu não me mexi.
 
— É que… você vai ficar aqui? — perguntei.
 
— Claro, não tem nada de mais que eu não possa ver. — ele
respondeu parecendo confuso.
 
Apesar de totalmente sem graça, eu coloquei minha bolsa sobre a
maca e comecei a desabotoar a calça.
 
— O que está fazendo Kiara? — Cas perguntou me vendo começar a
retirar minha roupa.
 
— Tirando a roupa para o Dr. Examinar, não foi para isso que viemos
aqui?
 
— Me desculpe! — Cas disse sorrindo nervoso para o médico.
 
— É só as costas, Kiara, não precisa tirar a roupa toda— ele
sussurrou nada discretamente.
 
Só então que prestei atenção nos malditos detalhes, sobre a mesa a
pequena placa Dr. Roger cirurgião plástico, nas paredes diplomas e próteses
de silicone em um aparador nos fundos.
 
— Porque você não me avisou — Murmurei sem graça. — Achei que
estávamos indo ao ginecologista. — Confessei e Cas riu.
 
Imediatamente eu voltei a abotoar minhas calças e me virar
levantando minha blusa, mostrando a cicatriz que Heron havia deixado.
 
O médico ficou em silêncio por algum tempo, me deixando
desconfortável, e depois se aproximou.
 
— Não será um trabalho complicado — Ele disse depois de avaliar.
— Na verdade, um procedimento a laser resolveria, mas seria demorado e
doloroso.
 
O médico começou a explicar o que iria fazer, garantindo que seria
um procedimento rápido e que eu poderia voltar para casa no dia seguinte.
 
— E então, podemos marcar? — o médico perguntou.
 
Cas olhou e eu confirmei imediatamente.
 
— Eu nem acredito que vou conseguir me livrar disso — Falei
animada.
 
Cas parecia satisfeito e eu fiquei ainda mais feliz.
 
Saber que eu não iria precisar mais olhar aquela marca em minhas
costas me deixava feliz, mas saber que Cas não ia mais ver a marca de outro
homem em meu corpo nos nossos momentos mais íntimos, era
simplesmente emocionante e eu sentia uma vontade imensa de chorar.
 
Cas combinou com o doutor todos os detalhes e eu não conseguia
mais falar, entalada pelo choro que ameaçava romper.
 
Nós agradecemos e saímos da sala e assim que chegamos no
corredor, eu parei de cabeça baixa sentindo as lágrimas descerem por meu
rosto e senti um solavanco no peito pelo soluço.
 
— Kiara? — Cas estranhou ao me ver parar — está chorando? — ele
disse levantando meu queixo — Ei pequena, o que foi? — perguntou.
 
Mas eu não conseguia responder, apenas lhe abracei, solucei e chorei
em seu peito, sentindo seu cheiro reconfortante e seu calor aconchegante até
sentir que não podia mais.
 
— Vai me contar agora por que está chorando? — Ele voltou a
perguntar se afastando para olhar em meus olhos.
 
E eu confirmei com um aceno.
 
— Então me diga, por que está chorando?
 
— Porque nunca fui tão feliz…— revelei voltando a abraçá-lo.
 
— Quê? — ele perguntou ainda com os braços abertos, sendo pego
de surpresa, mas logo senti ele me envolver novamente.
 
— Obrigada! — Agradeci.
 
— Eu já disse minha menina, por você eu colocaria fogo nessa
cidade — Cas respondeu e por algum motivo senti meu corpo se arrepiar,
pois não parecia uma metáfora. — Agora vamos que você ainda terá muito
o que aprender hoje.
 

 
— Se mirar dessa maneira vai ganhar um olho roxo — Cas me
alertou se aproximando, quando aproximei muito a arma para olhar melhor
a mira.
 
Nós estávamos em um tipo de fazenda direcionada a treinamentos de
tiro ao alvo, outras pessoas também treinavam em lugares diferentes,
grupos mais experientes entravam em uma floresta para praticar.
 
O frio estava aumentando cada dia mais, e eu usava um casaco
grande e Cas tinha me feito colocar touca e cachecol.
 
— Mantenha o braço assim — Ele orientou, ajeitando da maneira
correta.
 
A arma era mais pesada do que eu imaginava, eu olhava para o alvo
não muito longe e então disparei meu primeiro tiro.
 
— Nossa! — Falei surpresa por quase ter sido derrubada pelo tranco.
 
Cas havia me avisado, mas não esperava que fosse tão forte.
 
— Tente afastar um pouco os pés para dar melhor sustentação ao seu
corpo — ele sugeriu e eu obedeci. — Isso, ótimo, tente ver ao longe e não
sua arma.
 
Eu era péssima de mira, e dei vários tiros até conseguir acertar o alvo
e mesmo assim bem longe do meio e Cas parecia já estar cansado de me ver
errar tantas vezes.
 
— Eu sou péssima nisso, né? — Falei baixando a arma já com os
braços cansados.
 
— É um pouco…— Ele concordou.
 
— Um pouco? Eu acertei 2 tiros de 50 balas.
 
— Mas você está apenas começando, vai aprender em breve — Ele
tentou me animar.
 
— Atire você! Talvez a arma esteja com algum problema — Eu pedi
com um fio de esperança.
 
Cas me olhou com um olhar de que eu estava me iludindo, mas ainda
assim pegou a arma da minha mão.
 
Ele mal olhou o alvo, nem se posicionou e disparou 3 tiros em
seguida acertando um atrás do outro.
 
Eu corri até o alvo sem acreditar que ele realmente tivesse acertado
os três, passei os dedos sobre os buracos tão próximos um ao outro que
quase os ligavam.
 
— Como? — parei de falar sem acreditar no que meus olhos viam.
 
— Prática.
 
— Onde aprendeu atirar assim? — Perguntei.
 
Cas pareceu desconfortável por algum tempo.
 
— Meu pai me ensinou, quando eu ainda era muito novo.
 
Ele sempre parecia incomodado em falar sobre sua família e eu me
perguntava se era somente pelo que havia acontecido com a madrasta.
 
— Acho melhor irmos embora, está começando a nevar — Ele falou
estendendo a mão.
 
Uma neve fraca começou a cair e eu fechei mais meu casaco tentando
me esconder do frio.
 
— Podemos tomar um chocolate quente? — pedi lhe entregando a
arma que ele conferiu e guardou para entregar na recepção onde havíamos
pego.
 
Depois que nós entregamos a arma a um rapaz simpático na
recepção, fomos a uma pequena lanchonete que tinha no lugar que servia
biscoito, bolos e pães caseiro e eu aproveitei para comer alguns biscoitos.
 
— Não vai comer nada? — perguntei vendo-o sentado do outro lado
da mesa, parado me olhando enquanto sorria.
 
Cas me olhava com um sorriso sarcástico que me dizia que tinha em
mente pensamentos obscenos e eu tentava não pensar o que se passava por
sua cabeça.
 
— Acho que o que quero comer, não seria apropriado ao local — Ele
respondeu tranquilamente, quase me fazendo engasgar.
 
— Não deveria falar essas coisas em público, sabia? — O repreendi
levando a xícara a boca lutando para manter a compostura.
 
— E por que não? Só estou dizendo a verdade. — Ele falou se
apoiando sobre a mesa para se aproximar mais de mim.
 
Seu olhar faminto sobre meu corpo me fez beber mais um gole do
chocolate às pressas e chamá-lo para irmos embora o mais rápido possível.
 
— Não vai terminar? — Ele perguntou, mas já sabendo a resposta.
 
— Não, eu como quando chegar em casa. — Avisei pegando em sua
mão para puxá-lo para irmos embora.
 
Cas se levantou e tirou uma nota da carteira jogando sobre a mesa.
 
— Eu duvido! — Ele me puxou para si, colando nossos corpos e
sussurrando em meu ouvido.
 
Cas dirigia com a mão acariciando minha perna e a cada minuto que
passava o clima aumentava, estávamos em uma área afastada e os
seguranças nos seguiam, mas então, do nada ele tirou sua mão focando a
todo momento no retrovisor.
 
— Coloque o cinto de segurança — Cas ordenou sério demais para
que eu retrucasse e pisou no acelerador o máximo que pode, aquilo fez meu
coração acelerar.
 
— O que está acontecendo? — perguntei olhando para trás e então
ouvi um barulho e vi o carro dos seguranças ser atingido por uma
caminhonete. E logo atrás apareceu outra com homens atirando.
 
— Cas! — Gritei quando um carro surgiu à nossa frente obrigando-o
frear bruscamente. Ele levou a mão em meu rosto impedindo que eu batesse
com o rosto no porta luvas, quando meu corpo foi lançado para frente e
quando tiros foram disparados, ele me cobriu com seu corpo.
 
A minha porta foi aberta e um dos seguranças surgiu.
 
— Vocês estão bem? Precisam sair daqui — ele disse me ajudando a
descer.
 
Quando olhei para trás, Cas já havia descido do carro e atirava com
duas armas em mãos.
 
Eu sentia o desespero tomar conta de mim enquanto o segurança de
Cas me puxava.
 
Através das portas abertas eu vi o momento em que Cas foi atingido
por uma bala perdida e senti como se eu também tivesse sido atingida
naquele momento, meu coração disparou em total desespero.
 
— Cas! — Eu gritei tentando correr em sua direção, mas o segurança
me impediu.
 
— Levem ela daqui! — Eu o ouvi ordenar.
 
— Não! — eu gritei de volta e senti meu corpo ser levantado do chão
e ser arrastado para dentro da floresta.
 
Eu lutava e chorava desesperada, batendo as pernas e tentando tirar
as mãos do segurança que me prendiam.
 
— Não!!! — Eu gritei novamente — Eu não quero… me deixe… —
eu implorei tentando me desvencilhar.
 
Vi quando Cas entrou sendo ajudado por outro homem e então eu fui
solta e eu corri em sua direção o mais rápido que pude.
 
— Cas… Cas… por favor, fale comigo, você está bem? — perguntei
passando a mão em seu corpo e logo senti o sangue quente que jorrava de
seu abdômen.
 
— Eu estou bem… precisamos sair daqui.
 
 
Cas
 
Assim que notei a movimentação estranha na estrada, eu acelerei
tentando me afastar, mas fomos emboscados por um outro veículo.
 
Eu pude ouvir a voz de Kiara gritando enquanto um de meus homens
a arrastava para dentro da floresta e longe do tiroteio, foi então que senti a
bala atravessar minha barriga.
 
— Cas! — Kiara gritou com lágrimas caindo de seus olhos.
 
— Levem ela daqui! — Eu ordenei sem parar de atirar.
 
Corri e me escondi atrás do carro levando a mão na barriga, sentindo
o sangue molhar minha roupa.
 
— Foi atingido, tem que sair daqui — Meu segurança disse, me
ajudando a ir na direção em que Kiara havia entrado.
 
Assim que me viu, ela correu até mim, desesperada chorando.
 
— Cas… Cas… por favor, fale comigo, você está bem? — Ela
perguntou e se assustou quando sentiu o sangue.
 
— Eu estou bem… precisamos sair daqui. — Avisei.
 
— Vamos! — Meu homem disse me ajudando a andar.
 
— Eu vou… — O outro começou a dizer, mas foi atingido por uma
bala.
 
— Vão! Eu seguro eles —. Meu soldado disse me soltando.
 
Kiara mesmo menor do que eu, veio ao meu auxílio, andamos cada
vez mais para dentro da mata e apesar de ainda não ser noite, não demoraria
a cair.
 
A neve aumentava cada vez mais e o frio parecia cortar o corpo.
 
— Cas… não pare por favor — Kiara pediu quando eu tropecei.
 
— Você precisa me deixar aqui…— Falei segurando o ferimento —
Precisa ir embora.
 
— Não! — ela disse, me escorando em uma árvore, chorando — Isso
é tudo culpa minha… se eu… se eu…— Ela tentava dizer, mas as palavras
se recusavam a sair.
 
— Shiii… — falei tocando seu queixo que sujou de sangue por causa
das minhas mãos — está tudo bem, isso não é sua culpa pequena, eu… —
falei, mas comecei a tossir.
 
— Não fale nada, por favor, você não pode me deixar aqui sozinha…
— ela disse se enfiando embaixo do meu braço para me ajudar a andar.
 
— Kiara... Kiara, precisa ir…
 
— Eu não vou sem você! — ela disse com a voz chorosa.
 
— Iremos congelar os dois aqui.
 
— Eu não me importo! — ela respondeu, mas eu sentia seu corpo
tremer de frio e podia ver a exaustão que começava a tomar conta por tentar
me carregar.
 
Senti meus olhos pesarem e eu caí ajoelhado e logo apaguei.
 
 
Kiara
 
 
— Cas, Cas… não, por favor, você não pode me deixar aqui… — Eu
falei em total desespero vendo seu corpo caído sobre a neve.
 
Peguei meu celular no bolso de trás da calça verificando se conseguia
algum sinal, mas estava totalmente fora de área e a bateria estava em 50%,
e então talvez se eu encontrasse um lugar com sinal poderia pedir ajuda.
 
Me ajoelhei na neve tentando virá-lo para verificar se ainda
respirava, e para meu alívio podia ver ele com a respiração um pouco fraca.
Mas ele estava perdendo muito sangue e seu corpo estava extremamente
gelado.
 
Com muito esforço eu consegui puxá-lo até um tronco de árvore e
retirei meu casaco para cobri-lo.
 
O frio cortava meu corpo, fazendo meus ossos doerem, minhas mãos
apesar das luvas começavam a endurecer, meu rosto ardia e eu já não sentia
meu nariz.
 
Eu precisava encontrar alguém para me ajudar, ou nós dois
morreríamos ali, mas eu nem sabia em que direção seguir.
 
A fazenda! — me lembrei.
 
Saiba que estava a quilômetros de distância e andando seria
impossível chegar lá, mas vários atiradores entraram na mata, com sorte eu
me depararia com um que pudesse nos ajudar ou conseguiria pelo menos
um pequeno ponto de sinal da operadora.
 
Comecei a correr feito louca na direção oposta em que Cas havia
dirigido, com o coração partido por ter que deixá-lo sozinho, parei de correr
quando avistei uma cabana velha subindo um pouco a minha direita, voltei
a correr em sua direção com a esperança de encontrar alguém.
 
Quando alcancei eu não bati nem chamei e fui entrando de vez, não
tinha tempo de esperar.
 
A cabana era apenas um pequeno galpão com alguns pertences,
talvez a brigada de algum caçador e estava totalmente vazia.
 
Peguei novamente meu celular para verificar o sinal, conferindo que
ainda estava sem área.
 
Tinha uma cama de solteiro velha, um pequeno armário, não parei
muito para reparar, fui até o armário e encontrei alguns cobertores, então
voltei a sair, e voltei para onde eu havia deixado Cas desacordado.
 
— Cas, acorde, eu preciso de você agora — Falei dando alguns tapas
de leve em seu rosto.
 
Eu não iria conseguir puxá-lo até a cabana, precisava dele acordado.
 
— Kiara… — Ele murmurou.
 
— Isso vamos precisar andar um pouco, é só um pouco meu amor. —
falei jogando o cobertor sobre suas costas e me enfiando debaixo do seu
braço para ajudá-lo a andar, mas Cas era muito pesado para mim e ele mal
conseguia sustentar seu próprio corpo.
 
Minhas pernas queimavam, pelo esforço excessivo que eu fazia e
meus braços eu sentia que se quebrariam a qualquer momento, e quando seu
corpo cambaleava e eu precisava usar toda a minha força para que não
caísse novamente, eu chorava sentindo meus músculos rasgarem, mas eu
não iria desistir. 
 
— Só mais um pouco… — Eu praticamente gemi para ele,
implorando para que ele não parasse.
 
Parecia que a cabana estava muito mais longe do que eu a havia
encontrado, e eu já perdia minhas esperanças quando a avistei.
 
— Falta pouco, por favor, não desista agora — E ele cambaleou e nós
caímos de joelhos, mas ele se esforçou usando seu resto de forças para
andar mais um pouco.
 
Estávamos a poucos metros da cabana quando Cas voltou a desmaiar.
 
— Cas… — Falei chorando, cansada demais e desesperada, com
medo de perdê-lo.
 
Puxei seu corpo para dentro enquanto a neve aumentava cada vez
mais, fechei a porta e corri até ele.
 
Comecei a tirar suas roupas e o ferimento ainda sangrava e eu não
sabia o que fazer, busquei um pano e tentei estancar, mas não parava de
sangrar.
 
— Você… precisa tirá-la… — ele murmurou quase sem vida.
 
— O quê? Eu não sei… como?
 
— Ache… uma faca… — me orientou e eu corri a um canto onde
parecia uma cozinha improvisada e encontrei canivetes e facas.
 
— Aqui, e agora? — Falei voltando a me ajoelhar do seu lado com as
mãos ainda sujas de sangue.
 
— Precisa… cortar. Corte… e tire a bala… depois encontre… algo
para costurar… e se não achar… — Cas olhou para mim com o olhar caído
de quem se esforçava muito para se manter lúcido — Queime…
 
— Cas… por favor, eu não consigo — Respondi em total desespero,
mas ele não me ouvia mais.
 
Limpei minhas lágrimas e respirei fundo, revirei a cabana atrás de
uma agulha e uma linha, mas não encontrei nada, apenas uma vela e alguns
fósforos e meu peito se apertou só de imaginar que teria que fazer aquilo
com ele.
 
Acendi a pequena vela deixando perto de nós e prendi a respiração
quando comecei a cortar a carne, sentindo vontade de vomitar, mas me
esforçando para conseguir. Quando o buraco se abriu mais usei a ponta da
faca para achar a bala e com sorte consegui retirá-la, limpei o ferimento e
coloquei a ponta da faca para esquentar e quando a ponta estava bem
vermelha eu encostei sobre o ferimento e Cas gritou nessa hora e voltou a
desmaiar em seguida, joguei a faca longe quando terminei.
 
— Me perdoe meu amor, me perdoe… — eu pedi chorando sobre seu
corpo quando finalizei.
 
Tudo aquilo era minha culpa, ele não precisava estar passando por
aquilo, com certeza aquele ataque havia sido obra de Heron.
 
— Se eu… o tivesse denunciado, talvez se tivesse levado as provas à
delegacia…
 
Saí para fora com o estômago embrulhado, me abaixei escorando
minhas mãos em meus joelhos e vomitei entre minhas pernas sobre a neve e
quando achei que não tinha mais nada para vomitar, meu estômago se
retorceu e eu vomitei novamente.
 
Quando me recuperei e voltei para dentro, voltei a me ajoelhar perto
de Cas e com um pouco de água fria limpei seu ferimento com cuidado,
sentindo todo meu corpo tremer.
 
Rasguei um lençol e encaixei em seu ferimento, tirei suas roupas
sujas de sangue e tentei aquecê-lo com os cobertores o máximo que pude,
ficando apenas com meu casaco para me cobrir.
 
Coloquei o colchão no chão e o puxei para cima, para que ele não
ficasse sobre o chão frio de madeira. Usando a lanterna do celular, fui
explorar a cabana em busca de qualquer coisa que pudesse nos ajudar.
 
Encontrei um tipo de motor que eu não fazia ideia para o que servia
com uma corda para puxar e resolvi testar para ver e me enchi de esperança
ao notar ser um pequeno gerador e rezando decidi testar.
 
Na primeira puxada as luzes ameaçaram acender, mas se apagaram
logo em seguida, então puxei novamente e mais uma vez elas se acenderam,
porém, voltaram a se apagar. Tentei várias vezes e me sentei cansada, quase
desistindo, mas vi um botão empoeirado e decidi apertar e tentar novamente
e finalmente deu certo.
 
Notei haver um galão de diesel próximo e deduzi que fosse para
abastecer o pequeno gerador.
 
Em um canto havia um punhado de madeira já cortada e uma lareira
de ferro entre a cama de solteiro e a minúscula pia de lavar louça, peguei
algumas toras e coloquei dentro da pequena lareira e acendi um fósforo
tentando acender, mas logo a chama do fósforo se apagou e a madeira não
pegou fogo, acendi outro e depois outro e nenhum pegou.
 
— Aaaah! — gritei frustrada.
 
“Eu não sabia acender uma lareira! Iríamos morrer congelados ali
dentro” — pensei sentando no chão.
 
Olhei Cas que continuava completamente inerte e me preocupei com
sua situação, eu não entendia absolutamente nada de medicina, a neve lá
fora parecia piorar cada vez mais, o que tornava impossível ir buscar
qualquer ajuda, então teríamos que passar a noite ali.
 
Voltei a tentar acender a lareira, mas dessa vez usando alguns papéis
velhos que encontrei, mas nem assim eu consegui, foi quando me lembrei
do galão de diesel.
 
Abri o galão e com um pequeno recipiente retirei só o necessário para
auxiliar a atear fogo nas madeiras e voltei para a lareira que com a ajuda do
diesel rapidamente queimou a madeira e eu quis pular de alegria, sabendo
que pelo menos aquela noite não morreríamos de frio.
 
Em pouco tempo toda a cabana estava quentinha e eu me sentei ao
lado de Cas escorada na pequena cama e fiquei ali velando seu sono até a
exaustão me tomar e eu dormi sentada.
Capítulo 34
 
 
Eu não sabia ao certo por quanto tempo havia dormido, mas ainda
não tinha amanhecido quando ouvi Cas gemer e acordei assustada.
 
Ele estava molhado de suor e se debatia.
 
Descobri seu corpo notando que ele queimava em febre, desfiz o
curativo para olhar como estava e fiquei arrepiada ao ver aquela mistura de
sangue e secreção da queimadura que eu havia feito para estancar. O tecido
grudava na carne e quis chorar ao vê-lo gemer de dor.
 
— Kiara… — chamou em agonia, me deixando aflita com seu
estado.
 
Enchi uma pequena bacia com água e molhei um pedaço de um trapo
qualquer colocando em sua testa. Inconsciente, ele tentou retirá-lo, mas eu o
impedi. Comecei a limpar novamente o ferimento com bastante cuidado,
mas por mais que eu tentava ser delicada, via seu corpo reagir a cada vez
que eu passava o pano por cima.
 
— Eu não queria…— murmurava delirando — juro que não queria,
mas você… não entenderia… Kiara! — Ele chamou segurando meu braço.
 
— Eu estou aqui… — Respondi me desvencilhando de seu aperto
para segurar sua mão.
 
— Me desculpe, juro que não queria isso…
 
Olhei seu rosto desfigurado pela dor, enquanto suas pálpebras
vibravam em agitação, dizendo que ele delirava com tudo aqui.
 
— Eu sei… não é culpa sua! — Tentei acalmá-lo
 
— Eu devia ter te contado… deveria ter sido sincero com você…
 
“Me contando? O que Cas não tinha me contado? O que tanto o
afligia a ponto de fazê-lo delirar?”
 
— Está tudo bem… pode me contar depois, agora precisa
descansar… — Falei confusa.
 
Troquei algumas vezes o pano de sua testa sem poder fazer nada
além daquilo e iniciei uma limpeza com pano úmido por seu corpo.
 
Cas tinha um corpo malhado com tatuagens espalhadas por alguns
pontos e fui limpando seu corpo minuciosamente que reparei que ele tinha
algumas cicatrizes por baixo de algumas delas. Passei o dedo por uma que
parecia ter sido um grande corte e o encarei preocupada, mas me lembrei
que ele mencionou que havia servido ao exército, então era normal ter
algumas marcas de guerra, não era?
 
Já amanhecia quando a febre baixou e Cas se acalmou, voltando a
dormir tranquilamente. Eu voltei a cobri-lo com o cobertor e voltei a me
sentar para descansar depois de horas limpando seu corpo e trocando o
pano.
 
Peguei suas roupas que estavam em um canto e seu celular caiu do
bolso e na tela havia uma mensagem de um número desconhecido.
 
“Cuidado, estão atrás de vocês”
 
Olhei o horário que ela havia sido enviada e tinha sido um pouco
depois de termos saído da fazenda.
 
Olhei para ele deitado ali no chão inconsciente e pensei se seria certo
eu bisbilhotar seu aparelho celular.
 
“Que se dane, vou ver”
 
Tentei desbloquear, mas tinha senha, então voltei a me ajoelhar ao
seu lado e usar sua impressão digital para desbloquear, de primeira não quis
abrir, mas na segunda tentativa desbloqueou e eu senti um frio na barriga
por estar fazendo aquilo.
 
Entrei em seu aplicativo de mensagens e não havia nada, nenhuma
mensagem sequer, até às mensagens que nós havíamos trocado tinham sido
apagadas.
 
Em sua galeria tirando apenas 2 das fotos que eu o havia enviado,
mas não tinha mais nada ali, a única mensagem de texto que tinha era do
desconhecido.
 
“Cuidado, estão atrás de vocês”
 
Passei a mão sobre a testa limpando meu próprio suor quando notei
que a madeira da lareira estava quase no fim, então larguei o aparelho e
corri para pegar algumas toras de madeira e reabastecer a lareira antes que
ela se apagasse.
 
Quando terminei, olhei novamente o aparelho atrás de qualquer
coisa, mas estava totalmente limpo, sem ligações, mensagens, vídeos ou
fotos, nada.
 
“Quem não tem nada no próprio celular?” — me perguntei
estranhando . — “O que Cas, escondia?” Deduzi desconfiada.
 
Vasculhei a cabana a procura se qualquer coisa que desse para comer
e só encontrei feijão enlatado e alguns pacotes de macarrão instantâneo.
 
Olhei a pequena panela de ferro, pensando se realmente alguém
usava aquilo para cozinhar de tão velha que era e que tinha uma aparência
deplorável.
 
Tentei lavá-la da melhor forma possível e coloquei um pouco de água
para ferver.
 
Não era a melhor refeição do mundo, mas sopa de feijão com
macarrão era melhor do que nada.
 
Quando a água ferveu eu acrescentei um dos pacotes de macarrão e
quando estava quase pronto adicionei o feijão.
 
Me sentei próximo a Cas com o pequeno pote, porque não havia
achado nenhum prato e comecei a comer devagar.
 
Quando terminei de comer usei a colher para fazer um caldo grosso
para tentar fazer Cas comer um pouco, usei um pouco dos cobertores para o
inclinar um pouco e fui derramando bem devagar em poucas quantidades o
caldo em sua boca com medo dele engasgar o que realmente aconteceu
algumas vezes, mas eu não desisti e continuei tentando.
 
— Vamos, meu amor, você precisa voltar para mim… — Sussurrei
enquanto inclinava a colher em sua boca para que o caldo descesse — volte
para mim… por favor… — Pedi, e uma lágrima de medo correu pelo meu
rosto.
 
Decidi sair para tentar procurar qualquer tipo de ajuda, mas quando
abri a porta uma rajada forte de vento misturada com a neve forte que ainda
caía entrou batendo a madeira com força e eu tive que me esforçar para
voltá-la a fechar.
 
Eu passei o restante do dia ao seu lado e quando foi de noite a febre
voltou para atormentá-lo e mais uma vez eu me vi desesperada, com medo
de que ele não conseguisse enfrentar aquilo.
 
 
Cas.
 
 
Eu sentia um frio terrível percorrer meu corpo que era sacudido pelos
tremores e alucinava com a febre que queimava minha pele.
 
Sentia uma dor insuportável no abdômen e não conseguia lembrar o
que havia acontecido. Eu me debatia em desespero, incapaz de reagir aquela
sensação de frio e febre ao mesmo tempo.
 
— Cas… — Escutei a voz de Kiara longe.
 
Não conseguia vê-la, e eu corria em meio a escuridão tentando
encontrá-la seguindo o som da sua voz, que me chamava repetidas vezes
com uma voz chorosa.
 
Kiara! —  Chamei desesperado esperando que ela surgisse.
 
— Você mentiu Cas… mentiu para mim e olha o que aconteceu. —
Ouvi ela dizer surgindo em minha mente.
 
Kiara tinha as mãos ensanguentadas e quando olhei em seu rosto ela
vomitava sangue me deixando em choque. Corri até ela, mas quando tentei
abraçá-la tudo virou uma fumaça densa e negra.
 
— Eu não queria… juro que não queria, mas você… não entenderia.
Kiara! — Gritei quando sua imagem apareceu novamente chorando e
voltou a se dissipar.
 
— Eu estou aqui… — Ouvi novamente sua voz.
 
— Me desculpe, juro que não queria isso…
 
— Eu sei… não é culpa sua! — Ouvi ela dizer tão longe que parecia
que estávamos em outra dimensão.
 
— Eu devia ter te contado… deveria ter sido sincero com você… —
Falei.
 
— Está tudo bem… pode me contar depois, agora precisa
descansar…
 
Senti algo frio em minha testa e eu tentei tirar, pois parecia queimar
de tão frio que era, mas logo voltei a dormir desinquieto, pelos fantasmas
do meu passado.
 
— Vamos meu amor, você precisa voltar para mim… volte para mim
Cas… por favor…
 
Eu escutava um sussurro em minha mente a todo momento.
 
“Preciso voltar, preciso vê-la novamente” — pensava comigo
mesmo.
 
Eu lutava para abrir o olho, mas não conseguia, fazer aquele simples
movimento parecia algo impossível naquele momento e depois de algum
tempo tentando eu voltava e mergulhava na escuridão.
 
Eu estava extremamente fraco e me sentia como se tivesse sido
atropelado por um caminhão, pois todo meu corpo estava dolorido.
 
Tentei abrir os olhos devagar, mas a claridade parecia querer me
cegar, causando uma grande dor de cabeça.
 
Não sabia dizer por quanto tempo eu havia ficado apagado. Com
muito esforço consegui abrir os olhos gradualmente. Eu estava em uma
cabana velha, deitado no chão com alguns cobertores velhos cobrindo meu
corpo. Olhei ao redor procurando por Kiara. 
 
Ela está sentada ao meu lado, dormindo desconfortavelmente, com
apenas uma manta jogada em seus ombros e sua cabeça caída para o lado.
Tentei me mexer e senti uma fisgada de dor percorrer todo meu corpo me
fazendo gemer.
 
— Kiara…— chamei quase sem voz, sentindo minha boca seca.
 
Ela se mexeu, abrindo os olhos aos poucos, endireitando a cabeça e
quando me viu acordado parecia não acreditar. Vi seus olhos se encherem
de lágrimas escorrendo por seu rosto triste. Ela levou a mão à boca para
abafar os soluços que fugiam de sua garganta. 
 
— Graças a Deus! — ela disse praticamente se jogando sobre meu
corpo chorando, o que me fez sentir uma dor surreal. — Eu achei…
 
Ela se levantou me encarando com o rosto molhado de lágrimas.
 
— Quanto tempo… estou apagado? — Perguntei vendo seu
desespero.
 
— 3 dias… você teve febre e mal conseguia comer…
 
Kiara mal conseguia se espessar e eu imaginei o desespero que
haviam sido os últimos dias para ela.
 
Olhei ao redor avaliando bem o lugar em que estávamos, a cabana de
madeira velha, parecia o abrigo de algum caçador, eu sabia que havia
algumas pela floresta que só eram utilizadas em temporadas de caça,
ficando abandonadas no restante do ano, mas geralmente eram longe da
estrada, mais para o fim da montanha.
 
— Como nós chegamos aqui? — Perguntei tentando me sentar, mas
Kiara me impediu.
 
— Não se lembra? — Ela perguntou, voltando a me ajeitar.
 
— Só me lembro que estávamos andando, você me ajudou a
caminhar e então eu caí — me recordei do medo que tive.
 
Tive medo de nos encontrarem e Kiara ser pega, medo de morrer e
não poder mais vê-la, mas principalmente eu tive medo dela ser ferida por
minha causa.
 
— Depois disso, eu pensei em tentar voltar para a fazenda — Ela me
contou se ajoelhando ao meu lado — ou pelo menos tentar encontrar alguns
dos atiradores que entrou na floresta naquele dia, mas então, encontrei esse
lugar.
 
— Me arrastou até aqui? — Perguntei surpreso.
 
— Não, você andou a maior parte do percurso e só voltou a cair aqui,
a poucos metros da porta.
 
Eu levantei o cobertor vendo que meu abdômen estava enfaixado
com um pedaço de lençol.
 
— Eu sinto muito por isso… — Ela pediu envergonhada — Eu não
sabia o que fazer e você não parava de sangrar.
 
— O que fez? — perguntei tentando desenrolar a faixa.
 
Kiara não respondeu e me ajudou a tirar a faixa. No lugar onde eu
havia levado o tiro, havia uma queimadura feia que estava coberta por um
tipo de óleo.
 
— Retirou a bala? — Perguntei, pois nunca imaginei que ela seria
capaz daquilo.
 
Kiara afirmou com um aceno constrangido.
 
— Nunca imaginei que conseguiria — Confessei orgulhoso.
 
— Eu vomitei depois — Ela revelou.
 
— O que é isso? — perguntei passando o dedo no resíduo oleoso.
 
— Tinha um pouco de banha em um pote, tive que passar por cima
para o tecido não grudar. — Ela informou.
 
— Você foi maravilhosa — elogiei e Kiara pareceu se alegrar um
pouco. 
 
Eu voltei a enfaixar e ela me ajudou, com toda sua delicadeza.
 
— Você salvou minha vida pequena, se não fosse por você estaria
morto agora… — parei sentindo uma fisgada quando me mexi para tentar
vê-la melhor.
 
— Não se levante ainda, você precisa se recuperar — Falou
enrolando a única manta que a cobria para colocar como apoio em minha
cabeça e isso me comoveu.
 
Kiara tinha uma aparência cansada, não havia passado despercebido
por mim, o pequeno pano e a bacia que provavelmente ela tinha usado para
tentar baixar minha febre, nem que eu estava deitado sobre o que parecia
ser o único colchão, ela havia cuidado de mim, havia passado todo aquele
tempo ao meu lado e eu a amei tanto naquele momento que queria abraçá-la
e beijá-la e dizer o quanto eu a amava.
 
— Obrigado! — Agradeci e vi Kiara começar a chorar, soluçando.
 
— Você… você, me pediu para desistir, e eu senti tanto medo… —
disse em um desabafo — fiquei tão apavorada achando que ia perder
você…
 
— Me desculpe minha pequena… — Pedi com o coração partido,
vendo-a chorar por minha causa.
 
“Porra! Como aquilo me doía, como machucava vê-la chorar.”
 
— Nunca mais me peça para desistir! — Ela disse mudando sua
postura e secando suas lágrimas. — Promete que nunca vai desistir. — Ela
pediu.
 
Olhei no fundo, de seus olhos marejados, que me encarava enquanto
permanecia de joelhos com os punhos cerrados sobre suas coxas.
 
— Eu prometo! — falei comovido por seu desespero.
 
— Ótimo! — Ela disse do nada se levantando. — Agora você precisa
comer alguma coisa.
 
— Conseguiu encontrar alguma coisa para comer aqui?
 
— Sim, temos para o cardápio, macarrão instantâneo, feijão enlatado
ou sopa de feijão, qual você vai querer? — ela disse mostrando a lata de
feijão me fazendo rir, mas me arrependendo amargamente quando os
músculos contraíram.
 
— Acho que a sopa é a melhor opção — falei levando a mão à
barriga, tentando conter a dor. — Mas antes me ajude a sentar.
 
— É melhor que fique deitado — Ela orientou.
 
— Acho que três dias deitado é o suficiente — Falei tentando me
levantar novamente e ela correu para me ajudar a me escorar na parede.
 
Vi Kiara desastradamente tentar fazer uma sopa de feijão e eu me
perguntava como ela não havia colocado fogo naquela cabana nos três dias
que havia ficado apagado. O que também me fazia perguntar onde estavam
meus homens que ainda não haviam me encontrado.
 
— O que foi? — ela perguntou me vendo sério.
 
— Por que estamos aqui a tanto tempo? Por que ainda não nos
acharam? — Formulei as perguntas em voz alta.
 
— Porque faz três dias que não para de nevar — Ela disse mostrando
a pequena janela coberta de neve — Nós nos afastamos muito da estrada, eu
acho — ela disse em um tom preocupado, olhou para um canto onde havia
um punhado de madeira. — Acho que não dura mais um dia — ela revelou.
 
— Essa noite, vamos raciocinar a madeira, dormiremos juntos e mais
próximo à lareira usando o suficiente apenas para mantê-la acesa e a cabana
confortável — Falei e Kiara assentiu sabendo que aquela era a única saída
que tínhamos e eu torcia para que meus homens nos encontrassem logo.
 

 
A noite havia chegado e o frio intenso junto a ela, eu aproximei o
colchão de Cas mais perto da lareira para que ficasse aquecido a noite toda,
mas me recusei a deitar com ele, afinal ele ainda estava ferido e se deitar
com outra pessoa em um colchão tão pequeno poderia machucá-lo.
 
Então me sentei bem próximo a ele, com os joelhos encolhidos sobre
o peito, tentando me aquecer com a manta que havia dormido nas noites
anteriores, mas ainda assim eu tremia sem parar.
 
Apesar do frio que havia passado nas noites anteriores, ainda tinha
bastante madeira para queimar, o que manteve a cabana em uma temporada
suportável, mas com a lenha reduzida, já não estava tão confortável.
 
— Kiara não seja teimosa, deite-se aqui, por favor — ele disse em
um tom de voz que eu não sabia dizer se era um pedido ou uma ordem.
 
— Eu posso te machucar, pois me mexo muito durante a noite —
Falei cobrindo minha boca com a manta que não parava de bater por causa
do frio.
 
— Não vai. Pare de tremer e deite-se aqui — disse se virando com
um pouco de dificuldade, fazendo uma leve careta de dor e levantando a
ponta do cobertor para que eu me enfiasse embaixo.
 
Com muito cuidado eu me deitei de ladinho sentindo um grande
alívio ao sentir o calor do seu corpo seminu me aquecer e eu quase soltei
um gemido de tão bom que aquilo foi.
 
— Estava congelando. — Ele disse esfregando suas mãos sobre meus
ombros para me esquentar.
 
Cas me envolveu com seu corpo bem maior que o meu, me fazendo
sentir quentinha e confortável.
 
Depois de todos aqueles dias com medo e desesperada, estar de volta
em seus braços era a sensação mais reconfortante que já tinha sentido.
 
— Acha que vão demorar para nos encontrar? — Eu perguntei com
uma pontada de medo.
 
Eu havia trocado o curativo durante o dia e sabia que ainda tinha uma
grande chance de infeccionar e que os poucos recursos que tínhamos
estavam no fim.
 
— Eu não sei… Ivan já deveria ter nos encontrado — Ele respondeu
em um tom bastante preocupado — Mas tenho certeza de que ficaremos
bem — Me tranquilizou me dando um beijo um pouco abaixo de minha
orelha
 
— Você está muito tensa — ele disse.
 
Estava morrendo de medo de machucá-lo, e ficava com o corpo
muito duro fazendo meus músculos doerem.
 
— Relaxe Kiara, eu estou bem… — Ele pediu.
 
— Não consigo relaxar enquanto estou deitada no mesmo colchão
com você machucado — Falei tentando me endireitar.
 
— Eu tenho um método infalível para fazê-la relaxar — disse e sua
mão deslizou por dentro de minha blusa alcançando o bico de meu seio.
 
— Cas… sabe que não podemos — falei com pouca convicção já
sentindo meu corpo reagir a seu toque.
 
— Não vamos fazer nada pequena, apenas quero que relaxe e me
deixe cuidar de você um pouco — ele falou e sua mão desceu por minha
barriga devagar, fazendo minha respiração aumentar conforme ele se
aproximava mais e mais de minha intimidade.
 
Cas introduziu sua mão por dentro de minha calça, mas encontrou
dificuldade pôr causa da roupa e da pouca lubrificação que eu ainda me
encontrava.
 
— Tire sua calça Kiara — ordenou.
 
— Cas…
 
— Não quer que eu a tire né? — Ele perguntou desafiador e eu o
obedeci.
 
Cas levou seus próprios dedos a boca lubrificando com sua saliva e
aquilo me fez latejar.
 
“Meu Deus, o que aquele homem fazia comigo?”
 
Era tão fácil me entregar à luxúria com ele, tão natural querê-lo a
todo momento e bastava uma única iniciativa que meu desejo se espalhava
como fogo sobre a palha.
 
Cas voltou a tentar e seus dedos se deslizaram por entre meus lábios,
afundando em mim me fazendo gemer, mas apesar de tudo aquele tesão que
me consumia eu não conseguia me entregar 100%, não quando eu sabia que
ele estava ferido e que a qualquer movimento incalculado meu poderia
machucá-lo.
 
— Só relaxe — ele pediu encontrando meu clitóris e começando uma
massagem intensa em meu ponto inchado. — Me permita isso, Kiara — ele
pediu aumentando os momentos.
 
Eu tentava não me contorcer, e gemer, enquanto Cas se empenhava
em me proporcionar aquele momento, então depois de alguns minutos eu
me entreguei aquele momento permitindo que ele me levasse ao orgasmo.
 
A intensidade do prazer, misturada à exaustão dos três últimos dias,
me levaram a cair no sono rapidamente.
 
Eu acordei no dia seguinte ouvindo um barulho fraco e longe de
vozes.
 
Me levantei em um pulo, o que fez Cas acordar.
 
— O que foi?
 
— Ouvi alguma coisa! — Falei colocando minhas calças de qualquer
jeito em total desespero.
 
— Kiara espere! — Mas eu não dei ouvidos e corri para pegar
minhas botas que estavam em um canto.
 
— Kiara você não sabe quem é — Cas disse tentando se levantar.
 
— Você fica aqui, eu vou ver o que é — Corri para fora sem esperar
para ouvir o que ele dizia.
 
Havia muito mais neve do que eu imaginava e meus pés afundavam
no frio. Vi alguns homens no meio da floresta com grandes agasalhos e
toucas.
 
— Aqui!  Aqui! — Gritei sacudindo os braços chamando a atenção
deles.
 
Um deles me viu de longe e chamou os outros para olharem também,
então eu reconheci a voz de Ivan quando ele gritou:
 
— Achamos! — e correu em minha direção e eu nem conseguia
acreditar.
 
— Kiara! Onde Cas está!? — ele perguntou assim que se aproximou,
foi então que me virei para a cabana vendo que ela estava quase totalmente
coberta pela neve e como ficava encostada em um barraco mal dava para
enxergá-la, então eu apontei para a porta que estava aberta.
 
Em poucos minutos havia quase 20 homens ali. Cas foi removido e
carregado por seus homens em uma maca e eu fui aquecida com cobertor
térmico e um chocolate quente.
 
Enquanto éramos levados para o hospital, eu só conseguia pensar em
como me sentia aliviada em saber que Cas ficaria bem.
 
— Você cuidou dele — Ivan me disse enquanto estávamos dentro a
ambulância — Eu não sei como agradecer — disse parecendo
envergonhado.
 
— Eu não faria de outra forma — Falei segurando a mãos de Cas.
 
— Acho que te devo um pedido de desculpas — ele falou e eu
estranhei. — Nunca achei que você fosse a mulher certa para ele, mas acho
que estava errado. — Confessou.
 
— Não sei se mereço ele, ou se sou ou não a mulher certa, a única
coisa que sei, é que eu o amo. — Respondi vendo Cas dormir serenamente.
 
— Eu acredito e espero que seja o suficiente — Ivan disse me
deixando confusa, mas não perguntei o que ele queria dizer, apenas queria
que tudo acabasse logo.
 
 
Capítulo 35
 
 
Acordei em um hospital depois de Ivan e meus homens terem nos
encontrado na mata, Kiara ainda estava no quarto comigo e dormia
encolhida no canto deitada um pequeno sofá para acompanhante.
 
— Que bom que finalmente acordou — Meu amigo disse chamando
minha atenção para ele.
 
— Desde que horas ela está aqui? — perguntei apontando para Kiara.
 
— Ela nunca saiu — ele revelou. — Falei que também deveria ser
atendida e pedi para que fosse para casa descansar, mas ela se recusou.
 
— Por que demoraram tanto? — questionei me ajeitando na maca —
Eu quase morri naquele lugar, se não fosse por ela…
 
— Depois do tiroteio o lugar foi interditado pela polícia, ficamos de
mãos atadas — Ivan se justificou — E com a tempestade de neve ficou
difícil saber a direção que tinham tomado.
 
Ivan olhou em direção a Kiara para conferir se ainda dormia.
 
— Com você baleado, nunca imaginei que ela conseguiria ter te
levado tão longe da estrada.
 
— Ela fez muito mais que isso meu amigo, ela me salvou — Falei
com o peito transbordando orgulho.
 
— Sim, acho que realmente me enganei a seu respeito — Ele
confessou.
 
— Sr Orlov, que bom que já acordou, porque tem alguns polícias que
querem falar com o senhor. — Uma enfermeira avisou entrando, de forma
nada delicada na sala verificando, minha medicação e acordando Kiara.
 
— Você acordou… — Ela disse se apressando em se levantar e vir
até a mim. — Como você está? — Perguntou preocupada.
 
— Bem, graças a você — Falei pegando em sua mão com carinho —
O que ainda faz aqui? — Perguntei delicadamente passando o polegar em
uma pequena sujeira em seu rosto.
 
Na cabana não era possível tomar um banho direito já que tinha que
aquecer água para conseguir limpar o corpo e com o frio que fazia tornava
quase impossível um banho decente.
 
— Vá para casa minha pequena, tome um bom banho, faça uma boa
refeição e descanse. Eu ficarei bem agora e estarei bem aqui quando você
voltar — garanti acariciando seu queixo.
 
— Eu não queria deixá-lo sozinho… — Ela disse com um tom de
voz meigo, mas que denunciava sua exaustão.
 
— Não precisa mais se preocupar comigo — Falei — Leve-a para
casa — Ordenei a Ivan e ele assentiu prontamente.
 
— Volto mais tarde — Kiara prometeu ainda receosa de me deixar.
 
Quando Kiara saiu acompanhando Ivan, o detetive Marques e seu
parceiro passaram por eles na porta de entrada.
 
— Sr. Orlov, acabamos nos esbarrando novamente… — Marques
disse se aproximando do meu leito.
 
Meus seguranças que estavam na porta me olharam em uma pergunta
silenciosa se deveriam se aproximar e eu neguei com um aceno discreto,
mas que não passou despercebido do detetive que olhou em direção a porta.
 
— Encontrou seu amigo Heron? — Perguntei me sentando.
 
Graças aos analgésicos eu não sentia mais dor, além de um leve
desconforto, nada do que eu já não tivesse acostumado.
 
— Heron não é meu amigo! — O detetive foi rápido em responder.
 
— Desculpe! — Pedi — Mas como você me pareceu empenhado em
encontrá-lo achei que fossem colegas de trabalho.
 
— Só tento levar meu trabalho a sério, Sr. Orlov — O detetive disse
enquanto seu parceiro dava uma vasculhada pelo quarto, como se fosse
achar alguma coisa ali.
 
— Mas no que posso ser útil… — Falei.
 
— Gostaríamos de saber o que exatamente aconteceu? — Ele
perguntou.
 
— Achei que já tivesse falado com meus homens.
 
— Sim, mas quero ouvir sua versão e da senhorita Kiara — Ele falou
me deixando desconfortável.
 
Não queria Kiara envolvida em nada daquilo e não deixaria eles a
incomodar depois de tudo que havia passado.
 
— A única coisa que sei é que fomos atacados, quando voltávamos
para casa — revelei.
 
— De onde exatamente vocês vinham? — foi seu parceiro que
perguntou.
 
— Deu um estande de tiro ao ar livre — respondi sem receio.
 
— Costuma ir lá?
 
— Na verdade, era a primeira vez que íamos, eu estava ensinando
Kiara a atirar.
 
— O senhor tem uma arma, Sr. Orlov?
 
— Não só uma, tenho algumas, mas são todas legais, pode conferir se
quiser.
 
Realmente todas as armas que eu levava comigo ou tinha em casa
eram todos registradas, não me arriscaria em ser pego com uma sem
registro.
 
Os detetives se entreolharam, sabendo que aquilo era só uma fachada.
 
— E você sabe quem os atacou — Marques perguntou.
 
— Como sabem, venho de uma família importante e não é o primeiro
atentado que sofremos.
 
— Sim, pelo que consta nos registros, sua família sofreu vários
atentados nos últimos anos — ele falou em um tom de voz que sugeria que
não acreditava naquilo.
 
— Dinheiro detetives, as pessoas fazem tudo por dinheiro —
respondi.
 
— E onde exatamente o Sr. E a Sta. Kiara ficaram todo esse tempo.
 
Eu já estava me cansando de tantas perguntas, e de rodeios que não
chegaria a lugar algum.
 
— Digam-me detetives o que exatamente vocês querem saber? —
Falei calmante, mas sem um pingo de paciência.
 
— Depois do atentado, foi feito um pedido de interdição da estrada e
logo depois não encontramos nenhuma prova, nada que comprovasse que
ali havia acontecido um atentado… então me diz Sr. Cassino, como isso é
possível?  
 
— Acho que essa pergunta eu que deveria fazer, vocês não acham?
 
— Você quer nos convencer de que não tem nada a ver com isso? —
O William disse.
 
— Sem dúvida não, afinal eu seria o primeiro a querer que o
responsável fosse pego, por que eu iria querer esconder isso de vocês?
 
Eles voltaram a se olhar e Marques respirou fundo colocando a mão
na cintura.
 
— Eu espero não encontrar um corpo boiando nos rios da cidade, Sr.
Cassiano — Ele falou em um tom de advertência.
 
— Não se preocupe, detetive Marques, “não haverá um corpo”! —
Prometi em um jogo de palavras de duplo sentido.
 
Eles entenderam exatamente o que eu havia insinuado e o detetive
sorriu para mim e se aproximou tentando se mostrar ameaçador.
 
— Eu não vou permitir que você transforme essa cidade em sua
guerra particular — ele disse em um tom baixo e ameaçador.
 
— Acho que é um pouco tarde para isso, detetive. — Rebati — E
agora se não tiverem mais nenhuma pergunta, peço que se retirem, como
devem saber tive dias bem cansativos. — Pedi e dois de meus seguranças
entraram para garantir de que realmente eles não me incomodariam mais.
 
Depois que os dois detetives saíram, peguei meu telefone para ligar
para Ivan, mas fui interrompido por outra visita.
 
— Achei que ficaria mais feliz em me ver — Meu irmão disse
entrando com 4 de seus homens, me vendo ainda parado, surpreso com sua
presença ali.
 
Eu não respondi, não sabia exatamente o que Boris fazia ali o que me
deixava com algumas suspeitas.
 
— Como se sente?
 
— Não acredito que deva estar realmente preocupado — falei
começando a acreditar que talvez ele tivesse tentado me matar.
 
— Não foi eu, se é o que está pensando — Ele esclareceu.
 
Boris podia ser muita coisa, mas mentiroso não era uma delas.
 
— Então o que está fazendo aqui? Me ver que não é! — falei
firmemente.
 
— Precisa se cuidar melhor Cas… prestar atenção nas pistas que te
dão… — Boris disse em um tom baixo se sentando no pequeno sofá onde
Kiara dormia antes.
 
Eu o encarei tentando decifrar o que ele dizia. Às vezes era cansativo
conversar com Boris, ele nunca era direto e sempre falava entre linhas.
 
— Você que me mandou a mensagem? — perguntei me lembrando
da mensagem que havia em meu celular quando recobrei a consciência.
 
— Não sei do que está falando — Boris disse com um meio sorriso.
 
Sim, havia sido ele!
 
Boris não queria se envolver, tecnicamente éramos inimigos agora,
mas ainda assim ele havia tentado me alertar. Do seu jeito frio e torto, mas
tinha tentado.
 
Boris se levantou e veio até a mim e me entregou um pequeno
caderno, eu olhei para ele não entendendo e estendi a mão para alcançar e
quando abri, meus olhos tremeram sobre a folha com aquela caligrafia
única e de difícil entendimento, mas que eu conhecia muito bem.
 
“Era da minha mãe”
“O diário dela”
 
Voltei a encarar meu irmão que por um segundo pareceu se
emocionar.
 
— Ela foi uma mãe para mim também — falou baixo — E ela queria
mais para você — Boris disse antes de se virar e ir embora, me deixando ali
estarrecido com o que havia acabado de acontecer.
 

 
Eu segurava o pequeno caderno com capa de couro, ainda com a
caneta que ela costumava usar quando em seus raros momentos ela tirava
para escrever nele.
 
Eu não sabia ao certo qual sentimento me tomava naquele momento,
mas eu hesitava em abri-lo. Tinha a sensação de que seria como abrir uma
caixa de Pandora.
 
— Sr. Está tudo bem? — meu segurança perguntou.
 
— Saiam — Ordenei sem olhá-lo, ainda encarando aquele pequeno
objeto.
 
Esperei que meus homens passassem pela porta para destravar a
fechadura de metal.
 
As folhas já um pouco amareladas pelo tempo e sua caligrafia não tão
bonita me trouxeram uma certa melancolia, sem que eu precisasse ler uma
palavra sequer.
 
Abri em uma página qualquer do centro e comecei a ler sentindo meu
coração doer.
 
“Não sei mais como viver sabendo qual será o futuro de Cassino.
Meu doce menino de coração bom e protetor sendo corrompido dia
após dia pela maldade desse mundo em que eu o coloquei”
 
Passei mais algumas páginas.
 
“Hoje foi a iniciação do meu menino e eu fui obrigada a ver o
brilho dos seus olhos morrer com a dor do que foi obrigado a fazer”
 
Eu me lembrava claramente daquele dia.
Meu pai havia me dado uma ordem e eu não tinha mais do que 8 anos
de idade.
Ele trouxe um homem que foi jogado aos meus pés e me mandou
matá-lo, de início eu não tive coragem, mas ele insistiu e quando eu me
recusei ele disse que se eu não fizesse minha mãe sofreria as
consequências. 
 
Ele não era de bater nela, mas eu não duvidava de suas ameaças.
 
Passei mais um punhado de folhas quase chegando ao final.
 
“Como posso me perdoar? Como não me consumir por essa
escuridão que me cerca? Hoje vi cassino quase ser espancado para
defender um animalzinho e eu me pergunto quanto tempo sua bondade
suportará”
 
As lembranças vieram… foi um pouco antes dela se suicidar, um
filhote entrou na mansão a procura de algo para comer e meu pai ordenou
que o matasse eu tolo como ainda era na época entrei na frente protegendo-
o com meu próprio corpo, o que eu ganhei foram alguns chutes na costa e a
satisfação do bicho ter conseguido fugir no meio da confusão.
 
Minha mãe tentou me defender, mas foi brutalmente impedida.
 
Passei para as últimas páginas com um grande nó na garganta.
 
“Qual é meu propósito neste mundo afinal?
 
Para que eu sirvo se não posso protegê-lo? Se sou uma mera
espectadora de sua vida, vendo tudo que há de bom nele morrer e não
posso fazer absolutamente nada a respeito.
Que serventia tenho para meu filho?
 
Espero que um dia ele entenda e me perdoe pelo que fiz, mas
Cassino merecia muito mais que isso, merecia um amor que nunca
poderei dar, mesmo sabendo que ele está aqui armazenado em meu
peito quase explodindo.
Estou cansada…”
 
Na página seguinte vinha o que eu mais temia, uma carta direcionada
a mim.
 
“Cas… me perdoe meu filho, eu nunca fui para você o que
precisava.
Eu não pude te defender, e pude te consolar, não pude guardar
sua inocência, mas eu sei que, no fundo, entre toda essa maldade que
estão plantando em você ainda existe aquele menino doce e protetor
que um dia alguém vai saber lapidar.
 
Nessa hora uma lágrima correu por meu rosto molhando o papel
 
Pedi a Boris que cuide de você e faça o que eu nunca pude, te
proteger e saiba que mesmo em meio a tanta dor que sinto a única coisa
boa que tive foi você” — Ela finalizou com a frase que me disse a vida
toda.
 
Eu me levantei correndo, tirando os acessos, das medicações que
tomava.
 
— Prepare o carro — Falei para o meu segurança.
 
— Mas chefe… — Ele parou de falar quando viu que eu não estava
de brincadeira — peçam para localizar meu irmão! — Ordenei.
 
— Sim, chefe!
 
Coloquei a primeira roupa que encontrei na frente e sai sem nenhuma
autorização médica.
 
Meu irmão estava hospedado no mesmo hotel em que havia levado
Kiara, quando nós nos conhecemos e eu fui direto para o seu quarto.
 
— Não pode entrar… — Seu segurança disse e eu saquei uma arma e
encostei na sua cabeça sem paciência, os outros dois sacaram as suas
pistolas, mirando para mim e meus homens fizeram o mesmo.
 
— Eu mato você, seus colegas me matam e meus homens os matam e
todo mundo vai sair perdendo, ou você me deixa passar para conversar com
meu irmão e em troca… — Falei tirando a arma da sua cabeça e oferecendo
a ele — eu entro desarmado e sozinho, o que diz?
 
Eles me olharam desconfiados e pensando o que Boris faria com eles
por aquilo, mas no final me deixaram passar.
 
Eu entrei no quarto e Boris estava no banheiro tomando banho e eu
me sentei e esperei.
 
— Você sabia… — Eu falei ainda segurando o diário quando ele
saiu.
 
— Porra, não fode! — Boris disse se assustando.
 
Boris usava uma toalha de banho enrolada na cintura e me encarou
por um longo tempo e depois de se acalmar, disse:
 
— Eu não sabia o que ela ia fazer… Ela chegou para mim um dia e
pediu para que eu o protegesse, então…
 
— Foi por minha causa… — Eu falei mostrando o diário, não sabia
se ele já tinha lido.
 
— Esse não era um mundo para ela Cas… ela está melhor agora —
Sabia que ele não acreditava naquilo. — Eu prometi a ela que cuidaria de
você, mas quebrei minha promessa — Bóris disse se sentando com as mãos
no joelho. — Eu achei que te afastar era o melhor caminho, mas você ficou
lá, como um cão fiel, leal como sempre foi, então o enviei para cá achando
que te jogando no fundo do poço talvez você desistisse — Boris disse com
um sorriso que eu não soube decifrar se era de zombaria ou de orgulho —
Mas olha para você agora… 
 
Boris não chorava, se mantinha frio, mas ainda assim pela primeira
vez eu pude ver a dor em seus olhos.
 
— Você tem um coração igual ao dela Cas — Boris me comparou a
minha mãe.
 
— Não sou tão fraco quanto você pensa! — Falei.
 
— Não, realmente não é, você é um assassino, não nego isso, que
mataria pelos que ama, mas ainda assim tem muito amor dentro de você —
Ele disse como se aquilo fosse uma fraqueza e talvez realmente fosse.
 
— Aproveite a oportunidade que a vida está lhe dando Cas, cumpra o
desejo de sua mãe. — Ele sugeriu e eu me levantei sentindo uma mistura de
raiva e dor.
 
— Você não sabe nada sobre mim, e também não sabe nada sobre a
minha mãe! — Falei me levantando.
 
— Sabe o que ela me disse naquele dia… — ele começou a dizer
antes que eu saísse — “Não permita que eles o corrompe” — ele me disse
enquanto eu ainda permanecia de costas para ele.
 
Eu me virei para Boris o encarando.
 
— Eu tentei Cas… tentei por ela… — ele falou se referindo a ter me
afastando por todos aqueles anos.
 
— Eu só tinha você! — Eu o acusei.
 
— Eu não era o suficiente.
 
— Éramos irmãos! — falei mais alto.
 
— Mas não era o suficiente… — continuou a me olhar e eu não sabia
ao certo o que sentia naquele momento. — Você merece mais que isso
Cas… merece mais que essa vida que levamos.
 
— O que quer dizer? Seja claro, pare de falar por entre linhas! —
exigi
 
— Gosto da vida que levo, sinto prazer no que faço Cas, mas e você?
Pode dizer o mesmo? — Boris perguntou.
 
Eu não tinha uma resposta e me mantive calado.
 
— Sei o que está pensando, e não é nada disso.
 
Na verdade, eu não estava pensando em nada, mas fiquei curioso.
 
— E o que exatamente eu estou pensando?
 
— Que quero te afastar da liderança dessa nova organização, que
aliás devo te dar os parabéns — Boris disse orgulhoso — Fez um ótimo
trabalho aqui.
 
— Eles confiaram em mim — Justifiquei.
 
— E você cumpriu sua parte, os trouxe para cá, levantou uma nova
organização do zero… só pense Cas — Boris sugeriu. — Não importa qual
decisão vai tomar, continuaremos sendo irmãos.
 
Eu o olhei e Boris parecia realmente sincero no que dizia, mas eu não
respondi, não me despedi, apenas me virei e fui embora. Tinha muito o que
pensar.
Capítulo 36
 
 
Quando entrei na mansão de Cas eu sentia que meu corpo estava
deteriorando de tão cansada que eu me encontrava, todo o cansaço, a
tensão, e o esforço que havia passado nos últimos dias decidiram pesar tudo
de uma só vez.
 
Me arrastei até o banheiro e tirei minhas roupas e entrei debaixo do
chuveiro quente. O alívio que senti era algo surreal.
 
A água morna corria sobre o meu corpo, relaxando os músculos
tensos e doloridos e o simples fato de ter um sabonete para tomar banho era
reconfortante.
 
Não demorei debaixo do chuveiro, estava cansada demais para ficar
fazendo hora.
 
Peguei a toalha branca, apreciando maciez.
 
Tudo parecia muito melhor do que eu me lembrava, o conforto de
uma casa aquecida naquele frio, a água encanada e aquecida, as toalhas,
meu pijama, tudo ali parecia ter uma sensação única depois dos longos dias
que havia tido.
 
Me enfiei devagar debaixo dos cobertores, meu último pensamento
foi enviar uma mensagem para Cas.
 
*KIARA*
 
“Já estou em casa, vou descansar um pouco e volto em algumas
horas.
Te amo”
 
Antes mesmo de receber sua resposta eu já havia adormecido
confortavelmente.
 
Quando a acordei horas depois e me levantei para me trocar e voltar
ao hospital.
 
Eu não esperava ter dormido por tanto tempo e já era quase noite,
corri até o closet e dei um grito quando bati meu pé na quina na cama.
 
— Kiara, o que aconteceu? — Cas entrou com uma arma em mãos
enquanto eu pulava em um pé só segurando o outro.
 
— Eu bati meu pé — Respondi quase chorando me sentando na
cama.
 
— Deixe-me ver… — ele disse guardando sua arma e vindo ao meu
encontro se ajoelhando aos meus pés e só então fui me dar conta de que ele
não deveria estar ali.
 
— O que está fazendo aqui? — perguntei me esquecendo um pouco
da dor.
 
— Me dei alta! — ele disse como um menino birrento.
 
— Se deu alta? Acha que isso é bonito? — perguntei, lhe dando uma
bronca — depois de tudo que passamos?
 
Nesse momento um segurança apareceu na porta que estava aberta,
deu uma boa olhada para Cas, que o dispensou e ele voltou no mesmo
instante.
 
— Eu já estou melhor — ele justificou — Isso porque tive uma ótima
enfermeira — Cas falou me puxando para si, tentando me convencer a
esquecer o assunto.
 
— Eu sou uma péssima enfermeira e você deveria ter ficado no
hospital se recuperando.
 
— Não preciso disso, eu só preciso de você! — Cas revelou olhando
no fundo dos meus olhos e eu pude enxergar lá, no fundo uma nota de
tristeza.
 
— O que foi? Aconteceu alguma coisa? — perguntei.
 
Ele respirou profundamente, antes de responder.
 
— Boris foi me visitar no hospital — revelou em um tom cansado.
 
— E?
 
— Ele me entregou o diário da minha mãe…
 
— Cas… eu sinto muito… — Falei me lembrando que ela havia me
dito que sua mãe tinha tirado sua própria vida.
 
Eu imaginava o quanto aquilo deveria ser difícil para ele. Ter algo tão
pessoal de sua mãe deveria despertar lembranças muito dolorosas.
 
— Mas pense pelo lado positivo, pelo menos você tem algo dela.
Não me sobrou nada da minha para que eu me lembrasse — Falei o
abraçando.
 
— Você não existe pequena — Ele falou beijando o topo da minha
cabeça.
 
— Venha, vamos fazer alguma coisa para você comer — chamei.
 
— Eu acho melhor não, já experimentei sua sopa e espero ser a
última coisa que eu precise comer feito por você. — Ele reclamou.
 
— Você não reclamou — avisei me afastando.
 
— Não queria ferir seus sentimentos — ele alegou.
 
— Há, que ótimo! Então você cozinha — Afirmei.
 
— Acho melhor deixarmos isso para Ellie — ele falou rindo.
 
E eu senti uma emoção estranha invadir meu peito vendo-o brincar,
mesmo quando eu sabia que seu coração estava em pedaços.
 
Parecia algo tão certo tê-lo ali, parecia uma coisa tão boa pra mim
que eu tomei uma decisão, no dia seguinte eu iria á delegacia com todas as
provas que tinha contra Heron e colocaria um ponto final naquilo de uma
vez por todas.
 
— No que está pensando — Cas perguntou quando me viu encará-lo
encantada por aquele momento.
 
— Em como eu sou sortuda, de todos os carros que tinha na
Inglaterra eu ter entrado justamente no seu. — Falei em um tom sério e
emocionado.
 
Cas mais uma vez me puxou pela cintura, colando nossos corpos e
roçando nossos lábios um no outro tão suavemente que causou uma leve
cócega.
 
— Acho que somos dois, então... — ele sussurrou antes de
aprofundar seus lábios nos meus em um beijo saboroso e quente.
 
— Cas… — falei já me sentindo afetada com aquele desejo que eia
aquecendo meu corpo aos poucos. — Precisamos comer alguma… —
Justifiquei.
 
— Sim… tem uma coisa que eu quero muito comer Kiara… — disse
com um olhar carregado.
 
— Você ainda não pôde se esforçar assim — tentei colocar algum
juízo em sua cabeça.
 
— E quem disse em se esforçar? — ele falou indo até a cama e se
deitando nela com as mãos atrás da cabeça e fez um pequeno aceno para
mim, em uma ordem silenciosa de que o restante seria comigo.
 
Eu ri desacreditando da cena que se desenrolava ali e o encarei
levantando uma sobrancelha.
 
— Eu? — perguntei apontando para mim mesma e ele afirmou com
um sorriso maroto.
 
Fui até a porta que ainda estava aberta e a encostei, virando a chave
para trancar.
 
— Então você quer que eu faça isso? — perguntei indo até a cama e
começando a engatinhar sobre seu corpo — e isso? — passei os lábios por
seu pescoço começando a desabotoar sua camisa.
 
— Já é um bom começo — Ele disse levando as mãos em meus
cabelos, mas eu o impedi.
 
— Hoje só eu trabalho, lembra? — Falei segurando suas mãos sobre
sua cabeça e Cas riu da minha tentativa de parecer dominante.
 
Abri sua camisa vendo a faixa do curativo feito pelas enfermeiras do
hospital e comecei a beijar de leve seu peito descendo até chegar naquele
ponto, depositando beijos suaves sobre a atadura, descendo mais e mais até
encontrar o cinto da sua calça.
 
Desabotoei seu cinto e o botão de sua calça passando a língua
naquele ponto ouvindo a respiração de Cas acelerar com a sensação.
 
— Hoje eu vou cuidar de você Cas…, mas só porque está doente —
Soprei bem próximo ao seu abdômen começando a tirar sua roupa.
 
Baixei sua calça expondo seu membro já duro, que saía um pré-gozo
e passei o dedo em sua cabeça espalhando sua lubrificação e massageando
lentamente seu pau…
 
Cas tinha um olhar intenso, aguardando pacientemente meu próximo
movimento, travando o maxilar na expectativa.
 
Usando apenas a ponta da língua, deslizei pela base de sua glande
sentindo seu corpo estremecer, me fazendo ficar satisfeita com sua reação.
 
Levei seu pau a boca e ele baixou suas mãos em minha cabeça
desesperado demais para se manter imóvel e eu parei novamente levantando
suas mãos.
 
— Se a tirar daí novamente paro na mesma hora — Ameacei.
 
— Como pode ser tão má? — ele falou me fazendo rir, então voltei
devagar por seu peito até alcançar novamente seu p… e o levantamento
fundo em minha garganta, mas Cas era grande e grosso demais para cabeça
totalmente em minha boca.
 
Deslizava meus lábios por seu membro quente e pulsante, usando
minha mão para massageá-lo até a base em um vai e vem molhado e lento
que fazia ele gemer a cada sugada.
 
— Ohhh… Kiara… — Ele gemeu meu nome me fazendo pulsar.
 
Eu desejava com toda força montá-lo, mas sabia de suas condições e
não queria feri-lo.
 
Aumentei meus movimentos, estimulando cada vez mais seu membro
com as mãos, até Cas pulsar em minha boca gozando em grande quantidade
me fazendo provar seu prazer.
 
— Agora é a minha vez — Cas disse me puxando pelas pernas me
fazendo soltar um gritinho.
Capítulo 37
 
 
Já era tarde e Kiara havia voltado a dormir depois de eu ter retribuído
com gosto o prazer que ela havia me proporcionado.
 
Eu a deixei sobre a cama descansando e fui ver o que meus homens
queriam comigo.
 
— O que foi? — Questionei ao sair para fora.
 
— Boris quer falar com o senhor — meu soldado disse.
 
— Boris? Aqui? — questionei surpreso e meu segurança confirmou
apontando para o depósito que tínhamos na propriedade um pouco distante
da casa.
 
Andei a passos largos até ele e quando entrei encontrei meu irmão
sentado em uma cadeira de pernas cruzadas jogando com alguns dos meus
homens.
 
Meus soldados se levantaram em sinal de respeito assim que entrei
no galpão.
 
— O que faz aqui? — questionei.
 
— Vim lhe trazer um presente — Boris disse apontando para um
canto onde tinha um homem amarrado.
 
— Quem é esse? — perguntei indo até o homem que não podia ver o
rosto porque estava jogado no chão de costas.
 
Quando me aproximei e virei seu corpo, me surpreendi vendo Ryou,
filho do chefe da máfia japonesa.
 
— Que merda tá acontecendo? — perguntei a meu irmão que se
levantou tranquilamente.
 
Boris foi até Ryou e puxou a fita adesiva de sua boca sem nenhuma
delicadeza.
 
— Quer contar ou eu conto? — Ele perguntou ao japonês.
 
— Vocês estão… — Boris não permitiu que ele terminasse e voltou a
colocar a fita.
 
— Então deixe que eu conto.
 
— Depois do trato que você fez com o pai dele — Falou dando um
leve chute em Ryou que se debateu furioso — O filhinho de papai voltou
para casa com o rabo entre as pernas, mas quando chegou no Japão ao invés
do pai cotar-lhe os dedos como era previsto ele foi rebaixado a um mero
soldado da máfia japonesa, desonrado como filho e a irmã mais nova
assumiu seu posto como sucessora da máfia. — Boris falou acendendo um
cigarro e dando um longo trago. 
 
— Então ele achou uma boa ideia voltar e tentar se vingar — Boris
finalizou, fazendo meu sangue ferver de raiva.
 
Então ela havia armado a emboscada?
 
— Achou que podia me matar? — Falei desferindo um chute forte
em seu estômago. — Você cometeu um erro terrível voltando aqui! Tá
escutando, miserável. — Falei o chutando novamente.
 
Eu entendia seus motivos para Ryou ser desonrado da família
principal era pior que a morte, mas então eu daria a ele a honra de uma
morte digna de um cão.
 
Dei ordens aos meus soldados para que o colocassem de joelhos e
dois dos meus soldados fizeram o que eu havia pedido, Boris observava
tudo de perto.
 
Eu retirei a fita de sua boca e o encarei.
 
Ryou me olhava com ódio e frieza, sem poder fazer nada em sua
situação.
 
Pedi discretamente para um de meus homens pegar um silenciador
para mim, não queria que ninguém ouvisse tiros.
 
— Eu fiz um acordo com o seu pai — Falei pegando a minha arma
— Mas esse acordo acabou no exato momento em que você colocou os pés
aqui novamente — eu o avisei conectando o silenciador.
 
Eu sentia a raiva crescer dentro de mim, lembrando o que Kiara tinha
sido obrigada a passar por causa daquele verme.
 
— Você acha que me assusta? Acha que tenho medo de morrer? —
ele perguntou com um sorriso de merda no rosto e eu o golpeei com força
arrancando um dente.
 
— Não… só morrer é pouco para você — respondi sua pergunta me
abaixando para encará-lo.
 
Apontei para meu soldado que filmava tudo.
 
— É por vergonha que você voltou aqui não foi? — Questionei
segurando seu rosto fazendo ele me encarar — Eu vou levar tanta vergonha
ao seu nome, que as pessoas no seu país terão receio de pronunciá-lo, seu
nome será tão vergonhoso que os pais vão querer tirar esse nome de seus
filhos, suas fotos serão retiradas dos murais e ninguém fará o Otsuya para
você — falei me referindo ao ritual fúnebre que eles realizavam no Japão
— Você será esquecido e se houver um pós morte até os mortos sentiram
vergonha de você e negaram que um dia já te conheceram.
 
Ryou cuspiu o sangue que se acumulava em sua boca com desprezo.
 
Peguei o telefone e liguei para o seu pai, o velho de olhos puxados e
pele enruga atendeu já sabendo do que se tratava.
 
Não falamos nada, eu apenas mostrei a imagem de seu filho, mais
uma vez de joelhos e sua irmã começou a falar em japonês no fundo.
 
— Fizemos um trato e você me deu sua palavra — Eu falei e logo
seu rosto foi substituído por uma jovem de cabelos curtos com mechas
azuis.
 
E ela falou em seu idioma para que o irmão ouvisse se ele não se
cansava de sujar o nome da família e sentia vergonha de ser sua irmã.
 
— Ele pode ter quebrado sua palavra, mas eu não vou quebrar a
minha — Falei entregando o celular para um de meus homens e apontei a
arma para sua cabeça.
 
Sua irmã hesitou por um momento e tudo ficou em total silêncio e
tanto eu quanto Ryou ainda podia ver o velho do lado de sua irmã.
 
A garota que parecia não ter nem 19 anos recebeu um sinal de seu
pai.
 
— Eu não o reconheço, faça o que achar melhor — Ela respondeu
friamente desligando a chamada e ele se espantou.
 
Eu sorri vendo a decepção em seu olhar e fiquei ali apreciando o
gostinho de vê-lo se quebrar.
 
— Era disso que eu estava falando — Eu disse rindo bem próximo a
ele. — Você acha que ser rebaixado foi o pior que lhe podia acontecer? —
Falei dando uma joelhada em seu rosto quebrando seu nariz.
 
Eu disparei um tiro em seu ombro e Ryou gemeu de dor.
 
— Achou que podia vir atrás de mim e da mulher que eu amo? —
Falei enfiando o polegar em seu ferimento e ele lutou para não gritar.
 
Eu tirei meu dedo e limpei em um pequeno pano que me foi
oferecido.
 
Boris olhava de longe sem se envolver, sorrindo e comendo uma
maçã.
 
— Você não é um homem honrado — Ele faltou me encarando. —
Faço parte da família principal e mereço uma morte digna — Ele disse
endireitando o corpo igual seus ancestrais faziam, como se fosse uma
exigência
 
— Você tá brincando com a minha cara? — Perguntei puxando seus
cabelos rosnando em seu ouvido — Honra, dignidade? Você vem na minha
casa, tenta me matar, matar minha mulher e está me falando em honra? —
falei soltando seus cabelos o fazendo cair de frente, mas meus homens logo
o levantaram. — Eu queria arrancar sua pele e guardar seu coro como
recordação em uma moldura em minha sala com as seguintes frases.
 
“Isso é o que sobrou de Ryou o imbecil que achou que podia me
matar”
 
Falei bufando em seu rosto.
 
— Mas ao invés disso eu o enterrarei na lama dos porcos que é onde
você merece estar — Falei apontando a arma para sua cabeça, dei uma
pausa e apertei o gatilho duas vezes acertando sua testa.
 
O barulho de uma lata caindo soou e eu me assustei apontando a
arma na direção do som.
 
Vi Kiara assustada encolher os ombros apavorada e eu me apressei
em baixar a arma.
 
— Kiara… — Pronunciei seu nome, assustado, com medo de sua
reação e uma lágrima caiu de seus grandes olhos arregalados que fitava o
homem agora morto em meus pés.
 
Seu olhar percorreu o depósito, encarando todos que estavam ali,
vibrantes de medo, incapaz de se mover.
 
O pote de ração do manhoso estava no chão e os grãos havia se
espalhado aos seus pés, suas mãos ainda estavam na mesma posição em que
segurava a vasilha quando a deixou escapar, ela estava paralisada, todos
estávamos.
 
— Kiara meu amor… — Eu tentei dizer dando um passo para frente
e vi ela recuar fazendo um sutil sinal de negação com a cabeça.
 
Ela deu um passo para trás e depois outro me encarando incrédula o
que via a sua frente e então deu meia volta e começou a correr, meus
homens e Boris ameaçaram ir atrás dela, mas eu dei sinal para que
parassem.
Capítulo 38
 
 
Acordei sentindo a falta de Cas em nossa cama, rolei para o lado,
espreguiçando sentindo o corpo um pouco mole por causa da preguiça.
 
Eu havia cochilado depois que Cas havia me proporcionado um
orgasmo arrebatador com sua boca, mas eu realmente precisava comer
alguma coisa, pois eu não sabia dizer quanto tempo fazia que não colocava
algo decente em meu estômago, tirando o sanduíche de queijo que Ivan
havia comprado para mim quando chegamos ao hospital com Cas.
 
Me sentei na cama ainda nua, usando lençóis para cobrir meu corpo,
mesmo estando sozinha no quarto.
 
Era por volta das onze da noite, então me levantei e troquei de roupa,
procurei uma blusa minha, mas me contentei com um moletom de Cas.
Amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo curto e fui para a cozinha a
procura de qualquer coisa para comer.
 
Como de costume, a primeira coisa que ataquei foi o pote de picles,
apreciando o sabor azedo. Depois revirei alguns potes na geladeira
encontrando o resto de um frango com batatas e arroz com iguarias,
coloquei tudo em um prato e comecei a comer.
 
Nossa! Era tão bom comer comida de verdade — pensei colocando
grandes quantidades da boca.
 
Ouvi o manhoso miar e me repreendi por ser uma mãe tão
desleixada, o pobre bichinho havia ficado sozinho por dias sem mim e eu
havia chegado e nem tinha ido o ver ainda.
 
Terminei de comer e coloquei o prato e os potes na lava louças e
tomei um copo grande de água.
 
E fui atrás do meu pequeno filho de pelos.
 
— Manhoso… — Chamei assim que entrei e ele veio ao meu
encontro se esfregando em mim. — Você sentiu saudades? Me sentei com
ele em meu colo e aproveitei para pentear seus pelos, tirando os que
estavam caindo, para evitar que se espalhassem.
 
Manhoso se esticava espreguiçando, aproveitando a carícia gratuita.
 
— Você realmente é manhoso, né? — Falei achando graça de sua
reação e ele miou em resposta.
 
— O quê? Não me julgue, eu passei por muita coisa, por isso não
pude vir, mas vou te recompensar com sua reação preferida — Falei
colocando-o de lado e pegando se pote de ração vazio para enchê-lo.
 
Ouvi um barulho e o manhoso se assustou e correu.
 
— Cas… — O chamei pelo nome antigo que ainda tentava me
habilitar — Quer dizer, manhoso! — Chamei indo atrás dele e ouvi
novamente o barulho.
 
“Cas deveria estar novamente mexendo na garagem, homem teimoso,
não sabia ficar quieto” — pensei indo verificar prontamente para lhe dar
uma bronca.
 
Mas ao contrário do que havia imaginado a garagem estava vazia e
escura, porém notei que as luzes do armazém estavam acesas e de longe
pude ver manhoso sair correndo naquela direção, então fui atrás dele ainda
com o pote de ração em mãos.
 
Ouvi a voz de Cas conversando alterado com alguém em um outro
idioma que acreditava ser chinês ou japonês, algo parecido, ouvi mais
barulhos e gemidos que me deixou desconfiada, eu reduzi o passo com
medo do que veria ali e olhei em direção a portaria onde os seguranças
estavam concentrados na estrada lá fora e eu não sabia se deveria ir até eles
e pedir para verificar ou se eu continuava.
 
Hesitei por algum tempo e quando empurrei a porta que entrei me
assustei com a cena a minha frente, meu corpo paralisou e eu senti minhas
forças indo embora, sendo drenada pelo medo.
 
Cas segurava uma arma e um homem de pele branca e olhos puxados
estava ajoelhado à sua frente com as mãos amarradas nas costas, seu rosto
estava machucado e seu ombro sangrava com um ferimento.
 
A arma foi disparada duas vezes com tiros certeiros em sua cabeça
me fazendo encolher assustada, tudo pareceu devagar demais e o silêncio
era ensurdecedor me fazendo ouvir minhas próprias batidas, tão forte que
meu peito doía, meu sangue fugiu tão rapidamente que acreditava que
desmaiaria muito em breve.
 
O cenário de repente girava, a noite que já era escura parecia se
apagar ainda mais, o chão parecia faltar sob meus pés e eu buscava o ar que
me faltou tão de repente que senti meus pulmões doerem.
 
Não, não, eu não podia estar passando por aquilo novamente, era um
pesadelo, um sonho ruim e eu queria acordar.
 
Ouvi o barulho do pote de ração cair, chamando a atenção para mim,
e Cas apontou sua arma para mim assustado com o barulho me deixando
apavorada, meus olhos se embaçaram e começaram a clarear quando a
lágrima carregada desceu pelo meu rosto criando um rastro molhado.
 
— Kiara… — Cas pronunciou meu nome baixando imediatamente a
arma.
 
Cas parecia surpreso em me ver e só então me dei conta de que havia
vários seguranças ali e Boris seu irmão me encarou e depois voltou a olhar
para Cas.
 
— Kiara… — Ele disse novamente e ameaçou vir em minha direção
e eu recuei um passo e depois outro, então em um rompante eu corri.
 
O vento gelado cortava meu rosto e eu sentia aquela sensação de
dejavu, não, dessa vez não chovia e eu não estava de salto, mas o medo era
o mesmo, o desespero, a sensação era a mesma, entrei aos tropeços dentro
de casa, atravessando o corredor e corri para o quarto e quando me virei Cas
já estava na porta ofegante assim como eu, esperei pelo pior o encarnado
tentando respirar segurando o batente.
 
Aquilo era um pesadelo, tinha que ser, ele…. Não ele, não o homem
que me resgatou, que me protegeu.
 
Todas as lembranças dos últimos meses vinham à minha mente.
 
Eu me sentia confusa e desesperada, mas principalmente aterrorizada.
 
— Kiara deixe-me explicar…
 
— Juro que não conto a ninguém, vou embora, juro que nunca mais
me verá, só… por favor… me deixe ir… — eu implorei quando ele deu um
passo para dentro e andei para trás e tropecei em algo que não me dei para
ver o que era.
 
— Está… com medo de mim? — ele perguntou, confuso parando
quando viu minha reação.
 
Eu não respondi, não sabia o que dizer, sentia um medo terrível
estremecer meu corpo, me tirando o raciocínio.
 
Eu o encarava com os olhos arregalados, meus olhos desceram para
suas mãos sujas de sangue e Cas percebeu e tentou limpá-las na própria
roupa.
 
— Kiara você não entende… foi ele que tentou matar a gente… ele é
um mafioso — ele falou.
 
Eu o ouvi, mas não consegui abrir a boca.
 
— O que… o que… você realmente é? — Gaguejei ao perguntar
sentindo meu corpo frio mesmo agasalhado pelo moletom.
 
Cas pareceu procurar as palavras certas para me dizer e respirou
profundamente quando pareceu não as encontrar.
 
— Eu também… — ele respondeu me fazendo perder o ar. 
 
Cas
 
Kiara parecia amedrontada, tinha seu rosto banhado por lágrimas e eu
podia ver seu corpo tremer bem ali diante dos meus olhos, me fazendo
sentir ódio de mim mesmo, me deixando com a sensação de que era o pior
homem do mundo.
 
Medo, era tudo que ela conseguia ver naquele instante, era tudo que
havia conhecido em sua vida, quando perdeu os pais, quando passou por
lares adotivos, várias e várias vezes, e nas mãos de Heron por todos aqueles
anos e agora ali diante de toda a experiência que havia tido em sua vida, ela
acreditava mesmo que eu podia feri-la, era o sentimento que eu despertava
nela com força total.
 
Recuei levando as mãos ao cabelo sem poder acreditar no que eu
tinha causado, não acreditando que tinha deixado aquilo acontecer, me
dando conta de como havia errado.
 
Tive a oportunidade de lhe contar várias e várias vezes, mas neguei a
ela a verdade, neguei a ela o benefício da dúvida, neguei ao nosso amor a
chance de superar aquilo e não sabia se conseguiria fazê-la entender, não
quando havia despertado tantos gatilhos em seu emocional.
 
— Eu juro que não era assim que eu queria que você descobrisse…
eu tentei contar, mas…
 
— Por favor, só me deixe ir…
 
Ouvir sua voz trêmula e desesperada era como uma navalha afiada
cortando minha alma e eu não conseguia suportar aquilo, eu queria tomá-la
em meus braços, queria secar suas lágrimas, e sentia uma necessidade de
gritar e quebrar tudo por não poder fazer aquilo.
 
Cortei a distância entre nós, mesmo quando sem ter para onde ir, ela
se encolheu no chão, como um animal acuado, levantando as mãos trêmulas
tentando se defender, como se eu fosse capaz de levantar a mãos para ela.
 
— Kiara meu amor, por favor olhe para mim… — Pedi sentindo meu
peito doer em vê-la quebrada daquela maneira.
 
Droga! O que eu havia feito? Por que deixei aquilo chegar naquele
ponto? Eu não sabia dizer.
 
Seus olhos se levantaram e era como se ela não me reconhecesse. A
única coisa existente ali era pavor, não sabia nem se Kiara conseguia ver
alguma coisa no meio de tantas lágrimas.
 
Me afastei novamente dela, pois sua reação parecia queimar minhas
mãos e eu perdia o ar toda vez que um soluço seu escapava de sua garganta.
Seus cabelos estavam bagunçados e o rosto pálido, me virei de costas
incapaz de vê-la naquele estado.
 
— Não vou mais te enganar Kiara, isso é o que eu sou — Falei me
virando para ela abrindo os braços, vendo-a se levantar lentamente,
arrastando as costas na parede — Eu não sou esse cara que você enxergou
em mim todos esses dias e muito menos o conto de fadas com um final feliz
que você imagina. Eu nasci dentro de uma família, uma geração de
mafiosos e fui criado para ser aquilo que você viu lá fora — alterei minha
voz apontando em direção a porta e ela encolheu os ombros ao notar meu
nervosismo.
 
— Desde o início… — A sua voz soou fraca pelo quarto chamando
minha atenção — Se eu soubesse… se…
 
— Não diga que você nunca desconfiou, que nunca… que nenhuma
vez, você fingiu não ver Kiara — Falei a acusando.
 
— Eu… — Ela disse antes de desabar em lágrimas sobre a cama —
Eu acreditei em suas meias verdades, suas palavras de duplo sentido… uma
missão, um atentado, uma família de poder… eu simplesmente me deixei
ser enganada — ela disse entre soluços involuntários, em total descontrole
de suas emoções. Ela olhava um ponto fixo no quarto, perdida em seus
próprios devaneios, falando mais consigo mesma do que comigo. — Você
nunca disse que era, mas também não disse que não e enquanto eu
acreditava…
 
— Eu sei que eu errei PORRA! — Xinguei frustrado comigo mesmo
fazendo ela se assustar, ainda mais.
 
Eu só estava piorando aquela situação, estava nervoso comigo
mesmo e Kiara estava amedrontada demais para pensar direito, para refletir
em tudo que vivemos, em tudo que eu sentia por ela.
 
E eu não suportava vê-la sofrer daquela maneira, arrasada,
descontrolada, dominada pelo medo.
 
— Eu errei… — Falei baixando meu tom de voz — errei por amor,
por te amar demais Kiara, e vou pagar as consequências desse erro —
Declarei me sentindo derrotado como nunca havia sentido em minha vida.
 
Nem quando havia sido enganado, nem quando precisei matar Laila,
enquanto ela desfilava todo seu veneno, nem mesmo naquele dia eu me
senti tão derrotado quanto naquele momento.
 
Kiara me olhou com seus olhos ainda cheios de lágrimas, olhos que
atormentavam minha alma, confusa com minhas palavras, mas assustada
demais para questionar.
 
— Pode ir… se é isso que você quer, então vá, Kiara. Você nunca foi
e nunca será uma prisioneira aqui.
 
Ela me olhava incrédula, como se esperasse que eu fizesse com ela
um joguinho de gato e rato, como eu costumava fazer com alguns dos meus
inimigos.
 
Porra! Ela me enxergava como um monstro agora.
 
— Me deixe só! — falei novamente — Prefiro ficar sozinho a te
fazer sofrer, — Confessei, e ela me escutava atentamente — Não vou te
obrigar, não vou fazê-la pagar por meus erros, nem vou te implorar para que
fique. — Pronunciei cada palavra como se fosse um fel em minha boca,
sentindo o amargo da decepção, e da dor de liberá-la — Será melhor que vá,
porque te ver com medo de mim, chorando, acuada pra mim é um absurdo,
eu… eu não posso suportar isso Kiara…
 
Falei com uma tranquilidade, que me causava uma dor insuportável,
muito pior do que o tiro que eu ainda me recuperava ou de qualquer outro
que já havia levado.
 
—  Eu sei que quem vai perder não será você, serei eu. Espero que
você enxergue todo o amor que tenho por você e se isso acontecer… —
disse a encarando nos olhos, mesmo achando que ela mal me ouvia —
Saiba que eu estarei bem aqui. —  Declarei, mas ao mesmo tempo lutando
comigo mesmo para não a deixar sair pela porta. — E se isso não
acontecer… então eu vou esquecer de tudo, vou esquecer que um dia você
entrou em minha vida — menti descaradamente, pois eu nunca a
esqueceria, nunca deixaria de amar ela. — Vou me afundar em solidão, mas
não se preocupe, pois nela eu sempre estive Kiara.
 
Quando eu terminei, que não tinha mais nada a dizer, Kiara se
levantou me olhando com olhos arregalados, temerosos como se a qualquer
momento eu fosse lhe dar um bote. Andou se esgueirando pelos cantos,
com medo de se aproximar demais de mim, ela foi até um canto e pegou um
bolsa que estava jogada ali, abriu uma gaveta e puxou algumas peças de
roupa sem sequer olhar o que eram e enfiou de qualquer jeito dentro, me
encarando o tempo todo.
 
Eu me afastei para dar a ela passagem e quando ela chegou a
corredor ouvi seus passos aumentarem, indo embora da minha vida, me
deixando ali, sozinho naquele quarto, na esperança e com um vazio que eu
mergulhava de cabeça sem vontade de saber se ainda existia um mundo lá
fora.
 
Eu não fui atrás dela como havia prometido. Me segurei para deixá-la
livre, ela tinha ido embora e se voltasse seria por escolha dela.
Capítulo 39
 
 
Eu me sentia confusa e amedrontada, andei em passos largos,
cambaleando até a sala e parei, me escorando na beira do sofá, olhando em
direção ao corredor do quarto onde eu havia acabado de deixar Cas.
 
Não conseguia controlar minha respiração ou as lágrimas que
insistiam em cair.
 
Hesitei por um longo tempo, sem saber ao certo se aquela era a
decisão certa a ser tomada.
 
Ainda podia sentir o cheiro do sangue, a imagem de Cas tirando a
vida daquele homem, se misturava com as lembranças que eu tinha de
Heron, e era inevitável não sentir um calafrio que subia em minha espinha,
fazendo todo meu corpo estremecer.
 
Peguei meu celular de dentro da bolsa e pedi um táxi pelo aplicativo.
 
Alguns homens me encaravam quando passei pelo portão,
aumentando ainda mais minha insegurança.
 
O táxi não demorou e eu entrei assim que o carro parou.
 
Ivan segurou a porta fazendo eu me assustar.
 
— Então é isso? — Ele perguntou me olhando dentro do carro — é
só até esse ponto que seu grande amor dura? — Ele questionou e eu não
consegui abrir a boca para responder.
 
Engoli em seco com os olhos arregalados e descarregaram mais
lágrimas.
 
— Boa sorte Kiara! — O amigo de Cas disse fechando a porta e
liberando o táxi.
 
As palavras de Ivan soavam repetidas vezes em minha cabeça, me
chamando de covarde.
 
— Sra.! — o motorista chamou minha atenção.
 
— Sim?
 
— Perguntei para onde a senhora está indo — ele repetiu a uma
pergunta que eu não havia ouvido anteriormente.
 
— Para qualquer hotel no centro, por favor. — Pedi sem dar muita
atenção.
 
Em minha cabeça se desenrolava as cenas dos últimos meses, e todos
os sinais que havia deixado passar, que consciente ou inconscientemente eu
havia ignorado.
 
O motorista me deixou em frente a um hotel e eu lhe paguei a corrida
e só quando me virei que me dei conta de que aquele era o hotel para o qual
Cas havia me levado no dia em que havíamos nos conhecidos, eu me virei
para pedir que me levasse a outro, mas ele já havia saído, então decidi
entrar.
 
Ali era um hotel caro demais e que eu não podia me dar ao luxo de
passar mais de uma noite, mas uma noite acreditava que não seria um
problema.
 
Passei no caixa eletrônico na entrada verificando a conta que eu
havia aberto depois que tinha começado a trabalhar.
 
O dinheiro dos últimos meses com que havia trabalhado com Cas
estava inteiramente ali, intocado, Cas nunca havia me permitido pagar por
nada.
 
Tirei um valor suficiente para pagar a noite e ter um valor comigo e
fui para o balcão da recepção.
 
— Boa noite, gostaria de um quarto por favor, o mais simples que
tiver — pedi lhe entregando meus documentos escorando no balcão,
sentindo que não aguentaria suportar o choro.
 
Tudo parecia conspirar contra mim, me trazendo suas lembranças,
aquele hotel, a conta bancária, meus documentos, tudo coisas que tinha
graças a Cas.
 
— Tem um banheiro aqui embaixo? — perguntei e a moça que me
olhava desconfiada.
 
Ela me mostrou a direção e eu fui para o grande banheiro e mais uma
vez me deixei abalar por aquela sensação de fraqueza, de impotência e
insignificância.
 
Olhei no espelho notando o quão deplorável era meu estado. Meus
cabelos estavam bagunçados, meus olhos vermelhos e inchados e eu ainda
vestia o moletom de Cas o que me deixava com cara de uma viciada
qualquer.
 
Dei uma ajeitada no cabelo, lavei o rosto e voltei.
 
—  Infelizmente só temos a cobertura disponível, Sra. Kiara — Ela
falou.
 
Que ótimo! Aquilo só podia ser uma piada. — Pensei comigo
mesma, mas confirmei, afinal quais eram as chances de eu pegar o mesmo
quarto?
 
Por incrível que parecesse, total, porque eu mal conseguia acreditar
quando entrei no quarto grande que me enchia de recordações. 
 
Entrei observando, enxergando nós dois em cada canto que eu
olhava.
 
Cas cuidando do ralado do meu joelho enquanto eu estremecia
sentada sobre a mesa, seu sorriso malicioso…
 
Tirei a blusa e minha roupa e fui para o banheiro, enchi a banheira e
me afundei nela tentando colocar a cabeça no lugar.
 
Mas, não importava quanto tempo eu cozinhasse ali dentro daquela
água quente, que nada me fazia esquecer o que havia acontecido.
 
Memória do que havia acabado de acontecer, e tudo o que tínhamos
vivido se misturava em minha cabeça e eu não consegui me manter ali
parada.
 
Parei de roupão em frente ao espelho e o tirei olhando para meu
corpo, como se procurasse as marcas do desfecho daquela noite.
 
Olhei meu reflexo no espelho e me virei de lado de uma forma que
pude ver a marca que Heron havia deixado e eu fui atingida por uma
emoção muito forte, chacoalhando meu peito.
 
Não havia marcas em mim, nunca houve, não dele! As únicas marcas
existentes de Cas em mim, eram de seu amor, do carinho que ele colocava
em cada toque seu em meu corpo e eu me dei conta de quão burra eu estava
sendo.
 
Sim, era uma estupidez.
 
Eu corri e peguei meu celular e tentei ligar para ele.
 
— Vamos, meu amor, atenda! Por favor, me atende… — falei
enquanto só chamava.
 
Vesti minhas roupas de qualquer maneira desesperada para voltar
para ele e pedir desculpas e dizer que eu o amava e que havia sido uma
idiota e que eu nunca sairia do seu lado.
 
Eu já conseguia me ver correndo, entrando, pulando em seus braços.
A noite de amor que teríamos regada a um delicioso sexo de reconciliação,
nossos gemidos...
 
Eu só precisava voltar e dizer o quão estúpida eu tinha sido.
 
Corri pelo corredor do hotel e peguei o elevador que parecia não
chegar nunca e eu aproveitei para tentar ligar novamente para ele.
 
Quando o elevador chegou no hall que as portas se abriram, eu perdi
a respiração quando me deparei com Heron.
 
— Indo a algum lugar ratinha? — ele falou me fazendo estremecer
— eu fico com isso — ele falou pegando meu celular.
 
— Kiara! Kiara — ainda pude ouvir a voz de Cas que havia acabado
de atender o telefone.
 
Heron quebrou o telefone e sorriu me pegando pelo braço, me
fazendo atravessar o hall do hotel e quando chegamos do lado de fora ele
me jogou no peito de um outro homem ruivo e grande que nos aguardava.
 
Meu coração batia acelerado e eu hiperventilava sabendo que estava
em uma situação muito delicada.
 
Começava a chover e já era quase madrugada, então a rua estava
vazia.
 
— Levem ela para o carro! — ele ordenou.
 
Quando o homem me puxou para si eu aproveitei para fazer como
Cas havia me ensinado, acertei suas partes íntimas o fazendo urrar de dor e
saí correndo o mais rápido possível sem olhar para trás e quando vi um
casal não muito longe e ameacei gritar fui rendida com violência com mãos
grandes e fortes que taparam minha boca e me puxou me arrastando para
dentro de uma van.
 
— Essa cadela me acertou! — o outro reclamou assim que entrou na
van e saíram.
 

 
Minhas mãos e pernas foram amarradas umas nas outras de forma
desconfortável, e eu fui jogada na parte de trás da van sobre um dos
assentos traseiros, enquanto Heron ia na parte da frente com o motorista. O
homem que eu havia acertado ocupou o lugar bem a minha frente, me
olhando com raiva nos olhos e eu achei que ele fosse me machucar a
qualquer momento, furioso pelo que eu havia feito.
 
Tentava me debater, sentindo o desespero crescer dentro de mim a
cada minuto que se passava, ninguém falava absolutamente nada e eu não
conseguia nem imaginar o que seria de mim.
 
Me debatia, tentava forçar as amarras e tentava gritar
incansavelmente até minha garganta doer com o esforço e minha boca
ressecar por causa da mordaça e ainda assim tudo era totalmente inútil.
 
Olhava para os lados tentando pensar em alguma coisa, mas estava
desesperada demais para raciocinar direito. Andávamos cada vez mais para
fora da cidade e isso me assustava ainda mais.
 
O homem em minha frente não tirava seus olhos de mim e de vez em
quando descia seu olhar pelo meu corpo me fazendo temer qual seria meu
destino nas mãos daqueles marginais.
 
Novas lágrimas desciam pelo meu rosto e eu sufocava com os
soluços.
 
Estava perdida, Cas não sabia onde eu estava nem para onde tinha
ido e quando chegasse a descobrir certamente já seria tarde demais.
 
Eu só conseguia pensar em tudo que não havíamos vivido, em tudo
que eu não pude lhe dizer.
 
Senti uma pontada de dor ao me lembrar de como eu o havia deixado,
seu olhar, suas renúncias em nome da minha felicidade e eu não tinha
enxergado, mesmo quando ele havia me dito com todas as letras e me
mostrado com todo seu amor eu tinha sido incapaz de ver, focada demais
em minha própria dor, apegada sempre aquele maldito medo e eu só queria
mais uma chance, só mais um de lhe dizer que eu não me importava, que
ele era o homem da minha vida, que eu o amava com todas minhas forças e
que se ele aceitasse eu queria passar o resto da minha vida ao seja lado.
 
Tudo aquilo me fez baixar a cabeça desconsolada e chorar, chorei
tanto que achei que me sufocaria com tantos arrependimentos.
 
Eu sentia meu coração batucar acelerado, causando um solavanco em
meu peito a cada pulsação que dava, gritando em minha mente que tudo era
culpa minha.
 
Como eu pude ser tão burra.
 
Como fui me deixar levar pela emoção e pelo medo do momento
daquele jeito?
 
O desespero tomou conta de mim ao imaginar que talvez nunca mais
o veria novamente, e ao imaginar como Cas deveria estar naquele exato
momento.
 
Olhei mais uma vez para o homem à minha frente que continuava a
me encarar e me dei conta de que não havia nada que eu pudesse fazer
naquele momento, então parei de lutar contra as amarras nas minhas costas
e joguei a cabeça para trás, rendida aquela tristeza.
 
Heron havia esperado pacientemente o momento certo para me pegar
de volta e tinha cumprido sua promessa de que eu não escaparia dele e sabia
que cumpriria muitas outras.
 
Andamos por um bom tempo, por uma estrada que eu não conhecia,
até pararmos em um lugar remoto e escuro. Heron desceu da van e os outros
o acompanharam e eu mal conseguia vê-los em meio a escuridão, mas
conseguia escutá-los com clareza.
 
— Isso é pelo serviço — ouvi a voz de Heron dizer, e forcei minhas
vistas para discernir sua sombra — e isso é para vocês saírem da cidade por
um tempo. Não quero vê-los por aqui nos próximos dias. — Ele declarou
deixando claro que havia contratados os dois somente para aquele serviço.
 
— Claro! Foi um prazer fazer negócios com você — um dos homens
respondeu. Pela voz parecia ser o que eu havia acertado.
 
— O que vai fazer com ela? — o outro perguntou.
 
— Isso não é mais da conta de vocês — Heron respondeu
rispidamente e eu pude ouvir seus passos se aproximando da van e ele abrir
a porta.
 
Olhei para fora e os dois homens se afastavam de costas, indo em
direção a um outro veículo que os aguardava um pouco mais longe.
 
Heron entrou se sentando na minha frente e ficou alguns segundos
me encarando, com um sorriso vitorioso nos lábios, para depois acariciar
meu rosto com as pontas dos dedos, com uma suave promessa do inferno
que estava reservado para mim em suas mãos.
 
Eu fechei os olhos me preparando para o que viria e senti a lágrima
gelada escorrendo pelo meu rosto, parando na mordaça que eu tinha na
boca, trazendo um gosto salgado em meus lábios, mas eu sabia que o
salgado daquelas lágrimas não chegava nem perto do gosto amargo que
sentiria quando ele começasse a me castigar.
 
— Não chore, minha ratinha — Heron disse me fazendo, olhá-lo com
asco. — Estamos juntos agora…
 
Eu tentei resmungar, dizer que ele era um doente, que eu sentia nojo
dele, mas a mordaça me impedia e Heron ficou feliz com aquilo.
 
Ele era completamente descontrolado e eu me perguntava como um
homem como ele havia alcançado um nível tão alto no governo.
 
Ele voltou a descer e fechou a porta ocupando o assento do motorista.
 
Rodamos por mais algum tempo até pararmos novamente, Heron me
deitou no chão da van e me cobriu com uma lona de estopa grossa.
 
— Vê se, se comporta — ele disse me dando um tapa estralado em
minhas coxas sobre a lona.
 
Ouvi Heron dando partida no carro e sair.
 
— Boa noite, Sr. Heron — Alguém cumprimentou.
 
— Boa noite! Muito frio aí hoje? — Heron perguntou tentando
parecer casual e eu tentei me debater e gritar, mas a mordaça abafava toda
minha tentativa.
 
— Hoje nem tanto assim, está muito melhor que nos últimos dias —
O homem respondeu. — Senhor Heron, vamos ter que revistar a van porque
ela não está cadastrada em nosso sistema.
 
Meu cérebro quase gritou quando notei que estávamos em uma base
militar, Heron estava me levantando para dentro da uma base militar,
estávamos logo na portaria e se eu conseguisse chamar atenção, talvez
conseguisse me livrar daquele pesadelo, se o soldado olhasse para parte de
trás, se desconfiasse…
 
Eu tentei chutar para chamar atenção, mas então um barulho forte
veio do lado de fora da van.
 
— Espere um minuto, tenho que ver o que está acontecendo — o
homem disse.
 
— Ei, espere essa é a van do major, eu não posso demorar, tenho que
levá-la de volta, só vim trazer alguns pacotes de adubo que ele me pediu,
prometo voltar em menos de trinta minutos — Heron justificou.
 
O soldado hesitou por alguns segundos.
 
— Tá, vai lá, mas da próxima vez, peça uma autorização antes, ok!
— ele disse liberando Heron a entrar na base.
 
Ele deu partida e saiu em seguida, acabando com todas as minhas
esperanças.
 
Eu estava cansada de lutar contra as amarras, meu corpo já estava
dolorido e eu não tinha mais forças.
 
Minha respiração era ofegante e eu me arrependia de não ter me
dedicado mais aos treinamentos que Cas pacientemente havia me oferecido.
 
Quando paramos que Heron me tirou de dentro da van me puxando
como se eu fosse uma boneca de pano qualquer. Ele me pegou pela cintura
me arrastando.
 
Nós estávamos dentro de uma garagem e eu fui levada para um
porão.
 
Era apenas um quarto de quatro por quatro, passei meus olhos
rapidamente pelo ambiente vendo que não tinha nenhuma janela, ou
qualquer ventilação, em um canto havia uma cama de casal e um pequeno
banheiro. 
 
Heron me jogou sobre a cama sem nenhuma delicadeza e tirou
minhas mordaças.
 
— SOCORRO! — e eu aproveitei para gritar e me debater como
pude.
 
— SOCORRO, ALGUÉM ME AJUDE, POR FAVOR!  — Ele
começou a gritar junto comigo me imitando e depois começando a rir. —
Pode gritar o quanto quiser querida, aqui ninguém vai te escutar, eu preparei
esse lugarzinho especialmente para você — disse se aproximando de mim
me fazendo recuar para trás assustada.
 
— O que você vai fazer comigo? — perguntei me encolhendo em um
canto da cama.
 
Ele juntou meus braços e prendeu em
Algemas com correntes acopladas à cama.
 
— Nós vamos ficar aqui por um tempo até a poeira baixar e depois
vamos para bem longe só eu e você — ele falou chegando muito perto do
meu rosto e depositando um selinho em minha boca me fazendo sentir nojo
e querer vomitar.
 
Eu esfreguei meus lábios com as costas das mãos tentando limpar a
sensação que seus lábios haviam deixado ali e Heron sorriu.
 
— Logo você será toda minha novamente ratinha. — Ele afirmou
passando os dedos em uma mecha de meus cabelos — Mas agora eu tenho
que ir, prometo voltar em breve — Ele disse se afastando.
 
Ele parou perto de um frigobar e retirou uma garrafa de água e um
pote com frutas.
 
— Coma e descanse que quando eu voltar vamos conversar sobre
suas últimas atividades.
 
Aquilo era uma ameaça do que me aguardava e meu corpo
estremeceu, a cicatriz se sua inicial pareceu arder em minha pele e eu soube
que estava condenada.
Capítulo 40
 
 
 
Eu não saí do nosso quarto depois que Kiara se retirou, nem se quer
havia me movido do lugar por algum tempo, ainda paralisado pelo que
havia acabado de acontecer, me segurando para não correr atrás dela, como
o louco apaixonado que eu era por aquela mulher.
 
Mas apesar do vazio que sentia em minha alma, Kiara precisava
daquele tempo. Ela tinha confiado em mim, sem pedir nada em troca, tinha
entrado em minha vida com seu coração aberto mesmo quando era tão
fodidamente machucado, e a única coisa que eu precisava ter feito era ter
sido sincero, ter lhe contando a verdade sobre mim, mas ao invés disso eu
havia feito tudo errado e estragado com tudo.
 
Não julgava sua atitude, qualquer ser humano depois de ter sido tão
machucado quanto ela foi, sentiria medo naquela situação.
 
Agora eu via aquilo. Seus olhos não eram de julgamento, de raiva ou
tristeza, era simplesmente confusão, medo e eu tinha causado aquilo nela,
tinha total ciência daquilo.
 
Poderia ter evitado, mas tive medo, essa era a verdade, medo de
perdê-la, medo de que ela não me aceitasse.
 
Chegava a ser engraçado, um homem como eu que toda minha vida
não havia me importado com nada.
 
Eu havia permitido que Kiara pintasse uma tela colorida, cheia de
emoções e sonhos e depois simplesmente joguei um balde de tinta preta
sobre ela, esperando que ela aceitasse de bom grado.
 
Como eu esperava que ela reagisse, depois de presenciar o homem
que aos seus olhos era um príncipe encantado,
Tirar a vida de outro friamente, sem dó, sem piedade e sem remorso.
 
Tudo aquilo era demais para ela processar de uma só vez.
 
Passei as mãos sobre o rosto respirando fundo, frustrado demais.
Peguei o celular do bolso da minha calça e mandei uma mensagem para
meus homens.
 
*CAS*
 
“Kiara irá sair da mansão, certifiquem de que ela ficará bem”
 
 
Enviei, sem esperar uma resposta e voltei a guardar o aparelho.
 
Apesar de tudo, não iria arriscar a segurança de Kiara, não quando eu
sabia que Heron buscava uma única oportunidade para pôr as mãos nela
novamente e eu havia feito uma promessa que não importa onde ela fosse,
ou que rumo sua vida tomasse, eu sempre iria protegê-la, mesmo quando
ela não me quisesse mais em sua vida.
 
Meu celular vibrou e eu voltei a pegá-lo vendo ser só uma simples
resposta de meus homens. Me joguei na poltrona de nosso quarto, passando
os olhos naquele ambiente. Roupas íntimas suas caíam da gaveta ainda
aberta que ela havia deixado e um par de sapatos estava à beira da cama, me
lembrando que ela dormiu ali a pouco tempo, os lençóis ainda estavam
bagunçados e provavelmente ainda tinham seu cheiro.
 
Senti um aperto sufocar meu peito e me levantei me sentindo incapaz
de ficar sentado e fui até sua penteadeira, o perfume que eu havia lhe dado
havia ficado, assim como as joias e roupas que Kiara tinha simplesmente
abandonado assustada demais para juntar.
 
Droga! Tudo ali me lembrava Kiara e seria uma noite difícil e
torturante, dormir sem tê-la ao meu lado, sentindo seu cheiro e desfrutando
do seu calor.
 
Mas, no fundo eu tinha esperança de que ela descansasse aquela
noite, que se acalmasse e no dia seguinte eu voltaria a procurá-la.
 
Sim, eu iria até ela, na expectativa de que me ouvisse, que me
perdoasse por ter mentido para ela e voltasse para mim, não iria desistir
assim tão fácil da minha pequena mentirosa, não quando ela tinha entrado
em minha vida.
 
Passei a mão por seus objetos pessoais, me lembrando com um
sorriso bobo no rosto dela sentada ali por horas tentando ficar mais bonita,
como se aquilo fosse possível. Peguei seu frasco de perfume para sentir
mais uma vez seu aroma castigando ainda mais meu coração.
 
— Cas… — a voz de Ivan soou cautelosa na porta e eu não me virei
para ele para lhe dar atenção. — Cas… — ele voltou a chamar — Temos
um problema.
 
Eu não queria saber de problemas, não ali, não naquele momento.
 
— Resolva. — Foi tudo o que eu falei, com um tom de voz sereno e
frio.
 
— Eu gostaria, mas não posso, não esse pelo menos — ele respondeu
dando um passo para dentro e eu me virei como um Leão querendo
defender seu território.
 
Era irracional, mas não queria ninguém ali, não queria falar com
ninguém, não ainda.
 
Ivan parou cauteloso notando meu nervosismo.
 
— Cas… são os detetives, eles estão aqui e querem falar com você
— ele revelou.
 
Porra! Àquela hora? O que poderia ser tão importante que não
poderia esperar o dia amanhecer.
 
Andei até a porta indo em direção a sala para recebê-los, afinal se
eles estavam ali àquela hora deveria ser algo muito sério.
 
— Cas! — Ivan voltou a chamar e eu já estava perdendo minha
paciência.
 
— O que foi agora?! — questionei.
 
— Suas mãos — ele disse apontando para minhas mãos.
 
Eu já havia me esquecido que tinha enfiado o dedo no ferimento de
Ryou e tinha as mãos sujas com seu sangue.
 
— Droga! Peça para eles aguardarem que eu já vou. — falei voltando
para o quarto.
 

 
— Boa noite senhores — cumprimentei entrando na sala — Eu
espero que pelo menos uma pessoa tenha morrido para vocês aparecerem a
esta hora em minha casa.
 
— Boa noite, tudo bem, senhor Cassiano? — o detetive que não saia
da minha cola perguntou.
 
— Poderia estar melhor se eu estivesse em minha cama.
 
— Não me parece que estava na cama — o outro notou me fazendo
bufar.
 
— Desculpa aparecer assim, sem avisar senhor Cassiano, mas
tínhamos um assunto urgente para tratar com o senhor.
 
— Sobre?
 
O detetive retirou de dentro do seu blazer embalada em um plástico a
pequena espada, tanto, que eu havia usado tempos atrás usado para matar
um dos homens de Ryou.
 
Eu não disse nada e me fiz de desentendido.
 
— Isso deveria significar alguma coisa para mim? — perguntei indo
até o balcão de bebidas.
 
— Eu não sei senhor Cas, me diga você, já que essa tanto, foi usada
em uma execução e tem suas digitais nela.
 
Eu já sabia que teria, assim como também sabia que existia várias
outras digitais.
 
— Senhores essa pequena…. Qual é mesmo o nome? — fingi não
saber.
 
— Tanto — ele respondeu, mas sabendo de minha encenação.
 
— Veja bem, essa Tanto foi apresentada a nós por um amigo, ele á
tinha comprado em uma loja de antiguidades e eu assim como outras
pessoas a peguei nas mãos para ver, tenho certeza de que minhas digitais
não são as únicas exposta aí — falei levantando o copo aos lábios e
tomando um longo gole.
 
Os detetives se entreolharam sabendo que haviam sido pegos
tentando me fazer revelar alguma coisa.
 
— Mas me diz — falei escorando sobre o bar — como foi mesmo
essa execução? — questionei, pois sabia exatamente como havia sido e
nada direcionava a mim a não ser aquela simples digital.
 
— Ele teve os dedos cortados e a barriga aberta com sua própria
espada. — Ele revelou com raiva no olhar.
 
— Nossa! Terrível — falei fingindo surpresa — mas isso me parece
coisa da yakuza, não é assim que eles fazem suas execuções de membros?
— perguntei.
 
— E como o senhor sabe disso senhor Cas? — Ele questionou.
 
Eu andei alguns passos na sua direção e falei em um tom baixo:
 
— Porque estamos no século XXI detetive e eu tenho uma televisão
— apontei para o aparelho no centro da sala — agora se vieram aqui quase
de madrugada para me dizer somente isso, perderam o tempo de vocês e o
meu, então se me dão licença…
 
— Eu sei bem o que faz Sr. Cassino, e sei que no momento certo vai
cometer um deslize e quando você cometer eu vou estar na sua cola.
 
Porra! Já não bastava tudo que estava acontecendo, agora eu ainda
tinha aquela mala no meu encalço — pensei comigo mesmo.
 
— Então só me resta desejar boa sorte, senhores.
 
Os dois detetives se ajeitaram e se retiraram me deixando sozinho, o
que não demorou já que Ivan apareceu em seguida.
 
— O que eles queriam? — Ivan perguntou.
 
— Apenas jogando a rede tentando pescar alguma coisa.
 
— Acha que estavam nos vigiando? — ele perguntou.
 
— Provavelmente e quiseram se certificar do que estava acontecendo
aqui essa noite. 
 
Era óbvio que eles não tinham nada contra mim, apenas jogaram
aquela para entrarem na mansão atrás de qualquer pista para usar contra
mim.
 
Eu voltei a encher meu copo e me sentei na poltrona, meu celular
ficou sobre o balcão e começou a vibrar e eu fingi que não vi.
 
Não estava com saco para falar com ninguém, muito mesmo por
telefone.
 
— Não vai atender? — Ivan perguntou e eu neguei.
 
Logo ele parou de tocar e eu me afundei no sofá, Ivan foi até o bar,
também encheu um copo para si e meu celular voltou a tocar.
 
— Acho que é melhor você atender — Ivan faltou olhando a tela do
meu celular.
 
— Não quero falar com ninguém hoje, já tive problemas demais para
um único dia — respondi colocando o copo gelado sobre a testa tentando
amenizar aquela puta dor de cabeça que me matava.
 
— Nem mesmo com a sua pequena mentirosa? — ele perguntou me
mostrando a tela do celular me fazendo saltar do sofá.
 
Tomei o celular da sua mão quase a levando junto e atendi, mas meu
coração gelou quando ouvi a voz de Heron no fundo:
— Eu fico com isso, ratinha.
 
— Kiara! — gritei em desespero — Kiara!
 
Mas a ligação já havia caído.
 
— O que aconteceu? — Ivan perguntou assustado vendo meu total
desespero.
 
— Heron… ela está com Heron — Falei andando em passos largos
para fora.
 
— Onde estão os homens que mandei cuidarem dela? — questionei
em cólicas de ódio.
 
— Eu não sei…
 
— NÃO SABE? NÃO SABE? KIARA ESTÁ NAS MÃOS DE
HERON E TUDO QUE VOCÊ TEM A ME DIZER É QUE NÃO SABE!
— eu gritei furioso.
 
Ivan pegou seu celular ligando para os rapazes enquanto eu
organizava uma equipe.
 
— O que está acontecendo? — Boris perguntou.
 
E eu nem sabia que meu irmão ainda estava por ali, mas não me dei
ao trabalho de perguntar o porquê ainda continuava por ali.
 
— Pegaram Kiara! —  Respondi sem dar muita atenção, pois eu só
queria descobrir onde Kiara estava. — Preciso descobrir onde ele vai levá-
la — falei chamando atenção de alguns homens, para organizar uma equipe.
 
— Eles foram detidos — Ivan disse se juntando a nós.
 
— O quê? E só agora eu fico sabendo?
 
— Não haviam permitido que eles ligassem — ele justificou.
 
E eu estava transtornado de raiva, sentia vontade de pular em cima do
primeiro que aparecesse em minha frente e o enforcar com minhas próprias
mãos.
 
— Aaaah! — gritei virando uma mesa que tinha alguns aparelhos
elétricos da equipe de segurança. — Porra! Eu vou matar aquele
desgraçado, quero ver ele pegar fogo até a última cinzas do seu maldito
corpo!
 
Me sentia descontrolado, capaz de machucar até meus próprios
aliados, se alguém se aproximasse de mim, então me afastei. Fui para um
canto isolado tentando recuperar minha sanidade.
 
— Cas…— Boris me chamou de longe notando meu descontrole, e
eu fiz sinal para que não se aproximasse. — Acho que posso ajudar — ele
falou chamando minha atenção.
 
— Como? — perguntei de imediato.
 
— Tenho um amigo na inteligência britânica. Não me pergunte como
— ele pediu e eu estava pouco interessado naquele momento. — Consiga o
número de Heron e acho que conseguimos rastreá-lo.
 
Ele disse me estendendo um fio de esperança.
Capítulo 41
 
Eu não sabia dizer quanto tempo fazia desde que Heron havia saído e
me deixado ali presa a cama e eu já me arrependia de ter tomado duas
garrafinhas de água, pois agora estava apertada para usar o banheiro e não
sabia quanto tempo ele ainda demoraria.
 
Heron era um animal e eu não entendia sua obsessão por mim.
Tentava entender o que eu havia feito para merecer passar novamente por
aquele inferno.
 
Eu não chorava mais, tinha secado minhas lágrimas depois de horas
chorando sem parar.
 
Meus pulsos doíam e eu já imaginava que teria que passar o dia todo
presa aquela cama, mesmo não conseguindo ver absolutamente nada do
exterior eu deduzia que o dia deveria estar começando.
 
Apesar das correntes irem até o frigobar, não se estendia até o
banheiro e ficaria em uma posição ruim já que as algemas mantinham meus
pulsos ligados um no outro.
 
Eu me sentia exausta, já que mal tinha descansado dos dias que
havíamos passado na cabana e não tinha dormido nada na noite anterior.
 
Encostei minha cabeça na cabeceira me recordando da última noite
em que tive com Cas, recordando seus beijos, sabendo que provavelmente
nunca mais iria senti-lo novamente, seu corpo nu em minha frente, os
desenhos de suas tatuagens, todos desenhados em minha mente, tão
perfeitamente claro que quase podia tocá-las.
 
Levei a ponta dos dedos aos lábios como se ainda pudesse sentir seu
sabor e sorri.
 
Heron podia me tirar tudo, podia arrancar meu orgulho e dignidade se
quisesse, mas nunca iria me tirar aquilo, aquela sensação de que eu fui
amada, que fui venerada com sua boca, com seu corpo. Não, isso ele nunca
arrancaria de mim, e não importa quanto tempo se passasse eu nunca
desistiria de lutar.
 
Me mexi desconfortável sentindo minha bexiga doer e eu estava
prestes a fazer na roupa, quando ouvi o barulho da porta, em um time
perfeito, o desgraçado voltou, entrando e trancando logo depois.
 
— Sentiu minha falta ratinha? — Ele perguntou, tirando seu casaco e
jogando sobre uma cadeira que ficava ao lado da porta.
 
Eu estava tão desesperada para ir ao banheiro que só pensava em
implorar para que ele me soltasse.
 
— Por favor, eu preciso ir ao banheiro...— Pedi estendendo as mãos
na esperança de que ele abrisse as algemas.
 
— Não seja tão afobada. — Ele falou caminhando até a cama e se
sentando não muito longe de mim, o que me deixou desconfiada. Heron não
fazia o tipo gentil e atencioso, e o fato de ainda não ter descontado sua raiva
me dava duas opções, ou ele preparava algo muito ruim, ou ainda não tinha
tido tempo para se dedicar em me castigar.
 
— Heron por favor, se você não abrir, eu terei que fazer aqui
mesmo… — Eu avisei, em um tom choroso.
 
Ele sorriu achando graça do meu desespero e eu quis cuspir em seu
rosto. 
 
— Eu irei abrir, calma, basta você me dar um beijo, um único beijo e
eu deixo você usar o banheiro — Ele disse se aproximando para receber o
que havia me pedido.
 
— Nem morta! —respondi, olhando com nojo para ele, me afastando
o máximo que consegui.
 
Heron se endireitou e vi seu rosto desfigurar de ódio, inconformado
em ser rejeitado.
 
— Quem você pensa que é para me rejeitar, em? — Heron disse
apertando com força meu braço me puxando para ele tentando me beijar à
força e eu lutava, virando o rosto e usando as mãos para impedi-lo.
 
Antes de eu conhecer Cas cada dia era mais um dia, um beijo não
significava nada para mim, eu não passava de um objeto em suas mãos e eu
nunca havia me imposto, mas ali eu me recusava a voltar para aquela vida,
me recusava a voltar para ele novamente.
 
— Eu… não vou… mais — tentei dizer enquanto sua boca era
pressionada em meu rosto.
 
Eu forcei minhas unhas em seus rostos do jeito que pude, o
arranhando, e Heron me largou, me empurrando com força e eu achei que
fosse apanhar pelo que fiz, mas ao invés disso ele passou a mão sobre o
arranhão, limpando o sangue, lambendo depois e sorriu.
 
— Então a minha pequena ratinha, agora se transformou em uma
gata? — Ele caçoou — Não tem problema, eu sei domesticar gatas também.
 
— Você pode tentar fazer o que quiser, mas nunca mais me terá! —
Eu afirmei cuspindo, sentindo nojo.
 
Ele olhou para minha saliva que não tinha caído muito longe dele
com raiva.
 
— Então se quiser vai ter que fazer aí mesmo — Declarou
começando se mostrar descontrolado novamente.
 
Ele era totalmente descontrolado, bipolar, um verdadeiro sociopata, o
que me assustava, pois ele seria capaz de tudo.
 
Eu o encarei com desprezo, observando seu ódio e houve um minuto
de silêncio, então senti um alívio enorme quando me aliviei e logo o
barulho do líquido pingando no chão soou pelo quarto e Heron pareceu não
acreditar no que eu havia acabado de fazer e fez uma careta de raiva então
antes que eu me preparasse, senti o peso de sua mão arder em meu rosto,
em um tapa estralado. Senti o canto da minha boca arder com o corte que
aquilo causou e eu me virei levei a mão ao rosto tentando abrasar a ardência
que se instalou ali.
 
— Sua vagabunda, porca! Foi isso que você aprendeu esse tempo em
que esteve fora? — Ele disse furioso e mais uma vez ele levantou a mão
para mim pronto para me surrar e eu me preparei para mais uma seção de
tortura, me encolhendo tentando me defender.
 
Mas ao invés disso ele agarrou com força meus cabelos me
obrigando a encará-lo e eu fiz uma careta de dor tentando tirar suas mãos.
 
— Você me conhece Kiara, sabe do que sou capaz...— ele gritou em
meu rosto.
 
— Acha que me importo! — Gritei de volta sentindo uma dor
tremenda no meu couro cabeludo, enquanto ele continuava puxando meus
cabelos.
 
Eu fui jogada de volta na cama e bati minha cabeça na cabeceira.
 
— Acha mesmo que me importo com o que vai fazer comigo?  O que
você vai fazer, que já não tenho feito Heron? — Perguntei o enfrentando —
me bater? Como já fez milhões de vezes? Me humilhar? Me ameaçar? Não
há nada que você possa fazer comigo que eu já não tenha passado... — Falei
sentindo as lágrimas voltarem aos meus olhos. — Não existe nada... —
Minha voz falhou ao me lembrar de que ele havia tirado tudo de mim,
minha fé, minha dignidade e agora havia me tirado da única razão que eu
ainda sentia que tinha para viver.
 
Heron começou a rir me fazendo encará-lo e eu me endireitei da
melhor forma possível sobre a cama.
 
— Está falando dele? — Ele perguntou rindo alto em deboche — O
mafiosinho russo? Acha que ele vai vir aqui te resgatar? — Heron disse
estendendo as mãos para dar ênfase.
 
E eu comecei a refletir, Heron tinha razão, Cas não iria ali, não em
uma base militar para me resgatar ao que dizia.
 
— Você sabe onde está? Cassiano nunca vai conseguir encontrá-la
aqui, minha querida. Você é minha agora! Você goste ou não disso —
Declarou pegando as chaves e soltando meus pulsos.
 
Eu esfreguei minha mão em um e depois no outro, desconfiada,
olhando de canto de olho.
 
— Agora vá tomar um banho! — ele ordenou, me jogando uma troca
de roupas e uma toalha.
 
Eu desci devagar da cama ainda com medo de sua reação e andei até
a porta a trancando por dentro com medo de que ele entrasse.
 
Não que aquilo fosse o impedir se quisesse, mas era a única coisa que
eu podia fazer.
 
Olhei meu reflexo no pequeno espelho, minha boca sangrava e eu
com certeza ficaria com um grande hematoma no rosto, passei a mão pelo
rosto verificando o estado, peguei a toalha de rosto e molhei a ponta para
limpar com cuidado o canto da boca, sentindo arder a cada toque que eu
dava.
 
Me virei para a porta ouvindo o barulho da fechadura e esperei que
Heron invadisse, mas ao contrário do que havia pensado a porta não se
abriu e eu andei até ela, destranquei e tentei abrir, mas não abriu. Forcei
mais uma vez, estranhando e depois novamente, me dando conta de que ela
havia me trancado dentro do minúsculo banheiro.
 
— Heron! — Chamei, mas ele não respondeu. — Heron! — bati com
a palma da mão sobre a porta — Não pode me deixar aqui! Abra! — Gritei
espalmando a porta já entrando em pânico.
 
Parei de bater ao notar que ele não iria me atender, virei me
escorando na porta e me deixei deslizar por ela me sentindo derrotada e me
deixei chorar, me lembrando de tudo que eu havia perdido.
 
Fiquei ali sentada por um longo tempo e depois comecei a tirar
minhas roupas sujas.
 
O banheiro era minúsculo e tinha apenas uma pequena banheira com
um chuveiro dentro e uma cortina de plástico.
 
Me levantei sentindo meu corpo mais pesado do que o normal, pelo
desânimo e pela tristeza o puxava para baixo.
 
Abri o pequeno chuveiro e entrei dentro da banheira que servia como
um box e deixei que a água quente caísse sobre a minha cabeça escorrendo
pelo meu corpo e então voltei a chorar, me encolhendo dentro da banheira.
Capítulo 42
 
 
O jovem que estava cercado por computadores de alta geração,
arrumou seus óculos no rosto, com a ponta do dedo do meio, me encarando
enquanto eu aguardava em pé na sua frente, com os braços cruzados.
 
— E então? — questionei impaciente para que saísse logo o
resultado.
 
Ele bufou se escorando no encosto da cadeira.
 
— Como já lhe disse a exatamente cinco minutos atrás, temos que
esperar Heron usar seu telefone celular para que eu possa usar o sinal que é
enviado às torres de celular, para só então conseguir uma aproximação de
sua localização.
 
— Não dá para agilizar isso? — perguntei sentindo que teria um
infarto de ansiedade.
 
Tinha se passado a noite inteira naquela angústia e por mais que eu
tentasse me acalmar eu não conseguia tirar da cabeça os horrores que Kiara
poderia estar vivendo naquele momento, lembranças do dia que ela abriu
sua blusa em minha sala de estar não só se despindo para mim e mostrando
suas marcas físicas, mas abrindo sua alma.
 
Naquele dia eu pude ver cada marca de dor em seu coração ferido e
eu não sabia qual havia sido ao certo o momento em que tinha me
apaixonado por ela, mas foi exatamente ali que Kiara me entregou cautelosa
seu primeiro voto de confiança.
 
Nós havíamos ido ao Hotel, na noite anterior, de onde Kiara havia
ligado e encontramos seu aparelho celular quebrado em um dos elevadores.
 
As câmeras haviam sido desligadas e apesar de Ivan tentar tirar do
segurança responsável por ter apagado alguma coisa relevante que nos
desse qualquer pista de onde Heron podia ter levado Kiara, o cara não
passava de um pilantra querendo ganhar um extra que lhe havia custado
muito caro por sinal.
 
Heron tinha sido um esperto, tinha pagado um terceiro homem para
pagar pelo serviço, que prometeu metade do seu salário se ele desligasse as
câmeras, um dinheiro rápido e fácil.
 
O contato de Boris tinha inteligência, tinha nos enviado o jovem que
eu acreditei não ter mais de dezoito anos, magricelo e com cara de nerd,
mas que parecia saber muito bem o que fazia.
 
Ele trabalhou concentrado a noite toda hackeando as torres de celular
e antes do dia amanhecer garantiu que assim que Heron usasse o aparelho
poderíamos rastrear.
 
Eu não tinha descansado e nem pretendia, não enquanto não tivesse
Kiara de volta em meus braços. 
 
— Chefe! — Um de meus homens chamou. — Temos um problema
 
Porra! Se eu ganhasse uma libra por cada vez que eu escutasse aquela
maldita frase naquele dia, com certeza meu capital cresceria
significativamente.
 
Eu o segui até a guarita dos seguranças onde ficavam os monitores,
ele apontou para três carros estranhos estacionados não muito longe da
mansão em pontos estratégicos e mesmo pelas câmeras eu pude perceber os
dois detetives que haviam estado ali na noite anterior.
 
— Faz quanto tempo que eles estão aí? — Questionei.
 
— Antes mesmo do sol aparecer. — Meu soldado respondeu.
 
— Droga! Era só o que me faltava — falei percebendo que os
detetives faziam campana nas estradas e saídas da mansão.
 
Andei a passos largos para fora da mansão e saí pelo portão da frente
me aproximando do carro onde eles tomavam seu café tranquilamente como
se nada estivesse acontecendo.
 
— Algum problema policial? — questionei me baixando um pouco e
apoiando a mão no teto do carro.
 
— Não, tem algum problema com você? — O detetive Marques
perguntou a seu parceiro, que tomava um café e comia um burrito.
 
— Não, claro que não, só estamos aqui aproveitando o ar fresco de
um dia que aparentemente será bem agradável. — Ele respondeu
ironicamente.
 
Eu apertei minha mão na lataria do carro, sentindo meu corpo
queimar de raiva.
 
— Eu devo me preocupar com a presença de vocês aqui? —
Perguntei querendo saber o motivo deles estarem ali.
 
— Eu não sei Sr. Orlov, deve?
 
Eu estava cansado daquela troca de perguntas sem fim, e bufei
impaciente.
 
— Vocês estão longe do distrito e aqui é uma área privada, então a
menos que vocês tenham um mandato, eu sugiro que se retirem! —
Ordenei.
 
Marques tirou um papel de dentro do blazer e me entregou e eu
peguei verificando ser um mandato onde eles podiam ocupar o espaço fora
da casa com a desculpa esfarrapada de que vigiavam uma outra residência
não muito longe dali.
 
— Como pode ver Sr. Cas, não estamos aqui por causa do senhor e
temos um mandato para essa área em geral, então tenha um bom dia Sr.
Orlov — Marques disse levantando seu copo de café.
 
Aqueles detetives estavam virando uma pedra no meu sapato e se não
fosse pelo fato de eu conhecer a reputação do detetive como um ótimo
policial, acharia que ele estava a mando de Heron.
 
Mas, Marques odiava Heron tanto quanto eu e com certeza estava
fechando o cerco sobre mim, com a intenção de pegar Heron no processo.
 
Voltei para a mansão tentando falar com meu advogado, para ver o
que ele conseguia fazer a respeito dos detetives, eu precisava tirá-los do
meu encalço ou teria grandes problemas.
 
— O que descobriu? — Boris perguntou.
 
— Estão usando a desculpa de vigiarem as redondezas para ficar de
olho em nós, eles não podem entrar, mas com eles ali nós também não
podemos sair. — Falei me sentindo frustrado.
 
— Acha que tem o dedo de Heron nisso? — ele questionou.
 
— Duvido, Marques é certinho demais para isso.
 
— Ainda assim isso nos impede de ir atrás dela. — Meu irmão
apontou.
 
— É o caralho! Passo por cima desses porras se for preciso, mas no
exato momento em que tiver sua localização vou atrás da minha mulher. —
falei em um tom mais alto do que realmente queria.
 
— Encontrei! — o jovem gritou de sua mesa onde mexia em vários
computadores ao mesmo tempo.
 
Nós corremos até ele vendo na tela um ponto azul correr de um lado
para o outro.
 
—  E então? — perguntei.
 
— Espera, espera — ele falou vendo o ponto perder a velocidade e
parar em um lugar no mapa. — Eles estão bem aqui! — ele falou apontando
com o dedo, surpreendendo a todos.
 
— Você só pode estar de sacanagem? — ele falou me sentindo
fodido.
 
— Na base militar? Como?
 
— Isso eu não sei, mas com certeza é aqui que eles estão.
 
Eu passei as mãos pelos cabelos tentando pensar, não podia pedir
para meus homens, ou para Boris simplesmente invadir um base militar, era
suicídio.
 
— Cas… não podemos…— Boris começou a se justificar e eu não
quis terminar de ouvir.
 
Saí pela mansão desconsertado tinha que tentar resgatá-la, não
pediria que ninguém se sacrificasse em meu nome, mas eu não ficaria ali
parado enquanto Kiara estava nas mãos de Heron.
 
Entrei no meu quarto, abri meu cofre e comecei a pegar armas e
munição, quando Boris parou escorando no batente.
 
— O que vai fazer? — ele questionou calmo.
 
— Não posso deixá-la lá! Eu tenho…
 
— Que morrer? Porque isso que vai acontecer e quem você acha que
irá defendê-la quando estiver morto.
 
— Você não entende… não conhece Heron — O acusei nervoso.
 
— Sei muito bem quem ele é!
 
— Não! Você não sabe! Aquele animal marcou ela como um gado,
mais que isso ele marcou tanto sua alma que Kiara mal consegue
reconhecer quando é amada! — Revelei sentindo o desespero tomar conta
de mim. — E eu juro que se ele encostar um dedo nela não vai existir força,
tarefa nessa face de terra que vai me impedir de torturá-lo lentamente.
 
— Tá! E qual é seu plano? — Boris gritou — entrar lá e não chegar
nem na portaria? E ela passar o resto da vida nas garras dele! — Ele disse
se aproximando fazendo minha raiva alimentar a cada segundo — Pare de
ser burro! Comece a pensar antes de agir.
 
— E o que você quer que eu faça?
 
Nós gritávamos um com o outro e eu sentia meu ódio alimentar e o
descontrole tomar conta.
 
— Que eu a deixe nas mãos dele?
 
— Se isso for preciso!
 
Eu não ouvi mais nada, avancei sobre ele e nós nos atracamos feito
dois adolescentes esmurrando um ao outro, nossos corpos se batia pelos
cantos do closet enquanto tentávamos atingir um ao outro como fazíamos
quando éramos mais jovens.
 
Eu consegui dominar Boris, mas não durou muito tempo e ele logo
reverteu o Jogo e esmurrou minha cara com uma violência que eu quase
perdi a consciência, mas quando achei que ele se aproveitaria da situação
ele simplesmente parou.
 
— Não vai ajudá-la se suicidando… — Ele disse ofegante saindo de
cima de mim, não vai chegar nem na base com esses policiais de tocai aí na
frente.
 
Eu pensei por algum momento e me levantei às pressas e saí para
fora.
 
— Cas! — Boris chamou — Cas, onde você vai seu idiota!
 
— Você tem razão, não posso ajudá-la, mas sei quem pode —
Respondi saindo da mansão.
Capítulo 43
 
 
Eu olhava inerte a ponta nos meus dedos, deitada sobre o chão frio
do banheiro, anestesiada depois de ter passado horas chorando sem parar.
 
Talvez não houvesse mais lágrimas, além das que eu já havia
derramado. A dor ainda existia, o vazio ainda estava ali, as incertezas tudo
ainda fluía dentro de mim como uma mina inesgotável e eu queria só mais
uma vez conseguir desligar minhas emoções.
 
Por muitas vezes eu havia me bloqueado, neutralizado meus
sentimentos, minhas emoções, mas não conseguia mais fazer aquilo, não
depois de tudo que havia passado, não com tudo que havia vivido com Cas.
Porque neutralizar, significava esquecer o que havíamos tido juntos, era
negar os sentimentos que tinha por ele e isso eu nunca faria.
 
Depois do que me pareceu ser horas trancada naquele banheiro eu
acabei me rendendo ao cansaço e peguei no sono, acordei com o barulho na
fechadura, que me fez sentar assustada.
 
E apesar de eu ter ouvido Heron abrir a tranca ele não entrou, o que
me deixou desconfiada, ouvi alguns barulhos do lado de fora, mas esperei
que tudo ficasse em silêncio para me levantar devagar e ir até a porta a
abrindo aos poucos olhando pelos cantos para ver se ele estava ali, mas não
havia ninguém.
 
Heron havia trocado o colchão e tinha deixado um balde com pano
para que eu limpasse a sujeira que havia feito. Sobre a cadeira havia um
pacote com roupas limpas, o que me dizia que ele pretendia me manter ali
por muito mais tempo.
 
Andei até elas pegando algumas peças, notando que ele havia
comprado as roupas recentemente pois algumas ainda estavam com etiqueta
e tudo conforme seu gosto.
 
Desdobrei um vestido observando seus detalhes sofisticados.
 
Era sério que ele achava que eu iria usar aquele vestido, ali? —
pensei comigo mesma jogando a peça de volta sobre a pilha de roupas.
 
Andei até o frigobar notando que ele também havia abastecido para
vários dias me trazendo um certo desespero, apesar de já esperar por aquilo,
saber que estaria a sua mercê por dias, me fez sentir um pouco mais vazia
por dentro e eu bati a porta da geladeira com força sentindo raiva de mim
mesma.
 
Dei uma boa olhada no quarto, que não tinha muitas coisas e prendi
meu cabelo em um rabo de cavalo e peguei o balde e comecei a limpar tudo
aproveitando para procurar qualquer coisa que pudesse me ajudar. 
 
Desrosqueei um dos puxadores da gaveta de uma pequena cômoda
que tinha ali e tentei usar seu parafuso para destrancar a porta.
 
Eu tinha que tentar alguma coisa, não podia ficar mais de braços
cruzados esperando que alguém viesse me resgatar, não quando eu sabia
que ali seria impossível.
 
Eu tinha a certeza viva dentro de mim que Cas faria de tudo que
estava ao seu alcance para me resgatar, sabia que ele lutaria até o fim, mas
entrar na base militar era loucura demais até para ele, então eu tinha que
tentar fazer alguma coisa.
 
Forcei, girei, bati, esmurrei e chutei a porta até não aguentar mais e
quando achei que não tinha mais forças eu tentei tudo novamente.
 
— Aí, droga! — Xinguei quando machuquei minhas mãos quando o
parafuso escapou e quebrou e segurei o dedo vendo um pequeno corte.
 
Me sentei no chão, cansada, frustrada e joguei o pedaço de metal
longe com raiva, soltando um grito de ódio.
 
Eu era uma verdadeira inútil, não conseguia resolver nada sozinha. 
 
Me levantei e andei pelo quarto, procurando outra coisa que eu
pudesse usar, mexi no banheiro, cheguei até tentar arrancar os parafusos da
cama com as unhas, mas só consegui me machucar mais.
 
Corri e me joguei na cama quando ouvi os passos duros de Heron se
aproximar, abrindo a porta e entrando sem nenhuma delicadeza.
 
Observei que ele não havia trancado a porta o que me deixou com
uma pontada de esperança.
 
Heron estava eufórico e parecia descontrolado, o que não era
novidade, pois ele sempre estava naquela situação e mantinha meus olhos
na porta esperando o momento certo para sair correndo.
 
Calculava em minha mente se conseguiria passar por ele e chegar a
porta sem ser capturada no caminho.
 
“Será que conseguiria chegar na rua antes que ele me alcançasse?”
— eu pensei — não importa eu tenho que tentar…
 
— Temos que ir! — Ele disse agitado, enfiando em sacos de lixo,
sem nenhuma delicadeza ou organização as roupas que havia me levado a
pouco tempo.
 
Só então parei para de fato prestar atenção nele.
 
— Quê? Como assim? Para onde vai me levar? — perguntei me
sentindo aflita. — o que está acontecendo? — perguntei e voltei a olhar
para a porta.
 
Alguma coisa estava acontecendo para deixá-lo nervoso daquela
maneira e aquilo me preocupou, eu tinha que tentar fugir, não sabia se teria
outra oportunidade, mas quando ameacei sair da cama para facilitar a
corrida Heron veio até mim.
 
— Temos que sair daqui agora! — falou tirando um pedaço de corda
do bolso e voltando a amarrar minhas mãos.
 
— Não… não, por favor — pedi vendo-o amarrar novamente minhas
mãos — Heron por favor fale comigo! O que está acontecendo? —
questionei, mas em troca ele tirou um tipo de bandana do outro bolso e usou
para me amordaçar.
 
Eu fiquei ali vendo ele juntar todas em sacos e depois sair com tudo
vindo me buscar por último.
 
Ele me arrastou pelo mesmo corredor pelo qual entramos e quando
saímos na garagem eu mal conseguia discernir o que acontecia.
 
Ouvi Heron xingar e sacar sua arma disparando em alguém que eu
não conseguia ver quem era e depois sair me arrastando por uma pequena
escada que dava para uma residência.
 
Ele me segurava passando seu braço por meu pescoço, me fazendo de
escudo, andando de ré comigo e quando olhei pela porta que havíamos
entrado Cas surgiu por ela com arma em punho, fazendo meu coração falhar
algumas batidas e eu tentei correr até ele, mas Heron não permitia.
 
Podia ver a arma de Heron mirar para Cas, que usava um colete do
exército britânico.
 
— Heron, solte ela! Você não vai conseguir ir a lugar nenhum a essa
altura, lá fora deve estar cheio de soldados — Cas tentou argumentar.
 
Minha respiração estava acelerada e eu achei que meus batimentos
parariam a qualquer momento.
 
Não conseguia ver Cas na mira daquela arma, o medo de perdê-lo, o
desespero dos dias que ele havia ficado desacordado entre a vida e a morte
estava de volta e eu não podia fazer nada além de sentir…
 
— Como conseguiu entrar aqui! Não era para você estar aqui! —
Heron gritou nervoso se escondendo atrás de mim.
 
— Heron deixa Kiara ir…
 
Apesar de concentrado na mira de sua arma, eu podia ver o medo nos
olhos de Cas, e eu tentei gritar e balancei a cabeça pedindo a ele que não
fizesse aquilo, que fosse embora.
 
— Ela não vai a lugar nenhum. Kiara é minha, nem você e nem
ninguém vai tirá-la de mim. — Ele o interrompeu.
 
— Não seja burro, você está em uma base militar como você acha
que vai escapar dessa? — Cas falou sem baixar sua arma.
 
— Se ela não for minha, não será de mais ninguém! — Heron falou
descontrolado apertando sua arma em minha têmpora me fazendo chorar
desesperada. — Tá escutando ratinha? De mais ninguém — ele me
ameaçou.
 
Cas deu alguns passos para frente devagar e Heron recuou,
percebendo seu movimento, apontando sua arma para ele e depois forçando
ela novamente em minha cabeça me fazendo fechar os olhos com força
chorando aterrorizada.
 
— Não se aproxime! Ou eu juro que mato ela — Ele disse rindo
descontrolado. — Não chore ratinha, vamos ficar juntinhos — Falou me
puxando pela cintura colando ainda mais nossos corpos.
 
E eu senti meu corpo se arrepiar com seu toque malicioso, me
lembrando de todas as vezes que havia sido violada e usada por ele e eu
quis vomitar com nojo e Cas perdeu o controle por um segundo e disparou a
centímetros de distância dele fazendo ele voltar a se esconder atrás de mim
novamente.
 
— Se tocar nela juro por Deus que meto uma bala na sua cabeça! —
Cas ameaçou e Heron continuou a achar graça.
 
— Vai ter coragem de acertar ela, Orlov? Vai ter coragem de meter
uma bala na sua amada para me atingir? Não seria a primeira vez não é
mesmo Orlov? — Heron revelou e eu estranhei. — Contou para ela Cas?
Contou que você matou a última mulher por quem se apaixonou? — Heron
gritava.
 
O quê? — pensei comigo em meu desespero — Cas, havia me dito
que tinha se apaixonado pela madrasta e que ela o tinha usado, e que por
causa disso ela estava morta para ele…
 
Aquele pensamento acionou um gatilho em minha mente “ela está
morta para mim” essas haviam sido as palavras exatas que ela havia usado.
 
Então Cas realmente havia matado sua madrasta.
 
— O quê? Então ele não te contou….
 
— Você não tem saída, Heron — Cas o interrompeu.
 
— Você acredita mesmo nisso? Vamos ver quando eu contar para o
mundo como Kiara me amava e que estava com você contra vontade, como
você não aguentou ser trocado e invadiu nosso ninho de amor e a matou e
eu sem alternativas tive que matar você para me proteger! — Heron narrou
sua versão com uma tranquilidade assustadora — Em quem você acha que
vão acreditar? No procurador geral de justiça ou em um Mafioso de merda
feito você. O que você acha ratinha? Gostou da minha história? — Ele disse
afastando a mordaça da minha boca e esfregando seu rosto no meu, me
deixando enojada e eu aproveitei para morder seu rosto com toda a força
possível ouvindo-o gritar.
 
Nesse momento Cas avançou em nossa direção e nós três caímos no
chão, Cas rolou com Heron tentando brigar pela sua arma e a dele voou
longe caindo para debaixo do sofá, eu fiquei ali sentada vendo os dois se
debaterem, sem saber o que fazer com o coração na garganta de medo.
 
Com desespero eu comecei usar a boca agora livre, para tentar
desfazer os nós da corda que prendia meus pulsos e quando consegui me
joguei para perto do sofá e estendi a mão alcançado a arma.
 
Ainda sentada eu mirei como Cas havia me ensinado, mas eu não
podia atirar, não quando os dois estavam grudados um no outro, se jogando
de um lado para o outro e eu acompanhava movimento sem saber como agir
e meu corpo se sobressaltou assustado quando o som de um disparo soou e
os dois pararam de se debater e uma lágrima correu pelo meu rosto com
medo de que Cas houvesse se ferido.
 

 
Heron estava por cima de Cas e se moveu caindo de lado e eu pude
ver a mancha de sangue no colete dele e corri em sua direção chorando.
 
— Cas… Cas…por favor fale comigo…— pedi passando a mão em
seu corpo procurando onde era o ferimento.
 
— Eu estou bem…— Cassiano respondeu se sentando e Heron
soltou um gemido e eu só então me dei conta de que ele tinha um ferimento
na barriga.
 
Nesse momento vários policiais entraram armados, mas quando
notaram que tudo já estava sobre controle guardaram suas armas.
 
Eu abracei Cas me sentindo aliviada daquele pesadelo ter finalmente
acabado e chorei em seu ombro.
 
— Me perdoe, isso tudo foi culpa minha… eu… eu não deveria ter
saído… — Falei entre soluços.
 
— Eiii está tudo bem agora, vai ficar tudo bem — Ele prometeu
levando uma mão a minha cabeça e alisando minhas costas tentando me
consolar.
 
Eu me mantive agarrada nele sentada em seu colo no chão, enquanto
os policiais rendiam, socorriam e prendiam Heron.
 
Cas permitiu que eu ficasse ali por um longo tempo, até eu me sentir
calma o suficiente para nos levantarmos.
 
Quando saímos para o lado de fora havia vários carros de polícia e
jipes do exército, Heron era posto em uma ambulância algemado em uma
maca e os detetives que estavam atrás dele estavam ali, um homem usava
um alto falante para dispensar alguns curiosos que se aproximava e outro
passava uma fita listrada em volta do perímetro.
 
— Quanto tempo ele vai pegar? — Cas perguntou para Marques.
 
— Infelizmente com a influência que ele tem e com a falta de provas
que temos logo estará nas ruas novamente — ele disse me deixando
horrorizada.
 
— Mas ele me sequestrou, me agrediu…
 
— Sim, mas para o jure será sua palavra contra a de um procurador…
— o detetive disse em um tom de que não se orgulhava daquilo.
 
O detetive olhou para Cas e fez um sinal, que ele respondeu.
 
Eu encarei Cas tentando entender o que acontecia e ele parecia
cansado, me puxou pela cintura e beijou meus lábios com uma lentidão e
quando terminou tirou do bolso do colete um pendrive e entregou para o
detetive.
 
— Cassiano Orlov, você está preso pela execução de Ryou Watanabe,
tem o direito de permanecer calado e tudo que disser será usado contra você
no tribunal, também tem direito a um advogado, caso não tenha um será
designado um defensor público — O detetive William disse sem pausas
algemando Cas, me deixando atordoada.
 
— Não… não… vocês não podem fazer isso… — Eu falei tentando
impedi-lo daquilo.
 
Aquilo estava errado, não era ele que deveria ser preso…. Ele não
podia ser preso… não agora…
 
— Cas… diz a eles… — eu implorei cansada daquela situação.
 
— Está tudo bem pequena… tá tudo bem… — Cas disse com um
olhar triste, mas conformado se deixando ser levado pelos policiais e eu o
encarei incrédula.
 
— Kiara eu tenho que ir com eles agora… eu fiz um acordo e os
detetives cumpriram a parte deles, agora preciso cumprir a minha — Ele
disse e eu me agarrei a ele tentando impedir que ele fosse levado.
 
Não era assim que aquilo deveria acabar.
 
Não podia ser verdade, ele não podia estar falando sério, não depois
de tudo.
 
Eu vi Cas se afastar pouco a pouco sem eu ter tido a chance de lhe
dizer tudo que sentia.
 
 
Cas horas antes….
 
— Não temos jurisdição. — O detetive Marques alegou e eu bufei.
 
Aquilo era uma piada, se eles realmente quisessem dariam um jeito,
não seja a primeira vez que um departamento se envolvia em outro.
 
— Baboseira! Heron está com Kiara lá dentro presa e vocês estão me
dizendo que não vão fazer nada porque não é a jurisdição de vocês?
 
— Não esperamos que o senhor entenda Sr. Cassiano — William
falou me encarando.
 
— Ela é uma inocente! — eu gritei tentando fazê-los entender aquilo.
 
— Não estamos dizendo que não é…
 
— Não, não estão dizendo, só estão dizendo que não vão fazer nada!
— eu bati a cadeira no chão perdendo minha paciência.
 
Os dois se entreolharam, o que denunciava a cumplicidade de anos de
parceria.
 
— E se fosse a sua mulher detetive? — Falei me aproximando de
Marques que parecia ser o mais velho dos dois — Ou sua filha, não
quebraria algumas regras para protegê-la? — questionei.
 
— Digamos que possamos fazer alguma coisa… — Ele disse se
mostrando pensativo.
 
— Não me venha com essa! — Reclamei andando de um lado para o
outro na pequena sala de interrogatório para onde eles haviam me levado.
 
Eu tinha os procurado depois de perceber que não poderia conseguir
aquilo sozinho, sabia desde o princípio que iam querer alguma coisa em
troca e estava preparado para aquilo, daria tudo por Kiara e tinha a certeza
de que ainda seria pouco.
 
Eles voltaram a se olhar e depois olharam para o espelho que eu sabia
que havia alguém ali atrás que estava acima deles.
 
— E então? Temos ou não um acordo, eu dou o que vocês querem e
em troca vocês entram lá “junto comigo” — Deixei bem claro — e me
ajudam a resgatá-la.
 
Uma batida na porta soou e eles foram chamados e eu fiquei ali
sozinho esperando por um longo tempo e quando eles voltaram tinham um
papel em mãos e um terceiro homem.
 
— Sente-se Sr. Cassino — Eles pediram — esse é o promotor de
justiça e está aqui para formalizar nosso acordo.
 
— O acordo é o seguinte, você irá nos fornecer provas de sua
organização e em troca faremos o possível para resgatar a senhorita Kiara.
— Ele me falou me fazendo rir.
 
— Não! O acordo é, se vocês conseguirem me ajudar a resgatar Kiara
Sã e salva eu lhe darei provas sobre mim e somente sobre mim.  — Falei
deslizando o papel de volta para eles.
 
— Não podemos invadir a base, como disse não temos jurisdição…
 
— Então não há nada para eu fazer aqui — Falei me levantando,
ajeitando meu blazer e começando a sair.
 
— Mas talvez… podemos ajudá-lo entrar… — O detetive Marques
foi rápido em dizer chamando minha atenção e me fazendo voltar.
 
— Estou ouvindo — Falei me voltando a me sentar.
 
Marques me explicou seu plano e como me ajudaria a entrar na base
como um soldado em uma falsa simulação e que eles estariam ali quando
tudo começasse e me dariam cobertura. Ou seja, não me deixariam fugir
depois.
 
— E então, o que me diz? — Ele perguntou quando terminou de
expor seu plano.
 
Eu analisei a situação e sabia que não tinha muitas opções então
concordei com um aceno.
 
— Ah e Sr. Cassino e bom que Heron esteja vivo ou todos nós
estaremos em problemas no final — ele me avisou.
 
— Juro que farei o meu possível, mas não prometo nada…— afirmei.
 
Os detetives me entregaram os papéis e eu assinei sem pensar duas
vezes.
 
— Ótimo! Agora nos entregue as provas que nos prometeu — Ele
pediu.
 
Eu sorri achando graça.
 
— Não antes de Kiara estar sã e salva — avisei.
 
Marques suspirou fundo e se levantou e eu fiz o mesmo.
 
— Aguardarei o contato dos senhores em breve detetives — Falei
apertando sua mão em um comprimento formal como se tivéssemos
acabado de fechar um negócio.
 
Nenhum deles podiam me deter, não ainda, não enquanto não
cumprissem o seu lado do acordo.
 
Abotoei meu blazer e saí pela porta da frente da delegacia com a
cabeça erguida.
 
 

— Você não pode estar falando sério? — Ivan disse nervoso quando
revelei o acordo que havia feito. — Vai se entregar e entregar provas para
sua própria condenação, você perdeu o juízo?
 
Apesar da situação eu estava tranquilo em relação àquilo, tinha
tomado uma decisão e isso incluía pagar pelos meus erros ou parte deles
pelo menos.
 
— E a gente e a organização? — Ivan questionou.
 
— Estará em ótimas mãos meu amigo — Falei segurando em seu
ombro e Ivan soube que eu me referia a ele.
 
Eu deixaria Ivan responsável pela organização e acreditava
sinceramente que ele era uma pessoa mais adequada para aquilo do que eu.
 
Eu tinha pouco tempo para arrumar tudo, então precisava me
apressar.
 
— Cuide dela para mim enquanto eu estiver fora… — pedi ainda
segurando em seu ombro e encarando seu olhar e ele acenou em
concordância.
 
Chamei meu advogado garantindo que Kiara tivesse uma vida
confortável enquanto eu estivesse preso e deixando ela responsável pela
maioria das minhas ações na empresa.
 
Depois me despedi do meu irmão e agradeci aos meus soldados que
pareciam mais emocionados do que eu havia imaginado.
 
— Vai lá chefe! Mostra pra eles como é que se faz — um de meus
homens gritou enquanto bebíamos uma saideira e foi quando meu telefone
tocou.
 
— Está na hora! — Marques me avisou e eu desliguei sem lhe
responder, virando meu último copo de vodka.
Capítulo 44
 
 
— Cas! — eu o chamei, mas estava muito barulho, pessoas falando e
o homem que dizia alguma coisa no maldito alto falante — Cassiano! —
Gritei novamente e fiquei furiosa quando o soldado falou junto comigo não
permitindo que eu fosse ouvida, então eu caminhei até ele e tomei seu alto
falante não me importando se ele era ou não a lei ali, eu tinha algo
importante a dizer aquele homem e ninguém iria me impedir.
 
— Cassiano Orlov! — Chamei no alto falante chamando a atenção de
todos e me senti envergonhada quando não só Cas me deu a devida atenção,
mas todos que estavam ali. — Como se atreve a me ignorar quando eu
tenho algo tão importante pra dizer? — perguntei, e dei uma pausa e ouvi
uma voz baixa que veio de alguém na multidão dizer: — Vamos, então diga
— e eu sorri achando graça.
 
— Não é justo que depois de tudo você vá embora dessa maneira…
não depois de me fazer amá-lo tão intensamente, eu simplesmente não sei
mais viver sem você… — eu comecei a dizer e Cas me ouvia atentamente
com um meio sorriso — saiba que não vai se livrar de mim tão facilmente e
eu vou te esperar não importa quanto tempo você demore, vou estar bem
aqui… — Eu terminei com uma emoção que parecia que explodiria meu
peito.
 
— Eu não esperaria menos da minha pequena mentirosa…— Cas
disse quase em um sussurro e eu corri jogando de lado o alto falante e
pulando em seus braços que continuava algemados em suas costas
 
— Eu te amo meu amor… te amo — falei me pendurado nele e vi um
dos detetives soltar suas mãos permitindo que ele me desse um último
abraço, cheio de emoção.
 
E eu não estava preparada para largá-lo, não ainda.
 
Os braços de Cas me envolvia e minhas pernas se enroscavam nele
enquanto uma de suas mãos me segurava e a outra acariciava meus cabelos.
 
— Está tudo bem… você vai ficar bem — ele prometeu em meu
ouvido — Procure Ivan, peça que ele a leve até meu advogado eu deixei
instruções com ele…
 
— Não… eu não quero… — sussurrei grudada nele, afundando meu
rosto em seu pescoço enquanto todos observavam a cena.
 
— Sr. Orlov, precisamos ir — Marques disse.
 
— Não… por favor… — Pedi sem saber exatamente para quem eu
falava.
 
— Eu tenho que ir pequena, faça o que te falei e você vai ficar bem
— Ele voltou a dizer antes de me dar um último beijo suave e cheio de
significado.
 
Cas acompanhou por livre e espontânea vontade os detetives até uma
viatura e eu o vi ser colocado na parte traseira, enquanto os detetives
entraram na frente.
 
Eles deram a partida no carro e começaram a vir em minha direção
para dar a volta na rua e seguirem para a saída da base, eu podia ver Cas no
banco de trás vendo ele ser levado para longe de mim e um desespero ia
crescendo.
 
Quando a viatura estava a poucos metros de distância eu
simplesmente entrei na sua frente, obrigando-os a pararem.
 
— Parem! Parem, por favor — eu pedi batendo com a mão sobre o
capô do carro.
 
— Mas que porra pensa que está fazendo? — O detetive disse saindo
de dentro impaciente...
 
— E se eu puder renegociar? — perguntei sentindo uma grande
esperança. — Se eu, por acaso tivesse informação de um caso muito
importante? — Falei chamando a atenção deles.
 
Cas me olhava confuso e eu me aproximei dos detetives para falar em
um tom de voz mais baixo.
 
— Se eu tivesse provas definitivas sobre o caso do Arthur Marinho
— eu revelei.
 
— O que sabe sobre o Arthur? — Marques perguntou, se mostrando
afetado pelo que eu havia acabado de dizer.
 
— Isso vai depender do que vocês puderem ou não me oferecer… —
Eu falei e Marques ficou nervoso e teve que ser contido pelo amigo o que
me deixou confusa.
 
William o afastou de mim e sussurrou alguma coisa em seu ouvido
que Marques concordou e voltou para o carro.
 
— Eu peço desculpas pelo meu parceiro, mas esse caso é pessoal
para ele, já que Arthur era seu meio-irmão — ele revelou me fazendo sentir
culpada.
 
— Eu sinto muito… eu não fazia ideia…— fui sincera, pois nunca
havia sido mencionado nos jornais que Arthur tinha um meio irmão
 
— Então me diga Kiara, o que exatamente você tem a oferecer? —
ele perguntou.
 
— Um vídeo, um vídeo onde mostra Heron assassinando o agente.
 
William pareceu pensar por um instante.
 
— O que você quer em troca?
 
— A liberdade de Cas! — falei rapidamente.
 
— Impossível! — ele respondeu de imediato. — 7 anos e ele cumpre
2 anos em liberdade condicional.
 
— Nem pensar!
 
— Kiara ele vai responder por assassinato! — O detetive revelou —
não tem como ele não cumprir pena.
 
Porra! Cas tinha que ter feito aquele maldito acordo? — pensei
comigo mesma analisando a situação.
 
— Pense bem Kiara é menos da metade da pena que ele iria tirar —
William tentou me convencer.
 
— E Heron não vai tirar nem metade disso só porque tem boas
influências — Acusei revoltada.
 
— 5 anos e ele cumpre dois em liberdade — ele negociou como se
aquilo fosse uma mercadoria e em vendas eu era boa.
 
— 2 e ele pode sair em um ano por bom comportamento! — Exigi.
 
— Eu vou ver o que consigo fazer, mas não prometo nada — ele
falou e chamou um outro policial e pediu para que me levasse até a
delegacia.
 
 
 
Eu estava aflita esperando por Ivan na delegacia, eu havia ligado para
ele depois que os detetives tinham me deixado esperando em uma sala de
interrogatório.
 
Eu havia sido levada em uma viatura separada de Cas, então
enquanto esperava pedi para usar o telefone, eu começava a ficar com medo
de ter ido longe demais com minhas exigências e comecei a andar de um
lado para o outro impaciente, mas eu não iria desistir não quando a
liberdade de Cas dependia de mim.
 
A porta abriu e Ivan entrou junto com o advogado de Cas.
 
— Está tudo bem? — ele quis saber.
 
— Sim, eu só não aguento mais essa espera. O que isso significa? —
perguntei para o advogado que entendia melhor aquela situação.
 
— Cas entregou um vídeo a eles como prova que havia matado Ryou
— O advogado disse me fazendo estremecer.
 
Agora sabia exatamente quem Cas era, mas ainda assim lembrar da
cena dela matando aquele homem me deixava assustada.
 
— Os detetives estão processando as provas e formalizando a prisão.
 
— Mas então isso quer dizer que eles não vão aceitar o acordo? —
perguntou com medo e confusa.
 
— Me diga Kiara o que exatamente você tem contra Heron? — Ivan
perguntou segurando em minhas mãos e olhando em meus olhos.
 
Lembrar daquela noite nunca era fácil, por isso apesar de não ter me
desfeito das provas nunca a quis comigo, então guardei em um lugar que
acreditei ser seguro.
 
— Tenho um vídeo onde ele mata o agente de corregedoria Arthur
Marinho…
 
— O agente desaparecido? — O advogado se interessou e eu
concordei.
 
— Isso é bom… isso é ótimo. Podemos conseguir uma boa redução
na pena de Cas.
 
— Redução? Acha que não conseguimos a liberdade? — eu
perguntei.
 
— Difícil, mas Cas com a acusação de assassinato sairá com 20 anos
se tiver sorte… mas, com isso…— naquele exato momento a porta foi
aberta novamente e os detetives entraram.
 
Marques não parecia nada feliz com aquilo e William me
cumprimentou com um aceno.
 
— Então vamos lá! — os detetives disseram, com um pacote plástico
com um pendrive dentro.
 
Todos nós nos sentamos, tirando por Ivan que se manteve em pé atrás
de mim como um guarda costas.
 
— Aqui são as provas que o Sr. Orlov nos ofereceu, você quer ver?
— o detetive Marques falou e sem esperar que eu o respondesse colocou o
vídeo onde Cas matava o homem que eu havia visto naquela noite.
 
No vídeo não mostrava muita coisa além do que eu já havia
presenciado naquele dia e a gravação havia sido cortada no exato momento
que eu deveria aparecer, eu não sabia que Cas havia gravado aquilo e não
tinha ideia do porquê ele havia gravado, mas eu não queria ter visto
novamente e os detetives parecia perceber aquilo, pois virei meu rosto.
 
— O que é isso? — O advogado perguntou — Estão tentando
intimidar minha cliente?
 
— É esse homem que você quer ver nas ruas senhorita Kiara? —
Marques perguntou — Olhe para a tela Kiara! Olhe e me responda se é esse
homem frio e cruel que você quer ver solto! — Ele me intimidava alterando
a tom de voz.
 
— Já chega! — Ivan interveio — Se foi para isso que a trouxeram
aqui, isso termina agora! — ele declarou, começando a se retirar.
 
— Não! — Eu finalmente consegui falar, levantando a mão para que
Ivan parasse.
 
Eu queria responder sua pergunta, eu fazia questão de lhe responder.
 
— Olhe o senhor para aquela tela detetive Marques, sabe quem é
aquele homem sendo morto? — Eu questionei, pois, Cas havia me contado
naquele dia que ele era um Mafioso.
 
O detetive pareceu desconfortável, mas eu continuei.
 
— Acha que ele merecia minha compaixão? — falei começando a
me emocionar pois sua pergunta me trazia muitas questões que por um
longo tempo eu havia pensado naquele hotel depois de ter saído feito uma
louca. — O homem que vocês estão aqui tentando pintar como um monstro
é o homem que eu amo! Que cuidou de mim quando ninguém mais quis,
que me amou quando o colega de vocês o renomado procurador geral de
justiça feriu, maltratou e humilhou, muitas e muitas vezes, então detetives
respondendo a pergunta de vocês, sim é exatamente aquele homem ali que
eu quero solto e ao meu lado e se para isso eu tiver que barganhar usando
provas pela morte de um inocente — falei olhando para o detetive Marques
— então eu peço desculpas do fundo do meu coração, mas é exatamente
isso que irei fazer.
 
Sabia que Marques estava furioso e com razão, eu estava usando a
morte de seu irmão a meu favor, mas não eu não havia feito aquilo, eu não
tinha pedido por aquilo e lamentava muito por ele, mas não iria voltar atrás.
 
William o encarou e encostou no encosto da cadeira se dando por
satisfeito.
 
— O acordo é esse — ele disse me entregando um papel que o
advogado olhou e me confirmou com um aceno que era um bom acordo.
 
Eu olhei o papel verificando que ali tinha exatamente o que eu havia
pedido, 2 anos de detenção e ele poderia sair em um ano por bom
comportamento.
 
— Só mais uma coisa…— falei antes de assinar. — Quero um dia
com ele antes dele ser detido.
 
William riu da minha ousadia, mas confirmou com um aceno.
 
 
Cas
 
 
As últimas horas tinham sido de agonia e desespero, ver Kiara na
mira de Heron tinha tirado todo meu autocontrole e se não fosse o acordo
que eu havia feito com os detetives eu com certeza o teria matado.
 
Eu acreditei que depois do que Heron havia revelado a Kiara ela não
ia mais querer me ver.
 
O desgraçado tinha investigado toda a minha vida para ter aquela
informação e eu sabia que teria muito o que explicar a ela.
 
No entanto, ali estava minha garota se declarando para mim na frente
de todos, sem se importar que eu estava sendo preso, deixando de lado tudo
que sabia e o que não sabia sobre mim, me enchendo de orgulho e emoção.
 
Vi Kiara jogar o alto falante e correr em minha direção pulando sobre
mim e eu desejei com todas minhas forças poder abraçá-la, mas tinha
minhas mãos algemadas. Senti quando um dos detetives destrancou um lado
das algemas e eu pude envolver Kiara em meus braços, sentindo a emoção
crescer dentro de mim. 
 
Eu queria poder dizer a ela que tudo era um mal-entendido, que
poderíamos ir embora nos enfiar no nosso quarto e matar a saudade pelos
próximos dias e que as explicações ficassem para depois, desejava pegar ela
em meus braços e fugir para bem longe, mas eu não podia, havia feito
aquele acordo e Kiara merecia mais que uma vida ao lado de um criminoso
fugitivo.
 
— Está tudo bem… você vai ficar bem — Falei tentando acalmá-la
— Procure Ivan, peça que ele a leve até meu advogado. Eu deixei
instruções com ele…
 
— Não… eu não quero… — Ela disse se afundando em meu pescoço
fazendo meu coração se partir vendo sua tristeza.
 
— Sr. Orlov, precisamos ir — Ouvi marques chamar e por mais que
eu não quisesse largá-la, era preciso.
 
— Não… por favor… — Sua voz soou chorosa.
 
— Eu tenho que ir pequena, faça o que te falei e você vai ficar bem
— Eu a avisei, dando um último beijo, lento de delicado tentando gravar em
minha mente seu delicioso sabor, decorando a sensação de seus lábios, pois
seria a única coisa que eu teria para me manter firme nos anos que viria.
 
Eu a larguei relutante sentindo uma sensação de vazio e acompanhei
os detetives até a viatura. Mesmo depois que entramos no carro Kiara ficou
parada ali não muito longe e acompanhou a gente com o olhar conforme o
carro se aproximava dela e de repente ela entrou na frente do carro me
assustando.
 
— Parem! Parem, por favor — Ela começou a gritar feito um louca
batendo na lataria do veículo.
 
— Droga Kiara o que está fazendo amor? — eu sussurrei.
 
Ela só podia estar perdendo o juízo, se continuasse a agir daquela
forma acabaria sendo presa por desacato.
 
— Mas que porra pensa que está fazendo? — Marques disse saindo
nervoso do carro e indo em direção a ela e ela começaram a conversar, mas
eu não conseguia ouvi-los o que estava me deixando frustrado, pois não
havia nada que eu pudesse fazer a respeito.
 
Vi quando Marques perdeu a paciência e teve que ser contido por seu
parceiro.
 
Seja lá o que Kiara tivesse dito a eles, havia tirado todo o alto
controle do detetive e eu me perguntava o que tanto eles conversavam.
 
— O que foi? O que ela queria? — eu perguntei quando os dois
voltaram para o carro e deram partida saindo.
 
Nenhum dos dois se deu ao trabalho de responder o que me dizia que
nossa breve trégua tinha terminado.
 
Eu fui levado para a delegacia e fui colocado em uma das salas de
interrogatório.
 
Se passaram horas entre perguntas sobre como, por que, quando e
onde eu havia matado Ryou e quando eu achei que havia terminado eles
começaram tudo novamente.
 
— Eu já respondi todas as essas perguntas, o acordo foi eu entregar
provas que comprovasse que eu fui o responsável por sua execução e eu
cumpri minha parte no acordo, qualquer outra pergunta que vocês queiram
fazer podem perguntar ao meu advogado — Falei perdendo a paciência lhes
entregando um cartão.
 
Os detetives ficaram calados e se levantaram se dando por satisfeitos.
 
— Acho que isso será o suficiente — Marques disse vindo em minha
direção com as algemas.
 
Eu permiti que eles me algemassem novamente e fui levado para a
cela provisória na delegacia até me transferirem para o presídio.
 
Eu me deitei na pequena cama de concreto pensando em como Kiara
deveria estar naquele momento, eu esperava que Ivan cumprisse sua palavra
e cuidasse bem da minha pequena mentirosa.
 
Fiquei ali pelo resto do dia e quando foi no final da tarde William
apareceu sem seu parceiro.
 
— Vamos princesa, hora de ir — Ele falou abrindo a cela.
 
— Para onde vamos? — Questionei, enquanto ele voltava a me
algemar, pois sabia que a transferência seria somente no dia seguinte.
 
— Vamos dar um passeio — Falou sem me dar grandes informações
me puxando pelo braço me guiando para fora da delegacia, mas eu também
não me preocupei.
 
William me colocou novamente em uma viatura e dirigiu até um
hotel no centro da cidade.
 
Quando nós descemos do carro eu olhei para cima reconhecendo o
hotel onde eu tinha levado Kiara quando a conheci, o mesmo que ela tinha
ido quando foi embora e estranhei a coincidência.
 
— O que estamos fazendo aqui? — perguntei curioso ainda olhando
para cima.
 
William bufou e começou a me puxar pelo braço, nós atravessamos o
saguão do hotel indo em direção do elevador.
 
— Eu também gostaria de saber… — Falou parecendo frustrado.
 
As pessoas no hotel me olhavam sendo levado algemado com as
mãos para trás e quando pegamos o elevador uma senhora se retirou com
medo o que me fez rir.
 
— Você acha essa situação engraçada né? — William me perguntou
irritado.
 
Eu dei de ombros.
 
— Eu não sei, não sei nem o que estamos fazendo aqui! Se me disser,
talvez eu possa responder se é ou não engraçado — falei me encostando na
parede do elevador, aguardando que chegássemos ao nosso destino, seja lá
qual fosse.
 
Quando o elevador chegou no andar que paramos em frente a porta
do quarto, Marques estava ali de segurança, tirou as algemas e eu esfreguei
meus pulsos sentindo um alívio em estar sem elas.
 
— Não tente nenhuma gracinha — ele avisou abrindo a porta do
quarto e me dando passagem.
 
Eu entrei no quarto deduzindo que estava vazio e estranhei, olhei ao
redor percebendo ser exatamente o mesmo quarto que havia estado com
Kiara e o cheiro do seu perfume estava ali por todo o lugar o que me deixou
ainda mais intrigado, mas logo escutei um barulho de salto vindo da direção
do banheiro e quando olhei na direção da entrada, lá estava minha pequena
mentirosa, vestida em um robe de seda branco com uma maquiagem que a
deixava ainda mais linda e um salto que poderia muito bem matar um
homem.
 
Eu me virei para trás olhando para porta, sem poder acreditar que
aquilo era realmente real, pensando se não era algum tipo de pegadinha,
mas não, eu estava ali no quarto onde tudo havia começado e Kiara estava
comigo, linda e sexy como eu nunca tinha visto antes.
 
Meu coração acelerou, transbordando de emoção ao vê-la ali e eu
fiquei confuso sem entender nada, mas não quis perder meu tempo
tentando,  apenas caminhei em passos largos até ela e Kiara também correu
ao meu encontro e pulou em meus braços e eu me afundei em sua boca,
pintada em um batom vermelho, louco de desejo sentindo seu cheiro,
apreciando a sensação do seu corpo no meu, aquele calor que eu morria de
saudades e eu não fazia ideia de como ela havia conseguido aquele
encontro, mas eu estava muito feliz e só queria aproveitar o máximo que
pudesse antes de ser levado de volta.
 
— Eu estava morrendo de saudades… achei… achei que…. — Ela
começou a dizer.
 
— Shiii…. Deixe as palavras para depois meu amor, deixe eu
saborear você agora — Falei voltando a beijar sua boca.
 
 
Kiara
 
Eu estava nervosa, tinha tanta coisa para dizer, tanto a entender, mas
principalmente tinha tanto que desejava mostrar…
 
Olhei meu reflexo no espelho, dei um retoque na maquiagem, uma
última arrumada na lingerie e olhei o relógio. Estava quase na hora, usei
meu perfume e foi quando ouvi a porta da frente se abrindo. Ele tinha
chegado! Esfreguei as mãos suadas e fechei o robe branco de seda
comprado especialmente para aquele momento.
 
Caminhei até a porta, vendo Cas parado, surpreso, sem entender
absolutamente nada, ele olhou pra trás tentando encontrar uma explicação e
depois voltou para mim e veio em minha direção, minha emoção que já era
grande aumentou e eu corri até ele.
 
Nós nos beijávamos com saudades e quando tentei dizer alguma
coisa Cas dispensou qualquer palavra deixando só que nossos corpos
falassem.
 
— Preciso tomar um banho pequena… estou sujo e fedendo a
delegacia — ele disse parecendo constrangido e eu já havia me preparado
para aquilo. 
 
Desci do seu colo e segurei sua mão o puxando de leve em direção ao
banheiro com um sorriso travesso nos lábios.
 
Eu havia preparado uma banheira de água morna com sais e óleos
aromatizantes, também havia espalhado velas pelo banheiro para deixar um
ar mais romântico.
 
Cas me encarou com um olhar carregado de ternura, sem dizer
nenhuma palavra, mas que me deixava enxergar todo o sentimento que
existia naquele momento.
 
Eu desabotoei sua camisa e deixei que ela deslizasse por seus braços
e caísse no chão, depois fiz o mesmo com suas calças e com um sorriso
segurei sua mão pra que entrasse na banheira.
 
Sim aquela noite eu iria cuidar dele, assim como ele tinha feito
milhares de vezes comigo e como eu sabia que faria outros milhares.
 
Fiquei do lado de fora e coloquei uma quantidade generosa de
sabonete líquido na esponja e comecei a esfregar delicadamente seus
ombros e costas.
 
Era tão gratificante poder retribuir a dedicação que ele havia
direcionado a mim todos aqueles meses que eu sentia a mulher mais feliz do
mundo, mesmo nas atuais circunstâncias, ensaboei cada parte do seu corpo
deixando que o desejo aumentasse a cada contato de nossas peles, sentindo
meu corpo queimar com a luxúria que crescia a cada olhar silencioso, mas
cheio de significado.
 
— Amo você… — Eu sussurrei deslizando a esponja até o seu
peitoral.
 
Cas segurou a minha mão e levou aos lábios mesmo estando suja
espuma.
 
— Eu também amo minha pequena… — Ele se declarou olhando em
meus olhos profundamente, e me puxando para um beijo ardente.
 
A cada segundo que passava aquele beijo ia se tornando mais
avassalador e eu me inclinava mais para ele, quase me jogando dentro da
banheira.
 
— Acho que já chega de banho — Cas disse se levantando com o
corpo todo molhado e cheio de espuma e com seu membro em todo seu
louvor bem à minha frente.
 
Levantei meu olhar para ele com um meio sorriso travesso e repeti.
 
— Meu Deus, quanta ignorância.
 
Cas riu alto e jogou a cabeça para trás lembrando da primeira vez que
eu o tinha visto nu.
 
Ele se curvou e segurou o meu queixo e me deu um beijo rápido
saindo de dentro da banheira.
 
— Fico feliz que aprecie minha querida — ele brincou e puxou uma
toalha se enrolando nela.
 
Quando me levantei, Cas me pegou em seu colo e caminhou comigo
até o quarto me depositando com suavidade sobre a cama.
 
Seu olhar era faminto e cheio de promessas e eu suspirei
profundamente quando ele desamarrou meu robe e deslizou seus lábios por
minha pele me deixando latejando de desejo.
 
— Quero saborear cada pedacinho seu Kiara — disse depositando
um beijo suave sobre a renda do sutiã, em meu seio esquerdo e depois no
direito e mordiscando meu bico intumescido pelo tesão causando um
choque de prazer.
 
— Aaahhh, Cas…— Eu gemi baixinho acariciando seus cabelos.
 
Sua boca continuou a descer por minha barriga e depois por minhas
coxas em beijos que queimava minha pele, fazendo eu perder o controle da
minha respiração que parava a cada mordiscada e acelerava a cada beijo
suave.
 
Cas enfiou o rosto entre minhas pernas e afastou minha calcinha e
correu sua língua quente e molhada por toda minha intimidade e eu levantei
meu quadril incapaz de suportar aquela sensação avassaladora que me
atingiu. Cas segurou em minha cintura se aprofundando mais em mim,
sugando meu clitóris inchado e pressionando sua língua em uma massagem
prazerosa.
 
Eu não conseguia me conter ou abafar meus gemidos com a
dedicação que Cas empenhava ali.
 
— Ahhh! — Dei um gritinho quando ele mordiscou sugando em
seguida — Cas… por favor…. — Eu implorei alucinada pelo prazer que
ameaçava interromper violentamente.
 
— O que minha querida? diga…— ele perguntou introduzindo dois
de seus dedos em minha boceta e usando o polegar para estimular meu
pequeno ponto de prazer.
 
— Eu vou… — tentei dizer, mas quando ele voltou a usar sua boca
em uma sucção forte eu gozei intensamente em sua boca sem nenhum pingo
de pudor.
 
Antes que eu pudesse me recuperar, como se tivesse medo de não ter
tempo o suficiente Cas se afundou em mim profundamente, duro e exigente,
me preenchendo por completo atingindo os limites.
 
Podia senti-lo nas barreiras do meu útero empurrando me fazendo
arranhar suas costas.
 
Ele retirou seu membro quase totalmente só para se afundar
novamente e repetiu e mais uma vez até pegar um ritmo que me fazia ir a
loucura.
 
Cas se investia dentro de mim com estocada fundas e violentas que
me fazia soltar pequenos gritos e eu achei que iria desmontar a qualquer
momento com o prazer de cara encaixe seu dentro de mim, os choques de
prazer que se ligava a próxima investida e a outra que iam se acumulando
dentro de mim, mais e mais.
 
Ele colocou seu corpo ao meu suado pelo esforço de nossos corpos e
arranhou meu pescoço com os dentes.
 
— Você é minha Kiara…— Ele falou de maneira possessiva e eu
acreditava nele.
 
Cas havia me marcado, mas não como Heron, ele tinha me marcado
com seu amor, com seus toques e com todo aquele prazer avassalador que
ele podia me proporcionar e sim eu era dele e somente dele.
 
— Sim… — eu gemi quase em agonia por aquele prazer — Sua… só
sua e estarei bem aqui… sempre… — tentei falar entre as estocadas que ele
não diminuía, ao contrário, Cas parou apenas para me virar de bruços e
abrir minhas nádegas e introduzir novamente seus dedos apreciando a
suculência da minha boceta e depois voltar a me pegar por trás conseguindo
ir ainda mais fundo do que achei ser possível.
 
Revirei meus olhos sentindo que podia enlouquecer com tanto prazer
e Cas segurou meu pescoço por trás e meteu com força me impulsionado
mais para ele.
 
— Eu vou gozar Kiara… quero gozar dentro de você minha pequena
— Ele disse em um pedido de autorização.
 
— Sim… por favor, Cas, Goze dentro de mim… — eu gritei atingido
meu próprio orgasmo e Cas me acompanhou me enchendo com a sua porra
se deixando cair sobre mim ofegante logo em seguida.
 
Ficamos ali cansados, ofegantes por um tempo e eu senti Cas beijar
minha nuca antes de se jogar para o lado se ajeitando.
 
— Eu não sei como você conseguiu isso, minha pequena — Mas com
certeza foi o melhor presente que você poderia ter me dado.
 
— Isso é só o começo — Garanti com um sorriso travesso pois ainda
tínhamos uma noite inteira pela frente e eu tinha planejado coisas muito
interessantes para o dia seguinte.
 Capítulo 45
 
 
Kiara estava confortável em meu peito agarrada a mim, enquanto eu
fazia caricias em seus cabelos que estava cada dia maior e eu não podia
dizer que não gostava, pois ela ficava linda de qualquer jeito.
 
— Casa comigo? — Ela perguntou do nada me surpreendendo, pois
aquilo era a última coisa que eu esperava que dissesse, baixei levemente a
cabeça para encará-la e ela levantou seu olhar para mim com um sorriso
travesso e eu acreditei que fosse somente uma brincadeira.
 
— Não está falando sério, está? — Perguntei.
 
— Claro que estou, casa comigo? Eu amo você e você já provou que
também me ama então…
 
Senti uma tristeza profunda, pois não queria magoá-la,
principalmente ali, naquele momento tão especial para nós.
 
Eu não sabia quando a poderia tê-la em meus braços novamente,
beijar sua boca e desfrutar de seu corpo.
 
Queria mais que tudo em minha vida poder dizer que sim, e vê-la
pular de alegria, dizer que não tinha nada no mundo que eu queria mais do
que aquilo, mas eu estava condenado a passar anos na cadeia e não queria
que Kiara passasse toda a sua vida esperando por mim.
 
— Kiara eu não posso… isso é loucura… — comecei a dizer bufando
frustrado, a afastando de leve, preocupado em estragar aquele momento tão
especial, ela se sentou e eu mal conseguia encarar ela — eu… eu …vou
passar anos preso, Kiara, não quero que você perca sua vida por minha
causa, que passe anos tendo que me visitar em presídio — falei
envergonhado. — Não vai querer isso para você, meu amor…
 
Dizer tudo aquilo a ela partia meu coração, mas era a mais pura
verdade.
 
— Na verdade… — Ela se levantou da cama tão feliz que eu
comecei a me preocupar — Não! Não vai passar anos…— Kiara disse
tirando um papel de dentro da sua bolsa e me entregando.
 
Me levantei e peguei o papel de suas mãos vendo que era um acordo
feito com o departamento de justiça, onde dizia que em troca de
informações confidenciais, minha pena seria reduzida a dois anos, podendo
sair em um por bom comportamento.
 
Eu não sabia dizer qual tinha sido a última vez que senti ser tão
afetado pela emoção, era inacreditável aquilo e apesar de não chorar de
alegria eu sentia que poderia facilmente me emocionar.
 
— Mas… como? — perguntei sem acreditar.
 
— É uma longa história, mas para tentar resumir, Heron havia
matado o agente da corregedoria Arthur Marinho e eu tinha provas muito
comprometedoras contra ele, então…
 
Meus olhos passavam pelas palavras escritas no papel sem conseguir
acreditar no que meus olhos viam e eu me sentei incapaz de permanecer em
pé.
 
— Você… nunca me disse nada sobre isso… — Falei tentando
entender.
 
— Cas, eu não sabia quem você era e acreditava que estaria te
metendo em encrenca se compartilhasse com você essa informação —
Kiara revelou séria, se ajoelhando em meus pés se apoiando em meus
joelhos, me fazendo encará-la.
 
E aquilo abria a porta para um outro assunto que eu precisava
compartilhar com Kiara.
 
— Pequena… — Falei deixando o papel de lado e a puxando para o
meu colo de modo que suas pernas abraçaram minha cintura, ela passou a
mão por meu pescoço e me encarou, esperando pelo que eu iria dizer — O
que Heron disse…
 
— Sobre você ter matado Laila? — Me interrompeu ansiosa.
 
Eu apertei a carne de suas coxas com suavidade apenas tentando me
acalmar e contar aquele lado da minha vida, que eu não sabia como Kiara
reagiria.
 
— Sim…eu não te contei toda a verdade — Falei.
 
— Você realmente a matou? — Kiara perguntou com uma
tranquilidade que me surpreendeu e eu confirmei com um leve aceno e me
preparei esperando que ela fosse sair do meu colo ou fosse começar a
chorar decepcionada, mas não, ela continuou a me encarar, esperando que
eu continuasse.
 
— Por quê? — Perguntou simplesmente, quando eu demorei para
dizer.
 
— Por quê? — Estranhei sua pergunta simples e natural.
 
— Sim, por quê? O que ela fez de tão ruim que mereceu ser morta?
 
Eu me surpreendi com sua pergunta e pensei em como responder de
forma que ela entendesse.
 
Kiara não conhecia nada do meu mundo, não fazia ideia do que
acontecia ou de como as coisas funcionavam, dizer a ela que Boris havia
ordenado não era explicação suficiente.
 
— Eu não queria ter a matado apesar de tudo… — Revelei sentindo
um desconforto enorme dentro de mim — Na época eu ainda a amava, mas
Laila tinha mentido para mim, me usado para… — Dei uma pausa antes de
revelar aquele ponto — Matar meu pai.
 
Kiara deu um pulo do meu colo surpresa com a revelação e ficou
parada na minha frente me encarando.
 
— Você… matou mesmo seu próprio pai? — Ela gaguejou confusa
pois da última vez eu apenas tinha deixado a entender que tinha sido o
responsável por sua morte.
 
— Eu sei que é difícil que você entenda agora meu amor, mas meu
pai não era como os demais pais comuns, que tomam café da manhã com os
filhos no final de semana, ou leva para passear nos dias de folga, desde
muito cedo a única coisa que meu pai se empenhou em me ensinar, foi que
eu não devia amar ninguém além de mim mesmo, que amor era sinônimo
de fraqueza e que minha lealdade deveria estar somente com a máfia, para
ser mais exato e ele que era o chefe — Revelei me aproximando dela e para
minha surpresa Kiara não recuou — Venha deite-se aqui — Pedi com uma
voz mansa.
 
Aquela seria uma longa conversa, uma que eu não queria que Kiara
ficasse na defensiva.
 
— Juro que vou te contar toda a minha vida e se depois de tudo você
ainda quiser se casar comigo eu serei o homem mais feliz do mundo — Eu
disse pegando em sua mão e a levando de volta para a cama.
 
Com Kiara de volta em meus braços eu comecei a contar detalhes da
minha vida desde quando era apenas um menino, contei também que desde
o início minha mãe tentou com unhas e dentes preservar minha inocência e
como me ver crescer e me infiltrar cada vez mais na máfia acabou levando-
a a tirar a própria vida.
 
— Ela te amava muito né? — Sabia que aquela era uma pergunta
retórica, mas ainda assim eu respondi.
 
— Sim, mas ela era doce demais para o nosso mundo.
 
O que fazia pensar, Kiara também era…
 
— Quando eu voltei para a Rússia depois de anos estudando e
treinando fora, eu conheci Laila, a mais nova mulher do meu pai — Falei
com um certo desprezo — ela foi a única que me recebeu naquele dia, era
jovem, poucos anos mais velha do que eu, bonita, mas já tinha um objetivo
em mente que eu não sabia. Destruir minha família — Revelei com Kiara
em meus braços.
 
— E o que ela fez? — Kiara perguntou como se eu estivesse lhe
contando uma fábula de livros infantis. O que me fez achar graça.
 
— Eu logo me encantei por seu sorriso, beleza e pelo cuidado que ela
demonstrava ter por mim… foi tolice da minha parte…
 
— Ela era tão bonita assim? — Kiara perguntou enciumada.
 
— Na época eu achava, porque ainda não tinha conhecido você —
falei vendo-a sorrir.
 
Tudo aquilo me parecia estranho, nós conversamos tão naturalmente
que não me senti mal em contar aquela parte da minha vida para Kiara, ao
contrário, me sentia aliviado, eu havia imaginado mil e uma maneiras de
como ela poderia reagir, mas brincar e sorrir não estava em nenhuma delas,
o que me fazia questionar se aquilo era mesmo real.
 
— Logo Laila começou a se abrir comigo, contando como era infeliz
ao lado do meu pai, então na primeira vez que meu pai foi viajar a negócios
e passaria mais de uma semana fora, Laila mostrou os frutos do que ele
chamava de noite de amor — falei enojado, me lembrando dela tirando as
alças de seu vestido, mostrando os hematomas e marcas de mordidas. —
Ela tinha assim como você várias marcas pelo corpo…
 
Senti o corpo de Kiara estremecer e eu sabia que aquilo era delicado
para ela, mas ela ainda não sabia toda a verdade.
 
— Seu pai abusava dela? — Kiara perguntou com assombro.
 
— Eu acreditei que sim! Cheguei a confrontá-lo por aquilo e ele não
negou, apenas disse que ela era uma vagabunda e que eu não deveria
acreditar no que ela dizia. Achou que aquilo bastava. E pelo menos uma vez
na vida ele tinha razão — me lembrei. — Depois disso eu e Laila
começamos a nos relacionar e eu queria fugir com ela, ir para longe, viver
uma vida normal, mas ela sempre se negava dizendo que tinha medo e que
viver fugindo não era a vida que ela sonhou. Naquele dia… — eu parei de
falar ao me lembrar dos fatos.
 
— O que aconteceu?
 
— Nós estávamos em seu quarto, quando meu pai chegou e nos
pegou, ele ficou furioso, mas não comigo… — falei me lembrando do ódio
dele direcionado a ela — Ele começou a bater nela violentamente e eu o
tentei impedir, mas ele só parou… — Parei de falar, mas Kiara podia muito
bem deduzir o que havia acontecido depois.
 
— Entendo… — foi tudo que Kiara disse me fazendo encará-la para
ter certeza de que ela realmente havia escutado tudo que eu tinha acabado
de lhe contar.
 
— Quando Bóris ficou sabendo do que havia acontecido, como
primogênito e mais novo chefe, apurou os fatos e descobriu que meu pai
nunca havia batido em Laila antes daquele dia e que as marcas em seu
corpo haviam sido feitas propositalmente, por seus muitos amantes, então
como punição ou para não ter que me matar ele ordenou que eu a matasse…
 
— Meu Deus Cas… eu não imagino como você deve ter ficado…
 
— Ela ainda teve coragem de me dizer que me odiava antes de
morrer — Revelei.
 
— Por isso quis me ajudar? Pela semelhança que tinha com ela? —
Kiara perguntou desconfiada.
 
— Não vou mentir que no começo eu acho que só queria provar a
mim mesmo que eu tive meus motivos para acreditar em Laila, que nem
todas eram mentirosas como ela…
 
Eu respirei fundo, pois aquele ponto nem mesmo eu entendia os
motivos pelos quais eu quis protegê-la.
 
— Quando me contou a verdade, quando vi as marcas… eu confesso
que queria provar para mim mesmo que aquilo era verdade, que nem todas
eram mentirosas e que eu podia lidar com aquilo sem me envolver, mas
algo no seu olhar era diferente… que eu não conseguia ignorar, porque
mesmo depois do inferno que havia passado seus olhos ainda brilhavam
com a esperança de viver…
 
Eu sabia que talvez Kiara não entendesse aquela parte, mas Laila
tinha a morte pintada em seus olhos tristes, ela tinha se preparado e aceitado
seu destino, mas antes de morrer queria levar o que pudesse junto e acabou
levando.
 
— Então eu era só um teste para você? — ela perguntou e eu dei
risada.
 
— Não minha pequena, eu a desejei desde o momento em que entrou
no meu carro, aquilo tudo era só uma desculpa que eu inventava para mim
mesmo, para não dizer que a quis pra mim desde o primeiro momento que
coloquei meus olhos em você — Revelei puxando seu rosto para mim e lhe
dando um beijo.
 
— Então Kiara esse sou eu, um mafioso renegado pela família, um
homem condenado, um pouco perdido e complicado, mas completamente
apaixonado por você, então agora eu que vou lhe perguntar, Kiara, você
ainda quer se casar comigo?
 
Ela abriu um sorriso de orelha a orelha e alcançou o criado mudo do
lado da cama e pegou uma pequena caixinha.
 
— Eu sou uma mulher muito tradicional — Ela falou brincando —
Então dessa vez peça direto.
 
Eu dei risada abrindo a caixinha do que já sabia ser um par de
alianças e me ajoelhei sobre a cama apenas de cueca e perguntei
novamente.
 
— Kiara… você aceita se casar comigo?
 
— Sim, sim e mil vezes sim — ela respondeu com uma felicidade
absurda e eu beijei sua boca abraçando seu corpo.
 
— Juro que vou me comportar para voltar para você o mais rápido
possível, e nós nos casarmos — Jurei lhe dando um selinho.
 
— O quê? Esperar mais um ano? Nem pensar, eu já tenho tudo
preparado e nos casamos amanhã — Kiara disse se levantando e indo até o
closet e buscando um terno cinza e um vestido branco — Achou mesmo
que eu lhe daria um ano livre de mim? — Ela perguntou.
 
— Não pensei nem um segundo nisso. — Falei a puxando pela
cintura a fazendo soltar os pacotes e a arrastando de volta para a cama. —
Quanto tempo ainda temos — eu perguntei em cima dela.
 
— A noite toda! — ela revelou maliciosa — a noite toda, sem
parar… todinha… — repetia aumentando seu sorriso e eu a ataquei com
beijos a fazendo gritar.
 
 
Kiara
 
Cas se trocava em um lado do quarto tranquilamente, enquanto eu
sentia que surtaria de nervoso a qualquer momento, mas tentava me manter
calma e fechar meu vestido que não estava ajudando em nada.
 
A maquiagem que eu tinha improvisado parecia que começava a
derreter e minhas mãos suavam sem parar e eu sentia um calor que não era
para sentir, já que o dia estava frio.
 
Ele veio até mim suavemente e me virou para o espelho encarando
meu reflexo e passando o dedo pela minha pele exposta, subindo o zíper
que eu lutava para levantar.
 
— Está nervosa. — Ele afirmou, massageando meus ombros
tentando me fazer relaxar.
 
— E não era para estar? É nosso casamento, por que você não está
nervoso? Tá calor aqui não está? Precisamos mesmo ligar o aquecedor? —
Eu comecei a falar sem parar e Cas começou a rir e me puxou para seus
braços beijando a minha boca.
 
— Meu amor, vai dar tudo certo… só relaxa tá bom? Você está linda!
 
Eu não vestia um vestido de casamento e não me importava, já tinha
me casado uma vez com tudo o que tinha direito, mas ali a única coisa que
me importava era nós dois.
 
— Você também está, e esse terno lhe caiu muito bem — Falei
ajeitando o pequeno lenço em seu bolso.
 
Ouve uma batida na porta e eu voltei a ficar nervosa.
 
— São eles, eles chegaram… — Falei olhando mais uma vez o
vestido simples, branco e novo, o colar que já era meu que Cas havia me
dado, e era o que eu tinha de mais velho e uma presilha emprestada que
também era azul.
 
“Algo novo, algo velho, algo emprestado e algo azul, seguindo a
tradição que dizia que dava sorte”
 
— Pronta? — Cas perguntou me encarando e eu afirmei com um
aceno e ele foi até a porta onde entrou Ivan e Boris seguido de Ellie e Mira
que eu havia conseguido entrar em contato em cima da hora.
 
Dois policiais continuavam na porta para garantir que Cas não
mudaria de ideia e fugiria.
 
— Amiga! — Mira praticamente gritou quando me viu e correu para
me abraçar. — Então esse é o seu homem? — Ela sussurrou me fazendo rir
— Meu Deus amiga, que homem. — Ela elogiou fazendo uma careta de
quem havia gostado da minha escolha.
 
Mas de repente ela mudou de semblante.
 
— Aí Kiara eu acompanhei o que aconteceu pela televisão, aquele
cara, grrr — Ele reagiu brava — Tomara que ele apodreça na cadeia e que
façam picadinho dele lá dentro, ela disse empolgada, alimentando o tom de
voz chamando a atenção de todos para ela, o que a deixou sem graça.
 
— Um brinde a isso! — Boris disse perto do bar já com um copo de
whisky na mão e todos riram.
 
— Cadê o juiz de paz? — perguntei já aflita pois não tínhamos muito
tempo. — Já era para ele ter chegado, será que aconteceu alguma coisa? —
perguntei olhando no relógio nervosa e mais uma vez em um time perfeito a
batida soou na porta.
 
— Olha aí! Deve ser ele — Mira disse se adiantando e indo para a
porta abrir.
 
Eu me ajeitei no centro do quarto ao lado de Cas, com o juiz à nossa
frente.
 
— Aqui, trouxe isso para você — Boris disse me entregando um
buquê de rosas vermelhas me deixando envergonhada.
 
— Obrigada!
 
Eu havia feito tudo às pressas que não tinha me lembrado do buquê,
não que aquilo fizesse diferença, mas Boris tinha tido a delicadeza de passar
em uma floricultura e comprar um, o que me deixou encantada.
 
Todos tomaram seus lugares, se é que tinham algum, já que nada
daquilo foi realmente planejado e Cas sorriu para mim tão feliz quanto eu,
de estamos dando aquele passo tão importante.
 
— Estamos aqui hoje para…
 
— Espere! Espere! — Mira pediu mais uma vez chamando a atenção
de todos.
 
— Deixa eu colocar uma música né! — ela disse procurando algo em
seu celular e todos ficamos ansiosos esperando e quando ela começou a
tocar, eu mal pude acreditar e todos olharam para ela não acreditando na
escolha.
 
— O quê? É a única que eu tenho para combinar com o momento —
ela se justificou ao som de Marry You /Bruno Mars e eu ri da amiga maluca
que eu havia arrumado.
 
Deixamos que a música tocasse baixo enquanto o Juiz realizou
rapidamente a cerimônia e em poucos minutos eu estava legalmente casada
com Cassiano.
 
— Um brinde ao novo casal — Ellie disse levantando a taça, mas foi
interrompida por Ivan que tomou a taça de sua mão.
 
— É sim, muito bom, mas vamos comemorar em outro lugar, pois
esses dois pombinhos com certeza têm outros planos para comemorar do
que encher a cara com a gente.
 
Ellie olhou para mim como se para confirmar o que ele dizia e eu
confirmei com um aceno sem graça.
 
— Você acredita que deixei a máquina de lavar ligada? — ela falou
voltando a tomar a taça da mão de Ivan e virando de uma só vez.
 
— E eu preciso mesmo voltar — Mira disse vindo me dar um abraço
— Amiga fiquei muito feliz por ter se lembrado de mim e mais feliz ainda
por ter encontrado sua felicidade — Ela falou me apertando em seus braços
— Nós vemos em breve para enchemos a cara e comemorar esse momento,
por enquanto só aproveite!
 
— Nos vemos mais tarde meu amigo! — Ouvi Ivan dizer para Cas
apertando sua mão, seguido de Boris, seu irmão.
 
Depois que todos nos felicitaram e foram embora, que Cas fechou a
porta eu me senti aliviada, olhei para a aliança em meu dedo e sorri e voltei
a encarar Cas.
 
— Quanto tempo ainda temos mesmo? — Ele perguntou ainda com a
mão sobre a maçaneta da porta.
 
— Algumas horas — Respondi já tentando abrir o maldito zíper
daquele vestido que me testava.
 
Cas não esperou, apenas correu em minha direção me pegando
rapidamente em seu colo e me jogando sobre a cama e subindo sobre mim,
deixando nossos rostos a centímetros de distância.
 
— Então quero aproveitar cada segundo que ainda temos te
mostrando o quanto estou feliz em ter me casado com você — ele afirmou
de forma sensual, enquanto eu ainda me contorcia, desesperada para abrir o
zíper, mas acabei desistindo e puxando tudo pela cabeça.
 
Cas me ajudou, deslizando por meus braços, usando-o para manter
meus braços presos sobre a minha cabeça, se aproveitando para roçar seus
lábios nos meus.
 
— Então me mostre! — Sussurrei já afetada pelo desejo que crescia.
 
O ar não era mais de brincadeira, nenhum dos dois mantinham o
sorriso, e a tensão havia crescido tão rapidamente que podia sentir os efeitos
em meu corpo, respondendo rapidamente ao desejo de tê-lo ali sobre mim.
 
Ele cheirou o meu pescoço ainda segurando minhas mãos e desceu
até o vale dos meus seios e com a outra mão desabou habilidosamente o
fecho que era na parte da frente, abocanhou meu mamilo assim que ficou
exposto para ele me fazendo gemer de satisfação.
 
— Quero ter certeza de que irá se lembrar de mim, nesse um ano que
vamos ficar separados Kiara — Cas sussurrou sobre a pele da minha barriga
me fazendo sentir um friozinho gostoso, me fazendo sentir que ele
cumpriria aquela deliciosa promessa.
Capítulo 46
 
 
Depois que saímos do hotel, Kiara foi o caminho todo agarrada a
mim e segurava firme em minha mão, como se tivesse medo de me perder,
no banco da frente do carro iam dois policiais e nós íamos no banco
traseiro.
 
Os detetives fizeram questão de nos escoltar por todo o caminho até o
presídio e quando chegamos foram os primeiros a descer.
 
— Eu juro que vou vir toda a semana… — Kiara disse emocionada
já do lado de fora da penitenciária.
 
O dia estava extremamente frio, o clima estava me lembrando que o
natal se aproximava e não seria nada fácil passar aquela época do ano
trancado naquele lugar.
 
— Não quero que venha minha pequena. — Falei encarando seu
olhar que pareceu confuso.
 
— O quê? — ela perguntou com uma lágrima. — Não quer me ver?
 
Sabia o quanto aquilo podia magoá-la, mas só de ter que imaginar o
sofrimento que seria para ela ter que vir me ver toda semana, imaginar a
humilhação que ela teria que passar nas revistas íntimas só para ter alguns
minutos do dia comigo, não, eu não podia permitir aquilo.
 
Eu me aproximei dela abraçando seu corpo com força e depositando
um beijo no topo da sua cabeça com muito carinho, sentindo uma dor
tremenda em ter que deixá-la.
 
— Não quero que você precise me ver aqui… — Falei sobre seus
cabelos — Você não precisa disso meu amor, não quero que precise passar
pelo constrangimento de uma revista…
 
— Mas… — Ela me interrompeu se afastando.
 
— Será só um ano Kiara, ainda podemos nos falar por telefone e
você pode me escrever. Ivan vira sempre…
 
— E eu também, virei sempre que puder — meu irmão me
interrompeu, chamando minha atenção para ele, que fumava um charuto
encostado na lateral do veículo.
 
E eu voltei minha atenção para ela.
 
— Por que eles podem vir? — Ela perguntou com um tom de voz
choroso.
 
Eu não queria dizer a ela que a vida na cadeia não seria fácil, que
provavelmente eu teria vários inimigos ali dentro e que não queria que ela
fosse testemunha das coisas que talvez me aconteceriam.
 
Não queria ver Kiara chorando preocupada se eu acordaria vivo ou
morto no dia seguinte, queria poupá-la de tudo aquilo.
 
— Eu acho que é porque ele não te ama o suficiente, por isso prefere
ver nós dois sendo apalpados pelos machos gostosos e sarados do presídio
— Ivan brincou fazendo uma careta, mas aquilo pareceu fazê-la esquecer
um pouco a tristeza e eu voltei abraçá-la.
 
— Só quero que esteja bem aqui quando eu sair, tá bom? — Pedi a
apertando em meus braços.
 
Ficamos ali abraçados enquanto eu ouvia seu choramingo baixinho.
 
— Não chore minha pequena, logo estaremos juntos novamente…
 
— Vamos senhor Orlov. — O detetive Marques chamou e eu lhe dei
um último beijo molhado e carregado de paixão.
 
Me despedi de Ivan e do meu irmão que fizeram questão de estarem
ali comigo e acompanhei os detetives até o grande portão de ferro do
presídio.
 
Antes de entrar eu parei e me virei para dar uma última olhada em
Kiara que chorava desconsolada fazendo meu coração se partir em mil
pedaços em vê-la naquela situação.
 
Pude ver o momento que desesperada se virou e Ivan a acolheu em
seus braços tentando consolá-la, e eu me martirizei por não poder fazer
aquele papel naquele momento.
 
Sabia que iria perder muitas coisas naquele um ano, que não seria eu
a consolá-la quando estivesse triste, ou que iria vibrar com ela suas novas
conquistas, mas era um mal necessário que eu precisava fazer para poder
viver o resto da vida ao seu lado.
 
Marques me escoltou pelos corredores da penitenciária e fez questão
de ficar comigo até o momento em que tive que trocar minhas roupas, o que
me parecia lhe trazer uma grande satisfação me ver ali vestido no simples e
sem graça macacão cinza.
 
— Obrigado! — Eu agradeci, mesmo sabendo que ele não estava
nada feliz com aquele acordo, mas também porque tinha algo que eu ainda
precisava dele.
 
— Cuide-se Orlov — Marques disse se virando para sair.
 
— Marques! — eu o chamei — queria te pedir um último favor —
falei vendo-o franzir a testa. — Algo que só você pode conseguir.
 
Marques voltou disposto a me ouvir e ficou satisfeito em concordar
com o que eu havia lhe pedido, se retirando em seguida.
 
 
Duas semanas depois….
 
— Abram a cela 14! — Eu ouvi o guarda gritar do corredor e as
grades da minha cela foram abertas.
 
Os presos estavam agitados e gritavam sem parar fazendo uma
arruaça desnecessária.
 
Eu estava deitado na pequena cama do beliche, na parte de cima,
como sempre costumava fazer desde o dia em que havia chegado ali,
admirando a foto de Kiara que tinha colocado no teto da minha cela, me
lembrando diariamente que minha mulher estava lá fora me esperando
ansiosamente pela minha volta.
 
Eu conseguia falar com ela rigorosamente, duas vezes por semana,
poucos minutos pelo telefone do presídio e Ivan sempre me trazia seus
recados e mimos que fazia questão de mandar.
 
— Orlov! Você tem companhia — O guarda avisou trazendo meu
novo parceiro de cela.
 
— Espera! Orlov? — ouvi o mais novo presidiário que eu já sabia
muito bem quem era perguntar e eu desci do beliche apreciando com muita
satisfação a cara de desespero de Heron ao saber que eu seria seu novo
companheiro de cela. — Não! Não, espera! Não pode me deixar aqui! —
ele começou a gritar com o guarda quando ele o trancou comigo lá dentro e
saiu sem lhe dar atenção.
 
Heron se mostrava em total pânico, escorado nas grades da cela,
acuado como eu esperava que ficasse.
 
— Sentiu saudades, Heron? — perguntei friamente vendo ele quase
se borrando de medo, e aquilo seria só o começo de um ano muito divertido
entre nós.
 
Eu havia pedido para o detetive Marques, que mexesse em alguns
pauzinhos e me desse a satisfação de ter Heron como meu companheiro de
cela, claro que Marques também querendo ferrar Heron tanto quanto eu,
ficou mais do que satisfeito em atender meu pedido.
 
O que nos levava naquele exato momento.
 
— Você não pode fazer nada comigo… se fizer alguma coisa, não vai
conseguir sair daqui, pense em Kiara… —  Ele começou a dizer tremendo
feito um pinscher doméstico e eu o acertei com toda a minha força quando
ele ousou tocar no nome dela, fazendo ele bater a cabeça na grade para
depois cair no chão.
 
Eu caminhei até ele e o levantei pela gola, o virei de costas para mim
e forcei sua cabeça a prensando nas grades, para que pudesse olhar com
clareza o restante do presídio.
 
Nas outras celas os presos gritavam e batiam em suas grandes
empolgados para ver um pouco de violência e agitação, dois guardas tinham
uma visão privilegiada da nossa cela, mas fingiam que não estavam vendo o
que acontecia ali.
 
— Sabe o que você descobre quando entra aqui dentro Heron? — dei
ênfase ao seu renomado nome — Aqui é uma terra sem lei, onde prevalece
o mais forte. Tá vendo a cela 21 ali — Falei mostrando dois presos negros
grandes — Estavam ansiosos pela sua chegada depois que eu lhes contei
como você adorava violentar sua mulher — Falei no pé do seu ouvido — E
sabe? Eles adoram uma carne branca. — Sussurrei com malícia.
 
Heron começou a se debater desesperado quando um deles lhe
mandou um beijo.
 
— Não, por favor! Me tire daqui…— Heron começou a gritar me
fazendo rir.
 
 
Kiara 2 meses depois…
 
 
Eu olhava o resultado do exame emocionada, já esperava por aquilo,
na verdade esperava ansiosa para que realmente estivesse grávida e que não
fosse só um fruto da minha imaginação.
 
Os últimos dias estavam sendo difíceis, Cas continuava a dizer que
não queria me ver no presídio e eu sentia tanto a sua falta, mesmo nos
falando sempre por telefone eu queria pelo menos uma vez tocar seu rosto,
beijar sua boca, ter ele perto de mim, mas ali com o resultado do exame na
mão eu me sentia tão próxima a ele, um pedaço seu estava bem ali
crescendo dentro de mim.
 
Ivan me olhava assustado, ele tinha se tornado um aliado muito
grande contra a tristeza que me ameaçava me tomar desde que Cas havia
sido preso.
 
— E então? — Ele perguntou preocupado quando comecei a chorar.
 
— Positivo…— Eu falei sentindo minhas pernas tremerem com a
emoção.
 
Ivan me abraçou e eu solucei sentindo que aquilo era tudo que eu
precisava naquele momento, uma razão para continuar firme, algo para me
agarrar nos meses que ainda viriam, algo dele, nosso.
 
— Eu vou ser mãe… vou ser mãe de um filho dele Ivan…
 
— E eu nem acredito que já vou virar tio — ele brincou como sempre
fazia quando não sabia lidar com uma determinada situação.
 
Sabia que Cas havia pedido a ele que cuidasse de mim, e Ivan tinha
seguido ao pé da letra aquele pedido.
 
No início eu não queria pensar em nada além de chorar e lamentar o
que havia acontecido me culpando por Cas ter que passar por aquilo.
 
Mas Ivan não me deixou em paz nem por um dia se quer, primeiro
me levou novamente em Tintangel, onde eu e Cas tínhamos visitado,
provavelmente a mando do meu amado marido, depois inventou passeios
que eu não fazia ideia de como ele tinha tantas ideias, mas o que me
motivava a ir? Era que a cada vez ele me entregava uma carta de Cas.
 
“Pequena mentirosa, acho que hoje você conheceu minha praia
favorita, e espero que tenha gostado do rocambole que orientei Ivan
comprar para você, essa padaria tem os melhores rocamboles da
Inglaterra, então sempre que sentir minha falta, não chore minha
pequena, pegue o carro, compre um rocambole, sinta a brisa do mar e
pense em mim, pois mesmo longe eu sempre estarei presente em seu
coração”
 
Dizer que fiquei emocionada com sua delicadeza e palavras era um
eufemismo, voltei para casa naquele dia e me afundei nos potes de sorvetes
de variados sabores e em músicas depressivas até apagar de tanto comer e
chorar, mas no outro dia Ivan estava lá com outra missão. Começar a dar
conta da empresa que Cas havia deixado em meus cuidados.
 
Como eu não fazia ideia, não entendia absolutamente nada, mas Ivan
sabia de tudo isso, e mesmo assim se desdobrava entre cuidar de mim,
gerenciar a empresa e comandar a organização. 
 
— Então como se sente? — Ivan perguntou me ajudando a me sentar.
 
— Eu acho que… estou feliz, eu estou muito feliz… eu não sei como
explicar, mas eu sinto que isso era tudo que eu precisava nesse momento —
falei chorando feito uma descontrolada fazendo gestos com as mãos.
 
Eu sabia que sempre fui emotiva, às vezes até demais, chorava por
qualquer coisa, mas nos últimos dias, eu conseguia chorar até com o filme
A.I. Inteligência artificial, mesmo já tendo assistido umas 30 vezes e saber
exatamente como seria o final.
 
— Vai contar para ele? — Ivan questionou e eu parei de chorar por
um segundo secando minhas lágrimas.
 
— Eu não sei… ele disse que não queria que eu fosse lá, e eu não
queria deixá-lo preocupado comigo aqui fora, o que você acha?
 
Ivan deu de ombros.
 
— Isso é uma decisão que cabe somente a vocês Kiara, eu fico muito
feliz em poder acompanhar você de perto enquanto Cas está lá, mas acho
que ele merece saber…
 
Eu parei para pensar no assunto, mas não respondi, não estava pronta
ainda para dar aquela resposta.
 
Quando cheguei em casa e coloquei minha bolsa sobre a mesa, o
lugar estava silencioso, geralmente eu tinha a companhia de Ellie que
continuou comigo mesmo depois que Cas havia sido preso, mas eu tinha lhe
dado o dia de folga já que iria passar a maior parte do dia fora.
 
Tomei um banho quente e passei alguns minutos em frente ao
espelho tentando ver se já conseguia ver alguma diferença em minha
barriga. Estufava e voltava esperando ver qualquer sinalzinho do bebê ali,
mas quando não vi nada me dei por vencida e fui comer alguma coisa,
pensando se deveria ou não contar para Cas que eu estava grávida.
 
 
Cas …
 
Nós estávamos no serviço de lavanderia aquela semana, no presídio
era assim, tínhamos que trabalhar para pagar nossos custos ao governo e
cada semana era um novo setor, se podia assim dizer.
 
Já tinha 2 meses que estava ali e podia dizer que tinha conseguido me
enturmar muito bem, na primeira semana não tinha sido fácil, os membros
do Bratva que estavam ali me odiavam por ter matado meu pai, os da
Yakuza queriam minha cabeça por ter matado Ryou e os mexicanos não iam
com a minha cara, por não ter aceitado me aliar ao seu querido chefe. Cada
grupo tinha seu líder ali dentro e para resumir ninguém gostava de mim.
 
— Ei Orlov, você não deveria estar comendo a sua mãe? — O líder
do grupo dos membros da Yakusa, me disse tentando me provocar,
enquanto eu tentava comer minha comida, se é que aquilo podia se chamar
de comida.
 
Eu não parei para lhe responder e continuei a comer a minha comida,
mas então ele pegou aquela água que eles chamavam de suco e derramou
dentro do meu prato, estragando toda a minha comida.
 
— O que você pensa que está fazendo? — Perguntei me levantando.
 
Ele não pareceu se intimidar, mesmo quando eu tinha quase o dobro
do seu tamanho e eu logo entendi o porquê, quando um grupo de uns 5
homens se aproximaram dele tentando me intimidar.
 
Eu balancei a cabeça sorrindo, achando graça daquela situação.
 
Vi um guarda passar pelos outros e lhe entregar um maço de dinheiro
e logo entendi o que estava acontecendo.
 
Aquilo era uma aposta, e eu era o mais novo cavalo de corrida, mas
quem sairia perdendo caso eu ganhasse?
 
Olhei para os seis homens a minha frente, minha bandeja de metal e
uma colher plástica e tudo aconteceu muito rápido.
 
Usei a bandeja para acertar os dois primeiros que tentaram me atacar
e quebrei a perna do terceiro acertando com força seu osso com um pisão
lateral forte.
 
Peguei o chefe deles pelo pescoço o mantendo preso debaixo do meu
braço e acertei o último com uma cotovelada.
 
Os dois que eu atingi com a bandeja estavam de pé novamente, mas
agora eu usava a colher descartável de plástico na jugular do seu líder, que
não era muito eficaz, mas pegando a veia certa faria um grande estrago.
 
Sim, os guardas se meteram depois daquilo, eu levei uma bela surra e
fiquei na enfermeira por dois dias, mas agora ninguém mais tentava me
matar, e muitos me respeitavam.
 
Eu estava na passadeira quando os guardas trouxeram Heron, ele não
estava em ótimo estado e eu ri vendo seus hematomas.
 
— Maquiagem nova Heron? — Bloc meu colega de serviço
perguntou zombando dele. — Aposto que os jamaicanos gostaram dela.
 
Eu não me orgulhava, mas não tinha nada a ver com aquilo, muitos
homens fracos feito Heron acabavam virando a mulherzinha de alguns
detentos mais perigosos, mas se ele gostava de violar tinha que gostar de ser
violado.
 
Meu colega fez um sinal para mim e eu acenei em confirmação e
quando Heron passou por ele feito um rato acuado ele o segurou.
 
— Ei não tenha tanta pressa, só queremos ter uma conversinha com
você…— Bloc disse baixo no pé de seu ouvido.
 
— Por favor… me deixem em paz, eu juro que nunca mais faço
nada…
 
— Ei, relaxa, você sabe muito bem que não somos disso — falei me
referindo ao abuso.
 
— Jura? — ele perguntou todo esperançoso, mas naquela parte eu
dizia a verdade.
 
— Claro! Você é meu parceiro de cela, acha que se eu quisesse fazer
alguma coisa, já não teria feito? — perguntei o puxando pelo ombro — Mas
sabe… tem uma coisa que eu penso em fazer desde o dia em que te conheci
— falei forçando meu aperto.
 
Heron me olhou confuso e eu usei toda a minha força para o curvar
sobre a passadeira industrial, encostando seu rosto na chapa quente de ferro,
ouvindo seu grito soar por todo o lugar.
 
— A sensação é tão boa quanto, quando você fez aquela marca em
Kiara ,Heron? Eu falei por cima de seus gritos, soltando-o e vendo seu rosto
deformado.
 
Nesse exato momento, dois guardas apareceram.
 
— O que está acontecendo aqui? — eles perguntaram vendo Heron
caído no chão com a mão de um lado do rosto ainda gritando.
 
Bloc levantou a mão em sinal de que não fazia ideia.
 
— Acho que ele chegou perto demais da passadeira — Eu justifiquei
— é melhor levar isso logo para a enfermeira — sugeri e Bloc começou a
rir. 
 
Quando eu voltei para a cela, Heron não estava lá e ficou fora por 5
dias inteiros e quando voltou implorou para que eu o deixasse em paz.
 
— Minha dívida com você está liquidada, Heron — eu o avisei —
Mas se eu fosse você tomaria cuidado, porque aqui ninguém gosta de
promotor corrupto — falei apontando as outras celas com detentos que
salivavam querendo colocar as mãos nele.
 
 
Kiara
 
 
— Oi… — falei pelo telefone quando Cas me ligou.
 
— Oi minha pequena, eu estou com tanta saudade, eu não sei mais o
que fazer para suportar a saudade de estou sentindo — Cas começou a dizer
empolgado e eu fiquei em silêncio ouvindo a sua voz. — O que foi gatinha?
Por que você está tão calada?
 
— A gente precisa conversar Cas…
 
— Conversar? Sobre o quê? Aconteceu alguma coisa?
 
— Eu preciso de contar uma coisa, mas… não dá para ser assim por
telefone Cas, precisamos nos ver.
 
— Minha Deusa eu já te falei, não quero você vindo aqui, no meio
desse monte de macho…
 
— Cas… por favor, eu estou cansada disso, preciso te ver, só uma
vez, uma única vez, tá legal — eu pedi brava, mas ao mesmo tempo triste.
 
— Eiii, tudo bem, não chore, eu vou dar um jeito, acho que consigo
uma visita íntima, mas isso pode demorar um pouco — ele falou com um
tom de voz preocupado.
 
— Eu te amo pequena, não desista de mim por favor… — ele pediu.
 
— Desistir de você? Eu jamais faria isso — afirmei tentando tirar
seja lá o que tinha passado pela sua cabeça.
 
— Mas então o que seria de tão urgente que você tem para falar
comigo? — ele perguntou.
 
— Consiga a visita e eu te conto — falei me sentindo bem melhor.
 
— Tudo bem minha pequena eu vou conseguir, prometo que vou, só
espere tá bom, espere que em breve a gente vai se ver.
 
— Sinto sua falta… — Falei, pois, sabia que não teríamos muito
tempo.
 
— Acredite pequena, não mais do que eu. Eu te amo, meu amor —
Ele declarou antes de acabar nosso tempo.
 
— Eu também te amo.
 
Cas desligou a chamada e eu fiquei ali olhando para o aparelho por
um longo tempo.
 
— Era ele? — Ivan perguntou.
 
— Sim!
 
— Vai mesmo contar pra ele?
 
— Vou… queria que ele pudesse estar aqui, mas já que não pode,
quero pelo menos lhe dar mais um motivo para sobreviver lá dentro — falei
passando a mão na barriga.
 
— Bom, está preparada? — ele perguntou mudando de assunto.
 
Estávamos na empresa e eu assumiria minha primeira reunião com
nossos principais clientes, para mostrar a ele, que embora Cas não estivesse
mais ali, a empresa havia ficado em mãos competentes e que nada iria
mudar.
 
Eu afirmei com um aceno e me levantei, preparada para aquela nova
etapa da minha vida.
 
— Então vamos lá, e não se esqueça, você pode tudo e o que não
puder eu estarei bem aqui! — ele me incentivou.
 
 
Três semanas depois…
 
Eu esperava ansiosa sentada na cama simples de casal.
 
O quarto de visita íntima até que não era dos piores, a cama estava
bem arrumada e os lençóis pelo cheiro pareciam limpos pelo menos.
 
O quarto tinha uma janela com grades e podia ser coberto com uma
persiana cinza, as cores, no entanto eram sem graça e apagadas e se não
fosse por um vaso de flores artificial no pequeno criado mudo aquilo
parecia meio mórbido.
 
Houve uma batida na porta e eu me levantei rapidamente alisando
minha saia tentando tirar os vincos de amassados que fez ao me sentar.
 
Primeiro entrou um segurança que revistou o quanto rapidamente e
logo depois outro entrou com Cas, com as mãos algemadas, fazendo meu
coração dar um solavanco.
 
Meus olhos encheram de água e eu senti a emoção me atingir, ele me
encarava hipnotizado enquanto um dos guardas tirava suas algemas.
 
E quando ele finalmente ficou livre corremos uma para o outro, Cas
beijou minha boca com uma saudade desesperada e eu não estava diferente.
 
— Meu Deus eu estava com tanta saudade, tanta… — ele disse me
apertando contra ele.
 
— Eu também… eu já estava desesperada… não sabia mais o que
fazer… 
 
Ele se afastou um pouco me olhando de cima a baixo.
 
— Você está tão linda, está… maravilhosa.
 
Apesar de Cas ter perdido um pouco de peso ele estava igualzinho,
não tinha mudado absolutamente nada, lindo e gostoso como sempre havia
sido.
 
Eu voltei beijar sua boca, puxando sua camisa de dentro da calça
desesperada por senti-lo e Cas me direcionou me fazendo andar de costas
até cairmos sobre a cama, ele desabotoou minha camisa procurando por
minha pele.
 
E eu senti sua boca em meu pescoço, enquanto suas mãos apalpavam
meus seios.
 
— Me perdoe minha pequena, mas estou tão louco de saudades de
você… que não consigo esperar mais — ele disse puxando minha saia para
cima apertando minhas coxas.
 
— Eu também… não quero esperar… por favor Cas só me come
logo… — Pedi abrindo o botão da sua calça puxando seu membro duro e
pulsante para fora, ansiosa por senti-lo dentro de mim.
 
— Não, espere! — ele falou alcançando a gaveta só pequeno criado
mudo e pegando um preservativo que o próprio presídio disponibiliza —
Não queremos que você fique grávida agora, não é mesmo? — Ele brincou
abrindo a embalagem.
 
— Acho que é um pouco tarde para isso, Cas…
 
Cas parou me encarando e depois olhou diretamente para a minha
barriga e saiu de cima de mim parecendo decepcionado e se sentou na
beirada.
 
— Me desculpa pequena, eu não queria isso… — Ele revelou me
deixando sem graça, me fazendo tentar fechar minha blusa que estava toda
aberta.
 
— Não queria? Eu não entendo… achei…
 
— Não — ele me interrompeu — não queria que fosse assim, se você
está grávida, já deve estar de 3 meses e… eu não vou estar lá, para você —
ele disse de cabeça baixa e eu engatinhei na cama e o abracei por trás.
 
— Ei, não fique triste, eu precisava disso agora, precisava de verdade
desse pedacinho seu dentro de mim, porque agora quando você sair, nós
estaremos lá fora te esperando de braços abertos… — eu falei e Cas se
virou para mim emocionado e eu voltei a beijá-lo.
 
E dessa vez nós recomeçamos, mas sem afobação, apenas com uma
saudade imensa e uma vontade de tornar aquele ali mais um momento
especial pelo qual queríamos guardar pelo resto das nossas vidas. 
 
Cas venerou cada ponto do meu corpo dando um carinho especial a
minha barriga, me penetrou devagar saboreando a sensação.
 
— Este é meu lugar preferido no mundo inteiro Kiara, dentro de
você, ouvindo seus gemidos manhosos, sentindo você apertar meu pau com
sua boceta gostosa — Disse me posicionando de lado.
 
Cas deu uma pequena pausa e eu o senti acariciar o local onde antes
tinha a marca de Heron, mas que eu havia mandado retirar a algum tempo
com um procedimento a laser e que agora havia uma tatuagem bem recente
no lugar.
 
— Uma fênix? — ele perguntou em um meio sorriso, ainda
conectado a mim me apertando em seus braços se aprofundando um pouco
mais me fazendo soltar um gemido.
 
— Sim, porque você me fez renascer como uma nova mulher... —
Respondi e Cas beijou meu pescoço e mordeu o lóbulo da minha orelha
proporcionando ainda mais prazer.
 
— Então acho que também terei que fazer uma pois renascemos
juntos — Ele afirmou usando uma das mãos para pressionar meu clitóris e
eu gozei sentindo ele ir mais fundo também gozando dentro de mim.

 
— O que você acha que vai ser? — Cas perguntou olhando a foto do
ultrassom que eu havia lhe dado.
 
— Uma menina — respondi.
 
— Por que acha isso?
 
— Ah, não sei, só sinto que será!
 
— Já pensou nos nomes? — ele perguntou.
 
— Claro que não, vamos decidir juntos — Revelei — todo mês vou
te mandar uma foto minha e de como está minha barriga e você vai
pensando em alguns nomes — feliz me sentando na cama me cobrindo com
o lençol — e não vai pensando que vai perder meu parto, porque vou filmar
tudinho e quando sair daqui vai ser obrigado a me assistir surtando — Falei
o fazendo rir.
 
— Eu não sei o que eu fiz para merecer você, mas eu faria tudo
novamente só para ter certeza de que você não escaparia de mim — ele
disse se sentando e beijando a pontas dos meus lábios com suavidade.
 
 
Alguns meses depois…
 
Estava na primeira inauguração, o primeiro projeto que tinha
trabalhado sozinha e me sentia orgulhosa daquilo, não havia sido fácil, tive
que correr para aprender muitas coisas.
 
— Boa noite! — Falei com todos no microfone — Estou muito feliz
em estar hoje aqui representando todo o trabalho de equipe que nossa
empresa teve para transformar esse sonho em realidade. Não foi fácil para
mim chegar até aqui em cima hoje, e tenho que agradecer as pessoas
maravilhosas que me apoiam nessa jornada — Falei me referindo a Ivan e a
Aldrey que tinha me ensinado muito nos últimos meses — E quero
agradecer… — eu parei sentindo uma pontada de dor que me fez levar a
mão a barriga, mas respirei fundo e voltei ao meu discurso. — Quero
agradecer a confiança… — e outra onda de dor me atingiu me fazendo
gemer assustando todos no salão.
 
Ivan correu até o palco e imediatamente tomou a frente.
 
— É isso pessoal, estamos muito felizes com esse novo projeto, tão
felizes que até minha sobrinha resolveu querer participar — ele gracejou
nervoso — então aproveitem a festa — ele finalizou às pressas vindo me
socorrer.
 
As dores iam e voltavam de tempos em tempos alguém me ajudou a
descer as escadas, mas quando terminei, me curvei em mais uma contração
e minha bolsa estourou escorrendo água por minhas pernas. Boris, o irmão
de Cas, que estava ali para me prestigiar, perdeu a paciência e me pegou no
colo, atravessando o salão pedindo licença para todo mundo que
atravessava nosso caminho.
 
Boris me colocou no banco do passageiro e começou a discutir com
Ivan quem levaria o carro.
 
— Ela é minha sobrinha! — Boris justificou — eu tenho o direito de
levá-la ao hospital.
 
— Mas Cas “me” deixou responsável pelos dois…
 
— Dá para vocês decidirem quem vai, antes que essa menina nasça
aqui ou eu decida ir apê? — rangi em outra onda de dor.
 
— Eu vou atrás — Ivan disse correndo e entrando no banco de trás
enquanto Boris tomou a direção.
 
Já no hospital, Boris chegou ameaçando meio mundo caso eu não
fosse imediatamente atendida, o que eu não reclamei, pois estava sentindo
uma dor insuportável.
 
— Vamos Kiara! Força, você consegue — A médica disse quase duas
horas depois — Falta muito pouco — ela gritava.
 
E de repente eu vi Cas entrar eufórico na sala de parto me assustando.
 
— Ela já nasceu? O que eu perdi? — ele perguntou me fazendo
levantar a cabeça.
 
— Não pare Kiara! Força — a médica chamou a minha atenção.
 
— Aaaaah, o que você está fazendo aqui? — perguntei em meio aos
gritos de dor.
 
Ele correu para o meu lado e segurou a minha mão com força.
 
— Digamos que eu não vou sair por bom comportamento — ele
disse me deixando furiosa.
 
E eu usei toda aquela raiva para fazer força e empurrar nossa filha
para vir ao mundo e logo pudemos ouvir seu chorinho.
 
— Oi shofi, é o papai — Cas disse quando recebeu nossa filha em
seus braços e se curvou para que eu a pudesse ver também.
 
Quando vi seu rostinho branco e ainda sujo, meu peito parecia que
iria explodir de felicidade.
 
Dois policiais entraram na sala atrás de Cas assustando as
enfermeiras, mas quando viram ele chorando feito um bebê com a filha nos
braços decidiram dar mais alguns minutos para ele.
 
— Obrigada meu amor, hoje você me fez o homem mais feliz do
mundo… — Cas me disse beijando a minha testa e depois beijando nossa
filha, para entregar as enfermeiras.
 
— Agora eu tenho que volta… — ele disse todo sem graça e eu nem
tive como brigar com ele por ter feito aquela loucura.
 
— Quem te avisou? — perguntei antes que ele saísse, e Cas deu uma
boa olhada para o irmão.
 
— Um outro detento que teve a informação de um amigo aqui fora
— ele falou e saiu.
 
Cas foi detido pelos policiais que o esperavam na porta e apesar de
brava em saber que ele teria que passar mais alguns meses na prisão, estava
feliz por ele ter conseguido ver nossa pequena Shofi nascer.
 
— Eu te amo — ele sussurrou antes de ser levado.
 
— Eu também te amo — respondi com um sorriso.
Epílogo
 
 
Eu mal podia acreditar que finalmente estava alcançando minha
liberdade, eu respirei fundo sentindo o ar fresco e vi o portão se abrindo.
 
A sensação de finalmente estar livre era revigorante e a expectativa
de poder rever Kiara e pegar minha filha nos braços estava me matando
pouco a pouco.
 
Caminhei a passos lentos para fora e parei em frente ao portão,
escutando-o se fechar atrás de mim.  Kiara estava do outro lado da rua, com
nossa pequena Shofi nos braços, e meu coração bateu acelerado e era como
se eu as pudesse ver em câmera lenta.
 
Kiara estava linda, seus cabelos agora estavam na altura do ombro e
ela vestia uma roupa casual, nossa menina usava um vestidinho vermelho e
tinha uma pele branca igual a da mãe e os cabelos negros com alguns
cachos e seus olhos eram iguais os meus.
 
— Olha Shofi, é o papai — Kiara apontava para mim, tentando
mostrar a ela a direção para onde devia olhar, mas ela parecia perdida sem
focar no que a mãe lhe falava.
 
Eu me apressei em ir na direção delas e peguei minha filha nos
braços, sentindo seu cheirinho delicioso de bebê.
 
Shofi, estava com 8 meses, pois apesar de eu ter fugido no dia de seu
nascimento o diretor do presídio havia sido compreensível comigo e me
dado apenas alguns meses a mais de detenção pelo delito, já que logo após
eu voltei sem dar nenhum tipo de dor de cabeça.
 
— Oi meu amor… é o papai — falei todo apaixonado por ela,
sentindo que não existe momento mais lindo que aquele.
 
Ainda com Shofi nos braços eu beijei Kiara que se agarrou em minha
cintura enquanto eu beijava as bochechas da minha menina.
 
— Bem-vindo de volta irmão! — Eu ouvi Boris dizer, chamando
finalmente minha atenção e ao seu lado estava Ivan.
 
— Tinha ouvido falar que vocês estavam trabalhando juntos, só não
quis acreditar — Falei indo até eles.
 
— Se quiser ainda tem espaço para mais um — Ivan sugeriu.
 
— Não… tenho outros planos agora — falei feliz da vida, sorrindo
para Kiara que não desgrudava de mim.
 
Eu tinha planejado abrir uma filial pequena de minha empresa em
Titagel e gerenciar o restante de lá.
 
— Bom se mudar de ideia… — Ivan falou e meu irmão ficou quieto,
pois apoiava minha decisão.
 
— Eu acho que não… estou feliz exatamente com o que tenho agora
— falei puxando Kiara para os meus braços e beijando o topo da sua
cabeça. — Estou muito feliz com o que tenho — repeti, começando a me
distanciar dos dois, indo embora com a minha filha e minha mulher.
 
Kiara 5 anos depois…
 
Eu olhava o horizonte e pensava comigo se tinha um nascer do sol
mais lindo do que aquele que víamos todos os dias da nossa casa no alto da
colina.
 
Sim, Cas havia feito nossa casa bem ali naquele lugar magnífico,
onde tínhamos a visão da praia e do nascer do sol sempre que queríamos e
já era uma tradição a gente se sentava ali fora, mesmo quando estava frio e
tomávamos uma deliciosa xícara de chocolate quente enquanto víamos bem
devagar o sol nascer.
 
— Já está levantada? — Cas perguntou saindo pela porta lateral da
casa onde eu estava sentada com um cobertor sobre as pernas olhando o céu
ser pintado com as cores da manhã.
 
— Ele não me deixou dormir — Falei passando a mão sobre a
barriga inchada, sentindo Lorenzo mexer sem parar, como se reconhecesse
a presença do pai.
 
— Acho que está ansioso como você — eu reclamei fazendo uma
careta.
 
Cas caminhou até mim e se abaixou ficando bem próximo a minha
barriga.
 
— Ei carinha, relaxa um pouco tá legal, seja bonzinho com sua mãe,
ou ela vá colocar nós dois de castigo e acredite — Ele falou sussurrando me
fazendo rir — Você não vai gostar.
 
Eu comecei a rir de suas palavras, ele ultimamente andava mais
ansioso que nunca, aguardando a chegada de nosso filho, se preocupando
com cada detalhe, me deixando maluca com tanta preocupação.
 
— Papai… — Shofi apareceu coçando os olhos, sonolenta na porta e
se abaixou para pegar manhoso que se esfregava em suas pernas exigindo
um carinho matinal.
 
— Oi meu amor… por que se levantou?
 
— Quero chocolate — Ela disse já apontando para xícara, também já
acostumada aquele pequeno ritual e manhoso miou alto como se estivesse
pedindo o seu.
 
— Você quer chocolate? Então uma xícara de chocolate saindo! —
Cas brincou com ela a levantando em seus braços a fazendo sorrir e a
colocou no chão em seguida.
 
— Venha meu amor sente-se aqui — Chamei lhe oferecendo um
canto na cadeira de embaixo do cobertor quentinho e ela correu se
aninhando a mim ainda segurando seu bichinho.
 
Cas voltou minutos depois, com duas xicaras e uma tigela de leite
morno para o gato, que pulou do seu colo assim que sentiu o cheiro. 
 
Cas se sentou no braço da cadeira e lhe entregou sua xicara, ficando
com a outra para si mesmo e depositou sua mão sobre minha barriga
fazendo uma leve carícia enquanto eu sorria com aquela cena.
 
— Quero te ver sempre assim… — Cas disse me encarando.
 
— Feliz? — Perguntei achando fofo.
 
— Grávida — ele disse rindo e eu fiz cara feia para ele, então ele
parou de rir me encarando com um olhar cheio de carinho que eu conhecia
muito bem.
 
E eu me perguntei como depois de tantos anos ele ainda conseguia
me deixar sem graça apenas com um simples olhar, enchendo meu coração
de ternura.
 
Era inacreditável como aquele homem me afetava e me fazia amá-lo
cada dia mais.
 
 
— Eu vejo seu sorriso todos os dias e simplesmente não consigo me
enjoar dele, sabia? — ele perguntou — por que é o motivo que me faz
querer levantar todas as manhãs… vocês são… — declarou passando a mão
sobre a minha barriga, e puxando Shofi para mais perto, me fazendo ficar
emocionada.
 
— E eu sou a mulher mais feliz do mundo por isso! — Confessei,
pois não existia nada no mundo que fosse mais verdadeiro do que aquela
declaração….
 
Fim.
 
 
 
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Agradecimentos
 
 
Escrever sobre Kiara e Cas, foi uma experiência maravilhosa que
amei e espero que vocês tenham gostado de ler tanto quanto eu de
escrever a história desse casal.
Agradeço ao carinho das minhas leitoras maravilhosas, que
sempre me apoiaram e me acompanharam desde a plataforma
vizinha.
Peço que deixem seu comentário e me sigam no Instagram:
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